do espeto, aí deixou de mão. Mas lá teve vários picos de break, tem o Radial, fica na
Zona Leste, tem o Clube da Cidade, fica no centro. (Lagartixa, Kães de Rua)
144
O break estabeleceu novas formas de sociabilidade, fulano é do grupo tal, cicrano é do
outro grupo, são conhecidos pelos nomes, transformam-se em história construída por eles
mesmos. Buscar valorização e reconhecimento tanto no grupo que participam, quanto
externamente faz parte do processo:
O Lagarto para mim é a lenda do Hip Hop, foi para mim o maior dançarino, dos
caras que eu conheci pessoalmente, para mim ele ficou na história, nunca vou ver
ninguém para dançar que nem ele dançou, veio a evolução, mas ele dançava
demais. Eu vi ele dançando de cabeça, foi o primeiro a dançar em Goiás. (Black
Man)
145
Para mostrar que em Goiânia havia B. boys Lagartixa procurou estabelecer o
intercâmbio com São Paulo:
(...) Em 93 eu levei o Jean, o Neneca, o Jabu, o Paulinho Mola, lá no Silvio Santos,
lá no Gugu, foi quando o Jean e o Neneca travavam o Flare, eles começaram a
travar o Flare, e ninguém fazia, ninguém aqui em Goiânia fazia isso, nem Goiânia,
nem nos Estados Unidos, não fazia isso. 93, em 92 eles já faziam já. 93 eu falei para
eles, oh, tem o maior encontro de B. boy aqui em São Paulo, 93, lembro como se
fosse hoje, o Thaíde falou assim para o Neneca assim: Ô Neneca, faz o salto aí de
novo. Neneca foi correndo fez o salto parafusado e tirou a camisa. Aí ele falou
assim: Nó mano, tirou a camisa no salto. Ele falou: Não! Tem muita coisa, muita
coisa mesmo... Aí que os caras foram ver que aqui em Goiânia tinha cara bom,
entendeu? E que os caras daqui de Goiânia foram ver que tinha os caras bons. Aí o
pessoal, todo mundo, começou a dançar. (Lagartixa, Kães de Rua)
146
Para os B. boys de São Paulo, era incrível existir break na “roça asfaltada”. Epíteto
usado para denominar Goiânia, demonstra uma visão urbana que vê o mundo rural como
inferior. O depoimento de Dj Cenzala sobre a viagem dos irmãos para São Paulo demonstra
como se difundiu por aqui a incursão dos goianos em São Paulo:
(...) aconteceu no Gugu, foi o Jean, Neneca, do Eletro Break, o nome do grupo
deles, eles foram pra lá, pra apresentar, não sei se você lembra, tava tendo, um...
tipo uns campeonatinho lá, e quem ganhasse ia ganhar um dinheiro lá, cê
entendeu? E eles se interessaram, fizeram a inscrição e foram sorteado e foram pra
lá. Só que o pessoal de lá pensava que aqui nem existia break, só que os cara daqui
estavam melhor que os cara de lá, por que aqui era um vício, era na veia mesmo,
sabe? Um vício mesmo. E daí chegaram lá, dançaram, ganharam, foram... ficaram
classificado e depois dançaram em outro, ganharam. Aí o pessoal da rádio começou
a crescer o olho aqui, né? Ah, em Goiânia tem break, Goiânia tem break... porque o
pessoal de lá chamava a gente daqui de da roça, né? Ah, naquela roça asfaltada lá
num tem break não. Aí o pessoal daqui, pessoal tudo humilde, foram treinando,
treinando, até dar essa época. Né? Como diz o outro: tudo tem a época certa. Então
144
Entrevista em 2 de fevereiro de 2007.
145
Rapper paulista, hoje residente em Senador Canedo. Não foi entrevistado mas deu o depoimento durante a
entrevista com Lagartixa.
146
Idem.