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81 C ( ) O que é tudo isso, né? Dessa aula só, em particular... Os objetivos dessa
aula que a gente conversou aqui, você acha que isso de alguma maneira
contribui pra vida do aluno fora da escola?
82 P É... Eu acredito que sim, porque ao estimular a leitura você tá dizendo: Você
é capaz de ler. Coisas que têm, quer dizer, têm um significado pra ele, a
leitura. Então da mesma maneira que ele conseguiu lá associar o E na
escovação, na casa dele ele vai querer ler as coisas que têm interesse pra ele...
Talvez ele vai parar e vai refletir, então tem um significado. Como isso
acontece de uma maneira descontraída, então ele vai sentir prazer, ele vai
sentir que é importante a leitura pra ele, porque falar ele já sabe, mas ele tem
que saber que a leitura é importante também, ele saber ler, então quer dizer
ele vai associar isso também lá na casa dele, na rua , tentando identificar: Essa
letra é o N do meu nome. Né? Então quer dizer, eu acho que vai tá sempre,
sempre sendo significativo também fora da escola, até mais, né? Você passa
mais tempo fora da escola do que dentro da escola.
83 C Então você tá dizendo que é importante na vida social dele de tá entendendo
esse mundo, compreendendo as coisas... Mas tem um outro aspecto que eu
acho que foi fundamental aí na sua aula, que é a ajuda mútua. Todos, o tempo
todo, estavam ajudando todos a lerem. Essa ação de ajuda, fora da escola eu
creio que faz parte da formação da criança como cidadã, se sentir parte de um
grupo. É? Você tá estimulando para que ela não viva isolada, não seja
individualista, porque eles estão resolvendo coisas juntos. Né? O tempo todo
você pede ajuda e um ajuda o outro. Você põe a idéia de um, mas os outros
têm que aprovar ou não. Esse exercício na teoria sócio-histórico-cultural é
fundamental, pensar sempre em atividades que possam servir para eles fora da
escola, porque se não a escola vira um lugar fora do mundo deles. Então é
algo que que não é seu objetivo primeiro, porque seu objetivo primeiro era
organizar a rotina e fazer o exercício de leitura, mas a maneira como você fez
traz o conhecimento pra se usar fora da escola. Seja lá o que eles vão fazer na
vida, perguntar pro outro, contar com a ajuda do outro. Esse exercício...
Ajudar o outro acho que tem que marcar como positivo.
No turno 81, mais uma vez iniciei com uma pergunta pedindo um
esclarecimento, depois fiz uma explicação e outra pergunta, agora “argumentativa
teórica”. Mesmo sendo a segunda uma pergunta fechada, pois a professora poderia
responder apenas “sim”, o que se verificou foi um estímulo a uma ampla colocação e
defesa de opinião.
Salvo as devidas diferenças de contexto de pesquisa, Coracini (2002) parece
fazer uma crítica a esse tipo de pergunta que ela chama de “pergunta seguida de uma
explicação e da mesma pergunta reformulada”, pois no seu contexto o professor
mantém o turno principal (o estímulo), enquanto os alunos assumem o turno secundário
(a resposta ou reação). Não há como aprofundar essa questão aqui, mas parece
inevitável o coordenador assumir o turno principal quando pretende que todas as ações