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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA E
CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO
SIMILARIDADES E DIFERENÇAS INDICATIVAS DE IDENTIDADE E
EVOLUÇÃO CULTURAL NO ESTILO SERRA BRANCA DE PINTURAS
RUPESTRES DO PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA, PIAUÍ -
BRASIL
MARCELA PACINI VALLS
RECIFE
2007
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MARCELA PACINI VALLS
SIMILARIDADES E DIFERENÇAS INDICATIVAS DE IDENTIDADE E
EVOLUÇÃO CULTURAL NO ESTILO SERRA BRANCA DE PINTURAS
RUPESTRES DO PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA, PIAUÍ -
BRASIL
Dissertação apresentada ao
programa de Pós-graduação em
Arqueologia da UFPE, para
obtenção do grau de Mestre em
Arqueologia.
Orientação: Profa. Dra. Anne-Marie Pessis
RECIFE
2007
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Valls, Marcela Pacini
Similaridades e diferenças indicativas de identidade e evolução
cultural no estilo Serra Branca de pinturas rupestres do Parque Nacional
Serra da Capivara, Piauí - Brasil. – Recife: O Autor, 2007.
278 folhas : il., gráf., tab., fotos., mapas.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco.
CFCH. Arqueologia. Recife, 2007.
Inclui: bibliografia e anexos
1. Arqueologia. 2. Registros rupestres – Pinturas rupestres.
3. Sítios arqueológicos – Estilo Serra Branca. 4.Tradição Nordeste. 5.
Piauí – Parque Nacional Serra da Capivara. I Título.
930.27
930.1
CDU (2. ed.)
CDD (22. ed.)
UFPE BCFCH2007/72
Às 9 horas do dia 31 (trinta e um) de agosto de 2007 (dois mil e sete), no Curso de
Mestrado em Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco, a Comissão
Examinadora da Dissertação para obtenção do grau de Mestre apresentada pela aluna
Marcela Pacini Valls intitulada “Similaridades e diferenças indicativas de identidade
e evolução cultural no Estilo Serra Branca de pinturas rupestres doParque Nacional
Serra da Capivara, Piauí – Brasil”, em ato público, após a argüição feita de acordo
com o Regimento do referido Curso, decidiu conceder à mesma o conceito
“Aprovada” em resultado à atribuição dos conceitos das professoras: Maria
Gabriela Martin Ávila, Ana Catarina Peregrino Torres Ramos e Madalena de
Fátima Zaccara Pekala. Assinam também a presente ata, a Coordenadora, Prof
a
Anne-Marie Pessis e a secretária Luciane Costa Borba para os devidos efeitos legais.
“If I have seen further it is by
standing on the shoulders of giants.”
Isaac Newton
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais serei sempre grata por tudo;
À Dra. Gabriela Martin, Dra. Anne-Marie Pessis e Dr. Ricardo Medeiros pelo apoio e
confiança manifestados desde a seleção para ingresso na pós-graduação;
À Dra. Niède Guidon pelo exemplo de perseverança;
A todos os professores do curso pelos conhecimentos transmitidos;
À solícita equipe da FUMDHAM pelo acesso ao acervo e colaboração nas pesquisas de
campo;
Ao amigo Carlos Rios pela ajuda e companhia em campo, pelos estudos e discussões
compartilhados e pelo apoio desde a minha mudança para Recife;
Ao CNPq pelo apoio financeiro;
À Luciane Costa Borba por seu profissionalismo;
À Doralice e ao Tony pela grande ajuda na biblioteca;
E a todos aqueles que de alguma maneira colaboraram para a realização desta
dissertação.
RESUMO
A presente dissertação refere-se a pinturas rupestres da Tradição Nordeste da área do
Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí. A pesquisa objetivou fazer uma
particularização na apresentação gráfica dos registros do estilo Serra Branca, por meio
de suas similaridades e diferenças, presentes em 21 sítios arqueológicos distribuídos
geograficamente em diversos pontos da área do Parque Nacional e entorno. Para tal,
fez-se um levantamento do material catalográfico existente no acervo da Fundação
Museu do Homem Americano (FUMDHAM) e um levantamento fotográfico
complementar dos abrigos, em vários níveis de aproximação. A partir da utilização de
parâmetros de análise criados desde o perfil gráfico proposto pelos pesquisadores,
intentou-se verificar se existe uma unicidade dentro da diversidade do corpus gráfico do
estilo Serra Branca e como ele se apresenta nas distintas áreas de dominância do estilo
Serra da Capivara e do complexo estilístico Serra Talhada. Os resultados apontaram
para uma recorrência dos grafismos emblemáticos do tipo “frente-perfil”, para a
representação dos antropomorfos lado a lado e de animais em fila, além da apresentação
das figuras antropomorfas, geralmente, de frente, a não ser quando em composições
emblemáticas, ao contrário das figuras zoomorfas, que se apresentam de perfil.
Independente da localização geográfica do sítio, todos apresentam alguma característica
de angularidade, confirmando a peculiaridade do estilo, porém esta angularidade pode
se apresentar na ornamentação interna das figuras ou em pequenos detalhes, como a
posição dos pés.
Palavras-chave: Registros Rupestres pintados, Tradição Nordeste, Parque Nacional
Serra da Capivara, Estilo Serra Branca.
ABSTRACT
The present dissertation refers to rock paintings of the Nordeste Tradition found in the
area of the Serra da Capivara National Park, in Piauí State, Brazil. The research tried to
particularize on the graphic presentation of images of the Serra Branca style, as
concerns their similarities and differences, present in 21 archaeological sites
geographically distributed in several locations in the area of the National Park and its
surroundings. With this in mind, a survey has been conducted on the catalographic
assets of the Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), besides a
complementary photographic survey of the sites, at several levels of approximation. By
using analytical parameters developed from the graphic profile proposed by previous
researchers, we tried to check if there is a unity within the diversity of the graphic
corpus of the Serra Branca style, and how it is presented in the distinct areas of
dominance of the Serra da Capivara style and the stylistic complex Serra Talhada. The
results point to a recurrence of emblematic graphic records of the “front-profile” type, to
the presentation of antropomorphs side by side and animals in rows, besides the
presentation of the anthropomorphic images usually in a frontal position, unless when in
emblematic compositions, contrary to the zoomorphic figures, shown in side view.
Independent of their geographic location, all sites presented some angular feature,
confirming the peculiarity of the style, but this angularity may be shown in the internal
ornamentation of the figures, or in small details as the position of the feet.
Key words: Rock paintings, Nordeste Tradition, Serra da Capivara National Park, Serra
Branca style.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
Capítulo 01
1. ANTECEDENTES
1.1 O Estilo Serra da Capivara ...................................................................................9
1.2 O Estilo Serra Branca ...........................................................................................9
1.3 Fundamentação teórica ......................................................................................12
1.4 O Problema ........................................................................................................15
1.5 As Hipóteses ......................................................................................................18
1.6 A Metodologia ...................................................................................................18
Capítulo 02
2. CONTEXTO AMBIENTAL
2.1. Apresentação da área ........................................................................................23
2.2. Descrição dos sítios ..........................................................................................27
2.2.1 Toca do Salitre.................................................................................................28
2.2.2 Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada..................................................28
2.2.3 Toca do Vento.................................................................................................29
2.2.4 Toca do Caboclo da Serra Branca...................................................................30
2.2.5 Toca do Caboclinho........................................................................................31
2.2.6 Toca da Extrema II.........................................................................................32
2.2.7 Toca do Pitombi..............................................................................................33
2.2.8 Toca do Arapuá do Gongo ............................................................................34
2.2.9 Toca do Morcego............................................................................................35
2.3.0 Toca do Sobradinho........................................................................................36
2.3.1 Toca da Levada do Caldeirão de Dentro........................................................37
2.3.2 Toca do Boqueirão do Paraguaio I.................................................................38
2.3.3 Toca do Estevo III..........................................................................................39
2.3.4 Toca da Roça do Zeca....................................................................................40
2.3.5 Toca da Baixa das Cabaceiras........................................................................41
2.3.6 Toca do Varedão VI.......................................................................................42
2.3.7 Toca do Varedão VII......................................................................................43
2.3.8 Toca do Caldeirão dos Rodrigues II...............................................................44
2.3.9 Toca do Zé Patu..............................................................................................45
2.4.0 Toca do Caldeirão dos Canoas VIII................................................................46
2.4.1 Toca do João Pimenta......................................................................................47
Capítulo 03
3. ANÁLISES
3.1 Serra Alegre e Angical
3.1.1 Toca do Morcego.............................................................................................50
3.1.2 Toca do Zé Patu.............................................................................................. 66
3.2 Serra do Gongo e Cambraia
3.2.1 Toca do Arapuá do Gongo..............................................................................72
3.2.2 Toca do Varedão VI........................................................................................77
3.2.3 Toca do Varedão VII.......................................................................................81
3.2.4 Toca do Estevo III...........................................................................................84
3.3 Serra da Capivara
3.3.1 Toca do Pitombi..............................................................................................92
3.3.2 Toca do Boqueirão do Paraguaio I.................................................................101
3.4 Serra Talhada
3.4.1 Toca do Caldeirão dos Canoas VIII..............................................................108
3.4.2 Toca do Caldeirão dos Rodrigues II.............................................................112
3.4.3 Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada...............................................139
3.4.4 Toca da Levada do Caldeirão de Dentro......................................................145
3.4.5 Toca da Baixa das Cabaceiras.......................................................................150
3.4.6 Toca da Roça do Zeca ..................................................................................156
3.5 Serra Nova e Serra Vermelha
3.5.1 Toca do João Pimenta ...................................................................................163
3.5.2 Toca do Salitre...............................................................................................178
3.6 Serra Branca
3.6.1 Toca do Caboclinho.......................................................................................213
3.6.2 Toca do Vento...............................................................................................224
3.6.3 Toca do Caboclo da Serra Branca.................................................................238
3.6.4 Toca da Extrema II........................................................................................245
3.6.5 Toca do Sobradinho.......................................................................................259
Capítulo 04
4. RESULTADOS......................................................................................................267
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................275
6. BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................276
LISTA DE MAPAS E FOTOGRAFIAS
MAPAS:
Mapa 1 - Localização do Parque Nacional Serra da Capivara 23
Mapa 2 - Localização dos sítios arqueológicos estudados na área do Parque Nacional 27
Mapa 3 - Localização dos sítios analisados na área da Serra Alegre e Angical 50
Mapa 4 - Localização dos sítios analisados na área da Serra do Gongo e Cambraia 71
Mapa 5 - Localização dos sítios analisados na área da Serra da Capivara 91
Mapa 6 - Localização dos sítios analisados na área da Serra Talhada 108
Mapa 7 - Localização dos sítios analisados na área da Serra Nova e Serra Vermelha 162
Mapa 8 - Localização dos sítios analisados na área da Serra Branca 213
FOTOGRAFIAS:
Fotografia 1 - Toca do Salitre 28
Fotografia 2 - Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada 29
Fotografia 3 - Toca do Vento 30
Fotografia 4 - Toca do Caboclo da Serra Branca 31
Fotografia 5 - Toca do Caboclinho 32
Fotografia 6 - Toca da Extrema II ou Toca do Gato 33
Fotografia 7 - Toca do Pitombi 34
Fotografia 8 - Toca do Arapuá do Gongo 35
Fotografia 9 - Toca do Morcego 36
Fotografia 10 - Toca do Sobradinho ou Sobradinho I 37
Fotografia 11 - Toca da Levada do Caldeirão de Dentro 38
Fotografia 12 - Toca do Boqueirão do Paraguaio I 39
Fotografia 13 - Toca do Estevo III ou Toca da Onça 40
Fotografia 14 - Toca da Roça do Zeca 41
Fotografia 15 - Toca da Baixa das Cabaceiras 42
Fotografia 16 - Toca do Varedão VI ou Fidalgo II 43
Fotografia 17 - Toca do Varedão VII ou Fidalgo I 44
Fotografia 18 - Toca do Caldeirão do Rodrigues II 45
Fotografia 19 - Toca do Zé Patu 46
Fotografia 20 - Toca do Caldeirão dos Canoas VIII 47
Fotografia 21 - Toca do João Pimenta ou Canoas da Serra Vermelha 48
Toca do Morcego:
Fotografia 1: Figura mascarada com antropomorfo menor ao lado 51
Fotografias 2 e 3: Figura amarela compondo “frente-perfil” com antropomorfo mascarado 52
Fotografia 4: Fila de antropomorfos 53
Fotografia 5: Figura antropomorfa incompleta 55
Fotografia 6: Grande cervo policromático 56
Fotografia 7: Cervídeo com gravura 57
Fotografia 8: Figura antropomorfa 58
Fotografia 9: Painel com composição emblemática, fila de antropomorfos, cervídeo e antropomorfos em
cena 59
Fotografia 10: Cervídeo retangular 61
Fotografia 11: Composição emblemática 62
Fotografia 12: Figura antropomorfa em cinza em meio às gravuras 63
Fotografia 13: Composição emblemática em cinza 64
Fotografia 14: Antropomorfo 65
Toca do Zé Patu:
Fotografia 1: Composição emblemática de tipo “frente-perfil” no centro do painel 67
Fotografias 2 e 3: Detalhe dos “seios” 68
Fotografia 4: Painel com composição emblemática 69
Toca do Arapuá do Gongo:
Fotografia 1: Painel com vários momentos gráficos 72
Fotografia 2: Fila de antropomorfos com composição emblemática 73
Fotografia 3: Figura zoomorfa 73
Fotografia 4: Cervídeos enfileirados 74
Fotografia 5: Figura geométrica formada por círculos concêntricos 75
Fotografia 6: Cena de luta 75
Fotografia 7: Figuras antropomorfas geométricas 76
Toca do Varedão VI:
Fotografias 1: Capivaras em fila com antropomorfo 77
Fotografia 2: Cervos com figura antropomorfa 78
Fotografia 3: Antropomorfo caçando uma capivara 79
Fotografia 4: Detalhe – antropomorfo 80
Fotografia 5: Traços verticais paralelos 80
Toca do Varedão VII:
Fotografia 1: Painel com cervídeos e figuras antropomorfas 82
Toca do Estevo III:
Fotografia 1: Onça com contorno aberto 84
Fotografia 2: Cervídeos com técnica de contorno aberto 85
Fotografia 3: Cervos preenchidos 86
Fotografia 4: Composição emblemática 87
Fotografias 5 e 6: Antropomorfo isolado e detalhe da irregularidade do suporte rochoso 88
Fotografia 7: Fila de antropomorfos bicromáticos 89
Fotografia 8: Cervídeos 89
Fotografia 9: Cervídeos de perfil 90
Toca do Pitombi:
Fotografia 1: Antropomorfo 92
Fotografia 2: Antropomorfo 93
Fotografia 3: Composição emblemática 93
Fotografia 4: Composição emblemática 94
Fotografia 5: Figura zoomorfa 95
Fotografia 6: Antropomorfo 95
Fotografias 7 e 8: Antropomorfo retangular e detalhe da sua posição, no suporte inclinado 96
Fotografia 9: Duas figuras antropomorfas 97
Fotografia 10: Cena de caça 98
Fotografia 11: Onça sobreposta e capivaras logo abaixo 99
Fotografia 12: Emas enfileiradas 100
Toca do Boqueirão do Paraguaio I:
Fotografia 1: Detalhe da composição emblemática sobrepondo figura zoomorfa 101
Fotografia 2 e 3: Composição emblemática e detalhe da interação “direta” entre as figuras 102
Fotografia 4: Grande cervídeo 103
Fotografia 5: Grande figura humana mascarada 104
Fotografia 6: Composição emblemática 105
Fotografia 7: Figuras antropomorfas lado a lado 106
Toca do Caldeirão dos Canoas VIII:
Fotografia 1: Fila de capivaras 109
Fotografia 2: Cervo arredondado 110
Fotografia 3: Lagarto bicromático no centro e outros grafismos do painel 111
Toca do Caldeirão dos Rodrigues II:
Fotografia 1: Quatro capivaras enfileiradas com figura antropomorfa à frente da primeira 112
Fotografia 2: Painel com capivaras e figuras antropomorfas 113
Fotografia 3: Capivaras enfileiradas 114
Fotografia 4: Capivaras voltadas para esquerda e capivara sobrepondo figuras antropomorfas 115
Fotografia 5: Figuras antropomorfas e zoomorfas com vários momentos de sobreposição 116
Fotografia 6: Capivara sobrepondo figuras antropomorfas 117
Fotografia 7: Grande antropomorfo 117
Fotografias 8 e 9: Detalhes com as composições emblemáticas de tipo “frente-perfil” 118
Fotografia 10: Caça à capivara 119
Fotografia 11: Figuras antopomorfas abaixo das capivaras enfileiradas 120
Fotografia 12: Figuras antropomorfas e composição emblemática 121
Fotografia 13: Pequena figura antropomorfa 122
Fotografia 14: Caça ao tatu 123
Fotografia 15: “Costa-costa”, figura zoomorfa e cervídeos 124
Fotografia 16: Capivara – detalhe do desnível do suporte 125
Fotografia 17: Pequenas figuras antropomorfas 126
Fotografia 18: Figura geométrica (ao centro) que “divide” o painel 126
Fotografia 19: Grandes emas enfileiradas de perfil 127
Fotografia 20: Detalhe do contorno ventral, em zig-zag, da figura zoomorfa 128
Fotografia 21: Figura antropomorfa “empurrando” um grande objeto 129
Fotografia 22: Painel com composição emblemática, emas, cena sexual e figuras antropomorfas 130
Fotografia 23: Emas enfileiradas 130
Fotografia 24: Composição emblemática 131
Fotografia 25: Figura antropomorfa e abaixo, figura zoomorfa 132
Fotografia 26: Composição emblemática de tipo “frente-perfil” 133
Fotografia 27: Grandes emas e figuras antropomorfas quase invisíveis 134
Fotografia 28: Cervídeos 134
Fotografia 29: Linha com pequenas figuras antropomorfas lado a lado 135
Fotografia 30: Painel após desnível do suporte rochoso 136
Fotografia 31: Emas arredondadas 136
Fotografia 32: Cervídeos bastante apagados 137
Fotografia 33: Cena de cativeiro ou execução 137
Fotografia 34: Grande ema bicromática com outros grafismos em vermelho 138
Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada:
Fotografia 1: Antropomorfos enfileirados cobertos por uma espessa pátina 139
Fotografia 2: Grafismo em negativo 140
Fotografia 3: Grafismos em branco já quase invisíveis 140
Fotografia 4: Três figuras antropomorfas 141
Fotografia 5: Linha de figuras antropomorfas lado a lado 142
Fotografias 6 e 7: Linha com figuras antropomorfas quase como manchas de tinta 142
Fotografias 8 e 9: Linhas de figuras antropomórficas e detalhe da abstração das figuras 143
Fotografia 10: Pequena figura antropomorfa 143
Fotografia 11: Cervídeos 144
Toca da Levada do Caldeirão de Dentro:
Fotografia 1: Inclinação do suporte rochoso aonde se encontram os grafismos 145
Fotografias 2 e 3: Composição emblemática e detalhe de sua posição no suporte 146
Fotografia 4: Figura antropomorfa 147
Fotografias 5 e 6: escolha por áreas mais lisas na utilização do suporte 148
Fotografia 7: Pequenas figuras antropomorfas lado a lado 149
Toca da Baixa das Cabaceiras:
Fotografia 1: Figuras antropomorfas caçando onça 150
Fotografia 2: Figuras antropomorfas com morfologia retangular e objetos 151
Fotografia 3: Figuras antropomorfas 151
Fotografia 4, 5 e 6: Figuras antropomorfas 153
Fotografias 7: Onça sendo caçada por pequenas figuras antropomorfas 154
Fotografia 8: Composição emblemática 155
Toca da Roça do Zeca:
Fotografia 1: Grafismos em área desplacada 156
Fotografia 2: Pequenas figuras zoomorfas – emas 157
Fotografia 3: Cervídeo sobreposto por antropomorfo 158
Fotografia 4: Detalhe do antropomorfo inacabado 158
Fotografia 5: Figura antropomorfa amarela 159
Fotografia 6: Composição emblemática 160
Fotografia 7: Figura antropomorfa isolada 161
Toca do João Pimenta:
Fotografia 1: Linhas de traços paralelos 163
Fotografia 2: composição emblemática 164
Fotografia 3: Quatro figuras antropomorfas 165
Fotografia 4: Figuras zoomorfas – emas 166
Fotografia 5 a partir de cromo fotográfico: Seis emas de perfil 167
Fotografia 6 a partir de cromo fotográfico: Figuras antropomorfas 167
Fotografia 7: Capivaras 168
Fotografia 8: Pequenas figuras antropomorfas com figura fitomorfa 169
Fotografia 9: Figura antropomorfa 169
Fotografia 10: Painel em suporte inclinado no teto do abrigo 170
Fotografia 11: Figuras antropomorfas 171
Fotografia 12: Figuras antropomorfas lado a lado 172
Fotografia 13 a partir de cromo fotográfico: Insetos edificadores sobre pintura antropomorfa 173
Fotografia 14: Figuras antropomorfas 174
Fotografia 15: Cena de caça 175
Fotografia 16: Figura antropomorfa 176
Fotografia 17: Figura antropomorfa 177
Fotografia 18: Figuras antropomorfas retangulares e traços paralelos 177
Toca do Salitre:
Fotografia 1: Escolha das áreas no suporte 178
Fotografia 2: Composição emblemática 179
Fotografia 3: Figuras antropomorfas 180
Fotografia 4: Antropomorfo com grafismos puros 181
Fotografia 5: Painel com figuras geométricas na inclinação abaixo 182
Fotografia 6: Figura antropomorfa, grafismo puro e figuras zoomorfas 182
Fotografia 7: Zoomorfos em linha e figura antropomorfa 184
Fotografia 8: Figuras antropomorfas 185
Fotografias 9 e 10: Figuras antropomorfas 186
Fotografia 11: Figuras antropomorfas 186
Fotografia 12: Figuras antropomorfas e zoomorfo 187
Fotografia 13: Antropomorfos e zoomorfo 188
Fotografia 14: Composição emblemática 191
Fotografias 15 e 16: Aves e detalhe da superfície pintada em desnível 191
Fotografias 17, 18 e 19: Figuras antropomorfas esquemáticas 192
Fotografias 20 e 21: Figuras antropomorfas e zoomorfas com fila de zoomorfos abaixo 193
Fotografias 22 e 23: Antropomorfos bicromáticos 195
Fotografias 24 e 25: Figura antropomorfa e capivaras em amarelo 197
Fotografia 26: Composição emblemática 197
Fotografia 27: Antropomorfos e zoomorfo 198
Fotografias 28 e 29: Cervídeo e antropomorfos 200
Fotografia 30: Figuras antropomorfas lado a lado 201
Fotografia 31: Onça 202
Fotografia 32: Cervídeo 203
Fotografia 33: Figura “inacabada” e fila de capivaras 203
Fotografia 34: Cervídeo bicromático 205
Fotografia 35: Figura zoomorfa 206
Fotografia 36: Tatus e figuras antropomorfas 206
Fotografia 37: Detalhe do antropomorfo segurando o rabo do tatu 207
Fotografia 38: Figuras antropomorfas e composição emblemática 208
Fotografia 39: Tatu, grafismo puro e composição emblemática 209
Fotografia 40: Traços paralelos 210
Fotografia 41 a partir de slide: Disposição das figuras no suporte rochoso 211
Fotografia 42 a partir de slide: Cervídeo com figura antropomorfa 212
Toca do Caboclinho:
Fotografia 1: Linha com traços paralelos abaixo da onça e posição da figura amarela no painel 214
Fotografia 2: Figura antropomorfa amarela 215
Fotografia 3: Cervídeo entre duas composições emblemáticas 216
Fotografia 4: Composição emblemática com três figuras 217
Fotografia 5: Composição emblemática do tipo “frente-perfil” 218
Fotografia 6: Figuras antropomorfas 218
Fotografia 7: Grande figura antropomorfa 219
Fotografia 8: Figuras zoomorfas 220
Fotografia 9: Figura antropomorfa 221
Fotografia 10: “Costa-costa” e trio de figuras antropomofas 222
Fotografia 11: Figuras antropomorfa e zoomorfa 223
Toca do Vento:
Fotografia 1: Cena de caça 225
Fotografia 2: Figuras zoomorfas enfileiradas 226
Fotografia 3: Figuras antropomorfas com diferentes apresentações 228
Fotografia 4: Distribuição das figuras no suporte 229
Fotografia 5: Figuras antropomorfa e zoomorfa 230
Fotografia 6: Figura zoomorfa feita em suporte já desplacado 231
Fotografias 7 e 8: Figura “deitada” e fotografia girada 90º para a esquerda para melhor visualização da
figura 232
Fotografia 9: Cervídeo 232
Fotografia 10: Cervídeos retangulares 233
Fotografia 11: Composição emblemática de tipo “frente-perfil” 234
Fotografia 12: Cenas de luta entre duas figuras antropomorfas 235
Fotografia 13: Vista geral do painel com as quatro figuras e um cervídeo, acima, saltando 236
Fotografia 14: Composição emblemática de tipo “frente-perfil” 237
Toca do Caboclo da Serra Branca:
Fotografias 1 e 2: Figuras antropomorfas 238
Fotografia 3: Composição emblemática 239
Fotografia 4: Antropomorfo “sentado” isolado 240
Fotografia 5: Linha de antropomorfos lado a lado 241
Fotografia 6: Composição emblemática 243
Fotografia 7: Cena de execução, figuras antropomorfas e composição emblemática 244
Toca da Extrema II:
Fotografia 1: Parte interna do abrigo 246
Fotografia 2: Cena da árvore 247
Fotografia 3: Figura antropomorfa 248
Fotografia 4: Fila de antropomorfos lado a lado 249
Fotografia 5: Três figuras geométricas lado a lado 250
Fotografia 6: Pequena figura antropomorfa 251
Fotografia 7: Figura antropomorfa 251
Fotografia 8: Pássaro de asas abertas 252
Fotografia 9: Cena de luta 253
Fotografia 10: Três figuras antropomorfas 254
Fotografia 11: Cervídeo e figuras antropomorfas 255
Fotografia 12: Figura fitomorfa isolada 256
Fotografia 13: Linha de antropomorfos lado a lado 257
Fotografia 14: Cena da árvore 258
Toca do Sobradinho:
Fotografia 1: Figuras zoomorfas – pássaros 259
Fotografia 2: Cervídeo com morfologia angular 260
Fotografia 3: Pequenas figuras antropomorfas 261
Fotografia 4: Cena de caça ao cervo 262
Fotografia 5: Cervídeos, riscos e carimbos feitos com a palma da mão 263
Fotografia 6: Traços feitos com dedo, cervídeos e carimbos 264
Fotografia 7: Cena de sexo 265
Fotografias 8 e 9: Cervídeos retangulares 265
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS
TABELAS:
Tabela 1: Sítios selecionados divididos de acordo com as áreas de localização, valores altimétricos, tipo
de área do suporte utilizado, posição do sítio e abertura 49
Tabela 2: Valores brutos dos grafismos analisados para cada um dos 21 sítios selecionados 267
GRÁFICOS:
Gráficos 1 e 2: Temáticas verificadas e espécies representadas 271
INTRODUÇÃO
Quando iniciadas na década de 70, as pesquisas científicas acerca dos registros rupestres
pré-históricos da área de São Raimundo Nonato, no sudeste do estado do Piauí, não
podiam contar com um contexto arqueológico para a área. Partindo-se de prospecções,
em busca dos sítios, com o intuito de obter um panorama geral para os registros
pintados e gravados, os pesquisadores, utilizaram a técnica de realização dos registros
como o primeiro critério de divisão, a fim de agrupar os grafismos em classes passíveis
de serem trabalhadas. Desde então se tornou possível afinar os conceitos formando
classes de trabalho cada vez mais particularizadas.
Com esta dissertação, pretende-se analisar os grafismos do estilo Serra Branca, um dos
estilos de pintura da área do Parque Nacional Serra da Capivara – PI, buscando uma
particularização por meio das diferenças e similaridades, nas características do perfil
gráfico do estilo, dentro do conceito que permitiu aos pesquisadores a divisão inicial do
estilo.
Dividiu-se então a dissertação em quatro capítulos, sendo o primeiro um resgate das
pesquisas em Registros Rupestres no Nordeste do Brasil, mais especificamente das
classificações preliminares, utilizadas como ferramenta metodológica, sugeridas pelos
pesquisadores: a Tradição Nordeste e suas sub-tradições, dando ênfase à sub-tradição
Várzea Grande, referente ao Sudeste do Piauí, e seus estilos Serra da Capivara e Serra
Branca. Em seguida, apresenta-se a fundamentação teórica utilizada na pesquisa,
referindo-se ao problema levantado, às hipóteses e à metodologia aplicada.
No segundo capítulo, faz-se uma sucinta apresentação do contexto ambiental, levando
em consideração, principalmente, os aspectos geomorfológicos e climáticos da área do
Parque Nacional Serra da Capivara, no qual os grupos autores dos grafismos estariam
inseridos, além de uma breve descrição, de cada um dos sítios selecionados para a
dissertação.
Posteriormente, seguem-se as análises, dadas segundo os parâmetros preliminarmente
levantados e à divisão das áreas de localização geográfica dos sítios, com suas unidades
gráficas nos painéis rupestres, descritas e ilustradas.
No quarto, discute-se a confrontação das hipóteses a partir dos dados resultantes das
análises e, por último, nas considerações finais, têm-se as conclusões apontadas e as
perspectivas futuras de continuidade da pesquisa.
1. ANTECEDENTES
Em todo o Brasil, mas principalmente na Região Nordeste, encontram-se numerosos
paredões rochosos cobertos de registros rupestres, realizados em épocas pré-históricas,
durante milênios. A partir da década de 70, com a Missão Franco-brasileira, se iniciam
os trabalhos arqueológicos na área de São Raimundo Nonato, no Piauí.
Niède Guidon propôs uma classificação preliminar, incluindo as pinturas e gravuras da
área, ordenando-as em seis tradições
1
(GUIDON, 1989). Esta primeira categoria foi
dada com o intuito de ordenar os registros, a partir de suas características mais visíveis,
pois os estudos em Registros Rupestre no Brasil estavam apenas começando. Muitos
trabalhos continuam a ser feitos e as classificações, dadas preliminarmente, foram se
modificando e, às vezes, ganhando novas dimensões, a partir das mesmas definições.
As tradições de pintura rupestre, desde o primeiro momento, foram divididas em três
grupos distintos e, desta forma permaneceram: a Tradição Nordeste
2
, a Tradição
Agreste
3
e a Tradição Geométrica
4
. A presente dissertação tratará apenas da primeira.
Nela, os grafismos representados possuem caráter essencialista
5
, mas são extremamente
elaborados, com produção cuidadosa e fineza do traço, existindo um caráter narrativo;
os temas são variados, as figuras humanas são de pequeno tamanho, geralmente entre
1
As tradições são definidas pelas classes de grafismos representados e pela proporção relativa que estas
classes guardam entre si (GUIDON, 1984). O que se busca estabelecendo tradições é a integração de
obras gráficas pertencentes a um mesmo grupo cultural, independentemente de unidade cronológica, e
identificar as características dos registros próprias do meio cultural ao qual os autores pertenciam
(PESSIS, 1992).
2
A Tradição Nordeste é integrada pela presença de grafismos reconhecíveis (figuras humanas, animais,
plantas e objetos) e grafismos puros, os quais não podem ser identificados. Estas figuras são muitas
vezes, dispostas de modo a representar ações cujo tema é, às vezes, reconhecível (PESSIS, 1992).
3
Na Tradição Agreste há a predominância de grafismos reconhecíveis, particularmente da classe das
figuras humanas, sendo raros os animais. Nunca aparecem representações de objetos, nem de figuras
fitomorfas. Os grafismos representando ações são raros e representam unicamente caçadas. Ao
contrário da Tradição Nordeste as figuras são representadas paradas: não há nem movimento nem
dinamismo. Os grafismos puros, muito mais abundantes que na Tradição Nordeste, apresentam uma
morfologia bem diferente e diversificada (PESSIS, 1989).
4
A Tradição Geométrica é caracterizada por pinturas que representam uma maioria de grafismos puros,
algumas mãos, pés e répteis extremamente simples e esquematizados (GUIDON, 1986).
5
Na Tradição Nordeste existe marcada economia de traços na construção das figuras, das composições e
das cenas. Para representar, graficamente, entidades do mundo sensível, são utilizados apenas os traços
mínimos essenciais para permitir seu reconhecimento. Cada elemento descritivo é necessário para a
compreensão da mensagem (PESSIS, 2003).
4
cinco e quinze centímetros
6
e, em sua maioria, representadas em movimento. Há uma
predominância da cor vermelha, com suas várias tonalidades, existindo ainda grafismos
em branco, amarelo, cinza e preto, além dos policromáticos.
As cores, a produção da tinta, os instrumentos utilizados e a área ou o tipo de suporte
variam de acordo com a escolha do grupo cultural. Aparecem, atualmente, algumas
variações cromáticas, como a cor azul, dadas pelo intemperismo químico, que produz
um depósito mineral silicificado, oriundo da própria rocha, sobre o preto, que devem ser
analisadas com muito cuidado. Porém, as pinturas encontradas na área do Parque
Nacional Serra da Capivara
7
– PI, foram produzidas, basicamente, em vermelho
proveniente do óxido de ferro, o preto do carvão mineral, animal ou vegetal, o amarelo
da goetita, um óxido de ferro hidratado, e em branco, proveniente da kaolinita ou da
gipsita. A cor cinza é uma mistura natural dos pigmentos vermelho e branco, ou seja,
hematita e kaolinita, ou produzida a partir de uma jazida de argila na forma de lençol
encontrado no solo ou no leito dos rios
8
.
Um grande número de espécies animais é representado e algumas imagens são tão bem
elaboradas, que se torna possível reconhecer o sexo do animal representado, por meio
da presença de galhadas e outras características determinantes de gênero nas espécies,
além de animais já extintos na área; mas há, tamm, uma grande quantidade de
grafismos puros
9
associados às figuras reconhecíveis.
Esta Tradição foi identificada em vários estados do Nordeste do país. Algumas
características de seu perfil, além de grafismos emblemáticos
10
se fazem presentes em
6
Durante o “I Simpósio de Pré-história do Nordeste brasileiro”, em 1991, Gabriela Martin cita que um
“aspecto típico, determinante da Tradição Nordeste, é o pequeno tamanho das figuras (entre 10 a 15
cm, podendo chegar a 5 cm)”(CLIO, n
o
4, 1991). Alguns anos mais tarde, restringiu, no conceito, o
pequeno tamanho apenas às figuras humanas (MARTIN, 1997). Em 2003, Pessis, cita uma média de 30
cm para o tamanho das figuras do estilo Serra da Capivara da mesma tradição.
7
Criado em 1979, o PARNA Serra da Capivara (Parque Nacional Serra da Capivara), além de ser uma
área de preservação ambiental, é o parque com maior densidade de sítios arqueológicos encontrados no
país.
8
Baseado nos estudos de Arqueoquímica (LAGE, 2002).
9
Utiliza-se o termo grafismo puro para os sinais gráficos sem possibilidade de reconhecimento cognitivo
(PESSIS, 1992).
10
Grafismos emblemáticos são aqueles que se repetem de maneira sistemática e que apesar de
apresentarem variações na sua apresentação, estas não distorcem a identidade da composição nem as
características do arranjo gráfico (PESSIS, 1998). Apresentam-se como arranjos de figuras em posturas
e executando gestos que não permitem reconhecer a natureza da ação representada, mas que aparecem
5
outras áreas do nordeste brasileiro. Pelos dados até hoje disponíveis e em função do
contexto arqueológico
11
encontrado na área, sugere-se que a origem desta Tradição
esteja situada no sudeste do Piauí, em torno de 12.000 anos Antes do Presente
12
.
O estudo das crono-estratigrafias
13
de alguns sítios sugere que, possivelmente, a mesma
Tradição teria permanecido ali por cerca de 6.000 anos, com seu(s) grupo(os) partindo
para possíveis migrações para os outros estados, durante esse período. Devido ao fato da
Tradição Nordeste estar presente em diversas áreas do Nordeste e de possuir
características peculiares em cada área encontrada, a partir da classificação preliminar,
foi introduzida uma classe secundária, a sub-tradição
14
, com base na apresentação
gráfica
15
e na divisão geográfica.
16
Inicialmente, o conjunto de pinturas da Tradição Nordeste encontradas na área dentro
dos limites do Parque Nacional Serra da Capivara foi denominado de Sub-tradição
Várzea Grande. Em função das dificuldades dos pesquisadores em percorrer as áreas em
estudo e das grandes distâncias entre os sítios, no início dos trabalhos e, especialmente,
pelas variações da apresentação gráfica presente nos sítios até então descobertos,
denominou-se ainda a Sub-tradição Salitre, referente às pinturas do sítio Salitre,
encontrado fora da área delimitada para o Parque Nacional (GUIDON, 1984).
sistematicamente em todos os estilos da Tradição Nordeste, o que leva a pensar em uma significação
simbólica (PESSIS, 1989).
11
O contexto arqueológico se refere às associações físicas e culturais dos vestígios arqueológicos e suas
inter-relações, podendo também se referir ao que fisicamente e culturalmente antecedeu e seguiu à
manufatura, uso, descarte e transformação dos vestígios arqueológicos (BAHN, 1992).
12
Antes do Presente (AP) é uma expressão usada para a datação de períodos arqueológicos.
Convenciona-se como data inicial para o início do Presente o ano de 1950 (ROOSEVELT, 2000).
13
Seqüência cronológica, absolutamente datada ou não, assinalada em estratigrafia arqueológica.
Fragmentos de parede, pintados ou gravados, e restos de ocre (óxido de ferro) situados na estratigrafia,
em níveis de ocupação com estruturas datáveis podem servir como indicativos cronológicos para os
registros rupestres de um sítio (PESSIS, 1992).
14
As Sub-tradições se estabelecem segundo critérios ligados a diferenças na apresentação gráfica de um
mesmo tema e à distribuição geográfica (PESSIS, 1987).
15
A apresentação gráfica baseia-se no fato de que uma representação do mundo sensível seja pré-histórica
seja moderna, é uma manifestação do sistema de apresentação social ao qual o autor pertence.
Aceitando-se que cada grupo cultural e que cada segmento da sociedade tem procedimentos próprios
para se apresentar à observação de outrem, pode-se pensar que tais procedimentos estarão presentes nas
representações gráficas de um grupo cultural, a análise da obra gráfica do homem pré-histórico,
procurando identificar os padrões de apresentação das pinturas rupestres, constitui um modo de
ascender à sua cultura (PESSIS, 1989).
16
Em 1982, em seus artigos sobre os registros do sudeste do Piauí, Susana Monzon, Laurence Ogel-Ros e
Niède Guidon, ainda utilizam o termo estilo para denominar o que posteriormente seria chamado de
Sub-Tradição e o termo Variedades para o que ficaria definido como Estilo, pois os conceitos ainda
estavam sendo discutidos. “A análise das manifestações artísticas permitiu definir um estilo, o estilo
Várzea Grande (N. Guidon, 1979), que apresenta variedades regionais. As mais conhecidas são as da
Serra da Capivara, Serra Nova ou Serra Talhada e Serra Branca.” (MONZON, 1982)
6
Com a descoberta de outros sítios com pinturas rupestres e a introdução do parâmetro
geográfico no conceito da sub-tradição, a Sub-tradição Salitre, que a princípio parecia
diferente, deixou de ser utilizada e foi incorporada dentro da denominada Sub-tradição
Várzea Grande, localizada na área arqueológica
17
de São Raimundo Nonato e com
grande dispersão espacial (estendendo-se por uma área de aproximadamente quarenta
mil quilômetros quadrados). Hoje, sabe-se que o sítio Salitre
18
apresenta características
particulares pertencentes à Tradição Nordeste, mas com diferenças na apresentação
gráfica em relação aos outros sítios da região e que durante sua longa perduração, a
Tradição Nordeste, sofreu mudanças graduais, tanto na forma plástica, quanto nos temas
dos grafismos.
19
A continuação das pesquisas no Nordeste apontou também a ocorrência de registros da
Tradição Nordeste no Rio Grande do Norte. Quando as prospecções arqueológicas se
iniciaram naquele estado, na década de 80
20
, as tradições já haviam sido definidas a
partir dos registros encontrados no Sudeste do Piauí. Com isso, os primeiros estudos na
área tiveram caráter comparativo. Partindo-se do contexto arqueológico encontrado na
área, concluiu-se que as pinturas encontradas na região do Seridó seriam uma
continuação da prática gráfica de alguns grupos originários do Piauí. Denominou-se,
então, a Sub-tradição Seridó
21
e nela, os estilos Serra da Capivara II, por ter
características semelhantes àquelas encontradas no sudeste do Piauí, e o Carnaúba, que
seria próprio desta sub-tradição.
17
Conceito espacial no qual se situa o objeto de estudo, devendo ter limites flexíveis dentro de uma
unidade ecológica que participe das mesmas características geo-ambientais (MARTIN, 1997).
18
Martin e Pessis consideram a apresentação gráfica do sítio Toca do Salitre como um período final do
estilo Serra Branca. Esta posição é expressa em seus respectivos trechos: “A fase mais tardia do grupo
estilístico Serra Branca estaria representada pelo Sítio Salitre. As figuras humanas que aparecem nesse
sítio são extremamente geometrizadas, transformadas em retângulos providos de braços e pernas, o que
ocorre também nas figuras de cervídeos de troncos geométricos” (1997) e “Essa ornamentação, para
distinguir-se no interior de uma tradição gráfica, manifesta-se ainda com mais força no período final do
estilo Serra Branca. Ilustra esta dominância o corpus de pinturas da Toca do Salitre, onde a policromia
se incorpora também como traço de identificação na decoração das figuras” (2003).
19
Já foram publicados vários trabalhos, tanto do ponto de vista estético, quanto do antropológico, acerca
das variações e das linhas evolutivas desta sub-tradição, mas em sua maioria, os trabalhos de caráter
científico e que possuem uma abordagem arqueológica são de autoria de Niéde Guidon (École dês
Hautes Études em Sciences Sociales (aposentada) e Fundação Museu do Homem Americano –
FUMDHAM – PI) e Anne-Marie Pessis (Universidade Federal de Pernambuco - UFPE e Fundação
Museu do Homem Americano – FUMDHAM – PI).
20
Deve-se a Gabriela Martin e sua equipe a descoberta científica da área e os estudos até hoje realizados.
21
Pelas datações obtidas nos abrigos escavados, Mirador (Parelhas) e Pedra do Alexandre (Carnaúba dos
Dantas), a sub-tradição Seridó teria uma cronologia inicial em torno de 9.000 A.P., hipótese que deverá
ser confirmada com a continuação das escavações (ASÓN e MARTIN, 2000).
7
A Sub-tradição Várzea Grande pode ser definida por dois momentos distintos ou
períodos crono-estilísticos
22
, o estilo
23
Serra da Capivara e o estilo Serra Branca e por
um complexo
24
estilístico, o Complexo Serra Talhada.
Se o primeiro e mais antigo estilo dessa sub-tradição é caracterizado por representações
dinâmicas individuais, com grande mobilidade e temas lúdicos, no segundo momento há
uma diversidade maior da temática
25
e começa a aparecer nas figuras um maior número
de ornamentos e atributos. No segundo período e estilo bem caracterizado, o movimento
torna-se mais tênue, as figuras vão se tornando mais rígidas, seus corpos aparecem mais
angulados, com uma tendência à geometrização e verticalização das formas
26
. Em
relação aos temas das cenas, aquelas mais lúdicas dão lugar às violentas, representando-
se lutas e execuções. O número de cores se diversifica e aparecem elementos que até
então não existiam, como o alongamento da silhueta e a utilização de armas como
azagaias, bordunas e propulsores. Tanto as figuras humanas, quanto as representações
de animais, cada vez mais geometrizadas e ornamentadas internamente, têm seus corpos
transformados em retângulos, os braços e as pernas são desenhados com linhas simples
e contínuas e se apresentam em grande destaque em relação às formas curvilíneas
representadas na fase anterior.
A evolução gráfica (entre e dentro) dos estilos não chega a modificar o caráter
essencialista dos registros dessa Tradição, o que se transforma é a seleção do que se
torna essencial na encenação gráfica. Este caráter essencialista é característico dos
sistemas de comunicação, pois cada componente gráfico é fundamental para o
reconhecimento e compreensão da mensagem.
22
Ordenam as Tradições e sub-tradições de acordo com a disposição cronológica dos critérios temático,
técnico e de apresentação gráfica inseridos em um contexto arqueológico (PESSIS, 1992).
23
O estilo é a classe mais particular de um grupo de registros é estabelecido a partir de particularidades
que se manifestam no plano da técnica de manufatura e apresentação gráfica. O termo estilo foi adotado
dando-se continuidade a uma utilização já difundida nos meios da pesquisa sobre registros gráficos,
mas não corresponde propriamente ao que se entende por estilo nas categorias analíticas da história da
arte (PESSIS, 1992).
24
Definido como uma classe de trabalho, o Complexo estilístico faz parte de um período de transição
entre os dois outros estilos claramente definidos. Os temas escolhidos e a técnica de produção das
pinturas são próprios deste complexo, mas há ainda uma semelhança com o primeiro estilo e
apresentará também uma similaridade com o segundo, mas este, aos poucos vai ganhando
características próprias.
25
Temática: Escolhas feitas pelos autores dos grafismos rupestres sobre a morfologia e os padrões
gráficos suscetíveis de ser reconhecidos (PESSIS, 1992).
26
No início das pesquisas Suzana Monzon cita como a característica mais evidente, para o conjunto de
grafismos que viria a se denominar estilo Serra Branca, a presença de figuras antropomorfas e
zoomorfas de grandes dimensões e o corpo preenchido por motivos geométricos. (MONZON, 1979)
8
Repetindo-se em diversos abrigos da área arqueológica, encontram-se os grafismos que
podem ser considerados como elementos emblemáticos desta Tradição. Estes se
apresentam como cenas míticas ou cerimoniais, cujo significado se perdeu no tempo.
Vários antropomorfos (que têm a forma humana ou se assemelham ao homem) em volta
de uma árvore ou com galhos nas mãos, ou figuras representadas de costas ou de lado
entre si são típicas das três fases dessa sub-tradição e se tornam ainda mais
significativos, pois variam de acordo com a evolução dos estilos.
Apesar de seu significado não poder ser compreendido, desde que os autores e seus
grupos desapareceram “a obra rupestre pré-histórica, por representar comportamentos
pautados, permite identificar os modos como se apresentam diferentes culturas”
(PESSIS, 2003). Como códigos de linguagem, as obras gráficas revelam informações
sobre o processo de identificação, escolha de representação e transformação social dos
grupos. Desde a valorização dos temas, passando pela técnica utilizada, à escolha da
área do suporte rochoso, as pinturas podem apresentar as preferências culturais e refletir
as condições do entorno dos grupos que as produziram.
Situados em um tempo cronologicamente difícil de ser estabelecido e em um espaço
segundo códigos pré-estabelecidos socialmente, estes vestígios, se analisados como um
sistema de comunicação, podem contribuir para se alcançar a identidade cultural dos
grupos autores.
Como, na Tradição Nordeste, os grafismos são reconhecíveis, é preciso tomar muito
cuidado ao analisar ou comparar as imagens, para não correr o risco de tentar interpretá-
las, dando espaço a conjecturas contestáveis e sem fundamento científico. O estudo
deve ser feito sem essa intenção, tentando buscar os significantes dentro da
iconografia
27
rupestre, partindo-se do princípio de que este se dá como um sistema de
comunicação e que a grande diversidade na apresentação gráfica encontrada nos
paredões rochosos dos abrigos pode representar variações sociais, às quais os autores
desses registros poderiam estar associados.
27
Disciplina que se encarrega da descrição dos sistemas de representação icônicas nas artes plásticas de
uma determinada sociedade ou cultura (a iconologia seria a interpretação destas representações icônicas
em termos de sistemas de crenças religiosas, cosmogonias, mitologias, lendas etc.). (Definição
adaptada, de Alcina Franch, por GARCÍA SANJUÁN, 2005).
9
1.1 O Estilo Serra da Capivara
Segundo Pessis (2000), “Uma das características dessa primeira etapa, conhecida como
estilo Serra da Capivara, é a eclosão do movimento, do dinamismo e da encenação
esfuziante de alegria e de ludismo”.
Os temas deste estilo são essencialmente ligados ao movimento, em sua fase máxima da
ação, e à vida: a sexualidade, os ritos cerimoniais, as danças e a caça individual. As
figuras humanas são majoritárias e representadas com morfologia simples; aparecem
também, em grande número, os animais, como cervídeos, emas e tatus.
A profundidade entre as figuras é representada por meio de planos horizontais
sucessivos, produzindo uma grande densidade pictural própria deste estilo. Encontram-
se figuras em alturas inatingíveis a partir do solo, o que sugere a utilização de troncos
ou galhos de árvores como apoio contra a parede.
Este recurso, que limitaria as possibilidades de movimento corporal do
autor, explicaria a tendência de dispor as pinturas apoiadas sobre diferentes
planos inclinados, a partir de um eixo central imaginário; este recurso
técnico dá origem a conjuntos gráficos de forma arredondada. (PESSIS,
1989)
O desenho sugere as limitações do instrumento, pois estes não permitem a produção de
gestos fluidos nem curvos, com isso, os grafismos se apresentam com formas elípticas
feitas basicamente a partir de dois traços. A rigidez dos instrumentos associada às
irregularidades do suporte não permite o gesto circular contínuo da mão humana na
produção dos grafismos deste estilo. A única tinta utilizada é a de cor vermelha e possui
uma consistência suficientemente espessa para não deixar marcas de escorrimento.
1.2 O Estilo Serra Branca
No início do Holoceno, mudanças gradativas na paisagem vão interferir no
comportamento das populações pré-históricas. Estas, que antes se organizavam em
pequenos grupos extremamente coesos, passarão por uma fase de aumento
10
demográfico
28
, que será então refletido na pintura rupestre
29
. A coesão dentro desses
grupos tinha caráter teleonômico
30
e se dava por meio de um número reduzido de
indivíduos dentro de uma grande área, mas com limites bem definidos, para que se
pudesse aproveitar o maior gama de diversidades de recursos e adaptar-se rapidamente
às limitações externas.
Possivelmente, todos participavam de forma igualitária, mas com papéis participativos
diferenciados, aonde o conhecimento era transmitido a partir de uma série de
comportamentos padronizados de caráter simbólico e por meio da tradição oral. Quanto
mais coesos estes grupos se mantinham, maiores as chances de sobrevivência. Todos os
indivíduos do grupo deveriam possuir as mesmas possibilidades de acesso às
informações, as quais deveriam ser conservadas por eles e serem transmitidas de
geração em geração.
Os grafismos rupestres funcionariam como “marcadores de memória” (PESSIS, 2003),
tendo a função sócio-cultural de registrar, segundo convenções simbólicas,
acontecimentos e atividades essenciais à sobrevivência. Todos os conhecimentos
adquiridos, para serem considerados de caráter cultural devem ser transmitidos ou
compartilhados pelos membros do grupo.
As transformações sociais dos grupos na pré-história são, em parte, respostas às
variações do meio. À medida em que os grupos aumentam, a ligação entre os indivíduos
se torna mais difusa, surgindo cada vez mais conflitos e, decerto, as relações entre
indivíduos que antes eram estreitas, terão seus limites distanciados.
28
Niède Guidon e Anne-Marie Pessis trabalham com a hipótese de que teria ocorrido um aumento
demográfico na área em função da variação do clima, que geraria novas condições de fauna e flora,
além da densidade dos achados arqueológicos nas camadas estratigráficas escavadas na área do Parque
Nacional que coincidem com as datações sugeridas pelos estudos paleoambientais realizados na área.
29
Um aumento significativo na população influenciaria em várias atividades habituais. Uma vez que o
registro rupestre é um dos elementos culturais desses grupos, mudanças sutis nesse tipo de
comportamento irão ocorrer. Filas de antropomorfos começarão a aparecer nos painéis e na medida em
que este aumento no número de indivíduos se torna banal, as características que, anteriormente,
identificavam estes homens vão sumindo até o ponto em que estes indivíduos se tornam apenas traços
de contagem.
30
Teleonomia, análise da adaptação favorável à conservação da espécie através de comportamentos tipo,
estruturas ou funções cuja existência num organismo deve-se às vantagens seletivas por elas
proporcionadas (PITTENDRIGH, 1958; por PESSIS, 2005).
11
Nos registros rupestres desse grupo estilístico, observa-se um maior hermetismo na
prática pictórica. Ao invés da espontaneidade do estilo inicial, passa-se à utilização de
formas geometrizadas na representação dos corpos das figuras de animais e homens,
além de um preenchimento interno diferenciando os indivíduos e um enriquecimento da
temática, com o desenvolvimento maior de cenas de violência e a representação de
diversos instrumentos de guerra.
No que diz respeito a uma maior caracterização dos indivíduos, parece existir uma
busca pela individualidade nas representações. Aparecem mais componentes
simbólicos, cocares e máscaras se tornam mais complexos e a pintura corporal mais
diversificada. A relação de tamanho entre as figuras também se diversifica e é
interessante notar, que nas cenas narrativas, os ornamentos servirão para destacar os
indivíduos em detrimento dos grupos.
A representação da relação de profundidade entre as figuras passa por planos
horizontais sucessivos deslocados entre si, havendo uma tendência à linearidade dentro
dos painéis, onde as figuras se repetem e o espaço entre elas é bem demarcado.
Este processo permite mostrar a representação da profundidade, mas,
também, a demarcação de outras ações simultâneas que acontecem
referentes ao mesmo tema. Esta técnica permite salientar as diferentes
individualidades que fazem parte de uma mesma encenação gráfica, o que é
coerente com o caráter individualista deste estilo. (PESSIS, 1989)
Quanto às figuras emblemáticas, há uma diferenciação clara entre as duas figuras
representadas, observando-se, naquelas com presença do falo, uma dominância de
traços ornamentais e rígidos. Neste estilo há também a sugestão da gravidez,
apresentada como tema, em uma das figuras, nas composições emblemáticas (PESSIS,
2003).
Nos abrigos em que se observam características do estilo Serra Branca, grafismos das
outras fases
31
também se fazem presentes. Apesar de existirem imagens do Complexo
Serra Talhada sobrepondo parte das figuras do estilo Serra da Capivara, é raro encontrar
31
Além da existência de grafismos do estilo Serra da Capivara e do complexo estilístico Serra Talhada
em alguns sítios de predominância do estilo Serra Branca, às vezes há também a presença da Tradição
Agreste e/ou de gravuras.
12
o mesmo no estilo Serra Branca. Essa superposição é importante, porque possibilita aos
pesquisadores trabalhar hipóteses cronológicas em relação aos grupos ou às classes
estilísticas.
O domínio na preparação da tinta, a partir da extração da matéria prima desejada e da
quantidade de aglutinante necessário para dar fluidez ao gesto e a precisão do traço em
diversas texturas e áreas do suporte, vai possibilitar o aparecimento de novas
associações de cores no registro gráfico do estilo Serra Branca. A escolha das
combinações cromáticas, junto com uma qualidade técnica diversificada, ao longo de
um período de, aproximadamente, três mil anos, e uma narrativa em que se pode
visualizar parte do contexto no qual esses grupos estariam envolvidos, tornam-se
informações preciosas no estudo da identidade gráfica
32
desses grupos.
1.3 Fundamentação Teórica
Partindo do princípio de que o registro rupestre é uma manifestação de apresentação
social e se dá como um sistema de comunicação, cada indivíduo adotará uma forma de
se apresentar, segundo uma série de comportamentos que lhe são transmitidos, desde
seu nascimento, por ensinamentos diretos ou, simplesmente, pela observação do entorno
no qual ele está inserido (conhecimento doxológico). Estes comportamentos aparecerão
por meio da ornamentação, de posturas, ritmos e gestos e não somente pela linguagem
por meio de palavras.
O registro gráfico - vestígio arqueológico - como testemunho de comportamentos
culturais para a compreensão da dinâmica sócio-cultural dos produtores deste registro, é
enquadrado dentro de um sistema semiótico, onde se juntam as vertentes simbólica,
cognitiva e contextual. Levando em consideração esta abordagem semiótica para os
grafismos, na qual a pintura rupestre pré-histórica é compreendida pela expressão dos
sistemas de apresentação social, as manifestações da cultura, que correspondem, em
32
As identidades gráficas são constituídas por um conjunto de características que permitem atribuir um
conjunto de grafismos a uma determinada autoria social. Essas características constituem padrões de
representação gráfica que correspondem a certas características culturais (PESSIS, 1993).
13
parte, aos sistemas de apresentações gráficas, farão parte do sistema de comunicação
desses grupos.
Existem várias formas de se conceituar a cultura, mas, para esta dissertação, em função
da abordagem teórica utilizada, optou-se pela definição dada por Longacre (1968)
33
,
segundo a qual, o termo cultura evoca as técnicas, os símbolos, a arte e a linguagem,
mas evoca também um processo de acumulação de técnicas de sobrevivência. A cultura
é um todo sistêmico, composto por sub-sistemas inter-relacionados, tais como o sistema
social, o sistema tecnológico e o religioso, entre outros. Uma perspectiva desta classe
obriga ao arqueólogo centrar-se na natureza e nas inter-relações das partes componentes
do sistema cultural, trabalhando dentro de um marco ecológico de referência. O objetivo
é isolar e definir os processos culturais, os meios pelos quais as culturas variam ou
permanecem estáveis.
Aceitando-se que cada grupo cultural, e cada segmento da sociedade, têm
procedimentos próprios para apresentar à observação de outrem, e que cada
membro desse grupo utiliza esses comportamentos por ocasião de qualquer
interação social, pode-se pensar que tais procedimentos estarão presentes
nas representações gráficas de um grupo cultural. (PESSIS,
1989)
A semiose aqui é vista como um processo cognitivo de interação entre o indivíduo e o
mundo, um processo no qual o signo tem o papel de mediador entre o pensamento e a
realidade (NÖTH, 1995) e entre um indivíduo e seu grupo. Nesta dissertação os
significados dos símbolos serão descartados, por se constituírem apenas de
aproximações conjecturais, privilegiando-se o estudo dos significantes, já que se
acredita que os grafismos são as representações das atividades cognitivas dos indivíduos
dentro de seus grupos.
Toute communication suppose un engagement et définit ensuite la relation.
Ces deux operations représentent l’aspect “indice” et l’aspect “ordre” de
toute communication. Cela peut être illustré au moyen d’une analogie
physiologique: soit A, B, C, une chaîne linéaire de neurons. L’excitation du
neurone B est à la fois l’“indice” que le neurone A été excité et un “ordre”
d’excitation pour le neurone C. Un message sous son aspect d’“indice”
transmet une information; dans la communication humaine ce terme est
synonyme de contenu du message. L’aspect “ordre”, par contre, désigne la
33
LONGACRE. William A. Some Aspects of Prehistoric Society in East-Central Arizona; em
S.BINFORD; L. BINFORD. New Perspectives in Archaeology. Chicago, Aldine Publishing Company,
1968; por WATSON; LEBLANC; REDMAN, 1974.
14
manière dont on doit entendre le message et, en fin de compte, la relation
entre les partenaires. (BATESON, 1977, in PESSIS, 1987)
34
Assim funcionaria o caráter semiótico dos grafismos como códigos de comunicação
gráfica. Acreditando que o registro se dá enquanto fenômeno lingüístico, deve-se
considerar que a linguagem permite ao homem criar um universo simbólico e que cada
comunidade, por meio de uma relação pré-estabelecida pelos indivíduos que a compõe,
mantém e, ao mesmo tempo, transforma essa relação por meio de seu uso. Este grupo
cultural cria e recria significados e sentidos múltiplos, criando assim sua própria
realidade, e só funciona à medida em que os indivíduos conhecem o código utilizado.
A finalidade dos grafismos, possivelmente por meio do rito, é de ordem social,
pretendendo manter um conjunto de regras e comportamentos padronizados que
asseguram a permanência das boas relações sociais e das atitudes que obtiveram êxito.
O “árbitro real” das mudanças adaptativas é a comunidade, mais que os indivíduos, pois
estes concebem e realizam as ações, mas essas atitudes têm que ser examinadas e
aprovadas pela comunidade no contexto da informação aceita, antes que as decisões
possam traduzir-se em respostas. (BUTZER, 1994)
Os registros gráficos pré-históricos, pintados ou gravados, são produtos de
uma atividade que para a pré-história possui como vestígio arqueológico, um
valor duplo. Tem a materialidade constituída pelos desenhos, que são os
primeiros na história da cultura humana e que fornecem informações sobre
como se resolviam os problemas técnicos para atingir um produto gráfico. E
também são suporte da dimensão imaterial da cultura, constituída pela
temática tratada, pelo que as figuras representam e pelos múltiplos
significados que estes registros tiveram para seus autores ao longo de um
tempo remoto. (PESSIS, 1998)
Acerca do papel cognitivo, é importante compreender que os objetivos, os valores e a
percepção das necessidades são essenciais para entender as ações humanas e que a
cultura, a percepção e o comportamento condicionam a forma em que os indivíduos e as
sociedades se interrelacionam com seus respectivos ambientes.
34
Toda comunicação supõe um compromisso e define, em seguida, a relação. Estas duas operações
representam o aspecto “índice” e o aspecto “ordem” de toda comunicação. Isso pode ser ilustrado por
meio de uma analogia fisiológica: seja A, B e C uma série linear de neurônios. A excitação do neurônio
B é ao mesmo tempo o “índice” de que o neurônio A foi excitado e uma “ordem” de excitação para o
neurônio C. Sob esse aspecto de “índice”, a mensagem transmite uma informação; na comunicação
humana este termo é sinônimo do conteúdo da mensagem. O aspecto “ordem”, pelo contrário, designa a
maneira na qual se deve ouvir à mensagem e, afinal de contas, a relação entre as partes.
15
Em particular, a Geoarqueologia e a Bioarqueologia se propõem, não só a determinar os
recursos e as contingências meio ambientais em que essas populações se encontravam,
mas também compreender a utilização dos recursos e a intervenção humana no seio de
um meio ambiente determinado.
Para isso, têm-se uma estruturação sistêmica, onde a técnica, a cenografia, a temática e
os aspectos ambientais, juntamente com seus sub-sistemas, fazem parte como variáveis
hierarquizadas, a fim de identificar os padrões gráficos dos registros da Tradição
Nordeste, sub-tradição Várzea Grande, estilo Serra Branca.
Uma vez que se trata de pré-história, a pintura rupestre, como componente vestigial, é
somente uma parte do universo total produzido pelos seus autores, além de ser ainda
uma pequena parte do contexto geral no qual estes autores estavam enquadrados. Por
isso, a arqueologia trabalha com o método hipotético-dedutivo para resolver os
problemas levantados, posto que é impossível recolher todos os dados referentes àquela
cultura dada, sendo imprescindível que o estudo em arqueologia levante o máximo de
dados possíveis dentro de todo o sistema e de cada uma de suas partes isoladamente,
para serem trabalhados em função do problema e das hipóteses levantadas.
1.4 O problema
No início das pesquisas, os estilos foram definidos em função de sua apresentação em
três áreas, hoje delimitadas pelo Parque Nacional Serra da Capivara: o Desfiladeiro da
Capivara, ou Serra da Capivara, a Serra Talhada e a Serra Branca. Imaginou-se trabalha-
los a partir da noção de territórios gráficos representados pelas dominâncias
35
gráficas
nas distintas áreas.
A partir de uma macro-análise inicial, verificou-se que os registros gráficos específicos
da área da Serra da Capivara estavam presentes nas outras duas áreas, mas, na Serra
Branca, observaram-se figuras em cenas típicas da Serra da Capivara, com a presença
de mais componentes descritivos e diferentes tipos de relações espaciais, além de uma
35
Esta dominância não se manifesta em termos quantitativos, mas em termos de encenação, pela
recorrência de certas escolhas de apresentação (PESSIS, 2003).
16
dominância da angularidade dentro do corpus gráfico e diferentes no tipo de
preenchimento. Os registros da Serra Talhada assemelhavam-se em parte aos da Serra
da Capivara e da Serra Branca, mas possuíam características próprias, e uma
diversidade maior, que ainda não haviam sido encontradas nas áreas anteriores.
Com o objetivo de atingir uma descrição mais particularizada, procurando verificar
como se apresentam as características típicas do corpus gráfico do estilo Serra Branca
partindo da macro-análise (que possibilitou aos pesquisadores a classificação dos estilos
para a área do Parque Nacional Serra da Capivara - PARNA), nas áreas de concentração
de sítios de dominância Serra da Capivara, Serra Branca e Serra Talhada, a pesquisa se
deu de forma a buscar as similaridades e diferenças que poderiam caracterizar uma
identidade gráfica para a área.
Ignorando a dimensão simbólica
36
dos registros a serem estudados, pois não seria
possível interpretar o que cada símbolo representa, já que o acesso ao significado destes
se perdeu no tempo, pretendeu-se estudá-los como ícones
37
de populações pretéritas que
deixaram vestígios de sua existência, tanto nos paredões dos sítios, como nos solos
arqueológicos.
Pretende-se então, verificar se os traços de identidade característicos deste estilo, a
partir da angularidade e ornamentação das figuras, estão presentes nas outras zonas do
Parque e determinar como eles se apresentam nas zonas de dominância do estilo Serra
da Capivara e do complexo estilístico Serra Talhada.
A análise das pinturas do estilo Serra Branca, a partir da segregação de seus
componentes, como o preenchimento interno dos grafismos, as delimitações de
contorno dos registros, além das recorrências temática e cenográfica, pretende verificar
se há uma unicidade dentro da diversidade do corpus gráfico do estilo.
36
O conceito de símbolo utilizado se refere à designação dada por Charles S. Pierce de uma associação de
idéias produzida por uma convenção a partir de uma palavra ou imagem e que funciona dentro de um
sistema fechado.
37
O ícone corresponde à classe de signos, cujo significante (a face perceptível dentro do sistema
existente) mantém uma relação de analogia com o que representa, isto é, com seu referente (o
representado, o objeto) (JOLY, 2006).
17
A partir da verificação de perfis gráficos para cada um dos sítios, trabalhando
principalmente a partir dos níveis cenográfico
38
, temático e técnico
39
, decompondo-os
em parâmetros analíticos menores e relacionando-os às suas áreas de localização além
de considerar as características ambientais do entorno, procurou-se fazer uma
comparação entre suas similaridades e diferenças, na tentativa de encontrar uma
identidade gráfica para aproximar-se de uma possível identidade cultural para o(s)
grupo(s) autor(es) do estilo Serra Branca, sub-tradição Várzea Grande.
No que diz respeito à cenografia, representada por componentes do espaço e do tempo
analisam-se o tamanho das figuras, a existência ou não de movimento e como este é
evidenciado, o tipo de composição, se os grafismos se apresentam cenograficamente
isolados ou em grupo e suas posturas, como se dá a apresentação da morfologia angular
das figuras e a presença de uma representação de profundidade, a posição em que a
figura se encontra no painel, além da relação espacial entre as figuras e a existência ou
não de superposições.
Como se pretende analisar o estilo Serra Branca, deu-se prioridade ao espaço, pois a
tendência de sobrepor as figuras é cada vez mais freqüente, à medida em que os estilos
da Tradição Nordeste evoluem.
Como parâmetros de análise da técnica, a partir da reconstrução dos processos de
realização gráfica e das dificuldades em executá-los, verifica-se, primeiramente, sua
colorimetria, o traço de contorno, o tipo de preenchimento ou ornamentação dado ao
grafismo e, posteriormente, a posição dos braços e pernas (as patas no caso das figuras
zoomorfas), a existência e feitura dos pés e das mãos, das coxas, cabeça e cauda, no
caso dos zoomorfos.
38
Cenografia: Maneira como as figuras estão agenciadas em diferentes unidades para representar
unidades temáticas ou composições (PESSIS, 1992).
39
Técnica: Trata dos aspectos relativos à realização das pinturas que constituem o suporte, as matérias-
primas, os instrumentos e os procedimentos de realização (PESSIS, 1992).
18
1.5 As hipóteses
É possível estabelecer identidades gráficas hipotéticas por meio do estudo deste número
aparentemente reduzido de sítios, dentro de um universo tão grande de sítios como o da
área do Parque Nacional Serra da Capivara.
À medida em que os grafismos vão se tornando cada vez mais típicos do estilo Serra
Branca, vão tornam-se mais complexos e individualizados, através de atributos
culturais, e menos narrativos, ao contrário do estilo inicial, Serra da Capivara, mais
simples e mais narrativo.
Excluindo-se as características que identificam os grafismos antropomorfos e
zoomorfos como figuras reconhecíveis, é possível encontrar padrões recorrentes de
preenchimento dentro do Estilo Serra Branca.
1.6 A metodologia
A escolha dos sítios para análise levou em consideração os sítios com pintura já
cadastrados por pesquisadores da FUMDHAM (Fundação Museu do Homem
Americano) do PARNA, no Piauí.
Primeiramente, levantaram-se todos os sítios que constavam nos registros com a
indicação da presença do estilo Serra Branca, dentro e fora dos limites do Parque
Nacional. Pretendia-se selecionar sítios presentes nas áreas de concentração de sítios
mais significativas com registros rupestres do PARNA. Em seguida, fez-se uma
verificação, por meio de slides existentes nos arquivos da FUMDHAM, da real
existência deste estilo nos abrigos.
Uma vez verificada preliminarmente a presença do estilo Serra Branca, foram feitas
anotações referentes ao material catalográfico existente para cada um dos sítios,
incluindo as informações ambientais do entorno e os dados referentes às escavações,
observando-se as semelhanças e diferenças entre eles.
19
Como todos os sítios verificados apresentaram o mesmo tipo de formação rochosa
dominante (arenito e arenito com conglomerado), este critério não foi levado em
consideração para uma segunda fase de segregação do universo da pesquisa, já que
poderia demonstrar a escolha de um tipo de suporte específico para a produção das
pinturas.
Com objetivo de fazer uma primeira varredura para seleção dos sítios, observaram-se
todos os slides existentes de cada sítio verificado, a fim de ver como se dava a presença
desses grafismos e quais figuras ou estilos também estavam presentes nestes abrigos.
Questionou-se, a partir desta primeira seleção, como se apresentava o perfil gráfico do
estilo Serra Branca em cada um destes sítios.
Após verificar a presença de uma série de elementos estruturais, a partir da
ornamentação e angularidade das figuras que se apresentavam em uma grande parte dos
sítios levantados, verificou-se ainda o tipo de técnica empregada na apresentação dos
grafismos, além da localização geográfica de cada abrigo.
Com isso, selecionaram-se vinte e um sítios que apresentam o perfil típico do que foi
determinado como estilo Serra Branca e aparecem nos mesmos tipos de suporte
rochoso, que possuem diferenças de caráter técnico nos grafismos e na posição no
suporte, com semelhanças na temática e, às vezes na cenografia, além de se localizarem
geograficamente em diversos pontos do Parque. Dois deles se localizam fora dos limites
demarcados pelo perímetro do PARNA, dentro do chamado Corredor ecológico,
seguindo a linha da Serra Talhada (Toca do Salitre e Toca do João Pimenta).
Após fotografar os slides na FUMDHAM, com câmera digital, tornou-se possível
trabalhar com as imagens, ampliando-as no computador, para melhor visualização de
detalhes pertinentes à técnica utilizada e ao desenvolvimento estilístico por meio de seus
componentes estruturais.
Como parâmetros de análise, para particularizar o estilo dentro do corpus gráfico, foram
levantadas como características da técnica, tanto para os zoomorfos quanto para os
antropomorfos, a colorimetria, o tipo de preenchimento das figuras, o tratamento dado
ao suporte, a variação do tipo de traço, a morfologia das figuras, dadas a partir dos
20
instrumentos utilizados e a freqüência em que se apresentam os atributos culturais,
caracterizadores das temáticas próprias do estilo Serra Branca.
Em função da cenografia, foram considerados a representação angular das figuras, o
grau de movimento e dinamismo, o número de figuras na composição e a interação
entre elas. A superposição foi utilizada como parâmetro cenográfico, mas também
analisada como técnica, quando esta se apresenta como caracterizador de profundidade.
A existência de uma relação rítmica entre as figuras também foi observada, pois se
acredita que quanto menos se apresentar esta relação, mais característico do perfil
gráfico Serra Branca ele vai ser, e a temática não foi excluída, pois, à medida em que
foram sendo feitas as análises, a partir da cenografia e da técnica, esta se apresentaria
naturalmente.
Pretendeu-se fazer um primeiro levantamento analítico utilizando-se de pormenores
preestabelecidos, a partir dos componentes gráficos que caracterizaram o perfil
estilístico de cada um dos sítios selecionados, para, em seguida, se estabelecer as
relações entre eles, pois somente com as correlações entre os sítios deste conjunto se faz
possível a verificação das hipóteses propostas.
A seguir, utilizando os dados resultantes das análises, verificaram-se as características
quantitativas e qualitativas entre os sítios, com o intuito de cruzar os dados
estatisticamente (utilizados para verificar se há padrões gráficos ou recorrências, a partir
das variáveis estabelecidas) para responder ao problema levantado, sempre
considerando o percentual de grafismos analisados.
Com a finalidade de fotografar os abrigos, checar os dados referentes aos sítios e
verificar os tamanhos reais e a colorimetria, além da disposição cenográfica dos
grafismos na totalidade do painel, fez-se necessária ida a campo. Durante um período de
oito dias, visitou-se os sítios selecionados para a pesquisa, procurando verificar suas
coordenadas com utilização de localizador com tecnologia GPS, tomando-se dados
como a altimetria para verificação de possíveis áreas disponíveis e do posicionamento
21
(altura relativa) do abrigo no vale, as orientações
40
e aberturas
41
, além de sua
composição geomorfológica.
Estes sítios foram, então, analisados, levando-se em consideração os elementos
ambientais do entorno, que todo estudo de pré-história deve considerar, além tomadas a
abertura e orientação de cada sítio.
Verificou-se também o estado de conservação em que se encontra o abrigo, a presença
ou não de insetos edificadores sobre os grafismos, a existência de lâminas de sais e
possíveis áreas de desplacamento ou desagregação do suporte.
Em função do curto período, não foi possível fazer um planejamento fotográfico de
acordo com as posições dos sítios e os melhores horários de luz para fotografá-los.
Optou-se por fazer as fotos, mesmo sob condições inapropriadas, para que se pudesse,
mesmo que sem uma boa qualidade de registro, analisar a distribuição dos grafismos
nos suportes e as características dos grafismos em unidades analíticas menores.
Mesmo sem as condições ideais, tentou-se fazer um levantamento fotográfico, em
diversos níveis de aproximação dos painéis, até chegar às unidades gráficas isoladas e,
às vezes, a fotografias macro para melhor observação de detalhes da técnica, do suporte
ou da pigmentação. Os sítios não puderam ser fotografados na sua totalidade (o abrigo
na paisagem), conseguindo-se apenas vistas parciais, geralmente a partir de pontos
laterais, que ilustram os sítios selecionados nesta dissertação.
A visita aos sítios tornou-se imprescindível, pois foi possível verificar que, mesmo
diante de uma mesma composição do suporte rochoso (como verificado nos cadastros
em etapa anterior), estes se apresentam de modo distinto, dependendo da área do parque
e muitas vezes, mesmo em suportes semelhantes, a escolha na utilização das áreas
destes, pelos autores dos registros, se deu de forma diversificada, a exemplo dos sítios
em que se verifica a utilização das áreas de arenito existentes entre os estratos
cascalhosos como painel horizontal.
40
A orientação diz respeito ao posicionamento do sítio em pontos cardeais da direção da parede de fundo,
sempre medida de costas para o abrigo, ou seja, de frente para o lado exposto do sítio, sendo o primeiro
ponto à direita e o segundo à esquerda.
41
A abertura se refere ao ponto cardeal para o qual a parede está exposta.
22
Diante dos painéis, se observou grafismos do estilo Serra Branca, que até então não
haviam sido vistos nos cromos fotográficos, além de se identificar algumas dificuldades
enfrentadas pelos autores dos registros, dadas em razão do posicionamento ou
inclinação do suporte e das áreas utilizadas para pintar. Em campo, pôde-se verificar a
heterogeneidade e as texturas apresentadas pela rocha e a presença de grafismos em
áreas desagregadas antes da sua produção e de áreas que sofreram desplacamento
posterior à realização das pinturas.
23
2. CONTEXTO AMBIENTAL
2.1 Apresentação da área
Mapa 1: Localização do Parque Nacional Serra da Capivara – Fonte: FUMDHAM (adaptado)
A área em estudo, o Parque Nacional Serra da Capivara, está localizada no sudeste do
Estado do Piauí, entre os municípios de João Costa, São Raimundo Nonato, Coronel
José Dias e Canto do Buriti. Seus limites cardeais encontram-se nas coordenadas:
Norte Leste Sul Oeste
Latitude 08º 26’ 50.099” 08º 36’ 33.681” 08º 54’ 23.365” 08º 46’ 28.382”
Longitude 42º 19’ 51.316” 42º 10’ 21.874” 42º 19’ 46.908” 42º 42’ 53.654”
De acordo com os dados paleoambientais e os estudos geomorfológicos, a partir da
acomodação das placas, deu-se a formação de um relevo alto, constituindo um planalto
que, durante milhões de anos, sofreu intemperismo e erosão, criando as irregularidades
24
de tipo ruiniforme vistas hoje na área. Na superfície mais interna do planalto, aparecem
as áreas de chapadas e, nas bordas, aparecem as cuestas
42
.
Várias formas de relevo, como morros, serrotes, serras e planícies que podem ser
observadas atualmente, são resultado de lentas transformações que se produziram nos
dois grandes conjuntos geológicos formadores da área: a Bacia sedimentar Piauí-
Maranhão e a Depressão do Médio São Francisco. A bacia sedimentar, que antes era
coberta pelo mar, foi sendo preenchida com sedimentos retirados pela erosão das áreas
mais altas do entorno e carregados pelo próprio mar ou pelos ventos e chuvas. Com o
recuo das águas, as camadas de sedimentos se compactaram, formando as grandes
rochas sedimentares, que, posteriormente, foram levantadas por um movimento
tectônico, gerando as bordas da cuesta arenítica e conglomerática.
A formação geológica da Depressão periférica do Médio São Francisco é a área
atualmente mais baixa da região, em contraposição ao planalto. É conhecida também
como Escudo Metamórfico pré-cambriano, pois nela aparecem rochas pré-cambrianas
que sofreram processo de metamorfização. Apresentam-se, nesta formação, a planície
do vale do rio Piauí e maciços isolados resultantes da erosão de elevações dos serrotes
de calcário, com grutas e inselbergs de gnaisse.
As águas que descem das serras geraram o pedimento
43
, que na área do parque está
recoberto por grande quantidade de seixos de diversos tamanhos e composições
mineralógicas. Os sopés dos paredões da frente da cuesta e as paredes quase verticais
dos canyons são os principais locais onde se encontram os abrigos com registros
rupestres, possivelmente em razão da disponibilidade de áreas utilizáveis. Ossos
fossilizados de animais da megafauna extinta foram encontrados nas camadas
sedimentares dos salões internos de cavernas e grutas situadas nos serrotes calcários.
Provavelmente, estes animais morreram no interior dessas cavernas ou foram carreados
pelas chuvas para seu interior, pois não foram encontrados traços tafonômicos que
pudessem indicar que o homem os houvesse carregado para lá. Na entrada dessas
42
Elevação assimétrica, escarpada de um lado, e caindo suavemente do outro, formada por erosão das
camadas inclinadas num plano costal (LEINZ e LEONARDOS, 1977).
43
Depósito sedimentar clástico ligado a clima árido, rico em fragmentos rochosos frescos, transportado e
sedimentado por águas “planares” sobre grandes planos ou em forma de leque para os rios (LEINZ e
LEONARDOS, 1977).
25
cavernas há algumas pinturas rupestres. Diferentemente dos grafismos da região franco-
cantábrica, que se encontram no interior das grutas e cavernas, no Brasil, estes se
encontram em abrigos sob rocha e afloramentos líticos.
Estudos anteriormente realizados na área identificaram pelo menos dois tipos de sítios
pré-históricos para grupos humanos: em abrigos sob rocha e aldeamentos a céu aberto.
Também existem sítios paleontológicos nas áreas de karst
44
, muito próximo aos limites
do PARNA. A descoberta desses diferentes sítios é de extrema importância, pois
demonstra uma diversidade de ambientes e ecossistemas passíveis de serem utilizados
pelas populações pré-históricas.
Desde as primeiras campanhas arqueológicas, intentou-se encontrar geo-indicadores
capazes de posicionar cronologicamente as pinturas e reconstituir a dinâmica ambiental,
na qual os grupos humanos que habitaram a área estariam inseridos.
Verificou-se que, entre 12.000 e 10.000 (período de transição do Pleistoceno para o
Holoceno), as chuvas começaram a diminuir, sendo substituído o clima tropical-úmido
pelo estado atual de regime semi-árido
45
, com duas estações bem definidas. As chuvas
que caem hoje sobre a região do Parque Nacional acontecem de forma abundante
durante cinco ou seis meses no ano (geralmente, de outubro a abril). As chuvas desse
período são localizadas e irregulares, e apesar de possuir índices como uma média-anual
de 689 mm (com desvio-padrão de 200 mm), são suficientes para transformar a
paisagem cinza e aparentemente homogênea, sem folhas, plena de espinhos e galhos
retorcidos do período seco do ano, em uma paisagem exuberante, com grande
diversidade de espécies. Embora tudo pareça igual, a maior parte desta diversidade de
espécies também está presente na paisagem no período seco e, apenas espécies de ciclo
anual, aumentam a diversidade da paisagem no período de chuvas e estas são,
proporcionalmente, poucas.
No início do Holoceno, após o optimum climático, a vegetação, que anteriormente
variava entre a savana, na planície pré-cambriana, e a floresta tropical úmida, na área da
44
Karst ou carste, “campo de pedras calcárias” formando abrigos e cavernas.
45
Classificado como BSh, o tipo de clima atual insere o sudeste do Estado do Piauí, no chamado
“Polígono das secas”.
26
bacia sedimentar, aos poucos iria sendo substituída pela cobertura vegetal, que
caracteriza atualmente a área, do tipo caatinga.
Com essa mudança climática, as populações que habitavam a área tiveram que se
adaptar e a produção de instrumentos foi, aos poucos, se tornando mais precisa e
aperfeiçoada, possivelmente, com o intuito de economizar tempo e energia. “A maneira
como estão articuladas as etapas das cadeias operacionais constituirá o perfil técnico e a
base do conhecimento de uma comunidade cultural”(PESSIS, 2003).
A partir de diversas escavações realizadas na área do Parque, identificou-se que alguns
abrigos funcionavam como locais de refúgio ou de acampamentos temporários,
provavelmente utilizados em períodos de caça ou com fins rituais. Supõe-se que os
grupos étnicos autores dos registros gráficos existentes na área habitavam aldeias,
geralmente situadas sobre os terrenos planos, no alto das chapadas, perto das descidas,
para atingir os vales férteis ou nas partes mais elevadas dos vales mais largos, seja perto
de fontes de água, como rios sazonais ou de pontos de acúmulo de água em
reservatórios naturais. Estas inferências foram possíveis, porque, segundo Willey
No assentamento o homem inscreve sobre a paisagem certas formas de sua
existência. A ordenação do assentamento se relaciona com a adaptação do
homem e da cultura ao meio ambiente e com a organização de toda sociedade
em seu sentido mais amplo.
(1956, in WATSON et al.,1974)
Assim sendo, as características paleoambientais e atuais do contexto, no qual os vinte e
um sítios selecionados estão inseridos, foram levadas em consideração, na análise de
cada um deles e em suas relações.
27
Mapa 2: Área do Parque Nacional Serra da Capivara com a posição dos sítios selecionados – Fonte: FUMDHAM (adaptado)
2.2 Descrição dos sítios
28
2.2.1 A Toca do Salitre (número cadastral FUMDHAM: 20) é um abrigo sob rocha
arenítica com diversos estratos intercalados de conglomerado, que se encontra a meia
vertente da serra, com altitude de 420m. Seu estado de conservação é bom, apesar de ser
uma rocha extremamente friável e ter sofrido vandalismo. Este sítio encontra-se fora do
perímetro do Parque Nacional Serra da Capivara, com localização regional na Serra
Nova/Caracol e coordenadas: UTML
46
732663 e UTMN 9006094. Sua Orientação é
NE/SW, com abertura voltada para Nordeste (45º).
Fotografia 1: Toca do Salitre
2.2.2 A Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada (número 23) é o abrigo sob rocha,
de constituição arenítica, mais bem conhecido da área do Parque Nacional. Encontra-se
no sopé da Serra Talhada, em uma altitude de 457m. Seu estado de conservação é bom.
46
Optou-se por utilizar o Sistema de Coordenadas em UTML e UTMN por ser o sistema utilizado pela
FUMDHAM nos cadastros mais recentes.
29
Escavações arqueológicas foram realizadas durante um período de 10 anos, durante as
décadas de 70 e 80, resultando em uma importante coleção de instrumentos líticos,
várias datações por Carbono14 de estruturas de fogueira e uma enorme quantidade de
dados referentes às populações pré-históricas que habitavam a área. Suas coordenadas
são: UTML 768877 e UTMN 9022398 e possui abertura voltada para Sul-Sudoeste
(200º), com Orientação NW/SE. Este abrigo foi densamente pintado e apresenta
exemplos das duas Tradições de pintura nos diversos nichos do suporte rochoso.
Fotografia 2: Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada
2.2.3 Descoberto em 1973, a Toca do Vento (número 26) é um abrigo sob rocha
arenítica que se encontra em um imenso bloco isolado no sopé da serra, na área da Serra
Branca ou Mulungú, a 345m de altitude. Como suas paredes são de um arenito
extremamente friável, seu estado de conservação é regular, apresentando várias áreas do
suporte que sofreram desplacamento. Suas coordenadas são: UTML 750271 e UTMN
30
9041779. Sua Orientação é NW/SE e a abertura está voltada para Sudoeste (220º). Além
da grande quantidade de grafismos pintados, verifica-se em blocos caídos do suporte e
em algumas áreas da parede a presença de gravuras. Este sítio sofreu prospecções desde
a década de 80, mostrando sempre potencial para ser escavado, então, durante todo o
ano de 2004 uma grande escavação foi realizada chegando até a parte estéril na base da
rocha.
Fotografia 3: Toca do Vento
2.2.4 A Toca do Caboclo da Serra Branca (número 27) é um abrigo sob rocha que se
encontra na média vertente, em um bloco de arenito isolado, próximo ao “olho d’água”
da Serra Branca, a uma altura de 371m. A camada externa da rocha que forma o abrigo
apresenta a típica erosão (ou “crocodilage” sistemático da superfície) encontrada na área
da Serra Branca, que lhe dá o nome popular de “carapaça de tatu” (PELLERIN, 1982).
Seu estado de conservação é bom e suas coordenadas são: UTML 752484 e UTMN
31
9043821, com orientação W/E e abertura Sul (175º). Este abrigo foi descoberto em
1973 e também possui gravuras em um bloco de arenito caído à frente de um dos
painéis de pintura.
Fotografia 4: Toca do Caboclo da Serra Branca
2.2.5 Descoberta em 1973, a Toca do Caboclinho (número 29) é um abrigo sob rocha
arenítica, localizado no sopé da serra, na área da Serra Branca, em uma altitude de
367m. Seu estado de conservação é regular, pois apresenta várias áreas do suporte por
onde desce a água infiltrada na rocha. Suas coordenadas são: UTML 750029 e UTMN
9040833. Tem orientação SW/NE e abertura Sudeste (135º). Apesar de ser um sítio de
grande extensão, apresenta, relativamente, poucas pinturas na parede e algumas
gravuras em um bloco de arenito que caiu do suporte e se encontra logo abaixo de um
dos painéis.
32
Fotografia 5: Toca do Caboclinho
2.2.6 A Toca da Extrema II ou Toca do Gato (número 33) foi descoberta em 1973 e se
encontra no sopé da serra, na área da Serra Branca. O abrigo tem constituição arenítica e
foi formado, segundo estudos geomorfológicos, por erosão fluvial. Encontra-se em uma
altitude de 387m. Localiza-se nas coordenadas: UTML 752048 e UTMN 9047691, com
orientação NE/SW e abertura Noroeste (320º). Sofreu escavações durante a década de
80, chegando-se à parte estéril, mas nenhum indício permitiu datar, mesmo que
relativamente, as pinturas com os níveis escavados. Este sítio apresentava gravuras em
toda a superfície exposta de quatro grandes blocos presentes no interior do abrigo.
Quando encontrado pelos pesquisadores os grafismos estavam cobertos por uma pátina
e quase 50% dos grafismos haviam sofrido um processo de degradação, pois se
verificou que caçadores atiravam contra as figuras, cortavam a carne da caça sobre os
blocos e a colocavam salgada para secar ao sol. O sal reagiu com o arenito degradando
33
os blocos e as gravuras. Para impedir a continuidade do processo de degradação e
trabalhar na consolidação dos mesmos, os pesquisadores optaram, em 1997, pela
retirada e transporte dos quatro blocos para a FUMDHAM (ASÓN, 2002). O abrigo
deste sítio encontra-se bastante abaixo do nível atual do solo e apresenta pinturas dos
três momentos da Tradição Nordeste e ainda vários grafismos pertencentes à Tradição
Agreste.
Fotografia 6: Toca da Extrema II ou Toca do Gato
2.2.7 A Toca do Pitombi (número 36) fica à meia vertente de um vale, próximo ao
estreitamento de um boqueirão, na área da Serra da Capivara, em uma altitude de 489m.
É um abrigo formado pela erosão diferencial da rocha na parte de composição arenítica
e apresenta uma parte superior de conglomerado. Em função da sua localização
apresenta bastante umidade, o que gera uma grande proliferação de microorganismos e
o revestimento de sais na superfície do suporte, em seu interior. Suas coordenadas são:
34
UTML 775041 e UTMN 9028174, com orientação NW/SE e abertura para Sudoeste
(230º). Este sítio apresenta duas áreas distintas que se encontram: uma parede vertical
que foi densamente pintada e um teto que forma um abrigo muito estreito com relação
ao piso e apresenta diversos grafismos, em várias posições.
Fotografia 7: Toca do Pitombi
2.2.8 A Toca do Arapuá do Gongo (número 37) que se encontra no sopé da serra na
Serra do Gongo, é um abrigo sob rocha arenítica bastante sedimentada e fica na faixa de
altitude de 423m. Suas coordenadas são:
UTML 771924 e UTMN 9043137, com
orientação SE/NW e abertura Nordeste (45º). Este abrigo apresenta uma série de
pinturas, já bastante apagadas, na faixa da parede próxima ao sedimento, mas seu estado
de conservação é bom, pois se trata de um arenito bastante compactado.
35
Fotografia 8: Toca do Arapuá do Gongo
2.2.9 A Toca do Morcego (número 49) é um abrigo sob rocha arenítica bastante
compactada, localizado regionalmente na área do Alegre, à meia vertente da serra, em
uma altitude de 330m e coordenadas: UTML 759714 e UTMN 9060683. Sua abertura
está voltada para Leste-Sudeste (108º), com orientação SW/NE. Este abrigo foi
descoberto em 1975 e parece ter sido uma zona de passagem de diversos grupos, pois
apresenta, além das pinturas com diversas técnicas, uma enorme quantidade de
gravuras. De todos os sítios selecionados, este é o que contém o maior número de
superposições de gravuras sobre as pinturas e seu estado de conservação é bom, apesar
de alguns grafismos se apresentarem quase apagados.
36
Fotografia 9: Toca do Morcego
2.3.0 A Toca do Sobradinho ou Sobradinho I (número 56) encontra-se na média
vertente da serra. Foi descoberto em 1975 e é um abrigo sob rocha arenítica localizado
na Serra Branca, com altitude de 431m. Seu estado de conservação é bom. Sua
orientação é NE/SW, com abertura voltada para Noroeste (310º) e coordenadas:
UTML
755130 e UTMN 9053430. Este abrigo foi formado, possivelmente, pela erosão
diferencial do suporte e não apresenta possibilidades de escavação, pois não há acúmulo
de sedimento em sua base.
37
Fotografia 10: Toca do Sobradinho ou Sobradinho I
2.3.1 A Toca da Levada do Caldeirão de Dentro (número 77) é um abrigo sob rocha
arenítica localizado na Baixa da Barriguda, com altimetria de 475m, que se apresenta na
média vertente. Localiza-se nas coordenadas: UTML 763696 e UTMN 9025252, com
orientação SE/NW e abertura Norte-Nordeste (50º). Na lateral direita deste abrigo
encontra-se um enorme bloco de arenito e acima dele, no teto, várias pinturas rupestres.
Em função de sua localização e formação apresenta grande proliferação de liquens e
insetos edificadores.
38
Fotografia 11: Toca da Levada do Caldeirão de Dentro
2.3.2 A Toca do Boqueirão do Paraguaio I (número 97) se encontra na média vertente
de um vale profundo localizado na Serra da Capivara. É um abrigo sob rocha arenítica
com altitude de 498m e se apresenta em bom estado de conservação. Suas coordenadas
são: UTML 774547 e UTMN 9028387, com orientação NW/SE e abertura Sul-Sudoeste
(205º). Apesar de possuir, relativamente, pouco sedimento na área abaixo do painel, este
sítio foi escavado em 1980, obtendo-se como vestígios uma grande variedade de peças
líticas produzidas a partir de matérias-primas como o quartzo e o quartzito.
39
Fotografia 12: Toca do Boqueirão do Paraguaio I
2.3.3 A Toca do Estevo III ou Toca da Onça (número 110) situa-se na média vertente da
serra, em uma altitude de 329m, na área localmente conhecida como Varedão Cambraia
ou Estevo. Este abrigo sob rocha é composto de arenito com presença intercalada de
veios de seixos. Suas coordenadas são: UTML 781805 e UTMN 9046400, possuindo a
abertura para Noroeste (325º) e orientação NE/SW. No piso deste abrigo verifica-se a
presença de um saibro esbranquiçado, provavelmente desagregado constantemente do
suporte rochoso e diversas áreas com pintura desplacadas.
40
Fotografia 13: Toca do Estevo III ou Toca da Onça
2.3.4 A Toca da Roça do Zeca ou Toca do Zeca I (número 149) situa-se na média
vertente da serra. É um abrigo sob rocha arenítica e conglomerática localizado na Serra
Talhada em uma altitude de 470m. Suas coordenadas são: UTML 773091 e UTMN
9026388, com orientação NW/SE e abertura para Sudoeste (240º). O estado de
conservação deste sítio é regular, apresentando diversas áreas do suporte faltando. Este
abrigo não apresenta gravuras e as pinturas estão bastante apagadas.
41
Fotografia 14: Toca da Roça do Zeca ou Zeca I
2.3.5 A Toca da Baixa das Cabaceiras (número 170) é um abrigo sob rocha arenítica
localizado na alta vertente, na área da Serra Talhada, com altimetria de 615m. Encontra-
se nas coordenadas UTML 773311 e UTMN 9027762, com orientação NE/SW e
abertura voltada para Noroeste (305º). Como várias pinturas se encontravam próximas
ao solo e o como o sítio possui uma posição topográfica diferenciada de outros sítios a
então (2001) escavados, durante dois meses escavou-se a parte interna do abrigo e, com
isso, puderam-se datar carvões originários de três estruturas de fogueiras e evidenciar
uma série de grafismos do estilo Serra Branca que estavam encobertos pelo sedimento.
As datações das fogueiras coincidem com o período de diminuição das chuvas.
42
Fotografia 15: Toca da Baixa das Cabaceiras
2.3.6 A Toca do Varedão VI ou Fidalgo II (número 253) é um abrigo sob rocha arenítica
com veios bem demarcados de seixos e cascalho, localizado no Varedão Cambraia. Está
posicionado na média vertente e suas coordenadas são:
UTML 782042 e UTMN
9047655, encontrando-se em uma altitude de 349m. Apesar de ser um abrigo
relativamente extenso apresenta somente dois painéis isolados com pinturas rupestres.
Este sítio possui abertura voltada para Sudeste (135º) com orientação SW/NE.
43
Fotografia 16: Toca do Varedão VI ou Fidalgo II
2.3.7 A Toca do Varedão VII ou Fidalgo I (número 254) fica na média vertente da serra,
com altimetria de 290m, na área do Varedão Cambraia e é um abrigo sob rocha arenítica
com estratos horizontais, bem demarcados, de conglomerado. Suas coordenadas são:
UTML 782324 e UTMN 9047389. Este sítio não pôde ser visitado, pois seus dados
catalográficos foram modificados, devido a uma mudança nos nomes dos sítios da área.
Sua altimetria e pontos de localização não puderam ser conferidos e as análises fazem
referência aos antigos cromos do acervo e aos novos dados enviados por pesquisadores
da FUMDHAM que estiveram, recentemente, no sítio.
44
Fotografia 17: Toca do Varedão VII ou Fidalgo I
Crédito: Elizabete Buco - FUMDHAM
2.3.8 O Sítio Toca do Caldeirão dos Rodrigues II (número 279) é composto por dois
abrigos. O primeiro, mais ao Norte, se formou pelo desabamento de um grande bloco de
arenito que permitiu a sedimentação num estreito corredor paralelo à parede. O
segundo, logo ao Sul, é um abrigo muito mais baixo e fechado, que teve sua origem
com a erosão diferencial de um dos níveis do arenito que forma a rocha maior. Na
altura do sítio o arenito apresenta uma facies arenosa com cascalho fino em
estratificação cruzada. Localiza-se no alto da vertente, a 498m de altitude na Serra
Talhada. Encontra-se nas coordenadas: UTML 768578 e UTMN 9024424, tendo a
orientação SW/NE e abertura voltada para Sudeste (136º). Somente 10% (cerca de
35m
2
) desse sítio sofreu escavação (1995), mas, qualitativamente, foi de grande
importância, uma vez que se escavou as áreas que seriam mais favoráveis para as
ocupações pré-históricas (PARENTI, 1996). Como resultado desta escavação, obteve-
45
se, uma quantidade de instrumentos líticos bastante significativa e vários focos de
carvão que permitiram datações por Carbono 14.
Fotografia 19: Toca do Caldeirão dos Rodrigues II
2.3.9 A Toca do Zé Patu (número 395) é um abrigo sob rocha arenítica em um imenso
bloco isolado, encontrado no sopé da serra, na área da Serra do Angical nas
coordenadas: UTML 752367 e UTMN 9062023, com altimetria de 389m. Apresenta
orientação SE/NW e abertura Nordeste (40º). Foi descoberto em 1996 e apesar do
grande tamanho do bloco que forma o abrigo, este possui somente dois painéis bem
distantes entre si e apresenta diversas áreas do suporte que sofreram desplacamento,
além de algumas pinturas bastante apagadas.
46
Fotografia 19: Toca do Zé Patu
2.4.0 A Toca do Caldeirão dos Canoas VIII (número 430) é um dos abrigos sob rocha
arenítica que se encontra a média vertente na área da Serra Talhada, em uma altitude de
457m. Suas coordenadas são: UTML 768922 e UTMN 9024269, apresentando
orientação NE/SW e abertura Sul (180º). Este sítio possui duas áreas que apresentam
painéis com pinturas. Em uma das áreas as pinturas foram feitas na parte lisa e vertical
do suporte e na outra os grafismos foram pintados no teto do pequeno abrigo formado
por erosão diferencial, provavelmente de origem fluvial.
47
Fotografia 20: Toca do Caldeirão dos Canoas VIII
2.4.1 A Toca do João Pimenta ou Canoas da Serra Vermelha (número 459) é um abrigo
sob rocha arenítica, com algumas áreas de formação cascalhosa e seixos isolados,
localizado na alta vertente da serra, com altimetria de 477m. Este sítio encontra-se na
periferia dos limites definidos para o Parque Nacional. Possui orientação SW/NE, com
abertura voltada para Sudeste (125º) e coordenadas: UTML 751741 e UTMN 9018212.
Este abrigo apresenta-se em estado de conservação regular, pois um grande número de
grafismos se encontra recoberto por salitre (sais, especialmente nitrato de potássio,
produzidos pela própria rocha), verifica-se a alteração cromática dos pigmentos
utilizados na produção dos grafismos, nos nichos do suporte, de textura bastante
expressiva, vêem-se várias áreas com ninhos de insetos edificadores, além de algumas
áreas do teto e da parede com pintura que sofreram desplacamento.
48
Fotografia 21: Toca do João Pimenta ou Canoas da Serra Vermelha
49
Área Sítio
Altimetria
(metros)
Suporte
Rochoso
Posição Abertura
Toca do Morcego 330 Arenito Média
vertente
Leste-
Sudeste
Serra do
Angical e
Alegre
Toca do Zé Patu 389 Arenito Sopé/ Bloco
isolado
Nordeste
Toca do Arapuá do
Gongo
349 Arenito Sopé Nordeste
Toca do Varedão VI 290 Arenito/
conglomerado
Média
vertente
Sudeste
Toca do Varedão VII 423 Arenito/
conglomerado
Média
vertente
_
Serra do Gongo e
Cambraia
Toca do Estevo III 329 Arenito Média
vertente
Noroeste
Toca do Pitombi 489 Arenito Média
vertente
Sudoeste
Serra da
Capivara
Toca do Boqueirão do
Paraguaio I
498 Arenito Média
vertente
Sul-
Sudeste
Toca do Caldeirão dos
Canoas VIII
430 Arenito Média
vertente
Sul
Toca do Caldeirão dos
Rodrigues II
498 Arenito Alta vertente Sudeste
Toca do Boqueirão do
Sítio da Pedra Furada
457 Arenito Sopé Sul-
Sudoeste
Toca da Levada do
Caldeirão de Dentro
465 Arenito Média
vertente
Norte-
Nordeste
Toca da Baixa das
Cabaceiras
615 Arenito Alta vertente Noroeste
Serra Talhada
Toca da Roça do Zeca 470 Arenito Média
vertente
Sudoeste
Toca do João Pimenta 477 Arenito Alta vertente Sudeste
Serra
Vermelha
e Nova
Toca do Salitre 420 Arenito/
conglomerado
Média
vertente
Nordeste
Toca do Caboclinho 367 Arenito Sopé Sudeste
Toca do Vento 345 Arenito Sopé/Bloco
isolado
Sudoeste
Toca do Caboclo da
Serra Branca
371 Arenito Média/Bloco
isolado
Sul
Toca da Extrema II 387 Arenito Sopé/Bloco
isolado
Noroeste
Serra Branca
Toca do Sobradinho 431 Arenito Média
vertente
Noroeste
Tabela 1: Sítios selecionados divididos de acordo com as áreas de localização, valores altimétricos, tipo
de área do suporte utilizado, posição do sítio e abertura.
50
3. ANÁLISES
Não se tem como objetivo, para esta dissertação, descrever exaustivamente todas as
figuras, mas apresentar apenas as características dadas como mais significativas, com
base nos parâmetros desenvolvidos, na tentativa de responder ao problema proposto.
Como o número de grafismos não é o mesmo em todos os sítios verificados, após
efetuado o levantamento analítico de cada uma das unidades gráficas do estilo em
estudo, levantou-se estatisticamente as freqüências dos diferentes tipos, o que permitiu
verificar as predominâncias. Os parâmetros definidos foram utilizados em todos os
sítios.
3. 1 Serra Alegre e Angical
Mapa 3: Localização dos sítios analisados na área da Serra Alegre e Angical
3.1.1 Toca do Morcego (49)
Na Toca do Morcego as figuras humanas são predominantes, mas aparecem também
algumas figuras zoomorfas, como cervídeos e emas, e grafismos puros.
51
Uma grande figura mascarada (cerca de 140 cm de comprimento) chama logo a atenção
para o painel deste sítio. De corpo retangular, bastante alongado, braços curtos e pernas
em “v”, esta figura antropomorfa foi preenchida com uma linha horizontal,
relativamente central que divide o corpo em duas partes. Na parte superior, todo o
preenchimento foi feito com o dedo. Em um dos lados, as manchas formam uma linha
descontínua, em zig-zag, ladeada por seis impressões, sendo duas diagonais, duas
verticais e mais duas diagonais e do outro lado do zig-zag, dez marcas, todas verticais.
A parte inferior foi dividida ao meio com uma linha vertical que segue a partir da linha
horizontal, um pouco mais espessa que a linha usada para fazer o contorno da figura. No
lado oposto àquele superior aonde foi feito o zig-zag, aparece uma linha contínua,
bastante espessa, também em zig-zag dentro de uma área reservada por um retângulo.
No centro, duas linhas descontínuas, nos dois lados, feitas com os dedos. As pernas
seguem a linha do corpo e formam coxas triangulares e os pés, que formam um ângulo
de 90º com a perna têm dedos nas extremidades (três dedos em um e quatro no outro) e
preenchimento por pintura uniforme. Os braços estão levantados e seguem de forma
contínua a linha de contorno do corpo e nas mãos aparecem quatro dedos. A cabeça é
quadrada e preenchida por linhas, além de apresentar uma ornamentação com linhas
finas verticais no topo. Na lateral inferior do corpo aparece um falo.
Fotografia 1: Figura mascarada com antropomorfo menor ao lado
52
De um dos lados da figura mascarada, há uma figura bem menor (25 cm) com a mesma
postura da maior. Também possui o corpo retangular e preenchido por linhas e pontos.
Os braços estão levantados e as pernas em “v” apresentam coxas triangulares, bastante
grossas e pés em 90º com as pernas. A cabeça é quadrada e preenchida. As duas figuras
são vermelhas, mas têm distintas tonalidades e a figura menor está sutilmente
sobreposta pela linha de contorno da maior, em uma das pernas.
Do outro lado, de forma quase invisível aparece uma figura toda em amarelo (medindo
cerca de 100 cm), com o corpo alongado, preenchido por linhas e dentro das linhas
retângulos e triângulos de preenchimento uniforme, com as extremidades arredondadas
e os braços levantados e dobrados na altura da cabeça. Esta figura está em uma das
posturas típicas que associada à figura de frente compõem o emblemático “frente-
perfil”.
Fotografias 2 e 3 : Figura amarela compondo “frente-perfil” com antropomorfo mascarado
Ao lado da figura amarela há uma linha de oito antropomorfos, sendo que um deles
aparece muito apagado e não foi produzido com a mesma tinta nem com a mesma
técnica dos outros sete, o que sugere uma intrusão posterior. O corpo desta figura
53
também foi preenchido e possui um objeto semelhante aos outros, mas em uma análise
mais apurada, vê-se que a densidade da tinta não é a mesma, a linha vertical que segue
da cabeça não foi feita com a mesma precisão e a forma que segue da linha é
arredondada. As outras sete figuras apresentam, no final da linha que segue a partir da
cabeça uma forma quadrada, preenchida por manchas de tinta que, visualmente, formam
uma pintura uniforme.
Fotografia 4: Fila de antropomorfos
Diferentes tamanhos (a figura maior mede cerca de 20 cm e a menor, 10 cm) e
sobreposições feitas entre as figuras compõem a profundidade desta cena. A primeira
figura à direita do observador tem o corpo retangular e alongado, feito com linha
contínua e preenchido por linhas em vês invertidos e pontos. Os braços estão levantados
e um deles se sobrepõe ao braço da figura ao lado. A cabeça é retangular e preenchida
por pintura uniforme. As pernas em “v” têm os pés em 90º com a linha da perna. Na
lateral do corpo, voltado para a segunda figura aparece um falo.
Em um plano atrás, feito com deslocamento oblíquo, aparece a segunda figura da linha.
É uma figura retangular e bastante esguia que tem o corpo preenchido por uma linha
54
vertical formada por pontos. As pernas em “v” têm os pés formando um ângulo menor
que 90º com as pernas. As linhas são finas e contínuas. Os braços estão levantados e sua
cabeça é quadrada e preenchida por linhas. De uma das linhas da cabeça segue uma
linha vertical até a altura da linha da figura ao lado e na extremidade aparece um
quadrado do mesmo tamanho daquele da primeira figura ao lado. Na lateral da figura,
voltado para a terceira, aparece o falo.
A terceira figura aparece num terceiro plano e possui tamanho reduzido. Tem o corpo
retangular com preenchimento em zig-zag e linha de contorno fina e contínua. As
pernas aparecem em “v” com os pés em angulação um pouco menor que 90º em relação
às pernas. Seus braços estão levantados e sua cabeça é quadrada e preenchida por uma
mancha radial no centro. Da cabeça, sai uma linha, menor que a das outras duas figuras
descritas anteriormente e na ponta um quadrado preenchido por pintura uniforme. Na
lateral do corpo, assim como nas outras figuras, aparece um falo, voltado para a quarta
figura.
O quarto antropomorfo da linha é o menor (mede cerca de 10 cm) e se apresenta em um
plano atrás, apesar de se sobrepor à terceira figura, tanto em parte do braço, quanto na
perna. Esta é a única figura que aparece com dedos nas mãos. Tem o corpo retangular,
bastante esguio e pintura uniforme na parte superior. Aparece com as pernas em “v” e
os braços levantados. Seus pés fazem um ângulo menor que 90º com as pernas. A
cabeça desta figura é retangular e preenchida por pintura uniforme e seus braços foram
produzidos com mais de um traço. De sua cabeça também segue uma linha com um
quadrado na ponta e tem um falo, voltado para a próxima figura, na lateral do corpo.
A quinta figura da seqüência tem parte do braço sobreposta pelo braço do quarto
antropomorfo e apresenta o corpo retangular e alongado, feito com linha contínua e
preenchido por uma linha vertical ao longo de todo ele. Sua cabeça é quadrada e
preenchida pela linha que segue contínua verticalmente e apresenta um quadrado na
extremidade. Os braços estão levantados e as pernas em “v” com os pés em um ângulo
menor que 90º com a linha da perna. Na lateral de seu corpo tem um falo voltado para a
próxima figura.
55
A sexta figura é maior que a quinta e se encontra em um plano posterior a esta, feito por
deslocamento oblíquo. Tem o corpo retangular feito com linha fina e contínua, além de
preenchido por vês invertidos e pontos entre eles. As pernas estão em “u” e apresentam
coxas triangulares sem preenchimento, com os pés em 90º. Sua cabeça é retangular e
preenchida por pintura uniforme. Da cabeça segue uma linha como as outras figuras,
mas não se vêem nem seus braços, nem o quadrado na ponta da linha. Na lateral do
corpo também há um falo, voltado para a sétima figura.
A última figura da linha está bastante apagada, mas ainda se vê que ela se encontra em
um plano posterior ao da sexta figura, deslocada obliquamente em relação à quinta, e
tem o tamanho semelhante. Seu corpo é retangular e tem as pernas em “u”, com coxas
triangulares sem preenchimento e os pés em 90º. Ele se apresenta preenchido por uma
linha em zig-zag.
Próximo à linha de antropomorfos aparece uma outra figura, que sugere um
antropomorfo, medindo aproximadamente 15 cm. Produzida em vermelho, na mesma
tonalidade dos outros grafismos anteriormente descritos, possui o corpo retangular não-
alongado e preenchido por retângulos e pontos com áreas separadas. Suas linhas de
contorno são finas e contínuas. As pernas em “u” apresentam coxas com pintura
uniforme e pés arredondados e em 90º com a linha da perna. Não apresenta nem a
cabeça, nem os braços e nenhuma definição de gênero.
Fotografia 5: Figura antropomorfa incompleta
56
À direita da grande figura mascarada encontra-se um grande cervo policromático de
perfil (seu corpo mede aproximadamente 45 cm), com as patas traseiras bastante
esguias, sem coxas e estáticas, ao contrário das patas dianteiras que apresentam um leve
movimento, evidenciado pela posição do traço diagonal, e têm coxas triangulares bem
finas. Ambas possuem as extremidades bifurcadas. Seu corpo é retangular com os
ângulos superiores bem marcados e a linha ventral contínua e sutilmente curva. O rabo,
de traço fino, segue a linha da traseira do animal. Seu pescoço é grosso e preenchido
internamente com linhas e pontos em vermelho, seguindo até a cabeça retangular, com a
parte do focinho arredondada. As orelhas foram feitas, possivelmente, com os dedos e
seguem da parte externa à parte interna da cabeça. O corpo, preenchido e dividido em
quatro áreas retangulares, apresenta linhas espessas em zig-zag e três áreas estão
pintadas uniformemente com tinta amarela.
Fotografia 6: Grande cervo policromático
Outro cervo de confecção bastante delicada, medindo cerca de 10 cm, de perfil e em
postura de salto aparece isolado no painel. Produzido em uma cor só, um vermelho
médio, com corpo retangular de linha fina e contínua e preenchido por manchas
arredondadas de pintura uniforme, apresenta as patas dianteiras com coxas triangulares
57
extremamente finas e pés bifurcados. Apesar do corpo se apresentar retangular, é visível
o domínio por parte do autor, da linha curva tanto na base do pescoço quanto no rabo do
animal. O pescoço, feito somente com contorno, apresenta uma das linhas um pouco
mais grosseira e a cabeça, de perfil apresenta duas galhas simples e orelhas com
contorno arredondado, produzido por vários traços, mas sem preenchimento. Uma
gravura feita posteriormente com técnica de picoteamento, extraindo parte do suporte,
“arrancou” suas patas traseiras.
Fotografia 7: Cervídeo com gravura
Uma figura antropomorfa, em vermelho, medindo cerca de 40 cm altura, que aparece
em meio a uma série de gravuras apresenta o corpo retangular alongado com a base um
pouco mais aberta que o topo e as pernas bastante compridas em forma de “u” e sem a
presença de coxas, mas com uma das pernas feita a partir de vários traços e pés voltados
para o mesmo lado, em 90º com a linha das pernas. Na base do corpo duas linhas
horizontais formam dois retângulos com a linha de contorno. Na parte superior uma
linha em zig-zag preenche o corpo finalizando-se em um losângulo no centro. A cabeça
é quadrada, com as arestas superiores arredondadas, preenchida por uma linha e
ornamentada com linhas finas e verticais no topo. Os braços, ao contrário da maioria das
58
outras figuras antropomorfas do painel, que os possuem levantados, apresentam-se
esticados em meia posição, seguindo a linha dos ombros e confeccionados com
contorno extremamente fino e sem preenchimento. Nas extremidades aparecem cinco
dedos em cada uma das mãos e na lateral inferior do corpo aparece um falo.
Fotografia 8: Figura antropomorfa
Uma composição emblemática do tipo “frente-perfil”, de cor vermelho escuro, também
aparece neste sítio. A figura que está de frente mede cerca de 45 cm e apresenta o corpo
retangular com preenchimento bastante elaborado. Pontos formando linhas, zig-zags,
triângulos em negativo formados por uma área preenchida uniformemente e um outro
triângulo em positivo, preenchido por manchas e linhas, fazem a ornamentação do corpo
desta figura. As pernas aparecem em “u”, com coxas triangulares preenchidas e pés em
90º. A cabeça é retangular e preenchida por duas áreas pintadas nas laterais e uma área
central dividida longitudinalmente, além de traços finos verticais no topo, fechados por
uma linha horizontal. Os braços encontram-se levantados e produzidos por um traço
bastante fino e contínuo e, nas mãos, aparecem três dedos. Na lateral inferior do corpo,
59
voltado para o lado oposto àquele da figura de perfil, aparece um falo com a tinta já
bastante apagada.
Fotografia 9: Painel com composição emblemática, fila de antropomorfos, cervídeo e antropomorfos em
cena. Estes grafismos apresentam todos a mesma tonalidade
A figura de perfil (mede cerca de 35 cm) tem os braços esticados e levantados, voltados
para o lado do outro antropomorfo e seus dois pés aparecem voltados para o lado
contrário. É uma figura esguia, retangular, com o corpo preenchido por uma linha em
zig-zag e com a cabeça preenchida por uma linha vertical. As pernas estão em “u”,
esticadas e como descrito anteriormente, têm os dois pés em 90º voltados para o mesmo
lado. Nas mãos apresenta três dedos.
Ao lado da composição emblemática, aparece uma fila com quatro antropomorfos em
tamanho reduzido (menores que 10 cm), feitos com tinta vermelha, na mesma
tonalidade. Foram pintados com uma linha única formando o corpo, as pernas em “v”
sobrepostas e sem a presença dos pés, com a cabeça elíptica preenchida por pintura
uniforme e os braços levantados lateralmente, sendo que três deles estão de perfil para
um mesmo lado e um quarto aparece virado para o lado oposto. Os quatro apresentam
60
seus falos voltados para o lado em que estão de perfil. A posição de suas pernas dá a
sensação visual de que todos pertencem à um mesmo plano linear e que se encontram
em fila.
Próximo à linha de antropomorfos, aparecem mais seis figuras, medindo menos de 10
cm, produzidas com a mesma tonalidade de vermelho, e, possivelmente com a mesma
tinta, que parecem fazer parte de uma única cena, junto com a composição emblemática
e a fila de antropomorfos, mais ao lado. Duas figuras de perfil em fila apresentam o
corpo com morfologia semicircular, uma preenchida por pintura uniforme e a outra
preenchida por um “x”. Seus braços estão levantados e têm quatro dedos nas mãos (uma
delas se desplacou junto com o suporte). As cabeças são seguidas de um pescoço e
foram preenchidas uniformemente, apresentando traços ornamentando-as. As pernas da
figura da frente estão em “v” e têm os pés laterais em 90º. Uma das pernas da outra
figura está dobrada, mas a outra é igual à da figura da frente. Estes dois antropomorfos
apresentam um falo na parte inferior de seu ventre.
Duas outras figuras iguais aparecem com os corpos arredondados feitos com a linha de
contorno e três linhas preenchendo-os, os braços levantados, as cabeças arredondadas e
preenchidas uniformemente, com traços no topo e pescoço. As pernas são curtas, em
“v” e com os pés em 90º.
A quinta figura é tecnicamente semelhante às duas de frente (ou de costas), mas,
morfologicamente, como as duas que estão de perfil. Sua cabeça é redonda e sem traços
ornamentando-a.
A sexta figura aparece mais abaixo e um pouco deslocada da cena. Tem o corpo
retangular, preenchido por linhas, no topo da cabeça tem traços verticais e seus braços
estão levantados lateralmente.
Um outro cervídeo, na mesma cor, aparece isolado abaixo da composição emblemática.
Seu corpo é retangular, medindo aproximadamente 15 cm, e preenchido por uma linha
horizontal curva que corta nove linhas verticais. As patas traseiras, que estão em
posição estática, possuem coxas triangulares finas e pés bifurcados, enquanto as patas
dianteiras aparecem dobradas, como se saíssem do chão. As patas dianteiras também
61
são bifurcadas, mas não apresentam coxas. Seu pescoço é fino e comprido produzido a
partir de uma só linha. A cabeça, de perfil, tem orelhas, um chifre no centro e um
formato retangular feito com a linha de contorno e preenchido por manchas de tinta que
em um primeiro olhar, se apresentam como uma pintura uniforme.
Fotografia 10: Cervídeo retangular
Abaixo deste cervo, uma figura antropomorfa de, aproximadamente, 20 cm com corpo
retangular, presença do falo na lateral e traços finos e contínuos, aparece com os dois
braços esticados nas laterais do corpo, em alturas distintas. As mãos têm quatro dedos
cada e um dos braços foi feito com mais de um traço. Seu corpo foi preenchido por
linhas verticais e parecem desviar com sinuosidade em função da irregularidade do
suporte rochoso. As pernas apresentam-se em “u”, com linhas contínuas a partir do
corpo, pés com dedos e em 90º com a linha da perna. A cabeça é quase quadrada, com a
parte superior levemente arredondada e ornamentada por linhas. O preenchimento da
cabeça é dado por linhas que formam, visualmente, uma pintura uniforme. A princípio,
esta figura apresenta-se isolada, mas uma apreciação mais cuidadosa garante sua
composição cenográfica com outra figura, formando um emblemático do tipo “frente-
perfil”.
62
Fotografia 11: Composição emblemática
Uma figura antropomorfa de perfil, já quase apagada, medindo cerca de 10 cm e voltada
para a figura que está de frente aparece com o corpo feito por uma linha, que segue
formando a cabeça elipsóide e um pouco mais espessa que a linha do corpo. Seus braços
e pernas apresentam-se curvos, os braços para cima da cabeça e as pernas para baixo do
corpo.
Entre vários círculos gravados por picoteamento se vê uma figura antropomorfa
retangular, bastante esguia (cerca de 70 cm) em cinza e de feitura delicada. Seu corpo
está todo preenchido por linhas em diversas direções e as pernas em “u” seguindo a
linha do corpo, com coxas finas e triangulares e pés em 90º. Parece apresentar um falo
entre as pernas. Os braços estão levantados e apresentam três dedos nas extremidades. A
cabeça é retangular e preenchida por uma linha central. No topo da cabeça, apresenta
linhas curtas verticais ornamentando-a.
63
Fotografia 12: Figura antropomorfa em cinza em meio às gravuras
Outra composição emblemática do tipo “frente-perfil” aparece no painel. As figuras
antropomorfas foram produzidas com uma tinta cinza e estão quase invisíveis. O
antropomorfo de frente tem o corpo retangular, medindo cerca de 20 cm, as pernas em
“u” seguindo as linhas que formam as laterais do corpo, que aparece preenchido por
duas linhas laterais espelhadas e uma linha vertical central. Os braços estão levantados e
apresentam três dedos em cada mão. Sua cabeça é retangular, apresentando riscos no
topo.
64
Fotografia 13: Composição emblemática em cinza
A figura que aparece de perfil, medindo cerca de 15 cm, está voltada para o
antropomorfo que está de frente, com os braços curvos, levantados acima da cabeça e as
pernas dobradas para baixo do corpo com os pés em 90º. Seu corpo é fino e alongado
seguindo contínuo até o topo da cabeça que aparece levemente arredondada. Uma linha
contínua em zig-zag preenche todo seu corpo.
Um antropomorfo retangular em vermelho, com cerca de 20 cm, que apresenta traços
bastante precisos aparece em meio ao “caos” de grafismos gravados. Seu corpo é
alongado e preenchido por uma linha em zig-zag, formada a partir de dois traços
paralelos de cima à baixo. Na base do corpo, uma das linhas segue paralela ao contorno,
encontrando a linha superior, que forma o retângulo externo. Na outra lateral, também
aparece uma linha paralela ao contorno. As pernas desta figura se apresentam em “u”,
com as coxas triangulares e os pés em 90º, voltados para fora. Os braços estão
65
levantados seguindo a linha do corpo e a cabeça é retangular, preenchida por uma linha
que segue fluida e sinuosa na base e uma linha vertical na parte central, com traços no
topo. Na parte inferior lateral do seu corpo aparece o falo.
Fotografia 14: Antropomorfo
Aparecem ainda, neste sítio, algumas emas em cinza. Elas apresentam o corpo
arredondado, com cerca de 10 cm, as patas compridas, com coxas grossas e
arredondadas e pés trifurcados. Seus pescoços são finos e alongados e suas cabeças são
redondas e aparecem de perfil.
Além dos grafismos descritos e analisados, existem muitos outros neste sítio, mas não
foram descritos por representarem outro estilo, por estarem relativamente incompletos,
sem possibilidade de reconhecimento, ou por não apresentaram um alto grau de
importância para as análises.
66
1) Não foram constatadas neste sítio superposições entre pinturas de estilos
diferentes. Estas foram apresentadas entre grafismos componentes das mesmas cenas,
dando a noção de profundidade entre as figuras. Os movimentos foram verificados, nas
figuras antropomorfas, somente pela posição dos braços levantados, e os cervídeos
representados, que se apresentam isolados neste sítio, evidenciaram um movimento
sutilmente representado pela posição das patas associadas a uma inclinação diagonal do
animal.
2) Quanto à temática, os antropomorfos lado a lado, em emblemáticos ou isolados,
apresentaram componentes culturais como máscaras e ornamentação, além de um
preenchimento diversificado, em detrimento dos traços essenciais de identidade. Os
zoomorfos foram representados por cervídeos sozinhos.
3) As cores verificadas foram o vermelho, na maioria dos grafismos e em várias
tonalidades, o vermelho composto com amarelo, e o cinza. Em todos os grafismos
verificaram-se traços contínuos, produzidos a partir de instrumentos provavelmente,
flexíveis, e morfologias alongadas e retangulares. Em um antropomorfo e um
zoomorfo, foram utilizados os dedos na produção de seus preenchimentos.
3.1.2 Toca do Zé Patu (395)
Os grafismos desse sítio são todos vermelhos, mas um deles, um antropomorfo que
compõe um emblemático “frente-perfil” apresenta uma pintura composta também com
amarelo escuro.
Este abrigo apresenta um total de 10 figuras, contando com uma delas, que sugere um
antropomorfo, mas bastante apagado, não sendo possível identificá-lo, e um zoomorfo,
que parece ser do tipo cervídeo, em função da parte visível, mas que perdeu um pedaço
do corpo com o desplacamento do suporte. Há dois painéis isolados neste abrigo: um
deles aparece na parte silicificada do suporte e o outro na parte mais porosa e friável.
Em um dos painéis, uma composição emblemática do tipo “frente-perfil” apresenta-se
com a figura maior (maior que 50 cm) de frente e possuindo um preenchimento bastante
complexo. Tem o corpo trapezóide, produzido com contorno em vermelho feito com
67
uma linha fina e contínua. Seus braços estão levantados seguindo a linha do corpo e em
uma das mãos vêem-se três dedos. A cabeça é quadrada e preenchida em duas cores,
como o corpo: vermelho e amarelo escuro. No topo há uma ornamentação feita com
linhas e acima da cabeça aparecem três linhas verticais, com uma delas apresentando
um losango na parte inferior. As pernas e os pés estão apagados. Na parte lateral inferior
do corpo há um falo voltado para o lado da figura de perfil.
Fotografia 1: Composição emblemática de tipo “frente-perfil” no centro do painel
A segunda figura da composição está de perfil (mede cerca de 30 cm) e foi preenchida
somente com traços vermelhos. A cabeça é quadrada e preenchida com um traço
vertical. Os braços estão levantados e dobrados acima da cabeça e as mãos têm três
dedos cada uma. Seu corpo foi preenchido por uma linha central ramificada
simetricamente e suas pernas, provavelmente estavam em postura sentada (em se
tratando de um emblemático), pois o suporte abaixo está intacto e na lateral ainda
68
aparecem traços, mas bastante apagados. Esta figura sugere o aparecimento da
representação do gênero feminino por meio de dois triângulos na lateral do corpo, na
altura do colo, como seios, mas como parece ser um caso único em toda área do Parque
Nacional estudada e, principalmente, nos sítios verificados, necessita maiores
investigações.
Fotografias 2 e 3: Detalhe dos “seios”
A direita da composição emblemática, há uma outra figura, isolada, na mesma posição,
voltada para o lado oposto, medindo cerca de 15 cm e sem as formas triangulares na
lateral do corpo. Seus braços estão levantados e dobrados e sua cabeça é quadrada com
uma linha no centro, preenchendo-a. O restante da figura está bastante apagado e parte
do suporte sofreu desplacamento. Verifica-se nesta figura uma tonalidade de vermelho
bem mais escura que as outras figuras deste painel.
Parece existir um zoomorfo do tipo cervídeo, medindo cerca de 15 cm, na parte superior
do painel. Suas pernas traseiras têm coxas triangulares com preenchimento uniforme e
patas bifurcadas. A parte do corpo que aparece é retangular e preenchida com pontos de
tinta entre os triângulos formados por uma linha contínua em zig-zag.
As figuras estão todas muito próximas e o espaço entre elas não parece ter sido uma
preocupação, entretanto o posicionamento em dois planos distintos do conjunto
emblemático por meio do desvio oblíquo para a figura de perfil é mantido e não há
nenhuma sobreposição entre os grafismos.
69
Do outro lado do abrigo há outro painel cenograficamente composto por cinco figuras
reconhecíveis: três antropomorfos e dois zoomorfos.
Fotografia 4: Painel com composição emblemática
No centro do painel aparece uma composição emblemática do tipo “frente-perfil” na
qual a figura maior, com mais de 30 cm aparece de frente. Possui o corpo retangular,
um pouco abaulado para fora na parte central e preenchido por linhas diagonais de um
lado a outro. Seus braços estão levantados, feitos com linhas contínuas a partir das
linhas laterais do corpo e parecem ter quatro dedos nas extremidades. A cabeça está
pintada com pintura uniforme e possui traços ornamentando-a, no topo. Um traço na
parte lateral inferior sugere um falo voltado para o lado da figura que se apresenta de
perfil. Infelizmente, a parte inferior do suporte se desagregou levando junto os membros
inferiores das duas figuras da composição.
A figura que está de perfil, mede cerca de 25 cm e foi feita a partir de várias linhas que
formam uma linha espessa e uniforme, mas sem contorno bem definido. Sua cabeça é
redonda, feita com pintura uniforme. Seus braços estão erguidos e dobrados acima da
70
cabeça. As linhas que formam os braços aparecem sobrepostas como uma massa de
tinta. Esta figura apresenta na parte inferior, uma área pintada uniformemente, e esta
sim, tem o contorno que limita o semicírculo que sugere uma gravidez, bem delineado.
Um pequeno antropomorfo (menor que 10 cm) aparece estranhamente deitado e
“grudado” ao corpo da figura que está de perfil, na altura de seu colo. Foi produzido
com a mesma tinta e com a mesma técnica da outra figura. Possui as pernas e os braços
abertos e a cabeça arredondada. Em uma das mãos vêem-se dois dedos.
Um cervo, medindo menos de 10 cm, que apresenta três patas e uma curvatura do dorso
aparece do outro lado do antropomorfo que está de frente. Apresenta a mesma coloração
e possivelmente, foi feito com a mesma tinta. Nas duas patas dianteiras apresenta três
dedos, o que não é comum na representação dos cervídeos deste estilo; já a pata traseira
aparece com a extremidade bifurcada. Sua cabeça é arredondada com duas orelhas
unidas preenchidos por pintura uniforme e o pescoço segue feito por uma linha contínua
até o corpo do animal. Seu rabo aparece com a extremidade arredondada seguindo
contínua a partir da linha do corpo, que por sua vez aparece sem preenchimento.
Abaixo deste cervo aparece um segundo (também menor que 10 cm), com corpo
preenchido com cinco linhas verticais, posição de salto com as patas dianteiras estiradas
e bifurcadas nas extremidades. As patas traseiras, também bifurcadas, apresentam-se
relativamente estáticas. Seu corpo tem forma elíptica, bastante alongada e bem curva
nas laterais. O rabo está levantado, e é igual ao do outro cervo acima. Seu pescoço
apresenta-se recuado para trás, dando ao animal, um leve movimento de recuo, com a
cabeça arredondada e as duas orelhas bem finas e delicadas.
1) Este sítio apresentou duas composições sem qualquer superposição entre as
figuras. As duas apresentaram uma composição emblemática de tipo “frente-perfil”
deslocadas obliquamente com relação às figuras posicionadas lateralmente. Só foi
constatado um leve movimento na posição do pescoço de um dos cervídeos
representados.
2) As duas cenas que aparecem neste sítio foram compostas, na parte central, por
um emblemático de tipo “frente-perfil”. Uma delas parece apresentar um cervídeo
71
fragmentado e uma figura antropomorfa, pois ambos apresentam os traços básicos de
identidade possibilitando o reconhecimento da temática, além de um antropomorfo
mais afastado. Todos os grafismos foram representados de modo alongado e retangular.
A outra, apresenta dois cervídeos com traços arredondados e um antropomorfo junto
com a figura de perfil do emblemático. Esta cena também apresentou a gravidez como
temática.
3) No preenchimento de apenas uma figura se verificou a utilização da cor amarela
acrescentada ao grafismo antropomorfo presente na posição central. Nos outros
grafismos, somente a cor vermelha foi verificada e em densidades e tonalidades
distintas entre as composições. Os instrumentos utilizados nas composições geraram
traços com diferentes larguras e em uma das composições os traços se apresentaram
muito mais fluidos.
3.2 Serra do Gongo e Cambraia
Mapa 4: Localização dos sítios analisados na área da Serra do Gongo e Cambraia
72
3.2.1 Toca do Arapuá do Gongo (37)
Na Toca do Arapuá do Gongo a maior parte dos grafismos pertence ao estilo Serra da
Capivara e são representados, principalmente, por cervídeos em cenas bastante
dinâmicas. Os registros do estilo Serra Branca aparecem em uma área muito próxima ao
solo atual, já bastante apagados, na parte superior do painel e à esquerda do sítio. Este
sítio foi pintado em diversos momentos, o que é comprovado pelo grande número de
grafismos sobrepostos.
Fotografia 1: Painel com vários momentos gráficos
Uma linha com 10 antropomorfos vermelhos, lado a lado com os braços levantados e as
pernas em “v”, com os pés em 90º, chama a atenção, apesar de estar bastante apagada,
pois aparece isolada no painel. As figuras medem cerca de 10 cm cada e têm o corpo
preenchido por pintura uniforme, a cabeça ornamentada por traços e as pernas
sobrepondo as figuras laterais, dando, com isso, a profundidade entre as figuras. Apenas
a terceira figura (da esquerda para a direita do observador) aparece de perfil e sem
sobrepor a segunda figura, formando com a mesma um emblemático de tipo “frente-
perfil”.
73
Fotografia 2: Fila de antropomorfos com composição emblemática
Em uma parte mais alta do suporte, tamm isolado cenograficamente, aparece um
cervo, na mesma cor, medindo 10 cm, com corpo anguloso na parte traseira. Tem as
patas bifurcadas e as pernas produzidas a partir de traços finos e contínuos. Sua postura
é estática e encontra-se de perfil, com a cabeça arredondada preenchida por pintura
uniforme e com o corpo pintado com linhas finas muito próximas, dando, visualmente,
o aspecto de uma pintura uniforme.
Fotografia 3: Figura zoomorfa
74
Em outra área alta do suporte rochoso, há uma linha com quatro cervídeos, de perfil,
enfileirados. Os dois do centro têm os corpos um pouco mais alongados
horizontalmente, medindo, aproximadamente, 15 cm, e possuem as extremidades feitas
com contorno aberto. Suas linhas de contorno foram feitas na cor vermelha e,
possivelmente, com um gesto contínuo. A parte interna foi preenchida por pintura
uniforme amarela. Os dois cervos laterais foram produzidos com outra técnica, apesar
de parecerem pertencer à mesma cena.
No primeiro da fila aparecem galhas, característica do macho, nas espécies de cervídeo.
Sua cabeça, orelhas e pescoço foram feitos somente com a linha de contorno, bastante
fina e delicada. O corpo, com forma elíptica, foi produzido a partir de uma repetição de
traços no contorno e um preenchimento com linhas verticais paralelas. Nas pernas,
assim como o último cervo da fila, apresenta coxas triangulares e as extremidades
bifurcadas. Este último apresenta a ponta das orelhas triangulares, o que é raro ver na
representação dos cervídeos e o corpo mais arredondado, com preenchimento feito com
linhas diagonais paralelas, e contorno descontínuo. É interessante observar que o
primeiro cervídeo sobrepõe, sutilmente, parte da pata dianteira do segundo, apesar do
espaço entre eles ser respeitado.
Fotografia 4: Cervídeos enfileirados
75
Um grafismo geométrico feito com círculos concêntricos medindo cerca de 20 cm
aparece isolado em uma área mais baixa do painel. Estes círculos foram produzidos em
uma área bem irregular do arenito, mas com traços bem objetivos e contínuos.
Fotografia 5: Figura geométrica formada por círculos concêntricos
Seis figuras antropomorfas, em vermelho, medindo, aproximadamente, 10 cm,
carregando nas mãos vários objetos, formam uma cena de luta. Apesar das figuras
apresentarem o corpo e a cabeça arredondados, além de preenchidos uniformemente,
como no estilo Serra da Capivara, estas apresentam diversos objetos, alguns possuem a
cabeça ornamentada, partes do corpo como as pernas ou os braços produzidos com
traços contínuos e seus pés são, visivelmente, demarcados com ângulo de 90º. Duas
figuras aparecem estáticas como se a cena representasse vários momentos da luta
desenvolvidos ao mesmo tempo.
Fotografia 6: Cena de luta
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À direita há mais três indivíduos e abaixo, mais ao centro, mais um antropomorfo que
parecem participar de alguma forma da cena principal. Se todas as 10 figuras fazem
parte de uma mesma cena, possivelmente representam várias funções.
Três figuras antropomorfas (medindo aproximadamente 25 cm) representadas com
morfologia retangular e com ângulos bem demarcados (90º), aparecem na parte mais
baixa do painel. Encontram-se bastante apagadas, o que dificultou muito sua
observação. Suas cabeças são arredondadas, feitas com pintura uniforme e sem
ornamentação no topo. Seus braços estão levantados e seguem contínuos a partir das
linhas que formam as laterais do corpo. Parecem apresentar losângulos, feitos somente
com contorno, como preenchimento.
Fotografia 7: Figuras antropomorfas geométricas
1) Os grafismos do estilo Serra Branca apresentaram-se de maneira intrusiva neste
sítio e isolados cenograficamente do restante dos grafismos do painel. A angulação bem
demarcada das figuras foi verificada somente em três antropomorfos que aparecem lado
a lado e se apresentam preenchidos internamente. Constatou-se uma superposição
parcial entre as patas de dois cervídeos representados linearmente na mesma cena e
77
uma sobreposição de um dos antropomorfos em uma cena de luta, sobre um grafismo
geométrico.
2) Aparecem neste sítio além de uma luta entre antropomorfos repletos de
instrumentos de guerra e outros atributos culturais, uma linha com antropomorfos lado
a lado junto com um emblemático de tipo “frente-perfil” e alguns cervídeos.
3) Dois cervídeos que foram produzidos com técnica de contorno aberto apresentam
o contorno na cor vermelha e o preenchimento em amarelo. Os outros grafismos
representados foram feitos com um pigmento da cor vermelha.
3.2.2 Toca do Varedão VI (253)
Neste sítio, estão presentes dois painéis divididos em quatro cenas, todos pintados nas
partes de arenito mais lisas do suporte, que aparecem entre os estratos de seixos: em um
deles, aparece uma fila de três capivaras de perfil, com tamanhos diferentes, feitas com
tinta vermelha e preenchimento uniforme, juntas com um antropomorfo retangular
posicionado de frente, também em vermelho. Infelizmente, este painel encontra-se
bastante apagado e com uma camada de sais cobrindo, principalmente, a figura humana.
Comparando-se os slides produzidos na década de 70, utilizados nas primeiras etapas da
análise, percebe-se um aumento da lâmina de sais sobre os primeiros grafismos,
principalmente sobre os traços de tinta.
Fotografia 1: Capivaras em fila com antropomorfo
78
A capivara maior mede cerca de 15 cm e a menor, 10 cm. Todas foram feitas com a
mesma técnica e habilidade pictórica. Apresentam, nas quatro patas, coxas levemente
arredondadas na parte mais inferior e as extremidades das pernas bifurcadas. A primeira
e a terceira apresentam um movimento sutilmente evidenciado pelas patas dianteiras.
Suas cabeças, orelhas e corpos mostram a habilidade do autor no que diz respeito aos
traços curvos e bem delineados, apresentando o contorno bem definido.
A figura antropomorfa (medindo 15 cm) aparece com os braços levantados e esticados,
as pernas em “v”, seguindo contínuas a partir da linha do corpo e os pés em ângulo
menor que 90º com a linha da perna. O corpo foi preenchido com uma única linha
vertical ao longo de todo ele. Sua cabeça é redonda e preenchida por pintura uniforme e,
na lateral inferior do seu corpo, apresenta o falo voltado para o lado em que estão os
animais.
À esquerda da fila de capivaras, aparece uma segunda cena, também em vermelho, onde
estão presentes dois cervídeos e um antropomorfo. O cervo (10 cm) mais a direita tem o
corpo semicircular, bastante curvo na parte ventral, e seguindo contínuo até a ponta do
rabo, e do pescoço para a cabeça. As patas apresentam coxas finas e triangulares e
extremidades bifurcadas. As patas traseiras estão superpostas pelas patas traseiras do
cervo ao lado. Sua cabeça é arredondada e apresenta as duas orelhas curvas nas bordas.
Seu preenchimento foi todo feito com pintura uniforme vermelha.
Fotografia 2: Cervos com figura antropomorfa
79
De costas para o cervo da direita aparece um cervo com corpo quase retangular bastante
alongado (medindo aproximadamente 20 cm) e preenchido por linhas horizontais. As
linhas do preenchimento seguem com uma curva a partir do corpo para o pescoço, sem
interrupção do traço. Seu peito apresenta-se arredondado e as patas são bifurcadas, com
coxas triangulares bem finas. Infelizmente, não se identifica mais a forma da cabeça,
aparecendo somente uma mancha de tinta vermelha.
Ao lado da curvatura do peito do cervo aparece uma figura humana pequena (medindo
menos de 10 cm) com os braços e as pernas abertos. Suas pernas estão em “v” e são
grossas e curtas, com os pés em 45º. O corpo deste antropomorfo tem a forma elíptica e
está preenchido uniformemente. Sua cabeça é pequena e arredondada no topo e
apresenta-se em uma área do suporte bastante desgastada. Na lateral de seu corpo
aparece o falo.
No segundo painel aparece uma cena de caça à capivara. Uma capivara (15 cm) com
técnica similar à utilizada na produção da fila de capivaras é atingida por um
instrumento de caça que segue linear das mãos de um antropomorfo. Nesta cena há uma
interação direta entre as figuras, mas é interessante notar que, diferente do estilo anterior
Serra da Capivara, as figuras apresentam-se relativamente estáticas e em planos
distintos. Há um deslocamento oblíquo entre as patas da capivara e a posição do
antropomorfo. Uma técnica cenográfica utilizada, possivelmente, para dar profundidade
e distância entre as figuras.
Fotografia 3: Antropomorfo caçando uma capivara
80
O antropomorfo, que mede aproximadamente 10 cm, apresenta-se com os pés voltados
para fora, mas com o corpo e os braços em perfil. Na cabeça parece apresentar um nariz,
o que daria o caráter de perfil também na face da figura, mas como é rara a
representação deste tipo de estrutura nos grafismos desta Tradição, para tal afirmação
seria necessário maiores investigações. Apesar de não apresentar preenchimento interno
diferenciado esta figura demonstra uma habilidade técnica distinta, com traços finos e
fluidos. Sua cabeça é arredondada e na lateral inferior do corpo, aparece um falo.
Fotografia 4: Detalhe - antropomorfo
Ao lado da cena de caça, no mesmo painel, há ainda a presença de uma seqüência de
cerca de 40 cm de traços (de máximo 5 cm) verticais paralelos, sem qualquer figura
reconhecível.
Fotografia 5: Traços verticais paralelos
81
1) A angulação nos grafismos deste sítio foi representada de modo sutil e não foi
muito demarcada. As figuras aparecem dispostas horizontalmente, à exceção da cena de
caça, em que há claramente um deslocamento oblíquo entre as figuras, representando a
profundidade da cena. Não há superposições e, no que diz respeito ao movimento, vê-
se, na cena de caça, representando o tempo, o momento exato em que a capivara é
atingida.
A utilização do suporte deu-se de maneira linear, com o aproveitamento das áreas
de arenito existentes entre os veios cascalhosos.
2) Este sítio apresentou como temática as capivaras em fila com uma figura
antropomorfa à frente, dois cervídeos com um antropomorfo, vários traços paralelos e
uma cena de caça à capivara com um antropomorfo atingindo-a, com um instrumento
que segue contínuo a partir de suas mãos.
3) Neste sítio verificou-se somente a cor vermelha e todos os grafismos
apresentaram tonalidades e densidades muito próximas.
3.2.3 Toca do Varedão VII (254)
Todas as análises deste sítio foram realizadas sobre fotografias feitas a partir dos
cromos existentes no acervo da Fundação e parece existir mais de um painel com
pinturas, mas como não foi possível visitar o abrigo e conseqüentemente verificar sua
existência, somente se analisou os cromos já produzidos.
Neste sítio parece ter havido uma escolha pela realização das pinturas em uma área
específica do suporte, na parte de arenito, definitivamente mais plana que a parte de
piçarra, apesar de também ser bastante texturizada.
82
Fotografia 1: Painel com cervídeos e figuras antropomorfas
Crédito: Elizabete Buco - FUMDHAM
No painel analisado verificou-se a existência de seis cervídeos, sendo que três deles
aparecem em um primeiro plano visual e os outros três em um segundo plano, mais
apagados, como se tivessem sido realizados anteriormente. O que é comprovado em
pelo menos dois deles (centro) pela sobreposição da figura mais nítida em uma parte das
duas figuras mais apagadas do fundo.
O estilo dos seis é semelhante, mas, para a análise, deu-se maior importância aos três
grafismos da frente, por estarem em melhores condições de observação.
Os três veados são retangulares (medindo cerca de 15 cm) e alongados horizontalmente,
dois deles têm preenchimento com uma linha em zig-zag ao longo do corpo e o terceiro
possui uma linha horizontal com doze linhas perpendiculares e paralelas entre si.
Apenas um deles apresenta galhas na cabeça, sugerindo seu gênero (característico nas
espécies de cervídeos). Os três possuem coxas arredondadas nas patas dianteiras e
traseiras, além dos pés bifurcados e um leve movimento evidenciado pela posição das
83
patas dianteiras. Um deles apresenta o ventre proeminente com linha levemente curva.
Os três tem a cabeça, o pescoço e as orelhas produzidas com preenchimento uniforme.
O caráter angular das figuras está, visivelmente, presente na morfologia do corpo e na
posição de perfil do pescoço com a cabeça. O rabo segue contínuo a partir da linha
posterior do corpo e apresenta preenchimento uniforme, além da extremidade
arredondada.
Há ainda neste painel duas figuras antropomorfas. Uma delas, medindo,
aproximadamente 20 cm, parece pertencer à cena principal, junto com os cervos, apesar
de possuir a tonalidade da tinta um pouco diferente. Este antropomorfo tem o corpo
retangular, com o contorno delineado com traços finos e contínuos. Seu preenchimento
interno é dado por uma série de triângulos espelhados que, vistos rapidamente, parecem
formar um preenchimento uniforme. Possui os braços levantados verticais, seguindo as
linhas laterais que formam seu corpo. Sua cabeça é pequena e ornamentada com três
traços e sem pescoço. Suas pernas também seguem a linha do corpo, formando coxas
triangulares e os pés formam um ângulo um pouco menor que 90º com as pernas, que
estão em “v”.
A outra figura antropomorfa (15 cm) encontra-se mais afastada da cena principal. É uma
figura com o corpo sutilmente representado de perfil, preenchido apenas por uma linha,
que segue contínua a partir do pé direito até a posição da cabeça. Seu contorno também
é contínuo e forma coxas grossas e sem preenchimento. Não possui braços e o próprio
corpo já forma sua cabeça. As pernas estão em “v”, de frente, e os pés formam 90º com
as pernas. A “cabeça” está ornamentada com linhas.
1) O mais característico na Toca do Varedão VII é a representação angular, tanto
das figuras antropomorfas quanto nas zoomorfas. A análise dos grafismos apontou para
a superposição de apenas uma figura de modo parcial e a profundidade entre os
grafismos foi dada pela diferença de tamanho e pelo deslocamento.
Verificou-se o aproveitamento da área de arenito existente entre os estratos de
seixos do suporte rochoso, além da utilização de sua largura na representação da figura
antropomorfa mais elaborada.
84
2) O estudo da temática constatou seis cervídeos e duas figuras antropomorfas.
Tanto os três cervídeos maiores quanto os antropomorfos apresentaram atributos
utilizados em detrimento dos traços essenciais de representação das identidades. Os três
cervídeos menores estão relativamente apagados, mas confirmam sua identidade por
meio dos traços básicos de identificação.
3) A cor verificada neste painel foi a vermelha e os instrumentos utilizados na
produção dos grafismos possibilitaram a feitura de linhas fluidas e contínuas, apesar da
escolha na rigidez da angulação apresentada na morfologia.
3.2.4 Toca do Estevo III (110)
Uma onça medindo aproximadamente 1 m de comprimento pintada com contorno em
vermelho e preenchimento uniforme, em branco, aparece em meio a uma série de outros
grafismos. Esta onça apresenta-se de perfil, em uma área mais plana do suporte,
parecendo ocupar todo o espaço (largura existente no suporte) disponível e tem nas
patas o contorno aberto e a representação das garras, características do felino retratado.
Relativamente no centro do seu corpo, apresenta um quadrado todo preenchido em tinta
vermelha. A onça aparece sobreposta por cenas de caça aos cervídeos e por outros
grafismos já bastante apagados.
Fotografia 1: Onça com contorno aberto
85
Atrás da onça (a esquerda do observador) aparecem dois cervos (medindo
aproximadamente 20 cm cada) bem menores, mas que foram feitos com a mesma
técnica: contorno aberto em vermelho e pintura uniforme em branco no interior. Os três
parecem estar saltando e apresentam bastante movimento evidenciado, principalmente,
pela posição das patas dianteiras e traseiras.
Fotografia 2: Cervídeos com técnica de contorno aberto
As cenas de caça que sobrepõem as figuras são compostas por cinco antropomorfos
(menores que 10 cm) com objetos nas mãos, dispostos de modo circular contornando o
veado, que aparece então no centro da cena e à frente do veado, medindo mais de 20
cm, há ainda o que parece ser uma rede, produzida a partir de traços contínuos em zig-
zag. Os antropomorfos foram pintados com manchas de tinta que dão, visualmente, um
aspecto de preenchimento uniforme com uma tinta vermelha, bastante escura, assim
como os cervos. Estes últimos apresentam morfologia semicircular, feitas a partir do
contorno com dois traços descontínuos, patas dianteiras e traseiras com coxas e
bifurcações nas extremidades e representados em seu momento máximo da ação, em
postura de salto. Uma das cenas apresenta mais habilidade pictural, como se tivessem
sido produzidas pelo mesmo grupo, mas por autores distintos, com o mesmo propósito.
Todos os antropomorfos apresentam os pés em 90º com a linha das pernas.
86
Com raras exceções, a maioria das figuras deste sítio foi feita respeitando o espaço das
áreas de arenito mais fino que se encontram entre os estratos de seixos ou cascalho
cimentados que estão presentes no suporte rochoso. Aparecem algumas cenas do estilo
Serra da Capivara que foram pintadas em nichos curvos e isolados no suporte. Cerca de
três cenas emblemáticas de antropomorfos em volta de uma árvore com características
típicas deste estilo aparecem no ponto mais à esquerda do sítio.
Dois cervídeos (de cerca de 10 cm cada) que aparecem desrespeitando (seus pescoços
foram feitos sobre um veio cascalhoso do arenito) este espaço possuem o corpo
alongado horizontalmente e preenchido de modo complexo. Os dois apresentam-se em
planos de profundidade distintos e relativamente estáticos. Àquele que se encontra no
primeiro plano visual apresenta o corpo ovalado, sem interrupção de traços entre o
corpo e o pescoço, as patas têm coxas triangulares e extremidades sutilmente bifurcadas.
Seu preenchimento é bastante complexo, feito a partir da divisão de áreas por linhas e
dentro dessas áreas, zig-zags, pontos e linhas verticais paralelas. Sua cabeça apresenta
contorno arredondado, duas orelhas pequenas e no interior, preenchimento por linhas.
Fotografia 3: Cervos preenchidos
O segundo cervo tem o corpo retangular na parte traseira e curvo a partir da linha do
peito do animal, subindo pelo pescoço, bastante largo, até a cabeça. Dentro, foi
87
preenchido com uma linha horizontal, que sobe contínua pelo pescoço e preenche a
cabeça. A cabeça é arredondada na parte do focinho e apresenta duas orelhas bem
pequenas. Suas patas têm coxas finas e triangulares e são bifurcadas nas extremidades.
No painel aparece uma composição emblemática do tipo “frente-perfil” com a figura
que está de frente medindo cerca de 20 cm, pernas em “v” com as linhas finas e
contínuas a partir do corpo, coxas triangulares preenchidas uniformemente e pés com
ângulo menor que 90º. Seus braços estão levantados e sua cabeça é arredondada, feita
com a linha que segue do corpo, e, no topo, tem linhas verticais, que a ornamentam. Seu
corpo foi preenchido por linhas em várias dirões e tem um falo na lateral inferior,
voltado para o lado oposto àquele em que se encontra a figura de perfil.
Fotografia 4: Composição emblemática
A figura que se apresenta de perfil, mede cerca de 10 cm e está bastante apagada, mas
ainda é possível ver que tem os braços levantados e curvos na altura da cabeça, o corpo
é arredondado na extremidade inferior e preenchido por uma única linha vertical e sua
cabeça é redonda e preenchida por pintura uniforme.
88
Um antropomorfo com morfologia retangular, medindo cerca de 45 cm, aparece na
parte inferior do painel. Esta figura apresenta os braços levantados com três dedos em
cada mão e as pernas em “u”, com coxas triangulares preenchidas por pintura uniforme.
Seu corpo foi todo preenchido por linhas, sendo, duas em zig-zag, curvas, nas laterais
da parte inferior, uma central, horizontal sinuosa e cinco na parte superior: três retas e
duas curvas. A cabeça deste antropomorfo é quadrada e apresenta, além de uma linha
vertical dentro, uma linha curva com linhas radiais que partem do topo. O mais
interessante, com relação a esta figura, é que ela foi feita em uma área extremamente
irregular e texturizada do suporte, o que dificulta imensamente a produção de gestos
fluidos e contínuos, tanto para linhas retas quanto curvas, demonstrando assim, a grande
habilidade do autor, além de comprovar a escolha na representação da morfologia
angular do corpo em detrimento de uma possível incapacidade técnica ou instrumental.
Fotografias 5 e 6: Antropomorfo isolado e detalhe da irregularidade do suporte rochoso
Dos dois lados deste antropomorfo aparecem, já bastante apagadas, filas de
antropomorfos produzidos com tinta vermelha e amarela, só em vermelho e em
vermelho e branco. Nestas filas, as figuras humanas foram representadas somente como
manchas de cor, formando o corpo, e traços em “v” representando os braços e as pernas.
89
Fotografia 7: Fila de antropomorfos bicromáticos
Dois cervos, medindo cerca de 10 cm cada, foram pintados também em uma área
bastante irregular do suporte. Um deles apresenta o gênero por meio das galhas que leva
na cabeça. Seu corpo é semicircular e preenchido por uma linha horizontal. Os dois têm
o pescoço e as pernas produzidos com traços únicos e contínuos, com bifurcações nas
extremidades e suas cabeças são arredondadas e preenchidas uniformemente. Seus rabos
são pequenos e arredondados na ponta. A diferença entre eles é a presença das galhas
em um deles e a linha dorsal da morfologia do corpo: uma aparece levemente côncava e
a outra levemente convexa.
Fotografia 8: Cervídeos
Em outra área do painel aparecem ainda quatro cervídeos, medindo aproximadamente
10 cm cada, sendo dois de perfil para a esquerda e dois para a direita, com tonalidades
de vermelho distintas. Os dois que estão voltados para a esquerda têm o contorno do
corpo arredondado e são internamente preenchidos por linhas e um deles não apresenta
as orelhas. Suas patas apresentam-se como linhas simples, bifurcadas nas extremidades.
90
Os rabos são arredondados na ponta e as cabeças são internamente preenchidas por
pintura uniforme.
Fotografia 9: Cervídeos de perfil
Os dois cervos que estão virados para a direita possuem o corpo retangular, patas com
coxas finas e triangulares e extremidades bifurcadas. Seus rabos são arredondados na
ponta e no veado que está mais à direita não se vê mais a parte dianteira. O outro possui
o pescoço feito com um traço único e contínuo, a cabeça arredondada e duas orelhas.
Seus corpos foram preenchidos por linhas, um deles em zig-zag e o outro com uma
linha central horizontal com traços diagonais paralelos entre si.
Neste abrigo aparecem ainda muitos grafismos referentes ao estilo Serra da Capivara e
alguns grafismos puros isolados.
1) Duas cenas foram representadas de modo circular e sua angulação só foi
verificada na posição bem demarcada dos pés das figuras antropomorfas das
composições. Neste sítio, verificaram-se algumas superposições de grafismos do estilo
em estudo sobre grafismos produzidos com técnica de contorno aberto e manchas de
tinta de um momento anterior. Constatou-se, também, o aproveitamento de todo o
comprimento linear do suporte na representação da grande onça pintada no painel e na
produção de um antropomorfo que aparece isolado cenograficamente.
91
Na representação dos cervídeos, se observou a representação da profundidade por
meio do deslocamento e um leve movimento apresentado pela posição das patas.
2) Os cervídeos foram representados em pares, vários antropomorfos em linha lado
a lado, e um grande antropomorfo sozinho, composto por atributos culturais que
substituem seus traços de identidade. Nas duas cenas de caça ao cervo que aparecem no
painel, existe, diante do cervo, o que parece representar uma rede e os antropomorfos
levam nas mãos objetos que parecem representar, em função da temática tratada,
instrumentos de caça.
3) Diferentes níveis de maestria não impediram a manutenção dos códigos gráficos
presentes neste sítio. Aparecem linhas de antropomorfos representados com traços
simples e bicromáticos e composições pintadas em vermelho e amarelo, em vermelho e
branco e vermelho, com mais de uma tonalidade. Os instrumentos garantiram a
produção tanto de traços angulares quanto fluidos a partir de gestualidades circulares.
3.3 Serra da Capivara
Mapa 5: Localização dos sítios analisados na área da Serra da Capivara
92
3.3.1 Toca do Pitombi (36)
Neste sítio há pinturas na parede e no teto do abrigo, mas, infelizmente, seu estado de
conservação não é bom, o que dificulta muito a visualização dos grafismos em várias
áreas do suporte. As figuras que apresentam morfologia angular foram pintadas no teto
do abrigo, geralmente sobre superfícies bastante texturizadas e com a postura corporal
do autor não-natural.
Uma figura antropomorfa, medindo cerca de 15 cm, apresenta traços bastante precisos
e ângulos bem demarcados. Seu corpo é retangular, feito somente com as linhas de
contorno. A cabeça é retangular, mas ao contrário do corpo, possui preenchimento com
pintura uniforme na cor vermelha. Os braços estão levantados e apresentam três dedos
nas mãos. A parte inferior do seu corpo não está mais visível.
Fotografia 1: Antropomorfo
Outra figura antropomorfa também apresenta o corpo feito somente com a linha de
contorno. Seus traços também são precisos e os ângulos do corpo representados em 90º.
A figura mede cerca de 20 cm e, apesar de ter uma pátina esbranquiçada cobrindo a área
da sua cabeça e parte dos braços, ainda é possível ver uma das mãos com três dedos, e
que seus braços foram produzidos seguindo a linha lateral de contorno do corpo. Suas
pernas estão em “u” e têm coxas triangulares pintadas uniformemente. Os pés aparecem
em 90º com a linha das pernas.
93
Fotografia 2: Antropomorfo
Em uma área inclinada do suporte, na parte interna do abrigo, aparecem duas
composições emblemáticas do tipo “frente-perfil” e uma figura de frente menor, que
parece fazer parte de um outro momento pictural, por não apresentar as mesmas
características de produção, apesar de apresentar a mesma tonalidade da tinta.
A primeira composição emblemática apresenta os traços finos e delicados. A figura de
frente, que mede aproximadamente 10 cm, tem os braços abertos e levantados, a cabeça
redonda sem pescoço e, em tamanho relativamente desproporcional, o corpo é estreito,
as pernas em “v”, feitas a partir de linhas fluidas e precisas, os pés em 45º e um falo na
parte lateral inferior, voltado para o lado oposto àquele em que se encontra a figura de
perfil.
Fotografia 3: Composição emblemática
94
A figura menor encontra-se sentada com as pernas laterais esticadas e os pés em 90º. Os
braços estão levantados, apresentando uma curvatura na altura da cabeça, que, por sua
vez, aparece arredondada. Apesar do suporte ser bastante texturizado, a linha que forma
as costas seguindo, curva pela parte inferior do corpo, aparece bastante objetiva.
Na segunda composição emblemática (a figura de frente mede cerca de 10 cm), apesar
da figura que aparece de perfil apresentar um domínio do instrumento por parte do autor
e da figura que está de frente apresentar traços bem finos, os membros inferiores da
figura de frente foram produzidos a partir de uma grande repetição de traços, o que dá a
figura um caráter tosco. As duas figuras aparecem na mesma posição das duas figuras
que compõem o primeiro emblemático ao lado, mas na segunda composição, a figura
que está de perfil tem o corpo mais estreito e a que está de frente, além de apresentar as
pernas bem mais grossas, tem o corpo mais largo e cinco dedos nas mãos.
Fotografia 4: Composição emblemática
Abaixo das composições emblemáticas há um zoomorfo de perfil, medindo cerca de 10
cm, feito com tinta vermelha bastante escura que parece representar uma raposa, apesar
de não apresentar a cauda. Ela tem o corpo alongado, o focinho fino e comprido, as
95
orelhas pequenas e arredondadas, o pescoço largo e comprido e as quatro patas com
coxas triangulares em postura estática.
Fotografia 5: Figura zoomorfa
Outro antropomorfo, medindo aproximadamente 15 cm, já bastante apagado, aparece no
teto do abrigo. Seu corpo é retangular, feito somente com as linhas de contorno e tem a
cabeça redonda preenchida por pintura uniforme. Nas pernas, que estão em “v”,
aparecem coxas triangulares preenchidas uniformemente e pés em 45º nas
extremidades. Seus braços estão levantados e seguem contínuos pelas linhas laterais do
corpo, assim como suas pernas.
Fotografia 6: Antropomorfo
96
Em uma área bastante inclinada e texturizada do suporte, aparece uma figura humana
medindo cerca de 20 cm, com traços delicados e precisos, demonstrando muita
habilidade por parte de seu autor. A figura é retangular, feita com contorno fino e
contínuo, com os traços seguindo para os braços. Sua cabeça é redonda, com três traços
grossos inclinados na parte superior e toda preenchida por pintura uniforme. Os braços
estão levantados e dobrados para o mesmo lado, apresentando ângulos bem demarcados
e com três traços formando as mãos. As pernas estão em “u” e têm coxas triangulares
com pintura uniforme e pés em 90º. Seu corpo foi preenchido com uma linha horizontal,
como a utilizada para fazer o contorno, na parte superior e uma área lateral com pintura
uniforme feita com uma tinta vermelha mais clara e transparente (provavelmente mais
diluída) que a do contorno, formando três triângulos e um semicírculo, seqüenciais, e
contínuos. Apesar dos ângulos deste antropomorfo serem retos (90º), quando vista de
frente, esta figura apresenta uma curvatura na sua morfologia ao longo do seu corpo e
uma inclinação na base, que lhe dão um leve movimento.
Fotografias 7 e 8: Antropomorfo retangular e detalhe da sua posição, no suporte inclinado
Em uma área muito estreita e de difícil acesso, encontram-se dois antropomorfos
(maiores que 15 cm), infelizmente, cobertos por uma espessa lâmina de sais (salitre)
produzida pela própria rocha. Em um deles aparecem somente os braços levantados, que
97
seguem contínuos pelas linhas laterais de contorno do seu corpo, com três dedos nas
extremidades e o topo da cabeça, que tem forma retangular. Todos os traços visíveis
desta figura são finos e foram feitos com tinta vermelha.
Fotografia 9: Duas figuras antropomorfas
Na outra figura se vê os braços levantados feitos com traços finos e contínuos, com
cinco dedos nas mãos, a cabeça retangular preenchida por uma linha vertical central que
corta três linhas horizontais paralelas. No corpo, retangular, aparece um preenchimento
diversificado com manchas de tinta uniforme, formando um desenho irregular.
Neste sítio, aparece uma cena de caça a um cervo, medindo cerca de 10 cm, que se
encontra atingido por dois antropomorfos. Os antropomorfos (medem cerca de 10 cm)
que compõem a cena aparecem com os braços levantados, com dedos nas mãos, o corpo
alongado e arredondado nas extremidades, além de preenchidos por uma linha vertical
contínua no centro. Suas pernas estão em “u”, sem coxas e com os pés em 90º e as
figuras têm a cabeça formada pelo próprio corpo, com traços verticais no topo,
ornamentando-as. Os instrumentos de caça que atingem o cervo aparecem próximos às
figuras, como se as mesmas o tivessem lançado.
98
Fotografia 10: Cena de caça
O cervídeo tem o corpo retangular preenchido por traços finos e paralelos, apresenta as
patas traseiras esticadas e as dianteiras dobradas, todas bifurcadas nas extremidades.
Seu pescoço segue verticalmente a partir da linha de contorno do peito do animal e a
cabeça aparece preenchida por pintura uniforme e com uma galha única, comprida e
ramificada entre suas orelhas. O veado aparece atingido na cabeça por uma figura e no
dorso, pela outra.
Aparecem ainda vários grafismos, mas dentre os mais significativos analiticamente para
esta dissertação, estão uma grande onça vermelha (medindo aproximadamente 50 cm)
de corpo arredondado e feito com contorno bem delineado, que foi sobreposta por
alguns antropomorfos e por uma figura geométrica em amarelo e, abaixo desta onça,
encontra-se uma fila com três capivaras, medindo cerca de 10 cm cada, em branco, com
pintura uniforme. As três apresentam corpo arredondado na traseira e nas extremidades
das orelhas e suas patas, dianteiras e traseiras, são bifurcadas e aparecem estáticas.
99
Fotografia 11: Onça sobreposta e capivaras logo abaixo
Em outra área do suporte, uma fila com quatro emas aparece coberta por uma pátina de
cor terra, bastante espessa. As quatro tem o corpo redondo feito com contorno de linha
fina. As duas primeiras são maiores (cerca de 10 cm) e parecem ter o mesmo tamanho.
As últimas são menores e têm o corpo preenchido por linhas curvas. As quatro
apresentam as patas finas e trifurcadas nas extremidades, além do pescoço feito com
uma linha única sinuosa e a cabeça oval. Elas parecem apresentar uma decoração com
traços na parte traseira, o que poderia representar a cauda, característica do animal. A
última aparece sobreposta parcialmente por uma grande figura redonda preenchida por
um círculo paralelo ao externo que forma o corpo, e patas grossas e trifurcadas. Apesar
do formato e das patas se assemelharem aos grafismos que representam aves, não é
possível afirmar se apresentava cabeça ou pescoço, pois esta área da parede também
aparece encoberta pela pátina.
100
Fotografia 12: Emas enfileiradas
1) Os grafismos neste sítio foram cenograficamente representados de forma isolada
e só apresentam superposições em uma área da parede interna do abrigo. As áreas mais
utilizadas na produção das pinturas do estilo Serra Branca aparecem no teto e de modo
bastante inclinado. Duas composições emblemáticas aparecem de modo horizontal e
seqüencial em uma das partes do teto, claramente aproveitando os espaços lisos dados
entre os desníveis do suporte, e uma cena de caça apresenta profundidade por meio do
deslocamento entre as figuras.
A angularidade típica do estilo Serra Branca aparece de forma intrusiva, sendo
verificada em apenas três indivíduos. Um dos antropomorfos que apresenta esta
angularidade foi representado com uma inclinação e uma posição distinta dos braços,
de modo a sugerir um leve movimento.
2) As duas composições emblemáticas que aparecem neste sítio apresentam poucos
componentes culturais e não foram produzidas com preenchimento diferenciando os
101
indivíduos. Uma cena de caça ao cervo conta com dois antropomorfos e alguns
instrumentos de caça. Somente os antropomorfos que se apresentam isolados receberam
atributos culturais de modo a distinguir suas características. As emas representadas
apresentam-se enfileiradas. Aparece ainda uma raposa, que, apesar de não apresentar a
cauda, tem os outros traços representativos do animal, bastante característicos.
3) A cor vermelha é a mais recorrente neste sítio, mas aparece também uma fila
com três capivaras em branco. Os traços são contínuos e, apesar das angulações, os
traços rígidos não foram verificados nas outras características das figuras representadas.
3.3.2 Toca do Boqueirão do Paraguaio I (97)
Aparecem neste sítio pelo menos duas composições emblemáticas do tipo “frente-
perfil” e um grande cervo, bastante geometrizados.
Fotografia 1: Detalhe da composição emblemática sobrepondo figura zoomorfa
Uma das composições emblemáticas foi pintada sobrepondo uma figura de tatu que
parece ser do estilo Serra da Capivara (seria o único grafismo deste estilo reconhecível
neste sítio). Nesta composição, a figura de perfil, que mede cerca de 50 cm, apresenta-se
voltada para a figura frontal e possui um dos braços esticado, seguindo a linha do corpo,
como se “empurrasse” a outra figura, e o outro braço, que segue a linha do corpo, está
dobrado formando um ângulo de 90º sobre a cabeça. Esta interação direta entre as
figuras em uma composição emblemática desta natureza é rara. No braço que está
102
dobrado apresenta quatro dedos. Sua cabeça é quadrada e tem como preenchimento
somente uma linha no centro, que não chega a tocar a parte inferior. Esta figura
apresenta uma divisão entre a cabeça e o corpo, formando o que parece ser um pescoço,
na altura da posição do braço. Seu corpo está preenchido por triângulos espelhados nas
laterais, formando losangos em negativo na parte central. A forma do corpo é
retangular, com ângulos bem demarcados, e suas pernas aparecem laterais, voltadas para
a figura de frente e dobradas. Apresenta os pés em 90º e coxas triangulares, bem finas,
com pintura uniforme. O suporte parece ter sido trabalhado durante a produção desta
composição.
Fotografias 2 e 3: Composição emblemática e detalhe da interação “direta” entre as figuras
A figura frontal mede cerca de 70 cm, tem o corpo alongado e bastante retangular, mas
não possui as arestas demarcadas. As linhas que seguem do corpo formam os braços e
as pernas. Com isso, as coxas e os braços apresentam somente as linhas de contorno. Os
pés e as mãos apresentam técnica de contorno aberto. O corpo deste antropomorfo
apresenta como preenchimento uma série de quadrados e retângulos feitos somente com
contorno e duas outras formas, uma na parte superior e outra na parte inferior, que
103
possuem pintura vermelha uniforme. As áreas do suporte que envolvem os retângulos e
quadrados foram tratadas de maneira distinta. Não há linha dividindo o corpo da cabeça
e esta possui traços verticais ornamentando o topo e um “u” pintado na face quadrada.
Ao lado desta composição encontra-se representado um grande cervídeo (medindo 80
cm) preenchido por traços geométricos bastante diversificados. Esta figura também
apresenta tratamento do suporte e contorno aberto nas patas traseiras e dianteiras. Assim
como a figura que se apresenta de frente na composição emblemática, este cervo
também apresenta as patas produzidas com traços muito finos e seguindo a linha do
corpo, que neste caso se apresenta com morfologia retangular. As patas traseiras estão
esticadas e as dianteiras estão dobradas, formando um ângulo bem demarcado. O
pescoço segue a ornamentação do corpo até a cabeça, que também se apresenta
retangular e produzida seguindo a linha de contorno do corpo. Na cabeça, apresenta
uma galha feita a partir de um traço fino e ramificado. A figura está de perfil e apesar de
todo caráter angular, apresenta um leve movimento, evidenciado pelas patas traseiras e
dianteiras, como se estivesse iniciando um salto. As orelhas e o rabo não possuem
pintura uniforme, como o verificado nos cervídeos de outros sítios.
Fotografia 4: Grande cervídeo
104
Uma grande figura humana mascarada, medindo cerca de 100 cm, aparece entre dois
outros pares de figuras. Sua tonalidade é um vermelho bem mais escuro do que o dos
outros grafismos deste sítio. Possui o corpo retangular preenchido por retângulos em
negativo. Em positivo, aparece uma pintura uniforme, mas é possível verificar o
contorno dos retângulos junto ao preenchimento. Os braços seguem contínuos pela linha
do corpo e estão levantados, na parte interna, nas proximidades da cabeça; apresenta
traços curvos, que seguem afinando a grossura dos braços. Não é possível ver se possui
dedos nas mãos, pois nesta área o suporte está bastante desgastado. Apresenta a cabeça
quadrada, com preenchimento similar ao do corpo, formando um quadrado em negativo
no centro. No topo da cabeça aparecem traços verticais finos e curtos. As pernas
repetem a posição dos braços, formando coxas triangulares e pés em 90º.
Fotografia 5: Grande figura humana mascarada
Ao lado desta grande figura antropomorfa aparece uma composição emblemática do
tipo “frente-perfil” e outros dois antropomorfos lado a lado.
105
Na composição emblemática, o antropomorfo que está de frente, mede cerca de 70 cm e
possui o contorno feito com tinta vermelha e linha contínua, que segue para os membros
superiores e inferiores. Os braços estão levantados e têm, nas mãos, o contorno aberto.
A cabeça é quadrada, mas com as arestas superiores curvas, e tem uma ornamentação
em linhas finas e verticais no topo. Dentro da cabeça o preenchimento foi feito com
pintura uniforme. Não há separação entre a cabeça e o corpo. Este antropomorfo foi
preenchido na parte superior com triângulos feitos com pintura uniforme, não
espelhados, nas duas laterais. No centro há apenas algumas marcas de tinta da mesma
cor dos triângulos superiores, e na parte inferior, tem um preenchimento elaborado, feito
a partir de manchas que formam um desenho em negativo. As pernas foram feitas
somente com contorno e os pés, em 90º, são contornados com linha fina e aparecem
curvos nas extremidades.
Fotografia 6: Composição emblemática
O antropomorfo que está de perfil (mede, aproximadamente, 50 cm) encontra-se voltado
para o que está de frente. Possui o corpo alongado, com as extremidades arredondadas.
O corpo tem uma linha vertical em zig-zag ao longo de todo ele. Os braços, laterais,
106
estão dobrados na altura da cabeça e têm três dedos em cada mão. A cabeça está
preenchida com parte em pintura uniforme e as pernas estão dobradas para baixo do
corpo. O suporte está bastante desgastado nesta área, o que dificulta a visualização dos
pés.
Os outros dois antropomorfos (medem cerca de 45 cm cada um) estão em linha. Um
deles parece apresentar parte do pé sobreposto pela perna do outro. O que está mais à
frente é um pouco maior e tem o corpo contornado por uma linha fina e contínua e todo
preenchido por linhas que formam figuras geométricas. Parecem ter sido preenchidos
com tinta branca, além da tinta vermelha em duas tonalidades. As pernas têm as coxas
triangulares, também, preenchidas por linhas e os pés formam um ângulo menor que 90º
com a linha da perna. Os braços seguem o contorno do corpo e estão levantados, e
parece ter dedos nas mãos. A cabeça é quadrada, preenchida por um quadrado menor
feito somente com contorno. No topo da cabeça tem linhas finas verticais e pequenas,
como ornamentação.
Fotografia 7: Figuras antropomorfas lado a lado
107
A outra figura tem os pés e as mãos feitos com contorno aberto. As pernas seguem a
linha do corpo que parece apresentar tratamento do suporte. As coxas são formadas pelo
contorno do corpo. Este é alongado e preenchido por figuras geométricas angulares. Os
braços estão levantados e sua cabeça é quadrada, mas com as bordas arredondadas, e
tem um quadrado feito somente com contorno no seu interior. Em cima da cabeça,
aparecem linhas finas verticais e pequenas, como ornamentação, e apresenta as mesmas
cores da figura ao lado.
1) Um dos recursos cenográficos utilizados na representação dos grafismos neste
sítio, de modo a garantir seu destaque, foi a grande dimensão apresentada por um
antropomorfo e por um cervídeo. A angularidade deu-se de modo bastante expressivo,
se apresentando como dominante e uma das composições emblemáticas presente
sobrepõe um tatu, que parece pertencer ao estilo Serra da Capivara.
As figuras neste sítio foram representadas de maneira linear, com um certo
deslocamento entre elas e com espaços regrados, de maneira a resguardar as áreas
envolventes das as pinturas.
2) Um cervídeo retangular com preenchimento bastante diversificado se apresenta
ao lado de uma composição emblemática de tipo “frente-perfil”. Mais adiante, no
painel, um grande antropomorfo aparece ladeado por outra composição emblemática de
mesmo tipo e dois antropomorfos lado a lado. Todas as figuras representadas
apresentam uma série de atributos que lhes dão destaque individual e além da
representação alongada apresentam um preenchimento bastante complexo.
3) Verificou-se o tratamento do suporte como técnica e a utilização da pintura em
negativo no preenchimento das figuras, além do contorno aberto em algumas figuras.
As pinturas foram feitas nas cores vermelha e branca, somente vermelha e vermelha e
amarela. O vermelho aparece em várias tonalidades e os traços são fluidos, apesar de
toda a rigidez representada pela morfologia das figuras.
108
3.4 Serra Talhada
Mapa 6: Localização dos sítios analisados na área da Serra Talhada
3.4.1 Toca do Caldeirão dos Canoas VIII (430)
A Toca do Caldeirão dos Canoas VIII tem, em um dos nichos da parede, quatro figuras
zoomorfas representando capivaras (a maior mede cerca de 30 cm e a menor 20 cm),
sendo que uma delas está com a metade inferior do corpo fragmentada. Neste sítio, a cor
predominante é o vermelho, mas aparece também o amarelo na outra parte do abrigo.
As quatro figuras têm contornos com linhas contínuas e delicadas, bem finas, mas que,
visualmente, formam um contorno grosso e bem demarcado, e um preenchimento linear
e em zig-zag ao mesmo tempo. Possuem coxas triangulares nas patas dianteiras e
traseiras. As capivaras são representadas sem rabo, com orelhas em preenchimento
uniforme e todas as patas, que aparecem, são bifurcadas. Elas se apresentam com um
movimento leve, evidenciado pela posição das patas dianteiras. O suporte foi pintado
em uma área lisa, vertical e quase plana do arenito fino. As cabeças são preenchidas por
linhas que seguem pelo pescoço. Não há tratamento do suporte, nem superposição de
nenhuma das figuras. Três delas estão em linha e uma 4ª está embaixo, mas o espaço
entre elas é respeitado. O sexo dos animais não é representado e o espaço entre as
figuras foi mantido.
109
Fotografia 1: Fila de capivaras
Em outro nicho da parede há a formação de um pequeno abrigo e no teto aparecem os
outros grafismos do sítio, produzidos com a mesma tonalidade de vermelho, mas com
técnica diversa. Há um cervídeo com corpo arredondado, com cerca de 20 cm,
produzido em uma área bastante porosa e desnivelada do suporte (com granulometria
média). Este cervo apresenta-se de perfil, voltado para o lado esquerdo e com as patas
bem esticadas em posição de salto. A pintura do seu corpo e da cabeça estão bem
apagadas, mas vê-se que o corpo possuía um preenchimento, com uma linha no centro e
pontos nas áreas restantes. O rabo é bem arredondado na extremidade e feito com
pintura uniforme. As patas foram produzidas com traços finos, contínuos e bastante
objetivos. Nas extremidades, as patas são bifurcadas e mostram, claramente, o gesto do
autor. O pescoço tem pintura uniforme, assim como a cabeça, e não se vêem as orelhas.
110
Fotografia 2: Cervo arredondado
Próximo ao cervo há uma figura de um lagarto, visto de cima, medindo cerca de 40 cm,
com contorno em vermelho e preenchimento em pintura uniforme amarela. Nas patas
dianteiras e traseiras apresenta contorno aberto. Este animal teve a produção bastante
delicada e apresenta-se em uma área muito irregular do suporte rochoso.
Abaixo do lagarto, duas figuras antropomorfas, medindo 10 cm, aparecem em uma cena
de sexo, na qual a figura feminina apresenta um círculo como representante de gênero e
a figura masculina, um falo direcionado para o círculo. As duas figuras são finas,
produzidas somente com linhas, sem áreas reservadas para preenchimento interno e é
interessante notar que a figura masculina apresenta-se quase de costas para o observador
em função da cena representada e da posição da figura feminina. Seus braços estão
levantados e unidos formando um círculo. Estes grafismos não possuem características
típicas do estilo Serra Branca, mas foram analisados em razão do modo de apresentação
dos gêneros, masculino e feminino.
111
Fotografia 3: Lagarto bicromático no centro e outros grafismos do painel
Ao lado, três outros pequenos animais aparecem bastante apagados: uma figura que
sugere um pássaro e apresenta um corpo redondo com patas trifurcadas e dois outros
cervídeos com corpo arredondado, patas bifurcadas e sem preenchimento interno.
1) As capivaras típicas do estilo Serra Branca foram representadas,
horizontalmente, aproveitando o espaço linear e plano existente em uma das paredes do
suporte que se apresenta de frente. O espaço entre elas é bastante regular e não há
qualquer sobreposição neste abrigo.
Em outra área do abrigo, no teto, os grafismos aparecem de forma esparsa em
vários pontos e um lagarto foi representado com se estivesse sendo visto a partir de um
plano superior. Este tipo de perspectiva é rara na representação dos animais, mas é
recorrente quando se trata da mesma temática.
2) Neste sítio há quatro capivaras, um lagarto e alguns cervos morfologicamente
arredondados e as capivaras foram todas preenchidas de maneira individualizada.
112
3) As capivaras foram pintadas na cor vermelha, com preenchimentos lineares e
gestos de contorno bastante fluidos e contínuos. O instrumento utilizado garantiu uma
angularidade na parte interna e, ao mesmo tempo, uma curvatura externa.
O lagarto, produzido na cor vermelha com preenchimento em amarelo, apresentou
técnica de contorno aberto nas patas e foi pintado em uma área extremamente irregular
do suporte, assim como os cervídeos representados neste sítio.
3.4.2 Toca do Caldeirão dos Rodrigues II (279)
Neste sítio há um grande número de figuras zoomorfas e o animal mais representando é
a capivara, que aparece disposta em fila, geralmente com quatro animais, e em cenas de
caça. Há grafismos nas partes relativamente mais lisas do suporte (arenito mais fino) e
nas áreas mais texturizadas (arenito médio), que já haviam sofrido desplacamento.
Quatro capivaras enfileiradas de perfil representadas em tamanhos decrescentes (a
maior mede aproximadamente 50 cm e a menor 10 cm) da primeira da fila, para a
última. Todas foram feitas com tinta vermelha e traços finos, e apresentam seus corpos
em forma elíptica, com as cabeças arredondadas, duas orelhas pequenas e arredondadas,
o contorno produzido por mais de uma linha, as quatro patas com coxas triangulares
preenchidas por pintura uniforme e bifurcadas nas extremidades, e possuem o corpo e a
cabeça preenchidos por linhas e zig-zags, cada uma de uma maneira diferente.
Fotografia 1: Quatro capivaras enfileiradas com figura antropomorfa à frente da primeira
113
À frente da primeira capivara há um antropomorfo bastante apagado que tem em uma
das mãos um instrumento de caça, de onde segue uma linha, como uma lança e atinge a
capivara maior nas patas dianteiras. Ele mede aproximadamente 20 cm e apresenta o
corpo de perfil, mas com as pernas de frente.
Um pouco mais acima aparecem mais quatro capivaras enfileiradas, também de perfil,
mas voltadas para o outro lado. É interessante notar que há apenas um número reduzido
de capivaras voltadas para o lado esquerdo e que todos os outros animais (excluindo
dois cervos que aparecem em emblemáticos do tipo “costa-costa”) aparecem voltados
para o lado direito. A primeira e a última são as maiores, medindo cerca de 50 cm e 40
cm, as do meio são menores, medindo aproximadamente 20 cm. As quatro apresentam
as patas bifurcadas, com coxas triangulares, preenchidas uniformemente, e as cabeças
arredondadas com duas orelhas pequenas. As quatro têm as linhas de contorno feitas por
um traçado repetitivo dando o aspecto visual de uma linha mais grossa, mas isto é mais
visível nas duas maiores, em função do tipo de preenchimento apresentado. Os dois
animais menores apresentam na cabeça um preenchimento feito por manchas,
parecendo um preenchimento uniforme, e as maiores têm a cabeça preenchida por
linhas. Apenas uma tem o preenchimento todo feito por pintura uniforme, as outras três
apresentam o corpo preenchido por linhas e são diferentes entre si.
Fotografia 2: Painel com capivaras e figuras antropomorfas
114
Abaixo, em um nível um pouco mais profundo do suporte (no mesmo nível em que
aparecem as quatro capivaras com o antropomorfo), há algumas capivaras e figuras
humanas. Nesta área do suporte foram representadas pelo menos quatro filas de
capivaras com o número de indivíduos variando entre dois e quatro.
Fotografia 3: Capivaras enfileiradas
Duas que aparecem voltadas para o lado esquerdo são pequenas (têm cerca de 10 cm e
15 cm) e pertencem cenograficamente a um plano inclinado. As duas têm a linha de
contorno feita por mais de um traço e apresentam preenchimentos diferentes, ambos
feitos com linhas. Apenas uma delas apresenta a cabeça preenchida, mas ambas
possuem duas orelhas e as quatro patas bifurcadas, feitas com linhas precisas, e sem
coxas. Uma delas foi sobreposta na parte inferior das patas traseiras por uma capivara
maior (aproximadamente 50 cm) que se encontra logo abaixo.
A capivara maior parece fazer parte de uma fila com quatro capivaras e sobrepõe, com a
parte traseira de seu corpo três figuras antropomorfas iguais que aparecem lado a lado.
Acredita-se que as três figuras fizessem parte de um conjunto maior, pois mais adiante,
após uma parte desplacada do suporte, aparece um pedaço de mais uma figura. As
115
quatro estão de perfil (medindo cerca de 10 cm), com os braços levantados e dobrados
sobre a cabeça. Apresentam o corpo arredondado nas extremidades, todavia parecem ter
sido produzidos a partir de dois traços descontínuos, com um preenchimento uniforme.
Têm as cabeças arredondadas, um pescoço fino e longo e carregam um objeto redondo
na parte superior das costas. As três que ainda apresentam as pernas, as têm esticadas e
de frente.
Fotografia 4: Capivaras voltadas para esquerda e capivara sobrepondo figuras antropomorfas
A capivara que as sobrepõem, mede cerca de 50 cm, tem as quatro patas com coxas
triangulares preenchidas uniformemente e bifurcadas nas extremidades. Seu corpo e sua
cabeça são arredondados, preenchidos por linhas contínuas e tem duas orelhas
pequenas. As três outras capivaras que aparecem posicionadas atrás dela apresentam a
mesma técnica de feitura e preenchimentos diversos. As duas do meio são menores
(medem cerca de 10 cm cada), quase do mesmo tamanho e as duas das pontas são
maiores (a última mede 40 cm).
Abaixo da primeira capivara da fila, há outra capivara que também sobrepõe várias
figuras. Três delas parecem fazer parte de um conjunto de sete indivíduos e uma figura
116
zoomorfa (15 cm) parece fazer par com um antropomorfo maior (30 cm), que aparece à
frente da capivara. Acredita-se tratar-se de três momentos gráficos distintos: um
primeiro com os sete indivíduos, o segundo com as duas figuras, um zoomorfo e um
antropomorfo, e um terceiro, em que foram pintadas as duas capivaras. Isto não quer
dizer que não possa ter sido feito pelo mesmo grupo ou até mesmo pelo mesmo autor,
mas certamente, uma cena antecedeu à outra.
Fotografia 5: Figuras antropomorfas e zoomorfas com vários momentos de sobreposição
Os sete antropomorfos que aparecem lado a lado têm o corpo alongado (medindo cerca
de 15, 15, 20, 10, 10, 15, 20 cm, respectivamente, da direita para esquerda do
observador) e preenchido por pintura uniforme, as pernas em “v” com falo entre elas e
os pés em 90º. Os quatro últimos apresentam a parte superior do corpo de perfil, um
objeto nas costas e os braços levantados e dobrados sobre a cabeça. Os três estão na
mesma posição: de frente, com os braços abertos e levantados, com as pernas em “v” e,
na cabeça, há uma ornamentação feita com traços verticais. O primeiro tem a parte
inferior do corpo sobreposta pela capivara da frente.
117
Fotografia 6: Capivara sobrepondo figuras antropomorfas
As duas capivaras apresentam a mesma técnica de produção. Variam somente no
tamanho (15 cm e 35 cm), no desenho do preenchimento e na linha de contorno da parte
ventral, uma é curva e a outra, praticamente, retilínea.
A figura zoomorfa parece uma ave: tem o corpo arredondado e preenchido por pintura
uniforme, o pescoço comprido, a cabeça de perfil arredondada e as patas bifurcadas na
extremidade.
Fotografia 7: Grande antropomorfo
118
O grande antropomorfo (mede cerca de 35 cm) que aparece à frente tem o corpo quase
retangular, com os ângulos arredondados, os braços de lado, levantados e dobrados
sobre a cabeça, um pescoço comprido, o corpo preenchido por duas linhas paralelas e as
pernas de frente em “u”, sem coxas, mas com dedos nos pés, que aparecem em 90º, e
um adorno arredondado em uma das pernas.
Abaixo, mais uma fileira de capivaras, esta com três indivíduos. As três seguem o
mesmo padrão das outras descritas: corpo arredondado, pernas com coxas e bifurcadas,
preenchimento complexo, diferentes entre si, feito com linhas finas e contínuas, e
orelhas arredondadas na cabeça, e medem, aproximadamente, 25, 35 e 50 cm (da direita
para esquerda).
Entre as duas primeiras e atrás da última, em um mesmo plano linear, aparecem duas
composições emblemáticas do tipo “frente-perfil”. As duas apresentam a figura maior
de frente (15 cm), com corpo alongado, preenchida por uma linha vertical, com os
braços levantados lateralmente, na altura dos ombros, e com traços ornamentando a
cabeça e a figura de perfil, menor (10 cm), com as pernas e os braços laterais. Apenas
em uma das composições, vê-se o falo na figura maior. Na outra, uma parte do suporte,
exatamente na parte ventral da figura, desplacou-se.
Fotografias 8 e 9: Detalhes com as composições emblemáticas de tipo “frente-perfil”
Uma caça à capivara (15 cm) aparece um pouco mais abaixo no suporte. Esta capivara
não apresenta a linha ventral de contorno, ao invés disto, aparece uma linha em zig-zag
que parece ter sido feita como preenchimento, fechando-a. O restante do seu corpo é
como da maioria das outras capivaras representadas neste sítio: pernas com coxas
119
triangulares preenchidas uniformemente, patas bifurcadas, cabeça e corpo arredondados,
e preenchidos por linhas, e orelhas na parte superior da cabeça.
Fotografia 10: Caça à capivara
Deslocado obliquamente, a partir do plano da capivara, aparece o antropomorfo (15 cm)
que a está caçando. É difícil dizer ao certo se é um antropomorfo com o corpo dobrado
ou se é uma figura sobre outra (ou outro grafismo irreconhecível), mas acredita-se
tratar-se de uma figura humana sobre outro grafismo. A figura antropomorfa estaria,
então, com as pernas abertas em “v”, o corpo preenchido uniformemente, os braços
abertos e laterais, com o falo na parte inferior do corpo, a cabeça ornamentada por três
traços e, nas mãos, um instrumento de caça, do qual sai uma lança que atinge a capivara,
e um objeto arredondado na parte inferior.
Mais à esquerda, ainda na parte inferior do suporte, aparecem algumas figuras
antropomorfas. Uma delas mede cerca de 10 cm e tem o corpo preenchido por uma
linha vertical e, na mão, com o braço todo esticado, um grande objeto arredondado,
outra tem o corpo comprido (20 cm) preenchido por linhas. As demais têm o corpo
120
preenchido por pintura uniforme ou por uma única linha vertical e formam cenas
dinâmicas entre si.
Fotografia 11: Figuras antopomorfas abaixo das capivaras enfileiradas
Na seqüência há uma figura com corpo esguio, feito com duas linhas paralelas, sem
preenchimento, medindo cerca de 15 cm, com as bordas arredondadas, os braços
levantados na altura dos ombros, sendo que um deles faz uma curva e segue em direção
à cabeça, que por sua vez é redonda e sem preenchimento. Suas pernas estão em “v”,
com os pés em 90º e, na parte inferior lateral do corpo aparece um falo. Esta figura
isolada parece, a princípio, relativamente com pouca importância, mas a técnica
utilizada na sua produção demonstra grande habilidade e domínio da prática gráfica por
parte de seu autor.
121
Fotografia 12: Figuras antropomorfas e composição emblemática
Uma composição emblemática do tipo “frente-perfil” aparece mais adiante. A figura de
frente é bastante grande (medindo cerca de 50 cm), apresenta os braços abertos e
levantados, as pernas em “v”, com os pés em 90º, e coxas triangulares preenchidas
uniformemente e o corpo todo preenchido por linhas verticais e horizontais. Sua cabeça
está ornamentada por traços verticais finos e paralelos e a parte inferior do seu corpo é
arredondada. Da parte inferior lateral do corpo sai o falo, que está em contato direto
com a figura de perfil.
O antropomorfo menor (10 cm) aparece de perfil e tem o corpo todo preenchido por
pintura uniforme, parece apresentar as pernas abertas e tem os braços laterais levantados
e dobrados sobre a cabeça.
Ao lado da composição emblemática aparecem dois antropomorfos: um com menos de
10 cm e outro com quase 40 cm. O pequeno tem os traços de contorno grossos, as
122
pernas em “u” com os pés em 90º virados para o mesmo lado, os braços abertos
lateralmente com três dedos nas mãos, a cabeça arredondada, preenchida
uniformemente, e com traços ornamentando-a, e o corpo preenchido por uma linha
horizontal no centro.
Fotografia 13: Pequena figura antropomorfa
A figura maior tem o corpo retangular, alongado e preenchido por linhas verticais bem
finas e paralelas. Seus braços aparecem abertos lateralmente e suas pernas em “u” com
coxas grossas, preenchidas por pintura uniforme, e os pés em 90º, também preenchidos.
Na parte superior do corpo aparecem traços verticais curtos e paralelos.
Próximo a esta figura aparece uma cena na qual estão presentes dois tatus e dois
antropomorfos. Um deles está segurando o tatu pelo rabo e o outro segura a cabeça com
uma mão e com a outra o atinge com um instrumento. Os dois tatus têm relativamente o
mesmo tamanho (cerca de 25 cm) e a mesma forma: o focinho triangular com duas
orelhas finas e arredondadas na parte superior da cabeça, o corpo arredondado, feito a
partir de uma linha de contorno contínua e posterior preenchimento por linhas bem
próximas, dando caráter de pintura uniforme, o rabo fino e comprido e as patas com
coxas triangulares preenchidas e as extremidades trifurcadas.
123
Fotografia 14: Caça ao tatu
Os antropomorfos (15 cm e 10 cm) estão de perfil, em posturas distintas, mas feitos com
a mesma técnica: cabeça arredondada, corpo feito a partir do contorno, com
preenchimento posterior, pernas finas com traços precisos e braços longos e finos. Nos
dois aparecem um falo na parte ventral e um deles tem a perna dobrada, dando um leve
movimento à figura, para trás.
Mais acima (à direita do observador), aparecem outras capivaras, em vários tamanhos
(10, 20, 50 e 65 cm), todas preenchidas por linhas, mas de forma diversa, e, na parte
mais alta do painel, aparecem cinco figuras zoomorfas. Sobrepostos por uma pequena
parte da traseira da capivara, aparecem dois cervos (10 cm cada), um de frente para o
outro como se estivessem brigando: suas patas traseiras parecem apoiadas no chão
enquanto as dianteiras alçadas promovem o contato entre os dois animais. Suas patas
são finas e bifurcadas e seus corpos feitos a partir da linha de contorno descontínua com
o preenchimento feito com linhas. Seus pescoços são compridos e finos, suas cabeças
angulosas com as duas orelhas levantadas e o rabo na parte traseira do corpo, todos
preenchidos por pintura uniforme.
124
A capivara mede 65 cm. Acima de sua cabeça, há uma composição emblemática do tipo
“costa-costa” representada por dois animais (cerca de 10 cm cada) e um grafismo puro
(tridígito) entre eles. A estrutura morfológica dos dois lembra a utilizada nas
representações dos cervídeos, mas não apresentam nem as orelhas, nem o rabo e nem as
patas bifurcadas. As patas dianteiras de um dos dois parecem ter sido feitas depois que a
capivara já havia sido pintada, pois parecem desviar de suas orelhas respeitando a figura
anterior e sem sobrepô-la em qualquer parte. Os dois apresentam o corpo feito a partir
da linha de contorno, preenchimento feito com linhas bem próximas e as patas feitas
com um só traço. O pescoço e a cabeça de um deles parecem produzidos a partir de
vários traços, o outro apresenta o pescoço extremamente fino e no final do traço, apenas
uma mudança na direção com um retoque forma a cabeça.
Fotografia 15: “Costa-costa”, figura zoomorfa e cervídeos
Entre as duas cenas aparece uma figura zoomorfa bem diferente, medindo cerca de 15
cm. Seu corpo é pequeno e parece de perfil. Foi todo preenchido por pintura uniforme e
tem um pescoço muito comprido, com uma cabeça pequena e arredondada, com as
orelhas nas laterais feitas com traços curvos e extremamente finos e parece ter uma boca
em negativo, mas como a representação deste tipo de estrutura é rara, merece maiores
investigações para que se possa fazer tal afirmação. Suas pernas aparecem laterais e
dobradas para baixo do corpo.
125
Mais a esquerda do painel há outra capivara (30 cm) de perfil, voltada para o lado
esquerdo. Seu corpo é arredondado e preenchido por linhas em várias direções, tem as
quatro patas com coxas triangulares preenchidas uniformemente e bifurcadas nas
extremidades, a cabeça tem o preenchimento feito por pintura uniforme, a partir de uma
tinta densa, que não chegou a penetrar nas áreas mais profundas da textura do suporte,
com duas orelhas pequenas e arredondadas. A união da cabeça com o corpo foi pintada
em um desnível do suporte aparentemente sem qualquer dificuldade gráfica.
Fotografia 16: Capivara – detalhe do desnível do suporte
Abaixo da capivara aparecem três figuras antropomorfas pequenas (a maior mede cerca
de 15 cm) lado a lado. As três apresentam as mesmas características: corpo esguio e
arredondado nas extremidades, preenchidos por uma linha vertical, pernas em “v” com
os pés em 90º, braços levantados lateralmente na altura dos ombros feitos com linhas
curvas e a cabeça ornamentada por traços. Além da pequena diferença entre o tamanho
das três, a figura do centro apresenta três dedos (ou objetos) nas mãos.
126
Fotografia 17: Pequenas figuras antropomorfas
Um grafismo retangular de aproximadamente 90 cm de comprimento e 10 cm de largura
feito com uma linha de contorno fina e contínua, com as arestas curvas e preenchido por
linhas em várias direções parece dividir um grande painel em duas partes.
Fotografia 18: Figura geométrica (ao centro) que “divide” o painel
127
À esquerda deste grafismo aparecem cinco emas de perfil, enfileiradas, já bastante
apagadas. As duas primeiras sobrepõem quatro figuras antropomorfas preenchidas
uniformemente, com os corpos e as cabeças arredondadas, os braços, pescoços e as
pernas longos e em posturas, aparentemente, impossíveis.
Fotografia 19: Grandes emas enfileiradas de perfil
As cinco emas apresentam o corpo arredondado, medindo 50, 70, 40, 30 e 30 cm (da
direita para esquerda do observador), duas pernas longas com coxas triangulares
preenchidas por pintura uniforme, com as extremidades trifurcadas, os pescoços
compridos e as cabeças pequenas, arredondadas, e preenchidas por pintura uniforme.
Cada uma delas tem seu preenchimento distinto das outras e a terceira tem o pescoço na
diagonal, o que sugere ter sido feito desta forma, respeitando o espaço da fila de
capivaras que aparece logo acima.
Abaixo das cinco emas existem algumas figuras antropomorfas com características que
remetem ao estilo Serra da Capivara, uma ema incompleta que sobrepõe com seu
pescoço, feito por um único traço muito fino e comprido, parte da traseira da terceira
ema da fila acima, e uma capivara bastante apagada.
128
A linha de capivaras que aparece acima das emas conta com cinco indivíduos (de 10,
25, 10, 30 e 15 cm, da direita para esquerda) com seus corpos e a cabeça arredondados,
patas dianteiras e traseiras com coxas triangulares preenchidas e bifurcadas nas
extremidades. As cinco têm a cabeça preenchida por pintura uniforme e orelhas
pequenas na parte superior, mas a quarta não apresenta preenchimento e a segunda tem
a linha ventral feita em zig-zag, a partir de seu preenchimento.
Fotografia 20: Detalhe do contorno ventral, em zig-zag, da figura zoomorfa
Acima há outra fila com capivaras, mas com sete indivíduos. As três primeiras têm
tamanhos crescentes (10, 25 e 50 cm) e as quatro de trás, relativamente, o mesmo
tamanho da primeira (10 cm cada). Todas têm o corpo arredondado e a cabeça
preenchida por pintura uniforme, as quatro patas com coxas e bifurcadas, orelhas
pequenas, e cada uma delas apresenta o preenchimento do corpo produzido de maneira
diferente.
Um antropomorfo (20 cm) do estilo Serra da Capivara, mas com traços contínuos, que
parece “empurrar” um grande objeto (30 cm) aparece logo acima da fila de capivaras. O
antropomorfo aparece de perfil, com os braços esticados, as pernas curvas para baixo do
corpo com os pés nas pontas, um falo na parte ventral, o pescoço comprido com a
cabeça redonda, ornamentada por traços, e tanto ele, quanto o objeto, foram pintados a
129
partir da linha de contorno com posterior preenchimento formado por riscos muito
próximos dando, o aspecto visual de um preenchimento uniforme.
Fotografia 21: Figura antropomorfa “empurrando” um grande objeto
Mais à esquerda, aparecem quatro antropomorfos em uma cena sexual. O menor deles
mede cerca de 10 cm e aparece de perfil, voltado para uma figura com os braços
dobrados sobre a cabeça. No espaço existente entre as duas figuras diagonais e as duas
verticais aparecem três traços e a maior figura, a masculina, aparece de perfil, com a
cabeça ornamentada e o corpo levemente curvo, direcionando seu falo para a figura que
aparece, relativamente, no centro da cena. A quarta figura aparece atrás da figura
masculina maior, apresentando as mesmas características, com diferença apenas no
tamanho, que é reduzido, e em sua participação na cena principal. Estas figuras são uma
boa representação de uma cena do complexo estilístico Serra Talhada.
130
Fotografia 22: Painel com composição emblemática, emas, cena sexual e figuras antropomorfas
Abaixo, atrás da linha com as capivaras, aparecem duas aves de feitura bastante
delicada, medindo cerca de 20 cm e 15 cm. As duas estão de perfil e têm o pescoço fino
e comprido, a cabeça arredondada na parte superior e retilínea na parte inferior, junto ao
pescoço; as patas longas, com coxas preenchidas uniformemente, trifurcadas nas
extremidades, e o corpo feito a partir de uma linha de contorno contínua, curva na parte
do peito do animal, e triangular e preenchida na parte da sua cauda.
Fotografia 23: Emas enfileiradas
131
Uma composição emblemática do tipo “frente-perfil” bastante complexa e formada por
três antropomorfos aparece um pouco mais adiante. A figura de frente aparece no
centro, entre as duas figuras de perfil e mede aproximadamente 70 cm. Tem as coxas
grossas seguindo contínuas pelas linhas laterais do corpo, as pernas em “v”, a cabeça
arredondada, o pescoço largo, os braços levantados lateralmente, dobrados sobre a
cabeça e encostados, formando um arco, e todo seu corpo foi preenchido por manchas,
dando aspecto de uma pintura uniforme. Esta figura parece ter um falo na parte lateral
inferior do corpo, voltado para o lado direito (do observador).
Fotografia 24: Composição emblemática
A figura de perfil à direita mede cerca de 50 cm e apresenta os braços levantados sobre
a cabeça e as pernas curvas para baixo do corpo, como se a figura estivesse sentada. Sua
cabeça é arredondada e a única diferença entre esta figura e a da esquerda, da figura de
frente, é que ela tem, no centro do corpo, uma barriga, como se estivesse grávida.
132
Ao lado da composição emblemática, medindo aproximadamente 30 cm, há uma figura
antropomorfa. Seu corpo é retangular e alongado, com os ângulos bem demarcados e os
braços e as pernas feitos com traços contínuos, a partir das linhas laterais que formam
seu corpo. Os braços estão esticados e levantados, e apresentam três dedos nas
extremidades, e as pernas aparecem em “u” com coxas triangulares finas e pés em 45º.
Seu corpo foi preenchido por uma linha central vertical e duas linhas horizontais. A
cabeça tem uma linha no centro e traços ornamentando o topo.
Fotografia 25: Figura antropomorfa e abaixo, figura zoomorfa
À esquerda da figura, existem três antropomorfos (10 cm cada) preenchidos por pintura
uniforme, já bastante apagados. Os três têm os braços laterais dobrados para baixo, as
pernas abertas dobradas e a cabeça arredondada. Entre as pernas, aparece o falo.
Abaixo do antropomorfo retangular há uma figura zoomorfa (10 cm), feita com outra
tonalidade de vermelho. Esta figura tem o corpo alongado, feito somente com a linha de
133
contorno, as quatro patas trifurcadas, o pescoço, a cabeça e as orelhas, preenchidos por
pintura uniforme, e parece representar um cervídeo, mas seu rabo é fino, comprido e
tem a ponta dobrada.
Logo abaixo das patas traseiras da figura zoomorfa, aparece uma capivara, medindo
aproximadamente 20 cm, com a cabeça arredondada e preenchida por pintura uniforme,
o corpo feito com a linha de contorno, curva e contínua, as orelhas pequenas na parte
superior da cabeça e as patas com coxas e bifurcadas.
Mais abaixo, aparece outra composição emblemática de tipo “frente-perfil” com a figura
de frente maior (20 cm) e bastante angular. Suas coxas são grossas e triangulares feitas a
partir da linha de contorno lateral do corpo, os pés estão em 90º, os braços levantados e
sua cabeça é redonda, e aparece preenchida por pintura uniforme.
Fotografia 26: Composição emblemática de tipo “frente-perfil”
Nas laterais, há duas figuras de perfil, medindo cerca de 10 cm cada, voltadas para a
figura central. Ambas estão deslocadas obliquamente com relação ao plano do
antropomorfo de frente e tem os braços e as pernas dobrados.
134
Duas grandes emas, medindo aproximadamente 1 m e 40 cm da ponta dos pés ao topo
da cabeça, aparecem com o corpo arredondado, o pescoço fino e comprido, as pernas
longas com coxas grossas e extremidades trifurcadas, e a cabeça bastante arredondada.
As duas tiveram seu corpo preenchido por pintura uniforme.
Fotografia 27: Grandes emas e figuras antropomorfas quase invisíveis
Acima da parte dorsal da ema da frente, exatamente entre os pescoços das duas,
aparecem dois cervídeos de perfil, medindo cerca de 20 cm. Os dois tem o corpo
estreito e arredondado nas partes dianteira e traseira, o pescoço e a cabeça preenchidos
por pintura uniforme, e as patas finas e bifurcadas nas extremidades. Os dois
apresentam o preenchimento do corpo quadriculado e o rabo pequeno, fino e
arredondado, mas apenas o primeiro tem uma galha, dupla e bifurcada, entre as orelhas.
Fotografia 28: Cervídeos
135
Atrás da última ema, aparecem algumas figuras antropomorfas. Os dois maiores têm o
corpo retangular alongado, com ângulos bem demarcados e um preenchimento
geométrico bastante complexo. Ambos estão com os braços levantados, as pernas em
“u” seguindo as linhas laterais, a cabeça preenchida por uma linha vertical central e
ornamentada no topo. Entre elas, aparece uma figura menor, e, nas suas laterais mais
duas, mas as três estão muito apagadas, o que dificulta sua observação.
Mais adiante, após um desnível no suporte rochoso há mais um painel com vários
grafismos. Aparecem, neste painel, pelo menos duas filas de antropomorfos lado a lado,
feitos com pintura uniforme, com os braços levantados, na altura os ombros, medindo
aproximadamente 10 cm cada, as pernas em “v”, com os pés em 90º e a cabeça
ornamentada com traços.
Fotografia 29: Linha com pequenas figuras antropomorfas lado a lado
136
Fotografia 30: Painel após desnível do suporte rochoso
Duas emas de perfil, medindo cerca de 20 cm cada, com seus corpos circulares,
preenchidos por pontos, com os pescoços finos e compridos em “s”, pernas longas,
coxas (ou joelhos) arredondadas e extremidades trifurcadas, demonstram a grande
habilidade gráfica do autor.
Fotografia 31: Emas arredondadas
137
Atrás das duas emas circulares (à esquerda do observador) aparecem dois cervos com
morfologia retangular, medindo cerca de 20 cm cada, bastante apagados. Eles estão de
perfil, em fila, com as patas bifurcadas, o rabo arredondado, o corpo preenchido por
linhas e o pescoço e a cabeça preenchidos por pintura uniforme.
Fotografia 32: Cervídeos bastante apagados
Neste painel há algumas figuras antropomorfas em cenas de sexo e de cativeiro ou
execução, características do complexo estilístico Serra Talhada e algumas figuras
antropomorfas e zoomorfas do estilo Serra da Capivara.
Fotografia 33: Cena de cativeiro ou execução
138
E em um último painel, aparece uma grande ema bicromática, que é a única figura do
sítio feita com mais de uma cor, e alguns outros grafismos.
Fotografia 34: Grande ema bicromática, com outros grafismos em vermelho
1) Privilegiou-se neste sítio a representação das capivaras enfileiradas linearmente
quando aparecem em número maior que dois indivíduos e com deslocamento obliquo
quando representadas em pares. As emas foram representadas cenograficamente da
mesma forma, mas em menor número. Algumas superposições sobre o estilo anterior
foram verificadas, mas dentro do estilo em estudo, houve sempre um espaço
resguardado entre as figuras.
2) O tema da gravidez aparece em uma das composições emblemáticas de tipo
“frente-perfil” composta por três antropomorfos de morfologia bastante alongada. Cada
grafismo representado apresenta uma particularidade, que o individualiza dentro da
composição. As filas de antropomorfos lado a lado, compostas por elementos
caracterizadores da identidade, em detrimento do uso dos traços essenciais, também
foram constatadas. Houve claramente o abandono do recurso dinâmico nos temas
139
apresentados e uma repetição daqueles presentes, sempre com aumento da
complexidade nos traços de identificação das figuras.
3) A única cor verificada nos grafismos estudados foi a cor vermelha e no que diz
respeito aos instrumentos utilizados, estes possibilitaram gestos curvos e ângulos bem
demarcados.
3.4.3 Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada (23)
Neste sítio, estão presentes grafismos de diversos momentos gráficos, mas em sua
maioria, representam o complexo estilístico Serra Talhada, apresentando uma pequena
presença do estilo Serra Branca e alguns grafismos do estilo Serra da Capivara. Há uma
grande quantidade de grafismos cobertos por uma espessa pátina, o que dificulta
bastante sua visualização, e como este sítio apresenta registros de vários momentos e,
muitas vezes eles se sobrepõem, os pesquisadores puderam levantar hipóteses
cronológicas acerca destes vários momentos, mas estas sobreposições dificultam em
parte a visualização de detalhes nas figuras.
Não foi encontrado neste abrigo nenhuma composição de tipo “frente-perfil” referente
ao estilo Serra Branca.
Fotografia 1: Antropomorfos enfileirados cobertos por uma espessa pátina
140
Em algumas áreas do suporte é difícil dizer, ao certo, qual foi a matéria prima utilizada
pelos autores dos grafismos, pois parte deles desapareceu, sobrando apenas seu
contorno, dado em função da existência de outro grafismo realizado, possivelmente,
depois, e com um pigmento que foi repelido pela matéria utilizada no outro grafismo.
Fotografia 2: Grafismo em negativo
Fotografia 3: Grafismos em branco já quase invisíveis
141
Três figuras antropomorfas, medindo cerca de 15 cm cada, aparecem em um dos vários
nichos existentes no suporte. As três estão de frente e foram pintadas em vermelho e
branco, apresentando os braços levantados, na altura dos ombros, e as pernas em “u”,
seguindo contínuas pelas linhas laterais que formam o corpo. Apresentam morfologia
retangular com os ângulos bem demarcados. Aparecem sobrepondo uma série de outros
grafismos, que se apresentam, hoje, somente como manchas gráficas. Seus pés
apresentam ângulo de 90º e as coxas são triangulares e preenchidas por pintura
uniforme. Os três apresentam o falo na parte lateral inferior do corpo e foram
preenchidos por uma linha central em vermelho, ladeada por tinta branca e, na cabeça,
apresentam traços verticais ornamentando-a. O espaço entre eles é o mesmo.
Fotografia 4: Três figuras antropomorfas
Uma linha com cinco antropomorfos lado a lado aparece sobrepondo uma figura branca.
Os antropomorfos apresentam-se de frente, com os braços levantados e as pernas em
“v”, com coxas triangulares. Seus pés apresentam um ângulo de 90º com a linha das
pernas e estas se sobrepõem à perna da figura ao lado, criando um distanciamento entre
os planos em que as figuras aparecem. Outro recurso utilizado, quando não há o uso da
sobreposição das pernas, é a diferença de tamanho entre as figuras. As cinco foram
142
preenchidas por pintura uniforme na cor vermelha e apresentam traços verticais no topo
da cabeça, ornamentando-a. A maior figura mede cerca de 15 cm e a menor 10 cm. A
quinta (direita do observador) figura está bastante apagada e o gênero está explícito por
meio da presença do falo, apenas na primeira.
Fotografia 5: Linha de figuras antropomorfas lado a lado
Em algumas áreas do suporte estão presentes as linhas de traços ou figuras
antropomorfas, como a anteriormente citada, mas que vão se tornando cada vez mais
abstratas em vermelho, amarelo, vermelho e branco e amarelo e vermelho.
Fotografias 6 e 7: Linha com figuras antropomorfas quase como manchas de tinta
143
Fotografias 8 e 9: Linhas de figuras antropomórficas e detalhe da abstração das figuras
Sobrepondo alguns grafismos na cor vermelha, em um nicho bastante côncavo do
suporte aparece um pequeno antropomorfo feito com tinta branca. Seu corpo apresenta
morfologia retangular e foi preenchido por duas linhas verticais paralelas. Ele mede
aproximadamente 10 cm, apresenta as pernas em “v” e os pés em 90º. Sua cabeça foi
formada pelo desenho do contorno do corpo associado à posição dos braços. Estes
aparecem abertos lateralmente, na altura dos ombros. No topo de sua “cabeça”
aparecem pequenos traços, ornamentando-a. Não há dedos nas suas mãos e ao seu lado,
há um grafismo irreconhecível feito com a mesma tinta. Na lateral inferior do seu corpo,
aparece o falo, caracterizando seu gênero. Esta figura foi pintada em um dos nichos
muito côncavos do suporte rochoso.
Fotografia 10: Pequena figura antropomorfa
144
Dois cervídeos medindo cerca de 20 cm aparecem em meio a uma série de outros
grafismos. Os dois estão de perfil e apresentam uma postura relativamente estática. Têm
as patas bifurcadas nas extremidades e coxas triangulares preenchidas por pintura
uniforme. Seus corpos foram feitos a partir da linha de contorno reta na parte dorsal e,
curva, na parte ventral. O pescoço foi preenchido por pintura uniforme, assim como a
cabeça, mas vê-se que foram feitos a partir da linha de contorno do corpo, que sobe
contínua até o topo da cabeça. Duas orelhas com as extremidades arredondadas
aparecem no topo da cabeça. Seus corpos foram preenchidos de forma distinta: o da
direita (do observador) apresenta duas linhas horizontais paralelas e a parte frontal
preenchida por pintura uniforme. O da esquerda tem, além das linhas paralelas
horizontais, linhas paralelas verticais, na parte ventral.
Fotografia 11: Cervídeos
1) Os grafismos do estilo em estudo aparecem, neste sítio, de forma intrusiva e,
geralmente, sobrepondo manchas de tinta e grafismos de um momento anterior. As
composições foram dispostas horizontalmente, com espaços regularmente resguardados
entre as figuras. Os cervídeos apresentaram movimento sutilmente evidenciado pela
145
posição diagonal apresentada no painel. Os grafismos isolados se apresentaram dentro
dos espaços limitados pelos nichos côncavos existentes no suporte rochoso.
2) As composições foram formadas por filas de figuras antropomorfas lado a lado
com abstração paulatina dos componentes essenciais de identidade. Os grafismos mais
complexos foram representados por cervídeos e antropomorfos, com arranjos gráficos
distinguindo as figuras.
3) Constatou-se uma variação de cores, tanto entre os grafismos, quanto entre as
composições. A cor branca foi utilizada para compor bicromaticamente as
composições, assim como para contrastar com as cores anteriormente apresentadas, no
caso das superposições.
3.4.4 Toca da Levada do Caldeirão de Dentro (77)
As pinturas deste sítio foram feitas no teto do abrigo, em uma área situada acima de um
grande bloco de arenito, que quebrou do suporte rochoso, mas não chegam a compor
um painel. Estão dispersas e cenograficamente isoladas, em várias áreas do suporte.
Fotografia 1: Inclinação do suporte rochoso aonde se encontram os grafismos
146
Uma composição emblemática do tipo “frente-perfil”, pintada em uma camada bastante
texturizada do suporte, impressiona o observador por apresentar traços bastante finos e
contínuos. O antropomorfo que está de frente mede cerca de 30 cm e tem o
preenchimento diversificado: na parte superior aparecem cinco faixas paralelas
formadas por traços verticais extremamente finos, no centro duas linhas sinuosas mais
espessas e na parte inferior, novamente linhas finas e paralelas. O contorno do corpo é
retangular, com ângulos bem demarcados. As pernas estão em “u” e apresentam coxas
finas e triangulares, preenchidas com pintura uniforme. Seus pés estão em 90º com as
linha da perna e o falo aparece entre elas. Os braços estão levantados e tem quatro dedos
nas extremidades de cada um. A cabeça é quadrada, com uma linha central vertical e
ornamentada por traços no topo.
Fotografias 2 e 3: Composição emblemática e detalhe de sua posição no suporte
A figura que está de perfil (mede cerca de 20 cm) tem o corpo alongado e arredondado
nas extremidades e uma linha única vertical preenchendo o corpo. Seus braços estão
laterais, levantados e dobrados na altura da cabeça. As pernas aparecem esticadas para
baixo do corpo e com pés em 90º. Aparece ainda uma outra figura menor (10 cm),
também de perfil, que parece repetir a figura maior, mas está bastante apagada, o que
dificulta sua visualização.
147
Um antropomorfo (medindo cerca de 35 cm) com o corpo preenchido por uma linha em
zig-zag, braços levantados, mãos com três dedos cada e pernas em “u” foi produzido em
uma área extremamente porosa do suporte rochoso. Esta figura apresenta a cabeça bem
fina, preenchida por pintura uniforme e com uma estrutura pequena e, relativamente,
triangular ornamentando o topo. As pernas seguem contínuas a partir da linha do corpo,
que se apresenta um pouco abaulado nas laterais. Os pés se encontram em ângulo de 90º
com a linha das pernas e uma delas aparece levemente dobrada, evidenciando um sutil
movimento, como se o pé saísse do chão e a figura fosse sair da parede. Na lateral
inferior de seu corpo aparece um falo.
Fotografia 4: Figura antropomorfa
Ainda no teto deste abrigo aparecem três outros grafismos, sendo duas aves (20 cm e 15
cm) e um irreconhecível. Os três apresentam, de certa maneira, uma escolha na
utilização de áreas relativamente mais planas do suporte rochoso. As aves parecem
representar emas, uma delas apresenta o corpo arredondado, preenchido por círculos
concêntricos. Em função do preenchimento e da posição do pescoço, a ave parece estar
148
levemente de costas para o observador, com a cabeça de perfil. Os traços não são
contínuos, apresentando interrupções no corpo, no preenchimento e nas patas do animal.
As extremidades são bifurcadas e sua cabeça é arredondada.
Fotografias 5 e 6: escolha por áreas mais lisas na utilização do suporte
A outra ave se encontra de perfil e não demonstra muita habilidade por parte de seu
autor. Apresenta o corpo oval, preenchido por linhas, patas trifurcadas e com coxas
triangulares, pescoço feito com pintura uniforme e cabeça em “c” (não é possível dizer
ao certo se foi pintada assim ou se perdeu um pedaço).
Uma figura constituída de quatro partes iguais aparece mais abaixo no suporte. Cada
parte é arredondada na parte superior e reta na parte inferior, apresentando a forma do
pescoço com a cabeça utilizado na representação das aves, mas não possuem corpo e
foram produzidas somente com a linha de contorno.
Duas pequenas figuras antropomorfas se apresentam lado a lado em uma área do
suporte bastante irregular. Trata-se de um arenito cimentado com pequenos seixos
arredondados. As duas foram produzidas com pintura uniforme na cor vermelha e
medem aproximadamente 5 cm cada. Elas estão de frente e apresentam seus braços
abertos e levantados, sua pernas em “v”, com os pés em 90º e suas cabeças são
arredondadas e preenchidas por pintura uniforme, sem ornamentação.
149
Fotografia 7: Pequenas figuras antropomorfas lado a lado
1) Os grafismos deste sítio se apresentam no teto, de forma isolada
cenograficamente e com aproveitamento de áreas mais lisas do suporte, à exceção do
emblemático representado.
2) A temática apresentada caracterizou duas emas, um antropomorfo e uma
composição emblemática de tipo “frente-perfil”, além de dois pequenos antropomorfos
lado a lado. As emas apresentaram morfologia arredondada, enquanto os antropomorfos
tiveram os corpos retangulares e alongados. Os traços que compõem as figuras da
composição emblemática são extremamente delicados e seus atributos bastante
complexos.
3) A cor verificada foi a vermelha, em várias tonalidades e densidades. Na
composição emblemática, se constatou traços bastante fluidos e contínuos, apesar da
irregularidade do suporte. Os outros grafismos foram pintados aproveitando áreas mais
lisas existentes no teto do abrigo.
150
3.4.5 Toca da Baixa das Cabaceiras (170)
Neste sítio, o que mais chama a atenção são duas grandes onças (50 cm e 100 cm) sendo
capturadas por uma centena de pequenos antropomorfos (10 cm) agarrados aos seus
corpos, patas e caudas. Próximo às onças e ainda, abaixo delas, em nichos côncavos do
suporte, aparecem algumas figuras antropomorfas alongadas, sobrepondo figuras,
antropomorfas e zoomorfas, pertencentes a um outro momento gráfico.
Fotografia 1: Figuras antropomorfas caçando onça
Junto aos antropomorfos aparecem alguns objetos, bastante finos e compridos,
produzidos com traços contínuos, “ajustados” à irregularidade do suporte. As pinturas
deste sítio são todas vermelhas, mas aparecem em diferentes tonalidades. O
preenchimento do corpo das figuras humanas, mais escuras, é bastante elaborado e, em
sua maioria, apresentam o mesmo padrão técnico.
151
Fotografia 2: Figuras antropomorfas com morfologia retangular e objetos
Em um nicho de arenito fino, um tanto desnivelado, há uma figura antropomorfa,
medindo cerca de 20 cm, sem cabeça (não é possível dizer ao certo se foi produzida
assim, pois parte do suporte rochoso sofreu desplacamento) e com os braços levantados.
Seu corpo é retangular e seu preenchimento feito com linhas curvas paralelas, em pares,
apontando para uma escolha no tipo de representação de sua morfologia. Suas pernas
em “u” seguem com linhas contínuas, a partir das linhas laterais do corpo, e apresentam
além das coxas triangulares preenchidas por pintura uniforme, os pés em 45º.
Fotografia 3: Figuras antropomorfas
152
À esquerda (do observador) desta figura, aparecem outros grafismos, mas apenas dois
são passíveis de reconhecimento: são dois antropomorfos, de frente, com morfologia
retangular em tamanhos diferentes. O maior mede cerca de 20 cm, tem a cabeça
quadrada, preenchida por pintura uniforme e vários traços radiais finos no topo,
ornamentando-a. Seus braços estão esticados e levantados, e suas pernas aparecem em
“u”, seguindo as linhas laterais que formam seu corpo. As coxas são triangulares e não
possuem preenchimento, já o seu corpo foi preenchido com triângulos laterais
compostos com uma pintura uniforme. Seus pés apresentam ângulo de 45º com a linha
das pernas.
A figura menor mede aproximadamente 10 cm, apresenta as laterais do corpo retas e foi
todo preenchido por pintura uniforme. Suas pernas estão em “u”, com coxas triangulares
e pés em 90º. Seus braços aparecem abertos e levantados lateralmente, na altura dos
ombros, e sua cabeça é alongada com as arestas da parte superior curvas.
As figuras antropomorfas, que aparecem no centro do abrigo, sobrepondo outros
grafismos, como descritas anteriormente, também apresentam morfologia retangular. A
primeira delas (da esquerda para direita do observador) mede cerca de 20 cm, tem o
corpo alongado, feito por duas linhas de contorno laterais, que seguem com um gesto
contínuo por parte do autor, formando os braços e as pernas. Os braços estão levantados
e têm dedos nas mãos, as pernas estão em “u” e apresentam coxas triangulares,
preenchidas por pintura uniforme, além dos pés em 90º. Em um dos pés, vê-se,
claramente, a representação dos dedos. Sua cabeça é arredondada e preenchida
uniformemente e seu corpo foi preenchido a partir de uma divisão horizontal no centro
e, na parte inferior, apresenta, ainda, duas linhas laterais em zig-zag, preenchidas por
pintura uniforme, formando quadrados seqüenciais, em negativo, na área central.
153
Fotografias 4, 5 e 6: Figuras antropomorfas
Ao lado desta figura antropomorfa, aparecem cinco linhas finas, bastante compridas, e,
na extremidade superior de uma delas, uma forma quase triangular, feita com pintura
uniforme.
Após a quinta linha, há outro antropomorfo medindo aproximadamente 30 cm, com o
corpo estreito e alongado. Seus braços estão levantados e têm dedos nas extremidades.
Suas pernas são em “u”, seguindo contínuas pelas linhas que formam as laterais do
corpo. Suas coxas são triangulares, preenchidas por pintura uniforme, e seus pés
aparecem em 90º. A cabeça desta figura é retangular, preenchida uniformemente e
ornamentada com linhas, no topo, e seu corpo apresenta um preenchimento com linhas
laterais em zig-zag, pintadas internamente com tinta vermelha uniforme, formando na
parte central de seu corpo, uma linha grossa, em negativo, também em zig-zag. Na parte
inferior, aparece o falo.
Ao lado desta figura, após um pequeno espaço, em que aparecem, apenas, as pinturas
produzidas em um momento anterior (com uma técnica bastante diferente), há mais
duas linhas finas, verticais, e, ao lado, outro antropomorfo. Esta figura mede cerca de 25
cm e apresenta o corpo mais espesso que o da figura anteriormente descrita. Sua postura
é a mesma: braços levantados, pernas em “u” feitas a partir das linhas laterais, com
coxas triangulares, preenchidas por pintura uniforme, cabeça retangular, ornamentada
com linhas no topo e preenchida uniformemente, e pés em 90º. Nesta figura vê-se, na
lateral inferior, o falo, caracterizando seu gênero e seu preenchimento foi feito na parte
inferior, com linhas laterais em zig-zag pintadas internamente, de modo uniforme e
154
formando, na área central, quadrados seqüenciais em negativo. No meio da figura,
aparece um quadrado feito somente com a linha de contorno e, acima dele, uma área
reservada, feita com duas linhas paralelas horizontais, e, dentro delas, mais duas linhas
horizontais, cortando linhas verticais paralelas.
Ao lado deste antropomorfo há três onças de perfil, enfileiradas, com o corpo medindo
cerca de 20 cm, feitas com pintura uniforme, atrás de uma onça maior, que está sendo
atacada por vários antropomorfos.
Fotografia 7: Onça sendo caçada por pequenas figuras antropomorfas
A onça maior mede aproximadamente 100 cm e os antropomorfos, em volta, medem
cerca de 10 cm cada e parecem atacá-la com cordas e lanças. Os antropomorfos
apresentam o corpo preenchido por pintura uniforme, cabeça arredondada, pernas em
“v” e alguns aparecem com os pés em 90º, mas isto não parece ter sido uma regra.
155
Fotografia 8: Composição emblemática
Há uma composição que parece representar um emblemático de tipo “frente-perfil” com
duas figuras bastante geometrizadas, mas elas estão bastante apagadas, o que dificulta
sua observação. A figura maior, de frente, mede cerca de 20 cm e apresenta o falo na
lateral inferior do corpo, voltado para o lado contrário àquele em que aparece a figura de
perfil. Esta está virada para a figura de frente, mede cerca de 15 cm e apresenta os
braços levantados e dobrados na altura da cabeça. As duas foram preenchidas por
linhas, sendo que a maior delas apresenta um preenchimento mais complexo.
1) O grande tamanho na representação das onças que estão sendo caçadas por
pequenos antropomorfos foi o recurso utilizado para dar destaque às cenas. Os
grafismos antropomorfos angulares foram representados linearmente espaçados e
sobrepõem grafismos de um momento anterior. O Momento exato em que as grandes
onças estão sendo caçadas, associado às posturas das figuras antropomorfas, demonstra
o tempo representado.
156
2) Os grafismos antropomorfos que aparecem neste sítio apresentam uma grande
complexidade nos arranjos gráficos e, nos atributos culturais, instrumentos foram
apresentados, lado a lado, intercalados entre os indivíduos. Uma composição
emblemática, apesar de se apresentar fragmentada, tem sua temática garantida por meio
da utilização dos traços essenciais de reconhecimento na parte ainda presente.
3) O único pigmento aparente neste sítio é da cor vermelha, em várias tonalidades
diferentes, e os traços que dão rigidez às figuras não foram apresentados em suas outras
características.
3.4.6 Toca da Roça do Zeca (149)
Infelizmente, este sítio teve várias áreas do suporte desplacadas e com isso,
possivelmente, se perderam alguns grafismos. Nenhuma das figuras antropomorfas
apresenta qualquer definição de gênero por meio da representação dos órgãos sexuais.
Fotografia 1: Grafismos em área desplacada
157
As duas únicas aves presentes neste abrigo são muito pequenas (medem menos de 10
cm) e possuem o corpo quadrado com contorno em vermelho, sem preenchimento
interno. Em uma delas, não é mais possível identificar as patas, pois, possivelmente, se
perderam junto com o desplacamento do suporte. Na outra, vêem-se extremidades
trifurcadas e pernas sem coxas. Apesar de seu tamanho, a produção de suas pernas não
parece muito delicada, foram pintadas a partir de mais de um traço. As duas figuras
encontram-se de perfil, enfileiradas e têm o pescoço produzido a partir de um traço
contínuo, seguindo até a cabeça. Não apresentam nenhum movimento e o caráter
angular é dado pelo corpo e pela junção do pescoço com a cabeça. A tinta utilizada é
bastante densa e o suporte, apesar de extremamente poroso e texturizado, não é muito
friável nesta área.
Fotografia 2: Pequenas figuras zoomorfas - emas
A outra figura zoomorfa é representada por um cervo, com traços bastante finos,
delicados e contínuos, apesar de toda a irregularidade do suporte aonde foi produzido.
Mede aproximadamente 25 cm e foi produzido em amarelo. Possivelmente, teve um
contorno posterior em cinza, apresentando nas patas dianteiras e traseiras a técnica de
contorno aberto. Possui as patas bifurcadas, sem coxas e o corpo retangular, preenchido
por uma linha em zig-zag amarela, que segue contínua pelo pescoço, até a cabeça. A
figura está de perfil com as patas dianteiras sugerindo um leve movimento de salto.
Possui galhas somente em amarelo, sem o contorno em cinza. O rabo e as orelhas são
apenas traços e foram evidenciados pelo contorno.
158
Fotografia 3: Cervídeo sobreposto por antropomorfo
Um grafismo (com cerca de 15 cm), que segue o mesmo padrão dos antropomorfos,
parece não ter sido concluído. Esta figura foi feita em vermelho com traços fluidos e
contínuos, sua perna esquerda (para o observador) foi feita a partir da linha de contorno
que, possivelmente, começou à direita (do observador), sofreu um pequeno gesto curvo,
seguindo reta até descer e formar a perna. A perna direita deve ter sido acrescentada
posteriormente e ambas apresentam os pés em 90º. Esta figura está sobrepondo o
cervídeo, na altura do ventre.
Fotografia 4: Detalhe do antropomorfo inacabado
159
Próximo ao cervo, ainda no mesmo painel, aparece um antropomorfo, medindo cerca de
40 cm. A figura também foi produzida com uma linha fina, contínua e bastante delicada,
na cor amarela. O corpo da figura é retangular e apresenta os braços levantados
lateralmente, com dedos nas duas mãos. A cabeça é igual à de uma das duas figuras da
composição do tipo “frente-perfil”. É quadrada e tem como preenchimento apenas uma
linha, mas esta se encontra um pouco mais centralizada com relação ao formato da
cabeça do que a outra, que tende para o lado direito (do observador), e também é
ornamentada com linhas verticais finas no topo. Tem as pernas seguindo a linha do
corpo em “u” e os pés formando 90º com a linha das pernas. Possui coxas triangulares,
sem preenchimento e seu corpo foi preenchido apenas por uma linha que segue contínua
ao longo do corpo.
Fotografia 5: Figura antropomorfa amarela
Dois antropomorfos vermelhos formam uma composição emblemática de tipo “frente-
perfil”. Esta composição foi pintada em uma área do suporte bastante porosa e
desnivelada. A figura de frente é bem maior (mede cerca de 30 cm) que a figura que
160
está de perfil (mede cerca de 10 cm). A maior possui o corpo retangular, feito com o
contorno em linha extremamente fina e contínua, formando os braços e as pernas. Foi
preenchido por uma linha horizontal em zig-zag com algumas partes curvas e um outro
desenho indefinido, feito de um lado ao outro. Tem a cabeça quadrada preenchida por
uma linha vertical e ornamentada com pequenos traços verticais no topo. As pernas
seguem as linhas laterais do corpo em “u”, com coxas triangulares preenchidas
uniformemente e pés em 90º. Há um movimento, sutilmente representado pelos braços
levantados na altura dos ombros somados a uma leve curvatura dada pela sua postura.
As mãos possuem três dedos em cada.
Fotografia 6: Composição emblemática
O outro antropomorfo da composição tem o corpo ovalado, com o preenchimento feito
por pintura uniforme. Tem as pernas laterais dobradas para baixo do corpo, com os pés
161
em ângulo reto (90º) e sem coxas. Os braços estão esticados e levantados, possuindo
três dedos em cada mão. Esta figura apresenta um pescoço comprido feito, apenas com
um traço, e uma cabeça quase redonda, preenchida por linhas que dão, visualmente, um
aspecto de pintura uniforme.
Há ainda um grande antropomorfo isolado, medindo aproximadamente 40 cm, todo em
amarelo, na mesma postura do anteriormente descrito, mas seu preenchimento interno
foi feito com linhas paralelas em zig-zag e seu contorno, também, feito com mais de
uma linha, apresentando em uma das laterais dois traços, relativamente paralelos e
contínuos. O traço mais externo parece desviar das irregularidades do suporte. Seu
preenchimento segue até a cabeça, que é ornamentada com traços verticais no topo. Os
braços estão levantados e possui dedos nas duas mãos. As pernas seguem a linha de
contorno do corpo, mostrando coxas triangulares, que são preenchidas, cada uma, com
uma linha vertical. Os pés formam 90º com as pernas.
Fotografia 7: Figura antropomorfa isolada
1) As pinturas deste sítio aparecem dispostas em vários pontos do suporte e um
grafismo incompleto aparece sobrepondo um cervídeo do mesmo estilo e esta
162
superposição apresenta um contraste, dado pela diferença nas cores utilizadas, entre os
dois grafismos. As emas que são representadas em par e uma composição emblemática
apresentam deslocamento oblíquo, já as figuras antropomorfas e o cervídeo que
aparecem em uma composição foram representados de modo horizontal resguardando
as áreas que os envolvem.
2) Há, neste sítio, uma composição emblemática, um cervídeo, duas emas e
algumas figuras antropomorfas e todos foram representados com morfologia angular e
apresentam características particulares nos tipos de preenchimento. A figura
antropomorfa, que sobrepõe o cervídeo, apesar de incompleta, apresenta os traços
suficientes para representar a temática do estilo em estudo.
3) Aparecem, neste sítio, figuras em vermelho, em amarelo, e em amarelo com
contorno em cinza. As densidades são diferentes e os grafismos apresentam diferentes
níveis de maestria, mas mantém o código apresentado nos arranjos.
3.5 Serra Nova e Serra Vermelha
Mapa 7: Localização dos sítios analisados na área da Serra Nova e Serra Vermelha
163
3.5.1 Toca do João Pimenta (459)
Ao chegar a este abrigo se vê uma enorme quantidade de traços verticais paralelos
formando linhas largas horizontais. Um primeiro olhar remete logo a grafismos puros,
apenas riscos de cor vermelha, mas, na parte central, entre os vários traços vêem-se
figuras antropomorfas retangulares bastante complexas que “convidam” o olhar a
percorrer mais atentamente os traços, observando então, que os mesmos mostram
bifurcações na parte inferior e, por vezes, na parte superior e que existem, entre eles,
outros antropomorfos.
Fotografia 1: Linhas de traços paralelos
As figuras antropomorfas centrais são todas preenchidas por linhas e, quando aparecem
de frente, têm a cabeça ornamentada por traços, os braços esticados e levantados, as
pernas feitas a partir das linhas laterais de contorno e os pés em 90º.
Três antropomorfos de perfil, junto a uma série de traços, formam, com um
antropomorfo maior (medindo cerca de 20 cm) de frente, com os braços levantados e a
cabeça ornamentada, uma composição emblemática do tipo “frente-perfil” bastante
complexa.
164
Fotografia 2: composição emblemática
Aproveitando uma extensão da parte relativamente mais lisa do suporte foram pintados
um antropomorfo maior de frente e ao seu lado, em tamanho menor, dois antropomorfos
de perfil, medindo cerca de 15 cm cada, numa lateral e um (com o mesmo tamanho) na
outra. Os três aparecem deslocados obliquamente em relação ao plano da figura de
frente. Todos eles foram feitos com linhas finas e contínuas, demonstrando um
planejamento da área utilizada e o domínio da prática gráfica. Os três que estão de perfil
se apresentam na postura típica do emblemático: braços levantados e dobrados sobre a
cabeça, pernas laterais como se a figura estivesse sentada e pés em 90º. Ao lado dos
antropomorfos de perfil feitos com a mesma cor encontram-se os vários traços verticais.
Na diagonal, abaixo da composição emblemática aparecem quatro antropomorfos
enfileirados, também de perfil (medindo 10 cm, 10 cm, 10 cm e 5 cm), mas com as
pernas esticadas em “v”, com as coxas formadas pelas linhas de contorno associadas à
linha de preenchimento da figura. Apesar do corpo aparecer de perfil e os braços juntos
e laterais, as pernas têm os pés voltados para fora. Na parte ventral inferior do corpo das
165
quatro figuras aparece um falo feito com uma linha bastante longa. Suas cabeças estão
ornamentadas por traços horizontais paralelos na parte posterior.
Fotografia 3: Quatro figuras antropomorfas
Próximas aos traços, na parte plana do painel, aparecem ainda duas emas de perfil em
fila, mais abaixo em outra área do suporte, formando uma cena, mais seis emas, depois
dois antropomorfos, alguns cervos e mais adiante, um pouco mais afastadas, duas
capivaras em fila.
A ema que está na frente tem o corpo menor (aproximadamente 5 cm) e ocupa uma área
existente entre os últimos traços verticais de uma linha e abaixo dos traços de outra, sem
qualquer sobreposição dos grafismos. Ela tem o corpo arredondado, feito com uma
linha de contorno fina e contínua, e preenchido por uma linha curva que parece
representar a asa do animal e uma linha posterior reta. Suas pernas são finas e
compridas e trifurcadas nas extremidades e seu pescoço segue linear a partir do peito do
animal. Sua cabeça parece ser arredondada e preenchida uniformemente.
166
Fotografia 4: Figuras zoomorfas – emas
A segunda ema tem o corpo um pouco mais alongado (cerca de 10 cm) que a primeira e
o preenchimento feito com uma linha em “w” que sugere a asa do animal e uma linha
posterior reta. Seu pescoço, a cabeça e as pernas são como as da outra ema. Apesar do
suporte rochoso ser bastante texturizado, suas linhas foram feitas de forma fluida e
contínua.
As seis emas de perfil, que aparecem abaixo, apresentam o corpo mais estreito e apenas
a maior delas tem um preenchimento, que poderia representar sua asa. Todas tem o
pescoço fino e alongado, a cabeça preenchida por pintura uniforme e as patas finas. Não
é possível afirmar se seus pés são bifurcados ou trifurcados, pois a tinta nesta área está
bastante apagada.
167
Fotografia 5 a partir de cromo fotográfico: Seis emas de perfil
Fonte: FUMDHAM
A ema que aparece mais à direita (5cm) tem uma das patas sobreposta pelo braço de
uma figura antropomorfa (10 cm). Esta tem o corpo formado por duas linhas paralelas,
sem preenchimento, os braços levantados lateralmente, as pernas em “v”, seguindo
contínuas pelas linhas laterais, que formam seu corpo, apresentando coxas e os pés em
90º. Sua cabeça foi preenchida por pintura uniforme e possui traços no topo da cabeça,
ornamentando-a. Na lateral inferior de seu corpo, tem um falo.
Fotografia 6 a partir de cromo fotográfico: Figuras antropomorfas
Fonte: FUMDHAM
168
Ao lado deste antropomorfo há um outro, que seria idêntico, se não fosse pela linha
vertical central que preenche seu corpo e pelo tamanho um pouco maior (15 cm).
À esquerda, aparecem as duas capivaras. A maior delas mede aproximadamente 10 cm e
tem o corpo todo preenchido por pintura uniforme, nas quatro patas aparecem coxas
grossas, também preenchidas uniformemente e as extremidades são bifurcadas. Sua
cabeça é arredondada, sem preenchimento e com a linha de contorno fina e fluida.
Fotografia 7: Capivaras
A menor mede cerca de 5 cm e, pela diferença de tamanho, parece pertencer a um plano
posterior. Ela foi toda preenchida por pintura uniforme e tem as quatro patas bifurcadas.
Uma figura de perfil, mas com as pernas de frente, medindo aproximadamente 5 cm,
com corpo arredondado nas extremidades, aparece abaixo de uma cena em que estão
presentes um antropomorfo e uma figura fitomorfa bastante ramificada, feita com traços
finos e precisos. O antropomorfo (5 cm) junto da “árvore” tem o corpo alongado, as
pernas em “v” com as coxas grossas, os pés em 90º e os braços levantados.
169
Fotografia 8: Pequenas figuras antropomorfas com figura fitomorfa
No teto do abrigo, aparecem outras pinturas, todas feitas com tinta vermelha e
produzidas em uma área menos porosa do suporte rochoso, mas bastante desnivelada.
Um grafismo incompleto que parece representar uma figura antropomorfa (medindo
cerca de 10 cm) aparece em uma das áreas inclinadas do interior do abrigo. Seu corpo é
trapezoidal, com as pernas seguindo contínuas a partir das linhas laterais, que formam o
corpo, e com pés em 90º. Preenchido por uma linha em zig-zag de uma lateral à outra,
com ângulos bem demarcados, parece ter sido pintado na parte superior, com os braços
levantados feitos a partir das linhas laterais, pois aparecem ainda algumas manchas de
tinta, mas não é possível afirmar como.
Fotografia 9: Figura antropomorfa
170
Alguns grafismos tiveram parte da pintura quebrada junto com o desplacamento do
suporte, que aparece em vários pedaços do teto deste abrigo. Um deles é um
antropomorfo (20 cm) com corpo retangular, que perdeu parte do seu corpo e da cabeça,
além de um dos braços. Suas pernas seguem as linhas laterais do corpo, apresentando
coxas triangulares, preenchidas por linhas tão próximas que, visualmente, dão um
aspecto de pintura uniforme, e têm pés em 90º. É interessante notar que uma das pernas
foi pintada em dois níveis distintos do suporte e parte do seu corpo apresenta a tinta
vermelha em duas densidades diversas. O braço que ainda aparece está levantado e tem
três dedos na mão, e seu corpo foi preenchido por linhas finas em várias direções.
Fotografia 10: Painel em suporte inclinado no teto do abrigo
Um pouco mais abaixo há um antropomorfo que apresenta somente a parte superior do
corpo (a parte que restou mede cerca de 5 cm). Seu formato é retangular, mas tem a
cabeça arredondada na parte superior. Seu corpo e a cabeça foram preenchidos por
pontos e linhas, e seus braços estão levantados e não apresentam dedos nas
extremidades.
171
Fotografia 11: Figuras antropomorfas
Um antropomorfo medindo aproximadamente 5 cm aparece um pouco mais à esquerda
do painel. Seu corpo é quadrado e tem os braços e as pernas produzidos a partir das
linhas laterais que formam seu corpo. Na parte superior do corpo, há seis traços verticais
paralelos, seus pés aparecem em 90º e, em suas mãos, existem três dedos.
Duas figuras antropomorfas aparecem lado a lado e a maior delas perdeu parte do corpo
e um dos braços com o desplacamento do suporte rochoso. A figura maior tem o corpo
alongado, mede 20 cm, foi preenchida por linhas em várias direções, e a linha de
contorno fina e contínua. Suas pernas aparecem em “v”, com coxas pintadas
uniformemente e com os pés em 90º. Na parte inferior lateral de seu corpo há um falo,
voltado para o lado contrário àquele em que aparece a segunda figura. Um dos braços é
curto e na parte superior do corpo aparecem traços verticais, ornamentando-o. Esta
figura foi pintada acompanhando os vários níveis do suporte.
172
Fotografia 12, a partir de cromo fotográfico: Figuras antropomorfas lado a lado
Fonte: FUMDHAM (invertida)
A figura ao lado, que mede cerca de 15 cm, tem o corpo arredondado nas extremidades
e sua cabeça foi preenchida por pintura uniforme, com alguns traços na parte superior.
Seus braços estão esticados e levantados. Nas mãos, aparecem três dedos em uma e
quatro na outra. As pernas têm coxas grossas, com pés em 90º, e seu corpo foi
preenchido por um círculo central com linhas radiais.
Próximo às duas figuras, há outra que apresenta somente a parte superior do corpo (5
cm). Ela tem os braços levantados, sem dedos, a cabeça retangular com os ângulos
superiores levemente curvos e preenchida por três linhas verticais paralelas. Seu corpo
apresenta, internamente, duas linhas perpendiculares.
173
Fotografia 13 a partir de cromo fotográfico: Insetos edificadores sobre pintura antropomorfa
Fonte: FUMDHAM (invertida)
Acima do antropomorfo incompleto encontra-se uma figura completa (10 cm) que foi
pintada com uma linha vermelha um pouco mais diluída que a utilizada na figura
anteriormente descrita. Seu corpo é retangular e preenchido por duas linhas paralelas.
As pernas aparecem em “v”, com as coxas grossas uniformes e os pés em 90º. Na lateral
inferior do corpo aparece o falo. Os braços estão levantados e têm três dedos nas
extremidades. A cabeça é arredondada e preenchida por pintura uniforme. No cromo
feito na década de 80, vê-se que algum inseto edificador fez sua casa sobre a cabeça e
um dos braços desta figura, mas pôde ser retirado pela equipe de conservação, sem
danos à pintura.
Mais adiante, em uma parte mais alta do teto, aparecem duas figuras (medindo cerca de
15 cm cada uma) e uma delas tem a forma do corpo bastante diferente. Parece ter sido
feita a partir de uma linha em zig-zag contínua, saindo da cabeça até a ponta de um dos
pés. Os braços estão levantados e têm três dedos nas mãos. A cabeça é redonda e
preenchida uniformemente. Acima da cabeça há uma área do suporte “protegida” por
um material repelente à tinta e mais acima aparecem traços. À linha central, que forma o
174
corpo do antropomorfo, foram acrescidas duas áreas e uma delas foi preenchida por uma
linha em “v”. As pernas aparecem em “v” e têm os pés em 90º. Apesar de toda a sua
morfologia angular, esta figura parece retratada em uma postura bastante dinâmica,
embora não caracterize qualquer narrativa.
Fotografia 14: Figuras antropomorfas
Ao seu lado, aparece uma figura com a forma elíptica preenchida por linhas horizontais
e verticais e a cabeça preenchida uniformemente, com forma arredondada. Seus braços
estão levantados e têm três dedos nas pontas, suas pernas têm coxas e, em seus pés
(45º), aparecem dedos bastante finos.
Próximo aos dois antropomorfos (menores que 10 cm) há uma cena, na qual aparecem
duas figuras humanas, um cervo (cerca de 5 cm) e alguns objetos. O antropomorfo mais
à esquerda aparece com os braços levantados, três dedos em cada uma das mãos, pernas
em “v” com pés 90º e o corpo praticamente quadrado feito só com a linha de contorno.
Na cabeça aparecem traços, ornamentado-a, e, nas mãos, têm objetos em formas
diferentes. Junto de seu corpo, há duas linhas ramificadas e, sobrepondo parte de um
dos objetos da mão, aparecem duas lanças paralelas.
175
Fotografia 15: Cena de caça
O outro antropomorfo também tem o corpo quadrado, mas preenchido por pintura
uniforme, formando um retângulo em negativo no centro. Suas pernas apresentam os
pés em 90º e seus braços estão levantados. Nas mãos, aparecem três dedos e, em uma
delas, um instrumento de caça com uma lança. Sua cabeça apresenta uma ornamentação
feita com traços e não tem preenchimento.
Seguindo com o olhar até a ponta da lança vê-se um cervídeo com o corpo de perfil e a
cabeça voltada para trás. Seu corpo é retangular e estreito apresentando as patas
dianteiras e traseiras feitas por traços finos e precisos, apesar da irregularidade do
suporte. Na cabeça tem duas orelhas arredondadas nas extremidades e, na parte traseira
do corpo, o rabo levantado. Todo o cervo foi preenchido por pintura uniforme. Apesar
de representar uma cena de caça e das figuras apresentarem vários objetos, esta cena é
bastante estática no que diz respeito aos movimentos e pontos de marcação das posições
das figuras que dela participam, se comparada às cenas de caça do estilo Serra da
Capivara.
176
Há ainda outra figura que parece fazer parte da mesma cena, apesar de seu
deslocamento. Suas pernas estão bem abertas e, entre elas, aparece o falo. Parece ter os
braços abertos lateralmente, na altura dos ombros, mas está bastante apagado, o que
dificulta a sua visualização. Foi todo preenchido por pintura uniforme, na cor vermelha,
e mede cerca de 5 cm.
Cenograficamente isoladas, aparecem ainda duas figuras antropomorfas, na cor
vermelha, feitas com uma linha de contorno um pouco mais espessa, a cabeça
preenchida por pintura uniforme e os braços abertos, lateralmente, na altura dos ombros.
A maior mede cerca de 40 cm e teve o corpo preenchido por uma linha vertical central,
cortando linhas horizontais paralelas. Suas pernas aparecem em “u”, com coxas
preenchidas por pintura uniforme e pés em 90º. Na parte inferior lateral do corpo há um
falo, caracterizando o gênero da figura.
Fotografia 16: Figura antropomorfa
A outra figura mede aproximadamente 15 cm e teve o corpo preenchido por uma linha
vertical e duas linhas horizontais, formando, na parte inferior, um retângulo com os
177
ângulos bem demarcados. Suas pernas seguem contínuas, em “u”, pelas linhas laterais
que formam seu corpo e apresentam os pés em 90º.
Fotografia 17: Figura antropomorfa
Neste sítio, aparecem muitos traços paralelos e algumas figuras antropomorfas
referentes ao estilo Serra Branca, mas não foram considerados nas análises pela
dificuldade de observação de suas características. Algumas pinturas parecem ter sofrido
intemperismo químico, alterando assim, sua coloração.
Fotografia 18: Figuras antropomorfas retangulares e traços paralelos
178
1) Os grafismos, neste sítio, foram dispostos em planos horizontais e mantém como
regra um espaço resguardado entre as figuras. Alguns grafismos se apresentam no teto
do abrigo, cenograficamente isolados, e aqueles maiores e mais típicos do estilo
apresentaram um planejamento anterior, referente à utilização do espaço disponível do
suporte.
2) Muitas linhas paralelas associadas às figuras antropomorfas aparecem como a
temática principal. Entre os vários traços, aparecem composições emblemáticas de tipo
“frente-perfil” e isoladas, aparecem as figuras antropomorfas em pares e em uma cena
de caça ao cervídeo.
3) Este sítio apresenta várias tonalidades da cor vermelha e muitos grafismos em
uma cor violácea, mas estes sofreram um processo de intemperismo químico que
certamente modificou sua cor original. Os instrumentos utilizados permitiram gestos
bastante fluidos, apesar da irregularidade do suporte.
3.5.2 Toca do Salitre (20)
As pinturas neste sítio estão dispostas em painéis horizontais e, na maior parte dos
casos, aproveitando os largos estratos de arenito localizados entre os veios de seixos
existentes no suporte rochoso. Algumas pinturas aparecem em áreas inclinadas da
parede, mas também dispostas lado a lado, formando painéis horizontais.
Fotografia 1: Escolha das áreas no suporte
179
Em uma dessas áreas inclinadas do suporte, uma composição emblemática do tipo
“frente-perfil”, com a maior figura medindo cerca de 40 cm, demonstra o domínio do
instrumento em relação à porosidade do suporte e as escolhas ou leis que regem sua
produção. O antropomorfo de frente apresenta morfologia retangular, com ângulos
laterais bem demarcados e produzidos com linhas finas e contínuas. As pernas em “v”
foram acrescentadas ao retângulo do corpo e aparecem com coxas grossas e
arredondadas, preenchidas com pintura uniforme e pés em 90º. Os braços aparecem
abertos e laterais, em alturas distintas e preenchidos uniformemente. A mão direita tem
quatro dedos e a esquerda três. A figura é do gênero masculino, com o falo entre as
pernas. Apesar de não apresentar a cabeça, tem traços verticais, na parte superior do
corpo, como ornamentação. Seu corpo foi preenchido por linhas curvas e triângulos nas
laterais e nas partes superior e inferior, todos feitos com linhas finas e contínuas.
Fotografia 2: Composição emblemática
A figura de perfil (mede cerca de 20 cm) tem o corpo todo preenchido por pintura
uniforme, uma barriga que sugere uma gravidez e os braços e as pernas dobrados, feitos
a partir de linhas fluidas, sem mãos ou pés. A cabeça da figura tem uma forma elíptica e
180
achatada lateralmente, dada por três círculos seqüenciais e, na parte inferior do corpo,
aparece uma estrutura retangular na extremidade.
No mesmo painel, aparecem outras figuras antropomorfas e alguns grafismos puros. O
primeiro antropomorfo da seqüência foi feito com a cor amarela e apresenta os braços
levantados e laterais, com três dedos nas extremidades. Seu corpo é alongado (medindo
cerca de 25 cm), com a extremidade superior arredondada e uma linha horizontal interna
formando a cabeça. Na parte inferior, as linhas laterais descem contínuas formando
parte das coxas, e, entre as pernas, a linha do corpo se fecha, fazendo um triângulo com
o falo no centro. As coxas continuam em amarelo com preenchimento uniforme e os pés
aparecem em 90º. O preenchimento do corpo é bastante complexo, formado por linhas
verticais fluidas e sinuosas, paralelas, em amarelo, e um complemento em vermelho nas
áreas intermediárias.
Fotografia 3: Figuras antropomorfas
Ao lado do antropomorfo amarelo aparece uma mancha que parece ter sido feita com o
dedo friccionado e arrastando a tinta bastante densa para baixo no suporte. Depois há
um antropomorfo (15 cm) com o preenchimento e as pernas em pintura uniforme
amarela e com o contorno do corpo, os braços e a cabeça em vermelho. Seu corpo é
estreito e alongado verticalmente. Suas pernas estão em “v”, bem abertas e com as
coxas arredondadas.
181
Fotografia 4: Antropomorfo com grafismos puros
À direita, aparece uma mancha de tinta, um grafismo puro feito com linhas grossas, um
outro antropomorfo e depois mais um grafismo puro. O antropomorfo, que mede
aproximadamente 20 cm, apresenta os braços produzidos por uma tonalidade de
vermelho (mais claro) diferente daquela utilizada para fazer o corpo, a cabeça e seu
preenchimento. Esta figura é semelhante à amarela, que aparece ao lado da composição
emblemática. Tem o corpo feito com contorno e, na parte superior, a divisão horizontal
do corpo com a cabeça. Esta foi preenchida por linhas, dando um caráter de pintura
uniforme, e apresenta-se com formato triangular. As pernas estão em “v”, com coxas
arredondadas preenchidas uniformemente e pés em 90º. O corpo foi preenchido em
amarelo e vermelho e sua parte inferior não está totalmente conservada. Os braços são
finos e tem três dedos nas mãos.
182
Fotografia 5: Painel com figuras geométricas na inclinação abaixo
Em um outro plano do suporte, agora vertical, outra seqüência de grafismos forma um
painel horizontal, com as figuras lado a lado.
Fotografia 6: Figura antropomorfa, grafismo puro e figuras zoomorfas
183
A primeira figura do painel (a partir do lado esquerdo) é um antropomorfo estreito, com
aproximadamente 15 cm, feito com as linhas de contorno em amarelo e preenchimento
em vermelho, feito com pintura uniforme. Seus braços estão abertos, lateralmente, na
altura dos ombros, e possuem três dedos nas extremidades. As pernas têm coxas
arredondadas, pés em ângulo menor que 90º e estão em “u”. Entre as pernas, parece ter
um falo em vermelho e, na parte superior do corpo, no topo da cabeça, linhas verticais.
Da ponta do seu dedo, segue uma linha amarela fina e contínua, que atinge o animal ao
seu lado. Entre as duas figuras há uma forma geométrica triangular, feita com uma das
linhas grossa, em tinta vermelha, e as outras finas, como se tivessem sido produzidas
com o ocre puro, sem aglutinante.
A figura zoomorfa ao lado faz parte de uma fila de cinco indivíduos e mede cerca de 15
cm. Este animal, que parece uma capivara, foi feito a partir de uma linha de contorno
com posterior preenchimento uniforme, feito com manchas de tinta. Não é possível
afirmar nada sobre o formato do focinho na sua cabeça, pois já nos primeiros cromos do
sítio, produzidos na década de 80, esta parte havia sido retirada. Supõe-se que era
arredondado na extremidade, pois os outros da fila o são. Seu corpo apresenta os
ângulos do contorno bem demarcados e não-contínuos, a linha do ventre é levemente
curva, as quatro patas são finas e bifurcadas nas extremidades, as orelhas finas e
arredondadas, e tem um rabo bem pequeno, formado por um ângulo pontiagudo na
traseira do animal. Entre a cabeça e as patas, aparece um traço já bastante apagado que
parece estar sendo sobreposto pelo animal.
O segundo zoomorfo da linha é bem menor que o primeiro (mede uns 4 cm) e tem uma
cabeça relativamente desproporcional em relação ao corpo. Tem o focinho arredondado,
assim como as orelhas, as quatro patas bifurcadas, um rabo na parte superior da traseira
e foi preenchido por pintura uniforme.
O terceiro e o quarto (10 e 5 cm) apresentam a mesma técnica de produção do segundo,
mas o suas cabeças não são desproporcionais e seus rabos são formados por um ângulo
pontiagudo, ao contrário do segundo, que tem o rabo arredondado.
O quinto animal (mede cerca de 8 cm) é o único amarelo. Ele é muito semelhante ao
segundo, em relação à técnica, tendo quase o dobro da medida do tamanho. Para uma
184
capivara, seu rabo é bastante grande, pois geralmente, este animal foi representado sem
o rabo.
Fotografia 7: Zoomorfos em linha e figura antropomorfa
Ao lado da figura zoomorfa amarela, aparece um antropomorfo sem a cabeça, medindo
cerca de 15 cm. Tem os braços levantados, na altura dos ombros, com três dedos, as
pernas em “v” sem coxas, com pés em 45º e um falo entre as pernas. Seu corpo tem a
forma quadrada, mas com as arestas arredondadas e ele foi feito com uma linha de
contorno contínua e, posteriormente, preenchido por manchas de tinta, dando o aspecto
de pintura uniforme. Seus traços são bastante finos, apesar da irregularidade do suporte.
Um pouco mais adiante, há vários antropomorfos lado a lado e alguns traços ou figuras
incompletas. A primeira figura antropomorfa (da esquerda para a direita do painel)
mede cerca de 20 cm, é bicromática e apresenta um preenchimento bastante complexo,
feito com linhas finas, em várias direções, em vermelho e amarelo, ocupando todo o
espaço interno, e tem o contorno em amarelo. As pernas têm coxas bastante
arredondadas e preenchidas com uma linha vermelha central, pintura uniforme em
amarelo, em volta, novamente vermelho e contorno em amarelo, que desce reta e
185
apresenta os pés em 90º na extremidade. Os braços estão abertos lateralmente na altura
dos ombros e estão contornados com uma linha vermelha na parte superior, subindo até
a cabeça. Nas mãos, apresenta três dedos.
Fotografia 8: Figuras antropomorfas
A segunda figura é menor ( cerca de 15 cm) e foi, possivelmente, feita toda em amarelo
preenchida com pintura uniforme. As pernas estão em “v” e apresentam coxas
arredondadas e pés em 90º. Seus braços estão abertos lateralmente na altura dos ombros
e, nas mãos, aparecem três dedos. Depois que a figura antropomorfa estava formada,
com todas as características essenciais para seu reconhecimento, acrescentou-se um
contorno com tinta vermelha em todo ele, deixando as mãos e os pés com “contorno
aberto”.
A terceira figura mede cerca de 25 cm, tem as pernas em “u” com coxas arredondadas
feitas com pintura uniforme amarela e pés em 45º. Os braços estão abertos lateralmente,
na altura dos ombros e nas mãos aparecem três dedos. Seu corpo foi preenchido com
três pequenos círculos vermelhos na parte inferior e “vês” em vermelho na parte
superior. A área que envolve os círculos e os “vês” é amarela e delimitada por uma
linha vermelha fina e contínua, que parte de uma das coxas, sobe até a cabeça, fazendo
uma curva e descendo até a outra coxa. Posteriormente, uma linha amarela contorna a
186
linha vermelha, formando as linhas dos braços, das pernas e da cabeça e finalizando
aparece um contorno, todo em linha vermelha, ao longo de toda a figura.
Fotografias 9 e 10: Figuras antropomorfas
A quarta figura é bastante complexa, medindo cerca de 20 cm, seu corpo apresenta uma
morfologia distinta de todas as outras anteriormente descritas. A postura do
antropomorfo é a mesma dos outros: braços abertos lateralmente, na altura dos ombros,
pernas em “u”, com as coxas arredondadas e pés em 90º. A parte interna do corpo foi
toda preenchida por linhas vermelhas e amarelas e a parte externa com linhas finas e
curvas, formando semicírculos laterais.
Fotografia 11: Figuras antropomorfas
A quinta figura (20 cm) e muito semelhante à segunda, mas a linha externa é mais fina e
mais clara que a segunda e não tem contorno na parte inferior e, ao contrário da
187
segunda, nesta, o contorno não encosta na parte amarela, há um espaço entre as duas
cores, aparecendo o suporte rochoso.
A sexta figura é maior (mede cerca de 25 cm) e bastante esguia. As pernas estão em
“v”, possuem coxas preenchidas uniformemente em amarelo e pés em 45º. As
extremidades do seu corpo são arredondadas e produzidas com contorno em amarelo e
preenchimento uniforme em vermelho. Seus braços estão abertos lateralmente em
alturas distintas e feitos com uma linha fina, única e contínua, com dedos nas
extremidades.
A sétima figura (20 cm) teve a parte interna toda desgastada, mas aparecem, ainda, a
linha de contorno vermelha, que foi poupada, com alguns pedaços pequenos em amarelo
junto a ela, e os braços, as pernas e a cabeça. As pernas têm coxas arredondadas,
preenchidas com pintura uniforme na cor vermelha, os pés em 45º e um falo entre as
pernas. Os braços são finos e têm três dedos nas extremidades e a cabeça é vermelha na
parte interna, com uma linha de contorno amarela e três traços verticais, ornamentando-
a, no topo.
A próxima figura antropomorfa (15 cm) da seqüência aparece deslocada obliquamente
com relação à figura anterior e à nona figura. Foi feita com contorno em linha vermelha
em todo o corpo, inclusive em suas pernas e braços e preenchimento interno em
amarelo. Os pés aparecem em 45º com a linha das pernas, a cabeça é arredondada na
extremidade e tem três traços em amarelo no topo.
Fotografia 12: Figuras antropomorfas e zoomorfo
O nono antropomorfo (20 cm) da linha tem o corpo retangular, com os ângulos
superiores arredondados, feito com contorno em amarelo, e preenchimento em amarelo
188
e vermelho, feito com linhas finas e contínuas. Os braços aparecem abertos
lateralmente, na altura dos ombros e com três dedos nas mãos. As pernas apresentam
coxas bastante arredondadas, em “u”, com pintura uniforme em amarelo, com pés em
45º e um falo entre elas, em vermelho. A cabeça com formato retangular, foi produzida
a partir de três linhas verticais em vermelho, intercaladas por quatro linhas verticais em
amarelo.
A décima figura mede cerca de 15 cm, tem os braços em amarelo abertos lateralmente,
três dedos nas mãos, coxas arredondadas e preenchidas por pintura uniforme amarela,
pés em 45º, um falo em vermelho entre as pernas e o corpo retangular na parte inferior e
arredondado na parte superior, formando a cabeça e feito com contorno amarelo e
preenchido com “vês” em amarelo intercalados com “vês” em vermelho e, no topo da
cabeça, aparecem três linhas diagonais em amarelo e duas linhas em vermelho entre
elas.
A próxima figura é maior que a décima (mede cerca de 25 cm) e bem mais esguia. Seu
corpo foi feito com as linhas de contorno vermelhas, fluidas e contínuas, bem curvas
nas extremidades superior e inferior e preenchido com uma linha vertical em amarelo.
As pernas, em “v” apresentam as coxas arredondadas, feitas com contorno em vermelho
e preenchimento em amarelo e pés em 90º. Entre as pernas, há um falo feito com tinta
amarela. Seus braços estão abertos lateralmente, mas são diferentes. Um deles apresenta
contorno em vermelho e preenchimento em amarelo e extremidade em vermelho, assim
como as pernas, e o outro tem o contorno em amarelo, com preenchimento em vermelho
e extremidade também em vermelho. Na cabeça, há uma ornamentação feita com linhas
diagonais vermelhas e amarelas.
Fotografia 13: Antropomorfos e zoomorfo
189
No espaço existente entre a décima primeira e a décima terceira, aparecem duas figuras,
uma antropomorfa e uma zoomorfa. A figura antropomorfa tem o formato do corpo
arredondado e o tamanho (mede cerca de 10 cm, sendo a menor delas) diferente dos
outros antropomorfos deste painel, mas demonstra tanta habilidade por parte de seu
autor, quanto às outras. Seu corpo é circular, com um ângulo agudo na parte superior
formando a cabeça. Seus braços estão abertos lateralmente, apresentando três dedos nas
extremidades e um deles sobrepõe parcialmente o braço da figura ao seu lado. As pernas
têm coxas arredondadas, preenchidas com pintura uniforme amarela, pés em 90º e se
encontram em posições distintas, sugerindo um leve movimento à figura. Entre as
pernas, aparece um falo feito com uma linha vermelha, e, na parte superior do corpo,
formando a cabeça, aparecem três traços, dois amarelos e um vermelho no centro. O
corpo desta figura foi preenchido por círculos concêntricos nas cores amarela e
vermelha intercaladas e uma linha central vermelha.
O zoomorfo, que parece uma capivara e se encontra abaixo, foi feito com pintura
uniforme na cor vermelha, orelhas finas e arredondadas nas extremidades, cabeça
arredondada e as quatro patas bifurcadas. Mede aproximadamente 10 cm e tem as patas
traseiras estendidas para trás do corpo, dando um leve movimento de salto à figura. Um
ângulo agudo, formado pela junção da extremidade do dorso com a traseira do animal,
dá forma ao seu rabo.
O próximo antropomorfo (20 cm) na seqüência é similar à décima primeira figura, mas
ao contrário das outras figuras antropomorfas do painel, em um dos pés apresenta três
dedos, sendo um deles em amarelo e, no outro pé, uma mancha redonda. Nas mãos,
aparecem três dedos, como nas outras figuras, mas o dedo do meio de uma das mãos é
amarelo.
A figura seguinte parece ser um grafismo puro, composto por duas linhas retas paralelas
verticais, duas linhas paralelas sinuosas e mais duas linhas retas verticais paralelas,
todas em vermelho escuro, mas bastante transparentes.
Depois, aparece um grafismo irreconhecível, formado por duas linhas espelhadas em
vermelho, sem preenchimento e sobrepondo uma mancha feita, possivelmente, com
ocre puro.
190
Mais três figuras compõem este painel. Duas delas, juntas, compõem um emblemático
do tipo “frente-perfil”, mas a primeira figura tem uma linha que segue contínua até
encostar na terceira figura, incluindo-a na cena.
A figura que está de frente, compondo o emblemático, mede cerca de 25 cm, tem o
corpo alongado formado por uma linha de contorno vermelha e uma linha amarela
preenchendo-o. As pernas estão em “v” e tem as coxas arredondadas, feitas com
contorno em vermelho e os pés em 90º. Dentro das coxas há um preenchimento com
pintura uniforme amarela e, fora delas, uma linha da mesma cor do preenchimento,
envolvendo-as. Entre as pernas, aparece o falo em amarelo. Na parte superior, aparecem
os braços, com uma parte arredondada em vermelho, com preenchimento em amarelo, e
cada extremidade com três dedos, toda em vermelho. Sobre a cabeça, duas linhas
vermelhas, com uma amarela entre elas, ornamentando-a.
A figura que aparece de perfil (10 cm), parece sentada, é menor e foi feita somente com
a cor vermelha. Tem os braços e as pernas voltados para o mesmo lado, dobrados, o
corpo alongado e feito com a linha de contorno, sem preenchimento e com as
extremidades arredondadas. No topo da cabeça, aparecem duas linhas, ornamentando-a.
Uma figura, toda em amarelo, medindo cerca de 15cm, feita com linhas finas parece
representar uma figura antropomorfa de perfil, na postura típica da figura de perfil das
composições emblemáticas. Seu corpo é arredondado, largo e com a extremidade
inferior arredondada. Na lateral, aparecem as duas pernas dobradas e voltadas para o
mesmo lado e parte dos braços levantados, voltados para o mesmo lado. A parte
superior desta figura sofreu desplacamento, o que dificulta sua visualização. Na parte
interna do corpo, aparece uma linha sinuosa e fina, formando uma figura fechada.
191
Fotografia 14: Composição emblemática
Na seqüência encontram-se duas aves (cerca de 10 cm cada) sobre uma linha que sugere
um galho e são muito bem produzidas. A parte aonde aparece a cabeça de uma delas
apresenta um desnível no suporte, que não parece ter incomodado seu autor, pois
mesmo com o desnível, a pintura continua indiferente. As duas foram feitas com pintura
uniforme na cor amarela com linhas formando a cauda e coxas arredondadas. Suas patas
são bifurcadas, seus corpos semicirculares, seus pescoços longos e suas cabeças
arredondadas, com a representação dos bicos com uma parte pontiaguda.
Fotografias 15 e 16: Aves e detalhe da superfície pintada em desnível
192
Em outra parte do suporte aparece outro painel, também com as figuras dispostas
horizontalmente. A primeira delas parece incompleta, mas é bastante complexa e feita
com os traços bem delicados. Este grafismo mede aproximadamente 20 cm e foi todo
feito com tinta amarela. Ele é composto por duas linhas verticais paralelas e entre elas,
um preenchimento geométrico simétrico, com quadrados, triângulos, “vês” e linhas.
Fotografias 17, 18 e 19: Figuras antropomorfas esquemáticas
A próxima figura na seqüência é claramente um antropomorfo, mede cerca de 20 cm e
tem os braços abertos e levantados lateralmente, com três dedos em cada mão. Seu
corpo foi todo feito com tinta amarela, com coxas arredondadas uniformemente
preenchidas, pés em 90º, a cabeça preenchida por manchas, que visualmente parecem
uma pintura uniforme, e, internamente, seu corpo apresenta linhas amarelas em diversas
direções e, em algumas áreas, com preenchimento em vermelho entre elas. Depois de
completa, à figura foi acrescido um contorno em vermelho, na sua cabeça e nas laterais
do corpo.
A figura seguinte foi feita toda em vermelho e com linhas extremamente finas. Este
antropomorfo tem o corpo largo e mede aproximadamente 30 cm de altura. Seu corpo
apresenta a parte inferior retangular e a parte superior arredondada e foi preenchido por
linhas retas horizontais com linhas verticais sinuosas e contínuas. Seus braços estão
abertos lateralmente na altura dos ombros, são finos e tem três dedos nas mãos. Suas
pernas têm as coxas arredondadas, preenchidas uniformemente, e os pés em 90º. A
cabeça foi preenchida por manchas de tinta, dando à mesma um caráter de pintura
uniforme.
193
Outra figura, que parece um antropomorfo incompleto, mede cerca de 15 cm e aparece
mais afastada e isolada no suporte. Foi produzida com duas linhas laterais e entre elas,
“vês” e “vês” invertidos e, na parte superior, aparecem quatro linhas verticais.
Mais adiante no suporte rochoso há um outro painel com as figuras dispostas lado a lado
e, abaixo delas, uma seqüência de várias figuras zoomorfas que parecem gatos do mato,
iguais enfileirados. A primeira figura é uma ave (15 cm) que se encontra com o corpo
de frente e a cabeça de perfil. Suas asas estão abertas e foram feitas com uma linha
diagonal lateral, com várias linhas a ela perpendiculares e paralelas entre si. Seu
pescoço é fino e comprido e em sua cabeça aparece o bico bastante comprido e feito
com pintura uniforme. É interessante notar a precisão do autor na representação da área
do corpo de onde saem os pés, como se houvesse uma abertura nas penas. Seus pés são
trifurcados e na lateral inferior do corpo aparece parte da cauda feita com linhas.
Fotografias 20 e 21: Figuras antropomorfas e zoomorfas com fila de zoomorfos abaixo
Depois da ave, aparecem duas figuras bem próximas medindo 20 e 10 cm, que parecem
formar uma composição emblemática do tipo “frente-perfil”. A primeira delas aparece
de perfil, com o corpo fino e comprido feito com uma linha somente e parece ter as
pernas laterais.
A outra figura aparece de frente e tem o corpo contornado com linha vermelha escura e
preenchimento em amarelo com duas linhas verticais paralelas em vermelho. Suas
pernas têm coxas arredondadas e preenchidas uniformemente aparecendo em “v” e pés
em 90º. Os braços estão levantados e esticados e seguem o mesmo padrão das pernas,
194
mas apresentam três dedos nas extremidades. A cabeça é arredondada e feita com tinta
vermelha.
O antropomorfo que aparece na seqüência é maior e mede aproximadamente 30 cm e foi
feito em amarelo, com preenchimento em vermelho. Suas pernas aparecem em “u”, com
coxas arredondadas em amarelo e pés em 90º. Os braços estão levantados lateralmente
na altura dos ombros e têm três dedos nas mãos. Sua cabeça é arredondada e preenchida
uniformemente com tinta amarela. O corpo apresenta linhas amarelas em várias direções
e entre elas, uma pintura em vermelho.
Após um desnível do suporte aparece uma figura pequena (medindo cerca de 10 cm) de
perfil, toda feita em vermelho, com preenchimento de pintura uniforme. Ela aparece em
uma das posições típicas das composições emblemáticas de tipo “frente-perfil” e
aparece simetricamente representada.
Com o mesmo tamanho, na seqüência há um animal que parece preso à mão de um
antropomorfo. Este zoomorfo (5 cm) tem as quatro patas esticadas em postura estática,
com as extremidades arredondadas. Seu focinho é fino, comprido e arredondado e seu
rabo é longo e aparece levantado. O corpo foi todo preenchido com pintura uniforme e
tem duas orelhas pequenas e levantadas no topo da cabeça. Atrás das orelhas aparece
uma linha contínua, que segue até a mão do antropomorfo seguinte do painel.
O antropomorfo (30 cm) foi feito com a linha de contorno amarela, retangular na parte
inferior, com um falo entre as pernas, coxas arredondadas com preenchimento uniforme
e pés em 90º. Os braços seguem contínuos por uma das linhas em “v”, que forma o
preenchimento do corpo da figura, e aparecem levantados lateralmente e com três dedos
nas extremidades. A cabeça é arredondada e preenchida com tinta amarela. Seu corpo
tem um preenchimento complexo com linhas amarelas em várias direções e, entre elas,
ocupando o restante do espaço interno, linhas vermelhas.
195
Fotografias 22 e 23: Antropomorfos bicromáticos
A figura seguinte mede cerca de 30 cm e foi toda feita com tinta amarela e um de seus
pés sobrepõe um dos zoomorfos enfileirados na parte inferior. Seus braços são bem
curtos, estão levantados lateralmente e têm dedos três dedos nas mãos. A parte inferior
de seu corpo é retangular e a parte superior é arredondada, formando a cabeça, toda em
amarelo. Suas pernas tem coxas arredondadas e preenchidas uniformemente, com os pés
em 45º. O interior de seu corpo foi preenchido por triângulos espelhados nas laterais
formando losangos em negativo no centro.
O antropomorfo (30 cm) que aparece ao lado foi feito em amarelo, com o
preenchimento de algumas áreas em vermelho. Apresenta as pernas com coxas
arredondadas e pés em 90º. Entre as pernas, aparece o falo em amarelo. Assim como as
outras figuras, os braços aparecem levantados lateralmente e com três dedos nas
extremidades.
Ao lado desta figura, parece ter havido uma figura antropomorfa menor (20 cm), em
amarelo, mas está muito apagada, dificultando qualquer afirmação. Mais adiante, há um
desnível no suporte rochoso e mesmo com este desnível a linha de zoomorfos aparece
contínua, um dos animais foi pintado exatamente nesta parte inclinada, mantendo a
relação espacial anteriormente existente entre os outros zoomorfos da fila.
Na parte mais para fora do suporte, os grafismos continuam. A primeira figura após o
desnível mede cerca de 40 cm e foi feita ocupando todo espaço de arenito existente
196
entre os estratos cascalhosos do suporte. Feito a partir de uma linha de contorno em
amarelo bastante fina e contínua, apresenta os braços abertos lateralmente e as pernas
com coxas preenchidas por pintura uniforme. Seus pés sobrepõem os zoomorfos que se
encontram enfileirados abaixo e sua cabeça aparece estreita na área aonde foi pintada.
Seu preenchimento interno apresenta semicírculos laterais, feitos com linhas amarelas e
vermelhas No centro, foi preenchido por pontos e na parte inferior, por “vês” invertidos
em vermelho e amarelo.
A última figura antropomorfa (30 cm) deste painel também foi feita ocupando toda a
área de arenito disponível verticalmente e apresenta a mesma posição da figura ao lado,
diferenciando-se apenas na largura e no tipo de preenchimento do corpo. A parte
superior interna foi pintada com linhas verticais amarelas e vermelhas, intercaladas no
centro com a cor do suporte (linha em negativo) e na parte inferior com linhas em zig-
zag também em amarelo e vermelho.
Depois da última figura antropomorfa, aparecem ainda cerca de nove zoomorfos (cerca
de 5 cm cada) seguindo a seqüência daqueles enfileirados.
Quando a linha de zoomorfos acaba, inicia-se outro painel. A primeira figura é um
antropomorfo, representado com o corpo largo e medindo cerca de 30 cm, aproveitando
toda a parte de arenito presente entre dois estratos cascalhosos. Seus braços estão
abertos lateralmente e apresentam dedos nas extremidades. A figura foi feita com
contorno em linha amarela e preenchimento feito por linhas verticais intercaladas em
vermelho e amarelo. Sua cabeça é arredondada na parte superior e preenchida por
pintura uniforme amarela. Suas pernas estão em “u” e têm coxas arredondadas
preenchidas uniformemente, com pés em 45º.
Na seqüência aparecem duas figuras zoomorfas, que parecem representar capivaras, em
amarelo, preenchidas por pintura uniforme e medindo cerca de 10 cm, cada uma. Elas
apresentam as quatro patas bifurcadas e, relativamente, estáticas. Seu corpo apresenta a
linha dorsal reta e a linha ventral levemente curva. O encontro das duas linhas na parte
superior traseira forma o rabo do animal em ângulo pontiagudo. Suas cabeças são
arredondadas na parte do focinho e têm duas orelhas arredondadas nas extremidades.
197
Fotografias 24 e 25: Figura antropomorfa e capivaras em amarelo
As próximas figuras reconhecíveis juntas formam uma composição emblemática do tipo
“frente-perfil”. O antropomorfo que aparece de frente mede aproximadamente 40 cm e
foi produzido com tinta amarela na cabeça, nos braços, nas pernas, nas coxas e no
contorno do corpo. Seu preenchimento foi feito com tinta vermelha e linhas amarelas
em diversas direções. Sua postura é semelhante à dos outros antropomorfos do painel,
braços abertos lateralmente e pernas em “u”, com pés em 90º. O falo aparece entre suas
pernas.
Fotografia 26: Composição emblemática
A figura de perfil mede cerca de 20 cm e parece estar sentada e apresenta o corpo fino,
formado por uma linha de contorno em vermelho, com as extremidades arredondadas e
198
preenchidas por pintura uniforme. Seus braços e pernas estão laterais e dobrados,
voltados para o lado em que aparece a figura de frente. Suas pernas têm coxas grossas e
seu corpo foi preenchido com tinta amarela. Esta figura não tem nem mãos nem pés.
Fotografia 27: Antropomorfos e zoomorfo
Ao lado da composição emblemática, aparece uma figura zoomorfa que parece uma
onça de perfil, medindo cerca de 20 cm, com a cauda comprida e levantada, com o
corpo arredondado, feito com a linha de contorno um pouco mais espessa que as linhas
que aparecem na produção das figuras antropomorfas, em tinta vermelha e sem
preenchimento. Sua cabeça é arredondada e tem as orelhas bem pequenas e separadas
como se estivesse de frente. As quatro patas são finas, com as extremidades formadas
por um traço diagonal.
Abaixo do zoomorfo aparece um grafismo simétrico lateralmente, medindo cerca de 15
cm, feito com linhas amarelas finas e sem contorno.
Uma figura bastante esguia aparece após uma mancha de tinta vermelha, ainda abaixo
da figura zoomorfa. Foi produzida a partir de uma única linha, fina e contínua, medindo
aproximadamente 20 cm, com traços junto da extremidade superior. Na parte inferior,
nas laterais da linha, aparecem as pernas formadas por duas coxas grossas, feitas
199
somente com contorno, e uma linha que desce reta e depois faz um ângulo de 90º,
representando os pés.
Ao lado, há outra figura antropomorfa na cor amarela, com corpo retangular, medindo
cerca de 20 cm, e preenchida com linhas em diversas direções, linha de contorno com
ângulos levemente arredondados, pernas com coxas grossas e pés em 90º. Seus braços
são curtos e estão levantados, possuindo três dedos formando as mãos. Não apresenta a
cabeça, mas tem, na parte superior do corpo, traços verticais ornamentando-o.
A figura seguinte parece ter sido pintada com a mesma tinta utilizada para fazer o
zoomorfo que aparece acima, pois seu contorno foi feito com uma linha grossa
vermelha, com a mesma densidade da tinta que aparece na outra figura. Seu corpo é
retangular, mede cerca de 20 cm, e sobrepõe a parte dianteira do corpo de um animal
igual àqueles que aparecem enfileirados. O antropomorfo tem os braços curtos, parece
ter três dedos em uma das mãos e tem as pernas grossas, com pés laterais em 90º. Seu
corpo foi preenchido por linhas horizontais, relativamente paralelas, em zig-zag.
Na seqüência, aparecem dois antropomorfos semelhantes (15 cm cada), mas com as
cores invertidas. Os dois têm os braços grossos abertos lateralmente, na altura dos
ombros, o corpo feito com a linha de contorno da mesma cor dos braços e da cabeça,
pequena e arredondada, e das pernas, que tem coxas grossas e arredondadas e pés em
90º. Seus corpos são preenchidos por pintura uniforme, de cor diferente do resto do
corpo. Um foi feito com a linha de contorno amarela e o preenchimento em vermelho e
o outro com a linha de contorno em vermelho escuro e preenchimento em amarelo.
A grande figura (30 cm) seguinte tem o corpo largo e retangular, levemente abaulado
nas laterais e preenchido por linhas em zig-zag curvas e linhas retas em amarelo e
vermelho. Sua cabeça é retangular, com bordas curvas e preenchida por pintura
uniforme vermelha. Os braços aparecem abertos lateralmente e com três dedos nas
extremidades e as pernas têm coxas arredondadas preenchidas uniformemente e pés em
90º. Entre as pernas, aparece o falo.
200
Fotografias 28 e 29: Cervídeo e antropomorfos
Ao lado do grande antropomorfo, há um cervídeo de perfil, medindo cerca de 30 cm,
representado com as patas dianteiras dobradas, como se iniciasse um salto. Seu corpo é
retangular na parte dianteira e levemente arredondado na parte traseira. O contorno foi
todo feito em vermelho e sua cabeça apresenta preenchimento uniforme e duas orelhas.
As quatro patas são bifurcadas e têm coxas arredondadas. Seu rabo é vermelho e o
preenchimento do seu corpo feito em cinco áreas separadas: a parte traseira toda feita
em linhas amarelas, depois uma área feita com linhas vermelhas, outra área em amarelo
com uma parte do suporte aparente, uma área com linhas vermelhas e uma forma
arredondada preenchida por tinta amarela, e a área do peito em preenchimento uniforme
amarelo.
Na seqüência há outro antropomorfo grande (medindo quase 40 cm) feito com contorno
em vermelho, com os ângulos inferiores bem demarcados e a cabeça arredondada. Seus
braços estão abertos lateralmente, na altura dos ombros e têm três dedos nas
extremidades, formando suas mãos. As pernas estão em “u”, apresentando coxas
arredondadas, preenchidas por pintura uniforme e pés em 90º. Seu corpo foi todo
preenchido por linhas finas vermelhas preenchidas por pintura uniforme na cor amarela.
Entre suas pernas, aparece o falo acrescentando à figura a representação do gênero
masculino.
Entre o cervídeo e a figura antropomorfa, aparece uma figura de perfil (menor que 10
cm) que parece ter sido posteriormente acrescentada ao painel. Esta figura antropomorfa
está em uma das posições típicas das composições emblemáticas de tipo “frente-perfil”
201
e parece ter sido acrescentada a fim de formar um emblemático com a grande figura
masculina de frente ao seu lado. Apresenta os braços e as pernas laterais e curvos, como
se estivessem dobrados e o corpo feito com uma linha de contorno vermelha e uma
linha interna preenchendo-a.
Fotografia 30: Figuras antropomorfas lado a lado
Mais a direita do painel, aparecem duas figuras antropomorfas masculinas, medindo
cerca de 15 cm cada, lado a lado. As duas estão na mesma posição e foram feitas com a
linha de contorno alongada e curva nas extremidades, sem preenchimento, a cabeça
ornamentada por traços no topo, braços e pernas abertos lateralmente, com mãos e pés
com dedos nas extremidades.
Em uma segunda área do sítio, com o abrigo mais profundo, existem outros painéis. A
maior parte dos grafismos foi produzida nas partes de arenito existentes entre os veios
cascalhosos.
Uma onça de perfil, medindo aproximadamente 20 cm é o primeiro (da esquerda para
direita) animal representado. Suas patas, feitas a partir de traços diagonais, dão um leve
202
movimento à figura, que apresenta o rabo comprido levantado, o pescoço espesso, a
face arredondada, as orelhas pequenas e separadas e o focinho representado com
bigodes. O corpo deste animal foi pintado a partir de uma linha de contorno levemente
curva na parte ventral, que sobe retilínea e sem descontinuidade do traço pela sua
traseira, formando o rabo. A cabeça foi preenchida por pintura uniforme, o corpo por
manchas que não chegam a encostar no contorno, dando o aspecto da pelagem
característico da onça-pintada e suas patas têm pintura uniforme e extremidades
arredondadas.
Fotografia 31: Onça
Mais adiante no painel, há um cervo de perfil, que ao contrário dos outros grafismos do
sítio, extrapola a área de arenito, apresentando sua cabeça e uma das patas pintados
sobre a piçarra do suporte rochoso. Seu corpo tem a forma de um trapézio, feito com
uma linha de contorno bastante densa e espessa e preenchimento feito com um
pigmento relativamente seco, que parece não ter uma boa absorção por parte do suporte
e não respeita a linha de contorno. Esta figura mede cerca de 40 cm. Seu pescoço foi
feito com uma linha contínua, a partir da linha de contorno do peito do animal, e
posteriormente engrossado com traços laterais. Sua cabeça é arredondada e tem as
203
orelhas finas. As patas são largas, com coxas triangulares, bifurcadas nas extremidades
e foram representadas como se o cervo estivesse saltando. O rabo foi feito a partir do
encontro de duas linhas que formam a traseira do animal.
Fotografia 32: Cervídeo
Outro animal, também feito com uma tinta densa, parece não ter sido terminado. Sua
forma sugere a utilizada na representação dos cervos e apresenta em seu interior uma
intrusão, feita posteriormente, que repete sua forma, com tinta branca bastante diluída.
Fotografia 33: Figura “inacabada” e fila de capivaras
204
Na seqüência do painel, há uma fila com cinco capivaras. As quatro primeiras têm seu
tamanho reduzido paulatinamente e a última é quase do tamanho da primeira (cerca de
10 cm). As duas maiores, a primeira e a última aparecem atingidas por instrumentos de
caça. Se traçada uma linha reta imaginária abaixo das extremidades das patas dos cinco
animais, ver-se-á, que eles foram representados em um plano diagonal linear
exatamente acima da irregularidade e inclinação do suporte rochoso. Os cinco foram
produzidos a partir de uma linha de contorno fina e contínua, com a cabeça arredondada
e a parte traseira retangular, as orelhas em “v” bastante delicadas e as patas finas e
bifurcadas. Como preenchimento, apenas o menor deles aparece com uma linha interna,
os outros quatro foram pintados com manchas de tinta que visualmente dão o aspecto de
pintura uniforme. O instrumento de caça que aparece atravessando a cabeça dos animais
é linear, fino, com uma das extremidades em “v” e a outra circular, possivelmente
representando a parte utilizada pelos homens para segurar o instrumento.
Ainda no mesmo painel, aparece um cervídeo medindo cerca de 40 cm, feito com o
preenchimento do corpo bastante complexo. O domínio por parte do autor, tanto do
instrumento quanto da irregularidade do suporte rochoso, é visível na representação
deste cervídeo. Seu contorno foi feito com uma linha estreita vermelha, contínua e
curva, que deu ao seu corpo um aspecto arredondado. Seu rabo é fino e foi feito com um
único traço, bastante preciso. Duas linhas paralelas que tiveram preenchimento por
pintura uniforme formam seu pescoço e sua cabeça. Na parte central do topo da cabeça
há uma galha única ramificada representando o gênero (masculino) do animal e não há
orelhas. Suas patas traseiras são finas, feitas com traço contínuo, e bifurcadas nas
extremidades. As patas dianteiras são diferentes: têm as extremidades trifurcadas, sendo
que, em uma delas aparece um círculo preenchido em uma das pontas e na outra aparece
o mesmo círculo na parte da perna, além de possuir o traço que forma uma das pernas
produzido com mais de um traço. Seu corpo apresenta-se internamente dividido por três
linhas verticais vermelhas envolvidas por linhas amarelas paralelas, que formam quatro
áreas distintamente preenchidas. A parte da frente foi preenchida com linhas sinuosas
em vermelho intercaladas por linhas amarelas. Na segunda parte, após a linha amarela
foram feitas linhas curvas intercaladas em vermelho e amarelo, formando dois
semicírculos, e, do outro lado três semicírculos em amarelo, sem preenchimento. A
terceira área foi pintada com três linhas horizontais em vermelho, envolvidas por linhas
amarelas e linhas verticais retas na parte superior e linhas verticais sinuosas na parte
205
inferior, ambas intercaladas com linhas paralelas em amarelo, e, na parte posterior,
foram feitos pequenos pontos de tinta amarela, preenchendo o espaço existente entre a
linha que divide as áreas e a linha de contorno da traseira do animal. Este cervo
apresenta um movimento evidenciado a partir da posição em que se encontram as suas
patas dianteiras.
Fotografia 34: Cervídeo bicromático
Atrás deste cervo aparecem inscrições de nomes riscados profundamente no suporte,
após a descoberta do sítio e produção dos primeiros slides. Mais adiante existem outros
grafismos.
Uma grande figura (40 cm) aparece junto a alguns grafismos menores ramificados. Esta
figura tem a forma do corpo quadrada, preenchida por quadrados menores, um dentro
do outro, mas sem os ângulos do quadrado externo bem demarcados. Apresenta dois
braços laterais, abertos, com extremidades trifurcadas e na parte inferior do corpo, uma
estrutura que parece formar as pernas, mas que não é possível afirma-las como tal.
Apresenta um pescoço comprido preenchido por linhas paralelas e uma cabeça
206
arredondada. Este grafismo parece mais com a representação das aves, apesar dos
braços laterais, que com as características apresentadas pelos antropomorfos.
Fotografia 35: Figura zoomorfa
Na seqüência, aparece uma figura que parece repetir toscamente a forma dos tatus,
representados mais adiante. Os dois tatus (cerca de 10 cm cada) apresentam suas
carapaças formadas por linhas curvas contínuas e paralelas. Suas patas apresentam
coxas triangulares preenchidas por pintura uniforme e pés trifurcados. As cabeças
aparecem relativamente triangulares e têm duas orelhas bem finas no topo. Os rabos são
largos na parte proximal do corpo e finos e pontiagudos na parte distal.
Fotografia 36: Tatus e figuras antropomorfas
207
Um antropomorfo (10 cm) feito com uma tonalidade de vermelho mais clara que a
utilizada na pintura dos tatus foi acrescentado à cena, segurando a cauda de um deles e
“complementando” o desenho com três traços na ponta de seu rabo. O antropomorfo
aparece relativamente de perfil, tem o corpo estreito, feito a partir de duas linhas
paralelas que formam seu contorno, cabeça preenchida uniformemente, braços
esticados, pernas em “v” sem coxas e com pés em 90º voltados para fora, e um falo
entre as pernas.
Fotografia 37: Detalhe do antropomorfo segurando o rabo do tatu
Depois de um desnível do suporte aparece outro antropomorfo. Ele mede cerca de 15
cm e foi feito com linhas de contorno paralelas e contínuas, pernas em “v”, com coxas
grossas e arredondadas preenchidas por pintura uniforme e pés em 90º. Seus braços
estão levantados e têm três dedos nas extremidades. Sua cabeça é pequena e foi
preenchida por pintura uniforme e seu corpo apresenta um desenho na parte interna feito
com “vês” paralelos verticalmente.
208
Fotografia 38: Figuras antropomorfas e composição emblemática
Ao lado do antropomorfo, há uma figura que parece representar um antropomorfo (25
cm) na postura de perfil, típica das composições emblemáticas de tipo “frente-perfil”. É
uma figura que apresenta poucos caracterizadores, mas os que apresenta, são essenciais
para o reconhecimento do emblemático: seus braços estão levantado e curvos na altura
da cabeça, seu corpo é esguio e a parte inferior de seu corpo aparece curva, como se a
figura estivesse sentada. Seu corpo tem a extremidade superior aberta e é formado por
três linhas paralelas, sendo que uma delas, a que forma o contorno das costas do
antropomorfo é um pouco mais espessa que as outras duas.
Na seqüência, aparece um antropomorfo pequeno (medindo menos de 10 cm) com as
pernas e os braços abertos. Suas pernas têm coxas grossas e arredondadas e pés em 90º.
Seu corpo é comprido e a figura foi toda feita com pintura uniforme. Apresenta ainda
quatro traços no topo da cabeça, ornamentando-a.
Acima da figura antropomorfa, há um grafismo puro feito com três traços associados,
unidos por uma das extremidades com um semicírculo pintado uniformemente.
209
Outro tatu (10 cm), como os dois descritos anteriormente, está presente neste painel.
Aparece abaixo da figura humana, um pouco deslocado para a direita. Seu corpo é mais
estreito que os outros dois, mas apresenta as mesmas estruturas que caracterizam este
tipo de figura: sua cabeça é triangular, com orelhas pequenas e finas, corpo preenchido
por linhas curvas paralelas e a cauda mais larga na parte proximal e mais fina na parte
distal. Esta figura apresenta as patas dianteiras finas e trifurcadas e as patas traseiras
grossas. Sua cauda e suas patas traseiras parecem ter sido pintadas com uma tinta mais
densa que a utilizada na produção do resto do animal.
Junto à cauda do tatu, aparece outro grafismo puro, feito com seis traços unidos por uma
das extremidades.
Fotografia 39: Tatu, grafismo puro e composição emblemática
As próximas duas figuras associadas parecem formar uma composição emblemática do
tipo “frente-perfil”, mas diferente das composições de outros sítios, esta apresenta a
figura de perfil maior e a de frente menor, mas, assim como nos outros emblemáticos
210
deste tipo, a figura maior apresenta um preenchimento mais diversificado que a figura
menor. A figura que aparece de perfil (40 cm), neste caso, tem os braços levantados e
curvos sobre a cabeça, o corpo retangular feito a partir de uma linha de contorno
bastante fina e delicada e um preenchimento em zig-zag com linhas paralelas fluidas,
mas descontínuas na parte em que entram em contato com uma linha vertical
relativamente central.
A figura de frente, neste caso, a menor (30 cm) apresenta o corpo feito por duas linhas
paralelas e sem preenchimento, a parte superior (ou a cabeça) arredondada, os braços
abertos e levantados lateralmente, com três dedos nas extremidades e as pernas em “v”,
bem abertas, com coxas grossas preenchidas uniformemente Uma das pernas parece
estar dobrada e têm pés em 90º. Entre as pernas, aparece um falo.
Na seqüência, duas outras figuras sem caracterizadores de identidade, mas com traços
bastante precisos. A primeira delas é retangular e preenchida por linhas verticais e a
segunda foi feita somente com duas linhas verticais paralelas.
Uma figura antropomorfa (15 cm) com a parte superior de perfil e a parte inferior de
frente é o próximo grafismo que aparece neste painel. É difícil dizer ao certo em que
posição esta figura se encontra. A princípio, seus braços estão levantados e dobrados
sobre a cabeça, suas pernas estão abertas e têm as extremidades trifurcadas, mas
também poderia ser o contrário, como se a figura tivesse sido representada de cabeça
para baixo. Internamente, ela foi preenchida por linhas paralelas e verticais.
Na figura seguinte há apenas quatro traços verticais paralelos feitos em vermelho e
amarelo.
Fotografia 40: Traços paralelos
211
Em outra área de arenito entre os estratos formados por seixos há um cervídeo com
morfologia retangular, medindo cerca de 30 cm, preenchido por dois pares de linhas
paralelas em zig-zag e algumas linhas formando uma espécie de quadriculado. Este
cervo foi produzido a partir das linhas de contorno na cor vermelha, com uma tinta
densa, mas bastante fluida. Seu rabo foi feito com uma linha que segue contínua a partir
da linha da traseira do animal e seu pescoço, a partir da linha dorsal, fazendo uma
pequena curva e subindo contínua até a cabeça. Sua cabeça é arredondada, sem
preenchimento, com duas orelhas feitas a partir de traços. As quatro patas apresentam
coxas triangulares preenchidas por pintura uniforme e são bifurcadas nas extremidades.
Uma das patas dianteiras está dobrada dando um leve movimento à figura e as duas
patas traseiras foram feitas em uma parte vertical do suporte e continuam na parte
inferior, inclinada.
Fotografia 41 a partir de slide: Disposição das figuras no suporte rochoso
Fonte: FUMDHAM
Atrás do cervídeo há uma figura antropomorfa (20 cm), produzida com tinta nas cores
vermelha e amarela. Seus braços estão abertos, lateralmente, na altura dos ombros. Esta
figura foi feita a partir de uma linha de contorno na cor vermelha, formando as coxas e
os braços arredondados, com posterior preenchimento na cor amarela e ainda uma linha
212
ao longo de todo seu corpo, na parte externa ao contorno em vermelho. Sua cabeça é
pequena e foi preenchida por pintura uniforme e suas pernas aparecem em “v”.
Fotografia 42 a partir de slide: Cervídeo com figura antropomorfa
Fonte: FUMDHAM
Neste sítio aparecem ainda alguns grafismos puros, geométricos e algumas linhas, feitos
na cor vermelha e em uma área inatingível a partir do solo.
1) Neste sítio, a angularidade nas figuras antropomorfas que aparecem dispostas
lado a lado, horizontalmente, ocupando a parte de arenito existente entre os estratos de
seixos, não é muito característica do estilo, mas se apresentam cervídeos com ângulos
retos e uma composição emblemática, na qual a figura de perfil foi representada apenas
por um retângulo. Os grafismos de temática diferente foram representados
cenograficamente isolados no painel e verificou-se ainda uma utilização do espaço total
disponível entre os estratos, incluindo o aumento das dimensões das figuras quando os
espaços se ampliam.
2) Há claramente o domínio das identidades nas representações, principalmente dos
antropomorfos, que apesar de não apresentarem morfologia angular, receberam arranjos
temáticos bastante complexos. Os cervídeos apresentam-se retangulares e alongados, à
exceção de um, morfologicamente arredondado e em posição de salto, que apresenta
213
um preenchimento diversificado. Aparecem também capivaras, pássaros e outros
animais.
3) Este sítio é o que apresenta maior variação nas combinações cromáticas das
figuras representadas. Constatou-se a utilização de instrumentos que permitiram gestos
contínuos e curvos apesar das irregularidades do suporte.
3.6 Serra Branca
Mapa 8: Localização dos sítios analisados na área da Serra Branca
3.6.1 Toca do Caboclinho (29)
Em uma área bastante alta do suporte, há uma onça, de perfil, medindo cerca de 100 cm,
produzida com uma tinta pouco diluída, na cor vermelha. Sua cabeça é grande e redonda
e tem as orelhas pequenas, na parte superior. Seu preenchimento foi todo feito com
linhas que, visualmente, parecem formar uma pintura uniforme. As patas são
arredondadas e possuem as garras características do felino retratado. Para que esta área
do suporte pudesse ser pintada, o(s) autor(es) teve(tiveram) que utilizar algum recurso
que o(s) possibilitasse alcançar a área.
214
Abaixo da grande onça aparecem vários traços paralelos feitos, possivelmente, com a
mesma tinta utilizada para desenhar a onça. Sem qualquer figura reconhecível, os traços
formam uma linha ao longo de, aproximadamente, 3 m do suporte rochoso.
Fotografia 1: Linha com traços paralelos abaixo da onça e posição da figura amarela no painel
Atrás da onça, há uma figura antropomorfa, cenograficamente isolada, toda produzida
com tinta amarela. Ela mede aproximadamente 20 cm e apresenta os braços e as pernas
feitos a partir das finas linhas que formam as laterais de seu corpo. Seus braços estão
levantados e, nas pernas, aparecem coxas triangulares, bastante largas, e com o mesmo
preenchimento do corpo, que foi feito com linhas em várias direções, formando, no
centro, uma linha larga em zig-zag, negativa. Esta figura parece apresentar uma cabeça
triangular, mas está muito apagada, o que dificulta sua visualização. Seus pés estão em
90º e na lateral inferior do corpo aparece o falo, determinando o gênero da figura.
215
Fotografia 2: Figura antropomorfa amarela
Abaixo da linha de traços paralelos há duas composições emblemáticas de tipo “frente-
perfil” e um cervídeo, todos, produzidos com uma tinta vermelha bastante escura. O
cervo aparece no centro (distando, aproximadamente, 10 cm das duas composições) e
apresenta seu corpo retangular, medindo cerca de 20 cm e com os ângulos bem
demarcados. Suas patas apresentam coxas levemente arredondadas, preenchidas por
pintura uniforme e são bifurcadas nas extremidades. Sua postura não é comum, pois
apesar de aparecer de perfil, suas patas traseiras estão dobradas de maneira não-natural.
Seu corpo foi todo feito com linhas finas e delicadas e preenchido com triângulos, em
positivo e negativo, além de três linhas “grossas”, feitas a partir do contorno e pintadas
internamente de modo uniforme. Seu pescoço foi feito com duas linhas finas, paralelas,
sem preenchimento, e sua cabeça com preenchimento uniforme. Suas orelhas e seu rabo
são finos e pontudos.
216
Fotografia 3: Cervídeo entre duas composições emblemáticas
À direita, na composição emblemática de tipo “frente-perfil” estão presentes três figuras
antropomorfas: uma de frente, uma de perfil e outra, na qual só é possível visualizar as
pernas, de frente, com pés em 90º e seu tronco, preenchido por pintura uniforme. A
figura maior, de frente, mede aproximadamente 30 cm e apresenta os braços levantados
e as pernas em “u”, com coxas triangulares, sem preenchimento, e pés em 90º. Suas
linhas de contorno são finas e contínuas e dentro dela há um triangulo e uma outra
figura não identificada, preenchendo-a.
217
Fotografia 4: Composição emblemática com três figuras
A figura ao lado, de perfil, mede cerca de 15 cm e aparece como se estivesse sentada.
Suas pernas estão laterais e apresentam coxas triangulares, preenchidas por pintura
uniforme, além dos pés em 90º. Seus braços, também laterais, apresentam-se curvos
sobre a cabeça. Esta, por sua vez, foi produzida somente pela extensão do corpo e do
posicionamento dos braços, e é arredondada na parte superior. Como preenchimento, a
figura tem um “v” feito com pintura uniforme e uma linha diagonal.
O outro emblemático de tipo “frente-perfil” é composto por duas figuras antropomorfas.
A figura que aparece de frente mede, aproximadamente, 30 cm e apresenta os braços
levantados, com dedos nas extremidades e, nas pernas em “u”, têm coxas triangulares,
preenchidas uniformemente. Não é possível dizer como são seus pés, pois, nesta área do
suporte, a figura esta bastante apagada. Sua cabeça é quadrada e tem uma linha vertical
no centro, além das linhas que a ornamentam, no topo. Parece apresentar três linhas
finas verticais preenchendo seu corpo.
218
Fotografia 5: Composição emblemática do tipo “frente-perfil”
A figura de perfil mede cerca de 15 cm, apresenta os braços laterais, curvos sobre a
cabeça e as pernas, também curvas, voltadas para o mesmo lado dos braços. Seu corpo
foi preenchido com uma linha bastante fina, em zig-zag, e sua cabeça é arredondada e
preenchida por linhas. A parte inferior do corpo, que parece estar sentada, é
arredondada.
Fotografia 6: Figuras antropomorfas
219
Seis antropomorfos pequenos, sendo que o maior deles mede cerca de 15 cm e o menor
5 cm, aparecem em uma área relativamente mais lisa e fina do arenito. Cinco estão de
frente e apenas um apresenta-se de perfil, mas com as pernas de frente. Três deles estão
cenograficamente juntos e os outros aparecem com espaços regulares entre eles. O
antropomorfo que está de perfil é o único que apresenta os braços dobrados sobre a
cabeça, os outros estão com os braços abertos lateralmente. Todos eles apresentam as
pernas em “v”, com os pés em 90º e sem coxas. Aquele que aparece de perfil é o menor
deles (que aparece entre outros dois) e possui preenchimento uniforme, os outros
apresentam duas linhas verticais paralelas e a cabeça arredondada formada pela linha de
contorno do corpo.
Uma figura antropomorfa bastante apagada pode passar despercebida pelo observador
descuidado, apesar de seu tamanho. Esta figura mede cerca de 160 cm e apresenta a
cabeça relativamente desproporcional com relação ao tamanho de seu corpo e tem
pequenos traços verticais no topo, ornamentando-a. Foi produzida com linhas
extremamente finas, com tinta vermelha, e seus braços e pernas foram feitos a partir da
linha de contorno lateral; parecem apresentar técnica de contorno aberto e em suas
pernas aparecem coxas triangulares. A figura toda parece ter sido preenchida apenas
com duas linhas finas em zig-zag.
Fotografia 7: Grande figura antropomorfa
220
Ao lado deste antropomorfo aparecem duas aves de perfil. A maior delas tem o corpo
retangular e mede cerca de 20 cm. Ela apresenta as patas trifurcadas nas extremidades e
coxas grossas triangulares, preenchidas por pintura uniforme. Seu corpo foi preenchido
com linhas que sobem, preenchendo o pescoço. A cabeça é pequena e tem
preenchimento uniforme. Na parte posterior do corpo, apresenta linhas que parecem
formar uma cauda com as penas levantadas.
Fotografia 8: Figuras zoomorfas
Na frente da figura zoomorfa, que parece uma ema, aparece uma menor (medindo cerca
de 10 cm), com o corpo redondo feito somente com a linha de contorno. Ela também
apresenta as patas trifurcadas, o pescoço comprido e a cabeça pequena, que foram
preenchidos por pintura uniforme.
Em outra parte do suporte rochoso aparece uma figura antropomorfa (medindo
aproximadamente 25 cm) cenograficamente isolada. Seu corpo é retangular, com os
ângulos superiores retos. É uma das únicas figuras, dentre os sítios selecionados para
análise, que apresenta os braços em posições distintas. Os dois braços foram feitos com
linhas extremamente finas, e apresentam dedos nas mãos (cinco em uma e três na outra),
mas um braço está dobrado para cima e o outro está voltado para baixo. Ambos fazem
221
ângulos bem demarcados nas dobras. Suas pernas seguem continuas pelas linhas laterais
do corpo, em “u”, e têm coxas triangulares, sem preenchimento. Um pé aparece em 90º
e o outro com uma angulação um pouco mais aberta, e feito com contorno, sem
preenchimento. Na parte interna do seu corpo há um preenchimento feito com traços,
manchas de tinta e áreas sem pintura. Sua cabeça é quadrada e tem duas linhas verticais
preenchendo-a.
Fotografia 9: Figura antropomorfa
Neste sítio, aparece ainda uma composição emblemática do tipo “costa-costa” com um
grafismo puro (dois traços) entre as figuras. Uma delas apresenta o ventre curvo e
proeminente, sugerindo uma gravidez. Esta figura aparece sentada (medindo cerca de 15
cm), com as pernas esticadas lateralmente e com os pés em 90º. Seu corpo é estreito e
segue contínuo até a cabeça, que apresenta a parte superior curva. Seus braços estão
laterais e aparecem curvos na altura da cabeça, com dedos nas mãos.
A outra figura de perfil (mede cerca de 20 cm, contando com as pernas) aparece com as
pernas curvas, abaixo da outra figura, com os pés em 90º. Seu corpo é estreito e segue
222
contínuo até a cabeça, que apresenta, no topo, uma ornamentação feita com quatro
linhas verticais. Seus braços estão dobrados na altura da cabeça e foram feitos com
linhas extremamente finas e delicadas, mesmo nas áreas fundas do suporte e, nas mãos,
aparecem dedos.
Fotografia 10: “Costa-costa” e trio de figuras antropomorfas
Abaixo da composição emblemática, aparecem três figuras (menores que 10 cm)
antropomorfas produzidas a partir de uma linha central que forma seu corpo, as pernas
em “v” sobrepostas e os braços levantados. Apesar de suas pernas estarem sobrepostas,
de modo que pareçam em fila, apenas a figura mais à esquerda apresenta os braços de
perfil.
Neste sítio aparecem ainda duas figuras de interesse das análises, um antropomorfo e
um zoomorfo que parece representar uma ema. Com a postura do corpo, a figura
antropomorfa parece reverenciar o outro grafismo que aparece ao lado. Sua estrutura é
diferente daquelas, geralmente representadas, pois tem na parte ventral, um círculo com
223
linhas radiais, contornado por outro círculo. Ambos são finos e parecem ter sido
produzidos a partir de um gesto contínuo, bastante fluido. Suas pernas são finas e
compridas e apresentam, além das coxas triangulares preenchidas uniformemente, os
pés em 90º, voltados para o mesmo lado. A figura está de perfil e mede
aproximadamente 30 cm. Seu corpo foi produzido a partir das linhas finas de contorno
laterais e da produção do círculo que forma a sua cabeça. Depois de feito o contorno, foi
preenchida por manchas de tinta dando, visualmente, o aspecto de uma pintura
uniforme. Seus braços aparecem voltados para o mesmo lado da posição dos pés e
apresentam-se curvos, na altura da cabeça.
Fotografia 11: Figura antropomorfa e zoomorfa
A figura zoomorfa parece representar uma ema. Apresenta-se de perfil, com o corpo
voltado para o lado direito (do observador), mas sua cabeça está virada para o lado
esquerdo (aonde se encontra a figura antropomorfa). Seu corpo tem a forma oval e foi
produzido com uma linha de contorno bastante fina. As pernas são finas, compridas e
trifurcadas nas extremidades. Seu pescoço, também, bastante fino apresenta uma
curvatura na parte inferior e a cabeça, na extremidade superior, é pequena e preenchida
224
por pintura uniforme. Seu corpo foi preenchido com linhas em zig-zag e seu tamanho é
de aproximadamente 30 cm (com as pernas e o pescoço).
1) Este sítio teve toda sua apresentação disposta em planos horizontais e, entre as
figuras pertencentes à mesma composição, há sempre o deslocamento lateral. Um dos
recursos utilizados para destacar as figuras foi a utilização de grandes dimensões. Estas
aparecem na representação de uma onça e de um antropomorfo. Os espaços entre as
figuras foram mantidos de maneira regrada.
2) Verificou-se o domínio da apresentação das identidades por meio de
componentes culturais complexamente apresentados. Este sítio foi o único que
apresentou como temática a composição emblemática de tipo “costa-costa”,
apresentando ainda a gravidez. Duas composições emblemáticas de tipo “frente-perfil”
com morfologia alongada e retangular, associados a um cervídeo, duas emas
enfileiradas e ainda alguns grafismos antropomorfos representam as temáticas deste
sítio.
3) Os grafismos apresentaram várias tonalidades de vermelho e há também um
grafismo todo em amarelo. Todos apresentam traços contínuos e o grande
antropomorfo foi pintado com técnica de contorno aberto.
3.6.2 Toca do Vento (26)
Uma cena de caça à capivara aparece registrando o exato momento em que o animal foi
atingido, mas apesar de se tratar de uma cena que seria extremamente dinâmica, em
função da temática representada, esta se apresenta estática. A figura antropomorfa
aparece de perfil, mas com as pernas de frente, e tem apenas algumas partes que
resistiram ao tempo. Neste sítio, o desplacamento do suporte ocorreu em diversas áreas,
e se trata de um arenito fino, bastante friável. O antropomorfo mede cerca de 10 cm e
tem as pernas em “u”, com os pés em 90º. A parte inferior do seu corpo apresenta a
linha de contorno com ângulos retos, bem demarcados. Seus braços estão voltados para
o mesmo lado e além dos dedos, segura em uma das mãos o instrumento de caça. No
topo da cabeça aparecem pequenos traços, sugerindo uma ornamentação. O gesto do
autor, na produção do objeto utilizado, parece bastante preciso, e foi feito a partir de
225
uma linha menor diagonal, um ângulo agudo e uma linha maior, que segue de forma
contínua, acertando o animal na cabeça. Há um pequeno deslocamento oblíquo entre as
figuras e o aproveitamento de uma área do suporte, separada por uma linha mais
compactada de um arenito mais fino.
Fotografia 1: Cena de caça
A capivara mede aproximadamente 15 cm, tem o formato do corpo retangular, com a
linha de contorno dorsal levemente curva, formando o rabo com a linha de contorno da
parte traseira. O rabo nas capivaras não foi usualmente representado, mas neste sítio
aparece em mais dois exemplares. A linha de contorno ventral é reta e segue contínua,
formando a cabeça, que por sua vez é curva. Nas patas, apresenta coxas triangulares
preenchidas por pintura uniforme e extremidades bifurcadas. Seu corpo foi preenchido
por linhas horizontais paralelas e a cabeça, que apresenta duas orelhas com pontas
arredondadas, mostra duas linhas verticais paralelas.
226
Fotografia 2: Figuras zoomorfas enfileiradas
Atrás da capivara que está sendo caçada, aparecem os outros dois exemplares,
anteriormente citados. Verifica-se que, entre os três, há um espaço regularmente
respeitado, aonde aparecem pequenos grafismos irreconhecíveis, em preto, referentes a
um outro momento pictórico, já bastante apagados.
A segunda capivara apresenta a mesma tonalidade da primeira e também aparece de
perfil. Suas linhas de contorno são um pouco mais espessas e vê-se que a linhas dorsal e
traseira foram produzidas a partir de mais de um traço. Tem a cabeça menos
arredondada, apresentando, na parte do focinho, ângulos bem demarcados. Somente
suas patas traseiras apresentam coxas triangulares preenchidas por pintura uniforme,
mas as quatro aparecem bifurcadas nas extremidades. Este animal mede cerca de 25 cm
e teve o corpo preenchido por dois retângulos com as arestas levemente arredondadas e
um traço. Sua cabeça foi preenchida por linhas horizontais, que descem para o focinho
seguindo o formato da cabeça. Suas orelhas são extremamente delicadas e foram
produzidas com um instrumento de ponta muito fina, que possibilitou a realização
somente de seu contorno.
227
É difícil afirmar que a terceira figura zoomorfa se trata de uma capivara, pois apresenta
o corpo bastante alongado, um rabo maior do que o apresentado pelas outras duas, além
de apresentar uma das patas trifurcadas, mas em se tratando de ícones gráficos, dentro
do estilo Serra Branca, pode existir tal variação, não sendo significativo para as análises,
por se tratar apenas de um caso isolado. De qualquer maneira, este animal mede cerca
de 25 cm, apresenta uma tonalidade levemente diferente (parecendo se tratar do mesmo
pigmento um pouco mais diluído) e foi produzido a partir da linha de contorno, com
ângulos bem demarcados. Apresenta o preenchimento em zig-zag, com alguns traços. É
interessante notar que se trata de uma escolha na representação da morfologia angular e
não de uma falta de habilidade ou instrumental, pois na parte traseira, acima da linha em
zig-zag, há um pequeno traço curvo, formando um semi-círculo, complementando seu
preenchimento. Suas orelhas são pequenas e uma delas aparece sem preenchimento.
Abaixo das figuras zoomorfas enfileiradas há algumas figuras antropomorfas. Duas
aparecem em uma composição vertical e as outras, lado a lado, horizontalmente. A tinta
utilizada foi provavelmente a mesma em todas as figuras, pois apresentam exatamente a
mesma cor, na mesma tonalidade e mesma densidade. As oito figuras que se apresentam
lado a lado são esquemáticas e não medem mais de 10 cm, cada. Não há nenhuma
sobreposição entre as figuras e seguem a mesma forma: braços abertos lateralmente, na
altura dos ombros, pernas abertas, cabeça arredondada, sem pescoço e feita com pintura
uniforme e com o corpo produzido somente com uma linha espessa. Todas as linhas são
grosseiras e entre as figuras não há nenhum caracterizador de identidade, ou
diferenciação entre as mesmas.
Uma figura mais à esquerda parece representar uma evolução gráfica entre as figuras à
direita e as da esquerda. Este antropomorfo apresenta um leve movimento evidenciado
pela posição das pernas, que parecem estar caminhando. Ele mede cerca de 15 cm, suas
pernas foram produzidas a partir de traços precisos e seu corpo se apresenta alongado,
feito com uma linha grossa em pintura uniforme e a cabeça é arredondada, também
uniforme. Seus braços estão abertos lateralmente, mas aparecem dobrados para baixo
.
228
Fotografia 3: Figuras antropomorfas com diferentes apresentações
A figura mais à esquerda mede aproximadamente 15 cm e foi produzida a partir de
linhas que formam o contorno, suas pernas estão abertas, com os pés 90º e seus braços
estão abertos e dobrados como os da figura ao lado. Sua cabeça foi produzida a partir da
posição dos braços na linha de contorno.
A figura antropomorfa logo abaixo, medindo cerca de 15 cm, é a mais elaborada
tecnicamente e a que mais se aproxima do típico estilo Serra Branca. Seus braços estão
abertos lateralmente e apesar de dobrados, aparecem levantados. Seu corpo foi
produzido a partir das linhas de contorno formando uma figura, relativamente,
retangular. Suas pernas estão abertas e apresentam os pés em 90º. Seu corpo foi
preenchido com uma linha em zig-zag na parte inferior e uma divisão entre a cabeça e o
corpo.
229
Fotografia 4: Distribuição das figuras no suporte
Mais adiante, no mesmo suporte, seguindo o mesmo espaçamento utilizado entre as
capivaras anteriormente descritas, aparece uma figura antropomorfa e uma zoomorfa
pintadas com tinta vermelha. A figura antropomorfa mede, aproximadamente, 20 cm,
apresenta os braços levantados com três dedos em cada mão, as pernas em “v”, sem
coxas e os pés em 90º. Na lateral inferior do corpo aparece o falo, definindo seu gênero.
Preenchendo seu corpo há uma linha vertical central cortando linhas horizontais
paralelas. Sua cabeça é arredondada e foi preenchida por manchas de tinta, formando,
visualmente, um preenchimento uniforme.
230
Fotografia 5: Figuras antropomorfa e zoomorfa
A figura zoomorfa é representada por um cervídeo, de perfil, de feitura bastante
delicada e um leve movimento evidenciado pela posição das patas dianteiras. Seu corpo
é retangular, mede cerca de 10 cm, e foi feito a partir das linhas de contorno, com
ângulos bem demarcados e um preenchimento interno dado por uma linha horizontal
com linhas verticais paralelas. Suas patas são bifurcadas nas extremidades e não
apresentam coxas. Seu rabo e seu pescoço foram produzidos a partir de uma curvatura
nas extremidades da linha que forma o dorso do animal. Seu pescoço segue continuo até
a cabeça, que foi preenchida por pintura uniforme e apresenta, além das duas orelhas
pequenas e arredondadas, uma galha ramificada a partir do topo da cabeça.
Um pouco mais acima, em uma área do suporte quebrada, há uma figura zoomorfa com
morfologia sugerindo um cervídeo, que foi pintado depois que o suporte sofreu
desplacamento. A parte presente mede cerca de 5 cm, tem a parte traseira retangular,
feita a partir das linhas de contorno finas, e as patas esticadas e bifurcadas nas
extremidades. Apresenta um rabo pequeno e arredondado na ponta e duas linhas,
verticais paralelas, preenchendo seu corpo.
231
Fotografia 6: Figura zoomorfa feita em área do suporte já desplacada
Um pouco mais à esquerda do sítio há uma figura antropomorfa deitada em relação ao
solo, mas que foi pintada, provavelmente, cenograficamente junto com outra figura,
pois, nas mãos, apresenta o que parece ser um instrumento de caça e, mais acima, parte
do suporte se quebrou. Apesar de representar, claramente, uma figura humana
mascarada, um de seus pés foi, curiosamente, pintado como utilizado nas representações
de cervídeos e capivaras. Esta figura aparece de perfil, medindo cerca de 10 cm e tem o
corpo retangular, preenchido por linhas diagonais paralelas. Sua cabeça também é
retangular, preenchida por pintura uniforme e ornamentada com traços no topo. Na
lateral inferior do corpo há um falo e, em suas pernas, aparecem coxas triangulares
preenchidas por pintura uniforme. Um dos pés está em 90º e em suas mãos aparecem
dois dedos. Apesar do desnivelamento do suporte, abaixo da parte que está quebrada, a
linha que forma o instrumento continua mais adiante.
232
Fotografias 7 e 8: Figura “deitada” e fotografia girada 90º para a esquerda para melhor visualização da
figura
Uma figura zoomorfa que aparece de perfil, com morfologia retangular, perdeu parte do
seu corpo junto com o desplacamento do suporte. Esta figura sugere a representação de
um veado e sua parte presente mede cerca de 20 cm. Foi toda feita com tinta vermelha e
com traços bastante finos e contínuos, apesar da irregularidade do suporte. Apresenta o
corpo preenchido por linhas horizontais e verticais formando um quadriculado. Suas
patas estão esticadas e apresentam as extremidades bifurcadas. Seu pescoço é comprido
e foi preenchido por pintura uniforme, assim como a sua cabeça e as orelhas.
Fotografia 9: Cervídeo
233
Dois cervídeos de morfologia retangular aparecem cenograficamente juntos. Os dois
estão de perfil com os corpos posicionados um de frente para o outro, mas voltados com
a cabeça para o mesmo lado. O maior deles mede cerca de 35 cm e o menor 20 cm. O
maior apresenta o corpo alongado horizontalmente e produzido com linha retas e
contínuas. Na parte traseira, há uma linha bastante delicada, levemente curva, que sobe
contínua, formando o rabo do animal. Suas patas são bifurcadas nas extremidades e
apresentam coxas triangulares preenchidas por pintura uniforme. Seu corpo foi
preenchido por linhas que formam retângulos e sobem contínuas, preenchendo o
pescoço. Sua cabeça é arredondada, feita a partir de uma linha de contorno fina e
preenchida por linhas que formam, visualmente, uma pintura uniforme.
Fotografia 10: Cervídeos retangulares
O cervo ao lado, apesar de apresentar uma postura estática, assim como o cervo maior,
tem o pescoço voltado para o lado contrário àquele em que se encontra seu corpo, o que
lhe dá um sutil movimento do pescoço para a cabeça. Seu corpo segue a mesma forma
do outro cervídeo e suas patas também são bifurcadas, apresentando coxas triangulares,
preenchidas por pintura uniforme. Seu pescoço é mais fino e foi preenchido
uniformemente, assim como sua cabeça. Entre as orelhas, apresenta uma galha simples,
234
trifurcada, com as extremidades bifurcadas. Seu corpo foi preenchido por linhas finas
em várias direções.
Abaixo dos cervídeos, há uma composição emblemática de tipo “frente-perfil” que,
infelizmente, já está bastante apagada. A parte visível da figura de frente mede
aproximadamente 30 cm apresenta os braços levantados, que seguem contínuos pelas
linhas laterais que formam seu corpo, e tem três dedos em cada mão. Sua cabeça é
retangular e tem traços no topo, ornamentando-a.
Fotografia 11: Composição emblemática de tipo “frente-perfil”
A figura de perfil está com os braços levantados, voltados para o mesmo lado e
apresenta dedos nas mãos. Sua cabeça é quadrada e feita a partir do contorno e a figura
toda parece medir cerca de 20 cm.
Dois pares de figuras antropomorfas aparecem formando uma cena de luta. Apesar das
figuras se apresentarem cenograficamente em uma disputa, as mesmas parecem bastante
estáticas. Apenas uma delas encontra-se de perfil, e mesmo assim, com as pernas de
frente. As quatro figuras são semelhantes, o que não permite distinguir vencedores ou
vencidos. Medem cerca de 20 cm, estão com os braços abertos e levantados, as pernas
235
em “v”, feitas a partir das linhas laterais do corpo, com os pés em 90º, coxas
triangulares preenchidas uniformemente e foram preenchidas, no corpo, por uma linha
vertical no centro do corpo. Suas cabeças foram pintadas uniformemente e apresentam
traços ornamentando-as. Em suas mãos aparecem instrumentos iguais e as quatro são
atingidas no mesmo momento. As quatro figuras têm o falo na parte lateral inferior do
corpo.
Fotografia 12: Cenas de luta entre duas figuras antropomorfas
Acima das quatro figuras antropomorfas há um grande cervídeo (medindo cerca de 40
cm) que parece estar saltando sobre a cena. Seu corpo apresenta morfologia trapezoidal,
com uma leve curvatura no ventre e um preenchimento produzido com linhas delicadas
e contínuas formando duas linhas largas, feitas somente com contorno em zig-zag. Seu
pescoço é fino e foi preenchido por pintura uniforme, assim como sua cabeça. Suas
patas são finas e bifurcadas nas extremidades. Seu rabo e suas orelhas são pequenos e
arredondados nas pontas.
236
Fotografia 13: Vista geral do painel com as quatro figuras e um cervídeo, acima, saltando
Há ainda, neste sítio, outra composição emblemática de tipo “frente-perfil” na qual a
figura maior, de frente, mede aproximadamente 60 cm e encontra-se bastante apagada.
Esta figura antropomorfa está com os braços levantados, apresenta dedos nas mãos e,
além da cabeça ornamentada com traços, teve a cabeça preenchida por pintura uniforme.
Seu corpo foi preenchido por linhas em zig-zag formando quadrados e, dentro dos
quadrados, aparecem pontos.
A figura de perfil aparece com os braços levantados sobre a cabeça, que está preenchida
por pintura uniforme e tem o contorno arredondado. Esta figura mede cerca de 50 cm.
237
Fotografia 14: Composição emblemática de tipo “frente-perfil”
Muitos outros grafismos estão presentes neste abrigo, mas infelizmente ele está com o
suporte bastante desgastado e com salitre cobrindo algumas pinturas.
1) Foram verificadas, neste sítio, disposições em planos horizontais e composições
emblemáticas cenograficamente isoladas. Constataram-se ainda superposições somente
entre estilos distintos. Entre os grafismos do estilo analisado há, como regra, a
manutenção do espaço que envolve as unidades gráficas. As cenas de caça
apresentaram deslocamento oblíquo entre o caçador e o animal caçado.
2) As figuras apresentam componentes culturais utilizados na representação das
identidades, além de uma morfologia alongada e retangular. Como temáticas
representadas foram verificadas as composições de “frente-perfil”, os cervídeos em
pares e sozinhos, e a caça à capivara. Uma das cenas de caça e dois grafismos
238
fragmentados puderam ter suas temáticas reconhecidas em razão dos traços essenciais
de representação e dos atributos típicos do estilo Serra Branca.
3) Verificou-se somente a utilização da cor vermelha em suas várias tonalidades e
os instrumentos apontaram para um domínio tanto dos ângulos retos quanto dos traços
curvos e contínuos.
3.6.3 Toca do Caboclo da Serra Branca (27)
Um antropomorfo em branco, bastante grande (medindo, aproximadamente, 70 cm) e
esguio, chama logo a atenção neste abrigo. Tem o corpo retangular, de frente,
preenchido por retângulos na parte inferior e triângulos laterais formando losangos no
centro e na parte superior. É uma figura bastante delicada, com traço contínuo, pernas
com coxas triangulares com pintura uniforme e pés em 90º com a linha das pernas, já
bastante apagadas. Os braços estão levantados, seguindo a linha do corpo. Em uma das
mãos vê-se dedos e a cabeça é quadrada, com os ângulos superiores arredondados. A
cabeça tem preenchimento uniforme e triângulos em negativo. Existe um espaço entre
esta e as outras figuras feitas no painel,, que parece ter sido respeitado propositalmente.
Fotografias 1 e 2: Figuras antropomorfas
239
O outro antropomorfo em branco, medindo cerca de 30 cm, parece não ter sido
finalizado na parte inferior. Tem o corpo com contorno nas laterais e foi preenchido por
uma linha central ramificada de um lado ao outro. O corpo aparece um pouco
arredondado na parte central, o que associado aos braços que estão levantados, dá um
leve movimento à figura. O gesto gráfico parece ter sido iniciado pela cabeça, que é
redonda e tem preenchimento uniforme, e, da cabeça, desceu o instrumento, certamente
com uma extremidade fina, fazendo uma linha fluida, contínua e comprida e, somente
depois acrescentou os braços, fez o complemento lateral formando o corpo e, por
último, o preenchimento. Os traços desta figura parecem inacabados, mas são muito
precisos, o que poderia demonstrar uma opção no tipo de acabamento dado ao grafismo.
Uma das representações de “frente-perfil” feita em vermelho tem uma figura maior de
frente (medindo cerca de 20 cm) e a menor (10 cm), de perfil aparece sentada. A figura
maior tem o corpo retangular com preenchimento interno feito por uma linha central
com ramificações paralelas, em direção às laterais. Os braços estão levantados, fazendo
um ângulo um pouco maior que 90º com a linha do corpo. As mãos têm três dedos cada
e sua cabeça é quadrada, preenchida por um traço vertical no centro e traços finos
verticais, ornamentando o topo. As pernas estão em “u”, seguindo contínuas pelas linhas
do corpo, com coxas triangulares de preenchimento uniforme, panturrilhas grossas e pés
em 90º com a linha das pernas. Na lateral do corpo, aparece um falo, voltado para o lado
oposto àquele em que se encontra a outra figura da composição.
Fotografia 3: Composição emblemática
240
A figura de perfil que compõe o emblemático “frente-perfil” é retangular, mas seus
ângulos não são tão demarcados, dando ao corpo uma morfologia elíptica nas
extremidades. Apenas a cabeça está preenchida e somente por uma linha vertical
central. As pernas e os braços estão esticados e laterais e não se vêem nem mãos, nem
pés.
Acima desta cena há um antropomorfo sentado de perfil, feito com apenas uma linha
grossa formando o corpo e o pescoço. A cabeça é redonda e feita com pintura uniforme.
Os braços estão levantados e dobrados na altura da cabeça e foram formados a partir de
traços descontínuos. As pernas aparecem laterais e dobradas para baixo, como se a
figura estivesse sentada, sem os pés. Este antropomorfo aparece cenograficamente
isolado, em uma das posturas típicas das composições emblemáticas de tipo “frente-
perfil” e mede cerca de 10 cm.
Fotografia 4: Antropomorfo “sentado” isolado
Uma linha com seis figuras antropomorfas de frente aparece neste painel. Todos foram
feitos com uma tinta vermelha, bastante escura, têm os corpos retangulares e a cabeça
quadrada, mas diferem no tamanho e no tipo de preenchimento. Da esquerda para a
241
direita do painel, o primeiro tem o corpo preenchido apenas por uma linha vertical
central e mede, aproximadamente, 25 cm. Seus braços estão levantados e um deles
sobrepõe o braço da segunda figura. A cabeça tem preenchimento uniforme, assim
como as coxas triangulares, que seguem contínuas pela linha do corpo. Vê-se,
claramente, que foram feitos a partir da linha de contorno, com posterior
preenchimento. Os pés formam com o corpo um ângulo de 90º e possui na lateral do
corpo, na parte inferior, um falo, voltado para a figura ao lado.
Fotografia 5: Linha de antropomorfos lado a lado
A segunda figura é a menor delas, medindo cerca de 15 cm, e seu tamanho e a
sobreposição dos braços levantados dão a sensação da profundidade. Esta figura não
esta preenchida na parte interna, mas sua cabeça é quadrada e tem preenchimento
uniforme. As pernas seguem a linha do corpo em “v” e apresentam coxas triangulares,
com os pés fazendo um ângulo menor que 90º e chegando bem próximos, mas sem
encostar nas figuras laterais.
242
A terceira figura seria idêntica à primeira se não fosse a ausência do falo na lateral e o
seu tamanho (mede cerca de 30 cm). Seus braços sobrepõem os braços das duas figuras
laterais e parece estar em um primeiro plano junto com a quarta e à frente das outras. A
quarta, e maior figura (mede cerca de 35 cm), tem o preenchimento do corpo com duas
linhas em zig-zag formando losangos na parte central. Esta parece ser a única, das seis
figuras, que possui ornamentação em traços no topo da cabeça. Os braços, as pernas e os
pés são iguais aos da primeira e terceira figuras.
A quinta figura é igual à segunda, mas um pouco maior, mede aproximadamente 25 cm,
e tem uma das pernas sobrepondo a perna da sexta figura. Esta sobreposição de braços e
pernas garante a profundidade entre as figuras.
A última figura é semelhante à primeira, mas é um pouco menor (mede cerca de 20 cm)
e mais esguia. É difícil dizer ao certo as características dessa figura, pois o suporte ao
lado dela está um tanto desgastado.
À esquerda da linha de antropomorfos há ainda uma segunda composição emblemática
do tipo “frente-perfil” composta por duas figuras humanas. A maior está de frente
(mede cerca de 25 cm) e tem os traços bastante delicados. Possui o corpo retangular
ornamentado, preenchido por uma linha central, que segue da cabeça à metade do corpo,
com triângulos laterais espelhados e de pintura uniforme, formando losangos em
negativo no centro. A parte inferior do corpo está ornamentada por linhas contínuas e
sinuosas. As pernas apresentam coxas bem finas e são contínuas, seguindo a linha do
corpo, além de possuir os pés em ângulos menores que 90º. Os braços estão levantados
e, assim como as pernas, seguem a linha do corpo, mas com leve inclinação. As mãos
apresentam três dedos cada. A cabeça é quadrada e preenchida, tendo linhas verticais no
topo, e não apresenta pescoço. Possui falo na lateral do corpo, voltado para a outra
figura.
243
Fotografia 6: Composição emblemática
A segunda figura da composição está de perfil, mede cerca de 15 cm e tem o corpo
esguio, preenchido por pintura uniforme até o topo da cabeça. Esta figura apresenta uma
deformação na altura da lombar e tem os braços laterais, dobrados, na altura da cabeça,
e sem as mãos. As pernas também aparecem laterais e estão esticadas.
As diferenças entre os planos da figura que está de frente para a que aparece de perfil,
representados nas composições emblemáticas, foram todas respeitadas e são mantidas
por um deslocamento oblíquo entre as figuras.
As figuras deste sítio foram todas muito bem produzidas e demonstram grande
habilidade pictórica por parte de seu(s) autor(es).
Próximo à figura branca filiforme, aparece uma cena de execução, com várias figuras
antropomorfas e outra composição emblemática de tipo “frente-perfil”, mas com a
figura de perfil grávida. É interessante notar que apesar de apresentar uma temática
forte, as figuras aparecem em espaços separados, muito bem planejados.
244
Duas figuras fazem parte da ação principal e aparecem com os traços precisos e
preenchidas por pintura uniforme. A figura de perfil, que “agride” a outra, mede cerca
de 10 cm, apresenta nas mãos um machado e tem as pernas em “v”, com os pés em 90º.
A figura que se esquiva do machado apresenta bastante movimento e tem o corpo curvo,
medindo cerca de 10 cm, os pés em 90º, os braços para trás da cabeça e uma das pernas
aparece dobrada. Atrás, deslocado obliquamente, há outro antropomorfo, medindo cerca
de 5 cm, com as pernas em “v”, os pés em 90º, o corpo arredondado e um pescoço fino
e comprido.
Fotografia 7: Cena de execução, figuras antropomorfas e composição emblemática
Abaixo aparece a composição emblemática citada, na qual a figura de perfil está
grávida. A figura de frente mede cerca de 10 cm, tem o corpo retangular, os braços
levantados e a cabeça formada a partir da posição dos braços, associada à linha de
contorno e no topo, apresenta traços ornamentando-a. Seu corpo foi preenchido por uma
linha central vertical e suas pernas, em “v”, apresentam os pés em 90º.
A figura de perfil apresenta os braços levantados e dobrados sobre a cabeça, mede cerca
de 15 cm, e teve o corpo produzido a partir de uma linha de contorno bem demarcada,
245
com posterior preenchimento por pintura uniforme. Suas pernas estão esticadas e seus
pés se apresentam em 90º. Sua cabeça é fina e arredondada e foi preenchida por pintura
uniforme.
Cinco figuras aparecem ainda neste painel, na parte superior. Foram pintadas com a
mesma cor e as figuras medem 10, 15, 20, 15 e 15 cm, respectivamente, da esquerda
para direita (do observador). Apenas a segunda e a terceira se sobrepõem nos braços,
mas em razão das suas posições e seus tamanhos, aparecem em planos visuais distintos.
Elas apresentam as pernas em “v”, com os pés em 90º, um falo na lateral inferior do
corpo, os braços levantados, as cabeças arredondadas e o corpo sem preenchimento ou
preenchido por linhas.
1) Os grafismos deste sítio estão dispostos cenograficamente isolados, as
composições se apresentaram deslocadas e horizontalmente representadas. As
superposições entre os grafismos do mesmo estilo foram utilizadas para dar
profundidade à cena.
2) No que diz respeito à temática, foram verificados antropomorfos com arranjos
gráficos extremamente complexos lado a lado, isolados e em composições
emblemáticas de tipo “frente-perfil”, além de uma cena de execução, composta a partir
da associação da temática principal com figuras antropomorfas morfologicamente
alongadas, representando outros momentos simultaneamente.
3) As cores verificadas foram o branco e vermelho, em várias tonalidades. Os
instrumentos utilizados permitiram traços bastante fluidos, ângulos bem demarcados e
linhas curvas delicadamente produzidas.
3.6.4 Toca da Extrema II (33)
Na Toca da Extrema, existem grafismos pertencentes a vários momentos gráficos e em
diversos planos do suporte rochoso. Aqueles que apresentam características do estilo
Serra Branca encontram-se, principalmente na parede frontal, interna, do abrigo e na
parte superior, perpendicular ao plano do teto.
246
Fotografia 1: Parte interna do abrigo
Uma composição emblemática na qual várias figuras antropomorfas aparecem em torno
de uma árvore ou segurando galhos ramificados chamada de “cena da árvore” está
presente neste sítio, representada de duas maneiras distintas. A primeira delas é formada
por onze figuras antropomorfas e uma fitomorfa. Esta cena foi produzida com gestos
picturais bastante precisos e um deslocamento entre as figuras, que garante sua
perspectiva.
Todas as figuras antropomorfas estão voltadas para a figura fitomorfa, que aparece,
visualmente, em destaque na composição e foi produzida a partir de traços finos e
contínuos. As figuras antropomorfas foram pintadas com uma tinta vermelha, com
preenchimento uniforme e aparecem representadas com os braços levantados, três dedos
em cada mão, o corpo sutilmente representado de perfil, um falo na lateral inferior do
corpo, as pernas em “v”, com coxas triangulares e os pés em 90º feitos com ângulos
bem demarcados. Elas medem cerca de 10 cm e seus corpos apresentam a parte do
tronco bastante alongada.
247
Fotografia 2: Cena da árvore
Na parte interna do abrigo, uma figura antropomorfa (medindo cerca de 80 cm), com o
corpo bastante alongado, foi produzida com tinta vermelha e com traços extremamente
finos, sobrepondo uma série de outros grafismos. Seus braços estão levantados nas
laterais do corpo e apresentam três dedos nas mãos. Suas pernas seguem contínuas pelas
linhas laterais do corpo, apresentando coxas triangulares finas, preenchidas
uniformemente e nas extremidades, aparecem os pés, formando um ângulo de 90º com
as pernas. O falo aparece entre as duas pernas, indicando o gênero da figura
representada. No topo da cabeça aparecem traços verticais finos, ornamentando-a. Seu
corpo foi preenchido por linhas diagonais da esquerda para direita e da direita para
esquerda, formando vários “x”.
248
Fotografia 3: Figura antropomorfa
Outra figura antropomorfa, que também sobrepõe, parcialmente, alguns grafismos,
aparece ao seu lado, medindo cerca de 15 cm, com os braços laterais, levantados, com
três dedos nas mãos e com o corpo feito a partir da linha de contorno, com a cabeça
arredondada, e as pernas, com coxas preenchidas uniformemente, seguindo contínuas
pelas linhas laterais. Seu corpo foi preenchido com linhas paralelas em “v”, e suas
pernas em “u”, apresentam os pés em 90º.
249
Fotografia 4: Fila de antropomorfos lado a lado
As duas figuras antropomorfas sobrepõem uma fila de antropomorfos lado a lado
(medindo 10 cm cada) que foram feitos com o corpo em branco, com a forma elíptica,
alongada e os braços e as pernas em vermelho. Suas pernas estão em “u” e têm os pés
em 90º. Na cabeça, apresentam traços verticais ornamentando-a. Todas as figuras
parecem estáticas e se repetem em outras áreas do suporte.
Três grandes figuras geométricas feitas em amarelo e vermelho, sobrepondo vários
grafismos, também aparecem na parte interna do abrigo. A menor delas mede cerca de
20 cm e a maior, cerca de 60 cm. As três apresentam contorno feito com linha fina e
contínua na cor vermelha e preenchimento em zig-zag, em amarelo, além de outras
formas de preenchimento. Em razão do grande número de grafismos existentes em volta
delas e alguns, ainda, sendo sobrepostos, é difícil afirmar como se apresentam
exatamente. Um ponto importante, possível de observar, é a estaticidade em sua
representação e a diversidade no preenchimento das três figuras.
250
Fotografia 5: Três figuras geométricas lado a lado
Próximo às três figuras, após um desnível no suporte, um pequeno antropomorfo,
(menor que 10 cm) carregando um objeto, foi representado “deitado” em relação ao piso
do abrigo. Sua cabeça é redonda, preenchida por pintura uniforme, e tem um pescoço
bastante fino. Seu corpo também é arredondado e preenchido uniformemente. Suas
pernas estão em “v” e em um dos pés apresenta ângulo reto. Na lateral inferior do corpo,
aparece o falo, e esta figura aparece de perfil e parece caminhar sobre uma “rede”
produzida a partir de uma linha vertical fina e contínua e traços paralelos horizontais
cortados por outro traço vertical. Apesar da figura antropomorfa se apresentar com
morfologia arredondada, como no estilo Serra da Capivara, a maneira como foi
representada, com traços finos e contínuos, e o domínio do instrumento são típicos do
estilo Serra Branca. É interessante notar que esta figura foi representada mantendo as
mesmas distâncias utilizadas entre as figuras antropomorfas que aparecem ao lado.
251
Fotografia 6: Pequena figura antropomorfa
Uma figura antropomorfa, sem os braços, aparece junto a uma série de outros grafismos,
mas, cenograficamente, isolada. Ela mede cerca de 40 cm e tem seu corpo em forma
trapezoidal. Sua linha de contorno é bastante espessa e apresenta os ângulos bem
demarcados. Seu corpo foi preenchido com uma linha descontínua formando zig-zag e
suas coxas, arredondadas, preenchidas por pintura uniforme. Entre as pernas, há um
falo, e os pés não apresentam ângulos bem demarcados. Na parte superior do corpo,
apresenta linhas finas verticais, nas cores amarela e vermelha, sugerindo uma
ornamentação na cabeça.
Fotografia 7: Figura antropomorfa
252
Uma figura zoomorfa, representando um pássaro, aparece cenograficamente isolada no
teto do abrigo. Ele mede cerca de 10 cm, tem as pernas trifurcadas e as asas abertas
lateralmente. Seu bico parece estar aberto e voltado para cima. Seu corpo é arredondado
e preenchido por pintura uniforme. É interessante notar que as asas foram produzidas
com as pontas das penas divididas.
Fotografia 8: Pássaro de asas abertas
Uma cena de luta entre dezoito indivíduos, medindo cerca de 10 cm cada, foi
representada de forma bastante complexa. As figuras carregam os instrumentos de luta
nas mãos e se vê, claramente, àqueles que estão sendo atingidos. A cena parece ter sido
dividida em dois setores e apresenta seis núcleos de ação. Apenas uma figura está
posicionada de perfil e segura outra que aparece suspensa no ar. Todas foram
produzidas com uma tinta vermelha e uma pintura uniforme. Elas estão com os braços
abertos lateralmente e as pernas abertas em “v” com os pés em 90º.
253
Fotografia 9: Cena de luta
Três antropomorfos aparecem próximos a um grande cervídeo. O maior deles mede
aproximadamente 15 cm e aparece no centro, os outros dois aparecem em um plano
visual posterior, dado por deslocamento oblíquo para os dois lados. Os três estão com os
braços abertos lateralmente, na altura dos ombros e as pernas em “v”. Dois apresentam
contorno aberto nas extremidades dos braços e o terceiro três dedos em cada mão.
A figura do centro tem a forma do corpo trapezoidal, com a parte inferior levemente
maior que a superior e com os ângulos bem demarcados. Seu corpo foi preenchido por
uma linha vertical, vermelha, no centro, e duas linhas laterais em branco, subindo até a
cabeça, formando várias linhas verticais, ornamentando-a, junto com uma linha
horizontal vermelha, no topo. Seus pés estão em 90º e 45º com a linha das pernas e,
apesar de suas pernas terem sido feitas com linhas mais grossas que as linhas que
formam o resto do corpo, não apresentam coxas.
A outra figura com contorno aberto nos braços, apresenta as pernas bastante finas, em
branco, com os pés em 90
o
e o corpo preenchido por uma linha branca central e duas
254
linhas laterais em negativo, formadas a partir das duas linhas brancas que formam as
laterais do corpo. Sua cabeça é como a da figura do centro, feita com traços verticais
paralelos, mas sem a linha horizontal vermelha no topo.
A terceira figura teve o corpo preenchido com tinta branca uniforme e o contorno feito
com tinta vermelha, com os pés em 90º. Suas linhas são finas e delicadas formando, na
parte inferior do corpo, ângulos retos bem demarcados. Parte do suporte na área da sua
cabeça se desplacou, impedindo sua caracterização.
Fotografia 10: Três figuras antropomorfas
Um veado de perfil, medindo, aproximadamente 50 cm, aparece à esquerda (do
observador) dos três antropomorfos, sobrepondo alguns grafismos irreconhecíveis. Seu
corpo é bastante alongado e apresenta a parte dorsal reta, com as extremidades curvas e
contínuas, seguindo para o pescoço, na parte da frente, e para o rabo, na parte traseira. A
parte ventral é reta no centro, com as extremidades curvas, também seguindo contínuas
pelo pescoço e a traseira do animal. Suas patas são bifurcadas nas extremidades e
apresentam coxas triangulares bastante finas. Seu pescoço foi feito a partir do contorno,
que segue pelas linhas do corpo e sua cabeça é arredondada e preenchida por pintura
uniforme. Suas orelhas são pequenas e apresentam as extremidades arredondadas e seu
255
corpo foi todo preenchido por linhas diagonais paralelas em dois sentidos, formando um
quadriculado.
Fotografia 11: Cervídeo e figuras antropomorfas
Acima do cervídeo, há duas figuras antropomorfas de frente. A menor mede cerca de 15
cm e a maior 25 cm. As duas foram feitas com linhas vermelhas extremamente finas e
contínuas e apresentam os braços levantados lateralmente, com três dedos nas mãos. A
menor tem as pernas em “u”, feitas a partir das linhas laterais que formam seu corpo,
com os pés em 90º. Seu corpo é retangular e preenchido com “vês” invertidos, de uma
lateral à outra. Na cabeça, apresenta traços ornamentando-a e, na lateral inferior do
corpo, tem um falo.
A figura maior tem o corpo na forma de um losango, mas levemente arredondado nas
laterais. Tem as pernas em “v”, com pés em 90º e um falo na parte lateral inferior do
corpo. Esta figura apresenta um pescoço bastante comprido e não é possível dizer se
apresentava ou não a cabeça, pois esta parte do suporte rochoso se desplacou.
Uma figura fitomorfa aparece cenograficamente isolada. Ela mede cerca de 15 cm e foi
pintada com traços finos e contínuos, e de forma bastante objetiva, a partir de uma linha
256
central com ramificações bifurcadas nas laterais. Possui algumas áreas em que a pintura,
possivelmente, se desplacou junto com o suporte, e outras em que a figura foi pintada
em áreas já desplacadas. Este tipo de representação isolada é rara e ela aparece
sobrepondo manchas de tinta na cor vermelha.
Fotografia 12: Figura fitomorfa isolada
Uma linha com sete antropomorfos lado a lado foi produzida com uma tinta amarela
bastante densa. As primeiras figuras parecem sobrepor parte de uma grande figura
vermelha. Estes antropomorfos são muito pequenos, medem menos de 10 cm, e
apresentam as pernas em “v” com os pés em 90º. Foram feitos com linha contínua,
preenchimento uniforme e corpos retilíneos nas laterais. Entre eles não há sobreposição,
mas pertencem a planos visuais distintos, em função da diferença de tamanho
(decrescente a partir da segunda figura da esquerda) entre eles. Na cabeça, apresentam
dois traços diagonais ornamentando-a.
257
Fotografia 13: Linha de antropomorfos lado a lado
A outra composição emblemática, na qual existem figuras antropomorfas junto a uma
figura fitomorfa, foi representada com quinze figuras, que medem cerca de 15 cm cada,
e a árvore, que mede em torno de 50 cm. Esta cena foi toda pintada com uma tinta
vermelha bastante escura. Ao contrário da outra composição do mesmo tipo, encontrada
neste sítio, nesta cena, algumas figuras estão em cima dos galhos e carregam um objeto
arredondado sobre um dos ombros. Apenas três figuras parecem ter sido pintadas
somente com a linha de contorno, ou seja, sem preenchimento. As outras possuem
preenchimento, feito com pintura uniforme, da mesma cor do contorno. As figuras
apresentam as pernas em “v” e, às vezes, aparecem dobradas com ângulos retos bem
demarcados. Seus pés estão em 90º e os braços aparecem levantados, em algumas
figuras aparecem esticados e em outras dobrados sobre a cabeça. As figuras
antropomorfas apresentam, além do pescoço, a cabeça arredondada sem ornamentação e
o falo na parte ventral inferior do corpo.
258
Fotografia 14: Cena da árvore
A figura fitomorfa da cena foi produzida a partir de uma linha fina vertical contínua,
com ramificações feitas com traços bastante objetivos a partir da linha central e
sobrepõem, parcialmente, com sua parte superior, alguns grafismos irreconhecíveis.
1) Constatou-se a disposição de figuras antropomorfas e zoomorfas linearmente
apresentadas com espaços resguardados entre os grafismos do mesmo estilo, mas
superpostas a outras fases anteriormente produzidas e sobre grafismos da tradição
Agreste. Nas composições, foram utilizados deslocamentos entre as figuras, para
representar a profundidade.
2) Duas cenas da árvore aparecem neste sítio, com arranjos gráficos bastante
complexos. As figuras antropomorfas, zoomorfas e fitomorfas representadas, sozinhas
ou em grupos, apresentaram morfologia alongada e elementos culturais em substituição
aos traços essenciais de identificação, bastante típicos do estilo analisado.
259
3) Há, neste abrigo, grafismos em vermelho, vermelho e amarelo, vermelho e
branco e em amarelo e foram produzidos com instrumentos que permitiram traços
muito fluidos, finos e grossos, ângulos bem demarcados e linhas curvas contínuas.
3.6.5 Toca do Sobradinho (56)
O painel da Toca do Sobradinho é composto por diversos tipos de grafismos, todos em
vermelho. Aparecem desde pássaros com traços delicados e preenchimento complexo,
passando por riscos produzidos com o ocre puro, até carimbos feitos com a palma das
mãos.
Fotografia 1: Figuras zoomorfas - pássaros
Na parte inferior esquerda do abrigo, aparecem dois pássaros com cerca 10 cm, de
perfil, de produção bastante delicada. Não é possível dizer ao certo se eles estão
representados com as asas abertas ou se suas caudas são repletas de penas. Os dois
parecem ter sido produzidos a partir de um traço superior retilíneo e outro curvo, mas o
segundo apresenta na parte inferior, junto às patas uma descontinuidade no traço curvo
da parte ventral. No que diz respeito às patas, o primeiro apresenta as extremidades
trifurcadas e o segundo, bifurcadas, o que normalmente não acontece para as aves deste
260
estilo, mas suas outras características dão a identidade necessária à figura. Os dois
apresentam o pescoço feito a partir de um traço único e contínuo, tendo na extremidade
a cabeça, feita em um ângulo de 45º com o pescoço. Seus corpos foram preenchidos por
círculos concêntricos e a cauda (ou as asas) aparece na extremidade, produzidos a partir
de dois traços diagonais e traços a ele perpendiculares, na parte acima do corpo do
animal e oblíquos, na parte lateral.
Fotografia 2: Cervídeo com morfologia angular
O animal mais representado neste painel é o cervo e aparece em diversas técnicas. O
maior deles (medindo cerca de 20 cm) tem o corpo “retangular”, com uma das arestas
curva. Esta parte curva é importante, pois corrobora a afirmação de que há uma escolha
cenográfica na representação dos corpos retangulares com ângulos bem demarcados e
que não foi uma falta de habilidade técnica ou instrumental do autor. Há uma
representação de leve movimento evidenciado pelas patas dianteiras e traseiras. Ambas
são bifurcadas nas extremidades e não apresentam coxas. O preenchimento do corpo foi
feito a partir da divisão de três áreas e, dentro delas, traços verticais e um quadriculado.
Seu pescoço foi feito com dois traços de contorno, que seguem até a cabeça e um
261
preenchimento, com manchas que sugerem uma pintura uniforme, e duas orelhas. O
rabo foi feito com pintura uniforme e se apresenta arredondado na extremidade.
Fotografia 3: Pequenas figuras antropomorfas
Três antropomorfos aparecem com as pernas abertas em “v” e pés em 45º voltados para
fora, cabeças arredondadas na parte superior, braços na altura dos ombros e dois dedos
nas mãos. Os três apresentam pintura uniforme, um tamanho reduzido
(aproximadamente 5 cm cada) e, aparentemente, não apresentam nenhuma ação.
Uma cena de caça ao cervo aparece na parte superior do painel e apresenta uma
profundidade por meio do deslocamento oblíquo dos personagens. Nesta cena, há um
antropomorfo feito com pintura uniforme, medindo cerca de 10 cm, com as pernas em
“v”, sem coxas, pés voltados para fora com ângulos menores que 90º. Apresenta os
braços abertos na altura dos ombros, com três dedos nas mãos, cabeça arredondada e
pescoço. Próximo a uma das mãos, aparece o instrumento utilizado na caça, que segue
contínuo, até as costas de um veado. Este antropomorfo sobrepõe parte de um grafismo
produzido a partir do ocre puro.
O veado de quase 20 cm, apresenta o corpo ovalado e alongado na parte central. Têm as
patas evidenciando movimento de salto, sem apresentar coxas e com as extremidades
bifurcadas. O pescoço foi produzido a partir de dois traços de contorno, que seguem até
se unirem formando a cabeça do animal e com uma pintura uniforme em um vermelho
mais claro na parte interna. As orelhas são dois traços finos e arredondados na
extremidade. O corpo está preenchido por linhas diagonais em dois sentidos opostos,
262
formando um quadriculamento, e o rabo segue a linha do corpo, demonstrando uma
grande habilidade e precisão no uso do instrumento, na parte superior dorsal da traseira
do animal.
Fotografia 4: Cena de caça ao cervo
Próximo à cena de caça aparecem dois cervos de perfil em tamanho reduzido (um com
cerca de 10 cm e o outro com 5 cm) e corpo angular preenchido por linhas verticais.
Entre eles existe uma série de traços produzidos com ocre puro. Com técnicas
semelhantes, mas, claramente, diferentes em termos de maestria, os grafismos nesta área
do suporte foram respeitados, não havendo sobreposição. O primeiro cervídeo foi
representado com o corpo retangular, patas dianteiras e traseiras sem movimento e sem
coxas e com as extremidades bifurcadas. O pescoço foi feito com um traço que segue
para formar a cabeça, onde se encontram duas orelhas bem finas. O rabo foi produzido
depois do corpo e o sobrepõe parcialmente, na parte inferior.
O segundo cervo aparece com o formato do corpo trapezoidal, patas dianteiras e
traseiras sem movimento e sem coxas, com os pés bifurcados nas extremidades. Um
movimento bastante evidente foi dado a partir da “torção” do pescoço, com a cabeça do
263
animal voltada para trás. É interessante notar que a cabeça e as orelhas do animal foram
produzidas em uma área mais baixa do suporte e que o pescoço tem seu preenchimento
de maneira uniforme, sem descontinuidade, em uma fenda da parede. O rabo do animal
foi representado por um traço que segue contínuo a partir da parte traseira.
Fotografia 5: Cervídeos, riscos e carimbos feitos com a palma da mão
Próximo aos cervos há uma linha com sete traços produzidos claramente com o dedo,
uma linha vertical produzida a partir de tridígitos, alguns grafismos puros e uma série de
carimbos feitos com a palma das mãos. Acima de um dos carimbos aparece um pequeno
cervo, medindo cerca de 5 cm, com corpo retangular, preenchido por linhas finas
verticais, as patas traseiras e dianteiras bifurcadas e sem coxas, pescoço feito com um
traço e cabeça voltada para trás, dando um leve movimento à figura do animal.
264
Fotografia 6: Traços feitos com dedo, cervídeos e carimbos
Uma cena sexual com dois antropomorfos aparece em uma parte um pouco mais
afastada do painel. As duas figuras foram produzidas a partir de linhas de contorno e
posterior preenchimento interno. Há várias possibilidades de “leitura” no que diz
respeito à posição de cada um dos antropomorfos desta cena. Mas, optou-se por analisá-
la da seguinte maneira: uma figura feminina (medindo aproximadamente 15 cm)
apresenta-se verticalmente com as pernas abertas, apresentando nas extremidades, os
pés, com ângulos menores que 90º com a linha das pernas. Seus braços estão levantados
e dobrados na altura da cabeça, que é redonda e apresenta um pescoço formado pelo
corpo associado à posição dos braços. Na parte inferior de seu corpo dividido por uma
linha extremamente fina em negativo, aparece a área aonde é introduzido o falo da
figura masculina.
O homem está representado horizontalmente (medindo cerca de 15 cm), o que não
significa que esteja deitado. Apresenta o corpo feito com linhas de contorno e
preenchido por manchas arredondadas, que visualmente dão um aspecto de pintura
uniforme. A cabeça é redonda e esta sim, preenchida por pintura uniforme. As pernas
aparecem em “v”, com pés em 45º, feitos a partir de um traço e os braços apresentam-se
265
levantados, aproximadamente, na altura dos ombros e com dedos nas mãos, que
parecem afastar a perna da figura feminina.
Fotografia 7: Cena de sexo
Estão presentes ainda neste painel alguns cervos de perfil (medindo 15 e 10 cm),
isolados cenograficamente, com corpo retangular, preenchidos por linhas e zig-zags,
pernas sem coxas e com extremidades bifurcadas, pescoço feitos com traços e cabeças
com pintura uniforme, além de duas orelhas, típicos do estilo Serra Branca, e uma
grande quantidade de grafismos produzidos com ocre puro, representando cervos,
riscos, tramas quadriculadas e outros grafismos puros, mas que não fazem parte do
perfil estilístico analisado.
Fotografias 8 e 9: Cervídeos retangulares
266
1) Os grafismos se apresentaram dispostos em planos horizontais, com as áreas que
os envolvem claramente respeitadas entre o mesmo estilo. No caso das composições, se
constatou deslocamento oblíquo entre as figuras. As superposições foram verificadas
entre os grafismos do estilo em estudo, produzidos com uma tinta líquida, sobre
grafismos de um outro momento, produzidos com o ocre sem solvente.
2) Quanto às temáticas, verificaram-se grafismos antropomorfos e cervídeos lado a
lado, em cenas de caça ao cervo, duas figuras humanas em uma cena de sexo, pássaros e
as linhas de traços paralelos. A exceção dos traços paralelos e dos pequenos
antropomorfos lado a lado, os outros grafismos se apresentaram morfologicamente
retangulares e preenchidos de maneira individual.
3) A única cor utilizada neste sítio foi a cor vermelha, em várias densidades, e
tonalidades. Os instrumentos utilizados possibilitaram traços retos e curvos e,
independente de seu domínio, os gestos foram apresentados de maneira contínua.
267
4. RESULTADOS
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena Isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Serra Alegre
Morcego (49)
5
_
11
8
6
30
3
_
_
_
_
3
_
_
_
33
Abreviaturas: Em = Emblemáticos; o = outros; Σt = Soma total
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena Isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Serra do Angical
Zé Patu (395)
_
_
_
4
2
6
_
_
_
_
3
3
_
_
_
9
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena Isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Serra do Gongo
Arapuá (37)
_
_
11
2
10
23
1
_
4
_
_
5
_
_
_
28
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena Isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Varedão Cambraia
Varedão VI (253)
_
1
_
_
2
3
_
1
3
_
2
6
_
_
_
9
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena Isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Varedão Cambraia
Varedão VII (254)
2
_
_
_
_
2
_
_
_
_
6
6
_
_
_
8
268
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena Isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Varedão Cambraia
Estevo III (110)
1
10
_
2
_
13
1
2
10
_
_
13
_
_
_
26
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena Isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Serra da Capivara
Pitombi (36)
4
2
2
4
_
12
3
1
7
_
_
11
_
_
_
23
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena Isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Serra da Capivara
Paraguaio (97)
1
_
2
4
_
7
1
_
_
_
_
1
_
_
_
8
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena Isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Serra Talhada
Canoas VIII (430)
_
_
_
_
_
_
5
_
4
_
_
9
_
_
_
9
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena Isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Serra Talhada
Rodrigues II (279)
4
3
10
12
1
30
2
3
54
_
_
59
_
_
_
89
269
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena Isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Serra Talhada
Pedra Furada (23)
1
_
8
_
_
9
_
_
2
_
_
2
_
_
_
11
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena Isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Serra Talhada
Levada (77)
1
_
2
3
_
6
2
_
_
_
_
2
_
_
_
8
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena Isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Serra Talhada
Cabaceiras
(170)
4
_
2
2
vários
8
_
2
3
_
_
5
_
_
_
13
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena Isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Serra Talhada
Roça do Zeca
(149)
4
_
_
2
_
6
1
_
2
_
_
3
_
_
_
9
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena Isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Serra Vermelha
João Pimenta (459)
8
2
11
4
3
28
_
_
10
_
_
10
_
1
1
39
270
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Serra Nova
Salitre (20)
_
_
46
9
-
55
6
1
30
_
_
37
_
_
_
98
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Serra Branca
Caboclinho (29)
3
_
9
6
1
19
2
_
2
_
1
5
_
_
_
24
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Serra Branca
Vento (26)
1
2
10
4
1
18
4
1
4
_
_
9
_
_
_
27
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Serra Branca
Caboclo (27)
3
_
12
6
3
24
_
_
_
_
_
_
_
_
_
24
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Serra Branca
Extrema II (33)
3
_
15
26
19
63
2
_
_
_
_
2
1
2
3
68
271
Sítio Antropomorfos Σ Zoomorfos Σ Fitomorfos Σ Σ t
Isolado Cena isolado Cena Isolado Cena
Caça Fila Em o Caça Fila Em o
Serra Branca
Sobradinho (56)
_
1
3
_
2
6
4
1
4
_
_
9
_
_
_
15
Tabela 2: Valores brutos dos grafismos analisados para cada um dos 21 sítios selecionados
Gráficos 1 e 2: Temáticas verificadas e espécies representadas
Com base nos grafismos analisados, referentes aos 21 sítios selecionados, verificou-se
uma recorrência das figuras antropomorfas isoladas, com os braços levantados e as
pernas esticadas, em todos os sítios verificados, a exceção da Toca do Caldeirão dos
Canoas VIII, aonde não aparecem antropomorfos do estilo Serra Branca. Desses, a
maioria (cerca de 60%) ultrapassa as dimensões originalmente estabelecidas para os
grafismos da Tradição Nordeste (de 5 a 15 cm), mas apresentam outras características
que comprovam sua filiação a esta Tradição, como a possibilidade de reconhecimento, a
riqueza na representação das características essenciais para caracterização dos grafismos
de animais e antropomorfos e a habilidade técnica, mais desenvolvida no estilo Serra
Branca. O mesmo ocorre com os grafismos emblemáticos nas várias áreas de
concentração de sítios do Parque Nacional Serra da Capivara e suas adjacências.
Para o estilo em estudo, verificou-se, nas composições emblemáticas, uma
predominância das figuras representadas no chamado “frente-perfil”, em detrimento da
postura típica dorso contra dorso (na qual pelo menos duas figuras aparecem de costas
uma para a outra), bastante presente no estilo inicial. Composta por figuras
Animais Representados
Capivaras Cerdeos Tatus Emas ssaros
Raposa Onças Lagartos Outros
Temáticas
Antropomorfos
Zoomorfos
Fitomorfos
272
antropomorfas, esta composição estava presente em apenas um (Toca do Caboclinho)
dos sítios verificados e apresentava junto às figuras antropomorfas um grafismo puro.
Tanto nas representações de composições emblemáticas de tipo “frente-perfil”, quanto
nas cenas de caça, os grafismos apresentaram como regra gráfica o deslocamento
oblíquo entre as figuras, além da manutenção dos espaços laterais regulares, entre as
figuras do mesmo estilo.
No que diz respeito à cenografia, os grafismos antropomorfos apresentaram-se, com
raras exceções, principalmente de frente, a não ser quando em composições
emblemáticas ou na postura de perfil, típica do “frente-perfil”, mas isolados. Para os
animais, apenas 3 casos dos total de 187, se apresentaram de frente, sendo 2 pássaros
com as asas abertas (Toca do Salitre e Toca da Extrema II) e um lagarto (Toca dos
Canoas VIII) visto a partir de um plano superior. Os outros 184 (98%) foram
representados de perfil.
Quanto à temática representada, das figuras zoomorfas 65% se apresentam dentro dos
limites dimensionais pré-estabelecidos, enquanto 45% os ultrapassam. Em sua maioria,
foram observados em fila ou em par, em cenas de caça e, em menor número, isolados.
Das 187 figuras zoomorfas analisadas, o animal mais representado no estilo Serra
Branca foi a capivara, com 37% do total e este número é bastante expressivo, pois se
trata de um animal já extinto na área. O segundo animal mais representado foi o
cervídeo (31%) e em seguida as emas (16%). Os outros animais representados foram o
tatu, o lagarto, a raposa e as onças, mas apresentaram percentuais menores que 5%.
As onças foram representadas, em 90% dos casos vistos, em um tamanho fora do
natural em relação aos outros grafismos do mesmo estilo que aparecem preenchidos por
pintura uniforme. Nos sítios em que este animal está presente, ele foi representado,
proporcionalmente, em tamanho cerca de 2 a 3 vezes maior que as figuras
antropomorfas.
A ornamentação, característica do estilo Serra Branca, deu-se de forma majoritária entre
as figuras antropomorfas e zoomorfas, independente da dominância ou não deste estilo
no sítio. Verificou-se, além do preenchimento diversificado, que a cor do pigmento mais
273
utilizado foi a vermelha. Apenas 3% do total de grafismos aparecem em amarelo ou em
branco (1%), como única cor, e mesmo considerando o grande número de grafismos
policromáticos, principalmente nas cores vermelho e amarelo associadas, existentes no
Sítio Toca do Salitre, estes se apresentaram somando apenas 9% do total.
Constatou-se uma relação estreita entre o tamanho dos grafismos e seu preenchimento.
Quando as figuras antropomorfas apresentam tamanho menor que 15 cm, aparecem
produzidas por pintura uniforme ou fazendo parte de alguma cena, como os animais
enfileirados ou as figuras lado a lado e, geralmente aparecem sem representação de
qualquer dinamismo entre as figuras.
Em um grande número de sítios, foram representados antropomorfos lado a lado ou
como figuras que paulatinamente vão sendo substituídas por traços verticais paralelos.
No caso da Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada, estes chegaram a apresentar
esta abstração nas mesmas composições.
O preenchimento mais recorrente foi àquele feito com linhas em zig-zag e zig-zags
preenchidos internamente a fim de formar uma série de triângulos seqüenciais, com
figuras em negativo, mas apesar da predominância deste tipo de preenchimento, não foi
possível associa-lo a um padrão, como levantado hipoteticamente, pois se verificou que
independente do modo como este preenchimento foi dado, ele sempre aparece de modo
a diferenciar as figuras (tanto humanas como animais) dentro do painel.
A verificação do modo de utilização do suporte apontou para uma predominância das
estruturas areníticas, de granulometria fina a média, existentes entre os estratos
cascalhosos e conglomeráticos, mas sem qualquer diferença na escolha das áreas menos
desniveladas do suporte. Sem exceção, os sítios que apresentaram alguma dificuldade
no que diz respeito à altura, postura ou gesto do autor, foram utilizados indistintamente.
Os instrumentos utilizados, associados a uma grande habilidade técnica dos autores
permitiram a produção de grafismos em áreas extremamente irregulares do suporte
rochoso, o que se deu de forma fluida e delicada.
As altimetrias dos abrigos verificados variaram de 290m a 615m, baseando sua média
em torno de 400m e estes se apresentaram, em grande parte, no sopés da serra e na
274
média vertente, mas não apresentaram qualquer padrão quanto à abertura e orientação
do abrigo.
As superposições deram-se, basicamente, na área da Serra Talhada e em alguns sítios da
Serra Branca. Na área da Serra Branca e nos sítio Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra
Furada e Toca da Baixa das Cabaceiras, ambos na Serra Talhada, as superposições dos
grafismos do estilo Serra Branca sobre grafismos do estilo Serra da Capivara e do
complexo estilístico Serra Talhada foram verificadas, muitas vezes, sobre uma grande
área do grafismo pintado anteriormente e sobre grafismos, por vezes, reconhecíveis.
A hipótese de que seria possível estabelecer identidades gráficas por meio do estudo
deste número de sítios foi comprovada. Entretanto, apesar do número de sítios parecer
suficiente, o universo presente na área é muito maior e por se tratar de vestígios, seriam
necessárias todas as informações possíveis, geradas pelas escavações arqueológicas,para
associar-se os registros a um contexto ambiental e cronológico.
Para se chegar a uma caracterização evolutiva para o estilo Serra Branca, seria
imprescindível contar com cronologias para os sítios verificados, além de obter dados
comprovados cientificamente acerca dos processos de adaptação das populações às
mudanças ocorridas na área, tanto no que diz respeito aos aspectos ambientais quanto na
existência de coabitações de distintos grupos culturais.
275
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em função do grande número de representações típicas do estilo Serra Branca
apresentarem dimensões maiores que aquelas propostas para os grafismos da Tradição
Nordeste, extrapolando-se esta medida, inclusive no número de composições
emblemáticas, sugerem-se maiores investigações nos sítios que apresentam
características desta Tradição, além de uma possível inclusão dos sítios de outras áreas,
comparando-os analiticamente com o perfil constatado para os grafismos da sub-
tradição Várzea Grande.
Sugere-se uma pesquisa relacionada ao tamanho dos registros rupestres pintados,
associando-os, quantitativamente, ao estilo Serra da Capivara e ao complexo estilístico
Serra Talhada, para contrastar com uma possível falsa impressão dos dados percentuais
encontrados para estilo Serra Branca nesta pesquisa, a fim de propor um aumento nos
limites dimensionais para os grafismos da Tradição Nordeste, pelo menos para a área da
sub-tradição Várzea Grande, ou uma complementação conceitual estabelecida pelo
tamanho dos grafismos, como uma das características essenciais da apresentação
gráfica, relacionados à sua distribuição geográfica (conceito de sub-tradição).
276
6. BIBLIOGRAFIA
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Serra da Capivara. FUMDHAMENTOS - Publicação da Fundação Museu do
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Análise das figuras zoomorfas. Revista do Museu Paulista (Nova Série). V. 27.
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