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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Liliana Pimentel
A QUESTÃO DOS CORREDORES ECOLÓGICOS
NO DISTRITO FEDERAL: UMA AVALIAÇÃO DAS
PROPOSTAS EXISTENTES
Brasília – DF
2007
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Liliana Pimentel
A QUESTÃO DOS CORREDORES ECOLÓGICOS
NO DISTRITO FEDERAL: UMA AVALIAÇÃO DAS
PROPOSTAS EXISTENTES
Dissertação apresentada para a Obtenção
do Grau de Mestre em Arquitetura e
Urbanismo da Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade de
Brasília.
Área de Concentração: Planejamento
Urbano e Projeto Urbanístico
Orientador: Prof. Dr. Rafael Sanzio
Araújo dos Anjos
Brasília – DF
2007
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Elaborada por: Marina Ribeiro – Bibliotecária Codevasf
Pimentel, Liliana
A Questão dos Corredores Ecológicos no Distrito Federal: Uma
Avaliação das Propostas Existentes - Liliana Pimentel – Brasília:
UNB, 2007.
166 f. : il.
Orientador: PhD. Rafael Sanzio Araújo dos Anjos
Dissertação (Mestrado) – Universidade de Brasília, Curso de
Mestrado em Arquitetura e Urbanismo – Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo.
1. Corredores Ecológicos. 2. Ordenamento Territorial. 3. Uso e
Ocupação do Território. 4. Instrumentos de Gestão Urbana. 5.
Planejamento Biorregional – Dissertação. I. Universidade de
Brasília. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. II. Título.
Liliana Pimentel
A QUESTÃO DOS CORREDORES ECOLÓGICOS NO DISTRITO
FEDERAL: UMA AVALIAÇÃO DAS PROPOSTAS EXISTENTES
Dissertação apresentada para a Obtenção
do Grau de Mestre em Arquitetura e
Urbanismo da Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade de
Brasília.
Área de Concentração: Planejamento
Urbano e Projeto Urbanístico
Orientador: Prof. Dr. Rafael Sanzio
Araújo dos Anjos
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Rafael Sanzio Araújo dos Anjos______Universidade de Brasília
Assinatura___________________
Profa. Dra. Marta Adriana Bustos Romero_____Universidade de Brasília
Assinatura______________________
Prof. Dr. Neio Lucio de Oliveira Campos ____Universidade de Brasília
Assinatura______________________
Prof. Dr. Paul Irving Mandell ______________Universidade de Brasília
Assinatura______________________
Ao meu amado Luis Henrique, filho
do meu coração e da minha alma,
capaz de suportar a distância para que
possamos crescer juntos.
A minha mãe Cida, mão de Deus no
meu caminho, sempre estendida para
me soerguer, pronta a secar minhas
lágrimas e partilhar do meu riso.
Ao meu “Paivô” Vicente Santana,
exemplo a seguir, força que move o
meu caminhar.
A Bruno Freire, incentivo fraterno,
irmão eterno de remotos tempos.
E a Heloísa, alma amiga da minha, luz
que brilha em algum lugar, até que o
tempo nos reúna outra vez...
AGRADECIMENTOS
Ao DOUTOR RAFAEL SANZIO ARAÚJO DOS ANJOS pela orientação, por ter
acreditado em nossa força de trabalho aceitando o pesado encargo de uma aluna
prolixa, pela paciência e cuidado nas correções e pela presença amiga no longo
caminho.
Aos parceiros de trabalho na SECRETARIA DE RECURSOS HÍDRICOS DO
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, especialmente ao Engo. ROGÉRIO SOARES
BIGIO e à Dra. MANUELA MOREIRA, aos parceiros de trabalho do Programa de
Modernização do Setor Saneamento – PMSS, pelo incentivo amigo que me
possibilitou a oportunidade de participar do curso de mestrado ofertado pela UNB,
durante a nossa passagem por Brasília, compreendendo a sua relevância para o
aprimoramento profissional que buscamos.
Ao PROFESSOR PAUL MANDELL, da UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA por ter
descortinado o interessante mundo da economia como elemento fundamental no
processo de planejamento.
A todo o CORPO DOCENTE da Universidade de Brasília pelos ensinamentos
transmitidos e pelo carinho e paciência com que tantas vezes nos auxiliaram,
especialmente aos DOUTORES MARTA ADRIANA BUSTOS ROMERO e NEIO
LUCIO OLIVEIRA CAMPOS, que gentilmente aceitaram compor as bancas de
qualificação e avaliação, contribuindo de forma inestimável para a finalização deste
trabalho.
A SILENA PIMENTEL que nos auxiliou na revisão e a todos os DISCENTES,
companheiros fiéis que estiveram presentes na batalha diária para a conclusão do
curso.
“Aonde há ameaça de sérios riscos
irreversíveis, a incerteza científica não
deve ser usada para postergar medidas de
prevenção à degradação ambiental”.
Declaração de Desenvolvimento e Meio
Ambiente – Rio 92
RESUMO
O objetivo deste trabalho é identificar os fluxos potenciais para o
estabelecimento de corredores ecológicos no Distrito Federal, considerando a
perspectiva do planejamento biorregional. Definimos o Bioma Cerrado como
prioritário para o desenvolvimento desse estudo, não apenas pela sua posição
estratégica, abrangência e caráter integrador, mas por funcionar como elemento de
transição entre os demais biomas brasileiros e encontrar-se imensamente ameaçado
a despeito da sua importância para o equilíbrio ecológico.
Apresentamos uma breve discussão sobre a importância do Bioma Cerrado no
contexto das políticas de preservação ambiental e conservação da natureza em
desenvolvimento no país e a necessidade de se estabelecer programas adequados,
que considerem a integração dos biomas brasileiros numa perspectiva regional.
Partindo do pressuposto de que as ações em nível local devem adequar-se a
uma política mais ampla de conservação dos ecossistemas naturais, dando-lhe o
suporte necessário para que se torne factível, tomamos como exemplo a questão
dos projetos de corredores ecológicos em execução no país e a sua inserção nas
políticas de uso e ocupação do território.
Após o levantamento das propostas existentes para o estabelecimento de
corredores ecológicos no país e a compreensão conceitual do tema corredores
ecológicos, identificamos a região do Distrito Federal como ponto chave para a
conexão dessas propostas. Assim, selecionamos os estudos existentes sobre o tema
num recorte espacial coincidente com os limites dessa unidade da federação.
Uma avaliação crítica das propostas existentes, do ponto de vista da sua
adequação espacial, realizada com base na sobreposição de informações
geográficas, nos permitiu identificar suas fragilidades e potencialidades, resumidas
num quadro síntese, e estabelecer uma nova visão sobre a implementação dos
Corredores Ecológicos no Distrito Federal. Visão esta calcada nos fundamentos do
planejamento biorregional e demonstrada no mapa que apresenta os fluxos
prioritários para a conexão de fragmentos do Cerrado na área de estudo.
ABSTRACT
The purpose of this work is to identify the potential flows to the ecological
corridors into the Distrito Federal, considering the biorregional planning. The
Cerrado Biome is defined as central to the development of this work, not only
because of its strategic location, size and integration potential, but also because it
works as a transition element between the other Brazilian biomes and because it is
today dangerously threatened, in spite of its role in the maintenance of the
ecological balance.
This work offer a brief discussion of the importance of the Cerrado biome for
the environment preservation and nature conservation policies being devised in
Brazil, as well as of the necessity for the development of adequate programs, which
take into account the preservation of the Brazilian biological systems from a
regional perspective.
Assuming that local action must adjust to a more comprehensive policy for
the conservation of natural ecosystems, providing support so that it becomes
feasible, this work uses as example the ecological corridors project currently being
implemented in the country and its inclusion into the policies for territory usage
and occupation.
After assessing the existing proposals for the establishing of the ecological
corridors in the country and understanding the concept of ecological corridors
behind them, the Distrito Federal area was identified as the focal point for the
connection of such proposals. Therefore, existing studies on the subject were
selected for research, considering space criteria meeting the boundaries of that
federative unit.
A critical evaluation of existing proposals, taking into account their space
adequacy, carried out using comparisons of geographical data, allowed the
identification of their weaknesses and potential, summed up in a table. It also
allowed the description of a new stand with regards to implementation of the
ecological corridors in the Distrito Federal, based on the foundations of bio-
regional planning and demonstrated in a map showing priority flows for the
connection of fragments of the Cerrado in the studied area.
LISTA DE SIGLAS
Abes – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária
Adasa – Agência Reguladora de Águas e Saneamento do Distrito Federal
APA – Área de Preservação Ambiental
APM – Área de Proteção de Mananciais
APP – Área de Proteção Permanente
Arie – Área de Relevante Interesse Ecológico
Bird – Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento
Caesb – Companhia de Saneamento Ambiental de Brasília
CEI – Campanha de Erradicação de Invasões
CNAEE – Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica
Conama – Conselho Nacional de Meio Ambiente
Confea – Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura
DF – Distrito Federal
DIREC – Diretoria de Ecossistemas do Ibama
EE – Estação Ecológica
EIA – Estudo de Impacto Ambiental
Flona – Floresta Nacional
FSD – Fundação Sustentabilidade e Desenvolvimento
GDF – Governo do Distrito Federal
Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Ipea – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
MAB – Man and Biosphere
i
MMA – Ministério do Meio Ambiente
Novacap – Companhia de Urbanização da Nova Capital
ONG – Organização Não-Governamental
Paeg – Plano de Ação Econômica do Governo
Parna – Parque Nacional
PDL – Plano de Desenvolvimento Local
PDOT – Plano de Desenvolvimento e Ordenamento Territorial do Distrito Federal
PERH – Plano Estadual de Recursos Hídricos
PGIRH – Plano Integrado de Gestão de Recursos Hídricos
PIN – Programa de Integração Nacional
PND – Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico
PNMA – Programa Nacional de Meio Ambiente
PPG-7 – Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil
Probio – Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica
Brasileira
PZEE – Programa de Zoneamento Econômico-Ecológico
RA – Região Administrativa
RBC – Reserva da Biosfera do Cerrado
RDS – Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Rebio – Reserva Biológica
Refau – Reserva de Fauna
Resex – Reserva Extrativista
Ride – Região Integrada de Desenvolvimento Econômico
RMB – Região Metropolitana de Brasília
RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural
ii
RVS – Reserva de Vida Silvestre
SBF – Secretaria de Biodiversidade e Florestas
Secex – Secretaria Executiva do MMA
Secovi – Sindicato da Habitação
Seduh – Secretaria de desenvolvimento Urbano e Habitação do Distrito Federal
Sicad – Sistema Cartográfico do Distrito Federal
Singreh – Sistema Nacional de Gestão de Recursos Hídricos
Sisnama – Sistema Nacional de Meio Ambiente
SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação
TNC – The Nature Conservancy
UC – Unidade de Conservação
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
UnB – Universidade de Brasília
Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura
Unicamp – Universidade Estadual de Campinas
WWF – World Wildlife Fund for Nature
iii
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – CICLO DO PROCESSO DE GESTÃO AMBIENTAL .............................................25
FIGURA 2 – MAPA DOS BIOMAS BRASILEIROS.......................................................................30
FIGURA 3 – MAPA DAS ECORREGIÕES NO TERRITÓRIO BRASILEIRO ..........................31
FIGURA 4 – MAPA DA BIORREGIÃO FORMADA PELOS MUNICÍPIOS DO ENTORNO DO
DISTRITO FEDERAL ........................................................................................................................32
FIGURA 5 – EXEMPLIFICAÇÃO DAS TIPOLOGIAS DOS CORREDORES ECOLÓGICOS,
DE STEPING STONES E DE ILHA DE BIODIVERSIDADE. .......................................................41
FIGURA 6 – ESQUEMA METODOLÓGICO DE ELABORAÇÃO DA PESQUISA ..................45
FIGURA 7 – AMPLIAÇÃO DOS CONFLITOS PELO USO DOS RECURSOS AMBIENTAIS59
FIGURA 8 – ESQUEMA DO ZONEAMENTO DAS RESERVAS DA BIOSFERA – UNESCO.70
FIGURA 9 – CORREDORES ECOLÓGICOS NO PROJETO DO IBAMA E A SUA
ABRANGÊNCIA NACIONAL E INFLUÊNCIA REGIONAL.......................................................73
FIGURA 10 – A IMPORTÂNCIA DA BIORREGIÃO DO DISTRITO FEDERAL E ENTORNO
PARA A CONEXÃO DOS CORREDORES ECOLÓGICOS NO BRASIL...................................74
FIGURA 11 – DISTRIBUIÇÃO DO BIOMA CERRADO NO BRASIL E ABRANGÊNCIA DO
PROJETO CORREDORES ECOLÓGICOS....................................................................................81
FIGURA 12 – CORREDOR ECOLÓGICO PARANÃ-PIRINEUS................................................84
FIGURA 13 – USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E COBERTURA VEGETAL NO DISTRITO
FEDERAL E ENTORNO....................................................................................................................91
FIGURA 14 – ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE
NO ENTORNO DO DISTRITO FEDERAL......................................................................................93
FIGURA 15 – UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO DISTRITO FEDERAL.............................95
FIGURA 16 – ÁREAS RELEVANTES PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE...98
FIGURA 17 – ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA AÇÕES DE PRESERVAÇÃO DA
BIODIVERSIDADE.............................................................................................................................99
FIGURA 18 – PROPOSTA 1 - CORREDORES ECOLÓGICOS RODOVIÁRIOS NO
DISTRITO FEDERAL ......................................................................................................................117
FIGURA 19 – PROPOSTA 2 - CORREDORES ECOLÓGICOS NA BACIA DO RIO
MARANHÃO......................................................................................................................................119
FIGURA 20 – PROPOSTA 3 - CORREDORES ECOLÓGICOS NA BACIA DO RIO SÃO
BARTOLOMEU.................................................................................................................................123
FIGURA 21 – PROPOSTA 4 - CORREDORES ECOLÓGICOS NA REVISÃO DO PDOT.....128
FIGURA 22 – PROPOSTA 5 - CORREDOR ECOLÓGICO DA RESERVA DA BIOSFERA DO
CERRADO – FASE I.........................................................................................................................130
FIGURA 23 – PROPOSTA 6 - CORREDOR ECOLÓGICO PARANÃ-PIRINEUS NO
DISTRITO FEDERAL ......................................................................................................................132
FIGURA 25 – IDENTIFICAÇÃO DE FLUXOS PARA CORREDORES BIOLÓGICOS NO
DISTRITO FEDERAL ......................................................................................................................139
FIGURA 26 - IDENTIFICAÇÃO DE FLUXOS PARA CORREDORES FLORESTAIS NO
DISTRITO FEDERAL ......................................................................................................................141
FIGURA 27 - IDENTIFICAÇÃO DE FLUXOS PARA CORREDORES DE CONSERVAÇÃO
NO DISTRITO FEDERAL................................................................................................................143
FIGURA 28 - IDENTIFICAÇÃO DE FLUXOS PARA CORREDORES DE BIODIVERSIDADE
NO DISTRITO FEDERAL................................................................................................................145
FIGURA 29 - IDENTIFICAÇÃO DE FLUXOS PARA CORREDORES DE FAUNA NO
DISTRITO FEDERAL ......................................................................................................................147
FIGURA 30 – PROPOSTA ESPACIAL PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE CORREDORES
ECOLÓGICOS NO DISTRITO FEDERAL ...................................................................................149
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – ALGUMAS MODALIDADES DE PLANEJAMENTO...........................................23
QUADRO 2 – BREVE RESUMO DO DESENVOLVIMENTO DAS POLÍTICAS AMBIENTAIS
................................................................................................................................................................27
QUADRO 3 – RESUMO DAS DEFINIÇÕES ENCONTRADAS PARA AS TIPOLOGIAS DE
CORREDORES ECOLÓGICOS........................................................................................................38
QUADRO 4 – PRINCIPAIS CRUZAMENTOS REALIZADOS ENTRE OS PLANOS DE
INFORMAÇÃO....................................................................................................................................46
QUADRO 5 – CATEGORIAS DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E PRINCIPAIS
OBJETIVOS.........................................................................................................................................68
QUADRO 6 – CORREDORES ECOLÓGICOS DO PPG-7............................................................72
QUADRO 7 – ADMINISTRAÇÃO DAS ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DO
DISTRITO FEDERAL ........................................................................................................................97
QUADRO 8 – SÍNTESE DA AVALIAÇÃO DAS PROPOSTAS DE CORREDORES
ECOLÓGICOS SELECIONADAS ..................................................................................................135
QUADRO 9 – SÍNTESE DAS RECOMENDAÇÕES PARA O ESTABELECIMENTO DE
CORREDORES ECOLÓGICOS NO DISTRITO FEDERAL COM BASE NA NOVA
PROPOSTA........................................................................................................................................150
QUADRO 10 – INSTRUMENTOS DE INTERESSE DO GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL
..............................................................................................................................................................161
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................................................16
1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.............................................................................22
1.1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E CONCEITUAL.........................................................22
1.1.1. Breve Discussão sobre Planejamento e Gestão...............................................................22
1.1.2. A Importância da Instrumentação Legal e dos Arranjos Institucionais para o
Planejamento.................................................................................................................................26
1.1.3. Definição de Estratégias para a Conservação Ambiental ...............................................28
1.2. DEFINIÇÃO DE PLANEJAMENTO BIORREGIONAL.................................................33
1.3. DEFINIÇÕES DE CORREDORES ECOLÓGICOS.........................................................34
1.4. PRINCIPAIS MATERIAIS UTILIZADOS.........................................................................42
1.4.1. Mapas e Imagens............................................................................................................42
1.4.2. Compilação dos Instrumentos Legais.............................................................................42
1.5. CRUZAMENTOS DAS INFORMAÇÕES ESPACIAIS – MÉTODO ESCOLHIDO.....43
SÍNTESE DO CAPÍTULO 1...............................................................................................................48
2. POLÍTICAS DE GESTÃO AMBIENTAL E TERRITORIAL NO BRASIL – ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES.............................................................................................................................50
2.1. BREVE HISTÓRICO DA RELAÇÃO DAS POLÍTICAS ECONÔMICAS COM A
OCUPAÇÃO TERRITORIAL NO BRASIL.....................................................................................50
2.1.1. Questões Fundiárias e Apropriação do Território...........................................................54
2.1.2. O Papel Político do Estado no Ordenamento Territorial e na Gestão Ambiental...........56
2.1.3. Instrumentação Legal e Participação Popular.................................................................60
2.2. PRINCÍPIOS DA POLÍTICA DE MEIO AMBIENTE NO BRASIL...............................64
2.2.1. A Conservação dos Biomas e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação...........65
2.2.2. PLANEJAMENTO BIORREGIONAL E CORREDORES ECOLÓGICOS NO BRASIL 69
SÍNTESE DO CAPÍTULO 2...............................................................................................................75
3. O BIOMA CERRADO E AS POLÍTICAS AMBIENTAIS NO DISTRITO FEDERAL.....78
3.1. A IMPORTÂNCIA DO CERRADO ....................................................................................78
3.1.1. Corredores Ecológicos no Bioma Cerrado .....................................................................82
3.1.2. Delimitação da Área de Estudo ......................................................................................85
3.2. MEIO AMBIENTE E A HISTÓRIA DE BRASÍLIA.........................................................85
3.3. OCUPAÇÃO E REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA NO DISTRITO FEDERAL...........88
3.4. CONSERVAÇÃO AMBIENTAL NO DISTRITO FEDERAL..........................................94
3.5. REVISÃO DE INSTRUMENTOS LEGAIS E IMPLEMENTAÇÃO DE PROGRAMAS
E PROJETOS.....................................................................................................................................100
SÍNTESE DO CAPÍTULO 3.............................................................................................................108
4. ANÁLISE ESPACIAL INTEGRADA PARA A PROPOSIÇÃO DE CORREDORES
ECOLÓGICOS NO DISTRITO FEDERAL ...................................................................................110
4.1. CORREDORES ECOLÓGICOS NA ÁREA DE ESTUDO – CATEGORIZAÇÃO DAS
PROPOSTAS ENCONTRADAS. .....................................................................................................111
4.2. BREVE DISCUSSÃO SOBRE ALGUMAS DAS PROPOSTAS ACADÊMICAS........113
4.2.1. Proposta 1 – Corredores Ecológicos Rodoviários.........................................................114
4.2.2. Proposta 2 – Corredores Ecológicos na Bacia do Rio Maranhão .................................118
4.2.3. Proposta 3 – Corredores Ecológicos na Bacia do Rio São Bartolomeu........................120
4.3. BREVE DISCUSSÃO SOBRE ALGUMAS DAS PROPOSTAS INSTITUCIONAIS ..124
4.3.1. Proposta 4 – Corredores Ecológicos na Revisão do PDOT..........................................125
4.3.2. Proposta 5 – Corredor Ecológico na Reserva da Biosfera do Cerrado –Fase I.............129
4.3.3. Proposta 6 – Corredor Ecológico Paranã-Pirineus no Distrito Federal.........................131
4.4. RESULTADOS DA ANÁLISE ESPACIAL DAS PROPOSTAS DE CORREDORES
ECOLÓGICOS PARA O DISTRITO FEDERAL..........................................................................133
4.5. UMA NOVA PROPOSTA DE CORREDORES ECOLÓGICOS PARA O DISTRITO
FEDERAL...........................................................................................................................................136
4.5.1. Fluxos Possíveis para o Estabelecimento de Corredores de Biológicos no Distrito
Federal 138
4.5.2. Fluxos Possíveis para o Estabelecimento de Corredores de Florestais no Distrito Federal
140
4.5.3. Fluxos Possíveis para o Estabelecimento de Corredores de Conservação no Distrito
Federal 142
4.5.4. Fluxos Possíveis para o Estabelecimento de Corredores de Biodiversidade no Distrito
Federal 144
4.5.5. Fluxos Possíveis para o Estabelecimento de Corredores de Fauna no Distrito Federal146
4.5.6. Integração entre os Fluxos Possíveis para as Diferentes Tipologias de Corredores
Ecológicos no Distrito Federal....................................................................................................148
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES...............................................................................153
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................................157
ANEXO................................................................................................................................................161
INTRODUÇÃO
Ao contemplarmos a necessidade de planejamento das ações de gestão do
território não é possível admitir-se a exclusão da vertente ambiental e a necessidade
de integração de diversas políticas públicas setoriais que influenciam diretamente a
qualidade do meio ambiente com reflexos à vida dos indivíduos.
Observamos cada dia mais os efeitos das ações antrópicas sobre a
biodiversidade. A discussão sobre a necessidade de se encontrar caminhos que
possibilitem a manutenção das atividades humanas e o desenvolvimento
econômico, sem inviabilizar a sobrevivência de espécies e a existência humana
com o rompimento do equilíbrio ambiental, passa a ganhar força em todo o planeta,
transformando-se numa questão global das mais importantes.
Como fruto dessa discussão global surge no início dos anos setenta, a
definição de um conceito amplo de sustentabilidade que norteou a criação e o
aprimoramento posterior de instrumentos legais, normas e regulamentações com
vistas ao controle dos danos ambientais causados pelos processos produtivos em
todo o mundo e, em particular, nos países industrializados do Hemisfério Norte.
Com o tempo, passou a ser necessária uma maior atenção e controle sobre o
uso dos recursos ambientais para que se pudesse manter o desenvolvimento
garantindo a qualidade de vida, gerando a busca de efetividade na aplicação dos
instrumentos voltados ao ordenamento e gestão do território e do dos recursos
ambientais.
Como a degradação ambiental comou a apresentar conseqüências que
alteraram a qualidade de vida das comunidades, demandando cada vez mais o
debate e o envolvimento e a participação ampla da sociedade, passou a ser
necessária a absorção coletiva de conceitos fundamentais como a responsabilidade
compartilhada e o planejamento participativo. O envolvimento da sociedade nas
ações de planejamento exigiu o surgimento de novos arranjos institucionais,
consolidados desde o início do século.
16
As novas legislações prevêem e estimulam essa interação entre os diversos
atores sociais, dando origem aos órgãos colegiados, com poder consultivo e
deliberativo e às figuras dos consórcios, que extrapolam as dimensões
administrativas dos municípios e estados.
No Brasil, o processo de redemocratização e a conseqüente modernização do
Estado passaram a favorecer o planejamento estratégico, que extrapola períodos de
governo e apresenta objetivos no longo prazo, o que envolve a necessidade de
parcerias com outros segmentos sociais, reforçando uma tendência mundial.
Com esse enfoque estratégico, as revisões dos sistemas de gestão e das
políticas setoriais no Brasil começaram a tomar nova forma. Assim se deu com a
reorganização do Sistema Nacional de Meio Ambiente, de Gestão de Recursos
Hídricos e de Gestão de Unidades de Conservação.
A Lei Federal no 9.985, de 18 de julho 2000, estabeleceu o Sistema Nacional
de Unidades de Conservação. No entanto, o seu simples estabelecimento legal não
é suficiente para que se alcance sucesso quanto aos objetivos brasileiros de
conservação ambiental, outros fatores também interferem na conservação da
natureza e complementam o estabelecimento das Unidades de Conservação.
Esses fatores podem estar ligados, inclusive, ao desenvolvimento de outras
políticas públicas setoriais; especialmente as econômicas, as urbanas e as agrárias;
que se traduzem em ações específicas, de caráter estrutural ou não-estrutural, mas
que podem afetar a conservação da natureza no nível local, com reflexos regionais.
Um exemplo claro é a transferência da capital federal para o Centro-oeste
brasileiro.
A vertente ambiental passa a exigir a adoção de outras estratégias de
conservação da biodiversidade que vão além da criação de Unidades de
Conservação. Uma dessas estratégias, o estabelecimento os Corredores Ecológicos,
nos pareceu interessante como objeto de discussão por tratar-se de uma ação
estreitamente ligada ao planejamento territorial, à aplicabilidade dos instrumentos
de ordenamento do uso e ocupação do território e à compreensão dos padrões de
17
distribuição da população em função do estabelecimento das atividades econômicas
que resultam na alteração da paisagem.
A análise das tendências de regionalização na definição de políticas públicas
e do planejamento estratégico nos levou ao conhecimento da divisão territorial em
unidades ambientais que adotam os conceitos de sustentabilidade surgidos na
década de setenta, comentados acima, especialmente as biorregiões. A aplicação
dos fundamentos do planejamento a uma biorregião favorece a participação social,
outra tendência importante, uma vez que essa unidade ambiental não é tão extensa
e apresenta características ambientais, físicas e socioculturais homogêneas.
Sob essa ótica, que leva em conta a biorregião como unidade de
planejamento, talvez possa haver avanços mais significativos para o
desenvolvimento regional. Como um dos pilares do planejamento biorregional, o
estabelecimento de corredores ecológicos se presta ao direcionamento das
atividades a serem desenvolvidas num dado território quanto à conservação da
biodiversidade.
Nesse contexto tornou-se clara a contribuição que os conceitos do
planejamento biorregional, utilizados por nós, podem ofertar à gestão mais
adequada do território e dos recursos ambientais no Distrito Federal e entorno, área
de abrangência dessa pesquisa. O Distrito Federal foi escolhido para a análise mais
profunda e a formulação de uma proposta em função do seu conjunto de
características ambientais peculiares, da tipologia do mosaico de Unidades de
Conservação estabelecido na região e da situação ímpar com relação à
regularização fundiária e de uso e ocupação do solo.
Além disso, a biorregião escolhida ocupa posição estratégica em relação ao
Bioma Cerrado e concentra entes importantes das diversas esferas de governo, da
academia e de instituições não-governamentais. Buscamos, por meio desta
pesquisa, analisar de que forma esta questão dos corredores ecológicos vem sendo
tratada na área de estudo.
O primeiro passo foi reunir as diversas propostas existentes para o
estabelecimento de corredores ecológicos no Distrito Federal, elaboradas tanto no
18
contexto das pesquisas acadêmicas quanto d e outras iniciativas institucionais. Ao
avaliar os objetivos de cada uma delas, constatamos divergências fundamentais
que, quando extrapoladas para outras dimensões, como a instrumentação legal e as
políticas públicas setoriais, tornam-se mais evidentes.
Algumas questões surgiram dessa constatação. Qual das propostas existentes
atende à função principal do estabelecimento de corredores ecológicos? Será que
não estamos novamente querendo adaptar a natureza às nossas intenções e
necessidades quando, na verdade, deveríamos estar moldando as nossas atividades
à capacidade do meio, promovendo a sustentabilidade?
Na busca por respostas, este trabalho apresenta uma reflexão sobre o papel e a
responsabilidade da sociedade no processo de gestão do território, considerando
quatro objetivos:
a) Comparar as propostas de corredores ecológicos, selecionadas dentre
aquelas existentes para o Distrito Federal, identificando fragilidades e
potencialidades, similaridades e conflitos;
b) Discutir o nível de adequação dessas propostas para a definição de
Corredores Ecológicos na área de estudo;
c) Definir critérios e diretrizes que deveriam ser contemplados em
propostas dessa natureza; e
d) Desenvolver uma proposta para o estabelecimento de Corredores
Ecológicos no Distrito Federal.
Para tanto definimos uma metodologia de trabalho, apresentada no Capítulo 1
desta dissertação, que partiu da fundamentação conceitual necessária à
compreensão do tema e permitiu a escolha do caminho a percorrer, embasando a
escolha de materiais e métodos necessários ao processo de análise das propostas de
corredores ecológicos, selecionadas por nós para compor o universo de pesquisa.
O Capítulo 2 traz uma breve discussão da temática ambiental e de
conservação da natureza no país, numa abordagem mais ampla, contemplando a
importância do planejamento biorregional, que exige outras escalas de observação,
ainda que o foco da pesquisa se mantenha na escala local. Para embasar essa
19
análise mais integrada, foram abordadas três vertentes fundamentais ao processo de
gestão: a de ordenamento territorial e seu processo histórico de ocupação, as
condicionantes físico-ambientais e a instrumentação legal e arranjo institucional.
No Capítulo 3 apresenta-se a área de abrangência da pesquisa, o Distrito
Federal, e a sua importância no contexto atual das políticas públicas ambientais de
conservação do cerrado brasileiro, focando especialmente a adoção de uma das
estratégias do planejamento biorregional, a definição de corredores ecológicos.
O Capítulo 4 traz a análise e avaliação das propostas existentes para o
estabelecimento de corredores ecológicos no Distrito Federal, abordando
particularmente os procedimentos adotados para essas proposições, identificando
critérios adotados e pressupostos necessários ao sucesso de cada uma delas e a
potencialidade existente para o alcance dos objetivos que lhes deram origem. A
compreensão das fragilidades e potencialidades de cada uma, do ponto de vista da
adequação espacial, embasou a elaboração de uma nova proposta visa à integração
dos esforços de pesquisa já empreendidos sobre o tema na área de abrangência da
pesquisa.
As conclusões do resultado da pesquisa foram organizadas no Capítulo 5,
fundamentadas nos principais pontos da análise das propostas avaliadas, segundo a
base conceitual definida, por meio de dois produtos: um mapa síntese da nova
proposta com a adoção das diferentes tipologias de corredores ecológicos
encontradas, e um quadro resumo das fragilidades, potencialidades e
recomendações para cada uma dessas tipologias.
20
Capítulo 1
Procedimentos Metodológicos
1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Nesse capítulo abordamos os fundamentos teóricos e conceituais, e o
embasamento legal que deram suporte à pesquisa. A seguir apresentamos algumas
definições importantes para o embasamento de todo o processo de análise das
propostas de corredores ecológicos para o Distrito Federal analisadas neste
trabalho. Também são apresentados neste capítulo os materiais e procedimentos
metodológicos utilizados.
1.1. Fundamentação Teórica e Conceitual
Antes que pudéssemos estabelecer de modo definitivo a metodologia a ser
adotada, foram realizadas pesquisas que permitiram a compreensão dos conceitos
necessários à elaboração deste estudo. Passando por uma breve discussão sobre
planejamento, com ênfase na questão ambiental, tentamos construir a idéia de como
ele se integra ao processo de gestão.
Foram pesquisadas as estratégias de conservação, particularmente a
delimitação de recortes diferenciados para o planejamento e a gestão ambiental.
Dentre os diferentes recortes possíveis, apresentamos as definições de bioma,
ecorregião, biorregião e as diversas definições de corredores ecológicos
encontradas na literatura pesquisada.
1.1.1. Breve Discussão sobre Planejamento e Gestão
Quanto ao planejamento de forma geral e, especialmente o ambiental, Cases
(in Arruda, 2005) destaca que o planejamento está presente nas atividades humanas
desde os primórdios da civilização, qualquer atividade ou situação não rotineira que
necessite de um enfrentamento exige o estabelecimento de uma ação planejada para
poder ser superada com sucesso, alcançando resultados previsíveis, esperados e
desejados.
Assim, o planejamento parte da vontade, passa pela definição das ações
necessárias para se alcançar o que se deseja e identificar os instrumentos
22
necessários para que isso aconteça. Como ressalta Cases (in Arruda, 2005), quando
não se deseja modificar a realidade, o planejamento não se faz necessário.
A autora destaca três modalidades de planejamento, dentre as muitas
existentes, classificando-as de acordo com determinadas características, que podem
se reproduzir para qualquer atividade, inclusive para a gestão ambiental e do
território, e que sintetizamos na Quadro 1.
Quadro 1 – Algumas Modalidades de Planejamento
Classificação Característica
Estratégico
Considera o longo prazo e a integralidade do objeto, estabelece
diretrizes gerais e apresenta pouca flexibilidade.
Tático
Considera o médio prazo e os componentes do objeto, estabelece
métodos e apresenta média flexibilidade.
Operacional
Considera o curto prazo e os detalhes do objeto, estabelece ações
e alto grau de flexibilidade.
Adaptado de Cases (in Arruda, 2005).
A Carta dos Andes, documento de Planejamento Territorial Contemporâneo
datado de 1958 após conferência internacional em Bogotá, traz uma definição de
planejamento que vem sendo replicada largamente nas escolas de urbanismo
brasileiras.
“Em um sentido amplo, Planejamento é um método de
aplicação, contínuo e permanente, destinado a resolver
racionalmente os problemas que afetam uma sociedade situada em
determinado espaço, em determinada época, por meio de uma
previsão ordenada, capaz de antecipar suas ulteriores
conseqüências”.
Depreendemos dessa definição que o Planejamento Urbano exige o domínio
de métodos e processos de coleta e análise de informações que possam reverter-se
na definição de objetivos e identificação de ações necessárias que muitas vezes
extrapolam o campo específico do urbanismo e integram outras áreas do
conhecimento numa visão sistêmica multitemporal e multidisciplinar.
23
O processo de planejamento obtém sucesso quando os objetivos e as metas
estabelecidas são plenamente alcançados, para isso é necessário pôr em prática
aquilo que se planejou, utilizando os recursos programados nas ações definidas. É
preciso implementar com sucesso as ações planejadas.
No entanto, os resultados alcançados com a implementação do planejamento
precisam ainda ser mantidos, tornando necessárias outras atividades, como a sua
avaliação criteriosa que pode conduzir à readequação de objetivos e métodos, caso
necessário, ou à construção de novas proposições capazes de tornar os resultados
permanentes ou modificá-los.
O processo de planejamento é, ainda que contínuo, apenas uma das etapas de
um ciclo mais amplo a que denominamos Gestão. O conjunto de atividades que
completa o ciclo do processo de gestão, tem início no planejamento e se consolida
com a implementação, a avaliação e o monitoramento, como demonstrado na
Figura 1.
A Gestão Ambiental, que objetiva a conservação do equilíbrio do meio
ambiente portanto, pode ser compreendida como o conjunto de ações que visam à
máxima racionalidade no processo de decisão sobre a conservação, defesa,
proteção e melhoria do meio ambiente tendo por base uma ação multidisciplinar.
Uma vez que a dimensão humana inclui o conceito amplo de meio ambiente, as
ações de gestão ambiental devem estar em sintonia com as atividades humanas e,
para tanto, precisam contar com a participação dos cidadãos em sua definição.
Segundo Rodrigues (2000), a gestão ambiental deve estar calcada em alguns
princípios: a otimização do uso dos recursos ambientais, renováveis ou não,
econômicos, financeiros ou humanos; a previsão e prevenção de impactos
ambientais; o controle da resiliência do meio e o ordenamento territorial.
24
Planejamento – Estabelecimento de metas e objetivos e identificação dos
instrumentos necessários. Processo participativo e integrador de políticas públicas.
Implementação – Aplicação efetiva das ações definidas na etapa de planejamento
Avaliação – Observação dos efeitos imediatos, resultantes da implementação do
planejado, e do nível de atingimento dos objetivos e metas estabelecidos.
Monitoramento – Verificação periódica das condições necessárias ao atingimento
dos objetivos, à continuidade das ações programadas e à sustentabilidade dos
efeitos alcançados com a implementação e identificados na avaliação.
AÇÕES FUNDAMENTAIS DA GESTÃO AMBIENTAL
Retroalimentação – fundamental ao processo
contínuo de gestão, ciclo fechado.
Re
amento
jp
lane
Figura 1 – Ciclo do Processo de Gestão Ambiental
Adaptado de Rodrigues (2000)
25
1.1.2.
A Importância da Instrumentação Legal e dos Arranjos
Institucionais para o Planejamento
A questão legal e institucional influencia sobremaneira a gestão do território,
se os instrumentos legais não forem frutos de consenso entre todos os interessados,
não é possível se alcançar resultados positivos com a sua aplicação. Vem daí o
insucesso e a substituição gradual, em todo o mundo, das políticas de comando e
controle, na gestão do território e de uso dos recursos naturais.
Os estudiosos destacam em suas pesquisas o grande número de instrumentos
relacionados com o ordenamento territorial, até mesmo alguns legisladores versam
sobre o tema. De modo geral todos os pesquisadores do campo do planejamento
são unânimes ao tratar da necessidade da integração entre os diversos instrumentos
setoriais e ao versar sobre a dificuldade de se alcançar essa integração no imbricado
de leis, normas e regulamentos existentes, não apenas entre os diversos setores,
mas, especialmente, entre as três esferas de governo.
As preocupações mundiais com essa necessidade de integração no combate à
destruição ambiental têm se desdobrado na realização de reuniões, assembléias e
congressos de cúpulas mundiais, iniciados em 1972
1
com a Conferência das
Nações Unidas para o Meio Ambiente Urbano.
Estes encontros entre os estudiosos vêm provocando uma mudança de postura
quanto ao desenvolvimento das políticas ambientais em todo o mundo, em maior
ou menor grau. Identificamos facilmente uma evolução no envolvimento da
sociedade nesses debates e na incorporação de novos conceitos e atitudes, segundo
as observações depreendidas da leitura de Rodrigues, apresentadas no Quadro 2.
1
Realizada em Estocolmo, na Suécia.
26
Quadro 2 – Breve Resumo do Desenvolvimento das Políticas Ambientais
Década de 60 – O Início da Discussão
Regulamentação mínima.
Preocupações voltadas à água e ao ar.
Pouca atenção com a questão dos resíduos perigosos.
Ausência de responsabilidade corporativa.
Poucas restrições às interferências no meio ambiente.
Década de 70 – A Busca por Soluções
Maior envolvimento popular, início das reações à degradação ambiental.
Simples cumprimento das normas.
Controle dos processos produtivos.
Surgimento das tecnologias limpas.
Responsabilidade corporativa pontual.
Internalização dos custos ambientais aos processos produtivos.
Regulamentação das multas pelos danos ao meio ambiente.
Década de 80 – Definindo Novos Rumos
Intensificação da participação popular e agravamento das reações à
degradação ambiental.
Maiores cuidados quanto ao cumprimento das normas.
Criação de órgãos de controle dos processos produtivos.
Aprimoramento das tecnologias limpas.
Responsabilidade corporativa, certificações.
Surgimento de vários instrumentos legais.
Década 90 – Alcançando a Gestão Participativa
Atitude pro ativa com relação à degradação ambiental.
Desempenho superior às normas.
Adoção da análise do ciclo de vida nos processos produtivos.
Integração do da vertente ambiental em todas as atividades.
Contabilidade dos custos ambientais internos e externos.
Fortalecimento dos órgãos colegiados de caráter consultivo e deliberativo.
Maior número de leis, normas e regulamentações.
Adaptado de Rodrigues (2000)
27
A literatura aponta que a eficácia na aplicação dos instrumentos de
planejamento e controle se relaciona com uma série de fatores como as condições
sociais, econômicas e políticas das comunidades em que são aplicados. Um dado
instrumento pode ser absolutamente ineficaz ou inócuo e até mesmo ter efeitos
perversos quando a sociedade se recusa a reconhecê-lo. Exemplificando a
amplitude da questão “[...] Pode-se considerar um instrumento de planejamento e
gestão do uso do solo desde um indicador (como o coeficiente de aproveitamento,
por exemplo), até um instrumento jurídico tradicional, como a desapropriação.”
(IPEA, 2002).
Podemos observar que muitas das medidas de controle, idealizadas e
emanadas do poder público, nem sempre são bem aceitas ou assimiladas pelo
conjunto de atores sociais afetado por elas e, ainda, encontram-se sujeitas a
interpretações diversas que podem variar de acordo com os interesses locais sejam
eles de pequenos grupos detentores de maior poder ou de toda a comunidade. Fica
explícita assim a necessidade da participação da sociedade na sua definição para
que se possa obter a maior eficácia, garantir a aplicabilidade e o cumprimento e,
especialmente, diminuir os efeitos indesejáveis decorrentes da sua aplicação.
Podemos considerar então que a eficácia dos instrumentos de regulação e
controle depende de três fatores primordiais muito similares ao processo de
planejamento: seu processo de formulação, que presume a participação dos
diversos segmentos sociais e do estabelecimento de regras claras e formais para que
seja resultado de consenso e aceito pela comunidade; suas condições de aplicação,
que pressupõem que as normas estabelecidas sejam socialmente justas e que os
efeitos decorrentes não sejam diversos dos objetivos que levaram à sua formulação;
e as fiscalização e monitoramento, imprescindíveis para garantir a eficácia, fazendo
com que as normas sejam efetivamente cumpridas e os efeitos monitorados,
avaliados e, se necessário, ajustados e corrigidos.
1.1.3. Definição de Estratégias para a Conservação Ambiental
Com o aumento das preocupações mundiais com a questão ambiental e o
avanço das políticas e do comportamento social com relação à preservação do
equilíbrio do meio ambiente, tem início a compreensão da necessidade crescente de
28
se estabelecer estratégias globais para a conservação da natureza. Isto requer
objetivos claros, provenientes do conhecimento da realidade na qual se deseja
intervir e, especialmente, dos fatores que definem a situação que se deseja alterar.
Em outras palavras, a definição de estratégias para o alcance do objetivo de
conservação ambiental requer um processo de planejamento que integre muitas
variáveis.
Portanto, é fundamental integração de políticas públicas setoriais como, por
exemplo, buscar a consonância entre os planos de recursos hídricos, de gestão do
território, de aproveitamento econômico e de saneamento ambiental delimitados
para uma dada porção do território.
No intuito de facilitar a identificação e o estabelecimento de objetivos de
conservação, muitos estudos e pesquisas foram sendo desenvolvidos e
aperfeiçoados ao longo do tempo, incluindo a proposição de estratégias que
tornassem a gestão ambiental mais eficaz.
Uma dessas estratégias é a regionalização ou adoção de diferentes recortes
espaciais mais adequados ao processo de planejamento e gestão ambiental. Dentro
do processo de regionalização do planejamento e definição dos objetivos nacionais
para a conservação da biodiversidade, sobre as quais discorreremos mais
detalhadamente no Capítulo 2, têm sido considerados três recortes espaciais
importantes: bioma, ecorregião e biorregião.
Apresentamos a seguir esses três recortes espaciais, por meio das Figuras 2,
3 e 4, que trazem as definições e apresentam o seu mapeamento como recurso
visual.
29
30
BIOMAS BRASILEIROS
Fonte da Imagem: I3Geo – Base de dados do Ministério do Meio Ambiente
LEGENDA
DEFINIÇÃO
Bioma é uma unidade biótica de maior
extensão geográfica, compreendendo
várias comunidades, em diferentes
estágios de evolução, tendo como
elemento de união a vegetação
dominante do agrupamento de tipos de
vegetação contíguos e identificáveis
regionalmente, com condições
geoclimáticas similares e história
compartilhada de mudanças, o que
resulta em diversidade biológica
própria.
(MMA/SRH, 2006 apud IBGE, 2004).
N
Figura 2 – Mapa dos Biomas Brasileiros
31
LEGENDA
DEFINIÇÃO
Ecorregião é um espaço natural finito,
menor que o bioma, constituída por
comunidades naturais, geograficamente
distintas, mas que compartilham a
maioria das suas espécies, dinâmicas e
processos ecológicos e se encontram
em condições ambientais similares,
necessárias à sua manutenção em longo
prazo. (SRH/MMA, 2006 apud
Dinnerstein et al, 1995 e Olson et al,
2001
)
.
G
eleiras, picos nevados, glaciares e rochas
l
orestas, bosques e cerrado mediterrâneo
D
eserto e campos secos
M
anguezais
Á
guas interiores
C
ampos montanos
ormação arbóreo-arbustiva alagada
ormação arbóreo-arbustiva temperada
ormação arbóreo-arbustiva tropical e subtropical
l
oresta de Coníferas tropical e subtropical
l
oresta Latifoliada temperada mista
l
oresta Latifoliada Seca tropical e subtropical
l
oresta Latifoliada Úmida tropical e subtropical
ECORREGIÕES BRASILEIRAS NO CONTEXTO CONTINENTAL
Fonte da Imagem: I3Geo – Base de dados do Ministério do Meio Ambiente
N
Figura 3 – Mapa das Ecorregiões no Território Brasileiro
32
LEGENDA
DEFINIÇÃO
Biorregião é uma unidade de planejamento
e gestão definida pelos limites geográficos
das populações humanas residentes e
sistemas ecológicos, grande o bastante para
manter a integridade das comunidades
b
iológicas, habitats e ecossistemas e
p
equena o bastante para ser reconhecida
p
ela sociedade que nela vive. É um espaço
geográfico identificado pelas comunidades,
entidades governamentais e instituições
científicas interessadas em garantir o seu
p
rocesso de desenvolvimento, contendo um
ou mais ecossistemas e caracterizada por
sua cultura e história (SRH/MMA, 2006
apud Miller, 1997).
N
Biorregião
BIORREGIÃO DO ENTORNO DO DISTRITO FEDERAL
Fonte da Imagem: I3Geo – Base de dados do Ministério do Meio Ambiente
DISTRITO
FEDERAL
GOIÁS
MINAS
GERAIS
Figura 4 – Mapa da Biorregião Formada pelos Municípios do Entorno do Distrito Federal
1.2. Definição de Planejamento Biorregional
Distinguir as diferenças entre as três unidades ambientais apresentadas é de
fundamental importância para a compreensão do processo de delimitação da área
de estudo, que adota a biorregião como referencial espacial mais adequado ao
processo de planejamento e o desenvolvimento de projetos de corredores
ecológicos, objeto deste trabalho.
Com base nos estudos de autores como Bryant e Bailey, que já se
preocupavam com a finitude dos recursos naturais, a perda da biodiversidade e o
conseqüente desequilíbrio ambiental face às pressões antrópicas crescentes, Kenton
Miller calcou o conceito de Biorregião, em 1997, após as constatações e resultados
da Rio-92
2
. (Arruda et al, 2000)
Segundo Miller (1997), a criação de áreas protegidas, principal estratégia
adotada para a conservação da biodiversidade até os anos 80, não era suficiente
uma vez que promovia a insularização dessas áreas. Miller (1997) defende que
essa tendência de formação de ilhas de biodiversidade em meio a assentamentos
humanos só poderia ser revertida por meio da expansão das escalas de abrangência
dos programas de conservação, incorporando ecossistemas, pessoas e instituições.
Segundo a definição de Miller, o termo Biorregião implica na inclusão social
na formulação de políticas públicas e do processo de planejamento que parte de
uma análise ecológica, social e econômica e deve ter um caráter participativo no
estabelecimento de metas e na implementação dos planos. Essa inclusão social
abarca não apenas os residentes numa dada área, mas todos os interessados nos
recursos naturais que ali se encontram porque deles se utilizam ou dependem.
A aplicação dos fundamentos do planejamento para o desenvolvimento de
estudos, programas e projetos na escala da biorregião nos leva ao Planejamento
Biorregional. Isto significa planejar as ações levando em conta o conceito mais
2
O conceito de Preservação Ambiental está condicionado à adoção de um novo modelo de civilização
fundamentada no uso racional dos recursos naturais de modo a garanti-los para as gerações futuras, a
que damos o nome de desenvolvimento sustentável. A Preservação Ambiental foi consolidada como
diretriz global definida pelos 170 países presentes à Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, quando foi aprovada a Agenda 21
(Senado Federal).
33
amplo de biodiversidade, surgido em 1992 e que fundamentou as idéias de Miller, e
que engloba os recursos genéticos, as espécies e os ecossistemas, contemplando a
dimensão ambiental integrada à dimensão sócio-econômica. O planejamento
biorregional abarca o manejo integrado da terra, água e todos os recursos vivos.
Além disso, pesquisadores como Arruda et al (2000), Ayres et al (2005) e o
próprio Miller (1997), apontam que a abordagem biorregional no processo de
planejamento deve levar em consideração a dinâmica da paisagem e as inter-
relações entre áreas protegidas, favorecendo a preservação de extensões mais
amplas de ecossistemas naturais. Uma das maneiras de se alcançar essas premissas
da abordagem biorregional é o estabelecimento de Corredores Ecológicos.
1.3. Definições de Corredores Ecológicos
Segundo apontado pela Unesco (2003), desde 1949 os estudos de Leopold já
identificavam o trânsito de indivíduos de uma mesma espécie entre populações
distintas e em 1962, Preton já recomendava o uso de conexões entre reservas. Até
que, em 1963, o termo “corredor” foi primeiramente empregado por Simpson, nas
suas considerações sobre a dispersão da fauna entre os continentes. Desde esse
conceito de corredores intercontinentais, atestados por diversos estudos inclusive
no campo da paleontologia, o enfoque já se modificou bastante para essas conexões
naturais entre áreas preservadas. (Unesco, 2003)
O estudo da Unesco aponta ainda que Shafer, em 1990, começa a ressaltar em
suas pesquisas como os estudos de Simpson influenciaram as posições posteriores
calcadas na observação de que a biota se dispersa ao longo de vales, bacias
hidrográficas e outras formações fisiográficas que influenciam diretamente na sua
distribuição e organização espacial. (Unesco, 2003)
No Brasil, o conceito de Corredores Ecológicos vem sendo discutido desde
1996, tendo se iniciado com a iniciativa do Programa Piloto para a Proteção das
Florestas Tropicais do Brasil – PPG-7. As iniciativas de conservação dos biomas
brasileiros inicialmente priorizaram as formações florestais, especialmente a
Floresta Amazônica e a Mata Atlântica, abrangidas pelo PPG-7. (Ayres, 2005).
34
Ayres (et al, 2005) defende que corredor ecológico é uma unidade de
planejamento de abrangência regional, que pressupõe ações integradas e
coordenadas que permitam a o fortalecimento do sistema de unidades de
conservação e vise à conservação de um determinado bioma por meio da
manutenção da sua diversidade biológica.
O sexto volume da série Biodiversidade, publicada em 2005 pela Secretaria
de Biodiversidade e Florestas – SBF, do MMA, apresenta duas definições para o
termo corredor ecológico:
“1. Faixa conectando manchas e tendo as mesmas características
que estas. 2. Unidade de planejamento regional que compreende
grandes extensões de ecossistemas biologicamente prioritários,
representando uma rede de reservas e áreas de uso menos intensivo,
gerenciados de maneira integrada, estimulando o incremento de
conectividade entre as áreas naturais remanescentes, visando garantir
a sobrevivência de um maior número possível de espécies sensíveis às
alterações do habitat, facilitando o fluxo gênico entre populações e sub-
populações como formas de aumentar a sua probabilidade de
sobrevivência no longo prazo e assegurar a manutenção dos processos
evolutivos em larga escala.”
A Resolução no 09/1996 do Conama
3
caracteriza Corredores Ecológicos ao
tratar especificamente desta questão para os remanescentes da Mata Atlântica:
“Art. 1º. Corredor entre remanescentes caracteriza-se com sendo
a faixa de cobertura vegetal existente entre remanescentes de vegetação
primária em estágio médio e avançado de regeneração capaz de
propiciar habitat ou servir de área de trânsito para a fauna residente
nos remanescentes.”
A Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, estabelece o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação – SNUC e, em seu artigo 2º, Inciso XIX define
corredores ecológicos como sendo:
“Porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de
conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento
3
O Conama é o órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional de Meio Ambiente, assim
estabelece resoluções que devem ser observadas e atendidas, para o nosso estudo têm importância
particular as Resoluções Conama 01/86, 04/85, 10/88, 237/97, 357/05. Deve-se lembrar que foi
aprovada uma nova resolução que trata dos casos excepcionais, de utilidade pública e interesse social,
que possibilitam a supressão de vegetação nas APP’s, contrariando o que reza o parágrafo 4
o
. do
Código Florestal, já contrariado pela Conama 302/01.
35
da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas
degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam
para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das
unidades individuais.”
Segundo Ganem, (in Arruda, 2005) corredor de remanescentes de vegetação
é um instrumento previsto na legislação Brasileira desde 1993, quando o Decreto
750 regulamentou a supressão de vegetação na Mata Atlântica e, mais tarde, serviu
de base para a formulação da Resolução Conama No.09/96 que definiu corredores
de remanescentes da Mata Atlântica.
A leitura de Ganem destaca a posição de Vio sobre o que estabelecia a Lei no
4.771/1965, conhecida como Código Florestal, quanto à função das Áreas de
Proteção Permanentes - APP´s de servirem como corredores naturais. Vio destaca
que se o Código Florestal houvesse sido respeitado os corredores ecológicos
estariam automaticamente implementados. Assim como a Lei do SNUC, o Código
Florestal também defende a utilização das matas ciliares e as áreas de vegetação
ripária como sendo apropriadas à implantação de Corredores Ecológicos. (in
Arruda, 2005).
Ganem aponta ainda a visão defendida por Rambaldi & Oliveira sobre os
diferentes tipos de corredores existentes, que podem variar de acordo com a escala
em que se trabalha e o grau de isolamento em que se encontram as áreas que se
deseja conectar. No decorrer da pesquisa encontramos a posição de diversos
autores sobre diferentes nomenclaturas adotadas para corredores ecológicos. (in
Arruda, 2005).
Com base nas definições encontradas na literatura pesquisada, apresentamos
no Quadro 3, de forma sintetizada as diferentes tipologias de corredores
ecológicos, determinadas em função das suas características e propósitos. Os
objetivos principais que se refletem na proposição de corredores ecológicos são
invariáveis, qualquer que seja a escala de trabalho e o tamanho e diversidade dos
fragmentos que se queira interligar.
Os vários autores citados nesta pesquisa ao discorrerem sobre a importância
dos corredores ecológicos, mesmo utilizando definições diversas, sempre fazem em
36
referências a eles como unidades de planejamento que podem propiciar à
conservação ambiental:
a) constituem-se em oportunidade de preservação em áreas que não contem
com um conjunto suficiente ou adequado de Unidades de Conservação;
b) favorecem as harmonização e compatibilização entre ações
preservacionistas e o desenvolvimento econômico, atendendo aos objetivos do
desenvolvimento sustentável;
c) permitem uma nova visão que integra as comunidades locais e populações
tradicionais aos esforços de conservação dos espaços protegidos, sem desconsiderar
seu “modus vivendi”.
d) promovem a integração entre unidades de conservação e fragmentos de
vegetação.
37
Quadro 3 – Resumo das Definições Encontradas para as Tipologias de Corredores Ecológicos
Nomenclatura Definições Segundo a Literatura Consultada Espacialização
Corredor
Ecológico
Unidade de planejamento de abrangência regional que requer
integração e coordenação e promove o fortalecimento do SNUC e a
conservação de um bioma e sua biodiversidade.
Corredor
Florestal
Unidade de planejamento de abrangência restrita que une fragmentos
florestais de menor dimensão e não muito distantes entre si, quase
sempre pertencentes a uma mesma unidade fitossocionômica.
UC
UC
Corredor
Biológico
Conexão natural entre ecossistemas que possibilita as trocas gênicas, a
movimentação de espécies e a circulação de elementos naturais.
Corredor de
Conservação
Conexão induzida que pressupõe o envolvimento da comunidade local
na proteção da biodiversidade, possibilitando melhoria na qualidade de
vida.
Corredor de
Biodiversidade
Conexão natural que permite a completude dos ciclos biogeoquímicos
e favorece a disseminação de sementes e espécies entre ilhas de
biodiversidade, Unidades de Conservação e remanescentes
significativos.
Corredor de
Fauna
Conexão natural que permite a completude dos ciclos biogeoquímicos
e favorece a disseminação de sementes e espécies por meio do trânsito
da fauna entre fragmentos próximos de características semelhantes,
independentemente do seu tamanho.
UC
BIOMA
38
Os Corredores Ecológicos podem colaborar para a gestão integrada e o
manejo da paisagem, complementando a função das Unidades de Conservação na
proteção e preservação das características ambientais e da biodiversidade das áreas
protegidas e suas respectivas zonas de amortecimento. Constituem-se, portanto, em
instrumentos estratégicos fundamentais a serem considerados no planejamento do
uso e ocupação do território com vistas à garantia da sustentabilidade ambiental.
A indispensável conexão entre as Unidades de Conservação deve levar em
conta ainda as espécies encontradas em cada uma delas, com suas exigências e
características próprias, dadas a riqueza e a diversidade do bioma cerrado, como já
comentado. Assim, é necessário preservar pontos de contato não só, mas
principalmente, nas áreas de várzea.
O processo de definição e estabelecimento dos corredores ecológicos
pressupõe a existência de inventários da biota de cada um dos fragmentos, com
conhecimento dos grupos genéticos e especialmente a identificação dos dispersores
de semente e hábitos da fauna local. Além disso, também é importante verificar-se
as barreiras que podem impor-se ao fluxo de material genético, sejam elas naturais
ou não.
É preciso considerar-se os planos de manejo das Unidades de Conservação
que se pretenda ligar, aspectos institucionais que podem influir nessa conexão e na
consolidação do corredor ecológico sem esquecer a imperativa necessidade do
envolvimento social e das condições de monitoramento e fiscalização.
A identificação de corredores ecológicos não deve estar, portanto, desconexa
de uma realidade mais complexa, apenas servindo como ligação entre UC’s, há
muitos outros fatores a serem estudados, ponderados e considerados antes que se
possa defini-los.
Dada a diversidade de conceitos e definições encontrados durante a pesquisa,
resolvemos adotar a expressão Corredores Ecológicos como sendo aquela mais
apropriada para o nosso trabalho. Em função da sua abrangência, inferimos que
todas as outras tipologias possam ser enquadradas como subcategorias de
corredores ecológicos o que permite a proposição de diretrizes adequadas a cada
39
uma das diferentes que possam terminologias encontradas, enriquecendo e
qualificando melhor o resultado do estudo.
Outras definições importantes para o nosso trabalho, que tem como foco
principal os corredores ecológicos, são apresentadas abaixo:
a) Steping Stones, que funcionam como trampolins de biodiversidade
(Felfili et al in Arruda, 2005) entre unidades de conservação e
remanescentes de vegetação de maior significância nos arredores,
promovendo a troca gênica e facilitando o fluxo da fauna.
b) Ilhas de biodiversidade, que são fragmentos isolados que não
possibilitam as trocas gênicas e sofrem com o efeito de borda.
c) Efeito de borda se traduz na degradação da diversidade de espécies a
que ficam sujeitas as áreas mais exteriores de um fragmento de
vegetação.
A Figura 5 traz, para melhor compreensão, a representação espacial das
diferentes tipologias de corredores ecológicos, encontradas na literatura consultada
e adotadas por nós como subcategorias, e ainda dos steping stones e ilhas de
biodiversidade, utilizando um cenário simplista que permite a sua diferenciação.
40
8
8
7
7
3
3
1
1
2
Unidade de
Conservação
5
5
6
6
4
4
1- CORREDOR FLORESTAL
2- CORREDOR DE FAUNA
3- CORREDOR DE CONSERVAÇÃO
4- CORREDOR ECOLÓGICO RODOVIÁRIO
5- CORREDOR BIOLÓGICO
6- CORREDOR DE BIODIVERSIDADE
7- STEPING STONE OU TRAMPOLIM DE FAUNA
8- ILHA DE BIODIVERSIDADE
Unidade de Conservação
Figura 5 – Exemplificação das Tipologias dos Corredores Ecológicos, de Steping Stones e de Ilha de Biodiversidade.
41
1.4. Principais Materiais Utilizados
1.4.1.
1.4.2.
Mapas e Imagens
Foram analisados os mapas elaborados para os trabalhos de revisão do Plano
de Ordenamento Territorial do Distrito Federal – PDOT
4
, os produzidos para a
Reserva da Biosfera do Cerrado e por outros pesquisadores e estudantes da
Universidade de Brasília, especialmente da Engenharia Florestal; além de mapas
gerados por outros órgãos públicos como o Ibama, para o monitoramento das
Unidades de Conservação; a Embrapa, para o monitoramento por satélite do
Programa Brasil Visto do Espaço e o MMA, para o Zoneamento Econômico
Ecológico da Ride e outros programas, com o objetivo de compilar e verificar a
variedade de informações espaciais existentes.
Agregamos a esses dados a revisão da literatura e outras informações de
caráter documental recolhidas durante reuniões e discussões públicas sobre a
questão ambiental no Distrito Federal organizadas por ONG’s ambientalistas e pelo
Governo do Distrito Federal – GDF; durante entrevistas com técnicos e
profissionais do setor; na compilação dos instrumentos legais; e durante pesquisas
de campo.
Compilação dos Instrumentos Legais
A verificação dos instrumentos legais existentes e a análise do seu nível de
aplicação e eficiência, bem como das dificuldades para as ações de fiscalização,
permitiu que a proposta apresentada ao final do estudo levasse em conta não apenas
a situação ideal, mas as possibilidades reais de sucesso para a implantação de
corredores.
A validação e a correta aplicação dos instrumentos legais de ordenamento
territorial e proteção ambiental influenciam diretamente na escolha de alternativas e
na viabilidade da proposta já que apresentam relação direta com os critérios
4
Foram utilizados os mapas e a proposta de corredores ecológicos apresentados na primeira audiência
pública para aprovação do PDOT do Distrito Federal, realizada em 2006 e que serve como marco
temporal de referência para os levantamentos das propostas existentes a serem analisadas neste
trabalho.
42
definidos na pesquisa. Estes critérios são pressupostos para a definição de objetivos
de médio prazo, e permitem que se façam considerações sobre possíveis soluções
para os problemas existentes e sobre o correto funcionamento destes instrumentos.
1.5. Cruzamentos das Informações Espaciais – Método Escolhido
A metodologia adotada, sintetizada na Figura 3, é bastante similar a que foi
definida por Saito et al (in Arruda, 2005) no estudo que define as áreas estratégicas
para a conservação da biodiversidade no Distrito Federal e Entorno. Consiste na
sobreposição de planos de informação distintos, utilizando a ferramenta do
geoprocessamento, que permitem a análise espacial integrada.
Numa primeira etapa os exercícios de cruzamento das informações
selecionadas foram feitos utilizando-se ferramentas primárias de computação
gráfica, bases existentes e não georreferenciadas, como a base Sicad, mapas
temáticos e imagens de satélite, obtidas em meio eletrônico, que apresentam
resolução satisfatória para esta atividade.
Foram estabelecidas as informações a serem obtidas e que, sobrepostas,
permitiram os cruzamentos entre aquelas consideradas mais relevantes à análise
espacial pretendida. Assim definimos três cruzamentos chave, apontados na Tabela
3. Os elementos destacados nesses cruzamentos foram observados sobrepostos a
imagens de satélite com a finalidade de apoiar a verificação de campo e o
reconhecimento de unidades de paisagem, sendo posteriormente incrementados por
outros dados colhidos.
A observação da evolução histórica das alterações da paisagem permitiu a
construção das hipóteses sobre o processo de fragmentação que hoje se observa no
bioma cerrado, especialmente no Distrito Federal, e também a formulação de um
cenário analítico sobre esse processo.
Esse procedimento permitiu identificar: as áreas do Distrito Federal que
sofrem maior pressão das ações antrópicas, as prioritárias para o desenvolvimento
de ações de conservação e as áreas com possibilidade de abrigar Corredores
Ecológicos, segundo as conceituações adotadas nesta pesquisa e apresentadas.
43
Para as áreas selecionadas como favoráveis ao estabelecimento de corredores
ecológicos foram verificadas as potencialidades e fragilidades, observando os
seguintes elementos: menor densidade de ocupação, menor grau de antropização,
relevância das áreas a serem conectadas, maior possibilidade de aplicação dos
instrumentos de regularização fundiária e de controle do uso e ocupação.
Este passo foi fundamental ao estabelecimento dos critérios para a elaboração
da nova proposta de corredores ecológicos para o Distrito Federal, em função da
escala de trabalho e da finalidade da pesquisa:
a) Características dos remanescentes identificados – significância
biológica, tamanho, grau de preservação, potencialidade de recuperação ou
regeneração natural; e
b) Graus de conectividade entre Remanescentes – presença de steping
stones, distância entre os fragmentos e UC’s, interferências naturais ou
antrópicas e possibilidades de aplicação dos instrumentos legais;
O processo metodológico estabelecido (Figura 3) tornou possível a
elaboração de um mapa síntese da proposta que contempla os principais fluxos a
serem respeitados para a definição de corredores, segundo as diferentes tipologias
apresentadas neste trabalho. Tipologias essas definidas de acordo com seus
objetivos principais e que abrangem o território do Distrito Federal como
alternativa de ampliação das possibilidades de conservação do Bioma Cerrado uma
vez que estão calcadas no planejamento biorregional.
Com base no mapa gerado, foi elaborado ainda um quadro resumo que aponta
as fragilidades e potencialidades para cada uma das tipologias de corredores
ecológicos sugeridas neste trabalho, bem como as diretrizes e recomendações
específicas a cada uma das áreas abordadas no estudo e que abrigam fluxos
possíveis para a conectividade de fragmentos.
44
- entrevistas
- questionários
- pesquisa de campo
- visitas às UC’s
- seminários e reuniões
ANÁLISE ESPACIAL INTEGRADA
DADOS PRIMÁRIOS
- Informações Documentais
- reportagens
- referências bibliográficas
- legislação
- consultas técnicas
DADOS SECUNDÁRIOS
- definição de critérios
- identificação de riscos
- estabelecimento de
diretrizes
QUADRO SÍNTESE
CRUZAMENTO DOS PLANOS DE
INFORMAÇÃO SELECIONADOS
=
+
RESULTANTES
UC’s DE PROTEÇÃO INTEGRAL
HIDROGRAFIA, DECLIVIDADE E
TOPOGRAFIA
APP’s E UC’s
IMAGEM DE SATÉLITE
URBANIZAÇÃO LEGAL
URBANIZAÇÃO IRREGULAR
ÁREAS URBANIZADAS
VIAS DE TRANSPORTE
INFLUÊNCIAS DA URBANIZA
Ç
ÃO
ÁREAS AGRICULTADAS
INTERFERÊNCIAS ANTRÓPICAS
COBERTURA VEGETAL
TOPOGRAFIA
BARREIRAS NATURAIS
FRAGILIDADES E POTENCIALIDADES
PROPOSTAS EXISTENTES
STEPING STONES E ILHAS DE
BIODIVERSIDADE
MAPA ANALÍTICO DAS PROPOSTAS
MAPA DA NOVA
PROPOSTA
MAPA DA NOVA PROPOSTA
MOSAICO DE UC’s
MOSAICO DE UC’s
APP’s E UC’s
IMAGEM DE SATÉLITE
IMAGEM DE SATÉLITE
URBANIZAÇÃO IRREGULAR
ÁREAS URBANIZADAS
INFLUÊNCIAS DA URBANIZAÇÃO
MAPA ANALÍTICO DAS PROPOSTAS
FRAGILIDADES E POTENCIALIDADES
URBANIZAÇÃO LEGAL
UC’s DE USO SUSTENTÁVEL
INTERFERÊNCIAS ANTRÓPICAS E
BARREIRAS NATURAIS
=
=
=
=
=
=
=
=
=
=
STEPING STONES E ILHAS DE
BIODIVERSIDADE
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
CRUZAMENTO CHAVE
PRODUTO FINAL
45
ANÁLISE ESPACIAL INTEGRADA
DADOS PRIMÁRIOS
- entrevistas
- questionários
- pesquisa de campo
- visitas às UC’s
- seminários e reuniões
CRUZAMENTO DOS PLANOS DE
INFORMAÇÃO SELECIONADOS
=
+
RESULTANTES
UC’s DE PROTEÇÃO INTEGRAL
HIDROGRAFIA, DECLIVIDADE E
- Informações Documentais
- reportagens
- referências bibliográficas
- legislação
- consultas técnicas
DADOS SECUNDÁRIOS
TOPOGRAFIA
APP’s E UC’s
IMAGEM DE SATÉLITE
URBANIZAÇÃO LEGAL
URBANIZAÇÃO IRREGULAR
ÁREAS URBANIZADAS
VIAS DE TRANSPORTE
INFLUÊNCIAS DA URBANIZA
- definição de critérios
- identificação de riscos
- estabelecimento de
diretrizes
QUADRO SÍNTESE
Ç
ÃO
ÁREAS AGRICULTADAS
INTERFERÊNCIAS ANTRÓPICAS
COBERTURA VEGETAL
TOPOGRAFIA
BARREIRAS NATURAIS
FRAGILIDADES E POTENCIALIDADES
PROPOSTAS EXISTENTES
STEPING STONES E ILHAS DE
BIODIVERSIDADE
MAPA ANALÍTICO DAS PROPOSTAS
MAPA DA NOVA
PROPOSTA
MAPA DA NOVA PROPOSTA
MOSAICO DE UC’s
MOSAICO DE UC’s
APP’s E UC’s
IMAGEM DE SATÉLITE
IMAGEM DE SATÉLITE
URBANIZAÇÃO IRREGULAR
ÁREAS URBANIZADAS
INFLUÊNCIAS DA URBANIZAÇÃO
MAPA ANALÍTICO DAS PROPOSTAS
FRAGILIDADES E POTENCIALIDADES
URBANIZAÇÃO LEGAL
UC’s DE USO SUSTENTÁVEL
INTERFERÊNCIAS ANTRÓPICAS E
BARREIRAS NATURAIS
=
=
=
=
=
=
=
=
=
=
STEPING STONES E ILHAS DE
BIODIVERSIDADE
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
CRUZAMENTO CHAVE
PRODUTO FINAL
Figura 6 – Esquema Metodológico de Elaboração da Pesquisa
45
Quadro 4 – Principais Cruzamentos realizados entre os Planos de Informação
Cruzamento
Plano A Plano B Plano Derivado Objetivo
1
UC’s de Uso
Sustentável
UC’s de proteção
integral
Mosaico das UC’s Constituir o mosaico das UC’s do Distrito Federal e Entorno
2
Mosaico de UC’s
Hidrografia,
Declividade e
Topografia
APP’s e UC’s
Incrementar as informações sobre áreas com potencial e
suporte legal para o estabelecimento de corredores
3
Imagem de satélite APP’s e UC’s
Steping Stones e
Ilhas de
Biodiversidade
Identificar remanescentes vegetacionais não protegidos
legalmente e com potencial para o estabelecimento de
corredores ecológicos
4
Imagem de satélite Urbanização Legal Urbanização Ilegal Identificar áreas irregulares de urbanização
5
Urbanização Legal Urbanização Ilegal Áreas Urbanizadas Estabelecer a mancha urbanizada
6
Áreas Urbanizadas Vias de Transporte
Interferências da
Urbanização
Identificar os pontos de interferência da urbanização para o
estabelecimento de corredores ecológicos
7
Áreas Agrícolas
Interferências da
Urbanização
Interferências
Antrópicas
Identificar os pontos de interferência antrópica para o
estabelecimento de corredores ecológicos
8
Cobertura Vegetal Topografia Barreiras Naturais
Identificar pontos em que as condições naturais possam
dificultar ou desfavorecer o trânsito da fauna
9
Interferências
Antrópicas e
Barreiras Naturais
Steping Stones e
Ilhas de
Biodiversidade
Potencialidades e
Fragilidades
Verificar as potencialidades e fragilidades reais ao
estabelecimento de corredores ecológicos
10
Propostas Existentes
Potencialidades e
Fragilidades
Mapa Analítico das
Propostas
Analisar o potencial de sucesso ou insucesso das propostas
existentes
11
Imagem de satélite
Mapa Analítico das
Propostas
Proposta de
Corredores
Ecológicos do DF
Estabelecer uma Proposta de Implementação de Corredores
Ecológicos para o DF com base na análise espacial
46
Qualquer efetividade quanto à implantação de Corredores Ecológicos no
Distrito Federal, exige alguns pressupostos: envolvimento da comunidade;
aplicação eficaz de instrumentos que visem à regularização fundiária; fiscalização
do uso e ocupação do solo e elaboração dos Planos de Manejo das Unidades de
Conservação que compõem o mosaico.
Para possibilitar verificação da adequação da nova proposta apresentada, que
trata de fluxos potenciais para o estabelecimento de corredores ecológicos e é
resultante do estudo e da análise crítica das propostas estudadas, percorremos os
passos descritos. que se iniciaram com a verificação sobre as políticas de gestão do
território, as políticas ambientais e os projetos para o estabelecimento de corredores
ecológicos em andamento no país, apresentados no Capítulo 2.
47
SÍNTESE DO CAPÍTULO 1
Qualquer ação humana que vise à modificação de uma dada situação ou
realidade demanda um processo de planejamento que permite o estabelecimento de
objetivos e a definição de ferramentas e instrumentos capazes de promover a sua
implementação e o alcance de resultados que devem ser monitorados a fim de
alcançar certo grau de durabilidade.
As intervenções no território devem levar em consideração o conjunto de
elementos que podem ser afetados positiva ou negativamente e a participação das
populações nesse processo é fundamental na nova perspectiva das políticas
ambientais.
Para o sucesso dessas políticas de conservação ambiental, é necessário
definir-se estratégias compatíveis com os recortes espaciais que definem a área de
abrangência e que integrem diversas políticas públicas. Uma dessas estratégias é o
planejamento biorregional que tem nos corredores ecológicos um dos seus pilares e
considera a biorregião como unidades de planejamento.
Há que se compreender o termo corredores ecológicos como um conjunto de
tipologias variadas, definidas em função dos objetivos que se deseja alcançar com a
sua implementação, que devem estar calcados em critérios determinados durante o
processo de planejamento.
A metodologia adotada para a elaboração do estudo leva em conta a escala da
biorregião formada pelo Distrito Federal e entorno para a análise das propostas
selecionadas de forma a permitir a definição de critérios que permitiram
espacializar fluxos que definem as tipologias de corredores ecológicos aplicáveis
ao território do Distrito Federal.
48
Capítulo 2
Políticas de Gestão Ambiental e
Territorial no Brasil – Algumas
Considerações
2. POLÍTICAS DE GESTÃO AMBIENTAL E TERRITORIAL NO
BRASIL – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Não buscamos nos alongar em demasia tratando deste assunto específico que
guarda em si uma complexidade e uma amplitude que ensejariam estudos muito
mais aprofundados. A nossa intenção nesse capítulo é discutir brevemente de que
forma as características das políticas de gestão ambiental e territorial no Brasil
afetam ou se relacionam com a questão do estabelecimento de corredores
ecológicos.
Assim, discorremos sobre as características de ocupação territorial no Brasil e
os fatores que influenciam a conformação atual e a distribuição da população e das
atividades econômicas, com enfoque especial na região do Distrito Federal,
consolidado com a transferência da Capital Federal para o Centro-oeste Brasileiro,
região do Cerrado.
2.1. Breve Histórico da Relação das Políticas Econômicas com a
Ocupação Territorial no Brasil
O modelo de colonização adotado pelos portugueses, voltado muito mais para
a exploração e não para o povoamento, não favoreceu a ocupação contínua do
território. O Brasil apresenta, assim, uma característica de ocupação mais dispersa e
menos integrada, o que se reflete na sua estruturação econômica e integração
territorial.
No início do período colonial não havia qualquer estratégia de ocupação do
território. Isto foi se modificando em face das pressões para a definição dos limites
de fronteira, com a utilização crescente do capital privado para garantir a ocupação
do território conquistado, o poder político dos senhores de terra foi crescendo na
mesma proporção do seu poder econômico e da sua autonomia.
Já nos primórdios do Brasil Imperial
5
discutia-se a transferência da capital
para o interior do país com o objetivo de promover a integração e diminuir as
5
José Bonifácio propôs, em 1823, a transferência da capital para Goiás.
50
disparidades que se observava entre as diferentes regiões. A luta de classes exigia
um novo arranjo político-institucional capaz de garantir a centralização do controle,
tanto do povo quanto do território, para que o novo Estado independente pudesse se
consolidar.
A Revolução Industrial e a expansão das idéias liberalistas geraram, no século
XIX, uma forte expansão urbanizadora rumo ao interior, ocasionada pelas
alterações e surgimento de novos fluxos econômicos e pela mudança do perfil dos
nucleamentos, de agrários para urbanos.
A leitura de Costa (1991) deixa clara a dualidade que sempre existiu em
nosso país quanto ao poder do Estado, ora centralizador ora buscando a
descentralização. O autor fundamenta e reforça a idéia de que os problemas
relacionados com a gestão do território e seu modo de apropriação pelo homem em
nosso país vêm de longa data, e se devem em grande parte a essa postura dos
diversos governos que se sucederam desde os tempos coloniais. Aponta ainda a
necessidade de modificações estruturais no modo como se pensa o espaço para que
o modelo predatório de ocupação possa ser definitivamente superado em nosso
país.
Um dos mais caros princípios do pensamento liberal,
inspirador da maioria dos Estados modernos ocidentais é justamente
o princípio federativo, ou seja, o da garantia de autonomia relativa
das províncias, estados, departamentos, etc., face ao poder central
[...]. Os acontecimentos pretéritos [...] definiram um certo caráter,
um certo “modo de ser” do país e da sociedade, do Estado e das
práticas políticas, cuja alteração completa teria que passar por
verdadeiras revoluções [...]”. (Costa, 1991)
Apesar da “relativa” modernização do Estado, que se desenhou na
Constituição de 1934, movida pelo avanço do capitalismo, a articulação da
“unidade nacional” continuou a representar uma batalha a ser vencida e o poder
centralizador do Estado ainda permaneceu vigente, apesar dos clamores das
unidades da federação e dos municípios por uma maior autonomia.
Outra característica do Estado Novo foi a constituição de órgãos que
tratassem das questões de informações estatísticas, como o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística - IBGE, por exemplo, imprescindíveis ao planejamento de
51
ações integradas e integradoras e à formulação de políticas setoriais de
desenvolvimento
6
.
Com a queda de Vargas e o fim do Estado Novo, a Constituição de 1946
passa a incluir a questão regional em seus dispositivos. Nos anos 50 têm início as
preocupações mais acentuadas com a questão urbana e de desenvolvimento
regional.
Com o Plano de Metas do governo Kubitschek, floresceu definitivamente a
era da expansão industrial que resultou no desenvolvimento acelerado de pólos
como São Paulo, afetando a configuração do espaço territorial brasileiro e o
desenvolvimento das políticas de gestão do território.
Na visão de Costa (1991), a construção de Brasília e a mudança da capital
para o interior do país promoveram a centralização do poder do Estado apenas no
sentido geográfico, já que, segundo o autor, no sentido político ele sempre foi
centralizador, independente de onde se localizasse a capital. Ao se privilegiar o
transporte rodoviário, modificou-se toda a dinâmica de articulação econômica e,
conseqüentemente, promoveu-se a interiorização buscada desde a época imperial.
“Brasília representou a implantação de um poderoso posto de
vanguarda para o norte e o oeste do país [...] como verdadeiro nó
de articulação inter-regional [...] com vias de acesso para o sul,
leste e nordeste e vias de penetração para o norte e o oeste, todas
convergindo para um mesmo ponto [...] em quase 6.000 km de
estradas federais.” (Costa, 1991).
Costa destaca ainda que o Plano de Metas estava obviamente calcado no
desenvolvimento econômico e desconsiderou, pelo menos formalmente, a questão
do planejamento territorial. No entanto, fica clara na conclusão do estudo
desenvolvido por ele que cada vez mais, com o avanço da força do capital, as
questões do território se tornam indissociáveis da política econômica maior.
O Plano Trienal, desenvolvido no Governo João Goulart e não
completamente implementado também não obteve sucesso quanto à redução das
6
Até hoje persistem carências na tipologia, qualidade e confiabilidade desse tipo de informação, mas
ao considerarmos que só a partir da década de 40 isso começou a se desenvolver de modo sistemático
no Brasil torna-se compreensível o quadro atual da formulação de políticas públicas, muitas vezes
contraditórias ou desenvolvidas em descompasso.
52
disparidades regionais embora se valesse de instrumentos econômicos, tributários e
incentivos fiscais, no intuito de promover a desconcentração do desenvolvimento
econômico. Esse tipo de política até hoje apresenta suas conseqüências, como a
guerra fiscal entre os estados recentemente muito comentada nos meios de
comunicação.
Mesmo após o golpe de 64 e a instalação do regime militar
7
no país não
houve mudanças significativas quanto ao caráter das políticas de ocupação
territorial, embora as ações do Estado, especialmente no que tange às políticas
econômicas e de desenvolvimento regional tenham sofrido algumas modificações.
O Plano Decenal de Desenvolvimento Econômico e Social, embora não tenha
sido implementado, trouxe uma nova visão para o desenvolvimento das políticas
territoriais e resgatou conceitos defendidos por Perroux
8
(MANDELL,2005)
quanto ao desenvolvimento de pólos que fossem capazes de concentrar
investimentos e promover a integração regional por meio da dinamização
econômica num dado raio de influência.
Assim, na década de 70, surge o primeiro Plano Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social – I PND, que tem como pilar principal o
Programa de Integração Nacional – PIN, que defendia a expansão econômica do
Centro-sul rumo ao Centro-oeste, Amazônia e Nordeste, mas cujas metas
estratégicas acabaram sendo relegadas a um plano secundário ou mesmo
descartadas no II PND. Fica claro que, se não houve retrocesso no modo de se
encarar a questão, também não houve avanço.
Como se pode perceber, as políticas territoriais no Brasil sempre foram
embasadas no componente econômico, assumindo um papel secundário nas macro
políticas de desenvolvimento, ao longo de toda a história de consolidação da
ocupação do território brasileiro. A “ocupação dos vazios territoriais” ficou sujeita
às regras da periferia do sistema de mercados e capitais, habitualmente calcadas na
especulação imobiliária.
7
Proliferam nesse período órgãos governamentais de grande porte e estrutura, criados para integrar as
políticas setoriais que eram desenvolvidas em órgãos de menor porte.
8
Esses conceitos estão calcados na teoria do desenvolvimento de cidades, largamente estudados pela
economia neoclássica, a geografia e o urbanismo.
53
Com o incremento do seu poder político, os estados e municípios passaram a
ter um papel mais relevante no processo de planejamento, embora os seus projetos
e programas obedeçam, quase sempre, às políticas elaboradas na esfera federal, o
que Costa (1991) denominou como “lógica nacional”.
Na maioria dos estados e municípios da federação ainda há uma grande
dificuldade na gestão do território dada disparidade entre a autonomia para o
planejamento, conquistada com os avanços da descentralização, e a centralização
na arrecadação dos fundos públicos, contrariando o princípio federativo e gerando a
dificuldade no avanço do desenvolvimento na maior parte do país (Costa, 1991).
O autor chegou a explicitar a possível necessidade de se repensar a divisão
regional e territorial nas três esferas de governo. Esta alteração da estrutura
territorial-regional possibilitaria uma maior adequação política às redes, que vêm se
formando de modo bastante claro por todo o país, sejam elas hierarquizadas ou não,
institucionais ou sociais.
2.1.1. Questões Fundiárias e Apropriação do Território
Os dados do governo mostram que é significativo o número de ocupações
irregulares em terras públicas, principalmente de domínio da União, como os
Terrenos de Marinha. Dois motivos principais colaboram para esta situação: a falta
de cadastro do Patrimônio da União e outros entes públicos e os processos ilegais
de privatização de terras públicas.
Hoje muito se discute sobre a questão do papel dos municípios na
regularização fundiária das ocupações em terras públicas, a exemplo do que vem
ocorrendo no Distrito Federal com a regularização de condomínios estabelecidos
em áreas públicas não pertencentes à União.
O Estatuto das Cidades buscou o estabelecimento de outros instrumentos,
além do aforamento, que pudessem ampliar o leque de possibilidades na garantia
do cumprimento da função social da terra e na regularização fundiária, contando
com a participação do Governo Federal nesse processo.
54
O custo da terra e os seus mecanismos de valorização influenciam de modo
direto na composição de preços dos produtos e no desenvolvimento de mercados
consumidores, sendo este um elemento primordial a considerar no estabelecimento
da dinâmica de uso e ocupação do solo, do desenvolvimento de atividades
econômicas e nos padrões de distribuição da população pelo território.
As populações com menor poder econômico são empurradas para fora do
sistema indo a ocupar áreas menos adequadas e dotadas de pouca infra-estrutura,
geralmente terras públicas ou que apresentam severas restrições à sua ocupação.
Isto favorece a proliferação das aglomerações urbanas informais e que vão exigir
futuramente grandes dispêndios de recursos financeiros onerando a todo o conjunto
social. As políticas de regularização e urbanização nem sempre são capazes de
promover a adequação dessas áreas de forma a garantir condições humanas de vida
nesses locais.
O processo de desenvolvimento urbano informal não é a exceção e sim a
regra no país, isso se deve a uma combinação entre a especulação de terras, a
política clientelista, a prática elitista de planejamento urbano e o regime jurídico
excludente. Tal processo de acesso informal ao solo e à moradia tem aumentado a
cada dia em cidades de todos os tamanhos em todas as regiões do país.
(MCidades/SNPU, 2004)
Buscando mudar esse quadro, diversos programas de regularização fundiária
vêm sendo implementados no país, encontrando como barreiras ao seu sucesso: a
atuação isolada dos órgãos públicos, mostrando uma falta de integração entre os
diversos programas; a não concomitância entre programas de urbanização e
regularização; a falta de recursos financeiros; os instrumentos jurídicos existentes;
a falta de participação popular e a fragmentação e a disputa de poder institucional.
(MCidades/SNPU, 2004)
55
2.1.2. O Papel Político do Estado no Ordenamento Territorial e na Gestão
Ambiental
Desde os mais remotos tempos a questão territorial está inegável e
estreitamente vinculada à soberania, ao poder e às motivações econômicas.
Conforme ganham importância as variáveis internas para a consolidação do poder
dos Estados, aumenta a necessidade de se internalizar também o estudo e a
discussão das políticas territoriais em todos os níveis.
Segundo se percebe na leitura de Bryant e Bailey (1997) todos os atores
sociais contribuem para a ocorrência de mudanças ambientais ao perseguir seus
interesses na construção de políticas públicas direcionadas à gestão do território,
embora o Estado tenha influência preponderante na condução do processo de
interação entre os demais atores.
Ao explorar o papel do Estado, especialmente os do terceiro mundo, na
resolução dos conflitos surgidos no campo ambiental em razão das políticas
territoriais e na forma de conduzi-las, os dois autores levam em conta três aspectos
fundamentais:
» O dilema dos Estados ao escolher entre o desenvolvimento
econômico e a conservação ambiental, haja vista o exemplo da China que para
alcançar padrões de crescimento econômico vem degradando recursos naturais
vitais à manutenção da maior população do planeta;
» Ao surgimento de conflitos institucionais dentro dos Estados e entre
eles, como é o caso da poluição e utilização das águas que se observa nas Bacias do
Rio da Prata ou do São Francisco, por exemplo; e
» A ascensão do poder das corporações transnacionais e das ONG’s
ambientais como atores fundamentais ao processo de discussão e definição das
políticas públicas, mas que freqüentemente apresentam posições divergentes.
Segundo Bryant e Bailey, muitos críticos desacreditam que o Estado seja
capaz de resolver problemas ambientais em qualquer escala pela limitação da
56
governabilidade sobre os vários aspectos que envolvem essa questão. Embora o
Estado mantenha a sua posição de “ator chave” nos problemas relativos ao conflito
e ao gerenciamento ambiental e territorial, não se pode negar a tensão existente
entre o Estado “gestor ambiental” e o “desenvolvimentista”.
Antes da Segunda Guerra os Estados não priorizavam a questão ambiental, na
tentativa de alcançar o nível de desenvolvimento do primeiro mundo, os países do
terceiro mundo ampliaram a exploração dos recursos naturais sem qualquer
preocupação conservacionista, atraindo indústrias transnacionais por meio da oferta
de vantagens de toda sorte.
Na década de 60, muitos países começaram a impor regulamentos às
indústrias, como resposta aos conflitos sociais surgidos da exploração excessiva
dos seus recursos naturais, especialmente em momentos de escassez. No entanto,
somente duas décadas mais tarde começaram a ter efeito campanhas globais de
conservação do ambiente surgidas nessa fase.
Num cenário globalizado, as políticas individualizadas na gestão e ocupação
do território, preconizada por muitos países, continuam a gerar muitos conflitos,
especialmente quanto à proteção ambiental em escala continental e global, levando
à necessidade da criação de pactos entre as nações e de acordos internacionais.
Apesar da repercussão do tema em todo o mundo, muitos países ainda
privilegiam o desenvolvimento econômico predatório, em detrimento do equilíbrio
ambiental e continuam a exercer a sua soberania afrouxando as políticas ambientais
para dar continuidade ao modelo de desenvolvimento a qualquer custo.
Contra a influência cada vez mais acentuada dos detentores do capital,
surgem com mais força no processo decisório os movimentos populares e as
ONG’s. Ainda assim, é a figura do Estado que apresenta a capacidade, além da
autoridade, de permear por todas as escalas, variando do “global” ao “local”, e
suportar a pressão da diversidade de interesses a serem atendidos.
Isso se dá porque é na figura do Estado que se concentra o poder de coerção e
de vigilância, o que lhe garante um papel privilegiado no processo decisório que
57
permite a promoção de ações de conservação e manejo dos recursos ambientais,
mesmo que isso possa contrariar os interesses de outros atores.
Mesmo se mantendo na condição de ator chave do processo é clara a
necessidade crescente da remodelação na estrutura dos Estados para que possam
melhorar a sua atuação como gestores ambientais, buscando a coerência entre
políticas e interesses locais e globais, um dos maiores desafios a serem ainda
superados nos dias de hoje.
O Brasil vem tentando promover essa remodelação e solucionar os conflitos
institucionais entre diversos órgãos de governo, tendo promovido em abril de 2007
a reformulação da estrutura federal dos órgãos ambientais. Foram dissociadas as
atividades de fiscalização, monitoramento e gestão das atividades de licenciamento
e formulação de políticas públicas setoriais.
Essa existência de conflitos institucionais e disputas internas por poder
político e por recursos federais, não é exclusividade dos órgãos ambientais
brasileiros. Quando não resolvidos de forma adequada, primando pela questão
técnica que atenda os anseios da maioria da sociedade, esses conflitos institucionais
tendem a crescer e alcançar muitas vezes dimensões maiores.
Um exemplo hipotético desta questão é a busca de uma nova matriz
energética, como a nuclear, que pode gerar conflitos de interesse entre órgãos de
governo ou entre grupos sociais, alastrando-se por unidades da federação e
podendo vir a afetar a relação entre Estados vizinhos e ganhar até mesmo caráter
global.
A Figura 7 sintetiza a espiral do surgimento de conflitos pelo uso dos
recursos ambientais, que se iniciam internamente a instituições locais e podem
crescer até atingir a escala global a depender da complexidade da questão e dos
interesses envolvidos. Esses conflitos exigem ações cada vez mais complexas para
a sua resolução à medida que aumenta a sua abrangência e o número de atores
envolvidos.
58
Figura 7 – Ampliação dos Conflitos pelo Uso dos Recursos Ambientais
OUTROS ESTADOS
OS CONFLITOS ULTRAPASSAM A FRONTEIRA DOS ESTADOS, ATINGINDO A UMA REGIÃO
ESPEC
Í
FICA E MUITAS VEZES O CONTINENTE. AS DIFICULDADES PARA O ESTABELECIMENTO DE
ARRANJOS INSTITUCIONAIS AUMENTAM E OS INTERESSES SETORIAIS FICAM MAIS ACIRRADOS. A
PARTICIPAÇÃO POPULAR MAIS DISTANTE.
ESCALA GLOBAL
OS CONFLITOS ATINGEM A ESCALA GLOBAL. A RESOLUÇÃO SE D
Á
POR MEIO DE PACTOS E
ACORDOS INTERNACIONAIS QUE EXIGEM A SUA RESOLUÇÃO PRÉVIA EM ETAPAS ANTERIORES.
ESTADO
OS CONFLITOS ADQUIREM CARÁTER REGIONAL OU NACIONAL, AMPLIAM-SE E TORNAM-
SE MAIS GRAVES PELA SUA NÃO RESOLUÇÃO NUMA ETAPA ANTERIOR. AUMENTAM AS
DIFICULDADES DE SE PACTUAR E DEFINIR ACORDOS J
Á
QUE H
Á
UM MAIOR N
Ú
MERO DE
A
TORES ENVOLVIDOS COM PRESENÇA E EXPRESSÃO POL
Í
TICA MAIORES. OS ACORDOS
SÃO TRANSNACIONAIS.
INSTITUIÇÕES INTERNAS
OS CONFLITOS PELO USO DOS RECURSOS AMBIENTAIS SURGEM,
PRIMEIRAMENTE, EM ESCALA LOCAL ENTRE INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS,
USU
Á
RIOS E SOCIEDADE CIVIL. PELA EXIST
Ê
NCIA DE INTERESSES SETORIAIS
ESPEC
Í
FICOS E DISPUTAS DE PODER
,
59
2.1.3. Instrumentação Legal e Participação Popular
Há muitas dificuldades quanto à aplicação dos instrumentos, uma delas
refere-se à sobreposição das diversas unidades de planejamento, definidas nos
vários instrumentos previstos pelas políticas setoriais. Outra questão que deve ser
levada em conta é a priorização das atividades de execução e prestação de serviços
públicos em detrimento das atividades de regulamentação, fiscalização e
monitoramento.
Embora grande parte da sociedade já venha reconhecendo a importância das
questões ambientais, ainda não internalizou os hábitos de controle social sobre a
prestação dos serviços públicos e a participação no processo de decisão e
implementação das políticas públicas. Outra grande dificuldade é a falta de
consenso entre os vários segmentos da sociedade civil, entre as instituições
públicas e privadas e mesmo entre os tomadores de decisão, seja no planejamento
setorial ou integrado.
Para que as políticas territoriais possam ser aplicadas são imprescindíveis,
além da aceitação popular, instrumentos de regulação e controle que possam
garantir a sua efetividade. Esses instrumentos podem tanto servir como forma de
controlar o uso da terra quanto para ampliar as formas de arrecadação de recursos
públicos que venham a ser reaplicados na gestão do território ou na recuperação e
preservação de áreas naturais.
Mota (2003), citando Meirelles, destaca que a preservação dos recursos
naturais pode ser feita de dois modos, ressaltando a importância dos instrumentos
de controle do uso do solo para a conservação ambiental:
“[...] pelas limitações administrativas de uso, gerais e gratuitas,
sem impedir a normal utilização econômica do bem, nem retirar a
propriedade do particular ou pela desapropriação individual e
remunerada de determinado bem, transferindo-a para o domínio
público e impedindo a sua destruição ou degradação”. (Mota, 2003)
60
A Lei 9.985/ 2000, conhecida como Lei do SNUC – Sistema Nacional de
Unidades de Conservação define as normas e restrições para as atividades humanas
e de parcelamento e uso do solo nas áreas circunvizinhas às unidades de
conservação estabelecidas no país. Assim, essa lei vem afetar diretamente o
ordenamento territorial e a questão de valorização da terra exatamente com o
intuito de minimizar os impactos negativos da pressão das aglomerações humanas
ou atividades rurais sobre as UC’s.
A Lei Federal No 6766/1979 trata do parcelamento do solo para fins urbanos,
em áreas urbanas ou de expansão urbana, data de 1979 e ainda encontra-se em
vigor, mesmo que em muitas localidades as autoridades ainda venham permitindo,
por inúmeros motivos, a constituição de loteamentos em áreas rurais que são
posteriormente regularizadas ao serem inclusas na malha do zoneamento
permitido
9
. Esta lei dispõe sobre as condições mínimas de segurança e salubridade
dos terrenos que se destinam a parcelamentos ou ocupação, sobre a densidade
permitida e a reserva de áreas públicas nos parcelamentos e sobre a definição de
áreas non aedificandi e dimensão mínima dos lotes
10
.
Ao observarmos o que acontece comumente nas cidades brasileiras resta a
dúvida sobre o grau de conhecimento e obediência à legislação, por parte dos
técnicos municipais, e fica evidenciada a necessidade de que a população conheça
melhor o que diz o conjunto de normas legais. Só esse conhecimento nos permite
exercer o poder de garantir nossos direitos e exigir que outros os respeitem. Os
dissabores muitas vezes atingem àqueles que transgridem a lei empregando seus
recursos em imóveis irregulares e colaboram assim para que a “cidade ilegal” se
estabeleça, onerando todo o conjunto social direta ou indiretamente.
O Código Florestal de 1965
11
estabelece alguns dispositivos que se referem
aos empreendimentos urbanos, especialmente os localizados em área de expansão
urbana, e limitam o direito de propriedade em sobreposição ao interesse comum –
9
Definido por meio de lei municipal específica.
10
Os Estados e Municípios podem redefinir as dimensões mínimas permitidas dos lotes para que seja
autorizado um loteamento ou ocupação.
11
A Lei Federal no. 7803/89 alterou a redação do art.2
o
. do Código Florestal dando nova redação ao
que se refere às áreas e reserva legal e as áreas de preservação permanente. Note-se que essa lei foi
promulgada após 1988, quando se ampliou o número de áreas metropolitanas, após a nova
Constituição.
61
“de todos os habitantes do país” – quanto à supressão e conservação da cobertura
vegetal. (Secovi-SP, 2000). Essa lei estabelece, em seu artigo 2º, o que sejam
consideradas florestas e vegetação natural em área de preservação permanente e
define limites para o que seja considerado “uso nocivo da propriedade”.
Quanto às áreas urbanas, a Lei Federal No 7.803/89 que deu nova redação ao
artigo 2
o
do Código Florestal estabelece em seu parágrafo único:
“No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos
perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões
metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o território
abrangido, obervar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e
leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere
este artigo”.
Fica patente assim a importância dos instrumentos legais que regem o uso do
solo e da elaboração de planos diretores que possam delimitar a questão, mais uma
vez é importante destacar que a participação popular nesse caso é fundamental.
Paula (2002) ressalta que o início da legislação brasileira voltada aos recursos
hídricos teve seu início com o Código Civil de 1916 que já tratava a questão do uso
da água sem o comprometimento das suas qualidades naturais e previa a
possibilidade de indenização àquele que foi prejudicado pelo descumprimento da
norma. A autora cita que os estudos iniciais que resultaram na formulação do
Código remontam 1907 e culminaram com a sua promulgação em 1934,
representando um avanço inegável para a época
12
em que foi promulgado.
O Decreto Federal no. 24.643/34, conhecido como Código das Águas, veio
estabelecer as regras para o uso das águas superficiais e já explicitava o
pensamento de garantir o acesso gratuito à água para a satisfação das necessidades
vitais do indivíduo. No Código das Águas está expressa também a preocupação
com a qualidade dos recursos, prevendo a punição aos responsáveis pela sua
alteração melhor definida na Lei de Crimes Ambientais, mas já prevista no Código
Penal
13
, como crime.
12
Também nessa época foi criado o Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica - CNAEE
13
Arts. 270 e 271 do Código Penal que tratam sobre os casos de envenenamento, corrupção ou
poluição das águas potáveis (Paula, 2002).
62
Conhecida como Lei das Águas
14
, a Lei Federal no. 9.433/1997 estabelece a
Política Nacional de Recursos Hídricos e o Sistema de Gestão de Recursos
Hídricos que prevê a realização dos Planos Estaduais de Recursos Hídricos,
instituindo os órgãos colegiados de caráter deliberativo e consultivo e definindo a
bacia hidrográfica como unidade de planejamento.
Conforme ressaltam Muñoz e Bortoluzzi (1997), a Política Nacional de
Recursos Hídricos registra, entre as diretrizes para a sua implementação, que o
sistema de gestão de recursos hídricos deve articular-se com as políticas de gestão
das atividades dos vários setores usuários, a gestão ambiental, de uso do solo e o
gerenciamento costeiro.
Os autores destacam ainda a importância dos Planos de Recursos Hídricos e
principalmente o caráter descentralizador e participativo da sua aprovação que se
dá nos Comitês de Bacia e não no nível técnico dos órgãos gestores, além de
constituir-se em “elos de ligação entre os diversos planejamentos setoriais e
elementos indutores da sustentabilidade nas práticas antrópicas.”
A Lei Federal 6.938/91
15
instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente,
seus fins e mecanismos de formulação e aplicação. Foram criados por esta lei: o
Sistema Nacional de Meio Ambiente – Sisnama, o Cadastro de Defesa Ambiental,
o Conselho Nacional de Meio Ambiente – Conama
16
, e o Conselho Superior de
Meio Ambiente.
Os instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente são: os padrões de
qualidade ambiental, o zoneamento ambiental, a avaliação dos impactos
14
Essa Lei incorpora os princípios básicos da Declaração de Dublin sobre Recursos Hídricos e
Desenvolvimento Sustentável, realizada em 1992.
15
Regulamentada pelo Decreto Federal 99.724/90 que estabeleceu o vínculo entre o Estudo de Impacto
Ambiental – EIA, exigência constitucional, e o licenciamento não só das atividades poluidoras, mas
também para aquelas capazes de causar degradação ambiental, neste caso vale observar o que
estabelece a Resolução Conama 01/86.
16
O Conama é o órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional de Meio Ambiente, assim
estabelece resoluções que devem ser observadas e atendidas. Para o nosso estudo têm importância
particular as Resoluções Conama 01/86, 04/85, 10/88, 237/97, 357/05. Deve-se lembrar que está em
discussão em todo o território nacional a proposta de uma nova resolução que trata dos casos
excepcionais, de utilidade pública e interesse social, que possibilitam a supressão de vegetação nas
APP’s,
contrariando o que reza o parágrafo 4
o
. do Código Florestal, já contrariado pela Conama
302/01.
63
ambientais, o licenciamento e a revisão das atividades efetiva ou potencialmente
poluidoras. (Secovi-SP, 2000)
Conhecida como Lei dos Crimes Ambientais
17
, ou Lei da Natureza, a Lei no.
9.605/1998 estabelece normatizações e define melhor as sanções previstas na
legislação ambiental, fica aberta a possibilidade de responsabilização penal da
pessoa física autora e co-autora do delito, além da pessoa física. Alguns atos, antes
enquadrados como contravenção, passam a ser crimes, atingindo inclusive os
procedimentos dos funcionários dos órgãos ambientais no caso de conduta que
possa de alguma forma resultar em prejuízos ao meio ambiente.
2.2. Princípios da Política de Meio Ambiente no Brasil
O Brasil é um dos países megadiversos, no entanto grande parte da
biodiversidade brasileira ainda é desconhecida e encontra-se sujeita às pressões
resultantes das ações antrópicas, o que torna necessária a definição de prioridades
no momento de definição das estratégias de conservação da natureza.
A Constituição de 1988 em seu art. 225, que trata do meio ambiente, define
bem os rumos desejados para o meio ambiente no país. Segundo Arruda (2005), a
Constituição não apenas interpretou com muita propriedade a importância dos
ecossistemas e da biodiversidade brasileira, como a maneira que se deve conservá-
los e manejá-los para garantir a sustentabilidade, para as presentes e as futuras
gerações.
Um aspecto importante e inovador do art.225 é imputar não só ao Poder
Público, mas também à coletividade o dever de defender e preservar o meio
ambiente. Parte daí o princípio da descentralização e da gestão democrática e
participativa, visível em toda a Constituição que estabelece diversos direitos
coletivos, como o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Arruda (2005) ressalta ainda que o art. 225 da Constituição abrange todos os
aspectos relevantes do meio ambiente por adotar uma visão ecossistêmica, inclui
17
Regulamentada pelo Decreto 3.179/99, que dispõe sobre as especificações das sanções aplicáveis às
condutas lesivas ao meio ambiente, constituindo-se num instrumento importante para a atuação dos
órgãos ambientais.
64
escalas relevantes da conservação da biodiversidade e faz menção quanto à
necessidade da proteção das Unidades de Conservação.
A Constituição estabelece ainda a obrigatoriedade de recuperação do meio
ambiente degradado por parte de seu causador e do estudo prévio de impacto
ambiental para atividades potencialmente causadoras de degradação, especificando
que deve ser dada ao processo ampla publicidade. Isto garante o conhecimento e
abre a possibilidade da ampla participação popular nos processos de licenciamento
que possam impactar a vida das comunidades.
Ao definir que compete ao Poder Público preservar e restaurar os processos
ecológicos essenciais e promover o manejo das espécies e ecossistemas fica aberto
o caminho para que sejam discutidas formas de estabelecer estratégias que
garantam esta participação popular. Isto reforça os comentários sobre a importância
do papel político do Estado como mediador e promotor do processo participativo
de gestão ambiental.
O Brasil é signatário de diversos acordos e tratados internacionais firmados
em escala continental e global, relacionados à proteção ambiental e ao
desenvolvimento sustentável. Dentre estes destacamos: a Agenda 21, as Metas do
Milênio, a Convenção de Ramsar, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudanças Climáticas, a Convenção de Combate à Desertificação e a Convenção
sobre Diversidade Biológica.
2.2.1. A Conservação dos Biomas e o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação
A Convenção sobre Diversidade Biológica - CDB é o primeiro acordo
internacional sobre a conservação e o uso sustentável de todos os componentes da
biodiversidade, incluindo nessa definição, além dos recursos genéticos, espécies e
ecossistemas, a dimensão sócio-econômica. O Brasil é um dos 188 países
signatários da CDB, que adota o manejo integrado da terra, água e recursos vivos.
Atendendo aos objetivos da CDB, o Brasil vem desenvolvendo uma série de
ações como a instituição da Política Nacional de Biodiversidade e a criação do
65
Sistema Nacional de Unidades de Conservação, que teve início antes da CDB,
ainda em 1988, com a participação pública, culminando na promulgação da Lei
Federal 9.985/2000, conhecida como Lei do SNUC – Sistema Nacional de
Unidades de Conservação.
A Lei do SNUC define as normas e restrições para as atividades humanas e
de parcelamento e uso do solo nas áreas circunvizinhas às unidades de conservação
estabelecidas no país. Essa lei afeta diretamente o ordenamento territorial e a
questão de valorização da terra, com o intuito de minimizar os impactos negativos
da pressão das aglomerações e atividades humanas sobre as Unidades de
Conservação.
A Lei estabelece o papel de três instituições administrativas
18
que compõem o
Sistema Nacional de Meio Ambiente – Sisnama, na implementação do SNUC: o
Conama, órgão colegiado de caráter consultivo e deliberativo que monitora o
processo de implementação; o Ministério do Meio Ambiente – MMA, que formula
as políticas públicas de meio ambiente e é o órgão que coordena o sistema e a
Diretoria de Ecossistemas do Instituto Brasileiro dos Recursos Naturais Renováveis
– Ibama, responsável pela criação e gerenciamento das Unidades de Conservação
Federais.
Segundo a Lei do SNUC, dentre as diretrizes do Sistema Nacional de
Unidades de Conservação está, conforme estabelecido e seu art. 5º, inciso XIII:
“[...] proteger grandes áreas por meio de um conjunto integrado
de Unidades de Conservação de diferentes categorias, próximas ou
contíguas, e suas respectivas zonas de amortecimento e corredores
ecológicos, integrando as diferentes atividades de preservação da
natureza, uso sustentável dos recursos naturais e restauração e
recuperação de ecossistemas.”
18
Após a qualificação dessa dissertação e ainda durante a sua revisão final, a Medida Provisória
366/2007 e os Decretos 6099,6100 e 6101, de 26 de abril de 2007 estabeleceram a revisão da
organização do sistema de meio ambiente brasileiro. A gestão das Unidades de Conservação passa a ser
da competência do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade ficando a cargo do
Ibama apenas as atividades de licenciamento e fiscalização, mas que também interferem na
conservação da biodiversidade.
66
O SNUC fortalece o enfoque do planejamento biorregional que vem sendo
desenvolvido há pelo menos três décadas como estratégia de conservação da
biodiversidade. Seus principais objetivos são: o fortalecimento da gestão
participativa, o estabelecimento e expansão das áreas protegidas e a redução das
pressões sobre essas áreas. Uma das ações estratégicas fundamentais ao alcance
desses objetivos é o estabelecimento de “corredores” entre áreas protegidas,
capazes de abranger uma determinada porção territorial que continue a abrigar usos
diversos.
O Quadro 5 resume as categorias de Unidades de Conservação existentes no
país e cuja conexão é prioritária como estratégia de conservação da natureza e
como forma de manter a biodiversidade.
67
Quadro 5 – Categorias das Unidades de Conservação e Principais Objetivos
Unidades de Conservação de Proteção Integral
Estação Ecológica – preservação da natureza e realização de pesquisas científicas.
Reserva Biológica – preservação integral da biota e demais atributos naturais
existentes em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações
ambientais, excetuando-se as medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados
e as ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a
diversidade biológica e os processos ecológicos naturais.
Parque Nacional – preservação de ecossistemas naturais de grande relevância
ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o
desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação
em contato com a natureza e de turismo ecológico.
Monumento Natural – preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza
cênica.
Refúgio de Vida Silvestre - proteger ambientes naturais onde se asseguram
condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local
e da fauna residente ou migratória.
Unidades de Conservação de Uso Sustentável
Área de Proteção Ambiental – proteger a diversidade biológica, disciplinar o
processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.
Área de Relevante Interesse Ecológico – manter os ecossistemas naturais de
importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a
compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da natureza.
Floresta Nacional – uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa
científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas.
Reserva Extrativista - proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e
assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade.
Reserva de Fauna - área natural com populações animais de espécies nativas,
terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico-
científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos faunísticos.
Reserva de Desenvolvimento Sustentável - área natural que abriga populações
tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos
recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições
ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza
e na manutenção da diversidade biológica.
Reserva Particular do Patrimônio Natural - área privada, gravada com
perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica.
Fonte: Lei Federal 9.985/2000
68
2.2.2. Planejamento Biorregional e Corredores Ecológicos no Brasil
Um dos movimentos precursores do planejamento biorregional é o programa
“O homem e a Biosfera” – MAB
19
, desenvolvido pela Unesco desde 1971, cujo
objetivo principal é conciliar a utilização econômica dos recursos naturais com a
sua conservação. Um dos componentes desse programa é o estabelecimento de
projetos–piloto, as Reservas da Biosfera, que já são quase 400 em todo o mundo.
O sucesso das Reservas da Biosfera, assim como de qualquer projeto dessa
natureza, pressupõe o envolvimento e a participação da comunidade. No Brasil
foram estabelecidas duas Reservas da Biosfera: a da Mata Atlântica e a do Cerrado,
a primeira vem obtendo mais sucesso e já está entrando na fase 2 do projeto
enquanto a segunda vem encontrando dificuldades para o alcance dos objetivos da
fase 1, o que pode inviabilizar a sua continuidade e mesmo definir sua transferência
para outra área.
O principal conceito das reservas da biosfera está em definir três áreas de
atuação e as atividades por ela comportadas. São respeitadas no zoneamento da
reserva as atividades das populações tradicionais, que podem ser desenvolvidas nas
zonas tampão e de transição.
A gestão das reservas da biosfera coloca em nível de igualdade as variáveis
ambientais, sócio-culturais e econômicas, respeitando-se as especificidades de cada
uma delas. (Unesco, 2002). As faixas de conexão das zonas de transição acabam
por fazer com que essas áreas funcionem como Corredores Ecológicos, uma vez
que se sobrepõem como mostra o esquema da Figura 8.
19
Sigla em inglês para MAN AND BIOSPHERE
69
1
1
2
2
3
3
1- Zona Núcleo: áreas mais preservadas ou de
excepcional interesse científico, com
ocorrências de espécies endêmicas, raras ou
de valor genético, são permitidas atividades
que não prejudiquem ou alterem processos
naturais e a vida silvestre.
2- Zona Tampão: áreas envoltórias da zona
núcleo, são permitidas atividades econômicas
e uso da terra desde que se garanta a
integridade da zona núcleo.
3- Zona de Transição: áreas onde se permite o
uso sustentado da terra e atividades de
pesquisa experimental e formas sustentáveis
de exploração. Nas Reservas da Biosfera a
conexão entre as zonas de transição conforma
um corredor ecológico.
Figura 8 – Esquema do Zoneamento das Reservas da Biosfera – Unesco
70
Já vimos que o conceito de corredores ecológicos pode ser aplicado a diversos
espaços geográficos. A Diretoria de Ecossistemas do Ibama e o Ministério do Meio
Ambiente, no âmbito do Programa para a Conservação das Florestas Tropicais
Brasileiras – PPG7 iniciaram, em 1993, o projeto Corredores Ecológicos das
Florestas Tropicais do Brasil. Embora o cerrado esteja compreendido no Nível I -
Altíssima Prioridade em Escala Regional
20
, não foram consideradas áreas para a
definição de corredores para esse bioma por ocasião da elaboração do projeto
inicial de implantação de corredores no Brasil. Isso porque dominava a idéia de se
priorizar e concentrar esforços para a conservação das formações florestais.
Este projetou estabeleceu, com base em critérios definidos por estudos e
pesquisas, sete corredores prioritários para a conservação sendo cinco na Amazônia
e dois na Mata Atlântica, listados no Quadro 6. Após uma década do início do
projeto, apenas dois desses corredores foram efetivamente implantados, no entanto,
serviram como propulsores da difusão do conceito de corredores ecológicos dando
início a outras iniciativas e experiências que vêm sendo desenvolvidas no país.
A Figura 9 mostra a localização dos Corredores Ecológicos que constituem o
projeto em execução pelo Ibama. Esse projeto não apresenta relação direta com o
que vem sendo desenvolvido no PPG7 uma vez que abrange ecorregiões
localizadas em especial nos biomas não abarcados por esse programa, como a
caatinga, o cerrado e o pantanal. No entanto, pode-se perceber claramente que os
dois programas têm de caminhar juntos e numa consonância estreita entre os seus
objetivos comuns e ações para que possam alcançar a efetividade desejada.
A Figura 10 mostra a interseção física existente entre os dois programas e
torna visível a importância da biorregião do Distrito Federal e entorno para a
integração dos projetos de Corredores Ecológicos existentes no Brasil. A
importância da implementação das estratégias de conservação na biorregião
escolhida para o desenvolvimento da nossa pesquisa é apresentada no Capítulo 3,
quando detalhamos melhor a área de abrangência da pesquisa.
20
Que engloba áreas com extraordinária diversidade biológica em escala continental, alto nível de
endemismo de espécies, sob alto grau de ameaça real ou potencial ou que se encontrem relativamente
estáveis em vastas extensões de paisagem (Ayres et al).
71
Quadro 6 – Corredores Ecológicos do PPG-7
Bioma Amazônia
1- Corredor da Amazônia Central – Possui importância biológica global e uma
alta prioridade regional para a conservação. Encontra-se intacto.
2- Corredor Norte da Amazônia – Possui importância biológica global e uma
alta prioridade regional para a conservação. Encontra-se relativamente intacto.
3- Corredor da Amazônia Central – Possui importância biológica global e uma
altíssima prioridade regional para a conservação. Encontra-se em relativa
estabilidade.
4- Corredor Sul da Amazônia – Possui importância biológica regional e uma
prioridade local para a conservação. Encontra-se vulnerável.
5- Corredor dos Ecótonos Sul-Amazônicos – Interliga o sul da Amazônia ao
Cerrado do Brasil Central. Possui importância biológica e prioridade regional para
a conservação. Encontra-se vulnerável e relativamente estável.
Bioma Mata Atlântica
6- Corredor Central da Mata Atlântica – Possui a maior diversidade de plantas
vasculares do mundo e um grande número de espécies endêmicas. De importância
biológica global e alta prioridade para a conservação, possui potencial para o
estabelecimento de novas UC’s.
7 – Corredor Sul da Mata Atlântica – Também chamado Corredor da Serra do
Mar, possui importância biológica global e uma prioridade regional para a
conservação. Com grande número de espécies endêmicas, possui uma grande
extensão de áreas protegidas.
Fonte: MMA/SRH, 2006.
72
A IMPORTÂNCIA DO CORREDOR ECOLÓGICO PARANÃ-PIRINEUS NO CONTEXTO NACIONAL
Fonte da Imagem: I3Geo – Base de dados do Ministério do Meio Ambiente
LEGENDA
LOCALIZAÇÃO
Figura 9 – Corredores Ecológicos no Projeto do Ibama e a sua Abrangência Nacional e Influência Regional
73
74
N
CORREDORES ECOLÓGICOS E UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO PAÍS – IBAMA E PPG7
Fonte da Imagem: Base de dados do Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais – Ibama
LEGENDA
Localização do Distrito Federal
Fluxo do Projeto de Corredores
Ecológicos do Ibama
Fluxo dos Corredores Ecológicos no
PPG7
Figura 10 – A Importância da Biorregião do Distrito Federal e Entorno para a Conexão dos Corredores Ecológicos no Brasil
SÍNTESE DO CAPÍTULO 2
As políticas territoriais no Brasil sempre foram embasadas no componente
econômico, assumindo um papel secundário nas macro-políticas de
desenvolvimento. Os diferentes planos de desenvolvimento implementados ao
longo de vários regimes políticos e governos não lograram sucesso quanto à
redução das disparidades regionais.
No Brasil, a “ocupação dos vazios territoriais” ficou sujeita às regras da
periferia do sistema de mercados e capitais, habitualmente calcadas na especulação
imobiliária e que muitas vezes conduz à degradação ambiental e da qualidade de
vida com a freqüente expansão urbana em áreas inadequadas, geralmente públicas.
No processo de gestão territorial e dos recursos ambientais o papel do Estado
como ator chave que detém o poder de ação e coerção sobre os demais é
fundamental. Especialmente no terceiro mundo, porém, o conflito entre o Estado
Desenvolvimentista e o Estado Gestor tem levado à adoção de políticas públicas de
gestão do território nem sempre compatíveis com os princípios da conservação da
natureza.
Quando o Estado não consegue assumir o seu papel de mediador de interesses
entre os diversos interesses dos demais atores surgem conflitos pelo uso da terra e
dos recursos naturais que podem atingir a escala global. Num mundo globalizado,
onde o desenvolvimento econômico continua sendo o grande objetivo, a questão
ambiental também depende de acordos e pactos firmados em escala global.
No Brasil a desconexão entre programas e políticas setoriais e a
descentralização do poder do Estado sobre a gestão territorial e ambiental
incompatível com a centralização da arrecadação fiscal e tributária tem se revelado
um entrave ao alcance de avanços nos projetos necessários à gestão dos recursos
ambientais.
Há inúmeras possibilidades de combinação entre os instrumentos e
mecanismos de ordenamento do território para o alcance de melhorias no processo
de ocupação com reflexos benéficos a todo o conjunto social, e ganhos em
75
qualidade do espaço, seja ele urbanizado ou não. Assim, a formulação ou o
estabelecimento de um instrumento de ordenamento territorial deve levar em conta
a coexistência de outros, nem sempre pertencentes ao mesmo “universo”.
Apenas a existência dos instrumentos não basta para a conservação da
biodiversidade, é necessário o estabelecimento de um conjunto de estratégias
capazes de tornar efetivas as ações programadas. Uma dessas estratégias é a
implantação de corredores ecológicos levando-se em conta os princípios do
planejamento biorregional.
A integração entre projetos, no contexto de uma observação mais ampla do
território também é necessária para que sejam identificadas as áreas-chave para
determinadas ações estratégicas que devem ser adotadas no nível local, já que seus
efeitos têm de abrangência nacional. É o caso da conservação ambiental no Distrito
Federal, foco desta pesquisa, fundamental à integração de projetos de conservação
mais abrangentes atualmente em desenvolvimento.
As considerações sobre a questão ambiental, a ocupação do território e,
especialmente os corredores ecológicos no Distrito Federal são apresentadas no
Capítulo 3.
76
Capítulo 3
O Bioma Cerrado e As Políticas
Ambientais no Distrito Federal
3. O BIOMA CERRADO E AS POLÍTICAS AMBIENTAIS NO
DISTRITO FEDERAL
Nesse capítulo abordamos a importância do Bioma Cerrado como conector
dos demais biomas e, portanto, estratégico para a conservação da biodiversidade
brasileira embora seja um dos mais ameaçados.
Abordamos ainda a importância estratégica do Distrito Federal no bioma
Cerrado, tendo as questões ambientais muito ligadas à escolha do sítio de
implantação da nova Capital Federal.
Brasília encontra-se numa posição chave para a integração dos biomas
brasileiros e a conexão das áreas de interesse para a proteção da biodiversidade.
Assim, as políticas ambientais desenvolvidas para esta porção do território acabam
por apresentar reflexos em outras biorregiões, ecorregiões e até biomas.
Nesse capítulo discorremos sobre as questões, que nos levaram a definir o
Distrito Federal como área limite de pesquisa.
3.1. A Importância do Cerrado
O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, originalmente ocupando cerca
de 24% do território do país. Este bioma hoje se encontra mais restrito à área do
Planalto Central. A riqueza do Cerrado é tão grande que se podem perceber
diversas unidades paisagísticas e uma grande variedade de formações vegetais, uma
alta diversidade biológica e um considerável grau de endemismo, o que o torna um
dos hotspots
21
mundiais.
Ao considerarmos ainda que o Cerrado seja um bioma de transição entre
outros de relevante importância, como a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica, a
Caatinga e o Pantanal, torna-se compreensível a importância de sua manutenção
para o equilíbrio dos ecossistemas terrestres brasileiros. A sua importância
extrapola a questão ambiental e estende-se aos aspectos sócio-culturais e
21
Áreas estabelecidas como de relevante importância para o equilíbrio ambiental global.
78
econômicos, como já discorremos anteriormente, bastante claros no processo de
ocupação do cerrado brasileiro.
As características peculiares deste bioma o tornam particularmente importante
e fundamental ao equilíbrio ambiental, não só em escala regional como nacional e
mesmo continental. É fácil perceber a importância do cerrado como bioma de
transição entre unidades de paisagem absolutamente distintas como o Pantanal e a
Caatinga, ou mesmo entre aquelas que apresentam algumas características de
similaridade como as Florestas Tropicais Brasileiras – Amazônica e de domínio da
Mata Atlântica.
A importância do Cerrado Brasileiro, que muitos autores defendem como
sendo a Savana Brasileira, para a manutenção do equilíbrio hídrico é imensa. As
características do solo aliadas à topografia e outros fatores abióticos fazem com que
as grandes bacias hidrográficas brasileiras tenham seu berço exatamente no
Planalto Central
A diversidade de conformação da vegetação neste bioma faz com que se
tenha a impressão de descontinuidade ou mesmo de degradação do cerrado, no
entanto, esse tipo de cobertura vegetal é, na verdade, altamente resiliente. Essa
característica garantiu a relativa preservação de extensas áreas de cerrado isoladas
em meio a outras unidades de paisagem.
O fato de que os movimentos expansionistas demoraram a estender-se até as
áreas de domínio do cerrado, panorama modificado com as políticas expansionistas
a partir da década de 50 intensificadas nos anos 70 com a transferência da Capital
Federal, propiciou também a maior preservação das condições naturais deste bioma
em relação a outros.
O novo impulso dado à economia da região Centro-Oeste com a expansão de
extensas áreas destinadas à pastagem e depois com a expansão da fronteira
agrícola, particularmente o cultivo de soja, tem levado a uma rápida degradação da
paisagem natural. Essa degradação é agravada pelo surgimento de aglomerações
urbanas que crescem em ritmo acelerado, e quase sempre, sem que haja o devido
controle e planejamento adequado.
79
Os números apresentados nos estudos de Klink e Machado (in Rambaldi e
Oliveira, 2005) podem refletir a dimensão do problema, os autores apontam que
somente nos últimos 35 anos, cerca de 50% da cobertura vegetal original do
cerrado foi transformada em pastagens e áreas agrícolas.
As áreas dominadas pelo Cerrado apresentam alto grau de endemismo e
biodiversidade e estão classificadas como altamente ameaçadas. Das 900 áreas
identificadas pelo MMA em 2004 como sendo prioritárias para a conservação,
muitas estão no cerrado, que tem apenas 2% de sua área protegida por Unidades de
Conservação.
Além da biodiversidade, é preciso que sejam preservados o modo de vida e a
cultura local das comunidades tradicionais, sem esquecer a importância de outros
fatores que influenciam diretamente a conservação da biota, como os ciclos
naturais do carbono, nitrogênio e fósforo indissociáveis do ambiente equilibrado.
A Figura 11 mostra a área de abrangência do projeto de corredores
ecológicos levado à frente pelo Ibama, e que agora fica a cargo do Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade, e a sua relevância em relação à área do
Cerrado Brasileiro abarcada pelo projeto.
80
81
A IMPORTÂNCIA DO PROJETO CORREDORES ECOLÓGICOS E DO CERRADO BRASILEIRO
Fonte da Imagem: I3Geo – Base de dados do Ministério do Meio Ambiente
LEGENDA
N
Figura 11 – Distribuição do Bioma Cerrado no Brasil e Abrangência do Projeto Corredores Ecológicos
3.1.1. Corredores Ecológicos no Bioma Cerrado
Por conta do reconhecimento cada vez maior da necessidade de preservação
do cerrado, houve um interesse crescente, a partir de meados dos anos 90, do setor
público, organizações não-governamentais e da iniciativa privada na realização de
estudos e propostas de ações emergenciais. As ONG’s consolidaram uma rede –
Rede Cerrado – que encaminhou ao governo em 2003 um documento que culminou
com a criação de um grupo de trabalho que propôs o Programa Cerrado
Sustentável.
Klink & Machado (in Rambaldi & Oliveira, 2005) destacam que uma das
prioridades apontadas pelo programa, tanto no nível federal quanto pelo Governo
do Estado de Goiás, foi a criação e expansão de Unidades de Conservação, já com a
intenção de se estabelecer corredores ecológicos como medida de promoção da
preservação deste bioma. Os autores destacam ainda que outras iniciativas foram
adotadas como a inclusão desta questão na formulação da Agenda 21 do Estado de
Goiás.
Atualmente, o estabelecimento de corredores ecológicos vem sendo adotado
pelo Ibama como uma estratégia importante de proteção ambiental e já são vinte os
corredores implementados no país e alguns em fase de discussão com outros países
fronteiriços.
A Conservation International – CI, a World Wildlife Fund for Nature – WWF
e a The Nature Conservancy – TNC, dentre outras ONG´s ambientalistas, têm
trabalhado e apoiado ações voltadas ao estabelecimento de corredores ecológicos
em áreas de cerrado na região Centro-oeste, ao fortalecimento das Unidades de
Conservação estabelecidas no bioma e ao apoio técnico às comunidades
tradicionais na busca por atividades econômicas ambientalmente sustentáveis.
Os corredores apoiados pela CI e seus parceiros são o “Emas-Taquari” e o
“Cerrado-Pantanal”, essas duas iniciativas aliadas a outras ações são de
fundamental importância para a conservação da biodiversidade do cerrado. Os
projetos permitem uma “expansão” das áreas protegidas sem que as populações
82
tradicionais sejam aleijadas da possibilidade de permanecer em seus locais de
origem e possam assim colaborar na preservação dos remanescentes de vegetação.
O Corredor Ecológico Paranã-Pirineus abrange os Estados de Goiás e
Tocantins e o Distrito Federal e vem sendo implantado com recursos do governo
Japonês. Esse corredor é uma das macro-unidades de planejamento ambiental na
qual se insere o Distrito Federal (Saito et al in Arruda, 2005), como demonstrado
na Figura 12. O esforço de preservação dessa porção do cerrado teve início ainda
com a criação da APA do Planalto Central, que teve como principal motivação a
contenção da expansão urbana desordenada iniciada com a transferência da capital
federal e vem se desenvolvendo em ritmo cada vez mais acelerado desde então.
O Corredor Ecológico Paranã-Pirineus liga diversas Unidades de
Conservação e abrange áreas importantes para a conservação da biodiversidade.
Vêm sendo consideradas no escopo do projeto duas áreas-piloto onde se
desenvolvem as primeiras ações que se não forem brevemente estendidas ao
restante da área de abrangência podem comprometer a manutenção das
características ambientais que viabilizaram a proposta e podem comprometer o seu
objetivo a longo prazo.
83
CORREDOR ECOLÓGICO PARANÃ-PIRINEUS
Fonte da Imagem: I3Geo – Base de dados do Ministério do Meio Ambiente
LEGENDA
LOCALIZAÇÃO
Figura 12 – Corredor Ecológico Paranã-Pirineus
84
3.1.2. Delimitação da Área de Estudo
Para possibilitar a análise de algumas propostas de corredores ecológicos foi
necessário delimitar a área de estudo, ainda que guardando o olhar sobre a relação
dessa área mais restrita com a biorregião em que se insere. A escolha da
concentração da pesquisa limitar-se ao Distrito Federal foi embasada em algumas
particularidades:
» O Distrito Federal abriga um mosaico de Unidades de Conservação;
» Há propostas interessantes sobre corredores ecológicos no nível
acadêmico e técnico profissional;
» O processo histórico está estreitamente relacionado à questão
ambiental;
» A ocupação recente e o material farto de estudos permitem observar
mais claramente o processo de fragmentação da cobertura vegetal;
» A posição estratégica em relação ao território nacional e a sua
importância para a estrutura regional;
» O processo de formulação ou revisão de diversos instrumentos de
gestão ambiental e do território em andamento ou recente conclusão;
3.2. Meio Ambiente e a História de Brasília
Batista, Fischer e outros pesquisadores e professores da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília destacam, dentre outros
documentos históricos que traçam a importância do componente ambiental na
escolha do sítio da nova capital, aquele formulado por José Bonifácio de Andrada e
Silva que trazia a seguinte redação:
“Parece-nos muito útil que se levante uma cidade central no
interior do Brasil para assento da corte ou da regência, que poderá
ser na latitude, pouco mais ou menos, de 15 graus, em sítio sadio,
ameno, fértil e regado por algum rio navegável. Deste modo fica a
corte ou assento da regência livre de qualquer assalto ou surpresa
externa, e se chama para as províncias centrais o excesso de
povoação vadia das cidades marítimas e mercantis.” (Batista et al).
85
A transferência da Capital para o Planalto Central ficou definida na
Constituição de 1891, após a Proclamação da Independência. Em 1892 foi nomeada
uma Comissão que deveria escolher o local mais adequado ao assentamento.
A Comissão escolhida era chefiada pelo astrônomo Luiz Cruls e contava com
pesquisadores das mais diferentes especialidades sendo, talvez, a primeira equipe
“multidisciplinar” a realizar estudos
22
ligados à ocupação territorial no Brasil. O
“Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central” ou “Relatório Cruls”,
entregue em 1894, foi o primeiro documento técnico pertinente ao planejamento de
Brasília. (Batista et al)
Foi demarcado um quadrilátero que ficaria conhecido posteriormente como
“Quadrilátero Cruls” e o documento entregue traz, nas palavras de Cruls, além da
descrição das vantagens locacionais a descrição da configuração da rede
hidrográfica “devido aos grandes rios que nascem na região, e por um capricho
singular da natureza, têm suas cabeceiras como que reunidas em um só ponto
[...]”. (Batista et al)
A discussão continuou por várias décadas, em 1953, foi contratada a empresa
americana Donald J. Belcher & Associates para proceder novos estudos, na área
delimitada por Cruls e cercanias. A equipe foi incumbida de selecionar cinco
alternativas para a implantação da nova capital, utilizando a técnica da foto
interpretação O Sítio Castanho apresentava em relação aos demais uma série de
vantagens locacionais, todos os cinco locais foram avaliados segundo dez critérios
básicos, com pesos diferentes segundo a sua importância: clima e salubridade; água
para abastecimento; topografia; potencial energético; proximidade de pontos para a
obtenção de matéria prima para a construção; facilidade ao transporte aéreo e
terrestre; tipologia do solo apropriada às construções; proximidade de terra
cultivável; paisagem natural e facilidade de desapropriação.
Note-se que o clima e a água, fatores intimamente ligados estavam dentre os
critérios com maior peso, enquanto que a o solo edificável e a facilidade de
desapropriação não eram tão relevantes no conjunto dos critérios, exatamente
22
Expedição realizada entre junho de 1892 e março de 1893.
86
porque não se pensava em grande adensamento humano e nem se imaginava
dificuldades no processo de desapropriação.
Em 1956 foi criada a Companhia de Urbanização da Nova Capital – Novacap
e estabelecido o perímetro definitivo do Distrito Federal, onde seria construída
Brasília. O crescimento demográfico vertiginoso de Brasília fez com que a
Novacap adotasse uma política de urbanização em subúrbios dormitórios e em
algumas vilas de constituição anterior à construção de Brasília
23
.
Passaram a ser consolidados os acampamentos
24
existentes, e criados novos
assentamentos
25
para acomodar essa população não comportada pelas diretrizes do
Plano Piloto, estrategicamente preservado das ocupações irregulares utilizando-se
uma justificativa sanitarista que buscava limitar o crescimento urbano na Bacia do
Lago Paranoá. (Batista et al).
Essa política vem reforçar a valorização do ponto central dotado de infra-
estrutura e concentrador de empregos e serviços, representado pelo Plano Piloto e
adjacências, e reforçar a segregação sócio-espacial que favoreceu a proliferação de
favelas e submoradias. O baixo valor da terra, característica de ocupações
pioneiras, acabou se tornando um dos fatores que acarretaram na grande expansão
urbana nos arredores de Brasília.
A falta de controle do Estado sobre as questões fundiárias permitiu a
especulação pelo uso da terra que, associada à crescente demanda habitacional,
propiciou que uns sem número de loteamentos, parcelamentos e ocupações
irregulares continuassem proliferando.
Diversos estudos mostram que grande parte da população do Distrito Federal
vive em loteamentos irregulares, devendo-se lembrar que as invasões não
necessariamente constituem-se em loteamentos. A maior parte desse contingente
populacional concentra-se ao longo dos grandes eixos viários na direção de
Planaltina a Taguatinga.
23
Planaltina (1860) e Brazlândia (1933)
24
Cidade Livre (1961), hoje Núcleo Bandeirante.
25
Taguatinga (1958), Sobradinho (1959), Gama (1960), Guará (1968) e Ceilândia (1970) – Cuja inicial
“CEI” significa Campanha de Erradicação de Invasões.
87
Quanto aos efeitos desse modelo de ocupação territorial do para o meio
ambiente no Distrito Federal, Romero (2003) destacou que, além do
desaparecimento de diversas espécies vegetais típicas do cerrado e de importância
ao desenvolvimento de atividades econômicas locais, “Mais da metade dos
loteamentos irregulares da Capital da República (54,2%) está situada em APA´s.
De 1975 a 1985 existiam 150 parcelamentos irregulares. Dez anos depois, já eram
mais de 500”
26
.
O estudo sobre a expansão urbana do Distrito Federal e seu entorno imediato,
abarcando o período de 1964 a 1990, desenvolvido por Anjos (1991) demonstra
que os principais eixos rodoviários da região atuavam como polarizadores de
urbanização. Segundo as observações do autor, havia uma tendência de
estabilização do crescimento horizontal do Plano Piloto e das hoje regiões
administrativas do Gama, Taguatinga, Guará e Núcleo Bandeirante, tanto pelo rigor
do perímetro urbano quanto pelas barreiras físico-ambientais e culturais existentes.
Ele destaca também que os espaços não-edificados ainda disponíveis apresentavam
restrições à sua ocupação determinadas pelos instrumentos legais de ordenamento
territorial.
Anjos (1991) constatou ainda as evidências de outros fatores importantes na
configuração da ocupação territorial do Distrito Federal, apontando dentre eles a
continuidade do processo de expansão urbana no interior do Distrito Federal. Muito
embora essa tendência apresentasse certa retração, apesar do surgimento de novas
áreas de assentamento, em função do aumento da preocupação com a manutenção
do espaço rural e o rigor nas legislações ambientais, de ordenamento do território e
de preservação do patrimônio e da possibilidade de expansão de algumas das então
cidades-satélites.
3.3. Ocupação e Regularização Fundiária no Distrito Federal
No Distrito Federal se observa que a população com menor poder aquisitivo é
atraída para o estabelecimento da sua moradia em áreas com carência média a
elevada de equipamentos urbanos e serviços públicos. Pela falta de infra-estrutura
26
Esta fala da autora foi citada em matéria jornalística publicada pelo jornal Correio Braziliense, de
22/11/2000 e referenciada em publicações posteriores.
88
estes locais apresentam o valor mais baixo da terra e, por conseguinte, de imóveis e
aluguéis.
Quando estas terras se valorizam pela implantação da infra-estrutura, a
população de mais baixa renda desfaz-se de seus lotes e passa a ocupar novas áreas,
dando origem a outros assentamentos e novas áreas antropizadas cada vez mais
distantes dos centros que geram emprego e renda.
Ainda antes de sua inauguração o crescimento demográfico de Brasília foi
vertiginoso. Isso fez com que a Novacap adotasse uma política de urbanização em
subúrbios dormitórios para as populações de menor renda, formadas especialmente
pelos migrantes, que nem sempre tinham emprego fixo, mas mantinham o firme
propósito de permanecer em Brasília, dando início às primeiras favelas, conhecidas
por “invasões”. (Batista et al).
Como vimos no item anterior, a consolidação e a criação de novas áreas
destinadas a acomodar a população não comportada pelas diretrizes do Plano Piloto
reforçou, no caso do Distrito Federal, a valorização do ponto central, Brasília e
adjacências imediatas o que reforçou a segregação sócio-espacial e favoreceu a
proliferação de favelas e submoradias no Distrito Federal e entorno.
O processo de desapropriação de terras, iniciado em 1956, até hoje não foi
concluído e persistem irregularidades e conflitos pela posse de terra. A falta de
controle do Estado sobre as questões fundiárias acabou resultando na especulação
pelo uso da terra. Essa especulação, associada à crescente demanda habitacional de
todas as camadas da população propiciou que um sem número de loteamentos,
parcelamentos e ocupações irregulares continuasse a proliferar no Distrito Federal.
Por essas razões, grande parte da população do Distrito Federal vive em
loteamentos irregulares ou áreas de invasão, concentradas ao longo dos grandes
eixos viários na direção de Planaltina a Taguatinga e nas áreas que conformam as
Zonas Tampão das várias Unidades de Conservação do mosaico do Distrito
Federal.
89
A Figura 13, retirada do Plano Integrado de Recursos Hídricos do Distrito
Federal e Entorno, mostra as áreas urbanizadas e em processo de urbanização além
de detalhar as manchas dos remanescentes de vegetação e de outras formas de uso e
ocupação que recobrem o território da nossa pesquisa.
Fica bastante visível que essa ocupação vem se dando de forma intensa dentro
do perímetro definido pelo anel sanitário de Brasília, ainda durante o
desenvolvimento do Planidro e que conforma a Bacia do Lago Paranoá. Além
disso, o grande número de áreas importantes para a conservação, pela sua
importância natural e relevância biológica, do Cerrado e d a conexão dos
Corredores Ecológicos em implantação pelo Ibama, vêm exigindo a definição de
ações em áreas prioritárias, selecionadas em função do grau de ameaça em que se
encontram.
90
LEGENDA
REFERÊNCIAS
USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E COBERTURA VEGETAL NA BIORREGIÃO DO DISTRITO FEDERAL E ENTORNO
Fonte: Plano de Gerenciamento Integrado de Recursos Hídricos do Distrito Federal
Figura 13 – Uso e Ocupação do Solo e Cobertura Vegetal no Distrito Federal e Entorno
91
As Áreas Prioritárias para a Conservação, definidas pelo Ibama pelo critério
de relevância ou de prioridade de ação, estão exemplificadas na Figura 14 que
aponta o cruzamento dessas duas classificações e evidencia que grande parte da
biodiversidade ou importância ecológica no entorno do Distrito Federal encontra-se
altamente ameaçada, exigindo ações efetivas urgentes.
Essa ameaça vai diminuindo à medida que nos afastamos do pólo urbanizador
representado por Brasília e as aglomerações do entorno. No limite Leste do Distrito
Federal há uma grande área de grande relevância biológica que apresenta um baixo
grau de ameaça por pertencer a um órgão das forças armadas da União. A conexão
desta extensa área a outras localizadas na porção Noroeste são importantíssimas
para a troca gênica entre as populações.
92
93
ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE NO ENTORNO DO DISTRITO FEDERAL
Fonte da Imagem: I3Geo – Base de dados do Ministério do Meio Ambiente
LEGENDA
LOCALIZAÇÃO
GOIÁS
MINAS
GERAIS
DISTRITO
FEDERAL
Figura 14 – Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade no Entorno do Distrito Federal
3.4. Conservação Ambiental no Distrito Federal
Como já destacava Romero (2003) o cerrado é o bioma “que vem sofrendo as
transformações mais radicais nas técnicas produtivas e no modo de vida, a
manutenção do solo recoberto por vegetação é uma das formas que mais contribui
para a infiltração da água no solo.” A autora destaca que as medições feitas por
especialistas da UNB já apontavam o rebaixamento do lençol freático em vários
pontos do Distrito Federal, além do desaparecimento de inúmeras nascentes. As
preocupações fundamentais da autora referem-se exatamente às motivações que
levaram a equipe Belcher a escolher o sítio castanho.
Os dados da Unesco (2003) após a realização de uma análise multitemporal
da perda da cobertura vegetal original no Distrito Federal mostram que cerca de
20% das espécies vegetais tenham sido extintas com o desmatamento de cerca de
58% da vegetação original, atingindo áreas de cerrado, matas e campos.
O território do Distrito Federal é quase todo recoberto por Unidades de
Conservação que por vezes se sobrepõem, como demonstrado na Figura 15.
Quando acrescidas as zonas de amortecimento definidas na legislação para algumas
dessas UC’s, surge uma série de regramentos específicos e restrições a seguir
quanto à ocupação e o uso da terra.
Acrescente-se a isto o tombamento de uma grande porção da área urbana do
Distrito Federal, com sua respectiva zona de amortecimento e as outras áreas que
apresentam restrição legal ao seu uso ou adensamento, como é o caso das APP’s.
Toda essa gama de regramentos legais visa, na verdade, à proteção do cerrado e as
condições naturais singulares do Distrito Federal, que fizeram com que este fosse o
sítio escolhido para a implantação da Nova Capital.
Essa situação acaba por esvaziar a intenção preservacionista, embutida na
criação das Unidades de Conservação, muitas delas não contam com inventários,
planos de manejo e outros instrumentos fundamentais à sua gestão além de
apresentarem outras fragilidades quanto à sua administração.
94
95
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO DISTRITO FEDERAL
Fonte da Imagem: I3Geo – Base de dados do Ministério do Meio Ambiente
LEGENDA
LOCALIZAÇÃO
GOIÁS
MINAS
GERAIS
DISTRITO
FEDERAL
Figura 15 – Unidades de Conservação no Distrito Federal
O resultado é que se favorece o estabelecimento de focos de urbanização e
adensamento populacional que pressionam as unidades de conservação e diminuem
significativamente os pontos de contato entre elas. Assim, não se garante o
conhecimento real das condições ambientais em cada uma dessas áreas e menos
ainda o fluxo de animais e as trocas gênicas essenciais à preservação da
biodiversidade.
De acordo com a política ambiental e de ordenamento territorial que veio se
desenvolvendo historicamente no Distrito Federal, criou-se um verdadeiro
“cinturão”, formado por várias unidades de conservação de diversas categorias, ao
redor da Bacia do Lago Paranoá. No entanto, as duas manchas mais significativas
vêm perdendo seus pontos de contato, primeiro pela priorização do vetor de
crescimento no quadrante sudoeste que interrompe a conexão e depois pela
dinamização urbana das áreas localizadas no sentido oposto justamente em função
do sistema viário criado para funcionar como “anel sanitário” na época do Planidro.
A criação da APA do Planalto Central, de domínio Federal por englobar
municípios goianos, vem sendo contestada de modo veemente pelo Governo
Distrital já que, administrada pelo Ibama
27
, recobre cerca de 70% da área do
Distrito Federal. O principal motivo da controvérsia é, exatamente, a questão do
ordenamento territorial do ponto de vista da autonomia institucional, já que seria
necessário que se passasse a ouvir o Conselho Gestor da APA, presidido pelo órgão
responsável pela sua administração, quando da definição do uso e ocupação do solo
naquela unidade de conservação e sua zona tampão.
Os dados apresentados durante o Terceiro Seminário de Apresentação do
Plano de Gerenciamento Integrado de Recursos Hídricos do Distrito Federal –
PGIRH/DF, realizado em julho de 2006, demonstram que cerca de 9% do território
do Distrito Federal é formado por unidades de conservação de proteção integral e
outros 88% por unidades de conservação de uso sustentável.
Apenas duas das Unidades de Conservação existentes no Distrito Federal
possuem plano de manejo, o que prejudica o estabelecimento de corredores
27
Função assumida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade a partir de abril de
2007.
96
ecológicos. No estudo realizado para subsidiar o zoneamento ambiental da Reserva
da Biosfera e APA Gama-Cabeça de Veado, foi utilizada a ferramenta do
geoprocessamento para a verificação da situação fundiária. Buscou-se espacializar
as informações dos documentos legais de criação das UC’s e os resultados mostram
que a falta de um sistema de informações eficiente traduz-se em dificuldades para a
fiscalização.
Quadro 7 – Administração das Áreas de Proteção Ambiental do Distrito Federal
Administração do Governo do Distrito Federal
Área de Proteção Ambiental da Bacia do Rio São Bartolomeu – embora criada pelo
Decreto Federal no 88.940/83, posteriormente, a Lei Federal no 9.262, de 12/01/96
passou a administração da mesma para o DF. Possui um rezoneamento aprovado pela
Lei DF 1.149, de 11/07/96, que, ao que tudo indica, necessita de ajustes.
Área de Proteção Ambiental das Bacias do Gama e Cabeça de Veado – criada pelo
Decreto do DF no 9.417, de 21/04/66. O Decreto no 23.238, de 24/09/ 2002 criou o
Conselho Gestor, o Grupo Coordenador de Manejo, o Grupo de Planejamento e
Articulação Institucional para Projetos Sustentáveis e o Grupo de Educação
Ambiental desta APA. Este Decreto foi alterado pelo Decreto no 24.837, de
26/07/2004, que estabeleceu o prazo de 1 (um) ano para elaboração do Zoneamento
Ecológico-Econômico e o Plano de Manejo da referida APA, razão porque devem ser
verificadas, com urgência, as gestões respectivas.
Área de Proteção Ambiental de Cafuringa – criada pelo Decreto DF no 11.123, de
10/06/88, alterado pelo Decreto no 11.251, de 02/09/88. O Decreto no 24.255, de
27/11/2003 aprovou o zoneamento ambiental da APA.
Área de Proteção Ambiental do Lago Paranoá – criada pelo Decreto DF no 12.055,
de 14/12/89. O Decreto DF no 23.156, de 09/08/2002, criou o Conselho Gestor, o
Grupo Coordenador de Manejo, o Grupo de Planejamento e Articulação Institucional
para Projetos Sustentáveis e o Grupo de Educação Ambiental desta APA. Este
Decreto foi alterado pelo Decreto 24.743, de 08/07/2004, que estabeleceu o prazo de
1(um) ano para elaboração do Zoneamento Ecológico-Econômico e o Plano de
Manejo da referida APA, razão porque devem ser verificadas, com urgência, as
gestões respectivas.
Administração do Instituto Chico Mendes
28
Área de Proteção Ambiental da Bacia do Rio Descoberto - criada pelo Decreto
Federal no 88.940, de 07/11/83. Seu zoneamento foi aprovado pela Instrução
Normativa SEMA/SEC/CAP/no001/88 do IBAMA. Foi iniciado um rezoneamento
desta APA há vários anos atrás, posteriormente interrompido, indispensável ao
rezoneamento.
Área de Proteção Ambiental do Planalto Central – criada pelo Decreto Federal sem
número, de 10/01/2000, sem a realização da consulta popular preconizada pela Lei do
SNUC, razão porque não foram divulgados os estudos técnicos que justificariam a
criação da APA e, inclusive, sua dimensão (ocupa mais de 60% do território do DF).
A Portaria no 66, de 19/04/2002 do IBAMA criou o Conselho Consultivo da APA do
Planalto Central.
Adaptado de Ribas
28
Criado em 26 de abril de 2007, passou a administrar as Unidades de Conservação Federais no país.
97
98
ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE – CRITÉRIO DE RELEVÂNCIA BIOLÓGICA - Probio
Fonte da Imagem: I3Geo – Base de dados do Ministério do Meio Ambiente
LEGENDA
LOCALIZAÇÃO
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DISTRITO
FEDERAL
Figura 16 – Áreas Relevantes para a Conservação da Biodiversidade
99
ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE – CRITÉRIO DE AMEAÇA - Probio
Fonte da Imagem: I3Geo – Base de dados do Ministério do Meio Ambiente
LEGENDA
LOCALIZAÇÃO
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MINAS
GERAIS
DISTRITO
FEDERAL
Figura 17 – Áreas Prioritárias para Ações de Preservação da Biodiversidade
3.5. Revisão de Instrumentos Legais e Implementação de Programas e
Projetos
Acompanhando as discussões acerca da revisão do PDOT, acontecidas em
2005 e 2006, foi possível observar que grande parte da população se sente excluída
do processo por causas que variam da falta de informação e baixa divulgação da
ocorrência das audiências públicas até o despreparo para compreender e participar
de modo mais ativo do processo de planejamento. O despreparo da população ou a
utilização de linguagem não acessível nas audiências públicas para a elaboração de
planos dessa natureza contraria os princípios preconizados pelo Estatuto das
Cidades.
Mesmo o material disponibilizado ao público por diversos canais de
comunicação de massa, como a internet e os impressos gratuitos distribuídos
durante as audiências públicas, apresentam baixa qualidade de informação como
mapas sem legenda ou comentários, muitas vezes desconexos e sem qualquer texto
explicativo que os acompanhe, o que torna difícil a sua compreensão até mesmo
para os profissionais do setor. Não fica clara a metodologia utilizada para a
elaboração do material ou para a condução do processo.
Nota-se preocupação de muitos estudiosos, em especial ligados à questão
ambiental e de ordenamento territorial, com o fato de a revisão não estar incluindo
a discussão sobre o que tenha sido falho ou contrário às diretrizes estabelecidas no
PDOT de 2002, ainda vigente, para que se possa planejar melhor e compreender a
dinâmica local. Essa discussão deveria prevenir que novamente o plano só venha a
servir para a consolidação de processos de ocupação danosos e/ou indesejáveis.
Por outro lado, nota-se durante as audiências públicas, a pressão de certos
segmentos da sociedade pelo aumento das áreas destinadas à urbanização e à
expansão urbana na revisão do PDOT, habitantes de ocupações irregulares e
invasões, empreendedores da construção civil e especuladores de terra que têm
interesse na regularização das áreas.
A consolidação das sugestões colhidas durante as audiências regionais reflete
os conflitos que certamente surgirão se as diretrizes do novo PDOT não forem
100
devidamente pactuadas. Citando um exemplo, para a mesma área há sugestões para
o aumento do potencial construtivo para que sejam intensificadas as restrições ao
aumento do gabarito. Outro exemplo de conflitos potenciais se mostra na
contraposição entre a sugestão para a “remoção imediata das ocupações
irregulares” em contraposição à outra que pede a “imediata regularização fundiária
das áreas ocupadas”.
Grande parte dos participantes das audiências públicas não compreende a
diferença entre o PDOT e o PDL e os representantes do Governo nunca acham
meios de esclarecer a diferença entre os dois instrumentos ou mostrar a sinergia
necessária entre eles. Mesmo os representantes do poder legislativo – responsáveis
pela aprovação do Plano Diretor – e do Ministério Público
29
confessam a
dificuldade de obtenção das informações que os possibilitem participar do processo
de modo mais efetivo.
Um dos exemplos da má qualidade das informações pôde ser notado por nós
durante a primeira fase da pesquisa, quando em audiência pública de revisão do
PDOT foi exibido um mapa ilustrativo da densidade demográfica na Ride cuja
gradação da densidade populacional foi feita em quatro classes: de 2 a 10 Hab/
Km², de 10 a 50 hab/Km², de 50 a 1.000 hab/Km² e mais de 1.000 hab/Km². Assim,
toda a área correspondente ao Distrito Federal foi apresentada como tendo
densidade populacional de 50 a 1.000 hab/Km², o que não possibilita, dado o grau
de generalização dos dados, a real visualização das disparidades de adensamento
populacional no território de abrangência do PDOT.
A inexistência de um mapa síntese, que consolide os dados e permita uma
análise integrada das informações, não possibilita a mensuração da pressão desses
adensamentos populacionais em relação a áreas importantes e ambientalmente
frágeis, prejudicando ainda mais a participação da população formada geralmente
por leigos não habituados à leitura de documentos técnicos.
A implementação de programas e projetos que visem à melhoria das
condições ambientais, o ordenamento territorial adequado e o envolvimento da
29
Conforme depoimentos durante o debate “Revisão do PDOT e Participação Popular”, organizado
pela Faculdade de Direito do UniCeub em novembro de 2005.
101
comunidade com a geração de renda e o desenvolvimento de atividades econômicas
ambientalmente sustentáveis, a promoção da difusão de tecnologias e técnicas
adequadas no manejo dos recursos ambientais é uma das estratégias necessárias à
conservação ambiental.
Um dos programas em desenvolvimento na área de estudo é o “Brasília
Sustentável”, que é financiado, em parte, com recursos do Banco Internacional de
Reconstrução e Desenvolvimento – BIRD, efetivado em função da condição de
Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade e das características ambientais
da área.
Segundo as informações obtidas na página eletrônica do Governo do Distrito
Federal e as palavras da então Secretária Diana Meirelles
30
, o objetivo do programa
Brasília Sustentável é “Assegurar a qualidade dos recursos hídricos do Distrito
Federal e Região Metropolitana de Brasília – RMB, promovendo a melhoria das
condições de vida da população e a gestão sustentável do território.”.
Estão previstas diversas ações de intervenção, concentradas nas Bacias do
Lago Paranoá e do Reservatório do Rio Descoberto, além do fomento ao
desenvolvimento de políticas de caráter regional e o apoio à capacitação
profissional o que, já destacamos, é fundamental para a correta aplicação dos
instrumentos de ordenamento e gestão do território e dos recursos naturais. Deve-se
lembrar que a Bacia do Lago Paranoá concentra a maior parte dos efluentes gerados
no Distrito Federal, enquanto a Bacia do Lago Descoberto é responsável pelo
abastecimento de mais de 60% da população. São destacados como objetivos
secundários do programa:
» Assegurar recursos hídricos de qualidade para atender às necessidades
do DF e RMB;
» Aperfeiçoar os instrumentos e a capacidade de gestão urbana do DF e
RMB;
» Aperfeiçoar os instrumentos e a capacidade de gestão ambiental do DF
e RMB;
» Realizar intervenções de Urbanização e geração de emprego e renda
em áreas de baixa renda no DF; e
30
Em apresentação no debate “Revisão do PDOT e Participação Pública”, realizado pela Faculdade de
Direito do UniCeub em novembro de 2005.
102
» Promover o desenvolvimento institucional dos órgãos de gestão do
território do DF.
Na área abrangida por este estudo vêm sendo desenvolvidas ações diversas
que favorecem o estabelecimento dos Corredores Ecológicos e mesmo necessitam
destes como elemento ao alcance dos seus objetivos.
Outro programa importante é o Zoneamento Econômico Ecológico da Ride.
O início do PZEE se deu ainda em 1998 quando se realizaram estudos sobre os
eixos de desenvolvimento econômico que demandavam aplicação de recursos e
investimentos. Desenvolvido pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão – MPOG. O principal objetivo do ZEE é fornecer subsídios para a
elaboração das políticas públicas de planejamento e gestão urbana, rural e das áreas
preservadas ou protegidas, colaborando assim para que o ordenamento territorial
possa integrar-se às políticas ambientais garantindo a sustentabilidade no uso dos
recursos naturais e nas aglomerações humanas.
Veríssimo (in FSD, 2005) destaca o fato do termo Zoneamento Econômico-
ecológico – ZEE - ter sido cunhado na década de 80, dada a necessidade de
distingui-lo de outros programas de zoneamento que vinham sendo conduzidos no
Brasil naquela época
31
. Ao analisarmos as publicações sobre o ZEE (MMA, 2005)
e o histórico do programa
32
, no entanto, fica clara a importância da dimensão
econômica inserida no termo calcado, concordando com a nossa visão sobre a
influência histórica das motivações econômicas no processo de ordenamento
territorial e apropriação dos recursos naturais.
Cabe destacar ainda que o ZEE envolve, além do Ministério do Meio
Ambiente, outros órgãos federais, estaduais e municipais e seu objetivo principal é
a promoção da gestão integrada considerando as diversidades regionais, os biomas
a biota e as regiões geoeconômicas, buscando aprimorar os instrumentos e
mecanismos de planejamento, gestão e resolução de conflitos; estimulando ainda a
participação democrática e o controle social. (MMA/2004).
31
A autora defende a propriedade do uso do termo Zoneamento Ambiental para este instrumento,
destacando ainda que mesmo nas resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente – Conama
verifica-se a alternância entre os dois termos.
32
O Programa Zoneamento Econômico Ecológico faz parte do Plano Plurianual de Governo – PPA.
103
Desenvolvido no âmbito do MMA o programa é da Agenda 21, documento
aprovado pela comunidade internacional durante a RIO-92
33
, preconiza os
compromissos pactuados para que seja possível alcançar a mudança do padrão de
desenvolvimento no nível global, tencionando a garantia de se atingir um modelo
de civilização garantidor do equilíbrio ambiental e da justiça social entre as nações.
A realização da agenda 21 pressupõe a ocorrência de um processo
participativo de planejamento no qual seja diagnosticada e analisada a situação de
uma dada porção territorial que terá seus principais problemas discutidos
amplamente no intuito de se estabelecer parcerias, mecanismos ou compromissos
que permitam o planejamento do futuro de forma sustentável.
Nas discussões sobre a formulação da Agenda 21 Brasileira, uma das quatro
linhas estratégicas estabelecidas trata exatamente do planejamento territorial
integrado:
“[...] o fortalecimento da dimensão territorial no planejamento
governamental, nos três níveis de governo, destacando-se a
importância da articulação entre as políticas, programas e ações e
da cooperação entre os diferentes órgãos e setores de governo; são
ressaltadas a necessidade de uma política nacional de ordenação
do território e a importância das regiões metropolitanas e
aglomerações urbanas no contexto da rede urbana brasileira; [...]”
(MMA/PNUD, 2000).
Paviani (1989), há mais de uma década já ressaltava a importância de Águas
Claras no contexto local e regional, sendo considerada desde a elaboração do Peot
uma área privilegiada para a ocupação no Distrito Federal. Tendo atuado como
consultor da equipe que desenvolveu o projeto de ocupação daquela área,
localizada no eixo Plano Piloto – Taguatinga
34
o autor registra a experiência e
destaca o resultado alcançado como “[...] um excelente roteiro e mesmo um
exemplo de projeto integrado de planejamento [...]”.
33
O conceito de Preservação Ambiental está condicionado à adoção de um novo modelo de civilização
fundamentada no uso racional dos recursos naturais de modo a garanti-los para as gerações futuras, a
que damos o nome de desenvolvimento sustentável. A Preservação Ambiental foi consolidada como
diretriz global definida pelos 170 países presentes à Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, quando foi aprovada a Agenda 21
(Senado Federal).
34
Viabilizado pelo convênio firmado entre a Secretaria de Viação e Obras do Distrito Federal – SVO e
o então Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano do Ministério do Interior (Minter), em 1982.
104
O autor destacou pontos importantes apresentados no capítulo 6 do “Projeto
Águas Claras” (Minter/SVO,1982) quais sejam: fácil acesso em função da
localização, necessidade de áreas estratégicas para abrigar funções administrativas
de caráter local ou mesmo regional, necessidade de encontrar-se alternativas à
expansão do Guará e a adequação da área ao nível de ocupação necessário,
verificado à época do estudo que buscava definir a vocação de Águas Claras e
reunir informações que pudessem orientar a definição da tipologia da ocupação.
Com base em outros estudos que traçavam cenários prospectivos sobre a
expansão da rede urbana e a estruturação do espaço no Distrito Federal, o Projeto
Águas Claras trazia sugestões para a ocupação daquela área e promoveu a
realização de estudos que descreviam e traziam a análise de profissionais de
diversas especialidades sobre os aspectos físico-ambientais da área.
Paviani destacou que “Uma série de medidas visando fixar os pequenos
sitiantes, com sugestões para que a vegetação, a terra e os riachos sejam menos
agredidos, encontra-se no corpo do projeto e no anexo 2.” Essa afirmação mostra
que desde aquela época a área vinha sofrendo os impactos da ocupação
desordenada, agravados pela fragilidade do solo local e da falta de infra-estrutura.
Paviani afirma ainda que a equipe de estudos realizou uma análise bastante
criteriosa dos aspectos visuais e paisagísticos e do sistema viário que gerou uma
série de sugestões e recomendações técnicas sobre a ocupação da área e os
procedimentos a serem adotados para tal. Passados mais de vinte anos da
elaboração dos estudos sobre a ocupação de Águas Claras, o que se percebe é que
algumas das diretrizes estabelecidas no projeto não lograram sucesso nas etapas
posteriores, exatamente por conta dos eixos de dinamização da expansão urbana
priorizados pelo PDOT.
O estudo sobre a violência no Distrito Federal (PAVIANI, et al 2005),
publicado recentemente, confirma as previsões e os alertas dos pesquisadores feitos
ainda antes da elaboração do PDOT/1992 que já mostravam os eixos que vinham
sofrendo uma ocupação maior e cujas áreas poderiam ter sido alvo de ações
preventivas quanto aos problemas urbanos.
105
Além da violência urbana, outras conseqüências surgem da falta de controle
do adensamento humano e da expansão das áreas urbanizadas, como perda da
cobertura vegetal e o aumento da área impermeabilizada. É muito fácil hoje se
observar os efeitos negativos ao meio ambiente associados à esse panorama,
especialmente para a preservação dos recursos hídricos.
Quanto à questão das águas, segundo as informações obtidas junto aos
Órgãos de Governo do Distrito Federal, o Plano de Gerenciamento Integrado de
Recursos Hídricos do Distrito Federal – PGIRH/DF é um instrumento de
planejamento que visa atender às disposições estabelecidas na Lei das Águas ,
podendo ser enquadrado no mesmo grau dos Planos Estaduais e devendo, portanto,
seguir as mesmas recomendações para a sua elaboração que se traduzem na
necessidade de estabelecer um pacto entre a sociedade civil, os usuários e o poder
público quanto à gestão das águas.
O principal objetivo do plano é fornecer subsídios para as ações do Conselho
de Recursos Hídricos do Distrito Federal e da entidade gestora desses recursos, a
Adasa, por meio do estabelecimento de diretrizes de caráter técnico, político e
institucional que possibilitem a definição de uma estratégia adequada para a gestão
integrada das águas no Distrito Federal.
O “Caderno Distrital de Recursos Hídricos” (GDF-Adasa/Golder-FAHMA,
2005) discorre sobre os problemas ambientais nas várias bacias hidrográficas e
traça um panorama geral do Distrito Federal quanto ao uso e ocupação do solo. As
mesmas dificuldades encontradas para a efetiva participação social no processo de
revisão do PDOT podem ser notadas quanto à elaboração do PGIRH.
A importância do PGIRH para a nossa pesquisa fica clara ao observarmos que
muitas das unidades de conservação, que hoje se deseja conectar, tiveram seu
estabelecimento ligado à proteção das águas, fundamental à completude dos ciclos
biogeoquímicos que possibilitam a manutenção da vida e, portanto, da
biodiversidade. Destacamos também que as propostas de corredores ecológicos
encontradas, ou adotam as bacias hidrográficas como unidade de planejamento ou
propõem o uso das matas de galeria para a consolidação dos corredores.
106
Outro ponto de destaque deste programa, estreitamente relacionado à nossa
pesquisa, foi apresentado durante o Seminário III, em julho de 2006, que discutiu
as diretrizes do PGIRH para a Bacia do Lago Paranoá, e se refere à forma como se
desenvolveu a realização dos estudos, adotando-se as bacias hidrográficas como
unidade de planejamento. Como preconizado na Lei Federal 9.433/97 e Lei
Distrital 2.725/01.
107
SÍNTESE DO CAPÍTULO 3
A área de estudo é fundamental à integração de propostas de conservação do
Cerrado Brasileiro e à conexão entre programas e projetos relacionados ao
estabelecimento de corredores ecológicos.
A história de Brasília está intimamente relacionada às condições ambientais
dessa porção do território brasileiro. No entanto, as políticas e programas
específicos sempre caminharam na contramão dessa vocação explicitada desde o
projeto de transferência da Capital Federal para o interior do país.
Berço das principais bacias hidrográficas brasileiras e ocupando uma posição
privilegiada para a integração de biomas e de regiões geoeconômicas, o
quadrilátero que delimita o Distrito Federal não pode ser alvo de estudos e
programas que considerem apenas os seus limites político-administrativos.
As pressões causadas pelas atividades humanas no entorno do Distrito
Federal e mesmo a concentração humana dentro dos seus limites vem sendo a causa
de uma degradação acelerada e da fragmentação cada vez mais evidente de seus
remanescentes de vegetação o que pode, a médio e longo prazo acarretar graves
problemas para a população dessa região pela perda da qualidade ambiental com
escassez desses recursos, a despeito da resiliência do Cerrado.
O mosaico de Unidades de Conservação estabelecido na região do Distrito
Federal apresenta grande relevância e vem sendo alvo de projetos específicos para
o estabelecimento de corredores ecológicos no Brasil. Foram selecionadas seis
propostas que suportam reflexões críticas sobre a aplicação dessa estratégia e
embasam um novo olhar sobre a questão dos corredores ecológicos no Distrito
Federal.
Essas propostas, o discurso crítico e a síntese dos resultados são componentes
do Capítulo 4.
108
Capítulo 4
Análise Espacial Integrada para
a Proposição de Corredores
Ecológicos no Distrito Federal
4. Análise Espacial Integrada para a Proposição de Corredores
Ecológicos no Distrito Federal
Como já discutimos a questão dos corredores ecológicos exige um olhar mais
amplo com relação à escala de abrangência mas também com relação aos temas e
campos do conhecimento que se entrelaçam no desenvolvimento de propostas
dessa natureza.
A nossa pesquisa não tem como foco principal desenvolver considerações
específicas e detalhadas sobre todos os pontos relacionados ao desenvolvimento de
uma proposta para o estabelecimento de corredores ecológicos no Distrito Federal.
O nosso objetivo é analisar os fluxos de urbanização e de que forma eles se
confrontam com os fluxos necessários às conexões bióticas, identificando pontos de
conflito e aqueles favoráveis aos corredores ecológicos.
Desta forma, a idéia central parte da observação do espaço, considerando a
sua dimensão histórica, que se refere à escala temporal; os aspectos jurídico-
institucionais que podem afetar a questão dos corredores ecológicos e os aspectos
físico-ambientais que podem influenciar positiva ou negativamente o
estabelecimento desses corredores.
Não é objeto desta pesquisa a definição de áreas e perímetros onde devam ser
estabelecidos os corredores e sim a identificação de fluxos prioritários de conexão
das manchas significativas de remanescentes de cerrado, que representem conexões
factíveis pela presença do menor número de pontos de conflito definidos pela
observação dos impactos às atividades humanas já estabelecidas, que encontrem
respaldo em instrumentos legais vigentes.
Definimos como ponto de conflito, por exemplo, o cruzamento de estradas de
rodagem ou vias de grande movimento. Bacias hidrográficas que cortem áreas
altamente adensadas e cujas margens estejam altamente alteradas também
representam pontos onde o estabelecimento de corredores ecológicos requer
atenção e medidas específicas. No caso dos cruzamentos rodoviários, há que se
estudar o melhor ponto para a indução dos fluxos de fauna entre outras medidas
estruturais, como a sinalização especial, que devem ser estudadas caso a caso.
110
4.1. Corredores Ecológicos na Área de Estudo – Categorização das
propostas encontradas.
Foram identificadas seis propostas para o estabelecimento de corredores
ecológicos no Distrito Federal:
PROPOSTA 1 - CORREDORES ECOLÓGICOS RODOVIÁRIOS NO
DISTRITO FEDERAL, Dissertação de Mestrado em Botânica, Faculdade de
Ciências Florestais, elaborada por Danilo Cruz de Lima, orientador: PhD. Manoel
Cláudio da Silva Júnior, 2003
PROPOSTA 2 - CORREDORES ECOLÓGICOS NA BACIA DO RIO
MARANHÃO, Pesquisa - Proteção da Biodiversidade e dos Recursos Hídricos no
Cerrado: A Importância Estratégica da Bacia do Rio Maranhão. (Saito et al, 2005)
PROPOSTA 3 - CORREDORES ECOLÓGICOS NA BACIA DO RIO
SÃO BARTOLOMEU, Dissertação de Mestrado em Botânica elaborada por Eduardo
Rodrigues Felizola, orientador: PhD. Jeanine Maria Felfili, 2003
PROPOSTA 4 - CORREDORES ECOLÓGICOS NA REVISÃO DO
PDOT, Desenvolvida pela equipe técnica do Governo do Distrito Federal com base
também em audiências públicas, foi utilizada a proposta apresentada na primeira
audiência pública ocorrida em 2006.
PROPOSTA 5 – CORREDOR ECOLÓGICO DA RESERVA DA
BIOSFERA DO CERRADO – Fase I, Desenvolvida no âmbito do projeto MAB/
Unesco é uma das Reservas da Biosfera implantadas no Brasil,
PROPOSTA 6 – CORREDOR ECOLÓGICO PARANÃ-PIRINEUS NO
DISTRITO FEDERAL , Desenvolvida no âmbito do Projeto Corredores Ecológicos,
pela equipe do Ibama, faz parte de um conjunto de outros corredores ecológicos que
unem Unidades de Conservação e Áreas Protegidas da Caatinga ao Pantanal
brasileiros.
Estas seis propostas foram selecionadas por atender ao objetivo principal da
pesquisa que se referia à verificação da adequação espacial das propostas
acadêmicas, que habitualmente se limitam ao campo hipotético e da discussão
teórica, e à adequação das propostas institucionais com relação ao cenário real e
111
possibilidade de aplicação de instrumentos que permitem o alcance de seus
objetivos.
As seis propostas foram agrupadas em duas diferentes categorias, para
possibilitar uma análise mais efetiva: as acadêmicas e as institucionais. As três
desenvolvidas com fins acadêmicos e científicos foram geradas por estudantes e
pesquisadores da UNB, e as três de caráter técnico foram elaboradas pelo Governo
do Distrito Federal ou são fruto de estudos mais amplos para a implantação de
programas e projetos de outras instituições governamentais e não-governamentais,
geralmente com financiamento externo. Há duas diferenças básicas entre esses dois
grupos:
a) a abrangência - as propostas acadêmicas habitualmente se concentram em
uma bacia hidrográfica ou em uma porção definida do território do Distrito Federal
e as institucionais são trabalhadas em escala mais abrangente e com menor nível
de detalhe; e
b) o caráter participativo - as propostas institucionais envolvem um grupo
maior de atores sociais na discussão da sua definição enquanto as acadêmicas
apresentam caráter mais restrito.
Assim, levamos em conta o conteúdo de todas as propostas selecionadas para
compor o nosso universo de análise, mas nos detivemos apenas nas propostas
institucionais para os cruzamentos dos planos de informação e montagem da
proposta, buscando alcançar a integração das pesquisas realizadas até então para a
definição de uma nova maneira de tratar a questão dos corredores ecológicos.
Como concentramos a nossa análise na distribuição espacial das propostas
selecionadas, especialmente para o grupo das propostas institucionais , não nos
ativemos à realização de levantamentos detalhados de fauna e flora de cada um dos
remanescentes vegetacionais identificados, unidades de conservação, steping stones
ou ilhas de biodiversidade, o que é desejável e fundamental mas que significaria
extrapolar os limites da discussão que nos interessa no momento, o planejamento
biorregional na apropriação do território.
112
4.2. Breve Discussão sobre Algumas das Propostas Acadêmicas
A questão dos corredores ecológicos no meio acadêmico vem sendo tratada
de modo mais profundo na Universidade de Brasília por alunos e pesquisadores dos
Departamentos de Engenharia Florestal e Botânica. Isto mostra ser necessário
enfrentar a questão de modo interdisciplinar, trazendo também a discussão para as
áreas de planejamento do território, ligadas à Geografia e ao Urbanismo e
incorporando elementos do Direito, da Economia e das Ciências Sociais.
Para a realização da nossa pesquisa, selecionamos três propostas acadêmicas
que possuem uma característica comum, tomam por unidade de planejamento
bacias hidrográficas do Distrito Federal. A Proposta 1 foi desenvolvida para a
Rodovia DF-001, que delimita a Bacia Hidrográfica do Lago Paranoá ; a Proposta
2 considerou a Bacia Hidrográfica do Rio Maranhão e a Proposta 3 a Bacia
Hidrográfica do Rio São Bartolomeu.
Essa nova forma de compartimentação do território para a análise do uso e
ocupação do solo e a proposição de ordenamento e distribuição das atividades
antrópicas no espaço se deve, em parte, a uma nova maneira de pensar o
planejamento e a gestão da terra, fruto da revisão e surgimento de vários
instrumentos legais, como a Lei Federal 9.433/1997.
A observação dos estudos acadêmicos se torna fundamental no
desenvolvimento de propostas institucionais pois amplia a base do conhecimento
científico sobre diversas questões e permite um novo enfoque aos projetos em
desenvolvimento no âmbito governamental.
Cada vez mais a aproximação do conhecimento acadêmico e a produção
científica devem caminhar junto à prática cotidiana de técnicos envolvidos nas
atividades de planejamento, monitoramento, gestão e desenvolvimento de políticas
públicas relacionadas à conservação ambiental e ao planejamento urbano.
Assim é preciso compreender a nossa proposta como fruto de uma análise da
conformação espacial que pode ser conseguida ao adotar-se os princípios do
113
planejamento biorregional na definição de diretrizes de ocupação e uso do
território.
4.2.1. Proposta 1 – Corredores Ecológicos Rodoviários
Alguns estudiosos vêm defendendo a criação de corredores ecológicos no
Distrito Federal, como Lima (2003) que desenvolveu, como dissertação de
mestrado do Departamento de Botânica da Faculdade de Engenharia Florestal da
UnB, a proposta da utilização dos eixos rodoviários como corredores ecológicos. O
alvo da sua análise foi uma porção do território marginal à rodovia DF-001, que
circunda toda a bacia do Lago Paranoá e pode servir como ligação entre os três
remanescentes de maior importância – Parque Nacional de Brasília, APA Gama-
Cabeça de Veado e Estação Ecológica de Águas Emendadas.
Lima ressalta que corredores ecológicos rodoviários, conceito defendido
internacionalmente, atravessam topografias e ambientes diferentes dos corredores
hídricos naturais. Não que se conteste a validade dessas informações, no entanto, na
nossa visão, numa área não tão vasta como a da rodovia DF-001 só estaríamos
conectando remanescentes localizados numa mesma bacia hidrográfica, a do Lago
Paranoá.
Para um maior sucesso dessa estratégia na conservação do bioma, dentro da
perspectiva do planejamento biorregional, o desejável é que esse tipo de esforço
pudesse ser adotado em caráter regional, estendendo-se a outras rodovias que
atravessam o cerrado, aproveitando-se a ligação dessas outras vias à DF-001. Além
disso, pode-se facilmente inferir que outras ações estruturais e não-estruturais
seriam fundamentais para que essa estratégia pudesse alcançar êxito.
Dentre os pontos a serem discutidos e observados no trabalho de Lima estão o
fato de que as nossas rodovias não apresentam conservação e sinalização adequada
para admitir o trânsito de animais, os nossos motoristas nem sempre estão
conscientes da conduta necessária no caso de utilização de rodovias como
corredores ecológicos.
114
Não há estudos suficientes a respeito dos corredores ecológicos rodoviários
no Brasil para que se possa compreender como isto influenciaria o comportamento
da fauna local. A adaptação ocorrida em rodovias japonesas e australianas, onde a
fauna atravessa as rodovias em locais pré-definidos, utilizando adaptações
subterrâneas ou elevadas e o cercamento que impede seu trânsito em outros pontos,
fez com que fossem modificados os padrões de predação da fauna local.
No caso do Japão e da Austrália, diversas comunidades de animais deixaram
de ter de caçar e outras tiveram seu índice de mortalidade por predação aumentado
diminuindo as possibilidades de troca genética entre essas comunidades ao invés de
aumentá-lo. Criou-se um desequilíbrio ecológico muito maior do que o esperado
pela adoção de uma estratégia de conservação que não contemplou a avaliação
adequada de todas as conseqüências e implicações envolvidas.
Mesmo com relação à dispersão de sementes e espécies vegetais, a utilização
das vias de transporte como Corredores Ecológicos é bastante discutível e deve ser
exaustivamente avaliada antes de sua defesa. Drew (1994) aponta o caso das
ferrovias inglesas que serviram à dispersão de sementes de espécies exóticas
invasoras e mesmo de nativas mais resistentes a certas condições estabelecidas às
margens das ferrovias e que tiveram estabelecida a sua dominância, alterando as
características da vegetação em escala regional.
Segundo as conclusões do estudo, os resultados encontrados na análise
realizada durante a pesquisa confirmaram a diversidade biológica e genética dos
remanescentes na faixa de domínio da Rodovia DF-001. Foi encontrado um baixo
índice de similaridade da composição florística entre os 10 remanescentes
amostrados (num total de 3.461,29 m² que pode dever-se a diversos fatores bióticos
(como a geologia, relevo, condições edáficas) e abióticos (como a incidência de
queimadas, desmatamento, nível de poluição e outras perturbações) que o autor
recomenda que sejam melhor estudados.
Os estudos de Lima apontam espécies adequadas à estratégia de implantação
de corredores ecológicos rodoviários e recomenda as ações de manutenção
necessárias, dentre as quais se destacam algumas de caráter estrutural, como o
cercamento da faixa de domínio e a implantação de aceiros paralelos ao traçado da
115
rodovia com largura variável (entre 2 e 5 m) em função das espécies plantadas
adicionados de aceiros perpendiculares a cada 500m em média. Segundo o estudo a
manutenção dos aceiros deve ser anual e o combate às formigas e a verificação do
estágio de desenvolvimento das mudas deve ter periodicidade mensal.
O estudo não se deteve em estabelecer os custos dessa manutenção e nem
tampouco apontar as possíveis fontes de recursos financeiros para tal. Estudos
adicionais sobre o envolvimento da comunidade e a adesão de proprietários seriam
necessários para que se pudesse chegar a uma conclusão mais concreta quanto à
viabilidade desse tipo de proposta do ponto de vista da sustentabilidade das ações e
governabilidade do projeto.
Não se pode esquecer ainda que as ocupações irregulares em muitos casos se
estendem às faixas marginais das rodovias, especialmente quando estas atravessam
perímetros urbanos o que aponta para a demanda desse tipo de investigação no caso
de adoção de corredores ecológicos rodoviários.
Embora a finalidade da pesquisa tenha sido a investigação da potencialidade
da utilização dessa estratégia, atendo-se a uma porção da Rodovia DF-001, a
replicação dessa proposta a outras vias rodoviárias no Distrito Federal poderia
incrementar as propostas para corredores ecológicos. O estudo de Lima aponta
esses outros caminhos para o fluxo gênico embora não se tenha detido na avaliação
de remanescentes nessas outras áreas. No entanto isso requer estudos específicos
cuidadosos já que os maiores pontos de conflito para a conexão de remanescentes
de biodiversidade encontram-se hoje nos cruzamentos das rodovias pela fauna em
trânsito.
116
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DA PROPOSTA
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LEGENDA
LIMITE DE ABRANGÊNCIA
DA PROPOSTA
COMENTÁRIOS GERAIS
A proposta abarca uma área
quase coincidente à Bacia
Hidrográfica do Lago Paranoá
uma vez que se concentra na
Rodovia DF-001.
Concentra não só UC’s como
áreas de APM entrecortadas por
vetores de crescimento da
expansão urbana e grandes áreas
que demandam regularização
fundiária e controle do uso do
solo. Abriga remanescentes
vegetacionais significativos e
influencia diretamente a Bacia do
Rio São Bartolomeu.
Abrange ainda o Perímetro da
Área Tombada pelo IPHAN e o
Lago Paranoá, fundamental ao
controle térmico de Brasília.
LOCALIZAÇÃO
PROPOSTA 1 - CORREDORES ECOLÓGICOS RODOVIÁRIOS NO DISTRITO FEDERAL
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ssertação de Mestrado em Botânica elaborada por Danilo Cruz de Lima, orientador: PhD. Manoel Cláudio da Silva Júnior, 2003
Fonte da Imagem: MIRANDA, E. E. de; COUTINHO, A. C. (Coord.). Brasil Visto do Espaço. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite,
2004. Disponível em: <http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br>. Acesso em: 3 abr. 2005.
Fonte do Limite do Distrito Federal: Base Sicad
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Figura 18 – Proposta 1 - Corredores Ecológicos Rodoviários no Distrito Federal
117
4.2.2. Proposta 2 – Corredores Ecológicos na Bacia do Rio Maranhão
A pesquisa não foi desenvolvida com o objetivo de estabelecer corredores
ecológicos mas foi selecionada por nós para compor a amostra de propostas da
categoria dos estudos acadêmicos por desenvolver a discussão da importância dessa
bacia hidrográfica, localizada numa área abrangida pelo Corredor Ecológico
Paranã-Pirineus, a APA do Planalto Central e a Reserva da Biosfera do Cerrado –
Fase I. Além disso, procurávamos uma eqüidade numérica entre as duas categorias
de propostas, o que não teria sido possível sem a inclusão desse estudo.
O objetivo da pesquisa realizada por Saito et al (2005) foi mapear as áreas
estratégicas para a proteção da biodiversidade do Cerrado na região do Distrito
Federal e entorno por meio do cruzamento de planos de informação e da adoção de
critérios para a classificação desses planos, o que resultou na determinação da
Bacia Hidrográfica do Rio Maranhão como prioritária para a conservação do
Cerrado, especialmente no seu alto curso, localizado no Distrito Federal e entorno.
O trabalho dos pesquisadores ressalta o envolvimento da academia e da sociedade
civil nos esforços para a criação do Comitê de Bacia do Alto Curso do Rio
Maranhão.
Segundo os levantamentos realizados para a elaboração do Plano de Recursos
Hídricos do Distrito Federal (GDF/ADASA - Golder/FAHMA, 2005), um dos
maiores problemas na Bacia do Rio Maranhão é o desmatamento de APP’s e a
pressão antrópica sobre as APM’s, especialmente pela expansão das áreas de
pastagem e a mineração. O relevo dessa bacia e a sua localização com relação aos
eixos de expansão da mancha urbana, aliados à barreira representada pelo Parna de
Brasília e às restrições ambientais em função da abrangência de outras UC’s, não
favorecem o estabelecimento de grandes adensamentos populacionais nessa porção
do Distrito Federal.
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LEGENDA
LIMITE DE ABRANGÊNCIA
DA PROPOSTA
COMENTÁRIOS GERAIS
A pesquisa foi realizada no
intuito de se estudar a
importância de uma bacia
hidrográfica específica contida
em outras propostas de
corredores ecológicos e uma UC
de uso sustentável que extrapola
os limites do DF.
Constitui-se em importante
ligação entre o Parna Brasília e a
EE Águas Ememdadas. Deve-se
observar, porém, que as questões
topográficas podem influenciar a
utilização dessa ligação pela
fauna silvestre já que as áreas que
apresentam relevo menos
acidentado entre essas duas UC’s
vêm sendo ocupadas por um dos
eixos de expansão urbana.
LOCALIZAÇÃO
PROPOSTA 2 - CORREDORES ECOLÓGICOS NA BACIA DO RIO MARANHÃO
Pesquis Proteção da Biodiversidade e dos Recursos Hídricos no Cerrado: A Importância Estratégica da Bacia do Rio Maranhão. (Saito et al)
Fonte da Imagem: MIRANDA, E. E. de; COUTINHO, A. C. (Coord.). Brasil Visto do Espaço. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite,
2004. Disponível em: <http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br>. Acesso em: 3 abr. 2005.
Fonte do Limite do Distrito Federal: Base Sicad
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Figura 19 – Proposta 2 - Corredores Ecológicos na Bacia do Rio Maranhão
4.2.3. Proposta 3 – Corredores Ecológicos na Bacia do Rio São Bartolomeu
A pesquisa desenvolvida para a dissertação de mestrado de Felizola (2003),
terceira proposta estudada por nós, partiu da premissa de que o cumprimento da
legislação ambiental pode possibilitar o estabelecimento de corredores ecológicos.
Ao considerar o zoneamento da Reserva da Biosfera do Cerrado – Fase I como
ponto de partida, o autor delimitou a Bacia do Rio São Bartolomeu, na porção
contida no Distrito Federal, como área de estudo.
Os principais motivos para essa delimitação e desenvolvimento do estudo de
caso foram: a delimitação física da unidade de paisagem selecionada e a
abrangência de uma das áreas de transição previstas na RBC, interligando a EE
águas emendadas e a APA Gama-Cabeça de Veado.
Os objetivos principais que se buscou alcançar foram: a delimitação e
hierarquização dos fragmentos, a verificação de possíveis conflitos relacionados ao
uso do solo e a criação de um cenário alternativo da paisagem com a sugestão de
uma possível implantação de corredor ecológico, com base no conjunto legal
vigente.
A Proposta 3 representa o estudo de Felizola que aponta que a
compartimentação geomorfológica é fator preponderante para a conformação da
dinâmica da paisagem uma vez que restringe a ação antrópica. Embora haja um
predomínio das atividades agrícolas nas áreas antropizadas, é na Bacia do Rio São
Bartolomeu se encontra a maior parte dos “condomínios horizontais” do Distrito
Federal, e as áreas urbanizadas embora não tão significativas apresentam uma
tendência expressiva de crescimento.
Isso se torna importante para a nossa observação já que essas áreas mais
fortemente urbanizadas, ou em processo acelerado de urbanização, estão
concentradas nas porções norte e sul da bacia o que, além de confirmar o vetor de
expansão em direção a Planaltina, identificado no monitoramento da mancha
urbana (Anjos, 1991), aponta para o crescimento de ocupações que demandam
regularização.
120
Essa concentração da malha urbana nos dois pontos extremos da Bacia do São
Bartolomeu no Distrito Federal pode, com o passar do tempo, constituir-se em
barreiras antrópicas que interrompem um importante corredor ecológico natural
composto pelo corpo d’água e a mata de galeria que o margeia uma vez que não
são áreas que propiciam o fluxo gênico e a conectividade dos fragmentos
vegetacionais.
Segundo os resultados obtidos por Felizola no estudo da fitossocionomia da
Bacia do São Bartolomeu, as áreas ocupadas por campos apresentam maior
representatividade em extensão de área ocupada, dadas as características de relevo
e solo onde se desenvolve este tipo de cobertura, enquanto as formações onde
predominam as espécies lenhosas e de maior porte foram mais alteradas pala ação
antrópica, tendo reduzidas a sua diversidade e área de cobertura.
Felizola encontrou evidências do quadro tendencial de redução da área
ocupada por todas as fitofisionomias o que, relacionado à situação observada para
as bordas desses fragmentos, o levou a concluir que há um aumento do processo de
insularização provocado pela pressão antrópica sobre a paisagem natural.
Após o agrupamento e classificação dos fragmentos foram utilizadas técnicas
de cartografia digital que permitiram espacializar as informações sobre os aspectos
legais relacionados ao uso da terra na bacia e embasar a verificação da adequação
da realidade à aplicação dos instrumentos. O estudo de Felizola aponta que as
APP’s apresentam cerca de 66% de sua área recoberta por vegetação remanescente
mas que as APM’s definidas no PDOT/ 97 tinham, na época da pesquisa, 58% de
sua área antropizada, índice próximo aos 54% encontrados para as APP’s na borda
das chapadas.
Definiu-se então um cenário alternativo da paisagem estabelecendo-se os
vetores possíveis para a manutenção da conectividade entre os fragmentos,
considerando-se a rede de drenagem, as escarpas e bordas de chapada. A esses
vetores o autor denominou ecolinhas.
Os estudos de Felizola confirmam o que se observa sobre o processo de
fiscalização e monitoramento das áreas de preservação definidas pelos instrumentos
121
legais e a pressão antrópica sobre as UC’s. Dentre as recomendações do autor para
a área destacamos a necessidade de revisão das diretrizes de ordenamento
territorial, de engajamento da sociedade no processo, da averbação das áreas de
reserva legal nas propriedades rurais baseada num monitoramento que favoreça a
conectividade dos fragmentos e da fiscalização eficiente do cumprimento das
normas legais.
O autor destaca ainda a necessidade de realização de estudos científicos no
campo da biologia da conservação sobre a dinâmica e a caracterização da flora e da
fauna da região, especialmente das espécies que possam servir como bioindicadores
do estado de conservação dos fragmentos e daquelas importantes à disseminação de
sementes e que, portanto, são fundamentais à manutenção da biodiversidade.
Quanto às áreas antropizadas, fica claro que há a necessidade de
investimentos em infra-estrutura urbana no campo do saneamento ambiental no
intuito de se reduzir os impactos negativos sobre a qualidade do meio
especialmente na prevenção dos processos erosivos e na redução da qualidade das
águas, seja pelo maior aporte de sedimentos ou pelo despejo de efluentes de origem
diversa.
A metodologia utilizada por Felizola poderia ter sido melhor aproveitada em
propostas institucionais , assim como ocorre com outras propostas acadêmicas. Na
proposta de Felizola há uma relação estreita da bacia estudada com a bacia do Lago
Paranoá. Assim, toda a gama de problemas que afeta a bacia do lago Paranoá deve
ser considerada no momento de efetivação dessa proposta já que o ambiente é
integrado e tem nos recursos hídricos um propagador de efeitos em cadeia.
Equivale dizer que altas cargas de poluentes que chegam à bacia do Lago Paranoá,
inevitavelmente afetam a qualidade das águas do Rio São Bartolomeu.
122
LEGENDA
LIMITE DE ABRANGÊNCIA
DA PROPOSTA
COMENTÁRIOS GERAIS
Corta o DF do limite norte ao
limite sul e conecta as três
maiores UC’s de proteção
integral. Serve como ligação ente
essas áreas e a porção de uso
predominantemente agrícola que
se conecta diretamente com um
importante remanescente de
cerrado localizado em quase toda
a extensão externa do limite leste
e que compõe uma área de
abrangência do Probio.
A proposta aponta
recomendações para o uso e
ocupação do solo na Bacia
Hidrográfica do Rio São
Bartolomeu, deve levar em conta
a dominialidade desse curso
d’água e as condicionantes para a
Bacia do Lago Paranoá.
LOCALIZAÇÃO
PROPOSTA 3 - CORREDORES ECOLÓGICOS NA BACIA DO RIO SÃO BARTOLOMEU
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Dissertação de Mestrado em Botânica elaborada por Eduardo Rodrigues Felizola, orientador: PhD. Jeanine Maria Felfili, 2003
Fonte da Imagem: MIRANDA, E. E. de; COUTINHO, A. C. (Coord.). Brasil Visto do Espaço. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite,
2004. Disponível em: <http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br>. Acesso em: 3 abr. 2005.
Fonte do Limite do Distrito Federal: Base Sicad
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Figura 20 – Proposta 3 - Corredores Ecológicos na Bacia do Rio São Bartolomeu
123
4.3. Breve Discussão sobre Algumas das Propostas Institucionais
Das propostas institucionais encontradas, duas encontram-se em fase de
implementação: a Reserva da Biosfera do Cerrado - Fase I e o Corredor Ecológico
Paranã-Pirineus. A proposta contida nos documentos técnicos sobre a Revisão do
PDOT ainda está em fase de desenvolvimento e discussão com a sociedade civil.
As duas primeiras propostas institucionais são fruto de seminários, workshops e
consultas a determinados segmentos da sociedade antes da sua finalização técnica,
a última tem sido apresentada à população durante audiências públicas definidas na
metodologia de apresentação do PDOT.
A importância das propostas institucionais em relação às acadêmicas é que
elas possuem uma maior probabilidade de implementação já que são fruto de
políticas públicas determinadas pelos órgãos de governo e contam com recursos
técnicos e financeiros para a realização das pesquisas de base e a elaboração dos
documentos técnicos necessários à sua definição.
A dificuldade de integração entre os diversos órgãos devido a disputas de
poder e a uma visão setorial segmentada é o fator limitante ao sucesso dessas
propostas. Um exemplo claro é o desenvolvimento simultâneo de dois planos
importantíssimos para o Distrito Federal, o PDOT e o PGIRH, e uma notável falta
de conexão entre os dois. Enquanto o PGIRH realiza estudos de base numa área dez
vezes superior à área do Distrito Federal, por considerar as bacias hidrográficas
como unidades de planejamento, o PDOT parece guardar uma visão estreita dos
limites administrativos.
A baixa qualidade que se alcança nos processos de participação popular e
mesmo pouca consideração às conclusões e pesquisas contidas nos estudos
acadêmicos podem ser fatores que causam o empobrecimento e o insucesso de
muitas propostas institucionais que acabam transformando-se em planos de gaveta,
que dependem do cumprimento de leis que permanecem encerradas nos papéis que
as trazem escritas.
124
4.3.1. Proposta 4 – Corredores Ecológicos na Revisão do PDOT
O mapa que mostra os “Corredores Ecológicos” nos documentos técnicos
produzidos no processo de revisão do PDOT ainda em 2005, utilizado como base
para o desenvolvimento desta pesquisa possuía uma apresentação que dificultava
muito a visualização de sua adequação ou de sua efetividade potencial já que não
mostra interferências antrópicas.
Áreas de ocupação informal, ilegal ou irregular ou fragilidades ambientais
existentes na área de influência desses corredores, uma análise do panorama geral
permite dizer que o que se definiu como “Corredor Ecológico” pode acabar
funcionando como “Corredor de Vetores” se os instrumentos de consolidação das
diretrizes do PDOT não forem definidos de forma integrada.
Na versão apresentada durante a primeira audiência pública para a aprovação
da Revisão do PDOT, realizada no final de 2005, a proposta apresentada
considerava a adoção da Bacia do Córrego do Guará como uma possibilidade de
corredor ecológico. O estabelecimento de um outro corredor voltado para a área
urbana de Santo Antônio do Descoberto e a desconsideração de remanescentes
vegetais significativos traz certa preocupação quanto à possibilidade de sucesso das
estratégias de conservação adotadas.
Não se percebe a consideração dos conceitos de planejamento biorregional
com um cuidado mais atento para o entorno, o que demonstra a desconexão entre as
políticas ambientais de cunho local, consideradas para a elaboração da proposta, e
os objetivos e preceitos da política nacional, definidos de acordo com estratégias
globais.
Percebe-se que três bacias altamente urbanizadas são definidas como
possíveis corredores ecológicos sem que se tenha encontrado referências a estudos
sobre a diversidade da flora e fauna dessas bacias, tamanho dos fragmentos ou sua
condição de preservação.
A Bacia do Córrego do Guará apresenta alta densidade humana e problemas
característicos de bacias urbanas o que levou ao desenvolvimento do Projeto Águas
125
Claras para atender às necessidades de moradia da classe média, o que já não era
mais possível na Bacia do Guará.
Com o desenvolvimento de Águas Claras, o estabelecimento do corredor
metroviário e a dinamização do fluxo econômico que levou o vetor Taguatinga-
Brasília a se estabelecer em ritmo bastante acelerado, surgiram outros
parcelamentos não planejados com características distintas quanto ao modo de
ocupação e tipologia das construções, mas bastante similares quanto à sua situação
legal.
Assim, nos arredores de Águas Claras encontram-se invasões e parcelamentos
irregulares que não obedecem ao que estabelece o PDOT/97 e à legislação
ambiental e de uso do solo, como Vicente Pires, Vila Estrutural e Arniqueiras.
Perde-se a qualidade ambiental na Bacia do Córrego Vicente Pires, que poderia
constituir-se num importante corredor ecológico, bastando para isso uma maior
atenção quanto ao estabelecimento e cumprimento de normas específicas de
regramento do parcelamento do solo e das condicionantes de ocupação naquela
região.
Esses cuidados poderiam evitar novos parcelamentos, a impermeabilização
excessiva e o esgotamento contínuo do lençol freático em área de recarga,
importantíssimo para um dos maiores tributários do Lago Paranoá. A existência de
fauna característica de ambientes urbanizados que poderia adentrar as UC’s por
meio da ligação feita pelo Córrego do Guará é bastante indesejável do ponto de
vista da conservação biológica já que há a possibilidade de contaminação e
propagação de doenças entre a fauna silvestre provocadas por estas espécies
exóticas.
Da mesma forma a ligação das áreas de remanescente vegetal num corredor
que segue em direção a Santo Antônio do Descoberto provoca a sensação de que o
processo de planejamento não levou em conta as unidades de paisagem além dos
limites político-administrativos do Distrito Federal. Seria admitir que o
planejamento pudesse prescindir desse tipo de observação e o estabelecimento de
corredores ecológicos estivesse limitado à consideração de uma única variável e
não a um conjunto de informações.
126
Os documentos produzidos para a discussão pública da revisão do PDOT,
acessíveis à maioria da população em meados de 2005 até início de 2006, não
trazem qualquer tipo de informação ou esclarecimento a respeito de conceitos,
definições e questões importantes para o alcance da qualidade ambiental. Ao
estabelecer uma proposta para o estabelecimento de corredores ecológicos, a
proposta do novo PDOT limita-se a abranger bacias urbanas, onde o processo de
adensamento já se encontra estabelecido, permitindo que áreas ambientalmente
mais frágeis continuem a ser alvo das ações de especulação imobiliária e mau uso
da terra.
A importância dos corredores ecológicos como ferramenta que auxilia o
processo de gestão do ordenamento territorial e do efetivo uso da terra parece ser
ignorada no processo de elaboração e discussão da revisão do PDOT. Perde-se
assim a possibilidade de integração com o entorno e de uma efetividade da proposta
para a conservação do Cerrado ao dar-se as costas ao processo histórico de escolha
do sítio que abriga a Capital da República e desconsiderar-se a sua importância e
influência para a conservação ambiental no país.
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LEGENDA
LIMITE DE ABRANGÊNCIA
DA PROPOSTA
COMENTÁRIOS GERAIS
Percebe-se que há uma
priorização da adoção de bacias
urbanizadas numa clara intenção
de se dar certa “legalidade” a
áreas hoje urbanizadas ou em
processo de urbanização em
detrimento de outras bacias que
para serem adotadas como
corredores ecológicos exigiriam
maior operância dos órgão de
fiscalização e levariam ao
aumento no número de restrições
de atividades para certas áreas
com consequente perda do valor
da terra para especulação, como
no caso da Bacia do Córrego
Vicente Pires.
Há uma falta de integração entre
o PDOT e o PGIRH, apontada
pelos próprios técnicos.
LOCALIZAÇÃO
PROPOSTA 4 - CORREDORES ECOLÓGICOS NA REVISÃO DO PDOT
Fonte da Imagem: MIRANDA, E. E. de; COUTINHO, A. C. (Coord.).
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rasil Visto do Espaço. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite,
2004. Disponível em: <http://www l.cnpm.embrapa.br>. Acesso em: 3 abr. 2005.
Fonte do Limite do Distrito Federal: Base Sicad
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Figura 21 – Proposta 4 - Corredores Ecológicos na Revisão do PDOT
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4.3.2. Proposta 5 – Corredor Ecológico na Reserva da Biosfera do Cerrado –
Fase I
A Reserva da Biosfera é um modelo internacional de gestão integrada
participativa e sustentável dos recursos naturais e assemelha-se a uma APA em
seus propósitos. As reservas da Biosfera são reconhecidas pelo programa
internacional O Homem e a Biosfera que visa ao fomento de experiências que
promovam relações equilibradas entre o homem e o meio ambiente. (Unesco, 2003)
Fruto de uma idéia surgida em 1968, as Reservas da Biosfera passaram a ser
implantadas pela Unesco, conformando a rede mundial de áreas expressivas da
biosfera protegidas pelo programa, a partir de 1971. A Reserva da Biosfera do
Cerrado - fase I foi implantada em 1994 pela Unesco e abrange parte da APA
Gama-Cabeça de Veado, o Parna Brasília e a EE Águas Emendadas em sua área
nuclear.
A Reserva da Biosfera do Cerrado foi concebida como projeto-piloto e servir
à disseminação de resultados de ações de desenvolvimento e conservação por
outros ecossistemas do Bioma Cerrado por meio de uma rede de instituições e
autoridades que desenvolvem trabalhos relacionados à sustentabilidade no bioma,
cuja coordenação estaria centrada na Reserva. Os motivos que levaram à seleção do
Distrito Federal para abrigar a RBC assemelham-se muito aos que nos levaram a
realizar essa pesquisa.
O projeto vem enfrentando dificuldades quanto à sua implantação e
atendimento dos objetivos estabelecidos, o que pode, inclusive, inviabilizar a sua
continuidade no Distrito Federal, tendo o seu foco desviado para uma outra área do
cerrado. Acredita-se que o baixo conhecimento do projeto por parte da população e
o fraco envolvimento da comunidade são uma das causas para essas dificuldades,
assim como os conflitos institucionais.
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LIMITE DE ABRANGÊNCIA
DA PROPOSTA
COMENTÁRIOS GERAIS
O modelo de planejamento
biorregional das Reservas da
Biosfera leva em conta outras
dimensões do planejamento,
além da vertente ambiental e
engloba aspectos da sócio-
economia com vistas ao
desenvolvimento sustentável e ao
envolvimento das comunidades
tradicionais.
Ainda na fase I, a Reserva da
Biosfera do Cerrado vem
apresentando maiores
dificuldades para o seu
estabelecimento que outras RB’s
localizadas no Brasil.
Possui desenho similar à
poligonal da proposta do PDOT
mas considera aspectos físico
ambientais de forma mais efetiva.
Foi fruto de estudos e seminários
realizados para o zoneamento da
RBC.
LOCALIZAÇÃO
PROPOSTA 5 – CORREDOR ECOLÓGICO DA RESERVA DA BIOSFERA DO CERRADO – Fase I
Fonte da Imagem: MIRANDA, E. E. de; COUTINHO, A. C. (Coord.).
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2004. Disponível em: <http://www l.cnpm.embrapa.br>. Acesso em: 3 abr. 2005.
Fonte do Limite do Di rito Federal: Base Sicad
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Figura 22 – Proposta 5 - Corredor Ecológico da Reserva da Biosfera do Cerrado – Fase I
130
4.3.3. Proposta 6 – Corredor Ecológico Paranã-Pirineus no Distrito
Federal
O projeto Conservação Ecossistemas do Cerrado - Corredor Ecológico do
Cerrado Paranã-Pirineus é desenvolvido em cooperação técnica entre o Ibama e a
Agência Japonesa – JICA. Tendo sido estabelecido um Comitê de Coordenação do
Projeto, com participantes das duas instituições, há uma sistemática estabelecida
para o acompanhamento e a avaliação periódica.
Com a visão do planejamento ecossistêmico, o projeto teve início em 1999 e
contou com a realização de diversos seminários com representação de órgãos
governamentais e instituições não-governamentais. São considerados a necessidade
de integração e o fortalecimento de ações para a proteção dos ecossistemas do
Cerrado, articuladas ao desenvolvimento socioeconômico. (Sá in Arruda, 2005).
A área de abrangência do projeto, portanto, foi definida com base em
discussões técnicas e estende-se do nordeste goiano até a porção norte do Distrito
Federal, abrangendo a bacia hidrográfica do Rio Tocantins, especialmente os Rios
Paranã, Tocantinzinho e Maranhão e seus afluentes. Situada em três unidades da
federação: os estados de Goiás e Tocantins e o Distrito Federal, a área do corredor
incorpora 45 municípios, oito UC’s Federais e nove UC’s estaduais. Localizada em
uma região de extrema riqueza biológica, bom estado de conservação das
condições naturais, e considerada como prioritária para a conservação da
biodiversidade, numa extensão de 99.734 Km².
Para a fase de implementação do projeto foram definidas duas áreas-piloto no
estado de Goiás, o entorno do Parna da Chapada dos Veadeiros e o entorno da APA
das Nascentes do Rio Vermelho. O projeto se vale dos conceitos da gestão
biorregional que se vale de três escalas: ecossistema/paisagem regional, área
protegida/ comunidade local e espécie biológica/população, escalas essas nas quais
também nos baseamos para a realização da pesquisa e proposição de corredores
para o Distrito Federal.
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LEGENDA
LIMITE DE ABRANGÊNCIA
DA PROPOSTA
COMENTÁRIOS GERAIS
Parte de um programa mais
amplo de conservação do
Cerrado, o Corredor Ecológico
Paranã-Pirineus, a proteção da
porção norte do Distrito Federal é
priorizada em quase todas as
propostas selecionadas.
A abrangência desse projeto na
área de estudo deve estar
integrada a outras ações como a
RBC. Percebe-se uma maior
preocupação com as áreas que
apresentam melhores
características de conservação o
que pode resultar na
insularização de áreas
importantes ao Sul.Essa região
do DF não está entre as áreas-
piloto do CE Paranã-Pirineus e
requer ações imediatas para a sua
manutenção.
LOCALIZAÇÃO
PROPOSTA 6 – CORREDOR ECOLÓGICO PARANÃ-PIRINEUS NO DISTRITO FEDERAL
Fonte Imagem: MIRANDA, E. E. de; COUTINHO, A. C. (Coord.). Brasil Visto do Espaço. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite,
2004. Disponível em: <http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br>. Acesso em: 3 abr. 2005.
Fonte do Limite do Distrito Federal: Base Sicad
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Figura 23 – Proposta 6 - Corredor Ecológico Paranã-Pirineus no Distrito Federal
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4.4. Resultados da Análise Espacial das Propostas de Corredores
Ecológicos para o Distrito Federal
No grupo das propostas institucionais , ao analisarmos as poligonais que
definem os corredores ecológicos na Reserva da Biosfera e na proposta no PDOT é
fácil perceber um desenho similar entre elas. No entanto, uma observação mais
detida mostra que a Proposta 5, da Biosfera do Cerrado, apresenta um desenho
que denota a observação de critérios físico-ambientais na definição da sua
poligonal.
Essa observação mais criteriosa das diferenças existentes entre as poligonais
das Propostas 4 e 5 deixa transparecer que há uma diferença entre os critérios
adotados e as intenções embutidas no processo de elaboração das duas propostas. A
da RBC está calcada na conservação do Cerrado Brasileiro enquanto a proposta do
PDOT denota estar mais voltada às questões fundiárias no interior dos limites do
Distrito Federal, sem grandes conexões com o entorno.
De todas as propostas analisadas, a do Corredor Ecológico Paranã-Pirineus é
a única que considera a integração das áreas de Probio, adjacentes ao Distrito
Federal, ao mosaico de UC’s e fragmentos existentes. A importância de extensas
áreas agrícolas funcionando conexões entre essas áreas prioritárias para a
conservação deve ser levada em conta, especialmente por serem mais “permeáveis”
ao trânsito de Fauna que as áreas urbanizadas.
Em todas as propostas institucionais analisadas fica claro que a ausência de
um sistema que permita o monitoramento do cumprimento das normas legais
empobrece as ações de conservação da biodiversidade. Nesse sentido, o
aproveitamento das propostas acadêmicas e demais estudos e pesquisas, poderia ser
de grande valia no estabelecimento de ações por parte do poder público.
A proposta da Reserva da Biosfera, embora implementada, apresenta
dificuldades quanto à sua consolidação, a do corredor Paranã-Pirineus parece ter
uma maior possibilidade de sucesso dado o envolvimento de diversas instituições e
da comunidade, embora as áreas-piloto ainda não abranjam a totalidade do
133
território do Distrito Federal, e muitas áreas fora da poligonal continuem a sofrer
com as pressões antrópicas.
A proposta do PDOT parece ser a que apresenta maior fragilidade técnica
embora seja a que possui maiores chances de ser implementada no caso de
aprovação do documento, ainda que contrarie a posição de técnicos e
representantes da sociedade civil, como se pôde perceber nas audiências públicas e
listas de discussão.
O desenvolvimento de uma proposta que considere apenas os limites
administrativos do Distrito Federal, como a do PDOT, sem guardar um olhar mais
abrangente em relação à Biorregião em que ele se insere não representa ganho
significativo para a conservação do Cerrado. Isto prejudica não apenas o mosaico
de UC’s mas toda a estratégia estabelecida em âmbito regional para a conservação
ambiental, inclusive a consolidação do Corredor Ecológico Paranã-Pirineus e o
fortalecimento da Reserva da Biosfera do Cerrado.
As propostas acadêmicas adotam, na sua maioria, as bacias hidrográficas
como unidades de planejamento, isso pode facilitar a gestão dessas áreas mas torna
necessário o desenvolvimento de propostas integradas, capazes de abarcar toda a
extensão do Distrito Federal, sem perder o foco da necessária observação de outras
escalas, como a da biorregião, ecorregião e do próprio bioma, além das vertentes
sócio-ambientais e econômicas, para que possam tornar-se efetivas.
A proposta de corredores rodoviários, embora válida, requer atenção sobre
outras questões que podem influenciar o seu sucesso como a definição das fontes
de financiamento para as ações complementares necessárias de caráter estrutural e
não-estrutural. É preciso avaliar com mais critério os riscos para a biota
normalmente envolvidos nesse tipo de proposta, a exemplo de outros locais onde se
implantou essa modalidade de corredores ecológicos.
134
Quadro 8 – Síntese da Avaliação das Propostas de Corredores Ecológicos Selecionadas
Proposta Contexto Potencialidades Fragilidades Espacialização
Corredores
Ecológicos
Rodoviários
Proposta acadêmica de abrangência
local
- propõe a recuperação vegetal das margens das
rodovias;
- considera a legislação para a sua proposição;
- é a única proposta que não desconsidera as áreas
agricultadas
- aborda os aspectos da flora mas desconsidera algumas
das questões importantes da fauna;
- depende de ações estruturais e não-estruturais para a
sua implementação, o que põe em risco a
governabilidade do projeto;
- áreas de urbanização consolidada dificultam o alcance
dos objetivos
Corredor
Ecológico da
Bacia do Rio
Maranhão
Proposta acadêmica de abrangência
local
- detalha proposta específica para ações em uma área
abrangida pelas três propostas institucionais
- adota uma bacia hidrográfica como unidade de
planejamento, facilitando o processo de gestão do
corredor;
- não abarca as unidades de conservação;
- desconsidera os steping stones próximos que
poderiam ligar a bacia selecionada a outras;
Corredor
Ecológico –
Bacia do Rio São
Bartolomeu
Proposta acadêmica de abrangência
local
- adota uma bacia hidrográfica como unidade de
planejamento para o estabelecimento do corredor;
- promove a integração entre as porções Norte e Sul
- muitas áreas urbanizadas e em processo de
ocupação e adensamento;
- abarca vertentes e áreas que necessitam de
regularização fundiária;
Corredor
Ecológico na
Revisão do
PDOT
Proposta Institucional de abrangência
local
Revisão do Plano de Ordenamento
Territorial, processo participativo
coordenado pelo Poder Público
- pode ser implementada no caso de aprovação do
PDOT;
- modelo inadequado adotado para o processo de
participação popular;
- considera áreas urbanizadas sem apresentar
diretrizes ou proposições para a utilização dessas áreas
conflito com a proposta da Rebio
Reserva da
Biosfera do
Cerrado
Proposta Institucional de abrangência
local
Implantação do Projeto das Reservas da
Biosfera, procedimento técnico financiado
pela Unesco, faz parte de um programa em
escala mundial e prevê a incorporação de
áreas de acordo com as fases do projeto
- prevê o envolvimento da comunidade e a
identificação de atividades econômicas sustentáveis
para desenvolvimento na zona tampão;
- já está implementado, embora apresente dificuldades
no seu atual estágio de implementação.
- baixo conhecimento da comunidade sobre o projeto;
- há dificuldades na implementação que podem
inviabilizar as ações da fase II
- conflito com a proposta do PDOT
Corredor
Ecológico
Paranã-Pirineus
Proposta Institucional de abrangência
regional
Estabelecimento de Corredores
Ecológicos no Bioma Cerrado, diversas
organizações envolvidas,
- ação integrada com esforços do governo e da
sociedade civil;
- financiamento externo garante a sustentabilidade
financeira das ações do projeto;
integra o mosaico de UC’s do DF a outros mosaicos
do cerrado
- não abarca todas as UC’s do DF o que pressupõe o
sucesso das ações locais complementares para a
conexão dos fragmentos no DF
135
4.5. Uma Nova Proposta de Corredores Ecológicos para o Distrito
Federal
Após a análise espacial das propostas existentes e considerando as questões
apresentadas no Capítulo 1 especialmente as sintetizadas no Quadro 3, que
sistematiza a definição das diferentes tipologias de corredores ecológicos,
desenvolvemos uma proposta que busca integrar os aspectos favoráveis contidos
nas seis propostas analisadas.
Considerar a adoção das diferentes tipologias de corredores ecológicos
favorece a adequação da nossa proposta às distintas realidades e escalas de
intervenção, o que facilita o alcance do objetivo global que é favorecer as conexões
naturais entre fragmentos do cerrado e induzir outras conexões onde elas ainda
sejam possíveis.
Mapear os pontos de risco para a fauna ou de conflito entre o meio natural e
antrópico, que fragilizam a conexão dos fragmentos selecionados e unidades de
conservação estabelecidas, é fundamental ao processo de planejamento das ações
necessárias e à definição de objetivos e metas factíveis para a implantação de
corredores ecológicos no Distrito Federal.
Essa estratégia favorece a observação por escalas, preconizada nos princípios
do planejamento e gestão biorregional, que vem sendo adotada por diversos órgãos
incumbidos da formulação de políticas públicas capazes de influenciar diretamente
a questão ambiental.
Até mesmo quanto ao ordenamento territorial, a extrapolação das fronteiras
administrativas e novas conformações e arranjos institucionais já são realidade em
todo o país. Não é mais possível encarar-se a gestão ambiental e do território
levando em conta apenas interesses locais. Outras dimensões precisam ser
consideradas para que haja sucesso quanto à busca do desenvolvimento sustentável.
Levando em conta esses aspectos, a nossa proposta busca estabelecer fluxos
possíveis, do ponto de vista legal, institucional e sócio-ambiental, para a
implementação de corredores ecológicos de abrangência local. Esses corredores se
136
complementam e se conectam entre si e a outros corredores de abrangência
regional, traduzindo-se numa proposta única para o Distrito Federal que considera a
sua integração aos remanescentes no entorno imediato.
Essa proposta busca estabelecer conexões possíveis, do ponto de vista da
adequação espacial em relação ao uso e ocupação do solo e situação da cobertura
vegetal, utilizando-se dos cursos d’água e áreas recobertas pela mata ciliar para
conectar fragmentos remanescentes facilmente identificáveis.
A observação das potencialidades de conexão entre remanescentes
importantes do Bioma Cerrado faz com que os corredores ecológicos, pela sua
própria definição, extrapolem as fronteiras desta unidade da federação e que o
mosaico de UC’s estabelecido e em franco processo de insularização, possa
efetivamente cumprir o seu papel estratégico na conexão do bioma.
Obviamente, há áreas contempladas na nossa proposta que não se prestam ao
estabelecimento de grandes corredores ecológicos mas que não podem ser
desprezadas, do ponto de vista da conservação ambiental, como importantes ao
fluxo de fauna de pequeno porte que permite as trocas gênicas e a disseminação de
sementes, fundamentais ao equilíbrio ambiental quando observada uma escala
regional.
Mesmo nas áreas urbanizadas, o envolvimento da comunidade pode colaborar
para que exista um ganho na qualidade do ambiente, por meio do estabelecimento
de corredores de conservação, desde que tomados os devidos cuidados quanto à
proliferação de animais típicos dos ambientes urbanos e danosos ao meio silvestre.
As recomendações para cada uma das tipologias de corredores ecológicos
adotada na proposta são apresentadas a seguir. As Figuras 25 a 29 apresentam a
especialização dos fluxos identificados para cada uma dessas tipologias.
Os comentários específicos sobre cada uma delas é feito a seguir e logo após
a Figura 30 mostra a síntese da organização dos diferentes fluxos sobre a carta
imagem do território bem como os pontos de conflito e outras áreas de interesse
abordadas neste trabalho.
137
É apresentado ainda o quadro síntese, que é um dos produtos previstos neste
trabalho. O quadro síntese traz considerações quanto às ações complementares
necessárias, sejam de caráter estrutural ou não-estrutural, para a implementação dos
corredores ecológicos. O quadro traz ainda recomendações de caráter geral para
cada uma das tipologias de corredores ecológicos.
4.5.1. Fluxos Possíveis para o Estabelecimento de Corredores de
Biológicos no Distrito Federal
A finalização da nossa análise permitiu identificar três fluxos prioritários para
o estabelecimento de corredores biológicos são eles que permitiriam a integração
de outras áreas de preservação no entorno do Distrito Federal ou mesmo mais
distantes com o Mosaico de Unidades de Conservação.
Assim, esses dois destes três corredores biológicos identificados em amarelo
na Figura 25, não seriam suficientes para garantir o fluxo de fauna no sentido
Norte-Sul caso outras conexões não sejam estabelecidas entre os remanescentes e
fragmentos inseridos no Distrito Federal.
O corredor maior integra essa conexão Norte-Sul, mas sem conexões
auxiliares também não é capaz de permitir toda a troca gênica que seria possível
entre populações e comunidades. É importante notar que essa conexão encontra-se
bastante ameaçada pela expansão agrícola na porção Leste do Distrito Federal e
nos municípios goianos e mineiros localizados na porção sudeste do Distrito
Federal.
138
139
LEGENDA
CORREDOR B
IOLÓGICO
PONTO DE CONFLITO - FRAGILIDADE
ILHA DE BIODIVERSIDADE
STEPING STONE - POTENCIALIDADE
UNIDADE DE CONSERVAÇÃO OU
FRAGMENTO SIGNIFICATIVO
ÁREA DE INTERESSE PARA A
CONSERVAÇÃO
COMENTÁRIOS GERAIS
São observados três grandes
corredores de biodiversidade no
Distrito Federal que
favoreceriam a conexão no
sentido Norte – Sul com outras
áreas alvo de iniciativas de
Conservação da Biodiversidade.
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PROPOSTA ESPACIAL PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE CORREDORES ECOLÓGICOS PARA O DISTRITO FEDERAL
Fonte da Imagem: MIRANDA, E. E. de; COUTINHO, A. C. (Coord.). Brasil Visto do Espaço. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite, 2004. Disponível em:
<http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br>. Acesso em: 3 abr. 2005.
Fonte do Limite do Distrito Federal: Base Sicad
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Figura 25 – Identificação de Fluxos para Corredores Biológicos no Distrito Federal
4.5.2. Fluxos Possíveis para o Estabelecimento de Corredores de
Florestais no Distrito Federal
Foram identificados cinco corredores florestais no Distrito Federal, todos
localizados na porção leste, onde há um maior número de pequenos fragmentos e
remanescentes em função das características físicas que favoreceram o
estabelecimento das atividades agrícolas nesta porção do território, em detrimento
da ocupação urbana.
Esses fragmentos apresentam características fitossocionômicas bastante
similares o que não favorece as grandes variações genéticas entre indivíduos,
prejudicando as possibilidades de restabelecimento natural em longo prazo.
Ações de reflorestamento e a busca de conexões entre esses fragmentos
florestais podem favorecer a conservação da biodiversidade ainda presente nessa
porção do Distrito Federal e colaborar para a característica de ambiente permeável
à fauna. A sua importância vem exatamente da fronteira com a grande área
preservada de propriedade do Exército Brasileiro, onde se encontra uma rica fauna
e condições peculiares como a Lagoa do Perta-pé.
Esses cinco Corredores Florestais, no entanto, não são suficientes para
permitir o alcance dos objetivos de conservação da biodiversidade local dada a sua
pequena extensão, como mostrado na Figura 26, podem porém ser bastante
favoráveis como auxiliares na conexão de pequenos fragmentos a outras tipologias
de corredores ecológicos.
140
141
LEGENDA
CORREDOR FLORESTAL
PONTO DE CONFLITO - FRAGILIDADE
ILHA DE BIODIVERSIDADE
STEPING STONE - POTENCIALIDADE
UNIDADE DE CONSERVAÇÃO OU
FRAGMENTO SIGNIFICATIVO
ÁREA DE INTERESSE PARA A
CONSERVAÇÃO
COMENTÁRIOS GERAIS
Foram identificados cinco fluxos para
Corredores Florestais na porção Leste do
Distrito Federal, área dominada pela
prática agrícola e que ainda favorece o
trânsito de fauna dada a sua
permeabilidade ambiental. A conexão
desses pequenos fragmentos a outros
corredores é importante.
LOCALIZAÇÃO
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PROPOSTA ESPACIAL PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE CORREDORES ECOLÓGICOS PARA O DISTRITO FEDERAL
Fonte da Imagem: MIRANDA, E. E. de; COUTINHO, A. C. (Coord.). Brasil Visto do Espaço. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite, 2004. Disponível em:
<http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br>. Acesso em: 3 abr. 2005.
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Figura 26 - Identificação de Fluxos para Corredores Florestais no Distrito Federal
4.5.3. Fluxos Possíveis para o Estabelecimento de Corredores de
Conservação no Distrito Federal
Os seis Corredores de Conservação identificados referem-se a conexões que
podem ser induzidas pela recuperação de matas ciliares ou áreas menos
antropizadas entre fragmentos em processo de insularização devido à ação
antrópica.
Essa tipologia de corredores ecológicos encontra uma grande fragilidade por
geralmente apresentar maior grande número de pontos de conflito com
interferências antrópicas como vias de tráfego rodoviário ou ferroviário, áreas
densamente urbanizadas e com alto grau de interferência humana, o que afasta
muitas espécies e favorece a proliferação de vetores urbanos de transmissão de
doenças.
No Distrito Federal no entanto, a investigação de determinadas áreas para a
proposição de corredores de conservação vem se tornando cada vez mais
importante para a conexão de Unidades de Conservação e fragmentos
significativos, como se percebe na Figura 27.
Embora essa tipologia de corredores seja de difícil implantação e não venha a
trazer grandes trocas gênicas, servem como áreas que apóiam e favorecem o
envolvimento da comunidade e as ações, como a educação ambiental e a
implantação de projetos demonstrativos, para essa tomada de consciência coletiva
quanto á necessidade de se barrar os processos de fragmentação dos remanescentes
que causa o isolamento de populações da fauna e flora em longo prazo.
142
143
LEGENDA
CORREDOR DE CONSERVAÇÃO
PONTO DE CONFLITO - FRAGILIDADE
ILHA DE BIODIVERSIDADE
STEPING STONE - POTENCIALIDADE
UNIDADE DE CONSERVAÇÃO OU
FRAGMENTO SIGNIFICATIVO
ÁREA DE INTERESSE PARA A
CONSERVAÇÃO
COMENTÁRIOS GERAIS
Os fluxos para Corredores de
Conservação no Distrito Federal vêm
se tornando cada vez mais raros e
menores em extensão dadas as
características de ocupação do território
que vêm favorecendo o adensamento
urbano no eixo sudoeste-nordeste o que
interrompe todos os fluxos em outros
sentidos.
LOCALIZAÇÃO
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PROPOSTA ESPACIAL PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE CORREDORES ECOLÓGICOS PARA O DISTRITO FEDERAL
Fonte da Imagem: MIRANDA, E. E. de; COUTINHO, A. C. (Coord.). Brasil Visto do Espaço. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite, 2004. Disponível
em: <http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br>. Acesso em: 3 abr. 2005.
Fonte do Limite do Distrito Federal: Base Sicad
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Figura 27 - Identificação de Fluxos para Corredores de Conservação no Distrito Federal
4.5.4. Fluxos Possíveis para o Estabelecimento de Corredores de
Biodiversidade no Distrito Federal
Foram identificados diversos fluxos para Corredores de Biodiversidade no
Distrito Federal, notadamente na porção nordeste do território que ainda abriga
atividades agrícolas e fragmentos significativos próximos à Estação Ecológica de
Águas Emendadas, e ainda distante das pressões provocadas pela irrigação que se
observa mais ao Sul.
A consolidação desses corredores seria bastante importante para que se
conseguisse preservar uma grande área na porção nordeste que viria a favorecer em
muito a conexão das Unidades de Conservação à noroeste com a Área de
Treinamento do Exército em Formosa, que margeia toda a fronteira Leste do
Distrito Federal.
Pode-se observar na Figura 28, no entanto, que a simples consolidação
desses corredores de biodiversidade, embora importante, não seria suficiente para
garantir outros fluxos importantes como o Norte-Sul, por exemplo.
A ligação entre esses fluxos e os grandes corredores de biológicos é
fundamental para a integração de ações em todo o território do Distrito Federal,
permitindo os fluxos e as conexões mais significativas.
A ligação dos corredores de biodiversidade com outras tipologias menos
abrangentes pode garantir a conexão de pequenas áreas a esses grandes corredores
por meio do uso de outras tipologias, como os corredores florestais.
144
145
LEGENDA
CORREDOR DE BIODIVERSIDADE
PONTO DE CONFLITO - FRAGILIDADE
ILHA DE BIODIVERSIDADE
STEPING STONE - POTENCIALIDADE
UNIDADE DE CONSERVAÇÃO OU
FRAGMENTO SIGNIFICATIVO
ÁREA DE INTERESSE PARA A
CONSERVAÇÃO
COMENTÁRIOS GERAIS
Os fluxos identificados para os
Corredores de Biodiversidade
favorecem a integração de
remanescentes e fragmentos a
importantes Unidades de Conservação
na porção Norte do Território do
Distrito Federal. Não conseguem, no
entanto, garantir sozinhos a ligação
com as Unidades de Conservação da
porção Sul.
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PROPOSTA ESPACIAL PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE CORREDORES ECOLÓGICOS PARA O DISTRITO FEDERAL
Fonte da Imagem: MIRANDA, E. E. de; COUTINHO, A. C. (Coord.). Brasil Visto do Espaço. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite, 2004. Disponível em:
<http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br>. Acesso em: 3 abr. 2005.
Fonte do Limite do Distrito Federal: Base Sicad
Figura 28 - Identificação de Fluxos para Corredores de Biodiversidade no Distrito Federal
4.5.5. Fluxos Possíveis para o Estabelecimento de Corredores de Fauna
no Distrito Federal
Identificamos para os Corredores de Fauna cinco possíveis fluxos, a serem
investigados pormenorizadamente uma vez que dependem de fatores como a
qualidade das águas e dos remanescentes de vegetação, estudos de população de
fauna, topografia e outros fatores físicos que podem fazer com que eles não se
enquadrem nesta categoria por não atenderem aos requisitos necessários ao alcance
dos seus objetivos.
Apresentam muitos pontos de conflito entre atividades as humanas já
estabelecidas e os objetivos de conservação ambiental, especialmente porque
cortam o principal vetor de urbanização do Distrito Federal, onde se concentra a
maior parte da malha viária.
O estabelecimento dos corredores de fauna identificados, por outro lado, é o
único modo de se integrar as unidades de conservação localizadas ao Sul, como a
APA Gama – Cabeça-de-Veado ao Parque Nacional de Brasília e Outras áreas de
preservação na porção Norte.
Os fluxos de corredores de fauna estão concentrados na porção sudoeste do
território do Distrito Federal, como mostra a Figura 29, o que os torna
fundamentais e estratégicos para a integração dos corredores e alcance dos
objetivos de ferramentas auxiliares na ampliação da proteção ao meio ambiente por
meio da integração de áreas protegidas.
146
LEGENDA
CORREDOR DE FAUN
A
PONTO DE CONFLITO - FRA
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ILHA DE BIODIVERSIDADE
STEPING STONE - POTENCIA
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UNIDADE DE CONSERVAÇÃ
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FRAGMENTO SIGNIFICATIV
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ÁREA DE INTERESSE PARA
A
CONSERVAÇÃO
COMENTÁRIOS GERAIS
Os fluxos para Corredores de Fauna
concentram-se na porção sudoeste
do Distrito Federal, área altamente
urbanizada mas que permite a
importante conexão entre as
Unidades de Conservação e Áreas
Protegidas localizadas ao Norte e ao
Sul. Alguns podem ser mais
apropriados a Corredores de
Conservação, o que demanda
investigação.
LOCALIZAÇÃO
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PROPOSTA ESPACIAL PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE CORREDORES ECOLÓGICOS PARA O DISTRITO FEDERAL
Fonte da Imagem: MIRANDA, E. E. de; COUTINHO, A. C. (Coord.). Brasil Visto do Espaço. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite, 2004. Disponível em: <http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br>. Acesso em: 3 abr. 2005.
Fonte do Limite do Distrito Federal: Base Sicad
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Figura 29 - Identificação de Fluxos para Corredores de Fauna no Distrito Federal
147
4.5.6. Integração entre os Fluxos Possíveis para as Diferentes Tipologias
de Corredores Ecológicos no Distrito Federal
Nas observações que tecemos para cada uma das diferentes tipologias de
corredores ecológicos foi possível observar que nenhuma delas consegue,
isoladamente, alcançar os objetivos de conservação da biodiversidade ou da
integração de remanescentes e fragmentos, legalmente protegidos ou não,
localizados no Distrito Federal com outros localizados no seu entorno.
Dessa forma fica cada vez mais clara a necessidade do estabelecimento de
políticas públicas e de instrumentos normativos específicos para que se consiga
implantar todas as tipologias com sucesso e integrá-las de modo a cobrir todo o
território do Distrito Federal, garantindo que o mosaico de Unidades de
Conservação ali criado consiga realmente fazer o seu papel como integrador de
outros fluxos de preservação ambiental e conservação da biodiversidade.
Não se pode esquecer que o planejamento adequado das políticas de
conservação no Distrito Federal pode garantir a integração de toda a biorregião. De
outra forma, o território do Distrito Federal torna-se apenas um entrave a essa
integração. Assim, embora de caráter local, as ações adotadas DF precisam guardar
o olhar sobre toda a biorregião.
A Figura 30 mostra o Mapa da Nova Proposta que traz a integração entre as
diferentes tipologias de corredores ecológicos proposta por nós ainda como uma
identificação de fluxos. Estudos devem ser realizados para que esses fluxos possam
ser confirmados e para que seja possível definir-se as ações necessárias para que
cada uma dessas conexões se estabeleça, inclusive apontando os responsáveis pela
implementação dessas ações.
Algumas recomendações são feitas de modo bastante sintético no Quadro 9
para essas diferentes tipologias de corredores ecológicos que compõem a proposta e
representa o segundo produto resultante da aplicação da metodologia definida por
nós e apresentada no Capítulo 1. As recomendações mais genéricas para o território
foram organizadas junto às conclusões, no Capítulo 5.
148
LEGENDA
CORREDOR BIOLÓGICO
CORREDOR FLORESTAL
CORREDOR DE CONSERVAÇÃO
CORREDOR DE BIODIVERSIDADE
CORREDOR DE FAUN
A
PONTO DE CONFLITO - FRAGILIDADE
ILHA DE BIODIVERSIDADE
STEPING STONE - POTENCIALIDADE
UNIDADE DE CONSERVAÇÃO OU
FRAGMENTO SIGNIFICATIVO
ÁREA DE INTERESSE PARA A
CONSERVAÇÃO
COMENTÁRIOS GERAIS
O estabelecimento das diferentes tipologias de
corredores ambientais pode ser de grande valia ao às
ações de conservação. Por meio da utilização de
diferentes escalas, os resultados obtidos tornam-se
mais adequados à realidade local, facilitam os
arranjos institucionais e favorecem o controle e a
participação social.
Ao identificarmos esas conexões estamos
permitindo o estabelecimento de áreas menores de
estudo que podem contar com pesquisas e estudos
acadêmicos mais detalhados que venham a compor
um diagnóstico regional mais realista. Fica
favorecida a criação de um banco da dados que pode
valer-se das ferramentas do geoprocessamento para
o monitoramento contínuo da biota e seus padrões
de dispersão no Distrito Federal.
LOCALIZAÇÃO
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PROPOSTA ESPACIAL PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE CORREDORES ECOLÓGICOS PARA O DISTRITO FEDERAL
Fonte da Imagem: MIRANDA, E. E. de; COUTINHO, A. C. (Coord.). Brasil Visto do Espaço. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite, 2004. Disponível em: <http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br>. Acesso em: 3 abr. 2005.
Fonte do Limite do Distrito Federal: Base Sicad
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Figura 30 – Proposta Espacial para a Implementação de Corredores Ecológicos no Distrito Federal
149
Quadro 9 – Síntese das Recomendações para o Estabelecimento de Corredores Ecológicos no Distrito Federal com base na Nova Proposta
Tipologia Potencialidades Fragilidades Recomendações Espacialização
Corredores
Biológicos
- Foram identificados três grandes corredores
ecológicos que permitem a integração do mosaico
de UC’s a outras áreas de relevância para a
conservação do Cerrado, localizadas no entorno.
- um dos corredores encontra-se na bacia do Rio
Maranhão, protegida e contemplada em outras
propostas de corredores, inclusive no Paranã-
Pirineus.
- A tipologia do solo não favorece determinadas
ações antrópicas de maior impacto ao trânsito da
biota para as três áreas, especialmente a bacia do
Rio Maranhão.
- O mais extenso dos corredores que corta a porção
leste do Distrito Federal no sentido norte-sul está
localizado na bacia do Rio São Bartolomeu, embora
não tão urbanizada, há pontos de conflito no extremo
norte e na região de São Sebastião. Outras ações
antrópicas na bacia devem ser monitoradas.
- Presença de atividades minerárias e áreas de
pastagem que prejudicam especialmente as APP’s e
as matas de galeria nas três áreas onde se identifica a
possibilidade de corredores ecológicos.
- A falta de monitoramento e fiscalização tem
favorecido a perda da cobertura vegetal na Bacia do
Rio Maranhão.
- Para a conservação dos corredores ecológicos
sugere-se o fortalecimento da participação da
comunidade por meio de órgãos colegiados
como os comitês de bacia e os conselhos de
meio ambiente.
- a realização de estudos para a promoção da
recuperação da vegetação e a diminuição dos
efeitos de borda nos remanescentes dessas áreas.
- também é desejável a fiscalização mais efetiva
e um regramento mais rigoroso do uso e
ocupação do solo com contenção dos processos
de adensamento e consolidação das manchas
urbanas
Corredores
Florestais
- foram identificados cinco corredores florestais,
todos localizados na grande área ocupada pelas
atividades agrícolas no divisor de águas das
bacias dos Rios São Bartolomeu e Preto.
- o estabelecimento desses corredores não é
difícil o poderia dar-se por meio da recuperação
da vegetação nas APP’s diminuindo a
insularização de fragmentos vegetacionais e
podendo servir de modelo para outros cursos
d’água nessas duas bacias.
- a falta de fiscalização do cumprimento das
normas legais favorece o avanço das áreas
agricultadas sobre os cursos d’água.
- sem o envolvimento de produtores rurais não há
sucesso no estabelecimento desses corredores e a
conseqüência é o aumento do processo de
insularização com a redução gradativa dos
remanescentes
- o estabelecimento desses corredores é
fundamental à interligação entre remanescentes
localizados em duas bacias hidrográficas
importantes e para tanto as ações de recuperação
das matas ciliares deve ser prioritária.
- a utilização de espécies nativas que possam
funcionar como atrativo de fauna, especialmente
aves, é essencial para o sucesso dessa iniciativa.
- os corredores localizados mais a norte estão
muito próximos de áreas urbanizadas e, portanto,
exigem maiores cuidados quanto ao seu
monitoramento.
- ao sul é desejável que haja um controle do uso de
produtos agrícolas que sejam prejudiciais ao
equilíbrio ambiental. O Desenvolvimento de
agricultura orgânica nessa área seria recomendável,
podendo ser estabelecidos programas específicos e
políticas de incentivo.
Corredores de
Conservação
- Por estarem localizados em áreas urbanizadas
há a possibilidade de um maior controle social e
da participação de grupos de estudantes nesse
tipo de corredor.
- com a recuperação das matas ciliares haveria
um ganho potencial da qualidade das águas com
redução do aporte de sedimentos o que traria
conseqüências favoráveis à diminuição de
cheias no período chuvoso.
- o trânsito da fauna silvestre poderia ser
potencializado, por meio do restabelecimento de
- Há maiores pontos de conflito com relação às
atividades humanas e o trânsito de fauna.
- o controle de vetores urbanos é fundamental
para que não haja mais prejuízos que benefícios
à fauna silvestre.
- o controle e a fiscalização das atividades
urbanas se não forem efetivos podem pôr a
perder qualquer esforço no estabelecimento
desse tipo de conexão.
- o envolvimento e aceitação da comunidade são
fundamentais e normalmente difíceis já que a
- realização de um levantamento detalhado da
situação desses corredores para que se possa
estabelecer as ações necessárias a cada um
deles, dadas as especificidades que exigem.
- reabilitação de áreas antropizadas por meio da
regularização e regramento das atividades
urbanas de modo a possibilitar o cumprimento
das normas legais e a fiscalização mais efetiva.
- readequação das infra-estruturas urbanas como
a adoção de pavimentação alternativa e
tecnologias mais adequadas do ponto de vista
150
Tipologia Potencialidades Fragilidades Recomendações Espacialização
caminhos naturais ora antropizados, diferente do
que ocorre em algumas propostas.
- com o envolvimento da comunidade poderia
haver um ganho quanto à conscientização sobre
as questões ambientais e a importância da região
do Distrito Federal
maior parte das áreas de várzea ocupadas, o são
de forma irregular e em áreas que demandam
regularização fundiária o que já causa uma
atitude “preventiva” na maioria dos moradores.
- muitas dessas áreas necessárias ao
estabelecimento desse tipo de corredor
necessitam de uma adequação que pode
envolver a remoção de estruturas físicas e a
adequação de infra-estrutura urbana como o
asfaltamento.
ambiental.
- envolvimento da comunidade acadêmica,
especialmente por meio de experiência práticas
dos estudantes de graduação organizados em
grupos multidisciplinares, nos levantamentos e
execução de ações com aproveitamento das
pesquisas desenvolvidas no âmbito das
universidades, aliando conhecimentos
científicos à aplicação em escala real.
Corredores de
Biodiversidade
- foram identificados vários corredores de
biodiversidade, especialmente na porção norte do
Distrito Federal que já é alvo de maiores ações e
estudos sobre a conservação da biodiversidade.
- Há uma ligação importante que se estabelece com
a área definida pelo Probio, na fronteira leste, e
pode favorecer a ligação e o fluxo gênico entre a
Bacia dos Rios Maranhão e Preto, passando pelo
São Bartolomeu e podendo estender-se no eixo
norte e sul, o que seria desejável.
- a consolidação dos diversos corredores de
biodiversidade na porção nordeste pode levar a
uma recuperação mais efetiva de toda uma extensa
e importante área.
- é preciso cuidado quanto aos corredores da
porção nordeste do território para que as
características que ainda apresentam e
confirmam seu potencial para a dispersão da
biota.
- adoção de ações de preservação e controle sobre
a vasta área que abriga diversos dos corredores de
biodiversidade na porção nordeste do território.
- atenção às ocupações irregulares no entorno do
Parna Brasília e da EE Águas Emendadas além do
mosaico da APA Gama-Cabeça de Veado.
Corredores de
Fauna
- foram identificados dois grandes corredores de
fauna que se diferem dos corredores de
conservação pelas características topográficas,
apesar de estarem localizados em áreas próximas à
urbanização, que permitem o trânsito de fauna de
pequeno porte e até mesmo algumas espécies de
médio porte.
- esses corredores, especialmente o de Vicente
Pires, são importantes para a conexão de áreas
fundamentais à conservação na Bacia do Lago
Paranoá e na porção sudoeste do território
- os dois corredores estão em meio aos vetores de
expansão urbana, já identificados em outros
estudos.
- as novas propostas de ordenamento territorial
continuam priorizando esses vetores o que pode
inviabilizar o estabelecimento desses corredores se
providências urgentes não forem tomadas.
- exigem um alto grau de conscientização e
envolvimento da comunidade, especialmente na
bacia do Córrego Vicente Pires.
- as mesmas recomendações necessárias ao
estabelecimento de corredores de conservação
devem ser observadas, exigindo ainda um maior
rigor quanto à aplicação dos instrumentos de
ordenamento territorial e da legislação
ambiental.
- a perda dessas conexões provocadas pela
expansão da urbanização pode levar a sérios
danos para a conservação da biota.
- é necessária a revisão das diretrizes e
prioridades para o estabelecimento do
crescimento da mancha urbana.
151
Capítulo 5
Conclusões e Recomendações
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
A realização da análise foi calcada na observação da adequação espacial de
cada uma das seis propostas selecionadas e possibilitou o estabelecimento dos
conflitos existentes entre elas e das possibilidades de integração das propostas, por
meio da identificação das potencialidades e fragilidades de cada uma em relação ao
cenário real, nos conduzindo às seguintes conclusões:
1. O Mosaico de Unidades de Conservação já estabelecido no Distrito
Federal e a sua posição geográfica estratégica o tornam um ponto chave para a
conservação do Cerrado Brasileiro, que funciona como conexão entre outros
biomas em escala nacional. Além disso, as ações de planejamento do território no
Distrito Federal influenciam, ainda que de forma indireta, a conservação ambiental
em outras unidades administrativas, haja vista a sua importância para a malha
hidrográfica brasileira.
2. Podemos entender que o Distrito Federal e os municípios do seu entorno
constituem-se numa Biorregião e assim devem ser tratados no momento de
estabelecer-se programas, projetos e ações específicas para a conservação da
biodiversidade, como a estratégia da implementação de corredores ecológicos e
mosaico de UC’s. Essa postura é fundamental à integração de políticas de modo a
minimizar conflitos institucionais que se interpõem ao alcance de objetivos
comuns, dispersam energia e recursos e retardam o desenvolvimento regional.
3. O fortalecimento da Reserva da Biosfera do Cerrado estabelecida no
Distrito Federal é um canal fundamental para que se consiga atender aos objetivos
da conservação ambiental até que o projeto do Corredor Ecológico Paranã-Pirineus
possa sair da fase de implementação em áreas-piloto e cobrir toda a região. Isso
atenderia ainda à continuidade do projeto possibilitando que fosse implantada a
fase II. No mesmo sentido vem a constatação de que o programa Probio, que define
as áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade em todo o país, poderia
ser melhor observado para que as políticas ambientais distritais sejam favoráveis e
adequadas a objetivos da política nacional.
4. A porção norte do Distrito Federal é contemplada com um número maior
de estudos e propostas de estratégias para a Conservação Ambiental do que a
porção sul, mais sujeita às influências da expansão agrícola em Goiás. Isto pode
153
levar à não observação da necessidade de ações urgentes para a conexão de
fragmentos significativos na escala do Bioma Cerrado;
5. Poucos estudos e propostas são realizados para que se compreenda ou
tenha a real dimensão da aplicação dos instrumentos de gestão do território
existentes de modo a permitir ações de cunho ambiental que favoreçam a
recuperação do bioma. As seis propostas analisadas e outros estudos correlatos
encontrados se referem à conservação de áreas com maior grau de preservação em
detrimento de áreas que precisam ser conservadas com a função de conectar
fragmentos maiores. Nesse sentido, a atividade de planejamento do território deve
contribuir para que não se permita a continuidade dos processos de insularização
que dificultam as trocas gênicas entre grupos populacionais da fauna e flora,
causando a perda da biodiversidade.
6. O tratamento das propostas que visam a recuperação ambiental exigem
uma observação mais coerente, feita em diversas escalas e em caráter
multitemporal, para que possam adequar-se à realidade. A gestão integrada do
território não pode prescindir da participação popular e da compreensão coletiva
das implicações e conseqüências das escolhas que se faz para o uso do solo, com a
aceitação e o estabelecimento de direitos e deveres para cada um dos atores sociais
envolvidos nesse processo participativo que possibilita a construção de propostas
pactuadas, com maiores chances de sucesso.
7. Não é possível encarar-se a revisão do PDOT sem considerar as diretrizes
dos estados vizinhos de Minas Gerais e, principalmente, Goiás. O fenômeno da
formação das redes urbanas brasileiras torna fundamental que, diante deste novo
cenário, as ações de cunho político extrapolem fronteiras administrativas e que os
conflitos de competência institucional, internos e externos, possam ser resolvidos
de forma a se alcançar a eficiência e a eficácia dos planos e projetos com ganhos
reais para a qualidade de vida da coletividade.
8. É preciso difundir o conceito fundamental de que um corredor ecológico
não necessariamente visa apenas à conexão de unidades de conservação. Fica claro
em todas as propostas que nenhuma delas considerou a mancha significativa do
cerrado que margeia a fronteira direita do Distrito Federal, importantíssima para a
conservação da diversidade genética das populações encerradas no Mosaico de
UC’s abarcadas pelas propostas. A exceção é a consideração da bacia hidrográfica
154
do Rio São Bartolomeu que possibilita a criação de um corredor biológico no
sentido Norte-Sul.
9. Não se pode desconsiderar a necessidade de ações urgentes quanto à
adequação do uso e ocupação do solo, por meio da aplicação e fiscalização do
cumprimento dos regramentos legais e instrumentos de ordenamento territorial, na
Bacia do Córrego Vicente Pires, o que permitiria uma conexão mais realista do
Parque Nacional de Brasília à APA Gama-Cabeça de Veado do que a proposta de
utilização da bacia do Córrego do Guará. Por questões topográficas, ainda que se
observando a atual situação de adensamento urbano em certos pontos da Bacia do
Vicente Pires, essa ligação seria possível e favoreceria a diminuição do processo de
degradação daquele corpo d’água.
10. Pode-se perceber que todas as unidades de conservação do Distrito
Federal sofrem com problemas relacionados à sua gestão, como conflitos
institucionais, quadro de pessoal insuficiente, falta de recursos para a manutenção,
fiscalização e controle do uso do solo nas suas imediações. Isso resulta num
processo de insularização dessas áreas que necessita ser urgentemente combatido
por meio de políticas que permitam e favoreçam a mudança do paradigma e da
questão cultural que se observa no processo histórico de ocupação do território e
que favorece a especulação imobiliária e a grilagem de terras públicas em
detrimento da importância ambiental do Distrito Federal em escala continental.
11. As necessidades mais prementes que se identifica para que os corredores
propostos neste estudo possam ser estabelecidos são:
» Cumprimento de normas urbanísticas e das disposições contidas nos
instrumentos legais vigentes, de meio ambiente e urbanismo;
» Melhoria das condições de saneamento;
» Recuperação de matas ciliares;
» Remoção de invasões e ocupações irregulares em áreas de proteção
permanente comuns em todo o Distrito Federal, principalmente nos
condomínios na porção norte, na bacia do Córrego Vicente Pires e na
Bacia do Rio São Bartolomeu;
» Análise mais criteriosa dos projetos que possam interferir no
estabelecimento de corredores ecológicos;
155
» Elaboração e revisão dos planos de manejo e inventários das Unidades
de Conservação;
» Elaboração de um sistema de informações que permita a espacialização
de dados e seu cruzamento como suporte à tomada de decisão e ao
monitoramento;
» Capacitação e treinamento da comunidade e técnicos.
156
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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http://www.semarh.df.gov.br
http://www.google.earth.com
http://www.embrapa.gov.br
http://www.cidades.gov.br
http://www.integracao.gov.br
http://www.brasil.gov.br
159
Anexo
Instrumentos Legais
160
Anexo
Quadro 10 – Instrumentos de Interesse do Governo do Distrito Federal
INSTRUMENTO/ DATA OBJETIVOS/ DIRETRIZES/ RESTRIÇÕES NATUREZA
RELATÓRIO BELCHER (1955)
- Primeiro levantamento físico e biótico para a escolha do Sítio de implantação da nova capital do
país – Brasília.
- O “Sítio Castanho” foi escolhido pelas vantagens locacionais que apresentava em relação aos
outros quatro.
- diretrizes de planejamento
LEI FEDERAL No. 2.874/56
- Define o Monopólio Estatal da Terra no Distrito Federal, por meio da criação da Novacap.
- Proíbe a alienação das terras para entes privados e dispõe sobre a indivisibilidade dos lotes
alienados pela Novacap.
- ordenamento territorial
PLANO PILOTO DE LÚCIO COSTA
(1957)
- Define o Plano Urbanístico da Nova Capital
- Leva em conta a intenção de se criar um novo pólo regional
- diretrizes de planejamento
- regramentos urbanísticos
DECRETO No.241/61
- Cria o Parque Nacional de Brasília
- Preservar a biodiversidade do cerrado e os mananciais de abastecimento, especialmente o
Reservatório de Santa Maria
- Até hoje persistem problemas fundiários e de definição dos limites o que favorece ocupações
irregulares no entrono da UC.
- preservação ambiental
LEI FEDERAL No.5.545/ 64
- Divide o território do Distrito Federal em Regiões Administrativas, principiando o processo de
descentralização
- institucional
LEI DISTRITAL No. 4.545/64
- Cria o Conselho de Arquitetura e Urbanismo – CAU, que decide sobre questões urbanísticas e
arquitetônicas
- Mais tarde foi incorporada a variável ambiental estabelecendo o Conselho de Arquitetura,
Urbanismo e Meio Ambiente – Cauma
- Embora tenha sido criado com a intenção de ser um conselho com representação popular, há
quem diga que ainda há falhas em sua composição para que a representatividade possa ser
alcançada
- preservação ambiental
- diretrizes de planejamento
- ordenamento territorial
LEI DISTRITAL No. 5.027/66 - Código Sanitário do Distrito Federal
- preservação ambiental
- diretrizes de planejamento
- ordenamento territorial
- restrições sanitárias
DECRETO DISTRITAL No. 596/67
- Código de Edificações de Brasília
- Ainda que desatualizado e incorporando várias alterações e substituições, ainda serve como
referência para técnicos e profissionais
- diretrizes de planejamento
- ordenamento territorial
- regramentos urbanísticos
- institucional
DECRETO DISTRITAL No. 944/69 - Código de Edificações das Cidades-satélites - diretrizes de planejamento
161
INSTRUMENTO/ DATA OBJETIVOS/ DIRETRIZES/ RESTRIÇÕES NATUREZA
- ordenamento territorial
- regramentos urbanísticos
- institucional
PLANO DIRETOR DE ÁGUA, ESGOTO E
CONTROLE DA POLUIÇÃO DO
DISTRITO FEDERAL – Planidro (1970)
- Estabelece a capacidade de abastecimento de água e esgotamento sanitário para o Distrito Federal
- Restringe a expansão da mancha urbana legal na Bacia do Lago Paranoá e o número de habitantes
de acordo com a capacidade de suporte da bacia
- Foi um plano realizado levando em conta o crescimento urbano que já se observava
- preservação ambiental
- diretrizes de planejamento
- ordenamento territorial
- restrições sanitárias
LEI FEDERAL No. 5.861/72
- Desmembra a Novacap e cria a Terracap que passa a exercer as função de executor das atividades
imobiliárias do Distrito Federal
- Não logrou sucesso na tencionada desapropriação de 100% do território ou de contenção da
especulação imobiliária
- diretrizes de planejamento
- ordenamento territorial
- institucional
ARTIGOS 1.140 A 1.143 DO CÓDIGO
CIVIL
- Estabelece, nos imóveis adquiridos da Terracap, a obrigatoriedade de construir
- Conter a especulação imobiliária
- ordenamento territorial
- regramentos urbanísticos
- jurídico/ tributário
DESAPROPRIAÇÃO
- Monopólio Estatal da Terra
- A falta de capital e os entraves jurídicos prejudicaram o processo que ainda hoje não foi concluído
- ordenamento territorial
- jurídico/ tributário
DECRETO No. 2.739/74
- Normatiza o uso, a concessão, a distribuição e o arrendamento de terras na área do Distrito
Federal
- Estabelece um zoneamento dividindo o território em área rural, áreas destinadas às cidades-
satélites e áreas inseridas no “anel sanitário” (EPCT)
- diretrizes de planejamento
- ordenamento territorial
- regramentos urbanísticos
PROGRAMA ESPECIAL PARA A
REGIÃO GEOECONÔMICA DE
BRASÍLIA – Pergeb (1974)
- Controla a migração excessiva ao fortalece pólos secundários do entorno
- Busca fomentar o desenvolvimento regional em todos os sentidos, mas preservando Brasília
- institucional
SISTEMA CARTOGRÁFICO DO
DISTRITO FEDERAL – Sicad
- Normatiza a base oficial para todas as atividades relacionadas a projetos e programas de controle
do uso do solo
- Integra o Sistema de Planejamento do Distrito Federal
- Alguns órgãos até hoje não o utilizam prejudicando determinadas ações
- Institucional
- rormatização de procedimentos
- Informacional
DECRETO No. 4049/ 78
PLANO ESTRUTURAL DE
ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL DO
DISTRITO FEDERAL – Peot/ DF (1978)
- Buscava a integração com o II PND (comentado no Capítulo I)
- Propunha alternativas de ocupação territorial
- Ordenava a ocupação do território do Distrito Federal e estabelecia o sistema de planejamento
- Fornecia diretrizes para a o zoneamento
- diretrizes de planejamento
- ordenamento territorial
- institucional
DECRETO No. 88.940/ 83
- Cria a APA da Bacia Hidrográfica do Rio São Bartolomeu
- Cria a APA da Bacia do Rio Descoberto
- Proteção dos recursos Hídricos, especialmente mananciais de abastecimento
- Determina a realização do zoneamento das APA´s
- diretrizes de planejamento
- ordenamento territorial
- preservação ambiental
GRUPO EXECUTIVO PARA
ASSENTAMENTO DE FAVELAS E
INVASÕES – Gepafi (1982 a 1985)
- Levantou e cadastrou várias invasões e detectou a existência de 70.000 pessoas em condições de
submoradia no Distrito Federal durante seu tempo de duração
- Propôs algumas ações divididas em três alternativas: urbanização da área, transferência da
- ordenamento territorial
- regramentos urbanísticos
162
INSTRUMENTO/ DATA OBJETIVOS/ DIRETRIZES/ RESTRIÇÕES NATUREZA
população para áreas alternativas ou transferência para áreas previstas no Peot
CRIAÇÃO DE CIDADES-SATÉLITE E
NOVAS ÁREAS URBANAS
- Atender à demanda habitacional
- Cria a cidade-satélite de Samambaia
- Cumpre o estabelecido no Peot ao criar o Bairro de Águas Claras, em Taguatinga – dentro do
Anel Sanitário definido no Planidro e na Bacia do Córrego Vicente Pires
- ordenamento territorial
- política habitacional
GRUPO EXECUTIVO PARA
ASSENTAMENTO DE FAVELAS E
INVASÕES – Gepafi (1982 a 1985)
- Levantou e cadastrou várias invasões e detectou a existência de 70.000 pessoas em condições de
submoradia no Distrito Federal durante seu tempo de duração
- Propôs algumas ações divididas em três alternativas: urbanização da área, transferência da
população para áreas alternativas ou transferência para áreas previstas no Peot
- ordenamento territorial
- regramentos urbanísticos
PLANO DE ORDENAMENTO
TERRITORIAL DO DISTRITO FEDERAL
– POT (1985)
- Propõe o macrozoneamento em função do uso
- Corrobora diversas definições do Peot
- Não foi oficialmente aprovado, tendo sido dificultada a sua implementação
- diretrizes de planejamento
- ordenamento territorial
NORMAS DE EDIFICAÇÃO USO E
GABARITO – NGB (1985)
- Define regulamentos e normas para o uso e ocupação do solo
- Há muitas NGB´s em uso, muitas vezes conflitantes
- Os PDL´s podem disciplinar melhor as questões no nível local
- regramentos urbanísticos
- ordenamento territorial
LEI DISTRITAL No. 7.456/86
- Transforma o CAU em Cauma
- Aumenta o número de Conselheiros
- Finda por ser substituído pelo Coplan em 1992
- ordenamento territorial
- regramentos urbanísticos
- preservação do patrimônio
- preservação ambiental
DECRETO No. 12.898/90
DECISÃO Cauma No. 31/86
- Estabelece o Plano de Ocupação e Uso do Solo – Pouso
- Ajustam as propostas do POT
- Redefinem o zoneamento considerando a variável ambiental
- Cria uma base administrativa para as ações de planejamento
- Peca ao deixar de definir entre 86 e 90 os usos para cada zona que estabelece enfraquecendo as
ações de planejamento e conflitando com o Brasília Revisitada
- ordenamento territorial
- preservação ambiental
- institucional
DECRETO No. 10.829/87
DECISÃO Cauma No. 28/87
- Conhecido como Brasília Revisitada define novas áreas no Plano Piloto para fins habitacionais
- Das seis novas áreas para adensamento previstas, apenas a área do Sudoeste e o Projeto Quelc
(Quadras Econômicas Lúcio Costa) no eixo Plano Piloto - Taguatinga foram implantadas,
reforçando a tendência de ocupação do quadrante sudoeste
- diretrizes de planejamento
- ordenamento territorial
- institucional
PATRIMÔNIO CUTURAL DA
HUMANIDADE - Unesco
No. 445/ 87
- Preservação do conjunto urbano e arquitetônico de Brasília
- ordenamento territorial
- regramentos urbanísticos
- preservação do patrimônio
DECRETO No. 11.138/88
- Cria a ARIE Santuário de Vida Silvestre do Riacho Fundo - preservação ambiental
- ordenamento territorial
DECRETO No. 11.262/88
- Cria a Reserva Ecológica do Guará
- Preserva os recursos hídricos, áreas de recarga e afloramento, espécies raras e endêmicas
- preservação ambiental
163
INSTRUMENTO/ DATA OBJETIVOS/ DIRETRIZES/ RESTRIÇÕES NATUREZA
DECISÃO Cauma No. 105/89
- Cria o programa de Assentamento Populacional de baixa Renda do Distrito Federal
- Objetiva atender e reduzir a demanda por habitação para atender à população de baixa renda,
foram feitas 27 intervenções urbanas
- Cria e repassa lotes às famílias beneficiadas valendo-se de Termos de Concessão de Uso. Muito
poucas famílias permanecem nos lotes
- ordenamento territorial
- jurídico/ tributário
- política habitacional
DECRETO No. 12.055/89
- Cria a APA do Lago Paranoá
- Busca preservar o cerrado e as matas ciliares que protegem os mananciais que abastecem o Lago
- Não existe zoneamento, há problemas fundiários e de uso do solo
- preservação ambiental
LEI DISTRITAL 054/89
- Dispões sobre a regularização/ desconstituição de parcelamentos urbanos implantados na forma
de condomínios ou loteamentos
- Levava em conta para a regularização o custo social do projeto e as condicionantes ambientais,
- Determina que na impossibilidade de regularização os parcelamentos deveriam ser
desconstituídos
- Tencionava conter a proliferação de parcelamentos irregulares na s APA’s
- ordenamento territorial
- jurídico/ tributária
- regularização fundiária
DECRETO No. 13.059/91
- Estabelece o Código de Obras e Edificações de Brasília – COE
- Disciplina e aprova procedimentos relacionados com as edificações e processos de fiscalização
- O COE – DF, em fase de discussão, deve substituir o COE - Brasília e o COE – RA´s
- ordenamento territorial
- regramentos urbanísticos
- normatização de procedimentos
LEI No. 385/92
DECRETO No.13.573/91
DECISÃO No.124/91
- Projeto Bairro Águas Claras
- Atendimento à demanda habitacional da classe média (demanda estimada em 162.000)
- Busca ordenar a ocupação no eixo polarizador representado pela linha do metrô
- política habitacional
- ordenamento territorial
- planejamento territorial
LEI DISTRITAL No. 353/92
- Estabelece o Plano de Ordenamento Territorial do Distrito Federal – PDOT
- Consolida os diversos planos existentes anteriormente
- Estabelece os instrumentos de controle e as formas de integração dos diversos órgãos que cria,
voltados ao ordenamento do uso e ocupação do solo, como os Conselhos Locais de Planejamento
- Transforma o Cauma em Conplan e cria o Instituto de Planejamento Urbano e Territorial do
Distrito Federal – IPDF e o Sistema de Informações Territoriais e Urbanas do Distrito Federal -
Siturb
- diretrizes de planejamento
- ordenamento territorial
- regramentos urbanísticos
- institucional
DECRETO No. 14.422/ 92
- Cria a Estação Ecológica do Jardim Botânico
- Esta UC é uma das que compõem a zona nuclear da reserva da biosfera do cerrado
- ordenamento territorial
- preservação ambiental
LEI 245/92
- Dispõe sobre a exigência da autorização legislativa para alteração das normas de edificação,
zoneamento e áreas públicas
- Interfere no andamento habitual de projetos que poderiam prescindir desta exigibilidade
- institucional
LEI ORGÂNICA DO DISTRITO FEDERAL
(1993)
- Organiza o exercício dos três poderes no Distrito Federal
- Busca o fortalecimento das instâncias democráticas
- Atribui ao legislativo o poder de estabelecer regramentos para o uso e ocupação do solo, mudança
de destinação de áreas e parcelamentos
- Gerou conflitos no processo de planejamento integrado pela falta de articulação entre o Executivo
e o Legislativo
- institucional
DECRETO No. 14.778/93 - Cria a Secretaria Especial para o Desenvolvimento do Entorno no intuito de buscar o - institucional
164
INSTRUMENTO/ DATA OBJETIVOS/ DIRETRIZES/ RESTRIÇÕES NATUREZA
planejamento regional integrado
- Estabelece articulação institucional com o Governo de Goiás e o Governo de Minas Gerais
LEI DISTRITAL No. 512/93
- define a Política de Recursos Hídricos do Distrito Federal e Institui o SIGRH/DF
- Há a necessidade de maior aprofundamento dos estudos e estabelecimento de critérios para a
concessão de outorgas
- política ambiental
- diretrizes de planejamento
- institucional
LEI No. 441/ 93
- Flexibiliza e Amplia o uso dos lotes nas cidades satélites provocando mudanças na dinâmica
urbana
- Deve ser levada em conta na elaboração dos PDL’s
- ordenamento territorial
- regramentos urbanísticos
- política social
DECRETO No.14.592/ 93
- Cria o Sistema Integrado de Vigilância do Uso do Solo – SIV-solo
- Estabelece as competências para a fiscalização dos parcelamentos clandestinos e a invasão de
áreas públicas
- ordenamento territorial
- institucional
DECRETO No.16.142/94
- Cria o Parque Areal
- Busca promover a recuperação de área degradada e servir como área de lazer e atividades à
população
- preservação ambiental
- regramento urbanístico
LEI No. 742/ 94
- Define os limites, funções e gestão da Reserva da Biosfera do Cerrado
- É parte do Programa MAB/ Unesco
- preservação ambiental
LEI NO. 759/94
- Dispões sobre a alienação de terras públicas rurais possibilitando a sua venda
- Essa lei não tem sido aplicada
- ordenamento territorial
- jurídico/ tributária
- regularização fundiária
LEI 954/ 95
- Possibilita a venda de lotes públicos ocupados de modo irregular
- Condiciona a venda à integração dos lotes ao programa habitacional de interesse social
- ordenamento territorial
- jurídico/ tributários
- política social
- regularização fundiária
LEI 992/ 95
- Revoga a Lei No.54/89
- Estabelece procedimentos para a agilização de parcelamentos urbanos
- Contraria normas do IPDF
- ordenamento territorial
- institucional
- regramentos urbanísticos
- regularização fundiária
DECRETO No. 17.057/95
- Estabelece procedimentos para promover a desapropriação amigável de terras desapropriadas em
comum com terras particulares
- Agiliza os processos de desapropriação
- regularização fundiária
- jurídico/ tributários
DECRETO No. 16.290/ 95 - Estabelece medidas emergenciais para coibir a a ocupação irregular de terras públicas - ordenamento territorial
DECRETO No. 16.281/ 95
- Altera a estrutura do SIV-solo
- Delega competências à Delegacia Especial do Meio Ambiente
- institucional
DECRETO No. 17.261/ 96
- Dispõe sobre a tramitação conjunta de processos de parcelamento do solo
- Inclui-se nesse caso a área conhecida como Vicente Pires, cujo estudo urbanístico estava em fase
de contratação quando da realização do levantamento do Ipea
- normatização de procedimentos
- regularização fundiária
- política habitacional
DECRETO No. 17.504/ 96
- Cria o Grupo Executivo de Trabalho (Getra)
- Busca coordenar ações de governo para a regularização ou desconstituição de parcelamentos
- institucional
- regularização fundiária
165
INSTRUMENTO/ DATA OBJETIVOS/ DIRETRIZES/ RESTRIÇÕES NATUREZA
LEI No. 1.171/ 96
- Revogou a Lei no. 697/94 ( não incluída na tabela por não ter sido aplicada)
- Dispõe sobre a concessão de alvarás de funcionamento para áreas legais e ilegais a título precário,
simplificando os procedimentos
- regramentos urbanísticos
- ordenamento territorial
- política social
- jurídico/ tributário
LEI No. 1.172/ 96
- Simplifica a concessão do habite-se
- Contraria normas do CREA que dispõem sobre o exercício profissional, dispensa a ART para
habitações populares unifamiliares
- regramentos urbanísticos
- jurídico/ tributária
- política social
DECRETO No. 17.454/ 96 - Delega atribuições às Administrações Regionais - institucional
LEI No. 1.170/ 96
- Possibilita a cobrança pelo acréscimo de potencial construtivo de terrenos
- O potencial construtivo deverá ser estabelecido nos PDL’s e leis específicas
- jurídico/ tributária
RESOLUÇÃO No. 200 DO CONSELHO DE
ADMINISTRAÇÃO DA TERRACAP(1996)
- Substitui a cláusula de retrovenda nos contratos da Terracap pela obrigação de fazer - jurídico/ tributária
LEI COMPLEMENTAR No. 15 /96
- Dá nova redação ao Decreto-lei No. 82/ 66 que consolida a legislação que regulamenta o IPTU
- Não logra sucesso ao tentar instituir o IPTU progressivo
- Busca promover a utilização adequada do solo, atenuando a especulação imobiliária e
aumentando a arrecadação
- jurídico/ tributário
LEI No. 2725/01
- Cria o Sistema de Gerenciamento dos Recursos Hídricos do Distrito Federal
- Institui a Política Distrital de Recursos Hídricos
- Prevê, além dos cinco instrumentos discriminados na Lei Federal, a criação do Fundo de Recursos
Hídricos
- diretrizes de planejamento
- institucional
- preservação de mananciais
LEI No. 17/97
- Define o Plano Diretor de Ordenamento Territorial
- Cria os Planos Diretores Locais – PDL´s
- Articula as políticas setoriais
- Flexibilizam o uso da terra
- Atualiza o macrozoneamento
- Institui instrumentos de política urbana mas propicia a regularização de diversos parcelamentos
urbanos
- Permite maior autonomia das Cidades-satélites
- Estabelece a Outorga Onerosa da Alteração de Uso
- ordenamento territorial
- diretrizes de planejamento
- institucional
- jurídico/ tributário
LEI No. 2725/01
- Cria o Sistema de Gerenciamento dos Recursos Hídricos do Distrito Federal
- Institui a Política Distrital de Recursos Hídricos
- Prevê, além dos cinco instrumentos discriminados na Lei Federal, a criação do Fundo de Recursos
Hídricos
- diretrizes de planejamento
- institucional
- preservação de mananciais
LEI No. 3365 /04 - Cria a Agência Reguladora de Águas e Saneamento do Distrito Federal - ADASA
- institucional
- preservação de recursos
ambientais
Fonte: Pimentel (2005)
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