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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA
ÁREA DE PETROLOGIA APLICADA À PESQUISA MINERAL
TESE DE DOUTORADO
CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DOS MACIÇOS GABRO-
ANORTOSÍTICOS DO SUL DA BAHIA, BRASIL: MECANISMOS
DE DEFORMAÇÃO E ORIENTAÇÃO PREFERENCIAL
CRISTALOGRÁFICA DO PLAGIOCLÁSIO
CRISTINA MARIA BURGOS DE CARVALHO
Salvador
Julho/2005
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CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DOS MACIÇOS GABRO-ANORTOSÍTICOS DO SUL DA
BAHIA, BRASIL: MECANISMOS DE DEFORMAÇÃO E ORIENTAÇÃO
PREFERENCIAL CRISTALOGRÁFICA DO PLAGIOCLÁSIO
por
Cristina Maria Burgos de CARVALHO
Geóloga (Universidade Federal da Bahia), 1994
Mestre em Geociências (Universidade Federal da Bahia), 1999
TESE DE DOUTORADO
Submetida em satisfação parcial dos requisitos ao grau de
DOUTOR EM CIÊNCIAS
GEOLOGIA
à
Câmara de Ensino de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal da Bahia
COMISSÃO EXAMINADORA:
_______________________________________ Dr. Manoel Jerônimo Moreira Cruz - Orientador/UFBA
_______________________________________ Dr. Benoît Ildefonse/Université de Montpellier II
_______________________________________ Dr
a
. Andréa Tommasi/Université de Montpellier II
_______________________________________ Dr. Marcos Egydio da Silva/IGEO-USP
_______________________________________ Dr. Johildo Salomão Figueiredo Barbosa/IGEO-UFBA
_______________________________________ Dr. Carlson de Matos Maia Leite/PETROBRÁS
Data da aprovação: __/__/__ Grau conferido em:__/__/__
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DEDICATÓRIA
A meus pais Adroaldo (in memoriam) e Júlia
Ao meu marido Waldo, pelo seu amor, companheirismo e paciência durante a realização desta tese.
Aos meus filhos, Viviane e Gabriel, razões principais da minha existência, por terem me dado a oportunidade
de lhes dar a vida e aos quais dedico muito do meu amor e carinho.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de expressar aqui os meus agradecimentos a todas as pessoas e instituições que direta ou
indiretamente contribuíram para esta pesquisa.
Ao Prof. Dr. Manoel Jerônimo Moreira Cruz por ter aceitado me orientar durante esta pesquisa de doutorado
e por acreditar no meu trabalho.
Ao Prof. Dr. Benoît Ildefonse, da Université de Montpellier II, por ter me recebido nesta instituição como
co-orientador durante o período de Doutorado-Sanduíche na França, pela contribuição nas discussões
acadêmicas dos dados obtidos neste período e também pelo apoio e atenção que foram dispensados a mim e
aos meus familiares.
À Prof. Drª Andréa Tommasi, da Université de Montpellier II, pelos ensinamentos, profissionalismo,
paciência e boa vontade na minha iniciação com o EBSD. Andréa, expresso aqui, de coração, a minha
gratidão pela sua contribuição efetiva nesta pesquisa, através das discussões acadêmicas que tivemos aí na
França, das dúvidas esclarecidas através de e-mails e pelo envio de artigos que me ajudaram a compreender
melhor os mecanismos de deformação do plagioclásio.
Ao Prof. Dr. Renaud Caby, da Université de Montpellier II, por sua grande ajuda na análise microestrutural,
pelo seu entusiasmo na observação das lâminas, pela obtenção dos dados isotópicos Ar/Ar, pelo
acompanhamento das análises na microssonda eletrônica e pelas discussões científicas que tivemos aí na
França e através de e-mail. Caby, agradeço também pelas “puxadas de orelha”, via e-mail, que tanto me
incentivaram a seguir em frente. O meu carinho e a minha gratidão a este “vieil retraité”.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, pela concessão da bolsa de
estudos na Universidade Federal da Bahia (Processo 146001/99-0) e pela bolsa de Doutorado-Sanduíche na
Université de Montpellier II, na França (Processo 201032/01-5).
Ao Institut de Recherche pour le Développement - IRD, especialmente ao Prof. Dr. Pierre Sabaté, pelo
financiamento das minhas análises na França.
À Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM, na pessoa de seu diretor, Prof. Dr. Moacyr de Moura
Marinho, pelo apoio financeiro e logístico das duas campanhas de campo e pelo envio das minhas amostras
para a França.
Aos Profs. Drs. David Mainprice e Adolph Nicolas por terem me acolhido no Laboratoire de
Tectonophysique da Université de Montpellier II, durante o período do Doutorado-Sanduíche na França..
Ao coordenador do curso de Pós-Graduação em Geologia, Prof. Dr. Johildo Salomão Figueiredo Barbosa
pelo apoio, discussões e sugestões no decorrer deste trabalho.
A Gilzélio Reis Nascimento (Gil), meu querido “dindo”, pelo carinho, amizade e incentivo ao longo destes
anos.
À Ivana, grande amiga e incentivadora, pelas discussões, ensinamentos e ajuda na plotagem dos dados de
química mineral e confecções das tabelas, correções e sugestões dos capítulos, e pelas “barras” seguradas nos
muitos momentos de tensão. A você minha irmãzona de coração, sagitariana de mesmo dia de nascimento
(calma! tenho alguns anos na sua frente), meu carinho e minha gratidão.
À Claudinha, pela amizade, convivência e incentivo.
ii
Ao CPGG, principalmente ao Prof. Dr. Hedyson K. Sato, pela impressão dos volumes finais desta tese.
Aos Profs. Drs. Johildo Salomão Figueiredo Barbosa, João Batista Guimarães Teixeira, Maria da Glória da
Silva, Ângela Beatriz Menezes Leal, Carlson de Matos Maia Leite, Telésforo Martinez Marques, Luís
Rogério Bastos Leal e Luís César Corrêa Gomes pelas discussões sobre as idéias e resultados obtidos durante
esta tese. Um agradecimento especial a João Batista pela confecção do Abstract.
Aos professores pesquisadores e funcionários do Laboratoire de Tectonophysique da Université de
Montpellier II: Prof. Dr. Alain Vauchez por sua ajuda na identificação e interpretação das microestruturas e
pelos ensinamentos e discussões sobre os mecanismos de deformação do plagioclásio; Profª. Drª. Françoise
Boudier pelos ensinamentos na platina universal; Dr. Claude Merlet pela utilização da microssonda
eletrônica; Christophe Nevado por suas famosas lâminas delgadas cuidadosamente polidas, fundamentais
para o estudo do EBSD, ao microscópio eletrônico de varredura; Pierre Azais pela manutenção dos
equipamentos; Bernadete Marie e Marguerite pela presteza e apoio nos serviços de secretaria.
A Jerôme Bascou pelas inúmeras discussões e disponibilização de artigos sobre o EBSD. A Benoît Gilbert e
Ingrid pela simpatia e convivência no laboratório.
À Tereza Cristina, do setor de laminação de rochas da CBPM, pela presteza e simpatia com que sempre me
atendeu e pela parte burocrática da saída das amostras do país.
Aos demais colegas do Instituto de Geociências da UFBa, Adriana, Andréa, Ioná, Eron, Geraldo, Violeta,
Najara, Marília, Gisele, pelas discussões e pelos momentos agradáveis que desfrutamos durante o nosso
convívio.
A Nilton, Niltinho e Maria pela presteza no atendimento às solicitações dos serviços de secretaria no
decorrer deste trabalho. A Lene, Meire e D. Maria pela convivência agradável e momentos de descontração.
A Joaquim pela constante ajuda com as impressoras e pela impressão das pranchas e figuras desta tese. A Jô,
Helenita, Neves, Josefa, D. Aládia e Gil pelo atendimento na biblioteca
À Ana Ildefonse, grande amiga brasileira que encontrei na França, pela convivência e amizade.
A Etienne de Vautibault et sa grand famille por ter tornado nossa estada na França muito agradável através
do seu convívio, carinho e presteza.
Ao meu marido Waldo, grande amigo e companheiro, e aos meus queridos filhos, Viviane e Gabriel, pelo
carinho, apoio e paciência que tiveram durante estes longos anos que, mesmo trabalhando em casa, estava
muito distante deles. Obrigada meus amores.
iii
RESUMO
Nos domínios dos terrenos granulíticos da porção centro-sul do Estado da Bahia, Nordeste do Brasil, entre os
blocos Itabuna-Salvador-Curaçá e Jequié, ocorre uma série de corpos máfico-ultramáficos e gabro-
anortosíticos, cada um deles com dimensões inferiores a 100 km
2
. De norte para sul são conhecidos os
seguintes maciços: Rio Piau, Samaritana/Carapussê, Mirabela, Palestina, Fazenda Provisão e Potiraguá.
Destes, os maciços de Rio Piau, Samaritana/Carapussê e Potiraguá são de natureza essencialmente gabro-
anortosítica. As rochas anortosíticas destes maciços foram os objetos de estudo da presente pesquisa porque
elas são ideais para se estudar os mecanismos de deformação e orientação preferencial cristalográfica do
plagioclásio.
O estudo das microestruturas do plagioclásio no Maciço de Rio Piau evidenciou que ele foi afetado por uma
deformação na transição dúctil-rúptil. A presença de microfraturas, extinção ondulante, afinamento das
geminações mecânicas, geminação em cunha, bandas de deformação, kink bands, pequenos encurvamentos
dos planos de geminação do plagioclásio, e a ausência de estruturas tais como augen e matriz ou manto-
núcleo são feições sugestivas de deformação no limite rúptil-dúctil.
As análises das microestruturas do plagioclásio e dos piroxênios do Maciço da Samaritana/Carapussê
colocaram em evidência a atuação da deformação magmática seguida de uma importante deformação dúctil.
A deformação magmática é observada pelo alinhamento da maioria dos porfiroclastos de plagioclásio. A
deformação dúctil é evidenciada pelas microestruturas de deformação plástica intracristalina, tais como
extinção ondulante, geminação mecânica em cunha, bandas de deformação, encurvamento do plano da
geminação, formação de subgrãos e de pequenos grãos recristalizados, que são abundantes tanto nos
porfiroclastos de plagioclásio quanto nos grãos da matriz. A deformação dúctil dos piroxênios é atestada pela
presença porfiroclastos com geminação encurvada e pela matriz recristalizada.
Para o Maciço de Potiraguá, os estudos microestruturais mostraram que este foi submetido a uma
deformação essencialmente magmática. A presença de microfraturas nos grãos de plagioclásio, deslocamento
das geminações magmáticas e de minerais de alteração atestam que este maciço foi afetado por uma
deformação rúptil posterior à sua cristalização e com a presença de fluidos, embora não tenha sido possível
precisar quando ocorreu este tipo de deformação.
Por meio da utilização da técnica EBSD (electron backscatter diffraction) foram obtidas informações sobre
as orientações preferenciais cristalográficas que o plagioclásio desenvolve no estado magmático e no campo
dúctil da deformação. A combinação dos estudos microestruturais e das orientações preferenciais
iv
cristalográficas para o plagioclásio permitiram analisar e discutir os mecanismos de deformação e orientação
desta fase mineral nos maciços gabro-anortosíticos do Sul da Bahia.
Análises isotópicas Sm/Nd em rocha total forneceram idades T
DM
que variaram de 4000 a 3300 Ma para os
maciços de Rio Piau e Samaritana/Carapussê e idades T
DM
de 1300 Ma para o Maciço de Potiraguá. Os
valores positivos de J
Nd
na idade T
DM
para todos os maciços sugerem que os magmas que geraram estas
rochas tiveram uma derivação mantélica e não estavam contaminados por material crustal na sua extração.
Análises isotópicas
40
Ar/
39
Ar em anfibólios de composição pargasítica do Maciço do Rio Piau forneceram
uma idade de resfriamento de 2023±4 Ma. A mesma metodologia aplicada em biotitas titaníferas do Maciço
da Samaritana/Carapussê forneceu uma idade de resfriamento de 1957±4 Ma.
v
ABSTRACT
Small (less than 100 km
2
) mafic-ultramafic and gabbro-anorthositic bodies occur in the central-south portion
of the granulitic domains of the Bahia state, NE Brazil, between the Itabuna-Salvador-Curaçá Block and the
Jequié Block. From north to the south, have been recognized the Rio Piau, Samaritana/Carapussê, Mirabela,
Palestina, Provisão Farm and Potiraguá massifs. From these, the Rio Piau, Samaritana/Carapussê and
Potiraguá massifs are an essentially gabbroic-anorthositic composition. The anorthositic rocks from these
massifs have been investigated in the present study because they are ideal to the study of the plagioclase
deformation mechanisms and lattice preferred orientation.
Microstructural studies had evidenced that the Rio Piau Massif was affected by a brittle-ruptile deformation.
The presence of microcracking, undulatory extinction, tapered deformation twins, deformation bands, kink
bands, small scale bending of the twinning planes of the plagioclase, and the absence of structures such as
augen and matrix or mantle-nucleus, are suggestive features of brittle-ruptile deformation transition.
The magmatic deformation is observed by the alignment of the majority of the plagioclase porphyroclasts.
The ductile deformation is evidenced by the microstructures of intracristaline plastic deformation, such as
wave ondulatory, tapered deformation twins, deformation bands, bending of the twinning planes, subgrains
and small recrystallized grains, that are abundant in such a way in the plagioclase porphyroclasts how much
in the grains of the matrix. The ductile deformation of the piroxenes is certified by the presence of the
porphyroclasts with bending twinning planes and by the recrystallized matrix.
For the Potiraguá Massif, the microstructural studies had shown that this was submitted to an essentially
magmatic deformation. The presence of microcracking in the plagioclase grains, displacement of the
magmatic twins and minerals of alteration certifies that this massif was affected by a tardif ruptile
deformation to its crystallization and with the fluid presence, even so has not been possible to need when this
type of deformation occurred.
Through the use of technique EBSD (electron backscatter diffraction) information on the plagioclase lattice
preferred orientation develops, mainly in the ductile field of the deformation, had been achieved. The
combination of structural studies with that of the preferred orientation of plagioclase lattice had allowed to
analyze and to discuss the deformation and orientation mechanisms of this mineral phase in the gabbro-
anorthositic massifs of the South of the Bahia.
vi
Whole-rock, isotopic Sm/Nd analyses yielded a range of T
DM
ages from 4000 to 3300 Ma for the Rio Piau
and Samaritana/Carapussê massifs, and a T
DM
age of 1300 Ma for the Potiraguá Massif. The 
Nd
positive
values in the T
DM
age for all these bodies suggest that the mantle derived magmas were not contaminated by
crustal material.
40
Ar/
39
Ar isotopic analyses in pargasitic amphibole from the Rio Piau Massif yielded cooling ages of 2023±4
Ma. The same method applied in Ti-bearing biotites from the Samaritana/Carapussê Massif yielded cooling
ages of 1957±4 Ma.
vii
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ................................................................................................................................ i
AGRADECIMENTOS ...................................................................................................................... ii
RESUMO ........................................................................................................................................... iv
ABSTRACT ....................................................................................................................................... vi
SUMÁRIO .......................................................................................................................................... viii
LISTA DE FIGURAS ....................................................................................................................... xii
LISTA DE TABELAS ....................................................................................................................... xvii
LISTA DE PRANCHAS ................................................................................................................... xix
CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1
I.1 - Considerações gerais sobre anortositos ....................................................................................... 1
I.2 - Justificativas e Objetivos ............................................................................................................. 3
I.3 - Metodologia ................................................................................................................................. 6
I.3.1 - Levantamento bibliográfico ...................................................................................................... 6
I.3.2 - Aquisição de bases cartográficas e fotografias aéreas .............................................................. 6
I.3.3 - Visitas de campo ....................................................................................................................... 7
I.4 - Estruturação da tese ..................................................................................................................... 7
CAPÍTULO II - GEOLOGIA REGIONAL E LOCAL ................................................................. 9
II.1 - Localização geográfica e acesso à área ...................................................................................... 9
II.2 - Aspectos gerais da geologia regional ......................................................................................... 11
II.2.1 - Bloco Jequié ........................................................................................................................... 15
II.2.2 - Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá .............................................................................................. 15
II.2.3 - Banda de Ipiaú ........................................................................................................................ 17
II.2.4 - Faixa de Dobramentos Araçuaí ............................................................................................... 20
II.2.5 - Província Alcalina do Sul da Bahia ......................................................................................... 22
II.3 - Aspectos gerais da geologia local ............................................................................................... 22
II.3.1 - Maciço do Rio Piau ................................................................................................................. 23
II.3.2 - Maciço de Samaritana/Carapussê ............................................................................................ 24
II.3.3 - Maciço de Potiraguá ................................................................................................................ 27
viii
CAPÍTULO III – PETROGRAFIA, GEOQUÍMICA E QUÍMICA MINERAL ........................ 30
III.1 - Síntese dos conhecimentos dos maciços gabro-anortosíticos do Sul da Bahia ......................... 30
III.1.1 - Maciço do Rio Piau ................................................................................................................ 30
III.1.2 - Maciço de Samaritana/Carapussê .......................................................................................... 31
III.1.3 - Maciço de Potiraguá ............................................................................................................... 34
III.2 - Análises petrográficas e de química mineral ............................................................................. 37
III.2.1 - Metodologia ........................................................................................................................... 37
III.2.2 - Maciço do Rio Piau ................................................................................................................ 39
III.2.2.1 - Plagioclásio ......................................................................................................................... 41
III.2.2.2 - Piroxênios ........................................................................................................................... 48
III.2.2.3 - Anfibólio ............................................................................................................................. 51
III.2.2.4 - Geotermometria .................................................................................................................. 53
III.2.3 - Maciço de Samaritana/Carapussê .......................................................................................... 54
III.2.3.1 - Plagioclásio ......................................................................................................................... 56
III.2.3.2 - Piroxênios ........................................................................................................................... 59
III.2.3.3 - Anfibólio ............................................................................................................................. 62
III.2.3.4 - Biotita .................................................................................................................................. 63
III.2.4 - Maciço de Potiraguá ............................................................................................................... 64
CAPÍTULO IV - GEOQUÍMICA ISOTÓPICA Sm/Nd E Ar/Ar ................................................. 72
IV.1 - Introdução ................................................................................................................................. 72
IV.2 - O método Sm/Nd ...................................................................................................................... 73
IV.3 - O método Ar/Ar ........................................................................................................................ 75
IV.4 - Dados isotópicos e geocronológicos anteriores ........................................................................ 77
IV.5 - Dados isotópicos obtidos pelo método Sm/Nd ......................................................................... 79
IV.5.1 - Seleção das amostras e metodologia ...................................................................................... 79
IV.5.2 - Resultados obtidos ................................................................................................................. 80
IV.6 - Dados isotópicos obtidos pelo método Ar/Ar ........................................................................... 81
IV.6.1 - Seleção de amostras e metodologia ....................................................................................... 81
IV.6.2 - Resultados obtidos ................................................................................................................. 83
CAPÍTULO V - DEFORMAÇÃO ................................................................................................... 87
V.1 - Introdução .................................................................................................................................. 87
V.2 - Os diferentes comportamentos reológicos ................................................................................. 89
V.2.1 - Esforço (stress) e deformação (strain) .................................................................................... 89
V.2.2 - Reologia da litosfera continental ............................................................................................. 90
V.3 - Mecanismos de deformação na escala cristalina......................................................................... 94
ix
V.3.1 - Fluxo cataclástico (Cataclastic flow) ...................................................................................... 95
V.3.2 - Dissolução por pressão (Pressure solution)............................................................................. 96
V.3.3 - Deformação intracristalina ...................................................................................................... 96
V.3.3.1 - Defeitos cristalinos ............................................................................................................... 97
V.3.3.1.1. Defeitos pontuais ................................................................................................................ 97
V.3.3.1.2 - Defeitos lineares ................................................................................................................ 98
V.3.3.1.2.1 - Discordância de borda ou em cunha (Edge dislocation) ................................................ 99
V.3.3.1.2.2 - Discordância em hélice ou em parafuso ou em espiral (Screw dislocation) .................. 100
V.3.3.1.2.3 - Discordância mista (Edge and screw dislocation) ......................................................... 101
V.3.3.2 - Deslizamento de discordâncias (Dislocation glide) ............................................................. 102
V.3.3.3 - Fluxo de discordância (Dislocation creep) .......................................................................... 104
V.3.3.4 - Geminação mecânica ............................................................................................................ 106
V.3.4 - Restauração ou recuperação (Recovery) .................................................................................. 107
V.3.5 - Recristalização ........................................................................................................................ 108
V.3.5.1 - Recristalização por migração das bordas dos grãos (GBM - grain boundary migration
recrystallisation) ................................................................................................................. 109
V.3.5.2 - Recristalização por rotação de subgrãos (SR - subgrain rotation recrystallisation)............. 110
V.3.5.3 - Evidências da recristalização dinâmica ................................................................................ 110
V.3.5.4 - Competição de processos durante a deformação .................................................................. 112
V.3.6 - Fluxo de difusão no estado sólido (Solid-state diffusion creep) ............................................. 112
V.4 - Mecanismos de deformação do plagioclásio ............................................................................. 113
V.5 - Microestruturas e mecanismos de deformação do plagioclásio dos maciços gabro-
anortosíticos do Sul da Bahia ................................................................................................. 118
V.5.1 - Metodologia ............................................................................................................................ 118
V.5.2 - Maciço de Samaritana/Carapussê ............................................................................................ 118
V.5.2.1 - Microestruturas dos porfiroclastos de plagioclásio .............................................................. 120
V.5.2.2 - Microestruturas da matriz de plagioclásio ........................................................................... 135
V.5.2.3 - Microestruturas dos demais minerais da matriz ................................................................... 142
V.5.2.4 - Mecanismos de deformação do Maciço de Samaritana/Carapussê ...................................... 145
CAPÍTULO VI - O MÉTODO EBSD
(electron backscatter diffraction) ................................. 152
VI.1 - Orientações preferenciais cristalográficas: da platina universal ao microscópio eletrônico
de varredura ............................................................................................................................... 152
VI.1.1 - Microscopia eletrônica de varredura - fundamentos .............................................................. 153
VI.2 - Histórico e generalidades .......................................................................................................... 154
VI.3 - Princípios da técnica EBSD ...................................................................................................... 155
VI.4 - A aparelhagem: funções e configurações .................................................................................. 157
x
VI.5 - Medidas das orientações preferenciais cristalográficas - OPCs ................................................ 163
VI.6 - Resultados obtidos .................................................................................................................... 165
VI.6.1 - Maciço de Samaritana/Carapussê ......................................................................................... 165
CAPÍTULO VII - DISCUSSÕES E CONCLUSÕES ..................................................................... 179
VII.1 - Maciço do Rio Piau ................................................................................................................. 179
VII.2 - Maciço de Samaritana/Carapussê ............................................................................................ 184
VII.3 - Maciço de Potiraguá ................................................................................................................ 189
VII.4 - Recomendações e Sugestões ................................................................................................... 190
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 191
GLOSSÁRIO ..................................................................................................................................... 209
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura Página
II.1 Mapa de localização e acesso às áreas de estudo ........................................................... 10
II.2 Detalhe do mapa de localização e acesso dos maciços gabro-anortosíticos de Rio Piau
e Samaritana/Carapussê ................................................................................................ 11
II.3 O Cráton do São Francisco e suas principais províncias tectônicas (Cordani et al.
2000, modificado)........................................................................................................... 12
II.4 Posições postuladas dos blocos arqueanos no início da colisão Paleoproterozóica
(Barbosa & Sabaté 2004) ................................................................................................ 13
II.5 Disposição dos blocos arqueanos após a colisão Paleoproterozóica que formou o
Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá (Barbosa & Sabaté 2004) ....................................... 13
II.6 Imagem de satélite da região centro-sul do Estado da Bahia mostrando a localização
dos maciços de Rio Piau, Samaritana/Carapussê, Mirabela, Palestina e Potiraguá ...... 16
II.7 Mapa geológico de parte da região Sul da Bahia com a localização dos maciços
gabro-anortosíticos de Rio Piau e Samaritana/Carapussê (modificado de Barbosa et
al. 2001) ......................................................................................................................... 18
II.8 Detalhe do mapa geológico de parte da região Sul da Bahia com a localização dos
maciços gabro-anortosíticos de Rio Piau e Samaritana/Carapussê (modificado de
Barbosa et al. 2001) ........................................................................................................ 19
II.9 Localização das faixas Araçuaí (A) e Ribeira (R) em relação ao Cráton do São
Francisco (SF) (modificado de Pedrosa Soares & Wiedemann 2000, apud Bordini
2003) .............................................................................................................................. 20
II.10 Limite entre o Cráton do São Francisco e a Faixa de Dobramentos Araçuaí
(modificado de Teixeira et al. 1997), com a localização do Maciço de Potiraguá ....... 21
II.11 Mapa esquemático do Maciço do Rio Piau (Cruz 1989) ............................................... 23
II.12 Mapa esquemático do Maciço de Samaritana/Carapussê (Cruz et al. 2000c) ............... 25
II.13 Mapa geológico simplificado da área do Maciço de Potiraguá (Bordini 2003) ............. 28
III.1 (A) diagrama de classificação das rochas máficas (Streckeisen 1976); (B)
classificação modal das rochas anortosíticas de Potiraguá; (C) classificação normativa
das rochas anortosíticas de Potiraguá (Bordini 2003) .................................................... 35
III.2 Diagrama de classificação das rochas máficas do Maciço do Rio Piau (Streckeisen
1976). A nomenclatura das rochas na legenda refere-se à classificação modal das
rochas anortosíticas, segundo Cruz (1989) .................................................................... 40
III.3 Mapa esquemático do Maciço do Rio Piau com a localização das amostras utilizadas
para as análises petrográficas, isotópicas e de química mineral (modificado de Cruz
1989) .............................................................................................................................. 40
xii
Figura Página
III.4 Classificação do plagioclásio das rochas anortosíticas do Maciço do Rio Piau segundo
o diagrama OrAbAn (Deer et al. 1963) ......................................................................... 41
III.5 Classificação dos piroxênios do Maciço do Rio Piau segundo o diagrama WoEnFs
(Morimoto et al. 1988) ................................................................................................... 51
III.6 Classificação dos anfibólios do Maciço do Rio Piau segundo o diagrama de Leake et
al. (1997) ........................................................................................................................ 53
III.7 Diagrama de classificação das rochas máficas do Maciço de Samaritana/Carapussê,
segundo Streckeisen (1976) ........................................................................................... 55
III.8 Mapa esquemático do Maciço de Samaritana/Carapussê (Cruz et al. 2000c) com a
localização das amostras utilizadas para os diversos objetivos desta pesquisa .............. 55
III.9 Classificação do plagioclásio do Maciço de Samaritana/Carapussê segundo o
diagrama OrAbAn (Deer et al. 1963) ............................................................................ 56
III.10 Classificação do piroxênio do Maciço de Samaritana/Carapussê, segundo o diagrama
WoEnFs (Morimoto et al. 1988) .................................................................................... 59
III.11 Classificação do anfibólio do Maciço de Samaritana/Carapussê, segundo Leake et al.
(1997) ............................................................................................................................. 63
IV.1 Diagrama Ar/Ar com um platô em 2023 ± 4 Ma para o anfibólio da amostra CM29 do
Maciço do Rio Piau ........................................................................................................ 84
IV.2 Diagrama Ar/Ar com um platô em 1957 ± 4 Ma para a biotita da amostra CM09 do
Maciço de Samaritana/Carapussê .................................................................................. 86
V.1 Curvas de esforço-deformação........................................................................................ 90
V.2 Bloco diagrama mostrando uma estrutura idealizada da crosta continental, juntamente
com pressão litostática (26 MPa/km), temperatura (25°C/km), grau metamórfico e
mecanismos de deformação dominantes (Carter & Tsenn 1987) ................................... 91
V.3 Exemplo de dissolução por pressão (Passchier & Trouw 1996) .................................... 96
V.4 Tipos de defeitos pontuais em cristais ............................................................................ 98
V.5 O vetor de Burgers em um cristal perfeito (a) e em um cristal com discordância de
borda (b). Em (a) o circuito se fecha. Em (b) o circuito não se fecha. O vetor
necessário para fechar o circuito é o vetor de Burgers, b, que caracteriza a
discordância. Neste caso, b é perpendicular à discordância .......................................... 99
V.6 Discordância de borda ou em cunha. Este tipo de discordância corresponde à borda
(edge) do plano extra. a é a distância entre os planos do cristal ..................................... 100
V.7 Discordância em hélice ................................................................................................... 100
V.8 Discordância mista.......................................................................................................... 101
xiii
Figura Página
V.9 Deformação de um cristal por uma discordância de borda (Passchier & Trouw 1996).. 102
V.10 Esforço de cisalhamento de um cristal submetido a esforços de tração: (a) nível
macroscópico; (b) nível atômico, mostrando direções e planos compactos (sistemas de
deslizamento) ................................................................................................................. 103
V.11 (a) Discordância bloqueada por uma impureza em um cristal. (b) Migração de uma
vacância para o plano da discordância pode causar um salto de discordância
afastando-a da obstrução (c) Depois do salto, a discordância é desbloqueada e pode
passar pela obstrução ...................................................................................................... 104
V.12 A extinção ondulante demonstra o efeito de um grande número de discordâncias
produzindo uma rede cristalina curva ............................................................................. 105
V.13 Geminação mecânica por um cisalhamento simples de amplitude S segundo o plano
K
1
e a direção K
1
(Nicolas 1989) .................................................................................... 106
V.14 (a) Geminação de crescimento no plagioclásio. (b) Geminação mecânica no
plagioclásio com uma diminuição gradual de espessura da borda para o centro e
nucleada em locais das bordas do cristal onde a tensão é alta (Passchier & Trouw
1996) .............................................................................................................................. 106
V.15 Ilustração esquemática dos processos de restauração (Passchier & Trouw 1996) ......... 107
V.16 Recristalização dinâmica por migração das bordas dos grãos (Passchier & Trouw
1996) ............................................................................................................................... 109
V.17 Recristalização dinâmica por rotação de subgrãos (Passchier & Trouw 1996) .............. 110
V.18 Os dois tipos básicos do processo de fluxo de difusão no estado sólido: fluxo de
Coble, no qual a difusão de vacâncias ocorre ao longo das bordas dos grãos e fluxo
Nabarro-Herring, no qual a difusão de vacâncias ocorre no interior da rede cristalina.. 113
V.19 Diferenças entre as geminações de origem magmática (a) e tectônica (b) nos grãos de
plagioclásio (Nicolas 1989) ............................................................................................ 114
V.20 Esquema ilustrando a facilidade da geminação mecânica do plagioclásio em função
do teor de An e da temperatura de equilíbrio (após Brown & Macaudière 1986) .......... 115
V.21 Sistemas de deslizamento do plagioclásio ..................................................................... 117
VI.1 Formação das linhas de Kikuchi seguida da difração de elétrons sobre os planos
reticulares (após Randle & Engler 2000) ....................................................................... 157
VI.2 Visão geral do microscópio eletrônico de varredura acoplado com o sistema EBSD da
Universidade de Montpellier II....................................................................................... 160
VI.3 Detalhe do microscópio eletrônico de varredura mostrando a câmara (onde é colocada
a lâmina), o canhão, os eixos do microscópio, a câmera de alta resolução e baixa luz e
o corretor de sinais ......................................................................................................... 160
xiv
Figura Página
VI.4 Detalhe do sistema EBSD acoplado ao microscópio eletrônico de varredura
mostrando os microcomputadores e a platina motorizada ............................................. 161
VI.5 Esquema interno do funcionamento do sistema EBSD .................................................. 161
VI.6 Orientação ideal de uma amostra para estudos de EBSD . ............................................. 163
VI.7 Representação da formação de imagem EBSP em uma tela de fósforo. A amostra está
inclinada a 70° (Ben Ismaïl 1999) .................................................................................. 164
VI.8 (a) Padrão EBSD digital do plagioclásio. (b) Padrão EBSD de (a) indexado utilizando
as linhas encontradas pela transformação de Hough pelo programa CHANNEL+ ....... 164
VI.9 Figuras pólos da matriz de plagioclásio das amostras CM08, CM09 e CM22 do
Maciço de Samaritana/Carapussê. Iguais projeções de área, hemisfério inferior, dados
não polares. N=número de medidas ............................................................................... 166
VI.10 Figuras pólos dos porfiroclastos de plagioclásio das amostras CM08, CM09 e CM22
do Maciço de Samaritana/Carapussê. Iguais projeções de área, hemisfério inferior,
dados não polares. N=número de medidas ..................................................................... 167
VI.11 Figuras pólos, nas formas de contornos (A) e de pontos (B), de grãos de plagioclásio
da amostra CM19 do Maciço de Samaritana/Carapussê. Varredura feita em linhas
com espaçamento de 3 mm entre elas. Iguais projeções de área, hemisfério inferior,
dados não polares, 507 medidas ..................................................................................... 169
VI.12 Imagens da matriz de plagioclásio efetuadas no MEV (Lâmina CM19 - Maciço de
Samaritana/Carapussê) ................................................................................................... 170
VI.13 Figuras pólos, nas formas de contornos (A) e de pontos (B), de grãos de plagioclásio
da amostra CM19 do Maciço de Samaritana/Carapussê. Pontos feitos somente na
matriz de plagioclásio com o auxílio de imagens. Iguais projeções de área, hemisfério
inferior, dados não polares, 150 medidas ....................................................................... 171
VI.14 Figuras pólos, nas formas de contornos (A) e de pontos (B), de grãos de plagioclásio
da amostra CM19 do Maciço de Samaritana/Carapussê. Pontos feitos somente nos
porfiroclastos de plagioclásio com o auxílio de imagens. Iguais projeções de área,
hemisfério inferior, dados não polares, 30 medidas ....................................................... 172
VI.15a Imagens da matriz de plagioclásio que está ao redor de um porfiroclasto de
plagioclásio efetuadas no MEV (Lâmina CM19 - Maciço de Samaritana/Carapussê) .. 173
VI.15b Imagens da matriz de plagioclásio que está ao redor de um porfiroclasto de
plagioclásio efetuadas no MEV (Lâmina CM19 - Maciço de Samaritana/Carapussê)
(cont.) ............................................................................................................................. 174
VI.16 Figuras pólos, nas formas de contornos (A) e de pontos (B), de grãos de plagioclásio
da amostra CM19 do Maciço de Samaritana/Carapussê. Pontos feitos nos grãos de
plagioclásio da matriz que estão ao redor de um porfiroclasto de plagioclásio com o
auxílio de imagens. Iguais projeções de área, hemisfério inferior, dados não polares,
150 medidas ................................................................................................................... 175
xv
Figura Página
VI.17 Imagens da matriz de plagioclásio que adentra um porfiroclasto de plagioclásio
efetuadas no MEV (Lâmina CM19 - Maciço de Samaritana/Carapussê) ...................... 176
VI.18 Figuras pólos, nas formas de contornos (A) e de pontos (B), de grãos de plagioclásio
da amostra CM19 do Maciço de Samaritana/Carapussê. Pontos feitos nos grãos de
plagioclásio da matriz que adentram um porfiroclasto de plagioclásio com o auxílio
de imagens. Iguais projeções de área, hemisfério inferior, dados não polares, 109
medidas .......................................................................................................................... 177
xvi
LISTA DE TABELAS
Tabela Página
III.1a Análises químicas do plagioclásio do Maciço do Rio Piau ........................................... 46
III.1b Análises químicas do plagioclásio do Maciço do Rio Piau (cont.) ................................ 47
III.2 Análises químicas dos piroxênios do Maciço do Rio Piau ............................................ 48
III.3 Análises químicas do anfibólio do Maciço do Rio Piau ................................................ 52
III.4 Dados de geotermometria obtidos pelo método de Holland & Blundy (1994), com o
par Hb-Pl (hornblenda-plagioclásio), para pressões estimadas entre 5 e 10 kbar .......... 54
III.5a Análises químicas do plagioclásio do Maciço de Samaritana/ Carapussê .................... 57
III.5b Análises químicas do plagioclásio do Maciço de Samaritana/ Carapussê (cont.) .......... 58
III.6 Análises químicas do clinopiroxênio do Maciço de Samaritana/ Carapussê ................ 60
III.7 Análises químicas do ortopiroxênio do Maciço de Samaritana/ Carapussê .................. 61
III.8 Análise química do anfibólio do Maciço de Samaritana/ Carapussê ............................ 62
III.9 Análises químicas da biotita do Maciço de Samaritana/Carapussê .............................. 64
IV.1 Razões isotópicas, idades modelos T
DM
e valores de epsilon Nd atual e no tempo de
cristalização, das rochas anortosíticas e diques de Potiraguá (Bordini et al. 2001b) ..... 78
IV.2 Idades modelos T
DM
e valores de epsilon Nd T
DM
, no tempo de cristalização e atual,
das rochas alcalinas em contato com as rochas anortosíticas de Potiraguá (Corrêa
Gomes 2000). Os dados dos sienitos foram obtidos em Bordini (2003) ........................ 78
IV.3 Coordenadas em UTM e referencial geográfico das amostras das rochas anortosíticas
dos maciços de Rio Piau, Samaritana/Carapussê e Potiraguá analisadas pelo método
Sm/Nd em rocha total ................................................................................................... 79
IV.4 Dados Sm/Nd em rocha total das rochas anortosíticas dos maciços de Rio Piau,
Samaritana/Carapussê e Potiraguá ................................................................................. 80
IV.5 Idades modelos T
DM
(Ma) e dados de J
Nd(TDM)
para os maciços de Rio Piau,
Samaritana/Carapussê e Potiraguá ................................................................................. 80
IV.6 Dados de epsilon Nd (J
Nd
) em diversos períodos de tempo para os Maciços de Rio
Piau, Samaritana/Carapussê e Potiraguá: J
Nd(0)
= hoje; J
Nd(TDM)
= na extração do
magma do manto; J
Nd(T1)
= a 2,6 Ga; J
Nd(T2)
= a 2,0 Ga; e J
Nd(T3)
= a 1900,0 Ma para
Rio Piau e Samaritana/Carapussê e a 730,0 Ma para Potiraguá ..................................... 81
IV.7 Dados analíticos Ar/Ar do anfibólio da amostra CM29 do Maciço do Rio Piau ........... 83
xvii
Tabela Página
IV.8 Dados analíticos Ar/Ar da biotita da amostra CM08 do Maciço de Samaritana/
Carapussê ....................................................................................................................... 85
xviii
LISTA DE PRANCHAS
Prancha Página
III.1a Aspecto geral de uma rocha anortosítica mostrando a existência de níveis mais ricos
em determinados minerais (destacados em vermelho). A parte inferior direita da
lâmina é dominada por anfibólio, a intermediária por piroxênios (observar a presença
de um grande cristal no canto inferior esquerdo da lâmina), e a superior por
plagioclásio. A presença de cristais de anfibólio e piroxênio alinhados confere a rocha
uma foliação incipiente. Lâmina CM29 (Maciço do Rio Piau) em luz plana ................ 42
III.1b Aspecto geral da mineralogia de uma rocha anortosítica. Nesta amostra, os grãos de
plagioclásio apresentam-se, preferencialmente, com formas equidimensionais,
euédricos, com contatos retos a quase retos e com geminação primária segundo a lei
albita. Estes grãos apresentam-se límpidos, sem indícios de deformação ou de
alteração de baixa temperatura. Mesma lâmina delgada de (a) com nicóis cruzados .... 42
III.1c Visão geral da mineralogia de uma rocha anortosítica. Os grãos de plagioclásio
apresentam-se, preferencialmente, subédricos, equidimensionais, e de contatos
irregulares, e subordinadamente, como cristais euédricos, de contatos retos e com
geminação primária segundo a lei albita. Alguns grãos apresentam indícios de uma
deformação plástica incipiente, tais como extinção ondulante, kinks e presença de
geminação mecânica em cunha nas bordas. Observar a presença de uma fratura aberta
na metade superior da lâmina, que não desloca os minerais. Os grãos de plagioclásio
apresentam alterações de baixa temperatura. Lâmina CM25 com nicóis cruzados ....... 42
III.1d Aspecto geral de uma rocha anortosítica mostrando a forma de apresentação dos
minerais. Na borda direita da lâmina observa-se a presença de grãos de anfibólio
euédricos e límpidos. Os grãos de plagioclásio apresentam-se, preferencialmente,
subédricos, equidimensionais, de contatos retos e sem alterações de baixa
temperatura. Lâmina CM28 com nicóis cruzados .......................................................... 42
III.2a Grão de plagioclásio com geminação albita magmática, apresentando contatos retos e
com pontos tríplices a 120º, indicando cristalização em altas temperaturas. O grão de
plagioclásio sem geminação está microfraturado e possui pequena inclusão de
anfibólio euédrico. Lâmina CM29-64/40 ....................................................................... 44
III.2b Grãos de plagioclásio com limites retos e junções tríplices a 120º indicando
cristalização em altas temperaturas. O grão cinza e sem geminação, localizado na
porção inferior direita da lâmina, apresenta geminação em cunha que se estende da
borda em direção ao centro do grão. Lâmina CM28-86/8 ............................................. 44
III.2c Grãos de plagioclásio com inclusões de anfibólio euédricos. Lâmina CM04-70/28 ..... 44
III.2d Grão de plagioclásio com geminação primária segundo a lei Carlsbad, com inclusão
de anfibólio euédrico, e apresentando kink no plano da geminação. Lâmina CM28-
75/20 .............................................................................................................................. 44
III.2e Grão de plagioclásio com extinção ondulante. Lâmina CM25-70/30 ............................ 44
III.2f Grãos de plagioclásio apresentando alterações de baixas temperaturas. Lâmina CM25-
72/38 .............................................................................................................................. 44
xix
Prancha Página
III.3a Grãos de piroxênio recristalizados ao redor de um cristal de plagioclásio. Alguns
grãos de piroxênio estão se desestabilizando para anfibólio e minerais opacos. Lâmina
CM25-70/30 em luz plana .............................................................................................. 49
III.3b Grão de piroxênio apresentando exsolução. O grão de plagioclásio em contato com
este piroxênio está alterado para minerais de baixa temperaturas. Lâmina CM25-
78/35 com nicóis cruzados ............................................................................................. 49
III.3c Grãos de anfibólio euédrico, de coloração castanha, e associados com piroxênios.
Lâmina CM29-68/7 em luz plana .................................................................................. 49
III.3d Anfibólio formado às custas da desestabilização do piroxênio. Lâmina CM29-87/9 em
luz plana ......................................................................................................................... 49
III.3e Cristal de anfibólio euédrico em contato com piroxênio e minerais opacos, sem
apresentar alterações. Lâmina CM25-74/11 em luz plana ............................................. 49
III.3f Mesma fotomicrografia anterior com nicóis cruzados ................................................... 49
III.4a Aspecto geral de uma rocha anortosítica mostrando grandes cristais tabulares de
plagioclásio e com geminação magmática. A mineralogia máfica encontra-se alterada
e apresenta-se dispersa entre os cristais de plagioclásio. Lâmina PO-04 ....................... 66
III.4b Visão geral de uma rocha anortosítica com grandes cristais tabulares de plagioclásio.
Esta rocha sofreu deformação rúptil. Os cristais de plagioclásio são atravessados por
fraturas que deslocam porções dos cristais. A rocha está bastante alterada para
minerais de baixa temperatura. Lâmina PO-08 .............................................................. 66
III.4c Visão geral de uma rocha anortosítica mostrando cristais de plagioclásio com formas
tabulares e equidimensionais. As geminações do plagioclásio são magmáticas. A
rocha está atravessada por fraturas preenchidas por minerais de baixa temperatura.
Lâmina PO-02 ................................................................................................................ 66
III.4d Aspecto geral de uma rocha anortosítica com predominância de cristais
equidimensionais. As geminações são magmáticas. Esta rocha não apresenta
deformação rúptil e as alterações de baixa temperatura estão restritas à mineralogia
máfica que encontra-se entre os cristais de plagioclásio. Lâmina PO-25 ...................... 66
III.5a Cristal de plagioclásio com forma tabular e apresentando geminação magmática
segundo a lei albita. Esta rocha sofreu deformação rúptil, conforme indicado pela
presença de fraturas que deslocam as geminações do plagioclásio. As fraturas estão
preenchidas por minerais de baixa temperatura. Lâmina PO-08-72/18 ......................... 68
III.5b Grãos de plagioclásio com geminação primária segundo a lei albita. A deformação
rúptil sofrida por esta rocha é atestada pela presença de fraturas que deslocam a
geminação. Minerais de alteração preenchem as fraturas. Lâmina PO-08-78/34 .......... 68
III.5c Outro cristal de plagioclásio apresentando deformação essencialmente rúptil. Lâmina
PO-08-79/20 ................................................................................................................... 68
xx
Prancha Página
III.5d Cristais de plagioclásio equidimensionais mostrando contatos retos a quase retos.
Estão geminados segundo a lei albita e apresentam-se repletos de inclusões de
minerais de alteração. Lâmina PO-22-68/8 .................................................................... 68
III.5e Cristais de plagioclásio com formas equidimensionais, apresentando contatos retos a
quase retos e com junções tríplices a 120°, provavelmente indicando as elevadas
temperaturas de formação deste mineral. Observar a ausência de deformação de baixa
temperatura nestes cristais. Lâmina PO-25-74/8 ............................................................ 68
III.5f Cristais de plagioclásio com formas equidimensionais e de contatos retos a quase
retos. Não foram observadas alterações de baixa temperatura nos grãos de
plagioclásio equidimensionais desta amostra. Lâmina PO-25-78/18 ............................. 68
III.6a Aspecto geral da alteração da olivina. Lâmina PO-02-74/28 em luz plana ................... 70
III.6b Grão de olivina associado a outros minerais máficos e à apatita. Lâmina PO-04-66/25
em luz plana ................................................................................................................... 70
III.6c Associação dos minerais máficos e apatita. Lâmina PO-04-79/31 em luz plana ........... 70
III.6d Formação de anfibólio às custas da desestabilização do piroxênio. Lâmina PO-22-
81/24 em luz plana ......................................................................................................... 70
III.6e Cristal de olivina alterado. Lâmina PO-25-76/27 com nicóis cruzados ......................... 70
III.6f Alteração de mineral máfico. Lâmina PO-20-80/18 em luz plana ................................. 70
V.1a Visão geral dos agregados de minerais máficos (piroxênios, anfibólios, biotita e
minerais opacos) definindo a foliação da rocha (a 45º da borda curta inferior da
lâmina). Lâmina CM19 em luz plana ............................................................................. 121
V.1b Aspecto geral das feições de deformação dos porfiroclastos de plagioclásio (extinção
ondulante, geminação mecânica, fraturamento, recristalização ao longo dos limites de
grãos e fraturas) e da matriz, bem como a distribuição dos agregados de minerais
máficos. Mesma lâmina delgada de (a) com nicóis cruzados ........................................ 121
V.1c Aspecto geral dos agregados de minerais máficos (piroxênios, anfibólios, biotita e
minerais opacos) definindo a foliação da rocha (a 45º da borda curta inferior da
lâmina). Lâmina CM20 em luz plana ............................................................................. 121
V.1d Visão geral das feições de deformação dos porfiroclastos de plagioclásio (extinção
ondulante, geminação mecânica, fraturamento, recristalização ao longo dos limites de
grãos e fraturas) e da matriz, bem como a distribuição dos agregados de minerais
máficos. Mesma lâmina delgada de (c) com nicóis cruzados ........................................ 121
V.2a Aspecto geral dos agregados de minerais máficos (piroxênios, anfibólios, biotita e
minerais opacos) definindo a foliação da rocha (a 45º da borda curta inferior da
lâmina). Lâmina CM08 em luz plana ............................................................................. 123
xxi
Prancha Página
V.2b Visão geral dos porfiroclastos de plagioclásio mostrando feições de deformação
(extinção ondulante, geminação mecânica, fraturamento e recristalização ao longo dos
limites de grãos e fraturas) e da matriz. Os minerais máficos estão distribuídos em
bandas paralelas à foliação. Mesma lâmina delgada de (a) com nicóis cruzados .......... 123
V.2c Visão geral da foliação da rocha (a 120º da borda curta inferior da lâmina) definida
pelos agregados de minerais máficos (piroxênios, anfibólios, biotita e minerais
opacos). Lâmina CM09 em luz plana ............................................................................ 123
V.2d Aspecto geral das feições de deformação dos porfiroclastos de plagioclásio (extinção
ondulante, geminação mecânica, fraturamento, e recristalização ao longo dos limites
de grãos e fraturas), da matriz e da distribuição dos agregados de minerais máficos.
Mesma lâmina delgada de (c) com nicóis cruzados ....................................................... 123
V.3a Aspecto geral das rochas anortosíticas do Maciço de Samaritana/Carapussê
destacando as duas formas de apresentação do plagioclásio. Como porfiroclastos,
apresentando aspectos ígneos (geminação magmática segundo a lei Carlsbad,
conforme cristal na parte central da lâmina, e zoneamento no cristal da parte superior
da lâmina) e de deformação (extinção ondulante, geminação em cunha, encurvamento
de geminação e de rede cristalina), e como matriz recristalizada dinamicamente.
Lâmina SAM148-B1 ...................................................................................................... 125
V.3b Visão geral dos porfiroclastos de plagioclásio com geminação Carlsbad, zoneamento
ígneo (cristal na parte superior direita), plano de composição da geminação Carlsbad
encurvado e matriz recristalizada no plano de composição da geminação (no cristal
com geminação Carlsbad no centro da lâmina). Lâmina SAM9893-2B1 ...................... 125
V.3c Aspecto geral de um porfiroclasto de plagioclásio com mais de 30 mm, mostrando
uma associação de deformação plástica intracristalina e microfraturamento. Este
cristal apresenta geminação mecânica em cunha das bordas para o centro segundo as
leis albita e periclina. A parte superior do porfiroclasto está parcialmente consumida
por neoblastos formados por recristalização, que se desenvolve, preferencialmente, ao
longo dos limites de grãos, geminações e microfraturas. Lâmina CR01 ....................... 125
V.3d Visão geral dos porfiroclastos de plagioclásio apresentando seus aspectos de
deformação dúctil. Lâmina CM22 ................................................................................. 125
V.4a Porfiroclasto de plagioclásio alongado com relações de forma de mais de 8:1. Lâmina
CM08-83/10 ................................................................................................................... 128
V.4b Porfiroclasto de plagioclásio inteiramente geminado segundo as leis albita
(aproximadamente na direção N330º em relação à borda longa da lâmina) e periclina
(aproximadamente na direção N60º em relação à borda longa da lâmina). Lâmina
CM09-73/25 ................................................................................................................... 128
V.4c Porfiroclasto de plagioclásio mostrando apenas geminações curtas, em pequenas
quantidades restritas às bordas dos grãos e se estendendo em direção ao centro do
cristal. Lâmina CM20-63/29 .......................................................................................... 128
V.4d Porfiroclasto de plagioclásio mostrando geminação mecânica estreita e contínua.
Lâmina CM 09-82/34 ..................................................................................................... 128
xxii
Prancha Página
V.4e Porfiroclasto de plagioclásio geminado segundo a lei albita apresentando uma fratura
deslocando as geminações, kink na parte inferior do cristal e geminação mecânica na
forma de cunha iniciando nos dois lados da fratura. Lâmina CM22-82/5 ..................... 128
V.4f Porfiroclasto de plagioclásio com deformação dúctil evidenciada pela curvatura
acentuada do plano de composição da geminação. Lâmina CM19-69/4 ....................... 128
V.5a Porfiroclasto de plagioclásio apresentando extinção ondulante. Lâmina CM20-63/29.. 131
V.5b Porfiroclasto de plagioclásio apresentando bandas de deformação. Lâmina CM08-
81/16 .............................................................................................................................. 131
V.5c Desenvolvimento de subgrãos na borda de um porfiroclasto de plagioclásio
mostrando que o processo de recristalização por rotação de subgrãos esteve ativo
nestas rochas. O grão claro que se encontra na parte superior esquerda da lâmina
parece ser um único grão. Lâmina CM20-61/31 ............................................................ 131
V.5d Com um pequeno giro da platina do microscópio, o grão claro da parte superior
esquerda da fotomicrografia (c) evidencia o desenvolvimento dos subgrãos ................ 131
V.5e Desenvolvimento de subgrãos com formas irregulares no interior de um porfiroclasto
de plagioclásio. Lâmina CM20-84/5 .............................................................................. 131
V.5f Subgrãos com formas poligonizadas apresentando junções tríplices a 120º. Lâmina
CM22-67/6 ..................................................................................................................... 131
V.6a Desenvolvimento de subgrãos em grãos sem geminação. Lâmina CM22-87/8 ............. 133
V.6b A um pequeno giro da platina do microscópio, o grão que está circundado de branco
na fotomicrografia (a) e que parecia ser um único grão, evidencia o desenvolvimento
de subgrãos. Mesma lâmina de (a) ................................................................................. 133
V.6c Evidência de outro processo de recristalização que esteve ativo nessas rochas. Este
processo, denominado de bulging, possibilitou a migração dos limites dos grãos e a
formação e desenvolvimento de novos grãos nos limites dos porfiroclastos. Lâmina
CM09-80/28 ................................................................................................................... 133
V.6d Com um pequeno giro da platina do microscópio, a continuidade óptica entre o
porfiroclasto e o grão que está se formando pelo processo de recristalização por
bulging fica mais evidente. Mesma lâmina de (c) .......................................................... 133
V.6e Zonas de moderada distorção da rede cristalina em um porfiroclasto de plagioclásio
invadidas por zonas de recristalização. A formação de grãos recristalizados nas
margens e ao longo de destas zonas de distorção da rede cristalina, na maioria das
vezes, consome parcialmente o porfiroclasto. Lâmina CM09-91/8 ............................... 133
V.6f Zonas de alta deformação de rede cristalina em um porfiroclasto de plagioclásio.
Trilhas de grãos recristalizados adentram o porfiroclasto ao longo destas zonas
deixando-o quase que completamente consumido pela matriz recristalizada
dinamicamente. Lâmina CM19-69/10 ........................................................................... 133
V.7a Microestrutura sugestiva de nucleação. Lâmina CM22-89/9 ......................................... 136
xxiii
Prancha Página
V.7b Detalhe da fotomicrografia (a). Mesma lâmina de (a) ................................................... 136
V.7c Grão de plagioclásio alongado (ao centro) formado, provavelmente, de um grão
anteriormente maior que foi consumido pelo processo de recristalização dinâmica.
Lâmina CM08-93/21 ...................................................................................................... 136
V.7d Limites de grãos irregulares entre o porfiroclasto de plagioclásio e as outras fases
minerais. Lâmina CM08-81/8 ........................................................................................ 136
V.7e Limites de grãos irregulares entre o porfiroclasto de plagioclásio e as outras fases
minerais. Lâmina CM22-65/30 ...................................................................................... 136
V.7f Limites retos a quase retos entre o porfiroclasto de plagioclásio e os grãos da matriz.
Os limites retos são observados quando novos grãos em contato com o porfiroclasto
estão poligonizados ou em vias de poligonização. Lâmina CM20-75/17 ...................... 136
V.8a Visão geral da matriz das rochas anortosíticas analisadas. Ela é constituída,
principalmente, de plagioclásio e, subordinadamente, de piroxênios, biotita e óxidos
de Fe-Ti-V. Lâmina CM09-64/32 .................................................................................. 138
V.8b Grãos de plagioclásio da matriz límpidos, sem indícios de deformação e/ou
geminação ou com muito pouco destes aspectos deformacionais. Lâmina CM08-87/12 138
V.8c Grãos de plagioclásio da matriz com geminação primária segundo a lei albita. Lâmina
CM09-90/30 ................................................................................................................... 138
V.8d Grãos de plagioclásio da matriz apresentando texturas em mosaico com junções
tríplices a 120º. Lâmina CM09-85/30 ............................................................................ 138
V.8e Grãos de plagioclásio da matriz com limites de grãos irregulares, formas ligeiramente
alongadas e apresentando aspectos deformacionais tais como geminação em cunha e
encurvamento de geminação. Lâmina CM08-81/5 ........................................................ 138
V.8f Grãos de plagioclásio da matriz apresentando tanto limites curvos, irregulares e
ligeiramente suturados quanto retos e com junções tríplices a 120º. Lâmina CM22-
85/11 .............................................................................................................................. 138
V.9a Grãos recristalizados de plagioclásio apresentando uma orientação preferencial de
forma incipiente nas proximidades do porfiroclasto (nicóis cruzados). Lâmina CM19-
67/23 .............................................................................................................................. 140
V.9b Visão geral da matriz das rochas anortosíticas mostrando alguns aspectos
deformacionais (extinção ondulante e geminação em cunha) dos grãos de plagioclásio
(nicóis cruzados). Lâmina CM09-76/18 ........................................................................ 140
V.9c Grãos de piroxênios poligonais observados ao longo das margens de um porfiroclasto
de piroxênio (em luz plana). Lâmina CM19-64/21 ........................................................ 140
V.9d Mesma fotomicrografia de (c) com nicóis cruzados. Lâmina CM19-64/21 .................. 140
xxiv
Prancha Página
V.9e Porfiroclasto de piroxênio rodeado de grãos de piroxênios recristalizados (em luz
plana). Lâmina CM20-77/8 ............................................................................................ 140
V.9f Grão reliquiar de piroxênio com ex-solução. Observa-se também que grãos
recristalizados de piroxênio adentram este grão (nicóis cruzados). Lâmina CM19-
64/21 .............................................................................................................................. 140
V.10a Aspecto geral dos agregados de minerais máficos (em luz plana). Lâmina CM19-7/23 143
V.10b Porfiroclasto de piroxênio apresentando geminação encurvada (nicóis cruzados).
Lâmina CM09-76/18 ...................................................................................................... 143
V.10c Grão de piroxênio apresentando ex-solução (nicóis cruzados). Lâmina CM19-64/21 .. 143
V.10d Biotita em forma de palhetas (em luz plana). Lâmina CM19-64/21 .............................. 143
V.10e Biotita sem forma definida e com forte pleocroísmo (nicóis cruzados). Lâmina CM20-
77/8 ................................................................................................................................ 143
V.10f Óxido de Fe-Ti intersticial (nicóis cruzados). Lâmina CM19-64/21 ............................. 143
V.11a Presença de quartzo e feldspato alcalino na matriz da rocha anortosítica. O quartzo
também se apresenta na forma de ribbon. Lâmina CM09-69/38 ................................... 146
V.11b Fratura aberta atravessando indistintamente porfiroclastos e matriz (em luz plana).
Lâmina CM09-78/38 ...................................................................................................... 146
V.11c Mesma fotomicrografia de (c) mostrando que a fratura está preenchida por um
material isotrópico que carrega pedaços de minerais (nicóis cruzados). Lâmina
CM09-78/38 ................................................................................................................... 146
V.11d Presença de alterações de baixa temperatura, tais como sericitização dos grãos de
plagioclásio, em pequenas proporções (nicóis cruzados). Lâmina CM20-63/30 ........... 146
xxv
CAPÍTULO I
Introdução
I.1 - Considerações gerais sobre anortositos
O termo anortosito foi introduzido por Hunt (1863) e deriva da divisão cristalográfica dos feldspatos nas
variedades orthose (monoclínico) e anorthose (triclínico), feita principalmente por mineralogistas europeus
na metade do século 19. Anortositos são rochas dominadas pelo feldspato anorthose, ou plagioclásio.
Embora variedades cálcicas de anortositos certamente existam, o nome da rocha nunca significou implicar na
presença de anortita, um termo que tem uma etmologia similar. O plagioclásio nos anortositos pode ter
qualquer composição entre An
20
e An
100
(Ashwal 1993). Albititos e outras rochas ricas em feldspatos sódicos
não são consideradas anortositos porque elas cristalizam a partir de fluidos hidrotermais ao invés de fusões
silicáticas, como enfatizado por Bowen (1917, 1928).
Segundo Streckeisen (1976), o termo anortosito se refere estritamente a rochas ígneas que consistem de 90%
ou mais de plagioclásio. Muitos anortositos e rochas relacionadas estão metamorfisados e apesar do
plagioclásio estar geralmente preservado, embora recristalizado, a mineralogia máfica não sobrevive tão bem
quanto este. Na literatura, a nomenclatura da IUGS (International Union of Geological Sciences) para os
anortositos é muito usada, mesmo para as variedades metamórficas nas quais os piroxênios e olivinas
originais foram substituídos por anfibólios ou filossilicatos. Em uso mais comum, os termos anortosito e
leucogabro parecem mais convenientes do que meta-anortosito e meta-leucogabro ou leuco-anfibolito,
particularmente no campo, embora estes últimos nomes talvez sejam tecnicamente mais corretos (Ashwal
1993).
Vários autores tentaram classificar anortositos (Buddington 1939, 1975, Berrangé 1966, Romey 1968,
Middlemost 1970, Moshkin & Dagelaiskaya 1972). Usando estes trabalhos como ponto de partida, Ashwal
(1993) classificou os anortositos em seis tipos básicos:
a) anortositos Arqueanos;
b) anortositos Proterozóicos tipo maciço;
c) anortositos em complexos estratiformes;
d) anortositos de ambientes oceânicos;
e) enclaves de anortositos em outras rochas ígneas;
f) anortositos extraterrestres.
2
As ocorrências dos anortositos são bastante diversas. Estas rochas são encontradas em vários ambientes
tectônicos e em todos os tempos da história geológica da Terra e, provavelmente, ainda estão se formando
nos dias atuais. Por exemplo, os anortositos de complexos estratiformes ocorrem em ambientes extensionais
intracontinentais e não são restritos a espaço e tempo. Já os anortositos proterozóicos do tipo maciço são
encontrados tanto em ambientes orogênicos como anorogênicos. Anortositos também podem ser encontrados
dentro de complexos ofiolíticos, no fundo oceânico, em complexos anelares subvulcânicos e como enclaves
em uma grande variedade de rochas ígneas. Rochas anortosíticas são constituintes principais da crosta lunar
e, possivelmente, de Mercúrio, e também ocorrem como meteoritos (Ashwal 1993).
A caracterização do ambiente tectônico onde ocorrem rochas anortosíticas tem implicações importantes na
caracterização geológica de terrenos antigos. Alguns tipos de ocorrências são típicos de um determinado
intervalo de tempo, enquanto outros são independentes do tempo geológico. No Arqueano (> 2,5 Ga), sob
um regime termal alto que acarretou em taxas de acresção e subducção mais vigorosas (Windley 1986),
dominaram terrenos granulítico-gnáissicos de alto grau metamórfico e terrenos graníticos e de rochas verdes
de grau baixo metamórfico. Junto aos terrenos arqueanos de baixo e alto graus metamórficos ocorrem
porções de anortositos cálcicos arqueanos. No Proterozóico (2,5-0,57 Ga), uma época onde a atuação de
forças provavelmente geradas pela dinâmica do manto afetou as regiões cratônicas estabilizadas no final do
Arqueano, desenvolveram-se os anortositos proterozóicos do tipo maciço (Green 1992). No Fanerozóico (<
0,57 Ga), a tectônica de placas deu origem às faixas móveis formadas pela deriva continental (Windley
1986). Estas faixas móveis atualmente são denominadas de cinturões orogênicos. Uma das feições
fanerozóicas marcantes foram os complexos alcalinos relacionados aos aulacógenos e riftes continentais.
Associados aos domos alcalinos anorogênicos ocorrem anortositos alcalinos associados com rochas
granitóides. Em todos os períodos geológicos, onde mega-fraturas foram capazes de canalizar magmas
originários do manto, se formaram complexos máfico-ultramáficos estratiformes. Estes complexos
geralmente apresentam camadas anortosíticas de espessura variável e são referidos como anortositos
associados às intrusões estratiformes.
Baseado na mineralogia e textura, os anortositos são referidos como rochas ígneas de natureza basáltica
(Ashwal 1993). Parece consenso que o manto tem um papel importante na gênese das rochas anortosíticas, se
não diretamente, pelo menos como fonte de calor (Huppert & Sparks 1988, Olson & Morse 1990, Olson
1992, Higgins & Van Breemen 1996). Entretanto, este consenso não existe quanto à composição dos
magmas parentais e se as fusões foram geradas na crosta ou no manto. Dados isotópicos sugerem que as
rochas anortosíticas podem ser misturas de componentes mantélicos e crustais. Isto pode indicar
contaminação do magma derivado do manto por material crustal antigo ou multiplicidade de fontes (manto e
crosta). As rochas anortosíticas podem derivar de uma fonte mantélica com pouca (ou nenhuma)
contaminação crustal (Ashwal et al. 1998), de uma fonte mantélica com contaminação crustal importante
3
(Xue & Morse 1993, Mitchell et al. 1995), e de fusões parciais de material máfico crustal (Simmons &
Hanson 1978, Owens et al. 1994).
Dentre os mecanismos responsáveis pela acumulação de minerais, a cristalização in situ no assoalho e
paredes das câmaras magmáticas parece ser o mecanismo mais favorável para acumulação de cristais de
plagioclásio nos anortositos (Higgins & Doig 1981, Turner & Campbell 1986, McBirney et al. 1985, Nilson
et al. 1985).
Falhas de rejeito direcional e zonas de cisalhamento transcorrente parecem ser os melhores sítios de
colocação dos maciços anortosíticos na superfície da crosta. Higgins & Van Breeman (1996) determinaram
que algumas intrusões anortosíticas na província de Grenville atingiram níveis médios da crosta através de
movimentos direcionais (strike-slip) em zonas de cisalhamento verticais resultantes da tectônica de placas.
Martignole (1996) constatou que o maciço de Morin está localizado numa zona de cisalhamento
transcorrente dextral relacionada à orogênese Otawana. Ashwal et al. (1998) mostraram que intrusões
anortosíticas em Madagascar foram colocadas em zonas de cisalhamento dúctil com um componente
subvertical indicando uma origem por estiramento (stretching) e cisalhamento plano. Esta deformação estaria
relacionada com a colisão e amalgamação do Gondwana leste e oeste.
O ambiente geralmente proposto na gênese de anortositos envolve uma zona de rifte continental abortado
(Emslie 1978, 1985, Morse 1982, Duchesne 1984) e, neste caso, eles representariam o produto de um
magmatismo anorogênico. Entretanto, evidências como o posicionamento em zonas que representam bordas
de placas antigas sugere o envolvimento de um episódio orogênico na formação de rochas anortosíticas
(Owens et al. 1994, Martignole 1996, McLelland et al. 1996, Corrigan & Hanmer 1997, Scoates &
Chamberlain 1997, Ashwal et al. 1998).
I.2 - Justificativas e Objetivos
Na porção centro-sul do Estado da Bahia existe uma série de corpos básicos de dimensões inferiores a 100
km
2
, que são portadores de litologias de natureza máfica-ultramáfica e gabro-anortosítica e estão associados
a anomalias magnéticas significativas. Estes corpos intrudiram o embasamento do Cráton do São Francisco
na interface entre os terrenos metamórficos de alto grau do Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá e do Bloco
Jequié (Cruz & Sabaté 1995, Sabaté & Cruz 1998). De norte para sul são conhecidos, até o momento, os
maciços de Rio Piau (Cruz 1989), Carapussê (Macêdo 2000), Samaritana (Jesus 1997), Fazenda Provisão
(Sabaté & Cruz 1998), Palestina (Fróes & Soares 1998), Mirabela (Abram 1993) e Potiraguá (Bordini 2003).
Dos maciços acima citados, os de Fazenda Provisão, Palestina e Mirabela possuem apenas os termos máfico-
4
ultramáficos e nos demais predominam os termos gabro-anortosíticos. Como Macêdo (2000) concluiu que o
Maciço de Carapussê é uma porção deslocada por falha do Maciço da Samaritana, doravante este maciço
será denominado de Maciço de Samaritana/Carapussê. A presente pesquisa se concentrou nas rochas
anortosíticas dos maciços de Rio Piau, Samaritana/Carapussê e Potiraguá porque estas rochas, devido ao
elevado conteúdo de plagioclásio, são ideais para o estudo os mecanismos de deformação e orientação
preferencial cristalográfica deste mineral.
O atual nível de conhecimentos dos maciços de Rio Piau, Samaritana/Carapussê e Potiraguá, que são
conhecidos como os maciços gabro-anortosíticos do Sul da Bahia, envolve mapeamento e geologia destas
intrusões, descrições petrográficas de seus litotipos, dados quantitativos baseados na geoquímica de rocha
total e dos elementos terras raras, de química mineral, e em escassos trabalhos isotópicos e geocronológicos.
Em termos regionais, vale ressaltar o trabalho de Barbosa (1986) que estudou o metamorfismo das rochas
granulíticas encaixantes destes corpos.
Apesar dos maciços gabro-anortosíticos do Sul da Bahia já terem sido estudados quantitativamente em outras
áreas do conhecimento geológico, o aspecto da deformação ainda não tinha sido abordado. A investigação
microestrutural dos processos de deformação é uma ferramenta importante em análises estruturais. A
observação detalhada de produtos deformados natural e experimentalmente, associada a mapeamento de
campo e a modelamento teórico dos processos de deformação, tem levado ao reconhecimento de
microestruturas características de diferentes mecanismos de deformação que atuam durante os eventos
tectônicos (Schmid 1982, Borradaile et al.1983, Zwart et al. 1987). Além disso, eles são utilizados para
identificar os mecanismos individuais que operam em minerais específicos e nos diferentes tipos de rochas.
Esses mecanismos variam em função das condições de pressão e temperatura e também do ambiente químico
(oxidação ou hidratação) nos quais ocorre a deformação. As microestruturas e texturas também dependem do
nível de esforço. Sua análise é fundamental para a interpretação da dinâmica e movimentos em zonas de
falhas e para o estudo das interações entre deformação e metamorfismo.
Os feldspatos são os minerais mais abundantes na crosta terrestre, com uma moda estimada de 51% (Ronov
& Yaroshevsky 1969). O plagioclásio é o mineral volumetricamente mais importante das camadas profundas
da crosta terrestre. Em uma primeira aproximação, o comportamento mecânico da crosta média a inferior é
controlado pela reologia deste mineral e suas interações mecânicas (Tullis 1979). Apesar da abundância do
plagioclásio na crosta terrestre, seus mecanismos de deformação e orientação em uma variedade de
condições ainda são pouco conhecidos quando comparados a de outros minerais, a exemplo do quartzo,
olivinas, piroxênios e calcita. Esta falta de dados é devida, principalmente, a sua grande variação química (de
NaAlSi
3
O
8
para CaAl
2
Si
2
O
8
), que é acompanhada por uma mudança contínua nos seus parâmetros de rede
cristalina, e por sua simetria triclínica. Até cerca de 20 anos atrás, o seu comportamento dúctil era pouco
5
compreendido. O aprimoramento das técnicas de difração de elétrons ocorrido nos últimos 20 anos permitiu
um avanço considerável no estudo da deformação dúctil.
Dentre as técnicas de difração de elétrons, a conhecida pela sigla EBSD (electron backscatter diffraction) é
muito importante para obter informações cristalográficas em resolução de submicron, possibilitando assim
extrair informações relacionadas à estrutura do cristal e fornecendo as relações entre cristalografia,
morfologia, química e propriedades físicas da amostra a ser investigada. As principais aplicações desta
técnica são medidas de orientação e desorientação (misorientation) de grãos, identificação de fases, avaliação
de deformação e tamanho verdadeiro dos grãos. A operacionalização da técnica EBSD é feita em um
microscópio eletrônico de varredura (MEV) acoplado a um sistema EBSD. Esta técnica tem a vantagem de
ser rápida e precisa, e de permitir a medida de orientações cristalográficas de minerais de baixa simetria
como o plagioclásio. Apesar do número de trabalhos que tratam deste assunto ter crescido na última década,
ainda pouco se conhece sobre as orientações preferenciais cristalográficas (OPCs) que o plagioclásio
desenvolve durante a deformação e a recristalização.
Por outro lado, a carência de dados geocronológicos e isotópicos ainda deixa a idade de cristalização dos
maciços gabro-anortosíticos do Sul da Bahia no campo da especulação. A principal dificuldade na datação
destes corpos deve-se à falta de minerais que forneçam dados confiáveis, tais como zircão e monazita. Nesta
pesquisa, serão utilizados os métodos Sm/Nd e Ar/Ar na tentativa de se obter resultados que tenham
significado geológico.
Os objetivos desta pesquisa são:
a) apresentar os aspectos microestruturais observados em cada maciço estudado;
b) avaliar e discutir os diferentes mecanismos de deformação do plagioclásio que atuaram nestes
maciços, através das observações microestruturais efetuadas ao microscópio óptico e dos dados de
química mineral;
c) avaliar e discutir os mecanismos de orientação do plagioclásio, através da análise das orientações
preferenciais cristalográficas (OPCs) obtidas pela técnica EBSD;
d) apresentar e discutir os dados isotópicos e geocronológicos obtidos pelos métodos Sm/Nd e Ar/Ar.
Através do estudo dos mecanismos de deformação e orientação cristalográfica dos cristais de plagioclásio
dos maciços de Rio Piau, Samaritana/Carapussê e Potiraguá espera-se, ao final desta pesquisa, agregar mais
uma contribuição para um melhor entendimento da deformação crustal neste segmento do Cráton do São
Francisco.
6
I.3 - Metodologia
Para alcançar êxito em relação aos objetivos principais da presente pesquisa, foram realizados os seguintes
procedimentos nas áreas onde os maciços estão inseridos:
I.3.1 - Levantamento bibliográfico
Esta etapa consistiu de um levantamento bibliográfico dos trabalhos realizados, até então, nos maciços
gabro-anortosíticos do Sul da Bahia. Foi feita uma compilação dos dados existentes sobre estes maciços nos
aspectos geológico, petrográfico, geoquímico, mineraloquímico, isotópico e geocronológico.
I.3.2 - Aquisição de bases cartográficas e fotografias aéreas
Para um reconhecimento da área na qual estão inseridos os maciços em estudo visando as campanhas de
campo a serem empreendidas, foram utilizados:
Mapas topográficos:
folhas de Amargosa (SD.24-V-D-II), Valença (SD.24-V-D-III), Jaguaquara (SD.24-V-
D-V) e Ituberá (SD.24-V-D-VI) para os maciços de Rio Piau e Samaritana/Carapussê, e folhas de Potiraguá
(SD.24-Y-D-V) e Itaju do Colônia (SD.24-Y-D-II) para o Maciço de Potiraguá, todas na escala 1:100.000 e
elaboradas em 1977 pelo convênio SUDENE/Governo do Estado da Bahia - Secretaria de Saneamento e
Desenvolvimento Urbano.
Mapas geológicos:
mapas esquemáticos dos maciços de Rio Piau, Samaritana/Carapussê e Potiraguá,
elaborados, respectivamente, por Cruz (1989), Jesus (1997)/Macêdo (2000) e Bordini (2003).
Mapa político:
mapa de divisão político-administrativa do Estado da Bahia, escala 1:1.500.000, elaborado
pelo CEI, ano 1994.
Fotografias aéreas:
de números 3016 a 3020, escala 1:60.000, para o Maciço de Rio Piau, e as de números
789 a 791, escala 1:100.000, para o Maciço de Samaritana/Carapussê. Todas as fotografias utilizadas fazem
parte do acervo da CBPM e foram executadas em 1974 pelo projeto 0-281 - Região Rio Paraguaçu.
7
I.3.3 - Visitas de campo
As duas campanhas de campo realizadas visaram uma amostragem orientada das rochas anortosíticas e o
reconhecimento geológico geral da estruturação e das litologias dos maciços e de suas encaixantes. A
primeira campanha de campo foi executada no período de 18 a 21 de outubro de 2000 e abrangeu todos os
maciços. A segunda, no período de 30 de abril a 2 de maio de 2002, contemplou os maciços de Rio Piau e
Samaritana/Carapussê.
Nestes sete dias de trabalhos de campo foram descritos 28 afloramentos e foram coletadas 36 amostras,
sendo 17 do Maciço do Rio Piau, 10 de Samaritana/Carapussê, 6 de Potiraguá e 3 da encaixante de
Samaritana/Carapussê. Os pontos nos afloramentos foram marcados utilizando o GPS (global position
system). Foram feitas cerca de 48 fotografias das feições observadas nos afloramentos visitados.
I.4 - Estruturação da Tese
A presente tese está estruturada em 7 capítulos. No primeiro capítulo, depois de feitas algumas considerações
gerais sobre os anortositos, foram enfocadas as justificativas para a execução desta pesquisa, os objetivos a
serem alcançados e a metodologia aplicada. Quanto ao tópico da metodologia referente aos estudos de
laboratório, optou-se por inseri-lo em cada capítulo.
O capítulo II constará da localização da área de estudo, seguida de uma abordagem sobre a geologia regional
envolvendo os compartimentos geológicos do Cráton do São Francisco, e finalizando com alguns aspectos da
geologia local.
O capítulo III será destinado, inicialmente, a uma síntese dos conhecimentos petrográficos, geoquímicos e de
química mineral dos maciços gabro-anortosíticos do Sul da Bahia. Em seguida, serão feitas algumas
abordagens sobre aspectos petrográficos e mineraloquímicos obtidos no decorrer desta pesquisa.
O capítulo IV trará uma síntese dos dados isotópicos e geocronológicos existentes dos maciços gabro-
anortosíticos do Sul da Bahia, como também uma avaliação e interpretação dos dados isotópicos Sm/Nd e
Ar/Ar obtidos no decorrer deste trabalho.
O capítulo V terá na deformação o seu enfoque principal. Inicialmente, será feita uma descrição dos diversos
mecanismos e processos de deformação atuantes na crosta, seguido de uma descrição detalhada dos
8
mecanismos de deformação do plagioclásio. Posteriormente, serão abordados os aspectos microestruturais
evidenciados através de estudos efetuados ao microscópio óptico.
No capítulo VI, serão apresentados as bases teóricas da técnica EBSD (electron backscatter diffraction) e os
dados das orientações preferenciais cristalográficas (OPCs) do plagioclásio e dos piroxênios obtidos com a
sua utilização.
Finalizando, o capítulo VII será destinado às discussões e conclusões obtidas no decorrer desta pesquisa e às
sugestões e recomendações para a continuidade dos estudos nestes maciços.
CAPÍTULO II
Geologia Regional e Local
II.1 - Localização geográfica e acesso à área
Os maciços gabro-anortosíticos de Rio Piau, Samaritana/Carapussê e Potiraguá localizam-se na região
Nordeste do Brasil, porção centro-sul do Estado da Bahia. A área na qual estão inseridos está delimitada
entre os paralelos 13ºS e 16ºS e os meridianos 39ºW e 40ºW. Estas coordenadas geográficas correspondem,
respectivamente, às coordenadas de latitudes 8563N a 8231N e longitudes 500E a 392E, em UTM (Universal
Transversa de Mercator) (Fig. II.1).
O Maciço do Rio Piau encontra-se a 268 km a sul de Salvador, capital do Estado da Bahia, aproximadamente
a 18 km a sudoeste do município de Presidente Tancredo Neves, região centro-sul deste Estado, entre as
coordenadas de latitudes 8490N e 8488N e longitudes 428E e 434E, em UTM. Partindo de Salvador, são
percorridos 93 km na BR-324 até o entroncamento com a BR-101, nas proximidades de Feira de Santana, e
161 km na BR-101 até Presidente Tancredo Neves. A partir daí, são percorridos 14 km até este maciço, cujo
acesso é feito através de estradas e caminhos não pavimentados e de difícil acesso (Fig. II.2).
O Maciço de Samaritana/Carapussê encontra-se a 320 km a sul de Salvador, aproximadamente a 9 km a
nordeste do município de Itamari, região centro-sul do Estado da Bahia, entre as coordenadas de latitudes
8480N e 8488N e longitudes 428E e 434E, em UTM. O acesso principal, a partir de Salvador, é feito por 93
km pela BR-324 até o entroncamento com a BR-101, nas proximidades de Feira de Santana, e por 199 km na
BR-101 até Gandu. A partir daí, o acesso é feito através de estradas e caminhos não pavimentados de difícil
acesso, sendo 24 km na BA-549 até Itamari e mais 4 km por caminhos que dão acesso às fazendas da região
(Fig. II.2).
O Maciço de Potiraguá encontra-se a 600 km a sul de Salvador, aproximadamente a 6 km a leste do
município de Potiraguá, sul do Estado da Bahia. Partindo de Salvador, são percorridos 93 km na BR-324 até
o entroncamento com a BR-101, nas proximidades de Feira de Santana, 347 km na BR-101 até Itabuna, 30
km na BR-415 até Ibicaraí, 72 km na BA-263 até Itororó e 59 km pela BA-670 até Potiraguá. A partir deste
município, o acesso é feito por estradas e caminhos não pavimentados que são acesso às fazendas da região
(Fig. II.1).
10
Figura II.1 - Mapa de localização e acesso às áreas de estudo.
11
Figura II.2 - Detalhe do mapa de localização e acesso dos maciços gabro-anortosíticos de Rio Piau e
Samaritana/Carapussê.
II.2 - Aspectos gerais da geologia regional
O Cráton do São Francisco (Almeida 1977) é um dos mais significativos remanescentes da crosta continental
arqueana na América do Sul. Ele constitui a mais bem exposta e estudada unidade tectônica do embasamento
da plataforma sul-americana e abrange, principalmente, os estados da Bahia e Minas Gerais (Barbosa et al.
2003a). Este cráton está delimitado por faixas de dobramentos marginais estruturadas durante a orogênese
Brasiliana, denominadas de: Sergipana, Riacho do Pontal, Rio Preto, Brasília, Alto Rio Grande e Araçuaí
(Teixeira et al. 2000) (Fig. II.3).
No Estado da Bahia, o embasamento arqueano e paleoproterozóico do Cráton do São Francisco ocupa cerca
de 50% da área total deste estado e é constituído por seqüências supracrustais metamorfisadas na fácies
xisto-verde a anfibolito alto, complexos gnáissico-migmatíticos de médio grau metamórfico, e terrenos de
alto grau metamórfico (Barbosa & Dominguez 1996). Em termos estruturais, encontra-se uma estrutura
12
convergente maior denominada de lineamento Contendas-Jacobina (Sabaté 1991) (Fig. II.3). Este lineamento
estabelece a junção entre dois domínios distintos: um a oeste correspondendo ao Bloco Gavião e outro a leste
que inclui os Blocos Jequié e Serrinha, além do Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá (Sabaté 1996).
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Terrenos Grantico-gnaissicos
Terrenos Granito-"greenstone"
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CrÆton do
Sªo Francisco
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Figura II.3 - O Cráton do São Francisco e suas principais províncias tectônicas (Cordani et al. 2000,
modificado). GA - Bloco do Gavião e terrenos relacionados; MG - Complexo Metamórfico de Minas
Gerais; MI - Cinturão Mineiro; OISC - Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá; JQ - Bloco de Jequié; SE -
Bloco de Serrinha; F.D. - faixas de dobramentos.
Uma síntese da evolução geológica e geotectônica das rochas do embasamento deste cráton, baseada em
estudos geológicos, geocronológicos e isotópicos recentes, foi apresentada por Barbosa & Sabaté (2002,
2004). Segundo estes autores, foram distinguidos quatro importantes segmentos crustais, que são os blocos
13
Figura II.4 - Posições postuladas dos blocos arqueanos no início da colisão Paleoproterozóica (Barbos
a
& Sabaté 2004).
Figura II.5 - Disposição dos blocos arqueanos após a colisão paleoproterozóica que formou o Orógeno
Itabuna-Salvador-Curaçá. Os dados estruturais de campo mostram uma cinemática global inicialmente
reversa que evoluiu para sinistral. As setas indicam o campo de esforço regional (Barbosa & Sabaté
2004).
14
Gavião, Jequié, Itabuna-Salvador-Curaçá e Serrinha (Fig. II.4). Durante a orogenia Paleoproterozóica (2,3-
2,0 Ga), houve a colisão destes quatro segmentos crustais que resultou na formação de uma importante
cadeia de montanhas denominada de Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá (Barbosa & Sabaté 2003). Esta
colisão ocorreu com o movimento destes quatro blocos no sentido NW-SE (Figs. II.4 e II.5), identificado
pela presença de falhas de empurrão e zonas transcorrentes tardias. A aproximação do Bloco Serrinha em
direção ao Bloco Gavião promoveu um importante encurtamento crustal ao longo de um eixo, o qual
continuou em direção à parte oeste do Gabão, na África (Ledru et al. 1993).
Nas etapas iniciais desta colisão, em torno de 2,4 Ga (Ledru et al. 1993), rampas frontais com tectônica
tangencial resultaram na sobreposição tectônica do Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá no Bloco Jequié, e de
ambos sobre o Bloco Gavião. O metamorfismo de alto grau Paleoproterozóico, considerado como originário
do espessamento crustal relacionado a esta superposição tectônica de blocos, alcançou a fácies granulito na
parte central do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá e as fácies anfibolito e xisto-verde nas bordas (Barbosa &
Sabaté 2003). Na fase de levantamento, rampas tectônicas associadas a thrusts modificaram a zonação
metamórfica original em função da colocação de megablocos de rochas granulíticas sobre rochas das fácies
anfibolito e xisto verde (Barbosa 1997), fazendo com que terrenos de mais alto grau metamórfico ficassem
posicionados sobre aqueles de mais baixo grau. Esta configuração estrutural é observada no SSE-SSW do
Cráton do São Francisco no Estado da Bahia, onde a sobreposição tectônica do Bloco Itabuna-Salvador-
Curaçá no Bloco Jequié transformou as rochas deste último da fácies anfibolito para a granulito. Intrusões
charnockíticas e graníticas tardias penetraram os quatro segmentos crustais e deformações tardias formaram
zonas de cisalhamento retrógradas nos blocos arqueanos.
Uma particularidade da interface entre os terrenos metamórficos de alto grau do Bloco Itabuna-Salvador-
Curaçá e do Bloco Jequié é a presença de uma série de corpos básicos portadores de litologias de natureza
máfica-ultramáfica e gabro-anortosítica, de dimensões inferiores a 100 km
2
, associados a anomalias
magnéticas significativas. De norte para sul, são conhecidos os seguintes maciços: Rio Piau (Cruz 1989),
Samaritana/Carapussê (Jesus 1997/Macêdo 2000), Fazenda Provisão (Sabaté & Cruz 1998), Palestina (Fróes
& Soares 1998), Mirabela (Abram 1993) e Potiraguá (Bordini 2003).
O contexto geológico de colocação dos maciços de Rio Piau e Samaritana/Carapussê pode ser subdividido em
três grandes domínios, que são o Bloco Jequié, a porção sul do Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá e a Banda de
Ipiaú (Figs. II.7 e II.8). Quanto ao maciço de Potiraguá, situado mais a sul dos anteriores, este contexto
envolve a porção sul do Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá, a Faixa de Dobramentos Araçuaí e as rochas
alcalinas da Província Alcalina do Sul da Bahia (Fig. II.10). Os domínios acima citados serão abordados à
luz dos conhecimentos mais recentes.
15
II.2.1 - Bloco Jequié
O Bloco Jequié está em contato tectônico com o Bloco Gavião e compreende rochas que estavam na fácies
anfibolito antes da colisão Paleoproterozóica e que foram intensamente deformadas durante o processo
orogênico (Barbosa & Sabaté 2004). Estas rochas são migmatitos heterogêneos com inclusões de
supracrustais, com idade de 2900±24 Ma obtida em uma isócrona Rb-Sr em rocha total (Wilson 1987,
Marinho et al. 1994), e intrusões graníticas e granodioríticas mais jovens, formadas por múltiplas intrusões
cálcio-alcalinas, com idades de aproximadamente 2,8-2,6 Ga obtidas pelo método U-Pb em zircão (Wilson
1987, Alibert & Barbosa 1992). Neste bloco ocorrem mineralizações de Fe-Ti-V hospedadas em pequenos
corpos máfico-ultramáficos que penetraram zonas de cisalhamento profundas de trend NNE-SSW (Cruz &
Sabaté 1995, Cruz et al. 1999), dentre eles o Maciço do Rio Piau, um dos objetos deste estudo. O caráter
toleiítico das rochas destes corpos sugere que eles são geoquimicamente distintos das outras rochas
plutônicas (Barbosa 1986, Barbosa & Fonteilles 1989).
Embora o Maciço do Rio Piau tenha sido considerado por Cruz (1989) como intrusivo nas rochas do Bloco
Jequié, imagens de satélite (www.relevobr.cnpm.embrapa.br) associadas às coordenadas UTM mostraram
que ele situa-se na interface entre este bloco e o Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá (Fig. II.6).
II.2.2 - Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá
O Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá é constituído, principalmente, por rochas metamorfisadas na fácies
granulito sob condições de 5-7 kbar e 850ºC (Barbosa 1990). Ele representa um vasto prisma de
acrescimento crustal inserido entre o lineamento colisional Contendas-Jacobina (Sabaté 1991) e os blocos
Gavião (a oeste), Jequié (a sul) e Serrinha (a leste), e que foi soerguido durante a orogenia Paleoproterozóica
a c.a. 2.0 Ga.
A sua porção norte é constituída por rochas da suíte tonalítica-trondhjemítica-granodiorítica com
imbricações de rochas supracrustais (Complexo Ipirá), contendo mobilizados anatéticos e granitóides. Na
borda ocidental, todo este conjunto está limitado pela Suíte São José do Jacuípe (Melo 1991, Loureiro 1991),
que é uma suíte de rochas máficas-ultramáficas reequilibradas na fácies anfibolito alto/granulito (Melo et al.
1995). Idades de 2,7 Ga obtidas através do método U-Pb (SHRIMP) na parte central de zircões (Silva et al.
1997) têm sido relacionadas a processos de subducção com geração de protólitos tonalíticos-trondhjemíticos
em ambientes de arcos de ilhas (Barbosa 1997, Barbosa & Sabaté 2002).
A porção sul do Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá corresponde ao Bloco de Itabuna, de Pedreira et al. (1975),
ou Mobile Belt da Costa Atlântica, de Costa & Mascarenhas (1982), ou ainda Domínio da Costa Atlântica, de
16
Figura II.6 - Imagem de satélite da região centro-sul do Estado da Bahia mostrando a localização dos
maciços de Rio Piau, Samaritana/Carapussê, Mirabela, Palestina e Potiraguá.
17
Barbosa (1986). Ela faz parte do orógeno de mesmo nome que foi formado durante o Paleoproterozóico, em
um intervalo de tempo de cerca de 200 a 300 milhões de anos, quando o Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá foi
imprensado por outros blocos de idade Arqueana (Blocos Gavião, Jequié e Serrinha) levando à formação de
importante cadeia de montanhas. Atualmente, este Orógeno está completamente arrasado na sua parte central
exibindo as rochas metamórficas de alto grau das suas raízes (Barbosa et al. 2003b). Nesta porção sul,
predomina rochas granulíticas orientadas aproximadamente segundo a direção N10ºE. Estas rochas
encontram-se fortemente deformadas e recristalizadas na fácies granulito, o que torna difícil definir se os
seus protólitos foram plutônicos ou vulcânicos (Barbosa & Dominguez 1996). Estes protólitos magmáticos
têm idades T
DM
situadas entre 2,5-2,3 e 2,8-2,6 Ga (Alibert & Barbosa 1992, Sato 1998). O metamorfismo
granulítico, datado por Ledru et al. (1994) pelo método de evaporação Pb-Pb em zircões, obteve idades em
torno de 2,07 Ga, as quais foram corroboradas por Silva et al. (2002). Intercalados tectonicamente nos
granulitos desta parte sul do Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá, são encontrados kinzigitos, quartzitos,
formações ferríferas (Barbosa 1991, Silva 1991, Seixas 1994), formações manganesíferas (Toniatti &
Barbosa 1973, Valareli et al. 1992) e níveis de baritina (Sá & Barbosa 1990). Pequenos corpos de rochas
máficas-ultramáficas ocorrem paralelos às estruturas regionais e associados a anomalias magnéticas
significativas, na faixa que vai de Nova Canaã a Aratuípe, passando pelas cidades de Ipiaú e Gandu (Abram
1993). Esta parte sul é interpretada como um arco vulcânico moderno ou associações magmáticas de margem
continental ativa (Figueiredo 1989, Barbosa 1990) e os ambientes que prevaleceram durante a sua construção
foram arcos de ilhas, bacias back-arc e zonas de subducção (Barbosa 1997, Barbosa & Sabaté 2000, 2002).
II.2.3 - Banda de Ipiaú
A Banda de Ipiaú é uma faixa alongada de direção NNE-SSW, com cerca de 150 km de extensão e 10 km de
largura média, que se encontra encravada entre os terrenos do Bloco Jequié, a oeste, e os do Bloco Itabuna-
Salvador-Curaçá, a leste (Barbosa 1986). É formada por orto e paragnaisses, onde predominam intercalações
de anfibolitos e material quartzo-feldspático, embora quartzitos, kinzigitos e formações ferríferas também
ocorram esporadicamente. Estas rochas são semelhantes aos granulitos heterogêneos do Bloco Jequié, com a
diferença que estes aqui estão metamorfisados na fácies anfibolito (Barbosa 1990). Os granitos, que também
ocorrem neste domínio, estão restritos somente ao domínio de Ipiaú e jamais foram submetidos à fácies
granulito, o que indica que faziam parte de uma porção superior da crosta que ficou encravada entre os
blocos de granulitos mais profundos dos Blocos Itabuna-Salvador-Curaçá e Jequié (Barbosa et al. 2003b).
Embora Macêdo (2000) tenha considerado o Maciço de Carapussê como posicionado na interface entre o
Bloco Jequié e o Cinturão da Costa Atlântica, imagens de satélite (www.relevobr.cnpm.embrapa.br)
associadas às coordenadas UTM mostraram que o Maciço de Samaritana/Carapussê situa-se na Banda de
Ipiaú (Fig. II.6).
18
Figura II.7 - Mapa geológico de parte da região Sul da Bahia com a localização dos maciços
gabro-anortosíticos de Rio Piau e Samaritana/Carapussê (modificado de Barbosa et al. 2001).
19
Figura II.8 - Detalhe do mapa geológico de parte da região Sul da Bahia com a localização dos
maciços gabro-anortosíticos de Rio Piau e Samaritana/Carapussê (modificado de Barbosa et al.
2001
)
.
20
II.2.4 - Faixa de Dobramentos Araçuaí
Esta faixa móvel (Fig. II.9) foi desenvolvida durante a orogenia Brasiliana e estende-se da borda leste do
Cráton do São Francisco até o Oceano Atlântico, conectando-se a sul com a Faixa Ribeira (Pedrosa Soares &
Wiedemann 2000). Os seus limites com o Cráton do São Francisco são os seguintes: na parte ocidental
através de falhas de empurrão com vergência para oeste; na parte norte (região de Vitória da Conquista) suas
relações com o cráton não são claras; e na parte leste com a zona transcorrente de Itapebi-Potiraguá. A Faixa
Araçuaí é correlacionada com a Faixa Oeste do Congo, da qual se separou pela abertura do Atlântico Sul
(Brito Neves & Cordani 1991, Pedrosa Soares et al. 1992).
Figura II.9 - Localização das faixas Araçuaí (A) e Ribeira (R) em relação ao Cráton do São Francisco
(SF) (modificado de Pedrosa Soares & Wiedemann 2000, apud Bordini 2003). 1 - coberturas
Fanerozóicas; 2 - coberturas Neoproterozóicas; 3 - trend estrutural do cinturão Neoproterozóico; 4 -
embasamento cratônico incluindo rochas tardi-Paleoproterozóicas e Neoproterozóicas.
Quanto ao embasamento da Faixa de Dobramentos Araçuaí (Fig. II.10), a parte norte compreende TTGs
Arqueanos, remanescentes de greenstone belts, seqüências supracrustais Paleoproterozóicas e suítes de
granitóides. Estas unidades foram deformadas pela orogênese Paleoproterozóica e posteriormente
retrabalhadas pela Brasiliana. A parte nordeste apresenta granulitos do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá,
metamorfisados e tectonizados durante a orogênese Paleoproterozóica. As unidades do embasamento
Paleoproterozóico a Mesoproterozóico correspondem ao Supergrupo Espinhaço, que foi depositado em
bacias que foram sucessivamente preenchidas por unidades sedimentares e vulcanossedimentares.
21
POT
POT
----
Limite do Cráton do São Francisco
Grupo Rio Pardo
Cráton do São Francisco
Faixa Ara
ç
uaí
Embasamento Transamazônico
área cratônica no Brasiliano
Domínio da Faixa Dobrada
Domínio Cratônico a Pericratônico
Cobertura Cenozóica
Anortosito Potiraguá (POT)
Província Alcalina (sienito/granito)
Grupo Macaúbas
Supergrupo São Francisco
Embasamento remobilizado
pelo ciclo Brasiliano
Figura II.10 - Limite entre o Cráton do São Francisco e a Faixa de Dobramentos Araçuaí (modificado
de Teixeira et al. 1997), com a localização do Maciço de Potiraguá.
Segundo Pedrosa Soares & Wiedemann (2000), que propuseram um modelo evolutivo para a Faixa Araçuaí,
o Paleocontinente Atlântida foi formado no Paleoproterozóico, através da colagem paleoproterozóica de
crátons antigos, os quais se estabilizaram como uma plataforma estável em torno de 2,0-1,9 Ga. Uma
tafrogênese, no final do Paleoproterozóico, originou a Bacia do Espinhaço onde sedimentos se depositaram
numa bacia do tipo rift-sag, entre 1,77 e 1,25 Ga. Em torno de 950 Ma, uma pluma mantélica por debaixo da
plataforma gerou enxames de diques máficos, rochas vulcânicas e induziu ao magmatismo félsico
anorogênico e a processos de rifteamento. Este rifte Neoproterozóico passou por um ciclo de Wilson
22
completo, e por volta de 800 Ma, evoluiu para uma bacia oceânica. Durante o estágio orogênico, iniciado em
torno de 625-595 Ma e relacionado a uma subducção, se desenvolveu um arco magmático cálcio-alcalino
pré-colisional, na margem continental ativa do Paleocontinente Congo, e uma margem continental passiva no
Paleocontinente São Francisco. Durante o estágio colisional, entre 595-560 Ma, cunhas da litosfera oceânica
Neoproterozóica foram empurradas sobre a seqüência de margem passiva, causando espessamento crustal e
geração de granitóides. Após o término do estágio colisional, a partir de 535 Ma, ocorreu o colapso do
orógeno, geração de granitóides e magmas básicos, além de zonas de cisalhamento locais.
II.2.5 - Província Alcalina do Sul da Bahia
As rochas alcalinas da região sul do Estado da Bahia, reunidas sob a denominação de Província Alcalina do
Sul da Bahia (Silva Filho et al. 1974), compreendem vários plutões expostos dentro ou próximos à zona de
cisalhamento de Itabuna, de direção NE-SW, e da zona de cisalhamento de Potiraguá, de direção NW-SE.
No interior destas duas zonas de cisalhamento, o magmatismo alcalino deu origem a rochas sieníticas,
sieníticas foidais e quarzo-sieníticas, além de diques de composição variando de quartzo-traquitos, traquitos
a fonólitos e basanitos, álcali-basaltos, hawaiitos até mugearitos (Corrêa Gomes 2000). As idades
encontradas para estas rochas, entre 673 a 629 Ma obtidas através do método Rb-Sr em rocha total (Cordani
et al.1974), permitiram correlacionar este magmatismo alcalino à orogenia Brasiliana.
Devido ao alinhamento NE-SW apresentado por estas intrusões, Mascarenhas (1979) atribuiu um controle
estrutural na colocação destes corpos. Posteriormente, vários estudos têm ratificado este controle tectônico
(Corrêa Gomes 2000), e outros têm proposto que o magmatismo que originou estes corpos alcalinos expressa
um estágio tectônico distensivo, anterior ao sistema colisional brasiliano, materializado pela Faixa de
Dobramentos Araçuaí (Teixeira et al. 1997). Estudos recentes, principalmente litogeoquímicos e
geocronológicos, vêm sendo efetuados nestas rochas alcalinas, visando esclarecer as expressões magmáticas
desta província (Peixoto et al. 2003a, b, Rosa et al. 2003, 2004).
II.3 - Aspectos gerais da geologia local
A seguir, serão apresentados os aspectos gerais da geologia local dos maciços gabro-anortosíticos do Sul da
Bahia. Vale ressaltar que os dados aqui apresentados, incluindo mapas e interpretações, são uma síntese dos
trabalhos de Cruz (1989), Jesus (1997)/Macêdo (2000) e Bordini (2003), que estudaram os maciços de Rio
Piau, Samaritana/Carapussê e Potiraguá, respectivamente, e que foram aqui reproduzidos, o mais fielmente
possível. Como o Maciço de Samaritana/Carapussê foi estudado como se fossem dois maciços diferentes, os
23
aspectos da geologia local serão apresentados individualmente, segundo os estudos de cada um dos dois
autores acima citados.
II.3.1 - Maciço do Rio Piau
O Maciço do Rio Piau é um complexo estratificado com cerca de 80 km
2
de área aflorante, forma elíptica
irregular, aproximadamente 13 km de comprimento e 6,5 km de largura, e direção NE-SW (Fig. II.11). Ele é
intrusivo nos terrenos charnockíticos arqueanos do Domínio Mutuípe (atualmente denominado de Bloco
Jequié) e é formado por dois conjuntos de rochas. O conjunto principal é constituído por rochas anortosíticas
e gabronoríticas. O conjunto secundário (Fazenda Santa Bárbara), formado essencialmente por rochas
gabronoríticas, é intrusivo em rochas da série enderbo-charnockítica. Este maciço é constituído por sete
litotipos que são: anortositos, gabronoritos de granulação grossa, leucogabronoritos, gabronoritos de
granulação fina, gabros a olivina, gabronoritos a olivina e magnetita, e rochas ricas em Fe-Ti (Cruz 1989).
Figura II.11 - Mapa esquemático do Maciço do Rio Piau. (1) anortosito; (2) gabronorito; (3) troctolito;
(4) rochas ricas em óxidos de Fe-Ti-V; (5) gabronorito (margem resfriada) (Cruz 1989).
24
Todas as rochas deste maciço e suas encaixantes sofreram os efeitos da orogênese Paleoproterozóica e
encontram-se reequilibradas no metamorfismo da fácies granulito a anfibolito. Apresentam uma foliação
regional S
R
, de atitude aproximada N60ºE/90º, que corresponde à fase tectônica P
R
, que é uma fase de
dobramento regional. Esta foliação provoca a gnaissificação das rochas e os minerais máficos tendem a se
orientar nesta superfície. Alguns afloramentos mostram estruturas anteriores a esta foliação regional (S
R
),
que correspondem a dois eventos tectônicos anteriores (S
R-1
e S
R-2
). Por outro lado, a atitude desta foliação
regional não é constante em todo o maciço, porque esta superfície foi deformada por três fases tectônicas
posteriores, que são as fases P
R+1
, P
R+2
e P
R+3
(Cruz 1989). As fases anteriores a P
R
são mais comumente
observadas nos charnockitos encaixantes que nos anortositos. As fases posteriores a P
R
foram estudadas
principalmente na parte norte do maciço, nas cercanias da Fazenda Riacho do Louro (Cruz 1989).
A forma geral do Maciço do Rio Piau é paralela aos planos axiais das dobras P
R
, e assinala-se a presença de
grandes anticlinais e sinclinais por todo o maciço. Para explicar a forma deste maciço, Cruz (1989) levantou
duas hipóteses. A primeira é a de que se trata de uma grande dobra deitada de fase precoce. A segunda é a de
que se trata de uma disposição original devido à própria colocação deste complexo gabro-anortosítico.
II.3.2 - Maciço de Samaritana/Carapussê
O Maciço da Samaritana (Fig. II.12) possui uma forma ovalada, cerca de 11 km
2
de área aflorante, tendo
aproximadamente 3,5 km no seu eixo maior, e orientação aproximada N-S, com ligeira tendência a NE/SW
regional. Os contatos deste corpo ígneo diferenciado com as rochas encaixantes de alto grau metamórfico se
fazem por falhas, sendo uma de direção NW/SE no seu limite NE, e outra de direção NE/SW no seu limite
NW, e através de contatos bruscos, curvos e dobrados no seu limite sul, evidenciando o seu caráter intrusivo.
Ocasionalmente, diques de constituição anortosítica cortam as encaixantes granulíticas, reforçando assim a
idade posterior da intrusão. Estes limites são nítidos em fotografias aéreas, devido às rochas deste maciço
encontrarem-se em cotas mais baixas do que as rochas encaixantes da suíte charnockítica. Em alguns locais,
como na Fazenda Carapussê, aparecem corpos menores que podem ser satélites desta intrusão principal
(Jesus 1997).
Com base em mapeamento geológico e fotointerpretação, Jesus (1997) definiu 3 grandes domínios para este
corpo, que são: I - rochas que formam o Maciço da Samaritana; II - granito fino de borda; e III - rochas
granulíticas encaixantes próximas. As rochas do domínio I foram classificadas em: anortosito, mesogabro,
gabronorito, clinopiroxenito, ortopiroxenito, rochas ricas em Fe-Ti-V e gabronorito fino de borda. Os
anortositos dominam a porção centro-oeste deste maciço. Com relação à sua topografia interna, eles são
encontrados nas partes mais baixas da intrusão, proporcionando um contraste marcante com as rochas
encaixantes.
25
Figura II.12 - Mapa esquemático do Maciço de Samaritana/Carapussê (Cruz et al. 2000). (1)
gabronorito; (2) anortosito; (3) mesogabro; (4) clinopiroxenito; (5) gabronorito rico em óxidos de Fe; (6)
rochas ricas em Fe-Ti-V;
(
7
)g
abro fino.
Quanto aos aspectos estruturais, as rochas encaixantes e as que constituem o Maciço da Samaritana sofreram
tectônica dúctil e rúptil. Nas encaixantes, a tectônica dúctil é evidenciada por dobramentos e redobramentos
destas rochas. As dobras são caracterizadas pelo alinhamento dos minerais planares que, freqüentemente
segregados, desenvolvem forte orientação e foliação gnáissica. A sobreposição de dobramentos desenvolve
estruturas em lápis, com fortes lineações causadas pelos minerais prismáticos. As feições de transposição são
sempre marcadas pela forte foliação verticalizada (Jesus 1997).
As seguintes fases de dobramento foram observadas nas rochas encaixantes (Jesus 1997):
a) a primeira fase foi marcada por pequenas dobras de eixos S80ºE/10º que, ocasionalmente, sobressaem
na superfície dos afloramentos. Os minerais máficos contornam esses dobramentos. Não foram
26
observados deslocamentos que poderiam estar presentes nas zonas de charneira de dobras,
caracterizando que elas foram formadas em regime de grande plasticidade dos materiais, portanto, sob
pressões e temperaturas elevadas;
b) a segunda fase de dobramento (N70ºW/55ºNE) é caracterizada por foliações e alternâncias milimétricas
que formaram a foliação geral das rochas. Grandes dobras isoclinais apertadas estão presentes onde as
charneiras são marcadas por extensivas orientações dos planos de transposição. Ocasionalmente são
observadas fácies miloníticas associadas às zonas de transposição, o que demonstra que estas zonas se
desenvolveram em regime semi-plástico a rígido;
c) a terceira fase foi marcada pelas inversões de baixo ângulo, que bascularam os eixos de dobras maiores,
ora para norte, ora para sul.
As principais feições da tectônica rúptil das rochas encaixantes próximas ao Maciço da Samaritana são as
grandes falhas de caráter regional. São bem marcadas as falhas de direção N20º a N30ºE, as quais são
deslocadas pelo sistema de falhamento de direção principal N50º a N60ºW. Uma série de fraturas e juntas
ocorrem associadas aos quebramentos principais, a 30º deste quebramento. Os três principais grupos de
juntas relacionados a esta feição são as fraturas com direções N40ºE, N20º a N30ºW e E-W. Veios de
quartzo branco ocorrem preenchendo as zonas de falhas e são representados por cristas na topografia. (Jesus
1997).
Nas rochas que formam o maciço da Samaritana, vale a pena ressaltar alguns fatos importantes quanto à
tectônica dúctil (Jesus 1997):
a) nas partes mais centrais da intrusão, as rochas tendem a não apresentar orientações, mantendo-se
isotrópicas, e muito restritamente são observadas zonas de fluxo magmático;
b) na fase anortosítica já diferenciada, os megacristais foram transportados e rotacionados devido a
esforços verticais que possivelmente ocorreram durante o posicionamento do corpo.
O Maciço de Carapussê é um corpo intrusivo, de forma elíptica, com cerca de 3 km
2
de área aflorante, tendo
aproximadamente 2,2 km no seu eixo maior. Este maciço está orientado aproximadamente N-S e encontra-se
posicionado em terrenos granulíticos, na interface entre o Bloco Jequié e o Cinturão da Costa Atlântica (Fig.
II.12). Ele é constituído, quase que na sua totalidade, por anortositos com pequenas variações de
granulometria, textura e estrutura (Macêdo 2000). Os contatos com as rochas encaixantes, apesar de bem
marcados em observação regional, não são nítidos localmente devido à falta de afloramentos. O limite leste é
marcado por uma falha de caráter regional que controla a geologia e o modelado local. Os limites oeste e
norte são marcados por contatos bruscos, curvos e dobrados entre as rochas anortosíticas e os granulitos. Os
contatos a sul são intrusivos e com formas curvas e localmente lobadas. As rochas anortosíticas são cortadas
por diques centimétricos de composição granítica (Macêdo 2000).
27
A distribuição faciológica dos anortositos se faz de norte para sul, sendo que as rochas do sul do corpo estão
nitidamente menos afetadas por fenômenos tectônicos quebradiços. Nas proximidades do contato leste, é
importante assinalar a presença de uma rocha anortosítica completamente gnaissificada, fortemente afetada
por cataclase. As rochas posicionadas no centro do maciço apresentam granulometria mais grossa e tendem a
ser menos orientadas do que as da fácies de borda. As dobras de fluxo e os corpos boudinados representam
um comportamento dúctil. A matriz fina parcialmente quebradiça e a recristalização dos megacristais de
plagioclásio são marcos de um comportamento frágil (Macêdo 2000).
De uma forma mais ampla, as estruturas das rochas juntamente com a reorientação mineralógica resultaram
da tectônica termo-compressional que atingiu toda a região e traduziram os efeitos termo-compressionais
regionais que atingiram as encaixantes granulíticas concomitantemente com a colocação da intrusão
anortosítica. Os diques sacaroidais graníticos que cortam a massa anortosítica marcam uma tectônica pós-
metamórfica sofrida pelo corpo (Macêdo 2000).
II.3.3 - Maciço de Potiraguá
O Maciço de Potiraguá (Fig. II.13) forma um corpo estreito e alongado segundo a direção N-S, com cerca de
20 km
2
de área aflorante, e é composto por uma suíte de rochas anortosíticas. A região na qual ele está
inserido exibe rochas metamórficas do Arqueano/Paleoproterozóico (granulitos e gnaisses), e rochas
metassedimentares (xistos e metacarbonatos) e ígneas alcalinas (sienitos e feldspatóide sienitos) do
Neoproterozóico. Os seus contatos com as rochas encaixantes são os seguintes: nas partes leste, norte e
nordeste, com os granulitos do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá; na sua porção noroeste, com os
nefelina/sodalita sienitos da Serra das Araras, compreendendo o conjunto sienítico de Potiraguá; a oeste, com
gnaisses sieníticos e quartzo sieníticos da unidade B de Souto (1972); e a sudoeste e a sul, apesar de não
serem bem definidos, possivelmente são com sienitos subsaturados, nas proximidades da Serra da Gruta; e a
sudeste, com os metacarbonatos do Grupo Rio Pardo (Bordini 2003).
Este maciço distingue-se dos demais corpos do lineamento por sua situação geológica peculiar em relação às
suas encaixantes. A sua colocação é controlada, a oeste, por um sistema de falhas submeridianas que separa
terrenos gnáissicos na fácies anfibolito, e a leste pelos terrenos de alto grau metamórfico (Bordini et al. 1999,
2002), tendo registrado um evento deformacional suplementar. Ele também se encontra geometricamente
relacionado com um dos maciços peralcalinos intrudidos no ciclo Brasiliano (Bordini 2003).
28
Figura II.13 - Mapa geológico simplificado da área do Maciço de Potiraguá (Bordini 2003).
29
As rochas anortosíticas de Potiraguá encontram-se no interior da zona de cisalhamento de Potiraguá de
direção N40
o
W. O limite sul desta zona de cisalhamento é feito com a falha de Potiraguá, que marca o limite
do Cráton do São Francisco com a Faixa de Dobramentos Araçuaí, e prolonga-se para o interior do Cráton
até a borda leste da província do Paramirim. As rochas anortosíticas ocorrem com freqüência nas cotas mais
baixas da área, em contraste marcante com a topografia alta das intrusões alcalinas (Bordini 2003).
A contemporaneidade entre anortositos e sienitos é sugerida pela observação de uma estreita zona de rochas
transicionais entre eles. Além disso, a presença de porções de anortositos (~1,0 m) com formas irregulares
imersos numa massa mais leucocrática de monzosienitos, segregações de sienito pegmatóide, sienitos finos e
com fenocristais gigantes de feldspato alcalino (até 10 cm), reforçam a hipótese os dois grupos foram
colocados quase ao mesmo tempo.
O Maciço de Potiraguá tem sua gênese associada a um período que seguiu a tectônica extensional do
aulacógeno do Paramirim (1700 Ma), da bacia do Rio Pardo (1000 Ma) e da fase rifte da Faixa de
Dobramentos Araçuaí (950 Ma). Esta intrusão anortosítica precedeu a orogenia de subducção (650-600 Ma)
e colisão (570 Ma) da Faixa de Dobramentos Araçuaí. Neste período que antecede a orogenia Brasiliana, um
evento magmático foi responsável pela geração de rochas sieníticas, rochas anortosíticas e diques de diabásio
(Bordini 2003).
CAPÍTULO III
Petrografia, geoqmica e qmica mineral
III.1 - Síntese dos conhecimentos dos maciços gabro-anortosíticos do
Sul da Bahia
A seguir, será apresentada uma síntese dos conhecimentos petrográficos, geoquímicos e de química mineral
existentes, até então, dos maciços que constituem os objetos deste trabalho. Os dados aqui apresentados
foram sintetizados dos trabalhos acadêmicos de Cruz (1989), Macêdo (2000), Jesus (1997) e Bordini (2003),
que estudaram, respectivamente, os maciços de Rio Piau, Carapussê, Samaritana e Potiraguá.
III.1.1 - Maciço do Rio Piau
O Maciço do Rio Piau é constituído por anortositos, gabronoritos, leucogabronoritos, gabros a olivina,
gabronoritos a olivina e magnetita, e rochas ricas em Fe-Ti (Fig. II.11). À exceção dos gabronoritos de
granulação fina e das rochas ricas em Fe-Ti, todas as demais rochas são inequigranulares e de granulação
média a grossa. As texturas mais freqüentes nas rochas anortosíticas são as granoblásticas e cataclásticas,
com grãos de plagioclásio quebrados, recristalizados e em mosaicos. Às vezes, encontram-se texturas
primárias do tipo adcumulato e, mais raramente, texturas ofíticas. Ocasionalmente, os grãos de plagioclásio
apresentam geminação encurvada. Quanto às rochas ricas em Fe-Ti, elas possuem granulação média a grossa
e são homogêneas. Microscopicamente, apresentam texturas granoblásticas e em mosaico (Cruz 1989).
As rochas anortosíticas do Maciço do Rio Piau são formadas de plagioclásio, clinopiroxênio (cpx),
ortopiroxênio (opx), anfibólio, olivina, magnetita, ilmenita e apatita. De uma forma geral, o plagioclásio
destas rochas apresenta-se como grandes cristais automórficos, de aspecto magmático, e freqüentemente
geminados segundo as leis albita, periclina e Carlsbad. Ao seu redor, ocorrem pequenos cristais de
plagioclásio xenomórficos, geminados e com textura em mosaico, que são manifestações de uma
recristalização metamórfica. Quanto aos piroxênios, o clinopiroxênio é mais abundante que o ortopiroxênio,
e apresenta-se de três formas diferentes: (i) como cristais xenomórficos a hipidiomórficos, ricos em inclusões
e sem ex-soluções, sugerindo que são magmáticos; (ii) como cristais xenomórficos, poligonais e em mosaico,
sugerindo que foram recristalizados no metamorfismo; e (iii) como exsoluções. O anfibólio ocorre de duas
formas: (i) como pequenos cristais automórficos inclusos nos grãos de plagioclásio, sugerindo que são
magmáticos, e (ii) como cristais xenomórficos, produtos de alteração do clinopiroxênio, tratando-se de
anfibólios metamórficos. A biotita tem a forma de palhetas e encontra-se sempre associada aos anfibólios
31
xenomórficos. Os minerais acessórios são quartzo, apatita e zircão. A existência de texturas granoblásticas,
em mosaico e poligonais associadas à relíquias plutônicas, sugere que estas rochas tiveram uma origem
plutônica e que, em seguida, foram metamorfisadas. Suas paragêneses são compatíveis com aquelas da fácies
granulito (Cruz 1989).
Os dados químicos mostraram valores suficientemente altos e constantes de SiO
2
, mas conteúdos variáveis
de Al
2
O
3
(entre 25% nos anortositos e 11% nos gabronoritos). O índice mg# (MgO/MgO+FeO) permaneceu
próximo para todas as associações cpx + opx + ol, traduzindo o equilíbrio das mesmas. Ele variou de 0,05 no
anortosito à faialita até 0,44 no gabronorito. Os espectros dos elementos de terras raras (ETR) apresentaram-
se pouco fracionados, e tanto nos anortositos como nos termos gabróicos foi marcante a anomalia positiva do
Eu. Estes dois aspectos podem ser atribuídos a forte acumulação do plagioclásio (Cruz 1989).
Nas diferentes fácies, a composição química do plagioclásio varia de forma contínua no intervalo de An
50
a
An
80
. Não foram constatadas variações importantes de composição química entre os dois tipos de
plagioclásio, o que significa que eles foram reequilibrados no metamorfismo. Os dois piroxênios apresentam
um amplo leque de composição química sendo que a do clinopiroxênio varia do pólo hedenbergita
(En
23
Fs
42
Wo
37
) ao pólo salita (En
38
Fs
15
Wo
46
) e a do ortopiroxênio varia entre o pólo hiperstênio
(En
36
Fs
66
Wo
1
) e eulita (En
54
Fs
45
Wo
1
). A olivina (ol), cuja proporção modal não ultrapassa 5%, apresenta
composição ferrífera (Fo
31
a Fo
13
). Embora estes minerais possam ser magmáticos, o estudo mineralógico
mostrou que eles foram reequilibrados em condições subsolidus, durante o metamorfismo regional. A
geotermometria pelo método de Wood & Banno (1973) e de Wells (1977) estimou temperaturas entre 830 e
870ºC e a geobarometria pelo método de Bohlen & Boettcher (1981), pressões entre 9 e 10 kbar, as quais são
incompatíveis com os dados regionais disponíveis (Cruz 1989).
Apesar da abundância de cumulatos de plagioclásio (anortositos), de cumulatos mistos (gabronoritos) e à
magnetita (gabro a olivina, gabronorito a olivina e formações ferríferas), duas linhas magmáticas podem ser
distinguidas com base nos terras raras e nos elementos Ti, P, Nb, Y e Ga. Cada uma destas linhas evoluiu por
diferenciação e acumulação, desde os termos máficos (MgO ~ 9 a 10%) até os termos intermediários (MgO ~
1 a 2%). Estes trends de diferenciação são toleiíticos, com um enriquecimento em Fe e Ti superior até
mesmo àquele de Skaergaard (o FeO alcança 24% e o TiO
2
alcança 2,5%) (Cruz 1989).
III.1.2 - Maciço de Samaritana/Carapussê
O Maciço da Samaritana foi estudado por Jesus (1997) e é formado pelos seguintes litotipos: anortosito,
mesogabro, gabronorito, clinopiroxenito, ortopiroxenito, rochas ricas em Fe-Ti-V e gabronorito fino de
borda (Fig. II.12). Macroscopicamente, os anortositos apresentam granulação grossa a muito grossa. Os
32
grãos de plagioclásio geralmente são euédricos, fraturados e, freqüentemente, encontram-se rotacionados. Ao
microscópio petrográfico, estes se apresentam como megacristais euédricos, geminados, freqüentemente com
geminação encurvada por efeito tectônico, e também como um mosaico poligonal e equigranular. Nos
espaços entre os cristais de plagioclásio, ocorrem piroxênios formando agregados irregulares (Jesus 1997).
O mesogabro, de ocorrência restrita, ocorre transicionalmente entre os anortositos, e às vezes, em contato
com os gabronoritos. Macroscopicamente, são rochas de tonalidade cinza claro, equigranulares, de
granulação média, e constituídas principalmente por feldspatos e subordinadamente por piroxênios.
Microscopicamente, apresenta uma textura poligonal.
O gabronorito forma a parte central deste maciço. Macroscopicamente, são rochas de coloração cinza escuro,
granulação média, tipicamente gabróica, constituídas por plagioclásio e piroxênios. Microscopicamente, os
grãos de plagioclásio formam um mosaico equigranular com os piroxênios. Os grãos de ortopiroxênio
ocasionalmente desenvolvem coroas de reação e freqüentemente estão exsolvidos como lamelas em grãos de
clinopiroxênio.
Os clinopiroxenitos são transicionais aos gabronoritos e ocorrem como blocos de pequenas dimensões no
interior da suíte gabro-anortosítica. Macroscopicamente, são rochas de coloração cinza esverdeada, de
textura fina, constituídas por plagioclásio, piroxênio, anfibólio e mica. Microscopicamente, apresentam-se
como um mosaico de clinopiroxênio e plagioclásio.
Os ortopiroxenitos ocorrem como uma faixa aproximadamente contínua marcando o limite sul da intrusão.
Macroscopicamente, são rochas de coloração cinza escuro e granulação fina a média. Ao microscópio
petrográfico, apresentam-se como um mosaico de ortopiroxênio e clinopiroxênio.
As rochas ricas em Fe-Ti-V são as portadoras das mineralizações potencialmente econômicas do Maciço da
Samaritana e são transicionais às rochas gabro-férricas. Macroscopicamente, são rochas de cor cinza
metálico na superfície fresca e com zonas características de óxidos ferruginosos nas superfícies alteradas.
O gabronorito fino de borda ocorre no limite sul da intrusão. Pela sua localização (transicionais às rochas de
granulações mais grossas) e pelo seu posicionamento (em contato com a encaixante), estas rochas
caracterizam as bordas resfriadas do Maciço da Samaritana. Macroscopicamente, são rochas de cor cinza
escuro, textura fanerítica fina, maciças ou fracamente orientadas. Ao microscópio petrográfico são
inequigranulares e constituídas por plagioclásio, clinopiroxênio e ortopiroxênio. O plagioclásio apresenta-se
freqüentemente com geminação encurvada. O clinopiroxênio encontra-se exsolvido em ortopiroxênio. Os
contatos entre os minerais mostram bordas irregulares e ligeiramente curvas (Jesus 1997).
33
O estudo petrográfico das rochas do Maciço da Samaritana revelou que elas são gradacionais entre si e
passam de um litotipo ao outro por modificações quantitativas nas proporções minerais, traduzindo os
processos magmáticos de diferenciação e acumulação. As diversas fácies deste maciço constituem, na
verdade, um único corpo gabro-anortosítico diferenciado (Jesus 1997).
O estudo de química mineral foi efetuado no plagioclásio, piroxênios e óxidos de Fe-Ti. Os grãos de
plagioclásio foram classificados como labradorita. O ortopiroxênio posicionou-se no limite entre enstatita e
ferrossilita. O clinopiroxênio foi classificado como salita e augita. Os dados mineraloquímicos permitiram
calcular geotermômetros e geobarômetros, os quais forneceram temperaturas de 800ºC, através do método de
Wells (1977), e pressões em torno de 7 kbar, através do método de Wood & Banno (1973).
O estudo geoquímico deste maciço permitiu classificá-lo como pertencente à série toleiítica. Os elementos
terras raras mostraram que as diversas fácies evoluíram pelo fracionamento de uma única série comagmática
e cogenética. A sua evolução magmática enquadra-se no modelo de cristalização fracionada (Jesus 1997).
O Maciço de Carapussê, estudado por Macêdo (2000), é um corpo intrusivo, constituído quase que na sua
totalidade por anortositos, com pequenas variações de granulometria, textura e estrutura (Fig. II.12).
Macroscopicamente, estas rochas são de coloração cinza, granulação grossa a muito grossa, ora maciças, por
vezes orientadas. Microscopicamente, apresentam dois grupos de texturas distintos. O primeiro grupo
congrega as texturas reliquiares que foram resultantes dos processos magmáticos primários que deram
origem ao corpo. O segundo grupo resultou dos processos metamórficos e deformacionais que afetaram a
intrusão (Macêdo 2000).
A análise modal revelou que as rochas deste maciço são constituídas de plagioclásio (>90%), piroxênios (5-
8%), óxidos de Fe-Ti (5%), anfibólio (4%), biotita (2%) e olivina (traços). Quartzo, apatita e zircão
apresentam-se como acessórios. O plagioclásio apresenta-se como megacristais com tamanhos de 1 a 5 cm,
freqüentemente envolvidos por grãos poligonizados e recristalizados, e também como cristais de pequenas
dimensões, com tamanho médio entre 0,3 a 0,7 mm, que envolvem os megacristais, constituindo os domínios
recristalizados. Os dois tipos de piroxênios estão presentes nos espaços intergranulares dos grãos de
plagioclásio e possuem tamanho médio de 0,5 a 1 mm. Geralmente estão recristalizados e apresentam-se
coroados por anfibólio, biotita e óxidos de Fe-Ti, ou com ex-soluções. O anfibólio apresenta-se como cristais
esverdeados, tamanho médio de 5 mm, e sempre associado aos piroxênios, biotita e óxidos de Fe-Ti. A
biotita, de coloração marrom, forma agregados associados aos demais minerais máficos. Os óxidos de Fe-Ti
estão presentes nos espaços intergranulares dos grãos de plagioclásio e associados aos minerais máficos,
como produtos de alteração secundária. A olivina, pouco freqüente, se apresenta associada aos demais
minerais máficos (Macêdo 2000).
34
As composições químicas mostraram que os minerais foram completamente reequilibrados durante o
metamorfismo, embora guardem aspectos reliquiares plutônicos. O plagioclásio apresenta teores médios em
torno de An
68-70
, tipo labradorita-bitownita, não existindo variações marcantes entre a composição dos
megacristais e dos indivíduos poligonizados. Os piroxênios apresentam-se em série contínua, onde o
ortopiroxênio varia em torno de En
30
-
58
Fs
30-60
Wo
10-12
, e a augita-ferroaugita, de En
35-52
Fs
10-35
Wo
30-38
. Os
cristais euédricos de anfibólio são predominantemente Mg-hornblenda/Fe-hornblenda e os grãos
xenomórficos são pargasitas e mais raramente edenitas. A biotita é retrometamórfica e ocorre
invariavelmente em formas de palhetas, associada aos anfibólios. A geotermobarometria sugeriu que o
metamorfismo das rochas do Maciço de Carapussê se processou a temperaturas de 800
o
C, pelos
geotermômetros de Wood & Banno (1973) e Wells (1977) e a pressões de 6-7 kb, pelos geobarômetros de
Hammarstron & Zen (1986), Johnson & Rutherford (1989), Hollister et al. (1987) e Schmidt (1992) (In:
Yavuz 1998).
Com base nas sugestões aventadas por Cruz (1989), as rochas que constituem o Maciço de Carapussê seriam
provenientes de magmas parentais subalcalinos toleiíticos, considerando-se que estes seriam os únicos tipos
de magmas cuja composição permitiria a geração destes tipos de rochas acumulativas. Geoquimicamente, ele
apresenta similaridade com os outros maciços anortosíticos do Sul da Bahia, estando perfeitamente
correlacionado com o da Samaritana, de localização adjacente (Macêdo 2000).
III.1.3 - Maciço de Potiraguá
O Maciço de Potiraguá é formado por anortositos, que formam a massa principal do corpo e,
subordinadamente, leucogabros, troctolitos e um conjunto de diques gabróicos (Fig. II.13). Este enxame de
diques de granulação fina acompanha a estrutura estirada do corpo. As rochas anortosíticas deste maciço são
de coloração cinza-escuro a preta e apresentam textura grossa, predominantemente do tipo adcumulato, e
estas texturas magmáticas acumulativas encontram-se preservadas (Bordini 2003).
As rochas anortosíticas de Potiraguá foram classificadas com base no diagrama de classificação das rochas
máficas de Streckeisen (1976) (Fig. III.1A). As composições modais (Fig. III.1B) e as normativas (Fig.
III.1C) foram plotadas neste diagrama, e embora a aplicação da norma CIPW na determinação das
proporções mineralógicas tenha sido muito questionada, sobretudo para rochas hidratadas, foi verificada uma
boa correlação entre as determinações obtidas pelos dois métodos para este maciço (Bordini 2003).
35
Figura III.1 - (A) diagrama de classificação das rochas máficas (Streckeisen 1976); (B) classificação
modal das rochas anortosíticas de Potiraguá; (C) classificação normativa das rochas anortosíticas de
Potiraguá (Bordini 2003).
Utilizando a classificação modal e/ou normativa, as rochas anortosíticas de Potiraguá foram classificadas
como:
x anortositos (IC = 0-10) - constituídos essencialmente de plagioclásio;
x anortositos troctolíticos (IC=10-22,5) - constituídos de plagioclásio e olivina;
x olivina leucogabros (IC= <35) - constituídos de plagioclásio, olivina e clinopiroxênio.
Com base nas observações petrográficas e na determinação modal e/ou normativa das rochas anortosíticas de
Potiraguá, foi possível caracterizar dois grupos de rochas:
x grupo anortosítico-troctolítico - constituído de rochas que variam de anortositos, anortositos troctolíticos
até Ol-leucogabros, com quantidades de minerais máficos entre 5 e 25%, juntamente com 75 a 95% de
plagioclásio tabular, dominando as parte centrais e oeste do maciço;
x grupo anortosítico - constituído essencialmente de anortositos e ocorre exclusivamente nas partes leste e
sudeste do maciço.
36
A análise microscópica evidenciou dois tipos de plagioclásio, que foram denominados de plagioclásio
tabular e de plagioclásio equidimensional. Os grãos tabulares são euédricos a subédricos, podem alcançar até
2,0 cm de comprimento, geralmente estão geminados segundo a lei albita, mostram orientação incipiente e
ocorrem em percentuais que variam de 75 a 90%. Os grãos equidimensionais são caracterizados por uma
textura adcumulática perfeita, podem alcançar até 1,0 cm de diâmetro, estão geminados segundo as leis albita
e periclina, e ocorrem em percentuais iguais ou superiores a 90%. Além do plagioclásio, os minerais
primários das rochas anortosíticas do Maciço de Potiraguá são olivina, clinopiroxênio (ortopiroxênio?),
óxidos de Fe-Ti e apatita. Os principais minerais varietais são a olivina, cuja proporção modal
freqüentemente é maior que 5%, e a ilmenita. Os anfibólios são, aparentemente, de origem secundária,
juntamente com outros minerais de alteração (biotita, clorita, etc).
As análises de química mineral mostraram que os dois grupos de plagioclásio apresentam composições
diferentes. O plagioclásio tabular, do grupo anortosítico-troctolítico, foi classificado como andesina (An
48-54
),
enquanto que o equidimensional, do grupo anortosítico, foi classificado como bitownita (An
70-76
). A olivina,
nos dois grupos de rochas anortosíticas, mostrou pouca variação (Fo
73-79
). Os piroxênios ocorrem sempre em
proporções menores do que a olivina, com clinopiroxênio predominando sobre o ortopiroxênio, tendo este
último se formado às expensas de outros minerais máficos. O clinopiroxênio (En
40-43
Fs
12-16
Wo
41-48
) é do tipo
salita-augita e o ortopiroxênio (En
71-77
) é rico no componente enstatita. O anfibólio ocorre, sobretudo, como
borda de reação nos minerais máficos. Às vezes, ele substitui quase que inteiramente os cristais de piroxênio,
restando apenas um pequeno núcleo do mineral primário. Muito provavelmente, estes anfibólios são de
origem secundária ou metamórfica (Bordini et al. 2001a). Quase que invariavelmente eles têm uma
tendência a serem enriquecidos no componente pargasita. Localmente, ocorrem texturas coroníticas, com o
desenvolvimento de anfibólio às custas da olivina e dos piroxênios, que podem indicar recristalizações
subsolidus ou condições retrometamórficas (Bordini 2003).
O geotermômetro de Lindsley & Anderson (1983) forneceu temperaturas de fechamento do clinopiroxênio
entre 940 e 1160
o
C e do ortopiroxênio entre 800 e 900
o
C, que correspondem às temperaturas mínimas de
equilíbrio de cada mineral. A temperatura obtida pelo ortopiroxênio indica equilíbrio em condições
subsolidus correspondente à temperatura de formação de coroas, bordas de reação e simplectitos na interface
olivina/plagioclásio. De fato, as temperaturas de equilíbrio do par clinopiroxênio-ortopiroxênio, onde
ocorrem juntos nas coroas da olivina, calculadas pelo geotermômetro de Wood & Banno (1973) e de Wells
(1977), foram estimadas entre 845-1000
o
C. As temperaturas obtidas pelo geotermômetro de Holland &
Blundy (1994) para o par anfibólio-plagioclásio, em assembléias livres de quartzo e pressões de 5 a 10 kbar,
ficaram entre 837 e 902
o
C. As temperaturas assim determinadas permitem inferir uma temperatura de
cristalização das rochas do Maciço de Potiraguá entre 1040 e 950
o
C (formação de coroas). Reações
subsolidus foram efetivas pelo menos entre 950 e 800
o
C, com a formação de ortopiroxênio e anfibólio nas
bordas da olivina e substituição do clinopiroxênio pelo anfibólio (Bordini 2003).
37
A composição calculada para o magma parental das rochas anortosíticas de Potiraguá revela um magma de
natureza alcalina, rico em Fe-Al-Ti além de P, Ba, Sr e ETR leves. A associação de anfibólio rico no
componente pargasita com clinopiroxênio do tipo salita é típica das rochas da série alcalina, e constitui mais
uma evidência do caráter alcalino deste magma. As características gerais de elementos maiores, traços e ETR
do Maciço de Potiraguá apontaram para uma origem mantélica de uma fonte do tipo OIB (ambiente
intraplaca continental) (Bordini 2003).
III.2 - Análises petrográficas e de qmica mineral
Segundo Streckeisen (1976), o termo anortosito refere-se estritamente às rochas ígneas que consistem 90%
ou mais de plagioclásio. Neste trabalho, será considerado como anortosito a rocha com 90% ou mais de
plagioclásio, esteja ela metamorfisada ou não, e como rocha anortosítica a rocha gabróica com 65 a 90% de
plagioclásio. Apesar das rochas em estudo estarem metamorfisadas, optou-se por não utilizar a nomenclatura
meta-anortosito ou meta-gabro, seguindo as recomendações de Ashwal (1993). A figura III.1A mostra o
diagrama de classificação e nomenclatura das rochas gabróicas com base nas proporções modais de
plagioclásio, olivina e piroxênios (Streckeisen 1976).
III.2.1 - Metodologia
As análises petrográficas efetuadas nesta pesquisa foram feitas com dois objetivos principais. O primeiro, foi
de conhecer a mineralogia e classificar as rochas dos maciços de Rio Piau, Samaritana/Carapussê e
Potiraguá. Sendo assim, os aspectos petrográficos abordados neste item correspondem a uma observação
geral da mineralogia e das texturas destas rochas, sem os refinos de uma petrografia clássica. Mesmo assim,
serão apresentadas algumas fotomicrografias das rochas e dos minerais analisados. O segundo objetivo, este
sim o foco deste trabalho, foi a identificação das microestruturas presentes nas rochas anortosíticas, com
ênfase para o plagioclásio, pois estas microestruturas serão utilizadas para a identificação dos mecanismos de
deformação que atuaram nestes maciços. Estas microestruturas serão apresentadas, em detalhe, através das
pranchas que se encontram no capítulo V, e discutidas no decorrer do referido capítulo. As descrições
petrográficas detalhadas desses maciços encontram-se em Cruz (1989), Jesus (1997)/Macêdo (2000) e
Bordini (2003), respectivamente.
Na presente pesquisa foram analisadas, inicialmente, 76 lâminas delgadas que já tinham sido descritas pelos
autores acima citados. Destas, 10 eram do Maciço do Rio Piau, 36 de Samaritana/Carapussê e 30 de
Potiraguá, que foram analisadas ao microscópio óptico do Laboratório de Metalogênese da Universidade
38
Federal da Bahia. Além destas, 51 amostras coletadas durante as missões de campo realizadas nesta pesquisa
(19 do Maciço de Rio Piau, 23 de Samaritana/Carapussê e 9 de Potiraguá), foram laminadas e analisadas no
Laboratório de Tectonofísica da Universidade de Montpellier II, Montpellier, França. Neste laboratório, estas
rochas foram estudadas na lupa binocular Wild Heerbrugg, que permite observar a lâmina inteira no seu
campo de visão, em luz plana e com nicóis cruzados, e ao microscópio óptico Leitz DMRXP, e foram
fotografadas em uma câmera digital Coolpix 990 da Nikon com Superhigh-performance 3X, acoplada ao
microscópio óptico e à lupa. As fotomicrografias foram transferidas para um microcomputador e tratadas nos
softwares Adobe Photoshop 6.0, Adobe Illustrator 7.0 e Corel Photo-Paint 11.
Para classificar as rochas dos maciços de Rio Piau e Samaritana/Carapussê utilizou-se, nesta pesquisa, os
diagramas de Streckeisen (1976) para rochas máficas (Pl-Ol-Px e Pl-Cpx-Opx), com base nas composições
normativas. Os dados utilizados para os cálculos destas composições foram obtidos das análises químicas de
rocha total dos maciços acima citados, disponíveis em Cruz (1989) e Jesus (1997)/Macêdo (2000),
respectivamente. As composições normativas CIPW foram calculadas pelo programa MINPET 2.02 (Richard
1994), que segue as recomendações de Irvine & Baragar (1971) para o cálculo do FeO e Fe
2
O
3,
e os
resultados obtidos foram plotadas em diagramas ternários. A escolha da composição normativa baseou-se na
utilização destas por Bordini (2003) para o Maciço de Potiraguá, a qual apresentou uma boa correlação com
a composição modal (Figs. III.1B e III.1C), e também por Paixão & Oliveira (1998), para as rochas
anortosíticas do Complexo Lagoa da Vaca, situado na borda oeste do Bloco Uauá. Quanto ao Maciço de
Potiraguá, o diagrama de classificação apresentado por Bordini (2003) e reproduzido na figura III.1, está de
acordo com as observações petrográficas das rochas deste maciço efetuadas neste trabalho.
Apesar de já existirem dados de química mineral de todos os maciços gabro-anortosíticos do Sul da Bahia,
foram feitas algumas análises no escopo da presente pesquisa com finalidades mais específicas. Assim como
foi ressaltado no primeiro parágrafo deste item, as mesmas justificativas ali apresentadas para as análises
petrográficas são válidas também para as análises de química mineral. Estas análises não se propuseram a
extrair toda a gama de informações para as quais elas são utilizadas. Neste estudo, buscou-se adquirir dados
da composição química de porfiroclastos de plagioclásio e matriz, e de grãos de plagioclásio com e sem
aspectos deformacionais, com o objetivo de auxiliar na interpretação das microestruturas. Além disso, foi
importante conhecer as composições químicas da biotita e do anfibólio para os quais foram feitas análises
isotópicas Ar/Ar. Todas as análises foram efetuadas em pontos cuidadosamente pré-selecionados para que os
objetivos fossem alcançados.
Para a obtenção de dados da composição química de minerais, foram selecionadas 5 amostras, sendo 3 do
Maciço do Rio Piau (CM25, CM28 e CM29) e 2 de Samaritana/Carapussê (CM09 e CM19), as quais foram
analisadas, preferencialmente, para plagioclásio, piroxênio, anfibólio e biotita. Estas análises foram
realizadas no Laboratório de Tectonofísica da Universidade de Montpellier II, França, utilizando-se uma
39
microssonda eletrônica do tipo Cameca SX 100 com 5 espectrômetros. As condições físicas de operação
deste equipamento foram: 20 kV de tensão, 15 nA de intensidade de corrente e 50 Pm de espessura do raio
incidente. Foram analisados os elementos SiO
2
, Al
2
O
3
, FeO, MgO, CaO, TiO
2
, MnO, Na
2
O e K
2
O, utilizando
silicatos naturais como padrões. O tempo de análise para cada elemento foi de 10s.
Das 170 análises efetuadas, foram utilizadas apenas aquelas que se apresentavam dentro dos padrões de
confiabilidade normalmente aceitos. Os resultados analíticos de todas as fases minerais investigadas,
extraídos da microssonda em termos do percentual em peso de seus óxidos constituintes, foram lançados,
inicialmente, no programa PASFORM (Bjerg et al.1995) para a obtenção das fórmulas estruturais.
Posteriormente, para o cálculo dos parâmetros químicos de cada mineral e plotagem dos dados em
diagramas, foram utilizados os programas MINPET (Richard 1994), PYROXCAL (Yavuz 2001),
NEWAMPHICAL (Yavuz 1999) e BIOTHERM (Yavuz & Özta 1997), para plagioclásio, piroxênios,
anfibólio e biotita, respectivamente. Os cálculos para biotita e anfibólio foram feitos em base anidra. O
número de oxigênios fixado para o cálculo das fórmulas estruturais está referido em cada tabela ao longo
deste capítulo. A apresentação dos resultados das fases minerais analisadas será feita por maciço.
Para a localização das amostras utilizadas para as análises petrográficas e de química mineral, foram
utilizados os mapas esquemáticos existentes dos maciços de Rio Piau e Samaritana/Carapussê, elaborados
respectivamente por Cruz (1989) e Jesus (1997)/Macêdo (2000). As coordenadas UTM das amostras
coletadas foram lançadas no programa MINPET, tratadas no software Adobe Illustrator 7.0 e superpostas aos
mapas esquemáticos existentes. As distorções entre os contornos dos maciços e a localização de fazendas e
pontos amostrados devem-se, provavelmente, às diferentes maneiras utilizadas para a marcação dos pontos.
Na presente pesquisa foi utilizado um GPS para a obtenção destas coordenadas.
III.2.2 - Maciço do Rio Piau
As rochas anortosíticas do Maciço do Rio Piau foram plotadas no diagrama de classificação de rochas
máficas de Streckeisen (1976). Como pelo diagrama Pl-Ol-Px elas situaram-se sobre o lado Pl-Px, foi
utilizado o diagrama Pl-Opx-Cpx para uma classificação mais precisa. Por este diagrama, as rochas
anortosíticas foram classificadas como anortositos, leucogabros, leucogabronoritos e gabronoritos (Fig.
III.2). Esta classificação é normativa e foi obtida das análises químicas de rocha total efetuadas por Cruz
(1989). Ela concorda, em grande parte, com a classificação modal daquele autor validando a sua utilização
para o fim proposto. Vale ressaltar que a amostra menos diferenciada deste conjunto corresponde ao
gabronorito fino, para a qual Cruz (1989) sugere que seja uma borda resfriada deste maciço. A localização
das amostras analisadas para petrografia e química mineral neste trabalho encontra-se na figura III.3.
40
As análises de química mineral tiveram como objetivo a determinação da composição química do
plagioclásio com aspectos deformacionais, do anfibólio, principalmente para os quais foram feitas análises
isotópicas Ar/Ar, e dos piroxênios. Estes dados também permitiram a determinação da temperatura de
equilíbrio do par anfibólio-plagioclásio através do geotermômetro de Holland & Blundy (1994).
Figura III.2 - Diagrama de classificação das rochas máficas do Maciço do Rio Piau (Streckeisen
1976). A nomenclatura das rochas na legenda refere-se à classificação modal das rochas anortosíticas,
segundo Cruz (1989).
Figura III.3 - Mapa esquemático do Maciço do Rio Piau com a localização das amostras utilizadas
p
ara as análises petrográficas, isotópicas e de química mineral (modificado de Cruz 1989).
41
III.2.2.1 - Plagiocsio
O plagioclásio do Maciço do Rio Piau apresenta-se de diversas formas. A maior parte é constituída de
cristais equidimensionais subédricos, tamanho médio de 12 mm, contatos retos a quase retos, e geminação
tipicamente magmática, preferencialmente segundo a lei albita. Outra parte apresenta-se como cristais
equidimensionais, tamanho médio de 4 mm, sem geminação e de contatos irregulares. Também existem
pequenos cristais com tamanho médio de 0,8 mm, com características dos dois tipos de cristais descritos
acima. Ocasionalmente apresentam aspectos de deformação plástica incipiente, tais como geminação
mecânica em cunha nas bordas dos grãos, kinks e extinção ondulante. Freqüentemente encontram-se
microfraturados, saussuritizados e com feições de ex-solução nas bordas, com a formação de albita,
pequenos cristais de quartzo intersticial devido à liberação da sílica pela alteração dos minerais, e de K-
feldspato. As pranchas III.1 e III.2 mostram alguns aspectos texturais das rochas anortosíticas do Maciço do
Rio Piau, bem como formas de apresentação do plagioclásio acima citadas.
Os dados da composição química dos grãos de plagioclásio das amostras CM25, CM28 e CM29 encontram-
se nas tabelas III.1a e III.1b. O plagioclásio da amostra CM25, de composição An
56-58
Ab
41-43
Or
0,9-1,3
,
apresentou teores de CaO que variaram de 11,3 a 11,7% e de Na
2
O entre 4,5 e 4,8%. Na amostra CM28, de
composição An
61-76
Ab
23-39
Or
0,4-1,1
, os teores de CaO variaram de 12,2 a 15,4% e os de Na
2
O de 2,6 a 4,3%.
Para a CM29, a composição determinada foi An
63-70
Ab
30-37
Or
0,6-0,8
, com teores de CaO entre 3,3 e 4,4% e de
Na
2
O entre 12,4 e 14,2%. Estes dados foram plotados no diagrama triangular OrAbAn e os grãos de
plagioclásio situaram-se nos campos da labradorita (CM25,28 e 29) e da bitownita (CM28 e 29) (Fig. III.4).
Figura III.4 - Classificação do plagioclásio das rochas anortosíticas do Maciço de Rio Piau segundo o
diagrama OrAbAn (Deer et al. 1963).
(a) (b)
(c) (d)
Prancha III.1
0 0,5 1,0cm
0 0,5 1,0cm
0 0,5 1,0cm
0 0,5 1,0cm
0 0,5 1,0cm
42
43
Prancha III.1 - Fotomicrografias dos aspectos gerais das rochas anortosíticas do Maciço do Rio
Piau.
(a) Aspecto geral de uma rocha anortosítica mostrando a existência de níveis mais ricos em
determinados minerais (destacados em vermelho). A parte inferior direita da lâmina é dominada
por anfibólio, a intermediária por piroxênios (observar a presença de um grande cristal no canto
inferior esquerdo da lâmina), e a superior por plagioclásio. A presença de cristais de anfibólio e
piroxênio alinhados confere a rocha uma foliação incipiente. Lâmina CM29 em luz plana.
(b) Aspecto geral da mineralogia de uma rocha anortosítica. Nesta amostra, os grãos de plagioclásio
apresentam-se, preferencialmente, com formas equidimensionais, euédricos, com contatos retos a
quase retos e com geminação primária segundo a lei albita. Estes grãos apresentam-se límpidos,
sem indícios de deformação ou de alteração de baixa temperatura. Mesma lâmina delgada de (a)
com nicóis cruzados.
(c) Visão geral da mineralogia de uma rocha anortosítica. Os grãos de plagioclásio apresentam-se,
preferencialmente, subédricos, equidimensionais, e de contatos irregulares, e subordinadamente,
como cristais euédricos, de contatos retos e com geminação primária segundo a lei albita. Alguns
grãos apresentam indícios de uma deformação plástica incipiente, tais como extinção ondulante,
kinks e presença de geminação mecânica em cunha nas bordas. Observar a presença de uma fratura
aberta na metade superior da lâmina, que não desloca os minerais. Os grãos de plagioclásio
apresentam alterações de baixa temperatura. Lâmina CM25 com nicóis cruzados.
(d) Aspecto geral de uma rocha anortosítica mostrando a forma de apresentação dos minerais. Na
borda direita da lâmina observa-se a presença de grãos de anfibólio euédricos e límpidos. Os grãos
de plagioclásio apresentam-se, preferencialmente, subédricos, equidimensionais, de contatos retos
e sem alterações de baixa temperatura. Lâmina CM28 com nicóis cruzados.
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
Prancha III.2
0 1,0mm
0 1,0mm
0 0,5 1,0mm
0 0,5 1,0mm
0 1,0mm
0 1,0mm
0 1,0mm
44
45
Prancha III.2 - Fotomicrografias da mineralogia das rochas anortosíticas do Maciço do Rio Piau
(nicóis cruzados).
(a) Grão de plagioclásio com geminação albita magmática, apresentando contatos retos e com pontos
tríplices a 120º, indicando cristalização em altas temperaturas. O grão de plagioclásio sem
geminação está microfraturado e possui pequena inclusão de anfibólio euédrico. Lâmina CM29-
64/40.
(b) Grãos de plagioclásio com limites retos e junções tríplices a 120º indicando cristalização em altas
temperaturas. O grão cinza e sem geminação, localizado na porção inferior direita da lâmina,
apresenta geminação em cunha que se estende da borda em direção ao centro do grão. Lâmina
CM28-86/8.
(c) Grãos de plagioclásio com inclusões de anfibólio euédricos. Lâmina CM04-70/28.
(d) Grão de plagioclásio com geminação primária segundo a lei Carlsbad, com inclusão de anfibólio
euédrico, e apresentando kink no plano da geminação. Lâmina CM28-75/20.
(e) Grão de plagioclásio com extinção ondulante. Lâmina CM25-70/30.
(f) Grãos de plagioclásio apresentando alterações de baixas temperaturas. Lâmina CM25-72/38.
Tabela III.1a - Análises químicas do plagioclásio do Maciço do Rio Piau.
Amostra
CM-25 CM-25 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28
Ponto
3 56791011121315161920
Posição
borda borda centro borda borda borda borda centro centro borda borda centro borda
SiO
2
53,632 53,688 52,075 51,570 52,641 52,791 52,273 51,968 51,803 52,584 52,485 52,802 52,830
TiO
2
0,007 0,002 0,023 0,017 0,017 0,000 0,020 0,002 0,020 0,002 0,010 0,015 0,005
Al
2
O
3
29,647 29,337 30,747 31,125 30,121 30,138 30,516 30,662 30,947 30,272 30,093 30,340 30,233
Cr
2
O
3
0,013 0,000 0,000 0,015 0,000 0,004 0,000 0,000 0,003 0,000 0,000 0,023 0,007
FeO
0,198 0,152 0,126 0,134 0,100 0,107 0,199 0,196 0,163 0,252 0,194 0,124 0,172
MnO
0,000 0,005 0,017 0,000 0,008 0,000 0,000 0,012 0,000 0,000 0,009 0,001 0,000
MgO
0,000 0,000 0,000 0,000 0,005 0,000 0,008 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
CaO
11,308 11,609 12,942 13,236 12,468 12,236 12,413 12,945 13,029 12,636 12,296 12,440 12,538
Na
2
O
4,761 4,491 3,831 3,641 4,214 4,193 4,026 3,820 3,858 4,126 4,148 4,094 4,230
K
2
O
0,157 0,230 0,134 0,159 0,154 0,119 0,147 0,169 0,158 0,153 0,184 0,183 0,128
Total
99,723 99,514 99,895 99,897 99,728 99,588 99,602 99,774 99,981 100,025 99,419 100,022 100,143
Fórmula estrutural baseada em 8 oxigênios
Si
2,428 2,436 2,363 2,342 2,390 2,397 2,376 2,362 2,351 2,383 2,390 2,389 2,389
Ti
0,000 0,000 0,001 0,001 0,001 0,000 0,001 0,000 0,001 0,000 0,000 0,001 0,000
Al
1,582 1,569 1,644 1,666 1,612 1,613 1,635 1,643 1,655 1,617 1,615 1,618 1,611
Cr
0,000 0,000 0,000 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000
Fe
+2
0,007 0,006 0,005 0,005 0,004 0,004 0,008 0,007 0,006 0,010 0,007 0,005 0,007
Mn
0,000 0,000 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mg
0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Ca
0,548 0,564 0,629 0,644 0,606 0,595 0,604 0,630 0,633 0,613 0,600 0,603 0,608
Na
0,418 0,395 0,337 0,321 0,371 0,369 0,355 0,337 0,339 0,363 0,366 0,359 0,371
K
0,009 0,013 0,008 0,009 0,009 0,007 0,009 0,01 0,009 0,009 0,011 0,011 0,007
Ab
42,87 40,64 34,60 32,96 37,63 38,00 36,67 34,49 34,56 36,85 37,46 36,90 37,63
An
56,21 58,02 64,58 66,12 61,46 61,28 62,40 64,48 64,53 62,23 61,41 61,97 61,66
Or
0,92 1,34 0,82 0,92 0,91 0,72 0,93 1,03 0,91 0,92 1,13 1,13 0,71
46
Tabela III.1b - Análises químicas do plagioclásio do Maciço do Rio Piau (cont.).
Amostra
CM-28
CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-29 CM-29 CM-29 CM-29 CM-29
Ponto
21
23 24 25 26 29 33 38 47 49 51 57 65
Posição
centro
borda borda borda centro borda centro borda borda borda
SiO
2
52,710
48,594
50,100 51,914 50,260 49,565 52,201 52,958 52,785 51,078 51,963 50,652 52,442
TiO
2
0,013
0,092
0,002 0,000 0,005 0,000 0,000 0,028 0,012 0,023 0,018 0,000 0,023
Al
2
O
3
30,331
32,980
32,200 30,732 32,203 32,385 30,456 30,231 30,342 31,444 30,949 31,661 30,134
Cr
2
O
3
0,009
0,000
0,003 0,003 0,000 0,000 0,010 0,026 0,013 0,001 0,000 0,003 0,004
FeO
0,104
0,009
0,291 0,154 0,012 0,014 0,187 0,152 0,188 0,319 0,284 0,110 0,068
MnO
0,008
0,017
0,000 0,000 0,000 0,012 0,000 0,000 0,015 0,021 0,003 0,000 0,014
MgO
0,000
0,000
0,010 0,000 0,000 0,007 0,000 0,017 0,000 0,005 0,020 0,000 0,000
CaO
12,535
15,423
14,633 12,926 14,721 14,753 12,807 12,257 12,363 13,064 13,200 14,228 12,476
Na
2
O
4,014
2,611
3,072 3,997 3,166 3,015 4,131 4,295 4,384 3,776 3,861 3,350 4,068
K
2
O
0,178
0,064
0,087 0,113 0,082 0,069 0,100 0,111 0,078 0,054 0,087 0,136 0,105
Total
99,902
100,238
100,398 99,839 100,790 100,116 99,892 100,075 100,180 99,785 100,385 100,152 99,334
Fórmula estrutural baseada em 8 oxigênios
Si
2,388 2,218 2,276 2,359 2,274 2,259 2,370 2,394 2,386 2,325 2,350 2,303 2,389
Ti
0,000 0,003 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000 0,001 0,001 0,000 0,001
Al
1,619 1,774 1,724 1,645 1,717 1,739 1,630 1,611 1,617 1,687 1,650 1,696 1,618
Cr
0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Fe
+2
0,004 0,000 0,011 0,006 0,001 0,001 0,007 0,006 0,007 0,012 0,011 0,011 0,003
Mn
0,000 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,001 0,000 0,000 0,001
Mg
0,000 0,000 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000 0,000 0,001 0,000 0,000
Ca
0,608 0,754 0,712 0,629 0,714 0,720 0,623 0,594 0,599 0,637 0,640 0,693 0,609
Na
0,353 0,231 0,271 0,352 0,278 0,266 0,364 0,376 0,384 0,333 0,339 0,295 0,359
K
0,010 0,004 0,005 0,007 0,005 0,004 0,006 0,006 0,004 0,003 0,005 0,008 0,006
Ab
36,35 23,36 27,43 35,63 27,88 26,87 36,66 38,52 38,91 34,22 34,45 29,62 36,86
An
62,62 76,24 72,06 63,66 71,62 72,73 62,74 60,86 60,69 65,47 65,04 69,58 62,53
Or
1,03 0,40 0,51 0,71 0,50 0,40 0,60 0,62 0,40 0,31 0,51 0,80 0,61
47
48
III.2.2.2 - Piroxênios
Os piroxênios do Maciço do Rio Piau ocorrem freqüentemente como cristais euédricos a subédricos, repletos
de inclusões e de aspecto magmático. Ocorrem ainda como pequenos cristais recristalizados e poligonizados,
e como ex-soluções. Freqüentemente estão substituídos por anfibólio, biotita e clorita. Não apresentam
aspectos de deformação tais como encurvamento de clivagem (Pranchas III.3a, III.3b).
Os dados da composição química dos piroxênios deste maciço encontram-se na tabela III.2. O
clinopiroxênio, de composição En
29
Wo
41
Fs
30
, apresenta os seguintes teores: FeO - 15,44%; MgO - 10,12%; e
CaO - 19,93%. Quando plotado no diagrama triangular WoEnFs, situou-se no campo da augita (Fig. III.5).
Tabela III.2 - Análises químicas dos piroxênios do Maciço do Rio Piau.
Amostra
CM29 CM29 CM29
Tipo do piroxênio
Clinopiroxênio ortopiroxênio ortopiroxênio
Ponto
59
58 68
Posição
Borda
borda borda
SiO
2
50,468 49,189 49,685
TiO
2
0,237 0,090 0,063
Al
2
O
3
1,753 0,699 0,642
Cr
2
O
3
0,018 0,004 0,000
Fe
2
O
3
2,664 2,118 1,345
FeO
15,438 35,209 34,624
MnO
0,351 0,848 0,868
MgO
10,116 12,275 12,953
CaO
19,935 0,712 0,670
Na
2
O
0,262 0,011 0,000
K
2
O
0,001 0,002 0,010
Total
101,243 101,157 100,860
Fórmula estrutural baseada em 6 oxigênios
Si
1,925 1,949 1,963
Ti
0,007 0,003 0,002
Al
0,079 0,033 0,030
Cr
0,001 0,000 0,000
Fe
+3
0,007 0,063 0,040
Fe
+2
0,492 1,167 1,144
Mn
0,011 0,028 0,029
Mg
0,575 0,725 0,763
Ca
0,815 0,030 0,028
Na
0,019 0,001 0,000
K
0,000 0,000 0,001
Wo
41,35 1,50 1,42
En
29,19 36,01 38,06
Fs
29,46 62,49 60,52
Prancha III.3
(a)
0 1,0mm
(e)
0 0,5 1,0mm
(f)
0 0,5 1,0mm
(b)
0 0,5 1,0mm
(c)
0 0,5 1,0mm
(d)
0 0,15 0,3mm
49
50
Prancha III.3 - Fotomicrografias da mineralogia das rochas anortosíticas do Maciço do Rio Piau.
(a) Grãos de piroxênio recristalizados ao redor de um cristal de plagioclásio. Alguns grãos de
piroxênio estão se desestabilizando para anfibólio e minerais opacos. Lâmina CM25-70/30 em luz
plana.
(b) Grão de piroxênio apresentando exsolução. O grão de plagioclásio em contato com este piroxênio
está alterado para minerais de baixa temperaturas. Lâmina CM25-78/35 com nicóis cruzados.
(c) Grãos de anfibólio euédrico, de coloração castanha, e associados com piroxênios. Lâmina CM29-
68/7 em luz plana.
(d) Anfibólio formado às custas da desestabilização do piroxênio. Lâmina CM29-87/9 em luz plana.
(e) Cristal de anfibólio euédrico em contato com piroxênio e minerais opacos, sem apresentar
alterações. Lâmina CM25-74/11 em luz plana.
(f) Mesma fotomicrografia anterior com nicóis cruzados.
51
O ortopiroxênio, de composição En
36-38
Wo
1,4-1,5
Fs
61-62
, apresentou os seguintes teores: MgO - 12,27 a
12,95%; FeO - 34,62 a 35,21%; e Al
2
O
3
- 0,64 a 0,69. Quando plotados no diagrama triangular WoEnFs,
situou-se no campo da ferrosilita (Fig. III.5).
Figura III.5 - Classificação dos piroxênios do Maciço de Rio Piau segundo o diagrama WoEnFs (Morimoto
et al. 1988).
III.2.2.3 - Anfibólio
O anfibólio do Maciço do Rio Piau ocorre nas seguintes formas: (i) como pequenos cristais euédricos, de
coloração castanha, incluso nos grãos de plagioclásio, sugerindo que é magmático (Pranchas III.2a, III.2c,
III.2d); (ii) como aglomerados de cristais euédricos, de coloração castanha (Pranchas III.3c, III.3e, III.3f); e
(ii) como cristais metamórficos, sendo produtos de alteração do clinopiroxênio (Prancha III.3d).
As análises na microssonda eletrônica para este mineral foram feitas, preferencialmente, nas inclusões dentro
dos grãos de plagioclásio e nos demais cristais euédricos destas amostras. As composições químicas do
anfibólio deste maciço encontram-se na tabela III.3. O anfibólio da CM28 apresenta teores de CaO variando
de 10,86 a 11,63%, MgO entre 6,58 e 9,03%, FeO de 19,66 a 22,07%, Al
2
O
3
de 12,06 a 13,40% e TiO
2
entre
1,04 e 2,79%. Os dados da composição química da amostra CM29 mostraram teores de CaO de 10,33 a
11,05%, de MgO entre 10,33 e 11,05%, de FeO entre 20,29 e 20,82%, e de Al
2
0
3
entre 11,59 e 11,80%.
Quando plotados no diagrama de Leake et al. (1997) situaram-se no campo da ferropargasita (Fig. III.6).
Tabela III.3 - Análises químicas do anfibólio do Maciço do Rio Piau.
Amostra
CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-28 CM-29
Ponto
1
3 4 5 8 14 27 28
30
32 34 35 36 41 46
Posição
centro
borda centro borda borda borda centro centro
centro
borda
SiO
2
40,41 41,80 40,57 40,74 40,65 40,86 40,23 40,86 40,44 41,06 41,53 41,69 41,60 41,87 41,53
TiO
2
2,36 2,16 2,79 2,71 2,79 2,67 1,99 2,28 2,52 2,40 1,14 1,12 1,04 2,17 2,74
Al
2
O
3
12,29 12,60 12,12 12,40 12,06 12,34 13,24 12,84 12,20 12,07 13,23 13,24 13,40 11,36 11,59
Cr
2
O
3
0,03 0,02 0,01 0,03 0,00 0,03 0,02 0,01 0,00 0,04 0,04 0,03 0,02 0,04 0,09
FeO
22,07 21,57 21,65 20,93 21,25 20,36 21,30 20,48 21,59 20,78 19,96 19,66 19,92 20,41 20,29
MnO
0,27 0,27 0,29 0,26 0,25 0,21 0,21 0,21 0,22 0,22 0,26 0,27 0,25 0,20 0,22
MgO
6,97 6,58 7,25 7,43 7,36 7,43 7,34 7,47 7,43 7,88 8,85 8,94 9,03 7,82 8,08
CaO
10,94 11,04 11,12 11,13 11,11 11,53 11,29 11,04 10,89 11,06 10,93 10,86 10,90 11,63 11,05
Na
2
O
1,42 1,28 1,49 1,44 1,39 1,23 1,31 1,26 1,59 1,50 1,57 1,50 1,54 1,08 1,69
K
2
O
1,15 1,20 1,14 1,17 1,11 1,42 1,37 1,20 0,98 0,95 0,95 0,93 0,90 1,24 0,87
Total
97,89 98,49 98,41 98,21 97,98 98,06 98,27 97,65 97,88 97,92 98,42 98,24 98,58 97,77 98,06
Fórmula estrutural baseada em 23 oxigênios
Si
6,22 6,36 6,21 6,23 6,23 6,25 6,14 6,25 6,21 6,27 6,24 6,27 6,23 6,16 6,33
Ti
0,27 0,25 0,31 0,31 0,32 0,31 0,23 0,26 0,29 0,28 0,13 0,13 0,12 0,24 0,31
Al
2,23 2,26 2,19 2,23 2,18 2,23 2,38 2,32 2,21 2,17 2,34 2,35 2,36 1,97 2,08
Cr
0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01
Fe
+3
0,14 0,00 0,09 0,03 0,00 0,02 0,24 0,04 0,13 0,11 0,27 0,25 0,32 0,02 0,00
Fe
+2
2,70 2,75 2,68 2,65 2,64 2,59 2,48 2,58 2,65 2,54 2,23 2,22 2,17 2,61 2,58
Mn
0,04 0,04 0,04 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03 0,02 0,03
Mg
1,60 1,49 1,65 1,69 1,68 1,69 1,67 1,70 1,70 1,79 1,98 2,00 2,01 1,72 1,83
Ca
1,80 1,80 1,82 1,82 1,83 1,89 1,85 1,81 1,79 1,81 1,76 1,75 1,75 1,83 1,80
Na
0,42 0,38 0,44 0,43 0,41 0,37 0,39 0,38 0,47 0,44 0,46 0,44 0,45 0,31 0,50
K
0,23 0,23 0,22 0,23 0,22 0,28 0,27 0,23 0,19 0,18 0,18 0,18 0,17 0,23 0,17
Al
IV
1,78 1,64 1,79 1,77 1,77 1,75 1,86 1,75 1,79 1,73 1,76 1,73 1,77 1,84 1,67
Al
VI
0,45 0,63 0,40 0,46 0,41 0,47 0,52 0,57 0,42 0,44 0,58 0,61 0,59 0,13 0,41
(Na+K)A
0,65 0,56 0,66 0,65 0,63 0,64 0,65 0,61 0,67 0,63 0,64 0,61 0,62 0,37 0,65
(Ca+Na)B
1,80 1,85 1,82 1,82 1,83 1,89 1,85 1,81 1,79 1,81 1,76 1,75 1,75 2,00 1,82
(Na)B
0,00 0,05 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,17 0,02
(Ca)B
1,80 1,80 1,82 1,82 1,83 1,89 1,85 1,81 1,79 1,81 1,76 1,75 1,75 1,83 1,80
Mg/(Mg+Fe
2+
)
0,37 0,35 0,38 0,39 0,39 0,40 0,40 0,40 0,39 0,41 0,47 0,47 0,48 0,41 0,42
52
53
Figura III.6 - Classificação dos anfibólios do Maciço do Rio Piau segundo o diagrama de Leake e
t
al. (1997).
III.2.2.4 - Geotermometria
Visando estimar as condições de temperatura de cristalização do anfibólio do Maciço do Rio Piau, utilizou-
se o geotermômetro anfibólio-plagioclásio (Hb-Pl) de Holland & Blundy (1994), o qual se baseia nas
seguintes reações de equilíbrio:
edenita + 4 quartzo = tremolita + albita (termômetro A)
edenita + albita = richterita + anortita (termômetro B)
Segundo os autores supracitados, para rochas saturadas em sílica ambos os termômetros podem ser usados.
Como as rochas em estudo estão dentro dessa categoria, optou-se apenas pelo termômetro A, visto que este
apresentou melhores resultados.
A geotermometria Hb-Pl de Holland & Blundy (1994) foi realizada a partir das análises obtidas nos centros
dos pares ferropargasita-labradorita e ferropargasita-bitownita, ambos na amostra CM28. No par
ferropargasita-labradorita (anfibólio euédrico incluso no plagioclásio), a temperatura obtida foi de 868 r
40
o
C, enquanto que no par ferropargasita-bitownita, a temperatura encontrada foi de 874 r 40
o
C para um
intervalo de pressão entre 5 e 10 kbar (Tab. III.4).
54
Tabela III.4 - Dados de geotermometria obtidos pelo método Holland & Blubdy (1994) com
o par Hb-Pl (hornblenda-plagioclásio), para pressões estimadas entre 5 e 10 kbar.
Par Ferropargasita -labradorita Ferropargasita-bitownita
T (ed-tr)
o
C
868 r 40
o
C 874r 40
o
C
X(ab) no plagioclásio
0,35 0,28
III.2.3 - Maciço de Samaritana/Carapussê
As rochas anortosíticas do Maciço de Samaritana/Carapussê foram plotadas no diagrama de classificação de
rochas máficas de Streckeisen (1976) (Fig. III.7). Como pelo diagrama Pl-Ol-Px elas situaram-se sobre o
lado Pl-Px, foi utilizado o diagrama Pl-Opx-Cpx para uma classificação mais precisa. Por este diagrama, as
rochas anortosíticas apresentaram um trend contínuo de diferenciação de melagabro até anortosito. Elas
foram classificadas como melagabro, melagabronorito, gabronorito, leucogabronorito, leuconorito e
anortosito. Esta classificação baseou-se na composição normativa obtida das análises químicas de rocha total
efetuadas por Jesus (1997)/Macêdo (2000), e apresentou uma boa correspondência com as observações
petrográficas efetuadas nesta pesquisa, validando mais uma vez a sua utilização para o fim proposto. A
localização das amostras CM09 e CM19 utilizadas para os estudos petrográficos e de química mineral
encontra-se na figura III.8.
As análises mineraloquímicas para este maciço tiveram como principal objetivo a determinação das
composições químicas do plagioclásio nos seguintes tipos de grãos: porfiroclastos deformados e não
deformados, matriz recristalizada com e sem aspectos deformacionais, grãos da matriz com e sem
geminação, subgrãos, grãos formados por nucleação e grãos da matriz que adentram os porfiroclastos.
Também foram determinadas as composições químicas de anfibólio, piroxênios e biotita. Estes resultados
serão utilizados no capítulo V para a interpretação das microestruturas do plagioclásio encontradas nestas
rochas. No capítulo V, as microestruturas do plagioclásio das rochas anortosíticas do Maciço de
Samaritana/Carapussê e, conseqüentemente, os seus aspectos texturais, são mostrados em detalhe. Sendo
assim, para este maciço o leitor será referido às pranchas existentes naquele capítulo, não só para o
plagioclásio, mas também para as demais fases minerais.
55
Figura III.7 - Diagram a de classificação das rochas máficas do Maciço de Samaritana/Carapussê,
segundo Streckeisen (1976).
Figura III.8 - Mapa esquemático do Maciço de Samaritana/Carapussê (Cruz et al. 2000) com
a
localização das amostras utilizadas para os diversos objetivos desta pesquisa.
56
III.2.3.1 - Plagioclásio
O plagioclásio do Maciço de Samaritana/Carapussê apresenta-se como porfiroclastos e como uma matriz
recristalizada (Pranchas V.1, V.2, V.3c, V.3d). Estes porfiroclastos apresentam aspectos deformacionais, tais
como geminação mecânica (Pranchas V.3b, V.4c), kinks (Prancha V.4e), extinção ondulante (Prancha V.5a),
lamelas de deformação (Prancha V.5b) e encurvamento de rede cristalina (Pranchas V.4f, V.6e, V.7a). A
determinação das composições químicas deste mineral foi feita em porfiroclastos e grãos da matriz, com e
sem aspectos deformacionais. Os dados da composição química deste mineral encontram-se nas tabelas
III.5a e III.5b.
Os porfiroclastos apresentaram uma composição de An
53-62
Ab
35-45
Or
1,4-4,1
e para os grãos da matriz a
composição obtida foi An
55-62
Ab
37-43
Or
1,2-1,9.
Também foram analisados grãos de plagioclásio menores do que
1 µm pertencentes a um aglomerado de grãos com tamanhos similares, que podem ter se formado por
nucleação (Pranchas V.7a, V.7b). Estes grãos apresentaram uma composição de An
60-64
Ab
34-39
Or
1,1-1,3
. Estes
resultados foram plotados no diagrama triangular OrAbAn e o plagioclásio foi classificado como labradorita
(Fig. III.9).
Figura III.9 - Classificação do plagioclásio do Maciço de Samaritana/Carapussê segundo o diagrama
OrAbAn (Deer et al. 1963).
Tabela III.5a - Análises químicas do plagioclásio do Maciço de Samaritana/Carapussê.
Amostra CM09 CM09 CM09 CM09 CM09
CM09
CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09
CM09
Ponto
1 2345
6
7 9 10 12 13 14 15 16 17 45
48
Posição
centro borda borda borda centro borda
centro
Tipo
porf. porf. porf. matriz porf.
matriz
matriz matriz matriz porf. matriz matriz porf. matriz matriz porf.
porf.
SiO
2
55,140 52,907
54,567
54,201 53,311 54,282 54,297 54,421 54,680 53,931 53,792 53,347 53,700 53,799 53,287 52,883 53,581
TiO
2
0,022 0,013
0,025
0,007 0,023 0,003 0,005 0,000 0,000 0,000 0,002 0,000 0,003 0,020 0,008 0,008 0,012
Al
2
O
3
28,897 30,286 28,989
29,143 29,881 29,341 29,341 29,229 29,112 29,517 29,498 29,913 29,717 29,301 29,989 30,114 29,760
Cr
2
O
3
0,000 0,003 0,000
0,000 0,000 0,016 0,000 0,016 0,026 0,012 0,010 0,000 0,000 0,000 0,006 0,000 0,015
FeO
0,118 0,156 0,149
0,174 0,176 0,171 0,178 0,184 0,153 0,142 0,136 0,151 0,114 0,187 0,152 0,134 0,158
MnO
0,000 0,005 0,000
0,001 0,003 0,000 0,009 0,000 0,012 0,000 0,004 0,012 0,000 0,000 0,004 0,009 0,009
MgO
0,000 0,000 0,000
0,000 0,000 0,000 0,000 0,015 0,000 0,017 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,010 0,000
CaO
10,719 12,171 10,783
11,269 11,941 11,342 11,163 11,245 11,202 11,447 11,668 12,062 11,560 11,528 11,890 12,479 11,796
Na
2
O
4,990 4,234 4,793
4,675 4,365 4,641 4,694 4,842 4,781 4,473 4,450 4,243 4,234 4,557 4,320 4,063 4,328
K
2
O
0,358 0,273 0,278
0,307 0,251 0,265 0,279 0,276 0,272 0,281 0,271 0,226 0,644 0,247 0,211 0,312 0,376
Total
100,244 100,048 99,584
99,777 99,951 100,061 99,966 100,228 100,238 99,820 99,831 99,954 99,972 99,639 99,867 100,012 100,035
Fórmula estrutural baseada em 8 oxigênios
Si
2,478
2,394 2,467 2,451 2,412 2,448 2,450 2,451 2,460 2,438 2,433 2,413 2,428 2,438 2,411 2,395 2,421
Ti
0,001
0,000
0,001 0,000 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000 0,000 0,000
Al
1,530
1,615 1,545 1,553 1,593 1,559 1,560 1,551 1,544 1,572 1,573 1,594 1,584 1,565 1,599 1,607 1,585
Cr
0,000
0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000 0,001 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001
Fe
+2
0,004
0,006 0,006 0,007 0,007 0,006 0,007 0,007 0,006 0,005 0,005 0,006 0,004 0,007 0,006 0,005 0,006
Mn
0,000
0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mg
0,000
0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000
Ca
0,516
0,590 0,522 0,546 0,579 0,548 0,540 0,543 0,540 0,554 0,565 0,584 0,560 0,560 0,576 0,605 0,571
Na
0,435
0,371 0,420 0,41 0,383 0,406 0,411 0,423 0,417 0,392 0,390 0,372 0,371 0,400 0,379 0,357 0,379
K
0,021
0,016 0,016 0,018 0,014 0,015 0,016 0,016 0,016 0,016 0,016 0,013 0,037 0,014 0,012 0,018 0,022
Ab
44,75
37,97 43,84 42,09 39,24 41,90 42,50 43,08 42,86 40,75 40,16 38,39 38,33 41,07 39,19 36,43 38,99
An
53,09
60,39
54,49 56,06 59,33 56,55 55,84 55,29 55,50 57,59 58,19 60,27 57,85 57,50 59,57 61,73 58,75
Or
2,16
1,64 1,67 1,85 1,43 1,55 1,66 1,63 1,64 1,66 1,65 1,34 3,82 1,43 1,24 1,84 2,26
porf. - porfiroclasto
57
Tabela III.5b - Análises químicas do plagioclásio do Maciço de Samaritana/Carapussê (cont).
Amostra
CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09
CM19
CM19
CM19 CM19
Ponto
49
50 51 52 53 54 55 57 71 78 89 91 93
34 38 39 40
Posição
centro centro centro centro borda borda borda
Tipo
porf.
porf. porf. porf. porf. porf. matriz matriz matriz matriz matriz matriz matriz
g. nucl.
g. nucl.
porf. matriz
SiO
2
53,292 52,806 53,144 52,984 52,740 53,350 52,943 54,205 53,852 52,994 52,665 54,263 54,278 51,482 51,664 52,736 53,118
TiO
2
0,017 0,030
0,000 0,003 0,000 0,000 0,010 0,000 0,012 0,027 0,023 0,005 0,000 0,000 0,012 0,000 0,002
Al
2
O
3
29,887 29,987 29,934 30,127 29,921 29,938 29,802 29,296 29,347 29,953 30,174 29,105 29,099 30,216 30,936 30,206 29,925
Cr
2
O
3
0,000 0,015 0,000 0,016 0,000 0,000 0,010 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,009 0,003 0,029 0,000 0,000
FeO
0,176 0,156 0,135 0,171 0,131 0,140 0,158 0,126 0,356 0,463 0,142 0,165 0,175 0,079 0,104 0,124 0,156
MnO
0,008 0,004 0,001 0,003 0,006 0,004 0,008 0,017 0,005 0,000 0,000 0,012 0,000 0,000 0,006 0,004 0,006
MgO
0,000 0,000 0,007 0,000 0,000 0,025 0,000 0,020 0,005 0,002 0,010 0,005 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
CaO
12,215 12,405 12,135 12,283 12,285 12,181 12,279 11,269 11,454 12,034 12,476 11,279 11,305 11,840 13,133 12,079 12,085
Na
2
O
4,272 3,898 4,242 4,123 4,028 4,212 4,113 4,750 4,543 4,328 4,084 4,617 4,623 4,291 3,900 4,334 4,369
K
2
O
0,329 0,547 0,318 0,300 0,705 0,325 0,312 0,252 0,210 0,258 0,276 0,299 0,317 0,182 0,196 0,214 0,218
Total
100,196 99,848 99,916 100,010 99,816 100,175 99,635 99,935 99,784 100,059 99,850 99,750 99,806 98,093 99,980 99,697 99,879
Fórmula estrutural baseada em 8 oxigênios
Si
2,408 2,397 2,407 2,398 2,397 2,410 2,405 2,447 2,438 2,400 2,389 2,454 2,454 2,375 2,341 2,394 2,406
Ti
0,001 0,001
0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Al
1,592 1,604 1,598 1,607 1,603 1,594 1,596 1,559 1,566 1,599 1,613 1,551 1,550 1,643 1,652 1,616 1,598
Cr
0,000 0,001 0,000 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000 0,000
Fe
+2
0,007 0,006 0,005 0,006 0,005 0,005 0,006 0,005 0,013 0,018 0,005 0,006 0,007 0,003 0,004 0,005 0,006
Mn
0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Mg
0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,002 0,000 0,001 0,000 0,000 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Ca
0,591 0,603 0,589 0,596 0,600 0,590 0,600 0,550 0,560 0,580 0,610 0,550 0,550 0,585 0,638 0,587 0,587
Na
0,374 0,343 0,372 0,362 0,350 0,370 0,360 0,420 0,400 0,380 0,360 0,410 0,410 0,384 0,343 0,381 0,384
K
0,019 0,032 0,018 0,017 0,040 0,020 0,020 0,020 0,010 0,020 0,020 0,020 0,020 0,011 0,011 0,012 0,013
Ab
38,01 35,072 37,998 37,128 35,71 37,77 37,01 42,62 41,26 38,82 36,60 41,84 41,71 39,19 34,58 38,88 39,03
An
60,06 61,656
60,163 61,128 60,16 60,29 61,15 55,84 57,50 59,65 61,77 56,40 56,44 59,69 64,31 59,90 59,65
Or
1,93 3,272 1,839 1,744 4,13 1,94 1,84 1,54 1,24 1,53 1,63 1,76 1,85 1,12 1,11 1,22 1,32
porf. - porfiroclasto g. nucl. - grão nucleado
58
59
III.2.3.2 - Piroxênios
Os piroxênios do Maciço de Samaritana/Carapussê ocorrem freqüentemente na forma de grãos
recristalizados e poligonizados contornando os porfiroclastos de plagioclásio (Pranchas V.1, V.2, V.6e, V.9c,
V.9d). Eles também apresentam-se como cristais exsolvidos com mais de 2 mm (Pranchas V.4e, V.10c), que
provavelmente são relíquias de piroxênios ígneos. Associados aos grãos de piroxênio e formando
aglomerados de minerais máficos, encontram-se anfibólio, biotita e minerais opacos, os quais apresentam-se
como produtos da desestabilização dos piroxênios (Pranchas V.9c, V.9e). Ocasionalmente esta fase mineral
exibe clivagem encurvada (Prancha V.10b). Os dados das análises químicas dos grãos de clinopiroxênio
deste maciço encontram-se na tabela III.6 e dos grãos de ortopiroxênio na tabela III.7.
Os grãos de clinopiroxênio apresentaram composições de En
28-31
Wo
42-50
Fs
24-28
, com teores de FeO que
variaram de 13,34 a 15,34%, de MgO entre 9,48 e 10,58% e de CaO entre 19,65 e 22,26%. Quando plotados
no diagrama triangular WoEnFs situaram-se nos campos da augita, do diopsídio e na interface augita-
diopsídio (Fig. III.10).
Os de ortopiroxênio, de composição En
37-40
Wo
1,2-7,7
Fs
54-61
, mostraram teores de Al
2
O
3
variando de 0,07 a
0,85%, de FeO entre 31,26 e 34,85% e de MgO entre 12,80 e 13,73%. Quando plotados no diagrama
triangular WoEnFs situaram-se nos campos da ferrosilita e da pigeonita.
Figura III.10 - Classificação do piroxênio do Maciço de Samaritana/Carapussê, segundo o diagrama
WoEnFs (Morimoto et al. 1988).
Tabela III.6 - Análises químicas do clinopiroxênio do Maciço de Samaritana/Carapussê.
Amostra
CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM19 CM19 CM19
Ponto
65 79 80 81 88 20 21 33
Posição
borda
centro
centro borda
lamela
borda lamela
SiO
2
50,594 49,762 50,855 50,521 51,005
50,934
51,013 49,640
TiO
2
0,140
0,120 0,132 0,162 0,148
0,160
0,122 0,148
Al
2
O
3
1,952 2,730 1,366 1,345 1,200
1,421
1,347 1,258
Cr
2
O
3
0,000 0,026 0,007 0,000 0,029
0,019
0,051 0,083
Fe
2
O
3
2,527 1,054 2,352 2,627 2,698
2,310
2,196 1,981
FeO
14,500 15,336 13,937 13,666 12,373
13,336
13,728 14,338
MnO
0,302 0,315 0,310 0,272 0,265
0,310
0,343 0,340
MgO
10,242 9,483 10,336 10,076 10,585
10,293
10,200 10,388
CaO
20,534 20,365 21,283 21,573 22,264
21,760
21,620 19,653
Na
2
O
0,275 0,191 0,217 0,224 0,240
0,257
0,252 0,241
K
2
O
0,000 0,029 0,000 0,000 0,000
0,000
0,001 0,004
Total
101,066 99,411 100,795 100,466 100,807
100,800
100,873 98,073
Fórmula estrutural baseada em 6 oxigênios
Si
1,926 1,926 1,939 1,935 1,938
1,939
1,943 1,945
Ti
0,004
0,003 0,004 0,005 0,004
0,005
0,003 0,004
Al
0,088 0,125 0,061 0,061 0,054
0,064
0,060 0,058
Cr
0,000 0,001 0,000 0,000 0,001
0,001
0,002 0,003
Fe
+3
0,072 0,031 0,068 0,076 0,077
0,066
0,063 0,059
Fe
+2
0,462 0,496 0,444 0,438 0,393
0,425
0,437 0,472
Mn
0,010 0,010 0,010 0,009 0,009
0,010
0,011 0,011
Mg
0,581 0,547 0,588 0,575 0,600
0,584
0,579 0,607
Ca
0,837 0,845 0,870 0,885 0,907
0,888
0,882 0,825
Na
0,020 0,014 0,016 0,017 0,018
0,019
0,019 0,018
K
0,000 0,001 0,000 0,000 0,00
0,000
0,000 0,000
Wo
42,68 43,78 43,94 44,65 45,67
50,00
44,73 41,85
En
29,61
28,36 29,69 29,01 30,21
29,61
29,36 30,78
Fs
27,71 27,86 26,37 26,34 24,12
25,39
25,91 27,37
60
Tabela III.7 - Análises químicas do ortopiroxênio do Maciço de Samaritana/Carapussê.
Amostra
CM09
CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM09 CM19 CM19 CM19
Ponto
68
69 70 72 73 74 76 77 82 84 85 86 87 19 22 32
Posição
centro
centro borda centro borda borda borda borda centro centro centro borda borda lamela borda lamela
SiO
2
49,407 50,023 49,482 49,418 49,653 50,064 49,482 49,582 49,394 49,415 49,646
49,691 49,728 49,616 49,792 48,076
TiO
2
0,062 0,072 0,065 0,067 0,072 0,027 0,080 0,058 0,170 0,067 0,080
0,082 0,075 0,072 0,045 0,035
Al
2
O
3
0,801 0,777 0,644 0,733 0,684 0,546 0,746 0,641 0,737 0,705 0,777
0,067 0,705 0,845 0,487 0,374
Cr
2
O
3
0,012 0,001 0,009 0,020 0,012 0,000 0,000 0,010 0,031 0,001 0,000
0,000 0,004 0,029 0,016 0,018
Fe
2
O
3
2,639 1,642 1,877 1,351 1,626 1,229 2,022 1,644 1,879 2,220 1,875
2,126 1,801 1,885 1,927 3,616
FeO
33,306 31,259 34,339 33,461 33,850 34,129 33,988 34,333 33,791 33,345 33,656
33,545 33,639 34,845 34,343 32,827
MnO
0,659 0,598 0,695 0,629 0,662 0,651 0,708 0,683 0,699 0,661 0,688
0,699 0,682 0,751 0,751 0,785
MgO
13,478 13,026 13,137 13,465 13,527 13,662 13,223 13,129 13,276 13,319 13,487
13,694 13,727 12,802 13,298 12,946
CaO
0,887 3,720 0,592 0,812 0,600 0,593 0,687 0,638 0,834 1,020 0,827
0,662 0,583 0,768 0,616 0,670
Na
2
O
0,000 0,009 0,004 0,004 0,011 0,000 0,022 0,023 0,000 0,019 0,000
0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
K
2
O
0,008 0,001 0,002 0,002 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000 0,006 0,000
0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Total
101,259 101,128 100,846 99,962 100,697 100,901 100,959 100,742 100,811 100,777 101,036
100,566 100,944 101,613 101,275 99,347
Fórmula estrutural baseada em 6 oxigênios
Si
1,940 1,956 1,955 1,960 1,958 1,968 1,951 1,959 1,949 1,949 1,952 1,964
1,954 1,950 1,958 1,934
Ti
0,002 0,002 0,002 0,002 0,002 0,001 0,002 0,002 0,005 0,002 0,002 0,002
0,002 0,002 0,001 0,001
Al
0,037 0,036 0,030 0,034 0,032 0,025 0,035 0,030 0,034 0,033 0,036 0,003
0,033 0,039 0,023 0,018
Cr
0,000 0,000 0,000 0,001 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000 0,000 0,000
0,000 0,001 0,000 0,001
Fe
+3
0,078 0,048 0,056 0,040 0,048 0,036 0,060 0,049 0,056 0,066 0,055 0,063
0,053 0,056 0,057 0,109
Fe
+2
1,094 1,022 1,135 1,110 1,116 1,122 1,121 1,135 1,115 1,100 1,106 1,109
1,106 1,145 1,130 1,105
Mn
0,022 0,020 0,023 0,021 0,022 0,022 0,024 0,023 0,023 0,022 0,023 0,023
0,023 0,025 0,025 0,027
Mg
0,789 0,759 0,774 0,796 0,795 0,801 0,777 0,773 0,781 0,783 0,790 0,807
0,804 0,750 0,780 0,776
Ca
0,037 0,156 0,025 0,035 0,025 0,025 0,029 0,027 0,035 0,043 0,035 0,028
0,025 0,032 0,026 0,029
Na
0,000 0,001 0,000 0,000 0,001 0,000 0,002 0,002 0,000 0,001 0,000 0,000
0,000 0,000 0,000 0,000
K
0,000 0,000 0,000 0,000 0,00 0,000 0,00 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
0,000 0,000 0,000 0,000
Wo
1,85 7,77 1,24 1,72 1,26 1,24 1,44 1,35 1,75 2,14 1,73 1,38 1,22 1,61 1,29 1,41
En
39,06 37,86 38,45 39,77 39,62 39,92 38,66 38,54 38,84 38,88 39,32 39,74 40,00 37,34 38,65 37,95
Fs
59,09 54,37 60,31 58,51 59,12 58,84 59,90 60,11 59,41 58,98 58,95 58,88 58,78 61,05 60,06 60,64
61
62
III.2.3.3 - Anfibólio
Os grãos de anfibólio são preferencialmente de coloração castanho-esverdeada e ocorrem principalmente
associados aos aglomerados de minerais máficos, podendo ser interpretados como produto da
desestabilização dos piroxênios (Pranchas V.9c, V.9e). O resultado da análise de química mineral para o
anfibólio deste maciço encontra-se na tabela III.8. Quando plotado no diagrama de Leake et al. (1997), ele
situou-se no campo da ferropargasita (Fig. III.11).
Tabela III.8 - Análise química do anfibólio do Maciço de Samaritana/Carapussê.
Amostra
CM19
Ponto
37
Posição
borda
SiO
2
41,45
TiO
2
1,75
Al
2
O
3
11,38
Cr
2
O
3
0,11
FeO
21,80
MnO
0,16
MgO
7,45
CaO
11,72
Na
2
O
0,79
K
2
O
1,60
Total
98,10
Fórmula estrutural baseada em 23 oxigênios
Si
6,33
Ti
0,20
Al
2,05
Cr
0,01
Fe
+3
0,34
Fe
+2
2,44
Mn
0,02
Mg
1,70
Ca
1,92
Na
0,23
K
0,31
Al
IV
1,67
Al
VI
0,37
(Na+K)A
0,54
(Ca+Na)B
1,92
(Na)B
0,00
(Ca)B
1,92
Mg/(Mg+Fe
2+
)
0,41
63
Figura III.11 - Classificação do anfibólio do Maciço de Samaritana/Carapussê, segundo Leake e
t
al. (1997).
III.2.3.4 - Biotita
A biotita do Maciço de Samaritana/Carapussê ocorre, preferencialmente, na forma de pequenas palhetas
alongadas de coloração castanho clara contornando os porfiroclastos de plagioclásio (Pranchas V.10a, V.10b,
V.10d) e, subordinadamente, de coloração avermelhada associada aos aglomerados de minerais máficos
constituídos por piroxênios, anfibólio, biotita e minerais opacos. Quando associadas a estes aglomerados
máficos, a biotita apresenta-se sem forma definido, sendo nitidamente produto de desestabilização destes
minerais (Prancha V.10e).
Os dados da composição química da biotita deste maciço encontram-se na tabela III.9. Os grãos de biotita
apresentaram teores de TiO
2
variando de 4,92 a 5,66% (Ti = 0,575 a 0,663 a.p.f.u), de FeO entre 21,79 e
24,77%, e de MgO entre 7,86 e 9,71%, com X
Mg
variando entre 0,36 e 0,45.
64
Tabela III.9 - Análises químicas da biotita do Maciço de Samaritana/Carapussê.
Amostra
CM09 CM09 CM09 CM19 CM19
Ponto
62 63 75 24 25
Posição
SiO
2
35,722 35,273 34,939 36,860 34,543
TiO
2
5,376 5,459 4,916 5,241 5,663
Al
2
O
3
14,348 14,261 14,191 14,920 14,178
Cr
2
O
3
0,037 0,047 0,098 0,042 0,039
FeO
23,597 21,790 22,633 23,688 24,774
MnO
0,056 0,040 0,049 0,052 0,074
MgO
8,476 9,705 9,517 8,067 7,863
CaO
0,109 0,074 0,249 0,208 0,011
Na
2
O
0,038 0,035 0,035 0,089 0,008
K
2
O
9,185 9,298 8,775 9,217 9,458
Total
96,944 95,982 95,402 98,384 96,611
Fórmula estrutural baseada em 22 oxigênios
Si
5,482 5,435 5,431 5,551 5,380
Ti
0,620 0,632 0,575 0,593 0,663
Al
2,595 2,590 2,600 2,648 2,602
Cr
0,004 0,006 0,012 0,005 0,005
Mn
0,007 0,005 0,006 0,007 0,010
Mg
1,939 2,229 2,205 1,811 1,825
Fe
3,028 2,807 2,942 2,983 3,226
Ca
0,018 0,012 0,041 0,034 0,002
Na
0,011 0,010 0,011 0,026 0,002
K
1,798 1,827 1,740 1,771 1,879
Al
IV
2,518 2,565 2,569 2,449 2,620
Al
VI
0,077 0,025 0,031 0,199 (0,020)
Fe
+2
3,028 2,807 2,942 2,983 3,226
Fe/(Fe+Mg)
0,610 0,557 0,572 0,622 0,639
X
Mg
0,39 0,45 0,44 0,36 0,37
III.2.4 - Maciço de Potiraguá
No decorrer deste trabalho, não foram feitas análises petrográficas e microestruturais detalhadas deste
maciço, nem análises de química mineral. Por isto, as características gerais das rochas anortosíticas, assim
como dos seus minerais, serão brevemente descritas e em conjunto, com o objetivo de fornecer ao leitor uma
visão geral da textura e mineralogia destas rochas. Os dados petrográficos e de química mineral estão
resumidos no item III.1.3 deste capítulo. Para maiores detalhes, consultar Bordini (2003).
65
O Maciço de Potiraguá é formado principalmente por anortositos e, subordinadamente, por leucogabros e
troctolitos. As rochas anortosíticas deste maciço apresentam textura grossa, predominantemente do tipo
adcumulato, e estas texturas magmáticas acumulativas encontram-se preservadas (Prancha III.4). Estas
rochas são constituídas principalmente por plagioclásio, com percentuais que na maioria das amostras
analisadas ultrapassam 90%, se constituindo em verdadeiros anortositos. Além do plagioclásio, os minerais
primários das rochas anortosíticas do Maciço de Potiraguá são olivina, piroxênio, óxidos de Fe-Ti e apatita.
O principal mineral varietal é a olivina, cuja proporção modal freqüentemente é superior a 5%. Os anfibólios
são, aparentemente, de origem secundária, juntamente com outros minerais de alteração (biotita, clorita, mica
branca, epidoto, epidoto azul, glaucofano, etc).
As rochas anortosíticas são constituídas por dois tipos de plagioclásio: um com formas tabulares e outro com
formas equidimensionais. Os grãos tabulares apresentam-se euédricos a subédricos e geralmente estão
geminados segundo a lei albita (Pranchas III.5a, III.5b, III.5c). Apesar da predominância de cristais
tabulares, uma orientação preferencial de forma destas rochas é incipiente ou inexistente. Os grãos
equidimensionais são caracterizados por uma textura adcumulática e apresentam-se geminados segundo as
leis albita e periclina (Pranchas III.5d, III.5e, III.5f).
A olivina apresenta-se freqüentemente alterada (Pranchas III.6a, III.6b, III.6c, III.6e). Os piroxênios ocorrem
sempre em proporções menores do que a olivina, com clinopiroxênio predominando sobre o ortopiroxênio. O
anfibólio ocorre principalmente como borda de reação nos minerais máficos. Às vezes, ele substitui quase
que inteiramente os cristais de piroxênio, restando apenas um pequeno núcleo do mineral primário (Prancha
III.6d). Localmente, ocorrem texturas coroníticas, com o desenvolvimento de anfibólio às custas da olivina e
dos piroxênios.
Prancha III.4
(b)
0 0,5 1,0cm
(a)
0 0,5 1,0cm
(d)
0 0,5 1,0cm
(c)
0 0,5 1,0cm
66
67
Prancha III.4 - Fotomicrografias dos aspectos gerais das rochas anortosíticas do Maciço de
Potiraguá (nicóis cruzados).
(a) Aspecto geral de uma rocha anortosítica mostrando grandes cristais tabulares de plagioclásio e
com geminação magmática. A mineralogia máfica encontra-se alterada e apresenta-se dispersa
entre os cristais de plagioclásio. Lâmina PO-04.
(b) Visão geral de uma rocha anortosítica com grandes cristais tabulares de plagioclásio. Esta rocha
sofreu deformação rúptil. Os cristais de plagioclásio são atravessados por fraturas que deslocam
porções dos cristais. A rocha está bastante alterada para minerais de baixa temperatura. Lâmina
PO-08.
(c) Visão geral de uma rocha anortosítica mostrando cristais de plagioclásio com formas tabulares e
equidimensionais. As geminações do plagioclásio são magmáticas. A rocha está atravessada por
fraturas preenchidas por minerais de baixa temperatura. Lâmina PO-02.
(d) Aspecto geral de uma rocha anortosítica com predominância de cristais equidimensionais. As
geminações são magmáticas. Esta rocha não apresenta deformação rúptil e as alterações de baixa
temperatura estão restritas à mineralogia máfica que se encontra entre os cristais de plagioclásio.
Lâmina PO-25.
Prancha III.5
(a)
0 1,0mm
(b)
0 1,0mm
(c)
0 1,0mm
(f)
0 0,5 1,0mm
(e)
0 0,5 1,0mm
(d)
0 0,5 1,0mm
68
69
Prancha III.5 - Fotomicrografias do plagioclásio das rochas anortosíticas do Maciço de Potiraguá
(nicóis cruzados).
(a) Cristal de plagioclásio com forma tabular e apresentando geminação magmática segundo a lei
albita. Esta rocha sofreu deformação rúptil, conforme indicado pela presença de fraturas que
deslocam as geminações do plagioclásio. As fraturas estão preenchidas por minerais de baixa
temperatura. Lâmina PO-08-72/18.
(b) Grãos de plagioclásio com geminação primária segundo a lei albita. A deformação rúptil sofrida
por esta rocha é atestada pela presença de fraturas que deslocam a geminação. Minerais de
alteração preenchem as fraturas. Lâmina PO-08-78/34.
(c) Outro cristal de plagioclásio apresentando deformação essencialmente rúptil. Lâmina PO-08-
79/20.
(d) Cristais de plagioclásio equidimensionais mostrando contatos retos a quase retos. Estão geminados
segundo a lei albita e apresentam-se repletos de inclusões de minerais de alteração. Lâmina PO-22-
68/8.
(e) Cristais de plagioclásio com formas equidimensionais, apresentando contatos retos a quase retos e
com junções tríplices a 120°, provavelmente indicando as elevadas temperaturas de formação deste
mineral. Observar a ausência de deformação de baixa temperatura nestes cristais. Lâmina PO-25-
74/8.
(f) Cristais de plagioclásio com formas equidimensionais e de contatos retos a quase retos. Não foram
observadas alterações de baixa temperatura nos grãos de plagioclásio equidimensionais desta
amostra. Lâmina PO-25-78/18.
Prancha III.6
(a)
0 0,15 0,3mm
(b)
0 0,5 1,0mm
(c)
0 0,5 1,0mm
(d)
0 0,5 1,0mm
(e)
0 0,15 0,3mm
(f)
0 0,15 0,3mm
70
71
Prancha III.6 - Fotomicrografias dos minerais máficos das rochas anortosíticas do Maciço de
Potiraguá.
(a) Aspecto geral da alteração da olivina. Lâmina PO-02-74/28 em luz plana.
(b) Grão de olivina associado a outros minerais máficos e à apatita. Lâmina PO-04-66/25 em luz
plana.
(c) Associação dos minerais máficos e apatita. Lâmina PO-04-79/31 em luz plana.
(d) Formação de anfibólio às custas da desestabilização do piroxênio. Lâmina PO-22-81/24 em luz
plana.
(e) Cristal de olivina alterado. Lâmina PO-25-76/27 com nicóis cruzados.
(f) Alteração de mineral máfico. Lâmina PO-20-80/18 em luz plana.
CAPÍTULO IV
Geoquímica Isotópica Sm/Nd e Ar/Ar
IV.1 - Introdução
Os isótopos radiogênicos são utilizados em geologia não só para a determinação das idades das rochas e
minerais (geocronologia), mas também para o estudo petrogenético visando identificar os processos
geológicos e fontes de gerações das rochas (geologia isotópica). Para isso, métodos como Rb/Sr, Sm/Nd,
K/Ar, U/Pb e Pb/Pb vêm sendo utilizados tanto em rocha total como em minerais. Dentro do contexto deste
trabalho foram feitas duas tentativas para se obter dados geocronológicos e isotópicos dos maciços gabro-
anortosíticos do Sul da Bahia, sendo uma pelo método Sm/Nd e outra pelo método Ar/Ar. Estes métodos são
baseados na quantidade de isótopos radioativos e seus derivados. Para tornar mais claro o que está em
discussão, serão descritos brevemente alguns princípios básicos envolvidos nestes métodos de datação.
Na determinação da idade de um material usando a desintegração radioativa são necessários os seguintes
requisitos principais:
1. a existência no material de um nuclídeo radioativo A cuja quantidade inicial é conhecida;
2. o nuclídeo radioativo A, por desintegração, se transforme em outro nuclídeo B a uma taxa conhecida
O
3. o sistema permaneça fechado com respeito aos nuclídeos A e B durante o tempo a ser considerado, ou
seja, que não ocorram nem acréscimos nem perdas de material a partir do ambiente.
Conhecidas a quantidade inicial [A] de A e a quantidade atual [B] de B, (supondo que a quantidade inicial de
B é nula), o tempo decorrido para formar B é dado por:
Para todos nuclídeos radioativos utilizados atualmente em datação, as propriedades relativas às taxas e
modos de desintegração são bem conhecidas. Estudos em física nuclear também indicam que a taxa de
desintegração não é sensível a fatores ambientais comuns. Assim, pode-se considerar o requisito número 2
bem estabelecido.
Quanto aos requisitos 1 e 3, um conceito importante é o de temperatura de fechamento. Os produtos de
desintegração não fazem parte do retículo cristalino do material podendo difundir através dos sólidos. As
taxas de difusão são muito dependentes da temperatura. A temperatura de fechamento é a temperatura do
material em que os produtos de desintegração são, supostamente, retidos inteiramente. A idade isotópica
seria medida a partir do tempo em que a temperatura do material ficou abaixo da temperatura de fechamento.
73
Cada material e cada sistema de datação possui uma temperatura de fechamento, que é determinada por
experimentos em laboratório e pelos modelos matemáticos para o fenômeno de difusão. Os valores destas
temperaturas variam desde cerca de 800
o
C para U/Pb em zircão até pouco mais que 100
o
C para K/Ar em
feldspatos alcalinos. A temperatura de fechamento também depende da taxa de resfriamento, sendo menores
para taxas de resfriamento lentas. A hipótese nesta discussão é que o "relógio radiométrico" é "zerado"
quando o material fica a uma temperatura maior do que a temperatura de fechamento. Por exemplo, no caso
da datação por K/Ar ou
40
Ar/
39
Ar, é usada a idéia de que acima da temperatura de fechamento todo argônio
escapa de dentro do material de forma que todo argônio encontrado num cristal de uma rocha é proveniente
da desintegração do
40
K. Um outro fator que pode interferir no zeramento do relógio é a possível falta de
gradiente de concentração num dado sistema de forma que a difusão de um determinado nuclídeo não ocorra,
havendo sua retenção mesmo a temperaturas maiores que a de fechamento. Outros fatores que podem alterar
a composição isotópica de um sistema são a presença de fluidos e deformações.
IV.2 - O método Sm/Nd
Do ponto de vista químico, os elementos Samário (Sm) e Neodímio (Nd) pertencem ao grupo dos elementos
terras raras (ETR) ou lantanídeos, formando íons com carga +3 e apresentando números atômicos próximos,
62 e 60, e raios iônicos parecidos, 1,04 Å e 1,08 Å, respectivamente. Isto implica em similaridade de
propriedades químicas e tem uma conseqüência geológica importante: ambos os elementos apresentam
mesma mobilidade nos diversos ambientes geológicos. Deste modo, embora suas quantidades originais
possam se modificar com o passar do tempo, suas razões não se alteram. A razão Sm/Nd, na escala de rocha
total, não varia significativamente durante processos crustais, como fusão parcial, eventos metamórficos de
qualquer natureza, diagênese e alterações hidrotermais. A modificação mais significativa da razão Sm/Nd
ocorreu no evento de diferenciação manto-crosta. O Nd é mais leve que o Sm e, portanto, mais incompatível.
Assim um líquido resultante de fusão parcial terá mais Nd que Sm e a razão Sm/Nd será menor que a razão
inicial da fonte. Uma vez alojado na crosta, o magma e seus produtos dificilmente apresentarão modificação
significativa nas razões Sm/Nd, mesmo sendo afetados por metamorfismo, fusões secundárias,
hidrotermalismo e intemperismo (Sato et al. 1995).
O Sm e o Nd, sendo elementos incompatíveis como os demais elementos terras raras, entram facilmente nas
fases minerais mais tardias durante a cristalização de um magma, aumentando durante a seqüência de
cristalização. Eles são encontrados em quase todas as rochas, em geral substituindo os elementos de íons
grandes, ocorrendo principalmente nos clinopiroxênios, anfibólios, granadas, micas e feldspatos, os quais
constituem os minerais mais usados neste método. Rochas derivadas por fusão do manto têm razões Sm/Nd
mais elevadas do que rochas geradas por fusão de material crustal. Baixas razões Sm/Nd indicam padrões de
74
enriquecimento em terras raras leves, enquanto altas razões Sm/Nd indicam padrões de depleção em terras
raras leves em relação aos pesados. Segundo DePaolo (1988), isto é importante porque o estudo dos isótopos
de Nd fornece informação sobre a química de todas os elementos terras raras nos reservatórios dos quais as
rochas são derivadas.
O método Sm/Nd baseia-se no decaimento do isótopo radiogênico
147
Sm para
143
Nd. Segundo DePaolo et al.
(1976), o método Sm/Nd permite obter datações por meio de diagramas isocrônicos em rocha total ou em
minerais, ou ainda por meio de idades modelos. As composições isotópicas nos minerais e nas rochas podem
ser determinadas pelos métodos de diluição isotópica ou espectrometria de massa. O princípio das isócronas
Sm/Nd em rocha total é o mesmo daquele utilizado para o Rb/Sr, ou seja, quando o sistema inicia-se em
T=0, todos os minerais da rocha têm a mesma razão
143
Nd/
144
Nd e diferentes razões
147
Sm/
144
Nd. Com o
passar do tempo geológico, à medida que esta última razão decresce, a primeira aumenta. O significado
geológico das idades isocrônicas Sm/Nd é similar ao significado das idades isocrônicas Rb/Sr, ou seja, a
idade de cristalização de rochas ígneas e metamórficas (Sato et al. 1995).
Diferentes minerais de uma mesma rocha permitem a obtenção de isócronas minerais porque suas razões
Sm/Nd são distintas. E, sendo assim, a idade obtida deve ser interpretada como a época de cristalização da
paragênese mineral datada. No caso de rochas ígneas, a idade será da cristalização magmática e, no caso de
rochas metamórficas, se a paragênese mineral datada for aquela gerada durante o episódio metamórfico, a
idade obtida será relativa a este evento, visto que o Sm e o Nd se redistribuem durante os processos de
recristalização metamórfica. Portanto, é muito importante identificar e analisar minerais com estes isótopos
gerados dentro de um mesmo evento (Sato et al. 1995).
No caso das idades modelos, seus cálculos são feitos conhecendo-se as razões atuais
147
Sm/
144
Nd e
143
Nd/
144
Nd da amostra. Em seguida, calcula-se a reta de regressão até o intercepto com a curva de evolução
isotópica do Nd estabelecida para o manto superior, em função do tempo geológico. A justificativa para a
denominação “idades modelos” é devida a criação de modelos de evolução isotópica do Nd para explicar a
curva de evolução do manto, tendo em vista sua heterogeneidade.
Ao longo da história da Terra, a contínua extração de magmas por fusão parcial do manto superior permitiu a
incorporação de elementos com raios iônicos grandes como o K, Rb, U, Th, Ba e os elementos terras raras na
crosta oceânica. Houve empobrecimento do manto superior nestes elementos, gerando-se um "manto
empobrecido" (DM- depleted mantle), em relação a um manto primordial uniforme, cuja razão Sm/Nd é
igual à dos meteoritos condríticos (CHUR- chondritic uniform reservoir) (DePaolo 1988). Neste modelo
admite-se uma evolução uniforme para a razão
143
Nd/
144
Nd. Através de um parâmetro conhecido por J
Nd
(epsilon neodímio) pode-se ter uma idéia sobre a origem e o tempo de residência crustal do material
estudado, verificando se a razão inicial
143
Nd/
144
Nd é maior ou menor do que o CHUR para determinada
75
rocha em determinado tempo. Caso o material analisado apresente razão Sm/Nd mais alta que o CHUR, com
J
Nd
positivo, poderá ter sido originado do manto depletado. No caso de J
Nd
negativo, infere-se uma origem na
crosta. O tempo de residência crustal será tanto maior quanto mais negativo for J
Nd
. Idades modelos (T
DM
)
podem ser calculadas com base no modelo de evolução acima descrito e interpretadas como o tempo de
residência crustal dos materiais que a compõem.
Com a compreensão das características e do comportamento dos isótopos de Sm e Nd nos processos
geológicos, tanto no manto superior como na crosta continental, a sistemática Sm/Nd é uma importante
ferramenta não só para a datação das rochas, mas também para os estudos de evolução crustal. Neste último
caso, além da determinação dos grandes períodos de acresção continental, permite também a caracterização
de diversos tipos de fontes (manto, crosta inferior e crosta superior) utilizando razões isotópicas de vários
sistemas, dentre eles
143
Nd/
144
Nd,
87
Sr/
86
Sr, bem como gráficos utilizando J
Sr
versus J
Nd
. Este permite
estimar, a partir de seus respectivos epsilons, se a fonte que formou a rocha magmática é enriquecida ou
depletada.
IV.3 - O método Ar/Ar
O argônio (Ar) é um gás nobre e não se combina quimicamente no ambiente natural. Isto significa que a
maioria dos materiais geológicos não contém Ar original quando eles se formam. Ele constitui de 0,1 a 5%
da atmosfera atual da Terra e a pequena quantidade de Ar que pode ser incorporada em uma rocha ou
mineral durante a sua formação vem inteiramente da atmosfera. Além disso, pequenas quantidades de Ar
atmosférico podem ser absorvidas na superfície do mineral durante o intemperismo ou mesmo durante a
amostragem. Em cada caso, o Ar não radiogênico medido pode ser assumido como tendo a mesma razão
40
Ar/
36
Ar da atmosfera, que é igual a 295,5. O Ar pode ser mobilizado para dentro ou para fora da rocha ou
mineral através de alteração e processos termais e ele não pode ser fracionado significativamente na
natureza. Entretanto,
40
Ar é o produto do decaimento do
40
K e, por isso, aumentará em quantidade com o
passar do tempo. A quantidade de
40
Ar produzida em uma rocha ou mineral ao longo do tempo pode ser
determinada subtraindo a quantidade conhecida da que está contida na atmosfera. Isto é feito usando a
constante
40
Ar/
36
Ar do argônio atmosférico (Dallmeyer 1979).
O método
40
Ar/
39
Ar é uma variação do método K-Ar e baseia-se no isótopo
40
K que é radioativo. Por isto,
serão feitas algumas considerações sobre o elemento potássio (K) e o método K/Ar. Do ponto de vista
químico, o K é um metal alcalino. Ele é o oitavo elemento mais abundante na Terra e é comum em muitas
rochas e minerais. A quantidade de K em uma rocha ou mineral é variável e proporcional à quantidade de
sílica presente. Por conseguinte, rochas máficas freqüentemente contêm menos K do que rochas ácidas. O K
76
pode ser mobilizado para dentro ou para fora de uma rocha através de processos de alteração. Devido ao seu
elevado peso atômico, o fracionamento dos diferentes isótopos de K é insignificante. Entretanto, o isótopo
40
K é radioativo e conseqüentemente terá a sua quantidade reduzida ao longo do tempo. São conhecidos três
isótopos de potássio:
39
K = 93,3%;
40
K = 0,01%; e
41
K = 6,70%.
O método de datação Ar/Ar assim como o K/Ar vem sendo aplicado com sucesso para muitos problemas
fundamentais das Ciências da Terra, dentre eles a calibração da escala do tempo da polaridade geomagnética,
calibração da escala do tempo paleontológico, calibração da evolução do homem, e numerosos estudos
tectônicos. Os primeiros resultados de datação Ar/Ar sobre materiais geológicos foram apresentados no
trabalho pioneiro de Merrihue & Turner (1966). Posteriormente, desenvolvimentos adicionais desta
metodologia efetuados por Mitchell (1968), Brereton (1970) e Turner (1971) avaliaram a interferência dos
isótopos de Ar derivadas do K e do Ca (
36
ArCa,
39
ArCa, e
40
ArK) e determinaram os respectivos fatores de
correção [isto é, (
36
Ar/
37
Ar)Ca, (
39
Ar/
37
Ar)Ca, e (
40
Ar/
39
Ar)K] (Turrin 2003).
A teoria e as técnicas utilizadas no método Ar/Ar são geralmente similares àquelas do método K/Ar. A
principal diferença está no fato de que na geocronologia Ar/Ar nenhuma análise química direta do K é
requerida. Ele é medido como uma função do
39
Ar que é produzido do
39
K por ativação neutrônica. Daí, para
a determinação da idade, é necessário somente a determinação da razão do
40
Ar radiogênico para produzir o
39
Ar. Para obter a idade, utiliza- se a expressão:
40
Ar/
39
Ar = (e
Ȝt
- 1)/J
onde J é o fator de correção incorporando a razão isotópica do K, a meia-vida de formação do
39
Ar e o fluxo
de nêutrons durante a irradiação. Este método é ideal para datar pequenas amostras tais como monocristais
de minerais. Além disso, ele não requer a determinação das concentrações absolutas de K e Ar para calcular
uma idade aparente. Entretanto, a principal vantagem do método Ar/Ar sobre o K/Ar é a habilidade das
amostras serem aquecidas gradualmente, em temperaturas cada vez mais altas, até que a amostra seja fundida
e as idades calculadas em cada etapa (Dallmeyer 1979).
Um cristal pode conter Ar de várias fontes. Além do
40
Ar derivado do
40
K, ele tanto pode entrar como sair
pela rede cristalina ao longo de microfraturas que estão presentes praticamente em todos os cristais. Este
argônio que penetra um cristal, pode ter uma composição isotópica atmosférica ou pode conter
40
Ar
radiogênico se o cristal for embebido em uma solução rica em potássio, tal como um fluido hidrotermal.
Para detectar e avaliar este fenômeno foi desenvolvida uma técnica na qual o Ar adicional pode ser removido
pelo aquecimento gradual do grão. Esta técnica, que vem sendo muito utilizada atualmente para a obtenção
de dados isotópicos Ar/Ar, é denominada de aquecimento gradual ou aquecimento por etapas (step heating) e
consiste na remoção do Ar adicional por um aquecimento gradual do grão. A descrição detalhada desta
técnica encontra-se em Ruffet et al. (1991). Ela permite analisar possíveis problemas de perda de argônio e
um possível problema desta técnica é a necessidade de calibração por uma amostra de "idade conhecida". Por
77
esta técnica, a amostra é aquecida em etapas de aumento de temperatura de extração de laboratório
crescentes, até que todo o argônio seja liberado. O argônio liberado em cada etapa é medido para calcular a
“idade da etapa” (step age) com um erro analítico associado. No final da série de experimentos, as idades
das etapas (± 1 ı de erro) são plotadas contra a quantidade cumulativa de
39
Ar liberado (%
39
Ar). A figura
resultante é chamada de espectro de idade. Esta proposição é projetada para verificar o gás liberado dos
locais de aumento da retentividade do argônio. Quando um número razoável de etapas consecutivas,
carregando uma quantidade substancial do Ar total liberado, dá a mesma idade, o valor médio resultante tem
um significado geológico. Para rochas ígneas não metamorfisadas, o último normalmente representaria a
idade de cristalização.
IV.4 - Dados isotópicos e geocronológicos anteriores
Os dados geocronológicos e isotópicos dos maciços gabro-anortosíticos do Sul da Bahia são muito escassos
devido, principalmente, à monotonia mineral apresentada por estas rochas e pela ausência/escassez de
minerais que forneçam idades de cristalização confiáveis, tais como zircão e monazita. Os dados
geocronológicos e isotópicos destes maciços existentes até o momento serão fornecidos a seguir.
Para o Maciço do Rio Piau, foram feitas tentativas de datação pelos métodos Rb/Sr e Sm/Nd em rocha total,
dentro do contexto da tese de doutorado de Cruz (1989). O método Rb/Sr não permitiu definir uma isócrona.
Quanto ao método Sm/Nd, este definiu uma isócrona a 2,92±0,40 Ga, com uma razão inicial de
143
Nd/
144
Nd
de 0,508770±0,00045 (Vignol 1987). Posteriormente, estes dados foram contestados por Cruz & Sabaté
(1995), com base em estudos estruturais deste maciço e dos seus contextos regionais. Estes mesmos autores
relacionaram o processo intrusivo destas rochas ao ciclo Transamazônico (~ 2,0 Ga), pelo menos para as
intrusões de afinidade química toleiítica.
Para o Maciço de Potiraguá, foram obtidos dados isotópicos Sm/Nd em rocha total de duas amostras de
rochas anortosíticas e de uma amostra de um dique de diabásio (Bordini et al. 2001b). As razões
143
Nd/
144
Nd
medidas produziram valores de İ
Nd
(0) variando de -9,0 (anortosito) a -7,2 (dolerito), e idades T
DM
de 1,36 Ga
e 1,22 Ga, respectivamente (Tabela IV.1). Para as rochas alcalinas em contato com as rochas anortosíticas do
Maciço de Potiraguá, Corrêa Gomes (2000) obteve idades T
DM
entre 1,35 e 1,37 Ga e İ
Nd
(0) que variaram de
-3,14 a -12,37 (Tab. IV.2).
78
Tabela IV.1 - Razões isotópicas, idades modelos T
DM
e valores de epsilon Nd atual e no tempo de
cristalização, das rochas anortosíticas e diques de Potiraguá (Bordini et al. 2001b).
Amostra Tipo Sm (ppm) Nd (ppm)
147
Sm/
144
Nd
143
Nd/
144
Nd T
DM
(Ma)
H
Nd
(0) H
Nd
(732)
POT-01 Anortosito 88,62 44,92 0,1166 0,512173 1.359 -9,07 -1,53
POT-02 Anortosito 77,86 41,31 0,1166 0,512164 1.364 -9,25 -1,65
POT-03 Dique 66,87 35,67 0,1170 0,512270 1.224 -7,18 0,32
Tabela IV.2 - Idades modelos T
DM
e valores de epsilon Nd T
DM
, no tempo de cristalização e atual, das
rochas alcalinas em contato com as rochas anortosíticas de Potiraguá (Corrêa Gomes 2000). Os dados dos
sienitos foram obtidos em Bordini
(
2003
)
.
Amostra Tipo T
DM
(Ma)
H
Nd
(T
DM
) H
Nd
(0,7) H
Nd
(0)
ZCI-25 Sienito 1.352 - -2,99 -12,37
ZCI-064 Sienito 1.371 - 1,13 -3,14
ZCI-I-2.4 Dique máfico alcalino 986 5,79 2,74 -6,91
ZCI-I-3.1 Dique máfico alcalino 934 5,92 3,28 -4,70
ZCI-I-6.6 Dique félsico alcalino 1.026 5,69 1,99 -8,00
ZCI-I-6.4 Dique félsico alcalino 1.157 5,36 0,54 -8,29
ZCI-I-023 Dique ilmenita-sienítico 1.414 4,76 -2,19 -9,97
ZCI-I-7.1 Dique félsico alcalino 1.115 5,46 0,46 -9,73
Bordini (2003) comparou as razões isotópicas e idades T
DM
das rochas anortosíticas e alcalinas de Potiraguá
e inferiu que estas rochas foram extraídas contemporaneamente de uma fonte com as mesmas características
isotópicas. Como as relações de campo, as razões isotópicas e os dados geoquímicos apontam para uma
origem comum das rochas anortosíticas, diques de diabásio e rochas sieníticas, este autor sugeriu uma idade
de cristalização de 732 Ma para as rochas anortosíticas de Potiraguá. Quanto aos valores negativos de İ
Nd
,
Bordini interpretou de três maneiras diferentes: (i) rochas derivadas de fusão parcial da crosta; (ii) rochas
contaminadas por material crustal mais antigo; e (iii) rochas originadas de uma fonte mantélica enriquecida.
Entretanto, quando os valores de İ
Nd
foram calculados para o tempo de cristalização das rochas anortosíticas
de Potiraguá (732 Ma), os valores são próximos de zero ou levemente negativos (Tab. IV.1). Isto sugere que
estas rochas podem ter sido originadas no manto e que suas composições não foram extensivamente
modificadas por fenômenos de contaminação crustal (Bordini 2003).
Quanto aos maciços de Rio Piau e Samaritana/Carapussê, Bordini (2003) associa as características
geoquímicas dos maciços anortosíticos transamazônicos com a idade T
DM
inferida de 2,2 Ga, e assinala que
elas são consistentes com uma origem e evolução a partir de um magma parental mantélico, de natureza
toleiítica, pré-datando e acompanhando o Ciclo Orogênico Paleoproterozóico. Para estes maciços foi
proposto um cenário tectônico colisional com a produção de maciços anortosíticos, intrusões e diques
máficos-ultramáficos, metamorfismo de fácies granulito e geração de granitóides.
79
IV.5 - Dados isotópicos obtidos pelo método Sm/Nd
IV.5.1 - Seleção das amostras e metodologia
Para a obtenção de dados isotópicos dos maciços gabro-anortosíticos do Sul da Bahia, através do método
Sm/Nd em rocha total, foram selecionadas 10 amostras de rochas anortosíticas, sendo 3 do Maciço do Rio
Piau, 5 de Samaritana/Carapussê e 2 de Potiraguá. As amostras escolhidas foram as que apresentaram as
maiores variações nas razões Sm/Nd em cada maciço, com base nas análises químicas em rocha total
efetuadas por Cruz (1989), Jesus (1997)/Macêdo (2000) e Bordini (2003), respectivamente. Durante a
primeira campanha de campo, procedeu-se a coleta das amostras selecionadas nos mesmos pontos dos
autores acima citados. As localizações das amostras analisadas encontram-se nas figuras III.3 para o Maciço
do Rio Piau e III.8 para o Maciço de Samaritana/Carapussê. A correspondência entre os números das
amostras dos autores acima citados e as desta pesquisa, bem como as coordenadas em UTM, encontram-se
na tabela IV.3.
Tabela IV.3 - Coordenadas em UTM e referencial geográfico das amostras das rochas anortosíticas dos
maciços de Rio Piau, Samaritana/Carapussê e Potiraguá analisadas pelo método Sm/Nd em rocha total.
Nº de
campo
anterior
Nº de
campo
atual
Rocha Maciço Latitude Longitude Referência geográfica
CM-26
Anortosito
Rio Piau
8508681 440792
Faz. Santa Bárbara (FSB)
CM-29 Gabro fino Rio Piau
8508951 441071
FSB - borda resfriada
CM-32 Gabronorito
Rio Piau 8509213 441443
Faz. Bom Jesus
CAM-128 Anortosito
Samaritana/Carapussê 8483065 43
G-2937 Anortosito
Samaritana/Carapussê 8483065 43
ML-28B CM-18 Anortosito Samaritana/Carapussê
8483071 430152
Curva do Riacho Seco
CM-21 Gabro fino Samaritana/Carapussê
8483007 430168
Contato gabro/anortosito
ML-34B CM-23 Anortosito Samaritana/Carapussê
8482169 431512
Faz. Samaritana-drenagem
RMB-2A Anortosito Potiraguá
8293935 429283
RMB-12
A.troctolítico
Potiraguá
8293935 429283
Para as análises isotópicas Sm/Nd em rocha total, foram enviadas pequenos pedaços das amostras para o
Centro de Pesquisas Geocronológicas do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo - CPGeo-
USP, que foram analisadas no espectrômetro de massa VG 354 Micromass automatizado com multicoletores.
Os procedimentos analíticos foram executados pela equipe do CPGeo-USP sob a coordenação do Prof. Dr.
Colombo César Gaeta Tassinari e a descrição completa destes procedimentos encontra-se em Sato et al.
(1995).
80
IV.5.2 - Resultados obtidos
As amostras analisadas pela sistemática Sm/Nd apresentaram as seguintes variações nas razões
147
Sm/
144
Nd:
de 0,1570 a 0,2185 para Rio Piau; de 0,1344 a 0,1842 para Samaritana/Carapussê; e de 0,1176 a 0,1187 para
Potiraguá. Quanto às razões
143
Nd/
144
Nd, os valores encontrados variaram da seguinte forma: de 0,511595 a
0,512158 para Rio Piau; de 0,511272 a 0,512073 para Samaritana/Carapussê; e de 0,512183 a 0,512185 para
Potiraguá (Tab. IV.4).
Tabela IV.4 - Dados Sm/Nd em rocha total das rochas anortosíticas dos maciços de Rio Piau,
Samaritana/Carapussê e Potiraguá.
Nº de campo Maciço Sm (ppm) Nd (ppm)
147
Sm/
144
Nd Erro
143
Nd/
144
Nd Erro
CM-26 Rio Piau 2,833 10,914 0,1570 0,0005 0,511619 0,000011
CM-29 Rio Piau 4,703 16,473 0,1726 0,0006 0,512158 0,000010
CM-32 Rio Piau 1,446 4,002 0,2185 0,0008 0,511595 0,000011
CAM-128 Carapussê 1,394 6,273 0,1344 0,0005 0,511329 0,000014
G-2937 Carapussê 1,501 6,635 0,1368 0,0005 0,511334 0,000012
CM-18 Samaritana 2,327 9,018 0,1561 0,0005 0,511702 0,000011
CM-21 Samaritana 0,797 2,616 0,1842 0,0007 0,512073 0,000013
CM-23 Samaritana 3,182 13,924 0,1382 0,0005 0,511272 0,000011
RMB-2A Potiraguá 3,617 18,422 0,1187 0,0004 0,512183 0,000010
RMB-12 Potiraguá 6,535 33,614 0,1176 0,0004 0,512185 0,000010
As idades modelos T
DM
calculadas para os maciços em estudo encontram-se na tabela IV.5. Elas resultaram
em dois conjuntos distintos de dados: um com idades modelos entre 3.366,7 e 4.016,4 Ma e outro com idades
modelos entre 1.359,0 e 1.378,8 Ma. Este primeiro conjunto refere-se aos maciços de Rio Piau e
Samaritana/Carapussê, os quais apresentaram idades modelos arqueanas. Quanto ao Maciço de Potiraguá,
este apresentou idades modelos mesoproterozóicas.
Nº Cam
p
o Maciço T
DM
(
Ma
)
J
Nd (TDM)
CM-26 Rio Piau 4016,4 0,48
CM-29 Rio Piau 3427,1 1,15
CM-32 Rio Piau - -
CAM-128 Carapussê 3366,7 1,22
G-2937 Carapussê 3468,8 1,09
CM-18 Samaritana 3683,8 0,83
CM-21 Samaritana - -
CM-23 Samaritana 3683,2 0,83
RBM-2A Potiraguá 1378,8 4,83
RBM-12 Potiraguá 1359,0 4,88
Tabela IV.5 - Idades modelos T
DM
(Ma) e dados de J
Nd(TDM)
para os maciços de Rio Piau,
Samaritana/Carapussê e Potiraguá.
81
Os J
Nd
obtidos na idade modelo (T
DM
) foram todos positivos e variaram de 0,48 a 1,22 para os maciços do
primeiro conjunto e de 4,83 a 4,88 para o Maciço de Potiraguá. Estas idades modelos podem ser
interpretadas como o tempo de extração do magma do manto. Os valores positivos de J
Nd
na idade T
DM
para
todos os maciços sugerem que os magmas que geraram estas rochas não estavam contaminados por material
crustal na época da sua extração.
Devido a ausência de idades de cristalização para os maciços do primeiro conjunto, foram feitas simulações
para os cálculos dos
J
Nd
em diversas idades com base no contexto geológico desta região Sul do Estado da
Bahia.
Tabela IV.6 - Dados de epsilon Nd (J
Nd
) em diversos períodos de tempo para os maciços de Rio
Piau, Samaritana/Carapussê e Potiraguá: J
Nd(0)
= hoje; J
Nd(TDM)
= na extração do magma do manto;
J
Nd(T1)
= a 2,6 Ga; J
Nd(T2)
= a 2,0 Ga; e J
Nd(T3)
= a 1900,0 Ma para Rio Piau e Samaritana/Carapussê
e a 730,0 Ma para Potiraguá.
Nº Campo Maciço T
1
(Ga)
J
Nd (T1)
T
2
(Ga)
J
Nd (T2)
T
3
(Ga)
J
Nd (T3)
J
Nd (0)
CM-26 Rio Piau 2,6 -6,70 2,0 -9,75 1,9 -10,25 -19,88
CM-29 Rio Piau 2,6 -1,39 2,0 -3,23 1,9 -3,54 -9,37
CM-32 Rio Piau 2,6 -27,57 2,0 -25,90 1,9 -25,62 -20,34
CAM-128 Carapussê 2,6 -4,87 2,0 -9,64 1,9 -10,43 -25,53
G-2937 Carapussê 2,6 -5,55 2,0 -10,14 1,9 -10,90 -25,43
CM-18 Samaritana 2,6 -4,79 2,0 -7,90 1,9 -8,41 -18,27
CM-21 Samaritana 2,6 -6,87 2,0 -7,83 1,9 -7,99 -11,02
CM-23 Samaritana 2,6 -7,25 2,0 -11,73 1,9 -12,47 -26,65
RBM-2A Potiraguá - - - - 0,73 -1,62 -8,88
RBM-12 Potiraguá - - - - 0,73 -1,47 -8,84
IV.6 - Dados isotópicos obtidos pelo método Ar/Ar
IV.6.1 - Seleção das amostras e metodologia
Para a obtenção de dados geocronológicos pelo método Ar/Ar nos maciços gabro-anortosíticos do Sul da
Bahia foram escolhidos os maciços do Rio Piau e de Samaritana/Carapussê. O Maciço do Rio Piau foi
datado através de cristais de anfibólio de composição pargasítica da amostra CM29, cuja localização
encontra-se na figura III.3 e análises químicas nas tabelas III.4a e III.4b. O Maciço de Samaritana/Carapussê
foi datado através de cristais de biotita rica em Ti e de composição siderofilítica da amostra CM08, cuja
localização encontra-se na figura III.8. A escolha destes minerais e das amostras baseou-se em critérios
texturais provenientes das observações petrográficas efetuadas no decorrer desta pesquisa, durante o
82
Doutorado-Sanduíche na Université de Montpellier II. Os anfibólios apresentavam-se euédricos a subédricos,
de coloração castanha, com aspecto magmático, e estavam concentrados, preferencialmente, em uma camada
rica neste mineral (Pranchas III.1a, III.1b, III.3c, III.3e, III.3f). As biotitas apresentavam-se na forma de
palhetas de coloração castanha e com tamanhos homogêneos (Pranchas V.10a, V.10b, V.10d). As amostras
selecionadas foram cortadas e britadas nas dependências do Laboratório de Tectonofísica daquela
Universidade. Vale ressaltar que, da amostra CM29, foi utilizada apenas a camada rica em anfibólio. Os
concentrados obtidos das amostras ficaram sob a responsabilidade do Prof. Dr. Renaud Caby, que se
encarregou de enviá-los a Université de Nice Sophia-Antipolis, em Nice, França, para posterior irradiação e
obtenção dos dados.
Os monocristais de anfibólio e biotita que seriam usados nos experimentos foram retirados da fração de 0,25
a 0,8 mm dos concentrados das amostras, através de uma seleção manual feita sob um microscópio
binocular. Os monocristais selecionados foram envolvidos em uma folha metálica de Al formando pequenos
pacotes (11 x 11 mm) que foram empilhados dentro da qual pacotes de monitores de fluxo foram inseridos a
cada 10 amostras (Corsini et al. 2004). Para a hornblenda, a amostra padrão utilizada como monitor de fluxo
foi a Hb 3gr, cuja idade é de 1072 Ma (Roddick 1983).
As amostras foram irradiadas no reator nuclear da McMaster University em Hamilton, Canadá. Os dados
isotópicos Ar/Ar foram obtidos pela utilização do procedimento de aquecimento por etapas que aquece a
amostra em etapas por períodos fixos de tempo (geralmente 1 hora). Este procedimento foi efetuado em uma
sonda iônica a laser com argônio contínuo Coherent Innova 70-4, em linha com um espectrômetro de massa
VG 3600, que trabalha com um sistema detector Daly. Com uma precisão analítica estimada (± ı), os dados
são corrigidos para os brancos da extração e purificação do sistema laser, para as interferências das reações
de nêutrons com Ca e K, discriminação de massa e contaminação do argônio atmosférico. Cada aquecimento
a laser durava 3 minutos, sendo 1 minuto para o aquecimento e 2 minutos para a limpeza do gás liberado,
antes da introdução do gás no espectrômetro de massa. O tamanho do feixe do laser era pelo menos duas
vezes maior do que o tamanho da amostra com o objetivo de obter uma temperatura homogênea sobre todo o
grão. A temperatura não era conhecida mas sua homogeneidade foi controlada pela observação do mineral
aquecido com um microscópio binocular acoplado com uma câmera de vídeo. A fusão do mineral foi
acompanhada através do foco do ponto do laser.
O aquecimento de um mineral aumenta as taxas de difusão. Para o Ar, as taxas de difusão são muito rápidas
para que se possa analisar a composição isotópica do Ar liberado das bordas do cristal durante o aquecimento
e a temperaturas relativamente baixas. À medida que a temperatura aumenta, vai sendo liberado o Ar que
está mais perto do centro do cristal, até o seu esgotamento total. As mudanças nas razões isotópicas, e por
conseguinte as “idades”, podem ser medidas como uma função da fração do Ar total liberado.
83
IV.6.2 - Resultados obtidos
Os dados analíticos Ar/Ar obtidos no decorrer desta tese para o Maciço do Rio Piau encontram-se na tabela
IV.7 e eles estão representados no diagrama denominado de espectro de idade ou idade platô na figura IV.1.
Tabela IV.7 - Dados analíticos Ar/Ar do anfibólio da amostra CM29 do Maciço do Rio Piau.
Degrau nº
40
Ar atm (%)
39
Ar(%)
37
Ar/
39
Ar
40
Ar*/
39
Ar Idade (Ma) Erro (Ma)
1
4,715 0,02 15,610 3221,119 7293,336 ± 303,501
2
0,000 0,01 8,984 646,032 4516,827 ± 555,879
3
1,697 0,04 8,799 520,631 4162,687 ± 137,265
4
1,499 1,12 5,884 448,018 3920,567 ± 10,490
5
0,701 3,55 5,484 129,478 2126,498 ± 6,299
6
0,321 8,77 5,524 119,171 2024,222 ± 3,497
7
0,212 11,05 5,549 119,419 2026,757 ± 3,470
8
0,135 12,78 5,568 118,308 2015,394 ± 3,264
9
0,061 15,29 5,574 118,485 2017,207 ± 2,903
10
0,233 15,28 5,609 120,006 2032,731 ± 2,801
11
0,205 14,84 5,570 118,678 2019,185 ± 3,255
12
0,241 5,44 5,550 117,978 2011,996 ± 4,364
13
0,000 0,24 5,732 120,421 2036,943 ± 41,445
14
0,000 0,12 6,103 123,703 2069,904 ± 82,536
Fusão
0,009 11,44 6,139 120,092 2033,6 ± 3,134
Idade integrada
2023 ± 4
Parâmetros Erro
(
40
Ar*/
39
Ar)Mon 46,72 0,2
Idade Mon 1072 0,01
(
36
Ar/
37
Ar)Ca 0,000279 3
(
39
Ar/
37
Ar)Ca 0,0007 4
(
40
Ar/
39
Ar)K 0,029 3
40
Ar/
36
Ar at
m
288 1
J 0,017371543
As análises nos cristais de anfibólio do Maciço do Rio Piau definiram uma idade platô de 2023±4 Ma
(Corsini et al. 2004) (Fig. IV.1). O espectro de idade determinado por aquecimento em etapas para este
mineral é relativamente plano, foi obtido com 14 etapas de aquecimento e está pouco perturbado. A idade
platô obtida com 88,56% do Ar liberado é considerada como uma boa idade e sugere que ela é confiável
(Wang & Lu 2000). A razão inicial
40
Ar/
36
Ar para esta amostra foi de 288 e é consistente o valor de 295,5 da
atmosfera moderna.
Como esta amostra encontra-se na borda deste maciço, a idade anormalmente alta para a primeira porção de
Ar liberado pode refletir os níveis mais altos de potássio das rochas granulíticas encaixantes, o que permitiu
uma difusão do Ar liberado das rochas granulíticas para as bordas do anfibólio. A idade platô concordante
84
mostrada pelo espectro de idade pouco perturbado, provavelmente indica um evento tectonotermal que deve
representar a colisão Paleoproterozóica que ocorreu nesta região do Sul da Bahia.
Figura IV.1 - Diagrama Ar/Ar com um platô em 2023 ± 4 Ma para o anfibólio da amostr
a
CM29 do Maciço do Rio Piau.
Para o Maciço de Samaritana/Carapussê, os dados analíticos Ar/Ar obtidos nesta tese encontram-se na tabela
IV.8 e eles estão representados no diagrama de espectro de idade na figura IV.2.
Figura IV.2- Diagrama Ar/Ar com um platô em 1957 ± 4 Ma para a biotita da amostra CM08
do Maciço de Samaritana/Carapussê.
85
Tabela IV.8 - Dados analíticos Ar/Ar da biotita da amostra CM08 do Maciço de Samaritana/Carapussê.
Degrau n
º
40
Ar atm (%)
39
Ar(%)
37
Ar/
39
Ar
40
Ar
*
/
39
Ar
Idade (Ma)
Erro (Ma)
1
11,792 0,50 0,263 25,010 650,902 ± 17,624
2
10,405 0,90 0,048 90,113 1699,651 ± 9,284
3
2,098 1,14 0,080 106,905 1893,931 ± 7,943
4
1,622 0,44 0,000 110,983 1938,126 ± 17,044
5
1,222 0,47 0,058 112,260 1951,736 ± 9,859
6
0,685 1,08 0,055 113,576 1965,670 ± 6,191
7
0,178 1,96 0,026 113,854 1968,593 ± 5,062
8
0,026 3,71 0,010 114,824 1978,769 ± 4,058
9
0,106 5,29 0,014 114,079 1970,962 ± 2,843
10
0,363 4,31 0,010 113,748 1967,476 ± 4,043
11
0,336 3,97 0,011 113,674 1966,697 ± 2,932
12
0,202 5,92 0,016 114,010 1970,232 ± 3,240
13
0,233 6,48 0,027 113,844 1968,493 ± 3,019
14
0,157 5,81 0,024 113,286 1962,606 ± 2,837
15
0,232 6,54 0,022 112,792 1957,386 ± 3,756
16
0,028 4,45 0,000 112,934 1958,884 ± 3,093
17
0,000 2,50 0,000 112,373 1952,939 ± 3,913
18
0,000 3,83 0,000 112,314 1952,309 ± 3,908
19
0,152 12,15 0,007 112,329 1952,468 ± 3,064
20
0,017 6,25 0,005 113,731 1967,299 ± 4,056
21
0,045 3,46 0,012 113,516 1965,028 ± 4,270
22
0,130 2,15 0,014 114,086 1971,033 ± 4,941
23
0,056 2,68 0,008 113,471 1964,557 ± 4,231
24
0,077 4,59 0,011 113,956 1969,664 ± 3,757
Fusão
0,031 9,43 0,011 114,122 1971,416 ± 3,471
Idade integrada
1957 ± 4,00
Parâmetros Erro
(
40
Ar*/
39
Ar)Mon 46,72 0,2
Idade Mon 1072 0,01
(
36
Ar/
37
Ar)Ca 0,000279 3
(
39
Ar/
37
Ar)Ca 0,0007 4
(
40
Ar/
39
Ar)K 0,029 3
40
Ar/
36
Ar at
m
288 1
J 0,017371543
As análises efetuadas nos cristais de biotita do Maciço de Samaritana/Carapussê definiram uma idade platô
de 1957±4 Ma (Corsini et al. 2004) (Fig. IV.2).O espectro de idade determinado por aquecimento em etapas
para este mineral é relativamente plano, foi obtido com 24 etapas de aquecimento e está pouco perturbado. A
idade platô obtida com 90,57% do Ar liberado é considerada como uma boa idade e sugere que ela é
confiável (Wang & Lu 2000). A razão inicial
40
Ar/
36
Ar para esta amostra foi de 288 e é consistente o valor de
295,5 da atmosfera moderna.
86
O Ar liberado durante as primeiras etapas de aquecimento forneceu idades um pouco mais baixas do que as
demais, sugerindo que o Ar das bordas dos grãos continham um determinado percentual de Ar atmosférico,
que poderia ser o resultado da difusão deste gás tanto entrando como saindo da biotita. A idade platô
concordante mostrada pelo espectro de idade pouco perturbado para a biotita do Maciço de
Samaritana/Carapussê provavelmente indica um evento tectonotermal, que no caso deste maciço estaria
relacionado à deformação dúctil e a milonitização associadas com o movimento ao longo de uma zona de
cisalhamento dúctil no limite NW deste maciço, relacionada à colisão Paleoproterozóica que ocorreu nesta
região.
CAPÍTULO V
Deformação
V.1 - Introdução
Os objetivos fundamentais da análise estrutural são estabelecer a geometria, a cinemática e a dinâmica que as
rochas sofreram durante os eventos tectônicos. Através da geometria, são revelados os padrões das estruturas
das rochas, que incluem aspectos como contatos litológicos, fraturas, falhas, dobras e orientações
preferenciais de minerais. Pela cinemática, são determinados os movimentos que, integrados sobre grandes
áreas, formam as bases para inferir movimentos tectônicos antigos. Apesar dos primeiros trabalhos teóricos
ou experimentais remontarem ao século XIX, o desenvolvimento da cinemática é muito recente. Em nível de
conceitos, ela teve como base os progressos efetuados pelas Ciências dos Materiais depois da 2ª Guerra
Mundial. Entretanto, seu avanço ocorreu verdadeiramente nos anos 60, com trabalhos experimentais sobre os
minerais das rochas (Nicolas 1989). Quanto à análise dinâmica, esta permite o entendimento da formação das
estruturas em pequena escala, dos movimentos das placas tectônicas em grande escala, e também como eles
estão conectados. Além disso, busca entender as forças que foram aplicadas, como elas foram aplicadas e
como as rochas reagiram a estas forças. Para o entendimento da deformação tanto em pequena escala como
em escala global, os geocientistas utilizam modelos geométricos, cinemáticos e dinâmicos para tentar
reproduzir os processos deformacionais que as rochas sofrem nas suas condições naturais.
A investigação microestrutural dos processos de deformação é uma ferramenta importante em análises
estruturais. A observação detalhada de produtos deformados natural e experimentalmente, associada a um
mapeamento de campo e a um modelamento teórico dos processos de deformação, tem levado ao
reconhecimento de microestruturas características de diferentes mecanismos de deformação que operam
durante os eventos tectônicos (Schmid 1982, Borradaile et al.1983, Zwart et al. 1987). Além disso, eles são
utilizados para identificar os mecanismos individuais que operam em minerais específicos e nos diferentes
tipos de rochas. Esses mecanismos variam em função das condições de pressão e temperatura e também do
ambiente químico (oxidação ou hidratação) nos quais ocorre a deformação. As microestruturas e texturas
também dependem do nível de esforço. Sua análise é fundamental para a interpretação da dinâmica e dos
movimentos em zonas de falhas assim como para o estudo das interações entre deformação e metamorfismo.
O objetivo fundamental do presente capítulo é analisar, na escala microscópica, os mecanismos de
deformação que estiveram ativos nos maciços gabro-anortosíticos de Rio Piau, Samaritana/Carapussê e
Potiraguá. Inicialmente, será feita uma abordagem teórica dos mecanismos de deformação, enfocando como
cada mecanismo opera, como ele é reconhecido, que informações podem ser extraídas das microestruturas
88
preservadas e quais aspectos permanecem um problema para estudos futuros. Em seguida, serão
apresentados os mecanismos de deformação do plagioclásio e dos piroxênios, que são os principais
constituintes das rochas em estudo. Por fim, serão apresentadas e interpretadas as microestruturas
encontradas nestes maciços.
A teoria dos mecanismos e processos de deformação utilizada em
Geologia Estrutural é, em grande parte, baseada nas Ciências dos
Materiais e na Metalurgia. Os termos utilizados nestes processos são
bem específicos e mais difundidos em inglês, tornando a sua tradução
para o português uma tarefa não muito fácil. Observa-se que não
existe uma homogeneidade na tradução dos termos do inglês para o
português, mesmo nos trabalhos das Ciências dos Materiais e da
Metalurgia,. Como exemplos, pode-se citar os termos
dislocation
, que
é traduzido como discordância e deslocação,
recovery
, traduzido
como restauração e recuperação, e muitos outros mais. Se esta falta
de homogeneidade já existe entre os próprios engenheiros e
metalurgistas, a situação se complica um pouco mais quando se vai
para os estruturalistas. Diante do exposto, optamos por traduzir
para o português somente aqueles termos que são de um consenso
mais geral ou cuja tradução não deixa dúvidas quanto ao seu sentido.
Para os termos em que a tradução se tornava sem sentido ou era por
demais complicada, optamos por deixá-los em inglês. A explicação de
cada um dos termos específicos deste assunto utilizados neste
trabalho, seja ele traduzido para o português ou em língua inglesa,
estão no glossário que se encontra no final deste volume.
89
V.2 - Os diferentes comportamentos reológicos
V.2.1 - Esforço (stress) e deformação (strain)
As deformações sofridas pelos materiais de uma forma geral, incluindo aqui os objetos geológicos, são as
respostas dos materiais a esforços ou tensões. O esforço (V) é definido como força por unidade de área, ou
seja,
V = F / A,
onde:
V = esforço (Pa = N/m
2
)
F = força aplicada (N)
A = área do plano (m
2
)
A deformação (H) é definida como o efeito do esforço em um material e é expressa como uma variação do
comprimento original, ou seja,
H = ǻ L / L
0
onde:
H = deformação (%)
ǻ L = (L - L
0
) = variação de comprimento (m)
L
0
= comprimento inicial
L = comprimento final
Uma das características mais importantes dos materiais é a sua capacidade em resistir ou transmitir esforços.
A resposta dos materiais aos esforços está intimamente relacionada à sua capacidade de se deformar
elasticamente ou plasticamente. Ao ser submetido a esforços, o material que exibe comportamento elástico
apresenta deformação não permanente, retornando à sua forma original quando o esforço é removido.
Quando submetido a esforços que ultrapassam o limite elástico, o material exibe um comportamento plástico
ou dúctil e não retorna às suas dimensões originais depois de cessado o esforço (Fig. V.1). Na escala
atômica, a deformação plástica é observada principalmente quando planos cristalográficos são deslizados uns
sobre os outros de forma que, ao se removerem os esforços mecânicos, o material não exibe mais suas
dimensões originais.
90
Figura V.1 - Curvas de esforço-deformação.
V.2.2 - Reologia da litosfera continental
Todos os processos tectônicos que ocorrem no interior da Terra envolvem o movimento de material sólido
ou fundido. A convecção no manto e os movimentos das placas tectônicas ocorrem por deformações, sejam
elas plásticas, rúpteis, ou no estado sólido, de rochas e minerais que formam o manto e as litosferas oceânica
e continental. Muito do conhecimento sobre a deformação das rochas vem de observações qualitativas
efetuadas por geólogos estruturalistas. Entretanto, estimativas quantitativas de resistência das rochas e
parâmetros de deformação são baseadas em experimentos da mecânica das rochas e observações geofísicas,
sendo que estas últimas, através da sísmica, permitem também a análise da deformação nas camadas
profundas da Terra.
As principais divisões mecânicas da Terra são baseadas na estimativa da resistência das rochas em função da
profundidade. Assim, existe uma crosta superior, na qual a deformação rúptil é dominante, e uma crosta
inferior, na qual o escoamento plástico é dominante. Na crosta superior, a resistência das rochas aumenta
com a profundidade e a pressão confinante, tornando difícil a abertura de novas fraturas ou o deslizamento
ao longo de fraturas antigas. Já na crosta inferior, a resistência das rochas diminui com a profundidade e o
aumento da temperatura, devido a processos termalmente ativados que aceleram os processos plásticos
(Mainprice & Nicolas 1989).
O comportamento mecânico e os processos de escoamento (flow) das rochas da litosfera continental
dependem fundamentalmente do ambiente físico-químico, que envolve composição das rochas, temperatura,
91
pressão, taxa de deformação, esforço e conteúdo de fluidos. A análise do comportamento mecânico da
litosfera continental é um problema complexo por causa da grande variedade de estruturas, ambientes e
litologias nas diferentes províncias tectônicas, todas pouco compreendidas em profundidade, e devido
também ao pouco entendimento da reologia (relação esforço-deformação), até mesmo das rochas crustais
mais comuns. O bloco diagrama da figura V.2 ilustra uma seção imaginada através da crosta continental,
juntamente com a pressão litostática representativa, temperatura, grau metamórfico e mecanismos de
deformação dominantes (Carter & Tsenn 1987).
Figura V.2 - Bloco diagrama mostrando uma estrutura idealizada da crosta continental, juntamente
com pressão litostática (26 MPa/km), temperatura (25°C/km), grau metamórfico e mecanismos de
deforma
ç
ão dominantes
(
Carter & Tsenn 1987
)
.
A composição das rochas varia principalmente em função da profundidade. Em níveis crustais superficiais,
uma camada de sedimentos diagenéticos e de fácies metamórfica de baixo grau (zeólita-pumpeleíta) progride
para assembléias da fácies xisto-verde, à medida que se aprofunda na crosta. Materiais de composição
intermediária a ácida da fácies anfibolito, associados a plutonismo granítico local e migmatização,
prevalecem em níveis crustais intermediários. Em níveis crustais profundos, dominam rochas de composição
92
intermediária a máfica da fácies granulito e estas rochas estão geralmente associadas a gnaisses silícicos e
corpos plutônicos de composição máfica e intermediária. Esta seqüência geral progressiva da crosta, de cerca
de 35 a 40 km de espessura, repousa sobre o material do manto superior, predominantemente ultramáfico
(Carter et al. 1972, Mercier & Nicolas 1975, Nicolas & Poirier 1976, Avé Lallemant et al. 1980), o qual
permanece por toda a litosfera mecânica até uma considerável profundidade e é composto, principalmente,
de olivina com menores quantidades de piroxênios e outras fases aluminosas e acessórias.
Assim, ignorando os sedimentos, os dados disponíveis para mármore, quartzito e granito podem refletir a
resposta mecânica da crosta superior para o ambiente físico. Quanto às rochas granodioríticas, feldspáticas e
dioríticas, estas podem refletir a resposta dos níveis crustais intermediários. Dados experimentais sobre a
reologia de materiais representativos da crosta inferior, tal como um piroxênio-anfibólio-plagioclásio
granulito, são limitados a estudos recentes sobre a deformação experimental de diabásios, piroxenitos e
anortositos (Mackwell et al. 1998, Bystricky & Mackwell 2001, Dimanov et al. 2003).
Dentro da crosta continental, a deformação nos regimes plástico e semi-plástico, será verticalmente,
lateralmente e temporalmente bastante heterogênea, dependendo da mineralogia, presença ou ausência de
fluidos, e da periodicidade dos eventos de deformação. Grande parte desta deformação, mesmo nos níveis
crustais mais profundos e na parte mais superior do manto, está provavelmente concentrada em zonas de
cisalhamento plásticas ao invés de distribuída homogeneamente. É provável que tais zonas atuem como
condutos para a ascensão de fluidos profundos, seja continuamente ou periodicamente.
Estudos geológicos e de laboratório mostram que as rochas apresentam diferentes mecanismos de
deformação a depender da profundidade. Assim, rochas próximas à superfície da Terra possuem mecanismos
de deformação do campo rúptil, as que se encontram em profundidades crustais intermediárias, do campo
rúptil-dúctil, e as que se encontram em níveis crustais profundos, do campo dúctil. As duas variáveis mais
importantes que governam o comportamento das rochas são a temperatura e a taxa de deformação. Altas
temperaturas e baixas taxas de deformação favorecem o comportamento dúctil, enquanto que baixas
temperaturas e altas taxas de deformação favorecem o comportamento rúptil.
A deformação em níveis crustais rasos (até profundidades de 10 a 15 km) é dominada por processos rúpteis.
Este comportamento pode ser descrito aproximadamente por uma lei de deslizamento friccional (frictional
sliding), a lei de Byerlee, a qual prevê que a resistência da rocha aumentará com a pressão (profundidade),
mas será independente da temperatura ou do tipo de rocha. A presença de uma pressão de fluidos tenderá a
diminuir a resistência da rocha. Em maiores profundidades, o aumento da temperatura promoverá processos
de deformação plástica, resultando em um intervalo de profundidade no qual processos rúpteis e plásticos
estarão ativos.
93
Em profundidades ainda maiores, as temperaturas mais altas resultarão em uma deformação acomodada
essencialmente pelos mecanismos de plasticidade cristalina. Entretanto, durante períodos de altas taxas de
deformação, tais como associadas a terremotos, o comportamento de deformação semi-plástico penetrará
mais profundamente na crosta. A deformação plástica geralmente pode ser descrita pela lei de Arrhenius,
com uma forte dependência da temperatura e uma dependência relativamente fraca da pressão. Nas partes
mais frias da crosta ou do manto, a deformação pode ocorrer por deslizamento de discordâncias (dislocation
glide) dentro do grão mineral que compõe a rocha. Neste regime, freqüentemente referido como de uma
plasticidade de baixa temperatura, o comportamento da rocha é fortemente dependente do esforço diferencial
(differential stress).
Temperaturas mais altas promoverão difusão dentro dos grãos dos minerais, permitindo tanto salto (climb)
como deslizamento de discordâncias, resultando em uma dependência um tanto mais fraca sobre o esforço,
chamado power-law creep. Em taxas de deformação suficientemente baixas e/ou na presença de grãos de
pequenos tamanhos, processos de fluxo de difusão (diffusional creep) podem se tornar dominantes. Estes
processos ocorrem onde a deformação resulta da difusão de átomos ao longo das bordas dos grãos. A
presença de uma fase fluida livre também tenderá a promover processos de fluxo de difusão, a exemplo do
fluxo de dissolução por pressão (pressure-solution creep).
Com o aumento da temperatura e pressão, ocorre uma sucessão de mecanismos de transição na escala de
grãos, que corresponde ao campo rúptil-dúctil. Há importantes diferenças nos mecanismos de deformação,
na transição rúptil-dúctil, para o quartzo e feldspatos, na escala microcristalina. Com o aumento da
temperatura e pressão, os agregados de feldspatos mostram uma transição de fraturas de cisalhamento
localizadas para microfraturamentos inteiramente distribuídos, fluxo semi-brittle (mistura de deslizamento de
discordâncias e microfraturamento) e fluxo de discordância (dislocation creep) sem fraturamento. Ao
contrário, um quartzito sofre fraturas de cisalhamento em temperaturas e pressões muito mais altas, e não
tem o regime de fluxo cataclástico (cataclastic flow), provavelmente devido a sua falta de clivagem. O
quartzo também faz a transição para o fluxo de discordâncias em temperaturas e pressões significativamente
mais baixas que os feldspatos, possivelmente devido a menor distância da repetição da sua rede cristalina
(Tullis & Yund 1987, 1992, Hirth & Tullis 1994).
O comportamento dúctil das rochas faz com que estas se deformem de três formas: fluxo plástico, power-law
creep e fluxo de difusão. Cada um destes mecanismos tem uma relação constitutiva exponencial, na qual a
deformação aumenta exponencialmente com o esforço aplicado. As relações constitutivas dúcteis são mais
sensíveis à temperatura e composição do que a outros fatores.
94
V.3 - Mecanismos de deformação na escala cristalina
Os diferentes comportamentos dos grãos dos minerais dentro de uma rocha dependem de vários fatores,
dentre eles, mineralogia, orientação cristalográfica, forma, grãos vizinhos, tamanho dos grãos e orientação
das bordas dos grãos. Veremos como cada um destes fatores influencia no comportamento das rochas:
x mineralogia - diferentes minerais têm diferentes sistemas de deslizamento (slip system) disponíveis
para a deformação e podem se deformar mais facilmente ou menos facilmente por processos de
difusão. Como resultado, suas propriedades mecânicas podem ser bastante distintas, mesmo com a
atuação do mesmo mecanismo de deformação.
x orientação cristalográfica - como durante a deformação plástica de um cristal o esforço cisalhante
resultante crítico (CRSS - critical resolved shear stress) controla o movimento das discordâncias, os
grãos que estão em orientação favorável em relação a um sistema de deslizamento específico serão
capazes, a princípio, de se deformar mais facilmente do que aqueles cuja orientação do sistema de
deslizamento termina em baixo esforço cisalhante resultante.
x forma - a forma de qualquer objeto influenciará no seu comportamento mecânico. Assim, grãos
alongados estarão mais propensos ao encurvamento do que aqueles esféricos, e se uma série de grãos
alongados estão alinhados, isto facilita a deformação destes grãos por deslizamento das bordas de
grãos.
x grãos vizinhos - as relações locais de grãos vizinhos influenciarão no comportamento local. Se um
mineral fraco está rodeado por grãos mais rígidos, ele pode ser protegido por estes grãos mais rígidos e
permanecer indeformado, ainda que ele seja inerentemente fraco. Da mesma forma, limites quartzo-
mica parecem ser locais preferenciais de dissolução.
x tamanho dos grãos - há dois comportamentos principais que são dependentes do tamanho do grão. Um
está relacionado ao efeito Hall-Petch para plasticidade, que torna os grãos menores mais resistentes, e
o outro está relacionado a fluxo de difusão, que torna grãos menores menos resistentes.
x orientação das bordas dos grãos - determinadas orientações de bordas de grãos facilitam o movimento
das suas bordas. Por exemplo, uma textura semelhante a uma parede de tijolos submetida a um
cisalhamento simples permitiria um fácil deslizamento das bordas dos grãos porque todas elas estão
alinhadas.
As rochas se deformam por vários processos que são identificados na escala de grãos individuais. Estes
processos dependem das características intrínsecas de cada rocha, tais como, mineralogia, tamanhos dos
grãos, orientação preferencial cristalográfica (OPC), composição de fluido intergranular, porosidade,
95
permeabilidade, e também de fatores externos, tais como, temperatura, pressão litostática, esforço
diferencial, pressão de fluidos e taxas de deformação impostas externamente. Quando uma rocha é
deformada, os minerais respondem a estes processos gerando microestruturas na escala de grãos, as quais são
utilizadas para identificar os processos de deformação que atuaram na rocha. As estruturas que são visíveis
dentro dos grãos são conhecidas como estruturas de deformação intracristalina.
Mecanismos de deformação são processos que levam a uma mudança na forma das rochas. Há muitos tipos
de mecanismos de deformação que têm sido reconhecidos em rochas e outros materiais cristalinos, tais como
cerâmicas e metais. Em uma seqüência de baixa temperatura-alta taxa de deformação e alta temperatura-
baixa taxa de deformação, os principais processos de deformação identificados são: fluxo cataclástico,
dissolução por pressão, geminação mecânica, deslizamento de discordâncias, restauração, recristalização,
fluxo de difusão no estado sólido (solid-state diffusion creep), deslizamento de bordas de grãos e
superplasticidade.
As microestruturas das rochas dos maciços de Rio Piau, Carapussê, Samaritana e Potiraguá, efetuadas ao
microscópio óptico, evidenciam que a deformação foi acomodada por diferentes mecanismos. Para uma
melhor compreensão desses mecanismos, cada um dos processos de deformação será sintetizado nos tópicos
a seguir, sendo feita uma descrição mais detalhada dos processos de interesse para a presente pesquisa. Para
uma abordagem mais profunda destes processos, consultar Passchier & Trouw (1996).
V.3.1 - Fluxo cataclástico (Cataclastic flow)
Este mecanismo de deformação essencialmente rúptil é alcançado por fragmentação mecânica das rochas e
pelo conseqüente deslizamento e rotação dos fragmentos. Ocorre ao longo de zonas de falhas rúpteis, que
podem mostrar uma transição gradual ou abrupta para o material hospedeiro indeformado, e em condições
que variam de não metamórficas a metamórficas de baixo grau. Depende do tipo de mineral envolvido e da
pressão dos fluidos, uma vez que uma alta pressão de fluidos promove fluxo cataclástico. As taxas de
deformação envolvidas neste processo são relativamente altas (Passchier & Trouw 1996).
Como exemplo da dependência do tipo de mineral envolvido, pode-se citar os estudos experimentais
efetuados com quartzo e feldspatos. No caso do quartzo, entre o fraturamento rúptil e o fluxo de
discordâncias, há um campo transicional correspondente ao fluxo cataclástico (Hirth & Tullis 1989, 1991),
que é caracterizado por uma forte interação entre discordâncias e microfraturas. No caso dos feldspatos, o
campo transicional de fluxo cataclástico é muito maior do que para o quartzo e foram observadas muito
menos interações entre discordâncias e microfraturas (Tullis & Yund 1987, 1992). Este contraste de
comportamento entre o quartzo e o feldspato é provavelmente devido a dois fatores:
96
(i) os dois bons sistemas de clivagem dos feldspatos podem ser responsáveis pela fragmentação dos
feldspatos em pequenos clastos enquanto que a ausência de clivagem no quartzo dificulta a
fragmentação deste mineral (Tullis et al. 1990);
(ii) a lenta difusão Si/Al nos feldspatos (Tullis & Yund 1977, 1985, 1987, 1992, Grove et al. 1983, Yund
1986, Yund et al. 1989, Hirth & Tullis 1992, 1993) impede a sua restauração em temperaturas mais
baixas.
V.3.2 - Dissolução por pressão (Pressure solution)
Este mecanismo de deformação é dominante em condições diagenéticas e de baixo grau metamórfico onde
os fluidos são abundantes. Neste processo, ocorre a dissolução dos limites dos grãos dando origem a uma
fase fluida no limite dos grãos sob um esforço normal alto. A dissolução por pressão se localiza onde os
grãos estão em contato com superfícies de alto ângulo para uma direção de encurtamento instantâneo, e
também onde o esforço no grão é alto (Fig. V.3).
Figura V.3 - Exemplo de dissolução por pressão. (a) Grãos rodeados por fluidos nos poros. Nos
p
ontos de contato, as tensões diferenciais são relativamente altas, como indicado pelas regiões
sombreadas. (b) Dissolução por pressão muda a forma dos grãos. O material dissolvido nos pontos de
contato é redepositado nos espaços porosos adjacentes, indicado pelo sombreado. O grid marcador e
m
a está deslocado em b (Passchier & Trouw 1996).
V.3.3 - Deformação intracristalina
A deformação intracristalina é um mecanismo de deformação que consiste em uma mudança permanente na
forma do cristal, devido a uma mudança relativa na posição de moléculas e átomos ocasionada pelo
97
movimento de defeitos da rede cristalina. Os principais processos de deformação intracristalina são fluxo de
discordâncias e geminação mecânica. O fluxo de discordâncias inclui deslizamento de discordâncias,
restauração, recristalização e difusão. Antes de enfocar os processos de deformação intracristalina, será feita
uma breve abordagem sobre os defeitos dos cristais.
V.3.3.1 - Defeitos cristalinos
Todos os cristais possuem defeitos, que são imperfeições na estrutura do cristal. Estas imperfeições afetam
várias características dos cristais e são fundamentais na deformação plástica intracristalina e em processos de
difusão atômica.
Os defeitos são importantes por vários motivos:
x podem acelerar o processo de crescimento dos cristais por várias ordens de magnitude (geometria);
x a rede cristalina distorcida em torno de defeito proporciona uma difusão rápida dentro dos cristais
(geometria);
x estão intimamente envolvidos em vários mecanismos de deformação (cinemática);
x promovem uma força motora (driving force) para muitos processos de deformação (dinâmica);
x podem enfraquecer a resistência de um cristal por várias ordens de magnitude (dinâmica);
x o movimento de discordâncias pode levar à formação de uma orientação preferencial cristalográfica .
V.3.3.1.1 - Defeitos pontuais
Os cristais podem apresentar defeitos em pontos isolados de sua estrutura, dando lugar às imperfeições de
ponto. Dentre as imperfeições pontuais, podemos citar os seguintes tipos (Fig. V.4):
x vacância - é o tipo de defeito mais simples e é representada por vazios pontuais causados pela ausência
de átomos em algumas posições da rede cristalina (Fig. V.4). Ela desempenha um papel fundamental
na difusão, possibilitando o movimento de átomos no interior do cristal. Este tipo de defeito pode ser
produzido durante o processo de solidificação (como resultado de perturbações locais no crescimento
do cristal), por rearranjo atômico de um cristal já existente (devido à mobilidade de seus átomos), por
deformação plástica, e por resfriamento rápido.
x auto-intersticial - é um átomo do próprio material que está fora de sua posição na rede cristalina.
x par Frenker - corresponde à formação do par vacância/auto-intersticial.
98
x átomo substitucional - é o defeito provocado pela existência de átomos estranhos ao cristal (impurezas)
nos próprios vértices da rede cristalina, substituindo os átomos que ali deveriam estar se não existissem
vacâncias.
x átomo intersticial - é a imperfeição causada pela presença de átomos estranhos ao cristal (impurezas)
nos interstícios de sua rede cristalina.
Figura V.4 - Tipos de defeitos pontuais em cristais.
V.3.3.1.2 - Defeitos lineares
Os cristais podem apresentar defeitos alinhados e contínuos em sua estrutura, dando origem a imperfeições
de linha. Os defeitos em linha, também chamados de discordâncias (dislocations), são defeitos que causam a
distorção da rede cristalina em torno de uma linha, e caracterizam-se por envolver um plano extra de átomos
ou o deslocamento e torção de uma parte do cristal em relação ao restante da rede cristalina.
As discordâncias são importantes sob os aspectos geométrico, cinemático e dinâmico. A nível geométrico,
cada discordância representa uma pequena distorção angular da rede cristalina mas, quando muitas delas
estão juntas, pode resultar em uma rede cristalina curva ou em uma desorientação de forma através de uma
borda do cristal. As discordâncias também podem atuar como caminhos de difusão rápidos. A nível
cinemático, o movimento das discordâncias resulta na acumulação de deformação dentro do cristal. A
deformação de um material por movimento de discordâncias é conhecida como plasticidade cristalina. A
nível dinâmico, a distorção em torno de uma discordância constitui uma fonte de energia para outros
processos, tais como migração das bordas dos grãos.
99
Uma discordância é caracterizada por um vetor de Burgers, b, o qual indica a direção e a magnitude da
distorção de uma rede cristalina causada por uma discordância, e corresponde à distância de deslocamento
dos átomos ao seu redor. O vetor de Burgers pode ser imaginado através do desenho de um circuito quadrado
ao redor de uma discordância de átomo para átomo, com um número igual de átomos de cada lado do
quadrado; em um cristal perfeito, este circuito estaria fechado, mas em torno de uma discordância, o circuito
não se fecha e a parte que está faltado é o vetor de Burgers (Fig. V.5).
(a) (b)
Figura V.5 - O vetor de Burgers em um cristal perfeito (a) e em um cristal com discordância de
b
orda (b). Em (a) o circuito se fecha. Em (b) o circuito não se fecha. O vetor necessário para fecha
r
o circuito é o vetor de Burgers, b, que caracteriza a discordância. Neste caso, b é perpendicular
à
discordância
As discordâncias têm uma orientação diferente em relação à rede cristalina e estes tipos de defeitos podem
ser produzidos durante a solidificação, na deformação plástica dos sólidos cristalinos ou como resultado da
concentração de vacâncias. Eles podem ser dos seguintes tipos:
x discordância de borda ou em cunha
x discordância em hélice ou em parafuso ou em espiral
x discordância mista
V.3.3.1.2.1 -
Discordância de borda ou em cunha (edge dislocation)
A discordância de borda envolve um plano extra de átomos e ocorre quando um plano cristalográfico termina
abruptamente, deixando seus últimos átomos com ligações químicas incompletas (Fig. V.6). Estas
discordâncias podem se mover no cristal se houver energia térmica suficiente, se dirigindo para a superfície,
vindo daí o seu nome de discordância de borda e podem estar relacionadas a zonas de tração e compressão.
O vetor de Burgers, b, neste caso, é perpendicular à linha de discordância.
100
Figura V.6 - Discordância de borda ou em cunha. Este tipo de discordância corresponde à borda (edge)
do
p
lano extra. a é a distância entre os
p
lanos do cristal.
V.3.3.1.2.2 - Discordância em hélice ou em parafuso ou em espiral (screw dislocation)
Neste caso, ocorre um deslocamento de parte do cristal em relação ao resto, torcendo as ligações químicas e
provocando uma distorção na rede cristalina. A discordância é o eixo em torno do qual ocorre a torção do
cristal. Neste caso, o vetor de Burgers, b, é paralelo à linha de discordância (Fig. V.7).
Figura V.7 - Discordância em hélice.
101
V.3.3.1.2.3 - Discordância mista (edge and screw dislocation)
Este tipo de discordância é produzido durante a solidificação do material ou quando é aplicado um esforço
cisalhante sobre o mesmo. A discordância mista é formada por uma discordância de borda associada a uma
discordância em hélice (Fig. V.8). Neste caso, as duas discordâncias apresentam uma única linha de
discordância. O vetor de Burgers, b, mantém uma direção fixa no espaço. Na figura V.8, pode-se constatar
que na extremidade inferior esquerda, onde a discordância é do tipo hélice, b é paralelo à discordância, e na
extremidade superior direta, onde a discordância é de borda, b é perpendicular à discordância. Ela representa
a fronteira entre o domínio que deslizou e aquele que não deslizou.
Fi
g
ura V.8 - Discordância mista.
Desta parte introdutória sobre os defeitos cristalinos, pode-se concluir que tanto o movimento de vacâncias
quanto o movimento de discordâncias através de um cristal, podem fazer com que este mude
permanentemente de forma. Pelo movimento de discordâncias, esta mudança ocorre pelo deslocamento de
partes da rede cristalina de um cristal sem haver uma separação efetiva de uma parte do cristal da outra parte
(Fig. V.9). A deformação dúctil é, em uma grande extensão, alcançada pela migração de discordâncias e de
vacâncias. Os defeitos na rede cristalina podem causar deformações significantes nos cristais somente se
novos defeitos estiverem sendo criados. Isto pode acontecer em locais onde existam vacâncias e
discordâncias dentro dos cristais ou nas suas bordas (Passchier & Trouw 1996).
102
deformação
elástica
introdução de
discordâncias
migração de
discordâncias
mudança na forma do
cristal sem fraturamento
mecânico ou perda da su
a
estrutura
Figura V.9 - Deformação de um cristal por uma discordância de borda. A parte superior do cristal é
transladada de uma unidade da rede cristalina para a direita devido à passagem de uma únic
a
discordância da esquerda para a direita. Um plano cristalino é marcado em preto para mostrar o
deslocamento relativo da parte superior do cristal em relação à parte inferior (Passchier & Trouw 1996)
.
V.3.3.2 - Deslizamento de discordâncias (Dislocation glide)
O principal mecanismo de deformação plástica é o deslizamento de planos atômicos e caracteriza-se pelo
movimento de uma parte do cristal em relação à outra. Nas estruturas cristalinas, estes deslizamentos
acontecem em torno de planos atômicos compactos (de alta densidade planar de átomos), seguindo direções
compactas (de alta densidade linear de átomos), os quais definem o que se chama de sistema de
deslizamento.
O esforço necessário para o início da deformação plástica em cristais depende do esforço necessário para
deslizar os planos cristalinos e da orientação do esforço aplicado em relação ao sistema de deslizamento.
Para que ocorra esta deformação plástica por deslizamento de planos atômicos, é necessário que a
componente de cisalhamento da força aplicada ao material no plano e na direção de cisalhamento atinja o
limite de resistência ao cisalhamento do material, também chamado esforço crítico de cisalhamento (W
c
) (Fig.
V.10).
Na deformação plástica por deslizamento, assumindo um mecanismo simplificado onde a deformação
implica na ruptura de muitas ligações interatômicas ao mesmo tempo, nota-se que a resistência do material
considerado será muito maior que a encontrada experimentalmente. As evidências de experimentos sugerem
um mecanismo de deformação envolvendo movimentos de discordâncias. As discordâncias facilitam o
movimento de planos de átomos dentro de um material. Com o aumento da temperatura há um aumento na
velocidade do movimento das discordâncias favorecendo o aniquilamento mútuo das mesmas e formação de
discordâncias únicas. As impurezas tendem a difundir-se e concentrar-se em torno das discordâncias,
103
formando uma atmosfera de impurezas. O cisalhamento dá-se mais facilmente nos planos de maior
densidade atômica, por isso a densidade das mesmas depende da orientação cristalográfica. As discordâncias
geram vacâncias, influem nos processos de difusão e contribuem para a deformação plástica.
Figura V.10 - Esforço de cisalhamento de um cristal submetido a esforços de tração: (a) nível
macroscópico; (b) nível atômico, mostrando direções e planos compactos (sistemas de deslizamento).
Quando a deformação intracristalina ocorre somente por movimento de discordâncias, ela é conhecida como
deslizamento de discordância. As discordâncias têm uma orientação diferente em relação à rede cristalina e
somente podem se mover em planos e direções cristalográficas específicos. Este plano de deslizamento junto
com uma direção de deslizamento é conhecido como um sistema de deslizamento (slip system). Para a
maioria dos minerais formadores de rochas, tais como quartzo, olivina, feldspatos e calcita, vários sistemas
de deslizamento com diferentes orientações podem estar ativos. O tipo do sistema de deslizamento que estará
ativo no cristal dependerá da orientação e magnitude do campo de esforço no grão e do esforço cisalhante
resultante crítico
-
c
para aquele sistema de deslizamento (Passchier & Trouw 1996).
O esforço cisalhante resultante crítico em um sistema de deslizamento deve ser excedido antes que a
discordância se mova, ou seja, é o valor máximo acima do qual o cristal começa a cisalhar. No entanto, os
valores teóricos são muito maiores do que os valores obtidos experimentalmente. Esta discrepância só foi
entendida quando se descobriu a presença das discordâncias. As discordâncias reduzem o esforço necessário
para o cisalhamento, ao introduzir um processo seqüencial e não simultâneo para o rompimento das ligações
atômicas no plano de deslizamento.
104
A magnitude de -
c
depende fortemente da temperatura e, em menor extensão, da taxa de deformação, do
esforço diferencial e da atividade química de certos componentes tais como a água, que pode influenciar na
resistência de ligações específicas no cristal. Para cada sistema de deslizamento esta dependência é diferente.
Como resultado, os tipos de sistemas de deslizamento dominantes que estão ativos em um cristal mudam de
acordo com as condições metamórficas e de deformação (Passchier & Trouw 1996).
V.3.3.3 - Fluxo de discordâncias (Dislocation creep)
Quando sistemas de deslizamento diferentes se cruzam em um cristal, as discordâncias que migram podem
tornar-se emaranhadas, causando a obstrução de seus movimentos. Este emaranhado de discordâncias
(dislocation tangle) pode inibir o movimento de outras discordâncias recém formadas, as quais se acumulam
atrás daquelas discordâncias que foram bloqueadas, dificultando assim a deformação dos cristais. A este
processo, no qual ocorre o aumento da resistência do cristal à deformação, chama-se endurecimento (strain
hardening). Este processo também ocorre em rochas e pode acentuar o comportamento rúptil. Entretanto,
mecanismos que atuam em sentido contrário ao endurecimento, permitindo assim a continuação da
deformação dúctil. Um importante mecanismo que permite que as discordâncias passem pelos locais de
obstrução é a migração de vacâncias em direção às linhas de discordâncias. A migração de vacâncias para o
local bloqueado desloca a discordância e permite que ela salte (climb) sobre o local bloqueado. O mecanismo
de deslizamento de discordâncias associado a este salto é conhecido como fluxo de discordâncias (Fig. V.11)
(Passchier & Trouw 1996).
Figura V.11 - (a) Discordância bloqueada por uma impureza em um cristal. (b) Migração de um
a
vacância para o plano da discordância pode causar um salto de discordância afastando-a da obstrução.
(c) Depois do salto, a discordância é desbloqueada e pode passar pela obstrução.
105
Um importante efeito da deformação intracristalina é o desenvolvimento de uma orientação preferencial
cristalográfica (OPC). Uma vez que as discordâncias se movem somente em planos cristalográficos
específicos, uma rocha que se deforma por movimento de discordâncias pode desenvolver uma orientação
preferencial dos grãos que constituem a rocha.
Apesar de discordâncias individuais só serem observadas no microscópio eletrônico de transmissão, o efeito
da sua presença em uma rede cristalina pode ser visível ao microscópio óptico. Uma rede cristalina que
contenha uma grande quantidade de discordâncias semelhantes pode se apresentar ligeiramente dobrada,
fazendo com que a extinção do cristal em luz polarizada não seja homogênea. A este efeito denomina-se
extinção ondulante (Fig. V.12). A extinção ondulante pode atingir o cristal inteiro através do encurvamento
regular do cristal devido à presença de um grande número de discordâncias, mas também pode ser recortada
e irregular, quando ela está associada com pequenas fraturas microscopicamente invisíveis e kinks, além do
emaranhado de discordâncias (Hirth & Tullis 1992).
Figura V.12 - A extinção ondulante demonstra o efeito de um grande número de discordâncias
p
roduzindo uma rede cristalina curva.
Microkinks ocorrem como pequenas estruturas isoladas em quartzo e feldspatos e provavelmente estão
associadas com feições cataclásticas nos locais do emaranhado de discordâncias (Tullis & Yund 1987),
sendo indicativas de deslizamento de discordâncias. Lamelas de deformação também constituem um outro
efeito observado em cristais deformados em baixas temperaturas por deformação intracristalina, mas que
somente são visíveis ao microscópio eletrônico de transmissão. A presença de OPCs também tem sido
sugerida como evidência para a deformação por fluxo de discordâncias, embora em alguns minerais (calcita)
ela também possa se formar por geminação mecânica. Em temperaturas elevadas, microestruturas
intracristalinas, tais como extinção ondulante e lamelas de deformação, podem estar ausentes devido à
restauração ou a recristalização. Neste caso, a presença de uma forte OPC pode ser tomada como evidência
de fluxo de discordâncias (Passchier & Trouw 1996).
106
V.3.3.4 - Geminação mecânica
Além dos mecanismos de fluxo e deslizamento de discordâncias, alguns minerais podem se deformar por
geminação mecânica (Jensen & Starkey 1985, Smith & Brown 1988, Burkhard 1993). Neste tipo de
geminação, a rede cristalina geminada pode ser obtida a partir da rede cristalina de origem por um
cisalhamento simples S, de ângulo determinado, paralelo ao plano de geminação K
l
, ao longo de uma direção
K
1
(Fig. V.13). A rede cristalina na parte geminada sofre uma rotação de um ângulo constante, podendo ser
elevado (Nicolas 1989).
Figura V.13 - Geminação mecânica por um cisalhamento simples de amplitude S segundo o plano K
1
e
a
direção K
1
(Nicolas 1989).
Geminações mecânicas são mais comuns em plagioclásio e calcita e diferem das geminações de crescimento
pela suas formas. Enquanto as primeiras vão se afinando no final, formando uma espécie de cunha e podendo
se encurvar, as de crescimento são uniformes e freqüentemente contínuas através do grão inteiro (Fig. V.14).
A geminação mecânica somente pode acomodar uma pequena quantidade de deformação (strain), sempre
atua em direções cristalográficas específicas e geralmente ocorre em baixas temperaturas.
Figura V.14 - (a) Geminação de crescimento no plagioclásio. (b) Geminação mecânica no
p
lagioclásio com uma diminuição gradual de espessura da borda para o centro e nucleada em locais
das bordas do cristal onde a tensão é alta
(
Passchier & Trouw 1996
)
.
107
V.3.4 - Restauração ou recuperação (Recovery)
Quando um cristal é deformado em baixas temperaturas, discordâncias e emaranhado de discordâncias são
formados em resposta a um esforço diferencial imposto, e que leva a um ganho de resistência do material
(strain hardening). A restauração se refere a todos os fenômenos que permitem eliminar os defeitos de um
cristal sem que a estrutura deformada seja invadida por bordas de grãos com forte desorientação
(misorientation), permitindo assim que o cristal deformado guarde sua identidade, embora a densidade dos
defeitos e sua distribuição mudem. Assim, ela descreve os processos que levam a uma recuperação das
propriedades mecânicas deste material e ocorre devido a um rearranjo e aniquilação das discordâncias e de
outros defeitos. Há vários processos competentes que podem levar a observação de um estado mecânico
recuperado. São eles: aniquilação mútua (mutual annihilation), acumulação de discordâncias (pile-ups), salto
de discordâncias (dislocation climb), poligonização e cross-slip (Passchier & Trouw 1996).
Os processos de restauração são intensificados em temperaturas mais altas e ocorrem mais comumente
durante a deformação, embora também possa ocorrer depois dela cessada. Geralmente, este processo não
leva a uma recuperação completa das propriedades iniciais, mas a um amolecimento (softening). Como
resultado da restauração, as discordâncias em um cristal podem se agrupar em arranjos regulares planares
conhecidos como bordas de subgrãos (subgrain boundaries) ou paredes de subgrãos (subgrain walls) (Fig.
V.15). Tais bordas separam fragmentos dos cristais conhecidos como subgrãos (subgrain), os quais são
ligeiramente desorientados (misoriented) em relação aos subgrãos vizinhos ou ao grão hospedeiro.
Figura V.15 - Ilustração esquemática dos processos de restauração. Discordâncias distribuídas sobre o
cristal provoca extinção ondulante. A restauração causa a concentração de discordância em bandas de
deformação e eventualmente em uma borda de sub
g
rão
(
tiltwal
l
)(
Passchier & Trouw 1996
)
.
Em seção delgada, evidências da restauração podem ser observadas pela presença de bandas de deformação e
de subgrãos. As bandas de deformação (Fig. V.15) são zonas de transição dentro do cristal que gradam, em
108
curtas distâncias, de uma extinção aproximadamente uniforme para outras zonas similares do cristal com
uma orientação ligeiramente diferente. Elas podem ser consideradas como um estágio transicional entre a
extinção ondulante e as bordas de subgrãos. Os subgrãos são reconhecidos por apresentarem partes do cristal
separadas das partes adjacentes por limites discretos, abruptos e de baixo relevo. A orientação da rede
cristalina muda ligeiramente de um subgrão para o próximo, geralmente menos de 5º (Fitzgerald et al. 1983,
White & Mawer 1988). Em muitos casos, as paredes de subgrãos se fundem lateralmente em bandas de
deformação ou em limites de grãos de alto ângulo. Também é importante observar que a restauração em
cristais encurvados
, conforme descrito acima,
é somente um dos possíveis mecanismos para formar subgrãos.
Outros mecanismos, embora menos comuns, são a migração lateral dos limites de kink bands, a redução da
desorientação de bordas de grãos e o encontro de migração de bordas de grãos (Means & Ree 1988).
V.3.5 - Recristalização
A recristalização é um processo através do qual ocorre a formação e/ou migração das bordas dos grãos
(Vernon 1981). O processo de recristalização está intimamente ligado à deformação por deslizamento,
porque é através dela que se desenvolve a orientação preferencial das rochas. De acordo com a sua relação
com a deformação, a recristalização pode ser dinâmica ou sintectônica, se ela acompanha a deformação, e
estática ou pós-tectônica, se ela a sucede. Assim como a restauração, a recristalização também pode
contribuir para a redução da densidade de discordâncias em cristais deformados.
A principal força que dirige a recristalização, seja ela estática ou dinâmica, é a deformação elástica no
interior de um grão devida à acumulação de discordâncias. Há uma tendência geral para que uma borda de
grão se mova em direção a um grão mais deformado, reduzindo assim a energia interna do sistema. Isto
resulta em uma seleção preferencial de grãos que não possuam discordâncias, ou que as possuam em
pequenas quantidades, os quais dominam a OPC (Wenk & Christie 1991).
Existem três tipos de energia para que a recristalização evolua:
- a energia de deformação elástica devido à presença de defeitos intracristalinos;
- a energia de superfície dos cristais;
- a energia química livre, que pode conduzir a uma variação no teor de anortita (An) entre o cristal
hospedeiro e aqueles que foram recristalizados (Marshall & Wilson 1976, Borges & White 1980,
Auffray et al.1983, Simpson 1985).
A recristalização impelida pela energia de deformação opera segundo dois mecanismos que conduzem à
recristalização por migração das bordas dos grãos e à recristalização por rotação de subgrãos.
109
V.3.5.1 - Recristalização por migração das bordas dos grãos (GBM - grain boundary migration
recrystallisation)
Átomos ao longo das bordas dos grãos de dois cristais vizinhos, um com alta e o outro com baixa densidade
de discordâncias, se deslocam ligeiramente da rede cristalina do cristal com alta densidade de discordâncias
para a rede cristalina do cristal com baixa densidade de discordâncias. Isto resulta no deslocamento local das
bordas dos grãos e no crescimento do cristal menos deformado às custas do seu vizinho mais deformado
(Fig. V.16a). Este processo reduz a energia livre interna do agregado cristalino envolvido e é conhecido
como migração da borda do grão. A borda do grão também pode fazer um lobo no cristal com alta densidade
de discordância e formar um novo cristal independente (Fig. V.16b), sendo este processo conhecido como
bulging. Embora seja menos comum em rochas, ainda é possível que pequenos núcleos desprovidos de
discordâncias nucleiem dentro de um grão fortemente deformado com alta densidade de discordâncias
emaranhadas e cresçam às custas do cristal antigo (Drury & Urai 1990) (Fig. V.16c, d). Tanto o processo da
nucleação isolada como o bulging das bordas dos grãos, levam a uma reorganização do material cristalino,
fazendo com que “velhos grãos” com alta densidade de discordâncias sejam substituídos por “novos grãos”.
Este processo é conhecido como recristalização e mais especificamente como recristalização por migração
das bordas dos grãos (Gottstein & Mecking 1985, Urai et al. 1986).
(a) (b) (c) (d)
Figura V.16 - Recristalização dinâmica por migração das bordas dos grãos. (a) dois grãos vizinhos co
m
diferentes densidades de discordâncias. As linhas retas nos círculos indicam os planos da rede cristalina;
(b) a borda do grão pode começar a formar um lobo no grão com a mais alta densidade de discordâncias;
(c, d) o grão com mais alta densidade de discordâncias (cinza) é consumido por bulging do grão menos
deformado; o lobo eventualmente se desenvolve como um grão independente e também é possível ocorre
r
nucleação espontânea e crescimento de novos grãos com baixa densidade de discordâncias (Passchier &
Trouw 1996).
110
Na recristalização por migração das bordas dos grãos, não há necessariamente qualquer mudança na
composição química entre os grãos antigos e os recristalizados. Entretanto, em alguns minerais tais como os
feldspatos, podem se desenvolver pequenas diferenças na composição química.
V.3.5.2 - Recristalização por rotação de subgrãos (SR - subgrain rotation recrystallisation)
Um processo especial ocorre quando discordâncias são adicionadas continuamente as bordas dos subgrãos.
Isto acontece somente se as discordâncias estão relativamente livres para saltar de um plano cristalino para o
outro. O processo é conhecido como fluxo de discordância acomodado por salto (climb-accommodated
dislocation creep). Nestes casos, o ângulo entre a rede cristalina de ambos os lados da borda do subgrão
aumenta gradualmente até o subgrão não poder mais ser classificado como parte do mesmo grão (Fig. V.17).
Este processo, no qual um novo grão se desenvolveu por desorientação progressiva de subgrãos ou por
rotação de subgrãos, é conhecido como recristalização por rotação de subgrãos (Passchier & Trouw 1996).
Figura V.17 - Recristalização dinâmica por rotação de subgrãos. A rotação de um subgrão em resposta
à
migração de discordâncias para dentro das bordas dos subgrãos durante a deformação progressiva pode
causar o desenvolvimento de bordas de grãos de alto ângulo e, por conseguinte, de novos grãos. As barras
dentro dos subgrãos indicam a orientação da rede cristalina (Passchier & Trouw 1996).
V.3.5.3 - Evidências da recristalização dinâmica
A recristalização por migração das bordas dos grãos e a por rotação de subgrãos são dois processos
importantes na recristalização dinâmica. A recristalização por migração das bordas dos grãos pode suceder a
recristalização por rotação de subgrãos, depois que os subgrãos anteriores já tivessem sofrido uma certa
quantidade de rotação (Lloyd & Freeman 1991, 1994).
111
Geralmente, as evidências da recristalização dinâmica são mais difíceis de serem encontradas do que as
evidências de deformação e restauração. Os dois tipos de microestruturas características deste tipo de
recristalização são texturas completamente recristalizadas e texturas parcialmente recristalizadas. Texturas
parcialmente recristalizadas apresentam uma distribuição bimodal de tamanhos de grãos, com agregados de
pequenos grãos com tamanhos aproximadamente uniformes entre grandes grãos com extinção ondulante, e
com subgrãos do mesmo tamanho que os pequenos grãos. Estes pequenos grãos são, provavelmente, os
novos grãos formados por recristalização dinâmica. O tamanho uniforme dos novos grãos é devido à
deformação e recristalização em um esforço diferencial específico (Passchier & Trouw 1996).
A distinção entre uma textura completamente recristalizada e uma textura equigranular não recristalizada é
muito difícil de ser feita. Entretanto, em um agregado de grãos formados por recristalização dinâmica
completa, os grãos mostrarão uma OPC, que é uma evidência de deformação interna, e um tamanho de grãos
relativamente uniforme (Passchier & Trouw 1996).
A recristalização por migração das bordas dos grãos pode ocorrer tanto pelo processo da nucleação isolada
como pelo bulging das bordas dos grãos existentes e é evidenciada pela presença de bordas de grãos
altamente irregulares (Passchier & Trouw 1996). Neste tipo de recristalização, os núcleos que surgem dentro
dos porfiroclastos se desenvolvem por migração das bordas dos grãos. Em baixas temperaturas e tensões
elevadas, a nucleação é favorecida em relação à migração devido à deformação intensa da rede cristalina.
Neste caso, os porfiroclastos serão substituídos por numerosos neoblastos de tamanho pequeno, localizados
sobretudo nos domínios da rede cristalina onde a deformação foi particularmente intensa, como nas bandas
de deformação ou nas coroas na periferia do porfiroclasto. Quando as temperaturas são altas, pode dominar a
migração das bordas dos grãos resultando em neoblastos maiores e menos numerosos do que no caso
anterior. Quando a migração das bordas dos grãos é muito ativa, ela se faz diretamente entre os
porfiroclastos. Conforme a sua deformação interna, que é uma conseqüência de sua orientação, alguns
porfiroclastos se desenvolverão e outros serão reabsorvidos (Nicolas 1989).
A recristalização por rotação de subgrãos é caracterizada por uma transição gradual de agregados de
subgrãos para agregados de novos grãos com aproximadamente o mesmo tamanho, e por bordas de subgrãos
que passam lateralmente para bordas de grãos. Uma OPC pode ocorrer em agregados recristalizados na
forma de uma orientação de uma família de grãos, a qual pode ser derivada de um único grande grão parental
que foi completamente desaparecido pela recristalização por rotação de subgrãos (Passchier & Trouw 1996).
O parentesco entre o cristal hospedeiro deformado (porfiroclasto) e os neoblastos explica também que a
orientação da rede dentro da estrutura recristalizada reflete a orientação preferencial inicial (Nicolas 1989).
112
Estruturas de manto e núcleo, que consistem de um agregado de pequenos grãos recristalizados
dinamicamente em torno de um núcleo de um cristal com a mesma composição mineralógica, são evidências
de que esta estrutura se desenvolveu por recristalização de um núcleo mineral ao longo de suas bordas.
V.3.5.4 - Competição de processos durante a deformação
Durante a deformação, existe uma competição contínua entre os processos que provocam a distorção de uma
rede cristalina e processos que restauram a ordem, tais como restauração e recristalização. O que se observa
em rochas deformadas depende da importância relativa destes processos e, indiretamente, dos parâmetros de
deformação (taxa de deformação e temperatura). Altas temperaturas e a presença de um fluido sobre as
bordas dos grãos geralmente promovem os processos de restauração e recristalização, enquanto que altas
taxas de deformação acentuam a distorção dos cristais. Normalmente, somente as estruturas relacionadas aos
estágios finais da competição de processos são preservadas e elas são formadas imediatamente antes da
temperatura e/ou taxa de deformação caírem abaixo de um valor crítico e as estruturas ficarem “congeladas”
(Passchier & Trouw 1996).
Dependendo do processo de acomodação, há dois principais tipos de deformação baseados em fluxo de
discordâncias (Sellars 1978, Zeuch 1982, Tullis & Yund 1985). Eles são fluxo de discordância acomodado
por salto (Yund & Tullis 1991), que é associado com recristalização por rotação de subgrãos (Guillopé &
Poirier 1979), e fluxo de discordância acomodada por recristalização, onde a recristalização por migração
das bordas dos grãos é o mecanismo de acomodação (Tullis & Yund 1985, Tullis et al. 1990).
V.3.6 - Fluxo de difusão no estado sólido (Solid-state diffusion creep)
Este processo ocorre quando a temperatura de uma rocha é relativamente alta em relação à temperatura de
fusão dos seus constituintes minerais, fazendo com que os cristais se deformem somente por migração de
vacâncias na sua rede cristalina. Os dois tipos básicos são fluxo de Coble e fluxo de Nabarro-Herring. A
difusão do tipo fluxo de Coble ocorre em superfície e opera pela difusão de vacâncias na rede cristalina ao
longo das bordas dos grãos; a do tipo fluxo de Nabarro-Herring opera pela difusão de vacâncias através da
rede cristalina (Fig. V.18) (Passchier & Trouw 1996).
Poucas microestruturas têm sido propostas como evidência para fluxo de difusão. Este processo pode
originar bordas de grãos lobados e fortemente encurvados entre dois minerais diferentes e em condições de
alto grau metamórfico (Grower & Simpson 1992).
113
Figura V.18 - Os dois tipos básicos do processo de fluxo de difusão no estado sólido: fluxo de Coble
,
no qual a difusão de vacâncias ocorre ao longo das bordas dos grãos, e fluxo de Nabarro-Herring, no
q
ual a difusão de vacâncias ocorre no interior da rede cristalina.
V.4 - Mecanismos de deformação do plagioclásio
As rochas anortosíticas são ideais para o estudo do comportamento reológico do plagioclásio devido ao alto
conteúdo deste mineral. Apesar de ser um mineral importante na crosta terrestre e, junto com os feldspatos
alcalinos representarem um papel fundamental na determinação do comportamento reológico da crosta, os
mecanismos de deformação do plagioclásio, em uma variedade de condições, ainda são pouco conhecidos
quando comparado a de outros minerais. Até cerca de 20 anos atrás, o seu comportamento dúctil era pouco
compreendido e, mesmo atualmente, apesar de todos os avanços das técnicas que permitem estudar este tipo
de comportamento, ele ainda é pouco compreendido quando comparado a minerais tais como olivina,
quartzo e calcita. Como exemplo, pode-se citar que a estrutura das discordâncias e o vetor de Burgers
dominante em cristais de plagioclásio deformados ductilmente só foram determinados com o trabalho
pioneiro de Olsen & Kohlstedt (1984). O trabalho experimental de Tullis & Yund (1987) mostrou que as
microestruturas do plagioclásio observadas com o microscópio petrográfico exibiam aspectos dúcteis
semelhantes àqueles esperados para fluxo de discordâncias. Já as observações efetuadas em um microscópio
eletrônico de transmissão (MET) mostraram evidências de microfraturamento e zonas microscópicas com
um comportamento de fluxo cataclástico para um grande intervalo de condições, sugerindo que fluxo
cataclástico é provavelmente um importante mecanismo de deformação.
Experimentos efetuados em laboratório e observações feitas em grãos de plagioclásio deformados
naturalmente têm mostrado que a deformação do plagioclásio é fortemente dependente das condições
metamórficas. O comportamento do plagioclásio, como observado por diversos autores (Tullis & Yund
1980, 1985, 1987, 1991, Hanmer 1982, Tullis 1983, Dell’Angelo & Tullis 1989, Tullis et al. 1990, Pryer
1993), será abordado a seguir, de acordo com o incremento da temperatura e diminuição da taxa de
114
deformação. Quando dados para quartzo e calcita também estiverem disponíveis da literatura, estes serão
citados a título de comparação.
Em condições de grau metamórfico muito baixo (T<300ºC), a deformação dos feldspatos é
predominantemente rúptil, resultando em fraturamento e fluxo cataclástico. As estruturas características nos
cataclasitos resultantes deste tipo de deformação são fragmentos de grãos angulares com uma grande
variação nos tamanhos dos grãos, falhamentos em escala de grãos e encurvamentos dos planos de clivagem e
geminação (Passchier & Trouw 1996). Estudos destas estruturas, efetuados em um microscópio eletrônico de
transmissão (MET), têm mostrado que elas não são devidas a emaranhados de discordâncias, mas a
fraturamentos rúpteis em escala muito pequena (Tullis & Yund 1987). Nestas temperaturas, a geminação
mecânica no plagioclásio, segundo as leis albita e periclina, é importante e pode acomodar uma quantidade
limitada de deformação.
A complexidade da geminação do plagioclásio é sem paralelo entre os minerais comuns formadores de
rochas. Contudo, a maioria destas geminações pode se formar somente durante o crescimento inicial deste
mineral. Enquanto as geminações de origem magmática são mais espaçadas e mais regulares do que as
geminações mecânicas (Nicolas 1989, Smith 1974), as geminações mecânicas de origem tectônica são
estreitas, numerosas, e tendem a se condensar dentro do grão ou na sua borda (Fig. V.19). Os dois únicos
tipos de geminação mecânica que o plagioclásio pode adquirir são a albita e a periclina (Starkey 1964,
Brown & Macaudière 1986).
Figura V.19 - Diferenças entre as geminações de origem magmática (a) e tectônica (b) nos grãos de
p
lagioclásio. As geminações magmáticas são menos numerosas que as tectônicas e são retilíneas. As
geminações tectônicas são mais numerosas que as magmáticas, estreitas e tendem a se afunilar a parti
r
da borda do cristal
(
Nicolas 1989
)
.
115
T (ºC)
Figura V.20 - Esquema ilustrando a facilidade da geminação mecânica do plagioclásio em função do
teor de An e da temperatura de equilíbrio (após Brown & Macaudière 1986).
A facilidade da geminação mecânica do plagioclásio é condicionada pelo grau de desordem Al/Si na sua
estrutura. Os resultados experimentais de Mügge & Heide (1931), Laves (1952), Borg & Handin (1966),
Borg & Heard (1969, 1970), Seifert & Verploeg (1977), Marshall & McLaren (1977) foram resumidos por
Brown & Macaudière (1986), que fizeram um esquema ilustrando a facilidade do plagioclásio se geminar
mecanicamente, em função do percentual de anortita e da temperatura de equilíbrio (Fig V.20). Segundo este
gráfico, a facilidade de deformação do plagioclásio está diretamente relacionada ao seu conteúdo de anortita.
Estudos prévios efetuados em calcita têm mostrado que a geminação mecânica é mais provável de ocorrer
quando o esforço de cisalhamento resultante sobre o plano de deslizamento da geminação e na direção de
deslizamento da geminação está em um máximo. Dessa forma, somente aqueles cristais orientados deste
modo no campo do esforço, assim como os que se encontram aproximadamente nesta condição, irão
geminar. Sem dúvida, grãos orientados contrariamente não poderão geminar. Rochas que têm minerais com
geminação mecânica podem permitir uma localização aproximada do campo do esforço que causou a
geminação através da medida dos elementos de geminação destes grãos (Lawrence 1970). A aplicação desse
método à análise das geminações do plagioclásio nos milonitos da zona de cisalhamento Além Paraíba
permitiu, por exemplo, a determinação das paleodireções de esforços no domínio sul do Cinturão Ribeira
(Egydio-Silva & Mainprice 1999).
Em condições de baixo grau metamórfico (T entre 300 e 400ºC), a reação do plagioclásio à deformação é
mais ou menos rígida, o que é esperado uma vez que a temperatura de recristalização do plagioclásio é de
cerca de 500ºC (Voll 1976). O comportamento rúptil ainda é dominante e é evidenciado por um
microfraturamento interno, embora já seja assistido por algum movimento de discordâncias (Passchier &
Trouw 1996). As microestruturas produzidas por este tipo de comportamento freqüentemente se assemelham
a estruturas plásticas cristalinas, embora elas sejam, de fato, rúpteis. Geminação encurvada, afinamento da
116
geminação mecânica, extinção ondulante, bandas de deformação e kink bands com bordas acentuadas podem
estar presentes (Pryer 1993). Estruturas claramente separáveis, tais como augen e matriz ou manto-núcleo,
inexistem nestas condições de baixo grau.
Quando as temperaturas variam entre 400 e 500ºC, que correspondem a condições de baixo a médio grau
metamórfico, diminui a importância do comportamento rúptil. O fraturamento nos grãos de plagioclásio sob
estas condições torna-se menos proeminente, mas o microkinking é abundante, provavelmente associado com
feições cataclásticas nos locais de emaranhado de discordâncias (Tullis & Yund 1987). Ao microscópio
petrográfico, os únicos critérios para atestar estas características são a falta de uma OPC e uma mistura
homogênea incomum de grãos de plagioclásio e de outras fases minerais em agregados de granulação muito
fina. Ainda nestas condições de médio grau metamórfico, a deformação plástica intracristalina é capaz de
acomodar parte da deformação, fazendo com que o salto de discordâncias se torne possível e a recristalização
comece a ser importante, especialmente nas bordas dos grãos do plagioclásio. Entretanto, nestas condições
de temperatura, somente um limitado número de sistemas de deslizamento está ativo. As discordâncias
podem ser criadas, mas como o seu movimento é excessivamente difícil nestas temperaturas, elas se tornam
emaranhadas rapidamente e os grãos de feldspato sofrem endurecimento (work-hardening), resultando
geralmente numa deformação rúptil do grão. Quanto à recristalização, esta ocorre, principalmente, por
nucleação e crescimento de novos grãos (Borges & White 1980, Gapais 1989, Gates & Glover 1989, Tullis
& Yund 1991). As evidências deste processo no microscópio petrográfico são o desenvolvimento de grãos de
plagioclásio de granulação muito fina e com bordas pontiagudas ao redor dos núcleos dos antigos cristais,
sem estruturas de subgrãos nas zonas transicionais (Passchier 1982).
Em condições de médio a alto grau metamórfico (T entre 500 e 700ºC), a deformação nos feldspatos é
acomodada tanto por mecanismos rúpteis como por mecanismos dúcteis. O movimento de discordâncias
torna-se progressivamente mais fácil à medida que a temperatura aumenta, reduzindo assim a quantidade de
endurecimento que o grão deformado sofre. Estruturas manto-núcleo podem facilmente se desenvolver
nestas temperaturas. O núcleo ou augen é circundado por grãos recristalizados de granulação fina que foram
separados do grão original. Estes grãos menores estão mais susceptíveis a fluxo de difusão e assim começam
a se deformar plasticamente.
Nas condições de alto grau metamórfico (T entre 700 e 900ºC), a plasticidade cristalina torna-se o
mecanismo de deformação dominante. O deslizamento de discordâncias pode acomodar a maior parte da
deformação. Poucos sistemas de deslizamento parecem estar ativos no plagioclásio, mesmo em altas
temperaturas, e estes variam muito a depender da sua composição e da temperatura de deformação. O plano
mais favorável ao deslizamento é o plano da geminação albita (010) e as direções mais favoráveis são as
[001] e [100]. Geralmente o sistema de deslizamento (010) [001] parece ser o dominante (Fig. V.21) em
condições de médio a alto grau metamórfico, embora em temperaturas muito altas os sistemas (010) [100] e
117
(001) [100] possam ser ativados (Montardi & Mainprice 1987, Ji & Mainprice 1988, Dornbush et al. 1994,
Ullemeyer et al. 1994, Kruhl 1987). A ocorrência do salto de discordância é difícil e o endurecimento ainda
podem levar a algum fraturamento rúptil. Os processos de restauração incluem recristalização por migração
das bordas dos grãos e recristalização por rotação de subgrãos. A recristalização por migração das bordas dos
grãos é muito mais importante do que a recristalização por rotação de subgrãos porque os feldspatos
acumulam rapidamente um grande número de discordâncias e a recristalização por migração das bordas de
grãos é um processo muito efetivo para removê-las. Neste estágio de deformação, a recristalização dinâmica
torna-se possível.
Em condições de temperaturas ainda mais altas dentro da fácies granulito (acima de 900ºC), a difusão torna-
se o mecanismo de deformação dominante. Esta pode ser assistida pela presença de um fundido como um
fluido intergranular. A presença de água também aumentará o campo onde a difusão estará ativa.
Figura V.21 - Sistemas de deslizamento do plagioclásio.
Para a maioria dos minerais formadores das rochas, as taxas de crescimento são anisotrópicas, o que faz com
que os cristais se desenvolvam com formas desiguais, que estão diretamente ligadas às formas
cristalográficas. Por exemplo, o plagioclásio freqüentemente se desenvolve na forma tabular, geralmente
alongada segundo os planos (010) e (001), achatado segundo o eixo [010] e com relações de forma (aspect
ratios) típicas entre 2 e 4. Se um cristal com esta forma assenta por gravitação em uma câmara magmática
"calma", ou seja, onde não há aportes de novos materiais que gerem correntes de convecção dentro da
câmara, então a sua face plana ou o seu eixo longo fica paralelo ao plano de acamadamento.
118
V.5 - Microestruturas e mecanismos de deformação do plagioclásio
dos maciços gabro-anortosíticos do Sul da Bahia
As rochas anortosíticas são ideais para se estudar a deformação do plagioclásio devido ao alto conteúdo deste
mineral nestas rochas. A composição mineralógica destas rochas compreende principalmente três grupos de
minerais: olivinas, piroxênios e feldspatos. Nas rochas em estudo, a olivina alcança, no máximo, cerca de 5%
do conteúdo modal e os piroxênios cerca de 20%.
V.5.1 - Metodologia
A análise microestrutural das rochas anortosíticas dos maciços de Rio Piau, Samaritana/Carapussê e
Potiraguá foi feita, inicialmente, na lupa binocular Wild Heerbrugg, que permite observar a lâmina inteira no
seu campo de visão, em luz plana e com nicóis cruzados. Nesta etapa foram selecionadas as lâminas delgadas
para serem analisadas ao microscópio óptico Leitz DMRXP, com objetivas de 2,5x, 10x, 20x/0,40 PH1,
20x/0,40 P, 40x/0,70 e 100x/1,25. Neste microscópio foram analisadas 51 lâminas delgadas (19 de Rio Piau,
23 de Samaritana/Carapussê e 9 de Potiraguá) e destas, 12 foram selecionadas (4 de Rio Piau, 5 de
Samaritana/Carapussê e 3 de Potiraguá) e tiveram suas microestruturas fotografadas em uma câmera digital
Coolpix 990 da Nikon com Superhigh-performance 3X, acoplada ao microscópio óptico e à lupa. As
fotomicrografias foram transferidas, posteriormente, para um microcomputador e tratadas nos softwares
Adobe Photoshop 6.0, Adobe Illustrator 7.0 e Corel Photo-Paint 11. Para complementar os estudos
microestruturais, foram selecionadas 7 lâminas para medidas das orientações preferenciais cristalográficas
pelo método EBSD e 5 para análises na microssonda eletrônica.
V.5.2 - Maciço de Samaritana/Carapussê
O estudo dos mecanismos de deformação do plagioclásio no Maciço de Samaritana/Carapussê se concentrou
nas rochas classificadas por Jesus (1997)/Macêdo (2000) como anortositos. Macroscopicamente, estas rochas
apresentam coloração cinza escura e granulação que varia de grossa a muito grossa. A anisotropia destas
rochas é marcada pelo alinhamento de duas populações de cristais de plagioclásio e pela foliação, a qual é
definida pelos agregados de minerais máficos (principalmente piroxênios e biotita) que contornam os grãos
reliquiares de plagioclásio e pela orientação preferencial de forma dos porfiroclastos.
A análise microestrutural de 23 lâminas delgadas deste maciço mostrou que não há variações significativas
de textura e composição mineralógica entre as amostras estudadas. De uma forma geral, o primeiro aspecto
119
que sobressai na análise destas rochas é uma deformação plástica marcante. A maioria das amostras
apresenta texturas primárias e secundárias. As texturas primárias são de origem magmática e estão
evidenciadas nos porfiroclastos de plagioclásio (relictos de cristais ígneos), pela presença de geminação
magmática segundo a lei Carlsbad e zoneamento ígneo. As texturas secundárias são feições de deformação
evidenciadas por extinção ondulante, geminação em cunha, encurvamento de geminação e de rede cristalina
dos porfiroclastos de plagioclásio, e também por uma matriz recristalizada dinamicamente.
O plagioclásio se apresenta como grãos reliquiares, que doravante serão denominados porfiroclastos, e como
grãos muito menores (0,5 mm em média), constituindo uma matriz finamente granulada. Alguns cristais de
plagioclásio chegam a alcançar mais de 30 mm e estão imersos nesta matriz. Os grãos de plagioclásio do
maciço de Samaritana/Carapussê foram classificados como labradorita, com teores médios de anortita em
torno de 66%. Na presente tese, a composição deste mineral foi determinada em porfiroclastos e grãos da
matriz, com o objetivo de auxiliar na interpretação das microestruturas e das orientações preferenciais
cristalográficas. Tanto os porfiroclastos quanto os grãos de plagioclásio da matriz mostram abundantes
evidências ópticas de deformação intracristalina, tais como extinção ondulante, geminação mecânica com
lamelas finas e em cunha, encurvamento de geminação, distorção da rede cristalina, presença de subgrãos e
recristalização dinâmica, embora os porfiroclastos se apresentem mais fortemente deformados. Estes se
apresentam com formas tanto alongadas quanto globulares e, na maioria das amostras analisadas, apresenta
uma orientação preferencial de forma, provavelmente de origem magmática.
Os minerais máficos ocorrem geralmente na forma de agregados ao redor dos porfiroclastos de plagioclásio.
Estes agregados mostram texturas poligonizadas similares as do plagioclásio da matriz. O principal
constituinte destes agregados máficos é o clinopiroxênio, seguido pelo ortopiroxênio, óxidos de Fe-Ti e
olivina.
Os piroxênios estão muito fraturados e se apresentam freqüentemente poligonizados, sendo esta
poligonização dos piroxênios mais acentuada que a dos grãos de plagioclásio da matriz. Os cristais maiores
de piroxênio apresentam 2 direções de fraturamento, com um ângulo de aproximadamente 30º entre elas.
Ocasionalmente, apresentam-se com clivagem encurvada, e coroados por anfibólio, biotita e minerais
opacos, indicando que estes minerais se cristalizaram às custas dos piroxênios. Freqüentemente, apresentam-
se exsolvidos.
A biotita ocorre nas formas de palhetas bem formadas contornando os porfiroclastos de plagioclásio, em
agregados com os demais minerais máficos, e substituindo os piroxênios e anfibólios nas bordas, clivagens e
fraturas destes minerais, ora como cristais bem formados, ora sem forma definida, em percentuais que
chegam a ultrapassar 5% do conteúdo modal (Pranchas V.1, V.2 e V.3). Estas formas de ocorrência sugerem
duas origens, sendo uma magmática e a outra como produto de transformação dos piroxênios e anfibólios.
120
Os minerais opacos são, principalmente, magnetita e titano-magnetita. Eles ocorrem formando massas
irregulares presentes nos espaços intergranulares dos grãos de plagioclásio ou associados aos minerais
máficos, como produto de alteração secundária tardia, e também como pequenas inclusões euédricas nos
grãos de plagioclásio. Assim como para a biotita, estas formas de ocorrência sugerem que alguns destes
minerais são magmáticos e outros são produtos de alteração de outros minerais.
A olivina, pouco freqüente, se apresenta associada aos demais minerais máficos.
Os anfibólios se apresentam como cristais subédricos a anédricos, com tamanho médio em torno de 0,5 mm,
e estão sempre associados a piroxênios, biotita e minerais opacos, caracterizando o seu caráter secundário.
O quartzo e o feldspato alcalino ocorrem como pequenos grãos disseminados na matriz rica em plagioclásio
e na maioria das vezes só foram detectados em análises de microssonda eletrônica. Ocasionalmente foram
observados cristais maiores de feldspato alcalino e quartzo associados à matriz, inclusive com o quartzo
apresentando a forma de ribbon.
V.5.2.1 - Microestruturas dos porfiroclastos de plagioclásio
Os porfiroclastos de plagioclásio representam cerca de 40 a 50% do volume da rocha, com tamanhos que
chegam a alcançar mais de 30 mm (Prancha V.3c). A maioria deles apresenta geminação mecânica, extinção
ondulante, bandas de deformação, kink bands, formação de subgrãos, e recristalização ao longo dos limites
dos grãos e fraturas (Pranchas V.1, V.2 e V.3), indicando uma deformação plástica intensa. Estes
porfiroclastos se apresentam tanto alongados, com relações de forma de até mais de 8:1 (Prancha V.4a),
quanto globulares, com formas equidimensionais (Pranchas V.2d, V.3b). Os alongados são mais abundantes
que os globulares e geralmente mostram kinking e extinção ondulante. Eventualmente, são observados nestes
porfiroclastos resquícios de um zoneamento ígneo (Pranchas V.3a, V.3b).
As geminações presentes nos porfiroclastos de plagioclásio são magmáticas e tectônicas, sendo que as
tectônicas são as mais comuns e estão presentes em cerca de 80% dos porfiroclastos. Os que apresentam
geminação primária, segundo as leis Carlsbad e albita-Carlsbad, podem ser considerados como grãos
reliquiares do protólito ígneo. Segundo Shelley (1992), cristais de plagioclásio com geminação Carlsbad têm
teores de anortita maiores do que os que não apresentam esta geminação. Nos porfiroclastos de plagioclásio
do Maciço de Samaritana/Carapussê que apresentavam este tipo de geminação, análises de microssonda
eletrônica mostraram que estes grãos de plagioclásio com geminação Carlsbad tinham os mesmos teores de
anortita que os porfiroclastos que não apresentavam este tipo de geminação.
Prancha V.1
(b)
0 0,5 1,0cm
(a)
0 0,5 1,0cm
(c)
0 0,5 1,0cm
(d)
0 0,5 1,0cm
121
122
Prancha V.1 - Fotomicrografias dos aspectos gerais das rochas anortosíticas.
(a) Visão geral dos agregados de minerais máficos (piroxênios, anfibólios, biotita e minerais opacos)
definindo a foliação da rocha (a 45º da borda curta inferior da lâmina). Lâmina CM19 em luz
plana.
(b) Aspecto geral das feições de deformação dos porfiroclastos de plagioclásio (extinção ondulante,
geminação mecânica, fraturamento, recristalização ao longo dos limites de grãos e fraturas) e da
matriz, bem como a distribuição dos agregados de minerais máficos. Mesma lâmina delgada de (a)
com nicóis cruzados.
(c) Aspecto geral dos agregados de minerais máficos (piroxênios, anfibólios, biotita e minerais
opacos) definindo a foliação da rocha (a 45º da borda curta inferior da lâmina). Lâmina CM20 em
luz plana.
(d) Visão geral das feições de deformação dos porfiroclastos de plagioclásio (extinção ondulante,
geminação mecânica, fraturamento, recristalização ao longo dos limites de grãos e fraturas) e da
matriz, bem como a distribuição dos agregados de minerais máficos. Mesma lâmina delgada de (c)
com nicóis cruzados.
Prancha V.2
(a) (b)
(c) (d)
0 0,5 1,0cm
0 0,5 1,0cm
0 0,5 1,0cm
0 0,5 1,0cm
123
124
Prancha V.2 - Fotomicrografias dos aspectos gerais das rochas anortosíticas.
(a) Aspecto geral dos agregados de minerais máficos (piroxênios, anfibólios, biotita e minerais
opacos) definindo a foliação da rocha (a 45º da borda curta inferior da lâmina). Lâmina CM08 em
luz plana.
(b) Visão geral dos porfiroclastos de plagioclásio mostrando feições de deformação (extinção
ondulante, geminação mecânica, fraturamento e recristalização ao longo dos limites de grãos e
fraturas) e da matriz. Os minerais máficos estão distribuídos em bandas paralelas à foliação.
Mesma lâmina delgada de (a) com nicóis cruzados.
(c) Visão geral da foliação da rocha (a 120º da borda curta inferior da lâmina) definida pelos
agregados de minerais máficos (piroxênios, anfibólios, biotita e minerais opacos). Lâmina CM09
em luz plana.
(d) Aspecto geral das feições de deformação dos porfiroclastos de plagioclásio (extinção ondulante,
geminação mecânica, fraturamento, e recristalização ao longo dos limites de grãos e fraturas), da
matriz e da distribuição dos agregados de minerais máficos. Mesma lâmina delgada de (c) com
nicóis cruzados.
Prancha V.3
(a) (b)
(c) (d)
0 0,5 1,0cm
0 0,5 1,0cm
0 0,5 1,0cm 0 0,5 1,0cm
125
126
Prancha V.3 - Fotomicrografias dos aspectos gerais das rochas anortosíticas (nicóis cruzados).
(a) Aspecto geral das rochas anortosíticas do Maciço de Samaritana/Carapussê, destacando as duas
formas de apresentação do plagioclásio. Como porfiroclastos, apresentando aspectos ígneos
(geminação magmática segundo a lei Carlsbad, conforme cristal na parte central da lâmina, e
zoneamento no cristal da parte superior da lâmina) e de deformação (extinção ondulante,
geminação em cunha, encurvamento de geminação e de rede cristalina), e como matriz
recristalizada dinamicamente. Lâmina SAM148-B1.
(b) Visão geral dos porfiroclastos de plagioclásio com geminação Carlsbad, zoneamento ígneo (cristal
na parte superior direita), plano de composição da geminação Carlsbad encurvado e matriz
recristalizada no plano de composição da geminação (no cristal com geminação Carlsbad no centro
da lâmina). Lâmina SAM9893-2B1.
(c) Aspecto geral de um porfiroclasto de plagioclásio com mais de 30 mm, mostrando uma associação
de deformação plástica intracristalina e microfraturamento. Este cristal apresenta geminação
mecânica em cunha das bordas para o centro segundo as leis albita e periclina. A parte superior do
porfiroclasto está parcialmente consumida por grãos formados por recristalização, que se
desenvolve, preferencialmente, ao longo dos limites de grãos, geminações e microfraturas. Lâmina
CR01.
(d) Visão geral dos porfiroclastos de plagioclásio apresentando seus aspectos de deformação dúctil.
Lâmina CM22.
127
A geminação mecânica segundo a lei albita geralmente predomina sobre a geminação segundo a lei periclina,
embora esta também ocorra com freqüência (Prancha V.2d). Conforme já foi visto anteriormente, estas são
as duas únicas leis segundo as quais ocorre a geminação mecânica no plagioclásio. Há uma variação
substancial, de grão para grão, na quantidade e na morfologia das geminações e no volume do grão afetado
por elas (Pranchas V.1, V.2, V.3). Assim, alguns porfiroclastos estão inteiramente geminados sob uma ou
ambas as leis da geminação (Prancha V.4b), enquanto que outros contêm somente geminações curtas e em
pequenas quantidades (Prancha V.4c). A maioria das geminações é contínua (Prancha V.4d), embora as
geminações em forma de cunha também sejam comuns. Estas últimas geralmente se estendem da borda dos
grãos em direção ao centro do cristal (Pranchas V.3c, V.4d) e também em podem se originar em fraturas pré-
existentes como um mecanismo de acomodar a deformação, sendo que algumas destas fraturas,
ocasionalmente, deslocam as geminações (Prancha V4e). As geminações podem ocorrer restritas aos limites
dos porfiroclastos (Prancha V.4d) ou estarem completamente contidas dentro deles (Prancha V.4b) e,
freqüentemente, se apresentam encurvadas por efeito tectônico (Pranchas V.1, V.2, V.3, V.4f). Olsen &
Kohlstedt (1985) estudaram, em microscopia eletrônica, as microestruturas de cristais de plagioclásio de
composição intermediária (An
25
-An
48
) deformados naturalmente e observaram que discordâncias
freqüentemente ocorrem nos limites das geminações ou nas terminações delas.
A extinção ondulante é uma das indicações mais óbvias da deformação intracristalina e consiste de uma
variação gradual na posição de extinção dentro de um grão. Quando esta variação na posição de extinção
forma bandas com limites relativamente abruptos e bem definidos, ela é chamada de banda de deformação
(Olsen & Kohlstedt 1985). Grande parte dos porfiroclastos de plagioclásio apresenta extinção ondulante
(Prancha V.5a), seja ela incipiente ou marcante. Quanto às bandas de deformação, estas ocorrem em menor
escala (Prancha V.5b).
A acumulação de discordâncias nas bandas de deformação leva à formação de subgrãos que apresentam
desorientação em relação ao porfiroclasto "pai" entre 1º e 15°. Subgrãos são feições típicas de processos de
deformação de alta temperatura (Nicolas & Poirier 1976). Os subgrãos se desenvolvem extensivamente tanto
nas bordas dos porfiroclastos (Pranchas V.5c, V.5d) como no seu interior (Prancha V.5e). Suas formas
variam de irregulares (Prancha V.5e) a poligonais (Prancha V.5f), com tamanhos médios entre 0,1 e 0,3 mm.
Os subgrãos são observados com mais freqüência em grãos geminados e com encurvamento de rede
cristalina ou de geminação, mas eles ocorrem também em cristais sem geminação (Pranchas V.6a, V.6b). A
observação de subgrãos com granulometria similar à da matriz sugere que a recristalização por rotação de
subgrão tenha sido um processo importante na formação da matriz. Outro processo de recristalização ativo
nessas rochas é o bulging. Este processo de difusão possibilita a migração dos limites dos grãos e a formação
e o desenvolvimento de grãos, a partir dos limites de grãos dos porfiroclastos (Pranchas V.6c, V.6d).
Prancha V.4
0 1,0mm
0 0,5 1,0mm
0 1,0mm
0 1,0mm
0 1,0mm
0 0,5 1,0mm
(a)
(b)
(c) (d)
(e) (f)
128
129
Prancha V.4 - Fotomicrografias das microestruturas dos porfiroclastos de plagioclásio (nicóis
cruzados).
(a) Porfiroclasto de plagioclásio alongado com relações de forma de mais de 8:1. Lâmina CM08-
83/10.
(b) Porfiroclasto de plagioclásio inteiramente geminado segundo as leis albita (aproximadamente na
direção N330º em relação à borda longa da lâmina) e periclina (aproximadamente na direção N60º
em relação à borda longa da lâmina). Lâmina CM09-73/25.
(c) Porfiroclasto de plagioclásio mostrando apenas geminações curtas, em pequenas quantidades
restritas às bordas dos grãos e se estendendo em direção ao centro do cristal. Lâmina CM20-63/29.
(d) Porfiroclasto de plagioclásio mostrando geminação mecânica estreita e contínua.Lâmina CM 09-
82/34.
(e) Porfiroclasto de plagioclásio geminado segundo a lei albita apresentando uma fratura deslocando
as geminações, kink na parte inferior do cristal e geminação mecânica na forma de cunha iniciando
nos dois lados da fratura. Lâmina CM22-82/5.
(f) Porfiroclasto de plagioclásio com deformação dúctil evidenciada pela curvatura acentuada do
plano de composição da geminação. Lâmina CM19-69/4.
130
Os porfiroclastos de plagioclásio sofreram redução da granulometria pelo mecanismo de recristalização. Os
grãos recristalizados se formam nas margens dos porfiroclastos e ao longo de microfraturas. Na maioria das
vezes, este processo consome parcialmente o porfiroclasto (Prancha V.6e), embora, ocasionalmente, ele
chega a dissecá-los completamente (Prancha V.6f). A transição gradual de subgrãos para grãos
recristalizados ocorre extensivamente ao longo das margens dos porfiroclastos, nas microfraturas existentes
nas margens e no interior destes, e ao longo de planos de geminação, sugerindo que o processo de
recristalização por rotação de subgrãos foi importante (Poirier & Nicolas 1975). Onde dois porfiroclastos
estão em contato, seus limites são lobados e podem conter grãos recristalizados de pequeno tamanho.
Tem sido inferido que, durante a recristalização dinâmica do plagioclásio, novos grãos podem se formar por
nucleação (White 1975, Marshall & Wilson 1976). Um argumento para a nucleação é proporcionado pelas
mudanças químicas que freqüentemente são observadas entre os antigos e novos grãos de plagioclásio
(White 1975, Brown et al. 1980, Sodré Borges & White 1980, Brodie 1981, Olsen & Kohlstedt 1985, Molli
1994, Stünitz 1998). Entretanto, um grande número de novos grãos sem mudanças químicas e sem relações
de controle com os grãos parentais tem sido observado em amostras deformadas experimentalmente (Tullis
& Yund 1985, 1987, 1992, Tullis et al. 1990, Ji & Mainprice 1987, 1990).
As microestruturas sugestivas de nucleação existem no maciço em estudo (Pranchas V.7a, V.7b). Análises
feitas em dois destes grãos na amostra CM-19 (Tab. III.1) mostraram que não existem variações
significativas de composição destes grãos quando comparadas com as composições dos porfiroclastos e da
matriz recristalizada. Devido à quantidade de análises efetuadas nestes grãos não ser estatisticamente
representativa, não se pode afirmar que porfiroclastos, matriz recristalizada e grãos nucleados não
apresentam variações significativas de composição.
A distribuição dos diferentes tipos de microestruturas é completamente heterogênea até dentro de uma
mesma lâmina delgada. Enquanto alguns porfiroclastos mostram poucas evidências de deformação plástica
por deslizamento intracristalino (extinção ondulante fraca, pequena quantidade de geminação mecânica nas
bordas), outros mostram extensivas evidências desta deformação (formação de subgrãos, bandas de
deformação, encurvamento acentuado da rede cristalina). Em zonas de moderada distorção da rede cristalina
nos porfiroclastos de plagioclásio, estes são invadidos por zonas de recristalização (Prancha V.6e). Zonas de
alta deformação de rede cristalina dos porfiroclastos são caracterizadas por kinking e geminação. Trilhas de
grãos recristalizados adentram os porfiroclastos ao longo destas zonas e, muitas vezes, a deformação é tão
intensa que eles chegam a estar quase que completamente consumidos pela matriz recristalizada
dinamicamente (Prancha V.6f). Estas zonas são locais favoráveis à recristalização e, desta forma, vários
grãos alongados são formados de um grão anteriormente maior (Prancha V.7c).
Prancha V.5
(d)
(a) (b)
(c)
(e)
(f)
0 1,0mm
0 1,0mm
0 1,0mm
0 0,15 0,3mm
0 0,15 0,3mm
0 0,15 0,3mm
131
132
Prancha V.5 - Fotomicrografias das microestruturas dos porfiroclastos de plagioclásio (nicóis
cruzados).
(a) Porfiroclasto de plagioclásio apresentando extinção ondulante. Lâmina CM20-63/29.
(b) Porfiroclasto de plagioclásio apresentando bandas de deformação. Lâmina CM08-81/16.
(c) Desenvolvimento de subgrãos na borda de um porfiroclasto de plagioclásio mostrando que o
processo de recristalização por rotação de subgrãos esteve ativo nestas rochas. O grão claro que se
encontra na parte superior esquerda da lâmina parece ser um único grão. Lâmina CM20-61/31.
(d) Com um pequeno giro da platina do microscópio, o grão claro da parte superior esquerda da
fotomicrografia (c) evidencia o desenvolvimento dos subgrãos.
(e) Desenvolvimento de subgrãos com formas irregulares no interior de um porfiroclasto de
plagioclásio. Lâmina CM20-84/5.
(f) Subgrãos com formas poligonizadas apresentando junções tríplices a 120º. Lâmina CM22-67/6.
Prancha V.6
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
0 0,5 1,0mm
0 0,5 1,0mm
0 0,15 0,3mm
0 0,15 0,3mm
0 1,0mm
0 0,5 1,0mm
133
134
Prancha V.6 - Fotomicrografias das microestruturas dos porfiroclastos de plagioclásio (nicóis
cruzados).
(a) Desenvolvimento de subgrãos em grão de plagioclásio sem geminação. Lâmina CM22-87/8.
(b) Com um pequeno giro da platina do microscópio, o grão que está circundado de branco na
fotomicrografia (a) evidencia o desenvolvimento de subgrãos.
(c) Evidência de outro processo de recristalização que esteve ativo nessas rochas. Este processo,
denominado de bulging, possibilitou a migração dos limites dos grãos e a formação e
desenvolvimento de novos grãos nos limites dos porfiroclastos. Lâmina CM09-80/28.
(d) Com um pequeno giro da platina do microscópio, a continuidade óptica entre o porfiroclasto e o
grão que está se formando pelo processo de recristalização por bulging fica mais evidente. Mesma
lâmina de (c).
(e) Zonas de moderada distorção da rede cristalina em um porfiroclasto de plagioclásio invadidas por
zonas de recristalização. A formação de grãos recristalizados nas margens e ao longo de destas
zonas de distorção da rede cristalina, na maioria das vezes, consome parcialmente o porfiroclasto.
Lâmina CM09-91/8.
(f) Zonas de alta deformação de rede cristalina em um porfiroclasto de plagioclásio. Trilhas de grãos
recristalizados adentram o porfiroclasto ao longo destas zonas deixando-o quase que
completamente consumido pela matriz recristalizada dinamicamente. Lâmina CM19-69/10.
135
De uma forma geral, os porfiroclastos são contornados por uma matriz de plagioclásio e agregados de
minerais máficos constituídos, principalmente, de piroxênios, biotita e óxidos de Fe-Ti (Prancha V.4),
embora eles também se apresentem inteiramente contornados por grãos de plagioclásio da matriz. Os limites
entre os porfiroclastos e estas fases minerais, quando observados em detalhe, se apresentam de duas formas:
(i) irregulares; e (ii) retos a quase retos. Os limites irregulares possuem formas serradas, lobados ou
completamente indefinidas (Pranchas V.7d, V.7e). Os limites retos a quase retos são observados quando
novos grãos em contato com os porfiroclastos estão poligonizados ou em vias de poligonização (Prancha
V.7f).
V.5.2.2 - Microestruturas da matriz de plagioclásio
A matriz das rochas anortosíticas analisadas representa de 50 a 60% do volume da rocha e é constituída,
principalmente, de plagioclásio e, subordinadamente, de piroxênios, biotita e óxidos de Fe-Ti-V (Prancha
V.8a). Os grãos de plagioclásio da matriz se apresentam de diferentes formas: (i) límpidos, sem indícios de
deformação e/ou geminação ou com muito pouco destes aspectos deformacionais (Prancha V.8b); (ii) com
geminação primária, segundo a lei albita (Prancha V.8c); (iii) com texturas poligonizadas com junções
tríplices a 120º (Prancha V.8d); e (iv) com geminação mecânica, ocasionalmente encurvada, e com extinção
ondulante (Prancha V.8e). A maioria destes grãos se apresenta nas três primeiras formas citadas. Geralmente
eles são isomorfos e possuem tamanhos que variam de 0,01 a 0,8 mm, com tamanho médio de 0,5 mm. Os
grãos da forma (iv) possuem formas ligeiramente alongadas, tamanhos variando de 0,3 a mais de 2 mm e
limites de grãos irregulares. Esta grande variação sugere que muitos deles são remanescentes de antigos
porfiroclastos.
Os limites destes grãos recristalizados têm geometrias que variam de reta (com junções tríplices a 120º) a
ligeiramente suturada. Em alguns setores das lâminas, pode-se observar limites curvos ou irregulares
(Prancha V.8f). De uma forma geral, os grãos recristalizados de plagioclásio não apresentam uma orientação
preferencial de forma, embora se observe uma orientação de forma incipiente nas proximidades dos
porfiroclastos (Prancha V.9a).
Muitos aspectos encontrados nesta matriz de plagioclásio são indicativos de que estes grãos, ou pelo menos
parte deles, também sofreram deformação dúctil. A presença de geminação segundo as leis albita e periclina
é muito comum nos grãos da matriz. Elas se estendem por todo o grão ou podem se apresentar partindo da
borda em direção ao centro e na forma de cunha. Kink bands e limites de grãos de baixo ângulo também são
observados em muitos grãos recristalizados (Pranchas V.8e, V.9b). Estes aspectos microestruturais estão de
acordo com a interpretação de que grãos da matriz são produtos de recristalização dinâmica (Nicolas &
Poirier 1976).
Prancha V.7
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
Op
0 0,5 1,0mm
0 0,15 0,3mm
0 0,5 1,0mm
0 1,0mm
0 1,0mm
0 0,5 1,0mm
136
137
Prancha V.7 - Fotomicrografias das microestruturas dos porfiroclastos de plagioclásio (nicóis
cruzados).
(a) Microestrutura sugestiva de nucleação. Lâmina CM22-89/9.
(b) Detalhe da fotomicrografia (a).
(c) Grão de plagioclásio alongado (ao centro) formado, provavelmente, de um grão anteriormente
maior que foi consumido pelo processo de recristalização dinâmica. Lâmina CM08-93/21.
(d) Limites de grãos irregulares entre o porfiroclasto de plagioclásio e as outras fases minerais.
Lâmina CM08-81/8.
(e) Limites de grãos irregulares entre o porfiroclasto de plagioclásio e as outras fases minerais.
Lâmina CM22-65/30.
(f) Limites retos a quase retos entre o porfiroclasto de plagioclásio e os grãos da matriz. Os limites
retos são observados quando novos grãos em contato com o porfiroclasto estão poligonizados ou
em vias de poligonização. Lâmina CM20-75/17.
Prancha V.8
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
0 1,0mm
0 0,15 0,3mm
0 0,15 0,3mm
0 0,15 0,3mm
0 0,5 1,0mm
0 0,5 1,0mm
138
139
Prancha V.8 - Fotomicrografias das microestruturas da matriz de plagioclásio (nicóis cruzados).
(a) Visão geral da matriz das rochas anortosíticas analisadas. Ela é constituída, principalmente, de
plagioclásio e, subordinadamente, de piroxênios, biotita e óxidos de Fe-Ti-V. Lâmina CM09-
64/32.
(b) Grãos de plagioclásio da matriz límpidos, sem indícios de deformação e/ou geminação ou com
muito pouco destes aspectos deformacionais. Lâmina CM08-87/12.
(c) Grãos de plagioclásio da matriz com geminação primária segundo a lei albita. Lâmina CM09-
90/30.
(d) Grãos de plagioclásio da matriz apresentando texturas poligonizadas com junções tríplices a 120º.
Lâmina CM09-85/30.
(e) Grãos de plagioclásio da matriz com limites de grãos irregulares, formas ligeiramente alongadas e
apresentando aspectos deformacionais tais como geminação em cunha e encurvamento de
geminação. Lâmina CM08-81/5.
(f) Grãos de plagioclásio da matriz apresentando tanto limites curvos, irregulares e ligeiramente
suturados quanto retos e com junções tríplices a 120º. Lâmina CM22-85/11.
Prancha V.9
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
0 1,0mm
0 1,0mm
0 0,5 1,0mm
0 0,5 1,0mm
0 1,0mm
0 1,0mm
140
141
Prancha V.9 - Fotomicrografias das microestruturas dos minerais da matriz.
(a) Grãos recristalizados de plagioclásio apresentando uma orientação preferencial de forma incipiente
nas proximidades do porfiroclasto. Lâmina CM19-67/23 com nicóis cruzados.
(b) Visão geral da matriz das rochas anortosíticas mostrando alguns aspectos deformacionais (extinção
ondulante e geminação em cunha) dos grãos de plagioclásio. Lâmina CM09-76/18 com nicóis
cruzados.
(c) Grãos de piroxênios poligonais observados ao longo das margens de um porfiroclasto de
piroxênio. Lâmina CM19-64/21 em luz plana.
(d) Mesma fotomicrografia de (c) com nicóis cruzados. Lâmina CM19-64/21.
(e) Porfiroclasto de piroxênio rodeado de grãos de piroxênios recristalizados. Lâmina CM20-77/8 em
luz plana.
(f) Grão reliquiar de clinopiroxênio com ex-solução de ortopiroxênio. Observa-se também que grãos
recristalizados de piroxênio adentram este grão. Lâmina CM19-64/21 com nicóis cruzados.
142
As microfraturas observadas nos porfiroclastos também se desenvolveram nos grãos recristalizados. Nestes
grãos, estas fraturas podem se desenvolver dentro de um único grão ou elas podem cortar uns poucos grãos,
mas são muito menos pervasivas do que nos porfiroclastos (Pranchas V.7f, V.8d, V.8e). Localmente,
observam-se cristais maiores de plagioclásio que chegam a alcançar 1 mm. Esses cristais são relictos de
porfiroclastos que não foram totalmente consumidos pela recristalização dinâmica.
V.5.2.3 - Microestruturas dos demais minerais da matriz
Depois do plagioclásio, os piroxênios são os minerais volumetricamente mais importantes da matriz, sendo o
clinopiroxênio mais abundante que o ortopiroxênio. A presença do ortopiroxênio atesta que estas rochas
alcançaram temperaturas e pressões compatíveis com a fácies granulito. As microestruturas dos piroxênios
confirmam que estas rochas foram deformadas em altas temperaturas. Grãos recristalizados de orto e
clinopiroxênio com tamanhos médios de 0,5 mm são observados ao longo das margens de porfiroclastos de
piroxênio (Pranchas V.9c, V.9d, V.9e) e em zonas que cortam estes porfiroclastos (Prancha V.9f). Os grãos
poligonais de piroxênio podem ter se formado por recristalização dinâmica, mas a ausência de subgrãos nos
piroxênios sugere que eles podem ter se formado por microfraturamento ou cataclase, seguido por annealing
dos fragmentos ou por cimentação dos fragmentos por sobrecrescimentos opticamente contínuos do mesmo
mineral (Brodie & Rutter 1985). Os porfiroclastos de piroxênio ocasionalmente apresentam encurvamento da
clivagem (Prancha V.10a, V.10b), atestando que estes porfiroclastos sofreram deformação dúctil (Prancha
V.10c). Também apresentam ex-solução de orto em clinopiroxênio.
A biotita se apresenta de duas formas. A maioria dos grãos ocorre em forma de palhetas (Pranchas V.10a,
V.10d) e contornando os porfiroclastos de plagioclásio, sugerindo uma origem magmática. Grãos sem forma
definida e com forte pleocroísmo (Prancha V.10e) ocorrem associados, principalmente, aos agregados de
minerais máficos e, subordinadamente, aos grãos em forma de palhetas que contornam os porfiroclastos de
plagioclásio.
Os agregados de minerais máficos são constituídos principalmente de piroxênios. Os anfibólios ocorrem
como minerais de alteração associados a estes minerais máficos (Pranchas V.9c, V.9e, V.10a). Os óxidos de
Fe-Ti também estão associados aos agregados de minerais máficos e constituem produto de alteração destes
minerais (Pranchas V.10d, V.10e). Estes óxidos também ocorrem como grandes cristais (oikocristais?),
provavelmente cristalizadas durante ou após a deformação, uma vez que carregam pedaços de minerais
deformados, de piroxênios com ex-solução e matriz de plagioclásio poligonizada (Prancha V.10f).
Prancha V.10
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
0 1,0mm
0 1,0mm
0 0,5 1,0mm
0 1,0mm
0 0,5 1,0mm
0 0,15 0,3mm
143
144
Prancha V.10 - Fotomicrografias das microestruturas dos minerais da matriz.
(a) Aspecto geral dos agregados de minerais máficos. Lâmina CM19-67/23 em luz plana.
(b) Porfiroclasto de piroxênio apresentando geminação encurvada. Lâmina CM09-76/18 com nicóis
cruzados.
(c) Grão de piroxênio apresentando ex-solução. Lâmina CM19-64/21 com nicóis cruzados.
(d) Biotita em forma de palhetas. Lâmina CM19-64/21 em luz plana.
(e) Biotita sem forma definida e com forte pleocroísmo. Lâmina CM20-77/8 com nicóis cruzados.
(f) Grande cristal de óxido de Fe-Ti intersticial. Lâmina CM19-64/21 com nicóis cruzados.
145
A matriz também é constituída de quartzo, em proporções modais que alcançam até 5%. Ocasionalmente, ele
encontra-se na forma de ribbon (Prancha V.11a, V.11b), sugerindo que ele já fazia parte da matriz da rocha
quando ela foi deformada. Análises da matriz efetuadas em microssonda eletrônica mostraram que a mesma
também é constituída de feldspato alcalino. Estes raramente são identificados em microscopia óptica, embora
sua presença seja constante, principalmente em locais onde não seriam esperados, tais como na matriz que
adentra os porfiroclastos de plagioclásio.
V.5.2.4 - Mecanismos de deformação do Maciço de Samaritana/Carapussê
As observações microestruturais das rochas anortosíticas do Maciço de Samaritana/Carapussê foram
efetuadas ao microscópio óptico. Estas microestruturas foram comparadas com diversos dados de rochas
ricas em plagioclásio, deformadas natural e experimentalmente, existentes na literatura (Jensen & Starkey
1985, Olsen & Kohlstedt 1985, Olesen 1987, Ji & Mainprice 1988, Kruse et al. 2001, Lapworth et al. 2002,
Stünitz et al. 2003, Xie et al. 2003, Rosenberg & Stünitz 2003). Estes dados permitiram inferir e interpretar
os mecanismos de deformação que, possivelmente, atuaram neste maciço.
A interdependência do fraturamento e da deformação plástica cristalina observada experimentalmente tem
implicações importantes para a deformação do plagioclásio na natureza. Esta relação foi demonstrada por
Tullis et al. (1990) e por Tullis & Yund (1992). O início da deformação plástica nestes experimentos ocorreu
em um regime de pressão e temperatura, onde o fraturamento distribuído é pervasivo nas amostras, e existem
zonas plasticamente deformadas entre as fraturas. Feldspatos naturalmente deformados mostram evidência
para o fraturamento durante a deformação de altas temperaturas, mesmo que esta ocorra em temperaturas tão
altas quanto entre 700 e 900ºC, quando o fluxo de discordâncias é claramente o mecanismo dominante
(Goode 1978, Sodré Borges & White 1980, Brown & Macaudière 1984, Kruse & Stünitz 1999, Kruse et al.
2001). Assim, o fraturamento sempre acompanha a deformação plástica do plagioclásio na natureza e parece
ser um precursor comum para a geração de discordâncias, certamente no regime de plasticidade de baixa
temperatura. A geração de discordâncias devido a fraturamento já tinha sido descrita por McLaren & Pryer
(2001). Estes autores sugeriram que, em um regime de deformação semi-brittle, existe não apenas a
superposição dos processos de fraturamento e de deslizamento de discordâncias, mas que estes processos
interagem e são mutuamente independentes. Desta forma, a interação de fraturamento e atividade de
discordâncias provavelmente promove a transição da deformação rúptil para a plástica nos feldspatos. O
fraturamento nos feldspatos é especialmente fácil devido aos seus dois perfeitos sistemas de clivagem (Tullis
& Yund 1985, 1987, 1992, Hadizadeh & Tullis 1992). A interação entre fraturamento e atividade de
discordâncias é potencialmente importante para outros minerais com sistemas de clivagem bem
desenvolvidos, tais como anfibólios e piroxênios (Kenkmann & Dresen 2002).
Prancha V.11
(a) (b)
(c) (d)
0 0,5 1,0mm
0 0,5 1,0mm
0 0,5 1,0mm
Qz
Qz
FK
FK
0 0,5 1,0mm
146
147
Prancha V.11 - Fotomicrografias das microestruturas dos minerais.
(a) Presença de quartzo e feldspato alcalino na matriz da rocha anortosítica. O quartzo também se
apresenta na forma de ribbon. Lâmina CM09-69/38 com nicóis cruzados.
(b) Fratura aberta atravessando indistintamente porfiroclastos e matriz. Lâmina CM09-78/38 em luz
plana.
(c) Mesma fotomicrografia de (c) mostrando que a fratura está preenchida por um material isotrópico
que carrega pedaços de minerais. Lâmina CM09-78/38 com nicóis cruzados.
(d) Presença de alterações de baixa temperatura, tais como sericitização dos grãos de plagioclásio, em
pequenas proporções. Lâmina CM20-63/30 com nicóis cruzados.
148
O primeiro mecanismo de deformação ativado é a geminação. Ela implica em um pequeno rearranjo da
estrutura cristalina e só acomoda uma quantidade limitada de deformação. A natureza descontínua das
geminações é indicativa de uma origem deformacional, e tais geminações ocorrem somente segundo as leis
albita e periclina. Ambas envolvem um cisalhamento de cerca de 8º (Vance 1961, Seifert 1964, Vernon
1965, Lawrence 1970). As geminações albita são mais amplamente distribuídas do que as geminações
periclina. Esta observação concorda com aquelas de Vance (1961) e White (1975), que sugerem que o
esforço cisalhante resultante crítico para a geminação albita é um pouco mais baixo do que para a geminação
periclina. A diferença na abundância das geminações albita e periclina não pode ser explicada em termos de
diferenças no número de grãos orientados favoravelmente para a geminação sobre uma ou outra lei. A
geometria da geminação é tal que, se o esforço de cisalhamento é alto sobre um dos sistemas de geminação,
ele é também alto sobre o outro (Borg & Heard 1969). Com a continuação da deformação, esta progride para
o deslizamento de discordâncias.
As demais microestruturas ópticas (extinção ondulante, subgrãos, bandas de deformação), além da presença
do ortopiroxênio, são indicativas de que a deformação alcançou condições de fácies granulito. A extinção
ondulante é formada mais precocemente na deformação. Um aumento na deformação (e tempo), resulta nos
subgrãos opticamente observáveis e nas microestruturas de bandas de deformação (Olsen & Kohlstedt 1985).
A maioria das bandas de deformação faz grandes ângulos com (001) e tem sido interpretada como resultado
de deslizamento sobre este plano (Seifert 1965, Borg & Heard 1969, 1970, Vernon 1975, Debat et al. 1978,
Goode 1978).
Dos dados existentes na literatura sobre a recristalização dinâmica do plagioclásio, alguns autores
consideram que esta ocorre pelos processos de migração dos limites dos grãos e por rotação progressiva de
subgrãos (Poirier & Guillopé 1979, Urai et al. 1986, Drury & Urai 1990), enquanto que outros sugerem que
além destes dois processos, ela também ocorre por bulging. Na recristalização por migração dos limites dos
grãos, a reestruturação dos grãos é acompanhada por uma rápida migração dos limites dos grãos entre
núcleos sem deformação de rede cristalina e o grão parental deformado. Já na recristalização por rotação
progressiva de subgrãos, a desorientação progressiva dos limites dos subgrãos leva eventualmente à
formação de novos grãos de tamanhos quase iguais aos dos subgrãos.
Uma das características microestruturais que pode distinguir qual dos dois processos foi o dominante é a
orientação cristalográfica dos grãos recristalizados em relação ao grão parental. Nos grãos recristalizados por
rotação progressiva de subgrãos, existe um controle entre estes grãos e o seu grão parental. Para os grãos
recristalizados pelo processo de migração dos limites dos grãos, pode ser difícil reconhecer os fatores que
controlaram a orientação dos grãos recristalizados (Drury & Urai 1990, Ji & Mainprice 1990, Dornbusch et
al. 1994). Se ambos os processos atuam simultaneamente, o processo dominante pode ser identificado por
análises de desorientação. Com o aumento da densidade de discordâncias, a desorientação no limite do
149
subgrão também aumenta até que ele se torne um limite de grão de alto ângulo (Fitz Gerald et al. 1983, Cahn
1983, Drury et al. 1985, Drury & Urai 1990). Assim, a geometria do limite do grão observado não
necessariamente representa a relação inicial entre grãos vizinhos. Entretanto, a desorientação cristalográfica
entre dois grãos não é mudada por migração dos limites dos grãos e proporciona uma ferramenta útil para a
determinação dos processos de recristalização.
Durante a recristalização, as orientações cristalográficas dos grãos mudam, e grãos de certas orientações
podem crescer enquanto outros são consumidos. O crescimento, o consumo e o processo de recristalização
dominante dependem da densidade de discordâncias e da ativação de determinados sistemas de deslizamento
que, por sua vez, dependem da orientação dos cristais em relação à direção de esforço principal. Os grãos
podem ser divididos nos que estão orientados convenientemente para o deslizamento e nos que não estão
orientados convenientemente para o deslizamento. Karato (1987, 1988) mostrou que as taxas de
recristalização e reorientação são diferentes nos dois tipos de grãos. Eles podem ser formados por um
aumento na deformação e recristalização e geralmente sua dimensão maior se encontra aproximadamente
paralela à foliação da rocha, a qual é definida pelos agregados de minerais máficos. Com relação às formas
alongadas e globulares dos porfiroclastos de plagioclásio, observa-se que os grãos alongados estão
geralmente paralelos à foliação da rocha e que estes possuem abundantes microestruturas de deformação
plástica. Isto sugere que eles estão em posição mais favorável ao deslizamento do que os globulares.
Neste maciço, as microestruturas sugerem que os dois processos de recristalização dinâmica estiveram ativos
(Burgos et al. 2003a). A presença de porfiroclastos de plagioclásio dividido em subgrãos mostrando
intervalos de desorientação dos limites dos grãos entre estes e o grão parental é interpretada como resultado
de recristalização por rotação de subgrãos. Além disto, este processo é normalmente sujeito a um controle
hospedeiro, conforme demonstrado por Vernon (1975) para o plagioclásio. No presente caso, análises
efetuadas pelo método EBSD (detalhadas no capítulo a seguir) demonstraram que pelo menos parte desta
matriz tem um controle do grão parental (Burgos et al. 2003b), o que reforça a atuação do processo de
recristalização por rotação de subgrãos. A rotação progressiva de subgrãos é uma maneira eficiente e bem
estabelecida de gerar novos grãos durante a recristalização dinâmica em moderadas temperaturas dentro do
regime de fluxo de discordâncias (Hobbs 1968, Urai et al. 1986, Drury & Urai 1990, Hirth & Tullis 1992,
Yund & Tullis 1991).
O significado das microestruturas de deformação é ressaltado pelo conhecimento da temperatura nas quais
elas foram formadas (Hobbs 1985). Ashby (1972) introduziu o conceito de mapas de mecanismos de
deformação para estudar a deformação das rochas. Nestes mapas, as condições sob as quais um mecanismo
de deformação domina é plotado em um espaço temperatura x esforço a um tamanho de grão constante, ou
em um espaço esforço x tamanho do grão a temperatura constante para diferentes velocidades de deformação
(Langdon 1985, Poirier 1985). A recristalização tipicamente começa no início da fácies anfibolito ou em
150
temperaturas ligeiramente mais baixas (Voll 1976, Altenberger et al. 1987). Em temperaturas acima de cerca
de 500ºC as microestruturas de deformação estão principalmente relacionadas a uma associação de
deslizamento e salto de discordâncias, enquanto que em temperaturas mais baixas o deslizamento de
discordâncias é dominante (Gandais & Willaime 1984). Assim, encurvamento e kinking são comuns na
fácies xisto verde alto.
Em condições metamórficas de baixo grau (fácies xisto verde a anfibolito baixo), o plagioclásio deforma
amplamente de uma forma rúptil (Wakefield 1977, Bossière & Vauchez 1978, Debat et al. 1978, Lawrence
1978, Mitra 1978, Berthé et al. 1979, White et al. 1980). Os porfiroclastos de plagioclásio das rochas
anortosíticas dos maciços da Samaritana e de Carapussê estão fraturados, e estas fraturas ocasionalmente
atravessam a matriz. Foram observadas, embora raramente, fraturas abertas atravessando indistintamente
porfiroclastos e matriz, preenchidas por um material isotrópico que carrega pedaços dos minerais destas
rochas (Pranchas V.11b, V.11c). Alterações de baixa temperatura, tais como sericitização do plagioclásio,
estão presentes em pequenas proporções (Pranchas V.11d, V.11e). Estes aspectos são indicativos de uma
deformação rúptil posterior à deformação de alta temperatura, provavelmente relacionada ao soerguimento
deste maciço.
Quanto à matriz destas rochas, duas interpretações são possíveis quanto à sua origem: (i) ela foi formada
somente por recristalização dos porfiroclastos; ou (ii) a rocha já possuía inicialmente uma textura magmática
bimodal. As análises das microestruturas indicaram que o anortosito possuía uma textura inicialmente
bimodal e que parte da matriz foi formada por recristalização dinâmica. Há evidências de duas gerações de
grãos recristalizados. A primeira geração de novos grãos é formada por rotação de subgrãos e contém tanto
subgrãos como geminação mecânica em cunha, os quais são substituídos por uma segunda geração de novos
grãos opticamente sem deformação. Estes grãos sem deformação provavelmente foram criados por
recristalização por migração dos limites dos grãos, e como grande parte dos limites dos grãos são retos e
tendem a se intersectar a 120º, este processo deve ter sido dirigido pela energia de superfície nos seus
estágios finais.
Todavia, microestruturas como subgrãos nos limites dos porfiroclastos indicam que pelo menos parte dos
grãos de plagioclásio e piroxênios que formam a matriz foi formada por uma redução de tamanhos de grãos
durante uma recristalização dinâmica induzida por deformação (acumulação de discordâncias durante o
deslizamento intracristalino) (Nicolas & Poirier 1976, Ji & Mainprice 1990).
As observações efetuadas ao microscópio óptico das amostras do Maciço de Samaritana/Carapussê parecem
indicar que houve a atuação de mais de um mecanismo de deformação. A interpretação das microestruturas
aponta para fluxo de discordância acomodado pela recristalização (recrystallisation-accommodated
dislocation creep), que é a combinação de deslizamento intracristalino e recristalização dinâmica, como o
151
mecanismo de deformação dominante destas rochas. Entretanto, a contribuição de outros mecanismos não
pode ser descartada, como por exemplo, anneling, pois existem grãos da matriz indeformados.
Todas as microestruturas observadas são conseqüências de defeitos da rede cristalina em microescala e estão
diretamente relacionadas aos processos de deformação, embora raramente seja possível caracterizar estes
defeitos somente utilizando as observações efetuadas em um microscópio óptico. Para uma caracterização
mais efetiva dos mecanismos de deformação, geralmente são necessários estudos de resolução mais alta,
envolvendo microscopia eletrônica, como por exemplo, aqueles efetuados em um MET. Embora no presente
trabalho as amostras não tenham sido analisadas em um MET, existem vários trabalhos na literatura
(Gandais & Willaime 1984, Marshall & McLaren 1977, Willaime et al. 1979, Olsen & Kohlstedt 1985), que
correlacionam microestruturas de deformação de cristais de plagioclásio deformados experimentalmente e
naturalmente observadas em um microscópio óptico com as observadas em um MET.
CAPÍTULO VI
A técnica EBSD - electron backscatter diffraction
VI.1 - Orientações preferenciais cristalográficas: da platina universal
ao microscópio eletrônico de varredura
As relações existentes entre os eixos ópticos e os eixos cristalográficos permitem determinar a orientação
cristalográfica de minerais (Deer et al. 1966). As orientações preferenciais cristalográficas (OPCs),
conhecidas em inglês pelas siglas LPO (lattice preferred orientation) ou CPO (crystal preferred orientation),
e as orientações preferenciais de forma (OPFs), SPO (shape preferred orientation) em inglês, são alguns dos
tipos de orientações preferenciais que podem ser estudados em minerais.
Apesar do plagioclásio ser o mineral mais abundante na crosta terrestre (Ronov & Yaroshevsky 1969),
existem poucos trabalhos enfocando o estudo de suas orientações preferenciais quando comparado a outros
minerais, a exemplo do quartzo, olivinas, piroxênios e calcita. Muito pouco é conhecido sobre as orientações
preferenciais que ele desenvolve durante a deformação e a recristalização. Esta falta de dados é devida,
principalmente, a sua grande variação química (de NaAlSi
3
O
8
para CaAl
2
Si
2
O
8
), que é acompanhada por
uma mudança contínua nos seus parâmetros de rede cristalina, e por sua simetria triclínica. As OPCs podem
ser utilizadas para fornecer valiosas informações sobre o plagioclásio, dentre elas:
(i) o seu comportamento reológico e mecanismos de deformação (Wenk et al . 1986; Ji et al. 1988; Benn
& Allard 1989, Schmid & Casey 1986, Wenk & Christie 1991);
(ii) na análise cinemática e dinâmica de rochas tectonizadas, permitindo a identificação das direções e
sentido do movimento, respectivamente, dos esforços atuantes e a sua orientação (Egydio-Silva &
Mainprice 1999);
(iii) para modelar a anisotropia de outras propriedades físicas, contribuindo assim para os estudos de
anisotropia sísmica da crosta (Barruol et al. 1992, Ji et al.1993, Seront et al.1993, Ji & Mainprice
1988, Mainprice & Nicolas 1989).
Quanto as OPFs, estas podem ser usadas para determinar o sentido de cisalhamento do fluxo magmático
(magmatic shear sense), o qual é importante para a análise da deformação na câmara magmática (Benn &
Allard 1989).
Antes do desenvolvimento das técnicas de medida de orientações cristalográficas por difração eletrônica, os
trabalhos publicados sobre as OPCs do plagioclásio em amostras deformadas naturalmente ou
153
experimentalmente determinavam as orientações preferenciais da indicatriz óptica (Shelley 1979, Suwa
1979, Ji et al. 1994, Wenk et al. 1986, Ji et al.1988, Ji & Mainprice 1988, 1990). Ao microscópio óptico, a
medida das OPCs é feita com uma platina universal de 5 eixos montada sobre o microscópio e baseia-se nas
relações existentes entre as propriedades ópticas de um mineral e sua estrutura cristalográfica. Com este
instrumento, medidas das indicatrizes ópticas, dos planos de clivagem ou dos planos de composição das
geminações são relativamente diretas. Este método de medida das OPCs utilizando a platina universal
apresenta algumas limitações:
(i) ele é muito demorado;
(ii) como as informações cristalinas obtidas se limitam as indicatrizes ópticas, a orientação do cristal pode
ser determinada se houver uma correspondência entre as indicatrizes ópticas e os eixos cristalográficos
principais, como por exemplo, no caso de minerais ortorrômbicos (olivinas e ortopiroxênio). Nestes
minerais, as direções das indicatrizes ópticas (N
p
, N
m
e N
g
ou D, E e J) são paralelas às principais
direções cristalográficas, permitindo assim que as orientações preferenciais cristalográficas possam ser
inferidas diretamente das medidas das indicatrizes. Para minerais uniaxiais (calcita ou quartzo), como
somente a orientação de um eixo pode ser conhecida, as informações para a determinação das
propriedades físicas são insuficientes. Para minerais monoclínicos (diopsídio), somente um eixo
cristalográfico corresponde a uma indicatriz óptica. Para os de simetria triclínica, como é o caso do
plagioclásio, os eixos da indicatriz óptica não são paralelos aos eixos cristalográficos. Sendo assim,
nenhuma das principais direções cristalográficas pode ser inferida diretamente da indicatriz. Para
determinar a orientação do cristal nestes casos, é necessário medir um plano cristalográfico
suplementar (clivagem ou geminação) para minerais monoclínicos, ou dois planos, para minerais
triclínicos. Principalmente no caso do plagioclásio, a utilização da platina universal para a obtenção de
dados quantitativos de orientações preferenciais cristalográficas é muito trabalhosa;
(iii) não se pode medir a orientação cristalográfica de minerais opticamente isotrópicos;
(iv) não se pode medir grãos de tamanho muito pequeno.
As medidas das OPCs em um microscópio eletrônico de varredura (MEV) permitiram superar estas
limitações (Lloyd & Hall 1981, Christiansen 1986, Lloyd & Ferguson 1986, Ferguson et al. 1987, Lloyd et
al. 1987). Nos últimos 50 anos, houve um grande progresso no entendimento do fenômeno da difração de
elétrons baseado em um MEV e no seu uso para gerar importantes informações para geocientistas e cientistas
dos materiais.
VI.1.1 - Microscopia eletrônica de varredura - fundamentos
Em um MEV, um feixe eletrônico varre a superfície da amostra. A interação entre o feixe de elétrons e
amostra produz a emissão de diferentes sinais. Entre a amostra e os elétrons incidentes, existem interações
154
inelásticas e elásticas. Quando ocorre uma interação inelástica, o elétron incidente perde parte de sua energia
cinética, e dá origem aos elétrons secundários, que são elétrons de superfície cuja energia é inferior a 50 eV,
e à emissão de radiação no espectro visível. A interação elástica entre os elétrons incidentes e os átomos da
amostra dá origem aos elétrons retroespalhados. Como os elétrons não perdem sua energia cinética durante a
interação, a energia dos elétrons retroespalhados é próxima àquela dos elétrons incidentes.
A exploração dos diferentes sinais produzidos por um MEV faz deste um instrumento de numerosos usos,
dentre eles:
(i) os elétrons secundários, que são elétrons de superfície, fornecem uma imagem da topografia e das
variações de orientações dos cristais;
(ii) através da análise da intensidade de emissão de elétrons retroespalhados, que é função do quadrado do
número atômico do material varrido (Goldstein et al. 1981), obtém-se uma imagem em contraste de
número atômico médio dos minerais;
(iii) a emissão de radiação no espectro do visível é utilizada para a catodoluminescência. Ela oferece a
possibilidade de ver as impurezas e os defeitos dentro dos cristais;
(iv) os raios X permitem fazer análises químicas qualitativas;
(v) enfim, a utilização da difração de elétrons retroespalhados pela rede cristalina (em inglês, electron
backscattered diffraction - EBSD) (Newbury & Yakowitz 1975), permite obter a orientação
cristalográfica do material.
VI.2 - Histórico e generalidades
A maior parte (>95%) do sinal retroespalhado é devida ao contraste de número atômico médio. Contudo, nos
materiais cristalinos, uma parte do sinal é produzida pela interação entre os elétrons incidentes e a estrutura
cristalográfica. Os elétrons incidentes vão penetrar na rede cristalina e vão ser canalizados entre os planos
atômicos. Os elétrons difratados vão formar uma imagem de difração da rede cristalográfica, composta de
bandas mais ou menos largas e brilhantes chamadas bandas de Kikuchi (Fig. VI.1) (Kikuchi 1928), cuja
simetria vai refletir a simetria do cristal neste ponto de medida.
Na década de 50, Alam et al. (1954) descreveram uma técnica de difração de elétrons capaz de fornecer
informações cristalográficas locais da amostra analisada. Entretanto, a sua aplicação em um MEV só foi
possível nos anos 70, após a divulgação do trabalho de Venables & Harland (1973). No final da década de 70
esta técnica foi aprimorada com o advento dos sistemas de aquisição de vídeo e correção de imagens
(Newbury & Yakowitz 1975).
155
Figura VI.1 - Formação das linhas de Kikuchi seguida da difração de elétrons sobre os planos
reticulares (após Randle & Engler 2000).
A técnica EBSD possibilita extrair informações relacionadas à estrutura do cristal, fornecendo as relações
entre cristalografia, morfologia, química e propriedades físicas da amostra a ser investigada. Esta poderosa
ferramenta analítica permite uma rápida e acurada medida de orientação de cristais individuais e com grande
precisão. A sua principal vantagem é que a microestrutura pode ser ligada à cristalografia em pontos
específicos definidos pelo usuário. As principais aplicações desta técnica são em medidas de orientação e
desorientação (misorientation), identificação de fases, avaliação de deformação e tamanho verdadeiro dos
grãos. Em se tratando do plagioclásio, ela tem a vantagem de ser rápida e precisa embora, até então, poucos
laboratórios tenham um MEV acoplado com um sistema EBSD.
VI.3 - Princípios da técnica EBSD
Embora não seja necessário compreender a origem da informação contida nas imagens dos EBSPs para
adquirir os dados de orientação cristalográfica, é importante considerar os diferentes princípios (Ben Ismaïl
1999):
(i) as linhas de Kikuchi são produzidas por elétrons do feixe incidente que sofreram dois tipos de interação
na amostra. Uma primeira interação inelástica produz uma dispersão do feixe de elétrons. Esta mudança de
direção pode ser tal que um elétron desviado se encontra em posição de Bragg para uma família de planos
reticulares (hkl). Ele é então difratado (interação elástica) pela família de planos reticulares e sofre uma
mudança de direção 2ș (Fig. V.1). As difrações de elétrons pelos planos reticulares se fazem com um ângulo
ș (ângulo de Bragg) que satisfaz à lei de Bragg (Bragg & Bragg 1949):
156
n Ȝ = 2d
hkl
sin ș,
onde d é a distância interreticular, n é um número inteiro (ordem de reflexão) e Ȝ é o comprimento de onda
que é inversamente proporcional à energia dos elétrons incidentes (Alonso & Finn 1979). A difração se faz
em três dimensões e dá origem a dois cones de difração, que são chamados cones de Kossel. Existe mais
energia dentro dos dois cones que barulho de fundo. Sobre uma tela de fósforo, os dois cones produzirão
duas linhas que delimitarão uma zona brilhante de espessura proporcional a 2ș, que é uma banda de Kikuchi.
(ii) os elétrons difratados no EBSD provêm da parte superior da amostra. Quanto mais os elétrons incidentes
forem energéticos, mais importante será a profundidade de penetração destes elétrons na amostra.
(iii) por outro lado, o aumento da energia do feixe incidente não aumenta consideravelmente a energia dos
elétrons difratados. Uma variação de energia do feixe incidente de 10 a 49 KeV provoca somente um
aumento de 10% da energia dos elétrons difratados (Goldstein et al 1981). Este fraco aumento de energia
está ligado a um aumento do volume de interação: quanto mais um elétron penetrar em profundidade na
amostra, maior será a perda de sua energia por interação inelástica. Com os fenômenos de difração se
produzindo em pouca profundidade (da ordem de 30 nanômetros), os elétrons de alta energia são
concentrados sobre uma banda energética próxima àquela dos elétrons incidentes. Os elétrons
retrodifundidos de fraca energia são fracos demais para fazer cintilar a tela de fósforo. O barulho de fundo é
formado pelos elétrons que não foram difratados pela estrutura cristalina.
(iv) o aumento do ângulo de incidência provoca uma diminuição do volume de interação dos elétrons: quanto
maior a importância do ângulo de incidência mais os elétrons difratados terão uma energia próxima dos
elétrons incidentes (Goldstein et al. 1981).
Destes princípios, ressalta-se um certo número de pontos que justificam que a análise das bandas de Kikuchi
é apropriada para determinar a orientação preferencial da rede cristalina:
(i) a perda de energia dos elétrons por interação inelástica com a amostra é fraca com relação à energia do
feixe incidente, da ordem de 1% (Alam et al. 1954). Conseqüentemente, as bandas de Kikuchi são
perfeitamente bem marcadas.
(ii) os cones de Kossel são diretamente ligados à orientação dos planos reticulares. A interseção de um cone
de Kossel com a tela de fósforo corresponde a um plano reticular. A orientação de uma banda de Kikuchi
formada por um par de cones de Kossel corresponde à orientação de uma família de planos reticulares.
Conseqüentemente, os ângulos entre as bandas de Kikuchi correspondem aos ângulos que as famílias dos
planos reticulares fazem entre eles, e a interseção entre duas bandas representa uma direção cristalográfica.
157
(iii) a distância entre um par de cones de Kossel é proporcional ao ângulo 2ș. Conseqüentemente, segundo a
lei de Bragg, a largura de uma banda de Kikuchi é inversamente proporcional à distância interreticular.
(iv) a utilização de elétrons muito energéticos (15 a 20 kV) é devido ao fato de que quanto mais forte a
energia dos elétrons menor o comprimento de onda emitido (Alonso & Finn 1989). Conseqüentemente, para
satisfazer a lei de Bragg, o termo em sin ș deve ser pequeno, assim como os ângulos de Bragg devem ser
menores para elétrons muito energéticos (~0,5º) e as seções de um par de cones serão quase direitas e
paralelas sobre uma tela de fósforo plana.
(v) a imagem em duas dimensões recolhida sobre a tela de fósforo corresponde à projeção de uma parte da
esfera de difração sobre o plano. Para analisar as relações geométricas da imagem EBSP, uma projeção
goniônica é utilizada: o centro da projeção é a imagem do ponto de impacto do feixe de elétrons incidentes
sobre a amostra. Este tipo de projeção é escolhido pela sua simplicidade de cálculo.
Em teoria, o volume de difração dos elétrons deveria ser de tamanho inferior a um cristal perfeito. Para os
materiais policristalinos, o tamanho do feixe deve ser inferior ao tamanho das variações das orientações
cristalográficas (grãos diferentes, variação de composição, presença de inclusões ou impurezas). Como o
feixe tem uma resolução de meio mícron, esta técnica é adaptada à maior parte dos minerais.
VI.4 - A aparelhagem: funções e configurações
As medidas das OPCs desta pesquisa foram adquiridas no Laboratório de Tectonofísica da Universidade de
Montpellier II, na cidade de Montpellier, França, utilizando um MEV equipado com um sistema EBSD,
através da indexação de padrões de difração de elétrons retroespalhados (Lloyd et al.1991, Adams et al.1993,
Dingley & Field 1997). O MEV utilizado nas análises é um JEOL JSM 5600 (Figs. VI.2, VI.3) acoplado a
um microcomputador com uma platina controladora DEBEN de 3 eixos (Fig. VI.4). O sistema EBSD possui
uma tela de fósforo e lentes, com uma câmera Photonic Science CoolView CCD conectada a um sistema de
análises de imagem Argus-10 (Fig. VI.4), o qual proporciona correções de fundo (background), e um
microcomputador que utiliza a tecnologia HKL com o software Channel+ da HKL Technology (Fig. VI.5).
A técnica experimental para a aquisição de EBSPs em um MEV é simples: a amostra é fortemente inclinada
em relação ao feixe eletrônico incidente (~ 70º), e o sinal difratado é captado por uma tela de fósforo que fica
no interior da câmara do MEV. Esta tela está situada na frente de uma câmara junto a um sistema de
tratamento de imagens. A imagem do EBSP é então numerizada e o software Channel+ (Schmidt & Olesen
1989) permite analisar o diagrama e obter as informações cristalográficas.
158
Figura VI.2 - Visão geral do microscópio eletrônico de varredura acoplado com o sistema EBSD d
a
Universidade de Montpellier II.
Figura VI.3 - Detalhe do microscópio eletrônico de varredura mostrando a câmara (onde é colocad
a
a lâmina), o canhão, os eixos do microscópio, a câmera de alta resolução e baixa luz e o corretor de
sinais.
159
Figura VI.4 - Detalhe do sistema EBSD acoplado ao microscópio eletrônico de varredur
a
mostrando os microcomputadores e a platina motorizada.
Figura VI.5 - Esquema interno do funcionamento do sistema EBSD.
160
O MEV é programado para funcionar controlado por computador. Mas, nas análises efetuadas nesta
pesquisa, o procedimento de aquisição dos padrões foi manual. Antes de começar as análises são feitos os
seguintes procedimentos: centragem do feixe de elétrons incidentes (regulagem manual), regulagem do
brilho (regulagem automática), colocação da imagem perfeitamente sobre a banda central da zona a ser
varrida (regulagem manual), e regulagem do diafragma (regulagem manual). O sistema é perfeitamente
eucêntrico, isto é, em qualquer ponto da amostra onde está sendo feita a medida, a distância percorrida pelo
feixe de elétrons incidente (work distance, WD) não varia.
Dentro da câmara do microscópio, existe uma platina porta-objeto que é motorizada para que sejam
efetuados os deslocamentos automáticos da amostra em X e Y. O deslocamento em X corresponde a um
deslocamento segundo o eixo horizontal e em Y, a um deslocamento ao longo da linha de maior declive da
superfície inclinada. Para as análises podem ser usadas seções polidas (10 cm
2
de área) ou lâminas delgadas
cuidadosamente polidas. No presente caso, foram utilizadas lâminas delgadas polidas de 3,5 x 3,5 cm. Estas
lâminas são colocadas em um porta-objeto e este conjunto é cuidadosamente inserido na platina do
microscópio e submetido a vácuo. Esta platina possui uma inclinação a 70º da horizontal e no presente caso
utilizou-se uma distância de trabalho (WD) de 41 mm, o que permitiu analisar a totalidade da superfície das
lâminas.
Quando se trabalha com amostras orientadas, utiliza-se a lineação da rocha paralela ao eixo X do MEV como
referencial de colocação da amostra na platina. A figura VI.6 mostra a orientação ideal de uma amostra
quando do seu corte e da sua colocação no MEV.
A preparação da amostra é essencial para a obtenção de boas figuras de difração, sobretudo para que o sinal
fique estável não só durante uma medida, mas por várias horas (Lloyd et al. 1987). Como já foi visto, tudo se
passa nos primeiros trinta nanômetros da amostra. É necessário trabalhar sobre uma superfície perfeitamente
plana e particularmente bem limpa. As análises foram efetuadas utilizando-se lâminas delgadas
cuidadosamente polidas, elaboradas através de técnicas desenvolvidas na própria Universidade de
Montpellier II, por Christophe Nevado. A qualidade do polimento das lâminas e a manipulação adequada por
parte do usuário são fundamentais para a aquisição de bons padrões. Como as lâminas de rochas possuem
uma fraca condutividade elétrica, as lâminas foram fixadas no porta-objeto por uma fita adesiva de cobre,
com o objetivo de reduzir o efeito das cargas que se acumulam na superfície da amostra.
Uma tela de fósforo é localizada próxima à seção delgada para coletar os elétrons retroespalhados e emitir
uma imagem fotônica que são os EBSPs. Ela é uma placa de vidro de 58 mm, perfeitamente plana e
recoberta por uma fina camada de fósforo, que é colocada a cerca de 25 mm da amostra, paralelamente ao
feixe de elétrons incidente e perpendicular à peça polar (Fig. VI.7). Os elétrons retroespalhados cintilam
161
Figura VI.6 - Orientação ideal de uma amostra para estudos de EBSD. Em (a) é mostrado o sistem
a
de referência externo X-Y-Z que corresponde aos eixos de elipsóide de strain. O plano XY
corresponde a uma foliação S de direção N-S, subvertical. (b) corresponde a orientação da lâmin
a
delgada; ela foi cortada no plano XZ, perpendicular ao plano de foliação. Em (c) é mostrado o sistem
a
de referência externo no estereograma de projeção.
X
XY=S
X
Y
X
N
S
Z
X
Y
X
Z
b
a
c
Z
Z
Y
Y
sobre o fósforo para fornecer a imagem dos padrões. Esta tela está anexada a um tubo de fibra óptica
localizado na parte exterior do MEV contendo uma câmera digital CCD de alta resolução e baixa luz na
outra extremidade, que transforma o sinal em uma imagem fotônica do padrão de difração (Fig. VI.8). Este
sinal é então transferido diretamente para um microcomputador por processamento digital, subtraindo o
barulho de fundo pelo sistema de tratamento de imagem Argus 20, e indexado utilizando o software
CHANNEL+. Este barulho de fundo é subtraído da totalidade do sinal recebido para que a imagem seja, em
teoria, constituída inteiramente pelos elétrons retrodifundidos que interagiram com os planos reticulares (Ben
Ismaïl 1999). A cada ponto de medida, a orientação cristalográfica inteira, que é descrita pelos ângulos de
Euler (M1, T, M2), é determinada com uma precisão melhor que 1º (Krieger Lassen 1996) e é armazenada
automaticamente em um arquivo.
A técnica EBSD permite obter, a partir da difração de elétrons retrodifundidos, a orientação espacial de todos
os minerais, com uma resolução da ordem de 1 micron, e em pouco tempo. Além do mais, graças a uma
platina motorizada acoplada ao MEV, é possível fazer um grande número de medidas por lâmina delgada
assim como cartas de orientação cristalográfica. Tais dados podem ser processados e representados de várias
formas tais como figuras pólos, orientações ideais, ângulos de Euler e desorientações. Os dados
cristalográficos podem então ser relacionados a aspectos microestruturais e assim fornecer explicações de
muitos aspectos do comportamento do material.
162
Figura VI.7 - Representação da formação de imagem EBSP em uma tela de fósforo. A amostr
a
está inclinada a 70° (Ben Ismaïl 1999).
(a) (b)
Figura VI.8 - (a) Padrão EBSD digital do plagioclásio. As bandas correspondem aos planos
reticulares. Os pontos luminosos são formados pela intercessão das bandas de Kikuchi e indicam as
direções cristalográficas. (b) Padrão EBSD de (a) indexado utilizando as linhas encontradas pel
a
transformação de Hough através do programa CHANNEL+.
163
VI.5 - Medidas das orientações preferenciais cristalográficas - OPCs
Um importante efeito da deformação plástica das rochas é o desenvolvimento de uma OPC dos seus
constituintes minerais (Nicolas & Poirier 1976). Existem, pelo menos, quatro processos pelos quais as rochas
podem desenvolver OPCs (Hobbs et al. 1981, Groshong 1988, Shelley 1989, Ji & Mainprice 1990, Park &
Means 1996, Lafrance et al.1998, Paterson et al.1998). São eles:
(i) sob deformação em altas temperaturas ou baixas taxas de deformação a orientação preferencial é
desenvolvida, sobretudo, pela plasticidade do cristal (crystal plasticity), ou seja, a deformação por
fluxo de discordâncias;
(ii) sob deformação em baixas ou altas taxas de deformação, onde se desenvolve uma OPC devido ao
alinhamento de grãos de diâmetros heterogêneos;
(iii) nas deformações onde ocorre recristalização pode se desenvolver uma orientação preferencial
associada a este processo de recristalização;
(iv) pelo crescimento de grãos sob fluxo magmático, associado ou não à deformação regional.
Os mecanismos de deformação do plagioclásio em uma variedade de condições ainda são pouco conhecidos
quando se compara com outros minerais tais como quartzo e calcita. O trabalho experimental de Tullis &
Yund (1987) encontrou que as microestruturas do plagioclásio observadas com o microscópio petrográfico
exibiam aspectos dúcteis semelhantes àqueles esperados para o fluxo de discordâncias. Já as observações
efetuadas no microscópio eletrônico de transmissão (MET) mostraram evidências de microfraturamento e
zonas microscópicas com um comportamento de fluxo cataclástico para um grande intervalo de condições,
sugerindo que este é, provavelmente, um importante mecanismo de deformação. Baseados na combinação de
análises ópticas de microestruturas e observações efetuadas em um MET, Olsen & Kohlstedt (1985)
concluíram que um plagioclásio de composição intermediária (An
25
-An
48
) sujeito à extensiva deformação
dúctil sob condições de fácies granulito baixa sofre, inicialmente, geminação mecânica seguida de um
deslizamento intracristalino.
Além das incertezas dos mecanismos de deformação, o entendimento dos padrões das OPCs do plagioclásio
é igualmente desafiante. Diferentes mecanismos têm sido propostos. Os diferentes aspectos texturais podem
ser tanto rotações geométricas de grãos alongados em um campo de deformação (Shelley 1979, Ague et
al.1990) como podem ser causados por crescimento orientado (Shelley 1989). Sob diferentes condições,
ocorre deslizamento intracristalino (Jensen & Starkey 1985, Olesen 1987, Kruhl 1987, Ji et al.1988) ou uma
combinação de deslizamento de discordâncias com geminação mecânica, se os grãos não são anisotrópicos
na forma (Ague et al.1990). A recristalização dinâmica também pode desempenhar um importante papel no
desenvolvimento das OPCs (Ji & Mainprice 1990). Uma tendência geral é atribuir as OPCs do plagioclásio
164
em rochas metamórficas a deslizamento intracristalino (intracrystalline glide) em altas temperaturas. A
maioria dos trabalhos na literatura sugere (010)[001] como o principal sistema de deslizamento do
plagioclásio. Este sistema é o responsável pelos padrões das OPCs formadas sob condições metamórficas de
alto grau, correspondentes às fácies anfibolito e granulito (Olsen & Kohlstedt 1984, 1985, Ji et al.1988, Ji &
Mainprice 1988, Ague et al.1990, Kruse & Stünitz 1999, Kruse et al.2001).
Para um melhor entendimento dos mecanismos de deformação e orientação que estiveram ativos nos
maciços gabro-anortosíticos do Sul da Bahia, estudos microestruturais foram efetuados ao microscópio
óptico em associação com as medidas das OPCs dos seus principais minerais. A técnica EBSD é capaz de
medir diretamente as orientações completas de grãos individuais e é ideal para investigar as relações
existentes entre textura e microestrutura, assim como as relações espaciais de desorientação (misorientation)
entre grãos vizinhos. Sua confiabilidade depende da correta indexação e da quantidade de medidas efetuadas.
Como já foi visto anteriormente, o procedimento inteiro de aquisição dos dados de EBSD pode ser feito
automaticamente. Entretanto, neste trabalho, as medidas das OPCs do plagioclásio e piroxênios foram feitas
manualmente, grão por grão, dispensando assim o procedimento automático de medida existente no MEV.
Os padrões de difração eram inspecionados visualmente antes de salvar os resultados. Isto permitiu que os
arquivos fossem gerados apenas com os dados válidos, uma vez que a qualidade da indexação dos padrões
obtidos foi controlada usando um Mean Angular Deviation (MAD), que é o desvio entre o padrão detectado
e o simulado, cujos valores aceitos eram menores que 1º. Este procedimento assegurou a confiabilidade das
medidas dos EBSPs.
A unidade de equiparação para a indexação dos minerais estudados foi: (i) bitownita para o plagioclásio, pois
o plagioclásio estudado tem teor de anortita que varia de labradorita a bitownita; (ii) diopsídio para o
clinopiroxênio; e (iii) bronzita para o ortopiroxênio. Os dados das fases minerais são fornecidos pelo
software Channel+ da HKL Technology. Embora tivessem sido obtidos EBSPs para plagioclásio,
clinopiroxênio e ortopiroxênio, na presente pesquisa somente o plagioclásio será discutido em termos dos
processos de deformação e orientação que ocorreram na escala de grãos.
Os maciços em estudo possuem texturas distintas e para cada um deles foi utilizado um procedimento
diferente. Para o Maciço de Samaritana/Carapussê, que possui uma distribuição bimodal do tamanho dos
grãos, as medidas foram efetuadas das seguintes formas: (i) em perfis paralelos à borda longa da lâmina,
medindo indistintamente porfiroclastos e matriz; (ii) a partir de imagens de contraste de orientação, com
medidas feitas exclusivamente na matriz; (iii) em diversos pontos nos porfiroclastos onde havia distorção da
rede cristalina; e (iv) na matriz em volta de um porfiroclasto. Para que os dados obtidos fossem
representativos, nas lâminas com matriz fina foram feitos, em média, 600 pontos. Os Maciços de Rio Piau e
Potiraguá possuem textura homogênea e foram medidos cerca de 400 grãos em perfis paralelos à borda longa
165
da lâmina. Devido ao comportamento dúctil apresentado pelo plagioclásio no Maciço de
Samaritana/Carapussê, os estudos das OPCs se concentraram neste maciço.
VI.6 - Resultados obtidos
VI.6.1 - Maciço de Samaritana/Carapussê
O Maciço de Samaritana/Carapussê é constituído por mais de 70% de plagioclásio e foi afetado por uma
importante deformação dúctil. Pela técnica EBSD, foram estudadas as rochas classificadas por Jesus (1997) e
Macêdo (2000) como anortositos. Nestas rochas, o plagioclásio apresenta-se como porfiroclastos
plasticamente deformados e como uma matriz de granulação fina. O estudo das OPCs do plagioclásio foi
executado com o objetivo de se procurar definir e entender os mecanismos de deformação que atuaram
nestas intrusões.
Para o estudo das OPCs do plagioclásio do Maciço de Samaritana/Carapussê foram selecionadas as amostras
CM08, CM09, CM19, CM20 e CM22. As fotomicrografias das lâminas das amostras CM08 e CM09
encontram-se na prancha V.2, das lâminas CM19 e CM20, na prancha V.1 e da CM22, na prancha V.3d.
Para todas as lâminas foi feita uma varredura em perfis paralelos à borda longa, com espaçamento de 3 mm
entre cada perfil, efetuando-se uma medida por cristal e totalizando, em média, 400 pontos medidos por
lâmina. Para a amostra CM19, além da varredura em perfis paralelos à borda longa da lâmina, com
espaçamento de 3 mm entre cada perfil, para a determinação das relações de orientação cristalográfica entre
porfiroclastos e os grãos da matriz foram efetuadas medidas individuais em grãos de plagioclásio, a partir de
imagens de contraste de orientações. Para isto, foram medidos separadamente os porfiroclastos, a matriz, os
grãos da matriz que estão ao redor de um porfiroclastos, e uma série de grãos da matriz que estão no interior
de um porfiroclasto fortemente deformado.
Como as amostras estudadas não foram devidamente orientadas, as medidas da foliação e da lineação não
puderam ser obtidas e, conseqüentemente, os sistemas de deslizamento somente poderão ser sugeridos. As
figuras pólos encontradas sugerem para as amostras CM08 e CM22 uma OPC incipiente com um sistema de
deslizamento segundo (010)[001] (Fig. VI.9). A amostra CM09 não apresentou nenhuma OPC (Fig. VI.9).
Os porfiroclastos destas mesmas amostras foram medidos através das imagens acompanhadas das
fotomicrografias das lâminas. As figuras pólos destas amostras evidenciaram uma OPC fraca com um
sistema de deslizamento segundo (010)[001] (Fig. VI.10).
166
Figura VI.9 - Figuras pólos da matriz de plagioclásio das amostras CM08, CM09 e CM22 do
Maciço de Samaritana/Carapussê. Iguais projeções de área, hemisfério inferior, dados não polares.
N
=número de medidas.
167
Figura VI.10 - Figuras pólos dos porfiroclastos de plagioclásio das amostras CM08, CM09 e
CM22 do Maciço de Samaritana/Carapussê. Iguais projeções de área, hemisfério inferior, dados não
p
olares. N=número de medidas.
168
As figuras pólos para os perfis efetuados em linhas da amostra CM19, nas formas de contornos, sugerem
uma OPC incipiente. As mesmas figuras pólos, nas formas de pontos, confirmam esta orientação incipiente
através da grande dispersão de pontos observadas nas figuras (Fig. VI.11).
A matriz da amostra CM19 foi analisada a partir de imagens de contraste de orientações (Fig. VI.12). As
figuras pólos obtidas, nas formas de contornos, também sugerem uma OPC incipiente, o que é confirmado
pela dispersão de pontos observadas nas figuras pólos nas formas de pontos (Fig. VI.13).
As figuras pólos dos porfiroclastos de plagioclásio (Fig. VI.14), nas formas de contornos e de pontos, foram
obtidas a partir de imagens de contraste de orientações (Figs. VI.15a, VI.15b).
A matriz ao redor de um dos porfiroclastos de plagioclásio foi analisada a partir de imagens de contraste de
orientação. As figuras pólos, nas formas de contornos, mostram uma concentração em uma determinada
região das figuras sugerindo que porfiroclasto e matriz têm a mesma orientação (Fig. VI.16). Estas mesmas
figuras pólos, nas formas de pontos, mostram uma grande dispersão entre a orientação do porfiroclasto e a
dos grãos da matriz. Esta dispersão evidencia que grande parte dos grãos da matriz não possui a mesma
orientação do porfiroclasto, sugerindo que nem todos os grãos da matriz ao redor do porfiroclasto foram
formados por rotação de subgrãos.
A matriz que adentra um dos porfiroclastos de plagioclásio também foi analisada a partir de imagens de
contraste de orientação (Fig. VI.17). As figuras pólos obtidas, nas formas de contornos e de pontos, mostra
um paralelismo entre a orientação do porfiroclasto e de uma parte destes grãos da matriz, sugerindo que a
rotação progressiva de subgrãos foi o principal mecanismo de recristalização responsável pela formação
destes novos grãos, embora não tenha sido o único (Fig. VI.18).
Estudos experimentais efetuados em plagioclásio de diversas composições têm mostrado que o movimento
de discordâncias é o principal mecanismo de reorientação deste mineral. Este movimento se faz,
preferencialmente, nos planos (010) e (001) e nas direções [100] e [001]. Observações feitas em um MET
referidas por Olsen & Kohlstedt (1984) e por Ji & Mainprice (1988) mostraram que a mais alta densidade de
discordâncias era sobre o plano (010) e que estas discordâncias eram representativas dos sistemas de
deslizamento (010) [001] e (010)[100]. Destas observações, eles concluíram que, em altas temperaturas, o
movimento de discordâncias sobre estes sistemas de deslizamento representava o principal mecanismo para o
desenvolvimento das OPCs no plagioclásio. No plagioclásio, geralmente o sistema de deslizamento
(010)[001] é o dominante. Em intervalos de temperaturas mais altas, provavelmente (001)[100] é ativado.
Figura VI.11 - Figuras pólos, nas formas de contornos (A) e de pontos (B), de grãos de plagioclásio da amostra CM19 do Maciço de
Samaritana/Carapussê. Varredura feita em linhas com espaçamento de 3 mm entre elas. Iguais projeções de área, hemisfério inferior,
dados não polares, 507 medidas.
169
170
Figura IV.12 - Imagens da matriz de plagioclásio efetuadas no MEV (Lâmina CM19 - Maciço
de Samaritana/Carapussê).
Figura VI.13 - Figuras pólos, nas formas de contornos (A) e de pontos (B), de grãos de plagioclásio da amostra CM19 do Maciço de
Samaritana/Carapussê. Pontos feitos somente na matriz de plagioclásio com o auxílio de imagens. Iguais projeções de área, hemisfério
inferior, dados não polares, 150 medidas.
171
Figura VI.14 - Figuras pólos, nas formas de contornos (A) e de pontos (B), de grãos de plagioclásio da amostra CM19 do Maciço de
Samaritana/Carapussê. Pontos feitos somente nos porfiroclastos de plagioclásio com o auxílio de imagens. Iguais projeções de área,
hemisfério inferior, dados não polares, 30 medidas.
172
173
Figura IV.15a - Imagens da matriz de plagioclásio que está ao redor de um porfiroclasto de
p
lagioclásio efetuadas no MEV (Lâmina CM19 - Maciço de Samaritana/Carapussê).
174
Figura IV.15b - Imagens da matriz de plagioclásio que está ao redor de um porfiroclasto de
p
lagioclásio efetuadas no MEV (Lâmina CM19 - Maciço de Samaritana/Carapussê) (cont.).
Figura VI.16 - Figuras pólos, nas formas de contornos (A) e de pontos (B), de grãos de plagioclásio da amostra CM19 do Maciço de
Samaritana/Carapussê. Pontos feitos somente nos grãos de plagioclásio da matriz que estão ao redor de um porfiroclasto de plagioclásio
com o auxílio de imagens. Iguais projeções de área, hemisfério inferior, dados não polares, 150 medidas.
175
176
Figura IV.17 - Imagens da matriz de plagioclásio que adentra um porfiroclasto de plagioclásio
efetuadas no MEV (Lâmina CM19 - Maciço de Samaritana/Carapussê).
Figura VI.18 - Figuras pólos, nas formas de contornos (A) e de pontos (B), de grãos de plagioclásio da amostra CM19 do Maciço de
Samaritana/Carapussê. Pontos feitos nos grãos de plagioclásio da matriz que adentram um porfiroclasto de plagioclásio com o auxílio de
imagens. Iguais projeções de área, hemisfério inferior, dados não polares, 109 medidas.
177
178
A recristalização dinâmica é um processo que está intimamente ligado à deformação por deslizamento e que
contribui também à formação de uma orientação preferencial das redes cristalinas dos minerais nessas
rochas. Ela geralmente acontece por rotação progressiva de subgrãos e por nucleação/migração dos limites
dos grãos. Um dos critérios microestruturais que permite distinguir entre estes dois processos é a orientação
cristalográfica dos grãos recristalizados em relação aos grãos parentais. Uma rotação progressiva de subgrãos
implica em um controle dos grãos recristalizados em relação ao grão parental, ou seja, os grãos
recristalizados mostram uma ligeira desorientação relativamente aos grãos parentais. Durante a
recristalização, as orientações cristalográficas dos grãos mudam e os grãos de certas orientações podem
crescer enquanto outros são consumidos. O crescimento e o consumo de cristais, bem como o processo de
recristalização dominante, dependem fortemente das densidades de discordâncias e da ativação de
determinados sistemas de deslizamento. Estes sistemas, por sua vez, dependem da orientação do cristal em
relação à direção principal de esforço.
As figuras pólos dos grãos de plagioclásio da matriz ao redor do porfiroclasto mostram uma similaridade
com as figuras pólos do porfiroclasto, sugerindo que estes grãos foram formados por rotação de subgrãos.
Mas, quando se analisa as figuras pólos obtidas por pontos ao invés das figuras pólos obtidas por contornos,
observa-se que existem duas famílias de grãos de plagioclásio da matriz: uma com a mesma orientação do
porfiroclasto, evidenciando o processo de rotação de subgrãos, e a outra que apresenta uma dispersão dos
grãos, evidenciando que nem todos os grãos da matriz foram formados por este processo.
Nas amostras estudadas dos maciços da Samaritana e de Carapussê, não há indícios de redução dos tamanhos
dos porfiroclastos por fraturamento. As evidências apontam para a deformação do plagioclásio em altas
temperaturas e baixas taxas de deformação, onde o plagioclásio se deforma principalmente por deslizamento
de discordâncias. A presença de subgrãos permite concluir que a rotação progressiva de subgrãos foi um dos
processos de recristalização que atuou nestes maciços. Após cessada a deformação, a temperatura deve ter se
mantido elevada, o que favoreceu a migração dos limites dos grãos através de um processo de difusão,
resultando na poligonização de grande parte dos grãos da matriz.
A dispersão das orientações cristalográficas observadas nos grãos de plagioclásio da matriz que adentram um
dos porfiroclastos e nos grãos que estão em volta de um dos porfiroclastos, sugere que nem todos os cristais
da matriz foram formados por uma recristalização progressiva de subgrãos.
CAPÍTULO VII
Discussões e Conclusões
Neste capítulo, são apresentadas as discussões e conclusões advindas desta pesquisa, a partir dos dados de
química mineral e de geoquímica isotópica e das análises das microestruturas e orientações preferenciais
cristalográficas do plagioclásio, para os maciços de Rio Piau, Samaritana/Carapussê e Potiraguá. Vale
ressaltar que, para o estudo das microestruturas e mecanismos de deformação do plagioclásio, não foi dada a
mesma ênfase para todos os maciços estudados porque os mecanismos de deformação do plagioclásio nos
campos rúptil e transicional rúptil-dúctil são relativamente bem entendidos. O grande desafio, ainda hoje, é a
resposta do plagioclásio à deformação no campo dúctil, o que justificou um maior detalhamento para o
Maciço de Samaritana/Carapussê, que apresenta este tipo de deformação. Esta abordagem final também será
feita por maciço.
VII.1 - Maciço do Rio Piau
As rochas anortosíticas estudadas do Maciço do Rio Piau são constituídas principalmente de plagioclásio
cálcico e de minerais máficos. Os piroxênios são os minerais máficos mais abundantes e, de forma
subordinada, ocorrem anfibólio, biotita e óxidos de Fe-Ti. Os principais minerais acessórios encontrados
foram olivina, apatita, quartzo e feldspato alcalino.
Os cristais de plagioclásio das rochas anortosíticas do Maciço do Rio Piau apresentam-se de várias formas:
(i) equidimensionais e subédricos, de contatos bem definidos e geminação tipicamente magmática; (ii)
equidimensionais, sem geminação e de contatos irregulares; e (iii) como pequenos cristais com
características dos dois tipos anteriores. Ocasionalmente, aspectos de deformação plástica incipiente, tais
como geminação mecânica em cunha nas bordas dos grãos, kinks e extinção ondulante estão presentes.
Freqüentemente encontram-se microfraturados, saussuritizados e com feições de ex-solução nas bordas, com
a formação de albita, pequenos cristais de quartzo intersticial devido à liberação da sílica pela alteração dos
minerais, e de K-feldspato. A composição do plagioclásio foi determinada em algumas amostras, o que
permitiu classifica-los como labradorita e bitownita (An
56-76
).
Os piroxênios ocorrem como cristais euédricos a subédricos e repletos de inclusões, como pequenos cristais
recristalizados e poligonizados, e como ex-soluções. Freqüentemente são substituídos por anfibólio, biotita e
clorita. Não apresentam aspectos de deformação. O clinopiroxênio, de composição En
27-30
Wo
30-43
Fs
28-44
, foi
classificado como augita. O ortopiroxênio, de composição En
36-38
Wo
1,4-1,5
Fs
61-62
, foi classificado como
ferrossilita. As lamelas de exsolução de clinopiroxênio em ortopiroxênio, sugerem que estes tenham sido
180
originalmente pigeonitas submetidas a um processo de inversão. Neste caso, a ocorrência destas lamelas
revela um histórico de temperaturas elevadas e de cristalização e resfriamento lentos. A presença de
ortopiroxênio, que é uma fase mineral indicativa de condições de temperatura da fácies granulito, sugere
temperaturas de cristalização superiores a 850
o
C para este maciço.
A presença constante de ortopiroxênio nos diversos litotipos que compõem o corpo atesta a saturação em
sílica do magma original, apontando para a sua natureza toleiítica. Segundo Cawthorn & Davies (1983), a
adição de um componente silicoso a um magma basáltico primário, causa seu movimento para o campo de
estabilidade dos ortopiroxênios, sendo esta uma característica comum de toleiítos continentais. A
cristalização de ortopiroxênio antes do clinopiroxênio em complexos máfico-ultramáficos, é um fenômeno
típico de magmas toleiíticos de ambientes continentais, segundo Campbell (1985). Ainda segundo este autor
e também de acordo com Huppert & Sparks (1985), a presença de ortopiroxênio em corpos máfico-
ultramáficos continentais estaria relacionada a fenômenos de contaminação crustal do magma parental com
as rochas encaixantes de natureza granítica.
O anfibólio ocorre como pequenos cristais euédricos, de coloração castanha, incluso nos grãos de
plagioclásio, sugerindo que seja magmático, como aglomerados de cristais euédricos e de coloração
castanha, e como cristais nitidamente metamórficos, sendo produtos de alteração do clinopiroxênio. As
análises químicas para este mineral efetuadas nas inclusões dentro dos grãos de plagioclásio e nos demais
cristais euédricos permitiram classificar este anfibólio como ferropargasita.
A substituição parcial do clinopiroxênio pelo anfibólio revela um reequilíbrio metamórfico em condições de
fácies anfibolito. Por sua vez, a presença de minerais de mais baixo grau metamórfico (mica, carbonato,
epidoto) aponta para uma interação destas rochas anortosíticas com fluidos hidrotermais de baixa
temperatura, com a conseqüente geração de paragêneses da fácies metamórfica xisto-verde.
Cruz (1989), utilizando a geotermometria Opx-Cpx de Wood & Banno (1973) e Wells (1977), obteve
temperaturas de 830 a 870
o
C para este maciço, e sugeriu que estas fases minerais poderiam ter sido
magmáticas, mas que foram reequilibradas em condições subsolidus no metamorfismo regional. As
temperaturas obtidas neste trabalho, através da utilização do geotermômetro Hb-Pl de Holland & Blundy
(1994), variaram entre 868
o
C e 874
o
C r 40
o
C, para um intervalo de pressão entre 5 e 10 kbar. Estes dados
sugerem que o Maciço do Rio Piau foi colocado em temperaturas superiores a 850ºC e a pressões entre 5 e
10 kbar, que correspondem a condições de fácies granulito. A ausência de granada em todos os litotipos
estudados não permitiu a utilização de geobarômetros e, conseqüentemente, as pressões e profundidades de
colocação deste maciço não puderam ser determinadas.
181
Atualmente, o modelo petrogenético mais favorável para a evolução das rochas anortosíticas é o de Ashwal
(1993). Segundo este modelo, a evolução destas rochas estaria ligada, inicialmente, ao fracionamento de
produtos de derivação mantélica seguido da flotação e acumulação dos cristais de plagioclásio no topo de
câmaras magmáticas, os quais, posteriormente, se encaixariam no segmento basal da crosta. A derivação
mantélica do Maciço do Rio Piau é demonstrada pela sua mineralogia composta de plagioclásio cálcico
coexistindo com olivina, orto e clinopiroxênio, óxidos de Fe-Ti e apatita.
O Maciço do Rio Piau foi classificado por Cruz et al. (1999) como anortosito do tipo maciço, segundo a
classificação de Ashwal (1993), apesar da pequena dimensão deste corpo (80 km
2
) quando comparada com
os grandes complexos ígneos de idade Proterozóica existentes no mundo. A fonte do magma e o ambiente
geodinâmico de colocação dos anortositos do tipo maciço ainda são motivos de controvérsias e não existe
consenso quanto à natureza do magma parental nem quanto à origem primária destes magmas, se mantélica
ou crustal. Atualmente, acredita-se que os anortositos do tipo maciço cristalizaram de duas fontes: (i) fusões
derivadas do manto que sofreram contaminação crustal com o fracionamento de olivina e piroxênios em
profundidade; e (ii) fusões de rochas gabróicos a jotuníticas aluminosas primárias derivadas da crosta
continental inferior.
Embora classificado como anortosito do tipo maciço por Cruz et al. (1999), o Maciço do Rio Piau, assim
como os de Carapussê e Samaritana, também apresentam características de intrusões máficas acamadadas.
As rochas do Maciço do Rio Piau, embora tenham sofrido metamorfismo, ainda guardam muitos aspectos de
uma mineralogia ígnea primária. As rochas deste maciço são cumuláticas e são caracterizadas por minerais
cumulus, principalmente plagioclásio, que foram concentrados e acumulados por cristalização fracionada.
Um aspecto característico das intrusões máficas acamadadas é a ocorrência de um acamadamento ígneo
definido pela concentração de um ou mais minerais cumulus (Hess 1989). Os três principais tipos de
acamadamento são o de fase (ou cristalização), o críptico e o rítmico. O acamadamento de fase resulta do
aparecimento ou desaparecimento de um ou mais minerais.
O Maciço do Rio Piau é constituído de anortositos, gabronoritos de granulação grossa, leucogabronoritos,
gabronoritos de granulação fina, gabros a olivina, gabronoritos a olivina e magnetita, e rochas ricas em Fe-
Ti. As texturas mais freqüentes nas rochas anortosíticas são as granoblásticas e cataclásticas, sendo que
ocasionalmente encontram-se texturas primárias do tipo adcumulato e, mais raramente, texturas ofíticas. Este
conjunto de litologias foi formado pelo processo de cristalização fracionada (Cruz 1989) e parece representar
um acamadamento de fase.
As intrusões máficas acamadadas ricas em anortositos foram colocadas em todos os períodos do tempo
geológico, do Arqueano (Stillwater) ao Terciário (Dufek), contrastando com os outros tipos de anortositos
que mostram, aparentemente, restrições temporais. Eles também apresentam uma grande variação de
182
tamanho, podendo ocorrer como pequenas intrusões de poucos km
2
até enormes complexos intrusivos de
mais de 60.00 km
2
.
A escassez de dados isotópicos e geocronológicos vem sendo um problema para se decifrar o cenário de
colocação dos maciços gabro-anortosíticos do Sul da Bahia, principalmente em relação aos Maciços de Rio
Piau e Samaritana/Carapussê uma vez que, segundo Bordini (2003), o Maciço de Potiraguá é
Neoproterozóico. Nestes maciços, minerais que fornecem idades de cristalização confiáveis, tais como zircão
e monazita, são inexistentes ou ocorrem em quantidades muito pequenas que ainda não foi possível a sua
separação para datação. Além disso, as próprias rochas anortosíticas geralmente mostram pequenas variações
nas razões isotópicas, o que dificulta a obtenção de uma boa isócrona em rocha total. Cruz & Sabaté (1995) e
Sabaté & Cruz (1998), em concordância com o modelo proposto por Figueiredo & Barbosa (1993), sugerem
que os maciços gabro-anortosíticos do Sul da Bahia seriam os marcadores de uma geossutura profunda,
expressão da interface do Bloco Jequié e do Cinturão da Costa Atlântica. Ainda segundo estes autores, as
colocações destes maciços estariam relacionadas a uma dinâmica de cisalhamento sinistral, contemporânea
ao metamorfismo granulítico datado de 2,1 Ga (Ledru et al. 1994), e mecanismos de pull-apart foram
propostos para explicar o alojamento destes magmas mantélicos na crosta continental profunda.
Dados isotópicos Sm/Nd do Maciço do Rio Piau adquiridos nesta pesquisa permitiram inferir que os magmas
que geraram este maciço foram extraídos no Arqueano. As idades modelo T
DM
obtidas variaram entre 3.427
e 4.016 Ma e os
J
Nd
na idade modelo (T
DM
) foram todos positivos, com valores que variaram de 0,48 a 1,15.
Estes
J
Nd (TDM)
positivos sugerem que os magmas foram derivados de uma fonte mantélica e que na época da
sua extração não estavam contaminados por material crustal. Os
J
Nd
negativos obtidos nas idades de 2,6 Ga,
2,0 Ga, 1,9 Ga e atual, apontam para uma contaminação crustal cada vez maior ao longo do tempo. Estes
dados sugerem que o magma parental do Maciço do Rio Piau teve uma origem mantélica e que,
posteriormente à sua extração, foi contaminado com material crustal.
Como já foi visto no capítulo IV, uma isócrona Sm/Nd obteve uma idade de cristalização de 2,9 ± 0,4 Ga
para o Maciço do Rio Piau (Vignol 1987), e portanto ele seria Arqueano. Posteriormente, Sabaté & Cruz
(1995) e Cruz & Sabaté, com base em argumentos estruturais, sugeriram que este maciço seria
Paleoproterozóico. Se realmente a colocação deste maciço fosse Paleoproterozóica, como explicar o longo
tempo de residência crustal, entre 1,6 e 2,0 Ga? Levando em consideração o tempo de residência crustal, o
intervalo de idade de cristalização entre 3,3 e 2,5 Ga proposto por Vignol (1987) seria mais realístico para a
cristalização deste maciço do que uma cristalização a 2,0 Ga.
Durante uma das missões de campo executadas nesta pesquisa, observou-se um enclave de uma rocha rica
em óxido de Fe-Ti na rocha encaixante do Maciço do Rio Piau, conforme assinalado na figura III.3 (pág. 47).
183
Macêdo (com. pessoal), em seu trabalho de mapeamento regional na área em que o Maciço do Rio Piau está
inserido, também encontrou um enclave de uma rocha rica em Fe-Ti na rocha encaixante deste maciço. Esta
rocha é classificada como um charnockito do tipo CH6, de filiação cálcio-alcalina, datado em 2,05-2,02 Ga
(Barbosa & Sabaté 2002). Dos tipos litológicos existentes nesta região, as rochas ricas em óxidos de Fe-Ti
fazem parte do conjunto do Maciço do Rio Piau. Sendo assim, estes novos dados estruturais sugerem que a
colocação do Maciço do Rio Piau é anterior à do charnockito CH6.
Análises isotópicas Ar/Ar para este maciço foram efetuadas em cristais de anfibólio de composição
pargasítica. O método Ar/Ar pode fornecer idades de cristalização, se forem obtidas em minerais
magmáticos, ou idades de resfriamento, se obtidas em minerais metamórficos. Segundo Cruz (com. verbal), a
amostra selecionada para a datação poderia se tratar de uma borda resfriada. Os cristais de anfibólio
apresentavam-se euédricos a subédricos, possuíam um aspecto magmático, e formavam uma camada rica
neste mineral. Se o anfibólio fosse magmático, a idade obtida pelo método Ar/Ar seria a idade de
cristalização. A idade obtida para este mineral, através do aquecimento em etapas, foi de 2023±4 Ma
(Corsini et al. 2004) e ela apresentou espectros de idades concordantes e pouco perturbados. Se o sistema
40
Ar/
39
Ar congelasse quando o mineral cristalizou, o espectro de idade estaria perturbado e obteria diferentes
idades platôs. Como o espectro de idade apresentou-se concordante e pouco perturbado, esta idade pode ser
interpretada como a época do último resfriamento deste mineral em temperaturas mais baixas que 580ºC, e
provavelmente indicaria um evento tectonotermal, que possivelmente representaria a colisão
Paleoproterozóica que ocorreu na região. Diante do exposto, provavelmente esta amostra não é uma borda
resfriada nem o anfibólio é magmático.
O Maciço do Rio Piau está inserido no contexto geotectônico do Bloco Jequié. O metamorfismo de alto grau
Paleoproterozóico que atingiu esta região, possui pressões médias de 7 kbar e temperaturas de cerca de
800ºC, com seu pico a aproximadamente 2,0 Ga (Barbosa 1990, 1997), e é considerado como originário do
espessamento crustal relacionado à superposição tectônica de blocos durante a colisão (Barbosa & Sabaté
2003). Se em 2023±4 Ma foi o último overprint sofrido por este anfibólio e ele estava resfriado em
temperaturas abaixo de 580ºC, as quais são compatíveis com as da fácies anfibolito, isto pode significar que
esta parte do Bloco Jequié na qual este maciço está inserido não esteve diretamente envolvida na colisão
Paleoproterozóica e manteve-se relativamente preservada dos seus efeitos. Além disso, como foi visto no
capítulo da geologia isotópica (Cap. IV), foi encontrada uma idade anormalmente alta para a primeira porção
de Ar liberado da amostra do anfibólio deste maciço, que poderia estar refletindo os níveis mais altos de
potássio das rochas granulíticas encaixantes. A similaridade entre a idade do charnockito encaixante (2,02
Ga) e a idade do anfibólio (2023±4 Ma) que está em contato com este charnockito, poderia estar refletindo
uma auréola de metamorfismo de contato deixada pelo charnockito na rocha anortosítica. Se assim for, em
2,02 Ga o Maciço do Rio Piau já estaria cristalizado.
184
Considerando-se a possibilidade do Maciço do Rio Piau ter se colocado no Arqueano, necessário se faz
verificar as características dos anortositos arqueanos. Segundo Ashwal (1993), uma das principais
características que estes anortositos possuem, quando as suas texturas primárias não são obliteradas pela
deformação, é a presença de grandes cristais equidimensionais de plagioclásio cálcico envoltos por uma
matriz máfica composta de agregados de minerais metamórficos de granulação fina ou de oikocristais de
anfibólio de granulação grosseira. Os megacristais, com tamanhos variando de 0,5 a 30 cm, não têm
zoneamento e os teores de anortita são maiores ou iguais a 80. As rochas anortosíticas do Maciço de Rio
Piau não possuem nenhumas destas características.
As análises das microestruturas do Maciço do Rio Piau efetuadas ao microscópio óptico mostraram que os
grãos de plagioclásio das rochas anortosíticas apresentam-se bastante microfraturados e com aspectos de uma
deformação plástica intracristalina incipiente, tais como extinção ondulante, afinamento das geminações
mecânicas, geminação em cunha, bandas de deformação, kink bands e pequenos encurvamentos dos planos
de geminação. Estas microestruturas são evidências de que a deformação sofrida por este maciço deve ter
ocorrido em condições de baixo grau metamórfico, a temperaturas entre 300 e 400ºC. Nestas temperaturas, a
reação do plagioclásio à deformação é mais ou menos rígida, o que é esperado uma vez que a temperatura de
recristalização do plagioclásio é de cerca de 500ºC. O comportamento rúptil ainda é dominante e é
evidenciado por um microfraturamento interno, embora já seja assistido por algum movimento de
discordâncias. As microestruturas produzidas por este tipo de comportamento freqüentemente se assemelham
a estruturas plásticas cristalinas, embora elas sejam, de fato, rúpteis. Estruturas claramente separáveis, tais
como augen e matriz ou manto-núcleo, inexistem nestas condições de baixo grau e não estão presentes nestas
rochas. O crescimento simplectítico de feldspato e quartzo durante a deformação resultou na presença de
mirmequita nas rochas deste maciço. Estas feições são sugestivas de deformação do Maciço do Rio Piau
ocorreu no limite rúptil-dúctil.
Estudos de EBSD efetuados no MEV evidenciaram que a orientação preferencial cristalográfica é
característica de uma deformação magmática.
VII.2 - Maciço de Samaritana/Carapussê
O Maciço de Samaritana/Carapussê é constituído principalmente de plagioclásio. Os minerais máficos
predominantes são os piroxênios e, de forma subordinada, ocorrem anfibólio, biotita e óxidos de Fe-Ti. Os
principais minerais acessórios encontrados foram olivina, quartzo e feldspato alcalino. Assim como para o
Maciço do Rio Piau, as análises de química mineral deste maciço tiveram como principal objetivo a obtenção
de dados da composição do plagioclásio, visando o estudo das microestruturas. Eles também foram
utilizados para o cálculo de geotermômetros, para efeito de comparação com os já existentes. A ausência de
185
granada neste maciço não permitiu o cálculo de geobarômetros, e conseqüentemente, as pressões e as
profundidades na qual ele foi colocado não puderam ser determinadas.
Os cristais de plagioclásio apresentam-se como porfiroclastos deformados plasticamente e como pequenos
grãos constituindo uma matriz de granulação fina recristalizada dinamicamente. Esta matriz envolve
completamente os porfiroclastos, caracterizando uma distribuição bimodal dos tamanhos dos grãos. Os dados
de composição química permitiram classificar o plagioclásio como labradorita, com teores médios de An
60
, e
mostraram que não existem variações significativas de composição entre os porfiroclastos e a matriz de
plagioclásio.
Os piroxênios ocorrem na forma de grãos recristalizados e poligonizados contornando os porfiroclastos de
plagioclásio e como cristais exsolvidos que, provavelmente, são relíquias de piroxênios ígneos.
Ocasionalmente esta fase mineral exibe clivagem encurvada. O clinopiroxênio encontrado nestes dois
maciços, de composição En
28-31
Wo
42-50
Fs
24-28
, é do tipo augita e diopsídio. A augita é comumente encontrada
em rochas ígneas básicas, e é cristalizada em altas temperaturas. O ortopiroxênio, de composição En
37-
39
Wo
1,1-1,6
Fs
60-61
, foi classificado como ferrossilita.
Os grãos de anfibólio são preferencialmente de coloração castanho-esverdeada e ocorrem principalmente
associados aos aglomerados de minerais máficos, podendo ser interpretados como produto da
desestabilização dos piroxênios. Eles foram classificados como ferropargasita.
A biotita ocorre, preferencialmente, na forma de pequenas palhetas alongadas de coloração castanho clara
contornando os porfiroclastos de plagioclásio e, subordinadamente, de coloração avermelhada, sem forma
definida e associada aos aglomerados de minerais máficos constituídos por piroxênios, anfibólio e minerais
opacos, sendo nitidamente produto de desestabilização destes minerais. As análises de química mineral
efetuadas na biotita em forma de palhetas evidenciaram os altos teores de TiO
2
, que variaram de 5,241 a
5,663%, sugerindo que sejam metamórficas.
O Maciço de Samaritana/Carapussê foi classificado por Cruz & Sabaté (1995) e Sabaté & Cruz (1998) como
anortosito do tipo maciço, segundo a classificação de Ashwall (1993), apesar da pequena dimensão deste
corpo (14 km
2
) quando comparado aos grandes complexos ígneos de idade Proterozóica existentes no
mundo. Assim como o Maciço do Rio Piau, este maciço também possui características dos anortositos das
intrusões acamadadas.
Os dados isotópicos Sm/Nd adquiridos nesta pesquisa permitiram inferir que o magma que gerou este maciço
foi extraído no Arqueano. As idades modelo T
DM
variaram entre 3.366 e 3.683 Ma. Os J
Nd
obtidos na idade
modelo (T
DM
) foram todos positivos e variaram de 0,83 a 1,22. Os J
Nd (TDM)
positivos para este maciço
186
sugerem que ele foi derivado de uma fonte mantélica e que na época da sua extração não estava contaminado
por material crustal. Os
J
Nd
negativos obtidos nas idades de 2,6 Ga, 2,0 Ga, 1,9 Ga e atual apontam para uma
contaminação crustal cada vez maior ao longo do tempo.
Análises isotópicas Ar/Ar em biotita titanífera deste maciço forneceram uma idade de 1957±4 Ma, que foi
interpretada como idade de cristalização (Corsini et al. 2004). O espectro de idade determinado por
aquecimento em etapas para este mineral mostrou-se relativamente plano e pouco perturbado. Neste
diagrama, o Ar liberado durante as primeiras etapas de aquecimento forneceu idades um pouco mais baixas
do que as demais, sugerindo que o Ar das bordas dos grãos continham um determinado percentual de Ar
atmosférico, que poderia ser o resultado da difusão deste gás tanto entrando como saindo da biotita. Esta
idade provavelmente indica um evento tectonotermal que, no caso do Maciço da Samaritana, estaria
relacionado à deformação dúctil e a milonitização associadas com o movimento ao longo de uma zona de
cisalhamento dúctil no limite NW deste maciço, e refletiria a colisão Paleoproterozóica que ocorreu nesta
região.
A ausência de idades de cristalização confiáveis para este maciço não permitiu definir a sua ambiência
tectônica.
Com base em argumentos estruturais, Cruz & Sabaté (1995) e Sabaté & Cruz (1998) sugerem que este
maciço é Paleoproterozóico. Se esta hipótese for verdadeira e como este maciço possui uma filiação
geoquímica de origem toleiítica continental, para ele ter penetrado na crosta precisaria de zonas de fraqueza.
No cenário geotectônico do Paleoproterozóico tinha-se um ambiente colisional. Zonas de fraqueza neste
cenário poderiam ter ocorrido na fase de colapso do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá, e ele ter penetrado
na crosta nesta fase sendo, por conseguinte, sin a tardi-orogênicos. Mas se eles foram sin a tardi-orogênicos,
como explicar o longo tempo de residência crustal para este maciço, algo em torno de 2,0 a 2,5 Ga?
As microestruturas dos porfiroclastos de plagioclásio do Maciço de Samaritana/Carapussê indicaram que a
maioria deles exibe evidências ópticas de deformação intracristalina, que são torção da rede cristalina,
encurvamento de geminação, paredes de discordâncias, formação de subgrãos e de novos grãos, geminações
mecânicas com lamelas finas, em cunha e albita-periclina nas suas bordas. A origem tectônica destas
geminações ficou claramente demonstrada pela forma lenticular da maioria das lamelas, que se afinavam em
direção ao centro dos grãos; pelo desenvolvimento ocasional de lamelas de geminação restritas às áreas
marginais, especialmente nos limites, onde a concentração do esforço deveria ser esperada; e pela
coexistência espacial com outros aspectos ópticos ou microestruturas relacionadas à deformação plástica
intracristalina. Em alguns porfiroclastos, o efeito da deformação heterogênea é tão acentuado que faz com
que se apresentam completamente encurvados, com acúmulo de deformação em determinadas partes e,
187
ocasionalmente, completamente dissecados. Já os porfiroclastos de forma globular e sem geminação se
mostram mais resistentes e são pouco afetados pela deformação.
Os grãos de plagioclásio da matriz também exibem evidências ópticas de deformação intracristalina. É
comum apresentarem geminação mecânica segundo as leis albita e periclina, geminação em cunha e
encurvamento de geminação. Em proporções praticamente idênticas aos grãos geminados, eles também se
apresentam límpidos, com a geometria dos limites dos grãos, variando de reta à ligeiramente suturada,
chegando a formar junções tríplices a 120°. Estes aspectos microestruturais estão de acordo com a
interpretação de que os grãos da matriz foram formados por recristalização dinâmica.
Restauração e recristalização são dois processos importantes que ocorrem durante ou depois da deformação.
A recristalização dinâmica (sin-tectônica) é evidenciada pela presença de grãos antigos e de grãos
neoformados com limites irregulares e/ou aspectos de deformação óptica intracristalina, tais como extinção
ondulante e limite de subgrãos. Por comparação, a restauração e a recristalização estática (pós-tectônica) é
geralmente caracterizada pela presença de grãos sem deformação com limites retos ou ligeiramente curvos e
por grãos poligonizados. A presença de texturas parcialmente recristalizadas, apresentando uma distribuição
bimodal de tamanhos de grãos, agregados de pequenos grãos com tamanhos aproximadamente uniformes
entre grandes grãos com extinção ondulante e com subgrãos do mesmo tamanho que os pequenos grãos, e a
similaridade de composição entre matriz e porfiroclastos são evidências da atuação do mecanismo da
recristalização dinâmica. Os pequenos grãos da matriz são, provavelmente, os novos grãos formados por
recristalização dinâmica.
Experimentos efetuados a temperaturas de 900ºC em anortositos (Tullis & Yund 1992) e a temperaturas de
800ºC em labradorita (McLaren & Pryer 2001) e albita (Ji & Mainprice 1987) mostraram que a
recristalização por rotação de subgrãos não ocorre em velocidades de deformação de 7,5-8,7 x 10
-7
s
-1
e a
temperaturas superiores a 900ºC. De acordo com Tullis (1983) e Simpson (1985), a recristalização completa
de plagioclásio de composição intermediária requer temperaturas superiores a 500-550ºC, que correspondem
a condições da fácies anfibolito inferior. A recristalização por rotação progressiva de subgrãos somente se
torna importante em condições de transição entre as fácies anfibolito e granulito (Tullis 1983, Olsen &
Kohlstedt 1985, Ji & Mainprice 1990). Assim, as microestruturas que evidenciam a atuação do processo de
rotação progressiva de subgrãos sugerem temperaturas de deformação da ordem de 700 a 900ºC.
As microestruturas observadas nos porfiroclastos e na matriz de plagioclásio do Maciço de
Samaritana/Carapussê atestam que a deformação ocorreu no campo dúctil. Não há indícios de redução do
tamanho dos porfiroclastos por fraturamento. Ao contrário, as evidências apontaram para a deformação em
altas temperaturas e baixas taxas de deformação, onde o plagioclásio se deforma principalmente por
movimento de discordâncias. A matriz de plagioclásio foi formada pelos processos de recristalização por
188
rotação de subgrãos e por migração dos limites dos grãos. O processo de recristalização por rotação de
subgrãos é atestado pelo extensivo desenvolvimento de subgrãos nas bordas e no interior dos porfiroclastos.
Já a presença de pequenos grãos recristalizados sem deformação e poligonizados sugere que os obstáculos ao
movimento de discordâncias foram removidos pelo processo de migração dos limites dos grãos. Estes
processos de recristalização ocorrem em temperaturas entre 700 e 900ºC, em condições que correspondem à
transição entre as fácies anfibolito e granulito. Após cessada a deformação, a temperatura deve ter se
mantido elevada, o que favoreceu a recristalização por migração dos limites dos grãos através de um
processo de difusão, resultando na poligonização de grande parte dos grãos da matriz.
A deformação no Maciço de Samaritana/Carapussê foi acomodada por diferentes mecanismos, sugerindo que
ela ocorreu sob diferentes condições de temperatura e pressão, que podem ser dependentes da profundidade
de colocação, do gradiente térmico durante a deformação e do intervalo de tempo entre colocação e
deformação. A deformação que afetou estes maciços provavelmente ocorreu em temperaturas decrescentes,
começando no estado magmático, com a orientação de forma dos porfiroclastos e segregação dos máficos, e
continuando no estado sólido, após a cristalização das rochas, ainda em altas temperaturas. Porfiroclastos e
grãos recristalizados apresentam uma orientação preferencial de forma incipiente. Os porfiroclastos de
plagioclásio apresentam muitas microfraturas e estas se estendem, em menor proporção, para a matriz.
Alterações de baixa temperatura atestam as condições de metamorfismo regressivo sofrido por estas rochas.
As fraturas e as alterações de baixa temperatura possivelmente se formaram durante o soerguimento destes
maciços. A existência de fraturas atravessando indistintamente porfiroclastos e matriz, sugere que estas
rochas passaram por um processo rúptil posterior com a presença de fluidos.
As figuras pólos dos porfiroclastos sugerem que estes possuem uma OPC coerente com a ativação do sistema
de deslizamento (010)[001]. A análise das figuras pólos dos grãos de plagioclásio da matriz que adentram
um porfiroclasto mostrou um paralelismo entre a orientação do porfiroclasto e de uma parte dos grãos da
matriz, sugerindo que a rotação progressiva de subgrãos foi um dos mecanismos de recristalização
responsáveis pela formação destes novos grãos. Mas também como havia uma dispersão entre a orientação
do porfiroclasto e de uma outra parte dos grãos da matriz, é possível que nem todos os grãos da matriz em
torno do porfiroclasto tenham sido formados por rotação de subgrãos.
As figuras pólos dos grãos da matriz ao redor do porfiroclasto mostram uma similaridade com a do
porfiroclasto, sugerindo que os aqueles grãos foram formados por rotação de subgrãos. Contudo, as análises
das figuras pólos com pontos ao invés de contornos mostraram que existe uma família de grãos da matriz
com a mesma orientação do porfiroclasto, evidenciando o processo de rotação de subgrãos, mas que também
existe uma dispersão destes grãos denotando que nem todos os grãos da matriz foram formados por este
processo. A distinção entre uma textura completamente recristalizada e uma textura equigranular não
recristalizada é muito difícil de ser feita. Entretanto, em um agregado de grãos formados por recristalização
189
dinâmica completa, os grãos mostrarão uma OPC, que é uma evidência de deformação interna, e um
tamanho de grãos relativamente uniforme.
A dispersão das orientações cristalográficas observadas nos grãos da matriz que adentram um dos
porfiroclastos e nos grãos da matriz que estão ao redor de um dos porfiroclastos, sugere que nem todos os
grãos da matriz foram formados por uma recristalização progressiva dos porfiroclastos. A presença de
cristais de quartzo e feldspato alcalino junto com a matriz que adentra um dos porfiroclastos aponta para uma
rocha originalmente bimodal.
Geralmente, a intensidade da orientação cristalográfica aumenta inicialmente com a acumulação da
deformação plástica, mas esta tende a ser estabilizada pela recristalização dinâmica. No plagioclásio, em
particular, este mecanismo de deformação parece induzir freqüentemente orientações cristalográficas fracas,
mesmo em rochas muito deformadas (a forte deformação é marcada por outros minerais e pela estrutura
macroscópica). Principalmente nos Maciços de Carapussê e da Samaritana, apesar da forte deformação
destas rochas, as figuras pólos do plagioclásio mostraram orientações cristalográficas fracas.
VII.3 - Maciço de Potiraguá
As rochas deste maciço são de textura grossa a muito grossa, inequigranulares, e compostas de 80 a mais de
90% de plagioclásio e é essencialmente magmática. Os grãos de plagioclásio são tabulares, euédricos a
subédricos, com contatos retos a quase retos entre si, e formam uma rede contínua, praticamente inexistindo
minerais máficos entre estes cristais. As geminações são largas, bem formadas, nítidas e atravessam todo o
cristal, caracterizando uma geminação tipicamente magmática.
A análise microestrutural evidenciou que o Maciço de Potiraguá é o único dos maciços estudados onde não
há qualquer evidência de uma deformação plástica. Quanto à deformação, esta foi essencialmente rúptil e
deve estar relacionada à sua colocação em níveis crustais mais rasos. Os grãos magmáticos de plagioclásio
são tabulares, paralelos a (010) e alongados paralelos a [100]. São euédricos a subédricos, com contatos retos
a quase retos entre eles, e formam uma rede contínua, praticamente inexistindo minerais máficos e alterações
secundárias entre estes cristais. As geminações dos grãos de plagioclásio são largas, bem formadas, nítidas e
atravessam todo o cristal, caracterizando uma geminação tipicamente primária.
Ao microscópio óptico, não se observa nenhuma orientação preferencial de forma destes cristais, embora as
figuras pólos obtidas através do EBSD mostrem uma orientação magmática característica. Em algumas
amostras, a cataclase causou um fraturamento intenso na rocha, com os cristais de plagioclásio apresentando-
se bastante fraturados, com deslocamento de geminação, formação de pares conjugados de fraturamento, e
190
com uma recristalização incipiente nas fraturas mais abertas. Nestas amostras, o principal processo de
redução dos tamanhos dos grãos foi o fraturamento.
VII.4 - Recomendações e Sugestões
Para um maior aprofundamento dos assuntos abordados nesta tese, serão fornecidas a seguir algumas
recomendações e sugestões para uma continuidade do presente trabalho:
1. aperfeiçoar e complementar o mapa geológico dos Maciços de Rio Piau, Samaritana e Carapussê,
utilizando os novos equipamentos e ferramentas disponíveis, enfocando as rochas encaixantes e
aspectos estruturais tais como foliações, lineações, atitudes de falhas, tanto nos maciços como nas
encaixantes;
2. complementar o mapa geológico do Maciço de Potiraguá com alguns dos aspectos acima citados;
3. fazer uma amostragem orientada dos diversos litotipos dos Maciços de Rio Piau, Carapussê,
Samaritana e Potiraguá bem como de suas encaixantes, para que se possa obter dados que permitam
discutir a cinemática e a dinâmica da colocação destes corpos;
4. elaborar um estudo sistemático dos elementos das geminações mecânicas dos plagioclásios nos
Maciços de Carapussê e Samaritana com o objetivo de localizar o campo do esforço que causou a
geminação, determinando assim as paleodireções de esforços neste domínio do Orógeno Itabuna-
Salvador-Curaçá;
5. implementar estudos de anisotropia de susceptibilidade magnética (AMS);
6. complementar a amostragem para datar estes maciços por outros métodos, para que estes possam ser
usados em combinação com os existentes, permitindo assim a definição de parâmetros
petrogenéticos;
7. efetuar estudos em um MET para uma caracterização mais efetiva dos mecanismos de deformação.
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GLOSSÁRIO
Anneling
Termo originado na metalurgia para designar os processos de restauração e recristalização estática induzida
por um aquecimento passivo de um material previamente deformado. O termo é também usado para a
interpretação de microestruturas em rochas.
Banda de deformação (Deformation band)
Bandas distintas de extinções diferentes que são partes de um mesmo cristal. É uma forma mais localizada de
extinção ondulante onde ocorreu alguma concentração de discordâncias.
Bulging
Processo de migração local de um limite de grão para dentro de um grão vizinho com uma alta densidade de
discordâncias, eventualmente produzindo novos cristais. É um processo importante na recristalização por
migração de limites de grãos (GBM).
Deformação (Deformation)
Mudança na forma e orientação de objetos ou volumes de rochas de um estado inicial para um estado final
(sentido geral).
Deformação (Strain)
Tem um sentido mais restrito que deformação, que é a mudança na forma de um objeto ou de parte de uma
rocha.
Deformação coaxial
Termo usado para fluxo ou deformação progressiva com eixos principais da deformação finita permanecendo
paralelos ao ISA.
Deformação em estado estacionário (Steady-state deformation)
Deformação que resulta de um balanço entre os processos de endurecimento e restauração.
Deformação finita (Finite deformation ou
Finite strain)
Deformação acumulada sobre um período finito de tempo.
210
Deslizamento de discordância (Dislocation glide)
Movimento de discordâncias em uma rede cristalina sem salto de discordância. Descreve o movimento das
discordâncias ao longo de um plano durante o deslizamento ou deformação plástica. É uma das principais
formas de acomodar a deformação (strain). O efeito associado a este mecanismo é o endurecimento
(hardening).
Discordância (Dislocation)
Defeito linear em um cristal.
Endurecimento (Work hardening)
Processo que opera em altas temperaturas e que expressa o fato de quanto mais um cristal se deforma, mais
ele se torna difícil de se deformar. Isto pode ser discutido em termos de esforços internos. Este é um dos
processos que contribuem para o aumento da resistência do material antes da fratura.
Esforço de cisalhamento resolvido crítico (Critical resolved shear stress - CRSS)
Propriedade de um sistema de deslizamento em um cristal. O CRSS define em qual esforço cisalhante
resolvido sobre um plano de deslizamento uma discordância começará a se mover.
Esforço deviatórico (Deviatoric stress)
Componente não-hidrostático ou litostático do esforço, definido como (ı n - ı médio), onde ı n é a tensão
normal sobre a superfície e ı médio é a tensão média.
Esforço diferencial (Differential stress)
Componente não-hidrostático ou litostático do esforço, geralmente definido como (ı 1 - ı 3).
Estrutura manto e núcleo (Core-and-mantle structure)
Núcleo cristalino deformado, geralmente um único cristal arrodeado por um manto do mesmo mineral
finamente granulado. Admite-se que esta estrutura se desenvolve por recristalização dinâmica preferencial na
camada mais externa de um único grande cristal deformando em resposta à deformação intracristalina.
Estruturas manto-núcleo em feldspatos são comuns em rochas sujeitas à deformação de baixo a médio grau.
Fluxo de Cobble (Cobble creep)
Difusão no estado sólido ao longo dos limites dos grãos.
Fluxo de difusão no estado sólido (Solid-state diffusion creep)
Processo de deformação no qual os cristais somente podem se deformar por migração de vacâncias através
da rede cristalina
211
Fluxo de discordância (Dislocation creep)
Movimento de discordâncias em uma rede cristalina acomodada por salto. É uma combinação entre o
deslizamento (slip) e o salto (climb).
Fluxo de plasticidade cristalina (Crystalplastic flow)
Deformação permanente por mecanismos de deformação intracristalinos.
Fluxo difusão (Diffusion creep)
Deformação através da migração de vacâncias através da rede cristalina.
Geminação mecânica (Deformation twin)
Geminação formada por deformação.É comum em carbonatos e plagioclásio deformados.
Lamela de deformação (Deformation lamella)
Lamela intracristalina de relevo óptico ligeiramente diferente do grão hospedeiro, consistindo de uma rede
cristalina defeituosa ou de arranjos de inclusões submicroscópicas.
Limite de grão (Grain boundary)
Superfície de junção entre dois cristais de um mesmo material, mas de orientações diferentes. O limite do
grão pode ser caracterizado pelo ângulo de rotação pelo qual a rede cristalina de um grão pode ser deduzida
da rede cristalina do outro grão (3 graus de liberdade) e pela orientação do limite em uma das duas redes
cristalinas (2 graus de liberdade). Eles são importantes nos processos de fluxo (creep) e durante a
recristalização.
Limite de subgrão (Subgrain boundary)
Arranjos de discordâncias que efetuam uma pequena desorientação angular (aproximadamente 1º) entre duas
regiões contíguas de um cristal (subgrãos).
Mapa de mecanismos de deformação (Deformation mechanism map)
Diagrama mostrando as condições de esforço e temperaturas homólogas para as quais mecanismos de
deformação específicos são dominantemente ativos; cada mapa somente é válido para um mineral específico
e um tamanho de grão.
Recristalização dinâmica (Dynamic recrystallisation)
Recristalização durante a deformação intracristalina. Ela ocorre por nucleação, migração dos limites dos
grãos e/ou rotação de subgrãos.
212
Recristalização por migração dos limites dos grãos (GBM - grain boundary migration recrystallisation)
Recristalização por migração dos limites dos grãos em resposta a diferenças na densidade de discordâncias
entre dois grãos.
Recuperação ou restauração (Recovery)
Processo de alta temperatura que expressa o fato de que os esforços internos que levam ao endurecimento
podem ser aliviados por processos termalmente ativados, permitindo assim a continuação da deformação.
Salto de discordância (Dislocation climb)
Movimento de uma discordância para fora do seu plano de deslizamento, normalmente feito através da
migração de vacâncias para o local da discordância. O movimento da discordância não é restrito a um plano,
e este processo ocorre durante a recristalização. É um processo de restauração que tem como efeito o
amolecimento (softening).
Tensor de deformação (Deformation tensor)
Tensor que descreve a deformação finita, incluindo strain e rotação.
Trama ou textura (Fabric)
Configuração espacial e geométrica completa de todos os componentes que estão contidos em uma rocha
(Hobbs et al. 1976) e que são penetrativamente e repetidamente desenvolvidos através de um volume de
rochas sob consideração. Isto inclui aspectos tais como foliação, lineação, OPC e tamanho dos grãos.
O termo também pode ser definido como a orientação relativa de partes de uma massa de rochosa.
Vetor de Burgers
Vetor que indica o deslocamento de uma rede cristalina associada a uma discordância.
Sharp extintion
Uma única orientação de extinção por todo o cristal implicando em uma baixa densidade de discordâncias.
Subgrão (Subgrain)
Pequenas regiões dentro de um grão com extinção uniforme mas claramente relacionadas a outros subgrãos
em orientação, os quais juntos formam um grão inteiro. Considera-se uma desorientação de 7
o
como
suficiente para declarar que duas regiões contíguas constituem subgrãos. São aspectos deformacionais de
baixas temperaturas formados por migração e acumulação de discordâncias de mesmo final e freqüentemente
se concentram nas bordas dos grãos.
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