para a produção de bens de consumo ligados à vida cotidiana como mobiliário
doméstico e urbano, eletroeletrônicos e automóveis, entre outros
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, enxergando na
produção artística um guia para a produção industrial.
A história das capas dos discos revela como o design passa a
encontrar aplicação nos aspectos mais diversos e secretos dos produtos que
criamos. Muito rapidamente, o desenvolvimento dos produtos deixa de buscar
atender apenas a seus usos funcionais, isto é, a seus propósitos originais − no caso
do disco, o de ser um suporte da gravação −, e passam a ser atrativos estéticos para
despertar o interesse dos potenciais compradores. Thomas Edison e Emilie Berliner
foram cientistas importantes, inventores, respectivamente, da gravação e do disco.
Hoje, temos gerentes de produto buscando atender a necessidades imaginárias
23
,
que muitas vezes são criadas antes de se tornarem “reais”.
No presente caso, pode-se dizer que o disco não era o produto que se
buscava comprar inicialmente, ele apenas materializa algo etéreo, efêmero, que é o
objeto de desejo do consumidor: a música para ser ouvida. Ao transformar a
música em algo concreto, que se pode tocar, a mídia (o disco) induz um novo tipo
de relação entre ela e o ouvinte. Inicialmente, existe o desejo de se ouvir música.
Com o advento da gravação, o ouvinte passa a possuir a música. Ele tem o disco
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Incluem-se aí também os bens de capital como máquinas e motores, mas esses objetos fogem
completamente à presente análise.
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Nesse ponto, faço referência ao livro Posicionamento: a batalha pela mente, de Al Ries e Jack
Trout. Há diversos autores que tratam a idéia do posicionamento como fundamento da estratégia
publicitária nos Estados Unidos e, por conseqüência, em diversas partes do mundo − por exemplo,
Graham J. Hooley, Nigel F. Piercy, John A. Saunders, A. Stewart Whitley e Charles Sloane.
Certamente, no Brasil, o conceito é uma guia fundamental. As agências de propaganda
multinacionais norte-americanas estão instaladas no Brasil há muito tempo. A Thompson chegou
em 1930, a Standard Propaganda, em 1933, a McCann Erikson, em 1935, e a Salles Interamericana,
em 1938. A questão é que o posicionamento funda-se na idéia de se trabalhar a mente do
consumidor em perspectiva. Os autores dizem inclusive que não importa mais o que se faz com o
produto, mas, sim, o que se faz na mente do consumidor. Primeiramente, deve-se trabalhar com o
que está na mente do prospect (termo da administração de marketing para designar o potencial
consumidor), sua experiência de vida, suas referências ideológicas e seus significados. A mente
humana rejeita tudo aquilo que não condiz com seu “estado de espírito”, com seus significados.
Assim, a publicidade se orienta para elevar as expectativas do consumidor, crias a ilusão de que o
produto ou serviço que se quer vender fará o milagre que ele espera, lembrando-se sempre que o
consumidor é emocional, e não racional. Por fim, o mais importante: deve-se ser o primeiro. Se isso
não aconteceu, deve-se encontrar um lugar na mente do consumidor onde se conseguirá ser o
primeiro. Há um caso atual e excelente para ilustrar essa estratégia. O sucesso do lançamento de um
determinado refrigerante por uma grande multinacional, que ficou conhecida entre os consumidores
pela fórmula da água. Na impossibilidade de enfrentar sua concorrente, lançadora do primeiro
refrigerante “cola” no Brasil, a multinacional lançou uma bebida “saudável”, levemente gaseificada,
que vai ao encontro da idéia de vida saudável, em franca ascensão na mente das pessoas, conhecida
como a própria fórmula da água. O resultado é que a empresa não consegue produzir o refrigerante
em quantidade suficiente para atender a demanda.