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submetidos à vigilância e orientação de um notável jurista muçulmano circundado
por uma comissão de notáveis: os fuqaha
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(Khomeini, 2004 [1971], p. 88).
A doutrina khomeinista foi um sólido elemento de coesão nacional durante o
processo revolucionário, unificando politicamente um país dividido, onde uns
defendiam instituições ocidentais e outros as tradições religiosas. Para ele a política
é uma graça divina concedida aos homens para que lutem pela justiça social. Assim,
cada muçulmano é desafiado a se envolver nos assuntos políticos, pois as
revelações da divindade são tão religiosas quanto políticas: os governantes devem
ser capazes de exercerem a justiça e a proteção espiritual e o povo, vigilante, deve
combater governos injustos. O governo do iman
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é o melhor sistema de poder para
o Islã xiita, de acordo com o Corão
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e a Sunna. Marcados por uma leitura integral do
Corão (e pela procura do sentido mítico oculto nos seus textos) os xiitas conferem à
oligarquia religiosa uma mediação interpretativa entre os fiéis e o Corão.
Os Mujtahids
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são intérpretes que elaboram regras religiosas cabendo a
cada crente escolher entre eles a sua fonte de interpretação (Marja). A revolução
islâmica no Irã produziu uma cosmovisão da política sob a fé antagonizando à
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Fuqaha - Plural de Faqih. Homens sábios nos princípios e regulamentações da lei islâmica e, em geral, em
todos os aspectos da fé. Formam um corpo de sábios estudiosos das leis islâmicas com a missão de proteger o
líder supremo, bem como, de expandir suas políticas entre os diversos estamentos sociais.
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Do árabe, Imame, significa “aquele que vai na frente”, “guia” ou “modelo”. No xiismo é o título dado aos 12
descendentes de Maomé, por intermédio de sua filha Fátima e do marido desta, Ali ibn Abi Talib, ambos
considerados os legítimos governantes da comunidade islâmica pelo xiismo. O iman é antes de tudo um líder
carismático, de concepção diferenciada, conforme o contexto no qual atue. No xiismo crê-se que o 12º iman
ocultou-se; os xiitas aguardam fervorosamente seu retorno para estabelecer um reino de paz e justiça global.
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Comumente chamado Alcorão, o Corão (nome advindo árabe qu´àn, que significa ´leitura salmodiada´) é o
livro sagrado para os muçulmanos, que reúne em 114 suras (capítulos) e 6.236 versículos, um conjunto de
revelações sobre a divindade. O texto definitivo do Corão não foi escrito nos dias de Maomé, tendo sido
transmitido oralmente até a época do terceiro califa, quando elaborou-se a redação definitiva do texto. “O texto,
que em alguns trechos evoca temas do Velho e Novo Testamento, nem sempre é muito claro. E, quando Maomé
ainda vivia, muitas vezes era solicitada sua intervenção para esclarecê-lo” (Jacono, 2002, p. 38).
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No xiismo são os legistas piedosos qualificados a enunciar interpretações acerca do Corão e da Sunna.