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campanha política, amparada pelos meios de comunicação de massa,
principalmente pela Rede Globo, e apoiada pela elite política e burguesa do Brasil
16
,
que parecia buscar a
manipulação das massas, às quais são imputadas passividade, imaturidade,
desorganização e, consequentemente, um misto de inocência e de violência
que justificava a necessidade de educá-las e controlá-las para que subam
“corretamente” ao palco da história (Chauí, 1998, p. 165).
Tal atitude esteve presente na condução de sua administração, com ênfase
especial no cuidado com a imagem presidencial. Quanto às práticas referentes à
administração estatal, estas pareciam abertamente ancoradas em princípios
formalizados em um gerenciamento econômico com alguns contornos neoliberais
17
.
Tendo em vista a implementação de políticas caracterizadas, principalmente, pela
demolição das restrições ao capital internacional no Brasil, quebrando reservas de
mercado e cancelando dispositivos protecionistas da economia interna brasileira.
Dessa forma, ele arvorava-se de ‘paladino’ do povo brasileiro, mas concedia
benefícios e abria o mercado brasileiro ao capital internacional, com a
implementação de ações nesse sentido, entre as quais pode ser destacada a quebra
da reserva de mercado de informática, num posicionamento, abertamente, favorável
à substituição da produção nacional pela importação de mercadorias produzidas no
mercado externo
18
.
Esses rumos da política econômica, aliado ao fiasco no combate e
debelamento da inflação
19
, produziram uma crise de credibilidade de sua
15
Governo do Presidente José Sarney 1985/1989.
16
Atemorizadas pela possibilidade da eleição de seu principal oponente Luiz Inácio da Silva, do
Partido dos Trabalhadores (Bueno, 1997, p. 284).
17
Bueno (1997, p. 283) afirma que “de todo modo, nos dois anos e dois meses que governou, antes
do processo que desembocaria no impeachment, Collor fez um governo marcado pela falsa
polêmica, por declarações de mau gosto, pelo neoliberalismo de fachada” [...}. Enquanto Paulani
(2006, p. 88) argumenta que “ecoando o arrazoado de desestatização da economia, que nascera
no governo Figueiredo por conta das pendengas com o capital nacional relativamente ao arranjo do
II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), advogando a necessidade de transparência e da
austeridade nos gastos públicos e embrulhando tudo isso na pregação moralista da ‘caça aos
marajás’, Collor vence as eleições e dita, para o próximo período, a agenda de transformações que
ele pouco concretizaria”.
18
Utilizando como referencial Fiori (1998, p. 121) é possível caracterizar o Governo Collor como
engajamento da política econômica brasileira ao processo de globalização financeira, relacionado
ao que denomina de “retomada da hegemonia dos Estados Unidos”, iniciada em meados da
década de 1970 com uma dura política cambial. Além disso, Paulani (2006, p. 87) salienta que “é
preciso lembrar que a necessidade de não deixar passar o bonde da história foi o argumento mais
forte dos arautos do neoliberalismo para, no Brasil do início dos anos de 1990, advogar medidas
liberalizantes que nos levariam ao admirável mundo novo da globalização”.
19
Bueno (1997, p. 283) afirma que o Plano Collor estava mais ligado à fome de dinheiro do seu
governo, do que a um projeto de ‘saneamento’ das finanças públicas.
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