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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC-SP
Marco Antonio Barbosa
A PRÁTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS DO
SETOR DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SAS) DA
PROVÍNCIA MARISTA DO BRASIL CENTRO-SUL –
SUA RELAÇÃO COM OS PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DA
POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (PNAS)
MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL
SÃO PAULO
2007
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC-SP
Marco Antonio Barbosa
A PRÁTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS DO
SETOR DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SAS) DA
PROVÍNCIA MARISTA DO BRASIL CENTRO-SUL –
SUA RELAÇÃO COM OS PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DA
POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (PNAS)
MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL
Dissertação apresentada à Banca Examinadora
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
como exigência parcial para obtenção do título de
Mestre em Serviço Social, sob a orientação da
Profª. Drª. Maria Lúcia Martinelli
SÃO PAULO
2007
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Banca Examinadora
DEDICATÓRIA
À minha esposa, que, com seu amor e energia
contagiante, me fez crer na alegria e nas
possibilidades ilimitadas do sonho.
[...] Alguém poderia objetivar que quanto mais a obra tende para a
multiplicidade dos possíveis mais se distancia daquele unicum que é o
self de quem escreve, a sinceridade interior, a descoberta de sua
própria verdade. Ao contrário, respondo, quem somos nós quem é
cada um de nós senão uma combinação de experiências, de
informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma
enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma
amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e
reordenado de todas as maneiras possíveis.
Mas a resposta que mais me agradaria dar é outra: quem nos dera
fosse possível uma obra concedida fora do self, uma obra que nos
permitisse sair da perspectiva limitada do eu individual, não para
entrar em outros eus semelhantes ao nosso, mas para fazer falar o que
não tem palavra, o pássaro que pousa no beiral, a árvore na primavera
e a árvore no outono, a pedra, o cimento, o plástico...[...]
(Ítalo Calvino, 1990)
AGRADECIMENTOS
Nesta trajetória, tenho muito a agradecer. Com certeza, não conseguirei expressar,
aqui, meu carinho e meu profundo sentimento de gratidão por todos que, direta e
indiretamente, contribuíram neste processo de construção.
A você, Flávia, sou grato pelo carinho, compreensão, atenção e cuidado; sem seu
incentivo e força, o caminho seria muito mais árduo.
À minha querida orientadora, Profª. Drª. Maria Lúcia Martinelli, muito obrigado por
sua dedicação carinhosa, pelo estímulo sempre presente e encorajador à minha
produção teórica.
Ao Irmão Jorge Gaio, exemplo de dedicação e determinação, que nos instiga,
estimula e desafia. Obrigado por possibilitar a realização deste sonho.
Às minhas companheiras de trabalho, Ana Paula Sala Dias, Bárbara Pimpão
Ferreira, Juliana Kuwano e Soeli Terezinha Pereira, muito obrigado pelo carinho,
pela tolerância nos momentos de ausência, pela compreensão e solidariedade,
durante todo este processo.
Ao Diogo e Michelle, pelas inúmeras contribuições, muito obrigado.
À Profª. Drª. Ilda Witiuk, que, com carinho, me acolheu no Núcleo de Pesquisa
Serviço Social, Políticas Públicas e Movimentos Sociais, na PUCPR, meu carinho e
admiração.
Às Equipes de Trabalho, sujeitos da pesquisa, que, gentilmente, colaboraram,
dedicando parte de seu tempo para as entrevistas, registro minha admiração e meu
agradecimento especial, pelo compromisso, respeito e carinho com que acolheram a
pesquisa. Elaine Maria Borba Rufifini, Gleides Maria Soares, Janisley Aparecida
Rank, Irmão Gilmar Aricini, Lúcia Aparecida Santos Tavares, Irmão Valmir
Nogueira da Silva, Silvia Helena Matias, Paulo Sérgio Aragão, Irmão Valdir
Gugiel, Ruth Alves Gomes e Elaine Andréa Landoviski.
Aos amigos especiais, que mesmo distantes, são parte integrante de nossas
construções, Lea, Tânia, Ina, Gleny, Luiza Granado, Angélica, Carla, Marco
Antonio, com certeza trago, nesta produção, parte de cada um de vocês.
À Associação Brasileira de Educação e Cultura (Abec), agradeço pelo apoio e
incentivo no processo de realização do mestrado.
À Coordenadoria para Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES),
pela concessão da bolsa parcial de mestrado, o que contribuiu significativamente
para o meu crescimento acadêmico e profissional.
RESUMO
Esta dissertação aborda a relação de afinidades existentes entre os princípios e
diretrizes da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e a Política Institucional
de Assistência Social da Província Marista do Brasil Centro-SUL, a partir do estudo
da prática profissional dos assistentes sociais das unidades sociais do setor de
assistência, ancorado no resultado da análise dos dados coletados em entrevistas
semi-estruturadas e estudo documental e bibliográfico.
Fundamentamos esta pesquisa na teoria marxiana, valendo-nos da contribuição de
Michael Löwy, no que se refere à categoria da totalidade. Buscamos apreender, em
um processo de aproximações sucessivas, o movimento do objeto; sua
processualidade na constituição dessas afinidades.
O estudo feito a partir da prática dos profissionais assistentes sociais, na
constituição dessa relação de afinidades, remeteu-nos, portanto, à complexa
dinâmica, própria da constituição da teia social, resultante do jogo de forças e
embates entre diversas e distintas realidades, que constituem uma unidade na
diversidade, uma totalidade dinâmica em constante transformação.
Concluímos que a afinidade entre a Política Institucional de Assistência Social e a
PNAS expressa o movimento dinâmico de transformações, no qual o modo como se
estabelecem as interações são determinados e determinam a constituição dessas
afinidades.
Palavras-Chave:
PNAS, Política Institucional, Província Marista do Brasil Centro-Sul, Setor de
Assistência Social, Apoio Socioeducativo, Rede Socioassistencial.
ABSTRACT
This dissertation is about the existant afinity relation between the principles and
directions of the National Social Assistance Policy and the Central South Maristas do
Brazil Province Social Assistance, from social assistants professional pratices studies
form social units of assistance sector, anchored in colected data analysis result in
semi structured interviews in documented and and bibliographical studies.
We base this research in the Marxist theory, including Michael Löwy contribuition, in
relation to totalitary category. We aim at learning, in a sequential proximity process,
the object movement, its afinity proceeding.
The studies made from social assistant practices, in the constitution of this afinity
relation, took us, therefore, to a complex dynamic, proper from the social net
constitution, resulted from strengh and facing different and distinct realities that make
a unit in diversity, a dynamic totality changing.
We, therefore conclude, that afinity between the Social Assistant Institutional Policy
and PNAS express a dynamic movement in changing in which the way we estabilish
the interactions are determined and determine the afinity constitution.
Key Words:
PNAS, institutional policy, Center South Marista do Brasil Province, Social Assistant
Sector, Socio educative support, Social Assistance Net.
Lista de Siglas
Abec Associação Brasileira de Educação e Cultura
APC Associação Paranaense de Cultura
Bird Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento
c Código de Direito Canônico
CAE Comissão para Assuntos Econômicos
CAE Comissão de Assuntos Econômicos
CEI Centro de Educação Infantil
Cemafor Centro Marista de Formação
Cemafrei Centro Marista de Formação Frei Rogério
Cesmar Centro Educacional e Social Marista
Cesomar Centro Social Marista
CF
Sigla institucional usada na referência de outros números das
Constituições e Estatutos
CMAS Conselho Municipal de Assistência Social
CMDCA Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente
CNAS Conselho Nacional de Assistência Social
CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
Conanda Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
Cras Centro de Referência da Assistência Social
CT Conselho Tutelar
DSC Discurso do Sujeito Coletivo
ECA Estatuto da Criança e Adolescente
FTD
Editora cuja sigla é uma homenagem ao Frère Théophane Durant,
superior geral da Congregação Marista, de 1883 a 1907
GT Grupo de Trabalho
IBGE Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
Loas Lei Orgânica da Assistência Social
MPP Matriz de Planejamento de Projetos
NAS Núcleo de Ação Social
Nese Núcleo de Pesquisa e Estudos Socioeconômicos
NOB Norma Operacional Básica
ONG Organização Não-Governamental
Peti Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
PMBCN Província Marista do Brasil Centro-Norte
PMBCS Província Marista do Brasil Centro-Sul
PMRS Província Marista do Rio Grande do Sul
Pnud Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PSB Proteção Social Básica
PSE Proteção Social Especial
Senai Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
Sius Sistema de Informações das Unidades Sociais
Some Sociedade Meridional de Educação
Suas Sistema Único de Assistência Social
SUS Sistema Único de Saúde
Ubee União Brasileira de Educação e Ensino
UCE União Catarinense de Educação
UEL Universidade Estadual de Londrina
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
Umbrasil União Marista do Brasil
Unesco
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura
Unisanta Universidade Santa Cecília – SP
Unopar Universidade Norte do Paraná
SUMÁRIO
LISTA DE SIGLAS.................................................................................................... 10
INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 13
Capítulo I
1. O Surgimento da Instituição Marista e sua Evolução...................................... 19
1.1. A Instituição no Brasil.................................................................................. 28
1.2. A Província Marista do Brasil Centro-Sul (PMBCS).................................. 42
Capítulo II
2. O Setor de Assistência Social (SAS)................................................................. 45
2.1. O Setor de Assistência Social (SAS) - Período de 2005 a 2007............. 54
Capítulo III
3. A Política Institucional e a Política Nacional de Assistência Social.............. 65
Capítulo IV
4. Apresentação da Pesquisa................................................................................ 76
4.1. Centro Social de Educação Infantil Lar Feliz........................................... 78
4.2. Escola Marista Municipal São José.......................................................... 82
4.3. Centro Social Marista Irmão Acácio......................................................... 85
4.4. Centro Educacional e Social Marista Dourados...................................... 88
4.5. Quadros Sínteses dos Discursos dos Sujeitos Coletivos...................... 91
4.5.1. Quadro I - Caracterização dos Sujeitos da Pesquisa.................... 91
4.5.2. Quadro II - Afinidades entre a Política Institucional e a PNAS..... 96
4.5.3. Quadro III – Critério de Ingresso e Trabalho com Famílias.......... 99
4.5.4. Quadro IV - Articulação com a Rede Socioassistencial,
Participação em Conselhos e Parcerias................................................. 108
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 115
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 120
ANEXOS................................................................................................................. 125
13
INTRODUÇÃO
Como trágica ladainha a memória boba se repete. A memória viva,
porém, nasce a cada dia, porque ela vem do que foi e é contra o que
foi.
Aufheben era o verbo que Hegel preferia, entre todos os verbos do
idioma Alemão. Aufheben significa, ao mesmo tempo, conservar e
anular; e assim presta homenagem à história humana, que morrendo
nasce e rompendo cria.
1
Aos 42 anos, nos percebemos celebrando essa contradição, tão bem expressa por
Galeano. Como toda e qualquer pessoa, a vida nos apresenta a possibilidade de nos
construirmos enquanto a construímos, de forma lenta, passo a passo, sob pena de
perdê-la; morremos a cada momento vivido, pois deixamos de ser o que éramos;
nascemos a partir de cada nova experiência; e alimentamos o desejo pela vida,
pelos desafios, pelo novo, que não cessa de desvelar-se diante de nossos olhos.
O mestrado foi uma conseqüência desse processo de inquietação e de busca pelo
conhecimento, como aporte para uma reflexão sobre a prática profissional.
Acreditamos que nossas trajetórias, pessoal e profissional, foram responsáveis pelo
ingresso no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social.
Trajetórias marcadas pelo constante movimento de ruptura e de criação, como
tentaremos expressar em algumas passagens, como o ingresso na Instituição
Marista, em 2001.
Início do desafio de conhecer os meandros da lógica e estrutura de funcionamento
da instituição privada, e retomada da relação com a área da educação, da qual nos
distanciamos, ao integrar a área da saúde do Município de Diadema.
1
GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Tradução de Eric Nepomuceno, 2.ed., Porto Alegre:
L&PM, 1991.
14
Foram muitos os desafios durante essa incursão entre o público e o privado, entre a
saúde e a educação.
Em 2005, fomos convidados pelo Setor de Assistência Social (SAS) da Província
Marista do Brasil Centro-Sul (PMBCS) a assumir a coordenação-geral do Centro
Social Marista (Cesomar) Irmão Lourenço, unidade social localizada na Zona Leste
de São Paulo.
O convite foi decisivo e marcou nosso afastamento do serviço público, intensificando
nossa aproximação da área educacional e da lógica da instituição privada e
confessional.
Nesse mesmo período, iniciamos o mestrado e fomos chamados a novos desafios,
com o convite do SAS, para integrar a equipe de assessores do setor. Essa decisão
remeteu-nos a mudanças significativas, de ordem pessoal, profissional e acadêmica,
e, de certa forma, esse novo desafio foi determinante na definição desta pesquisa.
A mudança de São Paulo para Curitiba (PR), a alteração na natureza do trabalho
desenvolvido como assessor do SAS, e o estabelecimento de novas relações,
exigiram, durante este processo de pesquisa, muito esforço, pessoal e profissional,
porém, também oportunizaram experiências ímpares, como a participação e inclusão
desta pesquisa no Grupo de Pesquisa sobre Serviço Social, Políticas Públicas e
Movimentos Sociais (Proetica Pontifícia Universidade Católica do Para- PUC-
PR), coordenado pela Profª. Drª. Ilda Lopes Witiuk.
A escolha desta temática foi ancorada, a princípio, em nosso interesse especial pelo
caráter interventivo da profissão, e na oportunidade privilegiada de acompanhar as
transformações e mudanças decorrentes da implementação da PNAS.
Identificamos este momento como privilegiado para voltar nossos olhares para as
práticas institucionais e para a ação cotidiana de seus profissionais, por
entendermos que o serviço social, como as demais profissões sociais, constrói-se na
teia social e, portanto, no movimento histórico da sociedade, assim como as
instituições.
15
Consideramos, neste trabalho, o momento histórico de constituição da Instituição
Marista, da PMBCS e do SAS, buscando compreender sua trajetória histórica, a
partir de seus documentos. Consideramos, também, a construção da Política
Nacional de Assistência Social (PNAS) e seu processo de implementação.
Inicialmente, pretendíamos investigar a influência da PNAS na Política Institucional
de Assistência Social marista e como esta política se expressava na prática dos
assistentes sociais das unidades sociais pesquisadas.
A hipótese preliminar era que os princípios e diretrizes da PNAS se materializam
parcialmente na política institucional da PMBCS e ganhavam concretude na ação
cotidiana dos assistentes sociais nas unidades sociais, uma vez que eles são os
responsáveis pelas ações do serviço social.
O exame de qualificação, composto pelas professoras doutoras Maria Lúcia
Martinelli, na condição de orientadora, Maria Carmelita Yasbek e Myrian Veras
Baptista, contribuiu para a redefinição do olhar para a relação entre a política
institucional e a PNAS. A partir dessa contribuição, focamo-nos na identificação das
afinidades existentes entre os princípios e as diretrizes da PNAS materializados na
política institucional de assistência, a partir da prática dos assistentes sociais das
unidades sociais pesquisadas.
Iniciamos a pesquisa com o enfoque da pesquisa participante, por entendermos que,
como assessor do SAS, somos parte integrante do campo da pesquisa.
Privilegiamos a análise da intervenção profissional, através de entrevistas semi-
estruturadas, com perguntas contendo questões que permitiram identificar como os
sujeitos, em suas trajetórias profissionais, operaram as orientações institucionais e a
relação entre essas orientações e os princípios e diretrizes da PNAS.
Por considerarmo-nos como parte do grupo utilizamos, também, como material de
análise, os registros institucionais das ações de monitoramento por nós realizadas.
16
Tais registros e demais materiais obtidos nessas intervenções, como relatórios e
fotografias, constituíram apoio significativo para o desenvolvimento desta pesquisa.
Iniciamos a análise dos documentos institucionais a partir de fontes mais relevantes
sobre a história da constituição da instituição; buscamos identificar seu movimento
ao longo da história, sua constituição hierárquica e suas transformações no decorrer
de sua trajetória, no mundo, no Brasil, mais precisamente na PMBCS.
Compuseram, esta análise, os documentos Plano Socioeducativo (PSE) e o Plano
de Ação de 2006 das Unidades Sociais CSEI Lar Feliz, Escola Marista Municipal
São José, Cesomar Irmão Acácio e Cesmar Dourados.
Para realizar as entrevistas com as equipes de trabalho das respectivas unidades,
elaboramos um roteiro de questões semi-estruturadas, contendo 12 questões
agrupadas em quatro blocos, nas categorias de análise a saber:
Caracterização dos sujeitos da pesquisa;
Afinidades entre a política institucional e a PNAS;
Critério para ingresso nos serviços institucionais e trabalho com famílias;
Articulação com a rede socioassistencial, participação em conselhos e
parcerias.
Em 18 de dezembro de 2006, realizamos a entrevista teste com a equipe de trabalho
da Escola Ecológica Marcelino Champagnat, em Almirante Tamandaré (PR), para
avaliarmos as questões. Essa aplicação resultou na reorganização na ordem de
apresentação das questões, contribuindo para que as agrupássemos nos quatro
blocos acima apresentados.
As demais entrevistas foram realizadas em:
22 de fevereiro de 2007 - CSEI Lar Feliz, Santos (SP);
5 de março de 2007 - Escola Marista Municipal São José, São José (SC);
12 de março de 2007 – Cesomar Irmão Acácio, Londrina (PR);
10 de abril de 2007 – Cesmar Dourados, Dourados (MS).
17
Todas as entrevistas foram transcritas e seus conteúdos são apresentados, na
íntegra, no CD-ROM: Entrevistas A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de
Assistência Social (SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Su - Sua Relação
com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de Assistência Social (PNAS),
inserido na contracapa desta dissertação.
Na análise das entrevistas, utilizamos a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo
(DSC) proposta por Fernando Lefèvre e Ana Maria Cavalcanti Lefèvre (2003).
Após esta introdução, apresentamos, no Capítulo I, o surgimento da instituição
marista e sua evolução, enfocando sua trajetória no cenário histórico, desde o
nascimento de seu fundador, José Bento Marcelino Champagnat, sua constituição e
expansão no mundo, no final do século XIX e início do século XX, os primeiros
passos da instituição no Brasil e seu desenvolvimento até os dias atuais, enfocando
mais especificamente a constituição da PMBCS.
No Capítulo II, descrevemos o desenvolvimento do Setor de Assistência Social, que
teve sua origem nas Províncias Maristas de São Paulo e Santa Catarina, como
Núcleo de Ação Social do Setor Educacional, enfatizando, principalmente, o período
de 2005 a 2007, momento de realização da pesquisa, e que foi marcado por
importantes e significativos avanços institucionais.
A análise e a identificação da relação existente entre a política institucional e a
PNAS estão contidas no Capítulo III e foram feitas a partir dos documentos
institucionais e dos documentos que orientam a implementação da PNAS.
No Capítulo IV apresentamos a análise da pesquisa, os quadros sínteses dos DSC e
contextualizamos as unidades sociais pesquisadas.
As Considerações Finais são abertas com um texto que reflete, de forma subjetiva e
poética, a conclusão desta pesquisa, além de introduzir as conclusões parciais sobre
as afinidades entre os princípios e diretrizes da PNAS e da Política Institucional de
Assistência Social, comprovando nossa hipótese de que ambas caminham em
ritmos de tempo diferentes, porém com movimentos simultâneos.
18
19
CAPÍTULO I
1. O SURGIMENTO DA INSTITUIÇÃO MARISTA E SUA EVOLUÇÃO
Em 20 de maio de 1789, nasce, em Marlhes, na França, José Bento Marcelino
Champagnat, sexto filho de um casal de lavradores e proprietários de um pequeno
moinho.
Esse período é marcado pelo início da Revolução Francesa, que altera o quadro
político e social da França, até então, um país absolutista, marcado por uma
sociedade estratificada e hierarquizada: Primeiro Estado - clero
2
; Segundo Estado -
nobreza
3
; e Terceiro Estado
4
.
A Queda da Bastilha, fortaleza-prisão, em 14 de julho de 1789, é o principal marco
desse processo revolucionário, pois a prisão política era o símbolo da monarquia
francesa.
O desejo do Terceiro Estado é representado pelo ideal revolucionário, que aboliu a
servidão e os direitos feudais e proclamou os princípios universais de Liberdade,
Igualdade e Fraternidade (Liberté, Egalité, Fraternité)
5
.
Esse período histórico é marcado por transições, que resultaram em transformações
significativas nas estruturas política, social e econômica, não só na Europa, mas em
todo o mundo.
Durante esse processo, a nobreza deixa a França; os integrantes da monarquia são
guilhotinados; o clero também é perseguido; e a Igreja tem seus bens confiscados.
2
Primeiro Estado ou Clero, na Idade Média, era todo estrato social associado ao culto religioso, nomeadamente cristão.
Enciclopédia Livre Wikipédia. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Clero. Acesso em: 12 de janeiro de 2007.
3
Segundo Estado, ou Nobreza, era formado pelo rei, sua família, condes, duques, marqueses e outros nobres. Enciclopédia
Livre Wikipédia. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Clero. Acesso em: 12 de janeiro de 2007.
4
Terceiro Estado era, composto por trabalhadores, camponeses e burguesia. Enciclopédia Livre Wikipédia. Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Clero. Acesso em: 12 de janeiro de 2007.
5
Lema de autoria de Jean Nicolas Pache, que viria a ser um símbolo da Revolução Francesa.
20
A Revolução Francesa desencadeia uma onda de perseguição contra a Igreja
Católica, causando significativo declínio, em número e influência, das ordens
religiosas.
Nesse mesmo ano, em agosto, a Assembléia Constituinte promulga a Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão, que garante direitos iguais aos cidadãos,
além de maior participação política para o povo. Estabelece novos princípios de
organização social, que se constituíram em movimentos contraditórios e complexos,
promovendo mudanças nas estruturas sociais, ao longo da história.
É a Revolução Francesa que realiza no plano político o trânsito para o
capitalismo. O Impacto por ela produzido, na busca de seu objetivo de
derrubar o Antigo Regime e instalar a sociedade burguesa, levou à demolição
da máquina estatal e fez ruir a estrutura social do feudalismo. (MARTINELLI,
1989:34)
Neste cenário é que, após a revolução, a Igreja reorganiza seus quadros sacerdotais
e busca preencher as lacunas deixadas por esse período, procurando, nas
paróquias das aldeias, jovens com inclinação para a vida sacerdotal.
E, assim, Marcelino ingressa, aos 16 anos, no Seminário Menor de Verrières.
Apresenta muitas dificuldades e é o mais atrasado da turma, em função de seu baixo
estudo, mas, mesmo com dificuldades, consegue superar suas deficiências
dedicando-se com afinco aos estudos.
Acreditamos que sua missão institucional tenha se originado nesse momento
histórico, permeada por sua trajetória pessoal de dificuldades com os estudos e com
os processos de transformações sociais, políticas e econômicas, que a Europa vivia,
a partir das Revoluções Francesa e Industrial.
Para Marcelino Champagnat, o núcleo da Missão é “fazer Jesus Cristo
Conhecido e amado”. (in: Constituições, 2; Vida, p. 312-458) Ele
considerava a educação como um meio para levar as crianças e os jovens à
21
experiência de pessoal e de fazê-los Bons cristãos e virtuosos
cidadãos”.
6
Nós, como seus discípulos, assumimos a Missão, inicialmente ajudando as
crianças e os jovens, sem nos importar com a fé que professam ou a etapa da
sua busca espiritual, a tornarem-se pessoas integradas e de esperança, com
profundo sentido de responsabilidade social para transformar o mundo ao seu
redor. Ajudar a crescer em humanidade é parte integrante do processo de
evangelização. [...]
7
Ingressa, em 1812, no Seminário Maior de Lião, onde vive a preparação para as
santas ordens. Durante a estada no seminário, surgiu-lhe a idéia de fundar uma
sociedade de padres, cuja finalidade principal seria trabalhar a salvação das almas,
através das missões e da educação da juventude – a Sociedade de Maria.
Marcelino apontava, para os companheiros, a necessidade de se ter irmãos que
atendessem ao apelo específico de praticar, para com todos, a fraternidade de
Cristo, especialmente com os jovens, amando-os. Desejava que esses irmãos
ensinassem o catecismo, ajudassem os missionários e educassem as crianças.
Como não fazia parte dos planos da nova sociedade a constituição desses irmãos,
seus companheiros não o contestavam, mas também não atribuíam importância ao
seu desejo.
Sua insistência fundamentava-se na falta geral de instrução formal, religiosa; de
formação espiritual, e também no enfraquecimento da Igreja com a Revolução
Francesa e com as transformações sociais em curso.
Acreditamos que outras motivações estavam centradas em suas limitações
pessoais, por dominar apenas o idioma francês, e pela falta de preparação
acadêmica para a vida no seminário, em função de sua baixa escolaridade.
6
COMISSÃO INTERPROVINCIAL DE EDUCAÇÃO. Missão educativa marista: um projeto para o nosso tempo, p. 39.
7
Ibid. p. 39.
22
Esse período histórico é favorável à intencionalidade de Marcelino. A França não
conta com muitas escolas, e a Comissão da Instrução Pública, encarregada da
tarefa de garantir a instrução nacional, responsabiliza os municípios pela instrução
primária das crianças. Napoleão restabelecera os Irmãos das Escolas Cristãs, em
1803, juntamente com algumas Congregações de Irmãs, e destinava ajuda
financeira para os que ingressassem no campo da instrução, porém esses esforços
concentravam-se nos centros urbanos.
Marcelino encontra, nessa abertura de Napoleão, a possibilidade de oferecer ensino,
através das escolas de sua congregação, às crianças dos povoados, aldeias e
vilarejos, e iniciar o que, posteriormente, seria a Missão institucional.
Porém, essa inclusão não se de forma linear e tranqüila. A revolução de 1830,
que se difundiu por toda a Europa, também teve caráter liberal e burguês, porém
agregou novos elementos, como a participação do proletariado industrial, com
influência socialista, o que provocou conflitos entre a Igreja e o Estado. O tema da
educação foi constante campo de batalha para essas duas instituições, dificultando
muito a autorização do Instituto.
Marcelino Champagnat e a maioria de seus colegas, fundadores da Sociedade de
Maria, são ordenados padres em 1816. Separando-se para irem aos lugares
designados, comprometem-se a trabalhar e a fazer tudo o que dependesse deles
para realizar o plano que haviam concebido juntos, durante a formação.
Padre Champagnat é designado coadjutor
8
na Paróquia de La Valla, na França,
região de topografia difícil, que agregava aproximadamente dois mil habitantes,
dispersos entre vales e morros. (Figura 1) Desenvolve suas atividades com
dedicação e afinco, principalmente atendendo crianças através da catequese.
Em La Valla, Marcelino aluga uma pequena casa, nas proximidades da paróquia, e
em 2 de janeiro de 1817, com apenas dois postulantes, um homem e um
8
adj (lat coadjutore) […] Ecles Prelado que ajuda ou substitui o bispo residencial de uma diocese, ou padre que
ajuda o pároco no exercício de seu ministério. Fonte: Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis.
Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues. Acesso em: 15 de janeiro de 2007.
23
adolescente, simples, sem instrução, como a maioria da população camponesa da
França na época, inicia o que mais tarde se tornaria o Instituto Marista.
Com a intenção de torná-los educadores, Marcelino os ocupava com orações,
trabalhos braçais e estudos disciplinados, que consistiam em aprender a ler e
escrever, contar e saber o catecismo.
A partir deles, nascem as primeiras escolas, de La Valla, Marlhes e Saint-Souveur. O
trabalho obtém reconhecimento público e, com isso, aumenta o número de
postulantes e noviços. Em 1824, inicia-se a construção de L’Hermitage, nova casa
de formação, prédio que abriga o Instituto até hoje, e é símbolo da Instituição
Marista.
9
FIGURA 1 - Mapa da La Valla e região, na década de 1800
9
Mapa La valla e Região. Disponível em: http://www.fmsmediterranea.net/champagnat/albumfot/lavalla.htm. Acesso em: 15 de
março de 2007.
24
10
FIGURA 2 – Mapa da França na década de 1800
Em 6 de junho de 1840, padre Marcelino Champagnat, aos 51 anos, morre em
L’Hermitage, deixando 280 religiosos responsáveis pela formação de sete mil
alunos, em suas várias escolas.
A Santa aprova, em 1863, o Instituto Religioso Pequenos Irmãos de Maria, como
instituto autônomo e de direito pontifício, respeitando o nome de origem de Irmãos
Maristas das Escolas (Fratres Maristæ a Scholis - FMS)
11
.
Após a morte do padre Champagnat, a Instituição continua crescendo, espalhando-
se pela França e por outros países e continentes, instalando-se na Inglaterra, em
1852; na Bélgica, em 1856; na Escócia, em 1858; na África do Sul, em 1867; na
Austrália, em 1871; na Nova Zelândia, em 1876; no Canadá, em 1885 na Itália e
10
Mapa da França. Disponível em: http://www.fmsmediterranea.net/champagnat/atlas/atlasmapa1.gif. Acesso em: 15 de
março de 2007.
11
Constituições, 1, Identidade dos Irmãos Maristas na Igreja. In: MASSON, Robert. Marcelino Champagnat: não seria
possível sem Deus. Tradução de Irineu Martim. São Paulo: Loyola, 2000.
25
Espanha, em 1886; na Colômbia, em 1889; na China e Argélia, em 1891; na Suíça,
em 1893; no Brasil, em 1897; no México, em 1899; e na Argentina, em 1903.
Essa expansão é de fundamental importância para consolidar o Instituto Marista, o
qual, sob influência da instabilidade política, na Europa, no início do século XX, teve
seus educadores religiosos expulsos da França e suas escolas fechadas. Essa
ação do governo francês fortalece a presença e a atuação dos Irmãos Marista no
Mundo.
Atualmente, a Instituição Marista está presente em 77 países e conta com 51.500
irmãos e leigos envolvidos no atendimento de 497.300 crianças e jovens. Os dados
apresentados, a seguir, foram extraídos de material elaborado, em 2006, para a
Assembléia Internacional Marista, que será realizada em setembro de 2007, no
Brasil, sob o tema Um Coração Uma Missão
12
.
O referido material apresenta, de forma clara e objetiva, o número de irmãos e leigos
envolvidos na Missão Institucional, o número de crianças e jovens atendidos e os
relaciona com a representação, em percentual, da Missão Marista no Mundo. A
partir desses dados, elaboramos a Tabela 1 e o Gráfico I que seguem.
TABELA 1 - Missão marista no mundo
Localidade (%)
África 7
América do Norte 3
Pacífico 6
Ásia 7
Cone Sul 13
Europa 16
Arco Norte 18
Brasil 30
12
Esta Assembléia constitui-se em um espaço de reflexão, para irmãos e leigos, a respeito da missão do Instituto. Tem o
objetivo de fortalecer o processo de reestruturação que vivem as Províncias e promover o diálogo acerca da missão
institucional.
26
GRÁFICO I - MISSÃO
MARISTA NO MUNDO
7%
3%
6%
7%
13%
16%
18%
30%
África
América do Norte
Pacífico
Asia
Cone Sul
Europa
Arco Norte
Brasil
A África, a pesar de concentrar o maior número de países com a presença da
Missão Marista, 20 países, apresenta números semelhantes à Ásia, ambas contam
com a atuação de 2.100 irmãos e leigos, atendem cerca de 35.000 crianças e
jovens, números que correspondem a 7% da Missão Marista no mundo, em cada
uma delas.
A América do Norte tem a menor concentração da Missão Institucional. Apenas 3%
da Missão é desenvolvida em seus dois países, que contam com 1.300 irmãos e
leigos no atendimento de 12.600 crianças e jovens.
O Pacífico abriga a Missão Marista em dez países; nos quais atuam 3.300 Irmãos e
leigos, no atendimento de 29.700 crianças e jovens, correspondendo a 6% da
Missão Marista no Mundo.
27
Encontramos, no Cone Sul
13
, a presença da Missão Marista em seis países, com
atuação de 4.649 irmãos e leigos, no atendimento de 62.572 crianças e jovens,
correspondendo a 13% do total mundial..
A Europa corresponde a 16% da Missão Marista no Mundo. Em 13 países, atuam
6.500 irmãos e leigos, no atendimento de 78.900 crianças e jovens.
O Arco Norte, composto pelos países da América Central, Caribe, Venezuela e
Colômbia, conta com a presença de 7.458 irmãos e leigos, atendem 91.468 crianças
e jovens. Esses dados correspondem a 18% do total no mundo.
No Brasil, está a maior concentração da Missão Marista no Mundo - 30% com
24.086 Irmãos e leigos envolvidos no atendimento de 150.796 crianças e
adolescentes. Está presente em todos os Estados do País, divididos em três
províncias e um distrito.
13
Cone Sul é a denominação que recebe a região mais meridional da América do sul, ao sul do Trópico de Capricórnio.
Geograficamente, a região inclui o Chile, a Argentina, o Uruguai, o Paraguai e a parte sul do Brasil. Não constitui uma região
oficial, nem propriamente um bloco econômico. Enciclopédia Livre Wikipédia. Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cone_Sul. Acesso em: 10 de agosto de 2007.
28
1.1. A INSTITUIÇÃO NO BRASIL
O Brasil do final do século XIX e início do século XX vive a formação e a
consolidação da República, que herda da Monarquia um grave desequilíbrio
econômico, em função das transformações na economia e nas relações de trabalho,
da abolição dos escravos, da expansão urbana, além dos reflexos das Revoluções
Francesa e Industrial.
Nesse período é que chegam os primeiros Irmãos Maristas das Províncias
Francesas de Lacabane e Varennes, em outubro de 1897, na cidade de Congonhas
do Campo, em Minas Gerais.
Prudente de Moraes chega ao poder, representando a oligarquia cafeeira. O café
passa a ser o principal responsável pela expansão capitalista desse período.
[...] São Paulo comercializava metade do café mundial e todo o café nacional
exportado correspondia a cerca de 70% do valor global de exportações.
(ALENCAR, 1979: 196)
Esse fenômeno econômico proporciona uma política favorável ao café, que é
marcada pelo estímulo imigratório, principalmente de europeus, os quais, com o
agravamento da crise econômica na Europa, vêm trabalhar nas fazendas.
A burguesia cafeeira de São Paulo detem a hegemonia política. A economia
cafeeira, com bases capitalistas, distribui-se de forma desigual entre aqueles que
participaram de sua produção, gerando, por um lado, uma grande massa de
trabalhadores assalariados, em sua maioria, imigrantes explorados por fazendeiros
com mentalidade escravocrata, e, de outro, uma burguesia agrária e urbana.
Essa economia e as crises da agro-exportação são responsáveis pelo
desenvolvimento industrial, principalmente nos Estados de São Paulo e Rio de
Janeiro, gerando a acumulação de capital financeiro, comercial e industrial, que
fortalece a hegemonia dessa burguesia concentradora do capital, em oposição a um
29
proletariado crescente, formado pelos operários das fábricas e os trabalhadores das
empresas de serviços, além de uma crescente classe média.
O fortalecimento dos industriais, a organização dos trabalhadores, sob a influência
das lutas dos trabalhadores europeus, imigrantes que compunham a massa de
trabalhadores, e as constantes crises do café, são fatores que abalam a hegemonia
oligárquica, com constantes crises políticas.
Nesse cenário nacional, é criada a Província do Brasil Central, com sede em
Mendes, no Rio de Janeiro, em 10 de março de 1908, com a chegada de novos
irmãos, da França, Itália, Espanha, e com o aumento significativo de vocações
14
maristas brasileiras. Sua abrangência estende-se por sete Estados: Rio de Janeiro,
Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
Após esse período, o País vive o Estado Novo, que instaura a ditadura, sob as
bases de uma Constituição autoritária. Seguido por um período de
redemocratização, com um Estado que apresenta, como principal característica,
uma política populista, como forma de sustentação para implementar a política de
industrialização.
O período desenvolvimentista marca a década de 1950, momento importante para a
Instituição Marista, que, em 1958, após 50 anos no país, reestrutura a Província do
Brasil Central, dividindo-a em duas: a Província Marista do Rio de Janeiro e a
Província Marista de São Paulo.
As províncias são administradas por um Governo Provincial, composto por um
superior, chamado irmão provincial, escolhido pelos irmãos da província e nomeado
pelo Conselho Geral da Congregação.
O irmão provincial é auxiliado diretamente por irmãos que integram o Conselho
Provincial, eleitos por uma assembléia de irmãos, os quais, através das comissões
de Assuntos econômicos, Pastoral, Educativa, Pobreza e Solidariedade, Pastoral da
14
Vocações: apelo ou inclinação para o sacerdócio, opção pela vida religiosa. Esclarecimento do autor.
30
Juventude, Formação Inicial e Formação Permanente, contribuem e assessoram sua
administração.
Essa estrutura de governo provincial permanece até os dias atuais, sofrendo
algumas pequenas alterações na organização das comissões, que são formadas a
partir da necessidade e das demandas dos conselhos. Atualmente, atuam as
seguintes comissões: Comissão de Espiritualidade e Formação Permanente,
Comissão de Animação Vocacional e Formação Inicial, Comissão Social, Comissão
de Educação e Comissão de Pastoral.
Em 15 de maio de 1907, é criada, no Rio de Janeiro, a Sociedade União Brasileira
de Educação e Ensino (Ubee), sem fins lucrativos, de direito privado, de utilidade
pública federal, com o objetivo de representar, inicialmente, a Província do Brasil
Central, junto aos Poderes Públicos, passando, posteriormente, em 1958, com a
divisão das Províncias, a representar exclusivamente a Província Marista do Rio de
Janeiro.
A presença dos irmãos maristas no Estado de São Paulo é registrada, de início, na
cidade de São Paulo, em 1899, com a fundação do Colégio Nossa Senhora do
Carmo, porém, sua constituição enquanto Província Marista de São Paulo, só ocorre
em 1958, pois, até esta data, o Brasil contava apenas com a Província do Brasil
Central, no Rio de Janeiro.
Outras fundações importantes marcaram e ainda são presenças fortes, dessa
história, na cidade de São Paulo. O Colégio Nossa Senhora da Glória, fundado em
1902, no bairro do Cambuci, tem como origem o atendimento aos filhos dos
operários, moradores da região. Com o crescimento urbano e o processo de
industrialização do início do século, Cambuci caracteriza-se como bairro operário.
Nesse mesmo ano, também é fundada a Editora FTD
15
e, em 1908, o Colégio
Arquidiocesano.
15
A sigla FTD é uma homenagem ao Frère Théophane Durant, superior geral da Congregação Marista de 1883 a 1907.
Disponível em: www.champagnat.org. Acesso em: 15 de março de 2007.
31
A presença marista, no Brasil, no início do século XX, expande-se com a formação
da Província do Brasil Meridional, em 1900, pelos Irmãos Marista vindos das
Províncias da Beaucamps, na França, para assumir uma Escola Normal para
formação de professores paroquiais da área de Imigração Alemã, na cidade de Bom
Princípio, no Rio Grande do Sul. Posteriormente, essa ação dá origem às Províncias
de Porto Alegre, Santa Maria e Santa Catarina.
No norte do Brasil, a presença marista é registrada a partir de 1903, com a chegada
dos irmãos franceses, em Belém do Pará, que instalaram colégios maristas em
quase todas as capitais dos Estados da região. Em 1908, é constituída a Província
Marista do Brasil Septentrional, denominada, posteriormente, de Província do Brasil
Norte.
A Província do Brasil Meridional contava, em 1951, com 400 irmãos e mais de 500
formandos, número suficiente para desdobrá-la em Província do Brasil Meridional e
Província de Santa Catarina.
Doze anos mais tarde, em 1963, há uma nova reestruturação, e a Província do Brasil
Meridional é dividida em Província Marista de Porto Alegre e Província Marista de
Caxias do Sul.
No ano seguinte, 1964, a antiga Província de Santa Catarina também é
reestruturada, dividindo-se em Província de Santa Catarina e Província de Santa
Maria. Esse período histórico é marcado por profundas e nefastas transformações
políticas, econômicas e sociais.
O golpe militar de 1964 e a instauração da ditadura militar geram uma atrofia no
desenvolvimento da sociedade civil, com a aniquilação das instituições
democráticas.
A Sociedade Meridional de Educação (Some) é oficialmente desmembrada da União
Sul Brasileira de Educação, em outubro de 1952, com a criação de seu Estatuto,
adquirindo, assim, personalidade jurídica. Porém, 12 anos depois, em 1964, é
desmembrada, da Some, a União Catarinense de Educação (UCE).
32
A Igreja Católica teve um papel importante, nesse cenário de pós-golpe militar,
sobretudo nas décadas de 1970 e 80, com a presença marcante em ocasiões de
forte tensão e repressão política, combatendo a violência e a tortura, contribuindo de
forma significativa para o processo de redemocratização do País.
A Igreja Católica expressava-se pela ação da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB), uma organização voltada para modificações em
aspectos sociais e políticos dos habitantes do país. A presença da Igreja
Católica, sobretudo de seus representantes mais esclarecidos, é retratada
como “voz dos que não tem voz”. (VIEIRA, 1985: 51)
Os estudos que realizamos, apontam que as ações institucionais nesse período de
redemocratização do País, foram fundamentadas pelas diretrizes da Igreja
Atualmente, no Brasil, a Instituição Marista está organizada em três províncias e um
distrito: Província Marista do Brasil Centro-Sul (PMBCS); Província Marista do Brasil
Centro-Norte (PMBCN); Província Marista do Rio Grande do Sul (PMRS); Distrito da
Amazônia; e a União Marista do Brasil (Umbrasil). (Figura 3)
33
FIGURA 3 - Mapa das províncias maristas do Brasil
A Umbrasil criada em 15 de outubro de 2005, na reunião de celebração dos 108
anos da chegada dos primeiros maristas ao Brasil.
As diretorias das mantenedoras das três províncias do Brasil fundaram a Umbrasil,
que, em seu estatuto, apresenta-se como pessoa jurídica de direito privado,
constituída sob a forma de associação de fins o econômicos e de caráter
filantrópico, religioso, assistencial, educacional, cultural e esportivo, atuando também
na comunicação social, na editoração, na promoção humana, na assistência à saúde
e à geriatria, e na proteção ao meio ambiente. São finalidades da Umbrasil:
Promover ações no âmbito da assistência social, da educação, do ensino, da
pesquisa, da cultura, do meio ambiente, da saúde, da geriatria, da
comunicação social, da promoção humana e da proteção à infância, à
juventude e ao idoso, desenvolvendo suas atividades em qualquer parte do
34
País, respeitada a legislação pertinente, visando sempre o desenvolvimento
social e o enfrentamento da pobreza no Brasil;
Fomentar a união e a articulação de suas associadas;
Zelar, promover e defender os interesses de suas associadas;
Promover atividades de interesses de suas associadas, consoante aos
objetivos estatutários das mesmas;
Representar legal e oficialmente suas associadas junto aos poderes
constituídos na Nação, bem como, órgãos públicos e organizações privadas
de qualquer natureza jurídica, nacionais e internacionais;
Publicar livros, impressos, material eletrônico e digital, de uso didático ou
não, de interesse de suas associadas;
Organizar programas de formação para as suas associadas, aos associados
das mesmas e seus empregados;
Atuar politicamente nas mais diversas instâncias, quando oportuno, em
articulação com a sociedade civil;
Integrar organizações e movimentos que atuem consoante suas finalidades e
interesses de suas associadas.
São órgãos de sua administração, a Assembléia Geral, o Conselho Superior, a
Diretoria e o Conselho Fiscal.
A assembléia geral é constituída pelos representantes legais e mais dois delegados,
por associada. Esses delegados são indicados, formalmente, pelos representantes
legais de cada associada, para cada assembléia geral convocada.
35
São consideradas associadas, as pessoas jurídicas admitidas pela assembléia geral,
por apresentação do conselho superior e devidamente registrada no livro de registro
de associadas.
O conselho superior é órgão de natureza deliberativa, tem mandato de um ano, e
seus membros podem ser reeleitos. É composto pelo diretor-presidente de cada
associada e mais um representante das mesmas, indicado pelo seu representante
legal e aprovado pela assembléia geral.
A diretoria da Umbrasil é formada pelo diretor-presidente, pelo diretor secretário e o
diretor tesoureiro e a sua atuação divide-se em três grandes áreas:
Vida consagrada e Laicato
16
- tem por objetivo promover a formação de
animação vocacional e formadores, produzir subsídios, realizar eventos
formativos, e socializar experiências entre as províncias, por meio da
coordenação de comissões, subcomissões, e grupos de trabalho destinados
a essas finalidades;
Missão - tem como objetivo garantir a integração e o fortalecimento dos
processos e projetos de interesse das associadas, através de diagnóstico da
realidade das associadas nos âmbitos da educação, assistência social e
evangelização;
Gestão - tem como objetivo garantir a integração e o fortalecimento no
âmbito da gestão econômico-financeira, de recursos humanos, comunicação
e marketing, suprimentos, tecnologia da informação e administração em
geral, através do diagnóstico da realidade das associadas e da elaboração
de diretrizes para alinhamento de processos, bem como o favorecimento, a
integração e a articulação com as demais.
16
Etimologia lat. laicus, a, um “leigo, de leigo”, por via erud., emprt. da Igreja ao gr. laikós 'do povo'; cp. vulg. leigo; Fonte:
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Disponível em: http://houaiss.uol.com.br . Acesso em: 13 de fevereiro de 2007.
36
Para compreender a dinâmica da Instituição, apontamos como necessário um olhar
para seu funcionamento. Para este exercício, buscamos no estudo do documento
Constituições e Estatutos – 1986 elementos que retratam as diretrizes fundamentais,
como os votos para a profissão religiosa e a organização de sua estrutura de
governo.
As Constituições, aprovadas pela Santa , guiam-nos na realização de
nossa consagração e na fidelidade às intenções do Fundador. (Constituições
e Estatutos, 1986)
Iniciamos pela profissão religiosa, por entendermos que é através dela que os
irmãos tornam-se co-responsáveis pelo Instituto, constituindo-se como religiosos
consagrados, ao mesmo tempo em que o compõem e mantêm o carisma e a missão
institucional.
Pelo Ministério da Igreja, os irmãos respondem pela profissão dos conselhos
evangélicos de castidade, pobreza e obediência, expressos publicamente na Igreja e
recebidos pelo superior.
O voto de castidade remete o religioso a viver dedicando-se totalmente a Deus e ao
próximo. Torna-os irmãos universais, comprometendo-os com uma relação de amor
único e sem reserva com Cristo, renunciando ao amor conjugal, à paternidade
humana, vivendo a continência no celibato.
O voto de pobreza consiste na renúncia do uso e na disposição de qualquer dinheiro
ou de outro bem material, de algum valor sem autorização, porém, conservam a
propriedade dos bens, a capacidade de adquirir outros e a de acrescentar ao
patrimônio o que ele pode render; mas cedem a administração a outros.Também
com a permissão dos superiores, podem renunciar a esse patrimônio.
Apresentamos, na íntegra, os subitens relacionados ao voto de pobreza, que
explicitam o funcionamento do Instituto quanto ao assunto em pauta.
Para usar dinheiro, o Irmão age sob a dependência de seu Superior imediato.
37
Presta-lhe contas regularmente das quantias postas a seu dispor.
Para dispor de um presente em dinheiro ou em espécie, o Irmão precisa da
autorização do Superior.
Antes da profissão, o noviço deve, uma vez por todas, ceder a administração
de seus bens a quem desejar e disporá livremente de seu uso e de seu
usufruto (c 668,1)
17
, civil (c 668,1).
Antes da profissão perpétua, o Irmão deve fazer um testamento válido no
foro.
Para modificar esses atos, precisa da licença do Irmão Provincial ou, em
casos urgentes, do Superior local (c 668,2).
Tudo quanto o Irmão adquirir por seu trabalho ou por ser membro do Instituto,
e o que receber a título de aposentadorias, subvenções, seguros, salários ou
benefícios sociais, pertence ao Instituto (c 668,3).
O que o Irmão recebe por seus direitos autorais pertence ao Instituto. As
normas da Província, de acordo com a legislação do país, determinarão as
modalidades para regulamentar tudo quanto se diz a respeito desses direitos.
Depois de dez anos de profissão perpétua, o Irmão pode renunciar a seu
patrimônio. Dirige-se então ao Irmão Provincial que, com seu parecer e o de
seu Conselho, transmite o pedido do Irmão ao Superior Geral, a quem
compete a decisão (c 668,4; Cf
18
150.1.4).
Os Irmãos não podem, sem licença do Irmão Provincial, administrar bens
pertencentes a outras pessoas físicas ou jurídicas. Não podem também ser
avalistas nem mesmo com seus próprios bens (c 672; c 285,4).
O Irmão recusa vantagens que lhe são oferecidas a título pessoal: viagens,
estadas, objetos de valor. Pois, embora nada custando à comunidade, podem
ferir a pobreza e a vida em comum.
O Capítulo provincial deve estabelecer as normas relativas aos objetos de
uso pessoal, assim como as referentes ao dinheiro posto à disposição dos
Irmãos para necessidades diversas: estudos, viagens, férias (Cf 151.1.3).
Pode também propor outras normas que julgue necessárias ou úteis à prática
da pobreza, levando em conta as situações locais. Nesse caso, o Irmão
17
c - Código de Direito Canônico - número do cânon. Fonte: Documento Institucional, Constituições e Estatutos – 1986.
18
Cf. Referência a outros números das Constituições e Estatutos.
38
Provincial, com seu Conselho, consultará o Irmão Superior Geral (Cf
150.2.10).
O voto de obediência fundamenta-se no exemplo de Cristo obediente até a morte;
obriga-os à submissão aos superiores legítimos, que ocupam o lugar de Deus,
quando ordenam segundo as constituições.
Identificamos em sua constituição que a província deve garantir o que é necessário
aos irmãos, prover sua formação humana, espiritual e profissional, inicial e
permanente, atender às suas necessidades de saúde e inscrevê-los na previdência
social, garantindo-lhes toda assistência necessária para a convivência na vida
comunitária consagrada.
O instituto é dividido em províncias e em distritos dirigidos pelo irmão superior geral
e seu conselho.
A província é uma unidade administrativa constituída por um conjunto de casas,
cujo pessoal e recursos materiais são suficientes para garantir vida autônoma. É
administrada por um superior provincial.
O distrito também é uma unidade administrativa constituída por um conjunto de
casas com interesses comuns, mas que não reúnem as condições exigidas para
serem província. Depende diretamente do superior geral ou do superior provincial. É
administrado por um superior de distrito.
A unidade administrativa, além de uma estrutura de governo, constitui uma grande
comunidade de vida, de oração e de apostolado. Encarna o Instituto em igrejas
locais e permanece unida ao irmão superior geral, que a une à Igreja universal.
A comunidade é a célula de base do Instituto. Consiste em uma casa dirigida pelo
irmão provincial com o consentimento do bispo diocesano.
39
A Instituição organiza-se hierarquicamente em governo geral, governo provincial e
governo local.
O governo geral conta com o irmão superior geral, que reúne todos os irmãos do
instituto em torno da missão e do carisma, guia-os e acompanha-os na fidelidade a
seus compromissos. Com eles discerne o que favorece a adaptação de seu
apostolado às necessidades dos tempos. Tem autoridade direta sobre todos os
irmãos, todas as casas, os distritos e as províncias.
[...] É eleito pelo Capítulo Geral, conforme o direito canônico, por voto secreto
e com a maioria absoluta dos Irmãos presentes. No momento da eleição,
deve ter no mínimo dez anos de profissão perpétua. Seu mandato é de oito
anos. pode ser reeleita uma vez consecutiva. Sua demissão ou deposição
compete à Santa Sé. A eleição se faz da seguinte maneira: após três
escrutínios sem resultado, terão voto os dois candidatos mais votados ou, se
são numerosos, os dois mais idosos; se, após o escrutínio, os candidatos
ficam empatados, o mais idoso será considerado eleito. [...] (Constituições e
Estatutos,1986)
O irmão vigário-geral, colaborador do irmão superior geral, também é eleito ou
reeleito pelo capítulo geral, nas mesmas condições e da mesma maneira que o
irmão superior geral.
Essa estrutura conta com o conselho geral, que é formado pelo irmão vigário-geral e
pelos irmãos chamados de conselheiros gerais, que fazem comunidade com o irmão
superior geral.
O irmão vigário-geral e os conselheiros gerais são os colaboradores imediatos do
irmão superior geral no governo do Instituto.
O capítulo geral é o documento que normatiza e disciplina a instituição. É convocado
e presidido pelo irmão superior geral, ordinariamente, a cada oito anos. É uma
assembléia representativa de todo o Instituto e indica a participação dos irmãos na
vida e na missão do Instituto, assim como sua co-responsabilidade no governo.
40
[...] Não somente as Províncias e as comunidades locais, mas também
qualquer Irmão ou grupo de Irmãos pode livremente enviar suas aspirações e
sugestões ao Capítulo Geral Essas contribuições, devidamente assinadas,
são dirigidas à comissão preparatória que as transmite aos capitulares. [...]
(Constituições e Estatutos, 1986).
O capítulo geral ordinário tem por objetivos:
Proceder a eleição do irmão superior geral e do irmão vigário-geral e dos
membros do conselho geral;
Tratar de assuntos de maior importância, referentes à natureza, ao fim e ao
espírito do Instituto e de lhe promover a renovação e adaptação,
salvaguardando-lhe o patrimônio espiritual;
Fixar estatutos para o Instituto e propor à Santa eventuais modificações
em pontos das constituições.
O governo provincial dá-se a partir de estrutura semelhante à do governo geral.
Conta com um irmão provincial, nomeado, por três anos, pelo irmão superior geral e
seu conselho. Governa a província com a ajuda de seu conselho e é responsável
pela animação espiritual e apostólica da província e pela administração dos bens.
Exerce autoridade direta sobre todos os irmãos e as casas da província. No
momento de sua nomeação, o irmão provincial deve ter ao menos dez anos de
profissão perpétua e pode ser reconduzido ao cargo.
O conselho provincial é um grupo de irmãos que, com o irmão provincial, forma o
organismo de reflexão, consulta e decisão, na província. Ajuda o irmão provincial no
governo, na animação espiritual e apostólica dos demais irmãos e na administração
dos bens.
Os conselheiros provinciais são eleitos pelo capítulo provincial. Devem ser professos
perpétuos. O irmão provincial consulta seu conselho sob re os assuntos importantes
da província, das comunidades e das obras.
41
O capítulo provincial é uma assembléia representativa de toda a província. Exprime
a participação de todos os irmãos em seu governo. É convocado e presidido pelo
irmão provincial e constitui-se em autoridade provincial.
O governo local refere-se à vida comunitária, e o superior de comunidade está a
serviço de seus coirmãos no cumprimento de sua vocação pessoal, comunitária e
apostólica.
O superior local é nomeado pelo irmão provincial e ocupa a função por três anos. Há
também um superior adjunto, que substitui o superior quando este está ausente ou
impedido de exercer suas funções. O superior adjunto, que é o primeiro conselheiro,
é escolhido de acordo com o estabelecido pelo capítulo provincial.
Essa estrutura hierarquizada da Instituição e a obediências aos votos professados,
exercem importante influência na organização Institucional. Podemos afirmar que
elas contribuem, de forma significativa, para manter a missão, constituindo, assim, a
identidade institucional.
42
1.2. A PROVÍNCIA MARISTA DO BRASIL CENTRO-SUL (PMBCS)
A PMBCS possui estrutura canônica e jurídica que normatiza seu funcionamento.
Seus membros atuam nos Estados de São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Brasília e
Mato Grosso do Sul. (Figura 4)
FIGURA 4 - Mapa das províncias maristas do Brasil centro-sul
43
A PMBCS surge como parte do realinhamento das unidades administrativas do
Instituto dos Irmãos Maristas em todo o mundo.
A junção das Províncias de Santa Catarina e São Paulo e a inclusão do Estado de
Mato Grosso do Sul, a partir de 22 de julho de 2002, gerou o Plano Estratégico da
Província Marista do Brasil Centro-Sul para 2003-2008, que, entre suas metas e
ações, definiu a implantação da sede da nova província e de suas mantenedoras, a
Associação Brasileira de Educação e Cultura (Abec), a União Catarinense de
Educação (UCE) e a Associação Paranaense de Cultura (APC), em Curitiba, no
Paraná.
A mudança de sua sede e a junção das mantenedoras são parte estratégica de um
realinhamento administrativo, que apresenta profundas mudanças em sua lógica de
funcionamento, e busca maior eficiência e eficácia em suas unidades de negócios,
para garantir e manter a missão institucional.
Faz-se necessário ressaltar que esse processo está em curso, e que seus passos
são lentos, em função da estrutura atual de funcionamento dos vários setores da
província e da resistência natural que caracteriza todo e qualquer processo de
mudança.
O organograma contido na Figura 5 apresenta o primeiro resultado desse processo;
o reordenamento dos setores e serviços das três mantenedoras sob uma mesma
estrutura e lógica hierárquica.
44
FIGURA 5 - Organograma da província marista do Brasil centro-sul
Os setores constituem-se enquanto órgãos executores, estruturados a partir de
comissões específicas, compostas por irmãos e funcionários, que respondem por
suas respectivas áreas de negócios. Possuem seus planos trienais, os quais, no
conjunto, compõem o plano provincial, responsável pela unidade da associação e da
província.
45
CAPÍTULO II
2. O SETOR DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SAS)
A PMBCS, por meio da comissão social, visa garantir a integração, a unificação e a
sistematização dos processos socioeducativos e de gestão das unidades sociais nas
mantenedoras Abec, APC e UCE.
A consolidação do Setor de Assistência Social (SAS) surgiu como o primeiro desafio,
com a junção das Províncias de São Paula e Santa Catarina.
Um breve histórico do processo social desenvolvido pelas duas mantenedoras, a
Abec e a UCE é bastante esclarecedor neste sentido.
O processo de aproximação entre as mantenedoras exerce papel fundamental na
constituição da identidade do SAS, como se pode observar no fragmento do
discurso da assistente social que vivenciou o processo na época, atuando na
mantenedora UCE.
Eu era a única assistente social, não tinha uma compreensão, a partir das
idas à Curitiba, de contatos com as outras unidades sociais, a gente passa a
ter uma identidade mais forte, enquanto unidade social, e, aí, o próprio
discurso já vai mudando [...]
19
Em julho de 2002, a estrutura social da Abec era constituída pelo Núcleo de Ação
Social (NAS), de Maringá (PR), enquanto que a UCE contava com um Departamento
de Filantropia, em Florianópolis (SC).
19
Fragmento da Entrevista realizada em 5 de março de 2007, com Equipe de Trabalho da Escola Marista Municipal São José.
Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social (SAS) da
Província Marista do Brasil Centro -Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de Assistência Social
(PNAS).
46
O NAS – Abec nasceu vinculado ao setor educacional e funcionava com uma
estrutura enxuta, distante da sede administrativa da mantenedora, localizada em
São Paulo. Contava com uma pequena equipe, composta por um irmão, que
coordenava o núcleo, e, concomitantemente, a direção do colégio de Maringá, e dois
profissionais, um assistente social e um assistente administrativo.
A UCE, com o Departamento de Filantropia, mantinha uma funcionária administrativa
que respondia diretamente ao setor administrativo da mantenedora. Não contava
com assistente social em seu quadro administrativo, apenas com uma profissional
que exercia a profissão na Escola Marista Municipal de São José, em São José
(SC).
O NAS e o Departamento de Filantropia da UCE, no período de reestruturação e
junção das províncias, entre 2000 e 2001, através de assessoria externa, realizaram
seus planos estratégicos, pautados na metodologia do Marco Lógico, sobre a qual
discorreremos na seqüência.
A metodologia do Marco Lógico, também conhecida como Logical Framework
(LogFrame), Matriz de Planejamento de Projetos (MPP), é um método desenvolvido
para elaborar, descrever, acompanhar e avaliar programas e projetos.
O NAS elaborou seu plano estratégico para gestão social, estabelecendo marcos
referenciais, visão de futuro, análise do ambiente, estratégias e as ações para sua
implementação, destacando áreas essenciais como a de desenvolvimento de redes
sociais; a de implementação de programas educacionais e culturais; a de
identificação dos impactos e sustentabilidade das ações sociais; e a de identificação
da realidade das unidades sociais.
O Departamento de Filantropia da UCE, diferentemente do NAS, optou por um plano
diretamente voltado às unidades sociais, estruturando os programas e projetos de
modo mais elaborado, como é exemplo a sistematização dos programas Vida Feliz e
47
Somar, executados nos então denominados Centro Marista de Formação (Cemafor)
e Centro Marista de Formação Frei Rogério (Cemafrei), atualmente chamados de
Centros Educacionais e Sociais Maristas (Cesmares).
Como parte desse processo de junção das províncias, foi elaborada a Carta
Interprovincial, de 23 de maio de 2002, como resultado da construção conjunta do
Nas Abec e do Departamento de Filantropia da UCE. O objetivo dessa carta foi
apresentar os princípios e diretrizes da ação social, educativa e solidária para a nova
província que se estruturava.
Destacamos, abaixo, fragmento do texto da carta que apresenta parte de seus
princípios.
Contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade fraterna de seres
humanos que promova a equidade social, assegurando opção preferencial
pelos mais necessitados, por meio da ação social educativa e evangelizadora
das crianças e jovens, pautada no aprender a conhecer, aprender a fazer,
aprender a conviver e aprender a ser, que proporcione valores de
solidariedade, autonomia e emancipação. (Fragmento da Carta
Interprovincial)
A intencionalidade de apresentar esse fragmento específico da carta, e não outros,
consiste em explicitar que esse, e os demais documentos que embasaram as
discussões institucionais, nesse período, refletem a influência dos textos das
Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano de Medellín, de 1968, que,
orientam a Igreja a fazer a opção pelos pobres e os de Puebla, 1979, que
reafirmam essa orientação, além do texto Os Quatro Pilares da Educação, do
Relatório para Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o Século
XXI
20
.
20
Texto coordenado por Jacques Delors.
48
A pobreza da Igreja e de seus membros na América Latina deve ser sinal e
compromisso. Sinal do valor inestimável do pobre aos olhos de Deus;
compromisso de solidariedade com os que sofrem. Palavras de Paulo VI (23
de julho de 1968).
21
Ressaltamos que, além dessas influências, o País vivia um período de grandes
transformações nas relações de garantia de direitos. Período marcado pela
consolidação das leis aprovadas na década anterior, como resultado da organização
da sociedade civil, pós Constituição de 1988.
A Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), Lei nº 8.742/93, e o Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA), Lei 8.842/94, de certa forma, mobilizaram a sociedade
civil e, principalmente, as instituições que atuavam direta ou indiretamente no campo
da assistência social e da criança e adolescente.
Em 2002, no momento da junção das províncias, a atuação no campo da assistência
social não estava claramente delimitada, porém, o atendimento à criança e ao
adolescente era claro e bem definido, como podemos observar na Tabela II.
21
III Conferência do Episcopado Latino-Americano. Puebla de Los Angeles, México,1979.
49
TABELA II – Unidades sociais das mantenedoras Abec e UCE
22
Mantenedora Modalidade Unidade
Atendimento
direto
Funcionários Irmãos
Abec Cesomares 3
1.054
54
7
Abec CEI’s 4
394
104
1
Abec Escolas 4
1.252
101
4
UCE Cesomar 1
165
12
3
UCE Cemafrei e Cemafor
3
42.170*
16
6
UCE Escola 1
936
51
11
Total
16
45.971
338
32
* Atendimentos correspondentes a ações pontuais e específicas com alunos das escolas públicas e,
Normalmente, semestrais.
Destacamos que, na Tabela II, os números de atendimento direto e continuado em
unidades sociais, correspondem a 3.801, pois os 42.170 atendimentos diretos do
Cemafri e Cemafor representam ações pontuais, referentes ao trabalho desenvolvido
em escolas públicas. Esses atendimentos consistem em atividades de debates e
dinâmicas de grupo com os alunos, desenvolvidas a partir de temas específicos, de
acordo com o interesse da faixa etária envolvida.
Os colégios da mantenedora Abec atendiam 3.643 bolsistas parciais e 159 bolsistas
integrais e os colégios da mantenedora UCE possuíam 1.209 bolsistas parciais. Em
todos, as bolsas eram distribuídas aos alunos da educação infantil, do ensino
fundamental e do médio. Também cediam espaço para organizações
governamentais e não-governamentais de defesa dos direitos das crianças e
adolescentes e de assistência social; para campanha anual de arrecadação de
alimentos, na semana de Champagnat; entre outras ações com o fim de mobilizar os
alunos para práticas de ações solidárias articuladas, com o envolvimento dos jovens
em organizações sociais locais.
No final de 2002, por meio do conselho provincial e de grupos de trabalho, a PMBCS
apresentou seu organograma, composto de comissões, setores e grupos de
trabalho, cujas ações tiveram início em 2003.
22
Fonte: Relatório de Atividades do NAS de 2002.
50
Nessa estrutura de governo, o NAS Abec e o Departamento de Filantropia da
UCE, continuavam vinculados ao setor educacional e administrativo. Desenvolviam
tarefas voltadas para a execução das diretrizes de assistência social nas unidades,
na perspectiva de alinhá-las às orientações das políticas públicas, sob influência
direta do ECA e da Loas.
O grupo de trabalho social que, em sua composição, contava com irmãos e leigos
vinculados à Comissão de Educação, era um espaço privilegiado de reflexão e de
proposições.
O NAS, da sua sede, em Maringá, continuava exercendo a função de acompanhar
as unidades sociais e os colégios. Os relatórios filantrópicos e as prestações de
contas aos órgãos públicos eram atribuições da mantenedora Abec.
O Departamento de Filantropia da UCE, que passou a se chamar Núcleo de Ação
Social NAS - UCE, realizava o acompanhamento dos valores aplicados no social,
das concessões de bolsas de estudos dos colégios, e dos relatórios de prestação de
contas aos órgãos públicos.
Um irmão coordenava o NAS das duas mantenedoras, apesar de estar parcialmente
liberado para essa função. A assessoria pedagógica das unidades recebia
orientação da área educacional da Abec.
Em dezembro de 2003, o conselho provincial reestruturou o organograma da
PMBCS, alterando de forma significativa a área social, com a criação da Comissão
Social, cuja responsabilidade era assessorar o conselho provincial nas políticas de
assistência social da PMBCS destinadas às mantenedoras Abec e UCE.
Instituiu o Setor de Assistência Social (SAS) como órgão executor de assistência
social, pedagógica e de gestão das unidades sociais das mantenedoras Abec e
51
UCE, além de orientador dos processos de cessão de espaço e concessão de
bolsas de estudo parciais e integrais e do programa de cultura da solidariedade dos
colégios.
Nesse momento, ainda, a Associação Paranaense de Cultura (APC) possui gestão e
estrutura próprias para a área social, contribuindo através da participação de um
representante na comissão sócia. Essa estrutura permanece até os dias atuais.
Eu gostaria de dizer [...] [...] onde vocês estão, é um lugar privilegiado [...] [...]
é que estão integrando verdadeiramente as pessoas mais necessitadas,
que é a missão da Instituição. A gente que isso está se organizando cada
vez mais, que o setor está crescendo e esta se organizando.
23
Em 2004, é iniciada a estruturação da equipe do SAS com o objetivo de sistematizar
as ações, unificar procedimentos, fortalecer a identidade marista, acompanhar e
monitorar os resultados das unidades sociais, fazer prospecção de novos
investimentos socioeducativos e captar recursos.
Entre outras ações, o SAS, juntamente com a comissão social, elabora o Manual do
Voluntariado Marista, aprovado pelo conselho provincial e implementado em todas
as unidades sociais da Abec e UCE.
[...] a partir da junção das Províncias, parece que isso foi melhor entendido. A
gente que está tendo um alinhamento, cada vez maior com a política de
assistência.
24
23
Entrevista realizada em 22 de fevereiro de 2007, com a equipe de trabalho do Centro Social de Educação Infantil Lar Feliz,
em Santos (SP). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social
(SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de
Assistência Social (PNAS).
24
Fragmento da Entrevista realizada em 5 de março de 2007, com a equipe de trabalho da Escola Marista Municipal São José.
Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social (SAS) da
Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de Assistência Social
(PNAS).
52
A comissão social da PMBCS solicitou a criação de um grupo de trabalho que
elaborasse o documento socioeducativo, com diretrizes que apresentassem a
fundamentação institucional, bíblica e eclesial, as políticas institucionais e os
referenciais teórico-metodológicos para desenvolvimento da proposta
socioeducativo.
A elaboração do documento socioeducativo
25
possibilitou a pesquisa e o registro do
que existia nas unidades sociais, resultando na sistematização dos seguintes
programas institucionais: Programa de Educação Infantil; Programa de Educação
Complementar; Programa Família; Programa Vida Feliz; Programa de Formação
Continuada; Programa de Educação Regular; Programa Comunitário; e Programa de
Aprendizagem Profissional. Também proporcionou a organização das modalidades
de atendimento diversificadas em Centros de Educação Infantil (CEIs), Escolas,
Centros Sociais Maristas (Cesomares) e Centros Educacionais e Sociais Maristas
(Cesmares).
Essa sistematização é revista e sofre alterações para adequar-se às discussões e ao
reordenamento das políticas públicas e sociais, sendo que a PNAS-2004 é a
principal responsável por este processo, exercendo importante influência na
constituição dessas alterações.
[...] a sistemática dos Programas Institucionais está bem vinculado com a
política de assistência. [...] a questão da família, a inclusão social, as
participações nos conselhos, a gente percebe que existe uma preocupação
da Província que atenda a essas questões. Aqui a gente percebe essas
mudanças.
26
O SAS, em 2005, manteve 20 unidades sociais, distribuídas nos cinco Estados de
atuação da Província.
25
Documento elaborado pela Comissão de Assistência Social do SAS, em novembro de 2004, Curitiba (PR).
26
Fragmento da Entrevista realizada em 5 de março de 2007, com a equipe de trabalho da Escola Marista Municipal São José.
Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social (SAS) da
Província Marista do Brasil Centro –Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de Assistência Social
(PNAS).
53
Os Colégios Abec e UCE atenderam 4.890 bolsistas parciais e 124 bolsistas
integrais, além de intensificarem a cessão gratuita de espaço para organizações
governamentais e não-governamentais de defesa de direitos das crianças e
adolescentes de assistência social.
Desenvolveram, também, as campanhas anuais de solidariedade, através do
Programa de Cultura da Solidariedade, coordenado pelas equipes de pastoral,
incentivando ações nas áreas de voluntariado e protagonismo juvenil.
A constituição do SAS, com uma trajetória curta até o momento, porém, privilegiada
por seu cenário histórico, rico em sua dinâmica de busca pela consolidação de
direitos, alinhado às políticas públicas, através de sua missão institucional, constitui
sua identidade, a partir da materialização de suas ações, no atendimento direto
prestado em suas unidades sociais.
A Instituição Marista, quando fala em sua missão, em formar bons cristãos e
virtuosos cidadãos, é no sentido de integrá-lo, cada vez mais, à sociedade.
Não uma coisa de somente atender uma necessidade momentânea, mas é de
integrá-lo na vida como cidadão, para que ele possa crescer como pessoa e,
ao mesmo tempo, ter condições de se manter na sociedade, dialogando.
Trabalhando.
27
27
Fragmento da Entrevista realizada em 22 de fevereiro de 2007, com a equipe de trabalho do Centro Social de Educação
Infantil Lar Feliz, em Santos (SP). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de
Assistência Social (SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política
Nacional de Assistência Social (PNAS).
54
2.1. O SETOR DE ASSISTÊNCIAS SOCIAL (SAS) - PERÍODO DE 2005 A 2007
Atualmente, o SAS, sediado em Curitiba (PR), unificou a gestão das áreas sociais da
Abec e UCE. É coordenado por um Irmão e cinco assessores, com formação
acadêmica em diferentes áreas, permitindo uma ação interdisciplinar que atende à
diversidade imposta por seus vários segmentos de atuação nos diferentes Estados
de abrangência, são eles: um assistente social, uma advogada, uma jornalista e
duas pedagogas.
O setor intensificou, nos anos de 2005 e 2006, as formações continuadas e a
sistematização dos processos internos de registros das unidades, através do Plano
Socioeducativo (PSE), que tem por finalidade apresentar a unidade e seu plano de
funcionamento, parte do histórico da unidade e do diagnóstico local, explicitando, a
partir dos fundamentos teóricos, sociais, pedagógicos e religiosos, a
intencionalidade do trabalho desenvolvido.
Durante o mesmo período e em conjunto com a área de Informática da Abec, o setor
desenvolveu o Sistema de Informação das Unidades Sociais (Sius), conforme a
metodologia participativa. Partiu da constituição de um Grupo de Trabalho (GT),
composto por dois técnicos da área de informática, do irmão diretor do SAS e dois
coordenadores gerais dos centros sociais, o irmão Lourenço, de Itaquera, em São
Paulo, e o irmão Rui Depiné, de Ribeirão Preto (SP).
O GT tinha como desafio criar um sistema de informação para as unidades sociais
que atendesse a diversidade de dados necessários para os processos de seleção e
acompanhamento dos diferentes educandos de todos os segmentos de unidades
(Cesomar, Cesmar, CSEI e escolas).
A partir da análise de todos os instrumentais utilizados pelas unidades (ficha de
inscrição, de matrícula, socioeconômica, de acompanhamento do educando, de
55
registro de visita, entre outras), o GT concluiu o trabalho. A equipe de informática
criou o sistema, que está sendo introduzido em todas as unidades sociais.
A implementação do Sius representa um avanço significativo para o SAS, que
reestruturou completamente suas unidades sociais, implementando novos
computadores e servidores para armazenamento e envio dos dados pela intranet
para a mantenedora.
O SAS terá, a partir de 2007, a série histórica dos dados de atendimentos das
unidades sociais, bem como informações sobre o perfil socioeconômico dos
educandos, dados sobre os atendimentos, demanda reprimida, entre outros.
Acreditamos que esses dados serão ferramentas úteis e, se bem apreendidas pela
Instituição, poderão subsidiar novas ações do Setor, como a ampliação de
atendimento, reformas e ou a criação de novos serviços e programas a partir de
demandas identificadas.
As formações continuadas, bem como o aprofundamento das discussões, a partir da
sistematização dos processos das Unidades, sofreram influência direta desse
contexto de mudanças, principalmente na área das políticas públicas, no campo da
Assistência Social e da educação, resultando em um acelerado movimento de
reestruturação do setor.
Esse processo de reestruturação, iniciado a partir do Plano Estratégico do Núcleo de
Ação Social de 2001 a 2006, resulta na sistematização e atualização do Plano de
Ação do Setor Assistência Social de 2006 a 2008, que revisa suas ações e redefine
suas ações estratégicas, seus serviços e programas. Apresentamos, a seguir, a
atual configuração:
56
Missão do SAS
Órgão dinamizador e gestor da proposta socioeducativa desenvolvida nas unidades
das mantenedoras Abec e UCE, visando à construção de processos e projetos,
alinhados às políticas públicas e à missão institucional.
Proposta Socioeducativa
Oferecer uma educação integral, capaz de contribuir para o desenvolvimento de uma
sociedade fraterna, solidária e emancipatória.
Proposta elaborada a partir de uma visão cristã dos sujeitos e de seu
empoderamento, em consonância com as exigências legais e constituindo o sistema
de garantia de direitos na proteção social.
O setor busca atingir sua missão através dos serviços e programas apresentados na
Figura 6.
Serviço
Educação Infantil
Ensino Fundametal
Apoio Socioeducativo
Aprendizagem Profissional
Orientação Sociofamiliar e
Socioeconomia Solidária
Formação Juvenil
Marista
À Pessoa Idosa
57
FIGURA 6 – Serviços e programas de assistência social
Extraímos do documento Serviços e Programas Institucionais
28
a sinopse dos
serviços e programas e relacionamos os respectivos atendimentos dos anos de 2005
e 2006, a partir dos relatórios oficiais elaborados para a mantenedora.
Serviços
Educação Infantil
Este serviço busca propiciar a consolidação de um processo educativo de qualidade
para as crianças pequenas, considerando a cultura da Infância nos seus diferentes
contextos e a concepção de criança enquanto um sujeito de direitos, com potencial,
forte e competente, numa perspectiva de integração entre as diretrizes institucionais
e as políticas sociais.
É composto pelos Centros Sociais de Educação Infantil Itaquera I Marcelino
Champagnat, instalado em Itaquera, São Paulo; o São Marcelino Champagnat, do
Jardim Robru, Zona Leste, São Paulo; e o Lar Feliz, em Santos (SP).
28
Fonte: Documento Socioeducativo - Versão Preliminar, elaborado pela Comissão Social e Setor de Assistência social em
novembro de 2004. Alterado em 2006 pela Equipe de Assessores do SAS.
Programa
Assessoramento - SAS
Biblioteca Interativa
Apoio às Entidades Assistenciais
Auxílio à Pessoa Física
Formação Continuada
Vida Feliz
58
As três unidades realizaram, no ano de 2005, 395 atendimentos, e, no ano de 2006,
390 atendimentos às crianças de zero a seis anos, em período integral.
Ensino Fundamental
O serviço consiste na formação para a cidadania e na construção de significados,
considerando a cultura local, as políticas públicas e Institucionais.
Integram este serviço, as escolas de ensino fundamental: Escola Ecológica
Marcelino Champagnat, de Almirante Tamandaré (PR); a Escola e Centro Social
Marista Marcelino Champagnat, de Cascavel (PR); o Centro Social Marista Santa
Mônica, de Ponta Grossa (PR); o Colégio Marista e Municipal São José, de São
José (SC) e a Escola Marista Irmão Francisco Rivat, de Samambaia, em Brasília
(DF).
As cinco escolas de ensino fundamental atenderam, em 2005, 2.054 alunos, e, em
2006, elevou esse atendimento para 2.252 alunos.
Apoio Socioeducativo
O serviço implementa projetos que visam potencializar a compreensão e a análise
crítica dos diversos contextos, na perspectiva de contribuir para o desenvolvimento
de crianças e adolescentes, sujeitos de direitos, capazes de construir conhecimento
de forma participativa, solidária e autônoma, considerando a cultura da comunidade.
Esse serviço é formado pelo conjunto de Cesomar: Irmão Lourenço, em São Paulo
(SP); Irmão Rui Leopoldo Depiné, de Ribeirão Preto (SP); Curitiba, em Curitiba (PR);
Irmão Acácio, em Londrina (PR); Irmão Beno Tomasoni, em Maringá (PR); Mont
Serrat, em Florianópolis (SC).
As sete unidades sociais atenderam, em 2005, 2.233 crianças e adolescente e, em
2006, esse número foi ampliado para 3.778 educandos.
59
Aprendizagem Profissional
O serviço busca desenvolver potencialidades e competências para o mundo do
trabalho, fundamentadas em princípios e valores éticos que promovem condições
dignas na construção de um projeto de futuro para os adolescentes e jovens.
É desenvolvido sempre em parceria com outras instituições e, normalmente,
ocorrem em algumas unidades sociais, principalmente nas escolas e centros sociais
maristas, unidades que, por sua natureza de atendimento, apresenta condições
adequadas para o desenvolvimento deste serviço. Em 2005, atendeu 154
adolescentes e jovens, e, em 2006, chegou a 224 atendimentos.
Orientação Sociofamiliar e Socioeconomia Solidária
Este serviço visa à intervenção voltada para orientar famílias dos educandos e
comunidade. Objetiva a superação de situações de vulnerabilidade social e
proporcionar alternativa de recursos para a população excluída dos mercados formal
e informal de trabalho, considerando a interação com a rede socioassistencial e
respeitando os princípios democráticos comprometidos com o processo
emancipatório individual e coletivo, fortalecendo o controle e o protagonismo social.
O serviço pode ser desenvolvido em qualquer unidade social e sua formulação se
deu a partir da junção dos programas Família e Comunidade e da reestruturação dos
serviços após as discussões sobre a implementação da PNAS.
O referido serviço estava em fase de implementação, no momento desta pesquisa.
Formação Juvenil Marista
No organograma, o serviço é apresentado, como mais uma alternativa de
atendimento, mas, na realidade, refere-se às casas de formação de jovens irmãos.
No corpo do documento pesquisado, identificamos que este serviço se assemelha
mais a um programa que busca assegurar a fidelidade ao carisma e à solidificação
da missão educativa marista.
60
O serviço conta com quatro casas de formação, que correspondem às diferentes
etapas da formação dos jovens irmãos. São elas: Centro de Formação Marista (pré-
postulado), de Jaraguá do Sul (SC); Centro de Formação Marista Marcelino
Champagnat (postulado)
29
, de Londrina (PR); Centro de Formação Maria Mãe da
Igreja (noviciado)
30
, de Campinas (SP); e Centro de Formação Champagnat
(escolasticado)
31
, de Florianópolis (SC).
Assistência à Pessoa Idosa
Destina-se à assistência asilar ao idoso, sob a égide da garantia dos direitos
fundamentais, sem prejuízo da proteção integral, assegurando todas as
oportunidades e facilidades para preservar sua saúde física e mental, intelectual,
espiritual e social.
Este serviço conta com duas residências asilares, destinadas ao atendimento de
irmãos idosos, sendo que, durante a pesquisa, constatamos que- em 2006, houve o
ingresso de um idoso não religioso no serviço.
As residências são: Residência Marista o José, de São José dos Pinhais (PR); e
Residência Marista São José, de Florianópolis (SC).
As duas unidades atenderam em 2005, 17 idosos, e, em 2006, 20 idosos.
Programas
Assessoramento
O programa destina-se ao assessoramento das unidades sociais, seu
acompanhamento e supervisão, como forma estratégica de garantir o alinhamento
das diretrizes institucionais.
29
Postulado - período de preparação e provações que os candidatos ao noviciado devem cumprir em algumas comunidades
religiosas. Fonte: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Disponível em: http://houaiss.uol.com.br. Acesso em: 13 de
fevereiro de 2007.
30
Noviciado - período de aprendizagem e de provação a que se submetem aqueles que desejam professar uma religião. Fonte:
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Disponível em: http://houaiss.uol.com.br Acesso em: 13 de fevereiro de 2007.
31
Escolasticado - local destinado à complementação dos estudos de jovens religiosos que terminam o noviciado. Fonte:
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Disponível em: http://houaiss.uol.com.br Acesso em: 13 de fevereiro de 2007.
61
Este processo ocorre por meio da realização, pelos assessores do SAS, de ações
estratégicas e sistematizadas como:
Avaliação de clima organizacional que ocorre em média a cada dois anos e
tem como objetivo avaliar o clima organizacional da unidade;
Monitoramentos semestrais; normalmente, são realizados dois
monitoramentos por unidade, divididos entre o primeiro e o segundo semestre
de cada ano;
Formações específicas, como simpósios socioeducativos, que são realizados
semestralmente; encontros de formação por área (gestores, assistentes
sociais, assessores pedagógicos, bibliotecários e assistentes administrativos)
que são organizados a partir das demandas identificadas nos processos de
monitoramento.
O setor também organiza, a partir de demandas específicas, grupos de
trabalho, que se juntam por área, para desenvolver estudo; elaborar,
sistematizar e socializar propostas acerca de temas e assuntos demandados
pelos serviços e ou programas.
Em 2006, o SAS, em função do desenvolvimento do Sius determinou a formação de
um GT do Serviço Social, para revisar e alinhar todos os instrumentais utilizados em
suas unidades sociais. O estudo ocorreu a partir dos referenciais teóricos sobre os
instrumentais técnicos operativos da profissão e resultou na reformulação e
adequação deles ao Sius.
São desenvolvidos, também, outros acompanhamentos mais específicos, como os
de implementação de parcerias e desenvolvimento de novos projetos,
acompanhamentos dos processos pedagógicos, sociais, administrativos e de gestão.
No momento da realização da pesquisa, o setor não contava com instrumental
eficiente de registro para quantificar a abrangência de suas ações de
assessoramento, porém discutiam a necessidade de elaboração desse instrumental.
62
Biblioteca Interativa
Espaço interativo de promoção cultural para acesso a informação e produção de
conhecimento, na perspectiva de contribuir com a formação integral, considerando a
cultura local, as políticas públicas e institucionais. Este programa propõe a mediação
socioeducativa por meio do desenvolvimento de projetos para educandos,
educadores e comunidade.
Em geral, todas as unidades sociais que desenvolvem esse programa contam com
um acervo superior a cinco mil títulos, além de outros recursos, como periódicos, e,
no mínimo, três computadores com acesso à internet com banda larga, destinados à
pesquisa virtual pelos usuários.
O programa prevê o empréstimo de livros para os usuários cadastrados, por contar
com sistema informatizado de todo o acervo. Em 2005, o programa realizou 21.619
atendimentos, aumentando consideravelmente esse número, em 2006, para 58.210
atendimentos, com a ampliação das ações e desenvolvimento de projetos, como o
de mediação de leitura, e a contação de histórias, realizados na maioria das
unidades.
O SAS, em seu plano de formação, promoveu, em 2006, o primeiro encontro de
bibliotecários das unidades sociais, com objetivo de garantir a formação, através da
troca de experiências e o alinhamento das ações institucionais.
Vida Feliz
Este programa é desenvolvido especificamente pelos Cesmares, que oferecem, às
escolas da rede pública, projetos voltados ao atendimento dos diferentes atores do
processo educativo, (educandos, educadores e pais), tendo sua centralidade na
ação com o educando. Busca a formação de cidadãos comprometidos com a
construção de uma sociedade mais justa e solidária.
É um programa de grande abrangência, pois está estruturado em encontros de
formação, além de uma culminância, intitulada Rebú, que encerra o processo de
63
formação e reúne todos os envolvidos em uma ação cultural, com manifestações e
apresentações dos adolescentes envolvidos.
Em 2005, o Encontro de Formação para Adolescentes envolveu 77.867 e, em 2007,
122.324 adolescentes. O de Programa de Formação para Educadores e Pais, em
2005, envolveu 6.171 pessoas e, em 2006, 8.247 educadores e pais. O Rebú, em
2005, envolveu 13.367 adolescentes, em 2006, 22.200.
Apoio Institucional às Entidades Assistenciais
Programa desenvolvido para apoiar financeiramente, através do repasse de recursos
financeiros, entidades assistenciais que desenvolvem projetos e ações alinhados à
missão institucional e atendem às exigências e aos critérios institucionais que
regulam o programa em questão.
Auxílio à Pessoa Física
O programa foi desenvolvido a partir da sistematização da prática realizada pelos
irmãos em suas comunidades.
A proximidade dos irmãos no cotidiano da comunidade onde estão inseridos
propiciou uma prática de ajuda financeira às pessoas, que são identificadas pelo
SAS. A ação foi sistematizada enquanto programa institucional de auxílio financeiro
para pessoa física em situação de vulnerabilidade pessoal e social.
No processo de sistematização, foram estruturados instrumentais próprios para o
estudo socioeconômico e de concessão do auxílio. A partir da avaliação feita por um
profissional assistente social, é concedido o auxílio mensal. Esse processo é
reavaliado a cada dois anos.
No momento desta pesquisa, o setor atendia 19 pessoas neste programa.
Formação Continuada
Programa dirigido aos colaboradores e operacionalizado a partir de projetos
desenvolvidos pelas unidades sócias, pela mantenedora e pelo SAS.
64
Seus objetivos consistem em subsidiar a formação dos colaboradores, garantir o
alinhamento institucional e a apropriação da missão educativa marista.
[...]
todas as orientações que recebemos e das experiências que pudemos
observar, também; a opção pelas crianças, adolescentes e jovens e, dentro
de todo o histórico Marista, da opção pelos mais empobrecidos e pelos
jovens. E, então, todas as ações que desenvolvemos, a partir da intenção de
ir ao encontro destes, contemplam os objetivos institucionais. O cuidado de
trabalhar as necessidades e não os necessitados e as vulnerabilidades que
as famílias trazem.
32
Analisando o processo de desenvolvimento do SAS, sua estrutura e a
sistematização de seus processos, observamos um aumento quantitativo dos
atendimentos prestados por suas unidades sociais, bem como um salto qualitativo
em seu processo de sistematização.
Acreditamos que tais alterações, observadas em seus documentos recentes, como a
revisão, em 2006, do Documento Socioeducativo Versão Preliminar 2004, seja
reflexo do processo de implementação da PNAS. Identificamos, nessa
reestruturação, a adequação dos serviços e programas sob orientação da PNAS,
manifestações concretas dessa influência.
Entendemos que esta constatação não poderia ser diferente, pois temos, ao longo
da trajetória institucional, registrado seu comprometimento com o tempo histórico
presente.
32
Fragmento da Entrevista realizada em 10 de março de 2007, com a equipe de trabalho do Cesmar Dourados, em Dourados
(MS). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social (SAS) da
Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de Assistência Social
(PNAS).
65
CAPÍTULO III
3. A POLÍTICA INSTITUCIONAL E A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA
SOCIAL
A história da Instituição Marista nasce no contexto de um período de grandes
necessidades sociais, em uma França que vivia as conseqüências da Revolução
Francesa e das transformações sociais e econômicas originadas pela Revolução
Industrial.
O próprio fundador, Marcelino Champagnat, motivado por esse contexto histórico e
por suas dificuldades pessoais, com sua baixa escolarização, retrata esse período e
funda a Sociedade dos Pequenos Irmãos de Maria, com o objetivo de educar e viver
para a comunidade.
No texto Missão Educativa Marista:Um Projeto para o nosso Tempo (2003, p. 35),
está explícito o pensamento de Champagnat.
Do mesmo modo como Marcelino Champagnat pensava nas crianças
e nos jovens menos favorecidos, ao fundar os Irmãos Maristas, a
nossa preferência deve ser pelos excluídos da sociedade e por
aqueles que, por causa da sua pobreza material, não têm acesso à
saúde, a uma vida familiar equilibrada, à escolarização e à educação
nos valores.
33
Reconhecemos, nesse amor por todas as crianças e jovens,
especialmente pelos pobres, a característica essencial da nossa
Missão Marista.
34
33
Fonte: Missão Educativa Marista: Um Projeto para o nosso Tempo.
34
Ibid.
66
Identificamos, nos documentos institucionais, que a origem da missão tem suas
raízes nas questões social e educacional, devido à baixa oferta de ensino nas
aldeias e povoados, distantes das áreas urbanas da França do final do século XIX.
Para ilustrar esta afirmação, apresentamos fragmentos do Guia das Escolas para
Uso dos Pequenos Irmãos de Maria, Capítulo I – Admissão dos meninos, extraído do
Segundo Capítulo Geral do Instituto dos Pequenos Irmãos de Maria:
1852,1853,1854.
35
Todos os meninos da paróquia, em cujo território a escola es
situada, têm o direito de ser admitidos como alunos, a menos que sua
idade, seu procedimento ou qualquer doença contagiosa constituam
impedimento para sua admissão.
36
Destacamos, neste primeiro parágrafo, a preocupação com o território como
definição para garantir o direito ao acesso.
De maneira geral, não serão admitidos meninos com menos de seis
anos de idade, se a classe for numerosa; uma classe é considerada
numerosa quando tem entre oitenta e cem alunos. Não se receberá as
criancinhas que, por sua pouca idade, poderiam perturbar a ordem, e
cujas mentes não são suficientemente desenvolvidas para
compreender as admoestações do mestre e sujeitarem-se à disciplina
da escola; proceder-se à de maneira análoga com aqueles que ainda
não souberem vestir-se. [...]
37
[...] Os filhos de protestantes e adeptos de outras seitas poderão ser
admitidos na escola, mas sob a condição explícita de assumirem o
regulamento comum da classe e de não divergirem dos católicos em
relação às práticas realizadas no interior da escola. Assistirão o
catecismo, sem, todavia, serem obrigados a decorá-lo e a recitá-lo,
amenos que queiram fazê-lo. Quanto à missa, não serão obrigados a
assisti-la, caso seus pais se oponham; neste caso, será permitida sua
35
Fonte: CENTRO DE ESTUDOS MARISTAS, O segundo capítulo geral do instituto dos pequenos irmãos de Maria:
1852-1853-1854. 1ª. ed.,, Belo Horizonte (MG), 1994.
36
Ibid.
37
Ibid.
67
entrada na escola após a volta da missa, ficando, porém, neste tempo,
sob os cuidados e responsabilidade dos pais; quanto à confissão,
nada há que as obrigue à sua prática.
38
Observam-se, nesta citação, algumas afirmações que nos remetem à situação da
educação da época, como classes numerosas, compostas exclusivamente por
meninos com idades e fases de desenvolvimento diferentes.
Destacamos a definição de alguns critérios de acesso, como, por exemplo, a idade
mínima de seis anos; as condições mínimas de desenvolvimento para compreensão
e cumprimento das orientações do professor; e autonomia para os cuidados básicos,
como capacidade de vestir-se.
Outro ponto que merece especial destaque é a garantia de acesso a crianças não
católicas, possibilitando a permanência delas na escola, desde que respeitando,
com certas limitações, as práticas diversas que compunham as atividades cotidianas
da classe, como missas diárias.
Esta consulta aos documentos que retratam as bases da missão do Instituto Marista
tem valor significativo para a análise do momento atual. Ao analisarmos a PMBCS,
faremos um recorte parcial da totalidade, porém essa analise é representativa da
totalidade institucional, compreendendo e considerando os diferentes tempos
históricos e as diversas realidades de sua abrangência mundial.
Como, na origem do Instituto, seus documentos retratam as necessidades e refletem
aspectos sociais da época, atualmente, identificamos, nos documentos da PMBCS,
reflexos das necessidades sociais e aspectos relevantes da sociedade e das
políticas sociais que os permeiam.
Atualmente, a Instituição mantém um número significativo de colégios, universidades
e outros negócios, voltados ao atendimento de uma população economicamente
favorecida, situação representativa de uma realidade econômica marcada pela
desigualdade social e má distribuição de renda.
38
Ibid.
68
Mantém, ainda, unidades sociais destinadas ao atendimento a crianças e
adolescentes em situação de risco e vulnerabilidade social, público-alvo da
assistência social.
No aspecto político, os documentos retratam claramente as mudanças, a partir da
Constituição Federal de 1988, e os processos decorrentes, sobretudo os
relacionados aos direitos sociais.
Os documentos institucionais da Província de São Paulo são reveladores da
influência e do impacto impulsionados pela Constituição Federal de 1988.
Analisamos os Planos Trienais da Província de São Paulo desde 1989 até o atual
Plano Trienal da PMBCS, pós-junção, buscando identificar aspectos que
materializam a relação dos direitos sociais, a partir da Constituição Federal de 1988
e de seus desdobramentos.
No Plano Trienal 1989-1992, destacamos no capítulo VI Comissão Provincial para
Assuntos Econômicos, no subtítulo Prioridades do Triênio, o item:
O Projeto
Champagnat e o Projeto São José
39
.
Esses projetos são considerados, no Plano Trienal, como estratégicos, na busca da
partilha efetiva com os pobres. O plano não faz mais menção a trabalhos sociais.
O Plano Trienal 1992-1995 expressa, de forma clara, um resgate da origem da
missão institucional, neste primeiro momento, ainda de forma incipiente, mas, com
certeza, influenciado pelo momento histórico de grandes mobilizações sociais pela
garantia de direitos (SUS, ECA, Loas). E pela forte influência dos documentos da
Igreja, principalmente os produzidos pela III Conferência do Episcopado Latino-
Americano, em Puebla de Los Angeles, México, em 1979. E pela IV Conferência,
realizada em Santo Domingo, República Dominicana, em 1992.
Identificamos, no Plano Trienal, como principal influência, nesse período, o desejo
expresso e explícito da Igreja, de romper com o assistencialismo ao pobre,
39
Fonte: Plano Trienal 1989 -1992.
69
colocando-o como protagonista, sujeito de evangelização. Porém, faz-se necessário
registrar que este período apresenta traços conservadores, aprofunda as
orientações de Medellín e Puebla e busca definir uma nova estratégia de
evangelização.
Esta influência é identificada nos documentos institucionais, como destacamos
nestes fragmentos extraídos do referido plano:
[...] Acelerar a ação na Pastoral da Juventude, na Pastoral Social e na
Pastoral Voicacional [...]
40
Concretizando, na cidade de São Paulo, uma comunidade para atendimento
ao menor.[...]
41
A questão social, nesse período, é apresentada como parte da ação de pastoral,
reforçando a relação e o estigma da caridade, da ajuda e da dependência.
Nesse triênio, a
Comissão de Pastoral Social
expressa as
ações sociais através de
atos incipientes e conservadores, como é possível avaliar na seqüência.
Incentivar os Irmãos a uma solidariedade maior e mais eficiente com os
empobrecidos, especialmente crianças, adolescentes e jovens. [...]
42
[...] Reunindo os Irmãos, professores e funcionários para diálogo sobre a
importância e necessidade da dedicação à pessoa sofredora. [...]
43
[...] Procurando conhecer leis, normas, documentos da igreja e do Estado e
das Obras Sociais concernentes ao assunto. [...]
44
O Plano Trienal 1995 -1998 reflete um avanço institucional quanto à expansão das
ações sociais, embora ainda configuradas como ações da Pastoral Social.
40
Fonte: Plano Trienal 1992 -1995.
41
Ibid.
42
Ibid.
43
Ibid.
44
Ibid.
70
Identificamos, no trabalho da Comissão de Pastoral Social
45
, entre seus objetivos
específicos:
[...] Avivar a solidariedade dos Irmãos, leigos e alunos para com os
empobrecidos e excluídos:
promovendo o conhecimento concreto da situação da população mais
sofrida;
convidando Irmãos, leigos e alunos para um contato mais freqüente
com as obras sociais que a Província mantém.
46
Suscitar uma caminhada conjunta de nossas obras sociais em sintonia com a
linha social da Igreja:
estando atenta às iniciativas da Igreja e do Governo no que tange às
obras sociais;
divulgando o Estatuto da Criança e Adolescente;
participando da elaboração da Lei Orgânica da Assistência Social
promovida pelo governo. [...]
47
A instituição claramente demonstra, nesse momento, a preocupação com seu tempo
histórico, e expressa, em seu plano, a intencionalidade concreta de divulgar o ECA e
participar das discussões sobre a Loas, aprovada em 1993.
Suas atividades refletem essa intencionalidade, com a expansão de ações e
unidades sociais, com a consolidação da Obra Social Irmão Lourenço, na Vila
Progresso, zona leste de São Paulo, com o apoio à Creche e Pré-escola Itaquera I,
também situada na zona leste, e com o acompanhamento da Creche Irmão Justino,
do bairro Cambuci, em São Paulo.
Além de definir a necessidade de maior presença junto aos voluntários e
funcionários da Creche Lar Feliz, em Santos, a inauguração e implantação da Escola
Irmão Francisco Rivat em Brasília, o desenvolvimento de estudos para concretização
45
Os planos trienais são desenvolvidos a partir da junção dos trabalhos das comissões indicadas pelo irmão superior
provincial e aprovados pelo Conselho Provincial. Esclarecimento do autor.
46
Plano Trienal 1995 -1998.
47
Ibid.
71
das obras sociais de Cascavel e Ponta Grossa, ambas no Estado do Paraná,
reafirmam essa intencionalidade.
Podemos, assim, afirmar, que esse triênio, marca de forma significativa, o avanço
das ações sociais na Província de São Paulo, e que esses avanços refletem as
mudanças sociais em curso.
Porém, apontar a necessidade da construção de um texto que apresente a realidade
das unidades sociais da província e a elaboração de uma diretriz social é a primeira
aproximação para sistematizar as ações sociais, e expressar definitivamente o
compromisso com as mudanças decorrentes da Constituição Federal de 1988 e
seus desdobramentos na área da assistência social.
As atividades previstas pela Comissão de Pastoral Social tomam concretude na
Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), responsável por viabilizar as ações,
através de projetos de apoio financeiro às obras sociais; de estudos para viabilizar a
implantação das novas obras sociais, indicadas pela Comissão de Pastoral Social;
além de acompanhar a aplicação do fundo proveniente da filantropia.
Como continuidade ao triênio anterior, o novo Plano, para 1998-2001, avança na
consolidação de ações comprometidas com a questão social e estabelece objetivos
específicos e claros nesse sentido.
Destacamos, como exemplo, a orientação sobre o estabelecimento de convênios
com o Estado para ampliar o atendimento nas unidades sociais, o compromisso com
o envolvimento nas discussões e divulgação do ECA, da Loas e da LDB, além de
documentos da Igreja e de outros órgãos relativos às questões sociais.
A medida de maior impacto para a organização do setor social foi a determinação
para criar uma coordenação de profissionais da área social, que originou o Núcleo
de Ação Social (NAS) e deu início à sistematização das diretrizes sociais da
Província Marista de São Paulo, fato que já retratamos no capítulo anterior.
72
O período seguinte é marcado pela junção das Províncias de Santa Catarina e São
Paulo e pela alteração na metodologia de planejamento de suas ações.
A nova Província PMBCS substitui o plano trienal, por um planejamento estratégico
48
para seis anos, (2003-2008) e apresenta, como princípio, a integração de todos os
setores, entidades e unidades mantidas pela província, organizado a partir de eixos,
metas e ações.
Entre os eixos definidos nesse processo, destacamos:
“Fortalecer, em todos os veis,
a cultura e a vivência da solidariedade na promoção e no resgate da dignidade das
pessoas”.
49
Esse eixo é determinante das metas e ações que mantêm a missão institucional
responsável pela organização das diretrizes sociais da província.
Na busca de consolidar uma identidade social única para a PMBC, o plano aponta a
formação do Setor Social, com a integração das ações sociais desenvolvidas pelas
Mantenedoras Abec, UCE e APC; recomenda a avaliação das unidades sociais
existentes, bem como dos programas e projetos por elas desenvolvidos, e define
um conjunto de políticas e diretrizes que as norteiem.
Entre as metas estabelecidas, destacamos o incentivo à participação nas políticas
públicas e o estímulo ao desenvolvimento de parcerias. Tais metas estimularam a
participação das unidades nos conselhos e fóruns municipais e estaduais,
propiciando a articulação com outras instituições, ampliando parcerias e contribuindo
na elaboração, execução e controle de políticas públicas, voltadas principalmente à
criança e ao adolescente.
A política institucional e as políticas sociais têm, em suas trajetórias, elementos
claros que retratam uma evolução que alterna movimentos de permanência e
ruptura. Permanência no conservadorismo próprio de uma cultura de benevolência,
48
Planejamento Estratégico é uma metodologia que determina e revela o propósito da organização, seus valores, missão,
objetivos, estratégias, metas e ações. Foca a prioridade dos recursos. Delimita os domínios de atuação da organização. Busca
o engajamento de todos os setores e processos para consecução de seu fim. Esclarecimento do autor.
49
Fonte. Plano Estratégico PMBCS 2003 -2008 – Documento Institucional.
73
caridade e solidariedade religiosa, e ruptura na perspectiva de apreensão do
movimento histórico de garantia de direitos a partir da Constituição Federal de 1988.
A Loas, promulgada em 1993, inscreveu a assistência social no quadro dos direitos
sociais, fruto da mobilização dos movimentos sociais. Indicou princípios de
universalização, dignidade e autonomia dos sujeitos, além de apontar a efetivação
da assistência social enquanto direito social, descentralizado, participativo, sob a
responsabilidade do Estado.
Dez anos depois, a IV Conferência Nacional de Assistência Social avalia a trajetória
da Política de Assistência Social e indica a construção do Sistema Único de
Assistência Social (Suas), na perspectiva de torná-la, de fato, uma Política de
Inclusão Social e de reconhecimento de direitos.
Podemos considerar que o Suas é um avanço, por possibilitar a efetivação dos
princípios e diretrizes da PNAS, afirmando-a como política pública, dever do Estado
e direito dos cidadãos.
Sua aprovação, em julho de 2005, pelo Conselho Nacional de Assistência Social
(CNAS), através da Norma Operacional Básica (NOB)/Suas, organiza e regula as
responsabilidades de cada esfera de governo e da sociedade civil em relação à
política de assistência social.
Yasbek (2004) avalia a PNAS e considera como aspectos positivos a incorporação
das demandas da sociedade na área da assistência social, a noção do território, e a
centralidade da família e de sua proteção. Quanto aos aspectos negativos, aponta a
visão de que a família pobre precisa ser reestruturada do ponto de vista moral e
afetivo, desconsiderando o quadro econômico mais amplo, como se o problema da
miséria fosse exclusivamente da família, desconsiderando que essa família pertence
a uma classe social e que a questão social é política.
A NOB/Suas em processo de implementação estrutura-se a partir dos seguintes
eixos:
Precedência da gestão pública da política;
74
Alcance de direitos socioassistenciais;
Matricialidade sociofamiliar;
Territorialização;
Descentralização político-administrativa;
Financiamento partilhado entre os entes federados;
Fortalecimento da relação democrática entre Estado e sociedade civil;
Valorização da presença do controle social;
Participação popular/cidadão usuário;
Qualificação de recursos humanos;
Informação, monitoramento, avaliação e sistematização de resultados.
Como princípios referentes à proteção social de assistência, o Suas conta com a
matricialidade sociofamiliar, a territorialização, a proteção pró-ativa, integração à
seguridade social e a integração às políticas sociais e econômicas.
A segurança de acolhida, a segurança social de renda, a segurança do convívio
familiar, comunitário e social, a segurança do desenvolvimento de autonomia
individual, familiar e social e a segurança de sobrevivência a riscos circunstanciais,
são garantias da proteção social do Suas, executadas a partir das modalidades de
Proteção Social Básica (PSB) e Proteção Social Especial (PSE).
A PSB tem por objetivo prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de
potencialidades, com fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, voltado
para a população que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da
pobreza e ou fragilização de vínculos afetivos, relacionais e de pertencimento social.
A PSE consiste na atenção socioassistencial às famílias e indivíduos em situação de
risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus-tratos físicos e ou
psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas
socioeducativas, em situação de rua, entre outras.
O Suas aponta a necessidade de implementar um sistema de vigilância
socioassistencial. Também indica um conjunto integrado de ações de iniciativa
75
pública e da sociedade que constitui a rede socioassistencial, a qual opera
benefícios, serviços continuados, proteção básica e especial, programas de ações
complementares e projetos, de forma articulada, entre as unidades de proteção, de
acordo com o nível de complexidade. Regula a gestão compartilhada entre União,
Distrito Federal, Estados e municípios, através de instrumentos de gestão.
Toda essa trajetória contém significativos avanços alcançados pela área de
assistência social, no País, e, conseqüentemente, na instituição, que, ao longo das
transformações e mudanças históricas, foram se alterando, adequando-se e
respondendo às exigências de seu tempo político e econômico.
Ao final desta análise, podemos afirmar que a instituição e a PNAS, a partir dessas
transformações históricas, principalmente resultantes da Constituição Federal de
1988, caminharam em ritmos de tempo diferentes, porém com movimentos
simultâneos.
Ora mantendo o conservadorismo da caridade, da benesse, ora rompendo,
avançaram e resistiram aos mecanismos econômicos e políticos, os quais,
principalmente na década de 1990, com o nefasto domínio da economia neoliberal,
inibiram e inibem a atuação do Estado na implementação e financiamento de
políticas sociais.
Entendemos que a expressão dessa resistência está na implementação, em curso,
da PNAS, e na atuação de instituições que, como esta, buscam, a partir de sua
missão, atender as necessidades do tempo presente.
76
CAPÍTULO IV
4. APRESENTAÇÃO DA PESQUISA
A categoria da totalidade significa que qualquer fenômeno social, ou cultural,
tem que ser visto como parte de uma totalidade mais ampla, e que essa
totalidade tem de ser vista como uma estrutura. Isto é, essa totalidade o é
um conjunto homogêneo, é algo que é estruturado e sua estrutura é o tipo de
relação que se estabelece entre as partes e o todo: existe um tipo de
articulação entre várias partes dessa totalidade e esse conjunto, que constitui
a estrutura total. (LÖWY, 1986: 67)
Tendo como fundamento a teoria marxiana, em especial na perspectiva trazida pela
categoria da totalidade, buscamos apreender, em um processo de aproximações
sucessivas, o movimento do objeto, sua processualidade na construção da relação
de afinidades entre as políticas institucional e a PNAS.
Analisamos os materiais coletados, bibliografias específicas, documentos
institucionais e entrevistas, considerando a trajetória histórica da Instituição Marista,
e o momento de construção e implementação da PNAS.
Consideramos as afinidades existentes entre a política institucional e a PNAS,
articulando as partes e o todo, relacionando o movimento histórico de ambas e a
prática dos profissionais da equipe de trabalho das unidades sociais sujeitos da
pesquisa.
Utilizamos, como eixo analítico, os conteúdos das entrevistas, por entendermos que
são representativos da prática desses profissionais e expressão da interface de suas
ações, considerando as variáveis intervenientes de tempo e movimento de
implementação entre as referidas políticas, identificando os pontos convergentes e
divergentes entre ambas.
77
Como ponto de partida para a análise das entrevistas, utilizamos a metodologia do
Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), proposta por Fernando Lefèvre e Ana Maria
Cavalcanti Lefèvre, que consiste na organização de dados qualitativos, de natureza
verbal, obtidos a partir de depoimentos, entrevistas e outros recursos que expressem
um conjunto de discursos sobre um tema.
O Sujeito Coletivo se expressa, então, através de um discurso emitido no que
se poderia chamar de primeira pessoa (coletiva) do singular. Trata-se de um
eu sintático que, ao mesmo tempo em que sinaliza a presença de um sujeito
individual do discurso, expressa uma referência coletiva na medida em que
esse eu fala pela ou em nome de uma coletividade. (LEFÈVRE, 2003: 16)
Compõem, essa análise:
A apresentação dos contextos das unidades sociais
50
, universo de estudos
representativo da totalidade dos diferentes segmentos e realidades que
constituem o SAS e a PMBCS;
Os quatro quadros sínteses do DSC, divididos por categorias de análise; e
Os trechos das transcrições das entrevistas realizadas.
Entendemos que essa composição esclarece as particularidades das ações
desenvolvidas pelas diferentes unidades, em seus diferentes contextos e dinâmicas
próprias, relativas à sua natureza e sua inserção local (CSEI Santos, SP; Escola
São José, SC; Cesomar - Londrina, PR; Cesmar – Dourados, MS).
50
Os contextos das unidades sociais que compõem este material foram elaborados a partir dos Planos Socioeducativos 2005
e dos Planos de Ação 2007 das referidas Unidades.
78
4.1. CENTRO SOCIAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL LAR FELIZ
51
52
51
Fonte: Banco de imagem do SAS.
52
Ibid.
79
Com uma trajetória de extrema importância para a cidade de Santos, a Unidade
Social Marista da Província do Brasil Centro-Sul, o Centro de Educação Infantil Lar
Feliz, mantém um forte vínculo com a comunidade local.
Fundado em 3 de novembro de1959 e próximo de completar 50 anos de existência,
sua história se inicia com a centenária presença marista, na região, através do
Colégio Santista, fundado em abril de 1904.
Tendo como protagonista um grupo de mulheres, pertencentes à Associação de Pais
e Mestres desse colégio, juntamente com o irmão diretor José Armando Bonatto,
com o objetivo inicial de prestar assistência social, médica, farmacêutica,
odontológica, religiosa, e espiritual, à população carente, surge o Serviço Social do
Colégio Santista, a primeira denominação desta Instituição, ou seja, uma Associação
Beneficente, com fins assistenciais gratuitos destinados à população menos
favorecida.
Tais ações eram viabilizadas com recursos arrecadados em chás beneficentes,
mensalidades de associados, feiras, bazares, doações de terceiros, oficina de
costura e doações do Colégio Santista.
Com recursos próprios e empréstimos do Colégio Santista, a Associação conseguiu,
em 1962, sua sede própria, localizada na Rua Sete de Setembro nº. 28, na mesma
rua onde se localiza o Colégio Santista.
Em 12 de junho de 1967, com uma alteração no Estatuto, o atendimento, que até
então tinha fim assistencial, passou a também ter fim educacional, com a inclusão da
educação infantil em regime de creche e, em 27 de agosto de 1971, foi oficialmente
inaugurada a Creche Lar Feliz. Na época, atendia a 45 crianças de zero a dez anos,
ampliando, três anos mais tarde, para 70 crianças.
As atividades desenvolvidas envolviam recreação, curso maternal e pré-primário.
Permaneceram os cursos de costura, bordado e de culinária, para as famílias das
crianças.
80
Por causa das muitas dificuldades em manter o atendimento com doações e
parcerias, a Abec assumiu a manutenção geral da creche, em 1988 e, no mesmo
ano, o Serviço Social do Colégio Santista foi extinto.
Dois anos depois, em agosto de 1990, a Creche Lar Feliz, nome oficial da Unidade
Social Marista, passou a funcionar em novo prédio, situado na Rua Henrique
Porchat, nº. 22, no Bairro Vila Nova, totalmente adaptado para atender 120 crianças,
com idades entre um e sete anos.
Atualmente, o Centro Social de Educação Infantil Lar Feliz atende a 120 crianças, de
dois a seis anos; prioritariamente, a população proveniente dos bairros de Vila Nova,
Centro Paquetá, Valongo e Morro Monte Serrat.
Esses bairros compõem o Centro Histórico de Santos, com importante
representatividade histórica e turística, pois, sendo uma das cidades mais antigas do
Brasil - datada de 1535 -, mantém, nesta região, prédios e igrejas antigas, tombados
pelo Patrimônio Histórico da União.
Pólo da Região Metropolitana da Baixada Santista, com cerca de 417 mil
habitantes, Santos desenvolve um conjunto de atividades exportadoras, além da
atividade portuária, e concentra forte setor terciário, que absorve grande quantidade
de mão-de-obra.
Com 99,5% de sua população concentrada na área urbana, Santos possui o terceiro
melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado de são Paulo, o quinto
do Brasil e o quarto menor Índice de Exclusão Social do País.
Estudos recentes realizados, tendo como referência o mês de março de 2006, pelo
Núcleo de Pesquisas e Estudos Socioeconômicos (Nese) da Universidade Santa
Cecília (Unisanta), apontam que o índice de desemprego na cidade é de 16,75%; o
total de desempregados é de 34.839 pessoas; e a maioria desse universo é
composta por jovens com idade entre 16 e 24 anos, representando 48,9% do total
de desempregados.
81
A cidade concentra, também, um considerável número de inativos, isto é, cerca de
50,27% da população, com maior destaque para os aposentados e pensionistas,
que representam cerca de 35,64% desse universo.
Dos ativos, a maioria trabalha na cidade de Santos (86,54%), e, os demais, nas
cidades da região e apenas 3,33% trabalham na Grande São Paulo.
O setor que mais emprega é o de serviços, Com 45,44% das vagas atualmente
ocupadas, é também o que mais oferece oportunidades de emprego.
A renda média familiar do trabalhador santista é de R$1.791,00, e a renda familiar
do aposentado fica em torno de R$ 1.315,00.
Apesar dos indicadores favoráveis, as desigualdades sociais definem o perfil de uma
cidade com grande concentração de renda e com a existência de bolsões de
pobreza, escondidos nas encostas de seus vários morros, nas favelas e na região do
Centro - área com maior concentração de cortiços da cidade - que, pela proximidade
com o cais do porto, facilita a prostituição e o tráfico de drogas.
Do total de pessoas que vivem nesses bolsões, apenas 21% dos chefes de família
têm o ensino fundamental completo. Em toda a cidade, a média é de 60%. Os
responsáveis por essas residências têm, em média, 4,6 anos de estudo, contra 11,9
anos nas áreas de nenhuma vulnerabilidade. A baixa renda média mensal (R$
345,00) dessas famílias é responsável pela fragilizarão econômica, que acarreta
precárias condições de vida para essa população.
O setor público responsável pelo atendimento da população de baixa renda tem se
mostrado ineficiente, com equipamentos precários e recursos humanos insuficientes,
principalmente nas áreas da Saúde e Assistência Social.
82
4.2. ESCOLA MARISTA MUNICIPAL SÃO JOSÉ
53
54
53
Ibid.
54
Ibid.
83
A Escola Marista Municipal de São José está localizado no Município de São José,
que integra a região da Grande Florianópolis, em Santa Catarina. Atualmente, a
escola atende 835 educandos no ensino fundamental, por meio da Educação de
Jovens e Adultos, além de oferecer serviço de orientação sociofamiliar e
Socioeconomia Solidária; e também o Programa Biblioteca Interativa.
De acordo com dados da Fundação IBGE/2005, São José possui 201 mil habitantes
é o quarto município de Santa Catarina em população. Apesar de ser um município
com pequena extensão territorial, é dividido em três distritos administrativos: Sede,
Barreiros e Campinas. O maior, em extensão, é o distrito Sede e o mais populoso é
o de Barreiros, com aproximadamente 80 mil habitantes.
O distrito de Barreiros, que foi criado em 1959, é assim conhecido por conter uma
área bastante encharcada e barrenta junto ao mar. Atualmente, Barreiro possui infra-
estrutura de município, apresentando comércio diversificado, pequenas indústrias,
prestadoras de serviços, bancos, posto de saúde e escolas.
O crescimento urbano desenfreado a que foi submetido o distrito, a partir da década
de 1970, levou à criação de inúmeros loteamentos e condomínios, alguns
clandestinos e sem nenhuma infra-estrutura.
A comunidade do Jardim Zanellato, que está localizada neste distrito, originou-se
de um loteamento cujas encostas possuíam acentuada declividade. A vegetação
local era totalmente descaracterizada por áreas destinadas a pastos e ocupadas por
habitações em condições precárias, apresentando situação de risco potencial de
deslizamentos, falta de saneamento básico, esgotos a céu aberto e coleta de lixo
incipiente.
A preocupação com a comunidade do local e de outro loteamento chamado
Pedregal, que também apresentava situação de risco semelhante, levou a Prefeitura
do Município de São José a priorizar essas duas regiões. Assim, um acordo de
parceria foi efetivado em 1999, com o Banco Internacional para a Reconstrução e
Desenvolvimento (Bird) e a Caixa Econômica Federal, para realizar o
84
reassentamento das famílias dessas duas comunidades por meio do Projeto Morar
Bem I.
A partir dessa iniciativa, teve início o processo de mudança das condições de
habitação e valorização da comunidade.
Durante os 11 anos em que a Escola Marista São José vem atuando no Jardim
Zanellato, tem acompanhado as mudanças e o crescimento da comunidade, a qual,
atualmente, conta com recursos locais, como transporte coletivo, conselho
comunitário, igrejas, posto de saúde, posto policial, creches e outras escolas,
embora a demanda de alunos ainda seja maior do que o número de vagas. O perfil
das famílias atendidas pela unidade marista vem se modificando, juntamente com as
melhorias das condições de vida da comunidade.
Hoje, 82% das famílias atendidas pela escola o catarinenses e há, ainda, umas
poucas famílias do Paraná e de outros Estados. O diagnóstico social realizado pela
assistente social indica que 41% das famílias têm a renda composta pelo casal, e,
em 52%, somente o pai trabalha. A maioria dos homens exercem as atividades de
pedreiro e servente, sendo que 30% trabalham como autônomos. Das mulheres que
têm vínculo empregatício, 49% são empregadas domésticas e apenas 20% delas
não possuem nenhum tipo de trabalho remunerado.
Analisando a renda per capita das famílias, percebemos que 49% recebem, menos
de um salário mínimo, e 15% delas até um salário mínimo, o que demonstra uma
clientela em situação de vulnerabilidade social. Identificamos que 28% das famílias
se beneficiam dos programas Bolsa-Família e Peti.
Os dados apresentados foram extraídos do PSE elaborado pela equipe de trabalho
da unidade.
85
4.3. CENTRO SOCIAL MARISTA IRMÃO ACÁCIO
55
56
Com a intenção de ampliar o atendimento no Município de Londrina, a Província
Marista do Brasil Centro-Sul vinha, alguns anos, analisando seu atendimento
no bairro Nossa Senhora da Paz, onde manteve, por 18 anos, uma Escola de Ensino
Fundamental I, a qual, nos últimos anos, havia sofrido um decréscimo de
55
Ibid.
56
Ibid.
86
atendimentos por diversos motivos, principalmente a diminuição da população desse
bairro e seu isolamento físico, em função da barreira física. A rodovia que divide o
bairro, dificulta o acesso e a circulação entre os bairros.
A participação em reuniões dos Conselhos de Direitos da Criança e de Assistência
Social e um breve diagnóstico do município permitiram concluir que a principal
demanda não atendida era a de adolescentes em situação de vulnerabilidade social
e pessoal.
Esses fatores foram determinantes para a construção da proposta de trabalho do
Cesomar Ir. Acácio, instalado em um equipamento de 12.000 m², na região Norte de
Londrina, cedido pela Cooperativa Habitacional (Cohab) em regime de comodato.
O Centro Social Marista Ir. Acácio foi inaugurado em 18 de junho de 2004, após um
período de preparação e elaboração dos programas e projetos e da seleção e
treinamento do corpo de funcionários.
O prédio foi reformado, passando por adequação dos espaços físicos, com
alterações em salas, para atender a proposta pedagógica; pintura; e manutenção
geral, devido ao seu estado precário.
Para organizar as oficinas, a equipe de trabalho da unidade aplicou 600
questionários, para adolescentes estudantes das duas maiores escolas estaduais da
região, que apontaram as atividades que gostariam de praticar no contraturno
escolar. As informações dos adolescentes determinaram a organização das oficinas.
Reuniões com a rede de serviços da região, também foram realizadas, com o
objetivo de apresentar a Instituição Marista e a proposta de trabalho da unidade
social.
Com a divulgação, inscrição e seleção de jovens na faixa etária de 11 a 16 anos,
matriculados e freqüentando as escolas regulares, a procura da comunidade do
87
entorno foi espontânea, como também houve encaminhamentos de toda a rede de
serviços do município.
A unidade iniciou seu atendimento com 200 educandos moradores da região Norte
de Londrina, oferecendo as oficinas de Capoeira, Jogos Cooperativos, Artes Visuais,
Artes Cênicas, Comunicação, Ser e Conviver e Informática.
No primeiro semestre de 2005, o atendimento foi ampliado para 300 educandos,
incluindo adolescentes de atendimento especial (casa-abrigo, cumprindo medidas
Socioeducativa, e adolescente com deficiência).
No segundo semestre, foi acrescentada a oficina de Expressão Corporal e o
atendimento ao Projeto Agente Jovem
57
, incluindo mais 25 adolescentes, totalizando
325 educandos.
Ações de parceria foram implementadas, em conjunto com a Fundação Municipal de
Esportes, o Pólo de Judô. Fruto dessa parceria, o atendimento foi ampliado para
mais 60 adolescentes.
A oficina de Linguagem em Moda, ministrada por uma voluntária e com o apoio da
Universidade do Norte do Paraná, atende mais 14 adolescentes.
Com a Secretaria Estadual de Educação foi implementado o Curso de Alfabetização
de Adultos, que atende, em sua maioria, as famílias dos educandos e os idosos da
região.
Para proporcionar a inserção econômica dos educandos, a unidade com a rede de
restaurantes Dá Licença, desenvolveu um curso para formação de garçons.
Atualmente, a unidade, em parceria com o Serviço Nacional da Indústria (Senai),
implantou o Serviço de Aprendizagem Profissional, e assim, com os demais serviços
e programas desenvolvidos, elevou seu atendimento para 450 adolescentes.
57
O Projeto Agente Jovem é desenvolvido pelo Serviço de Apoio Socioeducativo.
88
4.4. CENTRO EDUCACIONAL E SOCIAL MARISTA DOURADOS
58
59
O Cesmar Dourados localiza-se na periferia do Município de Dourados, em Mato
Grosso do Sul, e atende cerca de 200 crianças e adolescentes, entre 6 e 17 anos,
no Serviço de Apoio Socioeducativo e nos Programas Biblioteca Interativa e Vida
Feliz.
58
Fonte: Banco de Imagem SAS – PMBCS.
59
Ibid.
89
A unidade está sendo reestruturada e a construção do novo prédio prevê a
ampliação de seu atendimento para atender à demanda de crianças e adolescentes
que não contam com serviço de apoio socioeducativo na região.
Dourados contava, em 2000, com 165.949 habitantes, sendo que 50.057, quase um
terço dessa população, é composta por crianças e adolescentes menores de 15
anos; uma demanda significativa para serviços de educação, saúde e assistências
específicas, dados do IBGE (de 2000).
O município conta com um número considerável de escolas, entre as quais, 48 são
municipais, 23 estaduais e 29 particulares, atingindo um total de 66.411 alunos
matriculados no ensino fundamental, conforme dados referentes ao ano de 2005,
extraído do IBGE Cidades.
60
A base da economia está na agropecuária e, atualmente, uma participação da
área industrial, que está em desenvolvimento na região.
Os litígios por terra são freqüentes, em função de reservas indígenas ainda não
demarcadas, e das disputas entre agricultores sem-terra e grandes latifundiários.
O Posto Indígena Horta Barboza e a Aldeia Indígena Panambizinho agregam 4.059
61
indígenas, diferencial que contribui para a composição cultural e social do município.
Os Indicadores de Vulnerabilidade Familiar apontavam, em 2000, índices
significativos como: 0,6% de mulheres de 10 a 14 anos com filhos; 9,7% de
mulheres de 15 a 17 anos com filhos; 36,6% de crianças em famílias com renda
inferior a meio salário mínimo
62
; e 5,4% de mães chefes de família, sem cônjuge,
com filhos menores.
Em 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Dourados chegou a 0,78,
segundo a classificação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
60
Fonte: IBGE Cidades - http://www.ibge.gov.br/cidadesat
61
Fonte: Plano de Ação – Dourados – 2007. Documento institucional.
62
Salário mínimo referente a maio de 2000. Fonte IBGE
90
(PNUD), o município encontra-se entre as regiões consideradas de médio
desenvolvimento humano (IDH entre 0,5 e 0,8).
Porém, a demanda para os serviços e programas oferecidos pela unidade justificam-
se, principalmente, pelo perfil socioeconômico das famílias que residem na região, e
que, no geral, apresentam poucas ou quase nenhuma oportunidade de acesso a
bens e serviços de qualidade e a atividades de lazer, tendo o Cesmar como uma das
principais referências de atendimento à criança e aos adolescentes da região.
91
4.5. QUADROS SÍNTESES DOS DISCURSOS DOS SUJEITOS COLETIVOS
4.5.1 QUADRO I - CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA
[...] Qualquer decisão, seja no serviço social, administrativo ou pedagógico,
seja consulta de educando, família ou educador, sempre passa pela equipe
de trabalho, para a tomada de decisão em conjunto.
63
Quadro I - Caracterização dos Sujeitos da Pesquisa
1. Nome dos membros da equipe de trabalho; função; formação acadêmica; tempo de
formação; tempo de serviço na instituição; na função e na unidade.
Irmão Gilmar Aricini: Religioso marista, diretor da unidade e dos Colégios
Nossa Senhora da Glória e Santista; mestre em Filosofia; está na unidade há
quatro anos.
Lúcia Aparecida Santos Tavares: Assistente social, formada há dez anos;
está na Instituição há dois anos, como assistente social, e há um mês, com
ampliação da carga horária, acumula a função como coordenadora-geral.
2. Como a equipe organiza sua dinâmica de trabalho?
CSEI Lar
Feliz
Santos
(SP)
Através de reuniões periódicas semanais, mas que ocorrem quinzenalmente.
O espaço coletivo da sala da equipe de trabalho favorece a comunicação e a
organização.
A coordenação-geral com assistente social amplia a atuação com a
comunidade, não fica restrita à área pedagógica.
1. Nome dos membros da Equipe de trabalho; função; formação acadêmica; tempo de
formação; tempo de serviço na instituição; na função e na unidade.
Vilmor Domingos Squersato: Diretor; administrador de empresas, pós-
graduado em Recursos Humanos; foi religioso marista, está na instituição na
função e na unidade há 11 anos.
Micheli Klauberg Faustino: Assistente social, formada há 13 anos, com
especialização em Educação Sexual; está na Instituição, na Unidade, como
assistente social, há oito anos e meio.
2. Como a equipe organiza sua dinâmica de trabalho?
Escola São
José, São
José (SC)
Primeiro, cada um sabe das suas responsabilidades
Reuniões semanais, ainda não realizadas este ano.
Realizaram o planejamento e a formação de início de ano, por este motivo não
fizeram as reuniões semanais.
Nas reuniões de equipe de trabalho são discutidas questões mais estratégicas,
as decisões são tomadas em equipe.
1. Nome dos membros da equipe de trabalho; função; formação acadêmica; tempo de
formação; tempo de serviço na instituição; na função e na unidade.
Cesomar
Ir. Acácio,
– Londrina
(PR).
Irmão Valmir Nogueira da Silva: Religioso marista, diretor, formado em
Ciências Religiosas e cursa Teologia e Administração de Empresas, está na
Unidade há três anos e há dois anos na função de diretor.
Silvia Helena Matias: Coordenadora-geral, socióloga, está na Instituição, na
unidade e na função há dois meses.
Paulo Sérgio Aragão: Assistente social, formado há 2 anos, está na instituição,
na unidade e na função há nove meses.
63
Fragmento da Entrevista realizada em 10 de abril de 2007, com a equipe de trabalho do Cesmar Dourados, em Dourados
(MS). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social (SAS) da
Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de Assistência Social
(PNAS)
92
Quadro I - Caracterização dos Sujeitos da Pesquisa
(Continuação)
2. Como a equipe organiza sua dinâmica de trabalho?
Reuniões semanais de organização das atividades.
Serviço social responsável pela inscrição e inserção do educando, além da
representatividade nos conselhos, desenvolve trabalho com as famílias e de
socioeconomia solidária.
Nas reuniões semanais, são socializados os processos.
Tudo é discutido e definido nas reuniões semanais.
1. Nome dos membros da equipe de trabalho; função; formação acadêmica; tempo de
formação; tempo de serviço na instituição; na função e na unidade.
Irmão Valdir Gugiel: Religioso marista, diretor, formado em Ciências
Religiosas e Serviço Social, está na unidade há cinco anos e na função de
diretor há um ano.
Ruth Alves Gomes: Assistente social, formada há dois anos, cursando
especialização em Famílias e Políticas Públicas, está na instituição, na unidade
e na função há quatro meses.
Elaine Andréa Landoviski: Assessora pedagógica, formada há oito anos, com
especialização em Recursos Humanos, está na instituição, na unidade e na
função há 11 meses.
2. Como a equipe organiza sua dinâmica de trabalho?
Cesmar
Dourados,
Dourados
(MS)
Reuniões semanais.
Os processos administrativos, pedagógicos e sociais são definidos nessas
reuniões.
As decisões são tiradas em conjunto.
Espaço de planejamento flexível, para atender às demandas que surgem no
cotidiano e precisam ser ouvidas e resolvidas.
A reunião semanal é um espaço democrático de socialização das experiências.
O Quadro I é composto por duas questões da entrevista e tem por finalidade
caracterizar a equipe de trabalho, quanto à sua composição, organização e dinâmica
de trabalho.
Quanto a composição da equipe, observamos uma grande diversidade entre elas,
faz-se necessário, ressaltar que sua composição é determinada, a partir de seu
segmento e de seu número de atendimentos.
Para realizar a pesquisa, contemplamos, em nosso universo de estudo, esta
diversidade.
Apresentamos unidades que atendem até 200 educandos, como o CSEI Lar Feliz e
o Cesmar Dourados. A partir desse critério, essas unidades têm sua equipe formada
por um diretor-geral, um assistente social, que pode ou não acumular a
93
coordenação-geral; e um assessor pedagógico, que também pode ou não acumular
a coordenação-geral. A situação de acúmulo de função apresentada pelo CSEI Lar
Feliz é avaliada positivamente por seu diretor-geral.
Eu acho que, como a formação dela é na área social mesmos, a direção
tende a ganhar. [...] [...] A relação com a comunidade se amplia [...] [...] Acho
que, com esse tipo de coordenação, a tendência é expandir um pouco mais.
64
As unidades que atendem acima de 200 educandos, como o Cesomar Irmão Acácio
e a Escola São José, têm suas equipes formadas por um diretor-geral, um
coordenador-geral, um assistente social e um assessor pedagógico.
Observamos que, das quatro equipes, três são dirigidas por irmãos maristas e uma
por leigo, ex-religioso marista. Dessas três, apenas duas contam com dedicação
exclusiva do irmão que ocupa a função de diretor-geral. A citação a seguir transcrita
revela a concepção que vigora sobre o papel de diretor-geral.
[...] mas direção-geral é um acompanhamento mais geral no sentido de dar
algum apoio, referente ao carisma da Instituição no local, e também estar
respondendo por questões meio burocráticas, assinaturas e coisas assim.
65
Outro fator relevante, entre esses diretores, é o tempo que exercem a função de
direção. A unidade que apresenta maior tempo, quatro anos, o diretor tem dedicação
parcial. Seu tempo é dividido com a direção de mais dois colégios. Os outros dois
irmãos diretores estão há dois anos ou menos na função.
Identificamos, como exceção, a Escola Marista Municipal São José, que conta há 11
anos com o mesmo diretor-geral, um leigo, ex-religioso marista, e com a assistente
social, há oito anos.
64
Fragmento da Entrevista realizada em 22 de fevereiro de 2007, com a equipe de trabalho do Centro Social de Educação
Infantil Lar Feliz, em Santos ( SP). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de
Assistência Social (SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política
Nacional de Assistência Social (PNAS)
65
Ibid.
94
Quanto às demais funções e unidades, observamos, em sua maioria, que os
coordenadores-gerais, os assistentes sociais e os assessores pedagógicos estão na
unidade e na função há menos de um ano.
Essa síntese revela uma certa instabilidade, quanto ao tempo de permanência das
equipes de trabalho na Instituição, dado relevante para a análise da continuidade e
garantia dos processos institucionais nas unidades.
Merece destaque, também, a forma como as equipes organizam sua dinâmica de
trabalho.
[...] Organizamos nosso trabalho através de reuniões periódicas, normalmente
semanais, e, mais freqüentemente, quinzenalmente, estamos sentando e
organizando.
66
Primeiro, cada um sabe de suas responsabilidades, além disso, temos as
reuniões semanais, para acertarmos a programação da semana, do mês,
discutir os afazeres, as questões administrativas, pedagógicas, da escola
toda, este ano ainda não conseguimos.
67
Temos as reuniões de trabalho semanais, [...] [...] Sempre que possível,
sentamos, todas as semanas, vemos as prioridades e a divisão das funções.
68
Observamos que, mesmo todos tendo como metodologia de trabalho, por orientação
institucional, a realização de reuniões semanais para discutir e alinhar os processos
e o trabalho cotidiano, essa orientação não reflete uma conduta única.
O ritmo e a intensidade com que elas ocorrem são diferenciados e reveladores da
concepção da equipe, sobre o processo democrático da tomada de decisão.
66
Ibid.
67
Entrevista realizada em 5 de março de 2007, com a equipe de trabalho da Escola Marista Municipal São José, em São José
(SC). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social (SAS) da
Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de Assistência Social
(PNAS)
68
Fragmento da Entrevista realizada em 12 de março de 2007, com a equipe de trabalho do Cesomar Irmão Acácio, em
Londrina (PR). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social
(SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de
Assistência Social (PNAS)
95
A partir dessas reuniões semanais, nós fazemos o levantamento das ações.
Essas ações são divididas na equipe, de acordo com suas funções e suas
responsabilidades e, aí, eu, especificamente na função de coordenação-geral,
faço o acompanhamento.
69
69
Ibid.
96
4.5.2 QUADRO II - AFINIDADES ENTRE A POLÍTICA INSTITUCIONAL E A PNAS
[...] Acreditamos que uma caminhada, uma ligação marista com a PNAS;
dessa ligação, se trabalha e vai se dando continuidade, com toques e com o
jeito de caminhar Marista [...]
70
Quadro II - Afinidades entre a política institucional e a PNAS
12. A equipe de trabalho identifica afinidades entre as orientações institucionais e a PNAS? Em que
aspectos?
CSEI Lar
Feliz
Santos
(SP)
Valorização humana.
Fortalecimento dos grupos.
Política Institucional e PNAS caminham na mesma direção – pensa a totalidade.
Integração social.
Igualdade de direitos e garantia de direitos.
Participação e articulação com a rede.
A afinidade está em suas diretrizes.
Escola São
José, São
José (SC)
Vinculação entre o Programa Institucional e a PNAS, na questão da família, da
inclusão social e na participação nos conselhos.
A partir da junção das Províncias observa-se o alinhamento com a PNAS.
Superação da centralidade na questão do ensino, inclusão da visão social.
Abertura da Unidade para a comunidade, com encaminhamento para o PETI/
bolsa-família.
“...é complicado, em termos da PNAS, sermos escola e termos que garantir
projetos sociais de atendimento às famílias, parcerias, participação em
conselhos para termos visibilidade social enquanto unidade filantrópica.”
Cesomar
Ir. Acácio,
Londrina
(PR).
Trabalho com família.
A questão da vulnerabilidade para inserção.
A territorialidade.
A perspectiva do trabalho em rede.
O caráter contínuo dos serviços.
O respeito aos conselhos.
“... As orientações institucionais têm tudo a ver com a PNAS, ainda que as
Unidades não consigam acompanhar o mesmo ritmo.”
Cesmar
Dourados,
Dourados
(MS)
Desafio: alinhar o serviço, que está centrado no educando, para a família, como
núcleo de atenção da unidade.
Consonância com o não assistencialismo, envolvimento da comunidade.
Trabalho em rede a partir da localidade (territorialidade) é a grande afinidade
com a PNAS.
Ouvir o outro, a família, outros profissionais, o usuário.
“...A PNAS é muito nova, precisamos nos adequar, não é uma questão de
enquadramento, mas, sim, de caminhar em conjunto, acompanhar os decretos
e as orientações para não prejudicar o trabalho.”
70
Ibid.
97
O Quadro II apresenta a síntese da questão central de nossa pesquisa, ou seja, a
busca pela identificação das afinidades entre a Política Institucional e a PNAS, bem
como os pontos convergentes e divergentes entre ambas.
Acho que falamos de forma diferente, mas temos os mesmos objetivos: o
resgate da vida humana é nossa missão e o que Marcelino Champagnat nos
pede é voltarmos às origens, voltar aos empobrecidos e aos carentes, os que
são necessitados. [...]
71
Podemos afirmar que não encontramos propriamente pontos divergentes, mas, sim,
pontos que são parcialmente identificados na política institucional, porém não são
apreendidos por ela na prática.
[...] A questão da vulnerabilidade, até mesmo para inserção, a orientação é
dada pela vulnerabilidade e não pelo corte de renda, que a PNAS também
coloca. Sob a territorialidade, sob a perspectiva de rede, da continuidade dos
serviços, existe algo que deve ser feito, neste trabalho de rede, o respeito aos
conselhos. Vejo que as orientações da Instituição, do SAS, tem tudo a ver
com a PNAS, ainda que, talvez, as Unidades não consigam acompanhar o
mesmo ritmo, mas as orientações têm a ver, sim.
72
Verificamos que o quadro, nos aponta convergente entre as políticas, o atendimento
à família, todas as unidades foram unânimes em reconhecer a afinidade entre a
orientação institucional e a diretriz da PNAS, que considera a centralidade na família
para a concepção e a implementação dos benefícios, serviços, programas e
projetos.
[...] Todas as questões estão relacionadas às famílias e isso a PNAS traz bem
forte. [...]
73
71
Ibid.
72
Fragmento da Entrevista realizada em 12 de março de 2007, com a equipe de trabalho do Cesomar Irmão Acácio, em
Londrina (PR). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social
(SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de
Assistência Social (PNAS)
73
Ibid.
98
Outro aspecto que merece destaque diz respeito a um dos princípios da PNAS, que
também faz parte dos princípios institucionais apontados nos (DSC), o respeito à
dignidade do cidadão, à sua autonomia, e ao seu direito a benefícios e serviços de
qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer
comprovação vexatória de necessidade.
É de ter uma condição de igualdade, a igualdade de direitos, a garantia dos
direitos, tanto vem na PNAS, como na política institucional, [...] [...] Ele vive
numa sociedade; ele tem uma família; ele precisa não integrar-se, mas
criar mecanismos próprios de enfrentamento, para superar essa situação de
desigualdade, que cada dia, está mais tencionada [...]
74
Identificamos como desafios, como pontos não divergentes, mas não incorporados
na prática pela política institucional, o envolvimento mais efetivo na rede
socioassistencial, a divulgação dos benefícios, serviços, programas e projetos
assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios
para sua concessão; participação da comunidade e das próprias unidades no
controle da gestão e da execução das políticas públicas, através dos conselhos.
Até adequações com a PNAS, não é uma questão de se enquadrar, mas, sim,
caminhar em conjunto com essa política, porque vêm decretos, mudanças,
leis, e se você não estiver caminhando junto, pode comprometer todo um
trabalho e isso pode se tornar prejudicial.
75
74
Fragmento da Entrevista realizada em 22 de fevereiro de 2007, com a equipe de trabalho do Centro Social de Educação
Infantil Lar Feliz, em Santos (SP). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de
Assistência Social (SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política
Nacional de Assistência Social (PNAS)
75
Fragmento da Entrevista realizada em 10 de abril de 2007, com a equipe de trabalho do Cesmar Dourados, em Dourados
(MS). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social (SAS) da
Província Marista do Brasil Centro -Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de Assistência Social
(PNAS)
99
4.5.3 QUADRO III - CRITÉRIO DE INGRESSO E TRABALHO COM FAMÍLIAS
A equipe está bem consciente que a primeira autorização vem da assistente
social e a equipe sabe dos critérios. A assistente social tem autonomia de
decisão para seleção.
76
Quadro III – Critério de ingresso e trabalho com famílias
3. Quais são os critérios de ingresso da criança e ou adolescente no serviço?
Não tem critérios preestabelecidos.
Utilizam o critério de vulnerabilidade apontado pela PNAS.
Abarca a totalidade, considera a vulnerabilidade social – problemas com
habitação, menor renda, inscrições em programas sociais, empregabilidade,
risco social – perda do pátrio poder e acompanhamento pelo Conselho Tutelar.
Critérios principais são: menor renda, território (abrangência de atendimento) e
empregabilidade.
4. Os critérios de ingresso são discutidos na equipe de trabalho?
Foram pensados de forma conjunta (sala compartilhada facilita o processo de
discussão e comunicação).
A análise do processo é do serviço social.
O diagnóstico social das famílias atendidas é socializado.
O respeito à diversidade entre as famílias é discutido em equipe.
5. Os critérios de ingresso respondem às orientações institucionais? E estão em
consonância com a PNAS? Em que aspectos?
Sim, pela centralidade na família.
A família como matricialidade da PNAS.
O fortalecimento e empoderamento da família.
Não trabalhamos mais só a criança.
A proposta de maior abrangência no trabalho.
6. Como são registrados os critérios e o processo de seleção e sua devolutiva à
comunidade?
Não é dada a devolutiva (número de novas vagas por ano é muito pequeno).
Priorizam encaminhamentos da Secretaria da Educação e do Conselho Tutelar.
Realizam visitas domiciliares aos inscritos com algum indicador de risco
(usuários de drogas licitas e ilícitas, mulheres chefes de famílias, etc.).
No momento da inscrição, são apresentados os documentos das famílias.
Na visita domiciliar, é preenchido um instrumental para levantar a composição
familiar que subsidia o diagnóstico social da unidade.
11. A unidade desenvolve trabalho com famílias?
CSEI Lar
Feliz,
Santos
(SP)
Desenvolve o projeto Fortalecendo a Família (reuniões em grupos com foco em
discussões levantadas pelas próprias famílias – encontros semanais).
Trabalharam com as famílias os programas sociais, desenvolvidos a partir da
colaboração do Cras, do Conselho Tutelar e Instituto da Mulher.
Constatou-se que as mulheres ampliaram a participação e a qualidade desta,
pois ”ficaram mais falantes”.
Projeto Pais acontece aos sábados, com foco na solidariedade, no
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
76
Fragmento da Entrevista realizada em 5 de março de 2007, com a equipe de trabalho da Escola Marista Municipal São José,
em São José (SC). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência
Social (SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de
Assistência Social (PNAS)
100
Quadro III – Critério de ingresso e trabalho com famílias (continuação)
3. Quais são os critérios de ingresso da criança e ou adolescente no serviço?
A proximidade de residência com a escola (há muita procura).
Idade.
Já ter irmãos freqüentando esta escola.
Principais critérios: morar próximo da escola, questão socioeconômica, situação
de vulnerabilidade social, encaminhamentos do Conselho Tutelar.”situação de
risco, a gente dá prioridade”.
4. Os critérios de ingresso são discutidos na equipe de trabalho?
Sim, os professores conhecem os critérios.
A equipe sabe que a seleção é de responsabilidade do serviço social.
O serviço social tem autonomia no processo de seleção.
A comunidade sabe que o processo de seleção é feito pelo serviço social.
A comunidade acompanha a seleção: ”se é selecionado alguém fora dos
critérios, a comunidade cobra”.
5. Os critérios de ingresso respondem às orientações institucionais? E estão em
consonância com a PNAS? Em que aspectos?
Sim, na garantia de direitos, como o de estudar próximo de sua residência, na
questão da vulnerabilidade (20% dos alunos são atendidos pelo Peti e 150
famílias pelo Bolsa-Família). ”Os programas contribuíram para melhoria da
qualidade de vida das famílias atendidas pela escola.”
Em média, a renda das famílias de nossos alunos é de 1 salário mínimo e meio.
6. Como são registrados os critérios e o processo de seleção e sua devolutiva à
comunidade?
Preenchem a ficha de Inscrição.
Serviço social analisa os dados, faz entrevista e registra parecer e critérios
utilizados na própria ficha de inscrição.
São feitas devolutivas individuais (apresentam os critérios que justificam o
parecer do serviço social). ”Cada caso é um caso, não dá para tratar no
coletivo.”
O serviço social informa a demanda reprimida à Secretaria Municipal de
Educação e ao Conselho Tutelar (Essa ação resultou na construção de duas
escolas no bairro). ”Nos envolvemos nas demandas da comunidade, melhoria
do transporte coletivo, transporte para deficientes, construção do ginásio de
esporte.”
11. A unidade desenvolve trabalho com famílias?
Escola São
José, São
José (SC)
Mais atendimentos individuais, mediando a relação escola-família.
Os grupos são temáticos, com temas apontados pelas próprias famílias.
Temas trabalhados em 2006 – violência, sexualidade e drogas.
Há baixa participação no trabalho em grupo durante o dia e maior adesão nos
que ocorrem à noite. ”Este ano, iniciaremos o trabalho com as famílias em
abril.”
Projeto Família em parceria com a UFSC e com a ONG Crescer Sem Violência,
com foco no empoderamento, na apropriação dos direitos e na emancipação
feminina, através da customização e da discussão de temas relacionados ao
foco do trabalho (grupo com 30 mulheres).
101
Quadro III – Critério de ingresso e trabalho com famílias (continuação)
3. Quais são os critérios de ingresso da criança e ou adolescente no serviço?
Primeiro, por ordem de inscrição.
Segundo, foi aplicado um índice de vulnerabilidade (tabela de pontuação para
mensuração da vulnerabilidade, seguindo o modelo utilizado pelo Município de
Londrina - PR).
Terceiro, foram atendidos todos os inscritos, sem critérios de seleção (de
2006/2007, houve uma baixa no índice de rematrícula e a ampliação do
atendimento, possibilitando atender todos os inscritos em lista de espera).
Atualmente, o critério é a vulnerabilidade social (família com vínculos
fragilizados, renda, uso de drogas licitas e ilícitas na família, etc.).
4. Os critérios de ingresso são discutidos na equipe de trabalho?
Foram na equipe de trabalho, mas não com os educadores.
Os educadores e a equipe têm ciência do público-alvo da unidade, mas
desconhecem os critérios de inserção (sabem que são público da assistência
social).
5. Os critérios de ingresso respondem às orientações institucionais? E estão em
consonância com a PNAS? Em que aspectos?
Sim, atendem o público da assistência social.
Priorizam os encaminhamentos da rede socioassistencial.
Atendem, desde o ano passado, pessoas com deficiência (público da
assistência).
Atendem mais de 30 educandos que estão no Peti.
“... uma coisa que me deixou muito angustiado foi quando utilizei a tabela de
vulnerabilidade. Que profissional estava sendo? Não considerava o contexto [...]
lembro da formação promovida pelo SAS com a Professora Ilda Witiuk sobre o
processo ético do serviço social, fiquei mal...”.
6. Como são registrados os critérios e o processo de seleção e sua devolutiva à
comunidade?
É feito o registro da entrevista e o parecer favorável ou não à matrícula na ficha
de inscrição (Nos últimos processos de seleção, todos os inscritos foram
matriculados).
11. A unidade desenvolve trabalho com famílias?
Cesomar
Ir. Acácio,
Londrina
(PR)
Sim, com foco no resgate das relações e fortalecimento dos vínculos.
Temas trabalhados – concepção de família e o papel da família a partir deles.
Discussão sobre socioeconomia solidária.
Trabalho em parceria com a Universidade Estadual de Londrina (UEL) e a
Incubadora Tecnológica de Economia solidária (Ites) (Em processo de
implementação).
102
Quadro III – Critério de ingresso e trabalho com famílias (continuação)
3. Quais são os critérios de ingresso da criança e ou adolescente no serviço?
Não existem critérios estabelecidos.
Anteriormente, selecionava-se por ordem de inscrição.
A equipe de trabalho está construindo os critérios de seleção a partir da
realidade das famílias.
Para a ampliação da unidade, no 2º. semestre de 2007, há 158 inscritos, para
100 vagas.
4. Os critérios de ingresso são discutidos na equipe de trabalho?
Está em processo de elaboração pela equipe de trabalho.
5. Os critérios de ingresso respondem às orientações institucionais? E estão em
consonância com a PNAS? Em que aspectos?
Identificamos que os indicadores institucionais são claros (foco na criança e
adolescente menos favorecidos; partir da realidade das famílias; considerar a
importância da comunidade e respeitar sua dinâmica local).
Acreditam que, quando finalizarem a elaboração dos critérios, os mesmos
refletirão as orientações institucionais e a PNAS, que considera a família, o
território e a vulnerabilidade como um olhar que vai além da renda.
O alinhamento com a PNAS está também na busca pelo empoderamento e
autonomia do sujeito.
6. Como são registrados os critérios e o processo de seleção e sua devolutiva à
comunidade?
A unidade está em processo de estruturação, não existem registros dos
processos de seleção anteriores, a inserção era livre.
11. A unidade desenvolve trabalho com famílias?
CESMAR
Dourados,
Dourados
(MS)
Atualmente não.
Iniciará este ano com reuniões socioeducativas com as famílias, com o objetivo
de discutir as relações familiares, comunitárias, os problemas do cotidiano e
outros temas indicados pelas próprias famílias.
Trabalharão a partir da escuta e da construção coletiva de soluções.
O núcleo das questões agrupadas neste quadro de análise, consiste em elementos
fundamentais para a compreensão da prática do serviço social nas unidades, quanto
aos critérios de acesso aos serviços e o trabalho desenvolvido com as famílias.
Observamos que as equipes de trabalho das unidades em questão, no discurso,
apresentam, certa falta de clareza quanto aos critérios de seleção para ingresso nos
serviços.
Duas, das quatro equipes entrevistadas, negaram a existência de critérios
preestabelecidos, porém, na prática, todas foram unânimes em apontar os critérios
de vulnerabilidade apresentados na PNAS, considerando fatores como a fragilidade
dos vínculos familiares, a territorialidade e situações de risco, entre outros fatores
103
que compõem o conjunto de critérios utilizados nos processos de seleção. Os
trechos das entrevistas que seguem explicitam a afirmação anterior.
Não temos exatamente critérios preestabelecidos. Utilizamos a questão da
vulnerabilidade, que é apontada na PNAS, então, observamos algumas
bases, mas, essencialmente, é a vulnerabilidade num todo.[...]
77
A gente chamava, fazia a apresentação da instituição, procurava alguns
pontos de vulnerabilidade, família monoparental, situação de moradia
irregular, problemas com alcoolismo, em casa, ou outro tipo de drogas,
agressão, situação de rua. Se fazia a entrevista, tentando trazer, para dentro,
o público-alvo da assistência. [...] [...] Os critérios são: vulnerabilidade social,
família, renda, vínculos familiares frágeis. [...]
78
[...] Os principais critérios são: morar próximo e, também, a questão
socioeconômica, a situação de vulnerabilidade social. Tem também, alguns
casos, encaminhados pelo Conselho Tutelar. Situação de risco, a gente dá
prioridade.
79
O Quadro III nos revela que os processos de seleção são exclusivamente de
responsabilidade do serviço social das unidades, que, também, não existe uma
forma sistematizada de discussão e apropriação dos critérios e do processo de
seleção por parte dos colaboradores, e que esse processo depende da forma como
as equipes de trabalho concebem sua atuação. Quanto mais democrática, maior é o
envolvimento e a compreensão do processo. Quanto mais autoritário e centralizado,
menor o envolvimento e a compreensão.
77
Fragmento da Entrevista realizada em 22 de fevereiro de 2007, com a equipe de trabalho do Centro Social de Educação
Infantil Lar Feliz, em Santos (SP). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de
Assistência Social (SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política
Nacional de Assistência Social (PNAS)
78
Fragmento da Entrevista realizada em 12 de março de 2007, com a equipe de trabalho do Cesomar Irmão Acácio, em
Londrina (PR). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social
(SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de
Assistência Social (PNAS)
79
Fragmento da Entrevista realizada em 5 de março de 2007, com a equipe de trabalho da Escola Marista Municipal São José,
em São José (SC). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência
Social (SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de
Assistência Social (PNAS)
104
Como a nossa equipe divide a sala, a gente trabalha muito junto, foi pensado,
com certeza, de maneira conjunta.[...] [...] Todo início de ano, a gente
socializa o diagnóstico social das famílias atendidas [...]
80
Eu acho que a dinâmica que se tornou... a dinâmica da instituição fez com
que isso não fosse debatido mesmo, fez com que o processo talvez se
tornasse falho [...] [...] A equipe o tem ciência, ela tem ciência do público-
alvo que está dentro da Instituição. Isso é debatido todo o tempo, é feita a
formação, é feito estudo de caso, é dada a devolutiva para os educadores,
eles sabem do público que existe aqui, mas os critérios de inserção não. [...]
81
As equipes reconhecem que os critérios atendem às orientações institucionais e que
estão em consonância com a PNAS, porém com percepções diferenciadas, que
expressão as variadas concepções de gestão local, como mencionamos
anteriormente.
Institucionalmente, sim. Acho que a clientela com a qual a gente tem contato,
é, preferencialmente, um grupo que naquela região, é carente [...] [...]
Institucionalmente, a gente vê que está plenamente de acordo com aquilo que
requerem os nossos documentos. Trabalhar, de forma a atender, de fato, as
pessoas mais carentes. [...]
82
Acho que é a questão da preocupação com as famílias, sob o aspecto da
matricialidade, de valorizar o núcleo familiar [...] [...] A PNAS apresenta isso,
de a gente trabalhar o fortalecimento, o empoderamento, a emancipação,
mesmo ainda no começo.
83
80
Fragmento da Entrevista realizada em 22 de fevereiro de 2007, com a equipe de trabalho do Centro Social de Educação
Infantil Lar Feliz, em Santos (SP). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de
Assistência Social (SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política
Nacional de Assistência Social (PNAS)
81
Fragmento da Entrevista realizada em 12 de março de 2007, com a equipe de trabalho do Cesomar Irmão Acácio, em
Londrina (PR). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social
(SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de
Assistência Social (PNAS)
82
Fragmento da Entrevista realizada em 22 de fevereiro de 2007, com a equipe de trabalho do Centro Social de Educação
Infantil Lar Feliz, em Santos (SP). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de
Assistência Social (SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política
Nacional de Assistência Social (PNAS)
83
Ibid.
105
[...] a demanda reprimida, em todos os lugares, é extremamente alta, os
critérios, às vezes, são questionáveis, mas eu acredito que estão em
consonância com a PNAS. A gente está favorecendo a justiça social.
84
[...] estamos trabalhando o público da assistência, que é o público do serviço
social da província. [...] Uma coisa que não falamos, também, sobre os
critérios de inserção, é que damos prioridade aos encaminhamentos da rede,
CT, Cras. Nessa perspectiva, recebemos orientação, da secretaria de
Assistência, de que deveríamos ter 25% das nossas metas com o pessoal do
Peti, que eles consideram de alta vulnerabilidade [...]
85
[...] todas as orientações que recebemos e das experiências que pudemos
observar, também; a opção pelas crianças, adolescentes e jovens e, dentro
de todo o histórico marista, da opção pelos mais empobrecidos e pelos
jovens. E, então, todas as ações que desenvolvemos, a partir da intenção de
ir ao encontro destes, contemplam os objetivos institucionais. O cuidado de
trabalhar as necessidades e não os necessitados e as vulnerabilidades que
as famílias trazem.
86
Um ponto forte deste alinhamento é a importância que se para o sujeito,
para o educando, para a família, que é o tempo todo, discutida; do processo
de empoderamento de autonomia desses sujeitos, também, que nós
trabalhamos dentro da instituição e a PNAS também defende. [...]
87
Quanto ao registro e à devolutiva dos processos de seleção às famílias, observamos
que não existe uma sistematização de registro e de devolutivas. Mesmo nas
unidades que utilizam os instrumentais institucionais, como fichas de inscrição, e os
instrumentais técnicos operativos da profissão, como a entrevista, a visita domiciliar,
entre outros, o registro do processo e a devolutiva para as famílias não se
configuram como práticas sistematizadas.
84
Fragmento da Entrevista realizada em 12 de março de 2007, com a equipe de trabalho do Cesomar Irmão Acácio, em
Londrina (PR). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social
(SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de
Assistência Social (PNAS)
85
Ibid
86
Fragmento da Entrevista realizada em 10 de abril de 2007, com a equipe de trabalho do Cesmar Dourados, em Dourados
(MS). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social (SAS) da
Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de Assistência Social
(PNAS)
87
Ibid.
106
Infelizmente, a gente não dá devolutiva, mas também não criamos
expectativa, a gente abre o processo de inscrição [...] [...] Eu, enquanto
assistente social, busco realizar a visita a todos os inscritos. [...]
88
As devolutivas são individuais. Esse processo é bem cansativo. Eu tentei
fazer em grupo, ou entregar por escrito, mas as pessoas sempre nos
procuram querendo um retorno [...]
89
Fazer em grupo não dá, não convém, o grupo pode se fortalecer.
90
Faço um relato do caso na entrevista e dou o parecer favorável ou não à
matrícula [...]
91
Quanto ao trabalho com famílias, identificamos que apenas uma unidade ainda não
o está desenvolvendo efetivamente, mas demonstrou, em seu discurso, a
intencionalidade em iniciá-lo.
Observamos que esses trabalhos são desenvolvidos, em sua maioria, por meio de
parcerias com o Cras, as universidades e Ongs, e seu foco principal concentra-se no
resgate das relações e no fortalecimento dos vínculos.
[...] Temos, hoje, o Projeto Fortalecendo a Família, um
grupo de apoio
sociofamiliar, com reuniões semanais, com foco em discussões levantadas
pelas próprias famílias. [...] [...] Temos o Projeto Pais, que acontece aos
88
Fragmento da Entrevista realizada em 22 de fevereiro de 2007, com a equipe de trabalho do Centro Social de Educação
Infantil Lar Feliz, em Santos (SP). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de
Assistência Social (SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política
Nacional de Assistência Social (PNAS)
89
Fragmento da Entrevista realizada em 5 de março de 2007, com a equipe de trabalho da Escola Marista Municipal São José,
em São José (SC). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência
Social (SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de
Assistência Social (PNAS)
90
Ibid.
91
Fragmento da Entrevista realizada em 12 de março de 2007, com a equipe de trabalho do Cesomar Irmão Acácio, em
Londrina –(PR). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social
(SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de
Assistência Social (PNAS).
107
sábados. Ele tem uma programação anual, com trabalho de cultura de
solidariedade, de trabalhar o vínculo familiar [...]
92
[...] vamos lançar a proposta para as famílias, para que elas possam fazer
uma opção de participar desse processo. E, aí, começamos esse trabalho de
reuniões socioeducativas com as famílias, que tem o objetivo de discutir as
relações familiares, comunitária, problemas do cotidiano e outros problemas
que elas escolherem. É um trabalho mais específico, a partir da escuta e da
construção coletiva de soluções. [...]
93
92
Fragmento da Entrevista realizada em 22 de fevereiro de 2007, com a equipe de trabalho do Centro Social de Educação
Infantil Lar Feliz, em Santos (SP). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de
Assistência Social (SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política
Nacional de Assistência Social (PNAS)
93
Fragmento da Entrevista realizada em 10 de abril de 2007, com a equipe de trabalho do Cesmar Dourados, em Dourados
(MS). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social (SAS) da
Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de Assistência Social
(PNAS)
108
4.5.4 QUADRO IV – ARTICULAÇÃO COM A REDE SOCIOASSISTENCIAL,
PARTICIPAÇÃO EM CONSELHOS E PARCERIAS
[...] Não estamos sós, mas estamos em conjunto, temos o papel de também
empoderar e fortalecer o poder público. Devemos envolver as esferas
públicas para o comprometimento. Acho que a credibilidade, a organização, a
qualidade de trabalho marista, acho que também provoca outros a também
repensarem a maneira de trabalhar.
94
Quadro IV - Articulação com a rede socioassistencial, participação em
conselhos e parcerias
7. A unidade tem mapeado a rede socioassistencial? Como é seu relacionamento com o
conjunto de serviços e unidades que compõem a rede?
Sim, participa das reuniões da Ação Intersetorial puxada pela Secretaria de
Ação Social do Município.
Tem relação com o Cras (25% das famílias da unidade são referenciadas pelos
Cras São Bento e Mercado).
Busca trabalho conjunto com o Cras para atender famílias mais
vulnerabilizadas.
8. Como está a participação da unidade nas instituições de controle e elaboração das
políticas públicas no município?
Não existe articulação entre a unidade e os conselhos.
9. A unidade está inscrita em algum conselho municipal? Qual sua participação? Como a
equipe de trabalho definiu quem participaria?
O CMAS.
O serviço social acompanhará as reuniões do CMAS e o pedagógico
acompanhará as reuniões do CMDCA.
10. A unidade tem convênio/parceria com outras instituições e ou entidades para o
atendimento? Como foram estabelecidos esses processos?
CSEI Lar
Feliz,
Santos
(SP).
Convênio com a Secretaria Municipal de Educação (repasse per capita pelo
atendimento).
7. A unidade tem mapeado a rede socioassistencial? Como é seu relacionamento com o
conjunto de serviços e unidades que compõem a rede?
Sim, tem a rede local, UBS, centro comunitário, igreja, creche.
Cidade da Criança (Conselho Tutelar, Secretaria de Ação Social, Programa
Sentinela, Jornada ampliada do Peti).
8. Como está a participação da unidade nas instituições de controle e elaboração das
políticas públicas no município?
A assistente social é titular no CMAS e participa da Comissão de Inscrição de
Projetos.
9. A unidade está inscrita em algum conselho municipal? Qual sua participação? Como a
equipe de trabalho definiu quem participaria?
CMAS; a assistente social é titular e participa da Comissão de Inscrição de
Projetos.
10. A unidade tem convênio/parceria com outras instituições e ou entidades para o
atendimento? Como foram estabelecidos esses processos?
Escola São
José, São
José (SC)
Convênio com a prefeitura, na concessão do prédio, além de subsidio de
merenda e alguns funcionários;.
Parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e com a ONG
Crescer sem violência, no trabalho com as famílias.
94
Ibid.
109
Quadro IV - Articulação com a rede socioassistencial, participação em
conselhos e parcerias
(continuação)
7. A unidade tem mapeado a rede socioassistencial? Como é seu relacionamento com o
conjunto de serviços e unidades que compõem a rede?
Sim, trabalhamos em rede.
O Cras faz reunião mensal com a rede de serviços.
Priorizam o atendimento da rede.
8. Como está a participação da unidade nas instituições de controle e elaboração das
políticas públicas no município?
O diretor é suplente no CMDCA.
O assistente social participa das reuniões do CMAS.
Participação em conferências, fóruns e reuniões municipais das várias
secretarias.
9. A unidade está inscrita em algum conselho municipal? Qual sua participação? Como a
equipe de trabalho definiu quem participaria?
CMAS e CMDCA. O diretor é suplente no CMDCA e o serviço social
acompanha as reuniões do CMAS;
10. A unidade tem convênio/parceria com outras instituições e ou entidades para o
atendimento? Como foram estabelecidos esses processos?
Cesomar
Ir. Acácio,
Londrina
(PR)
Parceria com a Cohab, que fez a cessão do prédio, por comodato, para
instalação da unidade.
Convênio com a prefeitura, com repasse per capita, pelo atendimento do apoio
socioeducativo.
Parceria com a Universidade Estadual de Londrina (UEL) (incubadora de
projetos) e a Universidade Norte do Paraná (Unopar) (moda, designer social).
Parceria com a Secretaria Municipal de Esportes, Judô Aberto para a
comunidade;
Parceria com o Instituto C&A no Projeto Mediação de Leitura.
Parceria com o Senai com o Curso de Auxiliar Administrativo de Produção.
110
Quadro IV - Articulação com a rede socioassistencial, participação em
conselhos e parcerias.
(continuação)
7. A unidade tem mapeado a rede socioassistencial? Como é seu relacionamento com o
conjunto de serviços e unidades que compõem a rede?
Está em processo de construção, a partir da escuta das famílias.
“Uma coisa é a existência da rede outra coisa é o acesso a ela.”
A unidade tem um bom relacionamento com a rede socioassistencial.
O trabalho marista credencia esse contato com a rede.
8. Como está a participação da unidade nas instituições de controle e elaboração das
políticas públicas no município?
A unidade tem longa história de participação no município.
Participa das reuniões dos Conselhos CMAS e CMDCA e do Fórum de
Entidades.
Participa de discussões sobre medidas socioeducativas no município.
9. A unidade está inscrita em algum conselho municipal? Qual sua participação? Como a
equipe de trabalho definiu quem participaria?
CMAS e CMDCA e no Fórum Municipal de Entidades Não-governamentais.
Participa dos conselhos, mas não ocupa cadeira; neste momento, o Fórum de
Entidades está indicando a unidade para titularidade no CMDCA e no de
assistência.
Não houve discussão para definir a participação.
10. A unidade tem convênio/parceria com outras instituições e ou entidades para o
atendimento? Como foram estabelecidos esses processos?
Cesmar
Dourados,
Dourados
(MS).
Parceria com a Universidade de Dourados (estagiários e desenvolvimento de
projeto ambiental; catalogação das espécies da mata nativa e implementação
da trilha interpretativa).
Parceria com município no atendimento à jornada ampliada do Peti (35 famílias
no Bolsa-Família).
Parceria com empresa de ônibus para o transporte urbano de educando e
educadores para eventos e capacitações.
Parceria com o Jornal Diário MS, com fornecimento de um exemplar por
semana para cada educando.
“... com as parcerias não só a gente se beneficia, oferecemos nosso espaço
para capacitação, eventos, temos essa possibilidade de troca.”
Este último quadro, que retrata a participação em conselhos e a articulação com a
rede socioassistencial, demonstra, de forma explícita, as orientações da Política
Institucional, quanto à participação no controle social e na elaboração e execução
das políticas públicas, bem como o envolvimento na rede socioassistencial e a
necessidade do desenvolvimento de parcerias.
Os trechos das entrevistas citados a seguir ilustram as realidades e relações
distintas entre a instituição e a rede socioassistencial. Acreditamos que as
disparidades refletem os diferentes momentos de implementação da PNAS nesses
diferentes municípios.
111
Sim, tem a rede mais próxima, que é o posto de saúde, no próprio bairro
[...] [...] Temos a Cidade da Criança, que é bem próxima, na BR. Ali funciona o
CT, a Secretaria de Ação Social. É tudo ali. O programa Sentinela, a Jornada
ampliada do Peti é ali também. E, então, a gente tem muita relação ali,
nossos alunos estão ali, na jornada ampliada do Peti. É uma relação tranqüila,
de encaminhamento [...]
95
[...] a gente sempre tem feito, todos os anos, é informar a Secretaria de
Educação sobre a demanda. Isso favoreceu bastante a construção da nova
escola. A gente comunica a Secretaria e o CT desde 2003. [...] [...] Em 2004,
eles construíram a Escola de Araucária, que desafogou um pouco nossa
demanda [...]
96
[...] Creio que essa nova escola também é resultado do nosso empenho com
a comunidade, além do ginásio de esporte, também foi outra questão. Não
tinha lazer, não tinha esporte no bairro.
97
[...] Eu tenho a rede mapeada do município, aqueles que estão legalmente
instituídos, mas existem outros serviços que não estão legalmente instituídos
e que participam dessa reunião de rede aqui do Cras[...] [...] a rede é muito
boa, a gente prioriza os atendimentos em rede. É uma continuidade dos
serviços. [...] [...] Priorizamos os encaminhamentos da secretaria e atendemos
todos os casos do Peti que chegaram à Unidade.
98
[...] No processo de rematrícula e de cadastro, nós fomos também fazendo
essa escuta, em relação ao mapeamento, e fomos construindo, esse
mapeamento, mas ele é contínuo. Uma coisa é a existência da rede, outra
coisa, é o acesso a essa rede de serviços [...] [...] um trabalho em parceria
com os agentes comunitários de saúde; uma discussão com outros
95
Fragmento da Entrevista realizada em 5 de março de 2007, com a equipe de trabalho da Escola Marista Municipal São José,
em São José (SC). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência
Social (SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de
Assistência Social (PNAS)
96
Ibid.
97
Ibid.
98
Fragmento da Entrevista realizada em 12 de março de 2007, com a equipe de trabalho do Cesomar Irmão Acácio, em
Londrina (PR). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social
(SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de
Assistência Social (PNAS)
112
profissionais, mas há, ainda, nesse território, uma grande carência de
serviços públicos. [...]
99
Observamos que os municípios que estão com o processo dessa implementação
mais avançado contam com a rede socioassistencia melhor estruturada. Possibilitam
assim, maior articulação e integração entre as unidades que a compõem, incluindo a
instituição como parceira e integrante da rede socioassistencial.
Todas as Unidades apresentam registro no CMAS, e no CMDCA apenas a CSEI Lar
Feliz não está inscrita no CMDCA, em função de uma normativa de 2002 do
Conanda que considera que as creches estão com seu foco na educação.
A participação das unidades no controle social e na elaboração das políticas
públicas é bastante significativa e reveladora de um envolvimento comprometido
com as questões da assistência social e dos direitos das crianças e adolescentes,
porém, não observamos, nos discursos, a preocupação em instrumentalizar,
incentivar, ou fomentar os usuários dos serviços para também participarem nesses
espaços de controle social.
Participo do CMAS. Este ano, sou titular, participo das plenárias mensais e
das reuniões das comissões de trabalho. Estou na comissão de inscrição de
projetos. [...] [...] Dedico duas tardes para o CMAS [...]
100
Eu participo do CMDCA, sou suplente [...] [...] O Paulo participa do CMAS,
mas não tem cadeira, e também procuramos participar dos congressos e
conferências municipais, fóruns educacionais [...]
101
99
Fragmento da Entrevista realizada em 10 de abril de 2007, com a equipe de trabalho do Cesmar Dourados, em Dourados
(MS). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social (SAS) da
Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de Assistência Social
(PNAS)
100
Fragmento da Entrevista realizada em 5 de março de 2007, com a equipe de trabalho da Escola Marista Municipal São
José, em São José (SC). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de
Assistência Social (SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política
Nacional de Assistência Social (PNAS)
101
Fragmento da Entrevista realizada em 12 de março de 2007, com a equipe de trabalho do Cesomar Irmão Acácio, em
Londrina (PR). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social
(SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de
Assistência Social (PNAS)
113
Pretendemos, este ano, participar do Conselho da Juventude.
102
A unidade tem um longo histórico de participação, aqui no município. Em
relação às políticas de controle, ela tem participado das reuniões dos
Conselhos do Fórum de Entidades. [...]
103
[...] O que acontece, aqui, com os conselhos, é que cada um que vai lá fala:
Ó, tem quinhentos mil reais à disposição, chovia de gente para pleitear o
recurso. Mas, para discussão, para implementar realmente possibilidades de
crescimento, ninguém participa das discussões, no conselho.
104
[...] se você pegar o histórico das entidades não-governamentais, o grau de
sucateamento que essas entidades vivem no dia-a-dia e a qualidade que elas
chegam de participação nos conselhos, nas discussões, nós, nesse processo,
temos uma vantagem, temos uma qualidade de participação. As entidades,
que participam, vêm muito fragilizadas para a discussão, por não ter corpo
técnico, por não ter, por não ter material, por não ter estrutura. [...]
105
Quanto aos convênios e parcerias, identificamos que todas as unidades
desenvolvem parte de suas ações a partir de convênio com instâncias
governamentais, com repasse de subvenções para a prestação de serviços.
Verificamos, também, que, além desses convênios, existem varias parcerias com
organizações não-governamentais, universidades e institutos para desenvolvimento
de projetos específicos que envolvem desde repasse de recursos financeiros,
cessão de equipamentos, recursos humanos e também outros subsídios, como
científico, através de assessorias técnicas.
[...] O grande parceiro é a prefeitura, o prédio é da prefeitura, cedido para
Instituição Marista. [...]
106
102
Ibid.
103
Fragmento da Entrevista realizada em 10 de abril de 2007, com a equipe de trabalho do Cesmar Dourados, em Dourados
(MS). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social (SAS) da
Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de Assistência Social
(PNAS)
104
Ibid.
105
Ibid.
106
Fragmento da Entrevista realizada em 5 de março de 2007, com a equipe de trabalho da Escola Marista Municipal São
José, em São José (SC). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de
114
[...] o Projeto Família teve a parceria com a UFSC. Com a ONG Crescer sem
Violência, continuamos a parceria, trabalhando com as mulheres a questão do
empoderamento, a questão dos direitos, da emancipação feminina.
107
Essa relação está bem positiva, temos parceria com a prefeitura com repasse
de R$ 10.800 por mês, pelo atendimento do apoio socioeducativo, referente a
300 metas. Temos a parceria com os governos federal e municipal, referente
ao atendimento do Agente Jovem, 25 metas. Temos também parceria com as
universidades. Com a UEL, com a incubadora de projetos [...] [...] Com a
Unopar recebemos estagiários e temos também um projeto com uma
professora que desenvolve o trabalho de Moda e Designer Social [...] [...] e,
agora, estamos fechando uma parceria com o Instituto C&A, serão R$ 58 mil
reais para implementação do Projeto Mediação de Leitura. Temos também
parceria com o Senai [...]
108
[...] As parcerias surgem a partir da necessidade da Unidade [...]
109
Quanto ás parcerias, a gente sempre reforça que não a gente se beneficia
com essa parceria, mas que também a gente oferece nosso espaço, para
capacitação, para eventos, pois temos a possibilidade dessa troca.
Assistência Social (SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política
Nacional de Assistência Social (PNAS)
107
Ibid.
108
Fragmento da Entrevista realizada em 12 de março de 2007, com a equipe de trabalho do Cesomar Irmão Acácio, em
Londrina (PR). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social
(SAS) da Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de
Assistência Social (PNAS)
109
Fragmento da Entrevista realizada em 10 de abril de 2007, com a equipe de trabalho do Cesmar Dourados, em Dourados
(MS). Fonte: Entrevistas do processo de pesquisa: A Prática dos Assistentes Sociais do Setor de Assistência Social (SAS) da
Província Marista do Brasil Centro-Sul: Sua Relação com os Princípios e Diretrizes da Política Nacional de Assistência Social
(PNAS)
115
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não conheço o amor abstrato. Conheço o amor pelo outro, pela pátria e pelo
futuro, pela vida, pela obra. Defender a dignidade do homem é, no mínimo,
uma conexão ideológica, uma composição ecológica, uma convicção. Não
entendo a humanidade e civilização sem o homem como no princípio, como
ator e objeto, como sujeito e razão. Tocar harpa do tempo a muitos dedos.
Vencer o mito da impotência (há muitos medos). Sei que não se pode mudar
os começos: os meninos escravos, as meninas prostitutas, as famílias
exploradas nos campos e nas cidades. As formas diversas de ditadura que
golpearam seguidas vezes. O estômago do pensamento livre dos meus pais,
a produção da miséria é desigualdade em todo canto, e em toda hora ... ora,
não se pode mudar o começo. A História não ré, é natural. Mas se pode
mudar o final. Por isso, gosto de agir no meio. Por meio disso, encontro um
meio genial de provocar mudanças nesses destinos, oferecendo meios ao
meu igual. Ser um ser multiplica, o vento sopra as sementes e a chuva realiza
sua bênção, será o trigo a ação da gente, será a mesa farta de pão, será o
eterno milharal! Penso em você, na capacidade que se tem de ler se eu
ensinar. Na vocação que se tem de transformar, se eu informar. Que os
mares da generosidade jamais desabasteçam meus caminhos. Que sejam
sustentáveis os desenvolvimentos não esporádicos, não bambos, não
endividados, não ilusões ocas desse tempo. Filantropia para mim não é
exibição. Nem é um negócio para Deus me dar em dobro depois. Tampouco
dar feijão com arroz. Falo de instrumentar o plantador, viabilizar-lhe a enxada
do seu sujeito, a bússola do seu trajeto, o trator infinitamente potente para
que seja sempre a sua lavoura, sei que na ponta do fato está a arma, no
berço está o medo. eu quero atuar antes do desespero, imobilizando-o,
inviabilizando-o, retirando-lhe o cenário, a probabilidade. Ao invés de cobrar
do Estado a única paternidade, é ele o meu parceiro porque meu recurso
privado, em algum momento o seu ser, no percurso do seu estado, foi
publicado alguma vez. Tu és público e ao público tornarás! Vivo sobre esta
clara ética, tenho comigo múltiplas personalidades todas elas querem dar a
mão à ciranda da História responsável dessa vida que chamamos de
sociedade, cidadania. O amor é a nossa unidade e a nossa alegria. Vou me
apresentar: não sou herói, não sou rei tampouco não sou a metade e não sou
um sou um permanente congresso de mãos, cheio de diversas forças e de
boas vontades. Que mania que tem todos de achar, muitos anos, que o
116
mundo está terminando! Pois pra mim, todos os dias, em cada ação de um
dos meus muitos seres, o mundo está apenas começando! (Ciranda - Elisa
Lucinda)
Ao término deste processo, concluímos, como o texto acima indica, que, como o
mundo, esta pesquisa não está acabada, está apenas começada!
Enquanto método de investigação e análise, este estudo fundamenta-se na teoria
marxiana. A partir da categoria da totalidade, buscamos, em aproximações
sucessivas, apreender o movimento do objeto em sua processualidade,
considerando a trajetória institucional, sua constituição, e a constituição histórica da
PNAS.
Ao pesquisarmos a relação de afinidade entre a política institucional e a PNAS, a
partir da prática dos assistentes sociais do SAS da PMBCS, e das relações
estabelecidas entre seus princípios e diretrizes, compreendemos o quão complexa
são as determinações sociais, resultantes do movimento histórico.
Compreender a relação de afinidade entre essas políticas, permitiu-nos perceber a
política institucional em relação à constituição histórica do instituto marista no mundo
e no Brasil; à província; ao Setor de Assistência Social; às práticas profissionais dos
assistentes sociais; e, principalmente, à PNAS, em sua dinâmica peculiar de
implementação.
A partir das determinações sociais historicamente construídas, por meio das
interações complexas que constituem a sociedade, configuramos a política
institucional como representativa de uma totalidade parcial, que se constitui e é
constituída, ao integrar essa totalidade mais ampla, a sociedade em sua dinâmica.
A análise dos quadros sínteses do DSC, dos profissionais das equipes de trabalho
das Unidades Sociais CSEI Lar Feliz, Escola Marista Municipal São José, Cesomar
Irmão Acácio e Cesesmar Dourados, contém elementos de suas práticas que
demonstram os desafios do exercício profissional em relação às orientações
institucionais quanto à política de assistência social, apesar do reconhecimento
117
explícito das orientações, expressas nos documentos institucionais e nos processos
contínuos de formação e acompanhamento.
Assim, nesse contexto contraditório e complexo, a relação de afinidade entre a
política institucional e a PNAS constrói-se e consolida-se, na prática cotidiana e na
ação profissional nas unidades sociais.
A PNAS, instituída pela Resolução 145, de 15 de outubro de 2004, reflete o
cumprimento das deliberações da IV Conferência Nacional de Assistência Social e
materializa as diretrizes da Loas, expressando o conteúdo da assistência social
como base do sistema de proteção social básica no âmbito da seguridade social.
Garante direitos sociais, sob o paradigma da cidadania, através da universalização
de acessos, sob a responsabilidade estatal. Superando idéias tutelares
discriminatórias, propõe, com seu sistema descentralizado, a participação popular, a
autonomia da gestão municipal, o co-financiamento entre as três esferas de
governos e a sociedade civil, e co-responsabiliza os cidadãos, ao propor a
participação popular no controle da gestão e da execução das políticas de
assistência social, através da criação dos conselhos.
Por meio de seus princípios e diretrizes, a PNAS orienta um conjunto integrado de
ações do Estado e da sociedade civil e tem, no Suas, a materialização da
assistência social como política pública de garantia e proteção social, que traz, no
bojo de sua proposta, o envolvimento e a reciprocidade das ações na formação da
rede de proteção social, implicando o envolvimento e o comprometimento das
entidades prestadoras de assistência social como parte integrante desse sistema.
Esse novo parâmetro pressupõe a articulação das ações entre as várias instâncias
governamentais e interinstitucionais e confere, ao Estado, o papel de coordenador e
articulador desse processo de integração que envolve as organizações
governamentais e as Ongs, para garantir a integralidade do atendimento na
perspectiva da cidadania e dos direitos, com a constituição de uma rede
socioassistencial ampla.
118
As possibilidades e os limites em se constituir como parte da rede socioassistencial,
conforme preconiza a PNAS, segundo nossa análise, não estão garantidos na
afinidade da política institucional com os princípios e diretrizes da PNAS. A
intencionalidade expressa nos documentos institucionais e as formações são
insuficientes para tal.
Concluímos que essa garantia envolve diretamente a ação imediata, a atuação dos
profissionais das unidades sociais em sua relação cotidiana. Expressa a concepção
de cada um deles sobre homem e sociedade, e determina sua interação com a
instituição.
Essa interação foi determinada pelas conjunturas históricas, as quais definiram a
prática estabelecida pelos profissionais, e retratam o momento atual.
A afinidade entre a política institucional e a PNAS pode ser sintetizada, a partir de
seus pontos convergentes, quanto à centralidade do atendimento à família, a
acolhida, o respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia, e ao seu direito a
serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária.
A prática profissional é vista, por nós, como a materialização desses pontos
convergentes de afinidades, que, embora tenha como principal base as orientações
institucionais, através dos documentos institucionais e das legislações, como a Loas,
PNAS, Suas, entre outras, depende das possibilidades e limites da realidade em que
estão inseridas, de como está se dando a implementação da PNAS no município-
sede da unidade social, e de quão complexa é a organização e a participação da
sociedade civil na estrutura de controle social.
Essa relação de afinidade entre as políticas é atribuída, inicialmente, pelos
documentos institucionais e pelas legislações, como afirmamos; porém, o modo
particular com que cada equipe de trabalho se apropria dessas orientações,
ressignificando-as através de suas interações, é que constitui o sentido dessa
afinidade, expressando-a com maior ou menor intensidade em sua realidade local,
através da prática de seus profissionais.
119
Tal sentido está impregnado pela visão de mundo desses profissionais, por sua
visão de Estado, sua visão de instituição, de sociedade, e das posições assumidas
por todos e individualmente, nos vários momentos históricos, constituindo, assim,
nessa diversidade, as afinidades entre as políticas.
A constituição dessas afinidades, portanto, é complexa; existe a partir das diferentes
visões de mundo, de diferentes totalidades, resultado do jogo de forças, do embate
entre as variadas práticas, que expressam realidades diversas, as quais constituem
uma unidade na diversidade, em uma totalidade ampliada.
Nossa preocupação, com esta análise, voltou-se para a compreensão contextual do
momento histórico institucional e de implementação da PNAS, por entendermos que
ambas sofrem a injunção do momento histórico em suas constituições.
Concluímos que a afinidade entre a política institucional e a PNAS expressa o
movimento dinâmico de transformações, no qual o modo como se estabelecem as
interações, instituição-políticas públicas, instituição-profissionais, profissionais-
educandos, profissionais-famílias, profissionais-comunidade, são determinadas e
determinam essas afinidades.
Desta forma, as limitações e as possibilidades dessa constituição representam uma
construção coletiva, embasada na relação entre a instituição, o poder público, os
profissionais, os educandos, as famílias e a comunidade, a partir da tessitura da
trama social cotidiana, que considera a realidade local, as trajetórias percorridas,
configurando-se não de forma estática, mas, sim, em permanente movimento de
transformação, de construção e de reconstrução.
120
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124
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SIGNIFICADO da Sigla FTD. Disponível em www.champagnat.org. Acesso em: 15
de março de 2007.
Matérias Gravados em CD-ROM
Um coração uma missão. Material institucional elaborado em 2006, para a
Assembléia Internacional Marista. 1 CD-ROM.
SAS. Acolhida para novos colaboradores 2007. Material institucional elaborado
em 2007, SAS. 1 CD-ROM.
Constituições e estatutos – 1986. Material institucional. 1 CD-ROM.
125
ANEXOS
Anexo 1 - Roteiro de Questões para Entrevista com as Equipes de Trabalho..... 126
Anexo 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...................................... 127
126
Anexo 1
ROTEIRO DE QUESTÕES PARA ENTREVISTA COM A EQUIPE DE TRABALHO
1. Nome dos membros da equipe de trabalho; função; formação acadêmica;
tempo de formação; tempo de serviço na instituição; na função e na unidade.
2. Como a equipe organiza sua dinâmica de trabalho?
3. Quais são os critérios de ingresso da criança e ou adolescente no serviço?
4. Os critérios de ingresso são discutidos na equipe de trabalho?
5. Os critérios de ingresso respondem às orientações institucionais? E estão em
consonância com a PNAS? Em que aspectos?
6. Como são registrados os critérios e o processo de seleção e sua devolutiva à
comunidade?
7. A unidade tem mapeado a rede socioassistencial? Como é seu
relacionamento com o conjunto de serviços e unidades que compõem a rede?
8. Como está a participação da unidade nas instituições de controle e
elaboração das políticas públicas no município?
9. A unidade está inscrita em algum conselho municipal? Qual sua participação?
Como a equipe de trabalho definiu quem participaria?
10. A unidade tem convênio/parceria com outras instituições e ou entidades para
o atendimento? Como foram estabelecidos esses processos?
11. A unidade desenvolve trabalho com famílias?
12. A equipe de trabalho identifica afinidades entre as orientações institucionais e
a PNAS? Em que aspectos?
127
Anexo 2
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu,_________________________________________________________________
RG n.______________________, abaixo assinado, estando devidamente
esclarecido sobre os objetivos da pesquisa intitulada: A PRÁTICA DOS
ASSISTENTES SOCIAIS DO SETOR DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SAS) DA
PROVÍNCIA MARISTA DO BRASIL CENTRO-SUL: SUA RELAÇÃO COM OS
PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DA POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
(PNAS), realizada pelo pesquisador, Marco Antonio Barbosa, aluno do Mestrado em
Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação da
Profª. Drª. Maria Lúcia Martinelli, concordo em participar da pesquisa, autorizo o uso
de meu nome próprio, utilização e divulgação dos dados coletados.
Cidade, data:_________________________________________________________
Nome:______________________________________________________________
Assinatura:__________________________________________________________
RG.:____________________
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC-SP
Marco Antonio Barbosa
Entrevistas
A PRÁTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS DO
SETOR DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SAS) DA
PROVÍNCIA MARISTA DO BRASIL CENTRO-SUL –
SUA RELAÇÃO COM OS PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DA
POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (PNAS)
MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL
SÃO PAULO
2007
1
Sumário
1. Entrevista Teste - Escola Ecológica Marcelino Champagnat-Almirante
Tamandaré PR...............................................................................................02
2. Entrevista – Centro Social de Educação Infantil – Lar Feliz.....................27
3. Entrevista – Escola Marista Municipal São José.......................................37
4. Entrevista – Centro Social Marista Irmão Acácio......................................51
5. Entrevista – Centro Social e Educacional Marista.....................................63
2
ENTREVISTA TESTE - ESCOLA ECOLÓGICA MARCELINO CHAMPAGNAT -
ALMIRANTE TAMANDARÉ - PR - 18 DE DEZEMBRO DE 2006
Observações gerais
A entrevista foi agendada, previamente, com a equipe de trabalho para o dia 18 de
dezembro, às 9 horas.
Iniciamos a entrevista com parte da equipe, pois o irmão (religioso) não pôde
participar, em função de outros compromissos.
Realizamos a entrevista em grupo, em uma sala de reunião confortável e silenciosa.
Como recurso de registro, utilizamos a gravação em áudio.
Marco Agradece a colaboração da equipe e explica o objetivo da entrevista teste,
expondo também a dinâmica da entrevista.
1. Nome dos membros da equipe de trabalho; função; formação acadêmica; tempo
de formação; tempo de serviço na instituição; na função e na unidade.
Elaine Maria Borba Ruffini Coordenadora geral. Formada em pedagogia desde
1986, com especialização em Qualidade Total no Ensino, na Espanha. Tem três
anos na Instituição e um ano na Unidade; anteriormente, era coordenadora geral da
Escola Santa Mônica.
Gleides Maria Soares Formada em Serviço Social desde 1982, pela Universidade
Estadual de Ponta Grossa. Trabalhou, por 20 anos, no SESC. Fez especialização
em Políticas Sociais, pela PUC-PR. É o primeiro trabalho na área da filantropia, em
março completará dois anos de trabalho na Instituição/Unidade.
Janisley Aparecida Rank Formada em pedagogia desde 1990, pela UF-PR. Tem
especialização em psicopedagogia, pela PUC-PR. Trabalha na Unidade 14 anos.
Paralelamente, trabalhava na Prefeitura de Curitiba, na Unidade está como
coordenadora pedagógica há três anos.
3
2. Como a equipe organiza sua dinâmica de trabalho?
E. Temos reuniões de equipe de trabalho semanalmente. Essa é a base para
discutirmos a dinâmica e a sistematização de cada setor, para que haja uma
complementação desses setores, social, pedagógica, pastoral e administrativa. Uma
vez por semana nos reunimos e todos ficam responsáveis, cada um pelo seu setor,
e, nessa reunião, se discutem as decisões. Essa seria mais a sistematização do
trabalho, para que não ficassem todos fazendo todas as coisas. Cada um fica
responsável pelo seu setor e as decisões e discussões das ações, na reunião de
trabalho semanal.
J. um diálogo por e-mail, quando necessário, para encaminhamentos de
materiais, sugestões, enfim.
E. Durante a semana, têm situações, que não são possíveis de remeter para o
momento da reunião semanal. A ilha de trabalho foi muito importante, nesse sentido.
Assim, trabalhamos os quatro, no mesmo espaço. Trabalhamos juntos, quando
pode. Precisa urgente, não espera a reunião de equipe de trabalho semana, se
discute ali, nos cinco minutos do dia. Toma a decisão e se dividem as tarefas. O que
pode esperar, remetemos à reunião semanal. Aí, tem os registros de memória
dessas reuniões, com os procedimentos e encaminhamentos de quem vai tomar as
providências até a próxima reunião.
J. É interessante que o registro funciona em sistema de rodízio. Todos têm a
oportunidade de registrar esse momento.
G. E, também, se determinada pessoa ficou responsável por uma atividade e está
encontrando dificuldades, um socorre o outro, mesmo que seja responsabilidade
daquela pessoa, mas o outro que, de repente, tenha mais facilidade para um
determinado contato, ou maior habilidade, um ajuda o outro, isso nas reuniões
semanais, aí tem a rotina, que é outra coisa – o dia-a-dia.
Marco – Como é esse dia-a-dia? Seria interessante falar um pouco sobre ele.
G. – Isso, a gente programa e conduz de forma mais ordenada.
J. Até porque, nas reuniões, cada um de nós leva uma pauta, para agilizar o
tempo.
G. – O dia-a-dia é assim - emergencial, a gente até tenta.
E. – Emergencial, a demanda apareceu ou os pais chegaram, tem que atender.
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G. A gente procura marcar com os pais. Nos casos em que necessidade de
uma intervenção, a gente tenta agendar, mas nem sempre é possível. Às vezes, os
pais vêm sem avisar, eles querem respostas. Às vezes, eles vêm pedir socorro, que
não tem nada a ver com o dia-a-dia do aluno, mas, sim, com problemas particulares.
Normalmente, eles procuram a Jane, porque é o referencial deles, enquanto escola,
porque está aqui mais tempo. E, quando ela percebe que a questão não é de
aprendizagem somente, mas envolve questões familiares que a gente vai ter que
dispor de outros recursos da comunidade também, ela me chama, ou chama a
Elaine ou o irmão, isso vai depender do que a dinâmica exige.
E. – Depende do conflito, da situação.
J. O interessante é isso, que a gente está sempre em duplas ou trios, fazendo
esse atendimento, dificilmente a gente está sozinho.
G. Dependendo da situação, a gente prefere que esteja mais alguém. Sempre
distorções, apesar de ser registrado. O aluno assina, os pais assinam, mas a gente
sempre prefere, dependendo da situação, que mais alguém esteja presente.
Geralmente, nós três, às vezes, o irmão participa; às vezes, ele está resolvendo
outras coisas e não para ele estar junto. Situações de conflito, em sala,
geralmente, a Jane é quem toma a frente, as coordenadas orientações.
Situações administrativas e da Instituição, no geral, a Elaine é o referencial, mas ela
não estando, nós damos o respaldo necessário. Se temos dúvidas, entramos em
contato, se for o caso. Enfim, essa dinâmica acontece. As informações não ficam
retidas. O que aconteceu em sala, a gente sabe. A Jane traz, a gente fica
sabendo. Em uma situação futura, estamos sabendo. Ninguém trabalha sem que
o outro saiba o que foi feito, e com quem e o que tomou de providência, e sem
discutir como vamos fazer, o que facilita e agiliza mais a intervenção.
L. Marco – As três têm a mesma carga horária?
E. – Sim, 44 horas semanais.
Marco Mais alguma observação sobre a dinâmica de trabalho, quer ressaltar
alguma coisa específica?
E. – O que contribui muito, para essa dinâmica, são os registros, os instrumentais. A
própria Instituição está colocando como único e tentando socializar esses
instrumentais. Deu um apoio grande, até como informação da própria Unidade, e
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uma ferramenta de segurança. Em todos os momentos de acompanhamento de
ações, temos os instrumentais como apoio muito grande.
J. Outro fator interessante é o entrosamento. Se não houver o entrosamento, vai
haver dificuldade na comunicação e aí, os processos se perdem. É fundamental a
equipe estar entrosada e falar a mesma linguagem.
G. Isso, a gente percebe no dia-a-dia, tanto com os alunos, com os professores
como com os demais funcionários.
3. Quais são os critérios de ingresso das crianças e dos adolescentes no
serviço?
G. Primeiro, só estamos abrindo inscrições para quinta séries. Não estamos
anunciando as outras séries, em função da progressão das séries. Se houver
possibilidade, que nem agora, temos quatro vagas de oitava série; de sétima série,
seis vagas. Agora, daqueles que trouxeram, sem a gente nem anunciar, a gente
vai entrar em contato, para verificar se há interesse.
J. – Que, aliás, têm várias procuras.
G. – Têm, inclusive quinta, e sexta. A procura é maior e, aí, a análise que a gente faz
é, em primeiro lugar, sobre o entorno, para atender à necessidade da comunidade
próxima. Isso sem desvalorizar a situação de cada criança, mesmo que distante,
como a gente tem situação de duas crianças que não moram próximo da escola,
mas são situações que realmente vale a pena dar oportunidade, isso porque a gente
referenciou essas, que estão próximas, e outras, um pouquinho mais distante,
mas são situações que vale a pena. Depois, a gente verifica a proximidade, as
situações em que elas se encontram. As visitas que fizemos, confirmam justamente
essa necessidade. Foi feito o cadastro, estabelecemos um período de dez dias, e,
aí, comunicamos, a todos os alunos da escola, através de bilhete enviado para casa,
para aqueles que tivessem interesse em se inscrever para vagas de quinta. Estavam
abertas as inscrições, de tal a tal período, para que eles viessem fazer a ficha de
inscrição, de proposta de vaga. A todos que fizeram, foi explicado que era uma
proposta de vaga e que poderia ter uma negativa. Em todas as entrevistas que
fizemos, também foi reforçado isso, que é uma proposta, que ela tem alguns passos
e que a entrevista era um dos passos e que, depois, poderia ter uma visita; poderia
ter uma seqüência e que a resposta positiva ou negativa seria dada e tudo com
data. A gente teve a preocupação de estabelecer um período, mesmo porque eles
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precisam procurar outra escola. A necessidade de estar aqui, para eles, é muito
forte: “Se eu não estudar aqui, eu não tenho outra escolha”.
J. – É de chegar a chorar.
E. – Tem até ameaças: “Se eu não colocar meu filho aqui, ele vai ficar sem estudar”.
Marco – Por que não tem outras escolas na região?
J. – Não, porque querem colocar aqui, é uma referência.
G. Querem, aqui, porque tem uma estrutura organizada, porque é uma referência;
porque não tem aqueles muros sufocantes, existe essa amplitude, existe também o
conceito, na comunidade, da disciplina da organização; existe um norte nessa
escola, existe o que eles querem.
E. – Existe segurança, não tem intervenção da polícia.
G. E muitos falaram: “É muito difícil deixar em outra escola; é muita briga, toda
hora a polícia está entrando e interferindo; ele é pequeno, tem medo, está saindo de
uma quarta série”.
J. Em termos de qualidade, também, colocam muito essa questão em termos dos
educadores.
G. Em todo momento, a gente fala das exigências, que a escola exige bastante,
nada além do que o aluno não possa dar, e, se ele tem alguma dificuldade, isso será
relatado à família e que, se ele não está rendendo o que poderia render, é porque
ele não está realmente cumprindo a sua parte, enfim... Eles se apaixonam, essa
atenção não é dada nas outras escolas, essa informação de como funciona, e é
assim: existe um controle, existe uma agenda, na agenda, vocês vão receber as
informações necessárias. E, aí, eles se sentem mais tranqüilos em saber onde eles
estão, o que eles estão fazendo, o que a escola está fazendo. A gente reforça muito
a importância da família; sem a família, a gente não dá conta sozinho.
necessidade desse envolvimento família, aluno, escola, sempre, sempre, sempre.
Não é porque o aluno é maior, que deixa de ser importante a família estar junto. É
importante que a família respaldo a aquilo que a escola está exigindo, porque, se
a criança chega em casa choramingando, que o professor está implicando com ela,
que ela não está dando conta, e a família reforça que ela é a coitadinha, vai ficar
complicado. É importante que, se tiver alguma dúvida, não leve essa dúvida para o
aluno, mas que traga para a escola. Qualquer dúvida sobre procedimento, liga, vem
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até aqui, como ficar melhor. Isso, eles não têm no ensino público; eles não têm essa
proximidade. Aqueles que ficam perguntando muito, daí a escola começa a implicar.
E. Quanto à análise das fichas dos alunos que tentam ingressar, analisamos uma
a uma. Tínhamos 60 fichas, para 15 vagas, para novos ingressos. São reavaliadas,
depois da entrevista da assistente social, como é essa casa, como é a família.
Marco Quais são os critérios que vocês utilizam para análise das fichas de
inscrição?
G. Proximidade da escola, condições financeiras da família, financeiras e
estruturais. Tem uma grande parte que a mãe é a única responsável pelo sustento
da família. Não podemos comparar a renda familiar, porque ela não seria
suficiente para o processo de seleção. Tem famílias que, mesmo com uma renda
menor, conta com um suporte de parentes que moram juntos.
E. Casos, por exemplo, em que as famílias são muito extensas, ou casos com
situações de tratamento de saúde, com comprometimento da renda. Se a criança
fica sozinha, se a criança está vulnerável a uma situação de abuso, ou que é
cuidada pela tia; situações bem complicadoras, que a gente leva em conta, além da
renda familiar.
Marco – A renda não é o único critério?
G. Não é o que pesa mais. O que pesa mais é a criança. Isso, eu falei em todas
as entrevistas. O que vai ser priorizado é a criança.
Marco No ato da inscrição, as pessoas ficam cientes dos critérios que serão
utilizados nessa análise?
G. – Na entrevista, porque todas foram entrevistadas.
Marco – A todas, são feitas visitas domiciliares?
G. Não, para as que fazemos uma pré-seleção, com esses critérios. Aí, nessa
visita é que eu verifico essa rede de suporte ou não, e teve uma situação que eu não
encontrava a casa. Era muito difícil, eu só conseguia ver o telhado da casa, era difícil
o acesso, morava a mãe e dois filhos menores, esse que se candidatou à quinta
série e uma menina de 16 anos. Aí, falei com a menina, que a mãe é diarista e
estava trabalhando. Mas, assim, tabuão, a casa, sem os sarrafos, sem forro, eternit,
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sabe... tudo muito organizadinho, tudo tabuão, mas frestão assim... sabe, duas
pecinhas, você diz, meu Deus, não é perto da escola. E então, fugiu um pouco
desse critério do entorno, porque o entorno eu tinha visitado e tinha visto as
condições.
4. Os critérios de ingresso são discutidos na equipe de trabalho?
E. A equipe estava preocupada, desde o ano passado, com esses critérios,
como não ser injusto, de que forma? Procurando o apoio do setor, nas formações.
Vieram pessoas, que deram alguns parâmetros, algumas referências. Algumas até
exemplos, que a gente pudesse abrir um pouquinho dentro da nossa equipe, para
que possamos não ser tão injustos, né, porque as vezes você comete o erro
realmente de estar trazendo uma pessoa ou outra que está mais necessitada. Tanto
as formações com o SAS, tanto com as reuniões e reflexão na equipe, isso ajudou
bastante para que tivéssemos segurança em como selecionar, ou não, as famílias
que estariam ingressando na Unidade. As formações ajudaram bastante, os
depoimentos das pessoas, os cursos.
G. É o propósito da Instituição. Se é uma instituição filantrópica, a gente procurou
respeitar ao máximo essa intencionalidade e buscar realmente fazer jus a isso,
porque, claro, a gente sabe das crianças que estão aqui, que hoje estão na sétima e
oitava. Veio de outra realidade, de outro momento, e também não é culpa delas.
Hoje, elas estão assim, se for analisar, elas estão fora desses critérios. E, aí,
algumas mães dizem isso para a gente né: Qual critérios vocês adotam? Tem
crianças aqui que tem celular, que tem casa bonita, enfim.
J. Até porque Gleides, assim, vem acompanhando um pouco mais, em outros
anos..
G. – Eles evoluíram...
J. – Nós não tínhamos esses critérios assim tão definidos, então...
G. – Eles evoluíram financeiramente...
J. – Exatamente...
G. Eles evoluíram financeiramente, eles não tinham tudo isso nove, dez anos
atrás, foi uma conquista também deles.
J. Mas aconteceram algumas injustiças, justamente por não ter esse apoio do
setor, essa reflexão e esses critérios definidos. Acho que agora estamos nesse
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momento bem estruturado, né, não diria que estamos perfeitos, porque acho que, a
cada ano, a gente...
G. – Isso é um processo, acho que é um processo...
J. – Acho que já melhorou bastante.
G. – Acho que, para atender mesmo a realidade que a gente imagina, vai levar ainda
uns cinco anos. A gente calculou, que a gente possa realmente ter esse público,
que a gente gostaria que fossem todos.
E. Na verdade, a demanda é muito grande. Essas 80 famílias que vieram, todas
mereciam estar aqui, se fosse analisar, mas nosso atendimento é muito pequeno. E
então, se tivéssemos mais umas duas salas em cada série, acho que comportaria,
pelo menos, o ingresso na quinta série; é o que a gente percebe.
J. O diferencial também foi, o serviço da assistente social. Nós tínhamos esse
cadastro, mas era difícil estar fazendo, né, porque, geralmente, era o coordenador
ou, às vezes, eu ia junto também, mas era complicado para sair, fazer visita, então,
eles omitiam o endereço, porque eles sabiam que... o forte era justamente a questão
salarial.
Marco – Jane, quando você percebe essa diferença?
J. A partir da entrada da Gleides, do ingresso do Serviço Social e desse trabalho
com o setor também, que acho que foi fundamental.
Marco – Quando isso ocorreu?
J. – No início de 2005.
Marco Vocês trabalham, com os educadores, os critérios de seleção? Como
vocês chegaram a esses alunos?
G. Já, passamos, até para eles terem essa compreensão, e às vezes alguma
situação em sala, também de dificuldade de aprendizado. Então, quando a gente vai
trazer, a gente já tem essa visão de família, onde ele está inserido, qual seu
contexto...
J. A gente fez um trabalho na formação de julho, passando um pouco o que é o
ECA, como isso é trabalhado; a Loas...
G. E a gente percebe bem a necessidade de se trabalhar isso, porque eles têm
aquela visão bem urbana, vamos dizer assim... da resposta do educando. Agora, no
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final do ano, nossa, bem diferente. Eles tinham uma compreensão maior, eu não
pude participar, fiz uma cirurgia. Mas acho que, na segunda-feira...fugiu... Ah!...
Conselho de Classe, acho que a postura foi bem diferente de quando fizemos o
último, do entendimento, a proximidade que tiveram do aluno foi diferente, não foi só
de avaliação pelo conhecimento, né.. já começaram a entender mais, e, também, por
causa da participação deles em outros eventos, aí a gente mostrou outras
possibilidades...
J. A própria saída, em julho, que a gente fez uma caminhada. Lógico que não deu
para sair no município como um todo, mas nós escolhemos um bairro, para que eles
estivessem...
G. – Conhecendo, porque quem chega aqui, são todos importados de Curitiba...
J. Que lindo né... não sabe quem entra no Silvana, quem sobe no Santa Maria,
não tem noção de como é... quem chega aqui, nossa, acha que aqui é um paraíso.
Então, a partir dessa saída, começaram a ter uma noção do que é.
G. – Sempre é interessante. Daí, quando eles trazem as dificuldades, a gente
rapidamente fala da realidade desse aluno. Até por conta de ele entender mais e ter
mais paciência mesmo, de forma diferente de enxergar essa dificuldade...
E. – Já na seleção de educadores é colocado bastante o contexto da escola.
5. Os critérios de ingresso respondem às orientações institucionais? Estão em
consonância com a PNAS? Em que aspectos?
G. Eu penso que estão. Acho que a gente está buscando, justamente, por esses
documentos, desenvolver o trabalho. Acho que não está distante. É um processo
também. A gente não vai conseguir tudo rapidinho, mas eu acho que está tendo
essa visão. Até a própria comunidade já está percebendo isso, que houve um
diferencial, que a forma que a gente está trazendo os alunos para também está
sendo bem interessante. A gente não tem noção de como isso repercute na
comunidade. Mas, quando você faz as visitas, você começa verificar a extensão
do trabalho. Você vai numa casa que fica quase na divisa com Colombo. Porque
vocês se interessaram em uma escola que fica tão distante? Porque o conteúdo dela
é interessante, porque o meu primo, que é padre, ele falou para mim, vai até o
Marista, é uma escola que vale a pena você tentar uma vaga. Fico pensando:
Nossa, como as coisas se propagam. Tem crianças que vêm do outro lado de
Almirante Tamandaré, de Monte Santo, que é uma região super pesada, assim em
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termos de bairro, a estrutura dele é bem violenta, é bem ponto de tráfico mesmo. Aí,
você pergunta para os pais: Porque você veio buscar uma vaga para seu filho? Era
unânime: a organização, a segurança e porque passa uma mensagem, não é só um
aprendizado. Você percebe nitidamente isso nas respostas dos pais.
E. A clareza dos critérios, o que pude perceber, este ano, em uma mãe que não
conseguiu a vaga e, na própria busca de querer essa vaga e tentar entender os
critérios, primeiro ela colocou assim: “Mas eu sou mais pobre do que muita gente
que tem mais tempo”. Eu disse: Não, mãe, não é a questão da renda, tem a
questão da vulnerabilidade, a senhora entende o que é isso? “Claro, meu marido é
alcoólatra, eu também estou numa situação vulnerável”. Pois é, nós temos outros,
todo um contexto, como a senhora tem, outras famílias que têm, na verdade, todos
se encaixam, a questão mesmo está no número pequeno de vagas que temos. Deu
para perceber que a mãe entendeu, que não é a questão financeira, que ela
também tem outro conflito que justifica a entrada. Os critérios pareceram, assim,
mais claros, porque, o ano passado, uma mãe perguntou para mim se ela poderia
pegar o holerite do tio, que era menor. Naquela ingenuidade, querendo demonstrar
uma renda mais baixa, para ingressar. Um outro pai disse que não iria tentar mais
emprego porque a filha poderia perder a vaga. Eu falei que não, que ele deveria
continuar tentando, o objetivo da Unidade não é esse. Que a pessoa, ela se sinta
numa situação ruim, para obter um benefício, até por uma questão nacional, de
aceitar muitas coisas, que vem em seu beneficio, como vários benefícios que tem no
País, então ele fica meio cômodo naquela situação ruim, para não deixar de ter
aquele benefício. Isso a gente na bolsa-escola, na bolsa-família e em outros
vários benefícios e esse seria mais um que nos preocupou, para que o
acostumasse essa família a não buscar uma vida melhor em virtude de perder uma
vaga dentro da Unidade.
J. – Essa questão do assistencialismo, também, é uma coisa bacana, que foi sendo
superada no decorrer dos anos. Acho que todas as Unidades passaram por essa
questão muito forte, do assistencialismo. E, então, eu acho que ficaram mal-
acostumados e temos que lidar com isso agora...
E. – Isso em nível nacional...
J. – Em nível nacional mesmo.
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Marco - Vocês sentem que eles têm medo de perder a vaga?
G. Alguns pais perguntaram se era um agravante o fato de eles passarem a ter
uma renda maior, se isso iria impedir a criança de continuar na escola. A gente falou
que não. Essas não são as famílias que estão chegando, são as antigas. Os que
estão chegando, eles vieram, às vezes, com uma renda familiar de R$ 1.500/1.600
e aí eles perguntaram se tinha algum problema essa renda. Eu disse que não era só
a renda familiar que era avaliada, mas, sim, todo o contexto que a criança estava
inserida...
J. Na verdade, eles têm medo de tudo, até de fazer uma reclamação. Esses dias,
tiveram medo de fazer uma reclamação e de não conseguirem depois uma vaga...
G. Outra, perguntou se o fato de não ser católica, se ela não teria direito, que a
escola é católica: “A gente não é católica, então a gente não vai ter a vaga?”. Não,
esse não é um critério.
E. Ou, às vezes, até falar de um professor, de um procedimento pedagógico, de
um professor que foi injusto numa avaliação ou alguma coisa assim, eles têm medo
de vir colocar. A gente coloca bem à vontade, que não é por causa disso, de poder
perder a vaga, que vai deixar de vir, porque eles são termômetro para construir a
qualidade de todos os setores da Unidade, mas ainda existe essa preocupação...
J. – Ainda tem essa preocupação...
Marco Vocês percebem que essas preocupações se concentram mais entre
os alunos antigos ou entre os novos?
G. São mais entre os novos, que ainda não tem essa vivência, os outros estão
aqui há seis, sete anos.
Marco – Podemos pensar que existe um mito em torno dessa escola?
E. – Eu acredito que sim.
G. – Isso, isso mesmo.
E. Acho que dos antigos, assim, acho que é a questão mais de sub-sede do
colégio, como privilégio, até uma confusão de que aqui seria uma filial do Colégio
Santa Maria.
J. A gente percebe até, uma não-valorização, dos que estavam aqui. Os que
estavam, a gente percebe que não valorizam o que têm; os que ingressam, nossa..
há uma valorização....
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G. Sabe, assim, tipo... eu pertenço aqui, você não vai me tirar daqui, isso aqui é
meu...
E. – Como propriedade...
J. – Aquela questão da pertença mesmo...
G. Isso é passado pela família, porque a gente teve situações de irmãos que
estavam estudando aqui, que a gente não chamou para a quinta série.
Questionaram:.”Quando tem irmão, não é automático?”. Não, todos entram no
mesmo esquema, o mesmo processo dos que estão se inscrevendo pela primeira
vez. Porque era aquela coisa garantida, não sei se era garantido, se existia
essa tradição...
E. Acho que a questão também do poder, de ver os Irmãos Maristas com poder e
de ser uma obrigação o atendimento.
MarcoEu li no histórico da Unidade – PSE, achei muito interessante, porque esse
mito, que a gente imagina existir, ele faz parte da história da Unidade, a Unidade
começa como uma benesse do colégio e isso é reforçado, muito interessante, achei
que vocês retrataram bem essa questão no histórico.
E. – Partindo desse histórico é que a gente começa a entender a natureza do
impacto da reestruturação da Unidade. Porque você mudar, assim, o pensamento de
anos de uma comunidade, são 14 anos.
Marco. Vocês acham que essas mudanças estão estruturadas a partir das
orientações do SAS? Quais são as consonâncias dessas mudanças com a
PNAS?
E. Sim, o objetivo principal da Unidade de ação social, de transpor os muros do
protagonismo mesmo juvenil...
G. – Do fortalecimento da rede...
E. Da família, enquanto participante, assim, de estar envolvendo. O objetivo
principal, mesmo, é a ação de uma Unidade social, que, para chegar nisso, precisou
arrumar desde documentação, nos conselhos e órgãos, provando que é uma
Unidade social. Essa mudança toda com a PNAS, começou desde a parte
burocrática, documentação, até ação e comunicação com a rede, desde Plano
Diretor, conselhos, ações no município, então, vem ao encontro mesmo...
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G. Com as secretarias e os conselhos. Existia um distanciamento, parecia assim,
né, que nossa escola, como isso é, até no pensamento maior do município. Quando
eles fizeram uma pesquisa, o levantamento socioeconômico dos alunos da rede
municipal, não fomos inseridos no contexto, eu perguntei, na Secretaria de
Educação: Porque vocês não foram lá, também, fazer essa pesquisa?
J. – Eles vêem como escola particular...
G. Aí, a gente falou, mas as crianças são todas de baixa renda. A gente está
justamente buscando atender a esse público... Então, parece que a gente está
fora... A gente é a única Unidade Filantrópica do município.
E. Ela consta, inclusive, nos relatórios do município. Ela é reconhecida no papel,
mas, na ação, eles ainda não reconhecem. Estamos iniciando, através da
participação dos conselhos, do plano diretor e essa rede...
G. – O que a gente sentiu, Marco, que houve uma proximidade bem interessante, foi
o Conselho Tutelar, o ano passado, que deu um reforço, para nós, muito grande, na
reestruturação, para que houvesse um entendimento da própria comunidade e a
associação de moradores daqui e do outro lado...
J. – Teve uma representatividade dos familiares...
G. Foi legal, uma coisa bacana, porque, na verdade, eu e a Elaine éramos novas,
a Jane já tinha...
J. – Mas não tinha essa ligação, até porque era meio que evitada, essa participação.
G. Tinha uma auto-suficiência tão forte, que eu não preciso de vocês, eu me dou
conta, e hoje estamos justamente fortalecendo...
E. –Isso como conseqüência, acho que até uma cumplicidade, como o promotor do
município colocou na questão da educação do entorno houve uma comodidade
do município, numa escola rural próxima, tanto em melhoria física como profissional
dessa escola rural. Então, na reestruturação, a revolta do governo houve porque
eles teriam que estar melhorando, estava muito cômodo atender...
G. – Os pais, que saíram daqui, estavam cobrando essa melhora, que até então não
existia...
E. Então, houve, assim, até um benefício, porque o município teve que voltar os
olhos para as escolas próximas, com a contribuição e o apoio do promotor...
J. – Na verdade, esse olhar começou a mudar, a partir de 2002, quando começaram
os estudos com o setor, com essa questão das redes, das parcerias...
G. – Que vem ao encontro da PNAS...
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J. – E que isso dava muito frio na barriga. Como, né? Porque a gente estava
habituado àquela questão do pedagógico de escola. Mas como é que vai ser
isso? Estão inventando coisas, isso é bacana a gente estar falando, porque isso
assusta, foi muito assustador na época. Mas como é que vai ser?
E. E até a comprovação do, ufa! Agora que a gente recebe os depoimentos das
famílias, puxa, era isso que vocês queriam fazer, que legal, então era por mesmo,
então, depois de toda uma luta e preocupação tanto o setor como a Unidade de uma
forma geral, você, hoje, tem um retorno de que estava no caminho certo, era isso
mesmo que era para ser feito.
6. Como são registrados os critérios do processo de seleção e sua devolutiva
à comunidade?
G. – A partir das entrevistas, a gente já fala que vai ter um outro contato, que vai ser
ou a visita domiciliar ou a resposta negativa. Ambas serão comunicadas e será
agendada essa visita, se houver necessidade, conforme a disponibilidade da
pessoa, e foi o que aconteceu.
Marco E quem não vai receber visita domiciliar? Vocês marcam uma data de
retorno?
G. A gente deu um prazo último de contato, talvez eu não faça a visita, mas, até
dia tal, você recebe uma resposta. Foi esse, o nosso compromisso. Todas as
negativas, fui eu mesma quem dei.
Marco – Como você fez?
G. Tudo por telefone. Então, fizemos as visitas. Eu que agendei as visitas
também, para eu saber como chegava e expliquei que a visita não era para verificar
as condições da casa, mas que queríamos saber: Onde essa criança mora? Quem
era os vizinhos? Onde estava situada essa casa? Qual a distância dessa casa para
a escola? Esse era o objetivo da visita, para que ficassem bem tranqüilos, em
relação à visita. Tive todo o cuidado de, na visita, reforçar o que tinha dito na
entrevista, perguntar algumas coisas para a criança e, rapidamente, perceber o
todo... aquele olhar relâmpago. E perguntar mais, se a criança tinha passado da
quarta série. Se era certo que ela iria para a quinta. Se estava tudo certinho.
Reforçar os hábitos de estudos, se ela os tinha. Se ela tinha um espaço para
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estudar. Onde ela estudava em casa. Então, assim, mais para saber, mesmo, como
era essa rotina da criança. E, aí, eu falava, esse é mais um passo, não quer dizer
que esteja matriculado. Nós vamos ter outras visitas e aí, depois, daremos o
retorno para a família. E assim eu fiz. Aí, depois, eu dei todas as negativas, que foi o
mais trágico, né. Porque, você visitar, cria uma outra expectativa, não na
família como na criança e, aí, como eu fiz a devolutiva de não. Olha é o seguinte,
como vocês sabiam desde o início, para as crianças se candidatarem, poucas eram
as vagas, eu gostaria que a criança entendesse que ela não... que não é a criança
que está sendo negada para fazer parte da escola. Mas que ela abriu mão dessa
vaga para uma criança que estava com uma necessidade ainda maior que a dela.
Foi essa forma que eu passei para todas as famílias que não foram atendidas. Mas,
se houvesse uma desistência, transferência, em qualquer época do ano, voltaríamos
a entrar em contato, para verificar se ainda havia interesse de estudar em nossa
escola. Teve uma situação só, que não consegui falar com a mãe ou com o pai, e,
aí, deixei recado com a prima, maior de idade, e solicitei que, em caso de dúvida, a
mãe entrasse em contato.
Marco – Fica registrado em algum lugar?
G. Na própria ficha de inscrição da criança, onde tem o parecer do assistente
social e o parecer final.
Marco – Inclusive da devolutiva ou não?
G. – Para quem eu dei e a data em que eu dei a devolutiva.
7. A Unidade tem mapeado a rede socioassistencial? Como é o seu
relacionamento com o conjunto de serviços e unidades da rede?
G. Acho que para explorar mais, a gente ainda não teve esse tempo para isso.
Acho que tem mais recursos que a gente pode usar.
Marco – Vocês têm mapeado todos os recursos?
G. Não, mas foi feito, esse levantamento, pelo próprio município, pelo Plano
Diretor, a gente não está tendo acesso a isso, mas eles disponibilizaram. Eles
não estão com o material pronto, ainda...
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E. Têm alguns que não estão bem organizados, como o Conselho de Direitos da
Criança e do Adolescente e Assistência Social, eles estão sendo feitos em uma
única reunião, por falta de participantes, então eles realizam a reunião juntos, no
mesmo dia e mesmo horário. Eles ainda estão na precariedade, às vezes, eles se
assustam com a gente. A primeira vez que aparecemos, eles questionaram. O que
vocês querem aqui? Porque as reuniões são com o presidente e o secretário, mais
uma ou duas pessoas e fecha ali. Aí, a relação começa a ficar mais tranqüila, mas
eles estão bem precários. A vice-prefeita é a presidenta do conselho e as reuniões
são discussões em torno de projetos de captação de verbas...
G. O município ainda não tem essa autonomia, da população ser protagonista. Na
verdade, isso está sendo vivenciado agora. Tudo ainda é muito ensaio.
Marco – Que gestão é essa, que partido?
G. PMDB, o mesmo do governo estadual. É uma administração que vem em
oposição a outras administrações mais conservadoras.
J. A administração anterior ficou muito tempo e não acontecia nada, hoje,
conseguimos visualizar ações, mas antigamente era bem complicado.
G. Por ser o mesmo partido do Estado, está tendo essa facilidade, com relação às
políticas públicas, está sendo muito bom.
E. – Iniciou com a mudança da Unidade, também, foi muito próximo da época...
G. – Como houve uma revolução governamental, em termos de município, e aí o que
eles tinham como oásis, também resolveu revolucionar, a comunidade se perdeu,
sabe, do tipo: E agora? Sabe, aí, a exigência da melhora do ensino público, em
detrimento deles terem de recorrer a esse ensino público. Até então, eles não
estavam nem aí, se era bom ou não. E, também, da Secretaria de Educação, em se
movimentar para que, justamente, houvesse uma qualidade. Foi investido,
realmente, o que até então não foi feito com os professores. Eles ficaram muito
tempo sem capacitação.
J. – Não só com os professores, todas as secretarias...
G. Então, você percebe essa mudança, na legislação municipal, e a população
participando de uma forma diferente, mas também é um processo, é um exercício
que estão fazendo. Tanto é que, na primeira reunião do Plano Diretor, não veio
quase ninguém e houve uma divulgação intensa na região.
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E. – Há uma intenção, mas não uma capacitação técnica das pessoas, que estão na
coordenação...
G. – Ainda não tem. Têm coisas que eles querem implementar, querem fazer
diferente, mas a estrutura de pessoal não permite, não tem como...
J. – E são muitas coisas que ficaram, e por muitos anos, sem fazer...
G. Nem parece que é tão próximo da capital do Estado, parece uma cidade do
interior. Interior do interior. E agora temos, assim, Secretaria do Meio Ambiente, a
gente está fazendo um trabalho juntos, porque os projetos que eles querem
desenvolver vai muito além do que atender só o município. É a questão ambiental, é
o amanhã, e, por ter o aqüífero, aqui, então, eles têm essa preocupação de que a
população perceba a importância e os cuidados que precisam ter quando se mora
em cima de um aqüífero, em todos os sentidos. Isso, a gente percebe que as
crianças não têm despertado, porque eles nasceram aqui, então, para eles, é tudo
tão comum, para que valorizar, valorizar o quê? Então, ainda existem alguns
comportamentos que você diz: Não, não pode, porque a gente já tem uma
consciência diferente. Mas eles, aqui, ainda não têm, eles ainda usam estilingue,
para quê?
J. O bom relacionamento tem sido com a Secretaria de Meio Ambiente,
Educação...
G. – Secretaria de Saúde, Planejamento...
E. – Social, conselhos, promotoria...
Marco – E com a comunidade?
G. Eu acho que a gente está mais próximo. Eles estão se sentindo fazendo parte,
não é aquela coisa elitizada, parecia que, num primeiro momento, era uma coisa de
elite. Alguns comentavam que não podiam freqüentar aqui, porque não tinham
dinheiro para comprar o uniforme. Se o problema é o uniforme, não tem mais
uniforme. Sabe, ainda existe um pouco de distanciamento daqueles que mais
necessitam da escola, mas isso a gente está buscando, aos poucos, de uma forma
bastante consciente, oferecendo os espaços para a comunidade.
E. Como exemplo, foi a missa da oitava série, que ela mudou o aspecto dela, de
missa de formatura, passou para celebração de ação de graças da oitava série.
J. Eu acho que a quebra de alguns paradigmas vão ocorrendo num processo, não
são de um dia para o outro. Devagar, quebrando algumas coisas...
19
G. Foi muito bonito, porque, aí, teve a participação do pai, da mãe, da madrinha,
da tia, antes era o ritual da colação de grau.
E. Colação de grau, na parte das vestimentas, logo, maquiagem cabelo, toda
aquela formalidade, hoje é uma celebração.
G. Este ano, a gente trabalhou que isso era uma fase e que eles tinham outras
etapas e que, claro, precisamos parar para agradecer, mas que não termina aqui,
tem que continuar.
J. – Este ano, eles ainda vieram bem cheios de brilhos e tudo o mais...
G. Talvez até, Marco, a gente entende que eles não têm muita oportunidade de
usar esse tipo... e, aí, é um momento especial, entendeu, é uma conquista, e para a
família tem um significado...
E. – Para muitos, é único. Acabou aqui, não pode simplificar, mas também não pode
ser aquela formalidade toda...
G. Não pode enaltecer a ponto de virar pompa. Mas eu acho que, se, para ele,
tem esse significado de colocar uma roupa diferente, eu acho que a gente também
tem que entender que é legal e colocar um lápis no olho e um brincão, é um
momento especial para ele.
Marco – Em relação à comunidade, mais especificamente, há outras relações?
G. O pessoal da catequese teve uma proximidade com a pastoral bem
interessante, porque ainda aqui na região, segundo informações da associação de
moradores, é muito segmentado. O pessoal da Pastoral da Criança não se com o
pessoal da catequese, que não se conversa com o pessoal da outra catequese. Aí, a
gente tem todo o cuidado de não criar confusão, de não criar um acidente
diplomático, mas a gente está buscando aproximar, devagarzinho, essas
comunidades, que tem o mesmo objetivo, e o foco vai ser a catequese, porque é
onde a maioria dos nossos alunos está.
E. A ação da Pastoral teve, este ano, um diferencial visível de participação, então,
houve uma aproximação com os coordenadores de catequese da comunidade,
aproximando as idéias, o agente (da Pastoral) chamando, em alguns momentos,
aqui, para reuniões e eventos em finais de semana...
G. – Isso também garantiu para quebrar esse distanciamento...
E. – E compartilhar as idéias bem próximas...
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G. Porque teve algumas situações em que se criou mal-estar, porque teve alguns
eventos, de final de semana, que coincidiram com o horário da catequese e as
crianças não pensaram duas vezes, elas vieram para cá. Faltaram na catequese em
massa. Eles ficaram desesperados, porque eles têm um conteúdo para cumprir.
foi conversado e foi legal, para conciliar o que a gente oferece, com o que a
comunidade oferece, para não criar atrito com ninguém. Mas eu acho que é um
processo, também, acho que estamos caminhando de uma forma bem legal.
8. Como está a participação da Unidade nas instâncias de controle e
elaboração de políticas, no município?
E. Eu participo do Conselho de Direitos da Criança e Adolescente e, a Gleides, do
de Assistência Social, que eles estão fazendo as reuniões, por enquanto, juntos,
por falta de pessoas. Vamos, sempre, às duas e revezamos os registros dessas
reuniões. Como conseqüência, esse grupo também participou do Plano Diretor que
foi feito e também fomos convidados para essas situações. E para alguns
contatos, assim, do conselho e do promotor, fomos convidados, mesmo porque
solicitamos algumas audiências para tornarmos mais conhecidas nossas ações.
G. Em alguns momentos, a gente participou de uns eventos sobre meio ambiente
que teve na região outro município, Rio Branco. E, lá, o promotor do município é
bem atuante, em relação ao meio ambiente. E, lá, fomos numa reunião com a
liderança de uma comunidade. Muito legal, você fazer parte desse contexto maior.
São grupos de pessoas pensantes de uma causa específica, e você trazer essa
discussão para os educadores e educandos, é bem legal. Você começa a mostrar,
para os alunos, que o universo é bem maior que a escola e de onde ele mora. Que o
município que ele faz parte tem dificuldades e precisa também da atuação dele, que,
isso, a gente vai intensificar mais, nesse próximo ano. Ele ser o protagonista mesmo,
não é reclamar e falar mal. Mas o que você está fazendo para contribuir para ser
diferente? Isso a gente está percebendo.
E. – Interessante, porque eles viram as ações das outras pessoas...
G. E eles se sentiram motivados, isso é legal. , das políticas locais, a gente
ainda não tem acesso, nem sei quando acontecem.
Marco Mas, nos conselhos de assistência e de direitos, não vão às
discussões de implementação de trabalhos, ações ?
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G. Vão, e a gente levanta algumas situações, mas eles ainda são bem relutantes,
a gente fala, sugere, se propõe...
E. Eles ainda são preocupados com captação de recursos, o foco é como captar
recursos. O secretário tem aalgumas orientações equivocadas, do tipo, assim,
super fatura para poder vir tanto. Têm algumas situações, assim, que a gente fica
até preocupado. Se houver uma gravação ali, estamos todos com a corda no
pescoço.
Marco – E a única Instituição filantrópica que participa é esta?
E. – Nós somos a única instituição, no município.
Marco – Então, na realidade, essas reuniões acontecem com os representantes
do município. Da sociedade civil, quem participa?
E. Representantes da sociedade civil, moradores nunca apareceram. Eles não
têm essa informação do dia da reunião. É toda segunda, terça-feira do mês, e eles
mudavam muito as reuniões do ano passado. Eram às 8h, às vezes, eram às 10h,
nós pedíamos para ser informados. Eles estão se estruturando, ainda, para que
aconteçam nas datas.
G. – Que triste, né...
E. – De moradores, da comunidade, não tem representação. O pior é que são
tomadas providencias e decisões do município ali.
Marco Em relação aos pais mais atuantes da escola, vocês nunca pensaram
em estar envolvendo, convidando para participarem dessas reuniões? São
reuniões abertas.
E. Pensamos com a associação de moradores, que a gente tem colocado para
eles participarem. E chamando os conselhos para fazer palestras, dentro do
programa institucional, mas ainda não está bem estruturado, vamos intensificar esse
programa no próximo ano.
9. A Unidade está inscrita em algum conselho municipal? Qual sua
participação? Como a equipe de trabalho definiu quem participa?
E. – Não, apenas como ouvinte, nos conselhos municipais, CMAS e CMDCA.
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Marco – A Unidade tem registro nos conselhos? Quais?
E. – CMAS e CMDCA, válidos até agosto de 2007.
Marco Como vocês discutiram, na equipe de trabalho, a forma de
participação nesses conselhos?
E. Primeiramente, tivemos a orientação do SAS. Íamos participar de todos, veio
a orientação que, como primeiro passo, deveríamos participar do CMDCA e CMAS e
só a partir da Unidade mais estruturada participar de outros conselhos.
10. A Unidade tem parceria e ou convênio com outras instituições, para o
atendimento? Como foram estabelecidos esses processos?
E. – Atualmente, não, é exclusivamente mantida pela mantenedora ABEC.
11. A Unidade desenvolve trabalho com famílias?
J. Temos a Escola de Pais, que acontece alguns anos e as palestras que
desenvolvemos este ano.
E. Na entrega dos conceitos bimestrais, para os pais, sempre trazemos alguém
para uma palestra. Conseguimos ter algumas ações durante o ano, mas não da
forma que gostaríamos, já estamos planejando melhor para o próximo ano.
Marco – Vocês poderiam me situar sobre quantas ações ocorreram, quais
foram os focos?
J. A primeira ação foi com Laura Mont Serrat, que trabalhou a questão do amor
com limites...
G. Antes dessa palestra, realizamos uma reunião com todos os pais dos alunos
novos. Explicamos toda a sistemática da escola, enquanto os alunos participavam
de uma sondagem. Esse foi o primeiro contato com o grupo de pais. Depois, teve a
palestra, que, aí, foi com todos os pais, todos.
J. – Teve sobre drogas lícitas e ilícitas...
Marco – E, a participação, como foi?
G. – Nossa, foi grande, quem não pôde vir, justificou ...
J. Em média, foram 160 pessoas, em cada encontro. E, olha, tem que aumentar o
tempo, uma hora tem sido pouco, eles participam muito, perguntam bastante.
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G. Foi trabalhado os cuidados com a dentição. Para o próximo ano, queremos
sistematizar melhor esse trabalho, com temas como drogas, relacionamento de pais
e filhos, entre outros.
J. Escola de Pais são nove encontros, realizados com os pais, e é aberto para a
comunidade, com temas determinados.
Marco A equipe de trabalho identifica afinidades entre as orientações
institucionais e a PNAS? Em que aspectos?
(silêncio)
E. – Como ações na construção do PSE, nessa construção e com a necessidade do
País, com a PNAS, as ações delas são bem visíveis na Unidade e no Setor, uma
delas, que eu imagino, seria principalmente a própria ação da Unidade, não com
o ensino regular, mas como o apoio socioeducativo e as ações dos programas e
serviços institucionais.
G.Eu acho que esse protagonismo, essa linha de raciocínio de fazer com que eles
se identifiquem com as condições que se encontram, é bem forte, está sendo bem
forte e está sendo entendido pelos educando e pelos educadores. Se o momento
não está bom, é que você também tem que dar sua contribuição. O fortalecimento
com a rede, acho que isso está sendo bem legal, está sendo vantajoso para a
escola, essa proximidade, essa troca. E, também, para eles se sentirem parte desse
contexto, que é uma preocupação que nós temos. Como é que vamos sair,
ultrapassar os muros da escola? Qual o caminho a ser percorrido? A gente vai
construir ou vai buscar o que tem? Como é essa dinâmica, nessa comunidade? E
como eles vêem a escola, nesse contexto? Fazendo parte ou como um grupo
fechado? quem está aqui é o privilegiado ou eu, que não faço parte, também
posso participar? É legal, Marco, que, em dois momentos, a gente teve essa
participação de quem não faz parte da escola. Foi na festa junina e agora, no final
do ano, em uma atividade voltada para o educando, mas que tinha a possibilidade
de eles trazerem a família, desde que apresentassem o convite, e alguns disseram
que os pais não poderiam vir porque estavam trabalhando e perguntaram se esse
convite poderia ser passado a um amigo. Respondemos que sim, desde que ele se
responsabilizasse pelo amigo. Tínhamos a preocupação de que virasse bagunça, ou
que entrassem com bebida alcoólica. E, no entanto, um, entre esses amigos que
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vieram, e que tinha um comportamento meio estranho, porque não fazia parte da
escola, participou em um momento lá, de apresentação de dança, pronto... acabou,
desmistificou. A mesma coisa aconteceu agora, no final do ano, com um irmão que
não faz parte do contexto, e tem alguns problemas de comportamento, veio e
participou...
E. Antes, era uma ameaça, no dia da festa junina, foi dada abertura para
apresentação de uma música. Ouvimos a música, a letra, toda a comunidade estava
aqui, estranhou um pouco, porque são pessoas que não são uma referência muito
positiva na comunidade. A comunidade olhou para a gente, estranhou um pouco,
não houve problema nenhum na apresentação. Depois dessa apresentação, não
tivemos mais conflitos, problemas, com essas pessoas. Nesta última ação, o irmão
desse educando também foi aluno, hoje é maior de idade, com passagem na
polícia, com problemas com drogas e armas, também teve uma apresentação
musical e também desfez a situação e começou a fazer parte da unidade. Não é
mais contra a Unidade, passou a respeitar e proteger a Unidade.
G. E a outra situação, que também foi bem marcante para a Unidade, foi a do
parente de uma aluna, com problemas mentais, que estava aterrorizando aqui a
região. A gente teve todo um trabalho com os educandos e educadores e a própria
família. Utilizamos o recurso da rede, para poder agilizar a internação, estava num
momento bem difícil...
E. – Estava sendo uma ameaça, já...
G. E isso também foi uma ação que, a princípio, não foi tão difícil, mas que
repercutiu para a comunidade como uma coisa favorável. Foi bem legal, ele foi
internado por 45 dias. atualmente está tomando o medicamento e está bem.
Segundo a irmã dele, a partir do momento em que vocês entraram em contato, eles
vieram rapidinho. Eu falei: Se, outra vez, for necessário, nos procure, a gente
intervem, enquanto Instituição...
E.E a busca dos direitos ficou bem claro isso. Busque, olha, tem esse órgão, esse
conselho...
J. Um outro ponto, também, complementando essa questão, no regular, os
educadores têm aquela questão: Ah, A minha disciplina, na minha disciplina, e ir
quebrando um pouco isso. Trabalhando e estudando para que o trabalho que é feito
pode e deve transcender os muros da escola. É um trabalho que a gente está
iniciando. Eles vêm de uma realidade onde eles têm que cumprir um livro didático,
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eles não estavam acostumados, vão sentido aos poucos, essa abertura, e de que
forma eles podem, através do trabalho deles em sala de aula, fazer essa ligação
com essa realidade dos educandos...
E. –Tanto é que, nessa semana de formação, eles sentiram a necessidade de todos
os educadores utilizarem uma linguagem única com o educando. Uma construção de
regras, normas de conduta básica, para ser discutida com o educando. Que eles
falassem uma mesma linguagem, posturas, num objetivo único da ação social, que
isso aconteça. Alguns, às vezes, confundem, querendo fazer a adoção do educando
e então vem a intervenção, que não é por aí. Temos limitações, nós temos até a
informação, mas não como ter esse envolvimento profundo. Até onde eles podem
caminhar ou não. Combinamos, no final, para que eles falassem uma linguagem
única, para que 2007 tivessem esse compromisso maior para que tenham, na ponta,
essa diferenciação, se envolveram em situações bem comoventes de alguns
educando: O que podemos fazer? Bem comprometidos.
G. E foi legal também, este ano, a oitava série, o relato de muitos alunos, inclusive
alguns que reprovaram na oitava série, que fizeram este ano de novo, e perceberam
as mudanças, falaram que foi uma outra oitava série. E, agora, eles estão
sentindo saudade, que agora eles sabem o quanto a escola é importante para eles.
Qual a contribuição que a escola teve e que eles não tinham essa percepção. Agora,
saindo, eles começam a perceber como ela modificou a vida deles e dos pais
também. Como está diferente, são outras pessoas...
J. – Muitos depoimentos...
G. – Bem legal, a mudança do comportamento dos adolescentes...
E. – E a fala de uma educadora, na formação, sobre a importância de se passar para
o educando de que ele é capaz de seguir em frente, de fazer uma faculdade, de ter
uma profissão, que não pára aqui na oitava série. Mostrar, nesse conteúdo
curricular, o incentivo e a motivação de que eles são capazes e podem ir em frente...
J.E aqui também, Marco, a gente está tendo alguns pais ligando. Olha, passou no
vestibular, pupilo de vocês, estudou aqui...
G. Ou agora, no segundo grau, passou no Colégio Estadual, no Dom Bosco, para
eles é uma conquista e tanto...
E. – Duas vagas na Federal, para técnico em petróleo e gás natural...
G. São coisas que parecem pequenas, mas tomam proporções muito intensas.
Sai fora e aquilo parece que se propaga, e o pessoal quer entrar aqui. Alguns
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querem entrar porque querem ir para o Santa Maria, aí, a gente fala da realidade,
da diferença de realidade. É muito mais significativo que eles façam uma escola
técnica, do que ir para o Santa Maria, porque ainda é a busca do elitizado. E, , a
gente fala do propósito maior. Faz parte dele, esse mundo de uma escola particular,
ou será que ele seqüência numa escola pública mesmo, mas buscando essa
melhoria e essa capacitação? Essa é uma questão importante...
E. – É gratificante, mas dá um trabalho...
G. – Mas é muito bom, começa a pipocar devagarzinho...
E. E a identidade institucional, a questão da religião, da missão, a fala, desde
Champangnat, uma questão muito forte, o projeto Um Coração uma Missão, isso
fortaleceu bastante. E a questão de respeitar as outras religiões, você ficar naquilo
de que é uma instituição marista, de valorização a Maria, e outras religiões, que
estão aqui dentro, e não reconhecem Maria. Esse linear, de não perder a identidade
e respeitar, ao mesmo tempo.
J. E são importantes as formações, a formação constante que temos do SAS, e
que a gente tem um sistema de formação, essa troca de idéias vai fortalecer mais o
trabalho.
Marco - Agradece a colaboração.
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CENTRO SOCIAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL (CSEI) LAR FELIZ
SANTOS (SP) - 22 DE FEVEREIRO DE 2007
Observações gerais
A entrevista foi agendada, previamente, com a equipe de trabalho.
Iniciamos a entrevista com parte da equipe, pois, com o desligamento da
coordenadora geral, que acumulava também a assessoria pedagógica, a Unidade
passou por uma reestruturação. A assistente social assumiu a coordenação geral e o
Serviço Social, com a ampliação de sua carga horária, e foi aberta uma vaga para
assessora pedagógica.
Realizamos a entrevista com o irmão diretor e com a coordenadora geral, em uma
sala confortável e silenciosa. Como recurso de registro, utilizamos a gravação em
áudio.
1.
Nome dos membros da equipe de trabalho; função; formação
acadêmica; tempo de formação; tempo de serviço na Instituição; na função e
na unidade.
Irmão Gilmar Aricini Sou religioso marista. Trabalho nessa obra quatro anos,
na função de direção geral, mas direção geral é um acompanhamento mais geral no
sentido de dar algum apoio, referente ao carisma da Instituição no local, e também
estar respondendo por questões meio burocráticas, assinaturas e coisas assim.
Quem, na realidade, está mais à frente, trabalhando no dia-a-dia, assumiu este ano.
Ela vai se apresentar.
Marco Irmão, qual é sua formação de origem?
Ir. G. Desculpe, eu acabei me esquecendo. Fiz filosofia, fiz o mestrado em
Filosofia. Dei aulas de filosofia, por um bom tempo. Minha área, mesmo, é mais na
área filosófica e trabalho também em outros colégios Colégio N.S. da Glória e
Colégio Santista, na função de diretor geral. Transito alguma coisa na área de
pedagogia, mas não tanto. No fundo, pedagogia desemboca em filosofia e, assim, a
gente se entende.
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Lúcia Aparecida Santos Tavares - Sou formada em Serviço Social dez anos.
Entrei na Instituição marista, na Unidade Social Lar Feliz, em 2004 e atuei como
assistente social até dezembro de 2006. Em janeiro de 2007, assumi a coordenação
geral, mas não deixei de exercer a função de assistente social. Hoje, acumulo as
duas funções.
2. Como a equipe organiza sua dinâmica de trabalho?
L. De maneira geral, a nossa equipe é composta por três profissionais. Temos a
coordenação geral, com assistência social; a assistente administrativa; e a
assessora pedagógica, que também foi uma mudança nova. Temos também o irmão
Gilmar, que é o diretor geral. Organizamos nosso trabalho através de reuniões
periódicas, normalmente semanais, e, mais freqüentemente, quinzenalmente,
estamos sentando e organizando. Tivemos algumas mudanças, durante esses dois
anos e meio que estou na Unidade, e, então, a gente está sempre retomando alguns
processos e caminhando de onde paramos. Com essa questão do alinhamento,
temos procurado trabalhar no serviço de educação infantil, os projetos sociais, que
têm interface com a Pastoral e com a educação infantil.
Ir. G. - Eu acho que, como a formação dela é na área social mesmo, a direção
tende a ganhar. Pelo fato de ela ser coordenadora, não fica tão acentuada na área
pedagógica. A relação com a comunidade se amplia, e uma conotação diferente
para a direção, e uma visão um pouquinho maior, porque, quando você tem um
pedagogo, ele fica muito preso à obra somente. Acho que, com esse tipo de
coordenação, a tendência é expandir um pouco mais.
L. Eu concordo com a afirmação do irmão. Nesses primeiros 45 dias de trabalho
como coordenadora, com a entrada da assessora pedagógica, a gente já percebe
menos atravancamento. A gente já percebe que flui um pouco mais. O Serviço
Social tem uma demanda de trabalho que não é tão especificamente direta, que nem
é a de pedagogia, pois são 120 crianças, dez horas por dia, dentro de uma Unidade.
O assessor pedagógico tem demandas mais diretas, emergências, às vezes, do que
o assistente social. A gente percebe que flui um pouco mais. Ele tem mais
tempo para planejar, de realmente fazer pesquisa e programar ações com a equipe.
Isto, na gestão passada, e eu, como passei pela gestão anterior a essa, percebia
que existia dificuldade na convergência das duas áreas.
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Marco - Eu vou registrar isso. Avalio como importante para o estudo, pois
você é a primeira assistente social que acumula coordenação geral. Temos
outras experiências, mas são de assessores pedagógicos que acumulam a
coordenação geral.
L. Não deixando de lado o Serviço Social, que demanda muito serviço, mas a
percepção que temos é que separou o pedagógico do geral...
G. ...e o pedagógico fica na sua área específica. Isso, eu acho que ajuda a tornar
as coisas, uma dinâmica diferente, parece que cada coisa funciona dentro de seu
foco.
3. Quais são os critérios de ingresso das crianças no serviço?
L. - Não temos exatamente critérios preestabelecidos. Utilizamos a questão da
vulnerabilidade, que é apontada na política de assistência, então, observamos
algumas bases, mas, essencialmente, é a vulnerabilidade num todo. A princípio, a
gente analisa o território onde a família reside. A gente prioridade para a criança
que reside na região, para que, por exemplo, os pais possam ir a levar a criança.
E, então, atendemos o bairro onde a Unidade está localizada e a abrangência que,
por si só, já gera uma lista de demanda. E também para mãe que trabalha na região.
No último diagnóstico que realizamos, observamos que 95% são de famílias que
moram na região e apenas 5% são de famílias que trabalham na região. Outra
questão, é a renda familiar. Pela questão da cidade, dos indicadores sociais, a gente
atende famílias com renda familiar de até três salários mínimos, mas houve época
de atendermos com menos, com valores menores. Porque isso, na realidade, não é
indicador de vulnerabilidade, pois a gente percebe que a moradia é um agravante. O
aluguel é muito caro, os moradores dos cortiços pagam valores muito altos. Um
terço dessa renda vai na moradia, e são famílias numerosas. Aí, a per capta
acaba sendo inferior a meio salário mínimo.
M. Marco – Essa situação é um padrão de corte?
L. Infelizmente é, tem uma procura grande, para a faixa etária de dois a três anos,
então, a gente vai pela vulnerabilidade como um todo, habitação, menor renda,
inscrita em programas sociais. Nossa ficha de inscrição faz um diagnóstico da
família. No critério de desempate de seleção, utiliza-se a questão da vulnerabilidade
social, como um todo, moradia, empregabilidade, renda. Eu, particularmente, utilizo
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a questão do risco, que, pra mim, vulnerabilidade, ela é mais abrangente que risco.
Atendemos crianças que estão sob risco dos pais perderem o pátrio poder, ou estão
sobre processo, no Conselho Tutelar. Tivemos o caso de uma criança, que passei
na frente, na lista de demanda, porque os pais foram assassinados naquele ataque
do PCC. A criança está vivendo com a avó. É uma outra situação. Eu faço essa
análise, considerando os critérios, mas costumo ter um olhar mais amplo, que vai
além da vulnerabilidade. Analiso se ela está também sob risco social. Mas, os
critérios principais são a questão da renda, território e, também, a empregabilidade
da família; se a mãe trabalha.
4. Os critérios de ingresso são discutidos na equipe de trabalho?
L.Como a nossa equipe dividia a sala, a gente trabalha muito junto, foi pensado,
com certeza, de maneira conjunta. No agir dessa questão da análise, é mais minha
do que do restante da equipe. Todo início de ano, a gente socializa o diagnostico
social, das famílias atendidas, e faz uma análise da situação gente passa as
informações para o grupo e aí explicamos a necessidade de eles trabalharem: Como
trabalhar com essas famílias? Existe aquela questão da culpa, pela criança chegar
suja, maltratada, então, a gente socializa, para tentar minimizar esses impactos.
Existem profissionais que vêm para a área social, mas sempre trabalharam em
escolas particulares. A gente muito isso, então, não entende essas situações,
essa coisa assim... Aí, temos aqueles comentários: Tem dinheiro para comprar um
celular, mas não tem dinheiro para levar a criança para cortar o cabelo”. São coisas
assim, que, infelizmente, acontecem muito. Essa visão de que a pessoa não pode
ter as coisas. E, então, a gente discute muito essa coisa do respeito à essa
diversidade que chega para a gente. Têm famílias com estruturas melhores, com
relações familiares de seus membros muito boas, então, a criança, apesar de
pertencer a uma família de baixo poder aquisitivo, é muito limpinha, é muito
bonitinha, é tudo aquilo que os professores gostam e se apegam, e acabam
deixando de lado aquele que tem piolho, suspeita de sarna. Então, a gente trabalha
essa formação, de modo a minimizar um pouco esse impacto de quando o
profissional se depara com essas situações.
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5. Os critérios de ingresso respondem às orientações institucionais? E estão
em consonância com a PNAS? Em que aspectos?
L – Eu avalio que sim.
G.
Institucionalmente, sim. Acho que a clientela com a qual a gente tem
contato, é, preferencialmente, um grupo que, naquela região, é carente, tem
necessidades e, pelo fato de ser uma obra de assistência, eu acho que,
institucionalmente, ela está dentro dos padrões de outras obras que a gente tem. É
um dos objetivos da Instituição. Institucionalmente, a gente que está plenamente
de acordo com aquilo que requerem os nossos documentos. Trabalhar, de forma a
atender, de fato, as pessoas mais carentes.
L. É, são 109 famílias, essa média, a gente ainda não fechou. São famílias que
atendem a esses critérios e têm uma peculiaridade, na nossa região. É a região de
maior concentração de cortiços, de moradias pequenas. Tem um morro, ao lado,
totalmente ocupado por invasão, é uma peculiaridade de Santos, de onde a gente
está. Dentro do Bairro Vila Nova, tem a nossa Unidade. Havia uma outra, mas
fechou.
N. Marco – Que aspectos vocês avaliam estar em consonância com a
PNAS?
L. Acho que é a questão da preocupação com as famílias, sob o aspecto da
matricialidade, de valorizar o núcleo familiar, nós não trabalhamos mais só a criança.
A PNAS apresenta isso, de a gente trabalhar o fortalecimento, o empoderamento, a
emancipação, mesmo ainda no começo. A gente sabe que muito, ainda, temos que
avançar, mas o trabalho com as famílias é o caminho apontado na PNAS e, nesse
aspecto, eu acho que a Unidade, tanto de Santos como as outras, de São Paulo,
estão buscando trabalhar dentro desse aspecto. E então, a gente não trabalha mais
só o indivíduo, aquele serzinho que a gente cuida, dá banho e trabalha o pedagógico
e alimentação, a gente já está avançando, e é a partir de uma determinação da
PNAS. No geral, é isso, é o olhar que a PNAS propõe, para que não haja mais o
trabalho focado, mas, sim, mais abrangente.
6. Como são registrados os critérios e o processo de seleção e sua
devolutiva à comunidade?
32
L. Infelizmente, a gente não devolutiva, mas também não criamos
expectativa, a gente abre o processo de inscrição no Lar Feliz. É uma semana,
somente, no mês de outubro. Eu atendo, faço as inscrições de encaminhamento
da Secretaria de Educação e do Conselho Tutelar, o ano todo. Esses, a gente faz
inscrição e tenta dar prioridade, mas não é sempre que para atender, porque
a rotatividade das crianças é pequena. A inscrição, para comunidade, a gente faz
uma semana só, no mês de outubro. Aí, a gente coloca que é uma inscrição,
que existem poucas vagas, que, dependendo da idade, não tem a vaga, mas
coloca que é importante ter a inscrição, que havendo uma vaga a gente vai
chamar. Não criamos a expectativa que vai ser, que foi, que está
matriculada. A partir disso, a gente não faz mais a devolutiva. Na realidade, a
gente convida para a inscrição. Publicamos no diário oficial do município,
colocamos faixas e cartazes na região.
Marco – Quantas inscrições, em média, você recebe, nessa semana?
L. Umas 150, para umas 50 vagas, em função da mudança do ensino
fundamental de dois anos. Com o fechamento da turma de seis anos, ampliamos
os atendimentos às crianças de quatro e cinco anos. Eu, enquanto assistente
social, busco realizar a visita a todos os inscritos. Este ano, não tivemos pernas
para isso. Visitei aquelas que, no momento da inscrição, percebi que tinham
alguns indicadores de risco, questões de droga, álcool, mãe solteira. São
situações que a gente já percebe, na inscrição. Aí, uso a visita para aprofundar
mais as informações, mas não para fazer isso para todos os inscritos e vai
continuar não dando. Eu tinha a carga horária de 22 horas semanais e continuo
tendo, porque ampliei a carga, mas agora estou na coordenação geral, tenho que
me dedicar à gestão. É deficitária, essa questão. A gente não dá conta de fazer
todas as visitas. No momento da inscrição, as famílias já trazem os documentos
para validar a inscrição. É a partir disso que a gente fecha o grupo. Fico, de
outubro até a primeira semana de dezembro, fechando esse processo. Quando é
feita a visita, a gente utiliza uma outra ficha, que preencho na residência da
pessoa. Não é nada ligada a recursos materiais, são dados da composição
familiar, quantos são, quantos trabalham em que, são dados que utilizo para o
diagnóstico social da Unidade. O processo é bastante lento, burocrático. Temos a
33
rematrícula, matrícula dos novos, recesso de final de ano, fora o trabalho de
sábado, com os adolescentes, que amplia o atendimento para 180.
7. A Unidade tem mapeado a rede socio
assistencial? Como é seu
relacionamento com o conjunto de serviços e unidades que compõem a
rede?
L. Existe uma reunião, chamada ação intersetorial. Ela acontece uma vez por
mês. Essa ação intersetorial, na verdade, é uma parte da rede socioassistencial,
nossa relação é de participar dessas reuniões. Existem alguns movimentos
incipientes, ainda, um pouco ultrapassados. Fazer a Rua do Lazer, uma ação
para atender não sei quantas pessoas, em um dia só.
Marco – Quem puxa essas ações?
L. É a Secretaria de Ação Social do município. Aí, reúne representantes das
ONGs dos bairros da região central. Está um pouco cansativo, não se produz
muita coisa, ainda não percebemos muitas coisas sendo construídas, mas o
fato de se reunirem e de sentar e se proporem a uma ação é um ganho. Em
relação aos CRAS, tenho relação devido aos usuários do serviço serem
referenciados. Tenho famílias que são acompanhadas tento pela Unidade quanto
pelo CRAS Central São Bento e Mercado. São três CRAS, que acompanham
famílias, que são atendidas na Unidade.
Marco – Qual a porcentagem dessas famílias acompanhadas pelos CRAS?
L. Muitas precisam, mas não conseguem, são referenciadas apenas 25% das
famílias que atendemos na Unidade, mas existem algumas ações do CRAS, que
envolvem as demais famílias. Eles começaram, recentemente, com a terapia
comunitária, com metodologia do Adalberto Barreto; cursos de geração de renda.
Santos trabalha com o Programa Nossa Família (PNF), que é um recurso
direcionado para capacitação da pessoa. A pessoa tem que estar predisposta a
utilizar esse valor, que é repassado por 18 meses, para se capacitar, pagar um
curso técnico ou comprar equipamentos para montar um pequeno negócio, como
um salão de cabeleireiro, mas ela precisa utilizar esse dinheiro para sua
emancipação. É uma pena que esse programa atenda cem pessoas, em
Santos. É um dos programas que mais deu certo. É uma pena que os recursos
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não sejam ampliados. também os cursos com as ONGs. A Casa Aberta, por
exemplo, é um abrigo, um albergue que tem cursos, são famílias referenciadas,
que passaram por lá, que estão agora recebendo auxílio-aluguel e morando
em quartos. Elas são obrigadas a participar de todo esse processo de
capacitação, de reuniões, terapia comunitária. É onde pretendo entrar com grupo
de apoio sociofamiliar, para trazer essas famílias para nós. Temos muita
dificuldade de garantir a participação delas em qualquer trabalho. A presença é
difícil, é tentar amarrar com o CRAS, de trabalhar as famílias com maior
vulnerabilidade, nós vamos trabalhar juntos, propondo essa parceria, para tentar
garantir que elas também participem de momentos em que elas também possam
ouvir, falar, porque o curso de geração de renda é aquela coisa... vai uma vez,
falta outro, e aí acaba se esvaziando.
8. Como está a participação da Unidade nas instituições de controle e
elaboração das políticas públicas, no município?
L. Este ano não, até 2006, era suplente no CMAS e em 2005 era titular, na
eleição passada não houve candidatura, a Unidade passava por sérias
dificuldades gerenciais. Sempre participei do CMAs e sempre trouxe a discussão
para a equipe; nos dividimos, este anos, para que eu acompanhe o CMAS e a
orientadora pedagógica acompanhe o CMDCA. Não existe articulação entre o
CSEI Lar Feliz e os conselhos, esse é um desafio.
9. A Unidade está inscrita em algum conselho municipal? Qual sua
participação? Como a equipe de trabalho definiu quem participaria?
L. No CMAS. No CMDCA, a Unidade perdeu, por conta da normativa do
Conanda, que tirou o registro da creche. A normativa é de 2002 e considera que
as creches estão com seu foco na educação, e, portanto, devem estar inscrita no
Conselho de Educação e não no CMDCA. Com isso, perdemos o benefício da
Sabesp, de 50% de isenção da conta de água. Em janeiro deste ano, já
enviamos os documentos e relatórios anuais para o CMAS.
10. A Unidade tem convênio/parceria com outras instituições e/ou entidades
para o atendimento? Como foram estabelecidos esses processos?
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G. – Temos apenas o convênio com o município, é muito antigo, nem sei informar
a quanto tempo temos esse convênio.
L. – A relação com a prefeitura é relativamente tranqüila. O que nos preocupa é a
instabilidade das gestões públicas. Recebemos, per capta, R$ 183,00, de zero a
três anos, e R$ 160,00, de quatro a seis anos.
11. A Unidade desenvolve trabalho com famílias?
L. Desenvolve. Temos, hoje, o projeto Fortalecendo a Família, um grupo de
apoio sociofamiliar, com reuniões semanais, com foco em discussões levantadas
pelas próprias famílias. Tivemos uma média de 20 participantes, por reunião,
durante todo o ano. Nessas reuniões, convidamos pessoas da comunidade para
as discussões, com uma assistente social do CRAS, que veio falar sobre os
programas de complementação de renda, os programas sociais. Veio uma
psicóloga, do Instituto da Mulher, falar sobre planejamento familiar, e um
conselheiro tutelar, para desmistificar a visão que se tem do conselho, que não
funciona. Durante o ano, fomos discutindo vários outros assuntos e, no final,
fizemos uma avaliação e a gente percebeu que quem participou ampliou seu
nível de participação. Elas ficaram mais falantes, estão se colocando com mais
tranqüilidade. Também tivemos um curso de informática, para as famílias, com o
qual, infelizmente, paramos, pois trabalhamos com voluntário e ele saiu.
Temos o projeto Pais, que acontece aos sábados. Ele tem uma programação
anual, com trabalho de cultura de solidariedade, de trabalhar o vínculo familiar, o
respeito aos espaços coletivos, são oito sábados de encontros com as famílias,
que acontece a cada dois meses.
12. A equipe de trabalho identifica afinidades entre as orientações
institucionais e a PNAS? Em que aspectos?
L. Eu acho que tem tudo a ver. Quando entrei na Unidade, percebi que as
propostas traziam essas questões, de valorização humana, do fortalecimento
dos grupos, mesmo que a PNAS, por inteiro, ainda não aconteça do jeito que a
gente espera que ela venha acontecer, e a Instituição, com a composição das
equipes, ampliação de carga horária, ampliação do serviço social. Acho que tem
afinidade, porque caminham na mesma direção. Formar bons cristãos e virtuosos
cidadãos é pensar na totalidade, não é pensar só que a criança vai aprender a ler
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e escrever, não é pensar no conteúdo que vai ser dado, mas sim pensar na
constituição da criança, em seu todo.
G. – A instituição marista, quando fala em sua missão, em formar bons cristãos e
virtuosos cidadãos, é no sentido de integrá-lo, cada vez mais, à sociedade. Não é
uma coisa de somente atender uma necessidade momentânea, mas é de integrá-
lo na vida como cidadão para que ele possa crescer como pessoa e, ao mesmo
tempo, ter condições de se manter, na sociedade, dialogando, trabalhando.
L. É de ter uma condição de igualdade, a igualdade de direitos, a garantia dos
direitos, tanto vem na PNAS como na política institucional, expressa na
participação dos profissionais, nessa questão de articulação com a rede e a
PNAS propõe isso. A Instituição marista também prioriza isso, coloca como uma
condição de trabalho, afirmando que não para trabalhar sozinho. Por isso,
que não para trabalhar pensando na questão do indivíduo. Ele vive numa
sociedade; ele tem uma família; ele precisa não integrar-se, mas criar
mecanismos próprios de enfrentamento, para superar essa situação de
desigualdade que, cada dia, está mais tencionada. Por isso, eu acho que a
afinidade entre elas está em suas diretrizes. Não se trabalha mais sozinho, não
se pensa mais no individuo, e se trabalha a questão do fortalecimento de grupos,
favorecendo os processos da comunidade.
Marco Agradece a colaboração dos entrevistados e abre para as
considerações gerais.
L. A implantação da PNAS, que vem de 2004, é percebida, na preocupação do
SAS, com seu fortalecimento, com a ampliação da equipe. Percebemos que está
tendo prioridade, para o setor social. Novos integrantes no setor, com formações
diferentes, que compõem, que pensam juntos, que socializam, que acompanham.
Eu acho que a PNAS trouxe essa questão.
G. Eu gostaria de dizer que um grande objetivo do momento da Instituição é a
formação para a solidariedade, não para o setor social, mas para toda a
Instituição. O problema nosso, no mundo atual, é despertar para a solidariedade.
Onde vocês estão, é um lugar privilegiado, que faz realmente acontecer isso. É
que estão integrando verdadeiramente as pessoas mais necessitadas, que é a
missão da Instituição. A gente vê que isso está se organizando cada vez mais,
que o setor está crescendo e está se organizando.
37
ESCOLA MARISTA MUNICIPAL SÃO JOSÉ
SANTA CATARINA – 5 DE MARÇO DE 2007
Observações gerais
A entrevista foi agendada, previamente, com a equipe de trabalho.
Iniciamos a entrevista com parte da equipe, pois a assessora pedagógica
encontrava-se de licença médica.
Realizamos a entrevista com o diretor e com a assistente social, em uma sala
destinada a atividades com a população e educandos. Como recurso de registro,
utilizamos a gravação em áudio.
Esta Unidade não conta com um religioso como diretor.
1. Nome dos membros da equipe de trabalho; função; formação acadêmica;
tempo de formação; tempo de serviço na Instituição; na função e na unidade.
Vilmor Domingos Squersato - Depois de ser religioso marista, trabalhei nove anos
em outras instituições de ordem religiosa-confessional como professor e
coordenação e, em janeiro de 1996, o irmão provincial me convidou para ajudar
nessa obra social São José. Essa escola estava em fase de acabamento de
construção e a Província de Santa Catarina UCE acertou uma parceria para a
educação formal. Entrei aqui como vice-diretor. O diretor era o irmão Evilásio. Em
janeiro, completei 11 anos na escola. Minha formação sempre foi na Instituição
Marista. Curso superior, fiz administração de empresas, pós-graduação em recursos
humanos. Assumi a direção do colégio dois anos depois (1998); organizei a escola
por setor, pedagógico e administrativo. Funcionamos, assim, até a reestruturação da
Província; depois vieram as modificações e a escola, hoje, tem outra estrutura.
Micheli Klauberg Faustino - Iniciei na Unidade em agosto de 1998. Em dois anos,
da abertura da escola até meu ingresso, passaram quatro assistentes sociais, pela
escola. estou aqui oito anos e meio. Formei-me em 1994 e fiz minha
especialização em Educação Sexual. A especialização, fiz em 1995, quando
trabalhava no Conselho Tutelar. Procurei essa especialização em função do número
de casos de violência sexual que atendíamos. Minha formação foi pela Universidade
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Federal de Santa Catarina e a Especialização pela Universidade Estadual de Santa
Catarina.
2. Como a equipe organiza sua dinâmica de trabalho?
V. Primeiro, cada um sabe de suas responsabilidades, além disso, temos as
reuniões semanais, para acertarmos a programação da semana, do mês, discutir os
afazeres, as questões administrativas, pedagógicas, da escola toda, este ano ainda
não conseguimos.
M. - Não fizemos, ainda, porque tivemos o planejamento e, depois, a semana de
formação e, nessa semana de formação, a gente contemplou todas as áreas, o
social, o pedagógico, deu pra fazer bem socioeducativo.
V. - Este ano foi assim, mas, normalmente, a equipe toda se reúne semanalmente.
M. Agora, as aulas começaram, faz duas semanas, a dinâmica é outra, eu, por
exemplo, estou mais em função da entrada dos alunos. A gente está com essa
questão da nova Escola do Morar Bem, ela ainda não começou a funcionar e
ainda temos uma demanda reprimida. As famílias ainda estão procurando vagas.
Mesmo fazendo as inscrições, no final do ano, ficaram listas de espera para quase
todas as turmas. Agora, estou chamando mais algumas famílias, para inclusão.
V. Discutimos, nas reuniões de equipe de trabalho, questões mais estratégicas; as
decisões são tomadas em equipe.
M. - E também, como a gente é da equipe de trabalho, tem as questões mais amplas
da escola, que a gente também se envolve. Todos se envolvem nessas questões
mais amplas e também nas suas mais específicas de atendimento, de
desenvolvimento de projetos. No meu caso, tem outras questões, que é a
organização dos projetos, a comunidade, o atendimento às famílias, que já vão
acontecendo. A gente organiza o horário, então, tem o dia do atendimento da
comunidade, outro dia para o projeto tal. A dinâmica vai assim... tem que fazer um
planejamento também.
Marco - Então, basicamente, vocês têm a reunião semanal da equipe de
trabalho; fora isso, vocês têm a formação de início de ano, com todos da
equipe?
M. - No decorrer do ano, vamos realizando outras formações....
V. - Do pedagógico, especificamente, da espiritualidade...
39
M. - A gente vai vendo algumas temáticas, conforme a necessidade. Este ano, a
temática é a questão de projetos, desde o ensino fundamental. A idéia é trabalhar
mais projetos temáticos em sala e também estamos trabalhando, na área social, a
questão do ECA e questões mais de mediação familiar. A grande temática, deste
ano, é a família e o ECA. Conseguimos um consultor de projetos. Ele esteve na
semana de formação, trazendo bem a questão social. Nessa formação, eu trouxe a
fala da assistente social Solange Fernandes, que trabalhou o tema família, na nossa
formação de outubro, em Curitiba. Consegui trabalhar bem o histórico de família.
Fizemos em forma de painel e trouxe também o texto do livro Retratos, do ECA,
estudo de casos. A partir daqueles estudos, trouxemos para a nossa realidade.
Trabalhamos em grupo, cada um estudou uma situação daquelas que a gente sabe
que refletem aqui também, situações de violência doméstica, abandono. E então, a
partir daquela vivência, trazer para nossa realidade e começar a perceber a
importância de trabalhar o ECA e, principalmente, mudar a postura. Uma de nossas
preocupações é essa postura. O educador tem a preocupação de não excluir o
aluno, não colocar ele em uma situação vexatória. E, então, a gente trouxe muito
essa questão, este ano, desse cuidado, cuidado com a família, cuidado com os
rótulos “família desestruturada”, conseguimos fazer uma reflexão bem importante.
V. - Principalmente em função da situação a que chegamos, no final do ano
passado, com o número grande de reprovação; nas primeiras falas, introduzimos
essa reflexão, ressaltando nossas deficiências...
M. - A gente tinha educadores que colocavam alunos para fora da sala. Tinham,
ainda, algumas práticas bem desvinculadas do ECA, foi bem dinâmico.
V. - Interessante, nós partimos este ano, na semana de formação, com perguntas
diferentes dos anos anteriores, fizemos uma acolhida e depois perguntamos: O que
você acha que a escola espera de você, este ano? E o aluno? E a família?
M. - Eles apresentaram as respostas, em forma de painel. Foi um gancho para
minha fala,iniciei com o tema família, a partir do texto do Cidadania Marista sobre
família. Ali tinha também uma matéria sobre o nosso projeto, o de empoderamento
das mulheres. A fala da Solange abordou muito essa questão, dos direitos da mulher
e da criança, e aí fiz o gancho com o ECA.
V. E, com isso, achamos, na equipe, que compromete um pouco mais. Tem outro
significado, o professor dizer o que ele acha que os outros esperam dele. Eles estão
olhando para mim, eles querem alguma coisa mais de mim, o que vou dar?
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M. - É para ele entender que não pode estar isolado, que ele tem que estar no
contexto, vendo a totalidade, a escola, o aluno, a família, a comunidade, tem que ir
além da sala de aula.
3. Quais são os critérios de ingresso da criança e ou adolescente no serviço?
M. - A gente tem muita procura. Temos uma ficha, com a qual eles fazem o pedido
de vaga. Eles colocam o nome da criança, endereço, profissão, renda, se tem
irmão estudando na escola. A primeira triagem é essa. A partir dessa ficha, a gente
prioriza os que moram mais próximo da escola. A questão da idade. Alguns têm
irmãos e a gente conhece a família. Também não é necessário uma visita
domiciliar, muitos são conhecidos, até porque estou bastante tempo aqui. Os
principais critérios são: morar próximo e, também, a questão socioeconômica, a
situação de vulnerabilidade social. Tem, também, alguns casos, encaminhados pelo
Conselho Tutelar. Situação de risco, a gente dá prioridade.
Marco Vocês atendem todos os encaminhamentos do Conselho Tutelar, da
Vara da Infância ?
L. - Se estiverem dentro dos critérios, principalmente se forem da nossa área. Às
vezes, eles até fazem o pedido, mas a criança não tem idade, ou mora distante da
escola, por isso é que analisamos e, se atende os critérios, damos preferência.
tivemos pedidos que não atendemos, por não estarem dentro dos critérios. Mas eles
entendem bem, e redirecionam o pedido para a escola mais próxima da região de
moradia da criança.
4. Os critérios de ingresso, são discutidos na equipe de trabalho?
M. - Sim, os professores sabem e a gente sempre deixa bem claro. Às vezes, os
próprios educadores vêm pedir vaga para uma criança que conhecem e, às vezes,
não está no critério. A gente explica que não é possível. Eles entendem e na equipe
também.
V. - A equipe está bem consciente que a primeira autorização vem da assistente
social e a equipe sabe dos critérios. A assistente social tem autonomia de decisão
para a seleção.
M. - Tem famílias que até vêm pedir para falar com o diretor, com a coordenadora.
Às vezes, confundem um pouco, eles acham que podem falar direto, ele (diretor)
41
deixa claro que tem que passar pelo serviço social. Não tenho problema com isso,
quando acontece assim, de alguma vez a coordenação atender, mas depois é
passado e a gente conversa e já se entende também.
V. - Na seqüência, se fala comigo, eu atendo, e explico que, na Unidade, tem uma
assistente social que vai atender, vai verificar, vai conversar, e ela vai ver a
possibilidade ou não.
M. - Porque, depois, tem a cobrança da comunidade, e essa cobrança é comigo. Se
eu chamo alguém que está fora do critério, eles vêm me cobrar. A comunidade
acompanha. Eles sabem direitinho quem eu chamo, quem eu não chamo. Se eu
chamo alguém que mora um pouco mais distante, eles ficam sabendo e: “Ah,
porque chamou aquele e não chamou o meu, que está mais tempo esperando”.
Tenho que ver essa questão de quem está mais tempo no bairro. Estão sempre
atentos. Sempre tem demanda reprimida. Este ano, não teve demanda reprimida, de
primeira e oitava séries.
5. Os critérios de ingresso respondem às orientações institucionais? E
estão em consonância com a PNAS? Em que aspectos?
M. - Sim, no aspecto de garantir que a criança estude mais próximo de sua
residência, e a questão da vulnerabilidade. É claro que a realidade vem mudando.
Oito anos atrás, tínhamos mais famílias em situação de vulnerabilidade, questões
bem mais precárias. Hoje, eles estão mais fixos no bairro, não tem mais tanta
rotatividade no bairro. A questão do trabalho, houve uma transformação,
incluímos, desde 2000, o programa PETI, o bolsa-família, tudo isso favoreceu. Cerca
de 20% dos alunos são do PETI, em torno de 50 crianças. Não é um número muito
grande, mas, em relação a outros bairros de São José, a demanda maior é a do
jardim Zanelato. Começou o ano 2000 e eles pediram para as escolas fazerem o
levantamento e a gente foi quem encaminhou mais casos, 80% da demanda de São
José era do Zanelato. Eu procurei fazer a pesquisa, antes de dizer que existia uma
bolsa, que existia o programa, fiz a pesquisa em sala de quem desenvolvia algum
trabalho infantil e a gente detectou bastantes casos. E, assim, do bolsa-família
também, conforme a ficha socioeconômica, eu chamava a família e incluía no
bolsa-família. Atualmente, são 150 famílias no bolsa-família. Ajudou bastante. No
início, muitas famílias vinham com aquela idéia de pedir ajuda, que as encaminhasse
para a cesta básica. A gente encaminhava muito para a Ação Social, para conseguir
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cesta básica e, aos poucos, com a inclusão nesses programas, eles foram
conseguindo não vir mais pedir. Começou com a questão da cidadania, eles viram
que tinham que conseguir um emprego, que não é cesta básica que vai resolver o
problema. E, então, houve muita transformação. Muitas famílias, que eram bem
precárias, hoje, depois de inclusas no programa, conseguiram essa emancipação,
conseguiram algum tipo de trabalho, documentação. Mas existiam famílias sem
documentos, não tinham banheiro em casa, bem vulnerável mesmo. Outro projeto
que ajudou muito o bairro, foi o projeto Morar Bem. Foram 500 famílias que saíram
da área de risco, foi um avanço. É um projeto municipal, em parceria com o BIRD
1
.
Eram todas famílias de área de risco, do morro. Não tinham água em casa, não
tinham banheiro. Era bem precário. E com elas, nessas casas, houve uma melhora.
As crianças vinham sem tomar banho, com piolho, com sarna. Hoje, não temos mais
esses casos. Pelo diagnóstico que foi feito, no geral, a renda familiar era de um
salário e meio, mas temos famílias com valores um pouco acima, e outras com
menos rendimento.
6. Como são registrados os critérios e o processo de seleção e sua
devolutiva à comunidade?
M. - Eles fazem as inscrições, com o preenchimento, aí, eu analiso a ficha, entro em
contato com a família, ela volta para um atendimento, aí, eu faço a entrevista e,
tendo a vaga e ela atendendo aos critérios, dou o parecer favorável e encaminho
para matrícula. Registro, na ficha, os critérios, por exemplo: mora próximo, tem
irmão na escola, foi pedido do Conselho Tutelar. Aí, tem um termo de admissão,
assinado por mim. Aí, com este termo, a secretária está autorizada a fazer a
matrícula, atendendo às exigências de documentação da escola.
Marco – Como são feitas as devolutivas?
M. - As devolutivas são individuais. Esse processo é bem cansativo. Eu tentei
fazer em grupo, ou entregar por escrito, mas as pessoas sempre nos procuram
querendo um retorno, e eu acabo atendendo mesmo. Acho que fica melhor, cansa,
cansa mesmo, porque temos que repetir a mesma coisa, que não é possível, que
mesmo morando próximo, estando nos critérios, devido à demanda não é possível.
1
Banco Interamericano de Desenvolvimento Regional.
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De repente, é uma família nova no bairro. Aí, eu explico que tinha outra, que estava
mais tempo, que, então, a gente priorizou a outra por causa do tempo. Eles
fazem a comparação: Por que chamou a outra? Às vezes, um vizinho foi chamado e
desce todo mundo. De uma família que eu chamo, já vêm dez saber o porquê. Aí,
tem que ter muito cuidado, na hora de chamar alguém. Aí, eu sei que virão mais
pessoas.
V. - Fazer em grupo não dá, não convém, o grupo pode se fortalecer...
M. - ...cada caso é um caso, não para tratar no coletivo e nunca teve nenhum
problema. Eu explico, eles entendem, respeitam bastante, muitos vão para escolas
mais distantes, mas eu coloco que assim que for possível, a gente chama. Aí,
conforme tem transferência, eu recorro à lista de espera e vou chamando.
V. - Foram poucos os casos de pessoas que ficaram exaltadas, porque o
conseguiram a vaga.
M. No final de ano e início de ano, é em função do processo de seleção, a gente
até cansa, é aquela cobrança... fila de gente para atender. A gente procura atender
bem, com calma, explica para a família e eles saem tranqüilos. Às vezes, eles
chegam meio alterados, eu procuro acalmar, nada que uma boa conversa não
resolva. Uma questão importante, que a gente sempre tem feito, todos os anos, é
informar a Secretaria de Educação sobre essa demanda. Isso favoreceu bastante a
construção da nova escola. A gente comunica a secretaria e o Conselho Tutelar
desde 2003. Sempre tive essa relação, de comunicar que a Escola Marista está
lotada, que a comunidade precisa de outra escola. Em 2004, eles construíram a
Escola de Araucária, que desafogou um pouco nossa demanda, que a escola
fica um pouco distante, o pessoal daqui não vai para o Araucária, mas, antes,
atendíamos o pessoal do Araucária.
V. - Da BR (rodovia) para cá, não existia outro colégio, só o nosso.
M. - A gente acaba sendo porta-voz da comunidade, faço o levantamento. Tem essa
questão, que numa época, inclusive, não tinha transporte para criança deficiente.
Solicitamos o transporte para essas crianças. A própria linha de ônibus do bairro,
que tinha poucos horários. Sempre, nessas questões da comunidade, procuro me
envolver e dar uma força. Creio que essa nova escola também é resultado do nosso
empenho com a comunidade, além do ginásio. O ginásio de esportes também foi
outra questão. Não tinha lazer, não tinha esporte no bairro.
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V. - quatro anos, fizemos uma cartinha coletiva, todas as criança, emendamos,
elas fizemos um rolo. O prefeito veio aqui um dia e entregamos a cartinha.
Passaram-se mais dois anos, veio o secretário de Educação, que assumiu a
prefeitura depois, aí, ele prometeu que sairia o ginásio de esportes. Um ano depois,
o ginásio foi inaugurado, fizemos, com a comunidade, um rolo de agradecimento.
Foi bem legal.
7. A Unidade tem mapeado a rede socioassistencial? Como é seu
relacionamento com o conjunto de serviços e unidades que compõe a rede?
M. - Sim, tem a rede mais próxima, que é o posto de saúde, no próprio bairro.
Temos um bom acesso. Temos a creche, no bairro, as igrejas, o centro comunitário.
Temos um bom relacionamento, inclusive, agora, no final do ano, com recurso do
FIA, indicamos o recurso para a creche aqui do bairro. O centro comunitário está
meio desativado, o pessoal é muito devagar, está bem difícil, eles não estão
assumindo. Agora, entrou uma outra diretoria, eles estão com algumas idéias, mas
estão meio parados, ainda. A relação com as outras entidades. Temos a Cidade da
Criança, que é bem próxima, na BR. Ali funciona o Conselho Tutelar, a Secretaria de
Ação Social. É tudo ali. O Programa Sentinela, a jornada ampliada do PETI é ali,
também. E, então, a gente tem muita relação ali, nossos alunos estão ali, na jornada
ampliada do PETI. É uma relação bem tranqüila, de encaminhamento, boa relação.
Marco – Existe alguma reunião sistematizada da rede?
M. - Tem a reunião da Comissão de Erradicação do Trabalho Infantil, da qual eu
faço parte. Ela acontece mensalmente, ela está querendo descentralizar o
atendimento, para atender nos próprios bairros. Estamos discutindo essa questão. A
idéia era fazer essa parceria com o Marista, mas a gente não tem espaço, a escola
está bem cheia, é difícil. Pensamos no Centro Comunitário, nas salas do ginásio de
esportes, mas está tudo ainda em discussão. Lá, na Cidade da Criança, eles tem
uma área muito boa, com piscina, quadra, quadra de tênis, não para tirar eles de
e não oferecer nada, então, a gente está participando dessas reuniões, com os
outros setores, normalmente é quando tem algum caso, Conselho Tutelar,
Sentinela.
V. - Esses programas também nos exigem relatórios bimestrais de freqüência, o
bolsa-família, o PETI.
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M. - Fazemos a mediação com a família e os programas. Damos um recado.
Realizamos grupos. O ano passado, teve um grupo com as estagiárias da Cidade da
Criança, que vieram para o bairro, foi bem legal.
V. - Com a prefeitura, temos uma relação com a Secretaria da Educação. Sempre
participamos das reuniões da rede pública. Recebemos também o repasse da
merenda escolar.
M. - Também alguns projetos, como o Olho no Olho, que é da acuidade visual, com
encaminhamento para o oftalmologista; o Dia Cidadão, projeto de arte e cultura. A
prefeitura sempre nos inclui, nas ações para cidade.
V. Há, também, o projeto Escola do Mar, aulas-passeio, quando eles visitam os
pontos turísticos da Ilha e outros ambientes de São José. É bem informativo. Dentro
desse projeto, existe a colônia de férias para os alunos das comunidades e os
nossos também participam. É um passeio de barco, que leva duas horas para
chegar a uma Ilha e eles trabalham com os alunos. É um trabalho da Secretaria da
Educação do município. Também participamos do Proerd, de prevenção às drogas.
As quartas séries são contempladas.
M. Essa ação, mais a Ação Social, acontece normalmente nos encaminhamentos
que faço. Normalmente, nas quartas, pela manhã, atendo a comunidade e a gente
encaminha os casos para a assistente social da prefeitura.
8. Como está a participação da Unidade nas instituições de controle e
elaboração das políticas públicas no município?
M. - Participo do Conselho Municipal de Assistência Social. Este ano, sou titular,
participo das plenárias mensais e das reuniões das comissões de trabalho. Estou na
comissão de inscrição de projetos. A princípio, foi pensado em me dar a secretaria
executiva, mas houve um acordo entre as entidades eleitas para definir a
presidência e a secretaria executiva. Dedico duas tardes por semana para o CMAS,
mas temos outras demandas, esta semana teremos três dias de formação. É uma
participação importante. A gente falou aqui na Unidade, as pessoas sabem, o
que é o Conselho de Assistência, sabem sobre a minha participação, aproveitamos a
semana de formação e trabalhamos sobre a importância da nossa participação no
conselho e também para eles entenderem porque não estou aqui, algumas vezes.
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9. A Unidade está inscrita em algum conselho municipal? Qual sua
participação? Como a equipe de trabalho definiu quem participaria?
M. - Está inscrita no CMAS.
V. - Definimos que seria a Micheli, por ser assistente social e por ser também
indicação do SAS. Ela, participando, sempre deve socializar com toda a equipe e
isso acontece, essa troca...
M. E, aos pouquinhos, eles estão se inteirando dessas questões, porque, para
mim, fica mais fácil falar de Loas, Suas, questões mais da política social mesmo. E,
então, é importante eu estar trocando com a equipe para eles começarem a
entender melhor essa linguagem, esses termos...
V. - Tanto é que facilitou muito, nesse trabalho de formação, porque está sendo
mais comum essas falas, essas terminologias...
M. - E a gente vai até corrigindo. Diminui o uso de termos mais pejorativos do senso
comum... como família desestruturada, favela, marginalizados, aos poucos vamos
mudando essa linguagem.
10. A Unidade tem convênio/parceria com outras instituições e ou
entidades para o atendimento? Como foram estabelecidos esses processos?
V. - A grande parceria é com a prefeitura, o prédio é da prefeitura, cedido para a
Instituição Marista. A prefeitura também fornece à merenda escolar um profissional
de cozinha e dois professores auxiliares (volantes). Mantém duas linhas
telefônicas, a energia elétrica, água. As demais coisas da escola, são mantidas pela
Instituição Marista.
Marco - O EJA e o Seja são totalmente mantidos pela prefeitura?
V. - São totalmente mantidos pela prefeitura. No total, uns 150 alunos. Nós só
damos o apoio de secretaria e material, além de mantermos uma sala de telecurso
de segundo grau.
Marco – Olhando o aspecto físico da escola, observamos que a escola é muito
organizada, limpa, bem respeitada, não depedração, sujeira, são mais de
1.200 alunos por dia...
M. - Mas é bem trabalhado com esse povo, quando tem algum trabalhinho, por
exemplo, de manhã, se a professora observa que alguém riscou, já teve... pode ver
47
as carteiras, não são riscadas ... Quando eles riscam ou estragam algum trabalho, já
é conversado com todos os períodos, para que todos tenham cuidado.
V. - As próprias zeladoras, avisam: Olha, naquela sala está acontecendo isso... E
então, a gente vai verificar que turma está fazendo e conversamos, explicamos...
Já fizemos umas festas juninas aqui dentro que não dava nem para andar, mas não
mexeram em nada. Nenhum trabalho das salas e paredes foram danificados.
Ninguém, nem o pessoal que não é da escola. Isso nós conseguimos, nos
primeiros anos.
M. Inclusive, as crianças, assim que a gente percebia que vinham meio sujas,
também houve uma melhora.
M. - Tem alguns projetos, mas são isolados, por exemplo o projeto família teve a
parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Com a ONG
Crescer sem Violência, continuamos a parceria, trabalhando com as mulheres a
questão do empoderamento, a questão dos direitos, da emancipação feminina.
Marco - Quantas mulheres estão nesse trabalho?
M. - O ano passado, tinha 30 mulheres. Este ano, o grupo começa quinta-feira, nesta
sala, com o mesmo número de pessoas.
V. - Tem a instrutora, que vem da parceria...
M. - Tem uma educadora, uma psicóloga e uma assistente social. Eu faço essa
mediação com elas. Trabalhamos alguns temas, trazidos por nós e por elas. Os
encontros são semanais, a parceria era até dezembro de 2006, mas as mães
pediram que continuassem. Inclusive ali... são máquinas de costura do grupo para a
customização, e este ano elas querem trabalhar a questão da culinária também,
como possibilidade para geração de renda, talvez saia algum projeto de geração de
renda, além desse que já tem, elas já vendem o que fazem.
Marco – Há outras parcerias, além dessas?
M. - Tivemos com o Instituto Treinar, que é uma ONG, o ano passado, está mais
ligado à formação para o mercado de trabalho. A gente formou grupos, uma média
de uns 30 alunos, mas com orientações, com questões de liderança, projeto de vida,
preparação para o futuro. Como se apresentar na entrevista, preparar o currículo, o
que é uma carteira de trabalho, um contracheque, além disso, tem também a
questão prática de encaminhar, para que eles façam a documentação, tirem a
48
carteira de trabalho e, aí, a gente vê, também, alguns lugares para encaminhar.
Teve um ano, que 30 jovens foram encaminhados para o Aroeira, que é aquele
projeto do Consórcio Social da Juventude. Foi muito importante a inclusão de jovens
que já estavam fora da escola. Foi muito legal.
Marco – Quantos encontros são e qual é o público?
M. - Os encontros foram semanais, durante quatro meses, e o foco são os
adolescentes vulnerabilizados, de 15 a 20 anos, da comunidade. Encaminhamos,
também, para o Pró-menor, que é um local que oferece muita oportunidade de
emprego, é uma ONG que tem cursos profissionalizantes de preparação para o
primeiro emprego. Eles têm informática, outros cursos... a gente faz essa mediação.
Normalmente, são nossos alunos que estão concluindo o ensino fundamental.
Acaba sendo um encaminhamento do Serviço Social. Também encaminhamos para
o Projeto Investir Vale a Pena. É um colégio particular, que oferece algumas vagas,
com gratuidade, para alunos oriundos de escolas públicas, para o ensino médio
noturno. As parcerias não são formalizadas por contrato, as únicas são as da
prefeitura e da universidade.
11. A Unidade desenvolve trabalho com famílias?
M. - Tem os atendimentos, mais individuais. Quando a gente chama as famílias,
para alguma orientação, e também tem o atendimento em grupo, ligado aos projetos,
que tem essa questão mais da mediação. Os educadores repassam situações em
que precisamos chamar a família, então, a gente faz essa mediação com a família.
Às vezes, temos alguns encontros maiores, durante os quais trabalhamos algum
tema, com algum palestrante. O ano passado, trabalhamos mais com temas, nas
oficinas.Conforme eles solicitavam as temáticas, a gente trazia as pessoas.
Trabalhamos a questão da violência, da sexualidade, a questão das drogas. O maior
problema é o horário, já fizemos grupos de manhã e à tarde, com baixa participação,
os grupos da noite têm mais participação. Este ano, precisamos, ainda, estruturar os
temas. Acho que só começaremos em abril.
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12. A equipe de trabalho identifica afinidades entre as orientações
institucionais e a PNAS? Em que aspectos?
M. - Acho que a instituição está bem preocupada e envolvida com a PNAS e a
sistemática dos programas institucionais está bem vinculado com a política de
assistência. É a questão da família, a questão da inclusão social, as participações
nos conselhos, a gente percebe que existe uma preocupação da Província que
atenda a essas questões. Aqui, a gente percebe essas mudanças, ainda mais que
nós somos uma escola. Sempre houve muito essa dificuldade de entender que
somos uma Unidade Social, sempre fomos Colégio Marista de São José, não é nem
escola, é colégio, o próprio termo já... por nós sermos a única, de Santa Catarina
que atendia gratuitamente, sofria toda uma dificuldade dessa compreensão. A partir
da junção da Província, parece que isso foi melhor entendido. A gente que está
tendo um alinhamento, cada vez maior, com a política de assistência.
V. Antes, a preocupação era apenas com o ensino, não tínhamos essa visão do
social e, aí, fomos abrindo cada vez mais, mas com muitas dificuldades, nesse
processo, mas ainda tem um pouco do passado, algumas resistências, que estão
sendo superadas.
M. - Isso aconteceu a partir do momento em que a escola se abriu para a
comunidade. Antes era muito fechada para o interno, muito voltado para as questões
enquanto escola mesmo.
Marco Quando vocês identificam que a escola se abriu para a comunidade,
em que momento?
M. - O Serviço Social já tinha essa abertura, em função da mediação com as famílias
e, também, a partir do momento em que a gente começou a encaminhar as famílias
para os programas PETI, bolsa-família, mas era uma coisa específica do Serviço
Social e não de toda a escola. Eu acredito que com a junção das províncias
mesmo, é que percebi... agora, parece que caiu a ficha, nós somos uma Unidade
Social. Eu acredito que, a partir desse momento, as pessoas começaram a
entender melhor. Até então, a gente só tinha reuniões com os colégios particulares.
V. - As orientações pedagógicas e administrativas que recebíamos eram as dos
colégios particulares.
M. - Eu era a única assistente social, não tinha uma compreensão, a partir das
idas a Curitiba, de ter contatos com as outras Unidades Sociais, a gente passa a ter
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uma identidade mais forte, enquanto Unidade Social, e, aí, o próprio discurso vai
mudando, a gente consegue dizer para as pessoas que somos uma Unidade
Social. A própria equipe assimilou melhor e a gente tem conseguido entender melhor
isso. Mas eu sei que é complicado, pensando em termos de PNAS. A gente sabe
que é um risco, porque a nossa maior visibilidade aqui é enquanto escola de ensino
fundamental, uma escola grande, então a gente tem que garantir projetos sociais,
como o das famílias, parcerias, participação nos conselhos, para que nós tenhamos
garantida uma visibilidade dessa outra questão da política social, enquanto Unidade
Social, enquanto filantropia.
Marco - Quais foram os critérios para envolver as famílias nos programas?
M. - No primeiro momento, foram as mães que estavam sem trabalho. As que não
tinham renda, que precisavam ser trabalhadas, identificadas em meus atendimentos
anteriores. A gente acreditava que, no grupo, essa emancipação poderia se tornar
mais significativa. Elas mesmas também foram chamando outras mulheres. Havia
algumas do Programa Sentinela, vítimas de violência, não é um programa só para as
famílias dos alunos, é um programa aberto para a comunidade. A gente percebe que
elas vão melhorando a auto-estima. A gente percebe a mudança, no grupo. Elas
começam a vir diferentes. É uma que pinta os cabelos, outra que muda a cor de
roupa, até porque esse grupo já tem dois anos.
Marco Agradece a colaboração dos entrevistados e pergunta se alguma
consideração final.
M. - O ano passado, eu tive a preocupação de fazer novas parcerias. Existem
possibilidades, mas a gente não sabe até que ponto é interessante para a Unidade e
para o SAS.
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CENTRO SOCIAL MARISTA (CESOMAR) IRMÃO ACÁCIO
LONDRINA (PR) – 12 DE MARÇO DE 2007
Observações gerais
A entrevista foi agendada, previamente, com a equipe de trabalho.
Iniciamos a entrevista com parte da equipe, pois a assessora pedagógica foi
aprovada em concurso público, desvinculando-se da Unidade.
Realizamos a entrevista, em grupo, em uma sala de reunião confortável e silenciosa.
Como recurso de registro, utilizamos a gravação em áudio.
1. Nome dos membros da equipe de trabalho; função; formação
acadêmica; tempo de formação; tempo de serviço na Instituição; na função e
na unidade.
Paulo Sergio Aragão Assistente social, trabalho como assistente social dois
anos, desde que me formei. Na Instituição, estou há nove meses.
Irmão Valmir Nogueira da Silva Sou diretor da Unidade. Estou no segundo ano
desse cargo, mas estou, nesta Unidade, três anos. Sou formado em Ciências
Religiosas e estou cursando Teologia e Administração.
Silvia Helena Matias Sou Silvia, estou na função de coordenação geral. Sou
formada em Ciências Sociais. Na Instituição, estou desde janeiro de 2007, mas, no
terceiro setor, atuo há oito anos.
2. Como a equipe organiza sua dinâmica de trabalho?
Ir. V. Temos as reuniões de trabalho semanais, onde vemos as prioridades da
semana. Sempre que possível, sentamos, todas as semanas, vemos as prioridades
e a divisão das funções. O que cabe ao Serviço Social, à coordenação geral ou ao
assessor pedagógico. A gente se divide mais ou menos assim. No início do ano,
fizemos o estudo das atribuições por cargos e funções.
P. – Fica assim, eu, responsável pelas inscrições, pela inserção do adolescente na
Unidade. Represento a Unidade como participante nas reuniões do Conselho
Municipal de Assistência Social. Também represento a Unidade dentro do fórum de
Ensino Profissionalizante e acompanho algumas reuniões do CMDCA. Faço o
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processo de trabalho com famílias. Tenho, também, o acompanhamento do grupo de
economia solidária, participo das reuniões em rede. Tudo que diz respeito a essas
situações seria exclusivo meu.
Marco Essas atividades, vocês discutem antes, com a equipe de trabalho,
vocês socializam? Como essa reunião de equipe de trabalho auxilia essas
diferentes demandas?
P. A gente faz sempre um retorno de onde a gente participa, de como está sendo,
na reunião da equipe de trabalho, falo do que aconteceu e do que está por vir.
Fazemos as reuniões, todas as semanas, com raras exceções. E então, a gente
discute o que foi feito, onde cada um está participando e algumas coisas aparecem,
assim, muito rápido, não para você levar para a reunião, discutir um
posicionamento, para depois voltar, mas sempre se dá um retorno.
S. A partir dessas reuniões semanais, nós fazemos o levantamento das ações.
Essas ações são divididas, na equipe, de acordo com suas funções e suas
responsabilidades e, aí, eu, especificamente na função de coordenação geral, faço o
acompanhamento. que abrange um pouco mais, vai um pouco além, desde a
observação do espaço físico, acompanhamento dos adolescentes, as ocorrências.
Tem uma relação estreita, também, com o apoio administrativo e quando têm
reuniões externas, eu participo, agora, no início, sempre acompanhada pelo Paulo
ou Irmão. Tudo é discutido, então, é a partir das reuniões semanais que se
estabelecem as linhas da semana, o que é prioridade e o que deve ser feito.
3. Quais são os critérios de ingresso da criança e/ou adolescente no serviço?
P. Essa questão é mais especificamente minha. passamos por três processos.
No início, a gente tinha uma lista de espera, final de maio, do ano passado, que foi
obedecida por ordem de chegada. A gente chamava, fazia a apresentação da
Instituição, procurava alguns pontos de vulnerabilidade, família monoparental,
situação de moradia irregular, problemas com alcoolismo, em casa, ou outro tipo de
drogas, agressão, situação de rua. Se fazia a entrevista, tentando trazer, para
dentro, o público-alvo da assistência. Depois, a lista de espera foi organizada da
seguinte maneira: a gente fazia uma ficha cadastro e fazia essa entrevista com ele.
Nem sempre era possível fazer a entrevista, mas, pelo menos, tínhamos a ficha
cadastro preenchida pela recepcionista, com nome, composição familiar, situação de
53
renda, se está em algum programa de assistência, moradia, todas essas questões.
E, aí, isso acontecia, e não estou todos os dias na Unidade e, depois disso, criou o
fluxo, e eu tive que orientar os dias que eu estaria atendendo. Tínhamos um índice
de vulnerabilidade; cheguei a criar uma tabelinha de índice de vulnerabilidade. Aí,
criamos uma lista de espera de uns 129, no ano passado. No final de 2006, houve
um problema com a rematrícula. Apenas 220, dos 325 educandos, se
rematricularam, e tivemos também um aumento de nossa capacidade de
atendimento, fomos para 425. Aí, possibilitou chamar todos. Como fizemos isso? De
3 ao dia 15 de janeiro, chamamos todos os inscritos e entraram todos, sendo
entrevistados ou não, criou uma defasagem em relação à entrevista. Aí, também
estávamos iniciando o processo novo de inscrição, que é a ficha do Sistema de
Informação das Unidades Sociais (SIUS), que é uma ficha mais completa, que pede
documentação. Nesse meio tempo, a lista de espera veio crescendo, sem a ficha de
cadastro, devido à dinâmica de trabalho, acabaram passando alguns educandos,
sem análise dos critérios de ingresso. Uma coisa que me deixou muito intrigado, foi
uma formação que tivemos sobre a universalização do acesso. Hoje, estamos
fazendo a ficha cadastro, se faz a entrevista e, quando não se consegue fazer a
entrevista, vai-se na casa para levantar o histórico do educando. Os critérios são:
vulnerabilidade social, família, renda, vínculos familiares frágeis. Tentamos sempre
identificar as vulnerabilidades.
4. Os critérios de ingresso são discutidos na equipe de trabalho?
Ir. V. O ano passado, trabalhamos os critérios, na equipe de trabalho, mas não
envolvemos os educadores. O Paulo trouxe uma tabelinha, trouxe para a equipe de
trabalho. A gente discutiu, mas este ano faltou, ainda não fizemos essa discussão.
No dia-a-dia, acabamos percebendo essa dinâmica.
P. Eu acho que a dinâmica que se tornou... a dinâmica da Instituição fez com que
isso não fosse debatido mesmo, fez com que o processo talvez se tornasse falho,
admito isso. Talvez, grande parte, culpa minha mesmo, mas não foi debatido. A
equipe não tem ciência, ela tem ciência do público-alvo que está dentro da
Instituição. Isso é debatido todo o tempo, é feita a formação, é feito o estudo de
caso, é dada a devolutiva para os educadores, eles sabem do público que existe
aqui, mas os critérios de inserção não. Sabem que existem vulnerabilidades, sabem
que aqui são para pessoas com vulnerabilidade, público da assistência.
54
5. Os critérios de ingresso respondem às orientações institucionais? E estão
em consonância com a PNAS? Em que aspectos?
Ir. V. Acho que sim, estamos trabalhando o público da assistência, que é o publico
do Serviço Social da Província. Trabalhar, com essas pessoas, em vulnerabilidade.
De uma forma ou de outra, a gente atende o público que realmente necessita, que
está dentro desses parâmetros da assistência social. Agora, temos uma nova
demanda. Desde o ano passado, começamos a trabalhar com essa demanda de
atender pessoas com deficiência, essa questão da inclusão. Temos, atualmente, três
síndromes de Down.
P. Uma coisa que não falamos, também, sobre os critérios de inserção, é que
damos prioridade aos encaminhamentos da rede, Conselho tutelar, CRAS. Nessa
perspectiva, recebemos orientação, da Secretaria de Assistência, de que
deveríamos ter 25% das nossas metas com o pessoal do PETI, que eles consideram
de alta vulnerabilidade, então a gente recebeu. Aí... hoje, temos mais de 30 casos
do PETI. Sempre é tentado identificar a vulnerabilidade. Tenta-se fazer, hoje, um
histórico do que é esse educando, ou, então, através de ocorrências que chegam,
que apresentam algum problema, alguma dificuldade na oficina, se vai e resgata não
o atendimento momentâneo, mas se resgata um pouco do histórico. São
educandos que, às vezes, estão três anos. Tenta se resgatar isso, os critérios,
eu acredito que estão dentro da PNAS, porque a política não define renda, mas, sim,
situações de vulnerabilidade e, para isso, a gente sempre tenta identificar. Não
um corte de renda, mas, sim, as características da família. A maioria que chega aqui,
são ou encaminhada pela rede, ou vem livremente, das regiões do entorno, das
ocupações irregulares. Fazer um diagnóstico, assim, hoje, não pelo que eu vi de
todas as fichas que eu analiso, não existem pessoas fora de critério. Atualmente,
temos 30 vagas e uma demanda reprimida de 120, perdemos isso de nosso
controle, então precisamos definir estratégias. Vamos mudar os critérios? Temos
que fazer 120 visitas? Como a gente vai fazer? Uma coisa que me deixou muito
angustiado foi quando fiz a tabelinha de vulnerabilidade. Que profissional eu estava
sendo? Um profissional seletivo, que pontuava o que era vulnerabilidade, sem
considerar o contexto. E então, demarcava alguns pontos para alcoolismo em casa,
renda... que é o que faz parte do monitoramento e avaliação do Município de
Londrina, então, é uma coisa muito fechada para benefícios de extrema carência.
55
Para alguns programas, em Londrina, é utilizada essa metodologia, por exemplo:
para o Programa de Renda Mínima, como o Bolsa Escola Municipal, então ele define
que, se a pessoa atinge até 160 pontos, ela é considerada para o benefício. Dali
para cima, vem os critérios de prioridade. Situação de moradia irregular – 50 pontos,
renda abaixo de ¼ de salário mínimo 30, família com cinco membros, sendo que
quatro são crianças, e vem pontuando, numa escalinha ali, colocando o que é
vulnerabilidade e o que não é vulnerabilidade. Eu cheguei a fazer isso, e depois me
senti mal. Acredito que ultrapassa isso. Me lembro muito bem daquela segunda
formação que o SAS deu, sobre o processo ético do Serviço Social, (com a Ilda).
Olha, não é ético, vocês selecionarem pessoas, o Serviço Social visa à
universalidade e a universalidade deve ser atingida. Me angustia, porque, dentro
daquela lista dos 120, pode ter gente que está com extrema carência, com
problemas de drogas, ou outros. Isso me um nó, tenho que carregar um peso,
mas está dentro dos critérios. O Município de Londrina faz a tabela de
vulnerabilidade, não para os benefícios emergenciais, cesta básica... mas, para os
demais, utiliza o critério de pontuação. E tem o sistema de monitoramento também,
ele define o que é vulnerabilidade alta, média e baixa, que também é através de
pontuação e está em processo de elaboração.
S. Queria complementar, que a demanda reprimida, em todos os lugares, é
extremamente alta, então, os critérios, às vezes, são questionáveis, mas eu acredito
que estão em consonância com a PNAS. A gente está favorecendo a justiça social.
P. O que eu tenho, é a viabilidade de o menino vir também, de coisa que é de
estrema vulnerabilidade, a mãe quer colocar, mas o menino não quer vir, então é
complicado, trabalhar num processo de sedução, ele começa a faltar, aí, você vai
atrás, busca, isso nós fizemos o ano passado, para tentar diminuir a evasão, e
reduzimos bastante.
6. Como são registrados os critérios e o processo de seleção e sua devolutiva
à comunidade?
P. O ano passado, zeramos a nossa lista de espera, chamando por ordem de
inscrição. Deixamos bem claro que, depois da lista de espera, seria a
vulnerabilidade. Significava que, não seria somente a ordem de chegada, mas os
critérios de vulnerabilidade. Isso ficou bem claro para as pessoas. Olha, você pode
ter deixado seu nome aqui e chegar uma outra pessoa depois de você e ser
56
chamada primeiro que você. Isso é claro, para você? Atualmente, é feito por ordem
de chegada, e se faz a visita na casa, ou a entrevista aqui, para se identificar a
vulnerabilidade. Eu explico para eles o que é o Centro Social, o público-alvo que a
gente tem e vou identificando situações de vulnerabilidade. Peço para contar um
pouco sobre a família e vou identificando, a renda, a moradia, como a família está
organizada, problemas com agressão, drogas, entre outros dados. Na realidade, nós
tínhamos dois processos. Primeiro, foi assim e era explicado, no momento da
entrevista. Hoje, existe uma lista de espera e é por ordem de chegada, mas leva em
consideração as situações de vulnerabilidade. Eu vejo que isso não é tão justo,
porque chega uma pessoa e me coloca a ficha e eu só vou descobrir a situação dela
quando estiver fazendo a matrícula. Aí, eu identifico, eu vejo que não tem situação
de vulnerabilidade, eu explico o publico que atendemos, e informo que temos que
dar prioridades para aquilo, aquele e aquele outro. Se eu não identifico as
vulnerabilidades, eu não vou fazer a matrícula, mas, eu identificando, eu vou fazer a
matrícula. Ela é por ordem de chegada, porque não é feito um comparativo entre as
fichas e é que está o nó. Eu acho que deveria ser feito. Deveria e não deveria.
Fico num dilema. Deveria fazer um diagnóstico de todas as fichas para análise e
esse processo deveria ser contínuo.
Marco Com o SIUS, essa situação muda. Você tem como puxar as fichas, a
partir de um filtro de indicadores que você poderá indicar (renda, local,
escolaridade, tipo de moradia...)?
P. Hoje, não temos muito claros os critérios para entrar na Unidade. Temos claras
as vulnerabilidades.
Marco – Vocês registram os critérios de seleção, na matrícula?
P. Faço um relato do caso na entrevista e dou o parecer favorável ou não à
matrícula, mas são raríssimos os casos de indeferimento.
7. A Unidade tem mapeado a rede socioassistencial? Como é seu
relacionamento com o conjunto de serviços e unidades que compõem a rede?
P. Trabalhamos em rede da seguinte maneira: a gente tem uma reunião da rede,
que é puxada pelo CRAS. O CRAS faz uma reunião mensal sobre a rede de
serviços.
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Marco – O CRAS, aqui, está regionalizado?
P. – Sim, nós estamos na região Norte B, embora nós também atendamos a
demanda da região Norte A, por não ter esse serviço lá, por ser uma região de alta
vulnerabilidade. Existe uma rede de serviços. Eu tenho a rede mapeada do
município, aqueles que estão legalmente instituídos, mas existem outros serviços
que não estão legalmente instituídos e que participam dessa reunião de rede aqui do
CRAS. Aqui, o CRAS também está em momento de elaboração dessa rede, mas
está sendo feito um trabalho em rede, sim. A relação da unidade com a rede é muito
boa, a gente prioriza os atendimentos em rede. É uma continuidade dos serviços.
Eles também trabalham muito com o apoio, temos aqui, na nossa área, três Viva
Vidas, que também são unidades de apoio socioeducativo, mas para crianças de 7 a
12 anos. São bairros de extrema vulnerabilidade. Eu sempre atendo o Novo Amparo,
é um bairro extremamente violento. Existem poucos serviços ali, poucos não, eu
acho que até existem muitos, pelo tamanho do bairro, mas não dão conta. Há
grandes problemas com o tráfico de drogas, um bairro isolado regionalmente;
atendemos as várias instituições que compõem a rede, priorizo os
encaminhamentos. Uma orientação da Secretaria foi atender os casos do PETI.
Priorizamos os encaminhamentos da secretaria e atendemos todos os casos do
PETI que chegaram na Unidade.
Marco – Quantos casos do PETI, atendem hoje?
P. – Da região norte B, temos 33 atendimentos. Do Norte A, ainda não conseguimos
mapear. Eu acredito que ultrapassa 40 atendimentos. O PETI, aqui em Londrina,
ouve uma falha muito grande, o PETI nosso foi aumentado sem considerar sua
demanda. Tivemos 1.900 casos de PETI, para Londrina, o Ministério mandou para a
gente. E então, tem muitos meninos que estão no PETI, mas que não são... por
conta do trabalho infantil. Foi uma coisa que aconteceu, ou foi feito um diagnóstico
errado, que passou. Foi um número inadequado, para uma cidade com 400 mil
habitantes. O repasse do PETI, para a Unidade, é feito através de alimentos,
material para oficinas, não podem ser equipamentos.
P. Encontramos demandas aqui, a gente faz a discussão com o CRAS, falamos
que os critérios deles, às vezes, não condizem. Tenho vontade de tirar do bolso e os
caras da assistência não estão conseguindo ver isso, e também escassez dos
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recursos deles; atendem mais de 40 bairros, aqui dessa região. A região Norte
tem este estigma mesmo, com exceção de uns poucos bairros, ela concentra uma
população pobre; é uma parte do município que é menosprezada, que carrega
preconceitos.
S. Até historicamente, eles dizem que tem uma vida própria, que vivem na
periferia. Dizem que conseguem sobreviver longe da área central da cidade. Essas
falas aparecem de forma bem acentuada, inclusive, apresenta uma infra-estrutura
própria, é como se fosse uma outra cidade, um distrito de Londrina.
8. Como está a participação da Unidade nas instituições de controle e
elaboração das políticas públicas, no município?
Ir. V. Eu participo do CMDCA, sou suplente, participaremos na próxima eleição,
mas passaremos essa participação para a Silvia. O Paulo participa do CMAS, mas
também não tem cadeira, e também procuramos participar dos congressos e
conferências municipais, fóruns educacionais. Acho que está bem representada e
somos bastante participativos.
P. – Tenho participado de várias reuniões, inclusive, amanhã, tem a reunião da LDO,
mas raramente a gente falta em uma reunião, em caso que não tem como. O
fórum profissional, a gente está fazendo parte. Isso demandou, até, um certo debate,
dentro da equipe, sobre a representatividade. Estou participando da comissão de
construção do regimento interno do fórum. É um fórum de articulação, ele não é
deliberativo. Minha participação é temporária. Chegando a pedagoga, eu sairei.
Definimos que ela deverá acompanhar essa discussão. Eu, o CMAS, e, a Silvia, o
CMDCA.
Ir. V. – Pretendemos, este ano, participar do Conselho da Juventude.
Marco – Existe a participação de algum educador, nesses espaços?
Ir. V. Não, atualmente temos a participação da equipe de trabalho.
Pretendemos envolver o agente de pastoral, no Conselho da Juventude. A equipe é
reduzida, trabalhamos no limite, não temos como substituir o educador para
participar das reuniões externas.
9. A Unidade está inscrita em algum conselho Municipal? Qual sua
participação? Como a equipe de trabalho definiu quem participaria?
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P. Está inscrita nos dois conselhos, CMAS e CMDCA,. No CMDCA, a inscrição é
por serviços. Temos o apoio socioeducativo inscrito e estamos em processo de
inscrição do serviço de aprendizagem profissional. Atualmente, temos um problema
que é o número de técnicos exigido por serviço, esse é um ponto de discordância
com a Política Municipal de Assistência. O CMAS deliberou que, para cada 120
educandos, as unidades devem ter um técnico, (assistente social, ou pedagogo, ou
psicólogo contratado) sem contar a coordenação.
Ir. V. Inclusive, essa questão dos técnicos era para vigorar desde o ano passado.
A gente questiona a própria questão da rede. A gente sabe que a rede não atende
essa deliberação e que não tem condições para isso; nem as outras instituições têm
como atender essa recomendação.
P. O ano passado, participamos também das reuniões do Conselho Municipal de
Educação, por conta da Comissão do Profissionalizante, que estava buscando
normativas, e a assessora pedagógica estava participando.
Marco – Como vocês discutiram os critérios para indicar as representações?
Ir. V. Eu não concordei muito com a proposta de participar do CMDCA. Eu acho
até interessante que o diretor participe, mas, como a gente não tinha uma vivência
de participação nesses conselhos, até hoje eu não entendo muita coisa que
acontece ali. No caso do CMDCA, acho que deveria ser uma pessoa que pudesse
contribuir mais e, , eu não sei o que aconteceu; a Jimena e o Paulo se reuniram e
sugeriram essa divisão. Eu avalio que é importante a Unidade continuar com
representação, mas penso que a Silvia tem mais condições de contribuir do que eu.
S. Essa sensação do irmão é por causa da desorganização das reuniões do
CMDCA. Essa gestão atual está muito desorganizada...
P. O CMAS está mais organizado, ele chega a ser algo mais instituído, uma coisa
que não tem tantas discussões políticas. Isso é um problema. Ali não é um espaço
de discussão técnica, mas, sim, de discussão política, embasada pelo técnico, mas
política, e, na maioria das vezes, são discussões que legitimam as ações da
prefeitura e você não vê resistências e questionamentos.
Ir. V. A princípio, quase todas as reuniões não começam no horário, a dinâmica da
reunião não é clara, não sei o que acontece ali... essas reuniões são cansativas, por
falta de objetividade.
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10. A Unidade tem convênio/parceria com outras instituições e/ou entidades
para o atendimento? Como foram estabelecidos esses processos?
Ir. V. Essa relação está bem positiva. Temos a parceria com a prefeitura, com
repasse de R$10.800,00/mês, pelo atendimento do apoio socioeducativo, referente a
300 metas. Temos a parceria com os governos federal e municipal, referente ao
atendimento do Agente Jovem, 25 metas. Temos também parceria com as
universidades. Com a Universidade Estadual de Londrina, temos a parceria com as
Incubadoras de Projetos, inclusive, estão para chegar as máquinas, para realização
das oficinas de corte e costura. Com a Universidade Norte do Paraná (Unopar),
recebemos os estagiários e temos também um projeto com uma professora que
desenvolve o trabalho de Moda e Designer Social. Agora, temos, com a Secretaria
Municipal de Esportes, aulas de Judô, com os instrutores da Secretaria, esse projeto
é aberto para a comunidade. O CRAS, cedemos o espaço para reuniões, e, agora,
estamos fechando uma parceria com o Instituto C&A, serão R$ 58 mil para
implantação do Projeto Mediação de Leitura. Temos também a parceria com o
SENAI, no curso de Auxiliar Administrativo de produção (um ano e meio) para 32
adolescentes; a proposta do SENAI é colocar 30% desses adolescentes no mercado
de trabalho.
Marco – Vocês buscaram essas parcerias?
Ir. V. A principal parceria é com a COHAB, que é a cessão do prédio por
comodato. Algumas parcerias, nós que procuramos, com as universidades, com o
Instituto C&A; outras ocorreram pelo próprio histórico e característica da Instituição.
11. A Unidade desenvolve trabalho com famílias?
Ir. V. O ano passado, iniciamos esse trabalho com famílias; na realidade, com a
Luciana (assistente social anterior ao Paulo). Demos continuidade a este trabalho,
tanto com as famílias do Apoio Socioeducativo, como com a Aprendizagem
Profissional. O projeto em parceria com a C&A também está voltado às famílias.
P. Desenvolvemos um trabalho, no final do ano, que envolveu 25 famílias. A
intencionalidade era trabalhar as famílias e os adolescentes juntos, no resgate das
relações. Aproveitamos, a época de final de ano, para trabalharmos com oficinas de
biscuit e lembranças, para troca de presentes, não na perspectiva de geração de
renda. Pode se tornar geração de renda, de acordo com o aprimoramento deles,
61
mas a idéia principal não era essa, a idéia era trabalhar o tema: a família na época
de Natal. Trabalhamos, nessas oficinas, a concepção de família; o papel da família,
a partir deles. A proposta de continuidade, para este ano, é trabalhar os temas
indicados por eles, mas sempre com a elaboração de uma atividade junto, que é
também chamar eles não só para debater os temas, mas também para fazer alguma
coisa que os motive. E também prever alguns espaços para discutir os aspectos da
economia solidária. Nós levamos algumas famílias, para a Feira de Economia
Solidária estadual. Foram três mães, apenas, mas foi aberto o convite,
disponibilizado o ônibus, junto com os educandos que se apresentaram na Feira.
Ir. V. Foi uma pena que o trabalho da Incubadora Tecnológica de Economia
Solidária (ITES), parceria com a Universidade Estadual de Londrina (UEL)...
P. Nosso papel, nessa parceria, é na seleção das pessoas, cessão de espaço e
um acompanhamento, não tão próximo, mas estratégico. A Incubadora, trabalha
com o acompanhamento do grupo; com a formação dessas pessoas, para depois
manter. A proposta é que a Unidade mantenha o núcleo aqui, para que, depois, as
pessoas venham aqui utilizar as máquinas, por um determinado período. Utilizar as
máquinas e criar um grupo que possa gerar sua própria renda.
12. A equipe de trabalho identifica afinidades entre as orientações
institucionais e a PNAS? Em que aspectos?
P. Sim, identifico. Vejo como muito legal, o fato de a Unidade tirar o segmento
adolescente, trabalhar com a família. Todas as questões estão relacionadas às
famílias e isso a PNAS traz bem forte. A questão da vulnerabilidade, até mesmo
para inserção, mas a orientação é dada pela vulnerabilidade e não pelo corte de
renda, que a PN também coloca. Sob a territorialidade, sob a perspectiva de rede,
da continuidade dos serviços, existe algo que deve ser feito, neste trabalho de rede,
o respeito aos conselhos. Vejo que as orientações da Instituição, do SAS, tem tudo a
ver com a PNAS, ainda que, talvez, as Unidades não consigam acompanhar o
mesmo ritmo, mas as orientações têm a ver, sim.
Marco Agradece a colaboração dos entrevistados e pergunta se alguma
consideração final.
P. A implementação da PNAS, em Londrina, caminha com muitas dificuldades..O
CRAS conta com equipes pequenas; o da região conta com apenas quatro técnicos,
62
ou melhor, uma coordenação e três técnicos. Não vai a campo, não faz grupos. Este
CRAS é para uma população de mais de 50 mil habitantes.
63
CENTRO EDUCACIONAL E SOCIAL MARISTA (CESMAR)
DOURADOS (MS) – 10 DE ABRIL DE 2007
Observações gerais
A entrevista foi agendada, previamente, com a equipe de trabalho.
Realizamos o encontro, em grupo, em uma sala de reunião confortável e silenciosa.
Como recurso de registro, utilizamos a gravação em áudio.
1. Nome dos membros da equipe de trabalho; função; formação
acadêmica; tempo de formação; tempo de serviço na Instituição; na função e
na unidade.
Irmão Valdir Gugiel O ano passado, terminei o curso de Serviço Social, além de
ter cursado dois anos de ciências religiosas. Estou, na Instituição, 11 anos, mas,
diretamente em Unidade Social, de cinco anos para cá. Como diretor desta Unidade,
estou há um ano.
Ruth Alves Gomes Sou assistente social, formada desde 2005. Estou terminando
pós-graduação em Famílias e Políticas Públicas. Estou, na Unidade, há quatro
meses.
Elaine Andréa Landoviski Estou na Unidade Marista há 11 meses, atuando como
assessora pedagógica. Sou formada em pedagogia desde 1998. Fiz pós-graduação
em RH.
2. Como a equipe organiza sua dinâmica de trabalho?
E. Através de reuniões semanais, sempre todas as quintas-feiras, no período da
manhã, há prioridade para a equipe, para discutir ações que estavam previstas no
Plano de Ação. Prevendo coisas que ocorrem durante a semana, discutindo o que
deu e o que não deu tão certo. Com a chegada da obra, surgiram muitas coisas a
serem discutidas. Qualquer decisão, seja no serviço social, administrativo ou
pedagógico, seja consulta de educando, família ou educador, sempre passa pela
equipe de trabalho, para a tomada de decisão em conjunto.
R. Trabalhamos as questões anteriormente planejadas e, as demandas
emergentes, são dadas por nosso público-alvo, pelo educando, suas famílias e
64
comunidade. Então, as reuniões também têm esse caráter de estar além do
planejamento. Esse planejamento é flexível, para atender às questões que surgem
no dia-a-dia, que precisam ser ouvidas e resolvidas.
Ir. V. O enriquecedor do nosso trabalho é, também, o contato externo que se dá.
Pela formação acadêmica que tive, deu bastante acesso a essa questão da
assistência social, então, tem algumas situações que a gente traz para a equipe de
trabalho ou discute e incrementa, e potencializa o Cesmar, por esta visibilidade e por
esses espaços que a gente perpassa. Em muitos momentos, a gente é convidado a
participar. Percebe-se que a gente tem uma abertura e, a partir disso, a gente se
organiza e consegue avançar as reflexões e discussões para ampliar o olhar, não
somente interno mais voltado para a sociedade. Esse processo é bastante
democrático. Procuramos, na equipe, a socialização dessas experiências.
3. Quais são os critérios de ingresso da criança e/ou adolescente no serviço?
R. Na verdade, nós temos um histórico de atendimentos, e, nesse histórico, os
educandos, que foram inseridos na Unidade, eles fizeram um cadastro, por chegada.
Neste momento, a equipe da Unidade está reavaliando este histórico e estudando os
critérios que vão ser implantados agora. Estamos fazendo dentro do processo de
cadastro, seleção e matrícula, mas estamos construindo os critérios de acordo com
a realidade que as famílias estão apresentando, neste momento, para, até o final do
mês de maio, termos os critérios prontos para ter a inserção das novas turmas.
Marco As novas turmas terão início só depois da construção?
R . – Sim, só no segundo semestre.
Marco - Como está, este processo de discussão, na equipe?
Ir. V. Sempre está dentro da pauta, está mais direcionado para a Ruth. A Elaine
também está participando do processo. Sempre um repasse do processo, nas
reuniões; informes de como está este processo, o que está avançando, o que está
sendo feito, então, é bastante socializado. um trabalho anterior a esse ingresso,
as divulgações que foram feitas na rádio, nas igrejas, nas escolas.
Marco – Vocês têm muitos inscritos, para o próximo semestre?
65
R. Temos 158 cadastrados, para cem vagas. As inscrições iniciaram em 10 de
janeiro. Encerramos na última sexta feira de março. No primeiro momento, que era
o processo mais forte de cadastros, as famílias vieram e teve todo o processo de
rematrícula. Também houve uma participação maior dos educadores, da assessora
pedagógica, neste processo. No segundo momento, quando os cadastros foram
feitos, as sextas-feiras, o Serviço Social ficou voltado para esta questão, para o
momento de escuta dessas famílias.
Ir. V. Nesse universo, procura-se ter um espaço reservado para ter um olhar, do
assistente social, de aprofundamento.
4. Os critérios de ingresso são discutidos na equipe de trabalho?
Ir. V. Na realidade, está em processo de construção, e acho que é preciso, porque
esse olhar, que cada profissional tem, eu, enquanto Irmão diretor, tenho um olhar; a
assessora pedagógica, tem um olhar; o Serviço Social, tem outro olhar. Tudo isso
incrementa e pode ter olhares diferentes e isso enriquece; por isso, essa
socialização.
E. O pedagógico, nesse momento, olha a faixa etária, também, para formação de
turmas, para não fazer uma mistura muito grande de faixa etária e a gente não
conseguir atingir o desenvolvimento de aprendizagem de formação humana. As
idades tem que ser aproximadas, pelo menos três idades aproximadas. Com quatro
idades diferentes, o processo dificilmente vai atingir o objetivo, então, esse contato é
constante. Independentemente se houve uma mudança de um educando, sempre
esse contato com o Serviço Social, para ver qual a gente vai inserir, para
acompanhar o ritmo da turma, e de que forma vamos trabalhar o que esse educando
não viu, nesse meio tempo, para ele conseguir acompanhar o processo; sempre ter
esse cuidado.
5. Os critérios de ingresso respondem às orientações institucionais? E estão
em consonância com a PNAS? Em que aspectos?
R. Na verdade, entendemos que os indicadores institucionais são claros; todas as
orientações que recebemos e das experiências que pudemos observar, também; a
opção pelas crianças, adolescentes e jovens e, dentro de todo o histórico marista,
da opção pelos mais empobrecidos e pelos jovens. E então, todas as ações que
66
desenvolvemos, a partir da intenção de ir ao encontro destes, contemplam os
objetivos institucionais. O cuidado de trabalhar as necessidades e não os
necessitados e as vulnerabilidades que as famílias trazem. Tudo o que a instituição
nos aponta, de partir da realidade dessas famílias, que vêm fazer os cadastros; da
importância da comunidade; essa dinâmica, que precisamos respeitar, do local em
que a unidade es inserida. Todas essas questões vão ser refletidas,
posteriormente, nos critérios de seleção e, aí, nos educandos, que vamos ter. Dentro
desta lógica, elas estão contempladas na PNAS, porque os critérios vão refletir
também a questão da família, a questão do território, da localidade, da
vulnerabilidade, do olhar além da renda; então, nós acreditamos que os critérios
estarão, quando prontos, nunca totalmente pronto, mas, quando chegarmos a um
consenso, eles contemplarão essa perspectiva tanto da instituição quanto da PNAS.
E. Em consonância com tudo o que a Ruth colocou sobre os critérios, a gente
utiliza muito o instrumental institucional, que foi encaminhado o ano passado para
construção do Plano de Ação das Unidades. Nós temos feito estudos constantes, em
cima do plano de ação, para não esquecermos também das normas técnicas que
temos que seguir. Eu acho que a técnica e a prática têm que caminhar juntas e não
em paralelo. E então, a gente tem esse olhar. Sempre está fazendo estudos desses
instrumentais, em especial. Também a Missão Educativa Marista é o que nos
fortalece, nesse estudo.
Ir. V. Eu acredito, também, que estamos dando passos interessantes de
aproximação dos usuários que realmente precisam desse atendimento
socioeducativo. Até então, assumíamos um patamar de clientela de crianças e
adolescentes. Hoje, você percebe que, realmente, tem situações que estão
aprofundando e que são esses os usuários que precisam de atendimento. Outro
ponto, é essa relação do setor de Assistência Social, e nós estamos ligados a ele, a
essa amplitude e essa discussão que tem, em nível nacional, nas várias esferas.
Acredito que uma caminhada, uma ligação marista com a PNAS; dessa ligação,
se trabalha e vai se dando continuidade, com toques e com jeito de caminhar
marista, mas tem essa ligação.
R. Um ponto forte deste alinhamento é a importância que se para o sujeito,
para o educando, para a família, que é, o tempo todo, discutida; do processo de
empoderamento de autonomia desses sujeitos, também, que nós trabalhamos
dentro da instituição e a PNAS também defende. Por isso, eu acredito muito no
67
alinhamento, nesse momento, no processo de que o outro é educando; não é aquele
que o sabe nada e que nós vamos ensinar tudo a ele. É um processo que nós
entendemos que está de acordo com a PNAS.
6. Como são registrados os critérios e o processo de seleção e sua devolutiva
à comunidade?
E. Da grande maioria, nós não acompanhamos o processo. São educandos que
iniciaram em 2005. São poucos, entraram o ano passado. Nós temos um grande
número de evasão, tanto que terminamos o ano de 2006 com 81 educandos. Não
atingimos a meta de 100. Mas, nesse meio tempo, nós tivemos mais de 40
desistentes, educandos que entraram e saíram. A grande saída também foi pela
faixa etária. Quem completava 13 anos, sai, justifica também a evasão.
Marco – O atendimento desta unidade é para qual faixa etária ?
E. O ano passado, era de 9 a 12, em 2006. Este primeiro semestre, estamos
atendendo de 8 a 15. Para o segundo semestre, vamos iniciar com o atendimento de
6 a 16 anos. O que a gente observa, pelos cadastros que existiam, que não
critérios, bastava ter vontade de estar no projeto para ser inserido. Por isso, que a
gente vê uma grande diferenciação de renda.
Marco – Vocês têm, nas fichas anteriores, demanda reprimida?
R. Não, na realidade, era uma porta aberta, Quem procurava, era atendido, não
tinha lista de espera.
Ir. V. Não tínhamos técnicos capacitados para; tínhamos dois educadores e um
Irmão. Estamos no processo de estruturação da Unidade.
E. Nesse meio tempo, houve mudanças, um educador permaneceu e uma nova
educadora foi contratada. A de jogos cooperativos. As oficinas não eram divididas
em núcleo específico e comum e ainda não temos essa possibilidade, pela falta de
espaço, pelo número de demanda. Então, eles trabalhavam três temáticas em uma
única oficina, vamos supor, Artes (visual/cênicas/plástica), expressão corporal,
cultura em movimento. O trabalho era muito confuso. Com as famílias, procuramos
apresentar, através de registros fotográficos e com falas, com linguagem acessível,
o que era, o que está sendo e o que queremos, para o futuro. No próximo sábado,
será a primeira reunião do ano.
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7. A Unidade tem mapeado a rede socioassistencial? Como é seu
relacionamento com o conjunto de serviços e unidades que compõe a rede?
R. Uma das grandes marcas dessa região é a fragilidade dos serviços públicos, a
falta de atendimento à população. Os recursos sociais são muito antigos, como
escolas, postos de saúde, os próprios serviços do Programa de Saúde da Família.
Os que são mais na linha do contato com a família, também foram recentemente
instalados no bairro, faz muito pouco tempo. Então, o mapeamento da rede está se
dando a partir da escuta com as famílias. No processo de rematrícula e de cadastro,
nós fomos também fazendo essa escuta, em relação ao mapeamento, e fomos
construindo esse mapeamento, mas ele é contínuo. Uma coisa, é a existência da
rede, outra coisa, é o acesso a essa rede de serviços, outro problema, que a
população enfrenta, e que é bastante grave. O nosso relacionamento com a rede
socioassistencial é bastante amplo, no sentido de que a Política de Assistência
Social, no município, e as pessoas da equipe de trabalho e da Unidade têm um bom
relacionamento com outros profissionais da área. E os profissionais, que atuam no
projeto de escuta, que a gente também está desenvolvendo com eles, na
comunidade, eles reconhecem o trabalho do CESMAR como um trabalho importante
para as famílias e para a comunidade, isso facilita. O trabalho marista credencia
para o contato com a rede, então, está se dando de forma tranqüila. um trabalho,
em parceria, com os agentes de saúde; uma discussão com outros profissionais,
mas há, ainda, nesse território, uma grande carência de serviços públicos. Às vezes,
as pessoas precisam sair para muito longe, em busca de atendimento.
Ir. V. É que entra um diferencial interessante nosso, marista, pela organização.
O que a gente pega para fazer, a gente faz e manda. Claro que temos recursos e
temos as possibilidades. Mas, quando a gente trata de outros segmentos, outras
parcerias que estão aí, com os profissionais, nosso diferencial vem na capacidade
de estar junto com eles e discutir, apontar também caminhos que eles possam
trilhar e fazer eles acontecerem também. Não estamos só, mas estamos em
conjunto, temos o papel de também empoderar e fortalecer o poder público.
Devemos envolver as esferas públicas para o comprometimento. Acho que a
credibilidade, a organização, a qualidade de trabalho marista, acho que também
provoca outros a também repensar a maneira de trabalhar.
69
8. Como está a participação da Unidade nas instituições de controle e
elaboração das políticas públicas, no município?
R. A unidade tem um longo histórico de participação, aqui no município. Em
relação às políticas de controle, ela tem participado das reuniões dos conselhos do
fórum de entidades. O que nós temos, de certa forma, colhido, nesse momento, em
relação a indicações de participação nos conselhos, vem muito dessas histórias de
participação. A importância que se deu, na Unidade, para essas participações, é o
que faz com que, agora, a Unidade seja lembrada na hora das políticas. E então,
toda a discussão sobre a política de assistência social dentro dos conselhos; da
questão da criança e do adolescente, dentro dos conselhos; da própria questão das
medidas socioeducativas, a partir, também de outras entidades da sociedade civil de
discussões, faz com que a Unidade, nesse momento, tenha uma participação
ampliada. Entendemos essas discussões como importantes e as portas estão
abertas.
Ir. V. Estamos, agora, envolvidos na discussão sobre as medidas socioeducativas.
No momento, esta discussão está bem insegura. Não sabe para aonde ir.
Segmentos da sociedade, que seriam entidades acolhedoras, não sabem o que é
medida socioeducativa e como tratar isso. Estamos participando de uma mesa de
negociação e estamos em contato com o Fábio, da PMBCN, para que ele possa
contribuir com Dourados. O que acontece, aqui, com os conselhos é que cada um
que vai fala: Ó, tem R$ 500 mil à disposição, chovia de gente para pleitear o
recurso. Mas, para discussão, para implementar realmente possibilidades de
crescimento, ninguém participa das discussões, nos conselhos.
R. Na verdade, também, aqui em Dourados, não em Dourados, mas aqui, em
especial, se você pegar o histórico das entidades não-governamentais, o grau de
sucateamento que essas entidades vivem no dia-a-dia e a qualidade que elas
chegam de participação nos conselhos, nas discussões, nós, nesse processo, temos
uma vantagem, temos uma qualidade de participação. As entidades, que participam,
vêm muito fragilizadas para a discussão, por não ter corpo técnico, por não ter
material, por não ter estrutura. Às vezes, não tem condições de o próprio membro da
entidade participar. Neste sentido, também as portas se abrem para a Unidade,
muito em função disso, da qualidade de participação que a unidade pode oferecer,
que pode contribuir, para que o conselho também possa ter uma atuação mais
qualitativa.
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Ir. V. A nova obra vai dar uma visibilidade e possibilidade de discussão, com a
esfera pública, muito mais acirrada. Teremos um espaço físico muito mais
adequado. Isso vai dar uma visibilidade muito maior e os interesses vão se voltar
mais para a Unidade.
9. A Unidade está inscrita em algum conselho municipal? Qual sua
participação? Como a equipe de trabalho definiu quem participaria?
R. A Unidade está inscrita no Conselho Municipal de Assistência Social, no
Conselho Municipal de Direitos da Criança e do adolescente, também no Fórum
Municipal das Entidades Não-governamentais. Participamos, como ouvintes, nos
dois conselhos, mas fomos indicados pelo Fórum Municipal das Entidades Não-
governamentais para os Conselhos de Direitos e Assistência Social, para
participação efetiva. O Fórum, em primeira instância, indica as entidades não-
governamentais para os conselhos municipais. Em relação à participação da equipe
de trabalho, também uma discussão, mas, a princípio, antes da contratação da
assistente social, na Unidade, ela se dava de forma alternada. Em cada reunião, ia
um membro da equipe. Depois da minha chegada, tenho participado das reuniões
dos conselhos e do fórum. Na verdade, não chegamos a discutir, mas foi um
entendimento de que era uma área mais voltada ao Serviço Social, mas não houve
uma discussão sobre isso.
10. A Unidade tem convênio/parceria com outras instituições e/ou entidades
para o atendimento? Como foram estabelecidos esses processos?
Ir. V. Primeiro passo, foi colocar a cara, de estar em muitos espaços, de vender o
peixe. A partir daí, foram se firmando algumas parcerias, que são necessárias, e
outras, que são relevantes, para o trabalho da Unidade.
R. Temos várias parcerias em andamento. As parcerias surgem a partir da
necessidade da Unidade, então, uma necessidade de parceria em função da
questão da mata, da biologia, com as universidades. Essa discussão, vem um
tempo, sobre a necessidade e está sendo discutida uma parceria com a
Universidade de Dourados (Unigran), para a questão de estagiários, nas áreas de
Serviço Social, biologia, pedagogia, para participarem conosco, em função do
projeto da mata, para o desenvolvimento da oficina de educação ambiental.
71
E. Esse é um projeto específico de educação ambiental, a partir da oficina de
educação ambiental. No final, os dois terão uma parceria muito importante, mas é
um processo paralelo, a oficina de educação ambiental, do apoio socioeducativo.
Ir. V. Uma das primeiras tarefas da Elaine foi a construção de um projeto
ecológico.
E. Para essa parceria específica, nós iniciamos o contato o ano passado, com a
coordenadora do curso de Biologia, dessa Universidade, porque nossa intenção é
desenvolver um projeto de educação ambiental e um dos projetos dentro deste é
desenvolver uma trilha interpretativa. Temos uma mata nativa, com espécies muito
raras; precisamos de uma catalogação precisa dessa mata. Recebemos muita visita,
a área marista dessa mata é referência. Nossa intenção é desenvolver educação
ambiental com essas pessoas, e que seja também um espaço de pesquisa, para a
Universidade. Iniciei o projeto juntamente com a equipe que colaborou e continua
colaborando com a chegada da educadora de biologia, agora. A construção da
proposta pedagógica está quase no processo final, para depois fecharmos o projeto.
Após concluídas a parceria e a catalogação das espécies.
R. As parcerias se dão também em relação à execução da jornada ampliada do
PETI, que toma uma nova configuração, agora, com a unificação do PETI com o
Bolsa-Família. E então, estamos com a parceria, ela foi firmada a partir de uma
necessidade que foi apontada com minha chegada. Atualmente, atendemos 35
famílias, que são beneficiárias do programa Bolsa-Família. São famílias que
atendíamos e passaremos a receber, per capta, R$ 20,00 por família atendida/mês,
o convênio foi firmado. Temos outra parceira em andamento, com a Empresa de
Transporte Urbano Medianeira, para transporte de crianças e educadores, dentro do
perímetro urbano de Dourados, para eventos. Capacitação e eventos.
E. Temos também a parceria com o jornal Diário MS que fornece exemplares para
todos os educando, um dia por semana. O ano passado, era utilizado nas oficinas
de artes. Era feito naquela confusão sobre o que eram as oficinas. Para este ano,
será direcionado para Educomunicação, para trabalhar as interpretações das
mensagens da mídia, e para os estudos para conhecer a realidade local e o meio
em que eles vivem.
Ir. V. – Quanto às parcerias, a gente sempre reforça que não só a gente se beneficia
com essa parceria, mas que também a gente oferece nosso espaço, para
capacitação, para eventos, pois temos a possibilidade dessa troca.
72
11. A Unidade desenvolve trabalho com famílias?
E. – Atualmente, as atividade com as famílias estão direcionadas somente em
relação ao que é desenvolvido com os educandos, que seriam as reuniões
pedagógicas com as famílias e a participação nas comemorações e apresentações
do serviço de apoio socioeducativo. Agora, com a chegada da assistente social, ela
está desenvolvendo um plano de ação, que está para iniciar.
R. Na verdade, o plano de ação do Serviço Social vem sendo construído e, neste
momento, está pronto e será apresentado, e tem como foco o trabalho social com as
famílias, e, se tudo ocorrer como estamos planejando, no dia 14 de abril, na reunião
pedagógica, nós vamos lançar a proposta para as famílias, para que elas possam
fazer uma opção de participar desse processo. E, aí, começarmos esse trabalho de
reuniões socioeducativas com as famílias, que tem o objetivo de discutir as relações
familiares, comunitária, problemas do cotidiano e outros problemas que elas
escolherem. É um trabalho mais específico, a partir da escuta e da construção
coletiva de soluções. Mas, nesse momento, o trabalho é mais individualizado, no
sentido de como elas nos procuram e nós trabalhamos com elas a partir das
necessidades que elas apresentam, mas com grupos, de forma coletiva. Não temos
um trabalho, ainda, estamos aguardando a implementação do plano de ação do
assistente social.
Ir. V. Centro Educacional e Social Marista de Dourados, nós temos o serviço de
apoio socioeducativo, o Programa Vida Feliz, Animação Vocacional e
acompanhamento dos adolescentes com suas famílias. Atualmente, estamos com
três rapazes morando em Jaraguá do Sul, no pré-postulado. O CESMAR tem quatro
irmãos que moram aqui, nesta casa, que foi dividida em Comunidade e Projetos. O
Programa Vida Feliz se divide em três projetos, o Rebú que é uma bagunça
organizada, que acontece com um público grande, reúne todos os alunos dos
colégios, por cidade –, atualmente estamos fazendo em Carapó e Dourados. Em
Carapó tem em torno de sete a oito colégios. Reunimos toda essa galera, fazemos
um dia cultural, com apresentações artísticas dos grupos. Normalmente o Rebú é
organizado sob o tema e lema da Campanha da Fraternidade. E então, se trabalha
em cima desse foco. Aqui, em Dourados, também trabalhamos com todos os
colégios que são parceiros do Vida Feliz. Temos o trabalho com os professores
73
desses colégios. Tem toda uma dinâmica própria com o colégio e também tem o
projeto com os pais. O projeto, em sala de aula, ocorre, normalmente, com dois de
nossos educadores. Sempre vão em duplas, aplicam dinâmicas sobre os temas
relacionados ao conteúdo da série que estão trabalhando. (5ª. série a arte de
estudar; 6ª. série o universo social; 7ª. série desafios para a vida; 8ª.
afetividade e sexualidade; 1 ª. o ser humano; 2ª. não me recordo o tema e 3º.
trabalha o projeto de vida.) Aí, tem toda uma dinâmica própria, para desenvolver o
trabalho. Temos o grupo teatral marista, que envolve jovens voluntários. Atualmente,
temos 15 colaboradores e quatro irmãos.
E. Dentro desse trabalho, temos o Programa de Formação Continuada, que
abrange o projeto de formação pedagógica, que envolve não os planejamentos.
O administrativo também desenvolve o projeto de formação para equipe de apoio,
de segurança no trabalho, questões relativas à alimentação. A Unidade mudou o
olhar, para a prática e para o teórico. Quando eu falo do teórico, eu falo do registro,
para a gente ter um histórico. São projetos que existiam, na Unidade, mas não
existiam seus registros e, hoje, a Unidade está se organizando com outro olhar,
muito mais favorável que antes.
Ir. V. O Cesmar tem essa dimensão social, e também pastoral, principalmente pelo
programa Vida Feliz. Tanto é que, aos finais de semana, estamos envolvidos em
catequese, crisma. Com a nova obra, a gente pretende que, de segunda a sexta, o
atendimento seja do apoio socioeducativo e, aos finais de semana, atividades mais
para o lado eclesial. Por isso, que o CESMAR abarca mais o trabalho de pastoral.
12. A equipe de trabalho identifica afinidades entre as orientações
institucionais e a PNAS? Em que aspectos?
R. Acho que nosso principal desafio, neste momento, é exatamente fazer essa
relação. Principalmente em função da própria questão, que a PNAS coloca, de
termos a família como núcleo de atendimento. Em função de termos o educando
como grupo de atendimento, atualmente. como fazer que este educando também
esteja contido nessas famílias, que a família também seja uma parte importante. Eu
penso que uma grande disposição e uma preocupação em relação a isso, de
não recortar o educando da família que ele vive e trabalhar ele isoladamente, como
se ele aqui dentro fosse uma outra realidade. Aproximar da comunidade da família,
aproximar da escola. Penso que nós entendemos essa necessidade.
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Ir. V. Acho muito interessante essa consonância, no nível nacional, do Serviço
Social, do não assistencialismo. Não temos essa prática, dentro de nossas unidades.
Chamamos a família, comprometemos a comunidade em nosso trabalho. Acho que
é um ponto muito forte, este caminhar junto.
R. – Isso do trabalho em rede também é um ponto forte. Estamos caminhando neste
sentido porque, sozinho, não para fazer transformação nenhuma. Acho que o
trabalho em rede, a partir do local, da localidade de onde se vive, eu acho que é a
grande lição que a gente vem tendo, com a questão da PNAS, e com o trabalho.
Direcionar o trabalho da Unidade, nesse sentido. Trabalhar em rede, ouvir o outro,
os outros profissionais, ouvir as famílias, parar para ouvir o usuário, não achar que o
corpo técnico é capaz de resolver todos os problemas. Esse processo é muito
importante. É um aprendizado para todo mundo. A PNAS é muito nova e nós
estamos nesse processo. A gente fica animado.
Ir. V. Até adequações com a PNAS, não é uma questão de se enquadrar, mas,
sim, caminhar em conjunto com essa política, porque vêm decretos, mudanças, leis,
e se você não estiver caminhando junto, pode comprometer todo um trabalho e isso
pode se tornar prejudicial.
Marco Irmão, como o sr. essa adequação, em relação à missão
institucional?
Ir. V. Acho que falamos de forma diferente, mas temos os mesmos objetivos: o
resgate da vida humana é nossa missão e o que Marcelino Champagnat nos pede é
voltar às origens, voltar aos empobrecidos e aos carentes, os que são necessitados.
A UMBRASIL, vejo como uma possibilidade de participação e discussão, para
captação de recursos para a área social.
Marco Agradece a colaboração dos entrevistados e pergunta se alguma
consideração final.
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