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3.1.5 - lygia fingers
O poema lygia fingers é formado por três cores primárias (vermelho, amarelo e azul)
e duas cores secundárias (verde e violeta).
Escolhemos a cor laranja para representar esse poema no menu de navegação, pois é a
única cor ausente no texto. Nela encontramos algumas relações com o nome da amada,
pois ambas laranja e lygia começam com a letra “l” e por representar, já vista em
análises anteriores, a mescla da cor amarelo com a vermelha (memória + amada).
No seu livro Poesia Concreta: uma prática intersemiótica, de 1998, Pedro Reis
exibe uma análise completa deste poema e o compara à composição Quarteto op.22,
de Webern:
Assim, Campos faz corresponder as cores dos elementos verbais do seu texto ao
timbre dos instrumentos de Webern. Lendo o poema linha após linha, encontramos
primeiro um nome feminino, de três sílabas, impresso a vermelho – lygia. Isto
corresponderia à sequência inicial, de três timbres executada pelo saxofone tenor.
Este nome é seguido por três elementos a verde (o violino): a palavra portuguesa
finge torna-se, pela adição de rs, na palavra inglesa fingers, que pode ser lida como
um verbo (de to finger, que significa dedilhar, as teclas do piano, por exemplo) ou
como um nome plural; e o reverso da sequência rs torna-se na palavra portuguesa
ser. A linha seguinte apresenta o adjectivo trissilábico, correspondente a fingers -
digital - que tanto pode ser lido como português ou como inglês; as quatro letras
de digital contidas em lygia estão impressas a vermelho, enquanto que d e t
representam o motivo finger, a verde. A presença simultânea das duas cores numa
palavra corresponde à execução simultânea de saxofone e violino no ponto de
transição da primeira para a segunda sequência. [...]
A linha seguinte, uma palavra 'composta' baseada em datilografo (palavra
derivada do grego daktylos, dedo, e graphein, escrever), mas que inclui também
a palavra latina illa (ela), assim como um trocadilho da palavra portuguesa dedo,
contém três sílabas de lygia, a vermelho, rodeadas a verde por sons de fingers,
seja em português, seja em inglês (d, t, r, ph/f). [...]
A seguir, lygia aparece transformada num felino, lynx – uma transformação
assinalada, não só pelo alinhamento vertical e a presença de ly como, mais
enfaticamente, pela cor vermelha do motivo lygia. As duas sílabas obtidas pela
repetição são ecoadas na mesma linha, mas após um largo espaço, pela palavra
bissilábica portuguesa assim, em cor púrpura, fica em suspenso, enquanto pode
ser lida como uma simples afirmação, mas encontra uma significância mais
completa quando os olhos atravessam diagonalmente as duas linhas seguintes até
encontrarem o próximo elemento em púrpura que completa a afirmação: assim
seja. Essas duas linhas interpostas são compostas por fragmentos entrelaçados do
motivo lygia lynx, a vermelho, e do motivo finger, a verde, que também foi
transformado, tal como acontecera com lygia, e por quatro sílabas separadas numa
outra cor, o amarelo, que corresponde à entrada do clarinete, com duas curtas
notas para completar a sequência violino-saxofone na composição de Webern. E
quando o piano reaparece no Quarteto, reencontramos a cor púrpura no texto, que
permanece a cor dominante até ao fim, interrompida apenas por quatro elementos
so a azul e flanqueada, no lado esquerdo, por lygia, a vermelho, que foi dividida
e disposta verticalmente de modo idêntico à disposição de lynx que aparece à
direita das duas linhas de três cores. Podemos, portanto, concluir que, embora não
se verifique uma exacta transposição do Quarteto de Webern, a sequência de