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ANEXO 6
OLIMPÍADAS DE ATENAS – CORREIO DO POVO
C
ORREIO DO POVO
PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 23 DE AGOSTO DE 2004
Chegou a hora da gaúcha Daiane dos Santos
Brasil torcerá hoje por mais um ouro
Hiltor Mombach / de Atenas
Finalmente, chegou o dia tão esperado pelos brasileiros. Às15h45min (horário de
Brasília) a ginasta gaúcha Daiane dos Santos, do Grêmio Náutico União e Brasil
Telecom, entrará no tablado do ginásio Athens Olympic Sports Complex e, ao som
do Brasileirinho, de Waldir Azevedo, irá em busca de uma medalha inédita para o
país na modalidade. Ela será a primeira das oito finalistas a se apresentar no solo.
O treinador ucraniano Oleg Ostapenko, que comanda o selecionado verde-amarelo,
deverá orientar Daiane para que execute o duplo-twist esticado, mas isso não está
definido oficialmente.
Desde que brilhou no Pan-Americano de 99, em Winnipeg, no Canadá, obtendo duas medalhas
(prata no salto sobre o cavalo e bronze por equipes) Daiane não parou mais de ascender. Naquele
tempo, Daiane era patrocinada por uma pizzaria de Porto Alegre, que pagava R$ 200,00 mensais. Foi
numa das etapas da Copa do Mundo, efetuada em Stuttgart em 2003, que a gauchinha despontou
para o Brasil ao ganhar ouro no solo. Já famosa, venceria ainda nas etapas de Cottbus, Lyon e Rio.
Desde então, ela vem ofuscando atletas de todas as modalidades, sendo o principal destaque nos
noticiários. Desembarcou nos Jogos Olímpicos de Atenas como grande favorita ao ouro, tanto que a
chefe da delegação de ginástica, Eliane Martins, declarava que 'ela só perde para ela mesmo'. Mas,
algo mudou depois da realização das eliminatórias: Daiane não foi bem e deixou preocupados todos
que viram seu desempenho. Terminou em terceiro lugar (9,637 pontos), atrás da romena Catalina
Ponor (9,687) e da chinesa Cheng Fei (9.650).
Depois disso, Eliane, bem mais humilde, diria que 'para nós qualquer medalha serve', repetindo o que
a própria ginasta dissera numa recepção efetuada em Porto Alegre pela Brasil Telecom. Falando para
uma platéia integrada por centenas de crianças, Daiane não prometeu medalha, apenas muito
esforço, chorando ao ver suas imagens num telão. Daiane pode superar Catalina Ponor? Sim, mas só
se estiver num dia excepcional. Na etapa de Cottbus da Copa do Mundo, a ginasta brasileira obteve
nota 9,762, pontuação melhor do que a romena nas eliminatórias em Atenas.
Daiane competirá ainda contra a ucraniana Alina Kozich, a espanhola Patricia Moreno e a canadense
Kate Richardson. Na semana passada, ela recebeu elogios rasgados de um dos maiores
especialistas da modalidade no mundo, o romeno Bela Karoly, treinador de Nadia Comaneci nos
Jogos de Montreal, que transformaram Nadia em lenda ao conquistar pela primeira vez na história
uma nota 10. Falando ao Correio do Povo e Rádio Guaíba, Karoly afirmou que 'ninguém no mundo
faz o que ela faz no solo'. Karoly, que hoje é consultor da equipe de ginástica dos Estados Unidos,
disse jamais ter visto algo parecido com os exercícios executados pela gauchinha.
Há um consenso em Atenas: se Daiane não errar, leva o ouro. O problema é o se: 'Pode ser de eu
treinar mil vezes sem errar e falhar justamente na hora decisiva. As pessoas não sabem o quanto é
difícil não errar', afirma a ginasta. O negócio hoje é o Brasil inteiro torcer para que ela não erre e entre
para a história do esporte olímpico.