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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Renata Mathias de Abreu
REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DO FONOAUDIÓLOGO NO
TRABALHO COM BEBÊS EM MATERNIDADES NA CIDADE DE
SALVADOR-BAHIA
MESTRADO EM FONOAUDIOLOGIA
São Paulo
2007
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ii
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Renata Mathias de Abreu
REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DO FONOAUDIÓLOGO NO
TRABALHO COM BEBÊS EM MATERNIDADES NA CIDADE DE
SALVADOR-BAHIA
MESTRADO EM FONOAUDIOLOGIA
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia
Universidade Católica de São
Paulo, como exigência parcial para
obtenção do título de Mestre em
Fonoaudiologia sob a orientação da
Profª. Drª. Suzana Magalhães
Maia.
São Paulo
2007
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iii
Renata Mathias de Abreu
Reflexões Sobre o Papel do Fonoaudiólogo no Trabalho com Bebês em
Maternidades na Cidade de Salvador-Bahia
Banca Examinadora
Prof.(a) Dr. (a) ________________________________________
Prof.(a) Dr. (a) ________________________________________
Prof.(a) Dr. (a) ________________________________________
Aprovada em: _____/_____/_____
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – SP.
iv
DEDICATÓRIA.
Dedico esse trabalho aos meus pequenos
pacientes e aos meus alunos que me
incentivaram a atrilhar mais esse caminho
em minha vida.
v
AGRADECIMENTOS
A Deus pela força para fazer realizar um sonho. Pela saúde, paz, paciência nos
momentos difíceis.
Aos meus pais e minha irmã pela atenção e valiosa contribuição nesse momento de
minha vida.
À Drª. Suzana Magalhães Maia, pelas orientações, incentivos e conquistas.
As entrevistadas pela colaboração e participação neste estudo.
Às amigas Anamélia, Fabíola, Laura, Rafaela, Rina, Valéria, Verônica e Ana
Maria que acreditam em meu potencial profissional e me auxiliaram, principalmente,
nos momentos
difíceis.
Às Dras. Dilselita e nica Neri e Direção da Maternidade Climério de Oliveira ,
pelo incentivo profissional e a oportunidade de realizar meu sonho junto a esta
instituição, desenvolvendo o projeto de atuação fonoaudiológica junto aos bebês.
Obrigada pela compreensão de alguns momentos ausentes, sendo incrivelmente
carinhosas.
Às amigas Ana Paula, Silvia e Desirré, pela ajuda profissional e incentivo emocional
para conclusão deste projeto.
vi
Às amigas do condomínio, da igreja, de infância, os colegas de trabalho, do
pilates, os amores e desamores, pela amizade, solidariedade e compreensão da minha
ausência em alguns momentos.
A todos os meus colegas mestrandos, pela colaboração e incentivo nesta jornada.
A João e Graça da biblioteca da DERDIC SP pela ajuda no momento de realização
deste projeto.
A Cláudia Perrotta pelas palavras que transformaram o meu sonho em realidade.
Aos familiares que me incentivaram e participaram de todas as etapas deste estudo.
A todos que direta e indiretamente participaram de alguma forma dessa conquista em
minha vida.
vii
Epígrafe
“Uma criança inspira-me dois
sentimentos: Ternura pelo que é e respeito
pelo que pode vir a ser”
(Louis Pasteur)
viii
RESUMO
Este estudo teve como objetivo descrever e compreender o desenvolvimento do
trabalho do fonoaudiólogo com bebês nas maternidades de Salvador, como foi seu
início e como as práticas estão configuradas diante das condições institucionais. Para
tanto, foi realizado um levantamento dos hospitais/maternidades existentes nessa cidade
e, em seguida, foi aplicado um questionário para verificar a existência de UTIN’s e
USIN’s e em quais delas havia fonoaudiólogos atuando, o tipo de vínculo desse
profissional com a instituição e qual a área de atuação. Foram também realizadas oito
entrevistas com fonoaudiólogas que implantaram o trabalho em maternidades de
Salvador (Ba). As entrevistas foram transcritas, textualizadas, transcriadas e, então,
analisadas e discutidas. Das 16 maternidades existentes, apenas 14 responderam ao
questionário, sendo que em 9 destas fonoaudiólogos trabalhando - um deles como
trabalho voluntário e outro, por contrato. Alguns apenas prestavam serviço ao hospital
ou, em alguns casos, haviam sido contratadas pela família dos RN’s. A maioria dos
profissionais atua na área de audiologia, realizando a TAN; também alguns que
realizam atendimentos esporádicos de Motricidade Orofacial (MO). As entrevistadas
abordaram aspectos como: escassez de formação acadêmica para a atuação com bebês;
busca de recursos para complementar a formação e inserção na área; formas de
divulgação do trabalho em consonância com a produção científica desse campo de
conhecimento, como uso de protocolos; dificuldades de inserção nas maternidades,
como delimitação de áreas afins, resistência e desconhecimento dos parte da equipe de
saúde; possibilidades de inserção nas equipes multiprofissionais; iniciativas para
implantação do serviço de Fonoaudiologia nas maternidades nas áreas de audiologia e
motricidade oral, como preconizado na literatura da área; perspectiva do mercado de
trabalho para o fonoaudiólogo em instituições públicas e privadas. Apesar de o campo
estar em expansão, por meio deste estudo foi possível constatar que há ainda um
descompasso entre a necessidade do trabalho fonoaudiológico e a real atuação desse
profissional nas instituições hospitalares de Salvador. Mesmo com uma produção
significativa de estudos na área, que refletem o crescimento das diversas práticas
clínicas, ainda persiste uma pergunta: por que ainda não temos fonoaudiólogos inseridos
nas equipes multiprofissionais de hospitais/maternidades como uma rotina?
PALAVRAS-CHAVE: Fonoaudiologia; maternidade; Triagem auditiva neonatal;
Motricidade orofacial.
ix
ABSTRACT
This search´s objective was to describe and understand the development of the
Speech Pathology intervention at babies in maternities from Salvador, how was the
beginning of this intervention and how the practice is configured according the
intitutions’ conditions. For this, a survey was realized to know the hospitals/maternities
that exist in this city and then, a questionnaire was aplyed to verify if these places
contain ICU´s and SICU’s and Speech Pathologist working, the kind of relationship
between this professional and the institution, and also the area that these professionals
are working. Also were realized eight interviews with Speech Pathologists who
introduced the service in maternities in Salvador (Ba). The interviews were transcribed,
textualized, transformed to a deposition, and then analyzed and argued. From 16
maternities, only 14 answered the questionnaire, and there are Speech pathologists
working in 9 of these- one of them is voluntary and another is under contract. Some
Speech Pathologists just served the hospital or, in some cases, they were called by the
newborn’s family. The most part of these professionals work at the audiology area,
realizing NHS; there are also some of them who realize sporadic sessions in oral
motricity (OM). The interviews covered aspects like: scarcity at the undergraduation to
act with babies; search of ways to complement the undergraduation and insert the
professionals in the area; ways to spreading the service next to scientific production at
the area, like the use of protocol; difficulties to be accepted at maternities, like
delimitation of interested areas, resistance and lack of knowledge at others health
professionals; possibility of acceptance in some multiprofessionals teams; initiative to
introduce the service of Speech Pathology in maternities at audiology and oral motricity
areas, like preconized at the literature; perspectives of work to Speech pathologists in
public and private institutions. In spite of the area be in expansion, through this study
was possible to know that there is a lack between the Speech pathologist´s presence
necessity, and the way these professionals are working in hospitals/maternities in
Salvador. Even with good searches around this topic, the ones that reflect the
development of the most diversified clinical practices, there is already a question: why
are there no Speech pathologists inserted at multiprofessionals teams in
hospitals/maternities as a routine?!
KEYWORDS: Speech Pathology, maternity; Neonatal hearing screening (NHS); Oral
motricity.
x
SUMÁRIO
Dedicatória iv
Agradecimentos v
Epígrafe vii
Resumo viii
Abstract ix
Introdução 1
A Clínica de Beês em Salvador
3
Práticas Fonoaudiológicas em Neonatologia: Revisão de Literatura 7
2.1 –
O Surgimento da Neonatologia no Mundo
7
2.2 – As Áreas de Atuação do Fonoaudiólogo nas Maternidades 9
2.2.1 – Atuação na Á
rea da Motricidade Orofacial
9
2.2.2 –
Atuação na Área de Audiologia
18
2.2.3 – O Acompanhamento Fonoaudiológico dos Bebês de Alto Risco –
Follow up
24
2.3 –
A realidade da atuação Fonoaudiológica com bebês na Bahia
29
O Percurso Metodológico
33
3.1 – Etapas da Pesquisa 34
3.2 – As Entrevistas 35
Apresentação, Análise e Discussão dos Dados
38
4.1 – Presença do Fonoaudiólogo nas maternidades de Salvador
38
4.2 – A Análise das Entrevistas 39
A - Formação Acadêmica: escassez de conteúdos fundamentais para o trabalho
com bebês
39
B – Busca de recursos para complementar a formação e inserção na área: os
parâmetros da literatura e as formas de divulgação do trabalho
43
C – Dificuldades de inserção do fonoaudiólogo nas maternidades: delimitação
de áreas afins, resistência e desconhecimento
46
D – O trabalho multiprofissional: inserção nas equipes hospitalares e cursos de
aperfeiçoamento
53
E – Implantação do serviço de Fonoaudiologia nas maternidades: as várias
áreas de atuação
57
F – A Triagem Auditiva Neonatal (TAN) 60
G – Perspectiva do mercado de trabalho para o fonoaudiólogo: atuação como
voluntário, convênios, contratos
66
Considerações Finais 71
Referências Bibliográficas 75
Bibliografia Complementar 81
ANEXOS 82
1. INTRODUÇÃO
Como disciplina configurada cientificamente, a Fonoaudiologia tem ampliado o seu
campo de investigação e atuação nas últimas duas décadas.
No Brasil, mais especificamente no Estado de São Paulo, o trabalho fonoaudiológico
em berçários iniciou-se no final da década de 80 (XAVIER, 1998), em ambulatórios de
Neonatologia, tendo como finalidade promover ações preventivas e educativas específicas
para o desenvolvimento da audição, da linguagem e da função estomatognática dos bebês,
potencializando e auxiliando na saúde geral destes pacientes (ANDRADE, 1996).
Também os programas de follow-up
1
caracterizam-se como de prevenção, sendo que
devem ter início com atividades pré-natais, tais como orientação às gestantes, assistência
imediata ao recém-nascido (RN), e seguir com o acompanhamento do desenvolvimento da
criança, em programas de intervenção precoce, objetivando criar condições plenas para a
comunicação humana (BASSETTO e RAMOS 1996).
No caso de recém-nascidos de alto risco, temos ainda o suporte à família, a detecção e
intervenção precoce nas alterações do desenvolvimento global e de linguagem e a realização
de pesquisas com grupos específicos de pacientes (LOPES, 1999).
Na área do diagnóstico de problemas de audição, a detecção precoce da deficiência
auditiva é um pré-requisito fundamental para a aquisição da linguagem, essencial ao
desenvolvimento psíquico, social e cognitivo da criança. O diagnóstico precoce possibilita
uma intervenção também precoce, aumentando as probabilidades comunicativas e
minimizando dificuldades.
Porém, como a Triagem Auditiva Neonatal Universal (TANU) ainda é uma meta
inatingível para muitas regiões brasileiras, os programas existentes baseiam-se nas decisões
1
Ambulatório de atendimento a crianças de alto risco.
2
do Joint Committee on Infant Hearing
2
, que recomenda o uso de critérios de alto risco para
realizar o encaminhamento às avaliações auditivas objetivas, possibilitando, assim, o
diagnóstico precoce da deficiência auditiva (BASSETTO, 1998; LEWIS,1996; LICHTIG,
1994 )
Além do trabalho de triagem auditiva, a Fonoaudiologia começou a voltar suas
atenções para a alimentação dos pacientes internados, principalmente em maternidades e em
Unidades de Terapia Intensiva (UTI’s) Neonatais.
Podemos dizer, então, que a preocupação com a audição e também com a alimentação
dos bebês prematuros tem levado os fonoaudiólogos a se especializarem cada vez mais,
atendendo pacientes ainda nos leitos dos hospitais, o que não acontecia antes dos anos 80,
quando muitas crianças que hoje são tratadas precocemente chegavam aos consultórios com
seqüelas (neurológicas, motores...).
Nas grandes cidades do país, como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, entre outras, o
fonoaudiólogo se encontra inserido em projetos do Ministério da Saúde, como o Programa
Mãe-Canguru
3
, Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno
4
, no Humaniza
SUS
5
, no Programa de Saúde Auditiva
6
. Entretanto, esta ainda não é uma realidade em todo o
território brasileiro.
2
Comitê criado em 1969, sobre fala e audição da Academia Americana de Pediatria.
3
O Programa Mãe-Canguru é voltado para o atendimento a recém-nascidos prematuros de baixo peso, tendo
sido idealizado em 1979 por médicos neonatologistas colombianos. Seus idealizadores defendiam a permanência
das mães junto aos bebês, substituindo o calor mecânico da incubadora pelo calor transmitido no contato pele a
pele, por um período de três a quatro dias no hospital, para, em seguida, receberem alta e passarem a ser
acompanhados em ambulatório.
4
Foi inserido a partir de junho de 1998, na área de Saúde da Criança do Ministério da Saúde, que passou a
implementar as ações já existentes, e a implantar outras, no sentido de melhorar os índices de aleitamento
materno no país.
5
É uma Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão da Saúde, que opera transversalmente;
implementada em todas as instâncias do Sistema Único de Saúde, tem como objetivo garantir o direito
constitucional à saúde para todos, com profissionais comprometidos com a ética da saúde e com a defesa da
vida.
6
Tem como objetivo desenvolver ações de promoção, prevenção e recuperação da Saúde Auditiva das crianças.
3
1.1- A Clínica de Bebês em Salvador
Em Salvador - Bahia, o trabalho que o fonoaudiólogo vem desenvolvendo com bebês
em maternidades ainda é bem recente. Ao iniciar minha atuação nessa cidade, em 2001,
observei que vários profissionais advindos de outros Estados procuravam atuar além de seus
consultórios, em hospitais e maternidades, com crianças e especialmente bebês, na
intervenção precoce. Porém, encontravam dificuldades em implantar projetos com esse perfil.
Várias hipóteses podem ser levantadas para isso: o desconhecimento dos profissionais de
saúde sobre o trabalho fonoaudiológico com bebês, a ausência de uma formação específica,
pois o assunto era pouco abordado nos cursos de graduação, além da dificuldade de inserção
desse profissional na cobertura dos planos de saúde.
Em 2000, a Triagem Auditiva Neonatal (TAN), também conhecida como “Teste da
orelhinha”, começou a ser realizada em Salvador, no Hospital Aliança, como prestação de
serviço à família dos bebês, abrindo a possibilidade para a entrada dos fonoaudiólogos nas
Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). Também teve início o encaminhamento dos
bebês aos consultórios, para a realização do exame de Emissões Otoacústicas, ocorrendo
então uma maior divulgação das atividades desenvolvidas pela Fonoaudiologia.
Na cidade do Salvador, passado recente demonstra que outros profissionais, como os
fisioterapeutas, inseridos no sistema hospitalar, eram responsáveis por trabalhar com
questões de sucção e deglutição nas maternidades. Em casos mais complicados, como disfagia
em pacientes neurológicos, quando o fisioterapeuta não conseguia resolver o problema, um
fonoaudiólogo era então chamado para dar pareceres, mas como atendimento particular.
Em 2004, após ministrar uma palestra na Universidade do Estado da Bahia (UNEB),
no curso “Abordagem Interdisciplinar na UTI Neonatal”, uma fisioterapeuta com experiência
no trabalho em equipe com fonoaudiólogos, em UTIN no Rio de Janeiro, conhecendo poucos
4
profissionais que atuavam nessa área e nenhum trabalhando efetivamente em maternidades de
Salvador, convidou-me a prestar um trabalho voluntário em uma instituição pública,
Maternidade Climério de Oliveira (MCO), onde ela também era voluntária
7
.
Iniciei o trabalho pelo Follow up, atendendo quinzenalmente crianças que ficavam
internadas na Unidade Semi-Intensiva Neonatal (USIN), e logo após passei a atuar nessa
entidade pública. O trabalho foi se desenvolvendo e criando a demanda para ampliação da
equipe de profissionais envolvidos. O novo fonoaudiólogo voluntário, que se incorporou à
equipe da maternidade, se dedicou ao Follow up e concentrei-me no atendimento aos bebês
das enfermarias e da USIN
8
.
Nessa época, como professora do curso de Fonoaudiologia, formalizei um convênio
entre a MCO e a Universidade do Estado da Bahia (UNEB), objetivando a assistência nas
enfermarias em avaliação e estimulação da sucção/deglutição de bebês, orientação às mães
sobre amamentação, desenvolvimento de linguagem e de audição. Esse estágio, porém, durou
apenas um ano, porque o Curso de Fonoaudiologia estabeleceu outras necessidades
9
, mas o
lugar do fonoaudiólogo já havia sido consolidado nessa instituição.
Em 2006, após dois anos e meio entre voluntariado e convênio com a Universidade
(UNEB), fui contratada para integrar a equipe de saúde da Maternidade Climério de Oliveira e
atuar no campo da Neonatologia, situação que se configurou como pioneira.
7
Segundo a Lei 9.608, de 18 de fevereiro de 1998, Art. 1., considera-se serviço voluntário a atividade não
remunerada, prestada por pessoa física à entidade pública de qualquer natureza ou instituição privada de fins não
lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social,
inclusive, mutualidade.
8
A Maternidade Climério de Oliveira é de média complexidade e possui Unidade Semi-Intensiva Neonatal.
Os RN’s mais graves que nascem lá são transferidos para outra unidade de alta complexidade assim que
conseguem vagas nas UTIN’s.
9
O curso de Fonoaudiologia da UNEB, assim como os das outras Universidades/Faculdades da Bahia, é
relativamente novo, sendo que a primeira turma se formou em 2003. Os estágios ocorriam extra-muros, pois a
Clínica Universitária demorou um pouco para ficar pronta. Assim sendo, com a finalização das obras, os estágios
começaram a ser realizados na Clínica Escola. Quando as turmas de estágio aumentam o número de alunos,
eventualmente ocorre alguma prática extra-muros.
5
As atividades vêm se estruturando na Maternidade de forma gradual, e atualmente,
uma equipe de fonoaudiólogos voluntários vem realizando curso de pré-natal
10
para as
gestantes a cada quinze dias, abordando questões da amamentação, desenvolvimento e
estimulação de linguagem e audição.
Nas enfermarias e USIN, trabalhamos na avaliação/estimulação da sucção e deglutição
dos recém-nascidos, e no Follow up, com uma equipe interdisciplinar, atendemos às crianças
de risco e que se submeteram à TAN
11
, realizando as Emissões Otoacústicas.
Em complementação a essas atividades, estamos realizando um grupo de estudos do
Projeto Mãe-Canguru, objetivando a normatização e organização do seu funcionamento a fim
de torná-lo mais humanizado, preocupado com as mães e familiares dos bebês.
A experiência clínica e a oportunidade de realizar o mestrado, levaram-me a
circunscrever minha dissertação nesse tema, com o intuito de descrever e compreender como
vem sendo desenvolvido o trabalho do fonoaudiólogo com bebês nas maternidades de
Salvador Bahia, como foi o seu início, quais suas facetas e seus significados, quais as
práticas desenvolvidas e como se encontram emolduradas pelas condições institucionais.
Para tanto, apresento aqui recortes de oito entrevistas com fonoaudiólogas que têm
experiência com bebês e que foram responsáveis pela implantação desse trabalho nas
maternidades de Salvador.
Este estudo está dividido em quatro capítulos: o primeiro traz uma revisão
bibliográfica sobre a história da Neonatologia, de acordo com as experiências relatadas na
literatura produzida no Brasil, em especial sobre as práticas fonoaudiológicas em
neonatologia nas maternidades; o segundo explicita o percurso metodológico que viabilizou a
10
O curso de pré-natal é realizado por toda a equipe de saúde da maternidade, para as mães cadastradas na
instituição e que realizam o acompanhamento lá.
11
Nessa maternidade havia o teste da orelhinha (Emissões Otoacústicas) um ano, também como trabalho
voluntário.
6
pesquisa; o terceiro apresenta dados de um questionário enviado aos hospitais de Salvador, no
intuito de rastrear a presença de fonoaudiólogos em seus quadros profissionais, bem como
trechos das entrevistas, com análise e discussão. E, por último, as considerações finais, com
uma síntese da inserção da Fonoaudiologia nas maternidades de Salvador.
7
2- PRÁTICAS FONOAUDIOLÓGICAS EM NEONATOLOGIA:
REVISÃO DA LITERATURA
Neste capítulo, apresento alguns trabalhos produzidos no Brasil, nos últimos dez anos,
para compreensão do papel do fonoaudiólogo em maternidades e das atividades que vêm
sendo desenvolvidas, tanto na área da motricidade orofacial, da audiologia, quanto do
acompanhamento fonoaudiológico no Follow up. Foi realizado um levantamento bibliográfico
em periódicos, livros, teses e dissertações, tanto no âmbito nacional quanto local (Salvador).
Para introduzir o trabalho do fonoaudiólogo na Neonatologia, é interessante relatar
como esta sub-especialidade da Pediatria surgiu. Abordamos aqui a visão de Avery (1984).
2.1 – O Surgimento da Neonatologia no Mundo
Pierre Budin, obstetra francês preocupado com as crianças que ele conduzia ao
nascimento, estabeleceu o primeiro ambulatório de puericultura no Hospital de Charité, em
1892, em Paris. Posteriormente, coordenou um departamento especial para crianças
debilitadas, sendo o responsável pelo desenvolvimento dos princípios e métodos que
passaram a formar a base da medicina neonatal.
Um aluno de Budin organizou, então, uma exposição sobre recém-nascidos
prematuros, e após essa exposição percorrer o mundo, o pediatra Julius Hess, do Hospital de
Michael Reese, de Chicago (EUA), criou um importante centro de recém-nascidos
prematuros, em 1914, tornando-se uma autoridade americana na questão. Foi por meio desse
pediatra que o tratamento neonatal entrou para a cadeira acadêmica.
Também Sir Alexander Simpson, professor emérito de obstetrícia e doenças de
mulheres e crianças da Universidade de Edinburg, na Escócia, se propôs a estudar crianças
8
nascidas antes do termo, bem como aquelas congenitamente debilitadas ou mesmo as nascidas
a termo e seu cuidado, tanto na maternidade como após a alta hospitalar.
Embora as taxas de mortalidade ainda continuassem altas no início do século XX,
no final desse século ocorreram progressos no tratamento obstétrico e neonatal. Vários
estudos sobre como tratar as doenças específicas da prematuridade foram sendo
desenvolvidos, além de serem montadas incubadoras e criados vários tratamentos profiláticos.
Iniciou-se, então, uma disputa entre obstetras e pediatras pela assistência aos recém-nascidos.
Entre 1870 e 1920, surgiu na Europa um movimento pela saúde da criança, que tinha
como objetivo preservar a vida de todas elas, sendo registrado como um dos primeiros
momentos da medicina neonatal. O cuidado preventivo passou, então, a ser praticado,
maternidades foram ampliadas e mais incubadoras foram fabricadas.
Em 1947, na Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, foi criado um centro que
possuía leitos reservados a mães com gravidez de risco para partos prematuros, e programas
de treinamento dirigidos a médicos e enfermeiros, a serem ministrados em todo o estado do
Colorado.
Com os avanços técnico-científicos na Neonatologia, reduziram-se as taxas de
mortalidade, pois a infecção hospitalar foi controlada com o isolamento restrito do recém-
nascido na maternidade; porém, isso acabou ocasionando a separação entre mãe e filho,
prejudicando o aleitamento e o vínculo entre eles.
Segundo Lussky (1999), as fundações, que antes eram designadas para prestar
assistência às crianças abandonadas, foram modificadas e transformadas em hospitais infantis,
e os pediatras assumiram um grande papel no tratamento neonatal.
A partir disso, a preocupação com os recém-nascidos, com a alimentação, a relação
mãe-bebê, as novas doenças específicas da prematuridade, que até então ainda eram
9
desconhecidas, passaram a preocupar a equipe de saúde, e cada vez mais profissionais se
especializaram para contribuir no desenvolvimento desses recém-nascidos.
O fonoaudiólogo também precisou se especializar, deixando cada vez mais de atender
os pacientes apenas em seus consultórios particulares e iniciando um trabalho ainda nos leitos
dos hospitais. Com isso, vários estudos na área da Fonoaudiologia têm sido realizados, para
um aperfeiçoamento na atuação com bebês.
De fato, no levantamento realizado em livros, revistas científicas, monografias,
dissertações e teses de doutorado da área, nos últimos dez anos, encontramos várias
abordagens sobre o tema.
2.2 – As Áreas de Atuação do Fonoaudiólogo nas Maternidades
A inserção da Fonoaudiologia nesse panorama é recente. O fonoaudiólogo cuida dos
aspectos relacionados à alimentação e ao aleitamento materno, ao desenvolvimento da
audição e da linguagem, como também do contato mãe-bebê; trata da comunicação de
maneira global, integrando sua atuação a todas as interfaces do trabalho multidisciplinar
realizado no berçário (FACCHINI et al., 2000).
2.2.1- Atuação na Área da Motricidade Orofacial
No que diz respeito à alimentação, os bebês pré-termos têm um alto risco para
dificuldades alimentares e de permanência em estado de alerta. Sua imaturidade neurológica,
tônus muscular anormal, reflexos orais ausentes ou incompletos, fraqueza geral e dificuldades
de se auto-regular podem reduzir a qualidade de suas habilidades motoras orais. Essas
características interferem no sincronismo de sucção-respiração-deglutição, que é o mecanismo
10
oral motor primário, e no volume ingerido, acarretando o retardo do ganho de peso e,
conseqüentemente, prolongamento da alta hospitalar (AMIEL-TISON, 1968; HERNADEZ,
1996; MORRIS e KLEIN, 1987; SILVA, 1999).
Segundo Madureira (2005), o fonoaudiólogo é o profissional indicado para a
realização de uma avaliação clínica da deglutição; porém, a triagem para levantamento dos
índices de risco para os distúrbios de deglutição poderá ser utilizada por qualquer profissional
da área da saúde que faça parte da equipe de cuidados com o bebê. O autor ressalta também
que a interdisciplinaridade é imprescindível na compreensão da problemática que envolve a
função alimentar.
Garcez (1999) demonstrou os limites e possibilidades do trabalho fonoaudiológico em
berçários a partir da realidade de um hospital do interior do Estado do Rio Grande do Sul;
para tanto, realizou observação direta dos bebês, entrevistas e orientações às mães e troca de
informação com a equipe de saúde. O autor investigou, mais especificamente, o conhecimento
do papel do fonoaudiólogo e a necessidade de sua atuação junto à neonatologia. A análise dos
dados demonstrou que, embora existam demandas que justifiquem essa atuação, tanto junto
aos bebês quanto às mães e à equipe, um desconhecimento do papel desse profissional.
Comprovou ainda a necessidade de um profissional que intermedeie a relação
pais/bebê/equipe, no sentido de esclarecer dúvidas e atuar, de forma prática, nas questões que
dizem respeito à alimentação e às funções de sucção, deglutição e respiração, além de outras
ligadas ao desenvolvimento geral do bebê.
Bühler e Limongi (2004) realizaram uma pesquisa com o propósito de identificar os
fatores de intercorrências clínicas neonatais mais freqüentes que apresentam relação com o
início e com a extensão da transição para a alimentação por via oral em recém-nascido pré-
termo. Por meio desta, concluíram que correspondência entre esses fatores e que o
fonoaudiólogo que atua em Unidade Neonatal deve ter conhecimento das principais
11
intercorrências que acometem os RNs de risco para poder atuar de uma forma mais segura.
Entre essas intercorrências, encontram-se: desconforto respiratório precoce (DRP), distúrbios
metabólicos, icterícia tardia e/ou precoce, risco infeccioso, asfixia perinatal, refluxo
gastroesofágico e fenda palatina.
Nesses casos, devido à necessidade de um período de preparo ou treinamento para que
a sucção nutritiva (SN) ocorra em um menor tempo e/ou de forma eficiente, uma técnica
utilizada é a sucção não-nutritiva (SNN), descrita como um padrão organizado e repetitivo de
sugadas curtas e estáveis, com pausas longas ou irregulares, na qual o RN faz movimentos,
sem ter a introdução de líquido na cavidade oral (CAETANO, FUJINAGA e SCOCHI, 2003).
Alguns protocolos foram então criados com o propósito de avaliar a SNN e a SN nos
bebês de risco, e são eles que auxiliam na avaliação/estimulação dos recém-nascidos nas
UTI`s.
Xavier (1998) mostrou a necessidade de um protocolo de avaliação da alimentação e
descreveu alguns critérios que deveriam ser levados em consideração, como a melhora do
quadro respiratório, balanço calórico de 90 cal/kg/dia, maturidade neurológica do recém-
nascido, alterações cardíacas.
Neiva (2000) também elaborou um formulário de avaliação da SNN e SN de recém-
nascidos com o intuito de auxiliar no processo avaliativo fonoaudiológico junto a essa
população. Esse formulário foi baseado na aplicação de 120 recém-nascidos com idade
gestacional entre 34 e 42 semanas.
Neiva e Leone (2006) descreveram a evolução do padrão de sucção e os efeitos da
estimulação da SNN em recém-nascido pré-termo (RNPT). Foram estudados 95 RNPT
adequados para a idade gestacional (IG), com IG ao nascer menor ou igual a 33 semanas,
distribuídos de forma aleatória em três grupos. Os autores concluíram que o padrão de sucção
dessa população evolui em função da IG corrigida, tendo a estimulação da SNN aumentado a
12
probabilidade de ocorrência de vedamento labial, ritmo, acanolamento, peristaltismo e
coordenação sucção-deglutição-respiração; o dedo enluvado foi considerado como a forma
mais eficaz de estimulação da SNN.
Apesar de conhecer as alterações que os bicos artificiais (chupetas e mamadeiras)
podem causar nas arcadas dentárias das crianças, alguns fonoaudiólogos atuam na
estimulação da SNN e SN com esses utensílios. Outros, os quais trabalham em Hospitais com
a Iniciativa Amigo da Criança, utilizam o copinho como instrumento para complementação
das dietas dos RN`s, pois acreditam que, se sugar na mamadeira e chupeta, o bebê acaba
deixando o seio materno mais precocemente.
Para as autoras Bühler e Limongi (2004), novos estudos devem ser realizados com as
perspectivas de se verificar alterações em longo prazo no desenvolvimento do sistema
estomatognático; e quanto à adequação do método do copinho para a alimentação do
prematuro, que ainda poucos estudos sobre a eficácia desse instrumento para a
alimentação nos berçários.
De qualquer forma, no que se refere à estimulação sensório-motora oral, a intervenção
fonoaudiológica tem se mostrado vital para a maturação e organização das estruturas
orofaciais do bebê, tornando-as aptas à alimentação segura (WELTER, 1999).
As técnicas de alimentação e suas repercussões oromotoras nos bebês de risco
internados na UTIN do Hospital das Clínicas de Porto Alegre foram focos de estudo de
Oliveira e Delgado (2005). Várias avaliações de sucções nutritivas e não-nutritivas foram
realizadas e os autores observaram que os bebês apresentaram indício de um bom
desenvolvimento das funções estomatognáticas para receber a alimentação por via oral,
aceitando o aleitamento materno complementado por copinho ou mamadeira.
Andrade e Guedes (2005) realizaram uma intervenção fonoaudiológica,
especificamente no processo de alimentação em recém-nascidos prematuros inseridos no
13
Método Mãe-Canguru. O estudo foi realizado em 16 recém-nascidos prematuros com idade
gestacional entre 30 e 35 semanas e 6 dias, de ambos os sexos, sem intercorrências graves,
nascidos na Maternidade Escola Assis Chateaubriand. Os sujeitos foram avaliados,
submetidos à intervenção fonoaudiológica e reavaliados durante a alta hospitalar. Os autores
concluíram que, com a intervenção fonoaudiológica, houve uma melhora significativa em
relação ao estado comportamental, sinais de estresse, coordenação entre sucção, deglutição e
respiração e ritmo de sucção. Portanto, essa intervenção constituiu uma ótima alternativa para
países em desenvolvimento, afinal, além de facilitar a relação mãe-bebê, pode contribuir para
a efetividade da amamentação, diminuindo o tempo de permanência hospitalar, acarretando
menores custos para a saúde pública.
Turczinski, et al. (2006) verificaram o nível de conhecimento de dez mães internas no
Alojamento Mãe-Canguru da Maternidade Escola Assis Chateaubriand, Fortaleza, Ceará,
quanto à comunicação e amamentação. Os dados foram coletados por meio de um
questionário semi-estruturado. Os autores constataram que todas conheciam a importância da
comunicação com o bebê durante a realização do método Mãe-Canguru e os benefícios de
uma amamentação eficaz, especialmente no intuito de promover o crescimento harmonioso
das estruturas que compõem o sistema estomatognático.
Ribeiro et al. (2004) avaliaram a eficiência da mamada em recém-nascido a termo,
verificando a relação entre a idade gestacional de 37 a 41 semanas e o APGAR
12
superior a
sete no primeiro e quinto minuto. Foram avaliados 35 recém-nascidos a termo no Hospital
Municipal de Santo André, no setor do berçário de alto e médio risco, por meio de um
protocolo de avaliação fonoaudiológica que caracterizou essa população. Foi possível
12
Algumas avaliações de condições de nascimentos e eficiência da reanimação são informações importantes
num prognóstico futuro de evolução do quadro clínico patológico do bebê. O APGAR é um índice baseado
nessas condições de nascimento dos RN`s. Esta avaliação baseia-se na avaliação da freqüência cardíaca, no
esforço respiratório, no tônus muscular, na irritabilidade reflexa e cor.
14
observar que outros fatores como a maturação neurofisiológica (dias de vida), a experiência
de sucção e o diagnóstico podem interferir na eficiência da mamada. Em relação ao APGAR,
não foi verificada relação entre a nota e a eficiência da mamada
13
.
Delgado e Halpern (2005) verificaram a amamentação de prematuros com menos de
1500 gramas e associaram com disfunções orais e apego mãe-bebê, por meio de entrevistas
com as mães, avaliações orais nos bebês e dos sinais de apego, como o diálogo entre ambos
durante a amamentação. Concluíram, então, que algumas variáveis avaliadas constituíram-se
em dificuldades para estabelecer a amamentação.
Mariotto (2003) discutiu os distúrbios alimentares em bebês, articulando a noção de
sujeito para a Psicanálise e a importância da oralidade no estabelecimento do laço afetivo
mãe-bebê, principalmente no que se refere à experiência de frustração. Esse estudo propõe
uma modalidade de compreensão do distúrbio alimentar, bem como uma reflexão sobre os
efeitos da intervenção do fonoaudiólogo nesses casos.
Botelho e Silva (2003) avaliaram funcionalmente a disfagia de lactentes em UTI
Neonatal, com o intuito de: detectar os critérios clínicos na avaliação da disfagia em lactentes
sindrômicos e patológicos; testar a hipótese de associação entre achados funcionais e/ou
videoendoscópicos; mostrar a importância da atuação conjunta entre o fonoaudiólogo e o
médico otorrinolaringologista na avaliação da disfagia nesses bebês. A amostra foi composta
por 15 lactentes nascidos no Hospital Maternidade de Campinas (SP), para os quais houve
solicitação de uma avaliação fonoaudiológica por parte do médico neonatologista responsável.
Todos os lactentes foram avaliados uma vez pelo mesmo fonoaudiólogo e pelo mesmo
médico otorrinolaringologista.
13
Pires e Modes (2003) revisaram a literatura para verificar se o Índice de Apgar pode ter valor prognóstico na
Clínica Fonoaudiológica, e chegaram à conclusão que esse índice usado isoladamente é inadequado como
parâmetro de predição de evolução clínica, havendo pouca ou nenhuma funcionalidade para o fonoaudiólogo.
15
Os autores observaram que existe uma relação de dependência estatisticamente
significativa entre as variáveis: aspiração após a fase faríngea e a penetração (alta e baixa) e
sensibilidade extra-oral nas bochechas e a sensibilidade na cartilagem aritenóidea. Este último
resultado mostra a associação entre um achado funcional obtido pelo fonoaudiólogo e um
achado videoendoscópico do médico otorrinolaringologista, o que evidencia a importância do
trabalho conjunto desses dois profissionais da saúde.
Sousa e Bitar (2003) acompanharam a alimentação de lactentes com refluxo
gastroesofágico (RGE) no Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em Alterações das
Funções Alimentares, do curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo. O objetivo do estudo era caracterizar a oferta de alimentos a lactentes com RGE
e avaliar os efeitos do tratamento fonoaudiológico, através da avaliação e acompanhamento
dos mesmos, considerando os utensílios empregados, postura corporal, modo e ritmo de oferta
dos alimentos e época da realização das transições alimentares. Os autores concluíram que o
acompanhamento fonoaudiológico foi eficaz na adequação dos aspectos envolvidos na oferta
de alimentos.
Rocha e Delgado (2007) relataram o caso de um recém-nascido pré-termo com
gastroquise que foi alimentado por sonda. A avaliação fonoaudiológica foi realizada de
acordo com o protocolo padronizado do serviço de Neonatologia e apresentou os seguintes
resultados: órgãos do sistema estomatognático no que se refere à postura, conformação e
mobilidade dentro da normalidade; reflexos orais presentes; força e ritmo adequados na SNN;
alteração na sensibilidade oral com reflexo nauseoso anteriorizado e exarcebado; sinal de
estresse de alteração respiratória durante a SN na mamadeira; e dificuldade de pegar no seio
materno. Foram realizadas três sessões de intervenção fonoaudiológica, uma vez por semana,
com orientação para que a equipe de enfermagem desse continuidade à estimulação oral nos
demais dias. Em uma dessas sessões, a mãe recebeu orientações sobre os benefícios da
16
amamentação e a importância do uso adequado de chupetas e bico de mamadeira do tipo
ortodôntico para o desenvolvimento adequado das funções orais do bebê. O recém-nascido
sujeito do estudo de caso teve alta sem alterações orais, mamando no seio materno com
complementação de mamadeira, sendo enfatizado para a mãe a importância da intervenção
fonoaudiológica para a adequação da função alimentar.
Encontramos também um grupo de pesquisas na área que vem destacando a
importância do vínculo mãe-bebê no que se refere às questões de alimentação, bem como
aspectos do manejo clínico fonoaudiológico.
Souza e Maia (2005) procuraram realizar uma varredura sobre a prática clínica
fonoaudiológica junto a bebês e suas especificidades, investigando os aspectos do manejo
clínico-terapêutico por meio de depoimentos de fonoaudiólogos que atuam com bebês. Assim
verificaram que houve um reconhecimento por parte dos profissionais de que
características específicas que necessitam ser contempladas nesse contexto; porém, uma
necessidade de produção científica maior nessa área, não abordando aspectos orgânicos,
mas também o entorno desses pacientes, na atenção com a sua constituição enquanto pessoa.
Ferraz (2003), utilizando a concepção de desenvolvimento humano de Winnicott,
descreve uma possível atuação do fonoaudiólogo em Unidades Neonatais e discute os
fundamentos e as técnicas utilizadas nos atendimentos. Esse estudo apontou a importância de
o atendimento fonoaudiológico ser iniciado logo no primeiro dia de vida do bebê,
possibilitando o vínculo mãe-bebê e a adequação ambiental para o desenvolvimento da função
de alimentação do recém-nascido.
Pego (2005) realizou um estudo baseando-se nos pressupostos teórico-metodológicos
que advêm das articulações estabelecidas entre fundamentos da Neurociência, da Psicanálise
Winnicottiana e também do Tratamento Neuroevolutivo-“Conceito Bobath” e da Teoria
Síncrono-ativa, importantes para a compreensão do trabalho fonoaudiológico voltado ao
17
recém-nascido de risco. O objetivo desse trabalho foi delinear princípios e técnicas do
atendimento fonoaudiológico a recém-nascidos pré-termos, desde o momento da sua
internação no Centro de Terapia Intensiva Pediátrico (CTIP), até a alta hospitalar, incluindo
especificidades do enquadre envolvendo a mãe e a equipe multiprofissional. Para tanto, foi
realizado um estudo de caso de um recém-nascido pré-termo muito baixo peso, com
dificuldades alimentares e em uma condição de alto risco para problemas no
desenvolvimento, especialmente na alimentação e na constituição do vínculo mãe/bebê. Deu-
se destaque à importância da mãe como sujeito responsável pela construção do primeiro
ambiente experienciado pelo bebê, fundamental, portanto, em sua constituição como pessoa.
A autora concluiu que o trabalho fonoaudiológico exige que o profissional esteja
sintonizado tanto com o bebê, quanto com a mãe e a equipe hospitalar. Nesta perspectiva, é
possível acolher a díade mãe/bebê, humanizar o ambiente de UTIP e favorecer ao pequeno
paciente a conquista das aquisições próprias desse período inicial da vida.
Pelosini (2005), embasada na perspectiva psicanalítica Winnicottiana, em especial no
conceito de amadurecimento pessoal, circunscreveu os possíveis desdobramentos clínico-
fonoaudiológicos de entraves na relação inicial mãe-bebê. Foi realizado um estudo de caso
com uma criança de quatro anos de idade, de origem peruana, nascida com uma malformação
congênita craniofacial fissura palatina que foi diagnosticada seis meses após o
nascimento; porém, antes disso, os pais não haviam recebido orientações precisas sobre como
proceder com o filho, em especial no que se referia à alimentação, que se constitui em um
momento inicial da relação mãe-bebê. Com o relato minucioso dos pais sobre a história
familiar foi possível inferir que os entraves iniciais que a mãe vivenciou nos cuidados com
seu filho refletiram-se nas condições clínicas apresentadas pela criança, especialmente em
suas dificuldades de experimentar novas situações de alimentação, o que também
comprometia sua motricidade oral.
18
Os resultados mostraram que o manejo terapêutico utilizado pela fonoaudióloga, o
qual propiciava condições para o estabelecimento de uma relação de confiança se
estabelecesse, favoreceu ao paciente desvendar possibilidades de vivenciar novas experiências
com a alimentação e de uso de estruturas motoras. A terapeuta também procurou acolher as
necessidades da família, procedimento habitual na área fonoaudiológica quando o trabalho é
realizado com crianças pequenas.
Aquino (2005) propôs que o fonoaudiólogo se inserisse como elemento facilitador da
relação mãe-bebê de alto risco, uma vez que o envolvimento sensorial é imprescindível para o
desenvolvimento psíquico do bebê e a emergência de sua linguagem oral. Essa proposta
surgiu a partir da constatação de que muitas mães de recém-nascidos prematuros, internados
na UTI Neonatal e Pediátrica do Hospital das Clínicas “Samuel Libânio”, de Pouso
Alegre/MG, não conseguiam identificar a expressão corporal dos filhos. Inclusive,
apresentavam dificuldades em envolver-se sensorialmente com eles durante a evolução
clínica e a capacitação dos bebês para alimentação oral exclusiva.
Ao longo da pesquisa, ficou evidente que a mediação fonoaudiológica fortaleceu a
confiança da mãe em si e em sua capacidade de se disponibilizar ao filho e reconhecê-lo como
objeto de amor que demanda seus cuidados, repercutindo no envolvimento sensorial oferecido
por ela.
2.2.2- Atuação na Área da Audiologia
Outro aspecto bem explorado na Neonatologia é a área da audição, sendo que uma
crescente preocupação com a detecção precoce de alterações, no intuito de buscar um
desenvolvimento das habilidades comunicativas o mais perto da normalidade. Essa
preocupação pode ser observada nos estudos citados a seguir.
19
Em pesquisa sobre a evolução da triagem auditiva neonatal, Brasil (2004) concluiu
que houve um crescimento desses programas, tanto aqui como em outros países. Assim, de
1964 a 1970, houve o início da implantação de programas de triagem auditiva universal por
meio de procedimentos comportamentais. De 1971 a 1992, a triagem auditiva neonatal foi
restringida aos recém-nascidos de risco. a recomendação mais recente, compreendida entre
1993 a 2003, volta-se para a triagem auditiva neonatal universal, uma vez que tecnologia
para realizá-la, como as Emissões Otoacústicas e a Audiometria de Tronco Cerebral.
Importante destacar que, na cidade do Salvador, estamos ainda na transição do
segundo para o terceiro período de desenvolvimento da Triagem Auditiva.
Fuzetti (2002) e Ulhoa (2002) estudaram as Emissões Otoacústicas Espontâneas e as
Emissões Otoacústicas Evocadas Transientes em bebês. A primeira autora estudou recém-
nascidos sem indicadores de risco para deficiência auditiva, e a segunda pesquisou as
Emissões Otoacústicas em crianças com indicadores de risco para a deficiência auditiva.
Soares (2000), em seu estudo, sugeriu uma padronização de respostas de neonatos,
aproximada aos achados da literatura, enquanto Guerrero (2000) descreveu os resultados da
Triagem Auditiva Neonatal em recém-nascidos com e sem indicadores de perda auditiva.
Gattaz, Santos e Mahl (2001) comentam que as Emissões Otoacústicas têm sido uma das
técnicas mais utilizadas nas triagens auditivas neonatais.
Rossino (2001) comparou as respostas da triagem auditiva com o desenvolvimento
global infantil, observando concordância entre os resultados.
Durante e Carvalho (2001) investigaram o efeito da estimulação acústica contralateral
na captação das Emissões Otoacústicas Evocada Transiente e revelaram uma supressão
contralateral.
Dantas (2001) analisou a amplitude das Emissões Otoacústicas Evocadas Transientes
na presença de ruído contralateral em neonatos sem risco para deficiência auditiva e Gattaz,
20
Santos e Mahl (2001) verificaram a incidência do registro de Emissão Otoacústica de recém-
nascidos com peso inferior a 1500g e com peso entre 1500g e 2500g.
Ribeiro (2003) estudou o comportamento da amplitude de resposta das emissões
otoacústicas evocadas transientes, por meio da avaliação de112 prontuários de recém-nascidos
a termo, sendo que o teste foi efetivado no setor de audiologia do Centro de Especialidades
Médicas da Secretaria Municipal de Saúde da cidade de Araucária, região sul do Brasil. O
comportamento da amplitude das emissões otoacústicas evocadas transientes encontrados, em
valores médios, foi, para o sexo masculino, de 7,41 dB NPS para a orelha direita e 7,43 dB
NPS para a orelha esquerda; e no sexo feminino, de 7,96 dB NPS para a orelha direita e 7,28
dB NPS para a orelha esquerda. a média da resposta foi semelhante nas variáveis sexo e
orelha, não havendo uma diferença significativa nesse aspecto. Contudo, o autor observou
uma grande variação nos valores de médias encontrados, principalmente no sexo feminino.
Durante e Carvalho (2006) estudaram as mudanças das emissões otoacústicas por
transientes na supressão contralateral em lactentes. Foram analisadas as mudanças no sistema
olivo-coclear medial (SOCM) relacionadas à idade, por meio da supressão das emissões
otoacústicas transientes (EOAT) em lactentes saudáveis. Foram avaliados 25 lactentes a termo
sem indicadores de risco auditivo, em dois momentos: ao nascimento e ao sexto mês de vida.
Os autores concluíram que a magnitude da supressão das EOAT diminuiu do nascimento ao
sexto mês de idade. Além disso, a associação entre a estimulação acústica contralateral e um
sistema rápido na medida das EOAT possibilita o monitoramento não invasivo dos
mecanismos eferentes auditivos e mostra-se clinicamente promissora na avaliação do estado
coclear e do desenvolvimento da função eferente auditiva de lactentes de risco.
Bittencourt et al. (2005) caracterizaram os riscos auditivos mais freqüentes do
Berçário de Médio Risco do HCFMRP USP por meio do levantamento dos prontuários de
60 recém-nascidos, hospitalizados entre dezembro de 1999 a março de 2000, observando
21
aspectos que tivessem relação com risco para deficiência auditiva. Os indicadores de risco
mais encontrados foram: permanência em incubadoras por mais de sete dias, utilização de
medicamentos ototóxicos, peso inferior a 1500g, ventilação mecânica por mais de cinco dias,
Apgar baixo, tamanho pequeno para a idade gestacional e antecedentes familiares de perda
auditiva. Os autores chegaram à conclusão que a instituição de triagem auditiva neonatal é de
extrema importância e que, quando não for possível realizá-la de forma universal, deve ser
proporcionada aos bebês de berçários ditos de alto e médio risco, garantindo, dessa forma, a
precocidade do diagnóstico e da intervenção na deficiência auditiva.
Ribeiro e Mitre (2004) avaliaram o conhecimento das mães de recém-nascidos sobre
Triagem Auditiva Neonatal (TAN) no pós-parto imediato e, caso elas aprovassem esse
procedimento, os exames auditivos eram então realizados. A amostra desse estudo foi
composta por pacientes internados em pós-parto imediato, sendo entrevistadas 25 mães, cujos
filhos nasceram pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e outras 25 cujos filhos tiveram
cobertura de convênio ou particular. A maioria (78%) não conhecia a TAN, e das que não
quiseram realizar o exame, 55% justificaram que o valor era elevado, caro e os convênios não
cobriam seu custo. Os autores concluíram que a TAN é um assunto novo para a população em
geral e, portanto é necessário realizar um trabalho de conscientização sobre a importância da
detecção precoce da perda auditiva. Além disso, tanto os profissionais como os pais deveriam
se unir e se mobilizar para que os convênios dêem cobertura para o exame.
Castro (1999) estudou a avaliação audiológica infantil em crianças de 0 a 1 ano de
idade, pois atualmente, existem inúmeras testagens simples, fáceis e rápidas que podem ser
realizadas na busca de um diagnóstico precoce e preciso. Foram abordados nesse estudo
principalmente a realização da anamnese, a testagem instrumental automatizada, a avaliação
comportamental, a observação a estímulos verbais, a audiometria com reforço visual, o uso
das emissões otoacústicas evocadas e os potenciais evocados de tronco cerebral. O autor
22
ressaltou a importância da avaliação infantil, assim como a escolha do método mais adequado
a cada situação, buscando conscientizar os profissionais ligados à área, particularmente os
fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas e, principalmente, os pediatras e neonatologistas,
que são os primeiros profissionais em contato com a criança.
Barreira-Nielsen et al. (2007) apresentaram os resultados do processo de implantação
de um programa de saúde auditiva neonatal em serviço público e revisaram os aspectos
determinantes no planejamento, efetividade, manutenção e aprimoramento. Dos 4951 bebês
recém-nascidos no período de 2002 a 2005, foram avaliados 3364 (67,9%), sendo 425
(12,61%) portadores de indicadores de risco para deficiência auditiva. Houve confirmação da
perda auditiva em sete recém-nascidos (0,3%) por meio do Potencial Evocado Auditivo do
Tronco Encefálico. Para os autores, treinamento e supervisão da equipe são cruciais, além de
um sistema de agendamento e acompanhamento dos casos em seguimento, para diminuição
da evasão e localização das perdas auditivas de aparecimento tardio, associado aos programas
de triagem, à responsabilidade da confirmação do diagnóstico e intervenção. Desta maneira,
teremos condições de mensurar a deficiência auditiva no Brasil e compará-la com o perfil
epidemiológico de países onde esses programas delinearam a saúde auditiva de sua
população.
Silva (2005) descreveu e analisou interpretações de características e medida obtida na
timpanometria de neonatos ouvintes com sonda de tom prova de 226, 678 e 1000 Hz. A
interpretação das curvas timpanométricas com sonda de 1000 Hz utilizando o protocolo
proposto por Sutton et al. (2002) foi a que possibilitou a classificação de normal na maior
porcentagem das orelhas avaliadas, sugerindo que este pode ser um método de grande
utilidade na avaliação de bebês. Recomendou, porém, que pesquisas futuras com esse
protocolo sejam realizadas.
23
Fichino (2005) estudou os tempos de latência para cliques por via aérea e óssea do
Potencial Evocado Auditivo do Tronco Encefálico em crianças de até 2 meses de idade sem
perdas auditivas e, também, descreveram os resultados desse teste de uma criança de quatro
meses de idade com malformação crânio-facial. A autora concluiu que o Potencial Evocado
Auditivo do Tronco Encefálico por via aérea e via óssea auxilia no diagnóstico diferencial de
perdas auditivas condutiva, neurossensorial e mista, devendo ser usado na prática clínica
audiológica na avaliação de crianças que não respondem fidedignamente para avaliação
comportamental.
Pinto (2005) estudou as emissões otoacústicas produto de distorção em lactentes de até
dois meses de idade e descreveu os achados do registro delas por meio da análise do nível de
resposta, do nível de ruído e da relação sinal/ruído em todas as bandas de freqüências; da
análise do nível de resposta em relação às variáveis: dias de vida, gênero, pico de pressão na
timpanometria, o estado do lactente durante o exame e a distribuição do percentil do nível de
resposta. Chegou à conclusão que houve uma tendência de diminuição do nível de resposta a
partir dos 30 dias de vida.
Ribeiro (2005) analisou a vivência de pais de bebês durante o período compreendido
entre a suspeita e a conclusão do diagnóstico da deficiência auditiva no filho. A partir do
relato de suas experiências com Programas de Triagem Auditiva Neonatal, são discutidas as
implicações dessas experiências na sistematização de protocolos e na atuação das equipes
profissionais que atuam em Programas de Triagem Auditiva Neonatal. Foram observados que
muitos momentos difíceis enfrentados pelos pais das crianças poderiam ter sido evitados se
não houvesse falhas no protocolo, etapas mal definidas e articuladas entre si e conduta
inadequada de alguns profissionais por falha na formação acadêmica.
A autora concluiu que um programa de saúde auditiva precisa ser constituído não
pela etapa de identificação de alterações auditivas por meio da TAN, mas também pelas
24
etapas da conclusão do diagnóstico e intervenção fonoaudiológica. Essas etapas precisam
estar bem definidas e engajadas no processo para que, mesmo havendo uma falha na triagem,
a criança tenha acesso imediato às demais etapas. A Triagem Auditiva Neonatal é uma
interferência na construção do vínculo entre os pais e o bebê por ser realizada nos estágios
iniciais da vida da criança, mas se a família for acompanhada em cada fase do processo por
um profissional preparado, essa relação poderá ser poupada de maiores prejuízos.
Dias (2005) analisou criticamente o processo de implementação do Programa de
Triagem Auditiva Neonatal no Hospital e Maternidade São José, situado na cidade de
Conselheiro Lafaiete, interior do Estado de Minas Gerais. Foi observado que apesar da TAN
não ser ainda Universal, a porcentagem de bebês triados aumentou com o desenvolver da
pesquisa, sendo que a porcentagem de recusa à triagem foi mais alta nos primeiros meses. A
partir de novembro de 2004, houve um aumento do número de bebês triados na alta
hospitalar, o que pode ter sido observado devido à mudança de alguns procedimentos.
Para a autora, algumas das dificuldades enfrentadas na execução da triagem podem ser
controladas com a modificação de alguns procedimentos. Para que o programa de TAN seja
realizado com sucesso, é fundamental obter o apoio da equipe médica e administrativa do
hospital.
2.2.3- O Acompanhamento Fonoaudiológico dos Bebês de Alto
Risco – Follow Up
Em algumas maternidades, após a alta hospitalar ocorre um programa de
acompanhamento dos bebês de alto risco, denominado Follow up, em que as crianças recebem
atendimentos por uma equipe especializada em acompanhar seu desenvolvimento neuro-
25
psico-motor. A seguir, apresento alguns estudos que abordam os resultados desse tipo de
acompanhamento.
Alves et al. (2007) identificaram a prevalência e as causas de desmame do seio
materno precoce nos recém-nascidos pré-termo, participantes do Método Mãe Canguru em
uma maternidade-escola em Alagoas. Para tanto, aplicaram um questionário contendo
questões objetivas em 33 mães de recém-nascidos pré-termo/lactentes internos na enfermaria
canguru e que compareceram aos retornos ambulatoriais, no período de fevereiro a junho de
2006. Periodicamente, foi realizada a análise dos prontuários dos bebês após a alta hospitalar,
observando a manutenção do aleitamento materno, a ocorrência de desmame e suas
respectivas causas. Todos os bebês se encontravam em aleitamento materno exclusivo na alta
hospitalar, sendo que, no período dos retornos, o percentual de desmame foi de 27,3%, com a
maior ocorrência no terceiro mês de vida. O estudo revelou, portanto, baixos índices de
desmame precoce quando comparados aos percentuais observados em pesquisas realizadas
em âmbito nacional, devido ao aumento dos retornos às visitas ambulatoriais. A maior causa
de desmame precoce na população estudada relacionou-se a fatores sócio-culturais. Desta
forma, o programa de atenção humanizada Método Mãe Canguru mostrou-se eficaz no que
diz respeito ao incentivo ao aleitamento materno exclusivo.
Também Foiadelli et al. (2005) verificaram a situação do aleitamento materno
exclusivo um mês após a alta hospitalar de recém-nascidos pré-termo (RNPT), para
identificar possíveis motivos de seu insucesso. Aplicaram, então, três questionários às mães
(ao nascimento, próximo e um mês após a alta hospitalar dos RNPT) e fizeram avaliação da
mama materna, do sistema estomatognático do bebê e das sucções não-nutritiva e sucção
nutritiva em seio materno dos RNPT (englobando aspectos da morfologia mamária, pega e
postura), antes da alta hospitalar e um mês após a alta. Participaram da pesquisa 14 RNPT,
26
nascidos em um Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, entre agosto e outubro
de 2002. Um mês após a alta hospitalar, 28,5% estavam em aleitamento materno exclusivo.
Os autores concluíram que não houve relação estatisticamente significante entre o
aleitamento e o sistema estomatognático, sucção não-nutritiva e sucção nutritiva dos RNPT,
escolaridade materna, ou experiência anterior de amamentação. Observaram, porém, que
houve relação estatisticamente significante entre o aleitamento materno exclusivo e o não uso
de bicos artificiais, e entre presença de fissura e alteração na sucção nutritiva. Por fim,
ressaltaram que a porcentagem de RNPT em aleitamento materno exclusivo está aquém do
esperado e que os profissionais de saúde devem ter conhecimento sobre a intervenção do bico
artificial, a fim de orientar as mães sobre a técnica adequada de amamentação e sobre os
fatores que podem contribuir para o desmame precoce.
Silva et al. (2005) levantaram os métodos de alimentação utilizados em recém-
nascidos com fissura labiopalatina durante a internação e após a alta hospitalar e, em especial,
a experiência das mães desses bebês em relação ao aleitamento materno. Foram entrevistadas
mães de 50 crianças portadoras de fissuras labiopalatinas, menores de 5 anos, de ambos os
gêneros, sem outras alterações congênitas, sendo que um quarto dessas mães não havia
recebido orientações sobre amamentação. Os autores observaram que o aleitamento natural
foi mais satisfatório em crianças com fissura menos complexa e que a sucção insuficiente foi
a principal causa da substituição do aleitamento natural por outras formas de alimentação.
Durante a internação e a fase domiciliar, a maior variedade de métodos de alimentação foi
encontrada em bebês com fissura transforame. Ou seja, as dificuldades no aleitamento natural
em crianças com fissura labiopalatina se relacionam, principalmente, ao tipo de fissura e às
orientações recebidas pelos profissionais das maternidades.
Também com relação a bebês com fissura, Di Ninno et al. (2006a) investigaram quais
informações que os pais gostariam de receber após o nascimento da criança, ainda na
27
maternidade. Foram então entrevistadas 60 mães, que relataram quais orientações receberam
na maternidade, bem como quais julgavam serem essenciais no período neonatal. A maioria
delas (65%) relatou que preferia ter tido o diagnóstico da fissura durante a gestação, mas não
houve diferença significativa quanto a esse aspecto por tipo de fissura. Com relação às
dificuldades encontradas, não houve diferença entre o grupo de mães que recebeu ou não
orientação na maternidade. No entanto, no que se refere aos problemas com alimentação,
estes foram maiores em crianças com fissura envolvendo o palato do que naquelas com
fissura apenas labial. Por fim, independentemente do tipo de fissura, a maior parte das mães
relatou que orientações sobre a forma de amamentação da criança e as possibilidades de
tratamentos existentes são as mais importantes no período neonatal e devem ser fornecidas
ainda na maternidade; as informações sobre o possível aparecimento de problemas
otológicos, ortodônticos e alterações de fala, embora importantes, podem ser deixadas para
uma outra oportunidade.
Os autores concluíram que as informações que os pais mais gostariam de receber no
período neonatal referem-se à forma de amamentação da criança e às opções de tratamentos
existentes.
Di Ninno et al. (2006 b) identificaram a freqüência de diagnósticos pré-natais de
fissuras labiopalatinas e a influência da época dos mesmos sobre as famílias. Para tanto,
aplicaram 75 questionários às mães de crianças fissuradas de lábio e/ou palato, nascidas após
1993, em três instituições de tratamento, sendo que apenas 20% dessas mães receberam
diagnóstico pré-natal da fissura, o que ocorreu após o ano de 2000, demonstrando que esse é
um fato recente nessa região. Os autores encontraram diferença em relação ao tipo de fissura,
sendo que o número de diagnósticos realizados no pré-natal foi maior quando o lábio era
acometido, que, nesses casos, aumentam-se as chances de visualização pela
ultrassonografia. Concluíram, então, que o diagnóstico precoce da fissura é recente e exerce
28
influência positiva sobre as famílias, que, apesar de sentirem medo diante da malformação
desconhecida, demonstram preferência pelo diagnóstico pré-natal e maior facilidade em
aceitar e cuidar do bebê.
Felício et al. (2003) investigaram a relação do distúrbio de fala com a história de
sucção e as desordens miofuncionais orais. Foram avaliadas pelo setor de fonoaudiologia 50
crianças com média etária de 6,5 anos de idade, sendo seus pais entrevistados. De acordo com
a análise estatística, o distúrbio de fala foi associado à maior duração do aleitamento artificial
e da sucção não-nutritiva, à postura anormal da língua e lábios e à mobilidade anormal da
língua. Os autores concluíram que a sucção prolongada (aleitamento artificial e hábitos) pode
modificar o ambiente oral e dificultar a coordenação para a fala.
Pfitscher e Delgado (2006) caracterizaram o desenvolvimento do sistema
estomatognático em crianças que nasceram prematuras de muito baixo peso, após a transição
alimentar. Participaram dez crianças selecionadas a partir do banco de dados de uma pesquisa
realizada com prematuros de muito baixo peso ao nascer. A média de idade era de três anos e
dez meses. Na ocasião da pesquisa, 90% das crianças avaliadas alimentavam-se de sólidos,
mas tomavam mamadeira. A grande maioria apresentava algum hábito oral, e aquelas que
faziam uso de chupeta e mamadeira concomitante apresentavam mordida aberta ou cruzada.
Apesar de pertencerem a um grupo de risco para o desmame precoce, a média de aleitamento
materno complementado foi de cinco meses e 24 dias. A maioria não utilizou uma boa
transição alimentar e permanecia com hábitos orais deletérios, o que poderia prejudicar o
desenvolvimento do sistema estomatognático.
29
2.3 - A Realidade da Atuação Fonoaudiológica com Bebês na Bahia
Na Bahia, várias pesquisas voltadas para os recém-nascidos vêm sendo desenvolvidas
por alunos de graduação em Fonoaudiologia, as quais são citadas a seguir.
Segundo Vergne et al. (2004), a prevalência do distúrbio da alimentação em neonatos
prematuros da Maternidade Climério de Oliveira, nascidos no período de janeiro a junho de
2003, relacionou-se à dificuldade e/ou impossibilidade de alimentação por via oral, com a
utilização de vias alternativas de alimentação (enteral/parenteral); ao tempo de internamento;
à presença de refluxo gástrico, regurgitamento e/ou vômito e a alguns distúrbios respiratórios:
desconforto respiratório, apnéia, dispnéia, taquipnéia. Os autores concluíram que
necessidade da atuação do profissional responsável pela intervenção no RN para a adequação
da alimentação por via oral.
Melo e Costa (2005) buscaram verificar a associação entre o período da amamentação
e o desenvolvimento de hábitos orais viciosos. Foram aplicados 83 questionários a mães de
crianças com idade entre três e seis anos, estudantes de uma escola particular de Salvador. Os
autores constataram que 93,9% das crianças foram amamentadas, sendo que aquelas que o
foram por um período mais curto apresentaram maior prevalência de hábitos orais viciosos,
quando eram analisados globalmente. Entretanto, quanto maior foi o período de amamentação,
menor a prevalência dos hábitos de sucção de chupeta e mamadeira e menor o tempo de
persistência dos hábitos. Assim, 69,5 % das crianças que foram amamentadas por um período
de 0 até 3 meses desistiram do hábito depois dos 4 anos de idade. 82,3 % daquelas que
foram amamentadas por um período de 4 a 6 meses e 93,2%, por mais de 6 meses desistiram
antes dos 4 anos de idade. Houve, então, associação entre o período de amamentação e a
prevalência de hábitos orais viciosos, assim como com a sua persistência, demonstrando a
30
necessidade de esclarecimentos sobre prejuízos que eles possam causar ao sistema
estomatognático das crianças.
Valente et al. (2004) investigaram o conhecimento que o corpo clínico de uma UTI
neonatal tem a respeito da função do fonoaudiólogo como coadjuvante no processo de
desenvolvimento e maturação das funções básicas para a alimentação do RN de alto risco.
Participaram desse estudo oito médicos neonatalogistas da UTI neonatal do hospital Santo
Amaro. Pôde-se observar que esses médicos realizaram poucos encaminhamentos de bebês
com dificuldade de alimentação para o atendimento fonoaudiológico, uma vez que não
estabeleceram contato direto com este profissional, impossibilitando, então, que o
fonoaudiólogo demonstrasse seus conhecimentos e possibilidades de atuação.
Leal (2005) levantou informações referentes à queixa de dificuldades de sucção do
peito materno, obtidas nos prontuários de crianças nascidas a termo, de parto natural, no
período de junho a novembro do ano de 2004, no Instituto de Perinatologia da Bahia
(IPERBA). Por meio da análise desses prontuários, a autora levantou dados sobre a freqüência
de registros contendo essas dificuldades e o tempo de permanência hospitalar dos neonatos
que as apresentaram. De acordo com os critérios de inclusão da pesquisa, foram selecionados
1466 prontuários, sendo que 22,4% (329) não informavam sobre a amamentação e sucção do
neonato, e 77,6% (1137) continham tais informações. Destes, 90,8% (1032) referiam o
sucesso da amamentação, enquanto em 9,2% (105) havia dados de dificuldades no
aleitamento materno, porém sem que determinassem o aumento da permanência hospitalar
das mães e neonatos envolvidos. Portanto, a escassez de dados registrados em prontuários
torna-se prejudicial, tanto para o paciente quanto para o hospital, pois impossibilita a
comunicação efetiva entre a equipe multidisciplinar do hospital, dificultando,
consequentemente, a compreensão dos casos, a adoção de condutas adequadas e a
implantação de serviços futuros.
31
No âmbito fonoaudiológico, as informações sobre as dificuldades de sucção de
neonatos via seio materno, registradas em prontuários, certamente auxiliam na avaliação e
intervenção, bem como, num futuro follow-up dessa população.
Em um estudo comparativo entre uma população de RN’s de alto risco e RN’s
normais, na mesma faixa etária, 0 e 12 meses, Argolo e Abreu (2007) utilizaram uma escala
de avaliação da aquisição e desenvolvimento da linguagem, a Early Language Milestone
Scale. Foram avaliadas 15 crianças, sendo oito prematuras e sete a termo. Os autores
concluíram que não houve diferença entre o grupo de crianças a termo e pré-termo, apesar das
prematuras terem apresentado diversos fatores de risco para desenvolvimento da linguagem.
Apesar da equiparação quanto aos comportamentos de linguagem dos dois grupos, quanto ao
estado comportamental, as crianças prematuras se mostraram mais hipoativas, realizando com
menor freqüência as atividades propostas.
Em estudo realizado em um Hospital Amigo da Criança, na cidade de Salvador-Bahia,
Santos e Abreu (2007) caracterizaram a primeira mamada dos recém-nascidos e compararam
com as possíveis dificuldades apresentadas na mamada após 24 horas. As autoras observaram
que a primeira mamada dos recém-nascidos não ocorreu dentro da primeira meia hora de vida,
como rege o quarto passo da Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC). Também foram
verificados comportamentos indicativos de dificuldades para a amamentação, mediante
aplicação de protocolo. Devido à orientação por parte dos profissionais da maternidade, na
mamada após 24 horas foi percebida uma redução no número de dificuldades tanto das mães
como dos bebês durante a lactação.
As autoras concluíram que é necessária a participação dos profissionais de saúde para
a facilitação da realização do quarto passo da IHAC. também a necessidade da avaliação
da mamada dos binômios mãe/bebê, de modo que as dificuldades sejam rapidamente
identificadas.
32
Silva e Abreu (2007) caracterizaram os neonatos atendidos pelo serviço de
Fonoaudiologia durante o ano de 2006, de uma maternidade pública de Salvador-Bahia. Para
esse estudo, foram utilizados 194 prontuários de neonatos nascidos de janeiro a dezembro de
2006 e que foram atendidos pela Fonoaudiologia na Unidade Semi-Intensiva Neonatal
(USIN), Alojamento Conjunto, follow-up e Enfermaria Mãe-Canguru. Dessa forma, foi
verificada a existência de uma população bastante variada no ambiente de uma maternidade,
sendo que, independente da idade gestacional, o padrão de sucção pode apresentar algum tipo
de alteração, levando a uma amamentação não eficaz. Parece ser necessário, então, um
trabalho de orientação e acompanhamento interdisciplinar, por parte dos profissionais que
atuam na maternidade, fundamental para uma melhora na qualidade de vida dos neonatos.
33
3- O PERCURSO METODOLÓGICO
A presente pesquisa caracteriza-se como qualitativa, de tipo exploratório, buscando
compreender a especificidade do fenômeno estudado, respeitando a sua singularidade.
O estudo foi realizado na cidade do Salvador, sendo que iniciamos identificando
quantas e quais maternidades possuem UTIN’s e USIN’s e quantas e quais delas
disponibilizam trabalho fonoaudiológico aos pacientes. Para tanto, consultamos a Secretaria
da Saúde do Estado da Bahia (SESAB), no intuito de obter dados oficiais, e posteriormente
nos deslocamos a cada uma delas, pois o fonoaudiólogo poderia não estar referido em seus
quadros de funcionários.
Diante da lista de profissionais que atuavam com bebês em Salvador, optamos por
trabalhar com aqueles que tivessem experiência na área e que foram pioneiros na implantação
de seus serviços nas maternidades. Assim verificamos que, atualmente, contamos com 22
fonoaudiólogos, a maioria recém-formada, se especializando na área de bebês.
Escolhemos, então, oito fonoaudiólogas para relatar o trabalho que vêm realizando,
que foi então analisado, buscando apresentar um panorama e os problemas enfrentados pelos
fonoaudiólogos na implantação de seus trabalhos com bebês em maternidades.
Segundo Turaro (2003), esse número de sujeitos permite a realização de pesquisa de
cunho qualitativo, possibilitando profundidade e análise, o que resulta numa nova e rica
compreensão da experiência, principalmente por tratar-se de pesquisa de caráter exploratório
que pretende abrir um campo e delimitar questões para serem aprofundadas em estudos
futuros.
34
3.1 - Etapas da Pesquisa
O projeto foi inicialmente submetido à avaliação e aprovação da Comissão de Ética de
Fonoaudiologia da PUC-SP, conforme prevê a Resolução 196/96, do Conselho Nacional de
Saúde do Ministério da Saúde, sendo que foi iniciada após a análise e parecer favorável
desse comitê (protocolo n° 059/2006).
Após o levantamento de dados oficiais sobre as maternidades existentes em Salvador,
junto a SESAB, esta secretaria encaminhou a pesquisadora às próprias diretorias de cada
maternidade, tanto no serviço público, como privado, que atendem pelo SUS, para verificar
quais delas contavam com UTIN’s e USIN’s, qual a composição da equipe de profissionais e
se dentre eles havia fonoaudiólogos. Também foi pesquisada a vinculação destes profissionais
junto a esses serviços. Os hospitais/maternidades particulares também foram procurados.
Foi entregue um questionário em todas as maternidades e em hospitais com
maternidades, para auxiliar no levantamento de dados iniciais (ANEXO 3).
A partir desse momento, foi realizado um contato via telefone com os fonoaudiólogos
que atuam nas maternidades, a fim de realizar o convite para participação na presente
pesquisa. Foram entrevistadas fonoaudiólogas que constavam no levantamento realizado
previamente, sendo que todas implantaram serviços de atendimento a bebês em maternidades
de Salvador Bahia. Antes do início das entrevistas, cada uma delas assinou o termo de
consentimento livre e esclarecido (ANEXO 1), necessário à realização da entrevista.
As entrevistas foram previamente marcadas e agendadas em locais e horários mais
convenientes às participantes, tendo duração de trinta minutos a uma hora, aproximadamente,
preferencialmente realizadas em uma sala tranqüila, sem ruído e confortável. Apenas uma das
entrevistas não pôde ser realizada em condições ideais, sendo o local a casa da entrevistada.
35
3.2 - As Entrevistas
A primeira entrevistada foi uma fonoaudióloga recentemente contratada como
preceptora de Residência Multiprofissional em Fonoaudiologia Neonatal em uma das
maternidades pesquisadas. Formada pela Universidade do Estado da Bahia em 2004, atuou
como voluntária na Maternidade Climério de Oliveira antes de assumir o cargo de preceptora
no Hospital Roberto Santos.
A segunda entrevista foi realizada com uma fonoaudióloga pioneira na implantação da
Triagem Auditiva Neonatal (TAN), porém, na ocasião deste estudo, ela ainda não encontrava-
se vinculada à maternidade e seu trabalho era realizado como prestação de serviço à família.
Formada dezoito anos pela PUC de São Paulo, é especialista em Audiologia Clínica
doze anos e já vinha trabalhando com bebês antes de começar a realizar a TAN.
A entrevistada seguinte estava formada dez anos pela Universidade de Fortaleza,
também com especialização em Audiologia Clínica e formação no método Neuroevolutivo
Bobath. Na ocasião deste estudo, trabalhava na área de Motricidade Orofacial com questões
relacionadas à alimentação de bebês e crianças.
A quarta entrevista foi realizada com uma profissional formada dezessete anos pela
Universidade Federal de Santa Maria e que iniciou o trabalho com bebês pela TAN, em 2001.
Também havia realizado o curso de especialização em Audiologia Clínica.
A quinta entrevistada trabalhava em Salvador desde 1994 com Triagem Auditiva
Neonatal; porém, até 2003, realizava avaliação auditiva comportamental, e após um curso
de Emissões Otoacústicas, em Salvador, adquiriu o equipamento e também começou a
realizar o exame em duas maternidades em que vinha trabalhando como prestadora de
serviço. Formou-se em 1992 na Universidade Sagrado Coração, em Bauru, e depois de seis
meses fez um curso de extensão, mas obteve o certificado como curso de especialização em
36
Audiologia. Na ocasião deste estudo, trabalhava tanto na área da Audiologia como de
Motricidade Orofacial.
A sexta entrevistada formou-se pela Universidade Católica de Goiás há nove anos e há
quatro trabalhava em um hospital particular, referência em UTIN em Salvador, realizando a
TAN.
A sétima fonoaudióloga havia se formado 14 anos pela Universidade Católica de
Goiânia, e logo em seguida veio para Salvador. Começou trabalhando com Audiologia
Ocupacional e Clínica, adquiriu um equipamento de Emissões Otoacústicas e resolveu
trabalhar também com bebês nas maternidades. Apresentou a idéia para os diretores dos
hospitais e também conhecia a neonatologista, o que facilitou o acesso aos hospitais.
A oitava fonoaudióloga havia se formado 20 anos pela Universidade Estácio de Sá,
no Rio de Janeiro. Veio para Salvador recém-formada e, quando chegou, foi chamada para
trabalhar com bebês nas maternidades devido ao contato com os pediatras. Na ocasião deste
estudo, não atuava mais em maternidades, mas sim com bebês em seu consultório particular.
Logo no início das entrevistas foi exposto o tema do estudo (ANEXO 2), e em
seguida sugerido que as fonoaudiólogas narrassem livremente suas histórias profissionais. A
gravação foi feita no aparelho Magnavox MCS 225 CP Player / Stereo Radio Cassette, em
fitas cassete Sony EF-X com duração de 60 minutos, para serem transcritas, textualizadas e
transcriadas.
No decorrer das entrevistas, foram realizadas algumas intervenções pontuais, tanto no
sentido de pedir algum esclarecimento sobre o assunto abordado, como para retornar para o
tema em questão, quando a entrevistada dele se afastou.
As oito entrevistas (ANEXO 4) foram transcritas, textualizadas e transcriadas. As
entrevistadas conferiram o texto final, interferindo e corrigindo informações, e autorizaram o
uso e arquivamento do material para posterior análise. As entrevistas foram então
37
transformadas em depoimentos, analisadas e discutidas, de acordo com o nosso objetivo neste
estudo, que é descrever e compreender como vem sendo desenvolvido o trabalho do
fonoaudiólogo com bebês nas maternidades de Salvador Bahia, como foi o seu início, quais
suas facetas e seus significados, quais as práticas desenvolvidas e como se encontram
emolduradas pelas condições institucionais.
38
4 – APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
4.1- Presença do Fonoaudiólogo nas Maternidades de Salvador
Das 16 maternidades pesquisadas em Salvador, duas não puderam participar deste
estudo. A justificativa advém da inauguração recente de uma das maternidades, e, na ocasião,
ainda estava estruturando o serviço e não possuía um setor específico para avaliar o
questionário (ANEXO 3) apresentado para esta pesquisa; e a outra, da desativação da
maternidade devido a reforma e da inexistência de fonoaudiólogos em sua equipe de
profissionais.
Das 14 maternidades que responderam à solicitação, nove contavam com atendimento
fonoaudiológico, sendo um deles como trabalho voluntário e outro, por contrato. As outras
fonoaudiólogas apenas prestavam serviço ao hospital ou, em alguns casos, haviam sido
contratadas pela família dos RN’s. outra maternidade que teve alguns fonoaudiólogos
trabalhando como voluntários, porém, na ocasião deste estudo não constavam mais em seu
quadro de funcionários.
As equipes da Unidade de Terapia Intensiva e/ou Semi-Intensiva eram compostas
pelos seguintes profissionais: médicos pediatras e neonatologistas intensivistas e diaristas,
enfermeiros e técnicos/auxiliares de enfermagem, fisioterapeutas, psicólogos e nutricionistas.
Em algumas, ainda foram citados: terapeuta ocupacional, assistente social,
otorrinolaringologista, lactarista e fonoaudiólogo.
Em dez maternidades, a estimulação da sucção dos neonatos prematuros era realizada
pela equipe de fisioterapia. O enfermeiro e o médico eram também responsáveis por avaliar e
estimular a sucção dos RN`s, sendo que, em uma delas, a enfermagem orientava a mãe para
realizar essa estimulação, com o apoio educacional do serviço social. Apenas em duas
39
maternidades o fonoaudiólogo realizava o trabalho de motricidade orofacial, e em uma outra
instituição hospitalar esse profissional era chamado esporadicamente.
A triagem auditiva neonatal vinha sendo realizada em seis dessas maternidades. Uma
maternidade pública havia contado com o serviço de uma fonoaudióloga voluntária de 2004
até 2006.
Em um dos hospitais, embora não houvesse fonoaudiólogo na UTI neonatal, havia
dois para atender adultos portadores de distúrbio de deglutição, auxiliando a equipe na
manutenção ou recuperação do estado nutricional desses pacientes, maximizando a
alimentação oral quando possível e favorecendo a proteção de vias aéreas.
4.2- A Análise das Entrevistas
Apresentamos aqui reflexões sobre aspectos fundamentais trazidos pelas entrevistadas
no que diz respeito à inserção dos serviços de fonoaudiologia nas maternidades de Salvador.
A- Formação Acadêmica: escassez de conteúdos fundamentais para
o trabalho com bebês
Em Salvador, os primeiros cursos de Fonoaudiologia iniciaram em 1999, formando a
primeira turma em 2003, tanto na Universidade Federal da Bahia (UFBA) quanto na
Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Então, embora os soteropolitanos tivessem
interesse em estudar Fonoaudiologia na década passada, por muito tempo necessitaram ir a
outro Estado do Brasil buscar essa formação.
40
“Nasci em Salvador, mas me formei na Universidade Sagrado Coração, em Bauru,
em 1992”.
Sendo assim, a maioria dos profissionais que atuam em Salvador ainda advém de
outros Estados, o que pôde ser constatado nesta pesquisa.
“Nasci na cidade de Anápolis, Goiás e me formei em Goiânia, pela Universidade
Católica de Goiás”; “Nasci em Indianópolis, Tocantins e me formei em Goiânia,
pela Universidade Católica de Goiânia, em 1993.2”; “Nasci em o Paulo, capital,
me formei pela PUC, São Paulo, em 1989. Então, estou fazendo dezoito anos de
formada. Estou em Salvador há 17 anos”; “Nasci em Fortaleza, sou formada há dez
anos pela Universidade Fortaleza – UNIFOR. (em 1996.2)”; “Nasci em Santa
Maria, Rio Grande do Sul e me formei pela Universidade Federal de Santa Maria,
em 1990”; “Nasci em Guaratinguetá, estado de São Paulo, em 26/02, me formei na
Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, em 1987. Vão fazer 20 anos.”
Apenas uma das entrevistadas formou-se em Salvador – Bahia.
“Formei-me em Dezembro de 2004 na UNEB, Salvador, Bahia”.
Importante ressaltar, também, que, apesar de os profissionais entrevistados terem se
formado em outros estados, chegaram aqui sem capacitação profissional adequada na área de
neonatologia. De fato, segundo Facchini et al. (2000), a inserção da Fonoaudiologia nesse
panorama é recente. O fonoaudiólogo deve cuidar dos aspectos relacionados à alimentação, ao
aleitamento materno, ao desenvolvimento da audição e da linguagem, como também do
contato mãe-bebê; e tratar da comunicação de maneira global, integrando sua atuação a todas
as interfaces do trabalho multidisciplinar realizado no berçário. Para tanto, conforme relatado
por todas as entrevistadas, é necessário buscar cursos de especialização e pós-graduações.
Assim, embora durante a graduação algumas tenham estudado o desenvolvimento global de
crianças, bem como patologias específicas, como fissuras e avaliação comportamental da
audição, não receberam informações sobre o desenvolvimento no período neonatal, o que
pode estar dificultando suas ações nessa área.
41
“Uma formação para neonatologia eu posso dizer que não tive, o máximo que eu
tive, se é que eu tive, não foi na faculdade, mas sim em cursos, congresso que eu
participei extracurriculares; agora claro que não deixamos de ver quais são os
reflexos...”
“A única experiência que eu tive em âmbito hospitalar foi um estágio
extracurricular na área de fissuras labiopalatais, mas quando formada eu não tive
oportunidade de trabalhar nessa área.”
Segundo estudo de Bühler e Limongi (2004), para poder atuar de uma forma mais
segura, é fundamental que o fonoaudiólogo que trabalha em Unidade Neonatal conheça as
intercorrências clínicas neonatais mais freqüentes, as quais relacionam-se com o início e com
a extensão da transição para a alimentação por via oral em recém-nascidos pré-termos.
As entrevistadas também foram unânimes em relatar a falta de formação no âmbito
hospitalar e de experiência na atuação em equipes multiprofissionais. Poucas foram formadas
para trabalhar com populações diferenciadas, como crianças internadas em maternidades.
Parece, então, que as universidades particulares, em especial, apresentam dificuldades em
proporcionar estágios extra-muros, talvez devido à grade curricular, que não permite muito
tempo para essas atividades.
“Não posso dizer jamais que eu saí da Faculdade preparada para trabalhar no
hospital. Se me perguntarem: ‘Você é recém-formada, você está apta a trabalhar
com bebês?’, sinceramente, só tenho diploma, porque não serei apta, sendo honesta,
não tive formação...”
“A minha formação não teve nada em relação à parte hospitalar, mas nada
mesmo.”
Outro aspecto destacado diz respeito ao fato de alguns conteúdos fundamentais para
uma boa atuação não estarem incluídos nos cursos de formação, pelo menos há uns três anos:
“Na minha graduação foi uma “ beleza”, porque eu não vi emissões, não vi
otoneuro, não vi potencial evocado, não vi processamento auditivo. Otoneuro eu
sou autodidata, emissões também mais ou menos, mas fui fazendo os cursos, com o
tempo. Eu formei em 1997.2, colei grau em 1998, em março, em abril eu estava
aqui”.
42
A fala dessa profissional nos leva a constatar que, além de não ter tido formação
necessária, ela ingressou no mercado de trabalho imediatamente. Aqui cabe uma reflexão:
Quais as repercussões para a população que é atendida por uma profissional sem capacitação?
Talvez na formação dos profissionais, em geral, haja esse défict em relação aos conteúdos e à
prática.
“Minha formação foi na teoria, porque desde o primeiro/segundo semestre da
faculdade eu fiz uma disciplina que era chamada de Fono Preventiva, que falava
muito disso, da prevenção mesmo. Eu me interessei por essa área, mas na faculdade
eu não vi nada. Eram só pinceladas, mas nada muito específico.”
“Otoemissões nem existia. Não tinha, nem se cogitava. Nosso nível de conhecimento
não nos levava a ter nenhum tipo de informação, com relação às otoemissões...”
“Na época da faculdade, a fonoaudiologia exercida era extremamente mecanicista!
E uma coisa que eu acho que a universidade ainda peca, os alunos não sabem
diferenciar função de atividade. Isso é impressionante!”
Ainda no que diz respeito à falta de formação para a inserção no âmbito hospitalar, um
ponto que foi levantado por duas entrevistadas diz respeito à leitura de prontuários, tarefa
árdua para o profissional que ainda está se preparando para atuar nessa área.
Leal (2005), Bittencourt et al. (2005) e Alves et al. (2007) realizaram pesquisas
baseadas em leitura de prontuários. Leal (2005) identificou a falta de dados registrados em
prontuários, o que pode prejudicar tanto o paciente quanto o próprio hospital, pois dificulta a
comunicação entre a equipe multidisciplinar, podendo causar danos a compreensão dos
casos, a adoção de condutas adequadas e a implantação de serviços futuros.
“A Leitura de prontuário ainda é um pouco difícil. Ô letrinha desgraçada!
Complicado. Fomos atrás de literatura para tentar suprir essa coisa de abreviação,
mas mesmo assim, cada serviço tem uma didática diferente para abreviar. É
complicado(...).”
“Leitura de prontuário não foi uma tarefa fácil. (...) não tivemos esse conhecimento
que eu acho que é importantíssimo no curso. Trabalhar, lidar com médicos que
pegam um prontuário, escrevem o que querem e somem com o prontuário; a gente
43
precisa escrever no prontuário, têm folhas específicas para os exames, têm folhas
específicas para Enfermagem, têm folhas específicas para o médico que atende a
mãe do bebê, é muito complicado. A gente teve que aprender aprendendo. Erramos
muito, de anotar coisa onde não devia. Hoje a gente já aprendeu, mais pela
prática.”
B- Busca de recursos para complementar a formação e inserção na
área: os parâmetros da literatura e as formas de divulgação do trabalho
Uma das formas encontradas pelas entrevistadas para “compensar” essa falta de
conhecimentos específicos no que diz respeito à prática hospitalar foi realizar trocas de
informações em reuniões clínicas com profissionais que atuavam na área da audição,
especificamente, com triagem auditiva neonatal. Nessas reuniões, eram realizadas discussões
de textos, normatizações de serviços, da forma de transmitir o resultado da triagem, sendo
uma preocupação a divulgação de novos estudos e práticas na área.
Troca de experiência mesmo, olha, no meu serviço funciona assim, eu tive tal e
tal problema, a gente conseguiu resolver assim, assim’, porque é uma troca de
experiência. (...) Antes até de começar a trabalhar com triagem, teve uma tentativa
de se reunir os profissionais que trabalhavam com emissões otoacústicas
especificamente. Tiveram algumas reuniões, eu cheguei a participar da última, e
foram três serviços, os outros serviços não iam mais. Então, quem participava,
quem fazia emissões em outras clínicas, que têm várias que já fazem, também
participavam da reunião. Então era uma reunião de discussão de texto, de levar
novidade. É uma coisa que infelizmente morreu, têm trocas isoladas, mas de
parceria, de amizade, de todos os serviços do município, isso não têm.”
“Há uns três anos, existia um grupo em que a gente se reunia para trocar
informações. Era o grupo que fazia triagem auditiva, mas depois acho que ficou
muito desgastado, encontrar horário que fosse adequado para todo mundo e
acabou, nunca mais tivemos essas reuniões, mas era muito importante, trocávamos
informações muito valiosas. Infelizmente não deu mais certo. É isso mesmo.”
“Eu acho que temos que ter muito cuidado na colocação. As pessoas que
trabalham comigo dentro do hospital, as colegas que são fonoaudiólogas,
conversamos muito, a gente tem reuniões para podermos conversar sobre a questão
de como colocar para família que o bebê falhou, porque é uma situação delicada.”
44
Para Barreira-Nielsen et al. (2007), treinamento e supervisão da equipe são
fundamentais, além de um sistema de agendamento e acompanhamento dos casos em
seguimento.
Também é necessário que os profissionais busquem formas de se atualizar, seguindo,
por exemplo, os parâmetros de avaliação que têm sido apresentados na literatura da área.
Como abordado por Neiva (2000) e Xavier (1998), entre outros autores, o protocolo de
avaliação é um fator importante para direcionar o trabalho a ser realizado com recém-
nascidos. Também Rocha e Delgado (2007), mais atualmente, utilizaram um protocolo
padronizado do próprio serviço de Neonatologia em sua pesquisa.
Observamos que todas as entrevistadas da área de audiologia afirmaram fazer uso
desse procedimento, mas apenas uma fonoaudióloga da área da motricidade orofacial relatou
que utiliza um questionário de avaliação inicial e final e um protocolo de atendimento, porém
não referiu se era padronizado ou não.
“Eu trabalho com o protocolo da GATANU. Esse protocolo, que é muito bem feito,
é muito bonito”.
“Nós atendemos com o protocolo do GATANU, o mais específico do serviço. É o
protocolo do GATANU e internamente a gente tem a nossa rotina, que pode
mudar.”
“Eu sigo o protocolo do GATANU, e nos bebês sem indicadores de risco fazem
emissões ou BERA, com reflexo cócleo-palpebral..”
“No Hospital F., não temos um protocolo da fono, mas tem a folha de exames,
onde o raio X anota, o laboratório anota, que a fono também anota. A gente tem uns
carimbos também, que a gente pode colocar na solicitação, se foi realizado ou
não; no livrinho do bebê, se passou ou o, que equipamento foi usado. Aí estão
algumas rotinas, fora prontuário.”
“Tínhamos um questionário lá de avaliação inicial e final e tínhamos um protocolo
de atendimento diário, que todo dia que fazíamos atendimento, a gente registrava.
Como a coisa começou a mudar.”
45
O uso de protocolos publicados na literatura nacional pelas fonoaudiólogas de
Salvador pode favorecer, também, a divulgação do atendimento hospitalar realizado por essas
profissionais. Algumas das entrevistadas têm realizado levantamentos de dados nas
maternidades e já vêm publicando seus trabalhos em congressos.
“Agora estamos fazendo levantamento de quantos bebês a gente atendeu, de
quantos bebês nascem no hospital, porque estamos conseguindo ter acesso a isso...”
“Fizemos um levantamento de tudo que a gente atendeu, na verdade pegamos a
pasta e contamos, mas não casamos os dados, as informações, não montamos isso
ainda.
“(...) A gente é tem que escrever mais, estar mais dentro dos congressos, o de
Fonoaudiologia, nem de Otorrino, mas do congresso de Cardiologia, de Pneumo,
que a gente tinha que estar, pois a gente trabalha diretamente com eles e não
estamos participando disso.”
Essas possibilidades de divulgação podem não contribuir para o estabelecimento de
nosso espaço como indicar os bons resultados do trabalho.
“Acho que faltam muitas pesquisas na área e por isso eu quero e me dispus a
ajudar. Acho o número de pesquisas muito ínfimo para poder comprovar que é
importante e estar divulgando. Sabemos que uma pesquisa na área médica é muito
mais divulgada até pela classe, acho que temos que fazer a nossa parte e o ficar
pensando se o médicoo vai ler, porque não vai ler. Temos que divulgar e quando
entramos em contato com outros profissionais s conseguimos isso. Mostrar uma
revista, também, vai de alguma forma divulgando. Então no meu dia-a-dia, às
vezes, na clínica atendendo terapia, eu falo da maternidade, do meu trabalho por lá,
o que é uma forma que eu aproveitava para divulgar. Era como se eu andasse
com uma camisa por baixo do jaleco para ir divulgando.”
“Na Maternidade C.
14
, que é o tempo de experiência que eu tenho, tinham
profissionais e profissionais. Alguns muito abertos que queriam a nossa opinião,
queriam que a gente ajudasse. Estavam abertos a conhecer o nosso trabalho. no
período em que eu fiquei lá, acho que consegui mostrar um pouquinho desse
trabalho, junto com as meninas que também passaram por lá. De alguma forma, às
vezes, eu acho que os profissionais pensam que nós somos a solução naquele
momento. Como se fosse assim: que tem que passar pela Fono, então passa pela
fono, mas não dão muito crédito.”
14
A Maternidade C. é a primeira maternidade pública em Salvador a contratar um Fonoaudiólogo para atuar na
USIN, desde Setembro de 2006.
46
“Mas não é repetindo o que todo mundo fala, essa é mesmo uma área que tem que
ser explorada realmente, principalmente em Salvador; tem que ser divulgada, a
gente tem que conquistar nosso espaço. Eu acho que essa contratação na
Maternidade C., já é um ótimo sinal, demorou, mas chegou.”
“Eu acho que a Fonoaudiologia, em Salvador, nas maternidades, poderia estar
um pouco mais avançado, mais reconhecida. Porque, a gente sabe que na
maternidade o dico que está ali, ele não trabalha ali, ele trabalha em outros
locais. Se ele é um neonatologista, provavelmente, ele trabalha em outras
maternidades. Então, se ele está ali vendo o seu trabalho e chega em outro lugar,
sabe que você trabalha com aquilo, viu você trabalhando, porque não chamar
você pra realizar o mesmo trabalho? Não pra ser contratado, mas, pelo menos, você
atender, começar com atendimento esporádico; enfim, eu acho que de tanto que
viram não o nosso serviço na maternidade C., mas até de todas as outras
fonos, eu acho que já podia estar muito mais na frente.
“Desde que eu comecei, sempre tento todo ano entregar para coordenadora de
Neonatologia um relatório de quantos bebês a gente fez, quantos bebês passaram,
quantos falharam, qual porcentagem de atendimento do hospital, porque eu acho
que isso faz com que ela veja que a coisa está caminhando. Quando eu vou para um
congresso que eu falo sobre o hospital, o serviço, eu sempre trago para eles também
o resultado que eu levei, o que aconteceu, como é que o hospital foi colocado ali.”
“(...) acredito que os médicos estão mais abertos ao nosso trabalho, a ouvir o que a
gente tem pra dizer e eu acho que a melhor propaganda são as crianças.”
“É uma forma de divulgar também pela própria postura diária de atendimento e
responsabilidade. Acho que isso você também planta na Fonoaudiologia, através
desse contato dia a dia com o paciente. Então é responsabilidade, regra número
um.”
C- Dificuldades de inserção do fonoaudiólogo nas maternidades:
delimitação de áreas afins, resistência e desconhecimento
Uma questão delicada que acaba dificultando a entrada de profissionais de
fonoaudiologia nas maternidades é a presença de fisioterapeutas que também realizam
trabalho de avaliação/estimulação da deglutição.
“Acho que existe uma questão que infelizmente acontece, que é a questão da
Fisioterapia que termina sinceramente atrapalhando um pouco a nossa atuação.
Não estou falando que vamos deixar de trabalhar por causa da Fisioterapia, nem
47
que vai deixar de ter emprego por causa deles, mas se o fisioterapeuta está
contratado e fazendo o papel, não é o papel do fono, mas tentar imitar o papel do
fono. Se você perguntar para o fisioterapeuta o que ele avaliou da sucção de um
bebê, ele não vai saber dizer, só dizem que o bebê está sugando, mas não os
parâmetros que foram avaliados. Não são todos que vão saber dizer o movimento
que realizou, porque eles não têm formação para isso, eles avaliam e escrevem se
tem uma boa sucção ou o, de certa forma nos deixa como se não precisássemos
fazer o nosso trabalho. Claro que não é pra ficarmos de braços cruzados,
aceitando, mas eu acho que isso dificulta, até porque o fisioterapeuta está
contratado, é um profissional só, se contratar fono é mais um profissional, são mais
impostos a pagar e se está se virando com o fisio, ou se está resolvendo o problema,
por que vão precisar de fono?”
“Teve até uma fisioterapeuta da Maternidade C. que ficou questionando o que eu
estava avaliando, o porquê de cada procedimento. Eu respondi até um momento,
mas expliquei que tem procedimentos que o fonoaudiólogo para avaliar, não tem
como explicar, porque não vai adiantar. Imagina se eu for ficar dizendo tudo o que
eu faço? Ela vai chegar e vai dizer que sabe tudo o que o fono faz, ou então até
banalizar o nosso trabalho, mas não conhecem os parâmetros de uma sucção
adequada e como avaliar.”
“Quando nós fonoaudiólogas chegamos aqui, , haviam as fisioterapeutas
trabalhando com estimulação de sucção e de deglutição dessas crianças internadas.
Hoje em dia é que tem se tratado a coisa de outra forma. Essa, é uma área da
Fonoaudiologia. Não são todos os profissionais, como neonatologistas ou
neurologistas, que têm buscado pela fonoaudióloga. Ainda são poucos. A área
ainda está bem pequena, bem restrita. Aparece uma criança ou outra só.
“E essa parte também da motricidade oral, da parte de estimulação oral que o
fisioterapeuta atua é uma coisa também que a gente tem que colocar. Isso ocorre
nos dois hospitais. O fisioterapeuta é uma figura que está vinte e quatro horas
dentro da UTI. Tem plantão de fisioterapeuta o tempo todo, e o fonoaudiólogo ele
está de sobreaviso. Quando tem aquele caso que é muito complicado, que o
fisioterapeuta não está conseguindo resolver, chama a fono. Dessa forma, não é
uma pessoa que está lá todos os dias, presente.
“Na realidade, um tempo uma fonoaudióloga me ligou, e disse assim: ‘a gente
tem que brigar por nosso espaço, porque o espaço está sendo ocupado pelas
fisioterapeutas’. Eu disse olhe, não é bem assim, não é bem assim. A gente não
pode chegar impondo absolutamente nada, porque elas estavam aí.’ Elas fazem
um excelente trabalho. As meninas que estão dentro de UTI neonatal ou UTI
pediátrica são meninas muito boas, pelo menos nos dois hospitais que eu conheço.
A gente não pode chegar, com peito de pavão e dizer ‘o espaço é nosso’, porque até
seis anos atrás não havia curso de Fonoaudiologia em Salvador. Nós éramos umas
‘Et’s’ aqui.”
também a resistência de alguns profissionais, como o neonatologista e o
enfermeiro, quanto à atuação fonoaudiológica. As profissionais que lidam com a triagem
auditiva neonatal falam a respeito desse problema:
48
“A gente teve muitas dificuldades em relação a pedido, à solicitação de exames,
teve uma resistência muito grande da parte de Neonatologia, e ainda tem com
alguns profissionais essa resistência...”
“Neonatologia ainda não permite que a gente faça parte da aula de curso de
gestante e nem dos pais de UTI neo. É uma luta complicada”.
“A gente teve um desentendimento grande agora com a Neonatologia, e entrou o
hospital no meio, porque o hospital achou que não era assim que funcionava e quis
saber o porquê que a Neonatologia estava entrando em atrito.”
“Eu vou te falar de novo, não são todos da Neonatologia que têm resistência, pode
ser que tenha uma fisio ou outra.”
Outras entrevistadas consideram que essa resistência dos profissionais varia de acordo
com o hospital. Em alguns serviços, isso ocorre por parte de um profissional específico; em
outros, diversas categorias profissionais parecem não valorizar nossa atuação. Aqui cabe uma
reflexão: em que medida os próprios fonoaudiólogos contribuem para essa resistência?
Eu acho que é um problema nosso mesmo. Eu acho que nesse hospital, talvez a
gente o esteja dando a devida importância de chamar um profissional da nossa
própria área e que atue na parte de motricidade, ou disfagia, que faça esse
trabalho. Eu acho que talvez a gente que já está lá na triagem... Como a nossa visão
é uma visão audiológica e infelizmente é a que a gente acaba criando... Quando
falam no assunto é que eu me toco ‘poxa, que é que eu estou fazendo então?, por
que eu que estou não crio o ambiente para essas portas serem abertas para
parte de motricidade?’ Eu acho que não é o hospital que teria essa barreira, mas
nós mesmas não criamos, não plantamos o real vínculo.
Talvez o fato de oferecermos serviços diversos no âmbito hospitalar leve a
dificuldades de inserção, pois não se sabe ao certo o alcance de nosso trabalho, ou em que
medida podemos contribuir com o tratamento dos bebês. De fato, hospitais em que
atuamos na área da triagem auditiva neonatal; em outros, oferecemos trabalhos voltados para
a estimulação da motricidade orofacial, em outros encontramos os dois tipos de
intervenção.
49
Em Salvador, também outros problemas. Além de recente, a atuação
fonoaudiológica em hospitais é também inconstante, ou seja, alguns profissionais
comparecem diariamente para os atendimentos, enquanto em outras instituições os contatos
são semanais. Isso também favorece a falta de conhecimento de nosso trabalho por parte dos
profissionais de saúde.
Será então que ainda não houve tempo hábil para demonstrarmos os bons resultados
de nossas atuações? Vejamos o que diz uma das entrevistadas:
“Eu acho que, por mais que a gente tenha uma resistência, sempre discutimos com
as colegas dos outros serviços, em tal lugar o problema é a Neonatologia, em tal
lugar o problema é a Fisioterapia, em tal lugar é a Enfermagem, sempre tem uma
resistência dos outros profissionais. Inclusive ontem uma enfermeira estava dizendo
isso, que muito tempo atrás, a Enfermagem tinha uma dificuldade muito grande
de inserção na Neonatologia e que hoje é uma coisa, assim, “sine qua non” mesmo,
não existe mais, não tem como não existir. A Fisioterapia também está conseguindo
o espaço dela, então eu acho que o ponto que a gente chegou não tem volta mais.”
Essa opinião não é consenso entre as fonoaudiólogas, mas talvez seja um indicativo de
que o quadro está mudando.
fonoaudiólogos que foram inseridos na equipe hospitalar pelas mãos dos
otorrinolaringologistas; outros, pelos neonatologistas e também indicações realizadas por
fisioterapeutas com esses profissionais que valorizavam o trabalho fonoaudiológico, o
relacionamento parece ser, então, mais produtivo e tranqüilo. Em alguns hospitais, inclusive,
o próprio fisioterapeuta está tendo consciência de sua limitação e vem solicitando que o
fonoaudiólogo resolva os casos mais graves. Isso é importante, pois sinaliza a importância de
se ter na equipes profissionais aptos a realizarem trabalhos específicos; do contrário, a alta
pode ser retardada, prejudicando tanto os bebês, que acabam permanecendo
desnecessariamente em UTIN, quanto os próprios hospitais, em termos de custos.
“Outra coisa que eu também observo é que as enfermeiras são muito bem
preparadas. Eu fico assim ‘poxa, se na época dos meus filhos eu tivesse uma
50
enfermeira dessas, eu teria amamentado mais tempo’. Elas orientam, elas falam e a
gente que a mãe sai muito bem. Muitas vezes a e precisa de um trabalho da
fono para parte de Motricidade Oral, às vezes o bebê não quer sugar, às vezes o
consegue pegar e elas perguntam para gente....”
“Eu tenho o serviço do Hospital S. que eu vou dar assistência a eles, mas eu não
estou todos os dias, vou quando sou solicitada. Geralmente, a Fisioterapia é
quem solicita, porque quando elas começam a atender e não resultado elas
chamam a gente. Até então era a Fisioterapia. E outro hospital daqui também
funciona do mesmo jeito. Ainda é pior, porque eles não chamam de nenhuma forma.
Os pacientes vêm a mim depois que recebem alta, porque a neurologista conhece
o trabalho e encaminha após a alta.”
O não conhecimento por parte dos profissionais de saúde dentro dos hospitais sobre a
atuação fonoaudiológica com bebês também vem dificultando nossa inserção no mercado de
trabalho.
Em estudo, Valente et al. (2004) observaram que os médicos realizaram poucos
encaminhamentos de bebês com dificuldade de alimentação para o atendimento
fonoaudiológico. Isto, pois ao não estabelecerem contato direto com esse profissional, há uma
impossibilidade de demonstração acerca dos conhecimentos próprios do fonoaudiólogo e suas
possibilidades de atuação.
“Então, o que eu vejo é que a gente ainda tem uma participação pequena dentro do
hospital, até porque, pela história da Fonoaudiologia aqui em Salvador, como a
gente tinha poucos profissionais que trabalhavam dentro do hospital, acabamos
sendo substituídos pela fisioterapeuta. O fisioterapeuta está ali o tempo inteiro e
muitas vezes fazendo o trabalho da Fono, de estimulação oral. A gente vê o Fisio ali
estimulando o bedentro da UTI, conversando com a e na hora da alta, mas é
um espaço que eu sinto que foi preenchido por uma falta. A gente tem que saber
qual é o caminho para conseguirmos trabalhar junto com esse profissional e não
substituir esse profissional. O que eu vejo é que a gente ainda tem que ir mostrando
nosso serviço, tem que ir devagarzinho explicando o que fazemos ali, qual a
importância do nosso trabalho, porque estamos fazendo isso, para conseguirmos
credibilidade, conseguirmos respeito e espaço.”
Garcez (1999) investigou, mais especificamente, o conhecimento do papel do
fonoaudiólogo e a necessidade de sua atuação junto à neonatologia. A análise dos dados
demonstrou que, embora existam demandas que justifiquem essa atuação, tanto junto aos
bebês quanto às mães e à equipe, há um desconhecimento do papel desse profissional.
51
Também nas maternidades privadas, o desconhecimento do que o fonoaudiólogo tem
condições de realizar em uma instituição pode ter feito com que o número de solicitações
desses profissionais para os setores seja reduzido. Além disso, como os resultados do trabalho
estão começando a ser divulgados, essas instituições podem ainda não querer investir em
profissionais sem ter certeza do desempenho deles.
Já nas maternidades públicas, normalmente associadas às atividades acadêmicas, como
graduação de medicina e enfermagem, o profissional que supervisiona essas atividades é
docente, portanto um profissional mais atualizado, o que favorece o conhecimento sobre a
fonoaudiologia.
“Por isso, eu acho que na maternidade blica, talvez, a gente tenha mais espaço,
por ser um local que tem maior rotatividade, não que um hospital particular não
tenha, mas é porque tem muita gente, pouco leito, então, eles querem também
produção, querem leitos sendo esvaziados. De certa forma, alguém tem que
trabalhar muito bem pra dar essa demanda de estar liberando bebê, para estar
colocando no canguru e ir liberando-os com o peso ideal.”
“No Hospital R. é algo que ainda não começou efetivamente. Na única reunião que
eu fui ao Hospital R. com o diretor, médicos, preceptor, não só da parte da
Neonatologia, porque era uma reunião com toda a equipe. Todos os professores, a
primeira coisa que eles falaram é: ‘que ótimo que vai entrar uma fonoaudióloga
aqui’. Eles acharam que uma única fono daria conta do hospital inteiro aa ala
dos idosos. Essa é uma outra área que não é tão divulgada. Não tem um
fonoaudiólogo contratado em qualquer hospital, e muito menos assim, no Hospital
R., que é um hospital público e que deveria ter.”
Eu acho que pelo hospital público é mais fácil a inserção do fono, pela demanda
ser maior. O hospital particular é mais resistente em relação a esse tipo de
investimento, foi onde acabei encontrando muito mais resistência. O hospital
público abre as portas, você pode entrar dessa forma que eu entrei. No hospital
particular você entra como voluntária? Não entra. Porque tem todo aquele cuidado
com a questão do vínculo empregatício; se eu disser que estou indo uma vez por
semana, eu estou caracterizada como funcionária e isso pode gerar uma
complicação de processo trabalhista com o hospital e eles são muito defensivos em
relação a isso. E com razão. deve ter acontecido alguma coisa, pra que eles
tenham esse comportamento. Então, no hospital público a gente consegue mostrar
mais o trabalho, mas tem a coisa do dinheiro que a gente o sabe de onde vem.
Infelizmente no Brasil as coisas funcionam assim.”
Outra grande dificuldade enfrentada pelo fonoaudiólogo para se inserir nos hospitais
diz respeito à falta de treinamento para atuação em equipe multiprofissional, o que também
52
ocorre em outras profissões. O responsável pela UTIN também tem grande responsabilidade
nessa questão. Caso ele não valorize o trabalho do fonoaudiólogo, dificilmente a equipe
valorizará; inclusive porque os plantões, em especial os noturnos, são realizados por
profissionais diferentes, e muitos deles não estão presentes durante os atendimentos
fonoaudiológicos. Assim, quem trabalha à noite, por exemplo, talvez não tenha a mesma
predisposição de solicitar a ação do fonoaudiólogo do que aqueles que exercem suas
atividades durante o dia, e acompanham nosso atendimento. Assim, cabe ao coordenador
investir em uma política de unidade entre os membros da equipe.
“O que tem de diferente com o serviço do Hospital S, que funciona apenas dois
anos e meio, é que no Hospital A., este serviço tem mais de cinco anos, com
fonoaudiólogo. Eu acho que as pessoas tem um respeito muito grande pelo fono. Às
vezes a gente não sabe o nome das pessoas, mas ‘ô fono, vem aqui, fono’, porque é
uma equipe grande. Então, ‘ah, a fono está aí, espera que ela vai conversar com
vocês’. Eu sinto que é um respeito grande, mas sinto que a gente ainda tem um
espaço muito restrito dentro do hospital. A gente precisa trabalhar mais, e eu vejo
que vamos ter que mostrar o nosso serviço, mostrar o resultado do nosso serviço.”
“Uma falta de conhecimento, pois os outros profissionais nem sabem o que a gente
está fazendo. Eu lembro um episódio que aconteceu nesse hospital que é mais novo,
que a gente foi lá, conversou sobre a triagem. Quando saímos a porta bateu e a
enfermeira e o bebê tiveram um sobressalto. A enfermeira virou para mãe e falou
assim ‘ó, tá vendo? Ele escuta. Não precisa nem fazer a triagem’. A mãe ficou brava
com a enfermeira, com a auxiliar. Falou ‘como você fala uma coisa dessa?’. E
contou para gente quando fomos fazer a triagem. Fomos conversar com a
enfermeira, com a auxiliar, explicamos que, às vezes, o bebê tem um perda
unilateral, que às vezes ele pode ter uma perda moderada, que não pode falar isso
pra mãe, que a gente tem que trabalhar junto, que é uma parceria. Foi uma coisa
bem desagradável, mas eu acho que aos poucos a gente vai conseguindo espaço.
Outra coisa que eu também observo é que às vezes podemos atrapalhar um pouco a
rotina, porque a gente chega para fazer a triagem e muitas vezes a auxiliar chega
para dar o banho. Então, como a gente está fazendo a triagem ela tem que esperar
um pouco e a mãe tem alta dez horas. Então às vezes eles ficam meio assim com a
gente. A gente tem que chegar mais cedo para não atrapalhar a rotina do quarto.”
53
D- O trabalho multiprofissional: inserção nas equipes hospitalares e
cursos de aperfeiçoamento
As entrevistadas foram unânimes em pontuar a importância do trabalho
multiprofissional para a atuação do fonoaudiólogo. Com isso, a equipe hospitalar pode
conhecer nossa prática com os bebês, além do “Teste da orelhinha”, que, na cidade de
Salvador é ainda o mais divulgado, “a porta de entrada” nas maternidades, apesar de ainda
não termos uma lei que regulamente a realização da TAN.
“Eu acho que os demais profissionais da área de saúde, pediatras, neonatologistas,
ortodontista, otorrinos, eles estão mais abertos para aceitação da fonoaudióloga, o
que antes não havia, não acontecia.”
“Tem a psicóloga que vai e acompanha. Como é hospital-escola é ótimo, porque a
gente tem tudo. Então a gente tem gastro, tem pneumo, tem pediatra, tem
neurologista, tem oftalmo, tem dermato, tem orto, tem a equipe de Enfermagem, a
Fisioterapia, Musicoterapia, Terapia Ocupacional, Musicoterapia é no Salvador.
No Hospital CL. é Terapia Ocupacional que trabalha com Canguru lá, a
Psicologia. (...) Então é uma equipe que já viu como é que funciona, então dentro da
unidade está muito claro o trabalho para quem está lá há cinco anos.”
“Então me deparei várias vezes no Hospital CL. com residentes, com o pessoal
do internato ou da residência de Pediatria. Quando íamos atender um bebê e eles
ficavam impressionados como é que existia aquele tipo de trabalho, a ponto da
gente pedir um FEES, que é um exame de deglutição e depois os convidávamos para
discutir o caso com os meninos lá. Então a gente se deparava com isso.
Profissionais do fim, do último ano de Medicina, completamente sem ter noção do
que é o trabalho fonoaudiológico. (...) mandei um relatório pedindo autorização
pras sessões e a superintendente me ligou dizendo que o médico perito que libera as
sessões não entendia o que é que uma fono fazia com uma criança de dois meses.
Então, um cara que está numa situação dessas, enquanto perito, enquanto autoriza
ou não autoriza... Aí eu fiquei impressionada. Eu mandei um relatório pra ele
descrevendo tudo que a criança tinha e me coloquei à disposição pra se ele
precisasse, me ligar pra tirar alguma dúvida, mas fiquei impressionada. Como é
que nesse ano ainda existe isso?”
“Nós [a entrevistada e a fisioterapeuta] trabalhamos juntas na Maternidade T., no
Hospital O., Hospital S., Maternidade C., tantos lugares. Uma pessoa que me
chamava muito para trabalhar com os bebês era a pediatra/neonatologista da
Maternidade T..”
54
“Quando preciso do exame peço para irem a São Paulo, para Recife, faz no
Hospital das Clínicas, da AACD. Eu tenho muito contato com as meninas da AACD,
encaminho para lá. Então ainda não tem, isso é um atraso. Uma capital, com o
volume de Salvador, com a população que nós temos. Salvador tem muita coisa boa,
muita coisa legal, o que nós não temos é volume de paciente ainda o suficiente para
gente está podendo escrever mais coisas, mas já tem muita coisa aqui!
trabalhos publicados na literatura que também ressaltam a importância da
interlocução entre profissionais.
Botelho e Silva (2003) mostraram a importância da atuação conjunta entre o
fonoaudiólogo e o médico otorrinolaringologista na avaliação da disfagia de lactentes. Para
esse estudo houve solicitação de uma avaliação fonoaudiológica por parte do médico
neonatologista responsável. Todos os lactentes foram avaliados uma vez pelo mesmo
fonoaudiólogo e pelo mesmo médico otorrinolaringologista. Os autores evidenciam a
importância do trabalho conjunto desses dois profissionais da saúde.
Rocha e Delgado (2007) abordaram em estudo as orientações dadas à equipe de
enfermagem para que esta pudesse dar continuidade à estimulação oral de um bebê que
havia iniciado um trabalho com o fonoaudiólogo. Em uma das sessões, a mãe também
recebeu orientações
.
Castro (1999) ressaltou a importância da avaliação auditiva infantil, assim como a
escolha do método mais adequado a cada situação, na busca de conscientizar os profissionais
ligados à área, particularmente os fonoaudiólogos, otorrinolaringologistas e, principalmente,
os pediatras e neonatologistas, que são os primeiros profissionais em contato com a criança.
Outra questão abordada pelas entrevistadas refere-se às aulas ministradas em cursos de
outras especialidades, como de fisioterapia, explicando a atuação do fonoaudiólogo, e nas
Residências Multiprofissionais, em que este profissional também está inserido.
55
“Na FIB
15
tem uma fisioterapeuta que é muito importante o que ela faz. Ela leva um
fono para falar o que faz. Porque se o estudante tem informação, se ele não conhece
que o limite dele é aquele e que tem uma pessoa que realiza aquele trabalho
específico, ele sai dali com outra visão, vai trabalhar, vai para um hospital e
entrar em contato com mais professores o que acaba divulgando o serviço.”
“Acho que a especialização que eu fiz, por ter fisioterapeuta junto, ajudou muito,
porque as pessoas que fizeram e que pensam em trabalhar com bebês ou que
trabalham com bebês, vão pensar duas vezes antes de querer entrar muito pelo
nosso caminho, porque tiveram acesso, conheceram o nosso trabalho.”
“Eu conheço fonos, em outras cidades, que o aula na Medicina, que dão aula na
Odonto, que fazem parte da grade curricular deles. Uma disciplina falando de
Fonoaudiologia. No curso de especialização em odonto tem disciplina de fono, em
alguns estados do Brasil. Eu acho que isso ajuda demais, porque se ele sabe que
existe, que é bom, por que não vai encaminhar? Não tem por que não encaminhar.”
Muitos cursos de especializações e com equipes multiprofissionais estão sendo
oferecidos em Salvador atualmente. Até pouco tempo, as entrevistadas tiveram de se dirigir a
outras localidades, tanto no Brasil quanto no exterior, para buscar conhecimentos específicos
na atuação com os bebês ainda internados nas UTIN`s e USIN`s.
“O primeiro contato que tive com neonatologia foi ainda como estudante, num
estágio no Rio de Janeiro, onde passei um dia na maternidade observando como era
realizado o trabalho.”
“Eu fiz especialização em Neonatologia
16
, que foi um curso multidisciplinar, que
tinha enfermeiro, nutricionista, psicólogo, fonoaudiólogo, fisioterapeuta. Além
disso, fiz uma formação esse ano em um método de reorganização neurofuncional
que é o método Padovan.”
“Eu fiz especialização em Audiologia Clínica, em 1995 (...). Dentro da
especialização a gente viu isso, mas quando eu comecei a trabalhar com a triagem,
eu senti uma necessidade muito grande de buscar mais sobre Audio, sobre a parte
com bebês, porque a gente não tem experiência praticamente, vamos aprendendo,
com ensaio e erro praticamente. Todo curso que tinha de triagem auditiva em São
Paulo, eu fazia, no começo, nos primeiros anos era praticamente um curso por
semestre. Fui fazer estágio em Campinas, com uma fonoaudióloga que tem
experiência também em triagem, outro na capital de São Paulo. Eu busquei um
trabalho de aprimoramento dessa área porque, realmente, o curso de graduação
não ofereceu.”
15
Faculdades Integradas da Bahia
16
Um curso aprovado pelo Ministério da Saúde que ocorreu na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) em
2005/2006.
56
“Vim trabalhar aqui., e no mesmo ano que eu cheguei, fiz especialização pela
UFBA. sim, eu vi emissões, vi potencial evocado, otoneuro. À medida que as
coisas foram surgindo para que eu trabalhasse, a demanda foi surgindo, eu fui me
especializando. Fui para São Paulo, fiz outros cursos de emissões, potencial
evocado, acompanhei uma professora da UFBA durante um tempo, no atendimento
dela de emissões, antes de começar a fazer, e até o fato de ter dado aula também,
uma coisa que te incentiva muito a estudar, a pesquisar, ir atrás, mas na graduação
mesmo...”
“Esse aparelho ficou parado por um tempo aque a gente viajou para São Paulo,
para Campinas, para poder se aprimorar, fazer um 'update’ para poder começar a
fazer os exames. Eu já tinha alguns cursos de emissões, tinha feito outros cursos, em
Goiás e tudo, saí daqui, fui pra Goiás fazer, mas não tinha prática clínica. Então a
gente foi para Maternidade de Campinas, acompanheia fono E. um tempo na
prática clínica dela de ambulatório e de alojamento conjunto, a gente não entrou
na UTI, mas tivemos orientação dela de como montar o projeto para poder fazer.”
“Na verdade, a construção do conhecimento para atuar com bebês foi técnica,
prática. Eu fiz estágio em o Paulo, com duas profissionais extremamente
inteiradas de toda a parte de diagnóstico diferencial em bebês, com alta tecnologia,
em relação a emissões, BERA, e hoje, elas estão fazendo os testes todos. Realmente
foi um custo altíssimo porque eu tive que, de forma particular, investir nesse
conhecimento. Eu senti dificuldade em Salvador também de ter pessoas para me
treinar ou de ter faculdades que oferecessem algum curso. Nessa ocasião eu tive
realmente que ir pra São Paulo, fiquei um mês, fiquei observando e praticando
com essas profissionais. (...)”
“Quando eu vim pra (Salvador), terminei a faculdade, fiz o Bobath básico, e
comecei a me interessar mais por essa área.(...) Depois que eu fiz o Baby, eu soube
do curso de Campinas e fui, em 2002. Fiquei seis meses indo pra fazer um curso
de formação mesmo. Fui em março de 2002 e terminei o curso em setembro. Na
verdade a formação de Campinas é mais pra o recém nascido mesmo, de zero a
vinte e oito dias. A gente ficava mesmo no cuidado intensivo. Não na UTI de alto
risco, a gente ficava no médico risco, porque no alto risco não tem indicação para
Fono. É uma formação em disfagia pra lactentes.”
“Há dois anos, eu fui pra França, fiz um curso sobre relação mãe- bebê, mas
mais voltado à Psicanálise. Fiquei uma semana em São Paulo só estudando a teoria
e viajei pra pra visitar unidades que tinham atendimento com bebês e como é
que funcionavam.”
57
E- Implantação do serviço de Fonoaudiologia nas maternidades: as
várias áreas de atuação
Algumas entrevistadas conseguiram implantar serviços em maternidades por meio de
projetos apresentados à direção dos hospitais; outras foram indicadas para realizar
atendimentos aos bebês internados nas UTIN’s por profissionais que já trabalhavam nas
instituições. Uma entrevistada ainda foi chamada para ser preceptora de um serviço, tendo de
primeiramente estruturá-lo. Interessante observar que a demanda pelo trabalho
fonoaudiológico nunca partiu da direção dos hospitais, e sim da necessidade deste profissional
em ampliar o mercado de trabalho.
“Eu vou ter que implantar o serviço lá para ser preceptora porque não tem o
serviço de fono no Hospital Geral R... Por enquanto a gente está na fase de
organização, planejamento de atividade prática, de planejamento de atividade
teórica, (...)”.
“Na verdade, a gente não apresentou um projeto para o hospital. A gente até fez um
projetinho piloto, passou para nosso chefe, (...) Na época a existia uma outra
proposta de outra fonoaudióloga de entrar no hospital, em 2003, mas como o
otorrino já participava do hospital, já tinha o serviço, ambulatorial, acabou o
hospital optando por ficar com ele mesmo, e como a gente era funcionária dele,
entramos para trabalhar (...) o nosso chefe, quem na verdade é o dono dos
equipamentos e do serviço, adquiriu um aparelho de emissões otoacústicas na
intenção de começar a fazer exame nos bebês do ambulatório e da UTI neo. (...) a
gente ainda não consegue fazer em alojamento conjunto, a gente faz o exame em
ambulatório e faz na UTI neo (...) No começo éramos vinculadas ao pedido do
médico. (...) O que muitas vezes acontecia, era o médico pedir na alta, na hora da
alta. Como a gente tinha um equipamento que funcionava também para o
ambulatório e também não tínhamos recursos humanos suficientes para ficarmos no
ambulatório e UTI ao mesmo tempo, também não tinha demanda de bebês nessa
quantidade para que ficássemos disponíveis um tempo integral pra UTI. Então
isso atrapalhou muito, porque eles pediam na hora da alta.(...) A gente perdia
muitos bebês, a gente enfrenta uma resistência até em relação a passar a
quantidade de bebês que nascem, que vão para UTI. (...)”.
“Inicialmente, não montei projeto, o contato foi verbal. É adiferente a forma que
aconteceu, mas foi assim. Eu cheguei com o equipamento, marquei uma reunião
com a Diretoria do hospital, coincidentemente uma neonatologista me conhecia,
isso facilitou realmente a minha entrada no hospital, ela comprou a idéia, me
ajudou no convencimento da gerência, e foi tudo muito pido. Começou bem
devagar, porque tinha que esperar esses convênios se posicionarem em relação ao
58
exame e tudo foi acontecendo. Hoje, a gente consegue fazer bastante exame lá
dentro, exceto essa questão do SUS, que foi solicitado, documentalmente, pela
gerência do hospital, por toda a equipe de neo e com minha assinatura também,
mais foi negado, por falta de verba, segundo a Secretaria de Saúde de Salvador.”
“Na Maternidade C., entrei também sem projeto. Na verdade, tinha uma idéia do
serviço, de como montar um serviço, a gente tinha formatado isso na conversa
inicial com o diretor do hospital, que também aceitou. Ele não pediu nenhum
projeto escrito. Ele aceitou a idéia e a gente começou na semana seguinte,
porque o aparato de exame é portátil, precisava de uma sala. Essa sala, na
Maternidade C., foi muito complicado de conseguir, por questões de disponibilidade
mesmo, da maternidade, não ter salas disponíveis. Então a gente mudou várias
vezes de locais, fazia em salas vazias, nem tão apropriadas por causa do ruído
nesse local, mas a gente sempre dava um jeito, mudava, pegava um cantinho de
alguma outra sala. E foi acontecendo, meio aos trancos e barrancos. De um meio
para o fim a gente já tinha a sala certa, numa condição melhor e as coisas andaram
melhor.”
“(...) Em 2000, eu comecei a fazer no Hospital A.. Comecei primeiramente com
um otorrino. Depois que eu voltei do Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia, eu
conversei com a coordenadora do GATANU e ela me mostrou um mapa das regiões
do Brasil que tinham a triagem. E tinha em Itabuna e não tinha em Salvador, que
era a capital, Eu voltei empolgada com a idéia de começar a trabalhar com a
triagem auditiva neonatal. Conversando com o otorrino com quem eu trabalho, ele
topou e compramos o equipamento, fizemos um projeto para o hospital e
entregamos. A princípio o hospital, ele abriu a oportunidade para gente fazer a
triagem auditiva na UTI neonatal. No alojamento não conseguimos iniciar porque
não havia sido aprovado pela Diretoria fazer dentro do alojamento, mas aos poucos
a gente foi sendo chamado pra ir para o alojamento também. (...) Hoje a gente tem
feito bastantes triagens dentro do alojamento. Não é universal porque a gente não
consegue fazer noventa e cinco por cento dos bebês nascidos. Juntando dentro do
hospital e fora do hospital, a gente consegue fazer uma média de setenta por centos
dos bebês nascidos. Então ainda não é universal, até porque a gente não está lá sete
dias por semana por causa da questão de convênio. A gente só trabalha com
convênio e particular, não tem assim um respaldo financeiro, que possa fazer em
todos os bebês. Então tem toda essa questão. Eu comecei a trabalhar nessa fase, em
2000, de 2000 pra cá.”
“Para entrar na maternidade eu o apresentei o projeto. Eu não tive a dificuldade
do ‘será que vão aceitar, será que não’. Eu entrei com o projeto aceito, mas,
vivenciei, mesmo com projeto aceito, algumas barreiras, algumas dificuldades
impostas nos passando como se fosse a burocracia do hospital dificultando, mas às
vezes eu percebia que não era o hospital, a burocracia administrativa, eram, às
vezes, os próprios profissionais que o estavam acreditando que aquilo era um
exame necessário, viável e que haveria um respaldo técnico, científico daqueles
profissionais em fazer aquilo. Isso deu pra perceber no alojamento conjunto. A
dificuldade que nós tivemos de expandir um pouco mais a avaliação, sair do muro
da UTI e ir pro alojamento, para tentar tornar universal a avaliação, o que hoje
não é. Eu não considero que ela seja universal, porque tem uns bebês que saem sem
avaliar. Uma porque o convênio às vezes o cobre, os pais o querem arcar com
os custos, as dificuldades também dos próprios pais não quererem avaliar muitas
vezes, ou eles prezam pela própria informação ou o profissional que levou a
primeira informação talvez não tenha levado com tanta ênfase.”
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“A implantação de serviço, praticamente não houve. Eram serviços que éramos
chamadas, tanto eu como a fisioterapeuta, para poder dar uma assistência ao bebê
que estava com dificuldade de alimentação. Em primeira instância foi dessa forma,
foi uma questão alimentar, que é uma questão de sobrevida da criança. Então nós
estávamos atuando dentro das maternidades por conta dessas questões, a retirada
de sondas, bebês com má formação, que precisava se alimentar. Nós não tínhamos o
que temos hoje de recursos para uma disfagia, tanto que nem disfagia chamava, era
problema de deglutição, uma coisa assim, e nas tentativas, de erros, e acertos e
traduções... É incrível porque nós não tínhamos nada documentado.(...)”
“Não chegamos a estruturar um serviço nessas maternidades, mas as pessoas
estruturaram em cima do que nós fazíamos, porque eu sempre fui muito
desprendida, das coisas, o que tinha que fazer, olha aqui, isso aqui, vai organizar, o
que é importante para um bebê, o que é importante para uma mãe, o que eles vão
aprender com a amamentação, me deixa ver, então eu acho que foi em cima
disso.(...)”
Atualmente, temos serviços sendo realizados nas áreas da audiologia e motricidade
orofacial. Apenas uma entrevistada relatou a atuação no follow up, em que verificamos
também questões relacionadas à linguagem.
Observamos então que há especialistas em Audiologia, Linguagem e Motricidade
Orofacial, mas não fonoaudiólogos especialistas em neonatologia. Assim, parece que uma
tendência de esses profissionais atuarem de maneira pontual, e não na assistência integral ao
paciente. Isso talvez porque a fonoaudiologia não tenha ainda, majoritariamente, um caráter
preventivo e sim reabilitador.
“Na questão da MO, o meu trabalho é com as crianças mais graves, crianças
neurológicas graves mesmo. Essas crianças normalmente não vão ter a fase de
transição para mamadeira não. São crianças com indicação para a gastro (...). Mas
essa parte específica para sucção nutritiva, não nutritiva, essa ainda tem sido feita
pela Fisioterapia. Eu tive uma criança agora recentemente que ela estava internada
na UTI, quando ela saiu eu fiz o relatório, ela foi para home care, solicitando
acompanhamento da fonoaudióloga em home care. Inclusive o pessoal da UTI
queria que eu continuasse o trabalho, e como tinha uma pediatra da UTI que era
pediatra do home care ela me chamou, mas não era um interesse meu, porque
também não tem condições de eu fazer tudo. Então eu não dou esse
acompanhamento não.”
“Acho que, de uns dois anos pra cá, os hospitais têm apresentado mais a abertura
para os fonos poderem atuar. Inclusive a parte de disfagia, que antes era feita muito
pela fisioterapeuta, hoje está se chamando as fonoaudiólogas. Muitos neurologistas,
muitas neonatologistas estão preferindo que a fonoaudióloga trabalhe com essas
crianças.”
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“Sou eu mesma que tenho feito o trabalho de motricidade orofacial. Nos hospitais
em que eu atuo, trabalho com as duas áreas, de audiologia e M.O. Estou ainda
iniciando o trabalho com M.O., está muito no começo porque o número de crianças
ainda que demande essa necessidade ainda é pequena.(....). A parte da triagem
auditiva já é como rotina, então todos os dias eu passo nos hospitais.”
“Eu acho que a triagem, ali especificamente, nesse serviço, vai abrir porta pra
M.O.(...). Então eu me resguardei de ficar com a triagem ali, que eu sei que
também existe uma resistência em chamar a fono para fazer o trabalho de MO.”
“Eu acho que as duas áreas têm perspectiva para atuação. Não tem como separar.
A atuação do fonoaudiólogo dentro do hospital pode ter começado pela triagem,
mas é uma ótima forma de mostrar para que viemos, tanto é, que nessa minha
experiência, os próprios neonatologistas começaram a convidar as meninas para
fazerem mais coisas, tem uma referência, tem um fonoaudiólogo dentro, um
médico chama para fazer uma avaliação de uma afasia, isso tudo eu vejo que tem
movimentado muito. Eu acho que a porta de entrada pode ter sido a triagem. é
hospital geral, e chamam para atender a pacientes adultos também. (...) Minha área
é a Audiologia e ponto. (...)Acaba sendo da área um pouco hospitalar pela triagem,
mas esse perfil de atendimento, ao paciente afásico, a questão da sucção dos bebês,
eu não domino e não tenho interesse, mas acho que é importante está sabendo lidar
com bebês, isso tudo eu tive que ir lidar para aprender, porque a gente tem que
saber mesmo na triagem, como se portar com o bebê prematuro, até no manuseio,
toda, essa parte... Na minha experiência, eu tive que buscar com profissionais.(...)
não tem um serviço de acompanhamento dos bebês, um follow up, porque nasce
na maternidade, recebem alta e um abraço. Não tem um serviço ambulatorial,
posterior, não.”
“Eu acho que é um campo de trabalho que tem muito que fazer. A gente sempre
conversa com os profissionais e com os alunos também que a nossa maior,
dificuldade nessa parte da triagem é a reabilitação. A gente tem detecção, tem
diagnóstico, tem adaptação de aparelho, alguns poucos, mas tem, e quando a gente
vai pra reabilitação a gente têm pouquíssimos. É como se fosse uma pirâmide. A
reabilitação é o que a gente mais tem dificuldade. Então eu acho que tem muito
campo, só que as pessoas, os alunos, que estão se formando, eles geralmente
querem alguma coisa que seja imediato, e a reabilitação do deficiente auditivo é
uma coisa que você tem que criar uma demanda, tem que criar um nome, tem que
ter experiência profissional para você começar a ter sucesso.”
“A questão da motricidade tem uma fono que é chamada eventualmente quando tem
um bebê que tenha um risco maior, que eles julguem a necessidade da fono.(...) Não
existe o profissional dentro do hospital para parte de atendimento de neonatologia,
de fono neonatal. Não existe, não tem. Eles chamam? Chamam. Mas quando eles
julgam que é necessário.”
F- A Triagem Auditiva Neonatal (TAN)
Parece ser um desejo das entrevistadas que atuam com audiologia a Implantação da
LEI sobre a TAN. Embora Salvador seja uma capital de grande porte, em alguns setores ainda
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se encontra bem atrasada, como parece ser o caso da saúde, pois várias cidades menores do
que Salvador, inclusive na Bahia, como Vitória da Conquista, já têm a LEI sobre a TAN.
“A esperança é que tenha algum projeto de lei que obrigue as maternidades a
realizarem o exame do teste da orelhinha, pois isso vai dar oportunidade de
trabalho para muito profissional, vai dar oportunidade da gente estar
diagnosticando com veemência esses bebês, porque sabemos que pode ter bebês sem
indicadores de risco, estar no berçário comum e ter uma surdez. A cada dia isso é
comprovado. Acho que a perspectiva para essa área é muito grande.”
“A coisa da legislação existe em rios estados, vários municípios, na Bahia
tem Vitória da Conquista, que eu saiba. Chegou num ponto que não tem como voltar
atrás. Então, a gente percebe agora, aquilo que eu te falei, existiam profissionais
ali, e as próprias neos tinham uma resistência muito maior, e era uma quantidade
de profissionais maior que tinha resistência.”
“Eu acho que a solução estaria em um projeto de LEI, que talvez a gente tivesse
uma lei que fosse obrigatória... Se bem que eu achava que o teste do pezinho era
Universal. A gente considera universal noventa e cinco por cento, e a professora,
aquele dia da aula no mestrado, falou que o teste do pezinho, depois de vinte e um
anos, não é universal. Eu acho que é oitenta e cinco por cento. Lembra que ela
falou pra gente? Ele não é universal. Então imagina como a gente ainda tem que
caminhar para que isso seja universal.”
“Seja LEI isso de ter fono nas maternidades, porque os profissionais que tem
formação em São Paulo, os médicos que fazem capacitação em São Paulo, todos
acreditam, porque foi da realidade deles enquanto estavam fazendo a formação,
mas quem faz a formação aqui não tem essa crença.”
Em Salvador, a TAN passou a ser realizada a partir de 2000, sendo que, atualmente,
apenas um serviço garante a universalidade; nos demais, esse procedimento é realizado,
apenas, em bebês de UTIN`s. A grande dificuldade é triar os bebês nas enfermarias de
alojamento conjunto, bem como restringir a testagem à avaliação comportamental, pois o
valor dos equipamentos ainda é alto para a realidade de Salvador.
O médico, então, encaminha as crianças com indicadores de risco para deficiência de
audição para as duas únicas instituições que realizam a TAN gratuitamente; porém a fila é
sempre muito grande, e a família acaba considerando desnecessário realizar os exames
quando passa muito tempo desde o nascimento da criança.
62
De acordo com Brasil (2004), de 1964 a 1970, houve o início da implantação de
programas de triagem auditiva universal por meio de procedimentos comportamentais. De
1971 a 1992, a triagem auditiva neonatal foi restringida aos recém-nascidos de risco. Já a
recomendação mais recente, compreendida entre 1993 a 2003, volta-se para a triagem auditiva
neonatal universal, uma vez que há tecnologia para realizá-la, como as Emissões Otoacústicas
e a Audiometria de Tronco Cerebral.
“Hoje em dia eu não trabalho com avaliação auditiva comportamental. Em 2003,
depois de uma conversa com uma fonoaudióloga referência em triagem auditiva
neonatal em Salvador-Bahia, eu resolvi adquirir o aparelho EcoCheck pra fazer
emissões otoacústicas. Desde então eu faço emissões otoacústicas nos dois
hospitais, e faço o reflexo cócleo-palpebral com o PA2
17
. Eu trabalho sozinha sem
nenhuma equipe nos dois hospitais.”
Para Bittencourt et al. (2005), a instituição da TAN é de extrema importância, sendo
que, quando não for possível realizá-la de forma universal, deve ser proporcionada aos bebês
de berçários ditos de alto e médio risco, garantindo, dessa forma, a precocidade do
diagnóstico e da intervenção na deficiência auditiva.
“No Hospital E. a triagem auditiva é universal, mas no Hospital J. só faço a
avaliação das crianças internadas na UTI. Todos os dias eu passo nos hospitais
para ver essas crianças. As de UTI o cem por cento sempre, mas de alojamento
conjunto, por exemplo, hoje eu não vou lá.”
“Agora o mais importante é que se faça o exame pelo objetivo que é o exame, de
avaliar se a criança possui ou não uma deficiência auditiva precocemente, para
que ela tenha uma qualidade de vida melhor, para que ela seja protetizada cedo,
que o protocolo da GATANU funcione.”
“Esse “boom” que deu da triagem auditiva teve um momento certo para acontecer
que foi quando teve um curso de Audiologia aqui. Aquilo ali eu acho que as pessoas
saíram todas alucinadas. Eu não sei, exatamente pelo que, se pelo financeiro, pelo
nome, pelo status. Eu não sei. Eu tenho medoque isso perca o objetivo principal,
que é detectar precocemente a deficiência auditiva em bebês. Se cabe alguma
mensagem é que todo mundo precisa de dinheiro para sobreviver, mas além de
17
PA2 é um equipamento que serve para realizar a avaliação auditiva comportamental das crianças, é um
audiômetro pediátrico.
63
buscar pelo financeiro, fazer o trabalho da maneira correta. Não olhar e dizer ah,
convênio não cobre, não vou fazer’, mesmo porque o custo da gente é muito
pequeno. Eu comprei meu aparelho quase quatro anos, o aparelho está e ele
já se pagou. Então eu não tenho mais custo no exame. A partir de que o aparelho se
paga, você tem lucros. Acho que menos de dois anos tive o retorno do
investimento. Entre um e dois anos. Trabalho em hospitais grandes. São duas
maternidades grandes. O Jorge Valente tem em média oitenta partos mês, mas isso
é uma média alta. O Espanhol tem em média cem a cento e dez partos mês.”
“Infelizmente a minha proposta da triagem ser universal não aconteceu, porque
nesse hospital em especial setenta por cento dos bebês, aproximadamente, são do
SUS. Agora, todo trabalho de orientação é feito, para quem é SUS, para quem é
convênio, para quem é particular, eles saem com o pedido de exame. Tem uma
estagiária que vai, explica toda a questão da importância desse diagnóstico
precoce, do desenvolvimento de linguagem e da audição na criança, mas a meta
seria fazer universal, continua sendo, porém ainda não acontece até então.”
“Como a gente tem intenção de triar todos os bebês, e não tendo acesso às mães;
não seja nem o correto fazer sem pedir autorização da mãe, mas como a gente
gostaria de fazer em todos os bebês, porque não é justo selecionar o bebê, eu acho
assim, eu acredito assim. A Maternidade de Campinas também tem isso como
premissa, eles fazem de todos os bebês, bebês SUS ou não, bebê, particular ou não.
Ela tem esse compromisso de fazer em todos os bebês.”
Ainda com relação à TAN, a grande preocupação das entrevistadas parece ser com a
devolutiva aos pais. Em alguns serviços, quem informa os resultados da triagem é o
neonatologista, o que aflige algumas entrevistadas, pela forma como essa comunicação é feita,
o que pode angustiar os pais e criar resistências para o reteste.
A assistência humanizada é um projeto relativamente novo que começou a se
preocupar com essa questão. O médico está sendo preparado, então, para esse tipo de
assistência. Como o conceito de saúde foi modificado, nele sendo inserida a qualidade de
vida, é possível que a forma de abordar e orientar as famílias também se modifique
futuramente.
Apesar de a assistência humanizada ser uma idéia recente, e de as fonoaudiólogas
entrevistadas não terem tido essa formação na graduação, o papel reabilitador de nossa
profissão talvez tenha dado a elas a percepção da necessidade dessa assistência.
64
“Às vezes a gente faz com bede quarenta e oito horas, porque o bebê fica muito
pouco tempo na UTI, em observação e a médica quer que faça, ‘faça assim
mesmo para ele não sair sem, que você está aqui, faça’. Então às vezes tem
vérnix
18
ainda. A gente teve problemas assim com dois bebês, que a médica falou
para a mãe antes dela pegar o resultado, a mãe ‘espiroca’ da cabeça mesmo. Deu
falha. E aí?’, ‘Meu filho ouve?’”.
“A devolutiva do resultado do exame auditivo da UTI quem é a neonatologista
diarista. Dificilmente eu vejo a família, porque o horário que a família chega na
UTI para ver a criança é depois das dez horas da manhã e nessa hora eu tenho
que estar com tudo concluído, nos hospitais, mesmo porque as altas dos hospitais
são até as dez horas da manhã. Se eu vou fazer alojamento eu tenho que fazer antes
disso, esse é um aspecto. Então essa devolutiva é dada pela diarista. Nesses anos
todos é a mesma diarista, nós nunca tivemos problema. Às vezes que a criança falha
num primeiro exame em alojamento conjunto, que normalmente é por vérnix, eu
faço a devolutiva diretamente, porque a criança está junto com a mãe fazendo o
exame, e peço para ela retestar em sete a dez dias depois da alta e assumo isso,
tudo é muito bem explicado e tranqüilo. Algumas mães chegam ao consultório
depois de dez dias um pouco ansiosas, mas nada de me preocupar. Elas retornam
para refazer o exame, eu tenho cem por cento de retorno, pois tenho isso controlado
e as mães voltam para fazer o reteste, esse de sete a dez dias, elas retornam sim.”
“A gente não pode nem desvalorizar demais, porque a família não volta para fazer
a triagem de novo, e nem supervalorizar, porque senão a e entra em pânico. É
uma situação que você tem que ter um meio termo, então você tem que dizer que o
bebê falhou, que aquela falha o quer dizer que ele não escute porque o exame é
passa / falha, que ele tem vérnix muitas vezes dentro do canal, às vezes tem dez
por cento dos bebês que a gente faz que não consegue finalizar o exame pelo vérnix,
mas que é importante ela retornar para gente fazer o reteste e, temos que estar em
contato para conseguir finalizar esse exame, que aquele exame não termina ali, que
a gente tem que terminar, temos que ligar pra família, que pedir pra ela voltar... Às
vezes ela não volta.”
“Quando eu fui pra triagem, sempre tive muito cuidado com os pais. Minha
preocupação dentro da UTI era, sempre que os pais estavam lá, conversar sobre o
resultado do exame, o que queria dizer aquilo, que não era um exame definitivo, que
era um ‘passa’ ou ‘falha’, que quando dava ‘falha’ a gente tinha que pesquisar
melhor para não angustiar nesse momento de UTI. O momento de UTI é muito
desgastante para a família.”
“A maior dificuldade que eu acho que toda fono que trabalha com triagem
enfrenta, não é realizar o exame, não é manusear o equipamento, o é ter a rotina
do dia a dia de qualquer tipo de exame que a gente faça é uma rotina de muita
responsabilidade e atenção, mas o que eu acho que pesa muito é o passar o
resultado para os pais.”
18
O bebê a termo nasce recoberto por um material gorduroso, branco, conhecido por vérnix caseosa.
65
Ainda nessa linha de preocupação, há o cuidado com a relação mãe-bebê, tanto no que
se refere à devolutiva de um resultado de “falha” na TAN - como essa mãe recebe essa notícia
e como fica a estrutura emocional dessa família – como com relação à amamentação.
“Eu acho que esse contato com as mães é um contato que a gente vai aprendendo. A
gente não tem isso na faculdade (...) Eu o vejo um curso de formação para o
trabalho com a família, que eu acho que seria até uma coisa interessante para gente
poder ter mais embasamento.”
“Agora quanto à mãe, é a parte que eu mais gosto, de orientação, de explicar pra
ela como foi a triagem, de me colocar à disposição se ela tiver alguma dúvida, pois
é um momento muito difícil, é um momento muito complicado para mãe.”
“O apoio da família é realmente importante, mas, quando estamos trabalhando com
bebês, não tem como não trabalhar, mesmo que você queira você o tem como
fugir dessa família.”
“É um trabalho de extrema importância e ao mesmo tempo de muita
responsabilidade, porque você está lidando com uma criaturinha, que eu morria de
medo de pegar. Agora eu já pego, boto pra lá, boto pra cá, mas é porque a
responsabilidade realmente é muito grande. Você não está lidando com o bebê,
você está lidando com o bebê e com a família, principalmente com a mãe, que é
outra relação muito complicada, complexa. Além desse binômio todo, tem também a
questão dos profissionais com quem você, mesmo que você não queira, você tem que
estar presente, tem que estar dialogando e conversando.”
“É muita informação pra os pais, então a gente tenta reduzir ao máximo. Sentir
primeiro como é que os pais estão. Se eles estão confiantes na pessoa que está ali
fazendo o exame, ou se estão prestando atenção naquilo que você está falando,
porque como são muitas informações no mesmo dia, às vezes a gente percebe que
não estão muito ligados.”
“A gente nota que o maior nível de ansiedade que eles têm é quando dá uma
pequena falha. Com a leitura do aparelho na hora a gente tem mais ou menos
uma noção, aquilo que preocupa e aquilo que não preocupa, mas não conseguimos,
muitas vezes, transmitir para eles exatamente aquela despreocupação por um
resultado de falha. Para eles falha é falha. Falha quer dizer ‘meu filho pode não
ouvir’. Eles não conseguem assimilar às vezes que pode ser temporário.”
“O paciente não é o pai e a e, é o bebê, que o bebê não tem como você
interagir e explicar, são os pais, é outra vida, passa a ser diferente, os pais tem
outro comportamento. Não é como se fosse eles recebendo a informação, mas é a
informação da vida do filho deles. Demanda uma vida inteira. Você falar para os
pais que seu filho não está ouvindo bem. Imagina?! Você desmonta uma expectativa
de vida criada naquele âmbito todo familiar. É muito difícil. Meu coração bate
forte. Na hora que eu estou vendo que tem alguma coisa ali é a hora que mais me
deixa ansiosa. A gente tenta relaxar, ficar tranqüilo, para poder transmitir para os
pais, isso é básico, se eu ficar atordoada com o que eu estou vendo ali, vai, lógico,
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desestabilizar a família, todos da família por completo. (...) aquele momento ali é
um momento muito especial dos pais, é um momento especial da mãe que está
tentando amamentar, que às vezes não consegue, não consegue segurar o bebê, não
sabe quais são as massagens que tem que fazer no seio. Eles estão tão preocupados
em fazer tudo o melhor possível para dar para o seu filho, que você tem que ter
muito cuidado na hora que vai lidar com uma informação de uma possibilidade de
um problema que talvez exista, mas talvez não exista. Na cabeça deles vai montar
uma coisa bombástica e que pode interferir na amamentação, pode interferir na
relação mãe filho, pode interferir na relação familiar, de algo que você pode está
suspeitando.(...) Eu acho que pra mim, isso é o mais difícil, é o que eu considero
mais difícil.”
“Com os pais a gente vai treinando, um feeling psicológico, de como é que você
chega no pai (...) Eu tenho interesse, eu gosto, então eu leio muito sobre isso.
Pessoalmente eu vou buscando, mas eu acho que acrescenta para o profissional
tudo que vier.”
G- Perspectiva do mercado de trabalho para o fonoaudiólogo:
atuação como voluntário, convênios, contratos
Segundo as entrevistadas, o campo de atuação está aberto a novos profissionais que
estão se especializando para atuarem com bebês. Talvez o trabalho de divulgação dos
resultados já esteja trazendo frutos.
“Por acaso eu fui para reunião de colação, de comissão de formatura, encontrei a
professora e ela tinha esse emprego para mim aqui. Eu colei grau e vim pra cá.
Colei grau vinte de março, treze de abril eu estava aqui. Fez nove anos antes de
ontem.”
“Agora, eu recebi uma nova proposta para fazer parte da Residência
Multiprofissional em Neonatologia e Saúde, especificamente Neonatologia, pela
UNEB, que vai ser no Hospital R. e que eu vou ser preceptora e vou praticamente
montar um serviço lá e ter duas residentes como alunas. Nesse período todo,
realmente eu pude comprovar que não é uma área fácil para gente da
Fonoaudiologia poder atuar. Porque realmente falta espaço para eles
reconhecerem o que a gente faz e saber o quão importante é.”
“Além da Maternidade C. e do Hospital R. vamos ter que crescer para outros
lugares. Estão surgindo outros cursos aqui. A área está começando a crescer. Se a
Fonoaudiologia é um bebê, a Neonatologia é um embrião, eu nem sei o que é, mas
temos que ir fazendo nosso trabalho e sempre nos atualizando, temos que estar
sempre aprendendo. Então assim, é uma área que realmente me encanta. Se eu
pudesse realmente me sustentar com a Neonatologia, eu largava tudo, mas o
dá.”
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“Eu acho que o hospital sempre teve muito disponível a abrir as portas. Com certa
restrição por causa da questão da clientela que é uma clientela exigente de classe
média, classe média alta, que tem que ter um cuidado na hora de colocar sobre a
triagem, de falar sobre os resultados.”
“Eu acho que a perspectiva é excelente de entrada dos profissionais nos hospitais,
porque eu acredito que não havia fono, nos hospitais também, porque não tinha
esse profissional disponível no mercado, mas hoje, com as faculdades, isso
melhorou muito. Então o que eu acho é que a perspectiva é ótima, tem mercado.
Acredito que, com o tempo, essa formação específica que os fonoaudiólogos estão
tendo na área, vai justificar algum projeto que uma Diretoria vai reconhecer
melhor, por ser um profissional mais especializado. Eu acho que é uma boa
perspectiva.”
“Eu formei num grande centro, (...). Aqui em Salvador é tudo muito novo, então eles
estão começando, estão engatinhando, mas eu acredito que eu vi na experiência é
que essas coisas que não se falavam antes, na graduação, os professores estão
mais preocupados em colocar o quanto antes isso pros alunos. para preparar,
para abrir os horizontes sobre a quantidade de especialidades que tem dentro da
Fonoaudiologia.”
“Eu acho que as portas estão se abrindo em Salvador, mas é tudo muito lento. Haja
vista que tem dez anos que a gente está nessa tentativa de ter de forma
sistemática Fono em toda maternidade da cidade. Assim como a gente tem no Rio,
como a gente tem em outros estados que já tem Fono há muito tempo.”
“Na triagem auditiva, para minha realidade nessa clínica, é uma coisa muito
restrita, porque a gente está vinculado ao atendimento de triagem no hospital, que a
demanda de nascimento não é grande. (...)para comportar vários profissionais
trabalhando com a triagem e buscando especialização somente nessa área. (...)
Não vai ter retorno financeiro.(...) Todas as áreas estão concentradas muito nas
capitais. Eu acho que o interior do Estado tem muita necessidade, muita
desinformação com relação a nossa área, tanto quanto quando eu cheguei aqui em
Salvador. Na época que eu cheguei ninguém sabia o que era Fonoaudiologia,
ninguém sabia falar FONOAUDIOLOGIA. Estou quinze anos aqui. Peguei uma
época que vo escolhia onde você queria trabalhar. Nossa... Você era super
valorizada, ‘ah, queridinha pra lá, queridinha pra cá’, e hoje a gente sabe, quem
está na cidade sente que o campo está mais restrito. Eu fico triste pelas pessoas
que estão saindo, porque encontra muita dificuldade de ingressar, mas se tiver cara
e coragem de ir para o interior do Estado plantar a sementinha da Fonoaudiologia
eu acho que dá certo.
“O mercado tem porta aberta para a aceitação dos novos recém formados em
Salvador. As pessoas m que ter uma visão mais macro da situação e da atuação.
Você quer ganhar dinheiro, você quer colaborar com a população, você quer
desenvolver pesquisa, qual o seu perfil? O que deseja como profissional e como
pessoa? Porque quem vai pra uma área dessas, tem que ter clareza.”
Mas o trabalho voluntário ainda foi referido por quase todas as entrevistadas como
sendo uma forma de mostrar as possibilidades de atuação do fonoaudiólogo dentro dos
68
hospitais. Segundo a LEI n° 9.608, de 18 de fevereiro de 1998, esse tipo de serviço voluntário
pode ocorrer por pessoa física em entidades públicas.
“Recebi o convite para integrar a equipe da Maternidade C. como voluntária. Em
janeiro cheguei a conhecer a maternidade, mas as pessoas que trabalhavam no
Follow up estavam de férias e em fevereiro de 2005 eu comecei a fazer parte da
equipe.
“...trabalho voluntário, ninguém sobrevive de trabalho voluntário....Mas acho que
tudo vale a pena. Agora, eu deixava a minha quinta-feira para a Maternidade C.,
assim como a quarta-feira era do consultório, minha segunda-feira foi do Follow
up. Mas não dava para viver de ar e de luz. Na época eu também estava disposta a
me virar se a clínica não quisesse me manter, para seguir por esse caminho.”
“(...) A estagiária, ela é voluntária. Não tem profissional voluntário não. Exceto
uma profissional que atua com triagem, que está tendo formação na área
hospitalar, pois está fazendo especialização e se dedica a isso, e começou a fazer
um trabalho paralelo com a triagem. Como ela vai para fazer triagem, as médicas
começaram a convidá-la pra atuar nessa parte de estimulação e ela tomou gosto
pela coisa. Ela quer fazer disso um projeto formal, onde os convênios vão ter que
pagar por isso, mas por enquanto elas estão como voluntárias por uma questão de
organização interna, até fazer com que os convênios aceitem essa cobrança.”
“... como eu estou com alguns estagiários dentro (do hospital), a gente está
fazendo um trabalho voluntário na parte de amamentação, de estimulação. Eu não
especificamente, que eu não tenho experiência nessa área, mas têm fonoaudiólogos
que estão fazendo cursos aqui em Salvador, e que estão atuando, inicialmente de
forma voluntária (...)”
“Na Maternidade C., fiquei de voluntária por um tempo. Foi uma idéia de fazer um
trabalho voluntário que foi muito bom enquanto durou, porque chegou uma hora
que já não deu mais para disponibilizar o equipamento.”
“Quando eu voltei de Campinas fui ao Hospital CL. pedir um estágio como
voluntária. Não é nem estágio, porque não tinha supervisor. Era um trabalho
voluntário que eu queria desenvolver pra não perder o que eu adquiri lá em
Campinas....Na época, a diretora me cedeu o espaço. Foi muito complicado porque
eu não tinha supervisora, então eu não tinha como entrar como estagiária, mas ela
se interessou pelo trabalho, achou que iria enriquecer que a unidade precisava e eu
comecei a trabalhar lá.”
Uma das entrevistadas relatou que, embora não realizasse trabalho voluntário, apenas
recebia o pagamento por serviços prestados após muito tempo, fato que ainda ocorre quando o
atendimento é feito via convênios.
69
“Quando retornou a triagem auditiva na UTI do Hospital E., para fazer de todas as
crianças, porque antes era eventualmente, mas quando foi pra todas as crianças
fazerem, eu levei seis meses sem receber um real, nem pra pagar a gasolina. Eu
me lembro que eu comecei em julho, junho ou julho, teve reveillon, eu viajei, estava
em Maceió, quando eu estava voltando na estrada tocou meu celular, era minha
irmã, que é a neonatologista de lá. Ela virou e disse ‘tenho uma novidade pra você’.
Eu disse ‘é? O que foi?’. ‘Saiu dinheiro para você’. Então assim... Seis meses
depois e acho que saiu setecentos reais. Eu sabia que um dia iria receber...”
“Só que tem cinco anos que esse trabalho vem sendo desenvolvido e no ano passado
surgiu uma proposta de contratação. Pediram-me um projeto de pesquisa para
poder ser contratada. Só que as coisas acabaram não funcionando e em novembro a
gente parou de atender. De pra sempre estão ligando, pois têm crianças que
precisam e a gente realmente parou de atender porque ficou difícil dar continuidade
tendo que conciliar com o trabalho na clínica. Estamos aguardando, mas não
parando, e procurando em outros hospitais também.”
Porém, um grande conflito para algumas das entrevistadas parece ser quanto ao
pagamento da TAN dentro dos hospitais por parte dos convênios - alguns não cobrem esse
procedimento e outros repõem o valor de acordo com o hospital. Com isso, algumas das
entrevistadas acabam, inclusive, trabalhando gratuitamente. Para os autores Ribeiro e Mitre
(2004), tanto os profissionais como os pais deveriam se unir e se mobilizar para que os
convênios dêem cobertura completa para o exame.
Com relação aos vínculos empregatícios com os hospitais, embora muitas das
entrevistadas sejam terceirizadas ou até mesmo quarteirizadas em algumas situações, esses
contratos de trabalho estão começando a mudar, três profissionais passarão a ter vínculo com
o hospital como prestadoras de serviço.
“Nós somos terceirizados. Não vínculo algum, empregatício com o hospital. O
hospital é uma empresa e a minha empresa presta serviço para o hospital, com nota
fiscal, com tudo documentado. O hospital retém um percentual de administração, e
repassa para minha empresa determinada porcentagem. As fonoaudiólogas também
prestam serviço comigo e tem pessoa jurídica também. É uma relação de empresa,
para empresa, para empresa. Quarteirização, infelizmente, imposto sobre imposto,
sobre imposto.”
“O percurso foi plantando sementinha, não havia cobertura dos convênios para
esse teste no início, a gente foi buscando comunicar com cada convênio, para irem
habilitando esse exame. Muitos não aceitaram pagar, a gente teve que brigar
literalmente com os convênios. Outros receberam sem maiores problemas. Por
70
incrível que pareça, hoje, o convênio do Estado cobre esse exame dentro da
maternidade, porém essa maternidade atende SUS também.”
“Vão mudar os vínculos até em relação a nós mesmo, de pagamento e tudo (...) Está
tendo uma transformação para sermos terceirizado, não receberemos mais via a
clínica de otorrino que funciona dentro, iremos receber via Hospital mesmo. Não
na nossa área, está tendo uma reforma grande no hospital. Em relação a essas
coisas burocráticas.”
“Eu acho que elas enxergaram que o negócio não era brincadeira, a visão é de que
a gente está querendo ganhar dinheiro. Elas não enxergavam que, aos trancos e
barrancos, e mesmo fazendo de quem nem tinha consentimento,(porque a gente não
tem acesso à mãe para pedir o consentimento), e o convênio não cobria, a gente
queria era fazer para o bebê não sair dali sem o exame. Muitas delas hoje
conseguem enxergar que a gente faz aquilo ali não é pelo financeiro, mas na
intenção de que o serviço funcione, até porque isso vai ser lei, mesmo que não
tenham recurso de fazer, mas eu acho que tem campo sim, desde que todo mundo se
una em favor, em relação e direção a isso.”
“Estava conversando com outra colega de outro serviço em relação ao pagamento
dos convênios, pois tem momentos que pagam trinta outros pagam quinze, ou
pagam não sei quanto, e a gente estava discutindo isso, dessa união, porque não
adianta um serviço ir atrás do convênio, e brigar por isso. Eu acho que se as
pessoas se conscientizarem de que a classe precisa se unir para abrir esse campo,
eu acho que os outros profissionais vão passar a respeitar mais.”
“É um trabalho que é bem remunerado? Acho que sim. Eu não sou insatisfeita
financeiramente com o trabalho de triagem auditiva não. Não fez grandes
modificações na minha vida, mas estou satisfeita. (...) eu sei que os convênios
variam valores, mas se você me perguntar que variação, qual paga mais, qual paga
menos, eu não sei. Seria fácil saber, mas eu não quero saber. Porque a partir do
momento que a gente descobre isso, a gente começa a fazer diferença. E as crianças
elas são todas iguais, elas todas precisam ser avaliadas.”
“O meu desejo maior era que o hospital abraçasse a causa da triagem auditiva e a
gente pudesse fazer em todos os bebês e o próprio hospital fizesse essa cobrança do
convênio, mas não é esse serviço que o hospital dispõe. Ele se dispõe a terceirizar o
serviço. Ele oferece, conversa com a família que a Fono está lá, que pode fazer a
triagem e a gente vai e conversa com a família. É um exame terceirizado. Eu
acho que o hospital disponibiliza a abertura para conseguir fazer a triagem. Não
existe um vínculo empregatício. Não existe um vínculo de prestação de serviço. Não
existe esse vínculo. Nos dois serviços que eu trabalho é assim. A gente chegou, fez
um projeto para o hospital, oferece pra família.”
No capítulo subseqüente, faço então uma síntese da inserção da Fonoaudiologia nas
maternidades de Salvador, destacando a estruturação das práticas desenvolvidas diante das
limitações institucionais.
71
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando as entrevistas realizadas neste estudo e também os questionários
dirigidos às instituições hospitalares, foi possível relacionar o trabalho que o fonoaudiólogo
vem realizando nas maternidades de Salvador Bahia com o momento recente de inserção
desse profissional nos hospitais das mais diversas regiões do país, como explicitado na
literatura.
Podemos observar que, embora os cursos de Fonoaudiologia de Salvador sejam
recentes, a área vem ganhando espaço, sendo que os fonoaudiólogos, inclusive, vivenciam
situações e dificuldades semelhantes àquelas enfrentadas em outras regiões do país. Mesmo
em estados em que a área é mais desenvolvida, tanto em termos acadêmicos como práticos,
ainda uma defasagem quanto à formação e capacitação adequada do fonoaudiólogo para a
atuação em unidades neonatais, o que pode ser claramente constatado nas falas das
entrevistadas que concluíram o curso nesses estados – diga-se, a maioria.
que se destacar que, assim como em outras regiões do país, as fonoaudiólogas de
Salvador vêm buscando formas de compensar essas deficiências de formação para se inserir
no contexto hospitalar, quer buscando supervisões clínicas e/ou cursos de especialização e de
pós graduação, quer seguindo os protocolos propostos na literatura em suas pesquisas. De
fato, o uso de protocolos específicos é um meio eficiente de garantir a padronização de dados
e a fidedignidade do estudo, bem como de divulgar as práticas fonoaudiológicas. Um exemplo
citado pelas entrevistadas é a utilização do protocolo da GATANU, embora ainda não ocorra
em todos os serviços.
Em consonância com as atuações que vêm sendo efetivadas nas maternidades,
conforme observamos na literatura da área, os fonoaudiólogos de Salvador também atendem
tanto na área de motricidade orofacial, com a avaliação/estimulação de sucção dos bebês,
72
quanto na área de audiologia, com a realização da TAN. Constatamos, pois, uma visão
multifacetada do atendimento infantil em prol de um desenvolvimento global e humanitário
do bebê. Isso fica também evidente no que se refere às devolutivas de diagnósticos, em
especial referentes à audição - há um consenso entre as entrevistadas acerca da preocupação
quanto à forma de informar os resultados da triagem aos pais, pois isso pode afetar o vínculo
mãe-bebê, um dos alvos de inquietação dos fonoaudiólogos, tanto de Salvador como de outras
regiões do país, como observamos nas pesquisas da área.
Ainda com relação à TAN, na verdade, esse procedimento é realizado apenas em uma
instituição pública baiana e na grande maioria das particulares, mas não de forma universal.
Uma sugestão levantada pelas entrevistadas nos pareceu bastante pertinente - seria a criação
de uma Lei que obrigasse a inserção do fonoaudiólogo nas equipes de saúde para atuarem nos
hospitais e maternidades, além do projeto de Lei sobre a realização da TAN e sua
universalização.
Importante ressaltar, também, que a implantação do serviço de Fonoaudiologia nos
hospitais de Salvador vem ocorrendo, basicamente, por meio da apresentação de projetos ou
por indicação de outros profissionais estabelecidos nas equipes, e não por iniciativa das
instituições. Trata-se, pois, de um mercado ainda pouco favorável, dependendo muito das
iniciativas dos profissionais. Além disso, as entrevistadas foram unânimes em relatar que,
frequentemente, encontram resistências por parte de membros das equipes de saúde,
possivelmente, por uma falta de divulgação do trabalho que leva a um desconhecimento. De
fato, durante a aplicação do questionário dirigido às maternidades de Salvador, observamos
que, em algumas delas, os setores que o responderam não sabiam da atuação do
fonoaudiólogo na instituição, nem em que momentos ele era devidamente chamado para
atender aos bebês e nem que o trabalho de avaliação e estimulação da sucção/deglutição era
desenvolvido por esse profissional dentro das UTIN’s e USIN’s.
73
Também enfrentamos problemas com profissionais de áreas afins, que ainda são vistos
como tendo condições de prestar atendimento na área de motricidade oral, papel que cabe ao
fonoaudiólogo. Assim, apenas em quatro maternidades esse trabalho era desenvolvido pelo
fonoaudiólogo, sendo dois com atendimentos constantes e dois esporádicos. Também
observamos aqui certo desconhecimento desse trabalho por parte dos hospitais, uma vez que
quatro questionários respondidos pelas instituições não apontam a existência do trabalho do
fonoaudiólogo na área de motricidade orofacial, apesar deste ser relatado pelas entrevistadas a
elas vinculadas.
Com essa falta de serviços que contemplem o atendimento do fonoaudiólogo, a
sociedade acaba ficando sem a assistência de um profissional especializado, capacitado para a
prevenção de alguns distúrbios do desenvolvimento global, e não apenas restrito à
reabilitação. No intuito de voltar-se para práticas preventivas, as entrevistadas vêm
procurando, por exemplo, participar dos Cursos de Gestantes, para orientar às mães quanto à
importância da TAN; porém, algumas ainda enfrentam resistências por parte da equipe de
saúde para esse tipo de atuação.
Interessante destacar que esse tipo de problema não tem sido reportado na literatura da
área; talvez por que, em outros estados, como São Paulo, a Fonoaudiologia já esteja mais
constituída e inserida no mercado de trabalho, em diversos setores.
Ainda analisando os questionários dirigidos às maternidades de Salvador, observamos
que, com relação à TAN, houve a confirmação de existência do serviço e o devido
conhecimento por parte da instituição hospitalar sobre essa atuação.
Outra circunstância que vem dificultando a atuação e inserção desse profissional nas
instituições hospitalares é o fato de os convênios de saúde e o SUS ainda não cobrirem o
atendimento fonoaudiológico. As tabelas de pagamentos encontram-se constantemente
defasadas e demora na efetivação do pagamento ao profissional, além de o valor diferir
74
muito de acordo com a instituição. Diante disso, observamos que muitos desses profissionais
ainda atuam como voluntários, devido à demanda de atendimento nas instituições,
especialmente nas públicas.
De qualquer forma, assim como em outros estados, observamos que os fonoaudiólogos
de Salvador vêm procurando se inserir nas equipes multiprofissionais, o que, certamente,
contribui para a divulgação do trabalho, favorecendo o encaminhamento de pacientes;
inclusive, algumas entrevistadas relataram que têm sido convidadas para relatar sua atuação
em cursos de saúde.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas no trabalho do fonoaudiólogo,
percebemos, então, que a visão apresentada pelas entrevistadas é de otimismo quanto ao
mercado de trabalho, embora ainda exista um descompasso entre a necessidade do trabalho
fonoaudiológico e a real atuação desse profissional nas instituições.
Diferenças de atuação fonoaudiológica em instituições públicas e privadas, bem como
as divergências diante de mesmos instrumentos e estruturas curriculares na formação
acadêmica, com conseqüente atuação no mercado de trabalho, podem também ser focos de
futuros estudos na busca por melhoria do trabalho fonoaudiológico para a sociedade. Afinal,
mesmo com uma produção significativa de estudos na área, que refletem o crescimento das
diversas práticas clínicas, ainda persiste uma pergunta: Por que ainda não temos
fonoaudiólogos inseridos nas equipes multiprofissionais de hospitais/maternidades como uma
rotina?
Finalizo ressaltando que, durante os encontros para a realização das entrevistas, pude
não relembrar de meu próprio percurso na área, como compartilhar com minhas colegas as
incertezas que ainda enfrentamos, bem como a esperança de ver nosso trabalho reconhecido,
de modo que o fonoaudiólogo, no futuro, seja inserido em toda a rede hospitalar.
75
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TURCZINSKI, A. C. S.; ANDRADE, X. M. V.; ANDRADE, I. S. N.. O conhecimento das
mães internas no Alojamento Mãe-Cangurú sobre comunicação e amamentação. Fono
Atual 2006 Jan/Mar.
ULHÔA, F.M. Emissões Otoacústicas espontâneas e evocadas por estímulo transiente em
crianças de até 9 meses de idade com risco para perda auditiva. [dissertação]. São Paulo:
pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2002.
XAVIER, C. Assistência a Alimentação de Bebês Hospitalizados. In: BASSETO, M. C. A.;
BROCK, R.; WAJNSTEJN, R. Neonatologia: Um Convite à Atuação Fonoaudiológica.
São Paulo: Editora Lovise, 1998, p.255-275.
Relação das maternidades públicas na Bahia que realizam atendimentos pelo Sistema Único
de Saúde. Disponível no site do Disque Maternidade da Secretaria de Saúde do Estado da
Bahia. http://www.saude.ba.gov.br/int_util_reser.html. Acesso em: 04 de Nov. 2006
Relação das monografias das universidades em Salvador. Disponível no site da Associação
Profissional dos Fonoaudiólogos do Estado da Bahia
http://www.aprofeb.com.br/pesquisas.shtml. Acesso em: 04 de Nov. 2006
VALENTE, M.C.M.; BEGROW, D.V.; ASSUNÇÃO, J. Fonoaudiologia Neonatal: o
conhecimento que o corpo médico das UTIs neonatais tem sobre esta atuação. 2004,
(Trabalho de Conclusão de Curso de Fonoaudiologia), Universidade Federal da Bahia, 2004.
VERGNE, D.S.B.; BEGROW, D.V.; COSTA, A.C.N. Distúrbio da alimentação em recém-
nascidos prematuros. 2004, (Trabalho de Conclusão de Curso de Fonoaudiologia),
Universidade Federal da Bahia, 2004.
WELTER, G. T. Bebê de Risco: como e porque estimulá-lo. 1999. 40 f. (Monografia)
Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica (CEFAC) - Motricidade Oral. Curitiba,
1999.
81
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo, ATLAS, 1991.
MEIHY, J.C.S.B. Manual de História Oral. São Paulo, Edições Loyola, 1996.
MINAYO, M.C.S.; DESLANDES, S.F.. Pesquisa Social Teoria, Método e Criatividade.
Rio de Janeiro, Ed. Vozes, 2003.
82
ANEXO 1 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ao Participante deste Estudo
O Sr(a). está sendo convidado(a) a participar da pesquisa que se intitula “Reflexões sobre o papel do
fonoaduiólogo no trabalho com bebês em maternidades na cidade de Salvador”.
O objetivo deste estudo é descrever e compreender como vem sendo desenvolvido o trabalho do
Fonoaduiólogo com bebês nas maternidades de Salvador.
Caso aceite participar como sujeito desta pesquisa, o (a) Sr. (a) será entrevistado a respeito do trabalho
que desenvolve com bebês e esta será gravada. A entrevista durará aproximadamente 1 a 2 horas. A entrevista
será agendada segundo a sua conveniência.
Não existem benefícios médicos diretos para o sujeito deste estudo. Entretanto os resultados deste
estudo podem ajudar os pesquisadores a entender melhor sobre como o trabalho da fonoaudiologia com bebês
vem se desenvolvendo nas maternidades em Salvador .
Não existem riscos médicos ou desconfortos associados com este projeto, embora o (a) Sr. (a) possa
experimentar alguma fadiga e/ou stress durante a entrevista. O (a) Sr. (a) receberá tantas interrupções quanto
necessárias durante a mesma.
Fica claro que sua participação é voluntária, não sendo obrigado a realizar toda a entrevista se não
quiser, mesmo que tenha assinado o consentimento de participação. Se desejar, pode retirar seu
consentimento a qualquer momento e isto não trará nenhum prejuízo ao seu atendimento.
A pesquisadora não pagará nenhum valor em dinheiro ou qualquer outro bem pela sua participação,
assim como o (a) Sr. (a) não terá nenhum custo adicional. Como qualquer participante o (a) Sr. (a) terá que
arcar com as despesas de condução, caso necessário.
Os seus dados serão mantidos em sigilo. Serão analisados em conjunto com os de outros participantes e
não serão divulgados dados de nenhum profissional isoladamente. O (a) Sr. (a) poderá esclarecer suas dúvidas
durante toda a pesquisa com a fonoaudióloga Renata Mathias de Abreu, no endereço Rua Beijupirá, 130 casa 17
ou pelo telefone 9188-7177 .
Eu, como pesquisador responsável, comprometo-me a utilizar os dados coletados somente para esta
pesquisa.
Acredito ter sido suficientemente informado (a) a respeito das informações que li ou que foram lidas por
mim, descrevendo o estudo “Reflexões sobre o papel do fonoaduiólogo no trabalho com bebês em maternidades
na cidade de Salvador”.
Eu discuti com a fonoaudióloga Renata Mathias de Abreu sobre a minha decisão em participar do
estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus
desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também
que minha participação é isenta de despesas. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei
retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo, ou
perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu atendimento neste serviço.
____________________________________
Nome do participante da pesquisa
____________________________________ ____/____/______
Assinatura do participante da pesquisa Data
____________________________________ ____/____/______
Assinatura da testemunha Data
Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste paciente para a
participação neste estudo.
____________________________________ ____/____/______
Assinatura do responsável pelo estudo Data
83
ANEXO 2 -
Roteiro de entrevista semi-dirigida
Nome do participante da pesquisa: (apenas para identificação do pesquisador caso queira
entrar novamente em contato para mais esclarecimentos)
Responsável pela pesquisa: Renata Mathias de Abreu
Orientadora: Suzana Maia
Data da entrevista: ____/____/____
Local e data de nascimento: ________________________________________________
Local e tempo de formação: _______________________________________________
Endereço Atual: _________________________________________________________
Bairro ________________________Cidade _______________________Estado______
CEP ____________ Tel ___________________ E-mail: ________________________
A Fonoaudiologia é uma profissão relativamente nova e ainda pouco difundida na Bahia.
Muitos já realizaram projetos para tentar desenvolver um trabalho no âmbito hospitalar, mas
ainda apresentam muitas dificuldades.
Estou desenvolvendo esta pesquisa com o intuito de saber como o Fonoaudiólogo que atua
com bebês em maternidades, vem desenvolvendo esse trabalho, como se deu seu percurso
profissional até iniciar esse trabalho e, o que, e como está sendo realizado.
Você poderia contar como vem sendo a sua experiência neste campo?
84
ANEXO 3 – Questionário para as Maternidades
Salvador, 20 de Outubro de 2006.
À
Direção do Hospital _____________________________
Prezado Senhor(a),
Na qualidade de estudante do Curso de Mestrado do MINTER/PUC-SP/UNIME, estou
realizando pesquisa na área da Fonoaudiologia com bebês, em maternidades.
A pesquisa se intitula “Reflexões sobre o papel do fonoaduiólogo no trabalho com bebês em
maternidades na cidade de Salvador” e tem como objetivo deste estudo, descrever e
compreender como vem sendo desenvolvido o trabalho do Fonoaduiólogo com bebês nas
maternidades de Salvador.
Para que a elaboração do meu Projeto de Mestrado esteja bem fundamentada necessito de
algumas informações complementares, motivo pelo qual solicito sua aprovação e a indicação
ao Setor possuidor de dados, para que acolha nossa necessidade.
O que preciso saber: - Existe maternidade neste hospital? Possuem UTI Neonatal? Existe
trabalho com Fonoaudiólogos? Como são compostas as equipes? Existem Fonoaudiólogos
nestas equipes? Em caso positivo, quem é o Fonoaudiólogo que atua nessa equipe? Existe
vínculo do profissional com a instituição? É realizada triagem auditiva neonatal (Teste da
Orelhinha)? Quem avalia e estimula a sucção dos bebês prematuros?
Para que estes dados possam ser utilizados na pesquisa, seria necessário que eu recebesse um
documento oficial deste Hospital.
Com meus agradecimentos antecipados,
Renata Mathias de Abreu
Fonoaudióloga
Rua Beijupirá, 130 - Casa 17 Condomínio Coqueiros de Itapuã
Nesta - CEP 41635-390
Tel.: 3249-3762/9188-7177
85
ANEXO 4 – As Entrevistas
Entrevistada 1
O primeiro contato que tive com Neonatologia foi num estágio no Rio de Janeiro,
onde passei um dia na maternidade observando como era realizado o trabalho da
Fonoaudiologia. Voltando para Salvador, cheguei a pensar em fazer uma monografia
relacionada a bebês, especificamente com Síndrome de Down, mas não deu certo, fui para
outra área.
Formei-me em dezembro de 2004. Recebi o convite para integrar a equipe da
Maternidade C.. Em janeiro cheguei a conhecer a maternidade, mas as pessoas que
trabalhavam no Follow up estavam de férias e em fevereiro de 2005 eu comecei a fazer
parte da equipe.
Inicialmente, comecei no Follow up acompanhando os bebês, depois no alojamento
conjunto, enfermaria Canguru, para depois poder entrar realmente no berçário.
Primeiro fiquei observando os atendimentos de uma fonoaudióloga, depois passei a
fazer follow up sozinha, tive que aprender como preencher uma ficha de evolução. Não
lembro quanto tempo fiquei no Follow up, mas no mínimo uns quatro, cinco meses,
atendendo esses bebês que voltavam as segundas-feiras, oferecendo orientações, fazendo a
avaliação dos que tinham passado pela USIN, (o berçário de alto risco), pelo canguru, que
iam para os encontros com a fisioterapia e passavam também pela avaliação fonoaudiológica
(avaliação dos reflexos, sucção não-nutritiva e nutritiva...). Quando aparecia um bebê ou uma
criança maior, orientações sobre diversos aspectos eram fornecidas: que copo usar, que
mamadeira usava e/ou porque não usar, como usar copo ou colher, enfim, alimentação em
geral, utensílios, consistências, transição alimentar, aspectos de linguagem, auditivos. Tinha o
exame de Emissões Otoacústicas que não era eu quem fazia, era uma outra fonoaudióloga,
mas eu estava sempre cobrando das mães, principalmente o dos bebês que tinham passado
pelo berçário (de alto risco) ou tinha algum fator de risco para deficiência auditiva.
Depois continuei no Follow up e comecei a observar o atendimento na USIN, às
quintas-feiras a tarde, o atendia nenhum RN, morria de medo, olhava de longe, olhava de
lá, olhava de cá, não sabia como pegar, tantos fios presos aos bebês, enfim. Depois entrou um
outro grupo de fonoaudiólogas para ajudar a estruturar o serviço, para começar a ser mais
completo e mais sistemático, tendo um acompanhamento diário pelo menos, ou no máximo a
86
cada dois dias, e, a partir daí, começamos também a realizar oficinas de orientações a
gestantes abordando todas essas questões observadas no Follow up, mas num caráter
preventivo.
No pré-natal, nunca conseguimos participar muito por conta dos horários que não
eram compatíveis, mas tinha a questão de prevenção do pré-natal, tinham as oficinas com
gestantes e até quando eu estava presente em algum dia do teste da orelhinha, pegava algum
bebê no canguru, no berçário e levava, já que estava disponível ou porque precisava realmente
e isso adiantava um pouco o atendimento. Às vezes, ficávamos só conhecidas como a fono do
teste da orelhinha, mas tudo bem. Ah! Fono, você pode levar esse bebê para fazer o teste da
orelhinha?... Ah! Posso! Vamos!. Ou às vezes era confundida com fisio ou T.O. Mas, enfim,
fomos fazendo isso e obviamente começamos um treinamento para capacitação para o
atendimento no berçário, e depois comecei a atender no berçário. Não vou dizer que antes
não tinha responsabilidade, mas no berçário a questão da ameaça de alguma outra coisa afetar
nesse desenvolvimento de uma forma muito forte, abrupta e mudar o seguimento da vida do
bebê, é muito mais forte do que você simplesmente dizer não use o copo tal ou coloque ele
pra observar a mamada, é muito diferente.
Fiquei quase um ano no berçário e como não deu pra ficar dois turnos, eu reduzi para
um turno e domingo quando dava, mas, as vezes tinham alguns alunos, que eu ia
acompanha-los ou que foram em algum horário, também para observarem e eu dava alguma
orientação. E assim começou, um pouco também, essa parte de auxiliar, faziam pesquisas e
eles estavam coletando dados e eu sugeria que colocassem algum dado específico, eu ajudei
em algumas coisas e já fui entrando no meio acadêmico.
Acho que faltam muitas pesquisas na área e por isso eu quero e me dispus a ajudar,
porque acho o número de pesquisas muito ínfimo para poder comprovar que o trabalho é
importante e estar divulgando mais. A gente sabe que uma pesquisa na área médica, ela é
muito mais divulgada até pela classe, mas acho que a gente tem que fazer a nossa parte e não
ficar pensando, ah, que o médico não vai ler, porque não vai ler?. A gente tem que divulgar,
quando entramos em contato com outros profissionais e conseguimos isso. Mostrar uma
revista, também, já vai de alguma forma, divulgando. Então no meu dia-a-dia, às vezes, na
clínica atendendo terapia, eu falo assim: ah porque amanhã eu estou na maternidade. Quando
eu estava na Maternidade C....aí as pessoas perguntam: Ah! Maternidade? Como assim? Ah!
Você faz isso? Oh! Faz aquilo? Era uma forma que eu aproveitava para divulgar. Era como
se eu já andasse com uma camisa por baixo do jaleco para ir divulgando.
87
É um trabalho de extrema importância e ao mesmo de muita responsabilidade, porque
você está lidando com uma criaturinha, que antes eu morria de medo de pegar. Agora eu já
pego, boto pra lá, boto pra cá, mas é porque a responsabilidade realmente é muito grande.
Você não está lidando só com o bebê, você está lidando com o bebê e com a família,
principalmente com a mãe, que é outra relação muito complicada, complexa. Além desse
binômio todo, tem também a questão dos profissionais com você, mesmo que você não
queira, você tem que estar presente, tem que estar dialogando e conversando.
Então lá na Maternidade C. que é o tempo de experiência que eu tenho na área, tinham
profissionais e profissionais. Alguns muito abertos que queriam a nossa opinião, queriam que
a gente ajudasse. Estavam abertos a conhecer o nosso trabalho, inclusive auxiliares. Mas acho
que nesse período em que eu fiquei lá, consegui mostrar o que a gente faz, junto com as
fonos que passaram por lá. De alguma forma, às vezes, eu acho que os profissionais pensam
que a gente é a solução só naquele momento. Como se fosse assim: Já que tem que passar pela
Fono, passa pela fono, mas não dão muito crédito, como um dia que eu cheguei lá e tinha um
bebê que queriam fazer gastrostomia e de repente me deram uma mamadeira para eu
experimentar, porque se ele não pegasse a mamadeira em uma dieta iam fazer a gastro. É
muita responsabilidade. Eu não estou dizendo que não sou capaz de dizer isso, mas não é em
uma dieta que a gente vai avaliar se ou não dá. É meio que como se fosse assim, vou jogar
a culpa pra fono, ela disse que pode, ela disse que não pode, mas não por acreditar, mas por
querer se livrar logo e dizer que passou por isso.
Mas, não é repetindo o que todo mundo fala, essa é mesmo uma área que tem que ser
explorada, realmente aqui, principalmente, tem que ser divulgada, a gente tem que conquistar
nosso espaço, eu acho que essa contratação da Climério
19
, é um ótimo sinal, demorou mas
chegou.
Eu fiz especialização em Neonatologia
20
que foi um curso com caráter
multidisciplinar, da qual participaram enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, fonoaudiólogos,
fisioterapeutas. Além disso, fiz uma formação esse ano em um método de reorganização
neurofuncional, o método Padovan. Aqui, em Salvador, não tem ninguém que trabalhe com o
método com bebê, que eu pudesse também ficar observando ou que eu pudesse fazer
uma formação só nessa área.
19
A Maternidade Climério de Oliveira é a primeira maternidade pública a contratar um Fonoaudiólogo para
atuar na USIN, desde Setembro de 2006.
20
Um curso aprovado pelo Ministério da Saúde que ocorreu na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) em
2005/2006.
88
Eu acho que a Fonoaudiologia, em Salvador, nas maternidades, poderia estar um
pouco mais avançada, mais reconhecida. Porque, a gente sabe que na maternidade o médico
que está ali, ele não trabalha ali, ele trabalha em outros locais. Se ele é um neonatologista,
provavelmente, ele trabalha em outras maternidades. Então, se ele está ali vendo o seu
trabalho e chega em outro lugar, sabe que você trabalha com aquilo, viu você trabalhando,
porque não chamar você pra realizar o mesmo trabalho? Não pra ser contratado, mas, pelo
menos você atender, começar com atendimento esporádico, enfim, eu acho que de tanto que já
viram não a gente na Maternidade C., mas até de todas as fonos, eu acho que já podia
estar muito mais na frente e eu acho que existe uma questão que infelizmente acontece, que é
a questão da Fisioterapia que termina sinceramente atrapalhando um pouco a nossa atuação.
Não estou falando que a gente vai deixar de trabalhar por causa da Fisioterapia, nem que vai
deixar de ter emprego por causa deles, mas se o Fisioterapeuta está contratado e fazendo o
papel, não o papel do fono, mas tentando imitar o papel do fono e de alguma forma ele chega
e fala o que avaliou. O conhecimento que eles têm do fono é sucção e o teste da orelhinha,
mas como assim? O que avaliou na sucção? Se você perguntar para o fisioterapeuta o que ele
avaliou, ele não vai saber dizer, desculpe. “Ah! Ta sugando”. Não são todos que vão saber
dizer, o movimento da língua, porque eles não são formados para isso, então se eles fazem e
colocam no prontuário boa sucção ou sucção alterada, de certa forma parecer que a gente não
precisa fazer aquilo. Claro que não é pra gente ficar de braços cruzados, aceitando, mas que
eu acho que isso dificulta, dificulta, até porque está contratado, é um profissional só, se
contratar fono é mais um profissional, são mais impostos a pagar e se está se virando com o
fisio, ou se está se virando desse jeito pra quê a gente vai precisar de fono. eu acho que na
maternidade pública, principalmente, talvez, a gente tenha mais espaço, por ser um local que
tem maior rotatividade, não que um hospital particular não tenha, mas é porque é muita gente,
pouco leito, aquela agonia, então, eles querem também produção, querem leitos sendo
esvaziados, que de certa forma alguém tem que trabalhar muito bem pra dar essa demanda de
estar liberando bebê, pra ta transferindo para o canguru e aí vai liberando com o peso ideal.
Acho que a especialização que eu fiz por ter fisioterapeuta junto, ajudou muito, porque
eu garanto que as pessoas que fizeram e que pensam em trabalhar com bebês ou que
trabalham com bebês ou vão trabalhar, vão pensar duas vezes antes de querer entrar muito
pelo caminho, porque tiveram acesso, conheceram o papel da Fonoaudiologia em
Neonatologia.
89
Na FIB (Faculdades Integradas da Bahia), tem uma fisioterapeuta e é muito importante
o que ela faz. Levar um fono pra falar o que faz para os estudantes, porque se o estudante tem
informação, se ele não conhece que o limite dele é aquele e que tem uma pessoa que vai
trabalhar com aquilo ali, ele sai dali com outro conhecimento, vai trabalhar, vai para um
hospital e aí entra em contato com mais professores aquela história toda vai divulgando aquilo
ali, pronto. Teve até uma aluna, aluna não, uma fisioterapeuta de que quando eu estava na
Maternidade C. disse assim: Porque você ta colocando o dedo nesse sentido?” Ah! Eu juro
que falei, por isso Ah!, não me lembro o que era, acho que é porque eu estava passando na
gengiva, uma coisa assim, fazendo assim, um negócio desse. Ah! Estava avaliando o reflexo
de mordida e ri... Porque você está com o dedo assim?” Tipo torto. Ora bolas, a gengiva é
aqui, né? Depois o bebê estava sugando, eu comecei a estimular a ngua, pra , pra lá.
Porque você usa esse dedo, e você não usa esse? Ah! perguntou várias coisas... “eu estou
perguntando, porque eu vou trabalhar num sei aonde e não tem fono e entre fazer ruim
e fazer não sei como, você pode me ensinar algumas coisas? Eu respondi: Olha algumas
coisas sim, eu posso te falar, não custa nada dizer, mas tem outras que o fono dentro pra
ver, não tem como dizer não, porque não vai adiantar. Imagina se eu for ficar dizendo tudo o
que eu faço? Ela vai chegar e vai dizer olha aqui, eu sei tudo o que o fono faz, olha isso aqui
ou então até banalizar o seu trabalho. Porque se você chega ali e vai avaliar reflexo, vai
dizer: Mas aquilo, eu sei fazer, é fácil. E aí vedamento labial, pressão intra-oral, não
conhece os parâmetros de uma sucção adequada, vai até dizer, que fono não fez nada. Então, é
todo um processo.
Agora, eu recebi uma nova proposta para fazer parte da Residência Multiprofissional
em Saúde, especificamente em Neonatologia, pela Universidade B, que vai ocorrer no
Hospital R. e que eu vou ser preceptora e vou praticamente montar um serviço e ter duas
residentes. Nesse período todo, realmente eu pude comprovar que não é uma área fácil para
gente da Fonoaudiologia poder atuar. Porque realmente falta espaço para eles reconhecerem o
que a gente faz e saber o quão importante é.
Então, essa questão da residência no Hospital R. também é um outro ponto muito
importante, lógico que os médicos de lá vão estar sabendo.......não é um hospital só de
referência, a gente precisa de outros locais aqui, pois tem muita gente precisando...Além da
Maternidade C. E do Hospital R. a gente vai ter que crescer para outros lugares. Estão
surgindo outros cursos aqui, agora vai ter um na Universidade E. de especialização em
Fonoaudiologia Hospitalar.
90
A área está começando a crescer. Se a Fonoaudiologia é um bebê, a Neonatologia é
um embrião, eu nem sei o que é, mas a gente tem que ir fazendo nosso trabalho e sempre
atualizando, tem que estar sempre aprendendo. As mães perguntam pra gente: O que fazer pra
cólica? O que fazer.....? E eu estou lendo. Então assim, é uma área que realmente me encanta.
Se eu pudesse, se eu pudesse realmente me sustentar com a Neonatologia, eu largava tudo,
mas não dá.
Outro dia apareceu uma paciente na clínica onde trabalho indicada por Verônica
(Fisioterapeuta da Maternidade C.). As secretárias de ficaram sondando. Ah! vc conhece
Dra. V., Dra. V. de onde? Da Maternidade C.?! Ah! Verônica, conheço! Porque me indicou
um paciente? Elas queriam sondar para saber se eu conhecia mesmo, ainda mais que era
particular. Eu pensei assim: tomara que seja um bebê!” Não que eu não quisesse os outros,
mas não era não, era um paciente de voz, uma pessoa que ajudou na monografia dela, na tese.
Mas enfim, seu eu pudesse trabalhar só na Neonatologia eu ficaria, mas não dá!
Não para largar tudo...pra só....assim...surgiu a oportunidade do Hospital R.. Se eu
fosse trabalhar, por exemplo, na época da Maternidade C., trabalho voluntário, ninguém
sobrevive de trabalho voluntário. Eu tinha que ter a clínica, o consultório, o paciente Home
Care, o que fosse para eu poder me sustentar. Eu nunca me opus a ter que ir um dia a mais,
apesar de que os domingos eram bem sacrificados, isso é fato, mas acho que tudo vale a pena,
agora assim, deixar a minha quinta-feira, a minha quinta-feira era da Maternidade C., como a
quarta-feira era do consultório, minha segunda-feira foi do Follow up... Mas não dava para
viver de ar e de luz...
Quando surgiu o Hospital R., mesmo assim, não para largar o que eu tenho para ir
para lá. Lógico que vai diminuir a minha carga horária dos outros lugares, mas o valor que é
proposto é muito baixo para cobrir minhas despesas. Eu sei que ainda eu não tenho que
manter a casa, tudo isso, mas eu tenho a prestação do meu carro, enfim, meus compromissos,
que lá não conta. Na época em que fui convidada para assumir a preceptoria eu também
estava disposta a me virar, se a clínica não quisesse me manter, pra seguir por esse caminho.
É assim, no Hospital R. é algo que ainda não começou efetivamente. E na única reunião que
eu fui no Hospital R. com o diretor, médicos, preceptor, não abordamos apenas a parte da
Fonoaudiologia, porque era uma reunião com toda a equipe. Todos professores, a primeira
coisa que eles falaram foi que ótimo que vai entrar uma fonoaudióloga aqui”. A primeira
coisa que passou na cabeça deles foi: achar que a fono, uma única fono vai dar conta do
hospital inteiro Ah! Vc não para dar uma passadinha para ver os idosos? Não para
91
dar uma passadinha??? Vai ser complicado, porque não vai dar. Mas em compensação essa é
uma outra área que não é tão divulgada. Não tem um fonoaudiólogo contratado em qualquer
hospital, e muito menos aqui, no Roberto Santos, que é um hospital público e que deveria ter.
Então, nessa reunião surgiu essa proposta e eles queriam que a gente ficasse nas duas
UTI’s Neonatais. Na verdade a gente teve que fechar com as duas UTI’s Neo porque se
juntarmos as enfermeiras com as fonos, eles achavam que era muita gente. Imagine só? A
Maternidade C., uma salinha, eu digo que aquilo é uma sala, não um berçário, cabem não sei
quantas mil pessoas, não está certo, mas a UTI do Hospital R....eu passo pela UTI e canso
de ver não sei quantos meninos. Lá, eles arrumam melhor, tem mais distância entre as
incubadoras, fica mais separadinho. Pois é, a gente teve que fechar com as duas UTI’s para
dividir: uma com uma residente na UTI NEO 1 e a outra na UTI NEO 2 pra dividir com duas
enfermeiras na UTI Neo 1 e duas enfermeiras na UTI Neo 2. E eu, vou ter que passar nas
duas.
Eu vou ser preceptora do serviço, vou ter que implantar o serviço lá, porque não tem o
serviço de Fono no Hospital R.. Por enquanto a gente está na fase de organização,
planejamento de atividade prática, de planejamento de atividade teórica, quais são as
disciplinas que serão dadas, futuras aulas também que serão ministradas, mas antes de ir para
campo, todos os alunos de todos os núcleos, porque vai ser uma residência multiprofissional,
tem nefrologia, tem UTI, enfim, todo mundo vai ter aula em comum, durante um mês pra
depois ir a campo. E lá é que vão começar as aulas mais específicas das disciplinas. Enquanto
isso a gente vai organizando, conhecendo o hospital todo, pois eu ainda não conheço o
hospital todo, então a gente não pode ainda fazer a visita e como ainda vai demorar, aquela
coisa, sabe como é Brasileiro...Então eu vou estudando, mas enfim, nós vamos ter que montar
o serviço, as residentes vão ficar lá durante o dia, são todos os dias de segunda a sexta com
um dia de folga pra elas resolverem os problemas delas e eu vou ter que passar lá uma vez por
dia, todos...uma vez por dia. Não sei ainda a carga horária direito, pra poder ver quais as
questões que têm que serem resolvidas, quais os bebês que vão ter que avaliar, enfim, resolver
o que tiver que resolver e dia de sábado é que o ter as aulas teóricas de todos os módulos,
de núcleos comuns e de núcleos específicos.
Essa residência tem uma previsão de duração de um ano e meio, mas talvez estenda
para dois anos, vai depender muito dos serviços que a gente conseguir fechar o contrato.
Parece que o valor da bolsa das residentes talvez aumente. A da gente não. A gente está
trabalhando agora, mas não está ganhando não, agora é para organizar, mas talvez a deles
92
aumente, depende dessa questão da mudança de governo. Estavam com medo da mudança de
governo, foi todo um stress, mas vai dar tudo certo. Esprevisto para começar em fevereiro
ou março.
Então, eu estou fazendo um curso de aperfeiçoamento, de formação mesmo no método
Padovan, e falta um módulo para concluir, porque a gente está tornando ele não um
curso de formação, mas de especialização. A gente está trazendo o Dr. D. de fisiologia para
dar aula pra gente. Vamos bancar essa despesa para tentar juntar carga horária de
especialização e depois fazer a prova do conselho. A gente está pensando em fazer um grupo
pra ver se para atender no Hospital R., voluntário mesmo. Quer dizer as outras fonos,
porque eu vou ficar em Neo mesmo. Elas querem atender idosos lá, pacientes em coma, pois
fizemos a formação para atendimento de pacientes neurológicos críticos.
Uma formação para neonatologia eu posso dizer que não tive, o máximo o que eu tive,
se eu tive não foi na faculdade, foram em cursos, congressos que eu participei estágios extra-
curriculares, agora claro que você não deixa de ver na faculdade quais são os reflexos
avaliados, as coisas básicas. O que vonuma avaliação fonoaudiológica, eu não vi, não
me recordo, sinceramente de ter visto nenhuma, quando a gente protocolo de avaliação em
geral de num sei o que, não me lembro de ter visto nenhum protocolo de avaliação infantil, de
bebê, infantil sim, de bebê não, neonatologia comigo não, acho que não teve, acho não, tenho
quase certeza, parte teórica muito pouca, se vi foi assim no meio de alguma outra coisa, nunca
voltado para o bebê. A parte, digamos ligada à psicologia, eu posso dizer que tive um
preparo melhor, principalmente em Psicologia do Desenvolvimento II. A parte da psicologia
eu acho que a gente sempre leu bastante texto, a gente discutiu bastante, claro que nunca
tivemos a parte prática. A parte prática não com bebês, veio se dar mesmo com estágio,
quando a gente começou a lidar com a família, com paciente mesmo, mas nunca com bebê,
então posso dizer, que a minha formação, eu sai um pouco no zero. Não posso dizer jamais
que eu saí da Faculdade preparada para trabalhar no hospital. Você é recém-formada, você
está apta? Eu sinceramente, tenho diploma, porque não sai apta, sendo honesta, não tive
formação, tanto que agora você aula dentro de outra disciplina, imagina, e antes nem isso.
Mas enfim...
Quando você atende, não estou falando que a família não está presente em outros
atendimentos que a gente realiza até na clínica mesmo, sempre tem uma questão familiar que
a gente tem que investigar muito a fundo, até porque, seja com criança, seja com adulto, seja
com alguma pessoa que teve alguma seqüela neurológica, qualquer coisa a gente precisa desse
93
apoio familiar, porque a gente sabe que meia hora uma vez, duas vezes por semana é
insuficiente para resolver o que a gente precisa.
O apoio da família é realmente importante, mas, quando a gente está trabalhando com
bebês, não tem como não trabalhar, mesmo que você queira, você não tem como fugir dessa
família. Porque às vezes, na clínica, a criança pode vir com a babá, como eu canso de atender,
vindo com babá, a mãe pouco vem, o que eu acho um absurdo, mas acontece. Só que lá,
geralmente as mães estão internadas, sendo o bebê do alojamento conjunto ou do berçário, as
mães estão presentes. Então, a gente tem que lidar com situações muito difíceis. Situações
em que, principalmente por ser uma maternidade pública a gente lida com questões muito
delicadas. Questões de mães que tentaram abortos, não lá, mas acontece muito, usaram
alguma coisa para evitar esse filho, ou mães que realmente não querem, rejeitam ou que usam
drogas, enfim, várias situações que não são consideradas nem um pouco ideais para o
desenvolvimento de uma criança. A gente está com aquele bebê, a gente está com aquela mãe
e a gente sabe que dali ele vai sair com ela. Primeiro a gente está ali não é pra ser psicóloga,
mas também não tem como a gente não ser psicóloga também. Mas, às vezes, a gente quer
que o bebê tenha uma sucção boa simplesmente a gente vai pegar o bebê e colocar no seio
para amamentar? Não pode. Tem que primeiro ver também se a mãe está disposta a querer dar
essa mama pra esse filho, não é assim, vai chegando e vai...não é qualquer mãe que vai chegar
e abrir o roupão “Deixe eu ver se está ingurgitado, deixa eu ver...” Não é assim.Tem que
saber como está o nível de aceitação, se é um filho desejado ou não e dependendo do
comportamento se é uma pessoa que permite, tem gente que a gente pode brincar que gosta
até que brinque, viram até nossas “amigas”, mas tem gente que é mais fechada e a gente tem
que respeitar, então se é uma pessoa que vai sair de para cuidar dessa criança, a gente tem
que meio bombardear de informações que possam “abrir” essa cabeça, tentar mudar um pouco
aquela visão que a gente acha que pode ser prejudicial, a gente tem que fazer.
Não do aspecto fonoaudiológico, não porque tem que desenvolver a linguagem,
não só porque tem que fazer o teste da orelhinha, nem só porque tem que mamar, nem não dar
a mamadeira, mas é que vem a questão da linguagem, porque se ele não tem um bom
desenvolvimento, não tem uma boa relação, a mãe não tem uma boa relação com esse filho, a
gente sabe que vários aspectos da linguagem vão ser comprometidos, podem ser prejudicados,
a gente não vai afirmar isso para ela, mas a gente tem que prevenir, é um trabalho preventivo.
A gente pode ouvir o que a gente não quer ouvir. A gente pode falar uma coisa achando que é
para o bem e eles interpretarem de outra forma, mas acho que tudo é válido, tem que fazer, a
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gente pode até ás vezes sair chateado com alguma mãe ou alguma coisa, ficar achando: puxa
fiz aquilo com a melhor das intenções”, mas na verdade a gente não pode querer que todo
mundo interprete como a gente achou. Enfim, tem que ter esse cuidado, porque é uma pessoa
que vai cuidar de outro ser humano e que a gente sabe que na maioria das vezes não tem o
mínimo de condição, não financeiro, domiciliar, de estrutura familiar, mas também às
vezes, até mesmo emocional ficam bastante abalados.
Às vezes é uma mãe que deseja muito esse filho, mas não tem a mínima noção de
higiene, tipo vai orientar que vai ter que armazenar o leite se for sair, e você não ensina como
armazenar esse leite? Você não está lidando com uma pessoa só, está lidando com mãe e na
maioria das vezes com o pai também, que sempre está presente não a mãe, a família como
um todo, tem o irmão.
Quando esse bebezinho está internado por muito tempo vem a questão da mãe ter
que sair e ir em casa cuidar de outro filho, ter que cuidar do marido e a gente também tem que
entender essa dinâmica, não pode se questionar Ah! Ela não fica aqui hora nenhuma, vem
aqui na hora ... Não! Ela também tem a vida dela, às vezes a gente fica até querendo julgar
um pouco, isso é normal, mas tem que lidar com isso.
É como eu disse, paixão pela área eu tenho. Às vezes, meu namorado tem até proposta
de sair de Salvador, consegue emprego. O mercado no Rio e São Paulo, pra ele é bom, mas
pra mim não vai ser. Mas eu digo, Neo para mim aqui não pra me sustentar, infelizmente.
Quero que não demore muito, que eu possa, até que ficar na clínica, na clínica atendendo
bebês e de repente até aqui nesse consultório CALMA que é lindo que é clínica de
aleitamento materno, tendo uma fono de plantão pra participar da equipe aqui no consultório,
sei lá. Eles alugam bombas, tudo o que a mãe precisa. Então, é eu espero que no meu caso,
com essa proposta da residência e juntando com essa sua contratação da Maternidade C., a
gente possa mostrar mais esse trabalho fazendo com que não os hospitais como médicos
tomem conhecimento e comecem a encaminhar os pacientes para a gente, os bebês para a
gente novinhos e assim a gente precise de lugar, não para as outras profissões não, a gente
tem que ajudar a nossa também.
95
Entrevistada 2
Nasci em São Paulo, capital, me formei pela PUC, São Paulo, em 1989. Então, estou
fazendo dezoito anos de formada. Estou em Salvador há 17 anos.
O meu trabalho com triagem auditiva, quer dizer, eu trabalhava com bebê um
pouquinho maior no consultório. Eu comecei a fazer avaliação auditiva de bebês de onze
meses, dez meses, um ano, no consultório. Em 2000, eu comecei a fazer no hospital A.
Comecei primeiramente com um otorrino. Depois que eu voltei do Congresso Brasileiro de
Fonoaudiologia, eu conversei com a coordenadora do GATANU e ela me mostrou um mapa
das regiões do Brasil que tinham a triagem. Tinha em Itabuna e não tinha em Salvador, que
era a capital, Eu voltei empolgada com a idéia de começar a trabalhar com a triagem auditiva
neonatal. Conversando com o otorrino com quem eu trabalho, ele topou e compramos o
equipamento, fizemos um projeto para o hospital e entregamos. A princípio o hospital abriu a
oportunidade para fazer a triagem auditiva na UTI neonatal. No alojamento não conseguimos
iniciar porque não havia sido aprovado pela Diretoria fazer dentro do alojamento, mas aos
poucos fomos sendo chamados pra ir para o alojamento também. Uma mãe que tinha gêmeos,
eles chamavam; outra que também queria fazer antes da alta, eles chamavam. Hoje a gente
tem feito bastantes triagens dentro do alojamento. Não é universal porque não conseguimos
fazer noventa e cinco por cento dos bebês nascidos. Juntando dentro do hospital e fora do
hospital, a gente consegue fazer uma média de setenta por centos dos bebês nascidos. Então
ainda não é universal, até porque não estamos lá sete dias por semana por causa da questão de
convênio. A gente trabalha com convênio e particular, não tem assim um respaldo
financeiro, que possa fazer em todos os bebês. Então tem toda essa questão. Eu comecei a
trabalhar nessa fase, em 2000, de 2000 pra cá.
Eu fiz especialização em Audiologia Clínica, em 1995. Nessa época o que vimos foi o
módulo de Audio Infantil. Era muito mais uma avaliação comportamental, a avaliação do
desenvolvimento da função auditiva. Dentro da especialização a gente viu isso, mas quando
eu comecei a trabalhar com a triagem, eu senti uma necessidade muito grande de buscar mais
sobre Audio, sobre a parte com bebês, porque a gente não tem experiência praticamente,
vamos aprendendo, com ensaio e erro.. Todo curso que tinha de triagem auditiva em São
Paulo eu fazia, no começo, nos primeiros anos era praticamente um curso por semestre. Fui
fazer estágio em Campinas com uma fonoaudióloga, que trabalha tendo experiência também
em triagem. Fui fazer um estágio também com outra fonoaudióloga em São Paulo. Eu
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busquei um trabalho de aprimoramento dessa área porque realmente, o curso de graduação
não ofereceu. O curso de especialização tinha uma matéria que focava nessa parte de
desenvolvimento da função auditiva, mas nunca tive nada do contato com a mãe, do contato
com o bebê.
Eu, na parte clínica, de Audio Clínica, sempre gostei muito desse contato com a família,
de conversar muito com a família, de escutar muito as queixas quando era um diagnóstico de
perda auditiva, que a família precisa de um apoio. Muitas vezes a mãe chora, fica
desestruturada com o diagnóstico, ela nem esperava ou achava que tinha uma perda, mas não
tinha a certeza. Eu sempre gostei muito dessa área, de trabalhar com a família, conversar
muito com os pais, mas nunca tive nenhuma formação que me desse esse embasamento.
Quando eu fui pra triagem, sempre tive muito cuidado com os pais. Minha preocupação
dentro da UTI, era, sempre que os pais estavam lá, conversar sobre o resultado, o que queria
dizer aquilo, que não era um resultado definitivo, que era um “passa” ou “falha”, que
quando dava “falha” a gente tinha que pesquisar melhor para não angustiar nesse momento de
UTI. O momento de UTI é muito desgastante para a família.
O primeiro bebê que eu fiz o exame na UTI, teve uma perda auditiva unilateral. A
primeira orelha que eu testei dentro da UTI deu “falha”. Eu fiquei preocupada, será que não
vai dar certo? Eu procurava um lugar diferente pra fazer e no fim eu falei “deixa eu fazer da
outra orelha”. Quando eu fiz da outra orelha, a menina passou. Ela hoje tem sete anos, seis
para sete anos, e ela tem uma perda profunda unilateral. Foi um bebê que nasceu com meio
quilo, quinhentos e noventa gramas, ficou meses dentro do hospital. A mãe sumiu, pra fazer o
reteste. Depois quando ela tinha um ano e pouquinho ela voltou e falou que ela não podia
voltar antes disso, porque ela não agüentava nem passar em frente ao hospital, que ela ficava
traumatizada, porque foi muito difícil, foi muito desgastante. Quando voltou, fizemos o
reteste, ver se realmente tinha perda, foi orientar. Eu acho que esse contato com as mães é um
contato que a gente vai aprendendo. Não tem isso na faculdade, principalmente quem trabalha
com Audio. Eu não vejo um curso de formação para o trabalho com a família, que eu acho
que seria até uma coisa interessante para gente poder ter mais embasamento.
Hoje, fazendo a dissertação do mestrado, essa retrospectiva, eu vejo que a gente tem muitas
dificuldades, porque não tem um projeto de pesquisa que embase isso. Se a gente tivesse um
projeto de pesquisa com o equipamento, pagamento do pessoal e onde a gente pudesse fazer
em todos os bebês, seria totalmente diferente do que eu faço. Então o que eu vejo é que a
gente faz um trabalho, meio que na insistência.
97
O convênio paga, daqui a pouco, o convênio corta. A gente começa a fazer pelo valor
do convênio, ou o convênio x, por exemplo, que pagava quarenta reais a triagem, ele resolveu
que iria pagar quinze quando fosse feito no hospital. Então a gente vai e faz e recebe os
quinze reais. Financeiramente, se eu fosse parar para pensar, eu acho que não insistiria muito.
No outro hospital que eu trabalho eu também vejo isso, que, financeiramente, é uma batalha
diária pra você conseguir fazer a triagem, é muito difícil. Os convênios, eles não autorizam
todos, e os que autorizam, de vez em quando, eles retrocedem e dizem que não vão autorizar
mais. É aquela confusão, a família reclama, acha que a culpa é nossa e não é verdade. A gente
está ali pra tentar fazer o melhor possível.
A dificuldade que eu vejo é básica dessa questão. Quem paga a triagem auditiva? Os pais vão
desembolsar particular ou eles vão ter que pagar pelo convênio e brigar com o convênio pra
reembolso.
O que eu percebo dentro do hospital é que são raros os pais que não querem fazer o
exame. Quando a gente chega, eu não tenho nem estatística, mas acho que noventa, mais de
noventa e cinco por cento dos pais gostariam de fazer. A mãe principalmente. Ela não diz
assim “ah, não quero, não quero saber se ele não escuta, se ele escuta”. Não. A mãe sempre
acha que é importante, mas a segunda pergunta é “o convênio cobre?”. Se o convênio cobre,
faz; se o convênio não cobre, “ah, eu vou ver depois da alta como é que eu faço, não sei que,
não sei que”. Então, a gente esbarra muito mais nessa questão de dificuldade financeira do
que de desejo dos pais.
Eu lembro, se eu for pensar nesses sete anos, porque esse é o sétimo ano, é muito mais
a questão de querer, do que não querer. As que não quiseram eram porque estavam com muita
dificuldade de amamentação e não queriam mais uma pessoa pra atrapalhar esse vínculo.
Era uma dificuldade de depressão pós-parto que às vezes tinha que até a própria
neonatologista falava “olha, essa mãe ela está um pouco deprimida, toma cuidado quando
você for dizer alguma coisa”. Pouquíssimos pacientes não quiseram fazer o exame.
Eu acho que o hospital A. sempre esteve muito disponível a abrir as portas. Com certa
restrição por causa da questão da clientela, que é uma clientela exigente de classe média,
classe média alta, tem que ter um cuidado na hora de colocar sobre a triagem, de falar sobre
os resultados. O meu desejo maior era que o hospital abraçasse a causa da triagem auditiva e a
gente pudesse fazer em todos os bebês e o próprio hospital fizesse essa cobrança do convênio,
mas não é esse serviço que o hospital dispõe. Ele se dispõe a terceirizar o serviço. Ele oferece,
conversa com a família que a Fono está lá, que pode fazer a triagem e a gente vai e
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conversa com a família. É um serviço terceirizado. Eu acho que o hospital disponibiliza a
abertura para conseguir fazer a triagem. Não existe um vínculo empregatício. Não existe um
vínculo de prestação de serviço. Não existe esse vínculo. Nos dois serviços que eu trabalho é
assim. A gente chegou, fez um projeto para o hospital, oferece pra família... O neonatologista,
ele é uma pessoa extremamente importante nesse trabalho porque, conversando nos cursos
nacionais a gente que em outros lugares quem oferece a triagem é a Fono. Então a Fono
entra, oferece a triagem, como entra o cara que oferece a filmagem, como entra o cara que
oferece a fotografia, é um serviço que a pessoa está oferecendo. E nesses dois serviços que eu
trabalho, principalmente no hospital A. a grande vantagem é que quem oferece a triagem e
fala sobre a triagem é o médico. Então o médico entra pra falar sobre a triagem, com o folder
da GATANU que a gente usa em um dos serviços, com a solicitação médica de triagem
auditiva, fala que tem um profissional ali que pode fazer e a família vai e chama a gente pra
fazer. Eu acho isso uma grande vantagem, porque é um respaldo de um profissional que está
diretamente ligado ao bebê. Não é qualquer pessoa que vai chegar e vai oferecer, uma
pessoa que a mãe não conhece, por exemplo. A gente é um estranho pra família e quando fala
“olha, a médica me disse que a senhora quer fazer a triagem”, “ah, pode entrar”, eu acho que
já é outra visão que eles têm.
Eu acho que é um campo de trabalho que tem muito a fazer. A gente sempre conversa
com os profissionais e com os alunos também que a nossa maior dificuldade nessa parte da
triagem é a reabilitação. A gente tem detecção, tem diagnóstico, tem adaptação de aparelho,
alguns poucos, mas tem, e quando a gente vai pra reabilitação têm pouquíssimos. É como se
fosse uma pirâmide. A reabilitação é o que a gente mais tem dificuldade. Então eu acho que
tem muito campo, que as pessoas, os alunos, que estão se formando, eles geralmente
querem alguma coisa que seja imediato, e a reabilitação do deficiente auditivo é uma coisa
que você tem que criar uma demanda, tem que criar um nome, tem que ter experiência
profissional para você começar a ter sucesso. A rede pública não tem triagem auditiva, a
gente tem serviços que prestam, voluntariamente um atendimento, tem um hospital público
que faz à tarde, uma pessoa que é voluntária, tem também em Lauro de Freitas um serviço que
a gente vai uma manhã como voluntária da universidade, mas não tem nada assim que você
possa dizer que está fazendo um programa de triagem naquele hospital público, que vai
alguém todos os dias, pela manhã, oferecer o serviço, que é o tal do projeto de pesquisa, que
eu acho que a gente tem que batalhar. Eu acho que ainda tem muito campo, mas é um campo
que precisa ser criado. Essa demanda existe, mas a gente precisa saber qual é a melhor forma
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de conseguir fazer isso. Eu, hoje analisando, acho que a gente foi com a cara e com a
coragem, mas é muito difícil você fazer isso. Se eu pudesse ter um projeto de pesquisa onde
eu tivesse um equipamento e pudesse oferecer pra todos os pais seria muito melhor. E os
hospitais privados ainda não têm isso. Uma fonoaudióloga falou uma vez em um curso aqui
em Salvador, que o equipamento custa o preço de uma incubadora, parece que é. O hospital às
vezes tem quinze incubadoras, se ele pegasse o valor de uma incubadora, de algum
equipamento e comprasse esse equipamento e pagasse um profissional para fazer, ele estaria
coberto. que o que acontece? A gente não tem isso. Então uma coisa assim que está sendo
oferecida como uma coisa a mais daquele hospital, um benefício, como a vacina, por
exemplo, o convênio não paga, então a vacina é oferecida por um grupo de vacina que vai no
hospital e oferece. Se fosse uma coisa que tivesse um profissional empregado, talvez a gente
conseguisse fazer a universal, mas aí o hospital precisaria ter esse desejo.
Eu acho que a solução estaria em um projeto de LEI, uma lei que fosse obrigatória...
Se bem que eu achava que o teste do pezinho era Universal. A gente considera universal
noventa e cinco por cento, e a professora, aquele dia da aula no mestrado, falou que o teste do
pezinho, depois de vinte e um anos, não é universal. Eu acho que é oitenta e cinco por cento.
Lembra que ela falou ? Ele não é universal. Então imagina como a gente ainda tem que
caminhar para que isso seja universal.
Outra coisa que eu também observo, às vezes quando você entra no quarto, a mãe está
amamentando e assim eu acho dez o trabalho da Enfermagem, pelo menos, no hospital
A.onde tenho mais tempo, mais de cinco anos, o que eu observo é que as enfermeiras são
muito bem preparadas. Eu fico assim “poxa, se na época dos meus filhos eu tivesse uma
enfermeira dessas, eu teria amamentado mais tempo”. Elas orientam, elas falam e a mãe sai
muito bem. Muitas vezes a mãe precisa de um trabalho da Fono para parte de Motricidade
Oral, às vezes o bebê não quer sugar, às vezes não consegue pegar e elas perguntam para
gente, a gente fica assim “eu não sei, eu não sou dessa área”. “Eu posso indicar uma
pessoa...”. Então acho que às vezes o hospital também... O que eu sinto que seria interessante
é que o hospital tivesse uma Fono de sobreaviso para que ela pudesse ir também diariamente
para ver se alguma mãe necessita. Tudo acaba esbarrando muito nessa questão financeira.
O que tem assim de tão diferente com o serviço do hospital S., que está funcionando
apenas há dois anos e meio, é que em um hospital já tem mais de cinco anos acostumado com
fonoaudiólogo dentro. Eu acho que as pessoas têm um respeito muito grande pelo Fono. Às
vezes a gente não sabe o nome das pessoas, mas “ô Fono, vem aqui, Fono”, porque é uma
100
equipe grande. Então, “ah, a Fono está aí, espera que ela vai conversar com vocês”. Eu
sinto que é um respeito grande, mas, eu sinto que a gente ainda tem um espaço muito restrito
dentro do hospital. A gente precisa trabalhar mais, e eu vejo que vamos ter que mostrar o
nosso serviço, mostrar o resultado do nosso serviço. Desde que eu comecei, sempre tento todo
ano entregar para coordenadora de Neonatologia um relatório de quantos bebês a gente fez,
quantos bebês passaram, quantos falharam, qual porcentagem de atendimento do hospital,
porque eu acho que isso faz com que ela veja que a coisa está caminhando. Quando eu vou
para um congresso que eu falo sobre o hospital, o serviço, eu sempre trago para eles também o
resultado que eu levei, o que aconteceu, como é que o hospital foi colocado ali. Então o que
eu vejo que a gente ainda tem uma participação pequena dentro do hospital, até porque, pela
história da Fonoaudiologia aqui em Salvador, como eram poucos profissionais que
trabalhavam dentro do hospital acabamos sendo substituídos pela fisioterapeuta. O
fisioterapeuta está ali o tempo inteiro e muitas vezes fazendo o trabalho da Fono, de
estimulação oral. A gente o Fisio ali estimulando o bebê dentro da UTI, conversando com
a mãe na hora da alta, mas é um espaço que eu sinto que foi preenchido por uma falta. A
gente tem que saber qual é o caminho para conseguirmos trabalhar junto com esse
profissional e não substituí-lo. O que eu vejo é que a gente ainda tem que ir mostrando nosso
serviço, tem que ir devagarzinho explicando o que fazemos ali, qual a importância do nosso
trabalho, porque estamos fazendo isso, para conseguirmos credibilidade, respeito e espaço.
É uma falta de conhecimento, pois os outros profissionais nem sabem o que a gente
está fazendo. Eu lembro um episódio que aconteceu nesse hospital S. que é mais novo, que a
gente foi lá, conversou sobre a triagem. Quando saímos a porta bateu e a enfermeira e o bebê
tiveram um sobressalto. A enfermeira virou para mãe e falou assim ó, está vendo? Ele
escuta. Não precisa nem fazer o exame”. A mãe ficou brava com a enfermeira, com a auxiliar.
Falou “como você fala uma coisa dessas?”. E contou para gente quando fomos fazer a
triagem. Fomos conversar com a enfermeira, com a auxiliar, explicamos que às vezes, o bebê
tem uma perda unilateral, que às vezes ele pode ter uma perda moderada, que não pode falar
isso pra mãe, que a gente tem que trabalhar junto, que é uma parceria. Foi uma coisa bem
desagradável, mas eu acho que aos poucos vamos conseguindo espaço. Outra coisa que eu
também observo é que às vezes podemos atrapalhar um pouco a rotina, porque a gente chega
para fazer o exame e muitas vezes a auxiliar chega para dar o banho. Então como a gente está
fazendo a triagem ela tem que esperar um pouco e a mãe tem alta até as dez horas. Então às
vezes elas ficam meio assim... A gente tem que chegar mais cedo para não atrapalhar a rotina
101
do quarto. Agora quanto à mãe, é a parte que eu mais gosto, de orientação, de explicar pra ela
como foi o exame, de me colocar à disposição se ela tiver alguma dúvida, pois é um momento
muito difícil, é um momento muito complicado para a mãe. Eu tive dois filhos, eu sei que
às vezes você escuta as coisas e nem decodifica, porque voestá tão preocupada com um
monte de coisas. E chega mais uma pessoa dizendo que seu filho falhou na triagem? você
às vezes desaba por causa daquilo. Teve uma mãe que aconteceu isso, que deu falha, bilateral,
eu conversei bastante com ela, expliquei, mas ela estava um pouco depressiva, e a gente
combinou dali a oito dias voltar pra fazer o reteste e quando eu liguei pra ela, ela tinha ido
para outro lugar pra fazer, porque ela ficou muito ansiosa. A avó era pediatra, tinha toda uma
pressão da família. Ela, quando foi fazer o reteste com uma colega, depois eu entrei em
contato com ela, a mãe não falou que o bebê tinha falhado. A colega não conseguiu fazer de
imediato, a mãe começou a chorar e explicou que tinha falhado, a colega teve o maior
cuidado, explicou que o canal auditivo era muito estreito, que tinha que dar um tempinho pra
fazer. Felizmente o bebê passou, bilateral e a mãe nem me ligou para dizer. Quando ela o
veio dali a oito dias eu liguei pra ela, “e aí? Que aconteceu que você não veio hoje?”. Ela era
do interior. Ela falou “ah, é porque eu já fiz, eu fui para e fiz o exame, passou e eu
estou indo embora de novo pra casa”. Temos que entender, porque é um momento difícil, da
família, é um momento muito complicado. Tem umas histórias super engraçadas que a gente
no quarto, às vezes a mãe que gosta de conversar com a gente, então quer contar as coisas,
a lembrancinha do bebê, aquelas lembrancinhas... Tem famílias e famílias e a gente tem
que saber respeitar cada uma.
Eu acho que a gente tem que ter muito cuidado na colocação. As pessoas que
trabalham comigo dentro do hospital, as colegas que são Fonos, a gente tem três que
trabalham num hospital e cinco que trabalham num outro hospital, e conversamos muito, a
gente tem reuniões para podermos conversar sobre a questão de como colocar para família
que o bebê falhou, porque é uma situação delicada. A gente não pode nem desvalorizar
demais, porque a família não volta para fazer o reteste, e nem supervalorizar, porque senão a
mãe entra em pânico. É uma situação que você tem que ter um meio termo, então você tem
que dizer que o bebê falhou, que aquela falha ainda não quer dizer que ele não escute porque a
triagem é passa/falha, que ele tem vérnix muitas vezes dentro do canal auditivo, às vezes tem
dez por cento dos bebês que a gente faz que não consegue finalizar a triagem pelo vérnix, mas
que é importante ela retornar para fazer o reteste e, temos que estar em contato para conseguir
finalizar, que não termina ali, que a gente tem que terminar, temos que ligar pra família, pedir
102
pra ela voltar... Às vezes ela não volta. A gente tem alguns casos em que deu perda, não
conseguimos que a família voltasse e depois a família disse que fez num outro local e mandou
o resultado por um fax ou só falou verbalmente, principalmente as perdas bilaterais que são as
maiores preocupações da gente. Desses cinco anos a gente tem uns cinco casos que deu perda
bilateral, a família não voltou e o que eles disseram foi que eles fizeram em outro local e que
o bebê passou. Principalmente pelo bebê pequeno, baixo peso, que é difícil mesmo às vezes
fazer a triagem. Então é uma coisa que a gente fica sem saber muitas vezes, como conduzir,
tem alguns bebês que a gente liga, liga, liga, e ele não volta. Tem outros que a gente liga, liga,
liga e ele acaba fazendo na cidade dele e depois explica para gente, manda o resultado ou fala
como foi. Tem muitas coisas que são difíceis, principalmente essa questão do reteste. Para
mim, o maior desafio que eu vejo é conscientizar a família do bebê que falha, para que ela
volte e faça esse reteste. Tem que ser uma coisa de muita conversa realmente. Eu vejo que
tem pessoas que não tem perfil pra trabalhar com bebê, pessoas que são mais “duras” e falam
as coisas muito de supetão, ou que tem dificuldade no relacionamento, de conversar, de ter
contato, porque é um momento muito difícil pra família. Você não pode ser uma pessoa que é
muito racional, pelo menos eu vejo isso, muitas colegas que trabalharam no nosso serviço e
acabou não dando certo, acabaram saindo. Você começa a traçar um perfil de quem fica. O
que a gente vê é que são pessoas que tem uma ansiedade muito grande para fazer logo, para ir
embora logo e a gente o pode ter pressa. Uma das coisas que vejo mais é que se a gente faz
as coisas com pressa, acabamos não fazendo nada direito, principalmente com bebê, porque
bebê, você começa a fazer o exame, ele começa a chorar, a mãe tem que acalmar. você
começa de novo, ele chora de novo, você pede para colocar no peito. Eu acho que felizmente
uma coisa boa é que a gente pode fazer o exame da triagem com o bebê mamando. Ele
mamando é mais tranqüilo porque ele fica quietinho. Muitas vezes você entra no quarto e não
consegue, você volta de novo e não consegue, Às vezes são bebês que você faria a triagem em
cinco minutos, e acaba levando quase uma hora. Se você não tiver paciência, tchau, pode ir
embora que não tem jeito. Eu percebo um perfil assim, de ter paciência, de ter serenidade... O
que eu às vezes converso com as meninas é que quanto menos a gente for presente no quarto,
melhor. A gente chega, fala com a mãe que vai fazer o exame, sai tranqüila, ali na nossa, no
canto, então nem pensar de ir no horário das visitas. Você chega para fazer triagem ela está
com uma visita. Então “pode ficar aí, tranqüilo, falar baixo”. A gente fica fazendo a
triagem e a visita lá. Às vezes quando falha, para dizer perto da visita que falhou é
complicado, às vezes eu prefiro sair, esperar a visita ir embora e depois retornar para falar
103
com a e sobre o resultado, para não criar um clima de ansiedade. Eu acho que tem muitas
coisas que a gente tem que ir conquistando, que vamos aprendendo ao longo do trabalho,
depois da graduação. Eu acho que talvez se você for fazer um curso sobre bebê, talvez essa
coisa da mãe, desse momento da mãe, que a gente fez esse curso agora no mestrado e me
ajudou muito em algumas coisas, para pensar... Ajuda muito, mas é uma coisa que a gente
não está preparada para esse contato com a família. Acho que você vai aprendendo meio com
o tempo.
E essa parte também da motricidade oral, da parte de estimulação oral que o
fisioterapeuta atua é uma coisa também que a gente tem que colocar. Isso ocorre nos dois
hospitais. O fisioterapeuta é uma figura que está vinte e quatro horas dentro da UTI. Tem
plantão de fisioterapeuta o tempo todo, e o fonoaudiólogo ele está de sobreaviso. Quando tem
aquele caso que é muito complicado, que o fisioterapeuta não está conseguindo resolver,
chama a Fono. Dessa forma, não é uma pessoa que está lá todos os dias, presente.
104
Entrevistada 3
Nasci em Fortaleza, sou formada dez anos pela Universidade Fortaleza UNIFOR.
(em 1996.2). Fiz uma especialização em Audiologia, quando cheguei em Salvador pela
Universidade Federal da Bahia. Eu comecei a me especificar mais nessa área de Neonatologia
aqui em Salvador também. Minha formação foi na teoria porque desde o primeiro, o
segundo semestre da faculdade eu fiz uma disciplina que era chamada de Fono Preventiva que
falava muito disso, da prevenção mesmo. Eu me interessei por essa área, mas na faculdade eu
não vi nada na graduação. Eram só pinceladas, mas nada muito específico. Quando eu vim pra
(Salvador), terminei a faculdade, fiz o Bobath básico, e comecei a me interessar mais por
essa área. que o Bobath não são bebês, são crianças maiores. Fiz o Bobath Baby achando
que iriam ser os bebês. que no Baby as crianças têm quase um ano, não é recém
nascido. Então não tinha nada de UTI, nada de internamento. Acabei indo para o lado da
terapia. Todo ano eu faço um curso avançado no conceito Bobath e estou fazendo a formação
agora para ser instrutora. Estou tendenciando cada vez mais pra essa área. Penso em fazer um
mestrado, penso em me aprofundar mais futuramente, mas como a formação é uma coisa
muito complicada, demanda muito tempo, eu preferi começar agora com a formação, terminar
e depois dar continuidade para ver se é faculdade mesmo que eu quero, estar dentro da
universidade ou está dando aula, mas nos cursos práticos, mais prática do que teoria. A gente,
na faculdade, foca muito a teoria. Acaba tipo, tem os estágios e tudo, mas o volume maior é
de aula em sala de aula. Eu gosto mais da coisa de estar com o paciente, de mostrar com o
paciente, na prática. Eu acredito que o conceito facilitou mais, porque você consegue ver o
paciente em todos os ângulos, não a boca, você consegue ver que aquilo que está na
boca pode ter justificativa no pé ou no quadril ou na cintura escapular. Tem um trabalho ainda
mais rápido com esse retorno que o curso te dá, com essa formação que a gente tem, de ver o
paciente como um todo e aprender que nem sempre o que a gente na boca está na boca.
Com o atendimento a gente percebe não nos neonatos, mas com as crianças maiores,
principalmente as crianças maiores, que a gente acompanha há mais tempo, consegue ver
quanto é rápido a melhora e, às vezes, a gente nem toca na boca, no global temos uma
resposta.
Depois que eu fiz o Baby, eu soube do curso de Campinas e fui, em 2002. Fiquei seis
meses indo pra fazer um curso de formação mesmo. Fui em março de 2002 e terminei o
curso em setembro. Na verdade a formação de Campinas é mais pra o recém nascido mesmo,
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de zero a vinte e oito dias. A gente ficava mesmo no cuidado intensivo. Não na UTI de alto
risco, a gente ficava no médico risco, porque no alto risco não tem indicação para Fono. É
uma formação em disfagia pra lactentes. Recém nascidos, neonatos e lactentes. São seis
meses. E nesses seis meses são umas trezentas horas, quase trezentas horas de aula, a maior
parte do curso é prático. Ficávamos o tempo todo dentro da unidade e aí é que eu fui
realmente aprender, porque enquanto na teoria é outra realidade. Na hora que você pega, a
diferença.
Quando eu voltei de Campinas, fui no Hospital CL. pedir um estágio como voluntária.
Não é nem estágio, porque não tinha supervisor. Era um trabalho voluntário que eu queria
desenvolver pra não perder o que eu adquiri em Campinas. Em outubro eu comecei no
Hospital CL.. Dei uma parada e depois retornei com as meninas. Umas meninas que se
formaram pela UFBA, me pediram uma assistência e comecei a ir com elas. A fono M. e a
fono CE.. A fono M. saiu, surgiram outros trabalhos pra ela. Na época, a diretora me cedeu o
espaço. Foi muito complicado porque eu não tinha supervisora, então eu não tinha como
entrar, como estagiária, mas ela se interessou pelo trabalho, achou que iria enriquecer que a
unidade precisava e eu comecei a trabalhar lá. Nesse período, enquanto eu estava
desenvolvendo esse trabalho, acabei entrando como professora substituta da UFBA e como
estava perto, (porque o campus fica ali do lado), eu continuei o trabalho no Hospital. Eu
atuava na Pediatria do Hospital CL, que eles chamam de CHR. Continuei fazendo o trabalho e
dando aula lá, mas a aula era dada no Ambulatório, não ficava no internamento,
atendíamos as crianças que eram encaminhadas pra lá. Continuei o trabalho pois acabei
ficando muito perto do hospital e não atrapalhava minha rotina. Só que tem cinco anos que
esse trabalho vem sendo desenvolvido e no ano passado surgiu uma proposta de contratação.
Pediram-me um projeto de pesquisa para poder ser contratada. Só que as coisas acabaram não
funcionando e em novembro a gente parou de atender. De lá pra cá sempre estão ligando, pois
têm crianças que precisam e a gente realmente parou de atender porque ficou difícil dar
continuidade tendo que conciliar com o trabalho na clínica.
Com relação à contratação no Hospital CL., a gente não consegue entender. A
primeira solicitação foi da coordenadora da Neonatologia para diretora da Pediatria, que levou
pra reunião do departamento de Pediatria e Neonatologia. Foi para Diretoria Geral, para o
diretor geral do hospital e eu comecei a fazer contato direto com ele. Eu acredito que é muita
coisa que acontece por ser o diretor geral e que tem que tomar conta de tudo. A gente acaba
ficando pra depois e acaba não acontecendo. Eu imagino que seja isso, porque para conseguir
106
falar, para ter acesso é difícil demais, ele está o tempo todo viajando, o tempo todo em
conferência, em congresso, em não sei que mais. Uma pessoa muito atarefada, não no
hospital, mas com outros compromissos que ele tem fora. Eu imagino a quantidade de
problema que deve ter. E a gente vai ficando meio que em Stand by.
Eu acabei terminando o contrato com a UFBA e ficou contramão, por isso a gente deu
uma encerrada, mas eu continuo investindo nessa área. Eu tenho interesse em continuar o
trabalho e ser contratada pelo serviço. Eu estou esperando justamente esse retorno, a demanda
está acontecendo. A chefe da Neonatologia me liga direto, sem saber o que fazer, ao mesmo
tempo dando força pra gente, essa é uma forma de pressionar para que isso aconteça, de
alguma forma. Estamos aguardando, mas não parando, e procurando em outros hospitais
também.
No Hospital CL. atendíamos crianças de zero a um ano, porque a unidade era de
pequenos lactentes. Chamava UPL, Unidade de Pequenos Lactentes. não é maternidade,
eles nem classificam como UTI porque tem que ter uma certa especificidade para unidade ser
caracterizada como UTI, então eles colocavam como Unidade de Pequenos Lactentes. Se uma
criança nasceu numa maternidade, foi para casa e complicou o quadro clínico, já não voltava
mais para maternidade, eles encaminham para lá, para o Hospital R., para outros hospitais.
Venho sendo chamada em alguns hospitais, mas nada fixo, é tudo esporádico, depende de
unidade para unidade. Em alguns hospitais são os médicos que me chamam, outros são as
fisioterapeutas. Mesmo depois de cinco anos na pediatria do Hospital CL .voque se a
gente não está dentro não tem um atendimento sistemático. A gente tem que estar dentro
para pontuar quem precisa, solicitar a prescrição para o médico, pois não atendemos sem. Eu
montei o serviço lá. A gente ia, avaliava, tinham alguns dias que, como estávamos, eu e a
fono CE. no sábado, dia que não tínhamos rotina de trabalho, ficávamos a manhã fazendo
um levantamento de dados para o hospital, para ver a demanda, quantos bebês a gente atendia,
para mostrar a necessidade, que existia uma demanda e que a gente estando dentro essa
demanda ia ser maior ainda, porque eles não conseguem identificar a criança que precisa de
fono. Éramos nós quem sinalizava quem precisava de atendimento, solicitávamos a prescrição
no prontuário. A chefe da residência pedia para os residentes prescreverem e a gente
começava a acompanhar a criança.
No Hospital CL., quando eu vou atender, é médio risco, nunca a gente vai para a UTI
de alto risco. A maioria dos bebês tem mais de vinte e oito dias, mas tem muitas crianças com
menos. Recém-nascidos que foram transferidos para por alguma coisa. Também tem a
107
unidade metabólica, que é pra crianças com desnutrição e obesidade. Então, um trabalho
bem voltado pras questões de alimentação e ele tem uma demanda muito grande pra gente.
Crianças que não conseguem comer, algumas que são desnutridas por questões de absorção e
outras por questões de função mesmo, de alimentação. A maioria da clientela no Hospital CL.
reinterna na Unidade metabólica por desnutrição. Na UPL a maioria é prematura com
problema respiratório crônico, que é bem característico do prematuro, ou então sai do hospital
e tem qualquer infecção em casa e não tem mais vaga no hospital que estavam e mandam
pra lá, ou vem sem sonda e coloca quando chega ou já vem sondado, ou então se ainda está na
maternidade, que o tem mais como ficar lá, e transfere para poder vagar o leito da
criança que vai nascer, vem sondado. A gente faz um trabalho para retirada da sonda.
Algumas crianças a gente faz um trabalho para habilitar e tirar a possibilidade da
gastrostomia, outras a gente acaba indo para indicar mesmo a gastrostomia o mais rápido para
que ele mais cedo para casa depois da colocação da sonda. A dificuldade lá é com relação
ao boton, que como é muito caro, eles saem com aquele provisório, com aquela mangueira
mais comprida e depois para colocar é um problema, porque é muito caro e nem tem. Os
bebês arrancam muito, quando é aquele provisório, que é muito maior, é muito mais fácil de
arrancar.
Nessa população carente as pessoas não têm muita informação, a gente ainda lida com
isso. A questão das mães, muitas delas que não querem amamentar e convencem as que
querem a não amamentar, pois ficam todas juntas na unidade. Lá não é um Hospital Amigo da
Criança, mas a gente investe muito nessa questão do aleitamento materno por conta da
questão das doenças, da praticidade, de ser barato, de não ter custo, de ela levar para onde ela
quiser, não ter que esquentar, não ter que fazer nada. Então a gente tenta fazer esse trabalho,
mas é muito complicado, é bem difícil. Crianças infectadas com HIV, várias complicações
que a gente tem, e as famílias... Algumas muito interessadas e outras, pela própria realidade,
mães muito novas, mães viciadas, a gente lida com isso tudo, para termos acesso é muito mais
complicado. Tem a psicóloga que vai e acompanha. Como é hospital-escola é ótimo, porque a
gente tem tudo. Então a gente tem gastro, tem pneumo, tem pediatra, tem neurologista, tem
oftalmo, tem dermato, tem orto, tem a equipe de Enfermagem, a Fisioterapia, Musicoterapia,
Terapia Ocupacional, Musicoterapia é no Salvador. No Hospital CL. é Terapia Ocupacional
que trabalha com Canguru lá, a Psicologia. Lá não tem o programa Mãe-Cangurú, mas a gente
faz com aquelas mães que tem mais acesso, conseguimos fazer e temos tido ótimos
resultados. Então é uma equipe que viu como é que funciona, então dentro da unidade está
108
muito claro o trabalho para quem está cinco anos. A chefe da Neo, a chefe da Pediatria,
que são os coordenadores, os preceptores da residência, para eles é tudo muito, muito claro.
Os estudantes passam a conhecer quando vão, os residentes, os internos. melhorou muito
para o que era quando a gente chegou. Antigamente entravamos e saíamos e ninguém nem
olhava pra gente, tanto é que no início eu fiquei sozinha e eu agüentei cinco meses porque
eu me sentia tão que eu não conseguia mais ir de tanta frustração. Era só eu e a criança e
mais ninguém. E ninguém falava comigo mesmo, sabe? Quando as meninas saíram da
faculdade, e entramos nós três , ficou muito mais fácil porque íamos duas, a gente revezava e
todo dia ia. Um dia eu ia com a fono M., outro dia eu ia com a fono CE., ou então um dia ia a
fono CE. com a fono M.. Tínhamos um questionário de avaliação inicial e final e tínhamos
um protocolo de atendimento diário, que todo dia que fazíamos atendimento a gente
registrava, como a coisa começou a mudar. A equipe toda conhecia a gente, todo mundo
sabia. Às vezes chegava alguém procurando a gente na Enfermaria e falavam aqui nunca
teve Fono”, mas se cobrava a alguém da Pediatria, “tem, as meninas estão aqui há um
tempão”. “não, nunca vi”, tinha essa coisa assim que ainda tem hoje, pois roda muito a
equipe. Os estudantes saem toda hora e entram outros, e os novos estudantes não sabem, então
chegava mãe procurando a gente, “não, aqui nunca vi Fono”, a mãe ia batendo de porta em
porta, até achar.
Lá a gente não tem a parte de Audiologia, pois é a Universidade (UFBA) quem faz. Os
bebês são encaminhados para lá para baixo, para Áudio, no ICS
21
. Doutora L. ficou de
comprar ou pedir através de um projeto que ela vai fazer, um equipamento de emissões
otoacústicas. Ela até me solicitou para está fazendo com ela, que estava solicitando. Até
falei com a fono S. para através do departamento, que é mais forte, tentar conseguir, e eu acho
que vai dar certo. Não tive nenhum retorno ainda disso. Estou sempre indo lá, porque é um
trabalho que foi construído e a gente não quer perder isso, foi construído tanto tempo.
Estamos esperando essa fase passar, de final do ano, carnaval, porque as coisas não
acontecem muito, e voltar em março a procurar e ver como é que está.
Há dois anos, eu fui pra França, fiz um curso lá só sobre relação mãe – bebê, mas mais
voltado a Psicanálise. Fiquei uma semana em São Paulo estudando a teoria e viajei pra
pra visitar unidades que tinham atendimento com bebês e como é que funcionavam. Tinha
estudo de Puericultura, maternidade, centro de reabilitação, a gente visitou orfanato. Lá, eles
21
Instituto Ciência da Saúde.
109
não têm técnica nenhuma que a gente tem. O trabalho é mais voltado pra relação mãe bebê.
É tudo com relação ao emocional da criança e da mãe. Não tem nada de nenhum manuseio,
nada disso. Eles não usam nada disso. O trabalho é todo com o emocional dos pais e da
criança e tem resultado. A Psicanálise é muito forte lá. Eles acreditam que tanto pode
complicar a situação da criança, como pode melhorar se você um enfoque específico.
Tanto que a gente estava conversando, porque o curso é muito troca, de como era aqui no
Brasil e como é que funciona lá. Daí elas colocavam que ficaram impressionadas, com a
quantidade de coisa que a gente colocou de bico, de mamadeira, de que a gente pode fazer.
Lá, eles não têm nada disso. Até a gente trocou material, eu mandei umas mamadeiras daqui,
eles me deram umas de lá, pra mostrar como é que são as mamadeiras... Não tem essa coisa
de bico redondo, bico quadrado... É tudo igual pra todo mundo. Eles não têm nada específico
assim pra tratar. Não tem muito paralisia cerebral, pois quando a criança nasce complicada, a
medicação é introduzida muito mais rápida, então não tem extensão de lesão, porque não
tempo. Eles são muito mais prevenidos, trabalham muito mais com a prevenção. Quase não
tem paralisia cerebral grave, quadriplégico, o máximo é um hemiplégico, crianças com
alterações bem leves.
Eu acho que as portas estão se abrindo em Salvador, mas é tudo muito lento. Haja
visto que tem dez anos já que a gente está nessa tentativa de ter de forma sistemática Fono em
toda maternidade da cidade. Assim como a gente tem no Rio, como a gente tem em outros
estados que tem Fono há muito tempo. Seja LEI isso de ter Fono nas maternidades, porque
os profissionais que tem formação em São Paulo, os médicos que fazem formação em São
Paulo, todos acreditam, porque foi da realidade deles enquanto estavam fazendo a formação,
mas quem faz a formação aqui não tem essa crença. Não o porquê do atendimento. Então
me deparei várias vezes no Hospital CL. com residentes, com o pessoal do internato ou da
residência de Pediatria, quando íamos atender um bebê e eles ficavam impressionados como é
que existia aquele tipo de trabalho, a ponto da gente pedir um FEES, que é um exame de
deglutição e depois os convidávamos para discutir o caso com os meninos lá: “a gente está
com a fita de vídeo se você quiser ver” e eles falarem... “não, não adianta que eu não vou
entender nada”. Então a gente se deparava com isso. Profissionais do fim, do último ano de
Medicina, completamente sem ter noção do que é o trabalho fonoaudiológico. E não vai muito
longe não. poucos dias eu recebi um bebê de um plano de saúde e eu mandei um relatório
pedindo autorização pras sessões e eles mandaram... A superintendente me ligou dizendo que
o médico perito que libera as sessões não entendia o que é que uma Fono fazia com uma
110
criança de dois meses. Então, um cara que está numa situação dessas, enquanto perito,
enquanto autoriza ou não autoriza... eu fiquei impressionada. Eu mandei um relatório pra
ele descrevendo tudo que a criança tinha e me coloquei à disposição pra se ele precisasse me
ligar pra tirar alguma dúvida, mas fiquei impressionada. Como é que nesse ano ainda existe
isso? E é muito real, e não é pouco não, é muita gente. Quando vamos ao hospital é tudo
muito lindo, todo mundo acha lindo a proposta, mas na hora do custo, na hora de como pagar
o profissional é que é complicado. Eu tenho o serviço do Hospital S. que eu vou dar
assistência a eles, mas eu não estou todos os dias, vou quando sou solicitada.
Geralmente, a Fisioterapia é quem solicita, porque quando elas começam a atender que não dá
resultado elas chamam a gente. Até então era só a Fisioterapia. E outro hospital daqui também
funciona do mesmo jeito. Ainda é pior, porque eles não chamam de nenhuma forma. Os
pacientes vêm a mim depois que recebe alta, porque a neurologista conhece o trabalho e
encaminha após a alta. E a complicação é outra porque tem um monte de compensação
que a criança adquire, porque evolui muito rápido, melhora muito rápido e piora muito rápido
também. E se a gente não tiver quanto antes, começando esse trabalho a gente vai pegar uma
criança que tem muito mais dificuldades do que teria se a gente tivéssemos acompanhado
desde o primeiro momento, mas eu acredito que as coisas estão mudando, acredito que os
médicos estão mais abertos ao nosso trabalho, a ouvir o que a gente tem pra dizer e eu acho
que a melhor propaganda são as crianças.
O que a gente ouve falar é que a Fisioterapia teve esse mesmo percurso que a gente
está tendo. Foi tão difícil quanto está sendo para a fono agora. E eles conseguiram se inserir
depois de muita briga. É o que elas colocam, com convênio, para tentar convencê-los a
cobrirem o atendimento A gente não tem ainda no sistema hospitalar uma visão de qualidade
de serviço, de incorporar Fono no quadro clínico como qualidade de serviço. Eles querem
incorporar a gente, mas não tendo como pagar. “Eu vou trazer você pra minha equipe, mas
você tem que ir atrás do convênio pra pagar” e não “eu vou trazer vopra minha equipe
porque eu sei que você vai dar alta pro meu paciente mais rápido e eu vou ter um lucro com
isso”. Então não tem essa visão ainda de que o trabalho que a gente faz com que a criança
embora mais rápido, que tenha uma rotatividade maior e que diminua vários custos como
gastrostomia, colocação de sonda, que tudo demanda dinheiro...
A gente se depara com muitas crianças graves, depois de muito tempo de trabalho a
gente começa a ter esse retorno mais rápido do prognóstico de cada criança. Que é que ele
tem? Em tomografia o que é que se vê? A gente pede um retorno do neonatologista, do
111
neurologista, para dizer o ponto de vista clínico da criança e daí a gente, pelo ponto de vista
funcional, que é o que a gente faz, conseguir saber o que, até onde podemos ir com aquela
criança e o que podemos esperar. Geralmente a gente é chamada quando a criança está
sondada não sei quantos meses. Então não tem mais o que esperar. Aquela sonda oral ou
nasal complica muito mais. poucos dias eu atendi uma criança lá no Hospital S. que ele
estava com indicação de gastrostomia e agora eles colocam gastrostomia quando depois de
uma avaliação da gente. Eu fui, pedi cinco dias, e fiquei acompanhando essa criança durante
cinco dias, diariamente, orientando a mãe para que ela pudesse fazer no outro momento que
eu não estivesse. Duas vezes de intervenção. No quinto dia não teve mudança do quadro,
porque realmente é uma criança muito grave e então indicamos, de forma segura, a
gastrostomia. Teve outra criança que foi outra Fono que eu não sei, não era da equipe, que foi
a mãe que levou para fazer uma avaliação. Essa Fono indicou gastrostomia nesse menino,
depois que colocou, a mãe ligou para a pediatra e disse que o menino está comendo tudo pela
boca. Então, uma coisa completamente desnecessária que não foi bem avaliado. Não sei qual
era, o que tava acontecendo no momento, porque eu também não fiquei sabendo de nada, eu
soube do caso depois. Essa coisa tem que ter muito cuidado, temos que procurar
sistematizar e procurar que todo mundo fale a mesma língua para que essas coisas não
aconteçam. Quando a gente tem um serviço estruturado é mais fácil, mas ainda assim existem
essas falhas, porque a gente não dá conta de tudo, a gente não esta lá dentro.
Eu formei num grande centro, Fortaleza, hoje, a Universidade que eu formei é um
centro de referência. Eles têm uma clínica que é um hospital praticamente. Na minha época
era um ambulatório pequeno. Quanto cresceu! Aqui em Salvador é tudo muito novo, então
eles estão começando, estão engatinhando, mas eu acredito que eu vi na experiência é que
essas coisas que não se falavam antes, na graduação, os professores já estão mais preocupados
em colocar o quanto antes isso pros alunos. Já para preparar, para abrir os horizontes sobre a
quantidade de especialidades que tem dentro da Fonoaudiologia. Não a Voz, a Audiologia,
que é o mais colocado, que é mais batido, mas outras questões, que são pequenas e que estão
aparecendo mais. Eu tive a oportunidade de ver que os professores estão tendo mais cuidado
com o que eles não viram na graduação, eles estarem colocando para os alunos, hoje.
Eu acho que pelo hospital público é mais fácil a inserção do Fono. Eu acho que pela
demanda ser maior. Eu acho que o hospital particular é mais resistente em relação a esse tipo
de investimento, acabei encontrando muito mais resistência. O hospital público abre as portas,
você pode entrar dessa forma que eu entrei. No hospital particular você entra como
112
voluntária? Não entra. Porque tem todo aquele cuidado com a questão do vínculo
empregatício, que se eu disser que estou indo uma vez por semana, eu estou
caracterizada como funcionária e isso pode gerar uma complicação de processo trabalhista
com o hospital e eles são muito defensivos em relação a isso. E com razão. Já deve ter
acontecido alguma coisa pra que eles tenham esse comportamento. Então acaba que no
hospital público a gente consegue mostrar mais o trabalho, mas tem a coisa do dinheiro que a
gente não sabe de onde vem. Infelizmente no Brasil as coisas funcionam assim.
Acho que esse tipo de pesquisa é interessante demais para ver se a coisa acontece, para
mostrar a realidade da gente, enquanto uma cidade tão grande que as pessoas colocam como...
Parece que não é nem Nordeste. Uma coisa assim, absurda. E a gente se depara com esse tipo
de coisa na saúde, é uma coisa básica pra todo mundo. Situação em saúde e a gente se depara
com isso. Estamos tendo que pedir pelo amor de Deus pra mostrar o nosso serviço, pois
aquela criança precisa. A gente faz pela criança, muito mais do que por qualquer outra coisa.
Investir num trabalho que a gente faz, que a gente estuda para estar colocando e ajudando. Às
vezes, é por isso que eu me interesso mil vezes mais em trabalhar num hospital público do
que num particular. Eu me sinto muito mais à vontade dentro do hospital público, pois você
pode ajudar as pessoas que precisam, que não tem condição e que não sabem nem que você
existe. No particular, uma outra realidade, pessoa que sabe, mães numa condição sócio-
econômica elevadíssima e que não valorizam o trabalho. Enquanto aquelas mães pobres, que
se pudessem vendia a casa para lhe pagar.
Eu acho legal esse tipo de pesquisa tem que acontecer muito mais, é uma forma de
mostrar, pois a culpa é nossa. Se a gente não está é por causa da gente, não é por causa de
ninguém. A gente é que tem que escrever mais, tem que estar mais dentro dos congressos, não
de Fonoaudiologia, nem de Otorrino, mas do congresso de Cardiologia, de Pneumo, que a
gente tinha que estar, pois a gente trabalha diretamente com eles e não estamos participando
disso.
Eu conheço Fonos, em outras cidades, que dão aula na Medicina, que dão aula na
Odonto, que fazem parte da grade curricular deles. Uma disciplina falando de
Fonoaudiologia. No curso de especialização em Odonto tem disciplina de Fono, em alguns
estados do Brasil. Eu acho que isso ajuda demais, porque se ele sabe que existe, que é bom,
porque não vai encaminhar? Não tem porque não encaminhar.
Vai sair o curso de especialização de Neonatologia, vai ser lançados em março. Eu
ouvi alunos falarem que não vão fazer o curso porque sabe que é muito difícil trabalhar nessa
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área e que vão investir e não vão ter retorno. Os professores têm que pensar um pouco nisso
em abrir a cabeça desses meninos pra isso, que tem que ter investimento para que tenha um
retorno. Se você vai investir pensando no retorno, você não investe.
Entrevistada 4
Nasci em Santa Maria, Rio Grande do Sul e me formei pela Universidade Federal de
Santa Maria, em 1990.
Eu comecei em 2001, na triagem auditiva neonatal no Hospital A. por convite de uma
fonoaudióloga, que fazia o trabalho lá, desde 1999 ou 2000, uma coisa assim. Eu tinha
vontade de trabalhar nessa área, mas não tinha tido oportunidade porque a área era restrita, a
cidade não tinha, o hospital foi realmente o pioneiro na avaliação. No ano de 2001, eu
comecei a fazer a triagem auditiva neonatal no Hospital A. por convite dessa fonoaudióloga
que já fazia nove meses, um ano mais ou menos, e precisava ter uma demanda maior de
horário, ela precisava viajar, eu precisava substituir. Entrei mesmo num barco de substituição.
Curso específico para começar, eu não fiz, eu fiz o preparatório com ela. Ela que me passou o
manuseio de todo do equipamento. O que eu tive foi um embasamento teórico que eu busquei
para nível das otoemissões, o básico que todo profissional que vai trabalhar em qualquer área
tem que saber. O que está fazendo e porque está fazendo. Então, o objetivo maior da minha
formação teórica, que eu sempre gostaria de ter feito, um curso completinho, bonitinho, não
fiz ainda. O que eu tenho é um embasamento teórico, que eu busquei, e o prático com a
fonoaudióloga que implantou o serviço. Tanto da parte de equipamento quanto da parte de
conduta, com os pais, de conduta com as crianças, de postura, de como verbalizar um
resultado. Tudo isso foi ela quem me passou. Eu faço mais ou menos o padrão, que eu tenho
como modelo o dela, e que a gente vai criando um próprio, mas a base, a gente segue mais ou
menos o mesmo perfil. Desde 2000 pra aumentou muito o número, o volume de realização
de exame, porque a princípio, no Hospital A. estava autorizado para os bebês da UTI. A
própria Diretoria do hospital aprovou o projeto, inicialmente, para os bebês de UTI, todos os
bebês faziam. Tinham acompanhamento aqueles que necessitavam, com os fatores de risco
que entravam e a cada seis meses repetia o exame, com o potencial evocado nesse intervalo,
do nascimento até seis meses. Geralmente a gente pedia para entrar no protocolo assim que
recebia alta da UTI, os que necessitavam fazer um complementar da bateria do teste que
fizesse logo após a alta, mas é uma realidade que não acontece. Até hoje não acontece isso.
Vão fazer cinco ou seis anos. O aparelho não é portátil, o BERA da clínica, então não tem
114
como levar, as crianças têm que vir fazer aqui na clínica. É uma dificuldade que a gente
enfrenta, porque a gente orienta os pais, tudo direitinho, tudo bonitinho, “tem que fazer o
acompanhamento”, mas eles não vêm. É coisa de se questionar onde está a falha? Na
conduta? A forma de passar o resultado? A importância que está se dando à avaliação, real ou
não? Ou um comodismo por saber que o bebê está bem, que deu tudo OK num exame de base
e que despreza toda e qualquer seqüência?
Quem faz o BERA são outras fonoaudiólogas, que fazem na clínica do centro médico
do Hospital Aliança.
Na época da faculdade, não existia uma formação específica nessa área. No ano de
1990, que eu me formei, eu tive da parte de eletrofisiologia, BERA. Teórico. O BERA
prático eram cinco assistindo o professor fazer o exame num paciente. Então ficava tudo na
pontinha dos pés olhando. Ninguém enxergava nem o paciente de tanta cabeça que tinha. Foi
muito rápido, a gente teve uma informação teórica. Otoemissões nem existia. Não tinha,
nem se cogitava. Nosso vel de conhecimento não levava a gente a ter nenhum tipo de
informação com relação às otoemissões. A faculdade me deu a formação de Audio Infantil,
mais a Audio comportamental. A infantil comportamental foi muito boa, eu considero que foi
uma boa formação. Prática em Audio infantil comportamental, eu não tive muita, a não ser
durante a formação da faculdade. Faço só as otoemissões em bebês até seis meses, exatamente
porque
e
u não me sinto capaz de fazer uma comportamental, não me sinto segura a partir do
sexto mês, porque eu acho que acrescenta em alguns bebês o VRA, acrescenta outros tipos de
análises comportamentais que eu não tenho segurança. Então eu não faço. Eu faço
otoemissão, no sexto mês o bebê tem que retornar, já vai pra outra fonoaudióloga com
experiência em comportamental, que faz a bateria completa.
Eu fiz a especialização pela UFBA, incompleta, porque eu não apresentei a
monografia. Fiz toda a parte teórica, os módulos todos, em 1997, foi o último módulo, que eu
acabei. Agora vou fazer a Fonoaudiologia Neonatal, específica, pois me interessei, a fim de
descobrir outras coisas dentro da área, complementar. Mesmo que eu não atue dentro da área
específica de motricidade, alguma outra coisa qualquer que complementa a parte do bebê,
mais para conhecimento, até para transmitir para os pais com mais segurança alguma
informação relacionada ao bebê. Aquela fase inicial que a gente tem o contato.
No hospital a gente tem atendimento todos os dias, todas as manhãs nós vamos lá, de
segunda a sexta-feira. O neonatologista responsável do alojamento conjunto... São duas
pediatras fixas de domingo a domingo são as mesmas. Dificilmente muda, aparecem outros.
115
Isso no horário que nós vamos. Elas que fazem o trabalho inicial que caberia, eu acredito, a
gente fazer, que é a divulgação para os pais do teste.
Primeiro: existe um curso de gestante no hospital. A outra fonoaudióloga vai uma vez
ao mês no curso de gestante e fala sobre a Fonoaudiologia. De uma forma geral, direcionada
para crianças e toca no assunto da avaliação auditiva através das emissões otoacústicas logo
após o nascimento. Dá um enfoque bem rápido, ela não entra nos detalhes do que é detectado,
as patologias, as reabilitações. Ela só fala da existência do exame.
O bebê nasceu, vai pro quarto, no prazo de quarenta e oito horas, a partir de quarenta e
oito horas a gente está avaliando a audição dessa criança. Então é o momento que o pediatra,
o neonatologista comunica aos pais a existência do exame e que é importante ser feito, eles
podem fazer antes da alta, que o convênio cobrindo ou não, os pais escolhem, e eles
autorizando, vamos ao quarto e fazemos, passamos todas as informações, o resultado, desde o
resultado até informações gerais com relação a audição, desenvolvimento auditivo, o que eles
tem que prestar atenção com relação ao desenvolvimento da criança.
Se for uma criança que não apresentou nenhum fator de risco, essa criança faz a
triagem e é liberada e a orientação que a gente passa é “o pediatra vai acompanhar o
desenvolvimento”. Qualquer dúvida se houver a necessidade de reavaliação auditiva tem que
ter um motivo, tem que ter uma queixa nessa fase. A outra idade que a gente sugere que faça
uma nova triagem é com cinco anos, que é antes do ingresso na escola, a parte de
aprendizagem. São os dois momentos. A gente pontua basicamente o que é mais importante
naquele momento.
É muita informação pra os pais, então a gente tenta reduzir ao máximo. Sentir
primeiro como é que os pais estão. Se eles estão confiantes na pessoa que está ali fazendo o
exame, se eles estão prestando atenção naquilo que você está falando, porque como são
muitas informações que eles recebem no mesmo dia, às vezes a gente percebe que eles não
estão muito ligados. Tem um folder que a gente deixa, um informativo do próprio exame, que
explica como o exame é feito, para que ele serve, qual é a diferença, como é detectado o
problema ou como é feito o exame. A gente deixa esse folder para os pais lerem depois com
mais calma e terem mais informações do que só ficar verbalizando ali o procedimento, o
resultado. Deixamos esse folder e o laudo com os pais. Fazemos a cobrança a nível de
convênio, se o convênio dos pais autoriza a gente faz a cobrança e emite o laudo na hora para
os pais.
116
A gente nota que o maior nível de ansiedade que eles têm é quando uma pequena
falha. Com a leitura do aparelho na hora a gente já tem mais ou menos uma noção, aquilo que
preocupa e aquilo queo preocupa, mas não conseguimos, muitas vezes, transmitir para eles
exatamente aquela despreocupação por um resultado de falha. Para eles falha é falha. Falha
quer dizer “meu filho pode não ouvir”. Eles não conseguem assimilar às vezes que pode ser
temporário.
Tentamos sempre transmitir a informação de que resíduo, o resíduo do parto pode
estar ali, que está impregnando o conduto, o canal externo, que é um material denso, que vai
dificultar a transmissão do som, que é um som muito fraquinho. Às vezes eu coloco a
sondinha no orelha dos pais para eles ouvirem o som que está sendo transmitido, para eles
terem uma idéia do que é que o filho está ouvindo e qual intensidade, para ver que é tão
fraquinho e que qualquer barreira que tiver ali vai ser difícil. Então sempre eu tento mostrar
para eles o comparativo com um adulto gripado. Um adulto com uma gripe forte vai ter o
ouvido tapado. É como o bebezinho está. Tanto é que temos uma margem de horas que
possivelmente podemos fazer a avaliação, mas não garante que a gente vai conseguir. Então
eu começo o exame, dizendo “olha, é um teste extremamente sensível, a gente vai fazer
uma primeira tentativa, pode ser que não dê para medir hoje por questões do resíduo do parto,
vérnix” e fico tentando introduzir a sonda para realização do exame, deixando mais ameno se
der alguma falha naquele momento, porque quando dá falha, eu mesma fico mais tranqüila,
pois eu já preparei eles pra possibilidade de eu não conseguir medir. Eles crêem que eu só não
estou conseguindo medir, não passa pela cabeça deles que pode ser realmente uma falha.
Realmente pode ser indicativo de falha, mas que eu vou ter segurança quando repetir. É
um esboço, uma primeira avaliação.
A maior dificuldade que eu acho que toda Fono que trabalha com triagem enfrenta
não é realizar o exame, não é manusear o equipamento, não é ter a rotina do dia a dia de
qualquer tipo de exame que a gente faça é uma rotina de muita responsabilidade e atenção,
mas o que eu acho que pesa muito é o passar o resultado para os pais. O paciente não é o pai e
a mãe, é o bebê, que o bebê não tem como você interagir e explicar, são os pais, é outra
vida, passa a ser diferente, os pais tem outro comportamento. Não é como se fossem eles
recebendo a informação, mas é a informação da vida do filho deles. Demanda uma vida
inteira. Você falar para os pais que seu filho não está ouvindo bem. Imagina?! Você desmonta
uma expectativa de vida criada naquele âmbito todo familiar. É muito difícil. Meu coração
bate forte. Na hora que eu estou vendo que tem alguma coisa ali é a hora que mais me deixa
117
ansiosa. A gente tenta relaxar, ficar tranqüilo, para poder transmitir para os pais, isso é básico,
se eu ficar atordoada com o que eu estou vendo ali, vai, lógico, desestabilizar a família, todos
da família por completo. Outra coisa que eu acho extremamente importante, que isso foi uma
neonatologista que me falou, que eu tomo isso como realmente uma grande verdade, que
aquele momento ali é um momento muito especial dos pais, é um momento especial da mãe
que está tentando amamentar, que às vezes não consegue, não consegue segurar o bebê, não
sabe quais são as massagens que tem que fazer no seio. Eles estão tão preocupados em fazer
tudo o melhor possível para dar para o seu filho, que você tem que ter muito cuidado na hora
que vai lidar com uma informação de uma possibilidade de um problema que talvez exista,
mas talvez não exista. Na cabeça deles vai montar uma coisa bombástica e que pode interferir
na amamentação, pode interferir na relação mãe – filho, pode interferir na relação familiar, de
algo que você pode estar suspeitando. Então você tem que ter uma forma de passar sem
desprezar a informação, mas sem supervalorizar. Porque eles têm que receber como uma coisa
que pode ser real, mas que eu tenho que saber enfrentar isso. E na hora certa vai enfrentar. Eu
acho que pra mim, isso é o mais difícil, é o que eu considero mais difícil.
Para entrar na maternidade eu não apresentei o projeto. Eu não tive a dificuldade do
“será que vão aceitar, será que não”. Eu já entrei com o projeto aceito, mas, vivenciei, mesmo
com projeto aceito, algumas barreiras, algumas dificuldades impostas nos passando como se
fosse a burocracia do hospital dificultando, mas às vezes eu percebia que não era o hospital, a
burocracia administrativa, eram, às vezes, os próprios profissionais que não estavam
acreditando que aquilo era um exame necessário, viável e que haveria um respaldo técnico,
científico daqueles profissionais em fazer aquilo. Isso deu pra perceber no alojamento
conjunto. A dificuldade que nós tivemos de expandir um pouco mais a avaliação, sair do muro
da UTI e ir pro alojamento, para tentar tornar universal a avaliação, o que hoje não é. Eu não
considero que ela seja universal, porque tem uns bebês que saem sem avaliar. Uma porque o
convênio às vezes não cobre, os pais não querem arcar com os custos, as dificuldades também
dos próprios pais não quererem avaliar muitas vezes, ou eles prezam pela própria informação
ou o profissional que levou a primeira informação talvez não tenha levado com tanta ênfase.
Isso no início eu percebi. Hoje eu acho que está bem melhor. As coisas estão
sendo dadas para que a gente tome a iniciativa de informar o pai. Às vezes uma
neonatologista não pode passar no quarto antes, elas pedem “você pode ir informar para os
pais”.
118
Também a questão de convênio. Enfatizar mais a importância do teste quando eles não
fazem ali com a gente, porque não dispõe do convênio, ou a neonatologista não captou a
vontade real dos pais. Elas pedem para gente dar um reforço, dar mais ênfase para que eles,
após a alta procurem, mesmo que não seja na clínica, mas que procurem um serviço na
cidade. Normalmente a gente orienta os pais quando a clínica não tem o convênio que eles
tem, a gente já direciona mais ou menos “ó, tem tal e tal clínica que provavelmente aceita seu
convênio, então procure saber”. A gente abre as portas e deixa bem esclarecido. Agora essa
questão das barreiras eu acho que elas foram... A gente vivenciou mais ameno diante do que a
gente sabe que acontece fora. Eu acho que o trabalho de base que a fonoaudióloga C. fez
deu essa possibilidade, da entrar com mais facilidade, não ter que derrubar tantas coisas ruins.
Foi realmente da conquista e da confiança de que ali tinham profissionais qualificados para
fazer, porque eles têm todo um trâmite burocrático.
A questão da motricidade tem uma Fono que é chamada eventualmente quando tem
um bebê que tenha um risco maior, que eles julguem a necessidade da Fono. Aí eles chamam
a fonoaudióloga. Nós mesmas nunca apresentamos um projeto. Não existe o profissional
dentro do hospital para parte de atendimento de neonatologia, de Fono neonatal. Não existe,
não tem. Eles chamam? Chamam. Mas quando eles julgam que é necessário.
Quem faz a estimulação da sucção é a fisioterapeuta. Isso a gente observa, a gente vê.
Eu acho que é um problema nosso mesmo. Eu acho que nesse hospital talvez a gente não
esteja dando a devida importância de chamar um profissional da nossa própria área e que atue
na parte de motricidade, ou disfagia, que faça esse trabalho. Eu acho que talvez a gente que
está na triagem... Como a nossa visão é uma visão audiológica e infelizmente é a que a
gente acaba criando... Isso que eu acho que é até um... Quando falam no assunto é que eu me
toco “poxa, que é que eu estou fazendo então”, por que eu que estou lá não crio o ambiente
para essas portas serem abertas para parte de motricidade? Eu acho que não é o hospital que
teria essa barreira, mas nós mesmas não criamos, não plantamos o real vínculo. Uma que as
Fonos fazem esse trabalho quando são chamadas... Eu acho que também caberia a elas abrir
esse leque. Ou não encontraram respaldo do hospital ou não quiseram por uma questão de
carga horária, de vínculo, que normalmente eles não fazem, com profissionais da nossa área.
Tem vínculo com fisioterapeuta. Elas trabalham vinte e quatro horas por dia. Nós somos
prestadoras de serviço. A gente atende quando uma liberação dos pais para realizar o
exame, nós somos chamadas. Como a demanda aumentou, de rotina a gente vai todos os
dias. Nem espera eles chamarem. A gente está lá, oito e meia da manhã vai e sabe que
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vai ter bebê pra avaliar. Tanto na UTI, quanto no alojamento. Acredito que nós possamos
abrir o espaço para parte de motricidade. Não sei como, mas eu acho que talvez já que a gente
está dentro. Talvez isso seja uma falha. Eu acho que talvez na equipe da clínica, se tiver uma
Fono que trabalha na parte de terapia com interesse de fazer estimulação precoce, talvez
consiga esse caminho que está aberto para parte de triagem, ela pode preparar um projeto e
apresentar, de repente... Isso a gente poderia facilitar, agora a gente levar, a possibilidade de
organizar um projeto que não é da nossa atuação fica complicado.
As questões das especializações surgindo em Salvador e sem ter um campo de atuação
tão aberto é extremamente complicado. E muito delicado, complicado, porque para gente que
já tem um campo de trabalho um pouquinho mais definido, não vou dizer definido, mas que a
gente já tem estrutura, quando surge o curso é uma maravilha, a gente fica encantada, “ai, que
bom fazer um curso de especialização, vou me especializar, isso e aquilo, buscar”, mas quem
está começando, não vai encontrar com facilidade esse campo. Na triagem auditiva, para
minha realidade nessa clínica, é uma coisa muito restrita, porque a gente está vinculado ao
atendimento de triagem no hospital, que a demanda de nascimento não é grande. São entre
1000 a 1200 nascimentos por ano. Então não é uma demanda grande de nascimentos para
comportar vários profissionais trabalhando com a triagem e buscando especialização
somente nessa área. É inviável você profissionalmente atuar com triagem, não existe essa
possibilidade, de você fazer toda tua formação direcionada pra triagem e atuar na
triagem. Não vai ter retorno financeiro. Eu acredito que não, posso estar enganada, mas
acredito que não. É difícil se posicionar com relação a isso, se é ruim, se é bom ter muita
especialização; é ruim, é bom ter muitos cursos de Fonoaudiologia; é ruim, é bom... Eu
acho que está concentrando muito no mesmo lugar, como qualquer área. Todas as áreas estão
concentradas muito nas capitais. Eu acho que o interior do Estado tem muita necessidade,
muita desinformação com relação a nossa área, tanto quanto quando eu cheguei aqui em
Salvador. Na época que eu cheguei ninguém sabia o que era Fonoaudiologia, ninguém sabia
falar FONOAUDIOLOGIA. Estou quinze anos aqui. Peguei uma época que você escolhia
onde você queria trabalhar. Nossa... Você era super valorizada, “ah, queridinha pra lá,
queridinha pra cá”, e hoje a gente sabe, quem está na cidade sente que o campo está mais
restrito. Eu fico triste pelas pessoas que estão saindo, porque encontra muita dificuldade de
ingressar, mas se tiver cara e coragem de ir para o interior do Estado plantar a sementinha da
Fonoaudiologia eu acho que certo. Isso eu vi em interior, alguns interiores aonde não
existiam, começou pelo Otorrino indo, montado uma estrutura. É claro que vem aquela coisa
120
assim “ah, mas a Fono não tem independência do Otorrino”. Não vai ter nunca, porque eu
acho que são áreas afins. Quando são áreas afins a gente não deve realmente nunca estar
afastado, tem que estar mais é entrelaçado. Não necessariamente explorado, mas entrelaçado.
Eu acho que, o crescimento das áreas se faz dessa forma. Tanto neuro, pediatra...Outro grande
embate também que a gente tem na triagem é com a Pediatria, por causa da conduta, do
encaminhamento, do dizer que isso é para ganhar dinheiro, que não é importante fazer,
“espera a criança crescer”, é... “Bate panela pra ver se ela se assusta”... São coisas assim que
você vai ouvindo que chega a dar um arrepio na espinha. Você acredita “esse pai tem que
mudar a postura”. É você divulgar através do seu trabalho com aquele pai, você ter aquele pai
como um marqueteiro seu. Você tem que fazer o seu trabalho da melhor forma possível, usar
aquela pessoa pra divulgar, porque eu acho que aí é que vem a escolha. Uma mãe disse pra
mim “eu mudei de pediatra porque ele não me pediu o teste da orelhinha”. Aquilo para mim
foi uma coisa fantástica. Não é que ela supervalorizou o teste da orelhinha, ela valorizou o
conhecimento do pediatra em cima de... O cara não está atualizado, então não está
valorizando aquilo que a tecnologia está trazendo, ou então não é uma pessoa que eu queira
para o meu filho. Eu achei legal que ela sinalizou isso através de um teste que é tido muitas
vezes como para ganhar dinheiro... A gente não consegue ganhar dinheiro, não sei onde é que
está a fórmula para ganhar dinheiro com triagem, que eles tanto acham que existe. Então a
gente tem uns embates com qualquer área, mas eu acho que isso a gente não deve valorizar. A
gente deve valorizar aquele que valoriza a gente. Aí sim a gente deve crescer.
Com os pais a gente vai treinando, um feeling psicológico, de como é que você chega
no pai... Eu tenho interesse, eu gosto, então eu leio muito sobre isso. Pessoalmente eu vou
buscando, mas eu acho que acrescenta para o profissional tudo que vier. É como quem
trabalha com triagem, eu acho que tem que ler sobre linguagem, a gente não pode ficar fora
dessa coisa, como é que a criança se desenvolve? Como é que é o balbucio? Como é que é?
Como é que ele se apresenta? Então eu vou trabalhar com audição, mas eu tenho, minha
visão é essa, eu tenho que saber um pouco da linguagem, então eu leio sobre linguagem, leio
sobre distúrbio articulatório, leio... Não sei se os nomes tão corretos, distúrbio articulatório,
mas leio, busco sempre orientação, troco com colegas, tem colegas que trabalham na área de
terapia que eu busco sempre informação quando eu estou com dúvida de uma criança ou
outra, eu busco auxílio. Busco auxílio com a Pediatria também porque tem coisas que a gente
não sabe. O que é uma “bilirrubinemia” que leve a “exsanguíneotransfusão”? Porque que
gerou isso? Então eu acho que a gente tem que buscar saber. É um fator de risco? Porque que
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é um fator de risco? Onde está envolvida a nossa área com um achado que é da área médica e
que é uma intervenção médica, mas que a gente tem que saber. Eu acho que o mínimo de
informação você tem que buscar. Você não precisa ser um expert no assunto, mas ter um
embasamento, do que é aquilo. Como é que o citomegalovírus atua, o que ele é, o que ele faz?
Na época da minha especialização de audiologia não teve nada disso porque também
não existia na época as subdivisões de atuação, a atuação de Audio hospitalar, vamos dizer
assim. Nós não tivemos no curso nada voltado a Neonatologia. Nada, nada, nada, do ponto de
vista de Áudio, você pega uma criança com cinco anos pra avaliar no consultório, peguei
esses dias uma menininha de cinco anos que fez a exsanguineotransfusão, um caso da
hiperbilirrubinemia. Duas exsanguineotransfusão. Então, falha curricular, mesmo na
especialização. Não é por não existir que não deveria ter sido dado o assunto, porque se é um
assunto que envolve qualquer faixa de desenvolvimento que a Fono atuava. Em nível de
terapia, em vel de motricidade. Como eu fiz Audio eu não sei se na Linguagem eles têm
essas coisas, essas informações de outras áreas mais detalhada. Não sei.
Esses fatores sempre eram apenas citados, mas porque que numa hiperbilirrubinemia
tem a lesão, e a outra não têm? Qual a diferença uma da outra? Se as duas fizeram a
transfusão? Qual graduação é aquela ali que tem? Leitura de prontuário, muito difícil pra
gente, dificílimo. São siglas e siglas e siglas que a gente não sabe o que significa. Eu e a
fonoaudióloga que me chamou para atuar nesse hospital, praticamente fomos as primeiras a
mexer num prontuário médico de uma instituição hospitalar, e não entendiamos nada, a gente
ficava perguntando o tempo todo para pediatra, para ela me passar um resumo da história
daquela criança porque eu não entendia no prontuário. Até que eu fui treinando os olhos pra
ver. Quando não tinha algum disponível para me explicar o que era, eu procurava, ia
pesquisar. O que é “oligohidrominiania”? Aqueles nomes tudo esquisito, complicado,
síndromes diversas, que podia estar correlacionado ou não a perda auditiva, que na hora você
nem lembra porque não é tão comum... Então vopassa a mexer com assuntos e temas, e
uma nomenclatura muito diferente da que você vivencia. E isso eu não tive. Nem na
graduação, nem na especialização.
Eu não quero que minhas colegas, ninguém, nem as que estão formadas ou as que
vêm pela frente, que tomem nenhum paciente como um qualquer, uma pessoa que não mereça
uma atenção especial, que não mereça uma orientação, que não mereça uma explicação
daquilo que você está fazendo, que é um leigo, mas se você trabalhar o vocabulário você tem
certeza que a pessoa sai compreendendo o que você está querendo dizer. Por ser uma área
122
muito desconhecida, quanto mais a gente conseguir transpor esses conceitos, explicar o que é,
o que abrange, melhor para gente, mais reconhecimento vem. É uma forma de divulgar
também pela própria postura diária de atendimento e responsabilidade. Acho que isso você
também planta na Fonoaudiologia através desse contato dia a dia com o paciente. Então é
responsabilidade, regra número um. Conhecimento também. Lógico que isso nem é
necessário citar.
123
Entrevistada 5
Nasci em Salvador, mas me formei na Universidade Sagrado Coração, em Bauru, em
1992.
Seis meses depois que eu me formei, eu voltei a Bauru para fazer um curso de
extensão com a fonoaudióloga A... Agora me falha o sobrenome dela, eu vou lembrar. A fono
A. fazia a avaliação audiológica em berçário. Fazia, na época, avaliação comportamental com
audiômetro PA2, da Interacoustic. Eu passei um mês lá, num intensivo, indo todos os dias à
maternidade com ela, colhendo dados. Quando eu voltei, eu adquiri o PA2 Interacoustic e
comecei a fazer as avaliações na Maternidade I., na intenção de ver o maior mero possível
de crianças normais, para poder identificar as patológicas. Eu levei no Maternidade I ,
aproximadamente um ano, um ano e pouco. Nesse período que eu estava no Maternidade I
isso já era 1994, o Hospital E. teve uma criança que tinha uma suspeita de deficiência auditiva
na UTI e me chamaram pra avaliar, porque já conheciam o meu trabalho do Maternidade I.
Desde então eu comecei a acompanhar essas crianças, algumas crianças de risco. Desde 1994
que a gente faz esse trabalho no Hospital E.. A partir de 2000 foi que começamos a fazer de
forma mais intensiva. Todas as crianças eram avaliadas, da UTI neonatal. De uns quatro anos
pra todas as crianças do hospital são avaliadas, conseguimos avaliar as crianças de
alojamento conjunto. Em 2003 eu fui convidada pela Neonatologia do Hospital J. para ir
trabalhar lá. Então no Hospital J.. faço as crianças internadas, as de risco auditivo da
UTI. As demais crianças do Hospital J. são encaminhadas para avaliação fora, no consultório.
Hoje em dia eu não trabalho com avaliação auditiva comportamental. Em 2003, depois
de uma conversa com a fonoaudióloga C., eu resolvi adquirir o aparelho EcoCheck pra fazer
emissões otoacústicas. Desde então eu faço emissões otoacústicas nos dois hospitais, e faço o
reflexo cócleo-palpebral com o PA2.
Eu trabalho sozinha sem nenhuma equipe nos dois hospitais. Estou inscrita pra fazer o curso
de especialização com recém-nascidos na Universidade E..
Acho que, de uns dois anos pra cá, os hospitais tem apresentado mais a abertura para os Fonos
poderem atuar. Inclusive a parte de disfagia, que antes era feita muito pela fisioterapeuta, hoje
está se chamando as fonoaudiólogas. Muitos neurologistas, muitas neonatologistas estão
preferindo que a fonoaudióloga trabalhe com essas crianças.
Sou eu mesma que tenho feito o trabalho de motricidade orofacial. Nos hospitais em que eu
atuo, trabalho com as duas áreas, de audiologia e M.O. Estou ainda iniciando o trabalho com
124
M.O., está muito no começo porque o número de crianças ainda que demande essa
necessidade ainda é pequena. Quando nós chegamos aqui, nós as fonoaudiólogas todas,
havia as fisioterapeutas trabalhando com estimulação de sucção e de deglutição dessas
crianças internadas. Hoje em dia é que tem se tratado a coisa de outra forma. Essa é uma área
da Fonoaudiologia. Não são todos os profissionais, como neonatologistas ou neurologistas,
que tem buscado pela fonoaudióloga. Ainda são poucos. A área ainda está bem pequena, bem
restrita. Aparece uma criança ou outra só.
Eu tenho uma parceria com os hospitais, fico de sobreaviso. Quando precisam, eles me
chamam. Eu vou e há uma parceria. Eu tenho uma pessoa jurídica a quem eles pagam.
Eu acho que os profissionais, os demais profissionais da área de saúde, pediatras,
neonatologistas, ortodontista, otorrinos, eles estão mais abertos para aceitação da
fonoaudióloga, o que antes não havia, não acontecia. Os hospitais têm contratado as
fisioterapeutas, todo hospital que você vai tem uma fisioterapeuta contratada. Não existe isso
em Fonoaudiologia, o torna mais fácil. Esses profissionais novos, que estão se especializando,
que estão no mercado de trabalho, mais recente, eles têm buscado outras áreas de atuação para
fazer os trabalhos específicos. Estão renovando esses profissionais.
A parte da triagem auditiva já é como rotina, então todos os dias eu passo nos hospitais. No
Hospital E. a triagem auditiva é universal, mas no Hospital J. faço a avaliação das crianças
internadas na UTI. Todos os dias eu passo nos hospitais para ver essas crianças. As de UTI
são cem por cento sempre, mas de alojamento conjunto, por exemplo, hoje eu não vou lá. Os
convênios pagam ao hospital, o hospital me repassa. Os dois hospitais são parceria. O Jorge
Valente nem tanto. O Hospital J. a parte de convênio da P. é uma coisa direta, não passa pelo
hospital, é da minha pessoa jurídica com o convênio, mas os demais o hospital cobra e me
repassa. No Hospital E. é cem por cento assim, o hospital é quem cobra. A gente levou um
tempo cobrando, oferecendo particular, mas, começou a ficar deselegante, porque a gente
acabava cobrando dentro do hospital e era uma coisa que tinha que ser minha com a família.
Então às vezes o convênio acabava que cobria fora, não cobria dentro do hospital, e a gente
nunca tinha certeza se eles iriam, se não. Então a gente resolveu parar com isso. Hoje em dia a
gente não oferece mais particular. Se acontecer de eu fazer um exame na UTI e o convênio
não cobrir, coisa que ainda ontem eu falei com a parte de convênios do hospital e me disseram
que não há glosas, têm pagado, mas se acontecer, eu não tenho como saber, também o
pergunto. Se pagar, pagou; se não pagar infelizmente, é um risco que a gente corre mesmo.
125
A devolutiva do resultado do exame auditivo da UTI quem dá é a neonatologista
diarista. Dificilmente eu vejo a família, porque o horário que a família chega na UTI para ver
a criança é depois das dez horas da manhã e nessa hora eu tenho que estar com tudo
concluído, nos hospitais, mesmo porque as altas dos hospitais são até as dez horas da manhã.
Se eu vou fazer alojamento eu tenho que fazer antes disso, esse é um aspecto. Então essa
devolutiva é dada pela diarista. Nesses anos todos é a mesma diarista, nós nunca tivemos
problema. Às vezes que a criança falha num primeiro exame em alojamento conjunto, que
normalmente é por vérnix, eu faço a devolutiva diretamente, porque a criança está junto com a
mãe fazendo o exame, e peço para ela retestar em sete a dez dias depois da alta e assumo isso,
tudo é muito bem explicado e tranqüilo. Algumas mães chegam ao consultório depois de dez
dias um pouco ansiosas, mas nada de me procurarem. Elas retornam para refazer o exame, eu
tenho cem por cento de retorno, pois tenho isso controlado e as mães voltam para fazer o
reteste, esse de sete a dez dias, elas retornam sim.
A questão da MO ela tem sido feita com crianças graves. Quando é estimulação de
sucção, só, pura e simples, quem tem feito é ainda a Fisioterapia.
O meu trabalho é com as crianças mais graves, crianças neurológicas graves mesmo.
Essas crianças normalmente não vão ter a fase de transição para mamadeira não. São crianças
com indicação para a gastro. Tem gente que tem uma hipotonia de face, de língua muito
importante que está interferindo na respiração. a gente faz um trabalho. Mas essa parte
específica para sucção nutritiva, não nutritiva, essa ainda tem sido feita pela Fisioterapia. Eu
tive uma criança agora recentemente que ela estava internada na UTI, quando ela saiu eu fiz o
relatório, ela foi para home care, solicitando acompanhamento da fonoaudióloga em home
care. Inclusive o pessoal da UTI queria que eu continuasse o trabalho, e como tinha uma
pediatra da UTI que era pediatra do home care ela me chamou, mas não era um interesse meu,
porque também não tem condições de eu fazer tudo. Então eu não dou esse acompanhamento
não.
O mercado de trabalho é bom. Na realidade, um tempo uma fonoaudióloga me
ligou, e disse assim “J., mas a gente tem que brigar por nosso espaço, porque o espaço está
sendo ocupado pelas fisioterapeutas”. Eu disse “olhe, não é bem assim, não é bem assim. A
gente não pode chegar impondo absolutamente nada, porque elas estavam aí.” Elas fazem
um excelente trabalho. As meninas que estão dentro de UTI neonatal ou UTI pediátrica são
meninas muito boas, pelo menos nos dois hospitais que eu conheço. A gente não pode chegar,
com peito de pavão e dizer “o espaço é nosso”, porque até oito anos atrás não havia curso de
126
Fonoaudiologia. Oito ou menos... Menos, menos... Seis anos, não havia curso de
Fonoaudiologia em Salvador. Nós éramos umas “Et’s” aqui. Pergunta a fono C. quando ela
chegou aqui, a parte de Audiologia ainda menos mal, mas quem trabalhava com terapia, como
eu, era uma coisa assim que as pessoas nem sabiam o que era. Teve uma pessoa que chegou
ao cúmulo de me perguntar se eu fazia trabalho de telefonista, porque Fonoaudiologia não
conhecia. É tudo muito recente. A gente tem que ter paciência, respeito pelo trabalho da
profissional, somos colegas de profissão de qualquer sorte, de profissões paramédicas,
paralela à Medicina. A gente trabalha com terapia e tem que ter um respeito pelas
fisioterapeutas também. Agora buscar o nosso espaço sim. O espaço existe. E pode ser
dividido entre as duas áreas.
Audiologia, a triagem auditiva, ela deu um “boom” de 2000 pra cá. Eu que fazia
isso, eu faço isso treze anos. Quando deu esse “boom”, sinceramente eu fiquei assustada.
Eu fiquei assustada que eu vi muita gente querendo correr atrás como se fosse a “galinha dos
ovos de ouro”, e não é. É um trabalho que é bem remunerado? Acho que sim. Eu não sou
insatisfeita financeiramente com o trabalho de triagem auditiva não. Não fez grandes
modificações na minha vida, mas estou satisfeita. Agora o mais importante é que se faça o
exame pelo objetivo que é o exame, de avaliar se a criança possui ou não uma deficiência
auditiva precocemente para que ela tenha uma qualidade de vida melhor, para que ela seja
protetizada cedo, que o protocolo da GATANU funcione.
Eu trabalho com o protocolo da GATANU. Esse protocolo, que é muito bem feito, é
muito bonito. Então uma coisa assim, paga ou não paga... Outro dia eu estava conversando
com a fono C. e disse “C. , eu sei que os convênios variam valores, mas se você me perguntar
que variação, qual paga mais, qual paga menos, eu não sei. Seria fácil saber, mas eu não quero
saber. Porque a partir do momento que a gente descobre isso, a gente começa a fazer
diferença. E as crianças elas são todas iguais, elas todas precisam ser avaliadas.” uns dias
começamos a ter um problema com um convênio que disse que não ia cobrir as crianças de
UTI. A posição do Hospital E., da gerência médica, foi: “vai fazer, porque eles vão pagar.” Eu
disse bom, como eles não mandam nada por escrito, eu continuo fazendo. Foi que eu liguei
pra saber se pagava, se não pagava, ou se tinham glosas. Aí eu disse: olhe, eu não posso correr
o risco de botar uma criança, com perda auditiva para sair sem o exame e depois ser
questionada. São treze anos fazendo isso. Então o valor que pague... Se paga dez, se paga
cem, vai ser sempre muito pouco para eu perder treze anos de trabalho. Eu já tive no
consultório mães me questionando porque que eu não fui trabalhar no domingo. De
127
alojamento conjunto, convênio paga lá, não paga fora, chega na sua frente e diz: “então eu
dei azar? Porque saí no domingo? Porque a senhora não trabalha no domingo?Então essas
pessoas, cobram muito, a gente não pode correr esse risco. Esse “boom” que deu da triagem
auditiva teve um momento certo para acontecer que foi quando fono C. Trouxe a fono M.C.
para dar o curso de Audiologia aqui. Aquilo ali eu acho que as pessoas saíram todas
alucinadas. Eu não sei, exatamente pelo que, se pelo financeiro, pelo nome, pelo status. Eu
não sei. Eu tenho medo só, que isso perca o objetivo principal, que é detectar precocemente a
deficiência auditiva em bebês. Se cabe alguma mensagem é que todo mundo precisa de
dinheiro para sobreviver, mas além de buscar pelo financeiro, fazer o trabalho da maneira
correta. Não olhar e dizer “ah, convênio não cobre, não vou fazer”, mesmo porque o custo da
gente é muito pequeno. Eu comprei meu aparelho quase quatro anos, o aparelho está e
ele se pagou. Então eu não tenho mais custo no exame. A partir de que o aparelho se paga,
você tem lucros. Acho que menos de dois anos tive o retorno do investimento. Entre um e
dois anos. Trabalho em hospitais grandes. São duas maternidades grandes. O Hospital J. tem
em média oitenta partos mês, mas isso é uma média alta. O Hospital E. tem em média cem a
cento e dez partos mês.
Se você me perguntar se eu faço duzentas crianças por mês, eu não faço. Eu sei que
toda semana eu tenho que descarregar o aparelho que tem de memória noventa e seis orelhas.
Noventa e seis testes. Eu devo fazer seus quarenta exames por semana. Por aí, quarenta
exames, quarenta crianças, mas tem semanas que não faz quase nada, tem semana que é mais.
A chefia da neonatologia do Hospital E. é a mesma do Hospital J..
Na Maternidade I., quando o EcoCheck chegou, eu levei mais um ano lá. eu voltei, levei
um ano com a avaliação comportamental, depois eu voltei um ano para fazer emissões
otoacústicas. Depois eu sporque a Maternidade I., como é Estado, você tem que apresentar
projeto para ficar. Não é uma coisa que você diz assim que quer fazer um trabalho lá e pronto.
Na Maternidade I., como eu tinha comprado o PA2 eu pedi para ir avaliar as crianças. Sem
projeto. Não me pediram projeto na época. Não me pediram nada. eu fazia a triagem
dos bebês.
Quando, retornou a triagem auditiva na UTI do Espanhol, para fazer de todas as crianças,
porque antes era eventualmente, mas quando foi pra todas as crianças fazerem, eu levei seis
meses sem receber um real, nem pra pagar a gasolina. Eu me lembro que eu comecei em
julho, junho ou julho, teve reveillon, eu viajei, estava em Maceió, quando eu estava voltando
na estrada tocou meu celular, era minha irmã, que é D., a neonatologista de lá. D. virou e
128
disse “J., tenho uma novidade pra você”. Eu disse “é? O que foi?”. “Saiu dinheiro pra você”.
Então assim... Seis meses depois e acho que saiu setecentos reais. Eu sabia que um dia iria
receber...
O hospital hoje me defende muito. O hospital vestiu a minha camisa, pois eu trabalhei
de graça, não é que ele deixou de me pagar, mas a partir do momento que o hospital
apresentou a necessidade, eu estava lá. Depois quando veio a necessidade de que se
modernizasse, que não fizesse mais a avaliação comportamental, que fosse feita as emissões
otoacústicas eu atendi comprando o aparelho. Eu comprei o aparelho sozinha.
Como a minha escola é avaliação comportamental e eu acho que ela te diz muita coisa,
eu faço emissões otoacústicas, reflexo cócleo-palpebral e peço reteste com três meses para
fazer só comportamental, para saber como está o desenvolvimento do processamento auditivo
central. Para todas as crianças eu peço, mas não são todas que voltam, mas volta um número
importante. Elas vão fazer no consultório, principalmente, as crianças prematuras. As
prematuras, nos primeiros três a seis meses, eu tenho visto uma diferença entre idade
cronológica e corrigida. Quando eu identifico isso, a mãe faz a estimulação em casa, faz a
estimulação auditiva da criança, para que ela tenha um amadurecimento idêntico à idade
cronológica. Quando ela volta com uns nove meses mais ou menos ela está equiparada.
Tenho dados importantíssimos, pois tenho muitas crianças avaliadas. É bonito ver a
avaliação comportamental. Eu não faço com instrumento, eu faço com PA2, porque foi
minha escola, é muito legal mesmo.
Na faculdade eu tive prática com instrumento, mas depois que fui fazer um curso, a
fono A. chamou de especialização, como foi uma coisa muito curta eu não chamaria de
especialização, mas eu tenho um certificado como sendo. Então ela fazia toda a avaliação com
o PA2, todinho, e eu aprendi com ela.
uns três anos, existia um grupo em que a gente, eu, a fono C., nos reuníamos, para
trocar informações, era o grupo que fazia triagem auditiva, mas depois acho que ficou muito
desgastado, encontrar horário que fosse adequado para todo mundo e acabou que nunca mais
tivemos essas reuniões, mas eram muito importante, a gente trocava informações muito
importantes, muito importantes mesmo. Infelizmente não deu mais certo. É isso mesmo.
129
Entrevistada 6
Nasci na cidade de Anápolis, Goiás e me formei em Goiânia, pela Universidade
Católica de Goiás.
Na minha graduação foi uma beleza, porque eu não vi emissões, não vi otoneuro, não
vi potencial evocado, não vi processamento auditivo. Otoneuro eu sou autodidata, emissões
também mais ou menos, mas fui fazendo os cursos, com o tempo. Eu formei em 1997.2, colei
grau em 1998, em março, em abril eu estava aqui. Eu não me lembro agora o mês, junho,
julho. Eu vim para Salvador porque eu fui monitora de audio de duas professoras. Uma eu era
de Audio I e a outra eu era de Estágio Supervisionado. Uma delas tinha uma ex-aluna que
trabalhava aqui em Salvador e eu sempre brincava muito com ela de que eu iria para qualquer
lugar. Ela tentou me arrumar um emprego em Manaus, porque eu tinha parente em Manaus,
mas não deu certo. Antes de colar grau ela entrou em contato comigo, a gente se encontrou
por acaso na faculdade e ela estava doida atrás de mim, porque eu não sou de Goiânia, sou
do interior. Ela não tinha meu contato. Por acaso eu fui para reunião de colação, de comissão
de formatura, encontrei a professora e ela tinha esse emprego para mim aqui. Eu colei grau
e vim pra cá. Colei grau vinte de março, treze de abril eu estava aqui. Fez nove anos antes de
ontem. Vim trabalhar aqui., e no mesmo ano que eu cheguei, fiz especialização pela UFBA.
Aí sim, eu vi emissões, vi potencial evocado, otoneuro. À medida que as coisas foram
surgindo para que eu trabalhasse, a demanda foi surgindo, eu fui me especializando. Fui para
São Paulo, fiz outros cursos de emissões, potencial evocado, acompanhei uma fono S. durante
um tempo, no atendimento dela de emissões, antes de começar a fazer, e até o fato de ter dado
aula também, uma coisa que te incentiva muito a estudar, a pesquisar, ir atrás, mas na
graduação mesmo...
Eu trabalhava no hospital com a área de audiologia clínica, com o atendimento clínico,
ambulatorial e o nosso chefe, quem na verdade é o dono dos equipamentos e do serviço,
adquiriu um aparelho de emissões otoacústicas na intenção de começar a fazer exame nos
bebês do ambulatório e da UTI neo. O hospital tem uma restrição em relação ao atendimento
no alojamento conjunto, em relação a pagamento do convênio, porque o convênio não
liberaria duas vezes o valor da CH, e como o hospital gostaria, como é norma dos hospitais,
pagar duas vezes o valor desde que a criança esteja internada, seja alojamento, seja em UTI, o
hospital não queria abrir mão de pagar uma vez o valor da tabela, que o convênio não
pagaria, porque esse exame pode ser feito em ambulatório e sim pagar uma vez o valor
130
da tabela. O hospital não quis abrir o precedente para que isso não se estendesse para os
outros procedimentos que estão sedimentados mesmo, está tudo oficializado muito
tempo. Então a gente ainda não consegue fazer em alojamento conjunto, a gente faz o
exame em ambulatório e só faz na UTI neo. Esse aparelho ficou parado por um tempo até que
a gente viajou para São Paulo, para Campinas, para poder se aprimorar, fazer um update para
poder começar a fazer os exames. Eu tinha alguns cursos de emissões, tinha feito outros
cursos, em Goiás e tudo, saí daqui, fui pra Goiás fazer, mas não tinha prática clínica. Então a
gente foi para Maternidade de Campinas, acompanhei Elaine um tempo na prática clínica dela
de ambulatório e de alojamento conjunto, a gente não entrou na UTI, mas tivemos
orientação dela de como montar o projeto para poder fazer. Na verdade a gente não
apresentou um projeto para o hospital. A gente até fez um projetinho piloto, passou para
nosso chefe, acho que ele também deve ter passado para o hospital, mas era uma coisa que
ficou definida entre o hospital e o serviço de otorrino que existia no hospital. Na época até
existia uma outra proposta de outra fonoaudióloga de entrar no hospital, em 2003, mas como
o otorrino já participava do hospital, já tinha o serviço, ambulatorial, acabou o hospital
optando por ficar com ele mesmo e como a gente era funcionária dele, entramos para
trabalhar. Nós somos duas fonos, nós éramos duas fonos no começo, as duas que foram para
Campinas, e a gente começou a fazer, UTI neo, e alojamento em ambulatório. Hoje a gente
conta com uma terceira colega, porque a demanda aumentou e precisamos passar mais tempo
na UTI, então ela entrou para fazer parte do quadro. A gente teve muitas dificuldades em
relação a pedido, à solicitação de exames, teve uma resistência muito grande da parte de
Neonatologia, e ainda tem com alguns profissionais essa resistência...
No começo a gente era vinculada ao pedido do médico. Então a gente tinha que esperar o
médico solicitar o exame para poder fazer, o que muitas vezes acontecia, era o médico pedir
na alta, na hora da alta. Como a gente tinha um equipamento que funcionava também para o
ambulatório e também não tínhamos recursos humanos suficiente para ficarmos no
ambulatório e UTI ao mesmo tempo, também não tinha demanda de bebês nessa quantidade
para que ficássemos disponíveis um tempo integral pra UTI. Então isso atrapalhou muito,
porque eles pediam na hora da alta. A gente não tinha como largar embaixo, o serviço
ambulatorial e subir para UTI para poder se paramentar e fazer o exame no bebê. A gente não
funciona no mesmo andar, são andares diferentes, então a gente funciona no Centro Médico e
a UTI é no hospital, a gente tem que cruzar o hospital, subir até o sexto andar ou até o quarto
andar, a depender da ala que o bebê estiver, para poder fazer o procedimento. A gente perdia
131
muitos bebês, a gente enfrenta uma resistência até em relação a passar a quantidade de bebês
que nascem, que vão para UTI. Uma joga para outra, você tem que falar com fulano, você tem
que falar com beltrano e isso ainda acontece hoje. É uma coisa que desanima muito, eu fico
meio que sozinha, porque eu tenho que puxar as outras profissionais, mesmo, não estando
ganhando quase nada ainda, porque a maioria dos convênios não cobre. O hospital
recentemente descobriu que a gente faz os bebês que o convênio não cobre. E o hospital
também surtou, “mas isso não pode acontecer, a gente tem que batalhar para poder cobrar,
porque a gente não pode fazer de quem não cobre”. As médicas sempre falam com os pais que
isso vai ser feito e a gente muitas vezes tem contato com os pais somente na UTI, porque a
Neonatologia ainda não permite que a gente faça parte da aula de curso de gestante e nem dos
pais de UTI neo. É uma luta complicada. É uma coisa que desanima. Às vezes conseguimos
fazer pouca coisa, aí desanima de novo. Então é uma bola de neve. Eles não pagam particular.
Como a gente tem intenção de triar todos os bebês, e não tendo acesso às mães, não seja nem
o correto fazer sem pedir autorização da mãe, mas como a gente gostaria de fazer em todos os
bebês, porque não é justo selecionar o bebê, eu acho assim, eu acredito assim. A Maternidade
de Campinas também tem isso como premissa, eles fazem de todos os bebês, bebês SUS ou
não, bebê, particular ou não. Ela tem esse compromisso de fazer em todos os bebês. É o que a
gente tenta fazer, de todos os bebês. Faz o exame, deixa o exame pronto, quando a mãe volta
para pegar o exame, aí se oferece o exame, fala que foi feito e que o convênio não cobria, se a
mãe não pode ou não aceita pagar, da mesma forma o exame é repassado para mãe. Ela não
fica sem ter o exame. Acho que foi uma forma que a gente imaginou de não deixar que o bebê
saísse sem fazer o exame, sem o resultado, mesmo que o prejuízo seja nosso. Nós damos a
devolutiva do exame para as mães, conversamos com elas. Engraçado que a gente não teve
muito problema em a mãe dizer “Ai, eu não queria que vocês tivessem feito”. Isso a gente
nunca teve. Pelo contrário, a gente sempre teve mães que aceitaram. O que acontece às vezes,
por exemplo, é a gente não deixar o exame na UTI, e a Neonatologia queria que tivéssemos
deixado o exame pronto na UTI. A gente não participa de aula de gestante, a gente não
participa da aula das mães na UTI., então eu acho que não é o ideal que a neonatologista
entregue o resultado, porque infelizmente muitas não sabem como passar e não sabem nem o
que é que está escrito ali. O que é que acontece? que a gente tem por obrigação, é lógico,
de escrever no prontuário do bebê o que foi que aconteceu, o quê que a gente realizou e o quê
a gente achou no exame. Só que a gente deixa uma cartinha orientando as mães, que busquem
no ambulatório, o resultado do exame com a fonoaudióloga. que muitas vezes a
132
neonatologista o resultado e passa para o pai e para a mãe que o bebê falhou. que ela
não explica que aquilo pode ter sido o barulho da UTI, que pode ter sido... Às vezes a gente
faz com bebê de quarenta e oito horas, porque o bebê fica muito pouco tempo na UTI, em
observação e a médica quer que faça, “faça assim mesmo para ele não sair sem, já que você
está aqui, faça”. Então às vezes tem vérnix ainda. A gente teve problemas assim com dois
bebês, que a médica falou para a mãe antes dela pegar o resultado, a e espiroca da cabeça
mesmo. “Deu falha. E aí?”, “Meu filho ouve?”. A mãe ligou, se queixou com uma atendente
nossa que é a Ana, que é a mesma atendente do otorrino. Ana falou com a fonoaudióloga, foi
com a outra colega, não foram comigo os dois pacientes. Ela entrou em contato com a mãe,
conversou, tanto que a gente resolveu incluir no laudo explicando direitinho o que seria
“passa”, o que seria “falha”, porque como a gente fazia isso na entrega do exame, com os
pais, muitas vezes o pai ia e a gente não estava, quem entregava era Ana e a gente ligava
para o pai, mas era um tempo entre ele ler o exame e ligar para gente falar. Então a gente
preferiu escrever no laudo todos os detalhes, escrevíamos as informações de quanto atingiu
de repro, de relação Sinal / ruído, isso a gente escrevia, mas não escrevia o que era a
“falha”, o que era o “passa”. A gente escrevia que podia ser ou não rnix. Em relação a
UTI não é o vérnix, podia ser o ruído da UTI. É uma coisa que não temos estruturado
direito, mesmo que a gente esteja fazendo isso desde 2004, acho que eu comecei em 2004 ou
finalzinho de 2003. Fomos em tour para São Paulo, então eu acho que foi no começo de 2004
que a gente implantou.
É uma coisa que eu tenho dificuldade em lidar, porque como a gente não recebe muito
com esse trabalho, com todos os exames que a gente faz, então eu acho que eu sou a que mais
batalho ali pra continuar, porque as meninas quiseram desistir muitas vezes. A gente teve
um desentendimento grande agora com a Neonatologia, “Já não está fazendo de todos os
bebês, tem bebê saindo sem fazer”. “Então a gente vai mesmo montar o nosso próprio
serviço”. E entrou o hospital no meio, porque o hospital achou que não era assim que
funcionava e quis saber o porquê que a Neonatologia estava entrando em atrito. A gente expôs
essa condição de que eles mesmos não passam para os pais a necessidade de fazer o exame,
não deixa que a gente participe para passar a informação, não existe o momento que eu possa
oferecer o exame para o pai, não temos o contato com os pais. Quando eu entro na UTI que a
mãe está na UTI ou que o pai está na UTI, que algum familiar está na UTI, eu falo com os
pais, mas eu não tenho uma rotina de oferecer o exame para os pais, porque eu não tenho
contato com esses pais. É complicado. E nem a própria neonatologista oferece. Quantas vezes
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a gente chegou e tinham meos? tinha pedido G2. “Ah, mas e o G1 não vai fazer? Ele
fez?”, ele não fez, eu tenho o controle de todos o que eu fiz. O G1 não fez. “Ah, mas o G1
está de alta agora”, “Mãe, você quer fazer do G1? Você pode esperar meia hora para eu fazer
do seu filho?”, “Posso, com certeza!”. Então, assim, a gente nunca teve queixa do pai “eu não
queria ter feito”. Nunca. Muito pelo contrário. Os pais querem que faça. Tem pai que já ouviu
falar e que cobra, “eu estou aqui esperando, fez no meu vizinho e não fez no meu ainda”. A
cobrança vem dos pais. A cobrança dos médicos era “não está fazendo de todos”, mas não
tinha solicitação de todos, e muitas vezes a solicitação, mesmo a gente orientando e pedindo
para ser feita antes, que o bebê não esteve na UTI e tem uma alta tão rápida assim. Existe
fono que passa todos os turnos, esse exame podia ter sido pedido antes. Por que pediu na
alta? Depois desse problema todo que a gente teve, o hospital interviu, e a gente sugeriu que
fosse feito demanda livre. Como assim? Eu vou ver quais são os bebês que estão na UTI e
vou ver quais bebês que estão em condições de fazer, eu vou pedir autorização para
neonatologista, na hora, “bebezinho fulano de tal, está aqui, não fez o exame ainda, tem
pedido? Não? Esbem. Tem condição de fazer, não está entubado, não tem, o estado geral
está bom, posso mexer nele? Posso”, então eu vou fazer. Para não depender mais da
solicitação da neo. Ontem eu estava até falando com Cecília de um caderninho que deixa para
o neonatologista ver quem foi que fez, passou ou falhou, e a gente fez um caderno desses
pedindo para que a neo, nem precisasse fazer a solicitação, ela precisava escrever o nome
da mãe, que ela queria que fizesse o exame, no caderno. Metade do caderno tudo
preenchidinho, só pra ela colocar o nome da mãe. A gente ia colocar o convênio, se falhou ou
não, se passou ou não, qual era o procedimento seguinte. Esse caderno ficou um ano e
nunca foi preenchido. Depois desse problema todo, delas quererem pegar o serviço a gente
não perdeu, porque eu fui atrás, pois todo mundo desistiu. O otorrino desistiu, as fonos
desistiram.
A parte da estimulação da sucção é feita pela fisionterapeuta. Elas fazem os turnos,
revezam os turnos. Eventualmente eles chamam, as Fonos, para fazer um paciente ou outro.
Outras fonos, porque a gente não trabalha com MO. Nenhuma de nós. Então são outras fonos.
O que eu percebo é que nunca é a mesma fono, não existe... Eu sei que já entregaram projetos,
para poder implantar. Várias fonos entregaram, não foi um projeto só, não foi um
contato, mas até hoje o hospital ainda não contratou ninguém e pelo menos também não
terceirizou oficialmente com um determinado profissional isso. Sempre são fonos diferentes.
A gente nunca encontrou com nenhuma fono dentro de MO. A gente no prontuário de
134
uma criança ou outra. Às vezes eles ligam pedindo “ah, não tem...”, mas muito
eventualmente, até porque eles mesmos têm as fonos que eles chamam. Mais o trabalho de
estimulação é feita pelos fisioterapeutas.
Eu acho que, por mais que a gente tenha uma resistência, a gente sempre discute com
as colegas dos outros serviços, em tal lugar o problema é a Neonatologia, em tal lugar o
problema é a Fisioterapia, em tal lugar é a Enfermagem, sempre tem uma resistência dos
outros profissionais e inclusive ontem teve o módulo na especialização que está ocorrendo na
Universidade E., que foi uma enfermeira que deu o módulo, e ela estava dizendo isso, que
muito tempo atrás, a Enfermagem tinha uma dificuldade muito grande de inserção na
Neonatologia e que hoje é uma coisa, assim, “sine qua non” mesmo, não existe mais, não tem
como não existir. A Fisioterapia também está conseguindo o espaço dela, então eu acho que o
ponto que a gente chegou não tem volta mais. Eu acho que tem campo sim, desde que os
profissionais se unam em relação a isso. Eu estava até conversando com outra colega de outro
serviço também em relação ao pagamento dos convênios, que tem convênio que ora paga
trinta, ora paga quinze, ora paga não sei quanto, e a gente estava discutindo isso, dessa união,
porque não adianta um serviço ir atrás do convênio, e brigar por isso. Eu acho que se as
pessoas se conscientizarem de que a classe tem que se unir para abrir esse campo, eu acho que
os outros profissionais vão passar a respeitar mais. A coisa da legislação existe em vários
estados, vários municípios, na Bahia tem Vitória da Conquista que eu saiba. A Legislação
de triagem auditiva. Chegou num ponto que não tem como voltar atrás. Isso é uma coisa que
daqui a pouco não vai ter mais volta. Então, a gente percebe agora, aquilo que eu te falei,
existiam profissionais ali, e as próprias neos tinham uma resistência muito maior, e era uma
quantidade de profissionais maior que tinha resistência. Hoje, eu acho que essa briga, esse
desentendimento, pode ficar feio, briga mesmo. Nesse desentendimento, ninguém se estapeou,
não se preocupe.
Eu acho que elas enxergaram que o negócio não era brincadeira, que a gente não
estava ali, a visão é de que a gente está querendo ganhar dinheiro, elas não enxergavam que,
aos trancos e barrancos, e mesmo fazendo de quem nem tinha consentimento, porque a gente
não tem acesso à e para pedir o consentimento, e o convênio não cobria, a gente queria era
fazer para o bebê não sair dali sem o exame. Muitas delas hoje conseguem enxergar que a
gente faz aquilo ali não é pelo financeiro, mas na intenção de que o serviço funcione, até
porque isso vai ser lei, mesmo que não tenham recurso de fazer, mas eu acho que tem campo
sim, desde que todo mundo se una em favor, em relação e direção a isso. Troca de experiência
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mesmo, “olha, no meu serviço funciona assim, eu tive tal e tal problema, a gente conseguiu
resolver assim, assim, assado”, porque é uma troca de experiência. No meu hospital as
profissionais são amigas do outro hospital. Então a gente tem contato pessoal e tem essa troca.
Antes até de começar a trabalhar com triagem teve uma tentativa de se reunir os profissionais
que trabalhavam com emissões otoacústicas especificamente. Tiveram algumas reuniões, eu
cheguei a participar da última, e só foram três serviços, os outros serviços não iam mais.
Então quem participava, quem fazia emissões em outras clínicas, que tem várias que já fazem,
também participavam da reunião. Eu cheguei a participar da última. Então era uma reunião de
discussão de texto, de levar novidade. É uma coisa que infelizmente morreu, tem trocas
isoladas, mas de parceria, de amizade, de todos os serviços do município, isso não tem.
Eu já passei por uma na UTI da neonatologista comparar, sabe? “Ah, mas o serviço de
fulana, em tal hospital, não faz desse jeito”. Ah, mas o serviço de fulana obedece um
protocolo diferente, a maternidade de fulana é diferente, porque o fluxo é diferente. Os
horários da maternidade são diferentes, a divisão da UTI é diferente, os neonatologistas são
diferentes, a localização é diferente. No começo a gente não tinha espaço para poder, e nem
tinha o equipamento para fazer o acompanhamento dos bebês. Então o que é que a gente
fazia? Como nós éramos duas profissionais, a gente encaminhava para outros dois serviços
que eram afins do nosso, a gente encaminhava porque tinha o VRA (Audiometria com
Reforço Visual), o nosso aparelho faz DP (produto de distorção), mas a gente preferiu fazer
na DP do outro serviço porque era mais detalhado, era mais preciso, então a gente
encaminhava esses bebês para lá. Tivemos muita dificuldade em relação a isso, porque
agora a gente conseguiu que o serviço comprasse um audiômetro pediátrico, a cabine ainda
não é adequada para isso, porque a gente precisaria está colocando o VRA, a gente faz o
acompanhamento dos bebês, fora do hospital, e não é o que a gente gostaria. A gente fazia os
exames, os bebês que retornavam eram encaminhados para outra clínica. Na verdade, a gente
acabava tendo controle porque são as mesmas profissionais. Desse ano pra cá, do final do ano,
a gente está tentando concentrar tudo no hospital. Estamos adquirindo os materiais,
justamente, os equipamentos para poder concentrar no hospital. Na verdade, todos os bebês de
UTI precisam desse acompanhamento. Não é o reteste das emissões, porque o reteste a gente,
graças a Deus, tem feito de todos. Porventura um ou outro a mãe não volta. Uma coisa que a
gente percebeu no começo é que como o nosso aparelho ele mostra os passos do exame, ele
vai mostrando, o quanto está acontecendo de repro, quanto está acontecendo de sinal / ruído,
então você acompanha o exame. A gente percebia que, às vezes, o bebê quase passava e o
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tempo de análise, de coleta do aparelho terminava e ele considerava falha. E ele chegava
muito próximo, dentro da UTI neo. Então, o que a gente faz hoje? Por isso que é uma coisa
que demora muito, na UTI, porque tem o ruído mesmo e não temos espaço físico. Não é nem
porque a neonatologista não quer, porque o hospital não quer, porque a gente não quer. É
porque não existe um espaço físico que a gente possa, uma salinha conjugada que a gente
possa levar o bercinho do bebê, aquele que está no berçário intermediário para ter alta. Mais
estamos feliz de ter conseguido a demanda livre. Mesmo assim ainda não temos acesso aos
pais. É uma coisa que o hospital está intervindo. Vão mudar os nculos até em relação a nós
mesmo, de pagamento e tudo, Estendo uma transformação para sermos terceirizado, não
receberemos mais via a clínica de otorrino que funciona lá dentro, iremos receber via Hospital
mesmo. Não na nossa área, está tendo uma reforma grande no hospital. Em relação a essas
coisas burocráticas. O hospital já sabe disso e a gente teve reuniões com a diretoria do
hospital, em relação à triagem. A gente expôs essa dificuldade de entrar, de participar do
curso de gestantes, do curso dos pais e o hospital ficou favorável e acredita que tem que ser
feito dessa forma, então a gente está esperando, para que o hospital entre com solicitação para
que as arestas sejam aparadas e para que essa resistência também vá diminuindo com o
tempo.
A Leitura de prontuário ainda é um pouco difícil. Ô letrinha disgramada! Complicado.
A gente foi atrás de literatura para tentar suprir essa coisa de abreviação, mas mesmo assim,
cada serviço tem uma didática diferente para abreviar. É complicado. Ali tem profissionais
muito legais, tem gente que te ajuda, tem enfermeiro, tem fisio, tem neo, não estou
generalizando. que tem peças que acaba atrapalhando. Agora estamos fazendo
levantamento de quantos bebês a gente atendeu, de quantos bebês nascem no hospital, porque
estamos conseguindo ter acesso a isso, uma vez que o hospital agora tomou as nossas dores e
entendeu que não é assim que tem que funcionar, que a gente tem que ter autonomia para
trabalhar, que eu não posso ser cobrada de uma coisa que não está sendo acessível a mim.
Como é que eu vou trabalhar se eu não tenho acesso?
Eu também às vezes desanimo, animo. Não tenho, confesso que não estou o
dedicada. Com a especialização em Neonatologia, eu tenho vontade de fazer a parte de MO
também. Eu não estou como aluna da especialização, estou na coordenação, mas estou
assistindo as aulas. A fono CR. é a coordenadora e ela convidou pessoas para coordenar as
áreas afins. A parte de MO fica a fono CR e a fono JA e a parte de Áudio, eu e a fono C.. Ela
chamou a fono C., e esta me chamou para ajudar no conteúdo programático, os professores
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convidados, a parte de supervisão Clínica. Como nosso conteúdo de triagem é menor.
Dividiu-se X professores convidados para MO e X para Audio e a gente tinha oportunidade de
trazer, pelo número que ficou delegado para gente, muita gente de fora para falar, é outra
experiência. E como a gente vai estar na supervisão, então a gente está passando ali na
clínica o que é experiência nossa. Ficamos com uma disciplina de triagem auditiva, que seria
Triagem II e chamamos os outros profissionais de fora, fono D. para falar de Epidemio e ela
fala um pouco desse contexto de como está a triagem, no país, Elaine para falar de Triagem I,
de potencial evocado a gente chamou a fono F. que trabalha com a fono M.C. e está tendo
uma experiência grande na área com maternidade pública. Na verdade, a outra colega do
Hospital está fazendo o curso como aluna.
Esse curso vai ter prática em duas maternidades. A Maternidade M. aqui em Lauro de
Freitas e a Maternidade A.S. em Cajazeiras são essas duas. Tem algumas outras maternidades
que a gente ofereceu o projeto, mas essas duas estão definidas e como a gente teve um
número maior de alunos do que o esperado, a gente teve trinta e dois alunos e contava com
vinte e oito. Então, a gente espera que um desses projetos saia para podermos ter mais um
hospital para ter a parte prática.
Engraçado que a gente chegou aqui em casa, como não temos o programa
informatizado ainda, porque é caríssimo, (a fono D. até estava falando de um que cruza todos
os dados, você digita láeu quero tal coisa”, ele cruza quantos bebês tem tal e tal e tal fatores
de risco, quantos fizeram reteste, quantos não fizeram, qual que tem que ir atrás, ele já te avisa
tudo. Você paga, se não me engano, ela falou cinco dólares por paciente. Então, não tem
condições de ter um programa desse), quem sabe a gente não se une e monta um sistema de
informação em saúde só para Emissões, ou só o pessoal da área de emissões. Ainda tem muita
coisa no papel. Fizemos um levantamento de tudo que a gente atendeu, na verdade pegamos a
pasta e contamos, mas não casamos os dados, as informações, não montamos isso ainda.
Eu acho que a triagem, ali especificamente, nesse serviço, vai abrir porta pra MO. Tanto que
tem uma fisioterapeuta que conhece minha cunhada que também é fisio, elas estudaram
juntas. Ela estava dizendo, vocês não fazem MO? Porque a gente precisa trazer alguém para
poder fazer esse trabalho. Eu gostaria de falar se isso partisse da Neonatologia. Chame
fulano, vamos montar com fulano, para poder não entrar em atrito, para está falando “ah, está
vendo? As meninas...”. Então eu me resguardei de ficar com a triagem ali, que eu sei que
também existe uma resistência em chamar a fono para fazer o trabalho de MO.
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Eu vou te falar de novo, não são todos da Neonatologia que têm resistência, pode ser
que tenha uma fisio ou outra. Eu lembro que tinha uma, eu dava risada, falava “gente”, eu
comentava com as meninas, “não é possível uma coisa dessas”, a gente chegava pra fazer
triagem, e ela falava “E aí, se o bebê está quieto, se está silencioso, não demora tanto, né?”. O
bebê estava dormindo, ela podia deixar para dar de mamar daqui a pouquinho, mas ela
acordava e ia dar de mamar do seu lado e ainda fica cantando para o menino. Por isso que eu
te falei que muitas vezes quem trabalha com sucção é a fisio. É ela que às vezes dá a
mamadeira para o bebê. Então eu acho que ela, olhava pra gente assim ê, vocês vão querer
mexer aqui”. E a gente... “Pode deixar que na cabeça a gente vai mexer no ouvido”, até
porque eu não tenho uma formação de Fono hospitalar, nem em Neonatologia e não sei
trabalhar com MO.
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Entrevistada 7
Nasci em Dianópolis, Tocantins e me formei em Goiânia, pela Universidade Católica
de Goiânia, em 1993.2.
A minha formação não teve nada em relação à parte hospitalar, mas nada mesmo. A
única experiência que eu tive em âmbito hospitalar foi um estágio extracurricular na área de
fissuras labiopalatais, mas quando formada eu não tive oportunidade de trabalhar nessa área.
Quando eu me mudei para Salvador, foi logo no início de carreira e a oportunidade de
mercado que tive foi na parte de Audiologia Ocupacional, foi a área que eu comecei. Com o
advento tecnológico desses equipamentos, surgiram, as emissões otoacústicas, isso me
chamou a atenção e investi num equipamento e a partir daí tive esse desejo de trabalhar com
os bebês, porque como eu também atuava na área clínica, eu tinha muita dificuldade de fazer
exame de bebês menores. Na clínica, às vezes chegava criança de dois anos pra fazer
audiometria e isso dificultava muito. Então era mais um aparato de diagnóstico que eu iria ter
de apoio na minha clínica. E como é um exame novo, muitos pediatras ainda não estavam
solicitando na época, isso cinco anos atrás. Eu tinha que também fazer valer a compra, o
investimento, desse equipamento, e a maternidade foi o primeiro momento que eu pensei em
estar executando, de forma mais evidente, esse trabalho com criança. O percurso para chegar
até um hospital foi realmente pegar o equipamento, buscar a diretoria do hospital, explicar
sobre o projeto, que até então não tinha dentro da maternidade, diferente de hoje em dia, que
tem vários serviços. Eles receberam a proposta de bom grado, porque o equipamento já
estava comprado. Então isso facilitou demais o acesso ao hospital.
Inicialmente essa idéia foi para o Hospital F.. O que eu percebi é que não havia
fonoaudiólogo dentro do hospital. Nem na parte de triagem auditiva e também na parte de
estimulação, nos bebês prematuros, ou naquela outra parte da Fonoaudiologia também que
lida com afásicos, tudo no hospital. Não até hoje. Então eu comecei realmente com uma
proposta de ir fazer triagem auditiva. O percurso foi plantando sementinha, não havia
cobertura dos convênios para esse teste no início, a gente foi buscando comunicar com cada
convênio, para irem habilitando esse exame. Muitos não aceitaram pagar, a gente teve que
brigar literalmente com os convênios. Outros receberam sem maiores problemas. Por incrível
que pareça, hoje, o convênio do Estado cobre esse exame dentro da maternidade, porém essa
maternidade atende SUS também. Infelizmente a minha proposta da triagem ser universal não
aconteceu, porque nesse hospital em especial setenta por cento dos bebês, aproximadamente,
140
são do SUS. Agora, todo trabalho de orientação é feito, para quem é SUS, para quem é
convênio, para quem é particular, eles saem com o pedido de exame. Tem uma estagiária que
vai, explica toda a questão da importância desse diagnóstico precoce, do desenvolvimento de
linguagem e da audição na criança, mas a meta seria fazer universal, continua sendo, porém
ainda não acontece até então.
A gente faz todos os bebês de convênio, os que cobrem, exceto dois convênios que
ainda não estão cobrindo e que o hospital é credenciado, que é grande parte dos convênios. Os
particulares todos, porque está incluso no pacote do hospital. Mas setenta por cento dos
bebês nascidos são SUS. Eu diria que a gente consegue cobrir trinta por cento. Porque eu
fiz esses cálculos, aproximadamente entre, quarenta, trinta e cinco por cento, às vezes trinta,
depende do mês.
Tem gente do SUS que também faz, mas eles fazem após a alta. Como eles recebem
toda a orientação, muitos buscam serviços que façam fora da maternidade e a gente tem um
serviço logo em frente ao hospital, com um preço extremamente acessível para tentar cobrir
essa população, que, quem chega lá, desses SUS, é normalmente vinte por cento. Eu não
sei se eles buscam outros lugares, a gente não tem como controlar isso, mas a gente consegue
pegar parte deles na clínica, poucos, mas dá para pegar alguns.
Inicialmente, não montei projeto, o contato foi verbal. É até diferente a forma que
aconteceu, mas foi assim. Eu cheguei com o equipamento, marquei uma reunião com a
Diretoria do hospital, coincidentemente uma neonatologista me conhecia, isso facilitou
realmente a minha entrada no hospital, ela comprou a idéia, me ajudou no convencimento da
gerência, e foi tudo muito rápido. Começou bem devagar, porque tinha que esperar esses
convênios se posicionarem em relação ao exame e tudo foi acontecendo. Hoje, a gente
consegue fazer bastante exame dentro, exceto essa questão do SUS, que foi solicitado,
documentalmente, pela gerência do hospital, por toda a equipe de neo e com minha assinatura
também, mais foi negado, por falta de verba, segundo a Secretaria de Saúde de Salvador.
Na Maternidade C., fiquei de voluntária por um tempo. Foi uma idéia de fazer um
trabalho voluntário que foi muito bom enquanto durou, porque chegou uma hora que não
deu mais para disponibilizar o equipamento. Era feito semanalmente, uma vez por semana, o
que é muito pouco pela demanda de nascimentos da maternidade, era às quintas-feiras. Eu não
sei totalizar, mas fizemos bastantes exames. Eu tinha o cuidado também de encaminhar os
retestes para minha clínica particular, para essas crianças não ficarem sem o fechamento do
resultado.
141
Entrei lá também sem projeto. Na verdade, tinha uma idéia do serviço, de como
montar um serviço, a gente tinha formatado isso na conversa inicial com o diretor do hospital,
que também aceitou. Ele não pediu nenhum projeto escrito. Ele aceitou a idéia e a gente
começou na semana seguinte, porque o aparato de exame é portátil, precisava de uma sala.
Essa sala, na Maternidade C., foi muito complicado de conseguir, por questões de
disponibilidade mesmo, da maternidade, não ter salas disponíveis. Então a gente mudou
várias vezes de locais, fazia em salas vazias, nem tão apropriadas por causa do ruído nesse
local, mas a gente sempre dava um jeito, mudava, pegava um cantinho de alguma outra sala.
E foi acontecendo, meio aos trancos e barrancos. De um meio para o fim a gente tinha a
sala certa, numa condição melhor e as coisas andaram melhor. Escolhi esses hospitais pela
demanda de paciente, e principalmente por eles serem mesmo de baixa renda, são hospitais
mais populares, digamos assim. Porque a minha idéia era fazer o maior número de bebês. Os
hospitais particulares normalmente têm o serviço, são de determinados colegas, que são
responsáveis pelo serviço e esse estava mais aberto, porque não tinha o serviço ambulatorial
junto do hospital. Então era uma maternidade aberta. Ficou mais fácil entrar.
Na verdade, a construção do conhecimento para atuar com bebês foi técnica, prática.
Eu fiz estágio com duas profissionais muito gabaritadas na área, que foram as fonoaudiólogas
M.C. e F., em São Paulo. Elas são hoje duas profissionais extremamente inteiradas de toda a
parte de diagnóstico diferencial em bebês, com alta tecnologia, em relação a emissões, BERA,
e hoje, elas estão fazendo os testes todos. Realmente foi um custo altíssimo porque eu tive
que, de forma particular, investir nesse conhecimento. Eu senti dificuldade em Salvador
também de ter pessoas para me treinar ou de ter faculdades que oferecessem algum curso.
Nessa ocasião eu tive realmente que ir pra São Paulo, fiquei um mês, fiquei observando e
praticando com essas profissionais. Tanto na parte hospitalar, dentro do Hospital L., quanto
na parte clínica, no consultório delas. Foi um investimento que valeu a pena, porque eu acho
que toda pessoa que trabalha tem que investir. Eu tenho especialização na área de Audiologia,
geral, onde existiam disciplinas que falavam sobre esse assunto, mas não tão direcionado
assim. Uma disciplina de Fonoaudiologia Hospitalar, não, eram módulos, que muitos tinham a
ver com a parte de atendimento hospitalar, tipo emissões otoacústicas, BERA, avaliação
audiológica infantil, mas não um curso totalmente centralizado para hospitalar. Eu acho que
essa formação específica para Fonoaudiologia Hospitalar é maravilhosa. Eu acho que a
perspectiva é excelente de entrada dos profissionais nos hospitais, porque eu acredito que não
havia fono nos hospitais também porque não tinha esse profissional disponível no mercado,
142
mas hoje, com as faculdades, isso melhorou muito. A gente vai ter que lutar pelo espaço,
porque outros profissionais, principalmente os fisioterapeutas, já pegaram muitos serviços por
conta de não ter fonoaudiólogo, nas áreas hospitalares, principalmente de estimulação, essa
parte de deglutição. Então o que eu acho é que a perspectiva é ótima, tem mercado. Acredito
que, com o tempo, essa formação específica que os fonoaudiólogos estão tendo na área, vai
justificar algum projeto que uma Diretoria vai reconhecer melhor, por ser um profissional
mais especializado. Eu acho que é uma boa perspectiva. Inclusive na Maternidade F, os
próprios neonatologistas, sabendo que tem um fonoaudiólogo lá dentro, mesmo fazendo
triagem auditiva, já solicita, “Avalie esse bebê pra mim”, na outra parte de estimulação de
sucção. E como eu estou com alguns estagiários dentro, a gente está fazendo um trabalho
voluntário na parte de amamentação, de estimulação. Eu não especificamente, que eu não
tenho experiência nessa área, mas têm fonoaudiólogos que estão fazendo cursos aqui em
Salvador, e que estão atuando, inicialmente de forma voluntária, mas a gente pretende fazer
um projeto formalizado para começar esse trabalho dentro e eu tenho certeza que vai dar
certo. É uma questão de tempo e de convencimento. Inicialmente essa área de estimulação
de sucção ainda é um trabalho não tão formatado, as pessoas estão lá, os pediatras, os
neonatologistas chamam as meninas. A gente já está fazendo presença nessa área dentro do
hospital. Agora a gente vai formatar um projeto para o diretor, também tentando ver a
cobertura desses procedimentos para os profissionais que vão estar atuando lá dentro. Mas
está tendo um retorno muito bom. Elas já pedem que o fonoaudiólogo vá atender esses bebês.
Na parte de triagem auditiva, o bebê nasce e automaticamente a gente gera uma
solicitação de exame que fica na prancheta dos bebês, com um folder ilustrativo da
importância do exame. Os bebês que vão para o berçário comum, que descem para o quarto
da mãe, digamos assim, a gente faz o contato direto, vai no quarto e faz o exame no quarto e
conversa com a mãe. Os bebês no SUS que não tem essa possibilidade de está atendendo
dentro da maternidade por falta de cobertura, vai uma estagiária, explica o porquê daquela
solicitação e a importância de se fazer esse exame. E que tem serviços inclusive que são
gratuitos, explica também, que o Centro Médico faz um preço melhor e que tem outros
serviços. A gente deixa bem à vontade para mãe fazer. A gente tem total liberdade para
chegar e falar com a família diretamente. Agora muitos neonatologistas, na alta, independente
de quem seja, de convênio, particular ou SUS, eles também falam da importância do teste do
pezinho, reforçam a questão do teste auditivo. Eu não sei em que proporção e como isso é
feito, mas várias vezes, eu vejo os neonatologistas pertinho da alta conversando com a família
143
sobre a importância dos exames, incluindo a triagem. Eles sempre falam, essa mãe é
orientada, eu acredito, que pelo menos três a quatro vezes antes de sair do hospital. De alguma
forma as enfermeiras também falam, muitas perguntam do endereço, a enfermeira explica,
então eles realmente recebem a orientação. Existem muitos bebês que não passam na triagem.
Infelizmente a questão do vérnix atrapalha muito quando você trabalha dentro de uma
maternidade. Eu tenho a sorte de ter um equipamento que tem tanto as emissões transientes,
quanto por produto de distorção. Então a gente sempre tenta fazer as transientes, falhando a
gente vai para produto de distorção. E se ainda falhar antes da alta, dentro da maternidade,
o protocolo é pedir para voltar e repetir uma semana depois da alta, porque deu tempo do
vérnix sair e a gente pede esse retorno no Centro Médico, sem custo, pois isso foi cobrado
no hospital. O retorno, ele sempre acontece. Quase sempre. Eu acredito que noventa por
cento, noventa e cinco por cento voltam, porque a gente explica que nesse primeiro momento
a criança pode falhar em função do vérnix, explica antes de fazer o exame, que é para baixar a
expectativa da mãe. A gente sempre teve esse cuidado. “Esse exame para fazer logo que o
bebê nasce, mas como ainda pode ter vérnix, tem bebê que tem mais, tem bebê que tem
menos, se falhar a senhora não vai ficar preocupada, isso acontece, tem que retestar com uma
semana”. E se o bebê falhar no reteste, sem estar associado a um quadro gripal, ou de refluxo,
a gente manda para o BERA.
Primeiro a gente sempre procura, antes do BERA, passar pelo otorrino, porque às
vezes podem estar com alguma alteração de orelha média. No dia do retorno, depois do
otorrino, a gente está com os dois equipamentos disponíveis. Se fizer a emissão e passar,
desde que o bebê não tenha indicador de risco, muitas vezes a gente nem parte para o BERA,
se deu a emissão normal, mas, se o bebê tiver indicador de risco, mesmo passando a gente
sempre orienta a importância do BERA também. Muitos já fazem e outros preferem remarcar,
voltar para fazer o BERA, porém muitos não o fazem, o que é uma pena. Temos equipamento
disponível, para fazer os dois exames. Os bebês de risco no hospital, mesmo fazendo as
emissões, passando, com qualquer indicador de risco auditivo, ele é formalmente orientado a
realizar BERA, em termos escritos, está escrito no laudo das emissões, “Passou na triagem
auditiva, porém faz-se necessário realização do BERA para afastar alteração retrococlear”. A
gente orienta todos, quer seja SUS, convênio ou particular. Muitos não voltam para fazer o
BERA.
Atualmente as pessoas que trabalham comigo são todos formadas em Salvador. Uma
profissional é da Universidade E, e outra é da B. A estagiária, ela é voluntária. Não tem
144
profissional voluntário não. Exceto essa profissional que já atua com triagem, que está
tendo formação na área hospitalar, pois está fazendo especialização e se dedica a isso, e
começou a fazer um trabalho paralelo com a triagem. Como ela vai para fazer triagem, as
médicas começaram a convidá-la pra atuar nessa parte de estimulação e ela tomou gosto pela
coisa. Ela quer fazer disso um projeto formal, onde os convênios vão ter que pagar por isso,
mas por enquanto elas estão como voluntárias por uma questão de organização interna, até
fazer com que os convênios aceitem essa cobrança. O caminho é tornar um projeto dentro,
com cobranças, com devolutivas, de uma coisa mais formatada, mais organizada.
Infelizmente no Hospital F. ainda não é Amigo da Criança. Essa fono está buscando
fazer com que seja, pois não tinha esse profissional lá dentro para estar formando essa opinião
entre os médicos. Apesar dos neonatologistas de serem muito abertos, eles é que pediram
socorro, eles estão nesse momento de comparar outras maternidades que eles trabalham e
dizer que nas outras são assim, que queria muito que no hospital fosse igual, eles têm boas
intenções.
Lá não tem um serviço de acompanhamento dos bebês, um follow up, porque nasce na
maternidade, recebem alta e vão embora. Não tem um serviço ambulatorial, posterior, não.
é uma maternidade e só, tanto que quando o bebezinho sai, os bebês prematuros, eles indicam
para “procurar o pediatra” e fazem uma orientação muito precisa. Exatamente por não ter essa
volta dessa criança para o hospital.
O atendimento da fonoaudiologia no F. é dia sim, dia não, porque dá para controlar os
nascimentos pegando o bebê pertinho da alta por causa do vérnix. Não adianta ir todo dia.
A maternidade tem uns, aproximadamente, quatrocentos a quinhentos nascimentos mês, mas
desse total, setenta por cento é do SUS. A demanda de exames, você indo dia sim, dia não,
para o fonoaudiólogo que faz um particular e convênio é em torno de dez bebês por turno.
Agora tem um projeto, segundo o hospital, que vai ter cobertura do SUS. Quando isso
acontecer, eu espero que aconteça o quanto antes, tem que ter fono sempre, porque bebê
nasce toda hora. Eu acredito que vá até precisar de mais profissionais.
Nós somos terceirizados. Não há vínculo algum, empregatício com o hospital. O
hospital é uma empresa e a minha empresa presta serviço para o hospital, com nota fiscal,
com tudo documentado. O hospital retém um percentual de administração, e repassa para
minha empresa determinada porcentagem. As fonoaudiólogas também prestam serviço
comigo e tem pessoa jurídica também. É uma relação de empresa, para empresa, para
empresa. Quarteirização, infelizmente, imposto sobre imposto, sobre imposto.
145
Eu acho que as duas áreas têm perspectiva para atuação. Não tem como separar. A
atuação do fonoaudiólogo dentro do hospital pode ter começado pela triagem, mas é uma
ótima forma de mostrar para que viemos, tanto é, que nessa minha experiência, os próprios
neonatologistas começaram a convidar as meninas para fazerem mais coisas, tem uma
referência, tem um fonoaudiólogo dentro, um médico chama para fazer uma avaliação de
uma afasia, isso tudo eu vejo que tem movimentado muito. Eu acho que a porta de entrada
pode ter sido a triagem. é hospital geral, e chamam para atender a pacientes adultos
também. Como essa colega que trabalha comigo tem esse conhecimento e tem um pouco de
experiência, ela também começou pouco tempo esse trabalho. Veio a calhar porque agora
ela pode avaliar um afásico no hospital, coisa que eu não fazia porque eu não tenho
conhecimento e não é a minha praia. Minha área é a Audiologia e ponto. Não tenho interesse
de me meter nessa área. Acaba sendo da área um pouco hospitalar pela triagem, mas esse
perfil de atendimento, ao paciente afásico, a questão da sucção dos bebês, eu não domino e
não tenho interesse, mas acho que é importante está sabendo lidar com bebês, isso tudo eu
tive que ir lidar para aprender, porque a gente tem que saber mesmo na triagem, como se
portar com o bebê prematuro, ano manuseio, toda, essa parte... Na minha experiência, eu
tive que buscar com profissionais.
Leitura de prontuário não foi uma tarefa fácil. A gente foi jogado dentro de um
hospital, não tivemos esse conhecimento que eu acho que é importantíssimo no curso,
trabalhar, lidar com médicos que pegam um prontuário, escrevem o que querem e somem com
o prontuário, a gente precisa escrever no prontuário, tem folhas específicas para os exames,
tem folhas específicas para Enfermagem, tem folhas específicas para o médico que atende a
mãe do bebê, é muito complicado. A gente teve que aprender aprendendo. Erramos muito, de
anotar coisa aonde não devia. Hoje a gente aprendeu, mais pela prática. Nós atendemos
com o protocolo do GATANU, o mais específico do serviço. É o protocolo do GATANU e
internamente a gente tem a nossa rotina, que pode mudar.
Eu sigo o protocolo do GATANU, onde nos bebês, sem indicadores de risco fazem
emissões ou BERA, com reflexo cócleo-palpebral. Eu não sou muito do reflexo cócleo-
palpebral, opinião pessoal. Não tenho nada contra quem colocou isso no protocolo, mas na
minha opinião, em um primeiro momento ele pode até ser um veículo de teste, mas é sempre
bom ter o BERA para uma investigação maior. Na minha experiência tem bebês que falham
no reflexo dentro da maternidade e que no reteste têm um reflexo ótimo. Eu acho muito
discrepante algumas vezes as respostas do reflexo. Muitos não tinham reflexo e faz o BERA e
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o BERA é maravilhoso. Acontece de tudo. Então como a gente está trabalhando com
eletrofisiologia e hoje a gente tem equipamentos para o ideal, na minha opinião, as emissões e
BERA, nos casos de dúvida. Agora a questão da avaliação comportamental. Eu acho a
comportamental ainda válido, mas para as crianças maiores, em torno de seis meses. Eu
sempre procuro, mesmo passando nas emissões, os bebês que retornam, principalmente os
bebês de risco, eles vão voltar para fazer novas avaliações, a comportamental eu acho
fundamental, nesse momento, mas não como meio de triagem, por falta da sensibilidade
mesmo do teste comportamental, agora como mecanismo de acompanhamento, eu acho
extremamente válido, tanto é que eu uso na minha clínica, tenho o kit, tudo para fazer.
No Hospital F., não temos um protocolo da fono, mas tem a folha de exames, onde
o raio X anota, o laboratório anota, que a fono também anota. A gente tem uns carimbos
também, que a gente pode colocar na solicitação se foi realizado ou não, no livrinho do
bebê se passou ou não, que equipamento que foi usado. Aí estão algumas rotinas fora
prontuário. E o que eu acho mais difícil no hospital é a movimentação dentro do hospital. É
muita gente que pega em tudo, é um problema de comunicação enorme. Porque às vezes você
faz o exame em um bebê, tentou pegar o prontuário para escrever que aquele bebê não passou
em função do vérnix e você não consegue anotar, e daqui a pouco ligam do hospital
perguntando se você já fez ou não o exame daquele bebê. A logística hospitalar é complicada,
você lida com muitas pessoas, com muitos setores. Às vezes você trabalha, faz o exame,
escreve no prontuário e a fatura esquece de cobrar, o que você trabalhou. Não, tem que pensar
em tudo, então você trabalha em cadeia, a harmonia entre as pessoas do hospital é
fundamental. A cobrança de todo procedimento hospitalar é feita pelo hospital. O nosso
trabalho é atender e documentar, mas muitas vezes a gente faz isso e o setor de fatura não
cobra e você fica sem receber.
Sempre o bebezinho da F., quando sai da UTI, eles vão pro BO e é que fazemos a
triagem. BO é um berçário de observação que vai logo em seguida ter alta, alguma coisa
assim, porque na UTI mesmo, o ruído é intenso, não pra fazer. Não sala específica
para realização do exame. Uma das coisas que facilitou a entrada no hospital foi não ter taxa
de sala. Então a gente convenceu a Diretoria que a gente ia atuar no espaço físico que a mãe
está, no caso do berçário comum, no quarto, ou dentro da UTI ou dentro do BO. Então o que é
que a gente faz? A gente tem que fazer algumas coisas para dar conta disso. Vai no quarto,
não tem condições de fazer? Pede os acompanhantes para sair, desliga o ar condicionado e
você cria a condição. Isso realmente acontece. Nessa maternidade ainda tem um agravante
147
que tem enfermarias conjuntas, que fica duas, três mães no mesmo quarto. Mesmo de
convênio. Então o bebê chora, você está fazendo o exame no outro bebê. A gente realmente
tem que ter uma relação excelente com as enfermeiras, de pegar o bebê e tirar aquele que está
chorando, mas é administrável, para você fazer. Até porque se você não tiver condições de
fazer, o equipamento não faz.
Eu acho que a Fonoaudiologia cresceu muito, em todas as áreas isso é visível. Eu vejo
que a cada momento as áreas ficam mais específicas e a Fonoaudiologia Hospitalar é uma
dessas áreas, que tem crescido muito. Nessa área de triagem, aqui na Bahia, o que ainda peca
muito é essa não cobertura pelo SUS, para dar oportunidade da gente estar fazendo a massa da
população. Então eu acho que não sou eu que devo ter essa opinião. A esperança é que
tenha algum projeto de lei que obrigue as maternidades a realizarem o exame do teste da
orelhinha, pois isso vai dar oportunidade de trabalho para muito profissional, vai dar
oportunidade da gente está diagnosticando com veemência esses bebês, porque sabemos que
pode ter bebês sem indicadores de risco, estar no berçário comum e ter uma surdez. A cada
dia isso é comprovado. Acho que a perspectiva para essa área é muito grande.
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Entrevistada 8
Nasci em Guaratinguetá, estado de São Paulo, me formei na Universidade Estácio de
Sá, no Rio de Janeiro, em 1987. Vão fazer 20 anos.
A implantação de serviço, praticamente não houve. Eram serviços isolados que
éramos chamadas, tanto eu como a fisioterapeuta, para poder dar uma assistência ao bebê que
estava com dificuldade de alimentação. Em primeira instância foi dessa forma, foi uma
questão alimentar, que é uma questão de sobrevida da criança. Então nós estávamos atuando
dentro das maternidades por conta dessas questões, a retirada de sondas, bebês com
formação, que precisava se alimentar. Nós não tínhamos o que temos hoje de recursos para
um atendimento em disfagia, tanto que nem disfagia chamava, era problema de deglutição,
uma coisa assim, e nas tentativas, de erros, e acertos e traduções... É incrível porque nós não
tínhamos nada documentado. A fonoaudiologia, nessa época, muitos anos, era
extremamente oralista, um aprendia, dizia pra o outro: “Ó, eu estou fazendo assim, está dando
certo, não sei que...”. As chupetas que nós usávamos para poder estimular o bebê, trabalhar,
era eu quem fazia porque nós não tínhamos condição de comprar os bicos importados, até
porque não tinha essa questão da globalização, não se tinha facilidade com os importados.
Quando algum amigo, alguém viajava, é que nós conseguíamos. Não existiam lojas de
importados naquela época. Todo bebê pegava uma chupetinha da pró-fono ou então o
biquinho da Lillo recortava, era extremamente artesanal, porque nós acreditávamos nisso, de
que tinha que dar uma estimulação adequada, com o recurso adequado, não era ir lá e fazer
uma massagem no bebê. Isso desenvolveu algumas atitudes nossas, profissionais hoje em dia,
o que você fazia em cima dos reflexos, o que hoje você faz em cima da funcionalidade, qual
tônus que nós obtivemos em cima dessa fonoaudiologia tradicional, de massagem, e o retorno
da fonoaudiologia funcional, mas como que foi desenvolvendo isso? Nós tínhamos muitos
trabalhos escritos da S.M., da H. M.... Então eram assim, escritos dentro de uma
fonoaudiologia, até 1992. A partir da 1992, que teve a chegada da R. ao Brasil, R. V. ela é Sul
Africana. Isso mudou a cara da fonoaudiologia aqui no Brasil, pessoas que falam hoje da
motricidade oral, eles escreviam em cima da paralisia cerebral, em cima do que a H. M.
desenvolveu, em cima do que a S. M. desenvolveu também, mas como nós tínhamos acesso a
esses livros? Juntávamos grupos de fonoaudiólogos, pagávamos a tradução, porque nós não
tínhamos inglês o suficiente para poder traduzir, era uma no Ceará, outra em São Paulo, outra
em Belo Horizonte, fazia uma cota, e pagávamos... Eu ainda tenho tudo escrito, tudo
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guardado, tudo manual, muita coisa em máquina de escrever ainda, coisa à mão e era desse
jeito. Nós fomos assim, desenvolvendo algumas coisas, com a ajuda de um, de outro. Agora a
formação básica, assim que me formei, eu fui buscar o Bobath, porque eu acho que a boca
está dentro de um corpo, a boca só é resultado de uma série de desorganizações globais. Então
você tem (problemas com a biomecânica) um pouquinho de biomecânica, na estrutura de
músculo esquelético, tendo que saber de desenvolvimento, e principalmente saber de
desenvolvimento sensorial. A parte da integridade sensorial, toda a parte de estímulo visual,
gustativo, auditiva, e as habilidades, as probabilidades, as possibilidades táteis, porque isso
vai ajudar a parte motora oral do bebê. E aí eu fui buscando! Eu fiz o Bobath, o Baby Course,
fiz todas as reciclagens, eu fui para África para poder fazer algumas outras formações, tudo
em cima do Bobath, sempre, sempre ligado às questões de organização da pessoa, com
deficiência motora, e sempre direcionando para o que faltava no bebê. Então fiz o Baby
Course, e o curso básico do Bobath, duas vezes, para poder melhorar o manuseio, melhorar
minha visão. Paralelamente a isso eu ia fazendo cursos de desenvolvimento cognitivo, que eu
acho imprescindível. Toda a formação para estímulo sensorial, sendo meu carro chefe hoje,
muito mais ligado à parte visual... Lógico! Tenho trabalhado muito em cima da parte auditiva,
estudado bastante psicoacústica, mas sempre direcionado ao visual. Tem muitas crianças
cegas, e como nós recebemos bebês com síndromes, principalmente com síndrome de Down,
síndromes cognitivas, então tem que estar desde o berço, sabendo quais serão as necessidades
cognitivas dessa criança. Como você sai de uma situação que é estrutural, de músculo-
esquelético, que é extremamente objetivo e vai para o subjetivo? Coisas que você não vê, mas
que tem que saber de cor e salteado.
Em 1993, quando começou a conhecer a neurociência, porque era tudo assim, fazia
dava certo, anotava, e tocava?, errava, em pouco tempo também, a gente não tinha um preparo
emocional. Tínhamos muitas coisas, trabalhar com bebê é a coisa mais difícil. E o meu grande
impulso e ao mesmo tempo o que me jogou no chão, foi no dia que a M.M., que é uma
instrutora do Bobath, extremamente conceituada, eu estava fazendo uma reciclagem, isso em
1992 precisamente, ela me deu um bebê na mão, de 4 meses e perguntou, qual a profissão que
você daria a esse? Eu respirei; “Essa mulher está querendo me ridicularizar, aqui na frente”.
Mas aquela pergunta não me calou, por isso que eu estou trabalhando hoje com adultos,
porque nós sabemos que aquelas crianças, que eu trabalhei pequenos, eles estavam crescendo.
Então, quais eram as necessidades? Eu atendia as necessidades básicas, que é o que:
sobrevivência, alimentação. Dentro da alimentação, eu fui desenvolvendo outros e outros
150
conhecimentos, outras necessidades, que vinham. Eu tive uma menininha com 1 ano e 2
meses, cega, com paralisia cerebral, que eu comecei a dar oportunidade para ela comer
sozinha. As implicações da alimentação que nós construímos em termos de motricidade oral,
me capacitava a tomar essa atitude. Peguei o garfinho, e fui dando para ela comer, porque ela
já estava bem motoramente. A mãe me falou assim: “Não basta ser cega, vai ter que ser com o
olho furado?”. E o quanto ela comeu. Aí ela foi compreender o que era estabilidade de
escápula, o que era cognição, abrir e fechar a boca, o que era independência. Eu falei com ela:
mas isso eu fiz desde o primeiro dia, desde o décimo dia que você me chamou, eu já estava
preparada para isso. Do momento que eu colocava o Braile na mamadeirinha dela, eu
estava dando toda uma estimulação tátil, quando eu a ajudava a comer sozinha os primeiros
pãezinhos, os primeiros ossinhos de galinha, eu já estava contando com isso. Você vai
pegando a mão do bebê, você vai dando mesmo ali a independência, você une isso a questões
escolares, como é que eu pego no lápis, como é que eu pego na tesoura, e onde é que eu
aprendi isso? Na alimentação. Então, por isso que é importante nós sabermos o que estamos
fazendo, e para onde nós vamos. As mães já têm que sair com uma visão futura das
necessidades do bebê, por que são os bebês que requerem maiores cuidados, são bebês
extremamente, cheios disso, daquilo, de não sei o que, Traumatizados, bebês que tem um
registro sensorial, muito conturbado. A mãe, vem muito melindrosa, ela vai postergando
muitas atitudes que seriam daquele momento do desenvolvimento, porque foi um bebê que
exigiu tantos cuidados, que vai atrasando, ela tem que sair da maternidade, e o profissional
que atende o bebê, não pode ficar ali, ele tem que saber: essa intervenção que eu estou
fazendo vai ter repercussão aonde? Como é que é?” Por que quem trabalha com audição, sabe
a importância do som, das palavras, das coisas, nos 10 primeiros dias, que é a entrada da
informação, os neurônios que ele tem que passar, para nós também, a questão da boca, como é
que percebe, como é que a mão capta as informações, então o que vai fazer, o impacto disso a
médio e a longo prazo. Mexer com bebê foi muito uma escola, não tinha com quem trocar
informações, um grande desafio, porque você pensava assim: “Onde vai dar isso?”
A L. é uma fisioterapeuta, que nós, crescemos juntas. Agora que ela foi trabalhar, não quer
mais trabalhar comigo, quer trabalhar com clínica de estética. Nós trabalhamos juntas na
Maternidade T., no Hospital S.A., Hospital S., Maternidade C., tantos lugares. Uma pessoa
que me chamava muito para trabalhar com os bebês era Dra N. da Maternidade T.. Ela é
pediatra, neonatologista. O Dr. J.A. também tem uma importância muito grande. Ele ganhou
um premio da UNICEF por fazer uma UTI com baixa tecnologia e baixo custo. Ele tem uma
151
importância muito grande e não é reconhecido por isso. Então, J.A., N., sempre alguém me
pedia, não tinha isso de dizer que nós ganhávamos em cima disso, o! Não chegamos a
estruturar um serviço nessas maternidades, mas as pessoas estruturaram em cima do que nós
fazíamos, porque eu sempre fui muito desprendida, das coisas, o que tinha que fazer, olha
aqui, isso aqui, vai organizar, o que é importante para um bebê, o que é importante para uma
mãe, o que eles vão aprender com a amamentação, me deixa ver, então eu acho que foi em
cima disso. Outra coisa que eu acho que foi um marco importante, a virada das questões de
atender um bebê com sonda, e introduzir os conceitos sobre o que fazer dentro da disfagia.
Isso marcou muito o atendimento neonatal, porque antes nós trabalhávamos em cima de
necessidades musculares e alimentares. Nós não trabalhávamos em cima de intercorrências! O
que pode estar acontecendo? Por que ele não está comendo? O que é anatômico, o que é
funcional. Tinha algum instrumento, pelo amor de Deus? O que nós aprendemos de ausculta,
eu não sabia nem onde colocar o estetoscópio! E pega aqui, ali e fui aprendendo, vai um, vai
outro, vai uma coisa, imagina quantas crianças que nós não pudemos ajudar, e não é porque a
gente tinha boa vontade, mas boa vontade não era suficiente! Depois, que as pessoas
começaram a fazer no Brasil, quem foi que trouxe tudo isso? Foi a E.! Trouxe várias vezes, a
E. aqui para Bahia. Eu não me contentava em não saber, eu tirava do bolso! Eu ia fazer
supervisão em São Paulo de manhã para voltar de tarde, você não tem idéia! Cansei... A gente
achava que Paralisia Cerebral não engole, porque a baba, não sei o que... nada! Disfágico,
coitadinho, mas até descobrir! Até nós compreendermos! Até sair daquela avaliação clínica,
para ir para algo mais importante no diagnóstico mesmo, com exames, foi um salto! E isso
mudou muito a qualidade, as microaspirações, a gente não sabia como é que avaliava! Meu
Deus! Como que você sabia que o bebê tinha esofagite? A gente sabia pelas reações, não
tínhamos um exame, pois quem era o gastro que trabalhava com bebê aqui no Brasil? ia a
gente com a maior cara de pau... “O cara nem conhece a gente, mas não tem importância a
gente liga para ele assim mesmo... Olha, estou com um caso assim, assim, assado”. Nós temos
um professor, em Campinas, o Dr. A.P., que eu nem conhecia. Ele é o bam bam bam hoje,
em avaliar, fazer videofluor em bebê. Eu trouxe ele aqui para casa de um paciente meu,
para vê-lo. Ele disse que nunca viu uma pessoa tão ousada! Eu liguei para ele e falei: “Eu
tenho um paciente assim, assim, assado, a gente não tem recurso, a família também não tem,
mas podemos pagar a sua passagem, e eu não sei quanto o senhor cobraria, mas para o
senhor ficar num hotel ou na minha casa, o senhor pode escolher...”. Eu consegui outra pessoa
152
para dividir a passagem, a família é simples! Ele falou: “Eu já estou indo! Nunca ninguém me
fez um convite desses na vida!”. Era desse jeito!
Quando preciso do exame peço para irem a São Paulo, para Recife, faz no Hospital das
Clínicas, da AACD. Eu tenho muito contato com as meninas da AACD, encaminho para lá.
Então, ainda não temos, isso é um atraso. Uma capital, com o volume de Salvador, com a
população que nós temos. Salvador tem muita coisa boa, muita coisa legal, o que nós o
temos é volume de paciente ainda o suficiente para gente estar podendo escrever mais coisas,
mas já tem muita coisa aqui!
O mercado tem porta aberta para a aceitação dos novos recém formados em Salvador. As
pessoas têm que ter uma visão mais macro da situação e da atuação. Você quer ganhar
dinheiro, você quer colaborar com a população, você quer desenvolver pesquisa, qual o seu
perfil? O que deseja como profissional e como pessoa? Porque quem vai pra uma área dessas,
tem que ter clareza. Isso é uma profissão que ajuda a melhorar a vida das pessoas, geralmente
as pessoas que tem essas coisas na vida, essas mazelas, são pessoas pobres! Porque não
tiveram acesso à educação, à vacinação, ao social, a todas as coisas! A uma boa condição
financeira, a uma boa alimentação, então, eles estão propensos a ter uma deficiência assim.
Nós sabemos disso desde o primeiro dia, ninguém está iludido! Eu peguei muito estudante
falando: “Ah, mas eu tinha outra visão!”, pois é, comigo eu nunca vou enganar ninguém,
desde o primeiro dia eu vou contar o que é! Agora, têm profissionais e profissionais! Depende
do que as pessoas querem!
Voltando às questões do exame, do diagnóstico, eu acho que infelizmente o diagnóstico, ou
felizmente, é de suma importância porque vai depender dele a sua conduta profissional! O que
é uma disfagia orofaríngea e/ou esofágica? O que é que você tem? Você tem que está ali, você
tem que ver qual é o percurso, como é que o líquido está passando, o que é que está
acontecendo, saber o que é um refluxo, o que é uma passagem, como é que está a parte
motora, parte muscular, tem que ter exames! Isso foi quando nós não nhamos! Hoje nós
temos que lutar por isso, para que faça o tratamento adequado, e não fique em cima do
diagnóstico clínico! É direito do paciente, porque nós estamos trabalhando com vida, e com
uma situação em que o nosso paciente vai a óbito! Quando nós víamos que o paciente estava
ficando roxo, com febre, eram estes os dados clínicos que usávamos como parâmetro, muito
importantes. Isso ainda é relevante, mas a gente tem que lutar, para termos exames e nos
defender de qualquer situação! Para defender a vida do paciente! Temos que ter esses dados!
153
Nos cursos de São Paulo Os daqui a fonoaudiologia na época, 20 anos, tinha a S.H., que
tinha o Bobath, e eu! Duas pessoas! E tinha uma credibilidade grande, porque o Bobath tem a
parte de fonoaudiologia, que um embasamento. E mais ou menos, de uns 10 anos pra cá,
nós temos estudado muito a biomecânica. Não se tinha o embasamento biomecânico que tem
hoje não! Tudo parecia uma mágica. Você fazia o manuseio e o paciente se modificava, e eu
era a ovelha negra do Bobath, porque eu não aceitava aquelas respostas! Por isso que eu
busquei a neurociência, falei gente, não é possível! Alguma coisa tem, tem que ter alguma
coisa! Fui buscando, e eu não perdia nenhum curso, de biomecânica, estava eu, fiz o
Hemiplegia do adulto. Acho que eu fui uma das primeiras fonos a fazer o curso de
Hemiplegia adulto, por que era pra fisio! Todas as reciclagens eram fisio, e
fonoaudióloga só tinha eu, somente eu.
Na época da faculdade, a fonoaudiologia exercida era extremamente mecanicista! E uma coisa
que eu acho que a universidade ainda peca, que os alunos não sabem diferenciar função de
atividade. Isso é impressionante! Então são coisas assim que eu falo, que nós temos que
perceber, que nós temos que falar claramente, mostrar o que é uma função o que é que está
escrito nos livros do Dr. D.. Então vamos ler mais. Quais as atividades que proporcionam
que é importante para essa função? É isso que peca, porque quando se fala em atividade,
requer desprendimento do profissional! Ele tem medo de está formando um concorrente! E ele
não está pensando em formar uma pessoa consciente! Então ele tem mil dicas e não passa!
Essa é a queixa e a mágoa dos alunos. É a vez de estar repensando isso, porque nós estamos
colocando no mercado de trabalho, pessoas que vão cuidar de outras pessoas, que para nós é
importante! São as crianças do nosso país! Eu sempre falo para meus alunos: vocês têm que
ser igual ou melhor que eu. Então nós temos que mostrar isso, o que se faz dentro de uma
maternidade, com um bebê. Quais são as possibilidades, os riscos, os compromissos, como é
que aprende a ver o que é saturação, o que está acontecendo, dar subsídios para eles, não pode
deixá-los, porque fica com medo “ah vai tomar meu lugar!”.
Isso vem muito da comunicação. O que uma criança vai fazer, a partir do momento que eu
desenvolvi toda a neurofisiologia da alimentação, o que um bebê faz de zero a um ano de
vida? Ele faz 1800 a 2000 alimentações no primeiro ano! Então, a partir do momento que
de 0 a 3, mais ou menos 4 meses e meio, o bebê desenvolve sucção! Então de 4 até 7 ele
vai desenvolver o que não temos em literatura que é um amassamento, e de sete a 12 o esboço
da mastigação . Então se você tem um desenvolvimento motor não é? Que vem, de 0 a 12
meses para criança andar? Você também tem um desenvolvimento motor oral que se baseia
154
nisso, e todo ele ligado à parte sensorial, e conjuntamente vem a parte cognitiva. Então toda a
minha parte de alimentação começa aqui, porque se o bebê começa, com o sugar se ele faz a
sucção inadequada, com postura inadequada de língua, projeção de língua, ou um tônus
aumentado, durante 3 a 4 meses, estou mandando informação inadequada pra o cérebro, então
a minha segunda fase está muito comprometida! Então, que eu estou vendo no bebê que eu
posso estar ajustando? Por isso que eu atendo os bebês uma vez por mês. Mas eu tenho uma
mãe que ajuda bastante.
Dos meus pacientes que foram em algum neuropediatra, eles já encaminham muito,
sabem do trabalho, como que é a minha linha de trabalho, sabem que não é invasiva, mas
porém tem eficiência, por conta do que é importante. Por que eles vêm uma vez por mês? Mas
quando vem uma vez por mês uma mãe fala: “Meu Deus! Quero 10 fisios, mas não quero uma
fono por mês!”. Por que já vem com o pacote completo do mês. O que é importante observar?
Esses bebês, eles saem muito, e se desorganizam muito! O primeiro sinal é na alimentação, é
na respiração, o bebê tem um excesso de sudorese, alteração da respiração, ele sai muito do
estado de consciência, ele gira muito, ele vai para um, vai para outro, então se desorganiza. A
inapetência começa, ele não se alimenta bem, e ele não consegue mamar tudo, apesar de ele
ter tido gasto calórico, ele gastou energia, mas ele tem stress que mexe muito com a
alimentação do bebê. Sabe aquele bebê que toma um pouquinho, vai, para, não existe uma
alimentação contínua, então não existe um estimulo muscular continuo, como deveria ser. As
pessoas sabem que eu tenho essa metodologia, os médicos gostam muito disso também, eles
acham que os bebês não devem sair muito de casa, então, eu vou à casa dos bebês. É mais
particular, isso não impede que eu tenha uma gama de bebês.
O bebê com Síndrome de Down, ele chega aqui com dias de nascido, de uns 5 anos
para cá, eu já consigo dar alta por volta de 5 anos de idade, falando perfeitamente. A língua, a
postura e é bom, pois eu tenho muitos vídeos, para poder estar comprovando isso. O bebê
desde pequenininho, as crianças com Paralisia cerebral: depende da paralisia cerebral, se é
uma Paralisia cerebral leve, moderada, ou mais grave. Eu tenho pacientes que ficaram comigo
durante 14 anos, 15, 16, por isso faço segmento para o lado profissional, eles não fazem
somente fonoaudiologia. Foi uma etapa da vida deles, da parte motora oral, da parte da
comunicação, o que é importante na comunicação? Ser compreendido em todos os setores,
lingüísticos e de articulação... Então s viemos com tudo isso, para depois ter
prosseguimento na informática, na parte escolar, na parte de adaptação de material. As
pessoas com paralisia cerebral, ficam um tempo maior, por conta do seu comprometimento,
155
não motores, mas o sensorial e cognitivo, então se prolonga um pouquinho. As pessoas
com Deficiência mental, com alguma síndrome tipo o X frágil, que é a segunda maior depois
da síndrome de Down, é aquela parte básica mesmo, até um ano de alimentação, que é
muito gostoso, e depois só a parte de linguagem.
Os bebês chegam para mim com dias de vida. O que é legal, eu acho que é importante, como
trabalhei em muitos lugares, no Instituto Bahiano de Reabilitação...e atendo as pessoas,
quando vou num hospital: “Ô, fulano pediu!” “Ô, dá uma olhadinha!”... Sempre acontece! As
neuropediatras me pedem: “Ô I., o paciente é pobre, não pode...” Mas isso não tem
importância, vamos lá, vamos ver... e um vai passando para o outro. Até alguns que não são
ligados à Universidade, ao hospital, nem nada, as pessoas ficam meio assim... “ah, é
particular? Não pode pagar...” Não! Pode chamar sim, que a gente está para ajudar! Até o
diretor de um hospital, sabe o que ele falou? “Quase que transformou meu hospital em
escola?”, mas ele me dava carta branca! Para levar para tudo que era importante. Olha, a
boca, isso aqui é mais do que ele vai enxergar, do que ele vai escutar, como que eu vou ter
resultado motor oral? Então ele foi mudando, a concepção. Um hospital que eu tive muito
acesso foi o Hospital A.! A Dra. K. me chamou muito na época, não sei se ela lembra... Então,
várias pessoas... A Dra. L. que é geneticista, que faz um trabalho maravilhoso dentro da
universidade... Como é que se nega alguma coisa para L.? O mais importante é traçar
estratégias simples. Esse foi o meu ponto forte, a minha colaboração para fonoaudiologia.
Instrumentalizar enfermeiras, fisioterapeutas, eu tinha sempre alguma coisa para dar! Não ter
ciúme do lugar: isso é muito importante! Lógico que hoje nós temos muito mais
especificidade na fonoaudiologia para atuarmos, mas na época não! Tinha que ensinar
enfermeira, fisioterapeuta, para quem cuidasse do berçário! E ensinar, possibilitar com
fundamentos neurofisiológicos simples, hoje como que eu ensino neurociência para os
professores? Como que eu torno a linguagem simples, bem acessível para que eles possam
atuar, não para compreender, mas atuar de forma positiva. No interior eu trabalho muito
em APAE’s. Tenho muitos bebês. Não me incomodo em passar as informações, porque sou
eu mesma que pago os meus cursos, sou eu que me sustento, nunca nenhuma instituição,
universidade pagou nenhum curso meu. Isso também foi uma coisa que eu fui muito
criticada, por ensinar todo mundo, eu não posso deixar uma criança sem assistência... Porque
eu não vou estar lá... Eu tenho que preparar alguém, então, eu sei quem é aquele professor, eu
passo para quem eu quiser! Sempre tracei estratégias muito simples, aprendi muitas
estratégias indígenas, eu tenho a formação do Castilho Moraes, tive formação em disfagia,
156
com vários professores, inclusive Dr. M.C., fiz muita coisa com ele, eu tive a formação da
H.M., formação com Integração Sensorial que é uma das ações mais importante do meu
trabalho, fiz muita aula de anatomia, de biomecânica, e fui complementando, o que era
importante, mas eu também escutava muito as mães, a forma como elas alimentavam os
filhos, então isso me ajudou muito.
Além desses cursos de integração, fiz cursos de nutrição, para saber quais são os alimentos
que eram adequados, não organicamente, mas funcionalmente, a textura dos alimentos, o
que proporcionava o que, para tal fonema. Um curso muito importante que eu fiz na minha
vida foi o “M.O.R.E.”(Movimento Organização Respiração Olhar) Ele é dado por uma
Terapeuta Ocupacional. Eu nunca vi um curso tão completo em termos do organismo, da
funcionalidade, da respiração, do que é fisiológico e boca. Eu fiz na África, mas a minha
professora, acho que ela foi assim um marco na fonoaudiologia depois da H.M., e depois as
outras pessoas trabalharam em cima dos ensinamentos dela, esse curso me abriu toda a cabeça
para saber o que era tão importante, onde tem todos os apitos que nós usamos, que
antigamente os alunos não sabiam porque que usamos a ngua de sogra, a bola de sabão, se
aquela bolinha pequena tem a ver, a grande, o que significa aquilo... nós não sabemos, a
passagem do ar como é que faz, o que isso faz dentro do organismo, o que é movimento, o
que é localização, o que é respiração e olhar isso é “MORE .Vai saber o que é o mecanismo!
Então isso me abriu muito, muito, muito os horizontes para trabalhar alimentação, para
trabalhar o bebê! Por isso que maternidade, é tudo muito ali! São procedimentos de muita
responsabilidade, porque senão quem vai pegar a rebarba sou eu! Se você não faz
adequadamente tudo que tem ali, quando o bebê chega para mim 10, 12, 15 , 20 dias, um mês,
dois meses, não ficou legal? Eu tenho que recuperar, correr atrás do prejuízo, mas eu acho que
gostaria de fazer mais, porque ali estão os procedimentos. Eu não ia continuar em
maternidade de jeito nenhum, porque as outras coisas que tem que se fazer com o bebê, é
muito maior.
Eu gosto que as pessoas tenham acesso a essas coisas, que elas vejam o brilhantismo
da fonoaudiologia! As pessoas são enganadas com o que fazem hoje na motricidade oral,
função, atividade, o que a forma danifica a função assim como a função danifica a forma? É
da P.O.! É dessa pessoa essa frase, e que a fonoaudiologia se apropria, e com a maior cara de
pau. Eu sou encantada com a fonoaudiologia, porque depois que quando você pega os bebês,
eu sei tudo o que é pra fazer, o que ele precisa, toda a parte de sucção ,deglutição e respiração
(SSB)
157
Criança com síndrome de Down, depois que eu aprendi que até 7 anos tem que fazer
audiometria uma vez por ano, encaminho todos.
Tem muita gente, e muita gente competente! Isso é que eu acho que é importante também:
pessoas preocupadas com o que vai fazer, como que está fazendo, o que está identificando,
isso é importantíssimo, nós vamos vendo o produto desse processo de uma boa intervenção de
audição. Não para ver, mas sabemos o quanto é importante. E hoje, os pais dos bebês
querem saber como os bebês podem falar.“quer ver aonde está o ouvido? (o que é isso).
Quatro meses, filmado com síndrome de Down, então aquela coisa da interação da mãe e do
filho, em cima do que? Qual é a metodologia que está me passando isso, qual a metodologia
que me embasa aqui? O Castilho e o Bobath! Sabe porque que me embasa? O balanço do
bebê, o chacoalhar, os brinquedos, a integração sensorial... Você que vai ajudando, vai
complementando. Não existe: “Ah, não quero mais essa metodologia!” Não existe isso! Eu
estou com um problema agora no autismo, que eu vou falar em Campinas sobre metodologias
combinadas e todo mundo “Ah, mas o TEACCH ? Não faz mais porque é comportamental...”
Ele pode ser preguiçal, porque dá muito trabalho! Todo dia você tem que fazer um brinquedo!
Todo dia, aprendeu? Eu tenho que partir para outra! Comportamental? Agora só trabalho
com isso, o que a gente pode fazer? Antes eu era mais gida! Quando eu pegava nos meus
bebês aqueles rombos de mamadeira, aquele bicão... ô meu Deus! Eu jogava no lixo. Hoje
não! Eu aprendi fisiologia, eu aprendi o que é uma mãe, a angústia de uma mãe de um filho
que não come... Isso que nós temos que ensinar para os alunos, que é importante, estar falando
disso, e não rebuscar a linguagem! O que eu acho que peca na fonoaudiologia, com todo
respeito, quando alguém vai falar de interação. Eles vão buscar respaldo na psicanálise,
naquilo longe, chega para uma e e fala coisas, que ela não vai captar! Quando que
falarmos da banana, fazer na frente dela! Tem que pegar um osso de galinha e mostrar para
ela a quantidade (o barulho de mastigação) viu como o bracinho dele ficou legal? Viu a o
como apertou? Ó, ó, ó! Sabe... Mostrar. Tem que ser realista! Mostrar para ela de interação, a
parte mais importante, dentro do berçário! Uma das coisas que eu me preocupava é da mãe
falar e escutar! Que funciona bem mais do que ensinar o seu bebê a falar, você tem que
ensiná-lo a escutar! E elas demoram a entender isso, porque elas vêm de um bombardeio de
informação de que tem que falar com o filho e não ensinam o bebê a ouvir, isso deu um
buraco dentro da comunicação, porque as pessoas demoraram a sacar isso. Você aquele
Klaus e Klaus, bebê de 0 a 10 dias, como que o bebê é competente, e vovai pegando. Olha
acredite se quiser, eu tenho bebês que eu só fiz atendimento até os 10 anos uma vez por mês,
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ela fala maravilhosamente bem e ela não é exceção, ela foi a regra, eles hoje tem 10 anos, são
5 que eu tenho, todos no mesmo nível cognitivo, de comunicação, de articulação! Nenhum
tem uma fala inferior do que o outro! Mas foi em cima de que? Mas o que se estabeleceu com
os pais? Não fui eu! Eles tinham condição, tinham integridade anatômica, tinham integridade
sensorial, tinham uma série de competências, e era dar a informação certa e ter uma boa
relação com a mãe. Então no berçário, como muitos, mais do que ajudar a mãe ouvir aquelas
coisas rebuscadas, que eu tenho visto algumas psicanalistas trabalharem com as mães e os
bebês, tão distantes, tanto, tanto, tanto, mas por que não sabe o que é interagir, não interage
nem com a mãe, não interagem nem com a gente! A interação começa de um profissional
para o outro! Bom dia para o médico, para enfermeira, para atendente, para o porteiro... Já
chega a doutora... o ato de ter que ensinar a e a interagir, as coisas passam para um outro
nível! A linguagem, nós somos profissionais da comunicação! Como que a gente rebusca
tanto? Coisas simples! Eu tenho alguns esquemas do HANEN que eu falo para mãe. Na
hora ela entende o que tem que falar com o filhinho dela! Eu faço desenhos! Olha, a
comunicação das crianças, da mãe é assim, do seu bebê é assim, nós temos que fazer ela ficar
assim! Alongar na hora... Eu tenho uma mãe que é neurologista , a filhinha é minha cliente,
então, “fala comigo o que você fala com a M.?” e eu: “Por que?” “Eu sou mãe, eu sou mãe, eu
quero saber!”(não sei o que é isso) mostro o que a criança faz Olha que lindo! Entende?
Então, todas essas coisas, vai ter um impacto! De uma coisa que a mãe precisa criar! A partir
do momento que ela sabe que ela tem que ensinar uma coisa deliciosa, para a filha dela, que é
escutar, ela não vai ensinar falar! Então, o que um faz, outro faz. Ela tem que aprender os
sinais do bebê! E você fazendo isso, só vai ficar 15 dias! Ela vai ficar uma vida! Então
imagina como que nós temos que ser parceiros!
Ousadia de pedir para olhar também, teve isso, teve momentos também de pedir para observar
como é que era ( São partes de minha viagem ao Peru). As fisioterapeutas é quem dominavam
as maternidades aqui na Bahia! Aquela questão do ciúme, a gente nem tinha tanto
conhecimento também, ia aprender, então tudo isso foi na ousadia!
Temos que ter consciência de formar pessoas conscientes. Quem está na faculdade, o que
puder, o máximo, não pense nunca que vão tirar, pelo contrário! Ensine mesmo! É assim,
assim, assado!Mostrar que isso também vem para nós! Isso aqui é fruto do meu trabalho! Ô,
isso aqui essa menina aprendeu direitinho! Então você também vai colher os frutos que ela vai
colher! Acho que o que eu deixo para vocês que estão na universidade é isso! Abram o jogo!
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