Trecho 5, entrevista com médica pediatra UBS
I. De uma maneira geral é isso o que você tem, assim, em termos de pobreza. Está muito ligada
a isso, a abandono mesmo, e falta de emprego, falta de estrutura. Meninas cada vez mais
jovens tendo crianças, garotas de quatorze e quinze anos que engravidam e não sabem às vezes
o que fazer com aquilo, né. Olha para aquela criança «e agora o que eu faço», né. Não sabem
amamentar, não tiveram nenhum tipo de orientação. Tem o problema da mãe que não tá nem
aí para elas, «agora, vire-se».
S. - As avós.
I. Sim, as avós. Algumas ficam furiosas, mas acabam assumindo a criança porque acham que a
mãe não tem juízo. Mas isso faz com ela tenha o segundo, terceiro e quarto filho, porque
aquela está botando debaixo da asa. Então os filhos ficam assim meio jogados, né. Fora outras
doenças todas, né, que podem ser adquiridas e tal. Tem esta história dessa promiscuidade *. E
aqui nesta região tem outra coisa, que é, que é muito comum, que tem bastante casos, que é a
doença da anemia falciforme. Que é uma anemia ligada a raça negra, que inclusive ano que
vem vai ser um ano sobre a inclusão do negro, alguma coisa assim. Então isto vai fazer parte,
porque não adianta ser só inclusão social, cultural, sem a inclusão da saúde. E eles têm uma
doença que pode levá-los à morte, né. Então, muita doença criança aqui tem a doença, outra
parte, maior, é portadora. Então estes portadores têm que receber uma orientação, se tiver
condições de pesquisar isto, ou fazer um pré-nupcial ou pré-natal. Para poder investigar se
existe na parte do parceiro, também da mulher, da parceira, investigar esse traço (?). Para
que faça um acompanhamento, se vai valer a penas ter tantos filhos e correr o risco de ter uma
criança com anemia falciforme. E vamos dizer assim, das crianças com anemia verdadeira,
com defeito da hemoglobina, que é um defeito genético (?).
S. - E anemia falciforme não tem cura?
I. - Cura, não, ela é um defeito genético. Existe uma profilaxia, né, profilaxia não, uma
profilaxia para os quadros assim, de infecção, que essas pessoas, elas apresentam a doença
falciforme quando elas (?). Estrago no organismo da pessoa e * erradamente aqui a pessoas
dão muito ferro para as crianças, porque são muito pálidas, principalmente quando chegam
com sete, oito meses de idade, a criança empalidece muito. Então a mãe por conta própria, ela
acha que aquilo é uma vitamina, então tome ferro. E não vai resolver o problema da criança
porque o problema dela não é basicamente a falta do ferro. Ela tem é um defeito (?). Às vezes
até eles tem um nível de ferro razoável, tem uma hemoglobina que não fica muito
descompensada, a não se esses que são os portadores mesmo (?), aí eles vão ter uma
hemoglobina bem baixa mesmo e tal. E as mães ficam dando ferro toda vida, ferro, ferro,
ferro. Esquecem de fazer a profilaxia das infecções. Quer dizer, esquecem não, elas nem tem
orientação para isso, entendeu. Então, tinha que haver um cadastro, ir nestes quilombos aí,
por aí. Fazer um cadastramento deste pessoal e tal. (?) É uma doença extremamente dolorosa,
a criança sofre muito, tem muita dor e é aquela dor que só pode ser contornada com (?). Então
é muito sofrido, é muito sofrido pra mãe ver aquela criança, o sofrimento daquela criança *.
As vezes faz umas pneumonias, que nem são na maioria pneumonia, é uma doença, é uma
síndrome (?), com muita dor e tal. E que leva a morte assim (?), e acaba sendo diagnóstico de
pneumonia, erradamente. Mas a realidade (?). A pessoa acaba morrendo, porque não tinha
mais pulmão para respirar. Quando você passa o raio X assim, ta tudo branco. Ah, pneumonia,
pneumonia bilateral, pneumonia dupla como o pessoal fala. Mas na realidade não era nem
pneumonia. Podia até ter tido um quadro infeccioso (?). Morreu deste efeito que a anemia
falciforme causa. * Então quer dizer, isto tudo é miséria, isto tudo é pobreza, porque isto não é
avaliado, não é levado em conta.
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