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representação popular que questionavam os problemas brasileiros, desde a
concentração de terras
( )93
,
renda
( )94
e a dependência econômica externa do país
( )95
. Dentre estas, a CGT – Comando Geral dos Trabalhadores, UNE - União
Nacional dos Estudantes e Ligas Camponesas. Ao mesmo tempo essas
instituições propunham alternativas que pudessem favorecer a inclusão social.
Muitos desses grupos estavam dispostos à radicalização e tinham intenções
bastante revolucionárias.
Diretamente envolvidos nessas discussões estavam os mais diversos
setores da sociedade brasileira, que se faziam representar por esses grupos. Aí se
incluída a Igreja, notadamente os setores mais progressistas. Nesse contexto,
incrementaram pelo país afora as muitas organizações pastorais de tendência à
esquerda
( )96
, como é o caso da variedade de agremiações jovens, exemplificados
pela JAC – Juventude Agrária Católica, JEC – Juventude Estudantil Católica e
JOC - Juventude Operária Católica.
93
Desde o início da Colonização, o Brasil vivenciou um histórico de injustiças no que concerne à questão
agrária. Ainda em 1960, o país era apontado como um dos campeões em concentração de terras. Nessa época,
as 3 milhões e 350 mil propriedades agrícolas que ocupavam 31% de toda área do país, estavam assim
divididas: Pequenas propriedades, menos (cem hectares): aproximadamente setecentas mil propriedades eram
minifúndios; as granjas, de dez a cinqüenta hectares e os sítios, de cinqüenta a cem hectares, representavam
44,6% das propriedades, somando 44,7% da área cultivada. As médias propriedades (de cem a 1000 hectares):
representavam 9,5% das propriedades, somando 32,5% da área cadastrada. O latifúndio, (com mais de mil
hectares): representava 0,9% das propriedades, dominando 47,3% das terras, cultivadas somente 2.3%, dessa
área. Dados fornecidos pelo escritório regional Vale do Aço do IBGE no Vale do Aço. Rua Belo Horizonte.
103, sala 189, centro – Ipatinga, MG.
6
Em 1960, a parcela do 1% mais rico da população brasileira usufruía 11,9% da renda nacional; os 9%
considerados classe média alta, detinham 27,7% da renda; os 30% considerados classe média baixa, detinham
35,3% da renda; os 60% de menor renda no meio da população detinham 25,1% da renda nacional. Cf.
PORTELA, Fernando e VESENTINI, W. José. Êxodo Rural e Urbanização. São Paulo, SP: Ática, p.39-43
7
Entre os muitos fatores que indicam a dependência externa nos anos sessenta, consta o controle do capital
estrangeiro nas muitas atividades produtivas da economia brasileira, destacando-se os seguintes ramos:
tratores, 99,8%; automóveis, 98,2%; medicamentos, 88,0%; cigarros, 85,0%; energia elétrica, 82,0%;
produtos químicos, 76,0; máquinas, 70,0%. Cf. ROSSI, Waldemar; GERAB, William Jorge. Industria e
Trabalho no Brasil. São Paulo, SP: Atual, 1997, p. 49.
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O termo esquerda é usado para indicar os rumos pastorais da ala progressista do clero, que contrapondo a
Igreja tradicional, se mostravam preocupados com a promoção social da população marginalizada. Entre
tantas idéias, defendem reforma agrária, melhor distribuição de renda e educação pública de qualidade. No
entanto, esta facção do clero não aceita que, o uso da expressão “esquerda”, presente na ideologia da Igreja
progressista, seja associado às idéias do socialismo ou comunismo, como quiseram fazer acreditar os militares
ligados ao Regime de 1964.