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RELAÇÕES TRÓFICAS ENTRE TRICHIURUS LEPTURUS
(OSTEICHTHYES, PERCIFORMES) E PONTOPORIA
BLAINVILLEI (MAMMALIA, CETACEA) NA COSTA NORTE
DO RIO DE JANEIRO
VANESSA TRINDADE BITTAR
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE
DARCY RIBEIRO - UENF
CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ
JUNHO - 2007
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RELAÇÕES TRÓFICAS ENTRE TRICHIURUS LEPTURUS
(OSTEICHTHYES, PERCIFORMES) E PONTOPORIA
BLAINVILLEI (MAMMALIA, CETACEA) NA COSTA NORTE
DO RIO DE JANEIRO
VANESSA TRINDADE BITTAR
Dissertação apresentada ao Centro
de Biociências e Biotecnologia da
Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro - UENF,
como parte dos requisitos para a
obtenção do grau Mestre em
Ecologia e Recursos Naturais.
Orientadora: Dr
a
.
Ana Paula Madeira Di Beneditto
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE
DARCY RIBEIRO - UENF
CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ
JUNHO - 2007
ii
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iii
Aos meus pais, Heleno e Maria Lúcia,
meu irmão Alexandre, querido Felipe e
grande amigo José Renan (in memmorian).
iv
AGRADECIMENTOS
À Profª Ana Paula Madeira Di Beneditto, pela orientação e incentivo ao
longo das várias etapas do desenvolvimento deste trabalho,
principalmente por acreditar em mim, e pela concessão do material
relativo aos exemplares de Pontoporia blainvillei e referências
bibliográficas;
Aos amigos Silvia, Fernanda, Taíse (Baiana), Thiago (mano), William,
Daniele, Jô, Claudinha, Bárbara, Tais, Paula, Lídia, Natacha, Juan,
Rafaela, Gustavo, Lorena, Ana Paula, Leidi, Elaine, Lígia, Anselma
(vermelha), Juninho, Carol, Giseli, Andressa, Eugenia, Gi, Mica, Gilson,
por tudo que representaram ao longo de minha formação profissional e
pessoal;
Em especial aos meus tios Conceição, José Roberto, Ana, Cid, Maria,
Silvio e meus primos Carla, Yan, Rogério, Simone, Synthia, Cristina e
Natalie pela ajuda que jamais poderei retribuir a altura.
Aos companheiros de laboratório Antônia, Bernardo, Marcos, Marcell e
Igor;
Aos professores Dr. Leandro Rabello Monteiro, Dr
a
. Ilana Rosental
Zalmon, Dr. Carlos Eduardo Veiga de Carvalho, Dr. Carlos Ruiz-
Miranda, Dr
a
. Maria Cristina Gaglianone, Dr
a
. Marina Satika Suzuki e
Dr
a
. Cristina Maria Magalhães de Souza (Cristal), pelas dicas e
sugestões nas várias etapas desse trabalho;
Aos técnicos de laboratório “tia Ana”, Cristiano, Marcelo e Alcemir pela
ajuda e momentos de risadas;
Aos pescadores de Atafona, sem os quais este trabalho jamais teria
sido possível, pela colaboração na obtenção dos exemplares de
Pontoporia blainvillei e Trichiurus lepturus.
v
A técnica de campo Silvana Ribeiro Gomes, pela coleta e triagem
inicial dos exemplares de Pontoporia blainvillei e Trichiurus lepturus
analisados;
A Dr
a
. Ilana Rosental Zalmon, pela revisão crítica deste trabalho;
Aos professores, colegas de pós-graduação e de graduação e técnicos
do Laboratório de Ciências Ambientais da Universidade Estadual do
Norte Fluminense, pelo apoio nas várias etapas do desenvolvimento
deste trabalho;
À Fundação Carlos Chagas de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de
Janeiro – FAPERJ, pela concessão da bolsa de estudos e recursos
financeiros que cobriram todas as despesas referentes às atividades de
campo e de laboratório.
À Universidade Estadual do Norte Fluminense/UENF, Laboratório de
Ciências Ambientais/LCA, Programa de Pós-Graduação em Ecologia e
Recursos Naturais/PPG-ERN, pelo suporte técnico e de pessoal
durante o desenvolvimento deste trabalho.
Ao IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis), pela concessão das licenças de coleta de
Pontoporia blainvillei (PROCESSO IBAMA nº 02001.006809/99-29):
004-05/CMA/IBAMA; 002-04/CMA/IBAMA; 012-02/CMA/IBAMA;
001/01/CMA/IBAMA; 153/99-DiFAS.
vi
SUMÁRIO
Agradecimentos................................................................................................... v
Lista de Figuras................................................................................................... viii
Lista de Tabelas.................................................................................................. x
Lista de Apêndices.............................................................................................. xii
Resumo............................................................................................................... xiii
Abstract............................................................................................................... xiv
1 - Introdução …………………………………….................................................... 1
1.1- Considerações gerais sobre ecologia e comportamento alimentar.............. 1
1.2 - Características de Trichiurus lepturus (Linnaeus,1758).............................. 5
1.3 - Características de Pontoporia blainvillei (Gervais & d’Orbigny, 1844)........ 8
2 - Justificativa ................................................................................................... 11
3 - Objetivos...................................................................................................... 11
3.1 - Objetivo geral ...................................................................... 11
3.2 - Objetivos específicos ........................................................... 11
4 - Hipótese ............................................................................... 11
5 - Material e Métodos.................................................................. 12
5.1 - Área de estudo .................................................................... 12
5.2 - Coleta dos carnívoros marinhos estudados ........................... 13
5.2.1 - Espécimes de Trichiurus lepturus....................................... 15
5.2.2 - Espécimes de Pontoporia blainvillei ................................... 16
5.3 - Identificação e biometria das presas ..................................... 17
5.4 - Análise dos resultados ......................................................... 23
6 - Resultados ............................................................................ 27
6.1 - Alimentação de Trichiurus lepturus ....................................... 27
6.2 - Alimentação de Pontoporia blainvillei.................................... 31
6.3 - Comparação entre o hábito alimentar de Trichiurus lepturus e
Pontoporia blainvillei ................................................................... 34
7 - Discussão............................................................................... 44
7.1- Alimentação de Trichiurus lepturus......................................... 44
7.2 - Alimentação de Pontoporia blainvillei.................................... 47
7.3 - Comparação entre o hábito alimentar de Trichiurus lepturus e
Pontoporia blainvillei .................................................................... 48
8 - Conclusão.............................................................................. 52
9 - Referências Bibliográficas....................................................... 53
10 - Apêndices......................…................................................ 63
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Mapa do Rio de Janeiro, destacando a costa norte e seus
limites geográficos (Barra de Itabapoana - 21º18’S e Macaé - 22º25’S),
o rio Paraíba do Sul, o porto de Atafona (21º37’S), o Cabo de São
Tomé (22º00’S) e o perfil batimétrico da região
costeira.........................................................................................14
Figura 2 - Espécime de Trichiurus lepturus capturado em rede de pesca
no norte do Rio de Janeiro em 2005 (sexo: fêmea; comprimento total:
102 cm) (Foto: Di Beneditto, A. P.)..................................................15
Figura 3 - Espécime de Pontoporia blainvillei capturado acidentalmente
em rede de espera no norte do Rio de Janeiro em 1993 (sexo: macho;
comprimento total: 94 cm) (Foto: Di Beneditto,
A.P.).............................................................................................16
Figura 4 - a) Esquema da face interna do otólito sagitta esquerdo de
Stellifer rastrifer (Sciaenidae) com indicação do comprimento (CO) e
da largura do otólito (LO); b) Esquema dos bicos (mandíbulas) de
Loligo sanpaulensis (Loliginidae) com indicação do comprimento do
rostro superior (CRS) e inferior (CRI) e c) Esquema de Xyphopenaeus
kroyeri (Penaeidae) com indicação do rostro e dos espinhos (CE) e
do telson (TE) (adaptado de Di Beneditto, 2000).
.....................................................................................................20
Figura 5 - Freqüência de ocorrência dos grupos de presas registrados
no conteúdo estomacal de Trichiurus lepturus, na costa norte do Rio de
Janeiro, entre agosto de 2004 e julho de 2006
(N=343).........................................................................................27
viii
Figura 6 - Freqüência de ocorrência dos grupos de presas registrados
no conteúdo estomacal de Pontoporia blainvillei, na costa norte do Rio
de Janeiro, entre agosto de 1989 e janeiro de 2006
(N=95)...........................................................................................31
Figura 7 - Diagrama comparativo dos peixes consumidos por Trichiurus
lepturus e Pontoporia blainvillei na costa norte do Rio de Janeiro
considerando porte, biomassa e densidade (nº de indivíduos) por
estômago. As chanfraduras indicam os intervalos de confiança para as
medianas.......................................................................................39
Figura 8 - Diagrama comparativo dos cefalópodes consumidos por
Trichiurus lepturus e Pontoporia blainvillei na costa norte do Rio de
Janeiro considerando porte, biomassa e densidade (nº de indivíduos)
por estômago. As chanfraduras indicam os intervalos de confiança para
as medianas..................................................................................40
Figura 9 - Diagrama comparativo dos espécimes de Pellona harroweri
consumidos por Trichiurus lepturus e Pontoporia blainvillei na costa
norte do Rio de Janeiro considerando porte, biomassa e densidade (nº
de indivíduos) totais por estômago. As chanfraduras indicam os
intervalos de confiança para as medianas........................................41
ix
LISTA DE TABELAS
Tabela I - Equações obtidas pela análise de regressão entre as
dimensões do otólito (comprimento (CO) e largura (LO)) e o
comprimento padrão (CP) ou total (CT) das espécies de peixes
neríticos da costa norte do Rio de Janeiro (adaptado de Di Beneditto et
al., 2001).......................................................................................21
Tabela II - Equações obtidas pela análise de regressão entre as
dimensões do otólito (comprimento (CO) e largura (LO)) ou o
comprimento total (CT) e o peso (P) das espécies de peixes neríticos
da costa norte do Rio de Janeiro (adaptado de Di Beneditto et al.,
2001)............................................................................................22
Tabela III - Equações obtidas pela análise de regressão entre o
comprimento do rostro superior (CRS) e inferior (CRI), comprimento do
manto (CM) e o peso (P) das espécies de cefalópodes neríticos da
costa norte do Rio de Janeiro (adaptado de Di Beneditto et al.,
2001)............................................................................................23
Tabela IV - Índice de importância relativa (IIR) das espécies de presas
consumidas por Trichiurus lepturus na costa norte do Rio de
Janeiro..........................................................................................30
Tabela V - Índice de importância relativa (IIR) das espécies de presas
consumidas por Pontoporia blainvillei na costa norte do Rio de
Janeiro..........................................................................................33
Tabela VI - Lista das espécies de presas consumidas por Trichiurus
lepturus (Tl) e Pontoporia blainvillei (Pb) na costa norte do Rio de
Janeiro..........................................................................................36
x
Tabela VII - Espécies de presas consumidas por Trichiurus lepturus e
Pontoporia blainvillei na costa norte do Rio de Janeiro, com ordenação
dos índices de importância relativa (IIR)..........................................37
Tabela VIII - Porte, biomassa e densidade (nº de indivíduos) dos
peixes, cefalópodes e espécimes de Pellona harroweri consumidos por
Trichiurus lepturus e Pontoporia blainvillei na costa norte do Rio de
Janeiro..........................................................................................42
Tabela IX - Comparação entre a dieta de Trichiurus lepturus e
Pontoporia blainvillei na costa norte do Rio de Janeiro através de
índices ecológicos..........................................................................43
xi
LISTA DE APÊNDICES
Apêndice I - Caracterização do porte, biomassa e densidade (nº de
indivíduos) das espécies de presas consumidas por Trichiurus lepturus
na costa norte do Rio de Janeiro……………......................…………… 64
Apêndice II - Caracterização do porte, biomassa e densidade (nº de
indivíduos) das espécies de presas consumidas por Pontoporia
blainvillei na costa norte do Rio de Janeiro......................................66
Apêndice III - Características do hábito e hábitat preferencial das
espécies de presas consumidas por Trichiurus lepturus e Pontoporia
blainvillei na costa norte do Rio de Janeiro…………………...……..….. 68
xii
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo descrever a dieta e verificar o grau
de sobreposição alimentar entre os carnívoros marinhos Trichiurus lepturus
(Osteichthyes, Perciformes) e Pontoporia blainvillei (Mammalia, Cetacea)
na costa norte do Rio de Janeiro, sudeste do Brasil. Em relação a cada
espécie de presa, calcularam-se as freqüências de ocorrência, numérica e
de biomassa, o porte (comprimento e peso) e o Índice de Importância
Relativa (IIR) na dieta. Para se avaliar as diferenças entre porte, biomassa
e densidade considerando os grupos de presas consumidos e as presas
mais representativas utilizou-se estatística descritiva não-paramétrica.
Para cada carnívoro, a composição das espécies de presas foi descrita
utilizando-se os índices de diversidade e dominância de Simpson e de
similaridade de Jaccard (qualitativo) e Morisita-Horn (quantitativo). A
alimentação desses carnívoros é formada por grande diversidade de
presas neríticas pelágicas e demersais. Os principais ítens registrados na
dieta de ambos foram os peixes, seguidos de cefalópodes para P.
blainvillei e crustáceos para T. lepturus. De acordo com os valores do IIR,
T. lepturus, Pellona harroweri, Chirocentrodon bleekerianus, Lycengraulis
grossidens, Loligo plei e Pleoticus muelleri foram as principais espécies
componentes da dieta de T. lepturus. Em relação a P. blainvillei as presas
que mais se destacaram foram Stellifer sp., Anchoa filifera, P. harroweri,
Isophisthus parvipinnis e L. plei. A sobreposição alimentar entre os
carnívoros foi qualitativa, mas o mesmo não foi verificado em termos
quantitativos. T. lepturus ingere peixes e cefalópodes de dimensões
superiores, porém, em número e biomassa total inferiores quando
comparado às presas de P. blainvillei. No norte do Rio de Janeiro, ambos
os predadores apresentam movimentação preferencial ao longo de sítios
alimentares costeiros, mas apesar da sobreposição qualitativa (60%), as
variações quanto ao porte, biomassa e densidade das presas indicam
exploração diferencial dos recursos, possibilitando a coexistência na
região.
xiii
ABSTRACT
The purpose of the present study is to describe the diet and the overlap
in feeding habits between the marine carnivorous Trichiurus lepturus
(Osteichthyes, Perciformes) and Pontoporia blainvillei (Mammalia,
Cetacea) on the northern Rio de Janeiro, Southeastern Brazil. For each
prey species was calculated the frequency of occurrence, density and
biomass, body length and weight and the Index of Relative Importance
(IRI). Nonparametric descriptive statistic were used to investigate the
differences between body length, biomass and density of the main prey
groups and most important prey species. For each carnivore, the prey
species composition was described used Simpson diversity and
dominance index and Jaccard (qualitative) and Morisita-Horn
(quantitative) similary index. The diet were composed of a diversity of
pelagic and demersal neritic prey species. Fishes were more
representative in both carnivorous diets, followied by cephalopods to P.
blainvillei and crustaceans to T. lepturus. For T. lepturus the highest
IRI values were for T. lepturus, Pellona harroweri, Chirocentrodon
bleekerianus, Lycengraulis grossidens, Loligo plei and Pleoticus
muelleri. For P. blainvillei the highest IRI values were Stellifer sp.,
Anchoa filifera, P. harroweri, Isophisthus parvipinnis and L. plei. A
qualitative overlap (60%) between T. lepturus and P. blainvillei feeding
habits was evident, but it was not verified by the quantitative analysis.
When compared to P. blainvillei, T. lepturus feeds on large specimens
of fishes and cephalopods but in least quantity and biomass. In
northern Rio de Janeiro, both predators move along coastal feeding
areas and the data suggest differences in the exploitation of resources,
permiting their coexistence in the region.
xiv
1- Introdução
1.1- Considerações gerais sobre ecologia e comportamento alimentar
O conhecimento das interações tróficas é fundamental na
avaliação do grau de estabilidade das comunidades e na compreensão
de processos como a produtividade e a resiliência nos ecossistemas. A
maior complexidade trófica tende a direcionar o ecossistema à
estabilidade. Além disso, as interações tróficas influenciam o fitness
das espécies, afetando sua evolução, e entendê-las auxilia na previsão
de respostas dos ecossistemas às mudanças ambientais (Der Putten et
al., 2004).
A estrutura e a dinâmica de toda teia alimentar é modificada
devido às interações energéticas entre níveis tróficos consecutivos. A
biomassa e/ ou abundância das espécies ao longo desses níveis podem
sofrer alterações espaço-temporais devido a modificações nas relações
entre predadores e presas (Bascompte et al., 2005; Emmerson et al.,
2005), e a fatores ambientais como temperatura e geomorfologia,
causando mudanças dentro e entre os níveis tróficos (Wallace et al.,
1997; Harrington et al., 1999). Dentre estas mudanças destaca-se a
distribuição quali-quantitativa do alimento, que é um dos fatores
ecológicos que determina a organização social e o comportamento das
espécies (Souto, 1996; Chiou et al., 2006).
O comportamento alimentar dos animais está relacionado com
diversos fatores tais como requerimento energético, seletividade,
disponibilidade de recursos, predação e competição (Brown, 1995;
Zavala-Camim,1996).
O requerimento energético possui relação com o tamanho
corporal do predador. Animais de pequeno porte possuem alto
metabolismo, necessitando assim da ingestão de valores energéticos e
nutricionais mais elevados se comparados aos de grande porte. Além
do tamanho corporal, a morfologia de predadores e presas, táticas de
busca, seleção e captura do alimento também fornecem informações
sobre a dieta de muitas espécies animais (Shuozeng, 1995).
O termo seletividade é utilizado para designar o comportamento
de escolha do alimento que é realizado através da palatividade,
1
tamanho e/ ou qualidade das presas (Zavala-Camim, 1996). A
seletividade qualitativa refere-se à ingestão de itens que venham a
suprir as necessidades do animal, tanto do ponto de vista energético
quanto nutricional, para a realização de funções como crescimento,
reprodução, cuidado parental e migração (Heithaus, 2001; Chiou et al.,
2006).
A dinâmica e as interações em populações e comunidades
animais são influenciadas pela forma de utilização dos recursos
disponíveis. Em situações onde há partição de recursos alimentares, o
principal fator que atua sobre os indivíduos é a sobreposição da dieta,
levando ao comportamento de competição intra e/ou interespecífico.
Contudo, a exploração de diferentes classes de tamanho de presas e a
incorporação de diferentes espécies à dieta possibilita a coexistência
de potenciais competidores (Lucena et al., 2000).
A predação atua como fator primário no comportamento,
composição e tamanho dos grupos de espécies animais, bem como no
uso do hábitat. A eficiência da predação está associada principalmente
à distribuição espaço-temporal das espécies, além de fatores como
respostas das presas à presença de predadores e de outras presas;
comportamento de predadores frente às presas e outros predadores;
respostas intraespecíficas, densidade e distribuição das classes de
tamanho de predadores e presas, bem como as relações entre suas
dimensões (Bax, 1998).
Heithaus (2001) sugere que a predação pode exercer pressão de
seleção, direcionando a evolução do comportamento social em alguns
táxons. Bascompte et al. (2005), em estudo de interações energéticas
em teia trófica marinha, analisaram a estabilidade e o funcionamento
do sistema na presença e na ausência de predadores, verificando que
diferentes predadores atuam como agentes modeladores da intensidade
dos fluxos energéticos, afetando a estabilidade e a evolução do
sistema.
Em regiões marinhas, variações geográficas na abundância das
espécies em determinadas épocas do ano conduzem predadores e
presas, de forma a ocorrer sobreposição espacial (Bax, 1998; Chiou et
2
al., 2006). Além da relação entre predador e presa, outros fatores
alteram a estrutura e o funcionamento da cadeia alimentar marinha,
ampliando os efeitos da competição alimentar entre espécies que
ocupam a mesma posição trófica (Hofman, 1995). A sobrepesca, a
remoção de grandes predadores, a utilização de aparelhos de pesca
predatórios e o lançamento de poluentes têm sido responsáveis por
mudanças na biodiversidade e, conseqüentemente, na estrutura trófica
marinha (Parsons, 1992; Norse, 1993).
O termo competição é definido por Begon et al. (2006) como uma
interação entre indivíduos, causada em parte pelo requerimento de um
recurso, levando a redução da sobrevivência, crescimento e/ou a
reprodução de ao menos um dos indivíduos competidores.
Genericamente, a competição envolve disputa por recursos como
alimento, espaço, luz e parceiros sexuais, representando um dos
mecanismos mais fundamentais em ecologia, afetando não somente a
distribuição corrente e o sucesso das espécies, mas também sua
evolução (Krebs & Davies, 1996; Towsend et al. 2000; Begon et al.,
2006).
Estudos sobre ecologia alimentar são essenciais para o
entendimento das interações tróficas interespecíficas (Shuozeng, 1995;
Bax, 1998). O conhecimento a respeito da composição da dieta de
espécies que estão em simpatria possibilita a elaboração de modelos
tróficos que podem ser úteis na compreensão da dinâmica dos
ecossistemas de determinada região (López-Peralta & Arcila, 2002).
De modo geral, estudos sobre a composição da dieta envolvem
recuperação e análise dos conteúdos estomacais para posterior
identificação das presas, o que muitas vezes só é possível através de
partes desarticuladas do seu corpo (Clarke, 1986a). Através de otólitos
de peixes, mandíbulas (ou bicos) de cefalópodes e cefalotórax de
crustáceos, por exemplo, pode-se estimar o comprimento e o peso dos
organismos consumidos.
A interpretação da dieta a partir de estruturas das presas
recuperadas no trato digestivo dos predadores pode ser tendenciosa.
No entanto, é o mais viável dentre os métodos disponíveis para a
3
investigação do padrão alimentar de muitos organismos (Clarke, 1986b;
Barros, 1993; Di Beneditto, 2000).
Há diversos problemas relacionados à interpretação da dieta
através da análise de conteúdos estomacais, tais como escassez de
dados específicos sobre a freqüência alimentar e o processo digestivo
dos predadores (Murie & Lavigne, 1986; Frost & Lowry, 1986);
possibilidade dos predadores descartarem estruturas das presas com
importância taxonômica e morfométrica antes da ingestão ou ocorrer
desgaste dessas estruturas durante a digestão (Pierce & Boyle, 1991);
taxas diferenciais de digestão das presas (Clarke,1986b; Pierce &
Boyle, 1991); contaminação do conteúdo estomacal dos predadores a
partir dos itens alimentares das suas presas (Fitch & Brownell, 1971;
Barros, 1993); regurgitação do conteúdo estomacal por parte dos
predadores antes da morte, como observado em casos de captura
acidental de cetáceos (Barros, 1993) ou reação de defesa em peixes
(Zavala-Camim, 1996); aceleração do processo digestivo devido à
presença de parasitas no conteúdo estomacal e a continuidade da ação
gástrica no estômago do predador mesmo após a sua morte (Clarke,
1986b).
4
1.2- Características de Trichiurus lepturus (Linnaeus, 1758)
Trichiurus lepturus (Perciformes, Trichiuriidae) é uma espécie de
peixe teleósteo cosmopolita denominada comumente de peixe-espada
ou simplesmente espada. Este peixe apresenta hábito demerso-
pelágico e é considerado oportunista e voraz quanto à alimentação. A
sua distribuição está associada a águas quentes e temperadas, entre
60
о
N e 45
о
S, salinidades entre 33 e 36, e tem preferência por
temperaturas superiores à 16ºC. No Oceano Atlântico, distribui-se do
Cabo Cod (40°N), no Canadá, até o Rio da Prata (37°S), na Argentina,
desde a linha de costa até profundidades em torno de 350 m (Magro et
al., 2000; Martins & Haimovici, 2000; FAO, 2005).
A longevidade máxima registrada para T. lepturus foi de oito anos
no Brasil (Magro, 2006) e na África (Wojciechowski, 1972).
O porte de T. lepturus varia geograficamente. Na costa sudeste-
sul do Brasil o comprimento total máximo assintótico foi de 340 cm.
Indivíduos acima de 50 cm de comprimento formam cardumes
migrantes, com deslocamento e distribuição influenciados pelas
condições oceanográficas, sendo a temperatura o principal fator
limitante (Magro et al., 2000; FAO, 2005; Magro, 2006).
A desova de T. lepturus apresenta dois padrões principais,
ocorrendo no final da primavera, verão e outono na plataforma
continental, e ao longo de todo ano na região do talude. Ao longo da
costa brasileira foram registradas desovas durante todo o ano, exceto
no outono (Magro; 2006). A intensidade da desova é maior em águas
com temperaturas superiores à 20ºC (Magro et al., 2000; Martins &
Haimovici, 2000).
As larvas se distribuem preferencialmente em águas com
temperaturas superficiais superiores à 21
0
C. Os indivíduos juvenis (5 a
30 cm) ocorrem em águas costeiras e os subadultos (30 a 70 cm) no
interior da plataforma continental. Animais adultos, com comprimento
acima de 70 cm, apresentam distribuição mais ampla, em águas
costeiras, no interior e além dos limites da plataforma continental
(Martins & Haimovici, 1997; Cheng et al., 2001; FAO, 2005; Martins et
al., 2005). T. lepturus apresenta heterogeneidade espacial e temporal
5
influenciadas a partir de massas d’água, ressurgências, estratificação
térmica e disponibilidade de alimento (Martins et al., 2005).
Martins & Haimovici (2000) associaram a distribuição espacial da
espécie com sua plasticidade alimentar. No litoral do Rio Grande do
Sul, sul do Brasil, as fêmeas adultas e os juvenis permanecem na
região da plataforma continental durante o inverno para se
alimentarem. Contudo, os machos adultos movimentam-se além dos
limites da plataforma. A proximidade da costa acentua a intensidade
alimentar para suprir as necessidades energéticas associadas ao
crescimento, a reprodução e a desova (Martins & Haimovici, 2000;
Chiou et al., 2006; Magro, 2006).
T. lepturus realiza migração vertical ao longo da coluna d’água,
permanecendo próximo ao fundo durante o período diurno onde se
alimenta (Magro et al., 2000; Magro, 2006). No sul do Brasil, Martins et
al. (2005) registraram maior atividade alimentar durante período
noturno. Na Mauritânia, costa oeste da África, a espécie permanace
próxima ao fundo durante o dia, e no período noturno migra
verticalmente para se alimentar (Wojciechowski, 1972). No entanto,
Chiou et al. (2006) verificaram que na costa sudeste de Taiwan, na
Ásia, a atividade alimentar é intensa nos períodos diurno e noturno.
FAO (2005) reúne informações sobre a espécie ao longo de todo
mundo, descrevendo genericamente que juvenis e adultos de porte
pequeno alimentam-se de plâncton no período noturno, enquanto os
adultos migram para a superfície e alimentam-se de presas pelágicas
no período diurno.
No litoral de Taiwan não foram registradas diferenças nas
proporções de peixes, cefalópodes e crustáceos presentes na dieta de
T. lepturus, não havendo variação entre os sexos. A espécie consome
os recursos mais abundantes, o que caracteriza seu comportamento
alimentar oportunista. Porém, houve diferença entre as classes de
tamanho quanto à composição específica dos grupos de presas
consumidos (Chiou et al., 2006).
No Brasil, os itens alimentares dos espécimes de T. lepturus
coletados no Rio Grande do Sul variaram de acordo com o grau de
6
desenvolvimento ontogenético. Em geral, as larvas ingerem crustáceos
copépodes, os juvenis alimentam-se de pequenos crustáceos
zooplanctônicos, os sub-adultos têm preferência por crustáceos
eufasídios e pequenos peixes e os adultos alimentam-se de peixes,
cefalópodes e crustáceos peneídeos (Wojciechowski, 1972; Martins et
al., 2005).
Dentre as presas registradas para a espécie observam-se também
co-específicos (Martins et al., 2005; Chiou et al., 2006). O
comportamento alimentar de canibalismo é comum em peixes, e
existem diversas causas para sua ocorrência, como a densidade
populacional, diferenças de tamanho de co-específicos (Dou et al.,
2000; Claessen & Roos, 2000; Atencio-Garcia & Zamboni-Filho, 2006;
Fessehaye et al., 2006), disponibilidade de alimento, piscivoria (Dou et
al., 2000; Atencio-Garcia & Zamboni-Filho, 2006) e diversos fatores
comportamentais (Fessehaye et al., 2006).
T. lepturus está entre as seis espécies com maior volume de
desembarque pesqueiro mundial (Martins & Haimovici, 1997; FAO,
2005). Na China e em Taiwan é o peixe mais importante em termos
comerciais (Shuozeng, 1995; Kwok & Ni, 2000; Cheng et al., 2001),
mas vem sofrendo declínio populacional (Chiou et al.; 2006). No sul do
Brasil, a espécie também foi bem representada em pescarias com redes
de arrasto (Martins & Haimovici, 1997). No entanto, apresenta baixo
valor de mercado na maior parte do litoral brasileiro (Di Beneditto, A.P.,
com. pes.)
1
.
Além da importância comercial em algumas regiões, T. lepturus é
relevante em termos ecológicos. A posição trófica dos indivíduos
adultos é imediatamente subseqüente àquela ocupada por
elasmobrânquios e pequenos cetáceos (Chiou et al.; 2006). No litoral
sudeste e sul do Brasil, a espécie já foi registrada como item alimentar
desses animais (Di Beneditto et al., 2001; Santos et al., 2002; Aguiar,
2003), mas também se levanta a possibilidade de que seja um potencial
competidor trófico de P. blainvillei em regiões costeiras (Di Beneditto et
al., 2001; Bassoi, 1997; 2005).
1
Drª Ana Paula Madeira Di Beneditto (Universidade Estadual do Norte Fluminense/RJ).
7
Magro et al. (2000) reportam que a ausência de determinadas
espécies de peixes durante a pesca comercial pode ser decorrente da
exclusão trófica causada pela presença de T. lepturus. No Rio Grande
do Sul, grandes concentrações de T. lepturus estão associadas ao
declínio de espécies de peixes comercialmente importantes, tais como
Micropogonias furnieri (corvina), Umbrina canosai (castanha) e
Cynoscion guatucupa (pescada) (Martins, 1992; Martins & Haimovici,
1997).
1.3 - Características de Pontoporia blainvillei (Gervais & d’Orbigny, 1844)
A espécie Pontoporia blainvillei, conhecida popularmente como
toninha ou franciscana, é um pequeno cetáceo odontoceto da família
Pontoporiidae, endêmico de águas costeiras do Oceano Atlântico Sul
Ocidental. Sua área de distribuição está compreendida entre Itaúnas
(18º25’S), sudeste do Brasil, e o Golfo Novo (42º35’S), na Argentina
(Crespo et al., 1998; Siciliano et al., 2002).
A espécie apresenta maior abundância em áreas costeiras e nas
proximidades de estuários, sendo registrada em até 30 m de
profundidade e 30 milhas náuticas (mn) de distância da linha de costa
(Bordino et al., 2002). Contudo, sua maior densidade está relacionada
a águas entre 8-15 m a até 10 mn da costa (Crespo et al., 1998;
Bordino et al., 2002), o que também é verificado na costa norte do Rio
de Janeiro (Di Beneditto & Ramos, 2001; Siciliano et al., 2002).
Estudos genéticos e morfológicos demonstraram que ao longo de
sua distribuição a espécie apresenta pelo menos dois ecótipos, norte e
sul (Secchi et al., 1998; Ramos et al., 2002), mas há fortes evidências
de outros grupos populacionais distintos (Secchi et al., 2003).
Genericamente, os animais que se distribuem entre o Espírito Santo e o
norte de Santa Catarina (20ºS-27ºS) são considerados como forma
geográfica ou ecótipo norte. Os animais que ocorrem entre o sul de
Santa Catarina e a Argentina (30ºS-42ºS) são caracterizados como
ecótipo sul (Secchi et al., 2002; Siciliano et al., 2002). O ecótipo norte
apresenta porte inferior ao do sul, 120-150 cm e 140-170 cm,
8
respectivamente, além de uma diversidade genética mais baixa (Secchi
et al., 1998).
Considerando o ecótipo norte de P. blainvillei, nota-se uma
distribuição fragmentada, formando hiatos. Entre Regência, norte do
Espírito Santo (19º40'S), e Barra do Itabapoana, norte do Rio de
Janeiro (21º18'S), encontra-se um dos hiatos da distribuição da
espécie. O segundo está compreendido entre Macaé, norte do Rio de
Janeiro (22º25'S), e Ubatuba, sul de São Paulo (23º20'S) (Siciliano et
al., 2002). Os autores em questão atribuem a ocorrência dos hiatos a
fatores abióticos (e.g. temperatura, turbidez da água e morfo-fisiografia
do fundo marinho) e bióticos (e.g. presença de predadores e recursos
alimentares), que poderiam estar limitando a distribuição da espécie.
P. blainvillei apresenta longevidade em torno de 20 anos (Pinedo
et al., 1989), mas a maioria dos indivíduos registrados a partir de
encalhes ou capturas acidentais em pescarias não ultrapassa 10 anos
de idade (Bassoi, 2005).
Fêmeas de P. blainvillei com até nove anos de idade e machos
com até cinco anos foram registrados na costa norte do Rio de Janeiro
(Ramos et al., 2000). Nessa região, as fêmeas podem atingir cerca de
150 cm de comprimento, enquanto os machos ficam em torno de 120
cm. A maturidade das fêmeas ocorre em torno dos três anos de idade,
com 130 cm de comprimento, e os machos estão sexualmente maduros
aos dois anos e 115 cm (Ramos et al., 2000; Di Beneditto & Ramos,
2001).
Na região mencionada acima, Ramos et al. (2000) observaram
que não há sazonalidade reprodutiva definida, com os filhotes
nascendo com cerca de 70 cm de comprimento ao longo de todo ano,
após um período de gestação de 10 a 11 meses, aproximadamente. A
lactação varia entre 7 a 8 meses e há registros de fêmeas com prenhez
e lactação simultânea.
Em geral, P. blainvillei forma grupos pequenos, que variam entre
dois a cinco indivíduos, mas formações de até 20 animais já foram
registradas durante atividade alimentar (Di Beneditto & Ramos, 2001;
Secchi et al., 2002). Flutuações sazonais na composição da dieta
9
devido aos padrões de movimentação das presas já foram verificadas,
levando a espécie a movimentos de aproximação e distanciamento da
linha de costa ao longo do ano (Crespo et al., 1998; Danilewicz et al.,
2002).
Estudos sobre o hábito alimentar de P. blainvillei demonstraram
que peixes ósseos e cefalópodes são os itens preferenciais, seguidos
de crustáceos peneídeos. Os peixes das famílias Scianidae e
Engraulidae e os cefalópodes da família Loliginidae são as presas mais
representativas (Ott, 1994; Bassoi, 1997; Di Beneditto & Ramos, 2001;
Danilewicz et al., 2002; Bassoi, 2005). A avaliação de sua alimentação
indica estreita associação com áreas marinhas costeiras próximas a
estuários e de pouca profundidade, corroborando dados sobre a área
de distribuição preferencial (Di Beneditto & Ramos, 2001; Bordino et
al., 2002; Siciliano et al., 2002).
P. blainvillei possui grande importância como predador, ingerido
ampla diversidade de presas e exercendo papel fundamental na
manutenção do equilíbrio trófico no ecossistema marinho. Contudo,
também é necessário salientar seu papel como presa de diversas
espécies de elasmobrânquios e do cetáceo Orcinus orca (orca),
predadores de topo de cadeia (Ott & Danilewicz, 1998; Di Beneditto,
2004; Santos & Netto, 2005).
Atualmente, P. blainvillei destaca-se como a espécie de pequeno
cetáceo mais impactada por atividades antrópicas no Oceano Atlântico
Sul Ocidental, devido principalmente a capturas acidentais em redes de
pesca (IBAMA, 2001; Ott et al., 2002; Secchi et al., 2002; Bertozzi &
Zerbini, 2002; Rosas et al., 2002; Weiskel et al., 2002; Di Beneditto,
2003). As características de P. blainvillei com relação ao hábitat
preferencial e ao impacto das pescarias fazem com que estudos
relacionados às suas relações ecológicas sejam considerados
prioritários à conservação da espécie (IBAMA, 2001).
10
2 - Justificativa
Diante do exposto, o presente estudo visa preencher a lacuna
sobre o conhecimento da dieta de T. lepturus na costa norte do Rio de
Janeiro, comparando-a com a dieta de P. blainvillei, uma vez que
ambos são carnívoros que coexistem na região e apresentam potencial
como competidores tróficos.
Dessa forma, investiga-se pela primeira vez a ocorrência de
sobreposição alimentar entre esses animais, ampliando a compreensão
sobre o funcionamento da cadeia trófica em áreas marinhas costeiras.
3- Objetivos
3.1- Objetivo geral
Descrever a dieta de Trichiurus lepturus (Osteichthyes,
Perciformes) na costa norte do Rio de Janeiro, sudeste do Brasil,
verificando a ocorrência de sobreposição alimentar com Pontoporia
blainvillei (Mammalia, Cetacea).
3.2- Objetivos específicos
1) Identificação taxonômica das presas que compõem a dieta de T.
lepturus e P. blainvillei;
2) Avaliação quantitativa das presas que compõem a dieta desses
carnívoros marinhos; e
3) Comparação qualitativa e quantitativa das presas consumidas por
esses carnívoros marinhos.
4 - Hipótese
Baseado na possibilidade de que T. lepturus seja um potencial
competidor trófico de P. blainvillei, a hipótese levantada por este
estudo é de que na costa norte do Rio de Janeiro há sobreposição
alimentar entre T. lepturus e P. blainvillei.
11
5- Material e Métodos
5.1- Área de estudo
A costa brasileira pode ser dividida em duas grandes áreas, de
acordo com as características climáticas e suas regiões marinhas
correspondentes: tropical (5ºN - 23ºS) e subtropical (23ºS - 35ºS).
Entre essas áreas identifica-se uma zona de transição faunística (18º -
23ºS) na qual a costa norte do Rio de Janeiro está inserida e onde
grande diversidade de organismos estuarinos e marinhos se distribuem
(Palacio, 1982; Valentin & Monteiro-Ribas, 1993). Na interface entre as
áreas tropical e subtropical encontra-se um dos principais pontos de
ressurgência do Brasil, localizado em Cabo Frio, responsável pela
grande produtividade da região (Aguiar, 2003).
Os limites geográficos da costa norte do Rio de Janeiro podem
ser considerados como a localidade de Barra do Itabapoana (21º18’S),
município de São Francisco do Itabapoana, e o município de Macaé
(22º25’S). Nesta área a plataforma continental sofre um alargamento e
o talude situa-se na isóbata de 100 m, entre 40 e 60 milhas náuticas
(mn) de distância da linha de costa. O perfil batimétrico da região
possui características peculiares. Entre Barra do Itabapoana e o Cabo
de São Tomé (22°00`S) a plataforma continental é mais extensa e a
isóbata de 30 m dista entre 30 a 35 mn da costa. Já entre o Cabo de
São Tomé e Macaé ocorre um estreitamento da plataforma, e a isóbata
de 30 m está situada entre 7 e 14 mn da costa (Carta Náutica nº 20 -
Diretoria de Hidrografia e Navegação – DHN) (Figura 1).
A área de estudo é banhada pelas Correntes Costeira e do Brasil.
Ao sul do Cabo de São Tomé também podem ser sentidos os efeitos da
ressurgência da Água Central do Atlântico Sul (ACAS), principalmente
nos meses de primavera-verão (outubro a março) (Valentin & Monteiro-
Ribas, 1993). Na região, com cerca de 200 km de extensão de costa,
está localizada a desembocadura do Rio Paraíba do Sul, que é o mais
importante aporte fluvial do Rio de Janeiro devido ao seu volume de
água (Muehe & Valentini, 1998) (Figura 1). Os ventos do quadrante
nordeste predominam ao longo do ano e em condições mais intensas
de vento verificam-se características estuarinas na massa d’água até a
12
isóbata de 50 m (Petrobras, 1993) (Figura 1).
5.2- Coleta dos carnívoros marinhos estudados
As coletas dos carnívoros marinhos estudados foram conduzidas
pelos pescadores que utilizam redes de espera e cujas embarcações
estão sediadas no porto de Atafona (Figura 1). O campo de pesca
dessas embarcações está compreendido entre Barra do Itabapoana e
Macaé, e as redes são lançadas de menos de uma a cerca de 42 mn da
costa, em profundidades que variam entre 5 e 70 m. A maior parte das
redes de espera utilizadas mede cerca de 3 km de comprimento e 120
mm de malha, medida esticada entre nós opostos (Di Beneditto, 2003).
Com a colaboração desses pescadores realizaram-se as coletas
de T. lepturus e P. blainvillei, aproveitando-se da dinâmica usual das
pescarias praticadas na região.
Um total de 350 conteúdos de T. lepturus e 99 estômagos de P.
blainvillei foram utilizados no presente estudo. Este número amostral
número contribui como forma de minimizar os ruídos causados pelo
amplo campo de pesca e pelos problemas metodológicos citados no
item 1.1 - Considerações gerais sobre ecologia e comportamento
alimentar (página 4).
13
Brasil
Estado do Rio de Janeiro
B. de Itabapoana
Macaé
Rio Paraíba do Sul
Cabo São Tomé
Atafona
Figura 1 - Mapa do Rio de Janeiro, destacando a costa norte e seus
limites geográficos (Barra de Itabapoana-21º18’S e Macaé-22º25’S), o
rio Paraíba do Sul, o porto de Atafona (21º37’S), o Cabo de São Tomé
(22º00’S) e o perfil batimétrico da região costeira.
14
5.2.1- Espécimes de Trichiurus lepturus
Espécimes de T. lepturus foram coletados mensalmente a partir
de pescarias com rede de espera praticadas entre agosto de 2004 e
julho de 2006 (Figura 2). No total, avaliou-se o conteúdo estomacal de
350 indivíduos como amostra representativa do hábito alimentar desta
espécie no litoral norte do Rio de Janeiro.
Figura 2 - Espécime de Trichiurus lepturus capturado em rede de
pesca no norte do Rio de Janeiro em 2005 (sexo: fêmea; comprimento
total: 102 cm) (Foto: Di Beneditto, A. P.).
Os peixes foram obtidos nos entrepostos de pesca do porto de
Atafona, logo após o desembarque do pescado capturado para
comercialização. Apenas indivíduos adultos, medindo mais de 100cm
de comprimento total, foram selecionados para este estudo em função
do seu maior potencial como competidores tróficos de P. blainvillei.
Além disso, estruturas das presas encontradas em estômagos de
peixes menores geralmente não permitem a identificação taxonômica
ao nível específico.
A necropsia dos peixes foi realizada ainda nos entrepostos de
pesca, onde o comprimento total e sexo dos espécimes foram tomados
e o estômago retirado da cavidade abdominal. Após essa etapa, cada
estômago foi acondicionado em saco plástico contendo solução de
álcool aquoso 70%.
Em laboratório, o conteúdo estomacal foi pesado e lavado sob
água corrente em peneira de 400 μm de malha. Os itens recuperados
foram armazenados em solução de álcool aquoso 70% ou a seco.
15
5.2.2- Espécimes de Pontoporia blainvillei
O hábito alimentar de P. blainvillei na costa norte do Rio de
Janeiro está descrito em Di Beneditto (2000), Di Beneditto & Ramos
(2001) e Di Beneditto et al. (2001), baseado na análise de 89
conteúdos estomacais de exemplares encalhados em praias ou
capturados acidentalmente em redes de espera entre setembro de 1989
e setembro de 1998 (Figura 3). A malha amostral considerada pelo
presente estudo incluiu os conteúdos estomacais supracitados, além de
10 outros que foram recuperados entre outubro de 1998 e dezembro de
2005. No total, foram analisados 99 conteúdos estomacais como
representação do hábito alimentar de P. blainvillei na região.
Figura 3 - Espécime de Pontoporia blainvillei capturado acidentalmente
em rede de espera no norte do Rio de Janeiro em 1993 (sexo: macho;
comprimento total: 94 cm) (Foto: Di Beneditto, A. P).
No próprio local de coleta foram registrados os dados de
comprimento total do corpo e sexo dos animais estudados. Cada
espécime de P. blainvillei teve seus órgãos internos retirados da
cavidade abdominal, separando-se a partir daí o estômago do restante
do trato digestivo. Os estômagos foram mantidos sob congelamento até
a recuperação dos itens alimentares.
Posteriormente, em laboratório, o conteúdo estomacal foi lavado
sob água corrente em peneira de 400 μm de malha. Os itens
alimentares recuperados foram triados a olho nu e fixados em solução
de álcool aquoso 70% ou a seco, de acordo com o grupo taxonômico,
para identificação das presas consumidas.
16
5.3- Identificação e biometria das presas
A identificação e quantificação das presas consumidas pelos
carnívoros estudados foram realizadas em laboratório, sob
estereomicroscópio. Coleções de referência dos peixes e cefalópodes
neríticos que se distribuem na região (Di Beneditto et al., 2001) e guias
taxonômicos que reúnem as espécies de presas potenciais (Boschi,
1963; Figueiredo & Menezes, 1978; 1980; 2000; Menezes & Figueiredo,
1980; 1985; Clarke, 1986a; Cérvigon et al. 1993; Costa et al., 2003)
foram usados na identificação dos itens alimentares recuperados.
A análise dos peixes, cefalópodes e crustáceos ingeridos levou
em consideração a quantidade predada (densidade=número de
indivíduos; peso) e o porte das presas (comprimento e peso). A
biometria dos itens recuperados, tais como otólitos de peixes, bicos de
cefalópodes e cefalotórax de crustáceos, foi realizada sob
estereomicroscópio com ocular micrométrica acoplada. Devido às
relações biométricas entre as estruturas supracitadas e o porte dos
organismos foi possível realizar estimativas quanto às dimensões das
presas consumidas, aplicando-se as equações descritas nas Tabelas I,
II e III.
A partir de recuperação de peixes parcialmente digeridos nos
conteúdos estomacais analisados optou-se pela extração dos otólitos
para inferência quanto às suas dimensões, de modo a padronizar a
metodologia aplicada para a biometria. A extração dos otólitos foi
realizada através de corte longitudinal na parte ventral do crânio dos
peixes, selecionando-se apenas um dos otólitos (esquerdo ou direito).
Considerou-se a maior dimensão longitudinal (comprimento) para a
biometria dessa estrutura (Figura 4a).
Devido ao maior tamanho e por apresentarem padrões
morfológicos distintos para cada espécie, os otólitos sagitta foram
selecionados para esse estudo. Exceção se referiu à família Ariidae
(bagre e afins) na qual o otólito lapillus foi utilizado, seguindo os
critérios descritos em Bastos (1990). Os otólitos desgastados, cujas
características morfológicas não estavam visíveis, não puderam ser
17
utilizados na identificação e biometria das presas, mas foram
considerados na estimativa da densidade de peixes consumidos.
Para alguns indivíduos de T. lepturus recuperados nos estômagos
analisados utilizou-se o comprimento do osso supra-occiptal (CS) para
se estimar o comprimento do otólito (CO) quando sua recuperação ou
biometria não foi possível. A equação CO= (90,93 x CS
0,63
) foi
aplicada para esse fim, com as medidas tomadas em milímetros (Di
Beneditto et al., 2001).
Os bicos de cafalópodes apresentam características distintas
que possibilitam sua utilização para taxonomia e estimativas quanto ao
comprimento do manto e peso das presas consumidas (Clarke, 1986a).
Na maioria das vezes, os bicos recuperados já estavam soltos no
estômago dos predadores, mas quando ainda se encontravam aderidos
à musculatura dos cefalópodes ou quando presas parcialmente
digeridas eram recuperadas optou-se por sua extração para fins
biométricos. O bico superior e/ ou inferior foi medido com relação ao
comprimento do rostro, conforme indicado na Figura 4b.
Características do cefalotórax de crustáceos decápodes (forma e
número de espinhos rostrais) e do telson possibilitam a identificação da
espécie em questão (Costa et al., 2003) (Figura 4c). Os cefalotórax
e/ou telsons recuperados estavam soltos no estômago dos predadores
ou ainda compunham o corpo dos organismos consumidos. Os
comprimentos dos cefalotórax foram tomados para se calcular o porte
dos crustáceos (comprimento e peso).
Para estimativas do comprimento e do peso de Xiphopenaeus
kroyeri (camarão sete-barbas) foram utilizadas as equações abaixo,
onde o comprimento total (CT) e o comprimento do cefalotórax (CC)
são medidos em centímetros e o peso (P) em gramas (Di Beneditto et
al., 2001): P = 0,0051.CT
3,0241
(n= 2.898; r
2
= 0,9069) e CC = (0,2491.
CT)-0,2546 (n= 2.898; r
2
= 0,9523). As espécies Pleoticus muelleri
(camarão barba-ruça) e Artemesia longinaris (camarão santana) foram,
em sua maioria, recuperadas inteiras, sendo o peso e o comprimento
total tomados diretamente dos espécimes.
Devido aos problemas metodológicos citados no item 1.1 -
18
Considerações gerais sobre ecologia e comportamento alimentar
(página 4), o presente estudo considera que as estimativas de porte,
biomassa e densidade (número de indivíduos) das presas representam
as quantidades mínimas consumidas pelos carnívoros estudados.
Nos casos onde as relações biométricas não foram encontradas
na literatura, como para os engraulídeos Anchoa sp. e Anchoviela
lepidentostole, utilizou-se as equações de Anchoa filifera, extraídas de
Di Beneditto et al. (2001), que apresenta porte e morfologia do otólito
semelhantes as espécies supracitadas.
19
a)
b)
c)
Figura 4 - a) Esquema da face interna do otólito sagitta esquerdo de
Stellifer rastrifer (Sciaenidae) com indicação do comprimento (CO)
e da largura do otólito (LO); b) Esquema dos bicos (mandíbulas) de
Loligo sanpaulensis (Loliginidae) com indicação do comprimento do
rostro superior (CRS) e inferior (CRI) e c) Esquema de Xyphopenaeus
kroyeri (Penaeidae) com indicação do rostro e dos espinhos (CE)
e do telson (TE) (adaptado de Di Beneditto, 2000).
20
Tabela I - Equações obtidas pela análise de regressão entre as
dimensões do otólito (comprimento (CO) e largura (LO)) e o
comprimento padrão (CP) ou total (CT) das espécies de peixes
neríticos da costa norte do Rio de Janeiro (extraído de Di Beneditto et
al., 2001).
Espécie Equação r
2
n
Anchoa filifera CP = (1,9674 . CO) + 1,0401 0,716 35
Anchoa sp. CP = (1,9674 . CO) + 1,0401 0,716 35
Anchoviela lepidentostole CP = (1,9674 . CO) + 1,0401 0,716 35
Arius spixii CP = (2,3789 . CO) - 4,8624 0,959 24
Bagre bagre CP = (3,2845 . CO) - 6,4014 0,985 25
Chirocentrodon bleekerianus CP = (3,5713 . CO) + 0,4534 0,888 40
Chloroscombrus chrysurus
2
CT = 26,4414 . CO
1,2711
0,966 162
Ctenosciaena gracilicirrhus CP = (1,9064 . CO) - 1,3718 0,964 33
Cynoscion jamaicensis CP = (1,7202 . CO) - 1,1392 0,996 12
Cynoscion virescens CP = (1,4033 . CO) + 0,4989 0,986 23
Etropus sp. CP = (3,8712 . CO) - 2,2187 0,957 11
Eucinostomus argenteus CP = (2,0642 . CO) + 0,8002 0,761 15
Isopisthus parvipinnis CP = (1,8563 . CO) - 0,7437 0,968 30
Larimus breviceps CP = (1,4164 . CO) - 1,1364 0,991 35
Lycengraulis grossidens CP = (2,5486 . CO) + 1,6457 0,655 08
Macrodon ancylodon CP = (2,0416 . CO) - 4,1130 0,659 20
Menticirrhus americanus CP = (2,8407 . CO) - 4,8805 0,987 23
Micropogonias furnieri
2
CT = 23,4308 . CO
0,9675
0,964 236
Nebris microps CP = (3,0319 . CO) - 10,226 0,967 22
Odonthognatus mucronatus CP = (5,5944 . CO) - 2,0707 0,949 27
Orthopristis ruber CP = (2,1058 . CO) - 1,4423 0,967 06
Pagrus pagrus
1
CT=16.272. LO
1.2296
0,989
27
Paralonchurus brasiliensis CP = (2,016 . CO) - 1,8970 0,981 39
Pellona harroweri CP = (2,9827 . CO)- 1,4489 0,953 28
Pellona sp. CP = (2,9827 . CO)- 1,4489 0,953 28
Peprilus paru CP = (1,8424 . CO) - 1,0949 0,974 26
Porichthys porosissimus
2
CT = (26,734 . CO) - 8,3350 0,995 38
Prionotus punctatus CP = (3,0771 . CO) - 2,7692 0,984 32
Sardinella brasiliensis CP = (6,2441 . CO) - 7,5630 0,998 06
Selene spixii CP = (3,1858 . CO) - 1,2392 0,967 13
Selene vomer CP = (4,3465 . CO) - 1,9965 0,962 05
Stellifer brasiliensis CP = (2,2654 . CO) - 1,9308 0,963 30
Stellifer rastrifer CP = (2,9422 . CO) - 3,796 0,932 30
Stellifer sp. CP = (2,0172 . CO) - 0,9726 0,880 24
Trachurus lathami
2
CP = 29,8976. CO
0,953
0,989 -
Trichiurus lepturus
CT = (17,533 . CO) - 15,885 0,989 19
Trinects sp. CP = (4,4211 . CO) - 1,5230 0,928 17
CO: mm; CP/CT: cm. 1- Bassoi, 2005 (LO e CT: mm); 2- Bastos, 1990 (CP e CT: mm).
21
Tabela II - Equações obtidas pela análise de regressão entre as
dimensões do otólito (comprimento (CO) e largura (LO)) ou o
comprimento total (CT) e o peso (P) das espécies de peixes neríticos
da costa norte do Rio de Janeiro (extraído de Di Beneditto et al., 2001).
Espécie Equação r
2
n
Anchoa filifera P = 0,2984 . CO
2,4207
0,689 35
Anchoa sp. P = 0,2984 . CO
2,4207
0,689 35
Anchoviela lepidentostole P = 0,2984 . CO
2,4207
0,689 35
Arius spixii P = 0,0030 . CO
4,6374
0,947 24
Bagre bagre P = 0,0067 . CO
4,7124
0,981 25
Chirocentrodon bleekerianus P = 0,7329 . CO
2,6309
0,879 40
Chloroscombrus chrysurus
2
P = 0,2652 . CO
3,4304
0,965 162
Ctenosciaena gracilicirrhus P = 0,0496 . CO
3,5123
0,971 33
Cynoscion jamaicensis P = 0,0288 . CO
3,4318
0,994 12
Cynoscion virescens P = 0,1029 . CO
2,5646
0,953 23
Etropus sp. P = 0,1304 . CO
4,4627
0,961 11
Eucinostomus argenteus P = 0,9062 . CO
2,2507
0,767 15
Isopisthus parvipinnis P = 0,0477 . CO
3,2867
0,973 30
Larimus breviceps P = 0,0519 . CO
3,0227
0,985 35
Lycengraulis grossidens P = 0,3442 . CO
3,108
0,715 08
Macrodon ancylodon P = 0,0089 . CO
3,8605
0,733 20
Menticirrhus americanus P = 0,0191. CO
4,1522
0,993 23
Micropogonias furnieri
2
P = 0,0854 . CO
3,0674
0,951 236
Nebris microps P = 0,0040 . CO
4,5565
0,979 22
Odonthognatus mucronatus P = 0,3041 . CO
3,6934
0,936 27
Orthopristis ruber P = 0,2214 . CO
2,7212
0,820 06
Pagrus pagrus
1
P = 0.0669. LO
3.6755
0,985 27
Paralonchurus brasiliensis P = 0,0195 . CO
3,8099
0,983 39
Pellona harroweri P = 0,1224 . CO
3,6914
0,973 28
Pellona sp. P = 0,1224 . CO
3,6914
0,973 28
Peprilus paru P = 0,1005 . CO
3,4275
0,977 26
Porichthys porosissimus
1
P= 0,6177.10
-5
.CT
3,095
0,995 38
Prionotus punctatus P = 0,0782 . CO
4,0221
0,967 32
Sardinella brasiliensis P = 0,6765 . CO
3,1586
0,986 06
Selene spixii P = 0,4295 . CO
3,116
0,956 13
Selene vomer P = 0,5590 . CO
4,0425
0,998 05
Stellifer brasiliensis P = 0,0324 . CO
3,9782
0,969 30
Stellifer rastrifer P = 0,0356 . CO
4,2559
0,944 30
Stellifer sp. P = 0,0389 . CO
3,8297
0,934 24
Trachurus lathami
2
P = 1,5157 . CO
1,1795
0,976 -
Trichiurus lepturus
P = 0,1042 . CO
4,6079
0,987 19
Trinects sp. P = 1,1926 . CO
3,8211
0,937 17
CO: mm; P: gramas. 1- Bassoi, 2005 (CT e LO: mm); 2- Bastos, 1990.
22
Tabela III - Equações obtidas pela análise de regressão entre o
comprimento do rostro superior (CRS) e inferior (CRI), comprimento do
manto (CM) e o peso (P) das espécies de cefalópodes neríticos da
costa norte do Rio de Janeiro (extraído de Di Beneditto, 2000).
Espécie Equação r
2
n
Loligo plei
CM = 75,698 . CRI
1,5038
CM = 68,766 . CRS
1,3594
P = 10,6 . CRI
3,3691
P = 8,47 . CRS
3,0619
0,878
0,825
0,937
0,937
54
54
54
54
Loligo sanpaulensis
CM = 13,173 . e
(1,1087 .CRI)
CM = 13,546 . e
(1,2109 . CRS)
P = 0,2768 . e
(2,6592 . CRI)
P = 0,3408 . e
(2,7661 . CRS)
0,918
0,920
0,908
0,906
75
75
75
75
Lolliguncula brevis
CM = (43,235 . CRI) + 1,6652
CM = (39,868. CRS) + 4,5157
P = 0,3022. e
(2,9198 . CRI)
P = 0,3395 . e
(2,7899 . CRS)
0,911
0,931
0,940
0,949
29
29
29
29
5.4- Análise dos resultados
Para cada espécie de presa foi calculado o percentual de
freqüência de ocorrência (%FO), definido como o número de estômagos
em que a presa ocorre dividido pelo número total de estômagos com
presença de itens alimentares; o percentual de freqüência numérica
(%FN), definido como a densidade (número de indivíduos) da presa
dividida pela densidade (número de indivíduos) total de presas
consumidas e o percentual de biomassa (%W), definido como a
biomassa da presa dividida pela biomassa total de presas ingeridas.
A importância de cada espécie na dieta dos carnívoros marinhos
estudados foi determinada através do índice de importância relativa
(IIR) (Pinkas et al., 1971): IIR= [(%FN + %W) x %FO]. Esse índice
quantifica a representatividade das presas em função de sua
participação relativa na densidade e biomassa totais e em todos os
conteúdos estomacais com presença de itens alimentares.
Devido às diferenças das presas quanto à digestibilidade e
preservação de estruturas com relevância taxonômica e biométrica no
conteúdo estomacal dos predadores, optou-se por calcular o IIR [(%FN
+ %W) x %FO] separadamente para cada grupo de presas: peixes,
23
cefalópodes e crustáceos. Dessa forma, pretendeu-se minimizar
subestimativas ou superestimativas quanto à importância das espécies
predadas.
Apesar da variação temporal entre as coletas dos animais
estudados (P. blainvillei: 1989-2005 e T. lepturus: 2004-2006), o
número amostral considerado e a metodologia aplicada tornaram
possíveis às comparações referentes à sua dieta.
Para se comparar o porte, a biomassa e a densidade (número de
indivíduos) totais dos peixes e cefalópodes consumidos por T. lepturus
e P. blainvillei utilizou-se estatística descritiva não paramétrica com
geração de diagramas boxplot com o auxílio do programa R-System
(2005). Esta abordagem também foi aplicada para Pellona harroweri,
espécie de presa com representatividade comum entre os carnívoros
estudados. Os crustáceos não puderam ser considerados nessas
comparações devido à baixa representatividade na dieta de P.
blainvillei e ao avançado estado de digestão das estruturas
recuperadas nos conteúdos estomacais, não permitindo estimativas
quanto ao porte.
Optou-se por utilizar estatística descritiva não paramétrica com a
mediana como medida de tendência central para comparar o porte, a
biomassa e a densidade (número de indivíduos) das presas na dieta
dos predadores em decorrência da heterogeneidade de presas nos
conteúdos estomacais de T. lepturus. Ao gerar dados com valores de
média e desvio padrão, este último apresentou valores até três vezes
superiores às médias, não fornecendo uma análise biológica
satisfatória dos dados.
A dieta dos dois carnívoros também foi comparada
estatisticamente através de índices ecológicos calculados através do
programa GW-Basic 2.0 (1983). Foram utilizados os índices de
diversidade e de dominância de Simpson e de similaridade de Jaccard
(qualitativo) e de Morisita-Horn (quantitativo).
Os índices de Simpson foram selecionados para aplicação pelo
presente estudo por apresentarem moderada habilidade em discriminar
as espécies na amostra e baixa sensibilidade a variações no tamanho
24
amostral (Magurran, 1988).
O índice de diversidade de Simpson foi aplicado como meio de
avaliar a diversidade da dieta e o grau da mesma: 1- (ni/N)
2
, onde ni
é o número de indivíduos na ith espécie (definido como uma espécie de
presa em particular) e N é o número total de indivíduos considerando
todas as espécies de presas (Magurran, 1988).
O índice de dominância de Simpson foi empregado para se
determinar à contribuição de cada presa em particular (abundância) em
relação as demais presas consumidas: D= (ni(ni-1)/ N(N-1)), onde ni
é o número de indivíduos na ith espécie e N é o número total de
indivíduos considerando todas as espécies de presas. O índice dá
maior peso em seus cálculos a abundância das espécies mais comuns,
mas é menos sensível a riqueza das mesmas (Magurran, 1988).
O índice de similaridade de Jaccard foi utilizado para se verificar
a amplitude de sobreposição da dieta: Cj= j/(a+b-j), onde j é o número
de espécies de presas registradas no conteúdo estomacal de ambos os
carnívoros estudados; a é o número de espécies de presas registradas
no carnívoro A e b é o número de espécies de presas registradas no
carnívoro B. Esse índice permite verificação da amplitude em termos
qualitativos (riqueza de presas). Quando a similaridade é completa
(100%) o valor é de um e zero nos casos onde não há similaridade.
Suas medições são claras, mas isso pode acarretar a desvantagem de
seu coficiente não levar em consideração a abundância das espécies,
consierando todas como iguais, independente das espécies serem raras
ou abundantes. Esta consideração é levada em conta nas medidas
quantitativas como o índice de similaridade de Morisita-Horn
(Magurran, 1988).
O índice de similaridade de Morisita-Horn, por outro lado,
possibilita essa mesma avaliação em termos quantitativos, ou seja,
considera a abundância das presas: C
mH
= 2(an
i x
bn
i
)/(da + db)aN x
bN, sendo da= an
i
2
/ aN
2
,
onde an
i
é o número de indivíduos na ith
espécie de presa registrada no carnívoro A e aN é o número total de
indivíduos registrados no conteúdo estomacal do carnívoro A; db=
bn
i
2
/ bN
2
onde bn
i
é o número de indivíduos na ith espécie de presa
25
registrada no carnívoro B e bN é o número total de indivíduos
registrados no conteúdo estomacal do carnívoro B. A desvantagem
deste índice é a sensíbilidade ao número de indivíduos das espécies
mais abundantes, no entanto, é fortemente influenciado pela riqueza de
espécies e o tamanho da amostra (Magurran, 1988).
26
6- Resultados
6.1 - Alimentação de Trichiurus lepturus
A caracterização do hábito alimentar de T. lepturus no norte do
Rio de Janeiro baseou-se na análise de 350 conteúdos estomacais.
Deste total, 343 conteúdos continham itens alimentares e puderam ser
utilizados na investigação da dieta. Vinte e oito espécies de presas
(Tabelas IV e VI), perfazendo um total de 1.676 indivíduos e 5.710,4 g
foram registradas.
A freqüência de ocorrência dos grupos de espécies de presas
está indicada na Figura 5. Em cerca de 15,2% (n= 52) dos conteúdos
estomacais com itens alimentares verificou-se a ocorrência de mais de
um grupo de presas. Os peixes corresponderam ao maior percentual,
seguidos de crustáceos e cefalópodes.
0
20
40
60
80
100
Peixes Cefalópodes Crustáceos
FO %
Figura 5 - Freqüência de ocorrência dos grupos de presas registradas
no conteúdo estomacal de Trichiurus lepturus, na costa norte do Rio de
Janeiro, entre agosto de 2004 e julho de 2006 (N=343).
27
Os peixes foram registrados em cerca de 58% (n= 200) dos
estômagos com itens alimentares e incluíram 23 espécies pertencentes
a 10 famílias. Cerca de 65% das espécies identificadas são
representantes das famílias Sciaenidae, Engraulidae e Clupeidae
(Tabela IV).
No total, 373 indivíduos foram contabilizados, somando 4.444,3g
de biomassa. A maior amplitude de densidade por estômago foi
verificada para Pellona harroweri (1 a 6 indivíduos) e de biomassa para
T. lepturus (0,2 a 649 g). O número de espécies por estômago variou
de um a quatro. T. lepturus apresentou comportamento de canibalismo,
predando sobre co-específicos de até 100 cm de comprimento.
Entretanto, a média do comprimento da maior parte dos peixes
consumidos não ultrapassou cerca de 10 cm (Apêndice I).
As espécies T. lepturus, P. harroweri, Chirocentrodon
bleekerianus, Lycengraulis grossidens, Peprilus paru, Chloroscombrus
chrysurus, Odontognathus mucronatus, Stellifer brasiliensis e
Isophisthus parvipinnis totalizaram 96,2% do somatório do IIR de
peixes e destacaram-se, nessa ordem, como os principais peixes
consumidos. As quatro primeiras espécies contribuíram com cerca de
90% do somatório do IIR (Tabela IV).
Os cefalópodes foram registrados em cerca de 4,4% (n= 15) dos
estômagos, a partir da identificação das espécies L. plei e L.
sanpaulensis. A primeira espécie foi a mais consumida entre os
cefalópodes predados por T. lepturus, correspondendo a 96 % do IIR
(Tabela IV). Vinte e dois exemplares de cefalópodes totalizaram
1.082,3 g. A maior amplitude de densidade e biomassa por estômago
foi observada para L. plei, 1 a 3 indivíduos e 4,8 a 193,4 g,
respectivamente. O número de espécies em cada estômago variou de
um a dois e a média do comprimento do manto dos indivíduos variou
entre 6,5 e 10,2 cm (Apêndice I).
Em cerca de 19,8% dos estômagos (n= 68) foram contabilizados
1.281 espécimes de crustáceos e 183,76 g (Figura 5). O cálculo da
biomassa considerou apenas os crustáceos que puderam ser
identificados e ter seu porte estimado. P. muelleri, X. kroyeri e A.
28
longinaris estavam presentes nos conteúdos estomacais. O número de
espécies de crustáceos por estômago variou de um a três. A média do
comprimento das presas ficou entre 3,1 e 4,4 cm. A maior amplitude de
densidade e de biomassa foi registrada para P. muelleri (3 a 178
indivíduos e 0,2 a 36,9 g). P. muelleri foi o crustáceo mais
representativo na dieta (Tabela IV e Apêndice I).
29
Tabela IV - Índice de importância relativa (IIR) das espécies de presas
consumidas por Trichiurus lepturus na costa norte do Rio de Janeiro.
PRESAS %FN %W %FO IIR
Peixes
Trichiurus lepturus
4,36 40,20 8,00 356,48
Pellona harroweri
12,26 8,49 14,00 290,58
Chirocentrodon bleekerianus
6,54 9,78 9,00 146,88
Lycengraulis grossidens
3,27 8,97 6,00 73,44
Peprilus paru
5,99 2,38 8,00 67,01
Chloroscombrus chrysurus
2,18 4,23 4,00 25,63
Odontognathus mucronatus
2,72 1,83 4,50 20,51
Stellifer brasiliensis
2,72 1,55 3,00 12,83
Isophisthus parvipinnis
1,36 2,43 2,50 9,48
Paralonchurus brasiliensis
0,82 6,06 1,00 6,88
Bagre bagre
1,09 3,46 1,50 6,82
Anchoa filifera
1,63 0,52 2,50 5,40
Cynoscion jamaicensis
0,54 3,93 1,00 4,47
Anchoviela lepidentostole
1,36 0,28 2,50 4,12
Arius spixii
1,91 0,08 2,00 3,97
Ortopristis ruber
0,54 1,69 1,00 2,24
Stellifer sp. 1,63 0,29 1,00 1,93
Pagrus pagrus
0,27 2,46 0,50 1,36
Trachurus lathami
0,54 0,40 1,00 0,94
Prionotus punctatus
0,54 0,10 1,00 0,64
Porichthys porosissimus
0,27 0,85 0,50 0,56
Anchoa sp. 0,27 0,01 0,50 0,14
Macrodon ancylodon
0,27 0,00 0,50 0,14
Cefalópodes
Loligo plei
59,09 98,99 83,33 13.173,68
Loligo sanpaulensis
22,73 1,62 25,00 608,66
Crustáceos
Pleoticus muelleri
96,33 95,53 42,85 8.222,91
Artemesia longinaris
3,10 0,47 8,57 30,58
Xiphopenaeus kroyeri
0,26 0,58 8,57 7,22
FO-freqüência de ocorrência; FN-frequência numérica; W-biomassa; IIR=[(%FN+%W) x FO].
30
6.2 - Alimentação de Pontoporia blainvillei
Para a caracterização da dieta de P. blainvillei foram analisados
99 conteúdos estomacais. Deste total, 95 continham itens alimentares e
foram utilizados na investigação do hábito alimentar.
Identificou-se um total de 27 espécies de presas (Tabelas V e VI),
sendo contabilizados 5.194 indivíduos e 32.194,3 g. A Figura 6
representa a freqüência de ocorrência dos grupos de presas. Em 72,6%
(n=68) dos conteúdos estomacais verificou-se a ocorrência de mais de
um grupo de presas. Os peixes corresponderam ao maior percentual,
seguidos de cefalópodes e crustáceos.
0
20
40
60
80
100
Peixes Cefalópodes Crustáceos
FO %
Figura 6 - Freqüência de ocorrência dos grupos de presas registrados
no conteúdo estomacal de Pontoporia blainvillei, na costa norte do Rio
de Janeiro, entre agosto de 1989 e janeiro de 2006 (N=95).
Os peixes foram registrados em cerca de 96% (n= 91) dos
estômagos de P. blainvillei com itens alimentares (Figura 6) e incluíram
22 espécies pertencentes a 7 famílias (Tabelas V e VI). A família
Sciaenidae correspondeu a 50% das espécies identificadas. No total,
4.231 exemplares foram contabilizados, mas o cálculo da biomassa
considerou apenas os peixes que puderam ser identificados e ter seu
porte estimado, o que totalizou 7.091,5 g. A maior amplitude de
densidade por estômago foi verificada para Stellifer sp. (1 a 148
indivíduos) e de biomassa para P. paru (0,6 a 249 g). O número de
31
espécies por estômago variou de um a nove e a média do comprimento
dos peixes consumidos não ultrapassou 8 cm, com exceção de T.
lepturus (Apêndice II).
As espécies Stellifer sp., A. filifera, P. harroweri, I. parvipinnis,
Cynoscion jamaicensis, C. bleekerianus, S. brasiliensis e Sardinella
brasiliensis totalizaram cerca de 96% do somatório do IIR e foram,
nessa ordenação, os principais peixes predados pelo cetáceo na
região. As quatro primeiras espécies contribuíram com mais de 77% do
somatório do IIR (Tabela V).
Os cefalópodes foram registrados em 67,4% (n= 64) dos
estômagos (Figura 6), contabilizando 932 indivíduos e 25.102,8 g. As
espécies identificadas foram L. plei, L. sanpaulensis e Lolliguncula
brevis. Dentre essas, a primeira apresentou destacada importância
(56% do IIR) na alimentação de P. blainvillei, seguida das demais
(Tabela V). A maior amplitude de densidade por estômago foi
observada para L. sanpaulensis (1 a 75 indivíduos) e de biomassa para
L. plei (14,1 a 4.403,1 g). O número de espécies por estômago variou
de um a três e a média do comprimento do manto variou entre 5,2 e
15,5 cm (Apêndice II).
A ocorrência de crustáceos foi registrada em apenas 25,3% (n=
24) dos estômagos (Figura 6). Devido ao alto grau de degradação das
estruturas recuperadas nos conteúdos estomacais não foi possível
realizar inferências quanto ao porte original das presas, bem como
identificação de alguns dos exemplares predados. A identificação e a
densidade de presas só foi possível de ser registrada em 14 conteúdos
estomacais, correspondendo a 31 indivíduos. A. longinaris e X. kroyeri
foram identificadas como presas de P. blainvillei e as freqüências de
ocorrência e numérica foram 3,2% e 96,8% e 7,7% e 92,3%,
respectivamente. A densidade de crustáceos por estômago variou de
um a seis indivíduos.
32
Tabela V - Índice de importância relativa (IIR) das espécies de presas
consumidas por Pontoporia blainvillei na costa norte do Rio de Janeiro.
PRESAS % FN % W % FO IIR
Peixes
Stellifer sp. 24,87 8,93 42,55 1.438,45
Anchoa filifera
9,88 16,32 41,49 1.086,80
Pellona harroweri
12,14 12,59 39,36 973,28
Isopisthus parvinnis
10,84 9,83 40,43 835,62
Cynoscion jamaicensis
8,04 5,10 26,60 349,27
Chirocentrodon bleekerianus
5,46 13,31 18,09 339,39
Stellifer brasiliensis
4,67 3,70 29,79 249,24
Sardinella brasiliensis
2,83 12,10 8,51 127,01
Peprilus paru
1,08 6,49 12,77 96,71
Stellifer rastrifer
2,26 3,15 9,57 51,83
Odontognathus mucronatus
1,08 3,13 8,51 35,87
Micropogonias furnieri
0,93 1,13 9,57 19,79
Trichiurus lepturus
0,34 1,37 9,57 16,40
Ctenosciaena gracilicirrhus
0,49 1,27 7,45 13,15
Anchoviela lepidentostole
1,06 2,07 3,19 9,97
Paralonchurus brasiliensis
0,20 0,14 4,26 1,44
Ortopristis ruber
0,42 0,06 2,13 1,02
Cynoscion virescens
0,22 0,07 1,06 0,31
Lycengraulis grossidens
0,07 0,13 1,06 0,22
Porichthys porosissimus
0,07 0,08 1,06 0,16
Larimus breviceps
0,02 0,05 1,06 0,08
Macrodon ancylodon
0,02 0,04 1,06 0,06
Cefalópodes
Loligo plei
68,25 25,17 66,67 6.227,80
Loligo sanpaulensis
25,19 72,25 47,62 4.639,99
Lolliguncula brevis
6,57 2,58 28,57 261,24
FO-freqüência de ocorrência; FN-freqüência numérica; W-biomassa. IIR=[(%FN+ %W) x %FO)]. Não
estão representados os dados referentes aos crustáceos, pois não foi possível inferir biomassa (W)
devido ao alto grau de digestão das presas.
33
6.3 - Comparação entre o hábito alimentar de Trichiurus lepturus e
Pontoporia blainvillei
Considerando-se ambos os carnívoros marinhos, foram
registradas 35 espécies de presas nos conteúdos estomacais
analisados (29 peixes, 3 cefalópodes e 3 crustáceos) (Tabela VI). A
comparação da dieta indica que o número de espécies consumidas foi
similar. Em conteúdos de T. lepturus e P. blainvillei foram registradas
23 e 22 espécies de peixes, respectivamente. Quanto aos cefalópodes,
duas espécies estavam presentes na dieta de T. lepturus e três em P.
blainvillei, sendo que a relação inversa foi observada para os
crustáceos. Vinte espécies foram comuns à dieta dos dois predadores
(16 peixes, 2 cefalópodes e 2 crustáceos), conforme indicado na Tabela
VI.
As espécies de presas e a ordenação dos índices de importância
relativa (IIR) estão descritas na Tabela VII. Apesar da sobreposição
alimentar qualitativa, houve diferenças quanto às presas preferenciais
(Tabela VII), o porte dos organismos predados e a densidade (n
о
de
indivíduos) e biomassa ingeridas (Apêndices I e II).
Os peixes foram os itens mais representativos na dieta dos
animais estudados (Figuras 5 e 6). Representantes da família
Scianidae foram os mais representativos na dieta de P. blainvillei,
contribuindo com cerca de 50% das espécies de peixes consumidos. Já
para T. lepturus, essa mesma família, juntamente com Engraulidae e
Clupeidae, somaram 65% do total de peixes identificados (Tabela VI).
Dentre as 30 espécies de peixes registradas nos conteúdos
estomacais, 18 têm hábito demersal, 9 são pelágicas e 2 podem ser
consideradas como demerso-pelágicas. Com exceção de P. pagrus, os
peixes consumidos são caracteristicamente neríticos e 79% do total
também estão associados a estuários (Apêndice III). Considerando o
IIR dos peixes predados por ambos os carnívoros, observa-se
tendência à sobreposição quanto à ordenação de P. harroweri, C.
bleekerianus e Stellifer brasiliensis, com a primeira se destacando das
demais em termos de representatividade (Tabela VII).
34
Entre as quatro principais espécies de peixes listadas como
presas representativas na dieta de T. lepturus (96% do IIR), P.
harroweri, C. bleekerianus e L. grossidens são espécies de hábitos
pelágicos, enquanto T. lepturus apresenta hábitos demerso-pelágicos.
Na dieta de Pontoporia blainvillei, entre as quatro espécies que se
destacaram na dieta, Stellifer sp. e I. parvipinnis apresentam hábitos
demersais e as espécies A. filifera e P. harroweri são pelágicas.
Em termos gerais, os cefalópodes apresentaram-se como
importantes itens alimentares na dieta de P. blainvillei (Figura 6) e L.
plei foi a espécie com maior representatividade (Tabela VII). Para P.
blainvillei, os crustáceos não parecem ser presas tão importantes
quanto para T. lepturus (Figuras 5 e 6). Em relação a T. lepturus, o
crustáceo P. muelleri se destacou em termos de importância relativa
(IIR) (Tabelas IV e VII).
35
Tabela VI - Lista das espécies de presas consumidas por Trichiurus
lepturus (Tl) e Pontoporia blainvillei (Pb) na costa norte do Rio de
Janeiro.
Presas/ Família Espécie Nome comum Tl Pb
Peixes
Batrachoididae
Porichthys porosissimus
Mamangá-liso X X
Clupeidae
Sardinella brasiliensis
Sardinha-verdadeira X
Odontognathus mucronatus
Peixe-folha X X
Chirocentrodon bleekerianus
Peixe-vidro X X
Pellona harroweri
Piaba X X
Engraulidae
Anchoa sp. Manjubinha
X
Anchoviella lepidentostole
Manjuba X X
Anchoa filifera
Manjubinha X X
Lycengraulis grossidens
Manjubão X X
Chloroscombrus chrysurus
Palombeta
X
Trachurus lathami
Xixarro
X
Haemulidae
Orthopristis ruber
Cocoroca X X
Sciaenidae
Ctenosciaena gracilicirrhus
Cangauá X
Paralonchurus brasiliensis
Maria-luísa X X
Micropogonias furnieri
Corvina X
Larimus breviceps
Oveva X
Isopisthus parvipinnis
Pescada-faneca X X
Macrodon ancylodon
Pescada-foguete X X
Cynoscion virescens
Pescada-cambuçu X
Cynoscion jamaicensis
Goete X X
Stellifer rastrifer
Cangoá X
Stellifer brasiliensis
Canganguá X X
Stellifer sp. Cangoá X X
Sparidae
Pagrus pagrus
Pargo X
Stromateidae
Peprilus paru
Gordinho X X
Trichiuridae
Trichiurus lepturus
Peixe-espada X X
Triglidae
Prionotus punctatus
Cabrinha X
Ariidae
Arius spixii
Bagre-amarelo X
Bagre bagre
Bagre-bandeira X
Cefalópodes
Loliginidae
Loligo plei
Lula X X
Loligo sanpaulensis
Lula X X
Lolliguncula brevis
Lula X
Crustáceos
Palaenomidae
Artemesia longinaris
Santana X X
Peneidae
Xiphopenaeus kroyeri
Sete-barbas X X
Solenoceridae
Pleoticus muelleri
Barba-ruça X
36
Tabela VII - Espécies de presas consumidas por Trichiurus lepturus e
Pontoporia blainvillei na costa norte do Rio de Janeiro, com ordenação
dos índices de importância relativa (IIR).
Trichiurus lepturus Pontoporia blainvillei
Ordenação
do IIR
Presas Ordenação
do IIR
Presas
Peixes
Peixes
1
Trichiurus lepturus
1 Stellifer sp.
2
Pellona harroweri
2
Anchoa filifera
3
Chirocentrodon bleekerianus
3
Pellona harroweri
4
Lycengraulis grossidens
4
Isopisthus parvipinnis
5
Peprilus paru
5
Cynoscion jamaicensis
6
Chloroscombrus chrysurus
6
Chirocentrodon bleekerianus
7
Odontognathus mucronatus
7
Stellifer brasiliensis
8
Stellifer brasiliensis
8
Sardinella brasiliensis
9
Isopisthus parvipinnis
9
Peprilus paru
10
Paralonchurus brasiliensis
10
Stellifer rastrifer
11
Bagre bagre
11
Odontognathus mucronatus
12
Anchoa filifera
12
Micropogonias furnieri
13
Cynoscion jamaicensis
13
Trichiurus lepturus
14
Anchoviella lepidentostole
14
Ctenosciaena gracilicirrhus
15
Arius spixii
15
Anchoviella lepidentostole
16
Orthopristis ruber
16
Paralonchurus brasiliensis
17
Stellifer sp.
17
Orthopristis ruber
18
Pagrus pagrus
18
Cynoscion virescens
19
Trachurus lathami
19
Lycengraulis grossidens
20
Prionotus punctatus
20
Porichthys porosissimus
21
Porichthys porosissimus
21
Larimus breviceps
22
Anchoa sp.
22
Macrodon ancylodon
23
Macrodon ancylodon
-
Anchoa sp.
-
Ctenosciaena gracilicirrhus
-
Arius spixii
-
Cynoscion virescens
-
Bagre bagre
-
Larimus breviceps
-
Chloroscombrus chrysurus
-
Micropogonias furnieri
-
Pagrus pagrus
-
Sardinella brasiliensis
-
Prionotus punctatus
-
Stellifer rastrifer
-
Trachurus lathami
Cefalópodes
Cefalópodes
1
Loligo plei
1
Loligo plei
2
Loligo sanpaulensis
2
Loligo sanpaulensis
-
Lolliguncula brevis
3
Lolliguncula brevis
Crustáceos
Crustáceos
1
Pleoticus muelleri
nc
Artemesia longinaris
2
Artemesia longinaris
-
Pleoticus muelleri
3
Xiphopenaeus kroyeri
nc
Xiphopenaeus kroyeri
nc= não calculado. - indica ausência da espécie de presa na dieta do predador.
37
Nas Figuras 7 a 9 e na Tabela VIII está apresentada a estatística
descritiva não paramétrica que compara o porte, a biomassa e a
densidade (nº de indivíduos) dos peixes e cefalópodes consumidos por
T. lepturus e P. blainvillei, incluindo a espécie P. harroweri, com
representatividade comum para os carnívoros em questão.
Em geral, os espécimes de T. lepturus analisados alimentaram-se
de peixes e cefalópodes com porte superior aos consumidos por P.
blainvillei. No entanto, a biomassa e a densidade totais registradas nos
estômagos foram inferiores para T. lepturus. Considerando a presa P.
harroweri, os registros de sua presença na alimentação de T. lepturus
revelam o consumo de indivíduos de porte maior, mas com biomassa e
densidade inferiores àquelas registradas para P. blainvillei.
38
0 10203040
Porte (cm)
Figura 7 - Diagrama comparativo dos peixes consumidos por Trichiurus
lepturus e Pontoporia blainvillei na costa norte do Rio de Janeiro
considerando porte, biomassa e densidade (nº de indivíduos) por estômago.
As chanfraduras indicam os intervalos de confiança para as medianas.
T. lepturus P. blainvillei
0 100 200 300 400
Biomassa (g)
T. lepturus P. blainvillei
0 50 100 150 2
T. lepturus P. blainvillei
T. le
p
turus P. blainvillei
T. lepturus P. blainvillei
00
Densidade
T. lepturus P. blainvillei
39
T. lepturus P. blainvillei
0 500 1000 1500
Biomassa(g)
T. lepturus P. blainvillei
0 204060
Densidade
T. lepturus P. blainvillei
5 101520
Porte (cm)
T. lepturus P. blainvillei
T. lepturus P. blainvillei
T. lepturus
P. blainvillei
Figura 8 - Diagrama comparativo dos cefalópodes consumidos por Trichiurus
lepturus e Pontoporia blainvillei na costa norte do Rio de Janeiro
considerando porte, biomassa e densidade (nº de indivíduos) por estômago.
As chanfraduras indicam os intervalos de confiança para as medianas
.
.
40
T. lepturus P. blainvillei
0 20406080
Densidade
T. lepturus P. blainvillei
0 50 100 150 200
Biomassa (g)
T. lepturus P. blainvillei
24681012
Porte (cm)
T. lepturus P. blainvillei
T. lepturus P. blainvillei
T. lepturus P. blainvillei
Figura 9 - Diagrama comparativo dos espécimes de Pellona harroweri
consumidos por Trichiurus lepturus e Pontoporia blainvillei na costa norte do
Rio de Janeiro considerando porte, biomassa e densidade (nº de indivíduos)
por estômago. As chanfraduras indicam os intervalos de confiança para as
medianas
.
41
Tabela VIII - Porte, biomassa e densidade (nº de indivíduos) dos
peixes, cefalópodes e espécimes de Pellona harroweri consumidos por
Trichiurus lepturus e Pontoporia blainvillei na costa norte do Rio de
Janeiro.
Trichiurus lepturus Pontoporia blainvillei
Presas Porte (cm) Biomassa (g) Densidade Porte (cm) Biomassa (g) Densidade
Peixes
Valor mínimo 1,1 0,2 1,0 0,1 0,1 1,0
Mediana 7,5 10 1,0 4,7 57,9 31,0
Valor máximo 100,8 914,3 11,0 36,7 338,7 201,0
Cefalópodes
Valor mínimo 1,3 0,4 1,0 2,3 1,1 1,0
Mediana 6,2 16,8 1,0 5,6 122,1 10,0
Valor máximo 23,9 193,4 4,0 23,0 1.495,0 75,0
Pellona
harroweri
Valor mínimo 4,5 1,6 1,0 2,0 0,2 1,0
Mediana 7,7 7,3 1,0 4,0 8,6 4,0
Valor máximo 11,4 26,7 6,0 12,0 200,8 93,0
Biomassa e densidade (nº de indivíduos) total por estômago.
42
A avaliação das relações tróficas entre os carnívoros estudados
indicou que a dieta de P. blainvillei apresentou maior diversidade de
espécies de presas quando comparada a T. lepturus. Embora a riqueza
de espécies predadas tenha sido similar, a alta abundância de presas
consumidas e/ou o maior número de estômagos analisados para P.
blainvillei podem ter sido os responsáveis por esta diferença (Tabela
IX). A diversidade de espécies de presas foi influenciada pela
distribuição eqüitativa da abundância de peixes consumidos por P.
blainvillei, resultando em um valor inferior de dominância. Já no caso
de T. lepturus observou-se o padrão contrário.
Em termos qualitativos (índice de similaridade de Jaccard), T.
lepturus e P. blainvillei apresentaram 60% de semelhança na dieta.
Contudo, a comparação quantitativa (abundância das presas) através
do índice de similaridade de Morisita revela baixa semelhança entre
ambos (Tabela IX).
Tabela IX - Comparação entre a dieta de Trichiurus lepturus e
Pontoporia blainvillei na costa norte do Rio de Janeiro através de
índices ecológicos.
Trichiurus lepturus Pontoporia blainvillei
N
0
de espécies de presas (riqueza) 28 27
Índice de diversidade de Simpson 0,36 0,89
Índice de dominância de Simpson 0,64 0,11
Índice de similaridade de Jaccard (qualitativo) 0,60
Índice de similaridade de Morisita (quantitativo) 0,02
Valores dos índices podem variar de 0 a 1.
43
7 - Discussão
7.1 - Alimentação de Trichiurus lepturus
No norte do Rio de Janeiro a dieta de T. lepturus adultos é
formada por peixes, crustáceos neríticos e cefalópodes, tanto
demersais quanto pelágicos. No entanto as presas pelágicas foram as
preferencialmente consumidas. A alimentação composta por presas
pelágicas já foi registrada em alguns trabalhos, como os conduzidos
por Haimovici et al. (1994), Martins et al. (2005), entre outros
reportados por Magro (2006).
Este carnívoro é predominantemente piscívoro, sendo que este
hábito alimentar já foi reportado na Mauritânia, costa oeste da África
(Wojciechowski, 1972), no sul do Brasil (Martins et al., 2005) e em
Taiwan, na Ásia (Chiou et al., 2006). A dieta de T. lepturus, composta
pelas presas abundantes na região estudada, corrobora as afirmações
de Martins et al. (2005) e Chiou et al. (2006) sobre a grande
plasticidade alimentar da espécie, permitindo adaptações as mais
variadas condições ambientais e alimentação composta pelas presas
mais abundantes em uma dada região.
A representatividade dos peixes das famílias Scianidae,
Engraulidae e Clupeidae na alimentação de indivíduos adultos, com
comprimentos corporais acima de 100 cm, além do comportamento de
canibalismo, também foi constatada no sul do Brasil, conforme dados
de Martins et al. (2005). No norte do Rio de Janeiro (~22ºS) as presas
mais representativas foram seus próprios co-específicos, além de P.
harroweri, C. bleekerianus e L. grossidens. Já no sul do Brasil (~32ºS),
Engraulis anchoita, T. lepturus e C. guatucupa são as presas
preferenciais. Variações na composição específica da dieta são
reflexos da composição faunística distinta nas áreas geográficas que
compõem a distribuição da espécie.
A seleção de presas com porte em torno de 8-10 cm por parte de
indivíduos adultos de T. lepturus é verificada em outras regiões
(Martins et al., 2005). Esses autores relatam que a maior fonte de
energia para o peixe-espada no sul do Brasil são presas pelágicas de
pequeno porte, embora presas grandes também façam parte da sua
44
alimentação. Característica semelhante foi registrada no presente
estudo no norte do Rio de Janeiro. Chiou et al. (2006) associam a
seleção do porte das presas com o crescimento somático, maior
habilidade de locomoção e desenvolvimento morfológico dos adultos de
T. lepturus.
Em peixes a morfologia específica, especialmente quanto ao
aparato bucal e trato digestivo, permite que ocupem diferentes nichos
alimentares. De modo geral, a natureza do alimento ingerido depende
primeiramente da morfologia do predador e, em segundo lugar, de sua
riqueza e abundância em determinada região (Aguiar, 2003). O estudo
conduzido por Tubino (1999) pode ser citado como exemplo disso, pois
ao analisar duas espécies de peixes, Prionotus punctatus e P.
nudigula, observou que a ingestão de presas maiores por parte de P.
punctatus deve-se ao fato da espécie atingir maior amplitude bucal em
relação ao tamanho corporal durante os eventos de alimentação,
quando comparada com P. nudigula.
A alimentação em peixes também pode ser afetada pela
temperatura da água (Muehe & Valentini, 1998), sendo o principal fator
limitante da distribuição de T. lepturus (Magro, 2006). A temperatura
pode determinar a disponibilidade alimentar, bem como a densidade e o
tamanho das presas (Zheng et al., 2002 apud in Bassoi, 2005). Regiões
costeiras que recebem descargas de água doce apresentam pouca
variação térmica (Nybakken, 1997), sendo esse o padrão verificado na
costa norte do Rio de Janeiro, onde as variações da temperatura
superficial são discretas e oscilam entre 20-24ºC (Muehe & Valentini,
1998).
Na região estudada verificou-se o comportamento de canibalismo
envolvendo T. lepturus, o que já é fato reportado pela literatura
(Barreiros et al., 2003; Martins et al., 2005; Chiou et al., 2006). Martins
et al. (2005) descreveram a alta voracidade dessa espécie durante o
canibalismo: antes de cortar as partes do corpo da presa através de
mordidas, para facilitar sua ingestão, os espécimes utilizam as maxilas
para arrancar a cabeça do co-específico a ser consumido. Os autores
em questão ressaltam que a morfologia fusiforme, com corpo
45
comprimido lateralmente e nadadeira caudal ausente, os olhos
relativamente grandes, a boca larga com dentes fortes e afiados e a
alta capacidade de distensão estomacal, associados ao comportamento
alimentar voraz, facilitam a ingestão de presas de tamanhos variados,
incluindo co-específicos de mesmo tamanho.
No norte do Rio de Janeiro, a presença de co-específicos partidos
em até três pedaços de tamanhos similares foi registrada no estômago
dos espécimes analisados, confirmando esse tipo de comportamento
predatório voraz na região. Nos estômagos de T. lepturus onde havia
registro de canibalismo verificou-se que as presas apresentavam, em
alguns casos, tamanhos corporais semelhantes ao do predador.
Dou et al. (2000) descrevem que o canibalismo pode ser
vantajoso para alguns indivíduos da espécie canibal, inclusive com
benefícios nutricionais. Além disso, pode favorecer a redução de
competição por espaço, alimento e parceiros sexuais. Chiou et al.
(2006) verificaram que o canibalismo em T. lepturus é mais acentuado
quando há maior abundância de indivíduos na população ou escassez
de presas. O estudo realizado por Martins et al. (2005) no sul do Brasil,
relata que o canibalismo é importante principalmente para os indivíduos
adultos e pode ocorrer devido a grande abundância de presas,
comportamento gregário da espécie durante a alimentação e a
diminuição da produtividade biológica no ecossistema marinho daquela
região no outono e no verão. Na área do presente estudo há alta
produtividade biológica, conforme verificado por Di Beneditto (2000).
Possivelmente, a escassez de presas não é o fator que conduz a
espécie ao canibalismo, mas talvez um ou mais dos outros fatores
supracitados.
Durante as análises de conteúdos estomacais com registro de
canibalismo é necessário salientar que pode ter havido
superestimativas de biomassa e densidade de presas em função dos
seguintes fatores não mutuamente exclusivos: o canibal pode arrancar
a cabeça da presa e não ingerir o indivíduo por inteiro; a permanência
de otólitos de co-específicos por mais tempo no estômago do predador
se comparado aos otólitos de presas menores, e a presença do osso
46
supraocciptal característico de T. lepturus, que também permanece
mais tempo no estômago do predador devido ao seu tamanho.
7.2 - Alimentação de Pontoporia blainvillei
Na costa norte do Rio de Janeiro, P. blainvillei apresentou hábito
alimentar oportunista consumindo presas neríticas demersais e
pelágicas que se distribuem na região. A dieta deste cetáceo é
composta por peixes e cefalópodes, com crustáceos presentes apesar
da baixa representatividade. Esses dados já haviam sido reportados
anteriormente por Di Beneditto & Ramos (2001) e Di Beneditto et al.
(2001) na mesma área. Essas características do hábito alimentar da
espécie também estão indicadas em Danilewicz et al. (2002), Rodriguez
et al. (2002) e Bassoi (2005).
No presente estudo, os peixes das famílias Scianidae,
Engraulidae e Clupeidae e as lulas da família Loliginidae foram as
presas mais representativas na sua alimentação. Danilewicz et al.
(2002), ao reunir informações sobre a dieta de P. blainvillei ao longo de
sua distribuição, reportaram resultados similares, o que deve refletir a
abundância desses tipos de presas em suas áreas de ocorrência.
P. blainvillei apresenta seleção alimentar baseada principalmente
no porte das presas, conforme observado pelo presente estudo e
descrito anteriormente por outros autores (e.g. Pinedo et al., 1989; Di
Beneditto & Ramos, 2001; Danilewicz et al., 2002). Peixes e
cefalópodes com tamanhos corporais em torno de 6-10 cm são os
organismos preferencialmente consumidos.
Rodriguez et al. (2002) e Bassoi (2005) propõem que a ingestão
de presas de pequeno porte por parte de P. blainvillei esteja associada
à movimentação limitada da espécie ao longo de suas áreas de uso
relativamente restritas. Essa limitação de movimentos pode ser
conseqüência do pequeno tamanho corporal da espécie e uma forma de
minimizar seus gastos energéticos.
Outro aspecto relacionado à seleção alimentar de P. blainvillei e
que não pode ser desconsiderado é a anatomia do trato digestivo,
incluindo o aparato bucal (Brownell & Ness, 1970; Jefferson et al.,
47
1993). O longo e fino rostro, os dentes pequenos e pontiagudos
dispostos nas maxilas, bem como o estômago subdividido em apenas
dois compartimentos, com ausência do estômago anterior ou mecânico,
impõem restrições em relação ao tamanho e, provavelmente, a própria
constituição das presas consumidas por este cetáceo. Essas
características podem conduzir a preferência por presas de pequeno
porte, e até mesmo a representatividade dos cefalópodes na dieta de P.
blainvillei. Esse grupo de presas apresenta elevado volume de água em
sua constituição estrutural, favorecendo a rápida digestão (Clarke,
1986b).
Variações na composição da dieta de P. blainvillei ao longo das
áreas de distribuição refletem as distinções quanto à disponibilidade
quali-quantitativa das espécies de presas (Bordino et al., 2002;
Danilewicz et al., 2002; Bassoi, 2005). Isso explica as diferenças entre
a composição alimentar preferencial registrada no norte do Rio de
Janeiro e em outras regiões, conforme descrito nos estudos referidos
acima.
7.3 - Comparação entre o hábito alimentar de Trichiurus lepturus e
Pontoporia blainvillei
Comparando-se a dieta de T. lepturus adultos e P. blainvillei no
norte do Rio de Janeiro, verifica-se que ambos exploram águas
costeiras para obtenção dos recursos alimentares. No entanto, houve
exploração diferencial dos recursos. T. lepturus predou
preferencialmente, de acordo com o IIR, espécies pelágicas; e P.
blainvillei explorou tanto presas de hábitos pelágicos quanto
demersais, se alimentando ao longo da coluna d’água.
Ao se analisar os aspectos gerais da preferência alimentar
desses animais, verifica-se que os peixes são as presas mais
representativas, embora os cefalópodes mereçam destaque na dieta de
P. blainvillei e os crustáceos decápodes para T. lepturus. A importância
dos peixes na dieta de ambos os carnívoros pode indicar não apenas a
preferência em relação a este grupo de presas, mas a maior riqueza e
48
abundância de espécies em águas costeiras quando comparado com os
demais grupos registrados.
Considerando a piscivoria, T. lepturus, P. harroweri, C.
bleekerianus e L. grossidens foram as principais presas de T. lepturus
adultos; enquanto Stellifer sp., A. filifera, P. harroweri e I. parvipinnis
tiveram maior importância para P. blainvillei, seguindo essa ordenação.
Todas essas espécies estão disponíveis em áreas costeiras na região
estudada ao longo do ano (Di Beneditto et al., 2001), e a preferência
interespecífica pode estar refletindo não apenas essa disponibilidade,
mas também a habilidade comportamental diferenciada em localizar,
selecionar, capturar, ingerir e digerir esses organismos por parte dos
predadores e/ou ser resultante da competição indireta de ambos pelo
alimento.
O cefalópode L. plei, também considerado como uma das presas
preferenciais de P. blainvillei e registrado na dieta de T. lepturus,
possui ampla distribuição no Oceano Atlântico, entre 16 e 200 m de
profundidade, com maior abundância em áreas mais afastadas da linha
de costa (Roper et al.,1984). Di Beneditto (2000) relata que as
características de L. plei em relação ao porte e a biomassa fazem com
que essa espécie forneça maior biomassa por evento de captura se
comparada com os demais cefalópodes presentes em águas costeiras,
como L. sanpaulensis e L. brevis. No entanto, os predadores têm que
se distanciar da linha da costa para capturá-la, representando maior
custo para sua procura e gasto energético com o deslocamento. A
autora sugere que a ingestão deste cefalópode por parte de P.
blainvillei deve ocorrer quando a disponibilidade de outras espécies
nas proximidades da linha de costa é baixa. No entanto, os custos com
o deslocamento parecem não limitar a predação por parte de T.
lepturus, já que a espécie possui ampla capacidade de movimentação
entre áreas rasas e profundas (Martins & Haimovici, 1997; Martins et
al., 2005).
Os crustáceos são abundantes no norte do Rio de Janeiro, com
participação importante na pesca comercial que é praticada na região
(Di Beneditto et al., 1998). A contribuição deste grupo de presas na
49
alimentação de T. lepturus já foi reportada para outras regiões (Martins
et al., 2005; Chiou et al., 2006). Entretanto, para P. blainvillei esse
item alimentar é pouco representativo, assim como ocorre em outras
áreas de sua distribuição (Danilewicz et al., 2002). A espécie P.
muelleri, uma das presas preferenciais de T. lepturus na área de
estudo, distribui-se desde áreas rasas até cerca de 600 metros de
profundidade, em todo o Oceano Atlântico Ocidental (Costa et al.,
2003). Essa presa não foi registrada na dieta de P. blainvillei, o que
pode ser indicativo de movimentação diferencial entre esses
predadores ao longo do gradiente batimétrico.
Em geral, há relações diretamente proporcionais entre as
dimensões dos predadores e de suas presas quando se considera a
carnivoria, sendo esperada a sobreposição da dieta entre predadores
que apresentam porte e hábitos alimentares similares e estão em
simpatria (Zavala-Camim, 1996). Ao se analisar os índices ecológicos
aplicados no presente estudo, nota-se elevada sobreposição qualitativa
e baixa sobreposição quantitativa ao se considerar a dieta dos dois
predadores.
O índice de diversidade e dominância de Simpson para T.
lepturus (0,36 e 0,64) e P. blainvillei (0,89 e 0,11) indicam diversidade
de dieta inferior em T. lepturus e superior índice de dominância se
comparado a P. blainvillei. Os valores, inferior de diversidade e
superior de dominância, podem estar indicando que o peixe é mais
seletivo em sua dieta se comparado ao golfinho, e/ou pode ser
decorrente dos problemas metodológicos citados no presente estudo.
É necessário cuidado ao trabalhar com os referidos índices ecológicos
em estudos de dieta, pois pode haver sub ou superestimativas
causadas por ruídos na coleta e análise dos dados, como, por exemplo,
taxas diferenciais de digestão entre os predadores.
As variações detectadas na dieta dos carnívoros estudados
incluem o porte, a biomassa e a densidade (nº de indivíduos) de presas
consumidas. Os espécimes de T. lepturus adultos alimentam-se de
peixes e cefalópodes de porte superior aos consumidos por P.
blainvillei, mas a biomassa e a densidade (nº de indivíduos) totais por
50
estômago considerando esses grupos de presas foram inferiores em T.
lepturus. A seleção de indivíduos maiores pelo peixe-espada pode estar
associada a sua voracidade, conforme reportado em Martins et al.
(2005) e Chiou et al. (2006). Os valores de biomassa e densidade (nº
de indivíduos), por sua vez, podem estar refletindo diferenças na taxa
de digestão, na capacidade de repleção do estômago, e/ou nas
necessidades nutricionais dos predadores estudados.
Na costa norte do Rio de Janeiro, T. lepturus adultos e P.
blainvillei exploraram diferencialmente os recursos alimentares
disponíveis. Durante o forrageio existe teoricamente um ponto ótimo,
onde os custos e os benefícios em relação à obtenção de um
determinado alimento se equilibram. Isso se aplica tanto para a
seletividade das presas, quanto para o tempo gasto na sua obtenção
(Krebs & Davies, 1996). As características inerentes às espécies
contribuem para que as diferentes classes de tamanho de predadores e
presas e as distintas táticas de seleção, captura e manipulação do
alimento atuem no comportamento alimentar e, em conjunto, direcionem
as espécies de forma que utilizem amplos nichos ecológicos e
coexistam (Shuozeng, 1995; Zavala-Camim, 1996; Martins & Haimovici,
2000; Cheng et al., 2001; Di Beneditto et al., 2001; Siciliano et al.,
2002; Aguiar, 2003, Martins et al., 2005; Chiou et al., 2006).
51
8 - Conclusão
Na costa norte do Rio de Janeiro, a alimentação de T. lepturus
adultos e P. blainvillei é caracterizada por grande diversidade de
presas neríticas demersais e pelágicas, indicando movimentação
preferencial destes predadores ao longo de sítios alimentares
costeiros, onde exploram diferencialmente os recursos. T. lepturus
predou preferencialmente as espécies de presas pelágicas; e P.
blainvillei explorou tanto presas de hábitos pelágicos quanto
demersais, se alimentando ao longo da coluna d’água. Em geral, as
espécies consumidas são abundantes na região, sendo selecionadas
principalmente em função do seu porte.
A pesca na região não afeta a dieta dos animais estudados. A
maior parte da frota pesqueira na região utiliza a rede de espera que
seleciona as presas de porte superior às consumidas pelos predadores.
Outros artefatos de pesca são utilizados pelos pescadores, mas em
pequena escala, não afetando a dinâmica trófica desses predadores.
Os carnívoros estudados apresentaram sobreposição alimentar
considerando as espécies de presas ingeridas, o que confirma a
hipótese levantada pelo presente estudo. No entanto, apesar dessa
sobreposição, variações quantitativas quanto ao porte, biomassa e
densidade de presas consumidas indicam a exploração diferencial dos
recursos, possibilitando a coexistência na região.
Dessa forma, a presença de T. lepturus adultos na costa norte do
Rio de Janeiro parece não exercer pressão de competição sobre P.
blainvillei em relação à obtenção de recursos alimentares, e vice-versa,
o que não confirma as inferências realizadas por diversos autores
sobre esses carnívoros. No entanto, é preciso que as investigações
sobre o hábito alimentar de ambas as espécies se extendam ao longo
das áreas de simpatria, de modo a confirmar se o padrão de relação
trófica registrado no norte do Rio de Janeiro se mantém nas demais
regiões.
52
9- Referências Bibliográficas
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10- Apêndices
63
Apêndice I - Caracterização do porte, biomassa e densidade (nº de indivíduos) das espécies de presas
consumidas por Trichiurus lepturus na costa norte do Rio de Janeiro (N=343).
Presas Porte (comprimento) (cm) Biomassa por estômago (g) Densidade por estômago
min
_
máx média ± DP min
_
máx média ± DP min
_
máx média ± DP
Peixes
Anchoa filifera
3,9
_
6,0 4,7 ± 0,9 1,9
_
4,8 3,2 ± 1,2 1,0
_
4,0 2,5 ± 2,1
Anchoa sp. 6,0
_
6,0 6,0 ±
6,0 0,3
_
0,3 0,3 ± 0,0 1,0
_
1,0 1,0 ± 0,0
Anchoviela lepidentostole
5,3
_
6,6 5,8 ± 0,6 1,9
_
3,7 2,5 ± 0,7 1,0
_
1,0 1,0 ± 0,0
Arius spixii
0,8
_
5,2 3,0 ± 3,2 0,1
_
3,3 1,1 ± 1,8 1,0
_
4,0 2,0 ± 1,7
Bagre bagre
1,1
_
17,4 9,3 ± 11,5 0,3
_
153,4 76,9 ± 108,2 1,0
_
2,0 1,3 ± 0,6
Chirocentrodon bleekerianus
6,4
_
16,5 10,6 ± 3,4 3,6
_
89,6 29,0 ± 31,8 1,0
_
3,0 1,5 ± 0,7
Chloroscombrus chrysurus
28,9
_
32,9 31,0 ± 1,5 6,1
_
89,5 37,6 ± 32,4 1,0
_
1,0 1,0 ± 0,0
Cynoscion jamaicensis
7,5
_
13,9 10,7 ± 4,6 7,2
_
167,4 87,3 ± 113,3 1,0
_
1,0 1,0 ± 0,0
Isopisthus parvipinnis
6,0
_
14,6 10,4 ± 3,5 3,4
_
50,0 21,6 ± 17,5 1,0
_
2,0 1,2 ± 0,5
Lycengraulis grossidens
5,2
_
24,6 9,5 ± 5,8 1,2
_
318,1 44,3 ± 103,1 2,0
_
2,0 2,0 ± 0,0
Macrodon ancylodon*
0,0
_
0,0 0,0 ± 0,0 0,0
_
0,0 0,0 ± 0,0 1,0
_
1,0 1,0 ± 0,0
Odontognathus mucronatus
5,4
_
17,3 9,8 ± 4,6 0,9
_
29,8 9,1 ± 11,6 1,0
_
2,0 1,2 ± 0,4
Ortopristis ruber
12,4
_
12,4 12,4 ± 0,0 37,6
_
37,6 37,6 ± 0,0 1,0
_
1,0 1,0 ± 0,0
Pagrus pagrus
8,9
_
8,9 8,9 ± 0,0 109,2
_
109,2 109,2 ± 0,0 1,0
_
1,0 1,0 ± 0,0
Paralonchurus brasiliensis
4,7
_
22,6 13,6 ± 12,7 4,2
_
265,2 134,7 ± 184,5 1,0
_
2,0 1,5 ± 0,7
Pellona harroweri
4,5
_
11,4 7,8 ± 1,7 1,6
_
36,7 13,3 ± 9,4 1,0
_
6,0 1,8 ± 1,2
Peprilus paru
1,3
_
5,3 4,7 ± 2,2 0,5
_
25,0 8,8 ± 8,1 1,0
_
2,0 1,5 ± 0,5
Porichthys porosissimus
15,6 - 15,6 15,6 ± 0,0 37,9
_
37,9 37,9 ± 0,0 1,0
_
1,0 1,0 ± 0,0
Prionotus punctatus
0,3
_
4,9 2,8 ± 2,3 1,3
_
3,1 2,2 ± 1,3 1,0
_
1,0 1,0 ± 0,0
64
Continuação…
Presas Porte (comprimento) (cm) Biomassa por estômago (g) Densidade por estômago
min
_
máx média ± DP min
_
máx média ± DP min
_
máx média ± DP
Stellifer brasiliensis
2,6
_
7,6 4,6 ± 1,9 0,9
_
36,6 9,9 ± 14,4 1,0
_
3,0 1,6 ± 0,8
Stellifer sp. 1,7
_
5,7 4,1 ± 2,1 0,3
_
8,9 4,3 ± 4,3 3,0
_
3,0 3,0 ± 0,0
Trachurus lathami
7,1
_
17,2 12,2 ± 7,1 13,3
_
17,7 6,2 ± 4,5
1,0
_
1,0
1,0 ± 0,0
Trichiurus lepturus
3,4
_
100 43,7 ± 38,0 0,2
_
649,2 209,7 ± 216,3
1,0
_
1,0
1,0 ± 0,0
Crustáceos
Pleoticus muelleri
2,7
_
3,5 3,1 ± 0,4 0,2
_
36,9 6,75 ± 10,4 3,0
_
178,0 3,1 ± 0,2
Artemesia longinaris
4,3 - 4,3 4,3 ± 0,0 0,4 - 0,4 0,4 ± 0,0 4,0 - 4,0
4,3 ± 0,0
Xiphopenaeus kroyeri
3,2
_
5,5 4,4 ± 1,6 0,2
_
0,9 0,5 ± 0,5 3,0
_
6,0 4,4 ± 1,6
Cefalópodes
Loligo plei
1,3
_
23,9 10,2 ± 7,6 4,8
_
193,4 72,0 ± 69,9
1,0
_
3,0 1,5 ± 0,7
Loligo sanpaulensis
1,0
_
11,5 6,5 ± 4,5 0,4
_
9,4 4,4 ± 4,1
1,0
_
2,0 3,0 ± 1,4
* Otolito quebrado, impossibilitando inferência quanto ao porte e biomassa. DP= desvio padrão.
65
Apêndice II - Caracterização do porte, biomassa e densidade (nº de indivíduos) das espécies de presas
consumidas por Pontoporia blainvillei na costa norte do Rio de Janeiro (N=95).
Presas Porte (comprimento) (cm) Biomassa por estômago (g) Densidade por estômago
min
- máx
média
±
DP
min
- máx
média ± DP
min - máx
média
±
DP
Peixes
Anchoa filifera
4,0
_
10,5 6,3 ± 1,2 1,1
_
245,6 27,9 ± 49,4 1,0
_
129,0 9,8 ± 21,6
Anchoviela lepidentostole
5,6
_
6,8 6,2 ± 0,6 2,7
_
105,7 36,3 ± 48,4 1,0
_
26,0 10,8 ± 12,1
Chirocentrodon bleekerianus
5,6
_
13,0 7,6 ± 1,5 3,4
_
205,8 46,7 ± 49,9 1,0
_
40,0 11,1 ± 11,5
Cynoscion virescens
2,2
_
4,4 3,0 ± 0,7 5,0
_
5,0 5,0 ± 0,0 9,0
_
9,0 9,0 ± 0,0
Ctenosciaena gracilicirrhus
2,8
_
7,4 4,2 ± 1,5 0,8
_
57,0 11,2 ± 19,1 1,0
_
6,0 2,5 ± 1,9
Cynoscion jamaicensis
2,6
_
13,8 4,5 ± 2,4 1,3
_
78,4 13,8 ± 20,0 1,0
_
122,0 12,6 ± 26,4
Isopisthus parvipinnis
1,7
_
8,4 5,0 ± 1,7 0,1
_
103,2 18,2 ± 24,8 1,0
_
78,0 10,9 ± 17,9
Larimus breviceps
4,5
_
4,5 4,5 ± 0,0 3,4
_
3,4 3,4 ± 0,0 1,0
_
1,0 1,0 ± 0,0
Lycengraulis grossidens
6,3
_
6,7 6,7 ± 0,4 9,0
_
9,0 9,0 ± 0,0 3,0
_
3,0 3,0 ± 0,0
Macrodon ancylodon
4,7
_
4,7 4,7 ± 0,0 2,5
_
2,5 2,5 ± 0,0 1,0
_
1,0 1,0 ± 0,0
Micropogonias furnieri
3,9
_
7,0 6,1 ± 1,1 0,8
_
28,1 8,8 ± 7,9 2,0
_
10,0 4,2 ± 2,7
Odontognathus mucronatus
3,9
_
11,9 8,0 ± 2,6 0,6
_
100,2 18,3 ± 28,0 1,0
_
13,0 3,7 ± 3,7
Ortopristis ruber
2,1
_
2,4 2,2 ± 0,2 2,1
_
2,4 2,2 ± 0,2 1,0
_
16,0 8,5 ± 10,6
Paralonchurus brasiliensis
1,3
_
5,6 3,6 ± 1,8 0,3
_
4,5 2,5 ± 1,7 1,0
_
3,0 2,0 ± 0,8
Pellona harroweri
2,0
_
12,0 4,5 ± 2,3 0,2
_
200,8 20,5 ± 38,0 1,0
_
93,0 11,5 ± 19,5
Peprilus paru
2,0
_
8,1 5,3 ± 1,8 0,6
_
249,2 30,4 ± 62,9 1,0
_
13,0 2,9 ± 3,9
Porichthys porosissimus
5,5
_
6,4 6,0 ± 0,6 2,4
_
3,1 2,8 ± 0,5 1,0
_
2,0 1,5 ± 0,7
Sardinella brasiliensis
4,4
_
11,1 5,9 ± 2,1 6,0
_
211,6 106,1 ± 86,8 1,0
_
32,0 14,4 ± 12,9
66
Continuação…
Presas Porte (comprimento) (cm) Biomassa por estômago (g) Densidade por estômago
min - máx
média ± DP
min - máx
média ± DP
min - máx
média
±
DP
Peixes
Stellifer brasiliensis
2,2
_
6,4 3,3 ± 0,8 0,5
_
74,1 8,4 ± 14,1 1,0
_
29,0 6,3 ± 7,6
Stellifer rastrifer
1,5
_
5,9 3,7 ± 1,4 0,4
_
88,7 24,6 ± 29,9 1,0
_
27,0 8,9 ± 9,6
Stellifer sp. 1,8
_
9,4 3,0 ± 1,2 0,2
_
110,5 14,6 ± 23,8 1,0
_
148,0 23,5 ± 34,0
Trichiurus lepturus
11,3
_
36,7 24,8 ± 8,3 1,6
_
43,1 9,6 ± 12,7 1,0
_
3,0 1,4 ± 0,7
Cefalópodes
Loligo plei
7,9
_
23,0 15,5 ± 3,9 14,1
_
4.403,1 583,9 ± 899,0 1,0
_
49,0 7,8 ± 10,2
Loligo sanpaulensis
2,3
_
11,4 5,7 ± 2,2 1,1
_
815,9 141,9 ± 183,0 1,0
_
75,0 14,7 ± 17,9
Lolliguncula brevis
3,9
_
7,5 5,2 ± 1,0 4,9
_
91,4 34,71 ± 28,12 1,0
_
11,0 3,4 ± 2,7
Não estão representados os dados referentes aos crustáceos, pois não foi possível inferir porte e biomassa devido ao alto grau de digestão
das presas. DP=desvio padrão.
67
Apêndice III - Características do hábito e habitat preferencial das presas
consumidas por Trichiurus lepturus e Pontoporia blainvillei na costa
norte do Rio de Janeiro (extraído de: Roper et al., 1984; Figueiredo &
Menezes, 1978; 1980; 2000; Menezes & Figueiredo, 1980; 1985; Di
Beneditto, 2000; Costa et al., 2003).
Espécie Hábito e habitat preferencial
Peixes
Anchoa filifera
Pelágico, áreas neríticas e estuarinas
Anchoa sp. Pelágico, áreas neríticas e estuarinas
Anchoviella lepidentostole
Pelágico, áreas neríticas e estuarinas
Arius spixii
Demersal, áreas neríticas e estuarinas
Bagre bagre
Demersal, áreas neríticas e estuarinas
Chirocentrodon bleekerianus
Pelágico, áreas neríticas e estuarinas
Chloroscombrus chrysurus
Pelágico, áreas neríticas e estuarinas
Ctenosciaena gracilicirrhus
Demersal, áreas neríticas
Cynoscion jamaicensis
Demersal, áreas neríticas
Cynoscion virescens
Demersal, áreas neríticas
Isopisthus parvipinnis
Demersal, áreas neríticas e estuarinas
Larimus breviceps
Demersal, áreas neríticas e estuarinas
Lycengraulis grossidens
Pelágico; áreas neríticas e estuarinas
Macrodon ancylodon
Demersal, áreas neríticas e estuarinas
Micropogonias furnieri
Demersal, áreas neríticas e estuarinas (jovens)
Odontognathus mucronatus
Pelágico, áreas neríticas e estuarinas
Orthopristis ruber
Demersal, áreas neríticas e estuarinas
Pagrus pagrus
Pelágico/demersal, áreas oceânicas
Paralonchurus brasiliensis
Demersal, áreas neríticas
Pellona harroweri
Pelágico, áreas neríticas
Peprilus paru
Pelágico/demersal; áreas neríticas
Porichthys porossisimus
Demersal, áreas neríticas
68
Continuação…
Prionotus punctatus Demersal, áreas neríticas e estuarinas
Sardinella brasiliensis
Pelágico, áreas neríticas
Stellifer brasiliensis
Demersal, áreas neríticas e estuarinas
Stellifer rastrifer
Demersal, áreas neríticas e estuarinas
Stellifer sp. Demersal, áreas neríticas e estuarinas
Trachurus lathami Demersal, áreas neríticas e recifais
Trichiurus lepturus
Pelágico/demersal, áreas neríticas
Cefalópodes
Loligo plei
Pelágico/demersal. Abundante sobre a
plataforma continental em áreas tropicais, entre
16 e 200 m.
Loligo sanpaulensis
Pelágico/demersal. Abundante sobre a
plataforma continental em áreas subtropicais,
até 60 m.
Lolliguncula brevis
Pelágico/demersal. Associação com estuários e
áreas costeiras de até 20 m.
Camarões
Artemesia longinaris
Demersal. Águas rasas até 125 m
Pleoticus muelleri
Demersal. Águas rasas até 600 m
Xiphopenaeus kroyeri
Demersal. Águas rasas até 70 m
69
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