116
observação realizada, durante a pesquisa empírica, e transcrita em Diário de Campo. É
importante que se esclareça que a última categoria, apropriação de conceitos, está entremeada
nas análises das categorias anteriores, porém acrescentam-se na análise desta categoria
específica os momentos de interação que se estabeleceram entre a pesquisadora e a criança
com SD, devido ao fato de esta ficar, na maior parte dos momentos da aula, alheia às
discussões e/ou produções do grupo. Desse modo, como a observação participante permite a
participação ativa do pesquisador no contexto investigado, optou-se por observar a categoria
de apropriação do conceito de base alfabética a partir das interações entre a pesquisadora e a
criança com SD.
Porém, antes de iniciar a análise é importante que se descreva o contexto da sala de aula
investigada no mês de início das observações. É essencial compreendê-lo para acompanhar o
progresso do grupo, nos meses que se seguiram.
Professora – (Traça dois círculos no chão e coloca meninos em um e meninas em
outro. Eles se empurram, xingam, se jogam no chão...). Nós formamos dois
conjuntos. O que tem de diferente nos dois conjuntos?
Taíse – Um é de mulher e o outro é de homem.
Professora - (Faz o registro no quadro de um círculo contendo a palavra meninos e
outro contendo a palavra meninas). Agora podem se sentar.
(Recomeçam as brigas e os xingamentos. A professora tenta conversar).
Edvaldo – Né comigo não.
(Enquanto a professora tenta acalmar Edvaldo, alguns alunos desenham, inclusive
Bianca. Ela mostra, à pesquisadora, seu desenho. A professora tenta recomeçar a
explicação, mas os alunos não permitem: gritam, levantam, xingam, dão cabriola,
saem da sala...)
Professora – (Escreve no quadro: Separe os objetos nos grupos. Ela escreve as
seguintes palavras: bola, lápis, caderno, boneca, arranjo).
Edvaldo – (Se levanta e bate no colega Selton, Francisco vem defender. Eles riem. A
professora não consegue explicar a tarefa proposta).
Cs – (Gritam) Vai sair pau, vai sair pau!
Professora – Edvaldo, se você continuar eu vou te levar para secretaria.
Edvaldo – (Chorando) Ô pró, eu não vou abusar mais não. Me dá uma caneta que eu
faço o dever.
Professora – (Retoma a explicação) Leiam o que a pró escreveu aqui.
Selton – (Decodifica com dificuldade) Se – pa – re... Separe a sílaba (fala por
antecipação)
Professora – Não. Separe os objetos.
Danilo – (Levanta-se do seu lugar e com o dedo indicador em riste, pergunta a
Selton) O que você ta me olhando? O que você quer comigo?
Selton – (Bate no dedo dele e diz) Eu não quero nada não.
Fernando – (Se levanta e arrasta Danilo pelo pescoço) Senta aí cara.
Edvaldo – (Dirigindo-se a Selton) Não bata no cara não que ele é meu coligado, viu?
(Ameaça bater em Selton).
Professora – Edvaldo, você já esta em pé?
(Já são 14:30 h e a professora ainda não conseguiu continuar a aula e resolve levar
Willian, que havia acabado de se levantar, para a secretaria).
Fernando – (Enquanto a professora está fora ele se levanta e diz) Se ninguém ficar
quieto agora, eu dou um cascudo para afundar a cabeça.