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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
SANDRA ANDRÉIA MENDONÇA SOARES
A ESCOLHA DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL:
IMPLICAÇÕES SUBJETIVAS
MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL
SÃO PAULO
2007
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
SANDRA ANDRÉIA MENDONÇA SOARES
A ESCOLHA DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL:
IMPLICAÇÕES SUBJETIVAS
MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL
Tese apresentada à Banca Examinadora
da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, como exigência parcial para
obtenção do título de Mestre em Serviço
Social sob orientação da Profª. Dra.
Maria Lúcia Rodrigues.
SÃO PAULO
2007
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Banca Examinadora
__________________________
__________________________
__________________________
DEDICATÓRIA
Ofereço este trabalho para minha família.
Para Comunidade Morada da Paz do Rio
Grande do Sul e da Bahia que possui morada
no meu coração.
AGRADECIMENTOS
“Se cheguei mais longe é porque me apoiei em ombros
gigantes” (Kepler)
Agradeço primeiramente a todos os mentores que representam o vento, o rio, a
água, o fogo, e a mãe terra que abriga todos seus filhos sempre em busca do amor
e da paz. A mãe Sônia por sempre ter uma palavra de conforto nas horas de
angústias.
“O mar serenou quando ela pisou na areia, quem samba
na beira do mar. É sereia” (Intérprete Clara Nunes)
Nesta caminhada muitas “pessoas anjos” iluminaram minha vida, formando uma
canção de amor, carinho, amizade e esperança.
“Ah...Mas quem sou eu senão uma formiguinha das
menores, que anda pela terra cumprindo a sua obrigação”
(Chico Xavier)
A meus pais exemplo de amor e de luta que me ensinaram a presença mágica das
estrelas.
“Se as coisas são inatingíveis não é motivo para o
querê-las. Quês tristes os caminhos se não fora à presença
mágica das estrelas” (Mário Quintana)
As Professoras: Maria Lúcia Martinelli e Maria Margarida Cavalcanti Limena
pelas contribuições para o meu trabalho na banca de qualificação.
A orientadora Maria Lúcia Rodrigues pelas constantes reflexões acerca da
profissão.
A secretária da pós-graduação Kátia pelo carinho, paciência e incentivo.
À bolsa do CNPq pelo incentivo a iniciação da pesquisa.
Aos alunos da PUC/SP e UNESP/Franca, pois sem eles não teria concretizado
este trabalho.
Aos amigos do mestrado Juciléia, Núbia, Bruno, Janete, Alvandira e Lindamar a
caminhada só foi possível porque encontrei amigos como vocês.
“Você não sabe o quanto eu caminhei para chegar até
aqui, percorri milhas e milhas antes de dormir, eu não
cochilei. Os mais belos montes escalei, nas noites escuras
de frio chorei” (Música Cidade Negra)
Aos profissionais do Hospital Santa Casa de Misericórdia de São Paulo pela
acolhida nos primeiros dias nesta Cidade e que me acalmaram quando a saudade
batia.
“A vida se repete na estação; tem gente que chega pra
ficar; tem gente que vai pra nunca mais; tem gente que vem
e quer voltar; tem gente que vai e quer ficar; tem gente que
veio olhar; tem gente a sorrir e a chorar; e assim
chegar e partir.” (Música Maria Rita)
A todos da Comunidade Morada da Paz da Bahia e do Rio Grande do Sul pelo
exemplo de amor a humanidade, em especial a amorosa Denise (minha parte
Rio), Princesa Sara (meu girassol) e guerreira Flávia David.
“Quem inventou o amor? Me explica, por favor” ?(Música
Legião Urbana)
As amigas gaúchas Ciberen, Graziela e Mariele, pela admiração profissional e
por todo carinho, mesmo distante possuem morada no meu coração.
Seja o que vier, venha o que vier. Qualquer dia amigo
agente vai se encontrar” (Música Milton Nascimento)
Ao anjo da minha vida a guria das letras Ana Cláudia.
“Sabiá, que falta faz a tua alegria. Sem você meu canto é
só melancolia. Canta meu Sabiá” (Música Alcione)
Aos amigos que dividiram as tristezas, as alegrias e o cotidiano de uma
república: Elisa, Grilo, Agrício, Ana Karine e Daniela.
“Há sorrir eu pretendo levar a vida” (Música de Cartola)
As meninas do Programa Projovem: Maria flor que, na última hora, teve o
carinho de ver a escrita do meu trabalho e Maria Lúcia, com seu cuidado de mãe.
E em especial Shirley Seganfredo que tantas vezes disse para eu não desistir.
“... agente quer carinho e atenção, agente quer amor no
coração, agente quer suar, mas de prazer, agente quer é
ter muita saúde, agente quer viver a liberdade agente quer
viver felicidade” (Música Gonzaguinha)
E a todos aqueles que diretamente e indiretamente contribuíram para esta etapa
na minha vida.
Para Maurício Neves pela paciência e pelos momentos de amor, dedico esta
música de Milton Nascimento.
Rouxinol tomou conta do meu viver
Chegou quando procurei
Razão pra poder seguir
Quando a música ia e quase eu fiquei
Quando a vida chorava mais que eu gritei
Pássaro deu a volta ao mundo brincava
Rouxinol me ensinou que é só não temer
Cantou se hospedou em mim
Todos os pássaros, anjos dentro de nós.
“ Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar, é
ele que me carrega como se fosse levar” ( Paulinho da
Viola)
“Os homens da terra (que sabem os homens da terra?)
dizem que são os raios da lua sobre o mar. Mas os
marinheiros, os mestres de saveiro, os canoeiros riem dos
homens da terra que não sabem nada. Eles bem sabem que
são os cabelos da mãe-d΄água, que vem ver a lua cheia. É
IEMANJÁ que vem olhar a lua. Por isso os homens ficam
espiando o mar prateado nas noites de lua. Porque sabem
que a mãe-d΄água está ali. Os negros tocam violão,
harmônica, batem batuque e cantam. É o presente que eles
trazem para a dona do mar. Outros fumam cachimbo para
iluminar o caminho, assim IEMANJÁ verá melhor. Todos a
amam e até esquecem as mulheres quando os cabelos da
mãe água se estendem sobre o mar” Livro: Mar Morto
de Jorge Amado
RESUMO
O presente estudo tem como objeto de pesquisa a escolha profissional e
subjetividade. E como objetivo, compreender as implicações subjetivas que
envolvem o processo de escolha do curso de Serviço Social. Pensamos que o
estudo sobre os motivos de escolha da profissão pode contribuir para uma
visão mais clara tanto sobre a identidade profissional quanto daqueles que
escolhem a profissão. Constituíram os sujeitos de nossa pesquisa os alunos do
primeiro e quarto ano da PUC/SP e UNESP/Franca, com base na pesquisa
quali-quantitativa com questionário de pesquisa, com formulações de questões
abertas e fechadas. Entendemos como motivos e implicações da escolha,
todos os fatores que podem influenciar na decisão, sejam de ordem
econômica, social, cultural e afetiva, articulado de uma forma multidimensional,
tais quais: o desejo de transformar a sociedade, o interesse de ajudar as
pessoas, história de vida e sentimentos e emoções envolvidas, influência
familiar, pela facilidade de passar no vestibular, ausência de outras
alternativas, inserção no mercado de trabalho, militância entre outros. Esse
estudo fortalece a questão da subjetividade como significado de sentido, como
possibilidade de fazer perguntas e questionamentos. Nesse processo de
escolha, relação da razão e da emoção entrelaçadas. A subjetividade e os
motivos da escolha profissional não podem ser vistos como uma unidade
específica, única, imutável, mas que congrega vários sentidos.
Palavras-Chave: Escolha Profissional, Subjetividade e Serviço Social.
ABSTRACT
The present study it has as research object the professional choice and the
subjectivity. And as objective to understand this process and its interfaces. We
think that the study on the reasons of choice of the profession it can contribute
for a clearer vision, as much on the professional identity, how much of that they
choose the profession. The room had constituted the citizens of our research
and pupils first and fourth year of PUC/SP and UNESP/FRANCA, on the basis
of the quali-quantitative research with questionnaire of research,
formularizations of open and closed questions. We understand as reasons and
implications of the choice, all the factors that can influence in the decision, are
of social, cultural and affective order economic, articulated of a multidimensional
four such which the desire to transform the society, the interest to help the
people, involved history of life and feelings and emotions, familiar influence, for
the easiness to pass in the vestibular contest, absence of other alternatives
insertion in the work world, militancy among others. This study it fortifies the
question of the subjectivity as meant of direction, as possibility to make
questions and questionaments. In this process of choice, it has relation of the
interlaced reason and the emotion. The subjectivity and the reasions of the
professional choice cannot be seen as a specific, only changeable unit. But that
it congregates some diretions.
Words key: Professional Choice, Subjectivity and Social Service.
INDICE DE SIGLAS
ABESS - Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social
ABEPSS - Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social.
CEAS - Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo
CRESSRJ - Conselho Regional de Serviço Social do Rio de Janeiro
CRESS - Conselho Regional de Serviço Social
ENESSO - Encontro Nacional dos Estudantes de Serviço Social
FAPSS - Faculdade Paulista de Serviço Social
FIES - Programa de Financiamento Estudantil
ONGs - Organizações não governamentais
PJMP - Pastoral da Juventude no Meio Popular
PROUNI - Programa Universidade para todos
PUC/MG - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
PUC/PR - Pontifícia Universidade Católica do Paraná
PUC/SP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
TCC - Trabalho de Conclusão de Curso
UEPG - Universidade Estadual de Ponta Grossa.
UFPI - Universidade Federal do Piauí
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro
UNESP/ Franca - Universidade Estadual de São Paulo – Campus Franca
UNICAMP - Universidade de Campinas
UNICSUL - Universidade Cruzeiro do Sul
USP - Universidade de São Paulo
USF - Universidade de São Francisco
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Alunos matriculados regularmente – PUC/SP................................. 37
Tabela 2 – Alunos matriculados regularmente – UNESP/ Franca.................... 38
Tabela 3 - Caracterização dos sujeitos de pesquisa – 1º ano PUC/SP e
UNESP/Franca..................................................................................................41
Tabela 4 - Motivos da escolha profissional e suas implicações ....................... 44
Tabela 5 - Motivo principal da escolha profissional.......................................... 50
Tabela 6- Características dos sujeitos de pesquisa – 4º ano – PUC/SP e
UNESP/Franca..................................................................................................61
Tabela 7- Motivo da escolha profissional e suas implicações ......................... 64
Tabela 8 - Motivo principal da escolha profissional.......................................... 69
Tabela 9 - Características da Família dos alunos – PUC/SP ........................... 82
Tabela 10 - Características da família dos alunos UNESP/ Franca ................. 84
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................. 13
1. A ESCOLHA DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL ...................................... 18
1.1. Escolha da profissão: escolha da própria vida ....................................... 18
1.2. Subjetividade e escolha profissional....................................................... 22
1.3. O Serviço Social como profissão........................................................... 26
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: CAMINHO PERCORRIDO ........ 34
2.1 Público Alvo............................................................................................. 37
2.2 Pré teste .................................................................................................. 38
2.3 Tratamento dos dados e construção dos eixos de análise...................... 39
3. ANÁLISES E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ......................................... 41
3.1 Alunos ingressantes ................................................................................ 41
3.1.1 Motivos da escolha profissional e suas implicações.......................... 44
3.1.2 Concepção de Serviço Social........................................................... 56
3.1.3 Expectativas da profissão................................................................. 59
3.2 Alunos concluintes .................................................................................. 61
3.2.1 Motivos da escolha profissional e suas implicações.......................... 64
3.2.2 Concepção de Serviço Social............................................................ 74
3.2.3 Expectativas da profissão.................................................................. 77
3.2.4 Fatores significativos no processo de formação profissional............. 80
3.3 Características das Famílias ................................................................... 81
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 87
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 92
ANEXO ............................................................................................................ 97
13
INTRODUÇÃO
“Porquê falar de mim? Não é decente, normal, sério que,
quando se trata de ciência, de conhecimento, de pensamento,
o autor apague atrás de sua obra...? Devemos, pelo contrário,
saber que é aí que a comédia triunfa. O sujeito que desaparece
do seu discurso instala-se de fato na torre de controle.”
(MORIN, Edgar. 1977)
Sugere a epígrafe que não podemos separar a produção do
conhecimento do sujeito humano. Assim como não podemos separar nossas
escolhas, desejos e decisões dos rumos de nossa própria história, de nosso
cotidiano, de nossas lutas. Nossas escolhas expressam o que somos, o que
desejamos. Cada escolha que realizamos tende a nos mostrar por inteiro.
O interesse pelo presente tema de estudo começou depois de
algumas reflexões sobre o que significa escolher uma profissão. Percebemos
então, que uma profissão nos possibilita a emancipação enquanto ser humano,
uma melhor compreensão de nossa própria história de vida e a dinâmica da
realidade social em que vivemos. Através dela aprendemos a lidar melhor com
as emoções e a viver o cotidiano valorizando a presença da arte, da música, da
poesia e do amor. A profissão que escolhemos nos constrói enquanto sujeitos
da história e na história. Neste sentido, destacamos a importante afirmação de
Martinelli (2006, p.10), quando menciona que (...) posso com convicção,
afirmar que contribuí muito para a construção do Serviço Social, mas ele
também me construiu
.
Em recente texto de Marilena Chauí (2003, p.11) Para que filosofia?
Conhece-te a ti mesmo, iniciamos maior reflexão acerca de nosso tema de
pesquisa, pois o texto em questão aborda o filme “Matrix” e o significado de
seus personagens. Nele a autora resgata a fala de Sócrates: "Sócrates andava
pelas ruas de Atenas fazendo aos atenienses algumas perguntas: ‘O que é isso
14
em que voacredita?’ ‘O que é isso que você está dizendo?’ ‘O que é isso
que você está fazendo?’.
Ao lê-lo, começamos a fazer as mesmas perguntas referente a
profissão de Assistente Social, tentando, também, compreender nossas
inquietações e indagações. Daí resulta a aproximação ao objeto de estudo: a
escolha profissional e a subjetividade. Porque os sujeitos escolhem fazer o
curso de Serviço Social? Quais os motivos desta escolha? Que fatores
subjetivos podem influir no processo de escolha profissional? O texto de Chauí,
ajuda-nos a pensar acerca da questão.
Os atenienses achavam, por exemplo, que sabiam o que era
justiça. Sócrates lhes fazia perguntas de tal maneira sobre a
justiça que, embaraçados e confusos, chegavam à conclusão
de que não sabiam o que ela significava. Os atenienses
acreditavam que sabiam o que era coragem. Com suas
perguntas incansáveis, Sócrates os fazia concluir que não
sabiam o que significava coragem. Os atenienses acreditavam
também que sabiam o que eram a bondade, a beleza, a
verdade, mas um prolongado diálogo com Sócrates os fazia
perceber que não sabiam o que era aquilo em que
acreditavam. (p.11)
Em princípio pensamos que sabemos por que escolhemos
determinada profissão, mas através das incansáveis perguntas de Sócrates
somos conduzidos uma maior reflexão quanto as implicações subjetivas que
envolvem o processo de escolha profissional.
Laura Silva (1995), especialista em orientação vocacional, afirma que
as teorias tentam explicar, muitas vezes, de modo parcial esta questão, ora
fazendo uma leitura mais psicológica, ora sociológica ou econômica. Sendo
assim, torna-se necessário realizar uma articulação entre indivíduo e
15
sociedade, explicando os aspectos que envolvem este processo de escolha,
seja ele subjetivo ou sócio-econômico.
Neste sentido, Morin (1999, p. 38) propõe uma reflexão numa
perspectiva multidimensional: (...) o ser humano é ao mesmo tempo biológico,
psíquico, social, afetivo e racional. A sociedade comporta as dimensões
histórica, econômica, sociológica, religiosa...” A dimensão econômica está em
inter-retroação com todas as dimensões humanas, por isso é preciso
compreender e articular o todo para conhecer as partes de uma forma
multidimensional.
A subjetividade vem sendo estudada sob diferentes ângulos e
promovendo análises, principalmente na psicologia, quer centrada no indivíduo,
quer no sujeito social coletivo. Nas teses e dissertações em Serviço Social
encontramos alguns estudos que discorrem sobre a subjetividade, mas poucos
focam os motivos de escolha do curso. Em estudo realizado na Revista Serviço
Social & Sociedade, 22, um artigo que remete as razões pelas quais os
sujeitos escolhem o curso de Serviço Social, de autoria de Raquel Raichelis
(1986) intitulada “ A imagem social do Serviço Social e os valores que veicula”.
Nesse artigo percebemos que um dos mais fortes motivos é o caráter de ajuda
subjacente à profissão, isto é, dimensão humanitária e de justiça social que
potencializam a intervenção profissional, especialmente orientada para a
população de mais baixa renda.
Iamamoto (1992, p. 49) cita uma pesquisa realizada em 1967 entre
os estudantes de todas as Escolas de Serviço Social do Brasil, patrocinadas
pela ABESS; revela sobre os principais motivos que levam à procura do curso
de Serviço Social, entre eles: “vontade de ser útil”, “querer ajudar os outros”,
“contribuir para o desenvolvimento do país”, “arranjar melhor emprego”,
“exclusão de outras profissões”, e “teste vocacional”(...).
16
Embora a transformação da sociedade e do projeto curricular do
Serviço Social, os estudos sobre os motivos sobre da escolha profissional
permanecem os mesmos, valores humanitários, e sentimento de ajuda.
Como orientação teórica destacamos autores tais como Castoriadis
(1999) e González Rey (2003). Castoriadis analisa a subjetividades como
potencial do sentido, ou seja, do exercício de fazer perguntas e de imprimir
sentido ou sentidos às coisas, um sujeito que pensa, que sente, um sujeito que
produz dentro de um contexto único de uma história de vida e que aparece em
uma multiplicidade de formas.
Sob este aspecto González Rey ressalta que as criações humanas
são produções de sentido, com a integração dos diferentes aspectos do mundo
em que o sujeito vive. Sendo assim, nosso trabalho traz a discussão da
subjetividade, não como sentimentalismo ou subjetivismo, mas como um
conjunto de implicações que envolvem dimensões ao mesmo tempo históricas,
culturais, econômicas e afetivas.
O presente estudo tem como objeto de pesquisa a escolha
profissional e a subjetividade. Como objetivo, compreender as implicações
subjetivas que envolvem o processo de escolha do curso de Serviço Social.
Pensamos que estudos que abordam os motivos da escolha profissional
podem contribuir para uma visão mais clara da identidade da profissão e
daqueles que a escolhem.
A
pesquisa foi desenvolvida nas Universidades: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo e Universidade Estadual de São Paulo
Campus Franca.
Assim, abordamos, no primeiro capítulo, as implicações da
subjetividade como fator primordial ao processo de escolha profissional e uma
reflexão sobre o Serviço Social como profissão.
17
No segundo capítulo tratamos do campo de pesquisa: a Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo PUC/SP e a Universidade Estadual de
São Paulo UNESP/Franca onde serão abordados os processos
metodológicos.
No terceiro capítulo apresentamos as discussões sobre a análise
dos dados e dos resultados obtidos através da pesquisa na PUC/SP e na
UNESP/ Franca.
Nas considerações finais fazemos uma análise articulando os dois
conjuntos de informações das Universidades que participaram da pesquisa e
as reflexões com base nos resultados encontrados.
18
1. A ESCOLHA DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
1.1. Escolha da profissão: escolha da própria vida
E a vida? E a vida o que é, diga lá meu irmão?
Ela é a batida de um coração
Ela é uma doce ilusão
Mas e a vida? Ela é maravilha ou é sofrimento? Ela é alegria ou lamento?
O que é? O que é, meu irmão?
(Gonzaguinha)
A música de Gonzaguinha nos permitiu estabelecer uma metáfora
com nosso tema de investigação. E a escolha profissional diga o que é? É a
escolha da própria vida? É decidir a própria vida?
Jean Ungricht (1967), doutor em filosofia professor na Universidade
de St. Gallen na Suíça em seu livro Escolha da profissão...escolha da vida,
discute os motivos que podem influenciar nossa opção afirmando que a
escolha define nossa própria vida, nosso jeito de se preocupar com o mundo e
também, nossa personalidade. Decidir é dar uma direção para nosso futuro, é
pensar nas possibilidades de trabalho, na nossa sobrevivência e na luta por
uma vida mais digna.
A escolha da profissão é um ato importantíssimo para o
indivíduo; supera em importância qualquer outra decisão, pois
abrange ao mesmo tempo o ambiente de vida, as
possibilidades internas e externas de desenvolvimento, as
circunstâncias materiais, as probabilidades de progresso, o
nível de cultura, a duração da saúde, as futuras circunstâncias
familiares, a dependência ou independência profissional, a
posição social.(...) A escolha da profissão é a escolha da
própria vida. (p.61)
19
Pensar no futuro profissional consiste também em manifestarmos
nossas tendências ideopolíticas bem como conjugar nossas possibilidades de
sucesso e de projeção sócio-financeiras. Com Karl Marx apreendemos que o
trabalho, o valor predominante da sociedade contemporânea, é a atividade
fundamental do homem, porque através dele o sujeito pode projetar seu futuro
para si e para o contexto de suas relações sociais, tornando-se um ser crítico,
analítico e, assim, conquistar os seus bens necessários a sua sobrevivência,
satisfazer suas necessidades e criar outras.
No livro Rumo à Estação Finlândia, Edmund Wilson (1986) nos
remete a um texto que Marx escreveu em agosto de 1835 intitulado “Reflexões
de um jovem a respeito da escolha de uma profissão”. Ao escolher uma
profissão, disse Marx aos dezessete anos de idade,
(...) deve-se ter certeza de não estar se colocando na posição
de mero instrumento servil em mãos de outrem: o indivíduo
deve manter sua independência em sua própria esfera, e
certificar-se, de que está servindo à humanidade - caso
contrário, ainda que venha a se tornar famoso, como erudito,
poeta, não será jamais um grande homem. Nunca nos
realizamos verdadeiramente a menos que estejamos
trabalhando pelo bem dos nossos semelhantes: neste caso,
não nosso fardo não será pesado demais, como também
nossas satisfações não serão apenas alegrias egoístas. (p.109)
Explicita o autor que a profissão está a serviço de uma sociedade e
da humanidade, ou seja, da coletividade. Compartilhamos com esta questão,
porém acreditamos que nossa escolha é individual e subjetiva, e igualmente,
objetiva e coletiva, porque congrega razão e emoção.
20
Em Serviço Social, encontramos alguns estudos sobre escolha
profissional e subjetividade, tais como: Solange Teixeira (1998) e Barbagallo
(2005).
Solange Teixeira (1998) trata das representações sociais da
profissão de Serviço Social, em um estudo junto ao aluno do Curso de UFPI
(Universidade Federal do Piauí). Aborda o processo de escolha estruturado
através das representações sociais e levanta alguns questionamentos: o que
leva o sujeito a escolher uma determinada profissão em detrimento de outras?
Considera que as representações sociais são resultantes de um complexo de
determinações e mediações; um processo cuja reprodução é fortalecida por
fatores internos e externos à profissão. Para a autora, os motivos da escolha
profissional justificam-se por questões subjetivas e objetivas, mas não identifica
representações específicas, que a escolha da profissão não se esgota na
dimensão das representações.
A tese de Barbagallo (2005) intitulada “Trajetórias Profissionais,
História e Subjetividade: a produção de sentidos no Serviço Social” aborda a
apreensão e compreensão dos sentidos produzidos pelos assistentes sociais
na sua experiência profissional. A pesquisa mostra que os sentidos somente
podem ser apreendidos se levarmos em consideração, além do âmbito
cognitivo e prático objetivação e exteriorização dos sujeitos o âmbito da
afetividade, porque é através dele que os sujeitos se sensibilizam com a
realidade social. Concomitantemente, o autor resgata a subjetividade na
produção dos sentidos e traz elementos para problematizá-la.
Na tese de
Sônia Mansano (2002), intitulada “Vida e Profissão:
cartografando trajetórias”, na qual a autora problematiza a construção de
vínculo com a profissão. Fundamenta que o vínculo com a profissão é
construído como uma obra artística, na qual as intensidades, afetos e dúvidas
vividas durante toda a trajetória profissional, podem ser experimentados como
um processo aberto que não reduz a uma identidade profissional. Parte da
21
perspectiva que o vínculo com a profissão é histórico, mutável e produzindo-se
de maneira singular, ou seja, pelo investimento desejante e afetivo, bem como
pela produção do sentido.
Percebemos que as pesquisas realizadas explicam a escolha
profissional, levanto em conta aspectos do mercado de trabalho, questões d
sobrevivência, vocação, status, cultura, história de vida, porém poucos dão
prioridades a dimensão subjetiva neste processo de escolha profissional. As
discussões acerca das emoções e da subjetividade têm ocorrido mais no
âmbito da psicologia.
Se realmente como afirma Helena Soares (1988), a decisão é um
importante componente no exercício da escolha profissional que se
considerar que decisão é também ação, exclusividade da ação.
Escolher é decidir entre uma série de opções aquela que nos
parece melhor. Para isto é preciso avaliar os prós e contras de
cada possibilidade e saber que, fazendo uma opção, estamos
deixando de lado todas as outras. A escolha envolve a
exclusividade. (p.13)
Quando escolhemos uma profissão estamos também nos avaliando
e avaliando os prós e os contras do caminho a ser trilhado. Eliane Rodrigues
(1995) afirma que,
A escolha da profissão, como todas as escolhas que fazemos
na vida, deve ser o resultado de um processo de decisão. De
um lado, você tem os desejos, e de outro, as possibilidades.
Entre os desejos e as probabilidades estão as possibilidades e
os limites. (p. 66)
22
1.2 Subjetividade e escolha profissional
Quando iniciamos nossa investigação prevíamos certas dificuldades,
principalmente para elaborar reflexões entre o assunto - subjetividade - ou os
aspectos que envolvem as emoções e os sentimentos no exercício da
profissão. E, portanto, em pesquisa, uma vez que esta temática é claramente
negligenciada na agenda de nosso processo de formação profissional. Através
de alguns autores tecemos algumas considerações no que concerne a
subjetividade e articulamos, através delas, melhor compreensão no tocante à
questão e a escolha da profissão.
Importante contribuição encontramos na obra Saúde Mental e
Serviço Social, do psicólogo e cientista político Eduardo Mourão Vasconcelos
(2000), professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ. A obra
refere-se ao frágil terreno teórico que nossa profissão vem recalcando nos
últimos tempos. Diz o autor:
Na dimensão coletiva, está em primeiro lugar um
reconhecimento do desastre histórico e político da abordagem
da subjetividade pelo socialismo real sobre a influência do
stalinismo, que subjugou e recalcou através do chamado
realismo socialista e de uma psiquiatria biológica e autoritária a
produção subjetiva e a criatividade das várias gerações de
cidadãos que o experimentam. Está também em jogo a
percepção de que a subjetividade não é só um fenômeno
individual, mobilizado apenas nas abordagens profissionais
individualizadas, mas que atravessa todos os fenômenos
coletivos e políticos, passando pelas questões de classe, de
gênero, etnia, cultura, religião, sexualidade, questões
ambientais etc. Além disso, está em jogo a capacidade dos
profissionais de serviço social reconhecerem estes processos
não nos indivíduos, grupos e fenômenos sociais objeto de
seu trabalho, mas também nas ferramentas e instrumentos de
intervenção profissional ... (p. 11-12).
23
A fragilidade dos estudos sobre a subjetividade dentro da profissão
foi se ampliando tanto o campo investigativo e instrumental quanto, ao de
fundamentos e conhecimentos para o exercício profissional. Para Rodrigues
(1999).
O termo subjetividade (assim como o termo sujeito), portanto,
serve a uma pluralidade de sentidos e de pontos de vistas;
designa, principalmente, o indivíduo preso a uma identidade
que reconhece como sua constituída a partir dos processos de
relação com os outros e com o mundo.
(pg. 122)
Ou seja, a subjetividade expressa um modo de ser, um modo de
pensar e expressa sentimentos e emoções consigo e com o outro, servindo
para uma pluralidade de sentidos de cada sujeito.
Em Boaventura Santos
1
(1996) a subjetividade está presente no
plano político e do cultural, que ele mantém associados. Não existe questão
social sem subjetividade, não existe sujeito sem subjetividade. Ela carrega,
portanto, um sentido político, social e cultural. O autor desenvolve forte reflexão
buscando compreender certa “tensão entre a subjetividade individual dos
agentes na sociedade civil e a subjetividade monumental do Estado”. O
mecanismo regulador dessa tensão é o princípio da cidadania que, por um
lado, limita os poderes do Estado e, por outro, universaliza e igualiza as
particularidades dos sujeitos de modo a facilitar o controle social como
individual.O tema subjetividade tem sido pouco discutido na profissão do
Serviço Social, o que percebemos é que muitas vezes a palavra subjetividade
é marginalizada - tratada como subjetivismo e/ou sentimentalismo e como
processo de individualização. A subjetividade segundo dicionário de filosofia é
o caráter de todos os fenômenos psíquicos, enquanto fenômenos de
1
Sociólogo Doutorado em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale. Professor
catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Diretor do Centro de
Estudos Sociais.
24
consciência, isto é tais que o sujeito os refere a si mesmo e os chama de
“meus”.
González Rey
2
(2003) trabalha com o conceito de subjetividade
como fenômeno individual que forma simultaneamente um nível social e
individual, embora em ambos os momentos de sua produção reconheçam sua
gênese histórico-social, isto é, não associada somente a experiências atuais do
sujeito ou instâncias social, mas a forma em que a experiência atual adquire
sentido e significado dentro da constituição subjetiva da história do agente,
tanto social como individual.
A questão da subjetividade o autor traz como uma
aproximação com o aspecto histórico-cultural dos sujeitos
As criações humanas são produções de sentido, que
expressam de forma singular os complexos processos da
realidade nos quais o homem está envolvido, mas sem
constituir um reflexo destes. Em outras palavras, esses
processos são uma criação humana, os quais, integrando os
diferentes aspectos do mundo em que o sujeito vive, aparecem
em cada sujeito ou espaço social concreto de forma única,
organizados em seu caráter subjetivo pela história de seus
protagonistas. (prefácio)
Castoriadis
3
(1999) trabalha a subjetividade como significado de
sentido, como adquire as coisas adquirem e produzem sentidos. Damásio
(2005) complementa o autor, porquanto debate acerca dos sentimentos e
emoções e os colocam como essenciais para auxiliar o organismo na
conservação da vida. Para análise dos autores podemos refletir que a
subjetividade pode ser repleta de múltiplos significados os quais decorrem as
2
González Rey é doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia Geral e Pedagógica de
Moscou e doutor em Ciências (pós doutorado) pelo Instituto de Psicologia da Academia de
Ciências da União Soviética.
3
Cornelius Castoriadis, foi filósofo, sociólogo, foi também economista e psicanalista, nasceu
na Grécia e morreu em dezembro de 1997.
25
produções dos sentidos, passando pelas questões histórico –culturais e
afetivas.
Consoante os estudos que Damásio
4
(2005) realiza sobre
conhecimento, consciência e emoção, vemos que as emoções e os
sentimentos fazem parte da subjetividade. Para o autor, três pontos são
fundamentais: a emoção exerce influência no exercício do raciocínio; os
sistemas cerebrais destinados à emoção estão intrinsecamente entrelaçados
aos sistemas destinados à razão; e a mente não pode ser separada do corpo.
As emoções e sentimentos desempenham importante papel na razão humana.
Podemos evidenciar a presença da subjetividade, que são também conjunto de
emoções e sentimentos entrelaçados entre razão e emoção, na escolha
profissional dos sujeitos que optam pelo curso de Serviço Social? A emoção
para Damásio é uma combinação do estado emocional do corpo e do cérebro.
Emoções são conjuntos complexos de reações químicas e
neurais, formando um padrão; todas as emoções têm algum
tipo de papel regulador a desempenhar, levando, de um modo
ou de outro, à criação de circunstâncias vantajosas para o
organismo em que o fenômeno se manifesta; as emoções
estão ligadas à vida de um organismo, ao seu corpo, para ser
exato, e seu papel é auxiliar o organismo a conservar a vida.
(p.74 e 75)
Para o autor as emoções e sentimentos carregam características
diferenciadas. As emoções são induzidas sem que saibamos, e se volta para
fora, o corpo é o teatro das emoções. Os sentimentos são essencialmente
conhecidos e se voltam para dentro, eles produzem seus sentimentos
supremos e duradouros “no teatro da mente consciente”, consciência central.
4
Antônio R. Damásio é neurologista, nasceu em Portugal. É chefe do Departamento de
Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Lowa e professor adjunto do Instituto
Salk de Estudos Biológicos, em La Jolla, na Califórnia.
26
A dimensão subjetiva expressa nossos sentimentos, nossas
emoções, nossa história de vida, nossa cultura, que também perpassa o social,
o político, e o econômico. Na perspectiva dialógica a razão está em tensão com
a emoção, e tem intensa conexão entre consciência e realidade, subjetividade
e objetividade, uno e múltiplo, ciência natural e ciência humana, moderno e
pós-moderno.
1.3 O Serviço Social como profissão
É forte a marca da Igreja Católica nas origens do Serviço Social.
Desde sua gênese até os dias atuais são intensas as ações identificadas com
práticas assistenciais com conotação de ajuda.
Segundo Iamamoto (1998) no ano de 1920 é criada a Associação
das Senhoras Brasileiras no Rio de Janeiro e, em 1923, a Liga das Senhoras
Católicas em São Paulo, com atividades tradicionais de caridade. Depois
criaram a Ação Social Católica que permitiu a expansão social e o surgimento
das primeiras escolas de Serviço Social. Em 1932 surge o CEAS - Centro de
Estudos e Ação Social de São Paulo – considerado como manifestação original
do Serviço Social no Brasil para tornar efetiva e dar maior rendimento às
iniciativas e obras promovidas pela filantropia das classes dominantes
paulistas. Regulamentada pela lei n° 8.662/9 de 07/06/1993 e apreendida como
prática de intervenção, o Serviço Social busca fundamentação teórica em
outras áreas sociais e humanas.
Muitas e diferentes são as concepções de Serviço Social. Hoje,
estas distinções podem ser observadas no processo de construção dos
conhecimentos na área e também no movimento de complementaridade
possível de se observar entre elas. Algumas destas concepções podem
iluminar nossas reflexões.
27
Entendemos que o Serviço Social profissional, como mediação,
está diretamente colocado na relação do Estado com os
setores excluídos e subalternizados da sociedade. É, pois, uma
intervenção mediadora, que transita no campo das políticas
sociais e assistenciais na concretização da tarefa reguladora do
Estado na vida social. (
YAZBEK , 2003, p. 24)
Assim como a identidade, também a profissão é uma categoria
política, histórica, que pulsa com o tempo e com o movimento,
que se alimenta das lutas cotidianas. Para as profissões
sociais, e para o Serviço Social especialmente, esta é uma
característica de maior importância, sobretudo se
considerarmos que somos profissionais que chegamos o mais
próximo possível do cenário da vida cotidiana das pessoas com
as quais trabalhamos. O que para muitas profissões é relato,
para nós é vivência, o que para muitos profissionais é
informação para nós são fatos, plenos de vida, saturados de
história. (
MARTINELLI, 1997, p. 22)
Explicam a profissão como mediadora entre o Estado e a população,
implementadora de políticas sócio assistenciais, como uma prática social que
se constrói no exercício político e histórico. E por outro lado, é entendida como
profissão que empreende uma prática social, educativa, política de
enfrentamento da questão social, operando não somente na esfera do
econômico e do técnico, como também na do afetivo. Compartilho com
Rodrigues (2001),
O Serviço Social é uma profissão que tem por atraente
empreender uma prática social, educativa, política de
enfrentamento da questão social”, principalmente no que
tange às interfaces pobreza/riqueza e às recorrências do
progressivo empobrecimento da população. A atuação do
Serviço Social não se limita à esfera macro-social (conjuntural,
estrutural), mas é na esteira das relações também micro-
28
sociais que concretiza ou cumpre sua “vocação” profissional. É
uma profissão vigorosa, combatente que, no plano “macro”,
constantemente se confronta com binômio “solidariedade e
barbárie social” e que se confronta também, no cotidiano, com
as necessidades e carências fundamentais do homem, não
na esfera do econômico e técnico, como também na do afetivo.
(RODRIGUES, 2001, p. 154)
Poder-se-ia afirmar que o Serviço Social, como profissão
inscrita na divisão social do trabalho, situa-se no processo da
reprodução das relações sociais, fundamentalmente como uma
atividade auxiliar e subsidiária no exercício do controle social e
na difusão da ideologia da classe dominante junto à classe
trabalhadora. Assim, contribui como um dos mecanismos
institucionais mobilizados pela burguesia e inserido no aparato
burocrático do Estado, das empresas e outras entidades
privadas, na criação de bases políticas que legitimem o
exercício do poder de classe, contrapondo-se às iniciativas
autônomas de organização e representação dos trabalhadores.
Intervém, ainda na criação de condições favorecedoras da
reprodução da força de trabalho, através da mediação dos
serviços sociais, previstos e regulados pela política social do
Estado, que constituem o suporte material de uma ação de
cunho “educativo”, exercido por esses agentes profissionais.
(IAMAMOTO, 1998, p.94)
De modo geral as autoras explicam o significado da profissão
relacionado à questão de classe e da divisão sócio cnica do trabalho,
considerando a perspectiva sócia histórica. Entretanto, percebemos por vezes,
que mesmo esse conceito e o que definimos como objeto da profissão (a
questão social) adquirem um espectro amplo demais, decorrendo daí
confusões e dúvidas.
Por outro lado, os conceitos elaborados tornam-se complementares,
pois fundamentam a profissão como prática política e interventiva no âmbito
29
das relações humanas. Serviço Social trabalha com o humano, não podemos
negar que evidencia especial importância com a população de baixa renda,
mas está presente também, o compromisso de humanização da sociedade
como um todo.
O Serviço Social possuem diferentes significados e, portanto, revela
visões diferentes de mundo dos sujeitos que constroem a profissão. Apesar
das diferenciações há um traço fundamental que atravessa todas: a
inquietação com os problemas da sociedade na luta pela justiça social.
No artigo de Yara Santos (2001), com o título “Serviço Social, afinal
do que se trata?”, a autora traz para a discussão o mal estar dos assistentes
sociais por não saber definir o que é esta profissão.
Me poupe, é a resposta que uma assistente social, formada em
1970, aos curiosos impertinentes que insistem em saber o
que é serviço social. Nunca ninguém me perguntou, esquiva-se
outra entrevistada. Longos segundos de silêncio e risos
amarelados se seguiram à minha pergunta: o que você
responde quando lhe perguntam o que é e o que faz o
Assistente Social? Todas elas, mesmo quando convictas de
sua escolha, bem instaladas e realizadas na profissão, tiveram
reações semelhantes. (pg. 175)
A autora faz uma reflexão no que tange a dificuldade que os
assistentes sociais têm de definir nossa profissão. Demonstra o incômodo que
a pergunta provoca para os profissionais. As explicações dadas para a
compreensão da profissão acabam sendo centradas na “questão social”, e
seus desdobramentos dentre os quais podemos citar: o desemprego, a
violência, os conflitos familiares, entre outros. Embora objeto também de outras
profissões, o assistente social é visto como o profissional que, talvez, mais se
aproxime das reais dificuldades sociais e políticas dos sujeitos empobrecidos.
Martinelli (2006) explicita esta questão.
30
Somos profissionais que chegamos o mais próximo possível da
vida cotidiana das pessoas com as quais trabalhamos. Poucas
profissões conseguem chegar tão perto deste limite como nós.
É, portanto, uma profissão que nos uma dimensão da
realidade muito grande e que nos abre possibilidade de
construir identidades – a da profissão e a nossa – em um
movimento contínuo. (pg. 10)
O Serviço Social se destaca pelo o acolhimento, pelo modo que
realiza a escuta dos usuários, pela compreensão da história do sujeito; é
muitas vezes com este profissional que a população consegue partilhar suas
dificuldades e sofrimentos, falar sobre o seu cotidiano e construir formas de
superação.
Denise Guelfi (2003) em sua tese de doutorado realizou um estudo
em que discute as várias concepções do Serviço Social e ressalta que apesar
das diferentes leituras e perspectivas teóricas, observa-se que os autores
compartilham da concepção de Serviço Social enquanto prática de intervenção.
Mabel Torres (2006) realizou uma tese sobre as tendências teóricos
metodológicas do Serviço Social fundamentando que a profissão possui duas
dimensões: uma interventiva e outra investigativa. A primeira compreende a
instrumentalidade, aos componentes éticos políticos, ao reconhecimento, e o
segundo a instrumentalidade, aos reconhecimento da realidade social, e o
segundo compreende a produção do conhecimento, a elaboração de pesquisas
e os aspectos analíticos que dão suporte e qualificam a intervenção. Ambas as
dimensões se complementam favorecendo o fazer profissional.
Ortiz (2007) em sua tese sobre “o Serviço Social e sua imagem”
concluiu que a imagem da profissão revela-se na defesa dos direitos como seu
principal aspecto,
configurando-se assim, uma profissão no campo dos direitos
sociais.
31
Constatamos assim, através dos últimos estudos de doutorado do
Serviço Social, que permanece a preocupação em esclarecer o que é a
profissão e seu campo de expressão social, como prática de intervenção na
defesa dos direitos. Quando examinamos o material de divulgação para o
vestibular do Serviço Social essa dificuldade também está presente, ou seja,
não é claro o que é Serviço Social. Ademir Silva (2005) elaborou um manual
com informações sobre a profissão de Serviço Social, que explicitando:
O Assistente Social atua no âmbito da reprodução social, ou
seja, utiliza conhecimentos científicos e instrumental técnico,
manejando recursos destinados à melhoria das condições da
população, no que se relaciona à moradia, saúde, educação,
proteção social (previdência e assistência social), relações de
trabalho, qualidade de vida no trabalho, saúde ocupacional,
educação ambiental e serviços sociais em geral. O foco da
intervenção profissional são os aspectos sociais que afetam a
qualidade de vida da população em geral especialmente os
setores de baixa renda. (p.09)
No primeiro momento, observamos uma concepção genérica que
não se aproxima o sujeito profissional de suas atividades. Portanto,
percebemos que entre os profissionais que buscam significados para esta
profissão ainda observa-se uma incógnita. Observamos que o material
disponibilizado para os alunos exibi mais indagações do que propriamente
explicações.
No site do Conselho Regional do Serviço Social do Rio de Janeiro
(2007), enfatiza a questão das políticas públicas e responde a demanda pelos
serviços prestados, sinaliza a importância do profissional realizar uma análise
social e institucional.
32
O profissional de Serviço Social realiza um trabalho
essencialmente sócio-educativo e está qualificado para atuar
nas diversas áreas ligadas à condução das políticas sociais
públicas e privadas, tais como planejamento, organização,
execução, avaliação, gestão, pesquisa e assessoria.
O seu trabalho tem como principal objetivo responder às
demandas dos usuários dos serviços prestados, garantindo o
acesso aos direitos assegurados na Constituição Federal de
1988 e na legislação complementar. Para isso, o assistente
social utiliza vários instrumentos de trabalho, como entrevistas,
análises sociais, relatórios, levantamento de recursos,
encaminhamentos, visitas domiciliares, dinâmicas de grupo,
pareceres sociais, contatos institucionais, entre outros.
O assistente social é responsável por fazer uma análise da
realidade social e institucional, e intervir para melhorar as
condições de vida do usuário. A adequada utilização desses
instrumentos requer uma contínua capacitação profissional que
busque aprimorar seus conhecimentos e habilidades nas suas
diversas áreas de atuação.
O guia das profissões (2007) refere que o profissional de Serviço
Social é habilitado para resolver problemas, promover a integração de pessoas
e coordenar trabalhos voluntários. Destaca as atividades do profissional, mas
de um modo geral estas atividades podem ser realizadas por vários
profissionais, assim não explicando especificidade. O guia é uma das formas
de tomar conhecimento da profissão, porém amostra um aspecto distorcido
quando compete a coordenação de trabalhos voluntários. Demonstra uma
confusão de interpretação entre trabalho voluntário e a profissão de Serviço
Social, ou seja, é pouco esclarecida a relação entre assistência e políticas
públicas, gestão e prestação de serviços sociais.
33
O profissional de Serviço Social atua para resolver problemas e
atender as necessidades da coletividade. Trata de ações que
levem o bem-estar para a comunidade agindo para grupos ou
indivíduos. O Assistente Social promove a integração de
pessoas, coordena trabalhos voluntários, realiza atividades
grupais atua junto a líderes comunitários.
As informações sobre Serviço Social para as pessoas que desejam
conhecê-la pouco evidenciam as características que realmente explicam esta
prática na sua proposta, na sua dinâmica e no seu campo de atuação.
34
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: CAMINHO
PERCORRIDO
Realizamos a pesquisa em duas Universidades que mantém o curso
de Serviço Social, localizadas no Estado de São Paulo: Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo - PUC/SP e Universidade do Estado de São Paulo
UNESP. Como critério de escolha, estabelecemos a natureza privada na
primeira e a representatividade de seu corpo docente, professores e
pesquisadores de projeção nacional e internacional responsáveis por grande
parte da produção teórica da profissão. E a segunda, por ser a única
universidade pública com curso de Serviço Social no Estado de São Paulo.
Escolhemos a metodologia de estudo quanti-qualitativo, realizada
através de um questionário com as perguntas abertas e fechadas. Segundo
Dulce Baptista (2003, pág.34) “ (...) Para muitos autores a pesquisa quantitativa
não deve ser oposta à pesquisa qualitativa, mas ambas devem
sinergeticamente convergir na complementaridade mútua...” As perguntas
fechadas e abertas contribuíram para auxiliar-nos na caracterização dos
sujeitos, bem como para evidenciar as implicações subjetivas no processo de
escolha, um dado complementando outro.
O questionário foi organizado priorizando três aspectos: dados sobre
a caracterização dos sujeitos da pesquisa
5
, dados sobre a caracterização da
família e dados sobre os motivos da escolha do curso de Serviço Social.
Destes dados foram construídos alguns eixos de análise.
5
Para estudar sobre o perfil dos alunos da PUC/SP, no curso de Serviço Social da respectiva
Universidade foi elaborada uma pesquisa intitulada Perfil do Estudante do Curso de Serviço
Social da PUC/SP. Pesquisa elabora pela Professora Luzia Fátima Baierl, agosto de 2004”.
E uma dissertação de Serviço Social intitulada “O estudante da Faculdade de Serviço Social da
PUC/SP – Seu perfil. Sueli Gião Pacheco Amaral, 1987.
Sobre o perfil dos alunos da UNESP/Franca foi elaborado um Trabalho de Conclusão de Curso
intitulado “O Perfil Sócio Econômico dos Estudantes de Serviço Social da UNESP Campus
Franca. Autoras Rachel Fernanda Mato dos Santos e Vanessa Guimarães Carrocine, 2004.
35
A aplicação do questionário ocorreu, em alguns momentos, com
nossa presença e, em outros momentos com o professor que estava em sala
de aula. O entrevistador não precisa necessariamente estar presente para o
preenchimento do questionário, uma vez que é o entrevistado quem deve
responder sozinho as questões.
Podemos definir questionário como técnica de investigação
composta por números mais ou menos elevado de questões
apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o
conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses,
expectativas, situações vivenciadas, etc. Gil (1995, p.124)
Escolhemos o questionário com perguntas semi-estruturada, pela
necessidade de contemplar alguns dados relativos ao objeto de estudo por
permitir uma espontaneidade de expressão dos participantes da pesquisa.
Embora elaborado o pré-teste e com a realização de modificações posteriores,
ao longo do processo identificamos certa dificuldades no tratar os dados do
instrumento.
Para a aplicação da pesquisa, entramos em contato com os
diretores, coordenadores e professores das respectivas Universidades.
Elaboramos uma carta de apresentação solicitando a autorização da pesquisa
e enviamos anexo o questionário. Em ambas as Universidades foi combinado
com seus respectivos coordenadores que os professores cederiam o horário de
suas aulas para a realização da pesquisa. Na PUC/SP tivemos que retornar
mais de uma vez, devido a impossibilidade de concluir pesquisa em um único
dia, já que as turmas eram de turnos diferentes (manhã e noite).
Nas visitas das Universidades tivemos acesso a documentos, como
por exemplo: projeto pedagógico, número de alunos matriculados, pesquisas
realizadas e trabalhos de conclusão de curso sobre os alunos do curso de
Serviço Social.
36
Quando entramos em sala de aula, explicamos o objetivo da
pesquisa e solicitamos alunos voluntários. Para a nossa surpresa, a maioria
dos alunos presentes disponibilizaram-se para responder ao questionário.
Os alunos levaram em média de 20 a 40 minutos para responder o
instrumento de pesquisa. Após o preenchimento do questionário, alguns
alunos do 4º ano expuseram a importância de participar da pesquisa, visto que
reporta-se à escolha do curso de Serviço Social, como também auxilia na
construção no trabalho de conclusão de curso. Um dos alunos declarou ainda
que o questionário lhe possibilitou maior reflexão sobre o motivo da escolha da
profissão.
A UNESP/ Franca encontrava-se em greve, mas o curso de Serviço
Social permanecia com suas atividades. Realizamos a pesquisa no final do 1
o
semestre de 2007, momento em que os alunos do 4
o
ano estavam em fase de
elaboração dos trabalhos de conclusão e, por esta razão contavam apenas
com aula de orientação de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), por isso foi
difícil encontrar os alunos.
Aplicamos o questionário de pesquisa um dia antes de iniciar a
semana acadêmica do Serviço Social. De acordo com os professores essa
seria uma estratégia para encontrar os alunos do 4
o
ano, pois estariam na
organização do evento. Conversamos com os estudantes do 4
o
ano e estes
nos ajudaram a informar a pesquisa para os demais colegas. Dada motivação,
a amostra da pesquisa destes alunos foi menor comparada aos alunos de 1
o
ano.
37
2.1 Público Alvo
Os nossos sujeitos de pesquisa foram os alunos de (1
o
semestre)
e anos (7
o
semestre) do curso de Serviço Social das Universidades
investigadas. Optamos por alunos de e 4º anos em função de obter um
diferencial nas repostas, dados os alunos que ingressam e os que estão
concluindo o curso. Para tanto estabelecemos uma amostra inicial de 10% dos
alunos regularmente matriculados do 1º e 4º anos nas duas Universidades.
Apresentaremos nas tabelas 1 e 2 o universo total dos alunos
matriculados nas duas Universidades. Na PUC/SP, os alunos do ano são do
turno da noite porque não o curso pela manhã. Diferentemente da
UNESP/Franca que possui aulas do 1º ano no noturno e matutino.
Tabela 1 - Alunos matriculados regularmente
6
– PUC/SP.
Turnos Total de alunos por
ano
Amostra
1º ano noturno 52 alunos 18 alunos - 35%
4º ano noturno 13 alunos 12 alunos - 92%
4º ano noturno 53 alunos 20 alunos - 38%
TOTAL 118 alunos 50 alunos - 42%
A Universidade conta com 230 alunos matriculados regularmente em
todas as turmas do curso de Serviço Social. Conforme tabela de n
o
1 a PUCSP
possui um total 118 alunos matriculados regularmente dos e anos, sendo
que um total de 42% (50 alunos) participaram da pesquisa.
6
Conforme informações da Secretaria do Curso de Serviço Social da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo.
38
Tabela 2 – Alunos matriculados regularmente – UNESP/ Franca
TURNO Total de alunos por ano Amostra
1º ano diurno 40 alunos 13 alunos - 33%
1º ano noturno 50 alunos 17 alunos - 34%
4º ano diurno 38 alunos 04 alunos - 11%
4º ano noturno 49 alunos 05 alunos -10%
TOTAL 177 alunos 39 alunos - 22%
A Universidade conta hoje com total de 320 alunos matriculados em
todas as turmas do curso de Serviço Social. Conforme tabela, a UNESP possui
177 alunos matriculados no 1
o
e 4
o
anos, sendo que um total de 22% (39
alunos) participaram da pesquisa.
A partir destes dados podemos identificar que a amostra da nossa
pesquisa, se constituiu em 30% (89 alunos) do universo de 295 alunos
matriculados no 1
o
e 4
o
ano do curso de Serviço Social das duas universidades.
Os alunos do 1º ano das duas universidades totalizaram 48, que
corresponde a 34% deste conjunto. Em relação 4º ano, verificamos que a
nossa amostra foi de 41 alunos que corresponde a 27% do total da amostra.
Apesar da amostra inicial ter sido estabelecida em 10%, durante a
aplicação do questionário tivemos um retorno de 30%, conforme citado
anteriormente. Optamos por não estabelecer nenhum outro critério para chegar
aos 10% , por acreditar que a amostra de 30% traria uma maior
representatividade em relação aos motivos da escolha.
2.2 Pré-teste
Para realização de nosso pré-teste, procuramos o Centro Acadêmico
de alunos do curso de Serviço Social da PUC/SP para solicitar voluntários para
a realização do pré-teste do questionário, a fim de observar se tal instrumento
39
daria conta do objeto de estudo proposto e se precisaríamos alterar alguma
questão. Obtivemos cinco (05) voluntários.
Após a aplicação foram feitas algumas reformulações entendidas
necessárias para presente estudo. Revimos a redação de algumas questões
com ênfase a de 3 (sobre o motivo que define a escolha). A partir daí
reagrupamos o questionário em nove possibilidades. No pré-teste, observamos
a dificuldade do aluno em definir o motivo principal da escolha pelo curso de
Serviço Social.
2.3 Tratamento dos dados e construção dos eixos de análise
A análise foi organizada de acordo com a estruturação e conteúdo do
questionário, resultando daí alguns eixos de análise, tais como: motivos da
escolha profissional e suas implicações, concepção da profissão, expectativa
da profissão e fatores significativos no processo de formação. O eixo de análise
fatores significativos da formação do curso de Serviço Social foi aplicado
somente para os alunos do quarto ano.
Sobre o eixo de análise motivos da escolha profissional e suas
implicações, agrupamos as questões de n
o
1, 2, 3, 4 e 5. Entendemos como
motivos e implicações da escolha, todos os fatores que podem influenciar na
decisão,seja de ordem econômica, social, cultural e afetiva, articulado de uma
forma multidimensional.
No eixo de análise concepção de Serviço Social, analisamos em
concomitância as perguntas de n
o
8 e 10, pois ambas revelam o conceito do
aluno sobre a profissão.
Sobre o eixo de análise expectativas da profissão, agrupamos as
perguntas de n
o
6 e 7 , pois, ambas relacionam-se às expectativas e desejos,
40
manifestando os sentimentos que estão intrínsecos ao que aspiram da
profissão.
Algumas perguntas ficaram parecidas; com a realização do pré-teste
constatamos que algumas perguntas poderiam ser elaboradas de formas
diferentes, ou seja, tornando-as mais claras. O caminho da pesquisa se faz
com construções e desconstruções, assim estabelecendo uma reflexão acerca
do estudo.
O eixo de análise fatores significativos no processo de formação
,
corresponde a pergunta n
o
9, pois poderia revelar as relações existentes entre
a formação e a subjetividade na escolha da profissão, em relação a experiência
do curso e os significados atribuídos.
41
3. ANÁLISES E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
A seguir apresentaremos a análise e interpretação dos dados.
3.1 Alunos ingressantes
Decidimos analisar em concomitância os dados dos alunos dos 1º
anos das duas Universidades - PUC/SP e UNESP/Franca, pois ambos se
encontram no mesmo momento da formação acadêmica, ou seja, chegando à
Universidade com suas angustias, dúvidas, anseios, expectativas em relação
ao curso.
Os eixos de análise foram assim organizados: motivo da escolha
profissional e suas implicações, concepção da profissão do Serviço Social e
expectativas em relação ao curso de Serviço Social, dos alunos do 1º ano das
duas Universidades.
Tabela 3 - Caracterização dos sujeitos de pesquisa ano PUC/SP e
UNESP/Franca
PUC/SP 1º ano UNESP/ Franca 1º ano
Idade
Nº de
alunos
Porcentagem
Nº de
alunos
Porcentagem
Menor que 20 anos 6 30% 24 80%
20 – 30 anos 9 45% 6 20%
30 – 40 anos 3 15% - -
40 – 50 anos 2 10% - -
50 – 60 anos - - - -
Acima de 60 anos - - - -
-
Sexo Nº de
alunos
Porcentagem
Nº de
alunos
Porcentagem
Masculino 0 0% 4 13,,3%
Feminino 20 100% 26 86,7%
42
Estado Civil Nº de
alunos
Porcentagem
Nº de
alunos
Porcentagem
Solteiro 15 75% 30 100,0%
Casado 4 20% 0 0%
Divorciado 1 5% 0 0%
Naturalidade Nº de
alunos
Porcentagem
Nº de
alunos
Porcentagem
São Paulo 8 40% 17 56,7%
Outros 6 30% 3 10,0%
Dados prejudicados 6 30% 10 33,3%
Onde cursou Ensino
Médio
Nº de
alunos
Porcentagem
Nº de
alunos
Porcentagem
Escola Pública 13 65% 11 36,7%
Escola Particular 7 35% 19 63,3%
Trabalhando? Nº de
alunos
Porcentagem
Nº de
alunos
Porcentagem
Sim 11 55% 7 23,3%
Não 9 45% 23 76,7%
De acordo com a tabela 3, do total de alunos que participaram
da pesquisa (20) do ano da PUC/SP, constata-se que a maioria, 45% está
na faixa etária entre 20 a 30 anos. Com idade menor de 20 anos, a
representatividade é de 30%; entre 30 a 40 anos, 15%; entre 40 a 50 anos,
10%. Nota-se uma predominância de alunos que ingressam na Faculdade de
Serviço Social de idades de 20 a 30.
A maioria é do sexo feminino o que vem reforçar o fato de que tratar-
se de uma profissão historicamente de mulheres. Sobre o estado civil, 75%
estão na situação de solteiros, 20%, são casados e 5%, são divorciados.
No que tange à naturalidade, 40% - são naturais de São Paulo e 30%
de outros Estados, entre eles: Bahia, Minas Gerais, Recife e Pernambuco.
Despertou nossa atenção o fato dos alunos encontrarem dificuldades para
informar a naturalidade, confundindo-a com nacionalidade; afirmaram ser
brasileiros. Contamos como dado prejudicado, com representatividade de 30%.
43
Segundo pesquisa, 65% dos alunos, concluíram o ensino médio em
escola pública e 35% em escola particular. A maior parte dos estudantes – 55%
está inserido no mercado de trabalho, a maioria enquanto 45% não estão
trabalhando. Observa-se de acordo com o dado que a maioria dos alunos são
trabalhadores.
Nos dados da tabela da UNESP/Franca, participaram da pesquisa um
total de (30) alunos do 1°ano, 80% com idade menor de 20 anos, e 20% de 20
a 30 anos. Verifica-se que grande parte dos estudantes ingressa no curso de
Serviço Social na fase da adolescência iniciando o curso universitário com 17 e
18 anos.
Ao contrário da PUC/SP, encontramos na UNESP 4 alunos do
sexo masculino, equivalendo a 13,3% e 26 mulheres, que representam 86,7%.
Percebe-se um percentual significativo da presença masculina.
Com relação ao estado civil 100% são solteiros, 56,7% são naturais
de São Paulo, 10% de outros Estados, entre eles: Minas Gerais e Bahia, e
33,3% dados prejudicados, conforme explicado anteriormente.
No que se refere ao ensino médio, a maior parte dos alunos o
concluiu em escola particular, 63,3% e 36,7% em escola pública. Muitos, 76,7%
não tem trabalho e 23,3% estão trabalhando.
Conforme análise dos dados da pesquisa, podemos constatar que
os estudantes da PUC/SP, a maioria são alunos trabalhadores, o contrário da
UNESP. Em relação a conclusão do ensino médio a maioria dos estudantes da
PUC/ SP terminam o ensino médio em escola de caráter público , o contrário
dos alunos da UNESP. Nesta amostra dos alunos que ingressam na
Universidade mostram dados diferentes em ambas Universidades.
44
3.1.1 Motivos da escolha profissional e suas implicações
Organizamos na mesma tabela os dados das duas Universidades
dos alunos do 1° ano, para uma melhor análise dos dados.
Tabela 4 - Motivos da escolha profissional e suas implicações
PUC/SP – 1º ano UNESP/Franca – 1º ano Porque escolheu o
curso nesta
Universidade?
Quantidade Porcentagem
Quantidade Porcentagem
Identificação com o curso
da Universidade
4 13,3%
Única Universidade
Pública
11 36,7%
Universidade próximo de
casa
7 23,3%
Pela qualidade do curso 13 65% 2 6,7%
Oportunidade de bolsa de
estudos
3 15%
Não respondeu 4 20% 6 20%
Como tomou
conhecimento?
Quantidade Porcentagem
Quantidade Porcentagem
Escola Ensino Médio 1 5% 4 13,3%
Manual do candidato 4 13,3%
Guia do Estudante 1 5% 2 6,7%
Internet 4 20% 1 3,3%
Amigos 3 15% 7 23,3%
Cursinho Pré Vestibular 1 5% 3 10%
Orientação Vocacional 1 5% 2 6,7%
Família 2 6,7%
Não respondeu 9 45% 5 16,7%
O curso de Serviço
Social foi sua 1º.
Opção?
Quantidade Porcentagem
Quantidade Porcentagem
Sim 14 70% 13 43.3%
Não 6 30% 17 56,7%
Qual opção de outros
cursos
Quantidade Porcentagem
Quantidade Porcentagem
Ciências Exatas 2 10% 0 0%
Ciências Humanas 13 65% 15 50%
Ciências Biológicas 3 15% 14 46,7%
Não respondeu 0 0 1 3,3%
Nenhum 2 10% 0 0%
45
Observamos que antes de optarem pelo curso, os alunos do ano
da PUC/SP preocupam-se com a qualidade do curso, com representatividade -
65%. E 15% levam em conta as condições de pagamento das mensalidades,
pois escolheram a Universidade devido a possibilidade de bolsa de estudos. E
20% não responderam por que escolheu a Universidade. Destacamos alguns
depoimentos dos alunos:
Porque é o melhor do Brasil, através do site.
Pelo conhecimento da faculdade e por formar profissionais
críticos.
Pela história e reconhecimento do curso, também pelo nome da
Universidade, que pode trazer um maior reconhecimento na
área. Obtive informações através de amigos.
Porque é um curso de grande representatividade na formação.
Tomei conhecimento através de uma amiga que estudava na
PUC.
A escolha se concretiza de alguma forma com a preocupação sobre
o reconhecimento da Universidade, no que tange ao currículo, às disciplinas, à
formação e corpo docente.
Quanto as formas de conhecer a profissão ressaltaram a pesquisa
na Internet - 20% , demonstrando que os meios de comunicação são
instrumentos expressivos para obter essas informações Os amigos - 15% - são
considerados significativos para o estudante conhecer e optar pela profissão. E
5% - cursinhos pré-vestibulares, os guia de estudantes - 5%, a orientação
vocacional - 5%, e as informações na Escola de ensino médio - 5%. Temos
45% que não respondeu a questão.
Algumas escolas do ensino médio parecem se preocupar-se com o
futuro dos alunos, uma vez que mantém informações sobre as possibilidades
de escolher uma profissão e realizando o teste vocacional, conforme nos foi
explicitado:
46
Durante o teste vocacional que foi dado no colégio, tomei
conhecimento do curso. Optei pela PUC/SP, pois o curso é o
melhor de São Paulo.
Dentre as respostas obtidas, contatou-se que 15% dos entrevistados
escolheram o curso na PUC/SP devido o fato de que a Universidade oferece
possibilidade bolsas
7
de estudos, a saber: FIES, Bolsa Escola da Família e
bolsa de monitoria e Bolsa FORD.
Devido pertencer a uma comunidade indígena conveniada com
a PUC.
Por ser um dos mais conceituados, e um dos locais que
oferecem bolsa integral para o PROUNI.
Em relação aos alunos do ano PUC/SP, verificamos que a
primeira opção no vestibular 70% - foi pelo curso de Serviço Social - 30% dos
alunos afirmaram não ter escolhido Serviço Social como primeira opção,
todavia evidenciam a mudança de curso conforme a identificação com
questões relacionadas ao Serviço Social. Esta pergunta do questionário pode
ser analisada em conjunto com a pergunta n
o
1: como foi o processo de
escolha profissional.
Gostaria de fazer Psicologia, mas na PUC é integral, optei pelo
Serviço Social devido ao trabalho que é desenvolvido com as
pessoas de diversas classes e no vestibular coloquei Serviço
Social como primeira opção.
7
PROUNI Programa Universidade para todos foi criado pela MP 213/2004 e
institucionalizado pela lei 11096 de 13 de janeiro de 2005. Tem como finalidade a concessão
de bolsa de estudos integrais e parciais a estudantes de graduação e seqüências de formação
específica, em instituições privadas de educação superior oferecendo em contrapartida,
isenção de alguns atributos aqueles que adquirem ao programa. Site www.prouni-
inscricao.mec.gov.br em 17/07/07.
47
Eu prestei e passei nos vestibulares da USF (Universidade de
São Francisco) e PUC/SP. Optei pela PUC por estar mais
barato financeiramente e por indicações de um amigo.
Sobre outras opções de curso para prestar o vestibular, agrupamos
as profissões em três eixos:
8
ciências humanas, ciências exatas e ciências
biológicas. Dos alunos da PUC/SP, obtivemos 65% ciências humanas, 15%
ciências biológicas, 10% ciências exatas e 10% nenhum outro curso, somente
o de Serviço Social.
Ingressei no cursinho em 2006, decidida na minha escolha,
entretanto na área de biológicas e não humanas. Ao concluir
um ano, prestei para cinco vestibulares, sendo assim o da PUC
Serviço Social.
Na Unesp, 36,7% dos entrevistados estabelecem como motivo
decisivo o fato da Universidade ser pública, e 23,3% a Universidade o fato de
residirem próximo à Universidade. Alguns destacaram a identificação com o
curso de Serviço Social 13,3% e 6,7% a qualidade do curso na Universidade.
Houve alunos que não souberam explicar a razão pela qual escolheram a
Universidade, 20%.
Escolhi o curso por ser de uma Universidade Pública, o que me
possibilita uma maior dedicação ao curso por não ter a
necessidade de trabalhar para pagar a mensalidade. Tomei
conhecimento pelo manual do candidato.
8
Citaremos as profissões conforme respostas dos alunos. Ciências Humanas: Ciências
Sociais, Psicologia, Direito, História, Geografia, Filosofia. Ciências Exatas: Matemática e
Engenharia e Ciências Contábeis Ciências Biológicas: Enfermagem, Medicina, Biologia,
Farmácia e Educação Física.
48
Escolhi o curso de Serviço Social em Franca na UNESP, pois
moro aqui em Franca e não tenho renda suficiente para minha
manutenção em outra Cidade, mesmo que seja perto. Tomei
conhecimento amplo através do cursinho popular da UNESP.
É a única Escola Pública do Estado que tem o curso de Serviço
Social, tomei conhecimento através da minha antiga escola.
No que diz respeito as formas de obter conhecimento do curso,
23,3% afirmam que os amigos são grande referência para dar-lhes
informações. Outras formas citadas foram o ensino médio também - 13,3%; o
manual do candidato, 13,3%; os cursos pré-vestibulares, 10%; o guia do
estudante, 6,7%; a família, 6,7%; a Internet, 3,3% na orientação vocacional,
6,7% do guia do estudante, 6,7% conheceram através de algum familiar. E
10% conheceram o curso através do cursinho pré-vestibular, 3,3% informações
da Internet, e 16,7% não responderam.
Algumas respostas revelam confusão, incerteza, momento de
dificuldade para escolher uma profissão. Às vezes por pressão familiar para
ingressar numa universidade, outras pela preocupação de obter uma profissão
para inserção no mercado de trabalho; tão logo concluem o ensino médio
prestam o concurso do vestibular, ainda sem saber a escolha da profissão.
Quando percebi que o futuro depende das escolhas que
fazemos em momentos determinados de nossas vidas.
Complicado e confuso como a fase da adolescência em si.
Os jovens, talvez não tenham a maturidade suficiente para tal
escolha; neste processo é importante buscar informações suficientes para não
terem muitas surpresas. Segundo Mello,
( ) o fato é que alguns adolescentes talvez a maioria deles,
não estão maduros - psicológica, emocional e socialmente
49
para uma decisão responsável e criteriosa que não diz respeito
à escolha de uma profissão, mas também à sua vida futura,
a tudo que se relaciona com o trabalho e sua malha de
percussões, à sua existência, enfim. Estranho seria se
tivessem maduros nessa primavera da vida, ainda
desabrochando nessa fase de mutações internas e mudanças
externas. Tipicamente estão em plena crise da adolescência,
nessa dialética entre dependência e contradependência, entre
liberdade e responsabilidade. (2002, p. 116)
Um das características dos alunos da UNESP Franca, é a faixa
etária, ingressam no curso na fase da adolescência. Este pode ser um dado
relacionado às dificuldades de escolher uma profissão.
De acordo com a tabela, dos alunos do 1º. Ano UNESP/Franca, um
número significativo de estudantes não escolheram o curso de Serviço Social
como primeira opção, representando 56,7% e 43,3% escolheram o curso na
primeira opção,
Relativo à escolha de outros cursos, 50% escolheriam cursos
relacionados a ciências humanas, 46,7% ciências biológicas, nenhum
escolheria cursos relacionados a ciências exatas e 3,3% não respondeu.
Optei pela área humana, e dentro disso fiquei primeiro com
Psicologia e depois Serviço Social.
Primeiramente pensava em fazer Ciências Socais, mas com o
passar do tempo achei melhor escolher uma profissão que
tivesse contato com a sociedade maior, por isso escolhi cursar
Serviço Social. Sempre tive muito interesse sobre o assunto de
humanidades, principalmente assuntos sobre psicologia e
sociologia.
50
Estava certa de que prestaria Enfermagem, mas, passei a ter
mais conhecimento a respeito do Serviço Social e me
identifiquei.
Não foi bem uma escolha, na verdade passei no vestibular e
estou aqui.
Conforme relatos dos alunos a escolha do curso, não foi
planejada, pensada e escolhida; um dos motivos intrínseco é a facilidade de
passar no vestibular, e o fato de entrar para uma universidade pública é um
fator importante da vida desses alunos, pois além de status garante uma
projeção para sua vida futura, em relação às cobranças de inserção no
mercado de trabalho.
A profissão não era meu pensar, que tinha de trabalhar,
pensei em fazer algo fácil. Sem alguma esperança, ainda bem
que passei, no que optei.
Tabela 5 - Motivo principal da escolha profissional
PUC/SP 1º
ano
UNESP/Franca
1º ano
Motivo que definiu
sua escolha
Quantidade Porcentagem
Quantidade Porcentagem
1- Interesse em ajudar
as pessoas
3 15% 12 40%
2- Desejo de
transformar a
sociedade
9 45% 9 30%
3- Influência familiar
4- Sua história de vida,
sentimentos e
emoções envolvidos
4 20% 6 20%
5- Facilidade de passar
no vestibular
6- Ausência de outras
alternativas
7- Inserção no
mercado de trabalho
1 5% - -
51
8- militância ( igreja,
partidos, ONgs, etc)
3 15% - -
9- Outros - - - -
10- Dados
prejudicados
0 3 10%
Conforme tabela de 5, o motivo que definiu a escolha da profissão
dos alunos do ano da PUC/SP que participaram da pesquisa (45%), foi
fundamentalmente, o desejo de transformar a sociedade; isso se concretiza no
campo dos direitos sociais da igualdade e justiça social. Conforme
depoimentos abaixo,
Queria uma profissão para fazer a diferença.
Pela desigualdade vigente no país.
Desde que terminei o ensino médio pensava em fazer um curso
relacionado com a área humana e na parte social mesmo.
Obter conhecimento que possibilite compreender a sociedade e
suas questões sociais.
Porque tenho vontade de atuar na sociedade, cuja ideologia
dominante, discrimina e explora os menos favorecidos
economicamente.
Escolheram o curso acreditando na possibilitando de uma leitura
crítica da sociedade, mas será que é somente uma característica dos alunos do
Serviço Social? Ou pode ser um potencial dos estudantes da graduação no
campo das ciências humanas. Até que ponto os cursos preparam o aluno para
uma visão crítica da sociedade, afinal o que é obter uma consciência crítica
9
?
9
Consciência crítica. Segundo Paulo Freire, a consciência crítica é o conhecimento ou a
percepção que consegue desocultar certas razões que explicam a maneira como “estão sendo”
os homens no mundo, desvela a realidade, conduz o homem à sua vocação ontológica e
histórica de humanizar-se, fundamenta-se na criatividade e estimula a reflexão e a ação
verdadeiras dos homens sobre a realidade, promovendo a transformação criadora. É a
consciência inquieta” pela causalidade. Informações se encontram disponível no site:
www.paulofreire.org/paulo_freire/glossario.pf.htm
52
Estudar os problemas sociais da realidade brasileira, realizar
debates sobre as questões sociais emergentes, não são somente prioridades
de estudo do curso de Serviço Social. Conforme respostas dos sujeitos da
pesquisa podemos analisar que os estudantes procuraram o curso para
entender, compreender a realidade, mas acima de tudo para transformar,
mudar, juntar esforços para melhorar, amenizar as desigualdades sociais.
Corresponde a 20% o motivo da escolha, a história de vida, dos
sujeitos, sentimentos e emoções envolvidos. Percebemos de acordo com as
respostas que a subjetividade prevalece como aspecto dominante para a
escolha do curso de Serviço Social e que a maior preocupação dos alunos não
é a inserção no mercado de trabalho e sim uma profissão que tenha uma
identificação com sua experiência de vida.
Escolhi o curso de Serviço Social, pois poderia me oferecer
conhecimento da minha própria história e dos outros.
Escolhi o curso de Serviço Social pela minha história, pela
experiência de morar numa comunidade ver tanta gente
passando necessidades.
Para 15% o interesse está em ajudar as pessoas. O sentimento de
ajuda é resposta freqüente para explicar o motivo da escolha; prevalece a idéia
do trabalho de intervenção com as pessoas menos privilegiadas, ou seja, o
pobre, o excluído, o subalterno e o estigmatizado,
A partir do grau (em curso), comecei a me interessar pela
questão social, sentia vontade de cuidar, proteger e lutar pelo
bem estar social.
Quando era adolescente eu já queria trabalhar com as pessoas
menos privilegiadas.
Minha expectativa era que eu poderia ajudar de alguma forma
as pessoas.
53
E 15% responderam que o motivo que definiu a escolha pelo curso
de Serviço Social foi a militância; relatam a realização de trabalho na área
pastoral da juventude, projetos comunitários, participação nos movimentos
sociais e militância em partidos políticos.
Quando comecei a participar da Pastoral da Juventude no Meio
Popular (PJMP) e coordenar um cursinho pré-vestibular
(Educafro).
Por fazer um trabalho comunitário em uma igreja católica,
junto a Pastoral da Criança.
Corresponde a 5% o motivo pela escolha e inserção no mercado de
trabalho. O dado evidencia que as razões para escolher um curso não estão
somente relacionados a identificação com a profissão, mas uma preocupação
em estar no mercado de trabalho com uma formação de nível superior.
o motivo que definiu a escolha da profissão dos alunos doano
da UNESP/Franca, 40%, foi o interesse em ajudar as pessoas. Conforme
depoimentos abaixo,
Contato com as pessoas para poder ajudá-las
Aprender como ajudar, como me portar diante os problemas
sociais.
Um percentual de 30% dos alunos escolheram o curso pelo desejo
de transformar a sociedade. Confere-se que um dos motivos é a identificação
pessoal junto com a profissional, ou seja, uma profissão de transformação na
vida dos sujeitos que escolhem e ao mesmo tempo a transformação da
sociedade.
Desde a 8º série, eu via a necessidade de fazer algo para
mudar, o que eu achava um absurdo, mas nem sempre pensei
no Serviço Social.
54
Escolhi a profissão por ser um instrumento de bastante auxílio
pessoal, é transformadora na vida de todos a que pertence.
Trabalhar com gente, com as relações sociais e seus
processos de transformação.
Conforme relato dos sujeitos 20% o motivo da escolha estão
relacionados a sentimentos, emoções e história de vida, tais como: paixão,
sonho, realização, identificação do curso com a própria história de vida,
destacamos as frases abaixo,
Conheci uma assistente social, eu me admirava com as
histórias de atendimento que ela contava, que tinha muito a ver
com a minha história de vida.
Escolhi a profissão de Serviço Social pela paixão pelo curso e
possibilidades de fazer algo pela sociedade.
Sonhava em fazer um curso que me realizasse enquanto
pessoa e enquanto profissional.
Sempre tive sonho de fazer Serviço Social para contribuir com
a sociedade.
Observamos que alguns alunos tiveram dificuldades de sinalizar
somente uma alternativa nesta questão do questionário, revelando a
dificuldade de priorizar somente um principal motivo da escolha; assim, tivemos
10% dos dados prejudicados nesta questão. Este dado revela que no momento
da pesquisa os alunos não tinham clareza das razões da escolha, identificando
o processo de escolha como momento difícil, e complicado.
Bom, o processo de escolha foi bem complicado, pois eu ainda
não sabia ao certo que curso pretendia fazer.
55
uma diferença entre os alunos do ano da PUC/SP e da
UNESP/Franca. De modo geral os sujeitos escolheram o Serviço Social com o
objetivo de mudar e ajudar a sociedade como um todo, uma das universidades
evidencia o sentimento de ajuda e outra a vontade de transformação. A
imagem da ajuda historicamente tem sido um marco crucial da escolha da
profissão, conforme pesquisas realizadas e materiais produzido pela profissão.
Sinaliza Iamamoto, (1992).
Se a imagem do apostolado, do “moderno agente da justiça e
da caridade” marca o Serviço Social em sua trajetória, com o
movimento de revisão da profissão em nível latino-americano
(conhecido como Movimento de Reconceituação do Serviço
Social) ela é desmistificada, mas não substituída por outra
interpretação, o que vem ocorrendo na literatura
especializada mais recente. Tal fato vem determinando uma
expectativa confusa em relação à profissão, presente nos
recém ingressados na Universidade e que persiste no decorrer
do curso. (pg. 167)
O conceito de ajuda conforme Minidicionário Aurélio (1993) ato ou
efeito de ajudar, auxílio, amparo, favor, obséquio. O conceito de ajuda não
necessariamente carrega o sentido de favor e de assistencialismo.
Entendemos que este conceito carrega valores subjacente, no que diz respeito
à humanização das ações e especialmente, das situações de desigualdades.
O Serviço Social não pode negar sua historicidade de ajuda, de
assistência, bem como a luta pela efetivação dos direitos sociais e humanos. O
que concorre, muitas vezes, é certo incomodo com a palavra ajuda, que nem
sempre expressa a “questão dos direitos”, da cidadania, conflitando-se com a
ética da profissão. Talvez seja importante resgatar o sentido de ajuda, pois não
diminui a força e especificidade da profissão. No caso dos alunos mostra a
preocupação deles com as pessoas, e com a humanidade.
56
3.1.2 Concepção de Serviço Social
Sobre a concepção da profissão Serviço Social para os alunos do
ano da PUC/SP, um dado a ressaltar, embora não represente a maioria:
observamos que alguns alunos conceituam o Serviço Social como “política
pública” e outros como prática de intervenção da profissão. Percebemos nas
respostas que uma confusão entre o significado da profissão e as políticas
públicas. Destacamos algumas frases,
É uma política pública que visa garantir os direitos,
assegurados em nossa constituição.
É uma prática de políticas públicas que caracteriza o assistente
social como mediador entre relações entre proletariado e
burguesia.
Através das políticas públicas, colocar a cada dia, a pesquisa, a
análise e a intervenção como ferramentas atuantes para
promover a cidadania.
Ao escolher o curso de Serviço Social os alunos identificam a
profissão direcionada aos valores humanitários, tais como: a ajuda, ser uma
pessoa caridosa e bondosa. Depois de cursar de Serviço Social a concepção
muda para uma profissão que articula esforços para o acesso aos direitos
sociais. Destacamos nas frases abaixo,
Antes, tinha uma visão mais assistencialista. De apenas ajudar
as pessoas. Hoje vejo que não precisamos fazer favor algum. E
sim demonstra aos cidadãos, que podem e como ter acesso a
serviços públicos que são simples direitos dos cidadãos.
Achava que era uma profissão de ajuda. Hoje vejo que é uma
profissão que pode transformar a sociedade (sobre tudo a mim
57
mesma), e que é extremamente promissora. Quando ela não
existir, é sinal que a igualdade e justiça.
Tinha a concepção de mudança. Hoje vejo a profissão com
olhos mais maduros e como ela realmente funciona.
Eu tinha a concepção que estudávamos para ser
“assistencialistas”, pois achei que trabalhos com Ongs,
distribuição de cestas básicas fosse o caráter transformador da
profissão. Entretanto, hoje vejo que esta se faz através de
medidas sócio educativas e que o profissional que tem essa
visão crítica vai muito além de encontro a profissão.
Um dos alunos respondeu que não tinha informações reunidas
suficientes para responder a pergunta; importante dizer que alguns alunos do
primeiro ano deixaram em branco não respondendo a pergunta.
Como estou no primeiro ano ainda estou recolhendo assuntos
para a formação de opinião.
Ingressei na faculdade agora, as minhas concepções são as
mesmas.
Iamamoto (1998:88) sinaliza que a profissão não adquire o status de
ciência, o que não exclui a possibilidade e necessidade de o profissional
produzir conhecimentos científicos, contribuindo para o acervo das ciências
humanas e sociais, numa linha de articulação dinâmica entre teoria e prática”.
É uma ciência para entender os males da sociedade, por um
sistema que visa o lucro. Esta ciência que tem força para
mudar este estado em que se encontra o país.
Observamos que ainda existe confusão entre a profissão ser ciência e
uma profissão que produz conhecimentos. Iamamoto explica esta questão
argumentando que a profissão não adquire status de ciência e sim uma
58
profissão que articula teoria e prática com contribuição para o conhecimento
das ciências humanas. Entendemos que a profissão precisa articular saberes
de outras áreas profissionais envolvendo esforços para compreensão e
efetivação de uma prática de compromisso com a equidade e justiça social.
A concepção de Serviço Social dos alunos do ano UNESP/Franca,
primeiramente é uma visão assistencialista, após ingressar no curso
relacionam a profissão na conscientização de direitos e enfrentamento da
questão social.
Prestar caridade, hoje um pouco mais além, mas ainda com o
mesmo intuito.
Que era uma profissão para ajudar a população. Mas eu vejo
que não é ajuda e sim a conscientização dos direitos da
população.
Pra mim o Serviço Social era uma profissão que se voltava
somente para o assistencialismo e para a vontade de mudar o
mundo. Hoje sei que a função do Assistente Social é ajudar no
enfrentamento da questão social.
Um dos alunos do ano revela que as matérias do curso são muito
genéricas, não conseguindo juntar conhecimentos para explicar o significado
da profissão. A pesquisa foi realizada com os alunos do ano que se
encontravam no 1º semestre.
Ainda tenho a mesma idéia da profissão, tendo em vista que
somente tive cinco meses de aulas, e as matérias são muito
genéricas, ainda não nos dão uma visão ampla da profissão.
Ainda estou construindo esta concepção.
59
3.1.3 Expectativas da profissão
A palavra expectativa conforme Minidicionário Aurélio (1993)
10
,
significa esperança fundada em supostos direitos, probabilidades ou
promessas. A pergunta refere-se a expectativa dos alunos em relação a
profissão, ou seja, o que esperam, ou imaginam ser a profissão, o que desejam
e o que almejam.
Para os alunos da PUC/SP, a maioria respondeu que o curso de
Serviço Social expressa a sua expectativa, principalmente em relação ao
exercício da prática que visa a transformação da sociedade. Destacam ainda,
a necessidade de conhecimentos para compreender a realidade e a dinâmica
social.
(...) Porque estarei a frente daqueles que por algum motivo de
uma vulnerabilidade procura meus serviços.
(...) Por envolver perspectivas e possibilidades reais de
mudanças numa sociedade que não mais se sustenta.
Obter conhecimentos que possibilite compreender a sociedade
e suas questões sociais.
Adquirir informações, conhecimentos e aprender como intervir
na realidade.
Em relação às expectativas da profissão dos alunos do 1º ano da
UNESP/ Franca, constatamos a insatisfação no que tange um dos princípios
fundamentais do código de ética da profissão, posicionamento em favor a
equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e
serviços relativos aos programas sociais, bem como sua gestão democrática”.
10
Mini Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda.
Nova Edição. RJ: Nova Fronteira; 1993.
60
Em destaque depoimentos que afirma a conformidade dos profissionais de
aceitarem a realidade sem oposições.
Em partes, pois existem muitas coisas que eu não concordo e a
profissão pela experiência que tive com profissionais da área
muitos somente aceitam a situação sem lutar pelos reais
direitos do povo.
Minha expectativa é entender o porque da profissão ser tão
abafada e morta, parecer não ter força para agir por ela, e sim
aceitar a situação que o sistema impõe.
A questão do sentimento de ajuda, expectativa de melhorar a vida
das pessoas, são aspectos subjetivos que são atribuídos ao fazer profissional.
O incômodo sobre a desvalorização da profissão é um dos questionamentos no
depoimento de um dos alunos.
Sim, porque é uma profissão gratificante e muito importante,
apesar de pouco valorizada.
Minha expectativa era fazer este curso com o objetivo de ajudar
as pessoas, a população em geral, lutar pela melhoria de vida
das pessoas.
A gratificação pessoal e ao mesmo tempo profissional, o sentimento
de realização de paixão, estão em destaque nas frases abaixo,
Sim, tem tudo o que eu desejo em uma profissão. Ajudar as
pessoas e ainda ganhar por isso.
Sim, pois com o curso estou conseguindo adquirir
conhecimento para ajudar nos problemas da sociedade.
61
O curso está me envolvendo e me completando. Estou me
apaixonando pelo curso apesar das dificuldades impostas pela
questão social.
3.2 Alunos concluintes
Priorizamos discutir os dados dos alunos do ano das duas
Universidades que constituem a pesquisa, visto que se encontram no momento
na finalização do curso de Serviço Social, em conclusão Trabalho de
Conclusão de Curso - TCC e com a experiência de estágio realizada.
Tabela 6- Características dos sujeitos de pesquisa ano PUC/SP e
UNESP/Franca
PUC/SP 4º ano UNESP/Franca 4º ano
Idade
Nº de
alunos
Porcentagem
Nº de
alunos
Porcentagem
Menor que 20 anos - - - -
20- 30 anos 26 86% 9 100%
30 - 40 anos 1 3%
40 – 50 anos 1 3%
50 – 60 anos 1 3%
Acima de 60 anos 1 3%
Sexo Nº de
alunos
Porcentagem
Nº de
alunos
Porcentagem
Masculino 7 23,3% 2 22,2%
Feminino 23 76,7% 7 77,8%
Estado Civil Nº de
alunos
Porcentagem
Nº de
alunos
Porcentagem
Solteiro 21 70,0% 8 88,9%
Casado 8 26,7% 1 11,1%
Divorciado 1 3,3% 0 0%
Naturalidade de
alunos
Porcentagem
Nº de
alunos
Porcentagem
São Paulo 19 63,3% 7 77,8%
Outros 4 13,3% 2 22,2%
Dados prejudicados 7 23,3% 0 0%
62
Cursou Ensino Médio
Nº de
alunos
Porcentagem
Nº de
alunos
Porcentagem
Escola Pública 17 56,7% 9 100,0%
Escola Particular 13 43,3% 0 0%
Trabalhando? Nº de
alunos
Porcentagem
Nº de
alunos
Porcentagem
Sim 11 36,7% 1 11,1%
Não 19 63,3% 8 88,9%
Estagiando? Nº de
alunos
Porcentagem
Nº de
alunos
Porcentagem
Sim 27 90,0% 9 100,0%
Não 3 10,0% 0 0%
Bolsa Auxílio Nº de
alunos
Porcentagem
Nº de
alunos
Porcentagem
Sim 20 66,7% 1 11,1%
Não 10 33,3% 8 88,9%
Na PUC/SP participaram da pesquisa o total de 30 alunos do 4º ano.
Destes 86% com idade entre 20 a 30 anos, 3% entre 30 a 40 anos, 3% entre
40 a 50 anos e 3% de 50 a 60 e 3% acima de 60 anos. Vimos que os alunos
concluem a faculdade, na maioria, até 30 anos de idade.Este é um dado a
destacar, uma vez que nesta Universidade contamos com idades variadas no
curso, evidenciando o interesse de pessoas na faixa da terceira idade.
No que diz respeito ao sexo, estado civil e naturalidades dos alunos,
verificamos que: 76,7% são do sexo feminino e 23,3% masculino; 70% são
solteiros, 26,7% são casados e divorciados temos 3,3%. A maior parte dos
entrevistados 63,3% são naturais de São Paulo, e 13,3% são de outros
Estados tais como Minas Gerais e Goiás. Quanto a naturalidade, houve dados
prejudicados, pois um número significativo de alunos 23,3%, confundiu a
nacionalidade com a naturalidade, dizem-se brasileiros e não onde nasceram.
Observou-se no que tange à conclusão do ensino médio, que 43,3%
cursaram essa fase do ensino em escola particular e 56,7% em escola pública.
Relativos ao trabalho, 63,3% não estão inseridos no mercado de trabalho;
63
36,7% estão trabalhando. E 90% dos estudantes estão estagiando, e 10% não
estão realizando estágio. Dos estudantes estagiários, 66,7% recebe bolsa
auxílio, e 33,3% não recebem bolsa.
Na UNESP/ Franca participaram da pesquisa o total de 9 alunos do
ano. Destes todos estão na faixa etária entre 20 a 30 anos. O que
corresponde a 100%.
Nos aspectos do sexo, estado civil e naturalidade dos alunos,
registra-se que 22,2% são do sexo masculino e 77,8% feminino; 88,9% são
solteiros, 11,1% casados, nenhum divorciado. Sobre a naturalidade 77,8% dos
entrevistados são de São Paulo e 22,2% pertencem a outros Estados. Não
houve dados prejudicados.
Convém ressaltar que 100% - dos alunos concluíram o segundo
grau em Escola Pública. Nos itens trabalho, estágio e bolsa auxílio, cumpre-nos
assinalar que 11,1% dos estudantes estão inseridos no mercado de trabalho e
88,9% não estão trabalhando. Todos estão fazendo estágio, mas somente
11,1% recebem bolsa contra 88,9% que não recebem qualquer tipo de auxílio.
Conforme a análise dos dados da pesquisa, podemos verificar que a
maioria dos alunos das respectivas universidades, concluíram o segundo grau
em escola pública, e que alguns trabalham e fazem estágio ao mesmo tempo.
Cada vez mais os alunos conciliam trabalho e estudos. Nem sempre os alunos
que ingressam na universidade pública possuem condições socioeconômicas
favoráveis, precisam muitas vezes estar longe da família para fazer uma
faculdade, alguns residem em casa de estudantes, outros pagam aluguel; a
bolsa auxílio do estágio é sua única fonte de renda.
64
3.2.1 Motivos da escolha profissional e suas implicações
Passamos ao eixo de análise motivos da escolha e suas
implicações.
Tabela 7 - Motivo da escolha profissional e suas implicações
PUC/SP – 4º ano UNESP/Franca – 4º ano
Porque escolheu o
curso nesta
Universidade?
Quantidade
Porcentagem
Quantidade
Porcentagem
Identificação com o
curso da
Universidade
Única Universidade
Pública
4 44,4%
Universidade perto
de casa
1 3,3% 1 11,1%
Pela qualidade do
curso
19 63,3% 1 11,1%
Oportunidade de
bolsa de estudos
1 3,3%
Não respondeu
Dados prejudicados 9 30% 3 33,3%
Como tomou
conhecimento?
Quantidade
Porcentagem
Quantidade
Porcentagem
Escola Ensino Médio
Manual do candidato 1 11,1%
Guia do Estudante 7 23,3% 1 11,1%
Internet 4 13,3%
Amigos 4 13,3%
Cursinho Pré
Vestibular
3 33,3%
Orientação
Vocacional
Família 3 33,3%
Conhecia uma
Assistente Social
2 6,7%
Não respondeu
Dados prejudicados 13 43,3% 1 11,1%
65
O curso de Serviço
Social foi sua 1º.
Opção?
Quantidade
Porcentagem
Quantidade
Porcentagem
Sim 20 66,7% 4 44,4%
Não 10 33,3% 5 55,6%
Qual outra opção
de curso
Quantidade
Porcentagem
Quantidade
Porcentagem
Exatas 3 10% 1 11,1%
Humanas 14 46,7% 5 56,6%
Biológicas 9 30% 2 22,2%
Não respondeu 4 13,3 0 0%
nenhum o 0% 1 11,1%
Conforme tabela n°7, a maioria dos alunos da PUC/SP, 63,3%
procuram o curso nesta universidade pela qualidade do curso; 3,3% a
possibilidade de bolsa de estudos; 3,3% pelo fato da Universidade ser perto de
casa e outros 30% foram consignados como dados prejudicados pois os alunos
não responderam as perguntas sobre a escolha da Universidade, mas sim do
curso.
Escolhi Serviço Social na PUC/SP por ser considerado o
melhor pelo guia de estudante. Tomei conhecimento através de
um amigo que faz.
Após saber que era o melhor conceituado. O conheci através
do cursinho.
PUC/SP é o melhor. Revista de Profissões da PUC 2002.
Existiram declarações em que os alunos afirmaram ter realizado e
passado no vestibular em outras Universidades, no entanto optaram por ficar
na PUC/ SP devido a qualidade e referência do curso na América Latina.
Tomei conhecimento pelo guia do estudante e por ser
considerado o melhor curso de Serviço Social optei aqui, mas
66
prestei vestibular na FAPSS também, passei nas duas e fiquei
na PUC/SP.
...Passei na UNESP em Serviço Social e em opção na
PUC/SP. Aí investiguei e soube que era um curso de referência
da América Latina.
Quanto ao conhecimento 23,3% dos participantes indicaram o guia
do estudante; 13,3% a Internet; 6,7% buscaram informações através de contato
com um profissional Assistente Social, e 13,3%, através dos amigos que
estudavam na Universidade. Consideramos dados prejudicado 43,3%, pois os
alunos confundiam o motivo da escolha do curso, com o motivo da escolha da
Universidade.
Tomei conhecimento do curso através da busca pela Internet.
Escolhi na PUC/SP no segundo semestre do ano passado, pois
estava na UNICSUL e o ensino e o método não atendia as
minhas necessidades enquanto estudante de Serviço Social.
Dentre os motivos de escolha pela Universidade, alguns estudantes
disseram ter solicitado transferência de outras Faculdades, como por exemplo,
PUC de Campinas e a PUC/MG. Outros falaram que foram aprovados em
outras Universidades como na UNESP, a UNICSUL, USF , mas escolheram o
curso da PUC/SP.
Vim transferida da PUC/MG para PUC/SP e escolhi pela
qualidade do curso.
Prestei na UNESP, passei no vestibular, mas não pude ir para
Franca, pois sou eu que sustento minha casa. Fiquei na
PUC/SP pela possibilidade de bolsa.
Vim de transferência, fazia na PUC de Campinas, por ser uma
boa faculdade.
67
No que diz respeito a primeira opção no vestibular dos alunos da
PUC/SP, do ano, 66,7%, escolheram o curso de Serviço Social como
opção. E 33,3% escolheram como 2° opção.
Primeiro fiz um ano e meio de Direito PUC/PR, e comecei a
perceber que gostaria de estar mais próximo do usuário, no
que se refere permitir o acesso aos direitos sociais.
Relativo à escolha de outros cursos, 10% escolheriam cursos
relacionados a Ciências Exatas, 46,7% escolheriam cursos das Ciências
Humanas, 30% em Ciências Biológicas e 13,3% não responderam.
Nunca pensei em Serviço Social, sempre quis Medicina. Daí
desisti e pensava em números, números e fui fazer Ciências
Contábeis, odiei e resolvi procurar algo que em encantasse,
então conheci umas meninas que faziam Serviço Social
PUC/SP e me levaram numa aula e amei.
Terminei o segundo grau e entrei na Faculdade de
Comunicação Social, após 2 anos abandonei o curso para
fazer Serviço Social. A escolha se deu por pressão familiar,
mas percebi que havia escolhido a profissão errada, pois nas
atividades propostas pelo curso me despertavam interesse
quando estavam relacionadas as expressões da questão
social.
No que concerne ao motivo da escolha pela Universidade dados
da UNESP/ Franca, os alunos destacaram os motivos, entre eles: o fato da
Universidade ser de caráter público representando 44,4%. A aproximidade
entre a Universidade e a residência, 11,1%; a qualidade do curso, 11,1% e
dados prejudicados 33,3%.
Por ser a única pública do Estado. Tomei conhecimento do
curso no cursinho pré-vestibular.
68
Desde de criança gostava de Arquitetura e Engenharia Civil.
Até que, através de pesquisas, descobri que queria cursar
Arquitetura e Urbanismo. O Serviço Social veio no 3
o
colegial
como possibilidade de prestar vestibular na universidade
pública.
A forma de conhecimento encerrou o seguinte percentual: 11,1%
buscaram informações no manual do candidato; 11,1%, no guia do estudante;
33,3% em curso pré-vestibular e 33,3%, obteve informações com a família.
Foram considerados dados prejudicados em 11,1%.
Escolhi o Serviço Social na UNESP porque não tinha condições
financeiras de fazer uma Universidade Particular. Conheci o
Serviço Social através do meu esposo.
No que se refere-se aos dados sobre a primeira opção no curso de
Serviço Social, 55,6% dos alunos da UNESP/ Franca, expuseram que não
elegeram o curso como opção, e 44,4% disseram tê-lo escolhido como
opção.
O Serviço Social não foi minha primeira opção, escolhi
Psicologia, mas depois me identifiquei com o curso e não
mudei para minha 1º opção.
Quanto as outras opções de curso para prestar o vestibular, 11,1%
escolheria cursos relacionados a ciências exatas; 56,6% ciências humanas;
22,2% a ciências biológicas e 11,1% não escolheria outro curso que não fosse
o Serviço Social.
69
Tabela 8 - Motivo principal da escolha profissional
PUC/SP 4º
ano
UNESP/Franca
4º ano
Motivo que
definiu sua
escolha
Quantidade
Porcentagem
Quantidade Porcentagem
1- Interesse em
ajudar as
pessoas
3 10% 2 22,2%
2- Desejo de
transformar a
sociedade
12 40% 2 22,2%
3- Influência
familiar
1 3,3%
4- Sua história
de vida,
sentimentos e
emoções
envolvidos
6 20% 2 22,2%
5- Facilidade de
passar no
vestibular
6- Ausência de
outras
alternativas
3 33,3%
7- Inserção no
mercado de
trabalho
8- militância (
igreja, partidos,
ONgs, etc)
4 13,3%
9- Outros
10- Dados
prejudicados
4 13,3%
Consoante a tabela 8 sobre os motivos de escolha dos alunos do
ano da PUC/SP, 40% afirmam que foi o desejo de transformar a sociedade
como motivo principal de sua escolha. Cumpre-nos assinalar alguns
depoimentos:
70
Desejo de colaborar para a transformação da realidade social.
Lutar pelos direitos do cidadão para serem efetivamente
concretizados.
Melhorar a vida das pessoas e transformar a sociedade.
Com representatividade de 20% a história de vida, sentimentos
envolvidos, a experiência pessoal e as disciplinas relacionadas no guia de
profissões podem auxiliar no sentido da escolha.
Pelo meu histórico de vida, de muitas privações me identifiquei
com o que li a respeito da profissão em um guia de profissões.
A partir da preocupação com minha origem social de bairro
periférico em dar algumas respostas.
Registra-se 13,3% dos alunos indicaram a militância como motivo
definidor. A questão da militância tem sido um fato marcante na escolha da
profissão. Os alunos antes de iniciar a faculdade apontam experiências nos
movimentos sociais, nos grupo de jovens da pastoral da Igreja Católica.
Desde os 16 anos de idade, devido ao fato de sempre estar
envolvido com movimentos sociais.
Escolhi o Serviço Social, pois não me conformava com a
realidade que via no dia a dia, comecei a participar dos
movimentos sociais, e a partir desse movimento tive certeza da
minha escolha.
O interesse em ajudar as pessoas, teve uma representatividade de
10%:
Contribuir para todos aqueles que precisam.
71
Queria mudar a ordem vigente e pensava em ajudar as
pessoas,
Um dos alunos (3,3%) definiu a escolha pela influência da familiar, a
escolha da profissão pode envolver não o sujeito que escolhe como também
as relações sociais e afetivas como, por exemplo: família, amigos, namorados,
vizinhos e pessoas conhecidas. Mas, nem sempre os alunos estavam certos da
sua escolha profissional.
O processo de escolha foi um período cheio de dúvidas e
angustias. Porém com o auxilio, da família, da escola, de
amigos, pude me decidir melhor sobre o meu futuro
profissional. Mesmo com tanta ajuda e informação esse
processo de escolha foi difícil e ainda posso afirmar que não
tenho certeza de minha escolha.
Temos como dados prejudicados 13,3%, dos alunos da PUC/SP,
pois, não sinalizaram somente uma resposta e sim três, evidenciando a
dificuldade de indicar um principal motivo da escolha pelo curso de Serviço
Social.
Sobre os motivos que definiu a escolha dos alunos do ano da
UNESP/Franca, para 33,3% predominou a ausência de alternativas.
Aproveitam para prestar vestibular para avaliar o desempenho sobre seus
conhecimentos, e por vezes desconhecem o que é a profissão. Os
depoimentos abaixo apontam a ausência de outras alternativas:
Na verdade eu prestei o vestibular para ver qual seria o meu
desempenho. Optei pelo Serviço Social e acabei ficando na 9º.
Classificação, por minha surpresa.
Fiz a prova do vestibular porque era pública, não conhecia o
curso.
72
Entre algumas respostas destacamos a preocupação do aluno em
relação a qualificação exigida pelo mercado de trabalho; mesmo não definindo
como principal motivo de escolha, coloca o mercado como sinalizador da
escolha profissional.
Final década de 90. O mercado de trabalho exige qualificação
e quem não tem fica difícil entrar.
O interesse de ajudar as pessoas, definiu a escolha para 22,2%. A
questão do sentimento de ajuda perpassa muitas discussões e significados;
conforme o depoimento abaixo o aluno não relacionava a ajuda a solidariedade
e sim como uma função institucional.
Durante o ano do grau quando também fazia cursinho de
preparação para o vestibular, entrei em contato com pessoas
do curso de Serviço Social e também por entender na época
que a “ajuda” não era um ato de solidariedade, mas como uma
função institucional como outras.
Conhecer mais profundamente como se dão as relações
interpessoais e atuar na ajuda de conscientização da
sociedade.
Como de se verificar o desejo de transformar a sociedade
aparece como motivo para 22,2% dos alunos que manifestam o desejo de
mudança da realidade social; todavia, nem sempre pensavam no curso de
Serviço Social, conforme relatos,
Desde a 8˚ série, eu via a necessidade de fazer algo para
mudar o que eu achava um absurdo, mas nem sempre pensei
em Serviço Social.
Na infância havia o desejo de cursar psicologia, porém, no
período do cursinho pesquisei sobre o Serviço Social e me
73
identifiquei com a profissão pela sua proximidade com as
pessoas e possibilidades de transformação social.
A história de vida, sentimentos e emoções envolvidos, apresenta um
percentual de 22,2%, como motivo da escolha. Também a oportunidade de
contato com o profissional assistente social acaba por sensibilizar a vida dos
sujeitos
Meu pai sofreu um acidente de moto e ficou três meses no
hospital e uma assistente social, esteve muito presente nos
acompanhando, orientando em relação ao que estávamos
passando, começou meu interesse e procurei mais
informações sobre a profissão eu estava com 16 anos.
Os alunos da UNESP/ Franca, evidenciam mais fortemente a
dificuldade para escolher um curso; indecisões, conflitos, confusões, ressaltam
que a escolha é um conjunto de muitos desejos.
Desde meu colegial. Demorei muito tempo para escolher esse
curso, fiquei um pouco confusa diante de muitas possibilidades,
mas hoje tenho certeza de que fiz a escolha certa.
Desde de criança, entretanto a escolha foi um processo
conflituoso, pois havia o desejo de vários cursos diferenciados.
Além disso, a escolha da profissão muitas vezes “limita” o ser a
um único fator, enquanto ele é conjunto de muitos desejos
diferenciados.
Como vimos, os motivos da escolha pelo curso de Serviço Social
dos alunos do 4º ano das duas Universidades diferenciam-se na PUC/SP,
houve uma representatividade de 40% o desejo de transformar a sociedade. E
na UNESP/Franca 33,3% indicam a ausência de alternativas, escolhendo o
Serviço Social porque precisam freqüentar uma universidade pública, evitando
onerar tanto a família.
74
3.2.2 Concepção de Serviço Social
Os alunos do ano da PUC/SP revelam que ao ingressar no curso
tinham dele uma visão assistencialista, todavia, afirmaram que faz-se
necessário ter contato com a profissão, ou seja, cursar a faculdade, para que
haja mudança da concepção acerca da profissão.
Pensei ser um trabalho mais assistencialista, tabu que hoje foi
quebrado.
As políticas públicas como trabalho efetivo da profissão, é a resposta
mais freqüente na pesquisa. Percebe-se uma concepção de Serviço Social
diretamente ligada às políticas públicas; a própria prática de intervenção da
profissão é compreendida como uma política pública relacionada a políticas de
prestação de serviços.
É uma profissão que visa trabalhar com políticas públicas, visa
o estudo, plano e intervenção na questão.
O Serviço social é a profissão que planeja e executa projetos
para benefício público, etc.
O curso que se oferece base teórica para atuar na intervenção
da consciência da sociedade.
Ao escolher a profissão, os estudantes salientam as características
dos assistentes sociais, visualizando-os com um perfil de pessoa caridosa,
bondosa, humana. Após contato com o curso mudam esta concepção.
Achava que ser assistente social era ajudar as pessoas, ser
boa, caridosa, humana, etc. Hoje vejo como uma profissão que
informa as pessoas de como acessar direitos. Trabalha na
75
garantia de direitos e execução de políticas públicas de
assistência.
Pensava que a assistente social era uma pessoa caridosa e
bondosa, e percebi que isso não passa de ser uma
personalidade de cada um. E hoje penso que a assistente
social deve ser ética e justa, respeitando as diferenças e
lutando para amenizar as desigualdades.
Conforme a concepção dos alunos do ano da UNESP/ Franca,
têm da profissão, destacam-se por um lado a ênfase na prática profissional
junto aos empobrecidos e por outro lado, questionam os limites desta visão,
fundamentando a questão dos direitos para todos.
Serviço Social é uma profissão que mais está próxima atuar
junto aos empobrecidos. Atuando por meio de projetos,
políticas públicas, ações, etc.
Quando entrei pensava que a profissão trabalhava com
pessoas necessitadas. Hoje o estigma caiu, a profissão veio
para assegurar direitos.
Quando passei no vestibular não tinha uma concepção sobre a
profissão. Hoje a vejo como “melhor profissão do mundo”
acredito que através dela podemos ajudar na emancipação
humana
.
Quando iniciei a principal idéia era de ajudar as pessoas. Hoje
vejo que não é bem assim, devemos sim “ajudar” mas nas
orientações diversas, principalmente com seus direitos,
informar, ou seja, um mediador entre Estado o privado e a
sociedade.
76
Os alunos do quarto ano demonstram uma visão ingênua da ajuda,
todavia manifestam as possibilidades de intervenção profissional para amenizar
as conseqüências do capitalismo e das desigualdades sociais. Reafirmam o
assistente social como agente transformador.
Minha concepção era de quem assinava papel e encaminhava
os “pepinos” Hoje vejo como agente transformador.
Achava que éramos capazes de mudar o mundo, mas hoje sei
que a profissão tem limites que vão além do meu desejo. Hoje
acho que a profissão pode no atual momento histórico,
amenizar as conseqüências do capitalismo.
Minha concepção era bastante confusa (por falta de
conhecimento). Hoje não deixa de ser confusa, é uma profissão
que atua na contradição, sempre no limite, o que me angustia
muito. Ela tem utilidade social, trabalha com uma perspectiva
de emancipação humana, porém em sua prática está sempre
no limite da reprodução da vida social.
É uma forma de acesso dos benefícios aos necessitados ou e
excluídos socialmente.
A profissão de Serviço Social estimula conflitos porque enfrenta a
difícil relação entre inclusão e exclusão, trabalha na intervenção e
implementação de políticas públicas no âmbito da assistência social, elabora
projetos sociais para a execução de programas sociais e para o
acompanhamento da gestão de programas. A profissão não se resume
somente a assistência social.
Dar assistência total àquele que dela necessitar.
É uma profissão que está inserida no âmbito da Assistência
Social.
77
Conforme respostas dos alunos podemos identificar que a
concepção da profissão está pautada no significado que Iamamoto (1998)
atribui a profissão: aquela que “(...) tem na questão social a base de sua
fundação com a especialização do trabalho. Questão social apreendida como o
conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura,
que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o
trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus
frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade” (27).
É uma profissão que trabalha com as expressões da questão
social.
O Serviço Social é uma profissão que trabalha com as
diferentes expressões da questão social buscando a igualdade,
a equidade, a justiça social e a garantia de direitos.
Uma profissão inserida na categoria sócio e técnica do
trabalho, o Serviço Social é uma possibilidade de uma
aproximação direta com a comunidade.
3.2.3 Expectativas da profissão
As expectativas dos alunos do 4º ano da PUC/SP em relação a
profissão estão relacionadas à questão da ajuda e da transformação social.
Minhas expectativas eram de que eu poderia ajudar de alguma
forma as pessoas.
Expectativa de transformação.
Sim, hoje sei que não posso mudar o mundo, mas posso
trabalhar visando melhores condições, baseadas nos direitos e
na luta pela ampliação destes.
78
Que me dessem ferramentas para intervir na sociedade em
uma perspectiva de inclusão justa e de igualdade.
Que eu através de meu exercício profissional pudesse ajudar
as pessoas e com isso, transformar a sociedade.
Tenha-se presente que uma das respostas questiona a contradição
existente entre teoria e prática. Manifesta uma decepção quanto a prática
profissional, não obstante ela demonstre que a profissão atende a sua
expectativa com relação quanto a questão teórica.
(..) Porque a teoria é exatamente o que esperava, porém a
prática expressa minha decepção profissional.
Dentre as respostas dos alunos, destacam-se a realização
profissional se articula a realização pessoal, ou seja, a subjetividade e a
objetividade. Mas questionam as possibilidades de potencial do mercado de
trabalho e o retorno financeiro.
(...) Porque o curso proporcionou que atuasse na realidade
social, que trabalhasse com algo que apesar de não dar
retorno financeiro me completa como pessoa.
Sim, pois permite crescimento pessoal e profissional.
No que alude às expectativas dos alunos do ano da UNESP/
Franca, nota-se que a maioria respondeu que o Serviço Social expressa sua
expectativa, principalmente em relação a subsídios para compreender a
realidade da sociedade e o caráter interdisciplinar da profissão. Entre os
depoimentos destacamos:
O mais forte era de entender porque a sociedade passa por
transformações as vezes tão bruscas.
79
Sim, me sinto realizada, com o dinamismo da profissão, seu
caráter interventivo, suas possibilidades de trabalho
interdisciplinar e pelo facínio de trabalhar com pessoas.
Um curso para conhecimento maior da sociedade, bem como
pelo fato de ser um curso que nos leva a ver melhor o mundo.
Sim, pois, o nível de identificação com a profissão possibilita a
realização profissional e pessoal.
Entre os depoimentos os alunos sinalizam que no momento da escolha
não tinham expectativas; mas é através do estágio, ou seja, do momento em que
começam a estabelecer a relação entre teoria e prática, que conseguem identificar–se
com a profissão e enfrentar o mercado de trabalho.
Não tinha expectativa. Acredito que hoje expressa meu desejo
profissional na medida que não suporto injustiças.
Não tinha expectativa, vim para ver no que dava. Antes de
fazer estágio não conseguia visualizar o meu desejo
profissional através do Serviço Social. Agora que faço estágio,
e especificamente na área judiciária consigo visualizar o meu
desejo profissional.
Era me formar e conseguir um trabalho, foi o curso que mais
me identifiquei para atingir meus objetivos.
3.2.4 Fatores significativos no processo de formação
profissional
Convém ressaltar que os fatores significativos na formação
profissional, somente os alunos do ano responderam a questão. Os
escolhemos em vista de estarem em fase de trabalho de conclusão de curso,
80
com alguma experiência adquirida no estágio, por isto congregam
conhecimentos para tal problematização.
Foram diversos os elementos que os alunos da PUC/SP e
UNESP/Franca expuseram como significativos no processo de formação
profissional entre eles: os conteúdos das disciplinas curriculares, os debates
em sala de aula, a qualificação e os diferentes posicionamentos dos
professores, a inserção no campo de estágio e supervisão de estágio,
participação no movimento estudantil, as palestras promovidas pelo CRESS; o
contato com as políticas públicas e a Universidade escolhida.
Encontros de estudantes do Serviço Social; ENESSO,
ABEPSS(...)
Acho que a formação oferecida pela PUC, uma formação
crítica, política que foi de grande importância.
O campo de estágio, o quadro de maravilhosos professores
desta Universidade e o trabalho em equipe.
Supervisão de estágio, Núcleo de Violência e a concepção
crítica da faculdade.
Acredito que de um modo geral todas as disciplinas
contribuíram no meu processo de formação, mas a inserção no
estágio deu os elementos concretos para a relação teoria e
práticos tão questionados por nós alunos.
Alguns alunos deram ênfase à formação sócio-política bem como à
influência do pensamento marxista.
A ampliação sobre minha visão da realidade social, conceito de
família e o conhecimento da questão social.
81
Os elementos que me deram base para conhecer a realidade e
quais os motivos da desigualdade social.
Teoria do pensamento marxista e a possibilidade de
intervenção na realidade.
A visão crítica da sociedade que o curso de Serviço Social da
UNESP proporciona, bem como o corpo docente inigualável.
O estágio e a pesquisa de iniciação científica.
A interlocução da teoria com a prática e alguns professores
altamente didáticos.
A junção da teoria com a prática, evidenciada através do
estágio supervisionado.
É possível verificar que atribuem significado ao estágio, a formação de um
pensamento crítico ainda que centrado numa teoria crítica da realidade social e que a
visão ampla da profissão permite realizar ligações entre os conhecimentos e a
realidade social estudada.
3.3 Características das Famílias
Implementamos uma tabela com dados das características das
famílias dos sujeitos que participaram da pesquisa. Considerando importante
para conhecer a realidade do aluno no que condiz à escolaridade, trabalho,
renda familiar e profissão dos pais.
82
TABELA 9 - Características da Família dos alunos – PUC/SP
Pai Mãe
Escolaridade
Quantidade
Porcentagem
Quantidade
Porcentagem
1º Incompleto 19 38,0% 21 42,0%
1º Completo 3 6,0% 6 12,0%
2º Incompleto 2 4,0% 3 6,0%
2º Completo 12 24,0% 8 16,0%
3º Incompleto 0 0% 0 0%
3º Completo 13 26,0% 12 24,0%
Não respondeu 1 2,0% 0 0%
Trabalho Quantidade
Porcentagem
Quantidade
Porcentagem
Autônomo 11 20,0% 4 8,0%
Empregado 12 24,0% 14 28,0%
Desempregado 3 6,0% 2 4,0%
Aposentado 16 32,0% 5 10,0%
Do Lar - - 20 40,0%
Outros 8 16,0% 5 10,0%
Renda Familiar Quantidade Porcentagem
Entre 2 a 5 salários
mínimos
24 48,0%
Entre 6 a 10 salários
mínimos
13 26,0%
Entre 11 a 19
salários mínimo
5 10,0%
Acima de 20 salários
mínimos
5 10,0%
Menos de 2 salários
mínimos
1 2,0%
Não respondeu 2 4,0%
Profissão (setor) Quantidade
Porcentagem
Quantidade
Porcentagem
Indústria 1 2% 0 0%
Comércio 6 12% 3 6%
Serviços 20 40% 17 34%
Não respondeu 11 22% 7 14%
Outros 12 24% 23 46%
Conforme tabela de n° 9, quanto a escolaridade dos pais a maioria,
38%, da possui 1º grau incompleto; 6,0% o grau completo; 4,0%, têm o 2º
83
grau incompleto; 24% o completo; 26% o 3ºgrau completo, e 2% não
responderam. Constata-se que nenhum tem o 3ºgrau incompleto.
Sobre a escolaridade da mãe, 42% possuem o grau incompleto;
12% grau completo, 6% o grau incompleto; 16% o grau completo, e
24% o grau completo. Destacamos que nenhum possui o grau
incompleto, ou seja, nenhum estava concluindo a faculdade no momento da
pesquisa.
Em relação ao trabalho do pai a maioria está aposentado, 32%;
empregados são 24%, autônomos são 20%; desempregados são 6% e outros
16%. Acerca do trabalho da mãe maioria, 40% são do lar, ou seja, não possui
vinculo empregatício. Autônomas são 8%; empregadas o 28%;
desempregada, 4%; aposentadas 10%, e 10% outros.
Sobre renda
11
familiar, oscila em 48% respondeu ter renda entre 2 a
5 salários mínimos; 26% entre 6 a 10 salários mínimos; 10% entre 11 e 19
salários mínimos; 10% acima de 20 salários mínimos; 4% não responderam, e
2% menos de 2 salários mínimo
Para tabulação dos dados da profissão do pai e da e,
classificamos as áreas de serviço: indústria, comércio, prestação de serviços e
outros. Profissão do pai - 2% são profissionais da indústria; 12% comércio;
40% trabalha como prestador de serviços; não respondeu 22%, e outros 24%.
Profissão da mãe 0% indústria; 6% comércio, 34% serviços 14%; não
responderam, e outros 46%.
Conforme dados da tabela, observa-se que predomina o grau de
escolaridade dos pais (mãe e pai) com o primeiro grau incompleto, um
percentual significativo de pais aposentados e mães do lar. A renda familiar é
composta de até cinco salários mínimos. Uma das maiores preocupações dos
11
A referência para cálculo da renda familiar é o salário mínimo vigente de 380,00.(Salário
Mínimo Nacional)
84
alunos da PUC/SP é decidir por uma profissão de qualidade de ensino, tanto os
estudantes do 1º ano, quanto do 4º ano.
Apontam como segundo motivo da escolha da Universidade a
possibilidades de bolsa de estudos. Um dado importante sobre a realidade de
São Paulo, é a questão de que existe uma única faculdade pública de curso
de Serviço Social, portanto os estudantes não têm muitas opções. Os cursos
oferecem turnos da noite para realização das disciplinas, pois a maioria dos
alunos são trabalhadores.
A condição sócio-familiar pode ter influenciar na escolha profissional
do aluno, pois se este não tem condições de pagar as mensalidades, não
consegue manter-se no curso. O curso de Serviço Social atualmente conforme
informações do setor de bolsa é o curso que mais concentra bolsas, de todos
os cursos da Universidade.
Tabela 10 - Características da família dos alunos UNESP/ Franca
Pai Mãe
Escolaridade
Quantidade
Porcentagem
Quantidade
Porcentagem
1º Incompleto 10 25,6% 8 20,5%
1º Completo 5 12,8% 4 10,3%
2º Incompleto 4 10,3% 2 5,1%
2º Completo 14 35,6% 12 30,8%
3º Incompleto 2 5,1% 5 12,8%
3º Completo 3 7,7% 8 20,5%
Não respondeu 1 2,6% 0 0%
Trabalho Quantidade
Porcentagem
Quantidade
Porcentagem
Autônomo 22 56,4% 8 20,5%
Empregado 11 28,2% 15 38,5%
Desempregado 0 0% 0 0%
Aposentado 2 5,1% 12 30,8%
Do Lar - - 1 2,6%
Outros 4 10,3% 3 7,7%
85
Renda Familiar Quantidade Porcentagem
Entre 2 a 5 salários
mínimo
19 48,7%
Entre 6 a 10 salários
mínimo
16 41,0%
Entre 11 a 19
salários mínimo
3 7,7%
Acima de 20 salários
mínimo
0 0%
menos de 2 salários
mínimo
1 2,6%
Não respondeu 0%
Profissão (setor) Quantidade
Porcentagem
Quantidade
Porcentagem
Indústria 0 0% 0 0%
Comércio 7 17,9% 6 15,4%
Serviços 9 23,1% 12 30,8%
Não respondeu 16 41% 8 20,5%
Outros 7 17,9% 13 33,3%
Quanto a escolaridade do pai, por 25,6% possui o grau
incompleto; 12,8% concluíram o grau; 10, 3% tem o 2º grau incompleto,
35,6% terminaram o 2º grau; 5,1% não concluíram o terceiro grau; 7, 7%
possuem o nível superior, e 2, 6% não responderam. Sobre a escolaridade da
mãe, 20,5% não concluíram o 1º grau; 10,3% terminaram o grau; 5,1%
possuem o grau incompleto; 30,8% terminaram o grau; 12,8% não
concluíram o nível superior, e 20,5% possuem o nível superior.
Em relação ao trabalho do pai, 56, 4% são autônomos; 28,2% estão
empregados; nenhum estava desempregado; 5,1% são aposentado, e outros
10,3 %. Sobre o trabalho da mãe 20,5% o autônomas; 38,5% estão
empregadas; nenhuma desempregada; 30,8% são aposentadas; 2,6% são do
lar, e outros 7,7%.
Referente a renda familiar, 48,7% têm renda entre 2 a 5 salários
mínimos; 41% entre 6 a 10 salários mínimos; 7,7% entre 11 a 19 salários
mínimos; e 2,6% menos de 2 salários mínimos. Nenhum acima de 20 salários
mínimos.
86
Sobre a profissão do pai, 0% na indústria; 17,9% são profissionais
do comércio; 23,1% são prestadores de serviços, 41% não responderam, e
outros 17,9%. Sobre a profissão da mãe, indústria 0%; 15,4%, são profissionais
do comércio; 30,8%,são prestadoras de serviço; o responderam 20,5%, e
outros 33,3%.
De acordo com a análise dos dados, diferentemente da PUC/SP, o
grau de escolaridade dos pais (mãe e pai) predomina o 2°grau completo.
Nenhum dos pais estão desempregados num universo de um total de (39
alunos) que participaram da pesquisa, apesar da renda familiar ser composta
na maioria entre 2 a 5 salários mínimos.
87
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo sobre a escolha profissional e a subjetividade trouxe
desafios, especialmente pelo fato de adotarmos autores não utilizados como de
costume na produção do Serviço Social para alicerçar nossas reflexões de
pesquisa. As dificuldades que tivemos de encontrar, na produção de Serviço
Social, trabalhos relacionados ao nosso tema e a conjugação de esforços
necessários para a compreensão de saberes que proporcionassem subsídios à
fundamentação do estudo, não se tornaram, entretanto, impeditivos para a
realização da investigação.
Os motivos da escolha pelo curso de Serviço Social perpassam por
várias implicações que se entrelaçam entre a dimensão subjetiva e objetiva,
entre razão e emoção. A subjetividade e os motivos da escolha profissional não
podem ser compreendidos como unidade específica, imutável, mas sim
congregando os vários e diferentes sentidos, relacionados aos conflitos e
necessidades individuais e coletivas. As implicações subjetivas se estendem
desde os significados até a materialização das decisões e ações que
conduzem à própria escolha profissional.
Constatamos que uma das maiores preocupações dos alunos das
respectivas Universidades – PUC/SP e UNESP/Franca – está em tomar a
decisão, optar por uma profissão que possibilite aliar satisfações pessoais
relacionadas à paixão, ao gosto por um modo de fazer profissional e que
empreenda, ao mesmo tempo, a justiça social, a sobrevivência e a expressão
social de seus profissionais.
O percentual de alunos, que mesmo não representando a maioria da
amostra, define a escolha da profissão pela ausência de outras alternativas de
cursos, também foi expressiva o que revela que mesmo havendo uma
88
explicação objetiva, “ausência de outras alternativas”, por exemplo, fica
explicita a dimensão subjetiva.
Entre os alunos do primeiro grupo da PUC/SP e os do segundo
grupo – UNESP/Franca – encontramos motivos diferentes para escolha do
curso. O primeiro grupo, convergiu mais para a necessidade de transformar a
sociedade, vontade de amenizar as desigualdades sociais e intervir na
realidade social. Acreditam assim que a transformação social pode ocorrer com
os instrumentos utilizados pela profissão e percebem que a intervenção na
sociedade se concretiza de forma coletiva. O segundo grupo, encontramos a
predominância do interesse em ajudar as pessoas. Como ajuda ao indivíduo e
não de uma forma plural no conjunto da sociedade, por isso, a diferenciação
entre ambas as escolhas. A ajuda tem sido um marco na história da profissão e
continua sendo expressão de escolha profissional.
Os alunos dos anos das respectivas Universidades apresentam,
também, motivos diferentes ao decidir a profissão. Na PUC/SP prevaleceu o
desejo de transformar a sociedade; percebemos que os alunos pesquisam o
significado e o reconhecimento da Universidade, todavia não demonstram uma
maior preocupação com a inserção no mercado de trabalho. na
UNESP/Franca, o motivo da escolha foi à ausência de outras alternativas e a
inserção no mercado de trabalho.
Na UNESP/Franca ocorre uma preocupação em obter um diploma,
seguir uma carreira acadêmica, e, às vezes, a pressão familiar e cobranças
relacionadas à necessidade de ingressar na Universidade. Alguns revelam que
conheceram a profissão através da leitura do manual do candidato e que não
tiveram um planejamento prévio sobre a escolha. Essas características o
algumas das implicações que envolvem o processo de escolha.
Por outro lado, a escolha pelo curso de Serviço Social demonstra
ainda, novas configurações no cenário contemporâneo social, pois não está
89
somente relacionada à questão da ajuda, como indicam algumas pesquisas do
Serviço Social. O fato da UNESP ser pública é um grande fator de decisão para
a escolha, pois vai de encontro às dificuldades sócio-econômicas dos alunos
que demandam a profissão. De certa forma a Universidade pública carrega
status, reconhecimento do jovem perante a família e a sociedade. Embora os
motivos articulem subjetividade e objetividade, neste caso dos alunos da
UNESP, constata-se uma preocupação mais objetiva que não carrega a
questão do sentido da profissão e sim, a preocupação de fazer um curso
superior e gratuito.
Os eixos de análise da pesquisa nos permitiram constatar a
necessidade de algumas revisões:
Motivo da escolha profissional e suas implicações rever as
informações dos meios de comunicação sobre o significado da
profissão, pois são ferramentas importantes para se obter
conhecimentos através da era digital.
Concepção de Serviço Social – as confusões dos alunos do primeiro ano
da PUC/SP podem nos dar uma idéia das confusões conceituais que
transitam no interior do Serviço Social entre política pública e de
Assistência Social; isso talvez, como resultante não só da organização e
estrutura curricular como também, das oscilações conceituais que
encontramos na produção do Serviço Social e entre os diferentes corpos
docentes das Faculdades.
Algumas dissertações e teses demonstram preocupação com
esta questão, quando tomam como objetos de estudos a imagem
profissional, as concepções de Serviço Social e os fundamentos teóricos
que dão sustentação ao exercício profissional. Contudo, ainda torna-se
necessário aprofundar discussões acerca do objeto da profissão
90
relacionando com as diferentes correntes teóricas das ciências humanas,
principalmente no curso de graduação.
Ao ingressar no curso de Serviço Social a maioria dos alunos das
respectivas Universidades concentravam a concepção da profissão relacionada
a valores humanitários, tais como: ajuda, caridade, solidariedade, bondade e
assistencialismo. Conceito que foram ganhando outros significados no decorrer
da formação, considerando a necessidade de se produzir transformações
sócio-culturais da sociedade e consciência pelos direitos sociais.
Expectativas da profissão – as expectativas em relação à profissão
estão correlacionadas ao motivo da escolha da profissão, como, por
exemplo, poder ajudar as pessoas, vontade de transformar a sociedade,
sentimento de justiça, de igualdade e de equidade, compreensão da
realidade social. A maioria dos alunos afirma que o curso corresponde
às expectativas, principalmente por acreditarem que estabelecem
possibilidades reais de mudança na sociedade, em contrapartida
fundamentam que por vezes a profissão não estabelece uma
congruência entre teoria e prática.
Fatores significativos no processo de formação dentre os importantes
fatores do processo de formação sinalizados pelos sujeitos da pesquisa,
certa unanimidade em indicar a importância da exigência do campo
de estágio. É neste cenário que o aluno, questiona, manifesta suas
incertezas e conflitos, buscando construir um pensamento crítico,
procurando articular saberes necessários para realizar o fazer
profissional.
De certa forma os alunos do curso de Serviço Social mostram um
sentimento de sensibilidade, inconformidade, inquietação, questionamento,
diante das diferenças e gritantes injustiças sociais, ao mesmo tempo em que
procuram compreendê-las para mudar, transformar ou amenizar esta situação.
91
Carregam um sentimento de esperança e de responsabilidade social diante do
cenário atual da sociedade.
Para finalizar as considerações de nosso estudo, retomamos a
metáfora através da música de Gonzaguinha “O que é, o que é? E a vida? E a
vida o que é diga meu irmão? E a escolha profissional, diga o que é meu
irmão? Ela é a batida de um coração? Ela pode ser a batida de um coração.
Ela é uma doce ilusão? Ela é maravilha ou é sofrimento? Ela pode ser
maravilha e sofrimento. Para alguns pode ser um processo de amor ou de
sofrimento. Ela é alegria ou lamento? Ela pode ser alegria e lamento. A escolha
da profissão é a escolha da própria vida”.
A escolha profissional pode definir nosso futuro, mas pode também
permanecer como latente indagação, que reconhecemos a necessidade de
múltiplos conhecimentos não ocultados em uma só profissão.
Sejamos incansáveis como Sócrates questionando o que
pressupomos conhecer buscando respostas, dialogando com a incerteza,
questionando o que parece estar pronto. A escolha revela inquietação porque
desacomoda nosso pensar sobre o devir e sobre o constante processo de
constituição de nossa subjetividade.
92
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São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
YAZBEK, Maria Carmelita. Classes Subalternas e Assistência Social. ed.
São Paulo: Cortez, 2003.
ANEXO
98
QUESTIONÁRIO DE PESQUISA
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS
ALUNOS
1 - Universidade: ___________________________Semestre:______________
2-Idade: ______________ 3- Sexo: ( ) F ( ) M
4 -Estado Civil ____________________________________________
5 -Naturalidade: ____________________________________________
6 -Onde você cursou o segundo grau?
( ) Escola Particular ( ) Escola Pública
7-Você trabalha?
( ) Sim ( ) Não
8- Você faz estágio? ( ) Sim ( ) Não
9- Recebe bolsa auxílio? ( ) Sim ( ) Não
DADOS DE CARACTERÍSTICAS DA FAMÍLIA
10- Profissão dos pais
Da mãe: ________________________________________________
Do pai: _________________________________________________
99
11-Escolaridade do pai
( )1º grau incompleto ( )2ºgrau completo
( )1º grau completo ( )3º grau incompleto
( )2º grau incompleto ( )3º grau completo
12-Escolaridade da mãe
( )1º grau incompleto ( )2º grau completo
( )1º grau completo ( )3º grau incompleto
( )2º grau incompleto ( )3º grau completo
13-Trabalho do pai
( )autônomo ( )desempregado
( )empregado ( )aposentado
( )outros_______________________________________________
14-Trabalho da mãe
( ) não trabalha fora do lar
( )autônomo ( )desempregado
( )empregado ( )aposentado
( )outros_______________________________________________
15-Renda Familiar mensal
( ) entre 2 a 5 s.m ( ) entre 11 a 19 s.m
( ) entre 6 a 10 s.m ( ) acima de 20 s.m
( ) Menos de 2 s.m
100
DADOS SOBRE O MOTIVO DE ESCOLHA PELO O CURSO DE SERVIÇO
SOCIAL
1- Desde que época você lembra ter começado a pensar na escolha de uma
profissão? Conte como foi este processo de escolha.
2-Por que escolheu o curso de Serviço Social na PUC/SP? Como tomou
conhecimento do curso?
3- Dentre os vários motivos, qual considera o mais definidor de sua escolha
para cursar o Serviço Social?
( ) interesse em ajudar as pessoas
( ) desejo de transformar a sociedade
( ) influência familiar
( ) sua história de vida, sentimentos e emoções envolvidos
( ) facilidade para passar no vestibular
( ) ausência de outras alternativas
( ) inserção no mercado de trabalho
( ) militância (igreja, partidos, Ongs, etc.)
( ) Outros_________________________________________________
4- A escolha pelo curso de Serviço Social foi sua primeira opção no vestibular?
( ) Sim ( ) Não
101
5- Se não escolhesse o curso de Serviço Social qual outro curso seria de seu
interesse?
6- Quando escolheu Serviço Social quais eram suas mais fortes expectativas?
7- O curso de Serviço Social expressa seu desejo profissional? Porque?
8- O que é Serviço Social para você?
9- Que fatores foram significativos no seu processo de formação?
10- Quando você ingressou na Faculdade de Serviço Social que concepção
tinha sobre a profissão? E hoje, como vê a profissão?
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