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Universidade de Brasília
Instituto de Ciências Biológicas
Departamento de Fitopatologia
Estratégias para o manejo integrado da mela do feijoeiro causada por
Thanatephorus cucumeris
Gesimária Ribeiro Costa
Tese apresentada ao Departamento de Fitopatologia do Instituto de
Ciências Biológicas, da Universidade de Brasília, como requisito
parcial à obtenção do Grau de Doutor em Fitopatologia
Brasília, DF
2007
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Estratégias para o manejo integrado da mela do feijoeiro causada por Thanatephorus cucumeris
APROVADA EM : 18/06/2007
___________________________ __________________________
Dr. Ailton Reis Prof. Cláudio Lúcio Costa
___________________________ __________________________
Dr. Murillo Lobo Júnior . Prof. José Carmine Dianese
________________________________
Prof. Adalberto Corrêa Café Filho
Orientador
ii
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À minha família
iii
AGRADAGECIMENTOS
Agradeço a DEUS por tudo, em especial:
Pela mãe maravilhosa que me deu, a dona Dulcimária, que sempre me ajudou e apoiou;
Pelo marido companheiro, paciente e compreensivo, o Sr. Josimar dos Reis Coelho;
Pelas jóias que me confiou cuidar Geanini Vitória e João Neto;
Pela oportunidade de conhecer, estudar e trabalhar com os professores da Universidade de Brasília,
em especial, o professor Adalberto Côrrea Café Filho
Ao CNPq pela concessão da bolsa de estudos;
À chefia da Embrapa Arroz e Feijão pela disponibilidade do uso de suas instalações;
Aos funcionários da Embrapa Arroz e Feijão, em especial, o Dr. Murillo Lobo Júnior, pela
amizade e apoio;
A todos os amigos que de uma maneira ou de outra contribuíram para a realização deste trabalho.
iv
INDICE
RESUMO.................................................................................................................................................01
ABSTRACT............................................................................................................................................03
INTRODUÇÃO GERAL.......................................................................................................................05
Referências Bibliográficas ......................................................................................................................12
CAPÍTULO I
INFLUÊNCIA DE SISTEMAS DE PLANTIO NA SEVERIDADE DA MELA E NA
PRODUTIVIDADE DO FEIJOEIRO
Resumo....................................................................................................................................................18
Introdução ...............................................................................................................................................18
Material e Métodos .................................................................................................................................21
Resultados e Discussão ...........................................................................................................................23
Referências Bibliográficas ......................................................................................................................29
CAPÍTULO II
REAÇÃO DE CULTIVARES DE FEIJOEIRO DO GRUPO CARIOCA À MELA
(Thanatephorus cucumeris)
Resumo ....................................................................................................................................................40
Introdução ................................................................................................................................................40
Material e Métodos .................................................................................................................................42
Resultados e Discussão ...........................................................................................................................44
Referências Bibliográficas ......................................................................................................................48
CAPÍTULO III
EFEITO DA MELA CAUSADA POR Thanatephorus cucumeris NA QUALIDADE DE
SEMENTES DO FEIJÃO DO GRUPO CARIOCA
Resumo ...................................................................................................................................................59
Introdução ...............................................................................................................................................59
Material e Métodos .................................................................................................................................61
Resultados e Discussão ...........................................................................................................................63
v
Referências Bibliográficas ......................................................................................................................68
CAPÍTULO IV
INFLUÊNCIA DA IDADE DA PLANTA DE FEIJOEIRO COMUM NO
DESENVOLVIMENTO DA MELA DO FEIJOEIRO
Resumo ....................................................................................................................................................73
Introdução ................................................................................................................................................73
Material e Métodos ..................................................................................................................................75
Resultados e Discussão ............................................................................................................................76
Referências Bibliográficas .......................................................................................................................79
CAPÍTULO V
EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS NO CONTROLE DA MELA DO FEIJOEIRO
Resumo ....................................................................................................................................................83
Introdução ................................................................................................................................................83
Material e Métodos ..................................................................................................................................86
Resultados e Discussão ............................................................................................................................88
Referências Bibliográficas .......................................................................................................................92
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................................101
ANEXO
Acanthospermum australe É HOSPEDEIRO ALTERNATIVO DE Thanatephorus cucumeris,
AGENTE CAUSAL DA MELA DO FEIJOEIRO
....................................................................................................................................................................
104
vi
RESUMO
Estratégias para o manejo integrado da mela do feijoeiro causada por
Thanatephorus cucumeris
Entre as principais doenças do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.), destaca-se a mela, causada pelo
fungo Thanatephorus cucumeris (Frank) Donk (anamorfo: Rhizoctonia solani Kühn). Esta
enfermidade é especialmente importante no plantio das águas e em determinadas regiões geográficas,
porém é pouco estudada. Além disso, embora ocorra resistência genética em membros da família
Fabaceae, as cultivares comerciais de feijoeiro não mostram resistência satisfatória à doença. Assim, o
controle é hoje baseado no tratamento de sementes e aplicação de fungicidas durante o plantio.
Este trabalho objetivou estudar a epidemiologia da doença em campo e a eficiência de medidas
de controle em uma estratégia integrada de manejo. Os experimentos foram executados no campo
durante as águas e repetidos nas safras de 2004/2005, 2005/2006 e 2006/2007 e eventualmente em casa
de vegetação. Os resultados foram analisados separadamente e em conjunto. Os delineamentos
experimentais foram em blocos ao acaso, com quatro repetições. Os resultados são apresentados em
seis capítulos e um anexo.
Após uma revisão do estado-da-arte sobre o assunto (Introdução), foram verificados os efeitos de
diferentes sistemas de plantio na dinâmica temporal da mela do feijoeiro (Capítulo I). Foram avaliados
três sistemas de plantio: (1) Plantio sob cobertura morta, (2) duas gradagens niveladoras (sem aração) e
(3) Pré-incorporação da matéria orgânica com gradagem aradora e gradagem niveladora (Plantio
convencional). Os resultados indicaram que, em geral, o plantio sob cobertura morta resultou em
menor severidade da doença, provavelmente em função da preservação da cobertura morta, uma
provável barreira física à dispersão dos basidiósporos. No Capítulo II, estudou-se a reação de
1
cultivares de feijoeiro do grupo Carioca à mela, e demonstrou-se que o porte de planta é um
componente importante para o manejo integrado do patossistema. A doença mostrou menor severidade
nas cultivares de porte ereto (Iapar 81, BRS Horizonte e Magnífico), seguidas das cultivares de porte
semi-ereto e prostradas (BRS Pontal, Carioca, BRSMG Talismã e Pérola). É provável que nas
cultivares de porte ereto, a formação de microclima favorável ao desenvolvimento da mela e o contato
entre fileiras vizinhas ocorra mais tardiamente. O Capítulo III traz resultados dos impactos dos
diferentes níveis de mela no campo sobre a qualidade das sementes do feijoeiro. Constatou-se que o
fungo é facilmente transmitido por sementes, resultando em severa redução na qualidade e prejuízos
para o produtor. O Capítulo IV descreve a influência da idade da planta hospedeira no
desenvolvimento da doença, revelando que, para a maioria das cultivares, o tamanho médio das lesões
reduziu-se com o aumento da idade da planta, indicando aumento da resistência à mela com a idade do
feijoeiro. No Capítulo V analisou-se a eficiência comparativa de fungicidas no controle da mela do
feijoeiro. Os resultados mostraram que uma aplicação, de qualquer dos fungicidas, aos 45 dias após o
plantio, foi ineficiente para o controle da doença. Quando realizadas duas ou três aplicações, iniciadas
aos 30 dias após o plantio, os fungicidas Tryfloxistrobin+Cyproconazol e
Tryfloxistrobin+Propiconazole apresentaram os melhores resultados em campo. Em casa de vegetação,
os fungicidas apresentaram melhores resultados quando aplicados preventivamente. Nas considerações
finais, são propostas medidas de manejo integrado da doença considerando os melhores resultados
encontrados nesse trabalho. Finalmente, um anexo descreve a patogenicidade de T. cucumeris em
Acanthospermum australe (Loef.) Kuntze, nova hospedeira para a ciência, o que pode ter implicações
relevantes para o controle da mela, uma vez que esta espécie é uma invasora muito comum de plantios
de feijão na região Central do país.
2
Integrated management of bean web blight caused by Thanatephorus cucumeris
Web blight, caused by Thanatephorus cucumeris (anamorph: Rhizoctonia solani) is one of the
main tropical diseases of common bean (Phaseolus vulgaris). Grain yield losses may reach up to 100%
in favourable conditions and high inoculum levels. Even at lower severity levels, grain from affected
fields is improper for use as seed or even human consumption. T. cucumeris survives in cultivated or
wild plants, crop debris, infested soil and seeds. Although there have been reports of genetic resistance
among members of the Fabaceae family, no commercial bean cultivar is highly resistant to the disease
and the control relies mainly on seed treatment and fungicide application during the season.
Despite its importance in several microclimates, especially during the wet crop season, there
have been very little studies on the bean-Thanatephorus pathosystem in general and particularly in
Brazil. Therefore, this work aimed at clarifying the epidemiology of bean web blight in the field and to
study the efficiency of control measures as components of an integrated disease management strategy.
Experiments were conducted in field plots during the wet crop seasons of 2004/2005, 2005/2006 and
2006/2007, and eventually in the screenhouse, and the results were analysed separately and together
for the three years. Experimental design was usually a randomized complete block with four replicates.
The results are presented in six Chapters and one Annex.
Following a review of the state-of-the-art on the subject (Introduction), the effects of different
planting systems on the dynamics of web blight epidemics are studied in Chapter I. Three crop systems
were compared: (1) No-till; (2) Minimum till; and (3) Conventional crop system. Results indicated that
the no-till cropping system resulted in the lowest disease levels, possibly due to the presence of the
grass cover over the soil, which in turn served as a physical barrier against basidiospore dispersion.
The reactions of bean cultivars (Group Carioca) to web blight are described in Chapter II. Results
demonstrated that plant growth habit is the most important cultivar character for management of web
3
blight in beans. Erect cultivars, such as Iapar 81, BRS Horizonte and Magnífico had the lowest disease
severities followed by semi-erect and prostate cultivars (BRS Pontal, Carioca, BRSMG Talismã and
Pérola). It is probable that the microclimate in fields of erect bean cultivars is unfavorable to the
disease, or that a favorable climate occurs at a latter time during the season. Chapter III describes the
extent of transmission and the severe impact of different levels of web blight in the field on bean seed
quality. Chapter IV investigated the influence of the host plant age on disease development,
demonstrating that, in general, lesion size is reduced with age, indicating a rise in disease resistance
with plant maturity. The efficiency of fungicides applied in the field during the epidemics was studied
on Chapter V. Results showed that one single application of any of the fungicides, 45 days after
planting, was inefficient for disease control. When there were two or three field applications (starting
earlier than at 45 days after planting) fungicides Tryfloxistrobin+Cyproconazol e
Tryfloxistrobin+Propiconazole resulted in superior control. In the greenhouse, fungicides resulted in
better control when applied preventively. A combined proposition for bean web blight management is
made in the last Chapter of the thesis, taking into account the best results of each separate study.
Finally, the pathogenicity of T. cucumeris to Acanthospermum australe, a frequently weed infesting
bean crops is described in the Annex. Natural field infection of A. australe may have important
consequences for web control, since the weed may represent a reservoir of inoculum for infection of
cultivated crops.
4
INTRODUÇÃO GERAL
O Brasil é o maior produtor e consumidor mundial de feijão (Phaseolus vulgaris L.), produzindo
cerca de 3,0 milhões de toneladas em aproximadamente 3,7 milhões de hectares (MAPA, 2005). Além
de se constituir em um dos alimentos básicos da população brasileira, é um dos principais fornecedores
de proteína na dieta alimentar dos estratos sociais economicamente menos favorecidos (Embrapa
Arroz e Feijão, 2007). O consumo nacional é de cerca de 16 kg/habitante/ano, existindo preferências
de cor, tipo de grão e qualidade culinária em diferentes regiões do País. A demanda por produtos de
melhor qualidade tem mostrado uma tendência para o aumento do consumo de feijão industrializado
(Embrapa Arroz e Feijão, 2007).
Ferreira & Yokoyama (1999) constataram redução do consumo de feijão com o aumento do
poder aquisitivo na região Centro-Oeste (cerca de 34% de redução entre as rendas familiares de 1 e 10
salários mínimos). A demanda se mostrou de certo modo inelástica, pois mesmo nas populações mais
pobres, pequenos aumentos de preços não alteraram de forma significativa o consumo. Por outro lado,
ficou evidente que algumas características dos produtos são muito importantes para os consumidores,
destacando-se o sabor e o aspecto. Quanto ao tipo, os dados mostram que o feijão Carioca domina o
mercado, mas foram detectados nichos para outros tipos à medida que a renda aumenta. É preciso,
entretanto, que estes tipos sejam comercializados no mercado interno com padrão de qualidade. A
comercialização do feijão é muito instável devido a sua rápida perda de qualidade e à grande influência
que exercem os "atravessadores" na formação do preço final do produto (Ferreira & Yokoyama , 1999)
Yokohama et al. (1999) com base em produtores de Goiás e Minas Gerais, constataram que a
cultivar mais plantada nas áreas amostradas foi ‘Pérola’, adotada por 71,5% dos produtores. A
produtividade da cv. Pérola foi a principal vantagem apontada pelos produtores de Goiás e Minas
Gerais. Outros aspectos, como mercado e porte da planta, também foram considerados características
5
vantajosas. O fato de o porte da planta ter sido citado pode ser explicado pela abundante emissão de
ramas que se entrelaçam no dossel e servem de apoio, diminuindo o contato das vagens com o solo e,
consequentemente, o risco de se obterem grãos de baixa qualidade. Além disto, os grãos, por serem
maiores proporcionam um visual mais atraente ao consumidor.
O feijoeiro comum tem uma ampla adaptação edafoclimática o que permite seu cultivo, durante
todo o ano, em ecossistemas tropicais e temperados e em quase todos os estados da federação,
possibilitando constante oferta do produto no mercado. Também pode ser plantado em monocultivo
e/ou consorciado nos mais variados arranjos, o que favorece a diversificação na produção, mas limita
uma maior integração na sua cadeia produtiva. No Brasil a cultura é produzida em três épocas
diferentes, no mesmo ano. A safra “das águas”, cujo plantio é feito de agosto a novembro, com
predominância na Região Sul; o plantio “da seca", realizado de janeiro a março, abrangendo a maioria
dos estados produtores e o "de inverno" de abril a julho realizado nas Regiões Centro-Oeste e Sudeste
(Embrapa Arroz e Feijão, 2007).
O feijoeiro comum é afetado por inúmeras doenças as quais, além de diminuir a produtividade
da cultura, depreciam a qualidade do produto. Estas doenças podem ser de origem fúngica, bacteriana,
viral assim como as incitadas por nematóides.
Entre as principais doenças fúngicas encontra-se a mancha angular (Phaeoisariopsis griseola
(Sacc.) Ferraris), a antracnose (Colletotrichum lindemuthianum (Sacc. et Magn.) Scrib.), a ferrugem
(Uromyces appendiculatus (Pers.) Unger), o oídio (Erysiphe polygoni DC), o mofo branco (Sclerotinia
sclerotiorum (Lib.) De Bary), as podridões radiculares de Fusarium e Rhizoctonia, a murcha vascular
de Fusarium, a podridão do colo e, mais recentemente o carvão (Microbotryum phaseoli), a sarna
6
(Colletotrichum dematium f. truncata (Schw.) v. Arx) (Embrapa Arroz e Feijão, 2007) e a mela,
causada por Thanatephorus cucumeris Frank (Donk).
As soluções para controle de doenças incluem o desenvolvimento de novas cultivares
resistentes, a implementação de práticas culturais como o uso de sementes de boa qualidade, da rotação
de culturas e do manejo correto do solo e, do tratamento químico das sementes e da parte aérea das
plantas e o emprego do controle biológico (Embrapa Arroz e Feijão, 2007)
A mela do feijoeiro comum, causada por Thanatephorus cucumeris, também conhecida como a
murcha da teia micélica é uma enfermidade comum nas regiões de clima quente e úmido, característica
das zonas equatoriais e tropicais, especialmente das florestas tropicais chuvosas. Por conseguinte,
ocorre no Brasil, África, Índia e em pequena faixa subtropical dos Estados Unidos. Deslandes (1944),
já listava a mela como grave entrave à cultura do feijoeiro comum, do caupi (Vigna unguiculata (L.)
Walp) e outras leguminosas
A sintomatologia e importância desta enfermidade foram relatadas por Gonçalves (1969) e
Albuquerque & Oliveira (1973) no Pará e por Newman Luz (1978; 1979) no Acre, tendo Cardoso &
Mesquita (1981) confirmado sua ocorrência em caupi em Goiás (Cardoso et al, 1997). Entretanto,
apesar dos elevados danos causados pela mela, muitas informações básicas sobre esse patossistema
ainda se constituem em incógnitas. Na literatura internacional as informações sobre a mela do feijoeiro
também são limitadas, embora se possam encontrar estudos detalhados sobre vários aspectos do ciclo
de vida do patógeno, suas variações morfológicas e citológicas, demonstrando a ampla disseminação
do fungo por todo o mundo, abrangendo uma vasta lista de hospedeiros.
Em elevada umidade, precipitação e temperatura, a doença pode reduzir a produção em até 100%
(Cardoso & Newman Luz, 1981), dependendo do estágio fenológico da planta quando atacada, da
cultivar, do espaçamento e do inóculo inicial presente no solo (Cardoso, 1980). Existe uma
7
diferenciação de sintomas, relacionada com a identidade dos agentes de infecção. Um tipo de infecção
é igualmente produzido pelo micélio e pelo escleródio, enquanto outro é produzido pelos
basidiósporos. Quando a infecção ocorre num período mais seco, o micélio ou o escleródio provocam,
inicialmente, o surgimento de pequenas manchas necróticas (5-10 mm de diâmetro) com o centro
marrom e as margens com coloração verde-oliva. Depois, as manchas coalescem e geralmente as
folhas são destruídas em 2-3 dias. Em condições de umidade mais alta, surgem pequenas manchas
úmidas, tipo escaldadura, de cor verde-acinzentada, com as margens de cor castanho-avermelhadas e, a
partir destas, lesões. O patógeno cresce, formando hifas em ambas as faces da folha, de cor castanho-
clara, que podem atingir toda a superfície foliar (folhas, caule e vagens) com que ele está em contato,
formando uma teia micélica e afetando toda a planta e as plantas vizinhas (Dalla Pria et al., 1999).
A produção de escleródios marrons, medindo de 0,5 a 2,0 mm de diâmetro, semelhantes a
pequenos grãos de areia, é abundante, quando após uma fase de elevada umidade, ocorre um período
seco (Newman Luz, 1978). Os escleródios que se destacam dos tecidos vegetais constituem-se focos
secundários de infecção (Weber, 1939; Onesirosan, 1975), ou outros hospedeiros nos anos
subseqüentes. O aparecimento inicial da enfermidade no campo em reboleiras demonstra a
participação do inóculo do solo como fonte primária de infecção (Cardoso & Newman Luz, 1981).
Quando as condições de elevada umidade persistem por muitos dias, começam a surgir em vários
locais da plantação novos focos da doença. Segundo Echandi (1965), a disseminação secundária é
provocada pelos basidiósporos que se formam em conseqüência do prolongamento das condições
úmidas sobre as folhas caídas ou mesmo nas que permanecem unidas à planta, porém completamente
tomadas pela enfermidade (Newman Luz, 1978). A fase perfeita desempenha, portanto, importante
papel na rápida disseminação da infecção dentro do mesmo plantio (Echandi, 1965; 1976; Weber,
1939; Newman Luz, 1978; Prabhu et al., 1975).
8
Apesar de ocorrer em qualquer estágio do desenvolvimento da planta, a doença geralmente se
apresenta no campo somente após o inicio da floração. A partir de então, a severidade/incidência
parece ser diretamente proporcional ao desenvolvimento do ciclo reprodutivo da planta. As razões
desta aparente especificidade fenológica ainda não foram estudadas; entretanto, foi sugerido que
estejam ligadas à predisposição fisiológica da planta, em função de modificações hormonais
verificadas durante a passagem do estágio vegetativo para o reprodutivo (Brookhouser et al.,1980;
Dodman et al., 1966 e 1968; Aoki et al.,1963; Wu 1965). Por outro lado, o aumento da severidade
pode também estar ligada à fase de fechamento do dossel, próxima à floração.
Na região Norte do Brasil, a “mela” representa o principal obstáculo à produção do feijoeiro,
sendo a responsável direta pelas freqüentes oscilações da produção entre diferentes safras. Quando o
plantio é feito precocemente em relação ao término das chuvas, a doença praticamente dizima-o; feito
tardiamente, o déficit hídrico propicia uma queda significativa na produtividade.
A forma imperfeita do fungo que causa a mela, foi inicialmente identificada como Rhizoctonia
microsclerotia, em figo (Ficus carica L.), por Martz (1917). Este mesmo autor, ao assinalar a
enfermidade em feijoeiro em 1921, considerou como agente causal o fungo R. solani Kuhn. Entretanto,
Weber (1939) anotou que as características do fungo que causa a murcha da teia micélica no feijão e
em outras plantas, quando cultivado em diferentes meios de cultura, divergiram das apresentadas por
R. solani, classificando sua forma perfeita como Corticium microsclerotia (Matz, 1917; Weber, 1939).
Como estádio perfeito de R. solani foi descrito como Pellicularia filamentosa (Part.) Rogers
(Carpenter, 1951; Flentje,1956; Sims, 1956; Echandi, 1961 e 1965; Shephard & Wood, 1963).
Posteriormente, R. microsclerotia foi sinonimizado com R. solani, situada no complexo de Rhizoctonia
multinucleadas cujo estádio perfeito é Thanatephorus cucumeris (Frank) Donk (Parmeter et al., 1967).
Esta variação taxonômica é em parte atribuída à inconsistência na caracterização do estádio assexual
do fungo, às dificuldades na produção da fase sexuada em condições controladas, e a sua rara detecção
9
na natureza. Embora diversos autores tenham constatado a formação “in vitro” de himênio e
basidiósporos com certa facilidade, usando meios de cultura não convencionais (Tu & Kinbrough,
1975; Echandi, 1965; Hawn & Vanterpool, 1953; Warcup & Talbot, 1966; Murray ,1981; Garza-
Chapa & Anderson, 1966), em condições naturais, a ocorrência de basidiósporos somente foi
constatada em tecidos de seringueira (Hevea brasiliensis Muell. Arg.) (Carpenter, 1949), feijão
(Weber, 1939; Echandi 1965; 1966; 1976), batata (Solanum tuberosum L.), milho (Zea maydis L.),
cenoura (Daucus carota L.), Solanum aviculare Forst., Amaranthus sp. (Hartill 1981) e orquídeas
(Warcup & Talbot, 1980).
Em feijão, Rhizoctonia solani provoca duas doenças distintas: o tombamento das plântulas e a
mela. No primeiro caso, os sintomas ocorrem apenas nos estádios iniciais da germinação e emergência
das plântulas, não tendo sido ainda relatada a ocorrência da forma perfeita juntamente com esta
sintomatologia. No segundo caso, além das diferenças em sintomatologia, o fungo desenvolve o seu
estado perfeito com freqüência.
O desenvolvimento dos basídios nos tecidos infectados com a mela, dá-se quando as condições
ambientais são favoráveis à doença e na ausência de luz (à noite). Logo após a formação dos
basidiósporos, estes são expelidos, seguindo-se a rápida degeneração dos basídios (Echandi, 1965).
Essas peculiaridades permitem formular a hipótese de que o curto período de formação e
desaparecimento das estruturas sexuais, acrescidos pela condição de ausência de luz, dificultam a
detecção deste estádio “in vivo”. Dalla Pria et al. (1999) relataram que os basidiósporos de T.
cucumeris podem germinar, emitindo um tubo germinativo que penetra entre os estômatos e a
epiderme e também nas células-guarda dos estômatos, causando a morte e o amarelecimento dos
tecidos em estágio avançado de penetração hifal e sugere uma possível ação enzimática e tóxica. A
germinação dos basidiósporos, a produção do apressório e a sua penetração diretamente na epiderme
10
também foram encontradas em fumo (Nicotiana tabacum L.) e beterraba. (Beta vulgaris L) (Dalla Pria
et al., 1999).
Do exposto, pode-se afirmar que há necessidade de maiores estudos sobre o papel dos
basidiósporos da forma perfeita do fungo na epidemiologia da doença, e nos mecanismos envolvidos
na relação patógeno-hospedeiro. São poucas as informações sobre os mecanismos de infecção no caso
da mela. Echandi (1961) menciona que o cálcio confere certa resistência ao ataque, sugerindo a
formação de pectatos de cálcio que proporcionam esta resistência através da inibição das enzimas
pectolíticas, responsáveis pela degradação da lamela média. A característica inicial da doença,
manifestada através de anasarca (encharcamento), indica que o fungo dispõe de uma bateria de
enzimas que provocam a desintegração dos espaços intercelulares e de outras substâncias (enzimas,
toxinas e/ou reguladores de crescimento), que alteram a permeabilidade das células que perdem sua
turgescência e morrem, sendo seus constituintes utilizados como substrato nutritivo para o fungo.
Portanto, o fungo age tipicamente como necrotrófico. No entanto, estudos sobre o envolvimento de
enzimas, toxinas e/ou outras substâncias bioquímicas no desencadeamento do processo infecciosas são
necessários para a confirmação dessas idéias. Rhizoctonia solani produz celulase (Bateman, 1963) e
enzimas pécticas (Ayers et al., 1966; Bateman, 1963; Sherwood, 1966; Brookhouser et al., 1980),
auxinas, como ácido indolacético (AIA) e ácido naftaleno acético (ANA) (Dodman et al., 1966) e
toxinas (m-hidroxifenil-acético) (Aoki et al., 1963; Nishimura & Sadaki, 1963; Wu, 1965; Mandava et
al., 1980). Porém, não se dispõe de informação sobre a capacidade de produção destas substâncias pela
espécie que causa a mela.
Várias recomendações foram feitas no sentido que o controle de doença seja feito de forma
integrada, adotando-se conjuntamente diferentes medidas, tendo em vista as características da
disseminação e da sobrevivência de T. cucumeris. Recomendam-se a utilização de sementes sadias, a
eliminação de restos de cultura contaminados e a rotação com culturas não-hospedeiras. Deve-se fazer
11
o controle da irrigação pra que não ocorra excesso de umidade do solo. Práticas como o cultivo
mínimo e a utilização de cobertura morta (casca de arroz, folhas de cana-de-açúcar) sobre o solo
parecem reduzir a severidade da doença (Albuquerque & Oliveira, 1973; Gálvez et al., 1980; Galindo
et al., 1983; Rava, 1991). Outras medidas que podem apresentar efeito sobre a sobrevivência do
patógeno são a aração profunda, a boa drenagem do solo e o controle de plantas daninhas. Cultivares
mais tolerantes à seca permitem alterações da época de plantio e o cultivo em condições não-propícias
ao patógeno. Paula Jr et al. (1996) observaram que a cv. Meia-Noite destacou-se, entre diversas outras
por não apresentar sintomas da doença em Leopoldina, Minas Gerais.
A preocupação com a redução da produtividade e a demanda de informações básicas sobre a
mela, aliadas a importância da doença nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, demonstraram a
necessidade de pesquisas visando estudar principalmente o controle e a epidemiologia da mela. Este
trabalho relata os resultados de estudos realizados durante três safras na Embrapa Arroz e Feijão,
visando contribuir para o controle da mela através de práticas de controle integrado envolvendo
sistemas de plantio, resistência à doença e emprego de fungicidas..
12
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Transamazônica. Belém, IPEAN (Comunicado Técnico, n˚ 40), 7p. 1973.
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Cardoso, J. E.; Newman Luz, E.D.M. Avanços da pesquisa sobre a mela do feijoeiro no Estado do
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17
CAPÍTULO I
INFLUÊNCIA DE SISTEMAS DE PLANTIO NA SEVERIDADE DA MELA E
PRODUTIVIDADE DO FEIJOEIRO
RESUMO
A mela causada por Thanatephorus cucumeris é fator limitante para o cultivo do feijoeiro
comum nos trópicos úmidos, microrregiões úmidas do Nordeste e no plantio durante a estação chuvosa
do Centro-Oeste. A doença é de difícil controle e são escassas as informações sobre o efeito do sistema
de plantio sobre o patossistema em questão. Visando estudar a influência de sistemas de plantio na
severidade da mela e produtividade do feijoeiro comum, avaliou-se por três safras consecutivas os
seguintes sistemas: (1) Plantio sobre cobertura morta, (2) Após duas gradagens niveladoras e (3) Após
pré-incorporação da matéria orgânica com gradagem aradora e gradagem niveladora. Os resultados
indicaram que o plantio sob cobertura morta, por duas safras, resultou em menor severidade da doença,
quando comparado com os demais sistemas de plantio, provavelmente por fornecer uma barreira física
impedindo a dispersão dos basidiósporos, responsáveis pela fase epidêmica da doença. Entretanto, o
plantio convencional promoveu as maiores produtividades.
INTRODUÇÃO
Thanatephorus cucumeris (Frank) Donk (forma perfeita de Rhizoctonia solani Kühn) é o
agente causal da mela do feijoeiro ou murcha da teia micélica, que se constitui na principal doença do
feijoeiro nos trópicos úmidos, onde elevada temperatura e umidade formam as condições favoráveis
para o desenvolvimento da doença. Segundo Cardoso et al. (1997), no Brasil, a doença é considerada
também importante nas microrregiões úmidas do Nordeste e no plantio durante a estação chuvosa do
18
Centro-Oeste.
O patógeno é um basidiomiceto que habita naturalmente a camada superficial (0-5 cm) do solo,
tendo uma alta capacidade saprofítica e uma enorme gama de hospedeiros (Dalla Pria et al., 1999).
Sobrevive por vários anos através de escleródios e micélio sobre resíduos orgânicos do solo (Echandi,
1965; Galindo et al., 1983a). As chuvas favorecem o lançamento de basidiósporos em himênio
formado no solo para a parte aérea das plantas, onde se inicia o desenvolvimento da mela. Sob
condições favoráveis, a doença apresenta-se como policíclica e progride rapidamente de plantas
infectadas para as vizinhas, de modo que uma lavoura de feijoeiro pode ser destruída em poucos dias.
As principais medidas de controle têm por objetivo evitar a elevação da densidade de inóculo
inicial e reduzir a taxa de progresso da doença. Entre as medidas que têm sido recomendadas estão:
utilizar semente de boa qualidade sanitária e tratadas; evitar o plantio sucessivo do feijoeiro ou de
plantas hospedeiras na mesma área; proceder a pré-incorporação dos resíduos, seguida de aração
profunda, preferencialmente com arado de aiveca, visando à diluição do inóculo no perfil do solo;
tratar as sementes com fungicidas; evitar a semeadura com profundidade superior a 2,5 cm e o controle
químico preventivo da doença (Costa, 2001a). Algumas práticas culturais, como o plantio sobre
cobertura morta de gramíneas ou da própria vegetação nativa, podem retardar o desenvolvimento de
epidemias (Cardoso & Luz, 1981; Galindo et al., 1983b).
Estudos comparativos sobre o efeito das práticas de manejo sobre a incidência das doenças de
leguminosas no Brasil foram desenvolvidos majoritariamente nas regiões Sudeste e Sul (Costamilan &
Yorinori, 1999). E a maioria das informações disponíveis não abrange práticas desenvolvidas ou
validadas para o controle da mela.
A crescente adoção do sistema plantio direto (SPD) para a produção do feijoeiro na qual se
preconiza o plantio sobre a cobertura morta da cultura anterior, vem alterando a importância relativa e
a dinâmica das doenças para essa cultura. Algumas doenças de importância econômica foram relatadas
19
como favorecidas pelo SPD, como o mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) De Bary), que afeta
todas as leguminosas; doenças causadas por Fusarium solani (Mart.) Sacc., como a podridão vermelha
da raiz ou síndrome da morte súbita em soja (Fusarium solani f. sp. glycines) e feijão (F. solani f. sp.
phaseoli), cancro da haste da soja (Diaporthe meridionalis f. sp phaseolorum), antracnose do feijoeiro
(Colletotrichum lindemunthianum (Sacc. & Magn). Scrib.), mancha alvo e podridão radicular de
Corynespora (Corynespora cassiicola) em soja, tombamento e murcha de Sclerotium (Sclerotium
rolfsii) nas leguminosas em geral, tombamento e morte em reboleiras em soja (Rhizoctonia solani). Já
no caso do nematóide de cisto (Heterodera glycines), o SPD é útil, pois diminui a disseminação e cria
condições para o desenvolvimento de controle biológico (Costamilan & Yorinori, 1999).
Entretanto, trabalhos recentes demonstraram resultados contrários. Berni et al. (2002) relataram
redução da severidade de Rhizoctonia solani às plantas de feijoeiro quando utilizado o SPD em relação
ao preparo de solo com gradagem. Além disso, ocorreu redução da densidade de inóculo de patógenos
de solo como R. solani, F. solani e Fusarium sp. em regiões quentes com o plantio de Brachiaria
brizantha, B. ruzisiensis e B. plantaginea (Costa & Rava, 2003). A cobertura morta dessas forrageiras
também é importante no controle do mofo branco do feijoeiro, e tem se mostrado como uma das
principais ferramentas no controle dessa doença (Costa & Rava, 2003). Por exemplo, a intensidade do
mofo branco, a produção de escleródios e a formação de apotécios foram menores no SPD (Napoleão
et al., 2005), enquanto Campos et. al (1990) controlaram a mela do feijoeiro por meio de plantio direto
sobre a palha de arroz. Freitas et al (2002) demonstraram redução na incidência e severidade do cancro
da haste da soja com SPD.
Tendo em vista a relativa escassez de informações de campo sobre o efeito de práticas agrícolas
na epidemiologia da doença, assim como a controvérsia na literatura sobre o efeito da adoção do SPD,
este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de diferentes sistemas de plantio na intensidade da
mela do feijoeiro.
20
MATERIAL E MÉTODOS
Os ensaios foram realizados nas safras 2004/05, 2005/06 e 2006/07, em área de clareira
circundada por mata subcaducifólia (cerradão) no campo experimental da Embrapa Arroz e Feijão, em
Santo Antônio de Goiás (GO). A área experimental em Latossolo Vermelho apresentava pH médio de
5,4, com histórico de doença na área, apesar de não ter sido cultivada nos cinco anos anteriores a
instalação dos ensaios. Entretanto, o solo manteve-se uniformemente infestado com T. cucumeris, em
parte devido à infecção de plantas espontâneas no local pelo patógeno (Costa et al., 2007). Os
experimentos foram instalados anualmente no início do período chuvoso, a fim de fazer coincidir o
período de maior susceptibilidade do hospedeiro com o período de elevada umidade e temperatura,
favoráveis ao rápido desenvolvimento da doença.
Foram avaliados três sistemas de plantio (1) Plantio sobre cobertura morta (PCM), (2) Plantio
após duas gradagens niveladoras (Gradagem, sem aração) e (3) Plantio após pré-incorporação da
matéria orgânica com gradagem aradora e gradagem niveladora (SPC - Plantio convencional). As
parcelas experimentais foram constituídas de quatro de linhas de cinco metros espaçadas 0,45 m entre
linhas, delineadas em blocos ao acaso com quatro repetições.
Na primeira safra a instalação dos ensaios foi efetuada em uma área que estava em pousio por
aproximadamente cinco anos. O tratamento plantio sob cobertura morta foi instalado após aplicação de
glifosato e secagem do capim Brachiaria brizantha que se encontrava na área. O plantio convencional
e gradagem sem aração foram instalados paralelamente a esse. Para a segunda e terceira safras foi
efetuado o plantio do capim B. brizantha oito meses antes da instalação do tratamento plantio sobre
cobertura morta. As parcelas consistiram de quatro linhas de cinco metros espaçadas 0,45 m entre
linhas, delineadas em blocos ao acaso, com quatro repetições.
Na terceira safra, além da instalação dos três sistemas de plantio, foi efetuado um ensaio
21
adicional com diferentes volumes de cobertura morta sobre o solo: 2,0; 4,0; 6,0; 8,0 e 10,0
toneladas.ha.
-1
de matéria seca e a testemunha (sem cobertura morta). Para isso, uma área de
aproximadamente 1 ha foi plantada com B. brizantha, a lanço. Após oito meses do plantio a cobertura
morta foi cortada, pesada e distribuída na parcela, após o plantio do feijão.
A adubação de plantio foi efetuada com 500 kg. ha.
-1
da fórmula 03-17-00+Zn. A adubação
potássica foi efetuada em cobertura, na dose de 80 Kg.ha
-1
de KCl aplicados logo após o plantio e a de
cobertura consistiu de 100 kg ha.
-1
de uréia, divididas em duas partes, aplicadas aos 15 e 30 dias após o
plantio. A cultivar utilizada foi a Pérola cujas sementes foram tratadas com gaucho (i.a imidacloprido,
200 g/100 kg de sementes), derosal plus (i.a carbendazim+thiran, 300 mL/100Kg de sementes) e
monceren (i.a pencicuron, 300 mL/100Kg de sementes), por ocasião do plantio.
A severidade da doença foi avaliada semanalmente, atribuindo-se notas, onde: 1- sem sintomas;
3- 1 até a 30% da área foliar necrosada; 5- 31 a 60% da área foliar necrosada; 7- 61 a 90% da área
foliar necrosada e 9-acima de 90% da área foliar necrosada (Van Schoonhoven & Pastor-Corrales,
1987). Na safra 2003/04, as avaliações foram feitas por parcela e nas de 2005/06 e 2006/07 as
avaliações foram feitas em cada linha da parcela, para assegurar maior exatidão. A produtividade foi
avaliada em plantas as plantas arrancadas manualmente. No primeiro ano foram arrancadas as duas
linhas centrais, e nas demais safras, toda a parcela.
Para análise estatística os dados de severidade das cinco últimas leituras, foram transformados
em 1
x
+ . Os dados de temperatura máxima e mínima e de precipitação pluviométrica foram obtidos
na Estação Climatológica da Embrapa Arroz e Feijão, localizada no município de Santo Antônio de
Goiás-GO, com latitude de 16˚28’60” S, longitude de 49˚17’00” W e atitude de 823m (Silva et al.,
2002), a 300 metros da área experimental. As médias dos tratamentos, em relação à severidade e
produtividade, foram comparados pelo testes Scott-Knott, a nível de 5%, utilizando o programa de
22
estatística SISVAR (Ferreira, 2000). As taxas de progresso da doença nos diferentes sistemas de
plantio foram comparadas após o ajuste das curvas de progresso ao modelo logístico, com conversão
das notas para o ponto médio de cada respectiva classe de porcentagem (Bergamin Filho et al., 1995)
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As condições ambientais foram favoráveis ao desenvolvimento da doença durante as três
safras. Não houve variação marcante das temperaturas, porém a precipitação pluviométrica variou de
um ano para outro. A precipitação pluviométrica total foi maior na segunda safra, porém a distribuição
das chuvas foi mais uniforme na safra 2004/05 durante todo o ciclo da cultura (Tabela 1).
O progresso temporal da doença variou entre as safras e entre os tratamentos dentro de cada
sistema de plantio (Figuras 1C, 2C e 3C). Em geral, observou-se que a severidade média da doença foi
maior na primeira e segunda safras e menor na terceira safra (Tabela 2). Os sintomas de mela
apareceram mais tarde na primeira safra em relação aos demais, aproximadamente aos 43 dias após o
plantio (DAP), daí evoluindo rapidamente até a morte da maioria das plantas, aos 78 DAP (Figura 1C).
Na segunda e terceira safra os sintomas ocorreram mais cedo, após a germinação das plantas, 7 DAP,
progredindo lentamente até aos 64 DAP, daí evoluindo rapidamente até aos 77 DAP (Figuras 2C e
3C), momento em que, as plantas se encontravam na fase de enchimento de grãos.
Cardoso et al. (1997) também encontraram menores índices de doença com plantio direto sobre
a palha. Prabhu et al. (1983) mostraram que a enfermidade iniciou-se aproximadamente, 10 a 15 dias
após o plantio e atingiu 50% de incidência na fase de florescimento pleno e início da frutificação. Na
fase de florescimento, o desenvolvimento da área foliar forneceu condições de microclima altamente
favorável ao desenvolvimento da doença. Cardoso & Luz (1981) relatam que este fato pode também
estar relacionado com a predisposição fisiológica da planta, em razão de modificações hormonais
verificadas quando da passagem do estádio vegetativo para o reprodutivo.
23
Em relação à severidade da doença nas últimas 5 leituras, na primeira safra o PCM apresentou
a menor severidade média de doença seguida pelos tratamentos gradagem sem aração e SPC. Na
segunda safra os tratamentos não diferiram entre si significativamente. Na terceira safra o PCM
novamente apresentou a menor severidade de mela. Durante duas safras, o PCM favoreceu a
progressiva redução da doença (Tabela 2).
A dinâmica temporal da mela seguiu ajustes diferenciados dependendo da safra e do tratamento
(Tabela 3), geralmente apresentando menores taxas no PCM e maiores no SPC. As taxas de infecção,
na primeira safra, foram de aproximadamente 0,16; 0,21 e 0,23 unidade/dia, para os tratamentos PCM;
Gradagem sem aração e SPC, respectivamente. Na segunda safra, as taxas de infecção pouco se
diferenciaram, com 0,20; 0,18 e 0,19 unidade/dia, para os tratamentos PCM; Gradagem sem aração e
SPC, respectivamente. Na terceira safra, as taxas de infecção foram de 0,16; 0,21 e 0,24 unidade/dia,
para os tratamentos PCM; Gradagem sem aração e SPC, respectivamente.
Essas variações de uma safra para outra, no caso de PCM e SPC, parecem ligadas ao manejo da
cobertura morta e densidade de inóculo no solo, respectivamente, embora não tenham sido obtidos
dados apoiando especificamente esta conclusão.
No caso do PCM, observou-se que idade e a quantidade de cobertura morta influenciam no
desenvolvimento da doença. Na primeira e terceira safras houve um controle eficiente da doença com
emprego de cobertura morta. Costa & Rava (2003) indicaram que a cobertura morta de Brachiaria
brizantha permitiu níveis eficientes de controle do mofo branco em feijoeiro por ensejar a redução da
densidade do inóculo formado na superfície do solo. Conseqüentemente foi reduzido o número de
pulverizações com fungicidas de duas ou três aplicações para uma única aplicação, com eficiência de
controle semelhante.
Costa (2001b) relatou que a cobertura morta de Brachiaria demonstrou boa resistência às
intempéries climáticas e apresentou decomposição mais lenta, mesmo sob o efeito de aplicações
24
nitrogenadas de cobertura via água de irrigação, possivelmente, servindo de barreira física a
disseminação do agente causal do mofo branco.
Na segunda safra, o PCM foi ineficiente para o controle da mela do feijoeiro, devido ao manejo
da cobertura morta e à elevada precipitação logo no início do cultivo (513 mm, Tabelas 1, 2). Neste
ano, a cobertura morta de Brachiaria além de estar nova em relação a da primeira safra, estava em
volume insuficiente para afetar significativamente o desenvolvimento da doença. Na terceira safra, a
cobertura de Brachiaria era da mesma idade das plantas da segunda safra, mas em volume visualmente
superior as do segundo ano, sendo observada boa cobertura do solo na época da colheita. O volume de
palhada no solo parece ser fator limitante no controle da mela do feijoeiro. As plantas mais novas (8
meses) se decompuseram mais rapidamente que as da primeira safra, expondo o solo. No solo
descoberto encontrou-se uma elevada infestação de plantas daninhas, em particular Acanthospermum
australe, registrada por Costa et al. (2007) como hospedeira alternativa de T. cucumeris. Além da
redução do rendimento, algumas plantas daninhas hospedam agentes de doenças fúngicas (Cobucci et
al., 1999).
Napoleão et al. (2005), relataram que raramente foram encontrados apotécios de S.
sclerotiorum em plantio direto, apenas nas maiores lâminas de irrigação (571 mm), ao contrário do
plantio convencional, onde foram encontrados em todas as lâminas, desde 259 mm. Esses apotécios
foram encontrados em locais onde a cobertura morta não cobria o solo, ou seja, onde foi possível a sua
emergência sem uma barreira física. Dados semelhantes foram encontrados também por Ferraz et al.
(1999). Freitas et al (2002) trabalhando com outro fungo disseminado por respingos (D. phaseolorum
f.sp. meridionalis) atribuíram a redução no nível de doença em soja no SPD à interferência da
cobertura morta na dispersão do inóculo.
A velocidade de decomposição dos resíduos culturais determina o tempo de permanência da
cobertura morta na superfície do solo. Quanto mais rápida for a sua decomposição, maior será a
25
velocidade de liberação dos nutrientes, diminuindo, entretanto, a proteção do solo. Por outro lado,
quanto mais altos forem os conteúdos de lignina e a relação C/N nos resíduos, tanto mais lenta será a
sua decomposição (Floss, 2000). Essa permanência da palha na superfície do solo é de fundamental
importância para a manutenção do SPD (Braz, 2003).
O ensaio com diferentes quantidades de cobertura morta, revelou que as quantidades de 2,0;
4,0; 6,0 toneladas.ha
-1
não diferiram entre si, nem da testemunha em relação à severidade da mela.
Porém a massa de cobertura morta nas quantidades de 8,0 e 10,0 toneladas.ha
-1
reduziram
significativamente a doença no campo. Em termos de produção não houve diferença estatística entre os
tratamentos. Alvarenga et al. (2001) consideram que 6,0 t ha
-1
de resíduos sobre a superfície do solo
seria a quantidade adequada ao sistema de planto direto, com a qual se consegue boa cobertura do solo.
Entretanto, essa quantidade pode variar bastante dependendo da espécie cultivada, da espécie usada
como cobertura morta, do tipo de patégeno das condições edafoclimáticas, bem como, em função da
idade da fitomassa, a qual determinará a sua taxa de decomposição.
No caso do SPC, observou-se uma redução da severidade da mela da segunda safra para a
terceira. .Esse tipo de manejo leva à incorporação profunda do inóculo que se encontra nos primeiros
cinco centímetros do solo, tanto o presente na matéria orgânica, como o contido no solo na forma de
escleródios e os das hospedeiras voluntárias, resultando em um menor potencial de inóculo no solo. Os
fungos habitantes do solo geralmente são encontrados nas camadas superficiais do solo, devido a sua
forte dependência de oxigênio (Cardoso, 1994), aumentando as chances de controle da doença, quando
estes fungos são transferidos para perfis mais profundos do solo, onde se encontram organismos mais
adaptados à competição em condição de ambiente menos aeróbico.
Ao contrário de Cardoso et al. (1997), Costa & Rava (2003) e Rios et al (1996) relataram que o
preparo de solo com arado de aiveca, ao provocar o maior tombamento de leiva do solo, foi o mais
efetivo na redução de incidência da doença. A pré-incorporação dos resíduos culturais e aração
26
profunda atuam sobre o patógeno provocando estresse pela ausência do hospedeiro preferencial e
competição com uma microbiota diferente daquela encontrada junto à superfície. Especula-se que com
o enterrio e diluição do inóculo no solo é incrementada a barreira espacial entre este e a planta. Por
outro lado, o vigor do hospedeiro é aumentado pela melhoria das condições físicas do solo.
Cardoso et al (1997) em um estudo de manejo integrado da mela do feijoeiro, em duas safras
consecutivas também verificaram consistentemente menores severidades de mela com adoção do SPD,
especialmente na segunda safra. Embora inicialmente a aração tenha favorecido maiores
produtividades, da primeira safra para a segunda, observou-se uma nítida redução da mela e aumento
da produção com adoção do SPD, enquanto com os sistemas com gradagem e aração com aiveca,
foram verificados maiores severidades da doença e menores produtividades.
Os dados médios de produção em kg/ha estão apresentados na Tabela 4 e mostram que a
doença e o tipo de preparo do solo afetaram severamente a produção. Segundo dados do Ministério da
Agricultura (2004), a cultivar Pérola apresenta produtividade média em cultivo não irrigado de 1582
kg/ha. Considerando esse valor, observou-se no primeiro ano redução da produção maior que 90%
para todos os sistemas de plantio. No segundo ano a redução foi de 32, 66 e 86% aproximadamente
para o SPC, gradagem sem aração e o PCM, respectivamente. No terceiro ano, ano o índice foi de 60,
81 e 86% para SPC, gradagem sem aração e PCM, respectivamente. Esses dados são semelhantes aos
de Garcia & Souza (1995), que encontraram melhores rendimentos no SPC que no SPD. Entretanto,
esses autores não encontraram diferenças entre a severidade da mela entre os dois sistemas de plantio.
Em contraste, os resultados do presente estudo demonstraram alta correlação entre os valores de
severidade de mela e de produtividade em cada ano. Para o PCM os coeficientes de correlação foram
de 77, 81 e 76% para as safras 2004/05; 2005/06 e 2006/07, respectivamente; para o tratamento
Gradagem sem aração, as correlações foram de 89, 97 e 84%, e para o SPC, 93, 95 e 75%, para as
mesmas safras.
27
Esse trabalho demonstrou que em solos onde o patógeno está presente, pode-se optar pelo
plantio sobre cobertura morta de Brachiaria, por reduzir a severidade da mela do feijoeiro em
comparação com os demais sistemas de plantio. Este efeito é provavelmente devido ao
desfavorecimento ou até impedimento do desenvolvimento do fungo, o que conseqüentemente implica
na redução da quantidade de inóculo na forma de basidiósporos. Estes basidiósporos, podem ter ainda
sua disseminação desfavorecida pela barreira física da palhada. A adoção da prática sobre cobertura
morta é certamente um elemento útil a ser empregado na estratégia de manejo integrado da mela do
feijoeiro.
28
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32
Tabela 1. Temperatura e precipitação pluviométrica durante o ciclo do feijão, nas safras 2004/05;
2005/06 e 2006/07. Santo Antônio de Goiás-Go
Número de dias
chuvosos
Precipitação
Pluviométrica (mm)
Média Temperatura
máxima
(°C)
DAP Estágio
Fenológico
Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 1 Ano 2 Ano 3
1-35 Vegetativo 20 26 22 249,8 512,9 336,4 29,4 27,7 29,1
36-49 Frutificação 12 1 8 125,4 5,8 86 26,8 31,1 31,1
50-77 Maturação 21 22 23 287,7 210,5 172,9 29,5 29,5 30,0
Total _ 53 49 53 562,9 729,2 595,3 28,56 29,43 30,06
DAP- Dias após o Plantio
33
Tabela 2. Índice de severidade da mela do feijoeiro, em diferentes sistemas de plantio, em três safras.
Santo Antônio de Goiás-GO
Severidade da doença
1
Safras
Sistemas de plantio
2004/05 2005/06 2006/0
7
Plantio sobre Cobertura Morta 3,9 a 8,5 a 5,5 a
Gradagem, sem aração 5,4 b 7,7 a 8,6 b
Sistema Plantio Convencional 7,1 c 8,1 a 7,5 b
Média 5,4 8,1 7,5
C.V (%) 14,09 6,01 8,33
1
Média das cinco últimas leituras. Severidade de doença, onde: 1- sem sintomas e 9-acima de 90% da
área foliar necrosada. Médias seguidas da mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não
diferem significativamente, pelo teste Scott-Knott (P0,05).
34
Tabela 3. Parâmetros da curva de progresso da mela do feijoeiro em três sistemas de plantio: Plantio
sob cobertura morta, Gradagem sem aração e Plantio Convencional, de acordo com o modelo
Logísitico, y = 1/[1 + exp (-{ln[ y
0
/(1- y
0
)]+r.t})], onde y = severidade da doença; r = taxa de
progresso da mela e t = tempo
Safra
2004/2005
Intercepto Taxa de progresso R2
a
R*2
b
Plantio sobre cobertura morta -12,04 0,1645 0,8039 0,6488
Gradagem, sem aração -14,02 0,2152 0,8812 0,7568
SPC -14,06 0,2308 0,7926 0,6089
Safra
2005/2006
Intercepto Taxa de Progresso R2
a
R*2
b
Plantio sob cobertura morta -14,85 0,1999 0,7589 0,9754
Gradagem, sem aração -14,17 0,1829 0,7486 0,9214
SPC -14,338 0,1869 0,7507 0,8531
Safra
2006/2007
Intercepto Taxa de Progresso R2
a
R*2
b
Plantio sobre cobertura morta -13,182 0,1596 0,7357 0,7771
Gradagem, sem aração -15,245 0,2101 0,7543 0,6268
SPC -16,208 0,2369 0,7453 0,8516
a
'Coeficiente de determinação da correlação';
b
'Coeficiente de determinação entre valores de
severidade da mela observados e calculados.
35
Tabela 4. Produtividade média do feijoeiro em área naturalmente infestada com inoculo de
Thanatephorus cucumeris, em três safras, sob diferentes sistemas de plantio. Santo Antônio
de Goiás-GO .
Produtividade (kg/ha)
Safra
Sistemas de plantio
2004/05 2005/06 2006/0
7
Plantio sobre cobertura morta 141,9 a 218,2 a 289,7 a
Gradagem, sem aração 50,7 a 540,2 a 219,0 a
Sistema Plantio Convencional 17,8 a 1067,9
b
627,2
b
Média 70,1 A 608,7
B
378,6
C
C.V (%) 39,43 30,40 26,4
Médias seguidas da mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não diferem
significativamente, pelo teste Scott-Knott (P0,05).
36
mm/dia
°C
15
20
25
30
35
1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78
Temperatura máxima Temperatura mínima
0
20
40
60
80
1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78
Precipitação pluviométrica
1
3
5
7
9
1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78
P lant io so b Cobertura M orta Gradagem, sem aração Plantio Convencional
Dias após o plantio
Severidade de doença
A
C
B
Figura 1. Influência do sistema de plantio na severidade da mela do feijoeiro comum. Santo Antônio
de Goiás-GO/2004-05.
37
38
0
20
40
60
80
1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78
Precipitação pluviométrica
mm/dia
15
20
25
30
35
1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78
Temperatura máxima Temperaturanima
°C
1
3
5
7
9
1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78
Plantio sob Cobert ua Morta Gradagem, sem aração Plantio Convencional
Severidade de doença
Figura 2. Influência do sistema de plantio na severidade da mela do feijoeiro comum. Santo
Antônio de Goiás-GO/2005-06.
A
C
B
Dias após o plantio
39
Severidade de doen
ç
a
15
20
25
30
35
1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78
Temperatura máxima Temperatura mínima
C
mm/dia
°C
0
20
40
60
80
1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78
A
Precipitação pluviométrica
B
1
3
5
7
9
8 15222936435057647178
C
Severidade de doença
Plantio sob Cobertura Morta Gradagem, sem aração Plantio Convencional
Dias após o plantio
Figura 3. Influência do sistema de plantio na severidade da mela do feijoeiro comum. Santo
Antônio de Goiás-GO/2006-07.
CAPÍTULO II
REAÇÃO DE CULTIVARES DE FEIJOEIRO DO GRUPO CARIOCA À MELA CAUSADA
POR Thanatephorus cucumeris
RESUMO
A mela causada pelo fungo Thanatephorus cucumeris, apresenta grande importância na cultura
do feijoeiro (Phaseolus vulgaris) no Brasil, pois o seu controle é muito difícil em condições de alta
umidade e temperatura, como ocorre nas regiões Centro-Oeste e Norte. Visando conhecer a reação de
cultivares comerciais de feijoeiro comum à mela, estudou-se o comportamento de dez cultivares do
grupo Carioca por três safras. Registraram-se dados relativos à severidade da doença e produtividade.
Todas as cultivares foram afetadas pela doença. Em geral, a doença mostrou-se menos severa em
cultivares de porte ereto (Iapar 81, BRS Horizonte e Magnífico), seguido das cultivares de porte semi-
ereto e prostrado (BRS Pontal, Carioca, BRSMG Talismã e Pérola). É provável que nas cultivares de
porte ereto, a formação de microclima favorável ao desenvolvimento da mela e o contato entre fileiras
vizinhas ocorra mais tardiamente, facilitando o escape à doença.
INTRODUÇÃO
O Brasil é o maior produtor e consumidor mundial de feijão (Phaseolus vulgaris L.),
produzindo cerca de 3,0 milhões toneladas em aproximadamente 3,7 milhões de hectares (MAPA,
2005). Comparando esse rendimento atual aos rendimentos obtidos pelos órgãos de pesquisa, observa-
se que há possibilidade de expressivo incremento de produtividade. A partir dos dados provenientes
dos produtores que utilizam os estoques de tecnologia já disponíveis é possível atingir produtividades
médias de 3,2 t. ha -
1
em lavouras de sequeiro e 4,5 t. ha -
1
em lavouras irrigadas (Pinheiro, 2005).
40
Dentre os fatores capazes de reduzir a produtividade estão as doenças e, a mela, causada pelo
fungo Thanatephorus cucumeris Frank (Donk), é uma enfermidade comum em regiões de temperatura
alta e chuvas freqüentes acompanhadas de alta umidade relativa. Nessas condições a doença pode se
tornar o principal fator limitante do cultivo do feijoeiro nos trópicos (Sartorato et al., 1994). Segundo
Cardoso et al. (1997) a mela é uma das principais causas da baixa produtividade do feijoeiro no
Centro-Oeste durante a estação chuvosa
Trata-se de um patógeno de difícil controle, por apresentar um grande número de hospedeiros
(Mendes, et al., 1998; Poltronieri et al., 2000; Poltronieri et al., 2006), uma grande capacidade
saprofítica no solo e uma alta agressividade. Poucas fontes de resistência à mela foram identificadas,
sendo relativamente recente a informação de que o genótipo RAI-70 mostrou um bom nível de
resistência à doença. (Cardoso et al.,1997). Entretanto, mesmo um nível moderado de resistência de
campo pode ter uso em um manejo integrado da doença, se combinado com o uso de cobertura morta
adequada (Oliveira et al., 1987) e controle químico racional (Prabhu et al., 1975, 1983, Cardoso, 1980;
Costa, 2000).
Poltronieri & Oliveira (1990) relataram que todos os genótipos desenvolvidos para resistência à
mela em outros países da América Latina e América Central, se apresentaram altamente susceptíveis,
quando testados no Trópico Úmido Brasileiro. No entanto, este material pode ser testado em busca de
material com resistência parcial para uso em programas de manejo integrado da doença.
Vários genótipos foram registrados como tolerantes, alguns como resistentes, outros
considerados de resistências intermediárias (Newman Luz, 1979; Castaño, 1982; Centro Internacional
de Agricultura Tropical, 1984a, 1984b; Sobral et al, 1984; Gálvez et al., 1984). Paula Jr. et al. (1996)
mostraram que entre os diferentes genótipos de feijão tipo preto, a cultivar Meia Noite mostrou-se
resistente à mela. Entre os materiais de feijão tipo Carioca, a cultivar NA-730240 mostrou resistência,
ao contrário das susceptíveis AN-910518 e ESAL-609. No Grupo Vermelho, a severidade da mela foi
41
menor na cultivar F-11-H-3586/54/1 e maior no genótipo BP-9116316. No Grupo Jalo, a severidade da
mela foi menor na cultivar Novo Jalo em Iraí de Minas, EEP-558 e Multi 634.
Segundo Costa et al. (1997) cultivares RAB-34, Talamanca e XAN-112 foram as mais
resistentes e LM-21303, BAT-1449 e Aporé as mais suscetíveis. Chaves et al. (1998) relataram que
quanto a resistência à mela destacaram-se os genótipos A295, Emp 81, Bat 1289, Cochuate, Chimbalo,
Bico de Ouro, A301, A770.
Marinho et al. (1999) fizeram avaliação de genótipos de feijoeiros dos grupos Carioca e
Roxo/Rosinha no Acre e mostraram baixa incidência da mela e boa produtividade, sugerindo que a
introdução e avaliação contínua de novos genótipos de feijoeiro, permitirão identificar genótipos com
boa performance, que assegurem maior sustentabilidade dessa cultura no Acre.
Pereira et al. (1999) estudando ensaio de populações segregantes de feijão para resistência a
mela no estado do Acre, relatam que os materiais analisados não apresentaram resistência à mela em
condições de elevada precipitação. Entretanto, a linhagem 2610-15 mostrou-se menos susceptível do
que as demais. Adams (1982) relatou que entre as vantagens de cultivares de porte o mais ereto
possível, está a menor ocorrência de doenças, especialmente o mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum
(Lib) De Bary), a redução de perdas na colheita e o menor contato das vagens com o solo, o que
beneficia a qualidade dos grãos.
Entretanto, não foram conduzidos trabalhos comparando diretamente grupos de cultivares
quanto ao hábito de crescimento e a reação à mela do feijoeiro. Tendo em consideração a escassez de
informações sobre o assunto, foram testadas cultivares de hábitos de crescimento ereto, semi-ereto a
prostrado durante a estação chuvosa na região Centro-Oeste, em três safras consecutivas.
MATERIAL E MÉTODOS
Os ensaios foram realizados nas safras 2004/05; 2005/06 e 2006/07 em área de clareira
42
circundada por mata subcaducifólia (cerradão) naturalmente infestada com T. cucumeris, na Embrapa
Arroz e Feijão, Santo Antônio de Goiás-GO. A cultura foi semeada no início do período chuvoso, a
fim de fazer coincidir o período de maior susceptibilidade do hospedeiro com as condições ambientais
favoráveis ao rápido desenvolvimento da doença.
Foram testadas as reações de dez cultivares do Grupo Carioca, de porte ereto, semi-ereto (às
vezes referido na literatura como ‘semi-prostrado’) e prostrado: BRS Pontal, Iapar 81, BRS Horizonte,
BRS Requinte, Aporé, Magnífico, Carioca Comum, Carioca Precoce, BRSMG Talismã e Pérola
(Tabela 2). As parcelas experimentais consistiram de 4 linhas de 5 metros de comprimento, com um
espaçamento de 0,45 m entre linhas, numa densidade de 18 sementes por metro linear. O delineamento
utilizado foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições.
A adubação de plantio foi efetuada com 500 kg/ha da fórmula 03-17-00+Zn. A adubação
potássica foi efetuada em cobertura, na dose de 80 kg/ha de KCl aplicados logo após o plantio e a de
cobertura consistiu de 100 kg/ha de uréia, divididas em duas partes, aplicadas aos 15 e 30 dias após o
plantio. com gaucho (i.a imidacloprido, 200 g/100 kg de sementes), derosal plus (i.a
carbendazim+thiran, 300 mL/100Kg de sementes) e monceren (i.a pencicuron, 300 mL/100Kg de
sementes), por ocasião do plantio.
As avaliações da severidade da doença foram efetuadas semanalmente, atribuindo notas, onde:
1- sem sintomas; 3- 1 até a 30% da área foliar necrosada; 5- 31 a 60% da área foliar necrosada; 7- 61 a
90% da área foliar necrosada e 9-acima de 90% da área foliar necrosada (Van Schoonhoven & Pastor-
Corrales, 1987). Na safra 2003/04 as notas foram administradas para cada parcela e nas safras 2005/06
e 2006/07 as notas foram administradas inicialmente em cada linha, com posterior cálculo de uma nota
composta por parcela. Para a análise estatística os dados de severidade das cinco últimas leituras,
foram comparados pelo Scott-Knott, respectivamente, a nível de 5%, utilizando o programa de
estatística SISVAR (Ferreira, 2000).
43
Os dados de temperatura máxima e mínima e de precipitação pluviométrica foram obtidos na
Estação Climatológica da Embrapa Arroz e Feijão, localizada no município de Santo Antônio de
Goiás-GO, com latitude de 16˚28’60” S, longitude de 49˚17’00” W e atitude de 823m (Silva et al.,
2002), a 300 metros do experimento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As condições climáticas foram favoráveis ao desenvolvimento da doença nas três safras
(Figuras 1A, 1B, 2A, 2B, 3A e 3B). Porém, interferiram de modo diferente no comportamento das
cultivares de um ano para outro (Figuras 1C, 2C e 3C). Em geral, no primeiro ano, a severidade média
foi maior do que no segundo e terceiro ano, mesmo não havendo variações marcantes nas
temperaturas, podendo ser justificado pela melhor distribuição das precipitações pluviométricas
(número de dias chuvosos, Tabela 1). Pereira et al. (1999) relataram que alguns genótipos de feijão
não apresentaram ataque da mela em 1998, devido aos baixos índices pluviométricos no período, mas
em 1999, os mesmos genótipos apresentaram alta incidência de mela, fato explicado pelos elevados
índices de precipitação no período.
Detectou-se uma grande variabilidade na reação das cultivares testadas quanto à suscetibilidade
à mela (Tabela1). Em geral, as cultivares de porte ereto (Iapar 81, BRS Horizonte e Magnífico)
apresentaram a menor severidade da doença, seguidas das cultivares de porte semi-ereto (BRS Pontal,
Carioca, BRSMG Talismã, Pérola, Aporé e Requinte). A cultivar Carioca Precoce, de porte prostrado,
apresentou a maior severidade da doença, nas três safras. Isso pode ser atribuído ao efeito combinado
de um microclima mais úmido dentro do dossel, favorecido pelo hábito prostrado, que aumenta a
umidade no dossel durante o ciclo da cultura e favorece o contato entre plantas de fileiras vizinhas. O
contrário ocorre com cultivares de porte ereto, a formação de condições climáticas favoráveis ao
desenvolvimento da mela e o contato entre plantas de fileiras vizinhas ocorre mais tardiamente e
conseqüentemente menores severidades são alcançadas. Ferraz & Café Filho (2005), encontraram
44
menor severidade da antracnose do feijoeiro, causada por Colletotrichum lindemuthianum em Aporé e
Carioca (prostrados) do que em Safira (ereto), tanto no plantio de inverno quanto no de verão. Nechet
& Halfeld-Vieira (2006) também relataram diferenças significativas entre os genótipos de feijão-caupi
(Vigna unguiculata) quanto a severidade da mela. Em campo, eles observaram valores de área abaixo
da curva de progresso da doença de 335 (IT 87B719) a 668 (Pitiúba) para materiais de porte ereto 101
(Canapuzinho) a 145 (Tracuateua) para materiais de porte prostrado. Esta doença é muito influenciada
por fatores ambientais, especialmente temperatura e umidade. Este fato é facilmente constatado
quando se comparam as severidades da doença das cultivares entre as três safras (Tabela 2). No
entanto, o desempenho relativo das cultivares manteve-se inalterado nas diferentes condições
climáticas prevalentes nas três safras (Tabela 2).
A doença iniciou-se mais tardiamente no primeiro ano, aproximadamente aos 43 dias após o
plantio (DAP), em relação a segunda e terceira safras, e daí evoluiu rapidamente até a morte da maioria
das plantas, aos 78 DAP (Figura 1C). Na segunda e terceira safra, a doença apareceu logo após a
germinação, aos 7 DAP. Entretanto, a evolução da doença foi lenta até aos 57 e 50 DAP,
respectivamente, associada à menor precipitação pluviométrica neste período (Tabela 1) e
posteriormente evoluiu rápido até o final do ciclo (Figura 2C e 3C). Em geral, o primeiro ano que
apresentou a maior severidade média da doença, podendo ser explicado por uma melhor distribuição
das chuvas durante o ciclo da cultura (Tabela 1). Entretanto, a incidência foi mais tardia, talvez pela
menor precipitação pluviométrica nos primeiros 35 dias transferido de lugar: (Tabela 1). Na fase em
que a doença evolui rapidamente, as plantas se encontravam na floração ou frutificação. Segundo
Cardoso & Newman (1981) a doença ocorre em qualquer estádio de desenvolvimento da planta, mas
geralmente se apresenta no campo somente após o início da floração. A partir de então, a ocorrência
parece ser diretamente proporcional ao desenvolvimento do ciclo reprodutivo da planta.
Prabhu et al. (1983) observaram que a mela iniciou-se dez a quinze dias após o plantio e atingiu
45
50% na fase de florescimento pleno e início da frutificação. Cardoso & Luz (1981) sugeriram que a
suscetibilidade pode estar relacionada com a predisposição fisiológica da planta, em razão de
modificações hormonais verificadas quando da passagem do estádio vegetativo para o reprodutivo.
A produtividade foi severamente comprometida pela intensidade da mela. Comparando-se os
resultados de severidade da doença (Tabela 2) com os de produtividade (Tabela 3) a produtividade foi
maior na segunda e terceira safras em relação ao primeiro, devido principalmente a maior severidade
da doença registrada no primeiro, mostrando uma produtividade muita baixa entre 45,5 (Iapar 81) a
261,2 kg/ha (Pérola), respectivamente. No segundo ano de plantio, a produtividade variou de 480,7
(Carioca Comum) a 977,7 kg/ha (BRS Pontal) e, no terceiro ano a variação foi de 413,3 (Carioca
Precoce) a 935,8 kg/ha (Magnífico). Pereira et al. (1999) registraram rendimento médio de diversos
genótipos de 445,75 a 797,5 kg/ha em 1998 e de 60,61 a 281,72 kg/ha em 1999, atribuindo o
decréscimo na produtividade de um ano para outro pela incidência da mela, que em 1998 foi
inexistente.
Neste estudo, nas duas primeiras safras, as cultivares Pérola, Pontal, Carioca Precoce, Talismã
e Horizonte foram as mais produtivas (Tabela 3). As cultivares Iapar 81 e Carioca foram as menos
produtivas, no primeiro e segundo ano, respectivamente. A cultivar Carioca Precoce apesar de ter
apresentado o maior índice de doença ficou entre as mais produtivas, este fato pode explicado pela sua
precocidade, pois quando altos índices de doença foram verificados no final do ciclo, as vagens já
estão formadas. Por isso, não foi possível uma comparação entre as produtividades dos materiais de
diferentes ciclos neste estudo. A precocidade pode estar relacionada com a produtividade em feijão.
Ramalho et al., (1993) observaram no período das secas, na região de Minas Gerais, que a redução de
um dia no ciclo propiciou aumento na produtividade de 33,3 kg/ha -
1
. No presente estudo, apenas no
terceiro ano, as cultivares mais produtivas foram as que apresentaram os menores índices de doença.
As cultivares mais resistente Magnífico, Iapar 81 e Pérola ficaram também entre as mais produtivas
46
(Tabela 3). Nas cultivares de ciclo normal (Tabela 3), a redução no ciclo de 12 a 15 dias, dependendo
da cultivar, causada pela doença, afetou de modo significativo a produtividade.
A análise conjunta dos dados das 3 safras (Tabela 4), mostrou efeito altamente significativo de
cultivares e de ano. Porém, o efeito da interação cultivar x ano não foi significativo, indicando que as
diferenças climáticas de um ano para outro não afetaram o ranking das cultivares quanto à severidade
da doença.
Os resultados demonstram que a arquitetura da planta é um atributo importante a ser
considerado quando se pretende realizar plantio tardio, que escape da época de maior precipitação e,
conseqüentemente, da maior incidência da doença. Em relação à severidade e a produtividade, durante
as três safras, pode-se afirmar, que as cultivares de porte ereto, apresentam maiores possibilidades de
sucesso quando inseridas num programa de manejo integrado da mela, pois a arquitetura ereta da
planta resulta em menor contato entre plantas, mudança no microclima do dossel pela melhor aeração,
e, por conseguinte, menor intensidade de doença. Embora não suficiente para o controle efetivo da
mela, os níveis parciais de escape de campo detectadas nestes ensaios podem ser combinados com
sucesso com outros métodos de controle em um manejo integrado da doença.
47
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51
Tabela 1. Temperatura e precipitação pluviométrica durante o ciclo do feijão, nas safras 2004/05;
2005/06 e 2006/07. Santo Antônio de Goiás-Go
Número de dias
chuvosos
Precipitação
Pluviométrica (mm)
Média Temperatura
máxima
(°C)
DAP Estágio
Fenológico
Ano
1
Ano 2 Ano 3 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 1 Ano 2 Ano 3
1-35 Vegetativo
20 26 22 249,8 512,9 336,4 29,4 27,7 29,1
36-49 Frutificação
12 1 8 125,4 5,8 86 26,8 31,1 31,1
50-77 Maturação
21 22 23 287,7 210,5 172,9 29,5 29,5 30,0
Total _
53 49 53 562,9 729,2 595,3 28,56 29,43 30,06
DAP- Dias após o Plantio
52
Tabela 2. Reação de cultivares do feijoeiro, em relação à mela, em três safras de cultivo do feijoeiro.
Santo Antônio de Goiás-GO, nos anos de 2004-2007.
Anos
Ciclo 2004/05 2005/06 2006/07
Cultivares
Porte
Severidade média da doença
1
Magnífico Ereto Normal 5,4 a 5,0 a 4,0 a
Iapar 81 Ereto Normal 5,7 a 5,0 a 4,2 a
BRS Horizonte Ereto Normal 5,7 a 5,3 a 4,3 a
BRSMG Talismã Prostrado Normal 6,2 a 5,3 ab 4,5 a
Pérola Semi-ereto Normal 6,3 a 5,3 a 4,2 a
Pontal Semi-ereto Normal 6,3 a 5,5 b 5,3 b
Carioca Semi-ereto Normal 6,3 a 5,9 b 4,5 a
BRS Requinte Semi-ereto Normal 7,0 a 6,0 b 4,1 a
Aporé Semi-ereto Normal 7,7 b 5,5 b 4,8 ab
Carioca Precoce Prostrado Precoce 8,2 b 6,57 c 6,3 c
Média - - 6,48 A 5,54 B 4,63 C
C.V% 46,05 44,83 45,45
1
Média das cinco últimas leituras. Severidade de doença, onde: 1- sem sintomas e 9 acima de 90% da
área foliar necrosada. Médias seguidas da mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não
diferem significativamente, pelo teste Skott-Knott (P0,05).
53
Tabela 3. Produtividade média do feijoeiro comum obtidas em três anos de cultivo. Santo Antônio de
Goiás. 2004-2007.
Produtividade (kg/ha)
Cultivares
Porte
2004/05 2005/06 2006/07
Iapar 81 Ereto 45,5 a 508,2 a 646,8 b
Carioca comum Semi-ereto 47,2 a 480,7 a 602,0 a
Aporé Semi-ereto 69,2 a 505,7 a 669,3 b
BRS Requinte Semi-ereto 77,0 a 645,5 a 467,3 a
Magnífico Ereto 93,0 a 606,0 a 935,8 b
BRS Horizonte Ereto 158,0 b 832,7 b 730,0 b
BRSMG Talismã Prostrado 210,5 b 831,5 b 486,0 a
Carioca precoce Prostrado 214,0 b 923,0 b 414,3 a
BRS Pontal Semi-ereto 247,0 b 977,7 b 504,2 a
Pérola Semi-ereto 261,2 b 728,0 b 699,0 b
Média Prostrado 703,9 B 615,4 C
C.V% 80,73 24,09 29,92
Médias seguidas da mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não diferem
significativamente, pelo teste Scott-Knott (P0,05).
54
Tabela 4. Quadrados médios obtidos através de análise conjunta dos três anos de plantio dos dados de
severidade e produtividade para diferentes fontes de variação.
Fontes de variação Severidade da doença Produtividade (kg/ha.)
Cultivares (C) 74,776916 ** 78775,392593**
Ano (A) 59,751220 ** 3647820,858333**
Interação (CxA) 2,288920 ns 89656,534259**
C.V (%) 45,02 31,97
** Altamente significativo a nível de 5% de probabilidade
ns- não significativo
55
56
0
20
40
60
80
1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78
Precipitação pluviométrica
mm/dia °C
15
20
25
30
35
1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78
Temperatura máxima Temperatura mínima
Dias após o plantio
Severidade de doença
1
3
5
7
9
1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78
BRS Requinte
Magnífico
rola
BRS Pontal
Iapar 81
Carioca Comum
BRS Horizonte
Aporé
BRSMG Talismã
Carioca Precoce
Figura 1. Progresso da mela em cultivares do feijoeiro comum do grupo carioca (C), em função das
condições climáticas (A e B), em área naturalmente infestada por Thanatephorus cucumeris.
Santo Antônio de Goiás 200
4
-
200
5
A
C
B
57
0
20
40
60
80
1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78
Dias após o plantio
15
20
25
30
35
1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78
Temperatura máxima Temperatura mínima
Figura 2. Progresso da mela em cultivares do feijoeiro comum do grupo carioca (C), em função das
condições climáticas (A e B), em área naturalmente infestada por Thanatephorus cucumeris.
Santo Antônio de Goiás 200
5
-
200
6
Precipitação pluviométrica
mm/dia
Severidade de doença
A
B
9
1
3
5
7
1 8 15 22 29 57 64 71 78
Aporé
36 43 50
Carioca Comum
Carioca Precoce
BRS Horizonte
Iapar 81
Magnífico
rola
BRS Pontal
BRS Requinte
BRSMG Talismã
Dias após o plantio
°C
C
0
20
40
60
80
1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78
A
58
mm/dia
Precipitação pluviométrica
15
20
25
30
35
1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78
B
°C
Temperatura máxima Temperatura mínima
35
Dias após o plantio
1
3
5
7
9
1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78
rola
Magnífico
C
Severidade de doença
BRS Pontal
BRSMG Talis
BRS Requinte
Carioca Comum
Aporé
Carioca Precoce
Iapar 81
BRS Horizonte
Dias após o plantio
Figura 3. Progresso da mela em cultivares do feijoeiro comum do grupo carioca (C), em função das
condições climáticas (A e B), em área naturalmente infestada por Thanatephorus cucumeris.
Santo Antônio de Goiás 200
6
-
200
7
CAPÍTULO III
EFEITO DA MELA CAUSADA POR Thanatephorus cucumeris NA QUALIDADE DE
SEMENTES DO FEIJÃO, DO GRUPO CARIOCA
RESUMO
Vários fatores contribuem baixa produtividade do feijoeiro comum e a presença de
microorganismos fitopatogênicos veiculados pela semente é um fator de extrema importância e que
precisa ser melhor estudado. Neste trabalho procurou-se analisar os efeitos da mela na qualidade da
semente de cultivares de feijão do Grupo Carioca, antes do plantio e depois da colheita em campo
naturalmente infestado com Thanatephorus ccucumeris. Os resultados mostraram uma superioridade
de todos os testes indicadores de qualidade de sementes para as sementes não infestadas em relação às
infestadas, tanto em laboratório como em casa de vegetação, indicando que a presença do patógeno na
semente afeta severamente a qualidade das mesmas resultando em prejuízos para o produtor.
INTRODUÇÃO
Uma das maiores causas da baixa produtividade do feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris L.) no
Brasil é a utilização de sementes do produtor. Rengel (2005) relatou que os dados remetem uma taxa
de utilização de sementes oficiais de tão somente 15%. Desta forma, 85% das sementes são oriundas
de estoques próprios remanescentes, ou compra/troca com vizinhos de regiões próximas e/ou
cerealistas, limitando severamente o alcance de altos níveis de produção.
Várias características afetam a qualidade da semente. Algumas dessas características são
apresentadas por Toledo e Marcos Filho (1977), como: pureza varietal, pureza física, poder
germinativo, valor cultural, vigor, teor de umidade, presença de microorganismos, presença de insetos,
59
uniformidade, peso volumétrico. Entre estes, a presença de microorganismos fitopatogênicos, que
podem ser carregados e transmitidos pelas sementes pode ser apontada como uma das razões
principais da queda da produtividade da cultura do feijoeiro (Silva, 1999).
Dentre estes patógenos transmitidos pelas sementes do feijoeiro, destacam-se os fungos
Colletotrichum lindemunthianum L. (Sacc. et Magn) Scrib., Phaeosariopsis griseola (Sacc.) Ferraris,
Macrophomina phaseolina (Tass.) Goid., Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) De Bary, Rhizoctonia solani
Kühn e Fusarium solani (Mart.) Sacc., além do vírus causador do mosaico comum do feijoeiro (Bean
common mosaic vírus), o do mosaico dourado (Bean golden mosaic vírus) e a bactéria do crestamento
bacteriano comum Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli (Silva, 1999).
Cardoso (1996) afirmou que os fungos de solo, representam o problema de maior importância
fitossanitária para o êxito econômico da safra de inverno do feijoeiro irrigado no Centro-Oeste do
Brasil.
Thanatephorus cucumeris (Frank) Donk (anamorfo Rhizoctonia solani Kühn) é um patógeno
endêmico nas regiões quentes e úmidas. Uma vez estabelecido em determinada área o controle é difícil
e medidas utilizadas isoladamente têm se mostrado ineficazes (Cardoso et al., 1997), sendo
interessante o manejo integrado.
No Brasil, a mela é uma doença de importância na cultura do feijoeiro, principalmente nas
microrregiões úmidas do Nordeste e no plantio durante a estação chuvosa do Centro-Oeste (Cardoso et
al, 1997) se tornando fator limitante de produção e produtividade. A associação R. solani e semente,
interna ou externamente, proporciona a perda de vigor da semente, em razão da queima das reservas, e
permite disseminação altamente eficiente da mela no campo (Cardoso et al., 1980).
São poucas as estimativas dos efeitos da mela na qualidade de sementes produzidas. Assim, o
objetivo desse trabalho foi avaliar os efeitos da mela em sementes cultivares do feijoeiro comum, do
60
grupo carioca, antes do plantio e depois da colheita em campo naturalmente infestado com T.
cucumeris.
MATERIAL E MÉTODOS
Os ensaios foram realizados em campo, laboratório e casa de vegetação da Embrapa Arroz e
Feijão, em Santo Antônio de Goiás, GO. Para tanto, foram utilizadas sementes de dez cultivares do
feijoeiro comum do grupo Carioca: BRS Pontal, Iapar 81, BRS Horizonte, BRS Requinte, Aporé,
Magnífico, Carioca Comum, Carioca Precoce, BRSMG Talismã e Pérola, nas safras 2005/06 e
2006/07. As sementes foram plantadas em área de clareira circundada por mata subcaducifólia
(cerradão) naturalmente infestada com T. cucumeris. Antes do plantio no campo e depois da colheita,
foram retiradas amostras de sementes de cada cultivar para avaliação em laboratório e casa de
vegetação. A cultura foi semeada no início do período chuvoso, a fim de fazer coincidir o período de
maior susceptibilidade do hospedeiro com as condições ambientais favoráveis ao rápido
desenvolvimento da doença.
A severidade da doença foi avaliada semanalmente, através de uma escala de severidade,
administrando notas, onde: 1- sem sintomas; 3- 1 até a 30% da área foliar necrosada; 5- 31 a 60% da
área foliar necrosada; 7- 61 a 90% da área foliar necrosada e 9-acima de 90% da área foliar necrosada
(Van Schoonhoven & Pastor-Corrales, 1987). O delineamento experimental utilizado foi o
inteiramente casualizado, com quatro repetições.
61
Em laboratório, as seguintes variáveis foram analisadas: teste de sanidade, vigor, germinação e
peso de 100 sementes. Em casa de vegetação, foram analisadas as variáveis: sobrevivência e sanidade
das plântulas, velocidade de germinação e germinação.
Em laboratório, para os testes de germinação e vigor das sementes, foram utilizadas amostras
de 400 sementes por cultivar. Sobre duas folhas de papel Germitest, superpostas e umedecidas com
água destilada, foram distribuídas 50 sementes em fileiras equidistantes, com 10 sementes em cada.
Após este procedimento, uma terceira folha de papel foi umedecida e usada como cobertura protetora.
Em seguida, os conjuntos foram amarrados com liga e incubados em germinador a 30° C. As
avaliações foram efetuadas no 4° e 7° dias de incubação para vigor e germinação, respectivamente,
anotando para o primeiro apenas o número de sementes germinadas e, para o segundo o número de
plântulas anormais e mortas (Brasil, 2002).
Para o teste de porcentagem de infecção, foram utilizadas amostras de 400 sementes por
cultivar, como descrito anteriormente. Em seguida, o conjunto foi enrolado e acondicionado em saco
de polietileno preto perfurado e fechado. Os sacos foram colocados em posição vertical em câmara
com temperatura de 20±5° C, fotoperíodo de 12 horas, durante 7 dias. Após este período o material foi
retirado da câmara e avaliada a incidência de plântulas com lesões características de R. solani (Brasil,
2002). As lesões mais características foram recortadas, tratadas assepticamentee colocadas em placas
de Petri com Ágar-água a fim de se isolar o patógeno. Estas placas foram incubadas, no escuro, por 48
horas e as colônias produzidas foram repicadas para Batata-Dextrose-Ágar (BDA) a fim de se
confirmar da identidade do patógeno.
Para determinação do peso das sementes, as mesmas foram contadas, pesadas e secas em
estufa a 150° por 24 horas e novamente pesadas (Brasil, 2002).
62
Em casa de vegetação, para o teste de vigor e germinação, trinta e duas sementes foram
tomadas ao acaso, e semeadas em copos plásticos de 200 mL, contendo substrato Plantmax®. Cada
copo, contendo 4 sementes constituiu uma repetição. Foram efetuados 8 repetições por tratamento.
Durante a condução do ensaio o substrato foi umedecido quando necessário, de modo a manter a
umidade em níveis adequados para a germinação e desenvolvimento das plântulas. Para determinação
do vigor, as avaliações foram efetuadas aos seis dias após o plantio, determinando o número de
plântulas que apresentavam os cotilédones acima da superfície do substrato. Para determinação de
germinação, as avaliações foram efetuadas nove dias após o plantio, determinando o número de
plântulas/copo.
A sobrevivência e porcentagem de infecção foi estimada aos quinze dias após o plantio,
determinando-se o número de plântulas vivas e a porcentagem de plântulas com possíveis sintomas
característicos de R. solani, respectivamente. As plântulas foram primeiramente contadas. Em seguida,
foram arrancadas e suas raízes lavadas em água corrente. As que apresentaram sintomas foram
separadas e levadas para laboratório para isolamento e inoculação em plântulas de feijoeiro conforme
descrito anteriormente. A fim de certificar-se que o patógeno encontrado nas plântulas em laboratório e
casa de vegetação, causando sintomas de R. solani pudesse ser o mesmo que causa mela, algumas
lesões foram então separadas, isoladas, multiplicadas e inoculadas em plântulas do feijoeiro, em casa
de vegetação, na parte aérea. As inoculações consistiram de deposição de um disco de BDA, com
aproximadamente 9 mm de diâmetro, contendo micélio do fungo, no centro dos folíolo do feijoeiro.
Em seguida, as plantas foram mantidas em câmara de nevoeiro, por 7 dias, com temperatura de
aproximadamente 22 °C e 100% de umidade relativa. As avaliações foram efetuadas 4 dias após,
observando as características dos sintomas apresentados.
63
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Todas as cultivares foram afetadas pela doença no campo (Tabela 1) influenciando
negativamente nos indicadores de qualidade de sementes avaliados em laboratório e casa de vegetação
(Tabelas 2 e 3). Verificou-se uma superioridade de todos os testes indicadores de qualidade para as
sementes não infestadas em relação as infestadas, tanto em laboratório como em casa de vegetação
(Tabelas 2 e 3 ). Os dados corroboram os de Cardoso et al. (1980) que relataram a superioridade em
todas as características observadas do lote de sementes de plantas livres de patógenos da R. solani.
Além dos testes de laboratório e casa de vegetação, verificou-se que as sementes após a
colheita apresentaram-se escuras e manchadas, em relação às sementes antes do plantio,
comprometendo a comercialização do grão.
França Neto (1994) classificou vigor inferior a 29% muito baixo, entre 30 a 49% baixo, entre
50 a 69% médio, entre 70 a 79% alto e acima de 80% muito alto. Se considerarmos tal classificação,
pode afirmar que, entre os dados de laboratório, as sementes de todas as cultivares apresentaram níveis
de vigor entre médio e muito alto, antes do plantio (Tabela 2). Mas, após a colheita, o índice de vigor
foi drasticamente afetado, apresentando redução que variou de 14,5 pontos percentuais, para BRS
Pontal até 72,6 pontos percentuais, para Pérola. Em média o vigor depois da colheita foi reduzido em
mais de 50% (Tabela 2). Carvalho & Nakagawa (1980) relataram que a queda no nível de vigor afeta a
capacidade de germinação de uma semente de duas maneiras distintas: reduzindo a velocidade de
germinação e aumentando a porcentagem de plântulas anormais bem como o grau dessas
anormalidades.
Observa-se que entre as sementes não infestadas a cultivar BRS Pontal foi a mais vigorosa,
resultando em maior porcentagem de sementes germinadas. Enquanto que, as cultivares Iapar 81 e
Aporé foram as menos vigorosas, apresentando porcentagem de sementes germinadas abaixo de 50%
64
(Tabela 2). Silva (1999) testando a qualidade sanitária e fisiológica de sementes de feijão relatou que a
cultivar Aporé apresentou o pior desempenho de vigor nos testes de germinação em papel e
germinação em casa de vegetação entre todas as cultivares testadas. Entre as sementes infestadas, os
dados também mostram uma redução do vigor e conseqüentemente uma redução da porcentagem de
sementes germinadas.
Quando relacionamos vigor e germinação, verificou-se uma correlação muito alta, da ordem de
aproximadamente 95,9% e 97,0%, para as sementes não infestadas e infestadas, respectivamente,
indicando que quanto mais vigorosa for a semente maior será seu poder de germinação. Se
considerarmos o índice de germinação de no mínimo 70%, que é o índice exigido para sementes
básicas, pela Comissão Estadual de Sementes e Mudas do Estado de Goiás-CESM/GO, todas as
cultivares antes do plantio apresentaram condições de germinação mínimas para plantas. Mas depois
da colheita, nenhuma cultivar, com exceção da cultivar Iapar 81, apresentou índice de germinação
acima do nível exigido pela Comissão Estadual de Sementes e Mudas do Estado de Goiás, para
sementes básicas (Tabela 2).
Em casa de vegetação, os resultados das plantas não infestadas, mostraram que as cultivares
BRSMG Talismã e Iapar 81, apresentou índice de germinação abaixo de 70% (Tabela 3). Mas, após a
colheita, apenas a cultivar BRS Horizonte, apresentou pode germinativo ideal para ser utilizada como
semente básica (Tabela 3). Os resultados mostraram que se essas sementes forem novamente
utilizadas, a lavoura estará totalmente prejudicada. Segundo Rengel (2005) a extremamente baixa
produtividade nacional do feijão é fruto de vários fatores, mas há unanimidade em apontar o principal,
que é a baixa taxa de utilização de sementes selecionadas.
O peso das sementes teve uma correlação muito baixa com a germinação, indicando que o
mesmo não influencia a germinação das sementes. Segundo Carvalho & Nakagawa (1980) o tamanho
da semente não tem influência sobre a germinação, em si, este é um fenômeno que depende de outros
65
fatores, como a viabilidade da semente, condições climáticas e outros. Mas, a maneira pela qual
processa a germinação, o tamanho afeta o vigor da plântula resultante, ou seja, sementes de maior
tamanho originam plântulas mais vigorosas. Carvalho (1972) em trabalho com sementes de amendoim,
mostrou que quanto maior for a semente maior é a germinação e mais vigorosa foram as plântulas.
Quanto à porcentagem de infecção das sementes, observou-se que as sementes não infestadas
não apresentaram plântulas com sintomas de Rhizoctonia solani (Tabela 2). Enquanto que, para as
sementes infestadas a incidência de Rhizoctonia solani foi registrada em altos níveis pelo método de
papel de filtro. Esse é um fato de extrema importância. Pois, em condições ideais de desenvolvimento
do patógeno, uma única semente contaminada pode contaminar toda a uma lavoura. Os níveis de
infecção das sementes com o fungo R. solani, variaram de 0,0% para a cultivar Magnífico e 9,7% para
a cultivar Talismã.
Em casa de vegetação, a porcentagem de plântulas contaminadas com R. solani foi maior
quando comparada com os dados de laboratório. As porcentagens de plântulas doentes variaram de
51,2% para a cultivar BRS Horizonte a 10,2% para a cultivar Pérola. Visualmente, em casa de
vegetação, houve influência desse fungo no desenvolvimento inicial das plântulas. Isto sugere que este
potencial encontrado na semente pode ser considerado alto ou estar localizados superficialmente nas
sementes. De acordo com Machado (1988), os danos provocados pelos patógenos podem estar
diretamente relacionados com o potencial de inóculo e com a sua localização nas sementes. Em
trabalhos de Carvalho & Toledo (1978) mostraram que sementes de baixo vigor, apresentam
crescimento inicial lento, e relatam que isso pode significar não apenas maior probabilidade com
damping-off, como também maior gasto com capinas.
Cardoso (1996) afirma que os fungos de solo representam o problema de maior importância
fitossanitária para o êxito econômico da safra de inverno do feijoeiro irrigado no Centro-Oeste e
Sudeste do Brasil. De acordo com Silva (1999) relatou que no processo de arranquio e posterior
66
enleiramento das plantas de feijão com as raízes postas para cima para secar, possa estar, um dos
principais meios de infecção das vagens e consequentemente das sementes, pelos fungos de solo, tais
com Fusarium solani e R. solani, detectadas em todas as regiões estudadas.
Os resultados mostram os efeitos nocivos da ocorrência da mela na qualidade das sementes. O
aproveitamento do produto de plantas com mela, como semente, provocará redução no stand inicial e
final, desenvolvimento de plantas raquíticas, mais vulneráveis aos riscos climáticos e biológicos e
finalmente menores chances de boa produtividade. Ademais, sendo provenientes de plantas infectadas,
estas sementes são portadoras do fungo causal da doença, concorrendo assim para a sua proliferação
em áreas de escape, bem como, aumentando o inóculo inicial do solo. O fator sobrevivência das
plântulas também investigado nesse trabalho apresentou redução, variando de menos de 1% (BRS
Horizonte) a 55,2% (Magnífico), confirmando o efeito negativo da mela sobre componentes de
importância na qualidade de sementes de feijão.
A utilização de sementes de boa qualidade é um dos principais fatores para o sucesso de uma
lavoura. Como demonstrado neste trabalho, T. cucumeris tem impacto muito elevado na germinação e
vigor das sementes de feijoeiro comum. Além disso, T. cucumeris caracterizou-se como patógeno de
elevada transmissibilidade pelas sementes. Uma vez detectado na semente, tratamentos eficientes
devem ser utilizados. Se o tratamento permitir a persistência de sementes contaminadas no lote,
mesmo com baixo potencial de inóculo estas, quando semeadas, darão origem a focos de doenças
casualizados na área de cultivo, permitindo que, sob condições favoráveis, o patógeno se dissemine
por toda a lavoura.
Neste trabalho foi confirmado que a infecção natural de plantas de feijoeiro comum no campo
por T. cucumeris resultou em elevada infecção das sementes. Isso confirma que o patógeno pode ser
transmitido por semente, causando graves prejuízos para ao cultivo do feijoeiro, em condições
67
favoráveis ao seu desenvolvimento, ao afetar o seu vigor e o poder germinativo.
68
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SNDA/DNDV/CLAV, 1992. 365p.
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comum. Fitopatologia Brasileira, v. 22, n. 3, p. 381-86, 1997.
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CONAFE. Embrapa Arroz e Feijão (Documentos, n˚ 182), v. 2, 1990. p. 1247-49.
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Feijão (Documentos, n˚ 182), v. 2, 2005. p. 1255-1259.
69
Silva, M.B. da. Qualidade sanitária e fisiológica de sementes de feijão (Phaseolus vulgaris L.)
produzidas em duas épocas no estado de Goiás. 1999. 130f. Tese (Mestrado em Agronomia)-
Curso Agronomia, Universidade Federal de Goiás- Goiânia-Goiás, 1999.
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1977. 224p.
Van Schoonhoven, A. & Pastor-Corrales, M.A. Standart system for the evalution of been germplasm.
Cali: Califórnia, CIAT, 1987. 54 p.
70
Tabela 1. Reação de cultivares do feijoeiro comum, em relação à mela, em duas safras do feijoeiro.
Santo Antônio de Goiás. 2005/06 e 2006/07.
Cultivares Porte Ciclo Severidade da doença
1
Magnífico Ereto Normal
BRS Horizonte Ereto Normal
Iapar 81 Ereto Normal
Pérola Semi-ereto Normal
BRS Requinte
BRSMG Talismã
Semi-ereto
Prostrado
Normal
Normal
Carioca Semi-ereto Normal
Aporé Semi-ereto Normal
Pontal Semi-ereto Normal
Carioca Precoce Prostrado Precoce
3,77 a
4,01 a
4,05 a
4,13 a
4,29 a
4,30 a
4,60 b
4,75 b
4,76 b
6,25 c
Média - - 4,49
C.V% 17,57
1
Média das cinco últimas leituras. Notas de severidade, onde: 1- sem sintomas 9-acima de 90% da área
foliar necrosada. Médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente, pelo teste Skott-
Knott (P0,05).
71
Tabela 2. Dados de laboratório dos testes indicadores da qualidade de sementes de feijão. Amostras de
sementes retiradas antes e após o plantio em campo experimental naturalmente infestado
com Thanatephorus cucumeris.
Testes indicadores de qualidade
Porcentagem
de infecção
Vigor
(%)
Germinação
(%)
Massa 100 grãos (g)
Cultivares
AP AC AP AC AP AC AP AC
Magnífico 0,0 0,0 76,5 25,5 91,0 32,0 21,3 17,0
BRSMG Talismã 0,0 9,7 78,0 24,0 90,0 29,7 22,3 18,5
Pérola 0,0 1,0 82,0 22,5 93,0 26,0 23,3 20,0
BRS Horizonte 0,0 4,9 92,0 38,7 96,5 49,5 25,8 18,5
Iapar 81 0,0 3,0 51,0 33,0 66,5 35,7 24,0 18,0
Aporé 0,0 9,4 65,5 46,0 79,0 48,7 26,0 18,0
BRS Requinte 0,0 3,9 92,0 49,0 91,5 49,0 23,5 13,8
BRS Pontal 0,0 8,5 94 ,0 80,2 98,0 84,0 24,5 19,0
Carioca Comum 0,0 3,5 90,0 42,5 95,5 44,2 23,5 16,0
Carioca Precoce 0,0 2,5 75,0 24,7 87 29,5 23,0 16,5
Média 0,0 4,6 79,6 38,6 88,8 42,8 23,7 17,5
AP- Antes do plantio, AC-Após a colheita.
72
Tabela 3. Dados de casa de vegetação dos testes indicadores da qualidade de sementes de feijão.
Amostras de sementes retiradas antes e após o plantio em campo experimental naturalmente
infestado com Thanatephorus cucumeris.
Testes indicadores de qualidade
Porcentagem de
infecção
Vigor
(%)
Emergência
(%)
Sobrevivência
(%)
Cultivares
AP AC AP AC AP AC AP AC
Magnífico 0,0 22,3 76,5 12,5 81,2 35,9 95,3 51,5
BRSMG Talismã 0,0 27,5 78,0 3,1 62,5 32,7 96,8 43,8
Pérola 0,0 10,3 82,0 12,5 76,5 39,0 98,4 49,2
BRS Horizonte 0,0 51,2 92,0 43,7 89,0 78,1 96,8 81,3
Iapar 81 0,0 24,9 51,0 6,2 59,4 32,7 76,5 32,8
Aporé 0,0 14,8 65,5 6,2 70,3 40,6 93,7 45,3
BRS Requinte 0,0 40,8 92,0 15,6 87,5 45,3 93,7 48,4
BRS Pontal 0,0 27,6 94 ,0 15,6 90,6 61,7 91,2 65,6
Carioca Comum 0,0 15,9 90,0 12,5 85,9 37,5 96,8 45,3
Carioca Precoce 0,0 18,6 75,0 25,0 95,3 48,5 95,3 43,8
Média 0,0 25,4 23, 5 15,3 79,8 45,2 93,4 50,7
AP- Antes do plantio, AC-Após a colheita.
73
CAPÍTULO IV
INFLUÊNCIA DA IDADE DA PLANTA DE FEIJOEIRO COMUM NO
DESENVOLVIMENTO DA MELA DO FEIJOEIRO
RESUMO
Estudou-se a influência da idade da planta de feijoeiro (Phaseolus vulgaris), cultivares: BRS
Pontal, Iapar 81, BRS Horizonte, BRS Requinte, Aporé, Magnífico, Carioca Comum, Carioca Precoce,
BRSMG Talismã e Pérola no desenvolvimento dos sintomas causados por Thanatephorus cucumeris
por inoculação de folhas com discos de micélio em casa de vegetação. Todas as cultivares foram
afetadas pela doença, mas foram detectadas diferenças entre genótipos quanto à resistência. Para a
maioria das cultivares os maiores tamanhos das lesões foram encontrados em folhas de plantas de 15
dias após o plantio e, com o aumento da idade para 30 e 45 dias pós o plantio, em geral, os tamanhos
das lesões foram sendo reduzidos, indicando que a resistência aumenta com a idade do hospedeiro.
Embora o método de inoculação usado tenha se mostrado eficiente para separar os cultivares de
feijoeiro quanto à resistência à mela em casa de vegetação em função de variáveis ambientais, os
resultados às vezes não corresponderam inteiramente às reações de resistência dos mesmos materiais
em outros estudos desenvolvidos em campo.
INTRODUÇÃO
A cultura do feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris L.) apresenta sérios problemas
fitossanitários, que concorrem para sua baixa produtividade. A baixa produção observada pode ser
atribuída principalmente às enfermidades da planta, aos danos causados pelos insetos, aos problemas
de baixa fertilidade dos solos e a utilização de variedades de baixo rendimento. A ocorrência da mela,
causada por Thanatephorus cucumeris (Frank) Donk é um dos principais fatores limitantes ao cultivo
74
do feijoeiro. Segundo Cardoso et al. (1997) no Brasil, a mela é uma doença considerada importante
nas microrregiões úmidas do Nordeste e no plantio durante a estação chuvosa no Centro-Oeste.
Também é importante no Norte do país (Newman Luz, 1979)
No caso de uma doença de difícil controle, como é a mela do feijoeiro, é importante o melhor
conhecimento do patossistema para otimizar o efeito das ferramentas para o controle integrado, como
por exemplo, a aplicação de fungicidas. Para cada patossistema e condição ambiental existe um
momento ótimo para o controle químico e a idade da planta também influencia nessa decisão. Uma
determinada planta torna-se mais ou menos resistente com a idade, daí a importância de se conhecer a
reação à doença nos diferentes estádios fenológicos, para melhor manejo de fungicidas, dosagens e
época de aplicação e época de avaliação. Também para trabalhos de melhoramento, a idade da
hospedeira é um fator importante para reação de uma espécie hospedeira ao patógeno (Reifschneider et
al., 1986)
75
No patossistema tiririca (Cyperus rotundus) x Cercospora caricis plantas mais velhas com
quatro semanas de idade foram mais afetadas pela doença (Borges Neto, 1997; Borges Neto et al.,
1997). O aumento da resistência do arroz (Oryza sativa) à brusone (Pyricularia oryzae) é observado
com a idade da planta a partir dos 55 a 60 dias, resultando na redução da severidade da brusone nas
folhas superiores (Embrapa Arroz e Feijão, 2006). Em feijoeiro comum, as cultivares Rio Negro, Rio
Tibagi, Diamante Negro e Pérola apresentaram um aumento da resistência a Colletrotrichum
lindemunthianum com a idade (Rava et al, 1999). Rios et al. (1996) relataram que não houve efeito da
idade da planta nos sintomas de mancha angular (Phaeoisariopsis griseola) nas folhas do feijoeiro
enraizadas em vermiculita. Souza & Café-Filho (2003) encontraram aumento da suscetibilidade com o
aumento da idade para o patossistema Leveillula taurica e pimentão (Capsicum annuum), enquanto
Reifschneider et al. (1986) encontraram redução de suscetibilidade do pimentão a Phytophtythora
capsici com a idade.
Este trabalho teve por objetivo avaliar a reação de nove cultivares de feijão à inoculação por
Thanatephorus cucumeris, em diferentes idades da planta, em condições controladas.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas plantas das cultivares BRS Pontal, Iapar 81, BRS Horizonte, BRS Requinte,
Aporé, Magnífico, Carioca Comum, Carioca Precoce, BRSMG Talismã e Pérola, com 15, 30 e 45 dias
após o plantio (DAP), em vasos, com capacidade para 2,0 kg de solo. O solo caracterizado como
Latossolo Vermelho Escuro, foi previamente tratado com brometo de metila. A adubação de plantio
consistiu de um grama da fórmula 4-30-16 por vaso. A adubação de cobertura foi efetuada
adicionando-se um grama de sulfato de amônia, aos 15 e 30 DAP.
As inoculações consistiram na deposição de um disco de BDA, com aproximadamente 9 mm
de diâmetro, contendo micélio do fungo, no centro de todos folíolos disponíveis de cada planta. Em
76
seguida, as plantas foram mantidas em câmara de nevoeiro, por 4 dias, com temperatura de
aproximadamente 22
o
C e cerca de 100% de umidade relativa.
As avaliações foram efetuadas em intervalos de 24 horas, por 4 dias, através da medida do
comprimento das lesões, com auxílio de um paquímetro digital. De acordo com a idade a planta, esta
foi dividida em parte superior e inferior e os resultados das avaliações anotadas separadamente. Para
estudo de variância foram usados apenas os dados da última avaliação transformados em 1
x
+
, onde
x = nota.
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente ao acaso, com 4 repetições. Cada
vaso constituiu uma repetição e cada folíolo constituiu uma unidade experimental. Os dados da última
leitura foram analisados pelo teste Scott-Knott, ao nível de 5% de probabilidade. O ensaio foi repetido
por duas vezes, nas mesmas condições. Os dados foram avaliados conjuntamente utilizando o
programa de estatística SISVAR (Ferreira, 2000).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Thanatephorus cucumeris causou lesão em todos os genótipos testados e o comprimento das
lesões foi utilizado para separar os genótipos em grupos de resistência. Genótipos com lesões médias
menores que 2,0 cm foram considerados moderadamente resistentes (MR); entre 2,1 a 3,0 cm
moderadamente suscetíveis (MS) e maiores que 3,0 cm, como suscetíveis (S). O comprimento médio
encontrado variou de acordo com a cultivar (Tabela 1), também foi observado diferença relacionada
quanto à posição da folha na copa da planta (Figura 1). As lesões que variaram entre 1,71 para a
cultivar Pérola aos 30 DAP a 3,31cm para a cultivar Aporé aos 15 DAP.
Em geral, o maior do tamanho das lesões foi encontrado aos 15 DAP, com maior número de
reações S e nenhuma reação MR. Com o aumento da idade, em geral, o tamanho das lesões foi
77
reduzido, indicando que a resistência aumenta com a idade do feijoeiro. Aos 45 DAP nenhum genótipo
foi classificado com S e BRSMG Talismã foi classificado com MR (Tabela 1). Goulart et al (2006)
demonstraram resistência de planta adulta de soja quando inoculadas com Colletrotrichum truncatum,
em diferentes estádios da planta. Resultados contrários também foram obtidos, dependendo do
patossistema estudado: Borges Neto et al. (2000) relataram que plantas de tiririca mais velhas que três
e quatro semanas de idade foram mais suscetíveis à infecção Cercospora cariri. Uma mesma
hospedeira pode ter sua resistência aumentada ou reduzida com a idade, como é o caso do pimentão vs.
L. taurica ou P. capsici (Souza & Café-Filho, 2003; Reifschneider et al., 1986)
Constatou-se que, em geral, as cultivares apresentaram maiores lesões na parte superior da
planta (folhas mais jovens), em relação a parte inferior (folhas mais velhas) (Figura 1). As cultivares
Iapar 81 e BRS Requinte apresentaram essa mesma tendência, porém, a diferença entre a intensidade
de sintomas da parte superior e inferior da planta, não foi significativa. Rava et al. (1999) encontraram
também maior intensidade de sintomas de antracnose na cultura do feijoeiro na parte superior da
planta. Também constataram redução na intensidade dos sintomas com o aumento da idade, tanto na
parte superior quanto na parte inferior da planta. A partir dos 43 dias depois da emergência constatou-
se maior intensidade de sintomas na parte superior da planta possivelmente devido a ser essa parte
mais jovem.
Reifschneider et al. (1981) estudando o tamanho e número de lesões como indicadores de
resistência de batata (Solanm tuberosum) a Alternaria solani relataram que os valores obtidos nas
lesões de folhas inferiores (mais velhas) foram consistentes maiores que os das folhas superiores (mais
novas). Os mesmos autores descreveram ainda que os resultados obtidos indicaram que o Índice de
Resistência Relativa (IRR), que conjugou os dois parâmetros medidos, é uma medida, não subjetiva,
que pode ser usada na determinação do grau de resistência das cultivares de batata a A. solani.
Trabalhos serão realizados visando determinar os IRR de diversos genótipos, bem como a(s)
78
melhor(es) época(s) de leitura, para que seja possível separar a influência do ciclo da planta
(maturidade) da resistência, já que, de acordo com Douglas e Pavek (1972), existe uma associação
entre resistência e ciclo.
A idade da planta ideal para proceder a uma avaliação para detectar-se resistência varia entre as
cultivares e o patossistema estudado. Este trabalho permitiu considerar, para a maioria das cultivares,
as plantas mais novas, com 15 DAP, a melhor idade para realização de leituras, pois foi nessa idade
que se encontrou “ranking” das cultivares semelhante ao encontrado em condições de campo (Costa et
al., 2005), apresentando melhores resultados para as cultivares de porte ereto. Entretanto, na expressão
de resistência de campo outros fatores distintos da velocidade de crescimento da lesão podem ser mais
importantes, como por exemplo, o favorecimento do microclima no dossel que conduza a maiores ou
menores taxas de progresso da doença.
Deve-se também considerar que a resistência vai aumentando para a maioria das cultivares,
com a idade. A cultivar que apresentar resistência logo no início do ciclo terá maior potencial para ser
incluindo em um programa de manejo da mela do feijoeiro comum.
79
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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81
Tabela 1. Comprimento da lesão em folhas de feijoeiro comum em diferentes idades da planta
inoculadas com discos de BDA contendo micélio do fungo Thanatephorus cucumeris.
Idade da planta
(DAP)
Cultivares
15 30 45
Aporé 3,
3
S 2,60 b MS 2,62 b MS
Carioca Comum 2,
6
MS 2,88 b MS 2,92 b MS
BRS Horizonte 2,
7
MS 3,04 b S 2,22 a MS
Iapar 81 2,
4
MS 3,07 b S 2,33 a MS
Magnífico 2,
6
MS 2,69 b MS 2,30 a MS
BRS Pontal 3, S 2,96 b S 2,07 a MS
Pérola 2,
9
S 1,81 a MR 2,26 a MS
BRS Requinte 2,
6
MS 3,24 b S 2,42 a MS
BRSMG Talismã 3,
2
S 2,70 b MS 1,95 a MR
Média 2,88 2,78 2,34
CV (%) 20,43 27,89 29,02
DAP-Dias Após o Plantio. Médias seguidas da mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na
coluna, não diferem significativamente, pelo teste Scott-Knott (P0,05).
82
0
1
2
3
4
A
Com
p
rimento médio das lesões
(
cm
)
0
1
2
3
4
B
0
1
2
3
4
Aporé Carioc
a
Comum
BRS
Horizonte
Iapar 81 Magnífico BRS Pontal Pérol
a
BRS
Requinte
BRSMG
Talismã
Inferio
r
Superio
r
Cultivares
C
Figura 1. Reação de nove cultivares de feijoeiro comum, inoculadas com Thanatephorus cucumeris, na
parte inferior da planta e superior em condições controladas, aos 15 (A), 30 (B) e 45 (C) dias
após o plantio.
83
CAPÍTULO V
EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS NO CONTROLE DA MELA DO FEIJOEIRO
RESUMO
Estudou-se em campo e casa de vegetação o efeito dos fungicidas: azoxystyrobin, carbendazin,
mancozeb, tebuconazole, fentin hydroxide, pyraclostrobin, tryfloxistrobin+cyproconazole,
tryfloxistrobin+propiconazole e clorotalonil e um tratamento sem fungicida, no controle da mela do
feijoeiro. No campo, os ensaios foram instalados por três safras, sendo que na primeira, foi realizada
apenas uma aplicação, aos 45 dias após o plantio; no segundo ano foram realizadas duas aplicações aos
30 e 45 dias após do plantio e no terceiro ano foram realizadas três aplicações, aos 30, 45 e 60 dias
após o plantio. A avaliação da severidade da doença foi efetuada semanalmente, atribuindo-se as
seguintes notas: 1, 3, 5, 7 e 9, onde 1 (sem sintomas) e 9 (acima de 90% da área foliar necrosada).
Todos os fungicidas testados apresentaram eficiência no controle da mela do feijoeiro, diferindo
significativamente da testemunha, com exceção do primeiro ano, quando os níveis de doença foram
uniformemente elevados. A eficiência preventiva e curativa dos fungicidas foi avaliada em casa de
vegetação, através da avaliação do diâmetro das lesões. Tanto na aplicação curativa como
preventivamente, todos os fungicidas diferiram da testemunha, mas preventivamente os fungicidas
apresentaram os melhores resultados, além de resultar em plantas verdes por mais tempo.
INTRODUÇÃO
Entre as medidas mais empregadas para o controle da mela (Thanatephorus cucumeris (Frank)
Donk) do feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris L) está o controle químico, que tem por principais
objetivos, proteger as plantas do ataque do patógeno e proporcionar uma redução na taxa de infecção.
84
Em trabalho pioneiro, Prabhu et al. (1975) estudaram a eficiência de cinco fungicidas (Benomil,
Oxycarboxin, Mancozeb, Oxicloreto de Cobre e Captan) na região Transamazônica (Pará) para o
controle da murcha da teia micélica do feijoeiro. O trabalho ainda incluiu variação no número de
pulverizações por ciclo da cultura. Em ordem de importância, Benomil, Oxycarboxin e Mancozeb
foram superiores a Oxicloreto de Cobre e Captan. Quanto ao número de aplicações, os resultados
demonstraram que os tratamentos com quatro aplicações, sendo três aplicações efetivas, isto é, não
coincidentes com dias chuvosos, foram mais eficientes do que aqueles com sete aplicações e apenas
uma efetiva. Na mesma época, Oyekan e Willians (1976) testaram para controle da mela do caupi
(Vigna unguiculata (L.) Walp) seis fungicidas (benomil, maneb + zinco, captafol, chlorothalonil, óxido
cuproso e “terracloro”) aplicados a intervalos de sete e quatorze dias, iniciando-se aos 21 dias após o
plantio. Verificou-se que nenhum tratamento reduziu significativamente a doença em relação à
testemunha. Oyekan (1979) desenvolveu estudos com sete fungicidas (captafol, oxycarboxin, maneb +
zinco e quatro formulações testes de metil 2(2–furanilmetileno) amino fenil-amino tioxometil
carbamato) aplicados a partir de quatro semanas, a intervalos de sete dias, perfazendo um total de
quatro aplicações. Os resultados revelaram que o fungicida oxycarboxin (1,6 kg do i.a./ha) conferiu um
controle significativo da mela, no caupi.
Testes com fungicidas buscando o controle da mela, no Acre, com os fungicidas benomil, maneb
+ zinco e oxicloreto de cobre, em quatro aplicações, iniciando-se após quinze dias da semeadura e
seguindo-se a intervalos quinzenais. O fungicida benomyl demonstrou ser o mais eficiente atuando
tanto na redução do potencial de inóculo como na diminuição da velocidade de propagação da doença
(Cardoso, 1980). Em 1981, um experimento desenvolvido com quatro fungicidas (benomil,
thiabendazol, pentacloronitrobenzeno e maneb + zinco), pulverizados aos oito, seis, quatro e três
aplicações, a intervalos de sete e quatorze dias e iniciando-se aos 15 e 30 dias após o plantio (num total
de 16 tratamentos + 4 testemunhas), demonstraram que tiabendazol (0,75 kg do i.a./ha) foi o mais
85
eficiente no controle da doença, para qualquer número, intervalo e período de início de aplicações
(Cardoso & Oliveira, 1982).
Geralmente tem-se recomendado aplicação foliar de fungicidas protetores e sistêmicos.
Entretanto, quando as condições ambientais são favoráveis ao desenvolvimento da mela, o controle da
doença pode não ser efetivo, principalmente quando se usam fungicidas não-sistêmicos. Prabhu et al.
(1983) relataram que os fungicidas sistêmicos, benomil e oxycarboxin, foram superiores aos protetores
mancozeb e oxicloreto de cobre, na redução da taxa de infecção.
Na década de 90, em casa de vegetação, a doença foi controlada pelos fungicidas pencycuron,
benomyl, tiofanato metílico+clorotalonil, tiabendazol, amilazine, clorotalonil, tolclofos metil e
iprodione quando aplicados preventivamente. Em nenhum dos produtos foi observado efeito sistêmico
(Castro & Zambolin, 1993). Rios et al. (1995) mostraram que os fungicidas carbendazin e benomil
apresentaram os melhores resultados no controle da doença, quando comparados a clorotalonil +
tiofanato metílico, tiofanato metílico e vinclozolin, refletindo inclusive na qualidade da semente. Nesta
década surgiram novos ingredientes ativos de fungicidas registrados para o feijoeiro, mas nenhum
desses com recomendação para o controle da mela (Zuppi et al., 2005). Mesmo assim alguns trabalhos,
usando azoxystrobin, mostraram resultados satisfatórios para o controle da doença. Godinho et al.
(1999) encontraram drástica redução da severidade da mela em relação à testemunha com azoxystrobin
e fentin hydroxide.
Costa (2000) relatou que o controle químico da mela não deve se limitar a estádios fenológicos
pré-estabelecidos. O início das pulverizações deve ser realizado por ocasião do aparecimento dos
primeiros sintomas e as pulverizações subseqüentes não necessitam seguir intervalos regulares e, sim,
serem administradas conforme evolução ou reaparecimento dos sintomas da doença na planta.
86
Tendo em vista a escassez de informações atualizadas sobre o controle químico da mela do
feijoeiro, este trabalho teve por objetivo avaliar fungicidas de diferentes princípios ativos, visando seu
emprego no manejo integrado da doença.
MATERIAL E MÉTODOS
Os ensaios foram realizados em campo e casa de vegetação da Embrapa Arroz e Feijão, Santo
Antônio de Goiás-GO, na latitude de 16˚28’60” S, longitude de 49˚17’00” W e atitude de .;(1979);v.
63(7) p. 574-577ensaios de campo foram instalados nas safras 2004/05; 2005/06 e 2006/07 em área de
clareira circundada por mata subcaducifólia (cerradão) naturalmente infestada com Thanatephorus
cucumeris no início do período chuvoso, a fim de fazer coincidir o período de maior susceptibilidade
do hospedeiro com as condições ambientais favoráveis ao rápido desenvolvimento da doença. Foram
testados os fungicidas: azoxystyrobin, carbendazin, mancozeb, tebuconazole, fentin hydroxide,
pyraclostrobin, tryfloxistrobin + cyproconazole, tryfloxistrobin + propiconazole e clorotalonil nas
doses recomendadas pelos fabricantes (Tabela 1) e uma testemunha não pulverizada
A adubação de plantio foi efetuada com 500 Kg.ha
-1
da fórmula 03-17-00+Zn. A adubação
potássica foi efetuada em cobertura, na dose de 80 kg.ha
-1
de KCl aplicados logo após o plantio e a de
cobertura consistiu de 100 Kg.ha.
-1
de uréia, divididas em duas partes, aplicadas aos 15 e 30 dias após
o plantio (DAP). Foi utilizada a cv. Pérola cujas sementes foram tratadas com Gaucho (i.a.
imidacloprido, 200 g/100 Kg de sementes), Derosal Plus (i.a carbendazim+thiran, 300 mL/100 Kg de
sementes) e Monceren PM (i.a. pencicuron, 300 mL/100 Kg de sementes), por ocasião do plantio.
As avaliações da severidade da doença foram efetuadas semanalmente, administrando notas
onde: 1- sem sintomas; 3- 1 até a 30% da área foliar necrosada; 5- 31 a 60% da área foliar avaliada
necrosada; 7- 61 a 90% da área foliar necrosada e 9-acima de 90% da área foliar necrosada (Van
Schoonhoven & Pastor-Corrales, 1987). Nas safras 2004/05 as avaliações foram feitas por parcela e
87
nas safras 2005/06 e 2006/07 as avaliações foram feitas separadamente em cada linha da parcela, para
posterior cálculo da nota da parcela. Para avaliação da produtividade, as plantas foram arrancadas
manualmente e secadas. Após a secagem as sementes foram pesadas. Na primeira safra foram
arrancadas as duas linhas centrais, e nas demais safras, toda parcela.
O experimento foi em blocos ao acaso com 4 repetições e parcelas experimentais de 10 m
2
. Para
normalizar a distribuição dos dados de severidade para análise estatística, os resultados das cinco
últimas leituras foram transformados em
1
x
+
, onde x = nota. Os dados de temperatura máxima e
mínima e de precipitação pluviométrica foram obtidos na Estação Climatológica da Embrapa Arroz e
Feijão, a 300 metros do experimento. As médias dos tratamentos, em relação, severidade e produção,
foram comparadas pelo teste Scott-Knott, respectivamente, a nível de 5%, utilizando o programa de
estatística SISVAR (Ferreira, 2000).
Na primeira safra, foi efetuada apenas uma pulverização, aos 45 DAP. Na segunda safra, foram
efetuadas duas aplicações, aos 30 e 45 DAP e, na terceira safra, foram efetuadas três aplicações, aos
30, 45 e 60 DAP. Em todas as safras, os fungicidas foram aplicados com pulverizador costal, a base de
CO
2,
utilizando volume de calda e dose de acordo com as recomendações do fabricante.
A dinâmica de progresso temporal da mela em campo foi examinada pelo ajuste das curvas de
progresso ao modelo logístico, após a conversão das notas para o ponto médio de cada respectiva
classe de porcentagem e comparação das taxas de progresso nos diferentes fungicidas (Bergamin Filho
et al., 1995)
A eficiência preventiva e curativa dos fungicidas foi avaliada em casa de vegetação, em plantas
inoculadas 24 horas depois da pulverização e 24 antes da pulverização, respectivamente. As plantas
foram inoculadas 30 DAP com o mesmo isolado obtido do experimento de campo. As pulverizações
foram realizadas com pulverizador DeVilbiss, até o ponto de escorrimento. Cada tratamento foi
88
constituído de quatro repetições, onde cada vaso com duas plantas da cv. Pérola representou uma
repetição. As inoculações consistiram da deposição de um disco de BDA, com aproximadamente 9
mm de diâmetro, contendo micélio do fungo, no centro de cada folíolo do feijoeiro. Em seguida, as
plantas foram mantidas em câmara de nevoeiro, por 4 dias, com temperatura de aproximadamente 22˚
C e 100% de umidade relativa. As avaliações foram efetuadas, a cada 24 horas, por 4 dias, medindo-se
o diâmetro das lesões com auxílio de um paquímetro digital. Para análise de variância apenas os dados
da última avaliação foram considerados, comparados pelo testes Scott-Knott, a 5% de probabilidade,
utilizando o programa de estatística SISVAR (Ferreira, 2000).
89
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em campo, verificou-se que as condições climáticas foram favoráveis ao desenvolvimento da
doença nas três safras do feijoeiro, não havendo variações marcantes nas temperaturas entre as safras.
Em contraste, foram observadas diferenças entre as precipitações pluviométricas entre os ciclos da
cultura nas diferentes safras, tanto quanto à quantidade total quanto à distribuição das chuvas (Tabela
2).
Todos os fungicidas testados foram eficientes no controle da doença, diferindo
significativamente da testemunha, com exceção do primeiro ano de cultivo, cujo tratamento com
fungicidas foi efetuado apenas uma vez e tardiamente, aos 45 dias após o plantio (Tabela 3).
Resultados semelhantes foram encontrados por Costa (2000), quando a primeira pulverização foi
efetuada muito tardiamente, ou seja, na pré-floração, quando a severidade da doença na área já atingia
nota 4, numa escala de 1 a 5. De modo análogo, Prabhu et al. (1983) relataram que as pulverizações
feitas no início da epidemia foram mais efetivas do que as feitas na fase de florescimento ou pós-
florescimento. No presente estudo, quando as pulverizações foram realizadas mais cedo, aos 30 DAP,
na segunda e terceira safras, foi maior a redução da severidade da doença, em relação à primeira safra
(Tabela 3).
O número de três aplicações para os fungicidas pode ser uma opção viável para o controle da
doença, pois, em geral, proporcionou uma redução na severidade da doença de aproximadamente 41,3
e 13,9% quando comparado com apenas uma aplicação e duas aplicações, respectivamente (Tabela 3).
Cardoso & Oliveira (1982) sugerem que menos de três aplicações, a intervalos de quatorze dias
possam controlar a mela do feijoeiro. Foi observado também em condições de campo, que as parcelas
pulverizadas com fungicida tiveram menor desfolha quando comparadas com a testemunha. Segundo
90
Prabhu et al. (1982) a murcha da teia micélica causa desfolhamento e os efeitos na produção são
semelhantes aos da planta de feijão artificialmente desfolhada.
As curvas de progresso dos tratamentos mais significativos e da testemunha separaram-se
claramente (Figuras 1A, 1B e 1C) e as taxas de progresso variaram bastante entre os tratamentos
(Tabela 5). Na segunda e terceira safras, destacaram-se os fungicidas Tryfloxistrobin + Cyproconazol,
Fentin Hydroxyde e Tryfloxistrobin + Propiconazole apresentando as menores notas médias de
severidade (Tabela 3). Mas avaliando o desempenho conjunto dos fungicidas durante as três safras,
verificou-se que os fungicidas tryfloxistrobin + cyproconazol e tryfloxistrobin + propiconazole
apresentaram resultados superiores à testemunha, quanto à eficiência no controle da doença, enquanto
que mancozeb e clorotalonil foram os menos eficientes. Os fungicidas tryfloxistrobin + cyproconazol e
tryfloxistrobin + propiconazole, poderão ser alternativas economicamente viáveis para o controle do
patógeno, potencialmente úteis para o convívio com a doença, necessitando entretanto de novos
trabalhos para verificação e calibração de doses, bem como épocas de aplicação.
As taxas médias de progresso da doença foram sendo reduzidas com o aumento do número de
aplicações em cada ano, de 0,235, 0,199 e 0,167 unidades/dia, nas safras de 2004/05, 2005/06 e
2006/07, respectivamente (Tabela 5). Redução da taxa de infecção e atraso no início da epidemia
também foram observados por Prabhu et al. (1983) com o aumento do número de aplicações de
fungicidas sistêmicos.
Todos os tratamentos com fungicidas promoveram ganho de produtividade em relação à
testemunha que variou entre 5,1% (fentin hydroxyde) a 221,1% (clorotalonil), na safra 2004/05; 65,0%
(carbendazin) a 303,7% (fentin hydroxyde) na safra 2005/06; e de 31,9% (clorotalonil) a 67,8%
(piraclostrobina), na safra 2006/07 (Tabela 4). Elevados ganhos de produtividade (superiores a 400 %)
também foram registrados por Godinho (1999) com aplicações de azoxystrobin e fentin hidroxide. Já
Costa (2000) observou ganhos de produção de até 120% com axoxystrobyn a 80 e 100 g de i.a./ha.
91
Azoxystrobyn a 40 a 60g de i.a/ha apresentou eficiência intermediária, equivalente ao hidróxido de
trifenil estanho, fungicida utilizado como padrão naquele ensaio. No segundo ano de plantio, os
fungicidas azoxystrobyn nas doses de 40, 60, 80 e 100g de i.a/ha, juntamente com o hidróxido de
trifenil estanho, reduziram a severidade de doenças em até 49%. Estes dois fungicidas promoveram
ganhos de produtividades variando de 25 a 47%.
Em geral, as melhores produtividades foram obtidas no terceiro ano, quando realizado três
aplicações com fungicidas (Tabela 4). Portanto, há necessidade de mais estudos visando a viabilidade
econômica de até duas aplicações, sendo a primeira na fase inicial da epidemia, ou seja, no
aparecimento dos primeiros sintomas. Prabhu (1983) relata que as pulverizações feitas no inicio da
epidemia foram mais efetivas do que as feitas na fase de florescimento ou pós-florescimento.
A correlação severidade da doença e produtividade para cada fungicida nas três safras foi
altíssima, variando de -0,99% (Fentin hidroxide) a -0,63% (clorotalonil); de -0,75%
(tryfloxistrobin+propiconzole) a -0,99% (carbendazin) e de -0,81% (tebuconazol) a -0,99%
(carbendazin), nas safras de 2004/05, 2005/06 e 2006/07, respectivamente. Prabhu et al. (1975)
encontrou correlação altamente negativa, de -0,82%, entre as intensidades de doença obtidas e a
produção.
Em ambiente controlado, os produtos aplicados preventivamente foram equivalentes entre si,
com excelente controle da doença (Tabela 6). Nestes tratamentos não houve praticamente
desenvolvimento das lesões que foram avaliadas com tamanho mínimo ou inexistentes em todas as
repetições. Tanto curativo como preventivamente, todos os fungicidas diferiram da testemunha, mas
preventivamente os fungicidas apresentaram os melhores resultados. Isto se deve ao efeito direto do
fungicida no fungo provocando sua morte ou reduzindo sua capacidade de penetrar no tecido foliar.
Observou também que as plantas pulverizadas preventivamente permaneceram verdes por mais tempo.
Almeida (1981) fazendo avaliação do efeito curativo e preventivo de fungicidas em soja constatou que
92
as plantas pulverizadas permaneceram verdes por mais tempo que aquelas inoculadas e não
pulverizadas
Em condições controladas houve uma condução ambiental totalmente favorável ao
desenvolvimento da doença, eficaz para checar se um tratamento é eficiente ou não. No campo, soma-
se ao efeito dos fungicidas a variação da umidade relativa, precipitação pluviométrica, umidade sob o
dossel do feijoeiro e a ocorrência de múltiplas infecções por basidiósporos. São todos fatores que
podem ser manejados em favor do controle da doença, e que também devem ser considerados em um
teste de fungicidas.
Segundo Godinho et al. (1999) em condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento do
patógeno, o recomendável seria a utilização de medidas para o controle integrado da doença, tais como
rotação de culturas, uso de sementes livres do patógeno, cobertura morta e plantio direto na palha.
Estas medidas de controle promovem a redução de inóculo inicial e taxa de progresso da doença e
deverão amplificar o efeito do controle químico.
Por ser o mais recente estudo de controle da mela com fungicidas, os dados apresentados
mostram o potencial de novas moléculas no controle da doença e no aumento da produção. São
apresentadas novas alternativas químicas de controle que podem ser consideradas em um manejo
integrado. Além disso, os resultados indicam a importância do controle precoce da doença quando
estão vigentes condições climáticas favoráveis. Entretanto, deve-se enfatizar que até o momento os
fungicidas testados não estão registrados para o controle da mela do feijoeiro comum e que os testes
aqui realizados referem-se apenas à eficiência agronômica.
93
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Fitopatologia Brasileira, v. 6, n. 2, p.173-178, 1981.
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94
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Pesquisa de Feijão-CONAFE. Embrapa Arroz e Feijão (Documentos, n˚ 182), v. 2, p. 1260-68, 2005.
95
Tabela 1. Dados sobre os fungicidas utilizados no controle da mela, em três safras consecutivas do
feijoeiro. Santo Antônio de Goiás-GO.
Nome Comum Princípio Ativo Grupo
Químico
Recomendação
Feijão/
T.cucumeris
Modo
de
Ação
Dose
utilizada
Sphere
Mertin 400
Folicur 200 EC
Comet
Amistar 500 WG
Derosal 500SC
Stratego 250EC
Dithane NT
Funginil
Tryfloxistrobin +
Cyproconazole
Fentin Hidroxide
Tebuconazol
Piraclostrobina
Azoxystrobina
Carbendazin
Tryfloxistrobin+
Propiconazole
Mancozeb
Clorotalonil
estrobilurina +
triazol
organoestânico
triazol
estrobilurina
estrobilurina
benzimidazol
estrobilurina
triazol
ditiocarbamato
isoftalonitrila
-/-
+/-
+/-
+/-
+/-
+/-
+/-
+/-
+/-
M/S
P
S
S
S
S
M/S
P
P
0,3 L/ p.c.ha
1 L/ p.c.ha
0,75 L / p.c.h
a
0,3 L/ p.c.ha
100 g p.c./ha
100 mL/100
mL água
0,6 L/ p.c.ha
2,0 kg/ p.c.ha
2,5 L/ p.c.ha
M/S: mesostêmico/sistêmico; S: sistêmico; P: Protetor
Fonte: Agrofit
96
Tabela 2. Temperatura e precipitação pluviométrica durante o ciclo do feijão, nas safras 2004/05;
2005/06 e 2006/07. Santo Antônio de Goiás-Go
Número de dias
chuvosos
Precipitação
Pluviométrica (mm)
Média Temperatura
máxima
(°C)
DAP Estágio
Fenológico
Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 1 Ano 2 Ano 3
1-35 Vegetativo 20 26 22 249,8 512,9 336,4 29,4 27,7 29,1
36-49 Frutificação 12 1 8 125,4 5,8 86 26,8 31,1 31,1
50-77 Maturação 21 22 23 287,7 210,5 172,9 29,5 29,5 30,0
Total _ 53 49 53 562,9 729,2 595,3 28,56 29,43 30,06
DAP- Dias após o Plantio
97
Tabela 3. Efeito de fungicidas na severidade da mela (Thanatephorus cucumeris) do feijoeiro comum
(Phaseolus vulgaris) em campo por três safras do feijoeiro-comum. Santo Antônio de
Goiás-GO.
Safras Fungicidas
2004/05 2005/0
6
2006/0
7
Tryfloxistrobin+Cyproconazole
Fentin Hydroxyde
Tebuconazole
Pyraclostrobin
Azoxystrobin
Carbendazin
Tryfloxistrobin+Propiconazole
Clorotalonil
Mancozeb
Testemunha
6,1
*ns
6,7
6,1
6,6
6,4
5,9
6,0
6,1
6,1
6,8
3,7 a
3 ,9
a
4,0 a
4,1 a
4,1 a
4,2 a
4,5
b
4,7
b
4,8
b
5,0
b
3,2
a
3,1 a
3,9 b
3,7
b
3,3
a
3,6 b
3 ,1
a
3,8
b
4,0
b
5,1
c
Média 6,3 4,3 3,7
CV (%) 39,7 49,2 39,4
1
Média das cinco últimas leituras. Notas de severidade, onde: 1- sem sintomas e 9-acima de 90% da
área foliar necrosada. Médias seguidas da mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna,
não diferem significativamente, pelo teste Scott-Knott (P0,05). 2004/05: uma aplicação aos 45 dias
após o plantio, 2005/06: duas aplicações aos 30 e 45 dias após o plantio e 2006/07: três aplicações aos
30, 45 e 60 dias após o plantio. *ns-não significativo
98
Tabela 4. Efeito de fungicidas na produtividade do feijoeiro, em campo naturalmente infestado com
Thanatephorus cucumeris, em três safras do feijoeiro-comum. Santo Antônio de Goiás-GO.
Produtividade (kg/ha) Fungicidas
2004/05
Safras
2005/06
2006/07
Fentin Hydroxyde
Pyraclostrobin
Azoxystrobin
Tryfloxistrobin+Cyproconazole
Tebuconazole
Mancozeb
Clorotalonil
Tryfloxistrobin+Propiconazole
Carbendazin
Testemunha
71,7 a
75,0 a
112,2 b
73,2 a
87,0 a
140,0 b
219,0 c
116,0 b
79,2 a
68,2 a
1181,0 b
938,8 b
882,2 b
802,2 b
801,0 b
794,0 b
665,2 a
613,7 a
482,7 a
292,5 a
1136,2
b
1076,7
b
1260,5
b
1199,2
b
1169,7
b
1059,2
b
991,0
a
1220,5
b
1301,0
b
751,2
a
Média 104,2 754,3 1116,5
CV (%) 35,05 30,05 15,16
Médias seguidas da mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não diferem
significativamente, pelo teste Scott-Knott (P0,05). 2004/05: uma aplicação aos 45 dias após o plantio,
2005/06: duas aplicações aos 30 e 45 dias após o plantio e 2006/07: três aplicações aos 30, 45 e 60 dias
após o plantio.
99
Tabela 5. Parâmetros da curva de progresso da mela do feijoeiro em diferentes números de aplicações
e fungicidas, de acordo com o modelo Logístico, y = 1/[1 + exp (-{ln[ y0/(1- y0)]+r.t})],
onde y = severidade da doença; r = taxa de progresso da mela e t = tempo
Safra
2004/05
Intercepto Taxa de progresso R2a R*2b
Tryfloxistrobin+Cyproconazole
Tryfloxistrobin+Propiconazole
Clorotalonil
Mancozeb
Testemunha
-14,06
-14,34
-14,77
-14,95
-14,93
0,2195
0,2267
0,2376
0,2449
0,2451
0,8271
0,8568
0,8722
0,8605
0,8717
0,625
9
0,612
4
0,574
6
0,585
7
0,684
4
Média -14,61 0,2348 0,8577 0,616
6
Safra
2005/06
Intercepto Taxa de progresso R2
a
R*2
b
Tryfloxistrobin+Cyproconazole
Tryfloxistrobin+Propiconazole
Clorotalonil
Mancozeb
Testemunha
-11,98
-13,63
-13,88
-13,84
-14,17
0,1616
0,2044
0,2072
0,2061
0,2148
0,8170
0,8400
0,8930
0,8936
0,9030
0,469
6
0,500
4
0,554
2
0,622
0
0,554
2
Média 13,50 0,1988 0,8693 0,634
0
Safra
2006/07
Intercepto Taxa de progresso R2
a
R*2
b
Tryfloxistrobin+Cyproconazole
Tryfloxistrobin+Propiconazole
Clorotalonil
Mancozeb
Testemunha
-11,24
-11,02
-12,07
-12,43
-14,18
0,1442
0,1391
0,1638
0,1719
0,2165
0,7618
0,7377
0,8249
0,8299
0,9210
0,469
6
0,469
6
0,620
4
0,519
5
0,935
7
Média 12,19 0,1671 0,8151 0,603
0
a
'Coeficiente de determinação da correlação';
b
'Coeficiente de determinação entre valores de
severidade da mela observados e calculados.
100
Tabela 6. Efeito preventivo e curativo fungicidas no comportamento da mela do feijoeiro, em três
safras consecutivas. Santo Antônio de Goiás-GO.
Modo de ação Fungicidas
Preventivo Curativo
Pyraclostrobin
Tryfloxistrobin+Cyproconazole
Clorotalonil
Fentin Hydroxyde
Tryfloxistrobin+Propiconazole
Carbendazin
Tebuconazole
Mancozeb
Azoxystrobin
Testemunha
0,0 a
0,0 a
0,4 b
0,0 a
0,0 a
0,0 a
0,0 a
0,1 a
0,8 c
2,2 d
0,7 a
0,8 a
0,8 a
1,0 a
1,2 b
1,2 b
1,2 b
1,3 b
1,3 b
2,9 c
Média 0,35 1,25
CV (%) 17,36 26,71
Médias seguidas da mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não diferem
significativamente, pelo teste Scott-Knott (P0,05).
101
1
3
5
7
9
1
3
5
7
9
A
Severidade de doença
B
1
3
5
7
9
50 57 64 71 79
Tryfloxistrobin+Cyprconazole Tryfloxistrobin+Propiconazole
Clorotalonil Mancozeb
Testemunha
C
Dias após o plantio
Figura 1. Eficiência de fungicidas no controle da mela do feijoeiro em três safras do feijoeiro. Santo
Antônio de Goiás-Go. Safras (A) 2004/05, (B) 2005/06 e (C) 2006/07
102
CONSIDERAÇÕES GERAIS
As perdas na produção do feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris L.) causadas por
Thanatephorus cucumeris chegam até 100%, e representam um prejuízo de milhões de toneladas de
grãos/ano, especialmente na safra das águas. Além dessas, existem as perdas qualitativas, que também
são de grande importância, uma vez que comprometem o uso do grão produzido, ou o classificam para
outro uso menos nobre. Neste cenário, o controle químico ainda é a principal ferramenta para assegurar
a produção do feijoeiro. Porém, mediante as preocupações com a saúde humana e a poluição
ambiental, a redução da quantidade aplicada de fungicidas é de alto interesse para a sociedade. Apesar
de o uso de variedades resistentes ser o método ideal de controle de doenças, a adoção desse
procedimento é dificultada pela não disponibilidade de genótipos de feijão resistentes a mela. Além
disso, não se conhece a extensão da transmissibilidade de Thanatephorus cucumeris pelas sementes ou
mesmo da redução da produtividade em diferentes níveis de infecção do hospedeiro. A complexidade
do patossistema mela x feijoeiro exige a integração de práticas de controle, uma vez que, em ambientes
favoráveis ao desenvolvimento do patógeno, medidas de controle testadas isoladamente não tem
apresentado resultados satisfatórios. Face às limitações das alternativas descritas, é de fundamental
importância a geração de conhecimento científico sobre o efeito do sistema de plantio, da reação de
cultivares de feijão mais plantados na região, do efeito da mela na qualidade das sementes produzidas,
do estudo da idade da planta ideal para manejo dos fungicidas e o comportamento dos fungicidas no
controle da mela do feijoeiro. Além disso, o controle das invasoras hospedeiras do fungo pode ter um
grande impacto nos níveis finais de doença na cultura do feijoeiro, por reduzir o inoculo inicial.
Qualquer dessas medidas de controle quando tomadas isoladamente, dificilmente mantém a mela
abaixo do limite de dano econômico. Entretanto, se adotadas conjuntamente apresentarão efeitos
aditivos ou mesmo sinérgicos. Desta maneira, recomenda-se a adoção conjunta dos melhores
103
resultados deste trabalho, como: iniciar o plantio com sementes de boa qualidade e tratadas com
fungicidas. Se possível, efetuar o plantio sob cobertura morta de braquiária, que comprovadamente
reduziu a severidade da doença, em relação ao Sistema de Plantio Convencional e a Gradagem sem
aração. Escolher as cultivares a serem plantadas, considerando principalmente que as cultivares de
porte mais ereto, que promoveram um ambiente interno menos favorável ao desenvolvimento da
doença. A doença no campo deve ser sempre monitorada para que as aplicações de fungicidas ocorram
na época certa, e a idade da planta pode auxiliar nessa decisão, por apresentar parâmetro de resistência
diferenciado de acordo com a idade. As pulverizações devem ocorrer no início dos primeiros sintomas
e as aplicações subseqüentes devem ser efetuadas de acordo com o reaparecimento e evolução da
doença. Finalmente, recomenda-se a instalação de experimentos de campo com aplicação de todas as
medidas em conjunto, para validação dessas recomendações.
104
ANEXO
105
Fitopatologia Brasileira
ISSN 0100-4158 versão impressa
Fitopatol. bras. v.32 n.1 Brasília jan./fev. 2007
NOTAS FITOPATOLÓGICAS PHYTOPATHOLOGICAL NOTES
Acanthospermum australe é hospedeiro alternativo de Thanatephorus cucumeris, agente causal
da mela do feijoeiro
Acanthospermum australe is an alternate host of Thanatephorus cucumeris, the causal agent of
web blight on dry beans
Gesimária R. Costa
I
; Murillo Lobo Júnior
II
; Adalberto C. Café Filho
I
I
Departamento de Fitopatologia, Universidade de Brasília, CEP 70910-900, Brasília, DF, e-mail:
II
Embrapa Arroz e Feijão, Cx. Postal 179, CEP 75375-000, Santo Antônio de Goiás, GO
ABSTRACT
Acanthospermum australe, a frequently weed infesting bean crops in the State of Goiás, Brazil, was
found infected by T. cucumeris under natural field conditions. Plants were severely affected and may
be an important reservoir of inoculum for infection of cultivated crops. Pathogenicity of T. cucumeris
in both A. australe and Phaseolus vulgaris was confirmed by Koch´s postulates.
106
Uma erva daninha com sintomas típicos de mela
foi encontrada em clareira sob mata subcaducifólia (cerradão) em Santo Antônio de Goiás, GO. As
plantas identificadas como Acanthospermum australe (Loefl.) Kuntze (Asteraceae) são nativas na
América Tropical, com ampla distribuição desde a Amazônia até o Rio Grande do Sul e forte
concentração nos Cerrados.
Folhas afetadas da erva daninha (
Figura 1A) foram coletadas e o fungo isolado em meio de ágar-água.
Após dois dias as colônias foram repicadas para BDA. Discos de BDA contendo micélio do fungo
foram utilizados para inoculação de plantas de A. australe e de Phaseolus vulgaris L. cv. Pérola, em
vasos com capacidade para 2 kg, em solo adubado com 1 g da fórmula 4-30-16. As plantas foram
inoculadas aos 60 dias de idade, através da deposição de um disco de BDA com micélio do fungo, com
9 mm de diâmetro, no centro de alguns folíolos da planta, esperando-se que o inóculo infectasse outras
partes da planta, conforme indicado pelo padrão dos sintomas observados em campo. Após a
inoculação, as plantas foram mantidas em câmara de nevoeiro, por dez dias, e temperatura em torno de
25 °C. Durante este período, os sintomas da doença foram reproduzidos tanto na erva daninha como no
feijoeiro-comum (
Figuras 1C e 1D) e comparados com sintomas encontrados no campo (Figuras 1A e
1B). O patógeno foi re-isolado, comprovando-se a etiologia da doença. Após re-isolamento, o agente
causal foi identificado como Thanatephorus cucumeris (A.B. Frank) Donk (anamorfo Rhizoctonia
solani J.G. Kühn) pelas características da colônia, das hifas e sintomas típicos apresentados em
feijoeiro-comum (Embrapa-CNPAF. Documentos 50, 1994).
107
A presença de A. australe infectado com T. cucumeris no campo pode se constituir em obstáculo à
produção de feijão em áreas quentes e úmidas no cerrado, por manter um reservatório de inóculo.
Nenhum relato prévio da ocorrência de T. cucumeris em A. australe foi encontrado na literatura
nacional (Mendes et al., Fungos em Plantas no Brasil, Embrapa, 1998) ou internacional (Farr et al.,
Fungi on Plant and Plant Products in the United States, APS Press, 1989, ARS Fungal Database
ars.usda.gov).
Recebido 29 Junho 2006 - Aceito 20 Março 2007 - FB 6083
108
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