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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS GRADUADOS EM
PSICOLOGIA SOCIAL
Fernando Albregard Cassas
Contribuições da Análise do Comportamento
ao Estudo do Comportamento Político
MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL
SÃO PAULO
2007
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS GRADUADOS EM
PSICOLOGIA SOCIAL
Fernando Albregard Cassas
Contribuições da Análise do Comportamento
ao Estudo do Comportamento Político
MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL
Dissertação apresentada à Banca
examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção do título de Mestre em
Psicologia Social sob orientação do Prof.
Doutor Salvador A. M. Sandoval
SÃO PAULO
2007
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Banca Examinadora
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Aos meus pais,
por tudo o que fizeram
por mim…
Agradecimentos
São tantas as pessoas que gostaria de agradecer que não sei se
conseguirei, mas vamos lá…. Se não tiver te mencionado, desculpe mas de
fato são muitas pessoas.
Já são mais quatro horas da manhã… li uma vez nos agradecimentos de
uma tese que o autor escrevia com o sol nascendo. Na época pensei ‘nossa
como alguém pode fazer isso’. Hoje entendo. Este é um processo tão intenso
que só o silencio da madrugada pode trazer paz necessária um processo como
este. Optei por colocar aqui todas as pessoas que de alguma maneira
estiveram presentes nestes anos, que ajudaram na pesquisa, nas disciplinas,
nos cafés… E aqui abro espaço para contar que esta pesquisa não começou a
dois anos, mas sim a sete. Este, para mim é o fechamento de um processo que
começa com a graduação (e todas as suas ‘eras’) e termina aqui sete anos
depois com esta pesquisa que sintetiza tudo o que eu estudei neste tempo e
tentei aproximar.
A primeira pessoa é alguém muito especial, a mais. Ela apareceu a pouco
mais de um ano em minha vida e desde então sempre (sempre!) esteve
presente e ao meu lado. Como quem dizia ‘estou aqui e confio em você..
vamos juntos’. E de fato neste ultimo momento esteve ao meu lado 24h por dia
me ajudando, incentivando (e alimentando) não só com o computador, mas
com a sua presença que foi o principal para eu conseguir finalizar este
processo. É difícil, muito, expressar em palavras o que sinto, mas você em
pouco tempo se tornou a pessoa mais importante da minha vida! Amão você
Clau!
Outra pessoa que merece destaque aqui é o Salvador. Ele me ajudou e
muito ao longo de cinco anos. Desde a primeira pesquisa em 2002, da coleta
de dados, e aqui com este trabalho. Sempre comprou minhas alucinações
teóricas, juntou com todo o conhecimento que possui – que é vasto – e
concluía ‘sim, sim vamos por esse caminho, gostei disto, leia isto e mais isto…’.
Obrigado Salvador pela ajuda e pela presença, espero ter correspondido ao
investimento.
Sem dúvida uma pessoa que teve uma grande participação neste trabalho
foi o Roberto Banaco. Desde o primeiro dia do mestrado me incentivou a
prosseguir, com palavras muito importantes. Sem contar o incentivo para a
minha carreira, desde o grupo de supervisão até hoje. Obrigado mesmo
Roberto, muitos dos passos que dei e que darei em minha vida foram `culpa`
sua!
A Mônica Gianfaldoni, que também esteve presente como conselheira,
mesmo depois de formado sempre exigiu minha presença e ‘satisfações’ sobre
minha vida. Obrigado pelas conversas e conselhos.
A Amália, que ajudou muito a desenvolver esta pesquisa. Com uma
opinião clara e incentivadora sempre colaborou para minhas reflexões. Espero
ter correspondido a importância de sua ajuda.
A Téia pela ajuda no principio da mudança de tema.
A todos do Grupo de Questões Sociais, sempre disponíveis e atenciosos
as minhas tentativas em dirigir meu trabalho para uma conclusão.
A todos do Laboratório que muito me acolheram e permitiram que eu
ingressasse no vasto mundo teórico da Análise do Comportamento.
A Dinalva, Conceição e Marlene que sempre me ajudaram com toda a
parte formal do curso de mestrado, créditos, horas, documentos. Sempre
atenciosas e carinhosas.
Ao pessoal do mestrado: Felipe, Vanessinha, Shirley, Bárbara e Karen. O
pessoal do primeiro semestre Letícia, Breno, Flavia e todos!
A Ciça Vilhena que compartilhou dos momentos angustiantes deste
processo.
A todos do Núcleo Psicologia Política e Movimentos Sociais, em especial
aqueles que me aceitaram no grupo desde o começo ainda como graduando:
Soraia, Alessandro, Marquinhos, Marco Aurélio, Dreyf e todos os atuais.
Em muito devo agradecer alguns amigos próximos que colaboraram com
este processo e que dividiram todas as angustias e felicidades deste processo.
Mateus pelo constante companheirismo e pela ajuda com equipamento nesta
reta final. Ao Jazz por estar sempre presente e atencioso. Angelo e João com
os debates técnicos.
Ao Marcio pelas palavras sempre atenciosas e recentemente amigáveis.
A todos meus amigos que, mesmo nunca compreendendo exatamente o
que eu estudo mas sempre estiveram ao meu lado me ajudando a conduzir
este processo. Alguns muito a distância (Brunão, Kaxa e Davi), outros por perto
(Ale, Man, Zé) e todo mundo do PNB que colaboraram indiretamente com este
processo.
Ao CNPq pelo apoio financeiro que tornou esta pesquisa possível.
E, claro, aos meus avós!
É momento então de finalizar, minha vida conto qualquer dia. Vamos ao
tema, afinal é para isso que viemos!
Fernando Albregard Cassas: Contribuições da Análise do Comportamento ao
Estudo do Comportamento Político, 2007.
Orientador: Prof. Dr. Salvador Antonio Mireles Sandoval
Palavras chave: Psicologia Política; Comportamento Político; Análise do
Comportamento.
RESUMO
A literatura no campo da Psicologia Política tem se preocupado, em grande
parte, no estudo do fenômeno da Participação Política, tendo como dados os
participantes de uma ação coletiva. Porém, da mesma forma que existe um
grande número de pessoas participantes, existe também um número que não
ingressa no movimento social, uma camada da população que não adere ao
movimento. Sobre este tema há poucos estudos na literatura científica. Nosso
interesse é o questionamento acerca do que determina a participação política e
a não participação no Movimento Estudantil olhado através da lente da Análise
do Comportamento. Porém, aqui nos deparamos com um problema
metodológico. A Análise do Comportamento não aparece nas pesquisas em
Psicologia Política no Brasil, portanto é necessário que justifiquemos esta
escolha como válida. Por isso nosso objeto de trabalho será uma descrição
teórica de como podemos trazer a Análise do Comportamento para a
Psicologia Política, seguida por uma proposta de análise da participação e não
participação no movimento estudantil da PUC/SP como um exemplo de
aplicação desta metodologia. Levantamos alguns aspectos importantes:
primeiro deles é o fato de, ao analisar os dados, existe uma busca pelo
relacionar eventos para assim explicar um fenômeno; um segundo aspecto que
também merece ser comentado é a discussão que a Análise do
Comportamento traz sobre a validade do relato verbal como dado de pesquisa.
Em síntese, descrevemos aqui o que entendemos como a principal
contribuição que a Análise do Comportamento pode trazer ao estudo do
comportamento político. Esta perspectiva de compreensão do fenômeno
político enquanto um processo sucessivo e interrelacional de eventos, traz uma
perspectiva de historicidade ao evento e de relação entre indivíduo e ambiente
fundamental para a compreensão do comportamento político.
Fernando Albregard Cassas: Contributions of Behavior Analysis to the Study of
the Political Behavior, 2007.
Orientador: Prof. Dr. Salvador Antonio Mireles Sandoval
Key words: Political Psychology; Political Behavior; Behavior Analysis.
ABSTRACT
Literature in the field of Political Psychology has been worried, to a large extent,
about the study of the phenomenon of the Political Participation, having as data
the participants of a collective action. However, in the same way that a great
number of participant people exists, a number also exists that does not enter
the social movement, a layer of the population who does not adhere to the
movement. On this subject it has few studies in scientific literature. Our interest
is the questioning concerning about what it determines the political participation
and not the participation in the Student Movement, looked at through the lens of
Behavior Analysis. However, we come across with a methodological problem.
Behavior Analysis does not appear in research in Political Psychology in Brazil,
therefore it’s necessary that let us justify this choice as validates. Therefore our
object of work will be a theoretical description of how we can bring Behavior
Analysis for Political Psychology, followed for a proposal of analysis of the
participation and not participation in the student movement of the PUC/SP as an
example about the application of this kind of analysis. We raise some important
aspects: first of them it is the fact of, when analyzing the data, exists a search
for relating events thus to explain a phenomenon; as a aspect that also it
deserves to be commented is the quarrel that the Behavior Analysis brings on
the validity of the verbal story as given of research. In synthesis, we describe
here what we understand as the main contribution that the Behavior Analysis
can bring to the study of the political behavior. This perspective of
understanding of the phenomenon politician while a successive and interrelation
process of events, brings a historical perspective to the event and relation
between individual and basic environment for the understanding of the political
behavior.
Sumário
Introdução................................................................................................................. 01
Capítulo 1: Psicologia Política na Atualidade........................................................... 06
Capítulo 2: Análise do Comportamento e Psicologia Política: aproximações
teóricas.................................................................................................................... 16
Capítulo 3: Alguns Conceitos da Análise do Comportamento................................. 25
Método...................................................................................................................... 41
Resultados................................................................................................................ 46
Discussão................................................................................................................. 71
Bibliografia................................................................................................................ 76
Introdução
Um Início de Conversa
A literatura no campo da Psicologia Política tem se preocupado, em
grande parte, no estudo do fenômeno da Participação Política, tendo como
dados os participantes de uma ação coletiva. Isso quer dizer que ela busca um
olhar que caracterize, descreva e observe este fenômeno a partir dos
integrantes da ação coletiva. Exemplos disso podem ser: Ansara (2000), Da
Silva (2001), Hur (2003), Mesquita (2005; 2007), Lara (2004).
Porém, da mesma forma que existe um grande número de pessoas
participantes, existe também um número que não ingressa no movimento
social, uma camada da população que não adere ao movimento. Grupos que
não encontram motivação para atuar coletivamente. Este grupo representa
uma parte que podemos considerar também como um local de coleta de dados,
pois o que motiva estas pessoas a não ingressarem em uma ação coletiva
também é uma informação importante que nos ajuda a caracterizá-la.
Por isso, ao se analisar uma Ação Coletiva é interessante buscar,
também, as características da não-participação política. Com isso, possamos
compreender as variáveis da participação e também da não participação
política das pessoas frente à Ação. Sobre este tema há poucos estudos na
literatura científica, muito provavelmente por representar uma face do cenário
político pouco atraente ao pesquisador que se predispõe a analisar
movimentos sociais.
Um exemplo empírico deste foco de análise é um estudo realiazado
anterirormente sobre o Movimento Estudantil da PUC/SP. (Cassas, 2004). Este
trabalho teve como objetivo compreender por que razões o movimento, que em
outras épocas possuía uma participação intensa das bases, hoje é esvaziado.
A pesquisa tem como base dados obtidos através de: (1) entrevistas de
histórias de vida com antigas lideranças para reconstruir o histórico do
movimento; (2) entrevista de história de vida com liderança atual e observação
de reuniões para compreensão do momento atual do movimento; e (3)
questionários aplicados em alunos da Instituição para entender a opinião das
bases em relação à atuação das lideranças.
Através da análise dos dados obtidos foi possível perceber que, se por um
lado temos as lideranças que compreendem os estudantes desinteressados,
que buscam apenas sua própria realização (frases como “o estudante de hoje é
alienado e individualista” pode ser um bom exemplo da forma que as lideranças
compreendem as bases – os alunos), por outro lado temos os estudantes que
não concordam com as ações das lideranças e entendem que o movimento
hoje em dia se preocupa demais com questões da política nacional e
internacional, ao invés de lutar pelos direitos e benefícios dos estudantes junto
à própria Universidade.
Revela-se, portanto, um descompasso entre as posições. As lideranças
culpam as bases pela falta de participação e as bases (que estão fora do
movimento hoje em dia) culpam as lideranças.
Neste sentido, através da análise dos dois ‘lados’ do Movimento Estudantil
– participação e não-participação –, percebemos quais as variáveis que estão
envolvidas nas reuniões esvaziadas do movimento. Compreendemos também
que os estudantes não participantes pensam da atuação do movimento e,
assim, observamos o que realmente acontece dentro do movimento, ou seja,
quais os reais fatores implicados que resultam em uma baixa participação dos
estudantes da Universidade.
Assim, a intenção com a pesquisa foi compreender, através das
informações que obtivemos possíveis variáveis presentes e que determinam a
ação do estudante de aderir, participar, engajar-se ou não no movimento
estudantil.
Para este estudo utilizamos como base teórica de analise o Modelo de
Consciência Política de Sandoval (2001). Este modelo se propõe a analisar a
participação política classificando os dados obtidos dentro de sete categorias -
Identidade Coletiva; Crenças, valores e Expectativas Societais; Interesses e
Adversários Antagônicos; Eficácia Política; Sentimento de Justiça e Injustiça;
Disposição para Atuação Coletiva; e Objetivos e Ações do Movimento Social.
Estas categorias permitem uma organização dos dados de maneira que
seja possível levantar os tipos de variáveis que influenciam a participação de
um indivíduo em um coletivo. Dispondo, assim, os dados de maneira a
observarmos a organização de uma ação coletiva. Estão dispostas, assim, as
principais características que devemos observar para compreendermos de que
maneira se organiza um movimento social.
Um Objeto de Pesquisa
Descrita a análise acima, poderíamos caracterizar inicialmente o objeto
desta pesquisa como: variáveis que determinam a participação e não
participação política no Movimento Estudantil da PUC/SP a partir de dados
coletados no ano de 2003.
Porém, diferente da pesquisa anterior (Cassas, 2004), nossa proposta é
adaptar outro enfoque teórico e não utilizar o Modelo de Consciência Política.
Durante a parte da revisão de literatura encontramos um tipo de referencial
pouco trabalhado pela Psicologia Política brasileira, mas que parece ser
aplicável ao se pensar em variáveis determinantes da participação política. Um
referencial que procura descrever relações funcionais entre variáveis que
determinam comportamentos, um tipo de método que se baseia em uma
medição empírica para coletar dados de modo a pensar uma série de variáveis
que determinem os 'motivadores' da ação de um indivíduo segundo a Análise
do Comportamento de B. F. Skinner.
1
Nosso interesse continua sendo o questionamento acerca do que
determina a participação política e a não participação no Movimento Estudantil.
Porém, agora olhado através da lente da Análise do Comportamento. Porém,
aqui nos deparamos com um problema metodológico, sendo a Análise do
Comportamento um referencial que não aparece em pesquisa em Psicologia
Política no Brasil (como evidenciaremos mais a frente) é necessário que
justifiquemos esta escolha como valida. Por isso nosso objeto de trabalho será
uma descrição teórica de como podemos trazer a Análise do Comportamento
para a Psicologia Política, seguida por uma proposta de análise da participação
e não participação no movimento estudantil da PUC/SP como um exemplo de
análise.
1
Descreveremos ao longo desta Introdução todas as justificativas da escolha de uma
perspectiva pouco abordada pela Psicologia Política, no momento a idéia é apenas
apresentarmos a questão.
Sendo assim, nosso interesse de pesquisa ainda é a participação e não
participação política, porém ela estará explicitada através de um debate teórico.
A estrutura da dissertação seguirá uma lógica que imaginamos permitir
uma compreensão inicial da teoria da Análise do Comportamento, uma revisão
teórica de algumas pesquisas realizadas dentro deste tema, uma proposta
metodológica e uma discussão do que produzimos neste trabalho.
O capítulo 1 apresentaremos um debate que visa caracterizar nossa
compreensão de Psicologia Política bem como a maneira que que ela permite
uma abertura a Análise do Comportamento. Sendo assim, o capítulo está
dividido em duas partes: Psicologia Política: um debate e A Visão
Transdisciplinar da Psicologia Política: uma abertura à Análise do
Comportamento. Pensamos assim não esgotar o debate, mas sinalizar por qual
caminho teórico caminhamos.
No capítulo 2, apresentamos uma aproximações entre a Análise do
Comportamento e a Psicologia Política através da análise dos trabalhos de
Mills (1969), Hollander (1967), Homans (1974), Skinner (1953), Andery, Sério
(1999) e Andery, Sério e Micheletto (2005), Guerin (1992) e Sandoval (1989).
analisamos o trabalho de quatro autores que discutem possíveis métodos
para se compreender dados referentes a fenômenos sociais
2
na Análise do
Comportamento e que utilizaremos para nossa pesquisa: Keller e Schoenfeld
(1950), Skinner (1953), Glenn (1991), Andery, Sério (1999) e Andery, Sério e
Micheletto (2005).
No capítulo 3, estão descritos os principais conceitos da Análise do
Comportamento.
Em seguida o método descreve de que maneira iremos analisar os dados
das entrevistas realizadas na pesquisa anterior, o debate quanto a validade do
dado coletado via relato verbal e os esquemas teóricos que utilizamos para
analisar os dados.
À frente esta a análise das entrevistas com um exemplo deste tipo de
abordagem teórica.
2
Entendendo, assim, participação política como um fenômeno social e, por isso, possível de
ser avaliado pela ótica da Análise do Comportamento.
Esta dissertação finaliza com uma discussão da validade da proposta que
apontamos aqui bem como uma avaliação do processo desta pesquisa.
Capítulo 1
Psicologia Política na Atualidade
Um caminho que se fez interessante ao longo do desenvolvimento desta
pesquisa, foi o de retornar a alguns conceitos da Psicologia Política para
caracterizarmos nosso campo. Por isso, algumas palavras a respeito das
discussões presentes neste campo quanto a sua definição são necessárias
para podermos dialogar com a Análise do Comportamento.
Psicologia Política: um debate
O primeiro debate fundamental que devemos fazer é o que aponta para a
definição de Psicologia Política. Para tal levantamos dois autores que seguem
a mesma linha de raciocínio e apontam para a seguinte descrição: Psicologia
Política é um campo da Psicologia, um conjunto de conhecimentos científicos
que têm em comum descrever e explicar o comportamento político humano
(Dávila et al, 1998; Camino, 2001)
3
.
Esta é uma definição geral, mas que, segundo Camino (2001), é um ponto
de partida. Entendemos que Dávila et al (1998) aprofunda esta noção, dizendo
que este é um conjunto de conhecimento diverso e não passível de uma união
coesa. Isto ocorre por duas razões:
1. A diversidade nos marcos teóricos explicativos do comportamento
humano: neste sentido, dada a complexidade do fenômeno não
existe uma teoria unificada que o descreva por completo; e
2. Falta de definição concreta e partilhada do termo ‘comportamento
político’.
3
Esta definição geral – que aprofundaremos mais a frente –, mas para título desta
pesquisa a utilizaremos como central.
Ou seja, não é possível apontar uma única definição de comportamento
político por existir uma diversidade de marcos teóricos explicativos
4
.
Esta característica ainda esta relacionada a uma definição geral de
Psicologia Política, mas dentro deste campo de pesquisa existem algumas
resoluções para este conflito.
Uma possibilidade segundo Dávila et al (1998) é definirmos o que significa
comportamento político. Os autores apontam que é necessária uma divisão
entre o que é ‘político’ e o que é ‘comportamento’. No que se refere ao ‘político’
eles se referem a uma consulta nos manuais de ciência política mais atuais (a
saber, Roiz, 1980, Paniagua y Cotarelo 1987, Pasquino, Bartolini y otros 1988,
Ponton y Gill, 1982 apud Dávila et al, 1998) para agrupar os diversos modelos
(enfoques teóricos) em cinco categorias:
1. Legalista ou Formalista: compreensão da dimensão de política
como sendo a institucional, relacionada a ações do Estado;
2. Poder: compreensão de que política e poder são sinônimos e este
conceito mediaria todas as relações humanas;
3. Sistêmico: compreensão de que o funcionamento da sociedade é
dividido em pequenos sistemas inter-relacionados (definido por
suas funções na sociedade), entre eles existe o sistema político;
4. Político como ordem social: definição do político pela sua função
que é a de manter a ordem social com suas instituições
funcionando; e
5. Político como grupo: político como a definição da inter-relação
entre os grupos. Neste sentido, o grupo e suas relações é o
elemento superior de análise.
4
Em um paralelo, poderíamos pensar a Psicologia Política da mesma maneira que Figueiredo
(1992) define a Psicologia. Diz ele que a Psicologia é um espaço de dispersão onde inúmeras
formas de pensar o ser humano aparecem com métodos próprios, mas que todas elas
compõem um mesmo locus dentro do pensamento humano. (Para mais sobre este debate
consultar Figueiredo (1992); Kuhn (2002 [1962]) e Abib (1996)). Na Psicologia Política
entendemos que o mesmo acontece, existem inúmeras formas de se pensar comportamento
político e que possuem métodos próprios. Porém, todas elas fazem parte de um mesmo campo
de pesquisa.
A partir disto é necessário que se pense uma compreensão que integre
estas visões no sentido de produzir uma amplitude conceitual. Para isso, os
autores apontam que a noção de ‘político’ deve conter as seguintes
características:
1. Refere-se a um assunto que influencie em um coletivo amplo e pessoas,
assuntos de interesse público ou coletivo, até ações que tratem de um
impacto na ordem social;
2. Trata de ordenar, regular ou proibir algo ligado a toda a sociedade.
Trata-se do normativo, do que é regulado;
3. Distribuir, atribuir, mobilizar, extrair recursos ou produzir bens gerais e
serviços; e
4. Que existam distintas posições sobre as quais se pode optar.
Constituindo assim, uma caracterização a partir do tipo de ação que um
indivíduo pode realizar.
Os autores prosseguem a discussão definindo o que se entende por
comportamento. Dizem Dávila et al (1998) que comportamento é a ação que
uma pessoa realiza composta por fenômenos fisiológicos, emocionais,
cognitivos e comportamentais que ocorrem simultaneamente a fenômenos
sociais e do ambiente externo ao indivíduo. Portanto, um indivíduo em relação
a um ambiente.
Pensando que vimos acima o ‘político’ definido por um tipo de ação de um
indivíduo, com essa definição de ‘comportamento’, podemos pensar que
comportamento político esta relacionado sempre a um tipo específico de agir
no mundo de um indivíduo.
Segundo os autores, unindo as duas definições teríamos a seguinte
afirmativa sobre comportamento político:
Entonces, el comportamiento político serán aquellas acciones
de las personas (fisiológicas, emocionales, cognitivas y
conductuales) que estén enmarcadas en los cuatro puntos
indicados que definen lo político, produciéndose a la vez que
esos comportamientos fenómenos sociales y ambientales
externos al individuo.
Assim, a definição de comportamento político se dá pela junção de
definições do que é comportamento e do que é político e, assim, indica para
uma definição de Psicologia Política:
Es un conjunto de conocimientos científicos, desarrollados y
transmitidos por una comunidad que se autodenomina
psicólogas y psicólogos políticos y que están reconocidos
socialmente como tales, que tienen en común pretender
describir y explicar el comportamiento político humano;
entendiendo por comportamiento político aquellas acciones de
las personas (fisiológicas, emocionales, cognitivas y
conductuales) que :
1. Influyen en un colectivo amplio de personas, en asuntos de
interés públicos o colectivos (sin que los intereses se definan
exclusivamente por una de las partes), acciones que traten de
impactar o impacten en el orden social.
2. Ordenan, regulan o prohiben algo vinculante para toda la
sociedad, esté situado ese algo en el terreno de lo social, lo
económico, lo ideológico o lo cultural o en cualquier otra esfera.
Se trata de fijar normas, de reglar.
3. Distribuyan, asignen, movilicen o extraigan recursos, o
produzcan bienes y servicios generales.
4. Tengan comportamientos alternativos, distintas opciones o
planteamientos sobre los que se debe hacer.
Produciéndose a la vez que esos comportamientos fenómenos
sociales y ambientales externos al individuo.
Entendemos por Psicologia Política, então, um campo de pesquisa que se
preocupa com o estudo do comportamento político e, por comportamento
político, um tipo especial de agir de um indivíduo sobre um ambiente (um tipo
de agir que implique em intervir em um coletivo, ou fixar normas e regras, ou
uma produção/extração de recursos ou serviços, ou ainda ações alternativas
ao que é normativo).
Uma outra discussão existe na área é a levantada por Prado (2001). Ele
aponta que para definirmos comportamento político é importante que olhemos
para a história de surgimento deste fenômeno como objeto de pesquisa.
Diz ele que a partir do final do século XIX, palco do que ele descreve
como rupturas sociais
5
(consolidação da sociedade industrial) fenômenos
descritos como ‘massas’, ‘classes sociais’, ‘multidões’, ‘ações coletivas’
começaram a ser objetos de pesquisa. Autores como Le Bon (1895), Sighele
(1892) e Tarde (1892) (apud Prado, 2001) trouxeram para as Ciências Sociais
e Humanas este tipo de preocupação. Em um momento onde as manifestações
públicas começavam a aparecer em grande escala, elas passam a ser alvo de
estudos e análises.
Neste tipo de análise está presente um reconhecimento da existência de
uma desigualdade social, no momento em que “relações de subordinação
tornam-se relações de opressão e puderam constituir-se em antagonismos
sociais, rejeitando qualquer legitimidade da naturalidade nas hierarquias
sociais.” este campo passou a merecer estudos científicos que procurassem
analisar tais fatos. (Mouffe, 1988 apud Prado, 2001).
Pois, a partir da constituição de um grupo (o que o autor define como
NÓS) surge um fenômeno, com determinações e funcionamento próprio.
Neste sentido, para esse autor Psicologia Política é,
5
A intenção aqui não é aprofundar tal discussão, mas sim descrever sua existência e a
compreensão de que o surgimento do capitalismo proporcionou grandes mudanças no estudo
do ser humano. Para mais ler Prado (2001) e Hobsbawn (2004[1977]).
“um estudo das condições (...) que são necessárias para a
constituição de uma identidade coletiva – NÓS – baseada na
diferenciação de um elemento exterior.” (Prado, 2001 pp. 154)
Esta definição mostra que o objeto da Psicologia Política deve ser definido
como as condições de criação de um NÓS. Mais uma vez esta presente a idéia
da definição de Psicologia Política como uma análise de um tipo específico de
agir de um indivíduo sobre um coletivo.
Além disso, temos um outro elemento que vem sendo debatido no campo
da Psicologia Política e que é importante descrevermos. Sandoval (1997)
aponta que, segundo a Sociologia e a Política, a ordem causal do
comportamento político estava relacionada à forças e estruturas sociais e,
neste sentido, duas abordagens teóricas deterministas delimitavam tal
pressuposto: o estruturalismo e o categorialismo.
O estruturalismo determinista compreendia que o comportamento político
seria determinado pelas estruturas sócio-econômicas sustentadas pela difusão
de uma ideologia dominante. Neste sentido, o indivíduo estaria subjugado às
explicações construídas pelas camadas dominantes da sociedade. Ou seja, um
indivíduo que é sujeito a uma determinação do social.
No categorialismo, o comportamento político estava relacionado às
determinações provenientes das categorias sociais. Ou seja, o comportamento
político do indivíduo se estabeleceria de acordo com a categoria social a qual
pertencesse (categoria social definida aqui, pela raça, idade, gênero, idade
etc.). Sendo assim, o grupo social estaria determinando o comportamento do
indivíduo.
Contrariando esta linha, na Psicologia Social começa uma reação que
consolida formas de estudo que privilegiavam a sobreposição do indivíduo
sobre o meio social.
Por isso podemos pensar que o estudo do comportamento político pode
ser compreendido neste âmbito de uma determinação do indivíduo sobre o
coletivo e uma determinação do coletivo sobre o indivíduo. Já na Psicologia
Política o que acontece é que:
“Sem um conhecimento sólido sobre os mecanismos que
operam a nível individual, as teses marxistas de amplo alcance
sobre as macroestruturas e as mudanças de longo prazo são
condenadas a permanecer como especulações (Elster, 1989:
164-5)” (Sandoval, 1989, pág. 128)
Ou seja, o estudo do comportamento político não pode passar pelo crivo
único e exclusivo de uma sentença do tipo: determinação do indivíduo sobre o
coletivo ou uma determinação do coletivo sobre o indivíduo, o que ocorre é
uma pesquisa de nível amplificado onde se estuda relações entre indivíduos e
de que maneira isto produz o fenômeno em questão. Esta aqui, uma visão de
que existe uma interrelação entre indivíduo e coletivo e de que é ela que deve
ser estudada.
Esta visão aumenta a noção de que o campo da Psicologia Política é um
campo amplo e que permite a utilização de métodos diferentes ao se olhar o
objeto.
Interessante notar que os debates aos quais nos referimos neste capítulo
acerca da definição de Psicologia Política partem de caminhos diferentes para
chegar em um local semelhante. A idéia de que para estudar comportamento
político devemos estudar um tipo específico de ação de um indivíduo em um
coletivo. Um agir relacionado com uma modificação em um grupo de pessoas.
Os autores que citamos acima, apontam para uma definição de Psicologia
Política onde alguns elementos são levados em consideração: o que se
entende por político e por comportamento como no caso de Dávila et al (1998),
ou a noção histórica que Prado (2001) traz. Porém, como apontamos
anteriormente, a nossa compreensão de Psicologia Política é a que a
caracteriza como uma área de conhecimento e não uma perspectiva teórica
estrita
6
. Ou seja, uma disciplina, um campo de pesquisa e não um olhar
definido. A Psicologia Política se preocupa com o estudo do comportamento
6
Um elemento que pode parecer confuso é o que chamamos de campo de pesquisa.
Entendemos campo de pesquisa como algo com um objeto próprio, mas como diferentes
compreensões sobre este objeto, com diferentes metodologias. Uma compreensão teórica
seria a Análise do Comportamento por exemplo. Ela é uma forma de olhar o objeto da
Psicologia, porém com um método próprio.
político, ela não tem uma regra de como isto deve ser feito. Não existe uma
teoria ou método obrigatório, mas sim uma abertura a diversas abordagens
teóricas e metodológicas.
A Visão Transdisciplinar da Psicologia Política: uma abertura à Análise do
Comportamento
A partir do que foi discutido na seção anterior, é importante que
aprofundemos um debate que foi iniciado. Se for possível entender a Psicologia
Política como um campo sem uma teoria única, podemos entender que seu
olhar é Transdisciplinar. E isto é um elemento importante para o nosso trabalho
visto que estamos propondo uma visão de homem específica para a
compreensão do comportamento político. Este é o debate que tentaremos
aprofundar mais a frente.
A visão da transdisciplinaridade aqui é entendida como uma abordagem
que não se atenha a uma única forma de compreensão acerca do fenômeno,
mas um olhar que integre diferentes visões com o intuito de produzir uma visão
completa do fenômeno. Diz Sandoval (1997) a este respeito: “No entanto não é
mais possível pensar o estudo do comportamento político contido dentro de
muros disciplinares, uma vez que esta estratégia é míope.” (pág 18). E
continua:
Por esse motivo, o estudo do comportamento político e, mais
importante, o estudo das mudanças sociais seria no futuro um
campo de pesquisa transdisciplinar, na medida em que os
pesquisadores terão necessariamente que atravessar as
fronteiras disciplinares com facilidade na procura de respostas
para a análise do fenômeno. De fato, o comportamento
político sempre foi um campo transdisciplinar, só que
demoramos a reconhecê-lo. (pág. 18)
Neste sentido, a intenção é que, através de um olhar diversificado, seja
possível uma compreensão maior e mais completa do fenômeno
comportamento político. O autor justifica esta posição dizendo:
Ao meu ver, não há na natureza do comportamento político
fronteiras disciplinares. As divisões disciplinares somos nós
que traçamos. O fenômeno do comportamento político é
integrado em seus determinantes sociológicos e psicossociais.
(pág 18)
O que vai ao encontro do que Botello (1999) diz:
... la psicología política concibe a “los hechos” sin lenguajes
previos, ni correspondecias o equivalentes que restringen sus
limitaciones a “etiquetas conceptuales” caducas. (pág 23)
É uma linha de pesquisa que se foca em um objeto e este deve ser
pesquisado com o objetivo de descrever a maior quantidade de informações
que seja possível, sem necessariamente focar em uma fronteira teórica.
Por isso, é um campo que deve – por definição – se munir de um largo
ferramental teórico (no sentido de lançar mão de várias teorias) para olhar para
o comportamento político.
Dessa forma, nossa intenção aqui é trazer para nossa discussão sobre
Psicologia Política, uma teoria pouco trabalhada dentro do campo no Brasil. A
Análise do Comportamento, como já evidenciamos anteriormente, tem tido
pouca inserção dentro do campo do estudo do comportamento político. Assim,
se a Psicologia Política tem esta visão amplificada, se faz válido apresentarmos
um outro olhar, uma visão de homem, que dentre as várias teorias utilizadas na
Psicologia Política ela aparece pouco. Ora, se nossa proposta é apresentarmos
uma visão, não temos o intuito de produzir uma conclusão de algumas
abordagens com vistas a produzir síntese que Sandoval (1989) coloca, mas
propor uma discussão de quais contribuições uma teoria pouco trabalhada
neste campo pode trazer para o estudo do comportamento político.
Assim, os autores apresentados aqui nos permitem desenvolver uma
proposta de pesquisa em Psicologia Política tendo como base teórica a Análise
do Comportamento.
A abertura de uma discussão sobre a Análise do Comportamento na
Psicologia Política se faz interessante neste momento, pois fora do Brasil este
debate já acontece, como em número da Revista Internacional de Psicologia
Política que é dedicada exclusivamente a artigos que façam uma análise
comportamental de questões políticas. Já no Brasil esta questão é pouco
trabalhada, existe uma escassez de trabalhos que discutam este tema
especificamente.
Em uma rápida busca nos índices de todos os números da Revista
Psicologia Política da Associação Brasileira de Psicologia Política, observamos
que dos diversos temas abordados, não existe artigo algum que trate do estudo
do fenômeno da participação política sob a ótica da Análise do
Comportamento, ou mesmo qualquer estudo que envolva o referencial teórico
de Skinner.
Porém, nesta pesquisa ficou clara a existência de pesquisas que são
compreendidas dentro do campo da Psicologia Política e que utilizam alguns
referenciais teóricos: temas como Psicanálise e Política, contribuições da
Psicanálise para o estudo do Movimento dos Sem Terra, Teoria Crítica e
estudos sobre o Preconceito, Psicologia Social de George H. Mead e
Abordagem Discursiva de Michel Pêcheux e de Michel Foucault.
Neste sentido, percebemos que existe uma pluralidade de teorias que são
utilizadas para a compreensão de fenômenos políticos, mas a Análise do
Comportamento ainda não aparece como uma dentro desta diversidade,
justificando assim nossa proposta de pesquisa.
Capítulo 2
Análise do Comportamento e Psicologia Política:
aproximações teóricas
Como vimos no capítulo anterior, os trabalhos no Brasil em Psicologia
Política que possua a Análise do Comportamento como referencial teórico não
existem (tendo como base a Revista Psicologia Política – único periódico
existente no Brasil sobre esta temática), porém se voltarmos nosso foco para
fora do país é possível que encontremos algumas referências.
Em consulta a manuais de Psicologia Social, observamos que existem
três deles em que a Análise do Comportamento ou o nome de Skinner
aparecem: Mills (1969), Hollander (1967) e Homans (1974).
O livro de Mills (1969) se refere a um debate acerca da Psicologia Social
Experimental e seus possíveis métodos. Nos primeiros capítulos o autor traz
sua definição sobre ‘experimentação’ como sendo uma distinção entre
variáveis dependentes e independentes (pág. 409). Continua ele apontando
que a partir desta concepção devemos ter um cuidado extremo para montar
uma situação experimental para sabermos exatamente a forma que iremos
manipular as variáveis de maneira a produzir um dado fidedigno. Uma forma de
aumentar a chance do pesquisador constituir um bom set de pesquisa é o
estudo exaustivo de situações análogas que já foram produzidas no meio
científico. Neste ponto, cita Skinner como um experimentalista de referencia e
que deve ser amplamente estudado antes de qualquer tipo de produção de
pesquisa experimental em psicologia. Ou seja, Skinner aparece como uma
referência quando se fala em precisão na construção de uma situação
experimental.
No trabalho de Hollander (1967), durante uma discussão sobre as
diversas teorias que podem servir de base para coleta e análise de dados em
uma pesquisa em Psicologia Social, cita as Ciências do Comportamento
(Behavior Sciences).
Diz o autor a esse respeito:
...body of knowledge regarding certain describable conditions in
the human being and/or his enviroment which lead to certain
describables consequences in his actions, and in another sense
as techniques or methodologies which typify the conditions
leading to these consequences. (pág. 40)
7
O autor não cita que estas ‘Ciências do Comportamento’ são baseadas
em Skinner, porém a descrição que ele faz é muito semelhante a concepção
este autor traz sobre o homem.
Homans (1974) é o outro autor que faz referência a Ciência do
Comportamento (desta vez a de Skinner) como uma possibilidade de
explicação de um fenômeno social. Diz o autor que comportamento social é um
tipo de ação de um indivíduo em relação a um coletivo. Para analisarmos tal
fenômeno podemos utilizar Skinner como um autor para balizar nossa pesquisa
(formulação de um problema, delimitação de um objeto, coleta e análise de
dados).
Nessa pequena descrição, apontamos que na Psicologia Social – em sua
vertente experimental principalmente –, já a partir de 1969, Skinner aparece
como uma possibilidade teórica para o estudo em Psicologia Social.
Ao agruparmos algumas referências bibliográficas fomos capazes de
perceber que Skinner já foi incorporado como uma teoria possível dentro do
7
“corpo de conhecimento que considera certas condições descritíveis no ser humano e/ou seu
ambiente que levam a certas consequências descritiveis em suas ações, e por outro lado como
técnicas ou metodologias que tipificam as condições que levam as essas consequências.”
(tradução livre do autor).
estudo em Psicologia Social. Sendo assim, nosso esforço agora é de justificar
que Skinner pode ser utilizado dentro do campo da Psicologia Política.
Análise do Comportamento na Psicologia Política: um debate atual
Para justificarmos a idéia de que é possível aplicar o corpo de
conhecimento da Análise do Comportamento skinneriana para o debate sobre
comportamento político, é necessário que entendamos como o tema
‘fenômenos sociais’ vem sendo debatido na Análise do Comportamento.
Fenômenos Sociais como objeto da Análise do Comportamento
De início, é importante apontarmos que fenômenos sociais são objeto de
trabalho da Análise do Comportamento. Já em Skinner (1953) este tema
aparece (o trecho a seguir foi retirado de uma parte do livro Ciência e
Comportamento Humano que é dedicada ao estudo de indivíduos em seu
contexto sócio-cultural – quase um terço de toda a obra): “Propor uma
mudança em uma prática cultural, fazer tal mudança e aceitá-la são parte de
nosso objeto de estudo.” (Skinner, 1953 pág. 427), neste trecho o autor aponta
que seu objeto de pesquisa abarca uma análise, uma proposição e uma
modificação de uma prática cultural, ou seja, parte de seu trabalho esta
relacionado ao debate acerca do estudo de fenômenos sociais. Em outro
momento, Skinner (1953) escreve que ‘olhar para o indivíduo significa olhar
para o grupo e, compreender as variáveis do comportamento do indivíduo é
relacionado a compreender as variáveis do comportamento do grupo em que o
indivíduo esta inserido’. Neste sentido, existe uma noção de que dentro do
objeto de pesquisa da Análise do Comportamento está presente o estudo do
contexto do indivíduo e como acontecem suas ações no grupo, quais suas
variáveis de controle e como elas operam na determinação do comportamento
de cada indivíduo.
Outra evidência que pode justificar um fenômeno social como objeto de
pesquisa da Análise do Comportamento, aparece quando Skinner discute o
modelo de seleção por conseqüência:
“quando falamos em práticas culturais, as conseqüências
agem sobre o grupo e não mais (...) sobre o operante; em
outras palavras, não estamos mais lidando com as relações
selecionadoras entre resposta e suas conseqüências, mas sim
estamos lidando com “o efeito sobre o grupo”, efeito este
produzido pelo conjunto de comportamentos dos membros do
grupo. Este aspecto é destacado por Skinner quando ele mais
formalmente apresenta o modelo de seleção por
conseqüência; segundo Skinner (1981) o processo que
descreve a evolução de culturas : Começa, presumivelmente,
no nível do indivíduo. Uma maneira melhor de fazer uma
ferramenta, cultivar um alimento, ou ensinar uma criança é
reforçada por sua conseqüência (...) Uma cultura evolui
quando práticas que se originam desta maneira contribuem
para o sucesso do grupo praticante na solução de seus
problemas. É o efeito sobre o grupo (...) que é responsável
pela evolução da cultura (pág. 502) ”. (Andery, Micheletto e
Sério, 1999, pág. 151).
Esta discussão nos leva a pensar que, quando se discute o que controla
comportamento
8
, se discute cultura (terceiro nível de seleção), onde podemos
pensar que dentro de uma cultura está presente uma série de relações entre
indivíduos e que estas relações ajudam na determinação do comportamento de
cada um. Além do que Skinner define como filogênese (definido pela seleção
natural das espécies – 1º nível de seleção) e o nível ontogenético (definido pela
história de cada indivíduo – 2º nível de seleção). Neste sentido, entendemos
8
Por controle de comportamento, entendemos como sendo estímulos que são antecedentes
ou conseqüentes de uma resposta. Ver mais no Capítulo 3.
que ao se estudar o terceiro nível de seleção, também estudamos a relação
dos indivíduos em seus contextos grupais.
Além disto, se buscarmos obras referentes a este tema dentro da Análise
do Comportamento, encontramos diversos trabalhos: podemos citar, Skinner
(1972) com sua utopia Walden II, Skinner (1971) com O Mito da Liberdade,
Skinner (1974) em alguns capítulos do Sobre o Behaviorismo, Holland (1983)
em um debate sobre a Análise do Comportamento, Guerin (1994) com
Analyzing Social Behavior, Glenn (1991) Contingecies and Metacontingencies:
relations among behavioral, cultural and biological evolution, no Brasil algumas
produções como Todorov et al. (2005) Metacontingencias: comportamento,
cultura e sociedade, Andery et al. (2004).
Apontamos então que o estudo de fenômenos sociais está presente na
Análise do Comportamento. O leitor deve ter entendido que tal abordagem
discute e tem pesquisas a respeito de fenômenos sociais. Mas deve estar se
perguntando o porquê a escolha desta abordagem para a discussão da
participação política. E neste momento elencamos a seguir as justificativas
teóricas que sustentam nossa escolha.
Primeiramente analisaremos um trabalho publicado por Guerin (1992) que
descreve a Análise do Comportamento como uma teoria que explica o
fenômeno social, tema que vem sendo trabalhado na Psicologia Social. Neste
trabalho está presente uma discussão sobre o que significa conhecimento
socialmente construído para duas teorias na Psicologia Social e também para a
Análise do Comportamento, suas possíveis intersecções e separações.
A primeira é o Constucionismo Social de Gergen (1985 apud Guerin,
1992) e a segunda é a Teoria das Representações Socias de Moscovici (1984
apud Guerin, 1992).
A respeito de Gergen parece oportuno citar cinco características de sua
teoria que são descritas por Guerin. Entendendo que esta parte auxilia nossa
discussão. Diz ele que devemos entender o ser humano como relação entre
indivíduo e ambiente. Diz também,
1. Sua relação com o mundo não são necessariamente apenas com os
fatos atuais, mas nesta díade indivíduo-ambiente existe a interferência de
outras variáveis: o passado – o que foi vivido pelo sujeito –, a cultura onde
ele está inserido e a determinação biológica da espécie do indivíduo;
2. A realidade é um produto social que se dá por ações ativas entre
indivíduos em relação;
3. ‘A construção social está sujeita à própria construção social’, ou seja, o
desenvolvimento de práticas (linguagem, comunicação etc.) esta sujeita
às determinações que ela mesma produz no ambiente.
4. A compreensão de como acontece uma construção social está
diretamente relacionada com o tipo de atividade social que os humanos
realizam, ou seja, através do que os humanos fazem eles produzem o
sentido das ações; e
5. A produção de conhecimento está relacionada ao funcionamento da
linguagem, da comunicação.
Entendemos assim que no objeto de estudo do Construcionismo Social
esta inserida uma relação entre indivíduo e ambiente, ou seja a realidade só
existe quando esta díade esta presente.
Poderíamos aproximar estas características à uma perspectiva
comportamental. Seria o seguinte:
- No item 1, quando está explicita a idéia de que nossa relação com o
mundo está diretamente ligada a três fatores (biológico, história de vida e
cultural), ele se aproxima ao que Skinner define como os três níveis de seleção
do comportamento (biológico, ontológico e cultural);
- Nos itens 2 e 3, no momento em que ele descreve que o ambiente é
ativo, retroativo e construído pela relação dos indivíduos, ele também se
aproxima de uma idéia da análise comportamental, pois para a Análise do
Comportamento um indivíduo é produto e produtor de seu ambiente. A idéia de
que um indivíduo opera em um coletivo diz respeito a uma relação onde ele
modifica o ambiente e esta modificação retroage sobre ele modificando suas
ações futuras;
- No item 4, Gergen assume que o sentido que o humano dá às suas
próprias ações se constrói de acordo com os tipos de atividades que o próprio
indivíduo realiza ou realizou. Poderíamos aproximar tal concepção à idéia
comportamental de que o sentido que um indivíduo atribui a uma ação – um
comportamento –, está relacionado com o repertório que ele constituiu ao longo
de sua vida, ou seja, ele dará significado a ações se elas foram significativas
em algum momento da sua vida;
- No item 5 ele destaca a importância da linguagem para a produção de
conhecimento, para a Análise do Comportamento o Comportamento Verbal é
uma ferramenta que tornou possível a troca de experiências e a produção de
um conhecimento que é absolutamente humano
9
.
Já com Moscovici, segundo autor que Guerin (1992) comenta, o foco é
sobre as Representações Sociais. Segundo ele existe uma estrutura de
conhecimento que é transmitida e dividida por grupos de pessoas. Existe um
tipo de conhecimento a respeito de algum fenômeno que é produzido a partir
de uma compreensão coletiva e que por isso deve ser compartilhado entre as
pessoas. Neste sentido é algo que transcende o indivíduo e alcança o grupo.
Portanto, para se definir conhecimento deve-se entender a produção do
grupo e não apenas do indivíduo. Uma aproximação de tal concepção com a
análise do comportamento ficará clara após entendermos a concepção de
Guerin (1992) a respeito da produção de conhecimento.
O autor entende que na Análise do Comportamento o conhecimento está
relacionado a dois conjuntos de interação: knowing how e knowing that.
O conceito de knowing how está ligado a um tipo de saber que é
produzido pelo indivíduo na relação com o ambiente. No momento em que o
indivíduo passa por uma situação, ele ’aprende’ que se ele agir de determinada
forma terá um tipo de conseqüência. Sendo assim, ‘sabe’ como agir em uma
situação semelhante futura (em termos comportamentais diria-se que o sujeito
foi modelado pela contingência).
Já o knowing that, está relacionado ao tipo de conhecimento que é
transmitido, que é passado pelo grupo via linguagem (em termos
comportamentais, poder-se-ia dizer que se transmite conhecimento via
comportamento verbal – via regra), ou seja, que os indivíduos transmitem suas
9
Esta é uma proposta que entendemos como uma aproximação entre as duas áreas, fato que
da base também para o nosso problema de pesquisa.
experiências para outros indivíduos. Desta forma eles ‘sabem’ como agir em
uma situação futura por ter aprendido com o outro e não por ter passado pela
experiência.
Para Guerin (1992), é possível falar em construção social apenas no caso
do knowing that, pois é apenas ai que existe relação entre duas ou mais
pessoas e a partir disto que se constituí um conhecimento partilhado. No caso
do Knowing how o conhecimento é produzido pelo próprio indivíduo e não
necessariamente precisa ser passado, não constituindo assim um
conhecimento partilhado.
Se nos questionarmos agora qual a vantagem de trazermos a discussão
sobre fenômenos sociais da Psicologia Social (com um vasto campo de
produção científica) para a Análise do Comportamento, avaliamos que a
resposta não é algo pontual, mas traz uma reflexão o sentido de sinalizar que
se a Análise do Comportamento possui um instrumental para compreensão de
variáveis de controle dos comportamentos e que por comportamento entende-
se relação indivíduo-ambiente, por que não aplicar tal ferramental na tentativa
de compreensão da organização social? Segundo Guerin (1992), a Análise do
Comportamento vem há muito tempo desenvolvendo pesquisas relativas à
compreensão das varáveis de controle do comportamento verbal o que traz
escopo teórico importante para aplicarmos na análise de um fenômeno social.
Um outro fator é o que Guerin (1992) descreve como o fato das outras
abordagens trabalharem apenas com as conseqüências generalizadas do
comportamento verbal e deixam de lado muitas outras variáveis que
dimensionam o comportamento verbal de cada pessoa. Com o ferramental da
Analise do Comportamento, pensa-se que é possível descrever uma gama de
variáveis que interferem na relação entre os indivíduos e assim, até, propor
algum tipo de intervenção.
Posto isto, podemos pensar em uma aproximação de enfoques em
Psicologia Social à Análise do Comportamento e assim, uma proposta como
uma de análise de fenômenos sociais.
Em um segundo aspecto Sandoval (1989) aponta para uma análise mais
integrada e mais completa do funcionamento de um movimento social é
importante que se faça uma avaliação dos mecanismos que operam no nível
individual. Isto significa dizer que o estudo dos movimentos sociais deve olhar
também para o que acontece com o indivíduo. Ele faz referência a uma
passagem da macrossociologia (compreensão das estruturas sociais como
determinantes do comportamento do indivíduo – um olhar coletivo-indivíduo)
para a microssociologia (onde a determinação do comportamento individual
esta nas relações que cada um estabelece com seu meio – um olhar indivíduo-
coletivo). Diz ele que em uma compreensão macroestrutural das teorias
marxistas, o olhar está sobre o funcionamento da estrutura da sociedade e não
sobre o individuo e esta concepção não é suficiente para analisar o fenômeno
do comportamento político.
A Análise do Comportamento se mostra como uma ferramenta
interessante para cumprir esta tarefa. No momento em que se propõe a
compreender de que maneira um fenômeno social acontece, ela coloca seu
olhar sobre o funcionamento do indivíduo e assim compreender de que
maneira o grupo está atuante. A respeito disto Todorov et al. (2005) escrevem:
Mesmo olhando para o grupo, o foco principal sempre será o indivíduo”, assim
produzindo uma avaliação do grupo via indivíduo. A análise comportamental,
neste sentido, se coloca sobre o funcionamento do que poderíamos chamar,
em uma linguagem da psicologia social, de mecanismos psicossociais da
sociedade.
Concordando assim, pelo menos por este olhar, com o que Sandoval
(1989) aponta em seu artigo. Uma visão do individuo como um elemento
necessário para a compreensão da totalidade do funcionamento de um
coletivo.
Antes de prosseguir para o próximo capítulo é importante que sinalizemos
uma opção teórica que este trabalho adota. Acabamos de apresentar alguns
argumentos que fundamentam nossa escolha pela Análise do Comportamento.
Como mostramos no capítulo anterior existem algumas compreensões a
respeito deste termo, mas para a nossa pesquisa propomos que
comportamento seja o que Skinner define. Por isso quando a partir deste ponto
quando nos referirmos a comportamento estaremos utilizando a noção
skinneriana
10
.
10
Este conceito será explicitado no capítulo seguinte.
Capítulo 3
Alguns Conceitos da Análise do Comportamento
Dentro da Análise do Comportamento, o termo comportamento possui
uma definição diferenciada da que foi apresentada no capítulo 1. Como citamos
também será esta a definição que utilizaremos para analisar nossos dados. Por
se tratar de uma teoria que não existe produção na Psicologia Política no
Brasil, entendemos que uma descrição mais apurada desta teoria se faz
necessária. Por isso, alguns conceitos aqui descritos não serão utilizados em
nossa análise, mas possuem importância para a compreensão da teoria como
um todo.
A primeira noção importante de descrever é que quando descrevemos
um comportamento, entende-se que falamos da relação estabelecida entre o
sujeito e seu ambiente
11
. Segundo De Rose (2001), dentro de uma concepção
skinneriana, comportamento “refere-se à atividade dos organismos (animais,
incluindo o homem), que mantêm intercâmbio com o ambiente” (pág. 79). Não
existe comportamento isolado de um ambiente, da mesma forma que não é
possível analisar um ambiente sem estar em relação a um indivíduo. O foco da
análise deve ser a relação estabelecida.
Matos (2001), ao discutir o tipo de fenômeno que o comportamentalista
trabalha descreve esta noção citando a obra de B.F. Skinner The Behavior of
Organisms de 1938:
11
Ambiente entende-se por “conjunto de condições ou circunstâncias que afetam o comportar-
se, não importando se estas condições estão dentro ou fora da pele (Smith, 1983). (Matos,
2001, pág, 51)
Por comportamento, então, eu me refiro simplesmente ao
movimento de um organismo, ou de sua partes, num quadro
de referência fornecido pelo organismo ele próprio, ou por
vários objetos ou campos de força externos. É conveniente
falar disto como a ação do organismo sobre o mundo externo,
e é freqüentemente desejável lidar com um efeito mais do que
com o movimento em si mesmo. (Skinner, 1938, pág. 50)
Ou seja, comportamento é a atividade que o indivíduo realiza em
relação a um ambiente, somado com o tipo de efeito que esta ação provoca no
ambiente. Skinner ainda fala que é mais desejável, freqüentemente, olhar para
o efeito desta ação do que para o movimento em si. Este tipo de olhar pode
trazer mais respostas sobre um fenômeno do que olhar apenas para o
movimento.
Diz a autora ainda que o comportamento é uma função biológica do
organismo, como respirar, digerir etc., é parte de estar vivo. Porém, é uma
parte específica de ‘estar vivo’, é a parte que descreve a ação do organismo
naquele momento. É o desempenho do organismo no seu processo de
adaptação com o ambiente. Ou melhor: “interação com o mundo externo (...) é
a sensibilidade desse comportamento aos efeitos que produz no ambiente.
(pág. 51). Por isso analisa-se um organismo em suas ações e os conseqüentes
resultados.
Este tipo de relação pode ser de dois tipos: operantes e respondentes.
Na relação respondente uma resposta é eliciada por um estímulo, provindo do
ambiente. A ação do indivíduo ocorre a partir de uma ‘provocação’ do ambiente
em um esquema Estímulo (S) – Resposta (R).
A ocorrência deste tipo de relação tem importância para a
sobrevivência do organismo em questão. Ou seja, este tipo de resposta foi
seleciona em algum momento da existência desta espécie e a presença dela
tornou o organismo ‘individual’ mais adaptado a determinado ambiente e
conseqüentemente a prevalência de seus descendentes foi possível.
De Rose (1999) dá um exemplo:
R
Limão na boca Salivação
elicia
S
A presença do estímulo comida na boca elicia a resposta de salivação,
e esta resposta permitiu que de alguma maneira este organismo tivesse uma
digestão melhor do que outros organismos aumentando a sua chance de
sobrevivência.
Este tipo de resposta é denominada como um reflexo incondicionado,
ou seja, uma resposta inata. Porém, este tipo de relação pode ser também
condicionada ocorrendo na presença de estímulos associados a estímulos
incondicionados. Ele obedeceria um esquema do tipo:
Este tipo de relação entre o indivíduo e o ambiente tem relação direta
com a conseqüência que esta resposta produz. Ela teve uma relação no
passado, momento que condicionou esta resposta (sobrevivência da espécie,
por exemplo). Porém, no momento em que ocorre ela não possui relação
necessária com sua conseqüência. Além disso, ela obedece a um esquema de
probabilidade de ocorrência de 1, ou seja, sempre que o S for apresentado
ocorrerá a resposta – por isso se diz que o estímulo elicia a resposta. Diferente
do comportamento operante que tem uma forma de ser analisado via a
freqüência futura das respostas como veremos mais a frente.
O outro tipo de relação que pode ocorrer entre o organismo e o
ambiente é o operante. “Estes comportamentos, como diz B. F. Skinner,
modificam o ambiente e essas modificações no ambiente levam, por sua vez, a
modificações no comportamento subseqüente.” (De Rose, 1999, pág. 80) Ou
seja, existe uma resposta que opera no ambiente e este processo modifica o
comportamento que ocorrerá no futuro. Seguindo um esquema do tipo:
R
Limão na boca
Salivação
elicia
S
S
Som
Ou seja, existe um estímulo discriminativo (S
d
) que evoca uma
resposta (R) e produz uma conseqüência (C). Aqui sim a conseqüência que é
produzida pela resposta determinará a probabilidade futura desta resposta
ocorrer ou não.
Ainda segundo De Rose (1999), não existe uma única resposta que
ocorre duas vezes da mesma forma. Por exemplo, suponha que um humorista
emita um tipo de resposta (R) de contar piadas ao longo de sua vida (pág. 80).
Isso significa que:
Porém, ao longo de sua vida ele nunca contará uma piada exatamente
da mesma maneira, mudará uma palavra, o tempo de duração, as
características dos personagens etc. Neste sentido, dizemos que contar piadas
é uma classe de respostas e não uma única resposta. Ela é um conjunto de
respostas que possuem a mesma função. Isso significa dizer que ao serem
emitidas produzem a mesma conseqüência, ou, contar diferentes piadas ou a
mesma piada de diferentes formas fazem a platéia rir.
Assim, se a conseqüência que a resposta produz aumentar a
probabilidade de sua ocorrência no futuro, dizemos que ela foi reforçada, se a
conseqüência que a resposta produz diminui a sua probabilidade de
ocorrência, dizemos que esta resposta foi punida
12
:
12
Importante apontarmos aqui que o que determina se uma conseqüência é reforçadora ou
punitiva é a história de reforço que o organismo passou ao longo de sua vida e da vida de sua
espécie. Porém, a forma de observarmos a presença deste fenômeno é através da freqüência
da emissão da classe desta resposta no futuro.
S
d
R
C
S
d
R
C
Contar
piadas
Platéia Risadas
Se esta resposta tiver sua
probabilidade de ocorrência
aumentada no futuro,
podemos dizer que a
conseqüência que ela
produziu é reforçadora
S
d
R
C
Contar
piadas
Platéia Risadas
Isso significa dizer que uma conseqüência não é por si só reforçadora
ou punitiva o que determina se uma resposta foi reforçada ou punida é a
probabilidade de que esta resposta ocorra no futuro (o que pode ser medido
pela freqüência futura desta resposta). Para entendermos o valor de cada tipo
de conseqüência para um indivíduo devemos olhar para sua probabilidade
futura de ocorreria. Desta forma, podemos entender se risadas ou vaias são
estímulos reforçadores ou estímulos punitivos.
Por exemplo, podemos pensar que a conseqüência risadas para o
sujeito 1 aumenta a probabilidade de que ele conte piadas no futuro, porém
para o sujeito 2 vaias são estímulos reforçadores para ele. Isto será definido
pela história de reforçamento pela qual o sujeito passou
13
.
O tipo de conseqüência que é reforçadora ainda pode ser classificada
de duas formas: positivo e negativo. Se a resposta tiver sua probabilidade de
ocorrência aumentada pela apresentação de um estímulo, dizemos que ela foi
reforçada positivamente (contar piadas produz risadas – a produção de risadas
é a apresentação de um estímulo). Se a resposta tiver sua probabilidade de
ocorrência aumentada pela retirada de um estímulo, dizemos que ela foi
reforçada negativamente (contar piadas evita vaias – a cessação das vaias é a
retirada do estímulo).
Acima falamos sobre a importância da história de reforçamento que o
indivíduo passou. Esta idéia é apresentada por Skinner quando ela escreve
sobre o Modelo de Seleção por Conseqüência. Para observarmos de que
13
História de reforçamento significa todos os condicionamentos que aquele indivíduo passou
em sua vida. Todos eles têm influencia na determinação das respostas futuras a um
determinado estímulo.
Se esta resposta tiver sua
probabilidade de ocorrência
diminuída no futuro,
podemos dizer que a
conseqüência que ela
produziu é punitiva
Contar
piadas
Platéia
Vaias
S
d
R
C
maneira esta determinação acontece temos que olhar para três níveis de
seleção por conseqüência: o nível filogenético, o ontogenético e o cultural.
O nível filogenético é o que se refere à evolução biológica de cada
organismo. Esta evolução é definida pela forma que cada organismo se
relacionou com seu ambiente levando em conta seu aparato biológico.
Se existem limitações impostas pelo ambiente em que os organismos
vivem (frio ou calor, por exemplo), um indivíduo mais adaptado a estas
adversidades tende a manter-se vivo e a reproduzir neste tipo de ambiente.
Por isso Glenn (1991), aponta que a continuidade da existência de uma
espécie depende da relação entre as características biológicas e o que o
ambiente proporciona a esta espécie. Pensando que em todo organismo existe
uma variabilidade biológica (no sentido de que a cada reprodução combinam-
se diferentes genes que produzem um descendente diferente), o indivíduo de
uma espécie que variar em um sentido mais adaptado ao ambiente em que
vive terá uma probabilidade maior de se reproduzir e com isso perpetuar o seu
tipo de combinação genética. É isto o que a autora dirá que determina a
sobrevivência ou a extinção de uma determinada espécie. (pág. 41)
Neste sentido, continua a autora, a seleção natural tem uma função
que pode ser descrita como ‘criativa’, pois aumenta em complexidade a
composição de um organismo ao longo da história, pois a cada seleção ele
tende a se adaptar mais ao seu ambiente.
Estas modificações biológicas levam a uma complexificação do
repertório comportamental. Ou seja, quando mais refinado o aparato biológico
de um indivíduo se torna, maiores serão as suas possibilidades de atuação em
seu ambiente. Um exemplo radical seria as possibilidades que um humano
possui em comparação com as de um cachorro. Somos capazes de produzir
fogo, isto graças a nosso aparato biológico. Água, por exemplo, é um tipo de
conseqüência que é importante para os seres humanos. Um homem com sede
terá água como uma conseqüência importante na determinação de seu
comportamento neste momento.
Neste sentido, a relação entre o aparato biológico e as conseqüências
que o ambiente dispõe, selecionam o organismo mais adaptado e este
sobrevive.
Porém, além das possibilidades que o aparato biológico oferece existe
uma outra questão que é a forma que ele será utilizado. Neste ponto entra o
segundo nível que Skinner se refere que é o ontológico.
Apesar de em uma espécie todos os indivíduos terem recursos
biológicos semelhantes, existem diferenças entre os ambientes aos quais eles
serão expostos. O ambiente é único também para cada um. E, neste sentido,
existe uma diferença entre a história que cada um deles passará. Essa história
década indivíduo fará com que o comportamento de cada membro de uma
espécie tenha também uma determinação própria que é resultado da sua
história de vida. Desta forma, cada resposta emitida pelo organismo será
selecionada pela conseqüência que ela produzir no ambiente.
O outro nível de seleção que deve ser levado em consideração quando
falamos em determinação de comportamento é o nível cultural. Nele esta
presente uma determinação que é relacionada com o que o grupo o indivíduo
está inserido. Ou seja, além da relação entre aparato biológico e ambiente,
história do indivíduo e ambiente, existe a relação deste indivíduo com o seu
grupo de origem. Existem padrões de comportamento que são constituídos por
um grupo de sujeitos se comportando e que transmitem de uma geração para
uma outra. Ou seja, se falamos de humanos podemos dizer que padrões de
comportamento – a produção de uma dissertação, por exemplo –, é algo
determinado pela cultura. Se não vivêssemos nesta cultura não aprenderíamos
este conjunto de respostas relacionadas com esta produção. Assim, o grupo
oferece um tipo de conseqüência que também determina nossa ação.
Portanto, temos três grandes níveis de seleção por conseqüência:
filogenético, ontogenético e cultural. A interrelação destes níveis é que definirá
se um comportamento será reforçado ou será extinto e assim determinará
como um grupo de pessoas irá se relacionar.
Apontamos aqui, então, uma forma de analisar o comportamento pela
conseqüência que ele produz no ambiente. Ou seja, uma resposta emitida
produz uma conseqüência no ambiente, esta conseqüência por sua vez terá
uma ‘influencia’ (retroação) sobre a resposta emitida e definirá sua
probabilidade de ocorrência. Isto é uma mudança na conceituação anterior,
onde comportamentos podiam ser definidos pela expressão S – R. No caso
que estamos descrevendo aqui, a expressão é S – R C. E o valor que a
conseqüência tem para a definição da resposta deve ser avaliado via
probabilidade de ocorrência de resposta futura.
Mas o estímulo que esta anterior á resposta também tem um valor na
análise do comportamento. Este S que antecede a resposta é chamado de
Estímulo Discriminativo (S
d
). Isso significa que uma característica do ambiente
sinaliza que se a resposta ocorrer ela será reforçada/punida.
No exemplo do humorista que demos acima, o S
d
para a emissão de
uma classe de respostas ‘contar piadas’ foi a platéia. Ou seja, platéia para ele
sinaliza que se ele contar piadas (R) será consequenciado com risadas (C).
Ou seja, “a resposta produz reforço somente quando o S
d
esta
presente; se a resposta não ocorre ou ocorre na ausência do estímulo, o
reforço não ocorre. (Souza, 2001, pág. 93).
Porém, da mesma forma que quando falamos em uma resposta nos
referimos a uma classe de respostas, quando falamos de estímulos falamos de
uma classe de estímulos. Pois, uma platéia nunca será exatamente a mesma,
portanto, propriedades dos estímulos são semelhantes o que sinaliza a mesma
função. Isto forma o S
d
que sinaliza a conseqüência para o indivíduo. Souza
(2001), diz que quando falamos a palavra cachorro – por exemplo –, ela pode
estar sob controle de uma série de estímulos: a palavra cachorro, o som do
latido, a imagem do animal. Todos esses estímulos são S
d
, pois sinalizam que
se a palavra cachorro for emitida ela será reforçada.
Assim, falamos até agora de comportamento operante e respondente,
os estímulos que evocam/eliciam uma resposta, as conseqüências que ela
produz no ambiente e a influência desta conseqüência na probabilidade futura
de ocorrência da mesma classe de respostas sob controle da mesma classe de
estímulos discriminativos. Passaremos agora, então, para a descrição de um
tipo especial de comportamento operante: o comportamento social. Este é um
tipo especial de relação entre organismo – ambiente pois envolve a
participação de mais de um indivíduo na relação. Ou seja, o ambiente para a
emissão de uma resposta passa a ser outros indivíduos.
É necessário pontuar aqui que não só os comportamentos observáveis
a mais de uma pessoa são denominados comportamentos, o que é observável
apenas para um também o é. A estes denomina-se de comportamentos
encobertos. Ou seja, um tipo de resposta que ocorre de maneira invisível à
comunidade, porém tem valor para o organismo envolvido em tal relação.
Comportamento Social
Como citamos na Introdução, B. F. Skinner já em 1953 descreve
comportamento social como parte do objeto de pesquisa da Análise do
Comportamento. Mas para o estudo de comportamento social, alguns outros
conceitos também aparecem nas diversas pesquisas realizadas tais como a
própria noção de comportamento social, contingências entrelaçadas e
metacontingência. Por isso a seguir descreveremos mais detalhadamente o
conceito de comportamento social, o de contingência entrelaçada e o de
metacontingência. Conceitos que estarão presentes na análise de nossos
dados.
Para definir comportamento social, Keller e Schoenfeld (1950, pág.
369) partem da descrição de estímulo social. Para eles, estímulo social é
aquele que se origina do comportamento de um outro organismo ou do produto
deste comportamento. Não possui uma função diferente (pode ser eliciador,
reforçador ou discriminativo) de outros estímulos. Neste sentido, se poderia
dizer que um indivíduo ao emitir uma resposta oferece estímulos – eliciadores,
reforçadores ou discriminativos –, para respostas de um outro indivíduo. Este
tipo de relação é um comportamento social.
Portanto, se observarmos a definição de comportamento operante,
temos um indivíduo que emite respostas a partir da sua relação com um
ambiente qualquer. No caso do comportamento social, temos um ambiente
específico que é um outro indivíduo.
Keller e Schoenfeld (1950) descrevem ainda algumas possíveis
interações sociais onde o comportamento social pode ser observado:
Dominância: Um indivíduo A se sobrepõe a um outro indivíduo B por
meio da diminuição do responder deste segundo. E, especificamente, isto se
dá por meio do uso de reforçamento negativo ou ameaça de uso. Isso significa
dizer que na busca por alimentos – por exemplo –, um animal dominante vence
diminuindo o responder do outro consequenciando sua resposta com um
estímulo aversivo ou com a sua retirada. (pág. 373)
Cooperação: Neste caso, existe a necessidade de uma combinação
entre o comportamento do indivíduo A e do indivíduo B para a produção de
reforço positivo ou negativo. Além disso, nesta relação existem duas
características necessárias: (1) cada ação de um indivíduo deve ser um
estímulo discriminativo para a ação do outro; e (2) cada indivíduo deve ser
reforçado pela parte que ele mesmo desempenhou na relação (pág. 375).
Poderíamos pensar em um exemplo em uma situação experimental onde dois
animais só receberiam alimento no caso de pressionarem a barra juntos. Aqui a
ação dos dois juntos é necessária para a produção de alimento.
Imitação: Aqui a resposta de um indivíduo é um estímulo discriminativo
para a emissão de uma resposta semelhante de um outro indivíduo (pág. 377).
Por exemplo, em uma caixa experimental um animal é modelado a pressionar a
barra para obter alimento. Se colocarmos um outro animal ingênuo próximo e
ele pressionar a barra da mesma forma, podemos dizer que ocorreu uma
imitação.
Retomando então, o comportamento social se configura pela relação
entre o indivíduo e um outro aspecto do seu ambiente que é um outro
indivíduo. Esta característica que os autores apontam que torna o
comportamento social um importante objeto de estudo.
Da mesma forma que Keller e Schoenfeld (1950) descrevem que
comportamento social envolve diferentes pessoas como ambientes para ações
de outras, Skinner em 1953 assinala esta mesma noção. Diz o autor que
comportamento social: “... pode ser definido como o comportamento de duas
ou mais pessoas em relação a uma outra ou em conjunto ao ambiente comum.
(Skinner, 1953, pág 325). Sendo assim, comportamento social é
comportamento entre indivíduos onde estímulos (eliciadores, reforçadores ou
discriminativos) são mediados por outros indivíduos.
Para Skinner (1953), este tipo de ambiente onde indivíduos oferecem
estímulos para outros é chamado de ambiente social.
Neste ambiente social, há indivíduos que fazem o papel de mediadores
entre o indivíduo e os estímulos. Isto é o que ele define como um reforço social:
Não se pode descrever o reforço sem referência ao outro organismo”. (pág
327). Ou seja, se existe um estímulo que esta sendo reforçador ou punidor
para um indivíduo, no caso do reforço social ele só poderá ser descrito se
avaliarmos seu ambiente social. Outra definição importante é a de estímulo
social, este aparece quando o comportamento de outro indivíduo serve de
estímulo para uma resposta.
Sendo assim, caracterizamos o ambiente social como o local onde a
mediação entre indivíduos acontece e o local onde reforçadores sociais e
estímulos sociais estão presentes. A análise desta relação é o que Skinner
(1953) vai definir como episódio social:
Podemos analisar um episódio social considerando um
organismo a um dado tempo. Entre as variáveis a serem
consideradas estão aquelas geradas por um segundo
organismo. Consideramos então o comportamento do segundo
organismo, supondo o primeiro como uma fonte de variáveis.
Colocando as análises lado a lado reconstruímos o episódio. A
descrição esta completa se englobar todas as variáveis
necessárias para explicar o comportamento dos indivíduos.
(pág 333)
Portando, ao se analisar este tipo de comportamento lidamos com mais
de um indivíduo quando olhamos para a tríplice contingência. Compreendendo
cada um dos envolvidos como ambiente social do outro. Importante resaltar
aqui que ambiente social pode ser um indivíduo como pode ser um grupo de
indivíduos funcionando como S e C para um outro.
Além disso, podemos perceber que o comportamento de uma pessoa
possui além de uma determinação daquele momento, existe também a história
que aquela pessoa possui com os indivíduos que estão presentes na relação
(em termos comportamentais o histórico de reforçamento entre os indivíduos)
14
.
14
Este é um elemento importante quando pensamos no movimento estudantil. Além do
fato de uma série de pessoas interferirem no comportamento do estudante em participar ou
não, devemos levar em consideração a história que aquele indivíduo possui com o movimento,
com as pessoas que lideram o movimento e mesmo com as pessoas que participam e não
participam.
Contingências Entrelaçadas e Metacontingências
Antes de definirmos estes conceitos, é importante despendermos
algumas linhas descrevendo o raciocínio que Glenn (1991) descreve até
chegar a uma descrição dos conceitos.
Fala-se em comportamento social, porque existe uma relação entre os
processos comportamentais e os processos grupais (Glenn, 1991 pág. 39).
Como vimos antes, no comportamento social o ambiente ao qual a indivíduo se
relaciona é um outro indivíduo, e, partindo da definição de que em um
comportamento ambiente e sujeito são modificados no momento da relação,
fica claro de que no comportamento social cada resposta de cada sujeito é
importante para a caracterização de um grupo. Neste sentido, quando Glenn
(1991) aproxima processos comportamentais de processo grupais entende-se
que ela se refere à forma pela qual um indivíduo opera em seu contexto social.
Então, se um indivíduo opera em seu ambiente social o que determina
a resposta que será emitida por ele? Todas elas estão sujeitas ao que Skinner
define como os três níveis de seleção por conseqüência (filogenético,
ontogenético e cultural). Ou seja, cada uma destas respostas tem sua
determinação nas conseqüências produzidas pela inter-relação destes níveis.
Quando falamos em comportamento social, nos referimos também as
contingências entrelaçadas, onde um indivíduo é estímulo discriminativo ou
conseqüência para a resposta de um outro indivíduo.
Andery, Micheletto e Sério (1999), apontam que poderíamos ter três
possibilidades de um entrelaçamento de contingências: imitação – onde o
comportamento de um indivíduo A funciona como estímulo discriminativo para
o comportamento de outro indivíduo B; troca recíproca: situação onde cada
indivíduo ‘oferece’ algo para o outro, ou seja, a resposta de A é conseqüência
reforçadora para a resposta de B ao mesmo tempo em que a resposta de B é
conseqüência reforçadora para a resposta de A; contingências entrelaçadas
que envolvem contingências de suporte para a sua manutenção: neste caso é
uma situação de entrelaçamento de contingência que é mantida por um outro
grupo ou indivíduo que manipula as conseqüências reforçadoras para as
respostas de A e de B. (pág. 134)
Apontamos aqui, então, dois níveis de análise do comportamento
social. Um primeiro em que ao olharmos para a relação de um indivíduo A com
seu meio (pai, mãe e filha) priorizamos a análise do comportamento do filho.
Um segundo onde observamos duas possibilidades de relação entre os
indivíduos de modo que não priorizamos nenhum indivíduo, mas sim como é o
funcionamento da relação entre todos eles, quem disponibiliza estímulos para
quem.
Estamos falando de indivíduos se comportando onde o ambiente para
eles é o que Skinner definiu como ambiente social. Um tipo específico de
relação entre indivíduo que Glenn (1991) descreve são as práticas culturais.
Para autora uma prática cultural pode ser definida quando existe a repetição de
um comportamento operante dentro da própria geração ou ao longo de várias
gerações (pág 60). Neste sentido, existe a aquisição de um tipo de resposta no
repertório de um indivíduo que é fruto da interrelação entre indivíduos de sua
geração ou de gerações anteriores.
O entrelaçamento de contingências desta prática cultural pode levar a
produção de um produto agregado que reforça este entrelaçamento. Neste
caso específico, falamos em metacontingência. Glenn define da seguinte
forma:
... metacontingências descrevem relações funcionais no nível
cultural [terceiro nível de seleção por conseqüência]. Essas
relações envolvem práticas culturais e seus produtos. As
próprias práticas culturais são compostas de contingências
entrelaçadas. (Glenn, 1988, pág. 171, apud Andery e Sério,
1999).
Ou seja, existem contingências entrelaçadas que produzem
conseqüências para cada indivíduo e, além disso, o entrelaçamento destas
contingências produz um produto agregado. Este produto agregado irá retroagir
sobre este entrelaçamento, tornando-o mais forte ou não.
Dizendo de uma outra forma: indivíduos respondem e são estímulos
entre si (contingência entrelaçada) e existe um produto deste ‘relacionar-se’.
Este produto retroage sobre o entrelaçamento das contingências mantendo-o
ou extinguindo-o. Esta relação é o que Glenn (1991) chama de
metacontingência.
Além disso, Glenn (1991) cita que a grande liga que permite que
comportamento de indivíduos humanos se relacionem e criem um produto é o
comportamento verbal. Ou seja, a linguagem que possuímos na atualidade é o
grande elemento que possibilita todas estas relações entre indivíduos as quais
nos referimos ao longo deste capítulo.
Retomando, então, a idéia que apontamos no início, comportamento
social
15
. não só é um importante objeto de trabalho para a Análise do
Comportamento, como é parte do seu objeto. Duas citações de Skinner (1953)
nos ajudam nesta conclusão:
A comunidade na qual homens e mulheres vivem representa
uma parte importante de seu meio. É difícil, senão impossível,
pensar em uma simples atividade operante que não mostre em
algum grau, a influência penetrante dos ensinamentos da
comunidade. (pág. 380)
Preocupamo-nos aqui simplesmente com a extensão em que
uma análise do comportamento do indivíduo, que já recebeu
substancial validação sob as condições favoráveis de uma
ciência natural, pode contribuir para o entendimento dos
fenômenos sociais. (pág 326)
15
Se aplicarmos essa idéia ao nosso objeto de pesquisa, poderíamos pensar que para
compreender quais são as possíveis variáveis que estão presentes na determinação da
participação ou da não participação de um estudante no Movimento Estudantil da PUC/SP
devemos olhar para o fenômeno de grupo e também olhar para o fenômeno do indivíduo. Pois,
se queremos compreender o que controla cada um dos estudantes a ingressar no ME ou não
(entendendo que os estímulos para isto estão ‘nas mãos’ de outros indivíduos), devemos
procurar uma compreensão da forma pela qual o ME está organizado – no sentido de quais
são as ações do movimento e o que elas provocam –, para determinarmos o que exatamente
interfere na ação do estudante.
Vimos, assim, que a cultura é um dos determinantes do
comportamento dos indivíduos (junto com a filogênese e a ontogênese) e que
métodos para se compreender de que maneira estes comportamentos
acontecem vem sendo discutidos nessa área.
Descrevemos assim, os principais conceitos que são base para nossa
análise dos nossos dados coletados anteriormente. Utilizaremos tais conceitos
como ferramentas para a descrição de possíveis relações entre os indivíduos e
as variáveis que determinem o comportamento dos indivíduos pesquisados.
Apresentado tal debate podemos refletir sobre um tipo de metodologia
que avalie os dados já coletados anteriormente sobre o movimento estudantil
da PUC/SP.
Se em um primeiro momento nossa intenção foi a de situar
teoricamente o local onde esta pesquisa se insere, passamos então ao
momento de avaliar os dados a guisa de uma aplicação do que discutimos
anteriormente seja possível. Neste sentido, buscamos, com os dados
colocados, retirar o máximo de informações que conseguirmos para que seja
possível uma análise e uma conseqüente conclusão teórica. Este processo se
evidenciará nos capítulos a seguir.
Método
Dentro da Análise do Comportamento existe um debate no que se refere
ao relato verbal como um dado de pesquisa. Nela esta contida uma avaliação
sobre como se compreende o relato verbal e quais são os seus problemas.
Segundo De Rose (2001), quando olhamos para uma entrevista, olhamos
para um tipo de comportamento, o comportamento verbal. É um tipo de
comportamento que pode ser classificado como um relato de comportamentos.
Ou seja, o dado de entrevista é um relato de uma seqüência de eventos que
ocorreram no passado. Portanto, quando nos referimos a um tipo estudo que
esta balizado em entrevistas como fonte de dados, devemos entender que os
dados são os relatos dos entrevistados sobre o fenômeno e não um dado de
observação. Isto significa que este relato está sujeito a limitações de memória,
atenção, acessibilidade, podendo ocorrer até distorções deliberadas do sujeito.
Outro fator é que o relato também deve ser entendido como uma forma de
comportamento. E como vimos antes comportamentos estão sujeitos a suas
conseqüência e estão sob controle de estímulos. Portanto, pensando a
entrevista como um momento em que entrevistador e entrevistado se
relacionam, o entrevistador oferece estímulos para possíveis respostas do
entrevistado e suas possíveis conseqüências para suas respostas. Este é um
elemento que pode interferir na qualidade do dado que é coletado. Tornando a
análise da entrevista um dado mais complexo.
Por exemplo, De Rose (2001) cita que podem existir problemas quanto o
controle de estímulos que o indivíduo possui, ou seja, a descrição dele sobre o
evento pode ser prejudicada. Diz ele que podem ocorrer problemas do tipo:
- Controle de Estímulos impreciso: qualquer S pode levar à lembrança
mas pode levar a resposta que o pesquisador quer ouvir, ou seja, o
entrevistado fica sob controle da aprovação do entrevistador e não de sua
pergunta;
- ‘Falta’ de auto observação: o entrevistado não consegue descrever o
próprio comportamento no momento em que o evento ocorreu, ou seja, ela não
descreve o que fez naquele momento;
- Auto-observação ruim: o entrevistado descreve o comportamento mas é
incapaz de descrever relações funcionais das suas respostas, ou seja, ele
descreve o que fez, mas não consegue relacionar suas ações com
antecedentes e conseqüentes; e
- Não descrição de variáveis de controle: o entrevistado descreve algumas
relações com seu comportamento, porém não é possível descrever as variáveis
que realmente, ou seja, aponta que algumas resposta produzem
conseqüências, porém não consegue afirmar qual delas controla suas
respostas.
Por estes motivos, os analistas do comportamento usualmente preferem
utilizar a observação ou situação experimental como uma fonte de dados. Este
tipo de método permite que a coleta de dados seja sobre a avaliação do
pesquisador, quando que na entrevista o pesquisador fica limitado à visão do
entrevistado para produzir alguma conclusão. Outra questão é que na situação
experimental, é possível que se manipule variáveis (inserindo e retirando) de
maneira a testar sua influência na ocorrência de determinado fenômeno
(diferente da análise de entrevista onde o dado é estático).
Uma outra questão que é importante ser colocada é o tipo de pesquisa
que analisa eventos passados. Se o pesquisador não vivenciou e coletou o
dado no momento em que ele ocorreu, não é possível ele analisar. Então, a
pesquisa esta sujeita ao relato de pessoas sobre o evento. Neste sentido, o
dado passa a ser o relato e não o evento em si.
Mesmo com estes problemas De Rose (2001) aponta duas razoes que
justificam a entrevista como fonte de dados. A primeira delas é o fato de que
comportamentos emocionais e encobertos dificilmente seriam observados se
não fosse o relato do sujeito. Alguns tipos de respostas não podem ser
observadas de maneira por um segundo sujeito, apenas pela que realiza a
ação. Só através do relato deste comportamento que se torna possível uma
análise.
Sendo assim, quando vamos analisar uma entrevista é necessário que
olhemos para uma série de questões – como apontamos acima – para propor
uma análise.
Isso significa dizer que nosso dado é a transcrição do relato de cinco
pessoas que vivenciaram uma experiência de liderança do Movimento
Estudantil da PUC/SP. Ou seja, a partir do relato destas pessoas, esperamos
levantar algumas hipóteses sobre as motivações dos estudantes da PUC/SP
em participarem do Movimento Estudantil interno na visão deste grupo de
pessoas.
Cabe aqui descrevermos qual é o dado que analisaremos. Na pesquisa
anterior (Cassas, 2004) para coletar os dados entrevistamos cinco pessoas que
já haviam sido lideranças do movimento estudantil durante a história da PUC
(1960, 1970, 1980, 1990 e 2000), além disso, observamos duas reuniões do
movimento e aplicamos um questionário em uma amostra de 181 estudantes
de graduação de 6 cursos diferentes (enfermagem, psicologia, engenharia,
medicina, direito ciências da computação) da PUC/SP.
Para estas entrevistas foi utilizado o roteiro a seguir:
1. Como chegou ao Movimento Estudantil:
a. Organização do Movimento (Geral);
b. Forma de organização do Movimento;
c. Temas e Bandeiras que o levou ao Movimento;
d. Histórico do Movimento.
2. Relação Estudante – Movimento estudantil:
a. Interesse dos alunos e quantidade de participantes;
b. Cotidiano do Movimento;
c. Parte Cultural.
3. Contradições presentes no Movimento:
a. Exista oposição;
b. Existia a chamada “panela” e como os estudantes a viam.
4. Visão geral do Movimento na atualidade.
Os sujeitos para as entrevistas foram selecionados entre os próprios
participantes do movimento. Foi perguntado a eles quais haviam sido as
principais lideranças no momento e no passado deste o surgimento do
movimento. Por isto entrevistamos cinco pessoas: uma liderança importante da
década de 60, outra de 70, uma de 80, de 90 e uma de 2000.
Nossa proposta então é a de, em cada entrevista elencar antecedentes e
conseqüentes relacionados com respostas relativas à participação no
movimento estudantil. Em cada entrevista, procuramos levantar dados que
fizessem referencia ou a situação na qual aquela resposta aconteceu ou a
conseqüência que ele produziu. Sendo esta relação descrita pelo entrevistado
ou observada ao longo de toda a entrevista.
As entrevistas transcritas e seus dados foram organizados de maneira
que fosse possível descrever uma tríplice contingência no esquema:
Ou que fosse possível descrever uma relação do tipo:
Antecedentes R Conseqüentes
Um outro esquema foi utilizado também exemplificado pelo modelo
abaixo:
S
d
R
C
Entendemos que desta forma é possível que organizemos os dados de
maneira a propor uma análise.
Além disso, a partir das entrevistas elencamos os tipos de atividades que
são desenvolvidas no movimento estudantil e atribuímos a este conjunto de
ações o título de participação política no movimento estudantil da PUC/SP. Os
tipos de ações que elencamos são os seguintes: organizar ou freqüentar
reuniões, montar ou distribuir panfletos de divulgação, organizar ou participar
de passeatas ou manifestações, organizar ou participar de eventos para
arrecadar dinheiro para as outras ações do movimento.
OE
Privação
de $
S
d
RC
Fazer
Café
S
d
RC
Fazer
Bolo
S
d
RC
Comprar
Ingrediente
s
S
d
RC
Vender
Produtos
$ Adquirir os
In
g
rediente
Ingredientes
Ingredientes
Produtos
$
Retroage sobre o
entrelaçamento
das
contingências*
?
?
Resultados
Dentre os dados obtidos uma primeira análise foi feita com vistas a
organizar os dados que foram obtidos em cada uma das entrevistas. A seguir,
então, elencamos os esquemas descritivos de cada uma das entrevistas
organizadas por ordem cronológica.
Para podermos organizar os dados nos esquemas que citamos na seção
Método levantamos algumas justificativas que o entrevistado aponta
motivadores da participação política dos estudantes e tentamos relacionar com
outras partes da entrevista de maneira que fosse possível descrever relações
entre antecedentes e conseqüentes.
1960
Para esta entrevista, levantamos a seguinte justificativa Diz o
entrevistado: “Nos anos 60 existia participação pelo ideal”. Nesta frase está
descrita o que ele entende como sendo uma variável importante para
participação. Porém, para uma análise comportamental, devemos procurar as
relações entre antecedentes e conseqüentes à resposta emitida. Assim,
procuramos ao longo da entrevista o que o entrevistado entende como sendo
ideal.
Encontramos que ideal esta relacionado com o tipo de contexto existente
na época. Houveram dois grandes momentos que, segundo o entrevistado,
foram disparadores da mobilização estudantil um antes do golpe – discussão a
respeito das reformas de base – e outro depois do golpe – retirada do direito e
da liberdade de expressão.
Mais a frente descobrimos que o entrevistado caracteriza o contexto
histórico da seguinte forma:
Na época tinha JUC, JEC e JOC. JEC era juventude estudantil
[católica], pegava mais secundaristas. JOC era juventude
operária [católica] e JUC era juventude universitária [católica].
A JUC deu uma guinada para ser mais política e menos religiosa
e que acabou levando (o pessoal chamava de socialista cristão, a
esquerda católica) que não era necessariamente do Partido
Comunista. Tanto que as eleições aqui na PUC eram assim:
candidato do Partidão e o pessoal ligado a JUC.
Ou seja, existiram grupos que se já eram formados e eram precedentes
ao movimento estudantil. Diz ele em outra passagem que nestes grupos as
pessoas além de realizarem as tarefas normais dos grupos eles debatiam
questões relacionadas à política. No caso do entrevistado, foi a partir da
participação no TUCA que ele iniciou sua participação no movimento. Antes
disso, ele nunca havia participado.
Por que eu, por exemplo, comecei me envolvendo em política
universitária não tinha projeto nenhum, não fazia parte de
partido nenhum. Sabe aquela coisa, que de repente você é
envolvido pelos acontecimentos?
Ao observar na entrevista, foi possível apontar que antes do entrevistado
ingressar no movimento ele havia participado de um outro grupo o TUCA e que
este grupo o 'inseriu' no movimento estudantil.
Por isso, no que se refere aos antecedentes, os dados apontam que as
pessoas participantes do movimento estudantil advinham de alguns grupos
previamente formados que não tinham um objetivo político: o TUCA (Teatro da
Universidade Católica), a JUC (Juventude Universitária Católica), a JEC
(Juventude Estudantil Católica).
Nestes grupos, além das suas atividades normais, existiam debates sobre
questões políticas da época. Ou seja, estes grupos possuem um papel de
aglutinação dos estudantes para uma atividade (arte, organização religiosa
etc.) e esta junção de pessoas acabava por permitir um espaço de debate
político. E este debate levou ao entrevistado e outros participantes dos grupos
a conhecer e ingressar no movimento estudantil.
Além disso, existia um conjunto de conseqüências que mantiveram os
grupos existindo e que permitiram que esta relação ocorresse em um outro tipo
de situação.
Um outro fator que também é descrito pelo entrevistado é o fato de a
PUC/SP ter recebido uma série de professores que foram caçados pelo
governo militar para trabalhar em seus cursos. Isto fez com que a
consequência que possivelmente estivesse muito a longe dos estudantes
ficasse bem próximo a todos eles.
Diz ele:
A PUC foi um local que protegeu os profissionais que foram
expulsps de órgãos públicos (USP, por exemplo). Trazia um
ambiente onde a política era sempre debatida, pelos
professores, funcionários, estudantes. Isto 'fomentava' o ME a
se reunir.
Organizando os dados no esquema Antecedentes (Contexto), Respostas
e Conseqüentes, teríamos:
Ou
seja, existe
Antecedentes Respostas Consequentes
T
UCA, JOC, JEC e JUC
c
omo organizações
e
studantis
Debates e discussões
Participação no
movimento
A
provação Social do grupo ao
qual o aluno esta relacionado.
A longo prazo: luta contra a
ditadura
Tabela 1
um contexto anterior que permite as pessoas que serão participantes do
movimento estudantil se agruparem com um objetivo. Isso significa dizer que,
os estudantes que compuseram o movimento estudantil da década de 60
tiveram uma experiência anterior de ação em grupo e que essa ação teve uma
conseqüência que foi reforçadora para o grupo. Nesse sentido, o conjunto de
conseqüências das respostas de participar dos grupos (JUC, JEC e TUCA)
aumentou a probabilidade de que este mesmo grupo estivesse junto para a
realização de alguma outra tarefa. Ou seja, o entrelaçamento entre estes
indivíduos foi reforçado e desta maneira o movimento teve uma participação
maior. Poderíamos descrever duas metacontingências presentes neste caso:
Esquema 1: Aqui descrevemos a relação entre os participantes do grupo de
teatro que poderíamos inferir que uma possível conseqüência para o seu
entrelaçamento é uma peça de teatro. Este produto teve uma retroação sobre
o entrelaçamento destas contingências. Poderíamos ter descritos outras
possibilidades como relacionadas a JEC ou JUC, opção foi feita aqui com
vistas a ilustrar nossa hipótese.
S
d
R C
S
d
R C
S
d
R C
Peça de
teatro
S
d
R C
OE
ditadur
a como
S
av
S
d
RC
Produzi
r
if
S
d
RC
Proposta
de
if t
S
d
RC
Chamar
uma
S
d
RC
‘Ação
Política
JUC,
JEC,
TUCA
Pessoas
presentes
Reunião
Reunião
‘Produto
s
?
Retroage
sobre o
entrelaçament
o das
contingências
Esquema 2: Neste esquema estaria a conseqüência da retroação do produto
construído no entrelaçamento anterior. Sendo este um possível entrelaçamento
dentro do movimento estudantil.
Estes esquemas evidenciam de que maneira os grupos, TUCA, JEC,
JUC, funcionaram com disparadores da participação política.
1970
No caso desta entrevista a conclusão que a entrevistada chega para
justificar o porquê existia participação política no movimento e a seguinte:
A gente tinha clareza de que era preciso, para construir o
Centro Acadêmico como um lugar de referencia para os
estudantes, era preciso que ele não tivesse só essa cara de
militância política, ele tinha que ter uma militância acadêmica,
isso nosso grupo tinha a clareza.
Ou seja, o entrevistado aponta que os estudantes sabiam que deveriam
participar, que deveriam se mobilizar e reconstruir o movimento. Porém, em
uma análise comportamental devemos perguntar o que significa este saber.
Devemos procurar relações entre antecedentes e conseqüentes que sinalizem
o porque as pessoas sabiam.
Quando buscamos esta informação na entrevista observamos que o
trajeto do próprio entrevistado pode trazer alguma conclusão a este respeito.
Diz ela que:
Eu tinha muito pouca participação política, por volta dos
quinze, dezesseis anos eu ingressei num movimento de igreja,
era da Igreja Santa Efigênia, um grupo de jovens na verdade,
tinha discussões, estávamos em plena Ditadura, 68, 69 e a
gente fazia encontro de jovens debatia questões da
sociedade, essa foi minha primeira experiência; uma
sensibilização para questões sociais.
Ou seja, ele começou a ter algum tipo de participação a partir de um
grupo religioso que não tinha função política. Nele houve uma 'sensibilização'
para questões políticas da época (a ditadura no caso).
Quando ele ingressa na PUC/SP ocorre o seguinte:
Eu fiquei muito infeliz, não gostava da PUC, minha classe era
uma classe de pessoas muito mais velhas, eu tinha dezessete
anos, a turma era de gente formadas em outras áreas, tinham
um grupo muito intelectualizado, muito elitizado, diferente da
minha origem, eu vinha de escola pública, vinha de família
baiana que tinha mudado para São Paulo, não éramos uma
camada média intelectualizada, então eu estranhei muito a
universidade, eu tinha horror da universidade e era muito
infeliz.
Então quando chegou em 71, 72 minha mãe via a minha
infelicidade, eu ia arrastada para a escola, parecia que eu era
criança pequena que não gosta de ir a escola, que chora e
quer voltar para casa, apesar de já ter feito algumas amizades
dentro da minha classe eu não gostava da universidade.
Minha mãe dizia “Não tem um coral? Alguma coisa lá para
você fazer?” E ela sempre falava isso. Até que um dia eu vi lá
um anúncio do CUCA, 1972. E eu a X. procuramos o CUCA e
fomos cantar no CUCA e cantamos bastante tempo,e e de
dentro do CUCA nasceu um grupo de Teatro, o Diretório
Acadêmico de Filosofia São Bento se uniu ao Diretório de
Economia, e juntos procuraram reconstruir o movimento
estudantil dentro da universidade, só que era um momento de
ditadura, todos tinha medo de Centro Acadêmico, então eles
resolveram construir um grupo de coral e de teatro que foi o
TUPUC que substituiu o TUCA e com isso aglutinar jovens e
fazer um trabalho de discussão política e no CUCA isso se
tornou impossível.
E desse grupo de teatro surgiram as lideranças de todos os
Centros Acadêmicos que se reconstruíram, foi efetivamente
reconstruída a partir do teatro, eu e a X. participamos do grupo
de teatro e passamos a participar... a reunir pessoas... para
construir um Centro Acadêmico na Psicologia.
Ou seja, existiram grupos anteriores ao movimento que permitiram que a
entrevistada soubesse que deveria se mobilizar e ingressar no movimento.
Portanto, o que a entrevistada entende como clareza, em uma analise
comportamental na entrevista esta clara uma relação de que os grupos que ele
esteve presente ofereceram um conjunto de estímulos que permitiram o seu
ingresso no movimento. Além disso, esses grupos parecem ter tipo a mesma
função com outros membros do grupo quando a entrevistada diz que destes
grupos que surgiram as lideranças estudantis.
Podemos organizar os dados da seguinte forma:
Antecedentes R S
r
CUCA
Privação de Reforço
social
Arte e política
Reforço social
O que observamos aqui segundo os dados da entrevista é que existia
uma operação estabelecedora anterior que fez com que o grupo se uni-se em
torno de uma questão. O que ocorreu, foi que a entrevistada ingressou em um
grupo cultural que é anterior a participação no movimento motivada pela falta
de reforço social. Ou seja, em seu ambiente havia falta de um tipo de
consequência e ela foi buscar no CUCA. Lá teve contato com pessoas que
Tabela 2
eram participantes do movimento e com discussões que a introduziu no
ambiente do movimento estudantil e permitiu que ela se torna-se participante.
Já dentro do movimento podemos organizar os dados da seguinte forma
Antecedentes R S
r-
Grupos de Jovens
CUCA
TUCA
TUPUC
Debates
Arte e política
Formação de lideranças
Construção de um CA
‘mudar a sociedade’
‘Trazer a discussão’
(reforço a longo prazo)
Mais uma vez o que aparece é a existência de um grupo anterior que traz
conseqüências suficientes para reforçar (de alguma forma) o entrelaçamento
das contingências destas pessoas. A partir disto foi possível que elas se
unissem para a realização de uma outra tarefa.
1980
Nesta entrevista a conclusão que a entrevistada chega é a de que a
geração dos anos 80 tinha participação no movimento estudantil por que
tinham um inimigo comum, ou seja, as pessoas aderiam ao movimento por
terem que lutar por um mau que era para todos. Diz a entrevistada:
A diferença da minha geração para as outras (…) mas é que
vocês não têm inimigo comum. O inimigo comum de vocês,
ele para ser mantido como padrão de luta, tal, é preciso que o
sujeito esteja muito consciente de estar no mundo. Nós
tínhamos o Erasmo Dias., nós tínhamos o Paulo Egídio, que
era um terror de governador. Tínhamos o Geisel, tínhamos o
Figueiredo, então a gente ia saindo do colegial, podia sair a
zero do colegial, mas chegava na Universidade se o colega do
lado comentava “você viu o que o Figueiredo falou? (…)
Então, esse tipo de coisa mobilizava a gente, o movimento
estudantil da minha geração se não foi maciço foi significativo.
Tabela 3
Ah, atraia porque você queria representação discente nos
órgãos colegiados, você queria o órgão colegiado
funcionando. Você queria pagar menos crédito e ter mais
estágio (…) nós tínhamos carência de algumas coisas. Talvez
isso mobilizasse.
Diferentemente da anterior, esta entrevistada descreve que o movimento
acontecia e as pessoas participavam dele motivadas por um inimigo que era
comum a todos. Ou seja, os estudantes participavam do movimento por lá
reunir pessoas que estavam lutando por um mal comum e isso era aglutinador.
Além disso, um outro elemento que ela descreve como importante é o fato de
todos os alunos quererem que os orgãos funcionassem e pela carência de
`algumas coisas` acadêmicas.
Porém, seguindo o caminho que fizemos com as outras entrevistas
chegamos a uma descrição do quais fatores estiveram presentes na
participação dela no movimento. Estas descrições podem levaram a uma outra
conclusão em função das variavéis do contexto que motivaram a participação
da entrevistada no movimento estudantil. Diz a entrevistada:
o reitor da USP proibiu a SBPC lá. Onde é que foi a SBPC
então? Na PUC. A PUC virou um grande osso no pescoço das
autoridades. A reorganização da UNE se deu dentro de uma
sala no primeiro andar. A SBPC ocorreu na PUC porque a
Nadir topou. A Nadir era a primeira mulher reitora do Brasil.
Talvez da América Latina. Talvez não, com certeza da
América Latina. Nós tínhamos tido uma Ministra da Educação
chamada Éstér de Figueiredo Ferrari, que era aliadérrima dos
militares. E uma baita de uma professora legal, tal, respeitada,
maravilhosa. Só que a Nadir era o oposto disso. Quando foi
reitor o Geraldo Bandeira de Melo do Direito, o prédio chama
Antônio Bandeira de Melo, desculpe, não é Geraldo Bandeira
de Melo, é Geraldo Ataliba. Geraldo Ataliba é o professor do
Direito absolutamente oposto ao Antônio Bandeira de Melo, o
prédio novo chama Professor Antônio Bandeira de Melo. Esse
sim um grande visionário, em termos de juntar os coletivos. O
Geraldo Ataliba exonerou a Nadir de um cargo, ela era
Diretora do Centro de Ciências Humanas. Ela não concordava
com as decisões que ele tomava na reitoria. Ele exonerou-a. E
foi exatamente a Nadir que a gente usou pra reestruturar todos
órgãos colegiados da Universidade, tal.
Aqui está presente uma descrição do tipo de ambiente que a PUC se
tornara durante o início dos anos 1980. Era um local que, segundo a
entrevistada, fomentava politicamente os estudantes. Pois todos estavam em
contato direto com ações que iam contra o governo militar. Este é, portanto, um
elemento que descreve a ambiente no qual os alunos estavam inseridos.
Outro fator que a entrevistada aponta em um momento da entrevista é
que seu ingresso no movimento não foi baseada nos fatos que descreveu
acima – quando questionada a este respeito –, mas por necessidade
financeira. Diz a entrevistada:
eu não sei se é politicamente correto, mas eu tenho que ser
honesta, eu entrei no movimento por falta de grana, é, eu tava
no ciclo básico da PUC e eu não tinha dinheiro para comprar
as apostilas, meu salário dava pra pagar a PUC, e me manter
e nada mais.
Mais a frente ela descreve como se deu este processo:
a gente resolveu, chamava turma 52, era uma turma do
básico, nós resolvemos comprar 6 garrafas de café, só tinha o
restaurante lá embaixo da PUC e nós fazíamos café e
vendíamos pras turmas vizinhas, e com o dinheiro do café,
hoje vocês não vendem brigadeiro?, vendia café, e com o
dinheiro do café que foi ampliando, fizemos chás, fomos
fazendo assim, e com esse dinheiro a gente comprava
apostila, comprava livro, era uma cooperativinha. Com isto, a
gente começou a se organizar.
E complementa mais a frente:
eu comecei a entender que fazer política era mais do que
ganhar dinheiro, era poder se organizar, se articular em torno
de um objetivo, foi isso que eu aprendi no movimento
estudantil. Entrei pra ser um ser político a partir de uma
necessidade, não uma necessidade ideológica, uma
necessidade premente, real, do dia-a-dia. Como quanto a isso,
enfim, todo mundo fala e lê Marx né, não, eu lia minha
necessidade, a partir daí comecei achar interessante, que as
pessoas fossem se articulando pra conseguir alguma coisa.
Ou seja, ela descreve que antes de ingressar no movimento ela participou
de um outro grupo, algo que tinha como objetivo ajudar na renda para poder
comprar os materiais necessários para o curso da PUC.
A partir deste grupo que ela começa a se interessar pela política
estudantil e acaba por ingressar, junto com este grupo, no movimento
estudantil.
Organizamos os dados desta entrevista na seguinte tabela seguido a
lógica antecedentes, respostas e consequências.
Antecedentes R Conseqüentes
Alunos
Falta de $
Produção em grupo
de café, bolo etc.
Dinheiro e
produção em grupo
Esta produção em grupo foi uma variável importante que manteve o grupo
junto e, além disso, fosse para o movimento estudantil.
No caso do movimento, poderiamos organizar os dados da seguinte
forma:
Tabela 4
Antecedentes R Conseqüentes
Grupos de alunos
Ambiente político
Produção em grupo
Discussão e ‘ação
política’
Reforço Social e alivio de
punição futura
Ou seja, se no início a entrevistada apontou que o motivo da participação
política dos estudantes era que eles queriam manter o funcionamento dos
órgãos ou por que todos tinham um inimigo único, após uma leitura mais
descritiva da entrevista, apontamos que a falta de dinheiro motivou a
entrevistada a formar um grupo. Este grupo foi o que levou ela a ingressar no
movimento.
Destacamos, assim, novamente a existência de um grupo anterior que
une as pessoas e produz conseqüências que mantêm este grupo unido.
Poderíamos descrever a seguinte metacontingência:
Tabela 5
OE
Priva
ção
S
d
R
C
Faz
e
r
S
d
R
C
Faz
e
r
S
d
R
C
Compra
r
S
d
R
C
Vend
e
r
$ Adquirir
Ingredient
Ingredient
‘Produt
Dinhei
Retroage
sobre o
entrelaçame
Este produto agregado que foi gerado pelo entrelaçamento das
contingências reforçou o próprio entrelaçamento e desta forma, manteve o
grupo junto e este grupo ingressou no movimento estudantil.
Poderíamos pensar no seguinte esquema para descrever esta relação:
Esquema 3: Aqui descrevemos a relação entre os participantes do grupo
onde o produto foi a venda de bolo e café para os estudantes. O produto
agregado deste entrelaçamento é o dinheiro produzido por eles. A
hipótese é a de que este produto retroagiu sobre este entrelaçamento
permitindo que este grupo ingressasse no movimento estudantil.
OE
‘Priva
ção’
de
Consti
tuição
ou
S
d
R
C
Produ
zi
r
S
d
R
C
Proposta
de
S
d
R
C
Chamar
uma
S
d
R
C
‘Ação
Polític
Grup
o
anter
ior
d
Pessoas
t
Reunião
Reunião
‘Produt
?
Retroage
sobre o
entrelaçame
Esquema 4: Neste esquema aparece o
entrelaçamento que foi advindo da
metacontingência anterior.
Neste sentido, esta metacontingência é fruto do entrelaçamento anterior,
demonstrando assim a importância do grupo anterior descrito no esquema 3.
1990
Nesta entrevista o dado que surge como relevante para a pesquisa é o
que aponta para a conclusão que o entrevistado apresenta para a participação
política dos estudantes e qual a descrição que encontramos em seu relato.
Diz o entrevistado em relação a quantidade de pessoas que participam do
movimento estudantil: “muito pequena de modo geral, to falando de um por
cento.” Diz também: “De algum modo o CA virou um lugar bem
institucionalizado pra fazer carteirinha, dormir, bater papo e ligar, usar o
telefone.” Ele atribui este tipo de participação ao seguinte: “Me parece que é
uma nova ordem mundial (...)Todo um novo modo de pensar.
Telecomunicações, tudo. Filmagens, mandar e-mail, comunicação virtual (...)
Eu acho que a nova ordem é uma ordem meio assim, de revolução invisível, de
multiplicações invisíveis, dos microcosmos.
Ou seja, o entrevistado entende que existe uma quantidade pequena de
pessoas participando politicamente do movimento estudantil. Além disso, ele
atribui esta caracteristica a uma nova forma de se pensar e acrescenta dizendo
que hoje em dia – diferente das décadas passadas – as revoluções acontecem
em locais pequenos, em ambientes diferentes dos que o movimento estudantil.
Seguimos, então adiante com nossa análise para buscar uma
compreensão do que o entrevistado atribui a falta de participação dos
estudantes.
Quando questionado se existiu algum tipo de participação em algum
momento ele descreve o seguinte fato: “Festas com certeza. Redução já teve
uma bela aceitação, um movimento grande pra caramba. Política.”
A participação das pessoas sempre foi pequena, sempre foi fraquíssima.
E assistencial e pontual.
Questiona-se então um exemplo desta descrição e ele aponta:
Aí tinha outra pessoa, aparecia umas 40, 50 pessoas na
primeira reunião, aí na segunda vinha 20, 10 e assim.
Teve um momento que teve uma participação boa, que foi a
morte do CA. Na minha gestão a gente passou pra PUC que
as pessoas só usam o CA pra telefonar, pra bater papo, pra
jogar xadrez e aí a gente falou “vamos matar todo mundo”, pra
ninguém ficar telefonando. Como matar o CA? Juntamos os
móveis em um cantinho, fechamos tudo, colocamos saco de
lixo em cima, passamos fita crepe em tudo, colocou uma faixa
na frente de obra e uma placa escrito “O CA morreu. Os
estudantes abandonaram e ele morreu.
O que sobrou pra mim? Muita discussão, muita reclamação,
muito neguinho puto querendo ligar e reclamava e tal. Isso
durou um, dois dias, até que um belo momento eu voltei de
uma aula, cheguei e no CA e ele tava interinho arrumadinho
de novo. Do jeito que tava antes. Idêntico, limpinho,
arrumadinho e tal. E as pessoas que arrumaram, lá dentro
olhando pra minha cara e falando “E agora? O que você vai
falar?
Neste momento o entrevistado aponta que quando ele colocou um tipo de
situação para os estudantes – retirada do acesso ao telefone e a carterinhas de
estudante e do espaço de convivência – eles se juntaram e se mobilizaram
para ter esse acesso novamente.
Em outro momento ele descreve uma outra situação na qual os
estudantes se juntaram:
O interessante é assim, quando a gente fazia happy hour era legal, a
gente conseguia juntar as pessoas pra fazer a decoração do happy hour. Na
semana dos bixos a gente tem uma movimentação super legal, quando chega
gente pra ver o que que é.
Organizando os dados no esquema, teríamos:
Antecedentes R Conseqüentes
Perda do telefone e
carteirinha do estudante
Arrumar o ca
Volta do telefone, volta da
carteirinha
Alguns participaram de
chapa
Aqui aparece uma relação diferente das entrevistas anteriores. A
mobilização dos estudantes esta relacionada com uma ação do movimento e
não como uma continuação de um outro tipo de participação, um grupo
anterior.
Antecedentes R Conseqüentes
Festas e
`Happy Hour`
Se juntar em grupo
e arrumar o espaço
Reforço social e festa onde
muitos estudantes se
reunem.
Tabela 7
Tabela 6
Neste ponto, é interessante notar que o entrevistado em nenhum
momento aponta a sua participação, ele sempre descreve a forma pela qual os
estudantes agem em função da participação política. Portanto, diferente das
outras entrevistas esta análise não conseguimos descrever as relações via o
comportamento do entrevistado e sim sua observação do ocorrido com os
outros.
Portanto, nesta entrevista fica claro que, segundo o entrevistado, os
estudantes se mobilizam apenas em duas situações: quando perdem o acesso
a um tipo de situação – telefone, carterinhas de estudantes e espaço de
convivência –, ou quando existe um reforçador social claro – festas e happy
hours.
Poderíamos descrever o seguinte esquema para este dado:
OE
S
av
:
Retir
ada
do
aces
S
d
R
C
Ca
nta
r
S
d
R
C
Arrumar
a
S
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R
C
Chamar
reunião
Históri
a
Presença
d
Reunião
Reunião
Escriv
ani-
nha no
Não
retroagiu
sobre o
Acess
S
d
R
C
Ca
nta
r
Reunião
Sofá
no
lu
g
a
r
Arrum
ar as
Arrum
ar o
Poltron
a no
lugar
Esquema 5: Nossa hipótese aqui é que este
entrelaçamento não foi reforçado. Ou seja, o
acesso ao telefone (produto desta relação)
não retroagiu sobre o próprio entrelaçamento
de maneira a conduzi-los a um
entrelaçamento no movimento estudantil. No
momento em que a estimulação aversiva é
retirada o grupo se desfaz.
Isto reflete que o entrelaçamento destas contingencias produziu um
consequencia para o grupo e para cada indivíduo, porém esta consequencia
não fez com que o grupo se mantivesse em uma situação futura. Portanto, não
podemos entender isto como uma metacontingências, pois seu produto
agregado não retroagiu sobre o entrelaçamento destas contingências.
Concluindo que nesta caso específico, um grupo que se formou para
retirar a presença de uma estímulação aversiva (retirada do acesso ao
telefone, carterinhas e espaço físico) não fez com que ele se mantivesse em
uma situação futura. Entendemos, então, que o grupo ao conseguir cessar a
estímulação aversiva encerrou-se.
Este aspecto é diferente dos grupos presentes nas entrevistas anteriores.
Nos três casos, os grupos anteriores ao movimento foram formados e suas
consequencias produziram uma retroação sobreo o prórpio entrelaçamento.
Fato que não foi observado nesta entrevista.
2000
Nesta entrevista a conclusão primeira que o entrevistado chega no que se
refere a participação política dos estudantes é a seguinte:
Diz ele que os jovens são comandados, influenciados e obedientes. Faz
referencia que todo estudante segue uma lógica do mercado que é: primeiro
cumprir o colégio, depois o vestibular, em seguida tirar um diploma para com
isso entrar no mercado de trabalho. Neste sentido é sempre comandado por
alguém e isto esta dentro do indivíduo e deve ser tirado. Estas informações
poderiam seguir o seguinte esquema. Diz ele:
Hoje ta péssima, como eu falei, o cara entra aqui, ele paga, o
pai dele paga pra ele ter o diploma e sair da universidade e
trabalhar quando se formar e ir pro mercado de trabalho, essa
aí é a lógica da sociedade hoje.
Mais a frente complementa:
O aluno deveria se motivar em participar ao olhar a
contradição que esta presente na sociedade. Enquanto ele
paga 1100 para a PUC tem um moleque no farol vendendo
bala. Se eles não enxergarem esta contradição não vão
participar.
Neste sentido ele atribui a lógica da sociedade atual como o motivador
principal para a falta de participação política dos estudantes. Seguimos então
com a análise para descrever de que maneira ele descreve a `lógica da
sociedade atual` como determinante para a participação fraca dos estudantes.
Organizando os dados temos:
Antecedentes R Consequentes
Falta de atenção dos
alunos (participação)
Manifestação que
incomodam os
alunos (barulho e
visual)
Reunião com alunos
Tabela 8
Ou seja, quando existe uma manifestação que incomoda os estudantes
eles em grupo vão as reuniões, porém no momento em que esta estimulação
cessa os estudantes não voltam a participar.
Mais a frente o entrevistado descreve o se trajeto dentro do movimento e
entendemos que isto traz dados para a nossa proposta:
então, antes daqui, eu nunca tinha participado de movimento
político, eu não participava muito, assim, eu sempre fui
músico, então eu nunca fui pelas vertentes corretas, eu
sempre fui mais pro...queria fazer história, eu queria fazer
política mas eu nunca tinha me envolvido, eu resolvi entrar
mesmo na universidade.
Descreve aqui, então que nunca teve uma participação política antes de
ingressar na PUC. Mais a frente ele aponta que formou um grupo antes de
ingressar no movimento estudantil.
aí a gente fez um grupo que chamava “MÔ que era o grupo
autônomo da manhã, toda terça gente se reunia depois da
aula no pátio da cruz pra gente discutir a universidade, e daí
de lá saiu a proposta de gestão.
Este grupo, segundo, que permitiu que ele ingressase no Centro
Acadêmica e posteriormente entresse no movimento estudantil.
Aqui o entrevistado reflete uma lógica que já havia aparecido nas outras
entrevistas. Ele descreve que participou de um grupo antes de ingressar no
movimento estudantil.
Da mesma forma que nas entrevistas de 60, 70 e 80 existiu um grupo
anterior a sua participação no movimento que aumentou a probabilidade dele
participar políticamente. Ou seja, o grupo MÃ gerou um produto agregado que
reforçou o entrelaçamento das contingêcias e possibilitou que este mesmo
conjunto de contingências entrelaçadas ingressa-se no movimento estudatil.
Análise dos Resultados
Poderíamos organizar estes dados em três grandes grupos: as
entrevistas de 60 e 70, a entrevista de 80 e as entrevistas de 90 e 2000:
No primeiro grupo esta disposta um lógica de formação do grupo. Quando
os entrevistados ingressam na PUC existem grupos já formados, tanto o TUCA,
quanto o CUCA já existiam e os entrevistados entraram neste grupo e a partir
dele ingressaram no movimento. Ou seja, o contexto do grupo – já existente –,
dispôs de contingências suficientemente reforçadoras para que o
entrelaçamento destas contingências se mantivesse em um momento futuro
(como demonstrado nos esquemas 1 e 2).
No segundo, existe uma lógica semelhante: existia um grupo anterior a
participação do entrevistado no movimento estudantil. Porém, este grupo não
existia quando ele entrou no movimento, e próprio entrevistado o criou. E, este
ambiente que dispunha de contingências suficientemente reforçadoras para
que o entrelaçamento destas contingências se mantivesse em momento futuro
(esquemas 3 e 4).
No terceiro grupo, poderíamos analisar da seguinte forma: o grupo que se
formou em 90 para reabrir o CA não produziu um produto que retragiasse
sobre o entrelaçamento das contingências. O que ocorreu foi, o que mantinha
as contingências se entrelaçando foi o fato a retirada da estimulação aversiva,
após esta retirada o grupo acabou (esquema 5). Em 2000, mesmo o
entrevistado tendo entrado no movimento via um grupo anterior – como nos
dois grandes grupo anteriores –, ele cita que os estudantes não participavam
do movimento e as situações que ele exemplifica são semelhantes a do grupo
de 90, ou seja, grupos que se unem para a retirada de uma estimulação
aversiva e no momento que isto acontece o grupo acaba.
Portanto, podemos entender que para os indivíduos participarem de um
grupo é necessário que em algum momento de sua história o fato de se
relacionar em grupo ou, entrelaçar contingências e produzir uma conseqüência
que reforce este entrelaçamento, tenha ocorrido.
Entretanto, se o grupo no qual o indivíduo participar estiver dispostas
contingências aversivas existe uma probabilidade que o grupo, ao retirar esta
estimulação acabe.
Discussão
Nossa proposta de pesquisa foi propor a Análise do Comportamento
como uma ferramenta de trabalho para a Psicologia Política entendendo,
assim, como um objetivo teórico. Por isso, fizemos uma revisão de literatura
detalhada que subsidiasse uma proposta de análise de um conjunto de dados.
Da mesma forma apontamos nossa compreensão transdisciplinar de Psicologia
Política e como isto possibilita diálogo entre várias abordagens de estudo do
comportamento político.
Neste sentido, é oportuno que agora apontemos alguns aspectos
importantes que levantamos ao longo desta pesquisa.
O primeiro deles é o fato de, ao analisar os dados, existe uma busca pelo
relacionar eventos para assim explicar um fenômeno. Esta noção parece ser
muito valiosa, pois permite que compreendamos o fenômeno como seqüência
de eventos e assim aparece uma descrição linear, apontando variáveis e
propondo possíveis intervenções futuras.
Ou seja, aparece aqui uma compreensão do fenômeno político como um
processo, como uma seqüência de eventos intercalados. Esta noção permite
que avaliemos seu caminho de construção, sua evolução e apontemos uma
possível projeção de como este fenômeno ocorrerá no futuro.
Poderíamos compreender da seguinte forma esta proposta: quando
descrevemos no Capítulo 3 os conceitos de comportamento social e de
contingências entrelaçadas descrevemos relações do tipo:
Ou seja, respostas podem ser estímulos discriminativos ou
conseqüências para uma outra resposta. Se aplicarmos esta mesma
compreensão para processos políticos, podemos entender que determinadas
ações políticas são estímulos discriminativos ou conseqüências para futuros
eventos que ocorreram.
Em nossa análise de dados isto fica claro quando descrevemos que em
1980, por exemplo, a existência de um grupo anterior ao ingresso do
entrevistado no movimento estudantil. O produto deste grupo fez com que a
própria relação entre os participantes fosse mantida a ponto de o grupo
participar do movimento.
Isso significa dizer que, o grupo – que produziu bolo e cafés para vender
– foi um dos antecedentes que aumentou a chance de nossa entrevistada em
participar do movimento estudantil. Outro evento antecedente pode ser o que
descrevemos com o ambiente PUC, ou seja, um local onde perseguidos
políticos de outras instituições se dirigiam para procurar abrigo.
A visão da Análise do Comportamento, então, aponta para uma descrição
processual, aspecto este que não compreendamos o evento como estático,
mas sim como um conjunto de relações que estão acontecendo e que
determinam seu modo de funcionar. O fato de, ao olhar para o fenômeno,
S
d
R
C
S
d
R
C
procurar seus antecedentes e conseqüentes permite também que avaliemos o
quanto é possível propor uma intervenção e em qual sentido ela pode ocorrer.
Um segundo aspecto que também merece ser comentado é a discussão
que a Análise do Comportamento traz sobre a validade do relato verbal como
dado de pesquisa. Este debate parece trazer não uma conclusão sobre o
debate, mas uma necessidade de reflexão a respeito do dado de entrevistas.
Uma compreensão de que o relato verbal é objeto de pesquisa e deve ser
avaliado como tal.
Após a análise de nossos dados entendemos que alguns elementos
mereceriam ser debatido de maneira mais profunda:
- A escolha dos sujeitos de pesquisa: não houve uma descrição objetiva
dos motivadores da escolha destes sujeitos; e
- A forma que o dado foi coletado: não houve descrição da situação na
qual a entrevista foi realizada, da mesma forma que não foi descrita a maneira
que o roteiro das entrevistas foi realizado.
Se estas informações estivessem presentes na pesquisa que realizamos
anteriormente poderíamos avaliar quais as influências que os dados obtidos
das entrevistas estiveram sujeitos e, desta forma, avaliar qual o grau de
validade deste conjunto de dados.
Cabe uma justificativa aqui de que nosso objetivo de pesquisa é, através
da análise destes dados, trazer um exemplo de aplicação do método que aqui
sugerimos, não sendo nossa intenção produzir um dado rigoroso sobre a
participação política no movimento estudantil da PUC/SP.
Neste sentido, levantamos uma seqüência de passos que talvez seja
interessante seguir para uma avaliação futura de um fenômeno político pela
ótica da Análise do Comportamento em Psicologia Política :
(1) uma primeira avaliação da seqüência de eventos que estão
relacionadas ao objeto de pesquisa: isto poderia ser feito através de dados
formais – jornais, livros, dados de pesquisas etc.;
(2) a partir disto planejar o tipo e a forma que os dados serão coletados;
(3) no caso dos fenômenos políticos nos referimos a eventos passados,
por isso uma avaliação cuidadosas – via dados coletados em 1 – a respeito de
quais seriam as pessoas mais indicadas para entrevistas é de fundamental
importância com vistas a trazer validade aos dados coletados;
(4) preparar um roteiro de entrevista que seja baseado tanto nos dados
como sofra uma constante reavaliação para analise de sua validade;
(5) cotejar dados formais com dados de entrevistas com vistas a uma
comparação e uma reavaliação do processo de coleta de dados;
(6) planejar uma forma de análise de dados que seja suficiente para uma
descrição do tipo antecedentes, respostas e conseqüentes de maneira a
buscar a descrição do processo político como seqüência de eventos.
Entendemos que estes passos sinalizam uma possibilidade de coleta de
dados, mas merece ser reavaliada e testada de maneira a produzir uma
conclusão mais apurada a este respeito.
Em síntese, descrevemos aqui o que entendemos como a principal
contribuição que a Análise do Comportamento pode trazer ao estudo do
comportamento político. Esta perspectiva de compreensão do fenômeno
político enquanto um processo sucessivo e interrelacional de eventos, traz uma
perspectiva de historicidade ao evento e de relação entre indivíduo e ambiente
fundamental para a compreensão do comportamento político.
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