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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM AGRONEGÓCIOS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONEGÓCIOS
Paula Vanessa Rohr
COMPARAÇÃO ENTRE FATORES QUE INFLUENCIAM O
PRODUTOR NA COMERCIALIZAÇÃO DE ARROZ DOS
MUNICÍPIOS DE CAMAQUÃ E VIAMÃO
Porto Alegre
2007
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1
Paula Vanessa Rohr
COMPARAÇÃO ENTRE FATORES QUE INFLUENCIAM O
PRODUTOR NA COMERCIALIZAÇÃO DE ARROZ DOS
MUNICÍPIOS DE CAMAQUÃ E VIAMÃO
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Agronegócios
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
como requisito parcial para a obtenção do título
de Mestre em Agronegócios.
Orientador: Prof. Antônio Domingos Padula
Co-orientador: Prof. João Armando Dessimon Machado
Porto Alegre
2007
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2
Paula Vanessa Rohr
COMPARAÇÃO ENTRE FATORES QUE INFLUENCIAM O
PRODUTOR NA COMERCIALIZAÇÃO DE ARROZ DOS
MUNICÍPIOS DE CAMAQUÃ E VIAMÃO
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Agronegócios
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
como requisito parcial para a obtenção do título
de Mestre em Agronegócios.
Conceito final:
Aprovado em ........ de ............................. de ...............
BANCA EXAMINADORA
__________________________________
Prof. Dr. Eugenio Ávila Pedrozo - UFRGS
__________________________________
Prof. Dr. Homero Dewes - UFRGS
__________________________________
Prof. Dr. Paulo Rigatto - UFPel
__________________________________
Orientador – Prof. Dr. Antônio Domingos Padula - UFRGS
3
Aos meus pais, José Aloísio Rohr e Ana Maria Rohr, e
às minhas irmãs, Patrícia Raquel Rohr e Pâmela Cristina Rohr
DEDICO
4
AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal do Rio Grande do Sul e ao Centro de Estudos e Pesquisas
em Agronegócios, pela oportunidade de realizar o mestrado.
À CAPES, pelo auxílio através da concessão de bolsa de estudos, durante o curso.
Ao IRGA, pelo apoio durante a pesquisa.
Ao professor orientador, Antônio Domingos Padula, pela orientação e incentivo na
realização do trabalho.
Ao professor co-orientador, João Armando Dessimon Machado, pela ajuda e pelas
idéias compartilhadas.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios, pelos
ensinamentos.
Aos colegas do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios, pela amizade
durante os dois anos de curso. Em especial a Mateus, Adalberto, Letícia e
Sebastián, pela ajuda, motivação e incentivo, nos momentos mais difíceis da
realização do mestrado.
Aos funcionários do IRGA, Luciane Dittgen Miritz, Victor Hugo Kaiser, Hermínio
Menezes Gadea e Roberto Longaray Jaeger, pelas informações e disponibilidade.
À família que me adotou no Rio Grande do Sul, tio Hugo, tia Teti, Zeca, Vitor e Catê,
pelo carinho e apoio.
Ao Mateus Borges Leite, por me motivar sempre, aceitar a minha ausência e ser
minha força.
À minha família, José, Ana, Patrícia e Pâmela, pela compreensão, carinho, paciência
e ajuda irrestrita.
5
RESUMO
Esta pesquisa se propõe a comparar os fatores que conduzem o produtor de
arroz dos municípios de Camaquã e Viamão a comercializar e/ou armazenar a safra.
A comercialização dos produtos é uma das mais importantes etapas, dentre as
desenvolvidas na atividade agropecuária. Nesta fase pode ser decidida a
perpetuação, ou não, do empreendimento, pela obtenção de lucro ou prejuízo. No
Rio Grande do Sul, o orizicultor dificilmente pode deixar de plantar, pois o arroz é
praticamente a única opção para as áreas de várzea, a solução é desenvolver
mecanismos de comercialização que proporcionem o maior lucro. A pesquisa
baseia-se na revisão de literatura sobre o processo decisório, comercialização e
armazenamento de grãos. A metodologia do trabalho envolve a aplicação de um
roteiro de entrevista semi-estruturado, aplicado em 133 produtores de arroz dos
municípios de Camaquã e Viamão. A pesquisa mostra que a forma de
comercialização da produção de arroz é fortemente influenciada pelas
particularidades de armazenagem local e nível de endividamento do produtor.
Percebe-se que os principais fatores considerados na comercialização de arroz o
os benefícios oferecidos pelos armazenadores, a confiabilidade, a localização da
lavoura em relação ao armazém, a capacidade estocástica, o custo do frete e a
liquidez da produção. No município de Camaquã, existem grandes indústrias de
beneficiamento e há um número maior de produtores que financiam a lavoura junto a
instituições financeiras, o produtor armazena na indústria para ter maior liquidez da
safra, mas perde a propriedade da produção. Viamão se destaca pela presença
de cooperativas e financiamento próprio da lavoura. Nesse caso, o produtor mantém
a posse da produção e consegue comercializá-la visando maior lucro. O estudo
mostra também que grande parte da safra é comercializada logo as a colheita,
que as dívidas devem ser pagas nessa época. O endividamento do produtor não
permite que se invista em armazenagem própria, o que asseguraria maior qualidade
dos grãos e permitiria dividir a safra em parcelas para conseguir uma média de
preços ao longo do ano.
Palavras-chave: comercialização, armazenagem, arroz, decisão.
6
ABSTRACT
The purpose of this research is to compare the reasons that conduct the
Camaquã City and Viamão City rice producer to commercialize and/or storage the
production. The commercialization of products is one of the most important steps,
among the ones developed in the agricultural activity. In this stage may be decided
the perpetuation, or not, of the activity, by the realization of profit or prejudice. In Rio
Grande do Sul, the rice producer can hardly not to produce, because rice is almost
the only option to irrigated areas, the solution is to develop mechanisms of
commercialization that provide higher profit. The research was based in literature
about the decision-making process, commercialization and storage of grains. The
methodology involve the application of a semi-structured interview, applied to 133
rice producers from the cities of Camaquã and Viamão. The research showed that
the way to commercialize the rice production is highly influenced by the local storage
particularities and the producer level of financial debt. It was realized that the main
reasons considered in rice commercialization are the benefits offered by the storage
enterprises, the reliance on these storages enterprises, the localization of the harvest
in relation to the storage, the storage capability, the transportation cost and the
production liquidity. In the city of Camaquã, where there are a great number of
industries and there is a higher number of producers that finance the harvest through
financial institutions, the producer storages in the industry for higher liquidity of the
production but loses the property of the production. In Viamão, that is marked by the
presence of cooperatives and the harvest finance by the producer’s capital, the
producer maintain the ownership of the production and is able to commercialize it in
order to have more profit. The study also pointed that almost the entire production is
commercialized right after the harvest, because the debts should be paid at this time.
The producer financial debt does not allow the investment in storage at the farm,
which would guarantee higher grain quality and permit to slit the production in plots to
get a price stocking during the year.
Key-words: commercialization, storage, rice, decision.
7
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Países maiores produtores de arroz – Safra 2004/2005................................ 55
Tabela 2 – Consumo de arroz em 2005 ............................................................................ 57
Tabela 3 – Produção e comercialização de países da América do Sul - 2005............... 58
Tabela 4 – MERCOSUL: área, produção e produtividade – 1995/2005........................... 60
Tabela 5 – Produção, consumo, exportação e importação – MERCOSUL (milhões
toneladas) – 2005 ....................................................................................................... 60
Tabela 6 – Regiões produtoras de arroz no Brasil - Safra 2004/2005............................. 62
Tabela 7 – Grau de escolaridade dos produtores de Camaquã...................................... 69
Tabela 8 – Grau de escolaridade dos produtores de Viamão......................................... 78
Tabela 9 Quadro comparativo entre as amostras dos municípios de Camaquã e
Viamão........................................................................................................................ 87
8
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Coeficiente Estacional Absoluto Puro do preço de arroz, nos últimos 10
anos ............................................................................................................................ 17
Gráfico 2 – Custo total mínimo entre as atividades de transporte e de armazenamento,
em um sistema logístico............................................................................................ 48
Gráfico 3 – Países maiores exportadores de arroz (milhões de toneladas) – Safra
2004/2005.................................................................................................................... 55
Gráfico 4 – Países maiores importadores de arroz (milhões de toneladas) – Safra
2004/2005.................................................................................................................... 56
Gráfico 5 Evolução da produtividade (quilos por hectare) de arroz no Brasil 1996 a
2005............................................................................................................................. 61
Gráfico 6 – Porcentagem de área plantada pelos produtores de arroz de Camaquã ... 68
Gráfico 7 – Produtividade média de arroz dos produtores de Camaquã....................... 69
Gráfico 8 Tempo de experiência dos produtores de Camaquã, como plantadores de
arroz............................................................................................................................ 70
Gráfico 9 Fontes de informação tecnológica mais utilizadas pelos produtores de
arroz de Camaquã...................................................................................................... 70
Gráfico 10 – Fontes de assistência técnica utilizadas pelos produtores de Camaquã. 71
Gráfico 11 – Utilização de financiamento pelos produtores de Camaquã..................... 72
Gráfico 12 Armazenagem e secagem próprias de Camaquã, em porcentagem de
produtores.................................................................................................................. 72
Gráfico 13 – Forma de comercialização dos orizicultores de Camaq........................ 73
Gráfico 14 – Uso de AGF pelos produtores de Camaquã ............................................... 74
Gráfico 15 Porcentagem de produtores que armazenam em empresas terceirizadas
de Camaquã................................................................................................................ 75
Gráfico 16 – Porcentagem de área plantada pelos produtores de arroz de Viamão..... 77
Gráfico 17 – Produtividade média de arroz dos produtores de Viamão ........................ 77
Gráfico 18 Tempo de experiência dos produtores de Viamão, como plantadores de
arroz............................................................................................................................ 78
Gráfico 19 Fontes de informação tecnológica mais utilizadas pelos produtores de
arroz de Viamão ......................................................................................................... 79
Gráfico 20 – Fontes de assistência técnica utilizadas pelos produtores de Viamão.... 80
Gráfico 21 – Utilização de financiamento pelos produtores de Viamão ........................ 80
9
Gráfico 22 Armazenagem e secagem próprias de Viamão, em porcentagem de
produtores.................................................................................................................. 81
Gráfico 23 – Forma de comercialização dos orizicultores de Viamão ........................... 82
Gráfico 24 – Uso de AGF pelos produtores de Viamão................................................... 82
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Esquema do processo de decisão do produtor............................................. 27
Figura 2 – Fases da comercialização de produtos agrícolas ......................................... 31
Figura 3 – Fluxos de produtos pelas unidades armazenadoras..................................... 50
Figura 4 – Mapa das regiões arrozeiras do Rio Grande do Sul ...................................... 63
Figura 5 – Localização de Camaquã, no Rio Grande do Sul........................................... 67
Figura 6 - Localização de Viamão, no Rio Grande do Sul............................................... 76
11
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACA – Associação dos Cultivadores de Arroz do Uruguai
AGF – Aquisição do Governo Federal
ALCA – Área de Livre Comércio das Américas
BANRISUL – Banco do Estado do Rio Grande do Sul
BB – Banco do Brasil
BM&F – Bolsa de Mercadorias e Futuros
CAN – Comunidade Andina das Nações
CESA – Companhia Estadual de Silos e Armazéns
CNA – Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil
COFINS – Contribuição para Financiamento da Seguridade Social
CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento
COOPERJA – Cooperativa de Jacinta
COOPTEC – Cooperativa de Técnicos de Viamão
CPR – Cédula de Produto Rural
CPRF – Cédula de Produtor Rural com Liquidação Financeira
EGF – Empréstimo do Governo Federal
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EUA – Estados Unidos da América
FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations
GEIPOT – Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMS – Imposto para Circulação de Mercadorias e Serviços
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INSS – Instituto Nacional da Seguridade Social
IRGA – Instituto Rio Grandense do Arroz
MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MERCOSUL – Mercado Comum do Sul
NAFTA – Acordo de Livre Comércio da América do Norte
PENSA – Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial
PIB – Produto Interno Bruto
PIS – Programa de Integração Social
12
SAGPYASecretaria da Agricultura, Ganadería, Pesca y Alimentos de Argentina
SICREDI – Sistema de Crédito Cooperativo
SINDARROZ – Sindicato das Indústrias do Arroz
TEC – Tarifa Externa Comum
USDA – United States Department of Agriculture
13
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 15
2 REVISÃO DA LITERATURA............................................................................................ 20
2.1 O PROCESSO DECISÓRIO.......................................................................................... 20
2.1.1 Etapas do processo decisório ................................................................................. 21
2.1.1.1 Percepção da situação que envolve algum problema .............................................. 22
2.1.1.2 Análise e definição do problema .............................................................................. 22
2.1.1.3 Definição dos objetivos ............................................................................................ 22
2.1.1.4 Procura de alternativas de solução ou de cursos de ação ....................................... 23
2.1.1.5 Avaliação e comparação das alternativas ................................................................ 23
2.1.1.6 Escolha da alternativa mais adequada..................................................................... 24
2.1.1.7 Implantação da alternativa escolhida ....................................................................... 25
2.1.1.8 Avaliação pós-decisional e retroalimentação (feedback).......................................... 25
2.1.2 Variáveis que influenciam o processo decisório.................................................... 26
2.1.3 O processo de decisão do produtor rural............................................................... 27
2.2 COMERCIALIZAÇÃO DE GRÃOS................................................................................. 28
2.2.1 Sistema de mercado ................................................................................................. 31
2.2.2 Estruturas de comercialização ................................................................................ 33
2.2.2.1 Bolsas de mercadorias e corretoras......................................................................... 33
2.2.2.2 Cooperativas............................................................................................................ 34
2.2.2.3 Sistema de Informação ............................................................................................ 35
2.2.3 Planejamento da comercialização ........................................................................... 36
2.2.4 Instrumentos de comercialização............................................................................ 38
2.2.4.1 Cédula de Produto Rural - CPR............................................................................... 39
2.2.4.2 Cédula de Produto Rural com Liquidação Financeira - CPRF.................................. 40
2.2.4.3 Empréstimos do Governo Federal - EGF ................................................................. 41
2.2.4.4 Aquisição do Governo Federal - AGF ...................................................................... 41
2.2.4.5 Mercados futuros ..................................................................................................... 42
2.2.4.6 Mercado de opções.................................................................................................. 43
2.3 ARMAZENAGEM DE GRÃOS ....................................................................................... 44
2.3.1 O armazenamento conforme a teoria econômica................................................... 44
2.3.2 O enfoque tecnológico e logístico do armazenamento.......................................... 46
2.3.2.1 Fluxo de grãos pelas unidades armazenadoras....................................................... 49
2.3.3 A nova lei de armazenagem dos produtos agropecuários .................................... 51
3 CONTEXTUALIZAÇÃO.................................................................................................... 54
3.1 O CONTEXTO MUNDIAL DO ARROZ........................................................................... 54
3.2 O ARROZ NA AMÉRICA DO SUL E NO MERCOSUL................................................... 57
3.3 O ARROZ NO BRASIL................................................................................................... 60
3.4 O ARROZ NO RIO GRANDE DO SUL........................................................................... 62
4 METODOLOGIA............................................................................................................... 64
4.1 TIPO DE PESQUISA ..................................................................................................... 64
4.2 POPULAÇÃO E SELEÇÃO DA AMOSTRA ................................................................... 65
4.3 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................................. 66
14
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES...................................................................................... 67
5.1 CARACTERIZAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE ARROZ DO MUNICÍPIO DE
CAMAQUÃ .......................................................................................................................... 67
5.2 CARACTERIZAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE ARROZ DO MUNICÍPIO DE VIAMÃO
............................................................................................................................................ 75
5.3 COMPARAÇAO DA COMERCIALIZAÇÃO DE ARROZ ENTRE OS MUNICÍPIOS........ 84
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 88
REFERÊNCIAS................................................................................................................... 90
APÊNCIDE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA COM PRODUTORES .................................. 97
15
1 INTRODUÇÃO
Este estudo se propõe a comparar os fatores que conduzem o produtor de
arroz dos municípios de Camaquã e Viamão a comercializar e/ou armazenar a safra
durante o ano. Atualmente, existem programas voltados para o aumento da
produtividade da lavoura arrozeira do Estado. No entanto, quando se trata de
comercializar a produção, o orizicultor se depara com um ambiente onde a força dos
elos superiores da cadeia produtiva é maior que a dele. Para que o produtor possa
aumentar o poder de barganha e vender a produção a preços mais elevados, se faz
necessário o desenvolvimento de ações que o auxiliem no aumento do poder de
negociação. Para tanto, entender a forma de comercializar e os fatores que
conduzem o produtor a essa escolha é o primeiro passo para que as ações resultem
em soluções precisas para o problema.
A agricultura nacional vem sofrendo significativas mudanças nas últimas duas
décadas. Passou de um período com forte apoio governamental, grandes subsídios
e incentivos ao aumento de produtividade nas lavouras, para a redução quase total
desses subsídios. Como se não bastasse, houve a abertura do mercado nacional,
realizada de maneira radical e sem preocupação de proteger a agricultura brasileira,
diferente do que ocorre em outros países. Soma-se a essa situação os sucessivos
planos econômicos, com elevação das taxas de juros e redução dos créditos cedidos
aos produtores rurais. Esses planos fizeram com que o cenário de “fartura”, no
campo, virasse passado.
Nessa realidade, a lavoura arrozeira, quando comparada com outras
atividades agrícolas, tornou-se uma das mais fragilizadas, formando um número
elevado de produtores endividados, sem acesso aos créditos bancários e sem poder
de barganha, perante o resto da cadeia produtiva. Nesse contexto, a procura por
novas tecnologias de produção, por novas técnicas de controle do processo
produtivo e a preocupação com a eficiência e eficácia do gerenciamento de uma
propriedade agrícola, tornaram-se princípios para que o empresário rural
permanecesse no campo. Do empresário rural, que se dedica à atividade agrícola,
passou-se a exigir muitos outros atributos. Além de ser empreendedor, para se
manter e prosperar na atividade, esse empresário passou a reconhecer a
16
necessidade de conhecimento de técnicas de gestão e planejamento estratégico,
bem como conhecimento de finanças e comercialização.
O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do Brasil, com condições
climáticas, de solo e infra-estrutura adequadas para o cultivo desse cereal. Nesse
sentido, a lavoura orizícola é caracterizada por elevados custos de produção, com
grande demanda de insumos como adubos, produtos fitossanitários e uso
intensivo de mecanização e implementos agrícolas. Mesmo com o significativo custo
por hectare, a lavoura arrozeira gcha serve de referência para qualquer outro
país, quando o assunto é tecnologia disponível para a obtenção de maior
produtividade.
O produtor rural gaúcho superou uma série de dificuldades inerentes à
atividade agropecuária como escassez de recursos para aquisição de insumos e
plantio, problemas climáticos, dentre outros. Depara-se, no entanto, com outro
desafio: a comercialização, foco deste trabalho. Conforme Marques e Aguiar (1993),
o sistema de comercialização é responsável pela ligação entre os produtores e
consumidores. Esse sistema permite aos consumidores adquirirem produtos, na
forma, no local e na hora desejados. Conhecer o funcionamento da comercialização
é fundamental para que possam ser tomadas decisões, visando melhorar sua
eficiência.
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA
A comercialização dos produtos é uma das mais importantes etapas, dentre
as desenvolvidas na atividade agropecuária. Nessa fase, pode ser decidida a
perpetuação, ou não, do empreendimento, pela obtenção de lucro ou prejuízo. A
seguir, destacam-se alguns problemas relacionados à produção e à comercialização,
principalmente da commodity arroz.
O preço de um produto, no mercado, é determinado pela oferta e pela
demanda. Quanto maior a oferta para uma dada demanda, menor o preço. O reflexo
da comercialização concentrada no período de safra dos produtos agropecuários é a
queda de preço. Essa queda é característica de um mercado em situações de
abundância, redução dos benefícios ao produtor, pelos preços baixos recebidos. O
17
Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial (PENSA) (1998, p.
265) afirma: “[...] o arroz, em particular, apresenta graves problemas neste sentido
porque grande parte da produção é comercializada logo após a safra, resultando
inclusive em uma diminuição generalizada nos preços pagos ao produtor neste
período”.
Ao analisar os preços médios pagos aos produtores, nos últimos 10 anos,
percebe-se que, durante a colheita, em março, abril e maio, os preços no mercado
estão em seu nível mais baixo. Em julho e agosto, ocorre uma ligeira desvalorização
devido ao início da safra internacional. Já em dezembro, os preços evoluem,
alcançando os maiores patamares em janeiro do ano seguinte, antes de iniciar a
colheita da safra seguinte (Gráfico 1).
-2,00
-1,50
-1,00
-0,50
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
Jan
e
iro
Fevereiro
M
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Agosto
Setembro
O
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b
ro
No
vem
br
o
De
zem
br
o
Meses do Ano
CEAP
Gráfico 1 – Coeficiente Estacional Absoluto Puro do preço de arroz, nos últimos 10 anos
Fonte: elaborado pela autora, baseado em dados históricos do IRGA (2006).
No Rio Grande do Sul, o orizicultor dificilmente pode deixar de plantar, pois o
arroz é praticamente a única opção para as áreas de várzea. Por isso, a solução é
desenvolver mecanismos de comercialização que proporcionem maior lucro. Ao
referir-se à comercialização, Souza (1994, p. 36) afirma: “[...] é necessário aos
empresários rurais o conhecimento de mecanismos que conduzam à diminuição
e/ou à redução dos riscos de preços, aperfeiçoamento de formação de expectativas
e aumento da previsibilidade do comportamento do mercado agrícola”.
18
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo geral
Comparar os fatores que influenciam as decisões de comercialização e de
armazenagem, por parte dos produtores de arroz dos municípios de Camaquã e
Viamão.
1.2.2 Objetivos específicos
a) Caracterizar os produtores orizícolas dos municípios de Camaquã e
Viamão, no Rio Grande do Sul;
b) Verificar as formas de comercialização e/ou armazenagem, utilizadas
pelos produtores de arroz;
c) Identificar os fatores que influenciam o produtor a escolher a forma de
comercialização e/ou armazenagem atual; e,
d) Comparar o comportamento dos produtores dos dois municípios
estudados.
1.3 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
O presente estudo está dividido em seis capítulos. No capítulo 1 consta a
apresentação do trabalho, bem como são apresentados os objetivos e justificativas
para a escolha do tema. No capítulo 2, busca-se especificar o referencial teórico
para os conceitos de comercialização, armazenagem e processo de decisão. No
capítulo 3, é relatado o estudo apresentando o contexto do arroz nos cenários
internacional, nacional e estadual. no capítulo 4, é apresentada a metodologia
aplicada para realização do estudo e as razões que justificaram a sua escolha. A
19
seguir, o capítulo 5 procura caracterizar os produtores de Camaquã e Viamão e
analisar os fatores que os influenciam na comercialização do arroz. Por fim, o
capítulo 6 traz considerações da autora sobre o tema, com sugestões para ganhos
de competitividade do produtor orizícola, por meio de melhor comercialização.
20
2 REVISÃO DA LITERATURA
Este capítulo apresenta trabalhos existentes sobre o processo de decisão,
seguido do embasamento teórico a respeito da comercialização e armazenamento
de grãos.
2.1 O PROCESSO DECISÓRIO
Tomar decisão faz parte de qualquer atividade humana, desde a mais simples
e rotineira ação individual, até o mais complexo projeto empreendido por grandes
corporações (SIMON, 1960; MARCH, SIMON, 1958). Em cada caso, existem
diferentes problemas envolvidos e diferentes graus de dificuldade para se tomar
decisão (ANDERSON; DILLON; HARDAKER, 1977).
Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)
(1984), a decisão pode ser definida como um ato racional, privilégio e
responsabilidade do ser humano. Dado um problema relevante qualquer e a
disponibilidade de informações, decidir implica em julgamento de alternativas
possíveis de ação. É como uma conclusão tirada de premissas (SIMON, 1960).
Em outro sentido, Samuelson (1972) acredita que uma decisão não pode ser
considerada como um ato simples e puro do intelecto. Pressupõe uma série de
ações, tanto antes como depois do ato de decidir, em que o tomador de decisões
deseja buscar o máximo de racionalidade possível e encontrar a solução mais
apropriada.
Em um problema de decisão, as pessoas selecionam uma alternativa de ação
com a intenção de conseguir resultados ao menos tão satisfatório quanto aquele que
teria com qualquer outra opção disponível. Quando esse objetivo é alcançado, diz-se
que a decisão foi um sucesso; de outra forma, foi um fracasso (YATES; STONE,
1994).
Para Baron (1994), a decisão é uma escolha de ão do que fazer ou não
fazer. Decisões são tomadas para se conseguir determinados objetivos e são
baseadas em crenças sobre quais ações permitirão que se alcancem tais objetivos.
21
As ações, crenças e objetivos pessoais podem ser o resultado de pensamentos ou
de outros mecanismos. Segundo o autor, existe uma estrutura de pensamento,
chamada de pesquisa-inferência, como a base da tomada de decisão; o processo do
pensamento tem início com uma dúvida ou questão que tenha alguma importância
para a pessoa. Para remover essa dúvida, é desencadeada uma pesquisa que
envolve as possibilidades de solução, evidências e objetivos. Após a pesquisa, é
realizada a inferência ou uso das evidências, onde cada alternativa será fortalecida
ou enfraquecida. Este processo não ocorre em uma ordem fixa e é perfeitamente
possível a sobreposição das etapas.
Em seu trabalho sobre a tomada de decisão, Simon (1960) afirma que o
processo decisório compreende três fases principais:
a) Atividade de inteligência: análise de um problema ou situação que requer
uma ação ou decisão;
b) Atividade de design: criação, desenvolvimento e análise de possíveis
alternativas ou cursos de ação;
c) Atividade de decisão: julgamento e escolha de uma alternativa.
De um modo geral, a atividade de inteligência precede a de design e esta, por
sua vez, precede a de decisão. Cada fase, entretanto, é muito mais complexa do
que esta seqüência sugere e é um processo decisório em si. Na literatura
consultada, observou-se que diversos autores exploram essas fases mais
complexas de maneira muito similar.
2.1.1 Etapas do processo decisório
De uma maneira geral, as principais etapas do processo decisório pode ser
sintetizadas da seguinte forma.
22
2.1.1.1 Percepção da situação que envolve algum problema
Para Robbins (1999), a percepção pode ser definida como um processo pelo
qual indivíduos organizam e interpretam suas impressões sensoriais a fim de dar
sentido ao seu ambiente.
Segundo Engel, Blackwell e Miniard (2000), em qualquer processo de tomada
de decisão, o estágio inicial é o reconhecimento de uma necessidade. Isto ocorre
quando o indivíduo sente uma diferença entre o que ele percebe ser a situação ideal
ou desejada e a situação real num dado momento. Entretanto, a necessidade é
reconhecida apenas quando essa diferença ou discrepância atinge ou ultrapassa
certo nível ou limiar. Isso significa que um tomador de decisão que não percebe que
existe uma situação-problema o irá reconhecer a necessidade de tomar qualquer
ação.
2.1.1.2 Análise e definição do problema
Este é um ponto crítico no processo da tomada de decisão. Segundo
Hammond, Keeney e Raiffa (1999, p. 27) “uma decisão razoável para um problema
bem definido é bem melhor do que uma solução excelente para o problema errado
[...]”. A maneira como se formula o problema orienta a decisão. É ela que determina
as alternativas a serem consideradas e a forma como serão avaliadas. Concentrar-
se no problema certo direciona o restante do processo.
2.1.1.3 Definição dos objetivos
Os objetivos o importantes porque eles formam a base de avaliação das
alternativas existentes. Eles ajudam a clarificar os critérios de decisão e a determinar
quais informações devem ser obtidas. Os objetivos são específicos a um dado
23
contexto de decisão e estabelecem a importância de uma determinada escolha e o
tempo e esforço que ela merece.
Segundo Clemen (1991) é importante saber distinguir “objetivos
fundamentais” dos “objetivos-meio”. Para o autor, os primeiros são o que o tomador
de decisão realmente quer realizar, e os últimos são as maneiras de atingir os
objetivos fundamentais. Esse conceito de hierarquia de objetivos é compartilhado
por outros autores, como Keeney (1992) e Skinner (1999), que preferem usar os
termos “objetivos primários” e “objetivos secundários”.
2.1.1.4 Procura de alternativas de solução ou de cursos de ação
No entender de Hammond, Keeney e Raiffa (1999) as alternativas constituem
a matéria-prima para a tomada de decisões. Elas representam o âmbito de escolhas
possíveis para a busca de objetivos. Entretanto, dois pontos importantes que
nunca podem ser esquecidos. Em primeiro lugar, não é possível escolher uma
alternativa que não tenha sido objeto de consideração. Em segundo lugar,
independentemente do número de alternativas que se possua, a escolhida não é,
necessariamente, a melhor existente. Assim, os autores afirmam que buscar boas,
novas e criativas opções pode ser altamente recompensador.
2.1.1.5 Avaliação e comparação das alternativas
Nesse ponto é necessário comparar o mérito das alternativas em conflito,
avaliando até que ponto cada uma satisfaz os objetivos. Esta comparação pode ser
subdividida em alguns tópicos:
a) Compreensão das conseqüências das alternativas: é necessário
compreender as conseqüências de uma dada alternativa com a devida
exatidão, precisão e abrangência.
b) Compreensão das trocas ou dos conflitos entre as alternativas (trade-offs):
comparadas as conseqüências das alternativas, algumas destas o
24
naturalmente eliminadas. As restantes têm “peso” praticamente idêntico
para a escolha final. Porém, quando se tem múltiplos objetivos, e eles são
conflitantes entre si, é necessário desfazer-se de uma opção em troca da
outra (CRUZ, 1984). Clemen (1991) adverte que objetivos múltiplos
conflitantes o uma das maiores causas de dificuldade em muitas
decisões.
c) Incerteza: Skinner (1999) refere-se à existência de dois tipos distintos de
decisão: decisão sob certeza a relação entre a ação e a conseqüência é
determinística; e decisão sob incerteza – a relação entre a ação e a
conseqüência é probabilística (com probabilidades objetivas e subjetivas).
A incerteza é um elemento crítico de muitas decisões, pois estas têm de
ser tomadas sem que se saiba exatamente o que ocorrerá no futuro ou
qual se o resultado derradeiro de uma decisão. Quando incerteza,
não se pode garantir que uma escolha inteligente tra conseqüências
satisfatórias. Clemen (1991) considera que uma decisão pode ser difícil de
ser tomada pela incerteza inerente à situação.
d) Decisões seqüenciais e/ou interligadas: todas as decisões afetam o futuro,
é claro, e existe uma conexão entre uma decisão tomada no momento e
outras a serem tomadas posteriormente. É importante que o decisor defina
o horizonte de planejamento apropriado para determinada decisão ou
contexto (CLEMEN, 1991). Como as decisões interligadas são complexas,
Hammond, Keeney e Raiffa (1999) sugerem que o planejamento
antecipado e a elaboração de planos flexíveis são essenciais nessas
situações.
2.1.1.6 Escolha da alternativa mais adequada
É importante considerar a capacidade do tomador de decisão em suportar
riscos, ao fazer a escolha da alternativa mais adequada para o alcance dos objetivos
(KEENEY, RAIFFA, 1976).
25
Risco é definido como o produto de um curso de ão tomado sob condições
de incerteza para o alcance de um resultado futuro desejado, e que apresenta a
possibilidade de uma perda ou de conseqüências negativas (SKINNER, 1999).
A atitude de alguém em relação ao risco é tão individual quanto sua própria
personalidade: algumas pessoas o evitam a qualquer custo (são avessas ao risco),
outras têm disposição para correr riscos, e outras são neutras. Essa atitude influi
diretamente na escolha das alternativas (LONGENECKER, 1969).
2.1.1.7 Implantação da alternativa escolhida
Apesar de ser um passo lógico e conseqüente no processo decisório, vale
lembrar que não necessariamente uma decisão tomada é efetivamente implantada.
Robbins (1999) refere que isso ocorre não em razão de diferenças individuais
mas principalmente por causa de restrições organizacionais.
Na implantação da decisão também existe a questão da legitimação proposta
por Kleindorfer, Kunreuther e Schoemaker (1993): “[...] uma decisão pode ser
bem sucedida (ou implementada) se for percebida como legítima por todos os
interessados”.
2.1.1.8 Avaliação pós-decisional e retroalimentação (feedback)
Considerando-se que a decisão tenha sido implementada, este é um passo
importante, pom frequentemente negligenciado, no processo de aprendizagem do
tomador de decisão.
26
2.1.2 Variáveis que influenciam o processo decisório
Apesar de o processo de decisão descrito acima permitir solucionar
problemas, a subjetividade nas decisões individuais é enorme. Simon (1945)
discorre sobre alguns desses aspectos e suas implicações:
a) Racionalidade limitada: em virtude de sua capacidade cognitiva limitada, o
tomador de decisão não tem condições de analisar todas as situações
nem de procurar todas as alternativas possíveis. Dessa forma, ele toma
decisões usando alguns pressupostos, isto é, premissas que ele assume
subjetivamente e nas quais baseia sua escolha.
b) Imperfeições das decisões: decisões consideradas “perfeitas” por uma
pessoa o “perfeitas” porque são vistas retrospectivamente, ou seja,
depois que os fatos ocorreram. Antes de os fatos ocorrerem não se
pode falar em “perfeição” de uma decisão; pode-se somente avaliar a
qualidade do processo que leva à decisão.
c) Relatividade das decisões: a alternativa escolhida representa somente a
melhor solução encontrada naquelas circusntâncias. O nível atingido na
consecução de um objetivo na maioria das vezes não é o ótimo, mas
apenas o satisfatório.
Segundo Engel, Blackwell e Miniard (2000), o processo de tomada de decisão
é influenciado e moldado por muitos fatores e determinantes, que se classificam em
duas categorias:
a) Diferenças individuais: são categorias que influenciam o comportamento
do decisor, os recursos temporais, recursos econômico-financeiros,
recursos cognitivos (capacidade mental disponível), atitudes, motivações,
personalidade, valores e estilo de vida.
b) Influências ambientais: o comportamento decisório é influenciado pela
cultura, influência pessoal, situação atual, classe social e família.
27
2.1.3 O processo de decisão do produtor rural
A decisão do produtor rural é complexa, pois nela existem elementos de
tradição, de aprendizado, de condições de infra-estrutura, motivos psicológicos e
sociais e, principalmente, elementos econômicos de desejo de lucro. A força ou a
influência dos diversos componentes da decisão depende também dos tipos de
agricultores por exemplo, os que são orientados pela tradição terão dificuldades
em mudar. A infra-estrutura de uma empresa rural (máquinas, instalações e
equipamentos) também interfere significativamente na decisão. Outros fatores que
influenciam a decisão do agricultor são a família, o aprendizado com amigos, a
capacidade de escutar, o desejo de experimentar (EMBRAPA, 1984).
A Figura 1 apresenta, de forma simplificada, a formação do processo de
decisão do produtor rural.
Figura 1 – Esquema do processo de decisão do produtor
Fonte: adaptado de EMBRAPA (1984, p. 13).
Objetivo do
Agricultor
Aumento do
bem
-
estar
Pro
blema
Identificação
Relevância
Definição
Alternativas de
Solução
Discriminação
Relevância
Probabilidade
de sucesso
Decisão
Definição
Objetivos
Tipos
Estratégia
Ações
Execução
Informações
Organização
Análise
Conseqüências
Análise
28
2.2 COMERCIALIZAÇÃO DE GRÃOS
Entregar o produto, no momento, no local e na forma adequados ao
consumidor final, é o objetivo maior, o que faz com que se montem complexas
estruturas de comercialização e logística. Na agricultura, a origem do processo
ocorre com a decisão do produtor, em relação ao quê e ao quanto plantar. A
qualidade dessa decisão depende da profundidade do conhecimento que o produtor
tiver sobre o ramo em que atua e da noção de gestão empresarial. Isso é o que
pode ajudá-lo a adotar as melhores estratégias, na superação das dificuldades e
minimização dos riscos que envolvem a atividade agrícola, especialmente na fase de
comercialização.
Segundo Marques e Mello (1999), para que o empresário agrícola consiga
obter sucesso na comercialização de seus produtos, é necessário que conheça os
fundamentos do mercado. Estes são, entre outros, as cadeias produtivas, suas inter-
relações contratuais, os determinantes da oferta e da demanda dos produtos e de
seus substitutos; e os demais elementos da estrutura de mercado que influenciam o
comportamento dos preços. Os fundamentos o as forças que dão origem a meios
diferentes de formação e transmissão de preços dos produtos agropecuários; e,
juntamente com o acompanhamento dos preços dos mercados futuros, fornecem as
ferramentas básicas para operar nos mercados agropecuários.
A comercialização de produtos agropecuários é diferente de outros mercados,
como comércio e indústria. Algumas dessas diferenças podem ser percebidas a
partir das características do produto e da produção. Conforme Marques e Aguiar
(1993), as características principais dos produtos agrícolas são: (a) produzidos na
forma bruta necessitam ser transformados, antes de serem vendidos ao
consumidor final; (b) perecíveis se não se dispõe de forma adequada de
armazenagem, precisam ser comercializados rapidamente; e (c) volumosos
encarecem o transporte e o armazenamento. A produção apresenta as seguintes
características: (a) variabilidade da produção anual; (b) sazonalidade; (c) distribuição
geográfica; (d) atomização da produção; (e) variação da qualidade do produto; (f)
dificuldade de ajustamento; e (g) estruturas de mercado enfrentadas.
Ao verificar as especificidades existentes nas transações de produtos
agroindustriais, considerando que o arroz é uma commodity, entende-se ser
29
adequado partir da definição do termo commodity. Sandroni (1999, p. 58) define: “o
termo significa literalmente mercadoria em inglês. Nas relações comerciais
internacionais, o termo designa um tipo particular de mercadoria em estado bruto ou
produto primário de importância comercial”.
Nem todas as mercadorias podem ser consideradas commodities. Segundo
Batalha (1997), para que uma mercadoria seja considerada commodity, deve
atender a três requisitos:
a) Padronização em um contexto de comercialização internacional;
b) Possibilidade de entrega nas datas acordadas entre comprador e
vendedor;
c) Possibilidade de armazenagem ou venda em unidades padronizadas.
A comercialização agrícola, segundo Barros (1987), envolve uma série de
funções ou atividades de transformação e adição de utilidade em que bens e
serviços são transferidos dos produtores aos consumidores. Entre essas funções,
pode ser destacada a de proporcionar satisfação biológica ou psicológica ao ser
humano, que se dispõe a pagar por sua posse. A comercialização ocorre no
mercado, local onde operam as forças de oferta e demanda e são realizadas as
transferências de bens e serviços, em troca de dinheiro. Conforme Koch (1980, p.
11), mercado é “[...] uma coleção de firmas, cada uma delas ofertando produtos que
têm algum grau de substituição para os mesmos compradores potenciais”.
Durante o processo de comercialização, acontecem alterações de posse,
forma, tempo e espaço. As alterações de posse correspondem à transferência de
propriedade. Verificam-se entre os agentes da produção e o consumo final.
Alterações de forma ocorrem com o emprego de recursos produtivos para
transformar o produto agrícola de sua forma bruta em produto processado, a tal
ponto que tenha condições de ser consumido e proporcionar satisfação ao
consumidor. As alterações temporais acontecem, principalmente, porque a produção
agrícola é sazonal. As transformações espaciais referem-se à produção realizada,
normalmente, em regiões fora do local de consumo (MARQUES; AGUIAR, 1993).
A oferta e a demanda são fatores determinantes do preço do produto. Oferta
é a relação entre preços e as quantidades de certo produto, que os produtores
desejam oferecer para venda, durante um dado período. Ainda, de acordo com
Marques e Aguiar (1993), a oferta classifica-se em primária, quando ocorre ao nível
30
do produtor, e derivada, quando os intermediários acrescentam seus custos de
comercialização e determinam o quanto do produto se possível colocar no
mercado. A falta de escolha ou a necessidade de vender o produto a qualquer preço
caracteriza a oferta de curto prazo.
A demanda é a relação entre o preço e o total de produtos que os
consumidores estão dispostos a comprar, num determinado período de tempo. A
demanda classifica-se em primária, quando a demanda é pelo produto final, e
demanda derivada, quando a aquisição de determinadas quantidades pelos
intermediários.
A elasticidade é outra forma de classificar a demanda. Diz-se que a demanda
é elástica, quando o aumento de preços diminui o consumo e inelástica, quando o
consumo é constante ou pouco afetado pela variação de preços. O grau de
substituição é o fator mais importante na determinação da elasticidade da demanda
de qualquer produto. A demanda dos produtos agrícolas, geralmente, é inelástica
em relação aos preços (MARQUES; MELLO, 1999).
Preço de mercado é o preço que se consegue por um produto, ao nível do
consumidor, num mercado competitivo. Reflete a satisfação que o consumidor
espera obter através do consumo do produto. Ele também significa o nível de
equilíbrio, em que o máximo preço que os consumidores estão dispostos a pagar
coincide com o mínimo preço que os produtores concordam em receber por
determinada quantidade de produto (MARQUES; AGUIAR, 1993).
Entre níveis diferentes do mercado, há uma diferença de preços, chamada de
margem de comercialização (M). Essa é a diferença de preço para os produtos
expressos em unidades equivalentes e pode ser expressa pela fórmula: “M = C + L”,
onde C é o custo e L o lucro (ou prejuízo) do intermediário (BARROS, 1987). A
margem também é um pagamento para os agentes de comercialização, chamados
intermediários, pelos serviços prestados e pelo risco incorrido. Para exercerem as
atividades de comercialização, além dos riscos, os intermediários investem o capital
e utilizam capacidade empresarial, o que justifica o pagamento pela atividade
(MARQUES; AGUIAR, 1993).
Na relação entre produtor-consumidor, a mercadoria passa por diferentes
níveis de mercado. O nível do produtor é aquele em que os produtores oferecem sua
produção aos intermediários. No nível de atacado, ocorrem transações mais
volumosas e a mercadoria passa para o varejista. Esse nível é integrado pelos
31
intermediários e alguns poucos produtores. O nível de varejo constitui o último elo e
é aquele que está em contato mais direto com o consumidor.
O fluxo de mercadorias em direção ao consumidor pode ser decomposto em
três fases distintas, conforme Figura 2.
Figura 2 – Fases da comercialização de produtos agrícolas
FONTE: adaptado de REIS; MORAIS; SETTE (1991).
Na primeira etapa da comercialização, um processo de convergência da
produção para um mercado central (atacadista). Nesse mercado, ocorre o
balanceamento entre oferta e demanda, caracterizando a segunda fase, em que a
produção pode ou o ser armazenada. A terceira fase envolve a dispersão da
produção, em lotes cada vez menores, até esses alcançarem os consumidores finais
(por meio dos varejistas) (MARQUES; AGUIAR, 1993).
2.2.1 Sistema de mercado
O sistema de mercado funciona como um sistema de comunicação, de
resolução de conflitos e de coordenação. Ele precisa ser capaz de sinalizar, para os
agentes de comercialização que produtos os consumidores estão dispostos a
consumir e a que preço, ou seja, que produtos devem ser produzidos e quais devem
ser retirados de mercado. Também deve ser capaz de indicar, aos consumidores,
qual a melhor forma de alocar seus recursos, de forma a obter o máximo de
satisfação, com os recursos disponíveis. Em síntese, ele deve ser uma forma
Mercado
Secundário
Mercado
Primário
Concentração
Equilíbrio
Dispersão
Mercado Terminal
32
eficiente de tomada de decisões, para consumidores e produtores (MARQUES;
AGUIAR, 1993).
O modelo de competição perfeita pressupõe, basicamente, que existe elevado
número de integrantes no mercado, perfeita fluidez de informações, total liberdade
para a entrada e saída no mercado, perfeita mobilidade dos fatores de produção e
homogeneidade do produto. É evidente que essas pré-condições são difíceis, ou
mesmo, impossíveis de ocorrerem simultaneamente. Nesse modelo, o preço de
equilíbrio é estabelecido por meio de leilão. Exemplo: se houver uma oferta maior
que a demanda, teoricamente, os produtores terão que baixar o preço, até que haja
uma quantidade a ser vendida igual a que os consumidores querem adquirir
(MARQUES; AGUIAR, 1993).
O processo de negociação individual evoluiu para formas de mercados
organizados, como terminais de comercialização, leilões e bolsas de mercadorias.
Nas bolsas, regras claras e específicas, que regulam a comercialização, e o
seguidas por todos. Acrescente-se, ainda, que essas regras são tão conhecidas, que
a simples referência a padrões de classificação dispensa a visita aos locais de
armazenagem. São pré-condições para o funcionamento da bolsa: (a) o número de
transações precisa ser grande; (b) a quantidade do produto deve ser facilmente
identificável por classificação e padrões; (c) o número de compradores e vendedores
deve ser grande e nenhum participante pode ser capaz de manipular preços; (d)
devem existir informações acessíveis para todos; e (e) o governo não pode ser o
principal fator, na determinação de preços.
O fator tempo é importante no processo de comercialização. Uma análise do
crescimento ou declínio de uma série, durante um longo período, pode determinar a
tendência do objeto em estudo. Projeções de preços, de populações, ciclos,
sazonalidade, entre outros, podem ser determinados com a introdução de variáveis
de tendências ou tempo, em regressões múltiplas.
O produtor rural normalmente atua no mercado de compra de insumos e
venda da produção, em condições desvantajosas. Para ele, entender a estrutura
desses dois mercados pode ajudar a enfrentar melhor as dificuldades do mercado e
tentar revertê-las. Desenvolver a habilidade de entender como a estrutura de
mercado pode influenciar a determinação do preço e das variáveis que devem ser
consideradas, ao se avaliar a oportunidade de atuar num determinado mercado.
33
2.2.2 Estruturas de comercialização
Com vistas a assegurar mercado e a garantir o melhor preço para os produtos
agrícolas, beneficiando os diversos atores da cadeia produtiva, são desenvolvidas
estratégias e montadas estruturas complexas. Nesse contexto, dentre outras, podem
ser citadas as seguintes estruturas, que têm influência na comercialização:
associações de produtores, cooperativas, integração entre produtores e
agroindústrias, bolsas de mercadorias, corretoras e sistemas de informações.
2.2.2.1 Bolsas de mercadorias e corretoras
As bolsas de mercadorias são peças-chave, no processo de comercialização
de commodities, por oferecem meios eficientes e seguros para a realização dos
negócios. As bolsas são associações privadas, sem fim lucrativos, formadas por
membros, as corretoras. Elas estabelecem regras a serem seguidas pelos
participantes. As principais funções exercidas por uma bolsa são: fornecer local para
as negociações, estabelecer as cláusulas dos contratos, divulgar os resultados de
cada operação, garantir o cumprimento dos contratos e disciplinar o quadro de
corretores (TEIXEIRA, 1992).
O acesso às bolsas de mercadorias, pelo ofertante e pelo comprador, ocorre
através de corretoras de cereais credenciadas. Portanto, as corretoras também
exercem papel fundamental na comercialização, aproximando os agentes
econômicos desse processo. Para realizar a intermediação, elas cobram um
percentual sobre o valor do negócio. Esse percentual varia de acordo com o produto
e, em alguns casos, o tempo de operação do ofertante. Saliente-se que as
corretoras podem operar tanto no mercado a termo, como no físico.
No Brasil, a única bolsa de mercadorias em funcionamento que comercializa
contratos futuros é a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). Trata-se da sexta
maior bolsa de futuros, no mundo, atualmente, em volume de contratos (BM&F,
2000). Os volumes negociados de produtos agropecuários, entretanto, ainda são
proporcionalmente pequenos, representando menos de 1% do total negociado na
34
BM&F. Segundo estudo realizado por Santos (2005), na safra 2004/2005, foi
concretizada a comercialização de 288.553 toneladas de arroz em casca. O mesmo
estudo aponta que somente o Estado do Rio Grande do Sul produz mais de cinco
milhões de toneladas. Sendo assim, observou-se que apenas cerca de 5% (cinco
por cento) da produção foi comercializado via bolsa, no último período.
2.2.2.2 Cooperativas
Isoladamente cada produtor não pode influenciar no preço de seu produto,
sendo que, numa negociação individual, ele entra em desvantagem, em relação aos
compradores. Na tentativa de superar essa deficiência, os produtores unem-se em
associações ou cooperativas. As cooperativas congregam pessoas que têm
objetivos comuns. São regidas pelos princípios de igualdade, liberdade, fraternidade
e solidariedade. Para Bialoskorski Neto (2000), a missão fundamental da economia
empresarial cooperativa é a de servir como intermediária entre o mercado e os
cooperados, fortalecendo a negociação do produtor com os demais elos da cadeia
produtiva.
Conforme Marques e Aguiar (1993), mais de 70% das cooperativas agrícolas
brasileiras prestam serviços de comercialização de produtos agrícolas. Na medida
em que agrupam os produtores e colocam à sua disposição uma estrutura física e
técnica, aumentam o poder de barganha, no momento de comercializar a produção.
Além de armazenar e comercializar, as cooperativas estão exercendo as atividades
de classificação e processamento de produtos, o que leva à diferenciação do
produto agrícola e possibilita a obtenção de melhores preços no mercado. Em
termos de determinação de preços, a vantagem das cooperativas é que a
negociação das condições de venda passa a ser feita pelos administradores,
pessoas bem informadas. Por negociarem volumes maiores de mercadorias, as
cooperativas podem conseguir preços mais altos, além de diminuir os custos, por
trabalharem com economia de escala (SAES, 2000).
As cooperativas constituem o elo entre o empresário rural e as bolsas de
mercadorias. Essas cooperativas, através de um quadro de funcionários
35
especializados, administram os contratos nas bolsas, em nome de seus cooperados,
facilitando o acesso do produtor (SOUZA, 1994).
As perspectivas são de incremento da participação das cooperativas nas
atividades de estocagem, processamento, exportação, entre outras. Isso se verifica,
porque, nos últimos anos, o governo tem procurado transferir para o setor privado as
atividades relacionadas com a comercialização de produtos agrícolas (SAES, 2000).
2.2.2.3 Sistema de Informação
Numa negociação, o vendedor tenta conseguir o preço mais alto e o
comprador, o preço mais baixo. Quem dispuser de informações ágeis e seguras,
sobre as condições atuais e futuras do mercado, estará em melhor situação para
negociar e obter sucesso no negócio.
Nesse sentido, o agricultor normalmente entra em desvantagem, numa
negociação, devido às suas próprias condições de isolamento dos centros
comerciais e à conseqüente deficiência de informações. Pinazza e Alimandro (1999)
afirmam que o agricultor tradicional é eficiente do ponto de vista da alocação dos
recursos, mas o sabe comercializar e não possui informações suficientes sobre
produção e mercado. Nesse sentido, se ele não acessa os sistemas de informações,
sua decisão leva em consideração apenas aspectos ligados à produção,
principalmente no que diz respeito à auto-suficiência, em detrimento dos
relacionados à comercialização e renda.
Um sistema de informação é constituído por pessoas, equipamentos e
procedimentos para coletar, selecionar, analisar, avaliar e distribuir informação
necessária, em tempo e na forma apropriada para o tomador de decisões (KOTLER,
1997). Assim, apresentando propriedades de bem coletivo, o suprimento de
informações pode vir de diversas fontes ou sistemas. As organizações públicas de
pesquisa agronômica mantêm serviços de informação tecnológica. São coletados,
sistematizados e divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)
e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, dados
sobre o volume das safras passadas, estimativas da safra corrente e avaliação do
balanço da oferta e demanda, importações, exportações e estoques de passagem.
36
Isso é possível porque essas instituições realizam pesquisas de campo de intenção
de plantio e de acompanhamento da safra. No Instituto Rio Grandense do Arroz
(IRGA), por exemplo, a divulgação dos dados ocorre por meio de publicações
técnicas e da revista Lavoura Arrozeira.
Informações sobre preços, nos mercados físicos e futuros, são
disponibilizadas pelas bolsas de mercadorias e futuros, e divulgadas, diariamente,
por órgãos de imprensa. Empresas privadas do setor de comunicações oferecem
serviços, por assinatura, de informação, em tempo real, em relação aos preços
praticados nas bolsas e em várias cidades do país e do exterior algumas dessas
interligadas com as principais bolsas de mercadorias e futuros de todo o mundo.
2.2.3 Planejamento da comercialização
O adequado planejamento é fundamental para o sucesso na comercialização.
Hopkin et al. (1973) afirmam que é importante que cada produtor prepare um plano
de comercialização, próximo ao início do ano agrícola, visando atingir os objetivos da
propriedade. Esse plano deve ter início antes da decisão de produzir e precisa
prever, entre outros, a disponibilidade de recursos, os custos envolvidos, os
mercados para os quais se dirige, a forma com que o produto será comercializado,
as normas de vendas e o preço pretendido.
A decisão de comercialização pode ser afetada por diversos fatores, como a
necessidade de capital, a disponibilidade de crédito, a liquidez e a aversão ao risco.
A disponibilidade de crédito influi nas decisões de comercialização, pois a falta de
recursos financeiros pode forçar o produtor a vender sua produção para atender às
suas necessidades de capital. Se crédito disponível, a produção pode ser
comercializada mais tarde, com preços mais compensadores, que as
necessidades de capital são atendidas através do empstimo. Em relação à
liquidez, há necessidade de se manter certas reservas em dinheiro, com a finalidade
de atender às obrigações financeiras da propriedade, às necessidades da família e
mesmo, às ocorrências incertas. a aversão ao risco pode levar o produtor a
entregar sua produção a um determinado comprador que não lhe proporcione o
37
lucro desejado ou mesmo faze-lo em época inadequada, por não estar propenso a
“apostar” no futuro.
Os custos também podem influenciar a tomada de decisão do produtor sobre
o rumo a seguir na comercialização de seus produtos. Devem ser ponderados,
dentre outros, os custos de transporte, armazenagem, impostos e operacionalização.
O transporte exerce grande peso no preço final do produto, podendo
influenciar negativamente sua competitividade. No Brasil, conforme estudo da
Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes (GEIPOT) (2002), do Ministério
dos Transportes, a maior parte do transporte é feita por rodovias. Essa fase da
comercialização acaba onerando o produto, sendo, de acordo com Puzzi (1986), um
dos componentes que mais pesa no custo de comercialização dos grãos, devido à
falta de hidrovias, insuficiência de ferrovias e precariedade de estradas asfálticas.
Para Caixeta Filho (1996), a predominância do modo rodoviário pode ser explicada
pelas dificuldades que outras categorias de transporte enfrentam para atender,
eficientemente, aos aumentos da demanda, em áreas mais afastadas do país, que
não são servidas por hidrovias ou ferrovias.
O transporte da safra de grãos pode ocorrer de algumas maneiras
diferenciadas. Em alguns casos, é feita a transferência do grão aos armazéns; em
outros, ele segue diretamente às indústrias esmagadoras; ou ainda, existe a
possibilidade de direcionamento desse grão aos portos, com destino à exportação.
Nesse caso, existe a possibilidade de o transporte da safra afetar a competitividade
ao nível mundial (CASTRO, 1995).
A fase de armazenamento dos produtos agropecuários, notadamente dos
menos perecíveis, é de suma importância, no processo de comercialização. Dentre
as diferentes funções do armazenamento, destaca-se a função específica de
influenciar na formação de preços, além de atuar no processo físico da
comercialização. A definição de preços pode ser realizada via formação de estoques
reguladores, por parte do setor governamental, ou pelo armazenamento, realizado
pelo setor privado (CARVALHO, 1995). Os custos de armazenagem variam
conforme o local e a forma da armazenagem. Quanto à modalidade, as unidades
armazenadoras podem ser convencionais, para estocagem de produtos ensacados,
industrializados e fibras; e a granel, para armazenamento de produtos como o arroz
em casca.
38
Os impostos que incidem na comercialização são o Imposto para Circulação
de Mercadorias e Serviços (ICMS), Programa de Integração Social (PIS) e
Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS). No caso
específico do arroz em casca, a cobrança do ICMS sofre variações nos estados
brasileiros. O produto exportado do Rio Grande do Sul para os estados das regiões
Sul, Sudeste e Centro-Oeste é taxado em 12%, enquanto a alíquota dos enviados
ao Norte e Nordeste é de 7%. Em julho de 2004, foi alterada a incidência das
alíquotas para o PIS/COFINS sobre o arroz, de 9,25% para isento, benefício esse
estendido para o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Sobre a venda do produto
comercializado pelo produtor, há a incidência da taxa de 2,3% de contribuição para o
Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS) e a Confederação de Agricultura e
Pecuária (CNA).
Os custos de operacionalização dizem respeito às comissões e
intermediações, cobradas por profissionais, cooperativas, etc.
2.2.4 Instrumentos de comercialização
Têm-se observado uma maior participação do setor privado nos
financiamentos, comercialização e administração de estoques, fruto do afastamento
sistemático do governo (SOUSA et al., 1998). Isso tem propiciado o aperfeiçoamento
dos antigos instrumentos de gestão dos riscos inerentes à atividade agrícola, bem
como o surgimento de novos instrumentos. Dentre eles, destacam-se: a dula de
Produto Rural (CPR), a Cédula de Produto Rural com Liquidação Financeira (CPRF),
os Empréstimos do Governo Federal (EGF), as Aquisições do Governo Federal
(AGF), os mercados futuros e os contratos de opções, cujas principais
características serão apresentadas a seguir.
39
2.2.4.1 Cédula de Produto Rural - CPR
A CPR é um título cambial, criado pela Lei nº 8.229, de 22 de agosto de 1994.
Através desse título, o emitente (produtor rural e suas associações, inclusive
cooperativas), ao vender a termo sua produção agropecuária, recebe o valor da
venda no ato da formalização do negócio e se compromete a entregar o produto
vendido, na quantidade, qualidade e em local e data estipulados no título.
As principais características da CPR são:
a) tem, como negócio, a venda e compra entre produtor rural ou cooperativa e
o comprador (indústria, exportador, etc.), para entrega futura;
b) é um título líquido e certo, transferível por endosso e exigível pela
quantidade e qualidade do produto nele previstos;
c) admite a vinculação de garantia cedular, livremente ajustada entre as
partes – como a hipoteca, o penhor, a alienação fiduciária e o aval;
d) admite, também, a inclusão de cláusulas livremente ajustadas entre as
partes, no ato da emissão, além de aditivos posteriores;
e) os endossos devem ser completos e os endossantes não respondem pela
entrega dos produtos e, sim, tão somente pela existência da obrigação;
f) responsabiliza o avalista do emitente pela entrega do produto;
g) como vincenda, é um ativo financeiro, podendo ser negociada em bolsas
de mercadorias e de futuros ou em mercado organizado de balcão, autorizado pelo
Banco Central do Brasil;
h) admite a vinculação do título em caução de outras obrigações;
i) exige o aval de uma instituição financeira (GONZALES, 1999).
O Banco do Brasil (BB), que foi o idealizador da CPR, é praticamente a única
instituição que tem operado com essa modalidade de contrato. Acrescenta-se que a
cédula, por ser garantida por um banco, apresenta maior liquidez do que as outras
formas de contratos a termo. Além disso, a CPR permite ao produtor alavancar
recursos, no volume e no momento que melhor lhe convier. Isso ocorre porque ela
pode ser emitida em qualquer fase do empreendimento, ou seja, antes do plantio,
durante o desenvolvimento vegetativo, na colheita ou até mesmo após a colheita.
40
2.2.4.2 Cédula de Produto Rural com Liquidação Financeira - CPRF
A CPRF é uma modalidade de CPR que possibilita ao emitente alavancar
recursos lastreados em produto agropecuário, obrigando-se a liquidar o título
financeiramente, pela multiplicação da quantidade de produto pelo índice de preço
(ou pelo preço) nele especificado.
A CPRF foi criada com a edição da Medida Provisória nº 2.017, de 19 de
janeiro de 2000. Suas características são idênticas às da CPR, sendo exceção
fundamental a forma de liquidação. Enquanto na CPR a liquidação se dá pela
entrega do produto, na CPRF ocorre com o pagamento em dinheiro.
É importante destacar que, ao emitir uma CPRF, o produtor não está
vendendo sua produção, mas, sim, captando recursos no mercado para financiar
suas atividades, ou projeto agrícola. Dessa forma, o produtor não fixa o preço do seu
produto, apenas se compromete a liquidar financeiramente o título no vencimento e,
em conseqüência, está assumindo os riscos de comercialização e de preços.
Outro aspecto importante diz respeito à liquidez da CPRF, pois, se de um lado
ela propicia a obtenção de recursos para suprir as necessidades dos produtores, de
outro veio ao encontro dos anseios dos investidores, que, não estando interessados
em produtos agropecuários, podem adquirir esses títulos com possibilidade de
obtenção de lucros e com a certeza quanto à não obrigatoriedade de recebimento do
produto subjacente ao título negociado.
De acordo com Gonzalez (1999), a CPRF, como qualquer instrumento,
apresenta pontos favoráveis e desfavoráveis, principalmente, dependendo da
posição do agente, se vendedor ou comprador.
Dentre os pontos favoráveis elencados por Gonzalez (1999), destacam-se os
seguintes: a) ampliação do número de compradores, permitindo, pela liquidez, a
venda em condições mais favoráveis; b) a eliminação dos problemas de
classificação e entrega; c) redução de custos de preparação e entrega do produto; d)
ampliação do mercado secundário; e) difusão, entre os produtores, do hábito de
negociar a futuro, podendo incrementar as transações com contratos futuros e com
opções.
Dentre os pontos desfavoráveis da CPRF, também citados por Gonzalez
(1999), destacam-se: a) existe a possibilidade de ocorrer vendas fictícias ou acima
41
da capacidade de produção do emitente; b) verifica-se a vulnerabilidade do produtor,
quanto ao seu produto sico; c) os indicadores financeiros representam uma dia
de preços físicos vigentes em vários mercados. Sendo assim, a aderência do preço
a um determinado local, para um produtor individual, vai depender não da
representatividade de seu mercado, na formação do indicador, mas também da
representatividade e da variação de preços, ocorridas nos demais mercados; d) a
presença do risco diferencial de preços, pelo fato de não haver a entrega física do
produto. No momento do resgate da CPRF, o preço do produto pode estar mais
baixo do que quando vendeu o título, acarretando prejuízo ao emitente.
2.2.4.3 Empréstimos do Governo Federal - EGF
Têm por finalidade incentivar a estocagem da produção, permitindo que o
produtor cumpra com os seus compromissos, sem precisar iniciar a comercialização
em momentos desfavoráveis. Com o EGF, não ocorre a venda da produção por
parte do produtor, mas apenas o seu vínculo como penhor do empréstimo que o
produtor recebe. O prazo do EGF varia de acordo com o produto e a época da
contratação. Durante o período de financiamento, o produtor poderá, a qualquer
momento, quitar o empréstimo e realizar a comercialização, se os preços de
mercados forem compensadores (LÍCIO, 1998).
2.2.4.4 Aquisição do Governo Federal - AGF
Caracteriza-se pela venda da produção ao governo, por parte do produtor ou
cooperativa. Seu objetivo é garantir o preço mínimo para os produtos agrícolas, a fim
de manter o nível de renda dos produtores. Por meio desse instrumento, o governo
adquire os excedentes em anos de safras abundantes, para posterior retorno ao
mercado, em anos de escassez. Trata-se de um mecanismo de equilíbrio entre a
oferta e a demanda, de uma safra para a outra ora atendendo aos produtores ora
aos consumidores. A AGF é importante porque, por seu intermédio, o governo
42
garante efetivamente o preço mínimo, quando os preços de mercado estão abaixo
dele. Ela tem, conhecida, uma desvantagem: se os preços de mercado subirem
depois de vendida a produção ao governo, o agricultor não pode mais se beneficiar
da alta (LÍCIO, 1998).
2.2.4.5 Mercados futuros
O mercado futuro corresponde à compra e venda de contratos, pelos usuários
(produtores, atacadistas, varejistas, agroindústrias, investidores, etc.), para a entrega
futura de mercadorias. As negociações o realizadas nas bolsas de mercadorias e
têm a função de padronizar quantidade, qualidade, época e local de entrega dos
produtos. Existem normas que estabelecem um limite para variação diária dos
preços. Todas as transações de futuros precisam ser realizadas em pregão,
obedecendo a regras rígidas de controle, transparência e ajustes financeiros. O
compromisso assumido no contrato é garantido pela caixa de liquidação da bolsa.
Se os participantes quiserem sair do negócio sem a entrega do produto, no entanto,
basta realizarem a operação inversa à inicial. Quem comprou pode vender um
número igual de contratos, pagando ou recebendo a diferença entre o preço inicial e
o final.
Os principais operadores do mercado futuro são: vendedores, compradores,
especuladores, corretores e operadores. Vendedor é aquele que tem o produto físico
(produtores rurais, cooperativas, etc.) e que procura proteção ou seguro (hedging)
contra uma eventual baixa de preços no futuro, sendo chamado de hedger. Ele entra
no mercado vendendo contratos futuros, mantendo uma posição chamada posição
vendida (short).
Comprador é aquele que necessita do produto físico em algum momento do
futuro (exportadores, etc.), procurando proteção ou seguro (hedging) contra uma
possível alta de preços, na data de entrega ou de exportação do produto. Por isso,
também é chamado de hedger. Ele entra no mercado comprando contratos futuros e
mantém uma posição chamada de posição comprada (long).
Operadores de pregão são aqueles que ficam dentro do pregão, executam as
ordens de compra ou venda de seus clientes, oriundas das corretoras, bem como
43
acompanham as suas contas e suas posições junto à Câmara de Compensação
(Clearing House).
Especulador é quem quer auferir renda com a compra ou venda de contratos
futuros. Conforme Marques e Mello (1999), a função dos especuladores, diferente do
que o nome pode sugerir, não é adversa. Ela é benéfica, no sentido de dar maior
liquidez ao mercado. A especulação proporciona um número maior de propostas de
oferta e de demanda, o que facilita a estabilização do preço e torna mais fácil a
entrada e saída dos demais agentes do mercado.
Os contratos futuros apresentam a vantagem de serem mais padronizados e,
por conseqüência, facilmente transferíveis, além de não necessitarem da entrega da
mercadoria para liquidação da transação. Lazzarini e Chaddad (2000), entretanto,
dizem que a padronização dos contratos determina, via de regra, uma menor
aderência dos mesmos às especificações físicas, locacionais ou temporais do ativo-
base.
Os mercados futuros agropecuários no Brasil começaram a ter maior
aceitação nos últimos anos, constituindo-se em importante instrumento de
administração de risco, tanto para produtores quanto para as agroindústrias.
2.2.4.6 Mercado de opções
Mercado de opções é aquele em que se negociam opções, pagando-se um
valor para se ter o direito, mas não a obrigação, de escolher fechar um negócio (se
favorável) ou desistir (se desfavorável). Os contratos de opções podem ser de venda
e de compra e são assimétricos por natureza, ou seja, o cumprimento da transação
é obrigatório para o lançador da opção e facultativo ao seu comprador. Ao adquirir
contratos de opção de venda, os compradores pagam uma determinada quantia em
dinheiro (prêmio) pelo direito de exercer sua posição, o que não ocorre nos contratos
futuros. Por outro lado, esses compradores não precisam desembolsar margens de
garantia, nem ajustes diários entre a data de entrada e a liquidação da posição. As
opções também podem ser sobre o aspecto físico. Nesse caso, ao exercer sua
posição, o investidor recebe ou entrega a mercadoria física. Há, ainda, as opções
44
sobre futuros, em que o investidor assume uma posição vendida ou comprada de um
determinado contrato futuro, ao exercer a opção.
De acordo com Aguiar (1999), recentemente, o governo vem incentivando
uma determinada modalidade de contrato de opção de venda sobre o físico, vendida
pela CONAB em leilões, que permite aos agricultores uma garantia maior contra
flutuações adversas de preços. O agricultor que comprou a opção e pagou o prêmio
venderá o produto, se o preço estiver acima do estipulado; deixará de exercer a
opção, caso o preço do produto esteja abaixo do estipulado, tendo desembolsado
apenas o valor do prêmio. A vantagem para o comprador de contratos de opções,
em relação ao comprador de contratos futuros, é a de poder aumentar seu ganho,
deixando de exercer a opção, em caso de aumento (opção de venda) ou diminuição
(opção de compra) do preço. Isso significa que o comprador de contrato de opções
reduz seu risco de preço ainda mais que o comprador de contratos futuros, mas,
para tanto, ele precisa pagar um prêmio ao vendedor do contrato. Para o vendedor
do contrato, a vantagem é justamente esta, a existência do prêmio, que pode servir
como alternativa de financiamento de parte de seu custo de produção.
2.3 ARMAZENAGEM DE GRÃOS
2.3.1 O armazenamento conforme a teoria econômica
Segundo Barros (2004), a comercialização engloba uma série de atividades,
pelas quais bens e serviços são alocados do setor produtivo aos consumidores
finais. De acordo com o mesmo autor, as atividades que compõem o processo de
comercialização dizem respeito ao processamento, transporte e armazenamento,
sendo que cada uma dessas atividades cria valor ao produto. Pinazza e Alimandro
(1999) ressaltam que é importante que essas etapas estejam em sincronia, para que
o valor criado por esses serviços seja reconhecido pelos consumidores.
Dentre as atividades envolvidas no processo de comercialização, o
armazenamento apresenta uma contribuição relevante, pois a produção agrícola
que apresenta sazonalidade de produção pode ser transferida ao longo do tempo,
45
t
t+1
i
t
t
i
t
t
i
t
i
t+1
t
t
i
t
t
i
garantindo, assim, a disponibilidade do produto para atender o consumo. Portanto,
para Aguiar (1992), o armazenamento é uma atividade empresarial que está inserida
no conjunto de atividades econômicas, com custos e receitas associados, podendo,
nesse sentido, ser analisada sob o enfoque da teoria econômica.
Quando o armazenamento é praticado num ambiente de mercado
competitivo, em que os indivíduos buscam a maximização do lucro, a decisão de
estocar parte da produção para o período seguinte é formada sob expectativa de
preço futuro. Nesse sentido, a formação de estoques será viável
economicamente, se a diferença entre o preço futuro e o preço corrente for superior
aos custos de armazenamento do produto.
De acordo com Guimarães (2001), numa estrutura de mercado competitivo, a
expressão que representa o lucro de cada agente envolvido com a prática de
armazenamento seja ele um produtor, uma agroindústria ou uma empresa
prestadora de serviços de armazenagem – é a seguinte:
E = δE P
I - P
I
+ κI
Onde:
E P é a expectativa de preço formada em t para o preço em t+1;
I é o estoque armazenado em t;
P é o preço corrente em t;
κ é o custo de armazenamento médio (constante);
δ é a taxa de desconto = [1/(1+r)], onde r é a taxa de juros; e,
E é o lucro com o armazenamento.
Se o preço futuro for maior que o preço corrente mais o custo de estocagem,
o agente maximizador decidirá formar estoques para o período seguinte até o ponto
de equilíbrio, para que o ganho esperado seja maximizado. Caso contrário, se o
preço futuro for menor que o preço corrente mais o custo de estocagem, não haverá
formação de estoque. De acordo com Barros (2004) e Guimarães (2001), essa
última situação revela um fator importante, que é a descontinuidade no
armazenamento, mostrando que os estoques não podem assumir valores negativos.
Esse ambiente no qual o armazenamento está inserido permite focar a
análise dos efeitos dessa atividade sobre o bem-estar dos consumidores e
46
produtores, a partir das oscilações nos excedentes dos agentes. Aguiar (1992)
comprova que tanto os produtores quanto os consumidores têm seus excedentes
alterados, pois a formação de estoques, no período inicial, faz o preço aumentar
nesse período, provocando, conseqüentemente, uma queda de preço no período
seguinte, quando os estoques são liberados para consumo.
Guimarães (2001), em sua pesquisa sobre armazenamento de milho, verificou
que vários autores analisaram o armazenamento, em especial de produtos agrícolas,
de um período para o outro. Dentre eles, a autora destaca o trabalho de Wright e
Williams (1984), em que é possível também compreender a função dos estoques
agrícolas e seus efeitos sobre o equilíbrio de mercado.
Portanto, as decisões relativas ao processo de armazenagem provocam
alterações no equilíbrio do mercado e, conseqüentemente, no bem-estar de
consumidores e produtores. Isso ocorre, tanto no período em que se tomou a
decisão de reter estoques, quanto no período seguinte, quando haverá liberação dos
mesmos para questões relacionadas ao abastecimento. Segundo Guimarães (2001),
o efeito do armazenamento sobre o mercado é dinâmico, afetando não apenas os
preços e as quantidades consumidas no ano em que são formados, mas também o
preço e a quantidade disponível para consumo no ano seguinte.
2.3.2 O enfoque tecnológico e logístico do armazenamento
Do ponto de vista tecnológico, o armazenamento é uma atividade essencial
para a redução das perdas agrícolas e para a conservação dos grãos. Segundo
Sasseron (1995), a armazenagem é a atividade que auxilia na conservação dos
produtos, de maneira a manter, em ambiente natural, a integridade qualitativa e
quantitativa dos grãos.
Para Biagi, Bertol e Carneiro (2002), o armazenamento também é
considerado uma atividade de apoio fundamental para as etapas de transporte e
comercialização. Os autores explicam que a presença de unidades armazenadoras
próximas aos locais de produção, aos mercados consumidores, aos portos e às
agroindústrias possibilita a racionalização do custo de transporte, a alocação
estratégica de estoques e, ainda, facilita o comércio inter-regional.
47
Durante as etapas de produção e comercialização, um fator comumente
observado e que preocupa a todos os agentes envolvidos no processo é a incidência
de perdas. Segundo Weber (2001), a colheita de grãos com umidade fora do nível
recomendado e a utilização de máquinas obsoletas ou desreguladas são fatores que
promovem perdas e danos nos grãos, o que propicia o ataque de pragas e doenças
dentro dos armazéns.
Apesar dos níveis elevados de perdas observadas no campo ocorrerem em
função do manejo inadequado da cultura, é nas etapas de transporte, de
beneficiamento e de armazenamento dos grãos que esses índices são mais
expressivos e preocupantes. Segundo Puzzi (1986), os grãos estão sujeitos a dois
tipos de perdas, nos armazéns: a perda física, em que ocorre a redução do peso do
produto, devido ao ataque de insetos e roedores; e a perda relacionada ao atributo
qualidade, em que as características intrínsecas e essenciais do produto são
alteradas, devido à incidência de fungos e outras pragas. Isso altera os atributos
organolépticos e nutricionais dos grãos.
A pesquisa desenvolvida pelo Ministério da Agricultura, mencionada por
Sasseron (1995), revelou um coeficiente de aproximadamente 20% de perdas para a
cultura do milho, dentro dos armazéns. Essas perdas ocorreram devido à
precariedade das instalações nas unidades armazenadoras, à ineficiência do
sistema operacional, ao controle fitossanitário inadequado dos grãos estocados e à
localização ruim. Weber (2001) cita uma outra pesquisa, realizada pelo Ministério da
Agricultura, em maio de 1993, em que se verificou um nível médio de perdas, nos
armazéns, por volta de 6%, para as culturas de milho, soja, arroz, feijão e trigo. As
causas de perdas observadas para essas culturas foram as mesmas listadas por
Sasseron (1995).
Biagi, Bertol e Carneiro (2002) ressaltam que, para a manutenção das
características qualitativas e quantitativas dos grãos armazenados, é necessária a
utilização de procedimentos e tecnologias eficientes, pelas unidades
armazenadoras, de forma a diminuir a incidência de perdas e danos aos produtos
agrícolas.
De acordo com Bowersox e Closs (2001), a presença de armazéns, em um
sistema logístico, agrega utilidades temporais e espaciais ao produto envolvido. A
decisão de adicionar uma nova unidade armazenadora em uma rede de distribuição
ocorrerá, se houver elevação no nível de serviços prestados aos clientes,
48
acompanhada de um diferencial na estrutura de custo de todo o canal. Os autores
evidenciam que a consolidação de carga e a disponibilidade de estoques de
produtos, ao longo do sistema logístico, conferem aos armazéns a agregação de
níveis de serviços. Como a integração de uma rede logística visa à minimização do
custo total envolvido, no entanto, é preciso equilibrar o trade-off existente entre o
custo de transporte e o custo de armazenagem.
No Gráfico 2, são apresentadas as relações entre essas variáveis. O ponto de
mínimo custo total do sistema logístico indica o número de armazéns neste gráfico
seria o número cinco que proporciona a consolidação de cargas; entretanto, tal
ponto não coincide com os pontos de mínimo das curvas de custo de transporte e de
armazenagem. Percebe-se que, no caso da curva de armazenagem, os custos se
elevam, à medida que se adiciona armazém no sistema; portanto, a curva de custo
total é a responsável por equilibrar o trade-off existente entre custo de transporte e
armazenamento, ou seja, ela mostra o custo total mínimo do sistema logístico
considerado.
Gráfico 2 – Custo total mínimo entre as atividades de transporte e de armazenamento, em um
sistema logístico
Fonte: Bowersox; Closs (2001, p.425)
Custo de transporte
Custo de armazenagem
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
Custo total
Custo Total
Número de Armazéns
49
Os mesmos autores ainda ressaltam que se não houver necessidade de
formação de estoques de segurança e for mantido o nível de estoque básico, o
menor custo do sistema é aquele próximo ao ponto do mínimo custo de transporte.
Para Moron (1999), os processos de armazenagem são importantes, desde
que as unidades armazenadoras instaladas contribuam para o aumento da
velocidade do fluxo de produtos pelo canal logístico. O autor agrega a essa atividade
mais um nível de serviço, que é a guarda dos produtos para suprir os processos
contínuos de produção ao longo do ano.
2.3.2.1 Fluxo de grãos pelas unidades armazenadoras
As unidades armazenadoras, particularmente nas cadeias industriais, estão
presentes nos seus mais diversos elos. Durante o processo de comercialização, por
exemplo, os grãos têm que passar por um armazém para a retirada de impurezas e
para a redução de sua umidade. Isso é importante para conservar o produto e
otimizar o modal transporte a ser utilizado.
Os armazéns podem ser agrupados de acordo com as características
regionais da localidade em que estão instalados. Assim, têm-se as unidades
instaladas nas fazendas, as unidades coletoras, as unidades subterminais e as
unidades terminais. uma outra denominação, conhecida como unidade
intermediária, que se refere ao agrupamento das unidades coletoras e subterminais.
As unidades instaladas nas propriedades agrícolas, geralmente, são de uso
exclusivo do proprietário, enquanto as unidades coletoras, normalmente utilizadas
por grupos de produtores, estão situadas nas proximidades da região de produção.
As cooperativas e os denominados condomínios de armazéns enquadram-se nessa
categoria. As unidades subterminais são aquelas instaladas próximas aos principais
sistemas viários (inclusive ferrovias e hidrovias) e estão aptas, operacionalmente, a
receber produtos procedentes das unidades coletoras e daquelas instaladas nas
fazendas, além de atuarem no escalonamento de produtos aos terminais portuários.
Como exemplo, citam-se os armazéns gerais das companhias estaduais. Já as
unidades terminais são aquelas situadas nos centros de consumo, nos portos e nas
agroindústrias.
50
Na Figura 3, apresenta-se um esquema dos fluxos que podem ser seguidos
pelos grãos, desde o local de produção até o seu destino final, considerando a
existência de armazéns ao longo da cadeia.
Figura 3 – Fluxos de produtos pelas unidades armazenadoras
Fonte: Puzzi (1986).
Nota-se, pela Figura 3, que, após a colheita, o produto é direcionado a uma
estrutura armazenadora, que pode estar situada no próprio local de cultivo. Daí,
segue para os subterminais, onde será feita sua comercialização, ou, então, para os
armazéns portuários, caso seu destino seja o mercado externo. O produto originado
no armazém da fazenda, no entanto, poderá passar por uma unidade subterminal,
antes de ser escoado para os portos ou para as agroindústrias processadoras. Na
ausência de armazéns dentro das fazendas, os grãos podem ser direcionados
primeiramente para os coletores, antes de proceder a sua comercialização. Podem,
ainda, seguir pelos demais armazéns instalados ao longo da cadeia, até chegarem
ao seu destino final, seja ele uma agroindústria ou um porto.
Segundo Puzzi (1986), dentre essas diferentes unidades que compõem a
rede armazenadora, percebe-se que não é necessário seguir a seqüência das
categorias apresentadas. Isso se verifica, pois, para determinados casos, as
unidades subterminais podem não ser necessárias para escalonar o fluxo.
Sem armazém na propriedade
Unidade Terminal
Portos
Agroindústrias
Unidade na Fazenda
Unidade Coletora
Pool de produtores
Cooperativas
Unidades das agroindústrias
Unidade Subterminal
Cooperativas
Armazenadores privados
Armazenadores públicos
Grãos
Sem
ente
Produção
Com armazém na propriedade
51
2.3.3 A nova lei de armazenagem dos produtos agropecuários
De acordo com Cardoso (2002), o Decreto-Lei nº. 1.102, de 21 de novembro
de 1903, do Código Comercial Brasileiro, vigente até o ano 2000, contribuiu para o
acúmulo de problemas, como a defasagem tecnológica, o baixo nível de eficiência, o
baixo nível de credibilidade, o elevado índice de perdas, a distribuição espacial e
a dificuldade de controle dos estoques.
Para Azevedo (2000), a lei de armazenagem, que instituía regras para o
estabelecimento de empresas de armazéns gerais, determinando os direitos e
obrigações dessas empresas, já estava ultrapassada e não condizia com a realidade
da agropecuária. Um dos seus principais argumentos é que esta previa apenas o
risco de furto e incêndio. O autor afirma que seria necessária uma profunda
reformulação da lei de armazenagem para incentivar novos grupos a entrarem em
um negócio relacionado à infra-estrutura, que é essencial para o crescimento do
agronegócio e para a redução do “custo Brasil”.
O antigo decreto também proibia os armazéns de comercializarem
mercadorias idênticas às que eles se propunham a armazenar. De acordo com o
decreto, os armazéns gerais não podiam exercer o comércio de mercadorias
idênticas às que se propunham receber em depósito, e adquirir, para si ou para
outrem, mercadorias expostas à venda em seus estabelecimentos, ainda que fosse
a pretexto de consumo particular.
Considerando que os armans estão inseridos nos microambientes da
região produtora, eles apresentariam um custo mais baixo e uma forma mais segura
e eficiente de adquirir a produção, quando comparados a grandes indústrias.
Sousa e Marques (1997) afirmam que o principal resultado dessa proibição foi
a elevação dos custos de transação, uma vez que a lei incentivava a informalidade e
impossibilitava o giro dos estoques de grãos, uma forma de diminuição dos custos
fixos do armazém.
A nova lei de armazenagem de produtos agrícolas, Decreto 9.973, de 29
de maio de 2000, favoreceu os instrumentos de comercialização (mercado de futuros
e de opções) e foi fundamental para o desenvolvimento dos novos instrumentos de
financiamento agropecuários, baseados na emissão de títulos lastreados nos
52
respectivos produtos. Para Cardoso (2002), as principais inovações da lei de
armazenagem foram:
a) Ganho de credibilidade do sistema e facilitação da comercialização de
títulos que representam as mercadorias depositadas;
b) Maior clareza, com relação aos regulamentos de depósitos e contratos;
c) Maior transparência do mercado, através da obrigação de informar dados
estatísticos dos estoques;
d) Definição de um cadastro nacional de armans;
e) Definição de condições técnicas e operacionais dos armazéns, estipulando
padrões nimos de funcionamento, por meio da criação de um sistema
de certificação; e,
f) Permissão para que o armazenador também atue como um comerciante
de produtos agrícolas (antes proibido).
A permissão para que os armazéns possam adquirir ou intermediar os grãos
dos produtores e repassar grandes lotes para empresas de maior porte possibilita
aos armazéns brasileiros operarem como os elevators americanos. Esses
estabelecimentos são considerados um misto de armazéns gerais e cerealistas. Isso
ocorre, porque suas receitas são oriundas tanto de compra e venda de grãos quanto
da prestação de serviços de secagem e armazenagem, para produtores e
processadores.
De acordo com Sousa e Marques (1997), os elevators americanos
apresentam características que possibilitam ganhos de eficiência e maior
competitividade no preço final do produto, exercendo um papel fundamental na
comercialização dos grãos. Os mesmos autores apontam que esses agentes podem
comprar grãos dos produtores a um custo administrativo e operacional abaixo dos
preços pagos pelas grandes indústrias, principalmente devido a quatro fatores que
essas devem manter:
a) Uma estrutura onerosa, de pessoal de campo e administrativo;
b) Frotas de automóveis, que possibilitem visitar a fazendas, por todo o
interior;
c) Escritórios nas diversas regiões produtoras, para negociação direta com
os produtores; e,
53
d) Investimentos em análises de riscos de crédito, que adiantam recursos
para o plantio do produtor.
54
3 CONTEXTUALIZAÇÃO
3.1 O CONTEXTO MUNDIAL DO ARROZ
Segundo a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO)
(2004), o arroz é o alimento básico de mais da metade da população mundial. Os
dados estatísticos indicam que 850 milhões de pessoas, em todo o mundo, passam
fome de forma crônica e mais de 50% dessas vivem em zonas que dependem da
produção de arroz. Somente na Ásia, mais de dois milhões de pessoas obtém de 60
a 70% do consumo de energia com arroz e seus derivados e, na África, o arroz é a
fonte alimentar de maior conteúdo energético.
Dada sua importância como alimento, a FAO declarou 2004 o Ano
Internacional do Arroz, destacando seu alto valor social para o mundo e objetivando
promover e dirigir o desenvolvimento sustentável do arroz e dos sistemas de
produção baseados no arroz, agora e no futuro (FAO, 2004).
A produção mundial em 2005 foi de 582 milhões de toneladas de arroz em
casca (405,2 milhões de toneladas de arroz beneficiado), e existe a previsão de um
aumento no consumo mundial para 600 milhões de toneladas de arroz em casca, o
que levará ao declínio, pelo quarto ano consecutivo, dos estoques mundiais do grão
(USDA, 2006).
O incremento de 20% na produção mundial, obtido nos últimos 20 anos, não
se refletiu em aumento na sua comercialização, que teve um acréscimo de apenas
3%. O United States Department of Agriculture - USDA constatou que, para
2004/2005, a comercialização permaneceu em 6,1% do total beneficiado. Esse valor
pode ser considerado baixo, se comparado com o da soja e do trigo, produtos que
têm, respectivamente, 25% e 20% da produção negociada nesse comércio. Por ser
cultivado em todos os continentes, grande parte da produção é consumida
localmente.
No contexto atual, a China é o maior produtor de arroz do mundo, sendo que
esse país e a Índia respondem por mais de 50% da produção mundial de arroz. O
Brasil representa 2% da produção mundial, conforme dados da safra de 2004/2005
(Tabela 1).
55
Tabela 1 – Países maiores produtores de arroz – Safra 2004/2005
Posição
País
Produção
(milhões de toneladas)
Participação
(%)
1 China 184,3 29,9
2 Índia 129,0 21,0
3 Indonésia 54,0 8,8
4 Bangladesh 40,1 6,5
5 Vietnã 36,3 5,9
6 Tailândia 27,0 4,4
7 Myanmar 22,0 3,6
8 Filipinas 14,8 2,4
9 Brasil 13,1 2,1
10 Japão 11,0 1,8
Outros 83,8 13,6
Total 616,7 100,0
Fonte: FAO (2006).
O mercado mundial do arroz apresenta singularidades. Por exemplo, 90% da
produção e do consumo concentram-se no continente asiático, onde também
ocorrem 75% das exportações e 40% das importações.
A oferta de arroz é dominada por poucos países. Os principais exportadores
de arroz são Tailândia, Vietnã, Índia, Estados Unidos da América (EUA) e Paquistão.
Eles comercializam quase 85% do volume total mundial. Esses países competem
duramente entre si, para conquistar novos mercados (Gráfico 3).
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Ano
Minhões de Toneladas
Tailândia
Vietnã
Índia
Estados Unidos
Paquistão
Egito
China
Gráfico 3 – Países maiores exportadores de arroz (milhões de toneladas) – Safra 2004/2005
Fonte: USDA (2006).
Atualmente, os principais mercados importadores encontram-se no Extremo
Oriente, África e Oriente Médio (Gráfico 4). Nesses dois últimos, a diferença
56
aumenta cada vez mais, devido ao grande crescimento do consumo e ao pequeno
crescimento da produção. O mercado comprador é extremamente fragmentado e as
quantidades importadas pelos países, variam de ano a ano. As Filipinas constituem
o maior comprador, com cerca de 7% das compras mundiais em 2004/2005.
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4
1,6
1,8
2,0
Filipinas
Nigé
r
ia
Arábia Saudita
S
enega
l
U
n
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ã
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p
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Irã
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d
o
n
és
i
a
Cu
b
a
Br
a
sil
Países
Milhões de Toneladas
* O comércio de arroz da União Européia foi ajustado desde julho de 1993, para excluir o comércio intra-União Européia dos
anos 1980 até o presente.
Gráfico 4 – Países maiores importadores de arroz (milhões de toneladas) – Safra 2004/2005
Fonte: USDA (2006).
A China consome 184 milhões de toneladas, cerca de 30% do arroz
produzido do mundo, seguido pela Índia, Indonésia e Bangladesh, que compram,
respectivamente, 20%, 9% e 7% (Tabela 2). A União Européia consome somente 2,3
milhões de toneladas de arroz beneficiado, constituindo-se na 17ª região
consumidora no ranking mundial. Produz, em média, 3,1 milhões de toneladas, por
ano, e exporta 175 mil toneladas de arroz beneficiado. Para complementar o seu
abastecimento, importa cerca de 1,4 milhões de toneladas de arroz beneficiado.
57
Tabela 2 – Consumo de arroz em 2005
País
Consumo
(milhões de toneladas)
Posição no Ranking
Mundial
China 184.004 1
Índia 124.500 2
Indonésia 54.885 3
Bangladesh 40.854 4
Vietnã 31.341 5
Brasil 13.641 9
EUA 6.622 12
União Européia 2.247 17
Argentina 677 37
Uruguai 613 39
Fonte: USDA (2006).
3.2 O ARROZ NA AMÉRICA DO SUL E NO MERCOSUL
uma tendência mundial para a união de blocos econômicos, observando
as regiões geográficas e os interesses do grupo de países. Nas Américas, por
exemplo, tem-se o MERCOSUL, o Acordo de Livre Comércio da América do Norte
(NAFTA), a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) e a Comunidade Andina
das Nações (CAN).
Há, ainda, acordos firmados entre blocos como o recentemente
estabelecido entre o MERCOSUL e três países da CAN e entre blocos e países,
como o também recentemente firmado entre Peru e MERCOSUL. Existem também
membros associados aos blocos, como o Chile ao MERCOSUL, traduzindo-se em
pactos de liberalização comercial.
Nesse sentido, é interessante conhecer dados básicos sobre a produção de
arroz, nos países sul-americanos, conforme mostrado na Tabela 3.
58
Tabela 3 – Produção e comercialização de países da América do Sul - 2005
País
Produção
(toneladas)
Importação
(toneladas)
Exportação
(toneladas)
Brasil 13.140.900 500.000 250.000
Colômbia 2.602.300
Peru 2.350.000 115.000
Equador 1.375.502
Uruguai 1.262.600 650.000
Argentina 1.027.000 350.000
Venezuela 950.000
Guiana 501.500 175.000
Bolívia 304.530
Suriname 195.000
Chile 116.832
Paraguai 102.000
Guiana Francesa 23.500
Total 23.951.664 615.000 1.425.000
FONTE: USDA (2006).
O setor arrozeiro do MERCOSUL, envolvendo Brasil, Argentina, Paraguai e
Uruguai, caracteriza-se pela utilização do sistema de cultivo em rzea (irrigado). No
Uruguai, o tamanho médio das propriedades é de 326 hectares e cerca de 570
produtores se encontram em atividade, sendo que, mais de 50% da produção é
obtida em propriedades com mais de 500 hectares. A principal zona de
desenvolvimento do setor arrozeiro encontra-se na região Leste (Bacia da Lagoa
Mirim), sendo responsável por 66% da produção nacional, possuindo toda infra-
estrutura de irrigação, transporte, armazenagem e industrialização. A região Norte
(Artigas e Salto) apresenta-se como a de maior rendimento por hectare, com 7.769
quilos, e a Noroeste e Centro (Tacuarembó, Rivera e Durazno) representam 12% da
área, contribuindo com 10% da produção. O nível de produtividade não tem maiores
variações associadas ao tamanho das áreas plantadas, com exceção para áreas
menores que 100 hectares, cujos rendimentos são cerca de 11% menores que a
média.
Na safra 2003/2004, a oferta exportável no Uruguai foi de 1.255.570
toneladas de arroz em casca. Os mercados são Brasil mais de 60% do total Irã,
México, Peru e Chile (ACA, 2004). O setor agroindustrial uruguaio tem um perfil
exportador, com uma forte articulação nas fases agrícola e industrial, e bom
desenvolvimento tecnogico.
59
Na Argentina, a produção concentra-se no norte do país, sendo as principais
províncias produtoras Entre Rios e Corrientes, com respectivamente 49% e 31% da
produção de arroz. Essas regiões também beneficiam mais de 90% do arroz
argentino, contando com 110 moinhos. Na província de Corrientes, as fontes de
água para irrigação se originam principalmente de barragens e rios, enquanto que,
na província de Entre Rios, essas fontes têm origem em poços artesianos e, como
matriz energética, o diesel. Isso faz com que o custo de produção nessa província
seja mais alto que em outras regiões e varie, significativamente, em função do preço
do óleo diesel (SAGPYA, 2003).
O excedente exportável, na safra 2003/2004, é 590.000 toneladas de arroz
em casca, sendo que de 75 a 80% dessa é destinado para o mercado brasileiro e o
restante para a Bolívia, Chile e Irã.
O consumo de arroz no MERCOSUL está centrado no Brasil. A demanda
brasileira é de cerca de 71 kg de arroz em casca por habitante/ano (KAYSER;
RUCATTI, 2004), enquanto no Uruguai é de 20 quilos por habitante/ano e na
Argentina, de 12 quilos por habitante/ano. Até o final da década de 1970, o Brasil foi
exportador de arroz. A partir de então, passou a importar pequenas quantidades e,
no período em que se estabeleceu o MERCOSUL, cresceu a lacuna entre a
produção e o consumo anual.
Uruguai e Argentina alavancaram rapidamente sua produção, beneficiados
pela Tarifa Externa Comum (TEC), proximidade geográfica, associados a uma taxa
de câmbio favorável até o final de 1998, com arroz tipo agulhinha de alta qualidade,
custos de produção menores, juros mais competitivos de financiamento, carga
tributária menor, fretes e custos de comercialização inferiores ao Brasil.
Em 1990, a produção de arroz no MERCOSUL era de 8,8 milhões de
toneladas, incapaz de suprir o consumo do bloco. Já em 1999, a região produziu
14,55 milhões de toneladas, ultrapassando o consumo e gerando excedentes. A
participação dos países vizinhos foi decisiva para o volume produzido no bloco,
durante esse período (Tabela 4).
60
Tabela 4 MERCOSUL: área, produção e produtividade – 1995/2005
Área (milhões de hectares) Produção (milhões de toneladas) Produtividade (kg/hectare)
Ano
Argent. Brasil Parag. Urug. Argent. Brasil Parag. Urug. Argent. Brasil Parag. Urug.
1995 0,18 4,37 0,05 0,15 0,93 11,23 0,14 0,81 5.031 2.567 2.839 5.510
1996 0,19 3,25 0,04 0,15 0,99 8,64 0,13 0,98 5.103 2.657 3.010 6.468
1997 0,22 3,06 0,04 0,15 1,21 8,35 0,14 1,03 5.370 2.731 3.496 6.584
1998 0,21 3,06 0,02 0,17 1,01 7,72 0,08 0,86 4.776 2.520 3.879 5.086
1999 0,29 3,81 0,03 0,21 1,66 11,71 0,13 1,33 5.734 3.071 4.613 6.383
2000 0,19 3,66 0,03 0,19 0,90 11,09 0,10 1,21 4.780 3.034 3.849 6.384
2001 0,15 3,14 0,03 0,15 0,86 10,18 0,11 1,03 5.698 3.241 3.980 6.704
2002 0,12 3,15 0,03 0,16 0,71 10,46 0,11 0,94 5.746 2.324 3.884 5.863
2003 0,13 3,15 0,03 0,19 0,72 10,20 0,11 1,25 5.400 3.238 3.818 6.579
2004 0,14 3,65 0,03 0,20 0,83 12,81 0,12 1,05 5.550 3.510 3.856 6.560
2005 0,14 3,77 0,03 0,19 1,03 13,14 0,10 1,26 5.436 3.397 3.879 6.492
FONTE: MAPA (2006); USDA (2006); FAO (2006); IRGA (2006).
Uruguai e Argentina, com dificuldades de expandirem suas exportações para
outros países, colocam seus excedentes no mercado brasileiro. Esses excedentes
na safra 2004/2005, alcançaram um total de um milhão de toneladas (Tabela 5),
gerando estoques elevados no país e, conseqüentemente, no MERCOSUL.
Os excedentes de produção não absorvíveis pelo mercado brasileiro
contribuem para uma indesejável queda nos preços e na rentabilidade e
sustentabilidade do setor produtivo de arroz na região Sul do Brasil.
Tabela 5 – Produção, consumo, exportação e importação – MERCOSUL (milhões toneladas) –
2005
Brasil Argentina Uruguai Total
Produção 13,14 1,03 1,26 15,43
Consumo 13,64 0,68 0,61 14,93
Exportação 0,00 0,35 0,65 1,00
Importação 0,50 0,00 0,00 0,50
Fonte: IRGA (2006); USDA (2006).
3.3 O ARROZ NO BRASIL
O arroz é uma das mais importantes culturas anuais produzidas no Brasil,
significando cerca de 15% a 20% do total de grãos colhidos no país. Difundido
largamente no país, o arroz é cultivado praticamente em todos os Estados e
consumido por todas as classes sociais, principalmente pelas de mais baixa renda.
61
O arroz ocupa posição de destaque do ponto de vista econômico e social, sendo
responsável por suprir a população brasileira com um considerável aporte de
calorias e proteínas na sua dieta básica.
Na década de 1980, o Brasil importava pequenas quantidades de arroz,
nunca ultrapassando 5% da demanda total. A partir de 1989/1990, tornou-se um dos
principais importadores deste cereal. Com quantidades crescentes, que chegaram a
2 milhões de toneladas em 1997/1998, as importações atingiram, nessa década,
uma média superior a 10% da demanda interna.
A produção e a produtividade média brasileira, nas últimas duas décadas,
apresentaram incrementos significativos, apesar da redução da área plantada. Na
safra 1980/1981, o Brasil cultivou 6,6 milhões de hectares de arroz, obtendo uma
produção de 8,7 milhões de toneladas, com produtividade média de 1,3
tonelada/hectare. No decorrer desse período, a área de cultivo recuou cerca de
52%, atingindo, em 2004/2005, 3,8 milhões de hectares, sendo que a produtividade
apresentou um incremento de 165%, passando a 3.400 quilos por hectare (Gráfico
5).
-
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
7.000
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Ano
Quilos por hectare
SUL
CENTRO-OESTE
SUDESTE
NORTE
NORDESTE
BRASIL
Gráfico 5 – Evolução da produtividade (quilos por hectare) de arroz no Brasil – 1996 a 2005
FONTE: CONAB (2006).
A Região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) é a principal
produtora (Tabela 6), com 55,7% do total, seguida da região Centro-Oeste, com
20,9%. Ambas são auto-suficientes na produção e exportam para outras regiões do
país. A Região Sudeste é a que apresenta maior déficit na produção, em relação ao
consumo interno.
62
Tabela 6 – Regiões produtoras de arroz no Brasil - Safra 2004/2005
Região Produção Porcentagem
Sul 7.139,2 55,7
Centro-Oeste 2.672,4 20,9
Norte 1.380,2 10,8
Nordeste 1.258,2 9,8
Sudeste 359,4 2,8
Brasil 12.809,4 100,0
Fonte: CONAB (2006).
No Brasil, o arroz é produzido sob diferentes sistemas de cultivo. Nos anos de
2004/2005, 37% do arroz colhido no Brasil foi produzido em terras altas (sequeiro) e
63% em várzeas (irrigado).
A região que se sobressai no cultivo de arroz de terras altas, é o Centro-
Oeste, seguida das regiões Nordeste e Norte. A produtividade média brasileira
alcançada por esse sistema de cultivo é de cerca de 1.783 quilos por hectare.
O sistema de várzeas, que normalmente é desenvolvido no Brasil,
caracteriza-se pelo cultivo irrigado por inundação permanente da lavoura, o que
assegura produções altas e estáveis. O Rio Grande do Sul contribui com cerca de
77% de arroz cultivado pelo sistema de várzeas (irrigado), seguido dos Estados de
Santa Catarina (12,8%) e Tocantins (2,5%). A produtividade média do sistema
atinge, no Brasil, 5.630 quilos por hectare.
3.4 O ARROZ NO RIO GRANDE DO SUL
O sistema de cultivo de arroz irrigado, tradicionalmente praticado na Região
Sul do Brasil, vem contribuindo, em média, com 53% da produção nacional, sendo o
Rio Grande do Sul o maior produtor brasileiro (BORGES, 2005).
A lavoura de arroz irrigado no Rio Grande do Sul produz, anualmente, cerca
de 5 milhões de toneladas. Essa produção é considerada um estabilizador da safra
nacional, correspondendo a cerca de 50% da produção brasileira, a maior entre os
Estados da Federação. Representa 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) e gera R$
63
175 milhões em ICMS e 250 mil empregos no Estado. Cultivado em cerca de 950 mil
hectares, apresenta uma produtividade média em torno de 5.500 quilos por hectare.
Essa produtividade é próxima das obtidas em países tradicionais, no cultivo de arroz
irrigado, ficando pouco abaixo das registradas nos EUA, Austrália e Japão.
Considerando os últimos dez anos, a área de cultivo do cereal no Rio Grande
do Sul passou de 829 mil (1995/1996) para 1,05 milhão de hectares (2004/2005),
com previsão de pequena redução na safra 2005/2006 (CONAB, 2006).
A produção total de arroz no Estado oscilou entre 5,1 milhões de toneladas,
em 1999/2000; 4,7 milhões de toneladas, em 2002/2003; chegando a 6,3 em
2003/2004, e caindo para 5,9 milhões de toneladas, na safra passada. A
produtividade média ficou em torno de 5.518 quilos por hectare. No decênio,
apresentou variações entre 4.250 quilos por hectare, na safra 1997/1998, a 6.064
quilos por hectare, em 2003/2004 (IRGA, 2006), sendo que na safra 2004/2005, a
produtividade foi de 5.600 quilos por hectare.
No Rio Grande do Sul, o arroz irrigado é cultivado nas seguintes regiões:
Fronteira Oeste (1), Campanha (2), Depressão Central (3), Planície Costeira Interna
da Lagoa dos Patos (4), Planície Costeira Externa da Lagoa dos Patos (5) e Litoral
Sul (6) (Figura 4). Essas regiões apresentam diferenças quanto à topografia, clima,
solos, disponibilidade de água para irrigação, tamanho de lavoura, entre outras,
determinando variações em termos de produção e produtividade média (IRGA,
2006).
Figura 4 Mapa das regiões arrozeiras do Rio Grande do Sul
Fonte: IRGA (2006)
64
4 METODOLOGIA
Este capítulo apresenta a descrição da população e da amostra e descreve os
métodos utilizados na obtenção e tratamento dos dados.
4.1 TIPO DE PESQUISA
O estudo é uma pesquisa exploratória, pois os seus propósitos imediatos são
prover maior conhecimento sobre um tema ou problema de pesquisa, desenvolver
hipótese e aprofundar questões a serem estudadas, de forma pouco estruturada, em
termos de procedimento (JUNG, 2004). Uma pesquisa exploratória, segundo Mattar
(2000), utiliza elementos de coleta de dados secundários e dados primários.
O instrumento de coleta de dados primários utilizado foi um roteiro de
entrevista (Apêndice A), com uma série semi-estruturada de perguntas respondidas
pelo entrevistado via ligação telefônica, cujas respostas foram gravadas para
consultas futuras. O roteiro de entrevista foi dividido em duas partes: a primeira
relacionou-se à caracterização do produtor e foi constituída por perguntas, em que
somente uma resposta é possível. A segunda parte buscou obter informações sobre
a forma de comercialização e/ou armazenamento e os fatores que levam o produtor
a decidir por uma forma, em detrimento das outras. Essa parte continha, portanto,
perguntas semi-estruturadas com liberdade de resposta. A coleta de dados primária
foi realizada entre dezembro de 2005 e janeiro de 2006. O nome dos produtores ou
outras informações pessoais o constam na pesquisa, pois é necessário manter
sigilo dos dados fornecidos pelo IRGA.
Os dados secundários coletados para a realização do trabalho constituem-se
de pesquisa bibliográfica. Para isso, foram utilizados relatórios técnicos, livros e
artigos especializados, assim como pesquisas na internet. Buscou-se obter
informações através de homepages de diversas entidades e instituições. Entre elas,
destacam-se: Sindicato das Indústrias do Arroz (SINDARROZ), Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), EMBRAPA, IRGA, CONAB, FAO,
entre outras.
65
Foram, ainda, coletadas informações, por meio de entrevistas informais, a
especialistas da área de comercialização e armazenagem de arroz, bem como por
meio da participação em ‘dias de campo’, para uma maior familiarização com o
objeto de estudo.
4.2 POPULAÇÃO E SELEÇÃO DA AMOSTRA
A população compreende os produtores de arroz dos municípios de Camaquã
e Viamão, no Rio Grande do Sul. Esses municípios, segundo dados do Censo da
Lavoura de Arroz Irrigado do Rio Grande do Sul Safra 2004/2005 (OLIVEIRA,
2006), apresentam 266 e 174 produtores orizícolas, respectivamente. O município
de Camaquã foi escolhido devido a sua importância histórica e tradição na cultura do
arroz. Viamão, faz parte da pesquisa pelo fato de estar localizada em uma região
diferente, com características climáticas e de solo distintas.
Devido à limitação de tempo e recursos, fez-se necessária a realização de
uma pesquisa por amostragem. De acordo com Gil (2002), a amostragem é a
seleção de alguns dos elementos de uma população, buscando a proporcionalidade
e a representatividade da população pesquisada.
A amostra escolhida na pesquisa é caracterizada como probabilística
aleatória, sendo possível obter um maior grau de certeza e fazer inferências sobre a
população. Nesse sentido, pode-se calcular os intervalos de confiança que contêm o
verdadeiro valor populacional, com determinado grau de certeza. Isso permite ao
pesquisador fazer inferências sobre a população-alvo da qual se extraiu a amostra
(MALHOTRA, 2001).
Utilizando-se um nível de confiança de 95% e um erro amostral de 10%,
dimensionou-se a amostra em 133 produtores. Ela foi selecionada a partir da lista de
orizicultores cadastrados pelo IRGA, durante a realização do Censo da Lavoura de
Arroz Irrigado do Rio Grande do Sul Safra 2004/2005 (OLIVEIRA, 2006). De
acordo com essa amostra, foram entrevistados 71 produtores em Camaquã e 62
produtores na cidade de Viamão.
Para esta pesquisa, foi considerada a divisão dos produtores em pequenos,
médios e grandes. O estrato de entrevistados enquadrados em pequenos produtores
66
semeiam arroz em áreas que variam de um a 49 hectares, o estrato de médios
produtores, de 50 a 499 hectares, e os grandes produtores plantam em áreas de 500
e mais hectares. Obteve-se essa escala através de conversas informais a
especialistas do IRGA. Ela é uma convenção, no entanto, não existindo uma base
científica para tal divisão. A divisão em três estratos foi escolhida somente para
facilitar a análise e apresentação dos dados, que o IRGA divide os produtores em
sete estratos diferentes, também baseados na área semeada.
4.3 ANÁLISE DOS DADOS
Segundo Lakatos e Marconi (1992), analisar significa estudar, dividir e
interpretar. Analisar é, portanto, decompor um todo em suas partes, a fim de poder
efetuar um estudo mais completo, indicando os tipos de relação existentes entre as
idéias expostas. Através da análise, pode-se observar os componentes de um
conjunto e perceber suas possíveis relações.
As entrevistas foram gravadas, a fim de que não houvesse perda de
informação, e transcritas na íntegra, após seu término. A partir de então, começou-
se o processo de análise do material. Essas informações foram tabuladas em uma
planilha Excel, para que fossem realizadas as análises estatísticas e apresentadas
em forma de quadros para se verificar a freqüência nas respostas.
Cada item da primeira parte do roteiro de entrevista ocupou uma linha, e os
estratos foram colocados nas colunas, de forma a permitir a análise direta das
médias, freqüências e os tratamentos estatísticos necessários para análise dos
resultados. Na segunda parte, as respostas abertas ocuparam uma linha e as
mesmas variáveis da primeira parte foram colocadas nas colunas. Dessa forma,
buscou-se analisar os resultados para obter padrões, tendências ou relações entre
eles. Nessa etapa, foi feita a análise por categoria, seguida do processo de
interpretação. Depois, fez-se uma análise individual de cada entrevista.
Além da comparação entre os estratos do mesmo município, vale ressaltar
que, apesar das diferenças existentes entre as duas cidades estudadas, foi feita
uma comparação de comportamento dos produtores de uma e outra.
67
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1 CARACTERIZAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE ARROZ DO MUNICÍPIO DE
CAMAQUÃ
O município de Camaquã localiza-se a uma latitude 30º51'04" sul e a uma
longitude 51º48'44" oeste, a uma altitude de 39 metros. Compreende uma área de
1.679,6 km² (Figura 5), na Região da Planície Costeira Interna à Lagoa dos Patos, e
está distante 127 quilômetros (km) de Porto Alegre e 125 km de Pelotas (IRGA,
2006).
Figura 5 – Localização de Camaquã, no Rio Grande do Sul
Fonte: Wikipédia (2006).
Segundo dados da CONAB (2006), Camaquã possui 67 armazéns
cadastrados, com capacidade para 265.390 toneladas, sendo que, desses
armazéns, 18 pertencem à indústria de beneficiamento, com cerca de 45% da
capacidade de armazenamento de grãos do município, abrigando 120.770
toneladas. Dentre as maiores indústrias de beneficiamento, citadas pelos
entrevistados, estão a Camil Alimentos S/A, com capacidade de armazenamento de
35.420 toneladas de arroz; a Santa Lúcia Indústria de Alimentos Ltda., com
capacidade para armazenar 14.490 toneladas; a Cooperativa Arrozeira Extremo Sul
68
Ltda., com capacidade para 12.060 toneladas; a Camaquã Alimentos Ltda., com
19.470 toneladas de capacidade; e a Cerealista Manfro Ltda., com capacidade de
armazenar 3.760 toneladas de arroz. A Companhia Estadual de Silos e Armazéns
(CESA) possui papel importante para o armazenamento de arroz da cidade, com
capacidade para armazenar 64.990 toneladas de grãos.
A amostra de entrevistados do município de Camaquã é composto por 71
produtores, escolhidos aleatoriamente, proporcionalmente a cada estrato. O
resultado foi de 35 pequenos produtores, 32 dios produtores e quatro grandes
produtores de arroz, obtidos a partir do cadastro do IRGA.
A área plantada da amostra representa 28% (8.442 hectares) da área total
plantada em Camaquã, que é de 30.486 hectares (OLIVEIRA, 2006). A área
arrendada representa 69% da área total da amostra e as terras próprias representam
somente 31%. Os grandes produtores arrendam 65% da sua área plantada e
assumem 35% das terras. Os dios produtores têm a posse direta de 30% das
terras plantadas e arrendam 70%. Os pequenos produtores são donos de 28% da
superfície plantada por eles e arrendam 72% (Gráfico 6).
0%
20%
40%
60%
80%
Pequeno dio Grande
Produtores
Porcentagem de Área
Plantada
Própria Arrendada
Gráfico 6 – Porcentagem de área plantada pelos produtores de arroz de Camaquã
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
A produtividade média da amostra dos produtores do município de Camaquã
é de 6.735 quilos por hectare. Nesse município, os grandes produtores destacam-se
ao atingirem uma média de 7.200 quilos por hectare. Os médios produtores
obtiveram uma produtividade média de 6.844 quilos por hectare e os pequenos
produtores 6.161 quilos por hectare (Gráfico 7).
69
5500
6000
6500
7000
7500
Pequeno dio Grande dia
Produtores
Produtividade (kh/ha)
Gráfico 7 – Produtividade média de arroz dos produtores de Camaquã
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
O grau de escolaridade apresentado pelos produtores é de 61%, com ensino
fundamental; 34%, com ensino médio; e 5%, com ensino superior. Dos pequenos
produtores, 77% cursaram o ensino fundamental e 23% chegaram ao ensino médio.
Os médios produtores com ensino fundamental representam 50%; com ensino
médio, 38%; e com ensino superior, 12%. Todos os grandes produtores
entrevistados possuíam nível de ensino médio (Tabela 7).
Tabela 7 – Grau de escolaridade dos produtores de Camaquã
Ensino Fundamental Ensino Médio
Ensino Superior
Pequeno 77% 23% 0%
Médio 50% 38% 12%
Grande 0% 100% 0%
Fonte: elaborada pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
Os entrevistados do município de Camaquã são plantadores de arroz 26
anos. Em média, os grandes produtores exercem essa atividade há 32,5 anos; os
médios produtores o fazem há 25 anos; e os pequenos, há 21,5 anos (Gráfico 8).
70
0
5
10
15
20
25
30
35
Pequeno Médio Grande Média
Produtores
Número de Anos
Gráfico 8 – Tempo de experiência dos produtores de Camaquã, como plantadores de arroz
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
O grau de atualização tecnológica dos produtores de arroz do município de
Camaquã é elevado, sendo que 100% dos médios e grandes produtores buscam
informações em ‘dias de campo, revistas especializadas, sites da internet e
engenheiros agrônomos. Dos pequenos produtores, esse número chega a 77% dos
produtores. Os distintos estratos de produtores têm acesso às atualizações
tecnológicas através dos ‘dias de campo’, sendo essa a forma mais procurada de
atualização tecnológica com 83% de participação dos produtores seguida pelas
revistas especializadas, técnicos privados e de empresas de insumos e internet
(Gráfico 9).
0
5
10
15
20
25
30
35
Dia de Campo Revista Técnicos Internet
Fontes de Informação
Número de Produtores
Pequeno Médio Grande
Gráfico 9 – Fontes de informação tecnológica mais utilizadas pelos produtores de arroz de
Camaquã
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
71
Cerca de 77% dos produtores orizícolas de Camaquã recebem assistência
técnica. Os produtores que financiam a produção são obrigados a contratar uma
empresa de assistência, para que o custeio agrícola seja liberado. Isso é
representado no Gráfico 10, onde 95% das fontes de assistência técnica provêm de
agrônomos privados. Os agrônomos do IRGA fazem o acompanhamento de 18%
das lavouras do município de Camaquã e 9% dos produtores recebem assistência
de técnicos de empresas fornecedoras de insumos.
0
5
10
15
20
25
30
Privado IRGA Fornecedores de
Insumos
Fonte de Assistência cnica
Número de Produtores
Pequeno Médio Grande
Gráfico 10 – Fontes de assistência técnica utilizadas pelos produtores de Camaquã
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
Os recursos financeiros usados pelos produtores de arroz do município de
Camaquã provêm, em 24% dos casos, de recursos próprios. O grau de dependência
financeira é grande, em todos os estratos, chegando a 94%, no caso dos pequenos
produtores, e 75%, dos grandes (Gráfico 11). O Banco do Brasil é a instituição
bancária utilizada para financiar a lavoura de 88% dos produtores, sendo que os
12% restantes fazem os financiamentos no Banco do Estado do Rio Grande do Sul
(BANRISUL).
72
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Pequeno Médio Grande
Estratos
Porcentagem de
Produtores
Próprio Instituições Bancárias
Gráfico 11 – Utilização de financiamento pelos produtores de Camaq
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
Como mostra o Gráfico 12, 86% dos produtores de arroz do município de
Camaquã não possuem armazenagem e secagem próprias. Dentre esses, estão os
100% dos pequenos produtores, que reclamam da dificuldade de crédito. Além
disso, eles também sofrem a conseqüência das crises dos dois anos anteriores, que
acarretam em descapitalização do produtor. Assim, não conseguem investir em
melhorias estruturais.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Pequeno Médio Grande
Estratos
Porcentagem de
Produtores
Não Sim
Gráfico 12 – Armazenagem e secagem próprias de Camaquã, em porcentagem de produtores
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
A forma de comercialização de arroz dos produtores do município varia de
acordo com a necessidade de capital. Essa necessidade de capital foi dividida em
imediata e não imediata. A necessidade de capital imediata diz respeito ao
pagamento de vidas da lavoura, contas pessoais, entre outros. A necessidade de
73
capital não imediata diz respeito à possibilidade de guardar a produção para a alta
do preço e, também, à estratégia de se fazer uma média de preços, ao dividir a
produção em parcelas iguais e vendê-la mês a mês.
No caso do município de Camaquã, três médios produtores relataram a
possibilidade de agregar valor ao produto, ao beneficiarem a produção logo após a
colheita e venderem o arroz a um preço mais alto. Além disso, dois pequenos
produtores disseram vender a produção até o mês de agosto, por ser essa a época-
limite para isenção da taxa de armazenamento.
Dos grandes produtores entrevistados, 50% comercializam 15% da safra logo
após a colheita, para pagar dívidas com vencimento próximo, e vendem os 85%
restantes em julho, para quitar o financiamento junto às instituições financeiras. Os
outros 50% vendem a produção a partir de novembro, quando o preço do arroz está
mais alto. Os médios produtores que comercializam toda a produção após a colheita,
para pagar as dívidas representam 56% do total. Aqueles médios produtores que
comercializam uma parte na safra e guardam outra para esperar um aumento de
preços totalizam 31%. Somente 13% conseguem vender a safra ao final do ano,
quando os preços apresentam uma elevação. No caso dos pequenos produtores,
57% vendem a produção na safra, para quitar dívidas da lavoura; 36% vendem uma
parte na safra, para pagar contas, e guardam uma parcela, para ser comercializada
na alta dos preços; e somente 7% iniciam a venda da produção em outubro e
finalizam em janeiro, comercializando o arroz a um preço mais alto (Gráfico 13).
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Dívida Dívida e Preço Preço
Fatores
Porcentagem de
Produtores
Pequeno Médio Grande
Gráfico 13 – Forma de comercialização dos orizicultores de Camaquã
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
74
Nenhum produtor da amostra alegou que o preço é influenciado pelo volume
individual comercializado. Em relação à venda antecipada, não houve nenhum
produtor que assegurasse a venda da produção já na época da safra.
Os instrumentos de comercialização mercado futuro, contrato de opções,
CPR, CPRF e EGF não foram utilizados por nenhum produtor dos estratos. O AGF
foi oferecido pela CONAB, em 2006, e teve aderência de 72% dos produtores.
Dentre esses estão 82% dos médios produtores, 64% dos pequenos e 50% dos
grandes produtores (Gráfico 14). O que levou à utilização desse instrumento foi o
fato de o preço pago pelo governo estar mais alto que o preço de mercado.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Sim Não
Uso de AGF
Porcentagem de
Produtores
Pequeno Médio Grande
Gráfico 14 – Uso de AGF pelos produtores de Camaquã
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
Somente 14% dos produtores armazenam o arroz em silos próprios. A
vantagem é que “assim, o produtor é mais dono do produto. Depositando na
indústria, perde a posse” (trecho retirado de entrevista).
Camaquã apresenta, basicamente, duas opções de armazenamento
terceirizado: as indústrias de beneficiamento e a CESA, que tem capacidade de
armazenar um quarto da produção do município. A CESA é preferida para o depósito
dos grãos dos grandes produtores, mas os médios e pequenos armazenam parte da
produção na indústria (Gráfico 15). O motivo alegado é que depositar na indústria
apresenta vantagens, como a possibilidade de transportar a produção da lavoura até
o armazém e efetuar a secagem do arroz, sem a cobrança de taxa; a existência de
uma infra-estrutura adequada; e o aumento da liquidez da produção. Alguns
problemas, no entanto, segundo os produtores, seriam a perda de posse do produto
e o fato de os descontos por quebra dos grãos serem maiores. Já a CESA é
75
mencionada por oferecer benefícios ao cobrar taxas menores, permitir a
comercialização do produto pelo produtor, bem como maior cuidado com os grãos e
ser credenciada para oferecer AGF. As desvantagens referidas são: não possuir
frota de caminhões e estar com uma infra-estrutura defasada.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
CESA CESA/Instria Indústria
Armazenagem Terceirizada
Porcentagem dos
Produtores
Pequeno Médio Grande
Gráfico 15 – Porcentagem de produtores que armazenam em empresas terceirizadas de
Camaquã
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
5.2 CARACTERIZAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE ARROZ DO MUNICÍPIO DE
VIAMÃO
O município de Viamão localiza-se na Região da Planície Costeira Externa à
Lagoa dos Patos, conforme classificação do IRGA (2006). É o maior município em
extensão da mesorregião metropolitana de Porto Alegre, com área de 1.494,3 km²
(Figura 6). Viamão encontra-se na latitude 30º05'00" sul e longitude 50º47'00" oeste,
com altitude de 111 metros. Conta com as águas do Rio Guaíba e a Lagoa dos
Patos e o cultivo de arroz é a principal atividade agrícola da cidade (PREFEITURA
MUNICIPAL DE VIAMÃO, 2007).
76
Figura 6 - Localização de Viamão, no Rio Grande do Sul
Fonte: Wikipédia, 2006.
Segundo dados da CONAB (2006), Viamão possui 59 armazéns cadastrados,
com capacidade para 112.130 toneladas, sendo que, desses armazéns, nove
pertencem à indústria de beneficiamento, com 28% da capacidade de
armazenamento de grãos do município, guardando 31.450 toneladas. São grandes
beneficiadoras de arroz do município a Arrozeira Itaúna Ltda., com capacidade de
armazenamento de 16.440 toneladas de arroz, e a Engenho Viamonense Indústria e
Comércio de Cereais Ltda., com capacidade para armazenar 6.990 toneladas.
A amostra nesse município está composta por 62 produtores, dividida
proporcionalmente em pequenos, médios e grandes. Esses produtores foram
escolhidos aleatoriamente, a partir do cadastro do IRGA, sendo 24 pequenos
produtores, 35 médios produtores e três grandes produtores de arroz.
A área plantada da amostra representa 36% (8.512 hectares) da área total
plantada em Viamão, que é de 23.530 hectares (OLIVEIRA, 2006). A área arrendada
representa 71% da área total da amostra e as terras próprias representam somente
29%. Os grandes produtores arrendam 88% da sua área plantada e mantêm o
controle de somente 12% das terras. Os médios produtores têm a posse de 36% das
terras plantadas e arrendam 64%. Os pequenos produtores são donos de 32% da
superfície plantada por eles e arrendam 68% (Gráfico 16).
77
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Pequeno Médio Grande
Produtores
Porcentagem de Área
Plantada
Própria Arrendada
Gráfico 16 – Porcentagem de área plantada pelos produtores de arroz de Viamão
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
A produtividade média da amostra desses produtores é de 6.085 quilos por
hectare, sendo que, dos três estratos, os médios produtores obtiveram a maior
média, atingindo 6.268 quilos por hectare. Os pequenos produtores atingiram uma
produtividade média de 5.813 quilos por hectare e os grandes produtores, 6.085
quilos por hectare (Gráfico 17).
5500
5600
5700
5800
5900
6000
6100
6200
6300
6400
Pequeno dio Grande dia
Produtores
Produtividade (kg/ha)
Gráfico 17 – Produtividade média de arroz dos produtores de Viamão
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
O grau de escolaridade apresentado pelos produtores é de: 53% com ensino
fundamental, 37% com ensino dio e 10% com ensino superior. Dos pequenos
produtores, 75% cursaram ensino fundamental e 25% chegaram ao ensino médio.
Os médios produtores com ensino fundamental representam 37%; com ensino
médio, 46%; e com ensino superior, 17%. Nenhum dos grandes produtores
78
entrevistados possuía ensino superior. Cerca de 67% deles estudaram até o ensino
fundamental e 33% cursaram até o ensino médio (Tabela 8).
Tabela 8 – Grau de escolaridade dos produtores de Viamão
Ensino Fundamental Ensino Médio
Ensino Superior
Pequeno 75% 25% 0%
Médio 37% 46% 17%
Grande 67% 33% 0%
Fonte: elaborada pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
O número médio de anos de atividade como plantadores de arroz, dos
entrevistados do município de Viamão, é de 21 anos. Os grandes produtores já
exercem essa atividade há 30 anos; os médios produtores o fazem há 21 anos; e os
pequenos, 12 anos (Gráfico 18). A média de anos diminui entre os pequenos
produtores, pois a maioria da amostra é formada por orizicultores localizados no
Assentamento Filhos de Sepé, criado há somente sete anos.
0
5
10
15
20
25
30
35
Pequeno dio Grande dia
Produtores
Número de Anos
Gráfico 18 – Tempo de experiência dos produtores de Viamão, como plantadores de arroz
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
O acesso às atualizações tecnológicas é mais freqüente entre os médios
produtores. Desses médios produtores, 89% buscam informações de fontes como
participação em ‘dias de campo’, revistas especializadas, sites da internet e
engenheiros agrônomos. Os pequenos e grandes produtores que buscam
informações sobre a atividade representam 66% da amostra. Os distintos estratos de
produtores têm acesso às atualizações tecnológicas através dos ‘dias de campo’,
sendo essa a forma mais procurada de atualização tecnológica – com 88% de
79
participação dos produtores seguida pelas revistas especializadas, técnicos
contratados e de empresas de insumos e internet (Gráfico 19).
0
5
10
15
20
25
30
35
Dia de Campo Revista Técnicos Internet
Fontes de Informação
Número de Produtores
Pequeno Médio Grande
Gráfico 19 – Fontes de informação tecnológica mais utilizadas pelos produtores de arroz de
Viamão
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
Cerca de 76% dos produtores orizícolas de Viamão recebem assistência
técnica. Nesse caso, assim como em Camaquã, os produtores que financiam a
produção são obrigados a contratar uma empresa de assistência, para que o custeio
agrícola seja liberado. Além disso, os produtores do Assentamento Filhos de Sepé
possuem assistência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(INCRA), em que os engenheiros agrônomos da Cooperativa de Técnicos de
Viamão (COOPTEC) ficam à disposição dos assentados. Mesmo assim, como é
percebido no Gráfico 20, os agrônomos do IRGA fazem o acompanhamento de 41%
das lavouras do município de Viamão e 4% dos produtores recebem assistência de
técnicos de empresas fornecedoras de insumos.
80
0
5
10
15
20
Privado IRGA Fornecedores de
Insumos
Fonte de Assistência Técnica
Número de Produtores
Pequeno Médio Grande
Gráfico 20 – Fontes de assistência técnica utilizadas pelos produtores de Viamão
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
Os recursos financeiros usados pelos produtores de arroz do município de
Viamão são próprios, em 58% dos casos. Os médios e pequenos produtores são os
que mais utilizam capital próprio para financiar a lavoura 60% dos produtores de
cada estrato (Gráfico 21). O Banco do Brasil é a instituição bancária utilizada para
financiar a lavoura de 54% dos produtores, sendo que os 46% restantes fazem os
financiamentos no Sistema de Crédito Cooperativo - SICREDI.
0%
20%
40%
60%
80%
Pequeno dio Grande
Estratos
Porcentagem de
Produtores
Próprio Instituições Bancárias
Gráfico 21 – Utilização de financiamento pelos produtores de Viamão
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
Como mostra o Gráfico 22, grande parte dos produtores de arroz de Viamão
não possui armazenagem e secagem próprias. Os motivos apresentados nas
entrevistas são: a dificuldade de conseguir financiamento; o fato de o investirem
81
em bens imóveis, por não serem donos das terras; e a descapitalização do produtor,
após os últimos dois anos de preços baixos e perda de safra.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Pequeno Médio Grande
Estratos
Porcentagem de
Produtores
Não Sim
Gráfico 22 – Armazenagem e secagem próprias de Viamão, em porcentagem de produtores
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
Apesar de o preço ser mais baixo, logo após a colheita, devido ao excesso de
oferta, 75% dos pequenos produtores de Viamão vendem toda a safra nesse
período, pois o vencimento das dívidas da lavoura ocorrem em abril e maio. Os
outros 25% guardam uma parte da produção para o período de entressafra; porém,
isso ocorre sempre com uma parcela pequena da produção (em média, 20%). Dos
médios produtores, 6% conseguem vender a produção em épocas de preços
elevados; 65% comercializam uma parte da produção, após a safra, para honrar
compromissos financeiros, e vendem o resto da produção no final do ano. Nesse
caso, o que possibilita que uma parte da safra seja armazenada, na espera de uma
alta dos preços, é que os médios produtores de Viamão são os que mais utilizam
recursos próprios para financiar a lavoura. Os 29% restantes vendem a produção em
até dois meses após colherem, para pagar o financiamento bancário e outras dívidas
com empresas de insumos. Um total de 67% dos grandes produtores quitam suas
dívidas de vencimento na safra e parcelam as vendas para cobrir eventuais gastos,
conseguindo esperar a entressafra para obter um melhor preço pela produção. Os
outros 33% vendem a produção na safra, por possuírem custeio agrícola junto a
instituições financeiras, com parcelas vencendo nos três meses seguintes à colheita,
o que inviabiliza a espera por melhores preços (Gráfico 23).
82
0%
20%
40%
60%
80%
Dívida Dívida e Preço Preço
Fatores
Porcentagem de
Produtores
Pequeno Médio Grande
Gráfico 23 – Forma de comercialização dos orizicultores de Viamão
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
Nenhum produtor da amostra alegou que o preço é influenciado pelo volume
individual comercializado. Em relação à venda antecipada, 9% dos produtores de
todos os estrados fazem esse tipo de contrato com uma cooperativa da região
Cooperativa de Jacinta (COOPERJA).
Os instrumentos de comercialização mercado futuro, contrato de opções,
CPR, CPRF e EGF não foram utilizados por nenhum produtor dos estratos. No caso
do AGF, que foi oferecido pela CONAB, em 2006, somente 16% do total de
produtores utilizaram esse instrumento de comercialização (Gráfico 24). O motivo
alegado para sua não utilização foi o excesso de burocracia exigido para que a
aquisição se realize.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Sim Não
Uso de AGF
Porcentagem de
Produtores
Pequeno Médio Grande
Gráfico 24 – Uso de AGF pelos produtores de Viamão
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
83
Somente 31% dos produtores armazenam a produção em silos próprios.
Alguns fatores determinantes de armazenagem na propriedade seriam o não
pagamento de taxas a terceiros, a dificuldade de transportar a safra, a desconfiança
de prevalecimento, por parte de terceiros, bem como a economia gerada com menos
quebra dos grãos e maior limpeza da produção.
Os engenhos de Viamão recebem a safra diretamente da lavoura de somente
9% dos pequenos produtores. As cooperativas são preferidas por 25% dos
orizicultores. Eles escolhem esse sistema, pois afirmam reconhecer facilidades para
comercialização da safra, em função de as cooperativas serem fornecedoras de
insumos. Apresentam, ainda, como fator positivo, o fato de o manuseio dos grãos
seria executado por profissionais capacitados. Os armazéns de terceiros são
preferidos por 42% dos produtores, pois, oferecem vantagens, como
armazenamento com isenção de taxa por três meses e estão espalhados
geograficamente, diminuindo a distância do produtor (Gráfico 25). Eles ressaltam,
porém, que existe sempre “a desconfiança de estar sendo enganado pelo terceiro”
(trecho retirado de entrevista). Cerca de 77% desses produtores apresentaram
interesse em adquirir silo próprio, assim que conseguirem se capitalizar novamente.
Foi percebido também que a proximidade com a cidade de Porto Alegre não afeta o
armazenamento no município, pois um grande número de atravessadores em
Viamão e o frete pago até os armazéns do município é menor que movimentar a
safra até a capital.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Cooperativa Terceiros Indústria
Armazenagem Terceirizada
Porcentagem de
produtores
Pequeno Médio Grande
Gráfico 25 – Porcentagem de produtores que armazenam em empresas terceirizadas de
Viamão
Fonte: elaborado pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
84
5.3 COMPARAÇAO DA COMERCIALIZAÇÃO DE ARROZ ENTRE OS MUNICÍPIOS
A análise comparativa das amostras dos municípios de Camaquã e Viamão
tem como objetivo verificar aspectos semelhantes e divergentes da comercialização
de arroz, para assim, encontrar os fatores que influenciam o produtor de um e de
outro município, quanto à forma de comercializar a produção.
A produtividade média da amostra de Camaquã é de 6.735 sacos por hectare,
apresentando melhor média que Viamão, cuja produtividade é de 6.085 sacos por
hectare.
Em ambos os municípios, o cultivo de arroz em áreas arrendadas é maior do
que em terras próprias, chegando a 73% de terras arrendadas em Viamão e 69%,
em Camaquã.
O tempo médio de experiência como produtor de arroz é maior em Camaquã
26 anos. Em Viamão, esse tempo é reduzido para 21 anos de experiência como
orizicultor. Os produtores de ambos os municípios mantêm o grau de escolaridade
com percentual semelhante, como observado na Tabela 9, em que a média é de que
57% dos produtores cursaram até o ensino fundamental.
O baixo grau de escolaridade, no entanto, é compensada pela busca de
informações técnicas sobre a atividade agrícola que exercem. Em Camaquã, 89%
dos produtores adquirem informações e se mantêm atualizados tecnologicamente,
através de ‘dias de campo’, palestras, revistas, exposições, engenheiros agrônomos
e sites da internet. em Viamão, esse percentual chega a 79%.
Em relação à assistência técnica, a porcentagem de produtores de arroz que
possuem a lavoura assistida por agrônomos é de 77%, tanto em Camaquã quanto
em Viamão. Os índices elevados devem-se ao fato de que instituições financeiras
condicionam o empréstimo à contratação de um técnico, razão para a alta
porcentagem em Camaquã. Am disso, podem ser atribuídos ao fato de que os
assentados do município de Viamão têm à sua disposição uma cooperativa de
técnicos agrícolas e engenheiros agrônomos, contratados pelo INCRA para prestar o
serviço de assistência técnica.
Uma grande discrepância de resultados, entre os municípios, é verificada
quanto à forma de financiamento da safra. Como mostrado na Tabela 9, os
produtores de Camaquã que financiam a safra em instituições financeiras chegam a
85
79% contra 38% dos produtores de Camaquã. Constata-se, portanto, que em
Viamão, os recursos próprios são mais utilizados para o financiamento da lavoura.
Cerca de 83% dos produtores de Camaquã terceirizam o serviço de
armazenamento e, em Viamão, a porcentagem é de 73%.
A infra-estrutura de armazenamento é distinta nos dois municípios (Tabela 9).
O armazenamento em Camaquã é realizado pelos produtores em silos próprios, na
indústria (que possui 45% da capacidade de armazenagem do município), ou na
CESA (que possui 25% da capacidade de armazenagem). Os produtores que não
possuem armazenagem própria, portanto, têm duas opções de armazenamento:
indústria ou CESA. Cerca de 57% dos produtores que não têm armazenagem
própria preferem armazenar toda a produção na CESA, 28% armazenam parte na
CESA e parte na indústria e 15% restantes, armazenam somente na indústria. Em
Viamão, o armazenamento ocorre em silos dos próprios produtores, na indústria, em
cooperativa ou em prestadores de serviços de armazenamento. As cooperativas
recebem a produção de 56% dos produtores de arroz que não possuem
armazenamento próprio, os prestadores de serviços recebem 41% e somente 3%
dos produtores depositam a produção direto na indústria.
Por terem uma filial da CESA no município, os produtores de arroz de
Camaquã encontram mais facilidade de adquirirem os instrumentos de
comercialização oferecidos pelo Governo Federal, através da CONAB, como o AGF.
Isso é percebido quando se analisa a Tabela 9, que compara o uso do AGF pelos
produtores de Camaquã e Viamão. Em Viamão, 90% dos produtores não utilizam
esse instrumento contra 35% dos produtores que não utilizam o AGF em Camaquã.
A Tabela 9 apresenta uma comparação entre os produtores de Camaquã e
Viamão, quanto à comercialização da safra para pagar dívidas, aguardar melhor
preço ou comercializar uma parte da safra para pagar dívidas e guardar a outra parte
para esperar melhor preço. Percebe-se que a maior parte dos produtores de
Camaquã e Viamão comercializa a safra nos meses seguintes à colheita, para pagar
dívidas. Nesse grupo, estão os produtores do Assentamento Filhos de Sepé de
Viamão, que, por possuírem áreas pequenas, colhem poucas toneladas que
precisam ser negociadas, a fim de quitar as dívidas. Incluem-se, também, os
produtores de Camaquã, que financiam a produção com instituições financeiras. Os
produtores que pagam as dívidas as a safra e guardam parte da produção para
comercializar na alta do preço do arroz o, no município de Camaquã, pequenos e
86
médios produtores. No município de Viamão, os que são grandes e médios
produtores, conseguem colher um volume maior de arroz e separar parte da safra
(normalmente 50%) para vender na entressafra e obter um preço melhor. Em
Camaquã, os grandes produtores possuem a vantagem de comercializar a safra de
outubro a janeiro, na época de alta do preço do arroz, utilizando somente este
critério, como forma de comercialização.
87
Tabela 9 – Quadro comparativo entre as amostras dos municípios de Camaquã e Viamão
Municípios
Critérios Comparados
Camaquã Viamão
Total da
Amostra
Pequenos produtores 49% 39% 44%
Médios produtores 45% 56% 51%
Amostra
Grandes produtores 6% 5% 5%
Área Plantada 8.442 ha 8.512 ha 8.477 ha
Produtividade 6.735 kg/ha 6.085 kg/ha 6.410 kg/ha
Arrendada 69% 73% 71%
Posse da terra
Própria 31% 27% 29%
Ensino Fundamental 60% 53% 57%
Ensino Médio 34% 37% 35%
Escolaridade
Ensino Superior 6% 10% 8%
Tempo de experiência 26 anos 21 anos 23,5 anos
Sim 89% 79% 84% Informação
tecnológica
Não 11% 21% 16%
Sim 78% 76% 77% Assistência
Técnica
Não 22% 24% 23%
Próprio 21% 62% 42%
Financiamento
Instituições financeiras 79% 38% 58%
Própria 17% 27% 22%
Armazenagem
Terceiros 83% 73% 78%
56% (cooperativas) 57% (CESA)
41% (terceiros) 28% (CESA e indústria)
Armazenagem em terceiros
3% (indústria) 15% (indústria)
Sim 10% 65% 37%
AGF
Não 90% 35% 63%
Dívida 54% 46% 50%
Dívida e Preço 23% 52% 38%
Forma de
Comercialização
Preço 23% 2% 12%
Fonte: elaborada pela autora, com base nos resultados das entrevistas.
88
6 CONSIDERÕES FINAIS
O objetivo do estudo foi comparar os fatores que influenciam as decisões de
comercialização e armazenagem dos produtores de arroz dos municípios de
Camaquã e Viamão. Para tanto, depois do levantamento bibliográfico, foram feitas
entrevistas com os produtores de arroz dos municípios estudados, com vistas a
caracterizá-los, verificar quais as formas de comercialização e armazenagem
utilizadas por eles e identificar os fatores que influenciam o produtor na escolha da
forma de comercialização e armazenagem. Por último, foi realizada a comparação
entre os produtores dos dois municípios estudados.
O estudo mostrou que a forma de comercialização da produção local de arroz
é fortemente influenciada pelas particularidades de armazenagem. Viamão possui
cooperativas que fornecem insumos a pequenos produtores e vinculam o
armazenamento da produção às suas instalações. De maneira diferente, as
beneficiadoras de Camaquã oferecem serviços de frete, secagem e armazenamento,
para atrair os produtores e assegurar o abastecimento da indústria, ao longo do ano.
Um fator que incide fortemente na decisão de optar por um armazém em Viamão é a
proximidade da fazenda e em Camaquã a opção é feita por aquele que oferecer
maiores benefícios.
O endividamento dos produtores de Camaquã é maior em relação aos de
Viamão, pois os produtores viamonenses utilizam recursos próprios para financiar a
lavoura, enquanto os de Camaquã adquirem financiamentos em instituições
financeiras. Neste caso, também fica evidente que a necessidade de o produtor de
Camaquã vender a safra após a colheita associa-se à intenção de quitar as parcelas
de financiamento junto aos bancos e fornecedores de insumos. Em Viamão, grande
parte dos orizicultores tamm vende a produção para pagar contas da lavoura, mas
conseguem guardar parcelas da produção para serem comercializadas na
entressafra, a preços maiores.
Portanto, os fatores que incidem na comercialização de arroz nos municípios
estudados o os benefícios oferecidos pelos armazenadores, a confiabilidade
desses armazenadores, a localização da lavoura em relação ao armazém, a
capacidade estocástica, o custo do frete e a liquidez da produção.
89
Uma sugestão para evitar a concentração da comercialização na safra
poderia ser dividi-la em parcelas e vendê-las mês a mês ao longo do ano. Dessa
forma seria possível conseguir uma média de preços, vendendo a preços menores
após a colheita e a preços mais altos na entressafra. Outra sugestão seria a
armazenagem da produção na propriedade, que, segundo Tavares (2006),
apresenta vantagens como a redução dos custos de transporte, a comercialização
do produto em épocas de melhor oferta e de maior demanda com melhor
remuneração e aproveitamento dos recursos disponíveis na propriedade, bem como
a disponibilidade de produtos de melhor qualidade.
Algumas iniciativas que beneficiariam os produtores orízicolas dos municípios
estudados seriam a atualização da estrutura e dos serviços prestados nos armazéns
públicos e o aumento na quantidade de armazéns, sejam próprios ou privados, que
exercem o papel de intermediadores entre produtores e indústrias, tais como os
elevators americanos.
Mesmo que as informações obtidas neste estudo sejam apenas referentes
aos produtores de Camaquã e Viamão, entende-se que a abordagem traz grande
contribuição para a cadeia produtiva do arroz. Isso se verifica, pois fornece
elementos para formulação de políticas ou ações para melhorar a forma de
comercialização de arroz e garantir a rentabilidade da atividade produtiva.
Devido à limitação do período de execução, recursos financeiros e número de
pesquisadores desse estudo e considerando, também, a distribuição das lavouras
de arroz irrigado no Rio Grande do Sul, a pesquisa foi restrita a somente Camaquã e
Viamão.
Como sugestão para estudos futuros, pode-se citar a ampliação do universo
de estudo para outros municípios do Rio Grande do Sul, o que permitiria a
comparação entre as diferentes regiões orizícolas. Uma outra possibilidade de
pesquisa futura é a análise de custos dos diferentes sistemas de armazenagem e
transporte, o que auxiliaria o produtor a escolher a forma de comercializar que fosse
mais rentável.
Por fim, acredita-se que este é apenas um momento de parada para reflexão,
em síntese, acerca dos conhecimentos obtidos ao longo do Mestrado. Trata-se, ao
mesmo tempo, de um novo ponto de partida.
90
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97
APÊNCIDE A ROTEIRO DE ENTREVISTA COM PRODUTORES
Caracterização do Produtor
1. Nome: __________________________________________________________
2. Cidade onde se Localiza a Lavoura: __________________________________
3. Área Plantada: ___________________________________________________
4. Produtividade Média: ______________________________________________
5. Posse da terra: Própria: _________ (ha.)
Arrendada: __________ (ha.)
6. Grau de Escolaridade:
Nenhum Fundamental Médio
Superior
Pós-Graduação
7. Tempo de Experiência como Plantador de Arroz: ________________________
8. Fonte de Informação Tecnológica: ____________________________________
9. Assistência Técnica: Não Sim Fonte: ___________________________
10. Utilização de Financiamento:
Não Sim Fonte: ___________________
11. Armazenagem Própria: Não Sim
12. Secagem Própria: Não Sim
Comercialização
13. Como é feita a comercialização da produção?
- Logo após a safra? Quantidade?
- Ao longo do ano? Em que épocas? Quantidades por épocas?
- Quais os preços obtidos nas diferentes épocas?
14. Quais os fatores que incidem na forma de comercializar?
15. Houve alguma mudança nos últimos cinco anos? Por quê?
16. O volume individual comercializado influencia na comercialização?
17. Utiliza contratos de venda antecipada?
18. Utiliza ou já utilizou algum instrumento de comercialização, tais como AGF, EGF,
CPR, CPRF, mercado futuro ou contratos de opções? Qual o motivo? Qual a
proporção comercializada do total da produção?
98
Armazenagem
19. A produção é armazenada (caso não possua armazém próprio)?
20. Qual o sistema de armazenagem utilizado?
21. Que fatores o levaram a utilizar esse sistema?
22. Houve alguma mudança nos últimos cinco anos? Por quê?
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