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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM AGRONEGÓCIOS
CRIAÇÃO DE CONHECIMENTO EM PROPRIEDADES RURAIS NO
RIO GRANDE DO SUL, BRASIL E EM QUEENSLAND, AUSTRÁLIA
ERLAINE BINOTTO
Porto Alegre
2005
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM AGRONEGÓCIOS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONEGÓCIOS
CRIAÇÃO DE CONHECIMENTO EM PROPRIEDADES RURAIS NO
RIO GRANDE DO SUL, BRASIL E EM QUEENSLAND, AUSTRÁLIA
Erlaine Binotto
Orientadora: Professora-Doutora Marina Keiko Nakayama
Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Agronegócios do Centro de Estudos e
Pesquisas em Agronegócios da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul como requisito parcial para a
obtenção do título de Doutor em Agronegócios.
Porto Alegre
2005
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Ficha Catalográfica
B614 Binotto, Erlaine
Criação de Conhecimento em Propriedades Rurais no
Rio Grande do Sul, Brasil e em Queensland, Austrália/
Erlaine Binotto – Porto Alegre, 2005.
268f.
Tese (Doutorado) UFRGS. Centro de Estudos e
Pesquisas em Agronegócios, 2005.
1.Criação de Conhecimento 2. Agronegócios
3. Cooperativa Agrícola 4. Comunidades de Prática 5. Título
CDU:
4
Aos meus pais, Arlindo e Ermilda,
com pouca educação formal e muito conhecimento
empírico ensinaram-me o valor da seriedade e da paixão
em tudo o que se empreende na vida, possibilitando-me
progredir na busca dos objetivos
Ao meu marido Eduardo,
um grande companheiro durante toda caminhada
5
AGRADECIMENTOS
O processo de construção de uma tese dá a impressão de um trabalho individualizado
e, até certo ponto, solitário, que requer muita força de vontade e determinação em face das
diferentes situações enfrentadas no período de quatro anos. A minha experiência pessoal
durante esse processo foi muito gratificante e houve momentos que representaram o ápice da
felicidade e da realização. Inúmeras pessoas e instituições foram significativamente
importantes e contribuíram para que este estudo se tornasse possível.
Desejo aqui dizer muito obrigada a essas pessoas e instituições pelo suporte
intelectual, emocional e financeiro, cujo aprendizado não somente se referiu a lições
acadêmicas, mas também a lições de vida.
À minha família, principalmente aos meus pais, por terem me educado de uma forma
que a dedicação e a disciplina são importantes em todos os momentos, e aos meus irmãos e
demais familiares, por compreenderem as ausências, ansiedades e angústias durante esse
período; ainda, aos meus sobrinhos, por me trazerem surpresas, alegrias e momentos tão
agradáveis.
Ao meu marido Eduardo, companheiro incansável, obrigada pelo estímulo, pelo amor
e compreensão durante as diferentes fases e por todos os momentos vividos.
À minha orientadora, Profª Drª Marina Keiko Nakayama, pelo incondicional apoio
em todos os momentos, além de ser uma grande mestra, uma amiga. Obrigada por entender
meu processo de evolução e por oferecer-me momentos de aprendizado tão agradáveis.
Aos meus amigos Elenice, Ana Cláudia, Bianca, Regina, Ricardo, Joemir, Ivete,
Renato e Carine, Paulo e Sandra, Gilmar e Mara e as crianças; Osvaldo e Elizete e as
crianças, pelo carinho, compreensão, estímulo em todos os momentos. Aos demais amigos
que, de uma forma ou outra, compartilharam comigo esses momentos de aprendizagem.
Ao Eleri Hamer, por oferecer-me uma base de dados em sua dissertação de mestrado,
oportunizando-me a continuidade da pesquisa, e pelos momentos de aprendizado conjuntos.
Ao Programa de Pós-Graduação em Agronegócios PPG-Agronegócios e seus
professores, por oportunizarem avanços importantes no conhecimento, e aos funcionários,
por me acompanharem e darem suporte durante esses anos.
Ao PPGA e aos seus professores, que, através das discussões, pesquisas e seminários,
ofereceram importantes contribuições ao trabalho, além da disponibilização da estrutura
física para desenvolvimento de algumas atividades. Especial agradecimento ao Prof. Paulo
D. Motta, pela amizade e pelas discussões.
6
À Comissão de Aperfeiçoamento de Ensino Superior Capes, pelo apoio financeiro
durante os quatro anos e, principalmente, por viabilizar a oportunidade de desenvolver meus
estudos no exterior.
À Universidade de Queensland, através da professora Dr.ª Kim Bryceson, que me
recebeu, orientou meu trabalho, apoiou-me em diferentes momentos. Obrigada pelo
profissionalismo e pelas agradáveis discussões durante o período de estágio, que me
oportunizaram ampliar os horizontes. Aos demais professores, alunos e staffs da
universidade, Stephanie, Julie, Malcoln, Rob, Collins, Rui, Sofia, Ofélia, Lygia, pela amizade,
auxílio e agradáveis discussões nos seminários, nas conversas nas salas de estudo, nos
corredores, no café e no horário de almoço.
Aos profissionais do Department Prime Industry and Fisheries DPI&F, pela
atenção e por me proporcionarem importantes informações para a pesquisa.
Aos amigos brasileiros na Austrália, Sérgio, Taissa e as meninas, um especial
agradecimento por nos ambientarem no país; Lucio, Rosa e os meninos; Reinaldo e
Cristiane; André, Patrícia e as meninas. A todos vocês, um especial agradecimento pelas
oportunidades de convívio e discussões, enfim, por todos os momentos vividos.
À Cotrijal e seus associados, por me oferecerem informações relevantes e tornarem
possível a realização do trabalho. Um agradecimento especial aos associados que
participaram da pesquisa, ao gerente de produção Gelson Mello Lima, ao responsável pela
comunicação Enio Schroeder e aos agrônomos do Departamento Técnico. Agradeço por me
receberem de portas abertas, me darem suporte e viabilizarem a obtenção das informações.
Aos produtores rurais australianos, por contribuírem com importantes informações.
Meus agradecimentos às pessoas que compreenderam as dificuldades na realização da
pesquisa, que cooperaram, amigavelmente, na organização dos focus groups, Evan Reis e
Caroline Harris. Esta última por ter sido tão gentil ao hospedar-me em sua casa, por
organizar um jantar especial para que o grupo se encontrasse e a pesquisa fosse possível. Ao
John Harris, por oferecer o espaço da sua confortável casa e possibilitar-me compartilhar
momentos de confraternização com o grupo de produtores australianos.
Aos demais produtores rurais australianos e amigos John e Diane, Marg e Frank.
Gostaria de dizer que foi muito agradável poder ter permanecido nas residências de vocês e
aprender mais sobre agronegócios, cooperativas, costumes, enfim, a cultura de uma maneira
geral. Especialmente a Marg, por me receber em sua casa várias vezes e por não ter medido
esforços para a concretização da minha pesquisa.
Por fim, acredito que a maior parte dos momentos vividos nesse período foi de muito
prazer e alegria, tendo a oportunidade de construir, de aprender e realizar. Obrigada a Deus
pela força, serenidade e amparo para que fosse possível concretizar mais essa fase de minha
vida. Acredito que a saudade desses momentos será eterna e cabe dizer: VALEU A PENA
MESMO!
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“É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto, o nosso
nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence”.
Cecília Meireles
8
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
RESUMO
ABSTRACT
CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 18
1.1 PROBLEMÁTICA EMPÍRICA – AS MUDANÇAS NO AGRONEGÓCIOS E AS
NOVAS FERRAMENTAS REQUERIDAS PARA O GERENCIAMENTO....................... 18
1.2 PROBLEMÁTICA TEÓRICA - A NECESSIDADE DE UM MÉTODO DINÂMICO DE
ANÁLISE DA CRIAÇÃO DE CONHECIMENTO PARA O ELO DA PRODUÇÃO NO
AGRONEGÓCIOS................................................................................................................. 21
1.3 OBJETIVOS DESTA TESE............................................................................................. 23
1.3.1 Objetivo Geral................................................................................................................ 23
1.3.2 Objetivos Específicos..................................................................................................... 23
1.4 JUSTIFICATIVAS........................................................................................................... 23
1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO........................ 26
CAPÍTULO 2 REVISÃO TEÓRICA................................................................................. 28
2.1 O QUE É CONHECIMENTO.......................................................................................... 30
2.2 GESTÃO DO CONHECIMENTO................................................................................... 37
2.2.1 Capital Intelectual e sua Relação com o Conhecimento................................................ 39
2.2.2 Inovação e Gerenciamento do Risco ............................................................................. 42
2.3 DIMENSÕES DO CONHECIMENTO............................................................................ 44
2.4 MODELO DE CRIAÇÃO DE CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL.................... 49
2.4.1 Conversão do Conhecimento: Interação entre o Conhecimento Tácito e o Conhecimento
Explícito.................................................................................................................................. 51
2.4.2 Condições Capacitadoras da Criação de Conhecimento Organizacional...................... 55
2.4.3 Cinco Fases do Processo de Criação de Conhecimento................................................. 57
9
2.5 APRENDIZAGEM NAS ORGANIZAÇÕES.................................................................. 60
2.5.1 Cultura e Cultura de Aprendizagem............................................................................... 69
2.5.2 Como o Produtor Rural Aprende................................................................................... 71
2.6 COMUNIDADES DE PRÁTICA..................................................................................... 74
CAPÍTULO 3 AGRONEGÓCIOS..................................................................................... 84
3.1 CONCEITOS INTRODUTÓRIOS................................................................................... 84
3.2 CENÁRIO BRASILEIRO................................................................................................ 86
3.3 CENÁRIO AUSTRALIANO........................................................................................... 89
3.4 COOPERATIVAS AGRÍCOLAS.................................................................................... 92
3.4.1 História das Cooperativas.............................................................................................. 92
3.4.2 Cooperativas Agrícolas no Brasil.................................................................................. 95
3.4.3 Cooperativas Agrícolas na Austrália.............................................................................. 96
3.4.4 O Questionamento do Modelo de Cooperativa Existente, a Nova Geração de
Cooperativas e a Internacionalização..................................................................................... 99
3.5 O GERENCIAMENTO DA PROPRIEDADE .............................................................. 107
3.6 CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM X COOPERATIVA OU NEGÓCIOS
INDIVIDUAIS X COMUNIDADE DE PRÁTICA............................................................. 108
CAPÍTULO 4 A PESQUISA............................................................................................. 110
4.1 ESTRATÉGIAS ORIENTADORAS DA PESQUISA................................................... 110
4.2 POPULAÇÃO-ALVO DA PESQUISA......................................................................... 112
4.3 TÉCNICAS UTILIZADAS NA COLETA DE DADOS................................................ 114
4.3.1 Documentos e Observação in loco .............................................................................. 114
4.3.2 Questionário................................................................................................................. 115
4.3.3 Entrevista..................................................................................................................... 115
4.3.4 Focus Group................................................................................................................ 116
4.4 MÉTODO PARA ANÁLISE DOS DADOS.................................................................. 120
4.5 DESENHO GERAL DA PESQUISA............................................................................. 123
4.5.1.Fase Preliminar............................................................................................................ 127
4.5.2 Fase de Desenvolvimento............................................................................................ 128
4.5.3 Fase de Construção ..................................................................................................... 142
4.6 VARIÁVEIS E FONTES DE EVIDÊNCIAS................................................................ 142
4.7 A COOPERATIVA ESTUDADA - COTRIJAL............................................................ 142
CAPÍTULO 5 RESULTADOS DA PESQUISA.............................................................. 147
5.1 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA NO BRASIL E NA
AUSTRÁLIA........................................................................................................................ 147
ix
10
5.2 DESCRIÇÃO DOS DADOS SOCIOECONÔMICOS E DOS REFERENTES À
UTILIZAÇÃO DA INFORMÁTICA NAS PROPRIEDADES RURAIS........................... 148
5.2.1 Brasil............................................................................................................................ 148
5.2.2 Austrália....................................................................................................................... 150
5.3 MODOS DE CONVERSÃO DO CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL.............. 152
5.3.1 Brasil............................................................................................................................ 152
5.3.2 Austrália....................................................................................................................... 166
5.4 AS CONDIÇÕES CAPACITADORAS PARA A CRIAÇÃO DE CONHECIMENTO
ORGANIZACIONAL........................................................................................................... 178
5.4.1 Brasil............................................................................................................................ 178
5.4.2 Austrália....................................................................................................................... 185
5.5 O MODELO DE CINCO FASES DO PROCESSO DE CRIAÇÃO DE
CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL.......................................................................... 191
5.5.1 Brasil............................................................................................................................ 191
5.5.2 Austrália....................................................................................................................... 198
5.6 APRENDIZAGEM INDIVIDUAL, COLETIVO E ORGANIZACIONAL.................. 205
5.6.1 Brasil............................................................................................................................ 205
5.6.2 Austrália....................................................................................................................... 207
5.7 COMUNIDADES DE PRÁTICA (CoPs) ...................................................................... 209
5.7.1 Brasil............................................................................................................................ 209
5.7.2 Austrália....................................................................................................................... 210
5.8 SIMILARIDADES E DIFERENÇAS ENTRE AS REALIDADES ESTUDADAS...... 212
5.8.1 Similaridades Entre as Realidades Estudadas.............................................................. 212
5.8.2 Diferenças Entre as Realidades Estudadas................................................................... 213
5.9 CONTRIBUIÇÕES PARA O MODELO DE NONAKA E TAKEUCHI (1997)
APLICADO AO AGRONEGÓCIOS................................................................................... 213
5.10 REPRESENTAÇÃO DA CRIAÇÃO DE CONHECIMENTO NO AGRONEGÓCIOS
BRASILEIRO E AUSTRALIANO...................................................................................... 214
5.11 MÉTODO DINÂMICO DE ANÁLISE DA CRIAÇÃO DE CONHECIMENTO PARA
O ELO DA PRODUÇÃO NO AGRONEGÓCIOS............................................................. 221
CONSIDERAÇÕES FINAIS E EVIDÊNCIAS............................................................... 225
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................. 232
APÊNDICES........................................................................................................................ 249
Apêndice A Questionário da pesquisa no Brasil................................................................. 250
Apêndice B Roteiro de questões para as entrevistas semi-estruturadas no Brasil.............. 253
Apêndice C Consentimento informado para questionários e entrevistas no Brasil............ 254
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11
Apêndice D Consentimento informado para focus groups no Brasil.................................. 255
Apêndice E Roteiro de questões para o focus group no Brasil........................................... 256
Apêndice F Roteiro de questões - entrevista com os gerentes da cooperativa no Brasil.... 257
Apêndice G Questionário da pesquisa na Austrália............................................................ 258
Apêndice H Roteiro de questões para o focus group na Austrália..................................... 262
Apêndice I Consentimento informado para focus group na Austrália................................ 263
Apêndice J Material sobre cooperativas no Brasil para o focus group............................... 264
Apêndice K Roteiro de questões para a entrevista com DPI&F na Austrália..................... 265
ANEXOS.............................................................................................................................. 266
Anexo A Carta do DPI&F................................................................................................... 267
Anexa B Relação de atividades desenvolvidas durante o estágio na Austrália.................. 268
xi
12
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Estrutura da tese...................................................................................................... 26
Figura 2 Ferramentas gerenciais através das décadas........................................................... 29
Figura 3 Dado, informação e conhecimento......................................................................... 34
Figura 4 Contexto da gestão do conhecimento..................................................................... 39
Figura 5 Dimensões do conhecimento.................................................................................. 45
Figura 6 Interação do conhecimento..................................................................................... 48
Figura 7 Espiral e conteúdo do conhecimento criado pelos quatro modos........................... 53
Figura 8 Espiral de criação do conhecimento organizacional............................................... 54
Figura 9 Modelo de cinco fases do processo de criação de conhecimento........................... 57
Figura 10 Modelo integrado de aprendizagem...................................................................... 63
Figura 11 Interação entre aprendizagem e conhecimento organizacional............................. 68
Figura 12 Integração das teorias .......................................................................................... 82
Figura 13 Mapa cognitivo da pesquisa................................................................................. 83
Figura 14 Questões ligadas ao modelo atual de cooperativa.............................................. 106
Figura 15 Inter-relação das teorias ..................................................................................... 108
Figura 16 Amplitude da inter-relação das teorias............................................................... 109
Figura 17 Estrutura para análise de conteúdo..................................................................... 121
Figura 18 Mapa do Rio Grande do Sul: área onde a pesquisa foi desenvolvida................ 123
Figura 19 Mapa da Austrália: estado de Queensland.......................................................... 124
Figura 20 Mapa de Queensland: área onde a pesquisa foi desenvolvida........................... 124
Figura 21 Etapas da pesquisa ............................................................................................. 125
Figura 22 Desenho geral da pesquisa.................................................................................. 126
Figura 23 Fatores que envolvem o processo de criação de conhecimento no elo da produção
no agronegócios brasileiro e australiano............................................................................... 215
Figura 24 Método dinâmico de análise da criação de conhecimento para o elo da produção no
agronegócios......................................................................................................................... 222
13
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Exportações do Brasil em 2003............................................................................... 86
Tabela 2 Importações do Brasil em 2003............................................................................... 87
Tabela 3 Principais destinos das exportações do Brasil em 2003.......................................... 87
Tabela 4 Principais origens das importações do Brasil em 2003........................................... 87
Tabela 5 Exportações da Austrália/2003-2004...................................................................... 89
Tabela 6 Importações da Austrália/2003-2004...................................................................... 89
Tabela 7 Principais destinos das exportações da Austrália/2003-2004................................. 90
Tabela 8 Principais origens das importações da Austrália/2003-2004.................................. 90
Tabela 9 Escolaridade dos colaboradores no Brasil............................................................. 148
Tabela 10 Faixa etária dos colaboradores no Brasil............................................................. 149
Tabela 11 Atividades dos pesquisados na Austrália............................................................ 150
Tabela 12 Nível educacional dos colaboradores na Austrália.............................................. 151
Tabela 13 Faixa etária dos colaboradores na Austrália........................................................ 151
14
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Conceitos de conhecimento e ênfases.................................................................... 36
Quadro 2 Formas de diferenciar o aprendizado..................................................................... 65
Quadro 3 Comparação de CoP com outras formas de organização....................................... 78
Quadro 4 - Diferenças entre o modelo tradicional de cooperativa e a NGC´s...................... 104
Quadro 5 Focus groups no Brasil........................................................................................ 134
Quadro 6 Focus groups na Austrália................................................................................... 142
Quadro 7 Síntese dos modos de conversão do conhecimento no Brasil.............................. 165
Quadro 8 Síntese dos modos de conversão do conhecimento na Austrália......................... 177
Quadro 9 Síntese das condições capacitadoras da criação de conhecimento no Brasil...... 184
Quadro 10 Síntese das condições capacitadoras da criação de conhecimento na
Austrália................................................................................................................................ 191
Quadro 11 Síntese das cinco fases da criação de conhecimento no Brasil.......................... 198
Quadro 12 Síntese das cinco fases da criação de conhecimento na Austrália..................... 204
Quadro 13 Diferenças entre as realidades estudadas............................................................ 213
15
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABARE - Australian Bureau of Agricultural and Resource Economics
ABS - Australian Bureau of Statistics
AEB – Associação de Comércio Exterior do Brasil
BCB - Banco Central do Brasil
CIA - The World Factbook
CoP – Comunidade de Prática
COTRIJAL – Cooperativa Tritícola Mista Alto Jacuí Ltda
DFAT - Department of Foreign Affairs and Trade
DPI &F – Department Prime Industry and Fisheries
FEE - Fundação de Economia e Estatística do Estado do RS
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
NGC’s – Nova Geração de Cooperativas
OECD - Organisation for Economic Co-operation and Development
RFB - República Federativa do Brasil
SCA - Standing Committee on Agriculture
SECEX - Secretaria de Comércio Exterior
16
RESUMO
A realidade de mudanças no agronegócios requer novas ferramentas gerenciais dos
proprietários rurais e o conhecimento ganha importância como fator gerador de diferencial
competitivo. O objetivo desta tese é desenvolver um método dinâmico de análise da criação
de conhecimento para o elo da produção no agronegócios no Brasil e na Austrália com base
no modelo de Nonaka e Takeuchi (1997). A presente pesquisa caracteriza-se por um estudo
descritivo de caráter qualitativo, complementada por dados quantitativos. É realizado um
estudo de dois casos, utilizando-se de documentação e observação in loco, questionário,
entrevista e focus group. As realidades estudadas localizam-se no Rio Grande do Sul, Brasil, e
em Queensland, na Austrália. Os dados da pesquisa possibilitaram o desenvolvimento de uma
figura representativa do modo como ocorre a criação de conhecimento nas duas realidades.
Da figura foi feito um desdobramento e desenvolveu-se um método dinâmico de análise da
criação de conhecimento para o elo da produção no agronegócios. Os resultados
demonstraram haver significativas similaridades e diferenças entre as realidades, sendo, no
Brasil, os produtores rurais inseridos num contexto cooperativo (Cooperativa Tritícola Mista
Alto Jacuí Cotrijal) e, na Austrália, os negócios conduzidos individualmente. Para a
ocorrência da criação de conhecimento é necessária a existência de grupos de relacionamento
e de certa liderança em nível de propriedade, de comunidades de prática (CoPs) ou da
cooperativa. O aspecto cultural e o estilo das relações pareceram exercer forte influência para
que as trocas ocorram e para a maior ampliação da atuação das CoPs, as quais podem ser
suporte para a criação de conhecimentos. As CoPs não se constituem num processo
tecnológico e, sim, num processo social e cognitivo; assim, sua formação nas CoPs não parece
depender somente de tecnologia, mas do estabelecimento de relações informais, nas quais as
pessoas podem utilizar esses ambientes para definir suas verdades quanto às suas posturas
frente aos processos de mudança. A forma de conduzir os negócios pode afetar o modo como
se a criação de conhecimento, pois, numa propriedade onde as pessoas buscam socializar,
questionar e inovar constantemente, evidencia-se haver maior espaço para transformar
conhecimento tácito em explícito; assim, pessoas mais abertas ao novo e ao questionamento
de suas práticas demonstram apresentar maiores possibilidades para criar um campo de
interação para que o conhecimento seja criado. O estudo mostrou que um grande percurso
entre o produtor rural ter conhecimento e a capacidade de torná-lo uma atitude que possibilite
trazer bons resultados nos negócios.
17
ABSTRACT
Changes in agribusiness have made new management tools necessary for farmers, with
knowledge becoming an important resource in generating competitive differences. The
objective of this thesis is: to develop a dynamic method of analysis of knowledge creation for
the production link of agribusiness in Brazil and Australia based on the Nonaka and Takeuchi
(1997) model. The research is a descriptive study, using both qualitative and quantitative data.
The investigation has involved two cases using documentation and in loco observation,
questionnaire, interview and focus group instruments. The locations under study have been
Rio Grande do Sul, Brazil and Queensland, Australia. Data have favored the development of a
picture of how knowledge creation occurs in those locations, providing information to create a
dynamic method of analysis of knowledge creation in the production link of agribusiness. The
results have demonstrated that there are some differences and similarities between farmers in
a cooperative context (Cooperativa Tritícola Mista Alto Jacuí – Cotrijal) in Brazil and farmers
individually conducting business in Australia. In order to occur knowledge creation, group
relationships and leadership in property, communities of practice (CoPs) and cooperatives are
necessary. Cultural aspects and relation styles have seemed to exert strong influence over the
occurrence of changes and to broaden the effects of CoPs, which may support knowledge
creation. A CoP is not an organized technological process, but a social and cognitive process
and, like this, its formation does not seem to be dependent only on technology, but also on the
establishment of informal relations, in which the individuals use those environments to define
their values and attitudes to the processes of change. The way farmers conduct their business
may affect the mode of knowledge creation. For instance: on a farm with people constantly
interested in interacting, questioning and innovating, there is more scope to transform tacit
knowledge into explicit one; and when people are more open to innovation and questioning
their practices, there seems to be more possibility to create a field of interaction in which
knowledge may be created. This study shows that there is a large gap between farmers’
knowledge and their ability to develop an attitude that enables improved business success.
18
CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO
Este capítulo objetiva introduzir as principais questões relativas ao tema da pesquisa.
São apresentadas as problemáticas empírica e teórica que envolve a temática, caracterizando-
se as pressuposições, os objetivos que orientam a construção desta tese e as justificativas,
tanto teóricas como práticas. A delimitação do estudo e a organização do trabalho a ser
seguida são expostas posteriormente.
1.1 PROBLEMÁTICA EMPÍRICA AS MUDANÇAS NO AGRONEGÓCIOS E AS
NOVAS FERRAMENTAS REQUERIDAS PARA O GERENCIAMENTO
O agronegócios brasileiro tem recebido especial atenção por competir em mercados
globais como grande produtor e exportador de alguns produtos agrícolas. Passando a ser
muito mais respeitado como setor econômico no país, chega a representar uma ameaça à
competitividade de muitos países, o que é resultado das mudanças no panorama econômico
mundial, as quais provocam transformações nos agronegócios local, regional, nacional e
internacional. Nesse contexto mutável, destaca-se a importância do capital humano como
meio de se buscar novas oportunidades de negócios e o gerenciamento das mudanças
(BATALHA, 2000).
No passado, não havia a clara compreensão do sistema do agronegócios e dos seus
componentes; a agricultura era baseada na produção em grande escala com trabalho intensivo
e toda a produção era absorvida pelo mercado, com os aumentos nos resultados baseando-se
na produção em massa. O foco centrava-se na produção de alguma forma de tecnologia
voltada ao setor produtivo e que seria adotada pelo produtor, responsável por desenvolver as
atividades técnicas. Esse desenvolvimento visava atender aos consumidores finais com suas
crescentes demandas pelos produtos, ou seja, os produtores eram vistos como aqueles que
adotavam ou, em alguns casos, que rejeitavam as tecnologias, não como capazes de criar
conhecimento técnico e inovação em suas atividades (THOMPSON e SCOONES, 1994).
19
Entretanto, com o processo de mudanças no contexto mundial, o conhecimento, muito
mais que o trabalho intensivo, foi se tornando a maior riqueza. Constata-se, assim, que o
paradigma
1
da produção em massa, que predominou por um longo período, não responde
mais, ou o possui mais poder explicativo, às necessidades atuais. Um paradigma
desenvolvido para um determinado conjunto de problemas pode ser incerto na aplicação a
outros fenômenos comuns. Esse enfoque oferece suporte à discussão das mudanças ocorridas
no agronegócios nas últimas décadas, as quais trazem questionamentos dos paradigmas,
necessitando de novas formas de conhecer. Para Jank (1997), as fortes mudanças estruturais
que estão acontecendo no agronegócios nesta década são fatores que determinam a
necessidade de novas relações, posturas e formas de conduta dos negócios para os envolvidos
nesse setor.
Na atualidade, os produtores rurais são vistos como gerenciadores dos negócios muito
mais do que supridores da produção primária, atuando num mercado pouco conhecido ou
sendo apenas executores de atividades técnicas. Deles são requeridas posturas gerenciais
qualificadas, com conhecimentos atualizados, habilidades e competências, com vistas a
atender a determinados mercados com crescentes exigências referentes a padrões, a qualidade
e a inovações nos produtos. Eles se tornam agentes integrados a outros agentes, atuando numa
cadeia produtiva
2
na qual o requeridas permanente qualificação e informações atualizadas,
obtidas em diferentes fontes. Isso objetiva alavancar competitividade em seus diferentes elos e
reduzir os riscos no gerenciamento. Para Vanclay (1992), ser produtor rural é uma vocação e
uma prática sociocultural mais do que uma atividade operacional.
No que se refere à informação e à qualificação de produtores, têm mudado. No
passado, o agricultor necessitava buscá-las em centros urbanos; hoje estão presentes no campo
em vários meios, viabilizando permanente atualização e qualificação dos produtores para que
direcionem sua produção de acordo com as reais necessidades dos consumidores finais.
Nessa realidade de mudanças constantes, as cooperativas agrícolas vêm assumindo
importante papel. Elas passaram, e estão passando, por adequações em suas posturas diante do
mercado uma vez que foram criadas e cresceram no período em que predominava a
agricultura tradicional. Para fazer frente à nova realidade, elas se profissionalizaram no que se
1
Paradigma é um modelo ou padrão aceito ou um conjunto de questões, problemas, métodos e teorias que são
compartilhados pela comunidade científica e que condicionam a maneira dos cientistas explicarem a realidade,
sendo raramente passível de reprodução (KUHN, 2001).
2
Cadeia produtiva como um sistema cujas partes constituintes incluem suprimento, produção, distribuição e
clientes ligados a um fluxo de feedback e informação (STEVENS, 1989).
20
refere à administração e às relações com os seus associados, buscando se adaptar às regras do
mercado e obter maior credibilidade. A cooperativa é vista hoje como uma ferramenta de
desenvolvimento do setor, dando condições para o seu cooperado progredir com base em
informações e orientações, não como uma salvadora da agricultura. Por isso, buscar-se-á
entender seu papel como estimuladora da criação de conhecimento junto aos seus associados.
Cada fase evolutiva na agricultura teve sua relevância, desde sistemas mais remotos ao
moderno agronegócios. Na atualidade, sob a égide de um novo paradigma, o conhecimento
ganha importância e atenção em diferentes contextos, tanto no nível acadêmico como na
prática em ambientes de negócios.
Binotto (2000), em estudo realizado sobre o comportamento dos produtores de aveia
branca no Rio Grande do Sul em face das mudanças tecnológicas, concluiu que é importante
entender aspectos ligados ao modo como se dão a aprendizagem e a criação de conhecimento
entre os produtores rurais. Isso se justifica pelo fato de, em seus negócios, estarem envolvidos
em atividades muito mais amplas que as operacionais, as quais requerem diferentes
habilidades e visão de negócios. Com esse enfoque, torna-se importante conhecer os
processos posteriores ao do desenvolvimento da tecnologia, pois sabe-se que no agronegócios
há muito mais fatores que a tecnologia.
Assim, um dos grandes desafios que se apresentam é como lidar eficazmente com as
informações e tomar decisões nesse ambiente de incertezas. Para isso, é necessário não apenas
processar informações, mas criar informações e conhecimentos (NONAKA, 1994). Tudo isso
está ligado ao fato de as organizações agronegociais objetivarem manter e sustentar sua
competitividade em processos, produtos e serviços, atendendo e sendo atendidas pelos
stakeholders
3
, o que é visto como uma ligação a um processo inovativo contínuo.
Esta tese consiste num estudo de como se dá a criação de conhecimento no contexto da
propriedade rural em duas realidades, uma no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, e a outra
no estado de Queensland, na Austrália. Na primeira, fazem parte da amostra produtores
associados da Cooperativa Tritícola Mista Alto Jacuí Ltda (Cotrijal), cujas atividades são
ligadas à produção de grãos; na segunda, são produtores que atuam em diferentes atividades
numa realidade sem cooperativas agrícolas como o modelo brasileiro, considerada neste
trabalho como “realidade sem cooperativas”. O estudo desenvolveu-se entre 2001 a 2004.
3
Stakeholders são pessoas (recursos humanos) ou grupos de pessoas que interferem na atividade da
organizações e podem influenciar em certas questões ou que são afetadas de qualquer forma pelo que é feito e
como é feito. Podem ser funcionários, clientes, acionistas, comunidade local e fornecedores (KOFMAN, 1996).
21
1.2 PROBLEMÁTICA TEÓRICA - A NECESSIDADE DE UM MÉTODO DINÂMICO DE
ANÁLISE DA CRIAÇÃO DE CONHECIMENTO PARA O ELO DA PRODUÇÃO NO
AGRONEGÓCIOS
O conhecimento é tão antigo quanto a própria história do homem e a importância que
vem assumindo é evidente no decorrer da história do mundo, fazendo parte da filosofia e da
epistemologia desde o período grego.
Nas últimas décadas, os estudos relacionados a conhecimento e aprendizagem têm
crescido e se centrado no ambiente organizacional de empresas públicas e privadas. No que se
refere à criação de conhecimento, tais estudos trazem modelos que tentam retratar como isso
ocorre em realidades específicas. Os trabalhos enfatizam a importância dessa riqueza presente
nas organizações e mostram-na como sendo a vantagem competitiva das empresas.
Sonka et al. (1999) trazem a noção de criação de conhecimento no agronegócios
usando o modelo de Nonaka e Takeuchi (1997), com ênfase na agricultura de precisão e na
tecnologia da informação; mostram que ocorreram significativos avanços na disponibilidade e
na capacidade de utilização da informação tecnológica nesse contexto, o que causa muitos
impactos na sociedade. Os autores referem-se à criação de conhecimento, porém não
evidenciam o modelo como um todo, detendo-se em alguns aspectos da teoria e relacionando-
os restritamente à agricultura de precisão e à tecnologia da informação.
Muito se tem falado em criação de conhecimento, mas pouco se tem estudado sobre
como esse processo se na prática, pois é evidente que os produtores rurais necessitam de
tecnologias e informações para viabilizar seus processos. Por isso, é importante também o
entendimento de como o conhecimento é criado nas rotinas diárias, pois, num mundo
caracterizado por rápidas mudanças e transformações, a habilidade das organizações de
decifrar o ambiente, de buscar contribuições nele e de responder rapidamente a ele tem
despertado interesse tanto teórico quanto prático.
Os modelos criados para retratar ambientes específicos parecem não oferecer suporte
suficiente ou dinamicidade para o entendimento do modo como ocorre a criação de
conhecimento no ambiente agronegocial com enfoque teórico e prático. Nessa realidade, o
conhecimento tácito é importante, uma vez que o seu acúmulo e a sua não-explicitação em
certos grupos ou pessoas podem vir a dificultar as relações, por o se ter noção do que, de
22
fato, está acontecendo, bem como podem causar dificuldades no desenvolvimento eficaz de
algumas atividades.
Diante da complexidade dessa realidade agronegocial, o ponto de partida para a análise
terá como base o modelo de Nonaka e Takeuchi (1997) nas realidades brasileira e australiana.
A realização do estudo na realidade australiana objetivou ampliar os conhecimentos em uma
realidade diferente sem ter o intuito de comparar.
Assim, algumas pressuposições visam dar suporte à construção teórica.
Pressuposição 1: Acredita-se que as cooperativas agrícolas exercem importante papel
na estimulação da criação de conhecimento, uma vez que podem ser instrumentos de
estímulo e encorajamento aos associados na busca por aperfeiçoamentos e adoção de
inovações.
Pressuposição 2: Os produtores agrícolas constituem-se em comunidades de prática
(CoPs)
4
, as quais podem ser suporte à criação de conhecimento. A capacidade humana
de conhecer e aprender parece estar limitada apenas à parte do que se conhece através
da observação e da experiência direta ou de ouvir de outras pessoas sobre suas
experiências e observações.
Pressuposição 3: As formas utilizadas pelos produtores para conduzir seus negócios
podem afetar o processo de criação de conhecimento, pois o conhecimento mais
provavelmente é transferido com sucesso quando encontra uma necessidade ou um
vácuo a ser preenchido.
Pressuposição 4: A construção de um método dinâmico de análise pode dar suporte ao
entendimento da complexa realidade do agronegócios, evidenciando onde teoria e
prática andam juntas. Percebe-se que é necessário desenvolver um método dinâmico
de análise, que retrate especificamente a realidade do agronegócios nas suas
particularidades, contemplando as inúmeras variáveis envolvidas nesse setor. Por isso,
a partir do modelo de Nonaka e Takeuchi (1997), objetiva-se desenvolver um novo
método de análise, mais ajustado à realidade do elo da produção no agronegócios, e
evoluir dentro do dinamismo requerido pelo contexto de mudanças rápidas e
evolutivas.
4
Comunidades de prática (CoPs) são grupos de pessoas que se reúnem para compartilhar o que sabem, para
aprender entre si sobre alguns aspectos dos seus trabalhos e para oferecer um contexto social para determinado
trabalho (WENGER, 1996).
23
Para dar suporte a essa ampla abordagem que envolve muitos aspectos sociais
resultantes da interação das pessoas, a aprendizagem organizacional
5
, CoPs e cultura fazem
parte dessa construção teórica.
Sendo assim, a questão central desta tese é:
Que fatores devem estar presentes em um método dinâmico de análise da criação de
conhecimento para o elo da produção no agronegócios?
1.3 OBJETIVOS DESTA TESE
1.3.1 Objetivo Geral
Desenvolver um método dinâmico de análise da criação de conhecimento para o
elo da produção no agronegócios no Brasil e na Austrália com base no modelo de
Nonaka e Takeuchi (1997).
1.3.2 Objetivos Específicos
Conhecer como se a criação de conhecimento em propriedades rurais no Brasil
e na Austrália.
Identificar aspectos nas relações entre os produtores rurais que podem auxiliar na
compreensão da aprendizagem e das CoPs nesses contextos.
Verificar se a cooperativa no Brasil e as empresas privadas e/ou governamentais
na Austrália estimulam a criação de conhecimento nas CoPs de produtores rurais.
1.4 JUSTIFICATIVAS
A relevância teórica deste estudo está na contribuição metodológica e analítica através
da construção de um método dinâmico de análise para o estudo da criação de conhecimento
no agronegócios, oferecendo uma faceta mais real para os aspectos intangíveis.
5
Aprendizagem organizacional é vista como a aquisição de conhecimento, distribuição da informação,
24
Com relação à relevância prática, ressalta-se a contribuição para o entendimento da
dinâmica que envolve a criação de conhecimento em propriedades rurais em duas realidades
distintas do agronegócios, visto que muito do conhecimento existente entre os produtores
rurais é desenvolvido através de suas práticas na realização de experimentos, bem como nas
trocas de informações de indivíduo para indivíduo, nos grupos e com a cooperativa ou outra
organização. Isso ocorre pela necessidade de acompanhar os processos de modernização da
agricultura, de adequar as atividades, os processos e as práticas às suas necessidades. Muitos
desses procedimentos parecem ocorrer nas CoPs de produtores, onde, primeiramente, os
problemas são compartilhados e as soluções, identificadas em suas práticas diárias,
promovendo inovações em suas atividades.
O conceito de criação de conhecimento elaborado para este estudo é: o esforço
permanente e sistematizado na busca de melhorias e inovações na prática cotidiana, essas
resultantes do conhecimento-base, das interações, das trocas e das oportunidades de
atualização, tendo como foco os objetivos individuais, grupais, organizacionais e
interorganizacionais.
O estudo objetiva também, de alguma forma, conhecer as similaridades e diferenças
presentes nas realidades, bem como entender como as diversas formas de conduzir os
negócios podem causar impacto na criação de conhecimento nos dois países, que possuem
suas economias calcadas no agronegócios, tendo grande importância no que se refere às
exportações, ao produto interno bruto (PIB) e à mão-de-obra utilizada nesse setor. Ambos os
países atuam no mercado mundial competindo com produtos similares, tais como açúcar,
frango, carne de gado e suína, dentre outros. Neles, o agronegócios possui sua importância
também na produção de alimentos e diferentes segmentos utilizam-se de vários produtos que
têm como origem esse setor.
Dentre as várias razões que instigam a realização deste estudo a mais relevante é:
conhecer como os produtores criam novos conhecimentos, métodos e formas de organizar o
trabalho quando lidam com seus produtos, processos, estratégias, sistemas e formas de
organizar suas atividades. Nisso estão incluídas as formas de processar, disseminar e
compartilhar as informações e conhecimentos em contextos informais das CoPs de acordo
com as circunstâncias e especificidades das realidades.
interpretação da informação e memória organizacional (Huber, 1991).
25
Além disso, acredita-se que a melhor utilização do conhecimento pode reduzir as
incertezas nos cenários do agronegócios e promover processos inovativos, ou, mesmo, poder-
se-á aceitar mais formalmente a existência de importantes conhecimentos nas CoPs de
produtores e entender como são gerados dentro e entre elas. A criação de conhecimento tem
sua importância quando gera processos inovativos, bem como o desenvolvimento dos
indivíduos envolvidos; o conhecimento simplesmente criado, sem ser colocado em prática,
parece perder o seu sentido.
Com um melhor entendimento dos aspectos que envolvem a criação de conhecimento
no meio rural, acredita-se poder responder mais rapidamente às demandas da sociedade, dos
governos, das empresas privadas, das cooperativas, das universidades, dos centros de pesquisa
e de extensão; ainda, poder oferecer melhores ferramentas para os processos de qualificação
profissional para tornar os indivíduos mais hábeis para gerir os riscos dos seus negócios ao
utilizarem inovadoras tecnologias disponíveis em produtos, processos e serviços.
Com isso, torna-se importante conhecer melhor a respeito do conhecimento presente
no agronegócios através da construção de um método dinâmico de análise e, ao mesmo
tempo, poder dar-lhe a devida importância considerando sua intangibilidade. O conhecimento
está presente nos níveis individual, coletivo, organizacional e interorganizacional, podendo
viabilizar e/ou aumentar as capacidades inovativa e competitiva nos negócios. Segundo
Robbins (1999), uma diferença no que se refere aos comportamentos e à forma de pensar
dos indivíduos quando agem individualmente, em grupo ou na organização, sendo quase
impossível o estabelecimento de uniformidade nos comportamentos nesses três níveis.
Em síntese, a tese tem como principal justificativa o desenvolvimento de um estudo
dentro desse enfoque, que é a busca da compreensão de como se a criação de
conhecimento nas propriedades rurais nas duas realidades. Esse estudo é importante em
diferentes áreas:
para os pesquisadores, na tentativa de melhor compreensão de como o gestor
obtém o conhecimento para melhor direcionar sua atenção na construção de teorias
que auxiliem no aprimoramento das empresas agronegociais;
para a academia, podendo auxiliar no direcionamento para a obtenção e
propagação do conhecimento ao ter como foco o aperfeiçoamento do desempenho;
26
para a sociedade, podendo auxiliar na geração de empresas mais fortes
economicamente e mais comprometidas socialmente, gerando maior competitividade
diante do mercado global;
para as organizações e os gestores, por poder contribuir para a reflexão acerca do
conhecimento presente nesse meio e do modo como pode ser utilizado para maximizar
a eficiência e eficácia das organizações. Eles poderão também encontrar formas de
melhor entender como as diferentes maneiras de conduzir negócios podem gerar
competitividade nesses países.
1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
Há uma diversidade de análises dando ênfase à questão do conhecimento. Nesta tese, o
foco será a criação de conhecimento em propriedades rurais em duas realidades, uma no
estado de Queensland e outra no Rio Grande do Sul. A delimitação do estudo aos dois estados
deveu-se aos limites de tempo e de recursos para o desenvolvimento da pesquisa e, também,
por se considerar que cada estado do Brasil, bem como da Austrália, possui suas
particularidades no que se refere à produção, ao clima e a outros aspectos, o que poderia
dificultar as análises das situações diferenciadas no estudo. Assim, optou-se por dar ênfase
restrita a esses dois estados de cada país. Salienta-se também que, no decorrer das descrições,
quando a referência for ao Brasil e à Austrália, será feita especificamente a esses estados. Para
dar suporte ao entendimento dessa temática, o presente trabalho está assim estruturado:
Figura 1 Estrutura da tese
Fonte: Elaborado pela autora
INTRODUÇÃO
A problemática e
os aspectos que
auxiliam na
construção da tese
REVISÃO
TEÓRICA
Conhecimento
modelo de criação
de conhecimento
e conceitos que
complementam
essa temática
AGRONEGÓCIOS
Cenário brasileiro,
australiano e
cooperativas
PESQUISA
Metodologia
e métodos
adotados
nesta tese
RESULTADOS
DA PESQUISA
Dados obtidos
na pesquisa e
análise
MÉTODO
DINÂMICO
DE
ANÁLISE
da criação de
conhecimento
no elo da
produção no
agronegócios
27
No capítulo 1 apresentam-se a problemática empírica e a teórica, a questão de
pesquisa, as pressuposições, os objetivos que orientam a construção da tese, as justificativas, a
delimitação do estudo e organização do trabalho.
No capítulo 2 é apresentado o referencial teórico amplo, abordando o que é
conhecimento, gestão do conhecimento, incluindo capital intelectual, inovação e
gerenciamento do risco, as dimensões do conhecimento, modelo de criação de conhecimento
organizacional, aprendizagem nas organizações, cultura e cultura de aprendizagem, como os
produtores rurais aprendem e, por fim, as CoPs.
No capítulo 3 a ênfase centra-se no agronegócios. São descritos os cenários brasileiro
e australiano, as cooperativas agrícolas, a história e as realidades brasileira e australiana, o
questionamento do modelo de cooperativa existente, a nova geração de cooperativas e a
internacionalização e o gerenciamento da propriedade.
O capítulo 4 expõe a metodologia com as estratégias orientadoras da pesquisa e o
método adotado, seguindo-se a apresentação da cooperativa estudada – Cotrijal.
No capítulo 5 faz-se a apresentação dos resultados da pesquisa nas diferentes
realidades com base no modelo de criação de conhecimento de Nonaka e Takeuchi (1997).
Analisam-se o processo de aprendizagem individual, coletivo e organizacional, as CoPs e as
similaridades e diferenças entre essas realidades. Posteriormente, trata-se da representação da
criação de conhecimento nos agronegócios brasileiro e australiano e, por fim, do método
dinâmico de análise da criação de conhecimento para o elo da produção no agronegócios.
Finalmente, apresentam-se as considerações finais e as evidências, as referências
bibliográficas, apêndices e os anexos.
28
CAPÍTULO 2 REVISÃO TEÓRICA
Este capítulo oferece o embasamento teórico considerado necessário para o
desenvolvimento deste estudo, permitindo a identificação preliminar de aspectos relevantes.
Dá-se maior atenção às abordagens mais identificadas com o objeto de estudo do presente
trabalho. A ênfase centra-se em apresentar o que é conhecimento, a gestão do conhecimento,
incluindo o capital intelectual, a inovação e o gerenciamento do risco. A seguir, são mostradas
as dimensões do conhecimento, o modelo de criação de conhecimento organizacional, a
aprendizagem e as CoPs.
O interesse em conhecimento organizacional associado à aprendizagem tem crescido
nos últimos tempos, com alguns autores considerando que são as maiores fontes de vantagem
competitiva (DRUCKER, 1988; PRAHALAD e HAMEL, 1990; STARBUCK, 1992;
KOGUT e ZANDER, 1996) ou a maior fonte do sucesso (VON KROGH e GRAND, 1999).
Outros (BARNEY, 1986a; PAWLOWSKY, 2001) dão ênfase aos aspectos culturais nas suas
análises. Fiol e Lyles (1985), Bedeian (1986), Huber (1991) e Shrivastava (1983) consideram
a literatura sobre aprendizagem e conhecimento bastante segmentada, pois traz resultados que
necessitam de maior refinamento para terem aplicabilidade.
Para Spender (1996), a literatura sobre este tema apresenta-se bastante positivista, por
tratar os atores como objetos cujos comportamentos podem ser facilmente observados e
elaborados. A noção de conhecimento parece ingenuamente positivista e a de aprendizado,
simplesmente mecânica. Para o autor, necessidade de se utilizar o todo interpretativo
focando a subjetividade que nos comportamentos dos indivíduos para se obter resultados
mais abrangentes e aplicáveis a outros estudos.
As análises têm tomado direções diferenciadas na tentativa de buscar um
entendimento e encontrar alternativas que auxiliem as organizações a fazerem frente a esse
novo cenário. A visão baseada em recursos e a perspectiva de competências têm evidenciado
mudanças significativas no foco estratégico das empresas (NELSON e WINTER, 1982;
BARNEY, 1991) . Surgiram teorias tentando dar um novo foco à análise, tais como a teoria
da firma (MACHLUP, 1967; GRANT, 1996b), a dos custos de transação (WILLIAMSON e
29
MASTEN, 1999), a comportamental (CYERT e MARCH, 1963) e a teoria evolucionária
(NELSON e WINTER, 1982). Essas teorias trouxeram mudanças na forma de pensar o
contexto que envolve as organizações, por serem vistas como repositórios de informações. Na
atualidade, ganha mais espaço a visão baseada no conhecimento e a análise diferencia-se da
estrutura do passado; nela, o fator de produção é o conhecimento, opondo-se ao capital, que
fez parte na economia industrial, ou à terra, na economia agrária (GRANT, 2000), ou seja, os
fatores tradicionais de produção, como terra, trabalho e capital, tornaram-se fatores
secundários. Portanto, essa visão traz novas ferramentas e conceitos para se lidar com as
questões de gerenciamento.
A atenção maior ao conhecimento vem de uma construção de ferramentas gerenciais
que passa por várias décadas, como mostra Tiwana (2002) na Figura 2:
Figura 2 Ferramentas gerenciais através das décadas
Fonte: Adaptado de Tiwana (2002, p. 6)
Foco na mudança em direção ao
conhecimento e perícia distribuídos
Anos 90s
Competências Essenciais
Aprendizagem Organizacional
Reengenharia
Sistema de Informação Estratégica,
Intranet & Internet
Anos 80s
Gestão da Qualidade Total
Cultura Corporativa
Teoria Z
Downsizing
Anos 70s
Planejamento Estratégico
Gerenciamento do Portfólio
Automação
Anos 60s
Teoria Y
Conglomeração
Centralização e Descentralização
Anos 2000s
Gestão do Conhecimento
Capital Intelectual
Integração Empresarial
Cultura do Compartilhamento do
Conhecimento
Conhecimento Tácito torna
-
se parte
do cenário
Cultura é reconhecida no cenário
Aprender, desaprender e experiências
são considerados
Gestão do conhecimento surge como um
objetivo corporativo unificado
Anos 50s
Gestão por Objetivo
Diversificação
Gerenciamento Quantitativo
Processamento Eletrônico de Dados
30
Tomando como base esse breve histórico, é possível evidenciar melhor a importância
do conhecimento na atualidade e o modo como tem se tornado algo de considerável
relevância.
Para Bhatt (2000a), mesmo que o conhecimento seja passível de geração, codificação
e processamento, o seu valor real somente é percebido quando traz algum significado dentro
do seu contexto. Portanto, sem significado, o conhecimento está inerte e estático.
A idéia da mudança da economia baseada nos fatores físicos para a baseada no
conhecimento parece sem sentido se considerada de forma estática, desvinculada dos avanços
na civilização humana, as quais possuem como base o conhecimento. Diante disso, nada dessa
visão parece nova; ela mostra que o conhecimento acumulado no decorrer do tempo e a
geração de novos conhecimentos, utilizando-se de todo aparato tecnológico existente,
implicam tornar-se o conhecimento como algo de extremo valor. O conhecimento acumulado
através do aprendizado organizacional aumenta a produtividade e a competitividade no
mercado, evidenciando as capacidades e as competências essenciais
6
, que são difíceis de
imitar e transformar (PRAHALAD e HAMEL, 1990; NELSON, 1991; GRANT, 1996a).
2.1 O QUE É CONHECIMENTO
Nas últimas décadas, o tema conhecimento começou a ganhar atenção redobrada por
parte de estudiosos de diferentes áreas, sendo visto como o centro da transformação
econômica global (BELL, 1976). Para Pears (1972, p.2), “conhecimento é o estado da mente”,
ou seja, o indivíduo pode conhecer ou não conhecer o que seja conhecimento.
Pesquisadores e acadêmicos têm tomado diferentes perspectivas nessa abordagem, que
vão de soluções tecnológicas a CoP e ao uso das melhores práticas, sem maiores distinções.
Alguns acreditam no poder dos computadores e da tecnologia das comunicações para o
gerenciamento do conhecimento e argumentam que a informação tecnológica pode ser a
norteadora de todo esse processo. Outros consideram as organizações como repositórios de
conhecimentos, os quais residem na mente humana, utilizando, assim, treinamento e
motivação como fatores-chave para o gerenciamento do conhecimento (BHATT, 2001).
Nessa tentativa de entendimento, ambas as perspectivas têm sua importância e dão sua
31
contribuição para a construção de uma visão mais clara da temática, cuja análise, se
considerar apenas uma, poderá ficar incompleta.
O fato de o conhecimento contribuir para a competitividade organizacional mostra a
importância de as pessoas possuírem e criarem conhecimento e força as organizações a
compreenderem que o conhecimento reside menos em bancos de dados e mais nas pessoas
(BROWN e DUGUID, 2001b); o conhecimento não está completamente presente nos
indivíduos nem na organização, mas distribuído em cada um deles, ou seja, ambos são
complementares (BHATT, 2000a). Essa nova visão permite se inter-relacionar mais a ação
com o conhecimento (EASTERBY-SMITH et al., 2000).
O reconhecimento da importância do conhecimento organizacional tende a evoluir por
constituir-se no ativo mais importante da organização e ser o principal ingrediente do que se
produz, se faz, se compra e se vende (STEWART, 1998); é, pois, a fonte de maior poder e a
chave das mudanças (TOFFLER, 1995). Em vista disso, na discussão ligada a conhecimento
que se considerar as abordagens cognitivista, behaviorista e construtivista, objetivando dar
mais amplitude à análise.
O termo cognitivista refere-se aos psicólogos que investigam os denominados
processos centrais do indivíduo. Os cognitivistas entendem que o conhecimento é produzido
internamente como uma construção mental e individual do sujeito, numa relação que envolve
o conhecimento existente e o novo. No cognitivismo o aprendizado é visto como um
fenômeno ativo, que ênfase à ação racional, possibilitando mudanças ou redefinições nos
mapas cognitivos e imagens da realidade (ARGYRIS e SCHÖN, 1978; HEDBERG, 1981;
CHENG e VAN DE VEN, 1996; PRESKILL e TORRES, 1999). Huber (1991) complementa
afirmando que a introdução de uma mudança cognitiva pode não levar a uma mudança
observável ou a um resultado comportamental no futuro imediato (FIOL e LYLES, 1985;
LEROY e RAMANANTSOA, 1997), pois o foco centra-se no modo de aprender, mas explica
pouco sobre o porquê de aprender (PRESKILL e TORRES, 1999). Assim, o cognitivismo
falha ao oferecer um modelo de entendimento humano incompleto e não suficientemente
integrado com a criação de conhecimento, equiparando aprendizado com processamento de
informação (BORGER e SEABORNE, 1982; NONAKA, 1994; AKBAR, 2003).
6
Competências essenciais é o aprendizado coletivo na organização, especialmente no que refere a como
coordenar as várias habilidades de produção e integrar as múltiplas correntes de tecnologia, ou seja,
comunicação, envolvimento e um profundo comprometimento em trabalhar além das fronteiras da organização.
É algo que a empresa faz especialmente bem em relação aos seus concorrentes ( PRAHALAD e HAMEL, 1990).
32
Na abordagem behaviorista, Skinner (1974) dá ênfase ao aprendizado passivo, ou seja,
o indivíduo como um recipiente de conhecimento. Aqui, o aprendizado ocorre através do
mecanismo de estímulo e resposta, sendo visto como um processo evolutivo; assim, não
considera muito o modo como a pessoa pensa, o seu conhecimento tácito, bem como os
modelos mentais
7
. O aprendiz responde ao estímulo do ambiente, antecipa-se às mudanças e
os comportamentos são provocados (PRESKILL e TORRES, 1999). Com isso, a visão
behaviorista considera o aprendizado como passivo, adaptativo e experimental. Ainda
predomina a idéia que ênfase ao meio na relação de aprendizagem (POZZO, 1998). Em
síntese, o behaviorismo refere-se ao modo como o ambiente influencia o indivíduo, ao passo
que, o cognitivismo busca explicar a conduta humana em termos de estados mentais (LEROY
e RAMANANTSOA, 1997).
Por outro lado, os construtivistas acreditam que o conhecimento é construído na mente
do aprendiz, ou seja, os aprendizes constroem o entendimento da realidade conforme as
imagens que possuem, baseados em experiências passadas e em suas interações com o mundo.
Os conceitos, teorias, idéias e modelos construídos na mente são constantemente testados com
os resultados das experiências de cada um, somente permanecendo aqueles que forem úteis
(BODNER, 1986). O acúmulo de conhecimento pode ocorrer em diferentes situações e é
resultado das interações no decorrer da vida.
Becker (2001) afirma que Piaget criou um modelo para explicar como o conhecimento
é originado (gênese) e desenvolvido (devir) por interação: “Em Piaget, aprendizagem tem
sentido se coincide com o processo de desenvolvimento do conhecimento” . O sujeito é apto a
construir o seu conhecimento na interação tanto com o meio físico quanto com o social, razão
pela qual essa construção depende das condições do sujeito e do meio. Conforme a teoria de
Piaget, o conhecimento é, pois, uma construção. (BECKER, 2001, p. 72).
Assim, a teoria construtivista o enfoque que falta às teorias behaviorista e
cognitivista, porque inclui as relações interpessoais, considerando que o comportamento é
mediado pelo ambiente organizacional e que todo o conhecimento é baseado na experiência
(PRESKILL e TORRES, 1999). Para Maturana e Varela (1995), o conhecimento evidencia-se
sempre que é observada uma conduta efetiva num contexto analisado, ou seja, num domínio
definido com um questionamento (explícito ou implícito) formulado pelo observador. A
expansão do conhecimento é resultante da intensidade do aprendizado ou do conhecimento
7
Modelos mentais “são imagens internas profundamente arraigadas sobre o funcionamento do mundo, imagens
que nos limitam a formas bem conhecidas de pensar e agir” (SENGE, 1999, p. 201).
33
anterior, de modo que a habilidade para obter mais conhecimento e aprendizagem depende
dos conhecimentos prévios adquiridos (COHEN e LEVINTHAL, 1990). Diante disso, a teoria
construtivista parece apresentar uma abordagem mais adequada ao que se está propondo neste
trabalho, que analisa a criação de conhecimento, a aprendizagem, as CoPs, todos com forte
ênfase no aspecto de construção no ambiente social.
Para Mariotti (1995), os termos aquisição de conhecimento, produção de
conhecimento, acumulação de conhecimento são plenamente aceitos. O conhecimento é
acumulável, o que o torna, até certo ponto, controlável pelos que o armazenam e, desse modo,
o torna disponível pela explicitação (ou não) fora de determinados grupos. Isso se deve ao
desejo inerente ao ser humano de sempre buscar o domínio do conhecimento (TERRA, 2000).
Para melhor compreensão do que seja conhecimento, torna-se necessário diferenciá-lo
de informação e de dado. Embora haja certa complexidade na definição de dado, informação e
conhecimento, é possível fazer uma distinção mais clara na perspectiva do usuário (BHATT,
2001). Para Nonaka e Takeuchi (1997), há uma nítida distinção entre os conceitos.
Buscando demonstrar o significado de dado, informação e conhecimento, na Figura 3
reúnem-se as idéias de alguns autores, como Bhatt (2001), Nonaka e Takeuchi (1997), Huber
(1991), Davenport e Prusak (1998), Drucker (1988), Hedlund e Nonaka (1993), Valente
(2000), Leonard e Sensiper (1998) e Brown e Duguid (2001b).
34
Figura 3 Dado, informação e conhecimento
Fonte: Elaborado pela autora
A complexidade no entendimento do que seja dado, informação e conhecimento pode
ser justificada por envolver certo grau de subjetividade, visto que somente os seres humanos
são capazes de transformar dado e informação em conhecimento. Para Nonaka e Takeuchi
(1997) e Nonaka, Toyama e Byosiere (2001), a informação objetiva oferece um novo ponto
de vista para a interpretação de eventos e objetos, possibilitando que sejam vistos significados
que antes eram invisíveis.
O fato de as organizações inovarem não significa que simplesmente processaram
informação, mas que podem ter criado nova informação e reformulado a sua forma de
interagir com seu ambiente (CYERT e MARCH, 1963; MARCH, 1991). É algo próprio e
impossível de ser repassado, construído individualmente; o que pode ser transferido são as
informações decorrentes desse conhecimento (VALENTE 2000).
Durkheim (1964) salienta que o conhecimento individual está enraizado na prática
coletiva. O conhecimento “tem origem e é aplicado na mente dos conhecedores. Nas
Conhecimento
- significado da informação que resulta do
processamento, da interpretação, da
compreensão da informação
- criado pelo fluxo de informações
- ligado às crenças e compromissos dos
detentores
- produto mais complexo do aprendizado -
know-how
- componente da habilidade
- atitude, perspectiva ou intenção específica
- possui um fim, um objetivo
- informação relevante passível de ser
acionada e baseada na experiência
Dado
- fatos crus
- distingue-se com base em
sua organização
- descreve parte daquilo que
aconteceu (registros)
Informação
- conjunto organizado de dados
- meio ou material necessário para
extrair e construir o conhecimento
- fluxo de mensagens
- dados relevantes e com propósito
que reduzem as incertezas
- o fato, o dado encontrado em
publicações
-
o dado que as pessoas trocam entre si, ;
- algo que os indivíduos coletam,
possuem, transmitem, acumulam e
comparam
35
organizações, ele costuma estar embutido não em documentos ou repositórios, mas
também em rotinas, processos, práticas e normas organizacionais” (DAVENPORT e
PRUSAK, 1998, p. 6). O conhecimento é prioritário na empresa, mas o grande desafio está
em torná-lo produtivo (DRUCKER, 1988); o seu uso eficaz depende de mudanças profundas
e fundamentais nos aspectos comportamentais, culturais e organizacionais, pois o
conhecimento formado por um indivíduo difere daquele de outra pessoa que recebeu a mesma
informação.
O desenvolvimento do conhecimento é decorrente da experiência, ou seja, aquilo que
pode ser absorvido através de cursos, livros, mentores e também do aprendizado informal
(DAVENPORT e PRUSAK, 1998); pode ser construído pelo estudo, pela pesquisa e pela
observação sistemática (MARIOTTI, 1995). Assim, a experiência consiste naquilo que foi
feito e ocorreu no passado, proporcionando, hoje, uma perspectiva histórica que permite
entender, com base nela, novos eventos e situações (DAVENPORT e PRUSAK, 1998).
duas perspectivas a se considerar no que se refere ao conhecimento: conhecimento
como objeto e conhecimento como processo. A primeira dedica pouca atenção às pessoas,
individual ou coletivamente, e procura abstrair o conhecimento das pessoas que criam e
implementam, ao passo que a segunda envolve os processos individuais e sociais ligados à
criatividade, à inovação, à motivação e à comunicação (SPENDER, 2001). Portanto, é
importante salientar que, para este estudo, conhecimento terá maior importância do ponto de
vista processual, não apenas declarativo.
Portanto, a idéia de criar novos conhecimentos o implica apenas a capacidade de
aprender com os outros ou de adquirir conhecimentos externos, mas também a de construir
por si mesmo através da interação intensiva e laboriosa entre os membros de uma
organização, englobando ideais e idéias e permitindo a tentativa e o erro (MORESI, 2001).
Algumas organizações são caracterizadas por uma multiplicidade de processos de
aprendizado, pois cada indivíduo e cada grupo têm na organização a sua própria base de
conhecimento e capacidade de aprendizado (DODGSON, 1993).
Dessa forma, a era do conhecimento, decorrente das mudanças nas perspectivas de
negócios no mundo, tem trazido conceitos que não existiam algumas décadas, como os de
gestão do conhecimento e de capital intelectual. Esses conceitos têm recebido significativa
ênfase em diferentes segmentos da sociedade, na academia, em empresas e no governo
(SERENKO e BONTIS, 2004).
36
uma multiplicidade de conceitos e entendimentos do que seja conhecimento no
decorrer da história, apresentados por vários autores e em diferentes áreas. Na língua
portuguesa vários são os significados para a palavra conhecimento, tais como informação,
conscientização, saber, cognição, sapiência, percepção, ciência, experiência, qualificação,
discernimento, competência, habilidade prática, capacidade, aprendizado, sabedoria, entre
outros. Por sua vez, o termo gestão do conhecimento aparece na literatura algumas vezes
confundido com o termo capital intelectual ou, mesmo, com criação, difusão, disseminação,
entre outros. Não havendo, portanto, um consenso na definição de conhecimento (BHATT,
2000a), procura-se aqui apresentar algumas visões ligadas à perspectiva organizacional
(Quadro 1).
Autor Conceito Ênfase
Argyris e Schön
(1978)
Conhecimento é construído através da ação, influencia e transforma a
ação.
Aprendizagem
Organizacional
Bender e Fish
(2000, p. 126)
“O conhecimento surge na cabeça do indivíduo e é moldado sobre a
informação que é transferida e enriquecida pela experiência pessoal,
crenças e valores com propósito de decisão e relevância de ação. É a
informação interpretada pelo indivíduo aplicada para o propósito
desejado. É o estado mental de idéias, fatos, conceitos, dados e técnicas,
gravados na memória do indivíduo”.
Criação de
Conhecimento
Bhatt (2000a) Conhecimento é uma mudança na realidade que é observada e percebida
através de múltiplas interações e troca de informações.
Gestão do
Conhecimento
Brown e Duguid
(1998)
O conhecimento organizacional constitui a competência essencial e é
mais do que Know-What (conhecimento explícito), o qual pode ser
compartilhado. O conhecimento requer o saber Know-How; a habilidade
particular de colocar o Know-What em prática.
Conhecimento
Organizacional
e CoPs
Davenport e
Prusak (1998, p. 6)
“Conhecimento é uma mistura fluída de experiência condensada,
valores, informação contextual e insight experimentado, a qual
proporciona uma estrutura de avaliação e incorporação de novas
experiências e informações”.
Capital
Intelectual
Despres e Chauvel
(2000)
Conhecimento é prática compartilhada, como a propriedade da
comunidade de prática que necessita, cria, usa, debate, distribui, adapta
e transforma..
Gestão do
Conhecimento
Leonard e Sensiper
(1998)
Conhecimento é um subsistema da informação: é subjetivo, ligado ao
comportamento significativo, e possui elementos tácitos surgidos da
experiência.
Conhecimento
organizacional
Liebeskind (1996,
p. 94)
Conhecimento “informação cuja validade foi estabelecida através de
testes para sua validação”.
Conhecimento
Organizacional
Marakas(1999,
p.264)
“Conhecimento é um significado feito para a mente”. Criação de
Conhecimento
Maturana e Varela
(1995)
O conhecimento consiste numa construção contínua e é resultante da
interação entre o homem e o mundo.
Criação de
Conhecimento
Nonaka (1991;
1994) e Nonaka e
Takeuchi (1997)
Conhecimento é um sistema de crença justificada. Criação de
Conhecimento
Nonaka e Takeuchi
(1997)
O conhecimento organizacional refere-se tanto à experiência física e à
tentativa e erro quanto à geração de modelos mentais e ao aprendizado
com os outros, ou seja, “um processo humano dinâmico de justificar a
crença pessoal com relação à ‘verdade’”.
Criação de
Conhecimento
37
......continuação
Nonaka, Umemoto
e Senoo (1996)
Conhecimento é essencialmente dado, já existe com a organização, ou
pode ser apreendido ou adquirido de outras fontes.
Criação de
Conhecimento
Oliveira Jr., Fleury
e Child (2001)
O conhecimento da empresa é fruto da interação com o ambiente de
negócios, que se desenvolve através dos processos de aprendizagem.
Pode ser interpretado, também, como informação associada à
experiência, intuição e valores.
Conhecimento
Organizacional
Polanyi (1967, p.4)
O conhecimento humano parte da premissa de que “nós podemos
conhecer mais do que somos capazes de expressar”.
Conhecimento
Organizacional
Probst, Raub et al
(2002, p. 30)
“O conhecimento é um conjunto total que inclui cognição e habilidades
que os indivíduos utilizam para resolver problemas. O conhecimento se
baseia em dados e informações, mas, ao contrário deles, está sempre
ligado a pessoas”.
Gestão do
Conhecimento
Schendel (1996) O conhecimento organizacional é uma fonte fundamental para os
ganhos da empresa, pois é um recurso imitável. Seu papel aparece na
construção das competências ou capacitações, transformando resultados
genéricos em específicos desejados.
Conhecimento
Organizacional
Stewart (1998,
p. 30)
“Conhecimento é o que compramos, vendemos e produzimos”. Capital
Intelectual
Sveiby (1998,
p. 35)
O conhecimento consiste numa construção contínua e é resultante da
interação entre o homem e o mundo. A definição de conhecimento é
algo amplo e não existe uma palavra que seja aceita de modo geral.
Capital
Intelectual
Quadro 1 Conceitos de conhecimento e ênfases
Fonte: Elaborado pela Autora
Os diferentes conceitos e ênfases mostram que há necessidade de se separar o que seja
gestão do conhecimento, criação de conhecimento, gestão do capital intelectual, entre outros,
o que se faz em seqüência.
2.2 GESTÃO DO CONHECIMENTO
O termo gestão do conhecimento era mencionado em décadas anteriores (GOERL,
1975; HENRY, 1975; MCCAFFERY, 1975), bem como o de capital intelectual (FEIWEL,
1975). Foi em 1991 que Stewart popularizou o conceito e trouxe a idéia de bem intangível.
Após o conceito ser definido, tem crescido o número de publicações sobre gestão do
conhecimento e capital intelectual, com a tendência a se chegar, até 2010, a dez mil
publicações (SERENKO e BONTIS, 2004). Mcadam e Mccreedy (1999) salientam que as
publicações abrangem muitas disciplinas e áreas de interesse tanto de acadêmicos como de
outros pesquisadores. Entretanto, gestão do conhecimento não é uma simples questão de
capturar, estocar e transferir informação; requer interpretação e organização da informação
em múltiplas perspectivas (BHATT, 2001).
De Jarnett (1996) considera que na gestão do conhecimento a criação é seguida pela
interpretação, disseminação e uso, e da retenção e refinamento do conhecimento; é o suporte,
38
a observação, a medida e a otimização sistemática da organização. É importante ter clareza
quanto aos resultados desejados com a gestão do conhecimento, visto que a maneira como
serão alcançados dependerá da cultura, da estrutura e dos objetivos (DEMAREST, 1997).
Para Quintas, Lefere e Jones (1997), a gestão do conhecimento é um processo de
gerenciamento crítico do conhecimento para dar suporte às necessidades, identificar e
explorar o conhecimento existente, além de adquirir e desenvolver novas oportunidades; é
uma atividade mais envolvida com o gerenciamento estratégico e tático dos fatores humanos
(BROOKING, 1997). Portanto, envolve tanto teoria como prática.
A distinção fundamental, quando se trata de gestão do conhecimento, está entre
aquelas atividades que envolvem a aplicação do conhecimento existente e aquelas que geram
novos conhecimentos para a organização, pois os gerentes lidam durante a maior parte do
tempo com a organização do conhecimento existente (GRANT, 2000). Assim, para que a
gestão do conhecimento ocorra, o conhecimento precisa estar ligado a alguma necessidade e,
em alguns casos, precisa sofrer algum tipo de transformação.
Demarest (1997) apresenta a gestão do conhecimento como a construção,
incorporação, disseminação e uso. Para Bhatt (2001), é um processo de criação, validação,
apresentação, distribuição e aplicação. Essas fases permitem à organização aprender e refletir,
além de melhorar o aprendizado e reaprender.
A gestão do conhecimento pode envolver outras formas. Na Figura 4 reúnem-se os
tipos de conhecimentos apresentados por Dejarnett (1996), Demarest (1997) e Bhatt (2001).
39
Figura 4 Contexto da gestão do conhecimento
Fonte: Criado pela autora com base em Dejarnett (1996), Demarest (1997) e Bhatt (2001)
Diante dessa multiplicidade de conceitos e visões, que se considerar que, para
algumas organizações, o conhecimento inerente a seus bens estrutural e intelectual é o que
traz resultado e envolve outros elementos. Por isso, é importante uma maior descrição do que
seja capital intelectual, bem como inovação e gerenciamento do risco.
2.2.1 Capital Intelectual e sua Relação com o Conhecimento
A gestão do conhecimento é reconhecida como atividade muito próxima da gestão do
capital intelectual; ambas estão associadas do ponto de vista do indivíduo (MARR et al.,
2003). O capital intelectual tem sido considerado por muitos autores objeto de interesse
explosivo, havendo a busca de informações sobretudo sobre o modo como deve ser
gerenciado, porém pouco se tem escrito sobre o seu conceito (DARLING, 1996;
EDVINSSON e SULLIVAN, 1996; STEWART, 1998; SVEIBY, 1998; BASSI e VAN
BUREN, 1999). O maior interesse pelo tema situa-se naquelas empresas cujos lucros
dependem de inovação e de intensivo conhecimento em serviços (EDVINSSON e
SULLIVAN, 1996).
A definição de capital intelectual surgiu com Stewart (1998), que o definiu como algo
que não pode ser tocado e que pode tornar alguém rico, ou, mais amplamente, como o
conhecimento, a informação, a propriedade intelectual, a experiência que podem ser
Conhecimento
Criação
Construção
Incorporação
Adoção e
Aplicação
Gestão do Conhecimento
Validação
Apresentação
Disseminação
Distribuição
produção de valor
compartilhamento e
disponibilização na
organização
adoção em produtos,
serviços e processos
forma como o
conhecimento é
mostrado para outros
descobrir ou
estruturar um
conhecimento
habilidade de
desenvolver algo
novo, idéias úteis e
soluções
Utilização
avaliação de quanto o
conheciment
o é útil
40
colocados em uso para criar riqueza. Ainda mais, capital intelectual é considerado como a
diferença entre o valor de mercado da empresa e o custo de produzir seus bens (BONTIS,
1996). Para Reinhardt et al. (2001) capital intelectual é intangível e inclui aspectos tácitos,
contudo nem capital intelectual nem bem intangível são sinônimos de conhecimento; se
utilizados indiferentemente, implicam a interpretação de que conhecimento é um objeto.
Para Edvinsson e Sullivan (1996), capital intelectual é o estoque de informação focada
e organizada de que a organização pode se valer para qualquer atividade produtiva ou como
fonte de vantagem competitiva. Os autores também o definem como o conhecimento que
pode ser convertido em valor e, como companhias de conhecimento, aquelas que
comercializam o conhecimento criado por seus recursos humanos (EDVINSSON e
SULLIVAN, 1996).
O capital intelectual não é algo difícil somente de medir, mas também de avaliar. O
importante é ter consciência de que é real e provê valor para as organizações. O fator humano
representa o capital, e suas inteligências combinadas, habilidades e especialidades dão à
organização o diferencial em relação às demais, pois, por meio dele, é possível aprender,
mudar, inovar e criar (BONTIS, 1999).
Edvinsson e Sullivan (1996) definem o capital intelectual como recursos humanos,
capital estrutural e capital dos clientes. Kogut e Zander (1992) e Johnson (1999) apresentam
definição semelhante, apenas definindo o capital dos clientes como capital relacional. Os
recursos humanos são os recursos intangíveis, as capacidades e experiências coletivas,
habilidades e conhecimentos gerais dos indivíduos para buscar soluções para os problemas e
criar novos produtos, os quais a organização transforma em valor (EDVINSSON e
SULLIVAN, 1996; REINHARDT et al., 2001), ou o conhecimento tácito incorporado na
mente das pessoas (KOGUT e ZANDER, 1992). O capital humano é fonte de inovação e
renovação, uma vez que o capital intelectual consiste em material e relações (STEWART,
1994).
O capital estrutural corresponde ao conhecimento tácito estrutural; refere-se à infra-
estrutura (tecnologias, metodologias e processos), que se compõe de recursos tangíveis
8
e
intangíveis, envolvendo a estrutura física e outros aspectos tácitos ligados à história e à
cultura da organização (BONTIS, 1996; EDVINSSON e SULLIVAN, 1996). Uma
8
Algo passível de ser tocado, comprado e transferido de uma organização para outra.
41
organização com forte capital estrutural apresenta uma cultura que suporte aos indivíduos
para errarem, aprenderem e tentarem novamente (BONTIS, 1996).
O capital relacional à semelhança do capital dos clientes, é o conhecimento
incorporado nas relações estabelecidas com o ambiente externo (BONTIS, 1996;
EDVINSSON e SULLIVAN, 1996; REINHARDT et al., 2001), com clientes, fornecedores e
mercado, bem como os impactos das medidas governamentais ou de associações; refere-se ao
conhecimento existente nesses segmentos e que deve fluir para a organização (BONTIS,
1999). Esse conhecimento social não é facilmente disseminado, porque está incorporado em
histórias, em rotinas do sistema como um todo, requerendo, por isso, especial habilidade para
saber aproveitá-lo (ZANDER e KOGUT, 1995).
Na tentativa de buscar melhor entendimento dos ativos intangíveis, Kaplan e Norton
(1992) propõem o uso da abordagem de balanced scorecard, que objetiva medir o
desempenho, cujos elementos são inovação e aprendizado. Nessa mesma perspectiva de
estudo, Vitale e Mavrinac (1995) e Vitale et al. (1994) desenvolveram um sistema de
avaliação de desempenho com base na estratégia organizacional, denominado de sistema de
avaliação do desempenho estratégico. Os autores reconhecem a importância do aprendizado,
porém não fornecem um guia específico ou um meio de medir o estoque de capital intelectual
das organizações ou o fluxo de aprendizado, embora com o sistema proposto orientem a
organização a gerenciá-lo e controlá-lo (BONTIS, 1999).
Portanto, capital intelectual não é o mesmo que conhecimento, informação e dado. O
conhecimento possui várias dimensões e não é, necessariamente, capital intelectual (LYNN,
1999). Assim, a temática capital intelectual, pela falta de um maior aprofundamento em
métodos que permitam mensurá-lo, continuará sendo examinada juntamente à literatura de
conhecimento organizacional (BONTIS, 1998; 1999).
A busca das organizações para serem as melhores do mundo implica que precisam
conhecer e reconhecer a importância do conhecimento e do capital intelectual existente, além
de identificarem quais são as suas competências essenciais, pois tudo isso representa a riqueza
de idéias e de inovações que determinarão o seu futuro.
Entretanto, os estudos ligados a conhecimento, capital intelectual, aprendizagem e às
CoPs o parecem ter muito sentido se o objetivarem resultados em processos inovativos,
melhorias em produtos e serviços, com a conseqüente redução nos riscos para o
42
gerenciamento dos negócios. Em vista disso, a seguir é apresentado mais detalhadamente o
que é inovação e gerenciamento do risco.
2.2.2 Inovação e Gerenciamento do Risco
Muitas vezes, a inovação parece uma caixa preta, por ser dependente de várias forças
que atuam no cenário dos negócios, considerando as decisões tomadas pelos gestores ou os
caminhos seguidos na condução dos negócios.
Para Freeman (1982), o não-inovar significa a morte. Se uma empresa falha na
introdução de produtos e processos, não consegue sobreviver, uma vez que seus competidores
estarão adotando as inovações necessárias. Marquis e Myers (apud ALLESCH 1986) afirmam
que inovação não é uma ação simples, mas um processo total composto de subprocessos inter-
relacionados; não é apenas a concepção de uma idéia nova, nem a invenção de um novo
equipamento, nem o desenvolvimento de um novo mercado. O processo de inovação envolve
todos esses aspectos, agindo de uma maneira integrada em direção a um objetivo comum.
A habilidade das organizações em reconhecerem o valor da nova informação,
assimilá-la e utilizá-la estrategicamente é considerada o ponto crucial para possibilitar a
inovação (COHEN e LEVINTHAL, 1990). Além de ser um novo meio de pensar sobre os
negócios, a inovação é a chave da vantagem competitiva e a competência central. Para que
isso aconteça, o foco da inovação precisa centrar-se no desenvolvimento de algo novo “para o
mundo ou para o mercado”, onde estão os consumidores, que buscam inovar em termos de
benefícios. A inovação é mais bem descrita como uma atitude pervasiva que permite aos
administradores verem além do presente e criarem uma visão de futuro, competências das
quais podem advir grandes prêmios (KUCZMARSKI, 1996, p. 6).
Alguns aspectos são considerados importantes por Kuczmarski (1996) para se obter
sucesso em processos inovativos: um ambiente cercado pelo otimismo, com espaço para o
desenvolvimento das habilidades; tecnologia disponível para o desenvolvimento de algo
novo; dedicação de equipes, dentre outras. A verdadeira inovação pode desenvolver uma nova
forma de pensar os negócios, por ser uma atitude pervasiva, um sentimento, um estado
emocional, um compromisso com a novidade contínua; é considerada um recurso intangível,
intuitiva, um estado da mente (KUCZMARSKI, 1996)
43
Do exposto, o conceito construído pela autora para inovação neste estudo é: a união de
todos os esforços na busca de um objetivo. Ela está presente em cada atitude, na busca de
melhoramentos em processos, produtos e serviços. Não necessariamente tem que ser algo
extremamente novo, mas algo que venha a agregar valor e mais estabilidade ou menos riscos
ao negócio.
Uma atitude positiva frente aos processos inovativos de uma organização poderá ser a
garantia de sua permanência no mercado, de obter maior competitividade e reduzir os riscos.
Todavia, mesmo que se tenha um bom conhecimento do mercado de atuação, o
gerenciamento do risco pode ser determinante.
O termo gerenciamento do risco recebeu maior atenção nas décadas de 60 e 70 pelos
estudiosos que estavam interessados em entender mais sobre o assunto em períodos de
instabilidade (DOHERTY, 2000).
A constante inovação em produtos, processos e serviços e as práticas de mensuração,
estabelecimento de preços e avaliação do risco parecem ser o coração da maior parte dos
negócios, requerendo decisões mais racionais para a obtenção de melhores resultados. O
gerenciamento do risco envolve entender as diferentes condições dos mercados que envolvem
o negócio e visa dar rápidas respostas com o objetivo de reduzir o risco diante das incertezas.
Esse posicionamento é importante considerando-se que os negócios estão expostos a situações
variáveis e imprevisíveis; assim, o grau de risco depende de quão acurados são os resultados
de uma mudança que pode ser prevista. “Maior precisão na previsão, menor grau de risco”
(WYK, DAHMER e CUSTY, 2004, p. 261).
Os conceitos de risco para a tomada de decisão são identificados em três classes: (1)
decisão requerendo informações necessárias; (2) regras seguras a serem seguidas; (3)
expectativa de máxima utilização (BARRY, 1984).
A importância do gerenciamento do risco está no melhor conhecimento dos clientes,
possibilitando oferecer-lhes o produto certo, com o preço e o tempo certos. Além disso,
informações adequadas no momento adequado podem ser a razão da sobrevivência de muitos
negócios em face das incertezas do mercado.
Os aspectos expostos auxiliam no entendimento da amplitude que envolve o
conhecimento, seja o conhecimento comum
9
, seja o diferenciado. Evidencia-se, pois, a
importância de se compreender, detalhadamente, vários fatores envolvidos na criação de algo
44
novo, com as suas diferentes facetas e possibilidades, e não pela simples razão de criá-lo sem
objetivo definido. Torna-se importante conhecer as dimensões do conhecimento para se poder
melhor lidar com essa complexidade.
2.3 DIMENSÕES DO CONHECIMENTO
A perspectiva estruturalista sobre conhecimento considera-o como algo discreto,
objetivo, uma entidade extremamente cognitiva. Assim, apenas dois tipos de
conhecimento: o tácito e o explícito (NEWELL e ROBERTSON, 2002).
Nonaka (1991; 1994), Nonaka e Takeuchi (1997), Spender (1996; 1998) e Blackler
(1995) têm desenvolvido estudos que auxiliam no entendimento da criação de conhecimento e
das formas como tem sido utilizado nas organizações, ou das mudanças no domínio das
formas de conhecimento organizacional num nível amplo na organização.
Por sua vez, Nonaka (1991; 1994), Nonaka e Takeuchi (1997), Nonaka, Toyama e
Byosiere (2001), Nonaka, Umemoto e Senoo (1998), em seu modelo, apresentam os quatro
modos de conversão. Spender (1998) sugere que o conhecimento implícito individual e o
conhecimento social são qualitativamente diferentes e apresenta-os em quatro formas:
individual/explícito (consciente), individual/implícito (automático), social/explícito (objetivo)
e o social/implícito (coletivo). O autor salienta que os quatro tipos de conhecimento interagem
e são criados dentro da organização; podem interagir com o individual e criar um novo
conhecimento para os níveis individual e organizacional (SPENDER, 1998).
Para Blackler (1995), há cinco tipos de conhecimento na organização: o memorizado –
é dependente das habilidades conceitual e cognitiva; o internalizado possui uma orientação
para a ação e é parcialmente explícito; o inserido na cultura busca o entendimento
compartilhado através do desenvolvimento de uma cultura organizacional; o incorporado
reside nas rotinas de trabalho e no conhecimento codificado – é a informação comunicada por
sinais e símbolos. Esses tipos de conhecimento residem nos níveis individual e coletivo.
É reconhecida a relevância dos tipos de conhecimento apresentados por Blackler
(1995) e Spender (1998), porém o foco neste estudo será o conhecimento tácito e o explícito
criados por Polanyi (1967), autor considerado um marco para a conceituação desses tipos de
conhecimento.
9
Conhecimento comum como aquilo que é aprendido na realização de tarefas similares (DIXON, 2000).
45
A referência ao conhecimento organizacional descreve um iceberg, no qual o
conhecimento explícito está visível no topo, facilmente encontrado e de fácil
compartilhamento, e o tácito encontra-se submerso, sendo de difícil assimilação (HALDIN-
HERRGARD, 2000). Na Figura 5, apresentam-se reunidas algumas idéias de Nonaka e
Takeuchi (1997), Nonaka, Toyama e Byosiere (2001), Nonaka (1991), Polanyi (1967), Kim
(1993), Rosemberg (2001), Leroy e Ramanantsoa (1997), Lam (2000), Nelson e Winter
(1982), Nonaka (1994) e Haldin-Herrgard (2000), no que se refere aos conhecimentos tácito e
explícito.
Figura 5 Dimensões do conhecimento
Fonte: Elaborado pela Autora
Para o conhecimento tácito, Polanyi (1967) toma como frase-chave we can know
more than we can tell” (nós conhecemos mais do que somos capazes de expressar), ou seja, a
habilidade das pessoas de conhecerem além daquilo que é expresso pela fala por saberem
mais do que podem verbalizar, ou seja, o conhecimento vai além das possibilidades da língua.
Nenhuma quantidade de conhecimento explícito proporciona a parte tácita; são duas
Conhecimento Explícito
Conhecimento Tácito
Objetivo - pode
ser facilmente
expressado por
palavras ou
números
Subjetivo
-
intuição e
palpites- enraizado
na ação -
armazenado em
rotinas, práticas e
procedimentos
Codificado e
estruturado
transmissível
em linguagem
formal e
sistemática
Simultâneo
e análogo -
difícil de
ser
codificado
Não pode ser
totalmente
comunicado,
mas apenas
percebido
Seqüencial
-
classificado
em
documentos,
práticas e
treinamentos
Racional
-
agregado
facilmente por
dedução lógica
ou estudo formal
Talentos/
Habilidades e
experiências
acumuladas
46
dimensões do conhecimento distintas, de modo que a tentativa de reduzi-las compara-se à
tentativa de transformar um desenho de duas dimensões numa só (POLANYI, 1967).
O conhecimento tácito pode ser internalizado através da assimilação (KIM, 1993),
aprender fazendo (LAM, 2000), observação, imitação e prática (NONAKA, 1991; NONAKA
e TAKEUCHI, 1997), experiência e tentativa e erro (LEROY e RAMANANTSOA, 1997);
mostra-se bastante importante nos processos de inovação tecnológica (HOWELLS, 1996)
como garantia de competitividade. Por exemplo, um especialista poderia não ser capaz de
verbalizar claramente como chegou à solução de um problema, por envolver profundos
aspectos tácitos inseridos em sua rotina (NELSON, 1991; KOGUT e ZANDER, 1996).
Polanyi (1967) apresenta uma significativa rejeição à análise restrita ao conhecimento
absolutamente objetivo, dando bastante relevância ao conhecimento tácito em todos os casos.
Para o autor, a busca de explicitação de todo conhecimento, eliminando o elemento tácito
pessoal, pode destruí-lo. O tácito inclui a habilidade de perceber particularidades que
constituem os indivíduos, grupos e organizações.
crescente interesse no gerenciamento do conhecimento tácito e as pesquisas têm
aumentado nos últimos tempos, mas o campo de estudos é ainda pouco explorado e conhecido
(LEONARD e SENSIPER, 1998; ZACK, 1999; AUGIER e VENDELO, 1999), se comparado
ao entendimento existente sobre o conhecimento explícito (HOLTSHOUSE, 1998;
LEONARD e SENSIPER, 1998). Se o conhecimento tácito for considerado na perspectiva de
Polanyi (1967), altamente individual e passível de aquisição somente através da experiência, a
difusão parece ser impossível (AUGIER e VENDELO, 1999).
Muitos pesquisadores da difusão do conhecimento concordam que o
compartilhamento do conhecimento tácito é complexo (HOLTSHOUSE, 1998; LEONARD e
SENSIPER, 1998; NONAKA e KONNO, 1998; ZACK, 1999), o que pode ser justificado
pela percepção e dificuldade de linguagem, tempo, valores e distância (HALDIN-
HERRGARD, 2000). No que se refere à linguagem, as pessoas podem não ter consciência do
que realmente conhecem, pela dificuldade de expressar através da fala. Certos tipos de
conhecimentos necessitam de tempo para serem internalizados. No gerenciamento dos
negócios, é necessário valorizar a intuição, o conhecimento adquirido no decorrer da vida,
visto que o ser humano não tem noção do que sabe por ter aprendido em alguma fase da vida,
mas isso está presente em sua mente sempre que necessitar. A distância é outro aspecto que
interfere nas trocas, pois o face-a-face, em muitos casos, é importante (HOLTSHOUSE, 1998;
47
AUGIER e VENDELO, 1999; ZACK, 1999; HALDIN-HERRGARD, 2000; WILSON,
2002).
O conhecimento tácito possui duas dimensões: uma técnica e a outra cognitiva. A
primeira envolve destreza informal e é de difícil especificação (know-how); a segunda
envolve modelos mentais, crenças e perspectivas arraigadas como algo certo, mas que não se
manifestam facilmente. Nesta segunda dimensão, uma significativa ênfase nos insights,
intuições, símbolos, imagens, emoções, ideais e valores. A dimensão implícita exerce grande
influência na forma como se percebe o mundo (NONAKA, 1994; NONAKA e TAKEUCHI,
1997; GORE e GORE, 1999; NONAKA, TOYAMA e BYOSIERE, 2001).
O conhecimento tácito no local de trabalho apresenta-se em três componentes:
consciente, automático e coletivo. O consciente é o mais facilmente codificável, pelo fato de o
indivíduo ser capaz de entender e explicar o que está fazendo. O automático torna o indivíduo
sem consciência de que está sendo aplicado o conhecimento, ou seja, age de forma não
consciente. O componente coletivo refere-se ao conhecimento desenvolvido pelo próprio
indivíduo e compartilhado com os outros e também ao que é resultado da formação aprendida
no contexto social (SPENDER, 1996).
Para Spender (1996), o fato de o conhecimento tácito não poder ser articulado e
comunicado através da linguagem não significa que não possa ser transmitido por outro meio.
O tácito não pode ser visto como algo místico e pode estar manifestado nas características
culturais da empresa em suas práticas organizacionais (SPENDER, 1996).
Essas trocas poderão contribuir significativamente no processo de aprendizagem.
Contudo, a mera existência de conhecimento em alguma parte da organização acarreta pouca
contribuição; é um ativo valioso quando disponível e seu valor cresce de acordo com sua
acessibilidade (DAVENPORT e PRUSAK, 1998).
Para Rosemberg (2001), o conhecimento vai além daquilo que uma ou muitas pessoas
sabem; é também o que a organização, os grupos e os indivíduos sabem considerando as
fontes internas e externas que foram armazenadas durante anos ou a mesmo décadas. A
interação dos conhecimentos está representada na Figura 6:
48
Figura 6 Interação do conhecimento
Fonte: Adaptado de Rosemberg (2001, p.67)
O modelo de Rosemberg (2001) contempla as dimensões dos conhecimentos
individual, coletivo e organizacional tácito e explícito e mostra que não o isolados e,
com muita freqüência, interagem. As interações entre os conhecimentos são fundamentais
para o bom desempenho dos negócios. Tanto o conhecimento tácito como o explícito podem
se manifestar nos níveis individual, coletivo e organizacional, pois os seres humanos
adquirem conhecimento criando e organizando ativamente as suas próprias experiências.
Grande parte do conhecimento do indivíduo é resultante do esforço voluntário de lidar com o
mundo (POLANYI, 1967).
O conhecimento tácito e o explícito são os que melhor representam o conhecimento no
contexto organizacional. A distinção entre ambos não implica uma separação das duas partes
do todo; ao contrário, seu caráter indivisível e de interdependência envolve trocas
permanentes, interações constantes, gerando formas particulares de conversão do
conhecimento que serão apresentadas no modelo de criação de conhecimento (NONAKA,
UMEMOTO e SENOO, 1996; NONAKA e TAKEUCHI, 1997). Para Nonaka, Toyama e
Byosiere (2001), apesar de toda a atenção dada à questão da criação de conhecimento
organizacional, de se falar em capital intelectual e da visão baseada em conhecimento, é
pouco conhecido o modo como as organizações criam e gerenciam conhecimento.
O conhecimento tácito pode apresentar diferentes facetas no que se refere a sua
explicitação. Em alguns casos, pode ser interessante torná-lo disponível para que outras
pessoas a ele tenham acesso, melhorando-o, refinando-o e utilizando-o em suas atividades;
por outro lado, mantê-lo guardado secretamente pode ser estratégico para a organização,
exceto em casos em que é protegido por um sistema legal. Esse procedimento parece
Conhecimento
Explícito
Conhecimento
Tácito
Conhecimento
Individual
Conhecimento
Coletivo
Conhecimento
Organizacional
49
importante, porque o fato de codificá-lo possibilita que seja facilmente imitado (BONTIS,
1999).
Neste trabalho, o foco centra-se na criação de conhecimento. Embora outros autores
tratem da temática gestão do conhecimento, conforme foi apresentado anteriormente, a
preferência pelo modelo de Nonaka e Takeuchi (1997) deve-se ao fato de tratarem mais
profundamente a criação de conhecimento num modelo amplo, que parece ser o mais
completo se comparado a outros presentes na literatura. Estes autores são também os mais
utilizados na literatura, no que se refere à gestão do conhecimento e ao capital intelectual, de
acordo com Serenki e Bontis (2004). Bhatt (2000b; 2001) e Demarest (1997) apresentam
modelos de gestão do conhecimento organizacional englobando fases, como foi apresentado
anteriormente, das quais a criação de conhecimento é uma. Porém, muito do que é
apresentado nos modelos parece estar contemplado com mais profundidade nos trabalhos de
Nonaka e Takeuchi (1997) e de outros autores conjuntamente com Nonaka fazendo referência
ao modelo de criação de conhecimento organizacional, como será mostrado a seguir.
2.4 MODELO DE CRIAÇÃO DE CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL
O desejo de conhecer algo é o primeiro passo para a criação de conhecimento
(EDVINSSON e SULLIVAN, 1996); é um processo emergente de motivação, inspiração e
experimentação (LYNN, MORONE e PAULSON, 1996).
Para Bhatt (2001) o conhecimento é considerado novo se resolve um problema
existente de forma mais competente e eficiente, ou é efetivo na produção de uma inovação no
mercado. Contudo, se o indivíduo não possui habilidades necessárias e conhecimentos, suas
interações provavelmente não criarão conhecimento organizacional válido.
A abordagem ligada à criação de conhecimento, predominantemente, adota uma
perspectiva organizacional para a análise e considera que o novo conhecimento é criado
através da dinâmica interação entre indivíduos com diferentes tipos de conhecimentos tácitos
e explícitos e com diferentes conteúdos (NONAKA, 1991; 1994; NONAKA, UMEMOTO e
SENOO, 1996; NONAKA e TAKEUCHI, 1997).
Assim, o modelo apresentado por Nonaka e outros autores em diferentes estudos
(NONAKA, 1991; 1994; NONAKA, UMEMOTO e SENOO, 1996; NONAKA e
TAKEUCHI, 1997; NONAKA e KONNO, 1998; NONAKA, REINMOELLER e SENOO,
50
1998; NONAKA e REINMOELLER, 2000; NONAKA, TOYAMA e KONNO, 2000;
NONAKA, REINMOLLER e TOYAMA, 2001; NONAKA, TOYAMA e BYOSIERE, 2001)
pode ser considerado um dos que melhor conseguiu desenvolver uma abordagem que traz o
processo social e epistêmico num modelo coerente, relacionando a inovação aos
conhecimentos tácitos e explícitos da organização. O modelo mostra como as empresas
japonesas geram a dinâmica da inovação. Esses autores vêem a criação de conhecimento
como um processo interativo entre o racional e o empírico, mente e corpo, análise e
experiência e entre implícito e explícito.
“Empresas criadoras de conhecimento” são aquelas que criam conhecimento de forma
sistemática, que os disseminam por toda a organização e possuem a capacidade de incorporá-
los em novos produtos e tecnologias. São lugares onde a geração de novos conhecimentos
acontece não como atividade especializada, mas como uma forma de comportamento, um
meio pelo qual todos são trabalhadores do conhecimento (NONAKA e TAKEUCHI, 1997).
Para Marakas (1999, p. 440), “a criação de conhecimento refere-se à habilidade de uma
organização de desenvolver conhecimento novo e usar as idéias e soluções”. Nonaka e Konno
(1998) criaram um modelo de criação de conhecimento denominado de SECI, com o intuito
de transformar o conhecimento tácito em explícito.
O centro da teoria de Nonaka e Takeuchi (1997, p. 62) consiste na espiral da criação
de conhecimento: “(...) a espiral surge quando a interação entre conhecimento tácito e
conhecimento explícito eleva-se dinamicamente de um nível ontológico inferior até níveis
mais altos”. Os autores salientam que o segredo para a criação de conhecimento está na
mobilização e na conversão do conhecimento tácito. Desse modo, relatam a existência de duas
dimensões do conhecimento: a epistemológica e a ontológica. A dimensão epistemológica
está baseada na distinção entre conhecimento tácito e explícito, ao passo que a ontológica
abrange os níveis de entidades criadoras do conhecimento: individual, coletivo,
organizacional e interorganizacional. Desse modo, quando uma interação entre o
conhecimento tácito e o explícito, o nível ontológico eleva-se até os veis mais elevados,
surgindo a espiral de criação de conhecimento, a qual permite a propagação do conhecimento
individual até que faça parte de uma rede de conhecimentos entre organizações.
Nonaka e Takeuchi (1997) e Nonaka, Toyama e Byosiere (2001) afirmam que o
conhecimento é criado por indivíduos e que a organização possui o papel de apoiar esses
indivíduos criativos ou de lhes proporcionar contextos para a criação de conhecimento.
51
Acreditam também que esse processo ocorre dentro do que denominam uma comunidade de
interação em expansão, que atravessa níveis e fronteiras interorganizacionais.
Embora Polanyi (1967; 1969) afirme que o conhecimento tácito e o explícito não são
entidades totalmente separadas, a teoria de Nonaka e Takeuchi (1997) concentra-se
fundamentalmente no conhecimento tácito, em razão da carência de pesquisa e também pela
sua dificuldade de quantificação, dentre outros motivos.
“Nosso modelo dimico da criação de conhecimento está ancorado no pressuposto
crítico de que o conhecimento humano é criado e expandido através da interação
social entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito”, a qual denominam
de “conversão do conhecimento” (NONAKA e TAKEUCHI, 1997).
2.4.1 Conversão do Conhecimento: Interação entre o Conhecimento Tácito e o
Conhecimento Explícito
O que Nonaka e Takeuchi (1997), Nonaka (1991; 1994), Nonaka, Umemoto e Senoo
(1996), Nonaka, Toyama e Konno (2000) e Nonaka e Konno (1998) consideram como o
motor do processo de criação de conhecimento consiste nos quatro modos de conversão do
conhecimento criados a partir da interação entre o conhecimento tácito e o explícito. Esses
autores apresentam os quatro modos de conversão do conhecimento:
Socialização: este modo de conversão possibilita converter conhecimento tácito em
tácito através da interação entre indivíduos. Para a aquisição do conhecimento o
necessidade de linguagem, pois isso pode ocorrer pela imitação, observação e pela prática,
viabilizada pela experiência compartilhada e facilitada pelo compartilhamento de
perspectivas, bem como de experiências dos membros. Sem a experiência, é extremamente
difícil para as pessoas compartilharem entre elas, porém a mera transferência de informações
faz pouco sentido se for abstrata e fora do contexto. A socialização envolve processos grupais
e a cultura organizacional. Para Haldin-Herrgard (2000) e Auger e Vendelo (1999), para que o
conhecimento tácito seja compartilhado, é necessário que o conhecedor tenha a consciência da
existência desse conhecimento e encontre uma forma de expressá-lo.
Externalização: é o processo de articular conhecimentos tácitos em explícitos,
considerando que são complementares e podem se expandir no tempo pelo processo de
interação mútua, através das rodadas de diálogos. Pode, também, estimular os membros a
articularem suas perspectivas e a revelarem conhecimentos tácitos utilizando metáforas
(forma de perceber ou entender intuitivamente uma coisa imaginando simbolicamente outra,
52
pela expressão e linguagem), analogias (realiza-se pelo pensamento racional e concentra-se
nas semelhanças estruturais entre as duas coisas) ou modelos (construção de um arquétipo). A
analogia auxilia a conhecer o desconhecido através do conhecido, eliminando a lacuna entre
imagem e modelo lógico; é mais estruturada que a metáfora no que se refere à distinção entre
duas idéias ou objetos. O modelo é aceito com mais rapidez que a metáfora. A analogia, o
modelo e a metáfora tomam como base a troca de informações explícitas e o paradigma da
tecnologia da informação. Podem estar presentes aqui documentos, reuniões formais,
treinamentos, redes computadorizadas, entre outros, incluindo a educação formal. Esse
processo gera o conhecimento sistêmico.
Combinação: envolve a conversão do conhecimento explícito em tácito e utiliza
processos sociais para combinar os conhecimentos explícitos e informações presentes nos
indivíduos. É o modo de conversão mais importante por envolver diferentes conjuntos de
conhecimentos explícitos conceituais controlados pelos indivíduos. Indivíduos trocam e
combinam conhecimentos através de mecanismos de troca, como reuniões, conversas por
telefone e sistemas computacionais; dessa interação é possível a geração de novos
conhecimentos. Os novos conceitos criados necessitam ser combinados com os
conhecimentos explícitos existentes para transformá-los em algo mais tangível. A escrita
auxilia na articulação do conhecimento.
No processo interativo, não apenas o indivíduo enriquece seu conhecimento, mas
também contribui para o conhecimento organizacional, ou seja, o conhecimento internalizado
dentro da organização não é produto de um indivíduo somente, mas resultado da interação
entre eles (BHATT, 2002).
Internalização: na conversão de explícito para tácito, conhecimento operacional ou
know-how, surge a noção de aprendizagem e o estímulo com processos de tentativa e erro,
“do aprender fazendo”, com base no conhecimento tácito e com o compartilhamento do
conhecimento explícito. Esse modo de conversão possibilita a vivência dos resultados práticos
do novo conhecimento”, ou seja, aqui é gerado o conhecimento operacional que os autores
identificam como learning organization (aprendizagem organizacional). A internalização
também pode ocorrer sem que se tenha de “reexperimentar” as experiências vividas por outras
pessoas. Como exemplo, as experiências passadas podem ser transformadas num modelo
mental tácito e, quando a maioria dos membros de uma organização ou de um grupo
compartilha-os, este poderá fazer parte da cultura organizacional.
53
Assim, três dos quatro modos de conversão podem ser associados a aspectos da teoria
organizacional; a socialização com a cultura organizacional, a combinação com os processos
de informação e a internalização associada à aprendizagem. Apenas a externalização é pouco
desenvolvida (NONAKA, 1994; NONAKA e TAKEUCHI, 1997).
Os quatro modos de conversão do conhecimento envolvem a espiral de criação de
conhecimento, que ocorre à medida que acontece uma interação contínua e dinâmica entre o
conhecimento tácito e o explícito, associado a vários fatores indutores da conversão do
conhecimento.
Os autores apresentam quatro modos de conversão do conhecimento e o conteúdo do
conhecimento, conforme mostra a Figura 7:
Figura 7 Espiral e conteúdo do conhecimento criado pelos quatro modos
Fonte: Adaptado de Nonaka e Takeuchi (1997, p. 81) e Nonaka (1991)
A espiral pode iniciar em qualquer modo de conversão, mas geralmente inicia na
socialização. Esse modo normalmente começa a desenvolver um campo de interação que
facilita o compartilhamento das experiências e modelos mentais dos membros. A
externalização é provocada pelo diálogo ou pela reflexão coletiva significativos, nos quais o
emprego de uma metáfora ou analogia representa ajuda aos membros da equipe a externarem
o conhecimento tácito oculto, que, de outra forma, é difícil de ser comunicado. A combinação
é provocada pela colocação do conhecimento recém-criado e do existente proveniente de
outras seções da organização numa rede, cristalizando-os, assim, num novo produto, serviço
ou sistema gerencial. Por fim, o aprender fazendo provoca a internalização (NONAKA, 1994;
Internalização
Conhecimento
Operacional
Socialização
Conhecimento
Compartilhado
Combinação
Conhecimento
Sistêmico
Conhecimento Tácito Em Conhecimento Explícito
Conhecimento
Tácito
Do
Conhecimento
Explícito
Diálog
o
Associação do Conhecimento Explícito
Construção do Campo
Aprender fazendo
Reflexivo
entre iguais
Existencial
Face a face
Sistemático - colaborativo
Coletivo
-
local
Externalização
Conhecimento
Conceitual
54
NONAKA, UMEMOTO e SENOO, 1996; NONAKA e TAKEUCHI, 1997; NONAKA,
TOYAMA e KONNO, 2000)
Bhatt (2000b) ao apresentar seus modelos, admite que sua visão é consistente com a
de Nonaka e Takeuchi (1997) quando afirma que o conhecimento individual move-se para o
nível coletivo e, finalmente, é assimilado na organização através da espiral de criação de
conhecimento.
Para Nonaka (1994) e Nonaka, Umemoto e Senoo (1996), a criação de conhecimento
organizacional exige o compartilhamento e a disseminação de experiências individuais, sendo
dependente do conhecimento tácito individual. A organização mobiliza o conhecimento tácito
criado e acumulado no vel individual e amplia-o para um nível ontológico mais alto através
dos modos de conversão. O conteúdo desse conhecimento criado em cada modo é,
naturalmente, diferente. Esses conteúdos interagem entre si na espiral de criação de
conhecimento (NONAKA e TAKEUCHI, 1997). Assim, esses quatro processos possibilitam a
ligação desses veis e envolvem mudanças comportamentais e cognitivas. Para melhor
compreender as dimensões epistemológica e ontológica na criação de conhecimento é
apresentada a Figura 8:
Figura 8 - Espiral de criação do conhecimento organizacional
Fonte: Nonaka e Takeuchi (1997, p. 82)
Dimensão
Epistemológica
Dimensão
Ontológica
Indivíduo
Grupo Organização Interorganização
Nível do Conhecimento
Conhecimento
explícito
Conhecimento
tácito
Externalização
Internalização
Combinação
Socialização
55
A espiral ilustra a criação de um novo conceito no que se refere a um diálogo contínuo
entre conhecimento tácito e explícito nas trocas entre indivíduos e grupos num contexto
apropriado (NONAKA, 1994; NONAKA, UMEMOTO e SENOO, 1996).
Na dimensão ontológica, o conhecimento desloca-se do nível individual chegando ao
interorganizacional, através da difusão do conhecimento da pessoa até a construção de uma
rede de conhecimento entre organizações. A dimensão epistemológica toma como base a
distinção entre conhecimento tácito e explícito, ou seja, os vários processos de conversão
entre o conhecimento tácito e o explícito ocorrem num ciclo ascendente de comunidades de
interação do indivíduo, chegando ao contato da organização com o ambiente. Assim, o
indivíduo, nesse processo, assume o papel de criador, ao passo que o grupo é sintetizador e a
organização, a amplificadora de conhecimentos (NONAKA, 1994; NONAKA, UMEMOTO e
SENOO, 1996; NONAKA e TAKEUCHI, 1997). Os mecanismos denominados de
conhecimento ou memória organizacional
10
exigem que o conhecimento tácito seja
externalizado e codificado.
Esses quatro modos de conversão, inerentes às comunidades de interação, são
permanentes e ininterruptos. O processo de geração de conhecimento e o desenvolvimento de
comunidades de interação são basicamente independentes. Nesse cenário, o conhecimento não
compartilhado com outros terá pouca significância e resultado no contexto organizacional. O
papel da organização é propiciar interações entre aqueles que possuem atividades
semelhantes. As pessoas necessitam ser encorajadas a realizar trocas e o resultado das
interações individuais poderá ser a criação de conhecimento organizacional.
O modelo apresenta as condições capacitadoras da criação de conhecimento
organizacional, pois, para que a espiral do conhecimento ocorra, são necessárias algumas
condições em nível organizacional. Para Nonaka e Takeuchi (1997), Nonaka, Umemoto e
Senoo (1996) e Nonaka (1994), são cinco essas condições: intenção, autonomia, flutuação e
caos criativo, redundância e variedade de requisitos.
2.4.2 Condições Capacitadoras da Criação de Conhecimento Organizacional
Intenção: está centrada na aspiração que a organização possui com relação às suas
metas e nos esforços desenvolvidos para alcançá-las, através da elaboração de estratégias.
10
São eventos passados, promessas, objetivos concepções e comportamentos (March e Olsen, 1975).
56
Assim, a intenção torna-se elemento crítico da estratégia da empresa, com a conceitualização
de uma visão sobre o tipo de conhecimento que ela deseja desenvolver e a operacionalização
desse conhecimento num sistema gerencial de implementação.
Autonomia: proporciona tanto aos indivíduos como às equipes ou às organizações a
liberdade do ponto de vista da criação de conhecimento, tornando-as propensas a se
automotivarem para criar novo conhecimento diante dessas condições.
Flutuação e caos criativo: reside na instabilidade natural ou proposital da
organização; quando é proposital, geralmente é provocada pelos níveis de diretoria. Busca
estimular a criação de conhecimento organizacional através de um processo permanente de
questionamento e reconsideração de premissas existentes pelos membros da organização. Esse
movimento provoca quebra nas rotinas, hábitos ou estrutura cognitiva dos membros, o que
estimula para que haja interação entre a organização e o seu ambiente externo e, muitas vezes,
provoca um colapso interno na organização, a partir da qual se possibilita criar o novo
conhecimento.
Redundância: significa que as informações transcendem as exigências operacionais
imediatas dos membros da organização. Do mesmo modo, para que o conhecimento
organizacional seja criado, é necessário que um conceito criado por um indivíduo ou por um
grupo seja compartilhado por outros indivíduos que talvez não precisem desse conceito
imediatamente. O fato de compartilhar informações redundantes promove o
compartilhamento de conhecimento tácito, pois os indivíduos são capazes de captar o que
outros estão tentando expressar.
Variedade de requisitos: consiste na diversidade interna de uma organização com o
objetivo de poder lidar com uma variedade de contingências num ambiente complexo. Para
lidar com a complexidade e as flutuações inesperadas do ambiente, pode-se adotar uma
estrutura organizacional interligando as diferentes unidades por meio de uma rede de
informações ou, ainda, mudar freqüentemente a própria estrutura organizacional.
As condições capacitadoras o aspectos determinantes para que o processo tenha
continuidade e para que a criação de conhecimento traga como resultados melhoramentos e
inovações permanentes. Porém, além das condições capacitadoras, Nonaka e Takeuchi (1997)
apresentam o modelo de cinco fases do processo de criação de conhecimento organizacional.
O modelo de Nonaka e Takeuchi (1997), apresentado na Figura 9, representa um
processo integrado de cinco fases de criação de conhecimento organizacional e, segundo os
57
autores, deve ser interpretado como exemplo ideal do processo, compreendendo
compartilhamento do conhecimento tácito, criação de conceitos, justificação dos conceitos,
construção de um arquétipo e difusão interativa do conhecimento.
Figura 9 Modelo de cinco fases do processo de criação de conhecimento
Fonte: Nonaka e Takeuchi (1997, p. 96).
2.4.3 Cinco Fases do Processo de Criação de Conhecimento
- Compartilhamento do conhecimento tácito: estabelece uma estreita relação com o
modo de socialização. O compartilhamento ocorre entre vários indivíduos com diferentes
histórias, perspectivas e motivações, tornando-se a etapa crítica à criação de conhecimento
organizacional. Para efetivar esse compartilhamento, é necessário um espaço ou situação em
que os indivíduos possam interagir uns com os outros através de diálogos pessoais,
compartilhando experiências e sincronizando seus ritmos corporais e mentais.
- Criação de conceitos: corresponde a externalização na medida em que o modelo
mental tácito compartilhado passa pela verbalização em palavras e frases e, finalmente,
cristaliza-se em conceitos explícitos. Esse processo “é facilitado pelo uso de múltiplos
métodos de raciocínio como dedução, indução e abdução”, este último principalmente pelo
emprego de metáforas e analogias (NONAKA e TAKEUCHI, 1997, p. 98).
- Justificação de conceitos: está centrada na determinação de que conceitos recém-
criados valem realmente a pena para a organização e a sociedade; assemelha-se a uma
Condições capacitadoras
Intenção
Autonomia
Flutuação/Caos criativo
Redundância
Variedade de requisitos
Conhecimento explícit
o
na organização
Conhecimento tácito
na organização
Internalização
Socialização
Externalização
Combinação
Compartilha-
mento do conhe-
cimento tácito
Criação de
conceitos
Justificação
de conceitos
Difusão
interativa do
conhecimento
Mercado
Internalização pelos usuários
Conhecimento tácito
de usuários
de organizações
colaboradoras
Conhecimento explícito
como anúncios, patentes,
produto e/ou serviço
Construção de
um arquétipo
58
filtragem
“contínua e inconscientemente durante todo o processo, (...) a organização deve
conduzir essa justificação de uma forma mais explícita, a fim de verificar se a
intenção organizacional continua intacta e ter certeza de que os conceitos que estão
sendo gerados atendem às necessidades da sociedade de forma mais ampla”
(NONAKA e TAKEUCHI, 1997, p. 99).
- Construção de um Arquétipo: ocorre quando o conceito justificado é transformado
em algo tangível ou concreto,
“podendo ser considerado um protótipo no caso do desenvolvimento de um novo
produto. No caso de serviço ou inovação organizacional, um mecanismo
organizacional modelo poderia ser considerado um arquétipo. Em ambos os casos, o
arquétipo é construído combinando-se o conhecimento explícito recém-criado e o
conhecimento explícito existente” (NONAKA e TAKEUCHI, 1997, p. 100).
Como os conceitos justificados são explícitos, sofrem a transformação em arquétipos,
que também são explícitos. Essa fase se assemelha à combinação (NONAKA e TAKEUCHI,
1997; NONAKA, TOYAMA e BYOSIERE, 2001).
- Difusão Interativa do Conhecimento: ocorre quando o novo conhecimento criado,
justificado e transformado em modelo passa para um novo ciclo de criação de conhecimento
num nível ontológico diferente, tanto dentro da organização quanto entre organizações.
O compartilhamento de informações ajuda os indivíduos a se situarem melhor na
organização, podendo seus pensamentos e ações serem direcionados, uma vez que não estão
desconectados, mas associados livremente entre si, assumindo posições importantes no
contexto organizacional (NONAKA e TAKEUCHI, 1997). O conhecimento passível de
interação, registro e disseminação parece possuir a participação efetiva das pessoas e é
permeado por um processo contínuo de aprendizagem em busca da adoção das melhores
práticas. Essa interação pode ocorrer de diferentes formas e em diferentes momentos. Para
melhor demonstrar isso, Nonaka e Konno (1998) apresentam o conceito de Ba e Lave (1991)
de comunidade de prática (CoP).
Ba é o contexto no qual o conhecimento é compartilhado, criado e utilizado,
reconhecendo-se o fato de que conhecimento, para existir, necessita ser buscado (NONAKA e
KONNO, 1998; NONAKA, TOYAMA e BYOSIERE, 2001). Ba o necessariamente
necessita de um espaço físico (escritório); pode ser virtual (teleconferência, e-mail), mental
(experiência compartilhada, idéias, ideais) ou qualquer combinação desses, pois o mais
importante é a interação. A criação de conhecimento não depende apenas de um indivíduo,
mas também da interação com outros e com o ambiente. Assim, Ba é o espaço onde as
59
interações acontecem; contém conhecimento, ou os indivíduos é que possuem o
conhecimento, e é também a estrutura na qual o conhecimento é ativado como um recurso
(NONAKA e KONNO, 1998; NONAKA, TOYAMA e BYOSIERE, 2001). Para o indivíduo,
Ba é o grupo; para o grupo, Ba é a organização e, para a organização, Ba é o mercado
(NONAKA e KONNO, 1998).
O conceito de Ba possui similaridade com o de CoP. Nesta, os membros aprendem
através da participação na comunidade, praticando e memorizando seu trabalho (LAVE, 1991;
BROWN e DUGUID, 1998; WENGER, 1998b). Portanto, a diferença entre CoP e Ba é
pequena: na primeira, os membros aprendem pelo fato de estarem presentes ou fazerem parte
da comunidade; e na segunda, é o lugar onde o novo conhecimento é criado, ou onde a
informação é interpretada e torna-se conhecimento (NONAKA, TOYAMA e BYOSIERE,
2001). Assim, neste estudo será dada ênfase ao conceito de CoP por considerá-lo mais
pertinente à temática e à abordagem adotada, pela forte ênfase nas práticas no convívio social.
Porém, antes de apresentar a CoP mais detalhadamente, torna-se relevante trazer um pouco da
literatura sobre aprendizagem, pois a criação de conhecimento não pode ser vista de forma
separada da aprendizagem (AKBAR, 2003). Para Bhatt (2000a), a aprendizagem é
considerada algo necessário para a criação de conhecimento, porém aprendizado o é
garantia de que o conhecimento aprendido seja útil e adaptado ao ambiente. Cohen e
Levinthal (1990) explicitam com mais clareza o link entre capacidade de aprender e criação
de conhecimento, afirmando que a expansão do conhecimento é dependente da intensidade do
aprendizado acumulado de experiências anteriores, levando ao crescimento da habilidade para
acumular conhecimento e ao aprendizado de conceitos subseqüentes.
Probst, Raub e Romhardt (2002, p. 30) salientam que os administrados interessam-se
por processos de aprendizado passíveis de controle. Diferenciando gestão do conhecimento de
aprendizagem organizacional, esclarecem: a primeira é um processo ativo e diretivo, “consiste
em um conjunto integrado de intervenções que aproveitam as oportunidades para dar forma à
base de conhecimento”, ao passo que a segunda “é o nome dado à mudança de base de
conhecimento da organização”.
60
2.5 APRENDIZAGEM NA CRIAÇÃO DE CONHECIMENTO
Pesquisadores como Weick (1969) e Simon (1957) afirmam que a organização, por si
só, não possui capacidade para aprender; na organização que aprende, o processo vai além do
aspecto individual. Nelson e Winter (1982) e Starbuck (1983) reforçam essa idéia ao
considerarem que a evolução das organizações ocorre pela sua capacidade de aprender. As
organizações têm sistema cognitivo e memória (HEDBERG, 1981; WALSH e UNGSON,
1991; WEICK e ROBERTS, 1993); as rotinas e procedimentos trazem consigo histórias
(NELSON e WINTER, 1982); o meio pelo qual o conhecimento é integrado depende da
história e da cultura do grupo e da organização (BARNEY, 1986b).
As teorias de aprendizagem organizacional têm, por um longo tempo, focado as
mudanças contínuas nas organizações (DODGSON, 1993), uma adequação das organizações
ao ambiente de mudanças, com ajustes incrementais nas suas metas (SHRIVASTAVA, 1986).
Os conceitos apresentados pelos autores parecem uma “selva de aprendizagem
organizacional” (PRANGE, 2001, p. 42). A abordagem apresentada por alguns autores
demonstra falhas e recebe críticas por parte de outros por faltar a visão de que desenvolver
conhecimento constitui aprendizagem” (WEICK, 1991, p. 122); a ênfase centra-se somente no
aprendizado individual (WEICK, 1991; DODGSON, 1993). Também é deixado de lado o
aspecto da criação de conhecimento que resulta do aprendizado (NONAKA, TOYAMA e
BYOSIERE, 2001). Para Wilson (2002), o processo de aprendizagem pode determinar como
os indivíduos criam, adquirem, interpretam, transferem e retêm o conhecimento.
Há autores que contemplam esses pontos em suas abordagens (DAFT e WEICK, 1984;
BROWN e DUGUID, 1991), centrando-se no aspecto passivo da aprendizagem e na
adaptação das organizações às mudanças. Todavia, a adaptação à mudança pode surgir sem
necessariamente induzir a um processo de aprendizagem (CHILD e HEAVENS, 2001). Para
complementar a visão desses autores, Antal Lenhardt e Rosenbrock (2001) afirmam que o
aprendizado pode levar à decisão de não mudar ou de não aprender. Esse é o processo pelo
qual o aprendiz descarta conhecimento (HEDBERG, 1981) .
Toda essa discussão que circunda a aprendizagem pode ser justificada pelo fato de os
estudos terem se iniciado em tempos remotos, sendo estudada por psicólogos, educadores,
administradores, entre outros; na literatura referente a estudos gerenciais, tem estado presente
em muitas décadas. Cyert e March (1963) foram os primeiros a falar sobre aprendizagem
61
organizacional e, após, Argyris e Schön (1978) trouxeram um conceito mais preciso do que
seja aprendizagem (ANTAL et al., 2001; PAWLOWSKY, 2001). O tema tem recebido maior
reconhecimento nos últimos dez anos (EASTERBY-SMITH e ARAÚJO, 2001), embora
Prange (2001) afirme que, já na década de 50, o conceito era, de alguma forma, mencionado.
Embora sejam considerados diferentes períodos, dependendo da perspectiva, o
desenvolvimento da aprendizagem organizacional compreende quatro períodos: origem
(décadas de 60 e 70), a primeira fase (década de 80), a década passada (década de 90) e as
mudanças emergentes na fase atual (ANTAL, LENHARDT e ROSENBROCK, 2001).
As diferentes formas de se pensar a aprendizagem organizacional podem ser ligadas a
diferentes disciplinas. Os estudos foram conduzidos a perspectivas e orientações
diferenciadas, todas direcionadas à necessidade de adaptações às variáveis ambientais,
aprender com o passado, antecipar e reagir às ameaças ambientais e inovar permanentemente
(EASTERBY-SMITH, 1997; EASTERBY-SMITH e ARAÚJO, 2001). A separação entre as
abordagens que se referem à adaptação e ao aprendizado pode ser encontrada nos trabalhos de
Argyris e Schön (1978), Dodgson (1993), Hedberg (1981), Kim (1993), Senge (1999) e Fiol e
Lyles (1985), considerando a expectativa de desempenho ligada aos resultados atuais
(SHRIVASTAVA, 1983). Fiol e Lyles (1985) consideram a aprendizagem como o
desenvolvimento de insights, conhecimentos e associações entre ações passadas e futuras e a
adaptação, referindo-se à habilidade para fazer ajustamentos incrementais como resultante do
ambiente de mudanças.
Para alguns autores, pouca clareza do que é, de como ocorre e como podem ser
medidos os resultados da aprendizagem (FIOL e LYLES, 1985; GARAVAN, 1997). Alguns
consideram que a aprendizagem organizacional pode melhorar o desempenho futuro.
Mudanças no comportamento podem ocorrer sem nenhum desenvolvimento de associação
cognitiva e, ao mesmo tempo, o conhecimento pode ser adquirido sem se realizar nenhuma
mudança na estrutura de referência (FIOL e LYLES, 1985; DODGSON, 1993; KIM, 1993).
Huber (1991) complementa as idéias desses autores e apresenta a noção de
comportamento potencial, que a organização de aprendizagem possui dimensões tanto
comportamentais quanto cognitivas. Considera que existem quatro construções ligadas à
aprendizagem organizacional: aquisição de conhecimento, distribuição da informação,
interpretação da informação e memória organizacional. E complementa afirmando que o
aprendizado não precisa ser consciente ou intencional e que nem sempre aumenta a eficácia
do aprendiz; nem necessita resultar em mudança de comportamento observável, podendo ser
62
uma forma de atitude diante de uma situação (MARCH e OLSEN, 1976), uma mudança
cognitiva (FIOL, 1994), ou um trabalho melhor (SWIERING e WIERDSMA, 1995).
Diante de muitos questionamentos ligados à temática aprendizagem, é importante
apresentar a distinção entre organização de aprendizagem (learning organizational) e
aprendizagem organizacional (organizational learning): a primeira tem dado mais ênfase à
observação e à análise distanciada dos processos que envolvem aprendizagem individual e
coletiva, buscando entender a natureza e o processo da aprendizagem (e desaprender) dentro
das organizações; a segunda orienta-se para a ação e está ajustada para usar ferramentas
metodológicas específicas para realizar diagnósticos e avaliações, com o objetivo de
identificar, promover e avaliar a qualidade dos processos de aprendizagem dentro da
organização (TSANG, 1997). Para este autor, uma organização de aprendizagem é aquela que
consegue obter aprendizagem organizacional. Organizações de aprendizagem e aprendizagem
organizacional eram, muitas vezes, utilizados de forma confusa, porém o termo aprendizagem
organizacional é, agora, adotado como uma expressão para as duas abordagens (EASTERBY-
SMITH, 1997). Neste trabalho será dada ênfase à aprendizagem vista como processual no
contexto de mudanças nas organizações.
Os estudos sobre aprendizagem de Argyris e Schön (1974; 1978) e Argyris (1995)
trazem os conceitos de teoria da ação, com especial destaque para a teoria em uso (maneira
como as pessoas realmente estão fazendo) e teoria esposada (maneira como as pessoas
pensam que estão agindo ou gostariam de agir). Consideram que, por trás de uma ão,
existem conhecimento e subjetividade, ou seja, existe um modelo mental que sustenta uma
decisão. Embora as pessoas reivindiquem o aprendizado de novas idéias e práticas, essas
freqüentemente não são manifestadas em seus comportamentos, ou seja, elas agem
despercebidas da contradição entre a teoria esposada e a teoria em prática e resistem em
aceitar que há inconsistência entre ambas (ARGYRIS, 1992).
Como a literatura de aprendizagem organizacional é ampla, procurar-se-á mostrar os
modelos de perspectiva integrativa nos conceitos de aprendizagem de Reinhardt (2000) e a
estrutura conceitual da aprendizagem organizacional de Pawlowsky (2001), incluindo a
amplitude de análise de diversos autores e suas ênfases:
63
Figura 10 Modelo integrado de aprendizagem
Fonte: Adaptado de Reinhardt (2000, p. 190) e Pawlowsky (2001, p. 228)
Com base na Figura 10, os autores utilizam a vasta literatura presente sobre
aprendizagem em quatro perspectivas: níveis, modos, tipos e processos de aprendizagem.
- veis de aprendizagem: muitas discussões sobre se a aprendizagem deve ser
tratada de forma individual ou organizacional. O que esclaro é a importância de separá-la
em classes de aprendizagem para defini-la (ARGYRIS e SCHÖN, 1978), pois, em muitas
situações, o aprendizado em grupo pode ser determinante, como apresentam Nonaka e
Takeuchi (1997) e Senge (1999), ou, indo um pouco mais além, ser resposta das interações
interorganizacionais (REINHARDT, 2000; PAWLOWSKY, 2001). A aprendizagem
organizacional implica também novas percepções e comportamentos modificados e difere da
individual em alguns aspectos, como o de ocorrer através de percepções, conhecimentos e
modelos mentais compartilhados, pois o aprendizado é construído com base em experiências e
conhecimentos passados, na memória organizacional e, muitas vezes, na dos indivíduos
(ARGYRIS, 1964).
Argyris e Schön (1974) salientam que não pode haver aprendizado organizacional sem
o aprendizado individual, mas é possível ocorrer o aprendizado individual sem que seja uma
condição suficiente para o aprendizado organizacional. Afirmam que, para ocorrer o
aprendizado organizacional, é necessário que o indivíduo se engaje mais na organização com
seus desafios, descobertas e resultados de suas indagações presentes na memória
organizacional, a qual codifica a teoria em uso. Isso pode mostrar maior receptividade à
Perspectiva de Integração
na Aprendizagem
Organizacional
Níveis de Aprendizagem
Individual
Coletivo
Organizacional
Interorganizacional
Tipos de Aprendizagem
Tipo I
Ciclo Simples
Tipo II – Ciclo Duplo
Tipo II - Deutero
Modos de Aprendizagem
Aprendizagem
Cognitiva
Aprendizagem
Cultural
Aprendizagem
na Ação
Fases de Aprendizagem
Identificação/
Criação
Difusão
Integração/
Modificação
Ação
64
mudança. Assim, o aprendizado organizacional é mais do que a soma do aprendizado de cada
membro (ARGYRIS e SCHÖN, 1978; FIOL e LYLES, 1985; DODGSON, 1993), ou seja, o
aprendizado individual é necessário para que ocorra o aprendizado coletivo, mas não
suficiente para a ocorrência do aprendizado organizacional (SWIERING e WIERDSMA,
1995).
Para Robbins (1999), a aprendizagem individual pode ocorrer num processo no qual as
pessoas se comportam de uma maneira específica em razão de uma aprendizagem ocorrida em
alguma fase da vida.
Entretanto, o aprendizado organizacional é dependente da existência de capacidade
para assimilar mais informação (HEDBERG, 1981). As organizações apresentam-se com
diferentes tipos e formas e parecem não ter sido criadas para buscar aprendizado constante.
Em algumas situações, pode não ocorrer aprendizado em virtude da obtenção de resposta
contrária à esperada; pode ocorrer, a menos que esteja claro que a resposta consiste num novo
conhecimento ou é resultante de uma outra situação em que tenha ocorrido memorização.
Assim, o aprendizado pode ser definido como a mudança ocorrida pela resposta a um
estímulo, ou como a mobilização em direção a algo novo com base no conhecimento existente
(WEICK, 1991).
Para Richter (1998), tanto o aprendizado organizacional como o individual podem ser
mais coletivos, dinâmicos, improvisados e emergentes. O desafio está na ligação entre a
aprendizagem individual e a organizacional para potencializar e melhor explorar essa riqueza
existente. Ocorrem casos em que as análises são feitas sem considerar os indivíduos ou grupos
que compõem a organização (GARAVAN, 1997).
- Modos de Aprendizagem: três perspectivas para a aprendizagem organizacional e
a gestão do conhecimento: a cognitiva, a cultural e a aprendizagem pela ação, ou seja, os três
estágios da condição humana: conhecer, sentir e agir. A abordagem cognitiva é baseada nas
teorias de tomada de decisão, bem como da racionalidade limitada, visando mudar a estrutura
cognitiva do sistema de aprendizado; a cultural é baseada na interpretação dos conceitos de
comportamento humano e a aprendizagem na ação tem como base o aprendizado experiencial
(REINHARDT, 2000; PAWLOWSKY, 2001).
- Tipos de Aprendizagem: os tipos foram primeiramente mostrados por Argyris e
Schön (1974) e são: ciclo simples, ciclo duplo e deutero. O ciclo simples envolve a detecção e
correção de erros buscando melhoramentos incrementais na forma de desenvolver atividades.
65
Ele se concretiza quando o aprendizado coletivo o acarreta mudanças nas regras existentes
da organização, ou seja, ocorre um aprendizado no nível das regras e exerce impacto sobre
parte da organização, geralmente de curta duração, e refere-se ao como” desenvolver melhor
as atividades através da experiência. Por sua vez, o ciclo duplo envolve a reflexão, o
questionamento do que está sendo feito, e visa ajustar normas e valores; foca o “porquê” de as
coisas serem feitas, gera efeitos e impactos de longo prazo nas organizações; é um processo
mais cognitivo e tem como objetivo o desenvolvimento de novos paradigmas. Por fim, o
terceiro estágio, o deutero ou ciclo triplo, consiste num nível mais elevado de reflexão que é
considerado quando o processo de aprendizado é reexaminado e reaprendido o seu sistema e
seus efeitos, ou seja, envolve o aprender como aprender; contribui para melhorar o
funcionamento dos ciclos anteriores (ARGYRIS e SCHÖN, 1974; ARGYRIS, 1999; 1977).
Outros autores utilizam diferentes denominações para especificar os tipos de
aprendizagem, conforme segue:
Autores Tipos de Aprendizado ou Ênfase
Dodgson (1993) Tático e Estratégico
Senge (1999) Adaptativo e Generativo
Garavan (1997) Variável e Metáfora
Argyris e Schön (1978) Ciclo Simples, Ciclo Duplo e Deutero (circuito ou loop)
Swiering e Wierdsma (1995) Ciclo Simples, Ciclo Duplo e Ciclo Triplo
Fiol e Lyles (1985) Alto Nível e Baixo Nível
Kim (1993) Operacional e Conceitual
Huber (1991) e Kolb (1997) Comportamental e Cognitivo
Quadro 2 Formas de Diferenciar o Aprendizado
Fonte: Elaborada pela autora
Portanto, há diferentes formas de especificar a aprendizagem, nas quais os autores
buscam fazer referência aos diferentes tipos de aprendizagens envolvidos nesse processo.
As organizações apresentam uma visão de aprendizado adaptativo ao contexto em que
estão inseridas (SENGE, 1999). Os proponentes das mudanças radicais tendem a evidenciar a
maior importância da aprendizagem de ciclo duplo, ou generativo, ou de mais alto nível, em
contrapartida à de ciclo único (ARGYRIS e SCHÖN, 1978; FIOL e LYLES, 1985; SENGE,
1999), mesmo que isso envolva ruptura (KIM, 1993) e novas formas de ver a organização
(LEROY e RAMANANTSOA, 1997) de olhar o mundo, com experimentação e feedback
contínuo dos vários meios da organização para definir rumos e resolver problemas.
4- Fases da Aprendizagem: o conhecimento passa pelas fases nas quais é identificado
e criado; após, é difundido por vários sistemas de aprendizagem e, finalmente, integrado no
sistema de conhecimento existente no nível individual e coletivo, ou é integrado nos
processos da organização. Nessa integração, pode ser modificado para atender às
66
necessidades. Finalmente, esse conhecimento é transformado na ação e aplicado nas rotinas,
podendo ter impacto nos comportamentos, produtos ou serviços (REINHARDT, 2000).
Com isso, Weick (1991) apresenta o aprendizado estruturado em termos de relações
entre o estímulo e a resposta. O aprendizado decorre da obtenção de conhecimento das causas
e efeitos das relações e dos efeitos externos (SHRIVASTAVA, 1983). Para que seja
desenvolvida a aprendizagem numa organização, é necessário haver o questionamento: como
as pessoas aprendem? (FLEURY e FLEURY, 2000). Assim, os elementos considerados
necessários para que a aprendizagem ocorra são um conjunto de ferramentas e um cenário
propício para o aprendizado que possibilite a condução de experimentos (KIM, 1996).
Para Senge (1999a), a aprendizagem organizacional consiste na capacidade de
aprender mais rápido e melhor do que os concorrentes para a obtenção de vantagem
competitiva. As organizações devem desenvolver cinco disciplinas” fundamentais para o
processo de inovação e aprendizado: domínio pessoal, modelos mentais, vio compartilhada,
aprendizagem em grupo e pensamento sistêmico. Para o autor, a organização que aprende é o
lugar onde as pessoas criam sua realidade e agem sobre ela para provocar as modificações
necessárias (SENGE, 1999a).
Assim, uma forma de ocorrer o aprendizado organizacional ocorre quando a mudança
no ambiente externo é entendida e há uma adaptação das crenças e comportamentos da
organização, de modo a se tornarem compatíveis com o processo de mudança (DE GEUS,
1997). A aprendizagem é vista como um processo pelo qual os indivíduos estão aptos a
adquirir novos conhecimentos e percepções, conduzindo a alterações em seus
comportamentos e em suas ações (ARGYRIS, 1964). Senge (1999b) evidencia a importância
dos processos iniciais de envolvimento para que o processo de aprendizagem ocorra.
Outro elemento-chave relacionado aos métodos de aprendizagem nas organizações é o
Ciclo de Aprendizagem Vivencial Kolb (1997), baseado nos trabalhos de Kurt Lewin, que
analisou os estilos de aprendizagem individual no campo das organizações. O autor apresenta
um modelo que está ligado à aprendizagem cognitiva e comportamental, o conhecimento
tácito e o conhecimento explícito e analisa os estilos de aprendizagem individual nas
organizações, considerando que a aprendizagem necessita de perspectivas opostas.
Swieringa e Wierdsma (1995) contribuíram significativamente no campo da
aprendizagem organizacional ao conceituarem aprendizagem organizacional como uma
mudança do comportamento organizacional, um processo de aprendizagem coletiva.
67
Apresentam o aprendizado como um potencial, uma competência, “aprender a aprender” e a
mudança como uma demonstração do aprendizado. A condição para que uma organização
aprenda é através da aprendizagem de seus membros, visto que, quanto maior for o nível de
autoconhecimento, maior será o potencial de aprendizagem (SWIERING e WIERDSMA,
1995). Para os autores, aprendizagem é uma mudança de conduta; as pessoas devem criar e
mudar a organização por meio da aprendizagem. A aprendizagem pode ocorrer de diversas
formas, não sendo excludentes (SWIERING e WIERDSMA, 1995):
aprendizagem informal – aprender por imitação;
aprendizagem formal – aprende-se com base em recompensas e castigos;
aprendizagem mediante a experiência ou por meio da ação o que se aprendeu
deve ser evidenciado no que se faz;
aprendizagem metódica deve-se estar preocupado com uma maneira consciente
de aprender;
aprendizagem consciente – ajuda a desenvolver o potencial de aprendizagem;
aprendizagem inconsciente – é repetitiva, por imitação.
A chave dos modelos de aprendizagem organizacional está no reconhecimento do
modo como o processo é incorporado no contexto social (ANTAL, LENHARDT e
ROSENBROCK, 2001), o que tem recebido especial atenção, considerando a maneira como
as pessoas atribuem significado a suas experiências profissionais.
Gherardi e Nicolini (2000) utilizam a expressão aprender na organização fazendo
referência à aprendizagem como uma atividade incorporada ao trabalho na organização. A
interação interpessoal no nível consciente estimula e aumenta essas atividades, aproximando
os indivíduos e estimulando os processos inovativos (LEONARD e SENSIPER, 1998).
O aprender e o desaprender são processos permanentes; o desaprender é necessário
porque o aprendizado não é simplesmente um processo cumulativo (ANTAL et al., 2001).
Para Hedberg (1981), o desaprender diz respeito ao questionamento e à reconstrução das
perspectivas existentes, das estruturas conceituais de interpretação ou das premissas
decisórias. Por isso, neste trabalho, os conceitos de aprendizagem estão ligados a autores
(ARGYRIS e SCHÖN, 1974; 1978; ARGYRIS, 1995; KOLB, 1997; SWIERING e
WIERDSMA, 1995) que tratam da aprendizagem organizacional, embora alguns transitem
pelas duas abordagens.
68
Adota-se, portanto o conceito de aprendizagem desenvolvido pela autora:
um contínuo desenvolvimento de conhecimentos e capacidades; envolve mudanças de
comportamento e modelos mentais e é um permanente processo de
desconstrução/reconstrução do conhecimento, uma vez que a realidade indica que é preciso
deixar para trás alguns patamares, algumas verdades. O aprendizado está ligado a um
processo educativo que provoca no indivíduo um responder crítico diante da realidade.
A aprendizagem, neste estudo, faz parte de um processo que muda o estado do
conhecimento do indivíduo ou da organização, interligando, cada vez mais, as abordagens do
conhecimento e da aprendizagem, ou seja, o conhecimento e a aprendizagem são sempre
vistos como complementares, contínuos e presentes na realidade organizacional, podendo ser
assim representados:
Figura 11 Interação entre aprendizagem e conhecimento organizacional
Fonte: Elaborada pela Autora
Todos os aspectos apresentados sobre o conhecimento estão, de alguma forma, ligados
aos processos de aprendizagem. Eles são fatores-chave não apenas para a competitividade
econômica, mas, também, para a participação social, cultural, dentre outras (ANTAL et al.,
2001). Uma questão relevante a ser entendida são as dimensões do conhecimento e da
aprendizagem organizacional, coletiva e individual. O modo de aprender (pela prática,
repetição, socialização, reforço, imitação, entre outras formas) constitui diferentes conteúdos
de aprendizagem (LEROY e RAMANANTSOA, 1997) e é um conhecimento que pode ser
explícito, estruturado, formalizado (POLANYI, 1967), mas centrado apenas no como, não no
porquê (KIM, 1993). Para Bandura (1977), a aprendizagem é o resultado das práticas
repetidas, ou do aprender fazendo, e do melhoramento contínuo.
Na tentativa de buscar suprir as lacunas existentes no estudo da aprendizagem
organizacional, seu campo tem sido expandido para a inclusão da criação de conhecimento
Conhecimento
Organizacional
Tácito
Explícito
Aprendizagem
Individual
Coletiva
Organizacional
69
(ANTAL et al., 2001). A aprendizagem, neste estudo, não está sendo considerada apenas na
perspectiva de desenvolver conhecimentos, mas de trabalhar com o grande volume de
conhecimentos existentes nos níveis individual, coletivo e organizacional, podendo
transcender para o interorganizacional.
Para expandir o conhecimento coletivo, uma organização precisa fazer todos os
esforços a fim de desenvolver significados na interação entre e nas CoPs. Gerir conhecimento
envolve mudança cultural (BHATT, 2001).
Assim, neste estudo, a aprendizagem tefoco na mudança de atitude, que é resultado
de aprendizagem, o que ocorre num contexto influenciado pela cultura individual, coletiva e
organizacional.
2.5.1 Cultura e Cultura de Aprendizagem
A visão de cultura sugere que, assim como corre com as pessoas, as organizações têm
a capacidade de resistir à mudança ou de incorporá-la, porém, mesmo que a organização de
aprendizagem seja possível, isso poderá ser uma limitação (PEDLER, 1992). Para Garavan
(1997), a cultura do aprendizado não é vista como objetiva, mas construída por pessoas e
reproduzida por uma rede de trabalho, por símbolos e significados que as unem e tornam o
compartilhamento do aprendizado possível; ainda, capacita as pessoas a gerirem processos de
revisão do conhecimento efetivamente (HUBER, 1991). A cultura de aprendizado
organizacional pode afetar diretamente o processo de criação de conhecimento da organização
(BHATT, 2000a).
A cultura é um traço que identifica e diferencia as organizações em suas
particularidades. Alguns aspectos não são possíveis de explicitação, por serem cercados de
subjetividade que nem sempre é interessante explicitar; outros aspectos são pontualmente
gerenciáveis e podem ser explicitados. Algumas culturas podem inibir a capacidade de
aprendizagem das pessoas, visto que a verdadeira aprendizagem não ocorre somente quando a
organização refina as suas teorias e pressupostos acerca da forma como o mundo funciona,
mas se constitui num processo contínuo. A extensão em que cada indivíduo interage com o
outro depende da cultura organizacional (BHATT, 1998). Enfim, a cultura inclui todas as
áreas da vida do grupo (SCHEIN, 1990).
70
O problema ligado à conceituação do que seja cultura deve-se ao fato de não ser
apenas um conceito, mas a fonte de uma família de conceitos (PETTIGREW, 1979). A cultura
é, sim, uma estrutura de referência, uma metáfora que está inserida na organização
(PETTIGREW, 1979; SMIRCICH, 1983; MORGAN, 1998).
Para Schein (1985), cultura resulta do compartilhamento de experiências importantes
no processo de solução de problemas internos e externos, o qual pode levar a uma visão de
mundo construída pelo grupo. Assim, cultura é fruto do aprendizado da experiência do grupo
e pode ser encontrada somente onde há um grupo definido com uma história significativa.
A cultura implica que o comportamento humano seja parcialmente prescrito por um
meio de vida criado e sustentado coletivamente; não pode ser envolta em normas, regras e
códigos que as pessoas utilizam para interpretar e avaliar seus comportamentos, bem como o
comportamento de outras (FROST et al., 1985). A cultura está inserida em crenças,
percepções e comportamentos humanos, bem como nas políticas da empresa, na estrutura, nos
sistemas, etc. (PETTIGREW, 1990).
A palavra cultura pode ser aplicada a qualquer unidade social que tem tido a
oportunidade de aprender e que estabelece a visão de si e do ambiente a sua volta a sua
concepção básica (SCHEIN, 1985). Thompson e Luthans (1990) afirmam que a cultura pode
ser aprendida através da conexão entre os comportamentos e suas conseqüências e, embora
pareça simples, possui profundas implicações quando necessita ser mudada profundamente.
Portanto, cultura é um modelo de concepção sica que pode ser inventado,
descoberto ou desenvolvido por um determinado grupo referentemente à forma como seus
membros aprendem ao lidar com seus problemas de adaptação externa e integração interna.
Isso pode se referir a algo que tenha funcionado bem o suficiente para ser considerado válido
e ser passível de ser ensinado para novos membros como o meio correto para perceber, pensar
e sentir em relação àqueles problemas (SCHEIN, 1985).
Cultura é conceituada como a construção coletiva da realidade social (SACKMANN,
1991). Inseridos no aspecto cultural estão as histórias, os modelos mentais, que não somente
servem de orientação, mas também de obstáculo para que o aprendizado ocorra (HEDBERG,
1981). Esse conceito é o que parece melhor se ajustar a este estudo.
A cultura de aprendizado organizacional pode afetar diretamente o processo de criação
de conhecimento da organização (BHATT, 2000a). Neste estudo, tem relevância o
entendimento de como o produtor rural aprende em seus contextos.
71
2.5.2 Como o Produtor Rural Aprende
As organizações agronegociais e, mais especificamente, as propriedades rurais são
caracterizadas pela informalidade, visto que a primeira preocupação centra-se nas relações
interpessoais entre os membros, que são as emoções, sentimentos, comunicação e valores
(ERICKSON, 2002).
Os produtores utilizam uma vasta fonte de informações e processos de aprendizagem
no gerenciamento de seus negócios, os quais variam de produtor para produtor e estão de
acordo com a proposta pessoal de aprendizado. Todas essas fontes influenciam decisivamente
no processo de tomada de decisão (BAMBERRY et al., 1997).
Para Gibb (1997), os pequenos agricultores preferem buscar informações de fontes que
compartilham com seus valores e que lhes trarão noções de alinhamento com a sua atividade.
Em estudo realizado na Austrália, Kilpatrick e Rosenblatt (1998) concluíram que os
produtores são encorajados a aprender dentro de uma vasta comunidade onde se sentem
instigados a buscar e questionar. Isso se complementa com a forma como os produtores
preferem aprender e as suas percepções de como eles trazem informações e idéias do mundo
exterior para dentro de suas propriedades e na prática do gerenciamento. Eles preferem
aprender em suas próprias situações com experts e pessoas da mesma atividade, pois estão
discutindo com quem sabe entender suas necessidades e tem conhecimentos ou habilidades
que podem ser aplicadas as suas situações (KILPATRICK e ROSENBLATT, 1998).
Kilpatrick e Rosenblatt (1998) apresentam cinco fatores que contribuem para a
preferência dos produtores da Austrália pela busca de informação de maneira informal, não
pela educação e treinamento formais: independência e auto-suficiência, aprendizado
contextualizado, falta de confiança no contexto do treinamento, informações de fontes
conhecidas e temor de que o novo conhecimento exija habilidades que poderão causar
questionamentos das crenças existentes.
Para alguns agricultores da Austrália, a informação originada de outros produtores é a
fonte mais importante e influencia decisivamente no processo de decisão, sobretudo quando
se refere à mudança; possui importante valor por ser local e vir da experiência direta e da
observação ao longo do tempo (MILLAR, CURTIS e DE LACY, 1997; KILPATRICK e
ROSENBLATT, 1998). Para Chambers (1983), o conhecimento da população rural existe em
72
inumeráveis formas e em diferentes grupos e ambientes. Muitas das práticas dos pequenos
produtores que eram consideradas como primitivas e sem direcionamento passaram a ser
reconhecidas como sofisticadas e apropriadas à realidade atual.
Um estudo realizado com um grupo de produtores na Austrália revelou que existem
várias razões para a baixa taxa de qualificação pós-formação escolar: o produtor prefere
aprender na prática do trabalho, é mais adepto a cursos suplementares curtos ou a outro tipo
aprendizado informal (SYNAPSE CONSULTING, 1998). Entre as dificuldades estão o custo,
o tempo, a localização, a falta de confiança no treinamento e a falta de uma cultura de
treinamento entre os produtores (KILPATRICK e WILLIAMSON, 1996; SYNAPSE
CONSULTING, 1998). Para Rogers (1983), a interação com pessoas da mesma área é um
grande passo para o aprendizado.
Outro aspecto importante identificado por Bamberry et al. (1997) é que as
qualificações adquiridas da educação formal são medidas inadequadas da qualificação dos
produtores, pois um grande número deles vale-se da variedade de fontes de aprendizado
informal para sua própria educação. Essas fontes são outras pessoas, experts, outros
produtores, família e empregados, bem como a mídia eletrônica e impressa. Com base nesses
aspectos, o aprendizado formal é difícil de ser medido e abre espaço para novas abordagens
para medir as qualificações, com ênfase nas competências e o foco no reconhecimento do
aprendizado anterior (BAMBERRY et al., 1997; SYNAPSE CONSULTING, 1998).
Em vista disso, é exigido dos produtores um padrão de informações diferenciadas para
que se capacitem a operar eficientemente nesse ambiente, pois necessitam entender o
gerenciamento da cadeia e o modo de posicionar sua produção na cadeia de distribuição para
minimizar os impactos negativos e melhor aproveitar as oportunidades. A ênfase na agregação
de valor encoraja os produtores a buscarem as melhores oportunidades em produtos e áreas
específicas (STEFANSON e FULTON, 1997).
Para Binotto e Nakayama (2001), uma necessidade urgente de desenvolver
habilidades nos gestores responsáveis pela condução dos negócios para resolver problemas,
experimentar novas tecnologias, aprender mais com base nas experiências, observando o
comportamento dos outros produtores e ser capaz de, além de aprender, transmitir e
compartilhar conhecimentos com os demais agentes das cadeias produtivas e, mais
especificamente, nas suas comunidades. Na visão de Bamberry et al. (1997), a ênfase no
gerenciamento da produção econômica e no aprendizado focado nela é substituída por uma
73
ampla habilidade gerencial. Os aspectos humanos, gerencial e financeiro, que não eram tão
relevantes no passado, passam, hoje, a ter atenção redobrada.
Assim, o conhecimento científico produzido por diferentes fontes com riqueza, poder
e prestígio, ignorando o conhecimento existente no meio rural, faz parte do passado. O
conhecimento científico e o das pessoas no meio rural são complementares em suas forças e
fraquezas; combinados, podem alcançar o que ninguém poderia sozinho. Tais combinações
são usadas por profissionais externos, que “descem dos seus pedestais”, sentam-se, ouvem e
aprendem (CHAMBERS, 1983).
O conhecimento e a experiência dos produtores são adquiridos através da tentativa e
erro, da observação pessoal e da interação com outros no seu ambiente; pode, pois, ser
definido como conhecimento local (MILLAR e CURTIS, 1997). O conhecimento local do
meio rural pode ser contrastado com o conhecimento central do meio urbano.
Para Chambers (1983), a fraqueza desse tipo de conhecimento é a interpretação do
senso comum, que se refere ao conhecimento de um ambiente local mais do que o
conhecimento existente nas pessoas, como um sistema de conceitos, crenças e meios de
aprender. O ponto forte do conhecimento da população rural é a habilidade de manter,
aumentar e corrigi-lo, pois, geralmente, ela possui observação acurada, boa memória para
detalhes e transmite facilmente. O conhecimento é vulnerável e adaptável; se não for utilizado
ou renovado, pode ser perdido, ou perder seu valor se o corrigido pela adaptação. A adoção
de qualquer nova prática é uma experiência e um possível aprendizado individual
(CHAMBERS, 1983).
O conhecimento incorporado às atividades da propriedade e a adoção e
desenvolvimento de tecnologias têm uma longa história em diferentes países, tais como a
Austrália, mas não tem sido comumente documentado em estudos (MILLAR e CURTIS,
1997).
O rural inclui aqueles produtores, pequenos ou grandes, que estão no mercado,
comprando insumos e vendendo produtos ou grupos que atuam de forma autônoma. No que se
refere a esse grupo, há consciência de que muito do conhecimento está localizado nas pessoas,
mas pouco registrado. O conhecimento refere-se a todo o sistema, incluindo conceitos,
crenças, percepções, o estoque de conhecimento e os processos pelos quais é adquirido,
aumentado, estocado e transmitido. O que é estocado na mente pode representar quem são
aqueles que melhor conhecem, não significando que seja uma média; nem pode ser
74
considerado o conhecimento da população rural como sempre válido e útil (CHAMBERS,
1983).
Sabe-se, entretanto, que muito para se aprender sobre conhecimento e, mais ainda,
sobre como gerenciá-lo. O entendimento do modo como ocorre a aprendizagem nesse
segmento também é fator de alta relevância para o sucesso nos negócios. Assim, a
aprendizagem e o conhecimento têm sido temas centrais em vários estudos, nos quais se busca
respostas às incertezas do ambiente de negócios, bem como favorecer e sustentar o
desenvolvimento econômico, político e social do país.
Nonaka (1994) centra sua análise na conversão de conhecimento tácito em explícito,
ao passo que Brown e Duguid (1991) focam sua análise na CoP para a realização das trocas e
a transferência de experiências. O fato de as pessoas manterem atividades conjuntas ou se
relacionarem pelas similaridades de suas atividades parece auxiliar na formação das CoPs. A
ênfase no aprendizado através da participação na comunidade é o reflexo de muito esforço
passado e presente para trazer o aspecto social do aprendizado.
2.6 COMUNIDADE DE PRÁTICA (CoP)
Nonaka (1994) apresenta o aprendizado como resultado da participação numa
comunidade de interação, envolvendo a aquisição de uma nova identidade mais do que o
conteúdo cognitivo. Na CoP está presente um aspecto importante do conhecimento e,
especificamente, a parte tácita e o formalizada, que pode ser perpetuada e modificada,
aumentando o aprendizado (GHERARDI e NICOLINI, 2000).
A CoP não parece ser algo novo, pois os seres humanos têm praticado e aprendido
juntos em lugares diferentes desde tempos remotos, porém o termo CoP foi, primeiramente,
apresentado por Lave e Wenger (1991) em seu livro Situated Learning. Os autores mostram
como ocorre o aprendizado e a comunicação simultânea em termos da prática e da
comunidade. O aprendizado de uma prática envolve tornar-se membro de uma CoP, não
implicando simplesmente uma questão de adquirir informações; requer, sim, disposição,
conduta e perspectiva profissional.
Na concepção de Wenger e Snyder (2001), a CoP é um grupo de pessoas
informalmente ligadas pelo conhecimento especializado compartilhado e pela paixão por um
empreendimento conjunto. Star (1992) faz um paralelo entre as CoPs de Lave e Wenger e o
75
conceito de mundos sociais de Strauss para mostrar mais claramente que CoPs vão além de
grupos práticos por possuírem a participação na prática.
O foco é o que as pessoas aprendem e como aprendem no contexto social através da
participação no mundo social. Lave e Wenger (1991) descrevem as CoPs como um processo
com limites que são históricos, com relações de longo prazo entre as pessoas e seus espaços; o
desenvolvimento do aprendizado concerne ao desenvolvimento do conhecimento identificado
na prática. A CoP é a condição intrínseca para a existência do conhecimento e para que
possam ser adotadas as melhores práticas e obtido um padrão na atividade (LAVE e
WENGER, 1991; WENGER, 2000).
CoP refere-se à teoria que constrói a aprendizagem com a participação social e
constitui-se de grupos que se formam em torno das práticas e que, no decorrer do processo,
desenvolvem conhecimento coletivo e distribuído (LAVE e WENGER, 1991). Implica que as
competências estarão sendo compartilhadas na rede de contatos e que as relações transcendem
os limites da organização e da instituição (GHERARDI e NICOLINI, 2000). O conhecimento
é resultado das interações, ações, intervenções e conversações (WENGER, 2000), quando os
indivíduos desenvolvem e compartilham a capacidade de criar e utilizar o conhecimento
(WENGER, 1998a). As CoPs não são um tipo separado de unidade organizacional, mas
compõem-se das pessoas envolvidas na comunidade, pertencendo a outros grupos e estruturas
sociais.
Boyett e Boyett (1999) consideram que a CoP se desenvolve através de redes
informais, de conversas de corredor, de questionamentos, de histórias, de compartilhamento
de informações e formas de desempenhar o trabalho, da cooperação, de lembranças,
complementam-se mutuamente informações e, juntas, as pessoas são capazes de desenvolver
uma compreensão compartilhada de seu ambiente e de seu trabalho. A comunidade possui
versatilidade e dinamicidade para ser uma fonte e repositório de conhecimento, formando a
base para a organização tornar-se hábil a conhecer e aprender (DESPRES e CHAUVEL,
2000).
O termo CoP refere-se ao aprendizado com base na participação social, não apenas em
certas atividades no trabalho. O aprendizado ocorre na prática social na comunidade e a
construção da identidade se na relação com essa comunidade, ou seja, não somente para
compartilhar o que o indivíduo sabe, mas para mostrar como ele percebe e entende o que faz.
Os participantes têm um conjunto de interesses e objetivos comuns relacionados à atividade
(HILDRETH, KIMBLE e WRIGHT, 2000).
76
Com o advento da era da informação, muitas das CoPs podem se utilizar de outras
formas para realizar os contatos. Com isso, surge o termo comunidades virtuais de prática,
que se valem dos recursos disponíveis da tecnologia da informação, seja através de e-mail,
chat, telefone, dentre outros.
O conhecimento disponível nos grupos, baseados em suas práticas, é, com freqüência,
tanto distribuído quanto parcial e também pode ser improvisado. Está disponível porque se
revela na prática de como fazer algo, mesmo sem declarações sobre as mesmas. É distribuído
porque, com freqüência, necessita de vários ou de todos os membros do grupo para a
execução. É parcial porque, mesmo que cada membro represente uma parte do todo, é pouco
provável que alguém detenha todo o conhecimento. Mesmo que no grupo as pessoas
aparentemente aprendam as mesmas coisas, as diferentes habilidades e experiências de cada
um resultam em conhecimentos diferenciados (BROWN e DUGUID, 2000; SPENDER,
2001).
Nas comunidades de praticantes é rejeitada a idéia da simples transferência de
conhecimento pelo fato de isolar o conhecimento da prática; considera-se o conhecimento
como algo teórico; aborda-se a questão da aprendizagem como algo socialmente construído,
conectando o que está sendo aprendido com as condições nas quais isso ocorre (BROWN e
DUGUID, 1991; DUGUID e BROWN, 2001).
Nas CoPs, o aprendizado é visto como uma atividade construída e situada; a
ambientação na comunidade denomina-se legitimação, periphery e participação (LPP),
considerados componentes fundamentais. Nessa visão, o aprendizado não somente toma lugar
em locais onde algo é ensinado, mas nas relações informais de aprendizagem (LAVE e
WENGER, 1991; GHERARDI, NICOLINI e ODELLA, 1998; HILDRETH, KIMBLE e
WRIGHT, 2000):
1. Legitimação - é a dimensão da CoP que está envolvida com o poder e as relações de
autoridade no grupo; não necessita ser formal e é construída pela similaridade das situações
na relação social que se desenvolve (KIMBLE, HILDRETH e WRIGHT, 2001).
2. Periphery - não é um conceito sico como o centro, a periferia, nem uma medida
de quantidade de conhecimento que tem sido adquirida; serve para designar a participação
total das pessoas e indicar o grau de engajamento na comunidade. É importante observar quais
são as rotinas que os novos membros devem seguir para fazer parte da comunidade.
77
3. Participação - é a chave do entendimento das CoPs. Não necessariamente implica a
co-presença, uma boa definição ou identificação no grupo, ou os limites socialmente visíveis.
A participação em CoPs implica desenvolver uma atividade na qual todos possuem um
entendimento comum sobre o que é e o que significa para suas vidas e para a comunidade. A
comunidade e o grau de participação nela são, em algum sentido, inseparáveis da prática.
LPP foi desenvolvida com base num esforço para encontrar um termo que pudesse ser
utilizado para entender a aprendizagem em ambientes não formais para o desenvolvimento da
aprendizagem ou do ensino (LAVE e WENGER, 1991); oferece meios para se falar das
relações entre os novos e os velhos tempos e sobre atividades, identidades, artefatos e CoPs
(LAVE e WENGER, 2004).
O grau de dependência dos grupos varia de acordo com a forma como eles funcionam
juntos. Os membros são informalmente limitados pelos valores que encontram no aprendizado
e trabalho conjunto, no engajamento, na discussão, na solução de problemas (WENGER,
2000). Lave (1991) e Wenger (1998b) consideram que esse mundo, por si só, é socialmente
construído, visto que o homem é um ser social que constrói sua identidade nas relações. O
aspecto humano de uma CoP é o mais importante (KIMBLE, HILDRETH e WRIGHT, 2001).
A prática, quando desenvolvida durante algum tempo, habilita os participantes a
desenvolverem uma perspectiva comum sobre a forma de entendimento de seu trabalho e
modo como esse trabalho se ajusta ao ambiente que o circunda, havendo a união através de
comunidades informais (BROWN e DUGUID, 2001b).
Assim, as CoPs emergem através de redes de interação, não sendo projetadas. São
características das CoPs a informalidade, a improvisação, o início do aprendizado real, a
reconstrução do significado do ambiente, entre outras (BROWN apud RICHTER, 1998).
Práticas de trabalho podem ser vistas como construções sociais, através da narração e do
contar histórias. Histórias de sucesso requerem certa homogeneidade cultural entre os
participantes (ORR, 1990). Assim, a organização pode ser vista como um conjunto de
diversas CoPs (LAVE e WENGER, 1991).
CoP difere, significativamente, de outros tipos ou formas de organização em suas
formas e estruturas. A tendência na formação das comunidades é que surjam de indivíduos
com vínculo de trabalho ou de atividade dentro dos limites da organização (LESSER e
EVEREST, 2001). Pelas suas características, não são temporárias, ou como times ou, mesmo,
grupos num contexto instrucional (sessões de treinamento); são diferentes de unidades de
78
negócios e são organizadas de acordo com os interesses de seus membros ou as necessidades
de aprendizagem (WENGER, 2000; LESSER e EVEREST, 2001).
Wenger e Snyder (2001), Wenger, Mcdermott e Snyder (2002) e Murty (2004)
apresentam algumas características das CoPs e comparam-nas a outras formas de organização.
Características CoPs Time de Projeto Rede Informal
Objetivo Desenvolver nos participantes
aprendizado, criação de
conhecimento e competências
Realizar determinada tarefa
Colher e transmitir
informações empresariais
Participantes Participantes que se auto-
selecionam
Empregados escolhidos por
gerentes seniores
Amigos e conhecidos do
meio empresarial
O que possuem
em comum
Paixão, compromisso e
identificação com habilidades
comuns do grupo
As metas e pontos
importantes do projeto ou
objetivos
Necessidades mútuas e
conhecimento
interpessoal
Duração Sem tempo predeterminado
para acabar ou enquanto
houver interesse em manter o
grupo
Temporário, termina
quando o projeto entregue
é concluído
Enquanto as pessoas
tiverem um motivo para
manterem contato
Limite Domínio do conhecimento Registro formal Relações mais amplas
Conexão Aplicação de uma prática Compromisso com os
objetivos
Permanência do
Grupo
Membros constantes Membros constantes
durante o projeto
Ligações baseadas nos
amizades
Quadro 3 Comparação de CoP com outras formas de organização
Fonte: Adaptado de Wenger e Snyder (2001); Wenger, Mcdermott e Snyder (2002) e Murty (2004)
A CoP inclui os aspectos formal e informal da organização, sendo mais duradouros
que o time e mais estruturados que as redes informais.
O grupo identifica-se como CoP pelo fato de ter interesses comuns em algo que é
comum a todos; centra-se na motivação, é autogerenciável, auto-selecionável e possui uma
série de interesses motivados pelo modelo de trabalho (BROWN e DUGUID, 2001b). O que
impulsiona a perpetuação das CoPs é a geração de conhecimento, provocando o seu reforço e
renovação (WENGER e SNYDER, 2001).
A confiança é construída através da interação no decorrer do tempo, na medida em que
as pessoas podem fazer questões ou expor as suas dúvidas sem medo de mostrar sua
ignorância sobre um assunto. É possível, entre os membros do grupo, identificarem e
conhecerem quem pode dar uma resposta para uma dúvida surgida; sentirem-se mais
confidentes e serem bem-vindos ou reconhecerem que alguém é suficientemente competente
em determinado aspecto para que o tempo seja gasto numa discussão (WENGER, 2000).
Para Brown e Duguid (2001b), existem três modos de a CoP se desenvolver:
a) intermediação por participação: embora as comunidades sejam descritas como
grupos excluídos, é comum nas organizações a sobreposição entre comunidades, podendo
79
algumas pessoas pertencer a mais de uma. Isso permite a ocorrência da intermediação do
conhecimento entre as comunidades, dando condições, em virtude da identidade diversa, de
trabalhar e entender os interesses de todos;
b) intermediação pela tradução: os tradutores organizacionais são aqueles capazes de
estruturar numa comunidade os interesses em termos de visão de mundo moldada pela prática
de outras, o que requer o conhecimento de todas as outras comunidades envolvidas;
c) intermediação mediante objetos de fronteira: os objetos de fronteira podem ser
objetos (físicos, tecnologias, processos administrativos, técnicas compartilhadas entre as
comunidades) ou pessoas; o que acaba sendo comum e distinto nas comunidades são as
práticas e a visão de mundo. Esses objetos ajudam as comunidades a se engajar na negociação
mútua, do que os contratos são exemplos clássicos (BROWN e DUGUID, 2001a).
Diante disso, fica mais evidente a relação entre o conhecimento e a organização e o
papel da prática na geração do conhecimento e da identidade (BROWN e DUGUID, 2001a).
Independentemente dos motivos que levam à formação dessas comunidades, seus
membros certamente compartilham conhecimentos com liberdade e criatividade, dando
incentivo a novas abordagens para os problemas. Elas podem contribuir para o crescimento
organizacional, direcionar a estratégia, gerar novas oportunidades para a empresa, solucionar
problemas, disseminar as melhores práticas, desenvolver novas habilidades profissionais.
Constata-se, portanto, que a CoP possui três características fundamentais, que são domínio,
comunidade e prática (WENGER e SNYDER, 2001; WENGER, 2004; WENGER,
MCDERMOTT E SNYDER, 2002).
- Domínio: refere-se à área de conhecimento que une a comunidade, queidentidade
e o direcionamento das questões-chave para os membros;
- Comunidade: é o grupo de pessoas para quem o domínio é relevante, a qualidade das
relações entre os membros e a definição dos limites internos e externos; um grupo de
pessoas que interagem, que se engajam, conversam, pensam e desenvolvem relações
umas com as outras;
- Prática: é o corpo de conhecimento, métodos, ferramentas, estórias, casos,
documentos compartilhados e desenvolvidos conjuntamente com os membros; a
maneira de lidar com os problemas típicos do domínio e o que precisa ser
desenvolvido.
80
A combinação dessas características é o que capacita a CoP a gerenciar o
conhecimento. O domínio oferece o foco comum, a comunidade constrói as relações que
viabilizam o aprendizado coletivo e a prática oferece espaço para o aprendizado junto às
pessoas naquilo que elas fazem (WENGER, 2004). Assim, a CoP é mais que uma comunidade
de interesse (WENGER e SNYDER, 2001).
Para Lave e Wenger (1991) a CoP refere-se ao aprendizado como um processo pelo
qual os indivíduos formam suas identidades em relação às identidades sociais do grupo, ou
seja, a aprendizagem como processo de engajamento na prática. um compartilhamento
entre os membros do grupo a respeito do tipo de julgamento que os praticantes solicitam, não
se restringindo ao que fazer, mas abrangendo também quando fazer e quando foi bem feito
(BROWN e DUGUID, 2001a).
Elkajaer (2001, p. 104) contribui no entendimento afirmando que a aprendizagem que
ocorre nos ambientes sociais é vista como parte inevitável da participação na vida social e na
prática. Além da aprendizagem individual, considera a importância de fazer parte de uma
comunidade, bem como o aperfeiçoamento das habilidades de seus membros. Essa abordagem
considera a aprendizagem inerente à prática social e apresenta conceitos como o do “aprender
enquanto se trabalha”, no qual a aprendizagem se apresenta como parte inevitável em
ambientes organizacionais.
Hildreth, Kimble e Wright (2000) preocupam-se com a importância do contato face-a-
face, porque possibilita trazer maiores contribuições para a evolução da comunidade. A CoP
se apresenta como o instrumento mais propício para situações reais que virtuais. Para Brown e
Duguid (1998), as comunidades ajudam na prática da geração de conhecimentos e evidenciam
o coletivo do como fazer. A tentativa de mover o conhecimento sem a prática pode ser o
mesmo que mover o know-what sem o know-how. Diferentes CoPs possuem padrões
diferenciados e desenvolvem conhecimentos também diferenciados; assim, uma melhor
prática numa comunidade pode não sê-lo em outra.
Estudos a respeito de como o trabalho é conduzido, ao contrário dos relatos de tarefas
ou manuais, reafirmam que o conhecimento existente nos grupos, embora em alguns casos
seja invisível, é significativamente coletivo (SPENDER, 2001). Em vista disso, a CoP pode se
expandir na organização e ser um canal ideal para levar informação, tais como as melhores
práticas, dicas, lições aprendidas, feedback, além dos limites da organização e do grupo
(DESPRES e CHAUVEL, 2000).
81
O próprio trabalho pode ser visto como um cenário no qual as pessoas podem
experimentar um senso de comunidade. Todos têm muito a contribuir e a aprender, visto que
as perspectivas, interesses e talentos são diferentes e podem ser compartilhados (FROST et
al., 1985). Nas CoPs há o compartilhamento de objetivos e interesses similares, empregam-se
práticas comuns, trabalham com ferramentas similares e usam uma linguagem comum, tendo
crenças e valores similares e são parte natural da organização (LAVE e WENGER, 1991;
WENGER, MCDERMOTT e SNYDER, 2002).
Enfim, a CoP pode ajudar na criação de uma infra-estrutura social que poderia
capacitar a criação e a transferência do conhecimento. Pelo fato do seu foco estar na
aprendizagem, no desenvolvimento de capacidades, na difusão do aprendizado entre os
membros do grupo, aumentam as capacidades para a solução de problemas e a realização de
melhoramentos em todos os aspectos.
Assim, de acordo com alguns autores (BROWN e DUGUID, 1991; LAVE, 1991;
LAVE e WENGER, 1991; WENGER, 1996; 1998b; WENGER, 1998a; WENGER, 2000;
WENGER e SNYDER, 2000; WENGER e SNYDER, 2001; WENGER, MCDERMOTT e
SNYDER, 2002) presentes na literatura, a CoP caracteriza-se por:
aprender com a participação social;
compartilhar práticas, valores, insights, objetivos e interesses;
compartilhar especificidades da área de atuação e solução de problemas;
aumentar a motivação no trabalho, reputação profissional e produtividade;
ter um conjunto comum de focos em problemas e senso de propósito;
engajar as pessoas num processo de encorajamento para o compartilhamento,
criação e uso do conhecimento;
criar um respeito mútuo e confiança para a realização de trocas;
encorajar as pessoas a realizar trocas, expor as “ignorâncias”, fazer questões
difíceis e ouvir cuidadosamente;
ter conhecimento coletivo e necessidades reais para conhecer o que cada um
conhece;
ser auto-organizada;
82
criar uma “fábrica” de aprendizado;
ser formal ou informalmente organizada.
Em síntese, a criação de conhecimento, aprendizagem, inovação, as CoPs fazem
parte de um quebra-cabeça que precisa ser montado. A Figura 12 objetiva representar como as
teorias se relacionam:
Figura 12 Integração das teorias
Fonte: Criado pela autora
Com isso, neste trabalho, as CoPs serão grupos informais de associados de uma
cooperativa agrícola ou produtores independentes que possuem relacionamento informal e
que têm oportunidades para criar suas identidades ligadas às do grupo. O aprendizado
constituir-se-á num processo, no qual todos possuem o engajamento com a prática e buscarão,
através da interação, compartilhar as melhores práticas adotadas nas atividades. Com elas,
poderão criar conhecimento, qualificar-se, oferecendo subsídios para serem disseminadas no
contexto do agronegócios. No agronegócios as CoPs podem situar-se nas organizações, bem
como junto aos associados ou nos pequenos grupos. Por isso, a análise do sistema cooperativo
requer o entendimento do sistema agroindustrial, bem como a inserção dessas organizações
nas cadeias produtivas.
Assim, o conceito que será adotado para CoPs, de acordo com Wenger (1996; 1998b),
considera que são grupos de pessoas que compartilham uma paixão por algo que sabem como
fazer e que interagem regularmente para aprender como pode ser feito de uma melhor
maneira.
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83
A inter-relação das teorias mostra grande dinamicidade, havendo dependência umas
das outras. Esse grau de dependência e importância de cada uma varia de acordo com a
situação, com a realidade, bem como com tantas outras especificidades referentes a elas. Com
base nos conteúdos apresentados foi desenvolvida a Figura 13 demonstrando o mapa
cognitivo da pesquisa.
Figura 13 Mapa cognitivo da pesquisa
Fonte: Elaborado pela Autora
O mapa cognitivo oferece um entendimento da complexidade e da amplitude que
envolvem as temáticas abordadas neste estudo.
O capítulo a seguir aborda o agronegócios e os cenários que envolvem as duas
realidades, bem como a temática ligada a cooperativas e à gestão das propriedades rurais.
Aprendizagem
(Argyris e Schön;
Swieringa e
Wiersdma; Kolb)
Experimentação
Formas de aprendizagem através do
compartilhamento nas famílias e
grupos
Articulação das experiências e
conhecimentos adquiridos
Ambiente para trocas
Conhecimento
Tácito e Explícito
(Nonaka e T
akeuchi,
1997)
Socialização
Externalização
Combinação
Internalização
Modos de conversão do
conhecimento
organizacional
Intenção
Autonomia
Flutuação e caos criativo
Redundância
Variedade de requisitos
Compartilhamento do
conhecimento tácito
Criação de conceitos
Justificação de conceitos
Construção de arquétipos
Difusão interativa do conhecimento
Condições
capacitadoras para a
criação de
conhecimento
organizacional
Modelo de cinco fases
do processo de criação
de conhecimento
organizacional
Individual
Coletivo
Organizacional
Comunidades de
Prática
(Wenger; Lave e
Wenger)
Domínio
Participação
Engajamento
Criação de identidade de acordo
com a área de conhecimento
Aprendizado na relação social e em
ambientes informais
Liberdade para expor dúvidas
Características predominantes nas
CoPs
84
CAPÍTULO 3 AGRONEGÓCIOS
3.1 CONCEITOS INTRODUTÓRIOS
Em 1957, os pesquisadores da Universidade de Harvard John Davis e Ray Goldberg
enunciaram o conceito de agribusiness, que representou o marco conceitual no estudo das
questões relacionadas à produção e à distribuição de alimentos, fibras e matérias-primas de
origem agropecuária.
Para Davis e Goldberg (1957), agribusiness compõe-se do conjunto das operações de
produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas fazendas,
armazenamento, processamento e distribuição dos produtos e itens produzidos a partir deles.
Todo o trabalho de Davis e Goldberg está centrado na noção de visão sistêmica, que vai desde
o produtor rural até chegar à distribuição de produtos acabados.
Esses autores deram o passo inicial na tentativa de tratar o agronegócios como uma
atividade diferenciada, com conceitos e características próprias. Eles introduziram a visão de
negócios agrícolas como um conjunto de agentes envolvidos em processos de transformação e
adição de valor aos produtos agrícolas. Com isso, foi possível identificar algumas das
tendências que estavam acontecendo no setor agroindustrial norte-americano e que se
estenderam para a maioria dos países que se inseriram posteriormente na economia global.
As tendências percebidas no setor agroindustrial americano foram a mudança nos
padrões tecnológicos, decorrente de uma elevada taxa de utilização de insumos de produção
em nível de fazendas, e o crescente inter-relacionamento entre o setor produtivo e os
segmentos de transformação, armazenagem e distribuição de alimentos, fibras e derivados das
matérias-primas de origem agropecuária.
Posteriormente, Walters (1999) deu ênfase ao gerenciamento, afirmando que no fluxo
do sistema do agronegócios cada setor necessita ter um bom gerenciamento do trabalho, da
tecnologia e do capital para dar sustentação à produção e ter um bom desempenho no
mercado.
85
Boehlje (1996) denomina essa mudança como a industrialização da agricultura. Este
autor contrasta com o modelo antigo e engloba: a) processos de fabricação; b) o sistema de
produção e distribuição; c) separação e alinhamentos dos elos da cadeia produtiva; d)
coordenação negociada entre os elos da cadeia; e) novos tipos de riscos; f) preocupação com o
sistema de poder e controle; g) a função importante que a informação exerce no sistema.
É importante destacar que o conceito de agronegócios traz consigo uma característica
relevante, a de considerar a atividade rural como de caráter residual. Várias atividades são
transferidas para "fora da porteira" da fazenda. Segundo Silva (1996), da primeira definição
de agronegócios derivaram várias outras para explicar sempre o mesmo fenômeno observado
já na economia norte-americana: a crescente inter-relação setorial entre agricultura, indústria e
serviços. O fazendeiro moderno, diziam Davis e Goldberg (1957), é um especialista que teve
suas operações reduzidas a cultivar plantas e criar animais. As demais atividades têm sido
transferidas em larga medida para fora da porteira da fazenda. A economia do agronegócios
reúne hoje essencialmente as funções que eram devotadas ao termo agricultura há 150 anos.
O conceito de sistema agroindustrial (SAI) surgiu da tradução de agribusiness system.
Para Batalha (2001a), o SAI constitui-se no conjunto de atividades e agentes que concorrem
para a produção de produtos com origem no setor primário e se estende desde a produção de
insumos para as fazendas até a chegada do produto ao consumidor final. O autor salienta que
o conceito de SAI não deve estar relacionado a nenhuma matéria-prima agropecuária
específica ou produto final. Bialoskorski Neto (2000a) entende o SAI como uma teia que
contempla relacionamentos econômicos e contratuais entre os diversos atores, envolvendo
desde a produção de insumos, produção agrícola, processamento e distribuição de produtos
processados, chegando ao consumidor final. Dessa forma, o conceito de SAI é muito
semelhante ao de agronegócios.
Um complexo agroindustrial tem como ponto de partida uma determinada matéria-
prima, que, seguindo diferentes processos industriais, transforma-se em diferentes produtos
finais. O foco de análise centra-se na composição de um conjunto de agentes vinculados direta
e indiretamente a uma determinada matéria-prima agrícola, surgindo, assim, expressões do
tipo complexo trigo, complexo cana, complexo soja e outros mais.
No que se refere à cadeia de produção ou filiére, em meados da década de sessenta, a
escola francesa de economia industrial deu origem a uma outra abordagem para o estudo das
questões relacionadas ao agronegócios e que também privilegia a dimensão sistêmica: análise
de filière. É uma definição que destaca os aspectos de interdependência e complementaridade
86
dos esforços organizacionais com o objetivo de maximização do retorno dos agentes. No
Brasil, a literatura econômica traduziu filière como cadeia de produção, denominação que
passou a ser utilizada vastamente.
Segundo Batalha (2001b), a cadeia de produção é definida a partir de um determinado
produto final e envolve as várias operações técnicas, comerciais e logísticas necessárias a sua
produção, perpassando diversos segmentos (em especial, a comercialização, o processamento
e produção de matérias-primas). Percebe-se, portanto, que o conceito de cadeia de produção
se aproxima bastante da noção de complexo agroindustrial, tendo em vista a ênfase na
matéria-prima de base agrícola e apresenta proximidade com o de complexo agroindustrial.
Diante da proximidade dos conceitos e das diferentes formas de analisar o agronegócios,
torna-se importante mostrar um pouco do cenário.
3.2 CENÁRIO BRASILEIRO
O Brasil, na atualidade, possui uma população em torno de cento e oitenta e três
milhões de habitantes, com taxa de crescimento real de 1,5%. A população concentra-se em
aproximadamente 81% na área urbana e 19% na rural. A área territorial é de 8.511.965 km
(IBGE, 2005; CIA, 2004). Algumas informações econômicas parecem pertinentes para
melhor se compreender a realidade brasileira e a importância do agronegócios.
Em 2003, o Produto Interno Bruto (PIB) foi de U$ 493,3 bilhões, sendo que a indústria
representou 36,6%, a agricultura, 9,6% e os serviços, 53,7% (RFB, 2005; BCB, 2005; CIA,
2004). As exportações e importações, em 2003, foram de US$ 73,1 e US$ 43,3 bilhões,
respectivamente; em 2004, as exportações foram de US$ 95 bilhões e as importações, de US$
62 bilhões aproximadamente. O superávit comercial de US$ 33 bilhões está colocando o país
num grupo de países considerado seleto (AEB, 2005; SECEX, 2005).
Assim, a pauta de exportações e importações de alguns produtos do Brasil está assim
constituída:
Tabela 1 Exportações do Brasil em 2003
Produtos Valores (US$ milhões)
Soja em Grãos 4,290
Minério de Ferro 3,446
Automóveis de Passageiros 2,656
Farelo de Soja 2,602
Óleos Brutos de Petróleo 2,122
Fonte: AEB (2005) e Secex (2005)
87
É importante salientar que dois dos cinco principais produtos exportados são
originados do agronegócios. No que se refere às importações, concentram-se nos seguintes
produtos:
Tabela 2 Importações do Brasil em 2003
Produtos Valores (US$ milhões)
Petróleo Bruto 3,777
Partes e Peças para automóveis e tratores 1,501
Circuitos integrados e microconjuntos eletrônicos 1,471
Medicamentos 1,397
Motores, geradores e transformadores elétricos 1,144
Fonte: AEB (2005) e Secex (2005)
As exportações e importações brasileiras possuem mercados diferenciados. As
exportações têm buscado atingir novos mercados em diferentes lugares do mundo. A tabela à
seguir demonstra os principais mercados e locais onde os produtos são vendidos, bem como
os seus percentuais.
Tabela 3 Principais destinos das exportações do Brasil em 2003
Países Percentuais
Estados Unidos 22,8%
Argentina 6, 25%
China 6,2%
Países Baixos 5,8%
Alemanha 4,3%
Fonte: AEB (2005) e Secex (2005)
Percebe-se que os Estados Unidos e a Argentina, seguidos da China, são os maiores
importadores dos produtos brasileiros.
Tabela 4 Principais origens das importações do Brasil em 2003
Países Percentuais
Estados Unidos 19,8%
Argentina 9,6%
Alemanha 8,7%
Japão 5,2%
China 4,4%
Fonte: AEB (2005) e Secex (2005)
Portanto, os Estados Unidos e a Argentina são os maiores compradores dos produtos
brasileiros e, ao mesmo tempo, são os países que melhor suprem as necessidades de
importação do Brasil.
O agronegócios possui parcela significativa das exportações e coloca o Brasil como
importante vendedor mundial de café, açúcar, suco de laranja, álcool, soja, carne bovina,
frango e tabaco. O setor do agronegócios representa hoje 34% do PIB nacional e 42% das
exportações do país (AEB, 2005; SECEX, 2005). Em 2004, o agronegócios foi responsável
88
por US$ 39 bilhões nas exportações, contra US$ 31 bilhões em 2003; o volume de grãos, em
2003, atingiu 122,4 milhões de toneladas, 26,5% maior que 2002 (RPB, 2005; MAPA, 2005).
O bom desempenho das exportações brasileiras no agronegócios deve-se ao elevado
crescimento da economia mundial, a um acréscimo nos valores das commodities, à abertura de
novos mercados e, ao mesmo tempo, à ocorrência de problemas sanitários em importantes
exportadores no setor de carnes, entre outras razões que justificam esse aumento. Com esse
crescimento, nas últimas décadas, esse setor tem sido responsável pelos resultados positivos
para o desenvolvimento do país e para a maior estabilidade econômica, bem como pelo
significativo número de empregos, 17,7 milhões de trabalhadores, 37% da mão-de-obra do
país.
Vários fatores positivos estão contribuindo para esse fato, tais como terras de boa
qualidade, abertura de novos mercados e avanços tecnológicos. Outro aspecto refere-se ao
desenvolvimento do agronegócios sem o subsídio do governo e com algumas políticas
públicas que tornaram mais viável esse desenvolvimento. Como exemplos disso têm-se a
política de crédito para Moderfrota e Pronaf. Embora se perceba que algumas dificuldades
e fragilidades que dificultam o maior desenvolvimento do agronegócios na operacionalização
de algumas atividades, como as políticas protecionistas com barreiras sanitárias e tarifárias e a
carência uma boa logística de transporte, houve significativo desenvolvimento nas últimas
décadas.
Assim, o agronegócios brasileiro chega a uma nova fase, na qual todos os setores da
economia, além dele, passaram por um processo de ajuste à nova realidade depois de ter
vivido num estado de assistencialismo, de tentativa de estabilização da moeda e da abertura
do mercado ao comércio exterior. Coube aos gestores do agronegócios envolvidos nos
diferentes setores a adequação de seus processos de gestão na busca de maior eficiência. Há a
busca incessante de todos aqueles que participam como atores nas cadeias produtivas por
alternativas viáveis para fazer frente à realidade competitiva existente (BINOTTO e
PEDROZO, 2000). A adequação a esses novos tempos implica gerir centrado no antes, dentro
e após a porteira das propriedades, como já mencionavam os clássicos David e Goldberg em
1957.
Assim, nas últimas décadas o setor primário deixou de ser apenas provedor de
alimentos in natura e consumidor de seus próprios produtos, passando a fazer parte de uma
atividade integrada aos setores industriais e de serviços. uma visão sistêmica do
agronegócios, ou seja, ele vai além da produção primária, com grande abrangência e
89
representatividade na economia nacional que se depara a todo momento com inúmeras
oportunidades e desafios de natureza estratégica em seus mercados.
3.3 CENÁRIO AUSTRALIANO
A Austrália possui uma população de aproximadamente vinte milhões, com uma área
geográfica de 7.686.850 km, sendo composta de seis estados e dois territórios. O PIB
australiano em 2004 foi de US$ 622,7 bilhões, no qual a indústria representou 22%; a
agricultura, 5% e os serviços, 73%. As exportações representaram US$ 82,29 bilhões e as
importações, US$ 98,89 bilhões. A taxa de crescimento real foi de 3,5% (ABARE, 2004;
ABS, 2005; DFAT, 2005; CIA, 2004).
A pauta de exportação e importação dos principais produtos da Austrália é mostrada
na Tabela 5:
Tabela 5 Exportações da Austrália/2003-2004
Produtos Valores (US$ milhões)
Carvão 8,224
Ouro (não monetário) 4,267
Minério de Ferro 3,939
Petróleo Cru 3,506
Carne Bovina 2,957
Fonte: DFAT (2005)
No que se refere às exportações, dentre os cinco itens mais exportados, o agronegócios
australiano está presente com apenas um produto, colocado em quinto lugar.
As importações concentram-se nos seguintes produtos:
Tabela 6 Importações da Austrália/2003-2004
Produtos Valores (US$ milhões)
Motor de veículos de passageiros 8,477
Petróleo Cru 4,779
Computadores 3,876
Medicamentos (inclusive veterinários) 3,705
Equipamentos de telecomunicações 3,297
Fonte: DFAT (2005)
Os produtos exportados e importados têm mercados diferenciados. Os principais estão
situados nos seguintes países:
90
Tabela 7 Principais destinos das exportações da Austrália/2003-2004
Países Percentuais
Japão 18,2%
China 9,1%
Estados Unidos 8,7%
Coréia do Sul 7,8%
Nova Zelândia 7,4%
Fonte: DFAT (2005)
No que se refere aos mercados exportadores a Austrália, o Japão e a China, seguidos
dos Estados Unidos, são os maiores.
Tabela 8 Principais origens das importações da Austrália/2003-2004
Países Percentuais
Estados Unidos 15,2%
Japão 12,3%
China 11,7%
Alemanha 6,1%
Reino Unido 4,1%
Fonte: DFAT (2005)
Pode-se inferir que o maior mercado exportador da Austrália está situado na Ásia, uma
vez que concentra 35,1%; da mesma forma ocorre com as importações, pois 24% são
originárias deste continente.
A Austrália, país líder em exploração e extração de minério e petróleo, não exporta
somente esse recurso natural abundante, mas suas tecnologias avançadas e processos
inovativos. Desde 1998, a agricultura, os recursos minerais e a energia têm crescido em
exportações a uma média de 7% ao ano; em 2003, esses setores representaram 56% do total
das exportações (DFAT, 2005).
Os produtos das exportações agrícolas na Austrália têm se alterado, representando em
torno de 18% das exportações totais. Em 1989 os itens mais exportados eram trigo, carne de
gado e lã, representado 56% das exportações agrícolas. Em 2003, esses produtos
representaram apenas 34%. Essa redução da contribuição desses itens para o desempenho do
setor é compensada pelo crescimento, nos últimos anos, de um grupo dinâmico de outros
produtos, como vinho, derivados do leite, carnes (além do gado e vitela), mariscos, girassol,
frutas e verduras, os quais estão entre os que têm crescido mais rapidamente em exportações
(DFAT, 2005).
A agricultura tem se mostrado um importante setor na Austrália desde que os
primeiros europeus chegaram, há mais ou menos duzentos anos. No passado, o governo
focava a assistência na agricultura, através de políticas que tentavam amenizar a instabilidade
91
do mercado e os baixos preços oferecidos pelos produtos. Outras políticas, como isenção de
taxas na preparação do solo e subsídios para irrigação em áreas consideradas pouco adequadas
para a prática da agricultura, encorajaram muitos a expandir a área agricultável (OECD,
1998).
Em algumas décadas anteriores à de 70, o desenvolvimento agrícola na Austrália tinha
como foco a melhoria da qualidade da terra e melhoramentos na tecnologia e produção
(KINGWELL, 2002). O gado e a indústria de carne são componentes bastante representativos
do setor agrícola na Austrália (ZHAO et al., 2003).
Desde a década de 80, o governo tem abolido o suporte aos preços no mercado e os
subsídios para a compra de insumos. Os investimentos que eram utilizados nessa área foram
direcionados a programas de qualificação humana no setor rural, aumentando as
oportunidades econômicas e sociais das comunidades rurais em geral e encorajado as práticas
de agricultura sustentável. Embora a produção com suporte do governo tenha quase que
desaparecido na Austrália, as políticas passadas, combinadas com sistemas de produção
inadequados para as condições de solo e clima, ainda mantêm resquícios, dentre os quais
estão pestes, degradação do solo, que variam de acordo com as condições do clima e de
fatores socioeconômicos (OECD, 1998).
Atualmente, a agricultura na Austrália continua a ser o setor que mais contribui para o
bom desempenho das exportações; o alimento processado é o maior componente dos produtos
manufaturados. No que se refere às propriedades agrícolas, os agricultores têm experimentado
diferentes produtos para fazer frente aos novos mercados (MERCER, 1997).
De acordo com DFAT (2005), os fatores que contribuem para a alta qualidade das
exportações do agronegócios são:
proximidade geográfica dos maiores mercados;
baixo nível de poluição ambiental e ausência de muitas pestes e doenças presentes
em outras partes do mundo;
agricultura abundante e diversa, inclusive no que se refere à pesca, e vasta terra
arável e para pastagem;
tecnologia de ponta e avançado desenvolvimento de especialistas na área;
boa qualidade da pesquisa e desenvolvimento no setor.
92
As mudanças no mercado provocadas pela desregulamentação, bem como a flutuação
nos preços das commodities, têm causado fortes impactos na agricultura australiana. Diante de
tudo isso, o governo tem adotado uma política neoliberal, priorizando as forças do mercado,
reduzindo a intervenção e evidenciando para as famílias envolvidas na atividade rural que
necessitam ser não apenas mais eficientes economicamente, mas também auto-suficientes.
Além disso, o governo está afastado das comunidades rurais e do nível da porteira da
propriedade, onde todos os efeitos dessas mudanças estão causando maior impacto
(ALSTON, 2004).
A Austrália apresenta uma diversidade étnica, por isso, pode ser um grande engano
pensar-se num grupo homogêneo com características similares. Os diferentes grupos étnicos
estão estabelecidos em diferentes áreas e com diferentes atividades, entre os quais estão
italianos, vietnamitas, chineses, indianos e, principalmente, ingleses, dentre outras etnias. Um
aspecto comum entre esses grupos é o fato de os jovens relutarem a ingressar na atividade do
campo, preferindo buscar alternativas de qualificação em outras áreas (ALSTON, 2004).
Nesse processo de encadeamento das várias operações envolvidas de jusante a
montante, é importante a compreensão das organizações cooperativas que fazem parte desse
sistema. Assim, pela tradição e pela importância da agricultura no Brasil, as cooperativas
agropecuárias são um tipo de organização que desempenha papel importante e dinâmico no
processo de desenvolvimento agrícola. Na Austrália, embora se apresentem numa outra
filosofia, se comparada à brasileira estudada, não sendo denominadas no trabalho como
cooperativas, também buscam se auto-sustentar por meio de um gerenciamento eficiente.
3.4 COOPERATIVAS AGRÍCOLAS
3.4.1 História das Cooperativas
Os produtores operando individualmente são, em muitos casos, incapazes de expandir
a escala necessária para se tornarem processadores, o que demanda muito capital,
conhecimento e tempo. Em contrapartida, se estão ligados a uma cooperativa, embora sejam
pequenos produtores, conjuntamente se tornarão maiores e terão maiores níveis de produção
para integrar-se verticalmente e entrar na área de processamento (WANER, 2000). As
cooperativas têm tido sucesso em algumas áreas, por permitirem aos produtores atuarem
93
conjuntamente e controlarem os ativos enquanto buscam poder econômico e político através
dos seus membros (STEFANSON e FULTON, 1997).
O cooperativismo é resultado de séculos de evolução do homem, no que diz respeito à
arte de identificar formas de sobrevivência ou, mesmo, de viver melhor diante das
dificuldades que cada momento da história apresenta. A cooperação sempre existiu nas
sociedades humanas desde eras mais remotas, resultante da necessidade de sobrevivência e
vista como necessidade, como meio de sobrevivência e, sobretudo, como agrupamento de
pessoas que, na reciprocidade do trabalho, no conjunto de suas idéias e no esforço continuado
de suas ações, realizavam seus propósitos e seus objetivos.
As primeiras cooperativas surgiram na Inglaterra no final do século XVIII. Tem-se
como a primeira cooperativa, criada em 1844 e organizada formalmente, a dos tecelões de
Rochdale, que surgiu decorrente das necessidades de defesa dos direitos, para suprimento de
necessidades básicas e emprego. A cooperativa ainda se propunha a cultivar uma área rural,
plantando alimentos necessários à sobrevivência dos operários desempregados e gerando
empregos às pessoas excluídas do mercado de trabalho (BENATO, 1994), ou seja, as
cooperativas, muitas vezes, surgem em momentos de adversidade (WILSON, 1999).
“A singela mensagem dos pioneiros de Rochdale é de grande utilidade para uma
reflexão sobre os rumos do cooperativismo e referência importante para se entender
que certos objetivos só serão atingidos quando houver disciplina, esforço continuado
e metas claras a partir de princípios e normas que funcionem como guias de conduta,
obrigando a todos na partilha de benefícios e na distribuição de encargos
(NASCIMENTO, 2000, p. 2).
A experiência dos rochdaleanos foi o marco na origem do cooperativismo e trouxe
contribuições para o Brasil, como a base doutrinária pregada nas cooperativas. Além da
Inglaterra, as cooperativas também foram criadas na Alemanha, em 1847, chamadas “Caixa
de Empréstimo Rural”, modelo que, posteriormente, seria trazido para o Brasil pelo padre
suíço Theodoro Amstad. O surgimento das cooperativas no século XIX, tanto no Brasil como
nos Estados Unidos, ocorreu devido a fatores econômicos, à organização dos produtores e às
políticas públicas (COOK, 1995).
A cooperativa era vista como uma forma de negócio inserida numa economia de
mercado, sendo particularmente adaptada para servir às necessidades do setor agrícola,
considerando o seu arranjo estrutural. Cooperativas são designadas para prover serviços aos
associados, os quais, como indivíduos, não podem prover a si próprios ou não o capazes de
ser tão eficazes (MCBRIDE, 1986).
94
Crúzio (1997, p. 7) entende por cooperativa “uma união de pessoas, cujas
necessidades individuais de trabalho, de comercialização ou de prestação de serviços em
grupo, e respectivos interesses sociais, políticos e econômicos fundem-se nos objetivos
grupais da associação”.
Para Lauschner (1995, p. 125), a cooperativa “é a forma histórica ideal de participação
do produtor rural para assegurar a renda e o nível de exploração rural e de organização da
produção agroindustrial”. Irion (1997, p. 45) complementa afirmando que a cooperativa “é um
instrumento eficaz para a organização da população, a democracia dos investimentos, a
distribuição da renda, a regularização do mercado, a geração de empregos e assim
instrumentaliza a justiça social”.
A finalidade, o objetivo e a doutrina das cooperativas o específicos do sistema. A
finalidade é:
- correção de distorções econômico – sociais, pacífica e gradativamente;
- prestação de serviços;
- geração de produtos;
- obtenção de preço justo por esses.
Entretanto, uma das dificuldades para a compreensão da importância da cooperação é
que os indivíduos estão inseridos numa sociedade capitalista, permeada pelo individualismo e
pela competição. Fulton (1995) questiona se essa forma de cooperativa pode sobreviver diante
desse crescente individualismo, no qual a propriedade e o uso são vistos separadamente. O
objetivo é difundir os ideais em que se baseia no intuito de atingir o pleno desenvolvimento
financeiro, econômico e social de todas as sociedades cooperativas (OLIVEIRA, 1984).
As cooperativas agrícolas são associações de produtores primários que possuem
objetivos comerciais comuns com maior possibilidade de sucesso do que se trabalhassem
individualmente (SCA, 1988; WILSON, 1999). Para Knutson (1966) a diferença entre uma
cooperativa e uma empresa é perceptível no fato de que a primeira busca o máximo retorno
para os seus associados e a segunda busca maximizar o seu lucro e minimizar o retorno para
os seus proprietários. Podem ser classificadas de diversas formas, como pelo tamanho, pela
estrutura financeira, pela estrutura organizacional, pela área geográfica de abrangência, pelo
nível de atividades, pelo âmbito de suas ações, etc. (COOK, 1995).
95
A base doutrinária das cooperativas apresenta-se como sociedades inspiradas na
democracia, onde o capital se constitui num meio de participação, nunca num fim de lucro.
Para a realização de seus objetivos, a cooperativa não busca o lucro e, na ocorrência de
excedente financeiro, esse retorna ao associado; a todos, indistintamente, é exigidas a
neutralidade política, religiosa e racial, e a adesão é livre a quem queira participar. O homem,
principal objetivo dessa sociedade, deve ser educado constantemente e, como usuário do
serviço, deve administrar suas compras coerente e corretamente (IRION, 1997). Fica clara na
cooperação das pessoas a riqueza do aprendizado conjunto, visto que os indivíduos,
isoladamente, teriam dificuldades em alcançar, a cooperativa parece trazer maiores
possibilidades de concretização dos objetivos.
3.4.2 Cooperativas Agrícolas no Brasil
Theodore Amstad foi considerado o pioneiro do cooperativismo no Rio Grande do
Sul, trazendo contribuições importantes no que se refere à integração dos associados à
cooperativa e ao desenvolvimento das perspectivas micro e macroeconômicas. Sentindo a
necessidade de desenvolver ões mais profundas no auxílio aos produtores, uma vez que a
revolução federalista (1893-1895) causaria sérios problemas na zona colonial e impedia a
colocação dos produtos agrícolas no mercado (PURPER, 1980), fundou em 1902 a primeira
Caixa Rural Cooperativa, em Nova Petrópolis, tornando o estado o berço do cooperativismo
brasileiro(CAMPOS, 1998).
Em 1911, com o apoio dos governos federal e estadual, foi intensificado o incentivo
pela cooperação agrária, mas foi em 1930 que se deu o reatamento histórico do movimento
cooperativista de produção, quando os agricultores sofriam os efeitos da crise mundial e não
tinham outra alternativa senão reiniciar o agrupamento e a formação de cooperativas
(CAMPOS, 1998). Um aspecto característico do estado do Rio Grande do Sul, é reunir um
grande núcleo de colonização estrangeira, sobretudo, o italiano e o alemão.
O decreto 22.239 normatizou a constituição e o funcionamento das cooperativas
brasileiras no início da década de 30, facilitando e simplificando a sua fundação, além de
conceder isenção de diversos impostos. A partir deste, o cooperativismo foi auxiliado e
estimulado pelo Estado até o final da década de 80, pois atendia aos interesses tanto deste
quanto dos produtores, no que se referia à organização da produção, substituindo as
96
importações e a industrialização de bens não duráveis. Isso se refletiu diretamente sobre o
setor rural, uma vez que caberia a ele a função principal de produzir alimentos para o mercado
interno (DUARTE, 1986).
Mudanças mais profundas ocorreram no final da década de 50, quando o setor rural e o
cooperativismo adotaram a perspectiva desenvolvimentista, centrada principalmente na
inserção do Brasil no modelo de acumulação capitalista internacional e na aceleração do
desenvolvimento do complexo agroindustrial. As cooperativas, então, eram parte do esquema
governamental de exportação para garantir divisas e o equilíbrio da balança comercial
(DUARTE, 1986).
Schneider (1991, p. 254) complementa essa análise afirmando que, com a
industrialização da agricultura a partir de 1965, o Brasil desenvolveu o complexo
agroindustrial visando oportunizar uma agricultura voltada para o mercado externo. Assim, “o
estado passa a ver o cooperativismo como um dos instrumentos que melhor viabilizaria a
execução das políticas econômicas voltadas ao setor rural, inserindo-o assim no novo padrão
de acumulação capitalista”. A nova legislação, no início da década de 70, conferiu
flexibilidade às cooperativas brasileiras, permitindo uma gestão mais moderna e dinâmica
(DUARTE, 1986).
Na atualidade, no país, encontram-se cooperativas agrícolas em diferentes situações:
algumas, em situação econômica privilegiada; outras ainda buscando formas de sobrevivência
e adequação à realidade e as demais, impossibilitadas de operar por causa de dificuldades
financeiras e em processo de autoliquidação. Pode-se afirmar que algumas das causas disso
estão na capacidade de adequação às mudanças, às novas tecnologias, na instabilidade
econômica das últimas décadas e os decorrentes planos que se fizeram presentes por um longo
período na economia brasileira.
Os conceitos de cooperativa agrícola adotados neste estudo são a complementação dos
de Lauschner (1995), Irion (1997) e King ( 1995).
3.4.3 Cooperativas Agrícolas na Austrália
Pode-se constatar que o modelo de cooperativa presente na realidade australiana não
apresenta similaridade com o modelo brasileiro estudado, não apresentando, inclusive,
estrutura de capital e estatutária. Após o processo de desregulamentação adotado pelo
97
governo, que abrangeu um longo período nos diferentes setores, as cooperativas foram
perdendo seus espaços. Dos profissionais do DPI&F ouviram-se comentários contraditórios a
respeito da existência ou não de cooperativas. Alguns deles afirmaram que na Austrália não
existem cooperativas agrícolas, ao passo que outros se referiam a certas empresas como
cooperativas.
Pode-se afirmar que o que é denominado como cooperativa, na Austrália, refere-se a
modelos de empresas brasileiras que compram, vendem insumos e/ou processam produtos
originários do elo produtivo, mantendo relações meramente comerciais com os agricultores.
Não foi identificada a presença de assistência técnica e de outros tipos de suporte vindos
dessas empresas, como é oferecido pela cooperativa estudada no Brasil. O que as empresas
australianas oferecem como atendimento aos produtores pareceu ter como objetivo a produção
de um determinado produto que atenda aos mercados em que a empresa atua ou, mesmo, a
venda dos produtos delas aos produtores. Para este estudo será considerado que em
Queensland o cooperativas agrícolas, uma vez que o modelo se diferencia totalmente do
modelo estudado no Brasil. Salienta-se que esse posicionamento quanto à não-existência de
cooperativas agrícolas naquela realidade levou em consideração as características e a filosofia
do modelo brasileiro estudado.
Na Austrália as cooperativas não têm exercido importante papel como acontece no
setor produtivo em outros países, o que pode ser explicado como decorrência de o foco das
cooperativas estar no marketing e, ainda, pelos fatores culturais desfavoráveis ao
desenvolvimento dessa forma de organização (O’CONNER e THOMPSON, 2001). Mesmo
que essa seja a visão de alguns, existem cooperativas envolvidas em marketing, suprimento e
serviços, as quais representam em torno de 15% das cooperativas (PLUNKETTA e
KINGWELLB, 2001).
Dentre essas, a forma mais comum de cooperativa na Austrália é a cooperativa de
marketing ou marketing de commodity. É uma organização ligada aos produtores que
possuem a produção primária; auxilia na produção e no processamento dos produtos com as
especificações do mercado, maximizando o valor dos produtos e direcionando a cadeia para o
consumidor. Essa cooperativa realiza as funções além da porteira, tais como transporte,
classificação, empacotamento, estoque, promoção, atacado, processamento, distribuição e
exportação (AUSTRALIANA CO-OPERATIVE LINKS, 2004).
As cooperativas de suprimento são a segunda forma mais comum; são utilizadas para a
compra de derivados de petróleo, sementes, fertilizantes, químicos, estoque de alimentos,
98
equipamento pesado e suprimentos das propriedades com produtos primários. A cooperativa
que cresce em popularidade na Austrália é a de serviços agrícola, formada para oferecer
serviços específicos não facilmente realizados por outras empresas ou pelo governo
(AUSTRALIAN CO-OPERATIVE LINKS, 2004).
um substancial número de cooperativas responsáveis pelas funções de
processamento e marketing ligadas a diferentes setores, tais como leite, arroz, algodão, carne,
fumo, ovos e horticultura (O’CONNER e THOMPSON, 2001). A cooperativa de suprimentos
inclui um grupo ligado ao suprimento da fazenda e a de serviços agrícolas, os ligados ao leite,
suprimento de água e outros (AUSTRALIAN CO-OPERATIVE LINKS, 2004).
As cooperativas na Austrália oferecem respostas reais e válidas para alguns problemas
da agricultura e possuem sua participação no agronegócios australiano (SCA, 1988;
PLUNKETTA e KINGWELLB, 2001). Para O’Conner e Thompson (2001), com a
desregulamentação e a globalização dos negócios, as mudanças nas estruturas das empresas
no mundo têm sido inevitáveis em razão do crescimento da competitividade no ambiente de
negócios. Essas forças impactam mais na realidade cooperativa que em outro tipo de negócio
pela falta de uma estrutura mais competitiva.
Uma parte do papel desempenhado pelas cooperativas no Brasil, no que se refere à
assistência, na Austrália é oferecida pelo DPI&F. Este departamento é um órgão do governo
que disponibiliza cerca de US$ 6,8 bilhões por ano para dar suporte às atividades produtivas;
visa viabilizar a produção primária e dar suporte estratégico ao desenvolvimento de indústrias
em todos os estágios e em toda a cadeia produtiva, da produção ao consumo. A missão é
maximizar o potencial econômico da indústria primária em bases sustentáveis focado em
quatro pontos: desenvolvimento da indústria, biossegurança, silvicultura e pesca (DPI&F,
2005).
Para atingir isso, o DPI&F assegura-se de que estão sendo utilizadas práticas
sustentáveis no sistema de produção, no que se refere ao gerenciamento e à alocação da água,
à vegetação, ao controle de pestes e ao uso de químicos. No que se refere às indústrias, o
trabalho foca também o estabelecimento de sofisticadas estratégias de exportação, enquanto
provê aumento dos negócios e oportunidades para exportar através de pesquisas e
desenvolvimento da capacidade estrategicamente. Assim, a indústria primária cria empregos,
expande os mercados e dá suporte ao crescimento econômico (DPI&F, 2005).
99
No Brasil, embora alguns órgãos públicos ofereçam algum tipo de suporte, são as
cooperativas agrícolas que assumem a maior responsabilidade na busca do maior
desenvolvimento. As cooperativas agrícolas oferecem vantagens econômicas e sociais aos
associados e suas comunidades, porém é evidente que, freqüentemente, não são capazes de
manter o ritmo imposto pelo moderno gerenciamento, pelas finanças e marketing (SCA,
1988).
3.4.4 Questionamento do Modelo de Cooperativa Existente, a Nova Geração de
Cooperativas e a Internacionalização
O cooperativismo ressurge no momento em que a globalização da economia se
acentua e traz novos desafios. Alguns autores trazem o propósito de redirecionar o conteúdo
teórico do cooperativismo voltando-o para a racionalidade econômica. As cooperativas foram
surgindo e foi sendo criado o chamado cooperativismo o-rochdaleano de caráter
empresarial (PINHO, 1982), que se centra no conceito da necessidade de a empresa
cooperativa ter o objetivo de ser eficaz. Laidlaw (1980) tece críticas ao modelo rochdaleano
pela visão quase romântica que apresenta, demonstrando insatisfação com os princípios
cooperativos formulados naquela época.
Purper (1980) complementa afirmando que uma grande distância entre o
cooperativismo pioneiro com o atual em relação aos conceitos básicos, aos princípios e à
filosofia; questionando a base de Rochdale, enfatiza que surge uma nova forma de organizar
as cooperativas através da nova geração de cooperativas (NGC’s).
As mudanças no cenário internacional têm sido uma das maiores forças que levaram à
reestruturação das cooperativas agrícolas no mundo (DONOSO, 2002). Com a crescente
competitividade, as forças e fraquezas das cooperativas ficam expostas; as fraquezas parecem
ser mostradas nos modelos tradicionais, ao passo que as que se modernizaram e visualizaram
novos mercados estão competindo com grandes indústrias (SCHROEDER, WALLACE e
MAVONDO, 1993).
A cooperativa, agindo num mercado competitivo, pode exercer influência sobre os
preços, resultados e dimensões de competência comparável à de outras empresas
(KNUTSON, 1966). As características da cooperativa tradicional são de uma organização
defensiva, cuja função primária é manter outros competidores num mercado mais honesto.
100
Isso tem levado as cooperativas a investir mais em capital físico que intelectual; atender às
necessidades de diferentes membros no que se refere a tamanho, qualificação e compromisso;
requerer o recebimento de todo o produto e oferecer uma ampla variedade de serviços, devido
a sua preocupação social (COOK, 1995). A natureza, estrutura e profissionalismo das
cooperativas têm mudado. A ênfase atual é que a cooperativa busque a cooperação, com o
suprimento da cadeia, mais que a forma legal dos negócios (WILSON, 1999).
Fazendo referência à crise do cooperativismo agropecuário, Schneider (1984)
apresenta os problemas enfrentados pelo setor na década de 80, dos quais podem ser
destacados:
- dependência do sistema financeiro;
- falta de participação efetiva dos associados na definição das principais políticas
das cooperativas;
- passividade do cooperativismo agrícola na busca de sua autonomia;
- inadequado processo administrativo-gerencial;
- concentração de grupos de altas rendas na diretoria e sua permanência por longo
tempo;
- subordinação tecnológica ao modelo agrícola oficial, levando o produtor à
descapitalização e ao endividamento;
- pouca preocupação das cooperativas com a pequena propriedade, dentre outros.
Entretanto, diante do processo de globalização, das mudanças no cenário econômico
nacional e do aumento inevitável da competitividade global, uma exigência para que as
cooperativas brasileiras revejam seus princípios e doutrinas como forma de adaptação a essa
nova realidade. Essa revisão inclui os produtos, as estratégias e a estrutura administrativa,
visando a aumentar a eficácia e a competitividade dessas organizações (GRAMACHO, 1997).
O produtor (associado) está num dos elos da cadeia produtiva e a cooperativa necessita ter
uma visão sistêmica da cadeia e buscar adequação a esse novo contexto. Surge, com isso, a
discussão dos modelos adotados até então e as novas possibilidades de organização e atuação.
Para Fulton (1995), a agricultura tradicional necessita de mudanças e o modelo
tradicional de cooperativa também precisa ser reexaminado. Surgem propostas de
desenvolvimento de cooperativas através da concepção empresarial, tendo como visão o
processo organizacional, para torná-la capaz de competir com outros tipos de organizações,
101
garantindo a sustentação e eficácia no atual mercado competitivo permeado por um processo
de globalização. A tomada de decisões ocorre de acordo com as tendências de mercado em
nível global e das principais estratégias de ação empresarial (BATALHA, 2001a; 2001b).
Nascimento (2000) contribui nesse entendimento ao retomar as idéias de liberdade,
individualidade e livre iniciativa, trazidas há séculos, objetivando o equilíbrio da sociedade. O
cooperativismo é visto como uma doutrina corretiva, mas considerado impróprio para ser
colocado como alternativo em termos de sistema econômico.
Diante disso, o ambiente institucional que propicia o aparecimento das cooperativas é
aquele em que os atores econômicos buscam defender-se contra o sistema de preços e de
mercados concentrados. O oportunismo existente nas empresas privadas tende a elevar os
preços dos insumos ou a reduzir os preços das commodities agrícolas, estimulando nos
produtores atitudes direcionadas para a organização e defesa econômica na forma de
cooperativas (BIALOSKORSKI NETO, 2000b).
As organizações cooperativas, por se caracterizarem como empresas não lucrativas,
são de difícil controle por parte dos cooperados, individualmente ou mesmo pela assembléia
geral. Esse é um dos aspectos a ser considerado, bem como sua estrutura doutrinária, por
dificultar a gestão; assim, é necessário avaliá-las e trabalhá-las para melhorar seu desempenho
econômico e social. A eficiência dos associados da cooperativa também confere eficiência à
própria cooperativa, pois não como dissociar essas duas organizações. Cada associado é
uma empresa que possui o papel de crescer forte em conjunto com o seu empreendimento
cooperativo (BIALOSKORSKI NETO, 2000a; 2001). Enfim, a qualificação do quadro social
faz parte da visão sistêmica, porque contribui para o crescimento de cada um individualmente,
dos grupos e da sociedade como um todo.
A cooperativa passa a ser um instrumento de desenvolvimento socioeconômico e sua
eficácia é determinada pelo grau de participação dos associados, o que se deve ao fato de os
associados serem, ao mesmo tempo, proprietários e usuários; proprietários por orientarem a
política econômica e social da cooperativa e usuários por realizarem uma série de operações
com a organização (PURPER, 1980).
Nesse sistema, o intuito é a busca da maximização dos negócios do empreendimento
cooperativo juntamente com o dos associados, podendo haver o fortalecimento do primeiro e,
por conseqüência, do segundo. A cooperativa somente existirá se houver eficiência de cada
102
um dos empreendimentos dos associados, sendo o inverso também verdadeiro
(BIALOSKORSKI NETO, 2000c).
Está presente nesse processo de mudança a educação cooperativista, que oportuniza
diferentes leituras de educação. No momento, é dada ênfase ao sentido de fazer difusão, de
estimular o processo pelo qual o produtor processa a mudança e trabalha de maneira proativa
junto aos dirigentes da organização. Tende a ter resultados mais eficazes que colocar o
associado numa sala de aula e dizer-lhe o que deve ser feito para administrar os seus negócios
(GRAMACHO, 1997). A participação das pessoas na cooperativa passa por um processo de
educação para que desenvolvam a consciência da importância de participar e tenham
compreensão da realidade, questionando e buscando soluções. Desse modo, elas reconhecerão
seu valor no grupo e na sociedade, conhecerão as problemáticas e defenderão seus interesses.
Portanto, o desenvolvimento social passa pela participação.
Os produtores agrícolas participam do mercado de maneira individual ou coletiva por
intermédio de cooperativas ou de outros tipos de organizações. No Brasil, as cooperativas têm
mostrado ser uma forma de amenizar os impactos do mercado e oferecer maior sustentação
para os produtores.
Muito está sendo escrito sobre o redesenho ou reinvenção das cooperativas. Porém
esse foco não deve centrar-se na mudança de estrutura, mas na mudança de atitude,
desenvolvendo maior cooperação e visualizando oportunidades. No redesenho do futuro
dessas organizações estão incluídos os seguintes aspectos: oferecer melhores serviços, alta
qualidade e preços competitivos, fazendo com que os associados a vejam como um meio de
melhorar a utilização dos seus ativos, tempo e conhecimento (WILSON, 1999).
Cook (1995) e Fulton (1995) compartilham a idéia de que as cooperativas se
encontram numa situação que demanda mudanças. Para Lang (1995), o futuro dependerá
muito de elas saberem mudar da posição defensiva para a ofensiva. King (1995) acredita que
as principais forças da cooperativa têm sido oferecer infra-estrutura e sistemas de suporte aos
serviços e novas tecnologias; gerar inovações institucionais que permitam à organização
responder aos desafios das mudanças. O autor observa que as cooperativas continuarão a ter
um papel importante no processo de inovação da agricultura.
Para Nilsson (1998), o modelo de cooperativa agrícola necessita passar por mudanças,
pois o modelo tradicional, com seus atributos ideológicos, tem um futuro muito incerto. Nos
EUA, em especial em Minnesota, o conceito da NGC´s tem sido de alguma forma
103
evidenciado desde 1974 entre os produtores de açúcar, pelo fato de estarem perdendo
mercado. A forma de organização adotada por eles é atualmente associada a NGC´s
(STEFANSON e FULTON, 1997). Durante a década de 90, surgiu um grupo de cooperativas
com novas estruturas de negócios focadas nos valores agregados dos produtos, as quais foram
denominadas de NGC´s, modelo que tem sido estudado profundamente nos últimos anos
(COOK, 1995; NILSSON, 1998).
Para Stefanson, Fulton e Harris (1995), a NGC´s surgiu por três razões:
- por representar a mais nova geração de cooperativas - a primeira foi em 1920 e a
segunda em 1940;
- por seu maior foco ser agregar valor ao processo e ao produto;
- por ser restrita a aceitar uma quantidade específica de produto de cada membro,
ou seja, é recíproco: um contrato entre as partes pelo qual obrigação de entrega
pelo produtor e do recebimento pela cooperativa de uma quantidade de produto dentro
do limite de recebimento.
Assim, dois pontos fundamentais na NGC´s: o direito de entrega do produto e a
restrição ao número de membros, ou ser um grupo fechado (STEFANSON, FULTON e
HARRIS, 1995; WANER, 2000). A nova geração de cooperativas trouxe mais valor agregado
à agricultura, pois produtores e indústrias estão investigando novas formas de adicionar valor
aos seus produtos. Dentre os aspectos ligados à nova geração de cooperativas está o aumento
de capital através do volume de vendas, pois os membros estabelecem contratos de
suprimento com a cooperativa (THYFAULT, 1996).
Essa nova perspectiva tem sido vista como uma solução possível para superar as
limitações sem enfraquecer os princípios essenciais do cooperativismo (COOK, 1995). A
principal característica e a diferença em relação às demais é que o capital o é tratado como
propriedade comum; apesar de os associados receberem retorno de acordo com as suas
atividades, as relações estabelecem-se através de contratos entre a cooperativa e os membros
por uma certa quantidade de produção (PLUNKETTA e KINGWELLB, 2001). Isso significa
que a oportunidade para o proprietário investir o é aberta a qualquer um. Quanto à linha de
negócios, o se limita a uma única, aproximando-se mais da característica empresarial do
que a cooperativa predecessora (KATZ e BOLAND, 2002).
Stefanson, Fulton e Harris (1995) apresentam algumas similaridades da NGC´s com a
cooperativa tradicional:
104
- a tradição democrática é mantida, um membro, um voto;
- os resultados são divididos entre os membros como dividendos;
- a diretoria é eleita pelos membros e constitui-se de associados.
A diretoria é responsável por estabelecer as estratégias, metas e objetivos e de
contratar o corpo gerencial. O sucesso de qualquer cooperativa está diretamente relacionado à
confiança que os membros depositam em seus representantes eleitos e no grupo gerencial e à
habilidade de manter comunicação contínua entre todas as partes (STEFANSON, FULTON e
HARRIS, 1995).
Para auxiliar na compreensão da NGC’s, Katz e Boland (2002) apresentam algumas
diferenças entre o modelo tradicional e a NGC’s.
Modelo Tradicional NGC´s
Foco no marketing de commodities Foco em agregar valor para os produtos
previamente considerados commodities
Maior interesse em vender matéria-prima para os membros
para suprir a cadeia
Interesse em um nicho de mercado para seus
produtos com valor adicionado
Aberta para a entrada de novos membros Fechada, é restrita a um número de membros
Capital pertence à cooperativa Capital pertence aos membros
Aberta a todos os produtores interessados em marketing de
commodities, normalmente resultando na falta de capacidade
como membros para escolher os mercados para seus
produtos devido às mudanças nos preços de commodities
Focada na eficiência produtiva para determinar
aos produtores o nível exigido da matéria-prima
necessária, para dar o direito de entrega e
assegurar a maximização da capacidade
produtiva
Recebimento de todo o produto Direito e obrigação da entrega da quantidade do
produto acordado
Quadro 4 Diferenças entre o modelo tradicional de cooperativa e a NGC´s
Fonte: Adaptado de Katz e Boland (2002 p. 77)
Cook (1995), ao contrário de Fulton (1995), é otimista no que se refere ao futuro das
cooperativas e acredita que, com o crescimento delas no mercado, o surgimento de novas
formas de organização e outras razões econômicas, a cooperativa tomará vantagens das
oportunidades. Em sua análise das cooperativas nos Estados Unidos, mostra que o novo papel
dessas organizações é responder aos novos produtos e mercados diante das mudanças
ocorridas nos demais elos da cadeia produtiva. Essas mudanças tendem a levar a diferentes
tipos de cooperativas, não ao seu desaparecimento.
Para auxiliar no entendimento do sistema cooperativo, Bialoskorski Neto (2000b)
apresenta alguns problemas do cooperativismo internacional, tais como:
falta de profissionalização da gestão;
incipiente organização;
105
problemas de capitalização da empresa;
falta de integração entre cooperativas;
necessidade de se elevar o nível de educação cooperativista do associado.
Esses problemas ainda persistem com diferentes graus de intensidade, dependendo da
localização e do segmento de cada cooperativa, mas, em geral, são comuns a todos. A
necessidade da adoção de diferentes estratégias de acordo com cada segmento diante desse
cenário torna-se premente, além de facilitar o processo de gestão e o relacionamento entre
cooperativa e associados.
A NGC´s apresenta algumas vantagens (STEFANSON, FULTON e HARRIS, 1995):
os produtores podem reagir rapidamente às oportunidades;
as pessoas trabalham coletivamente para responder aos problemas e oportunidades;
há criação de riqueza dentro da comunidade e um local próprio;
a restrição ao número de membros estabilidade aos produtores e eficiência para
a produção;
um conjunto de stakeholders assegura que os interesses das comunidades sejam
considerados;
produtores e processadoras são direcionados para a qualidade do produto.
O fato de criar uma cooperativa nas modalidades da nova geração de cooperativas
pode ser financeiramente compensador, mas está distante da garantia de sobrevivência num
mercado em constantes mudanças (WANER, 2000). A modernização das organizações
cooperativas envolve a sua globalidade (fornecedores, cooperados, dirigentes e funcionários),
pois a organização parece ser uma alternativa que oferece oportunidade para criar uma
identidade cultural que pode ser separada do contexto social comum e do sistema econômico.
Os valores da cooperação podem ser desenvolvidos no decorrer da implementação da
organização, da tecnologia, da produção e da distribuição.
A NGC’s está inserida no processo de mudança em três pontos fundamentais:
106
Figura 14 Questões ligadas ao modelo atual de cooperativa
Fonte: Elaborado pela Autora
Os questionamentos feitos diante do processo de mudanças que ocorre no mercado
podem causar forte impacto e apontar para novos rumos e posturas das cooperativas.
Um significativo número de empresas do agronegócios está iniciando suas
atividades em nível internacional. As cooperativas estão passando a fazer parte desse grupo,
utilizando estratégias eficazes para romper barreiras e competindo internacionalmente
(SCHROEDER, WALLACE e MAVONDO, 1993).
Para Seipel e Hefferman (1997), as cooperativas devem buscar oportunidades no
mercado internacional na medida em que têm capacidade de supri-los com seus produtos.
Com a globalização da agricultura, atingir esses mercados tornou-se um fenômeno
multidimensional que abre muitas novas oportunidades na produção, processamento e
distribuição de alimentos tanto no mercado doméstico como no internacional. Essas
organizações podem apresentar muitas vantagens comparativas em seus produtos e muitas
pela boa reputação no suprimento de produtos saudáveis, pela forma ética de condução dos
negócios ou para estabelecer alianças com outras empresas que atuam no mercado
internacional (SEIPEL e HEFFERNAN, 1997).
Todos esses aspectos impactam no gerenciamento da propriedade rural, tornando-se
necessário uma melhor compreensão dos aspectos que estão envolvidos.
Por que estão ocorrendo?
Como estão
ocorrendo?
Quem está
envolvido?
Qual o modelo mais
adequado?
Mudanças
107
3.5 O GERENCIAMENTO DA PROPRIEDADE
As mudanças estruturais ocorridas no agronegócios nos últimos anos têm evidenciado
a necessidade de novas formas de gerenciamento, e os agricultores estão atuando num
contexto de negócios que se estende muito além da porteira. Esse cenário exerce crescente
pressão para que eles façam frente aos desafios com atitudes qualificadas, conhecimento e
habilidades para serem capazes de reconhecer o potencial das ameaças ambientais e a
viabilidade que está presente em cada atividade; portanto, a atividade é muito mais do que um
meio de vida, é um negócio que precisa ser sustentável. As habilidades para acessar a
informação, adequar-se rapidamente à nova realidade e saber gerenciar eficazmente são muito
mais requeridas que no passado (REEVE e BLACK, 1993).
Giles e Stansfield (1990) salientam que muitas definições para o gerenciamento da
propriedade, pois autores que escrevem e produtores que praticam. Pode o gerenciamento
ser considerado como o decidir o que quer fazer e, então, fazer. Mas os autores consideram
que gerenciamento envolve um conceito mais complexo: é uma atividade complexa,
envolvendo a combinação de coordenação de recursos humanos, físicos e financeiros, num
meio no qual produz uma commodity ou um serviço que podem ser vendidos a um preço que
pode ser pago, enquanto torna o ambiente de trabalho agradável e aceitável para os
envolvidos.
Com o advento da industrialização da agricultura houve a transformação da realidade,
de um grande grupo de famílias de pequenos produtores, com produtos diversificados, para
poucas corporações altamente qualificadas, com operações privadas. Tais empresas podem
ameaçar muitos dos tradicionais produtores em razão de suas vantagens, pois os mercados
estabelecem os produtos e a produção é dependente do capital (WANER, 2000).
Schultz (1965, p.15) afirma:
“O homem que exerce atividade agrícola de maneira idêntica à dos seus
antepassados não pode produzir muitos alimentos, apesar da riqueza da terra ou da
intensidade do seu trabalho. O agricultor que tem acesso ao que a ciência conhece
sobre solos, plantas, animais e quinas, e sabe como usar esses conhecimentos,
pode produzir alimentos em abundância, mesmo que a terra seja pobre. E não
precisará trabalhar tanto nem tão duramente. (...) O conhecimento que possibilita
essa transformação é uma forma de capital, sempre que for parte integrante dos
insumos materiais usados pelos agricultores e sempre que constituir uma parte de
suas habilidades e do seu saber”.
Em vista disso, o gerenciamento de uma grande ou pequena empresa do agronegócios
e o de outros ramos de negócios não diferem significativamente, visto que em todas
108
necessidade de se aplicar os princípios de planejamento, organização, direção e controle.
3.6 CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM X COOPERATIVA OU NEGÓCIOS
INDIVIDUAIS X COMUNIDADE DE PRÁTICA
As temáticas deste tópico têm recebido bastante ênfase em diferentes segmentos.
Neste trabalho, no que se refere ao Brasil, o conhecimento e a aprendizagem estão inseridos
num contexto de cooperativa agrícola, no qual os associados, por meio de suas redes de
contatos, formam as suas CoPs e realizam trocas. Na realidade australiana, os produtores
conduzem seus negócios individualmente e formam suas comunidades de acordo com as
similaridades nas atividades.
Nas organizações cooperativas, diante da necessidade de permanente adequação das
práticas, dos processos e da arquitetura organizacional à nova realidade do mercado
doméstico e do internacional, a aprendizagem assume papel relevante e a sua ocorrência é
fator determinante do sucesso. Um dos desafios que se apresentam nessas organizações é
entender como se dá a criação de conhecimento, o acesso a este e a disseminação das
melhores práticas adotadas nas atividades.
Para melhor demonstrar a dinamicidade do cenário que envolve o referencial teórico
apresentado neste trabalho, elaborou-se uma figura interligando as teorias.
Figura 15 Inter-relação das teorias
Fonte: Elaborado pela Autora


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
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109
A criação de conhecimento é o foco da análise e, neste estudo, está suportada pelas
CoPs, aprendizagem, inovação e cultura, cujo cenário é o do agronegócios. Para melhor
explicar as inter-relações que envolvem as teorias, veja-se a Figura 16:
Figura 16 Amplitude da inter-relação das teorias
Fonte: Elaborado pela Autora
Os aspectos que envolvem a temática a ser estudada trazem significativa
complexidade e caracterizam-se por grande amplitude. No agronegócios estão presentes as
cooperativas e indústrias que mantêm ligação direta com os produtores rurais, que, através de
suas CoPs, partilham informações e conhecimentos para realizar melhoramentos no
gerenciamento de suas propriedades. As CoPs estão envolvidas num profundo processo de
participação na prática, permeado por relações de confiança e dando espaço para
aprendizagem nas interações, aspectos esses envolvidos pela cultura.
O gerenciamento da propriedade tem como base as experiências individuais e visa à
adoção de processos inovativos em face dos novos desafios e oportunidades na atividade, pois
melhoramentos contínuos são necessários visando manter os mercados atuais e atingir novos.
Todos esses aspectos parecem dar suporte à criação de conhecimentos nas propriedades
rurais.
Assim, uma amplitude de variáveis que envolvem a temática. Acredita-se que a
construção teórica exposta possa auxiliar na compreensão da criação de conhecimento nessas
realidades. A seguir, apresentam-se a metodologia e os métodos utilizados nesta pesquisa.


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
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Inovações
Experiências
Desafios e
oportunidades
Melhoramentos
contínuos
Novos mercados
Profundo processo
de participação na
prática
Aprendizagem nas
interações
Aspectos culturais
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Cooperativas e Indústrias

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110
CAPÍTULO 4 A PESQUISA
O objetivo deste capítulo é descrever o modelo de pesquisa utilizado no
desenvolvimento deste estudo, evidenciando as estratégias de pesquisa, os métodos utilizados
para a coleta e análise dos dados. Faz-se uma apresentação geral do modo como o trabalho foi
desenvolvido em suas diferentes fases.
Como a pesquisa trata do tema conhecimento, a epistemologia parece ser a melhor
forma de compreender a realidade a ser estudada; por isso, a insncia epistemológica é
pervasiva para todo o trabalho de construção da realidade. Adota-se, neste estudo, um enfoque
de pluralidade e disparidade, com a interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade permeando
toda a reflexão. Assim, pode-se afirmar que o paradigma predominante neste estudo é o
construtivista, pelo fato de ter sido desenvolvido com pessoas envolvidas num contexto social
com múltiplas realidades e pela possibilidade de obtenção de inúmeras explicações para as
situações.
A pesquisa foi desenvolvida com produtores rurais de uma região do Rio Grande do
Sul, no Brasil, e de Queensland, na Austrália. A pesquisa de campo desenvolveu-se nos
períodos de dezembro de 2001 a março de 2002 e de maio a julho de 2003 no Brasil; na
Austrália, de março a agosto de 2004.
4.1 ESTRATÉGIAS ORIENTADORAS DA PESQUISA
A presente pesquisa caracteriza-se por um estudo descritivo de caráter qualitativo,
complementado por dados quantitativos. Delineia-se por estudo de casos utilizando-se de
documentação e observação in loco, questionário, entrevista e focus group.
O estudo descritivo pode ser justificado quando o pesquisador inicia com uma
temática bem conhecida e conduz a pesquisa para uma descrição detalhada. O resultado da
pesquisa descritiva é a demonstração de um cenário amplo de análise a respeito de um
assunto. Esse tipo de pesquisa foco no “como” e porquê ( como acontece? ou quem está
111
envolvido? explora novas questões ou explica como certos eventos acontecem (NEUMAN,
2000). Para Tripodi (1975), o pesquisador deve superar os limites das descrições quantitativas
e/ou qualitativas e buscar criar conceitos nas inter-relações entre os fenômenos observados,
dispondo as observações num quadro de referência.
As abordagens quantitativa e qualitativa objetivam o levantamento de novas
informações, buscando verificar e ampliar o conhecimento existente, porém o caminho
seguido nesta busca pode ter contornos diferentes (GODOY, 1995). Os dados quantitativos
podem ser apresentados separadamente ou combinados com os qualitativos, o que é bastante
comum em pesquisas (PATTON, 2002). Nesta pesquisa, os dados quantitativos são analisados
juntamente com os qualitativos.
Os dados obtidos da análise qualitativa geralmente são originados da pesquisa de
campo (PATTON, 2002), por possibilitar a condução de estudos exploratórios e descritivos,
nos quais o pesquisador começa com uma idéia ampla, seleciona um grupo ou espaço para
estudar e nele adota uma função social, estabelecendo a observação e a interação com as
pessoas como meios para a obtenção de informações, através de entrevistas formais ou
informais e/ou focus groups (NEUMAN, 2000).
A pesquisa qualitativa corresponde a um procedimento mais intuitivo, mas também
mais maleável e mais adaptável a resultados não previstos, ou à evolução das hipóteses; não
emprega medidas, ao contrário da pesquisa quantitativa (BRYMAN, 2001). A análise
qualitativa possibilita tratar de forma metódica informações e testemunhos que demonstram
profundidade e complexidade (QUIVY e CAMPENHOUDT, 1998).
Esta pesquisa foi desenvolvida, num primeiro momento, por meio da revisão
bibliográfica e análise documental e, num segundo momento, com estudo de casos. Na
revisão bibliográfica, o pesquisador necessita conhecer o que já foi desenvolvido sobre o
assunto, uma vez que nenhuma pesquisa parte da “estaca zero”. Isso permite apresentar as
principais conclusões a que outros autores chegaram e mostrar suas contribuições. O
pesquisador poderá, ao mesmo tempo, certificar-se de que tipo de contribuição poderá
oferecer a esse campo de estudo; com base no aparato teórico, ele sente a necessidade da
aplicação prática dessa construção. Para Collis e Hussey (2003), o estudo de caso é uma
estratégia de pesquisa muito utilizada, especialmente em áreas com poucas teorias ou com um
carente corpo de conhecimentos.
112
Para Yin (2001), o estudo de caso como estratégia de pesquisa busca examinar um
fenômeno contemporâneo presente num cenário real, quando a fronteira entre o fenômeno e o
contexto o apresenta clara definição e as variáveis também podem surgir no decorrer do
processo. Esse tipo de método deve ser escolhido se o pesquisador procura responder a
questões do tipo “como” e por que”, bem como em situações nas quais tem pouco controle
sobre os eventos no ambiente estudado. Os resultados são generalizáveis para proposições
teóricas (YIN, 2001).
4.2 POPULAÇÃO-ALVO DA PESQUISA
Os participantes desta pesquisa, no Brasil, foram produtores rurais ligados à Cotrijal,
bem como gerentes e outros funcionários da cooperativa; na Austrália, foram produtores
rurais com diferentes atividades, pesquisadores da universidade e funcionários do DPI&F
11
(Department Prime Industry and Fisheries). Além disso, foram realizadas observação e análise
documental. Com isso, acredita-se ter sido possível a realização da triangulação dos dados
resultantes dos diferentes instrumentos.
A escolha dos participantes tanto no Brasil como na Austrália deu-se por
acessibilidade e exaustão. Para Vergara (1998), são selecionados elementos pela facilidade de
acesso a eles. Gil (1999) complementa que essa forma de amostragem é perfeitamente
aplicável em estudos qualitativos, pois não é requerido um elevado nível de precisão. O
número de participantes considerou a ocorrência de repetição de informações e a inexistência
de novidades nas contribuições trazidas pela amostra.
No Brasil, a cooperativa foi escolhida considerando-se a acessibilidade, a abertura e o
interesse na pesquisa por parte dos seus dirigentes. Outro aspecto relevante na escolha foi o
reconhecimento da Cotrijal entre as demais cooperativas no país como bem-sucedida.
O primeiro grupo pesquisado foi uma amostra composta de dois grupos de produtores
sócios da Cotrijal, denominados “Produtores do Grupo de Gerenciamento” (GG) e
“Produtores Externos ao Grupo de Gerenciamento” (EGG), totalizando 11 propriedades
rurais, escolhidas pela acessibilidade e mediante lista de associados da cooperativa. Os seis
produtores referentes ao GG foram selecionados dentre 35 do grupo no município e os cinco
11
DPI&F é o órgão do governo responsável por dar assistência e qualificação ao produtor rural.
113
produtores do EGG foram sorteados dentre os 946 associados residentes na mesma cidade.
Para estes, o requisito foi não fazerem parte do GG.
Para toda essa amostra foram considerados como critérios ter como atividade principal
a produção de grãos, preferencialmente compreendida na região como soja, milho, trigo, aveia
e cevada, e área total da propriedade até, no máximo, 200 ha. Optou-se por esse perfil uma
vez que essa produção é característica na região. Porém, em alguns casos, é possível encontrar
aqueles que se dedicam a atividades complementares, como o leite, suínos ou frangos, por
exemplo, dificilmente exercidas como atividades principais. No que diz respeito aos
produtores do GG, deveriam estar participando há três anos ou mais do programa.
O técnico da cooperativa que prestava assistência, realizava contato telefônico
verificando o interesse do produtor em participar da pesquisa. Esse foi considerado o meio
mais fácil de contatá-los, por haver entre eles maior engajamento e afinidade pela interação
com base na prática. O técnico realizava uma breve explicação do trabalho e, posteriormente,
agendava as visitas às propriedades.
Os focus groups envolveram 25 associados da Cotrijal, a maioria de Não-Me-Toque e
os demais de região próxima. Os contatos e os convites aos produtores para a participação nos
três focus groups foram feitos da seguinte forma: no primeiro e no terceiro, os técnicos da
cooperativa realizaram os convites através de contatos telefônicos. Para o primeiro, foram
convidados os produtores que haviam participado da etapa anterior da pesquisa; no terceiro,
os técnicos selecionaram aleatoriamente outro grupo dentre os seus assistidos. Para realizar o
agendamento das reuniões consideraram-se alguns aspectos, tais como: o dia de semana mais
conveniente para os produtores, de acordo com as suas atividades e que o lhes causasse
maiores transtornos; a previsão do tempo para a semana, pois, em caso de previsão de chuva,
esse dia era o escolhido para a reunião; a existência de uma reunião eventual na cooperativa,
dentre outros aspectos. Essas informações foram obtidas junto aos gerentes, funcionários e
agrônomos da cooperativa. Para o segundo focus group, aproveitou-se a oportunidade de uma
reunião realizada pela cooperativa com os líderes das comunidades, após a qual a
pesquisadora reuniu o grupo para realizar a pesquisa.
Os produtores participantes do focus groups faziam parte tanto do GG como do EGG,
uma vez que, na primeira fase, não se mostraram diferenças significativas que justificassem
serem analisados separadamente. Quanto à atividade, foram considerados os requisitos de
possuírem como atividade principal a produção de grãos, como na etapa anterior. O critério de
área total da propriedade até o máximo de 200 ha não foi obedecido, bem como o dos
114
associados residirem apenas em o-Me-Toque, pois fizeram-se presentes nos focus groups
pessoas da área de abrangência da cooperativa na região.
Para a escolha da amostra referente aos gerentes e funcionários da Cotrijal foi
considerada a relevância das informações que poderiam oferecer para a pesquisa de acordo
com as suas funções.
Na Austrália não foi possível estabelecer um procedimento mais formalizado para a
escolha da amostra. A coleta de dados referente aos questionários ocorreu de acordo com as
oportunidades surgidas em diferentes momentos, ou seja, por acessibilidade. Foram enviados
20 questionários, dos quais 15 foram devolvidos com as respostas. Os pesquisados são
residentes das cidades de Gatton, Kingaroy, Roma, Tara, Dalby e Toowomba.
A amostra para a realização dos focus groups resultou da acessibilidade e da
conveniência, bem como da disponibilidade de pessoas que se propuseram a reunir grupos
compostos por pessoas de suas relações de amizade. Os produtores rurais australianos
participantes do focus groups totalizaram 15 pessoas.
As informações obtidas junto aos pesquisadores da universidade de Queensland e dos
profissionais do DPI&F dependeram das oportunidades de acesso a eles, bem como dos seus
interesses em conhecer o trabalho da pesquisadora.
4.3 TÉCNICAS UTILIZADAS NA COLETA DE DADOS
Nesta pesquisa foram utilizados os seguintes instrumentos: documentos obtidos na
Cotrijal no Brasil e em diferentes locais na Austrália, observações in loco, questionários,
entrevistas e focus groups. Essas técnicas de coleta de dados objetivaram obter evidências
necessárias às respostas das questões de pesquisa.
4.3.1 Documentos e Observação in Loco
A observação constitui-se no elemento fundamental no processo de pesquisa, sendo
utilizada conjugada com outras técnicas; nela, as informações podem ser percebidas
diretamente, sem qualquer intermediação (GIL, 1999).
No Brasil foram buscados materiais informativos de que a cooperativa se utiliza para
115
transmitir informações aos associados, tais como jornais, folders, revistas, bem como o site da
organização; além desses, foram solicitados o organograma, fotos, DVD sobre a Expodireto,
dentre outros. A pesquisadora permaneceu durante três dias nas dependências da cooperativa
para observar as relações entre associados e entre associados e funcionários da organização.
Na Austrália, as pesquisas foram feitas via internet, porém, sempre que houve
oportunidade de acesso, foram obtidas informações em folders, jornais, revistas de
organizações ligadas à agricultura, além de serem realizadas observações. Também foram
obtidas informações gerais sobre agricultura na Austrália junto ao DPI&F. Os contatos com
pesquisadores da Universidade de Queensland nos diferentes momentos do estágio de
doutorado também contribuíram para a compreensão da realidade. Houve a oportunidade de
contatar produtores em diferentes situações, cujas informações serão descritas mais
detalhadamente.
4.3.2 Questionário
O questionário constitui-se de uma lista de questões estruturadas, escolhidas após
testagem e com uma visão das possíveis respostas (COLLIS e HUSSEY, 2003). Para Quivy e
Campenhoudt (1998), o questionário possibilita obter informações relativas à situação social,
profissional ou familiar, a opiniões, atitudes em relação às opções ou às questões humanas e
sociais, em nível de conhecimento ou sobre qualquer outro aspecto que seja do interesse do
pesquisador.
O questionário foi utilizado na fase de desenvolvimento com o objetivo de serem
obtidas informações gerais sobre os pesquisados, tais como idade, escolaridade, acesso às
informações e outras evidências para a compreensão do modo como se dá a criação de
conhecimento nas realidades estudadas.
4.3.3 Entrevista
As entrevistas utilizadas na pesquisa foram abertas ou informais e semi-estruturadas.
Entrevistas abertas ou informais são as menos estruturadas possíveis e se distinguem da
conversação por terem como objetivo básico a coleta de dados (GIL, 1999). Em entrevistas
semi-estruturadas são utilizadas questões abertas, que permitem ao entrevistador entender e
116
captar a perspectiva dos participantes da pesquisa; assumem uma variedade de formas, cada
qual pressupondo uma construção teórica diferente. Assim, o pesquisador o determina sua
perspectiva através da seleção prévia de categorias de questões (SJOBERG e NETT, 1968;
ROESCH, 1999). Yin (2001) salienta que as entrevistas constituem-se em fontes de evidência
essenciais para o desenvolvimento de estudo de casos. Uma de suas vantagens principais é
possibilitarem a realização de inferências sobre os dados registrados segundo a percepção dos
entrevistados. Contudo, a qualidade da informação obtida numa entrevista depende da
habilidade do entrevistador (PATTON, 2002) e sua complexidade pode ser subestimada
(EASTERBY-SMITH et al., 1999).
No presente trabalho, no que se refere à pesquisa feita no Brasil, as entrevistas abertas
fizeram parte da fase preliminar e de desenvolvimento. As semi-estruturadas foram utilizadas
apenas na fase de desenvolvimento, conjuntamente com os questionários aplicados aos
associados e, posteriormente, aos gerentes da cooperativa, para auxiliar na ampliação das
informações e na melhor compreensão da realidade estudada.
Na Austrália, o foram utilizadas entrevistas semi-estruturadas com os produtores
rurais em vista do pouco tempo disponível para desenvolvimento da pesquisa; da dificuldade
de acesso aos produtores rurais australianos e das dificuldades de compreensão da língua
inglesa, especificamente das expressões utilizadas pelos produtores. Foram, porém, realizadas
entrevistas semi-estruturadas e abertas com cinco pessoas ligadas ao DPI&F, objetivando
entender melhor a realidade australiana. Neste trabalho, estas serão apenas descritas como as
entrevistas realizadas no DPI&F, por ter sido solicitada a omissão dos nomes dos sujeitos
entrevistados.
4.3.4 Focus Group
O focus group é utilizado para explorar dados referentes a sentimentos, experiências,
opiniões, desejos e preocupações específicas; também mostra como são construídos e
expressados os pontos de vista num grupo de pessoas envolvidas numa situação comum
(KITZINGER e BARBOUR, 1999; COLLIS e HUSSEY, 2003). Este instrumento oferece ao
pesquisador a oportunidade de estudar os meios pelos quais os indivíduos coletivamente dão
sentido a um fenômeno e constroem significado para este (BRYMAN, 2001).
117
O uso do focus group permite ao pesquisador obter informações dos participantes
através de suas próprias palavras e com o mínimo de interrupção (STEWART e
SHAMDASANI, 1990); oferece dados com rapidez e a um baixo custo se comparado às
entrevistas individuais; permite ao pesquisador intervir diretamente junto aos participantes e
oferece-lhe a oportunidade de obter bom fluxo e riqueza de informações; é flexível e produz
resultados facilmente compreensíveis (MORGAN, 1988).
Para Morgan (1988), o focus group é especialmente válido quando utilizado de forma
conjugada com outras técnicas de coleta de dados e envolve duas grandes fases: o
planejamento e a condução e análise das informações.
O planejamento, como o próprio nome sugere, deve ser feito antes da reunião. É
recomendado elaborar um orçamento e preparar material de áudio e vídeo para gravação
através de filmagens; determinar o número de grupo(s) necessário(s), a duração das reuniões,
o número de participantes por grupo, os critérios de formação do grupo e o nível de
envolvimento do moderador/pesquisador (MORGAN, 1988; KITZINGER e BARBOUR,
1999).
O local ideal para a realização do focus group é em sala silenciosa e confortável, sem
interrupção de pessoas que não estejam participando, porém os pesquisadores devem ser um
pouco flexíveis quanto aos locais, visto que, freqüentemente, não há muitas opções de
escolha. O moderador deve estar munido de questões-chave e ter habilidade para conduzir o
grupo, o que será determinante para o sucesso da pesquisa (KITZINGER e BARBOUR,
1999).
A condução e a análise dividem-se em diferentes momentos: observação, obtenção
das informações, análise e relatório (MORGAN, 1988).
A aplicação do focus group seguindo a metodologia de Morgan (1988) consiste nas
seguintes etapas:
a) setting: é o agendamento anterior com data e local definido. É importante que o(s)
responsável(s) pela reunião cheguem ao local determinado com trinta minutos de
antecedência para preparar o ambiente.
b) Participantes do focus group: a serem definidos pelo(s) pesquisador (es).
O convite é logicamente apropriado para qualquer pessoa, cujo tópico seja relevante
(BRYMAN, 2001) e pode envolver pessoas que tenham algum tipo de atividade coletiva, pois
118
pode-se usar a interação para gerar dados (KITZINGER e BARBOUR, 1999). O autor
salienta que os conhecimentos poderão ser homogêneos ou heterogêneos, dependendo do
objetivo, e que o fato de as pessoas fazerem parte de um grupo ou não pode não ser pré-
requisito para o sucesso do focus group. Contudo, a chave para o recrutamento de qualquer
grupo é o entendimento de onde e como o membro potencial usa seu tempo, que barreiras
poderão existir que dificultem a sua participação e que incentivos serão valorizados pelo
grupo (STEWART e SHAMDASANI, 1990).
c) O número de pessoas para o focus group é de seis a dez (MORGAN, 1988;
PATTON, 2002), ou, segundo Kitzinger e Barbour (1999) e Stewart and Shamdasani (1990),
o número pode variar entre oito e doze participantes, dependendo do objetivo. Os autores
salientam também que, dependendo do tipo de estudo, esse número de participantes pode ser
ampliado.
d) O tempo de duração: os autores apresentam similaridades em suas abordagens no
que se refere ao tempo de duração da reunião. Uma hora é considerada um tempo razoável,
pois mais que isso pode ser cansativo para o grupo e menos considera-se pouco para a coleta
dos dados (MORGAN, 1988). Para Rea (2000), a sessão deve ter entre noventa minutos e
duas horas; de uma a duas horas (MORGAN, 1988; STEWART e SHAMDASANI, 1990;
BRYMAN, 2001), de uma hora e meia a duas horas e meia (MORGAN, 1988; KITZINGER e
BARBOUR, 1999). Assim, o tempo pode variar de noventa minutos a duas horas e meia.
e) Warming up: o aquecimento é feito com a recepção do grupo e bate-papo sobre
assuntos coloquiais. Após todos chegarem, são feitas as apresentações do grupo (cada um se
apresenta rapidamente).
f) Questões-foco da pesquisa: são elaboradas previamente entre seis e dez questões.
g) Condução do focus group: aos poucos são expostas as questões; o pesquisador
mantém postura de neutralidade, intervindo apenas quando necessário (dúvidas de
interpretação das questões). Morgan (1988) orienta que é necessário ter flexibilidade na
realização das perguntas, devendo o moderador questionar a mesma coisa de forma diferente,
sentindo-se livre, inclusive, para aprofundar, quando necessário. É importante também a
observação e o registro in loco do material emergido durante os focus group, anotando-se
detalhes e impressões, tanto positivas como negativas.
h) Encerramento do focus group: no final são feitas perguntas sobre como o grupo
avalia o encontro, os assuntos e o modo como se sentiram. Segundo Rea (2000, p. 102), “na
119
conclusão da sessão, o moderador perguntará se comentários adicionais sobre o assunto,
agradecerá ao grupo por seu tempo e sua valiosa contribuição”.
Quanto ao número de grupos a serem realizados, Morgan (1988) explica que dois
grupos podem ser suficientes, mas é possível utilizar três ou até quatro, dependendo da
questão de pesquisa, do alcance dos objetivos, do tempo e das limitações de recursos
(BARBOUR e KITZINGER, 1999). As informações do focus group devem ser
posteriormente transcritas, momento em que o desafio consiste na identificação dos discursos
individuais. Essa tarefa pode ser facilitada se a pessoa que estiver transcrevendo participou da
reunião (STEWART e SHAMDASANI, 1990). O focus group pode gerar muitas informações
ricas e dados dinâmicos.
A análise dos dados envolve um processo semelhante a qualquer outro dado
qualitativo. Todavia, a pesquisa necessita referenciar o contexto do grupo, significando que a
análise inicia considerando-se o desenho do grupo como um todo e reconhecendo-se o aspecto
das vozes individuais dentro dele. O pesquisador tenta distinguir entre opiniões expressadas,
sejam favoráveis ou contrárias no grupo, e o consenso ou construção do grupo. A análise
envolve, pelo menos, o cenário do conjunto e a comparação dos temas similares, bem como o
exame do modo como eles se relacionam entre indivíduos e entre grupos (MORGAN, 1988).
A interpretação do focus group representa uma análise de conteúdo que exige uma abordagem
rigorosa, enfatizando a confiabilidade e a replicabilidade das observações e subseqüentes
interpretações.
Para analisar os dados coletados, Morgan (1988) apresenta a opção de duas formas
básicas: estritamente qualitativo ou sumário etnográfico, na qual os discursos mais
significativos e representativos pela força do seu conteúdo são literalmente transcritos; ou
codificação sistemática através da análise de conteúdo, criando-se categorias e descrições
quantitativas. Com base na análise é feito o relatório final. A decisão sobre a forma de análise
depende dos objetivos da pesquisa. Nesta pesquisa, foi adotada a seguinte sistemática: com
base nas categorias de análise demonstradas no mapa cognitivo, foi realizada a análise de
conteúdo.
As questões éticas têm sido relevantes em todos os estágios de qualquer pesquisa. Para
melhor considerar esse aspecto, o consentimento informado tem recebido muita atenção
quanto a sua utilidade (KITZINGER e BARBOUR, 1999). Em todas as fases da pesquisa foi
utilizado o consentimento informado. Ainda, a questão da confidencialidade no grupo torna-se
120
bastante difícil, pois algumas informações podem ser compartilhadas após a sessão
(KITZINGER e BARBOUR, 1999).
A realização dos focus groups, tanto no Brasil como na Austrália, buscou seguir os
passos sugeridos por Morgan (1988). Não foram utilizadas filmagens por se considerar que
poderiam inibir o grupo; optou-se pela gravação das vozes dos participantes, contando com a
participação da pesquisadora para descrever comportamentos, bem como adotar a
metodologia de Morgan (1988), que permite organizar as fases como setting, definição do
perfil e do número de participantes, tempo de duração, warming up, questões e condução.
A opção por focus group pode ser justificada por ser uma ferramenta que possibilita o
envolvimento de maior número de pessoas na discussão de uma temática podendo ocorrer a
ampliação de idéias e troca de experiências entre os participantes.
Para a aplicação dos questionários, a realização das entrevistas e dos focus groups com
os produtores rurais, foi solicitada uma autorização prévia dos participantes, explicitando sua
concordância ou não na participação, ou seja, foi feito um contrato através do consentimento
informado (Apêndices C, D e I). Quando enviado via fax ou internet, o termo foi anexado ao
final do questionário.
4.4 MÉTODO PARA A ANÁLISE DOS DADOS
Para Krippendorff (2004, p. 30), a análise de conteúdo é um processo que envolve
procedimentos especializados. A estrutura objetiva atender a três propósitos: a proposta
prescritiva, para guiar a contextualização e o desenho do conteúdo prático; a analítica, para
facilitar o exame crítico e a comparação da análise de conteúdo publicada; e a metodológica,
para apontar com critério o desempenho e o padrão de precaução que o pesquisador aplica na
avaliação do andamento da análise de conteúdo. A idéia do autor é que essa estrutura possa
trazer melhoramentos sistemáticos ao método de análise de conteúdo.
Krippendorff (2004) considera a estrutura simples e geral empregando apenas parte
dos componentes conceituais, tais como:
- texto, os dados a que um analista de conteúdo tem disponíveis para começar um
esforço analítico;
- a questão de pesquisa a que o analista busca responder para examinar o texto;
121
- no contexto, a escolha do analista, o que fará sentido para o texto;
- um construto analítico que operacionaliza o analista a conhecer sobre o contexto;
- inferências pretendidas para responder à questão de pesquisa, a qual constitui
realização da análise de conteúdo;
- evidência de validade, que é a última justificativa da análise de conteúdo.
Krippendorff (2004) apresenta uma estrutura para a análise de conteúdo como segue
na Figura 17.
Figura 17 Estrutura para análise de conteúdo
Fonte: Krippendorff (2004, p.30)
A questão de pesquisa um direcionamento para a inferência na análise do texto.
Pode-se responder à questão através do exame do corpo do texto, pois a questão delineia um
conjunto de possíveis respostas. O contexto especifica o mundo no qual o texto pode ser
relatado para responder à questão de pesquisa. O construto analítico operacionaliza o que o
analista de conteúdo conhece sobre o contexto, especialmente a rede de correlações
consideradas para explicar como o texto disponível está conectado com as possíveis respostas
às questões de pesquisa e as condições sob as quais essas correlações poderiam mudar
(KRIPPENDORFF, 2004).
Para Krippendorff (2004), o ponto inicial de qualquer pesquisa empírica são os dados.
Em focus groups, o pesquisador tenta controlar a geração dos dados assumindo que conhece o
que os dados significam. Muitas análises de conteúdo iniciam com os dados que não se
pretende analisar se consideradas as respostas específicas da pesquisa; são textos que podem
Respostas
Os muitos mundos dos outros
Evidência da
validade
?
Significados,
referências, usos
Questão de pesquisa
Correlações Estáveis
Condições que
contribuem
Textos
Inferências
Análise de
conteúdo
Construto
analítico
CONTEXT
Como concebido pela análise de conteúdo
Textos
122
ser lidos, interpretados e entendidos por outras pessoas que não sejam especialistas. Quem
pode decompor o texto em unidades de significados, reconhecer a estrutura e rearticular o
entendimento na ação dos pesquisados. Nesse nível é possível dar textualidade ao que está
escrito (KRIPPENDORFF, 2004).
Para se fazer inferência na análise de conteúdo, pode-se partir das informações que o
conteúdo das mensagens fornece sobre o que é o que realmente ocorre, ou de premissas que
surgem como o resultado das informações que evidenciam a comunicação. A validação é
requerida por qualquer análise de conteúdo (KRIPPENDORFF, 2004). Embora a análise de
conteúdo tenha passado por alguns momentos em que houve a tentativa de quantificação das
informações na busca de cientificidade e objetividade, possui características estritamente
descritivas.
Bryman (2001) apresenta algumas vantagens da análise de conteúdo:
é um método muito transparente, podendo ser replicado e detalhadamente
explicado;
permite certo número de análises longitudinais com relativa facilidade;
é um método altamente flexível, que pode ser aplicado para uma ampla variedade
de diferentes tipos de informações não estruturadas;
permite que informações sobre um grupo social sejam geradas, as quais, de outra
forma, seriam de difícil acesso.
Para a análise das informações preliminares foi utilizada a análise documental. Após a
coleta das informações na fase de desenvolvimento, no que se refere às entrevistas e focus
groups realizados no Brasil, as fitas foram transcritas e feita a análise de conteúdo das
informações. Para os focus groups realizados na Austrália, as fitas foram transcritas por uma
pessoa que desenvolve trabalhos na School Natural & Rural System Management (NRSM),
The University of Queensland, considerando a necessidade da compreensão dos diferentes
termos e expressões utilizados pelos agricultores australianos, além de manter os conteúdos
originais das contribuições de cada um.
Na fase do tratamento dos resultados, inferência e interpretação, novas constatações e
interpretações foram surgindo à medida que foram agregadas aos objetivos propostos e aos
respectivos referenciais teóricos, dando significado aos discursos.
Os dados referentes aos questionários, tanto do Brasil como da Austrália, foram
123
analisados estatisticamente, agrupados e classificados de forma a proporcionar uma visão
sistêmica dos aspectos observados.
4.5 DESENHO GERAL DA PESQUISA
A estratégia de pesquisa é estudo de casos com produtores rurais associados da
Cooperativa Tritícola Mista Alto JacLtda (Cotrijal), de Não-Me-Toque e região Alto Jacuí,
Rio Grande do Sul, Brasil, conforme demonstrado na Figura 18, e com produtores rurais de
Queensland, Austrália, conforme a Figura 20. A elaboração da estratégia de pesquisa
considerou, inicialmente, a necessidade de se desenvolver um método dinâmico de análise da
criação de conhecimento em propriedades rurais com base no modelo de Nonaka e Takeuchi
(1997).
Para melhor demonstrar os locais onde foi desenvolvida a pesquisa, são apresentados
mapas do estado do Rio Grande do Sul, da Austrália e do estado de Queensland, apontando os
locais da realização do estudo.
Figura 18 Mapa do Rio Grande do Sul: área onde a pesquisa foi desenvolvida
Fonte: FEE (2005)
O mapa da Figura 18 mostra a região Alto Jacuí e a cidade de Não-Me-Toque, onde a
cooperativa Cotrijal está situada, e, especificamente, a área onde foi realizada a pesquisa.
124
Figura 19 Mapa da Austrália: estado de Queensland
Fonte: Queensland Maps
Figura 20 Mapa do estado de Queensland: área onde a pesquisa foi desenvolvida
Fonte: Queensland Maps
O último mapa mostra os locais onde a pesquisa foi desenvolvida (Gatton, Kingaroy,
Roma, Tara, Dalby e Toowomba).
Neste estudo, a pesquisa descritiva foi subdividida nas fases preliminar, de
desenvolvimento e de construção. Na fase preliminar e de desenvolvimento estão inseridas
algumas informações referentes à pesquisa iniciada em dezembro de 2001, com o trabalho de
dissertação do aluno do mestrado em Agronegócios do Centro de Estudos e Pesquisas em
Agronegócios da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Eleri Hamer, que teve o
acompanhamento e assistência da pesquisadora, uma vez que teria continuidade.
125
O detalhamento da pesquisa em suas respectivas etapas e o desenho geral estão
apresentados nas Figuras 21 e 22.
Figura 21 Etapas da pesquisa
Fonte: Elaborada pela autora
Para melhor demonstrar as etapas da pesquisa foi desenvolvida uma figura com o
desenho geral da pesquisa (Figura 22).
Definição do problema, referencial teórico e objetivos da
pesquisa
Elaboração do referencial teórico com base nos estudos
desenvolvidos na área pesquisada
Escolha dos objetos de pesquisa
Definição da metodologia e métodos de pesquisa
Elaboração da estrutura de pesquisa
Brasil
Associados da
Cotrijal
Austrália
Produtores rurais
Coleta de dados
Análise dos dados
Construção do modelo
Conclusões e considerações
126
Figura 22 Desenho geral da pesquisa
Fonte: Elaborada pela autora
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
PESQUISA DESCRITIVA
BRASIL AUSTRÁLIA
Fase Preliminar
Revisão
bibliográfica
Fase
Entrevistas abertas,
seminários e
documentos
Elaboração, teste e reelaboração
do questionário
Revisão
bibliográfica
Fase
Entrevistas abertas,
workshops, seminários,
jornais e documentos
Tradução, adequação, teste e reelaboração
do questionário
Estudo dos Casos
Fase de Desenvolvimento
Questionários e entrevistas semi-estruturadas
Questionários
Informações
preliminares - modos
de conversão do
conhecimento,
aprendizagem e
CoPs
Informações
socioeconô-
micas e
referentes ao
uso da
informática
Informações
preliminares - modos
de conversão do
conhecimento,
aprendizagem e
CoPs
Informações
socioconô-
micas e
referentes ao
uso da
informática
Análise dos Resultados
Elaboração das questões e organização dos
focus groups, observação in loco e entrevistas
com gerentes
Elaboração das questões e organização dos
focus groups e entrevistas com
profissionais do DPI&F
Modos de conversão, condiçõe
s capacitadoras
e o modelo de cinco fases do processo de
criação de conhecimento organizacional
Modos de conversão, condições
capacitadoras e o modelo de cinco fases
do processo de criação de conhecimento
organizacional
Análise d
os resultados, identificação de similaridades e diferenças e das variáveis
para a construção modelo
Fase de Construção
Método dinâmico de análise da criação de conhecimento para o elo da produção no agronegócios
127
A denominação das fases foi opção da pesquisadora como forma de melhor estruturar
e demonstrar os procedimentos metodológicos da pesquisa. As fases e os procedimentos
utilizados na pesquisa estão apresentados detalhadamente em seqüência.
4.5.1 Fase Preliminar
Nesta fase houve a busca por informações preliminares no que se refere ao contexto
das realidades estudadas.
No Brasil, a fase iniciou-se em 2001 e constituiu-se de pesquisa bibliográfica,
elaboração, sondagem para teste e adequação dos instrumentos de pesquisa. Foram feitas
entrevistas abertas com alguns gerentes, agrônomos e outros funcionários da Cooperativa
Tritícola Mista Alto Jacuí (Cotrijal) em Não-Me-Toque, RS, Brasil. Obtiveram-se alguns
materiais, como folders, jornal institucional, revistas, dentre outros, com os quais se objetivou
obter maiores informações sobre o tema e a realidade em foco. De posse dos instrumentos,
foram feitas visitas a seis produtores rurais com o propósito de testar os instrumentos e
verificar a compreensão das perguntas, buscando adequá-las aos objetivos da pesquisa.
Assim, após a aplicação dos questionários e a realização das entrevistas, eram feitas
observações e análises dos instrumentos para que fossem, posteriormente, ajustados e
proporcionassem melhor clareza do que era questionado.
Na Austrália, a fase iniciou-se em novembro de 2003 com revisão bibliográfica,
utilizando-se a base de dados disponível na biblioteca da Universidade de Queensland com o
objetivo de obter maior referencial sobre modelo de Nonaka e Takeuchi utilizado na pesquisa,
informações sobre o agronegócios australiano, sobre cooperativas e as particularidades
daquela realidade.
O questionário utilizado no Brasil foi traduzido e reelaborado considerando as
informações obtidas e as contribuições da professora Kim Bryceson, da Universidade de
Queensland, que acompanhou e deu suporte à pesquisadora durante todo o período de estágio.
Foram visitados cinco produtores de guar
12
, de New South Wales, Austrália (amostra de
produtores de guar que fizeram parte de um projeto da professora Kim sobre a viabilidade de
crescimento da produção no estado de Queensland). Essas visitas objetivaram ter um primeiro
12
Guar é um cultivar cuja produção é mais comum na Índia e Paquistão, em torno de 90% do volume. Guar é
utilizado em xampus, cosméticos, têxteis, alimentos e em exploração em minas.
128
contato com produtores australianos e convidá-los a participar da pesquisa, a conhecer um
pouco mais a realidade e testar o questionário. Os pesquisados preferiram o envio dos
questionários via e-mail, por permitir o preenchimento com maior disponibilidade de tempo.
Dos cinco questionários enviados, três retornaram; quanto aos demais, foi feito novo contato
via e-mail e telefone e a um dos entrevistados foi enviado novamente, porém o foi obtida
resposta. Com esses resultados, foi feita uma análise do questionário, o qual foi reelaborado
considerando alguns aspectos daquela realidade para que atendesse melhor aos objetivos da
pesquisa.
4.5.2 Fase de Desenvolvimento
Brasil
Numa primeira fase do desenvolvimento da pesquisa, foram utilizados o questionário
(Apêndice A) e a entrevista semi-estruturada (Apêndice B), buscando obter informações
gerais e sobre os modos de conversão do conhecimento em propriedades rurais. Esta fase
refere-se ao trabalho de dissertação de Eleri Hamer, cuja pesquisa de campo foi desenvolvida
de dezembro de 2001 a março de 2002 junto a propriedades rurais localizadas no município
de Não-Me-Toque, RS, Brasil, na área de atuação da Cotrijal.
O técnico, além de fazer os contatos para o agendamento das visitas, acompanhava os
pesquisadores e fazia a apresentação aos pesquisados; posteriormente, retirava-se do local
para evitar constrangimento ou persuasão na entrevista. Nesta fase, não houve qualquer
dificuldade quanto aos contatos com os pesquisados.
Antecedendo o início do preenchimento do questionário e a realização da entrevista,
os pesquisadores explicavam mais detalhadamente ao entrevistado o propósito da visita,
solicitando a sua autorização para a gravação e salientando a possibilidade de interrupção
quando considerassem necessário. Após as explanações, o consentimento informado era
assinado (Apêndice C) e orientado que os participantes perguntassem sempre que tivessem
dúvidas nas questões. Posteriormente, procedeu-se à realização das entrevistas utilizando o
roteiro de perguntas previamente estabelecido, cujos registros foram efetuados conforme
acordado previamente.
129
A pesquisa referente ao trabalho de mestrado do aluno Eleri Hamer evidenciou os
modos de conversão do modelo de Nonaka e Takeuchi (1997). De posse dessas informações,
foram elaboradas as questões para a realização dos focus groups, que objetivaram
complementar as informações obtidas anteriormente sobre os modos de conversão e para a
identificação das condições capacitadoras e do modelo de cinco fases do processo de criação
de conhecimento de Nonaka e Takeuchi (1997).
Quando da realização dos focus groups, a pesquisadora chegava, em média, uma hora
antes do início da reunião para organizar o ambiente e aguardar os participantes. Antes do
início de cada reunião, algumas formalidades eram realizadas, tais como apresentação da
pesquisadora, explicação dos objetivos da pesquisa, previsão do tempo que seria despendido,
pedido de autorização para a gravação e para o uso das informações através da assinatura do
consentimento informado (Apêndice D). Era pedido que cada participante se apresentasse
dizendo o nome, embora todos tivessem tido algum tipo de contato anterior. Logo após,
iniciavam-se as perguntas (Apêndice E). Ao final de cada reunião era solicitado que cada um
apresentasse suas impressões sobre o encontro, com contribuições e críticas. Eram feitos
agradecimentos a todos pelas contribuições e eram distribuídos chocolates aos pesquisados,
também oferecidos para esposa ou marido e filhos. Embora fosse esse um gesto simples,
pareceu ter causado boa impressão nos pesquisados.
Focus group 1: foram convidados oito produtores que haviam participado da primeira
fase da pesquisa, dos quais quatro se fizeram presentes. Um deles, inclusive, que parecia bem
disposto a participar, estava na cooperativa 30 min antes do horário marcado, aproveitando o
tempo para conversar com diferentes funcionários do Departamento Técnico. O tempo
anterior ao início da pesquisa foi utilizado para fornecer explicações mais detalhadas sobre a
pesquisa para alguns funcionários do Departamento Técnico e agrônomos, pois a sala
reservada para o focus group ficava situada ao lado desta. Aproveitou-se esse tempo também
para fazer algumas perguntas aos agrônomos, procurando saber como havia sido a
receptividade dos associados ao convite para participarem; pelo que se soube, todos haviam
concordado e se colocado à disposição. A sala estava preparada, inclusive com ca e
chimarrão já disponíveis.
Os associados foram chegando timidamente, cumprimentando a todos com um aperto
de mão; logo reconheceram a pesquisadora e lembraram-se da outra etapa da pesquisa,
parecendo, então, ficar mais à vontade. Estavam vestidos com jeans e camisa, a qual parece
ser a sua roupa usual. O grupo já se conhecia e todos se cumprimentavam chamando-se pelo
130
nome; também pareciam bastante à vontade com os técnicos, o que se evidenciou nas
conversas antes da realização da pesquisa e durante as explanações. Com a pesquisadora, por
já ter havido um primeiro contato, eles também pareceram ficar à vontade.
Convidados a se sentar em círculo, o produtor que parecia mais tímido sentou-se no
canto da sala, ao lado da mesa. O tempo de 15 min além do horário marcado foi utilizado
como tempo de tolerância para caso de alguém chegar atrasado, durante o qual se conversou
sobre vários assuntos, como clima, plantio e cooperativa. Eles também solicitaram
informações sobre Eleri, pesquisador que havia participado na primeira fase do estudo. Então,
quando todos os participantes convidados grupo já estavam ali, o focus group foi iniciado.
Explicada detalhadamente a pesquisa, os produtores mostraram-se interessados em
participar, sentindo-se lisonjeados por terem sido escolhidos para realizar um estudo que
envolveria também produtores australianos. Feita a primeira pergunta, eles se entreolharam e
logo um deles deu uma resposta. Um agricultor sentado ao lado da pesquisadora servia o
chimarrão e, poucos minutos depois, todos pareciam estar mais à vontade, conversando
animadamente. Houve algumas interrupções por pessoas que abriam a porta da sala, uma vez
que o local é o auditório utilizado pelo Departamento Técnico. No fundo do auditório, que
ficava distante de onde o grupo estava reunido, havia um arquivo, de onde partia um ruído;
então, um pesquisado levantou-se e foi apara ver o que estava acontecendo, encontrando
um funcionário que organizava parte desse arquivo.
No momento em que começaram a falar sobre aspectos da cooperativa (conselhos e
decisões), os associados se entreolhavam e pareciam desconfortáveis por saber que havia
outra pessoa na sala e que, talvez, pudesse ouvir a conversa. A pesquisadora, então, sugeriu
que o funcionário saísse por alguns minutos, sendo necessário explicar o motivo da
solicitação a outra pessoa, a quem foi solicitada meia hora de tempo para o encontro. Ela
concordou, embora parecesse um pouco contrariada, sobre o que um associado pesquisado
comentou: “Parece que manda”. Outra interrupção foi da funcionária que trouxe lanche para o
grupo, que, contudo, foi bem recebido pelos participantes, que fizeram graça sugerindo novas
reuniões. Finalizado o focus group, o grupo permaneceu conversando com a pesquisadora,
questionando-a e relatando aspectos de suas vidas.
Focus group 2: a sugestão da cooperativa para a realização do segundo focus group
considerou o acesso às pessoas. Assim, foram incluídos os líderes de comunidades
representantes dos núcleos, uma vez que nesse período havia sido programado um evento para
os todos os líderes no auditório do parque da Expodireto, a palestra “Liderança: diferencial
131
competitivo das empresas de sucesso”. Posteriormente, a diretoria apresentou o resultado do
balanço patrimonial e o resultado do exercício 2002/2003 da cooperativa, o planejamento para
o ano seguinte e diretrizes gerais. Estavam presentes homens e mulheres deres de
comunidades, pois para a reunião haviam sido convidados os cônjuges dos associados, os
quais estavam presentes em sua maioria.
Apesar de ser um dia chuvoso e frio, a maior parte dos líderes chegou antes do horário,
vestidos com trajes que pareciam ser mais formais. Antes de a reunião começar, os grupos de
homens e mulheres se formavam, nos quais se discutiam aspectos da atividade e do dia-a-dia.
Algumas mulheres permaneciam ao lado dos maridos, prestando atenção nas conversas deles
e, esporadicamente, fazendo algum comentário. Os cumprimentos entre eles constituíam-se de
um aperto de mão entre homens e abraços e beijos entre as mulheres.
A equipe da Cotrijal responsável pela organização preparava o datashow, lista de
presenças para o almoço, fotos, e conversava com os associados, que correspondiam à atenção
dispensada pelos funcionários. Enquanto as pessoas se acomodavam e cessavam as conversas,
foi apresentado um vídeo com dança flamenca. A pesquisadora permaneceu no fundo do
auditório observando detalhes do comportamento do grupo. Algumas pessoas a observavam,
deduzindo, certamente que não se tratava de uma pessoa conhecida. Celulares tocavam com
freqüência, aos quais os produtores saíam do auditório para atender.
Dado o início da reunião, o assessor de comunicação fez a abertura e chamou os
componentes da mesa. O presidente da cooperativa fez uso da palavra dando as boas-vindas a
todos e dizendo que a reunião seria realmente de trabalho; solicitou que as pessoas se
apresentassem dizendo o seu nome e a região de que faziam parte. Os representantes dos
conselhos Fiscal e Administrativo iniciaram as apresentações, seguidas pelos líderes, porém
não foi possível entender muitos nomes e regiões, pois alguns falavam baixo. Também se
apresentaram os gerentes da cooperativa, dos entrepostos, de unidades de negócios e de apoio,
assessores e funcionários.
O palestrante foi bem motivador e sua fala foi dinâmica abordando diversos aspectos
ligados à atividade do líder; ao finalizar, foi bastante aplaudido e os comentários
demonstravam satisfação do público. Após a palestra foi servido um lanche, café com
bolachas, enquanto comentavam sobre aspectos da palestra e mostravam-se muito animados e
satisfeitos.
132
Após o lanche, a diretoria fez uma ampla explanação sobre a administração da
cooperativa, numa linguagem que pareceu clara e objetivava tornar a administração
transparente. As atividades prosseguiram com um almoço para todos os presentes, após o qual
o responsável pelo Departamento de Comunicação, juntamente com a pesquisadora, convidou
alguns casais para participarem da pesquisa, explicando-lhes brevemente o objetivo. Alguns
líderes, contudo, logo retornaram aos seus lares, pois chovia muito.
A pesquisadora convidou um casal com quem estava almoçando na mesma mesa para
participar da pesquisa, contudo, sob a alegação de que não haviam dormido bem na noite
anterior, disseram que iriam logo para casa para descansar. A pesquisadora respondeu para
que não se preocupassem com isso, pois era compreensível. Nas primeiras tentativas de reunir
o grupo, como se considerou seria difícil contar com a disponibilidade das pessoas, sugeriu-se
ao assessor de comunicação que fosse agendada outra data. Entretanto, ele foi insistente e,
após circular pelo restaurante, logo retornou dizendo que tinha conseguido um grupo de
pessoas. Sugeriu, então, que a reunião fosse feita no fundo daquele ambiente. Mesmo
considerando haver regras para a realização do focus group, aceitou-se a sugestão, porque, do
contrário, o grupo poderia se dispersar. Organizado o espaço, a todo instante chegavam outras
pessoas, que eram acolhidas. O grupo constituiu-se de 14 pessoas, mas não se excluiu
nenhum, contudo, tornou-se impossível conversar naquele local, pois a chuva causava muito
barulho e havia algumas pessoas conversando próximo dali.
Embora todos tivessem referido que dispunham de pouco tempo, sugeriu-se que se
fizesse a reunião na sede da cooperativa, com o que todos concordaram; para isso, alguns
ofereceram carona para outros e a pesquisadora aproveitou para se deslocar com uma das
líderes a fim de obter algumas informações durante o trajeto. Imaginou-se que poderiam
ocorrer algumas desistências no grupo durante o deslocamento em virtude da chuva e do fato
de alguns terem mencionado que teriam pouco tempo, porém alguns minutos depois todos se
reencontraram no local combinado. Embora o grupo fosse um pouco grande, considerou-se
que não se pediria a ninguém que saísse e razão da sua disposição para contribuir com o
estudo. Depois de disponibilizado um local para a realização do focus group, os trabalhos
foram iniciados, fazendo-se as devidas apresentações e explicando os objetivos da pesquisa e
todas as formalidades exigidas para o início da reunião. Tomando chimarrão, pareciam estar
bem à vontade, exceto duas esposas de líderes, que se manifestaram e alegaram que preferiam
delegar a tarefa da participação aos maridos.
133
Focus group 3: foram convidados sete produtores selecionados segundo os padrões
estabelecidos para a amostra, dos quais estiveram presentes seis. Para evitar interrupções
durante o focus group, foi solicitado ao gerente, que acompanhou mais de perto a pesquisa na
cooperativa, uma sala mais reservada. Alguns produtores chegaram mais cedo ao
Departamento Técnico e foram encaminhados até a sala onde seria realizada a reunião. Ali
foram recebidos pela secretária e pela pesquisadora e convidados a entrar e se acomodar.
Na sala, foram disponibilizados dois ambientes: um com uma mesa redonda com
cadeiras em volta e o outro, uma sala de estar. Conforme chegavam os participantes,
dirigiram-se à sala de estar, que, realmente, proporcionava mais aconchego. Um jovem
associado presente, logo começou a conversar com a pesquisadora e relatou-lhe onde morava.
Um outro senhor, pelas suas expressões, demonstrava estar impaciente; então, procurou-se
deixá-lo mais à vontade dizendo-lhe que apenas se conversaria com um grupo de associados.
Outros produtores chegavam e conversavam sobre suas lavouras. Respeitaram-se os 15 min
de tolerância, como era de praxe nas outras reuniões, para que todos chegassem, porém
muitos perguntavam sobre o assunto da reunião.
Iniciado o focus group com apresentação da pesquisadora e explanação do objetivo da
pesquisa, os participantes se mostraram bem interessados. Foi-lhes, então, informado que a
reunião não se estenderia por muito tempo para que pudessem se planejar, pois alguns haviam
comentado que teriam outros compromissos após o encontro. Um pesquisado informou que
teria de sair dentro de uma hora e trinta minutos, com o que se aquiesceu dizendo-lhe que o
tempo previsto para a atividade era justamente esse. O mesmo participante saiu da sala duas
vezes para atender ao telefone, provocando olhares reprovadores dos demais pelas
interrupções causadas à seqüência do trabalho. Após meia hora do início do focus, como o
grupo ainda parecia estar um pouco retraído, solicitou-se novamente à secretária que
trouxesse o chimarrão, que havia sido esquecido.
A roda do chimarrão pareceu deixá-los mais à vontade, motivando-os a participar,
tanto que passaram a dar maiores contribuições à discussão. Após a ausência do associado que
alegara falta de tempo para participar da reunião, soube-se pelos demais que ele era filho do
presidente. Então, refizeram-se algumas perguntas-chave, por se considerar que, talvez, o fato
de ele estar presente pudesse ter inibido os demais, contudo não foi evidenciada nenhuma
nova informação. Após as reuniões, eram feitas fotos e permanecia-se com o grupo
conversando sobre vários outros assuntos.
134
Em síntese os focus groups desenvolvidos no Brasil apresentaram as seguintes
características:
Focus Group
Tempo N.º de Homens N.º de Mulheres Total
Grupo 1 2h05min 4 0 4
Grupo 2 1h30min 6 8 14
Grupo 3 1h55min 7 0 7
Total 5h30min 17 8 25
Quadro 5 Focus groups no Brasil
Fonte: Elaborado pela autora com base na pesquisa
Após a fase de realização dos focus groups, foram feitas entrevistas com os gerentes
dos setores de varejo, financeiro, recursos humanos, produção, produção animal, assessor de
comunicação e educação e com a responsável pelo programa de qualidade, buscando clarear
algumas informações obtidas nos questionários, nas entrevistas e nos focus groups. O objetivo
maior das entrevistas (Andice F) foi confrontar as opiniões dos associados a respeito da
intenção ou do papel da cooperativa e confronta-las com as dos gerentes e responsáveis.
Para complementar algumas informações obtidas e constatações feitas, permaneceu-se
nas dependências da cooperativa durante três dias no horário de atendimento ao público,
procurando observar como se desenvolviam as relações entre os associados, de associados
com Departamento Técnico e com funcionários da organização.
De posse dessas informações foram realizados os devidos procedimentos
metodológicos, conforme descrito anteriormente. Esta foi a pesquisa de campo desenvolvida
no Brasil.
Austrália
Na Austrália, a pesquisa de campo correspondeu ao período de março a agosto de
2004. Para a identificação do modo como ocorre a criação de conhecimento entre os
produtores australianos utilizou-se o modelo de Nonaka e Takeuchi (1997) na sua
integralidade numa fase da pesquisa de campo. Foram utilizados questionário (Apêndice G) e
focus group (Apêndice H). Não foram realizadas entrevistas com produtores rurais devido à
dificuldade de realizar contatos com eles e de agendar visitas. Assim, acreditava-se que o
questionário, após ter sido reelaborado a partir do desenvolvido e aplicação no Brasil e nele
inseridas algumas questões abertas, poderia atender à expectativa em relação às questões da
pesquisa.
135
Após a obtenção das informações dos questionários respondidos, foram traduzidas e
reelaboradas as questões para o focus group com o auxílio da professora Kim. Porém, a
concretização dos focus groups foi o maior obstáculo enfrentado durante a realização do
estudo.
Houve várias tentativas de contato com pessoas do DPI&F, mas todos alertaram que
realmente seria muito difícil fazer pesquisa, exceto em grupos com os quais os extensionistas
possuíssem contato; mesmo nesses grupos, as pessoas se restringiriam a participar.
Segundo informações, os produtores preferiam cursos mais ligados a aspectos cnicos, uma
vez que as relações entre eles o mais individualizadas. Foram comentários dos profissionais
do DPI&F e pesquisadores da Universidade de Queensland: “Os produtores não fazem
questão de participar, pois eles já participaram de muitas pesquisas e não consideram ter
recebido retorno”; “Eles preferem gastar seu tempo em suas atividades” .
O contato com órgãos ligados ao governo não parecia viabilizar a pesquisa, além de
que se soube não ser o melhor meio para a sua concretização, exceto a Tara State School. Em
oposição, os contatos com pessoas externas às instituições do governo, considerando as
relações de amizade, viabilizaram a pesquisa, como a staff da professora Kim (colaboradora
no projeto), por conhecer alguns produtores ou com outras pessoas que mantinham relação de
amizade com produtores rurais.
A pesquisa constituiu-se de momentos diferenciados em razão da dificuldade de
acesso aos produtores rurais de Queensland, a qual pode ser justificada por dois motivos: a
resistência dos produtores em participar de pesquisas e a grande dispersão geográfica, comum
entre os pesquisados. Assim, aproveitaram-se diferentes oportunidades para obter informações
e realizar a pesquisa.
1 º Momento (24/03): visita a uma feira agropecuária em Toowoomba (Qld) e
permanência num stand onde se encontravam alguns produtores rurais. Na oportunidade,
conversou-se sobre suas atividades e foram feitos contatos com seis produtores rurais, que
concordaram em participar da pesquisa respondendo ao questionário. Os instrumentos foram
enviados via fax para um dos participantes e via e-mail para os outros cinco; todos retornaram
preenchidos.
momento (26/04): outros produtores foram contatados num workshop promovido
pela Tara State School, na Universidade de Queensland, Campus Gatton, com a participação
da professora Kim e cujo objetivo foi discutir a criação de um centro de aprendizagem
136
especializado em agronegócios. A professora Kim fez contatos com algumas pessoas
presentes, apresentou a pesquisadora e verificou quais seriam as possibilidades de
participarem da pesquisa, havendo concordância de parte deles. Como dos questionários
enviados por e-mail na fase de teste apenas alguns haviam retornado, nessa oportunidade
utilizou-se a estratégia de entregar os questionários impressos para que fossem remetidos via
fax. Efetivamente, dos quatro questionários entregues, três retornaram na mesma semana e
um, após contato via e-mail, foi remetido via fax.
Momento (20/05): contato com técnico do DPI&F em seu escritório na
Universidade de Queensland, em Gatton, com o objetivo de obter seu auxílio para a realização
de um focus group. Contudo, este profissional não demonstrou boa vontade de ajudar,
alegando que os agricultores não se dispunham a participar e que as pessoas do DPI&F seriam
muito ocupadas. Para ele, o governo investira muito em pesquisas com surveys, entrevistas,
focus groups, workshops, porém, em muitos casos, não fora dado retorno dos resultados aos
pesquisados. Por isso, “é muito difícil fazer pesquisa nesse estado, pois as pessoas estão se
fechando para isso. Preferem cuidar dos negócios individuais. Consideram uma perda de
tempo ficar respondendo pesquisa. Pra quê?”
Momento (28/05): foram visitados dois produtores rurais em Lockey Valley.
Primeiramente, a pessoa que trabalhava como staff da professora Kim fez contato telefônico
agendando o encontro; então, a pesquisadora, e a staff, foram recebidas e convidadas para
conhecer a propriedade e conversar sobre outros assuntos, inclusive sobre aspectos da
agricultura brasileira. Também nessa oportunidade foi feito contato com um aluno do curso de
mestrado da universidade que é produtor rural e se dispôs a contribuir com a pesquisa.
Momento (03 e 04/06): foi realizada uma visita a um produtor de leite em Kyogle
(NSW), oportunidade surgida porque um aluno brasileiro estava finalizando seu doutorado na
Austrália, onde apresentaria os resultados de sua pesquisa. A pesquisadora foi convidada a
acompanhá-lo na visita e a permanecer na propriedade durante um dia para conhecer um
pouco mais do setor leiteiro na Austrália. Nessa oportunidade foram reunidos outros
produtores para a apresentação dos resultados da pesquisa em Cassino (NSW). Após ser
apresentada por ele aos presentes, a pesquisadora teve a oportunidade de assistir a uma
reunião com os produtores e centros de pesquisa e extensão do ramo leiteiro da cidade sobre
os rumos da pesquisa na área; pôde, assim, compartilhar sua pesquisa e conhecimentos sobre
cooperativas no Brasil e obter maiores informações sobre a realidade australiana.
137
Momento (15/06): focus group 1 em Tara (Qld) com a participação de seis
produtores rurais.
No workshop realizado em 15 de abril, um professor ligado à escola Tara State School
colocou-se à disposição para ajudar a contatar e/ou visitar produtores em Tara (Qld). Após
esse contato, enviou-se uma mensagem via e-mail reiterando o pedido de auxílio para a
organização de um focus group. Foi-lhe remetido material explicativo sobre a técnica e os
objetivos da reunião para que as pessoas fossem convidadas ao encontro, agendado para uma
terça-feira às 9h30min. A pessoa responsável pela organização ainda se colocou à disposição
para providenciar lanche, chá e café para os participantes.
Focus group 1: (10h 12h10min) A pesquisadora chegou alguns minutos atrasada
para a realização do focus group, uma vez que foi necessário viajar durante quatro horas para
chegar ao local. Contudo, as pessoas estavam aguardando e não pareceram incomodadas. A
pesquisadora foi acompanhada da professora Kim, que a auxiliou em questões da linguagem e
na melhor condução da reunião. Após terem tomado um café ou chá, seguindo o costume
australiano, a reunião foi iniciada. As pesquisadoras apresentaram-se explicando os objetivos
do trabalho e solicitando que os participantes que concordavam em participar assinassem o
consentimento informado (Apêndice I); também foi pedida permissão para gravar a reunião.
Com tais detalhes acertados, a reunião foi iniciada, sendo solicitado que os participantes se
apresentassem e falassem um pouco de suas atividades, o que eles começaram a fazer e
pareceram bem dispostos e à vontade. Meia hora depois foi servido um lanche e discutiu-se
durante duas horas e dez minutos.
No desenvolvimento dos focus groups na Austrália, após todas as questões terem sido
discutidas, solicitou-se que os participantes apresentassem seus pontos de vista sobre a
reunião, suas impressões e contribuições. Quando do encerramento, agradeceu-se a
participação de todos, disponibilizando e-mail para contatos futuros, em caso de seu interesse
em visitar o Brasil. Agradecendo a presença de todos, enfatizou-se o quanto fora importante a
contribuição de cada um para a pesquisa e registraram-se os encontros com fotos.
Momento (15/06): apresentação de seminário sobre a pesquisa para alunos e
pesquisadores da universidade com espaço para questionamentos e discussão.
Momento (15/06): reunião dos produtores de grãos e pastagens para discutir os
direcionamentos de recursos para pesquisa uma vez que a instituição GRDC, Meat &
Livestock Austrália destinaria recursos para isso. Foram elencados vários focos para pesquisa
138
através de um brainstorming; após esta fase, cada participante anotou as áreas em que
investiria em sua propriedade para gerar mais lucro e apresentou as suas preferências quanto
àquelas a receberem investimento, relacionadas num quadro-negro. A seguir, foi feita votação
para se estabelecer quais seriam as áreas mais importantes para o investimento em pesquisa. A
idéia central era reunir produtores e pesquisadores e realizar o planejamento da pesquisa com
os recursos disponíveis, buscando aumentar a produtividade e sustentar a biodiversidade em
locais de pastagem e em outros sistemas na propriedade. Nesta oportunidade foram
distribuídos sete questionários para serem respondidos, dos quais retornaram apenas dois.
Momento (01/07): seminário em Gatton sobre desenvolvimento sustentável com
palestras com Dr. Morgan Willian A necessidade de integrar a agricultura e o
gerenciamento ambiental” e do Dr. Gerald Midgley Uma aplicação real do sistema de
intervenção”. Nesta oportunidade foram contatados profissionais do DPI&F.
10º Momento (14/07): workshop em Gatton sobre o cultivar guar e a viabilidade de
crescimento da produção no mercado. O workshop era destinado a produtores, indústrias,
processadores e profissionais do DPI&F e pesquisadores da universidade. Foi outra
oportunidade para estabelecer contatos com membros do DPI&F.
11º Momento (17/07): focus group em Dalby.
Para a realização do segundo focus group, fizeram-se várias tentativas, todas
infrutíferas. Então, como vários alunos da escola conheciam as dificuldades para a realização
desta pesquisa, um deles indicou uma pessoa que poderia auxiliar na organização, esta
produtora rural e estudante de graduação na mesma escola em que a pesquisadora estudava,
denominada aqui de “organizadora” do focus group. Os primeiros contatos com a
organizadora foram feitos durante o horário do coffee break
13
, quando lhe foi repassado
material para que entendesse melhor os objetivos do focus group e que pudesse explicar aos
produtores convidados.
Após esse primeiro contato, em razão de problemas de saúde, a organizadora retardou
um pouco a realização do combinado, porém, mesmo assim, demonstrou empenho e agendou
o encontro para uma sexta-feira à noite em Dalby (Qld). Na data agendada, viajou-se para a
cidade onde seria realizado o focus group, onde a pessoa responsável pela organização, se
encontrava, recebendo a pesquisadora e, após, sugerindo que fossem até o supermercado, pois
realizaria um jantar especial para o grupo de pessoas que haviam sido convidadas para
139
participar, forma encontrada para reuni-los. Para ir até a residência da organizadora foi
necessário viajar mais 85 km, porém o jantar e o focus group seriam realizados na casa do
irmão dela (John), próxima do local. Após o almoço, o tradicional sanduíche australiano para
o horário de almoço, a pesquisadora, a organizadora e uma sobrinha desta deslocaram-se até a
residência de John, que é produtor rural e um dos convidados a participar da pesquisa. A casa,
pertencente à família várias gerações e construída 153 anos, tinha móveis que datam de
muitos anos, tanto que foi tombada pelo patrimônio histórico. As peças demonstravam ser
raras e um detalhe, particularmente, chamou atenção: a existência de várias bibliotecas em
diferentes cômodos da casa.
Durante a tarde, enquanto era preparado o jantar, conversava-se sobre assuntos
diversos; as mulheres providenciavam a comida, a decoração (toda feita com flores colhidas
no próprio jardim da residência), dentre outras atividades, enquanto John fazia a leitura de
alguns jornais que havia recebido e/ou comprado numa visita à cidade. Após tudo estar
pronto, todos se prepararam para a reunião e o jantar vestindo-se com roupas mais formais, ao
contrário da pesquisadora, que, não tendo sido informada do jantar nem conhecendo os
costumes australianos, vestia roupa bem informal, inclusive usando tênis. Às 18h40min as
pessoas começaram a chegar trazendo alguma comida ou bebida; à medida que chegavam
eram apresentadas à pesquisadora e logo também faziam algum comentário sobre o Brasil ou
perguntavam algo. Todos usavam roupas mais formais, as mulheres estavam maquiadas; um
dos homens, inclusive, usava terno e gravata, tudo de acordo com a formalidade do momento.
Pelos cumprimentos e por alguns comentários feitos, o grupo parecia se conhecer ou, ao
menos, ter um contato mais próximo com a organizadora e o irmão.
Primeiramente, permaneceu-se na sala de estar, onde havia duas lareiras, pois fazia
muito frio naquela noite, e foram servidos alguns drinques. Após a maioria dos convidados ter
chegado, pois apenas um casal não pudera comparecer, o dono da casa colocou-se à
disposição para convidar as pessoas a se deslocarem para outra sala. Considerando que
haveria um jantar posterior à reunião e respeitando as diferenças e especificidades culturais,
embora naquele momento fosse um pouco difícil entendê-las em sua totalidade, sugeriu-se
que seria adequado iniciar logo a reunião.
Focus group 2: Após as pessoas se acomodarem na sala, a organizadora serviu
salgados, frutas e bebidas. Dos treze convidados, nove estavam presentes na sala; uma mulher
13
O coffe break é um intervalo às 10h para os alunos, professores e staffs da escola se reunirem para fazer um
lanche e, ao mesmo tempo, interagir com os demais.
140
preferira permanecer na outra sala conversando com a organizadora. Além das nove pessoas e
da pesquisadora, assistiu ao focus group uma jovem da Suécia (Camila) que estava passando
férias por algumas semanas na casa de um casal participante, que explora também a atividade
de turismo rural na propriedade.
Como o objetivo era oferecer algo em troca para aquelas pessoas pela sua disposição
de colaborar no estudo, primeiramente, distribuiu-se um material (Andice J) com
informações econômicas e sociais gerais sobre o Brasil e as organizações cooperativas no
país. Procurou-se, nesse momento, identificar as diferenças das realidades para provocar
discussão e poder entender um pouco mais da realidade australiana. Foram feitas várias
perguntas sobre a realidade brasileira e um participante questionou sobre o porquê de esse
modelo, que parecia tão bom para o produtor, não funcionar na Austrália. Em resposta,
procurou-se, com cuidado, justificar com os aspectos ligados ao individualismo, característica
da realidade daquele país. Após algumas discussões entre eles, solicitou-se permissão para
iniciar a reunião, explicando-lhes os objetivos, algumas regras do focus group e o modo como
seria desenvolvido, bem como as limitações no que se referia à língua, considerando as
diferenças de pronúncia. Foi, por fim, solicitado que, sempre que algo não ficasse claro,
fossem requeridas maiores explicações.
O focus group transcorreu normalmente com as pessoas comendo, bebendo e
discutindo muito; todos tomavam muito cuidado em focar aquilo que estava sendo discutido.
Houve algumas interrupções por parte da organizadora com o objetivo de oferecer mais
bebidas e petiscos aos participantes e para verificar se havia necessidade de providenciar algo
mais. Outras interrupções ocorreram, pois um casal tentava participar do focus, mas seus três
filhos permaneciam na porta da sala procurando chamar a atenção, contudo nada que causasse
maiores problemas no trabalho em desenvolvimento. Para o encerramento, seguiram-se os
mesmos procedimentos adotados nos focus groups anteriores.
Dando seguimento à noite de celebração, foi servido o jantar seguindo as
peculiaridades da cultura local.
A pesquisadora permaneceu na casa da organizadora, onde, no dia seguinte, John fez-
lhe uma visita para solicitar maiores informações sobre o Brasil. Além disso, convidou-a a dar
um passeio pela propriedade para conhecer as diferentes tecnologias e áreas plantadas, além
da criação de gado. Após o passeio, houve o almoço e a condução da pesquisadora até a
rodoviária para viabilizar o seu retorno.
141
12º Disciplina gestão do agronegócios (1º sem/04): visitas a empresas do setor e a um
produtor de leite.
13º Momento (30/07): apresentação do projeto de tese. Num seminário na
universidade, a pesquisadora foi contatada por um profissional do DPI&F interessado no
trabalho por tratar-se de criação de conhecimento no agronegócios. Após esse contato,
enviou-se um e-mail a esse profissional do órgão do governo, questionando-o sobre a
viabilidade de uma entrevista. Agendada a reunião, o profissional solicitou permissão para
que outras pessoas assistissem à apresentação; concordando, em contrapartida, solicitou-se
espaço para fazer algumas perguntas (Apêndice K). Estavam presentes à reunião o líder (a
pessoa contactada primeiramente), uma consultora e um produtor rural que é consultor no
DPI&F, os quais fazem parte de um grupo de trabalho que objetiva melhoramentos contínuos
e inovação. A apresentação e discussão duraram em torno de duas horas, conforme está
registrado em documento (Anexo A).
14º Momento (23/08): entrevista com o gerente de projeto do DPI&F. Num workshop
sobre a viabilidade da produção do cultivar guar, houve a oportunidade de contato com outro
profissional do DPI&F para agendar uma entrevista. O gerente de projeto (DPI&F)
“Desenvolvimento setorial do agronegócios e alimentos” foi entrevistado com o objetivo de
se obter melhor entendimento das relações entre DPI&F e produtores rurais, bem como de
outros aspectos ligados à criação de conhecimento no meio rural no estado de Queensland.
Todos os contatos e atividades desenvolvidos durante a pesquisa na Austrália estão
registrados numa carta assinada pela professora Kim Bryceson (Anexo B).
Um fato ocorrido durante o processo de desenvolvimento do estudo demonstrou
resistência dos produtores australianos à participação em pesquisas. Depois de um contato
com um produtor de guar feito pela professora Kim, para fins de seu projeto de pesquisa, ela o
sondou sobre a possibilidade de responder ao questionário, com o que ele, na ocasião, tinha
concordado. Então, alguns dias após esse contato foi-lhe enviado o instrumento via fax,
juntamente com uma carta anexada explicando os objetivos da pesquisa. Passado um mês,
fez-se um contato telefônico com esse produtor: Please, who is speaking?” (Por favor, quem
está falando?) Não houve resposta. I’m student from University of Queensland (Eu sou
estudante da Universidade de Queensland). Então ele interrompeu dizendo: “I’m not
interested” (Eu não estou interessado) e desligou o telefone.
142
Os focus groups na Austrália proporcionaram um amplo leque de informações. Após a
sua realização, seguiram-se a transcrição das fitas e a análise dos resultados e identificação
das similaridades e diferenças das realidades e das variáveis para a construção do modelo,
como foi descrito anteriormente. Os dois grupos ficaram assim compostos:
Focus Group
Tempo N.º de Homens N.º de Mulheres Total
Grupo 1 2h10min 6 - 6
Grupo 2 1h55min 4 5 9
Total 4h05min 10 5 15
Quadro 6 Focus groups na Austrália
Fonte: Elaborada pela autora com base na pesquisa
4.5.3 Fase de Construção
Nesta fase, são analisadas as informações obtidas, é apresentada uma figura
representativa das duas realidades e, por fim, é proposto um todo dinâmico de análise da
criação de conhecimento, relacionado à realidade do agronegócios.
4.6 VARIÁVEIS E FONTES DE EVIDÊNCIAS
As variáveis a serem consideradas neste estudo restringem-se às que fizeram parte do
mapa cognitivo (Figura 13), mostrado no capítulo 2.
4.7 A COOPERATIVA ESTUDADA – COTRIJAL
As informações utilizadas neste tópico provêm de documentos, jornal e site da
cooperativa e de entrevistas abertas com diretores e funcionários da Cotrijal.
A Cotrijal foi fundada em 1957, por um pequeno grupo de agricultores, que
almejavam viabilizar a produção de trigo, principal cultura da época. Esses pioneiros do
cooperativismo na região tomaram a iniciativa por perceberem que dessa forma
conquistariam melhores condições de trabalho e maiores lucros na atividade. A sede e a
administração da cooperativa situam-se na cidade de o-Me-Toque, estado do Rio Grande
do Sul. Com essa visão, a Cotrijal expandiu-se direcionada ao agronegócios de alimentos,
143
tanto que hoje conta com mais de quatro mil e quinhentos associados em treze municípios,
atuando na produção, armazenagem, industrialização e comercialização de produtos.
A gestão da cooperativa é realizada através de três unidades estratégicas de negócios -
unidade de grãos, de produção animal e de varejo, além de mais três unidades de apoio -
administrativa, financeira e operacional, onde se centralizam as decisões da cooperativa, e três
unidades de assessoria - comunicação e educação, jurídica e auditoria interna.
A partir de 1993, a cooperativa aderiu ao programa gaúcho de qualidade e
produtividade (PGQP), buscando aprimorar mais os seus produtos, serviços e a própria
gestão, por entender ser esse um dos caminhos mais seguros para garantir a satisfação dos
seus clientes e associados. Em 2003, a Cotrijal recebeu o certificado de responsabilidade
social, conferido pela Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul por sua atuação nessa
área, e o certificado de excelência cooperativista da Organização das Cooperativas Brasileiras
(OCB) e do Serviço Nacional de Aprendizado do Cooperativismo (Sescoop). A cooperativa
conquistou também posição de destaque entre as Maiores e Melhores Empresas da Região Sul
nos anos de 2002 e 2003 no segmento comércio, segundo a revista Exame (Cotrijal, 2005).
Em 2004, a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul homenageou a Cotrijal pelo
trabalho que desenvolve estimulando maiores e melhores safras, gerando empregos no campo
e na cidade, através da Expodireto Cotrijal. Em maio do mesmo ano, a cooperativa recebeu o
Prêmio Folha Verde, na categoria cooperativas agrícolas, conferido pela Comissão de
Agricultura, Pecuária e Cooperativismo da Assembléia Legislativa a pessoas físicas e
jurídicas que se destacaram no agronegócios gaúcho em 2003. Em julho, foi contemplada com
o prêmio cooperativa do ano, na categoria inovação tecnológica, através do projeto sistema de
alerta e monitoramento de doenças (Samdoc). Instituído pela Organização das Cooperativas
Brasileiras (OCB) e pela revista Globo Rural, o prêmio teve como objetivo valorizar o
cooperativismo conduzido de maneira profissional, com orientação para o mercado, gestão
eficiente, responsabilidade social e ambiental. A Cotrijal ainda ficou entre as cinco melhores
cooperativas do Brasil nas categorias Educação Cooperativista, Gestão Profissional, Meio
Ambiente e Qualidade e Produtividade (Cotrijal, 2005).
A cooperativa atende em 27 entrepostos (que m a função de aproximar os benefícios
da cooperativa aos associados) a cerca de dez mil famílias de agricultores, além de gerar mais
de oitocentos postos de trabalho. Integra em seu quadro social, predominantemente, pequenas
propriedades rurais (cerca de 70% entre 20 e 30 ha). Com sua atuação, a cooperativa busca
cumprir com o seu papel de contribuir para o crescimento e desenvolvimento regional.
144
De modo geral, o trabalho de apoio e difusão tecnológica e o suporte gerencial, dentre
outros, permitem que o associado possa crescer, torne-se mais produtivo, mais capaz na
gestão do seu negócio e mais bem informado. Além disso, como a cooperativa também
reconhece a importância da família nas decisões da propriedade, tem direcionado importantes
ações específicas às mulheres, aos jovens e às crianças, com o objetivo de agir de forma
integrada para que os resultados, tanto para a propriedade como para a instituição, sejam os
melhores possíveis.
A Cotrijal, pelas informações disponíveis, é a única Cooperativa do Rio Grande do Sul
associada à Cooperativa Central Agropecuária de Desenvolvimento Tecnológico e Econômico
Ltda (Coodetec), o que lhe garante o acesso exclusivo a novos materiais genéticos. Além
desse convênio, mantém parcerias com instituições de pesquisa e empresas, como a Embrapa,
Fepagro, Fundacep, Monsoy e OR-Sementes, sustentando um dinâmico programa de
sementes e novas cultivares, que se tornam rapidamente disponíveis ao agricultor.
Novas parcerias têm surgido, entre as quais as feitas com as universidades, como a
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal de Santa Maria,
Universidade Luterana do Brasil, Universidade de Cruz Alta, Universidade Regional do
Noroeste do RS, Universidade de Passo Fundo e Universidade Regional Integrada, e com
outras entidades, como a Associação Brasileira de Agribusiness, federações e centrais
cooperativas, centros de pesquisa e extensão rural.
A Cotrijal, ao longo dos anos, vem observando as dificuldades que seus associados têm
encontrado para conseguir manter suas propriedades competitivas. Diante dessa constatação,
mobilizou-se com maior firmeza em direção à profissionalização dos seus cooperados,
iniciando pela organização e qualificação constante do seu quadro de profissionais
(engenheiros agrônomos, médicos veterinários e técnicos agrícolas) que atuam no meio rural.
Concomitantemente aos cursos e palestras, que se tornaram rotineiros, promove viagens
técnicas, algumas internacionais, dentre outras ações. A Cotrijal lançou, em outubro de 1999,
uma feira de tecnologia e negócios cujo objetivo é servir como fórum de debates sobre os
principais temas do agronegócios e um centro de difusão tecnológica: a Expodireto Cotrijal.
A "Expodireto Cotrijal” teve início em 2000, no Centro Tecnológico da Cotrijal, onde
ocupou uma área de 32 há, contou com 114 expositores e mais de 41 mil visitantes,
movimentando acima de R$ 21 milhões. A Expodireto Cotrijal 2004 contabilizou um volume
total de negócios de R$ 230 milhões, resultado que ficou equiparado ao de 2003; o público,
que em 2003 fora de 122 mil, passou para 140 mil pessoas, aproximadamente, representando,
145
portanto, um aumentou de 14,12%. Quanto à área, foi aumentada de 84 para 262 ha. A média
geral de satisfação do público teve índice de 99,54%.
O programa de gerenciamento da cooperativa com um grupo de associados consiste
no acompanhamento técnico e gerencial sistemático e periódico (aproximadamente uma vez
por semana) de um técnico da Cotrijal. Em cada uma das propriedades participantes do grupo
realiza-se também, em determinados períodos das atividades, o levantamento dos dados
gerenciais e o respectivo processamento. Posteriormente, é dado o retorno das informações de
forma individual, em reuniões no escritório da cooperativa ou na propriedade e em grupo, por
ocasião das reuniões devolutivas
14
. Nos encontros grupais, são levados em consideração,
aproximadamente 23 indicadores de desempenho e são também discutidos aspectos dos
cenários envolvendo as principais atividades. O programa teve origem na percepção dos seus
dirigentes de que a assistência técnica tradicional oferecida pela Cotrijal não mais fornecia as
orientações necessárias para manter os produtores competitivos. Houve, então, a necessidade
de criar algo diferente e que contribuísse mais com o produtor, dando-lhe uma base mais
segura para a tomada de decisões.
O propósito da mudança era aproveitar o vínculo e, acima de tudo, a confiança
existente entre o técnico e os produtores para permitir alinhar os objetivos e as possibilidades
destes com os objetivos da cooperativa. Contudo, segundo informações obtidas na
cooperativa, a resistência encontrada ocorreu no próprio corpo técnico, uma vez que seus
componentes necessitaram rever seus conceitos e mudar as formas de intervenção junto aos
produtores, deixando de atuar como meros repassadores de pacotes tecnológicos; exige-se,
portanto, agora, mais conhecimento, como as orientações de mercado, que começavam a
representar um dos componentes do planejamento técnico das lavouras, anteriormente
ancorado apenas nos indicadores produtivos.
A principal preocupação dos técnicos residia na mudança (do nível e da direção), nas
novas exigências que recairiam sobre eles, de um lado, o produtor e, de outro, a cooperativa,
uma vez que essa nova postura desencadearia uma co-responsabilidade com relação às ações
implementadas e seus respectivos resultados nas propriedades diante de suas recomendações.
Foram, então, realizados investimentos no sentido de capacitar os profissionais que mantêm
contato com o produtor para essa nova postura de trabalho, principalmente nos aspectos
gerenciais. A cada ano foram incrementados novos processos de análise e novas formas de
146
discussão, envolvendo uma diversidade significativa de dados, chamando também o produtor
para a contribuição dos rumos que estavam sendo seguidos, com dados históricos, além de
diversos indicadores, evoluindo até o que o programa é hoje.
Os depoimentos de diretores da Cotrijal evidenciam que é quase impossível,
operacional e financeiramente, reunir os quatro mil sócios em torno do programa, contudo
acreditam no efeito multiplicador que ações dessa natureza possam gerar, o que já pode ser
percebido.
14
São reuniões realizadas pelos produtores do grupo de gerenciamento com a coordenação dos profissionais da
cooperativa, nas quais são discutidos os resultados e as experiências obtidas. Geralmente, ocorrem duas
reuniões/ano, uma referente às culturas de inverno e a outra, às de verão.
147
CAPÍTULO 5 RESULTADOS DA PESQUISA
Nesta seção são apresentados e analisados os dados e informações referentes aos
questionários, entrevistas e focus groups da pesquisa de campo realizada no Brasil e dos
questionários e focus groups aplicados na Austrália.
5.1 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA NO BRASIL E NA
AUSTRÁLIA
A pesquisa no Brasil foi realizada nos períodos de dezembro de 2001 a março de
2002 e de maio a julho de 2003. Parte dos resultados aqui expostos refere-se ao trabalho do
aluno de mestrado do CEPAN/UFRGS Eleri Hamer, em cuja pesquisa foram utilizados
questionários e entrevistas semi-estruturadas como instrumentos. A amostra constitui-se de
associados da cooperativa Cotrijal, divididos em dois grupos: o grupo de gerenciamento (GG)
e o grupo externo ao de gerenciamento (EGG).
Na análise dos dados dos dois grupos de produtores não se mostraram diferenças
significativas entre ambos no que se refere aos modos de conversão dos conhecimentos,
conforme foi salientado anteriormente; por isso, nesta seção os dados serão apresentados
conjuntamente. As informações obtidas nos focus groups objetivam complementar o
entendimento do modo como se a criação de conhecimento no grupo de produtores rurais
associados da Cotrijal.
Na Austrália, a pesquisa desenvolveu-se de março a agosto de 2004 e foram
utilizados questionários e focus groups com os produtores rurais. Os dados obtidos com esses
instrumentos de pesquisa são analisados conjuntamente.
A descrição inicia-se com a apresentação de alguns dados socioeconômicos referentes
à utilização da informática nas propriedades rurais em cada país e, posteriormente, dos modos
de conversão do conhecimento, das condições capacitadoras e do modelo de cinco fases do
148
processo de criação de conhecimento. As variáveis a serem consideradas na análise
restringem-se às presentes no mapa cognitivo da pesquisa.
5.2 DESCRIÇÃO DOS DADOS SOCIOECONÔMICOS E DOS REFERENTES À
UTILIZAÇÃO DA INFORMÁTICA NAS PROPRIEDADES RURAIS
A apresentação dos dados socioeconômicos e do acesso à informática visa a descrever
as realidades estudadas e suas especificidades no que se refere ao acesso, à disponibilidade de
dados, informações e conhecimentos dos produtores rurais, bem como a suas limitações.
5.2.1 Brasil
Durante a pesquisa de campo, visitaram-se rias propriedades rurais e reuniram-se
alguns grupos de produtores para a discussão da temática em questão. As famílias rurais
mostraram-se muito receptivas e dispostas a contribuir com a pesquisa, porque valorizam a
oportunidade de receber algum tipo de reconhecimento dos seus conhecimentos e formas de
execução de seus trabalhos. As propriedades rurais pesquisadas são familiares e nelas
predominam as de origem italiana e/ou alemã; em sua maior parte, advêm de herança familiar.
As pessoas que nelas residem tiveram suas primeiras experiências com familiares ou com o
próprio pai.
A atividade principal nessas propriedades é a produção de soja, trigo, milho e cevada;
a soja e o milho são culturas de verão e o trigo e a cevada, de inverno. No que se refere às
pessoas envolvidas nas atividades, dos onze produtores pesquisados, três mantêm
funcionários permanentes em suas propriedades. As pessoas envolvidas nas atividades da
propriedade totalizam 35 pessoas, denominados aqui de colaboradores”, cujo grau de
escolaridade consta na Tabela 9.
Tabela 9 Escolaridade dos colaboradores no Brasil
Escolaridade Colaboradores Percentuais
Grau Incompleto 20 58%
Grau Completo 3 8%
Incompleto 2 5%
Completo 7 20%
Grau Incompleto 1 3%
Grau Completo 2 6%
Total 35 100%
Fonte: Elaborado com base nos resultados da pesquisa
149
Observando a tabela, verifica-se que um grande número de pessoas com primeiro
grau incompleto, seguido de segundo grau completo, ou seja, mais da metade da amostra
possui primeiro grau incompleto.
Quanto à idade dos colaboradores, conforme se pode observar na Tabela 10, está
distribuída em cinco faixas.
Tabela 10 Faixa etária dos colaboradores no Brasil
Idade Colaboradores Percentuais
Até 20 anos 4 11%
21 – 30 anos 2 6%
31 – 40 anos 11 31%
41 – 50 anos 13 38%
Mais de 50 anos 5 14%
Total 35 100%
Fonte: Elaborado com base nos resultados da pesquisa
A faixa etária dos colaboradores da amostra pesquisada está concentrada entre os 31 e
os 50 anos; apenas quatro pessoas têm menos de 20 anos e dois estão na faixa entre 21 e 30
anos; cinco colaboradores têm mais de 50 anos.
Os dados referentes ao acesso e à utilização da informática nas propriedades rurais
pesquisadas apresentaram-se da seguinte forma: sete produtores possuem computador na
propriedade e o acesso à internet é possível quando a família reside na cidade; quatro não
dispõem de computador, o que justificaram por dois motivos: no momento, tinham “outras
prioridades” ou não saberem utilizá-lo. Dentre os que possuem computador, apenas dois
acessam internet; os demais argumentaram com a falta de um sistema mais acessível e que
não torne o acesso tão oneroso, pois o sistema utiliza a linha do telefone celular. Esses
aspectos justificariam a não-aquisição ou a utilização mais intensiva de computador e internet.
Dos que dispõem de computador, quatro raramente o utilizam; um usa-o cinco vezes
por semana; outro, três vezes por semana e um, diariamente. Desses, três utilizam-no para o
gerenciamento e um, para a busca de cotações para os produtos na internet. Quanto ao tipo de
uso, foram mencionados trabalhos escolares, e-mail para familiares e controles agropecuários.
150
5.2.2 Austrália
Embora tenha sido um pouco complexa a realização da pesquisa na Austrália, em
virtude da resistência de alguns produtores em participar, algumas pessoas se dispuseram a
contribuir. Nos contatos e visitas aos produtores, houve bastante receptividade e interesse em
contribuir e realizar trocas.
Das visitas e contatos realizados em diferentes situações, foram enviados ou
entregues vinte questionários para que fossem preenchidos, dos quais 15 retornaram
preenchidos. Os focus groups foram organizados por pessoas que possuíam algum vínculo
com os grupos, como descrito anteriormente.
No que se refere à origem das famílias, sete pesquisados são de origem britânica, das
quais dois deles possuem também origem germânica; dois são germânicos; um, escocês; um,
irlandês; dois consideram-se australianos e dois não responderam à questão.
Os tamanhos das propriedades variaram de 140 a 3.200 ha e as atividades
predominantes estão constituídas conforme exposto na Tabela 11.
Tabela 11 Atividades dos pesquisados na Austrália
Atividades Grãos:
Trigo/sorgo
Gado de
Corte
Legumes Frutas Leite Pastagem Criação de
Ovelha
Principal 6 2 2 1 1 1 2
Secundária 5 5 1 1 1
Fonte: Elaborado com base nos resultados da pesquisa
A predominância de grãos como atividade principal mostra-se bem evidente, seguida
de gado de corte, legumes e criação de ovelha; outras atividades constituíram-se de frutas,
leite e pastagem. A atividade secundária não está presente em todas as propriedades, visto que
três dos entrevistados não a descreveram e em dois dos casos aparecem duas atividades como
secundárias, tais como gado e grãos e gado e produção de tomates. Legumes, frutas e criação
de ovelhas aparecem como atividades secundárias para três produtores.
Houve certa dificuldade para a compreensão das características da produção dos
agricultores australianos, de um produto ou mais. Assim, foi possível o entendimento
quando entrevistados profissionais do DPI&F e confirmada a informação com pesquisadores
da Universidade de Queensland, os quais informaram que, no passado, a agricultura na
Austrália era caracterizada por monocultura, porém, com as mudanças no cenário agrícola,
151
ocorreu maior diversificação. Isso não significa a inexistência de produtores com uma única
atividade, mas, sim, a predominância de mais de uma.
Para se poder demonstrar detalhadamente o nível educacional dos colaboradores,
seria necessário explicar o sistema educacional australiano, o qual se diferencia bastante do
brasileiro. Para simplificar a descrição, foram criadas categorias similares às utilizadas no
Brasil, seguindo os níveis do modelo australiano. Assim, o nível educacional das 42 pessoas
envolvidas nas atividades da propriedade, considerados como colaboradores, apresenta-se na
forma da Tabela 12:
Tabela 12 Nível educacional dos colaboradores na Austrália
Nível Educacional mero de Colaboradores Percentuais
Segundo grau incompleto 8 19%
Nível de segundo grau 2 5%
Nível maior que o segundo grau 13 31%
Universitário 15 36%
Não Responderam 4 9%
Total 42 100%
Fonte: Elaborado com base nos resultados da pesquisa
Como se pode verificar na Tabela 12, o nível educacional está situado nas faixas
acima do segundo grau, com quinze pessoas cursando graduação ou já com curso concluído.
Dos envolvidos na atividade, treze têm um nível escolar superior ao segundo grau; dois,
segundo grau completo e oito, segundo grau incompleto. Apenas em quatro das descrições
não havia especificação do nível educacional.
No que se refere à faixa etária das pessoas envolvidas na atividade, apresenta-se da
seguinte forma:
Tabela 13 Faixa etária dos colaboradores na Austrália
Faixa Etária Número de Colaboradores Percentuais
Até 20 anos 4 9%
21 – 30 anos 2 5%
31 – 40 anos 5 12%
41 – 50 anos 20 48%
Mais de 50 anos 9 21%
Não Responderam 2 5%
Total 42 100%
Fonte: Elaborado com base nos resultados da pesquisa
No grupo pesquisado uma concentração de pessoas na faixa etária entre 41 e 50
anos e com mais de 50 anos, representando 69% dos pesquisados; o número de colaboradores
com menos de 20 anos e entre 21 e 30 anos é de seis pessoas; na faixa etária entre 31 e 40
anos há cinco pessoas.
152
No que se refere ao uso do computador nas propriedades, todas o possuem. Em quatro
casos, a internet é utilizada raramente e os demais, freqüentemente. A utilização do
computador é feita com objetivos diversos; todos o utilizam para o gerenciamento da
propriedade e três, apenas para isso; em sete propriedades, além do gerenciamento, também é
utilizado para cotação e preços dos produtos, para contatos com outras pessoas e e-mail; para
três produtores, além dessas facilidades, é utilizado para: Webpage (um), operações bancárias
e financiamentos (dois). Por fim, em dois casos, serve, além do gerenciamento, para enviar e
receber e-mail.
Esses foram os dados socioeconômicos e os referentes à utilização da informática nas
propriedades rurais pesquisadas em cada país.
5.3 MODOS DE CONVERSÃO DO CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL
5.3.1 Brasil
Socialização (tácito – tácito)
Esse modo de conversão se caracteriza pela conversão do conhecimento tácito em
tácito através da observação, da experimentação e do compartilhamento da prática
(NONAKA, 1991).
Os produtores pesquisados demonstraram ter adquirido experiências em outras
propriedades, além das que detêm; nove deles já trabalharam na propriedade de seus pais, um
em outra propriedade, como funcionário, e um trabalhou em outra propriedade sua. Nessas
oportunidades de trabalho, as maiores experiências adquiridas consistiram no trabalho em si
na família, nas atividades rotineiras, no trabalho “pesado”, assim como no conhecimento de
algumas técnicas, entre as quais o plantio direto.
As experiências centradas na gestão das propriedades também foram marcantes, tais
como: a necessidade do trabalho árduo e de responsabilidade, a atenção aos detalhes nas
questões operacionais ligadas a custos, a perseverança na realização das atividades e a
seriedade nos negócios para a concretização dos projetos. Os pesquisados afirmaram que as
demonstrações de carinho pela terra e pelo trabalho nas propriedades foram aprendizado
obtido na família. Os depoimentos expressam: “Primeiro lugar ter paciência para fazer e
vontade de fazer (...) plantar bem, mas com economia”; “Aprender a enfrentar”.
153
Percebe-se que a maioria dos produtores obteve algum tipo de conhecimento originado
do compartilhamento da prática e da observação em diferentes estágios de suas vidas. As
posturas adotadas por eles quando da descoberta de algo novo são: cinco deles,
primeiramente, costumam conversar sobre o assunto com um vizinho; seis preferem fazê-lo
com um funcionário ou familiar. Como afirmado por Nonaka (1991), o novo conhecimento
sempre começa com o indivíduo, o qual, quase sempre, o compartilha com outro.
Pode-se constatar que a preocupação de repassar ou de transferir a informação para
os demais colaboradores e de experimentar para avaliar se a mudança é viável. Esse
procedimento pode ocorrer em encontros para tomar chimarrão, no intervalo entre uma tarefa
e outra, ou, até mesmo, nas pausas para o descanso durante as atividades. Assim, são comuns
depoimentos do tipo: “No próprio serviço a gente vai conversando”.
Também foram constatados alguns indícios de que, diante de algo novo, alguns
produtores, primeiramente, aproveitam-se da novidade, experimentam-na e, posteriormente,
socializam o conhecimento. Todavia, na opinião da maioria dos pesquisados, os produtores
procuram obter alguma certeza sobre os resultados do novo modo de trabalhar, necessitam
realizar testes e experimentos para me certificar”, ou “ver pra crer”. Isso significa que eles
preferem compartilhar, ou seja, socializar as idéias assim que for possível ou a partir da
obtenção de suficiente eficácia para o novo conhecimento na sua realidade, o que tem
limitado a socialização imediata das suas descobertas. Em alguns casos, com a
experimentação vem a necessidade de discussão com os técnicos ou outros profissionais da
área, objetivando obter mais informação, o que, segundo eles, pode ter o propósito de
socialização, posteriormente, com aqueles que atuam na mesma atividade.
Pôde-se constatar que alguns produtores procuram manter o conhecimento somente
para si, como foi afirmado: “Ficam quietos, mas se a gente pergunta, eles falam”; “Alguns
fazem questão de divulgar (...) e outros que não fazem isso”. Os depoimentos permitem a
compreensão dessa realidade e demonstram que, em alguns locais, a informação é de fácil
acesso.
Quanto aos locais referidos pelos entrevistados para essa troca de informações, eles
relatam: A bodega
15
no sábado à tardinha, na hora da cerveja”; “O encontro no final de
semana no futebol”. Essas informações permitem entender como ocorre o compartilhamento e
a troca de informações. Assim, é comum a afirmação dos pesquisados de que muito do
15
Denominação dada ao bar onde alguns se encontrar para conversar e beber.
154
conhecimento existente nas propriedades rurais é fruto da busca de informações, da troca de
experiências e, até mesmo, da “cópia” de métodos e procedimentos de outros produtores.
Portanto, indícios de que a comunicação esteja aumentando e/ou de que a
socialização esteja em crescimento, gerando uma maior troca de experiências em
determinadas circunstâncias, principalmente sobre questões técnicas. Esse aspecto é ainda
mais comum em ambientes informais e grupos específicos, nos quais as pessoas se conhecem
melhor, como mostra esta declaração: “Tem desses que escondem o jogo, mas do nosso grupo
não”.
Entretanto, de acordo com Nonaka (1991), o compartilhamento acontece a partir do
momento em que a pessoa se conta de que possui o conhecimento. Pode-se, pois, inferir
dessa realidade que os indivíduos podem optar pela manutenção de certos conhecimentos, ou
que nem percebem que detêm certos tipos de conhecimentos que poderiam ser relevantes para
a socialização com outras pessoas que exercem a mesma atividade; assim, pela falta de
consciência do que conhecem, não há socialização.
O aspecto confiança que eles possuem em face desses processos e da implantação de
novos procedimentos ou novas técnicas é suportado, sobretudo, por recomendações dos
técnicos da cooperativa e/ou por especialistas em agricultura. Para eles, “tem que ter um lado
de muita confiança, em primeiro lugar, entre produtor e técnico”. Nos discursos eles utilizam
às vezes, a expressão “meu técnico”.
A tecnologia utilizada é obtida da orientação técnica e da observação ou visita a um
vizinho, de dias de campo (demonstração prática de tecnologias e processos) e palestras.
Cinco produtores pesquisados visitam outras propriedades mais de três vezes ao ano,
incluindo-se os dias de campo; um faz duas visitas e cinco não fazem visitas a outras
propriedades. No que diz respeito à participação em cursos para a capacitação dos
colaboradores, dois participam de até três cursos por ano; um, de até três e oito pesquisados
responderam que não se valem dessa prática. No que se refere ao número de palestras de que
participam por ano, cinco responderam que assistem a mais de dez; dois, entre oito e dez; em
três propriedades a participação é de quatro a sete palestras e, em uma, de uma a três palestras
por ano.
Quanto à disseminação do conhecimento obtido em cursos ou palestras, é realizada
durante o próprio trabalho em conversas informais. Apenas um produtor revelou adotar um
procedimento padrão no que se refere à socialização mais formal, por apresentar aos
155
colaboradores os trabalhos realizados nos eventos dos quais participa e as mudanças que se
fazem necessárias, promovendo uma discussão específica do assunto em questão. Isso ficou
evidente na declaração de um dos entrevistados: “Quando volto da reunião, é feita uma
discussão”.
Nas demais propriedades não são realizadas quaisquer ações formais de socialização
pela pessoa que faz o treinamento, o que ocorre naturalmente na prática, em situações e
tarefas que incluem aspectos evidenciados em processos de capacitação, sem uma prévia
programação. Depoimentos como, quando, no trabalho, aparece alguma coisa que aprendeu,
a gente fala”, o indícios dessas práticas. Esse aspecto pode evidenciar o que Nonaka (1991)
alerta de que, sem experiência, torna-se difícil a socialização. Então, primeiramente, os
produtores preferem fazer os experimentos e, no decorrer do processo, o socializam-no.
Para a tomada de decisão, a atitude mais comum é a discussão na família, seguida da
conversa com funcionário ou colaborador e com o técnico da cooperativa. Assim, é possível
observar que a socialização não ocorre de modo espontâneo e natural. Em alguns casos, a
necessidade de estímulo para que flua normalmente. Alguns entrevistados afirmaram que
“essas técnicas geralmente têm um ponto de referência (...) recebe uma informação”,
referindo-se à necessidade de um estímulo externo, de um ponto de partida ou insight para
que seja criado algo novo. Esse fator colocaria aqueles que estão receptivos numa condição
favorável ao aprendizado e ao desenvolvimento de novas formas de trabalho, ou seja, a
experimentar e socializar.
A melhoria contínua do trabalho tem sido buscada de várias formas: em reuniões com
palestras do Departamento cnico da cooperativa, pela assistência cnica, por conversas
com funcionários, em palestras, dias de campo, treinamentos, cursos, pela participação em
feiras e, também, pela experimentação, conforme este depoimento: “Testando, eu mesmo
experimentando”. O grupo pesquisado percebe a sua evolução como gestores das suas
propriedades e a necessidade de atualização constante, conforme foi evidenciado em seus
depoimentos: “Agora, começa a somar conhecimento (...) está vindo tudo o que foi feito”.
Afirmam ainda que não há mais possibilidade de parar: “Há a necessidade de evoluir sempre”.
Externalização (tácito – explícito)
Esse processo requer a expressão dos conhecimentos tácitos e sua tradução de forma a
se tornarem compreensíveis e serem entendidos pelos outros (NONAKA e KONNO, 1998). O
156
modo como os pesquisados obtiveram o conhecimento de que dispõem para desenvolver suas
atividades é resultado do acompanhamento ao pai nas rotinas diárias ou a outro familiar, como
um irmão. Eles afirmaram: “Trabalhava na lavoura com o pai (...) desde guri, trabalhando
com ele”. Para eles, essas situações comuns são um guia: “Fornece um conhecimento para
seguir adiante com novas idéias”. Na atualidade, o acompanhamento que recebem é dos
técnicos da cooperativa. Por isso, o conhecimento adquirido na base familiar, entretanto,
segundo eles, o é suficiente em face dos desafios atuais, pois maior complexidade nos
negócios e não é mais possível cometer erros na sua administração. Por isso, eles buscam
complemento ao aprendizado nos dias de campo, em cursos, em atividades com terceiros,
com outros produtores, empresas ou orientadores.
Quanto ao hábito de realizar reuniões com os colaboradores, um realiza-as uma vez
por semana; sete preferem fazê-lo de forma não programada e sempre que necessário; três não
as realizam. A duração das reuniões varia de 15 min a 1 hora. Para cinco entrevistados,
sempre existiram; para um, haviam iniciado um mês e três declararam que são comuns
mais ou menos cinco anos.
De maneira geral, as razões para o início das reuniões foram: a inclusão de novas
atividades, o aumento da complexidade nas decisões, o aumento da diversificação provocada
pela rapidez das mudanças, a falta de interação entre as pessoas e a dedicação dos
colaboradores. Também foi citada a necessidade de distribuir os trabalhos e a condução dos
negócios.
Todos concordam sobre a importância das reuniões para discutir as dificuldades,
soluções e resultados da propriedade, embora a utilização desse recurso ainda seja limitada
nos grupos pesquisados. Dentre as vantagens estão: a melhora na relação interpessoal, a troca
de experiências e o aumento da confiança na execução das tarefas, com a valorização pessoal
e a inclusão de diferentes pontos de vista. No que se refere ao aumento da confiança entre os
colaboradores e, especificamente, com os proprietários, obtiveram-se declarações do tipo:
“Tem mais certeza (...) aumenta a confiança (...) eu sei que eles sabem o que fazer quando não
estou”. Também evidenciam a importância do estímulo para a descoberta de novas maneiras
de realizar as atividades.
Por outro lado, também é unânime a falta de prática de registrar as reuniões realizadas
com os colaboradores das propriedades. Essa informalidade e descaso com as anotações o
justificados por alguns produtores com argumentos do tipo: “Sempre estamos juntos,
conversamos todos os dias”.
157
Não são, portanto, comuns os casos em que ocorrem anotações durante os encontros
com os colaboradores e, tampouco, o planejamento das decisões. Entretanto, os registros
ocorrem nas reuniões de planejamento, entre o produtor e o respectivo responsável técnico,
com o objetivo de avaliar o ciclo produtivo encerrado e projetar o próximo. Nessas, são
utilizados os registros necessários para a compreensão de ambos e, também, em alguns casos,
para servir de base ao projeto técnico, cuja finalidade é captar recursos para o custeio da
lavoura. Embora a predominância para o planejamento das atividades operacionais seja a
forma verbal, é comum haver o controle dos processos principais por meio de anotações de
custos e de incidentes operacionais, dentre outros.
A realidade constatada entre os produtores brasileiros demonstra que o aumento do
diálogo entre os envolvidos nas atividades pode ser uma forma de criar conceitos com base no
conhecimento tácito, conforme afirmado por Nonaka (1991). Essas evidências podem revelar
que a externalização está limitada ao fato da falta de registros, pois, segundo Nonaka e
Takeuchi (1997), a escrita representa uma forma de converter conhecimento tácito em
conhecimento explícito. O caminho para a descoberta de algo novo é visto como um
acontecimento ao acaso, mas que traz mudanças nas rotinas.
A fonte de inspiração para algo novo pode vir de uma revista, de algo que um vizinho
fez e que chamou a atenção ou de situações inesperadas no cotidiano, o que poderá gerar algo
novo e que exigirá mudanças: “A gente pode é transformar”, segundo alguns entrevistados.
Contudo, a adaptação passa pelo “costumeiro experimento e expectativa”, que é uma prática
comum aos produtores pesquisados. Outra atitude comum entre eles é a discussão com os
técnicos antes de implantar qualquer mudança na propriedade, considerando-as como
mudanças rotineiras no trabalho rural, não percebidas como criação de conhecimento.
O proprietário costuma avaliar da viabilidade da idéia de um novo procedimento ou de
uma nova descoberta dos colaboradores. Os produtores pesquisados consideram importante
valorizar essas ações com cautela, porém procuram estimular os colaboradores para que
apresentem novas idéias, como revelam as seguintes declarações: Eu valorizo esse tipo de
coisa (...) tem que ver se certo (...) saber se é viável”; “Se o funcionário acha que assim é
melhor e se eu achar que está de acordo”; “Tudo de novo que é descoberto é bom, mas precisa
experimentar antes”.
Para Nonaka (1991), quando os empregados criam algo novo, eles reinventam a si
próprios, à empresa e ao mundo, ou seja, a contribuição do conhecimento de cada um pode
influenciar fortemente para a melhoria dos resultados da instituição.
158
Os produtores pesquisados parecem utilizar a observação das práticas bem-sucedidas
do vizinho ou daquelas não deram resultados satisfatórios. Assim se evidencia em
depoimentos como: “A gente olha alguém, experimenta, tenta, muda, misturamos dois
venenos e deu certo”. São enfáticos em dizer que “um vizinho copia informação de outro”. E
complementam: “Vai olhar a lavoura do vizinho, que ele fez isso, se dando resultado,
porque não vamos fazer igual”. Para eles, aquilo que parece útil vale a pena experimentar e
refazer.
A visão que os produtores possuem dos demais sobre o compartilhamento do
conhecimento entre eles mostra uma clareza dos benefícios que a troca de experiências pode
trazer, embora não seja praticada por todos. divergências nas opiniões, pois alguns
compartilham, repassam; outros, ao contrário, “seguram o conhecimento”, conforme foi
afirmado. Por outro lado, unanimidade na afirmação de que os lugares onde mais ocorre o
compartilhamento são “nas reuniões na sociedade”, em dias de campo, em reuniões ou em
palestras desenvolvidas pela cooperativa ou empresas ligadas ao setor. Quanto à crescente
necessidade de troca de experiências entre os produtores, acredita-se que ainda não detém
significativa importância junto a eles, o que se constata quando alguns afirmam que “o
compartilhamento entre eles está diminuindo”. Todavia, para a maioria dos produtores o
compartilhamento vem crescendo nos últimos anos e as pessoas têm se mostrado mais
receptivas, embora se observe que tal receptividade é mais intensa nos grupos de
relacionamento nas comunidades das quais os produtores participam.
Ainda que essa forma de compreender o processo seja predominante entre os
pesquisados, percebe-se um compartilhamento de falsos conhecimentos por parte de alguns,
mostrado nas falas: “Ele compartilha (...) quando está numa roda de amigos ele diz: eu faço
isso também (..). mas quando a gente vai na propriedade dele, ele não faz”. O
compartilhamento parece estar ligado à necessidade de manter boas relações com o grupo.
Conforme afirmam Nonaka e Konno (1998), a soma dos conhecimentos individuais e a fusão
de idéias conduzem a que os indivíduos se tornem membros dos grupos. A conversão do
conhecimento tácito em explícito pode trazer grandes resultados (NONAKA, 1991).
Por outro lado, a maioria dos produtores pesquisados considera bom o
compartilhamento do conhecimento entre todos na comunidade através de algum tipo de
instrumento formal, acreditando na possibilidade de aumento da troca de experiências e do
estímulo à descoberta de novas formas de realizar as atividades. Contudo, há dúvidas quanto à
utilização intensiva e eficiente desta ferramenta ao se verificarem argumentos como: “Seria
159
ótimo, mas, com certeza, muitos o usariam essa prática”, evidenciando a desconfiança que
ainda há no meio rural. Alguns produtores tiveram dificuldade para sistematizar uma idéia de
como isso poderia ser feito, porém vêem restrições no fato de o compartilhamento realmente
ser total, ou seja, acreditam que o conhecimento compartilhado não seria completo, assim
como nem todos o utilizariam. Assim, aproveitam a discussão para enfatizar as dificuldades
financeiras enfrentadas nos últimos anos pela diminuição do poder aquisitivo do produtor
rural.
Percebe-se que a utilização de analogia em alguns momentos nas conversas entre
eles quando buscam entender o desconhecido através do conhecido.
Os problemas nas propriedades rurais são resolvidos de forma participativa, primeiro
entre os colaboradores, com maior ênfase na família, e, posteriormente, com os técnicos da
Cotrijal, ou com quem trabalha na mesma atividade. Constata-se que o proprietário, ou o
proprietário com a família e, eventualmente, com os técnicos, resolve os problemas
financeiros, ou relacionados à gestão econômica da propriedade. O técnico assume papel
importante na decisão, uma vez que orienta sobre os aspectos econômicos implicados na
propriedade.
A discussão anterior à tomada de decisão permeia a busca de informações. Percebeu-se
que isso é casual, ou seja, ocorre antes da tomada de decisão, ou com pouco planejamento
prévio, conforme é observado nas falas: “É durante a hora do intervalo, no almoço ou café, ou
quando estamos trabalhando”. Dessa forma, os aspectos informais nas relações apresentam-se
com muita clareza e parecem reforçar a importância dada à informalidade e à
operacionalização das atividades, sem levar em consideração um maior rigor formal, que
implica registros e rotinas.
Combinação (explícito – explícito)
Consiste no processo de reunir conhecimentos explícitos existentes, bem como os
novos, e sistematizá-los num produto ou protótipo (NONAKA, UMEMOTO e SENOO,
1996).
Os produtores pesquisados consideram que a existência de um grupo de
relacionamento específico pode ser um estímulo à descoberta de novas formas de trabalho. Os
grupos podem, nas conversas informais, estimular novas práticas. Os produtores reconhecem
que a cooperativa necessita e realiza a busca de conhecimentos, estando eles distantes ou em
160
outros centros de pesquisa. Isso evidencia a forma como eles vêem a cooperativa e a
importância que dão aos grupos para que haja incentivo na descoberta de novas formas de
trabalho. O fato de a cooperativa requerer dos produtores inovações constantes parece
promover entre eles um estado de motivação em relação ao ambiente e a suas atividades.
Confirma-se, assim, o que Nonaka (1991) afirma sobre a possibilidade de os
indivíduos poderem combinar parte de seus conhecimentos na constituição dos processos
inovativos na organização como um todo.
No grupo pesquisado as informações são, preferencialmente, buscadas na Cotrijal; em
segundo lugar, em revistas ou jornais e na Emater e, em terceiro lugar, em programas de
televisão, com os vizinhos, colegas ou familiares. Em situações cujas dificuldades são
técnicas, as soluções são buscadas diretamente na cooperativa e junto a profissionais da área
e, em outras, com os vizinhos ou junto a alguém da família que trabalha fora da propriedade.
Embora, algumas vezes, as orientações sejam questionadas, em primeiro lugar são buscadas
junto aos profissionais do Departamento Técnico da Cotrijal. Quando questionamento
sobre essas orientações, eles buscam fazer trocas de informações com outras pessoas ou com
colegas, amigos e profissionais de outras empresas. Alguns expressam: “Primeiro, o
Departamento Técnico; se não conseguir resolver, o que é difícil, aí vai buscar outro”.
Assim, percebe-se que os produtores tentam envolver um conjunto de conhecimentos
explícitos através de meios como contatos pessoais ou conversas ao telefone, conforme
evidenciado por Nonaka e Takeuchi (1997). Eles observam que a cooperativa busca melhorias
na produção, mas não deixa de lado os aspectos sociais, que também são por eles valorizados,
tal como o relacionamento entre os colaboradores, com a comunidade e na cooperativa.
Algumas falas mostram essa informação de forma clara: “A cooperativa incentiva não a
lavoura, mas a própria vida, o dia-a-dia das pessoas”; “Até para levantar o astral das pessoas
tem palestras” ; “Vê coisas de outros estados que nunca iríamos ver”.
No que se refere aos cursos, palestras ou dias de campo realizados pelas pessoas
envolvidas na propriedade, variam muito de acordo com a necessidade. A pessoa que
freqüenta esses cursos tende a ser a mesma: o proprietário ou familiar (filho ou parente
próximo que atue na atividade). Não parece, portanto, haver oportunidades para que outras
pessoas possam participar, como funcionários e demais colaboradores, inclusive as esposas.
Os funcionários participam apenas eventualmente, quando as atividades na propriedade são
menos intensas, o que é confirmado através de afirmações como: “Só quando a gente não tem
161
tempo, os funcionários vão”; “Ele (funcionário) vai quando não tem tanto trabalho na
lavoura”.
Na implantação de um novo procedimento na propriedade, divergências entre as
idéias. Para os produtores, as maiores dificuldades centram-se em aspectos financeiros e na
questão da confiança na própria mudança, conforme é relatado: “A maior dificuldade é
confiar naquilo que é dito e que funcionar exatamente na prática”. Outro aspecto referido
foi a dificuldade de convencer os funcionários, pois certos vícios operacionais,
principalmente em razão de alguns terem um bom tempo de trabalho na propriedade. Assim,
eles buscam estratégias para reduzir o impacto das mudanças e aumentar a confiança dos
colaboradores e de si próprios fazendo o experimento em pequenas áreas antes de
implementar na propriedade toda, ou, ainda, buscam a experiência de outros. No entanto, não
foram mencionadas grandes dificuldades na implantação de novos processos nas propriedades
pesquisadas.
Os produtores parecem sistematizar algum tipo de conhecimento através de suas
práticas para obterem maior segurança. Para Nonaka e Konno (1998), as questões-chave para
a combinação são a comunicação, a difusão de processos e a sistematização do conhecimento.
Conforme descrito anteriormente, os problemas existentes nas propriedades são
resolvidos em discussões internas rotineiras e também pela procura da assistência técnica, que
assume papel preponderante nesse aspecto. Assim, antes da tomada de decisão, ocorre uma
discussão preliminar entre os colaboradores, geralmente realizada durante os intervalos ou na
rotina de trabalho; posteriormente ou concomitantemente a essa discussão, é buscado o
aconselhamento da assistência técnica da cooperativa.
As recomendações de alguns dos principais processos são efetuadas por escrito, como
as anotações que permitam tomar decisões gerenciais no próximo ciclo produtivo e os
subprocessos. Contudo, o registro não é comum a várias recomendações técnicas da Cotrijal,
que são feitas verbalmente e não obedecem a padronizações, permitindo o entendimento de
que os colaboradores as consultam somente em casos específicos.
No que se refere à direção dos negócios que a propriedade assume, é discutida com os
colaboradores, mas, sobretudo, com a família. Aspectos ligados a questões de lucratividade,
custos e da situação financeira, de modo geral não são discutidos ou apresentados para os
funcionários. O gerenciamento dos negócios está disponível, porém não é estimulada a
discussão com todos os colaboradores.
162
Internalização (explícito – tácito)
Este modo consiste na conversão de conhecimento explícito em tácito (NONAKA,
1991).
Na visão dos produtores pesquisados, as dificuldades para a implantação de novos
procedimentos na propriedade situam-se em questões comportamentais, como a insegurança,
tanto dos colaboradores quanto dos próprios proprietários, ou seja, no medo de trabalhar com
o desconhecido. Também está presente a desconfiança nas informações referentes à mudança
e à sua posterior eficácia; para reduzi-la, em caso de mudança, os produtores adotam a
experimentação. O fortalecimento do relacionamento interpessoal ocorre através da discussão
e do esclarecimento das mudanças propostas. Para os produtores, outro aspecto dificultador da
implantação de novos procedimentos na propriedade é a falta de condições financeiras para
desenvolverem as atividades em condições ideais.
Nas propriedades pesquisadas, as reuniões ou discussões o conduzidas
informalmente e não há registro dos resultados; são mais comuns registros de processos
produtivos, como produção, produtividade, custos, dentre outros. O planejamento operacional
que envolve as atividades a serem realizadas num determinado período, como a semana, por
exemplo, também segue os mesmos critérios anteriormente descritos. Não sendo rígido,
procura-se obedecê-los”, como afirmam os produtores. Nesse sentido, discursos como
“sábado de manhã (...) antes de se recolher, combinamos o trabalho da semana seguinte (...)
na segunda (...) se acha outro serviço, é feito aquele (...) é uma empresa, mas o é rígido”,
revelam a forma como trabalham. Eles justificam o o-registro pelo fato de terem contato
constante com os colaboradores, bem como pela proximidade na vida pessoal e no trabalho.
Algumas recomendações dos técnicos da cooperativa para os associados são feitas por
escrito, porém não é procedimento comum para todas as culturas, tampouco para todos os
processos. O proprietário e os colaboradores consultam-nas, mas apenas eventualmente.
Grande parte das recomendações, seja dos técnicos para os proprietários, seja destes para os
colaboradores, ainda é realizada verbalmente, sob alegação do convívio diário, o que, para
eles, eliminaria essa formalidade. Assim, muitos produtores necessitam de um contato mais
próximo com os técnicos para que possam consultá-los em cada passo do processo produtivo
na propriedade. Esse procedimento é exposto em declarações do tipo: A gente se conversa,
não é por escrito, e ele (profissional da cooperativa) avisa quando tem que passar veneno”.
163
A informalidade na maior parte dos processos demonstra que o registradas as
operações que geram informações com significado para os produtores ou os dados finais,
como, por exemplo, índices pluviométricos, variedades plantadas com seus respectivos
volumes, adubações, espaçamento, produtividade na colheita, dentre outros. Embora adotem o
registro com pouca freqüência, alguns produtores demonstram claramente a preferência pelas
recomendações escritas, por lhes permitirem decisões mais seguras e a verificação em futuras
consultas. Como afirmam Nonaka e Konno (1998), os indivíduos necessitam identificar
conhecimentos relevantes para si dentro da organização. Para os produtores pesquisados, os
registros parecem ter sentido quando demonstram algum tipo de utilidade.
Na opinião dos produtores pesquisados, as pessoas, na propriedade, aprendem mais
pela experiência e pela prática, numa aprendizagem que é fortalecida pelos testes e pela
experiência dos outros. Nesse aspecto encontram-se declarações como: “Tudo que se faz, se
aprende. Desde uma conversa para tomar uma decisão, se deu errado, todos aprenderam que
deu errado”. Para eles, a busca por informações e a observação dos resultados na propriedade
também contribuem para o aprendizado, que é decorrente do processo de mudanças
permanente em razão da necessidade de transformação, de realizar melhorias, de maximizar o
uso dos recursos e de obter maior produção.
Nesse sentido, os produtores consideram importante acompanhar, observar os outros
na sua prática, buscar informações, sobretudo com os técnicos, e experimentar, avaliando os
resultados. Esse parece um modo eficaz de aprender, porém requer mente aberta para a
mudança, autoconhecimento, uma boa relação familiar e estar de “bem com a vida”. O
aprendizado pode ser “decorrente do fazer o que gosta e das muitas oportunidades de obter
informações”, ou ser resultado “da necessidade de buscar alternativas em épocas de crise”,
segundo afirmações de alguns deles. A mudança, segundo os produtores, num primeiro
momento assusta, desafia e questiona, porque, em alguns casos, não experiências
anteriores. O aprendizado pode ser decorrente do sucesso ou do fracasso de muitos na
atividade.
Os pesquisados têm a convicção de que o produtor não deve tomar decisões sozinho,
porque, se assim agir, não contribui para o processo de aprendizagem na propriedade, pois
comunicar os problemas somente quando as alternativas pessoais se esgotaram inibe a
possibilidade de aprendizagem dos demais colaboradores. Encontram-se depoimentos nesse
sentido: “Claro que tudo ajuda, soma, mas basicamente é dentro que se aprende bastante
(...) tentando acertar”, referindo-se ao ambiente da propriedade. A aprendizagem muitas vezes
164
ocorre inesperadamente, gerando o aprender de forma obrigatória, como no caso da falta de
algum funcionário ou, até mesmo, do proprietário. Nessa situação, alguém deverá executar o
trabalho, permitindo a entender o que Huber (1991) refere em sua teoria, que o aprendizado
não precisa ser consciente ou intencional e trazer maior eficácia ao aprendiz ou resultar em
mudança de comportamento observável; também pode ocorrer quando alguém estiver fazendo
um trabalho de forma melhor (SWIERING e WIERDSMA, 1995).
Assim, a administração dos negócios de forma participativa, através da integração
entre funcionários e proprietários, também foi desenvolvida a partir do trabalho do dia-a-dia.
Os produtores comparam a família e a propriedade rural, dizendo que ambas funcionam
eficazmente quando diálogo. Dessa forma, a observação de experiências negativas
ocorridas com outros produtores também acarreta grande aprendizagem entre os produtores da
amostra, demonstrada por discursos do tipo: “Só comunica a família o dia que está quebrado,
aí ninguém aprendeu o porquê deu errado”.
A idéia de centralizar o conhecimento e a informação dos produtores em algum tipo de
instrumento, como site, vídeo ou outro, é vista como algo positivo pelos entrevistados, os
quais entendem que isso poderia gerar o aumento da troca de experiências e seria um
referencial para a busca de informações. Para alguns, as experiências ou conhecimentos não
precisariam, necessariamente, ter origem em profissionais da área técnica. Nesse sentido, o
conhecimento validado pelo produtor teria tanto valor como aquele gerado pelos técnicos,
além de permitir um efeito multiplicador, uma vez que possibilita o compartilhamento desse
conhecimento não com um produtor apenas, mas com vários. Esse fator conduz a uma
cobrança maior para que os registros das atividades desenvolvidas sejam realizados com
maior freqüência, pois serviria também para monitorar o conhecimento gerado por eles.
Alguns produtores mencionaram a possibilidade da não-utilização do conteúdo armazenado
por parte de alguns produtores por desconfiarem da sua validade e, sobretudo, pela
heterogeneidade das informações, o que pode ocorrer em razão das diferenças entre uma
propriedade e outra. Foi sugerido pelos pesquisados que esse processo teria maior eficiência
se o conhecimento reunido fosse agrupado por região ou comunidade, aumentando, assim, a
abrangência de sua utilização.
Essa forma de aprender demonstrada pelos produtores reforça a afirmação de Nonaka
e Takeuchi (1997) de que, para que o conhecimento se torne explícito, são necessárias
verbalização e diagramação do conhecimento em forma de documentos e manuais.
165
Para os pesquisados, a credibilidade do conhecimento gerado pelo próprio produtor,
em alguns casos, é similar ou, talvez, até maior que o próprio conhecimento gerado pela
pesquisa tradicional. A experimentação sistemática das práticas poderia garantir essa
credibilidade. Encontram-se depoimentos como: “Se a pesquisa descobriu algo, às vezes
certo, às vezes não dá, mas se o proprietário descobriu, vai ver que dá certo, ele es
trabalhando vários anos nisso”; “Quando o proprietário falar, já tem quase certeza que isso dá
certo”. Portanto, eles procuram confirmar a forma de perceber a experimentação sistemática.
Os produtores apresentam uma vantagem clara de dispor de especial atenção por parte
da assistência técnica, o que gera credibilidade, mostrado em depoimentos como: “São
pessoas melhor assistidas e a gente tem mais certeza de fazer a coisa certa”. Essas foram as
contribuições consideradas relevantes depreendidas dos discursos dos produtores
entrevistados e que deram suporte significativo para a descrição dos modos de conversão do
conhecimento.
Modos de
Conversão
Resultados
Socialização
As trocas de informação entre os associados são dependentes do grau de profissionalização na
atividade
Relação familiar é permeada pela emoção quando experiências o adquiridas nos processos
sucessórios
Socialização mais intensa e perceptível quando relação de confiança no grupo de
relacionamento
A observação das práticas se dá através do acompanhamento das atividades
Antes de ocorrer a imitação há a busca por mais informação sobre a prática
A prática dos processos ocorre pela experimentação
Externalização
O novo conhecimento não é percebido como descoberta
necessidade de criação de ambiente propício e de estímulo por parte da cooperativa para
ocorrer a externalização
Novos processos são valorizados com cautela busca-se mais informação, experimentação e
aplicação prática
Diálogo e reflexão coletiva é incipiente, informal e sem registros
Metáfora – não foi possível identificar com clareza
Analogia – é bastante utilizada
Modelo – os modelos experimentais e os modelos práticos são bastante utilizados
Combinação
A Cotrijal influencia a ocorrência da combinação através da estimulação e acompanhamento
dúvida quanto à eficácia da combinação na propriedade quando a participação na maior
parte dos eventos é de apenas de uma pessoa
O uso de computador e internet são incipientes
O processo de decisão é permeado pela busca de maiores informações e discussão com
familiares e técnicos
Há pouca compreensão da necessidade de implantação do conhecimento gerado
Internalização
É fortemente relacionado com os demais modos de conversão
Documentação e verbalização são pouco explorados
Colaboradores normalmente são reativos às necessidades de adequação e mudanças
A experimentação da mudança é o ponto principal (aprender fazendo) para posterior adoção
Recomendações técnicas e registros operacionais são pouco utilizados
O conhecimento gerado pelo produtor com base na experimentação sistemática recebe o
reconhecido dos demais
Quadro 7 Síntese dos modos de conversão do conhecimento no Brasil
Fonte: Elaborado com base nos resultados da pesquisa
166
5.3.2 Austrália
Para a descrição dos modos de conversão serão utilizados os dados resultantes dos
questionários e dos focus groups.
Socialização
Os produtores mostraram ter algum tipo de experiência anterior à atual em propriedade
da família ou em outra propriedade, como empregados ou como proprietários. Cinco deles
trabalharam em outra propriedade da família e um atuou também como empregado e como
proprietário em outra propriedade; seis trabalharam como empregados em outras
propriedades, e um também foi proprietário em outra; quatro entrevistados nunca trabalharam
em outra propriedade exceto na sua.
O aprendizado decorrente dessas experiências é ligado à educação obtida durante a
vida na propriedade, no contato com pessoas da mesma atividade, em leituras, experiência
prática e dias de campo; também são mencionadas as viagens ao exterior. Alguns comentários
auxiliam a compreender isso: “Eu segui o exemplo do meu pai e comecei a pensar por mim
mesmo e fazer inovações”. Para Nonaka e Takeuchi (1997), as experiências que ocorrem no
passado podem se transformar em modelo mental tácito ou o aprendiz aprende as habilidades
do mestre (NONAKA, 1991). Realmente, nos discursos os pesquisados parecem demonstrar
que muito de sua base de conhecimento e de sua forma de pensar origina-se desses períodos.
Na eminência de algo novo na propriedade, o primeiro procedimento, para seis
produtores, é testar; quatro preferem discuti-lo com a família ou com empregado(s), ao passo
que três procuram parentes ou pessoas da mesma atividade para a discussão. O segundo
procedimento a ser adotado tende a ser o teste da novidade para quatro deles; três preferem
falar aos outros; três optam por outros procedimentos, como a discussão com agrônomos e
consultores, assessores e fornecedores; dois recorrem a vizinhos e outros dois, à família e/ou a
empregados; para dois entrevistados, um terceiro procedimento pode ser o teste e, para outro,
a conversa com a família; dois produtores o especificaram as suas preferências em ordem e
um deles evidenciou somente a conversa com um vizinho; outro, ainda, citou o teste e a
discussão com a família e/ou empregados.
167
A maior segurança ao produtor no momento de implantar algo novo é proporcionada,
para oito deles, pela utilização de um experimento ou tentativa prévia; três se dizem guiados
por intuições e observações e, para dois deles, segurança quando outros aderiram ao
mesmo procedimento. Em segundo lugar, a segurança é maior quando são guiados por
recomendações de especialistas e técnicos, para quatro deles; para outros quatro, quando
guiados por experimentos e tentativas prévias; para dois produtores, em terceiro lugar, o que
lhes sensação de estarem seguros são as recomendações de técnicos e especialistas da área
e, para um deles, uma quarta opção é o fato de outros produtores estarem utilizando a
prática; para dois entrevistados, a maior segurança é obtida quando experimentos prévios são
realizados.
Percebe-se que a experimentação é o que oferece maior segurança. Os pesquisados
afirmam que sentem necessidade de comprovar os resultados, de avaliar e analisar
profundamente qualquer proposta inovadora antes de colocá-la em prática. Afirmam: “Você
não sabe o que acontecerá em sua área até você mesmo tentar”. Portanto, querem ter certeza
realmente. Ainda dizem : “É preciso fazer por dois ou três anos ou cinco anos antes de você
poder dizer com certeza que funciona ou não funciona, pois as estações variam muito”; “você
vê os resultados em sua frente, a certeza de que é bom tem quando você aplica na prática”.
Assim, percebe-se que a adoção de uma inovação passa pela experimentação, pela imitação e
pela prática, conforme Nonaka e Takeuchi (1997), que mostram a necessidade de se ter
práticas baseadas em algumas certezas quanto aos possíveis resultados.
No que se refere ao uso de uma nova técnica ou procedimento a ser utilizado na prática
na atividade, onze deles a utilizam no ciclo produtivo seguinte; quatro esperam para ver os
resultados das tentativas e depois a adotam; dois têm como um segundo procedimento adotar
no próximo ciclo de produção e esperar pelos resultados dos experimentos; um deles prefere,
primeiro, experimentar e só adotar no próximo ciclo de produção.
Com essas constatações, parecem evidentes o aspecto competitivo e a necessidade de
ser o primeiro ou de aproveitar uma oportunidade de ganhar maior espaço no mercado.
Afirmam os entrevistados que produtores australianos são basicamente competitivos entre
eles”. Eles procuram sempre observar o que demais produtores estão fazendo e seus projetos,
conforme se constata na afirmação: “Se o vizinho está tendo aumento nos resultados, você
o que ele esfazendo e você diz: ‘bem, eu tentarei e acompanharei aquilo’”. Para eles, o
produtor australiano é sedento por conhecimento vindo de pessoas inovativas: “Eles são
esponja, eles querem conhecer, adotar mudanças”, referindo-se aos produtores rurais.
168
Portanto, percebe-se que os produtores australianos tomam como base o que está
acontecendo a sua volta para ter noção dos processos inovativos. Parece muito comum nas
famílias a discussão informal sobre aspectos ligados à administração do negócio. Para eles, a
gestão caracteriza-se pela forma individual de conduzir os negócios, como visto nas
afirmações: A família primeiro”; “A família primeiro, porque nós somos uma família rural”;
“A família, é isso”. Ainda em outro comentário: “Sua família primeiro e então você
provavelmente vai a empresa que você tem interesse e pega todas as informações que você
pode”.
O compartilhamento de informações com pessoas externas à família e o auxílio na
solução de problemas na atividade parecem mais intensos quando há boas relações de
amizade; também parecem mais comuns quando as atividades não são tão competitivas. A
reserva de informações pode estar ligada à manutenção da competitividade no mercado ou,
mesmo, do próprio espaço de atuação. Nonaka e Takeuchi (1997) salientam que a
socialização geralmente começa com o desenvolvimento de um campo de interação, que não
parece ser comum no grupo pesquisado.
No que se refere a cursos e palestras freqüentados no período de um ano, cinco deles
realizam-nos mais de três vezes por ano; cinco, de quatro a sete cursos; um, de oito a dez;
dois, de dez a doze, e dois entrevistados não freqüentam palestras e cursos. As visitas a outras
propriedades, centros de pesquisas e outras organizações ocorrem da seguinte forma: onze
deles realizam mais de três; um, mais de duas; dois, mais de três e um deles raramente as
realiza.
Portanto, a prática de freqüentar cursos e palestras e de realizar visitas a outras
propriedades parece ser comum entre eles. Há uma necessidade permanente de buscar o novo,
de saber o que está acontecendo à sua volta e de realizar melhoramentos nas atividades. Os
contatos entre produtores ocorrem de acordo com as suas atividades, visando buscar algum
tipo de resposta às suas questões. Os produtores afirmam ter preferência por dias de campo
para realizar as trocas de informações; assim, preferem um campo para interação onde possam
visualizar as práticas e experimentos, como citado por Nonaka e Takeuchi (1997).
Externalização
O conhecimento adquirido pelos pesquisados é decorrente de suas bases familiares e
recebe constante aperfeiçoamento de acordo com as oportunidades de realizar cursos,
169
palestras e visitas. Eles o percebem a existência de alguma instituição que estimule a sua
profissionalização e afirmam: Se ele pensar, eu sou um colono, ele já se foi, tem que pegar a
tua propriedade como empresa, senão tu acaba ficando para trás”. Evidenciou-se, assim, a
necessidade de ser inovativo na atividade, segundo eles, até mesmo como garantia de
sobrevivência nos negócios.
A necessidade de modernização confirma as idéias de Schultz (1965) ao se referir à
nova postura do homem que exerce atividade agrícola.
No que se refere às reuniões na propriedade, dez produtores pesquisados realizam-nas
sem agendamento prévio e sempre que necessário; dois não as realizam; um realiza-as mais
de uma vez por semana; outro, uma vez por semana e um terceiro, uma vez ao mês. O tempo
de duração dessas reuniões varia: para três deles, realizam-nas há três anos; para dois, há sete
anos; outros salientaram que ocorrem dez, doze anos, desde 1989, fazendo parte da
história da propriedade e são informais.
As razões de as reuniões terem começado devem-se à velocidade das mudanças e à
complexidade das decisões, para quatro deles; para outros quatro, à necessidade de melhorar e
de diversificar as atividades; para três deles, deve-se à necessidade de delegar
responsabilidades; para dois, à falta de integração e dedicação e, para um deles, fazem parte
da história da propriedade. Para os pesquisados, as vantagens das reuniões concentram-se na
facilidade de obtenção de informações. a necessidade de que todos conheçam a direção
dos negócios e estejam focados nos objetivos, nos melhoramentos nos processos de
comunicação, no crescimento na produtividade, no compartilhamento de experiências em
falhas e sucessos nos processos. Isso tudo garante informações e pode possibilitar a geração
de novas idéias, segundos eles.
Para Nonaka e Takeuchi (1997), a externalização tem como base o diálogo e a reflexão
coletiva no grupo, aspecto que parece ser comum no ambiente das famílias rurais.
No que diz respeito aos registros, os produtores utilizam-nos para as atividades na
propriedade, não especificamente para as reuniões, as quais parecem ser informais e não ter
qualquer tipo de formalização. Segundo eles, compartilhamento constante na família, de
modo que as anotações sobre reuniões não parecem ser necessárias. Portanto, esse aspecto
pode limitar um pouco o processo de externalização uma vez que, para explicitar o tácito, é
importante a adoção de registros (NONAKA e TAKEUCHI, 1997). O aspecto informalidade
parece, pois, se sobressair em algumas práticas dos produtores rurais australianos.
170
A administração da propriedade parece ser caracterizada pela participação de todos,
pois, segundo eles, primeiramente, a discussão é familiar e, posteriormente, com os técnicos e
especialistas. Assim, constata-se que a maior responsabilidade pela condução dos negócios é
da família; secundariamente, pode haver suporte por parte de especialistas externos, porém ela
é responsável pela obtenção de sucesso nos negócios. Em caso de dificuldades técnicas, são
buscados os profissionais do setor privado ou os ligados aos órgãos do governo, junto aos
quais a discussão centraliza-se em aspectos técnicos. Esses técnicos parecem não se envolver
mais profundamente com o gerenciamento da propriedade.
O pensamento dos produtores a respeito do comportamento de outros produtores no
que se refere ao novo na atividade é assim resumido: nove deles preferem o uso imediato na
atividade para obter vantagem; seis costumam compartilhar a novidade com outros, um dos
quais assinalou também a necessidade de manter o novo em segredo; para dois entrevistados,
a atitude posterior ao uso imediato na atividade é o compartilhamento com os vizinhos e, para
outro, é a manutenção em segredo. Para outros produtores, o comportamento pode ser
evidenciado pelas suas afirmações: “Se você pergunta para as pessoas eu quero dizer como
aqui, pessoas com muito conhecimento e se você perguntar a elas, elas compartilharão o
conhecimento com você”. Quando, contudo, é um mercado de atuação com menor número de
produtores, eles enfatizam: “Você o consegue obter muita informação”, o que se deve ao
fato de as pessoas não as possuírem. Ainda: “Nós competimos em um mercado aberto, nós
não necessitamos compartilhar com o vizinho do outro lado da estrada, mas no círculo de
amigos, como aqui. Nós poderíamos com prazer compartilhar, se nós fôssemos perguntados,
uma vez que você deve ser um pouco reservado com seu vizinho que não vai tão bem, mais
provavelmente não vai perguntar mais”.
Nessa realidade, a externalização não parece estar ligada à necessidade da realização
das trocas para ser aceito no grupo ou de contribuição de cada um com seus conhecimentos,
conforme evidenciado por Nonaka e Konno (1998).
A adoção de qualquer novo procedimento, segundo os produtores, tende a passar pela
experimentação e avaliação da sua utilidade e, em alguns casos, pela discussão com pessoas
que atuam na mesma atividade. Embora os produtores pesquisados tentem afirmar que a
socialização das informações entre eles, denotam preocupação em manter em segredo
conhecimentos estratégicos para garantir a competitividade. A novidade, para eles, é vista
como a possibilidade de obter uma nova oportunidade.
171
As trocas, segundo os pesquisados, são interessantes quando feitas com pessoas
consideradas inteligentes, o que se comprova pelo comentário “a pessoa tem que ser
suficientemente inteligente para realizar trocas”, evidenciando que eles utilizam seu tempo
com quem tem respostas e traz contribuições aos seus questionamentos. Assim, parece
evidente que a formação dos grupos ou os contatos ocorrem com base na capacidade
intelectual de cada um. Como apresentado por Nonaka, Umemoto e Senoo (1996), as
tentativas de agrupamentos são focadas na busca de desenvolvimento de conhecimentos.
Combinação
O interesse dos produtores pesquisados em realizar discussões sobre os negócios
sempre é de fazê-lo com alguém da mesma atividade e que tenha respostas às suas
indagações; caso isso não seja possível, apelam para técnicos e especialistas da área. Para
eles, os grupos parecem ser uma boa idéia, porém há dificuldade para a realização de reuniões
direcionadas ao objetivo e úteis do ponto de vista de trocas. Alguns comentam que grupos
“apenas desperdiçam tempo”, ou “não temos tempo para ir e organizar uma reunião como
essa; com um facilitador, seria muito bom”. Tais comentários parecem auxiliar no
entendimento de suas posturas.
Entretanto, para haver combinação a necessidade de se ligarem diferentes partes de
conhecimentos explícitos, conforme Nonaka, Umemoto e Senoo (1996), ou conjuntos
diferentes de conhecimento explícito, segundo Nonaka e Takeuchi (1997). Portanto, com as
posturas evidenciadas nesses discursos, a combinação pode estar sendo reduzida a essa
restrição aos convívios em grupos.
O estímulo dos produtores pesquisados na busca de inovações na atividade está
relacionado ao aumento do lucro, à redução de custos, à expansão dos negócios e ao aumento
da competitividade, o que parece motivador à busca da garantia de preços e lucratividade.
Para alguns, são os bancos ou, como eles referem, o gerente do banco”. A curiosidade ajuda
bastante. Segundo eles, “Há necessidade de manter o status quo”, referindo-se a sua imagem
na comunidade, ou a “manter o mesmo nível que outras pessoas na Austrália”.
Outra razão indicada por eles é “prestar atenção ao que os vizinhos estão fazendo”, ao
modo como as outras pessoas realizam as tarefas, como discutem e trabalham. Eles afirmam:
“Eu visito muitos produtores e capto diferentes perspectivas de como outras pessoas estão
fazendo isso. Aí, você pode voltar para casa e tentar aquelas idéias e algumas vezes elas
172
funcionam outras não, mas elas mantêm seu interesse”. A referência diz respeito aos
produtores da Austrália e do mundo todo. Outra afirmação permite entender a forma de
administrar os negócios e o conceito que possuem de si próprios: Muitos produtores em
nossa área são pessoas muito inovativas”. Confirmou-se, assim, o que dizem Millar, Curtis e
De Lacy (1997) e Kilpatrick e Rosenblatt (1998), de que a informação ou observação
originada de outros produtores detém importante valor por ser local e provinda da experiência
direta e da observação ao longo do tempo.
As constatações sobre os comportamentos dos produtores evidencia a teoria de
Nonaka e Takeuchi (1997) quando salientam que, pela classificação, pelo acréscimo, pela
combinação e pela categorização do conhecimento explícito, podem-se adquirir novos
conhecimentos.
Observa-se que os produtores não recebem estímulos de empresas ou outras formas de
organização, o que demonstra que eles, por si só, sentem a necessidade de serem inovativos
para atender aos diferentes mercados. Contudo, consideram que aprendem em quase todas as
situações: “Você aprende coisas com muitas pessoas em muitos lugares e não interessa qual é
o seu negócio e quanto grande é”.
No que se refere à participação em palestras, dias de campo e cursos, a
predominância de quem administra a propriedade, até porque os empregados são apenas
temporários, exceto num dos casos estudados. Os produtores afirmam que preferem comprar
máquinas mais potentes e eles próprios desenvolverem os trabalhos, buscando reduzir custos,
além de que também carência e qualificação de mão-de-obra: “Não apenas o custo do
trabalho, mas a capacidade deles para fazer isso”.
A preferência pela busca de informações varia: quatro deles preferem buscá-las, em
primeiro lugar, em outras companhias; três, na internet; dois, nos centros de extensão; dois,
em outros meios, como pessoas ligadas à indústria e consultores; outros três produtores
preferem centros de extensão. Como segunda opção para buscar informações, as preferências
situam-se em revistas ou jornais, para seis deles; para quatro, na internet e, para três, em
centros de extensão, instituições do governo e outras fontes, como grupos formais de pessoas
da mesma atividade; dois entrevistados não especificaram a ordem de preferências e
apontaram como sendo internet, empresas, instituições do governo e revistas ou jornais,
indiferentemente.
173
Percebe-se que varia muito a preferência pela busca de informações, sendo difícil
estabelecer uma fonte preferida. A internet é algo que os desafia a aprender sobre essa
ferramenta de busca, porém requer muito tempo para pesquisa. Afirmam: “Internet gasta
tempo e a informação não é aquela que deveria ser”; “Você precisa conhecer como pesquisar
e onde. Isso toma tempo para aprender todas aquelas coisas”.
Muitas vezes, segundo os produtores, uma conversa via telefone ou um e-mail pode
ser muito mais produtivo: “Pego o telefone e ligo para alguém que eu conheço que é uma boa
forma”. Também afirmam: “Todos os produtores estão ocupados fazendo as suas próprias
coisas, não m tempo”. Então, “eu gostaria de dirigir-me a alguém, pegar a informação e
voltar para casa”; ou “o tempo para o gerenciamento é tão crítico para nós que nós queremos a
informação agora, nós queremos ela ontem”. Evidencia-se, portanto, que os produtores m
seu foco na atividade e que a falta de tempo é algo bem presente; por isso, dão preferência a
meios que o requerem muito tempo para contatos, confirmando que, entre as dificuldades
para realizar reuniões em grupo e cursos estão o custo, o tempo, a localização, a falta de
confiança no treinamento e a falta de uma cultura de treinamento entre os produtores
(KILPATRICK e WILLIAMSON, 1996; SYNAPSE CONSULTING, 1998).
Os produtores fizeram questão de explicitar outros comentários, como: “Nós vivemos
em áreas muito distantes. É importante ter uma boa base de relações com amigos e uma boa
comunidade, para que possamos falar um com o outro sobre o que nós estamos fazendo, e
apenas, geralmente, como as coisas estão indo”. A intenção dessa afirmação é evidenciar que
o individualismo nos negócios pode também ser justificado pelas distâncias físicas,
principalmente para alguns produtores que vivem em áreas mais isoladas.
No momento da tomada de decisão na propriedade, o primeiro procedimento, para
outro deles, é a discussão com a família; três preferem tomar a decisão por si próprios e um
discute-a com especialistas ou técnicos em agricultura. A segunda preferência dos produtores
como procedimento para a tomada de decisão é a discussão com especialistas e técnicos em
agricultura, para seis deles; quatro preferem discuti-la com produtores da mesma atividade;
dois, com a família e um prefere tomar decisão por si próprio. Para dois pesquisados, a opção
de discutir com especialistas em agricultura e técnicos aparece em terceiro lugar e, para um,
com empregados; dois deles não apresentaram suas respostas em ordem de importância,
assinalando a discussão com técnicos e especialistas em agricultura, bem como com os
produtores da mesma atividade; para um deles também é importante a tomada de decisão
174
individualmente. Muitos deles o possuem atendimento personalizado de um técnico ou
consultor e evidenciam fazerem-no por si próprios.
Aqui fica claro como o compartilhamento e as discussões centram-se na família, onde,
além da relação emocional, há uma forte relação profissional, visto que cada um possui o seu
papel a desempenhar e a sua responsabilidade. A combinação ocorre pela inserção dos
conhecimentos recém-criados e dos conhecimentos existentes (NONAKA e TAKEUCHI,
1997). Percebe-se que, nas famílias, essa prática parece comum em razão do acúmulo de
experiências e de diferentes oportunidades de cada um dos envolvidos na atividade rural.
O compartilhamento com outras pessoas ocorre quando a transferência não afeta a
competitividade, conforme argumentam os produtores: “O que foi o difícil de descobrir, dar
de graça para outros; “Nós trocamos pouquinho, o que nós mais fazemos é ler jornal, vemos
TV que são coisas mais imediatas”. Alguns reforçam a idéia do compartilhamento em grupos
específicos: “Provavelmente em cada tipo de atividade”. Outro, questionado sobre se as
pessoas preferem compartilhar, declarou: “Geralmente não”. E complementou: “É uma
vergonha que ainda não funciona”, referindo-se às trocas. Em algumas situações, alguns
produtores se contradizem no que se refere aos contatos pessoais, dizendo manter contato e
dar valor às contribuições recebidas deles: “Você realmente não conhece muito sobre algo até
você começar a conversar com outras pessoas”. Evidenciam, assim, a importância do contato
pessoal para a realização das trocas.
Quando questionados sobre se estavam preparados para utilizar um instrumento
educativo on-line, doze responderam que sim e um, que não e sim ao mesmo tempo; três
declararam que não estão preparados para isso. Como razões para se considerarem
preparados, citaram-se as preferências por dias de campo, pelas possibilidades de discutir e
obter maiores informações, outras opiniões e soluções para seus problemas, bem como o
tempo dispensado para isso, que é outro fator limitador, segundo os entrevistados.
Portanto, mesmo que os produtores pesquisados possuam familiaridade com
computadores e, pode-se dizer, também com internet, esses são instrumentos de trabalho
relativamente novos, que, por isso, parecem estar ainda um pouco desconectados das suas
práticas. Para Nonaka e Takeuchi (1997), o uso de redes de comunicação computadorizadas e
de banco de dados em larga escala auxilia esse modo de conversão do conhecimento.
175
Internalização
A maior segurança do produtor no momento de tomar a decisão sobre algo novo
surgido na atividade é a realização de experimentos, de observações, quando o guiados por
intuições ou quando outros utilizam o mesmo procedimento. As recomendações de técnicos e
especialistas da área também ajudam os produtores a terem maior segurança. Para eles, a
adoção de algo completamente novo necessita do reconhecimento de sua utilidade; é
necessário aprender fazendo (NONAKA e TAKEUCHI, 1997; NONAKA, 1991; NONAKA e
KONNO, 1998)
Nas propriedades pesquisadas, as reuniões e discussões ocorrem informalmente e os
registros não parecem ser um procedimento muito adotado; são mais comuns dados
financeiros e alguns operacionais. Quando questionados sobre se mantêm registros das
atividades na propriedade, onze deles disseram fazê-lo sobre a maior parte das atividades
operacionais e quatro, apenas de algumas atividades. Eles afirmam: “Isso tudo é minha
experiência, eu fiz e está armazenado em meus arquivos físicos ou não”.
A verbalização e diagramação dos conhecimentos parecem incipientes. Nonaka e
Takeuchi (1997) assinalam que o formas que auxiliam os indivíduos a internalizarem suas
experiências, além de fornecerem a transferência de conhecimentos explícitos e vivência, de
forma indireta, das experiências dos outros.
Para os onze produtores pesquisados, a atividade que gera melhor mecanismo de
aprendizado é a adoção de inovações e a tentativa de colocá-las em prática; desses, três
incluem também as dificuldades na vida real; para cinco, é o compartilhamento de
informações sobre as práticas e, para outros cinco, é a solução de problemas na propriedade.
Quatro mencionaram como maior aprendizado o compartilhamento de informações sobre as
práticas e um inclui também a solução de problemas na propriedade. Comentários como
“assistindo o vizinho e lendo no jornal ou vendo TV” reforçam algumas formas de
aprendizado. Outro comentário também auxilia nesse entendimento: “Eu estou sempre
procurando uma solução para os meus problemas e que reduza meus custos”.
Os aspectos expostos conduzem a se compreender que a aprendizagem pode ocorrer
num processo no qual as pessoas se comportam de uma maneira específica em razão de uma
aprendizagem ocorrida em alguma fase da sua vida (ROBBINS, 1999). A expansão das
experiências práticas e o aprender fazendo podem auxiliar na internalização (NONAKA e
TAKEUCHI, 1997), o que parece ser uma postura presente no grupo. É possível perceber a
176
atenção constante a tudo o que está acontecendo a sua volta e, sobretudo, ao sucesso e
insucesso daqueles que lidam com mesma atividade ou não. São afirmações como: “Nós
aprendemos com os erros das outras pessoas” ; “não repetir os erros”.
A criação de conhecimento, para os produtores australianos, ocorre em pequenas
atividades desenvolvidas no cotidiano ao objetivarem tornar o trabalho mais fácil, porém criar
algo totalmente inovador e original é mais complexo. Eles se reconhecem como inovativos e
afirmam que é a única forma de sobreviver no longo prazo na agricultura. Afirmam: Eu o
sei se somos inovativos, mas nós sempre estamos preocupados com os negócios”. Buscando
enfatizar a necessidade de buscar melhorias contínuas, declaram: “As coisas estão mudando
muito rápido”.
No que diz respeito ao compartilhamento de informações entre todos através da
internet ou de outra forma de comunicação, para treze pessoas, o conhecimento aumentaria;
dentre essas seis consideram que, além disso, haveria uma melhora nas relações entre
produtores e na comunidade; um acredita que não aconteceria nada, pois as pessoas preferem
manter o conhecimento para si mesmas e, para outro, seria mais prático e melhoraria a
dinâmica dos dias de campo e das práticas na propriedade pela socialização constante.
A idéia de compartilhar informações dessa forma é vista pelos produtores como uma
boa possibilidade, cujos resultados seriam o aumento do conhecimento, a melhora nas
relações entre produtores e na comunidade; para eles, seria mais prático e melhoraria as
práticas na propriedade. Todavia, outro diz acreditar que não aconteceria nada, pois as
pessoas querem manter o conhecimento para si. Para alguns, o parece ser muito útil: “Eu
penso que acabaria tendo uma sobrecarga de informação que não teriam muita
aplicabilidade”. “Nada se compara a ir a um lugar, ver as pessoas e obter a informação”.
Demonstram, assim, a preferência pelo contato pessoal.
Os conselhos dados às pessoas que estão iniciando a atividade, considerando as suas
experiências, são de que o produtor deve consultar diferentes fontes de informação e utilizar a
que lhe inspira maior confiança, perguntar sempre, aprender sobre os princípios de algo novo
e testá-lo. Também enfatizam a importância de não se ter medo de conhecer o que é
desconhecido; de buscar informações em pesquisas, maior produtividade e sustentabilidade;
de conversar com pessoas da mesma área para compartilhar informações; de trabalhar duro e
de forma inteligente; de ter certeza de que oferece um bom produto com espaço no mercado;
de estar preparado para as dificuldades; de evitar manter apenas membros da família
177
envolvidos nos negócios; de manter olhos e ouvidos abertos, pois muitas cabeças pensando
podem trazer contribuições à tomada de decisão.
Com as informações obtidas sobre os modos de conversão do conhecimento na
realidade australiana estudada, elaborou-se um quadro-resumo dos modos de conversão:
Modos de
Conversão
Resultados
Socialização
- Há diferenças nas interações entre agricultores dependendo de seus graus de
profissionalização nas atividades
- As trocas de experiências na família envolvem o aspecto emocional e o profissional –
papéis definidos
- Boas relações com amigos auxiliam no compartilhamento de informações
- A socialização é mais intensa em atividades que não têm grande competitividade no
mercado como exemplo trigo e milho.
- Produtores observam o que os outros estão pensando e fazendo em suas atividades
- Imitação ocorre após profunda análise, experimentação, avaliação e discussão na
propriedade
- Dia de campo é considerado a melhor forma de socializar informação
- Prática ocorre através da experimentação
Externalização
- Estímulo externo de empresas para a externalização não foi identificado
- Compartilhamento de algo novo ocorre primeiro na família
- Busca por mais informação com técnicos somente quando necessária
- Preferem manter segredo de alguns conhecimentos estratégicos para garantir
competitividade
- A novidade é vista com cautela, mas também como nova oportunidade na atividade
- Alguns novos conhecimentos não são compartilhados pelas dificuldades enfrentadas na
descoberta
- Discussão sobre a atividade ocorre com pessoas consideradas inteligentes
- Metáfora não foi identificada
- Analogia é freqüente
- Modelo é experimental e prático cercado de profunda análise
Combinação
- Grupos são boas maneiras de compartilhar informações, mas as dificuldades estão na
condução de reuniões úteis e focadas nos objetivos
- A aprendizagem é decorrente da observação dos sucessos e insucessos dos outros
- Uso do conhecimento é estimulado por eles mesmos buscando aumentar lucros, reduzir
custos e tornar-se mais competitivos no mercado
- Fontes de informação são internet, jornais, TV e outras companhias
- Internet desafia os produtores, porque necessitam aprender como e onde pesquisar as
informações e, requer muito tempo
- Para a tomada de decisão há discussão na família
- Preferem telefone e e-mail para a discussão entre produtores
Internalização
- Registros e documentação são mais freqüentes com informações financeiras
- Experimentação ocorre antes da adoção de algo novo na atividade
- Alguns produtores não se consideram grandes o suficiente para serem inovativos
- Novas práticas se dão no aprender fazendo e com os erros dos outros
- Conhecimento é criado em pequenas coisas que tornam o trabalho mais fácil, mas é difícil
criar algo totalmente original
- Eles reconhecem os que são inovativos e afirmam que é a forma de sobreviver no longo
prazo
- Buscam a certeza da utilidade de algo novo antes de colocá-lo em prática
Quadro 8 Síntese dos modos de conversão do conhecimento na Austrália
Fonte: Elaborado com base nos resultados da pesquisa
Para promover a espiral de criação de conhecimento, é necessário que haja condições
capacitadoras em nível organizacional. O modelo de Nonaka e Takeuchi (1997) apresenta
178
cinco condições capacitadoras, que são: intenção, autonomia, flutuação e caos criativo,
redundância e variedade de requisitos.
5.4 AS CONDIÇÕES CAPACITADORAS DA CRIAÇÃO DE CONHECIMENTO
ORGANIZACIONAL
5.4.1 Brasil
Intenção
A intenção refere-se ao modo como o indivíduo constrói sua visão do mundo e tenta
dar sentido ao seu ambiente (NONAKA, 1994); é o que fornece um critério mais exato para a
veracidade e relevância de um novo conhecimento. Sem a intenção seria impossível avaliar o
valor de uma informação recebida ou de um conhecimento percebido ou criado ( NONAKA E
TAKEUCHI, 1997; NONAKA, UMEMOTO e SENOO, 1996).
Na visão dos produtores pesquisados, a cooperativa oportuniza situações para a
obtenção de informações, como a feira Expodireto, dias de campo, palestras, etc, nas quais as
inovações são apresentadas e as trocas, oportunizadas. Em vista disso, a cooperativa denota
ter clareza de sua aspiração no que se refere à profissionalização dos associados, à adoção de
melhorias contínuas na atividade, além de tecnologias adequadas visando ao aumento da
qualidade dos produtos, ao volume de grãos, bem como da qualidade de vida das pessoas. A
cooperativa quer “que o cara produza um volume de grãos alto, né, e use uma tecnologia boa,
que atenda a todos e à própria cooperativa”; “Ela tem um corpo técnico para prestar serviços
de graça para nós, então através disso, ela pode exigir qualidade”. São essas as declarações
dos pesquisados sobre a postura da cooperativa.
A postura da administração da cooperativa em busca da profissionalização do
associado demonstra que está alinhada às suas estratégias de atuação para atender a mercados
em contextos diferenciados e com exigências crescentes quanto a produtos. O associado,
como fornecedor dos produtos, necessita estar alinhado a todas essas mudanças; assim, a
organização parece adquirir, explorar, acumular e criar conhecimentos no grupo de
associados. Também se observa que parece claro o tipo de conhecimento que a cooperativa
quer que o associado desenvolva.
179
Nonaka e Takeuchi (1997) salientam que o elemento mais crítico da estratégia da
empresa é a definição dos tipos de conhecimentos que devem ser gerados e do modo de
operacionalizá-los no todo organizacional. No grupo pesquisado, esse aspecto pareceu claro.
Os associados pesquisados mostraram-se conscientes de que são um elo da cadeia produtiva e
de que o seu sucesso sustentação, suporte e crescimento à cooperação. Para se sustentar,
segundo eles, a cooperativa adota uma visão empresarial em sua administração, buscando a
fidelidade do associado; ao mesmo tempo, procura informar seus rumos aos seus membros,
apresentando posições claras e justificando o porquê dessas posturas. Confirma-se, assim, a
idéia de Knutson (1966) de que a cooperativa, agindo num mercado competitivo, pode causar
influência sobre os preços, resultados e dimensões de competência comparáveis aos de outras
empresas.
Os entrevistados afirmam: “A cooperativa foi criada para ajudar os produtores e hoje,
se ela pensar assim, ela, como muitas outras, acaba quase fechando, porque ela tem que olhar
o lado empresarial também”. Por isso, embora um pouco resistentes a essa nova filosofia, eles
afirmam que aqueles que compram e entregam grandes volumes de produção com qualidade
devem receber preços diferenciados. Complementam, assim, as idéias de Purper (1980) de
que um grande distanciamento entre o cooperativismo pioneiro e o atual em relação aos
conceitos básicos, aos princípios e à filosofia.
Durante a pesquisa, quando foram entrevistados os gerentes da cooperativa, essa visão
pareceu estar de acordo com a interpretação que os associados fazem. Enfim, transpareceu
que a intenção organizacional foi proposta claramente para a maioria dos associados.
Autonomia
O princípio da autonomia pode ser aplicado aos níveis individual, coletivo e
organizacional, separada ou conjuntamente, porém é conveniente iniciar a análise pelo nível
individual, porque, inserido em uma organização, apresenta sua própria personalidade e
intenções (NONAKA, 1994).
Segundo os pesquisados, o associado tem liberdade para agir de forma autônoma, para
escolher onde prefere comprar insumos e vender sua produção. Contudo, percebe-se que o
aspecto fidelidade implica que a autonomia em suas atitudes esteja ligada ao retorno que
recebem da organização pelas oportunidades de qualificação. Além disso, a fidelidade é
buscada em cursos ligados a aspectos comportamentais, a mudanças de atitudes capazes de
180
melhorar as relações pessoais e profissionais e à qualidade de vida. Para os produtores,
“ninguém obriga a experimentar, tu vê pelo teu interesse, quer produzir mais, ter mais lucro”,
evidenciando as oportunidades e o interesse de cada um em buscar conhecimento e inovar.
Esses aspectos parecem trazer automotivação para os associados na busca por
inovações. Segundo Nonaka, Umemoto e Senoo (1996) e Nonaka (1994), a autonomia
aumenta as chances de se encontrarem informações válidas e de se motivarem os membros da
organização para criar novos conhecimentos. Para os entrevistados, a obtenção de
informações ligadas a tecnologia, organização e gestão das propriedades fornece-lhes mais
ferramentas para a condução dos negócios. Referindo-se à necessidade de profissionalismo na
atividade, eles afirmam: Hoje tem que ter qualidade de grãos, não pode mais só pensar em
simplesmente produzir”.
Os produtores consideram que a fonte de informações mais importante é a cooperativa
e que eles também as obtêm de diferentes meios e formas, tais como no contato com outras
pessoas, pela dia, na concorrência, na comunidade, dentre outras fontes, o que amplia a
base de conhecimento para a tomada de decisão. A cooperativa procura criar ambientes
propícios para o associado obter informações e dá-lhe liberdade para direcionar as suas
atividades na busca de concretização dos objetivos individuais e organizacionais. Segundo os
produtores, a organização traz-lhes segurança e as visitas freqüentes a ela objetivam buscar
algo novo ou socializar conhecimentos com outros.
Pode-se perceber que os associados mais autônomos não teriam dificuldades em atuar
isoladamente de um ambiente cooperativo, ao passo que para os que dependem
completamente da cooperativa seria um grande desafio. Os mais autônomos auto-organizam-
se, buscam oportunidades e, a certo ponto, requerem maior qualidade nos serviços
oferecidos pela cooperativa. Para Nonaka, Umemoto e Senoo (1996), indivíduos autônomos
são parte importante da organização, uma vez que as partes e o todo compartilham as mesmas
informações. A autonomia, enfim, aos indivíduos a liberdade para absorverem
conhecimento (NONAKA, 1994).
Outras formas adotadas pela cooperativa que parecem aumentar a autonomia são a
criação de grupos de qualidade e de gerenciamento das propriedades entre os associados.
181
Flutuação e Caos Criativo
Para os produtores pesquisados, um constante questionamento e reflexão sobre suas
posturas quanto à atividade e ao surgimento de algo novo, pois o que parece ser certo numa
safra pode não sê-lo em outra, evidenciando a sua constante interação com o ambiente
externo. A novidade, para eles, é desafiadora, razão pela qual as discussões com o técnico e
com familiares são freqüentes antes da experimentação. Eles refletem sobre a utilidade do
novo na realidade da sua propriedade e questionam também sobre o porquê de certas
atividades e processos trazem sucesso para uns, mas não para outros. O produtor realiza
ajustes ano após ano considerando o que observa, discute e socializa com os demais.
As posturas dos produtores frente à novidade demonstram que o caos e a
descontinuidade podem gerar novas formas de interação entre os indivíduos e seu ambiente
(NONAKA e TAKEUCHI, 1997; NONAKA, 1994).
Os produtores brasileiros demonstraram estar preocupados e refletir bastante sobre a
sucessão na propriedade, denotando ter clara consciência de que os profissionalizados
serão bem sucedidos. Afirmam: “Nós, adultos, nos sentimos atraídos pela cidade, imagina
eles”, referindo-se à dificuldade de atrair o jovem para que permaneça na propriedade rural ao
invés de ir para a cidade. Por outro lado, têm consciência da importância de os filhos terem a
oportunidade de estudar: “O estudo é muito válido; primeiro, estuda, e, depois fica na terra.
Quem tem interesse depois do estudo volta, porque eles buscam coisas novas e sempre
acontecendo coisas diferentes em tudo. Eu acho o estudo é fundamental esse precisa estar em
primeiro lugar”. Tal preocupação evidencia a importância dada a esse aspecto.
Os associados pesquisados questionam a postura da cooperativa no que se refere ao
tratamento diferenciado dado aos associados de acordo com o volume de produção, fazendo
uma reflexão sobre a filosofia cooperativa que deu origem ao sistema e à postura atual.
Todavia, ao mesmo tempo em que refletem, parecem perceber a necessidade de uma postura
empresarial para dar suporte ao sistema na realidade competitiva atual. Esse comportamento
parece estar inserido na iia de Nonaka (1994) de que o indivíduo recria seu próprio sistema
de conhecimento para perceber as ambigüidades e redundâncias na organização e no
ambiente. O questionamento de premissas e as reconsiderações que cada membro da
organização faz podem estimular a criação de conhecimento (NONAKA E TAKEUCHI,
1997).
182
No que se refere à instituição, os associados temem que possam ocorrer problemas
administrativos e financeiros na organização em razão do seu rápido crescimento.
Preocupados, expressam: “Quando o negócio é grande, escapa um pouco aqui, outro ali, e vai,
do dia pra noite cai”. Essa constante reflexão na ação parece trazer maior autonomia e
fortalecer o compromisso de cada um com as suas atividades e a condução dos seus negócios,
mesmo que sejam assessorados pela cooperativa.
Redundância
Esta condição significa que a organização oferece muito mais do que as informações
necessárias ao desenvolvimento do trabalho, indo além da atividade operacional (NONAKA,
UMEMOTO e SENOO, 1996).
Para os associados pesquisados, o maior fluxo de informações ocorre via jornal,
programa de rádio, dias de campo, Expodireto, promoção de visitas técnicas no Brasil e no
exterior, tendo como objetivo melhorar a gestão da propriedade e ampliar os conhecimentos
gerais dos produtores. A maior disponibilidade de informações visa a trazer maiores
possibilidades de surgimento de grandes idéias. Em vista disso, os produtores parecem
valorizar as discussões sobre suas práticas, o que pode trazer-lhes novas idéias com o
compartilhamento do conhecimento tácito. Para eles, os termos utilizados na comunicação
entre a cooperativa e os seus associados parecem ser inteligíveis, exceto termos técnicos da
área contábil utilizados na assembléia geral, que precisam ser esclarecidos em pequenos
núcleos. Também parecem claros os locais onde os pesquisados podem buscar informações
específicas, tanto fora quanto dentro da cooperativa.
Nonaka, Umemoto e Senoo (1996) salientam que a redundância pode trazer o aumento
da quantidade de informações a serem processadas, o que implica sobrecarga ou excesso;
assim, demonstra-se a necessidade de disponibilizar informações de acordo com o
direcionamento dos negócios, não apenas oferecê-las gratuitamente.
A administração da propriedade, segundo os associados, ocorre de forma mais
participativa, com o compartilhamento de informações entre os membros da família e
também, em alguns casos, com empregados. Eles relatam: “Antigamente era assim: o pai
dizia isso vai ser assim e tu não podia dizer nada (...). Hoje tu discute, o que que tu acha, o
que fazer, hoje tu tá muito mais aberto. Meu pai fazia os negócio e nós ficava sabendo depois
que tava tudo pronto”. Os comentários expostos demonstram a maior abertura na
183
administração dos negócios e a necessidade de profissionalismo, tanto que revelam o cuidado
que se deve ter com o gerenciamento da propriedade: “O agricultor agora é um administrador
rural. Pra colocar fora uma safra é fácil”.
Os associados pesquisados entendem que a cooperativa oferece mais do que palestras
técnicas, pois proporciona-lhes temas como relacionamento interpessoal, que consideram
importante. Segundo eles, as relações de confiança entre técnico e associado se dão com o
primeiro sugerindo e orientando o modo de fazer, trazendo as inovações e ferramentas para
que o segundo tome decisões mais seguras. Esse aspecto demonstra que a cooperativa parece
estar preocupada com informações que transcendem as operações técnicas diárias. A
redundância parece auxiliar os associados a compreenderem as suas posições na organização,
o que se constitui num suporte ao controle na direção dos negócios. Os indivíduos não estão
desconectados, mas associados uns aos outros, assumindo papéis importantes (NONAKA e
TAKEUCHI, 1997).
Variedade de Requisitos
Esta condição permite que a organização seja capaz de lidar com as diferentes
contingências ou minimize as diversidades externas (NONAKA, UMEMOTO e SENOO,
1996). Na visão dos produtores pesquisados, a cooperativa busca ampliar os conhecimentos
dos associados promovendo viagens para visitas a propriedades em diferentes realidades no
Brasil e no exterior. Eles consideram que a experiência de cada um é cumulativa no decorrer
do tempo.
Para os produtores, os programas de qualificação oferecidos pela cooperativa visam a
aumentar a freqüência dos registros nas propriedades e melhorar o gerenciamento; ainda, a
existência de líderes na cooperativa auxilia na disseminação da informação, na medida em
que eles recebem informações mais detalhadas sobre a organização e são responsáveis pela
sua disseminação. Esse aspecto parece facilitar a combinação de informações de forma
diferente, flexível e rápida aos associados.
O fato de alguns associados não possuírem informação sobre a administração da
cooperativa causa certos comportamentos indesejáveis, como expressam: “Quem vem nas
assembléias, aprova, mas o sabe o que está aprovando”. E acrescentam: Vai muito mais
pela confiança na cooperativa”. Os associados consideram que lhes são oferecidas várias
oportunidades para obtenção de informações, mas um fato é evidente entre eles, demonstrado
184
nesta fala: “A confiança na cooperativa é grande, a gente sempre espera que certo”. E
complementam: “A confiança na cooperativa é grande, nas pessoas que administram”.
Portanto, pode-se inferir dessa realidade que a cooperativa oferece uma gama de
informações e que cabe a cada um o interesse de buscá-las e de se preparar para enfrentar o
ambiente complexo, ou seja, fazer frente aos desafios impostos pelo ambiente, conforme
salientado por Nonaka e Takeuchi (1997). Estes autores evidenciam que os diferentes níveis
de informação entre os membros da organização podem gerar dificuldades nas interações,
retardando o estímulo para a busca de novas informações e interpretações. Nesse sentido, foi
possível perceber que, muitas vezes, alguns associados faziam comentários sobre a
cooperativa e suas práticas, mas eram logo contestados por outros, demonstrando a falta de
maiores informações de parte daqueles.
O aspecto confiança pode demonstrar que as informações estão sendo disponibilizadas
de uma forma clara e/ou que a cooperativa está oferecendo o suporte necessário aos
associados, considerando as suas perspectivas. Assim, as cinco condições capacitadoras para a
criação de conhecimento organizacional podem ser assim resumidas:
Condições
Capacitadoras
Resultados
Intenção - A cooperativa oferece oportunidades para obtenção de informação
- A fidelidade é a resposta esperada do associado
- A cooperativa espera a qualificação e profissionalização do associado
- Os associados compreendem a visão empresarial da cooperativa
- Os associados consideram-se como elos da cadeia produtiva
Autonomia - Os associados possuem autonomia para comprar e vender
- A autonomia está ligada à fidelidade que a cooperativa requer deles
- Os associados parecem conscientes da necessidade de profissionalização
- Os associados mais autônomos possuem mais segurança no futuro de suas atividades
Flutuação e
Caos Criativo
- Os associados questionam-se e refletem sobre as suas atividades e as inovações
necessárias
- A inovação provoca discussão com o técnico e com a família
- A sucessão na propriedade parece ser um desafio
- Os associados questionam o tratamento diferenciado por parte da cooperativa
- Há temor de problemas financeiros com a cooperativa no futuro
Redundância - Maior fluxo de informações é via jornal, programa de rádio, dias de campo, Expodireto e
visitas a outras propriedades
- Os termos utilizados na comunicação entre cooperativa e membros e a localização das
fontes de informação parecem claros
- A administração da propriedade é feita de forma participativa e compartilhada
- A cooperativa oferece palestras com ênfase no comportamento humano e o apenas
palestras técnicas
- Há relação de confiança entre técnico e associado
Variedade de
Requisitos
- A cooperativa busca ampliar os conhecimentos dos associados
- A cooperativa oferece programas objetivando aumentar os registros na propriedade
- Os associados participantes são associados informados
- A confiança na cooperativa é com base na informação clara
Quadro 9 Síntese das condições capacitadoras da criação de conhecimento no Brasil
Fonte: Elaborado com base nos resultados da pesquisa
185
5.4.2 Austrália
Intenção
Os produtores australianos pesquisados reconhecem que recebem poucos estímulos
externos no que se refere à adoção de inovações em suas atividades. Em relação a
investimentos em melhorias na atividade, são realizados quando visualizam resultados como
perspectivas de bom preço do produto no mercado, pois, segundo eles, “isso um cheque
por ano”. Assim, constata-se que eles precisam manter atividades sustentáveis, porque
“diferentes atividades distribuem o risco”, mostrando que é importante diversificar. Pode-se,
pois, inferir que o que impulsiona os agricultores australianos a se adequarem às mudanças
ambientais são as oportunidades que visualizam no mercado. Eles mesmos estabelecem suas
metas e buscam atingi-las, as quais estão carregadas de valor e mais voltadas ao futuro do que
ao presente, como salientam Nonaka e Takeuchi (1997) e Nonaka (1994).
A possibilidade de retorno financeira é o que motiva os produtores a realizar algo: “O
que nós vemos no banco no final do ano”, “todos querem ser viáveis”, referindo-se à atividade
em que estão envolvidos. A visualização de novas oportunidades no mercado também pode
ser um fator motivador para inovações. A intenção pode se originar do fato de observarem
outras pessoas “como elas fazem as coisas”, ou “o que estão fazendo e discutindo”, ou de
cursos onde buscam se atualizar e obter mais informações. Para eles, é importante manter-se
financeiramente no mesmo nível que a média dos australianos e para poderem competir no
mercado, o que se constitui na sua grande motivação.
Parece, portanto, clara para eles a necessidade de se modernizarem, de produzirem
com qualidade e baixo custo e de não esperarem que algm faça isso por eles. Em vários
momentos, eles demonstraram sua ligação com outros elos da cadeia produtiva; a
responsabilidade pelos negócios e pela garantia de mercado parece ser toda deles, de modo
que a busca por informação depende da iniciativa de cada um.
Autonomia
Os produtores australianos consideram-se totalmente responsáveis por suas atividades
e avaliam-nas como de alto risco: “O risco está crescendo”. Considerando isso, automotivam-
se na busca de melhorias contínuas e no alcance de novos mercados. Para Nonaka e Takeuchi
186
(1997), a autonomia aumenta a automotivação. No caso, percebe-se que, quanto mais os
produtores rurais são autônomos, maior é sua automotivação e, talvez, sua capacidade de
adequar-se às mudanças.
Os pesquisados têm total autonomia no que se refere à compra de insumos e à venda
dos produtos. Quanto aos processos inovativos, eles partem da observação do que os vizinhos
estão fazendo e tentam realizar algo semelhante. Eles salientam: “Olho o que eles estão
fazendo e digo: Eu tentarei fazer isso”. Os entrevistados relatam que muitas companhias do
ramo agrícola oferecem oportunidades de aperfeiçoamento em dias de campo e algumas delas
disponibilizam técnicos para dar suporte em algumas situações. Contudo, percebem que, o
maior objetivo dessas empresas é a venda dos produtos, não a qualificação dos produtores.
Depreendemos que bastante evidência de que a condução dos negócios seja feita
individualmente: “Nós somos fechados”; “nós somos todos justamente independentes” . Pelo
que foi relatado, os produtores são também competitivos: “Eu nunca digo ao outro a verdade
porque ele pode começar a fazer tão bem quanto eu”. E outros dizem: “Exatamente”; Ele
torna-se uma ameaça”, “É perigoso”, referindo-se aos riscos da socialização, por trazer como
conseqüência a perda de mercado.
Quando questionados sobre se as pessoas compartilham informação ou não, a resposta
foi: Geralmente não”. E complementam: “É vergonhoso que ainda aconteça assim”. Eles se
consideram muito ocupados com as suas tarefas e dizem não terem tempo para participar de
grupos de discussão ou para conversas sem um objetivo definido. Por outro lado, concordam
que grupos ajudam a trazer informações e que neles não é necessário relatar as
particularidades de cada propriedade. A presença de consultores nos grupos é muito positiva
porque estão sempre atualizados e podem divulgar muitas informações. Todavia, tudo isso
parece esbarrar na tendência do negócio individual e da competição, conduzindo os
indivíduos a trabalharem isoladamente.
Esses aspectos mostram como os produtores agem autonomamente. Para Nonaka,
Umemoto e Senoo (1996), todos os indivíduos e grupos devem ser permitidos a agir
autonomamente tanto quanto as circunstâncias o permitam.
As trocas acontecem de maneira muito particular entre pequenos produtores, segundo
os quais, “isso não se aplica a produtores de trigo” ou produtores em grande escala”, aqui se
referindo ao fato de serem mais competitivos com produtos cujos excedentes não possuem
outros mercados ou são exportados. Assim, não compartilham informações mais restritas a
187
determinada atividade ou que estejam sendo muito bem utilizadas por eles, justificando:
“Produtores australianos são basicamente competitivos entre eles”. Outro complementa:
“Absolutamente”.
Os pesquisados citam um exemplo: “Com a grande quantidade de trigo não é relevante
porque para o excedente tem exportação, mas com a menor produção de grãos, você tenta,
você tem que fazer o melhor que qualquer um (...) nós competimos com produtores do mundo
todo, além dos nossos vizinhos com grande produção”.
Essa perspectiva mostra a consciência da competitividade e da diferenciação entre
atividades, além da liberdade que eles têm de não compartilhar aquilo que o desejam.
Todos esses aspectos evidenciam a grande autonomia dos produtores e a sua forte
independência perante os mercados e a condução dos negócios.
Flutuação e Caos Criativo
Segundo os pesquisados, nos últimos anos, o órgão do governo responsável pela
assistência ao produtor tem decaído na qualidade dos serviços prestados ao fornecer menos
atenção individualizada. Eles afirmam: “DPI&F não permite ir muito longe”. Também
informam que o declínio do DPI&F se deve à falta de força para organizar grupos.
Evidenciam, ainda, a falta de representatividade política que real importância à agricultura
na Austrália: “Nós não somos politicamente importantes”, referindo-se à visão que o governo
tem da agricultura. Esses aspectos mostram questionamentos e reconsiderações de premissas
existentes, conforme evidenciado por Nonaka e Takeuchi (1997).
Quanto a novas tecnologias, num dos grupos pesquisados foi bastante discutida a
utilidade do plantio direto, quando os participantes utilizaram a expressão: “Nós somos como
gatos tentando pegar seu rabo”, referindo-se às constantes mudanças e à respectiva
necessidade de adequação. E complementam sobre o desafio das mudanças constantes: “As
mudanças estão acontecendo de maneira muito rápida”. A novidade, para eles, torna-se
importante a partir do momento em que percebem nela alguma utilidade. Para isso, a sua
maior fonte de informação são os jornais, a TV, a internet e dias de campo, as quais se
caracterizam como fontes de aprendizado informal mostradas por Bamberry et al. (1997).
No que se refere à questão da sucessão na propriedade, os entrevistados acreditam que
está havendo uma mudaa cultural: “A cidade oferece boa renda e boas oportunidades de
trabalho do que no meio rural e depende também, mas novamente, como você está
188
administrando os negócios”. A afirmação é complementada por outro: “Nós estamos todos
dando a oportunidade aos filhos de escolher”. Comparando a realidade atual com o passado,
eles dizem que a sucessão, antigamente, era quase que obrigatória ou sem escolhas.
Esses aspectos parecem demonstrar algum tipo de flutuação e provocam reflexões
questionamentos, estimulando a criação de conhecimento. A reflexão na ação parece ser algo
bem presente no grupo pesquisado e, ao mesmo tempo em que flutuação em alguns
aspectos ligados às suas atividades, constitui-se numa oportunidade para os produtores
aumentarem sua autonomia e profissionalização.
Redundância
Os pesquisados evidenciam a importância dos grupos e afirmam que “grupos de
pessoas discutindo juntas podem apoiar-se”. Também admitem que “seria muito importante
não repetir erros onde você perdeu dinheiro (...) seria importante todo mundo falar sobre
coisas que deram errado”. Evidenciam, ainda, que poderia haver maior socialização com o
intuito de haver trocas sobre os procedimentos não adequados na propriedade e evitar que
erros fossem repetidos.
Para os profissionais do DPI&F, o governo australiano fornece muitos recursos para
que os agricultores possam acessar as informações, mas o que falta éprover capacidade para
os produtores rurais decidirem o que fazer com tudo isso”. Entretanto, para o produtor as
informações podem vir de várias fontes. Uma delas é no contato com o grupo social, as quais
vão além das suas meras necessidades rotineiras e técnicas, abrangendo o conhecimento do
que os outros estão fazendo em suas atividades e que resultados obtiveram. O
compartilhamento de informações redundantes ajuda a promover o compartilhamento do
conhecimento tácito (NONAKA e TAKEUCHI, 1997).
Os pesquisados salientam a visão positiva ou simplista que as instituições de ensino
têm do gerenciamento na agricultura, pois, para alguns deles, na vida práticas “muitas coisas
deram errado”. Para eles, mesmo que essas instituições tentem passar uma idéia muito
otimista, é necessário também “ensinar como lidar com o negativo”. Um deles cita a
expressão que o pai usava referindo-se à escola: “Muitíssimo colégio e conhecimento não
suficiente”, significando que na escola pouco se aprende da prática, muito valorizada por eles,
bem como que deve haver busca de informações adicionais para a gestão dos negócios.
Confirma-se, assim, a afirmação de Bamberry et al. (1997) de que as qualificações adquiridas
189
pela educação formal distanciadas da prática são medidas inadequadas para a qualificação dos
produtores, obrigando um grande número deles a utilizar uma variedade de fontes de
aprendizado informal para sua própria educação.
Os registros não são freqüentes para alguns produtores, os quais afirmam: “Nós não
podemos gastar duas horas por dia tentando, sabe, gravar tudo o que aconteceu”. Já, para
outros, são parte da atividade, pois, “em termos de tomada de decisão, elas o sempre
tomadas à luz do conhecimento presente, que você tem agora, (...) decisão tomada 12
meses atrás não tem muita relevância na decisão de hoje”. Alguns se referem à pouca
utilidade dos registros: “Os registros não influenciam muito no que eu estou fazendo, mas eles
estão lá, se eu precisar”; “Atualmente eu não pego os registros passados para olhar, eles
apenas estão lá”. São, pois, arquivos para qualquer eventualidade.
evidências de um aspecto importante no registro: “Se você teve uma
experiência com uma particular variedade, eu penso que você fez e que sempre estará para
lembrar”. Outro complementa: “Você não fará isso novamente”. Um dos entrevistados relata
que se utilizou de alguns registros passados e ficou surpreso ao verificar que atividades e
procedimentos desenvolvidos no passado ajudaram-no em atividades atuais. Segundo eles, os
registros podem servir também para clarear determinadas situações na propriedade no que se
refere a impostos e a outros procedimentos burocráticos, porém o pouco utilizados ainda.
Infere-se, portanto, que eles percebem o registro o somente como uma mera rotina de
armazenamento de informação, mas como algo que possuía significado e utilidade. Nonaka e
Takeuchi (1997) reafirmam a importância de se adotar um processo que permita identificar
facilmente onde as informações podem ser localizadas e onde estão armazenados os
conhecimentos.
No que se refere aos contatos com produtores, os assuntos a serem discutidos são, em
primeiro lugar, os ligados às propriedades rurais. Eles também dizem gostar de receber o que
chamam de “estimulação intelectual” de outras pessoas que exercem atividades diferentes das
suas para que haja a motivação pela busca por novos conhecimentos. Contudo, o requisito,
para eles, é que sejam pessoas suficientemente inteligentes para que o contato seja produtivo,
confirmando o estudo desenvolvido por Kilpatrick e Rosenblatt (1998) quando se refere à
busca dos produtores por pessoas que os instiguem a buscar e questionar.
Assim, a redundância nas informações pode trazer vantagens na administração da
propriedade ao dar oportunidade a outras pessoas de conhecerem o que está acontecendo e ao
que já aconteceu. Ao mesmo tempo, pode facilitar a localização da informação.
190
Variedade de Requisitos
Para os produtores australianos, em todos os locais que freqüentam é possível ampliar
os conhecimentos e aprender algo. Interessa, de fato, não a atividade de cada um, mas o que
está sendo discutido e evidenciado em cada momento, pois, para eles, mesmo sendo
produtores de atividades diferentes, muito em comum nelas, o que parece possibilitar a
combinação das informações.
Das várias informações que os produtores rurais se utilizam, eles deduzem pequenas
inovações para tornar o seu trabalho e/ou a vida mais fácil, como salientam: Fazer alguma
coisa que continue a criar utilidade e tornar o trabalho mais fácil, muitos dos produtores em
nossa área são pessoas muito inovativas”. Ainda: Eles estão continuamente tendo novas e
brilhantes idéias”. Evidencia-se, assim, como se utilizam das informações que possuem e
como se preparam para atuar num ambiente mutável.
Por outro lado, em entrevista com profissionais do DPI&F, foi afirmado que as
informações recebidas pelos produtores são muito desconectadas da prática e que, primeiro,
a necessidade da clareza do que se quer para, depois, ir em busca na fonte mais adequada.
É perceptível no grupo pesquisado que procuram se munir com uma variedade de requisitos
que consistem em informações rápidas, flexíveis e de fácil acesso, o que pode auxiliar na
adaptação aos processos de mudança, conforme evidenciado por Nonaka e Takeuchi (1997).
Os produtores pesquisados julgam ser uma atitude positiva a realização de inovações,
pois é a forma de se manterem ativos na propriedade. Alguns, apesar de se considerarem com
uma idade avançada, acreditam que isso mantém vivo o seu interesse em realizar a atividade e
comentam: Às vezes, as idéias funcionam; outras, não”, o que parece ser importante para
eles. Também salientam que as mudanças constantes dão razão às atividades no dia-a-dia e as
tornam menos rotineiras.
Analisadas as cinco condições capacitadoras evidenciadas na realidade australiana
pesquisada, segue um quadro-resumo para auxiliar no seu entendimento.
191
Condições
Capacitadoras
Resultados
Intenção Produtores rurais recebem poucos estímulos externos para inovar
Estímulo é resultado das perspectivas de retorno financeiro
Qualificação e profissionalização são iniciativas individuais
Autonomia Produtores consideram-se responsáveis por inovações
Os negócios são individuais
Trocas entre produtores são pouco freqüentes
Competitividade entre produtores
Flutuação e Caos
Criativo
Pouca assistência recebida pelo DPI&F
O novo necessita ter utilidade para ser adotado
Sucessão na propriedade é uma questão preocupante
Redundância Registros são ferramentas úteis em determinadas situações
Contatos com produtores objetivam discussões específicas da atividade
Contato com outras pessoas objetiva estimulação intelectual
Variedade de
Requisitos
Em todos os lugares é possível ampliar os conhecimentos
As inovações visam tornar o trabalho mais fácil e as pessoas ativas em suas atividades
As mudanças e inovações tornam o trabalho desafiador e estimulante
Quadro 10 Síntese das condições capacitadoras da criação de conhecimento na Austrália
Fonte: Elaborado com base nos resultados da pesquisa
As cinco condições capacitadoras que promovem a criação de conhecimento
organizacional foram apresentadas. Assim, o passo seguinte do modelo de Nonaka e Takeuchi
(1997) são as cinco fases do processo de criação de conhecimento organizacional,
demonstrando o intercâmbio de conhecimentos com o ambiente externo, que compreende
compartilhamento do conhecimento tácito, criação de conceitos, justificação de conceitos,
construção de um arquétipo e difusão interativa do conhecimento.
5.5 O MODELO DE CINCO FASES DO PROCESSO DE CRIAÇÃO DE
CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL
5.5.1 Brasil
Compartilhamento do Conhecimento Tácito
O compartilhamento do conhecimento tácito é semelhante à socialização, pois o
conhecimento rico e inexplorado precisa ser ampliado na organização (NONAKA e
TAKEUCHI, 1997). Para os associados pesquisados, as trocas de informações ocorrem no
dia-a-dia na relação com técnicos, familiares, funcionários, vizinhos, nos bares, na
concorrência, nas comunidades, bem como nos corredores e nas filas para carregamento e
descarregamento de produtos na cooperativa.
192
A freqüência das trocas depende da maior afinidade dos grupos ou em grupos de
gerenciamento, nos quais as equipes se autogerenciam e trocam experiências entre si.
Segundo as afirmações dos produtores, acontece na hora de descarregar o produto, ou na
balança, na hora da colheita, nesses lugares é onde se troca bastante”. O exposto é
complementado por outro: “Também nas comunidades do interior, na missa, no culto”,
ajudando a entender os espaços de interação onde as pessoas interagem através de suas
variedades de requisitos. Nessas trocas parecem estar envolvidos modelos mentais,
sentimentos e emoções.
Para Nonaka e Takeuchi (1997), o conhecimento tácito é algo complexo, não
facilmente transmissível através de palavras e adquirido através da experiência. Assim,
demonstra que as várias oportunidades de realização de trocas nesse grupo de associados
podem possibilitar o compartilhamento de modelos mentais, de emoções e sentimentos,
desenvolvendo relações de confiança. Todavia, segundo os entrevistados, nos grupos em que
não afinidade, as trocas o um pouco mais restritas ou limitadas. Antes de socializar algo,
as pessoas costumam, primeiro, observar o tipo de comportamento que os outros adotam;
ainda, antes de socializar, os produtores preferem fazer a experimentação para obter maior
compreensão da prática e da viabilidade de algo novo.
Os espaços na cooperativa, como os corredores, são também utilizados para realizar
trocas, sobre o que afirmam: “Seguido a gente vem na cooperativa e então perde um tempinho
aqui, um tempinho ali com o pessoal e conversa”; ou “por bito, às vezes não se tem nada
para fazer aqui, mas a gente uma chegadinha para ver se tem alguma coisa nova”. Tais
declarações contribuem para o entendimento da importância das trocas no espaço da
cooperativa.
Demonstrando a busca de trocas na cooperativa, os associados assinalam: “se espera
que a gente vai encontrar alguém que tenha o mesmo problema que a gente tem, um problema
parecido, às vezes tu consegue ter firmeza, consegue descobrir se os outros têm o mesmo
problema que a gente tem”. Esse aspecto demonstra que, na perspectiva dos pesquisados,
um “campo” onde os indivíduos podem interagir, conforme apresentado por Nonaka e
Takeuchi (1997).
Um exemplo de grupos com maior afinidade é apresentado por um dos pesquisados:
“Qualquer notícia boa que a gente lê, nós temos um grupo , na verdade é um grupo de
conhecimento, de fundamento, de valor, ele não é fechado. Quando um uma coisa
interessante, todos sabem, tanto revista, livro, notícia, palestra. Então a agente ainda discute,
193
um defende a opinião e isso é muito bom”. Portanto, o compartilhamento parece ocorrer em
diferentes situações e com base na intenção organizacional. Os associados direcionam as suas
discussões e trocas. Com essa diversidade de espaços de interação para a realização das
trocas, parece haver um ambiente propício para o compartilhamento do conhecimento tácito e
a redundância.
Criação de Conceitos
O conhecimento tácito compartilhado entre os membros cristaliza-se com a criação de
conceitos (NONAKA, UMEMOTO e SENOO, 1996) e com a interação mais intensiva entre
conhecimento tácito e explícito ( NONAKA e TAKEUCHI, 1997). Segundo os associados,
eles percebem seu importante papel no crescimento e na sustentação da cooperativa e, ao
mesmo tempo, dos seus negócios. As mudanças e a necessidade de adoção de processos
inovativos são constantes com o fim de se adequarem aos processos produtivos. Assim,
objetiva-se agregar valor aos produtos uma vez que permanecerá na atividade quem for
profissional.
Quanto à necessidade de buscar conhecimento e de realizar trocas, os entrevistados
relatam: “Ter acesso a jornal, revista, televisão, mas não pode fica em casa embaixo das vaca,
na enxada, sem busca conhecimento”. E continuam: Tem que busca conhecimento, é um
crescimento bastante grande, pode ver as pessoas que vão atrás dos conhecimentos eles
crescem juntos”. Mostra-se, pois, o desafio e a necessidade diante do novo.
Para Nonaka e Takeuchi (1997), os conceitos são criados cooperativamente com base
no diálogo. O fato de as pessoas terem autonomia permite que o pensamento flua livremente e
tome uma direção, postura que auxilia a reavaliar premissas e a formar conceitos.
Os pesquisados declaram também que a cooperativa cresceu rapidamente no mercado
em que atua e está ditando os preços dos produtos agrícolas; que busca constantemente
atividades alternativas, principalmente para os pequenos produtores, embora isso seja um
pouco difícil. Em vista disso, dizem que a cooperativa possui a clara consciência de que
algumas atividades são consideradas inviáveis para a região, às quais não é dado nenhum
incentivo.
Os produtores têm consciência de que a cooperativa costuma convidar para que
participem dos programas de gerenciamento as pessoas que conhecem melhor a atividade, o
sistema cooperativo, bem como seus objetivos. Também oferece oportunidade para as
194
mulheres, incentivando-as a ocuparem maiores espaços na cooperativa, como líderes, e na
administração da propriedade, buscando melhorar a qualidade de vida na família. As
mulheres, de maneira geral, pareceram mais atuantes no gerenciamento da propriedade e se
fizeram presentes na pesquisa em diferentes momentos, como na elaboração de respostas aos
questionamentos. Nas visitas às propriedades, elas preparavam o chimarrão e se colocavam ao
lado dos maridos, dando suas opiniões.
Ao se referirem aos programas de gerenciamento, os pesquisados declararam que são
adequados às necessidades da propriedade, porém se faz necessário um maior preparo do
técnico para dar respostas às questões e melhor direcionar as atividades.
Por sua vez, os dirigentes da cooperativa consideram ter clara consciência de seu papel
enquanto organização por buscarem encontrar um ponto de equilíbrio entre a filosofia
cooperativista e a adoção de posturas que garantam a sobrevivência num mercado
caracterizado pela competitividade crescente. Julgam que a cooperativa cumpre o papel de
oferecer infra-estrutura e sistemas de suporte aos serviços, além de novas tecnologias; de
gerar inovações institucionais que permitam aos associados e, conseqüentemente, à
organização responder aos desafios das mudanças, conforme salientado por King (1995).
O conceito é criado através de um processo social pelo qual as pessoas realizam trocas
(NONAKA, 1994), que parecem sempre ter como espaço a cooperativa e as oportunidades
criadas por ela.
No que se refere à complexidade do trabalho operacional no campo, para os
pesquisados, atualmente se apresenta com muito mais facilidades do que no passado, porém o
maior desafio está no processo de gestão. E complementam: “O principal do teu trabalho é tu
fazer o que gosta. Nós que tamo na agricultura temos que gostar, se não, por mais que você
trabalhe, o rendimento teu não é o esperado se você faz o que não gosta”. Nessas declarações
se evidencia, portanto, vocação para o trabalho agrícola.
Com a redundância provocada pela variedade de espaços para trocas, parece haver
maior externalização de pensamentos, crenças e modelos mentais. Assim, os conceitos são
criados cooperativamente por meio do diálogo, o que ocorre tanto na organização cooperativa
como na gestão da propriedade.
195
Justificação de Conceitos
Como a criação de conhecimento é um processo contínuo, após criado o conceito, é
necessário torná-lo verdadeiro ou justificá-lo (NONAKA, 1994). Para os produtores
pesquisados, a cooperativa procura preparar os técnicos de acordo com os seus objetivos e os
conhecimentos desenvolvidos junto aos associados visam ao crescimento equilibrado e
sustentável de ambos com atividades rentáveis, além de trazer maior qualidade de vida à
propriedade. A experimentação faz parte do processo de mudança.
Os critérios que determinam a justificação dos conceitos parecem estar ligados aos
custos, à margem de lucro e à contribuição que cada produto ou processo terá para a
propriedade. Os registros não são freqüentes, revelando uma tendência de informalidade, o
que os produtores justificam: “O agricultor não gosta de fazer serviço de escritório”.
Os associados pesquisados concordam com a distribuição dos resultados financeiros
da cooperativa de acordo com a participação de cada um na movimentação financeira em
compras e entrega de produtos. Tudo isso também está ligado à busca da fidelidade do
associado, privilegiando-o em alguns aspectos, como nos preços. Eles argumentam: “Cada
vez mais fidelidade na entrega da produção e é claro que, quanto mais associado e
colaborador, aumenta a produtividade, melhor pra si e pra cooperativa também. Isso é uma
troca que acredito que ela até tem política pra privilegia o fiel e eu não critico”. Demonstra-se,
aqui, a visão que os entrevistados têm da cooperativa.
Nos conselhos Administrativo e Fiscal atuam quase sempre as mesmas pessoas por
estarem preparadas, segundo eles, porém mudanças ocorrem com maior freqüência no
Conselho Fiscal por exigência do estatuto. O depoimento: “A questão dos conselhos é bem
planejada, porque são feitas as reuniões e são escolhidas pessoas que conhecem um pouco de
administração de empresas e de cooperativa” evidencia a forma como as pessoas são
escolhidas para exercer tais funções.
A justificação dos conceitos parece ocorrer de uma forma progressiva, decorrente das
várias situações em que a cooperativa interage com o associado, oferecendo-lhes subsídios
para que sejam conscientes dos tipos de conhecimento que necessitam desenvolver.
Os associados pesquisados demonstram preocupação com a sustentabilidade e o
crescimento da cooperativa e, para isso, torna-se necessário uma visão mais empresarial, de
modo que nem sempre a organização pode oferecer os melhores preços nos insumos e
196
produtos; por outro lado, oferece aos associados segurança, solidez do sistema, seriedade na
entrega de seus produtos.
O envolvimento dos associados na administração da cooperativa parece favorecer a
redundância de informações, pois eles auxiliam a disseminá-las e, ao mesmo tempo, reforçam
a intenção organizacional, bem como auxiliam na justificação de conceitos na criação de
conhecimento.
Construção de Arquétipos
Nesta fase, um mecanismo operacional modelo pode representar a construção de
arquétipos, havendo a combinação do conhecimento explícito recém-criado com o explícito já
existente (NONAKA e TAKEUCHI, 1997).
Na concepção dos entrevistados, a relação de confiança entre técnicos e associados é
de suma importância visto que eles não querem somente tecnologia, mas também
esclarecimentos, amparo e monitoramento do trabalho. Esse parece ser um valor criado na
cooperativa e que já está incorporado no modelo de gerenciamento.
Para os associados pesquisados, os produtores com pequenas áreas de terra parecem
não buscar tão avidamente o novo, por se considerarem de pequeno porte e com poucas
condições financeiras de realizar grandes investimentos; assim, necessitariam de maior apoio
da cooperativa e teriam dificuldades de trabalhar sem ela. Demonstra-se, então, a necessidade
de as comunidades se organizarem para fazer compras conjuntas de insumos e barganhar
preço junto aos fornecedores. Os pesquisados vêem a cooperativa como um amparo em
situações difíceis e por ficar ao lado do associado durante o ano todo, por prestar-lhe
assistência e preocupar-se com o sucesso de seu empreendimento. Argumentam: “A
cooperativa te o caminho, e o caminho tu escolhe o certo ou errado e ela te mostra o que
geralmente é a tendência, isso eu sei mais ou menos por nós”. Percebe-se, portanto, a
necessidade de amparo que os associados revelam.
Portanto, a cooperação dinâmica entre os associados, a variedade de requisitos e a
redundância auxiliam na construção de arquétipos, segundo Nonaka e Takeuchi (1997).
Os produtores pesquisados vêem a internet como algo distante por causa das
dificuldades de acesso e operacionalização, porém apresentam o tema como uma sugestão
para a cooperativa: “Tem muita gente com computador e precisa de internet. O grande
problema é a linha telefônica, a qualidade do acesso e em lugares não consegue conecta”.
197
Mostra-se, aqui, a preocupação existente sobre esse assunto e o desejo de que seja encontrada
uma solução. Na visão dos associados pesquisados, a cooperativa utiliza vários mecanismos
para fazer frente aos processos concorrenciais, os quais muitas vezes podem se confrontar
com algumas filosofias e crenças, evidenciando a necessidade de construção de um novo
arquétipo.
Difusão Interativa do Conhecimento
O processo de difusão interativa do conhecimento ocorre tanto dentro da organização
como entre organizações (NONAKA e TAKEUCHI, 1997). Os associados pesquisados
percebem que suas práticas são discutidas por técnicos, diretores e gerentes, os quais
valorizam as inovações realizadas; eles também as socializam com outras pessoas na
comunidade. Algumas práticas dos associados são mostradas em jornais e revistas e os grupos
as discutem. Assim, constata-se que o conhecimento expande-se do nível individual para o
coletivo, para o organizacional e entre organizações.
Para os pesquisados, a forma como mais aprendem é através das suas experiências
práticas e das dos outros, fortalecendo o aprendizado pelo seu acúmulo. O aprendizado
decorrente de situações negativas é reforçado por eles: “O lado positivo da coisa ruim foi a
seca de 91, daí clareou. Todo mundo vinha na cooperativa e queria fazer outra coisa, e daí deu
aquela mudança”. O entrevistado refere-se à acomodação que caracterizava algumas pessoas
antes daquela seca, as quais, então, perceberam a importância de diversificar, de preparar-se
para as contingências ambientais. Considerando a experiência relatada, mostra-se o caos
criado, que produziu conhecimento e trouxe aprendizado, conforme Nonaka (1991).
Os produtores referem que aproveitam as oportunidades em todos os locais para
questionar, para socializar, e que fazem o possível para descobrir com aqueles que atuam em
atividades similares como alguém fez para obter sucesso. Expressam: “O agricultor não perde
oportunidade de trocar. Se encontra ali na frente e começa a fala. É um ponto, se encontrou
troca”. Portanto, alguns produtores adaptam aquilo que observam às suas necessidades e
utilidade, ao passo que outros simplesmente copiam e adotam as inovações que interessam.
Outro aspecto está ligado à mudança de mentalidade em comparação com tempos
passados. Hoje eles não se consideram competitivos e preferem ver os outros crescerem e
obter sucesso na atividade, como foi salientado: “Na época do meu avô, era cada um pra si,
então houve crescimento. Pra que querer que o outro mal? Se eu vou bem quero que o
198
outro também vá. Todo mundo tem esse pensamento”. Essa idéia é reforçada pelo seguinte
comentário: “Tomara que todo mundo vá melhor que eu, que eu posso aprendê mais ainda”.
Percebe-se que difusão interativa do conhecimento tanto dentro das organizações
como entre elas. As organizações com autonomia podem desenvolver seus conhecimentos e
difundi-los para outras.
Cinco fases Resultados
Compartilhamento do
Conhecimento Tácito
- As trocas de informações ocorrem no dia-a-dia
- A freqüência e intensidade das trocas dependem da afinidade do grupo
- Associados utilizam espaço disponível na cooperativa para realizar trocas
- Associados freqüentam a cooperativa na busca por informação
Criação de Conceitos - Associados sentem-se responsáveis pelo crescimento e sustentação de seus
negócios e da cooperativa
- A busca por informação deve estar junto à realização de trocas
- Cooperativa incentiva negócios viáveis economicamente
- Trabalho operacional no campo foi facilitado se comparado ao passado e o
desafio está na gestão da propriedade
Justificação de
Conceitos
- Cooperativa prepara os técnicos de acordo com os seus objetivos
- Associados concordam com a distribuição de resultados de acordo com a
participação de cada um
- A escolha dos conselhos segue uma lógica de qualificação
- Cooperativa possui visão empresarial objetivando sua sustentabilidade
Construção de
Arquétipos
- É importante a relação de confiança entre associado e técnico
- Pequenos produtores parecem menos ávidos por conhecimento
- Internet é desafiadora e pouco acessível
Difusão Interativa do
Conhecimento
- Práticas inovativas de associados são valorizadas
- Maior aprendizado é através de experiências práticas
- Associados consideram que eles aproveitam todas as oportunidades para
socializar o que fazem
- Associados consideram-se menos competitivos entre si que no passado
Quadro 11 Síntese das cinco fases da criação de conhecimento no Brasil
Fonte: Elaborado com base nos resultados da pesquisa
5.5.2 Austrália
Compartilhamento do Conhecimento Tácito
Os pesquisados acreditam que realizam trocas com pouca freqüência; por outro lado,
têm o bito de ler jornais com freqüência, por trazerem a “informação imediata”, e assistem
a alguns programas de TV, bem como costumam buscar outros jornais especificamente
ligados à agricultura. Parece, portanto, haver o intercâmbio dos conhecimentos com o
ambiente externo de uma forma mais individualizada. De acordo com Kilpatrick e Rosenblatt
(1998), os produtores preferem aprender com suas próprias situações e restringem-se a
compartilhar com experts e pessoas da mesma atividade que sabem entender suas situações e
cujo conhecimento ou habilidade podem ser aplicados às suas situações.
199
As decisões são tomadas na família ou, como eles denominam, “na nossa base
individual”, ou “na família primeiro”. A base familiar parece, pois, constituir-se numa relação
afetiva e, ao mesmo tempo, com forte relação profissional. Algumas trocas ocorrem com
outras pessoas e, segundo eles, quando informações específicas são buscadas, procuram os
profissionais que podem oferecê-las. Em alguns casos, buscam estabelecer uma discussão
mais ampla. Referindo-se à importância que dão ao contato pessoal, afirmam: Não nada
como ir até alguém e buscar a informação”.
Os pesquisados procuram observar o que acontece em dias de campo, como salientam:
“Então as pessoas como nós que o que acontece, vai para casa e diz –‘sim, isto funcionará
para nós’ e nós eventualmente adotamos”. Declarações desse tipo mostram como eles
procedem diante do novo.
No grupo pesquisado é possível constatar que as oportunidades de compartilhamento
de conhecimento cito são restritas e envolvem o compartilhamento de suas histórias,
perspectivas e motivações (NONAKA e TAKEUCHI, 1997).
Se o compartilhamento ocorresse entre todos, os produtores acreditam que haveria
mudanças nos produtos agrícolas: “Os preços provavelmente poderiam cair”. Eles se mostram
satisfeitos em compartilhar, mas algumas idéias guardam para si: “Algumas coisas eu não
desejaria falar”; “Eu tenho compartilhado livremente apenas sobre algumas coisas”.
Justificam sua atitude dizendo que trabalharam duro para obter os conhecimentos que outras
pessoas o têm, evidenciando o individualismo e a postura competitiva. Assim, os
produtores acreditam que a discussão também serve para estabelecer massa crítica, reflexão e
questionamento, possibilitando criar redundância do conhecimento.
Criação de Conceitos
Alguns pequenos produtores que fizeram parte do grupo pesquisado não se
consideram grandes o suficiente para serem inovativos. Segundo eles, nós lemos, vemos e
tentamos seguir”, demonstrando que o que fazem não se deve a suas iniciativas, mas é
imitação de outros produtores. Isso também é justificado por eles pela falta de recursos
financeiros para comprar equipamentos e tentar realizar algo novo. Assim, comentam:
algo novo e tenta você mesmo”. Tudo isso ocorre a partir de um experimento feito por outro
produtor, pois, parece ser mais fácil seguir um processo que tenha se iniciado em outra
propriedade do que implementar um novo, ainda desconhecido.
200
As pessoas são sedentas por conhecimento: “Eles o como esponjas, eles são, eles
querem conhecer, eles querem adotar mudanças, eles querem dizer, bom isso o funcionou”.
E continuam: sedentos por conhecimento, aqueles produtores progressivos”; “Aquele
curioso, o curioso sabe, pergunta por quê”.
Embora os produtores considerem a internet uma ótima fonte de informação, preferem
ler jornal, revistas ou telefonar para um amigo; guardam as cópias impressas dos assuntos que
lhes interessaram como material de referência para socializar na família ou para futuras
consultas. A internet não toma muito do seu tempo e é útil quando “a informação é realmente
relevante para mim, eu não me importo em usar muito tempo lendo isso”. A preferência pelo
contato pessoal é evidente: “Se eu tenho que viajar para qualquer lugar para encontrar com
alguém, eu prefiro do que sentar em meu computador olhando para alguma coisa na internet”.
Fica mais evidente, portanto, a importância que é dada ao contato pessoal para a realização
das trocas.
Nonaka, Umemoto e Senoo (1996) salientam que algumas ferramentas eletrônicas
podem auxiliar na construção de idéias cooperativamente.
Os conceitos elaborados pelos pesquisados parecem mostrar que, individualmente,
eles tomam a iniciativa em busca da qualificação e da profissionalização, sempre objetivando
obter vantagem no mercado em que atuam através de produtos e processos diferenciados.
Justificação de Conceitos
Os pesquisados são enfáticos na menção à necessidade de experimentação de algo
novo quando afirmam: “Você não sabe o que acontece em sua área até você mesmo tentar”.
Para eles, é necessário de dois a cinco anos para verificar se algo é bom ou o para uma
atividade, demonstrando a consciência das diferenças de cada realidade e de que o novo
precisa mostrar a sua utilidade para ser adotado. Resume-se esse aspecto trazendo esta fala:
“Crescimento em tecnologia, como você disse, grandes máquinas, melhor maquinário para
crescer a produtividade com baixo custo de mão-de-obra”. Os altos custos e a carência de
mão-de-obra requerem deles maior inovatividade e aquisição de maquinário para capacitá-los
a realizar atividades por si só, mas não somente isso, também a falta de mão-de-obra
qualificada.
Os conceitos são justificados considerando a visão que possuem da realidade atual e
de futuro para suas atividades, conforme salientam Nonaka, Umemoto e Senoo (1996). Por
201
isso, os produtores afirmam: “Nós todos confiamos em nossa família para ajudar-nos, mais do
que qualquer outro”; “Somos sozinhos, negócios individuais”. Pelo que se observou, eles se
tornam independentes também no que se refere à mão-de-obra na condução dos negócios.
Quando os produtores tiveram a oportunidade de conhecer o modelo cooperativo
agrícola existente na realidade brasileira, questionaram sobre as razões de não ser viável em
sua realidade. Nesse aspecto, o individualismo presente na realidade australiana pode ser
mencionado como uma das razões, o que pode estar fortemente ligado a fatores culturais
próprios do país, conforme afirmado por O’Connor e Thompson (2001).
Para os profissionais do DPI&F, o produtor australiano procura realizar suas
experiências individualmente, o que se justifica pelos aspectos culturais que caracterizam a
sociedade em que vivem, refletindo outros problemas e dificuldades presentes nessa realidade.
Os pesquisados confirmam essa informação ao afirmarem que a visão do produtor australiano
não é de cooperação e, sim, individualista. Eles declaram:“Se nós podemos ganhar um
centavo a mais lá, Ah!!! Vamos pegá-lo”. Revelam, pois, que a realidade no país é permeada
por negócios individuais, restando pouco espaço e condições para a existência de cooperativas
nos moldes existentes no Brasil.
A discussão antes da tomada de decisão é feita com a família, “a esposa ou alguém
que você considera ser inteligente, que poderá ser capaz de adicionar algo para a decisão”.
Comentam que “o problema é o calibre do empregado”, referindo-se à falta de qualificação, e
complementam: “Nós não temos empregado de qualidade”. Portanto, há necessidade de
contarem com pessoas qualificadas na propriedade para auxiliar nas atividades. Esses
aspectos demonstram a visão que os pesquisados possuem dos negócios, o tipo de
conhecimento que querem buscar e desenvolver, conforme salientado por Nonaka, Umemoto
e Senoo (1996).
Alguns mostram maior objetividade nas decisões a serem tomadas: “Nós sentamos e
basicamente temos um plano de que, sabe, realizar mais melhoramentos ou manter, (...) isso é
o que nós queremos, nós estamos planejando fazer para os próximos 12 meses”. Nesse caso,
parece haver uma maior formalidade no que se refere ao planejamento.
O tempo para o gerenciamento também é considerado pelos produtores como curto,
conduzindo a que o acesso à informação seja breve: “Se eu quero informação, eu quero ela
agora, eu quero ontem”; “eu quero agir agora”. Eles enfatizam que a internet, às vezes, pode
202
não trazer a informação que desejam, razão pela qual novamente dão preferência a um contato
por telefone com produtor rural.
Construção de Arquétipos
Os desafios da sucessão estão presentes também para os produtores australianos
pesquisados, os quais percebem uma grande mudaa nos últimos vinte anos, pois eles foram
preparados para dar continuidade aos negócios de seus pais, porém, agora, “está se tornando
mais e mais difícil em alguns casos e muitos dos jovens não retornam porque eles não
conseguem encontrar uma garota que virá ter uma vida isolada como uma esposa de um
produtor rural”. Nessa queixa transparece a preocupação dos agricultores com o futuro dos
negócios na propriedade, confirmando o que Alston (2004) refere quando diz que os jovens
relutam em ingressar na atividade do campo, preferindo buscar alternativas de qualificação
em outras áreas.
Assim, de acordo com a visão de negócios que os agricultores possuem, procuram
construir seus arquétipos, adotar posturas profissionais, constituindo grupos com habilidades
diferentes (NONAKA e TAKEUCHI, 1997), ou buscando ferramentas gerenciais em outras
fontes. Para os pesquisados, os agrônomos de outras companhias tentam vender os produtos
de suas empresas, sendo muitas vezes desnecessários; por isso, ainda preferem o DPI&F, que,
mesmo sendo um sistema que apresenta alguns problemas, é um órgão independente.
Declaram: Eu não penso que você necessita fazer isso”, referindo-se ao tipo de assistência
sem o objetivo da venda de algum produto. O objetivo de qualquer inovação na atividade é
ampliar os espaços no mercado, como salientam: “Cada um está objetivando, sabe, a
indústria”, referindo-se à importância de considerar os resultados visualizados para o futuro.
Entretanto, as idéias advindas de outras propriedades, de dias de campo, de jornais,
TV ou outras fontes são cuidadosamente analisadas por eles, que enfatizam: “Nossa
propriedade é diferente e elas não funcionam da mesma forma aqui”. E complementam: “As
idéias são boas, mas nós temos que adaptá-las às nossas idéias”. Ainda usam a expressão:
“Um sapato não serve em todos os pés”. Essas afirmações mostram claramente o cuidado
tomado ao adotar inovações que tragam resultados efetivos na propriedade. Para os
pesquisados, o objetivo maior é assimilar aquilo que realmente resolva os problemas na
propriedade e reduza custos. As novas tecnologias, na sua visão, são de fácil acesso, pois
basta comprá-las e trazê-las para casa, porém “nós somos velhos o suficiente para saber que
203
você não pode somente ir , comprar e trazer para casa, porque ela pode não funcionar”.
Revelam, assim, a experiência e o cuidado com investimentos em inovações.
A busca por novos conhecimentos é focada na atividade de cada um; por isso, os
entrevistados são enfáticos em afirmar que, para realizar uma discussão, buscam pessoas
consideradas inteligentes, que possam lhes dar algo em troca ou alguma resposta aos seus
questionamentos. Da mesma forma, analisam criteriosamente inovações surgidas direcionadas
às suas atividades, pois essa filtragem pode ser determinante do sucesso no gerenciamento da
propriedade. Para eles, a análise de algo novo requer atendimento aos requisitos redução de
custos, aumento da margem de lucro e incremento à atividade em competitividade e espaços
no mercado.
Difusão Interativa do Conhecimento
Os pesquisados parecem observar bastante o que se passa a sua volta e os vizinhos são
a indicação de que algo diferente está acontecendo. Em vários momentos, eles citam nomes
de pessoas para exemplificar algo de novo que aconteceu ou está acontecendo. Sentem-se
desafiados pelas novas tecnologias, mas reconhecem-se incapazes de utilizar todos os
recursos oferecidos por elas.
No que se refere ao DPI&F, os agricultores revelam que tem decaído muito a
qualidade do serviço prestado por esse órgão, utilizando em apenas 10% dos serviços
demandas pela propriedade. Assim, apelam para agrônomos privados ou consultores para
terem assistência. Segundo os entrevistados, 15 anos o DPI&F oferecia um serviço muito
bom, dispondo de bons agrônomos, junto aos quais era possível buscar informações, porém
hoje esse trabalho decaiu, o que é justificado pela pouca atenção do governo à agricultura.
Essa informação pode ser mais bem compreendida quando, nas entrevistas, os
profissionais do DPI&F salientaram que a prioridade da instituição é promover workshops e
focus groups com produtores para a discussão de questões técnicas maximizando o tempo e os
resultados.
Para os pesquisados, os bancos oferecem pouca consultoria, deixando-os muitas vezes
sem muitas ferramentas para a tomada de decisão no que se refere a taxas para redução dos
custos financeiros. Eles afirmam: Nós não temos esse tipo de conhecimento”. Quem possui
agrônomo privado para assistência utiliza-se do serviço para buscar maiores informações: “Se
eu achar alguma coisa nova na internet ou em algo similar, eu darei para o meu agrônomo e
204
digo você pode encontrar alguma informação a mais sobre isso?”. A declaração deste
produtor mostra o suporte que recebem de um profissional da área para a tomada de decisão.
Dessa forma, entre os produtores rurais pesquisados parece haver uma maior eficácia na
difusão, pois autonomia para que cada um utilize o conhecimento adquirido em diferentes
situações ou espaços, conforme salientado por Nonaka e Takeuchi (1997).
Há um grupo de produtores que possui um consultor técnico para auxiliá-los a resolver
os problemas nas propriedades. Nesse grupo, eles costumam realizar algumas trocas no que se
refere à solução de problemas surgidos na propriedade, porém são casos isolados e quase
raros, pois muitas experiências desse tipo não foram bem sucedidas. Assim, a difusão
interativa do conhecimento parece ocorrer mais internamente na propriedade. Os produtores
são restritos em seus objetivos de alavancar ganhos em suas atividades baseados na adoção de
tecnologias e de sistemas que garantam melhorias e produtos.
Expostos os resultados obtidos na pesquisa realizada na Austrália no que se refere às
cinco fases do processo de criação de conhecimento, veja-se um quadro-resumo:
Cinco fases Resultados
Compartilhamento
do Conhecimento
Tácito
- As trocas entre produtores são pouco freqüentes e, quando ocorrem, são focadas
num objetivo
- As decisões são tomadas entre os membros da família
- O compartilhamento de informações entre produtores rurais é aceito com reservas
- Dias de campo são propícios para visualizar o que há de novo
Criação de
Conceitos
- Pequenos produtores consideram-se pouco inovativos devido às limitações
financeiras
- Produtores são sedentos por conhecimento
- Internet requer muito tempo para obter informação
- Jornal, TV e contatos pessoais são preferidos pelos produtores para obtenção de
informações
Justificação de
Conceitos
- A experimentação é a medida da utilidade para algo novo
- Altos custos de mão-de-obra requerem inovatividade no desenvolvimento da
atividade
- Produtores vêem-se como individualistas e competitivos
- o-de-obra é centrada na família
- Produtores consideram-se pessoas com pouco tempo ocioso
Construção de um
Arquétipo
- O processo sucessório desafia os produtores
- Assistência técnica de empresas privadas objetiva a venda de produtos
- A inovação em produtos visa à obtenção de maior espaço no mercado
- Novas tecnologias precisam ser cuidadosamente analisadas
- Para a discussão são requeridas pessoas com conhecimento
Difusão Interativa
do Conhecimento
- Os vizinhos são uma medida de que inovações estão ocorrendo
- DPI&F não tem atendido os produtores dentro de suas expectativas
- Consultor técnico tem auxiliado alguns grupos isolados
- Bancos oferecem pouca consultoria no que se refere a decisões financeiras
Quadro 12 Síntese das cinco fases da criação de conhecimento na Austrália
Fonte: Elaborado com base nos resultados da pesquisa
O modelo de Nonaka e Takeuchi (1997) foi demonstrado detalhadamente em suas
partes. Nesta descrição do modelo, houve momentos em que as informações se repetiram,
205
porque o limite entre os modos de conversão, as fases e as condições capacitadoras para a
criação do conhecimento são muito tênues. Assim, revela-se a importância da ocorrência de
um modo para que o outro ocorra, como um processo contínuo. Nos próximos tópicos -se
ênfase à aprendizagem e às CoPs.
5.6 APRENDIZAGEM INDIVIDUAL, COLETIVO E ORGANIZACIONAL
No decorrer da análise, a aprendizagem já tem sido evidenciada em alguns momentos,
porém, neste tópico, serão especificadas as categorias de análise estabelecidas previamente.
Embora na literatura haja divergências sobre o nível em que deve ser tratada a aprendizagem,
nesta análise serão considerados os níveis individual, coletivo e organizacional.
5.6.1 Brasil
Nesse contexto, algumas dificuldades para definição dos níveis de aprendizagem,
porém serão considerados: nível individual a propriedade; coletivo, as CoPs de associados;
organizacional, a cooperativa.
Os produtores brasileiros pesquisados revelaram ter obtido significativas experiências
e aprendizado no grupo familiar que deu início às atividades no ramo. Percebeu-se que eles
articulam as informações e os conhecimentos existentes com os que vão surgindo no
decorrer de suas vidas, como o hábito de compartilhar tanto no ambiente familiar como nos
grupos onde buscam aprender mais sobre suas atividades. Essa disposição parece contribuir
nos processos de aprendizagem, principalmente quando as trocas são permeadas pela
experimentação. Situações consideradas por eles como negativas foram evidenciadas como as
que mais trazem impactos e aprendizados, pois, segundo eles, “é a melhor forma de
aprender”. Essa afirmação pode ser explicada pelo fato de as experiências e aprendizagens
decorrentes dessas situações poderem ser compartilhadas nos grupos e chegarem ao vel
organizacional, situação que vai ao encontro das idéias de Hedberg (1981), de que o
aprendizado organizacional depende da existência de capacidade para assimilar maior número
de informações.
206
Os pesquisadores enfatizam que preferem passar pelo processo de experimentação de
qualquer novidade para buscar aprendizado, ou seja, primeiro, realizam o processo de
experimentação de algo novo; após, conforme os resultados, o sucesso ou insucesso da
experimentação, a aprendizagem pode ocorrer ou não. Para Hamer, Binotto e Nakayama
(2003), a experimentação ocorre na aplicação prática do novo, buscando validar o
conhecimento. Nesse aspecto, pode-se considerar que o aprendizado pode levar à decisão de
não mudar ou de não aprender, ou seja, o aprendiz descarta conhecimentos de acordo com a
percepção de sua utilidade ou não, conforme salientado por Antal Lenhardt e Rosenbrock
(2001) e Hedberg (1981) .
Na visão dos pesquisados, a cooperativa proporciona muitos ambientes para trocas,
as quais são oportunidades de aprendizado, como salientam: “Aqui não falta conhecimento,
através de viagens, seminários e tudo mais ela transmite esses conhecimentos para nós e é
uma grande chance de aprender”. Também afirmaram que muitas das oportunidades
oferecidas pela cooperativa o são comuns a produtores rurais em outras realidades. Assim,
o aprendizado pode ser decorrente de mudanças ocorridas em resposta a um estímulo
provocado nesses contextos e a oportunidades para trocas, conforme apresentado por Weick
(1991).
Constatou-se que essa realidade é permeada por mudanças significativas, uma vez que
a agricultura vem sofrendo transformações em processos e produtos, visando a atender às
novas demandas do mercado. Na visão dos entrevistados, as mudanças que causaram, e ainda
causam, maior impacto são o plantio direto e as sementes geneticamente modificadas. Para
eles, as maiores dificuldades decorreram da falta de informação na fase inicial, o que se pode
considerar como natural e como parte dos grandes processos de mudanças. Contudo, diante de
algumas dificuldades, consideram que “em todas as oportunidades se aprende”. Embora, na
perspectiva de Child e Heavens (2001), a mudança ou a adaptação possa ocorrer sem,
necessariamente, induzir a ocorrência da aprendizagem, parece que, para os pesquisados,
sempre há o que aprender em situações diversas.
Para Swieringa e Wierdsma (1995), aprendizagem é uma mudança de conduta.
Considerando as formas de aprendizagem, percebeu-se que variam muito de acordo com cada
situação e que ocorrem de maneira informal, por meio da imitação, da experiência e/ou da
ação. Embora se saiba que parte da aprendizagem ocorre de forma inconsciente, sem que
produtores ao menos se dêem conta de que o processo está ocorrendo, evidenciou-se no grupo
a consciência da necessidade de aprender sempre.
207
A Cotrijal parece oferecer inúmeras oportunidades para aprendizagem de diferentes
formas como já foi apresentado. Assim, nesse ambiente pode ser proporcionada a expansão do
potencial criativo das pessoas na busca de melhores resultados, de desenvolvimento de
raciocínios diferenciados e de aprendizagem em grupo, conforme afirmado por Senge (1999).
5.6.2 Austrália
Na realidade australiana o nível individual será considerado a propriedade; o coletivo,
as CoPs, e o organizacional, as indústrias.
Os produtores australianos parecem articular as informações e os conhecimentos
com grande freqüência na família, uma vez que têm suas histórias ligadas ao convívio familiar
e buscam informações em diferentes fontes com vistas à adequação à realidade de mercado.
Essa constatação complementa o que Cohen e Levinthal (1990) afirmam, de que a habilidade
para obter mais conhecimento e aprendizagem depende dos conhecimentos prévios
adquiridos.
Assim, a aprendizagem está ligada a um processo educativo que provoca no indivíduo
uma resposta crítica diante da realidade e um contínuo desenvolvimento de conhecimento e
capacidades. Pode envolver mudanças de comportamento e modelos mentais, causar
processos de desconstrução/reconstrução do conhecimento e revisão de crenças, uma vez que
a realidade indica que é preciso deixar para trás alguns patamares, algumas verdades, como
evidenciado por Kilpatrick e Rosenblatt (1998).
Constatou-se que significativa contradição entre discurso e prática quando os
produtores dizem que fazem parte de um grupo e compartilham informações, o que realmente
não parece acontecer em suas realidades. No que se refere à família, as trocas parecem ser
muito freqüentes, como foi salientado, porém, no que se refere às CoPs, uma grande
diferença entre querer trabalhar junto e trabalhar junto na prática, ou dizer que socializa e
realmente socializar. Os pesquisados deixaram transparecer em várias situações que, na
prática diante do grupo, predominam a competição e a busca de obtenção de vantagens para
se sobressair e garantir a sobrevivência na atividade, revelando o distanciamento que existe
entre a intenção e a ação.
Para Argyris & Schön (1974; 1978), o os conceitos de teoria da ação: a teoria em
uso, que é a maneira como as pessoas realmente estão fazendo, e a teoria esposada, que é a
208
maneira como as pessoas pensam que estão agindo ou gostariam de agir. Embora as pessoas
salientem que convivem no grupo e reivindiquem o aprendizado de novas idéias e práticas,
isso freqüentemente não parece ser manifestado em seus comportamentos. Argyris (1992)
explica, nesse sentido, que elas agem despercebidas da contradição entre a teoria esposada e a
teoria na prática e resistem a aceitar que há inconsistência entre ambas.
Podem-se perceber inconsistências nos discursos dos pesquisados quando afirmam que
realizam trocas, mas, logo em seguida, dizem que o produtor australiano não tem o hábito de
socializar. O que parece acontecer são contatos entre os pesquisados sem muita freqüência e
com objetivos específicos, tais como a obtenção de uma informação, pois não admitem
dispenderem tempo com pessoas que não possuem condições de dar respostas aos seus
questionamentos.
Bandura (1977) salienta que a aprendizagem é resultado de práticas repetidas, o que
leva a entender a necessidade que alguns pesquisados têm de fazer o mesmo experimento em
várias situações. Falas como “eu prefiro experimentar na prática cinco vezes ou mais para me
certificar de alguma coisa” permitem entender esse aspecto. Assim, experimentação é um
procedimento comum entre os pesquisados e faz parte dos processos de aprendizagem à
semelhança da realidade brasileira.
Os ambientes para trocas entre os produtores não foram claramente identificados. Os
contatos pessoais não se mostraram tão freqüentes, sendo mais utilizado e-mail e telefone, o
que pode ser justificado pela grande dispersão geográfica entre eles. Percebe-se que a
aprendizagem entre os produtores ocorre de diferentes formas, similarmente à realidade
brasileira mostrada anteriormente.
Na realidade australiana constatou-se que os produtores desenvolvem mais
intensamente a automotivação para aprender, buscando aumentar o potencial de aprendizagem
em razão dos desafios impostos pela atuação individual no mercado. Verifica-se que as
pessoas criam suas realidades e agem sobre elas para provocar as modificações necessárias,
conforme salientado por Senge (1999a) e Swieringa e Wierdsma (1995). Isso pode ser
mostrado no discurso: “Produtores australianos o como esponjas”, referindo-se à alta
capacidade de aprendizagem constante.
Esses aspectos da aprendizagem complementam as idéias de Binotto e Nakayama
(2001), referindo-se à necessidade de os produtores desenvolverem habilidades para resolver
problemas, experimentar novas tecnologias, aprender mais com base nas experiências,
209
observando o comportamento dos outros produtores, e ser capaz de, além de aprender,
transmitir e compartilhar conhecimentos nas suas comunidades.
5.7 COMUNIDADES DE PRÁTICA (CoPs)
Embora alguns dos pesquisados não afirmem que exista CoPs nas realidades
estudadas, de acordo com o conceito adotado neste estudo, pôde-se verificar que existem,
porém são diferentes nos dois países, o que parece estar vinculado à maneira como as pessoas
se relacionam nessas realidades. As CoPs são grupos de pessoas que compartilham uma
paixão por algo que sabem como fazer, as quais interagem regularmente para aprender como
isso pode ser feito melhor ainda (WENGER, 1996; 1998b).
No que se refere à participação nas CoPs, os pesquisados participam, com freqüência,
em mais de uma delas, uma vez que os limites dessas comunidades não parecem estar
definidos. Essa participação ocorre de acordo com as oportunidades e situações do cotidiano
de cada um.
5.7.1 Brasil
Quando os pesquisados foram questionados sobre se conheciam ou se faziam parte de
uma CoP, eles se entreolharam e responderam: “Talvez”, “nós somos uma comunidade”.
Deixaram, assim, transparecer sua compreensão de CoPs como ligadas aos seus grupos
sociais nas comunidades, ou como um grupo de associados da cooperativa. Nessa realidade,
as CoPs parecem se caracterizar por laços mais fortes, inclusive afetivos em alguns casos,
pelo fato de a cooperativa proporcionar muitos momentos para contatos, além das
oportunidades em outros espaços na sociedade.
Percebeu-se que eles compartilham da paixão pela atividade, ligam-se pelos vínculos
de trabalho e pelo fato de serem associados de uma cooperativa da qual se orgulham. Em vista
disso, interagem regularmente buscando encontrar formas de realizar seus trabalhos de uma
forma mais eficiente, o que caracteriza as CoPs, conforme Lesser e Everest (2001).
Os pesquisados revelaram que nas CoPs há liberdade para questionar e encontrar
respostas para suas dúvidas: A gente não tem vergonha de perguntar aquilo que não sabe”.
210
Para Wenger (2000), nas CoPs são criados laços de confiança com o decorrer do tempo,
conduzindo a que as pessoas exponham suas dúvidas sem terem medo de mostrar ignorância
sobre o assunto, o que reforça o entendimento das relações na comunidade. Constatou-se que,
entre os envolvidos nas CoPs, é identificado e conhecido quem pode dar respostas a uma
dúvida surgida; há confiança entre eles e os membros são bem vindos.
Em razão das práticas nas atividades pelos produtores pesquisados, que são similares
para a maioria, eles possuem o hábito de interagir com os outros para se auxiliarem
mutuamente na busca de respostas às suas inquietações, demonstrando que o têm
dificuldades para provocar situações que permitam a realização de trocas e interação. As CoPs
dessa realidade caracterizam-se por alguns aspectos:
as pessoas residem próximas umas das outras e interagem freqüentemente;
características culturais de interação e compartilhamento originárias do alemão, do
italiano e do holandês desde o início de suas atividades permeadas por dificuldades e
descobertas;
o chimarrão é um elemento que muitas vezes motiva as reuniões sociais;
as atividades desenvolvidas pela cooperativa proporcionam as maiores possibilidades
de trocas e oportunidades de socialização;
as mudanças ambientais desafiam os associados a buscarem soluções e alternativas em
suas atividades;
espaços para interação na cooperativa para que os associados possam discutir entre
eles e com os técnicos e funcionários;
as comunidades são espaços de interação social estimulados pela Igreja, constituindo-se
num elo de ligação, pois é comum a realização de encontros semanais.
5.7.2 Austrália
Na Austrália as CoPs situam-se mais em torno das atividades comuns, formam-se por
atividades, não especificamente por locais, e transparecem um pouco fechadas. Ao serem
questionados sobre se conheciam CoPs, poucos pesquisados fizeram afirmações positivas e,
embora alguns tenham dito que eram membros de uma CoP, não pareceu que houvesse maior
211
conhecimento sobre o assunto. Os produtores afirmaram que compartilham informações no
que se refere à produção e ao mercado ou ao gerenciamento dos negócios e ao mercado.
São comuns nas comunidades as trocas de informações via telefone e e-mail,
procedimento mais freqüente quando existe uma associação de produtores que forma um
grupo e os estimula a realizar trocas. A CoP virtual parece estar mais presente nesse grupo.
Observa-se que o fato de os produtores terem pouco contato face a face não significa que não
façam parte de uma CoP, pois, quando necessitam, parece haver clareza entre eles sobre quem
devem buscar. Para Lave e Wenger (1991), Gherardi, Nicolini e Odella (1998) e Hildreth,
Kimble e Wright (2000), o fato de fazer parte de uma CoP não necessariamente implica a co-
presença, uma boa definição ou identificação no grupo ou, ainda, limites socialmente visíveis.
Para Bryceson (2003), há uma tendência de expansão da utilização da comunicação eletrônica
nas cadeias produtivas do agronegócios na Austrália, ou seja, as transações futuras entre os
agentes das cadeias utilizarão, cada vez mais, meios eletrônicos.
Os pesquisados são enfáticos na afirmação de que buscam pessoas “inteligentes” para
discutir assuntos ligados às suas atividades. Para melhor compreender esse aspecto da CoP,
Wenger (2000) salienta que, entre os membros do grupo, é possível identificar e conhecer
quem pode dar uma resposta para uma dúvida surgida. Assim, os produtores podem sentir-se
mais confortáveis e bem-vindos, ou reconhecerem que alguém é suficientemente competente
em determinado aspecto para que seja dispendido tempo numa discussão.
Como algumas características das CoPs na realidade australiana identificaram-se:
os contatos mais freqüentes são feitos via telefone e e-mail;
as CoPs virtuais estão ganhando espaço entre os produtores;
os produtores estão dispersos geograficamente;
os produtores tendem a agrupar-se por atividade;
os contatos se restringem aos considerados profissionais na atividade;
há predominância do individualismo;
as discussões estão focadas em resultados;
as discussões restringem-se a grupos de pessoas consideradas inteligentes.
212
5.8 SIMILARIDADES E DIFERENÇAS ENTRE AS REALIDADES ESTUDADAS
Este tópico objetiva analisar as similaridades e diferenças entre as realidades e
apresentar as evidências encontradas em ambas. Apresenta-se a predominância constatada em
cada realidade, porém admite-se que haja possibilidade de existência de alguma discrepância
em termos de comportamento humano no que se refere à criação de conhecimento no grupo
pesquisado.
5.8.1 Similaridades Entre as Realidades Estudadas
As características similares entre a realidade a brasileira e a australiana foram:
- o processo sucessório é desafiante e jovens dão preferência às cidades;
- desafios trazidos na utilização da internet como ferramenta na busca de
informação;
- a experimentação precede a adoção de algo novo;
- as atividades na propriedade englobam mais de um produto;
- os produtores aprendem com seus próprios erros e com os dos outros;
- os produtores observam como seus vizinhos procedem na realização das mesmas
atividades;
- a aprendizagem ocorre no aprender fazendo;
- a realização de todos registros das atividades não é um hábito comum tanto para
os produtores brasileiros como para os australianos;
- há necessidade de haver confiança entre as pessoas para ocorrerem as trocas;
- os produtores aprendem através da observação, da imitação e da prática;
- experiência anterior à atual, obtida na família ou em outra propriedade.
213
5.8.2 Diferenças Entre as Realidades Estudadas
As diferenças identificadas nas realidades foram:
Brasil Austrália
Visão cooperativa de negócios Visão individual de negócios
Relação familiar: emoção nas trocas e no trabalho
conjunto
Relação familiar possui papéis definidos
Socialização intensa nos grupos de maior afinidade Socialização intensa nas relações de amizade isoladas
Muitas oportunidades para contatos pessoais e trocas Poucas oportunidades para contatos pessoais
Internet é pouco acessível Internet acessível a todos
Compartilhamento como processo formal Compartilhamento como um processo informal
Processos inovativos estimulados e orientados pela
cooperativa
Processos inovativos buscados por eles próprios
Elo mais próximo do produtor é a cooperativa Elo mais próximo do produtor é a indústria
Cooperativa e eventos promovidos por ela são espaços
para interação
Os espaços para interação são criados pelos produtores
Produtores o parte de uma comunidade e trabalham
cooperativamente
Produtores agem individualmente e são competitivos
Liderança nas CoPs estimulada pela cooperativa Liderança presente no contexto familiar
Assistência técnica oferecida pela cooperativa Assistência técnica buscada através do DPI&F ou de
assistência privada
Cooperativa oferece suporte à qualificação e
profissionalização dos associados
Qualificação e profissionalização são buscadas de
acordo com as suas necessidades
Mão-de-obra acessível Mão-de-obra escassa e custo alto
A cooperativa é a maior fonte de informação Jornal, TV e contatos pessoais são preferidos pelos
produtores para obtenção de informações
CoPs com base na cooperativa CoPs com base nas atividades ou relações de amizade
Dispersão geográfica pequena Dispersão geográfica grande
Quadro 13 Diferenças entre as realidades estudadas
Fonte: Elaborado com base nos resultados da pesquisa
Expostas as diferenças encontradas nas duas realidades como resultado da análise dos
resultados da pesquisa, no item que segue evidenciam-se as contribuições do modelo de
Nonaka e Takeuchi (1997) para este estudo.
5.9 CONTRIBUIÇÕES DO MODELO DE NONAKA E TAKEUCHI (1997) APLICADO
AO AGRONEGÓCIOS
O modelo de Nonaka e Takeuchi (1997) contemplou variáveis ligadas à cultura e ao
ambiente das empresas na realidade japonesa, porém, no estudo da realidade dos
agronegócios no Brasil e na Austrália, pareceu não oferecer elementos suficientes para
explicá-las.
O ambiente do agronegócios é permeado por aspectos sociais, políticos, culturais,
sociológicos, ambientais, dentre outros. O modelo de Nonaka e Takeuchi (1997) tem especial
214
importância nesse estudo por permitir reconhecer a relevância do conhecimento tácito no
agronegócios, que está incorporado em cada atividade e cujo compartilhamento entre
agricultores representa algo grau de complexidade. Percebeu-se que dos conhecimentos
tácitos dos produtores podem derivar características específicas dos produtos e formas de
adicionar valor à produção, ou seja, eles criam conhecimento utilizando suas competências e
incorporam-no às suas atividades, embora muitas vezes não dêem o devido valor formal a
esse processo.
Em vista disso, utilizou-se o modelo de Nonaka e Takeuchi (1997) para estudar as
duas realidades. À luz desse modelo foi criado um método, buscando trazer maior
dinamicidade para os estudos nessa área, aproximar mais a teoria da prática e espelhar melhor
o elo da produção na realidade do agronegócios.
5.10 REPRESENTAÇÃO DA CRIAÇÃO DE CONHECIMENTO NOS AGRONEGÓCIOS
BRASILEIRO E AUSTRALIANO
O agronegócios, visto como um sistema amplo, apresenta um diferencial importante
entre as realidades. No Brasil, a cooperativa é um elo da cadeia produtiva e exerce um papel
intermediário entre o produtor e a indústria, embora muitas vezes industrialize alguns
produtos; ainda,suporte ao produtor para se adequar às exigências de produtos e mercados
referentemente à abrangência da cadeia produtiva. Na Austrália, os produtores estão ligados
diretamente às indústrias, que, em muitos casos, absorvem toda a sua produção por meio de
contratos; cabe-lhes, assim, a busca por esses espaços nas indústrias e a adequação em termos
de especificações dos produtos como elo de uma cadeia produtiva.
A descrição do modelo de Nonaka e Takeuchi (1997) com base na realidade estudada
deu suporte à construção de uma figura representativa (Figura 23) para demonstrar como se
dá a criação de conhecimento nas duas realidades.
215
Figura 23 Fatores que envolvem o processo de criação de conhecimento no elo da produção
no agronegócios brasileiro e australiano
Fonte: Criado pela autora com base nos resultados da pesquisa
Como evidenciado anteriormente, na análise das situações diferenciadas
significativas similaridades e diferenças. Em ambas as realidades, o mercado externo, a
situação econômica do país e a política agrícola do governo exercem forte influência sobre o
agronegócios, contudo a intensidade do impacto dessas variáveis sobre os elos das cadeias
produtivas varia de acordo com o contexto em que os negócios estão inseridos. Essas
Cooperativa
Mercado Externo
Situação Econômica do País
Política Agrícola do Governo
Mercado Externo
Situação Econômica do País
Política Agrícola do Governo
Sociedade
Comunidades
de prática
Cursos
Expo-
direto
D
ias de
campo
Risco
decrescente
Decisão
social
Indústria
Sociedade
Comunidades
de prática
Cursos
Palestras
Dias de
campo
Decisão
individual
Risco em
crescimento
Criação de
conhecimento
Criação de
conhecimento
Aspectos
culturais
Aspectos
culturais
Negócios
individuais
Associados
cooperativa
Suporte
Suporte
Dispersão
geográfica
pequena
Dispersão
geográfica
grande
Relações
mais
formais
Relações
mais
informais
Experimentação
Estímulo
Busca
Socialização
Experimentação
Estímulo
Busca
Socialização
Adoção
Adoção
Palestras
Brasil Austrália
Fatores
tangíveis
Resultados
globais
Resultados
globais
Fatores
tangíveis
216
variáveis podem oferecer maiores vantagens ou, amesmo, inviabilizar o desenvolvimento
das atividades agrícolas.
A realidade brasileira estudada caracteriza-se por uma sociedade permeada por
aspectos culturais originados de europeus, principalmente italianos, alemães, mas também
holandeses, que chegaram à região de Não-Me-Toque muitos anos. Apresenta as
organizações cooperativas como suporte aos produtores rurais, que, diante das dificuldades
para a realização de suas atividades, buscaram novas formas de organização. Eles sentiram
necessidade do apoio de algum grupo ou instituição, uma vez que o governo não lhes oferecia
o suporte necessário. Atualmente, a cooperativa assessora-os por meio de cursos, dias de
campo, palestras, da Expodireto, onde se expõem novas tecnologias e variedades de sementes,
dentre outras formas de qualificação. As CoPs formam-se com base nesse ambiente de
interação, onde o compartilhamento de informações e conhecimentos pode acontecer.
As decisões tomadas nessas CoPs consideram a existência de um grupo que atua numa
base cooperativa e voltam-se ao desenvolvimento e ao crescimento do corpo social. Para dar
maior suporte à formação de grupos e CoPs, a cooperativa desenvolve trabalhos com foco na
liderança, como eleger líderes nas comunidades para que sejam disseminadores de
informações da organização e estimuladores de constante qualificação e inovação nas CoPs.
Pode-se inferir, portanto, que o estímulo ao desenvolvimento das lideranças exerce forte
influência no ambiente da propriedade, onde conta com a participação ativa da mulher. Nesse
sentido, os produtores pesquisados afirmaram que a atuação das mulheres vem crescendo
tanto na administração da propriedade como na atuação junto à cooperativa como líder de
comunidade, o que foi possível observar pela participação ativa de muitas delas na pesquisa,
respondendo a questionários, a entrevistas e no focus group.
As relações entre os associados da cooperativa e, de certa forma, entre os dirigentes
caracterizam-se pela informalidade. Os associados utilizam diferentes oportunidades para
realizar trocas de informações entre si, entre as quais estão, além das atividades desenvolvidas
pela cooperativa e das visitas semanais à organização, que auxiliam na criação de vínculos, os
encontros na igreja, no clube social, nos jogos de futebol e festas, as rodadas de chimarrão nos
grupos sociais, os encontros em reuniões em escolas onde os filhos estudam. Esse estilo de
relações está diretamente ligado aos aspectos culturais próprios da sociedade. As facilidades
nos encontros face a face devem-se também à pequena dispersão geográfica entre os
produtores nessa realidade.
217
Com o suporte da cooperativa, tendência de redução nos riscos no gerenciamento
da atividade dos associados; por outro lado, com a organização oferecendo serviços e suporte
financeiro, seus riscos crescem. A partir do momento em que o governo passou a não assumir
totalmente a função de suporte aos produtores rurais, a cooperativa exerce esse papel visando
viabilizar o desenvolvimento de seu associado. Com essa postura, parece cumprir seu papel de
garantir ao produtor rural a renda, o nível de exploração rural e de organização da produção
agroindustrial, bem como a regularização do mercado, conforme afirmado por Lauschner
(1995) e Irion (1997).
Os fatores tangíveis parecem exercer influência na criação de conhecimento por
poderem ser limitadores, até mesmo, do estímulo à busca de algo novo. Alguns pesquisados
comentaram que “não se sentiam grandes o suficiente para inovar”, “não para inovar sem
recursos financeiros”. Para alguns produtores, os valores tangíveis, tais como tamanho da
propriedade, equipamentos, condições financeiras, dentre outros fatores, são determinantes
para terem ou não maiores perspectivas futuras quanto à atividade, bem como estímulos para
a busca de algo novo.
A criação de conhecimento ocorre no ambiente cooperativo, onde a cooperativa, em
diferentes momentos de interação, estimula os associados a inovar, ou seja, busca criar um
campo para a interação dos associados. Acredita-se que o processo individual de criação de
conhecimento do associado da cooperativa passa por diferentes estágios e não possui um
ponto de referência inicial. As diferentes formas de interação oferecidas pela cooperativa
podem instigar o associado a buscar algo novo; ao receber o estímulo, ele vai em busca de
mais informações através do contato com os técnicos da organização, com outros associados
ou junto a outras fontes. Após essas fases, ele socializa ou experimenta a novidade em sua
propriedade e, posteriormente, socializa-a com a CoP ou as CoPs de associados de que faz
parte. Após o compartilhamento com outros produtores, o associado pode buscar mais
informações, ser estimulado para novas buscas ou colocá-las em ação como uma prática
cotidiana na sua propriedade.
Portanto, a cooperativa parece ser a base para o estímulo à criação de conhecimento
através das CoPs que vão se formando no decorrer das situações de interação, as quais
demonstraram necessitar de tempo para sua maturação e gerar resultados. Assim, infere-se
que o processo de criação de conhecimento está institucionalizado na cooperativa através das
muitas formas de interação com o associados e dos vínculos existentes entre ambos. Diante
disso, as CoPs no ambiente cooperativo podem agregar valor aos processos, aos produtos e
218
serviços através do espaço e das possibilidades para o desenvolvimento profissional e o
compartilhamento de idéias e ideais.
Como decorrência de todo o processo de criação de conhecimento envolvendo essas
variáveis, um objetivo maior, que é a obtenção de resultados globais, os quais se referem a
aspectos tangíveis e intangíveis. Esses podem ser motivadores para que haja estímulo à busca
de aperfeiçoamento nas atividades que lhes garantam sobrevivência e bons resultados num
mercado competitivo.
No que se refere à realidade australiana, constatou-se que a sociedade caracteriza-se
por aspectos culturais oriundos principalmente dos colonizadores ingleses, embora nessa
realidade também se encontrem pessoas vindas de outras regiões da Europa e da Ásia. No
país, como foi salientado, não foi possível identificar cooperativas agrícolas. Os produtores
estão diretamente ligados às indústrias ou a outros tipos de empresas que compram a sua
produção dentro das especificações e padrões requeridos pelo mercado. Essas empresas
oferecem cursos, palestras e dias de campo com o objetivo de demonstrar seus produtos aos
produtores e, ao mesmo tempo, para que sejam consumidos por eles. O DPI&F também
oferece algumas formas de qualificação, que, contudo, segundo os produtores, têm sido
bastante limitadas. Para os profissionais desse departamento, os workshops têm sido a forma
mais eficaz de qualificar os produtores, porém, na perspectiva dos produtores, não é a mais
adequada, pois preferem a assistência personalizada e qualificada, como ocorria no passado.
Os fatores tangíveis exercem influência no processo de criação de conhecimento,
conforme os produtores afirmaram, porque buscam algo novo quando percebem nisso um
retorno financeiro: “Preciso ver o lucro no final”. As condições financeiras parecem exercer
influência nessa decisão, na medida em que muitos produtores afirmaram se considerar
pequenos para empreender e, assim, obter bons resultados.
Com esse cenário, as decisões são tomadas em nível individual ou da propriedade,
uma vez que não pareceu clara a existência de uma organização formal que tenha o objetivo
de dar suporte permanente aos associados; apenas alguns pesquisados demonstraram receber
algum suporte limitado das instituições governamentais. Desse modo, os riscos ligados às
atividades dos produtores tendem a crescer, uma vez que apenas eles suportam suas atividades
desde a captação de recursos financeiros até inovações necessárias e busca de mercado para
seus produtos. Portanto, a liderança para o desenvolvimento dos processos demonstrou ser
exercida em nível de propriedade por um ou mais dos membros da família.
219
Nesse aspecto é importante salientar o papel que as mulheres assumem no contexto,
visto que os pesquisados manifestaram ter havido relevante crescimento na atuação feminina.
Nos discursos durante a realização do focus groups, ficou evidente que elas assumem uma
parte da administração da propriedade, com função e papel definidos; têm participação muito
semelhante à dos homens em questionamentos e discussões em reuniões com órgãos de
pesquisa ou nas discussões do setor. Assim, os papéis que as mulheres exercem na
administração da propriedade na Austrália denotaram estar mais definidos que nas
propriedades no Brasil.
A criação de conhecimento ocorre no ambiente da propriedade rural, uma vez que os
negócios são conduzidos de maneira individual, ou seja, em nível de propriedade. Os
produtores rurais buscam informações e conhecimentos em ambientes diversos, mas é na
propriedade que as decisões são tomadas e os rumos são definidos. Os discursos coletados
permitem entender essa afirmação: “Vou lá, pego o que me interessa, volto para casa e vejo o
que vamos fazer”, revelando as oportunidades para obtenção de informações e conhecimentos
e o ambiente onde as decisões são tomadas. Esse modo de proceder também se deve à grande
dispersão geográfica entre os produtores da região estudada, cujas CoPs possuem como meio
de interação o telefone, e-mail e algum eventual encontro face a face.
No que se refere ao processo individual de criação de conhecimento do produtor, não
um ponto de referência para o início do processo. Deduz-se que, quando ele é instigado a
buscar algo novo para sua atividade, sofre o estímulo vindo de diferentes fontes, tais como
dias de campo, jornais, TV, internet, contato com outros produtores, com empresas do ramo,
etc. Com esse estímulo vai em busca de mais informações nas diferentes fontes que costuma
acessar, e, de posse dessas, inicia os experimentos em sua propriedade e adota a nova prática;
então, depois decide se as socializa ou não com a CoP ou as CoPs de que faz parte, onde,
poderá receber novo estímulo.
Os pesquisados demonstraram manter relações mais formais, o que pode estar ligado
aos aspectos culturais característicos da sociedade. Eles realizam contatos com algumas
pessoas que conhecem e que consideram que possam permitir-lhes trocas suficientemente
inteligentes”; com esses costumam socializar conhecimentos ou buscar respostas aos seus
questionamentos. Percebeu-se que os produtores buscam informações junto a outros
produtores com quem compartilham algo que tenham descoberto. Dispersos geograficamente,
eles parecem reservar as suas descobertas para suas próprias práticas para terem seus
mercados garantidos.
220
A forma de os produtores conduzirem os negócios e de se relacionarem pode explicar
as razões da não-existência das cooperativas na realidade australiana. A NGC’s, como uma
modalidade mais empresarial, parece apresentar algumas possibilidades de concretização.
A competitividade entre os produtores australianos pode ser analisada de formas
diferenciadas. O aspecto positivo demonstrado está em trazer estímulo para a constante
atualização, munindo-os de ferramentas gerenciais para atuar num mercado com
competitividade crescente; assim, a responsabilidade pela condução e pelo direcionamento
dos negócios, ou seja, pelo sucesso ou fracasso na atividade, é única e exclusivamente deles.
Além disso, segundo os produtores, o governo o oferece subsídios e garantias de auxílio
financeiro somente em casos de calamidades. Baseado nesses aspectos infere-se que os
produtores australianos, tendo maior autonomia sobre seus negócios, detêm boa capacidade de
reagir rapidamente às contingências e de adequar-se às situações de mercado.
Portanto, as indústrias, instituições do governo ou outros tipos de empresas parecem
exercer pouca contribuição para o estímulo à criação de conhecimento, que se mostra
dependente do estímulo que cada um recebe do ambiente, da necessidade de se adequar a ele e
do engajamento dos envolvidos na atividade na busca por inovações e melhoramentos
contínuos. Os resultados globais são as respostas aos melhoramentos contínuos e, ao mesmo
tempo, determinantes da continuidade dos processos evolutivos nas propriedades. Infere-se
que os produtores australianos buscam visualizar resultados positivos de suas práticas na
atividade para procurar realizar melhoramentos, inovações e garantir mercado para os seus
produtos.
Não foi contemplada nesta pesquisa a análise da situação financeira dos produtores
pesquisados. Considerando os sinais externos, ou seja, o que ficou visível nas visitas e
contatos, os produtores australianos demonstraram dispor de maiores possibilidades de
aquisição de recursos tangíveis, tais como maquinário mais moderno, aparato tecnológico
para acesso aos recursos da informática, bem como outros equipamentos que facilitam o
desenvolvimento das atividades na propriedade, considerando a carência e o alto custo da
mão-de-obra. No que se refere à captação de recursos, afirmaram que as instituições
financeiras disponibilizam-lhes financiamento a juros considerados viáveis para a atividade.
Pode-se, pois, inferir que eles possuem estrutura econômica para viabilizar o acesso aos
recursos de competência, cabendo a cada um direcionar esforços na busca e concretização dos
seus objetivos.
221
Foi possível constatar que a perspectiva construtivista está presente nas realidades
estudadas, uma vez que os produtores constroem seus entendimentos de acordo com as
imagens que possuem da realidade e baseados em experiências passadas, em interações com
stakeholders e com o mundo. Os conceitos, teorias, idéias e modelos construídos em suas
mente são constantemente testados com os resultados das experiências de cada um, somente
permanecendo aqueles que forem úteis, conforme afirmado por Bodner (1986).
A Figura 23 representa os fatores que envolvem o processo de criação de
conhecimento no elo da produção dos agronegócios brasileiro e australiano, dando ênfase às
especificidades das estruturas em cada realidade, demonstrando suas diferentes facetas no que
se refere aos fatores envolvidos em cada uma e oferecendo maior dinamismo à análise do
processo de criação de conhecimento no elo da produção no agronegócios.
5.11 MÉTODO DINÂMICO DE ANÁLISE DA CRIAÇÃO DE CONHECIMENTO PARA
O ELO DA PRODUÇÃO NO AGRONEGÓCIOS
Com base na figura representativa das realidades brasileira e australiana (Figura 23)
criou-se um método de análise objetivando oferecer ferramentas para estudar o elo da
produção no agronegócios ou outros setores em realidades distintas, no qual se considera a
presença das variáveis ambientais que se mostraram relevantes no processo de criação de
conhecimento nos países em foco.
222
Figura 24 Método dinâmico de análise da criação do conhecimento para o elo da produção no
agronegócios
Fonte: Elaborado pela autora
O método exposto considera que algumas variáveis podem ser determinantes para o
processo de criação de conhecimento no elo da produção, tais como as políticas globais,
nacionais e locais, tomada de decisão, dispersão geográfica, risco no gerenciamento, estilo de
relação, aspectos culturais e fatores tangíveis. Acredita-se que a inclusão dessas variáveis no
método pode oferecer maiores possibilidades de compreensão de fatores considerados
complexos na análise do processo de criação de conhecimento.
O agronegócios está inserido num contexto amplo, o qual apresenta situações comuns
em diferentes realidades, sofrendo a influência de fatores como o mercado externo, a situação
econômica do país e a política agrícola do governo. A análise desses fatores permite maiores
condições de gerenciar os riscos que envolvem as empresas, bem como a propriedade rural.
Com o conhecimento desses aspectos é possível direcionar as atividades de modo a que as
medidas tomadas nesses níveis não causem tanto impacto nos negócios ao ponto de torná-los
inviáveis. Cabe salientar que a análise nesse nível apresenta grande complexidade e exige boa
Organização
Mercado Externo
Situação Econômica do País
Política Agrícola do Governo
Sociedade
Comunidades
de prática
Risco no
gerenciamento
Tomada de
decisão
Propriedade
rural
Dispersão
geográfica
Estilo de
relação
Experimentação
Estímulo
Busca
Socialização
Adoção
Criação de
conhecimento
Aspectos
culturais
Fatores
tangíveis
Resultados
globais
223
base de conhecimento, pois envolve um ambiente amplo e passível de influência de muitos
outros fatores.
A variável gerenciamento do risco é algo complexo, pois, dependendo da realidade e
da situação em que os negócios estão envolvidos, o risco pode ser alto ou baixo.
A tomada de decisão tem como suporte os conhecimentos que os produtores detêm a
respeito de atividades e do cenário em que atuam, a disponibilidade de registros das
atividades, a liderança que exercem na propriedade, bem como nas CoPs, dentre outras
ferramentas gerenciais consideradas importantes. As decisões podem ser tomadas em nível de
propriedade ou no ambiente das CoPs, dependendo da forma como os produtores rurais se
relacionam e do vínculo que mantêm entre eles ou com uma organização, seja indústria, seja
cooperativa.
As decisões lideradas por eles em diferentes níveis podem dar o devido
direcionamento para que inovações sejam realizadas dentro de um processo contínuo de
mudanças que envolvem o cenário do agronegócios. A importância da liderança na tomada de
decisão é indiscutível, visto que, sem o aval, o compromisso e o direcionamento de um ou
mais líderes, o resultado pode ser questionável. Essa liderança pode estar presente nos níveis
individual, coletivo e organizacional.
Nesse método considerou-se importante contemplar a localização geográfica dos
produtores rurais, pois pode ser grande ou pequena a dispersão entre eles. Esse fator pode
determinar a forma como ocorrem os contatos entre os produtores: se face a face, se via e-
mail, telefone ou outra forma. Assim, em áreas com grande dispersão geográfica, a
acessibilidade à tecnologia da informação e a sua utilização pelos produtores podem ser
facilitadores da criação de conhecimento.
Os aspectos culturais e os estilos de relação podem ser estimuladores dos processos de
criação de conhecimento, pois, segundo Hedberg (1981), inseridas no aspecto cultural estão as
histórias, as crenças, os costumes, os modelos mentais, os quais podem se constituir em
obstáculos para que o aprendizado ocorra. Assim, uma cultura que suporte à criação do
conhecimento oferece aos produtores rurais a possibilidade de empreenderem constantemente
em suas atividades e cria um ambiente de confiança, de cooperação e de engajamento em
busca de melhorias contínuas, o que pode se dar em nível de sociedade, das CoPs ou da
propriedade rural. A forma como as pessoas se relacionam dentro das CoPs é resultado das
224
características culturais da sociedade, como a construção coletiva da realidade social
(SACKMANN, 1991).
A criação de conhecimento ocorre num processo seqüencial em que não um ponto
de referência inicial. Acredita-se que o mais comum seja os produtores terem um estímulo em
relação a alguma novidade em suas atividades, originado das diversas formas de interação ou
fontes de informação. Eles tendem a buscar mais informações ou a se inteirarem a respeito do
novo junto às suas fontes de informações, seja a internet, sejam contatos pessoais. Após
obterem maiores informações sobre a novidade, eles a experimentam para se certificar dos
resultados, ou socializam-na com outros e depois a experimentam. De posse dos
experimentos, as posturas a serem tomadas podem ser a adoção na propriedade ou a
socialização com a(s) CoP(s) de que fazem parte, visando compartilhar algo novo ou, mesmo,
discutir e obter opiniões de outros produtores envolvidos na atividade. Como resultado da
socialização nas CoPs, pode ser gerado um novo estímulo, a busca por maiores informações,
ou a decisão pela adoção na propriedade.
Acredita-se que os processos em busca de melhoramentos contínuos são motivados
pelas perspectivas de resultados globais, os quais se constituem de resultados tangíveis e
intangíveis decorrentes do esforço para se alcançar novos padrões de qualidade e
aperfeiçoamento na atividade. Assim, possibilitam aos produtores garantia de sobrevivência e
maior competitividade no mercado. A criação de conhecimento nas propriedades rurais sofre
influência do ambiente em que se inserem, as quais estão cercadas por outras tantas variáveis
que fazem parte do cotidiano do produtor rural.
Com base nessa construção, o método visa a mostrar que é importante utilizar
caminhos alternativos para a solução de problemas, tomando como base conhecimentos mais
sólidos, para que seja viável a continuidade das mudanças; apresenta uma nova forma de
analisar a criação de conhecimento no agronegócios; oferece maiores possibilidades para a
sistematização e a explicitação de conhecimentos e busca proporcionar mais espaço e
importância para conhecimentos relevantes presentes nesse setor.
O método da Figura 24 abre perspectivas de análises mais amplas que as tradicionais,
cujo foco são os resultados tangíveis. Uma delas é a análise de fatores intangíveis ou
qualitativos presentes no agronegócios, atribuindo-lhes uma faceta mais real e ampliando as
possibilidades de explicitação. Enfim, o método auxilia na compreensão de que esse setor é
forte alicerce da economia, resultado do trabalho de pessoas dispostas a aprender, a criar, a
inovar dentro de um contexto que envolve complexidade e incertezas.
225
CONSIDERAÇÕES FINAIS E EVIDÊNCIAS
O presente trabalho teve como objetivo geral desenvolver um método dinâmico de
análise da criação de conhecimento para o elo da produção no agronegócios no Brasil e na
Austrália com base no modelo de Nonaka e Takeuchi (1997). Acredita-se que os objetivos
propostos neste trabalho: de desenvolver um método dinâmico de análise da criação de
conhecimento para o elo da produção no agronegócios no Brasil e na Austrália com base no
modelo de Nonaka e Takeuchi (1997); conhecer como se a criação de conhecimento em
propriedades rurais no Brasil e na Austrália; identificar aspectos nas relações entre os
produtores rurais que podem auxiliar na compreensão da aprendizagem e das CoPs nesses
contextos e verificar se a cooperativa no Brasil e as empresas privadas e/ou governamentais
na Austrália estimulam a criação de conhecimento nas CoPs de produtores rurais, tenham sido
plenamente atingidos.
As pressuposições apresentadas relacionam-se ao papel que as cooperativas agrícolas
exercem na estimulação da criação de conhecimento; ao suporte que as CoPs oferecem para a
criação de conhecimento; às formas utilizadas pelos produtores para conduzir seus negócios,
as quais afetam o processo de criação de conhecimento e a construção de um método
dinâmico de análise, que pode dar suporte ao entendimento da complexa realidade do
agronegócios. Pensa-se que, no decorrer da análise, todos esses aspectos tenham sido
contemplados.
Tanto na realidade brasileira como na australiana, o aspecto cultural pareceu exercer
forte influência na ocorrência das trocas e na maior ampliação da atuação das CoPs. Em vista
disso, a cultura presente em cada realidade pode influenciar fortemente na forma como as
pessoas se relacionam, agem e se comportam, enfim, se elas se propõem ou não a
compartilhar o que conhecem e a contribuir para a criação de conhecimento.
A obtenção de informações originadas de fontes diversas parece auxiliar
significativamente na utilização de ferramentas mais dinâmicas no gerenciamento da
propriedade. Contudo, é preciso ter clareza de que o volume de informações o é
determinante da criação de conhecimento. A informação necessita ser reconhecida como
226
importante pelo produtor rural para que possa ser transformada em conhecimento. Assim,
considera-se que a propriedade, por si , não cria conhecimentos; ela necessita de pessoas
engajadas nas atividades, instigadas a buscar inovações e com um objetivo definido. Por isso,
o fato da existência de relacionamentos cria maiores possibilidades de melhorar o
aprendizado. Uma organização criadora de conhecimento é vista como um sistema aberto,
com permanentes intercâmbios com o ambiente externo, buscando constante adequação, que
lhe garanta sobrevivência e garantia de competitividade no mercado.
No Brasil, a Cotrijal parece desenvolver uma cultura de aprendizagem e ser uma
organização de aprendizagem, pois o ambiente oferece espaço para desenvolver o potencial
criativo das pessoas que almejam alcançar melhores resultados e desenvolver raciocínios
diferenciados e aprendizagem em grupo. No que se refere à Austrália, como os produtores
demonstraram não possuir uma estrutura de suporte como a dos brasileiros, eles percebem a
necessidade de aprendizagem permanente para se autodesenvolver. Em ambas as realidades, a
cultura de aprendizagem é importante porque o nível de informação e conhecimento que o
produtor rural possui influencia em suas decisões, trazendo como resultado o sucesso ou o
fracasso no gerenciamento dos negócios.
Assim, as práticas dos produtores rurais parecem se caracterizar por certo grau de
improvisação, tomando por base fontes tácitas; são permeadas por aspectos culturais e vão
além de um simples trabalho executado por eles, pois ocorrem momentos de disseminação.
Quanto maior é a necessidade de informações, maiores são as possibilidades de trocas. A
concretização dessas práticas passa pelo processo de aprendizagem, capacita e encoraja a
criação de conhecimento nos níveis individual, coletivo e organizacional.
A criação de conhecimento, conforme conceito desenvolvido neste estudo, mostra-se
como o esforço permanente e sistematizado dos produtores rurais visando a promover
melhorias e inovações nas práticas diárias. Inovação é percebida como a união de todos os
esforços na busca de um objetivo, presente em cada atitude na busca de melhoramentos em
processos, produtos e serviços. Esses processos inovativos m como alicerce o
conhecimento-base, as interações e trocas e as oportunidades de atualização, tendo como foco
os objetivos individuais, grupais, organizacionais e interorganizacionais. Para a ocorrência
dos processos inovativos, as organizações (propriedades rurais, cooperativas, CoPs, outras
empresas) precisam estar preparadas e receptivas. Foi possível perceber que, para a ocorrência
da criação de conhecimento, é necessária a existência de grupos de relacionamento e, em
alguns casos, como no brasileiro, de certa liderança da cooperativa.
227
Com o reconhecimento da existência das CoPs, podem ser oferecidas maiores
possibilidades para discussão, compartilhamento de informações e conhecimentos e, ao
mesmo tempo, para otimização da sua utilização. Diante disso, é possível a identificação do
local onde estão as melhores práticas e os especialistas, o que poderá, de alguma forma,
através do compartilhamento, oferecer maiores espaços para a otimização dos processos.
Constata-se, portanto, que as CoPs, cuja base da existência se centra na paixão dos
produtores pelas suas atividades, no foco na busca de soluções para problemas comuns, no
aprendizado, no desenvolvimento de novas idéias e relacionamentos pessoais, podem ser
suporte para a criação de conhecimentos. Assim, os grupos que têm oportunidade para realizar
discussões parecem ajudar as pessoas a conhecerem e assimilarem conhecimentos ao
permitirem que todos perguntem e relatem algo novo que tenham tido a chance de conhecer e,
ao mesmo tempo, revisem seus pontos de vista.
Entretanto, o aprendizado nas CoPs depende da habilidade de cada um de adquirir
informação, de engajar-se na atividade, ou seja, para que o processo ocorra, o estilo de
aprender de cada um precisa ser respeitado. Para ser viabilizado o aprendizado, ou seja, a
construção/desconstrução permanente, é preciso deixar para trás patamares superados, como
práticas, processos e estruturas que o condizem mais com a realidade atual do
agronegócios, e adotar novas posturas. Tudo isso envolve mudanças comportamentais, pois as
percepções individuais são afetadas pelas atitudes, valores, motivos e conhecimento-base de
cada um dos envolvidos.
A observação desses aspectos pode auxiliar na transferência do aprendizado para o
conhecimento. O processo de aprendizagem visando à criação de conhecimento pode trazer
mais cooperação, engajamento, confiança, criatividade e valorização, pois o conhecimento
não pode ser visto separadamente dos aspectos tangíveis e intangíveis da comunidade que
cria.
As cooperativas parecem estimular a formação das CoPs, pois são práticas comuns
nessas organizações a realização de assembléias, dias de campo, seminários e a participação
em feiras. Os associados contam com os outros espaços para interação nas comunidades em
atividades diversas, como clubes sociais, igrejas, escolas, entre outros. Essa aproximação
parece oferecer a formação e consolidação das CoPs, possibilitando o estímulo para a
ocorrência da criação de conhecimento. A clareza no que se refere aos aspectos culturais
inseridos nesses grupos estimula o engajamento nas CoPs e a adoção de novas formas de
trabalho, com a valorização do compartilhamento das melhores práticas na atividade.
228
Os modelos mentais dos produtores rurais referem-se às suas visões sobre o modo
como o mundo funciona, às representações internas de problemas criados no decorrer da vida
por várias experiências de natureza similar, ou seja, envolvem desde o aprendizado nas
discussões para tomada de decisão na família às diferentes experiências vivenciadas no
decorrer da vida, com erros e acertos, e todas as demais que envolvem as histórias de cada
um. Para Binotto et al. (2004), o modelo mental é composto de um universo de argumentos,
experiências e informações. Tais modelos são também construídos de acordo com o papel que
as mulheres assumem no gerenciamento da propriedade e a influência que elas exercem na
tomada de decisão.
Portanto, os modelos mentais de cada um determinam, significativamente, a forma
como os produtores rurais percebem os problemas e as oportunidades, identificam os
caminhos para a ação e as escolhas diante dos processos de mudança. Tudo isso é resultante
do contato que eles mantêm em suas CoPs, nas quais formam sua identidade de acordo com a
do grupo. No compartilhamento entre eles a linguagem comum parece ser fator facilitador.
A forma de conduzir os negócios pode afetar a forma como se dá a criação de
conhecimento. Numa propriedade onde as pessoas buscam socializar, questionar, inovar
constantemente, parece haver maior espaço para transformar conhecimento tácito em
explícito. Pessoas mais abertas ao novo e ao questionamento de suas práticas demonstraram
apresentar maiores possibilidades de criar um campo de interação para que o conhecimento
seja criado. Assim, a criação de conhecimento parece ser dependente de qualidades pessoais,
tais como curiosidade, insights, idéias e determinação, ou seja, depende de pessoas aplicando
conhecimentos em meios que lhes tragam soluções úteis para velhos e novos problemas.
Um aspecto que esteve presente nas duas realidades foi a falta de bito de
formalidade na maior parte dos procedimentos das propriedades, permitindo inferir que os
produtores não querem “gastar tempo” com procedimentos formais, ou o que eles denominam
de “frescura”, dando mais importância às rotinas permeadas pela informalidade nas suas
práticas. Porém, parte do que eles consideram desnecessário registrar poderia, talvez, ser
utilizada como uma ferramenta importante nas tomadas de decisão na propriedade.
Constatou-se que a cooperativa estudada no Brasil auxiliou na realização da análise
diferenciada das realidades uma vez que possui como foco o melhoramento do desempenho
dos associados. Os gerentes demonstraram ter consciência de seu papel enquanto cooperativa
e buscam manter um ponto de equilíbrio entre a filosofia cooperativista e as posturas
competitivas no mercado para que seja garantida a sobrevivência da organização. Assim,
229
infere-se que a cooperativa oferece boa infra-estrutura e sistemas de suporte com serviços e
novas tecnologias aos associados, aspectos determinantes para a constatação e afirmação de
que na realidade australiana estudada inexistem cooperativas agrícolas.
Na Austrália, os negócios individuais parecem apresentar maiores riscos no que se
refere à adoção de mudanças em produtos e processos. Observou-se que o que parece auxiliar
na redução dos riscos é o conhecimento sistêmico do negócio, ou seja, todos os aspectos que
envolvem o sistema e as interdependências dos fatores internos e externos da cadeia
produtiva. Além da redução dos riscos, os produtores rurais podem oferecer a si próprios
maiores oportunidades para a criação de conhecimento e aprendizagem dentro das suas CoPs.
A decorrência disso pode ser o sucesso nos negócios, uma vez que eles não dependem apenas
de fatores tangíveis.
Foi constatado que o conhecimento individual tem suas raízes na prática coletiva. As
CoPs combinam capital social, intelectual e estrutural para tornar possível a construção das
relações entre as pessoas e o compartilhamento entre elas, cujo resultado é parte das práticas
cotidianas dos produtores rurais.
No entanto, as CoPs não se constituem num processo tecnológico e, sim, num
processo social e cognitivo; sua formação não parece dependente da tecnologia, mas do
estabelecimento de relações informais, por meio das quais os indivíduos utilizam-se de
ambientes para definir suas verdades quanto às suas posturas diante dos processos de
mudança. As CoPs o parecem surgir e se tornar produtivas rapidamente; necessitam de
tempo para se estruturar e produzir resultados, sofrem a influência da cultura e podem ser
determinantes do bom desempenho futuro dos empreendimentos, uma vez que são parte
natural da vida das organizações.
As pessoas, nas CoPs, necessitam de um ambiente propício para o compartilhamento,
no qual o se sintam forçadas a participar. Portanto, confiança é a palavra-chave para haver
socialização no contexto da CoP, e o engajamento tem se mostrado importante tanto no nível
organizacional como no coletivo e individual.
Este estudo mostrou que um grande distanciamento entre a existência do
conhecimento e a capacidade de torná-lo uma atitude, pois necessidade de muito mais do
que a informação. O ser humano tende, de modo geral, a buscar situações de conforto, mudar
qualquer coisa sempre exige algum esforço, sair da rotina rumo ao desconhecido, o que se
230
constitui num desafio que muitos evitam, preferindo, então, continuar na situação menos
ameaçadora a sua atividade.
Embora, no contexto que envolve os produtores rurais, haja disponibilidade e ocorra
compartilhamento de conhecimentos, experiências e informações, é importante que sejam
utilizados na prática e, além disso, que produzam resultados concretos para eles. Diante disso,
surge a necessidade do registro das melhores práticas e do que foi aprendido, ou seja, dos
resultados obtidos com a utilização dessas experiências, informações e conhecimentos. Essa
prática permite mostrar que tipo de conhecimentos ainda precisa ser buscado. O registro e o
armazenamento dos conhecimentos podem ser facilitados pelos recursos atualmente
oferecidos pela informática.
O conhecimento tácito dos produtores rurais está presente em diversas formas e meios,
podendo tornar-se explícito nos produtos e processos. Parece importante, quando se pensa em
conhecimento tácito, encontrar formas de as pessoas manterem contato freqüente, ou seja,
criar um campo de interação para que as trocas ocorram e o tácito se manifeste
espontaneamente ou ao acaso. As organizações são vistas como um espaço para o convívio
humano e para a realização de trocas através da cooperação, do engajamento, da confiança, da
criatividade e da valorização. Portanto, é preciso ter em mente que, nesse caso, o mais
importante é a aplicação do conhecimento, muito mais que a sua origem.
Numa realidade em que se valoriza a interdisciplinaridade, estudos que contemplem
aspectos intangíveis em suas abordagens parecem receber maior atenção tanto em nível
acadêmico quanto do setor produtivo. Assim, acredita-se poder dar continuidade a este
trabalho com estudos sobre:
- testar o método dinâmico de análise da criação do conhecimento para o elo da
produção no agronegócios;
- ampliar o estudo da criação do conhecimento para outros elos da cadeia produtiva,
bem como em outras realidades do agronegócios;
- em CoPs, buscar identificar as melhores práticas e os especialistas que auxiliam na
disseminação dos processos inovativos decorrentes de suas várias interações;
- verificar, nas CoPs, as possibilidades para o desenvolvimento de comunidades
virtuais de produtores rurais, incluindo a inserção da educação a distância;
231
- verificar as possibilidade da inserção do agronegócios eletrônico ou a maior
utilização da internet no contexto do agronegócios brasileiro tendo como suporte as
CoPs.
As limitações encontradas no desenvolvimento do trabalho restringiram-se à reduzida
bibliografia existente sobre criação de conhecimento, aprendizagem e CoPs na área do
agronegócios, as restrições enfrentadas na aplicação dos focus groups, que não permitiram
obedecer a todas as regras, o pouco tempo disponível para o entendimento do agronegócios
australiano e a impossibilidade de realizar comparações.
232
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249
APÊNDICES
250
Apêndice A Questionário da pesquisa no Brasil
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Centro de Estudos e Pesquisa em Agronegócios (Cepan)
Programa de Pós-Graduação em Agronegócios – PPG-Agronegócios.
INSTRUMENTO DE PESQUISA
Parte I - Questionário com Informações gerais
A. Aspectos sócio-econômicos
1. Tamanho da propriedade (Informar em hectares):
Área própria:________ Área arrendada:_________ Área total:__________
2. Informações sobre as atividades agrícolas e seus indicadores (último ano agrícola).
Atividade Área ou
animais
Produção
anual
Preço médio
recebido
Indicador de Produtividade
correspondente (sc/ha, l/vaca,outro)
Atividades Não Agrícolas – Agroindústria, prestação de serviços, turismo, outros.
3. Número de pessoas que se ocupam da atividade, escolaridade e grau de relação(cônjuge, filho,
func.,etc)
Número/nome Grau de relação
(inclusive o
proprietário)
Escolaridade
(1º, 2º ou 3º graus, completos ou
incompletos-inclusive do proprietário)
Idade
B. Uso e acesso à tecnologia e à informação
4. Possui computador em sua propriedade?
( ) Sim ( ) Não
Se não possui, por quê? ( ) outras prioridades ( ) não sabe usar ( ) Falta de dinheiro ( ) outro motivo
5. Se possui, acessa a Internet?
( ) Sim ( ) Não
Se não acessa, por quê? ( ) só possui telefone celular ( ) não se interessa ( ) outro motivo
6. Se possui computador, quantas vezes por semana o utiliza?
( ) 1 ( ) 3 ( ) 5 ( ) 7 ( )Raramente usa ( ) Não usa.
251
Se usa, para que finalidade? ( ) trabalhos escolares ( ) gerenciamento/controle ( ) busca de
preços
7. Se possuir acesso a Internet, quantas vezes por semana utiliza?
( ) 1 ( ) 3 ( ) 5 ( ) 7 ( ) Não Usa.
Se usa, para que finalidade? ( ) e-mail ( ) preços/cotações ( ) outro
8. Quantos cursoso realizados pelos colaboradores da sua propriedade no ano?
( ) Até 3 ( ) 4-7 ( ) 8-10 ( ) 10-12 ( ) 12-15 ( ) Mais de 15 ( )Nenhum
9. Quantas palestras são realizadas pelos colaboradores da sua propriedade no ano?
( ) Até 3 ( ) 4-7 ( ) 8-10 ( ) 10-12 ( ) 12-15 ( ) Mais de 15 ( )Nenhuma
10. Quantas visitas a outras propriedades ou organizações são realizadas no ano?
( ) Raramente ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) Mais de 3 ( ) Não faz visitas
11. Já trabalhou em outra propriedade?
( ) Sim, do pai ( ) Sim, como funcionário em outra propriedade ( )Sim, em outra propriedade sua
( ) Não, nunca trabalhou em outra propriedade
12. Onde são buscadas informações (marcar as 3 principais em ordem de importância, sendo 1 para a
mais importante, seguido de 2 e 3 para as demais)?
( ) EMATER/RS
( ) Cotrijal
( ) Outra Cooperativa
( ) Sindicato
( ) Secretaria Municipal da Agricultura.
( ) Revistas ou Jornal
( ) Programa de TV
( ) Internet
( ) Outra (vizinho, colega, familiar)
13. Quando descobre uma maneira nova de realizar uma atividade ou tarefa, o quê faz primeiro
(marcar as 2 principais em ordem de importância, sendo 1 para a mais importante e 2 para a segunda
mais importante)?
( ) Repassa logo para os outros
( ) Espera para que os outros também descubram
( ) Conversa com um vizinho primeiro
( ) Discute com funcionário ou familiares
( ) Discute com familiar que atua na mesma atividade, fora da propriedade
14. Para implantar um novo procedimento ou nova técnica, quando se sente mais confiante para
enfrentar as incertezas e os riscos (marcar as 2 principais em ordem de importância, sendo 1 para a
mais importante e 2 para a segunda mais importante)?
( ) Quando decide de acordo com que os outros também estão fazendo
( ) Quando decide de acordo com seus próprios palpites e observações (sua experiência e intuição)
( ) Quando decide orientado pelas recomendações dos técnicos e especialistas em agricultura
( ) Quando decide orientado em experimentos anteriores
252
15. Como a sua propriedade conheceu a tecnologia que usa (marcar as 3 principais em ordem de
importância, sendo 1 para a mais importante, seguido de 2 e 3 para as demais)?
( ) Orientação Técnica ( ) Leitura/TV/meios de comunicação
( ) Observação de um vizinho ( ) Com os familiares
( ) Funcionários ( ) Outra_______________________________
16. Antes de tomar uma decisão sobre o que fazer na sua propriedade costuma (marcar as 2 principais
em ordem de importância, sendo 1 para a mais importante e 2 para a segunda mais importante):
( ) Conversar sempre com a família.
( ) Conversar às vezes com a família.
( ) Conversar sempre com funcionário.
( ) Conversar às vezes com funcionário.
( ) Conversar sempre com produtores na mesma atividade.
( ) Conversa às vezes com produtores da mesma atividade.
( ) Não conversa com familiar, funcionário ou parceiro da atividade.
17. Fazem reuniões na propriedade com os envolvidos na atividade? Qual a freqüência?
( ) sim, mais de uma vez na semana.
( ) sim, uma vez na semana.
( ) sim, uma vez a cada quinze dias
( ) sim, uma vez a cada mês
( ) Não são programadas e ocorrem sempre que necessário
( ) Não realizam reunião.
18. Se as reuniões ocorrem, quanto tempo dura normalmente?
( ) 15 minutos ( ) 30 minutos ( ) 1 hora ( ) 1 hora e meia ( ) 2 horas ( )Mais de 2 horas
19. Se as reuniões ocorrem, há quanto tempo são realizadas?
( ) 1 mês ( ) 1 ano ( ) mais de 2 anos
( ) 6 meses ( ) de2-5 anos ( ) mais de 5 anos ( ) Sempre ocorreram
20. Qual foi o motivo do início das reuniões?
( ) Falta de integração e dedicação
( ) Necessidade de delegar responsabilidades
( ) Rapidez das mudanças/complexidade das decisões
( ) Diversificação das atividades
( ) Não sabe
21. A utilização de um novo procedimento descoberto na atividade como é empregado(marcar apenas
1 alternativa)?
( ) usado já no próximo ciclo ou cultivo
( ) espera um vizinho usar ou descobrir primeiro
( ) aguarda para ver os resultados e experimentos e depois adota
( ) Outra................................
253
Apêndice B Roteiro de questões para as entrevistas semi-estruturadas no Brasil
1. Como foi que aprendeu a fazer o que sabe na sua atividade?
2. Se já trabalhou em outra propriedade? Como era lá e qual foi a maior experiência adquirida?
3. Já descobriu algo novo, uma técnica ou maneira nova de fazer algo. Como chegou lá?
4. Quando um funcionário seu utiliza um novo procedimento ou uma nova descoberta, como reage?
(incentiva, registra, divulga ou não se interessa)
5. Os seus parceiros na atividade, quando sabem de algo novo, que não é conhecido pelos demais, o
que fazem?
6. Pensa que os seus parceiros compartilham o conhecimento que possuem ou deixam reservados
somente para eles?
7. Se descobrisse alguma técnica extraordinária na sua atividade, o que faria primeiro? (se tem
preocupação em repassar aos demais)
8. Se o conhecimento for compartilhado entre todos na comunidade ou grupo, o que pensa que vai
acontecer?
9. Pensa que o grupo ou a cooperativa é um incentivo para a descoberta de novas formas de trabalho?
10. Quando há dificuldades técnicas, quem procura primeiro?
11. E hoje, como continua melhorando no seu trabalho? Discussão no grupo, conversa com um
colega, cursos, palestras,...........
12. Os conhecimentos adquiridos, como são disseminados? Tem algum procedimento com aquela
pessoa que participa do curso ou palestra? Ela apresenta aos demais do grupo o que viu de novo?
13. Como é escolhida a pessoa que participará da palestra ou curso. É realizado um rodízio ou
normalmente é a mesma pessoa que vai?
14. Quais as maiores dificuldades para implantar um novo procedimento na propriedade?
15. Como são resolvidos os problemas na propriedade rural?
16. A discussão antes da tomada de decisão, como ocorre?
17. Quais as vantagens e desvantagens em se reunir para discutir as dificuldades, soluções e resultados
da propriedade com a família e os colaboradores? E para que serve?
18. São feitos registros das reuniões? Que tipo?
19. Em sua opinião como a propriedade mais aprende?
20. As recomendações técnicas são feitas por escrito e padronizadas? Todas as pessoas da propriedade
as consultam?
21. Existem registros das operações efetuadas? E estão sempre preenchidos?
22. Procura mostrar os rumos da propriedade para seus familiares e colaboradores?
23. Se os conhecimentos de todos os produtores fossem armazenados em site da internet, vídeos,
revistas, jornais. Isso seria utilizado na propriedade e seria importante no seu ponto de vista?
24. Quais as vantagens em participar de um grupo de gerenciamento? E desvantagens?
25. Embora não faça parte do grupo, quais as vantagens que vê em participar de um grupo de
gerenciamento? E desvantagens?
OBS: Para os produtores Externos ao Grupo de Gerenciamento, a pergunta 24 foi substituída pela 25.
LOCAL DA ENTREVISTA: ___________________________________DATA__/__/__
NOME DO ENTREVISTADOR: _____________________________________________
NOME DO ORIENTADOR: ________________________________________________
OBSERVAÇÕES QUE JULGAR IMPORTANTE:
254
Apêndice C Consentimento informado para questionários e entrevistas no Brasil
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Centro de Estudos e Pesquisa em Agronegócios (Cepan)
Programa de Pós-Graduação em Agronegócios – PPG-Agronegócios.
CONSENTIMENTO INFORMADO
De acordo com as explicações fornecidas pelo pesquisador ELERI
HAMER, estamos cientes de que ele poderá utilizar os dados coletados na nossa
propriedade rural como material para suas pesquisas, mantendo sigilo naqueles
aspectos que considerar de boa ética.
Não-Me-Toque, ______________ de 2002.
Pesquisado Eleri Hamer
Pesquisador
Observação: O Consentimento Informado
original permanecerá em poder do pesquisador.
Período: Fevereiro e Março de 2002.
255
Apêndice D Consentimento informado para focus groups no Brasil
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS)
Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios (CEPAN)
Programa de Pós-Graduação em Agronegócios – PPG-Agronegócios
Doutorado em Agronegócios
CONSENTIMENTO INFORMADO
De acordo com as explicações fornecidas pela pesquisadora ERLAINE
BINOTTO, estamos cientes de que ela poderá utilizar os dados obtidos na
realização do Focus Group como material para suas pesquisas, mantendo sigilo
naqueles aspectos que considerar de boa ética.
Não-Me-Toque, ___ de _________ de 2003.
______________________________ Erlaine Binotto
Pesquisado Pesquisadora
Observação: O Consentimento Informado original permanecerá em poder do pesquisador.
Período: Junho a Agosto de 2003.
256
Apêndice E Roteiro de questões para o focus group no Brasil
1. Que tipo de conhecimentos consideram que a cooperativa estimula a desenvolver?
2. A cooperativa liberdade para criação, estimula as novas práticas e as trocas entre os
associados?
3. As informações são disponibilizadas de forma clara e dentro das necessidades?
4. Seria importante a criação de mais uma rede de conhecimento para realização de trocas?
5. Como a cooperativa poderia melhorar a socialização do conhecimento?
6. Como chegam a conclusão de que uma nova prática é válida na atividade?
7. Como transmitem esse conhecimento para a cooperativa e para outros associados?
8. Qual a forma de troca que consideram que traz maior aprendizado?
9. Já ouviram falar de Comunidades de Prática?
257
Apêndice F Roteiro de questões - entrevista com os gerentes da cooperativa no Brasil
1. Como você se identifica em cooperativa onde os associados são os proprietários e usuários
ao mesmo tempo?
2. É clara a intenção da cooperativa com o seu quadro social? Qual o papel principal do
associado? Quais os objetivos futuros?
3. Como são informados sobre os rumos da cooperativa?
4. Que política direcionada aos produtores você considera mais adequada no estágio em que
a cooperativa está?
5. Como treinam os funcionários para atender aos associados dentro da filosofia
cooperativista? Planos de qualificação?
6. Planejamento estratégico nessa nova modalidade pode auxiliar na maior integração?
Como as pessoas receberam isso? Em síntese o planejamento a curto, médio e longo
prazo?
7. Como conciliar a filosofia cooperativista nesse processo concorrencial?
8. Programa de qualidade: Qual o objetivo final na cooperativa e no associado?
9. Programa de gerenciamento hoje?
10. Papel desempenhado pelos líderes? Ele está atendendo a expectativa?
11. Qual o objetivo das roupas com a marca? Com o produtor: como é usada a marca?
12. Quais os objetivos principais dos programas educativos?
258
Apêndice G Questionário da pesquisa na Austrália
The University of Queensland
School of Natural & Rural Systems Management
and
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brazil
Centre for Studies and Research in Agribusiness
PRODUCER KNOWLEDGE CREATION AND MANAGEMENT SURVEY
I. PERSONAL INFORMATION
1. Nationality: Family Origin(s):
2. Size of the property and activities (acres or ha):
Own area: Leased area:
Main enterprise activity: Second:
II. GENERAL INFORMATION
1. People who are in charge of the enterprise (spouse, son, employees, etc)
Name Relationship
To the owner
Scholarly Age
2. Do you have computer on your property?
( ) Yes, no internet
( ) Yes + internet but seldom access internet
( ) Yes + internet and frequently access internet
( ) No, I don’t have computer
If you don’t have a computer what is the main reason?
3. If you have computer, what‘s the purpose? (It’s possible to mark more than one)
( ) Management or control of the property
( ) Prices/quotation of products
( ) Contact with other people
( ) E-mail
( ) Other, e.g.:________
259
4. How many courses and lectures are attended by you and your collaborators in a
year?
( ) Up to 3 ( ) 4-7 ( ) 8-10 ( ) 10-12 ( ) 12-15 ( ) Over 15 ( ) None
5. How many visits to other properties, research centres and organizations in a year?
( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) Over 3 ( ) Rarely ( ) None
6. Have you ever worked on another property?
A ( ) Yes, your family
B ( ) Yes, as an employee on another property
C ( ) Yes, on another property of yours
D ( ) No, you haven’t work on another property
Where did you learn most about your prime activity?
To the questions 7, 8, 9 and 10 Please mark two answers, 1 for the most important and
2 for the second most important
7. Where do you normally look for information?
( ) Extension Centre
( ) Co-operative
( ) Other Companies
( ) Government Institutions
( ) University
( ) Magazines or Newspapers
( ) TV programs
( ) Internet
( ) Other________
8. What do you do when you work out a new way to achieve good farm management
practices?
( ) Test it
( ) You immediately tell others
( ) You wait until others also find it out before implementing it
( ) You talk first with a neighbor
( ) You discuss with family or an employee
( ) You discuss with a relative who works in the same activity, off the property
( ) Other, e.g.:________
9. When do you feel most confident in facing the uncertainties and risks associated with
implementing a new procedure or a new technique?
( ) When others are using the procedure
( ) When going with your own hunches and observations (experience and intuition)
( ) When you are guided by technicians and specialists recommendations
( ) When you are guided by previous experiments/trials
( ) Other, e.g.: ________
10. How do you make a decision on your property?
( ) Discuss with family
( ) Discuss with an employee
( ) Prefer making decision for yourself? - Based
on what? e.g.: ______
( ) Discuss with producers in the same activity
( ) Discuss with technician or specialist in
agriculture
( ) Other, e.g.:______
11. When do you use a new technique or procedure associated with your management
practices?
( ) In the next cycle of production or cultivation
( ) Wait for a neighbor to use it or to discover it
( ) Wait to see the results of the trials before adopting
( ) Other, e.g.:_____
260
12. What do you think would be the behavior of your neighbor when they know
something new?
( ) They keep it a secret
( ) They share it with others
( ) They use it straight away to produce an advantage in their activity
( ) Other, e.g.:______
13. Do you know what a Community of Practice is?
( ) Yes ( ) No
If yes: Are you member of one? ( ) Yes ( ) No
14. Could you describe the activities you participate in your Community of Practice?
15. What do you think that will happen if knowledge is shared among farmers through
the internet or other communication new technologies, mobile or CDRom?
( ) Farmers’ knowledge will improve
( ) The relationship among farmers and community will improve
( ) Nothing, because people prefer to keep secret what they are doing
( ) Other, e.g.:______
16. Would you be prepared to use on-line interactive education packages (e.g. via
Webpage)?
( ) Yes ( ) No Do you have any suggestions?
17. Do you have meetings on the property with other people involved in the enterprise?
How often?
( ) Yes, more than once a week
( ) Yes, once a week
( ) Yes, once every fortnight
( ) Yes, once every month
( ) They are not scheduled, they occur whenever it’s necessary
( ) You don't have meetings
If they occur, meetings have been taking place since: ______
18. Why did you start having meetings?
( ) There was a lack of integration and dedication
( ) We needed to delegate responsibilities
( ) The speed of changes and complexity of the decisions were getting great
( ) We needed to improve the diversification of the activities
( ) Historical
What do you feel are the advantages of having meetings?
19. Which activities have you found to be the best learning mechanism?
( ) Adopting innovations and trying them act
( ) Facing the difficulties in real life
( ) Sharing information about practices amongst themselves
( ) Problem solving in a management of farm
( ) Other, e.g.:_____
261
20. Based on your experiences, what is your advice to other people who are starting the
activity?
21. Do you keep records associated with the various activities of farm? Do you use these
records to modify you next year’s activities?
( ) Yes, the most of activities
( ) Yes, just some activities
( ) No, you don’t use to do it
( ) Other, e.g.:______
INFORMED CONSENT
We understand and agree from the explanations given by the researchers
Ms Erlaine Binotto and Dr. Kim Bryceson that the data collected during this
interview will be used only for the purposes of research. We also commit to
ensuring that any Commercial-in-Confidence information made available to us will
be kept as such.
Interviewee Date
Number of Fax:
Email:
(The results of study will send for you)
262
Apêndice H Roteiro de questões para o focus group na Austrália
1. What do you think about your enterprise?
2. Who stimulates, encourage and motivates new experiences and discoveries in your
enterprise?
3. Would you classify yourself as an innovator have you already created anything
extraordinary and new and implemented in your property? What would you do first?
4. How do you feel when faced with new techniques or processes? With whom and how do
you talk about something new that appears in the enterprise?
5. What are the biggest difficulties associated with implementation a new procedure on the
property?
6. Who do you seek first when in technical difficulties?
7. When your employee brings to your attention to a new procedure or a new discovery, how
do you react? (Motivate, register, promote or not interested)
8. How problems are solved on your property and how does discussion happen before the
making decisions?
9. Has your enterprise already experienced a large change? If so, what was learned from it?
10. Do you keep records of production management and business issues – hardcopy or
computer?
11. How do you use this information? Do you share it all with group members?
12. If you were to run a workshop a group – how do you choose the Agenda and/a source the
people speaking at it?
13. Do you think that other growers share the knowledge they have or do they keep it only for
them? E.g. something new, which is not known by the others.
14. Is there a common knowledge thread in the social and professional groups that you are
involved with? If so, have their experiences been similar or different in gaining that
knowledge?
15. Do you truth that being part of a group facilitates the discovery of new and innovative
process? Communities of Practice.
16. In a perfect world information and knowledge was shared without constraint - what do
you think that would happen in rural enterprises?
17. What would be the best way to store information for easy accessible - internet, videos by
many people, magazines, “AGFACTS”. Would that be used in the property and it would
be important in your point of view?
263
Apêndice I Consentimento informado para focus group na Austrália
INFORMED CONSENT
We understand and agree from the explanations given by the researchers
Ms Erlaine Binotto and Dr. Kim Bryceson that the data collected during this Focus
Group Interview will be used only for the purposes of research. We also commit to
ensuring that any Commercial-in-Confidence information made available to us will
be kept as such.
Interviewee Date
Fax Number:
Email:
264
Apêndice J Material sobre cooperativas no Brasil para o focus group
Knowledge Creation in Agricultural Producers in Brazil and
Australia Erlaine Binotto (PhD Student)
Brazil
Population: 180 million
Language: Portuguese
Area: 8,511,965 Kilometres
Political Regime: Democratic Republic
States: 26
Climate: Subtropical
Currency: Real (2, 00 Reais = 1 Au$)
Economic information 2003
8% Agriculture
36% Industry
56% Services
Total Gross Domestic Product (GDP) – US$ 492,338 billion
Exports - US$ 66.3 billion
Recent world leadership in beef exports, second place in soybean production and becoming one of
the major producers and exporters of sugar.
Agribusiness
GDP - US$ 157 billion (32% of Total GDP)
Volume of Grain - 122 million tonnes (26.5% larger than in 2002)
37% of the labour force
Exports: US$ 30.6 billion (23% more than 2002)
42% of national exports
Agricultural Co-operatives in Brazil
Number of co-operatives: 1.587
Number of employees: 108.273
Information about the Cotrijal Co-
operative
Created in 1957
Over 4.500 Members
In 13 Cities
800 Employees
General
Assembly (members)
Administrative Council
(14 Members)
Fiscal Council
(6 Members)
Management
(3 Directors)
Operational
Clients
(associates, trainees and stakeholders)
Communication
and Education
Internal and
External Audit
Administrative
Human
Resources
Financial
Grain Animal Production Retail
Strategic Support Business Unit
Strategic Support Unit
Cotrijal
Structure
Erlaine Binotto (PhD Student) S4065648@student.uq.edu.au Brazil: Erlaine@vortex.ufrgs.br Phone: 7 3365 4731
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Apêndice K Roteiro de questões para a entrevista com DPI&F na Austrália
1. Who stimulates, encourage and motivates new experiences and discoveries on farmers’
enterprises?
2. Would you classify farmers as innovators?
3. How do think that farmers feel when faced with new techniques or processes? With whom
and how do they talk about something new that appears in the enterprise?
4. What do you think that are the biggest difficulties associated with implementation a new
procedure on the property?
5. Who do you think that they seek first when in technical difficulties?
6. How problems are solved on property?
7. Do you think that growers share the knowledge and information that they have or do they
keep it only for them?
8. Do you truth that they are being part of a group facilitates the discovery of new and
innovative process? Communities of Practice.
9. In a perfect world information and knowledge was shared without constraint - what do
you think that would happen in rural enterprises?
10. What would be the best way to store information for easy accessible - internet, videos by
many people, magazines, “AGFACTS”. Would that be used in the property and it would
be important in your point of view?
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ANEXOS
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Anexo A Carta do DPI&F
268
Anexo B Relação de atividades desenvolvidas durante o estágio na Austrália
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