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214) Machado de Assis tirava seus tipos, suas personagens, do seu estrato social, da
realidade em que vivia. Como um cronista da época, romântica e realista, Machado,
escondendo-se atrás de um narrador crítico e observador, a quem nada escapava,
conseguiu fazer em Helena e Iaiá Garcia, crítica social e retratar a situação vivida pelas
mulheres naquele período.
Helena e Iaiá Garcia, indiciam, como se dava a relação de conveniência e
dependência entre as famílias de então. Com Helena (Helena) Iaiá Garcia e Estela ( Iaiá
Garcia) jovens sem expectativas profissionais e com um futuro baseado no casamento
como parâmetro para o sucesso e a realização pessoal e financeira, Machado de Assis
traça um panorama geral da situação da mulher e dos valores e costumes que imperavam
naquela época.
No entanto, com as transformações que estavam acontecendo no mundo naquele final
de século, refletindo-se naturalmente aqui no Brasil, e principalmente por influência das
idéias naturalistas e realistas amplamente difundidas em nosso meio, começava, se não na
prática, pelo menos no espírito de alguns escritores, um desejo de mudança que, se
refletiu em sua ficção e na composição de suas personagens.
Machado de Assis, um dos autores que mais sentiu essas influências, passava por um
período de transição no final da década de setenta, que se refletiu claramente em seus
últimos escritos desse período. Dois anos depois de escrever Helena, (1876) livro ainda
romântico, Machado de Assis, escreve Iaiá Garcia, ou seja, em 1878, apenas dois anos
antes do comentado Memórias Póstumas de Brás Cubas, marco inicial e visível de sua
nova fase.
Porém, antes da tão discutida mudança de estilo do Brás Cubas, indícios e
tendências realistas, já apareciam em seus textos, sendo que em Iaiá Garcia, esses novos
traços já são visíveis. Conforme afirmou o crítico M.C. Proença, ( 1971 ): “Helena, ainda
romântico, de enredo folhetinesco, e Iaiá Garcia, história do nascimento, vida e glória de
um amor, já possui muito daquele estilo remanchado, passinho à frente, passinho atrás,
que irá dar-nos a pintura minuciosa, quase microscópica de Brás Cubas, Quincas Borba,
Capitu e Bentinho, para atingir a cristalização sem jaça do Esaú e Jacó e Memorial de
Aires.” (PROENÇA,1969, p.188)