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pessoas, rezava e tudo. Então ele ia criando aquele núcleo ali centrado
ao redor dele. Justamente os vizinhos dele de Colônia, quando ele
começou a tomar daime, era o grupo que ia com ele lá pro Alto Santo.
Também tinha a turma da madrinha Cristina, que nesse tempo só era
ela e uma filha que é a Madrinha Sílvia. E a Tetê, que é irmã do
Padrinho Nelson, o Padrinho Sebastião, com o Alfredo, a madrinha Rita,
os filho eram tudo criança. Juntando com os vizinhos é que faziam o
grupo que ia lá pro Mestre Irineu.
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De posse do daime e da autorização do Mestre Irineu, durante os finais
de semana, quando não coincidiam com os trabalhos oficiais do Alto Santo,
Sebastião abria sessões na própria Colônia Cinco Mil, de modo que, além dos
vizinhos, conhecidos de mais longe conheceram o Santo Daime diretamente
das mãos do Padrinho Sebastião, tornando-se participantes assíduos dos
trabalhos realizados na Colônia. É natural que criassem com seu grupo
vínculos diferenciados.
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Assim destacava-se o pessoal do Sebastião como um subgrupo do
corpo maior da igreja. Líder de um grupo expressivo, feitor, de personalidade
marcante
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e dono de um hinário que crescia, produziam-se rivalidades da
parte de outros membros da igreja do Alto Santo em relação a Sebastião,
mesmo antes do falecimento do Mestre Irineu. A passagem do Mestre Irineu,
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R.P.M., entrevistado pelo autor, gravação em fita de áudio, Céu do Mapiá, Pauini,
Amazonas, janeiro de 2007.
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“Dessa leva da expansão do Padrinho Sebastião, do povo de fora, eu fui a primeira que
acompanhou o Padrinho Sebastião. Quando eu cheguei pra tomar Daime no Alto Santo eu
tinha uma amiga, a dona Clice, que me recebeu em Rio Branco. Eu com muita vontade de
tomar Daime, ela disse: “Então calma, que no fim da semana eu vou te levar na casa do
Sebastião”, que era o Padrinho, né. A gente foi lá, tomei Daime lá na casa dele, tive uma
miração muito incrível, foi muito bom. Começamos então a fazer parte, todo final de semana,
dos trabalhos na casa dele, e dos trabalhos no Alto Santo junto com a turma. Eu morava em
Rio Branco. Aí fizemos amizade com o Padrinho, que quando a gente chegava no Alto Santo a
gente já se identificava com o grupo do Padrinho. A gente já ficava ali, ao lado do grupo do
Padrinho. Então todos os ensinamentos, tudo que a gente queria saber era do lado do
Padrinho”. R.P.M, entrevistado pelo autor, gravação em fita de áudio, Céu do Mapiá, Pauini,
Amazonas, janeiro de 2007.
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Seu filho, Alfredo, é quem relata uma dessas ocorrências dentro de um trabalho de hinário
do Mestre Irineu: “Uma vez ele ficou assim meio atuado, uma atuação já dentro do poder do
Santo Daime. Foi quando ele recebeu aquele hino: Sou eu, sou eu. Foi muito incrível: ele
estava cantando o hinário do Mestre Irineu, bailando e mirando bem forte assim. O pessoal se
engasgou para puxar o hino e interrompeu. Ele puxou este, no meio do hinário, no meio do
salão, com uma vozona assim: Sou eu, sou eu, sou eu, eu posso afirmar. Os fiscais se
arrojaram lá, inclusive a finada P. que era chefe da ala feminina - nem ela se controlou, veio lá
onde estava o papai: Seu Sebastião, Seu Sebastião, calma, se controla aí! Só se via gente
falando pro Mestre: Oh, o homem passou, foi demais. O fiscal passou por lá, o papai ainda
contou que o Mestre chegou falando: Vocês ainda não viram nada neste Estado Maior.”
A.G.M., entrevistado pelo autor, gravação em fita de áudio, Céu de Maria, São Paulo, Capital,
maio de 2006.