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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Elisabeth Pacheco Lomba Kozikoski
A PRODUÇÃO ESCRITA EM LÍNGUA INGLESA
NAS INTERFACES PAPEL E BLOG
MESTRADO EM
LINGÜÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DE LINGUAGEM
São Paulo
2007
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I
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Elisabeth Pacheco Lomba Kozikoski
A PRODUÇÃO ESCRITA EM LÍNGUA INGLESA
NAS INTERFACES PAPEL E BLOG
MESTRADO EM
LINGÜÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DE LINGUAGEM
Tese apresentada à Banca Examinadora da
Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, como exigência parcial para obtenção
do tulo de Mestre em Lingüística Aplicada e
Estudos da Linguagem, sob orientação da
Profª Drª Maximina Maria Freire.
São Paulo
2007
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II
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________
_______________________________
_______________________________
III
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total
ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.
Assinatura: _____________________ Local e Data: __________________
IV
Dedico este trabalho:
à minha mãe, fonte de luz, apoio
constante, exemplo de vida e
companheira maior que Deus me
permitiu nesta existência.
V
Agradecimento especial
À Profª Drª Maximina Maria Freire que,
acreditando em meu trabalho, conduziu
minha orientação com seriedade e
incentivos constantes, pacientemente
me instruindo e guiando pelos
caminhos da pesquisa científica.
VI
AGRADECIMENTOS
À Deus, pela oportunidade da existência presente e de dar mais esse passo no
caminho do aperfeiçoamento pessoal.
À minha mãe, que sempre me incentivou, sempre esteve e estará ao meu lado,
física ou espiritualmente, me apoiando, inspirando, amparando e iluminando
com seu abraço carinhoso.
À meu marido Luiz e meus filhos Heitor e Bia, pelo amor, abraços carinhosos,
palavras de carinho e incentivo e, principalmente, pela paciência durante todo
esse processo.
Aos professores do LAEL, pelos inestimáveis ensinamentos compartilhados
durante esses dois anos, em especial, à Profª Drª Anise Ferreira, pela
contribuição e esclarecimentos durante o Exame de Qualificação
Ao companheiro Paulo Rezende, por todas as palavras de apoio, por todos os
conselhos durante os encontros do grupo de orientação e pelos preciosos
comentários no Exame de Qualificação.
Aos colegas do grupo de orientação - Mônica, Marcos, Liliane, Cíntia, Michel,
Luciana, Paulo Machado, Juliana, Beth (from Lorena), Fernando, Leonardo,
Milton, Renata, Sávio e Bernadete, sempre prontos a compartilhar opiniões em
busca de um crescimento conjunto.
À instituição onde atuo e aos meus alunos, cuja colaboração me permitiu
realizar este trabalho.
Aos meus familiares, amigos e colegas de trabalho, pelo apoio e incentivo.
VII
RESUMO
Este trabalho teve por objetivos (1) identificar as representações de
alunos do ensino médio sobre o ato de escrever em papel e no blog, e (2)
descrever e interpretar o fenômeno da produção escrita em língua inglesa nas
interfaces papel e blog, tendo como foco aulas regulares de língua inglesa,
ministradas no ensino médio. Para atingir os objetivos traçados, esta pesquisa
se fundamentou nos desenvolvimentos em CAI e CALL (Warschauer, 1998;
Garret 1991, Ponte, 1992; Torres, 1992; Valente, 1993), no conceito de blog
como interface e na sua utilização na área da educação (Haag, 2006; Williams
& Jacobs, 2004; Lara, 2005; O’Donnell, 2005, entre outros), e na proposta dos
PCN para a utilização de recursos tecnológicos com finalidades instrucionais.
A abordagem metodológica escolhida foi a hermenêutico-
fenomenológica (van Manen, 1990). O contexto de pesquisa foi uma escola
pública do interior do Estado de São Paulo, envolvendo 28 alunos de uma
segunda série do ensino dio e a mim, professora/pesquisadora. Os textos
colhidos ao longo da investigação tiveram uma apreciação predominantemente
qualitativa, propiciada pela identificação de temas recorrentes (van Manen,
1990), emergentes de um processo de refinamento (Freire, 2006, 2007) que
consolidou o ciclo de validação (van Manen, 1990).
Os resultados mostraram que as representações sobre a produção
escrita em língua inglesa nas duas interfaces foram distintas, indicando que,
para os alunos, escrever em inglês no papel era, em alguma medida, diferente
de escrever em inglês no blog. Os resultados também revelaram estruturas
distintas para a produção escrita em língua inglesa nas interfaces papel e blog,
indicando, assim, tratar-se de dois fenômenos da experiência humana e, o,
de um único fenômeno, como assumido inicialmente.
Esta dissertação visa a contribuir para a prática docente reflexiva de
professores que se propõem a desenvolver a produção escrita em língua
inglesa, fazendo uso do blog, e que buscam não somente o produto mas,
principalmente, a compreensão da escrita como processo.
VIII
ABSTRACT
This research aimed at (1) identifying the representations high school
students reveal about writing in English when paper and blog are used as
writing interfaces, and (2) describing and interpreting the process of writing in
English on paper and blog as a phenomenon of lived experience. To reach
these pre-established goals, this study was theoretically grounded on
developments in CAI and CALL (Warschauer, 1998; Garret 1991, Ponte, 1992;
Towers, 1992; Brave, 1993); on the concept of blog as interface and on its use
in the educational area (Haag, 2006; Williams & Jacobs, 2004; Lara, 2005;
O'Donnell, 2005, among others), and on the guidelines presented by the PCN
regarding the utilization of technological resources for instructional purposes.
The methodological approach was the hermeneutic-phenomenological
one (van Manen, 1990). The research context was a public school of São Paulo
countryside, and it involved 28 high school students and myself, the
teacher/researcher. The texts collected were qualitatively interpreted,
considering the identification of recurrent themes (van Manen, 1990), made
explicit through a refinement process (Freire, 2006, 2007), which consolidated
the validating cycle (van Manen, 1990).
The results indicated that the participants’ representations about writing
in English by using the two interfaces focused on in this study were different,
thus revealing that, from the students’ perspective, writing in English on paper
was somehow different from blogging. The outcomes also revealed that the
structure of the process of writing in English on paper and on blog was different,
thus indicating that, in fact, we were dealing with two phenomena of human
experience, and not with a single one, as assumed initially.
This dissertation aims at contributing to the reflective educational practice
of those teachers who intend to develop the written production in English by
using blogs, and who look not only for the written product but mainly for writing
as a process.
IX
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1: FIRMANDO OS PASSOS ........................................... 6
1.1 A Tecnologia no Ensino ..................................................................................... 7
1.2 O Blog.............................................................................................................. 15
1.2.1 O Blog na Educação ................................................................................. 22
1.3 A Escrita ........................................................................................................... 27
1.3.1 O Processo e o Produto............................................................................. 29
1.3.2 A Escrita em Língua Estrangeira............................................................... 32
1.3.3 O Blog e a Escrita ..................................................................................... 36
1.4 Os Repertórios Interpretativos e As Representações....................................... 39
CAPÍTULO 2: A CAMINHADA.......................................................... 44
2.1 A Opção pela Abordagem Hermenêutico-Fenomenológica.............................. 44
2.2 O Contexto e os Participantes da Pesquisa ..................................................... 53
2.3 Os Momentos da Pesquisa .............................................................................. 56
2.3.1 Dando o Primeiro Passo – O Primeiro Momento....................................... 58
2.3.2 Interpretando a Imagem – O Segundo Momento...................................... 59
2.3.3 Revisitando o Texto – O Terceiro Momento .............................................. 63
2.3.4 Explorando Blogs - O Quarto Momento..................................................... 64
2.3.5 Postando em Inglês – O Quinto Momento................................................. 68
2.3.6 Contrastando Experiências – O Sexto Momento....................................... 72
2.4 Os Procedimentos Interpretativos .................................................................... 73
CAPÍTULO 3 INTERPRETANDO A JORNADA ...................................... 78
3.1 Representações............................................................................................... 78
3.1.1 A Escrita no Papel..................................................................................... 79
3.1.2 A Escrita no Blog........................................................................................ 93
3.1.3 Um Confronto............................................................................................. 97
3.2 A Produção Escrita em Língua Inglesa em Duas Interfaces............................ 102
3.2.1 A Interface Papel...................................................................................... 102
DO PRIMEIRO AO PRÓXIMO PASSO................................................. 117
REFERÊNCIAS ..................................................................................... 122
X
ÍNDICE DE ANEXOS
Anexo 1 – Questionário Inicial...................................................................................................130
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 – Call e seus três estágios.......................................................................................................... 12
Quadro 2 – Escrita com e sem composição........................................................................................ 34
Quadro 3 - Atividades efetuadas pelos participantes.................................................................................. 55
Quadro 4- Blogs criados durante o quinto momento .................................................................................. 70
Quadro 5 - Síntese do Desenho da Pesquisa............................................................................................. 73
Quadro 6 – Rotinas de organização e tematização.................................................................................... 76
Quadro 7 - Preferências dos alunos sobre o que redigem em língua materna.......................................... 79
Quadro 8 – Pessoas com as quais os alunos utilizam a língua inglesa...................................................... 80
Quadro 9 – Situações nas quais os alunos utilizarão a língua inglesa ....................................................... 80
Quadro 10 – Participação dos alunos em atividades de LE na SAI............................................................ 81
Quadro 11 – Acessos dos alunos à Internet............................................................................................... 81
Quadro 12 - Opiniões dos alunos sobre a escrita em língua portuguesa ................................................... 82
Quadro 13 - Opiniões dos demais alunos sobre a escrita em língua portuguesa....................................... 83
Quadro 14 - Representações dos alunos sobre a escrita em língua portuguesa ....................................... 84
Quadro 15 - Valores direcionados à escrita em dois momentos da pesquisa ............................................ 85
Quadro 16 –A importância da escrita na visão dos alunos......................................................................... 85
Quadro 17 - Opiniões dos alunos sobre a escrita em língua inglesa na interface papel ............................ 87
Quadro 18 - Opiniões dos demais participantes sobre a escrita em língua inglesa.................................... 88
Quadro 19 - Opiniões sobre a produção escrita na interface papel............................................................ 89
Quadro 20 - Representações dos alunos sobre a escrita na interface papel ............................................. 90
Quadro 21 - Opiniões dos participantes focais sobre o blog ...................................................................... 93
Quadro 22 - Opiniões dos demais participantes sobre o blog .................................................................... 94
Quadro 23 - Opiniões dos alunos sobre a escrita em língua inglesa no blog ............................................. 95
Quadro 24 - Opiniões dos demais alunos sobre a escrita no blog.............................................................. 95
Quadro 25 - Representação sobre a escrita no blog .................................................................................. 96
Quadro 26 - Confronto de representações: papel x blog............................................................................ 98
Quadro 27 - Recorrências da palavra difícil e vocábulos semelhantes .................................................... 104
Quadro 28 - Recorrências da palavra aprender e vocábulos semelhantes .............................................. 105
Quadro 29 - Recorrência da palavra conseguir e vocábulos semelhantes............................................... 106
XI
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1- Gatinho Corajoso......................................................................................................... 59
Figura 2 - Blog 1 explorado pelos alunos ................................................................................... 65
Figura 3 - Blog 2 explorado pelos alunos ................................................................................... 66
Figura 4 - Blog 3 explorado pelos alunos ................................................................................... 66
ÍNDICE DE DIAGRAMAS
Diagrama 1 – Possível representação da estrutura de um fenômeno........................................................ 76
Diagrama 2- A estrutura do fenômeno da produção escrita no papel....................................................... 103
Diagrama 3- O fenômeno e os subtemas do tema desenvolvimento ....................................................... 108
Diagrama 4 - A estrutura do fenômeno da produção escrita no blog........................................................ 110
Diagrama 5 - Temas e subtemas do fenômeno da produção escrita no blog........................................... 112
Diagrama 6 - A produção escrita em duas interfaces: um confronto estrutural ........................................ 114
1
INTRODUÇÃO
Ao escrever estas linhas introdutórias, observo-me em alguns momentos
reflexivos, questionando-me, o como e porquê galguei os passos que me
trouxeram até o Programa de Pós-Graduação em Lingüística Aplicada e
Estudos da Linguagem (LAEL), na Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, onde desenvolvi esta pesquisa.
Esse encontro reflexivo comigo mesma me transporta a um
questionamento que tem origem num momento anterior ao que estou
vivenciando, que seria, o porquê me tornei professora de língua inglesa.
Essas duas questões intimamente relacionadas me permitem uma
revisita aos meus conceitos, uma reflexão sobre meus passos, anteriores e
atuais, bem como meus futuros interesses, no âmbito profissional.
Residindo em uma cidade do interior do Estado de São Paulo, a mais de
duzentos quilômetros de qualquer grande centro, na região considerada pelas
pesquisas oficiais como a mais pobre do Estado, o tive muita opção quanto
ao curso de graduação que me dispus a fazer, em virtude da dificuldade de
locomoção para uma outra cidade que me proporcionasse outras alternativas.
Por esse motivo, ingressei na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
localizada na cidade vizinha, na qual graduei-me em Letras (Português/Inglês).
Desde os dezessete anos de idade e pelos dez anos que se seguiram,
eu me dediquei à profissão de bancária, e por ser uma funcionária efetiva
nunca me imaginei exercendo outra profissão. O horário de trabalho reduzido
(seis horas diárias) me permitiu atuar como professora em alguns cursos de
inglês, atividade que permeou meu período de graduação e que me aproximou
cada vez mais dessa língua estrangeira.
Iniciei, em 1999, através de uma substituição em uma sala de aula do
Ensino Médio, período noturno, meu contato com os alunos da rede pública de
ensino. Somente em 2000, após ter sido aprovada em concurso público para o
cargo de professora efetiva de língua inglesa e, depois de alguns problemas de
saúde, é que deixei minha função como bancária para trás, passo do qual não
me arrependo até o momento
2
Como toda professora iniciante, sofri com os comentários dos colegas
mais experientes, que afirmavam que meu idealismo não duraria muito, pois
todos os professores, segundo eles, iniciam suas carreiras repletos de
propostas inovadoras para um ensino mais efetivo da língua inglesa e, com o
decorrer do tempo, tomam consciência da real situação da educação no país e
modificam sua conduta. Comentário que me incomodou profundamente e
posso afirmar, ainda me incomoda.
Não cheguei às salas de aulas por buscar a realização de um sonho, e
sim, por uma conseqüência de vários fatores; mas atualmente não consigo me
imaginar em outra atividade profissional. Na escalada para me tornar cada vez
mais experiente naquilo que me proponho a fazer é que busquei, e continuo
buscando, subsídios que me permitam aperfeiçoar cada vez mais minha
atuação como professora. Nesse sentido, participei de várias oficinas de
capacitação oferecidas pela Secretaria de Educação e me dispus a uma
loucura, aos olhos de meus colegas de trabalho: a de me deslocar da minha
região em busca de cursos de pós-graduação. O esforço valeu a pena, pois
creio ter crescido muito como profissional com a bagagem que as duas
especializações, uma na área de Informática em Educação e outra em
Metodologia do Ensino da Língua Inglesa, me trouxeram.
Como professora de língua inglesa de uma escola pública, de uma
cidade do interior, percebo a grande dificuldade que os professores dessa
disciplina têm em mostrar a seus alunos a importância do estudo de uma língua
tão considerada no mercado de trabalho e no uso das novas tecnologias. Em
sua maioria, esses alunos não conseguem perceber a necessidade do
aprendizado da língua inglesa; o visualizam sua utilidade em seu dia-a-dia
ou não se sentem capazes de ter acesso a posições ou ocasiões nas quais
possam fazer uso dela. Essa falta de perspectiva faz com que esses alunos se
desestimulem e, por vezes, se neguem a desenvolver suas habilidades em
leitura, interpretação e, principalmente, na escrita em língua inglesa, visto que
não têm para quem e nem porquê escrever.
A utilização dos computadores me pareceu uma opção adequada para
cativar os alunos e demonstrar-lhes uma real utilidade para a aprendizagem da
língua inglesa. Com a informatização das escolas públicas e, mais
recentemente, com a possibilidade do uso da Internet, os órgãos oficiais da
3
educação pretendem possibilitar ao aluno dessas escolas (que, na maioria das
vezes, faz parte de uma faixa da população de baixa renda que não tem
acesso às novas tecnologias fora do ambiente escolar), uma inclusão digital
que lhe permita ter acesso às informações do mundo informatizado, ao
mercado de trabalho e, porque não dizer, ao mundo globalizado.
Unindo as áreas de interesse dos meus estudos, tecnologia e ensino da
língua inglesa, introduzi, em minhas aulas, atividades utilizando o computador,
numa intenção maior que seria a de conscientizar meus alunos sobre a
utilidade e importância da aprendizagem da língua inglesa e, em conseqüência
disso, promover nesse aluno um maior interesse pela disciplina em sala de
aula. Percebi que o contato com essa ferramenta transformava a atitude dos
alunos, tanto no que diz respeito ao comportamento, quanto no que se refere
ao envolvimento com a atividade proposta. Essa observação me fez inquirir se
uma mudança semelhante ocorreria num possível momento de produção
escrita em língua inglesa.
O interesse em melhor compreender o que acontece quando da
mudança de ambiente da sala de aula para a sala de informática, para
possivelmente melhor desenvolver minhas atividades como professora, me
levaram a cometer uma loucura ainda maior aos olhos de meus colegas de
trabalho que foi a de me inscrever em um programa de pós-graduação,
buscando, no nível de mestrado, a orientação necessária que amparasse uma
investigação nesse sentido. Esclareço que, na opinião de meus colegas, essa
foi uma decisão ainda mais louca que as anteriores, visto que sou a primeira
professora da cidade que se aventura a sair da região em busca desse grau de
instrução.
Através desse relato da minha jornada aeste momento, percebo que
ainda posso não estar certa do porquê me tornei professora, mas está bem
claro para mim que, neste momento de minha experiência de vida, o exercício
docente faz parte do que sou, assim como, que para ampliar meus horizontes e
amparar meus passos futuros é que hoje me encontro nesse programa de pós-
graduação.
Decidida a investigar um fenômeno da experiência humana, ou seja, a
produção escrita em língua inglesa dos alunos em sala de aula, quando
4
utilizam o computador, fez se necessário a escolha de uma interface
1
que
proporcionasse um ambiente propício para o desenvolvimento de atividades de
produção escrita no computador e que permitisse algum tipo de comunicação
assíncrona. A comunicação assíncrona permite que o aluno produza textos em
seu próprio tempo, possibilitando uma reflexão sobre o processo de escrita.
Escolhi então o blog que, além de possuir essas características, possibilita o
desenvolvimento da leitura e da interpretação; permite que o aluno interaja com
os textos de diversos autores e faz parte do contexto social dos adolescentes
que, um pouco mais favorecidos financeiramente, possuem um computador
com acesso a Internet. O contato com essa interface, que não faz parte do
contexto social de meus alunos, ao meu ver, auxiliaria na promoção da
inclusão social deles no mundo globalizado.
O estudo que realizei foi pautado em dois objetivos: primeiro, identificar
as representações que os alunos do ensino medito têm sobre a produção
escrita nas interfaces papel e blog; e segundo, descrever e interpretar o
fenômeno da produção escrita em língua inglesa nas inferfaces papel e blog.
Para atingir os objetivos traçados, iniciei minha caminhada, orientada pelas
seguintes questões:
Quais as representações do aluno sobre a produção escrita, em
língua inglesa, na interface papel?
Quais as representações do aluno sobre a produção escrita, em
língua inglesa, na interface blog?
Qual a natureza da produção escrita em língua inglesa em duas
interfaces: papel e blog?
Para a concretização da investigação proposta e para responder ao
questionamento que a move, no primeiro capítulo, detalho as bases nas quais
1
Interface é a conexão e interação entre hardware, software e o usuário. Os usuários conversam com o
software. O software conversa com o hardware e outros softwares. O hardware conversa com outro
hardware. Tudo isto é feito por meio de interfaces. (Freedman, 1995:261)
Optei pela utilização desse termo tencionando evitar a confusão na utilização desse termo, com o termo
ferramenta, que define um dispositivo que fornece uma vantagem mecânica para a realização de tarefas
diversas. Assumo que o computador será a ferramenta que proporcionará a realização das tarefas, através
da interface blog.
5
firmei meus passos, ou seja a fundamentação teórica que estrutura este
trabalho. Apresento as propostas dos PCN para a utilização dos recursos
tecnológicos com finalidades instrucionais; os desenvolvimentos em CAI e
CALL (Garret 1991, Ponte, 1992; Torres, 1992; Valente, 1993; Warschauer,
1998); a interface por mim escolhida, o blog, e sua utilização na área da
educação (Haag, 2006; Williams & Jacobs, 2004; Lara,2005; O’Donnell,2005,
entre outros).
No segundo capítulo, exponho detalhes da caminhada e seus
momentos, ou seja, detalho o desenho da pesquisa, descrevendo a linha
metodológica em que ela se enquadra (Ricouer, 1986/2002; van Manen, 1990;
Freire, 2006,2007); o contexto da pesquisa; seus participantes e os
procedimentos de coleta e interpretação dos textos, comentando seu
desenvolvimento no decorrer de três etapas, que agrupam os seis momentos
da pesquisa.
No terceiro capítulo, interpreto minha jornada, apresentando e
discutindo os textos coletados à luz das perguntas de pesquisa e dos objetivos
desta investigação. Tomando por base o desenho da pesquisa e as três etapas
em que ela se desenvolveu, estruturo este capítulo em duas grandes seções:
as representações dos alunos sobre a produção escrita no papel e no blog e a
produção escrita em língua inglesa em duas interfaces. Retorno ao
questionamento da pesquisa e aos textos, pontuando descobertas e
confrontando as interpretações apresentadas. Descrevendo e interpretando o
fenômeno, apresento e esquematizo sua estrutura, identificando os temas e
subtemas que o constituem e sustentam.
Finalmente, em minhas considerações finais, pondero criticamente sobre
as distâncias e proximidades do ato da escrita nas duas interfaces. Ao concluí-
las, revisito minha própria proposta e a re-interpreto à luz da estrutura do
fenômeno investigado, registrando, através do meu olhar, a caminhada do
primeiro ao próximo passo.
6
CAPÍTULO 1
: FIRMANDO OS PASSOS
FIRMANDO OS PASSOS
Sendo os objetivos deste trabalho identificar as representações de
alunos do ensino médio sobre a produção escrita nas interfaces papel e blog, e
descrever e interpretar o fenômeno da produção escrita nessa LE, nas
interfaces indicadas, apresento, neste capítulo o embasamento teórico que
fundamenta esta investigação.
Minha pesquisa propõe uma alteração de interface para a produção
escrita em língua inglesa, passando do papel à utilização de uma ferramenta
de comunicação assíncrona, mais precisamente, do blog. Por essa razão,
apresento na primeira seção deste capítulo, as orientações dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (Brasil, 1998) para o uso da tecnologia no ensino, e o
suporte teórico que embasa o uso da tecnologia no ensino de línguas (Garret
1991; Ponte, 1992; Torres, 1993; Valente, 1993; Warschauer, 1998).
Na segunda seção, apresento o blog, descrevendo assim a interface por
mim escolhida e algumas das teorias apresentadas sobre a sua utilização na
área educacional (Haag, 2006; Williams & Jacobs, 2004; Lara,2005;
O’Donnell,2005, entre outros) .
Nas duas seções seguintes focalizo questões teóricas relacionadas à
escrita (Grabe & Kaplan, 1996; Zamel, 1987; Cox, 1994; Raimes, 1983; White
& Arndt, 1991; Farmer 2004, entre outros) e às representações (Moscovici
, 1961; Freire e Lessa, 2003), cujos pressupostos teóricos também embasam
este trabalho.
7
1.1 A Tecnologia no Ensino
O uso do computador nas aulas das escolas públicas ainda é um
assunto polêmico, visto que muitos professores o se sentem seguros no seu
manuseio e utilização como ferramenta auxiliar no processo pedagógico
(Valente e Almeida, 1997), contudo, ele se encontra contemplado, desde 1998,
nas orientações sugeridas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), os
quais propõem uma atualização metodológica, visando a aproximar cada vez
mais o aluno do mundo que o cerca:
O mundo vive um acelerado desenvolvimento,
em que a tecnologia está presente direta ou
indiretamente em atividades bastante comuns. A
escola faz parte do mundo e para cumprir sua função
de contribuir para a formação de indivíduos que
possam exercer plenamente sua cidadania,
participando dos processos de transformação e
construção da realidade, deve estar aberta e
incorporar novos hábitos, comportamentos,
percepções e demandas (PCN-Introdução, 1998:138).
Os PCN (PCN-Introdução, 1998:140) afirmam que a tecnologia deve
servir para enriquecer o ambiente educacional, propiciando a construção de
conhecimentos por meio de uma atuação ativa, crítica e criativa por parte de
alunos e professores.
Ao falarmos em recursos tecnológicos, englobamos, na verdade, uma
variedade de recursos. Entretanto, os PCN (PCN - Introdução, 1998:146)
destacam especialmente o computador, registrando que, com isso, “pretende-
se chamar a atenção para as potencialidades educativas do meio informático”,
relacionando alguns dos motivos pelos quais o uso do computador permite criar
ambientes de aprendizagem que fazem surgir novas formas de pensar e
aprender, como explicitam:
favorece a interação com uma grande
quantidade de informações, que se apresentam de
8
maneira atrativa, por suas diferentes notações
simbólicas;
pode ser utilizado como fonte de informações;
possibilita a problematização de situações por
meio de programas que permitem observar
regularidades, criar soluções, estabelecer relações,
pensar a partir de hipóteses, entre outras funções;
favorece a aprendizagem cooperativa, pois
permite a interação e a colaboração entre alunos (da
classe, de outras escolas ou com outras pessoas) no
processo de construção de conhecimento;
favorece a aprendizagem ativa controlada pelo
próprio aluno, que permite representar idéias,
comparar resultados, refletir sobre sua ação e tomar
decisões, depurando o processo de construção de
conhecimento;
desenvolve processos metacognitivos, na
medida em que o instrumento permite pensar sobre os
conteúdos representados e as suas formas de
representação, levando o aluno a “pensar sobre o
pensar”;
motiva os alunos a utilizarem procedimentos
de pesquisa de dados; e também a socializarem
informações e conhecimento, uma vez que as
produções dos alunos apresentam-se de forma legível
e com boa aparência; para citar algumas entre tantas.
(PCN-Introdução, 1998: 147-149)
Os PCN destacam que, o simples fato de utilizar o computador ou
qualquer outro recurso tecnológico não garante a aprendizagem, enfatizando
que é essencial, ao professor, criar um ambiente em que o aluno tome a
iniciativa, resolva problemas e crie soluções pessoais, garantindo “um contexto
significativo de aprendizagem e participação ativa do aluno” (PCN-Introdução,
1998:153).
Garret (1991, apud Warschauer, 1996:6) também ressalta esse ponto ao
afirmar que o uso do computador não constitui um todo, mas um meio
através do qual uma variedade de métodos, abordagens e filosofias
pedagógicas podem ser implementadas.
Considerando o exposto acima, encontro respaldo nos PCN quando
proponho uma atividade que integra o uso do computador ao ensino da ngua
inglesa, aproximando os alunos da realidade do mundo globalizado e,
potencialmente, propiciando um ambiente que permite a interação e a
colaboração entre os alunos, possibilitando o desenvolvimento do senso de
iniciativa.
9
Para uma melhor compreensão do uso do computador como instrumento
de ensino-aprendizagem, é interessante observar a diferença entre: Instrução
Assistida por Computador (CAI Computer Assisted Instruction) e
Aprendizagem Assistida por Computador (CAL-Computer Assisted Learning).
A Instrução Assistida por Computador, para Ponte (1992) e Torres
(1993), é uma forma de uso do computador que segue de perto o ensino
programado e tende a encarar essa ferramenta como um professor
eletrônico.Trata-se de uma perspectiva que foca os conteúdos a transmitir, que
assume um determinado currículo e que propõe fazer progredir o aluno o mais
eficientemente possível ao longo desse currículo. Nessa modalidade, podem
ser agrupados vários programas como os tutoriais, drills e jogos.
Na Aprendizagem Assistida por Computador, de acordo com Valente
(1993), o computador é uma ferramenta que permite ao aluno desenvolver
algo,e assim, a aprendizagem ocorre pelo fato de o aluno executar uma
atividade por intermédio do computador. Essas atividades podem ser, ao meu
ver, entre outras, a elaboração de textos, a pesquisa em banco de dados, a
resolução de problemas de diversos domínios do conhecimento, propostos pelo
professor; o controle de experimentos e simulações e a comunicação mediada
por rede de computadores, etc.
De acordo com o autor, tanto a Aprendizagem Assistida por Computador
quanto a Instrução Assistida por Computador caracterizam o ensino mediado
pelo computador, embora a abordagem pedagógica de ambas seja diferente.
As duas envolvem os mesmos elementos: o computador, o software, a internet,
o aluno e o professor. Entretanto, a diferença fica estabelecida na maneira
como esses elementos se relacionam. De um lado, o computador por meio do
software e da rede ensina o aluno, e de outro, o aluno, por meio da
manipulação de software e da rede, ensina o computador.
Segundo Warschauer e Healey (1998), no decorrer dos anos, temos
presenciado uma explosão de interesses no uso do computador para a
aprendizagem de línguas Computer-Assisted Language Learning (CALL). Os
computadores vêm sendo utilizados no ensino de línguas desde 1960, período
que, segundo esses autores, pode ser divido em três grandes fases: CALL
Behaviorístico (behavioristic CALL), CALL Comunicativo (communicative CALL)
10
e CALL Integrativo (integrative CALL) , cada qual correspondendo a um certo
estágio evolutivo da tecnologia bem como a uma certa abordagem pedagógica.
CALL Behaviorístico, concebido nos anos cinqüenta e implementado no
anos sessenta e setenta, segundo os autores acima citados, poderia ser
considerado um sub-componente do amplo campo do CAI pois, seguindo um
modelo de aprendizagem behaviorista, essa fase do CALL se caracterizava
pela utilização de exercícios repetitivos de linguagem. Nesse paradigma, o
computador era visto como um tutor mecânico, fornecedor da resposta correta.
Apesar do CALL Behaviorístico, eventualmente ser usada em computadores
pessoais (PC), ela foi implementada na era do mainframe
2
.
CALL Comunicativo, de acordo com Warschauer e Healey (1998), surgiu
no final dos anos setenta e início dos anos oitenta, ao mesmo tempo em que a
abordagem behaviorista de ensino de línguas estava sendo rejeitada em
âmbito teórico e pedagógico, e quando os novos PCs estavam criando grandes
oportunidades de trabalho individual. A proposta, nesta fase, era a de que as
atividades baseadas no computador deveriam abordar mais o uso das formas
do que as regras propriamente ditas; ou seja, ensinar a gramática
implicitamente, permitir e encorajar o aluno a gerar falas próprias ao invés de
somente manipular uma linguagem pré-fabricada (Jones & Fortescue,1987;
Phillips,1987; Underwood,1984, apud Warschauer e Healey, 1998).
Warschauer e Healey (1998) relacionam o CALL Comunicativo com as
teorias cognitivas que concebiam que o ensino como um processo de
descoberta, expressão e desenvolvimento, o que promoveu o desenvolvimento
de programas de reconstrução de texto e simuladores, que permitiam ao aluno
trabalhar sozinho ou em grupos, descobrindo padrões de linguagem e
significado, estimulando discussão e descoberta entre os alunos. O foco do
CALL Comunicativo “não era tanto no que os alunos faziam com a máquina,
mas o que acontecia entre eles enquanto trabalhavam com a máquina”
(Warshauer e Healey, 1998).
2
Um mainframe é um computador grande. Na metade dos anos 60, todos os computadores eram
chamados mainframes, pois o termo referia-se ao gabinete principal da CPU. Hoje em dia, ele se refere a
um sistema de computados de grande porte. Existem Mainframes pequenos, médios e grandes, lidando
com alguns ou diversos de milhares de terminais on-line. (Freedman, 1995:306)
11
No final dos anos oitenta e início dos anos noventa, de acordo com
Warschauer e Healey (1998), assim como aconteceu com o CALL
Behaviorístico, o CALL Comunicativo também foi criticado, como comentam a
seguir,
By the late 1980s and early 1990s, critics
pointed out that the computer was still being
used in an ad hoc and disconnected fashion and
thus "finds itself making a greater contribution to
marginal rather than central elements" of the
language learning process (Kenning & Kenning,
1990, p. 90). This corresponded to a broader
reassessment of communicative language
teaching theory and practice. Many teachers
were moving away from a cognitive view of
communicative teaching to a more social or
socio-cognitive view, which placed greater
emphasis on language use in authentic social
contexts (Warschauer e Healey, 1998).
Segundo os autores acima, as atividades que buscavam integrar os
alunos a um ambiente autêntico e integrar as várias habilidades do ensino da
língua (listening, speaking, reading e writing) em suas várias formas de
utilização, levaram a uma nova perspectiva de uso da tecnologia no ensino de
língua, denominada CALL Integrativo. Nela, os alunos aprendem a usar uma
variedade tecnológica de ferramentas (programas diversos e Internet), em um
contínuo processo de uso e aprendizagem da língua, ao invés do ensino
baseado em exercícios isolados.
Warschauer e Healey (1998) complementam que, se o mainframe foi a
tecnologia do CALL Behaviorístico e o PC, a tecnologia do CALL Comunicativo,
o computador multimídia com acesso à Internet é a tecnologia do CALL
Integrativo, abordando esse argumento, eles acrescentam:
The multimedia networked computer - with a
range of informational, communicative, and
publishing tools now potentially at the fingertips of
every student - provides not only the possibilities for
much more integrated uses of technology, but also
the imperative for such use, as learning to read,
write, and communicate via computer has become
an essential feature of modern life in the developed
world (Warschauer e Healey, 1998).
12
Andreoli (2002:21,22) resume as idéias principais de Warschauer (2000)
e ilustra, no quadro reproduzido a seguir, as mudanças pedagógicas que
ocorreram e vem ocorrendo em CALL, destacando que Warschauer (2000:6)
não sugere que estes estágios aconteceram seqüencialmente, em um contínuo
que indique uma evolução do CALL “ruim” para o “bom”; ao contrário, enfatiza
que eles podem ser reproduzidos e/ou combinados a qualquer momento:
CALL
Fases
Aspectos
ESTRUTURAL
3
1970-1980
COMUNICATIVO
1980-1990
INTEGRATIVO
SÉCULO XXI
TECNOLOGIA
Mainframe
“PC” Multimídia e Internet
PARADIGMA
DO ENSINO DE INGLÊS
Gramática –tradução
e
áudio-lingual
Ensino comunicativo
da
língua
Baseado em
conteúdo, em tarefa,
em projeto
ESP/EAP
VISÃO DA
LINGUAGEM
Estrutural
(Sistema estrutural
formal)
Cognitivo
(Sistema construído
mentalmente)
Sócio-cognitivo
(desenvolvido na
interação social e
enfatizando o uso da
linguagem em
contextos sociais
autênticos)
PRINCIPAL
USO DO
COMPUTADOR
Prática e repetição
(drill and practice)
Exercícios
Comunicativos
Discurso autêntico
OBJETIVO
PRINCIPAL
Precisão (accuracy)
Precisão + fluência
(accuracy and fluency)
Precisão + Fluência +
Atuação, intervenção
(Accuracy and fluency
and agency)
Quadro 1 – Call e seus três estágios
(Andreoli ,2002, baseada em Warschauer, 2000)
Baseada nos estágios propostos por Warschauer, as atividades por mim
propostas em sala de aula, até a presente data, se enquadram no estágio do
CALL Integrativo, visto que as produções escritas propostas enfatizam o uso da
linguagem em contextos autênticos, com vistas à uma atuação cada vez mais
independente dos alunos.
Warschauer e Healey (1998) vislumbram um CALL Inteligente, utilizando
programas de computador que empreguem o poder dessa ferramenta para
oferecer uma interação fácil com o material a ser aprendido, incluindo um guia
3
Em trabalhos anteriores (Warschauer, 1996 e Warschauer & Healey, 1998), este estágio é denominado
de Behaviorístico
13
e um feedback interativo, informações compreensíveis em múltiplas mídias
desenhadas para se adequar ao estilo individual dos alunos; e tecnologia que
permita o aluno conduzir uma comunicação além da tela de um computador
individual. O CALL Inteligente conta, entre outros recursos, com a inteligência
artificial; simuladores de última geração; programas de ensino de línguas e
jogos interativos, mas os autores concluem que:
While we're coming closer, advancing in all
the areas mentioned above - user interface,
learner feedback, integrated media,
communication within and outside the
classroom, and natural language processing -
we've still got a very long way to go before CALL
can be accurately called "intelligent." What
teachers can do now, however, is to work with
each other to improve teaching with technology.
Linking via the Web, workshops, or conferences,
teachers can encourage the intelligent use of
CALL. That will be a very large step forward
(Warschauer e Healey, 1998).
Ao meu ver, os recursos da Internet podem promover oportunidades
diversas ao aluno para a utilização da língua estrangeira em um contexto sócio-
cultural autêntico, de forma síncrona ou assíncrona, permitindo uma prática
efetiva da língua alvo. Nesse sentido, e concordo com Brown, quando o autor
afirma que:
Having and manipulating language data in multiple
media provides learners with the raw material they
can use to re-create the language for themselves,
using their own organizing schemes. Activities that
encourage students to explore and be creators of
language rather than passive recipients of it further
the idea of the learner as an active participant in
learning (Brown, 1991:253).
Faz-se necessário esclarecer que os períodos apontados por
Warschauer e Healey (1998) não condizem com a realidade brasileira, pois em
nosso contexto educacional teve início quase duas décadas depois. De acordo
com Valente e Almeida (1997) a História da Informática na Educação no Brasil
data de mais de 20 anos. Nasceu no início dos anos 70 a partir de algumas
experiências na UFRJ, UFRGS e UNICAMP e se estabeleceu nos anos 80.
14
Em documento divulgado pelo, MEC/SEED/PROINFO (1996), é
destacado que a cultura nacional de informática na educação teve início nos
anos 80, a partir dos resultados de dois seminários internacionais (1981 e
1982) sobre o uso do computador como ferramenta auxiliar do processo de
ensino-aprendizagem. Nesses seminários, surgiu a idéia de implantar projetos-
piloto em universidades, originando:
em 1984, o Projeto EDUCOM, voltado para a criação de núcleos
interdisciplinares de pesquisa e formação de recursos humanos nas
principais universidades federais;
em 1986, a criação do Programa de Ação Imediata em Informática na
Educação de e graus, destinado a capacitar professores (Projeto
FORMAR) e implantar infraestruturas de suporte nas Secretarias
Estaduais de Educação.
em 1996, a introdução de vigoroso programa de informatização de
escolas;
em 1997, a instalação de mais de 400 laboratórios nas escolas públicas
do Estado de São Paulo e a formação dos professores dessas
instituições.
Esses dados revelam que a utilização efetiva da informática na
educação no Brasil, bem como as mudanças pedagógicas ocorridas em CALL
ocorreram num período posterior aos apontados por Warschauer e Healey
(1998). Contudo, atualmente, o advento da Internet promove uma propagação
mais rápida dos estudos e pesquisas desenvolvidos em todo o mundo,
permitindo assim que o Brasil possa acompanhar as novas propostas em CALL
e divulgar, também, propostas adequadas à realidade de nosso país, mais
facilmente.
A evolução da tecnologia pode vir a nos presentear com novos recursos
para o ensino de línguas. Ainda não se faz possível um autêntico CALL
inteligente, nos padrões descritos por Warschauer e Healey (1998), visto que a
tecnologia ainda o alcançou o grau de desenvolvimento necessário para nos
prover dos recursos citados pelos autores. Pretendo, então, implementar em
minha prática de ensino, o uso inteligente da tecnologia, como sugerido pelos
15
autores, visando, no caso desta pesquisa em particular, ao desenvolvimento da
escrita em língua inglesa. Nesta busca, optei pela utilização da interface blog,
que passo a descrever com mais detalhes na seção seguinte.
1.2 O Blog
Como proponho uma mudança de interface para a produção escrita em
língua inglesa de meus alunos, adequado se faz, ao meu ver, apresentar a
interface por mim utilizada - o blog - , relacionando-a com a área em que ela foi
utilizada nesta investigação – a educação.
Um weblog ou simplesmente blog é uma página da web cujas
atualizações, chamadas posts, o organizadas cronologicamente, como um
histórico ou diário (Fumero,2005).
Sáez Vacas (2005 apud Lanza, 2007:18) define o blog como um site
web, no qual se publicam cronologicamente notas de um ou vários autores,
sobre uma temática ou em formato de diário pessoal, e incluem links para
outros blogs, arquivos com notas publicadas e um dispositivo de uso fácil para
seus leitores participarem, enviando comentários sobre as notas ou sobre
outros comentários.
Winer (2003) nos fornece uma descrição mais técnica quando sugere
que o weblog é uma sequência de textos, imagens, mídias e dados, arranjados
cronologicamente, e visíveis por meio de um navegador (um browse em html).
O autor acrescenta que o centro dessa hierarquia é uma seqüência de
postagens (posts) formando um índice do weblog, que promove uma
interligação com todo o conteúdo em seqüência.
Segundo Haag (2006), o blog teve início em 1997, com um programador
de computadores chamado John Barger que, entediado com o trabalho, mas
excessivamente auto-confiante em relação às suas opiniões, resolveu postar
na internet umas notinhas em seu website, comentando, de forma
16
personalíssima, o andamento do conflito israelo-palestino. Aos poucos, foi
escrevendo sobre tudo e, apreciando essa atividade de produção escrita,
passou a atualizar diariamente a sua coluna pessoal. Concebeu o termo
weblog ou diário de bordo da rede. O termo se popularizou e, logo, um colega,
Peter Merholz, brincando com a sonoridade da palavra (escrevia-a como wee-
blog), acabou popularizando o termo: blog.
Williams & Jacobs (2004) comentam que, a origem do blog é um assunto
que causa um certo debate. Os autores citam que, de acordo com Blood
(2000), o termo web blog foi usado primeiramente por Barger (1997) e a versão
abreviada, por Merholz, em 1999. Houve uma explosão no crescimento do
número de blogs quando a primeira ferramenta para construção dessa interface
foi disponibilizada gratuitamente em meados de 1999: o serviço de publicação
Blogger.com.
Por outro lado, os que clamam que, o uso do blog realmente
começou em 1992, com o primeiro web site no qual Tim Berners-Lee atualizava
uma lista de páginas acessíveis na internet. No entanto, esse site não se
aproxima da noção de um blog como a conhecemos hoje em dia, e por essa
razão, segundo Blood (2000), não podemos nos referir aos blogs, como os
conhecemos, até a aparição de Scripting News Website, de David Winer, em
abril de 1997.
A palavra blog é usada como substantivo, como verbo e conta com
algumas traduções: blog na linguagem mundial; blogue em Português; journal,
ou diário em inglês; bitácora, de cuaderno de bitácora, diário de bordo, em
castelhano. O ato de blogging, publicar uma mensagem num blog, é chamado
postar e o universo criado por esse mundo de blogging, ou postagens, é a blog-
o-sphere, blogosphere ou blogosfera, um termo, com três grafias, cunhado por
William Quick (2001) para designar o ciberespaço intelectual que os bloggers
(ou blogueiros), usuários do blog, ocupam (Barlett-Bragg, 2004; Fumero, 2005).
Para evitar a confusão na utilização do termo blogger que, tanto
denomina o usuário quanto um dos mais conhecidos serviços de publicação
gratuitos disponíveis na Internet (Blogger.com), Branum (2001) propõe o termo
bloggist, ou bloguista; mas blogger continua sendo a forma mais difundida.
O blog, geralmente, possui um autor, mas também os blogs de
grupos (os blogs de família, os blogs corporativos e os blogs comunitários), nos
17
quais os usuários postam e debatem pequenos artigos, divulgam eventos,
discutem e comentam contextos e conteúdos diversos.
Quanto às postagens (posts), elas podem, ou não, ser do mesmo estilo
(narrativo, descritivo ou dissertativo), do mesmo tipo de texto (dramático,
jornalístico, musical, poético, etc.), ou se referir ao mesmo assunto ou pessoa.
Grande parte dos blogs são miscelâneas nas quais os blogueiros escrevem
com total liberdade. Porém, o conteúdo postado pode definir o blog, como por
exemplo, os Warblogs, blogs sobre guerras; os LibLogs, blogs de bibliotecas,
entre outros.
Pesquisadores como Barlett-Bragg (2003) e Smith e Barber (2005)
acreditam que a facilidade da postagem no blog, (simples como escrever num
e-mail), bem como o mero de ferramentas grátis disponíveis na internet,
podem ser os principais fatores para o crescimento da utilização dessa
interface. Sobre esses aspectos Smith e Barber (2005) comentam:
Blogs were originally used by people who
didn’t have much, if any, knowledge of HTML,
FTP and all that sort of things, but who wanted
to put up some content onto a website. Sites
such as Blogger and eBloggy came about
which allow users to register (for free, or a
small fee), then type some text into a chosen
template, and with one click make that text
available on the web for the world to see. The
blog owner can then log into their blog
however often they like, making changes to
text they’ve already written, and add new text.
Each user’s blog has its own unique URL
which the author can distribute, just like a
website address, which others can then
visit.(…)
(…)Because it’s so easy to set up a blog,
the blogging community is growing day by day.
Many blogs out there contain little more than
“Hi, this is my blog” while others are very rich
in content, have specific focuses or are very
well-written ad entertaining (p.140-141)
De acordo com a Fumero (2005), a blogosfera cresceu em ritmo
espantoso. Em 1999, o número de blogs era estimado em menos de cinqüenta;
no final de 2000, a estimativa era de poucos milhares. Menos de três anos
depois, os números saltaram para algo em torno de 2,5 a 4 milhões. Segundo
Haag (2006), uma pesquisa recente do site especializado Technorati, mostra
18
que existem na rede mais de 38 milhões de blogs e esse número dobra a cada
seis meses: na média, um novo weblog é criado a cada segundo do dia. O
volume atual é 60 vezes maior do que o de há três anos.
Esse aumento significativo no número de blogs ao longo dos anos,
segundo Fumero (2005) fez com que a grande mídia desse maior importância
ao fenômeno: entre 1995 e 1999 apenas onze artigos jornalísticos sobre blogs
foram publicados. No ano de 2003, estima-se que 647 artigos foram
publicados.
No início 1999, de acordo com Blood (2000), os blogs eram distintos
tanto em forma como em conteúdo. Eles eram rudimentares em design e
conteúdo, mas aqueles que o produziram achavam que estavam realizando
algo interessante e decidiram ir adiante. O que começou com postagem de
textos apenas, evoluiu rapidamente e, hoje, permite que o blogueiro
compartilhe desenhos (drawblogs); fotos (fotoblog ou flog); vídeos e sons
(audioblog, videoblog e vibeflog), com toda a rede e tudo isso associado à
facilidade de postagem, que hoje pode ser feita, inclusive, de um celular.
Hoje, estabelecido como uma interface de comunicação da web, com um
número elevado de usuários, os blogs têm emergido como um meio de:
informar um internauta sobre itens de interesse do autor e do próprio leitor;
divulgar notícias e informações pessoais, bem como promover um inter-
relacionamento, por meio dos links que podem ser dispostos na interface. Essa
troca de experiências, conceitos, pensamentos e opiniões, estabelece um canal
informal de comunicação e abre um espaço de conversação e relacionamento
muito amplo.
Podemos, então, argumentar que a conversação e o relacionamento
são amplamente praticados na internet por meio de fóruns e chats, assim como
a edição e o compartir de textos diversos por meio de wikis
4
e vignettes
5
e
inquirir, então, em que o blog se difere dessas ferramentas.
4
Wiki – é um programa de computador que permite os usuários de todo o mundo colaborarem para criar e atualizar
páginas da web. A coleção resultante das páginas também é conhecida como wikis.(...) Qualquer um que leia um
wiki, pode facilmente fazer mudanças, corrigir e adicionar, criar novas páginas, e até corrigir a forma como wiki é
organizado (Bishop, 2004).
5
Vignette – é um conjunto de gerenciamento, portal, colaboração, gerenciamento de documentos e de gravações
desenvolvidos pela Corporação Vignette, Austin, Texas, que permite as empresas rapidamente criar, editar e rastrear
conteúdos através de fluxos de trabalho, e então publicar esse conteúdo através da Web ou portais. (Pelz-Sharpe,
2007)
19
Longe de querer classificar uma ou outra das interfaces acima citadas
como a mais adequada para o desenvolvimento do ensino-aprendizagem em
qualquer nível, traço um paralelo entre elas e o blog, não no sentido técnico e
tecnológico de sua construção, mas quanto a algumas características de
utilização, especialmente as que possam ter alguma relevância no processo e
na produção escrita.
No que diz respeito aos chats, a principal diferença está no fato de que
nos chats a comunicação, acontece de forma síncrona, enquanto que no blog a
comunicação acontece de forma assíncrona, permitindo assim ao autor o
tempo necessário para ponderações e reflexões antes da expressão de seus
pensamentos e/ou sentimentos.
Nos runs, a comunicação também acontece de forma assíncrona, e
nela é esperado que qualquer pessoa inicie uma nova discussão, ou responda
a uma questão nele existente. A variedade de picos discutidos nos fóruns é
ampla e um site pode ter mais de um fórum, cada um dedicado a um tópico
diferente. Já os blogs permitem que os visitantes postem comentários em
resposta a uma entrada do autor. O número de pessoas, com permissão para
criar entradas, assim como o tipo de comentários, podem ser limitados pelo
administrador do blog (Wrede, 2005).
Durante apresentações sobre blogs em educação, em congressos,
ocorreram discussões sobre a diferença entre fóruns e blogs. Alguns dos
argumentos apresentados podem ser observados nos comentários de Wrede
(2005), a seguir:
In several occasions we had no convincing
argument why discussion via weblogs are [sic]
different from news groups. The productive
atmosphere today generated a new argument:
New Groups are topics oriented where as [sic]
weblogs are learner centered.
I sense there is even a more important
aspect that specifically needs to be reviewed
when talking about personal weblogs (in
contrast to group weblogs): the creation of
identity. A weblog (to some degree also a
group weblog for small groups) is “owned” by
the author(s) and therefore create a
completely different motivation for expression.
Weblog are not special because of their
technology but because of the practice and
authorship they shape. And it is a practice that
20
will require a weblog author to be “connected”
to processes, discourses and communities.
This seems to me is a fundamental
difference to classical forums and discussion
groups where individuals are only represented
as part of the system and not the system as
part of the identity of the individual.
It is also this “turning around” the role of
the technology/medium which makes – in my
opinion – weblogs a completely different
approach in regard to didactical and
educational scenarios (Wrede, 2005).
Prosseguindo com as comparações, os Wikis permitem que qualquer um
possa editar qualquer texto, representando assim um interessante amálgama
de muitas vozes. Esse amálgama de vozes também acontece nos Vignettes,
com a diferença que o sistema faz com que as vozes individuais sirvam às
necessidades da entidade (empresa, corporação mantenedora).
Winer (2003) argumenta que em ambos (wiki e vignette) as postagens
são submetidas à aprovação e/ou edição dos mantenedores, surgindo, no final,
um resumo dos pensamentos que o mantenedor ou empresa acredita e aceita
sobre o assunto que colaborador está postando. Nos blogs, contudo, ninguém
pode editar o que foi escrito a não ser o próprio autor, o que reforça a
individualidade na autoria das idéias.
Segundo O’Donnell (2005), o blog é uma publicação pessoal não no
sentido de sua expressão ou seu tom emocional ou idiossincrático, mas
também no sentido de que é operado no cleo de uma rede pessoal ou em
um set de relacionamentos pessoais. Nesse sentido, Hourihan (2002)
comenta:
Whether you’re a warblogger who works by
day as a professional journalist or you’re a
teenager high school student worried about your
final exams, you do the same thing: you use your
blog to link to your friends and rivals and
comment on what they’re doing. Blog posts are
short, informal, sometimes controversial, and
sometimes deeply personal, no matter what topic
they approach.
Wrede (2003) elucida que outro ponto relevante a ser abordado sobre a
comunicação no blog é a combinação de dois princípios: a conversação
21
consigo mesmo (monólogo) e a conversação com o outro (diálogo), afirmando
que:
Weblogs combine two oppositional principles:
monologue and dialogue. A reaction to a statement
is not only directed to the sender but also to
unknown readers. Very often the weblogger gets
feedback from unexpected sources: new relations
and contexts emerge. This (assumed) undirected
communication develops to an open and involving
activity.
Weblogs not only enable interaction with other
webloggers, they offer a way to engage in a
discursive exchange with the author's self
(intrapersonal conversation). A weblog becomes
an active partner in communication, because it
demands consistent criteria for what will be posted
to a weblog (and how). This “indirect monologic
dialog” of weblogs allows us to conduct
communicative acts that otherwise would only be
possible in very particular circumstances. (Wrede,
2003)
Efimova e Moor (2005) chegam a uma caracterização similar em sua
análise sobre conversas no weblog, quando destacam:
Unlike other tools that support conversations,
weblogs provide their authors with a personal
space simultaneously with a community space. As
a result, at any given time a blogger is involved in
two types of conversations: (1) conversations with
self and (2) conversations with others.
In the simplest case, a weblog post is fully and
only embedded into "a conversation with self", a
personal narrative used to articulate and to
organize one’s own thinking. A single blogger
could have several of such conversations
simultaneously, returning to ideas over time. Next,
each of the posts can trigger a conversation with
others that can take several rounds of discussions
as well.
Na minha opinião, o que de início parece simples, quando postamos
nossas idéias ou sentimentos num blog, pode vir a se tornar uma ampla teia,
permitindo uma comunicação muito maior do que a pressuposta a princípio. É
só imaginarmos que aos links por nós propostos em nossos blogs unam-se aos
links e blogs dos visitantes em seus comentários e teremos uma idéia da
amplitude de uma simples postagem e a crescente rede de comunicação e
relacionamentos que se abre a partir dela.
22
Diante do exposto, percebo o blog como uma interface interessante para
os meus propósitos de desenvolvimento da escrita em língua inglesa, visto que
o ato de postar não exige nenhum conhecimento prévio de linguagem de
informática específica e a comunicação por meio dele é feita de forma
assíncrona, o que potencialmente, permite uma reflexão durante o processo da
escrita. A interface permite um monólogo do autor, na medida em que expressa
seus pensamentos e pode revisitá-los e refletir a respeito deles; bem como
permite um diálogo, num contexto autêntico, com inúmeras pessoas, levando o
autor a perceber sentido no ato de escrever e, durante todo esse processo,
promovendo interação.
Sendo meu objetivo a utilização do blog como instrumento no
desenvolvimento da produção escrita em língua inglesa dos meus alunos,
passo a discorrer, a seguir, sobre sua utilização na área da educação.
1.2.1 O Blog na Educação
A educação não deixou de acompanhar a evolução no uso da interface
blog e hoje, encontramos o que convencionou se chamar de edublogs: os blogs
utilizados com finalidades pedagógicas. Abordando essa modalidade de blogs,
Lara (2005) explicita:
Edublogs
Así como hay warblogs, klogs, blongs y tantas
otras palabras para distinguir los weblogs según
el uso propuesto para el que están publicados,
nos encontramos con el término edublog, que
nace de la unión de education y blog. En este
sentido, podríamos entender los edublogs como
aquellos weblogs cuyo principal objetivo es
apoyar um proceso de enseñanza-aprendizaje
en un contexto educativo. Tanto la educación
23
como los weblogs comparten una característica
fundamental: ambos conceptos pueden definir
como procesos de construcción de
conocimiento.
Lara (2005) afirma que as primeiras redes de professores, utilizando
weblogs, surgiram na blogosfera anglo-saxônica, com o portal britânico
Schollblogs.com (que funciona desde 2001) e o grupo Education Blogger
Network, com sede nos Estados Unidos. Todavia, um dos maiores apoios à
introdução dos blogs no contexto acadêmico foi liderado pela Universidade de
Harvard, pela o de Dave Winer, em 2003. Um ano depois, a iniciativa do
concurso internacional Edublog Award 2004, serviu para destacar os edublogs
mais interessantes. O aspecto educativo dos blogs despertou também o
interesse dos pesquisadores, como demonstra o crescente número de artigos
em revistas acadêmicas e congressos que debatem o tema.
De acordo com Lara (2005), em uma visão global, podemos dizer que a
utilização dos blogs está muito difundida no ensino superior, mas pouco no
ensino médio e menos ainda no ensino fundamental, a não ser pelos esforços
de alguns professores que estão utilizando os blogs para a comunicação com
seus alunos.
Muitas são as sugestões de aplicação do blog em sala de aula
apresentadas em livros, artigos acadêmicos e edublogs. Robles (2005) sugere,
por exemplo, o uso do blog do professor para um contato maior com pais e
alunos; e trocas de experiências com seus pares e atividades e comentários
pertinentes a atividades desenvolvidas em sala, visando a uma interação maior
com os alunos. Propõe o uso do blog do aluno com várias opções: postagens
sobre textos pré-definidos pelos professores ou escolhidos pelos alunos; blog
dedicado a textos literários nos quais cada aluno desenvolva uma personagem;
ou mesmo um blog aberto a alunos de outras instituições educativas para
discussão de temas diversos.
Barlett-Bragg (2003) sugere:
o uso de group blogs para discussão de temas diversos;
blogs individuais ou grupais na publicação de textos, ou seja, a postagem
das produções escritas dos alunos, promovendo assim uma audiência e um
feedback real;
24
blog dedicado a notas de campo e diários nos quais os alunos possam
registrar suas experiências durante uma atividade prática e/ou suas
reflexões críticas a respeito de uma atividade ou assunto;
blog como diário de pesquisa, ou seja, um misto de diário, publicação e
discussão acadêmica e links pertinentes a um determinado assunto.
O leque de sugestões para os edublogs é amplo. Também podemos
contemplar a existência de uma preocupação na adequação das sugestões ou
planos de aula à realidade das instituições educacionais; aos objetivos
específicos, e uma preocupação com as competências e habilidades
6
a serem
desenvolvidas pelas atividades propostas.
Entre as competências e habilidades a serem desenvolvidas através de
atividades utilizando os blogs, Lara (2005) relaciona: organização do discurso;
fomento do debate; construção da identidade; criação de comunidades de
aprendizagens; compromisso com a audiência; documentação; análise prévia
de outros blogs; responsabilidade na rede; conhecimento do blog como parte
de um ecossistema digital.
Ferdig e Trammell (2004) apresentam outras mais, afirmando que o uso
do blog ajuda os alunos a se tornarem especialistas em certos assuntos, ou
seja, com a regularidade do uso do blog o aluno cria um processo no qual o
blog constrói uma base de conhecimento em determinados picos; incentiva o
interesse e propriedade do aluno na aprendizagem; garante ao aluno uma
legítima oportunidade de participação e promove oportunidades de diversas
perspectivas, dentro e fora da sala de aula.
Os blogs em minha opinião, podem ser utilizados na prática pedagógica;
no entanto, tudo depende da disponibilidade de uso da tecnologia pelo
professor, o preparo desse profissional para a utilização do computador e da
interface, e do objetivo que esse educador espera alcançar em suas aulas.
Creio que o blog realmente crie possibilidades para o desenvolvimento
das competências e habilidades dispostas pelos autores anteriormente citados,
bem como a competência comunicativa contemplada nos PCN (PCN, 2000:26),
cuja proposta para o ensino de língua estrangeira ao Ensino Médio é além de
6
Por não ser o propósito deste trabalho, não discutirei as várias conotações dadas a esses termos.
25
capacitar o aluno a compreender e a produzir enunciados corretos, propiciar a
ele a possibilidade de acesso a informações de vários tipos ao mesmo tempo
em que contribua para sua formação geral como cidadão.
Com as amplas e inúmeras possibilidades de utilização que a interface
oferece, tudo dependeda visão e da atitude do professor quanto ao uso do
blog como auxiliar nesse processo ensino-aprendizagem. Neste sentido
Gregory e Kuzmich (2005) propõem que:
By publishing, learning, and sharing ideas,
students deepen their thinking and receive
direct feedback from peers, experts, and other
teachers. Relevant and current feedback is a
powerful learning tool. Both synchronous (live,
or real time) and asynchronous (not is real
time) methods of using blogs have merit,
depending on the issue and intent of the
learning (p.155).
O’Donnel (2005) acrescenta que blogar requer que os alunos e os
professores explorem um diferente conjunto de estratégias pedagógicas,
citando o seguinte:
Threaded discussion boards for example, are
essentially an asynchronous version of
synchronous face-to-face tutorial groups and
call for a similar set of parameters such as
discussion prompts and norms that encourage
vigorous yet civil interaction.
Muitas dessas estratégias, segundo o referido autor, não são
desconhecidas, mas precisam ser trazidas à tona juntas, de novas e diferentes
formas, para a obtenção de um resultado educativo satisfatório.
Essa linha de pensamento é partilhada por Lara (2005) que argumenta
que quando a introdução de uma nova tecnologia reproduz modelos de ensino
dominantes e simplesmente se utiliza para “fazer o mesmo de sempre, mas
com novos suportes”, adquire um imerecido alo de modernidade que não
contribui, de maneira nenhuma, com sua função didática. Acrescenta, também,
que os blogs, assim como qualquer nova tecnologia, não garante uma maior
eficácia educativa por sua mera utilização; o resultado dependerá do enfoque,
26
dos objetivos e da metodologia com que serão integrados em cada programa
educativo.
Com o enfoque na produção escrita em língua inglesa, as atividades
constantes desta pesquisa foram elaboradas com base nos objetivos de, além
de investigar o fenômeno foco, promover, como sugerem os PCN (PCN,2000),
uma possibilidade de acesso a novas informações e uma interação social,
promovendo uma reflexão sobre a escrita e as possibilidades que o blog pode
oferecer para a construção de conhecimentos. Ferdig e Trammell (2004)
atestam que o blog comporta tais possibilidades quando afirmam que:
Drawing on Vygotsky’s educational theory
(1978), educators highlight the “knowledge
construction” processes of the learner and suggest
that meaning making” develops through the social
process of language use over time.
(…)Blogs are useful teaching and learning
tools because they provide a space for students to
reflect and publish their thoughts and
understandings. And because blogs can be
commented on, they provide opportunities for
feedback and potential scaffolding of new ideas.
Blogs also feature hyperlinks, which help students
begin to understand the relational and contextual
bases of knowledge, knowledge construction and
meaning making.
Vygotsky (1930/1984) construiu sua teoria tendo por base o
desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico,
enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento,
sendo essa teoria considerada histórico-social. Sua questão central é a
aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio, com o outro
e consigo mesmo. Para ele, o sujeito não é apenas ativo, mas interativo. É na
troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando
conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a formação de
conhecimentos e da própria consciência. Trata-se de um processo que
caminha do plano social - relações interpessoais - para o plano individual
interno - relações intra-pessoais.
Direcionando a argumentação para o meu contexto de pesquisa,
identifico a utilização do blog em meu trabalho sob o enfoque da teoria cio-
27
histórica de Vygotsky, por entender que na produção escrita em ngua inglesa
através do blog, a linguagem permeou a interação, mediando sujeito e sujeito,
sujeito e o objeto, e sujeito e o meio, na negociação, re-interpretação de
informações, conceitos e significações que promoveram a aquisição de
conhecimentos. A linguagem proporcionou uma interação entre os alunos,
entre cada aluno consigo mesmo, entre os alunos e a máquina e entre os
alunos e o meio, neste caso o meio digital proporcionado pela Internet, numa
constante negociação de conceitos e significações que lhes permitiu o resgate
e o aperfeiçoamento de um conhecimento adquirido da língua inglesa e a
aquisição de um novo conhecimento, o do universo dos blogs.
Sendo a linguagem escrita o veículo da interação em referência discorro
nas seções seguintes sobre esse assunto, focando a escrita em língua
estrangeira e sua relação com o blog.
1.3 A Escrita
A escrita é uma invenção recente, historicamente falando, afirmam
Grabe e Kaplan (1996:5-6). Os autores analisam que, comparada à fala que
está ligada a toda a história da humanidade, a escrita foi documentada
menos de 6000 anos, e acrescentam que, embora a lingüística aceite que
certos aspectos da linguagem falada podem ser biologicamente determinados,
o mesmo não pode ser dito sobre a escrita.
Os autores ressaltam que, enquanto, normalmente, todo povo
desenvolvido aprende a falar em língua materna, talvez metade da população
não saiba ler ou escrever. Na opinião dos autores, isso chama a atenção para
28
um significante contraste no desenvolvimento das habilidades da escrita e da
fala, como ilustrado abaixo:
Writing abilities are not naturally acquired;
they must be culturally (rather than biologically)
transmitted in every generation, whether in schools
or in other assisting environments. While there are
many distinctions between the two media in terms
of lexical and structural use, the acquired/learned
distinction deserves particular attention. The
logical conclusion to draw from this distinction is
that writing is a technology, a set of skills which
must be practiced and learned through experience.
Defining writing in this way helps to explain why
writing of the more complex sorts causes great
problems for students; the skills required do not
come naturally, but rather are gained through
conscious effort and much practice. It is also very
likely, for this reason, that numbers of students
may never develop the more sophisticated
composing skills which transform information into
new texts (Grabe e Kaplan, 1996:6).
Vygotsky (1939/1970:99-107) também contempla a diferença entre a
linguagem oral e escrita, assegurando que a escrita é uma forma de
comunicação sem um interlocutor imediato, ou seja, direcionada a uma pessoa
ausente ou imaginária ou a ninguém em particular, para a qual o escritor
necessita criar a situação para representá-la, como expressa o excerto a
seguir:
In written speech, as tone of voice and
knowledge of subject are excluded, we are obliged
to use many more words, and to use them more
exactly. Written speech is the most elaborate form
of speech. (…) In written speech, lacking
situational and expressive supports,
communication must be achieved only through
words and their combinations; this requires the
speech activity to take complicated forms hence
the use of first drafts. The evolution from de draft
to the final copy reflects our mental process.
Planning has as important part in written speech,
even when we do not actually write out a draft.
Usually we say to ourselves what we are going to
write; this is also a draft, though in though only.
(…) this mental draft is inner speech (Vygotsky,
1939/1970:144).
29
Tanto a visão de Vygostky (1939/1970) a respeito da escrita como uma
das formas mais elaboradas da linguagem que reflete nosso processo mental,
quanto à de Grabe e Kaplan (1996) de que a escrita é uma tecnologia que
necessita ser trabalhada e exercitada, nos faz perceber a complexidade
existente no ato da escrita, fato que é merecedor de um olhar mais cuidadoso.
Direciono a seguir o olhar mais detalhado para processo do ato da
escrita e o produto dela advindo, buscando melhor compreender essa
tecnologia tão complexa.
1.3.1 O Processo e o Produto
De acordo com Zamel (1987:267), até a década de 80, os professores e
as pesquisas referentes à escrita e à prática de sala de aula, estavam, em sua
grande maioria, concentrados no produto: o ensaio, a história, a pesquisa e em
como esse produto deveria ser; ou seja, o estilo, o uso da gramática, o uso do
vocabulário e considerações mecânicas quanto à grafia e pontuação.
Era a abordagem de produto. Ainda hoje, encontramos professores que
seguem essa abordagem, se preocupando em verificar somente se o produto é
legível, gramaticalmente correto e se obedece às convenções de uma norma
padrão.
Segundo Zamel (1987:267), professores e pesquisadores notaram, que
olhar somente para o produto confeccionado pelo aluno não considerava o ato
de escrita em si e passaram, portanto, a investigar o processo de composição.
A escrita passa a ser vista, também, como um processo de significação que,
para ocorrer, precisa reconhecer a importância da geração, formulação e
refinamento das idéias. Essa visão implica comprometimento por parte do
aluno; revisão e interferência do professor ao longo do processo e
conscientização da existência de um leitor.
30
Com atenção mais direcionada ao processo de escrita, passou-se a
auxiliar o aluno no entendimento de seu próprio processo de composição, na
construção de repertórios de estratégias para pré-escrita, revisão, e reescrita; a
permitir ao aluno um tempo para escrever e reescrever; voltar a atenção central
ao processo de revisão, deixando o aluno descobrir qual sua intenção ao
escrever; proporcionar um feedback ao aluno, um comentário, durante o
processo de escrita e não somente no produto final, para trazê-lo cada vez
mais próximo da sua intenção inicial; incluir conversas individuais entre aluno e
professor durante o processo de composição, o que envolve muito mais do que
simplesmente investigar o que o aluno escreve, como afirma Zamel (1987)
quando menciona que:
Rather than investigating what students write,
teachers and researchers are beginning to study
the composing process itself. They are now
working under the assumption that before we know
how to teach writing, we must first understand how
we write… it involves much more than studying a
particular grammar, analyzing and imitating
rhetorical models, or outlining what it is one plans
to say. The process involves not only the act of
writing itself, but prewriting and rewriting, all of
which are interdependent (p.268).
Zamel (1987:268,269,276) defende que a escrita deve ser o registro de
uma idéia em desenvolvimento ao invés do desenvolvimento de uma idéia pré-
concebida, pois quando o autor está escrevendo um texto e ele se aproxima
do significado desejado, isso acarreta um sentimento de realização. Dessa
forma, a autora defende a percepção da escrita como um processo de auto-
negociação e descoberta de significados. Sob a perspectiva da autora, os
alunos aprendem que a escrita é um processo, através do qual podem explorar
e descobrir seus pensamentos e idéias e, assim, produzir um texto de melhor
qualidade, relembrando que os alunos escrevem mais e com maior fluência e
satisfação quando envolvidos pessoalmente nos textos que produzem.
Outra particularidade da abordagem do processo é observada por Brown
(2001). Para o autor, essa abordagem é uma tentativa de aproveitar ao
máximo a natureza do digo escrito para dar a chance ao aluno de pensar
enquanto escreve, pois diferente da conversação, a escrita pode ser planejada
31
e revisada um mero ilimitado de vezes antes de ser divulgado. A escrita,
para o autor, é de fato um processo reflexivo.
Cox (1994, 169-170) também apresenta a escrita como um processo,
ressaltando, porém, os vários propósitos que a linguagem escrita possui, tanto
para os indivíduos como para a sociedade. Para o autor, a escrita é
essencialmente blica, com a intenção de alcançar uma determinada
audiência, tendo como função registrar e manter informações, esclarecendo e
sustentando o pensamento, portanto, transmitindo cultura. Diferentemente da
fala, a escrita permite uma maior reflexão sobre o pensamento, o sendo
assim apenas uma adaptação do oral para o escrito.
Relacionando a teoria apresentada ao contexto da pesquisa, poderia
observar que, embora o blog permita o planejamento e a revisão ilimitada do
texto a ser postado, ele pode ser, de acordo com a vontade do seu autor, uma
adaptação do oral para o escrito, visto que a grande maioria dos usuários
utiliza o blog como um diário ou um ambiente para troca de opiniões, relatando
em seus posts seus sentimentos e opiniões sem se preocupar com a norma
padrão da escrita.
Continuando essa associação esclareço que, sob o meu ponto de vista,
o produto de qualquer produção escrita será cada vez mais significativo quanto
mais reflexivo tiver sido o processo do ato de escrever. O produto apresentará
uma melhor qualidade se durante o processo da redação, o autor perceber a
escrita como um meio de explorar suas idéias, tiver clareza de que audiência
pretende alcançar e fizer uso da característica do código escrito que permite o
planejamento e a revisão do produto.
Voltada não somente para o produto advindo da produção escrita de
meus alunos no papel e no blog, mas principalmente, para o processo de
escrita, é que desenvolvi minha pesquisa, identificando as representações de
meus alunos sobre esse processo as interfaces papel e blog. Sendo a escrita
em questão produzida em língua estrangeira, discorro na subseção seguinte
sobre esse aspecto e suas particularidades.
32
1.3.2 A Escrita em Língua Estrangeira
A princípio, de acordo com Friedlanger (1996:109), os trabalhos
relacionados à escrita em segunda língua baseavam-se nos estudos feitos
sobre a escrita em língua materna pois, como ressalta o autor, independente
da língua, os escritores transferem as habilidades e estratégias de escrita
(sejam elas boas ou deficitárias), de sua primeira língua, para escrever e
formular hipóteses sobre a escrita na segunda língua.
Esse quadro sofreu alterações com o passar do tempo e a
conscientização da complexidade do ato de escrever trouxe com ela e
correntes diversas de pensamento a respeito do processo, da aprendizagem e
do desenvolvimento da escrita em língua estrangeira.
Para Raimes (1983) e White e Arndt (1991), a escrita em língua
estrangeira (LE) permite o desenvolvimento da capacidade cognitiva do aluno;
ou seja, do seu raciocínio, como resultado de um constante esforço para se
fazer compreendido na comunicação com o leitor. Também segundo esses
autores, a proficiência lingüística não é o essencial nessa tentativa, visto que
mesmo nativos de uma determinada língua podem apresentar dificuldades
nesse tipo de expressão.
Raimes (1983:261) afirma que as estruturas utilizadas na expressão oral
e na escrita em língua estrangeira são diferentes, mas no caso específico da
escrita, ocorre que o aluno, ao escrever, está livre das pressões da
comunicação face a face, podendo, portanto, aventurar-se, arriscar-se no novo
sistema lingüístico, em sua procura por sentido. Porém, a escrita também exige
objetividade e clareza pois, de outra forma, corremos o risco de não ser bem
compreendidos e mal interpretados. Esse painel faz com que o aluno
desenvolva o seu raciocínio e acelere o seu processo de aprendizagem do
novo sistema lingüístico, pela necessidade de comunicação com o leitor.
33
A metodologia utilizada pelo professor quando da utilização da escrita é
de grande relevância. Bastos (1998:199) dispõe que a escrita em LE é
facilmente identificada como um grande auxílio pedagógico para o reforço das
estruturas e do vocabulário estudado; porém, muitos professores, impacientes
devido à natural demora dos alunos no entendimento de novas estruturas,
podem vir a usar a escrita apenas como um exercício e teste de retenção de
vocabulário. Aliás, qualquer habilidade (listening, reading, speaking) pode ser
utilizada desta forma. Nesse caso todo o potencial que cada habilidade pode
encerrar em termos cognitivos, comunicativos e afetivos para o
desenvolvimento do aluno, se perde. Neste sentido Ur (1996) acrescenta:
Writing is widely used within foreign language
courses as a convenient means for engaging
with aspects of language other than the writing
itself. For example: learners note down new
vocabulary; copy out grammar rules; write out
answers to reading or listening comprehension
questions; do written tests. In these examples,
writing is simply used either as a means of
getting the students to attend to and practice a
particular language point, or even more
frequently as a convenient method of testing it:
providing information as to how well something
has been learned in a form which the teacher
can then check at his or her leisure (p.162).
Grabe e Kaplan (1996: 3,4) argumentam que a escrita, dependendo do
contexto, da tarefa e da audiência, pode ser classificada de inúmeras formas,
incluindo a escrita para identificar (escrever o nome); para comunicar e/ou
lembrar (uma lista de compras); para satisfazer uma exigência (um trabalho
escolar); promover introspecção (um diário), entre outros.
Os autores acrescentam a distinção entre a escrita que envolve a
composição e a que não envolve, comparando a escrita de uma lista de
compras com a escrita de uma carta, por exemplo. Afirmam que a composição
envolve uma combinação dos elementos estruturais da sentença de forma
coerente e coesiva e uma preocupação com o discurso que é mais do que
simplesmente a soma de significados de sentenças individuais constantes em
uma lista (p.4).
Grabe e Kaplan (1996:5) destacam, ainda, que a escrita que envolve a
composição, pode compreender duas subdivisões: a escrita que simplesmente
34
relata ou descreve (for knowledge telling), e a escrita na qual o ato de escrever
constitui uma heurística através da qual um problema é solucionado tanto para
o autor como para a audiência (for knowledge tranforming). Os autores
exemplificam esses argumentos com o seguinte quadro:
AUDIENCE
WRITING WITHOUT
COMPOSING
WRITING WITH COMPOSING
For knowledge telling For knowledge
transforming
Self Shopping list Personal diary “journal” notes
One known other Note to milkman Personal letter
One unknown other Business letter
Small group known Lesson plan sermon
Small group unknown Questionnaire Newsletter item Proposal
Large group Tax form
Driver’s licence
application form
Poem, drama, novel,
short story
Quadro 2 – Escrita com e sem composição (Grabe e Kaplan, 1996:4)
O reconhecimento do contexto, da forma, da necessidade e da estrutura
da escrita, em outras palavras, do porquê e para quê escrever e da estrutura a
ser utilizada na escrita a ser desenvolvida, se constituem, na minha opinião, em
aspectos importantíssimos na escolha das atividades de produção escrita em
língua inglesa a serem propostas aos nossos alunos.
A possibilidade de escrever e organizar seu texto tendo o seu próprio
tempo, de acordo com Bastos (1998:201), pode permitir que o aluno trabalhe
com as informações contidas em seu texto e pode ampliar seu desejo de obter
sucesso na sua comunicação, já que no caso da escrita, esse sucesso significa
conseguir ser compreendido claramente pelo leitor, comunicando-se
efetivamente com ele.
Segundo Stern (1991), o aluno, principalmente no início de seus
estudos de uma segunda língua, se encontra limitado para se expressar. É
preciso que o aluno seja perseverante para ultrapassar esse sentimento de
incapacidade. A prática da escrita, pela liberdade que ela pode proporcionar
ao aprendiz, pode se tornar um bom instrumento para que ele tente se superar,
se preciso, consultando dicionários, gramáticas, fazendo perguntas a colegas
mais proficientes ou ao professor, organizando seu texto a seu próprio tempo,
não só nos estágios iniciais, mas durante todo o processo de aprendizagem.
35
Creio que quando nos expressamos através da escrita em língua
materna buscamos um meio de auto-expressão, para nos comunicarmos com o
leitor. Então, através do feedback, dos comentários quanto ao conteúdo da
produção escrita, da percepção de quanto fomos compreendidos ou o, nos
aprimoramos em estratégias para alcançar a desejada comunicação,
buscamos termos apropriados, expressões e estruturas aceitáveis. Entendo
que o mesmo caminho deveria ser seguido na utilização da escrita em uma
língua estrangeira.
Segundo Bartholomae e Petrosky (1986:143); Grabe e Kaplan (1996:31-
33) e Ur (1996:162) a busca pelo aprimoramento é cada vez maior se a
comunicação nos apresenta prazerosa e inserida num contexto onde estejam
claros um objetivo e um leitor.
Convergindo essas argumentações para o meu contexto de
investigação, esclareço que, na proposta de atividade integrante desta
pesquisa, direcionei o foco para o processo da escrita, buscando:
permitir aos alunos a oportunidade de escrever a seu tempo, revisitar
sua escrita, refletir sobre ela e até mesmo reescrever caso achassem
necessário;
promover um sentido real para a escrita que exigisse a preocupação
com a comunicação, a necessidade de se fazer entender;
proporcionar a oportunidade ao aluno de ultrapassar seus limites,
desenvolver a atividade de maneira que todo o ato de escrita
acontecesse de uma forma prazerosa.
Em face de parte dessas atividades ocorrerem através da interface blog,
discorro na seção seguinte sobre a interface em questão e o objeto principal
desta investigação, a escrita.
36
1.3.3 O Blog e a Escrita
No blog, desenvolvemos a escrita nos preocupando, primordialmente,
com a comunicação e com a expressão de pensamentos e sentimentos. Para
alguns teóricos (Ferdig e Trammel, 2004; O’Donell, 2005; Blood, 2000;
Lara,2005), contudo, é possível afirmar que há, também, desenvolvimento da
escrita e produção de conhecimento durante esse processo de produção.
Primeiramente, é pertinente destacar que, a escrita digital apresenta, por
vezes, diferentes itens lexicais, tendo em vista toda uma linguagem própria que
se vem formando com o passar dos anos, principalmente na Internet (Crystal,
2001:134-137). Exemplifico, a seguir, com um recorte
7
de comunicação via
MSN
8
:
[11:47:51] - : mais ou meno
[11:48:22] - : aie eh q mi main tava aki
[11:48:38] - : mais tava boa em tds sentidos
[11:49:17] [c=15][c=6][ : pokodaskspaokspdoak
[11:49:26] [c=15][c=6][ : ta namorando?
[11:49:30] - : uhashushau
[11:49:31] - : naum naum
[11:49:34] - : e nem keru
[11:49:38] - : q loukura
[11:49:43] [c=15][c=6][ : kspoak
[11:49:44] [c=15][c=6][ : pq?
[11:49:48] - : ..mudando di assunto e tu?]
[11:50:01] - : naum so xegada odeio gnt grudada em eu
[11:50:45] [c=15][c=6][ : eu tmb naum.. olha o nick x DD tmb naum gosto...
na verdade odeio gente q fica grudada... ¬¬
No blog, o uso desses diferentes itens lexicais, pode ocorrer ou não. O
autor pode publicar textos diversos: de textos que permitem a utilização de uma
linguagem informal, a textos acadêmicos, nos quais a forma de comunicação
usada no meio digital pode não ser apropriada. Há, também, o fato da interface
7
A citação do diálogo foi autorizada, sob a condição da preservação do anonimato dos participantes.
8
MSN Messanger (Microsoft Service Network Messanger) Rede particular aberta de serviços de
mensagens instantâneas, disponibilizada pela Microsoft Corporation.
37
blog promover uma escrita de forma assíncrona (que o exige rapidez na
escrita), eximindo o autor da necessidade de abreviar termos e palavras para
escrever mais rapidamente, como ocorre na comunicação através de
mensagens instantâneas.
Outro ponto a ser destacado sobre a escrita no blog, é o fato de o
blogueiro, dependendo da formalidade exigida pelo conteúdo a ser publicado,
não se preocupar com a correção da escrita ou com a genialidade de sua
criação e, sim com a comunicação. Nesse sentido Parry (2006) comenta,
Writing in the age of the digital is no longer a
matter of being the absolute genius creator who
gives birth to an idea and writes it all down for
the world to see (as if it ever was); managing
context on the web for writers has become a
significantly different task. To write “well” in this
space students need to learn not only how to cite
and link, but indeed to package their writings in a
different way.
Seja pela liberdade de expressão, pela facilidade na publicação, pelo
cuidado com a audiência que a internet imprime ou pela interação promovida,
segundo alguns teóricos (Ferdig e Trammel, 2004; O’Donell, 2005; Blood,
2000; Lara,2005), interagir no blog promove um desenvolvimento da escrita e,
também, a produção de produção do conhecimento durante a reflexão
envolvida no ato da escrita.
Segundo Robles (2005), iniciativas como fazer o aluno escrever uma
redação ou um jornal escolar são boas, mas para o autor a escrita no blog, tem
um efeito motivador grande, que faz com que o aluno se esforce ao ximo,
uma vez que estará exposto a crítica de todos (companheiros, familiares,
professores e desconhecidos), e não, a de seu professor. Esse efeito pode
ser observado quando Farmer (2004) transcreve as palavras de Seb, um de
seus participantes de sua pesquisa:
It will provide a qualitative difference for
the same reasons as it provides me with a
qualitative difference in my “informal” learning (I
could go off on one now about how successful
learning is informal, ad hoc, learner driven...but I
won’t) by giving me a personal voice and
38
allowing me to personally connect with so many
other voices. But I can do this because this is
what I want to do. I want to communicate,
express myself, listen and be listened to
and…luckilyI’m in a work culture where that’s
cool (not that I was before!). If I was working
somewhere where this was taboo or if I was
studying in a “traditionally” taught course then
there wouldn’t be much point.
Farmer (2004), na transcrição das palavras de seu participante,
demonstra a importância da metodologia utilizada, pois, segundo o autor, o uso
de uma nova tecnologia não tem efeito numa estrutura tradicional de ensino
que não permita o amplo aproveitamento das possibilidades dessa nova
tecnologia, como destacado a seguir:
In a traditional formal learning context if
someone/a group completes a piece of work they
do so, most of the time, knowing that they are
completing that work for the “judgment” of their
teacher. Put simply, they are creating that work for
assessment… that’s the purpose, that’s the driver,
the motivation and the most important thing about
it, really. Now… for the key problem with that
(besides it nor being “learning driven” is that aside
from the positive assertion (which has always been
pretty rare…for me;o) that the teacher can provide
there’s nothing really going on inside me…and in
terms of the between, hell, if I respect them I want
to do good work for them but that’s about it.
You see, I would like for my work to have a
“purpose” of sort, I would like for my “expression”
to have an audience, I would like to be contributing
to something larger, for my efforts to have a
purpose.(…)
Now, in this traditional educational context
(teacher & assessment driven) it ‘aint going to
happen. Weblogs or no weblogs. But in a
setting where expression, collaboration, peer
support, successful class dynamics, risk taking,
sharing and all these recognized characteristics of
effective learning are fostered, then personal
publishing allows for a revolutionary form of
expression and exploration between learners in the
same class and the rest of the world (Farmer,
2004)
O’Donnell (2005) também destaca a relevância da prática da escrita no
blog, quando comenta que:
39
One of the aims of using blogs in
educational settings must actually be about the
process itself. In the same way that one of the
aims of encouraging good essay writing is to assist
students to develop expressive skills that they can
then apply in a range of different ways in
professional or personal contexts, one of the aims
of blogging ought to be to encourage cyber-literacy
and an understanding of the ecology of the link in a
networked society.
(…)If taken seriously blogging practice can
help us develop a range of new ways to address
our literacy as learners and educators and it can
help initiate students into an understanding of
learning as an ongoing, dynamic conversation with
self and others (O’Donell, 2005).
Para Warschauer (2004:6) a natureza da escrita continuará mudando
nas próximas décadas. Na opinião do autor, no futuro, os computadores não
serão utilizados nas aulas de língua inglesa para ensinar o mesmo tipo de
escrita de uma nova forma, mas para ensinar novos tipos de escritas que estão
emergindo da era online que, para ele, está somente começando. O autor
esclarece que, como a comunicação online continua se expandindo, esse fato
exigirá mudanças não somente em como ensinamos a escrita, mas também
em nossa concepção de o que significa escrever.
Sendo um dos objetivos desta pesquisa, identificar e interpretar a forma
como os alunos percebem a escrita no papel e no blog, discorro na seção
seguinte sobre os repertórios interpretativos e as representações - itens
fundamentais neste trabalho.
1.4 Os Repertórios Interpretativos e As Representações
As representações dos alunos sobre a produção escrita nas interfaces
papel e blog, e as minhas interpretações, como professora/pesquisadora, serão
parte integrante e essencial deste trabalho.
40
Visto que o conceito de representação traz à tona vários enfoques e
discussões teóricas que visam esclarecê-lo, necessário se faz colocar que,
nesse trabalho estarei contrastando as visões de Moscovic (1961) e Freire e
Lessa (2003).
Reformulando o conceito de representações coletivas de Durkhein
(1898), surge, a partir do trabalho de Moscovic (1961), o conceito de
representações sociais.
Segundo Moscovic (1961:66) as representações sociais são “um
universo de opiniões próprias de uma cultura, uma classe social ou um grupo,
relativas aos objetos do ambiente social”. O autor afirma que as
representações são sociais, porque são humanas, pois todas as interações
humanas, surjam elas entre duas pessoas ou entre dois grupos, pressupõem
representações, é isso que as caracteriza (Moscovic, 2003:40).
O papel das representações sociais, para Moscovic (2003:20), é dar
significados ao processo pelo qual o sentido de objetos e/ou pessoas são
construídos pelo e para o homem. Em outras palavras, é fazer com o que seja
não familiar se torne familiar. Ao familiarizar o não-familiar, o homem consegue
dar mais significado ao mundo, pois esse se torna compreensível.
A representação social, de acordo com Moscovic (1984:44), toma como
ponto de partida, a diversidade de indivíduos, de atitudes e fenômenos, em
toda a sua estranheza e imprevisibilidade. Seu objetivo é descobrir como os
indivíduos e grupos constroem um mundo estável e previsível sob tal
diversidade; é mostrar as significações atribuídas a algo por alguém; é mostrar
a visão sobre algo em um determinado contexto, envolvendo julgamentos,
rotinas, valores e regras; é envolver os outros em um processo dinâmico e
social; é influenciar e ser influenciado.
Dois processos sicos o propostos por Moscovic (2003:61) na
caracterização da formação de uma representação social: a ancoragem e a
objetivação. O objetivo maior da representação, é a ancoragem, ou seja, a
classificação do que ainda não foi classificado, de forma que o que era novo
passa a ser integrante do sistema que relaciona o indivíduo ao mundo. A
objetivação é a concretização do ato de pensamento, isto é, a materialização
de uma abstração ou um conceito, a cristalização de uma representação.
41
Esses dois processos reforçam o papel da representação social: o de agir
sobre o mundo e sobre os outros.
O autor realça a importância da comunicação entre pessoas na
construção de representações sociais compartilhadas por um grupo. Afirma
ainda que as representações sociais fornecem significados para os objetos,
idéias e conceitos promovendo, assim, inteligibilidade às ações, permitindo que
as pessoas possam circular e construir outras representações. Isso tem uma
conseqüência para a reconstrução da realidade, pois cada realidade é única e
contextualizada. Para Moscovic (2003:90), atribuir significados é, portanto, um
processo dinâmico e criativo, por meio do qual estamos, re-fazendo, re-criando
representações sociais.
O conceito de representações sociais vem sendo discutido “há cerda de
30 anos” (Jovchelovitch 2002:63), sendo que uma das questões em discussão
refere-se à conotação dada ao termo social.
Essa conotação, para Potter e Wetherell (1987), apresenta três sentidos
específicos, relacionados à origem, instrumento e crivo sociais.
Abordando tal aspecto e apontando Medrado (1998), Freire e Lessa
(2003) argumentam que:
... as representações têm origem social, porque
resultam de interações sociais e dos processos
comunicativos nelas contidos; são instrumentos sociais,
pois permitem que os indivíduos compartilhem de um
conjunto de códigos que geram entendimento mútuo e
garantem a continuidade do processo interativo; e
atuam como crivo social, porque permitem a distinção
entre grupos sociais, com base nos códigos por eles
compartilhados (p.172).
Potter e Wetherell (1987), Medrado (1988) e Freire e Lessa (2003)
criticam o conceito de representações sociais pois, a conotação dada ao termo
social por Moscovic, pode indicar uma reciprocidade entre representações
sociais e grupo social, ou seja, a idéia de que determinadas representações
sociais definem e são definidas por um grupo específico.
Visto que, um indivíduo não pertence, essencialmente, a um único grupo
e que, portanto compartilha representações com vários grupos sociais em que
42
se insere, Freire e Lessa (2003:173) destacam a proposta de Potter e Wetherell
(1987:149) de repertórios interpretativos, entendidos como:
...um léxico ou registro de termos e metáforas(...)
sistemas de uso recorrente utilizados para caracterizar e
avaliar ações, eventos e outros fenômenos. Um
repertório (...) é constituído através de uma quantidade
limitada de termos usados em construções estilísticas e
gramaticais particulares.
Para Potter e Wetherell (1987:156) seria mais coerente pensar que a
conotação atribuída a repertórios, estaria dissociada da de grupo e da de
social, visto que, os repertórios estariam à disposição do indivíduo, para serem
utilizados em qualquer grupo ou grupos sociais nos quais ele se insira. Esse
indivíduo redimensiona diferentes e variados repertórios, para suprir as
necessidades, impostas pela multiplicidade de situações com as quais se
depara no decorrer de sua vida.
Ifa (2006:50), afirma que os repertórios interpretativos compreendem os
componentes lingüísticos que utilizamos para expressar significados que
atribuímos às ações, às experiências vividas, aos eventos e aos outros
fenômenos que estão a nossa volta. Acrescenta que vale ressaltar que os
repertórios e as representações não representam a realidade, mas sim, como
ela é visualizada por pessoas que a vivenciam, de uma determinada
perspectiva.
Freire e Lessa, (2003:174), após destacarem o referencial teórico de
Potter e Wetherell (1987) e Medrado (1998), consideram o enfoque conceitual
de representações como:
(...) maneiras socialmente construídas de
perceber, configurar, negociar, significar,
compartilhar e/ou redimensionar fenômenos,
mediadas pela linguagem e veiculadas por
escolhas lexicais e/ou simbólicas expressivas
que dão margem ao reconhecimento de um
repertório que identifica o indivíduo e sua
relação sócio-histórica com o meio, com o outro
e consigo mesmo (Freire e Lessa,
2003:174).(grifo das autoras)
43
Sob tal enfoque conceitual, entendo que as representações dos meus
alunos sejam um universo de opiniões, elas o são próprias do grupo e nem
relativas aos objetos do ambiente social, visto que, o blog não faz parte do
ambiente social desses alunos. Portanto, o posso dizer que a representação
dos meus alunos sobre a mudança da interface papel para a interface blog os
definiriam como grupo, pois a utilização dessa segunda interface o faz parte
do cotidiano do grupo e, sim, chega ao conhecimento deles através do contato
com outros grupos.
Todavia, durante a pesquisa, eles foram mediados pela linguagem,
percebendo, negociando, significando, compartilhando o fenômeno da
produção escrita em língua inglesa nas duas interfaces (papel e blog),
passando a construir um repertório que, a partir dessa vivência, os identificará
em sua relação consigo mesmo, com o meio e com o outro.
Adotarei neste trabalho o posicionamento de Freire e Lessa (2003:174),
por assumir que quando da utilização do conceito de representações estarei
me referindo à maneiras socialmente construídas pelas quais os participantes
percebem e significam o fenômeno da produção escrita em ngua inglesa nas
interfaces papel e blog. Essas maneiras socialmente construídas, mediadas
pela linguagem, e reveladas por escolhas lexicais, estilísticas e gramaticais
própria dos participantes, revelam aspectos de seus repertórios interpretativos
que serão utilizados para melhor compreender a utilização do blog na produção
escrita em língua inglesa.
Refletindo sobre os objetivo traçados para este trabalho, concluo que é
fundamental caracterizar os repertórios e através deles identificar as
representações dos alunos , compreendendo como eles descrevem e
interpretam a produção escrita em língua inglesa nas duas interfaces
propostas.
Os textos produzidos pelos alunos que permitirão a investigação dos
repertórios e, por conseguinte, das representações serão coletados em
períodos voltados à reflexão. O processo utilizado na busca por uma prática
reflexiva e por compreender a natureza do fenômeno foco desta investigação é
o que passo a descrever no capítulo seguinte.
44
CAPÍTULO 2
: A CAMINHADA
A CAMINHADA
Tendo por base os objetivos descritos anteriormente, venho neste
capítulo expor os fundamentos metodológicos que nortearam minha
investigação; contemplar o tipo de pesquisa realizada e as atividades que a
integraram; descrever os instrumentos e procedimentos da coleta de textos,
bem como os procedimentos interpretativos utilizados para o seu
entendimento, em função dos questionamentos que nortearam o estudo
realizado.
2.1 A Opção pela Abordagem Hermenêutico-Fenomenológica
Buscando uma metodologia que me permitisse observar e interpretar o
fenômeno da produção escrita em língua inglesa nas interfaces papel e blog,
encontrei suporte na abordagem hermenêutico-fenomenológica, fundamentada
associação de duas filosofias: a fenomenologia e a hermenêutica.
Segundo van Manen (1990:9), a fenomenologia tem como objetivo
entender com profundidade a natureza, o sentido das nossas experiências de
vida, mas difere de outras ciências no que diz respeito a classificar ou abstrair
as formas como experienciamos o mundo. Ela tem como objetivo descrever as
experiências vividas, buscando sua essência, aquilo que nos permite identifica-
las como tal.
45
Então, segundo o autor, a fenomenologia não nos oferece a
possibilidade de uma efetiva teoria com a qual possamos explicar e/ou
controlar o mundo; mas, antes disso, ela nos oferece a possibilidade de
insights plausíveis que nos permitem um contato mais direto com o mundo (van
Manen, 1990:9)
Abordando a filosofia hermenêutica, Gadamer (2000:23) a define como a
arte de compreender, derivada de nosso modo de estar no mundo. Para o
autor, compreender não é estar de acordo com o quê ou quem se compreende,
significa pensar e ponderar o que o outro pensa. O procedimento
hermenêutico, para Gadamer (1983:75), pode contribuir para ampliar de
maneira especial nossa experiência humana, nosso auto-conhecimento e
nosso horizonte do mundo.
A interpretação de uma experiência de vida, que possibilita o “nosso
horizonte do mundo” (Gadamer 2000:23), também possibilita o auto-
conhecimento, por ser formada por interpretações únicas, pois apesar de
várias pessoas podem passar pela mesma experiência, o significado que cada
uma vai atribuir a essa experiência é único.
A associação dessas duas vertentes (hermenêutica e fenomenologia),
foi primeiramente proposta por Heidegger, que na tentativa de ultrapassar as
concepções de ser da filosofia ocidental, buscou por uma hermenêutica que
fizesse uma investigação sistemática da questão do ser. Partindo da
historicidade e temporalidade do ser, reconhecendo que a facticidade era mais
importante do que a consciência, criou um método chamado hermenêutica
fenomenológica (Herman, 2002:32). Essa proposta se dispunha a lidar com a
interpretação como fenômeno, ou seja, a meta era a interpretação (Freire,
2007).
Ricouer (1986/2002:53-54), por sua vez, propõe essa função, atribuindo-
lhe o nome, pragmático e exploratório, de fenomenologia hermenêutica,
designando-a como uma “investigação orientada em um sentido positivo”,
estabelecendo que, de um lado, a fenomenologia continua sendo o
pressuposto insuperável da hermenêutica e, por outro, que a fenomenologia
não pode executar seu programa de constituição sem se constituir em
interpretação da vida do ser, como ressalta:
46
...má que uma simples oposición, la que se da entre
fenomenologia y hermenéutica es uma interdependencia
que es importante explicitar. Esta dependência puede
percebirse tanto a partir de uma como de otra. Por uma
parte, la hermenêutica se construye sobre la base de la
fenomenologia y así conserva aquello de lo cual no
obstante se aleja: la fenomenologia sigue el presupuesto
insuperable de la hermenéutica. Por otra parte, la
fenomenologia no pude constituirse sin un presupuesto
hermenéutico.(Ricouer, 1986:2002:40)
Freire (2007), interpreta que Ricouer ao perceber uma fenomenologia
hermenêutica, enfatiza fenômenos que poderão ser interpretados. Dessa
forma, parece revelar um sentido um pouco diferente da proposta de
Heidegger.
Na proposta de van Manen (1990), a visão não é unicamente o olhar
para a hermenêutica como o fenômeno (Heidegger), nem buscar um sentido
para um fenômeno por meio da interpretação (Riccoer), mas sim a união das
duas em igual medida. Por esse motivo, ao adotar a proposta de van Manen,
(Freire,2007) deliberadamente a apresenta como termo único, hifenizado:
hermenêutico-fenomenológica.
A abordagem hermenêutico-fenomenológica busca então, a um
tempo, descrever experiências vividas e trazer à luz os significados de uma
experiência ou de um fenômeno, revelado, dessa forma, em sua natureza, em
sua essência (van Manen, 1990:25-27).
Salienta van Manen (1990:25), que toda descrição é, em última análise,
uma interpretação, propondo assim a junção de duas linhas de investigação: a
da Fenomenologia, que visa à descrição das qualidades estruturais de um
fenômeno, à Hermenêutica, que visa à interpretação através de textos, pois
estes materializam as experiências e permitem revisitar os fenômenos vividos,
buscando um aprofundamento dos significados. Resumindo tal junção, van
Manen (1990) afirma:
Hermeneutic phenomenology tries to be attentive to both
terms of its methodology: it is a descriptive
(phenomenologiacal) methodology because it wants to be
attentive to how things appear, it wants to let things speak for
47
themselves, it is an interpretative (hermeneutic) methodology
because it claims that there are no such things as
uninterpreted phenomena. The implied contradiction may be
resolved if one acknowledges that the (phenomenological)
“facts” of lived experience are always already meaningfully
(hermeneutically) experienced. Moreover, even the “facts” of
lived experience need to be captured in language (the
human science text) and this is inevitable an interpretive
process (p.180-181).
A abordagem hermenêutico-fenomenológica, de acordo com o autor, se
interessa pela experiência humana como a encontramos, em suas mais
variadas formas. Ela encontra o seu ponto de partida numa situação da
vivência humana, que para efeito de descrição e interpretação, funciona como
um exemplar único e principal dos significados dos quais essa situação está
embebida (van Manen, 1990:30-31).
Segundo van Manen (1990:9), a orientação hermenêutico-
fenomenológica enfatiza a reflexão e a interpretação dos fenômenos vividos,
pois através da conscientização de uma experiência vivida e de seus
significados é que nos relacionamos com o mundo. Essa reflexão sobre essa
experiência se transforma em nova experiência, geradora de novos
significados.
Para poder descrever e interpretar um fenômeno da experiência
humana, tanto Ricoeur (1986/2002) como van Manen (1990) destacam a
importância de sua textualização. Contudo, os autores apresentam diferenças
quanto à referência dessa textualização. Ricoeur (1986/2002) define a
textualização como forma de capturar e registrar as experiências para
possíveis releituras e reinterpretações, preocupado com a garantia da fixação
do momento vivido. O autor comenta que o que é verbalizado acontece e
desaparece; é fugaz. Por isso, textualizar uma experiência serve para registrar,
no papel, acontecimentos vividos e que são marcados para futuras visitas e
interpretações.
Por sua vez, van Manen (1990), destaca a textualização como registro
da manifestação do fenômeno investigado e, como relato da pesquisa,
propriamente dito. Essa textualização é vista sob a perspectiva do pesquisador
que registra descrições do fenômeno da experiência humana, para poder,
posteriormente, revisitá-lo e interpretá-lo. Neste caso o foco está, tanto no
48
intérprete como no próprio processo de escrita. Para o autor (van Manen,
1990:124-30) a escrita:
- faz a mediação entre a reflexão e a ação: a escrita fixa os pensamentos
no papel. O papel externaliza o que é interno; nos distancia do
envolvimento imediato com as coisas do nosso mundo. Quando
olhamos o papel e para o que escrevemos, nossos pensamentos nos
olham de volta.
- nos distancia da experiência de vida, mas, a mesmo tempo, nos permite
descobrir a existência das estruturas da experiência. A escrita cria uma
distância entre nós mesmos e o mundo onde as subjetividades das
experiências diárias se tornam o objeto de nossas consciências.
Sendo assim, a escrita nos permite a reflexão e o distanciamento
necessários para deixarmos de lado nossos pensamentos e olharmos
novamente para o texto com mais objetividade, como sugere Ong apud van
Manen (1990:129),
Writing involves a textual reflection in the
sense of separating and confronting ourselves with
what we know, distancing ourselves from the
lifeworld, decontextualizing our thoughtful
preoccupations from immediate action, abstracting
and objectifying our lived understandings from our
concrete involvements (Ong ,1982).
Retomando a pesquisa que realizei, enfatizo que estarei lidando com
três tipos de textos: o texto produzido pelos participantes e que materializa a
experiência de redigirem em LE, os relatos e notas que descrevem essa
experiência, e o texto que relata a pesquisa, ou seja, o texto da dissertação.
Partindo, então, de uma situação comum do dia-a-dia escolar dos meus
alunos (produção escrita em língua inglesa, no papel) para uma nova
experiência (a escrita no Blog); participei da experiência, observando e
interpretando os significados envolvidos nestas situações, transformando-as
em novas experiências através da reflexão.
Sem tentar classificar o que aconteceu durante a manifestação do
fenômeno estudado e sem presumir um controle ou uma explicação dele,
49
apenas deixando-o falar por si próprio; interpretei sua ocorrência e sua
significância para os participantes, registrando, por meio da linguagem, o que
foi observado.
A dúvida poderia ser se essa interpretação auto-consciente do estar no
mundo estaria baseada em pré-conceitos subjetivos do intérprete. Gadamer
(1997) comenta esse preconceito de forma positiva, afirmando queo os pré-
conceitos que, de fato, mostram o que precisa ser compreendido e, se for o
caso, mudado e, destaca a importância do distanciamento temporal do objeto
sob interpretação para distinguirmos os verdadeiros pré-conceitos, dos falsos
pré-conceitos que produzem os mal-entendidos.
Outro ponto a ser discutido é a subjetividade, pois uma interpretação é,
em sua essência, subjetiva.
Contreras (2000:24) considera a subjetividade como paradigma
alternativo para um entendimento mais profundo do contexto educacional, que
valoriza as experiências do aprendiz-docente, do professor e do formador, no
seu contexto profissional e de pesquisa. Peshkin (2000:17) salienta que a
subjetividade permeia o processo de investigação e que o pesquisador, uma
vez consciente de suas orientações subjetivas, pode desenvolver qualidades
que lhe permitem filtrar, moldar, bloquear, transformar e interpretar
significados.
van Manen (1990:20) afirma que nas ciências humanas, objetividade e
subjetividade não são categorias mutuamente exclusivas, ambas encontram
seus significados e significâncias na relação que o pesquisador estabelece
com o seu objeto de pesquisa. Para o autor, a objetividade significa que o
pesquisador é orientado ao objeto que se apresenta a sua frente, ou seja, que
objetividade significa que o pesquisador se mantém “verdadeiro” ao objeto de
estudo; a subjetividade significa que o pesquisador precisa ser o
perceptível e profundo quanto possa para mostrar ou desvendar o objeto em
sua mais completa riqueza e profunda grandeza (van Manen, 1990:20).
Segundo van Manen (1990:57-58), para a orientação hermenêutico-
fenomenológica, a descrição e interpretação de um fenômeno possuem um
caráter subjetivo, muitas vezes, intersubjetivo, na medida em que minhas
experiências podem ser as de outros e vice-versa.
50
Interpretar, diz Heidegger (1995:204), “não é tomar conhecimento do
que se compreendeu, mas elaborar as possibilidades na compreensão.
Dilthey (1994) afirma que o basta levar em conta o contexto cio-
histórico e o contexto social para chegar ao entendimento. Entender envolve
reviver e recriar as experiências vividas. Nesse ir e vir, do texto para o mundo,
é que o intérprete pode chegar ao entendimento. Esse processo circular evita
que o texto tenha um único entendimento e um objetivo científico.
Heidegger (1994) apud Ifa (2006:55) amplia a noção de círculo sugerida
por Dilthey (1994) para a de um círculo hermenêutico ontológico, afirmando
que para entender algo, é preciso ter um conhecimento ontológico prévio.
Heidegger (1995) afirma que a estrutura da pré-compreensão deriva da
temporalidade e traz consigo a questão do círculo hermenêutico, presente em
toda a interpretação. O autor mostra também o equívoco que existe em
acreditar que o círculo seria sempre vicioso, comentando que:
O decisivo não é sair do círculo mas entrar de
modo adequado. Esse círculo da compreensão não é
um cerco em que se pudesse movimentar qualquer
tipo de conhecimento. Ele exprime a estrutura-prévia
existencial, a própria do ser-ai. O círculo não deve ser
rebaixado a um defeito perverso, mesmo que apenas
tolerado. Nele se esconde a possibilidade positiva do
conhecimento mais originário que decerto só pode ser
apreendida de modo autêntico se a interpretação tiver
compreendido que sua primeira, única e última tarefa
é não se deixar guiar, na posição prévia, visão prévia
e concepção prévia, por conceitos ingênuos e “chute”
(Heidegger, 1995:210)
Ricoeur (1986/2002:186) acredita que a interpretação se dá em um
círculo que vai do achar, do supor, do compreender, característico das ciências
humanas, até o validar, o explicar, que é característico das ciências naturais e
vice-versa. Esse é o círculo hermenêutico, que tem duas vias: uma parte da
subjetividade para buscar a objetividade; e a outra parte da objetividade para
buscar a subjetividade.
van Manen (1990) utilizando o conceito de círculo hermenêutico, mas
objetivando convalidar as interpretações da abordagem de pesquisa
51
hermenêutico-fenomenológica, faz uso do termo ciclo de validação da
investigação. Nas palavras do autor,
...a good phenomenological description is collected by
lived experience and recollects lived experience is
validated by lived experience and it validates lived
experience. This is sometimes termed the “validating circle
of inquiry” (p.27)
Freire (2007) interpreta que o ciclo de validação se operacionaliza pelo
constante retorno aos textos, interpretando-os, buscando recorrências e
fazendo reformulações para, dessa forma, embasar a subjetividade inerente à
abordagem; legitimar as interpretações, e, assim, obter um entendimento maior
sobre o fenômeno e sua essência, identificada pelos temas que o estruturam.
van Manen (1990:90-93) utiliza o termo tema como, palavra ou
expressão que nos permitem identificar a estrutura essencial do fenômeno. O
autor sugere que se parta da identificação de unidades de significado para se
chegar ao(s) tema(s), processo que descrevo mais detalhadamente ao tratar
dos procedimentos interpretativos desta pesquisa. van Manen (1990) observa:
The point is that no conceptual formulation or
single statement can possibly capture the full mystery
of this experience, So a phenomenological theme is
much less a singular statement (concept or category
such as decision”, “vow” or commitment”) than a fuller
description of the structure of a lived experience. As
such, a so-called thematic phrase does not do justice
to the fullness of the life of a phenomenon. A thematic
phrase only serves to point at, to allude to, or to hint
at, and aspect of the phenomenon (p.92)
Buscando um paralelo entre os conceitos teóricos apresentados e o
contexto desta pesquisa, registro que como pesquisadora, participei junto aos
alunos dessa nova experiência, da produção escrita via blog, pois embora
conhecesse a interface, foi junto com eles, durante essa mesma experiência de
vida, que construí meu primeiro blog e refleti junto com eles sobre essa
experiência. Estive assim no mundo” e “junto ao objeto a ser conhecido”, com
52
a subjetividade presente em todo o percurso deste estudo, especialmente
através da leitura dos textos reflexivos.
Consciente da subjetividade neste estudo, mas sem me deixar levar por
meus pré-conceitos, identifiquei, examinei, questionei, revi, interpretei e
explicitei minhas orientações quanto às representações dos alunos, e as
minhas próprias, sobre a utilização do blog na produção escrita em língua
inglesa, examinando e reexaminando constantemente os textos coletados
durante a minha investigação.
Sem a pretensão de solucionar nenhum problema, pois um pesquisador
que utiliza a abordagem hermenêutico-fenomenológica trata um tópico o
como um problema a ser resolvido, mas como uma questão de significado a
ser investigada a fundo, procurei olhar para o fenômeno em busca de sua
essência. Para tal, com base na estrutura metodológica de pesquisa sugerida
por, van Mannen (1990:30-31) que compreende as seguintes atividades:
voltar-se para um fenômeno que seja de nosso interesse;
investigar uma experiência como a vivemos (não como a
conceituamos);
refletir sobre os problemas essenciais que caracterizam o fenômeno;
descrever o fenômeno através da arte da escrita e da re-escrita;
manter uma forte relação pedagógica com o fenômeno e equilibrar o
contexto da pesquisa;
considerando o todo, bem como as partes .
busquei descrever e interpretar o fenômeno através dos relatos que
textualizavam as ações, expressões individuais e seus significados; e entendê-
lo, vivenciando, recriando e interpretando as experiências vividas.
Prossigo, descrevendo o contexto e os participantes da pesquisa, o
desenho da pesquisa e procedimentos de análise para um melhor
entendimento do objeto de estudo por mim investigado.
53
2.2 O Contexto e os Participantes da Pesquisa
Esta pesquisa foi efetuada em uma escola pública, na zona urbana de
uma cidade do interior do Estado de São Paulo, onde leciono como professora
efetiva de língua inglesa desde 2000. Foi realizada durante um período de um
semestre, ao longo do qual foram propostas atividades de produção escrita no
papel e no blog.
A unidade escolar situa-se na região central da cidade e é a única a
atender alunos do Ensino Médio no município: uma dia de 1.500 alunos,
distribuídos em 10 classes por período, em três períodos diários.
A SAI (Sala Ambiente de Informática) da unidade escolar, onde foi
realizado o primeiro contato e produção escrita utilizando a interface blog,
conta com dez micro-computadores, ligados em rede e com acesso a Internet
banda larga.
Esta pesquisa contou, com a participação de vinte e oito alunos de uma
2ª série do Ensino Médio, do período vespertino, e a professora/pesquisadora.
O grupo de alunos foi formado por adolescentes de faixa etária entre
quinze e dezenove anos (média de dezesseis anos 57,1%), composto por
onze meninos (39,3%) e dezessete meninas (60,7%).
Decidi concentrar minha investigação nesse grupo, por serem meus
alunos, o que envolve uma familiaridade que me permitiria uma maior
proximidade, facilitando o contato, principalmente nos momentos de reflexão, e
facilitando também a interpretação dos textos produzidos, visto que já tive
contato com trabalhos de produção escrita, em língua inglesa, dos referidos
alunos em outros contextos.
Os participantes não freqüentam nenhum curso de ngua inglesa e, em
termos de competência lingüística, no que se refere à escrita, são capazes de
completar formulários e escrever textos curtos e cartas relacionadas a
informações pessoais.
Dentre os vinte e oito alunos, somente um possui computador em casa e
treze alunos (46,4%) acessam a internet, a maioria deles com o intuito de
54
pesquisa (39,3%). A quase totalidade desse acesso é feita no programa Escola
da Família, que abre a escola blica para a comunidade durante o fim de
semana com atividades diversificadas.
Outro ponto importante observado foi a questão do contato dos alunos
com a língua inglesa. Constatei que esse contato se faz na escola, mais
precisamente com a professora dessa disciplina, sendo que somente quatro
dos alunos (36,4%) a utilizam com amigos e, dentre eles, somente um a utiliza
em chats.
As respostas ao questionário inicial me permitiram assim, concluir que, o
contato desses alunos, tanto com o computador quanto com a língua inglesa,
ocorre, em sua grande parte, na escola.
Embora a ênfase da minha pesquisa fosse a escrita em língua inglesa,
busquei também investigar e interpretar a opinião dos alunos quanto à escrita
em língua portuguesa com a intenção de perceber, por meio dessas
informações, qual seria a opinião dos alunos sobre a escrita de uma forma
geral.
As informações obtidas pelo questionário inicial me levaram a concluir
que dentre os vinte e oito alunos participantes, a maioria (vinte e um alunos),
gosta da atividade de produção escrita em ngua materna. Dentre esses vinte
e um alunos, pude destacar que treze deles (oito meninas e cinco meninos),
preferem produzir poesias e textos narrativos.
Apesar de contar com vinte e oito participantes, somente obtive a
autorização formal de dez alunos, que, por esse motivo, serão aqui citados. Os
demais, contudo, também foram considerados para que eu pudesse ter a
dimensão do fenômeno vivido pelo grupo. Ressalto que dos dez alunos aqui
citados, apenas um completou as seis atividades propostas.
O quadro seguinte apresenta os alunos (participantes focais e demais
alunos do grupo) e as atividades por eles efetuadas, permitindo uma
visualização do desenvolvimento da investigação. Os nomes dos participantes
são fictícios, garantindo, assim, o anonimato dos participantes e a
confidencialidade dos registros, conforme solicitação constante dos
consentimentos formais fornecidos pelos participantes:
55
ATIVIDADES
NOME DOS ALUNOS
1 2 3 4 5 6
Total de
atividades
efetuadas
Rayol x x x x x x 6
Avril x x x x - x 5
Diane x x x - x x 5
Virgínia x x x x x - 5
Crystine x x x x x - 5
Renato x - x x - x 4
Wood x - x - x x 4
Rogério x x - x - - 3
Maria x - - x x - 3
Juliana x - - - - - 1
Aluno 1 x x x x x x 6
Aluno 2 x x x x x x 6
Aluno 3 x x x x x x 6
Aluno 4 x x x x x - 5
Aluno 5 x x x x x - 5
Aluno 6 x x x x x - 5
Aluno 7 x x x x - - 4
Aluno 8 x x x x - - 4
Aluno 9 x - x x x - 4
Aluno 10 x x x x - - 4
Aluno 11 x x x - - - 3
Aluno 12 x - x x - - 3
Aluno 13 x x x - - - 3
Aluno 14 x x - x - - 3
Aluno 15 x x - x - - 3
Aluno 16 x - - x - - 2
Aluno 17 x x - - - - 2
Aluno 18 x - - - - - 2
Quadro 3 - Atividades efetuadas pelos participantes
56
Meu estudo envolveu, portanto, os dez alunos que autorizaram
formalmente a utilização de suas contribuições em minha pesquisa, sem deixar
de observar o contexto mais amplo, a sala de aula, pois seguindo a proposta
da abordagem metodológica hermenêutico-fenomenológica (van Manen ,1990),
é necessário olhar o todo, e como cada uma das partes contribui para o todo,
visualizando o fenômeno em sua totalidade e em suas partes constitutivas.
No sentido de caracterizar a professora/pesquisadora, esclareço que
minha experiência com na área da educação teve início em 1988, ainda
durante o curso de graduação em Letras, período no qual lecionava em cursos
de línguas. A atividade docente era exercida simultaneamente à atividade de
bancária, função que desempenhei por dez anos.
Iniciei minhas atividades na Escola Pública em 1999, me efetivando em
2000, como professora de Língua Inglesa, na unidade escolar foco desta
pesquisa, na qual ainda leciono. Leciono também, Língua Inglesa e Literatura
Portuguesa/Brasileira no Ensino Fundamental e Médio em uma Escola
Particular, no mesmo município e, Língua Inglesa, Literatura Inglesa e Norte-
Americana, e Prática de Ensino da Língua Inglesa, em uma Instituição de
Ensino Superior localizada no município vizinho.
Finalizando, assim, a exposição do contexto e dos participantes desta
investigação, passo a descrever, na seção seguinte, o desenho da pesquisa,
suas etapas e o desenvolvimento das atividades que a constituíram.
2.3 Os Momentos da Pesquisa
As reflexões sobre as experiências vivenciadas por todos nós
(pesquisadora e alunos) durante a pesquisa foram textualizadas para que,
através desses textos, a experiência vivida pudesse ser materializada, visitada
e revisitada durante o processo de interpretação. A esses textos de reflexão
escrita, uniram-se os textos em língua inglesa produzidos pelos alunos nas
57
interfaces papel e blog e minhas notas reflexivas. Nesse conjunto de textos é
que busquei centralizar minha interpretação.
Promovi atividades de escrita em língua inglesa na interface papel e na
interface blog, intercaladas a períodos de reflexão sobre a ação, embasadas na
abordagem tri-dimensional de ensino proposta por Freire (1998)
9
, na qual a
experiência prática de escrever em língua inglesa no computador, seguida de
reflexão dos participantes sobre o seu significado nas duas interfaces em foco,
resultou em uma nova experiência prática de produção de texto.
As atividades se dividiram em três etapas:
a produção escrita no papel;
a exposição dos participantes ao blog
e a criação e a produção escrita no blog.
Cada uma dessas etapas foi intercalada com períodos de reflexão sobre
as atividades e sobre a mudança de interface.
A pesquisa contou com um total de seis atividades escritas, que foram
propostas aos alunos na seguinte seqüência:
1. Questionário inicial
2. Texto descritivo e de reflexão escrita, em língua inglesa, sobre uma
imagem indicada
3. Texto de reflexão escrita, em língua materna, sobre a escrita em
língua inglesa na interface papel e o contraste entre essa atividade e
a escrita em língua materna
4. Texto de reflexão escrita, em língua materna, sobre a análise de
alguns blogs indicados
5. Texto, em língua inglesa, postados nos blogs criados pelos alunos
6. Texto de reflexão escrita, em língua materna, sobre a produção
escrita nos blogs.
9
A relação proposta por Freire (1998:370-372) entre experiências vividas, reflexão e prática, resulta em
uma abordagem tridimensional de ensino-aprendizagem na qual as experiências vividas são
compreendidas como conhecimentos adquiridos através da negociação de significados; a reflexão, como o
resgate de experiências passadas e a continua busca por significado, e a prática como preparação e
performance.
58
Dentro das possibilidades, as atividades foram propostas e efetuadas
semanalmente, ocorrendo por vezes algumas interrupções em virtude de
atividades diversas previstas no calendário escolar.
Para facilitar o entendimento da seqüência das produções, denominarei
as aulas nas quais as atividades foram aplicadas de momentos, deixando claro
que, como mencionado, esses momentos não ocorreram em aulas
consecutivas em virtude do calendário escolar.
2.3.1 Dando o Primeiro Passo – O Primeiro Momento
No primeiro momento, para delinear um perfil dos participantes, apliquei
um questionário inicial (Anexo 1), que me permitiu obter informações mais
específicas dos alunos, envolvendo a relação deles com a escrita, seu contato
com a língua inglesa, suas impressões e expectativas sobre o ensino dessa
língua estrangeira e sobre suas habilidades como escritor.
A intencionalidade do uso desse instrumento foi a de que ele permitisse
a coleta de informações que além de proporcionar um perfil do aluno
permitisse, paulatinamente, coletar informações sobre a visão do aluno sobre
sua própria prática escrita e suas justificativas para tal visão.
Para isso foram propostas, em sua maioria, questões abertas e em
alguns momentos dependentes das anteriores, com a expectativa de que as
respostas trouxessem um panorama do contato do aluno com a ngua inglesa
e com a tecnologia (computador e internet), bem como fizesse com que o aluno
se auto-avaliasse quanto ao seu desempenho no uso da língua inglesa,
opinando sobre o desenvolvimento das aulas de inglês.
O questionário foi aplicado, em sala de aula regular, com a instrução de
que o aluno deveria responder individualmente, procurando refletir sobre as
solicitações das questões e responder justificando suas respostas e evitando
59
respostas evasivas. A atividade transcorreu naturalmente, dentro do período de
uma aula, com poucos questionamentos por parte dos alunos.
2.3.2 Interpretando a Imagem – O Segundo Momento
Ainda em sala de aula regular, num segundo momento, iniciamos a
atividade de produção escrita na interface papel, usando um input imagético,
sobre o qual solicitei que escrevessem, em inglês. A instrução da atividade
propunha o registro das idéias que essa imagem lhes trazia, quais sentimentos
ela despertava; enfim solicitei que escrevessem tudo o que a imagem lhes
despertasse interiormente e, não simplesmente que a descrevessem.
A imagem escolhida e capturada em agosto de 2006 no endereço
www.nervocorvo.hpg.ig.com.br:corajoso.jpg, foi a foto, apresentada a seguir,
intitulada pelo site Nervocorvo, hospedado pela empresa IG, como “gatinho
corajoso”.
Figura 1- Gatinho Corajoso
60
A escolha foi feita pensando em trazer uma imagem de algo de
conhecimento comum dos alunos e que pudesse promover algum interesse em
comentá-la e em escrever sobre os sentimentos e pensamentos por ela
despertados.
Segundo Ur (1996:169) se as atividades escritas abrangerem temas de
conhecimento ou interesse dos alunos, provavelmente promoverão uma
aquisição maior e mais eficaz de qualquer item, gramatical ou literário, que se
queira ensinar.
Seguindo essa linha de pensamento, utilizei esse input imagético, por se
tratar de uma imagem real (não abstrata) com elementos conhecidos (gato e
cachorros), em uma situação inusitada, com a intenção de facilitar a
observação e a expressão das idéias dos alunos, em língua estrangeira.
O desenvolvimento da atividade aconteceu de forma bem comum para
uma sala de aula de uma escola blica na qual os alunos estavam sentados
individualmente, em carteiras dispostas em fileiras.
A proposta foi por mim apresentada e todos os esclarecimentos
necessários foram feitos. Os textos foram produzidos individualmente, em sua
grande maioria em língua materna para posterior tradução em língua inglesa.
Durante a redação dos textos, cada aluno utilizou um exemplar de
dicionário inglês/português–português/inglês, fornecidos por mim, visto que a
unidade escolar o possui nenhum exemplar. Essa individualidade na
consulta aos dicionários, agilizou o processo de produção, pois cada aluno
desenvolveu seu texto em seu próprio tempo.
Os alunos mostraram se muito dependentes do dicionário e solicitaram o
meu auxílio com freqüência, principalmente com incertezas a respeito de qual
das palavras apresentadas pelo dicionário, definiria com clareza suas idéias.
Os comentários, mais comuns, dos alunos podem ser exemplificados pelos
excertos seguintes,
“Mas professora, tem um monte aqui, como é que eu vou
saber qual é a certa?” (Crystine)
“Fessora, qual dessas é a certa? Tem um monte de palavra
pra cada coisa. Por isso que inglês é difícil” (Rayol)
61
Apenas dois alunos expuseram suas opiniões de forma mais
exacerbada: Renato que não se conformava em ter de escrever em inglês, pois
isso não fazia nenhum sentindo para ele; e uma aluna
10
que, a princípio, se
recusou a escrever e ficou olhando o dicionário e tentando chamar a atenção
das colegas. Quando percebeu que somente ela não estava efetuando a
atividade, procurou se interar com as colegas sobre o que deveria ser feito e a
questionar sobre o que elas estavam escrevendo. Essa aluna deu algumas
opiniões sobre os textos das colegas, mas não produziu seu próprio texto.
A atividade não foi concluída numa aula, tendo de ser retomada na
aula seguinte, para que alguns alunos pudessem concluir seus textos.
Durante a produção escrita, percebi que a imagem utilizada como input
imagético os fez refletir e que as conclusões advindas dessa reflexão eram
muito interessantes. Eles não interpretaram a imagem apenas como um gato e
muitos cachorros, mas associaram a situação, apresentada na gravura, com
exemplos de amizade, respeito, paz mundial, desafios, um mundo de injustiças,
coragem e sensação de segurança, como demonstram, respectivamente, os
excertos a seguir:
It remember friend, respect, society and peace what should to have in the world. (Wood)
This represented the challenges of the life… (Avril)
That image to me remind the word what we live where estão cometendo muita injustiça
com os mais necessitado. (Rogério)
Memory mine father. Someone courageous, big control…(Crystine)
I to find what this image transmit at sensible of security (Juliana)
As produções, como de costume, apresentaram muitos erros gramaticais
e em alguns casos, por desconhecerem a palavra para expressar determinada
idéia ou pensamento os alunos intercalaram o texto em língua inglesa com
palavras em língua portuguesa. Ilustro, a seguir, com recortes das produções
escritas.
10
Esta aluna não se comprometeu formalmente com a participação na pesquisa e, portanto,
não pode ser citada nominalmente, contudo considerando o fenômeno em foco, a sua atuação
ainda que não identificada faz parte da manifestação desse fenômeno.
62
(Wood)
(Virgínia)
(Maria)
(Diane)
63
As produções escritas foram por mim comentadas, individualmente,
através de anotações de incentivo e sugestões de correção gramatical na
própria produção. De posse desses textos, dei início ao próximo momento da
investigação.
2.3.3 Revisitando o Texto – O Terceiro Momento
O terceiro momento, proporcionou aos alunos a oportunidade de rever
os textos por eles produzidos, comentados pela professora, e discutir sua
produção, esclarecer suas dúvidas, com os colegas e com a professora.
A atividade propunha a redação de um texto, no qual o aluno discorresse
sobre a atividade descrita na subseção anterior, ou seja, o texto produzido em
língua inglesa, a respeito da imagem fornecida. Nesse texto, o aluno deveria
expressar suas opiniões sobre a atividade, seu desempenho ao executá-la,
suas dificuldades em desenvolvê-la e as soluções por ele encontradas para
solucionar essas dificuldades. A atividade foi proposta em língua materna, para
que pudessem expressar com mais facilidade seus pensamentos, opiniões e
sentimentos.
Os alunos desenvolveram a atividade com facilidade e, em sua maioria,
incluíram no seu relato uma comparação entre suas impressões durante uma
produção escrita em língua inglesa e durante uma produção escrita em língua
materna, o que permitiu um contraste de opiniões.
Os comentários orais dos alunos, pertinentes à atividade e as minhas
impressões sobre o momento foram por mim textualizados em anotações,
durante a atividade, e notas reflexivas escritas logo após o término desse
momento.
Findo o momento descrito, encerrei a primeira etapa de minha pesquisa,
ou seja, a etapa da produção escrita na interface papel, iniciando então a
segunda etapa, que passo a descrever a seguir.
64
2.3.4 Explorando Blogs - O Quarto Momento
Sendo o propósito desta pesquisa observar e interpretar o fenômeno da
produção em língua inglesa nas interfaces papel e blog, durante a primeira
etapa da investigação os alunos foram orientados a produzir textos na interface
papel, como descrito nas subseções anteriores. Subseqüentemente os alunos
conheceram e produziram seus textos, em língua inglesa, na interface blog,
atividades que passo a descrever nesta subseção.
Iniciei a segunda etapa desta investigação com a exposição dos alunos
à interface blog, conhecida por somente um deles, para possibilitar uma
posterior produção de texto através da referida interface.
O acesso aos computadores e a Internet ocorreu na SAI (Sala Ambiente
de Informática) da Unidade Escolar em questão.
A atividade que seria efetuada de forma individual, teve seu
desenvolvimento modificado visto que, na SAI, no momento em que a atividade
foi realizada, somente quatro dos dez computadores, permitiam o acesso a
Internet. Além disso, no decorrer da pesquisa, ocorreram momentos em que
contamos com somente dois micros em funcionamento, o que impossibilitou o
desenvolvimento das atividades com a participação individual dos alunos, como
previsto. Os alunos foram então encaminhados à SAI em trios, mas todos os
alunos presentes tiveram sua participação garantida.
Neste quarto momento, os alunos, após uma breve explanação, de
minha parte, sobre o que seria um blog, foram convidados a acessar e explorar
três blogs por mim previamente selecionados. Esses blogs são publicados em
língua inglesa, promovendo um contato do aluno com a língua alvo de nossos
estudos, de forma autêntica.
Para que fosse possível delimitar os ambientes visitados pelos alunos
em seus acessos a Internet, efetuei uma busca e uma seleção de blogs que se
65
enquadrassem no propósito das atividades propostas desta pesquisa. Tendo
em mente que a atividade estaria sendo proposta a um grupo de adolescentes,
selecionei os blogs priorizando os seguintes critérios: estarem escritos em
língua inglesa, já que o objetivo seria o desenvolvimento da escrita nessa
língua; apresentarem um layout alegre e moderno, e um assunto interessante
para essa faixa etária.
Visto que minha experiência com blogs não era intensa, fui auxiliada
nessa seleção por minha filha, uma adolescente de quatorze anos, internauta e
blogueira muito ativa, no que diz àquilo que poderia ser interessante para
adolescentes: o layout do blog e assuntos atuais, na opinião dela. Esclareço
que me refiro a layout quando me reporto às cores, imagens, fontes, enfim à
disposição das informações e à apresentação da página do blog.
Selecionei vários blogs e novamente auxiliada por minha filha,
chegamos a decisão final. Os blogs escolhidos foram mjish.livejournal.com,
sushidragon.livejournal.com e immorak.livejournal.com. Eles apresentam
layouts muito chamativos (cores fortes, imagens diferentes) e assuntos como
música (principalmente rock), desenhos (principalmente mangás e animes) e
shows (de diferentes grupos musicais). Apresento a seguir suas páginas
iniciais.
Figura 2 - Blog 1 explorado pelos alunos
66
Figura 3 - Blog 2 explorado pelos alunos
Figura 4 - Blog 3 explorado pelos alunos
67
A primeira reação dos alunos ao se depararem com uma tela onde tudo
se apresentava escrito em língua inglesa foi de desagrado ou desinteresse.
Renato, a princípio reclamou muito com exclamações do tipo: “Por que a
professora trouxe a gente aqui se tudo em inglês e nóis não entendemos
nada?” “Pra que isso?”
A mesma aluna que se recusou a efetuar a atividade escrita em sala de
aula, afirmou novamente que não queria participar da atividade. Após a minha
solicitação para que então ela se afastasse do micro e cedesse seu lugar a
outro aluno, ela decidiu acompanhar as colegas nas tarefas.
Apesar dessa primeira atitude de desagrado, à medida em que foram
explorando os blogs, as expressões faciais foram se modificando, os
comentários começaram a ser mais freqüentes e audíveis. Um aluno pediu
permissão para comentar num dos blogs, deixando seu comentário em inglês,
o que chamou a atenção dos demais.
Interessante também colocar que após alguns comentários em voz alta
sobre as “coisas legais” que ele observava nos blogs, principalmente num
deles com arquivos de música, Renato tirou o mouse da mão do companheiro
de equipe, tomando assim o controle da exploração e por fim exclamou: “Ah!
Se eu soubesse inglês eu ia comentar nesse blog”. Ele não deixou nenhum
comentário, apesar de incentivado por mim e pelos colegas, mas anotou o
nome do blog e afirmou que ia voltar a procurá-lo durante o fim de semana,
quando acessaria a internet no programa Escola da Família.
Os alunos participaram com interesse e o receio do manuseio do
computador foi dando lugar ao entusiasmo e à vontade de explorar todos os
links de cada um dos blogs. Foi com dificuldade que consegui fazê-los
retirarem-se da SAI e finalizar esta etapa da pesquisa.
Neste quarto momento, também foi solicitado aos alunos que,
novamente, produzissem uma reflexão escrita relatando, em língua materna,
suas opiniões sobre cada um dos blogs explorados e registrando, como
gostariam que fosse o seu blog, caso pudessem construir um, ou seja, como
ele se apresentaria em termos de layout. Essas opiniões foram organizadas em
68
um mural que foi levado à sala de aula e comentado por todos os participantes.
Os comentários foram por mim anotados.
A receptividade apresentada proporcionou uma boa perspectiva para o
momento seguinte que passo a descrever na próxima subseção.
2.3.5 Postando em Inglês – O Quinto Momento
A etapa seguinte desta pesquisa foi, a criação de blogs pelos
participantes, entre os quais me incluo, pois também nessa oportunidade criei
meu primeiro blog.
Em virtude do número reduzido de micro-computadores com acesso a
Internet os alunos foram novamente organizados e encaminhados a SAI em
grupos. Após os esclarecimentos necessários quanto à disposição dos grupos,
propus aos alunos que cada grupo criasse um blog, cujo assunto seria de livre
escolha dos grupos, com uma única regra a ser seguida – as postagens
deveriam ser escritas em língua inglesa.
Utilizamos o serviço de publicação da web Blogger.com, disponibilizado
gratuitamente através da empresa Google Inc., através do qual os grupos
iniciaram suas atividades, sendo acompanhados por mim e pelo professor de
filosofia que se encontrava na SAI naquela ocasião. Com muita curiosidade,
interesse e por vezes manifestações de euforia, os alunos criaram seu primeiro
blog. Foram criados um total de seis ”blogs”, cujos endereços, criadores e
layouts apresento no quadro a seguir:
69
ENDEREÇO DOS BLOGS
CRIADORES
LAYOUT
thepowerfullgirls.blogspot.com
Diane e Maria
wwwtoatoa.blogspot.com
Rayol, Aluno 5 e Aluno 4
girlsatschool.blogspot.com
Virgínia, Aluna 1 e Aluna 6
70
afiliedgroup.blogspot.com
Wood e Aluno 2
thepanthercrazygirls.blogspot.com
Crystine, Aluna 9 e Aluna 3
teacher-beth.blogspot.com
professora/participante
Quadro 4- Blogs criados durante o quinto momento
Durante a construção dos blogs, a princípio as expressões foram,
novamente, de espanto e desagrado. A aluna citada anteriormente, declarou
não querer participar. Atitude que foi descartada quando percebeu o interesse
das colegas.
71
Conforme as explicações foram sendo feitas e os grupos trabalhavam na
construção de seus blogs, as feições foram se tornando entusiasmadas, os
comentários entre eles se tornaram mais eufóricos e a troca de informações
entre os grupos, mais constante.
O entusiasmo e a vontade de participar transpôs as dificuldades
lingüísticas: os alunos nem se lembraram dos dicionários disponíveis e não
fizeram uso do dicionário eletrônico, pois desconheciam totalmente sua
existência.
A interação ultrapassou os limites das duplas ou trios e, por vários
momentos, foi possível perceber o grupo como um todo: onde todos conheciam
as dificuldades e conquistas de todos e partilhavam toda e qualquer nova
descoberta, desde o apertar de um botão até um determinado comando ou link
que poderia mudar o formato do design do blog em construção.
Os questionamentos sobre vocabulário foram mínimos e todos a respeito
de palavras usadas no título do blog; nenhum questionamento sobre o texto
propriamente dito foi feito.
Os textos o foram extensos e o assunto predominante foi a
apresentação dos próprios alunos, como na postagem em
thepowerfullgirls.blogspot.com, apresentada a seguir, com a omissão dos
nomes das participantes:
7XHVGD\1RYHPEHU
KL
our names are Flavia,Thayane and Viviane.We are at school. It is boring!!!
posted by The super girls @
8:04 AM 3 comments
Relevante citar que como participante, neste momento criei meu primeiro
blog que foi, posteriormente, atualizado. A experiência foi muito interessante,
pois apesar de estar em contato diariamente com jovens e adolescentes e
também ser mãe de dois, o que me permite estar inteirada dos ambientes
virtuais utilizados por eles, foi a primeira vez que me dispus a passar por todos
as etapas da construção de um blog. Junto aos alunos, questionei sobre as
72
estruturas, mudança de cores, outras questões de design e partilhamos a
satisfação de postar.
Nesta fase da investigação, após a produção escrita nas duas interfaces
terem sido finalizadas, iniciamos uma reflexão e um contraste entre elas,
percurso que passo a descrever.
2.3.6 Contrastando Experiências – O Sexto Momento
No momento seguinte ao descrito na subseção anterior, retornamos à
SAI para visitar os blogs construídos pelos grupos, ocasião na qual os alunos
foram instruídos, caso sentissem interesse, a postar, em língua inglesa, em
qualquer um dos blogs. Nenhum dos grupos se dispôs a postar nos próprios
blogs, mas todos visitaram os blogs dos colegas com interesse e diversos
comentários. Os principais comentários foram a respeito das cores, formas,
postagens e nomes escolhidos. Durante a visita, os alunos notaram, em alguns
blogs, postagens de pessoas estranhas ao grupo, o que aguçou ainda mais o
interesse dos alunos, principalmente dos administradores dos blogs em
questão.
Nesse sexto momento, após essa troca de experiências, nos reunimos
em sala de aula regular, para uma reflexão sobre a experiência de escrever
numa nova interface; sobre os comentários recebidos em nossos blogs. Nesse
momento, os alunos produziram novamente uma reflexão escrita na qual
registraram e comentaram a experiência de blogar, suas próprias performances
durante a atividade, e seus sentimentos quanto ao ato de escrever em inglês
nas duas interfaces (papel e blog).
Objetivando uma visão mais clara do desenho desta pesquisa,
apresento a seguir um quadro-síntese, contemplando as três etapas da
investigação, subdivididas em seis momentos nos quais foram promovidas sete
atividades. O quadro apresenta, também, as interfaces e línguas nas quais as
73
atividades foram desenvolvidas, bem como a da realização individual ou em
grupos das atividades, proporcionando um panorama geral da investigação.
ETAPAS MOMENTOS ATIVIDADES INTERFACE REALIZAÇÃO LÍNGUA
1- Questionário
Inicial
Papel Individual Materna
2- Produção de
texto a partir de
uma imagem
Papel Individual Inglesa
3- Reflexão
Escrita
Papel Individual Materna
4- Exposição ao
Blog
Blog
Trios
5- Reflexão
Escrita
Papel Individual Materna
6- Redação e
postagem no
blog
Blog
Grupos Inglesa
7- Comentários
sobre os blogs
Blog
Grupos Inglesa
8- Reflexão
Escrita
Papel
Individual
Materna
Quadro 5 - Síntese do Desenho da Pesquisa
2.4 Os Procedimentos Interpretativos
Levando em conta que meu estudo contempla dois objetivos
identificar as representações dos alunos sobre a produção escrita em língua
inglesa nas interfaces papel e blog, e descrever e interpretar o fenômeno da
produção de textos nessas duas interfaces - , selecionei procedimentos que me
permitissem atingir tais metas.
Retomando os textos resultantes dos momentos de pesquisa
anteriormente descritos, focalizei minha atenção nas escolhas lexicais feitas
pelos alunos para, assim, identificar o repertório interpretativo (Potter e
74
Wetherell, 1987), por meio do qual expressaram, caracterizaram e se referiram
à produção escrita nas interfaces em foco neste estudo. Dessa forma, pude
concluir sobre as representações reveladas pelos alunos.
Para descrever e interpretar o fenômeno, também alvo deste estudo,
recorro, primeiramente, a van Manen (1990:92-93). O autor afirma que a
compreensão de um fenômeno ocorre quando olhamos como as coisas
acontecem e deixamos que elas falem por si mesmas. Para ouvir o que os
textos têm a falar, é preciso fazer uma leitura atenciosa dos mesmos. O autor
sugere três abordagens de leitura:
a holística;
a seletiva;
a detalhada.
O autor esclarece que, na abordagem holística, atentamos para o texto
como um todo, questionando que frase pode capturar o sentido principal do
texto integral e tentamos, então, expressar esse significado através dessa
frase. Na abordagem seletiva, lemos o texto várias vezes e questionamos quais
afirmações ou frases parecem ser relevantes a respeito da experiência de vida
descrita, destacando essa(s) afirmação(ões). Na abordagem detalhada,
observamos cada sentença e questionamos o que ela revela sobre o fenômeno
descrito.
Para conseguir ouvir o que os textos por mim coletados tinham a dizer,
utilizei em diferentes momentos da interpretação e com diferentes textos, as
três abordagens, ou seja, iniciei minha interpretação utilizando a leitura
seletiva, voltando ao texto através de uma leitura detalhada para identificar ou
confirmar uma interpretação. Por várias vezes, voltei aos textos para lê-los
holisticamente e procurar compreender o significado principal do texto.
A interpretação dos questionários, das reflexões escritas pelos alunos e
das minhas anotações durante o desenvolvimento das atividades baseou se no
processo de tematização proposto por van Manen (1990) e na proposta de
sistematização dele, esquematizada e denominada de refinamento, por Freire
(2006, 2007).
A noção de tema é utilizada em várias áreas de estudos, em diferentes
contextos e, por conseguinte, com diferentes acepções. Sob o enfoque da
abordagem hermenêutico-fenomenológica, os temas são as estruturas de um
75
fenômeno; o que permite descobrir a essência desse fenômeno. Segundo van
Manen (1990:79) “os temas fenomenológicos podem ser entendidos como
estruturas da experiência. Portanto, quando analisamos um fenômeno,
buscamos interpretá-lo e determinar quais são os temas que identificam a
estrutura da experiência vivida.”
van Mannen (1990) relaciona uma série de itens definindo o que seria
tema, entre eles estão:
-Theme is the experience of focus, of meaning, of
point.
-Theme is the form of capturing the phenomenon
one tries to understand. Theme describes an aspect of the
structure of lived experience.
-Theme is the process of insightful invention,
discovery, disclosure. As I arrive at certain thematic
insights it may seem that insight is a product of all these:
invention (my interpretive product), discovery (the
interpretive product of my dialogue with the text of life),
disclosure of meaning (the interpretive product give” to
me by the text of life itself)
-Theme is always a reduction of a notion. No
thematic formulation can completely unlock the deep
meaning, the full mystery, the enigmatic aspects of the
experiential meaning of a notion (p.87-88).
Os temas, de acordo com autor, não são objetos que encontramos em
um determinado ponto do texto, o uma palavra ou expressão que indicam
que é constitutivo do fenômeno; uma forma de capturar o fenômeno estudado.
Sendo a estrutura do fenômeno, os temas são intransitivos, não podem ser
transferidos para outros fenômenos, na sua totalidade, visto que cada
experiência de vida é única e singular.
Na busca pela identificação dos temas que estruturam o fenômeno por
mim investigado, utilizei a sistematização proposta por Freire (2006, 2007).
Partindo do texto original e fazendo leituras e releituras, busquei identificar
unidades de significados (palavras ou expressões constituídas de um
significado relevante para a investigação em função do fenômeno em foco e
das perguntas de pesquisa). A partir dessas unidades, iniciei o refinamento
proposto por Freire (2006, 2007), buscando estabelecer inter-relações entre
essas unidades de significado, abstraindo-lhes o significado e agrupando-as de
acordo com as semelhanças que poderiam compartilhar. Esse procedimento de
refinamento continuou até que cheguei a uma palavra que, não podendo mais
76
fenômeno
temas
temas temas
sub-
temas
sub-
temas
sub-
temas
sub-
temas
sub-
temas
sub-
temas
sub-
temas
sub-
temas
sub-
temas
ser reduzida, foi interpretada como correspondente a um tema estruturante do
fenômeno, auxiliando a compreensão da essência desse fenômeno. Caso seja
necessária uma melhor caracterização desses temas, surgirão os sub-temas. O
quadro a seguir, elaborado por Freire (2006, 2007) demonstra o processo
descrito:
texto
unidades de
significado
próximo
passo: os
semelhantes
próximo passo: o que
e quando é recorrente
tema subtemas
-textos originais
(questionários,
produções escritas
e transcrições)
Palavras e/ou trechos
que chamam a
atenção, tendo em
mente as perguntas
de pesquisa e o
fenômeno.
Agrupamento de
unidades de
significados
semelhantes ou com
alguma relação
entre si, em função
do fenômeno
investigado.
Palavras ou
expressões
recorrentes,
agrupadas de
acordo com
sua
proximidade
de significado
Palavras ou
expressões
não
recorrentes
Nomeação de
tema, que
estrutura o
fenômeno,
resultante de
todos os
refinamentos
possíveis
Subdivisão do tema,
quando esse é ainda
muito amplo e apresenta
subdivisões.
Quadro 6 – Rotinas de organização e tematização
(Freire,2006)
Após, esse processo de refinamento que nos conduz ao(s) tema(s),
Freire (2006, 2007) sugere que se faça uma representação gráfica que permita
uma melhor visualização da estrutura do fenômeno, conforme demonstrado a
seguir:
Diagrama 1 – Possível representação da estrutura de um fenômeno
(Freire,2006).
77
Interpretei os textos originais mencionados conforme o processo de
tematização e refinamento descritos, até alcançar a palavra ou expressão que
constituísse o tema, ou os temas e, se necessário, os sub-temas. Revisitei os
textos para checar as minhas percepções do fenômeno, sempre observando o
todo e as partes concomitantemente. Retornei às unidades de significados em
busca do que fosse recorrente e estabeleci quando essa recorrência ocorreu,
ou com quem, iniciando assim o ciclo de validação (van Manen ,1990:27).
78
CAPÍTULO 3
INTERPRETANDO A JORNADA
INTERPRETANDO A JORNADA
Guiada pelos pressupostos teórico-metodológicos descritos nos
capítulos anteriores, volto meu olhar sobre os textos produzidos durante a
pesquisa; ou seja: sobre as respostas ao questionário aplicado, as produções
escritas em língua inglesa no papel e nos blogs, as reflexões escritas
produzidas pelos alunos nos momentos intermediários às produções escritas
(papel e blog), e as minhas anotações referentes às observações feitas a cada
etapa da investigação.
O desenho da pesquisa, que contempla as três fases de
desenvolvimento descritas anteriormente, levou me a estruturar este capítulo
de interpretação em duas grandes seções: na primeira, apresento as
representações dos alunos sobre a produção escrita no papel e no blog; na
segunda, descrevo e interpreto o fenômeno da produção escrita em língua
inglesa nas duas interfaces em foco, neste estudo.
3.1 Representações
Para responder as duas primeiras perguntas da pesquisa, procurei
identificar o repertório interpretativo (Potter e Wetherell, 1987) emergente dos
textos produzidos pelos participantes para, por meio da interpretação dele,
79
identificar as representações dos alunos sobre a escrita em ngua inglesa nas
interfaces papel e blog – como detalho nas seções seguintes.
3.1.1 A Escrita no Papel
Iniciei minha investigação sobre representações pela interpretação das
informações fornecidas no questionário aplicado na fase inicial da pesquisa.
Depois de estruturar um perfil dos alunos, computei algumas informações
demográficas que me permitiram mapear a relação dos alunos com a
tecnologia (computador e internet) e com a língua inglesa.
As informações obtidas por meio do referido questionário permitiram
chegar a várias conclusões, como detalho na seqüência.
Dos vinte e oito participantes, vinte e um alunos afirmaram que gostam
de escrever em língua portuguesa. Dentre os tipos de texto que produzem,
como elencados no quadro a seguir, manifestaram preferência especial por
poesias e redações:
O QUE ESCREVE
ALUNOS
PORCENTAGEM
poesia e redações 9 32,1
lições da escola 4 14,3
textos (escola) 4 14,3
redações 4 14,3
não especificaram 3 10,7
histórias e mitos 1 3,6
tudo 1 3,6
meu nome 1 3,6
nada 1 3,6
Total 28 100
Quadro 7 - Preferências dos alunos sobre o que redigem em língua materna.
80
Dezenove alunos, afirmaram que gostam de estudar a língua inglesa,
dentre eles, treze, afirmaram utilizar a língua alvo cotidianamente. Esse
contato com a língua alvo é mantido, em sua maioria, por meio de
atividades desenvolvidas pela professora, ou seja, praticamente ocorrem
no ambiente escolar, como ilustrado no quadro a seguir:
COM QUEM USA A
LÍNGUA INGLESA
ALUNOS PORCENT
com a professora 7 53,8
com os amigos 3 23,1
comigo mesmo 2 15,4
internet (chats) 1 7,7
TOTAL
13 100
Quadro 8 – Pessoas com as quais os alunos utilizam a língua inglesa
Dos vinte e oito alunos, somente dois assumem que a língua inglesa
não parece ser necessária futuramente. Os demais, acreditam na sua
importância e utilidade futura, principalmente no âmbito profissional, como
podemos observar nas informações do quadro a seguir:
USARÁ A LI NO FUTURO
ALUNOS PORCENT
SIM 23 82,1
NÃO 2 7,1
TALVEZ
2 7,1
NÃO SABE
1 3,6
TOTAL
28 100
SITUAÇÕES
ALUNOS PORCENT
TRABALHO
17 60,7
VIAGEM
3 10,7
NÃO SEI
3 10,7
NENHUMA
2 7,1
TRAB,VIAGEM,CONGRESSO
1 3,6
CURSO
1 3,6
COMPUTADOR
1 3,6
TOTAL
28 100
Quadro 9 – Situações nas quais os alunos utilizarão a língua inglesa
81
Com exceção de dois alunos, eles nunca utilizaram o computador
durante a aula de língua inglesa, como ilustrado na seqüência:
ATIV.EM INGLÊS NA SAI ALUNOS PORCENT
NÃO 26 92,9
SIM 2 7,1
TOTAL
28 100
Quadro 10 – Participação dos alunos em atividades de LE na SAI
O acesso a Internet, assim com o contato com a língua inglesa, é em
sua grande maioria efetuado na escola, como podemos observar nas
informações elencadas no quadro a seguir:
ACESSA INTERNET ALUNOS PORCENT
NÃO 15 53,6
SIM 13 46,4
TOTAL 28 100
AONDE ALUNOS PORCENT
ESCOLA
8 28,6
CYBER
2 7,1
ACESSA SP
2 7,1
EM CASA
1 3,6
NENHUM LUGAR
15 53,6
TOTAL
28 100
Quadro 11 – Acessos dos alunos à Internet
As respostas ao questionário foram separadas por questões e digitadas,
assim como as demais produções escritas, para facilitar a interpretação e a
identificação das representações dos alunos sobre a escrita em língua inglesa.
Embora a ênfase da minha pesquisa fosse a escrita em língua inglesa,
busquei também investigar e interpretar a opinião dos alunos quanto à escrita
82
em língua portuguesa com a intenção de perceber, por meio desses textos, a
opinião dos alunos sobre o ato de escrever, de uma forma geral.
Dos textos originais, com base nas escolhas lexicais dos alunos,
transcritas literalmente como produzidas, destaquei os trechos que me
pareceram revelar o significado que os alunos construíam sobre a escrita em
língua materna.
Com base nos excertos destacados, pude elaborar o quadro,
apresentado a seguir, que ilustra as opiniões dos alunos sobre a escrita em
língua materna. O quadro citado permite uma visão contrastiva das opiniões
identificadas no 1° e 3° momentos da pesquisa:
MOMENTO
(Antes da atividade escrita)
MOMENTO
(Depois da atividade escrita)
* é importante (Diane)
* Desenvolvo mais a minha escrita (Juliana)
* Ao escrever ajente fica mais esperiente
(Rayol)
* aprende a escrever melhor (Rogério)
* Me ajuda a aprender escrever novas
palavras (Crystine)
* aprender o jeito correto de se ler, escrever
e falar. (Avril)
* expressar o que sinto (Maria)
* Me ajuda a relachar (Wood)
* Pra mim é uma diversão (Renato)
* cansa, dói a mão (Virgínia)
* É a coisa mais importante que o ser
umano deve saber (Rayol)
* É muito importante escrever, dependemos
da escrita para tudo, é através das coisas
escritas que aprendemos a ler, que
adquerimos conhecimento (Avril)
* a língua portuguesa é um conjunto muito
importante para todo mundo, porquê ela
serve para nós se comunicar. (Maria)
* entender melhor as coisas. (Renato)
* é uma oportunidade de conseguir um rumo
melhor em minha vida.(Crystine)
* quando escrevemos aprendemos mais
(Diane)
* é através dela que adquirimos
conhecimento (Virgínia)
* é fácil e distrai (Wood)
Quadro 12 - Opiniões dos alunos sobre a escrita em língua portuguesa
83
O quadro anterior apresenta excertos dos participantes focais, mas para
identificar as representações dos alunos busquei considerar não somente as
partes, mas também o todo (Ricouer 1985/2002, van Manen 1990:30-31),
interpretando também os textos dos demais participantes, em cujos repertórios
pude observar as seguintes opiniões:
MOMENTO MOMENTO
de
ocorrências
Opiniões dos alunos
de
ocorrências
Opiniões dos alunos
05
desenvolver a letra e
a mente
04
uma forma de
expressão e
comunicação
03
necessária
03
escrever cada vez
melhor
03
cansativo
02
aprender e se tornar
mais inteligente
02
ajudar a aprender
mais
01
Melhorar vocabulário
02
expor as opiniões
01
distração para não se
sentir só
01
distração
01
diversão
01
importante
01
uma obrigação
Quadro 13 - Opiniões dos demais alunos sobre a escrita em língua portuguesa
Os quadros apresentados possibilitam dois movimentos interpretativos:
um vertical, que focaliza as opiniões dos alunos sobre a escrita em língua
portuguesa em cada um dos momentos e o outro, horizontal, que permite um
contraste, possibilitando perceber possíveis alterações nos dois momentos e,
portanto uma visão longitudinal.
Ao observar as opiniões apontadas, em sentido vertical, pude confirmar
os dados quantitativos dos questionários, apresentados anteriormente, de que
75% do total dos participantes gostam de escrever, e perceber que as
representações que esses alunos têm da escrita em língua portuguesa são
positivas.
Observando os itens lexicais utilizados pelos alunos nos dois momentos
citados, foi possível identificar o repertório que possuem e, com base nele,
84
como revelam as representações que têm. Assim, pude concluir que, para os
alunos, como sintetizo no quadro a seguir, escrever em língua materna é:
MOMENTO MOMENTO
importante
necessário
ficar mais experiente
desenvolver mais a escrita
aprender a escrever melhor
melhorar o vocabulário
expor opiniões
uma forma de expressão
uma diversão
muito cansativo
muito importante
tornar-se mais inteligente
adquirir conhecimento
uma forma de expressão
diversão
uma obrigação
Quadro 14 - Representações dos alunos sobre a escrita em língua portuguesa
No primeiro momento, o ato de escrever é visto como algo importante,
necessário para um melhor desenvolvimento da escrita e para a expressão de
opiniões. A escrita, quando utilizada para expressão de sentimentos e opiniões,
deixa de ser encarada como uma obrigação e torna-se um ato divertido. Os
excertos seguintes ilustram alguns comentários nesse sentido :
...é importante (Diane)
...escrevendo a gente aprende a escrever melhor (Rogério)
...escrevendo desenvolvo mais a minha escrita (Juliana)
...escrever é expressar o que sinto (Maria)
...pra mim é uma diversão (Renato)
85
As opiniões coletadas no terceiro momento são semelhantes, porém
com intensidade e objetivos diferentes. O que foi descrito como importante no
primeiro momento, passa a ser descrito como muito importante no terceiro,
demonstrando assim uma alteração, de valores, direcionado à escrita, como
destacado abaixo:
momento momento
...porque escrever é importante. (Diane)
... é importante e eu gosto de escrever textos
narrativos. (Maria)
...saber ler e escrever é a coisa mais
importante que o ser umano deve saber
(Rayol)
Para nós é muito importante escrever,
dependemos da escrita para tudo (Avril)
Quadro 15 - Valores direcionados à escrita em dois momentos da pesquisa
Em ambos os momentos, a escrita é vista com importância, mas é
possível observar que no primeiro momento os alunos dão um destaque maior
para o desenvolvimento prático da escrita, ou seja, para o escrever
corretamente, aperfeiçoar a caligrafia e ampliar o vocabulário. No terceiro
momento a preocupação com a forma lugar a uma preocupação com a
aquisição de conhecimento, a expressão e a comunicação que a escrita possa
vir a proporcionar, como ilustro a seguir:
Momento Momento
...você aprende a escrever melhor. (Rogério)
...assim eu desenvolvo mais a minha escrita.
(Juliana)
..escrevendo é o jeito mais pratico de se
aprender (Avril)
...porque quando escrevemos aprendemos
mais (Diane)
A língua portuguesa é um conjunto muito
importante para todo mundo, porquê ela serve
para nós s comunicar (Maria)
Quadro 16 –A importância da escrita na visão dos alunos
86
Considerando as semelhanças de significados entre as representações,
parti para uma outra direção interpretativa. Contrastando as representações
nos dois momentos, pude perceber que algumas representações, são
recorrentes, presentes nos dois momentos da coleta, relacionadas a:
importância, aperfeiçoamento, aprendizagem, expressão e diversão.
Retomando a leitura dos textos originais, interpretei-os novamente de
forma a constatar que, a escrita em língua portuguesa apresenta uma
importância para os alunos, por ser o instrumento de aperfeiçoamento que,
segundo eles, os guiará através da aprendizagem da própria língua e de outros
conteúdos. Também é importante por lhes permitir a expressão de seus
pensamentos e sentimentos, e por proporcionar diversão, durante os
momentos de descobertas que ela proporciona. Tais conclusões podem ser
ilustradas nos seguintes excertos:
Escrever é importante por que me ajuda a aprender a escrever
novas palavras. (Crystine)
Ao escrever ajente fica mais esperiente. (Rayol)
Para nós é muito importante escrever, dependemos da escrita
para tudo, é através das coisas escritas que aprendemos a ler,
que adquerimos conhecimento. (Avril)
Escrever é uma forma da pessoa se expressar o que sentimos
sem que precisemos falar, é uma forma de nos comunicarmos
com alguém que está distante. (Maria)
É super legal, além de ser fácil cada vez que a gente escreve
alguma palavra nova, a gente vai se divertindo bastante para
descobrir o seu significado. (Wood)
Partindo do princípio de que os alunos apreciam o ato de escrever e que
destacam a importância da escrita em seu desenvolvimento intelectual, parti
para a investigação sobre como percebem a escrita em língua estrangeira.
87
O quadro seguinte apresenta excertos dos textos dos participantes
focais com opiniões sobre a escrita em língua inglesa, produzidas, no e
momentos da pesquisa, revelando o repertório que possuem e utilizam:
MOMENTO
(Antes da atividade escrita)
MOMENTO
(Depois da atividade escrita)
* algo que nós vamos precisar para o nosso
futuro. (Wood)
* aprendê línguas diferentes. (Rogério)
* é uma língua à mais que aprendemos
.
(Avril)
* quero um dia me comunicar com algum
americano (Crystine)
* não gosto mas quem sabe aprendemos
mais (Juliana)
* Não tenho aquela facilidade mais tento
(Rayol)
* uma língua muito difícil (Virgínia)
* é muito difícil (Diane)
* é muito diferente mais necessário, pois
vamos usá-las quem sabe no nosso
futuro.(Vírginia)
*quando escrevemos em inglês aprendemos
as palavras e isso é importante (Diane)
* Pra mim escrever em Inglês é conhecer
novas palavras outro tipo de escrever
(Rayol)
* eu não gosto muito, porque não entendo
bem, mas escrevendo é o jeito mais pratico
de se aprender. (Avril)
* Escrever em Inglês para mim, é se orgulhar
de mim mesma, ver que eu posso ver o
impossível acontecer, ver que eu tenho a
capacidade de escreve-la. (Crystine)
* muito complicado, nós confundimos qual é
o correto de se escrever e ficamos muitas
vezes em dúvidas nas palavras. (Maria)
* complicado para traduzir, pois eu entendo
muito pouco da língua inglesa.(Renato)
* É difícil de se expressar (Virgínia)
* é um sacrifício, pois em inglês isso seria
um horror, iria sair letra tudo ao contrário e
tudo sem “significado”. (Wood)
Quadro 17 - Opiniões dos alunos sobre a escrita em língua inglesa na interface papel
Retomando a leitura de todos os textos, interpretei as reflexões escritas
dos demais participantes, em cujos repertórios pude observar as opiniões
apresentadas no quadro seguinte:
88
MOMENTO
(Antes da atividade escrita)
MOMENTO
(Depois da atividade escrita)
de
recorrências
Pareceres
dos alunos
de
recorrências
Pareceres
dos alunos
03
02
02
01
01
01
01
01
01
01
aprender coisas
diferentes
importante para o
futuro profissional
interessante
algo que prepara para
o mundo
importante
emocionante
uma experiência
sem importância
muito chato
muito difícil
08
06
02
02
02
02
01
01
01
01
01
01
01
01
01
difícil
aprender mais
importante
essencial para a
formação profissional
uma experiência
uma das coisas mais
difíceis
desenvolver a escrita
essencial
útil para o futuro
interessante
obrigação
a pior coisa
muito complicado
insuportável
um sacrifício
Quadro 18 - Opiniões dos demais participantes sobre a escrita em língua inglesa
Observando as opiniões sobre a escrita em língua inglesa, em
comparação com a escrita em língua materna pude, logo a primeira vista, notar
que a primeira é uma atividade bem menos apreciada pelos alunos que a
segunda. Podemos verificar esse fato em expressões utilizadas pelos alunos
ao se referirem à língua inglesa, tais como: é insuportável, é muito chato, é a
pior coisa, bem como nos excertos seguintes:
...é um sacrifício, pois em inglês isso seria um horror, iria sair letra tudo ao
contrário e tudo sem “significado”. (Wood)
...muito complicado, nós confundimos qual é o correto de se escrever e
ficamos muitas vezes em dúvidas nas palavras. (Maria)
...uma língua muito difícil (Virgínia)
89
Contrastando as opiniões sobre a escrita em língua inglesa nos dois
momentos, é perceptível, no terceiro momento, um número maior de opiniões
que demonstram desagrado com a língua-alvo. Enquanto, no primeiro
momento, três alunos consideram escrever em língua inglesa difícil, no terceiro
momento nove alunos assim se manifestam e mais seis utilizam outros
adjetivos como: muito complicado, insuportável, um sacrifício, entre outros.
Os comentários tornaram-se, também, mais longos e detalhados no
terceiro momento, com podemos observar nos excertos abaixo:
Momento
(Antes da atividade escrita)
Momento
(Depois da atividade escrita)
* não gosto mas quem sabe aprendemos mais
(Juliana)
* Não tenho aquela facilidade mais tento
(Rayol)
* uma língua muito difícil (Virgínia)
* é muito difícil (Diane)
* eu não gosto muito, porque não entendo
bem, mas escrevendo é o jeito mais pratico de
se aprender. (Avril)
* muito complicado, nós confundimos qual é o
correto de se escrever e ficamos muitas vezes
em dúvidas nas palavras. (Maria)
* complicado para traduzir, pois eu entendo
muito pouco da língua inglesa.(Renato)
* É difícil de se expressar (Virgínia)
* é um sacrifício, pois em inglês isso seria um
horror, iria sair letra tudo ao contrário e tudo
sem “significado”. (Wood)
Quadro 19 - Opiniões sobre a produção escrita na interface papel
Deduzi que essa alteração nas opiniões deveu-se ao fato de os textos
do terceiro momento serem registros de uma reflexão sobre uma ação que
havia acabado de acontecer; ou seja, foram redigidos logo após a atividade
escrita em língua inglesa proposta no segundo momento. Por outro lado, os
textos produzidos no primeiro momento, foram redigidos a partir de um resgate,
pela memória, do ato de escrever em língua inglesa, visto que os alunos não
haviam produzido nenhum texto, nessa língua, nas aulas anteriores ao referido
momento.
90
A proximidade entre ação (produção escrita em língua inglesa) e
reflexão (textos reflexivos sobre a atividade) ocorrida no terceiro momento,
permitiu um registro mais detalhado dos pensamentos e dos sentimentos,
provindos dos esforços exigidos durante o ato da escrita na língua alvo.
Após examinar novamente os excertos, revisitar os textos originais para
observar o contexto nos quais eles foram empregados, voltei meu olhar
novamente aos quadros, anteriormente apresentados, buscando as
recorrências de significados semelhantes, tanto nos textos produzidos no
primeiro momento, quanto nos textos produzidos no terceiro momento. Assim,
pude identificar as representações dos alunos sobre a escrita em língua inglesa
na interface papel. Para eles, escrever em língua inglês na interface papel é:
MOMENTO MOMENTO
necessário
importante para o futuro
um aprendizado a mais
uma forma de comunicação
muito difícil
chato
necessário
importante
essencial para o futuro profissional
uma forma de aprender
desenvolver a escrita
dúvida
muito difícil
muito complicado
uma obrigação
insuportável
um sacrifício
Quadro 20 - Representações dos alunos sobre a escrita na interface papel
No primeiro momento, os alunos demonstram estar cientes da
importância e da necessidade de aprendizagem da língua inglesa para o seu
futuro, assim como reconhecem sua importância como meio de comunicação e
instrumento que lhes permitirá abrir novos horizontes. Porém, a estrutura da
língua estrangeira, com a qual eles ainda não se sentem totalmente
familiarizados, parece algo difícil de ser compreendido e utilizado. Por
conseguinte, o ato de escrever é visto como “chato”. Os excertos seguintes
exemplificam essas opiniões:
91
...é algo que nós vamos precisar para o nosso futuro. (Wood)
...quero ir um dia me comunicar com algum americano. (Crystine)
...ñ é nada fácil, quem sabe aprendemos + (Juliana)
Acho uma língua muito difícil. (Virgínia)
Não gosto muito, porque é uma matéria difícil. (Diane)
Nos textos do terceiro momento, os alunos continuaram demonstrando
ter a consciência da importância da língua inglesa para o seu futuro profissional
e assumindo que, a língua estrangeira os auxiliará em novos aprendizados.
Contudo, os alunos o se referiram à escrita em língua inglesa como uma
forma de comunicação. Ao contrário, registraram sua utilização como uma
atividade muito difícil, muito complicada, demonstrando que o ato de escrever
foi visto como uma obrigação, como algo penoso. Ocorreram também
comentários de alunos, afirmando que escrever em inglês é “um horror” e
constitui uma das fases mais difíceis de seus estudos. Podemos observar
algumas dessas opiniões nos seguintes excertos:
...muito complicado, nós confundimos qual é o correto de se
escrever e ficamos muitas vezes em dúvidas nas palavras.
(Maria)
..não gosto de escrever em inglês porque as palavras são muito
difíceis (Diane)
Contrastando os dois momentos, constatei recorrências, relacionadas a:
importância, necessidade, aperfeiçoamento, aprendizagem, experiência e
dificuldade que, ao meu ver, sintetizam as representações dos alunos sobre a
escrita em língua inglesa na interface papel.
De acordo com a minha interpretação, os alunos compreendem a
importância da língua inglesa quando se permitem refletir sobre o mundo que
os aguarda. Apesar de conscientes da necessidade da língua inglesa em seu
futuro e de que a aprendizagem dessa língua pode levá-los a um
aperfeiçoamento pessoal, que refletirá no âmbito profissional, os alunos ainda
possuem uma visão distante e incerta dessa necessidade, ou seja, eles não
92
têm convicção de que esse aprendizado realmente lhes será útil, como
podemos observar nas afirmações:
Escrever em inglês para mim é muito diferente mais é
necessário, pois vamos usá-las quem sabe no nosso futuro
(Virgínia).
Mas aprender a ler e a escrever em inglês pode ser muito útil
um dia quem sabe? (Rogério)
A busca pelo aperfeiçoamento é feita através de experiências, por
vezes, agradáveis, como podemos perceber nas afirmações de interesse de
alguns alunos. Essas experiências podem elevar a auto-estima trazendo
orgulho àquele que se percebe superando seus limites, como observamos em:
Essa atividade foi interessante, pois além de colocarmos o que
sabemos sobre a figura, escrevemos o texto em inglês, o texto
que fiz até que saiu com, apesar da minha dificuldade, consegui
desenvolve-lo bem (Juliana).
Escrever em Inglês para mim, é se orgulhar de mim mesma, ver
que eu posso ver o impossível acontecer, ver que eu tenho a
capacidade de escreve-la (Crystine).
Para mim foi muinto bom fazer está atividade pois percebi que
com a ajuda e com meu esforço conseguirei entender
rapidamente o inglês, más não poço despencar a ajuda do
dicionário e da professora (Avril).
Creio ser prudente não ignorar que a produção escrita em língua inglesa,
na opinião dos alunos, traz com ela muitas experiências desagradáveis, em
sua maioria, associadas à dificuldade em conseguir expressar seus
pensamentos em uma língua confusa e complicada, diferente da língua
materna, o que provoca uma insatisfação, a ponto desse contato com a língua
inglesa ser classificado como um sacrifício ou algo insuportável, como
comentado anteriormente.
Entendendo que a escrita em língua inglesa sob a perspectiva dos
alunos é necessária mas, pela dificuldade que apresenta, torna-se uma
atividade pouco ou nada prazerosa.
Após minha interpretação sobre a escrita utilizando a interface papel, me
preparei para o passo seguinte em minha jornada interpretar a produção
escrita utilizando a interface blog - passando a descrevê-lo na próxima seção.
93
3.1.2 A Escrita no Blog
Os textos emergentes da reflexão escrita realizada após o primeiro
contado dos alunos com o blog, durante o quarto momento desta pesquisa,
foram os primeiros por mim observados nessa fase da investigação, com o
intuito de verificar as opiniões dos alunos sobre a interface blog, antes de
receberem a incumbência de criar um blog e nele postar um texto em língua
inglesa. Apresento, no quadro a seguir, os excertos provenientes das opiniões
dos participantes focais:
PRIMEIRO CONTATO COM O BLOG
Opiniões dos participantes focais
*Eu achei intelegente porque foi um site muito bem
montado.Com bastante cor e formas. E é bastante
criativo Todas as figuras tem formadas muito
interesante que chama a atenção de todos (Rogério)
*Eu gostei das figuras, pois têm corês chamativas,
que qualquer pessoa que for parar para ver, irá achar
interessante o Blog. pois se eu fosse montar um Blog
conserteza colocaria cores chamativa, para que
chamasse muita a atenção de quem fosse ver (Avril)
* É legal porque é interessante porque ele é
diferente das coisa do nosso dia-a-dia, e foi bem bolado
e muito diferente. (Renato)
*Este site é diferente dos outros porque mostra coisas
reais que podem ser feitas nos dia a dia dessas
pessoas(Virgínia)
*Eu gostei muito das figuras, as cores são bem luminosas
e coloridas. É muito interessante e bacana. (Crystine)
* Gostei porque a pessoa que criou este blog foi
fantástico.(Rayol)
Quadro 21 - Opiniões dos participantes focais sobre o blog
94
Sintetizei também, conforme ilustro no quadro a seguir, as opiniões dos
demais participantes, procurando assim uma visão mais abrangente do grupo:
PRIMEIRO CONTATO COM O BLOG
Opiniões dos demais participantes
de
ocorrências
Opiniões dos
Alunos
06 bem coloridos
05 interessante
04 com muitos detalhes
03 informativo
02 diferente
01 atraente
01 desinteressante
Quadro 22 - Opiniões dos demais participantes sobre o blog
Considerando as informações dos alunos, constatei que o grupo tem
uma visão marcadamente positiva do blog. Os alunos reagiram à interface com
curiosidade, classificando-a como interessante e atrativa, o que se tornou, para
mim, mais um incentivo para sua utilização na atividade de produção escrita
em língua inglesa.
Principiei então, mantendo a mesma rotina interpretativa adotada
anteriormente, a interpretação dos textos provenientes das reflexões escritas
registradas no sexto momento, após a criação do blog pelos alunos. Com base
nas escolhas lexicais literais dos alunos, sem nenhuma correção, busquei
identificar o repertório e as representações dos alunos quanto à produção
escrita, em língua inglesa, fazendo uso da interface blog, que ilustro no quadro
a seguir.
95
PRODUÇÃO ESCRITA NO BLOG
*nosso grupo escreveu uma frase em inglês a primeira vez
que nos mantemo um blog não foi tão dificio mais
conseguimos elaborar uma frase (Rayol)
* Criamos um blog, deixamos comentários em inglês.Eu
acho que deveria ser trabalhada mais na sala de
computação porque ai os alunos se interessavam e se
aplicavam mais, eu gostei muito das atividades (Wood)
* Eu achei muito interessante, foi muito legal. Foi bacana
observar as cosas para poder entender ou sentir o que ele
oferece. Foi muito bom porque descobri que as vezes
devemos prestar mas atensão nas coisas.(Renato)
* Foi divertido mas na escola não temos essa liberdade
de ficar mechendo no computador.(Renato)
*Adorei escrever o texto e de
scobrir coisas novas (Diane)
* Eu prefiro a atividade em sala de aula, pois eu aprendo
mais, do que pelo computador mais eu adorei a atividade
feita, e gostaria de ir mais vezes. (Avril)
Quadro 23 - Opiniões dos alunos sobre a escrita em língua inglesa no blog
Prosseguindo na rotina de interpretação anteriormente descrita,
investiguei os relatos dos demais participantes, buscando um olhar holístico do
grupo. No quadro seguinte, sintetizo as opiniões reveladas:
de
ocorrências
Opiniões dos demais alunos
04 completamente diferente
03 interessante
02 querer mostrar o quanto podemos nos
desenvolver melhor
02 aprender muito mais
02 estar atualizado
01 divertido
01 muito mais interessante do que na sala
de aula
01 animador
01 a melhor de todas as aulas
01 foi um sacrifício mas conseguimos
Quadro 24 - Opiniões dos demais alunos sobre a escrita no blog
96
A partir do quadro acima, pude observar que a experiência da escrita na
interface blog foi considerada, pela maioria, como uma experiência positiva.
Confrontando as opiniões expressadas pelo grupo, pude concluir sobre
as representações sobre a escrita no blog. Assim, escrever em inglês na
interface blog é:
Quadro 25 - Representação sobre a escrita no blog
Retornando aos textos originais, confrontando-os com as representações
reveladas e observando o contexto dos quais elas emergiram, pude perceber o
quanto foi diferente, para os alunos, escrever no blog. Segundo os alunos, a
atividade, utilizando o computador, foi divertida, interessante e os fez sentir
mais integrados ao mundo. Cito como exemplo os comentários a seguir:
Adorei escrever o texto e descobrir coisas novas (Diane)
Foi divertido montar um blog (Rayol)
... deveria de ter mais aulas disponíveis, para nós irmos na
sala de computação, é muito importante sabermos mexer
em um computador e ter contato com o mundo. (Avril)
O fato de a atividade ter sido, na opinião dos alunos, diferente e
divertida, promoveu um novo olhar sobre a escrita em língua inglesa, que
passou a ser vista como algo mais fácil e interessante. A atividade também
promoveu uma reflexão na qual, os próprios alunos, assumiram que se aplicam
mais durante as atividades na sala de informática, como ilustrado a seguir:
muito bom
diferente
interessante
mais fácil
divertido
mostrar competência
estar atualizado
um sacrifício
97
...mantemo um blog não foi tão dificio mais conseguimos
elaborar uma frase (Rayol).
Eu achei muito interessante a atividade feita na sala de
computação, foi muito legal... (Avril)
Eu acho que deveria ser trabalhada mais uma sala de
computação porque ai os alunos se interessavam e se
aplicavam mais, eu gostei muito das atividades (Wood).
Interpretando as representações emergentes é possível concluir que a
escrita na interface blog foi uma descoberta, interessante e muito boa. Foi mais
fácil que a escrita feita por eles anteriormente, por ser diferente e divertida.
Promoveu aprendizagem, principalmente de coisas novas e, por estar
interligado ao mundo pela Internet, fez com que eles quisessem demonstrar
competência além de ser uma forma deles se sentirem mais integrados ao
mundo, a atualidade.
3.1.3 Um Confronto
Com o intuito de aprofundar o estudo sobre as representações dos
alunos sobre a escrita em língua inglesa, em cada uma das interfaces
propostas, nesta seção, estabeleço um paralelo interpretativo, confrontando-as.
Para atingir tal propósito, reproduzo as representações dos alunos sobre a
escrita em língua inglesa em cada uma das interfaces, apresentadas
anteriormente, para uma melhor visualização:
98
REPRESENTAÇÕES DOS ALUNOS SOBRE A ESCRITA EM LINGUA INGLESA
NA INTERFACE PAPEL NA INTERFACE BLOG
necessário
importante
essencial para o futuro profissional
uma forma de aprender
desenvolver a escrita
dúvida
muito difícil
muito complicado
uma obrigação
insuportável
um sacrifício
muito bom
diferente
interessante
mais fácil
divertido
mostrar competência
estar atualizado
um sacrifício
Quadro 26 - Confronto de representações: papel x blog
Refletindo sobre o quadro apresentado, observo que as representações
reveladas sobre a produção escrita na interface papel estão particularmente
voltadas para a instrução e a necessidade de capacitação profissional. São
elas: escrever em inglês é necessário, é importante, é essencial para o futuro
profissional, é uma forma de aprender, é desenvolver a escrita. Essa
preocupação com a preparação para o mercado de trabalho é perceptível nos
textos originais, como podemos divisar nos excertos seguintes:
...algo que nós vamos precisar para o nosso futuro (Wood).
...essencial para minha formação para o mercado de
trabalho (Rogério).
...é uma oportunidade de conseguir um rumo melhor em minha
vida, como no mercado de trabalho que é muito exigida (Crystine).
...quando a gente aprende a ler e escrever em inglês, a gente
consegue se dar bem na vida (Juliana.)
..quando escrevemos em inglês aprendemos as palavras e isso
é importante (Diane).
99
As representações reveladas sobre a produção escrita na interface blog,
por sua vez, estão direcionadas à necessidade que os alunos observam de
estar integrado ao mundo e de se mostrar competente; de estar aptos para
essa integração, como ilustrado a seguir:
As aulas na sala de computação são completamente diferentes
da sala de aula. a impressão de que o aluno está mais
atualizado com o mundo (Avril).
...quando estamos montando o blog queremos mostrar o quanto
podemos desenvolver bem, isso torna mais interessante e
divertido ficar na SAI (Diane).
...acho que deveria ser trabalhada mais na sala de computação
porque ai os alunos se interessam e se aplicam mais (Wood).
Esse deslocamento de preocupação com a utilização da escrita em
língua inglesa como instrumento de capacitação profissional para uma
preocupação com a integração com o mundo e a competência que essa
integração exige é significativo, pois demonstra uma alteração de perspectiva
quanto ao uso da escrita; ou seja, os alunos perceberam que a utilização da
escrita em língua inglesa poderia ir além de apenas “algo que nós vamos
precisar para o nosso futuro” e passou a ser algo diferente, uma descoberta
que permite a integração. Essa integração, por conseguinte, promove uma
percepção da qualidade da produção escrita; ou seja, os alunos se perceberam
buscando dar o melhor de si na produção dos textos, por estarem conscientes
de que o texto escrito na Internet estaria à disposição de todos. A consciência
de estarem produzindo um texto para uma audiência real os levou a imprimir
maior qualidade em suas produções, como pude perceber nos relatos feitos
nos momentos de reflexão, como os citados anteriormente e os exemplificados
nos excertos a seguir:
...no mundo em que vivemos são milhares de oportunidades que
encontramos no computador, um monte de pessoa, não
podemos ficar atrasado no mundo (Renato).
... fomos lá e vimos muitas coisas e pessoas interessantes e
isso dá mais ânimo para o aluno por isso os professores
deveriam nos levar mais lá (Rayol).
100
Revisitando os textos originais constatei, inclusive, que a representação
sacrifício, que é recorrente nas duas interfaces, possuem conotação
diferenciada. Enquanto na interface papel, a percepção sobre a escrita está
impregnada de um sentimento negativo como podemos observar em: “é um
sacrifício”; “escrever em inglês, pra mim se torna uma das fases mais difíceis
dos meus estudos”; “pior coisa é escrever em inglês”; “é um horror”; “eu o
suporto”; na produção escrita na interface blog passa a apresentar uma
conotação de superação: “criamos nosso próprio blog, foi um sacrifício mas
conseguimos”.
O referido cruzamento demonstra uma mudança de percepção quanto
ao ato de escrever em língua inglesa e uma mudança de sentimentos em
relação a esse ato; ou seja, uma mudança na percepção de como, porquê,
para quê e para quem escrever. Acredito que essa mudança o pode ser
totalmente creditada à utilização da língua inglesa, pois não posso deixar de
observar que o fato de estar utilizando uma nova interface, repleta de recursos
fonoaudiovisuais e que permite uma integração mundial, contribuiu em grande
parte para que os alunos se sentissem mais motivados.
A interpretação oferecida até o momento, permite concluir que as
representações sobre a escrita em língua inglesa nas duas interfaces
propostas sofreram sensível alteração no que concerne a percepção dos
participantes quanto ao ato de escrever, quanto ao uso da escrita e quanto à
qualidade da produção escrita em língua inglesa.
Refletindo sobre as representações apresentadas, a partir do quadro
exposto anteriormente, mas sob um outro ângulo, podemos interpretar que a
escrita em língua inglesa que no papel, que se apresentava cheia de dúvidas,
muito difícil, muito complicada e era vista como uma obrigação, como ilustrado
com alguns excertos a seguir:
...ficamos muitas vezes em dúvidas nas palavras (Maria)
...dúvida porque uma única palavra tem um monte de
significado (Virgínia)
...é essencial mas é difícil (Cristiane)
...não gosto de escrever em inglês porque as palavras são
muito difíceis (Diane)
101
...muito complicado, nós confundimos qual é o correto de se
escrever (Wood)
...é complicado pois eu entendo muito pouco (Renato)
...eu não gosta mais tem que estudar escrever. A pior coisa é
escrever em inglês.(Cristiane)
...gostar eu não gosto mais sou obrigado.(Rayol)
passa a ser descrita, no blog, como algo muito bom, diferente, interessante,
mais fácil e divertido, como ilustrado abaixo:
A atividade na sala de computação foi muito boa.(Rayol)
Adorei a atividade feita,e gostaria de ir mais vezes. (Avril)
Foi bacana observar as coisas para poder entender ou sentir o
que ele oferece. (Renato)
...não foi tão dificio.(Rayol)
...foi divertido montar um blog. (Rayol)
...de todas as vezes que fomos para a sala de computação,
essa do Blog foi a melhor de todas (Wood)
...deveria ser trabalhado mais na SAI, os alunos se
interessavam e se aplicavam mais.(Wood)
Eu achei muito interessante, foi muito legal, e deveria ter mais
aulas assim.(Avril)
Foi interessante participar de atividades na sala de
computação mas foi uma pena que não participamos mais.
(Virgínia)
O contraste apresentado permite constatar que as representações que
os alunos revelaram quanto a escrever em língua inglesa através da interface
papel, se modificaram após experienciarem a interface blog.
Conseqüentemente, houve uma mudança quanto à percepção do ato de
escrever em língua inglesa e os sentimentos resultantes desse ato, bem como
quanto ao uso da escrita na língua alvo e quanto à preocupação com a
qualidade da escrita. Tais representações indicam que os alunos apresentam
uma percepção diferenciada do processo de produção escrita nas duas
interfaces.
102
3.2 A Produção Escrita em Língua Inglesa em Duas Interfaces
Ao focalizar o fenômeno da produção escrita em língua inglesa nas
interfaces papel e blog, procurei descrevê-lo e interpretá-lo a partir da vivência
que os participantes e eu tivemos dele, desenvolvendo minhas interpretações
com base nos textos coletados, de acordo com as orientações propostas pela
abordagem hermenêutico-fenomenológica, conforme exposto no capítulo
anterior.
Detalho, na seção e subseções que compõem a segunda parte do
presente capítulo, a estrutura do fenômeno em questão, revelada pelo estudo
que realizei. Esclareço que, em meu percurso interpretativo com vistas ao
entendimento do fenômeno em foco, dirigi minha atenção aos textos referentes
a cada uma das interfaces para, posteriormente, interpretá-los como um todo.
Esse caminho está refletido na organização das subseções que seguem.
3.2.1 A Interface Papel
Revisitando por várias vezes, em diferentes ocasiões, os textos que
registram a manifestação do fenômeno em foco, procurando primeiramente,
por unidades de significados (van Manen, 1990:93-95), em seguida procurando
pelas recorrências ou não dessas unidades, por uma convergência de
significados, através do processo de refinamento proposto por Freire (2006,
2007), pude descrever e interpretar o fenômeno em foco, concluindo que a
produção escrita em língua inglesa na interface papel está estruturada em
quatro grandes temas: dificuldade lingüística, aprendizagem, superação e
desenvolvimento, como represento no seguinte diagrama:
103
DIFICULDADES
LINGÜÍSTICAS
APRENDIZAGEM SUPERAÇÃO DESENVOLVIMENTO
PRODÃO ESCRITA EM LÍNGUA INGLESA
NA INTERFACE PAPEL
Diagrama 2- A estrutura do fenômeno da produção escrita no papel
O tema dificuldades lingüísticas permeia toda a manifestação do
fenômeno como pode ser percebido nos excertos abaixo transcritos:
o inglês eu não gosto muito, porque eu não entendo muito bem,
o que está escrito, eu não sei ler as palavras em inglês sem a
ajuda de um dicionário
Eu encontrei apenas algumas dificuldades na hora de passar
para o inglês (Avril).
A dificuldade que encontrei foi encontrar algumas palavras
(Crystine)
gosto muito de escrever em inglês mas as palavras e
expressões deve ser mais trinadas, porquê a língua inglesa é
um pouco complicada (Maria)
a principal dificuldade que eu achei foi a escrita em inglês ...
tive muitas dificuldade para conseguir escrever o texto e até por
isso nem terminei, as palavras estavam muito difícil de escrever
e tive de pedir a ajuda (Wood)
não gosto de escrever em inglês porque as palavras são muito
difíceis (Diane)
As palavras difícil, dificuldade e dificuldades apareceram 41 vezes nos
24 textos produzidos no terceiro momento, conforme números obtidos com o
auxílio do software Atlas.ti.5.0
11
que, entre outros recursos, permite a listagem
dos itens lexicais utilizados, com base em sua freqüência, como ilustrado a
seguir:
11
ATLAS.ti.5.0.66 – The Knowledge Workbench- Visual Qualitative Data Analysis, 2003-2007 by
ATLAS.ti Scientific Software Development GmbH, Berlin.
104
Quadro 27 - Recorrências da palavra difícil e vocábulos semelhantes
Em todas as ocasiões esses itens lexicais são utilizados para designar
uma dificuldade na utilização da língua, seja pela dúvida nas palavras a serem
utilizadas em determinada situação, seja por acharem difícil construir frases
com sentido que traduzam as suas idéias. Dos textos investigados, somente
em três
12
, essas palavras não foram citadas, o que nos sugere que somente
três alunos podem ter se sentido, de alguma forma, mais seguros durante a
produção escrita. A seguir demonstro, com o auxílio da ferramenta
Concordance do software WordSmith4.0, alguns dos contextos onde a palavra
dificuldade foi utilizada.
Inglês porque as palavras são muito difíceis porem quando
Outras vezes. Eu encontrei apenas algumas dificuldades na hora de passar
para o inglês
É mais fácil o cachorro dar atenção a um gato. A dificuldade que encontrei foi
encontrar algumas palavras, resolvi com a ajuda
na hora da tradução para o inglês, existia várias dificuldades, mas consegui
supero-las
saísse certo meu trabalho. As vezes resolvia as dificuldades perguntando para o
professor
porque eu comprendi melhor a matéria. Teve dificuldade na hora de procurar a
palavra em inglês no dicionário tinha várias.
a imagem, em inglês e português, a principal dificuldade que eu achei foi a
escrita em inglês.
A estrutura do fenômeno investigado inclui apenas, dificuldades
lingüísticas. Parece ser inevitável que os participantes busquem ultrapassar as
barreiras que os impedem de superar suas limitações, como se percebe nos
momentos de reflexão o sobre o ato da escrita. Por esse motivo, o tema
12
O levantamento dessas ocorrências foi feito manualmente.
DIFICICIL 1
DIFICIO 1
DIFICULDADE 13
DIFICULDADE. 4
DIFICULDADES 10
DIFÍCEIS 3
DIFÍCIL 8
DIFÍCIL. 1
105
dificuldade lingüística está intimamente relacionado aos demais temas:
aprendizagem, superação e desenvolvimento; como comentado na seqüência.
A aprendizagem lingüística entremeia boa parte das manifestações do
fenômeno, como pode ser percebido nos excertos apresentadas a seguir.
Escrever em inglês é outra forma de aprender mais quando
escreve em inglês estará aprendendo mais os seus
conhecimento.
Conhecer novas palavras outro tipo de escrever. Muito
importante pois aprendo palavras novas.(Rayol)
Escrevendo é o jeito mais prático de se aprender a ler, a
escrever e entender a língua inglesa (Avril).
é aprender uma nova língua, a língua inglesa é muito
importante ultimamente. Gostei muito porque compreendi
melhor a matéria (Maria).
As palavras aprender, aprende, aprendendo, aprendi, aprendemos e
aprendo apareceram 21 vezes nos 24 textos
13
produzidos no terceiro
momento, conforme apresentado no quadro abaixo, e em todas as ocasiões se
referindo ao aprendizado de novas palavras ou a aprender a melhor expressar
suas idéias.
APRENDE 4
APRENDEMOS 4
APRENDENDO 2
APRENDER 8
APRENDERMOS 1
APRENDI 1
APRENDO 1
Quadro 28 - Recorrências da palavra aprender e vocábulos semelhantes
Essas palavras foram citadas em doze dos textos interpretados, ou seja,
em cinqüenta por cento deles. Por vezes, os alunos utilizaram a palavra
conhecer e vocábulos semelhantes com a mesma conotação atribuída a
palavra aprender, como podemos observar nos recortes a seguir:
14
E os cachorros, foi uma boa forma de aprender a escrever em inglês eu gostei
Escrevendo é o jeito mais prático de se aprender. O texto sobre a imagem do
Existem as aulas de inglês para nós aprendermos a ler, a escrever e
13
Dados e quadro obtidos com o auxílio do software ATLAS.ti.5.0.
14
Recortes obtidos com o auxílio da ferramenta Concordance do software WordSmith 4.0
106
Porem quando escrevemos em inglês aprendemos as palavras e isso é
Eu achei muito importante pois aprendi alguma palavras nova em inglês
muito importante que deu para mim conhecer várias formas de escrever em inglês
inglês. Para mim escrever em Inglês é conhecer novas palavras outro tipo de escrita
Aprender a língua inglesa, na opinião dos alunos, é importante para o
desempenho escolar e o acesso a outros conhecimentos, através de livros e
revistas. Esse aperfeiçoamento pessoal é associado ao acesso a uma melhor
perspectiva de trabalho, que por conseqüência trará um melhor padrão de vida.
Para aprender é necessário ultrapassar os obstáculos gerados pelas
dificuldades, anteriormente citadas. É necessário superar as inseguranças na
utilização da língua alvo, superar a tendência de estagnar frente às barreiras do
desconhecimento e superar seus próprios limites. Essa superação, constitui o
terceiro tema ilustrado a seguir:
Eu resolvi todas as minhas dificuldades...
Percebi que com meu esforço conseguirei entender rapidamente
o inglês.
Eu consegui transmitir o que eu pretendia passar (Avril).
É se orgulhar de mim mesma, ver que eu posso ver o impossível
acontecer, ver que eu tenho a capacidade de escreve-la
(Crystine).
As dificuldades foi superada, por minha paciência (Wood).
As palavras conseguir, consegui, consigo, conseguido, conseguirei,
foram utilizadas 14 vezes nos 24 textos
15
interpretados, conforme apresentado
no quadro a seguir, em todas as situações elas foram utilizadas com a
conotação de transpor etapas, superar dificuldades:
CONSEGUE 1
CONSEGUEM 1
CONSEGUI 6
CONSEGUIDO 1
CONSEGUIR 3
CONSEGUIREI 1
CONSEGUIRÍAMOS 1
Quadro 29 - Recorrência da palavra conseguir e vocábulos semelhantes
15
Dados e quadro obtidos com o auxílio do software ATLAS.ti.5.0.
107
A expressão ter capacidade foi utilizada com a mesma conotação
citada, o que pode ser observado no recorte apresentado na seqüência:
achei o texto que eu fiz ótimo, pois eu consegui transmitir o que eu pretendia
que com a ajuda e com meu esforço conseguirei entender rapidamente o inglês
para o inglês, mas mesmo assim consegui falar o que eu pensava sobre a figura
inglês, existia várias dificuldades, mas consegui supera-las, e para mim foi
Ver que eu tenha a capacidade de escreve-la
A superação tem como alavanca, um objetivo relevante a ser alcançado.
O futuro, ou melhor, o emprego futuro, é o objetivo comum que desperta, na
maioria dos alunos, a necessidade da busca pelo aprimoramento da língua
inglesa, por um desenvolvimento pessoal. Podemos observar esse ponto de
vista, nas respostas ao questionário inicial no qual 17, dentre os 28 alunos
participantes, afirmam que a língua inglesa é importante para alcançar uma
melhor posição no mercado de trabalho. Os excertos seguintes expressam
alguns dos comentários dos alunos sobre a importância da língua inglesa em
suas vidas:
É mais chance de trabalho (Rayol).
Ela me ajudará muito no mercado de trabalho (Avril).
Obter conhecimento para termos um sucesso profissional
(Wood).
Necessito para eu conseguir o trabalho que eu quero (Crystine).
Esse desenvolvimento, a princípio pessoal, tem como conseqüência um
desenvolvimento na área profissional e vice e versa; ou seja, o aluno
desenvolvendo suas habilidades pessoais na língua adquire melhores
condições de alcançar uma melhor colocação profissional que, em retorno, vai
lhe proporcionar uma melhoria pessoal, uma melhor condição de vida. Por essa
razão, revisitando e interpretando os textos, concluo que, o tema
desenvolvimento subdivide-se em dois subtemas: pessoal e profissional,
108
intimamente interligados. O diagrama, a seguir, ilustra a estrutura do fenômeno,
contemplando os 2 subtemas aqui apresentados:
DIFICULDADES
LINÍSTICAS
APRENDIZAGEM SUPERAÇÃO
PESSOAL PROFISSIONAL
DESENVOLVIMENTO
PRODUÇÃO ESCRITA EM LÍNGUA INGLESA
NA INTERFACE PAPEL
Diagrama 3- O fenômeno e os subtemas do tema desenvolvimento
A intenção de buscar um desenvolvimento pessoal exprime uma
preocupação do aluno com seu futuro como cidadão, como podemos observar
nos seguintes comentários:
Não gosto muito de estudar o inglês, porque é uma matéria
difícil, mas é importante hoje em dia saber inglês, por isso é
importante para mim (Diane).
Gosto mais ñ é nada fácil, quem sabe aprendemos +.
Precisamos saber de tudo um pouco assim buscamos varias
informações (Juliana).
Escrever em inglês, falar para mim é essencial para a minha
formação para o mercado de trabalho (Virgínia).
O desempenho como cidadão, para os alunos, está relacionado ao
âmbito profissional que lhes proporcionará um melhor padrão social.
Exemplifico essa preocupação com o futuro com os excertos a seguir:
Escrever para mim é uma oportunidade de conseguir um
rumo melhor em minha vida, como no mercado de trabalho
que é muito exigida. (Crystine)
é muito importante para quem está começando a entrar no
mundo do trabalho. Tem muita gente que querem trabalhar
em algum cargo importante, mas não conseguem, pois os
donos preferem que falem alguma língua estrangeira
(Diane).
109
Os excertos apresentados elucidam os subtemas apresentados, e
demonstram, como citado anteriormente, que o desenvolvimento pessoal e o
desenvolvimento profissional se apresentam interligados.
Como observado, o fenômeno da escrita em língua inglesa na interface
papel está fundamentado nas dificuldades lingüísticas apresentadas pelos
alunos; na busca desses alunos pela aprendizagem desta língua, por superar
os obstáculos que as dificuldades lingüísticas lhes traz. Essa superação é
motivada pela busca do desenvolvimento pessoal que lhes proporcionará um
desenvolvimento profissional e vice e versa, proporcionando um retorno
pessoal em forma de melhores condições de vida. O excerto seguinte resume
essa interpretação,
Escrever em inglês é bom, porque a gente desenvolve bem
a escrita e aprende palavras novas, apesar das dificuldades
que a gente encontra escrevendo em inglês. Mas por outro
lado, quando a gente aprende ler e escrever em inglês, a
gente consegue se dar bem na vida (Juliana).
Após melhor compreender o fenômeno da produção escrita em língua
inglesa utilizando a interface papel, passei a investigar a produção escrita na
interface blog. Os resultados desta investigação são os que passo a descrever
na seção seguinte.
3.2.2 A Interface Blog
Retomando os procedimentos investigativos, descritos anteriormente,
revisitei os textos desta pesquisa, buscando identificar unidades de significados
(van Manen, 1990:93-95), recorrências ou não dessas unidades e uma
convergência de significados, procedendo ao processo de refinamento
proposto por Freire (2006, 2007), o que me conduziu aos temas que estruturam
o fenômeno da produção escrita em língua inglesa na interface blog: interesse,
superação e interação – como representado graficamente, a seguir:
110
INTERESSE SUPERAÇÃO INTERAÇÃO
PRODUÇÃO ESCRITA EM LÍNGUA INGLESA
NA ITERFACE BLOG
Diagrama 4 - A estrutura do fenômeno da produção escrita no blog
O interesse despertado pela interface blog pode ser atribuído à novidade
que o contato com a interface, até então desconhecida, promoveu. Esse
interesse originou uma aplicação maior dos alunos com relação à atividade, por
perceberem o universo de informações e de interações que o uso da escrita em
língua inglesa permite acessar. Ilustro esse interesse com os segmentos a
seguir:
... vimos muitas coisas e pessoas interessantes e isso dá mais
ânimo para o aluno por isso os professores deveriam nos levar
mais lá (Rayol).
...deveria ser trabalhado mais na SAI, os alunos se
interessavam e se aplicavam mais, eu gostei muito das
atividades (Wood).
Eu achei muito interessante a atividade feita na sala de
computação, foi muito legal, e deveria de ter mais aulas
disponíveis, para nós irmos na sala de computação, é muito
importante sabermos mexer em um computador (Avril).
No meu ver, o trabalho na sala de computação é muito mais
interessante do que as atividades na sala de aula (Diane).
A estrutura do fenômeno da produção escrita em língua inglesa na
interface blog não inclui, apenas, interesse. Esse interesse, que desperta para
o enorme leque de opções que a interface e a Internet abrem, evoca um
sentimento ainda maior de superação: superar seus limites e mostrar o que tem
de melhor, pois na interface blog a audiência é real, ampla e desconhecida - o
que implica a necessidade de demonstrar sua capacidade.
Kern, Ware e Warschauer (2004:244) comentam que a comunicação
mediada pelo computador promove um meio ideal para os alunos se
beneficiarem da interação, pois a natureza da escrita, da discussão permite
111
uma maior oportunidade de prestar atenção e refletir sobre a forma e o
conteúdo da comunicação.
Elucido o tema superação com os excertos a seguir:
...blog não foi tãp dificio mais conseguimos elaborar uma
frase (Rayol).
Outro dia criamos nosso próprio blog, foi um sacrifício mas
conseguimos (Juliana).
Quanto estamos montando o blog queremos mostrar o
quanto podemos desenvolver bem, colocando nossa
criatividade, e isso torna mais interesse (Diane).
A idéia de superação está expressa nos textos dos demais
participantes, registrada através de expressões como: se aplicar mais, se
esforçar mais, conseguir escrever, mostrar o melhor, entre outras.
Como professora/pesquisadora observei a superação dos alunos sob
uma outra ótica. Observei que eles necessitaram menos da minha mediação
durante a atividade e dispensaram o auxílio dos dicionários, o que, no meu
ponto de vista, demonstra uma superação das suas inseguranças durante o
ato da escrita. Os alunos não utilizaram os dicionários em nenhum momento e
me questionaram muito pouco sobre as palavras que deveriam usar, diferente
do ocorrido durante a atividade escrita no papel, em sala de aula comum.
Um outro fator foi decisivo para o interesse pela atividade e a superação
citada: a interação. A interação pode ser observada em três direções: a
interação entre os alunos durante a atividade, a interação entre os alunos e a
ferramenta (computador), e a interação permitida entre os alunos e o mundo
(através da Internet).
Repensando a estrutura do fenômeno à luz do tema interação e suas
subdivisões, deparo-me com um novo diagrama, ampliado e mais condizente
com os textos interpretados, como indico a seguir:
112
INTERESSE SUPERAÇÃO
ALUNO/ALUNO
ALUNO/OBJETO
ALUNO/MEIO
INTERAÇÃO
PRODÃO ESCRITA EM LÍNGUA INGLESA
NA ITERFACE BLOG
Diagrama 5 - Temas e subtemas do fenômeno da produção escrita no blog
A interação aluno/aluno, quase inexistente nas atividades em sala de aula
quando na utilização do blog, foi ampla e crescente, envolvendo todos os
alunos no decorrer da atividade. Os alunos, a princípio, calados, foram se
envolvendo na atividade e se tornando mais eloqüentes, dando a impressão de
que todos os alunos montavam todos os blogs. Por meio de comentários e
sugestões, todas as páginas contaram com a participação de todos os
presentes. Essa interação comentada durante o momento de reflexão
promovido após a atividade e pode ser exemplificado com o excerto a seguir:
Na sala de computação com o blog, aprendemos como
monta-lo e desenvolve-lo colocando nossas idéias em prática
discutindo com o grupo a melhor forma de contruir o blog
(Diane)
A interação aluno/objeto, também tímida a princípio, foi se tornando
mais natural, de forma que os alunos passaram a se sentir bem no manuseio
da máquina, sem medo do contato com a ferramenta e à vontade para explorar
seus recursos.
O uso do computador foi ficando cada vez mais compartilhado entre os
elementos dos grupos, de forma que todos, em algum momento, manusearam
a ferramenta. Os grupos se ajudaram com relação ao uso da máquina,
compartilhando cada descoberta a respeito da ferramenta e da interface com
os demais. A constatação das novas descobertas na utilização do computador
pode ser percebida no comentário seguinte:
113
...são minhares de oportunidades que encontramos no
computador (Renato).
A interação aluno/meio teve início quando os blogs foram apresentados
pela primeira vez aos alunos. Nessa ocasião, a interação foi pouco expressiva
pois, até então, os alunos se viam apenas como espectadores. Na elaboração
e postagem nos blogs, a perspectiva se alterou e eles passaram a se ver como
participantes de um universo diferente do deles, que não era estático e sim
interativo, exigindo deles uma participação ativa, como ilustrado abaixo:
...dá a impressão de que o aluno está mais atualizado com o
mundo (Avril).
Segundo Warschauer (2005), os objetivos dos alunos quando usam a
tecnologia difere das perspectivas tradicionais da CALL. Os alunos se
percebem não como aprendizes de língua mediada pelo computador, mas
aprendizes de ambos, língua e tecnologia, que desenvolve novas habilidades
de comunicação eletrônica, pesquisa e publicação que são vistas como
valiosas em suas carreiras pessoal e profissional.
Descrevendo e interpretando o fenômeno da produção escrita em língua
inglesa nas interfaces papel e blog, contrastei os temas e subtemas
encontrados, com o intuito de observar as semelhanças e diferenças e, assim,
responder a um questionamento que se tornava muito intrigante, à medida em
que aprofundava meu contato com os textos, como descrito na próxima seção.
3.3.3 Um ou Dois Fenômenos?
Por meio dos processos investigativos apresentados anteriormente,
identifiquei os temas que estruturam a da produção escrita em língua inglesa
em ambas as interfaces propostas.
114
Definidos esses temas e seus respectivos subtemas, deparei-me com as
questões: estaria eu lidando com um ou dois fenômenos? A que ponto as
produções nas duas interfaces apresentam uma natureza semelhante, ou até
que ponto são diferentes?
Contrastando os temas que estruturam a produção escrita nas duas
interfaces em discussão, pude observar que, somente um desses temas é
comum as duas produções, o que me levou a crer que, na minha pesquisa,
estavam, de fato, envolvidos dois fenômenos e não apenas um. Ilustro, a
seguir, as duas estruturas para uma melhor visualização e confronto:
DIFICULDADES
LINÍSTICAS
APRENDIZAGEM SUPERAÇÃO
PESSOAL PROFISSIONAL
DESENVOLVIMENTO
PRODUÇÃO ESCRITA EM LÍNGUA INGLESA
NA INTERFACE PAPEL
INTERESSE SUPERÃO
ALUNO/ALUNO
ALUNO/OBJETO
ALUNO/MEIO
INTERAÇÃO
PRODÃO ESCRITA EM LÍNGUA INGLESA
NA ITERFACE BLOG
Diagrama 6 - A produção escrita em duas interfaces: um confronto estrutural
Superação, comum aos dois fenômenos, apresenta, contudo,
conotações diversas. Na produção escrita utilizando a interface papel, a busca
por superação reflete a tentativa dos alunos de vencer suas dificuldades com
relação ao aprendizado da língua, por assumirem que esse aprendizado lhes
115
trará bons resultados no âmbito profissional, promovendo assim uma melhoria
em suas vidas futuras. Na produção escrita utilizando o blog, a superação
reflete uma mudança de atitude, provocada pela conscientização de estar em
contato com uma audiência real e interado com as novidades tecnológicas.
Observando por outra perspectiva, podemos também perceber que, na
produção escrita no papel, os alunos demonstram o desejo dessa superação,
mas ainda com uma visão de futuro, para conquistar algo que necessitarão no
futuro. na produção escrita no blog, essa superação foi colocada em prática
de imediato: em nenhum momento eles pensaram em deixar esse aprendizado
para depois, para o futuro.
As dificuldades lingüísticas que permeiam a produção escrita na
interface papel, não são perceptíveis durante a produção na interface blog,
nem nas atitudes dos alunos, registradas em notas de campo, nem nas
representações dos próprios alunos, interpretadas através dos registros
escritos por eles. Aparentemente, com interesse despertado pela atividade no
blog, e por meio de maior interação entre os alunos, essas dificuldades foram
superadas.
A aprendizagem que, durante a produção na interface papel, era dirigida
à língua inglesa, suas estruturas e usos, foi marcadamente reconhecida, pelos
alunos, como uma necessidade, no processo produção da escrita. Na utilização
da interface blog, a aprendizagem estendeu-se além da língua, para a
aprendizagem do uso do computador e da própria interface, mas de forma
natural, sem que os alunos a percebessem como parte do processo.
O desenvolvimento, presente na produção utilizando a interface papel,
deu lugar a interação, na utilização da interface blog. Na minha opinião, isso se
deveu à mudança de objetivos para a escrita. Na primeira, o objetivo era
desenvolver a escrita para alcançar uma melhor colocação no mercado de
trabalho, na segunda esse objetivo não foi priorizado com a mesma intensidade
e cedeu seu lugar ao interesse pela interação com os demais usuários da
interface explorada.
Acredito, então, que a produção escrita em língua inglesa na interface
papel apresenta uma natureza diferente da produção escrita em ngua inglesa
na interface blog. A primeira se encontra embasada nas dificuldades
apresentadas pelos alunos com relação à utilização da língua em foco e, na
116
busca por transpor essas dificuldades (aprender a língua e superar seus
limites), com o objetivo de alcançar um desenvolvimento pessoal e profissional.
A segunda está estruturada no interesse dos alunos pela tecnologia, que
alavanca a superação dos obstáculos que a língua imprime e promove a
interação entre: os alunos, os alunos e a ferramenta e os alunos e o mundo,
através da Internet.
As interpretações resultantes do confronto estrutural descrito
demonstraram que as produções escritas em língua inglesa nas interfaces
papel e blog, pesquisadas neste trabalho, apresentam estruturas diferenciadas,
tratando-se, na realidade, da manifestação de dois fenômenos distintos.
117
DO PRIMEIRO AO PRÓXIMO PASSO
O caminhar. Ato tão corriqueiro e tão incorporado ao nosso cotidiano,
que nos passa despercebido. Será que nos damos conta das etapas
necessárias ao caminhar? Será que nos apercebemos de toda a preparação
necessária ao corpo para que ele se equilibre adequadamente e nos possibilite
firmar nossos passos? Será que interpretamos todos os movimentos
necessários ao caminhar, onde eles iniciaram e para onde ns levarão? Será
que refletimos em qual será o nosso próximo passo?
Ao longo dos últimos dois anos de estudo, essas foram algumas das
questões que alavancaram a minha investigação. Observar meus passos como
professora, refletindo sobre todos os movimentos empregados nessa
caminhada, foi o percurso escolhido.
Neste momento, direciono minha caminhada para o processo desta
investigação, bem como, para o seu produto. Meus passos, agora, devem
partir do resgate dos questionamentos que a motivaram, seguir pela
identificação dos desafios e descoberta trazidos pelo caminho, ponderar sobre
os passos dados e indicar novos rumos.
Revisitando a investigação realizada, percebo que o objetivo era o de
descrever e interpretar a natureza do fenômeno da produção escrita em língua
inglesa através das interfaces papel e blog. Mais especificamente, o fenômeno
vivenciado por alunos de uma segunda série do Ensino Médio de uma escola
pública, situada numa cidade do interior do Estado de São Paulo.
A pesquisa realizada, conforme explicitado desde a Introdução deste
trabalho, seguiu os parâmetros da abordagem hermenêutico-fenomenológica e,
portanto, para alcançar meu objetivo, descrevi e interpretei as manifestações
do fenômeno em foco, sob a perspectiva de quem o vivenciou: os alunos e eu.
Nesta busca pela compreensão de um fenômeno específico, deparei-me
com outra questão: estaria eu observando um ou dois fenômenos? A
118
interpretação e re-interpretação dos textos coletados, me levaram a concluir
que se tratava de dois fenômenos distintos.
O fenômeno da produção escrita na interface papel, foi caracterizado
pela dificuldade na utilização da língua em foco e pela busca da aprendizagem
para a superação dos obstáculos, com o objetivo de um desenvolvimento
pessoal e profissional. O fenômeno da produção escrita na interface blog, se
estrutura no interesse pela tecnologia, promovendo a superação dos
obstáculos do uso da língua inglesa e oportunidades diferenciadas de
interação.
As estruturas desses fenômenos o diferenciadas, o que é compatível
com a visão também diferenciada, que os alunos revelaram à respeito das
produções escritas nas duas interfaces.
Podemos dizer que, apesar de ambas serem produção escrita em língua
inglesa, as produções se operacionalizam de forma distintas em cada uma das
interfaces, constituindo assim dois processos de produção escrita
diferenciados.
Voltando meu olhar para o trabalho realizado, constato que transcendi
os objetivos inicialmente estabelecidos pois, ao procurar compreender o que
ocorria na produção escrita em língua inglesa nas interfaces papel e blog,
acabei por interpretar esses momentos com os alunos num sentido mais
amplo, ou seja, as diferenças de atitude dos alunos observadas durante as
atividades propostas e seus reflexos no ato da escrita. Dessa forma posso
concluir que a interface repercute no processo desenvolvido, no ato de
escrever.
Esta pesquisa, além de permitir a compreensão da estrutura dos
fenômenos em foco, permitiu me perceber a mudança de atitude dos alunos
em relação ao ato de escrever e o que isso promove. Quando destaco esse
aspecto, refiro-me à mudança:
- do ponto de vista dos alunos quanto ao ato de escrever
- da perspectiva quanto ao uso da língua inglesa
- de atitude: preocupação com a produção
119
A percepção encerra o ato de notar, de tomar conhecimento, de
compreender, instintivo em todo ser humano que se aventura por novos
caminhos ou se depara com novas situações. A tendência do ser humano é
observar o que o cerca e perceber, às vezes sem se dar conta, o que acontece
ao seu redor. No caso do fenômeno pesquisado acredito que as mudanças
acima citadas estejam ligadas à uma nova percepção que os alunos
alcançaram quando tiveram contato com a interface blog e, portanto, às
representações que revelam quando refletem sobre as atividades feitas nessa
interface.
A mudança do ponto de vista dos alunos quanto ao ato de escrever em
língua inglesa e a mudança de sentimentos em relação a este ato, são
perceptíveis nas representações emergentes. O ato de escrever deixou de ser
classificado como “um sacrifício”, algo insuportável, “um horror”, e passa ser
visto como algo “divertido”, “muito bom” e “interessante”. Chamo a atenção
principalmente para o termo interessante, que demonstra que de alguma forma
o ato de escrever despertou interesse.
A mudança da perspectiva quanto ao uso da língua inglesa está
vinculada à percepção de novas perspectivas quanto ao uso da escrita, ou
seja, os alunos perceberam que a utilização da escrita em língua inglesa
poderia ir além de um veículo para alcançar uma melhor posição profissional no
mercado de trabalho e passou a ser algo diferente, com impacto imediato, uma
descoberta que permite a integração.
A preocupação com a qualidade da produção escrita em língua inglesa,
está relacionada ao fato dos alunos se perceberem buscando dar o melhor de
si na produção dos textos, por estarem conscientes de que o texto escrito na
internet estaria à disposição de todos (ou seja, a consciência de estarem
produzindo um texto para uma audiência real) os levou a imprimir maior
qualidade em suas produções.
Refletindo sobre os fenômenos da produção escrita em língua inglesa
nas interfaces papel e blog observo que, além das mudanças comentadas, é
preciso destacar a questão da interação.
Para Vygotsky (1930/1984), o sujeito o é apenas ativo, mas interativo,
porque constrói conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e
interpessoais. É na troca com outros sujeitos, com o meio e consigo próprio
120
que se vão internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, o que
permite a construção de conhecimentos e da própria consciência. Trata-se de
um processo que caminha do plano social - relações interpessoais - para o
plano individual interno - relações intra-pessoais. O aluno não é tão somente o
sujeito da aprendizagem, mas, aquele que aprende junto ao outro o que o seu
grupo social produz, tal como: valores, linguagem e o próprio conhecimento.
Em relação ao fenômeno observado, não tenho a intenção de enfatizar
que a interação aconteceu quando da produção no blog, mas relatar que
percebi uma maior interação entre aluno/aluno e entre aluno/meio, durante sua
utilização. Ocorreu uma troca maior de valores, linguagem e de conhecimentos,
entre os sujeitos e entre os sujeitos e o meio, durante o processo da escrita
nesta interface.
Durante a produção no blog, os alunos se comunicaram com maior
freqüência entre si, e num envolvimento cada vez mais amplo com o colega e
com a atividade, conforme descrito anteriormente. Independente da
presença da professora, eles foram formando a sua própria consciência e
buscando ampliar conhecimentos sobre o ato de escrever em língua inglesa e
sobre a utilização dessa língua através de uma interface que lhes permite uma
interação ainda maior com o mundo, através da internet.
A mediação foi outro fator que despontou em minhas observações. A
mediação, tanto do professor quanto do dicionário, foi menor quando da
utilização da interface blog. Os alunos, envolvidos que estavam na atividade,
interagindo mais entre si e com o meio, não necessitaram da mediação tão
presente do professor, a não ser no que diz respeito ao uso da tecnologia
(computador) e, mesmo neste caso, somente no início das atividades, visto que
o contato entre eles supriu muitas das suas necessidades nesse quesito.
Quanto ao dicionário, a sua mediação durante o ato de escrever na interface
blog foi nula, pois os alunos não o utilizaram em momento nenhum. Esse fato,
ao meu ver, demonstra uma maior segurança no ato de escrever, uma auto-
confiança no uso de seus conhecimentos, facilitada pela interação com seus
pares, libertando-os, até certo ponto, da necessidade da mediação do
professor e do dicionário.
121
Creio que ao término desta experiência, posso afirmar que obtive uma
visão muito esclarecedora que me fez refletir sobre minha prática docente e
descobrir novas dimensões dessa prática. Nesse sentido, compartilho com a
visão de Kenski (2003:49), quando ela afirma que “a diferença didática não
está no uso ou não-uso das novas tecnologias, mas na compreensão das suas
possibilidades.”
Como professora e pesquisadora, através dessa experiência por mim
vivenciada, acredito que ainda haja muito a ser investigado na área da
produção escrita em língua inglês.
A minha caminhada está concluída? Creio que o. Estou apenas
iniciando uma nova etapa dela. Nesta investigação priorizei nas minhas
interpretações, o processo de produção escrita em língua inglesa, porém
acredito que possa vir a contribuir na área da produção escrita, voltando meu
olhar também para uma investigação mais detalhada, sobre o desenvolvimento
do processo e, sem dúvida, sobre o produto, pois ele é implicação direta do
trabalho por mim desenvolvido. Fica, aqui, portanto, a proposta para um
próximo passo nesta caminhada.
122
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Capturado em novembro/2006
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Newbury House Publishers.
131
ANEXO 1 – Questionário Inicial
Gostaria que completasse e respondesse os itens e perguntas abaixo, usando de sinceridade, para
que possamos nos conhecer um pouco melhor.
- Nome:
- Idade:
- Endereço:
1) Há quanto tempo estuda na escola e onde estudou anteriormente?
2) Possui computador em casa?
3) Tem acesso a internet? Em caso afirmativo, com qual freqüência, para quê você usa a internet e
onde acessa?
4) Possui e-mail, msn, blog, fotolog ou vibeflog? Em caso afirmativo, quando usa e para quê?
5) Já participou de alguma atividade na sala de informática da escola? Em caso afirmativo, como foi
essa experiência?
6) Já participou de alguma atividade da disciplina de língua inglesa na sala de informática? Como foi
essa atividade e o que você achou da experiência?
7) Você gosta de escrever? Justifique.
8) O que você costuma escrever?
9) Você gosta de estudar inglês? Gosta de escrever em inglês? Justifique?
10) Há quantos anos você tem aulas de inglês na escola?
11) Qual a importância desse aprendizado para você?
12) Usa a língua inglesa em algum momento? Quando? Com quem?
13) Acha que utilizará a língua inglesa futuramente? Em que situações?
14) Você freqüenta algum curso de inglês, ou aula de inglês particular? Por que?
15) Como é a aula de língua inglesa na escola?
16) A qual habilidade o professor dá maior ênfase escrita, leitura, oral ou auditiva?
17) Qual dessas habilidades, em sua opinião, necessitaria maior atenção nas aulas de língua inglesa?
Por quê?
18) Em sua opinião, como é o seu desempenho em cada um dessas habilidades no uso da língua
inglesa?
Ótimo Bom Regular Ruim Péssimo
Leitura
Escrita
Oralidade
Compreensão Auditiva
Explique sua escolha:
Leitura:____________________________________________________________________
Escrita:____________________________________________________________________
Oralidade:__________________________________________________________________
Compreensão Auditiva:_______________________________________________________
19) Como você classificaria a sua competência lingüística em língua inglesa, ou seja, sua
capacidade de utilizá-la?
Ótima Boa Regular Ruim Péssima
Explique sua escolha______________________________________________________
20) Como você classificaria seu desempenho durante as aulas?
É ótimo É bom É regular Eu me esforço muito
Poderia me esforçar mais É ruim É muito ruim
Justifique:________________________________________________________________
- Faça um comentário:
A aula de inglês é ... ________________________________________________________
A aula de inglês deveria ser... _________________________________________________
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