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ÁUREA REGINA DAMASCENO
DAS CONDIÇÕES OBJETIVAS
ÀS REPRESENTAÇÕES DE “BOA” ESCOLA
um estudo da produção e dos produtos das
representações dos atores do processo educativo escolar
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO
PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE SÃO PAULO
2007
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ÁUREA REGINA DAMASCENO
DAS CONDIÇÕES OBJETIVAS
ÀS REPRESENTAÇÕES DE “BOA” ESCOLA
um estudo da produção e dos produtos das
representações dos atores do processo educativo escolar
Tese apresentada ao Programa de
Estudos Pós-graduados em Educação:
HISTÓRIA, POLÍTICA, SOCIEDADE da
Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, como requisito parcial para
obtenção do título de Doutora em
Educação, sob a orientação da PROFª.
DRª. MARIA DAS MERCÊS FERREIRA
SAMPAIO (de 03/2003 a 06/2006) e
PROFª. DRª. ALDA JUNQUEIRA MARIN
(DE 07/06 A 01/2007).
PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE SÃO PAULO
2007
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FICHA CATALOGRÁFICA
Damasceno, Áurea Regina
Das condições objetivas às representações de "boa escola":
um estudo da produção e dos produtos das representações dos atores do
processo educativo escolar
317pp.
Quadros, tabelas, ilustrações
Tese de doutorado
Educação
Maria das Mercês Ferreira Sampaio e Alda Maria Junqueira Marin
Escola - Gestores - Professores - Alunos- Representações
È permitida a reprodução total ou parcial por qualquer meio.
ÁUREA REGINA DAMASCENO
DAS CONDIÇÕES OBJETIVAS ÀS REPRESENTAÇÕES DE “BOA” ESCOLA
um estudo da produção e dos produtos das representações dos atores do
processo educativo escolar
Tese apresentada ao Programa de Estudos Pós-graduados em Educação:
HISTÓRIA, POLÍTICA, SOCIEDADE da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, como requisito parcial para obtenção do título de Doutora em Educação.
DATA DE APROVAÇÃO
____/____/______
BANCA EXAMINADORA
Profª. Drª. Alda Junqueira Marin
Programa de Pós-graduação EHPS/PUCSP
Profª. Drª. Luciana Maria Giovanni
Programa de Pós-graduação EHPS/PUCSP
Profª. Drª. Lucíola Licínio de Castro Paixão Santos
Faculdade de Educação UFMG
Profª. Drª. Diana Carvalho de Carvalho
Universidade Federal de Santa Catarina
_________________________________________________
Profª. Drª. Paula Perin Vicentini
Programa de Pós-graduação EHPS/PUCSP
Para compreender, o que se passa em
lugares que, como os “conjuntos
habitacionais” ou os “grandes
conjuntos”, e também numerosos
estabelecimentos escolares, aproximam
pessoas que tudo separa, obrigando-as a
coabitarem, seja na ignorância ou na
incompreensão mútua, seja no conflito,
latente ou declarado, com todos os
sofrimentos que disso resultem, não
basta dar razão de cada um dos pontos
de vista tomados separadamente. É
necessário também confrontá-los como
eles o são na realidade, não para os
relativizar, deixando jogar até o infinito o
jogo das imagens cruzadas, mas, ao
contrário, para fazer aparecer, pelo
simples efeito da justaposição, o que
resulta do confronto de visões de mundo
diferentes ou antagônicas: isto é, em
certos casos, o trágico que nasce do
confronto sem concessão nem
compromisso possível de pontos de vista
incomparáveis, porque igualmente
fundados em razão social. (Bourdieu,
2001, p. 11, grifos do autor).
RESUMO
A pesquisa foi instigada pelas reiteradas referências a uma “boa escola”
pública, em Belo Horizonte, que existiu, ou que foi - para alguns ainda é - a
Escola Estadual Governador Milton Campos ou Colégio Estadual Central .
Partiu-se da suposição que os diferentes grupos de atores do processo
educativo escolar - alunos/as, professores/as, gestores/as - constroem um capital
(representação) comum a respeito da "boa" escola e que esse capital comum
pode ser reconhecido socialmente como “verdade", incorporada e percebida como
a própria realidade.
O conceito de representação social desenvolvido por Moscovici e os conceitos
de representações, habitus e capital desenvolvidos por Bourdieu foram
essenciais para o entendimento da realidade.
Num primeiro momento o percurso da investigação centrou-se na apreensão
das diversas representações sobre “boa” escola. No segundo, na compreensão
dos vários aspectos da "boa" escola apresentados. E a partir daí, tentou-se
entender a perspectiva a partir da qual os atores definem a "boa" escola, ou seja,
em que bases ela se constrói.
Esse exercício permitiu, por fim, um cruzamento que aponta que entre os
atores do mesmo grupo há uma convergência de pelo menos 50% das
representações acerca da "boa escola" e uma divergência clara entre os grupos;
as representações não estão centradas numa escola pretérita e apresentam como
qualificadores da boa escola: o capital simbólico, o capital cultural, o capital social
e o capital econômico.
Palavras - Chave: Escola - Gestores- Professores- Alunos- Representações
ABSTRACT
This research was inspired by the recurrent references to a "good public
school" in Belo Horizonte that existed or that there has been - for some people still
is - the high school named Escola Estadual Governador Milton Campos or Colégio
Estadual Central.
It was started by the supposition that diffent groups of actors in the scholl
educational process - students, teachers, educational managements - construct a
common capital (representation) on a "good school" and that this common capital
can be recognized as "thuth" , incrporated and perceived as the reality itself.
The concept of social representation developped by Moscovici and the
concept of representations, habitus and capital developped by Bourdieu were
essencial for he understanding of the reality.
In a first momente, the way of the investigation was centralized in the
apprehension of the different representations of what is called a "good school". In
a second one, in the comprehension of the various aspects of the "good school"
presented. And from this point on, there was an attemptive of understanding the
perspective from which the actors define what a "good school" is, or rather in
which basements it is built.
This exercise has allowed, finally, a intercross of data which points that
among the actoprs of the same group there is a convergence of at least 50% of
the representations on a "good school" and a clear divergence among the groups.
The representations are not centred on a former school and present as qualifiers
of a good scholl: the symbolic, cultural, social and economic capitals.
Key-words: school - educational managements - teachers - students -
representations
A todos aqueles e aquelas que, no Brasil, ainda não
tiveram o direito de concluir a educação básica.
AGRADECIMENTOS
A todos os alunos e alunas, trabalhadores e trabalhadoras em educação do
Colégio Estadual Governador Milton Campos, que aceitaram participar dessa
investigação, partilhando de forma aberta e honesta seu tempo, suas palavras,
suas percepções e, sobretudo, sua confiança em mim.
Às minhas orientadoras, Profª Drª Maria das Mercês Ferreira Sampaio e
Profª Drª Alda Junqueira Marin, pela atenção, cuidado e, sobretudo competência e
carinho, com os quais acompanharam meu trabalho, apresentando reflexões,
questionamentos e sugestões que me levaram ao crescimento intelectual do
primeiro projeto apresentado a este texto final.
A minha orientadora do mestrado, professora e confidente de vários
momentos, Profª. Dra. Lucíola Licínio de Castro Paixão Santos, que foi incansável
na sua determinação de encorajar-me a fazer o doutorado tão logo terminei o
mestrado.
A todos os professores e professoras do Programa, aos quais espero poder
oferecer algumas razões intelectuais para se orgulharem ao ler este trabalho
Aos amigos que fiz durante o doutorado, sejam colegas de curso,
funcionários do hotel, funcionários das lojas da redondeza, funcionários do
xerox, sem os quais seria muito difícil ter percorrido 187.520 km e 2.560 horas de
viagem.
À Capes e à Prefeitura de Belo Horizonte/Secretaria Municipal de
Educação, instituições cujo apoio foi imprescindível no desenvolvimento desta
investigação.
Às amigas Rosa e Ione, que dedicaram longas noites à digitação da
transcrição das fitas.
Ao meu amigo, Geraldo Boaventura, que não poupou esforços, cedendo-
me carinhosamente várias passagens para São Paulo.
Ao meu amigo Paulo Otávio, pela paciência e amizade nos momentos de
sufoco.
Aos meus irmãos, sobrinhos e amigos, que sempre se mostraram
presentes, perguntando-me sobre o andamento da pesquisa. Especialmente à
minha irmã, Dilu, que passou várias noites ao meu lado ajudando na tabulação
dos dados.
Ao meu sobrinho, Luís Felipe, que com seu sorriso doce e vários porquês
tirou-me várias vezes da solidão da escrita.
Á minha mãe (in memoria), pela saudade e certeza de que me ouvia,
quando em vários momentos durante esses quatro anos, gritava como criança
desamparada: eu quero minha mãeeeee!!!.
Ao meu pai, pelas orações que tenho certeza foram ouvidas.
Ao meu filho, que me acompanhou, me espinafrou, me amou, me tolerou,
não deixando que a nossa "boa escola" se perdesse durante esses anos que me
dediquei mais ao trabalho intelectual do que ao trabalho materno.
Foram muitos e muitas que me deram apoio e estímulo intelectual no
desenvolvimento desta investigação e, se por algum lapso, me esqueci de alguém
que este ou esta sinta-se aqui contemplado.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1. A GÊNESE DA INVESTIGAÇÃO
2. A “BOA” ESCOLA E A ESCOLA DE “QUALIDADE” NOS ESTUDOS E
PROPOSTAS EDUCACIONAIS NO CENÁRIO INTERNACIONAL E
NACIONAL
01
CAPÍTULO I - QUE PESQUISA É ESTA, QUE APORTES TEÓRICOS E
ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS A SUSTENTAM ?
A IMPORTÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO
REPRESENTAÇÃO E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
2.1 Uma visão panorâmica sobre o conceito de representações sociais
2.2 O conceito de representações sociais de Moscovici
2.3 Representações sociais, representações e habitus: um diálogo entre
Moscovici e Bourdieu
2.4 Produtores e produtos das representações sociais: espaço social,
habitus, capital cultural, social e simbólico
3. INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
3.1 Os questionários
3.2 As entrevistas
3.3 Outras fontes de dados
3. ANÁLISE DOS DADOS
17
CAPÍTULO II – QUE ESCOLA É ESSA?
1. A SELEÇÃO DA ESCOLA
2. O COLÉGIO ESTADUAL CENTRAL
1.1 Fundação
1.2 Caracterização da escola
1.3 A Direção
1.4 O Colegiado
1.5 A Associação de Pais
1.6 A Associação de Funcionários
1.7 As Organizações Estudantis
1.8 O quadro de pessoal Administrativo
1.9 O quadro docente e o quadro discente
1.10 O clima da escola
1.11 O regimento escolar
1.12 A organização curricular
1.13 Os recursos financeiros
1.14 Organização e gestão pedagógica e administrativa
1.15 Principais problemas e dificuldades vividos pela escola.
56
CAPÍTULO III – QUEM SÃO OS SUJEITOS DA PESQUISA?
1.SELEÇÃO DOS SUJEITOS
1.1 A seleção dos gestores
1.2 Perfil dos gestores
1.3 A seleção dos professores
1.4 Perfil dos professores
1.5 A seleção dos alunos
107
1.6 Perfil dos alunos
CAPÍTULO IV – O QUE DIZEM OS ATORES DO PROCESSO EDUCATIVO
ESCOLAR SOBRE AS BOAS ESCOLAS?
1. ERAM BOAS AS ESCOLAS EM QUE OS ATORES DO PROCESSO
EDUCATIVO ESCOLAR ESTUDARAM?
2. O QUE É UMA BOA ESCOLA PARA OS ATORES DO PROCESSO
EDUCATIVO ESCOLAR?
3. EXEMPLOS DE BOA ESCOLA CITADOS PELOOS ATORES DO
PROCESSO EDUCATIVO ESCOLAR
4. SEGUNDO OS ATORES DO PROCESSO EDUCATIVO ESCOLAR, O
COLÉGIO ESTADUAL E UMA BOA ESCOLA?
5. A ESCOLA DOS SONHOS DOS ATORES DO PROCESSO EDUCATIVO
ESCOLAR
6. SÍNTESE DOS QUADROS
164
CAPÍTULO V - O QUE NUTRE A REPRESENTAÇÃO DE "BOA ESCOLA"
DOS ATORES DO PROCESSO EDUCATIVO ESCOLAR ?
1. O CAPITAL SIMBÓLICO
1.1. A "referência" da escola
1.2. A destinação de sucesso dos alunos
1.3. A hierarquia axiológica estabelecida entre as escolas públicas e
privadas
1.4. A hierarquia axiológica estabelecida em relação à localização das
escolas
2. O CAPITAL CULTURAL
2.1. O conteúdo do ensino da escola
2.2. A atuação e formação dos professores – capital profissional
2.3. A atuação e formação dos alunos – habitus de classe e habitus
escolar
3. O CAPITAL SOCIAL
3.1. A dimensão socio afetiva das relações estabelecidas no espaço
escolar
4. O CAPITAL ECONÔMICO
4.1. Os aspectos físicos e materiais
223
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1. COLÉGIO ESTADUAL: UM ESPAÇO ESCOLAR, PÚBLICO,
“ESPETACULAR”
2. COLÉGIO ESTADUAL: O BOM PROFESSOR E O BOM ALUNO
3. COLÉGIO ESTADUAL: TRÊS ESCOLAS
4. COLÉGIO ESTADUAL: DA BOA ESCOLA A ESCOLA "LEVADA
NUMA BOA"
277
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 288
ANEXOS 299
QUADROS APRESENTADOS
QUADRO 1.1 – Classes de rendimento utilizadas pelo IBGE 40
QUADRO 1.2 – Classes de rendimento utilizadas na pesquisa 40
QUADRO 1.3 - Classificação quanto ao capital cultural 42
QUADRO 2.1 – Síntese da caracterização da escola 62
QUADRO 2.2 – Investimentos realizados na E.E. Gov. Milton Campos 99
QUADRO 3.1 – Caracterização sócio-demográfica – Gestores 111
QUADRO 3.2 - Carrreira escolar e profissional – Gestores 113
QUADRO 3.3 - Carrreira profissional – Gestores 113
QUADRO 3.4 - Condições de trabalho – Gestores 115
QUADRO 3.5 A - Capital econômico – Gestores 115
QUADRO 3.5 B - Capital econômico – Gestores 116
QUADRO 3.5 C - Capital econômico – Gestores 116
QUADRO 3.6 A - Capital cultural – Gestores 118
QUADRO 3.6 B - Capital cultural – Gestores 119
QUADRO 3.6 C - Capital cultural – Gestores 120
QUADRO 3.7 - Caracterização socio demográfica - Professores 133
QUADRO 3.8 - Carreira escolar e profissional – Professores 134
QUADRO 3.9 - Carreira profissional – Professores 134
QUADRO 3.10 - Condições de trabalho – Professores 135
QUADRO 3.11 A - Capital Econômico – Professores 137
QUADRO 3.11 B - Capital Econômico – Professores 138
QUADRO 3.11 C - Capital Econômico – Professores 139
QUADRO 3.12 A - Capital cultural – Professores 140
QUADRO 3.12 B - Capital cultural – Professores 140
QUADRO 3.12 C – Capital cultural – Professores 141
QUADRO 3.13 – Visão sobre a escola – Professores 143
QUADRO 3.14 - Características socio demográficas – Alunos 151
QUADRO 3.15 – Carreira escolar e profissional – Alunos 151
QUADRO 3.16 A – Capital Econômico – Alunos 153
QUADRO 3.16 B – Capital Econômico – Alunos 153
QUADRO 3.17 A – Capital cultural – Alunos 155
QUADRO 3.17 B – Capital cultural – Alunos 156
QUADRO 3.17 C – Capital cultural – Alunos 157
QUADRO 3.17 D – Capital cultural – Alunos 158
QUADRO 4.1 – Eram boas as escolas em que os gestores estudaram? 166
QUADRO 4.2 – Eram boas as escolas em que os professores estudaram? 170
QUADRO 4.3 – Eram boas as escolas em que os alunos estudaram? 175
QUADRO 4.4 – O que é uma boa escola para os gestores? 181
QUADRO 4.5 - O que é uma boa escola para os professores? 184
QUADRO 4.6 - O que é uma boa escola para os alunos? 186
QUADRO 4.7 - Exemplos de boas escolas citados pelos gestores 191
QUADRO 4.8 - Exemplos de boas escolascitados pelos professores 194
QUADRO 4.9 - Exemplos de boas escolas citados pelos alunos 197
QUADRO 4.10– Segundo os gestores, o Colégio Estadual é uma boa
escola?
201
QUADRO 4.11 – Segundo os professores, o Colégio Estadual é uma boa
escola?
203
QUADRO 4.12 – Segundo os alunos, o Colégio Estadual é uma boa
escola?
206
QUADRO 4.13 – Escola dos sonhos - Gestores 210
QUADRO 4.14 – Escola dos sonhos - Professores 213
QUADRO 4.15 – Escola dos sonhos - Alunos 215
QUADRO 4.16 – Síntese 221
TABELAS APRESENTADAS
TABELA 2.1 – Vagas oferecidas para o 1º ano do ensino médio em
escolas estaduais de Belo Horizonte 2005 – 2006
61
TABELA 2.2 – Composição do corpo docente: 74
TABELA 2.3 – Faixa etária dos professores efetivos 75
TABELA 2.4 – Organização das turmas por unidades e turnos 77
TABELA 2.5 – Distribuição dos alunos segundo a série e sexo - 2004 77
TABELA 2.6 – Índices de aprovação, reprovação, dependência - 2004 81
TABELA 2.7 – Total de concluintes do ensino médio 2004 81
TABELA 2.8 – Dificuldades ou problemas vividos pela escola 1 101
TABELA 2.9 – Dificuldades ou problemas vividos pela escola 2 102
TABELA 2.10 – Dificuldades ou problemas vividos pela escola 3 102
TABELA 2.11 – Dificuldades ou problemas vividos pela escola 4 103
TABELA 3.1 – Avaliação e visão sobre a escola - Gestores 121
TABELA 3.2 – Capital Social - Gestores 122
TABELA 3.3 – Avaliação e visão sobre a escola - Professores 144
TABELA 3.4 – Capital Social - Professores 145
TABELA 3.5 – Avaliação e visão sobre a escola - Alunos 162
TABELA 3.6 – Capital social - Alunos 163
ILUSTRAÇÕES APRESENTADAS
FIGURA 1 - Ginásio Mineiro, no período de 1913 -1918
FIGURA 2 - Colégio Mineiro na década de 1920
FIGURA 3 - Oscar Niemeyer e Juscelino Kubstischeck
FIGURA 4 - Vista aérea do bairro de Lourdes, destacando a escola
FIGURA 5 - Colégio Estadual Mineiro, em 1965
FIGURA 6 - Salas de aula representando a régua
FIGURA 7 - A cantina representando a borracha
FIGURA 8 - A caixa d'água representando o giz
FIGURA 9 - O auditório visto de frente
FIGURA 10 - O auditório visto de trás
1
INTRODUÇÃO
(...) antecipando as lições da epistemologia moderna, a
medicina grega afirmava de partida a necessidade de
construir o objeto da ciência por uma ruptura com o que
Durkheim chamava as “pré-noções”, isto é, as
representações que os agentes sociais fazem de seu
estado. E como a medicina nascente devia contar com a
concorrência desleal de adivinhos, magos, feiticeiros,
charlatães ou dos “fabricantes de hipóteses“, a ciência
social hoje se defronta com todos os que se vangloriam
de interpretar os sinais mais visíveis do mal-estar
social, por exemplo, o uso de um lenço imediatamente
designado como “véu mulçumano”; a todos esses
“semi-hábeis” que, armados de seu ‘bom-senso” e de
sua pretensão, se precipitam aos jornais e diante das
câmaras para dizer o que é o mundo social que eles não
têm nenhum meio eficaz de conhecer ou de
compreender. (Bourdieu, 2001, p. 734)
1. A GÊNESE DA INVESTIGAÇÃO
Na trajetória de professora de Língua Portuguesa em escolas públicas
municipais e estaduais e escolas particulares de educação básica por longos
anos; formadora de formadores; sindicalista; consultora de várias secretarias
municipais do interior de Minas Gerais e de outros estados; coordenadora
pedagógica de duas escolas municipais e como gestora de políticas educacionais,
na função de assessora pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Belo
Horizonte, pude observar que um dos debates polêmicos que marcam estes
diversos espaços centra-se na qualidade, eficiência, eficácia, melhoria
1
da
educação pública brasileira. Administradores da educação pública, pais
professores, alunos, membros da academia e sindicalistas se digladiam e se
1
No Brasil, no âmbito oficial, acadêmico ou sindical não é muito comum o uso da terminologia “escola eficaz “ e
“escola eficiente ”mas o uso das expressões “escola de qualidade, escola de qualidade social” (está última mais
utilizada após a discussão do Plano Nacional de Educação – PNE – pela sociedade civil. A realização do I CONED, ( I
Congresso Nacional de Educação), na cidade de Belo Horizonte, em 1996, reafirmou a expressão qualidade social que já
vinha sendo utilizada por alguns acadêmicos para distinguir a qualidade da educação que a sociedade civil propunha para
a educação brasileira e que seria apresentada no Plano Nacional de Educação. Portanto, o tema central escolhido para o I
CONED - Educação, Democracia e Qualidade Social - “ explicita a contraposição à política educacional há tempos
vigente no país, caracterizada pela exclusão social, por implementação de medidas à margem e à revelia do debate
democrático, pelo condicionamento de suas iniciativas à lógica e aos ditames da noção neoliberal de “qualidade total”.
(Relatório com as diretrizes do I CONED para o Plano Municipal Nacional de Educação (p.11) . Entre os usuários da
escola pública as expressões “boa escola” ou ”melhoria da escola” são mais utilizadas. Há ainda que ressaltar como
Reynolds et al, apud Ribeiro e Scalon (2001), que o estudo sobre a qualidade da escola tem ocorrido em duas
perspectivas distintas: os que tratam da eficácia da escola e os que tratam da melhoria da escola. Os primeiros tratam de
identificar e explicar as diferenças ou as características
entre as escolas consideradas eficazes em meio ao conjunto
de escolas e os trabalhos sobre melhoria da escola tratam do gerenciamento das mudanças.
2
confraternizam em torno de políticas educacionais que prometem melhorar e, em
alguns casos, “resgatar” a qualidade da educação.
Desenvolvi minha pesquisa de mestrado discutindo a formação de
professores que, no Brasil, a partir da década de 1980 e, sobretudo, na década de
1990 – período marcado pelo movimento de avaliação de desempenho dos
alunos da educação básica em nível nacional e local
2
– foi tomada como um dos
pilares da melhoria da qualidade na educação.
A partir da década de 80, são uníssonas as vozes governamentais
que insistem em “clamar” pela necessidade de investir na
formação continuada dos professores – “política de reforma dos
professores ou reconversão ” (Dicker, 1997) - como “insumo”
prioritário na conquista da qualidade na educação. Assim como
são uníssonas as vozes da academia e dos profissionais da
educação que atribuem ao investimento na formação continuada
lugar igual na escala de prioridades a outros elementos como:
gestão democrática, financiamento, materialidade, reorganização
dos tempos e espaços escolares, currículo, jornada de trabalho,
autonomia pedagógica - para atingir a qualidade social na
educação.
Por um lado, o campo educacional defronta-se com a “verdade
irrefutável” apontada pelo governo – os professores são
incompetentes – e com a exigência de que sejam alquimistas –
“transformar metais comuns (ambiente inadequado, classes
numerosas e estudantes desinteressados) em ouro (motivação
para aprender, construção da cidadania, estudantes com espírito
investigativo e crítico)” (Nacarato, et alii,1998). Por outro lado,
caminham as constatações e análises dos professores sobre os
limites, com os quais se confrontam no fazer pedagógico, -
organização do tempo, métodos, estratégias, conteúdos, sistemas
de avaliação, formação precária. Caminham as dúvidas ou
certezas sobre o desajuste entre a prática pedagógica e os
objetivos propostos no sentido de apreender e responder às
necessidades dos alunos. Caminham as dúvidas sobre para que
sociedade formar. E, correm certezas sobre os dilemas e desafios
da prática pedagógica cotidiana. (Damasceno, 2002).
Após esta investigação ficou-me claro que a gestão e organização do
trabalho escolar constituíam fatores significativos na questão do investimento na
formação docente em serviço.
2
O Sistema Nacional de Avaliação toma força e os resultados dos exames do SAEB (Sistema de Avaliação
da Educação Básica) e mais, recentemente, do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) passam a ser os
indicadores da qualidade das escolas brasileiras. Em Minas Gerais, o governo estadual criou, em 1999, o
Sistema Mineiro de Avaliação Escolar (SIMAVE), cuja meta era introduzir “mecanismos permanentes e
modernos de avaliação de desempenho de escola, profissionais e alunos para apuração da qualidade e dos
resultados educacionais”.
3
Os primeiros estudos para desenvolvimento de uma pesquisa nessa
perspectiva iniciaram com a participação em um grupo da Faculdade de
Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FAE/UFMG), que pretendia
criar na instituição um Núcleo de Estudos da Educação Básica, cujo objetivo
central seria desenvolver estudos e pesquisas voltados para esse nível de
educação, envolvendo aspectos curriculares, práticas pedagógicas, material de
ensino e organização pedagógica e administrativa de estabelecimentos escolares.
Ou seja, desenvolver conhecimentos no âmbito da educação básica, buscando
contribuir para melhoria da qualidade de ensino, sobretudo, da rede pública.
O trabalho desse grupo iniciou-se com a proposta de desenvolver uma
ampla pesquisa que pretendia integrar conhecimentos sobre a educação básica, a
partir de uma investigação voltada para o estudo de um estabelecimento de
ensino público, situado em Belo Horizonte – Colégio Estadual Central, hoje,
Escola Estadual Governador Milton Campos – o qual foi considerado referência
de excelência no ensino em Minas Gerais e que, nas últimas décadas, segundo
alguns discursos governamentais, acadêmicos, sindicais e dos atores do
processo educativo escolar, vem, gradativamente, entrando em declínio e
perdendo o reconhecimento social.
Essa pesquisa pretendia focalizar o período de funcionamento da escola
entre os anos de 1956 e 1970, desenvolvendo investigações sobre a organização
pedagógica e administrativa, os aspectos curriculares, as práticas pedagógicas, o
material de ensino e as trajetórias escolares e investimentos familiares dos
alunos.
Configuraram o amplo escopo da pesquisa pretendiad três subprojetos
interdependentes e inter-relacionados formando um todo, mas que exigiam uma
investigação realizada de forma autônoma, por terem seu objeto próprio de
estudo.
1. O projeto Colégio Estadual de Minas Gerais: o papel da estrutura
administrativa e pedagógica na construção de sua identidade: esse projeto
seria de minha responsabilidade e pretendia realizar a análise de aspectos
administrativos, estrutura e funcionamento, gestão, organização docente e
discente, normas acadêmicas, estatuto e regimento da escola.
2. O projeto Colégio Estadual de Minas Gerais: trajetórias escolares e
investimentos familiares dos alunos: um projeto que focaliza a trajetória de
4
alunos de diferentes camadas sociais que freqüentaram a escola no
período mencionado, buscando-se analisar o impacto da escola em suas
carreiras acadêmicas, profissionais e nos gostos, interesses e valores
despertados pela vivência naquele estabelecimento. Esse projeto foi
desenvolvido pela Doutora Fátima Ansaloni na FAE/UFMG.
3. Colégio Estadual de Minas Gerais: currículo e práticas pedagógicas: um
estudo de parte da memória de professores e alunos, buscando recuperar
aspectos ligados ao currículo, às práticas docentes, processo de avaliação,
relação professor-aluno. Projeto desenvolvido pela Doutora Lucíola Licínio
de Castro Paixão Santos.
O projeto Colégio Estadual de Minas Gerais: o papel da estrutura
administrativa e pedagógica na construção de sua identidade de minha autoria
constituiu, pois, o projeto inicial proposto ao doutorado da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC/SP). Alguns pesquisadores desse grupo iniciaram
seus trabalhos bem antes, uma vez que eu ainda me dedicava a finalizar minha
pesquisa de mestrado.
O trabalho de articulação das pesquisas desse amplo projeto vem se
traduzindo na busca da interlocução, entre os pesquisadores, realizada por meio
de leituras e discussões das pesquisas, já em andamento ou finalizadas e troca
de informações.
O processo de interlocução dos pesquisadores e minha entrada na escola
para coleta de dados fizeram com que meu projeto inicial apresentado ao
doutorado tomasse outros rumos, uma vez que novas questões foram suscitadas,
mudando o foco inicial da pesquisa, que era gestão e organização administrativa
e pedagógica da escola. Sem deixar de lado a escola focalizada pelo projeto
citado, questões atuais foram consideradas relevantes para o estudo do trabalho
escolar.
As reiteradas referências a uma “boa escola” pública que existiu, ou que
foi (para alguns ainda é) o Colégio Estadual Central ou Escola Estadual
Governador Milton Campos chamaram-me a atenção para a necessidade de
investigar o que seria essa “boa escola” para alunos e alunas, professores e
professoras, gestores e gestores dessa escola.
5
Parti da suposição que os diferentes grupos de atores
3
do processo educativo
escolar, gestores, professores, alunos, constróem um capital (representação)
comum a respeito da "boa" escola e que esse capital comum pode ser
reconhecido socialmente como “verdade", incorporada e percebida como a
própria realidade.
Busquei, pois, realizar uma investigação que respondesse: Que
elementos configuram ou que "crenças" fundamentam a representação de
“boa escola” dos atores do processo educativo escolar - alunos e alunas,
professores e professoras, gestores e gestores – de uma escola pública de
ensino médio considerada de excelência em Belo Horizonte, a partir de sua
posição no âmbito da educação básica?
O conceito de representação social desenvolvido por Moscovici e o
conceito de representações, habitus desenvolvidos por Bourdieu, conceitos que, a
meu ver, são complementares, se interpenetram e se cruzam me pareceram
instrumentos essenciais para o entendimento da realidade na qual pretendia
mergulhar.
As contribuições advindas da revisão bibliográfica, principalmente dos
estudos de Bourdieu, Moscovici e seus seguidores – Spink, Farr, Minayo,
Jovchelovith e Alves-Mazzotti – e da convocação para o diálogo de outros
autores, como Nogueira, Brandão, Zago, Lahire, Forquin, Viñao Frago e
Escolano, Nóvoa, Hargreaves e Barroso orientaram o desenvolvimento desta
investigação.
Respeitando os diferentes aportes teóricos e diferentes metodologias
adotados, concorreram ainda para a revisão bibliográfica, que orientou essa
investigação, dissertações e teses que tratam da questão, uma vez que essas
representam um acúmulo de estudos e de contribuições aos estudos da qualidade
da escola, de sua eficácia e dos interesses e representações dos atores do
processo educativo escolar.
3
Considerando a necessidade de buscar conceitos que permitam compreender a síntese das dimensões
subjetivas e objetivas da realidade social, Bourdieu (2004a, p.10) a partir da teoria da ação - habitus - propõe
a ruptura com conceitos como sujeito, motivação, ator, papel e utiliza o conceito de agente. Canário (1995),
nessa mesma perspectiva utiliza o termo ator para denominar o indivíduo em cuja ação se reconhece tanto a
consciência e a decisão individual como a determinação objetiva da realidade social. Forquim (1995) defende
que o termo ator restitui às ações individuais sua inserção nas relações sociais historicamente determinadas,
sendo portanto uma concepção mais dinâmica de ação individual. Considerando a mesma necessidade desses
autores, optei por utilizar ator, tomado como o agente de seus atos, intérprete de seu próprio papel, produtor
e produto de intervenções nos grupos sociais do qual faz parte, como sugere Falsarella (2004).
6
Tomei por representações, assim como o fizeram Moreira e Oliveira (1998,
p.Xi), baseadas em Moscovici
(...) as idéias, imagens, concepções e visões de mundo que os
atores sociais possuem sobre a realidade [no caso, a boa escola],
as quais estão vinculadas às práticas sociais. Ou seja, cada grupo
social elabora representações de acordo com sua posição no
conjunto da sociedade, representações essas que emergem de
seus interesses específicos e da própria dinâmica da vida
cotidiana.
Para Bourdieu,
(...) as representações dos agentes variam segundo sua posição
(e os interesses que estão associados a ela) e segundo seu
habitus como sistema de esquema de percepção e apreciação,
como estruturas cognitivas e avaliatórias que eles adquirem
através da experiência durável de uma posição do mundo social
(...) o habitus produz práticas e representações que estão
disponíveis para a classificação, que são objetivamente
diferenciadas; mas elas só são imediatamente percebidas,
enquanto tal, por agentes que possuam o código, os esquemas
classificatórios necessários para compreender-lhes o sentido
social. (Bourdieu, 1990, p.158, grifos meus)
Para que haja a representação de “boa escola” é necessário que haja
escolas que possam ser classificadas como “más escolas”. Há, pois, bens
(escolas) classificados e ao mesmo tempo classificantes, hierarquizados e
hierarquizantes. É também necessário haver agentes dotados de princípios de
classificação/hierarquização - possuam o código, os esquemas classificatórios
necessários para compreender-lhes o sentido social - que lhes permitam
perceber entre estes bens (escolas) aqueles que lhes convém, ou seja, aquelas
escolas que “são do seu gosto”, as “boas escolas”. As práticas e as propriedades
– portanto, os princípios de classificação e hierarquização – constituem uma
expressão sistemática das condições de existência - ou estão inscritos nas
condições de existência – porque são o produto do mesmo operador prático, o
habitus.
Assim sendo, dentro da mesma lógica com a qual Bourdieu analisa a
produção do gosto, me propus a analisar a produção das representações de
“boa”, escola dos atores do processo educativo escolar do Colégio Estadual,
Colégio Estadual Central ou Escola Estadual Governador Milton Campos
4
.
4
Na redação deste relatório pesquisa a opção por não usar a nova denominação – adotada a partir de 1978 -
Escola Estadual Governador Milton Campos justifica-se pelo fato de essa nada significar, como afirma o
7
Bourdieu,1983c, p.127). O diálogo com Forquin (1993, p167) que também
defende que a educação e todo o ensino repousam precisamente sobre um
princípio de preferência e de discriminação reforçou a proposição.
Se como defende Bourdieu, o consumo/gosto por bens culturais – no caso
a escolha da escola para estudar ou trabalhar - se inscreve numa vontade de
distinção social, o conceito de distinção constituiu também uma ferramenta
importante na leitura e análise das representações de “boa escola”, sobretudo dos
alunos e dos professores.
Concebi a hipótese da eficácia simbólica de determinado bem contribuir
para a produção de sua classificação. Ou seja, não desprezei a possibilidade do
bem – realização da classificação – ser o formador do “gosto” (qualidade) que
nele se reconhece. O Colégio Estadual parece ter acumulado uma “grife” em
torno do seu nome, e se fez necessário apreender os elementos que caracterizam
essa “grife” para cada um dos segmentos constituídos pelos atores do processo
educativo escolar.
Ao longo do estudo, outros conceitos como espaço social, classe e frações
de classe, socialização, capital cultural, capital social, capital simbólico, lógica da
necessidade, auto eliminação (as probabilidades objetivas e as aspirações
subjetivas), dentre outros, mostraram-se ferramentas substanciais na apreensão,
compreensão e análise da representação de “boa escola” construída pelos atores
do processo educativo escolar do Colégio Estadual Central.
Bourdieu defende que todo conhecimento é uma forma de subversão e as
transformações políticas devem pressupor sempre uma subversão cognitiva. Se a
representação é uma forma de conhecimento da realidade, ela precisa ser
conhecida. Numa realidade educacional onde o que mais se discute é a qualidade
da escola, ou a “boa escola” acredito que já se faz hora de buscar conhecer as
representações dos atores do processo educativo escolar sobre “boa escola”, pois
vislumbra-se aí possibilidades férteis de enfrentamento das realidades
educacionais.
professor Mac Bill: "Eu digo Colégio Estadual Central porque isso está no coração. Escola Estadual
Governador Milton Campos para mim não significa nada", e podemos observar nas várias entrevistas. Os
nomes referência da escola são Colégio Estadual ou Colégio Estadual Central, que serão utilizados ao longo
do relatório, considerando que não é qualquer estabelecimento da rede estadual, mas o Colégio Estadual ou o
Colégio Estadual Central como explicarei em capítulos posteriores.
8
Considerei, ainda que a configuração das representações de “boa escola”
está inserida na questão da qualidade da educação, ou seja,. pode ter sido
gestada por processos (debates, políticas, mobilizações influência da mídia) que
centram-se na melhoria, na eficácia ou na qualidade da escola pública.
Portanto, realizei uma revisão bibliográfica sobre a questão, cujo desenho
ou retrato apresento, a seguir, destacando o que vem sendo indicativo, atributo,
constitutivo da “boa escola” pública, da “escola pública de qualidade” ou, ainda,
da “escola eficaz” nos estudos e propostas educacionais desenvolvidos ao longo
das três últimas décadas do século XX e nos primeiros anos do século XXI no
cenário internacional e nacional.
2. A “BOA” ESCOLA E A ESCOLA DE “QUALIDADE” NOS
ESTUDOS E PROPOSTAS EDUCACIONAIS NO CENÁRIO
INTERNACIONAL E NACIONAL
A escola de qualidade é aquela que tem
como objetivo contribuir para criar
condições duradouras para que as
pessoas vivam em paz. Entendendo paz
muito além da ausência de violência ou de
guerra: como condições duradouras para
reduzir a fragmentação do tecido social e
possibilitar a aquisição e aumento do
capital social
5
.
A investigação sobre as representações de “boa escola” construídas pelos
atores do processo educativo escolar não pode prescindir de uma análise, ainda
que breve, sobre a qualidade na educação, haja vista que os reflexos das
5
Adaptação do seguinte texto de Reimers (2003): “ El objetivo más importante que pueden tener las
escuelas es el de contribuir a crear condiciones duraderas para que las personas vivan en paz. Eso es mucho
más que vivir en ausencia de guerra o de violencia. Requiere mejorar la calidad de la educación, sobre todo
para reducir las brechas sociales que continúan segmentando a las sociedades y reduciendo la confianza y el
capital social.” (P. 43)
9
diversas e diversificadas políticas de busca ou de investimento na qualidade da
educação, hoje tão propaladas pela mídia, podem constituir possíveis veios para
a construção, afirmação ou infirmação das representações.
Segundo pesquisa realizada por Reimers (2003), o Brasil destaca-se como
um dos países em que os alunos e suas famílias têm grande esperança na escola
e em seus professores. Os alunos brasileiros estão entre aqueles que mais
gostam de assistir às aulas; seus professores, entre aqueles que mais se
interessam pelo seu bem estar, que mais lhes escutam, que mais os ajudam
(pp.18-21). A despeito de tudo isso, várias são as pesquisas, os discursos, as
queixas que insistem em dizer que nas escolas públicas os alunos pouco
aprendem, ou, ainda, que estas escolas “perderam” sua qualidade.
A intensificação dos discursos sobre a necessidade de se resgatar a
qualidade na educação, que faz supor que existe uma qualidade perdida, ou de
se investir na construção da qualidade coincidem com os movimentos
denominados lutas pela inclusão social e garantia dos direitos das minorias.
Se há um discurso afirmando que a escola pública perdeu a qualidade, que
qualidade é esta? A quem cabe a tarefa de reconstruir a qualidade perdida? Para
alguns vale o esforço, a luta pela defesa da escola pública de qualidade para
outros “a escola vem se tornando mais uma “causa perdida” cuja solução
encontra-se longe demais para que valha algum esforço buscá-la” (Ribeiro, 2001,
p11).
A ninguém passam despercebidas as críticas e avaliações e a busca
incansável de identificação de culpados ou de soluções mágicas para os
problemas da educação que se fazem ao longo de muitos anos. A questão da
qualidade não é um debate novo, nem tampouco um debate restrito ao campo
educacional. Palácios (1979), afirma que:
a transmissão institucionalizada dos conhecimentos de uma
geração para outra esteve submetida à crítica e revisão desde
suas origens.” (Palácios, apud Nascimento, 1996 p.21)
As palavras de Berrio (apud Barroso, 1997), reforçam:
A busca da qualidade não é uma questão só de agora, das gentes
de nossa geração que estão no poder (poder econômico, político,
ideológico, moral). (...) O que sucede, agora, como já sucedera na
Segundo Reimers (ib), Putnam disse que o bom funcionamento da democracia precisa da existência de
capital social, que entre outras coisas consiste na capacidade que tem as pessoas de confiar nos demais e de
associar-se a eles para desenvolver projetos compartilhados. ( p22)
10
história mais remota, é que cada grupo no poder teve um conceito
determinado de qualidade. Uma idéia distinta do que era uma
educação de qualidade. E quando os conceitos não coincidiram
formularam-se sempre, em privado ou público, diferentes juízos
sobre a qualidade educativa dos outros (p. 44)
Barroso (1997), considera que a centralidade da questão da qualidade nos
debates educacionais, nos dias atuais, pode ser melhor entendida a partir de uma
reflexão sobre os movimentos pela qualidade ou pela eficácia das escolas que se
dão no âmbito externo e interno do campo educacional, nas últimas três décadas.
Contudo, como afirma Barroso (1996), é preciso considerar que a generalidade
dos autores adverte que, apesar de 30 anos de investigação, ainda estamos no
começo da constituição de um saber sobre os factores que influenciam as
aquisições dos alunos (p. 179).
A revisão inicial da bibliografia internacional e nacional que trata do tema
qualidade e eficácia das escolas permitiu-me verificar que alguns estudos
reafirmam a dificuldade de se determinar o que torna uma escola de qualidade ou
uma escola boa, outros tecem algumas advertências e outros, ainda, tendem a
enumerar um conjunto de características ou fatores presentes nas escolas de
qualidade ou nas escolas eficazes
As dificuldades para se chegar à definição do conceito de qualidade
equiparam-se às dificuldades que cercam a análise das políticas de promoção da
qualidade.
Barroso (1997), por exemplo, propõe um olhar caleidoscópico para se
buscar entender as várias lógicas que produzem os discursos, políticas, medidas
ou ações no domínio da qualidade da educação, buscando-se evitar o
maniqueísmo analítico que vê estas políticas apenas sob dois pontos de vista:
dos “militantes” da “qualidade” que de “bandeira em punho” armados das suas
bíblias (ou livros vermelhos, ou verdes) vêm pregar a “boa nova” de que todos
podemos (e devemos) ser “normalizados” para atingir o paraíso da
“excelência”.
dos “desconfiados sistemáticos” [característica de nossos movimentos sindicais] que
sempre que lhes falam de “qualidade” ( ou de excelência ou de eficácia) só
vêem manobras maquiavélicas do Estado para controlar as escolas e os
cidadãos e para impor um modelo de racionalização da vida social. (p. 30)
(grifos do autor)
O olhar caleidoscópico, ao levar em consideração as diversas formas que
assumem as políticas, medidas, ações em busca da qualidade e a pluralidade de
11
atores que as produzem, permite identificar algumas lógicas que se cruzam e se
interpenetram na orientação destas políticas, tais como:
a lógica retórica em que o discurso substitui as políticas, medidas e
ações;
a lógica simbólica em que a qualidade emerge como força
mobilizadora de um voluntarismo político-militante;
a lógica mundana em que o uso de jargões como qualidade,
excelência, qualidade total e muitos outros que compõem as bíblias
de gestão são utilizados para aparentar modernidade;
a lógica pedagógica na qual a qualidade significa sucesso
educativo ;
a lógica política na qual a qualidade é um instrumento estratégico
no quadro de uma recomposição mais vasta do papel do Estado na
educação. Nesta lógica são impostas normas estritas que definem
os padrões de qualidade que as escolas devem respeitar. A
imposição e controle da obediência às normas pode responder aos
seguintes objetivos: a) conciliar a eficiência e a equidade no
funcionamento do sistema educacional; b) reduzir o monopólio
público da educação, introduzindo uma lógica de mercado no
sistema educacional; c) manter o controle sobre o sistema
educacional.
a lógica gerencialista caracteriza-se pela abordagem da qualidade
exclusivamente na dimensão da gestão das escolas. Tenta resolver
os problemas da qualidade da educação aplicando modelos
empresariais de gestão nas escolas, como é o caso da gestão pela
qualidade total. O problema desta lógica não se situa unicamente na
utilização de técnicas para promover a mudança organizacional da
escola, mas, sobretudo na imposição destas desconsiderando as
características, singularidades e capacidades concretas dos atores
do processo educativo que vão executá-las e das escolas onde
serão desenvolvidas;
a lógica avaliativa pode ser explicada por três razões:
12
a) justificar as despesas com a educação em face à insatisfação
com os resultados escolares, seja na forma de insucesso, seja na
forma de desqualificação para o mercado de trabalho; b) controlar o
sistema educacional que adota a organização descentralizada; c)
desenvolver processos de auto análise das escolas a partir do
diagnóstico da avaliação, o que pode possibilitar novos
planejamentos. (Barroso, 1997).
Dando continuidade às considerações sobre as lógicas que produzem os
discursos, políticas, medidas ou ações no domínio da qualidade da educação,
lembramos que Silva (1996), por sua vez, desenvolve uma análise que se por um
lado foge à proposta de análise caleidoscópica de Barroso, por outro, aproxima-se
de algumas lógicas e argumentações por ele apresentadas.
Com base na leitura da experiência já vivida por alguns países em
desenvolvimento da América Latina, como Argentina, Chile, Equador e Brasil,
Silva (1996) aponta duas concepções radicalmente antagônicas de qualidade em
educação.
Uma, que se inscreve na perspectiva da constituição da mercoescola, cujo
propósito fundamental é a formação de “cidadãos” clientes, consumidores e
produtores induzidos à competição e concorrência: uma escola onde se
confrontam provedores, de um lado, e consumidores, de outro, a exigirem a
qualidade de um produto. O aluno reduz-se a produto e a qualidade resume-se na
medição da eficácia dos “insumos” aplicados ao produto, ou seja, a qualidade
resume-se a aferições da produtividade da escola, baseadas, unicamente nos
índices de aprovação e reprovação ou nas avaliações externas que se apóiam
exclusivamente no desempenho dos produtos, digo dos alunos, em testes e
provas realizados pontualmente. É ainda, segundo Silva, uma qualidade de viés
tecnocrático, instrumental, pragmático, gerencial que tem como espelho os
objetivos e processos de trabalho da grande empresa capitalista. Esta concepção
pode ser lida a partir das lógicas política e avaliativa descritas por Barroso.
Outra, que se inscreve na perspectiva da constituição da escola
democrática. E que Silva (ib.) assim descreve:
(...) há também uma tradição democrática de qualidade em
educação, desenvolvida em anos de luta por educadores e
educadoras envolvidos/as na teoria e na prática educacionais.
Essa tradição está baseada numa concepção sociológica e
13
política da educação e sua noção de qualidade está estreitamente
vinculada ao combate às desigualdades, às denominações e às
injustiças de qualquer tipo. Nessa perspectiva, a qualidade é um
conceito inescapavelmente político. (p.170).
É um conceito fundamentalmente político porque pressupõe decisões
democráticas sobre os objetivos, parâmetros, diretrizes e finalidades da educação
ao contrário, de seguir procedimentos “corretos” e “apropriados” prescritos por
experts em administração e gerência, por vezes, associados a educadores
“iluminados” instalados nas instâncias educacionais pertencentes aos sistemas de
ensino. É uma concepção de qualidade em educação, que transcende “o espaço
de prática das habilidades estreitas e restritas do indivíduo econômico e do
consumidor” (Silva, ib.), para ocupar o espaço de prática e exercício da política
mais ampla e democrática. Essa concepção de qualidade que, segundo Silva, ”é
política e não técnica; é sociológica e não gerencial; é crítica e não pragmática”,
pressupõe uma concepção de educação que Paro (1998) define com propriedade:
(...) não basta formar para o trabalho, ou para a sobrevivência,
como parece entender os que vêem na escola apenas um
instrumento para preparar para o mercado de trabalho ou para
entrar na universidade (que também tem como horizonte o
mercado de trabalho). Se a escola deve preparar para alguma
coisa, deve ser para a própria vida, mas esta entendida como o
viver bem, no desfrute de todos os bens criados socialmente pela
humanidade. (p. 301.).
A opção pelo investimento em aspectos apresentados como qualificadores
de mercoescolas ou de escolas democráticas tenta responder aos discursos
sobre a ineficácia, ineficiência, desqualificação, sucateamento, fracasso da escola
pública. A cada momento e movimento questões como os aspectos físicos do
prédio escolar, a organização da escola, currículo, projeto político-pedagógico,
formação continuada de professores, o reconhecimento da diversidade cultural
dos alunos, gestão, segurança, ora articuladas, ora de forma isolada se fazem
presentes nos discursos e nas propostas oficiais, acadêmicas e das organizações
sindicais e financiadoras internacionais como fatores constitutivos da qualidade da
educação.
Uma das questões a ser examinada nos discursos, avaliações e propostas
dos atores do processo educativo escolar é a restrição da busca da qualidade da
educação a investimentos neste ou naquele aspecto de forma isolada. Ora se
propõe investir na reformulação dos currículos, como fez a Secretaria Estadual de
14
Educação de Minas Gerais (SEE/MG), no final da década de 1980; ora, na
formação de gestores competentes, como em meados da década de 1990, com a
implantação do Programa de Qualidade Total; ora, na formação dos professores,
como tentou também a SEE/MG no final da década de 1990, implementando
alguns programas de formação de professores.
Comungo com Barroso (1996), quando afirma que “é preciso relativizar
algumas das conclusões apressadamente tiradas das investigações”. Relativizar
alguns conhecimentos ou conclusões produzidos até o momento sobre a eficácia
da escola. A relativização, como alerta Barroso, é um imperativo para não se
incorrer no risco de acreditar ou fazer acreditar que o que é suficiente para tornar
uma determinada escola eficaz, boa, de qualidade é suficiente para todas as
escolas. Não é demais ressaltar que esses conhecimentos não podem ser
tomados como lei, norma, regra a ser seguida para se atingir a qualidade
desejada, pois a realidade, a história, a trajetória, a cultura, as práticas de cada
escola são sempre versões locais particulares. A singularidade de cada escola
não pode ser copiada ou transplantada para outra.
Quanto à utilização de prescrições oficiais sobre como atingir a eficácia,
eficiência, qualidade na educação, transcrevo a advertência de Baillauquès (2001)
no que se refere ao papel do professor, mas que pode ser transposta para esta
questão:
(...) as prescrições oficiais devem ser sempre analisadas, pois são
tão redutoras e contraditórias quanto imperativas e ambíguas; são
submetidas às pressões políticas do momento, confrontadas com
influências sociais, históricas e corporativas, marcadas por
estereótipos e perturbadas por conflitos. (p. 53)
É importante, ainda, ressaltar que a qualidade ou eficácia das escolas
torna-se, a cada dia, objeto de pesquisa mais sedutor. Já pulou os muros
acadêmicos, sindicais e administrativos e encontrou nos veículos mais populares
de informação um lugar de destaque. A Revista Veja
6
, em Edição Especial,
informa que numa consulta a cem dos mais respeitados especialistas em
educação do país entre pedagogos, educadores, autoridades do Ministério da
Educação e Cultura (MEC), diretores de escola, orientadores e professores de
6
Parte da reportagem, encontra-se em anexo neste.
15
reconhecido prestígio aos quais a revista indagou: quais são as características
comuns aos bons colégios?
Houve consenso em um ponto fundamental: o fator decisivo para
a avaliação de um estabelecimento de ensino é o quadro docente.
Mais do que salas espaçosas, ginásios cobertos, número de
idiomas lecionados, a qualificação dos professores e as condições
de trabalho que lhes são dadas permitem medir o nível do ensino
mantido pelas escolas. "Muitos colégios dispõem de
computadores modernos, laboratórios bem equipados, piscina e
belos auditórios", diz Noeli Weffort, da Faculdade de Educação da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. "Mas, se não
tiverem também um corpo docente eficiente e estimulado, nada
disso adianta”
E informa também que:
A pesquisa VEJA Belo Horizonte-Ipsos Marplan comprova uma
tese bastante simples: o que faz a diferença entre uma escola boa
e uma mediana são os professores. Apesar da introdução de
novas tecnologias, das instalações cada vez mais sofisticadas que
deixam alguns colégios com ares de clube, o sucesso ou o
fracasso de um projeto pedagógico depende fundamentalmente
da interação entre professor e aluno, dentro da sala de aula (Veja
Belo Horizonte: Edição Especial, 22/05/2002)
Alguns estudos, já desenvolvidos
7
apresentam um conjunto significativo de
fatores considerados como qualificadores das boas escolas, dentre eles: possuir
um projeto educativo claro; contar com a liderança da direção, participação dos
pais, nível de expectativa dos professores em relação aos alunos, clima da
escola, trabalho coletivo dos professores; garantir a estabilidade e processo de
formação permanente do grupo de professores, a utilização racional dos tempos
escolares e a autonomia pedagógica.
Considerando todos esses estudos que trazem grande contribuição à
discussão sobre a qualidade na educação, propus desenvolver um estudo
também sobre o tema. Esta investigação, diferentemente de outras tantas, não
tem como cerne buscar explicações para o desempenho escolar dos alunos.
Busca compreender o que nutre a representação de "boa escola" ou de "escola
de qualidade" dos atores do processo educativo escolar da Escola Estadual
7
Good e Weinstein ( 1995); Nóvoa (1995); Ribeiro (2001); OCDE (1987); Nogueira (1995, 2002, ); Soares
(2002) ; Ação Educativa, UNICEF, PNUD, INEP-MEC ( 2004); Nogueira, Romanelli e Zago (2003);
Brandão (2004).
16
Governador Milton Campos, entendendo a escola pública como uma construção
social que emerge no seio de um conjunto de crenças, de aspirações, de
expectativas e de valores, que nas complexas sociedades contemporâneas, estão
esvaziados de sentido. Busca, não deixar na sombra as disposições,
sensibilidades e habilidades sociais que a experiência escolar está encarregada
de produzir e que são tão significativas na configuração da representação de "boa
escola". (Almeida, 2002, p.136).
O relatório da investigação está organizado em uma parte introdutória,
cinco capítulos, as considerações finais e um conjunto de anexos.
O primeiro capítulo apresenta a gênese da investigação e algumas
considerações sobre a “boa escola” e a “escola de qualidade” nos estudos e
propostas educacionais no cenário internacional e nacional .
O segundo capítulo discorre sobre a importância da pesquisa e sobre os
aportes teóricos e metodológicos que a sustentam, situando o leitor no processo
metodológico da pesquisa, uma vez que por razões teórico-metodológicas, o
aprofundamento dos meandros da metodologia é apresentado em capítulos
específicos.
Portanto, os dois capítulos que se seguem discorrem, respectivamente,
sobre o locus da pesquisa e os sujeitos da pesquisa.
O último capítulo dedica-se ao exercício sociológico de urdir os dados da
confrontação e da justaposição das representações de “boa” escola dos atores do
processo educativo escolar.
Finalmente, são elaboradas algumas considerações que pretendem por em
questão os processos em jogo na escola nos quais e por meio dos quais as
representações de "boa escola" são construídas.
17
CAPÍTULO I
QUE PESQUISA É ESTA? QUE APORTES TEÓRICOS
E ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS A SUSTENTAM?
As atitudes dos membros das
diferentes classes sociais, pais ou
crianças e, muito particularmente, as
atitudes a respeito da escola, da cultura
escolar e do futuro oferecido pelos
estudos são, em grande parte, a
expressão do sistema de valores
implícitos ou explícitos que eles devem
à sua posição social. (Bourdieu, 1999a,
p. 46).
1. A IMPORTÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO
Os estudos mencionados na parte introdutória trazem uma contribuição
significativa para a discussão sobre a qualidade na educação, buscando
identificar fatores que possam contribuir para a eficácia ou o efeito da escola no
desempenho dos alunos, portanto são estudos centrados no desempenho dos
alunos. A investigação a que me propus é de outra natureza, pois pretendeu
colocar o acento tônico na representação sobre boa escola construída pelos
alunos e alunas, professores e professoras, gestores e gestoras, buscando
identificar como eles explicam, explicitam, o que pensam, como percebem, que
opinião formulam, que expectativas desenvolvem, esses atores do processo
educativo escolar a respeito da questão. Dito de outra forma, busquei descrever
os processos em jogo na escola nos quais e por meio dos quais as
representações de "boa escola" são produzidas e que '"crenças" a fundamentam.
Evocando as palavras de Pereira, (2001):
As monografias sobre a degradação da escola pública em geral
enfocam quer condições econômicas e sociais nas quais se deu o
processo, quer os padrões de atendimento oferecidos pelo ensino
público básico – má formação dos professores, insuficiências
didáticas, inadequação ou defasagem dos conteúdos, reduzidos
vencimentos do pessoal docente e de apoio, baixa capacidade
instalada, decrepitude e abandono da estrutura mental, etc. A
perda de qualidade é interpretada como o resultado do
cruzamento de vários fatores, entre os quais a feminização, a
democratização do acesso sem a correspondente modificação do
sistema para torná-lo apto a receber enormes contingentes de
18
usuários, a legislação e as políticas públicas do Estado, entre
outros. Mas, salvo engano, parece que, no âmbito da
particularidade brasileira, ainda são escassos os estudos
empíricos sobre as relações entre as estratégias de distinção
dos grupos sociais e a imagem do ensino público (aceitação
ou recusa, classificações e julgamentos sobre o “nível” e a
qualidade). (p.50, grifos nossos.).
No que se refere à literatura nacional, é escassa a bibliografia sobre a
qualidade da escola, os estudos publicados sobre o tema são de origem
estrangeira ou algumas revisões de literatura com base nestes estudos. Mello
(1993) considera que
A eficácia da escola, entendida como qualidade do ensino,
remete, por sua vez, às questões de organização institucional e
pedagógica da unidade escolar. Nestes temas, a pobreza de
investigação existente no país e a urgência que se tem de
encaminhar soluções para a catastrófica situação do ensino público
entre nós requer diligências no sentido de identificar onde existe
conhecimento disponível e tratar de divulgá-lo, se possível com
observações críticas sobre sua adequação á nossa realidade
educacional. (p.1, grifos meus).
Alguns estudos permitem, de forma isolada, constatar algumas referências
sobre o conceito de “bom professor”
e de “bom aluno”
8
, preconizados pela ciência
e pelas representações sociais, contudo é necessário desenvolver pesquisas
sobre a representação de ”boa escola” construída pelos atores do processo
educativo escolar no seu conjunto.
A investigação desenvolveu-se num momento/movimento em que a
expectativa em relação ao papel da escola vem se modificando de forma
paradoxal – ao mesmo tempo em que se fala, se prega, se exige, no mínimo, a
formação básica, seja na dimensão do direito à educação ou na dimensão restrita
do desenvolvimento econômico, desvaloriza-se no discurso e na prática o papel
da escola como o locus desta formação.
Quanto à valorização e desvalorização da escola como locus de formação,
é interessante sublinhar:
a) a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9394/96)
amplia o conceito de educação e ressalta que esta abrange os
8
Sobre bom aluno ver: NOVAES (2005). Sobre alunos e professores ver: RANGEL (1994 e 2002)
19
processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na
convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa,
nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
manifestações culturais, mas sua essência resguarda o lugar primordial
da escola na formação/educação das crianças, adolescentes, jovens e
adultos;
Não se pode desprezar o fato de que se corre o risco de realizar uma
leitura desse artigo descolada do momento histórico, cultural e social em
que foi sancionada essa Lei, o que pode dar margem ao entendimento
de um deslocamento ou um esvaziamento da função da escola.
b) a função da escola vem sendo questionada tendo em vista dois
aspectos. Um primeiro, diz respeito ao lugar ocupado hoje pela
aprendizagem dos conteúdos universais na organização das práticas
pedagógicas da escola. Muitas escolas no afã de “atender às
necessidades e diversidades dos alunos” têm destinado tempo
significativo da jornada escolar a atividades sociais, culturais e de lazer,
desconsiderando a importância do lugar da escola no ensino e
aprendizagem dos conteúdos universais. Outro, relacionado à
ampliação das instituições que promovem a socialização e a
aprendizagem.
Portanto, não se pode desconsiderar que essa investigação foi realizada
num momento em que a função da escola pública vem sendo questionada: há
uma incerteza dos atores do processo educativo escolar acerca da função da
escola e uma insegurança acerca do seu papel em relação à instituição.
E, ainda, lembrando Bourdieu (1999c), ao mesmo tempo em que a escola é
a promessa de vida melhor, de postos avançados de trabalho, de ascensão social
tende também - diante da desvalorização que resulta da multiplicação de
diplomas nas classes populares, e a ocupação do mercado de trabalho, por
direito, pelos seus clássicos detentores, não dando lugar aos recém chegados - a
ser considerada ”cada vez mais, tanto pelas famílias quanto pelos próprios alunos
como um engodo, fonte de uma imensa decepção coletiva: essa espécie de terra
prometida, semelhante ao horizonte, que recua na medida em que avança em sua
direção.”(ib, p.221).
20
O ensino médio, particularmente, é um nível de ensino cuja identidade
ainda está em construção e um nível de ensino onde vêm se multiplicando os
diplomas.
Não podemos nos esquecer que o ensino se configura pelo cruzamento da
herança cultural, dos valores procurados na escola pela demanda social da
educação e o poder político num jogo, por vezes, antagônico de forças.
A configuração do ensino secundário em vários países e também no Brasil se
deu em função do ensino superior, o colégio secundário foi considerado por longo
tempo “peça” da escola superior. A escola secundária foi configurada como um
tipo autônomo de escola, desarticulado do ensino primário e dos demais tipos de
ensino pós-primário.
9
Este pode ser um dos motivos pelos quais até hoje as
discussões sobre a organização e funcionamento desse nível de ensino estão
sempre marcadas pela preparação para a entrada no ensino superior que muitas
vezes na representação dos atores do processo educativo escolar é fator
determinante na qualidade da “boa escola”, sobretudo se essa oferece apenas os
três anos do ensino médio.
Buscando na história da educação a gênese das escolas secundárias,
observamos que nos países europeus é uma modalidade pela qual as elites se
reproduziam e se distribuíam (ingresso nos postos de trabalhos do governo ou no
ensino superior) – modalidade de educação cuja gênese é a necessidade de
profissionalizar as elites, havendo, portanto, uma disputa destas para controlar o
processo de produção e de distribuição e desde então já havia uma disputa pelo
currículo do ensino secundário. O controle do processo de reprodução e
distribuição se fez através da disputa do currículo - currículo humanista e currículo
realista - a ser desenvolvido. Por longo tempo os processos e conteúdos
componentes do ensino secundário constituíram o “critério de avaliação – ou
desvalorização – das demais modalidades de ensino.” ( SILVA, 1969, p. 31)
9
A escola primária/elementar é um produto típico da modernidade, é uma instituição que nasce para resolver
o problema da educação das classes populares que se impõe de fato com o impacto acelerador do processo de
industrialização, verificado a partir do século XIX. Com o processo de industrialização e conseqüente
urbanização, surge a necessidade de se controlar as massas - as crianças e jovens das classes populares - que
não são destinadas à educação secundária. Para estes, é pensada a escola primária e a escola
profissionalizante. A escola primária não antecede a escola secundária, como se poderia supor, nem
tampouco lhe é simultânea na gênese e na formação. (DAMASCENO, 2004, p. 03)
21
No Brasil, a configuração do ensino secundário se diferencia um pouco de
outros países porque a elite brasileira, a princípio, não exige escolas secundárias,
mas escolas superiores onde possam estudar aqueles que estavam destinados a
freqüentar escolas superiores em Portugal. A maioria da população que
sobrevivia numa sociedade agrária, baseada no trabalho escravo, não se
interessava por esse tipo de formação. A partir do século XIX, surgem no Brasil
dois modelos de educação secundária: o modelo Pedro II, um modelo de
formação humanista, e o modelo Exames Preparatórios. O modelo Exames
Preparatórios vai modelar o ensino secundário no Brasil, impondo-se sobre o
modelo Pedro II uma vez que é um curso mais rápido, simples e direto.
Havia uma parcela da elite que questionava os Exames Preparatórios,
defendendo que eles credenciavam, mas não formavam, porém fração
significativa das elites econômicas não tendo em sua pauta o horizonte de
formação, mas da transferência do poder defendia apenas a instrumentalização
e/ou credenciamento e não a redistribuição do poder por meio da formação.
O ensino médio no Brasil é um nível de ensino que ainda não tem sua
identidade construída sobre as bases do direito à educação, basta observar que é
um nível de educação não obrigatória. Esse nível de ensino continua mostrando-
se resistente aos imperativos das mudanças sociais e culturais que marcam as
adolescências, juventudes e maturidades de nossos alunos. O esforço de se rever
a função social e o currículo do ensino médio não consegue vencer as tradições e
as resistências que com ele foram configuradas. Mantém-se a defasagem de
caráter quantitativo e qualitativo do ensino secundário tanto no que diz respeito ao
direito à educação, quanto ao que diz respeito ao desenvolvimento econômico do
país.
Neste momento e movimento pareceu-me bastante significativo realizar
uma investigação que possibilitasse apreender os atributos e/ou elementos que
constituem a qualificação da “boa escola” pelos atores do processo educativo
escolar: alunos, professores e gestores e, por meio da análise desses, buscar
apreender:
a) Há uma representação predominante de “boa escola” ou “escola de
qualidade” entre os atores do processo educativo escolar?
b) Que representação de “boa escola” predomina em cada um dos segmentos
de atores?
22
c) Qual a natureza dos atributos qualificadores da “boa escola” que
configuram as representações?
10
física/geográfica (localização da escola, aspectos físicos do prédio
escolar, recursos materiais);
cognitiva, (currículo (lista de conteúdos, extensão dos conteúdos
desenvolvidos, tarefas de casa, quantidade/ênfase de atividades
culturais, sistema de avaliação);
atuação e prática docentes ( formação dos professores )
sócio-afetiva (relação professor/aluno - poder/autoridade do professor e
direitos e deveres dos alunos - disciplina, socialização);
organizativa (controle, direção, relação com a administração central e
local).
destinação social (classe social, cultura, inserção social)
d) O que uniformiza/diferencia as representações quando analisadas a partir
do cruzamento de variáveis como: classe social, gênero, desempenho
escolar (no caso dos alunos), disciplinas lecionadas e tempo de serviço (no
caso dos professores), função (no caso dos gestores)?
e) Os atributos qualificadores da “boa escola” apontados pelos atores do
processo educativo escolar aproximam-se ou se distanciam dos
preconizados pelos estudos sobre as escolas eficazes ou sobre as escolas
de qualidade?
f) Como as práticas e o sistema valorativo presente na cultura da escola
contribuem para a configuração das representações? Ou seja, como as
condições objetivas de existência da escola e de seus atores contribuem
na configuração das representações de “boa” escola? E como as
representações de “boa” escola configuram as práticas e o sistema
valorativo?
Considerando que as representações se formam e se transformam num
contexto social (Moscovici, 1978) e que a construção da representação social é
um processo pluridimensional pessoal e subjetivo, grupal ou societário e objetivo;
10
Tendo em vista o complexo sistema de organização e funcionamento das instituições escolares, a
pesquisadora houve por bem elaborara essa taxonomia para identificação da natureza dos atributos
qualificadores da “boa escola” .
23
está carregado de afetos e do imaginário, sendo ao mesmo tempo
intelectualmente elaborado; institui-se em diferentes níveis de consciência;
constitui-se a partir da experiência individual (clara ou fantasiada, em graus
diversos) e também nos discursos formais.
11
, a investigação pretendeu, pois,
identificar, descrever e analisar o que nutre ou que "crenças" fundamentam a
representação de “boa escola” dos gestores, professores e alunos da Escola
Estadual Governador Milton Campos, uma escola pública, exclusivamente de
ensino médio, situada em Belo Horizonte.
Parti da suposição que para a compreensão de uma dada realidade faz-se
necessário identificar e entender como os atores sociais a identificam, explicam,
entendem, ou seja, suas representações sobre. Parti também da premissa que os
diferentes grupos de atores do processo educativo escolar constróem um capital
(representação) comum a respeito da "boa escola” e que esse capital comum
pode ser reconhecido socialmente como “verdade", incorporada e percebida como
a própria realidade.
Num primeiro momento, centrei o percurso da investigação na apreensão
das diversas representações sobre “boa escola”. No segundo, na compreensão
dos vários aspectos da "boa escola” apresentados. E a partir daí, tentei entender
a perspectiva a partir da qual os atores definem a "boa escola”, ou seja, em que
bases ela se constrói. Ou que conteúdos veiculam essas representações.
Esse exercício buscou entender um pouco o que pretendem trabalhadores
em educação, pais e alunos quando desencadeiam lutas por uma escola pública
gratuita de qualidade ou quando se entregam ao conformismo. E como suas
pretensões se integram, se coadunam ou se afastam das prescrições da “boa”
escola, já apresentados na literatura.
O estudo aqui apresentado pode constituir a base para a construção de
um conhecimento mais aprofundado da instituição escola e de seu papel na vida
dos atores do processo educativo escolar, pode constituir uma base para se
entender se as relações estabelecidas entre os atores do processo educativo
escolar se constróem em bases de aliança ou de adversidade. A socialização e a
discussão acerca das representações sobre boa escola, detectadas no processo
de pesquisa, podem constituir um caminho possível para a luta em defesa da
11
BAILLAUQUÈS, 2001, p. 51.
24
qualidade social da escola pública, na medida em que podem contribuir para a
discussão sobre a prática pedagógica do professor, a participação efetiva dos
pais na gestão da escola e no acompanhamento da vida escolar de seus filhos e
na ressignificação das relações de gestão entre diretores e professores, bem
como entre a escola e os órgãos responsáveis pela administração da política
educacional local. Pedindo licença a Marin (1998), para fazer minhas as suas
palavras, sustento que:
(...) a busca da melhoria da qualidade de ensino e a solução dos
problemas da escola pública brasileira e paulista [eu acrescento a escola
pública mineira que por anos sustentou (ou ainda sustenta) o slogan: Minas sai na
frente] hoje passam por muitos caminhos, desde a recuperação de
prédios e construções de espaços específicos, reequipamento das
escolas e salas de aula, chegando aos processos educativos e de
gestão. Queremos, entretanto, enfatizar nesse momento, os
caminhos internos à própria escola, ou seja, os caminhos voltados
para os professores seus parceiros imediatos de trabalho, pois
vislumbramos aí espaços de alteração e de enfrentamento da
realidades como dado fundamental a ser assumido para o trabalho
educativo de boa qualidade no estabelecimento de escola cidadã.
(p.15).
Os aportes teóricos sobre representações sociais e habitus, já
referenciados neste texto, e alguns estudos sobre os processos de formação dos
alunos e dos professores nos permitem inferir que o reconhecimento que os
atores do processo educativo escolar têm do papel da escola interfere
significativamente na construção de suas práticas (prática pedagógicas dos
professores, práticas de aprendizagem dos alunos e práticas de gestão dos
administradores). Advém daí a relevância do desenvolvimento de estudos que
permitam identificar e apreender a representação de “boa escola”, entre esses
diversos grupos. Tais estudos podem ser uma porta de entrada, uma janela para
se analisar “imagens” que podem apresentar “fantasias”, demonstrar contradições
entre a escola que existe e a escola que se diz ou que se pensa existir e ainda
desafiar e subverter as representações construídas.
Como afirma Novaes (2005),
(...) uma característica sempre foi comum, uma característica
insistente e persistente, qual seja, a crença na excelência de uma
escola e de um aluno pretéritos, crença esta compartilhada por pais e
professores. Dessa forma, perseverantemente e contumaz, tal crença
vai se alastrando, arregimentando cada vez maior número de pessoas
- pais, alunos, professores antigos, professores jovens, funcionários de
escola, enfim todos aqueles envolvidos com o trabalho escolar;
contudo, é preciso que se compreenda que tais crenças [no caso
25
as representações] não são males endêmicos que podem ser
eliminados, tão logo as razões objetivas que os causaram sejam
identificadas e combatidas, simplesmente porque não há o que se
combater, há o que se compreender para esclarecer sobre o
modelo de educação escolar, que serve de parâmetro a
aspirações e julgamentos tão generalizados. (p. 5, grifos meus).
2. REPRESENTAÇÕES E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
2.1 Uma visão panorâmica sobre o conceito de representação
Entre alguns estudos sobre representação, já mencionados, quando tratei
da revisão bibliográfica, o de Jane Spink (1993) é, a meu ver, o que de forma
mais clara nos apresenta uma visão panorâmica acerca dos sentidos da palavra
“representação” e opto por apresentá-la, pois creio que essa visão nos permite
entender os controvertidos debates acerca da utilização da teoria das
representações sociais de Moscovici, principalmente no campo da sociologia.
Considerando representação como formas de conhecimento, essa constitui
objeto de estudo de alguns campos que se debruçam sobre a questão do
conhecimento, a saber: a antropologia, a filosofia, a história, a psicologia
cognitiva, a psicologia social e a sociologia. As representações sociais emergem,
pois, num campo multidimensional que possibilita questionar, de um lado, a
natureza do conhecimento e de outro, a relação indivíduo-sociedade. (Spink,
1993, p. 301).
Poder-se-ia apresentar algumas considerações, levando-se em conta a
divisão de territórios disciplinares, como o fez Sperber (1989), (apud Spink, 1993,
p. 302), contudo acredito que a perspectiva adotada por Jodelet (apud Spink,
1993, p. 303) é mais adequada aos objetivos aqui propostos, por traçar um
panorama das várias teorias que trataram da questão do conhecimento.
Jodelet (ib) sustenta que há dois eixos principais no campo de estudos das
representações:
No primeiro eixo, as representações constituem formas de
conhecimento prático orientadas para a compreensão do mundo e
para a comunicação; no segundo eixo, elas emergem como
elaborações (construções de caráter expressivo) de sujeitos
sociais a respeito de objetos socialmente valorizados. As duas
dimensões descortinam pressupostos de natureza epistemológica
sobre a natureza do conhecimento. (p.303)
26
A partir da síntese de Jodelet, Spink (1993) apresenta esses dois eixos
com as seguintes denominações: as representações sociais como formas de
conhecimento e o sujeito como produto e produtor da realidade social. Assim
também apresentarei uma leitura das considerações de Spink.
As representações sociais como formas de conhecimento
Sem tomar a acepção jurídica do termo “representação”, encontram-se no
Dicionário Aurélio (Ferreira, apud Spink, 1993) duas definições para esse verbete:
“conteúdo concreto apreendido pelos sentidos, pela imaginação, pela memória ou
pelo pensamento”; ou seja, representação é a síntese do que se pensa (Ferreira,
apud Spink, 1993, p.303). E, numa segunda acepção, “ato ou efeito de
representar(se)”(ib)
No primeiro sentido, afirma a autora, a ênfase situa-se na natureza do
conhecimento na possibilidade mesma do conhecimento e da apreensão da
realidade. (ib), (grifos da autora).
Essa definição insere-se nas teorias clássicas que abordam o
conhecimento nas seguintes vertentes: a) teorias constituídas por conjuntos de
enunciados que definem normas de verificação e de coerência (Spink, 1993, p.
304) – que abordam o conhecimento como saber formalizado; b) teorias que
consideram os saberes formalizados (ciência) ou não formalizados (senso
comum) como construções sociais sujeitas às determinações sócio-históricas de
épocas específicas (ib), rompendo com oposição entre ciências e senso comum;
c) teorias que põem em pauta o desvelamento da teia de significados que
sustenta nosso cotidiano e sem a qual nenhuma sociedade pode existir (ib).
Spink ressalta que as teorias que tratam dos conhecimentos do senso
comum estiveram constantemente aprisionadas nos chavões de reprodução ou
de (re)presentação, mas que não se pode desconhecer que as teorias do grupo c
avançam numa outra perspectiva e não podem ser analisadas dentro desses
chavões. Essas teorias não só avançam no sentido de reconhecer o senso
comum como conhecimento “válido”, mas também no sentido de situá-lo como
teia de significados capaz de criar efetivamente a realidade social, ou seja, são
estruturas estruturadas e estruturas estruturantes.
Essa nova perspectiva da teoria do conhecimento teve papel fundamental
na elaboração do conceito de representações sociais.
27
Se a primeira acepção de “representação”, destacada do Dicionário
Aurélio, centrava-se na natureza do conhecimento, a segunda (“ato ou efeito de
representar(se)”) centra-se nas implicações práticas, ou seja, na ação, na
funcionalidade do conhecimento.
O sujeito como produto e produtor da realidade social
Ainda orientando-me por Spink (1993), nesse segundo eixo dos estudos
sobre representação, sintetizado por Jodelet, o sujeito não é considerado um
mero produto da sociedade, nem tampouco um livre agente. Aprofunda-se o
entendimento da relação indivíduo–sociedade, o sujeito é, pois, produto e
produtor das relações sociais e suas representações são tomadas como
construções de um sujeito sobre um objeto, ao contrário de reproduções do
objeto.
A teoria das representações sociais, desenvolvida por Moscovici, situa-se
nesse eixo, dito de outra forma, supera a dicotomia sujeito-objeto, visualizando o
sujeito e suas produções como produtos de sua socialização num determinado
segmento social. A individualidade, nessa perspectiva, emerge como uma
estrutura estruturada que tem potencial estruturante (Spink, 1993, p. 306).
2.2 O conceito de representações sociais de Moscovici
Embora controvertida, principalmente dentro da sociologia, a teoria das
representações/representações sociais é uma chave conceitual que me possibilita
apreender e analisar o que os atores do processo educativo escolar explicitam, o
que pensam, como percebem, que opinião formulam, que expectativas
desenvolvem a respeito da “boa escola” , ou seja suas representações sobre
“boa escola”, que são construídas socialmente e estão, necessariamente,
ancoradas no âmbito da situação real e concreta dos indivíduos que as emitem.
(Mazzotti , 1998).
Tendo em vista dar fundamentos à compreensão da abordagem teórica de
representações/representações sociais que constituem uma das chaves
conceituais desta investigação, importa, ainda, apresentar algumas considerações
a esse respeito, a partir de uma revisão bibliográfica dos estudos de Moscovici
(1978), Farr (1994), Minayo (1994), Spink (1993,1994) e Alves-Mazzotti (1998,
2002).
28
Retomando o conceito já apresentado no capítulo introdutório deste
trabalho, denominamos por representações, assim como fizeram Moreira e
Oliveira (1998), baseadas em Moscovici,
“as idéias, imagens, concepções e visões de mundo que os
atores sociais possuem sobre a realidade, as quais estão
vinculadas às práticas sociais. Ou seja, cada grupo social elabora
representações de acordo com sua posição no conjunto da
sociedade, representações essas que emergem de seus
interesses específicos e da própria dinâmica da vida cotidiana”.
(p.Xi),
Segundo Farr (1994), a teoria das representações sociais de origem
européia desenvolvida por Moscovici é uma forma sociológica de psicologia social
e difere marcadamente das formas psicológicas de psicologia social – defendidas
por Allport – que predominaram nos Estados Unidos.
A diferença reside principalmente na escolha do fundador da psicologia
social moderna escolhida por Moscovivi e por Allport. Enquanto Allport escolheu
Comte, como fundador da psicologia social, Moscovici optou por se apoiar nos
fundadores das ciências sociais na França, especialmente em Durkheim – o que
afirma seu comprometimento com uma forma sociológica e não psicológica de
psicologia social . “A escolha de um ancestral para um campo particular de
pesquisa se constitui num compromisso de opção. Ela quase nunca é uma opção
neutra”. (Farr, 1994, p.32).
Ainda, consoante Farr (1994), a teoria das representações sociais é uma
importante crítica sobre a natureza individualizante da maior parte da pesquisa
em psicologia social na América do Norte. Farr ressalta: “Moscovici suspirou pelo
dia em que as representações sociais pudessem substituir as opiniões e imagens,
pois esses termos são demasiadamente estáticos e descritivos”.(p. 49).
Minayo (1994, p.89) explica que os três clássicos Durkheim, Weber e Marx,
embora tenham uma forma muito particular de abordar o tema representações,
concordam com a importância de se compreendê-las como formas de construção
do conhecimento. Em muitos pontos as reflexões desses autores coincidem, mas
é fundamental apreender a divergência entre elas. Vejamos o que explica a
autora:
Para Marx, se estas representações estão coladas ao real, o
estudo e a análise das representações são um dado sobre o real,
isto é, também informam sobre a base material na qual se move
determinado grupo social. Durkheim, reafirmando a importância
29
das representações, diz que o pensamento coletivo deve ser
estudado tanto na sua forma como no seu conteúdo, por si e em si
mesmo, na sua especificidade, pois uma representação social, por
ser coletiva, já apresenta garantias de objetividade. Portanto, por
mais estranhas que possam parecer, elas contêm verdades que é
preciso descobrir. Para Weber, as representações e idéias têm
uma dinâmica própria e podem ter tanta importância quanto a
base material.
Para o conjunto dos autores é no plano individual que as
representações sociais se expressam. Marx fala na Ideologia
Alemã de sujeitos históricos ou de “indivíduos determinados”
como portadores de uma forma determinada de relações sociais,
políticas e econômicas. Durkheim chama atenção para o fato de
que as idéias coletivas tendem a se individualizar nos sujeitos,
tornando-se para eles uma fonte autônoma de ação. E Weber nos
diz que o indivíduo, enquanto portador de cultura e de valores
socialmente dados, é a “constelação singular” que informa sobre a
ação social de seu grupo, tendo-se em conta que o limite de suas
informações são seus valores, da mesma forma que os limites do
conhecimento científico do pesquisador são seus próprios valores.
(p.107).
Portanto,
Enquanto para Durkheim as representações sociais exercem
coerção sobre os indivíduos e a sociedade, para Weber os
indivíduos é que são portadores de valores e de cultura que
informam a ação social dos grupos. Marx admite com Durkheim
que os valores e crenças exerçam um papel coercitivo sobre “as
massas” mas insiste no caráter de classe das representações e no
papel da luta de classe que se dá no modo de produção e
determina o campo ideológico no qual se embatem dominadores e
dominados. Se para Durkheim a coerção das representações é de
tal monta que a sociedade é a “síntese das consciências”, Marx
admite o papel liberador da consciência de classe como motor da
mudança no interior das contradições que atravessam a
sociedade capitalista. (p. 108)
As considerações de Minayo e Farr me habilitam a concluir que Moscovici,
ao buscar na Sociologia de Durkheim os conceitos de representações individuais
e coletivas, vai além, ou melhor, como afirmam alguns dos autores estudados,
Moscovici trabalha com e contra Durkheim. Conserva a palavra representações,
não despreza o conceito de coletivo, mas entende que esse conceito era
adequado à sociedade de Durkheim - estática e tradicional - e que numa
sociedade pluralista, marcada por mudanças muito rápidas, o conceito de social
torna-se mais apropriado por definir a construção de sujeitos sociais que
permanentemente buscam entender, desafiam e transformam a dinâmica social,
ou seja, são produtos e produzem o social.
30
Spink (1994, p.120) explica que Durkheim acata a dupla face das
representações: estruturas estruturadas – o sujeito, está inscrito numa situação
social e cultural, tendo uma história pessoal e social, sua representação embora
resposta individual, é marcada pelas suas condições de existência. Os processos
que engendram representações sociais estão embebidos na comunicação e nas
práticas sociais: diálogo, discurso, rituais, formas de trabalho e produção, arte, em
suma, cultura. (Jovchelovitch, 1994 p.79) - e estruturas estruturantes – as
representações revelam o seu poder de transformação da realidade social.
A antítese apontada por Durkheim entre o individual e o coletivo é
solucionada por Moscovici que produz uma síntese. Assim sendo, comungo com
Farr (1994) que sustenta que Moscovici solucionou a distinção que Durkheim
apresentava entre representações individuais e coletivas, produzindo uma
síntese: a teoria das representações sociais que, insisto, como Farr (1994) se
inscreve numa forma sociológica e não psicológica, de psicologia social.
Complementando,Alves-Mazzotti (2002), diz:
Para Moscovici, sujeito e objeto não são funcionalmente
distintos, eles formam um conjunto indissociável. Isso quer
dizer que um objeto não existe por si mesmo, mas apenas em
relação a um sujeito (indivíduo ou grupo); é a relação sujeito-
objeto que determina o próprio objeto. Ao formar sua
representação de um objeto, o sujeito, de certa forma, o
constitui, o reconstrói em seu sistema cognitivo, de modo a
adequá-lo aos seus sistemas de valores, o qual, por sua vez,
depende de sua história e do contexto social e ideológico no
qual está inserido. (2002, p.17)
Se entendemos que as representações sociais são historicamente
construídas pelos sujeitos - inseridos em uma determinada realidade familiar, com
expectativas diferenciadas, dificuldades vivenciadas e diferentes níveis de
apreensão crítica da realidade - estão estreitamente vinculadas aos diferentes
grupos sociais; são produzidas em uma série infindável de lugares como: nas
instituições, nas ruas, na mídia, nos canais informais de comunicação social, nos
movimentos sociais, nos atos de resistência, entre outros; e que se refletem nos
diferentes atos e nas diversificadas práticas sociais, podemos atribuir-lhe, como
sugere Franco (2004), uma virtude “preditiva”. Podemos supor uma dimensão
“preditiva” das representações, uma vez que, segundo o que um indivíduo diz,
não apenas podemos inferir suas concepções de mundo, significados e valores
como também podemos deduzir sua "orientação para a ação". Isso conduz à
31
percepção das representações sociais de “boa escola” como importantes
indicadores que se refletem na prática cotidiana, tanto de professores quanto de
alunos.
Tendo em vista a natureza indissociável da teoria e prática em uma
pesquisa, foi necessário, ainda, algumas incursões nos estudos, orientados por
Moscovici, que tratam da análise das representações, sobretudo aqueles
desenvolvidos por Abric.
Segundo Campos (1998), uma das dificuldades e um dos campos teóricos
ainda aberto na análise das representações sociais diz respeito à distinção entre
uma representação e outra. Ou seja, há uma dificuldade situada na identificação
se estamos diante de dois objetos sociais distintos ou diante de uma variação da
representação de um único objeto social, mas com elementos ativados
diferencialmente devido a fatores circunstanciais E outra dificuldade situada no
fato de “um mesmo objeto, dada sua importância, numa determinada sociedade,
ser representado por diferentes populações” (p. 271). Se as populações são
distintas ideologicamente como, por exemplo, militantes comunistas e praticantes
católicos, não há dificuldade para se identificar as populações e suas diferentes
representações do mesmo objeto, mas se as populações têm práticas sociais
bem próximas ou equivalentes, “vamos encontrar um discurso idêntico, ou pelo
menos, quase idêntico, ao nível do conteúdo da representação, embora
possamos estar diante de representações distintas”. (p.272)
Nesta perspectiva, “dizer que uma representação é conhecida significa
dizer que se conhece a estrutura desta representação, ou seja, seu núcleo central
e seu sistema periférico estão identificados”. ( Campos, 1988, p.272).
Abric, orientado por Moscovici, sustenta que as representações sociais
“são sistemas cognitivos estruturados e hierarquizados” (ibidem 1998, p. 272)
compostos de núcleo central ou sistema central e elementos periféricos ou
sistema periférico:
O núcleo central é determinado, de um lado, pela natureza do
objeto representado, de outro, pelo tipo de relações que o grupo
mantém com este objeto e, enfim pelo sistema de valores e
normas sociais que constituem o meio ambiente ideológico do
momento e do grupo. O núcleo central tem como funções
fundamentais: de um lado, a gênese e a gerência do significado
da representação; de outro lado, a determinação e a organização
do conjunto da representação e, nesse sentido, ele unifica e
estabiliza a representação.
32
O sistema periférico constitui o essencial do conteúdo da
representação. Seus elementos são mais acessíveis, mais vivos e
mais concretos e respondem por três funções primordiais: função
de concretização, permitindo a ancoragem da representação na
realidade e a formulação da representação em termos concretos,
imediatamente compreensíveis e transmissíveis; a função de
regulação, responsável pela adaptação da representação às
evoluções do contexto; e a função de defesa do núcleo central de
uma representação, posto que ele possibilita a integração de
informações e práticas contraditórias, sem que o núcleo da
representação seja atingido. ( ib, p. 272)
A teoria do núcleo central foi observada no estudo das representações
sociais dos atores do processo educativo escolar do Colégio Estadual Central
como um procedimento investigativo criterioso e fundamental, uma vez que partiu-
se do pressuposto que são populações/grupos cujas realidades são bastante
complexas – marcadas por diferentes habitus e ora suas práticas sociais podem
se aproximar, ora em muito podem se distanciam.
Para analisar a predominância de uma representação de “boa escola”, ou
“escola de qualidade” entre os atores do processo educativo escolar, e dentro de
cada segmento a que pertencem, tive o cuidado de identificar que elementos
qualificadores estavam presentes na rede de representação dos atores, ou seja,
qual é o núcleo central
12
e os elementos periféricos das representações de “boa
escola”, ou “escola de qualidade” dos atores do processo educativo escolar?
Ainda, segundo Campos, baseada na teoria do núcleo central,
desenvolvida por Abric,
(...) é a identificação do núcleo central que permite o estudo comparativo
das representações. Para que duas representações sejam diferentes, elas
devem ser organizadas em torno de dois núcleos centrais diferentes. A
simples identificação do conteúdo de uma representação não basta para o
seu reconhecimento e especificação. A organização deste conteúdo é
essencial: duas representações definidas por um mesmo conteúdo podem
12
Segundo Abric, toda representação é estruturada em torno de um núcleo central, o qual pode ser formado
por uma ou mais palavras ou expressões referentes ao objeto representado. Esse núcleo é o elemento
fundamental da representação porque determina, ao mesmo tempo, a sua significação e organização. Ele
possui, ainda, duas funções principais; a) uma função geradora é o elemento através do qual se cria, ou se
transforma, a significação dos outros elementos constitutivos da representação; b) uma função organizadora –
é o núcleo central que determina a natureza dos laços que unem entre si os elementos da representação. O
núcleo central é, portanto, o elemento unificador e estabilizador da representação. Ainda segundo o autor, em
torno desse núcleo, que expressa os invariantes do conteúdo de uma representação, gravitam os elementos
periféricos, os quais vão expressar os elementos variantes da representação. (Domingos Sobrinho, 1998,
p125).
(...) representações de diferentes grupos, mesmo que tenham muitos elementos em comum, só serão distintas
se houver diferença entre seus núcleos. ( Alves-Mazzotti, 1998, p.287).
33
ser radicalmente diferentes, caso a organização destes elementos,
portanto sua centralidade seja diferente (Abricapud Campos, 1998)
E, ainda, lembro que o núcleo central permite “a construção do consenso
do grupo em torno do objeto representado e orienta as atitudes e ações em
relação ao mesmo (os elementos do núcleo central estão diretamente vinculados
às condições históricas, sociológicas, psicológicas e culturais do
grupo)”.(Campos, 1998, p.125).
Considerando que a representação social constitui uma forma de
conhecimento, um saber prático que se refere exatamente à experiência a partir
da qual ele se produz, e que serve para agir sobre o mundo (Jodelet, 1989), para
identificar, caracterizar e analisar as representações sociais sobre “boa escola”,
procurei observar:
a) a relação do ator com o objeto de estudo;
b) as informações do ator sobre o objeto de estudo;
c) a natureza das representações do objeto, bem como os processos
formadores das representações sociais, definidos por Moscovici (1978):
objetivação e ancoragem.
As observações a que se referem os itens a e b tornaram-se possíveis
através da análise de respostas às questões da entrevista que tratavam da
carreira escolar ou da trajetória escolar dos atores e, no caso dos professores e
dos gestores, ainda a carreira profissional.
As observações referentes ao item c foram elaboradas a partir da relação
das respostas das entrevistas e dados do questionário com os aportes teóricos de
Bourdieu e Moscovici que permitem entender os processos formadores da
representação social.
Segundo Moscovici, a representação social é formada por dois processos,
a objetivação e a ancoragem, que são definidos por esse mesmo autor como
estratégias de produção comum, desenvolvidas pelos sujeitos para enfrentarem a
diversidade e a mobilidade do mundo, que embora pertença a todos, transcende a
cada um.
Maurício (2004) orientando-se por Moscovici explica:
[Objetivar significa transformar] um conceito em uma imagem
concreta através de um processo determinado por condicionantes
culturais e por valores, gerando uma imagem coerente do objeto
da representação. A naturalização dessa imagem, ou núcleo
34
figurativo, confere tal estabilidade e materialidade à representação
social que ela adquire o estatuto de referente capaz de orientar
percepções e julgamentos. (p.50).
Já o processo de ancoragem implica, necessariamente, que o aspecto
social considerado (uma nova teoria científica, uma nova atividade profissional,
por exemplo) seja classificado e denominado [ou etiquetado] sobre a base de
categorias – positivas ou negativas – e de significações, elas também positivas ou
negativas, próprias aos grupos. (Palmonari e Doise, apud Therrien, 1998). A
ancoragem desempenha a função de criar familiaridade com o que é estranho,
ameaçador.
2.3 Representações sociais, representações e habitus: um diálogo entre
Moscovici e Bourdieu
As investigações decorrentes da pesquisa, cujo relatório aqui se apresenta,
foram orientadas à luz do conceito de representações sociais de Moscovici, e os
conceitos de representação e de habitus de Bourdieu por considerar que são
conceitos complementares que se cruzam e se interpenetram e são relevantes no
exercício sociológico de “compreender as particularidades que envolvem as
diferentes “leituras” de objetos socialmente compartilhados (o amor, o sexo, a
educação, o espaço social, etc)” (Domingos Sobrinho, 1998 p. 120.)
Passo a apresentar algumas considerações que apontam como a teoria
das representações sociais de Moscovici e a teoria de representação e habitus,
desenvolvidas por Bourdieu, se cruzam, se interpenetram e se complementam,
embora Bourdieu (1983a, p.52) teça algumas críticas à psicologia social,
especialmente a Moscovici,
13
quando trata das interações simbólicas dentro de
um grupo.
Essas teorias imprimem um novo estatuto à relação sujeito-objeto,
abandonando a abordagem dicotômica com que eram tratados até então,
concebendo a relação sujeito/objeto não somente como “resultados de
experiências acumuladas e de sistemas de disposições incorporadas, mas
13
Bourdieu (1983a , p52) afirma: “ Na verdade, sabe-se que as interações simbólicas no interior de um
grupo qualquer dependem não somente,, como bem o vê a psicologia social, [fazendo referências a uma obra
de Moscovici] da estrutura do grupo de interação no qual elas se realizam, mas também das estruturas sociais
nas quais se encontraram inseridos os agentes em interação ( isto é, a estrutura das relações de classe (...).”
35
também como produto da ação dos indivíduos sobre si mesmos e sobre o mundo
exterior (ib, 119).
Bourdieu (2004b), refere-se ao conceito de representações sociais como:
visões perspectivas (interessadas e parciais) – construções sociais concorrentes,
(...) fundadas numa “realidade” (...), destinadas a ver e a fazer valer uma maneira
de ver que os agentes produzem para as necessidades de suas lutas práticas no
interior do campo e que não obstante o esforço de universalização dos agentes,
apresentam-se marcadas pelos princípios e particularidades da posição ocupada
no campo e pela invisível orquestração do habitus. (pp. 33, 46 e 47).
O habitus de classe dos sujeitos da pesquisa é, portanto, uma dimensão
fundamental a ser apreendida, pois está na base da construção e articulação das
representações dos atores sociais, é a teia mais ampla de significados no qual o
objeto da representação está localizado. (Spink, 1994, p.124)
Tomando as palavras de Carbone e Menin (2004),
Numa sociedade, o novo se apresenta constantemente mediante
o universo científico ou por meio das novas tecnologias ou mesmo
da dúvida e do questionamento que as relações interpessoais
provocam, e que precisam ser decifradas descobertas,
reinventadas. Esta é a matéria-prima das representações sociais:
aquilo que causa estranhamento e pede uma resposta, uma
inteligibilidade, uma familiaridade. Tornar familiar aquilo que é
estranho no universo cotidiano é a principal tarefa da “teoria do
senso comum”, por seu poder convencional e prescrito sobre a
realidade. (p.317).
As representações sociais são modos de pensar e compreender o real, não
podem ser vistas como ilusão ou falsa consciência, devem ser vistas como
conhecimentos legítimos, “teias de significados” (Spink, 1994), que são
estruturados e estruturam as transformações sociais. As representações sociais
se constituem e são constituintes de relações sociais que condensam discursos e
modelos sociais, posições culturais, habitus, experiências de vida, memórias,
valores, sentimentos, demandas e expectativas.
As representações sociais têm particularidades e fazem emergir uma
identidade de grupo a partir das experiências nele vividas. O grupo se aglutina em
torno dessas representações de acordo com o grau de adesão ou não aos tipos
de opiniões, que são ancoradas coletivamente, apesar das heterogeneidades
individuais - habitus. O capital cultural e as condições de existência influenciam
36
sobremaneira a escolha dos elementos que aparecem como estruturadores da
representação.
Tendo presente que no espaço escolar se constróem relações com
diferentes expectativas e que essas variam de acordo com as funções sociais e
escolares e os lugar que cada um ocupa na dinâmica escolar, a teoria das
representações sociais e de habitus vêm contribuir para que se apreenda e
compreenda esses saberes coletivos que são partilhados por um grupo e que
nem sempre estão explícitos ou claros.
2.4 Produtores e produtos das representações sociais: espaço social,
habitus, capital cultural , social e simbólico
A desigualdade educacional em termos quantitativos e qualitativos -
contempladas as estratégias educativas das famílias (escolha da escola,
investimento dos pais na vida e acompanhamento escolar dos filhos, uso social
dos títulos escolares); o desempenho escolar, dentre outros - tem sido objeto de
estudo da sociologia da educação nas últimas décadas. Nesses estudos destaca-
se a constatação de uma estreita relação entre o comportamento das classes
sociais e a educação escolar.
Nessa perspectiva, esta investigação, por sua vez, usou como ferramenta
para a coleta e análise de dados os conceitos de espaço social, classe e frações
de classe, habitus, capital econômico, cultural, social e simbólico, lógica da
necessidade, auto eliminação (as probabilidades objetivas e as aspirações
subjetivas) e distinção, desenvolvidos por Bourdieu, cuidando em guardar as
diferenças econômicas, sociais, culturais e temporais entre os países onde foram
desenvolvidos os estudos bourdiesianos e a realidade brasileira.
Visando superar as abordagens redutoras utilizadas no estudo da
diferenciação social – uma de inspiração marxista que usa o critério econômico
para dividir a sociedade em classes antagônicas e outra de matriz weberiana que
utiliza os princípios de poder, prestígio e riqueza para classificar a sociedade em
estratos – Bourdieu propõe uma síntese das duas, formulando os conceitos de
espaços sociais e campos sociais.
Segundo Bourdieu, o mundo social – lugar de um processo de
diferenciação progressiva – pode ser representado como um espaço com várias
dimensões onde se situam os indivíduos. A distribuição dos indivíduos nas várias
37
dimensões do espaço social se dá de acordo com o volume e a composição de
capital possuído. Nas sociedades desenvolvidas os critérios de diferenciação dos
indivíduos mais utilizados para a distribuição nos espaços sociais centram-se no
capital econômico e no capital cultural. Essa forma de hierarquização proposta
por Bourdieu permite estruturar o espaço social em relação ao volume e a
estrutura do capital e ainda analisar as diferenciações secundárias para se
explicar clivagens internas no seio de grupos que ocupam a mesma posição
vertical do espaço social.
Essa abordagem torna-se interessante na medida em que contribui para
situar os atores sociais do processo educativo escolar no espaço social para, a
partir daí, orientar o desenvolvimento da leitura analítica de suas representações.
O espaço social organiza-se de acordo com três dimensões: na primeira,
os agentes se distribuem de acordo com o volume global do capital possuído, seja
ele de qual tipo for; na segunda dimensão, de acordo com o peso relativo do
capital econômico ou cultural no conjunto do seu patrimônio; e na terceira, de
acordo com a evolução no tempo, do volume e estrutura de seu capital.
Segundo Bourdieu, dentro de um determinado espaço social, podemos
recortar frações de classe que agrupam agentes bastante homogêneos tanto do
ponto de vista de suas condições de existência como também de suas práticas
culturais, de consumo, de opiniões políticas. (Bourdieu, 2004a, p. 30).
A inscrição no espaço social gera práticas, categorias de percepção,
esquemas de classificação, opiniões distintas e distintivas. Assim sendo, parti do
pressuposto que o peso relativo do capital econômico e do capital cultural dentro
do espaço social ocupado, certamente, vão definir e diferenciar as representações
dos diversos atores do processo educativo escolar.
Nesta pesquisa a distribuição dos indivíduos nas várias dimensões do
espaço social deu-se também de acordo com o volume e a composição de capital
possuído. O recorte das dimensões centrou-se no capital econômico e no capital
cultural.
Bourdieu defende que a socialização realiza a incorporação do habitus de
classe, produzindo a filiação de classe dos indivíduos e, ao mesmo tempo,
reproduzindo a classe enquanto grupo que compartilha o mesmo habitus. Habitus
de classe é, pois, a “forma incorporada da condição de classe e dos
condicionamentos que esta condição impõe” (Bourdieu, 1979, p 100).
38
A classe objetiva é
“o conjunto de agentes que se encontram situados em condições
de existência homogêneas que impõem condicionamentos
homogêneos e produzem sistemas de disposições homogêneas
apropriadas para engendrar práticas semelhantes, e que possuem
um conjunto de propriedades comuns objetivadas, as vezes
garantidas juridicamente (como a possessão de bens ou de
poderes) ou incorporadas como habitus de classe (e, em
particular, os sistemas de esquemas de classificação)”. (ib, p.
100).
Portanto, sujeitos situados em condições sociais diferentes adquirem
habitus diferentes e, supõe-se que construirão representações diferentes.
No livro “A Distinção” Bourdieu chama a atenção para a necessidade de se
considerar a relação entre as propriedades primárias e as propriedades
secundárias na definição de uma classe. Ressalta que embora a profissão, o
volume e a estrutura do capital (propriedades primárias) sejam determinantes na
definição de uma classe não são suficientes para esta definição. Há de se
considerar também a posição no espaço geográfico que nunca é neutra e, ainda,
um conjunto de características secundárias que podem funcionar como princípios
de seleção ou de exclusão, sem estar explicitadas formalmente (como a origem
social, etnia, sexo, idade, estado civil).
Na definição de classe ainda se faz necessário observar a relação entre a
posição de origem do sujeito e a posição atual (capital de origem e capital de
chegada) porque embora as disposições constitutivas do habitus se perpetuem
(efeito da histerese, ou seja, da continuidade de um efeito, mesmo cessadas as
condições que o produziram) os sujeitos não se definem apenas pelas
características que possuem em determinado momento do tempo. Portanto, as
práticas engendradas pelo habitus podem aparecer como mal adaptadas porque
se ajustam a um estado anterior das condições objetivas. (Bourdieu, 1979).
Como alerta Giddens (2005), o conceito de classe está longe de ser claro.
Tanto nos círculos acadêmicos quanto no uso generalizado o termo “classe” é
entendido e empregado em uma ampla variedade de formas (p.238). Se até bem
pouco tempo, ao pensarmos num esquema de classes, podíamos enumerar e
classificar as ocupações profissionais e as distinções ocupacionais e até mesmo
desconhecer o trabalho feminino, considerando que a classe social das mulheres
39
era a mesma dos seus maridos, hoje sabemos que as classificações propostas
não dão conta de captar os processos dinâmicos de transformação da sociedade.
Novas categorias de ocupações estão surgindo – notou-se uma
mudança geral, com um deslocamento em direção à prestação de
serviços [Belo horizonte é uma cidade cuja economia concentra-se na
prestação de serviços, embora no cenário econômico se destaquem algumas
indústrias] e ao trabalho que envolva o conhecimento
14
, afastando-
se da produção industrial – além de um incrível aumento da mão-
de-obra feminina nas últimas décadas. Os esquemas de classe
não são necessariamente bem apropriados para captarem os
processos dinâmicos da formação, da mobilidade e da mudança
de classes provocadas por essas transformações sociais.
(Giddens, 2005, p.239). (acréscimos e notas meus)
As considerações de Giddens feitas num estudo sobre a realidade da
Inglaterra, guardadas as devidas diferenças, aplicam-se também à realidade
brasileira que apresenta também um grau de complexidade para se “mapear” a
estrutura de classes. Segundo Ribeiro e Scalon (2001) vários são os fatores que
geram a complexidade.
De forma sintética, pode-se dizer que a complexidade resulta do
deslocamento da mão-de-obra: a) mudança populacional – a população urbana
cresceu em ritmo mais acelerado do que o desenvolvimento industrial, o que criou
o subemprego e o desemprego; b) a combinação do modo de produção capitalista
com outros modos de produção gera um grau de complexidade difícil de entender;
c) a mudança do modelo econômico, a partir dos anos 90 com a abertura
comercial e financeira do mercado, privatização das empresas estatais e muitas
outras medidas econômicas que tiveram por objetivo atrair o capital privado
internacional fizeram com que a mão-de-obra se deslocasse para postos de
trabalho no comércio de bens e outros serviços nos quais a proteção legal e a
regulamentação do trabalho são quase inexistentes.
14
Giddens (2005) explica que “a globalização, os avanços na área da tecnologia da informação e as
mudanças na natureza do trabalho somam-se na geração de um novo tipo de economia, à qual geralmente nos
referimos como a economia do conhecimento. Nos setores mais dinâmicos dessa nova economia
computadores, finanças, softwares, telecomunicações - são aqueles que dependem de trabalhadores que
lidem com o conhecimento: empregados de colarinho-branco que, em vez de ocuparem-se de mercadorias
físicas, trabalhem com informações e as produzam.” (p243).
40
Diante da imprecisão para se mensurar o conceito de classe num estudo
empírico e considerando os limites dos esquemas ocupacionais de classes ou de
distinções ocupacionais, optei por operacionalizá-lo de forma a capturar
elementos relevantes para a pesquisa, como o capital econômico.
Portanto, tomei por base as Classes de Rendimento utilizadas pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
QUADRO 1.1 - CLASSES DE RENDIMENTO
UTILIZADAS PELO IBGE
CLASSES RENDIMENTO VALOR EM 2005
SM = R$300,00
A1
MAIS DE 20 MAIS DE R$6000,00
A2
MAIS DE 10 A 20 R$3001,00 A R$6000,00
B1
MAIS DE 5 A 10 SM R$1501,00 A R$3000,00
B2
MAIS DE 3 A 5 SM R$901,00 A R$1500,00
C
MAIS DE 2 A 3 SM R$601,00 A R$900,00
D
MAIS DE 1 A 2 SM R$301,00 A R$600,00
E
ATÉ 1 SM ATÉ R$300,00
Fonte: IBGE
*Segundo o Instituto Target e a Fundação Getúlio Vargas, considera-se classe média
quem está localizado no meio da pirâmide, ou seja, nas classes de rendimento B1,B2, C.
Fazendo uma adaptação dos dados foram criadas as seguintes
definições:
QUADRO 1.2 - CLASSES DE RENDIMENTO UTILIZADAS NA PESQUISA
CLASSES DE
RENDIMENTO
RENDA
FAMILIAR (SM)
VALOR EM 2005
SM = R$300,00
Classe de rendimento baixo
(D,E)
Entre ½ e 2 R$150,00 A R$600,00
Classe de rendimento médio
baixo (C )
Mais de 2 a 3 R$601,00 A R$900,00
Classe de rendimento médio
(B2)
Mais de 3 a 5 R$901,00 A R$1500,00
Classe de rendimento
médio alto (B1)
Mais de 5 a 10 R$1501,00 A R$6000,00
Classe de rendimento alto
(A1 e A2)
Mais de 10 MAIS DE R$6000,00
Para composição do perfil das classes de rendimento foram ainda
considerados o acesso a bens (domésticos) duráveis, a serviços de empregados
41
domésticos e a plano de saúde; a posse de bens, como: casa própria, carro e
cota de clube. A mobilidade intergeracional também foi outro dado considerado.
A classificação por ocupação ou distinção ocupacional e mesmo por
rendimento não dão conta das diferenças de consumo e de estilos de vida dentro
de um mesmo grupo social. Como alerta Giddens (2005), baseando-se em
Bourdieu:
A rápida expansão da economia de prestação de serviços e da
indústria de entretenimentos e de lazer, por exemplo, reflete uma
ênfase crescente sobre o consumo dentro dos países
industrializados. As sociedades modernas passaram a ser
sociedades consumistas, ajustadas à aquisição de bens materiais.
(...) Cada vez mais, os indivíduos distinguem-se um dos outros
não com base em fatores econômicos ou ocupacionais, mas pelos
gostos culturais e pelas atividades de lazer, sendo auxiliados
nesse processo, pela proliferação de “mercadores de
necessidades” o número crescente de pessoas que lidam com a
apresentação e a representação de mercadorias e de serviços –
quer sejam esses simbólicos ou verdadeiros – para o consumo
dentro do sistema capitalista. Anunciantes, marqueteiros,
designers de moda, consultores de estilo, designers de interiores,
personal trainers, terapeutas e webpage designers, para citar
apenas alguns, todos influenciam os gostos culturais e promovem
as escolhas de estilo de vida entre uma comunidade de
consumidores em ampla expansão. (p. 245)
Diante disso não poderia deixar de pensar também em um sistema de
classificação que levasse em conta o capital cultural. Para tanto, foram
considerados dados relativos à formação dos atores e de seus pais; diversidade
de leitura, preferência por programas de televisão, músicas e práticas de lazer;
conhecimentos de línguas estrangeiras e informática e acesso a bens culturais,
como, livros, jornais, instrumentos musicais, computador, internet, cinema, teatro,
shows musicais, jogos esportivos, bares e restaurantes, shoppings, dentre outros.
A análise desses dados permite uma classificação dos sujeitos de acordo com o
volume do capital cultural.
42
QUADRO 1.3 – CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO CAPITAL CULTURAL
Alto volume de
Capital cultural
Pais com formação superior ou técnico, participação em atividades
culturais e de lazer diversificadas, acesso a tv a cabo, computadores e
internet, freqüência a espaços sociais diversificados e cursos de língua
estrangeira, preferência por leituras, programas televisivos, esportes
considerados clássicos.
15
Baixo volume de
Capital cultural
Pais com formação até o nível médio, participação em atividades
culturais e formas de lazer não diversificadas, freqüência a espaços
sociais não diversificados, preferência por leituras, programas
televisivos, esportes considerados populares
16
.
Como já exposto, dentro da mesma lógica com a qual Bourdieu analisa a
produção do gosto, pretendeu-se analisar a produção das representações de
“boa”, escola construída pelos atores do processo educativo escolar do Colégio
Estadual.
Bourdieu define campo como um espaço de jogo, um campo de relações
objetivas entre indivíduos ou instituições que competem por um mesmo objetivo.
social (1983f, p.155). A descrição do campo da alta costura desenvolvida por
esse sociólogo, permite entrever uma homologia de estrutura entre o campo de
produção de roupas, bens de luxo, bens de moda e o campo de produção das
boas escolas também bens de “luxo”, bens de “moda/referência” e bens de
cultura.
A lei geral dos campos marca também o campo da educação: os detentores
da posição dominante - boas escolas, escolas de referência, escolas que
acumulam relevante volume de capital simbólico, como o Colégio Estadual
Central (como veremos no capítulo dedicado ao locus de pesquisa) opõem-se
aos “entrantes”, arrivistas que chegam sem possuir o volume do capital específico
– “bons” alunos, “bons” professores, “boa” estrutura física - ou o capital simbólico
necessário para entrar no ranking das boas escolas, daí um dos fundamentos da
classificação de “boas” e “más” escolas, ou seja, condições para compor uma
determinada grife. (p.155)
15
O adjetivo “clássico” define as práticas – habitus – reconhecidas socialmente como “patrimônio” das
classes que possuem considerável volume de capital cultural, embora possam não possuir alto volume de
capital econômico. No Brasil pode-se considerar esportes clássicos: o tênis, o squash, o golfe, a equitação, o
iatismo,
16
O adjetivo “popular” define as práticas – habitus – reconhecidas socialmente como “patrimônio” das
classes que possuem baixo volume de capital cultural, embora possam possuir alto volume de capital
econômico. No Brasil podem ser considerados esportes populares: futebol, vôlei, peteca, basquete, natação,
ciclismo, skatismo, surf.
43
A entrada dos “entrantes” – classes de rendimentos baixo – no Colégio
Estadual Central parece promover as lutas em torno das estratégias de
conservação – desejo de volta da seleção explícita de alunos e professores;
currículo aparentemente diferenciado de outras escolas, que poderá servir de
referência para escolas de ensino médio (mas o Colégio Estadual Central já está
à frente, o que lhe imprime a marca da distinção) – e das estratégias de
subversão – alunos e professores que buscam, com palavras, atitudes, fomento e
participação em organizações no interior da escola, promover uma mudança no
quadro de valores, principalmente no que concerne à função social da escola e
papel dos professores, como será apresentado nos próximos capítulos.
A educação, processo de socialização comum a todos desde o nascimento,
é a mais familiar das familiaridades o que confere aos agentes de todos os outros
campos o direito e a suposta competência, percebida por todos como evidente, de
emitir juízos sobre a educação (Pereira e Andrade, 2003), muitas vezes
prescindindo da mediação de categorias produzidas no campo da análise
educacional. O campo educacional é, portanto, um dos campos mais abertos e
propícios ao efeito de intrusão (Bourdieu, 1997, p 109), ou seja, é um campo
heterônomo, onde a intrusão de categorias de percepção, hierarquias axiológicas
e esquemas práticos de percepção, se somam, se opõem, se interpenetram a
cada dia, a cada nova concepção de educação, a cada modismo educacional, a
cada reforma, ameaça ou arremedo de reforma.
Bourdieu (2004b) afirma que
(...) quanto mais autônomo for o campo, maior será o seu poder
de refração e mais as imposições externas serão transfiguradas, a
ponto, freqüentemente, de se tornarem perfeitamente
irreconhecíveis. O grau de autonomia de um campo tem por
indicador principal o seu poder de refração, de retradução.
Inversamente a heteronomia de um campo manifesta-se
essencialmente, pelo fato de que os problemas políticos, aí se
exprimem diretamente. (p.22).
As representações dos atores do processo educativo escolar são
marcadas pelas pressões e demandas externas dos diversos campos: campo
econômico (sobretudo no que diz respeito ao mercado de trabalho), campo da
sociologia e psicologia, dentre outros, uma vez que o campo educacional tem
baixo poder de refração e transfiguração.
44
Se as representações sociais são produtos sociais devem ser entendidas
as condições sociais que as engendraram, ou seja, o contexto - campo social e o
espaço social - de produção. Há de se pensar como propõe Spink (1994):
Considerando, ainda, que estes conteúdos que circulam na
sociedade podem ter sua origem tanto em produções culturais
mais remotas, constituintes do imaginário social, quanto em
produções locais e atuais, deduzimos que o contexto pode ser
definido não apenas pelo espaço social em que a ação se
desenrola como também a partir de uma perspectiva temporal.
Três tempos marcam esta perspectiva temporal: o tempo curto da
interação que tem por foco a funcionalidade das representações; o
tempo vivido que abarca o processo de socialização – território do
habitus (Bourdieu, 1983), das disposições adquiridas em função
da pertença a determinados grupos sociais; e o tempo longo,
domínio das memórias coletivas onde estão depositados os
conteúdos culturais cumulativos de nossa sociedade, ou seja, o
imaginário social. (p. 122).
Central na obra de Bourdieu, o conceito de habitus constitui categoria
analítica de fundamental importância na investigação sobre as representações de
“boa” escola dos atores do processo educativo escolar, uma vez que essas são
delimitadas pelo campo do que a seus olhos – condições de existência,
pertencimento a determinada classe ou fração de classe social – pode ser uma
boa escola.
Para Bourdieu, habitus é definido como produto (estruturas estruturadas) de
condições sociais – condições materiais de existência características de uma
condição de classe (Bourdieu,1983a, p. 60) - (estrutura estruturante), é o princípio
gerador de estratégias objetivas, princípio unificador que faz convergir todas as
práticas (uma orquestração sem maestro). São esquemas de percepção, de
concepção, de ação, que são comuns a todos os membros de um mesmo grupo
ou de uma mesma classe. São práticas que podem ser objetivamente “reguladas
e regulares sem ser o produto da obediência a regras” (ib, p. 61), ou seja, são
práticas que não são pensadas ou premeditadas. Salienta, porém, que pode
haver habitus singulares entre membros de uma mesma classe ou grupo, ou seja,
pode haver uma diversidade dentro da homogeneidade. Isso se explica pela
trajetória pessoal ou pela posição dentro da classe que pode gerar pontos de vista
e visões de mundo singulares.
Ao dar uma interpretação mais complexa e operatória ao conceito de
habitus, Bourdieu coloca em destaque o papel do agente; antes reduzido ao papel
45
de suporte da estrutura social esse agente passa a ser dotado de capacidades
criativas, ativas, inventivas; o habitus, como entendido por Bourdieu, passa a
indicar um sujeito em ação e representa a vontade manifesta de não anular o
agente.
Entendido, pois, como um sistema de disposições duráveis e transponíveis
que, integrando todas as experiências passadas, funciona a cada momento como
uma matriz de percepções, de apreciações e ações – e torna possível a
realização de tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transferências
analógicas de esquemas que permitem resolver o problema da mesma forma, e
às correções incessantes de resultados obtidos, dialeticamente produzidos por
esses resultados – o habitus pode ser representado por um conjunto de
características que são internalizadas ou interiorizadas desde a infância, através
da família, da escola, das experiências sociais, nas maneiras de agir, ou seja,
disposições ou percepções que levam os indivíduos a organizarem, de forma
natural e, muitas vezes inconscientes, sua conduta e suas escolhas.
É preciso ressaltar que a produção do habitus não pode ser tratada
apenas como um processo mecânico de interiorização de normas e valores, mas
também inclui sistemas de classificação que funcionam como esquemas
generativos, estando na base de toda escolha. Dito de outra forma, nós
interiorizamos determinadas preferências ou maneiras de escolher e as fazemos
funcionar de forma inconsciente; assim, o “bom”, o “mau”, o “belo, o “feio” – a
“boa” escola – não são simples subjetividades; pelo contrário, eles representam a
existência de esquemas generativos que orientam e determinam a escolha. Isso
posto, cabe ressaltar que o habitus não é apenas uma “história passada”,
acumulada e depositada de forma definitiva; trata-se, ao invés disso, de uma
espécie de script básico e subliminar, permanentemente representado, que
orienta o perfil e ação ulterior do indivíduo.
No estudo das representações dos agentes do processo educativo escolar
sobre boa escola considerei, pois, que:
Os habitus são princípios geradores de práticas distintas e
distintivas [...]; mas são também esquemas classificatórios,
princípios de classificação, princípios de visão e divisão, gostos
diferentes. Eles estabelecem diferenças entre o que é bom e mau,
entre o bem e o mal, entre o que é distinto e o que é vulgar, etc.,
mas elas não são as mesmas. Assim, por exemplo, o mesmo
comportamento ou a o mesmo bem pode parecer distinto a
46
alguém, pretensioso ou ostentatório para outro, vulgar para um
terceiro (Bourdieu, 2004, p. 22).
Diante desta formulação proposta por Bourdieu, as ações desencadeadas
pelos indivíduos têm como princípio organizativo o habitus; sem, contudo,
representarem “intenções estratégicas”.
E, ainda, para Bourdieu, além do conteúdo transmitido, a escola marca de
forma indelével, por meio de sua prática (forma, métodos, valores), os alunos e
professores, portanto as práticas escolares, bem como o sistema de valores que
faz parte da cultura escolar engendram o habitus escolar que por sua vez vai
interferir na construção das representações sobre boa escola, sobretudo dos
alunos e dos professores. Assim também este habitus escolar vai produzir
algumas práticas escolares.
Na verdade, embora a escola seja apenas um agente de
socialização dentre outros, todo esse conjunto de traços que
compõem a personalidade intelectual de uma sociedade - o
melhor, das classes cultivadas dessa sociedade - é constituído
reforçada pelo sistema de ensino, profundamente marcado por
uma história singular e capaz de modelar os espíritos dos
dissidentes e docentes tanto pelo conteúdo e pelo espírito da
cultura que transmite como pelos métodos segundo os quais
efetua essa transmissão. (Bourdieu,2003, p.227)
Isso posto, partimos do pressuposto de que as representações dos alunos
sobre boa escola, condicionadas pelo habitus escolar, podem se aproximar
bastante das representações dos professores.
A investigação tratou, portanto, de recuperar as representações sobre “boa”
escola que vêm sendo elaboradas, suas causas e seus “efeitos colaterais”,
buscando responder, como já apresentado., que elementos configuram a
representação de “boa” escola desses atores.
3. QUE ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS FORAM UTILIZADAS?
Embora as estratégias metodológicas – metodologia de coleta e análise de
dados, metodologia de seleção do locus de pesquisa e dos sujeitos e a
caracterização desses –, devessem, a rigor, ser apresentadas num único
capítulo, opto por elaborar dois capítulos que se dedicam, cada um
especificamente a esses aspectos metodológicos.
Comungo com Bourdieu, (2004c), quando defende que é preciso
47
(...) mobilizar todas as técnicas que, dada a definição do objeto,
possam parecer pertinentes e que, dadas as condições práticas
de recolha dos dados, são praticamente utilizáveis. (...) Em suma,
a pesquisa é uma coisa demasiado séria e demasiado difícil para
se poder tomar a liberdade de confundir a rigidez, que é o
contrário da inteligência e da invenção, com o rigor, e se ficar
privado deste ou daquele recurso entre os vários que podem ser
oferecidos pelo conjunto das tradições intelectuais da disciplina - e
das disciplinas vizinhas: etnologia, economia, história. (grifos do
autor, p.26)
Essa opção não é apenas uma técnica didática de apresentação escrita do
relatório da investigação a que me propus, mas uma opção teórico-metodológica.
É o resultado da vigilância epistemológica no sentido de se evitar cair, mesmo na
organização e estruturação do relatório da investigação, na ilusão da
“neutralidade metodológica”. Apoia-se na convicção de que tanto os atores quanto
a escola são produtos e produtores ativos do social, depositários de disposições,
práticas e saberes importantes que configuram seus sistemas de valores,
portanto, sua caracterização toma uma dimensão bastante complexa, o que exige
uma apresentação mais detalhada.
Desse modo, este capítulo apresentará tão somente a metodologia de
coleta e análise de dados, o capítulo que se segue fará uma exposição da
seleção e caracterização da escola, deixando para o próximo a apresentação da
metodologia de seleção dos sujeitos da pesquisa e sua descrição, buscando
caracterizar o espaço geográfico, social e cultural onde nasceram, realizaram sua
educação básica e, sua trajetória profissional, enfocando sua formação e atuação,
uma vez que essas dimensões são constituintes de seu habitus.
Considerando que: a) dada a relevância do tema qualidade na educação,
faz-se necessário um estudo que envolva nessa discussão os atores do processo
educativo escolar, a saber: alunos e alunas, professores e professoras, gestores e
gestoras; b) as representações sobre “boa escola” construídas pelos atores do
processo educativo escolar estão inseridas na temática da qualidade da
educação; c) a qualidade da educação ou a melhoria das escolas públicas figura
como plataforma política dos mais diversos candidatos a cargos políticos, entrou
nos debates educacionais, na vida dos intelectuais, dos sindicalistas e dos
usuários, acredito ser relevante entrar nesse debate a partir da discussão da
representação de “boa escola” dos atores do processo educativo escolar de uma
escola de ensino médio considerada escola referência em Belo Horizonte.
48
4. OS INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
A opção metodológica da pesquisa partiu do princípio que a perspectiva
qualitativa privilegia a apreensão e a compreensão do objeto de estudo,
considerando as motivações, as crenças, as expectativas dos atores do processo
educativo escolar - gestores educacionais, professores e alunos.
Assim, a base empírica da investigação pautou-se na adoção de métodos
de coleta e análise de dados que me permitiram apreender o objeto de estudo em
suas múltiplas dimensões. Nesse sentido os questionários, as entrevistas semi-
estruturadas e levantamento de dados nos arquivos da escola e da Secretaria do
Estado da Educação de Minas Gerais (SEE/MG) constituíram os instrumentos e
fontes de pesquisa.
4.1. Os questionários
Os questionários, apresentados em anexo, constituíram os instrumentos
para coleta de dados sobre os 17 alunos, os 10 professores e os 08 gestores, ou
seja os 35 sujeitos da pesquisa.
Buscando um diálogo com as teorias e temas pertinentes, foram
elaboradas 46 questões, entre questões abertas e fechadas, agrupadas em
quatro categorias: identificação, caracterização socioeconômica, atividades
profissionais e sociais e visão sobre a escola.
Orientada por Brandão et al (2004), destaco alguns temas e conceitos
relacionados nos diversos questionários:
Questionário dos gestores e professores:
Caracterização sócio-demográfica: bairro residencial, sexo, idade,
naturalidade, estrutura familiar;
Carreira escolar e profissional: tipos de escolas freqüentadas na
educação básica;
Carreira profissional: titulação e caracterização da instituição
formadora, participação em cursos de aperfeiçoamento; motivos da
escolha da profissão ou função; grau, série, disciplina (em) que leciona
ou atividades desempenhadas na função; anos de formação, anos
como professora ou anos na função; anos na escola; experiência na
49
rede pública de ensino, anos de experiência como designado e efetivo,
expectativa de mudança de profissão;
Condições de trabalho: número de escolas em que trabalha, carga
horária semanal na escola; carga horária destinada a trabalhos extra
escola; outra atividade remunerada, satisfação com o trabalho;
Capital econômico: renda pessoal, percentual do salário gasto com a
família; salário cônjuge, situação financeira intergeracional (mobilidade
intergeracional), situação do domicílio, posse de bens móveis e imóveis,
plano de saúde, cota de clube, contratação de prestadores de serviços
domésticos temporários;
Capital cultural: profissão e formação dos pais, irmãos (mobilidade
intrageracional) e cônjuge, conhecimento de língua estrangeira,
conhecimentos sobre informática e uso de computadores, diversidade
de leitura, diversidade de programas de televisão e músicas, práticas de
lazer, práticas culturais;
Capital social : relação com os atores do processo educativo escolar;
Visão sobre a escola: qualidade dos espaços pedagógicos, utilização de
equipamentos pedagógicos na escola; motivos porque trabalha na
escola, de que gosta e de que não gosta na escola, o que é necessário
fazer para melhorar a escola;
Questionário dos alunos:
Caracterização sócio demográfica: estrutura familiar, sexo, idade, bairro
residencial;
Carreira escolar: trajetória escolar (tipo de escola, repetência), situação
(série, turno, tempo de escola), práticas de estudo (tempo gasto com
estudo em casa, atividades desenvolvidas);
Capital cultural: profissão e formação dos pais, conhecimento de língua
estrangeira, conhecimentos sobre informática e uso de computadores,
diversidade de leitura, diversidade de programas de televisão e
músicas, práticas de lazer, práticas culturais;
Capital econômico: renda pessoal, percentual do salário gasto com a
família; situação do domicílio, posse de bens móveis e imóveis, plano
50
de saúde, cota de clube, contratação de prestadores de serviços
domésticos temporários;
Capital social: relação com os atores do processo educativo escolar;
Visão sobre a escola: qualidade dos espaços pedagógicos, utilização de
equipamentos pedagógicos na escola, motivos porque estuda na
escola, de que gosta e de que não gosta, o que é necessário fazer para
melhorar a escola, escolha de outra escola para estudar;
Os questionários foram entregues a cada um dos sujeitos da pesquisa e
recolhidos em data combinada com os mesmos. Alguns sujeitos teceram
comentários humorados sobre o tamanho do questionário, apenas uma das
gestoras se recusou a respondê-lo, assim como se recusou a ser entrevistada,
alegando que o instrumento de pesquisa “entrava muito em questões de foro
íntimo e que os dados solicitados invadiam sua privacidade”. Não é demais
ressaltar que alguns alunos pediram mais tempo, além da data combinada, para
entregar os questionários, alegando que não “deram conta”, o que eu considerei
como “o contra-ofício de aluno”, numa alusão ao “ofício de aluno” tratado por
Perrenoud.
17
Os instrumentos foram testados com alunos do ensino médio de uma
escola pública municipal e com alunos do ensino médio de escolas privadas, não
apareceu nesse momento nenhuma dificuldade com o item do questionário que
tratava da naturalidade, ao contrário dos alunos pesquisados, que confundiram
naturalidade com nacionalidade. O teste dos instrumentos de coleta de dados dos
gestores, dos professores e dos pais foi efetuado durante os quatro dias de
realização da III Conferência Municipal de Educação, ocorrida em Belo Horizonte
e as dificuldades apontadas foram acertadas.
4.2. As entrevistas
A entrevista, segundo Pourtois e Desmet, (1988), é um suporte
considerável na pesquisa cujos objetos de investigação são os valores e as
representações de um grupo ou cultura, portanto, foi o instrumento de coleta de
dados utilizado na investigação. A utilização da entrevista apoia-se na convicção
17
Segundo Perrenoud, o “bom “aluno aprende seu ofício, ou seja, aprende o ofício do aluno, respondendo ao
habitus escolar e cultural dos seus professores (rituais, prazos, modos de regulação, posição política, posição
religiosa, social e cultural), ou seja torna-se um conhecedor do “gosto” do professor.
51
de que os atores são produtos e produtores ativos do social, depositários de
disposições, práticas e saberes importantes que configuram seu sistema de
valores. Se o fazer sociológico implicou em apreender, compreender e explicar as
representações de “boa escola” dos atores a partir dos dados recolhidos, a opção
pela entrevista semi-estruturada possibilitou ao pesquisador e pesquisado maior
flexibilidade na condução, criando um ambiente com possibilidade de confiança,
interação entre os sujeitos, maior liberdade discursiva o que, indubitavelmente,
gerou um discurso mais espontâneo e rico em detalhes.
A partir de uma escuta ativa e metódica, buscou-se respeitar a
singularidade de cada um no exercício de reduzir ao máximo a violência simbólica
que se pode exercer no momento da entrevista devido à diferença de todos os
tipos de capitais entre o entrevistador e o entrevistado. (Bourdieu, 2001). A
entrevista semi-estruturada partiu de roteiros básicos para cada um dos
segmentos e foi organizada em três eixos básicos: a carreira escolar (trajetória no
ensino fundamental e médio), a carreira profissional e a boa escola, como pode
ser visto nos anexos que compõem este relatório de pesquisa.
As entrevistas foram gravadas em fita cassete e a transcrição - embora a
análise tenha-se centrado no conteúdo e não no discurso - buscou preservar as
características da oralidade presentes na estruturação das frases e orações
(marcadas pelas repetições, elipses, zeugmas, pleonasmos, anacolutos,
solecismos) e na pronúncia, as hesitações e pausas foram marcadas por
reticências.
Buscando preservar a identidade dos sujeitos da pesquisa, foram utilizados
nomes fictícios, ligados ao campo artístico, sobretudo musical, uma vez que pelos
bancos da escola passaram famosos cantores e compositores mineiros.
As entrevistas dos atores dos quais mais me aproximei, tanto gestores e
professores, quanto alunos, foram mais longas, mais soltas, permitindo a ambos
alguns devaneios que por vezes fugiam do propósito da entrevista e do tempo
previsto - 1h e meia a duas horas. O conteúdo e a duração das entrevistas
diferenciaram-se porque, embora fossem submetidos a perguntas formalmente
idênticas, estas não tiveram o mesmo sentido para os atores separados pelas
diferenças de capital cultural, uma vez que as diferentes linguagens não diferem
apenas pela amplitude de seu léxico ou grau de abstração, mas também pelas
problemáticas e temáticas que veiculam. Bourdieu (2005 p. 57)
52
Os gestores mais ligados à administração, como as secretárias
responsáveis pela vida escolar dos alunos e a vida funcional dos funcionários,
ativeram-se às questões, poucos foram os devaneios, isso pode ser explicado
pela falta de maior aproximação com a pesquisadora o que sustentou a
dessimetria cultural e social que por vezes se expressou nas observações dessas
duas funcionárias que, embora mostrassem grande boa vontade em cooperar,
afirmavam que na sua posição não acreditavam ter muito a contribuir com a
pesquisa.
Os alunos, com raras exceções, sentiram-se à vontade: expuseram fatos
de sua vida privada e de sua vida escolar de forma detalhada, apresentaram
queixas, fizeram denúncias e até mesmo sugestões para orientar a pesquisadora
que buscou, por vezes, sustentar as abstrações, imprimindo um caráter conativo
às considerações e interpelações o que ampliou o tempo previsto de entrevista.
Pode-se creditar essa “confiança” ao habitus do aluno de falar dos problemas por
meio da narração detalhada de situações, de fatos e de exemplificações.
Por sua vez, o tempo de entrevista dos professores foi mais equilibrado,
mesmo que em algumas questões as abstrações e as queixas se fizessem
presentes.
As entrevistas dos professores e gestores foi realizada na própria escola, a
princípio numa salinha, entre a sala dos professores e o banheiro feminino, e
depois em uma sala de supervisão desativada que foi gentilmente oferecida pelo
diretor da escola. Os gestores, com exceção das vice-diretoras, preferiram ser
entrevistados em sua própria sala de trabalho.
As entrevistas dos alunos tiveram duração média de 1h e 30 min, também
foram realizadas na própria escola, eles se dispuseram a chegar mais cedo ou
sair mais tarde ou mesmo ir à escola no período de férias. Com exceção da aluna
Diana que ficou bastante inibida durante a entrevista, as outras alunas e os
outros alunos ficaram bastante à vontade e me fizeram até confidências sobre
sua vida privada.
Um aluno chegou atrasado para a entrevista, anteriormente combinada, e
sugeriu que fosse entrevistado junto com o amigo, o que foi feito.
Faz-se necessário registrar algumas observações e considerações
construídas ao longo do desenvolvimento das entrevistas.
53
Primeiramente, lembro que para aprofundar a aprendizagem do exercício
sociológico de realização das entrevistas, algumas leituras, como Thiollent
(1980), Bourdieu (1983d, e; 2001; 2004b), Brandão (2003) e Lahire (2005), foram
de fundamental importância, assim como o próprio processo de realização das
entrevistas, quando a cada encontro com o gestor, professor ou aluno a
aprendizagem se aperfeiçoava e a escuta se tornava mais seletiva e apurada,
possibilitando intervenções mais significativas por parte da pesquisadora.
Interessante também lembrar que a tecnologia digital, que nos permite a
utilização de pequenos e interessantes gravadores, ao contrário de assustar ou
intimidar os entrevistados, o que temi a princípio, consistiu em equipamento que
despertou a curiosidade e pareceu-me amenizar o incômodo, ou seja, a
intimidação dos pesquisados diante da parafernália antes utilizada.
E, ainda, observei que muitos atores me procuraram para saber se a
entrevista “ficou legal”, se eu não estava com dificuldades para transcrever,
devido à extensão e também tecer alguns comentários sobre a importância da
entrevista pelo fato de tê-lo/a feito pensar em questões e situações que antes não
havia pensado.
4.3. Outras fontes de dados
Foram ainda consultados documentos pertencentes aos arquivos da
escola, como: atas; registro de matrículas; registro de notas, sobretudo a partir do
ano de 1956, quando a escola se instalou no prédio onde hoje funciona; ficha
individual dos alunos; censos escolares; documentos diversos sobre registro dos
professores e funcionários; o Plano de Desenvolvimento Pedagógico Institucional;
jornais; circulares; avisos e ofícios afixados na sala dos professores, corredores,
secretarias.
5. A ANÁLISE DOS DADOS
A complexidade do problema proposto, a diversidade de sujeitos
pesquisados e a variedade de informações provenientes das entrevistas
produziram um conjunto de informações que mereceram um tratamento
cuidadoso. Este tratamento não pôde restringir-se à leitura do que estava explícito
no material, mas buscou aprofundar na descoberta do implícito, do contraditório,
54
do silenciado, tentando estabelecer conexões e relações que possibilitaram a
proposição de novas explicações e interpretações e isto pressupôs um esforço de
abstração (Ludke e André 1986). Esse esforço de abstração na interpretação dos
dados para que a análise não se transformasse em mera compilação dos
mesmos ou em mera descrição da realidade é bem lembrado por Pádua (1997)
quando afirma:
(...) o momento de análise dos dados configura-se como uma
possibilidade de estabelecermos novas relações entre os dados
coletados, o que pode significar avançarmos no plano do
conhecimento; nesta direção Alvin Gouldner chega a afirmar que
as “mudanças mais fundamentais em qualquer ciência resultam,
não tanto da invenção de novas técnicas de pesquisa, mas antes
de novas maneiras de se olhar para os dados, dados estes que
podem ter existido por longo tempo”.
Assim, como é bem lembrado por Viana (2003), o esforço de eleger o que
é pertinente e relevante para uma análise para que essa não se perca numa
infinidade pulverizada de informações nem caia numa utopia biográfica, perdendo
de vista o problema da pesquisa, orientou o exercício sociológico.
Nessa perspectiva, os dados foram analisados utilizando a análise do
conteúdo que possibilita uma leitura dos dados articulada à leitura das condições
de produção, da intenção do entrevistado, das expectativas do mesmo em relação
ao pesquisador e do contexto institucional e sócio-histórico da entrevista.
Esse tipo de análise é considerada por vários autores como um método
privilegiado e confiável para análise de entrevistas por constituir uma perspectiva
metodológica e epistemológica fundamentada no reconhecimento do papel ativo
assumido pelo sujeito no processo de construção do conhecimento. A opção pela
análise de conteúdo ainda se justifica pela possibilidade que oferece para se fazer
a leitura das representações dos atores do processo educativo escolar, buscando
identificar os elementos constitutivos do seu núcleo central e sistema periférico
em cada segmento de atores.
Moliner et al. (2002) defendem que a análise de conteúdo é uma
metodologia adequada ao estudo das representações sociais por ser a
representação “mediatizada pela linguagem e de a apreensão de um objecto
social ser inseparável da formação de uma linguagem que lhe esteja associada".
E, ainda: "a análise de conteúdo de produções discursivas ou textuais relativas a
55
um objecto, deve permitir a descodificação dessa linguagem a organização dos
elementos da organização do objecto." (p.86).
A análise de conteúdo foi realizada mediante leituras e releituras dos
questionários e das entrevistas e elaboração de quadros descritivos e
comparativos, a partir de algumas categorias de análise definidas a priori pelo
referencial teórico e pelo objetivo da pesquisa e outras definidas a posteriori após
análise dos textos.
A leitura e análise dos quadros e tabelas descritivos e comparativos foram
desenvolvidas a partir da análise frequencial das respostas intra e inter grupos
dos atores do processo educativo escolar.
As análises realizadas não desprezam os limites da análise de conteúdo,
sobretudo no que diz respeito ao critério que privilegia a freqüência das respostas,
contudo considera assim como Ghiglione et al (1980):
De fato, nada garante que um tema freqüente é necessariamente
um tema importante ou, ao contrário que um tema pouco
freqüente não esteja em relação com uma representação
essencial, porém reprimida ou dificilmente verbalizada (...). O fato
que um tema seja freqüentemente abordado em uma entrevista
(ou outro texto) pode simplesmente querer dizer que ele está mais
disponível nos esquemas de conversa, o que evidentemente não
deixa entrever em nada a importância deste tema no sistema de
representações sobre o assunto.
FIGURA 5 - Colégio Estadual Mineiro em 1965.
FONTE: arquivo do Colégio Estadual
FIGURA 6– As salas de aula representando uma régua.
FONTE: Benta Maria de Oliveira
56
CAPÍTULO II
QUE ESCOLA É ESSA?
... é preciso olhar para a escola
como uma topia, isto é, como um tempo
e um espaço onde podemos
exprimir a nossa natureza pessoal e social."
18
1. A SELEÇÃO DA ESCOLA
A confirmação da seleção inicial da escola, deu-se após a constatação da
representatividade que essa possui junto a inúmeros cidadãos de Belo Horizonte
que ali matricularam seus filhos, estudaram, trabalharam, dirigiram. Essa
constatação foi possível após leitura e análise de material coletado por
investigadores que desenvolviam outros subprojetos
19
que, como este, tinham o
Colégio Estadual Central como locus de pesquisa.
Sabendo-se que as instituições ou agentes concorrentes de um
determinado campo possuem pesos diferenciais, variando de acordo com o
volume de capital simbólico institucional ou pessoalmente acumulado ao longo da
história ou de uma trajetória (Pereira, 2001), esta escola respondeu aos
propósitos da pesquisa por ser depositária do protótipo de algumas
representações da “boa escola”.
A seleção da escola a ser pesquisada definiu-se, pois, pelo lugar que a
mesma ocupou e ocupa num determinado estado do campo educacional mineiro,
ou seja, devido ao volume do capital simbólico que vem acumulando, como se
pode constatar pelos depoimentos que se seguem, que destacam a importância
de ter conseguido uma vaga para trabalhar na escola, o mito de que a escola é
um oásis e que pode oferecer melhores condições de trabalho, o sonho de
consumo de se trabalhar nessa escola por sua tradição, referência e filosofia
orientada por princípios democráticos.
18
In: Nóvoa, 1992.
19
Os subprojetos já foram mencionados no capítulo introdutório deste documento.
57
Nem acredito que consegui
ser professora efetiva da escola a partir de 2005
Eu não havia conhecido essa professora no ano
anterior quando estive um bom período acompanhando a
escola. Mas durante uma conversa com professores
j
á
conhecidos, quando lhes convidei a participarem como
su
j
eitos da pesquisa, ela logo se prontificou a participar e
marcou uma hora extra comigo, na terça-feira, 7h da manhã,
que era seu dia de folga. Quando perguntei sobre o incômodo
de ir a escola fora de seu horário de trabalho, ela disse que
morava pertinho e que não lhe custava nada.
A professora comentou que tinha muito prazer em
falar comigo porque tinha um carinho especial por aquela
escola.
Lembrou de forma carinhosa e comovida que sua mãe
ficava implicada quando ela dizia que queria estudar e
trabalhar no Colégio Estadual e perguntava a um e outro quem
havia falado sobre a escola para a garota
j
á que eles moravam
na cidade de Cláudio, [cerca de 200 km de Belo Horizonte] e
ela não conhecia, nunca tinha visto a escola.
Ela me diz que nem acredita que conseguiu ser
professora efetiva da escola a partir de 2005.
Diário de Camp
o
Bom, o Estadual Central normalmente o pessoal tem aquele sonho
que aqui o professor de escola pública, aqui é um mito, um oásis etc, é
meio que impossível e também que é uma escola grande e pela
localização, mas também eu tinha dado outras opções, mas quando eu
consegui pra cá eu preferi por ser exatamente uma escola que tinha um
resquício assim de que aqui ainda podia ter um trabalho melhor com
mais autenticidade e tudo, que a escola pequena as vezes cai pra fofoca,
cai pro grupinho né e aqui pelo menos eu tenho conseguido ver isso,
apesar de ter alguns pormenores.
Entrevista Professores, Cinara
58
Como se pode observar o Colégio Estadual Central, uma instituição pública
de ensino, ainda se mantém como o locus da “boa educação” – mito , crença ou
tradição – num momento em que a educação e as escolas públicas têm sua
qualidade estrutural, administrativa e pedagógica questionada e desacreditada,
constituindo, pois, um “locus” relevante para essa pesquisa.
O tempo de permanência no locus da pesquisa foi longo, cerca de quatro
anos - 2003 a 2006 - alternando-se períodos de visitas sistemáticas para
reconhecimento do terreno – espaços físicos da escola, organização dos tempos
e espaços, visitas a arquivos – e visitas pontuais para contato mais direto com os
professores e gestores – reuniões dos professores, reuniões de colegiado e
eventos; visitas às salas de aula e realização das entrevistas.
O trânsito pelas dependências da escola, antes de iniciar as entrevistas, foi
bastante relevante no que diz respeito à aproximação com os gestores e
gestoras, professores e professoras, funcionários e funcionárias, alunos e alunas,
também permitiu presenciar situações, ações, interações e interlocuções
vivenciadas pelos atores do processo educativo escolar. De acordo com as
anotações do Diário do Campo, contabilizam aproximadamente 340 horas.
2. O COLÉGIO ESTADUAL CENTRAL
Falar do locus de pesquisa eleito exigiu transitar entre o sonho, o conto, a
história e a realidade, pois, como já disse Oliveira (2002), em sua pesquisa de
mestrado realizada nessa escola, e eu pude constatar no início de minha
pesquisa, poucos são os arquivos históricos existentes, limitam-se a fotocópias de
Em relação a muitas outras escolas, isso aqui é o sonho de consumo
de muito professor. Eu já ouvi assim colegas daqui falar assim: Nossa,
meu sonho de consumo sempre foi trabalhar no Colégio Estadua
l
Central”. E digo assim: “o sonho de muitos outros é trabalhar aqui no
Estadual Central.”
Por quê?
Porque é uma escola de tradição, de referência, que dá assim
liberdade. È uma escola democrática, né. Então, por isso todo mundo
quer trabalhar aqui. O sonho de consumo é trabalhar aqui no Estadual
Central. È uma referência, né!?
Entrevista Professores, Virna
59
textos dos jornais que destacaram o centenário do colégio, 1992. Nos arquivos
públicos como: Arquivo Público Mineiro, Secretaria Estadual de Educação, centro
de dados e dissertações da Faculdade de Educação da UFMG, pesquisa no
COMUT, não encontrei material que me desse subsídios históricos mais
aprofundados sobre esse colégio e poucas são as pesquisas existentes sobre
essa escola.
2.1 Fundação
20
As versões sobre o ano de fundação da Escola Estadual Governador Milton
Campos são conflitantes. Há aqueles que defendem o ano de 1744, quando foi
instituída a instrução pública em Minas Gerais, com aulas de latim avulsas em
Ouro Preto. Outros defendem o ano de 1839, quando as aulas de latim foram
reunidas no Colégio Público da cidade que recebeu sete diferentes nomes. A
escola adotou a data de 05 de fevereiro de 1854, quando foi criado o Liceu
Mineiro, sob o regulamento nº 27 do presidente da Província, Francisco Diogo
Pereira de Vasconcelos, em Ouro Preto, como o marco fundador.
Em 1º de dezembro de 1890, o governador de Minas Gerais, Crispim
Jacques Bias Fortes, assinou o Decreto nº 260, criando um estabelecimento de
instrução secundária dividido em internato e externato em Barbacena idêntico ao
de Ouro Preto, e com o mesmo decreto suprimiu o Liceu Mineiro e criou o Ginásio
Mineiro.
No ano de 1932, o Ginásio foi dissociado do Internato de Barbacena, que
passou a constituir um estabelecimento independente.
Pelo Decreto Estadual nº 16244/74, passou a chamar-se, Escola Estadual
Governador Milton Campos – 1º e 2º graus.
Em 17 de outubro de 1978, sua denominação foi mais uma vez alterada,
desta feita pelo Decreto nº 19472/78, para Escola Estadual Governador Milton
Campos, retirando apenas a tipologia indicadora dos graus de ensino oferecidos,
porém só deixou de oferecer o ensino de 1º grau a partir do ano 2000.
Esta escola recebeu vários nomes, porém até hoje é conhecida pelos belo-
horizontinos por Colégio Estadual Central, Estadual Central ou Colégio Estadual.
Esta denominação marcante tem sua origem no fato da escola estar localizada
20
Dados coletados em uma agenda elaborada pela escola e no Regimento, aprovado em 13/12/1993.
60
em área mais central de Belo Horizonte e ter sido a sede de outros tantos
ginásios anexos: Colégio Estadual Santo Antônio, Colégio Estadual da Serra,
Colégio Estadual da Gameleira, Colégio Estadual da Sagrada Família e Colégio
Estadual da Lagoinha.
2.2 Localização e estrutura
Em 1898, quando o Externato do Ginásio Mineiro foi transferido de Ouro
Preto para Belo Horizonte, instalou-se provisoriamente em um prédio na Praça
Afonso Arinos. Posteriormente, foi para a rua da Bahia, para o bairro da Serra,
para a Avenida Augusto de Lima.
Apenas em 1956 a escola instalou-se definitivamente no moderno conjunto
construído especialmente para seu funcionamento numa área de 28000 m2 em
região nobre de Belo Horizonte.
Construção moderna, projetada por Oscar Niemeyer, a pedido do então
governador do Estado Juscelino Kubitschek, que plasma artisticamente em seu
projeto arquitetônico a forma de objetos da época usados na escola como: régua
(salas de aula, laboratórios e unidades administrativas), giz (caixa d’água), mata-
borrão (auditório), borracha (cantina)
21
.
Construído em espaço bastante amplo na confluência de bairros nobres
habitados por classes de maior capital econômico, onde [se] tem o metro
quadrado mais caro de Belo Horizonte
22
, destaca-se fisicamente de outras
escolas por apresentar 50 salas de aula bem arejadas e iluminadas por grandes
janelas de vidro e um complexo esportivo composto por oito quadras, sendo, hoje,
três cobertas numa parceria com o Minas Tênis Clube
23
, vestiários e uma piscina.
Nas últimas décadas foram construídas, na mesma localização, mais duas
unidades da Escola Estadual Governador Milton Campos, ampliando bastante sua
21
Regimento da Escola Estadual Governador Milton Campos de 1º e 2º Graus ( com as modificações
contidas na Emenda aprovada pela Secretaria da Educação, juntamente com este Regimento, em 13/12/1993)
Documento xerocado dos arquivos da escola.
22
Observação do aluno René (Anexo I, Entrevistas Alunos).
23
O Minas Tênis, considerado como uma das maiores e mais importantes instituições sociodesportivas e
culturais do país, foi fundado em 15 de novembro de 1935 e, atualmente, é formado por duas unidades
urbanas – e duas unidades campestres. Dispõe de moderna infra-estrutura para atividades esportivas, culturais
e de lazer. O Clube conta com cerca de 70 mil associados, sendo 22 mil cotistas. Atualmente, o Minas tem
cerca de 1200 atletas em equipes competitivas de todas as categorias em sete esportes olímpicos - Vôlei,
Natação, Basquete, Ginástica Olímpica, Tênis, Judô e Tiro, além de Futsal, destacando-se em todas elas em
nível nacional. O Clube também mantém um departamento de Cursos de Aprendizagem em 23 modalidades,
que contam com cerca de 9 mil alunos, a partir dos 3 anos de idade.
61
oferta de vagas. Atende, hoje, em duas unidades, pois uma delas está desativada
desde 1988, cerca de quatro mil e quatrocentos alunos do ensino médio,
totalizando 125 turmas, distribuídas nos três turnos e mantém um quadro de
pessoal composto por 330 trabalhadores em educação, sendo 210 professores e
120 funcionários. Para se ter uma dimensão do quadro de pessoal exigido por
uma escola com essa realidade, ressaltamos que o Estadual Central tem hoje em
seu quadro de funcionários 12 porteiros.
Atualmente, o Estadual Central está entre as 119 escolas de Belo
Horizonte que oferecem o ensino médio e entre as treze
24
que oferecem
exclusivamente esse nível de educação no município. Até o ano de 1998,
funcionava como escola de educação fundamental (quatro últimas séries) e ensino
médio. Em 2000, encerrou o atendimento às últimas turmas de educação
fundamental, mantendo apenas o ensino médio completo. A observação dos
dados do Cadastro Escolar 2005-2006
25
permite-nos afirmar que, em Belo
Horizonte, é a escola de ensino médio que oferece o maior número de vagas e a
diferença entre o número de vagas por ela ofertado e as outras é bastante
significativa, como se pode observar no quadro abaixo.
TABELA 2.1
Vagas oferecidas para o 1º ano do ensino médio
em escolas estaduais de Belo Horizonte 2005 – 2006
NÚMERO DE VAGAS E TURNOSESCOLAS
MANHÃ TARDE NOITE TOTAL
COLÉGIO ESTADUAL 1070 600 1670
E. E. PEDRO AMÉRICO 640 400 1040
E.E. MAURÍCIO MURGEL 600 240 840
E.E. MARIA CAROLINA CAMPOS 480 280 760
E.E. MAESTRO VILA LOBOS 480 160 640
E.E. PROF. GUILHERME DE A . LAGE 440 160 600
Fonte: SEE/MG e SMED/BH. Previsão de vagas para o ensino médio regular na rede
Pública de Belo Horizonte. 2005-2006.
24
Fonte: Cadastro – Set – Belo Horizonte. Disponível in: http//www.educacao.mg.gov.br/serviços
(Cadastro atualizado em 14/09/05)
25
O cadastro é realizado em 2005 para matriculas em 2006.
FIGURA 7- A cantina representando a borracha.
FONTE: Benta Maria de Oliveira
FIGURA 8- A caixa d’água representando o giz.
FONTE: Benta Maria de Oliveira
62
Caracterização da escola
QUADRO 2.1 - SÍNTESE DA CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA
Dependência
Administrativa
Estadual
Localização
Região Centro-sul - Confluência dos Bairros Santo Antônio e Lourdes
Nível de
Educação
Ofertada
Ensino Médio
Estrutura Física
A escola funciona em duas unidades localizadas em prédios diferentes
numa área de 28.000 m2.
Número de alunos
Cerca de 4300
Número de turmas
125
Número
De turnos
Unidade I
Unidade II
1ºT 2ºT 3ºT Total 1ºT 2ºT 3ºT Total
1ºAno
x241034
1ºAno
X20x20
2ºAno
06 06 09 21
2ºAno
20 x x 20
O3
3ºAno
24 X 06 30
3ºAno
Xxxx
TOTAL 85 turmas 40 TURMAS
Forma de gestão
Até a década de 70 era uma congregação presidida por um reitor,
composta por departamentos e cátedras.
Durante a década de 80, até meados da década de 90, passa a ter
diretores, nomeados a partir de uma lista tríplice.
A partir daí, a eleição direta de diretor e vice-diretores (em número de
03) .
Possui colegiado, grêmio estudantil (eleito em julho de 2005),
associação de pais ( está desativada), associação de funcionários
Corpo de apoio
técnico-
pedagóico
administrativo
120 funcionários (supervisores, orientadores, porteiros, auxiliares de
serviço geral, auxiliares de secretaria e biblioteca, mecanógrafos).
Número de
professores
210 ( 167 efetivos, 43 contratados)
Estrutura física
Unidade I
Arquitetura de prédio escolar: construção moderna, projetada por
Oscar Niemayer, reproduz em sua arquitetura a forma de objetos
escolares usados à época como: mata-borrão, giz, régua e borracha.
30 salas de aula (em forma de régua)
Biblioteca (em forma de régua)
Laboratórios de física (localizados no espaço da Unidade II)
Laboratórios de química e biologia (em forma de régua)
63
Unidade II
Laboratório de informática (em forma de régua)
Auditório (em forma de mata-borrão)
Cantina e refeitório (em forma de borracha)
Banheiros
Pátio
Quadras de esporte (localizadas no espaço da Unidade II)
Piscina (localizada no espaço da Unidade II)
Vestiários
Com exceção dos banheiros e cantina, essas dependências são
utilizadas pelas duas Unidades.
20 salas de aula
Cantina
Biblioteca
Atividades
pedagógicas
desenvolvidas
( Projetos)
PROJETO DE DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL
(PDPI) proposto pela Secretaria Estadual de Educação com o objetivo
de resgatar a referência da escola. Este Projeto é composto pelos
seguintes subprojetos:
Projeto de Reestruturação Curricular que inclui o
planejamento didático e a avaliação.
Projeto Boa Convivência que visa ao protagonismo
juvenil e ao desenvolvimento afetivo sexual
responsável.
Projeto de Reestruturação da Gestão que visa a
reestruturação da gestão escolar, prevê a criação de
uma ONG para gerir os recursos do Caixa Escolar e
também o lançamento de jornal, rádio e site, totalmente
formulados por alunos e professores.
Projeto Reestruturação do Sistema de Comunicação
Projeto produção de conhecimento numa perspectiva
investigativa que visa a reestruturação da biblioteca.
Projeto Arte-Educação que prevê a criação de um
centro integrado de arte, cultura e ciências, com seis
salas, sendo duas de música. Este projeto poderá
abrigar o Projeto Orquestra de Violões.
Projeto orquestra de Violões:
(...) No início do ano passado surgiu a idéia de oficializar a
tradição da escola como celeiro de grandes músicos e
poetas (Juarez Moreira Murilo Antunes e Marcus Viana
são alguns dos egressos do Colégio estadual, assim como
o compositor Fernando Brant). A idéia de reunir os
estudantes que diariamente tocavam seus violões na hora
do intervalo foi uma iniciativa da diretora Berenice Horta.
“O violão é o instrumento que mais visita a escola, por que
não vê-lo como possibilidade de trabalho?”, pergunta
Berenice. Ela é irmã de Toninho Horta, guitarrista e
compositor mundialmente famoso. Berê, como é
conhecida gostaria que a educação musical fosse
estendida a toda a rede pública de ensino. O irmão, ex-
aluno da unidade Sagrada Família, aderiu ao projeto e
hoje coordena a orquestra.
Com o apoio da iniciativa privada, a algazarra do período
FIGURA 8- O auditório, visto de frente.
FONTE: Benta Maria de Oliveira
FIGURA 9- O auditório, visto da parte de trás.
FONTE: Benta Maria de Oliveira
64
de descanso foi convertida em novas possibilidades de
crescimento artístico. (Minas Gerais: Órgão oficial dos
poderes do Estado. Nº 50. 17 de março de 2004, p. 06)
Limpeza e
conservação do
espaço
Em relação à limpeza e conservação do espaço, merece destaque a
observação de uma secretária da escola que ao se referir às verbas
enviadas pela SEE/MG (que cobrem apenas 40% dos gastos), mostra-
me a péssima conservação da escola – apontando para as paredes
externas do mata-borrão, formato do auditório da escola -, cujo
revestimento cai a cada dia.
Em algumas caminhadas pelos pátios da escola, observei que, com
exceção do jardim central, os outros, em torno da escola, estão mal
cuidados. A varrição de alguns espaços parece nunca acontecer, pois o
mesmo lixo (papel amassado, terra entornada, pontas de cigarro)
permanece no local por um longo período. Contudo, ao entrar na
escola, aparentemente, esta apresenta um bom estado de limpeza e
conservação.
Alguns alunos queixam-se da falta de manutenção e limpeza dos
banheiros, sobretudo, masculinos.
2.2 A direção
A gestão das duas unidades que compõem a escola está sob a
responsabilidade de quinze pessoas: um diretor, quatro vice-diretores, dois
coordenadores de turno, duas secretarias (uma responsável pela vida escolar dos
servidores efetivos e designados e outra pela vida escolar dos alunos), três
orientadoras educacionais, três supervisoras pedagógicos.
De acordo com a resolução que orienta o processo de escolha da direção,
a escola tem direito a três cargos de vice-diretor (um por turno). Porém, o número
de alunos, turnos e unidades lhe confere a distinção de possuir mais dois cargos
de vice-diretor. Segundo o diretor, ele só utiliza um cargo, porque não quer gente
sem função, ou seja, à toa na escola.
A coordenação de turno e a coordenação de área não são funções
existentes na organização administrativa das escolas estaduais de Minas Gerais.
Mas, segundo o diretor, ele procura fazer a gestão das funções, dessa forma
adaptou funcionalmente dois professores de conteúdos extintos – professores
excedentes – na função de coordenadores/ supervisores de turno, sendo que um
coordena o turno da manhã e o outro da noite.
A coordenação de área existiu na escola até 1996, quando a lei foi
revogada, hoje, a escola tem uma autorização da Secretaria para ter um
coordenador por área - ciências humanas, linguagem e ciências da natureza, de
acordo com a proposta de organização do currículo, contida nos Parâmetros
65
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio - cuja jornada é totalmente dedicada
à regência de aulas, mas não um coordenador com jornada especial. Há também
representantes de disciplina em número de nove.
O atual diretor entrou na escola em 1984, como professor de Filosofia, tão
logo essa disciplina foi incluída no currículo da escola, coordenou a área de
filosofia e Sociologia durante algum tempo. Em 1997, assumiu o cargo de vice-
diretor onde permaneceu até 2003, quando, na vacância do cargo, assumiu a
direção. Em 2004, compondo chapa única com dois vice-diretores, foi aclamado
diretor.
Quando, em 1997 a Lúcia assumiu a direção da escola, me convidou para
trabalhar junto com ela. Até então eu era alguém que ia colaborar com ela
na coordenação de um turno, só que logo que ela tomou posse também a
pessoa que era vice-diretor dela não aceitou não ter conseguido ficar nos
dois cargos como vice-diretor, não quis ser vice-diretor. Aí houve uma...
uma assembléia aqui na escola para poder... para a indicação de um novo
vice diretor. Aí, eu fui aclamado vice-diretor da Lúcia a partir de 28 de
fevereiro de 1997. E com ela, na vice-direção, eu fiquei até 2003, quando
ela saiu para assumir o cargo de Superintendente, né, aí eu assumi, porque
era o primeiro vice, já no segundo mandato já. Depois em 2000 a gente fez
uma nova eleição, aí foi que eu concorri com ela como vice-diretor dela já.
Aí, eu fiquei até 2003 quando ela assumiu... quando ela saiu para assumir,
aí eu assumi a direção aqui. No final... no início de 2003, não, de 2004, teve
o processo de eleição aqui na escola e novamente eu fui aclamado direto
r
pela comunidade. E aqui estou até hoje trabalhando, bastante.
Entrevistas Gestores, Eloma
r
(...) a gente criou uma estrutura para o funcionamento da escola que são
coordenações, isso não tem no estado, você cria aqui dentro para quando a
pessoa quiser isso ela dirige-se a quem. Para descentralizar, até, como
você não tem isso no plano de carreira a gente criou dentro da própria
estrutura da escola com vice-diretores, com pessoas que estão em
ajustamento funcional e podem contribuir como coordenadores de turno
para ajudar nessa hora, porque como que um diretor, dois prédios, três
turnos... é muito complicado, né. Não adianta negar, ela não existe na
estrutura, mais ela está aqui na nossa.
Entrevista Gestores
,
Marta.
66
Como podemos ver pela história desse diretor, há oito anos, entre vice e
diretor, a escola apresenta uma realidade relevante de estabilidade em seu
processo de gestão. Essa estabilidade se complementa com o quadro de vice-
diretores, ( uma delas está na vice-direção há oito anos) secretárias (ambas na
função há mais de 20 anos, coordenadores de turno (um está na função há 08
anos) e orientadora educacional (também há oito anos na função) que há muito
contribuem na gestão da escola.
A realidade de estabilidade do corpo administrativo ainda sugere uma certa
continuidade das políticas e ações educacionais no interior da escola o que pode
suscitar a configuração de habitus escolar - engendrado por exposição
permanente a determinadas vivências (estruturas estruturantes) - que poderá
contribuir na configuração das representações sobre ”boa” escola o que deverá
ainda ser tratado.
A realidade de estabilidade do corpo administrativo pode ter papel
acentuado na configuração das práticas administrativas e organizativas o que,
certamente, interfere na constituição da representação de “boa escola”.
A organização da escola é citada por alunos, supervisora e professores
como uma das características distintivas da escola. Embora possa parecer
desumana a situação vivida e relatada por Rui, evidencia o papel da organização
da escola no habitus dos alunos e na configuração da sua representação de
escola organizada.
(...) quando minha mãe morreu, no enterro, como eu fiquei no velório, eu
perdi uma prova, de história, cheguei aqui e tal, falei: - eu quero repetir a
p
rova, porque eu perdi. O professor falou: - não, só com o atestado de
óbito. Pô, na hora e eu fiquei puto: - eu vou inventar um negócio desses.
!
Mas, aí eu imaginei: “4000 e tantos alunos (risos) quantos devem matar o
pai por dia nessa brincadeira, não é?” Então, acho que... no mundo lá fora,
você vai ser cobrado dessa forma. No seu emprego, se você falar: - minha
mãe morreu! -Ah, é, tá, meus pêsames, mas me dá o atestado de óbito
p
orque tem que colocar aqui na sua ficha, se não eu não vou poder te
p
agar (risos). Então, você vive dentro desses dois quarteirões que são
escola, o que você vive lá fora, porque isso aqui é... é uma cidade, você
tem pessoas de Sabará, do centro, da zona norte, da zona leste, de todos
os lugares. Você tem gente de todos os lugares, então você convive com
todos tipos de realidades.
Entrevista Aluno Rui
67
Um dos gestores
ressalta a
importância da
estrutura e
organização no
desempenho das
funções.
2.4. O colegiado
O colegiado é uma instância de decisão, composta pelo diretor,
professores funcionários e alunos. Os pais de alunos do ensino médio, de acordo
com prescrição da Resolução da SEE/MG que trata da organização dessa
instância, não têm assento no colegiado.
26
Algumas escolas apontam essa
prescrição como um equívoco da Resolução uma vez que os alunos estão
chegando muito novos ao ensino médio e o acompanhamento dos pais se faz
necessário. Segundo informes da SEE/MG, repassados pelo diretor em uma
reunião do colegiado, a Resolução que trata da organização e funcionamento do
colegiado nas escolas públicas estaduais está sendo reformulada e nova versão
será apresentada até o mês de outubro de 2005.
Quanto às funções do colegiado,
os depoimentos vão de um
extremo ao outro, atores que
acreditam na sua função de
democratizar os processos
decisórios importantes e outros
que, como esse professor vêem
sua função esvaziada. A
participação em três reuniões
26
A partir de 2006 a Resolução foi modificada e, nos de abril, quando voltei à escola, para checar alguns
dados, o diretor me falou que tinham realizado a eleição de pais para o Colegiado e uma supervisora, em
conversa informal, comentou que estavam se preparando para “capacitar os pais para sua efetiva
participação.
Tem o colegiado para resolve
r
problemas de caixa da escola,
problemas de disciplina, alguém que
quebrou, não sei o quê, que tentou
matar não sei quem, essas coisas
assim, mas pra resolver as
condições ideais de trabalho, pelo
menos as condições ideais de
trabalho em sala de aula que
deveria ser, não é?
Entrevista professor Lúcio.
(...) aqui eu estou conseguindo exerce
r
minha função e em outras escolas era só
disciplina. A gente ficava por conta da disciplina
dos alunos, muitas vezes eu tive que leva
r
trabalho para casa e aqui não, eu trabalho aqui e
não levo serviço para casa, porque nós temos
esse espaço, e esse tempo, aqui na escola,
porque tem essa estrutura muito bem montada.
Entrevista Gestores, Gal
68
levou-me à confirmação do esvaziamento das funções dessa instância.
Confirmou, ainda, o que já pressupunha realidade na composição e
funcionamento dessa instância em várias escolas e que Oliveira (2002) que se
dedicou a uma pesquisa em nível de mestrado nessa escola, faz referência:
a) O número de participantes é sempre reduzido e as reuniões se
iniciam sem quorum para votação, até que chegam os retardatários.
b) A presença constante do mesmo número e dos mesmos
representantes do segmento de funcionários evidencia, ao contrário
da realidade outras escolas, a participação mais efetiva dos
funcionários nessa instância.
c) As resoluções, portarias, pareceres emanados do Órgão Central
regulam essa prática de participação e são assumidas na íntegra
pelos atores do processo educativo da escola. Um exemplo disso é
a não participação dos pais dos alunos do ensino médio na
composição do Colegiado, prescrita pela SEE/MG, que foi motivo de
contestação nas três reuniões em que estive presente. Sendo o
Colegiado uma instância aberta à participação e a posição retórica
da escola favorável à participação da comunidade e/ou dos pais nos
rumos da escola, fico a me perguntar até que ponto a resolução tem
Elomar lembrou que as inspetoras que acompanham a escola
orientaram sobre a necessidade de adequação do Regimento à
nova legislação [o Regimento foi elaborado em 2002 e foi
necessário adequá-lo às leis posteriores] e se disponibilizaram a
contribuir. Após a adequação, a cópia do documento foi
distribuída, na última reunião do Colegiado, a todos os
segmentos, que na reunião de hoje deveriam apresentar suas
contribuições. Lembrou que o Regimento não pode contrariar as
leis. Ninguém apresentou proposta e alguns alegaram que não
fizeram porque já que nada pode mudar, nada se tem a fazer.
Uma das vice-diretoras lembrou que é importante que se
apresente as propostas de mudança, mesma que elas não possam
ser feitas no momento, para que sejam encaminhadas à SEE e
fiquem registradas. Ressaltou que o Colegiado é um dos espaços
para se registrar as discordâncias.
Diário de Camp
o
69
mais força do que uma decisão do coletivo de promover a
participação desses atores, mesmo sem formalizá-la na composição.
Ou, por que esperar a mudança da resolução, como afirmam várias
vezes na reunião para promover a participação desse segmento ao
qual atribuem tanta importância?
d) Os níveis de participação dos diversos segmentos são
diferenciados: os que participam são ouvidos; os silenciosos poucas
vezes são consultados; os questionadores ou resistentes são
tratados com impaciência ou menosprezo; os desinformados ou que
não possuem o capital lingüístico escolar são desautorizados.
Apenas um dos membros do colegiado apresentou uma
preocupação educativa em buscar o crescimento do grupo.
Se como já exposto, as práticas configuram as representações isso fica
evidente nas falas dos atores do processo educativo que, ao serem questionados
sobre o Colegiado, mostram-se inseguros e parecem não ter muito a falar, alguns
apenas insistem em registrar que a gestão da escola é democrática.
O Plano de Desenvolvimento Pedagógico Institucional (PDPI), em sua
página 10, aponta como um dos problemas: a gestão escolar não se estrutura de
forma a viabilizar a comunicação e a participação democrática de todos os
segmentos da escola.
2.5 A Associação de Pais
A Associação de Pais, antes existente, está desativada e a escola está
iniciando um movimento para sua reativação.
Conforme os depoimentos dos atores do processo educativo escolar, a
participação dos pais na escola é episódica resumindo a uma reunião no início do
ano para apresentação da escola, suas metas, rituais e normas para aqueles que
têm filhos matriculados na 1ª série. Reuniões bimestrais para entrega dos boletins
dos alunos de todas as séries e reuniões pontuais com pais cujos filhos estão
apresentando algum tipo de dificuldade ou cometeram alguma falta disciplinar.
Na descrição da realidade da escola em relação à integração escola-
comunidade o Plano de Desenvolvimento Pedagógico Institucional (PDPI) aponta:
o espaço físico é grande, mas pouco aproveitado para atividades comunitárias
70
como também nos fins de semana. Falta de apoio por parte das famílias e de
entidades da comunidade externa, o sistema de comunicação falho contribui (sic)
para a falta de integração dos segmentos escolares. (p.06)
2.6 A Associação de Funcionários
A escola tem ainda uma Associação de Funcionários que segundo vários
depoimentos já foi bastante atuante, entretanto, hoje, sua função tem-se resumido
em fazer pequenos empréstimos da “caixinha” aos funcionários.
2.7 As organizações estudantis
O Grêmio, organização estudantil, que durante décadas construiu uma
tradição de atuação nas questões políticas e culturais da escola e mesmo da
cidade, desde 2000, após um incidente na escola, como diz um dos alunos, uma
revolução armada, foi desativado e parece ser uma organização não desejada na
escola por parte de alguns gestores, professores e funcionários.
O clima da escola durante as eleições e as discussões nas reuniões do
colegiado deixam transparecer um certo temor e até mesmo uma certa dúvida
quanto ao papel do grêmio.
Portanto fica no ar e nas palavras a expressão de divergências no que diz
respeito ao reconhecimento da importância dessa instância entre alunos,
gestores, professores e funcionários.
... por esse nome grêmio a gente sabe que o nome grêmio aqui
no Estadual Central mete medo em muita gente pelo que teve
aqui há uns três anos atrás, pelo que aconteceu aqui. Falou
Grêmio Estadual Central, muita gente pensa: - “ ah, é aquele
mesmo pessoal que fez bagunça, que quebrou tudo, que deu
p
olícia, que tal
. Mas assim eu vejo assim é ... tem um certo
temor, um certo temor em relação a nos designar autonomia,
né. Em relação a passar pra gente uma autonomia, fica sempre
aquela coisa.
Entrevista Alunos, Léo.
71
Durante as reuniões do Colegiado percebi uma espécie de má vontade e
uma animosidade entre os alunos representantes do grêmio e gestores,
professores que são anunciadas ou denunciadas na frase não tive neura
nenhuma com isso, no depoimento de um dos gestores que afirma o contrário.
Em julho de 2005, foi eleita uma diretoria do grêmio, após uma campanha
bastante difícil com a concorrência de duas chapas – Garra e Correnteza –, sendo
que uma delas, segundo boatos correntes na escola, era apoiada pela direção.
Outra instância de organização dos alunos é a representação de turma.
Segundo a aluna Diva, essa função consiste em (...) representar a turma em
qualquer coisa, em qualquer coisa que acontecer. Informar tudo o que está
acontecendo aqui na escola, todos os eventos, todas as aulas, se for repor aula...
é você representar os alunos da sala em qualquer reunião que for, com qualquer
professor, qualquer diretor. É fazer reclamação, é então estar à frente da sala.
A explicação sobre o processo de escolha do representante de turma dada
pelo aluno Dino mostra que ele captou com propriedade as características ou o
capital cultural e escolar exigido ou esperado para ser representante de turma. O
aluno representante deve ter o habitus que caracteriza o aluno ideal.
Quando eles manifestaram
desejo de ter o grêmio, fiz
todo o encaminhamento para
eles com a maio
r
tranqüilidade, não tive neura
nenhuma com isso, entendeu
e tenho convivido com eles,
felizmente, muito
tranqüilamente. Como você
viu naquela reunião, sem
repressão, simplesmente
mostrando que a realidade,
realmente, não é às vezes
aquela que se imagina.
Entrevista Gestores, Elomar.
Bem, eu digo que ficam abafadas
[referindo-se à identificação de
lideranças entre os alunos] porque
até hoje eu não... é... não percebi
nenhum avanço significativo nas
conquistas, porque nunca o Grêmio
foi respaldado pela direção da
casa. Agora, vamos ver se eles vão
conseguir, se conseguirem, eu digo
então que eles tiveram sucesso em
termos dessa liderança. Até então
essa liderança não teve muit
o
sucesso, ou seja, em empreende
r
as suas conquistas.
Entrevista Gestores, Nara.
72
Tendo presente que além de um léxico
e de uma sintaxe, cada indivíduo
herda, de seu meio, uma certa atitude
em relação às palavras e ao seu uso
que o prepara mais ou menos para os
jogos escolares (Bourdieu, 1999, p.56),
pode-se considerar que os critérios
para escolha de representantes de
turma evidenciam o sutil
"favorecimento" dos "favorecidos" e
"desfavorecimento" dos
"desfavorecidos" reproduzidos pelas
práticas escolares que,
desconsiderando as desigualdades
culturais, sancionam as desigualdades
iniciais de capital cultural expressas
nas disposições para saber falar em
público, dedicar-se aos estudos, ser
responsável.
2.8 O quadro de pessoal administrativo
A escola possui um quadro de pessoal administrativo diferenciado das
outras escolas, devido à sua estrutura física e ao seu número de alunos, contudo
esse quadro tem que ser negociado com a SEE/MG a cada ano, o que o diretor
aponta como uma das dificuldades da escola.
A negociação se torna morosa e difícil, a cada mudança de administração
da Metropolitana A (Superintendência Regional de Ensino), responsável pela
escola, pois desconhecendo a extensão e as especificidades da escola, é imposto
um quadro de pessoal comum a todas as escolas.
O quadro de funcionários está composto por 82 pessoas, sendo a maioria
admitida por contrato temporário de trabalho – designação para o cargo de
auxiliar de serviços gerais (50) e auxiliares de educação (32). Os auxiliares de
serviço exercem funções relacionadas à limpeza, manutenção, segurança e
cantina.
A Nana [referindo-se à
orientadora educacional]
chegou na sala falando assim
que tinha que ser alguém que
tenha facilidade para falar com
as pessoas. Eu tenho, não
tenho facilidade para pergunta
r
na frente da sala, mas eu
tenho facilidade para falar, se
tiver duas pessoas assim, eu
falo. E... e alguém que estude,
não precisa ser o mais
inteligente da sala, mais CDF
da sala, mas estude bem,
tenha responsabilidade, tinha
que ser. Eu lido bem com
essas características, eu tenho
a maioria e resolvi me
candidatar eu e minha colega
da minha sala.
Entrevista Aluno Dino
73
As funções de manutenção são determinadas pelas necessidades da
escola e a designação para a função é feita pela direção da escola de acordo com
as habilidades do funcionário. Portanto, os auxiliares de serviço podem assumir a
responsabilidade por trabalhos de marceneiro, eletricista, bombeiro, pedreiro,
jardineiro, almoxarife e repografia.
Na área de segurança, as funções de porteiros, telefonistas e
recepcionistas também são designadas pela direção, de acordo com as
habilidades do auxiliar de serviços..
Como a escola atende apenas o ensino médio, não há o serviço de
cantineira para a merenda escolar, essa função é ocupada apenas por uma
pessoa responsável por fazer o café.
As auxiliares de educação são responsáveis pelos serviços da secretária
de alunos e de professores
2.9 O quadro docente e discente
São dois quadros bastante amplos, totalizando cerca de 4500 pessoas.
Como diz o diretor, a população da escola pode ser comparada a uma população
de um pequeno município.
O foco principal do interesse dos professores limita-se, salvo algumas
exceções, à sua sala de aula. Os entrevistados tiveram dificuldades em avaliar as
ações desenvolvidas fora do seu contexto da sala de aula, as tentativas de
avaliação, como, por exemplo, do papel do colegiado, das organizações
estudantis, revelaram pouco envolvimento e conhecimento.
Os professores e as professoras
A escola tem 210 professores, sendo 167 efetivos e 43 contratados, 10
professores têm dois cargos na escola, trabalhando, pelo menos, em dois turnos
e, em alguns casos, nas duas unidades.
Os concursos realizados reduziram o número de professores contratados
temporariamente no Colégio Estadual Central, que hoje tem seu quadro docente
composto por 79,5% de professores efetivos e 20,5% de professores contratados.
Nesse estabelecimento de ensino a instabilidade do corpo docente,
geralmente atribuída ao vínculo empregatício temporário, não se configura tão
74
significativa – professores contratados (20,5%) – como na realidade do
conjunto das escolas estaduais de ensino médio localizadas em Belo Horizonte
nas quais, de acordo com os dados da SEE/MG/2005
27
, há 2008 professores
contratados e 1970 efetivos, constituindo, portanto um quadro majoritário de
contratados (50,5%).
Tabela 2.2
Composição do corpo docente :
vínculo empregatício, sexo, disciplinas
PROFESSORES
EFETIVOS
PROFESSORES
CONTRATADOS
DISCIPLINAS
VÍNCULO
SEXO
F M F M
TOTAL
ARTES 02 00 00 00 02
BIOLOGIA 17 05 02 00 24
ED. FÍSICA 03 06 03 02 14
FILOSOFIA 01 04 03 00 08
FÍSICA 01 20 01 00 22
GEOGRAFIA 09 04 05 10 28
HISTÓRIA 04 12 05 01 22
INGLÊS 03 02 01 00 06
MATEMÁTICA 10 10 02 00 22
PORTUGUÊS 20 03 06 00 29
QUÍMICA 10 11 00 02 23
EXCEDENTES 05 05 00 00 10
TOTAL 85 82 28 15 210
O quadro docente desse estabelecimento de ensino é composto por 113
professoras (54%) e 97 professores (43%), havendo, pois, um certo equilíbrio
entre o número de profissionais do sexo masculino e feminino, o que não é
comum na realidade de muitas escolas, sobretudo de educação fundamental.
A área de humanas é composta por 59% de mulheres e 41% de homens,
a área de exatas é composta por 47% de mulheres e 53% de homens, o que não
constitui fato novo na nossa realidade educacional.
27
Fonte SEE/SA/SPL/DPRO – Dados do Censo Escolar 2005.
75
Nos últimos anos, diante da perspectiva de mudança da lei, houve um
número significativo de professores que se aposentou e outros foram efetivados,
por meio dos concursos, para várias áreas de conhecimento, esses fatores,
segundo informes do diretor, promoveram a renovação de 40% do quadro de
professores.
Há dez professores excedentes na escola, 06 deles lecionavam disciplinas
de cursos profissionalizantes e hoje se encontram em várias funções. Os outros
foram lotados na escola, sem habilitação para lecionar no ensino médio, e
trabalham na biblioteca.
Os dados que permitiram o cálculo da idade dos professores foram
coletados somente na pasta individual dos professores efetivos, tendo em vista
que os professores contratados, findo o contrato, levam consigo a sua pasta.
As idades foram organizadas em seis faixas etárias o que favorece uma
visão dos diferentes grupos de idade no interior do segmento e permite a
elaboração de algumas hipóteses acerca do tempo de exercício do magistério dos
professores, dado não apresentado na ficha individual.
Dessa forma, constatamos que entre os 157 professores efetivos
28
, como
se pode observar no quadro abaixo, 82% encontram-se na faixa etária entre 40 e
71 anos. Na faixa etária entre 50 a 59 anos é onde se concentra o maior número
de professores - 74, ou seja, 47,1%.
Tabela 2.3
Faixa etária dos professores efetivos
FAIXAS
ETÁRIAS MAT POR QUI GEO EF FIL HIS FIS ART ING BIO TOT
27 a 29 - - 01 01 - - - 01 - - 02 05
30 a 39 02 - 06 01 - 02 01 08 - - 03 23
40 a 49 03 06 06 02 01 01 05 05 - - 03 32
50 a 59 13 12 07 07 06 01 07 05 02 02 12 74
60 a 69 02 05 01 02 02 01 02 02 - 03 02 22
71 - - - - - - 01 - - - - 01
TOTAL 20 23 21 13 09 05 16 21 02 05 22 157
28
Não foram c02ontabilizados os dez professores que estão lotados na em dois cargos.
76
Devido ao tamanho e à organização da escola, torna-se difícil para os
professores, a não ser pelo seu próprio empenho ou pelo tempo de atuação na
escola, se conhecerem e constituírem relações sociais e profissionais mais
sólidas.
Como não há tempo para encontros e reuniões, alguns professores têm
exaltado “os arranjos” que o diretor tem organizado para realizar alguns encontros
necessários ao desenvolvimento dos trabalhos, fato este que confirma as
observações sobre o processo de construção das relações sociais e profissionais.
Outros, porém – com raras exceções, os que trabalham há mais tempo na escola
- recusam-se a deixar seus alunos realizando alguma tarefa em sala para
participar das reuniões, insistem em afirmar que precisam dessa aula. Essa
atitude me pareceu ser uma forma de não cometer a “heresia” de exprimir sua
descrença nos propósitos da SEE/MG e da própria escola, já que proferi-la não é
simplesmente manifestar discordância, como defende Hargreaves (1998), mas é
ser malévolo ou fraco. Nos sistemas educativos actuais, tais heresias são
indizíveis.
Em alguns estudos sobre o efeito da escola na trajetória de sucesso dos
alunos, a expectativa dos professores em relação aos seus alunos é considerada
como um dos fatores determinantes.
Em suas entrevistas os professores do Colégio Estadual Central dividem-
se quanto à expectativa de conseguirem ensinar aos alunos os conteúdos da
disciplina pela qual são responsáveis e a expectativa de conseguirem, pelo
menos, passar alguns conhecimentos para que sejam bons cidadãos, bons pais,
responsáveis, cumpridores de seus deveres e saibam reivindicar seus direitos,
exercendo sua cidadania fora da escola.
A lógica que permeia as expectativas orienta-se pela formação para o
trabalho ou para a sobrevivência, ao largo dos objetivos da escola de preparar
alunos para o curso superior. Apenas uma professora cita a preparação para o
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) como expectativa, já que , segundo
ela, é a ênfase do projeto da escola.
Os alunos e as alunas
77
As duas unidades da escola têm cerca de 4300 alunos, que compõem 125
turmas: 85 turmas na Unidade I e 40 turmas na Unidade II, assim organizadas:
Tabela 2.4
Organização das turmas por unidades e turnos
MANHÃ TARDE NOITE
1ªS 2ªS 3ªS 1ªS 2ªS 3ªS 1ªS 2ªS 3ªS TOTAL
UNIDADE I
06 24 24 06 10 09 06 85
UNIDADE II
20 20 40
Tabela 2.5
Distribuição dos alunos segundo a série e sexo 2004
1ªSÉRIE 2ªSÉRIE 3ª SÉRIESEXO
SÉRIE
TURNO
Diurno Noturno Diurno Noturno Diurno Noturno
TOTAL
MASCULINO 630 280 398 144 321 119
1892
FEMININO 859 170 589 102 568 120
2408
MATRÍCULA
EFETIVA
1489 450 987 246 889 239
4300
ADMISSÃO POR
TRANSFERÊNCIA
69 54 34 38 16 37
248
AFASTAMENTO P/
TRANSFERÊNCIA
201 119 106 54 54 47
581
ABANDONO 188 169 36 77 29 66
565
MATRÍCULA FINAL 1169 216 879 153 822 163
3402
APROVAÇÃO SEM
DEPENDÊNCIA
617 59 585 55 608 90
2014
APROVAÇÃO COM
DEPENDÊNCIA
231 43 193 28
- -
495
REPROVAÇÃO 321 114 101 70 214 73
893
Fonte: Censo Escolar 2004
O número de alunos por sala de aula é 34,4, considerando a matrícula
efetiva – 4300 alunos – e a organização da escola em 125 turmas, número que
reafirma os dados divulgados pelo INEP que aponta, no censo 2000, uma média
de 34 alunos por turma nas escolas brasileiras.
O quadro de alunos do Colégio Estadual, hoje, compõe-se de alunos
encaminhados de escolas públicas próximas ou até mesmo mais distantes, uma
vez que a escola não tem jurisdição própria para o encaminhamento do Cadastro
78
Escolar, sendo encaminhados alunos de regiões diversas de Belo Horizonte e
Grande Belo Horizonte
29
.
Geralmente, a escolha da escola pública de educação básica pelas famílias
das classes de rendimento baixo e algumas frações da classe de rendimento
médio baixo não passa pelos mesmos critérios da escola particular, na verdade
não há muita opção, ou seja, os anseios e expectativas dessas famílias não são
determinantes na escolha da escola de seus filhos, pois após a implantação do
Cadastro Escolar
30
– a setorização - o que sobra aos pais é ir ao correio
providenciar o cadastramento dos filhos ou esperar que as escolas ou as
administrações se encarreguem de seu encaminhamento. É necessário ressaltar
que quando há necessidade do aluno mudar de escola – ao terminar as séries
iniciais em algumas escolas estaduais ou ao término da educação fundamental –
é apresentada aos pais uma lista de escolas mais próximas da residência para
que eles façam sua opção, contudo o atendimento da opção está condicionado ao
número de vagas. Talvez esse fato possa ser um dos fatores que levam ao alto
número de transferências, sobretudo, na 1ª série diurna (13%).
Ao iniciar a pesquisa, parti do pressuposto que a falta de vagas para o
ensino médio em Belo Horizonte - que hoje atende apenas cerca de 33% dos
alunos neste nível de educação - e a grande procura do Estadual Central - por ser
uma “escola referência” - eram fatores suficientes para que as vagas
apresentadas no fluxo do cadastro fossem totalmente preenchidas, mas no
decorrer da pesquisa percebi que esse pressuposto não se confirmou.
29
Grande Belo Horizonte. Conjunto de cidades próximas à capital: Sabará, Neves, Santa Luzia, Contagem,
Lagoa Santa, Betim, Nova Lima, etc
Eu tinha vindo aqui na época de matrícula de todo mundo que
tinha sido escolhido para estudar aqui. Eu vim aqui, aí me falaram
assim: - não tem vaga, não, só para aqueles que colocaram o
nome e a Secretaria mandou para cá. Mas, uma semana antes de
começar aula assim tenta vir procurar aqui, porque tem gente
dessas pessoas que foram mandadas para cá que desistiram e
você pode conseguir uma vaga. Aí eu vim para cá e a mulhe
r
arrumou uma vaga para mim, à tarde.
Entrevistas alunos. Dino
79
Ao longo do ano, a escola dispõe de vagas de alunos desistentes,
transferências e, ainda, de outras vagas que não foram preenchidas como fica
evidente na fala do aluno. E, ainda, como já foi apresentado há uma ociosidade
de vagas no turno.
Durante a pesquisa chamou-me a atenção o fato de vários alunos
afirmarem que por desejarem estudar naquela escola ou por não terem
conseguido outra vaga, procuraram a escola e, após conversa com o diretor,
conseguiram uma vaga, resolvi fazer um levantamento de dados comparando o
número de vagas oferecidas pelo cadastro para o 1º ano (1670 - tabela 2.1), a
lista de alunos encaminhados pela Secretaria Estadual de Educação e a lista de
alunos matriculados, tomando por referência o ano de 2006. Segundo a lista da
Secretaria, foram encaminhados à escola, em dezembro de 2005, para matrícula
no próximo ano, 1213 alunos, destes 631 constavam na lista de matrícula da
escola. Portanto, 582 alunos, ou seja 48% não se matricularam. Considerando,
ainda, que as matrículas finais do 1º ano diurno e noturno, no ano de 2006,
somam 1214 alunos
31
são encontrados os mesmos percentuais, o que nos leva a
concluir que o público da escola não é majoritariamente composto por alunos
encaminhados pela Secretaria Estadual de Educação, como se supõe.
E, ainda, se segundo o cadastro escolar 2005-2006, havia 1670 vagas
para o 1º ano e apenas foram encaminhados 1213 alunos, mesmo considerando
que possa haver uma reserva de vagas para os reprovados, pode-se inferir que
na escolha da escola o Colégio Estadual não está figurando entre as preferidas,
do contrário, não sobrariam 457 vagas, ou seja 27,3% das vagas
Ainda sobre o público do Estadual Central, vale ressaltar que há também
uma idéia de que as escolas próximas encaminham um número significativo de
alunos para a escola. O levantamento de dados, também realizado a partir da lista
de encaminhamento, aponta que entre os 1213 alunos encaminhados apenas 180
são oriundos de escolas próximas.
32
, ou seja, apenas 14,8%.
30
Em Belo Horizonte, o Cadastro Escolar foi implantado, a partir de 1993, pela Secretaria Municipal de
Educação em parceria com a Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais.
31
De acordo com Censo Inicial de 2006.
32
Foram consideradas escolas próximas aquelas que estão situadas na mesma Regional Administrativa da
cidade e se localizam no mesmo bairro ou na fronteira de bairros próximos ao Colégio Estadual: EE Afonso
Pena, EE Barão do Rio Branco, EE Pandiá Calógeras. EE João Pessoa.
80
Como as experiências em escolas já apontam, e a investigação
reafirmou, há uma grande diferença no que se refere à carreira escolar dos alunos
que freqüentam o turno diurno e o turno noturno.
O Censo Escolar de 2004 – Final do Ano
33
– , preenchido em 04 de março
de 2005, aponta os seguintes dados:
a) a matrícula efetiva inicial dos alunos no turno diurno é de 3365 alunos,
sabendo-se que funciona o mesmo número de turmas pela manhã e à
tarde – o censo apresenta condensados os dados dos dois turnos
diurnos – podemos dizer que a matrícula efetiva de cada turno diurno é
de cerca de 1632 alunos, enquanto no noturno é de 935 alunos, ou
seja, há uma redução de 43% do número de matrículas efetivas, o que
por si só já modifica a configuração da escola;
b) no turno diurno há uma predominância do sexo feminino, 60%, e no
turno noturno, ao contrário, uma predominância do sexo masculino,
58%, esse fato pode ser explicado pelo fato de a exigência do diploma
de ensino médio, no mercado de trabalho voltado para atividades
manuais, ser mais imperativa para os homens (office boy, gari,
segurança) do que para as mulheres (doméstica, babá, serviços gerais
em conservadoras de limpeza);
c) os índices de transferência (11%) e abandono (7%) no turno diurno
também diferem bastante do noturno transferência (24%) e abandono
(33%), o que pode ser atribuído às trajetórias escolares, às condições
socioeconômicas dos alunos e à desilusão coletiva que resulta da
defasagem estrutural entre as aspirações e a identidade social que o
sistema de ensino parece prometer ou aquela que propõe a título
provisório (Bourdieu, 1999f p.162);
d) o índice de reprovação na escola, considerando a matrícula final, é de
26,2.%. Detalhando temos:
33
A escola preenche dois formulários de Censo Escolar que são enviados à SEE/MG um Censo Inicial, no
início de cada ano e o Censo Final.
81
Tabela 2.6
Índices de aprovação, reprovação, dependência - 2004
PERÍODO
RENDIMENTO
DIURNO NOTURNO
APROVAÇÃO
63% 38%
REPROVAÇÃO
22% 48%
DEPENDÊNCIA
15% 14%
Pode-se observar que o percentual de reprovação no turno noturno é
bastante elevado e mais que o dobro da reprovação do diurno. Os percentuais
dos dois turnos estão bem acima do percentual nacional referente ao ensino
médio em 2004, publicado pelo INEP – 10,5% de reprovação –- maior percentual
desde 1976.
No detalhamento dos índices de reprovação por série, constata-se que a
cada cem alunos, 30 são reprovados na 1ª série (31,4%), nas outras o índice cai.
e) quanto à distorção idade-série, 1,4% dos alunos concluem a 3ª série
com 16 anos; 34%, com 17 anos; 52%, com 18 anos; 6,1% com 19
anos e 6,5% com idade igual ou superior a 20 anos. Portanto, 87,4%
concluem o ensino médio dentro da idade ideal.
Tabela 2.7
Total de concluintes do ensino médio - 2004
IDADE DIURNO NOTURNO
MAS FEM MAS FEM
16 anos 2 8 - - 1,4%
17 anos 87 138 8 3 34%
18 anos 115 223 11 12 52%
19 anos 13 18 4 8 6,1%
20 ou mais 2 2 19 23 6,5%
TOTAIS 219 389 44 46 698= 100%
Fonte: Dados do Censo escolar de 2004.
82
No detalhamento por turno, observa-se que, enquanto no diurno a maior
porcentagem (95,8%) concluiu a 3ª série em 2004, com idade entre 16 e 18 anos,
no noturno, 60% concluíram com idade igual ou superior a 20 anos e apenas
37,8% concluíram com idade entre 17 e 18 anos.
Essa realidade explica-se por fatores já há muito conhecidos (turno noturno
ser procurado por alunos que se evadiram da escola por razões diversas, ou que
não tiveram oportunidade de concluir seus estudos na idade ideal), somados ao
fato de que já é uma norma vista como natural a escola transferir
compulsoriamente, para o noturno, os alunos reprovados em qualquer série, com
a justificativa de que os alunos mais novos devem ficar no turno da manhã (2ª e
3ª séries) ou da tarde (1ª série). Caso haja vaga nos turnos diurnos, o aluno pode
ter uma “chance” de escolher o turno, mesmo se reprovado.
Ainda, segundo os dados do Censo Escolar de 2004, os índices de
abandono e transferência são 13,1%, e 13,5%, respectivamente.
34
A ficha individual dos alunos, embora apresente um campo para registrar
o motivo da transferência, por não estar preenchido na maioria dos casos, não
constituiu fonte para se levantar o motivo das transferências, contudo a fala dos
alunos, professores e gestores acusam a falta de dinheiro para passagem como
um dos motivos principais da evasão e transferências, uma vez que a escola
recebe alunos de várias regiões de Belo Horizonte e mesmo de municípios
vizinhos e os alunos belo-horizontinos não têm passe livre, nem tampouco meio-
passe nos coletivos.
Uma das auxiliares de secretaria, em conversa informal, como pode ser
visto no Diário de Campo, a diretora pedagógica e o diretor da escola ainda fazem
referência à “falta de base do aluno”, principalmente daqueles que vêm das
escolas municipais, organizadas dentro da Política Pedagógica denominada
Escola Plural, que dentre outras orientações, propõe a organização por ciclos de
idade de formação.
O percentual de abandono (13,1% ) encontra-se abaixo dos dados
nacionais referentes a 2004, publicados pelo INEP – 15,3% –- maior percentual
registrado desde 1976.
34
Os índices de evasão e transferência foram calculados sobre a matrícula efetiva inicial e os índices de
aprovação e reprovação, sobre a matrícula final.
83
Os índices de 25% de transferência e de 12% de abandono, na 1ª série
diurna, denunciam a “inadaptação do aluno”, seja por motivos econômicos,
pedagógicos ou outros. E é um fato que merece estudos posteriores uma vez
que, segunda a retórica, a matrícula nesse turno é muito disputada.
A análise dos dados referentes aos índices de reprovação, abandono e
transferência levam a questionar que qualidade é essa que os professores
afirmam distinguir o Colégio Estadual Central.
Como apontam os dados e afirmam vários professores, os alunos do 1º
turno são alunos que estão dentro da faixa etária ideal. Os professores insistem
em afirmar que são alunos acompanhados pelos pais, alunos mais interessados,
querem estudar e fazer um vestibular. Afirmam ainda que nas turmas boas de 3º
ano os alunos exigem muito do professor, são de nível melhor e querem um
aprendizado melhor, ressalta a professora, Simone, que leciona apenas para
turmas concluintes.
Nota-se, pois, uma boa
vontade cultural dos alunos
docilidade, esforço e
tenacidade (..) com que se
entregam ao trabalho de
aquisição da cultura legítima
para compensar as
desvantagens relativas
decorrentes de um capital
cultural limitado. (Nogueira e
Nogueira, 2004, p. 78).
Segundo informações do diretor do Colégio Estadual, em levantamento por
ele realizado, no início de 2004, entre os alunos do 3º ano do ensino médio, do
turno da manhã, 100% afirmam ter o vestibular como plano para o futuro. Uma
das professoras de Língua Portuguesa confirma as informações do diretor e
completa: “os alunos do turno da manhã são muito interessados cobram, sugam
muito do professor [porque querem fazer o vestibular], mas os alunos da noite
têm outras perspectivas”. (Diário de Campo do dia 27/10/04).
Pelas referências dos alunos, professores e gestores, no 2º turno, onde se
concentram os alunos matriculados na 1ª série, há uma diversidade muito grande
Os da manhã eu tenho pouco
relacionamento ainda, porque eu tenho
pouco tempo que estou de manhã, porque
eu só venho duas vezes. Então, tem pouco
tempo que estou vindo. Mas pelos
resultados do primeiro bimestre, o turno da
manhã são os alunos mais dedicados aos
estudos, porque, às vezes os pais também
cobram mais e, porque são menores, os
pais acompanham mais.(...)
Entrevista Gestores, Gal.
84
de comportamentos e atitudes, tanto em relação à escola, como em relação aos
estudos. Quando se referem aos alunos desse turno usam palavras como ainda
indisciplinados, sem responsabilidade, de classe social mais baixa, deslumbrados
com o espaço físico da escola. São alunos que não usam o uniforme, agridem o
professor, põem coisa na água do professor beber, então eles são muito
maliciosos (...) Manhã aqui é show, à tarde a gente já lida professor e psicologia
com o aluno. O tempo inteiro você tem que falar com o aluno coisas que ele tem
que fazer, valores que eles desconhecem. (Professora Elba).
Observa-se, pois, que os diferentes
habitus desses adolescentes,
construídos em realidades física,
social e cultural bem diferentes
incomodam os professores,
gestores e até mesmo alguns
alunos e fica clara a cobrança no
investimento da escola para
“uniformizar” os habitus:
homogeneizar atitudes, interesses,
práticas, percepções, valores, ou
seja, colocar os peixes que estão
fora d’água no grande aquário.
Nos fragmentos da entrevista de uma ex-aluna e, hoje, professora da
escola, que se seguem, podemos observar os conflitos gerados pela diferença de
capitais - econômico e cultural - entre os alunos da escola: ter acesso a
computadores, viajar, estudar em escola particular.
Então, alunos de várias escolas particulares com conhecimentos
diferentes, com computador em casa, um bom conhecimento, viagens.
Houve um pouco de choque nisso, né. Tanto é que, quando a professora
perguntou de onde você vem, os alunos só falavam que era de escola
particular, e eu e meu irmão de uma escola do estado. Então não era
conhecida, ninguém sabia onde ficava. Então houve um pouco de
adaptação nossa, mas não foi fácil não. Tanto que até eu gostar da
escola, como dos alunos, quanto do local também, da localização, isso
foi com o tempo, gradativamente aumentando. Então chegou na sétima
série que conseguimos fazer amizade, mas no primeiro ano não foi nada
fácil e o nós odiamos assim.
Entrevista Professores, Elba
Então, aqui, à tarde, os alunos são
imaturos, eu diria 70% precisam te
r
um outro cuidado não só como
aluno, mas como pessoa. Antes
quando eu estudava aqui, ninguém
via moça grávida, nem nada, agora
isso é normal, com o próprio aluno
de sala de aula, né. Então, é... os
meninos ao invés de ir embora para
casa querem ficar no portão. Então,
a escola, acho que devia essa
coordenação, a orientação aí de
orientar mais de mostrar para os
pais, pegar o nome desses alunos
que eles não estão fazendo o papel
deles na escola, não.
Entrevista Professores
,
Elba.
85
É um exemplo clássico: a aluna que, orientada pelo pai também professor
do Estadual Central, deixa uma escola pública, situada num bairro de operários
em Belo Horizonte, a cinco minutos de sua casa, e vai para o Estadual Central,
onde convive com alunos pertencentes a espaços sociais diferentes do seu e de
sua família. Podemos detectar, pois, a inculcação de uma hierarquia axiológica
que identifica o bom ao privado e o ruim ao público; o bom ao localizado no centro
e o ruim na periferia.
Quanto ao 3º turno, as palavras de uma das supervisoras descrevem com
propriedade: quanto aos alunos, o aluno da noite, ele tem um perfil diferente do
aluno do turno da manhã ou da tarde porque é um aluno que trabalha às vezes o
dia todo, já chega cansado, então tem esse perfil diferenciado. (Entrevista, Gal).
Ainda, segundo ela, são alunos bastante infreqüentes, têm mais autonomia,
mesmo sendo menores, porque são alunos que trabalham e poucos professores
têm expectativa deles aprenderem alguma coisa.
Suas palavras, ainda demonstram
que a escola tem claro o objetivo
dos alunos desse turno, mas,
querendo ou não, persegue seus
próprios objetivos. Talvez isso
seja um dos fatores que podem
explicar o fato de apenas 55,2%
É, porque aqui querendo ou não a
gente prepara o aluno para fazer o
vestibular e os da noite são poucos
os que vão fazer vestibular. Eles
querem mesmo é o certificado de
conclusão do ensino médio
principalmente para arrumar um
emprego, isso é que eu acho.
Entrevista Gestores, Gal.
Traz [problema], para mim traz, não por ser periferia, mas acho que a
formação não chega lá, entendeu. Os alunos não são preparados para
viver tanta coisa como esses daqui são, porque o legal é você sair do
meio. Eu acredito que se eu ficasse lá perto da minha casa, dessa escola
de cinco minutos, eu nem teria metade dessa formação que eu tenho
hoje como pessoa. Essa formação tem que sair do meio, as minhas
colegas, de quando eu estudei lá, todo mundo hoje são casadas e tem
filhos e eu, meu irmão, e uns outros que saíram daquela periferia, vamos
dizer, estão hoje na faculdade, especialização, querem estudar, querem
ser algo mais. Lá não, lá ficaram retidas naquele mundinho. Então, é
interessante que aluno saia do meio, procure uma escola boa, se é que
ainda tem, né.
Entrevista Professores, Elba
86
dos efetivamente matriculados na 3ª série noturna concluírem o ensino médio.
Segundo o diretor e a
supervisora que atua nos
turnos da manhã e a própria
proposta de organização
curricular da escola denuncia,
os objetivos primeiros de
grande porcentagem dos
alunos do turno da noite é se
preparar para entrar ou
ascender no mercado de
trabalho. O que pode ser
confirmado pelas palavras da
professora de geografia.
Segundo Bourdieu, (apud Nogueira e Nogueira, 2004) as condições de
existência das classes de rendimentos baixos, às quais faltam, objetivamente, os
recursos econômicos, sociais e, sobretudo, culturais, necessários para um bom
desempenho na escola, condicionam um estilo de vida marcado pelas pressões
materiais e pelas urgências temporais, ou seja, a lógica da necessidade, o que
inibe a constituição de disposições [constitutivas das representações] de
distanciamento ou de desenvoltura em relação ao mundo e aos outros. (p.70). Há,
pois, uma relação resignada com o sistema de ensino (p.71) e um envolvimento
moderado com os estudos, uma tendência a se auto-eliminar objetiva e
subjetivamente, da competição escolar, até mesmo em casos em que o
desempenho escolar permitiria esperar boas chances de êxito. (p.72). As classes
de rendimento baixo e de rendimento médio baixo (...) tenderiam a privilegiar as
carreiras escolares mais curtas, que dão acesso mais rapidamente à inserção
profissional. (p.73), o que pode esclarecer o motivo pelo qual os alunos, que
estudam no turno noturno, respeitadas as exceções, não terem o vestibular como
primeiro plano.
Alguns alunos do turno noturno apontam o curso superior como plano para
o futuro, contudo uma vez mais movidos pelas chances objetivas, falam da
distância que separa o desejo de um curso superior de prestígio e as chances
objetivas, tanto no que diz respeito ao capital cultural escolar exigido no vestibular
À noite é diferente, a noite parece que
é outra escola, um outro mundo. São
alunos assim, são 41 inscritos, só vão
15 no primeiro horário da aula, são
assim, muitos querem aprender e
muitos vão ali só para ter um diploma,
vamos dizer assim, são outra
realidade, tanto é que o ensino é
diferenciado, não é o mesmo da
manhã, a cobrança diferenciada (...)
Eu dou aula pro segundo ano de
manhã e dou aula pro segundo ano à
noite e a matéria é diferente
Entrevista Professora
Elba.
87
como ao capital econômico, optando por um curso menos disputado, como é o
caso do aluno Fábio que, após ter sido reprovado no 1º ano, passou a estudar à
noite:
A dialética das esperanças objetivas e das chances objetivas e a questão
da lógica da necessidade podem ser pensadas mais uma vez para explicar as
representações dos alunos do noturno sobre a finalidade do ensino médio pois,
esse turno, seja em qualquer nível ou modalidade de educação, é
majoritariamente freqüentado por alunos fora da faixa etária ideal e oriundos de
classes detentoras de baixo volume de capital econômico, cultural e social. O
mesmo ocorre no Colégio Estadual, onde a população do turno noturno é
majoritariamente masculina, realidade em que parecem ser mais acentuados os
efeitos da lógica da necessidade.
Embora a ficha individual e outros documentos, com levantamento de
dados da escola, não tragam elementos suficientes para se definir o nível sócio-
econômico dos alunos, os dados levantados e as referências feitas por alunos,
professores e gestores apontam indícios de uma escola pública que não tem um
quadro majoritário de alunos que vivem em condições de extrema pobreza, como
é realidade em escolas situadas em regiões de alto risco social ou que atendem
crianças, adolescentes e adultos que sobrevivem nesses espaços.
São alunos de classes de rendimento baixo que saem de seus bairros e
redondezas para estudar e têm oportunidade, mesmo que reduzidas, de
freqüentar lugares sociais – escolas, igrejas, espaços culturais e de lazer - que
Meus projetos, até a 8ª série, meu sonho mesmo era ser advogado, eu ainda
tenho esse sonho dentro de mim. Só que é uma coisa, uma meta que eu
acho que eu não vou conseguir, pelo fato, eu já tinha conversado com você
antes, porque fazer vestibular não é o principal o mais difícil, o mais difícil é
passar na prova da OAB, entendeu. E eu acho que eu não tenho a meno
r
condição de passar. E as pessoas da família mesmo, em vez de apoiar,
falam na cabeça: - ah, não, você não vai conseguir, você não tem estudo,
não tem preparo, não tem mentalidade, não tem isso, não tem aquilo. Isso
vai desmotivando a pessoa, vai criando um clima ruim. Então, eu acho que a
minha meta mesmo é no máximo completar o ensino médio e talvez tenta
r
vestibular para educação física que a coisa mais fácil assim que eu acho que
eu tenho condições de passar.
Entrevista aluno Fábio
88
contribuem na configuração do seu capital cultural, escolar e social, como
reconhecem os próprios professores:
(...) O daqui ele praticamente ele se confunde com um
menino de nível sócio-econômico mais alto, porque
ele anda na Savassi, porque aqui é Savassi. Tem
convivência com a Savassi, tem convivência com o
shopping Diamond, ele tem convivência com um
bairro muito rico com o pessoal do Minas tudo. Então,
o menino daqui é um menino mais da, mais de
cidade. E um menino de escola mais pobre é um
menino mais, um mundo quase que rural, uma escola
bem mais longe, então o menino realmente daqui ele
j
á fica com mais maldade da cidade grande. Então ai
ele perde no egocentrismo, ele fica mais solitário, ele
tem grupos menores né, e agora ele vai ganhar um
pouquinho na vivência na maldade, é um menino que
sabe andar no Centro, já sabe é... se proteger de
pivete, ele já sabe viver melhor , então é um menino
que vai ter uma bagagem de vida maior quando ele
precisar do emprego né .
Entrevista Professores, Cinara.
(...) Ele vem para escola e ele pode passar, saber o
que é a Savassi que lá no outro bairro Savassi é
coisa de rico. Não é assim. Então pode conhecer a
Praça da Liberdade, né. Pode ir pro Shopping
Cidade, rua Rio de Janeiro. Igual eu falo com eles: -
gente, quando descia a Rio de Janeiro, não tinha
esse monte de prédios não, era mais vazia assim.
Pode ver que , quando eu estudei aqui, não tinha
esse Mercure, olha hoje já tem. Do nada construíram
esse negócio, então eu falo com eles observem ao
redor, aproveitem esse instante.
Entrevista Professores, Elba.
89
Sidney, um dos gestores que
tem contato diário e muito
próximo com os alunos,
afirma que os alunos do
Estadual Central têm nível
socioeconômico muito
melhor do que os que
freqüentam uma escola
municipal, onde ele trabalha
à noite, localizada bem
próximo. Atribui essa
realidade à questão do
Cadastro e, sobretudo, à da
localização da escola. A
escola municipal atende uma
das favelas situadas nas
suas proximidades, onde a
população é muito pobre.
Além da localização, um pouco mais distante da favela, há de se supor
que: a) os alunos das escolas próximas ao Estadual Central, situadas em bairros
onde reside uma população de maior volume de capital econômico, não são
alunos que vivem em extrema pobreza, e esses são encaminhados às escolas
mais próximas de sua residência de acordo com o Cadastro Escolar que é feito
por geoprocessamento b) o fato de haver na escola um número significativo de
alunos residentes em bairros e até municípios distantes que exige um gasto
significativo de passagem, já que não há meio-passe ou passe livre em coletivos;
c} o consumo de roupas e calçados, de marcas caras, e a compra de alimentos
vendidos a preços não muito populares, na cantina do colégio, é outro indício do
pertencimento a frações de classe que não sobrevivem na extrema pobreza; d)
segundo o Mapa da exclusão social em Belo Horizonte
35
, os bairros onde residem
35
Mapa da exclusão social de Belo Horizonte é o dimensionamento e espacialização de certas manifestações
do processo de exclusão social na população da cidade, obtido através de dados relativos principalmente a
1996. georeferenciados nas 81 (oitenta e uma) Unidades de Planejamento do Município. A partir das
informações, elaborou-se indicadores que expressam aspectos considerados como fatores de exclusão social.
e a partir deles, foram produzidos diversos mapas da cidade. Portanto, não se trata de um mapa apenas, mas
Gosto, gosto dos dois [referindo-se às
duas escolas em que trabalha] é que eu
tenho um amor muito grande pela
Prefeitura, gosto demais da Prefeitura. Eu
tive muita dificuldade na FAFICH, agora
nesses últimos dois anos, que entrou o
ensino fundamental, que eu nunca
trabalhei com fundamental realmente, não.
Trabalhei assim, no Venceslau Brás, mas
isso tem o que, séculos né, e eu acho
assim que eles entraram tão perigosos, tão
barra pesada e tão, assim, sujos, mesmo
mal cheirosos, etc, e eu acho que eu
consegui tanta coisa com eles que isso ai
realmente me alegra muito, saber que eles
são meus amigos, que eu vejo eles hoje
com sapatinhos, com a roupa, entendeu?
Já chamei no particular, falei tem que
tomar banho, você tá com mau cheiro, ai
eles me contavam, que na casa deles não
tinha banheiro, ai eu dava um jeito.
Entrevista Gestores,
Sidney.
90
os alunos não estão dentre aqueles marcados pela exclusão, o índice de
vulnerabilidade social está entre 0,28 e 0,4 – numa escala com variação de 0 a 1.
As Unidades de Planejamento de Belo Horizonte estão classificadas entre os
índices 0,79 ( maior exclusão) a 0,12 (menor exclusão) A renda média familiar
per capita dos bairros onde residem os alunos entrevistados é 3,2 SM.
Embora concordando com Rodrigues (1995, p.66) quando afirma que a
combinação do trabalho com o estudo não é impossível, nem mesmo indesejável,
há de considerar que na fala dos alunos e professores o trabalho interfere
decisivamente em seu rendimento escolar, não somente de forma negativa, e tem
influência em sua configuração de boa escola.
Outro fato que não se pode deixar de ressaltar é que embora não haja mais
exame de seleção para entrada na escola, esta seleção é feita durante a carreira
escolar do aluno - é uma forma de exclusão no interior, como discute Bourdieu
(1999c) - estando nessa escola os alunos mais privilegiados, se considerarmos a
realidade brasileira.
Pelos dados do Censo Escolar 2004, observa-se que 95,8% dos alunos do
turno diurno concluíram a 3ª série com idade entre 16 e 18 anos, portanto, se
encontram na faixa etária ideal (17 - 18 anos) para a conclusão do ensino médio.
Na realidade brasileira e também mineira e belo-horizontina, encontrar-se na faixa
escolar ideal é uma realidade que, por si só, implica em uma seleção bastante
significativa, haja vista os níveis de repetência e evasão, que, embora tenham
reduzido a partir de meados da década de 90 com as políticas de correção de
fluxo, ainda são bastante significativos.
Contudo, se observarmos o turno noturno esse índice modifica-se bastante
– 60% concluíram com idade igual ou superior a 20 anos e apenas 37,8%
concluíram com idade entre 17 e 18 anos – o que pode ter como uma das
explicações o fato da escola ter como norma transferir compulsoriamente os
alunos reprovados para o turno da tarde ou da noite. O índice de distorção idade-
série do Colégio Estadual no turno noturno suplanta o índice de 49,3% de
distorção idade-série no ensino médio, apresentado pelo INEP
36
em 2003.
de diversos mapas que permitem uma visão multidimensional do processo de exclusão social a que está
submetida a população de Belo Horizonte, sua distribuição espacial na cidade e sua relação com certas
características desta população.” PBH/SMPL. Planejar BH. Ago. 2000.
36
INEP- Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais.
91
É necessário ressaltar que essa norma é aceita como natural pelos alunos
e suas famílias, entretanto, em certos casos, havendo vagas, a escola faz uma
“concessão” – dá uma chance - ao aluno, mantendo-o no turno mais adequado às
suas necessidades.
O princípio da conformidade ou das chances objetivas determinadas pela
posição ocupada na estrutura social, ou seja, o sentido da posição como sentido
daquilo que se pode ou não se pode “permitir-se a si mesmo” implica uma
aceitação tácita da posição, um sentido dos limites (“isso não é para nós”), ou, o
que é a mesma coisa, um sentido das distâncias a marcar e a sustentar, a
respeitar e a fazer respeitar (Bourdieu, 2004c, p.140), parece ser também um
fator de seleção, pois alguns alunos entrevistados referem-se ao fato de ter
conseguido uma vaga na escola como uma sorte, um milagre. Essa realidade nos
permite inferir que muitos alunos podem não se candidatar a uma vaga na escola
por acreditar que aquela escola não é para eles.
A distinção também me parece ser um fator de seleção, os depoimentos de
alguns alunos e professores deixam claro que a busca da escola é muitas vezes
uma estratégia dos pais para que seus filhos estudem em uma escola de nível
social melhor e que lhes ofereça melhores condições de ascensão social.
Esta conversa com o diretor deixa claro que se não há uma seleção
explícita, programada, essa se dá de outras formas e é justificada em nome das
estatísticas que a escola necessita sustentar:
Neste dia, em conversa com o diretor, - encontrei-o no corredor
e ele desculpou-se pelo desencontro do dia anterior – ele
observou que administrar uma escola do porte do Estadual Central
é como administrar um município e comentou que a administração
se tornava mais difícil ainda, pois eles não podiam selecionar os
alunos e entrava aluno de todo tipo. Completou dizendo que no
início do ano a SEE/MG enviou para lá alunos de Ravena (município
a poucos km de Belo Horizonte) e que ele não aceitou, “fincou pé”,
porque sabia que estes alunos não freqüentariam a escola até o
final do ano devido ao gasto com transporte. Disse ainda que
argumentou com a SEE que depois teria um grande índice de
evasão, o que não era bom para a escola.
Diário de Campo 06/10/0
4
92
2.10. O clima da escola
Há cerca de dois anos a escola vive uma realidade marcada por: um
quadro de professores renovado, um movimento de inserção no Projeto escolas-
referência proposto pela SEE/MG, que tem como objetivo resgatar a qualidade da
escola e a expectativa da implantação de um plano de carreira esperado há mais
de 15 anos.
Como já mencionado, devido ao número de aposentadorias, ocorridas
durante os últimos anos, após as mudanças da lei, e aos concursos realizados
pela SEE/MG, a escola renovou, segundo informes do diretor, 40% do seu quadro
de professores.
Para o diretor, essa mudança está sendo significativa uma vez que os
professores recém chegados são mais novos, têm uma postura diferente no que
concerne à relação com alunos e à relação como o conhecimento, o que tem
permitido à escola um movimento de discussões e de debates interessantes
sobre questões como currículo e avaliação, além de reuniões por área e por
disciplina bastante produtivas. Segundo outros gestores, mais ligados às
questões pedagógicas, e alguns professores, a escola perdeu um quadro de
professores antigos, bastante competentes e alguns professores recém
empossados deixam a desejar em termos de competência profissional e
compromisso com a escola.
Esse movimento da escola é
uma realidade nova que, ao
que me parece, contaminou
um bom número de
professores – com bastante
tempo de escola e de
profissão e recém
Bom, no que a escola pode esta
r
valorizando o professor, que eu acho, que
eu vejo é que os professores gostam muito
de trabalhar aqui no Estadual Central, eu
ouço isso constantemente. Porque o
professor aqui é um profissional valorizado
no sentido de ser reconhecido seu trabalho.
Entrevista Gestores,
Nara
Olha, dos professores, que entraram, eu noto, que entraram
professores bons, mas entraram professores fraquíssimos, olha, do
quadro antigo que eu conheço de 28 anos aqui, excelentes professores
foram embora, vou te dar só um exemplo, posso citar nomes?
Entrevista Gestoes, Sidne
y
93
empossados ou designados – que se mostram entusiasmados e cheios de
esperanças.
O mal estar e a desesperança que são apontados em algumas pesquisas
37
como sentimentos característicos dos professores, na realidade atual, parece
estar bastante fluído entre os professores e gestores da escola, que após muitos
anos de descrédito nas políticas educacionais do governo mineiro, hoje, mesmo
com um certo receio, ousam dizer que a escola está “caminhando em busca da
qualidade” ou para ser uma “boa escola”.
Não se pode considerar que a contaminação e a ousadia dos professores
são tributárias tão somente de suas disposições naturais e dependentes da boa
vontade, do compromisso ou do crédito nas políticas educacionais do governo,
são mecanismos objetivos engendrados pelo habitus que sustentam a luta pela
não desclassificação da escola no mercado escolar, preservando, a glória de ali
ser professores e desenvolver um bom ensino.
A elaboração dos projetos
38
, que no momento se encontram em fase de
implementação é resultado desse movimento.
A luta pela implantação do novo plano de carreira e, conseqüentemente, de
uma nova tabela salarial, também tem sido um fator causador de um certo
entusiasmo ou esperança entre o corpo docente. A observação centrada nessa
luta faz entrever a “autonomia” entre as duas unidades e também entre os turnos
das duas unidades.
37
Ver: HARGREAVES, Andy. Os professores em tempo de mudança. Portugal. McGraw-Hill , 1998 e CODO,
Wanderley (coord). Educação: carinho e trabalho. CNTE/ UNB/Vozes. Petrópolis. 1999.
38
Ver Projetos elaborados pela escola, p.66.
Ao saber da comemoração [Dia dos
Professores] na Unidade II, uma das
professoras disse: - mas aqui em Hollywoo
d
[com bastante ênfase] tudo é diferente,
aceita-se tudo calado, ninguém fala nada.
Perguntei por que Hollywood e ela disse: -
Porque rola tudo e tudo está ótimo, todo
mundo aceita tudo calado! Perguntei ainda
se a direção da Unidade II era outra e me
informaram que era coordenada por uma
professora de Português que está há anos
fora da sala de aula e ninguém sabe porquê.
Diário de Campo 27/10/04.
94
Desde o ano de 2004. há um movimento de redução da jornada diária ou
de paralisação, aprovado nas assembléias sindicais, em função da luta pelo plano
de carreira e o que se pode detectar é que um turno paralisa, outro não, um
reduz, outro não, o mesmo acontecendo entre as unidades. Essa relativa
“autonomia” das unidades é um fato que incomoda bastante alguns professores,
como se pode observar durante suas conversas.
2.11 O Regimento escolar
O novo Regimento da escola foi aprovado por unanimidade na reunião do
Colegiado, realizada em 07/07/2005. Segundo informou o diretor, o novo
regimento constitui uma adaptação do Regimento de 2002 com o fim de adequá-
lo às leis posteriores. É ainda um regimento provisório, tendo em vista a
necessidade de adequá-lo também ao PDPI, após sua implementação. O novo
regimento foi elaborado com a contribuição das inspetoras responsáveis pelo
acompanhamento da escola. Como já foi exposto, o regimento foi apresentado
em reunião anterior aos membros do colegiado para leitura e avaliação e, na
reunião do dia 07/07/2005, o diretor cobrou as contribuições para necessárias
mudanças. Nenhum membro do colegiado apresentou sugestões e a justificativa
sustentou-se no fato de nada poder ser mudado, então, fazer para quê. Diante
dessa argumentação, uma das gestoras lembrou que o Colegiado tem que ser o
espaço para se registrar as discordâncias acerca das resoluções e portarias
emanadas pela SEE/MG e que, portanto, seria importante apresentar sugestões.
2.12 A organização curricular
39
Dentre os nove projetos que a escola apresenta dentro do Projeto de
Desenvolvimento
Pedagógico Institucional (PDPI), o Projeto de Reestruturação
Curricular ocupa lugar de destaque.
39
No início de 2006, a SEE/MG, por meio da Resolução 783, de 06 de janeiro de 2006, institui e
regulamenta uma nova organização curricular para as escolas-referência. Estas, a partir de 2006, deverão
organizar o 1º ano a partir de um currículo básico comum a todas as áreas, tanto nos cursos diurnos, quanto
nos noturnos regulares. E, partir de 2007, deverão organizar o 2º e 3º anos do ensino médio por “ ênfases
curriculares em áreas do conhecimento” – Ciências Humanas, Ciências Biológicas e Ciências Exatas.
Em maio deste mesmo ano concede aos professores coordenadores de área, que têm jornada dupla, a redução
de 05 horas/aula semanais de sua jornada de regência e, aos professores com jornada simples, o acréscimo de
05 horas/aula de jornada remunerada para dedicarem às atividades exigidas pela função.
95
A discussão e construção do Currículo Básico Comum (CBC) foram
realizadas por sete grupos interdisciplinares, ao longo do segundo semestre de
2004, com o objetivo de definir um currículo mínimo para o ensino médio de
acordo com as diretrizes curriculares nacionais. O trabalho foi orientado por
material impresso, elaborado pela SEE/MG em parceria com professores
universitários das diversas áreas.
A participação dos professores nesses grupos denominados GDP (Grupo
de Desenvolvimento Pessoal) deu-se por adesão, uma vez que não foram
remunerados para jornada extra à qual se dedicaram, em muitos casos, ou
mesmo por discordarem dos princípios defendidos pela SEE/MG ao apresentar a
proposta.
Tendo em vista as condições de trabalho, a participação inicial foi bastante
significativa, cerca de 70% dos professores, embora alguns tenham perdido o
entusiasmo ou mesmo desistido durante o processo, diante de conflitos gerados
pelas disposições engendradas pelo habitus.
A disposição para participação e a dedicação que gestores e professores
mostram ao abraçar as ações da política educacional do Estado podem se
explicar pelo fato de possuírem estruturas internas, cognitivas e afetivas –
habitus – prontas para acolher ações que podem significar estratégias de
conservação. Ou seja, a disposição e a dedicação são formas de salvaguardar a
tradição, o valor da escola-referência dentro do mercado escolar, evitando-se a
sua desclassificação. Faz-se necessário investir recursos e sacrifícios para
sustentar uma escola como o locus de excelentes alunos, professores e ensino.
Todo mundo entusiasmado, sem saber que hora vai
deslanchar e como vai funcionar, com todo mundo.
Todo mundo trabalhou muito por isso ainda não
acabamos. O PDPI, sim, mas o GDP não, que vai ser a
conclusão do PDPI, então todo mundo trabalhou
demais, então assim, a gente tá doido pra ver os frutos
desse trabalho né. Nós plantamos a semente, vamos
ver a florescência dela agora o que será, espero que
seja positiva.
Entrevista Gestores, Sidne
y
96
No depoimento que se segue, o professor Cazuza, durante sua entrevista,
deixa escapar seu entusiasmo/gosto em participar de uma das ações de resgate
da escola-referência proposta pelo Estado : “- opa, escola, colégio referência,
então vamos lá"! . contudo tão logo nota que as equipes acompanhantes da
escola-referência não defendem que para ser escola referência, tem que ser
escola diferenciada mesmo até para entrar aqui. Que não podia ser quem a
Secretaria olha no catálogo, lá na relação de alunos, e esses vão para o Estadual.
Isso não é escola referência, o aluno, tinha que ser um aluno que quisesse
estudar no Estadual, porque o Estadual tem a oferecer a ele, uma escola que
fosse coerente mesmo, perde o gosto, desanima e passa a acreditar que o
negócio foi mais palavras do que ação.
Não é demais sublinhar que esse professor ministra aulas de Matemática
nessa escola – disciplina das mais seletivas no Estadual Central e em muitas
outros estabelecimentos – desde 1980, trabalhou em uma escola particular e em
escolas municipais. É engenheiro civil, com um cargo na Prefeitura Municipal de
Belo Horizonte, e advogado. Casado com uma advogada, tem um filho advogado
e uma filha jornalista, mora em residência própria em um bairro situado em região
privilegiada e tem uma renda pessoal de mais de 10 salários mínimos. Portanto,
pertence a uma classe social diferente da dos alunos aos quais propõe que se
não passarem na seleção do Estadual Central, devem ir para escola do estado.
Ele acha uma “sacanagem” oferecer ao filho do pobre (“onde tem gente
inteligente e que quer estudar”)uma escola vagabunda, sem conhecimento, onde
o filho do pobre passa, sem ter conhecimento nenhum”, mas esses não devem
ser os alunos do Estadual porque “eles não têm conteúdo” e vão sair do Estadual
“como outro qualquer”. O que nos leva a concluir que para esses qualquer escola
serve, mesmo sendo sacanagem com as classes de menor capital econômico e
cultural.
97
A aparente confusão, presente no discurso do professor, autoriza a pensar
na cumplicidade da histerese do habitus que leva a aplicar ao novo estado do
mercado escolar – a escola é para todos – determinadas categorias de
percepção e de apreciação – a seleção dos alunos e também a seleção de
professores para o Estadual Central, sugerida em seu questionário como ação
para se investir na melhoria da qualidade da escola - que correspondem a um
estado anterior do mercado escolar quando o Estadual Central não era uma
escola para qualquer um.
A reestruturação curricular está sendo implementada nas turmas de 1ª
série e um currículo adaptado está sendo desenvolvido para as turmas de 2ª e 3ª
séries. Essa reestruturação refere-se apenas ao currículo a ser desenvolvido com
Esse da discussão do currículo, eu quero fazer até fazer um parênteses,
para falar umas coisas: começou muito entusiasmado, mas não sei se ele é
secretário, ou secretário adjunto, o Filocre - eu conheci como professor - ele
veio aqui no colégio, há uns dois anos dizendo que o colégio seria uma
escola referência. Eu peguei aquilo com muito entusiasmo: "opa, escola,
colégio referência, então vamos lá"! Participei das primeiras reuniões, dei
palpite, comentei, depois dali comecei a notar que o negócio foi mais
palavras do que a ação como: por reunião são seis equipes de escola
referência, primeira coisa que eu falei, para ser escola referência, tem que
ser escola diferenciada mesmo até para entrar aqui. Que não podia se
r
quem a secretaria olha no catálogo, lá na relação de alunos, e esses vão
para o Estadual. Isso não é escola referência, o aluno, tinha que ser um
aluno que quisesse estudar no Estadual, porque o Estadual tem a oferece
r
a ele, uma escola que fosse coerente mesmo. Aí eles alegaram que a
Constituição disse que a escola é para todos. Mas só que eles não sabiam
que eu também entendo de direito. Mas só que não diz, que não possa te
r
seleção. Diz que o Estado dá escola a todos Faça a seleção, os que não
conseguirem estudar no Estadual, vão para as escolas do estado. O Estado
dá escola para todos, é o modo de interpretar. Ele olhou para mim, ficou em
silêncio um tempo e não disse nada e eu pergunto: - Onde está o escrito
que não pode ter seleção? Nenhum lugar disse não pode ter seleção. Disse
que tem que ter escolas para todos, mas escola vagabunda, sem
conhecimento, onde o filho do pobre passa, sem ter conhecimento nenhum
e não pode competir
com o filho do rico lá fora. Isso é sacanagem com a
classe baixa, que tem gente inteligente, tem gente que quer estudar, mas
não tem conteúdo, que vai sair daqui como um outro qualquer. Aí eu acho
que há um trabalho muito mal feito, muito ruim e doloroso em cima da
classe menos favorecida.
Entrevista Professores, Cazuza.
98
os alunos dos turnos diurnos, uma vez que, segundo os gestores e professores,
não é um currículo adequado ao o turno da noite onde é outra realidade.
Como resultado imediato da reestruturação curricular, gestores e
professores apontam o planejamento coletivo do conteúdo a ser desenvolvido no
bimestre e a realização de prova única para todas as turmas de uma mesma
série dos turnos da manhã e tarde.
A observação realizada na escola, embora sem ter essa questão como
foco, leva a concordar, em parte, com um dos professores que leciona Física.
Para a realização do planejamento coletivo, como os professores não têm
tempo pedagógico remunerado para reuniões, a escola se organiza de forma que
os alunos permaneçam em sala desenvolvendo alguma atividade e os
representantes de disciplina muitas vezes ‘”doam” seu tempo de folga para essas
reuniões. A prova única é uma forma de controle do desenvolvimento do Currículo
Básico Comum, segundo os gestores.
2.13. Os recursos financeiros
A verba anual de manutenção e custeio da escola é 103.200,00 (cento e
três mil e duzentos reais), o que significa, segundo o diretor apenas 40% dos
gastos da escola. Os custos de eletricidade e água são pagos diretamente pelo
Estado. Isso significa que a própria escola tem que gerir os recursos
complementares. Esses advêm do aluguel do auditório, espaços para colocação
de outdoors, cobrança de taxas para produção de documentos solicitados pelos
alunos (principalmente 2ª via) e a terceirização da cantina e xerox para os alunos.
É... tivemos aqui uma série de discussões aqui e ... blá,
blá , blá danado, mas até agora de concreto, até agora
eu não vi nada. Continuo dando aula no quadro com
giz do mesmo jeito. Essas discussões, debates... eu já
fui testemunha , já passei por vários planos de
educação que no fim não deu em nada. Continua o
professor na sala de aula, dando aula do mesmo jeito:
as mesmas condições péssimas de trabalho e ninguém
tá nem aí.
Entrevistas Professores, Lulu.
99
A escola mantém parcerias com empresas privadas que patrocinam
projetos na área cultural, como a Orquestra de Violões, conservam e mantêm a
Praça de Esportes.
A parceria para conservação da
quadra, a terceirização da cantina e
do xerox e o aluguel do auditório são
decisões institucionais das quais os
alunos e alguns professores
discordam, e apontam como uma
das dificuldades vividas pela escola,
alegando o prejuízo dos alunos na
utilização dos espaços e no
pagamento de valores inflacionados
na cantina e no xerox e, ainda, o
receio de um processo lento de
privatização da escola.
O dispêndio-aluno-ano dessa escola para o Estado, calculado a partir dos
dados da tabela abaixo, (investimento total por ano/ matrícula efetiva = 4300
alunos) foi cerca de R$48,00 (quarenta e oito reais), desconsiderando os gastos
com eletricidade, água, salários (daí não falar em custo-aluno-ano) e incluindo os
gastos com livro didático. Se considerarmos os dados da matrícula final (3402
alunos) o dispêndio-aluno-ano sobe para cerca de R$61,00 (sessenta e um reais).
QUADRO 2.2 – INVESTIMENTOS REALIZADOS NA E.E GOV MILTON CAMPOS
ANO MERENDA LIVRO
DIDÁTICO
MANUTENÇÃO
E CUSTEIO
OUTROS
RECURSOS
TOTAL/ANO
2005 0,00 94.098,00 103.200,00 9.963,00 207.261,00
Fonte:http://www.educacao.mg.gov.br/site/
Esse dado permite-nos avaliar que o dispêndio maior para a educação do
aluno recaí sobre as famílias que apenas de transporte têm a despesa mensal de
R$66,00 (sessenta e seis reais), calculando-se 20 dias de aula e a passagem de
ônibus mais barata, no valor de R$1,50. Temos indícios para supor que pequena
porcentagem de alunos não se utiliza de coletivos para ter acesso à escola, uma
vez que num levantamento de dados feito pela pesquisadora, no final de 2004,
[Dificuldades] Que a escola vive,
eu acho que é... porque o
Minas, ele arruma as quadras e
tal..., tem livre acesso, a cantina
é terceirizada. Eu acho que isso
é um problema porque é um
modo de terceirizar, de
privatizar a escola lentamente,
aos poucos, ele está sendo
privatizada, entendeu? A
começar pelas quadras, pela
cantina, daí a pouco, vai
começar por outros lugares, daí
a pouco, vira uma escola
particular, entendeu? Eu acho
que vai acabar com o Estadual
Central. Entende.
Entrevista Aluno Fábio.
100
em 8 turmas da 3ª série do turno da manhã, entre os 280 alunos, apenas 26
moravam em regiões a menos de uma média de 6km da escola. Há ainda que
considerar que algumas alunas – domésticas – residem nas casas das patroas
nas imediações como afirma uma das gestoras.
2.14 .Organização e gestão administrativa e pedagógica
A história administrativa, pedagógica e política deste estabelecimento
escolar assume características bastante diferenciadas de outros que oferecem a
educação básica na capital mineira.
Até a década de 70, a escola possuía a estrutura de uma universidade
com reitores indicados pelo governador. O corpo docente organizava-se nas
cátedras que compunham os departamentos e o diretor, então denominado reitor,
presidia uma congregação. Assemelhava-se à estrutura do Colégio Pedro II, no
Rio de Janeiro, e a das universidades.
Durante a década de 80 até meados da década de 90, passa a ter
diretores, nomeados a partir de uma lista tríplice e, daí por diante, escolhe seus
diretores e vices por meio de eleições.
O fato de a escola ter sido reconhecida como referência para o estado não
lhe conferiu uma distinção no que diz respeito ao quadro de profissionais que nela
atuam. O diretor, vice-diretores e alguns professores queixam-se de que a
SEE/MG não reconhece as especificidades da escola e que a cada início de ano
necessitam utilizar-se da política de “pires na mão” para conseguir dotar a escola
de um quadro compatível com suas necessidades, inclusive isso é apontado
pelos gestores como uma das dificuldades que vive a escola.
(...) Eu acho que primeiro, a grande dificuldade que essa escola tem, eu
acho é de um quadro próprio para ela. Eu acho que esse negócio de todo
início de ano sair com o pires na mão pedindo gente para trabalhar, como
se estivesse pedindo gente para trabalhar em casa, é desgastante. E, às
vezes, é... as pessoas que não conhecem o tamanho da escola são
capazes de ousar criticar sem vir conhecer o tamanho da escola. Então,
eu acho terrível a escola não ter um quadro próprio, se ela tivesse, não
tinha essa pendenga, não tinha ninguém para meter o bedelho onde não
é da conta deles. Então quem não conhece a estrutura da escola vai
achar que a escola... é ... tem gente demais para trabalhar, mas não vem
aqui para saber que nós temos necessidade de doze porteiros.
Entrevistas gestores, Elomar.
101
A evocação do nível de organização administrativa e pedagógica da escola
no passado, como se pode ver nos fragmentos compilados abaixo, caracteriza o
depoimento de alguns professores Contudo, não se pode deixar de ressaltar que,
embora a escola sofra com um quadro de pessoal insuficiente e como afirmam
alguns professores, não capacitado pra determinadas funções exigidas pela
escola, principalmente no que diz respeito à utilização de novas tecnologias, e
alguns gestores se queixem do acúmulo de funções, os professores não deixam
de mencionar em seus depoimentos a qualidade da organização da escola nos
dias atuais.
2.14. Principais dificuldades/problemas vividos pela escola
O levantamento das dificuldade/problemas vividos pela escola foi feito a
partir de dados das entrevistas.
Tabela 2.8
Dificuldades ou problemas vividos pela escola 1
RESPOSTAS QUE TIVERAM OS ALUNOS COMO CENTRO
INCIDÊNCIA DAS RESPÓSTASRESPOSTAS
GEST PROF ALUN TOTAL
Falta de respeito com os professores 1 1
Freqüência dos alunos do noturno 1 1 2
Pressão sobre alunos que discordam da diretoria 1 1
Alunos que vêm á escola para bagunçar 1 1 2
Grande número de alunos na escola 1 1 2
Violência que os alunos sofrem no caminho da escola
por falta de transporte mais barato.
11
Indisciplina dos alunos da tarde 1 1
Alunas grávidas 1 1
Adaptação dos alunos da tarde às regras disciplinares 2 2
Falta de seleção de alunos que gera heterogeneidade
das turmas.
11
TOTAL DE INCIDÊNCIAS 1 10 3 14
Naquela época os
professores eram
catedráticos, hoje não
existe mais cátedra. A
cátedra foi abolida,
mas naquela época
eles eram
catedráticos, então
eram os donos do
saber (...).
Entrevista Professores,
MC
Bill
Então, deveria ter - até um projeto
que me parece que era da Lúcia –
de uma reitoria. Eu acho que
caberia porque úm único direto
r
pra comandar é... são 50 turmas,
no total dos três turnos, são 150
turmas. Eu acho que é muita
sobrecarga, deveria então ter aí
uma subdivisão, sei lá, uma
reitoria, com outros diretores. Eu
não sei como funcionaria, mas...
Entrevista Professores, Simone.
102
Tabela 2.9
Dificuldades ou problemas vividos pela escola 2
RESPOSTAS QUE TIVERAM A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES COMO CENTRO
INCIDÊNCIA DAS RESPÓSTASRESPOSTAS
GEST PROF ALUN TOTAL
Falta de humildade para aprender e buscar
conhecimento
1 1
Falta de conhecimento do conteúdo e da pedagogia 1 1
Crise do ser humano – jogar para o outro o que é dele. 1 1
Os novos professores não tem tido compromisso, ou
seja, ligação, envolvimento com a escola.
1 1
Falta de motivação dos alunos, aulas desinteressantes
geradas pela necessidade de “reciclagem” do
professor.
1 1
TOTAL DE INCIDÊNCIAS 1 4 5
Tabela 2.10
Dificuldades ou problemas vividos pela escola 3
RESPOSTAS QUE TIVERAM A ORGANIZAÇÃO E GESTÃO
INTERNAS DA ESCOLA COMO CENTRO
RESPOSTAS INCIDÊNCIA DAS RESPÓSTAS
GEST PROF ALUN TOTAL
Parcerias – Terceirização – Privatização 3 3
Abandono da parte física (jardins, biblioteca,
laboratórios)
1 1 2
Dificuldade de lidar com o aluno, falta de um psicólogo
na escola
1 1 2
Falta de apoio para atender dificuldade de
aprendizagem
1 1 1 3
È uma escola modelo e quer que os alunos sejam
também modelo
1 1
Inclusão de alunos com deficiência física sem suporte 1 1
Melhorar a comunicação entre alunos e funcionários,
alunos e direção
1 1
TOTAL DE INCIDÊNCIAS 1 4 8 13
TOTAL DE INCIDÊNCIAS 1 1
RESPOSTAS QUE TIVERAM A GESTÃO ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA
EXTERNA COMO CENTRO
Mais integração entre SEE/MG e escola para conhecer
a realidade desta
1 1
Falta de pessoal suficiente e capacitado. 1 1
Corpo administrativo um pouco mais extenso,
funcionários.
2 2
Falta de verba ás vezes, para determinadas situações. 1 1 2
Falta de material 1 2 3
Salário do professor 1 1
Falta de investimento na educação. 1 1
TOTAL DE INCIDÊNCIAS 5 5 1 11
103
Tabela 2.11
Dificuldades ou problemas vividos pela escola 4
DIZEM NÃO SABER RESPONDER
INCIDÊNCIA
GEST PROF ALUN TOTAL
1 1
TOTAL DE INCIDÊNCIAS 1 1
DIZEM QUE A ESCOLA NÃO TEM DIFICULDADES
INCIDÊNCIA
GEST PROF ALUN TOTAL
1 1
O que dizem os gestores
Pode-se observar que a organização da realidade sua análise, e
interpretação foram, predominantemente, marcadas pela função exercida pelo
gestor, ou seja, com base em seu habitus profissional.
O diretor e coordenador de turno detectam a dificuldade no nível
administrativo, ou seja, na organização e funcionamento da escola, devido à
inadequação ou insuficiência do quadro de pessoal.
A coordenadora pedagógica e a supervisora apontam as dificuldades em
relação aos alunos: o atendimento aos que apresentam dificuldades e a
infreqüência no turno noturno.
A orientadora educacional identifica a insatisfação como uma das
dificuldades vividas pela escola e a atribui à falta de material.
A secretária responsável pelos professores aponta a relação com a
Superintendência. E a secretária dos alunos diz não saber responder.
Fugindo um pouco à essa regra, temos uma das diretoras que aponta a
crise do ser humano e o coordenador de turno que, além do já mencionado, cita a
falta de verbas como mais uma dificuldade.
Observa-se que, dentre as oito incidências de respostas dos gestores,
cinco centram-se na gestão administrativa e financeira externa, ou seja, as
dificuldades da escola são atribuídas pelos gestores á administração da educação
pelos órgãos responsáveis no estado, o que acredito deve-se ao lugar ocupado
por esses no campo educacional.
104
O que dizem os professores
A organização, análise e interpretação da realidade pelos professores
foram, predominantemente, marcadas pela diferença entre o habitus destes e o
habitus dos alunos. Os depoimentos nos levam a concluir que os diferentes
habitus devem-se mais às diferenças geracionais do que propriamente às
diferenças de classes sociais. O habitus profissional dos professores, resultado
também das culturas escolares, tem um peso significativo na interpretação dessa
dimensão da realidade da escola.
Dentre as vinte três respostas dadas pelos professores, dez centraram-se
nos alunos, cinco na gestão administrativa e financeira externa da escola, quatro
na formação dos professores e quatro na organização e gestão internas da
escola.
As dificuldades apontadas em relação aos alunos referem-se a questões
disciplinares, falta de respeito com os professores, número excessivo de alunos
na escola, gravidez e heterogeneidade das turmas pela falta de seleção dos
alunos.
As questões disciplinares e a falta de respeito são exemplificadas como
conversa durante as aulas, desinteresse, falta de atenção e de cumprimento de
tarefas e prazos acordados, cabulação de aulas, uso de aparelhos de som e
celulares na sala de aula, resistência ao uso do uniforme, dentre outras.
Em relação à gestão externa da escola, os professores destacam a falta de
material pedagógico como uma das dificuldades.
Embora algumas respostas possam ser incluídas em mais de uma
categoria, os dados analisados autorizam a afirmar que, na perspectiva do
professor, as dificuldades da escola, ao contrário do que apontam algumas
pesquisas, sobretudo relacionadas à qualidade na educação, não se centram na
formação dos professores.
O que dizem os alunos
Interessante observar que os alunos não se remetem à questões que
dizem respeito ao professor, quando enumeram as dificuldades enfrentadas pela
escola. O que confirma as observações de Reimers (2003), já citadas nesse
relatório de pesquisa, quando diz que os alunos brasileiros estão entre aqueles
105
que consideram que seus professores são os que mais se interessam pelo seu
bem estar, que mais os escutam, que mais os ajudam.
Centram o olhar na organização e administração interna da escola,
destacando em 08 incidências, do total de doze por eles levantadas: parcerias,
terceirização, privatização (03); dificuldade de lidar com o aluno pela falta de um
psicólogo na escola; falta de apoio para atender dificuldade de aprendizagem;
escola modelo que quer que os alunos sejam também modelo; melhorar a
comunicação entre alunos e funcionários, alunos e direção.
Quanto à gestão administrativa e financeira externa, destacam apenas a
falta de verbas para determinadas situações (01).
O que diz o conjunto dos atores do processo educativo escolar
As quatro categorias - alunos, formação dos professores, administração e
internas da escola, gestão administrativa e financeira externa – tiveram
respectivamente 14, 05, 13 e 11 incidências de respostas dos três segmentos de
atores do processo educativo escolar.
Entre as dificuldades enumeradas, “a falta de apoio para atender a
dificuldade de aprendizagem”, “as parcerias, terceirização, privatização” e a “falta
de material” tiveram a maior incidência (03).
Esses dados confrmam:
a) a preocupação levantada pelos gestores e professores com o
financiamento da proposta de monitoria de estagiário para atender os
alunos, apresentada dentro do PDPI, que pode ser entendida como
uma estratégia engendrada pelo habitus escolar e pelo capital cultural
dos professores e gestores. Esses engendram disposições para a
culpabilização dos alunos pela não aprendizagem e, ao contrário, de
pensar em uma revisão da prática pedagógica e da organização do
currículo propõem estratégias já conhecidas das classes média e elite:
“aulas particulares”, convertidas em monitoria de estagiários. Se
observarmos a categoria “formação dos professores”, detectamos que
apenas quatro professores se remetem à necessidade de rever a
prática do professor e investir nos seus saberes.
106
Se compararmos as respostas que têm o aluno como centro e as que têm
os professores, observamos que sobre os primeiros, menos que sobre os outros,
recai a “culpa” pelas dificuldades da escola.
A escola que oferece um atendimento às dificuldades dos alunos – mesmo
que, na maioria das vezes, pensado apenas em relação ao conteúdo – são
significativas quando se pergunta sobre os qualificadores de uma “boa” escola.
A meu ver, uma das gestoras “acertou” em sua análise sobre as
dificuldades da escola: “crise do ser humano -Jogar para o outro o que é dele.”.
Cabe sublinhar que essa última consideração não pretende culpabilizar
unicamente o professor, mas propor uma reflexão acerca da realidade da
educação caracterizada pela eleição de um bode expiatório para culpabilizar pela
má qualidade da educação ou “jogar para o outro o que é dele” a cada mudança
no mercado econômico.
Nas palavras da aluna “a escola é modelo e quer que os alunos sejam
modelo” fica evidente o processo de homogeneização no qual a escola investe –
mesmo dentro de um discurso do respeito à diversidade cultural - exemplo disso é
a prova única que hoje movimenta toda a escola. Nesse processo, aos gestores e
aos professores cabe acompanhar os modelos e não fazer modelos, tarefa
menor, que deve ser delegada a outros.
b) As inúmeras queixas tanto dos professores, quanto dos gestores em
relação à falta de material o que os faz centrar esforços em elaborar
projetos, dentro do PDPI na tentativa de terem acesso a recursos
financeiros e equipamentos.
c) As parcerias e terceirizações parecem ser uma grande preocupação
dos alunos, mas não são questões enumeradas como dificuldades
pelos gestores e professores, talvez por entenderem mais as
dificuldades porque passa a escola se não se utilizar dessas
estratégias indiretas de financiamento.
107
CAPÍTULO III
QUEM SÃO OS SUJEITOS DA PESQUISA?
A Idéia de que todos os grupos têm o
direito de falar por si próprios, com sua
própria voz, aceite como autêntica e
legítima, é um elemento essencial da
postura pluralista do pós-modernismo.
(Harvey, 1989, p. 48)
Neste capítulo será apresentada a metodologia de seleção dos sujeitos da
pesquisa, bem como uma síntese da trajetória pessoal, escolar e profissional
desses sujeitos, buscando caracterizar o espaço geográfico, social e cultural
onde nasceram, realizaram sua educação básica e sua trajetória profissional,
enfocando sua formação e atuação, uma vez que essas dimensões são
constituintes de seu habitus.
Detém-se também em algumas considerações inferidas a partir de uma
leitura analítica de algumas disposições evidentes no processo de entrevista.
1. A SELEÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA
A opção metodológica por realizar a investigação a partir do depoimento
dos diferentes atores do processo educativo escolar de uma escola pública de
ensino médio justificou-se por considerar fundamental que a posição no espaço e
campo sociais levam os sujeitos, mesmo que submetidos à organização e ao
sistema valorativo de um mesmo espaço físico, a analisar, interpretar e organizar
a realidade com base em seu habitus Portanto, não há como desconsiderar os
conflitos decorrentes da variedade de entendimentos e expectativas, produtos de
seu habitus.
Considerando que “um objeto social é sempre apreendido como algo
associado a um grupo” (Moscovici, 1978, p. 261), a abordagem teórico-
metodológica pretendeu privilegiar a representação construída pelos vários
segmentos de atores do processo educativo escolar o que possibilitou identificar
as aproximações e distanciamentos entre as representações dos diversos grupos.
Para o estudo das representações sociais a concepção de grupo
não se limita a um conjunto de indivíduos unidos pela
108
interdependência ou por objetivos comuns, mas refere-se a
conjunto de indivíduos que mantém determinada relação com o
objeto de representação, seja porque ele é parte de sua
existência, seja porque não tem como ignorá-lo. Daí a
necessidade de “certos” grupos construírem sua própria
“representação”, quando colocados diante de “certos” objetos,
“ancorando-os” em sistemas de normas e valores próprios de sua
cultura, de sua tradição, e sobre os quais os grupos se apoiam
para garantir sua identidade enquanto grupo e a coesão entre
seus membros.(p. 253)
40
Parafraseando Penna, (1992, p. 81), as representações produzem e são
produzidas pelas relações/mediações sociais, expressando por excelência o
espaço dos sujeitos, na sua relação com a alteridade, lutando para interpretar,
entender e construir o mundo. (apud Therrien, 1998, grifos meus).
A investigação centralizou-se nos sujeitos que trabalham ou estudam no
Colégio Estadual Central e, consequentemente, em gestores, alunos e
professores que atuam no ensino médio, uma vez que a escola oferece
exclusivamente este nível da educação básica. Dado que nesse nível de
educação se concentra grande parte da retórica sobre a “qualidade perdida”,
tendo em vista a possibilidade de acesso ao ensino superior e, ainda, é um nível
de ensino cuja identidade está em construção, tornando oportuno e emergente
mapear e apreender realidades, práticas, experiências e representações dos
atores do processo educativo escolar que nele atuam, a investigação centrada
nesses atores investiu-se de singular importância.
Foram sujeitos da pesquisa:
a) 08 gestores da educação pública: diretor, 02 vice-diretoras, 01 supervisora
pedagógica, 01 orientadora educacional, 01 coordenador de turno, 02
secretárias;
b) 10 professores que trabalham na Unidade I (a pesquisa priorizou a
Unidade I, contudo alguns professores trabalham nas duas), sendo: 05
homens e 05 mulheres, 04 que atuam na área de humanas e 06 que
atuam na área de exatas e trabalham em turnos diferentes, uma
professora trabalha nos três turnos e um professor em dois turnos;
c) foram selecionados 17 alunos do ensino médio: 06 alunos do turno da
manhã, sendo quatro do sexo masculino e dois do sexo feminino; 03
alunos do turno da tarde, um do sexo masculino e dois do sexo feminino;
40
COSTA e ALMEIDA, 1998.
109
08 alunos do noturno, sendo cinco sexo masculino e três do sexo
feminino. Foram selecionados alunos da 1ª série (03), 2ª série (09) e 3ª
(05)) série, com bom, médio e mau desempenho.
A concentração de um número maior de alunos da 2ª série justifica-se por ser
a única série existente nos três turnos e o momento em que se supõe haver um
maior equilíbrio dos alunos tendo em vista que não se encontram em momentos
de tensão com o início nem tampouco com a finalização do ensino médio.
1.1 A seleção dos gestores
Na tradição educacional é freqüente tomar por gestores da escola, ou seja,
responsáveis pela sua administração e funcionamento, tão somente o diretor,
autoridade máxima, secundado pelo vice ou vices que, na ausência do primeiro,
assumem a autoridade, bastante restrita em relação à decisões, diante da escola.
Em Minas Gerais, pode-se considerar que o conceito de gestor amplia-se
diante da necessidade de nova organização, funcionamento e demanda das
escolas e, sobretudo, diante do movimento dos atores do processo educativo
escolar em busca de um controle maior dessas.
A instituição da eleição direta para direção e vice direção e dos colegiados
escolares têm papel substantivo nesse processo.
Desde meados da década de 1980, os professores e as comunidades das
redes públicas de ensino estadual e municipal vêm conquistando o direito de
escolher os diretores e vice-diretores e em alguns casos o coordenador de turno
ou coordenador pedagógico – por meio do voto – e mesmo com vários problemas,
internos e externos à escola, vêm exercendo e garantindo esse direito.
A criação do colegiado, composto por diretor e vice-diretor, representantes dos
especialistas (supervisor e orientador), representantes dos professores, dos
funcionários (secretaria, biblioteca e serviços gerais) dos pais e dos alunos, vem,
de certa forma, imprimindo um caráter democrático na gestão da escola e a tão
sonhada gestão democrática, mesmo com certas restrições e dificuldades, em
relação ao seu exercício, vem se tornado realidade em muitas unidades de
ensino.
Pode-se, ainda, observar que as relações, embora não se dêem sem
atritos, são marcadas pela distribuição da autoridade e um certo grau de
autonomia dentro de cada função. Como observa Paro (2000), nas estruturas
burocráticas toda autoridade implica responsabilidade, sendo essa tanto maior
110
quanto maior for a autoridade delegada e as relações aí construídas podem se
caracterizar por vários tipos de relações conflituosas.
No Colégio Estadual, assim como na escola pesquisada por Paro, e em
outras várias das quais tenho conhecimento,
(...) os indivíduos em posições hierárquicas mais elevadas tendem
a ver seu cargo ou função como um fardo muito pesado e pouco
compensador, enquanto que os que ocupam os níveis inferiores
consideram que têm pouca autonomia para tomar decisões. Os
primeiros ressaltam o excesso de responsabilidade; os segundos
a escassez de autoridade. (Paro, 2000, p. 78)
O depoimento de uma das gestoras, registrado abaixo, ilustra com
propriedade o observado.
No Colégio Estadual Central, a definição das funções do diretor, vices,
coordenadores de turno, supervisão, orientação educacional e secretarias são
claras, o que atribuo mais à questões técnicas, que podem levar à objetividade e
prática devido ao tamanho da escola, do que à decisões políticas que pretendem
uma democratização da gestão. Não se pode deixar de observar que as
relações, culturas e práticas desenvolvidas no exercício das funções podem levar
a uma democratização mais política e menos técnica da gestão.
Desta forma, a seleção dos gestores orientou-se pela função exercida pelos
mesmos: diretor, vice-diretor, coordenador de turno, supervisora, orientadora,
secretária responsável pelos professores e secretária responsável pela escrita
Agora, eu diria que, como vice-diretora, eu deveria estar realmente num
âmbito maior de ... de decisão da escola, mas a minha decisão, o âmbito
de decisão maior que eu sinto, que eu posso dizer que eu tenho espaço
maior é na questão pedagógica. Porque pela administração atual da
escola, as questões administrativas elas ficam muito no âmbito do diretor.
E, apesar do diretor colocar a questão numa posição muito democrática, o
que eu vejo é que ele centraliza muito as questões administrativas. E eu
estou dizendo isso porque aconteceu um fato muito importante, de
relevância para a gente fazer essa leitura. Porque, quando foi colocada
agora uma questão que a Secretaria de Planejamento é... coloca a parti
r
da avaliação de desempenho é que seja feita uma comissão para fazer a
avaliação de desempenho dos professores e a supervisão não participa
dessa comissão. Nós que temos um trabalho mais direto com os
professores.
Entrevista Gestores, Nara
111
dos alunos. Foram contempladas todas as funções e, no caso do coordenador,
ainda foi considerada a variável trabalhar no Unidade I, posto que a seleção dos
outros atores, como já mencionado, centrou-se nessa Unidade.
Foram sujeitos da pesquisa 08 gestores: 01 diretor, 02 vice-diretoras, 01
supervisora pedagógica, 01 orientadora educacional, 01 coordenador de turno, 02
secretárias. Como, na prática, o vice-diretor assume a dimensão pedagógica ou a
dimensão burocrática da administração/gestão escolar, a investigação buscou
contemplar as duas dimensões desta função.
1.2. Perfil dos gestores
QUADRO 3.1 – CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-DEMOGRÁFICA - GESTORES
GESTOR/
GESTORA
BAIRRO
RESID.
SEXO
IDADE
NATURALIDADE ESTRUTURA
FAMILIAR
(Est. Civil e Nº de filhos)
1. ELOMAR
Não informou 54/M Pitangui/MG D/01
2. MARTA
Estoril 54/F Mutum/MG C/00
3. NARA
Lourdes 58/F Teófilo Otoni/MG C/01
4. GAL
Bonfim 54/F Estrela do Indaiá/MG D/01
5. NANA
Lourdes Papagaios/MG D/02
6. SIDNEY
Barroca 54/M Belo Horizonte C/04
7. RITA
Caetano
Furquim
49/F Belo Horizonte V/03
8. MARISA
Cidade Nova 51/F Belo Horizonte C/03
Participaram da pesquisa, no grupo de gestores, dois sujeitos do sexo
masculino e seis do sexo feminino. Há uma viúva, quatro casados e três
divorciados. Apenas uma não tem filhos, o maior número de filhos entre os
gestores é quatro e a média de filhos do grupo é 1,8.
Quanto à idade, um se encontra na faixa dos quarenta anos (49) os outros
têm idade entre 51 e 58 anos.
Entre os oito, cinco nasceram em cidades do interior de Minas Gerais, onde
realizaram seus estudos referentes à educação básica, e três nasceram e
estudaram em Belo Horizonte.
Considerando que o espaço geográfico também é um dos condicionantes
do habitus poder-se-ia supor que, embora as cidades natal dos gestores estejam
localizadas próximo à capital - Belo Horizonte – seus habitus familiares e
escolares fossem bastante diferentes dos das crianças e adolescentes criados na
capital, posto que as condições de existência no que se refere a valores, às
112
formas de lazer, às relações sociais, aos aspectos políticos e religiosos eram
diferentes. Mas, parece que isso não influenciou na diversificação da
configuração de suas representações sobre “a boa escola” em que estudaram ,
talvez pelo que explica Bosi (2001), baseando-se em Halbwachs:
Na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer,
reconstruir, repensar, com imagens e idéias de hoje, as
experiências do passado. A memória não é sonho, é trabalho. (...)
A lembrança é uma imagem construída pelos materiais que estão,
agora, à nossa disposição, no conjunto de representações que
povoam nossa consciência atual. Por mais nítida que nos pareça
a lembrança de um fato antigo, ela não é a mesma imagem
porque não somos os mesmos de então e porque nossa
percepção, alterou-se, e com ela, nossas idéias, nossos juízos de
realidade e de valor. (p.55)
Isso pode ser explicado também por Bourdieu que defende a ação
pedagógica do campo educacional na estruturação do habitus dos sujeitos nele
inseridos e a própria elasticidade do habitus que pode atualizar-se com o tempo.
Há de se atentar para os olhares que descrevem a escola onde estudaram,
acentuando alguns aspectos e apagando outros, seguindo a linha dos interesses,
preferências, preconceitos, juízos de valor que configuram o habitus atual.
Os gestores elegeram os professores - comprometidos, que sabiam o
conteúdo, punham limites, cobravam – como os maiores responsáveis pela boa
escola onde estudaram. Interessante observar que nenhum deles aponta a
administração e funcionamento como qualificadores das boas escolas públicas ou
particulares, situadas em Belo Horizonte ou no interior, em que estudaram.
Na análise do próximo quadro, podemos observar que cinco cursaram toda
a educação básica em escolas públicas e três em escolas privadas. Sete têm
formação superior, sendo seis na área de humanas ( Filosofia, História e Língua
Portuguesa (2), Pedagogia (2) e um na área de disciplinas técnicas (Bioquímica).
Uma cursou apenas até o 2º ano do ensino médio. Dois se formaram na
Universidade Federal de Minas Gerais, dois na Universidade Católica de Minas
Gerais, um na Universidade Estadual de Minas Gerais e os demais formaram-se
em instituições de ensino superior de peso menor no mercado educacional
mineiro. Agregando ao valor da instituição onde se formaram, o fato de 50% dos
gestores ter feito um curso de especialização e 50% estar sempre participando
de cursos de formação (quadro 15), pode-se inferir que 50% dos gestores possui
113
um volume de capital escolar com possibilidades de rentabilidade no campo
educacional.
Ao se fazer essa inferência, não se pode, entretanto, desconsiderar que a
relação qualidade/nível de formação e eficiência ou eficácia desta no exercício da
prática pedagógica – seja esta centrada ou não no campo da gestão - não têm
uma relação tão mecânica como muitos podem tender a acreditar. Como afirma
Torres (1998, p.175), o modelo fabril, insumo-produto, não se aplica à escola que
ao contrário da fábrica, espaço onde se produz objetos, é um espaço de produção
de conhecimento, aprendizagem e socialização. Contudo, não se pode
desconsiderar também que o investimento na formação é uma estratégia de
acúmulo de capital escolar e que este é um fatores dos que configuram o habitus
escolar que por sua vez pode configurar as representações de “boa escola”.
QUADRO 3.2 – CARRREIRA ESCOLAR E PROFISSIONAL – GESTORES
GESTOR
GESTORAS
1ª à 4ª 5ª à 8ª 2º Grau Ensino
Superior
Disciplina Titulação
Instituição
1. ELOMAR
Escola
Pública
Escola
Pública
Escola
Pública
PUC/MG
Privada
Filosofia Especialização
Não Informou
2. MARTA
Escola
Pública
Escola
Pública
Escola
Pública
FAFI/BH
Privada
História Especialização
FAFI/BH
3. NARA
Escola
Privada
Escola
Privada
Escola
Privada
UFMG
Pública
Língua
Portuguesa
Especialização
UFMG
4. GAL
Escola
Pública
Escola
Pública
Escola
Pública
UEMG
Pública
Pedagogia Especialização
UEMG
5. NANA
Escola
Pública
Escola
Pública
Escola
Pública
Pedagogia
6. SIDNEY
Escola
Pública
Escola
Privada
Escola
Privada e
Pública
ULTRAMIG
UFMG
Privada
Farmácia e
Bioquímica
Não informou
7. RITA
Escola
Pública
Escola
Pública
Escola
Pública
Não fez Ensino
Fund.
Ens.
Fundamental
EE Gov. Milton
Campos
8. MARISA
Escola
Privada
Escola
Privada
Escola
Privada
PUC/MG
Privada
Língua
Portuguesa Superior
QUADRO 3.3 – CARRREIRA PROFISSIONAL - GESTORES
GESTOR/
GESTORA
TEMPO
NO
EST.
TEMPO
NA
ESC.
TEMPO
NA
FUNÇÃO
CURSOS
DE APERF.
ESCOLHA
DA PROFIS
SÃO
FUNÇÃO
ESCOLHA DA
FUNÇÃO
1. ELOMAR 31 anos 22 anos 08 anos Sempre
Progestão
Por vocação Diretor
Convite
2. MARTA 20 anos 13 anos 08 anos Sempre
Progestão
Por
acreditar na
educação
Vice
Convite
114
3. NARA 32 anos 06 anos 02 anos Algumas
vezes
Gestores
Públicos
Orientação
familiar
Vice
4. GAL 26 anos 01 ano 01 ano Sempre
Contadora
de História
Gosta e se
realiza
Supervisora
Contrato
5. NANA 08 anos 08 anos Algumas
vezes
Orientadora
Concurso
6. SIDNEY 28 anos 28 anos 08 anos Algumas
vezes
Por
vocação
Coordenador
Pedagógico ou
de turno
Convite
7. RITA 30 anos 30 anos 19 anos Nunca Não
escolheu,
começou a
trabalhar e
ficou no
primeiro
emprego
Secretária
Convite
8. MARISA 30 anos 30 anos 30 anos Algumas
vezes
Secretária
Concurso
No quadro sobre a carreira profissional, destaca-se: a) todos os gestores
estão há mais de 20 anos prestando serviços educacionais em instituições
escolares estaduais. b) quatro gestores trabalham na escola há mais de 20 anos
(30, 28, 22 anos), um trabalha há mais de 10 anos (13 anos), dois, entre seis e
oito anos, e outro há apenas um ano; portanto, sete gestores já trabalham na
escola há, pelo menos, 05 anos e o grupo de gestores trabalha na escola, em
média, há 17 anos; c) seis gestores estão na sua função há pelo menos 08 anos,
entre esses, dois, há mais de 18 anos. Dois encontram-se na função há um e dois
anos; d) com exceção de uma das secretárias, metade afirma sempre participar
de cursos de formação continuada e a outra metade afirma participar algumas
vezes; e) a escolha da profissão tem motivos variados e o aceite a convites
prevalece na ocupação da função, porém ainda está presente a representação de
“vocação” citada por dois gestores.
Vale a pena ressaltar que o corpo de gestores apresenta uma certa
estabilidade no que diz respeito ao tempo de trabalho na escola e na função,
lembrando que o quadro de trabalhadores da educação do estado, devido ao
regime de contrato temporário, é marcado pela rotatividade e que os contratados
podem se candidatar aos cargos de direção, vice, ou assumir a orientação
educacional e a supervisão pedagógica.
115
E, ainda, sobre a formação continuada, embora sete afirmem que
participam de cursos, são unânimes ao afirmar que não há investimento da
escola ou da Secretaria na formação profissional.
QUADRO 3.4 – CONDIÇÕES DE TRABALHO - GESTORES
GESTOR/
GESTORA
JORNADA
SEM.
JORNADA
SEM.
EXTRA
ESCOLA
OUTRA
ATIVID.
REMUNER.
SATISFAÇÃO
COM A
PROFISSÃO
EXPECTATIVA
DE MUDANÇA
DE EMPREGO
1. ELOMAR 40 horas Não
Informou
Não tem Sim Não gostaria
2. MARTA 40 horas 15 horas Não tem Sim Não gostaria
3. NARA 30 horas 10 horas Aposentada Não Não sabe
4. GAL 24 horas 10 horas Professora
séries
iniciais
Sim Não gostaria
5. NANA 40 horas Não tem
6. SIDNEY 25 horas 10 horas Professor
Laboratório
de Análises
clínicas
Sim Não gostaria
7. RITA 30 horas Não
Informou
Não tem Sim Enfermeira ou
médica
8. MARISA 30 horas 05 horas Não tem Sim Nunca pensou
Sobre as condições de trabalho, podemos afirmar que os gestores
trabalham no e para o Colégio Estadual Central, pelo menos 30 horas semanais,
considerando a jornada do cargo e a jornada extra escola. Dois têm mais uma
jornada em outra instituição escolar e os demais não têm outra atividade
remunerada. Estão satisfeitos e não desejariam mudar de profissão.
QUADRO 3.5 A – CAPITAL ECONÔMICO - GESTORES
GESTOR/
GESTORA
RENDA
PESSOAL
(SM)
PERCENTUAL
GASTO A COM
FAMÍLIA
RENDA
FAMILIAR
(SM)
SITUAÇÃO
FINANCEIRA
INTERGERACIONAL
1. ELOMAR 7 a 10 Menos da metade 7 a 10 Melhor
2. MARTA Até 5 Mais da metade Até 7 Melhor
3. NARA Mais de 10 Menos da metade Mais de 10 Melhor
4. GAL Até 5 Todo dinheiro Até 5 Melhor
5. NANA 7 a 10 Todo dinheiro 7 a 10 Melhor
6. SIDNEY Até 6SM Todo dinheiro Até 03 SM Pior
7. RITA Até 2 SM Todo dinheiro Até 2 SM Melhor
8. MARISA Até 2 SM Mais da metade 7 a 10 Melhor
116
QUADRO 3.5 B – CAPITAL ECONÔMICO - GESTORES
GESTOR/
GESTORA
DOMICÍLIO POSSE DE
CARRO
PLANO DE
SAÚDE
COTA DE
CLUBE
EMPREGADA
1. ELOMAR Aluguel Sim Sim Não Sim
2. MARTA Próprio Sim Sim Não Sim
3. NARA Próprio Sim Sim Sim Sim
4. GAL Aluguel Sim S im Não Sim
5. NANA Próprio Sim Sim Não Sim
6. SIDNEY Próprio Sim Não Sim Não
7. RITA Próprio Não Não Não Não
8. MARISA Próprio Não Não Sim Não
QUADRO 3.5 C – CAPITAL ECONÔMICO – GESTORES
E
L
O
M
A
R
M
A
R
T
A
N
A
R
A
G
A
L
N
A
N
A
S
I
D
N
E
Y
R
I
T
A
M
A
R
I
S
A
TOTAL
GELADEIRA
X
XXXXX
X
X
08
TANQUINHO X X
02
MAQ. LAVAR LOUÇA X X X
03
TV XXXXXXXX
08
MÁQ. FOTOGRÁFICA X X X X X X
06
TV A CABO X X X X X
05
FREEZER X X X
03
M.LAVAR ROUPA X X X X X X X
07
FORNO MICRONDAS X X X X X X X
07
RÁDIO X X X X X X
06
COMPUTADOR X X X X X X X
07
INTERNET X X X X X
05
FOGÃO X X X X X X X X
08
MAQ. SECAR ROUPA X X
02
SOM X X X X X X X
07
VIDEO/DVD X X X X X X X X
08
TELEFONE X X X X X X X X
08
VIDEO GAME X X X
03
A análise de dados sobre o capital econômico nos leva a concluir que: a)
as duas secretárias não ganham mais de 2 salários mínimos, porém uma delas
tem uma renda familiar de no mínimo 10 SM; b) a renda média pessoal dos outros
gestores é 6,7 salários mínimos, ou seja, R$ 2010,00 (dois mil e dez reais); c)
dentre os oito gestores, seis possuem casa própria e carro; cinco possuem
empregada doméstica e plano de saúde; d) quatro possuem cota de clube; e)
cinco possuem tv a cabo e internet e três possuem vídeo game; f) a máquina de
117
lavar louça, secar roupa, o freezer e o tanquinho
41
parecem não pertencer à
cultura doméstica desses sujeitos; g) sete gestores tiveram mobililidade
econômica intergeracional ascendente e um, descendente.
Quanto ao capital cultural expresso nos quadros 11A, 11B, 11C, observa-
se que, considerando o nível de formação e a ocupação profissional dos pais e
irmãos dos gestores, estes pertencem a famílias de baixo volume de capital
cultural.
a) Comparando o número de irmãos dos gestores e seu número de filhos,
temos que a média de irmãos (6,8) é bem maior que a média de filhos
(1,8) que hoje compõe suas famílias.
b) A formação dos pais e irmãos dos gestores reflete a realidade da
expansão da educação no país:
nenhum gestor tem pais com formação em nível superior; apenas
um dos gestores tem pai e mãe com ensino médio; três pais e uma
mãe têm formação em nível médio, sendo um dos pais técnico; duas
mães e um pai têm ensino fundamental incompleto, portanto
observa-se uma ascensão socio cultural intergeracional..
Em média, um terço dos irmãos de cada gestor, com exceção de
Rita, exerce uma profissão que exige nível superior.
c) A situação ocupacional das mães reflete a realidade do investimento na
formação de filhos do sexo feminino e do mercado de trabalho feminino
há algumas décadas atrás:
Entre as mães dos oito gestores quatro têm como ocupação
profissional os afazeres domésticos e uma exerceu a função de
auxiliar de serviços gerais no Colégio Estadual.
Em matéria de leitura, observa-se que as preferências dos gestores
incidem sobre revistas e jornais, romances e ficção. Em matéria de televisão os
gostos centram-se , em primeiro lugar, nos documentários e mini-séries e, em
segundo, nas novelas e esportes. O gosto musical é bastante variado, porém
nota-se uma preferência pelo jazz, música clássica e MPB. Entre os esportes
prediletos destaca-se o futebol como o mais citado e a caminhada na praia,
mesmo morando em Belo Horizonte, cidade onde não há praia.
41
Eletrodoméstico que substitui a máquina de lavar roupa nas residências de famílias de rendimento baixo.
118
Assistir à televisão, ouvir rádio, ler jornais e descansar são as atividades
mais freqüentes dos gestores, seguidas de saídas para bares e restaurantes e
assistir fitas de vídeo e DVD.
Observa-se que Nana respondeu a muito poucas questões do questionário
o qual devolveu-me após ter deixado a escola, transferindo-se para uma escola
em outra cidade.
Rita e Marisa não responderam às questões do questionário que se
referem às relações sociais, o que pode ser um indício de condições de existência
que comprometem o desenvolvimento e envolvimento nessas práticas
A leitura de livros é mais presente do que a ida ao cinema, ao teatro, aos
shows musicais – estes freqüentados em média algumas vezes por ano. Praticar
esportes, dançar, ir à igreja e tocar algum instrumento musical parecem não fazer
parte da cultura dos gestores. O uso freqüente do computador para
entretenimento faz parte do cotidiano de apenas três gestores.
QUADRO 3.6 A – CAPITAL CULTURAL – GESTORES
PROFISSÃO FORMAÇÃO
GESTOR/
GESTORA
Pai Mãe Irmãos Cônjuge Pai Mãe
1. ELOMAR
Exator Do Lar
10 irmãos
Engenheiro (3)
Do Lar (5)
Func. Público
Empresário
EM EF
2. MARTA
Agricultor Do Lar
9 irmãos
Professora
Caminhoneiro
Mecânico
Marceneiro
Funcionária
Pública
Técnico em
Eletrônica
Técnico Agrícola
Comerciante
Publicitária
Desenhista
Mecânico
EF
Incomp.
EF
Incomp
(alfabetiza
da)
3. NARA
Rádio
telégrafo
Profes
Sora
3 irmãos
Engenheiro
Funcionário
IBGE
Polícia Federal
Arquiteto EM EM
4. GAL
APO APO
4 irmãos
Pedagoga (3)
Do Lar
EF EF
119
5. NANA
NR NR NR NR NR NR
6. SIDNEY
Empresá
rio
Do Lar
8 irmãos
Professora (2)
Engenheiro
Psicóloga (2)
Assistente Social
Nível Médio
Médica
Auxiliar de
Laboratório
de análises
clínicas
Não
informou
Não
informou
7. RITA
Não
informou
Serviçal
7 irmãos
Funcionário
Público (2)
Diarista
Comerciário (2)
Afastado por
invalidez (2)
Não
informou
Não
informou
8. MARISA
Funcioná
rio
Público
Do Lar
5 irmãos
Do Lar
Comunicação/
BDMG
Mestre de obras
Técnico de
Contabilidade
Auxiliar de
Secretaria
Professor Técnico EF
Incomp.
Legenda : APO – Aposentado; NR: Não respondeu
QUADRO 3.6 B – CAPITAL CULTURAL – GESTORES
GESTOR/
GESTORA
Língua
Estran
geira
Informá
Tica
Leitura Televisão Música Esportes
1. ELOMAR
Sim Sim Literatura
Revistas e jornais
Documentário
Míni-série
Noticiário
Jazz
Sertaneja
Clássica
Futebol
2. MARTA
Não Sim Filosofia
Revistas e jornais
Romance
Documentário
Mínisérie
Esportes
Jazz
MPB
Clássica
Futebol
3. NARA
Não Sim Auto- ajuda
Ficção
Romance
Revistas e jornais
Rock
Nacional
MPB
Atletismo
4. NANA
Não Sim Não informou Não informou Não
informou
Não
informou
5. SIDNEY
Sim Não Biografia
Romance
Revistas e jornais
Documentário
Esportes
Rock
Internac.
Jazz
Futebol
6. GAL
Não Sim Ficção
Romance
Revistas e jornais
Novela
Noticiário
Humorístico
Clássica Futebol
Vôlei
Xadrez
7. RITA
Não Sim Ficção
Romance
Revistas e jornais
Míni-série
Esportes
Novela
Futebol
8. MARISA
Auto ajuda
Revistas e jornais
Palavras cruzadas
Documentários
Míni-séries
Novelas
Samba/Pa
gode
Forró
MPB
Caminha
da na
Praia
120
QUADRO 3.6 C – CAPITAL CULTURAL – GESTORES
ELOMAR MARTA NARA GAL
TOTAL
FREQÜÊNCIA
1234512345123451234512
345
Ver televisão
XXXX40000
Vídeo/ DVD
X NNNNNX X 21000
Ouvir rádio
XXXX40000
Ler livros
X X X X 22000
Ler jornais
XXXX40000
Ir ao cinema
X X X NNNNN02010
Ir ao teatro
X X X NNNNN02010
Shows de música
X X X NNNNN01110
Ir a shoppings
X X X 12100
Ir a bares e restaur.
XXXX13000
Praticar esportes
X X XX 20011
Assistir futebol, vôlei
XXXX10111
Namorar
X X XX 30001
Dançar
X X XX 20011
Freqüentar a igreja
X X X X 20110
Descansar
X X X X 31000
Cuidar da casa
X X X X 22000
Cuidar da família
X X X X 31000
Visitar
parentes/amigos
X X X X 21100
Fazer compras
XXXX13000
Tocar instr. Musical
X X XNNNNN00003
Divertir computador
X X XX 30001
Legenda: 1- uma vez por semana; 2- uma vez por mês; 3- algumas vezes por ano; 4- uma vez há muito tempo;
5- nunca; N- Não respondeu
QUADRO 3.6 C – CAPITAL CULTURAL – GESTORES
NANA SIDNEY RITA MARISA
FREQÜÊNCIA
1234512345123451234512345
Ver televisão
NNNNNX X X
30000
Vídeo/ DVD
NNNNN X X X
21000
Ouvir rádio
NNNNNX X X
30000
Ler livros
NNNNN X NNNNNNNNNN
01000
Ler jornais
NNNNNX X X
30000
Ir ao cinema
NNNNN XNNNNNNNNNN
00001
Ir ao teatro
NNNNN XNNNNNNNNNN
00001
Shows de música
NNNNN XNNNNNNNNNN
00001
Ir a shoppings
NNNNN X NNNNNNNNNN
01000
Ir a bares e restaur.
NNNNNX X X
30000
Praticar esportes
NNNNN XNNNNNNNNNN
00001
Assistir futebol, vôlei
NNNNNX X NNNNN
20000
Namorar
NNNNN XNNNNNNNNNN
00001
Dançar
NNNNNNNNNNNNNNNNNNNN
00000
Freqüentar a igreja
NNNNN X NNNNNNNNNN
00100
Descansar
NNNNN XX X
11011
Cuidar da casa
NNNNN XNNNNNNNNNN
00001
Cuidar da família
NNNNN XNNNNNNNNNN
00001
Visitar
parentes/amigos
NNNNN X NNNNNNNNNN
00100
Fazer compras
NNNNNX NNNNNNNNNN
10000
Tocar instr. Musical
NNNNN XNNNNNNNNNN
00001
Divertir computador
NNNNN XNNNNNNNNNN
00001
121
TABELA 3.1
AVALIAÇÃO E VISÃO SOBRE A ESCOLA – GESTORES
QUALIDADE DOS SERVIÇOS
E INSTALAÇÕES
(notas 0 a 10)
E
L
O
M
A
R
M
A
R
T
A
N
A
R
A
G
A
L
N
A
N
A
S
I
D
E
Y
R
I
T
A
M
A
R
I
S
A
T
O
T
A
L
M
É
D
I
A
BIBLIOTECA 09 07 07 05 N 09 05 10 47 6,7
SALAS DE AULA 09 08 06 08 N 09 08 10 39 8,2
QUADRAS DE ESPORTE 10 08 06 10 N 08 08 10 60 7,5
PÁTIO E CORREDORES 09 08 08 10 N 08 08 10 61 8,7
CANTINA, LANCHONETE,
REFEITÓRIO
08 06 07 09 N 09 06 10 55 7,8
BANHEIROS 07 06 N 10 N 08 05 10 46 7,6
SALA DOS PROFESSORES 10 07 07 10 N 09 06 10 59 8,4
ATENDIMENTO SECRETARIA 09 09 06 10 N 09 09 10 62 8,9
ATENDIMENTO BIBLIOTECA 09 09 07 06 N 09 07 10 57 8,1
AULAS 09 08 07 06 N 08 06 08 52 7,4
REALIZAÇÃO AULAS
LABORATÓRIO
10 08 08 10 N 08 06 10 60 7,5
REALIZAÇÃO
ATIVIDADES CULTURAIS
09 07 08 10 N 08 06 09 57 8,1
REALIZAÇÃO
ATIVID. EXTRA ESCOLARES
10 07 08 06 N 08 06 08 53 7,6
USO DE COMPUTADOR E
INTERNET EM AULAS
05 N N N N 07 00 08 20 6,6
RECURSOS DIDÁTICOS E
EQUIPAMENTOS
10 07 08 06 N 07 05 10 53 7,6
MÉDIA ESCOLA 7,8
Legenda: N: Não respondeu
As expectativas sobre a escola, os aspectos de que mais gosta e de que
menos gosta e a qualidade dos serviços e instalações são dados coletados que
permitiram uma análise sobre a visão e avaliação que os gestores têm da escola.
Quatro entre os seis gestores que falaram de suas expectativas em relação
à escola desejam que sua “referência seja resgatada”, demonstrando claramente
que há uma representação de boa escola que não se descola de uma escola
122
pretérita que pelo menos, como diz um dos gestores, existiu no imaginário das
pessoas e “deu margem a inclusive para alguém ficar aí no imaginário viajando
muito mais”. Alguns conseguem desembarcar “desta viagem” e esperar que a
escola se torne menos tradicional e que reduza o índice de reprovação.
Houve também uma convergência nas respostas dos gestores – seis entre
os sete que responderam à questão – quando destacaram que a relação com os
colegas de trabalho, a convivência com os amigos é de que mais gostam na
escola.
Entre outros aspectos que gostam, destacam a estrutura física que ao lado
da relação com a SEE foram os aspectos indicados como os que menos gostam.
Em relação à qualidade dos serviços e equipamentos o uso do computador
e internet nas aulas (média 6,6), a biblioteca (média 6,7) e as aulas (média 7,4)
foram os itens que mereceram as menores notas, situando-se a média destes
bem abaixo da média geral da escola nos quesitos avaliados. (média escola
7,8).
TABELA 3.2
CAPITAL SOCIAL – GESTORES
RELAÇÕES ENTRE OS
ATORES DO PROCESSO
EDUCATIVO
ESCOLAR
(notas 0 a 10)
E
L
O
M
A
R
M
A
R
T
A
N
A
R
A
G
A
L
N
A
N
A
S
I
D
E
Y
R
I
T
A
M
A
R
I
S
A
T
O
T
A
L
M
É
D
I
A
PROFESSOR
ALUNO
08 08 08 04 N 06 05 09 48 6,8
DIREÇÃO
ALUNO
08 08 08 07 N 07 05 09 52 7,4
SUPERVISOR
ALUNO
N N 09 07 N 05 05 09 35 7,0
ORIENTADOR
ALUNO
N N 08 07 N 05 06 10 36 7,2
PROFESSOR
PROFESSOR
09 O9 08 10 N 06 06 09 57 8,1
PROFESSOR DIRETOR 09 09 05 08 N 06 07 10 54 7,7
PROFESSOR
VICE-DIRETOR
09 09 08 08 N 06 07 10 57 8,1
123
PROFESSOR
SUPERVISOR
08 08 09 07 N 06 05 10 53 7,6
PROFESSOR
ORIENTADOR
N N 09 07 N 06 05 10 37 7,4
SUPERVISOR
DIRETOR
N N 08 10 N 06 05 10 39 7,8
SUPERVISOR
VICE-DIRETOR
N N 09 10 N 06 05 10 40 8,0
ORIENTADOR
DIRETOR
N N 09 10 N 06 05 10 40 8,0
ORIENTADOR
VICE-DIRETOR
N N 09 10 N 06 05 10 40 8,0
ESCOLA-PAIS 08 08 07 07 N 04 04 09 47 6,7
MÉDIA ESCOLA 7,0
Legenda: N: Não respondeu
O conceito de capital social de Bourdieu foi restringido e aplicado
especificamente para definir as relações estabelecidas entre os atores do
processo educativo escolar, mesmo que a conseqüência positiva desta
socialização não tenha o alcance de gerar fontes de poder e influência, nos
moldes explicitados pelo autor.
Para sustentar essa transposição, partimos do pressuposto que podemos
definir também como capital social o conjunto de normas e relações sociais
escolares que permitem que os atores do processo educativo escolar coordenem
suas ações/práticas administrativas e pedagógicas de modo a alcançar os
objetivos desejados e nos apoiamos em Oyarce Martinez
42
(2005) que explica:
Pierre Bourdieu, en un documento titulado “Notas provisionales”
publicadas en las Actes de la Recherche en Sciences Sociales en
1980, definía capital social como el conjunto de recursos actuales
o potenciales que están relacionadas con la posesión de una red o
de relaciones más o menos institucionalizadas de mutuo
conocimiento y reconocimiento. Esta interpretación da al Capital
Social una visión instrumental, resaltando los beneficios obtenidos
por los individuos en virtud de su participación en grupos y en la
42
José Oyarce Martinez é sociólogo da Universidade do Chile e da Universidade Católica do Chile.
124
construcción deliberada de sociabilidad con otros. Esto implica
que las redes sociales no están dadas, sino que son construidas
mediante la inversión en estrategias orientadas a la
institucionalización de relaciones grupales, utilizables como
fuentes que generarán otros beneficios. Es así que al observar el
Capital Social podemos distinguir la relación social en sí misma
que permite que los individuos demanden el acceso a los recursos
que poseen sus asociados, y por otra parte la cantidad y calidad
de esos recursos.
Desarrollos posteriores, de autores como Putnam y Coleman
definen el capital social a partir de la existencia de tipos de
relaciones (a nivel local e institucional) específicas, tales como
relaciones de confianza, recíprocas y con un alto componente de
civismo. De esta manera la existencia de capital social permitiría a
los actores generar acciones conjuntas de manera más efectiva,
dado que la construcción de relaciones personales e
institucionales basadas en la confianza mutua favorecen el
intercambio de diferentes tipos de recursos, y por lo tanto generan
desarrollo social, cultural y económico.
Na avaliação dos gestores, as relações do corpo administrativo e
pedagógico com os alunos são as que receberam médias mais baixas,
merecendo destaque a relação professor-aluno, que representa a segunda média
mais baixa (6,8), sendo suplantada apenas pela média relação escola-pais (6,7).
É interessante observar que os gestores dizem que o Estadual Central é
uma boa escola devido ao comprometimento dos seus alunos e professores e
afirmam que seus alunos estão em melhor situação do que os alunos de outras
escolas; contudo atribuem uma média bem baixa à qualidade das aulas e à
relação professo-aluno. O que nos permite inferir que, na visão dos gestores, a
qualidade das aulas não é um atributo relevante na qualificação da boa escola e
que o comprometimento dos alunos não tem relação com a qualidade das aulas e
nem tampouco com a relação professor-aluno.
Essas considerações me levam a supor que o comprometimento dos
professores e alunos é um “habitus” que faz parte da herança idealizada que
“insiste” em constituir o patrimônio da escola.
Às relações professor-professor e professor-vice-diretor são atribuídas as
mesmas médias (8,1) e à relação professor-diretor (7,7), professor-supervisor
(7,6) e professor-orientador (7,8) médias bem mais baixas. Isso nos leva a
interpretar que a relação professores-gestores, com exceção dos vice-diretores,
apresenta mais dificuldades do que a relação entre os pares. A leitura das médias
125
ainda nos permite observar que a relação gestores (supervisores e orientadores)
e gestores (diretores e vices) parece não apresentar tantas dificuldades.
Sobre as relações construídas no espaço escolar, ainda sublinhamos a
avaliação da relação do diretor com os outros atores, que mereceu médias que
podem indicar dificuldades. Essas talvez se expliquem pelas características
próprias da função: autoridade que emite a palavra final, participação em eventos
diversos promovidos pela SEE/MG que o obrigam a ficar algum tempo fora da
escola, ou mesmo o habitus profissional, muito comum ainda na escola, que leva
a enxergar a figura do diretor, representante dos órgãos responsáveis pela
educação, como “cooptado”
A análise dos dados do quadro apresentado acima, confirma que as
relações de socialização entre os atores do processo educativo escolar -
gestores e professores – caracteriza-se pelo acúmulo de capital social, contudo o
mesmo não ocorre quando se trata da relação escola-pais e professor-aluno.
A qualidade dos processos de socialização expressa na diferença
significativa destas médias em relação às que descrevem outros processos
constitui um dos fatores explicativos da representação de boa escola de grande
parte dos alunos entrevistados que se assenta na qualidade das relações socio
afetivas construídas no espaço educativo escolar, como será tratado no capítulo
VI deste relatório de pesquisa.
1.3. A seleção dos professores
A entrada exploratória no locus de pesquisa ocorreu sem transtornos, uma
vez que o diretor e uma das vice diretoras da escola foram bastante receptivos e
mostraram-se interessados em colocar-se à minha disposição.
Após apresentar os objetivos da pesquisa, agendamos um horário para que
ele me apresentasse aos professores. A apresentação foi rápida, porque deu-se
em um intervalo de recreio, dividido entre acertos de paralisação de greve,
contudo foi suficiente para as devidas explicações. Tendo sido informada pelo
diretor que haviam sido constituídos alguns grupos
43
na escola para a Elaboração
das Novas Propostas Curriculares das Disciplinas do Ensino Médio e
43
Formaram-se, a princípio, 09 grupos reunindo cada um, em média, 21 professores de todos os turnos de
áreas afins e especialistas, denominados GPD (Grupos de Desenvolvimento Profissional)
126
Fundamental nas Escolas-referência.
44
e que cada grupo tinha uma
coordenadora, solicitei a uma das vice diretoras que me apresentasse à
coordenação do grupo de Língua Portuguesa, ao que ela prontamente atendeu.
A professora, coordenadora do Grupo de Desenvolvimento Profissional
(GDP) de Língua Portuguesa, foi também muito amável e receptiva colocando-se
à disposição. Durante alguns dias permaneci na sala dos professores, travando
uma conversa aqui outra acolá, principalmente com os professores do GPD de
Língua Portuguesa. As conversas eram sempre curtas e entrecortadas por várias
outras, pois ocorriam na hora do intervalo do recreio, onde vários assuntos eram
tratados, em meio a um lanche caprichado, financiado cada dia por um grupo de
professores, o que gerava um clima bastante festivo.
Torna-se importante registrar que a jornada semanal dos professores da
rede estadual de Minas Gerais é de 18 horas semanais, sendo que aqueles que
lecionam disciplinas cuja carga horária é de cinco aulas semanais, como Língua
Portuguesa e Matemática, têm uma jornada complementar denominada exigência
curricular, que amplia a jornada semanal para 20 horas. A jornada mais curta
possibilita a organização dos tempos de forma a se ter um dia de folga na
semana, o que é muito comum na cultura escolar desta rede. A jornada de 20
horas não possibilita nenhum horário fora da regência, portanto, poucos são os
professores que possuem horários vagos na sua jornada.
Após conversar com a professora de língua portuguesa em vários
momentos - conversas rápidas entre intervalos e coordenações de outras
atividades - ela convidou-me a participar do GDP o qual coordenava. A
participação no grupo gerou a aproximação e a criação de um clima de confiança
entre os pesquisados e a pesquisadora - redução da dessimetria cultural e social.
Tive a oportunidade de acompanhar o trabalho de um único grupo, mesmo
que convidada pela coordenadora a participar do GDP de Geografia e História,
uma vez que as reuniões eram realizadas simultaneamente e houve solicitação
explícita do GDP de Língua Portuguesa para que eu acompanhasse de perto os
trabalhos do grupo. Isso se deu porque uma das professoras de Língua
Portuguesa, componente do grupo, já havia trabalhado comigo em uma escola
44
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS – SEE/MG. Manual de Orientação
para Elaboração de Projeto de Ensino. Planejamento da Implantação das Novas Propostas Curriculares-
127
municipal e conhecia minha trajetória profissional, acreditando que minha
contribuição no grupo – embora me pautasse por escutar – poderia trazer
contribuições para um momento tão rico e importante como a construção da
proposta curricular de Língua Portuguesa e Inglesa para o ensino médio.
A presença na sala dos professores, em algumas reuniões deste grupo,
nas reuniões de colegiado e em alguns eventos da escola, como apresentação do
Sábado de Poesia e Orquestra de Violões, e a relação construída com a
professora de língua portuguesa permitiram-me um contato mais próximo com
vários professores e professoras.
Saliento que essa professora vem ao longo dos anos acumulando capital
simbólico e capital social na escola: desenvolvendo um trabalho na área de
Língua Portuguesa, disciplina curricular de grande prestígio na escola- capital
simbólico - na escola; atuando somente nas turmas de 3º ano, o quena
representação de muitos lhe confere um grau de reconhecida competência e
soma-se a isso o fato de mostrar-se bastante participativa, tomandp a frente de
várias ações propostas pela SEE/MG e pela escola, movida pelo volume de
capital cultural e capital profissional
45
acumulado.
A sintonia pessoal e profissional estabelecida entre nós permitiu que minha
entrada no grupo de professores ocorresse sem grandes desconfianças e
resistências, uma vez que ela sempre me apresentava aos professores, falava de
minha pesquisa e sua importância e do tempo que eu já estava desenvolvendo
meu trabalho na escola.
Neste clima, de acordo com os critérios, citados abaixo, foram
selecionados os sujeitos da pesquisa, mediante abordagem da pesquisadora que
teve oportunidade de conhecer alguns e por indicação dos colegas que
2005. (xerox distribuído pela coordenadora durante o primeiro encontro do qual participei – Reunião do GPD
– 01 a 06 de novembro de 2004.)
45
Sustentando-me nos estudos efetuados e nas próprias palavras de Bourdieu, proponho o conceito de
capital profissional, para dar conta de designar o conjunto de habitus profissionais, característicos de
determinados ofícios – como os habitus específicos dos profissionais do magistério - entendendo que o
conceito de capital cultural, desenvolvido por Bourdieu, aplica-se a um capital cultural mais geral. A noção
de capital profissional, no caso do magistério, é uma tentativa de pensar um conceito que possa implicar
numa ruptura com a representação de “vocação”, “missão” que povoa o campo educacional, apagando o
conceito de profissão/profissionalismo. Uma tentativa de não deixar escapar o mais oculto e determinante dos
investimentos profissionais, a saber, a transmissão do capital profissional no âmbito do trabalho, no caso a
transmissão do capital profissional pela escola. Não desconsidero, entretanto, que por vezes, sobretudo no
que diz respeito ao habitus escolar, há também influente transmissão doméstica.
128
forneceram dados sobre a trajetória profissional dos colegas e seu envolvimento
nas atividades da escola, entre outros aspectos.
A seleção dos/as professores/as foi realizada, considerando-se a
conjugação das seguintes variáveis:
a -) turno de atuação
O tempo de presença na escola permitiu à pesquisadora observar algumas
características que distinguem os professores de acordo com os turnos em que
atuam, como o habitus e as relações sociais e profissionais.
É fala corrente entre os educadores que dentro de um estabelecimento
escolar há pelo menos três escolas, já que cada turno constitui uma, em função
das características e especificidades dos alunos e dos professores, da
organização das turmas, do funcionamento e das regras que regem tanto a
matrícula dos alunos, quanto a vida funcional dos professores.
Essa realidade pôde ser confirmada na escola pesquisada onde a situação
ainda é mais complexa, pois funcionam duas unidades, em prédios diferentes e
com organizações diferentes. (vide capítulo referente à descrição da escola)
Optei, por selecionar, como locus de pesquisa, apenas a Unidade I que funciona
num espaço privilegiado onde se concentra toda a vida administrativa da escola, o
maior número de alunos e de professores (85 turmas na Unidade I e 40 turmas na
Unidade II) e funciona em três turnos.
Os professores que trabalham no 1º turno têm mais tempo de exercício na
rede pública estadual e mesmo na escola do que os professores de outros turnos,
já que a transferência entre turnos depende muito do tempo de exercício. Neste
turno, como já mencionado, concentram-se os professores com faixa etária mais
avançada e supõe-se também “reconhecida competência” no ensino de sua
disciplina, já que, em sua maioria, lecionam exclusivamente no 3º ano, cujos
alunos, segundo depoimento dos próprios professores, “exigem muito e não lhes
dão descanso”.
A faixa etária, o número de carros no estacionamento, o tipo de vestuário
levam a supor uma estabilidade profissional e financeira maior.
No 2º turno, onde se concentram as turmas de 1º ano, os professores são
mais jovens, apresentam-se menos entusiasmados com o trabalho e com os
alunos. Isso talvez se deva ao fato de os alunos serem mais jovens, terem habitus
escolares diferentes, pois vêm das mais diversas realidades escolares, e exigem
129
maior atenção e severidade no seu acompanhamento e formação, já que ainda
não foram conformados às regras escolares.
O turno da noite, que oferece os três anos do ensino médio regular, parece
caracterizar-se pela dispersão, tanto de alunos, quanto de professores, “parece
que é outra escola, um outro mundo”, diz a Professora Elba.
Durante as várias vezes em que estive presente nesse turno, nunca
consegui encontrar os professores em sua sala, sempre estavam atrasados,
haviam faltado, estavam falando com a coordenação, lendo o jornal, fumando,
lanchando em outros espaços, um ou outro se encontrava em alguma atividade
na sala dos professores. Atribuo essa dispersão à “suavização” que caracteriza
esse turno, como diz uma das professoras, e pode-se ler em depoimento logo
abaixo. A “suavização” a que ela refere-se é a diferença do nível de exigência e
de cobrança, entre os turnos diurno e noturno, que parece caracterizar grande
parte dos cursos noturnos em qualquer nível de educação.
Há professores bem jovens em início de carreira, como há também
professores já em fim de carreira. Alguns poucos estão entusiasmados com o
trabalho, mas muitos parecem estar ali, apenas por estar, no fim da jornada. Se
Huberman (1992) defende que os professores desinvestem no trabalho ao final da
carreira, defendo que alguns também desinvestem ao final da jornada diária.
Creio que essa realidade pode ser atribuída às próprias especificidades do turno:
professores já exaustos, na segunda ou terceira jornada de trabalho, poucos
alunos matriculados, alto índice de ausência às aulas ou de atrasos e saídas
antes do término das aulas . Um turno desvalorizado socialmente e cuja
desvalorização é sustentada pelo sistema educacional e pela própria organização
da escola, inclusive é castigo para os “insubordinados”, “desinteressados”,
reprovados mais de uma vez.
A realidade que marca os três turnos desta escola não me parece que lhe é
exclusiva, pois uma das grandes queixas dos profissionais da educação é a
necessidade de se integrar os turnos das escolas, há uma constante referência à
desvalorização do turno noturno, tanto pelos alunos quanto pelos professores,
porém faço esta ressalva para sublinhar as contradições que vive o Colégio
Estadual Central no processo de “resgate” da qualidade da educação pública.
Em caráter de ilustração, vejamos como uma das professoras que trabalha
nos três turnos os caracteriza:
130
b -) área de atuação (exatas e humanas)
O cuidado de atentar para essa variável na seleção dos professores partiu
do pressuposto de que há uma retórica no interior das escolas que deixa claro
que há uma representação diferente de professor que atua na área das disciplinas
exatas e na área das disciplinas humanas, sobretudo no ensino médio, no que diz
respeito ao nível de exigência em relação aos alunos; na seleção dos processos
pedagógicos para desenvolvimento e avaliação do conteúdo, no envolvimento e
expectativas em relação ao aluno. Não é dado novo a constatação de que no
ensino médio há uma valorização de determinadas disciplinas em detrimento de
outras em função dos vestibular.
Soma-se a isto o fato de os dados coletados na secretaria da escola
apontarem um alto índice de reprovação dos alunos na áreas das exatas. Será
que professores com práticas tão diferentes têm a mesma representação de “boa
escola”?
c-) gênero
Atualmente, o fenômeno da feminização do magistério, inicialmente restrito
à educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental, está presente em
Então, agora, á noite, é muito complicado falar que eu também dou aula
à noite, mas, à noite, é uma realidade totalmente diferente da manhã e
da tarde. Sinceramente falando, manhã aqui é show, à tarde a gente já
lida professor e psicologia com o aluno, tempo inteiro você tem que
falar com o aluno coisas que ele tem que fazer, valores que eles
desconhecem. (...) À noite é diferente, a noite parece que é outra
escola, um outro mundo. São alunos assim, são 41 inscritos, só vão 15
no primeiro horário da aula, são assim, muitos querem aprender e
muitos vão ali só para ter um diploma, vamos dizer assim, são outra
realidade, tanto é que o ensino é diferenciado, não é o mesmo da
manhã, a cobrança diferenciada. Eu dou aula pro segundo ano de
manhã e dou aula pro segundo ano à noite e a matéria é diferente.
Suavizar no noturno, eu estudei faculdade à noite, era pior do que de
manhã, era perdoado, chegava morto do serviço e era pesado Aqui é
uma suavidade assim para tratar o aluno, sendo que está aqui é para
isso, se não quer estudar, não estuda, né. E eles pouco, muito poucos
chegam do trabalho já cansados, mas já usam dessa suavidade que o
professor dá, a escola, para poder assim não entregar trabalho, não
fazer deveres. Que se chegar pro professor e falar eu trabalhei e
cheguei atrasado hoje, ele vai dar um jeitinho.
Entrevista Professores, Elba.
131
todos os níveis de educação. Se há algumas décadas o ensino médio e superior
eram povoados por profissionais do sexo masculino, hoje a realidade é diferente.
Ainda que as identidades construídas sobre as questões de gênero
venham se alterando com as transformações históricas, sociais e culturais e no
ensino público às restrições quanto ao gênero do profissional não sejam tão
marcantes - quanto na rede privada e em outros campos profissionais - ainda
identificamos algumas restrições ou mesmo “desconfianças” sobre a competência
quanto à ocupação de determinados postos, como reitoras no ensino superior e
professores na educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental;
“preferências” pelo diretor e coordenador do sexo masculino que, segundo
algumas representações e argumentos veiculados, são mais respeitados, têm
pulso mais forte, impõem-se mais; representações do papel da professora como
uma extensão dos afazeres domésticos, exigindo-lhe excessivo zelo pelos alunos,
“natural” dedicação maternal, paciência e docilidade inata, ao contrário do
professor que é um profissional do qual se cobra conhecimento, rigidez,
autoridade. De acordo com Guacira Lopes Louro (1997):
“As representações, embora conflitantes, tipificam professores e
professoras. De um modo talvez um tanto esquemático, se
poderia dizer que a representação dominante do professor homem
foi – e provavelmente ainda seja – mais ligada à autoridade e ao
conhecimento, enquanto que a da professora mulher se vincula
mais ao cuidado e ao apoio “maternal” à aprendizagem dos
alunos/as.”
Há um repertório de valores, idéias e símbolos socialmente construídos de
masculino e feminino que ainda povoam o universo dos profissionais do
magistério e uma materialização desses em práticas pedagógicas que devem ser
analisados cuidadosamente quando se pensa em estudar suas representações
sobre “boa escola”.
d -) idade e tempo de atuação no magistério e na escola
Alguns estudos sobre formação de professores
46
discutem a relação da
idade e tempo de atuação com o investimento desses em sua formação e o
desenvolvimento de suas práticas pedagógicas. A formação e as práticas
46
Um dos estudos que tratam dessa questão foi desenvolvido por Huberman e está publicado no livro
organizado por Nóvoa, Vida de professores, que consta na bibliografia deste exemplar.
132
pedagógicas podem ser constituintes significativos na configuração das
representações.
A pertença geracional e o tempo de profissão vieram se confirmar como
variáveis significativas na análise da postura dos professores no que diz respeito
à relação com os alunos e com os próprios colegas e direção da escola, em
relação ao envolvimento nas ações propostas pela escola e pela SEE/MG, ou
seja, ao habitus, como se pode detectar neste excerto do depoimento do diretor:
Esse medo que meus professores faziam eu acho que ainda existe
professor que faz isso. E, às vezes, pode até não fazer consciente, mas
inconscientemente acontece, talvez pela maneira, por exemplo, como
eles viveram a escola no passado, pessoas mais velhas, né, que têm
toda uma preocupação assim. Vou dar o exemplo aqui de um professo
r
que você até acaba vendo sentido naquela coisa: ele vem dar aula, po
r
exemplo, de tênis, traz o sapato debaixo do braço para pôr o sapato para
ir para a sala de aula. Quer dizer, então ele acha que o professor tem
que ter uma postura inicialmente de coisa que num... tá entendendo. Aí
que você vê como é que eles... que isso aí vai influenciar lá na frente.
Então, então quer dizer, outra coisa que, por exemplo, a gente fez aqui
em 97, até para poder melhorar essa relação, foi uma preocupação que
a gente discutiu e decidimos: nós tiramos os tablados das salas porque,
na realidade, aquele tablado... achava assim que aquele tablado
colocava o professor um pouco acima do menino em vez de ver ele
assim no mesmo... como parceiros e não como subordinados a ele, né.
Isso teve inclusive um reflexo aqui que realmente foi... Nossa, teve muita
gente que questionou ter tirado aquilo ali. Porque, sabe parecia que
aquilo ali dava uma pompa para ele a mais para poder ser superior,
entendeu.
Entrevista Gestores
Essa coisa... eu acho assim, primeiro, que estão vindo pessoas mais
abertas, menos condicionadas, [referindo-se às nomeações, após
concurso] dá para você conversar, sabe, dá para você mostrar e
argumentar junto com ela e fazer realmente uma caminhada muito
tranqüila. Então eu acredito que realmente, o pessoal está se
envolvendo, sabe. Apesar de toda dificuldade financeira, de doze anos
sem aumento, a gente sabe que na realidade... a gente sabe que na
realidade existe realmente uma vontade de trabalhar.
Entrevista Gestores
133
A partir da observação destes critérios foram selecionados como sujeitos
da pesquisa os seguintes professores e professoras:
QUADRO 3.7 – CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-DEMOGRÁFICA
PROFESSORES
PROFESSOR
PROFESSORA
BAIRRO
RESID.
SEXO
IDADE
NATURALIDADE ESTRUTURA
FAMILIAR
(Estado Civil
Nº de filhos)
1. CINARA
Santo Antônio F/50 Belo Horizonte C/02
2. ELBA
Barreiro F/27 Belo Horizonte S/00
3. FAFA
Lourdes F/50 Cláudio/MG S/00
4. SIMONE
Cidade Nova F/45 Belo Horizonte C/03
5. VIRNA
F/71 S/00
6. CAZUZA
Barro Preto M/57 Peçanha C/02
7. JERRY
Nova Suiça M/29 Belo Horizonte S/00
8. LULU
M/58 C/03
9. MANO
Alípio de Melo M/26 Belo Horzonte S/00
10. MC BILL
Santo Antônio M/59 Belo Horizonte C/01
Participaram da pesquisa cinco professores e cinco professoras.
Coincidentemente, cinco casados e cinco solteiros, sem filhos. O maior número
de filhos entre eles é três e a média de filhos do grupo é 1,1.
Três encontram-se na faixa etária entre 26 e 29 anos, três entre 45 a 50
anos, três entre 57 e 59 e um tem mais de 70 anos.
A média de idade dos professores
é 47, 2 anos.
Entre os dez, quatro nasceram do interior de Minas Gerais, onde
realizaram seus estudos referentes à educação básica e seis nasceram e
estudaram em Belo Horizonte.
Da mesma forma que os gestores, parece-me que a socialização
profissional teve mais influência na configuração do habitus do professor do que
o espaço geográfico em que nasceram e realizaram seus estudos.
134
QUADRO 3.8 – CARRREIRA ESCOLAR E PROFISSIONAL
PROFESSORES
PROFESSOR
PROFESSORA
1ª À 4ª 5ª À 8ª
GRAU
ENSINO
SUPERIOR
DISCIPLINA
TURNO
PÓS
INSTITUIÇÃO
1. CINARA
Privada Privada Privada Privada
PUC/MG
Biologia
Especialização
PUC/MG
2. ELBA
Pública Pública Pública Privada
UNI/BH
Geografia
2º 3º
Especialização
UFLA/MG
3. FAFA
Pública Pública Pública Privada
PUC/MG
Geografia
Não tem
4. SIMONE
Pública Pública Pública Pública
UFMG
Letras
Especialização
CEPEMG
5. VIRNA
Pública Pública Privada Pública
UFJF
História
6. CAZUZA
Pública Pública Pública Pública
UFMG
Matemática
Especialização
Fundação João
Pinheiro
7. JERRY
Pública Pública Pública Privada
Isabella
Hendriz
Biologia
Especialização
PUC/MG
Mestrado
PUC/MG
8. LULU
Privada Privada Pública N Física
1º 3º
N
9. MANO
Pública Privada Privada Pública
UFMG
Química
Mestrado
UFMG
10. MC BILL
Pública Pública Pública Privada
ULTRAMIG
Matemática
Física
Eletro-técnica
Especialização
UFMG
QUADRO 3.9 – CARRREIRA PROFISSIONAL PROFESSORES
PROFESSOR
PROFESSORA
TEMPO NO
EST.
TEMPO
NA ESC.
CURSOS
DE APERF.
ESCOLHA DA
PROFISSÃO
1. CINARA
26 anos 10 anos Sempre Ao acaso
2. ELBA
01 ano e 06
meses
01 anos Sempre Mercado de trabalho
favorável e promissor
3. FAFA
31 anos 13 anos Sempre Realiza-se
4. SIMONE
20 anos 09 anos Algumas vezes Influência familiar
5. VIRNA
34 anos 31 anos Algumas vezes Sempre gostou
6. CAZUZA
25 anos 22 anos Algumas vezes Não escolheu, foi chamado
e gostou
7. JERRY
10 anos 10 anos Sempre Por admiração aos meus
professores
8. LULU
31 anos 31 anos Algumas vezes Não respondeu
9. MANO
10 anos 01 ano Algumas vezes Gosta de ensinar
10. MC BILL
10 anos 07 anos Sempre Identificação depois de
várias tentativas
LEGENDA: N – Não Respondeu
135
QUADRO 3.10 – CONDIÇÕES DE TRABALHO - PROFESSORES
PROFESSOR
PROFESSORA
CARGA
HORÁRIA
SEM.
CARGA
HORÁRIA
EXTRA
ESCOLA
OUTRA
ATIVIDADE
REMUNER.
SATISFAÇÃO
COM A
PROFISSÃO
EXPECTATIVA
DE MUDANÇA
DE EMPREGO
1. CINARA
20 horas 05 horas Não Sim, embora
financeiramente
seja frustrante
Sim
2. ELBA
N N Não Sim, apaixonada
pela disciplina
que leciona.
Não
3. FAFA
18 horas 15 horas Sim
Professora
Sim, empatia
entre professor e
alunos é grande e
promove o
aprendizado..
Não
4. SIMONE
20 horas
10 horas
Não Sim, embora
esteja indignada
com o salário e
condições de
trabalho
Não
5. VIRNA
18 horas 10 horas Não Satisfeita e feliz Não
6. CAZUZA
20 horas 10 horas Sim
Engenheiro
Civil
Sim, pois lidar
com jovens é
revigorante.
Não
7. JERRY
18 horas 20 horas Sim
N
Não, por causa
dos baixos
salários
Não
8. LULU
36 horas
02 cargos
N N Há oito anos está
desanimado com
a perspectiva de
futuro dos alunos
Não
9. MANO
20 horas 15 horas Sim
Pesquisador
Técnico
Sim, embora em
Termos
econômicos deixe
a desejar.
Sim
10. MC BILL
18 horas 30 horas Sim
Assessoria e
Cálculo
Estrutural
Não, porque os
salários são
baixos e os
jovens não se
interessam por
nada.
Sim
LEGENDA: N – Não Respondeu
Na análise do quadro que trata da carreira escolar e profissional podemos
observar que seis professores cursaram toda a educação básica em escolas
públicas, três em escolas públicas e privadas e um em escola privada. Todos têm
formação superior, sendo quatro na área de humanas (Geografia (2) letras (1),
História (1)) e seis na área de exatas (Biologia (2), Matemática (2), Física (2),
Química (1) ) Um dos professores tem formação em Matemática e Física.
136
Quatro se formaram em universidades públicas, três na Universidade
Federal de Minas Gerais e um na Universidade Federal de Juiz de Fora; dois, na
Universidade Católica de Minas Gerais, um na UNI/BH, que hoje destaca-se no
cenário mineiro de universidades particulares e dois se formaram em instituições
privadas de ensino superior que não têm grande destaque no mercado
educacional mineiro. Agregando ao valor da instituição onde se formaram, o fato
de que apenas um entre os nove que responderam à questão não ter feito um
curso de especialização ou mestrado, pode-se inferir que os professores possuem
um volume de capital escolar com possibilidades de rentabilidade no campo
educacional.
Ao se fazer essa inferência, não se pode, entretanto, desconsiderar, como
já mencionado, quando tratou-se da formação dos gestores, que a relação
qualidade/nível de formação e eficiência ou eficácia desta no exercício da prática
pedagógica não têm uma relação tão mecânica como muitos podem tender a
acreditar.
No quadro sobre a carreira profissional, destaca-se:
a) três professores estão há mais de 30 anos prestando serviços educacionais
em instituições escolares estaduais; três tem entre 20 e 26 anos de serviços
prestados; três, 10 anos e apenas um tem 1 ano e 06 meses, o que nos leva a
supor que conhecem bem as regras que regem o campo educacional das
escolas públicas estaduais;
b) dois professores trabalham na escola há mais de 30 anos (31 anos); um
trabalha há mais de 20 anos (22 anos); cinco, entre sete e treze anos, e dois
há apenas um ano. Portanto, dois se encontram no fim da carreira, dois no
meio e seis em início. O grupo de professores trabalha na escola, em média,
há 13,5 anos;
c) quatro afirmam sempre participar de cursos de formação continuada e os
outros afirmam participar algumas vezes;
d) seis, afirmam que escolha da profissão deve-se à identificação/gosto com o
ato de ensinar; um não respondeu à questão e os outros três alegam o acaso,
a influência familiar e o fato do mercado de trabalho ser promissor.
e) E, ainda, sobre a formação continuada, embora afirmem que participam de
cursos, são unânimes ao afirmar que não há investimento da escola ou da
Secretaria na formação profissional.
137
Sobre as condições de trabalho, observamos que os sete professores
trabalham no e para o Colégio Estadual Central, pelo menos 30 horas semanais,
considerando a jornada do cargo e a jornada extra escola. Cinco têm outra
atividade remunerada, sendo que um dos professores cumpre mais uma jornada
em outra instituição escolar.
Seis não pretendem mudar de profissão, entre estes, cinco estão satisfeitos
e um não; três têm expectativa de mudar e um confessa que há oito anos
encontra-se desanimado com a perspectiva de futuro dos alunos, mas não
pretende abandonar o magistério porque está perto de se aposentar e já tem
outra profissão.
Entre os que se dizem satisfeitos, são reticentes as referências ao baixo
salário e às péssimas condições de trabalho. A satisfação tem como motivo a
“paixão” pela disciplina lecionada e a empatia entre professor e alunos que
revigora e promove aprendizagem. A expectativa de mudança de emprego tem
por base a baixa remuneração.
QUADRO 3.11 A – CAPITAL ECONÔMICO PROFESSORES
PROF/A RENDA
PESSOAL (SM)
PERCENTUAL
GASTO FAMÍLIA
RENDA
FAMILIAR (SM)
SIT. FINANC
INTERGERAC.
1. CINARA
Até 4 Todo dinheiro Mais de 10 Pior
2. ELBA
NNNPior
3. FAFA
Até 3 Mais da metade Até 3 Igual
4. SIMONE
Até 3 Todo dinheiro Mais de 10 Pior
5. VIRNA
Até 4 Mais da metade Até 7 Melhor
6. CAZUZA
Mais de 10 Todo dinheiro Entre 7 e 10 Melhor
7. JERRY
Até 3 Todo dinheiro N Igual
8. LULU
Até 7 Todo dinheiro N Melhor
9. MANO
Até 7 Menos da metade Mais de 10 Melhor
10. MC BILL
Até 4 Todo dinheiro Até 7 Igual
LEGENDA: N – Não Respondeu
QUADRO 3.11 B – CAPITAL ECONÔMICO PROFESSORES
PROFESSOR
PROFESSORA
DOMICÍLIO POSSE DE
CARRO
PLANO DE
SAÚDE
COTA DE
CLUBE
EMPREGADA
1. CINARA
Próprio Não Sim Sim Sim
2. ELBA
Próprio Não Não Não Não
3. FAFA
Próprio Sim Não Não Sim
4. SIMONE
Próprio Sim S im Sim Sim
5. VITÓRIA
Próprio Sim Sim Não Não
6. CAZUZA
Próprio Sim Sim Não Sim
7. JERRY
Próprio Não Sim Não Não
8. LULU
Próprio Sim Não Não Não
9. MANO
Próprio Sim Sim Sim Não
10. MC BILL
Próprio Sim Sim Não Não
138
QUADRO 3.11 C – CAPITAL ECONÔMICO
C
I
N
A
R
A
E
L
B
A
F
A
F
A
S
I
M
O
N
E
V
I
R
N
A
C
A
Z
U
Z
A
J
E
R
R
Y
L
U
L
U
M
A
N
O
M
C
B
I
L
L
TOTAL
GELADEIRA
XXXXXXXXXX
10
TANQUINHO
00
MAQ. LAVAR LOUÇA
XX X
04
TV
XXXXXXXXXX
10
MÁQ. FOTOGRÁFICA
XXXXXXXXXX
10
TV A CABO
XXXXX
05
FREEZER
XXX XXXX
07
MÁQ.LAVAR ROUPA
XXXXXXXXXX
10
FORNO MICRONDAS
XX XXXXXXX
09
RÁDIO
XXXXXXXXXX
10
COMPUTADOR
XXXXXXXXXX
10
INTERNET
XXXX XXXX
08
FOGÃO
XXXXXXXXXX
10
MAQ. SECAR ROUPA
XX
02
SOM XXXXXXXXXX
10
VIDEO/DVD XXXXXXXXXX
10
TELEFONE XXXXXXXXXX
10
VIDEO GAME X X X X
04
A análise de dados sobre o capital econômico nos leva a concluir que:
a) a média de salário dos professores é 5 SM, ou seja, R$ 1500,00 (mil e
quinhentos reais); sendo que três percebem até 3SM (R$ 900,00
(novecentos reais); 3 até 4SM (R$ 1200,00 (mil e quatrocentos reais); e
3 de 7SM para cima (R$ 2100,00 (dois mil e cem reais) e um não
respondeu.
b) a renda familiar encontra-se em um patamar mais alto: seis professores
têm uma renda familiar entre 7 e 10 SM (entre R$ 2100,00 e R$
3000,00), um parece viver apenas com seus 3SM e três não
responderam.
c) seis gastam toda a renda com a família, três, que são solteiros, gastam
menos ou mais da metade e um não respondeu.
d) todos possuem casa própria, sete possuem carro e plano de saúde;
três possuem cota de clube e quatro contratam empregada doméstica.
e) todas as casas estão equipadas com eletrodomésticos básicos e
telefone.
139
f) assim como na realidade dos gestores, a máquina de lavar louça,
secar roupa e o freezer parecem não pertencer à cultura doméstica
destes sujeitos; também não pertence à realidade doméstica desses
atores o uso do tanquinho;
g) Cinco assinam tv a cabo e oito possuem internet.;
h) quatro professores tiveram mobililidade econômica intergeracional
ascendente; três, descendente; e três se mantiveram na mesma
posição econômica.
No que diz respeito ao volume de capital econômico, a análise destes
dados nos leva a inferir que 40% dos professores situam-se na classe de
rendimento médio e 60% na classe de rendimento médio alto.
QUADRO 3.12 A – CAPITAL CULTURAL - PROFESSORES
PROFISSÃO FORMAÇÃO
PROF/A Pai Mãe Irmãos Cônjuge Pai Mãe
1. CINARA Comerciante Do lar 3 irmãos
Professora
Representante
Comercial
Desenhista/Prof.
Médico EF
Inc
EM
2. ELBA Professor Autônoma 1 irmão
Técnico em
enfermagem/ Professor
de Educação Física
Não tem Pós
graduado
1º grau
3. FAFA Engenheiro
Mecânico
Auto didata
Do lar 9 irmãos
Sitiante (3)
Funcionária Pública (2)
Enfermeira (2)
Eng. Agrimensor
Professora
Não tem EM EM
4. SIMONE Falecido Supervisora
Pedagógica
Não tem irmãos Motorista EM Pós
graduada
5. VITÓRIA NR Do lar NR NR EM EF inc
6. CAZUZA Alfaiate Do lar 6 irmãos
Metalúrgico (2)
Administrador/
Professor
Professora
Técnico Eletrônico
Enfermeira
Advogada NR Analfa
beta
7. JERRY Administrador Professora Não tem irmãos Não tem Sup Sup
8. LULU Não respondeu Do lar Não respondeu EF inc EF inc
9. MANO Piloto de teste Enfermeira 2 irmãos
Operador de produção
Secretária
Não tem EM Sup
10. MC BILL Advogado Comerciante 1 irmão
Advogada
Pedagoga Sup EM
Legenda: NR: não respondeu
140
QUADRO 3.12 B – CAPITAL CULTURAL - PROFESSORES
PROF/A Ling
Estr.
Inform. Leitura Televisão Música Esportes
1. CINARA Sim Mais ou
menos
Ficção
Policiais
Revistas e jornais
Documentário
Noticiário
Novela
Clássica
MPB
Vôlei
2. ELBA NR Sim Biografias
Científicos
Revistas e jornais
Noticiário
Opinião
Variedades
Rock int.
MPB
Blue
Peteca
3. FAFA Sim Sim Ficção
Policiais
Quadrinhos
Documentário
Esportes
Humorístico
Clássica
MPB
Sertaneja
Xadrez
4. SIMONE Sim Sim Ficção
Policiais
Romance
Documentário
Noticiário
Opinião
MPB
Pop
Rock Nacional
Natação
5. VIRNA NR NR NR NR NR NR
6. CAZUZA Sim Não Auto- ajuda
Ficção
Revistas e jornais
Documentário
Noticiário
Clássica
MPB
Sertaneja
Automobi
lismo
7. JERRY Sim Sim Ficção
Revistas e jornais
Romance
Documentário
Noticiário
Variedades
MPB
Rock Nacional
Rock Int.
Corrida de
aventura
8. LULU NR NR NR NR NR NR
9. MANO Sim Sim Biografia
Científico
Ficção
Documentário
Esportes
Míni-série
Clássica
MPB
Pop
Vôlei
10. MC BILL Sim Sim Filosofia
Finanças empresariais
Economia
Documentário
Noticiário
Revistas e jornais
Clássica
Forró
Sertaneja
Atletismo
Legenda: NR: não respondeu
QUADRO 3.12 C – CAPITAL CULTURAL - PROFESSORES
ATIVIDADES
CINARA ELBA FAFA SIMONE VIRNA TOTAL
FREQÜÊNCIA
12 34512345123451234512345 1 2 3 4 5
N
Ver televisão
X
NNNNN X X X 310001
Vídeo/ DVD N N N N N X X N N N N N X 210002
Ouvir rádio
X
XX
NNNNN
X 400001
Ler livros
X
X X X X 311000
Ler jornais
X
X X X X 410000
Ir ao cinema X X X X X 131000
Ir ao teatro X X X X X 032000
Shows de músicaXXXX X004100
Ir a shoppings X X X X X 032000
Bares e restaur. X X X X X 203000
Praticar esportes
X
X X X X301010
Futebol, vôlei, etc X X X X X 112010
Namorar
X
X X X X310010
Dançar
X
X X X X 032010
Freqüentar a igreja
X
X X NNNNNX 310001
Descansar
X
X X X X 500000
Cuidar da casa
X
XXXX 50000 0
Cuidar da família
X
XXXX 500000
Visitar parentes/ a X X X X X 021200
Fazer compras X X X X X 140000
Tocar instr. music.
NN N NN
X X X X100121
Divertir comput. NNNNNX X X X200021
Legenda: 1- uma vez por semana; 2- uma vez por mês; 3- algumas vezes por ano; 4- uma vez há muito tempo; 5- nunca N-
Não respondeu
141
QUADRO 3.12 C (CONT) – CAPITAL CULTURAL - PROFESSORES
ATIVIDADES
CAZUZA JERRY LULU MANO MCBILL TOTAL
FREQÜÊNCIA
12 34512345123 451234512345 1 2 3 4 5
N
Ver televisãoNNNNNXXXX400001
Vídeo/ DVD N N N N N X
X
X X 121001
Ouvir rádioXXXXX500000
Ler livros X X
X
X X 320000
Ler jornaisXXXXX500000
Ir ao cinema X X X X X 0 3 1 1 0 0
Ir ao teatro X X X X X 0 2 2 0 1 0
Shows de música X X X X X 0 0 4 1 0 0
Ir a shoppings X X
X
X X 041000
Ir bares e restaur. X
X
X X 122000
Praticar esportes X X X X 2 1 1 0 1 0
Futebol, vôlei, etc X X X X 1 1 2 1 0 0
Namorar NN NNN XX NNNNN2 0 0 0 1 2
Dançar X X X X X 0 2 0 0 0 3
Freqüentar a igreja X X X X X 1 1 1 0 2 0
Descansar X X X X X 3 1 1 0 0 0
Cuidar da casa X
X
X X 140000
Cuidar da família X X X NNNNN4 0 0 0 0 1
Visitar parentes/ a X
X
X X 320000
Fazer compras X X
X
XX
221000
Tocar instr. Music. XXXXX
000050
Divertir
computador
X X X X X000050
Legenda: 1- uma vez por semana; 2- uma vez por mês; 3- algumas vezes por ano; 4- uma vez há muito tempo; 5- nunca N-
Não respondeu
Quanto ao capital cultural ( quadros 18A, 18B, 18C ), observa-se que:
a) entre os pais dos professores, o nível médio de formação é o ensino
médio, destacando três pais e duas mães com ensino superior e, nos
extremos, um pai com pós graduação e uma mãe analfabeta;
b) apenas um dos professores tem pais com ensino superior, portanto
observa-se uma ascensão socio cultural intergeracional:
c) o número de irmãos dos professores é bem menor que o número de
irmãos dos gestores, sendo a média de filhos de suas famílias 3,2. Da
mesma forma que os gestores, há uma redução do número de filhos
entre as gerações;
d) entre os 22 irmãos citados, 08 exercem profissões que exigem o curso
superior, ou seja, mais de um terço;
e) a situação ocupacional das mães reflete a realidade do investimento na
formação das filhas e do mercado de trabalho feminino há algumas
décadas atrás. Entre as mães dos dez professores, cinco têm como
ocupação profissional os afazeres domésticos;
142
f) em matéria de leitura observa-se que as preferências dos professores
recaem sobre ficção, revistas e jornais;
g) em matéria de televisão os gostos centram-se , em primeiro lugar, nos
documentários e noticiários;
h) o gosto musical é bastante variado, porém nota-se uma preferência
por MPB, seguida por música clássica;
i) não há convergência significativa de respostas no que diz respeito a
uma ou outra preferência esportiva. A convergência situa-se na
clássica divisão socialmente construída: esportes “femininos” (vôlei,
peteca, natação) , com exceção de uma das professoras que cita o
xadrez e esportes “masculinos” (automobilismo, corrida de aventura,
atletismo) também com uma exceção para a preferência pelo vôlei.
Merece ainda destaque o fato do futebol não ser mencionado por
nenhum dos sujeitos;
j) ouvir rádio, ler jornais e cuidar da família são as atividades mais
freqüentes entre os professores. seguidas de descansar, ver televisão
sair para shoppings e compras.
k) a leitura de livros é mais presente do que a ida ao cinema e ao teatro.
l) a ida a shows musicais, a jogos de futebol e vôlei e a bares e
restaurantes são práticas vivenciadas algumas vezes por ano.
m) diferentemente dos gestores, metade dos professores dedicam-se com
freqüência à prática de esportes. E seis freqüentam a igreja com
regularidade.
n) tocar instrumento musical parece não fazer parte da cultura dos
professores.
o) o uso freqüente do computador para entretenimento constitui prática de
apenas quatro professores e outros quatro dizem nunca usá-lo para
este fim.
Considerando o conjunto dos dados pode-se inferir que os professores têm
um volume de capital cultural maior do que o dos gestores, porém parece-me que
a força da socialização escolar na configuração da representação de boa escola
de ambos os segmentos de atores do processo educativo escolar – não nos
esquecendo que entre os oito gestores, apenas três não são professores – tem
maior peso que o habitus econômico e cultural.
143
Quanto às expectativas em relação à escola, as respostas dos professores
mantêm uma convergência com as respostas dos gestores, pois esperam que a
escola torne-se uma escola referência, ou mesmo se torne melhor do que já é (4).
Dois professores fazem referência à necessidade de investir no “aprimoramento”
de suas aulas e um fala da necessidade de se investir em cursos
profissionalizantes. Há também uma referência à necessidade de a SEE/MG
reconhecer as especificidades do Estadual Central.
Os quadros que se seguem apresentam dados sobre a visão que os
professores têm sobre a escola, levando-se em conta o que gostam e o que não
gostam na escola e avaliação dos serviços e equipamentos.
Se para os gestores a relação com os colegas é reconhecida como uma
das características da escola de que mais gostam, o mesmo parece não ser
realidade para os professores, pois seus depoimentos sobre o que gostam e não
gostam apresentam pistas de relações interpessoias conflitosas: gosto do
tamanho da escola porque dilui a fofoca, não gosto de falsidade, não gosto da
hostilidade de alguns funcionários, não gosto do descompromisso de alguns
colegas com a educação.
QUADRO 3.13 – VISÃO SOBRE A ESCOLA – PROFESSORES
PROF/A O QUE GOSTA NA ESCOLA O QUE NÃO GOSTA NA
ESCOLA
1. CINARA
Por ser grande a fofoca dilui-se Por ser grande, perde na
administração
2. ELBA
Estrutura física, localização,
professores, alunos, funcionários
Não há
3. FAFA
Espírito de equipe que está sendo
desenvolvido
Falsidade
4. SIMONE
História, alunos, colegas Desorganização, sobrecarga de
trabalho e má remuneração
5. VIRNA
Tudo Nada
6. CAZUZA
Espaço físico, infra-estrutura,
localização
Falta de compromisso com a
educação que nota em alguns
colegas
Heterogeneidade de alunos com
formação escolar deficiente, sem
base.
7. JERRY
Maneira como é conduzida a
direção
Não há
8. LULU
NN
9. MANO
Infra estrutura, crença de que a
educação pode melhorar e fazer a
diferença
Hostilidade de alguns
funcionários
10. MC BILL
Convivência com jovens Conversa excessiva na sala de
aula
N – não respondeu
144
TABELA 3.3
AVALIAÇÃO E VISÃO SOBRE A ESCOLA – PROFESSORES
QUALIDADE DOS
SERVIÇOS E
INSTALAÇÕES
(notas 0 a 10)
C
I
N
A
R
A
E
L
B
A
F
A
F
A
S
I
M
O
N
E
V
I
R
N
A
C
A
Z
U
Z
A
J
E
R
R
Y
L
U
L
U
M
A
N
O
M
C
B
I
L
L
T
O
T
A
L
M
É
D
I
A
BIBLIOTECA 06 09 08 02 06 07 08 06 07 06 65 6,5
SALAS DE AULA 08 09 10 07 09 08 08 07 09 10 85 8,5
QUADRAS DE
ESPORTE
10 10 10 08 08 09 08 08 10 10 91 9,1
PÁTIO E
CORREDORES
08 10 10 09 10 10 09 10 10 10 96 9,6
CANTINA, LANCH. 08 10 07 02 07 07 08 06 06 10 71 7,1
BANHEIROS 02 09 09 03 07 05 08 05 06 02 56 5,6
SALA DOS
PROFESSORES
04 09 09 03 08 07 08 06 08 10 72 7,2
ATENDIMENTO
SECRETARIA
08 10 10 N 10 10 10 08 10 10 86 9,6
ATENDIMENTO
BIBLIOTECA
10 10 10 08 08 10 10 07 08 10 91 9,1
AULAS N 10 09 09 09 N 10 08 09 10 74 9,3
REALIZAÇÃO AULAS
LABORATÓRIO
09 10 09 N 09 N 10 09 09 10 75 9,3
REALIZAÇÃO ATIV.
CULTURAIS
00 10 08 02 07 06 08 06 08 10 65 6,5
REALIZAÇÃO ATIV.
EXTRA ESCOLARES
00 09 07 02 07 N 06 05 08 10 54 6,0
COMPUTADOR E
INTERNET EM
AULAS
00 09 04 00 05 00 00 00 05 00 23 2,3
RECURSOS
DIDÁTICOS E
EQUIPAMENTOS
01 08 08 00 07 04 06 07 07 05 53 5,3
MÉDIA DA ESCOLA 7,4
LEGENDA: N: Não respondeu
Na comparação da avaliação da qualidade dos serviços e das instalações
da escola, as médias atribuídas pelos gestores guardam correspondência com as
médias atribuídas pelos professores nos quesitos: atendimento da secretaria;
pátio e corredores; salas de aula; cantina, lanchonete refeitório; uso do
computador e internet em aulas, ou seja no que se trata de infra estrutura e
utilização da tecnologia na sala de aula. Aproximam-se nos quesitos: atividades
145
extra escolares e banheiros. Portanto, em quase metade (7 em 15) dos itens
avaliados há uma convergência na visão de gestores e professores.
Contudo, merece uma ressalva a acentuada divergência observada quando
se trata de avaliar a qualidade das aulas e qualidade das aulas no laboratório. Na
visão dos diretores a qualidade dessas deixa muito a desejar, já os professores
situam a qualidade das aulas em um patamar bem mais elevado. Considerando
as médias atribuídas pelos professores aos quinze itens avaliados, as aulas e as
aulas no laboratório classificam-se em segundo lugar; na visão dos gestores as
aulas se classificam no nono lugar e as aulas de laboratório no oitavo.
Merece ainda ser sublinhado o fato da qualidade da biblioteca receber
médias baixas tanto na avaliação dos gestores (6,7), quanto na avaliação dos
professores ( 6,5), mas seu atendimento ser considerado muito bom (8,1 e 9,1), o
que talvez pode ser explicado por ter sido levado em consideração apenas as
funções desenvolvidas pelos funcionários.
Observa-se que a média atribuída à escola pelos gestores (7,7) aproxima-
se bastante da média atribuída pelos professores (7,4), o que nos habilita a inferir
que no conjunto há uma convergência entre as avaliações destes dois segmentos
de atores do processo educativo escolar.
TABELA 3. 4
CAPITAL SOCIAL – PROFESSORES
RELAÇÕES
ENTRE OS
ATORES DO
PROCESSO
EDUCATIVO
ESCOLAR
C
I
N
A
R
A
E
L
B
A
F
A
F
A
S
I
M
O
N
E
V
I
R
N
A
C
A
Z
U
Z
A
J
E
R
R
Y
L
U
L
U
M
A
N
O
M
C
B
I
L
L
T
O
T
A
L
M
É
D
I
A
PROFESSOR
ALUNO
05 10 09 09 08 07 10 08 08 08 82 8,2
DIREÇÃO
ALUNO
05 09 08 N 09 07 10 07 07 05 67 6,7
PROFESSOR
PROFESSOR
08 10 07 09 09 08 08 07 08 08 82 8,2
PROFESSOR
DIRETOR
05 10 07 05 10 08 10 07 08 08 83 8,3
PROFESSOR
VICE-DIRETOR
06 10 09 05 10 08 10 07 08 08 81 8,1
PROFESSOR
SUPERVISOR
06 10 09 05 09 07 10 07 08 07 78 7,8
ESCOLA-PAIS 04 09 08 02 05 04 10 04 07 05 54 5,4
MÉDIA 7,5
146
Se ao falarem sobre o que gostam e o que não gostam na escola, os
professores deixam claro as dificuldades nas relações interpessoais, na avaliação
de algumas relações construídas no espaço escolar há um apagamento destas
dificuldades, pois as médias revelam um nível satisfatório.
Se no olhar dos gestores a relação professor-aluno deixa a desejar, na
visão dos professores o problema centra-se na relação direção-aluno e confirma-
se o distanciamento da escola no que diz respeito aos pais, realidade presente
em várias entrevistas e nas avaliações dos atores do professo educativo escolar
Fica também evidente a dificuldade de relação entre a supervisão e
professores, fato evidenciado no depoimento da vice diretora, responsável pela
questão pedagógica, que defende que, no caso do ensino médio, onde as
disciplinas têm seus espaços bastante demarcados, é necessário uma
coordenação de área.
No conjunto as avaliações dos gestores e professores não apresentam
divergências.
5. A seleção dos alunos
A seleção dos alunos foi realizada, considerando-se a conjugação das
seguintes variáveis:
a-) turnos da Unidade I;
Devido à organização da escola, no turno da manhã, não há alunos de 1º
ano – funcionam 30 turmas, sendo 24 de alunos do 3º ano e 06 de 2º. São
adolescentes dentro da faixa etária escolar, com algumas pequenas exceções, já
que a reprovação significa transferência de turno e até mesmo de unidade de
acordo com as regras da própria escola.
A fala dos professores, gestores e dos próprios alunos me habilita a inferir
que neste turno há um clima escolar diferente dos outros, pois os alunos, por já
freqüentarem a escola pelo menos há um ano, já estão “mais disciplinados”, já
absorveram as regras escolares, têm mais autonomia.
147
No turno da tarde, não há alunos de 3º ano – funcionam 30 turmas, sendo
24 de alunos do 1º ano e 06 de 2º. Os alunos do 1º ano são adolescentes, recém
formados no ensino fundamental, sem história de reprovação e de abandono
escolar, já que diante da falta de vagas para esse nível de ensino, a SEE/MG
adota como prioridade a matrícula de alunos com essas características.
Segundo afirmam os alunos, funcionários, professores e gestores é um
turno que exige uma rigidez maior quanto à disciplina porque os alunos chegam à
escola encantados com espaço físico do qual querem usufruir a todo custo:
explorando-o, estabelecendo relações sociais, realizando eventos culturais e de
lazer, cabulando aulas.
Porque o problema aqui é que
eles querem colocar os alunos
no turno da manhã, mas nem
sempre isso é possível. O 2º
grau. (...) Porque são crianças,
são alunos jovens, mais novos
que não têm uma história de
repetência e também é colocado
que é um turno onde os alunos
melhores se concentram. Eles
acordam cedo, já vêm para a
escola e à tarde eles também
aproveitam com atividades de
estudo. Então, é um turno onde
os alunos aproveitam mais sua
vida escolar.
E
ntrevista Gestores
,
Nara
Eu acho que apesar de tudo, da
violência que tá aí, porque tem
muita violência, né, que aqui
dentro mesmo a gente ouve falar,
à noite, porque o aluno da noite é
mais perigoso, né. Aqui durante o
dia, a gente não ouve falar muito
de violência, que os alunos
comparecem mais escola, que
querem mesmo estudar,
entendeu que o professor não
reclama muito dele
. Só a noite
que tem muita reclamação eu
acho que aqui ainda é
melho
r
ainda, eu acho, não é po
r
trabalhar aqui.
Entrevista Gestores Rita
(...) e aqui quase que praticamente você só pega o 1
o
ano então
é aquele período de ajuste, dá uma ajustada nos meninos e vai, o ideal
daqui que eu acho é o 2
o
ano, 2
o
ano é muito bom, pela manhã você
pega os meninos já ajustados né, ele ainda não tá naquele drama do
vestibular e eles já estão com um nível melhor, porque né, porque os
piores ficam à tarde, os alunos da manhã são bem melhores, bem
responsáveis então 2
o
ano é muito bom, então é o que todo mundo
chega e pede primeiro, não tem sobrado muito não toda vez que eu
pedia, fiquei uns anos mas, agora tá difícil de conseguir, porque todo
mundo quer (...)
Entrevista Professores, Cinara
148
No turno noturno, os alunos são jovens e adultos com história de múltiplas
reprovações e de abandono escolar. Os professores, um número significativo sem
vínculo efetivo com o estado, se apresentam desmotivados e há alto índice
absenteísmo dos alunos.
Talvez essa realidade se explique pela baixa expectativa que os
professores têm dos alunos e a baixa expectativa que os alunos têm dos
professores e da escola, o que deduzo a partir da análise de alguns fragmentos
da entrevista da supervisora responsável por esse turno, há um ano, que afirma
que poucos professores, que trabalham nesse turno, “esperam que o aluno
consiga aprender” e explica:
Em relação aos alunos ela afirma que o projeto de estudos deles é
As salas de aula nos primeiros horários se encontravam bastante vazias
em função dos atrasos constantes dos alunos e nos últimos horários em função
dos alunos deixarem a escola logo após o intervalo.
b-) séries;
A partir de observações e conversas com professores, funcionários, alunos
e pais, durante a permanência na escola, antes da seleção dos atores do
processo educativo escolar, parti do pressuposto de que o tempo escolar no
Estadual Central poderia interferir na configuração do habitus escolar do aluno, o
que pude comprovar durante as entrevistas. Outro fator que determinou a
conjugação dessa variável foi a faixa etária dos alunos – trajetória escolar - que
É, porque aqui, querendo ou não, a gente prepara o aluno para fazer o
vestibular e os da noite são poucos os que vão fazer vestibular. Eles
querem mesmo é o certificado de conclusão do ensino médio
principalmente para arrumar um emprego, isso é que eu acho.
Entrevista
G
estores
,
G
al.
(...) trabalhar, principalmente os alunos da noite, alguns querem
seguir uma carreira universitária, mas a maioria eles querem um
trabalho, eles querem estudar um pouco mais para arrumar um
trabalho melhor.
Entrevista Gestores, Gal.
149
também pode ser responsável pela configuração de seus gostos, expectativas e
desejos.
c-) sexo;
O gênero já foi um constituinte muito forte na configuração da
representação de aluno construída pelos professores e até mesmo pelos alunos.
Assim as garotas eram, em sua maioria, consideradas como mais estudiosas,
mais dedicadas, mais educadas, mais obedientes - cadernos mais organizados,
letras mais bonitas, trabalhos mais apresentáveis, notas melhores, maior
tendência à submissão às regras, menor índice de faltas às aulas. Embora essa
representação esteja sendo desconstruída paulatinamente, uma vez que o gênero
é fundamentalmente uma construção social - e, portanto, histórica e plural, como
defende Louro (1992) e as mudanças econômicas, sociais e culturais aceleradas
têm influenciado na construção de novos conceitos de feminino e de masculino -
vemos hoje uma indignação dos professores diante das “atitudes” das alunas
(modo de falar, uso do vocabulário e vestuário, modo de se assentar, participação
em agressões físicas a colegas, dentro outros, ou seja, habitus) - parti do
pressuposto que na realidade mineira a formação das meninas ainda mantém um
certo caráter conservador o que certamente poderia configurar habitus diferente
no seio da família e na escola e influenciar, portanto, em suas representações
Sousa e Altmann (1999), baseadas em Scott explicam:
(...) o gênero, ao enfatizar o caráter fundamentalmente social das
divisões baseadas no sexo, possibilita perceber as
representações e apresentações das diferenças sexuais. Destaca,
ainda, que imbricadas às diferenças biológicas existentes entre
homens e mulheres estão outras social e culturalmente
construídas.
Então o primeiro ano é a luta, a depredação é tudo. O segundo ano,
50% desse que entrou já começa a perceber, mas de 50% tá muito
rebelde ainda No terceiro ano ele já começa a criar expectativa dele de
cursos, de fazer isso, aquilo ou de profissão, não sei o que. Vai
amadurecendo mesmo. Ele passou por aqui três anos, alguma coisa
tem que mudar mesmo. Então, aí ele começa a respeitar a escola e ele
está saindo.
Entrevista Gestores/ Martinha
150
Dessa maneira, a ênfase dada pelo conceito de gênero à
construção social das diferenças sexuais não se propõe a
desprezar as diferenças biológicas existentes entre homens e
mulheres, mas considera que, com base nestas, outras são
construídas.
Nesse sentido, Bourdieu (1995) lembra que o mundo social
constrói o corpo por meio de um trabalho permanente de
formação e imprime nele um programa de percepção, de
apreciação e de ação. Nesse processo, as diferenças socialmente
construídas acabam sendo consideradas naturais, inscritas no
biológico e legitimadoras de uma relação de dominação.
d-) desempenho escolar;
Considerando a conjugação dessas variáveis, foram selecionados alunas e
alunos que apresentam bom, médio e baixo desempenho. Como o bom
desempenho dos alunos é avaliado pelas notas, contei com a indicação dos
professores e com as fichas individuais de aproveitamento dos alunos.
A apresentação de alguns dos candidatos à entrevista ficou a cargo da
decisão do próprio aluno das turmas que os professores indicaram como
heterogêneas, levando em consideração o desempenho dos alunos. Fui até as
turmas, conversei com os alunos, expliquei os critérios utilizados para a seleção e
eles se apresentaram. Contudo, outros sujeitos – integrantes das duas chapas
que concorreram ao Grêmio do Colégio – foram abordados por mim, no pátio,
durante a semana de campanha e, após algumas conversas, aceitaram meu
convite para participar da pesquisa. Esses alunos foram abordados em função do
desempenho escolar, que eu já conhecia em função de informações dos
professores, dos gestores e dos próprios colegas e em função de seu
desempenho político, que não caracterizava outros alunos já entrevistados.
Na seleção dos alunos, há de se considerar que
(...) Para alguns, a escola continua um processo cultural no qual
se identificam, mesmo se reagem às suas exigências ou têm
problemas de aprendizagem, de adaptação, ou, ainda, quando a
escola desconsidera, nos procedimentos que adota, suas
necessidades ou as características de seu desenvolvimento. Com
esta colocação, não se pretende minimizar as dificuldades postas
pela escola a estes alunos, nem sua angústia e de seus pais.
Queremos, entretanto enfatizar que estas não implicam,
necessariamente em sua exclusão, mas na construção de
estratégias que lhes permitam dar continuidade a espaços,
naturalizados como de sua pertença. (Madeira, 1998, p.241)
151
1.6 Perfil dos alunos
Foram sujeitos da pesquisa 10 alunos e 07 alunas, sendo 09 alunos do 2º
ano, 05 alunos do 3º ano e 3 alunos do 1º ano, cujas idades variam entre 15 e 19
anos – 01 aluno tem quinze anos; 04 têm dezesseis anos; 05 dezessete anos; 06
dezoito anos e 01 dezenove anos. A média de idade dos alunos é, portanto, 17,1.
Três alunos são filhos únicos; treze alunos têm entre 01 e 02 irmãos e um
tem uma família de 5 irmãos, sendo quatro apenas por parte de pai.
Dezesseis nasceram na capital, um não informou a naturalidade. Todos
são solteiros, sem filhos, oito moram com os pais, quatro apenas com a mãe, três
com os avós e um com a tia.
QUADRO 3.14
– CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-DEMOGRÁFICA – ALUNOS
ALUNO
ALUNA
SÉRIE
TURNO
BAIRRO
RESIDENCIAL
SEXO
IDADE
NATURALIDADE ESTRUTURA
FAMILIAR*
1. ANA
2ª/N Planalto F/16 Belo Horizonte S/02/00
2. CIBELE
2ª/N Caiçara F/18 Belo Horizonte S/02/00
3. DANI
1º/T Jaraguá F/16 Belo Horizonte S/02/00
4. DIVA
3ª/M Padre Eustáquio F/18 Belo Horizonte S/02/00
5. LIA
2ª/N Jaqueline F/17 Belo Horizonte S/00/00
6. NINA
2ª/M Santa Efigênia F/16 Belo Horizonte S/01/00
7. ROSA
2º/T Concórdia F/17 Belo Horizonte S/01/00
8. BIAL
3ª/N Vera Cruz M/17 Belo Horizonte S/01/00
9. DINO
2ª/M Floresta M/17 Não informou S/01/00
10. FÁBIO
1º/N Floresta M/17 Belo Horizonte S/05/00
11. GIL
2ª/N Juliana M/19 Belo Horizonte S/00/00
12. GINO
3ª/M Palmital M/16 Belo Horizonte S/00/00
13. LÉO
3ª/M Floresta M/18 Belo Horizonte S/02/00
14. LINO
2ª/M Padre Eustáquio M/18 Belo Horizonte S/01/00
15. LIMA
1º/T Renascença M/15 Belo Horizonte S/01/00
16. RUI
3ª/N Santo Antônio M/18 Belo Horizonte S/02/00
17. TUCA
2ª/N Santa Cruz M/18 Belo Horizonte S/02/00
*Estado Civil, número de irmãos e filhos
QUADRO 3.15 – CARREIRA ESCOLAR E PROFISSIONAL – ALUNOS
ALUNO
ALUNA
SÉRIE
TURNO
TEMPO
ESC.
1ª à 4ª 5ª à 8ª NÚMERO
DE
REPROV.
TEMPO
DEDICAÇÃO
AOS ESTUDOS
TRABALHO
1. ANA
2ª/N 01 ano Privada Privada
Pública
N 02 horas Trabalhando
Recepcionista
2. CIBELE
2º/N 02
anos
Privada Pública N O2 horas Não está
Trabalhando
3. DANI
1ºT 01
ano
Pública Pública N N Nunca
trabalhou
4. DIVA
3º/M 03
anos
Privada Pública N 02 horas Não está
Trabalhando
152
5. LIA
2º/ N 1 ano Pública Privada 01 03 horas Não está
Trabalhando
6. NINA
2ª/M 02
anos
Pública Pública 00 02 horas Nunca
Trabalhou
7. ROSA
2º/T 02
anos
Pública Pública 00 Não Informou Não está
trabalhando
8. BIAL
3º/N 02
anos
Pública Pública 00 01 hora Trabalhando
Digitador
9. DINO
2ª/M 03
anos
Pública Pública 01 02 horas Não está
Trabalhando
10. FÁBIO
1º/N 02
anos
Pública Pública 01 Não informou Não está
Trabalhando
11. GIL
2º N 03
anos
Pública Pública 02 05 horas Não está
Trabalhando
12. GINO
3ª/M 02
anos
Pública Pública 00 01 hora Trabalhando
Office boy
13. LEO
3ª/M 01 ano Pública Privada 00 02 horas Nunca
Trabalhou
14. LIMA
1º/T 06
meses
Privada Privada 00 06 horas Nunca
Trabalhou
15. LINO
2ª/M anos Pública Pública 01 02 horas Nunca
Trabalhou
16. RUI
3ª/N 02
anos
Pública
Privada
Pública
Privada
02 01 hora Nunca
Trabalhou
17. TUCA
2º/N 02
anos
Pública Pública 00 05 horas Nunca
Trabalhou
N: Não Respondeu
Foi detectado que entre os dezessete aluno/as entrevistados 03 estão
trabalhando (office-boy, recepcionista, digitador), 07 nunca trabalharam e 07 não
estão trabalhando no momento.
Eles freqüentaram o ensino fundamental, geralmente, em duas escolas: 1ª
à 4ª em uma e 5ª à 8º em outra, o que pode se explicar pelas características da
organização do sistema educacional: escolas que só oferecem as séries iniciais,
escolas que só oferecem as séries finais e o ensino médio, embora essa
realidade venha se modificando em Belo Horizonte.
Doze alunos fizeram os oito anos de ensino fundamental em escolas
públicas, quatro alunos fizeram o ensino fundamental em escolas privadas e um
fez apenas as séries iniciais.
Sete alunos nunca foram reprovados; quatro, tiveram uma reprovação;
dois, duas reprovações e quatro não informaram.
O desempenho do aluno foi julgado pelos professores que fizeram suas
indicações e foi comparado com dados colhidos pela pesquisadora no mapa de
aproveitamento que consta na ficha individual do aluno. Segundo esses dados,
153
apenas três alunos atingiram média superior a 70, no conjunto das disciplinas, o
que habilita a deduzir que as indicações do desempenho dos alunos pelo
professor está muito ligada ao desempenho em sua disciplina.
Entre os alunos entrevistados, dois desistiram após o terceiro bimestre e
uma foi aprovada com dependência em uma das disciplinas, os outros formam
aprovados aoo final do ano.
QUADRO 3.16 A – CAPITAL ECONÔMICO – ALUNOS
ALUNO
ALUNA
RENDA
(SM)
DOMICÍLIO POSSE
CARRO
PLANO
SAÚDE
COTA DE
CLUBE
EMPREGADA
1. ANA
Mais de 10 Próprio Sim Não Não Não
2. CIBELE
Até 7 Próprio Não Não Não Não
3. DANI
Até 7 Próprio Não Não Não Não
4. DIVA
Até 4 Próprio Sim Não Não Não
5. LIA
Até 2 Próprio Não Não Não Não
6. NINA
Até 3 Alugado Não Não Não Não
7. ROSA
Até 3 Próprio Sim Não Não Não
8. BIAL
Até 5 Próprio Sim Não Não Não
9. DINO
Até 1 Alugado Não Não Não Não
10. FÁBIO
Até 5 Alugado Não Não Não Não
11. GIL
Mais de 10 Próprio Sim Não Não Não
12. GINO
Até 1 Próprio Não Não Não Não
13. LEO
Mais de 10 Próprio Sim Não Não Não
14. LIMA
Até 7 Próprio Sim Não Não Não
15. LINO
Até 5 Alugado Sim Não Não Não
16. RUI
Até 7 Próprio Sim Não Não Não
17. TUCA
Até 2 Alugado Não Não Não Não
QUADRO 3.16 B– CAPITAL ECONÔMICO
BENS MÓVEIS
PERMANENTES
A
N
A
C
I
B
E
L
E
D
A
N
I
D
I
V
A
L
I
A
N
I
N
A
R
O
S
A
B
I
A
L
D
I
N
O
F
Á
B
I
O
G
I
L
G
I
N
O
L
E
O
L
I
M
A
L
I
N
O
R
U
I
T
U
C
A
T
O
T
A
L
GELADEIRA XXXXXXXXXXXXXXXXX
17
TANQUINHO X X X X X
5
MAQ. LAVAR LOUÇA
0
TV XXXXXXXXXXXXXXXXX
17
MÁQ. FOTOGRÁFICA XXXX XX XX XXXXX
13
154
TV A CABO X
X
2
FREEEZER X X X X X
5
MAQ. LAVAR ROUPA X X X X X X X X X X X X X X
14
FORNO MICRONDAS X X X X X X
X
7
RÁDIO XXXXXXXXXXXXXXXXX
17
COMPUTADOR XX XXX X XXXX
X
10
INTERNET X X X X X X
5
FOGÃO XXXXXXXXXXXXXXXXX
17
MAQ. SECAR ROUPA X X
02
SOM XXXXXXX XX XXXXXX
15
VIDEO/DVD XXXX X XXX XXXXX
13
TELEFONE XXX X XXXXXXXX
12
VIDEO GAME XXXXXXX
7
Há sete alunos cuja renda familiar encontra-se na faixa entre 7 a mais de
10 salários mínimos, seis entre 3 e 5 salários e quatro que sobrevivem com
apenas um ou dois salários.
A renda média familiar é de 05 SM para uma média de 1,5 filhos. No caso
de Fábio e Rui , são filhos únicos e os outros irmãos (5 e 2) são filhos de uma
segunda união do pai, não vivendo na mesma casa.
Quanto à posse de imóveis, doze moram em domicílio próprio e cinco
pagam aluguel. Em relação a outros bens, há carro na casa de nove alunos,
nenhum deles possui plano de saúde, cota de clube ou empregada doméstica.
De acordo com os dados coletados, podemos ainda afirmar que 100% das
residências estão equipadas com o básico (fogão, geladeira, televisão, rádio);
entre 70% e 88% das residências possuem som, vídeo/DVD, telefone e máquina
de lavar; 59% das residências possuem computador, 29,5% têm acesso à
internet e 11,7% à televisão paga.
A posse de computador e acesso à internet são dados importantes na
análise do capital econômico e cultural dos alunos, haja vista que a população
brasileira ainda se encontra excluída desses bens. Segundo pesquisa do Comitê
Gestor da Internet no Brasil em parceria com o IBGE, realizada em 2005, apenas
16,6% da população brasileira possui computador em casa e 68% nunca teve
acesso à internet.
Assim como na realidade dos gestores e professores, a máquina de secar
roupa e de lavar louça não fazem parte da realidade doméstica dos alunos.
Os dados coletados nos permitem entender as representações dos
professores sobre a situação econômica favorável dos alunos do Colégio
155
Estadual, pois a renda familiar desses atores do processo educativo escolar situa-
se na faixa de 5SM para famílias com uma média de 1,3 filhos.
Apenas quatro alunos residem em bairros cuja população majoritária
possui reduzido volume de capital econômico, sendo que os outros residem em
bairros habitados pelas classes de rendimento médio.
Há de se pensar que a representação de alunos com condições
econômicas mais favoráveis, que grassa entre os professores, gestores e alunos
do Colégio Estadual, advém também da comparação com o alunado de outras
escolas que, dependendo da região, encontra-se em condições miseráveis de
existência.
QUADRO 3.17 A - CAPITAL CULTURAL – ALUNOS
PROFISSÃO PAIS FORMAÇÃO PAIS
ALUNO
ALUNA
Pai Mãe Pai Mãe
1. ANA
Contador Proprietária e motorista
de transporte escolar
Ensino Médio
Completo
Ensino Médio
Completo
2. CIBELE
Não informou Não informou Não informou Não informou
3. DANI
Não informou Comerciante Não informou Ensino médio
completo
4. DIVA
Advogado Cozinheira Superior
Completo
Ensino Médio
Completo
5. LIA
Não informou Doméstica Não informou 5ª à 8ª série
incompleta
6. NATI
Repres.
Comercial
Auxiliar de serviços
gerais
1ª à 4ª
Completa
Ensino Médio
Completo
7. ROSA
Protético Contadora Ensino Médio
Incompleto
Ensino Superior
Completo
8. BIAL
Motorista de táxi Auxiliar de consultório Ensino Médio
Incompleto
Ensino Médio
Completo
9. DINO
Falecido Do Lar Ensino Médio
Completo
1ª à 4ª
Completa
10. FÁBIO
Não informou Enfermeira Não informou Ensino Médio
Completo
11. GIL
Motorista de táxi Do lar Ensino Médio
Completo
Ensino Médio
Completo
12. GINO
Motorista Balconista Ensino Médio
Incompleto
1ª à 4ª
Completa
13. LEO
Dentista Professora Superior
Completo
Superior
Completo
14. LIMA
Supervisor Auxiliar de enfermagem Ensino Médio
Completo
Ensino Médio
Completo
15. LINO
Encarregado de
setor
Digitadora Ensino Médio
Completo
Ensino Médio
Completo
16. RUI
Jornalista Professora(Falecida) Superior
Completo
Ensino Médio
Completo
17. TUCA
Não informou Funcionária Pública Não informou Ensino Superior
Incompleto
156
QUADRO 3.17 B – CAPITAL CULTURAL – ALUNOS
CONHECIMENTOS INSERÇÃO SOCIALALUNO
ALUNA
Cursos Língua
Estrangeira
Informá
tica
Participação
Social
Atividades
1. ANA
Não Não Sim Grupo musical
Grupo religioso
Grupo esportivo
Não informou
2. CIBELE
Não
Não Sim Nenhum Ficar no
computador
Arrumar Casa
3. DANI
Não
Não Sim Não informou Ficar em casa
4. DIVA
Sim Não Sim Grupo religioso
Grupo esportivo
Trabalho voluntário
Estudar
5. LIA
Sim Sim Sim Trabalho voluntário Ficar em casa
6. NATI
Sim Não Sim Grupo religioso
Grêmio Estudantil
Trabalho voluntário
Sair, realizar
eventos
7. ROSA
Sim
Não Não Nenhum Não informou
8. BIAL
Sim
Não Sim Nenhuma Sair, andar de
skate, ouvir
música
9. DINO
Sim Não Sim Grupo musical
Grupo religioso
Tocar violão,
guitarra, ajudar
a mãe, sair
10. FÁBIO
Não
Não Sim Grêmio Estudantil Sair
11. GIL
Sim Não Sim Grêmio Estudantil Várias
12. GINO
Sim Não Sim Grupo musical Escutar música,
ler livros
filosóficos
13. LEO
Sim Sim Sim Grupo religioso Escutar música,
sair
14. LIMA
Sim
Sim Sim Nenhum Natação
15. LINO
Sim
Não Sim Associação
Grupo religioso
Grupo esportivo
Jogar bola,
Lutar Karatê,
Participar do
grupo de jovens
16. RUI
Não
Não Não Grêmio Estudantil Sair
17. TUCA
Sim
Sim Sim Trabalho voluntário Ficar em casa
157
QUADRO 3.17 C – CAPITAL CULTURAL – ALUNOS
PREFERÊNCIAS
ALUNO/A Leitura Televisão Música Esportes
1. ANA
Auto ajuda
Biografia
Revistas e jornais
Documentários
Novelas
Variedades
MPB
Setaneja
Hipismo
2. CIBELE
Não informou Não informou Não informou Não informou
3. DANI
Auto ajuda
Quadrinhos
Revistas e jornais
Novelas
Variedades
Humorísticos
Axé
Forró
Rock
Não informou
4. DIVA
Ficção
Quadrinhos
Romances
Míni- séries
Novelas
Humorísticos
Axé
Forró
Rock
Vôlei
5. LIA
Biografias
Quadrinhos
Romances
Novelas
Noticiários
Humorísticos
Punk
Rock
Hard Rock
Vôlei
6. NATI
Auto ajuda
Quadrinhos
Revistas e jornais
Novelas
Variedades
Humorísticos
Reggae
Rock
Handball
7. ROSA
Ficção
Quadrinhos
Romances
Míni- séries
Novelas
Noticiários
Não informou Não informou
8. BIAL
Nenhuma Não informou Punk
Rock
Skate
9. DINO
Ficção
Quadrinhos
Revistas e jornais
Esportes
Variedades
Humorísticos
Axé
Rock
Vôlei
10. FÁBIO
Policiais
Quadrinhos
Revistas e jornais
Novelas
Humorísticos
Noticiários
Rock Internacional
Rock nacional
Não informou
11. GIL
Ficção
Policiais
Revistas e jornais
Míni-sériese
Novelas
Humorísticos
Axé
MPB
Reggae
Vôlei
12. GINO
Auto ajuda
Romance
Revistas e jornais
Opinião
Novelas
Noticiários
Jazz
MPB
Pagode
Samba
Futebol
13. LEO
Ficção
Quadrinhos
Revistas e jornais
Opinião
Documentário
Noticiários
Rock
MPB
Não informou
14. LIMA
Policiais
Quadrinhos
Revistas e jornais
Novelas
Humorísticos
Noticiários
Clássica
Rock Internacional
Rock nacional
Basquete
15. LINO
Policiais
Quadrinhos
Revistas e jornais
Esportes
Novelas
Humorísticos
Axé
Pagode
Reggae
Samba
Basquete
16. RUI
Policial
Revistas e jornais
Opinião
Documentário
Noticiários
Rock
MPB
Não informou
17. TUCA
Ficção
Quadrinhos
Terror
Documentário
Míni-séries
Noticiários
Clássica
MPB
Rock Internacional
Basquete
158
QUADRO 3.17 D – CAPITAL CULTURAL - ALUNOS
ATIVIDADES
ANA CIBELE DANI DIVA LIA NATI
TOTAL
FREQÜÊNCIA 12 345123451234512345 123451234512
3
4
5
Ver televisão
xxxxXx 600
00
Vídeo/ DVD
x x x x NNNNN x 221
00
Ouvir rádio
xxxxXx 600
00
Ler livros
XXx xXx122
01
Ler jornais
Xxx
NN
N
NN
xx 112
00
Ir ao cinema
XxxxXx212
10
Ir ao teatro
x x X x NNNNN x 011
30
Shows de música
xxXxxx011
40
Ir a shoppings
X xxx
NN
N
NN
x221
00
Bares e restaur.
x xxx x x221
01
Praticar esportes
xxxxxx122
01
Futebol, vôlei, etc
xxxx
NN
N
NN
x003
11
Namorar
x xxxX x401
01
Dançar
xxxxxx411
00
Freqüentar a igreja
xxxxXx 420
00
Descansar
Xx x xX x 411
00
Cuidar da casa
xxxxXx 600
00
Cuidar da família
xxxxXx 600
00
Visitar parentes/ a
xxx xx x311
10
Fazer compras
Xxxxx x131
01
Tocar instr. Music.
xxxxxx001
14
Divertir comput.
xxxxXx 600
00
Legenda: 1- uma vez por semana; 2- uma vez por mês; 3- algumas vezes por ano; 4- uma vez há muito tempo; 5- nunca N-
Não respondeu
QUADRO 3.17 D (CONT.)– CAPITAL CULTURAL - ALUNOS
ROSA BIAL DINO FÁBIO GIL GINO
TOTAL
FREQÜÊNCIA
12345123451234512345 123451234512345
Ver televisão
X XXXXX 50100
Vídeo/ DVD
X XNNNNNX X X 30100
Ouvir rádio
XXXXXX 60000
Ler livros
XXXXX12210
Ler jornais
X X X X X X 32001
Ir ao cinema
X X X NNNNN NNNNN X 12010
Ir ao teatro
XXXXXX00141
Shows de música
X X X X X X 01230
Ir a shoppings
X XXXX X32100
Ir bares e restaur.
X XXXX X22001
Praticar esportes
XXXXXX33000
Futebol, vôlei, etc
X X X X X X 31110
Namorar
X X X X X X 40101
Dançar
X X X X X X 31101
Freqüentar a igreja
X X X X X X 22110
Descansar
XXX XXX 42000
Cuidar da casa
X X X X X X 31011
Cuidar da família
XXX XXX 41100
Visitar parentes/ a
XXX XX X41010
Fazer compras
X X X X X X 13101
Tocar instr. Mus.
X X X X XX 20012
Divertir comp.
XXXXX X40002
Legenda: 1- uma vez por semana; 2- uma vez por mês; 3- algumas vezes por ano; 4- uma vez há muito tempo; 5- nunca N-
Não respondeu
159
QUADRO 3.17 D (CONT) – CAPITAL CULTURAL - ALUNOS
ATIVIDADES
LEO LIMA LINO RUI TUCA
TOTAL
FREQÜÊNCIA
123451234512345123451234512345
Ver televisão
XXXXX50000
Vídeo/ DVD
X X X X X 50000
Ouvir rádio
XXXXX50000
Ler livros
X X X X X 04100
Ler jornais
XXXX X31100
Ir ao cinema
XXX X 12110
Ir ao teatro
XXX X X 00212
Shows de música
XXX X X 00320
Ir a shoppings
XXX X XX 21200
Ir bares e restaur.
XXX X X 22100
Praticar esportes
XXX X X 11300
Futebol, vôlei, etc
XXX X X 10310
Namorar
XXX X X 20201
Dançar
XXX X X 30101
Freqüentar a igreja
XXX X X 30020
Descansar
XXX X X 5000
Cuidar da casa
XXX XX 22100
Cuidar da família
XXX X 30110
Visitar parentes/ a
XXX X X 21200
Fazer compras
X X X X 13100
Tocar instr. Musical
XXX X X 00023
Divertir computador
XXX X X 50000
Legenda: 1- uma vez por semana; 2- uma vez por mês; 3- algumas vezes por ano; 4- uma vez há muito tempo; 5- nunca N-
Não respondeu
Três pais e três mães têm o ensino superior, sendo uma delas não
completou o curso de graduação; cinco pais e dez mães têm ensino médio
completo; três pais têm ensino médio incompleto; um pai e duas mães ensino
fundamental incompleto. Portanto, nove alunos têm pai e mãe com pelo menos o
ensino médio (onze anos de estudos) e cinco têm pelo menos um dos pais com
onze anos de estudos, o que revela uma situação favorável desses alunos, uma
vez que, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
apenas 49,6% dos brasileiros tem 11 anos ou mais de estudos (23,1% homens e
26,5% mulheres).
É relevante a participação dos alunos em grupos religiosos, grêmio
estudantil, trabalho voluntário, assim como é a freqüência semanal à igreja. Nove,
entre os dezessete alunos, frequentam a igreja semanlamente.
Entre os dezessete alunos, quatro estudaram língua estrangeira fora do
currículo escolar e quinze sabem usar o computador. Embora, como já
mencionado, apenas 59% tenham computador em casa, 88,2% (15 alunos)
divertem-se semanalmente no computador.
As leituras preferidas são os jornais, revistas (11 alunos) e quadrinhos (11
alunos, seguidas dos livros de ficção (6 alunos), todavia esses não são adquiridos
160
com freqüência. Os livros não são lidos com freqüência por grande parte dos
alunos, apenas oito (47%) afirmam ler livros mensalmente. Entretanto, essa
porcentagem já é significativa, tendo em vista que segundo pesquisa do Ministério
da Cultura 61% dos brasileiros adultos alfabetizados têm muito pouco ou nenhum
contato com os livros.
47
No que diz respeito à televisão, assistida com freqüência pelos alunos,
suas preferências situam-se nas novelas, programas humorísticos e noticiários.
Assistir à televisão e divertir no computador são suas atividades mais freqüentes,
seguidas de ouvir rádio, cuidar da casa, descansar, cuidar da família, dançar, ir à
igreja e namorar.
Doze alunos, ou 70,6%, freqüentam shoppings pelo menos uma vez ao
mês; cerca de 53% (nove alunos) vão pelo menos uma vez por mês ao cinema,
contudo a freqüência ao teatro e aos shows musicais não faz parte da vida
cultural dos alunos. Três nunca foram ao teatro e oito foram uma única vez há
muito tempo atrás; todos já foram a um show musical, entretanto, nove foram uma
vez apenas há muito tempo atrás.
O conceito de capital cultural de Bourdieu não deve ser utilizado sem um
certo cuidado de se pensar na realidade brasileira e na realidade de um mundo
globalizado e caracterizado por mudanças profundas e aceleradas, onde se
multiplicam espaços diversos e diversificados, além dos cinemas, teatros,
museus, ou outros tipos de casas de cultura que podem possibilitar aos sujeitos a
aquisição de conhecimentos nas mais diversas áreas. O acesso à televisão, ao
rádio e ao computador pode significar possibilidades de acúmulo de capital
cultura. Nos parques, praças, shoppings, escolas, igrejas há uma vida cultural que
também não pode ser desconsiderada. A influência da freqüência ou da pertença
a esses espaços na constituição do capital cultural dos alunos não pode ser
considerada ficção, nem posta em dúvida. Portanto, a denúncia e a dúvida
expressas por Bourdieu (1999a, p61) acerca da eficácia da ação cultural direta -
desde os Centros Culturais até os empreendimentos de educação popular -
merecem uma análise que se situe na realidade socio-econômico-cultural do
Brasil, onde ao contrário do que defende Bourdieu 'há atalhos no caminho que
leva às obras da cultura" (p.62).
47
Preço dos livros, falta de bibliotecas e analfabetismo levam brasileiro a ler pouco. In: Brasil Agora.
Disponível in:http://www.radiobras.gov.br/materia.phtml?materia=187985&q=1&editoria
161
Entre os aspectos que os alunos apontam como aqueles dos quais mais
gostam na escola, destacam o espaço/estrutura física da escola e a relação com
os colegas. Aspectos como a qualidade do ensino e do desempenho do professor
são citados apenas por três alunos. Uma das alunas aponta a escola como um
espaço que lhe proporciona sair de casa sem que os pais achem ruim e outro é
categórico ao afirmar que gosta de quase tudo na escola porque ama a escola.
Entre aquilo de não gostam, enfatizam os conflitos nas relações
estabelecidas no âmbito escolar devido a diferença de habitus cultural e escolar
tanto dos colegas, quanto dos professores. Destacam como mais conflituosa a
relação com a direção da escola que acusam de autoritária, burocrática, sem
diálogo. Citam ainda a falta de atividades culturais e esportivas e de recursos,
como o acesso à internet.
No tabela que apresenta a avaliação e visão dos alunos sobre a escola
observa-se que a média atribuída à escola pelos alunos (5,2) é bem mais baixa
do que as médias atribuídas pelos gestores (7,8) e professores (7,4).
Há uma convergência entre a avaliação dos gestores, professores e alunos
no que diz respeito ao uso dos computadores e internet nas aulas e à participação
dos alunos nas tomadas de decisões.
A tabela seguinte – Capital Social – apresenta uma leitura sobre as
relações estabelecidas no interior da escola e pode-se observar que os alunos
confirmam o distanciamento dos pais em relação à escola e mais uma vez
demonstram a dificuldade de relacionamento com a direção.
De acordo com a avaliação dos alunos, as aulas no laboratório se
classificam em segundo lugar e as aulas em quarto, embora a relação dos alunos
com os professores não tenha merecido uma avaliação muito positiva – média 6,0
– bem próxima da média atribuída pelos gestores (6,8).
162
TABELA 3.5
AVALIAÇÃO E VISÃO SOBRE A ESCOLA – ALUNOS
QUALIDADE DOS SERVIÇOS E INSTALAÇÕES
(notas 0 a 10)
A
N
A
C
I
B
E
L
E
D
A
N
I
D
I
V
A
L
I
A
N
I
N
A
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O
S
A
B
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F
Á
B
I
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I
L
G
I
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L
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A
L
I
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O
R
U
I
T
U
C
A
T
O
T
A
L
M
É
D
I
A
BIBLIOTECA 00 06 07 08 08 05 02 03 09 06 10 09 07 07 07 05 07 106 6,2
SALAS DE AULA 05 07 07 07 07 06 10 05 10 05 07 10 06 06 06 05 04 113 6,6
QUADRAS DE ESPORTE 04 08 08 10 10 09 08 09 10 06 08 10 05 08 08 05 07 133 7,8
PÁTIO E CORREDORES 08 09 08 10 09 09 08 06 10 07 05 10 07 07 08 07 09 137 8,1
CANTINA, LANCHONETE, REFEITÓRIO 04 07 08 09 09 03 05 10 02 06 10 05 07 10 05 03 05 108 6,4
BANHEIROS 06 06 05 07 06 04 04 00 04 00 00 05 02 00 03 00 00 52 3,1
ATENDIMENTO SECRETARIA 05 08 07 05 05 06 05 00 01 06 07 10 08 00 08 06 01 88 5,2
ATENDIMENTO BIBLIOTECA 03 06 07 10 08 07 05 01 07 06 07 09 07 10 06 05 02 106 6,2
AULAS 09 07 07 10 07 08 07 04 08 05 04 10 05 08 08 06 05 118 6,9
REALIZAÇÃO AULAS LABORATÓRIO 10 08 08 10 07 09 03 07 10 06 08 10 08 10 10 05 05 134 7,9
REALIZAÇÃO ATIV. CULTURAIS 02 06 06 07 06 02 00 02 00 05 06 08 05 00 10 03 03 72 4,2
REALIZAÇÃO
ATIV. EXTRA ESCOLARES
00 04 05 04 03 00 00 06 00 00 05 09 02 02 10 03 01 54 3,2
COMPUTADOR E INTERNET EM AULAS 00 04 02 02 01 00 00 00 00 00 03 04 00 00 00 00 00 16 0,9
RECURSOS DIDÁTICOS E EQUIPAMENTOS 06 07 06 08 08 00 01 01 05 05 04 09 06 03 10 03 00 78 4,6
163
BELA 3.6
CAPITAL SOCIAL ALUNOS
RELAÇÕES
ENTRE OS
ATORES DO
PROCESSO
EDUCATIVO
ESCOLAR
(NOTAS 0 A 10)
A
N
A
C
I
B
E
L
E
D
A
N
I
D
I
V
A
L
I
A
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N
O
R
U
I
T
U
C
A
T
O
T
A
L
M
É
D
I
A
PROFESSOR
ALUNO
08 06 06 09 03 08 06 01 08 05 01 10 07 09 05 04 02 102 6,0
DIREÇÃO
ALUNO
01 05 04 08 00 00 07 01 04 01 01 08 06 00 07 02 00 55 3,2
ESCOLA-PAIS 02 05 00 09 00 00 10 01 03 00 00 07 00 00 05 00 00 42 2,5
N: Não respondeu
164
CAPÍTULO IV
O QUE DIZEM OS ATORES DO PROCESSO EDUCATIVO
ESCOLAR SOBRE AS BOAS ESCOLAS
?
(...) Se, no entanto, meu discurso é
decepcionante, e às vezes até deprimente,
não é porque eu tenha qualquer prazer em
desencorajar, ao contrário. É que o
conhecimento das realidades leva ao
realismo (...) Temos que nos situar
constantemente entre dois papéis: de um
lado, o de desmancha prazeres e de outro,
o de cúmplice da utopia. (Bourdieu, 1983d,
p75)
O objetivo deste capítulo é apresentar, dentro de um leque amplo e complexo
de dados e de leituras possíveis, algumas análises que, a princípio, elegi relevantes
no processo de apreensão da configuração da representação dos atores do
processo educativo escolar sobre “boa escola”.
As análises orientaram-se pelo princípio de que para se entender a
representação de boa escola desses atores é necessário compreender a relação de
interdependência que se estabelece entre: os vários fatores que configuram a sua
socialização familiar; as dimensões materiais e simbólicas da sua relação com a
escola, e as dimensões materiais e simbólicas da sua relação com a carreira, no
caso específico, dos professores e gestores, ou seja, sua socialização profissional.
Este procedimento metodológico visa a estabelecer um denominador comum
na análise dos dados, evitando-se, assim, o risco de me perder num emaranhado
infinito de informações pulverizadas ou me perder em estudos monográficos,
idiossincráticos sem conseguir estabelecer relações entre os dados e sujeitos
analisados, riscos para os quais Viana (2003, p. 48) chama a atenção.
Tendo presente que dirigir, lecionar, estudar no Colégio Estadual Central
significava e/ou significa "ter a assinatura", “a grife” de ter pertencido e/ou pertencer
à melhor escola pública de ensino médio de Belo Horizonte, ou seja, possuir a
competência, a eficácia quase mágica da assinatura da melhor escola, parti da
suposição que os diferentes grupos de atores do processo educativo escolar
165
constróem um capital (representação) comum a respeito da "boa" escola e que este
capital comum pode ser reconhecido socialmente como “grife”, “valor”, enfim “uma
verdade “incorporada e percebida como a própria realidade. Que “valor”, que “grife”,
que “verdade” é vista como realidade e está incorporada na representação de boa
escola?
Observando também que o que "faz as reputações" são as lutas dentro do
campo - entendendo campo como sistema das relações objetivas entre os atores ou
instituições – considerei, ainda, que, no caso do campo educacional, são lutas pela
imposição de um “estilo”, de uma “grife”, de um “valor” de escola, ou seja, a luta pela
constituição de um exemplar único de escola que, ao contrário do campo de
produção das artes, todos devem copiar, como exemplar, e que constitui as
representações de “boa” escola..
Assim como, ao discutir sobre as obras de arte - bens culturais – Bourdieu
(2004d) busca entender "quem será o verdadeiro produtor do valor da obra: o pintor
ou o marchand; o escritor ou o editor ou diretor de teatro (p.22), buscou-se também
entender quem ou o que produz a representação do valor da escola (boa ou ruim):
os gestores, os professores, os alunos, a legislação, as produções acadêmicas, as
lutas sindicais, a mídia, ou todos juntos?
Para tanto, num primeiro momento o percurso da investigação centrou-se na
apreensão das diversas representações sobre “boa” escola. No segundo, na
compreensão dos vários aspectos da "boa" escola apresentados. E a partir daí,
tentou-se, entender a perspectiva a partir da qual os atores definem a "boa" escola,
ou seja, em que bases ela se constrói, que dimensões a formam e informam?. Ou
que conteúdos veiculam essas representações?
Esse exercício buscou entender um pouco o que pretendem trabalhadores em
educação e alunos quando desencadeiam lutas por uma escola pública gratuita de
qualidade. E como suas pretensões se integram se coadunam ou se afastam das
pretensões do poder público e das prescrições da “boa escola”, já apresentadas em
estudos que se dedicam à questão.
Partindo do conjunto de dados coletados numa população de trinta e cinco
atores do processo educativo escolar, apresento uma descrição e análise de suas
representações sobre “boa escola”, considerando a escola do passado, do presente
e de um possível futuro, traduzidas nos depoimentos sobre: o que dizem sobre as
escolas em que estudaram, como definem uma boa escola, que exemplos citam de
166
boas escolas, como classificam/avaliam o Colégio Estadual Central e finalmente,
como idealizam a escola dos sonhos?
Não se pode deixar de observar que, quando os gestores, professores e
mesmo os alunos falam da escola em que estudaram, essa representação está
matizada das experiências vividas, daquilo que se ouvia falar da escola e daquilo
que ainda se ouve, portanto os depoimentos não trazem uma memória individual,
mas uma memória coletiva ou mesmo social. Tomando Goethe, resgatado por Bosi
(2001):
Quando queremos nos recordar do que nos aconteceu nos primeiros
tempos de nossa infância, confundimos seguidamente o que
escutamos dos outros com nossas próprias lembranças. (p. 435).
Há de se considerar também, assim como alerta Nunes (1996),
Quando seguimos as pegadas do que se disse sobre a escola
estamos trabalhando com memórias agarradas a um contexto de
infância que se remete a uma doxa urbana mutável, recortada
pelas lembranças envolvidas na escrita, na escuta, no momento e
nos costumes. As memórias dos ex-alunos das escolas públicas,
dos poetas e dos cronistas da cidade em seus textos compõem de
maneira anamórfica (formas sempre em mudança) o que
chamaríamos de "realidade" da escola e os sentimentos e as
opiniões que sobre ela se forjaram. É nesta imbricação que
chegam até nós múltiplas percepções do espaço escolar,
percepções que se reenviam incessantemente umas às outras e
que enlaçam também imagens do espaço urbano, constituindo um
estoque de informações criticamente trabalháveis. (p.158)
1. ERAM BOAS AS ESCOLAS EM QUE OS ATORES DO PROCESSO
EDUCATIVO ESCOLAR ESTUDARAM?
QUADRO 4.1 - ERAM BOAS AS ESCOLAS
EM QUE OS GESTORES ESTUDARAM?
DEPOIMENTOS
SÍNTESE
ELOMAR
Olha, por exemplo, onde eu fiz o ensino fundamental eu
tinha uma professora de primeiro ano que era uma
pessoa assim toda carismática para trabalhar com a
gente (...). (...) ela sabia fazer muita coisa para gente,
ela tinha realmente um dom para poder também
envolver a gente na aprendizagem.
(...) Então eu acho que a influência que o professor
deixava no aluno para eles se envolver eu acho que
fazia diferença lá nessa escola.
Professores
envolviam alunos.
MARTA
(...) os meus professores até Segundo grau, acho que
um ou dois com curso superior, mas todos eram
pessoas que estudavam muito, ligadas ao
conhecimento, parece gostar daquilo e da convivência
com o aluno. São momentos muito diferentes, as
Professores ligados
com o conhecimento,
gostavam do que
faziam.
167
pessoas não eram estressadas, você sabe, tinha lá
seus problemas como toda a vida teve.
NARA
Estas duas escolas eram as melhores escolas da
cidade e era um ensino realmente muito bom porque os
professores eram professores que se dedicavam muito
aos alunos, acompanhando muito os alunos e tinham
um relacionamento com as famílias no sentido de estar
chamando os pais para estar acompanhando, para estar
discutindo não só os problemas de aproveitamento, mas
os problemas de relacionamento familiar e também
considero que era uma escola que tinha um nível muito
bom no sentido do relacionamento com os colegas (...)
Bom, o indicador é o seguinte: eu considero uma boa
formação nas matérias básicas que eu cursei. (...) a
partir de uma dedicação muito grande de meus
professores. Digo isso porque eles tinham o cuidado de
olhar a cada dia meus cadernos, colocar uma
apreciação nos meus exercícios, valorizar o que eu
tinha feito de bom. (...) ...E ... todas as minhas
atividades, elas eram apreciadas, elas eram
valorizadas, elas eram corrigidas.
Professores
dedicados que
acompanhavam os
alunos e tinham
relacionamento
próximo com as
famílias.
Bom
relacionamento
com os colegas
GAL
Primeiro porque nós tínhamos bons professores. O bom
professor é aquele que ensina o aluno que não
aprendeu, porque muitas vezes a gente tinha um colega
que não conseguia aprender. Eu via que o professor
chamava aquele aluno, dava uma aula particular para
ele, recuperava aquele aluno. (...) Mas, eu via que os
professores se empenhavam no máximo para
recuperar aquele aluno. Então, tinha aquelas aulas, às
vezes um colega dava aula pro outro, estudávamos
juntos, porque era uma cidade pequena onde todo
mundo se conhece. Então era mais fácil da gente formar
grupos para estudar.
Bons professores,
pois ensinavam ao
aluno que não
aprendeu.
Cidade pequena
facilitava formação
de grupos de colegas
para estudar.
NANA
Elas tinham qualidade porque tinham limites, né? Elas
tinham limite. A gente era obrigada ali a fazer certas
coisas. Fazia a gente crescer, fazia a gente estudar
mesmo. Hoje, você, o aluno com esse tanto de opções
que ele tem, tá passando sem saber, né?
(...) Então , é... esse excesso de liberdade que ele tem
de pedir o professor pra dar uma chance... Antigamente
não tinha isso não! Não é?
Escola punha limite
nos alunos.
SIDNEY
(...) Primeiro, disciplina, o colégio tinha demais
disciplina, você dentro da carreira do magistério e
conseqüentemente para gente que era aluno, segundo
os dois eram muito bons. Depois naquele sistema que
te cobrava nota. No meu tempo, era aquela nota mensal
e no meio do ano tinha aquele negócio de prova parcial
e, no final do ano, tinha a tal de Segunda época, que
você podia tomar duas no máximo. Se você tomasse,
fazia prova em fevereiro, passou, passou, não passou,
repete o ano, não tinha nada, nada que acrescentasse,
que tivesse a decidir, então era uma coisa muito assim
rígida. E aí cobrava-se muito, da gente, a gente levava
muito a sério. Além do mais, também a minha família
éramos nove, perdi uma irmã recentemente agora, o
Muita disciplina
Cobrança de notas
Aluno sério
Pais que cobravam
168
meu pai sempre cobrou demais da gente estudo, tanto é
que éramos nove, e os nove têm curso superior, a
maioria dos meus irmãos tem dois, três cursos superior.
RITA
Boas, sim. Eu acho que era, porque no meu tempo as
escolas eram boas, era escola estadual, pública mas
eram boas, entendeu? Por que igual eu te falei, os
professores, eu gostava deles, entendeu, eles
ensinavam. Muitas vezes a gente não tinha como
aprender porque era da cabeça da gente mesmo, era
matemática e física, não entrava na minha cabeça de
jeito nenhum e eu achava que os professores eram
bons, apesar de se ensino público, entendeu, porque o
ensino público nessa época era bom. Não é igual é hoje
em dia, falava muito que escola particular agora é
melhor né, antigamente falar que escola pública não
prestava, mas para mim prestava, não tive como
estudar em escola particular, né.
Professores que
ensinavam
MARISA
Ah, São boas. São boas. Porque dava pra... o Colégio
São Francisco que eu estudei, era um colégio de irmã.
Te dava uma formação religiosa, de humana, é...
Quanto ao conteúdo também, é excelente. (...) Mesmo o
Silvio de Marco que acabou, também é... tinha bons
professores. Então , eu achei que foi boas. Foram boas.
Formação religiosa
e humana.
Conteúdo excelente.
Bons professores.
Entre os oito gestores entrevistados, seis indicam o desempenho dos
professores como um dos fatores que os levam a qualificar como boas as escolas
em que estudaram. Dentre esses seis, metade aponta unicamente o desempenho
do professor, dois somam a esse qualificador o relacionamento com os colegas e
um soma a formação religiosa e o excelente conteúdo dado na escola.
Se entendermos que a cobrança/controle de disciplina e de notas está mais
diretamente ligada à prática do professor, podemos dizer que os dois gestores que
não citam diretamente o professor, o fazem indiretamente, quando falam que a
escola punha limites nos alunos, havia muita disciplina e cobrança de notas.
Por outro lado, podemos também supor que a socialização familiar e escolar
se davam sob outros paradigmas, as condições de existência dos alunos e
professores eram muito semelhantes o que configurava habitus muito próximos,
portanto os limites e regras disciplinares já faziam parte das disposições dos alunos.
Neste caso, a referência dos gestores estaria mais ligada à “qualidade” dos alunos
do que ao desempenho dos professores.
E, ainda, podemos supor que as questões disciplinares eram mais de
responsabilidade dos gestores – os alunos acusados de desrespeitosos,
indisciplinados, desobedientes e indisciplinados eram encaminhados ao gabinete do
diretor ou diretora – portanto, a escola, representada pela direção, punha limites nos
169
alunos. Esta realidade que povoou as escolas onde estudaram os gestores há, pelo
menos trinta anos atrás ainda é presente em muitas escolas nos dias de hoje. No
Colégio Estadual alguns professores queixaram-se da falta de atitude da direção,
supervisão, orientação, coordenação diante das questões disciplinares que
envolvem alunos e professores.
É interessante observar que apenas um gestor cita a seriedade do aluno e a
cobrança dos pais como qualificador da boa escola, assim como apenas um também
cita a questão da qualidade do conteúdo ensinado.
Analisando a trajetória escolar dos gestores, a partir de seus depoimentos
temos: três gestores sempre se sobressaíram na escola, participando de atividades
culturais diversas, como teatros, declamações, apresentações musicais, leitura de
poesias e redações; apenas dois, pertencentes à famílias de baixo volume de
capital cultural e econômico, dizem ter apresentado dificuldades de aprendizagem
na escola e constituem o grupo de quatro gestores que não tiveram o
acompanhamento familiar nos estudos. Portanto, para eles, como já dissemos a
escola em que estudaram era boa.
Alguns citam algumas disposições características dos “bons” professores –
professora carismática, possuía dom para envolver os alunos, apreciava, valorizava
e corrigia todas as atividades , professor que ensinava ao aluno que não aprendia
outros fazem referências às condições de existência e habitus dos professores
daquela época – estudavam muito, não eram estressados.
Sublinho o depoimento de uma das gestores que afirma que a escola em que
estudou era pública, mas era boa, porque os professores ensinavam mesmo, porém
ressalta:
muitas vezes a gente não tinha como aprender porque era da cabeça da
gente mesmo, era matemática e física, não entrava na minha cabeça de jeito
nenhum, tanto não entrou que ela não terminou o ensino médio. O depoimento deixa
claro a disposição para a auto eliminação, que caracteriza bom número de alunos
das escola públicas brasileiras. deixando claro que o aprendizado do conteúdo de
determinadas disciplinas – na maior parte das vezes aquelas de maior prestígio –
não é para quaisquer alunos, mas apenas para aqueles que “têm cabeça para tal”.
O depoimento dessa gestora e de outros dois, que dizem que a escola era
boa porque tinha limites e não dava tanta chance ao aluno como hoje; era boa
porque o sistema cobrava, nos permite inferir que a “boa” escola era aquela que
ensinava quem aprendia. A “culpa” pela não aprendizagem sempre recai sobre os
170
alunos, que é o mesmo que dizer: a escola era boa, porém alguns alunos não eram
bons.
Os depoimentos nos autorizam a deduzir que a “boa escola” da infância e
adolescência dos gestores era aquela que tinha bons professores e para eles ser
bom professor significa: envolver-se com os alunos e a família, ter ligação com o
conhecimento, gostar do que faz, dedicar-se ao acompanhamento vigilante dos
alunos e cumprir a função de ensinar. Contudo, nas entrelinhas, fica o sentimento
de que quem faz a “boa” escola é o “bom” aluno.
QUADRO 4.2 - ERAM BOAS AS ESCOLAS EM QUE
OS PROFESSORES ESTUDARAM?
DEPOIMENTOS SÍNTESE
CINARA
(...). Eu acho, eu considero todas as escolas que eu tive
oportunidade, eu tive a felicidade de estudar em escolas
boas (...) Porque eu acho que é o seguinte, na minha
opinião a melhor escola é aquela que o menino tá feliz
lá, independente da classe social, se o menino tá feliz,
se ele vai feliz pra escola, tá ótimo. (...) Agora a gente
tem a concorrência grande da internet, de tudo
enquanto há, e eles não têm aquela obediência que a
gente tinha, que a gente já ficava quieto, não porque a
gente queria, mas porque a gente já tava acostumado a
obedecer. Então, eu creio que nunca foi oferecido pra
gente nem agora nem nunca, foi oferecido atrativos, pra
gente aprender, porque, qualquer professor que fizesse
qualquer coisa que desse 25% de atratividade, a
meninada adorava. (...) Então, eu percebo assim, que
qualquer coisinha que você faça pra estimular o menino
eles vão, eles vão na sua onda, então o que eu acho
que falta muito é a preparação do professor,
infelizmente, eu acho que o erro tá principalmente no
preparo do professor.
Alunos acostumados
a obedecer, não
exigiam muito do
professor.
ELBA
... os professores trabalhavam com a gente para estudar
na federal. Então, tinha uma cobrança maior, era lá que
eles queriam que a gente estivesse entendeu, agora,
hoje, não, né, você pode ver que hoje tem faculdade em
qualquer canto, agora o problema agora é pagar, não é
nem passar. É claro que tem que saber um pouco, mas
não é o tanto que eu tive que aprender na época, né.
Então, o ensino era pesado, era ensino para federal, era
o ensino, era uma cobrança bem assim. Então, a gente
não trabalhava, ficava só por conta disso. Mas era muito
pouco aluno aqui que trabalhava, hoje você pode ver
que é bem mais, né. Então, a gente ficava por conta dos
estudos, a gente chegava em casa, estudava, não
ficava... ninguém ficava na escola depois do horário,
todo mundo ia para casa. Hoje você pode perceber que
fica um monte de alunos na porta do colégio, jogando
Professores
cobravam mais.
Ensino era pesado.
Aluno não
trabalhava, dedicava-
se aos estudos, não
se dedicava a uma
diversidade de
atividades.
171
baralho, né, fazendo batuques. (...).
FAFÁ
Porque todos os alunos, assim, os meus colegas e
pessoal que saiu de lá, conseguiu resultados positivos
na continuação dos estudos, não é? E tem uma grande
maioria que está aqui em Belo Horizonte, inclusive, tem
muita gente que dentro da área de educação mesmo,
teve colega que foi pra Fiat, ... é o João fez filosofia,
inclusive, o Edson que é diretor aqui na PUC, foi diretor
lá também. Então, assim, é a maioria dos meus colegas
tiveram uma continuidade intelectual muito satisfatória.
(...)
Alunos tiveram
continuidade
intelectual
satisfatória.
SIMONE
Era uma escola tida como boa. E dentro dos padrões da
época acho que era uma escola boa, porque pelo
menos a gente tinha é... esses professores
compromissados. Eles viajavam muito e passavam para
nós essa... esse conteúdo dessas viagens, né? Não sei
se também era um pouco de invenção, porque a gente
começa a inventar um pouquinho de coisa na sala para
despertar, né. Mas, eu acho que eles viajavam muito e
voltavam: - ah, no outro país que eu passeei era assim”.
E as dificuldades para se viajar eram muito maiores, né
Hoje, a gente tem mais facilidade para se fazer uma
viagem. Mas eles eram muito mais esclarecidos, faziam
cursos, né. Traziam para a sala de aula esse conteúdo,
apesar que secamente, né. A relação era muito distante.
Então, eu acho que esse ponto... a ... o professor devia
estar assim mais atualizado, ter condições de vir para a
sala de aula com mais bagagem.
Professores
compromissados,
mais esclarecidos,
faziam cursos,
viajavam.
VIRNA
Muito boas. Porque tinha uma...uma...um Projeto
Político-Pedagógico bom, né. Executava esse projeto de
uma maneira assim objetiva. Então, eu penso que eram
boas nesse aspecto.
E o que se destacava nesse Projeto Político-
Pedagógico da escola?
A formação intelectual e moral dos alunos.
Havia um Projeto
Político-Pedagógico
centrado na
formação intelectual
e moral dos alunos.
CAZUZA
Eram boas.
JERRY
Ah isso eu não tenho menor dúvida, a menor dúvida.
É... o, o nível, hoje eu consigo avaliar isso muito bem
porque eu hoje tô como professor, então eu tenho
clareza, informação pra fazer valer essa informação. É...
volto a repetir: a qualidade com que eram ministradas
as aulas, é... e a cobrança, isso é, é, é... levou a um
sucesso na aprendizagem. Minha e das pessoas que
formaram na minha, no meu período. Por quê? O
sucesso na aprendizagem ele depende de vários
fatores, né? Simplesmente , às vezes, o professor é
excelente, ele é excelente mas o aluno às vezes não
entende o que ele fala. (...) Então é... essa, essa, essa
questão, ela é... eu volto a repetir, ela é um processo
que ele tá vindo culminar na escola e a sociedade
jogou nas costas da escola a responsabilidade de
resolver isso. Mas todos estão lavando as mãos e
deixando só pra escola resolver isso. Então você é o
professor, vai lá, cê tem que resolver o problema que
vai além da sua capacidade. Porque na maioria das
Qualidade das aulas
e cobrança.
Alunos preparados.
172
vezes você dá aula pra seis turmas com trinta e cinco
alunos em cada uma; você trabalha em mais de um
horário então você não tem como trazer revistas pra
eles lerem individualmente, você lê com eles... Cada um
tem de apresentar a dificuldade que ele teve no texto,
pra você ensinar até mesmo a interpretação, o
português, mesmo não sendo você professor de
português. Mas então , essa, essa... Isso então não
era necessário fazer na, na escola em que você
estudou porque os alunos já esta
vam ...Já estavam ... preparados pra isso. Preparados,
mas a escola também fazia. Não nivelamento, mas a
escola fazia no sentido em que você tinha que ler um
livro por quinzena e depois você, a professora fazia
essa análise com você na sala; você apresentava isso,
ela te corrigia...
LÚCIO
Era uma escola melhor que atualmente, eu acho que
sim. Mas poderia ter sido muito melhor...mas... não. Foi
bem melhor que hoje, eu acho que sim...
(...) Pelo menos o pessoal, o professorado, tinha um
certo prazer em dar as aulas. Além de ter um salário um
pouco melhor que atualmente tem, acredito que seja por
ai, um pessoal comprometido e os alunos tinham muito
respeito pelo professor. Isto não era uma coisa
importante demais. Coisa que hoje é difícil. Se você
entra na sala de aula, se tiver um ou dois prestando
atenção no que você tá falando, pode jogar as mãos pro
céu.
Professor tinha mais
prazer de dar aulas..
Salário melhor.
Alunos respeitavam
os professores,
prestavam atenção
ás aulas.
MANO
Olha, eu classificaria como boas. São boas escolas. É...
não sei se eu não sei se...talvez na época acontecesse
isso. Mas agora estou do outro lado da escola. É... na
minha época eu achava que, eu via que a escola
funcionava muito bem. A infra-estrutura era muito boa,
os professores sempre passavam aquela empolgação e
sempre fazendo projetos legais e todo mundo...
raríssimo eram os que não abraçavam, que não
estavam a fim de fazer e tal. Hoje em dia, eu percebo
que é... eu vejo que a estrutura da escola, nem todo
mundo realmente tem esse interesse e tá ali realmente,
por talvez, por desmotivação mesmo, por questões
salariais, por desvalorização do trabalho. É... eu vejo
que maioria deles não estão, é... não se empenham
tanto como poderiam se empenhar. Não se doam tanto
como poderiam se doar.
Infra-estrutura era
muito boa.
Empolgação dos
professores.
MC BILL
Bom, eu suponho que só pode ser classificada como
boa, porque a base do meu conhecimento e tudo que eu
pesquisei , tudo que eu estudei, após a saída dessa
escola, foi com base no que eu adquiri aqui. Naquela
época os professores eram catedráticos, hoje não existe
mais cátedra. A cátedra foi abolida, mas naquela época
eles eram catedráticos, então eram os donos do saber,
como a gente costumava dizer. E, realmente, eles
sabiam e eles tinham didática e sabiam incutir os
conhecimentos em nossa mente.
Conhecimento
adquirido foi muito
bom.
Professores
catedráticos, donos
do saber, tinham
didática, sabiam
ensinar.
173
Entre os fatores, que levam os professores a classificar como boas as escolas
em que estudaram, destacam-se o desempenho dos professores e o habitus
escolar e capital cultural dos alunos, ambos com cinco incidências.
Embora com o mesmo número de incidências, diferentemente dos gestores,
os professores dão mais ênfase ao habitus de classe, habitus escolar e capital
cultural dos alunos, destacando: alunos acostumados a obedecer, exigindo menos
do professor; dedicação maior aos estudos em virtude de não trabalharem, nem
dedicarem-se a uma diversidade de tarefas; respeito ao professor, prestando mais
atenção às aulas – habitus de classe e habitus escolar –-; maior conhecimento e
continuidade intelectual após deixarem a escola – capital cultural .
Nos depoimentos dos professores, fica evidente a representação de que os
alunos, quiça eles mesmos, por si, independente das condições socio-histórico-
econõmicas, eram bem diferentes dos alunos de hoje, o que pode ser atribuído às
representações de “bom aluno” orientadas pela:
a- herança idealizada de alunos - construída mediante percepções, crenças
e valores próprios do sistema valorativo escolar, que perpassa classes e
frações de classe, tempo e diferentes instituições escolares - que graça
entre atores do processo educativo escolar, sejam eles gestores,
professores, alunos ou pais;
b- pelo juízo professoral, cujos considerandos do julgamento, segundo
Bourdieu (1999e) aparecem mais ligados à origem social do que a nota,
ou do que ao desempenho do aluno, (p.192), levando em consideração
que na escola pretérita estudavam poucos alunos pertencentes às classes
de baixo volume de capital econômico e cultural e ainda, as condições de
existência e o capital cultural dos professores recuperados no relato de
suas vidas de alunos. Os depoimentos de Elba, Fafá, Jerry e McBill
ilustram bem esta realidade;
c- institucionalização da mensagem, Orlandi (1990), ou institucionalização da
representação que pode ser entendida como a influência da instituição a
que pertencem os atores na produção do discurso ou na produção da
representação, considerando que quatro professores -Elba, Lúcio, Mano e
McBill - foram alunos do Estadual Central. Ou, como defende Bourdieu
(1999e), as formas escolares de classificação são transmitidas em
174
essência na e pela prática fora de toda intenção propriamente pedagógica.
(p.188)
Lembrando Moscovici (1978), as representações se mesclam de “ser” e
“dever ser” e a imagem “ideal” pode, então interferir na percepção da imagem ”real”
do objeto.(p.59).
Quanto ao desempenho dos professores, são feitas referências ao habitus
profissional, traduzido em comprometimento, prazer, empolgação e nível de
cobrança; ao capital cultural, traduzido em melhor formação, professores
catedráticos, qualidade das aulas e conhecimentos adquiridos durante viagens; e ,
ainda, ao capital econômico, traduzido em melhores salários e condições para viajar,
o que parece distingui-los dos atuais profissionais.
Se em alguns depoimentos os professores apresentam seus professores e os
alunos como responsáveis pela “boa escola” em outros depoimentos é possível
inferir que os professores se “apagam” ou se “retiram” do compromisso ou da
possibilidade de constituir o corpo de atores responsáveis pela qualidade da escola
e atribuem o fato da escola ser "boa" aos méritos dos alunos
O tipo de ensino traduzido em “ensino pesado” e “conhecimento adquirido
"muito bom” (volume de capital escolar), ou seja, os aspectos curriculares também
são fatores que na representação de dois professores conformaram a boa escola em
que realizaram seus estudos.
Não se pode desconsiderar que as expressões que traduzem a qualidade do
ensino carregam o peso do "compromisso" do professor com o ensino e o peso do
"compromisso" do aluno para aprender. Nessa lógica, pode-se ainda considerar que
há mais uma incidência de respostas que apontam o desempenho dos professores e
o habitus escolar e capital cultural dos alunos como fatores classificadores das
"boas" escolas em que estudaram os professores entrevistados.
Não se pode deixar de registrar que, embora com apenas uma incidência, a
infraestrutura da escola também foi mencionada por um dos professores e ex aluno.
175
QUADRO 4.3 – ERAM BOAS AS ESCOLAS EM QUE OS ALUNOS
ESTUDARAM?
DEPOIMENTOS
SÍNTESE
ANA
E lá é perfeito. É uma escola perfeita, porque lá assim...
eles parecem estar, mexem com os alunos e com a
família. E dão total apoio à família. A minha mãe é
simplesmente porque ajudou muito quando meus pais
se separam que foi quando eu parei de estudar em
escola particular. E.. eles não mexem só com aquele
estudo de matéria, dar aula e trabalho. Aí eu saí do M e
estudei no CL que é ali perto. Uma escola excelente.
(...) me assustou algumas atitudes bobas que é comum
assim... no cotidiano, mas que assim...pelo nível das
pessoas mudou, apesar de ser uma escola excelente.
Muito, muito, muito boa. Eu fui pro AC que é uma escola
horrível. É uma escola que não dá base nenhuma, não
tem disciplina, os alunos assim é... são assim pessoal
de renda bem baixa, num nível assim...horrível, a
escola. (Risos).
Sim. Preocupam
não só com os
alunos, com a
família também.
não mexem só
com aquele
estudo de matéria,
dar aula e
trabalho.
Escola excelente,
mas o nível das
pessoas mudou.
Escola horrível, que
não dá base
nenhuma, não tem
disciplina, os
alunos assim é...
são assim pessoal
de renda bem
baixa, num nível
assim...horrível.
CIBELE
Boas escolas. Porque é ... me deram uma boa
bagagem, boa base escolar, assim... é ... me deram
uma boa base escolar, tal e me ensinou muito também
como pessoa, né, lógico que foi muito importante na
minha vida.
Boa bagagem
escolar e ensinaram
como pessoa
.
DANI
Não. Só pelo fato de não ter professores formados eu
acho que essas escolas não têm qualidade nenhuma
pra mim. Professores que não são formados não
servem para dar aulas, não podem ter o nome de
professor.
Não. Professores
não eram formados.
DIVA
Com certeza porque se não fosse, eu não seria a
pessoa que eu sou com certeza. É uma escola de
qualidade porque estudei lá e os professores deram
muito valor à escola e a escola deu muito valor .
Professores deram
muito valor à
escola.
176
LIA
Eu não gosto de julgar assim, pela escola, eu acho que
faz a escola é o aluno. Então eu acho que pra mim
todas as escolas, todas as fases da minha vida que eu
passei, foram boas, porque sempre eu aprendi alguma
coisa, sabe, com elas. Independente de se a escola foi
boa, se a escola foi ruim, eu sempre aprendi alguma
coisa, sempre tirei alguma coisa de bom. Acho que a
gente tem que tirar alguma coisa de bom pra gente. E
foi o que eu fiz. Eu sempre tirei alguma coisa de bom.
Então eu não gosto de julgar: “Ah, aquela escola ali é
horrível, aquela escola é péssima!”, não. Quem faz a
escola é a gente, é o aluno. Eu posso falar que se o
aluno é bom, se o aluno é ruim mas a escola, não. A
escola pra mim sempre é boa.
Eu posso falar que
se o aluno é bom,
se o aluno é ruim
mas a escola, não.
A escola pra mim
sempre é boa.
NATI
Eu acho que não são escolas de qualidade, não. Eu
acho que elas são escolas ruins assim, fracas, fracas,
porque falta, principalmente pelo, pelo como eu posso
dizer, ela recebe muito aluno que é carente sabe, e a
estrutura dela não era tão boa, assim as vezes faltava
um laboratório, uma sala de vídeo pra gente poder ta
fazendo alguma coisa, saindo da sala sair da rotina,
faltava máquina de xerox. Então, não era uma coisa
assim que era boa, é uma coisa fraca, era bem fraca.
Escolas fracas
que recebem
alunos muito
carentes.
Faltava estrutura e
equipamentos.
ROSA
Não fiz esta pergunta Não fiz esta
pergunta
BIAL
A lá do Espírito Santo, é. Com certeza. Nossa foi uma
escola muito, muito boa. O ensino dela, sabe, não era
... parecia que era uma escola estadual, sabe? Até
parecia que era particular pelo comportamento dos
professores, as atitudes. Agora, mesmo aquela escola
de bairro que eu estudei, ela também era boa apesar de
má frequentação, sabe? Os alunos iam, quebravam
tudo na escola, sabe? No E. já não era tão bom, por
causa tinha professores que iam, não davam aula
direito, sabe? Só falavam, não queriam saber se o aluno
entendeu ou não. E aqui no Estadual mesmo tem
alguns professores que não me satisfazem não, mas
cada um tem o seu estilo de dar aula.
Parecia que era
particular pelo
comportamento e
atitudes dos
professores.
Escola do bairro era
boa apesar de má
frequentação, os
alunos quebravam
tudo.
E. não era tão
bom, porque tinha
professores que
iam, não davam
aula direito.
falavam, não
queriam saber se
o aluno entendeu
ou não.
177
DINO
O BM na época que eu estudei era considerado uma
ótima escola, lá perto de casa, na redondeza, lá. Tanto
é que eu saí... eu estudava no José Bonifácio e lá tinha
primeira série. Eu saí do JB para ir para o B, não sei
porque, mas todo mundo falava que lá era bom, não
lembro porque, mas todo mundo falava que o ensino lá
era bom.
E você, achava bom?
Eu gostava... e, mas o BRB era uma escola normal,
assim, sabe. Ninguém falava que era nem bom, nem
ruim, sabe. Todo mundo falava que era normal. Eu
achava muito ruim. (risos). O ensino, né! Porque da
escola eu gostava.
Mas, todo mundo falava que era razoável ensino, mas
eu não gostava muito, não.
Todo mundo dizia
que o ensino era
bom e ele achava
bom.
Todo mundo falava
que o ensino era
razoável, mas ele
achava ruim.
FÁBIO
Por que eu daria médio no B é pelo motivo que já te
falei: porque é uma coisa fácil, o ensino de lá também
não é ruim e por que eu era criança na época, não tinha
noção dos estudos. E no PM, ruim pela aquela coisa
que já te falei também: pela convivência com
professores e com alunos, com a direção. Pelas brigas
constantes. Até mesmo você não precisava procurar
briga, o pessoal já procurava briga com você. É
estranho assim!!! (risos dos alunos e da pesquisadora).
Também a gente está entrando na puberdade fica uma
coisa mais difícil. Acho que basicamente é isso.
Médio B é uma
coisa fácil, o ensino
de lá também não é
ruim.
PM, ruim pela
convivência com
professores e com
alunos, com a
direção. Pelas
brigas constantes.
GIL
Por causa do espaço do pátio. Pelo fato de ser um
prédio preservado, um prédio estilo colonial, os
corredores você anda, são os corredores de azulejos
todo bonitinhos, muitas árvores. Os professores eram
muito legais. O ensino lá, eu considero um ensino ótimo
lá. (...) Eu tenho saudades até hoje do colégio!
Espaço do pátio,
prédio preservado,
corredores bonitos,
muitas árvores.
Professores legais.
Ensino ótimo.
GINO
A primeira que eu estudei a JS que era no Céu Azul, era
uma escola assim de boa pra ótima, tinha suas
deficiências né, no T por ser municipal também, já era
uma escola mais puxada pra baixo pro regular assim,
que assim igual eu te falei, toda Sexta saía cedo,
professor de licença pra cá, principalmente na
matemática, logo na matéria que eu tinha mais
dificuldade, a gente não tinha professor fixo de
matemática na época, e agora eu estou no Estadual né,
to gostando muito do colégio, eu trabalho na
Universidade também, vejo muitos alunos lá na onde eu
trabalho com histórico de 2
o
grau daqui do colégio, acho
muito interessante.
Boa para ótima, não
diz porque.
Média, professores
de licença, alunos
saíam cedo.
178
LEO
No B é. Porque lá a equipe pedagógica que me atendia
lá foi muito boa, a relação que tinha com a família era
muito boa. No NSD, também foi bem acompanhada,
né, e porque pra mim também da forma que eu vejo o
estudo e o ensino a função da escola pra mim também
é muito mais de congregar as pessoas e permitir as
idéias diversas idéias ai fluindo, do que passar
matéria, prova e etc, pelo que muita gente vê, né,
inclusive.
Bom atendimento,
acompanhamento
da equipe
pedagógica em
relação ao aluno e
a família.
LIMA
O B era, porque lá tinha duas unidades, aí ficava uma
unidade da 2ª até à 4ª série, lá era grande assim,
entendeu? E na outra de 5ª á 8ª (...) Lá era bem legal a
escola! Agora a municipal e esse último, a P, não é
muito bom, não. Apesar que lá no municipal tinha
laboratório, assim... tudo mais, apesar de eu nunca Ter
utilizado. E tinha quadra de futebol também, quando
não vinha professor a gente ia lá jogar bola, apesar de
eu não gostar muito. E no P não tinha laboratório de
química direito, a gente... nos dois anos que eu tive aula
de 7ª e 8ª eu não usei, nenhum dos dois. Não tinha
laboratório, não tinha quadra, era bastante coplicadi, lá.
B era bom por ser
grande.
Municipal e P não
eram bons:
municipal tinha
laboratório, mas
nunca foi usado,
Polimig não tinha
quadra nem
laboratório.
LINO
Ah, o AP, eu acho que lá, é eu até conheço a diretora
de lá. É uma mulher muito responsável, e ela faz de
tudo pro colégio, pra escola ser um ótimo exemplo para
as outras. E tenta assim, ser o máximo, buscar muito,
ela tenta excursões pra lugares pra gente conhecer, é
bem melhor, porque não adianta só saber pelo quadro,
mas sim a gente tem que saber olhando as coisas
também.
A diretora faz de
tudo pra escola ser
um ótimo exemplo
para as outras:
excursões pra
lugares pra gente
conhecer, é bem
melhor, porque não
adianta só saber
pelo quadro, mas
sim a gente tem
que saber olhando
as coisas também.
RUI
Bom, juntando tudo, porque não tem jeito de eu fazer
um apanhado de uma por uma, eu daria um regular
quase ruim, por todos aqueles motivos que eu falei:
educação falida, professores não davam assistência
direito; é... estrutura muito ruins das escolas públicas
em que eu estudei; discriminação nas escolas
particulares, porque na maioria... eu era bolsista e isso
já ficava discriminado sim. E, quando devia, já chegou
caso, quando estava na sétima série, entrar uma
coordenadora para entregar a boleta e dizer:
Eu daria um regular
quase ruim:
educação falida,
professores não
davam assistência
direito; é... estrutura
muito ruins das
escolas públicas em
que eu estudei;
discriminação nas
escolas particulares
179
TUCA
Eu não tenho nada a reclamar não, porque lá era muito
bom. Depois foi caindo o nível, né, começou, a favela
começou a ficar maior lá e ... briga, confusão, o pessoal
mexe com tráfico também e já não dá certo.
E o quê que tinha lá que você acha que a escola era
uma escola boa?
O ensino.
E porque que você acha que o ensino era bom?
Ah... Eles te incentivavam a estudar.
(...) lá era muito
bom. Depois foi
caindo o nível, né,
começou, a favela
começou a ficar
maior lá (...).
.Ensino bom,
porque
incentivavam a
estudar.
Diferentemente dos gestores e professores, os alunos não estudaram apenas
em “boas escolas”, o que se pode explicar tendo em vista as diferentes condições
de existência, de habitus cultural e escolar, destes e daqueles. De certa forma, “a
gramática escolar” já estava incorporada pelos gestores e professores para quem a
escola nada mais era do que a extensão de sua casa, de sua vida social, o mesmo
não acontecendo com os alunos.
Dos 17 alunos entrevistados, apenas quatro fizeram todo o ensino
fundamental em uma única escola, os outros passaram pelo menos por duas ou três
escolas e um deles, por cinco. Portanto, estes alunos referem-se a 32 escolas,
qualificando quatorze como boas escolas, duas como escolas médias, onze como
escolas ruins, cinco como “regulares quase para ruim”.
È interessante observar que uma das alunas afirma que para ela a escola é
sempre boa, pois “quem faz a escola é o aluno”, confirmando mais uma vez que a
escola é sempre boa para aqueles que “rezam sua gramática” e que , portanto, não
se sentem como um peixe fora d’água ao conviver com as práticas escolares. Esta
aluna é desprovida de capital econômico, porém possui um volume considerável de
capital cultural que pode ser percebido numa análise breve do uso que faz da língua,
da postura diante do conhecimento e ainda um patrimônio disposicional que a faz
imputar aos dons e méritos o sucesso escolar. Acredito boa parte do volume de
capital cultural foi adquirido na socialização na escola particular onde estudou como
bolsista.
A boa escola é qualificada levando-se em conta: o bom ensino, o ensino que
vai além dos conteúdos formais e das aulas tradicionais, que dá base, que todos
dizem que é bom (5 referências); as atitudes e comportamento do professor e sua
postura de valorização da escola (4 referências); o atendimento que não é oferecido
180
somente ao aluno, mas também à família (2 referências); o espaço físico oferecido
pela escola (2 referências) e o incentivo ao estudo (2 referências).
As escolas ruins ou regulares para ruins caracterizam-se por: não oferecer
base, ser fracas (3); não ter disciplina (1), ser freqüentadas por alunos de baixa
renda e nível (4); ter em seu quadro professores que não querem saber se o aluno
aprendeu, professores que não são formados (2): promover convivência ruim com
alunos, professores e direção; (1) não possuir estrutura adequada (3); faltar
equipamentos (1); discriminar os alunos (1).
Nas escolas médias tudo é muito fácil (1); os professores tiram muita licença
e os alunos não têm aula (1).
Considerando que o bom ensino - que recebeu cinco referências dos alunos -
se deve em parte ao desempenho do professor e que o patrimônio disposicional
deste mereceu quatro referências, pode-se inferir que, assim como na
representação dos gestores e professores, a boa classificação da escola em que
estudaram os alunos é atribuída ao desempenho dos professores.
Não se pode, no entanto, desconsiderar que as referências ao "bom ensino""
se caracterizam por um vazio, são alusões abstratas, que não permitem identificar o
que foi ensinado ou o que foi aprendido
Apenas a aluna que menciona que na escola em que estudou deram uma
boa bagagem escolar e lhe ensinaram muito também como pessoa, os dois alunos
que se referem ao incentivo que a escola lhes deu para estudar e um outro que diz
que o ensino era bom porque os professores tinham atitudes e comportamento de
professores de escola particular parecem falar de algo mais concreto.
Já as referências feitas às escolas ruins apresentam um fundamento bem
concreto, os diferentes habitus de classe, traduzidos implicitamente no "baixo nível
dos alunos", "pessoal de baixa renda" que "não sabe se comportar" e assim tornam
a escola "horrível". Dessa forma, alunos portadores de um volume de capital cultural
e econômico diferente de seus colegas contestam as condições socioeconômicas, o
habitus de classe e habitus escolares dos colegas, o que ilustra a explicação de
Bourdieu (apud, Azevedo, 2003)
Sem dúvida, os agentes constróem a realidade social; sem
dúvida, entram em lutas e relações visando a impor sua visão,
mas eles fazem sempre com pontos de vista, interesses e
referenciais determinados pela posição que ocupam no mesmo
mundo que pretendem transformar ou conservar.
181
Tuca, que estudou em uma escola pública, próxima a sua residência
em um bairro muito pobre da periferia de Belo Horizonte, a princípio, classifica
a escola como boa, destacando seu ensino. No decorrer da entrevista, embora
com um certo receio, censura, deixa claro que além da limpeza, outro aspecto
que o faz achar que a escola foi deixando de ser boa e caiu para média é a
condição socioeconômica dos alunos que passaram a freqüentá-la.
Com base nessas considerações, ressalto que nas referências à boa escola
em que estudaram os alunos s e apagam, ou seja, não têm uma atuação
significativo como atores do processo educativo escolar, já nas escolas ruins
tornam-se os principais atores, sendo a eles imputada a responsabilidade pela
indisciplina e pelo clima "horrível" da escola. Diferentemente dos professores a quem
são imputadas as responsabilidades tanto pela "boa escola", quanto pela "escola
ruim ou média".
2. O QUE É UMA BOA ESCOLA PARA OS ATORES DO PROCESSO
EDUCATIVO ESCOLAR ?
QUADRO 4.4 – O QUE É UMA BOA ESCOLA PARA OS GESTORES?
DEPOIMENTOS SÍNTESE
(núcleo da
representação)
ELOMAR
Uma escola que ensina, e que todo mundo aprende, né.
Se não, não é de qualidade. Ela pode ter todo um
suporte maravilhoso e se o menino entra ali... Escola
boa tem que ser aquela que ensina e o aluno aprende.
Que realmente o processo de ensino-aprendizagem se
deslancha, de maneira a realizar-se
Escola que ensina e
o aluno aprende
MARTA
Ela tem... desde o espaço físico dela, tem que ser Oferecer espaço
Média. Porque... há, vários níveis tanto de, da sociedade,
outro... a limpeza. Tudo no colégio conta pra mim,
entendeu?
É... sociedade era o quê ? O quê que você tá chamando
de sociedade?
Como é que eu falo sociedade ... mais especificado, como
que eu falo? Não sei.
Explica com as suas palavras!
Não sei. Ah, sociedade assim, mais favelados, entendeu?
Aí...
Entrevista Alunos, Tuca
182
olhado isso. (...) Então, essa estrutura de escola, de
prédio, até isso eu acho que tem que ser revisto. Não
derrubar o que tem, de jeito nenhum, mas ao se pensar
a escola agora, o prédio dela já tem de pensar diferente.
(...) Acho que passa por aí também que as pessoas que
estão envolvidas com essa escola, tem que, no mínimo,
gostar. Ela não tem que ser uma grande conhecedora,
não, tem que gostar.
físico adequado.
As pessoas
envolvidas com a
escola têm que
gostar mais do que
ter conhecimento.
NARA
Bom, uma escola de qualidade eu acredito que é aquela
que possa dar ao aluno as condições para que ele
desenvolva suas potencialidades e que ele consiga
construir um projeto de vida e realizá-lo. Ou seja, não
só a questão da aprendizagem que é o ponto chave de
toda escola, mas não é só isso, ele teria que estar
desenvolvendo relações sociais, culturais
Oferecer aos alunos
condições de
aprender e de
desenvolver
relações culturais e
sociais.
GAL
Uma escola de qualidade seria uma escola aberta para
a comunidade, para os pais, para os alunos. Além de
aulas, têm outras atividades no final de semana, por
exemplo, aqui nós temos quadras e piscinas, deveria
abrir, para os alunos para os pais para a família.
Algumas escolas já estão abertas, não sei se você
conhece Escola Viva Comunidade Ativa.
Escola aberta à
comunidade, com
atividades aos finais
de semana.
NANA
Uma escola de Qualidade, a escola que tivesse
realmente é... a gente tivesse realmente liberdade pra
trabalhar, né? Material, né? Tivesse punho com os ...
com os próprios alunos, né? Tivesse oportunidade de
ter sempre uma pessoa disponível: faltou um professor,
fica aquele professor ali trabalhando com aquele aluno,
naquele conteúdo dele, pra ele não perder a ponta da
meada, pra ele não ter tantos horários vagos como tem.
Liberdade para
trabalhar
Material
Punho com os
alunos
Não ter horários
vagos.
SIDNEY
Disciplina, ensino, dedicação, capacidade de ambas as
partes e uma excelente dose de boa vontade, acho que
isso é uma boa escola.
Tem disciplina,
ensino, dedicação,
capacidade dos
alunos e
professores, boa
vontade
RITA
Acho que uma escola de qualidade é aquela que
oferece pro aluno, professor, funcionário entendeu
condições de um aluno aprender e sair daqui
incentivado a continuar na vida; o professor satisfeito,
apesar de ganhar pouco, satisfeito porque os alunos
correspondem aquilo que eles querem e o funcionário
também ter mais valor dentro de uma escola, entendeu?
Ser mais valorizado.
Oferece condições
para o aluno
aprender
Valoriza mais os
funcionários.
MARISA
De qualidade, é o suporte mesmo. Dar o suporte todo
pro aluno. Tanto na parte artística, na parte lazer, na
parte de conteúdo, onde que tá fraco, é o que te falei (...
dessa do Magnum que eu sei, porque a minha filha
estuda lá.
Oferece suporte na
parte artística, de
lazer de conteúdo
para o aluno que
está fraco
183
Se há uma convergência bastante clara das representações dos gestores
sobre a boa escola em que estudaram, o mesmo não acontece quando definem o
que é uma boa escola, as definições apontam vários aspectos.
A boa escola definida pelos gestores me parece algo metafísico, muito ligado
ao discurso que hoje iilumina o campo educacional “escola para todos, onde todos
aprendem”. Para 04, dos 08 gestores entrevistados, o fato da escola promover
condições para que o aluno aprenda é o que qualifica a escola como boa escola,
entretanto estas condições não são especificadas, nenhum exemplo ou orientação
são indicados, apenas um dos gestores sugere: suporte na parte artística, de lazer,
de conteúdo. Sobre o que se aprende em uma boa escola, também há apenas uma
referência: além da aprendizagem o aluno teria que desenvolver relações sociais,
culturais.
Nessa lógica a "boa escola" é aquela que leva o aluno a aprender, mas como
explica Sampaio (2004) isso resultaria de um processo natural de desenvolvimento
do aluno, de seus recursos pessoais. (pp.84 e 85).
Merece ainda atenção a observação de uma das gestoras que secundariza a
importância do conhecimento daqueles que estão envolvidos com a escola: (...)
Acho que passa por aí também que as pessoas que estão envolvidas com essa
escola, tem que, no mínimo, gostar. Ela não tem que ser uma grande conhecedora,
não, tem que gostar.
Como já foi mencionado, o campo educacional é marcado por dicotomias,
sobretudo no âmbito da educação básica, nível de educação onde se prega o "amor"
aos alunos, a "vocação" para o magistério, o "gosto" pela escola, a "alegria" e
"prazer" de aprender e ensinar relegando a competência - aqui entendida como os
saberes pedagógicos e os saberes das disciplinas - ou, em alguns casos, até
desconsiderando sua necessidade.
Entendo que a definição da boa escola por ser uma categoria de classificação
ou de valoração , construída socialmente, está sujeita a variações tanto em relação
ao tempo quanto ao espaço, daí o discurso vigente no campo educacional ter
contribuído na conformação da representação de “boa escola” desses quatro
gestores.
Observa-se que na representação dos gestores sobre o que é uma boa escola
o desempenho do professor não é o fator predominante, como na representação das
boas escolas em que estudaram, é citado somente por um dos gestores.
184
É relevante lembrar que, quando se fala em condições de aprender,
pressupõe-se ensinar e esta função é do professor, o que poderia nos levar a ler nas
entrelinhas que o desempenho do professor é também considerado como fator
qualificador da boa escola. Entretanto, há de se pensar também que se a incidência
maior de referências é ao aluno pode ser a ele que caiba a função de aprender, pois
pressupõe-se que o professor cumpra sua função.
A escola aberta à comunidade, tão citada na bibliografia que trata da qualidade
da escola, parece não ser um fator significativo na qualificação das boas escolas
pelos gestores, pois apenas um cita esse fator.
A questão da exigência da disciplina dos alunos – habitus escolar é citada
por dois gestores.
QUADRO 4.5 - O QUE É UMA BOA ESCOLA PARA OS PROFESSORES?
DEPOIMENTOS
SÍNTESE
(núcleo da
representação)
CINARA
Olha eu acho que tem que ter professores capacitados
né, lógico. É que a gente fica desatualizado, como todo
profissional. A gente tem que ter é um certo conforto, né,
um pouco de recursos é , tecnológicos, por exemplo. (...)
Então, eu acho que uma escola bem montada já é o
primeiro passo. E os professores mais valorizados,
principalmente financeiramente, porque o professor mais
valorizado é bem feliz pra trabalhar, porque só fica no
magistério realmente quem gosta. Muito difícil a pessoa
que não gosta ficar, né. (...) Então, você tem que oferecer
essas coisas pra você encantar o menino, ai você
encanta o aluno igual você encanta qualquer cliente é a
mesma lei do mercado, precisa de encantar o cliente né.
Professores
capacitados e mais
valorizados.
Conforto, recursos
tecnológicos, escola
bem montada.
Precisa encantar o
menino, o cliente.
ELBA
Não fiz esta pergunta à professora.
FAFA
Olha só: a escola boa e que tenha qualidade, ela tem que
atender aos anseios da comunidade. Seja ela
comunidade dos pais, comunidades que trabalha aqui, o
corpo docente. Então ela teria que atender em todos os
níveis, os anseios dela.
Atender aos anseios
de toda comunidade
(pais, funcionários,
professores).
SIMONE
Professores satisfeitos, né. Trabalhando com
empolgação. E... é... discutindo assim assuntos que ele
viu num curso, numa viagem que ele fez. Trazendo para
os alunos todo esse conhecimento, essa bagagem. E...
muita atividade extraclasse, porque aquela coisa da
mesmice, quadro negro, giz, falação do professor na
sala... aquilo é muito cansativo para o professor e para o
aluno. Então, eu acho, assim, se a gente tivesse é... mais
empolgação para buscar outros caminhos, outros
métodos, mas infelizmente não é assim que as coisas
funcionam.
Professores
satisfeitos e
empolgados.
Muita atividade
extraclasse.
VIRNA
Uma escola boa de qualidade pra mim é uma escola que Oferece recursos
185
oferece todos os recursos. Didáticos e pedagógicos para
o professor e para os educandos. Acho que é uma boa
escola.
didáticos e
pedagógicos para o
professor e para os
educandos.
CAZUZA
Uma escola boa de qualidade depende, depende definir o
que é isso. Se for qualidade de ensino é aquela qualidade
em que o aluno tá ali, ele sai da escola realmente tendo
conteúdo dominado. Dá uma prova para ele, ele sabe,
resolve, e isso seria uma escola de conteúdo Uma escola
de qualidade, ela pode ter qualidade humana, o aluno sai
dali sabendo respeitar a sociedade, o colega, o ambiente
onde ele está. Sabe proceder no auditório, coisa que eu
não vejo aqui, a aluno não sabe conversar, grita, deixa o
celular ligado. Então, tem esses dois lados, a escola pode
ser de qualidade, humana ou de qualidade de conteúdo,
o que eu penso de qualidade de escola.
A escola pode ser de
qualidade de conteúdo
ou de qualidade
humana.
Se for qualidade de
ensino, o aluno deve
sair com conteúdo
dominado. Qualidade
humana, aluno sai
respeitando a
sociedade, o colega,
JERRY
(...) E a escola boa ou de qualidade, que eu vejo como
sinônimos, é aquela escola onde o aluno vai, acredita no
trabalho da escola e por isso ele acaba sendo uma
pessoa disciplinada, no sentido de cumprimento de
horário, de cumprimento de tarefas e automaticamente
ele vai estar feliz porque a escola vai tá realizando um
trabalho sério e ele vai ter... se sentir incentivado em
cumprir o papel dele, que vai ser bom é pra ele, mas ele
vai ter o estímulo criado pela própria escola.
Principalmente com aqueles diferenciais que eu falei.
Onde o aluno vai,
acredita no trabalho da
escola e por isso ele
acaba sendo uma
pessoa disciplinada,
no sentido de
cumprimento de
horário, de
cumprimento de
tarefas e
automaticamente ele
vai estar feliz (...)
incentivado em
cumprir seu papel.
LÚCIO
MANO
Eu acho que é uma escola tradicional, mas não aquela
escola tradicional que não ouse, que se propõe a: “vamos
ver se vai dar certo, vamos fazer isto”. Mas é aquela
escola que tenha disciplina, que acima de tudo tenha
respeito no geral: relação funcionárioxfuncionário,
alunosxfuncionários, alunoxaluno.
Escola tradicional
que ouse, tenha
disciplina.
MC BILL
Uma escola de qualidade é difícil de definir. Uma escola
de qualidade é onde os alunos saíam preparados para
compreender a sua posição no seio da família, no seio da
comunidade, no seio da sociedade; se situar na
comunidade nacional e na comunidade internacional.
Qual é o papel do Brasil na comunidade internacional,
qual é o papel da sua família em sua formação, Qual é o
seu papel na sociedade, qual será esse papel quando
ele se tornar um profissional? Então, essa escola, o
Colégio Estadual Central, e a Escola Estadual
Governador Milton Campos proporciona isso tudo. Eu
acho que respondi a pergunta.
Onde os alunos
saiam preparados
para compreender a
sua posição no seio
da família, no seio da
comunidade, no seio
da sociedade; se
situar na comunidade
nacional e na
comunidade
internacional.
As representações dos professores sobre o que é uma boa escola centram-se
no desempenho do aluno ao final do processo de formação (4) destacando: aluno
sair com conteúdo dominado (1), respeitando sociedade e colega (1), preparado
186
para compreender seu papel no seio da sociedade (1) e, ainda no desempenho ao
longo dos estudos, sendo disciplinado e cumprindo seu papel. (1).
Esses dados levam a inferir que a boa escola é classificada em relação a um
resultado final idealizado, apresentado pelo aluno, o processo só é evocado por um
dos professores.
Segundo os professores, uma boa escola carateriza-se também pelo
patrimônio disposicional e o capital profissional que eles próprios possuem:
empolgação/satisfação (2), capacitação (1) e capacidade para encantar os alunos
(1).
A definição de boa escola dos professores também apresenta as marcas do
discurso educacional vigente : é a mesma lei do mercado, precisa encantar o cliente;
atende aos anseios da comunidade; "é onde os alunos saíam preparados para
compreender a sua posição no seio da família, no seio da comunidade, no seio da
sociedade, se situar na comunidade nacional e internacional.
Os recursos tecnológicos e didáticos constituem outro qualificador da boa
escola que mereceu três referências.
Foram ainda feitas referências à disciplina e respeito entre os sujeitos do
processo educativo escolar (1), ao atendimento aos anseios da comunidade (1), ao
planejamento, organização e estrutura (1) e à valorização do professor (1).
A análise destes dados me habilita a inferir que na representação dos
professores o desempenho final do aluno, o patrimônio disposicional e o capital
profissional dos professores são os indicadores de uma boa escola. Assim a
representação da boa escola, guardadas algumas diferenças, aponta os mesmos
fatores que foram apresentados na qualificação das boas escolas em que estudaram
- desempenho dos alunos e dos professores.
Ao observar a incidência de respostas, percebe-se que a adequação dos
conteúdos e dos processos pedagógicos, a boa remuneração, o papel da direção, a
participação dos pais na vida escolar dos filhos, parecem não constituir
qualificadores significativos na representação de “boa escola” dos professores.
QUADRO 4.6 - O QUE É UMA BOA ESCOLA PARA OS ALUNOS ?
DEPOIMENTOS SÍNTESE
ANA
É igual eu te falei: um ambiente bom de estudar, é...
professores, colocam respeito, mas sabem ser flexíveis.
A direção, os alunos, não se sentem retraídos, sei lá, e
Professores que
colocam respeito,
mas são flexíveis.
187
essa parte assim mais de lidar com os alunos. Pra mim,
isto é uma escola de qualidade.
Escola que sabe lidar
com alunos.
CIBELE
Pra mim uma escola de qualidade é aquela que é...
onde o aluno, é... tipo assim, se sente bem de tá ali, e
tal, estuda, é lógico que tem suas obrigações, suas
cobranças e tal, e tipo assim , ele não sente a escola só
como um lugar que ele tem que estudar, que ele tem
que fazer os exercícios e tal. Ele sente aquilo como um
corpo, uma família onde há uma união... coisas assim.
Onde o aluno sente a
escola não só como
um lugar que ele tem
que estudar, que ele
tem que fazer os
exercícios e tal. Ele
sente aquilo como um
corpo, uma família
onde há uma união...
coisas assim.
DANI
Que tenha bons professores, professores formados,
que tenha bom diálogo com os funcionários, alunos.
Que tenha áreas de lazer, que tenha coisas culturais,
que você não aprenda só aquilo, matemática,
português, geografia, história, mas que você aprenda
também cultura esse tipo de coisa.
Professores
formados.
Bom diálogo entre
funcionários e
alunos
Áreas de lazer.
Atividades culturais
Aprenda coisas além
dos conteúdos.
DIVA
Professores ensinam com categoria com experiência e
alunos aprendem. Professores se interessam pelos
alunos e alunos se interessam pela matéria
Professores ensinam
com categoria,
experiência e alunos
aprendem.
Professores se
interessam pelos
alunos e alunos se
interessam pela
matéria
LIA
Uma escola de qualidade seria onde reinasse o diálogo,
entendeu? E onde tivesse também um tratamento
assim, não é tratamento psicológico, mas um
acompanhamento psicológico. Porque tem aluno que
não consegue se desenvolver porque tem algum
problema em casa, igual foi o que eu passei por isso,
sabe, tive problemas e foi o acompanhamento
psicológico que tive que me fez ir pra frente, sabe?
Porque senão eu não teria conseguido
Reinasse o diálogo e
tivesse
acompanhamentp
psicológico
NATI
A escola que dá assistência pro aluno, a escola que da
apoio pro aluno, da tudo que ele precisa, seja no
aprendizado ou em qualquer outro tipo de coisa que ele
queira fazer dentro do colégio, não que ele queira jogar
uma bomba dentro do colégio e eles tem que dar apoio,
mas assim nas coisas boas né, isso pra mim é uma
escola de qualidade.
Escola que dá apoio
em tudo que o aluno
precisar
ROSA
(...) Dinâmico, não é aquela mesmice de sempre, aquela
coisa chata, aquele coisa, como é que fala, aquela
rotina de todos os dias, aquela aula chata. A única aula
que a gente gosta além do laboratório é a aula do
Salvador, quando ele inventa um monte de jogo, que a
gente teve que pagar até mico, no ultimo jogo que teve.
Escola que tem aulas
dinâmicas, professor
interessado que
deseja que o aluno
preste atenção
188
É um dos melhores professores que tem é o Salvador,
apesar da gente brigar, ter muitas confusões com ele,
ele é ótimo professor. Ele é dinâmico, a aula dele não é
cansativa, é super legal, ele fica interessado ali, ele fica
querendo que a gente presta atenção, não pode dar um
pio.... Ele, ele preocupa em ensinar. Lá no particular
não, parece que você pagava e passava.
BIAL
Ah, escola pra mim tem que ser de alunos conscientes,
porque aí a escola fica preservada de uma forma ou de
outra; não precisa ter tamanho, tem que ter conteúdo,
sabe? Professores que gostam de ensinar, que tem
atenção pros alunos e quando assim, os alunos também
tem atenção dos professores. Pra mim isso é uma
escola boa.
Alunos conscientes,
professores que
gostam de ensinar,
que tem atenção pros
alunos, não precisa
ter tamanho, tem que
ter conteúdo.
DINO
É aquela escola que não fica parada no tempo, é aquela
escola que está sempre andando, com inovações,
tendo... oferecendo o aluno... lógico que eu não posso
querer escola estadual... e pedir isso, né. Porque aqui
não tem verba para esse tipo de coisa, é a escola
particular que tem isso. Mas, uma infra-estrutura melhor
para que o aluno possa utilizar da escola como um todo.
Não ficar só dentro da sala, para casa, casa, sala; sala,
casa. Igual tem laboratório... laboratório de informática a
gente nunca usou... assim vai. Pesquisa de campo eu
acho muito legal. Tinha que ter umas coisa assim, sabe,
uma escola mais moderna, vamos dizer assim.
Uma escola mais
moderna, que não
fica parada no tempo
está sempre andando
com inovações
FÁBIO
(...) Uma escola que atraia o aluno, que chama atenção
dele para dentro da escola, trate o aluno bem, trate ele
como se fosse uma família mesmo.
E como é que escola chama o aluno para dentro
dela?
Dando uma aula atrativa para o aluno, fazendo coisas
dentro da escola que chame os alunos Por exemplo,
uma escola aberta nas férias ou no final de semana.
Preocupando com a vida pessoal dele. Chame o aluno
para escola. Dia de aula, por exemplo, o aluno não está
a fim de assistir aula, uma outra coisa para ele fazer
dentro da escola que chame a atenção dele no horário.
A
trai o aluno, com
aulas atrativas,
preocupe com a sua
vida pessoal, trate-o
como se fosse uma
família mesmo.
GIL
Uma boa escola pra mim é... a que primeiramente
oferece, variedade de ensino. Ensino de qualidade, de
forma de ensinar alternativa. Por exemplo, aqui nós
aprendemos em quadro de giz, tal, tal e tal. Temos
ótimos laboratórios de química, física, biologia, mas por
exemplo, nós temos computadores no colégio e o aluno
não possui acesso ao laboratório de informática. E hoje
em dia informática é essencial no mundo, e...
principalmente pra mim. E a ...como que chama.... a
biblioteca, esse ano passou a ser informatizada, isso
pra mim é um avanço no colégio. Espaço conta sim,
mas assim, o espaço tem que ser bem aproveitado. Pra
mim é isso, uma escola de ensino.
Variedade de ensino.,
de forma de ensinar
alternativa.
Espaços bem
aproveitados para
aprender (laboratórios,
bibliotecas)
GINO
Escola aquela que cobra e que não cobra do aluno, que
sabe cobrar que o aluno chegou, entrou na sala, tem as
moças, igual eu te falei até nas próprias aulas. Ter umas
Uma escola que
cobra, mas oferece
189
aulas mais agradáveis assim, os professores bem
capacitados. Eu tô falando isso não aqui, tô falando pra
uma escola boa, com professores capacitados. Vamos
supor, aulas interativas, projetos assim porque isso as
vezes ate prós próprios alunos, os alunos como eu
posso falar assim, os alunos, os bagunceiros né, ate os
próprios bagunceiros podem parar, às vezes, parar pra
eles próprios estudarem entendeu. Acho que a escola
de qualidade tem que ter isso tudo, entendeu? Saber
cobrar do aluno e ter diversão, que escola não é só
você chegar e estudar e ir embora, se tem que levar
uma coisa de bom da escola, eu acho isso entendeu,
acho que uma escola de qualidade tem que ter essas
coisas e aí seria uma escola boa.
diversão.
Aulas agradáveis,
interativas, projetos
com professores
capacitados
LEO
Pra mim uma escola de qualidade é tem dois ponto
s
básicos, que dentro desses pontos se dividem outro
s
pormenores: mas principal é um debate contextualizad
o
né, porque a gente estuda muito, muito aquilo que vai cai
na prova, mas estuda pouco aquilo que a gente vai ve
quando sair da escola. E a hora que a gente sai e vai pr
a
nossa casa então, por exemplo, na ... é em história
a
gente estuda muito, vai cair isso, tem professor que cobr
a
muito data, pensa muito nisso, né, mas não passa pr
a
gente aquela visão que é necessária, que
é
extremamente necessária para um crescimento human
o
(...) E o segundo ponto é o lado social, o lado social, d
a
escola, né. Trabalhar na escola isso que eu até fal
e
demais já, mas sempre vou continuar falando, que
é
relacionamento, né, interagir com as pessoas. (...)E um
a
escola de qualidade todas as série tem que ter, pel
o
menos a partir da 7
a
série, tem que ter pra mim, n
a
minha opinião pessoal, uma aula de filosofia e uma aul
a
de sociologia, né, porque senão foge, senão fica aquel
a
coisa, né.
Debate
contextualizado,
estudando aquilo que
é necessário ao e não
crescimento
humano só o que vai
cair na prova.
Trabalhar o
relacionamento.
Ter uma aula de
filosofia e uma de
sociologia
LIMA
Ah! A que tem professor bom e infraestrutura boa,
assim. Só.
O que é um bom professor?
Que sabe dar aula direito, né, não fica enrolando. Aqui
tem um pouco.
Tem professor bom e
infraestrutura boa
LINO
Uma boa escola, acho que é o Estadual Central! Ah, eu
acho que aqui é um exemplo de escola, porque, ótimos
professores, nossa! É... ajudante, eles sabem cuidar da
escola muito bem mesmo.
Ótimos professores e
auxiliares de serviço.
RUI
Eu acho que... que aquela escola que o estudante se
sinta bem dentro da escola, primeiro de tudo. Então,
automaticamente, ele vai ter mais consciência para
tentar aprender. E uma escola que trata o estudante
como o ser principal da escola. Que é na verdade! O
principal dentro da escola é o estudante! O professor já
está formado, já tem a vida dele, já passou por
milhares de coisas na vida, o diretor nem se fala. Agora
o estudante ele está ali para conhecer. O que a escola
direcionar, ele vai ser. (risos). Se a escola não der
atenção para ele, ele não vai dar atenção para os
Aluno se sinta bem
e
é tratado como ser
principal da escola
190
outros. Ele vai achar que cada um se vira da forma que
puder.
TUCA
Ter uma infra-estrutura muito boa, ter os professores
bons...só eu acho.
Boa infraestrutura,
bons professores.
Na análise das representações dos alunos identificam-se atributos
qualificadores da boa escola ancorados em quatro diferentes naturezas: atuação e
prática docentes (13 incidências); sócio-afetiva (11), cognitiva (5) e
física/geográfica (3).
Na representação de quatro, dentre os 17 alunos entrevistados, a boa escola
tem um único qualificador, os demais apontam dois ou mais qualificadores. O
qualificador de natureza sócio-afetiva pode ser identificado na representação de boa
escola de três destes quatro atores do processo educativo escolar que destacam a
necessidade do reconhecimento do aluno como o ser principal para o qual a escola
deve estar voltada, dando todo o apoio necessário, assim como uma família deve se
voltar para seus filhos. Um destes sujeitos destaca um qualificador de natureza
múltipla: a necessidade de permanente inovação da escola para que não fique
estagnada no tempo.
Na análise da incidência de respostas que têm a atuação e prática docentes
como núcleo, observa-se que o capital profissional é destacado em treze
depoimentos: professores com boa formação (4) professores que dão aulas
agradáveis, interativas, dinâmicas atrativas (3); que se interessam pelos alunos (3);
que ensinam com categoria (1), que gostam de ensinar (1); que cobram respeito,
mas são flexíveis (1).
Para os alunos, a qualidade da escola depende também dos tipos de
relações construídas , ou seja da dimensão sócio-afetiva do processo educativo
escolar: estabelecimento de diálogo entre os segmentos que compõem a
comunidade escolar (2); atendimento psicológico ao aluno (1); cobrança, mas
também lazer (1).
Nas representações de “boa escola” dos alunos ainda identificamos menções
a qualificadores de natureza cognitiva, destacando tanto o conteúdo, que deve ser
abrangente, ou seja, além daquele estabelecido pelas várias disciplinas (4) , quanto
os processos de ensino e aprendizagem que devem ser diversificados (1) e, ainda, a
necessidade de ênfase nas atividades culturais (1).
191
Se cruzarmos os dados dessa questão com o que os alunos responderam
quando indagados se o que aprendem na escola, ajuda a desenvolver outras
tarefas que não sejam escolares, fica evidente a necessidade de aprenderem aquilo
que tenha sentido.
A importância do espaço físico na configuração da representação de “boa
escola” se traduz na existência de boa infra-estrutura, áreas de lazer e espaços
bem aproveitados.
O grande número de referências diretas à necessidade de as práticas
escolares serem orientadas pelas relações socio-afetivas e o fato de as referências
à atuação e prática dos professores estarem situadas também na dimensão socio-
afetiva evidenciam que na representação dos alunos a "boa escola" é aquela que
deixa de ver o aluno apenas como aluno e passa a vê-lo como um sujeito social que
além das necessidades cognitivas tem desejos, resistências, emoções, dificuldades,
inseguranças, certezas, interesses, apatias, conformadas pela suas condições de
existência.
Nas linhas e entrelinhas do discurso dos alunos pode-se ler que a "boa
escola" é a instituição que os reconhece, respeita e apoia. Esses atores do processo
educativo escolar parecem comungar com Bourdieu, fazendo o mesmo chamado
desse para a necessidade de a escola estar mais atenta às desigualdades sociais,
embora por vezes "acusem" a desigualdade de fazer cair o nível da escola..
3. EXEMPLOS DE BOA ESCOLA CITADOS PELOS ATORES DO PROCESSO
EDUCATIVO ESCOLAR
QUADRO 4.7 – EXEMPLOS DE BOA ESCOLA CITADOS PELOS GESTORES
DEPOIMENTOS SÍNTESE
ELOMAR
Ordem e Progresso, Carlos Lacerda. Barão do Rio
Branco, Instituto de Educação, Afonso Pena.
Cita escolas públicas
tradicionais em BH
MARTA
Não consigo... se existe... porque eu estou tão
envolvida, nessa aqui, que para fazer uma avaliação
para falar que era boa, nesse sentido, eu não sei...
sinceramente. Se tem, deve ter, eu acredito que tenha,
sim. E, olha, deve ter muita escola de periferia muito
ou boas, escolas menores, né. Eu acho que é
possível. Agora, eu não posso te falar se tem, o que
eu tenho é muito mais o aspecto negativo de escola.
Eu não tenho conhecimento.
Conhece mais os
aspectos negativos
das escolas, mas
acredita que há
escolas boas na
periferia.
192
NARA
Bom, eu para falar isso eu teria que conhecer mais a
fundo as escolas, porque dentro do que eu falei é uma
proposta muito ampla de escola e que não envolve
apenas a aprendizagem. Então não adianta uma
escola, por exemplo, como algumas que eu conheço,
que massacram o aluno para que ele passe no
vestibular, entretanto, ele sai da escola um aluno
estressado, ele sai da escola uma aluno tirano, porque
ele foi tão massacrado para ser competitivo, para ser
um aluno que... tire sempre as melhores notas, mas
ele não desenvolveu seu potencial humano, social e
outras coisas. Então, eu poderia até estar citando,
várias escolas ai que têm um índice muito grande no
vestibular que são escolas que são colocadas ai
como escolas de Qualidade. Mas para eu dizer e uma
escola que tenha esse compromisso com o aluno, ai
eu precisava estar conhecendo melhor para eu estar
falando.
Diz que poderia até
citar algumas escolas
que têm alto índice
de aprovação no
vestibular, mas não
acredita que somente
isso garanta a
qualidade.
GAL
(...) [particulares] tem escolas muito boas que conheço
assim, que eu tenho... que eu já até entrei e conheci a
estrutura da escola. O Colégio Santo Antônio para
mim é uma escola excelente, conheço o Marista que
também é considerada uma escola boa e conheço o
Colégio Imaculada.
Pública, eu gosto dessa aqui que eu estou porque eu
acho que também uma escola muito boa. De
qualidade, eu acho porque a partir do momento que tá
implantando aqui uma escola de referência eu acho
que as coisas aqui a tendência é melhorar cada dia
mais, é voltar e resgatar aquele nome da escola,
aquele status que a escola tinha. E o Instituto de
Educação também, eu acho que a tendência é
melhorar, resgatar essa fama, esse status de escola
boa que todo mundo quer pôr o filho, porque é uma
escola que tem uma boa referência. Então eu acho
que essas duas escolas são boas.
Questiona se são
escolas públicas ou
particulares.
Cita escolas públicas
e particulares. Entre
as particulares, cita
escolas religiosas,
ressaltando sua
estrutura.
Entre as particulares,
cita o próprio Colégio
Estadual e o Instituto
de Educação,
ressaltando o fato de
estarem trabalhando
para resgatar a sua
referência.
NANA
Ah, do Estado ou particular. Eu gosto muito do
Colégio Santo Antônio, do Izabela, gosto muito do
Pandiá, sabe? O Pandiá é uma gracinha também. Já
tive oportunidade de sobrinhos que estudaram lá, que
passaram na Federal, cê tá entendendo? Então, eu
não... eu sou suspeita pra falar porque pra falar
assim, a gente precisa de conhecer muito né? Mas eu
acho que o Santo Agostinho muito bom também, né?
Eu tô falando assim só porque eu já tive meus
sobrinhos que estudaram e passaram em Federal.
Então eu acho que eu posso falar aberto dessas
escolas, porque eu sou muito nova aqui ainda. Tem
apenas oito anos que eu estou aqui.
Questiona se são
escolas públicas ou
particulares.
Cita três escolas
religiosas e ressalta
o fato de uma deles
Ter alunos aprovados
no vestibular da
federal.
Cita uma escola de
ensino fundamental
situada perto do
Estadual Central.
SIDNEY
Particulares e públicas? Vamos começar pela noss
a certo, da prefeitura, o Artur Versiani apesar de todas
as dificuldades é uma boa escola, Carlos Lacerda que
é um colégio municipal, o GATI, Geraldo Coutinho da
Costa, é o Isaura Santos, o Loyola, o Santo Antônio, o
Pitágoras.
Questiona se são
escolas públicas ou
particulares.
Além do Estadual
Central, cita três
193
grandes escolas
municipais
tradicionais. Duas
escolas particulares
religiosas e uma
escola particular
especializada em
aprovação no
vestibular.
RITA
É... eu não conheço nenhuma não melhor do que essa
aqui. Eu não conheço não, eles falam muito do
Instituto, mas não conheço não.
Diz não conhecer
nenhuma. Cita
apenas o Instituto,
como referência de
outras pessoas.
MARISA
Ah, estaduais?
Você quem sabe.
Ah, não sei. Pra falar a verdade, a gente sabe pelo
povo. Vê o povo admirando, fala que é uma boa
escola, particular, particular não, estadual, é... o Pedro
II, mas eu não tenho nada assim... para dar referência
mesmo, isso é da voz do povo. Pessoal que chega e
fala. Os pais manda matricular. “Ah, aquela escola é
muito boa; aquela escola é ruim.” Então é do povo. Eu
não sei sinceramente, eu não sei.
Questiona se são
escolas públicas ou
particulares.
Diz não conhecer,
mas cita uma escola
estadual como
referência do povo.
Quando solicitados a dar exemplos de boas escolas, 04 gestores questionam
se são escolas públicas ou particulares. Esse questionamento nos faz pressupor
que, para eles, a qualidade da escola é determinada pela rede a que pertence. Ou,
seja, as escolas particulares têm qualidade e as escolas públicas deixam a desejar.
Atribuímos esse posicionamento ao efeito da hieraraquia axiológica, produto do
habitus, já mencionado em capítulos anteriores, que atribui o bom ao privado e o
ruim ao público.
As dez escolas públicas citadas são aquelas que sempre se destacaram no
cenário da educação mineira, como escolas tradicionais e, com apenas duas
exceções, todas oferecem o ensino médio. A justificativa de seu reconhecimento
social assemelha-se muito a do Colégio Estadual: escolas grandes, com boa
estrutura física, organizadas e situadas em regiões privilegiadas.
No rol das escolas particulares, destacam-se as grandes escolas religiosas
(7) que apresentam as mesmas características das escolas públicas relacionadas e
uma escola laica que se destaca pela aprovação no vestibular.
Como justificativa da qualidade das escolas citadas dois gestores destacam a
aprovação no vestibular.
194
A análise desses dados pode remeter a duas deduções: primeiro, são citadas
as escolas que são mais conhecidas no cenário educacional de Belo Horizonte; ou
os gestores identificam como boas escolas aquelas que apresentam características
físicas semelhantes às do Colégio Estadual Central.
QUADRO 4.8 - EXEMPLOS DE BOA ESCOLA CITADOS PELOS
PROFESSORES
DEPOIMENTOS SÍNTESE
CINARA
Escola pública?
A seu critério.
(...) o que você compara mesmo é a parte econômica em
termos de investimento, a escola particular ela investe -
que é lógico que ela tem que investir senão ela perde o
menino – mais. Aqui eu acho que podia investir um
pouquinho sabe, o governo podia prestar mais atenção
porque, até mesmo pelo passado, né. E, então, por
exemplo, eu vejo assim o Instituto de Educação, se você
comparar, é uma escola semelhante aqui, não tem
diferença. Agora, por exemplo, eu já trabalhei em escola
mais pobre igual escola da Prefeitura de Contagem, né,
que eu já trabalhei. As escolas eram ótimas, super
limpas, os meninos tinham acesso, fim de semana os
meninos estavam lá, uma merenda de qualidade boa,
então que acaba que o menino tem mais até é, prazer do
que aqui , porque aqui por essa estrutura acaba que o
menino fica meio é, no final fica tudo meio pra trás né.
(...) Sabe, eu acho que é, não tem como, e isso citar
assim, eu acho que não teria um exemplo não, eu não
conheço muita escola de interior pra citar, pública, agora
em termos de escola particular, não pode comparar por
isso, pela falta mesmo de grana.
Questiona se são
escolas públicas ou
particulares.
Dificuldade em
comparar por causa
do investimento que
têm as escolas
particulares para não
perderem alunos.
Porém cita uma
escola estadual de
renome (Instituto de
Educação) e uma
escola municipal em
Contagem.
ELBA
FÁTIMA
Amélia de Castro Monteiro, COLTEC, CEFET Uma escola estadual
que não se destaca e
duas escolas federais
(CEFET e COLTEC)
de renome no campo
educacional mineiro
SIMONE
As que eu conheço: Instituto de Educação é uma escola
boa que está no mesmo nível do Estadual em termos de
estrutura, de parte pedagógica, tá um nível bom. Não
ideal, deixar isso bem claro que não é o ideal, mas seria
se tivesse ajustado alguns detalhes como essa questão
da valorização profissional, essas escolas seriam escolas
de qualidade, porque essas escolas, inclusive, elas têm
toda uma estrutura muito melhor do que Qualquer escola
particular aí. Muita escola particular não tem.
Instituto de Educação
tem o mesmo nível
do Estadual em
termos de estrutura e
parte pedagógica.
VIRNA
Você fala na área estadual ou particular? (...)
Eu não conheço profundamente, mas eu tenho uma
colega que trabalhou aqui, a Carmem de Educação
Questiona se são
escolas públicas ou
particulares.
195
Artística, que trabalha no CEFET, eu acredito que seja
uma escola boa que ofereça todos esses recursos para o
professor e para o aluno. Eu vou citar só essa que eu
tenho conhecimento através dessa minha amiga.
Escola federal
(CEFET) de renome.
CAZUZA
Olha, eu hoje só leciono aqui no Estadual, quando
lecionava na rede municipal, há 15 anos atrás, tinha
várias escolas municipais relativamente boas. Fiquei
sabendo que caiu muito. A Carlos Lacerda, onde eu
trabalhei, o Colégio Municipal, na Lagoinha, o São
Cristóvão o Marconi eram muito boas. O Imaco era muito
boa a escola, só que eu fiquei sabendo que caiu muito,
não posso dizer o que, mas precisamos falar. Na rede, o
Estadual Central e o Instituto de Educação sei de ouvir
falar e os particulares têm aí os de elite tem aí o Santo
Antônio, Loyola, Bernolii e outras mais que estão
surgindo aí. É o que eu sei. Mas tô falando de ouvir falar,
porque como estou afastado há 15 anos da rede, só
trabalho aqui no Estadual, eu não posso falar com
conhecimento de causa.
Cita cinco escolas
municipais que se
destacam, duas
escolas estaduais e
três particulares que
atendem à elite de
Belo Horizonte , duas
religiosas (Santo
Antônio e Loyola) e
uma leiga Bernoli.
Cita também o
Colégio Estadual
Central.
JERRY
Eu citaria. Eu citaria, é... o... Instituto de Educação, citaria
o Pandiá Calógeras, né? Essas duas, são estaduais. Eu
citaria também, é... difícil agora lembrar assim, é...
Pandiá e Instituto de Educação, conheço, né? O Instituto
eu trabalho lá também e o Pandiá, eu já trabalhei. Então
eu conheço.
- E porque que você acha que são boas escolas?
- Elas são boas escolas porque elas seguem esses
preceitos que eu acredito. Eu vejo os professores
envolvidos, vejo professores preocupados, né? Claro que
não é cem por cento, né? Mas professores preocupados
em garantir que o aluno tá aprendendo, que o aluno vai
sair dali e vai conseguir avançar ainda mais, é... vejo
Direção preocupada com isso, enfim é, é, por essas
observações que eu considero é... escolas boas. É... o...
Colégio... é... Escola da Prefeitura, por exemplo pra citar,
né? Eu citaria aí hoje o Arthur Versiani no turno diurno,
né? Que isso aí é de ouvir falar, não é constatação
minha. É... o IMACO no turno da manhã, Marconi no
turno da manhã, é... agora assim, que eu me lembre, o
Amintas de Barros nas séries iniciais...
Duas escolas
estaduais de renome.
(Instituto de
Educação e Pandiá
Calógeras)
Três escolas
municipais de
renome e uma que
não se destaca.
LÚCIO
MANO
É... independente do Estadual, particular...
A seu critério.
Ó, uma delas que eu acho muito boa é o COLTEC,
Colégio Técnico. Trabalhei durante três anos. Muito bom.
Excelente escola. Uma outra escola que também acho
muito boa, embora eu acho que ela extrapola, é ... em
termos de disciplina, é... eu acho que ela é rígida demais,
é o Colégio Santo Antônio. Acho que considero também
uma boa escola. O Estadual Central também considero
uma boa escola. Não tem porque eu não citar o Estadual
Central. Qual outra escola boa? Hum... Caetano Azeredo
também considero uma escola boa.
Questiona se são
escolas públicas ou
particulares.
Escola federal
(COLTEC)
Particular (Colégio
Santo Antônio),
escola religiosa que
atende à elite.
Uma escola estadual
que não se destaca
das outras
196
Cita também o
Colégio Estadual
Central.
MC BILL
Por ouvir falar, a Escola Estadual Maestro Vilas Lobo. E
por conhecimento dos profissionais de lá, a Escola
Estadual Leopoldo de Miranda. O Instituto de Educação,
eu não posso dizer muita coisa não, além do que eu já
disse. Ela tem... o Instituto de Educação tem muita coisa
ainda a aprender com Escola Estadual Governador Milton
Campos, o Colégio Estadual Central.
Três escolas
estaduais de renome.
Cita também o
Colégio Estadual
Central.
Assim como os gestores, alguns professores (3) questionaram se a pergunta
referia-se à escolas públicas ou privadas.
Citam quinze escolas públicas, entre federais, estaduais e municipais, que,
com exceção de três, sempre se destacaram no cenário da educação mineira, como
escolas tradicionais de grande reconhecimento social. Assim como o Colégio
Estadual, são escolas grandes, com boa estrutura física e organizadas. O próprio
Colégio Estadual é citado também por dois professores.
No rol das escolas particulares, destacam-se duas grandes escolas religiosas
que apresentam as mesmas características das escolas públicas relacionadas e
uma escola laica que embora nova no mercado educacional tem atraído bastantes
alunos.
Alguns professores ressaltam que indicam determinadas escolas por ouvirem
falar ou por informação de colegas. Como justificativa da qualidade das escolas
nomeadas, citam: maior investimento financeiro das escolas particulares, limpeza e
abertura da escola para os alunos nos finais de semana, boa estrutura física,
recursos para alunos e professores, professores envolvidos e preocupados com a
aprendizagem dos alunos.
A análise dos dados pode remeter às mesmas deduções elaboradas para as
representações dos gestores: primeiro, são citadas as escolas que são mais
conhecidas no cenário educacional de Belo Horizonte; ou os professores, assim
como os gestores, identificam como boas escolas aquelas que apresentam
características físicas semelhantes às do Colégio Estadual Central; a tradição das
escolas é um dos qualificadores da boa escola.
197
QUADRO 4.9 - EXEMPLOS DE BOAS ESCOLAS CITADOS PELOS ALUNOS
DEPOIMENTOS SÍNTESE
ANA
Olha, eu conheço assim, outras escolas , mas eu sei,
apesar do Magnum muito citado pela minha mãe... é...
morre de maravilhas por lá e realmente é uma escola
muito boa, pelo , parece que o Santa Maria, mas é
escola particular também, que é uma escola que
também tem muito isto de acompanhamento. Isto que
eu sei assim de ouvir pais falando. Só isto.
E públicas?
Difícil. Tem muito essa carência desse lado.
Santa Maria e
Magnum, duas escolas
privadas uma leiga e
uma religiosa. Destaca
o acompanhamento
aos alunos.
Não cita nenhuma
pública alegando que
há muita carência.
CIBELE
É... eu só posso falar das que eu estudei! (Risos). É tipo
assim, o SESI nesta questão da união. Foi o SESI,
mesmo. Porque no Santo Agostinho eles ensinam muito
bem e tal, mas, tem muito clima hostil que você tira
nota, te trata como uma máquina. Então não considero
não.
SESI, por causa da
união entre os alunos
e entre estes e os
professores
DANI
Não sei Diz não saber
DIVA
Eu vou falar em relação às escolas boas que eu
conheço: o Instituto de Educação, o Pedro II, o
Professor Morais , que é lá no Padre Eustáquio, e os
colégios particulares também tem muitos, vários e aí
vai.
Instituto de Educação,
Pedro II, Professor
Morais e várias
escolas particulares.
LIA
O Estadual Central, né? O Instituto de Educação...é
porque e eu não conheço muita escola em Belo
Horizonte! (Risos) . É acho que o... como que é o
nome? “Carlos Lacerda”. São essas três escolas que
assim, se eu pudesse escolher, eu iria pra uma das três.
Estadual Central,
Instituto de Educação,
EM Carlos Lacerda.
NATI
Eu acho que o Estadual Central tá no caminho né, pra
ser uma escola de qualidade, ele tá quase chegando lá,
mas público porque se for olhar particular eu acho que o
Santo Antônio é um colégio excelente, o Santo
Agostinho também é muito bom, muito muito bom se eu
tivesse oportunidade de estar lá.
(...) Lá tem o que falta aqui, que é esse apoio de .. .
esse apoio paralelo que eu falo, que lá existe esse
apoio e lá tem estrutura boa, lá tem tudo que tem aqui,
porém esse quesito que falta aqui e tem lá, existe lá.
Cita o Estadual Central
Cita, ainda, duas
escolas particulares
religiosas, Santo
Antônio e Santo
Agostinho.
Santo Agostinho é
bom porque oferece
apoio ao estudante.
ROSA
Aqui é boa. Aqui é bom. Eu acho aqui bom, acho que
aqui é ótimo. Aqui, eu estou gostando muito daqui, do
ensino, do jeito que alguns professores explicam, acho
que aqui é bom! Eu não gostei muito das outras não. Lá
do Barão foi legal, mas... É eu acho que agora tá
mais... sei lá eu acho que agora tá melhor. Eu tô
gostando muito daqui, aqui é muito legal. Mas também
em muita coisa que tem que mudar também.
Colégio Estadual,
Barão do Rio Branco.
BIAL E você poderia citar algumas escolas que você acha
que são boas?
Instituto de Educação
porque lá estudaram
198
Ham... Instituto de Educação, é... sei lá, tipo ... porque
eu não estudei em varias escolas, não sei como falar.
Eu só falaria se eu estudasse na escola, né?
Porque que você acha que o Instituto de Educação é
uma boa escola?
Porque tipo assim, é antigo, muita gente conhecida
assim por mídia, estudou lá, gente conhecida, tipo
amigo estudou lá, muita gente passou por lá. Ela é
antiga, tem até cursos superior nessa escola... E eu
acho sim que é boa. Apesar da... tipo de ser antiga e tá
toda destruída, eu acho sim que ela é boa.
muitas pessoas
famosas e já tem até
curso superior.
DINO
Pode ser particular também?
Pode.
Eu acho o Batista uma ótima escola. Eles têm... eu
conheço muita gente que estuda no Batista, eles me
falam que lá tem uma infra-estrutura muito boa. Assim...
tem muita coisa para fazer lá, você fica até meio
perdido. Lá perto de casa tem o Santa Maria também
uma escola igual eu te falei, Lá que tem esse negócio
você pode tirar dúvida à tarde. Seria mais escola
particular que tem isso, que conheço assim essas duas
assim são meu sonho de estudar lá, sabe? Mas, não
porque eu não gosto do Estadual Central, eu não tenho
nenhuma vontade de sair daqui, mas eu gostaria muito
de estudar lá, eu tinha muita vontade de estudar lá.
Questiona se particular
também?
Colégio Batista
Colégio Santa Maria
Destaca a oferta de
melhores recursos e
atenção ao aluno.
FÁBIO/
Olha, eu não conheço muita coisa, não. Mas, eu tenho
alguns colegas que estudam no Magnum e o pouco que
eu conheço, pelo que os meus colegas falam, dizem que
lá é bom, entendeu? O Magnum ali perto da Cristiano
Machado.
Eles dizem por quê?
Não, dizem que basicamente o ensino... assim a
liberdade que os alunos têm lá dentro.
É
mais ou menos
assim.
Magnum, devido à
liberdade que os
alunos têm lá.
GIL
Eu não posso dizer com certeza, mas que eu considero,
o CEFET aqui de Minas Gerais, que eu já fiz prova lá e
pelo fato de que existe um exame pra você entrar, já é
uma escola onde os alunos são mais selecionados,
estão lá pra estudar mesmo. COLTEC também é outra
escola que exige ensino, exame de admissão, e
particular, acho que eu posso citar Pitágoras.
E o Pitágoras? Porque que você acha que é bom?
Pitágoras e Promove. O Promove porque a minha mãe
já estudou lá, quando ela veio aqui pra BH, e ela fala
que é um ótimo ensino, possui vários é... colégios em
pontos diferentes da cidade. E o Pitágoras porque eu
considero um colégio, digamos de tradição. Antigo
assim, eu acho que o ensino lá, as formas de ensino
são mais avançadas.
CEFET e COLTEC,
porque há seleção
para entrada dos
alunos.
Pitágoras e Promove,
porque têm formas de
ensino avanaçadas.
GINO
Olha tem o Instituto de Educação que é uma escola
muito boa, tem o Marconi, o colégio Marconi que é um
colégio muito bom, tem Nossa Senhora das Dores, você
fala público né?
Questiona se é escola
pública.
Cita três escolas
públicas que se
199
A seu critério, o que você quiser, ai você que sabe.
Colégio Batista Mineiro, tem o Maria Imaculada, os Três
Poderes que é um colégio muito bom, assim tem vários
colégios bons mas assim são poucos, poucos mesmo.
destacam: Instituto de
Educação, EM
Marconi e EE Três
Poderes. E duas
escolas religiosas
privadas: Colégio
Batista e Maria
Imaculada.
LEO
Bom, das que eu estudei, acho que só poderia indicar
as que eu estudei. O Nossa Senhora das Dores é um
colégio de qualidade né, em relação ao ensino, não
dentro disso que eu falei agora, que eu acho, né, mas
pelo que a gente mais próximo assim, né. Nossa
Senhora das Dores é uma escola de Qualidade sim,
tem Qualidade do ensino, os professores são
excelentes professores, excelentes mesmo, né. É, a
área pedagógica lá é boa, apesar de ser um colégio
católico, com irmãs e tal é uma coisa as vezes difícil de
você lidar. Muito complicada pra você lidar. É, tem todo
aquele método, né, ser muito metódico, né, as vezes é
um pouquinho complicado, né, mas é uma escola boa,
em geral, e nesse lado que eu já falei também de
atividades culturais, recreativas etc.
Nossa Senhora das
Dores, qualidade de
ensino, excelentes
professores., tem
atividades culturais e
recreativas.
LIMA
O Colégio Batista, o Santa Maria, Cotemig, aqui. Cita três escolas
particulares e o
Estadual Central.
LINO
È... particular?
Você que sabe!
Eu acho que sendo particular ela tem direito de ser boa.
Acho que Villa Lobos é boa... (...) Ah, lá, lá é uma, eu
não conheço o ensino, mas já, eu vi lá, que lá é tudo
organizado, muito bem.
Questiona se é escola
particular.
Diz que escola
particular tem direito a
ser boa.
Cita E.E.Villa Lobos.
RUI
Bom, vou dar o exemplo da escola pública, é grande
até a escola, de periferia, que é a escola Padre
Massote, já ouviu falar da escola, já?
Já.
Eu fiquei encantado, tem um Ativo da Juventude que
eu participo lá. Primeira vez que eu tive contato com
escola, cheguei, na entrada, periferia... eu falei: -
nossa, essa escola deve ser perigosíssima, toda
pichada, não deve ter nem carteira. Entrei na escola,
comecei a olhar para as paredes, nem uma pichação.
Pensei: “Pô o diretor daqui deve ser daqueles que
suspirou demais, ele está suspendendo!” Beleza, né!
Banheiro super limpo, ginásio gigante que é uma
maravilha, o campo conservadíssimo, as quadras...
Falei: - gente, tem alguma coisa errada nessa escola,
escolas públicas não são assim! A escola tem algo
errado! (risos). Aí, na reunião da Juventude lá, no meio
da reunião, chega um cara lá, de boné, brinquinho na
orelha, bermuda, chinelo, camiseta, senta lá e: - ei,
galera! Eu olhei, falei: - quem é esse cara, um cara no
meio da reunião, nossa reunião... reunião fechada, o
EM Padre Massote
porque tem banheiros
super limpos, ginásio
gigante, o campo
conservadíssimo, as
quadras... Tem grupo
de capoeira, forró, os
cambal a quatro e o
diretor identifica-se
com os alunos.
200
cara entra assim e tal! Aí cada um se apresentou, ele
levantou: - meu nome é tal, sou diretor da escola Padre
Massote. Eu entendi! Comecei a ir na escola durante a
semana, a galera passa e: - e aí, professor?! Ele
cumprimenta, sai para a festa com aluno, entendeu?
Então, assim, não tem um aluno na escola que não
goste dele. Então, assim, isso mostra como o diretor
que é a pessoa que as pessoas mais têm referência
de, dentro da escola, influencia em todo o resto. Os
professores lá, com salário miserável que os
professores recebem, entram lá, parecem que estão
fugindo desse mundo externo aqui, sabe? Entram lá, é
aquela maravilha! O professor já entra lá dando aquele
sorriso, os alunos... E tem Escola Aberta, e é o dia
inteiro. Alunos de todos turnos na escola, é o dia
inteiro! Tem grupo de capoeira, forró, os cambal a
quatro. Então, eu acho assim que é uma escola
exemplo. Inclusive, eu até brinquei com ele: - bicho,
você tinha que ser diretor do Colégio Estadual, da
vida, que aquilo ali ia deixar de ser escola secundarista
e virar universidade secundarista. (risos).
TUCA
Particulares?
Você quem sabe.
Tem o Marista, tem Santo Antônio, deixa eu ver aqui,
deixa eu ver uma estadual... Ah, essa aqui é boa, assim,
mais ou menos boa. Essa aqui porque em nível de
estadual essa aqui é a primeira. Só.
E porquê que você acha que essas escolas que
você citou são escolas boas?
Porque são escolas particulares.
Só por ser particular já é boa?
Ham, ham.
Questiona se é escola
particular.
Cita duas escolas
privadas Marista e
Santo Antônio e, ainda
o Colégio Estadual
Central.
As escolas privadas são
boas porque são
privadas.
Assim como os gestores e os professores, os alunos (4) também questionam
se eu estou perguntando sobre escolas públicas ou particulares. Um cita apenas
escolas privadas e diz não citar públicas porque nestas há muita carência e um outro
afirma que por ser privada já é boa. Estes dados deixam claro que a hierarquia
axiológica que atribui o bom ao privado e o ruim ao público é mais presente na
representação dos alunos.
Os alunos citam dez escolas privadas e quatorze escolas públicas como
exemplos de boa escola. Entre as escolas privadas, destacam algumas que
atendem bairros cuja população tem rendimento médio baixo e médio. As escolas
públicas, com duas exceções, são as mesmas citadas pelos gestores e professores
o que reafirma as deduções já elaboradas.
201
Como qualificadores das boas escolas privadas destacam: o
acompanhamento e apoio ao estudante (3); relação de união entre alunos e entre
esses e professores (1); bons recursos (1); formas avançadas de ensino (1);
liberdade concedida aos alunos (1); qualidade do ensino, excelência dos professores
e existência de atividades culturais e recreativas (1)
Em relação às escolas públicas destacam: tradição e atendimento à pessoas
famosas; seleção de alunos (1); conservação da escola, higiene dos banheiros, boas
quadras, promoção de atividades culturais, identificação do diretor e professores
com os alunos. (1).
Como se pode observar, também nos exemplos de boa escola dados pelos
alunos, destaca-se a natureza socio afetiva do qualificador.
4. SEGUNDO OS ATORES DO PROCESSO EDUCATIVO ESCOLAR, O COLÉGIO
ESTADUAL É UMA BOA ESCOLA?
QUADRO 4.10 – SEGUNDO OS GESTORES, O COLÉGIO ESTADUAL
É UMA BOA ESCOLA?
DEPOIMENTOS
SÍNTESE
ELOMAR
Mas eu não posso deixar de dizer que é uma escola
de qualidade, sim. Eu já te falei do comprometimento
que eu vejo com quem está ensinando e com quem
está buscando aprender, eu acho.. eu diria que é uma
escola de Qualidade, sim.
È uma escola boa,
de qualidade.
Comprometimento
dos professores e
dos alunos.
MARTA
Ela é boa, sim. Ela tem qualidade, sim. Porque coisas
dessa natureza [referindo-se à elaboração do PDPI e
aos trabalhos do GDP] acontece nela. Agora, eu não
vou falar que ela é 100%. Nó, quem me dera! não vai
chegar nunca, né, nada é 100%. Mas, que ela é boa,
é, que isso acontece, isoladamente, mas acontece.
Mas, que ela é boa, é, que isso acontece,
isoladamente, mas acontece.
È uma escola boa,
de qualidade.
Porque acontecem
coisas como o PDPI
e o GDP.
NARA
Bom, eu acho que... que.. depende para eu estar
respondendo isso, depende da expectativa que a
gente tenha de uma escola de qualidade. Eu acho em
alguns aspectos sim, mas eu diria que ela precisa
ainda de muito pra estar chegando nesse ponto de
dizer escola de qualidade. Nós estamos tentando, com
alguns projetos, estar resgatando algumas questões,
mas eu acho que o Estadual Central precisa ainda
estar avançando bastante, para estar avançando,
ganhando esse titulo de escola de qualidade. Agora se
a gente for colocar no referencial de escola publica,
ela é uma escola de ponta, sim. Agora, eu não diria
que é uma escola de qualidade vou estar pontuando
para você problemas que já teriam que ser
Em alguns aspectos
sim, em outros
precisa muito ainda
para ser uma escola
de qualidade.
Entre as escolas
públicas é uma
escola de ponta e
não boa, de
qualidade, porque
tem boa estrutura
física, limpa,
organizada,
202
superados e que não foram.
Eu acho que ela é uma escola de ponta porque a
escola publica, ela está sucateada! Então a gente vê a
rede física extremamente ... eu estou falando no
geral, viu, porque é claro que tem escolas muito boas.
Mas, eu fui numa reunião, por exemplo, na Secretaria
de Educação, a Secretaria passando no telão escolas
que têm cemitério de carteiras, paredes sendo...
caindo aos pedaços etc e tal. Então se eu for colocar
no âmbito, no universo de escola pública eu falo que
ela é de ponta por que é uma escola que tem um bom
projeto arquitetônico, ela é limpa, ela é organizada, ela
tem uma clientela boa, um grupo de professores que é
um grupo seleto e tem muita coisa boa aqui. Mas, se
nós formos, por exemplo, à biblioteca e olharmos os
livros lá, nós temos livros na biblioteca que já estão
defasados, que se a gente virar a página derrete na
mão da gente. Então, eu não considero uma escola de
qualidade que não tenha uma boa biblioteca, uma
biblioteca interativa, que não tenha livros para o aluno
pesquisar, não tenha várias outras coisas. Então eu
não vou falar que é... mas se eu for considerar as
outras que estão caindo aos pedaços (risos) eu até
diria que sim , talvez seja a minha referência .
clientela boa e
grupo seleto de
professores.
GAL
De qualidade, eu acho porque a partir do momento
que tá implantando aqui uma escola de referência eu
acho que as coisas aqui a tendência é melhorar cada
dia mais, é voltar e resgatar aquele nome da escola,
aquele status que a escola tinha.
Não responde, mas
afirma que a escola
está tentando
resgatar sua
referência.
NANA
Não. Qualidade não. Nós estamos tentando melhorar.
Ela não é escola... ainda deixa muito a desejar. Os
diretores que aqui passaram, foram bons e tudo, mas
eu acho que o ensino público ainda tá deixando muito
a desejar. (...) Aqui aluno entra na hora que quer, cê
tá entendendo? Tem porteiro, mas ele acaba entrando,
né? Entra a hora que quer. Acho que tá faltando muito
ainda assim, tá faltando, o quê que eu poderia dizer
pra melhorar, tá precisando mais de... aqui deixa a
desejar, sabe?
Não é uma escola de
qualidade, deixa
muito a desejar, entre
os motivos, destaca o
fato dos alunos
entrarem quando
querem.
SIDNEY
Não é? Pelo que eu te falei a gente faz o que pode
dentro do que a gente tem é uma escola boa,
principalmente para redimir. Existe um clima de
harmonia muito grande, de interação entre
professores, pais e alunos e funcionários. Acho que
isso torna uma escola boa.
È uma escola boa,
de qualidade.
Destaca o clima de
harmonia entre
professores, pais,
alunos e
funcionários.
RITA
De qualidade, falta muita coisa, mas é de qualidade.
Eu acho que a direção [garante a qualidade], né.
Tentar enfrentar igual ta enfrentando a escola
referência, igual o governo também. Tentar implantar
essas escolas referência, de qualidade dentro do
Estado, não só aqui, mas em outras também, para
tentar incentivar o aluno, para não ter muita evasão,
igual teve esses anos atrás. E à noite principalmente,
à noite tinha que acabar esse ensino regular e passar
È uma escola boa,
de qualidade porque
a direção garante a
qualidade..
203
por um supletivo, ou uma outra escola
profissionalizante, sendo os alunos da noite vai acabar
não ter como, acho que o Governo, a Secretaria de
Educação têm que pensar nisso.
MARISA
Ah, não sei. Falar assim, não sei. Uma assistência,
maior autonomia da escola, né? Porque tudo é regido
pela Secretaria, né? Secretaria dar mais autonomia à
escola. Tudo é... depende de lá. Tudo tem que tá
emparelhado lá.
Não sabe dizer, mas
acredita que falta
autonomia à escola
em relação a
SEE/MG.
Metade dos gestores entrevistados são categóricos ao afirmar a qualidade do
Estadual Central. Se considerar que um gestor, embora negue que o Estadual
Central seja uma escola boa, de qualidade, destaca-a como escola de ponta entre
as públicas, pode-se dizer 05 gestores, dentre os 08 têm o Estadual Central como
uma boa escola.
Os atributos que justificam a qualidade destacada variam entre os quatro
gestores: seleto grupo de alunos e professores, comprometimento dos alunos e
professores; disposição para acatar o trabalho proposto pela SEE/MG; clima de
harmonia entre professores, pais, alunos e funcionários; atuação da direção.
Um dos gestores diz que a escola está tentando resgatar sua referência o que
a meu ver pode ser lido como está disposta a acatar as propostas da SEE/MG. O
que me habilita a fazer essa suposição é o fato de não observar nenhum movimento
coletivo de resgate da referência que não seja as ações propostas pelo Órgão
Central.
É interessante destacar que os depoimentos relacionados a essa questão não
trazem a aprovação no vestibular como qualificador do Colégio Estadual, embora em
alguns momentos essa referência seja feita pelos gestores, principalmente, quando
destacam a busca da “referência perdida da escola” e nem tampouco a questão da
aprendizagem declarada por quatro gestores como fator qualificador de uma boa
escola é mencionada quando qualificam o Colégio Estadual.
QUADRO 4.11 - SEGUNDO OS PROFESSORES, O COLÉGIO ESTADUAL
É UMA BOA ESCOLA?
DEPOIMENTOS
SÍNTESE
CINARA
É, eu acho, que tem seus pontos, mas uma das coisas
que eu acho por ela ser grande aí peca por omissão,
então tem uma omissão, que dá desculpa: - ah, é muito
grande eu perdi o controle né. Não é por aí, eu acho que
tem umas coisas que finge que não tá sabendo. Sabe,
Apenas o prédio é
bom, o resto deixa a
desejar.
204
não vou dizer se é direção, se é o quê. Eu sei que
poderia ter menos omissões pelo tamanho, porque o
nome da desculpa aqui é o tamanho, porque dá pra você
ter controle tanto que você vê 30 turmas quietinhas. Se
você quiser, tem momentos que tem total silêncio, as
turmas todas trabalhando, né, você consegue uma
disciplina, tudo mais né, tudo, e pouco pessoal
pedagógico de apoio né, supervisor, orientador, muito
pouco pessoal, tem que ter mais gente.
E quais são esses pontos que você acha que são de
Qualidade?
Olha o que eu acho que são de qualidade que eu acho
que um prédio bom, apesar que um pouquinho quente do
lado de lá, dá um pouquinho de calor do lado esquerdo,
né, do lado de lá, à tarde né, dá um pouquinho de calor.
Essa rampa aí, eu acho que é uma rampa muito bonita,
mas ela é pedagogicamente um pouco inviável pelo fato
de que acumula muito menino, eu acho um pouco
perigosa, em termos assim, eles empurram né. (...) Em
termos de administração, eles ficam muito presos à
Secretaria de Educação, então o problema não é tanto
aqui , o problema é a Secretaria de Educação, e a
realidade daqui é diferente da realidade de uma escola
de periferia e a Secretaria de Educação trata todo mundo
igual. (...) É diferente o 2º grau de uma escola do interior,
por exemplo, né, porque o menino numa escola do
interior, que mora no interior, ele vai a pé, volta a pé, ele
tem uma vida completamente diferente, todos são
conhecidos, tudo, e aqui, não, ele enfrenta muita coisa
aqui. Então, eu acho que falta mesmo uma política social
de ver que o que tá acontecendo. (...) Agora a higiene
daqui eu acho que tende a desejar, pode ser por falta de
verba. Tá. Mas, eu acho que poderia ser melhor a parte
de higiene aqui. Aqui é bonitinho, enceradinho, né , mas
os banheiros tão precisando de uma reforma né , é
bebedouro não tem estrutura legal , então isso só, acho
que a parte de higiene mesmo.
ELBA
É, eu acho que essa questão da tradição, cento e
cinqüenta anos. Tudo, os professores tem toda essa
história aqui, dedicam. Eu acho que é uma construção
coletiva de funcionário, e o professor, dos próprios
alunos, né. Não é qualquer aluno que estuda aqui hoje,
pode tá do jeito que tá mas não é qualquer pessoa que
tem dinheiro para pagar vale-transporte. Então, ainda
assim, aqui é uma escola que dá gosto de dar aula. Eu
acho que você não tá perguntando de escola, escola
toda é isso, é o conjunto. Vai desde funcionário,
professores, é todo a equipe, né, desde a parte interna,
administrativa até a infra-estrutura da escola também,
muito adequada. (...)
Tradição.
Dedicação dos
professores.
Nível dos alunos.
Administração.
Infra-estrutura.
FÁFA
Olha, eu acredito que em todos os níveis hierárquicos,
tanto administração, como o corpo docente, o corpo
discente que são os alunos, tem uma seleção natural.
Como a escola já e referencial, então é ... ela é boa por
tudo que já falei, porque ela é organizada, ela tem o setor
Seleção natural de
administradores,
corpo docente e
discente.
Organização.
205
de apoio, porque ela tem uma administração que é
preocupada em buscar melhoria... por tudo isso que já
falei aí.
Administração que se
preocupa com a
busca da melhoria.
SIMONE
Acho. Não exatamente o que eu gostaria que fosse, né.
Essa ilusão que eu tenho de escola boa ainda está longe.
Mas, eu acho que é uma escola que tem tudo para ser. O
exemplo, o modelo, a referência. É... tem esse caminho,
mas tem muita coisa para mudar. E as coisas que
precisam mudar, fundamentais é... pelo que a gente tem
visto, não têm mesmo condições de ser mudadas que é a
valorização do profissional, o incentivo à educação dado
ao professor. Tudo isso falta muito. Mas, em termos de
estrutura falta pouca coisa. Essa escola está muito bem
montada... muito bem planejada, bem organizada.
Em termos de
estrutura a escola é
bem montada, bem
planejada, bem
organizada.
VIRNA
È uma boa escola porque ela procura, dentro do que é
possível fazer, transmitir conhecimentos para os alunos,
né. Transmitir...é...procurar contribuir para a formação
deles. Há um esforço muito grande dos professores de
dar o melhor deles. Então, é uma boa escola e tem uma
tradição muito grande
Há esforço dos
professores para
transmitir
conhecimentos para
os alunos e tem
grande tradição.
CAZUZA
Acho, que é uma escola que tem um ambiente físico
muito bom, tem tudo o que na escola precisa, só falta
uma coisa: material humano onde o aluno, às vezes, e o
professor mesmo deixam a desejar.
Ambiente físico bom.
Professores e alunos
deixam a desejar.
JERRY
- É... eu já destaquei, né? A característica dos
professores, a estrutura da direção. Os alunos, como eu
disse, quando uma escola mostra que é uma escola
séria, o aluno se torna disciplinado. Tanto é que aqui no
Estadual Central, são raríssimos os problemas de
indisciplina....
Alunos e professores
disciplinados.
Estrutura da direção.
LÚLU
MANO
Eu acho que ela é uma escola de qualidade. (...) Ah, eu
vejo que é uma escola que ela é muito bem assessorada.
Eu tive muita sorte nas escolas que eu passei, porque eu
não tive nenhuma escola onde houvesse situação crítica.
Sempre foram escolas boas. Eu acho que tive muita sorte
Escola bem
assessorada.
MC BILL
A escola não é boa, é excelente de altíssima qualidade
de alto nível.
Por tudo o que eu já disse sobre ela.
Entre os cinco professores que afirmam que o Colégio Estadual é uma boa
escola, quatro destacam o papel da administração como um dos responsáveis por
esta qualificação. Entre os fatores qualificadores do Colégio Estadual ainda
destacam: tradição; dedicação dos professores e esforço para transmitir os
conhecimentos para os alunos (2); nível dos alunos, disciplina dos alunos e
professores, e seleção natural do corpo discente e discente (3); infra-estrutura (1).
Com base nesses dados, observamos que os professores reafirmam a
importância da formação e da atuação dos alunos e professores na qualificação da
206
boa escola, que já sublinharam quando definiram uma boa escola, contudo não
deixam de destacar a necessidade de uma boa gestão administrativa.
As referências explícitas ou implícitas à seleção natural dos alunos e
professores reafirmam o "favorecimento dos favorecidos" e "desfavorecimento dos
desfavorecidos", demostra a sanção inconsciente dos professores às desigualdades
- fruto do habitus - nomeada de seleção natural. Reafirmam a importância de
rentabilizar o "capital simbólico" da escola: no Colégio Estadual Central,
estabelecimento escolar herdeiro de uma crença/referência - produzida em
determinado tempo e para determinado público de alunos e professores -, cabem
tão somente aqueles que também são herdeiros do dom, da capacidade, da
referência para ali estudar e trabalhar - crença produzida sob as aparências do inato
- que os seleciona naturalmente.
São referências que merecem destaque, sobretudo quando se trata da
classificação das escolas, uma vez que as práticas por elas orientadas podem
transformar as desigualdades econômicas e sociais em "distinção de qualidade"
(Bourdieu 1999a, p. 59)
Dois professores destacam a qualidade do espaço físico, mas defendem que
a escola tem muito a melhorar para ser qualificada como uma boa escola, sobretudo
porque há omissão de alguns em relação à (in)disciplina dos alunos, que é
geralmente atribuída à extensão da escola, e o material humano, professor e aluno,
deixa a desejar.
QUADRO 4.12 – PARA OS ALUNOS, O COLÉGIO ESTADUAL
É UMA BOA ESCOLA?
DEPOIMENTOS SÍNTESE
ANA
É igual te falo: falta ainda em todas assim...públicas,
né? E acontece até mesmo em muita particular. Esse
lado de saber lidar: “esse aluno é ruim é porque não
quer nada.” Vai e ajuda, porque pode ter solução. Então
se fosse se tratasse o aluno mais assim de perto, se
procurasse saber mais., assim da família, o quê que tá
acontecendo. “Porque que você faz isso?”... Aí talvez
realmente teria uma, todas as escolas seriam
excelentes, porque aí tinham mais contato e saberia
falar: “É.. realmente esse não tem jeito. Tem tudo e não
tem jeito.”
Não.
Maior atenção e
conhecimento do
aluno e da família.
CIBELE
Nesse aspecto não. [referindo-se à escola não ser lugar
apenas para estudar] Aqui, não sei se é porque a escola
é muito grande e também e tal, mas eu não vejo isso
Não. Porque não há
união entre alunos e
professores e alunos e
207
aqui: a questão da união, da ... sei lá tanto o professor
como o aluno, quanto dos alunos entre si, os
professores entre eles, não vejo essa união não.
alunos.
DANI
É uma escola muito boa sim, acho que é uma escola
muito boa, é só os defeitos que eu já falei que não tem
uma área de cultura e etc, que eu acho que agora tá
melhorando cada vez mais.
È boa, porém faltam
atividades culturais
DIVA
Com certeza. Se não eu não estava nela.
LIA
Pelos professores, são professores qualificados,
entendeu? A maioria dos alunos também são alunos
que querem estudar. Pelo menos, os alunos que eu
conheço, são alunos que tem um compromisso, assim,
que levam a sério mesmo, estudar, e... assim, por tudo
sabe? Pelas dependências, pelo o que eles nos
oferecem, porque não é toda escola que tem um
laboratório, não é toda escola que tem uma cantina
assim, as quadras mesmo, é..., é... a qualidade do
ensino mesmo, sabe que ele oferece pra gente.
Boa escola porque os
professores são
qualificados e os
alunos querem
estudar, têm
compromisso, tem boa
infra-estrutura.
NATI
O Estadual Central tá no caminho né, pra ser uma
escola de qualidade, mas falta o apoio paralelo ao
aluno.
Está no caminho.
ROSA
Eu acho que aqui é bom... deixa eu ver... as salas são
legais, o colégio é bem bacana, aqui é legal, é só os
professores, alguns professores, não estão batendo
muito bem, isso é normal. Aqui é, aqui é beleza, aqui eu
acho que é ótimo e legal. Eu gosto daqui. Hum, aqui...
porque aqui é uma delicia. Chega na hora do intervalo,
sentar na grama pra descansar, pra bater um papo, na
hora do intervalo, é legal, com os amigos que agora
pode, que antes não podia. Vende pimentinha aqui, a
gente fica conversando...
A escola é boa devido
aos espaços
oferecidos aos alunos.
BIAL
É porque tipo, por ser Estadual Central, a escola que
todo mundo conhece, todo mundo fala, todo mundo...
até o governador acho que já estudou aqui, sabe, todo
mundo já passou por aqui, não é a escola “lá essas
coisas” sabe? Por ser, é , por ser Estadual Central, mas
se fosse qualquer outra escola, seria boa sim.
A escola não é lá
estas coisas, porque
todo mundo conhece,
todo fala e por ela já
passaram grandes
personalidades.
DINO
Acho, acho que poderia até ser melhor, pelo tamanho
da escola, pelo... todo mundo vê assim, todo mundo
fala, acho que poderia ser muito melhor do que ela é.
E o que você acha que se pode fazer para
melhorar?
É isso que eu te falei: andar com o tempo, ficar... deixar
o jeito que tinha de dar aulas há dez anos atrás de lado
e começar a andar junto com a evolução, assim, sabe.
Ter mais modernidade no colégio, só que tem uma
coisa que não tem como existir aqui no colégio pelo fato
de ser estadual. Mas, eu acho que isso, tem que ser
mais... oferecer mais para o aluno, sabe. Acho que
assim o aluno teria mais gosto de estudar, uma coisa
mais legal mais interessante assim.
Poderia ser melhor
pelo tamanho da
escola se deixasse o
jeito que tinha de dar
aulas há dez anos
atrás.
208
FÁBIO
O que faz a qualidade da escola são, com certeza os
alunos. A direção também ajuda, mas no nosso caso, já
não é... já não ajuda tanto, são os alunos.
Então, Fábio, você diria que esse escola é uma
escola de qualidade?
De qualidade, não. Não, qualidade de ensino!!!
Qualidade de relação sim, de convivência, de
comunicação entre os alunos, de experiência, de
aprendizagem. Aprendizagem, não de conteúdo,
aprendizagem entre os alunos, porque você aprende
muita coisa boa com os alunos.
Qualidade de ensino,
não.
Apenas qualidade de
relações, de
convivência, de
comunicação entre os
alunos, de experiência,
de aprendizagem entre
os alunos.
GIL
Boa, pois como eu já disse, possui ótimos laboratórios
de ciências em geral, possui um ótimo espaço, não
possui uma variedade de ensino mas ...considero o
ensino, os professores, eles fazem tudo pra agradar o
aluno. Já tive aula de geografia com um professor que
ele saiu da sala com a gente e começou a andar na rua.
Isso pra mim é um bom ensino.
Então quando você fala ensino variado, são as
várias formas de ensinar?
Isso. Formas alternativas de aprendizado.
Boa, porque possui
ótimos laboratórios,
ótimo espaço, tem
formas alternativas de
ensinar.
GINO
Tem tudo pra ser, tá caminhando, tá caminhando pra
ser, agora o grêmio com muitos projetos tem tudo pra
ser, tem tudo pra ser mesmo uma escola de qualidade,
já é, mas tem tudo pra ser melhor ainda.
Mas o que ela tem pra ser? O que é o tudo?
O quê? Estudo, estudo é o que eu não tenho nada a
reclamar do colégio, porque professores, tipo assim pra
mim, um colégio bom, é a direção, professor e o
ensino, tendo isso pra mim, ai as coisas básicas,
organização essas coisas, as aulas no laboratório, isso
não é toda escola que tem, esqueci de citar também, eu
acho que isso mesmo é uma escola boa.
Tem tudo pra ser, tá
caminhando. O
estudo, os
professores, a direção
são bons.
LEO
É, tá caminhando, tá caminhando. Eu creio que está
caminhando, é apesar de ter muito assim, mudado, ter
muito a ser melhorado e esse muito em grande parte
depende dos fatores externos né, mais tá caminhando.
Eu acho que pela vontade que os alunos mesmos, tão
mostrando agora, fico muito feliz, fico muito feliz
mesmo. Até com essa eleição do grêmio, agora as
pessoas estão se colocando à disposição para ajudar e
o que vem, o que, as pessoas estão chegando atrás de
mim: eu quero ajudar, me dá alguma coisa pra fazer,
que que a gente faz, vamos discutir sobre isso. É eu
acho que é o mais importante, o mais importante,
porque se essa escola é pra gente e se aqueles que
são os responsáveis, os ditos competentes pra nos
fornecer essa escola não estão dando conta, a gente
mesmo pega e vai, vai segue, a gente segue e vai em
frente, bola pra frente vamos lá, né. Eu acho que por
essa disposição, mérito dos alunos né, principalmente
dos alunos que participaram ai é tem participado muito
de tudo agora.
Está caminhando
para ser boa,
principalmente pelo
envolvimento dos
alunos.
LIMA Acho.
Quer dizer que aqui tem boa infra-estrutura e bons
Boa escola, porque
tem bons professores
209
professores?
Tem, apesar de não serem todos os professores que
são bons, né, tem.
e boa infra-estrutura.
LINO
Ah, eu acho que aqui é um exemplo de escola, porque,
ótimos professores, nossa! É... ajudante, eles sabem
cuidar da escola muito bem mesmo.
Exemplo de escola
porque tem ótimos
professores e
auxiliares de serviço
RUI
Ela é escola de certa qualidade e a qualidade é feita
pelos alunos dessa escola. Porque os alunos daqui são
fora de série, são pessoas, assim, que você admira, no
que entra aqui faz todo tipo de bandidagem, do ladrão
que estuda aqui, ao futuro jornalista, ao futuro político,
ao futuro artista, todas as pessoas se tem algo a
admirar aqui nessa escola. Porque na maioria das
vezes foi por decisão delas estar aqui, continuar nessa
escola e enfrentar todos problemas que têm aqui. E
você vê que as amizades aqui são muito mais honestas.
O meu grupo de amigos, hoje em dia, são todos da
escola, todos vieram dessa escola ou estudam aqui.
(...). Então... é uma coisa bem bacana assim, o que faz
a escola ser bonita como ela é, são os alunos dela.
Tem certa qualidade
que é feita pelos
alunos que têm
sempre algo a ser
admirado.
TUCA
Mais ou menos.
Porque mais ou menos?
Ah, o pessoal fala, como é que chama esse cara que
desenhou a escola?
- Niemeyer, arquiteto.
Niemeyer, é isso, aquilo, pra mim eu não acho a
mesma coisa. A infra-estrutura disso aqui é bem antiga,
entendeu? As salas lá de baixo, são cubículos, eu acho.
Aí pra mim não dá certo.
Mais ou menos,
arquitetura muito
antiga.
Oito alunos afirmam que o Estadual é uma boa a escola, cinco negam e
quatro entendem que ela está no caminho.
Os qualificadores são: boa infra-estrututura (4); professores qualificados (4);
alunos que querem estudar e têm compromisso (2); alunos que têm algo a ser
admirado (1); ótimos auxiliares de serviço (1); formas alternativas de ensinar (1); boa
direção (1); bom ensino (1).
Os alunos destacam os qualificadores de natureza da atuação e prática
docente e da estrutura física da escola.
Faz-se mister ressaltar que um dos alunos afirma que na escola não há
qualidade de ensino, mas há qualidade de relações de convivência, de comunicação
entre os alunos, de experiência, de aprendizagem entre os alunos e que dois alunos
dizem que a escola não é boa porque não se preocupa em conhecer o aluno e sua
família e não há união entre alunos e professores e alunos e alunos. Esses
210
depoimentos nos fornecem mais pistas sobre a importância das relações socio
afetivas na representação de boa escola dos alunos.
Assim como conclui Charlot (2001), traduzindo o que disse Bourdieu
48
em
vários momentos, os alunos "entram" na escola, ou seja, nela se matriculam e
freqüentam-na, contudo
(...) alguns alunos entram na escola também no sentido simbólico do
termo (entram nas atividades, nos conteúdos, nos objetivos
específicos da escola) enquanto outros, em geral os de origem
popular, "não entram jamais na escola, no sentido também simbólico
do termo, ou pelo menos, entram com dificuldade em parte, e nela
sentem-se mais ou menos estrangeiros. (p. 151).
Tomando por base essas conclusões, defendendo que "os entrantes" do
Colégio Estadual Central expostos a diferentes formas de aprender, a diferentes
habitus de classe, assim como os estrangeiros uma língua diferente da sua, ou seja,
excluídos no interior buscam, num universo cada vez mais complexo - a construção
das relações sociais - uma forma, um caminho para "entrar" de fato na escola,
sendo, no mínimo, conhecidos e reconhecidos na língua que tão bem sabem se
expressar. Lutam e propõem formas de luta em defesa da sua imagem, da sua
forma de expressão, para não se deixarem cair no mal-estar crônico instituído pela
experiência escolar fracassada que como disse Bourdieu (1999c, p.224) pode levar
à resignação aos veredictos da escola, à submissão ansiosa ou à revolta impotente.
O investimento na construção das relações sociais é uma estratégia de
reconversão das aspirações escolares e sociais que a própria Escola lhes havia
inspirado, é uma outra dimensão da lógica da necessidade.
5. A ESCOLA DOS SONHOS DOS ATORES DO PROCESSO EDUCATIVO
ESCOLAR
G
QUADRO 4.13 - A ESCOLA DOS SONHOS DOS GESTORES
DEPOIMENTOS SÍNTESE
ELOMAR
Ah, sinceramente eu acho o seguinte: como eu já te
falei, eu acho que eu me comprometi muito com meu
cargo aqui, então eu realmente tento fazer aqui aquilo
que eu faria se eu tivesse uma escola. Eu acho que,
primeiramente, eu teria uma preocupação primeira de
Escola com clima
bom, onde
professores, alunos
e funcionários
sintam prazer em
48
Ver, sobretudo Bourdieu 1999a, 1999c.
211
ter um clima realmente muito bom, na escola. De ter,
realmente, um lugar onde as pessoas realmente sintam
prazer de estar. Quer seja professor, quer seja
funcionário, embora a escola seja para o aluno, acho
que quem está aqui para receber o aluno tem que estar
preparado para isso mesmo, tem que estar bem com ele
mesmo. Eu acho que me preocuparia primeiro com a
parte de relação interpessoal que eu acho que é
fundamental. Eu acho que eu iria dar todo o suporte
para que as pessoas realmente pudessem se envolver e
se comprometer com o trabalho que elas optaram por
ele.
estar.
Investimento na
promoção da
interação pessoal e
suporte para que
todos se envolvam
com o trabalho.
MARTA
Oh, pra começar, a minha escola ou eu trabalharia com
alunos de iniciação... - como é que chama isso? - escola
infantil, alfabetização porque eu acho fantástico quando
você percebe que alguém aprende alguma coisa. (...)
Tem uma outra coisa que eu gosto demais que se eu
pudesse eu teria uma escola de filosofia para se estudar
filosofia. Um curso de filosofia pura, aí a filosofia de
todos os tempos, de todos povos, seria uma escola
aberta.
Escola infantil
Escola de filosofia.
NARA
A escola de meus sonhos seria uma escola onde o
professor pudesse atender individualmente os alunos,
onde a sala de aula não fosse tão cheia de alunos (
risos). O professor pudesse trabalhar numa jornada
confortável para sua vida. Então, não fosse trabalhando
as vezes em três turnos sem comer. A biblioteca eu falo
é um ponto extremamente importante: que a biblioteca
fosse extremamente bem equipada, não só com livros
mas com multimídia, com toda condição tecnológica
para o aluno poder estar investindo na sua
aprendizagem (...)
Atendimento
individual do aluno
pelo professor.
Jornada de trabalho
confortável para o
professor.
Biblioteca equipada.
GAL
É igual eu te falei, seria uma escola aberta, aberta aos
pais, aos alunos. E eu daria, eu teria no currículo dessa
escola, não só as matérias, os conteúdos necessários e
básicos exigidos pela sociedade, eu ofereceria jogos, eu
ofereceria sei lá ... terapias de grupo pros pais, junto
com os filhos que eu acho que tá precisando de amor,
calor humano
Escola aberta à
comunidade com
atividades nos finais
de sema
na.
Currículo além dos
conteúdos básicos,
terapia familiar.
NANA
Olha, a escola dos meus sonhos seria da seguinte
forma? Suponhamos, suponhamos que eu pegasse
uma escola assim na estaca zero, que não tivesse
nada, né? Eu começaria com esse movimento sabe?
Uma assembléia geral com todos, todos os pais de
alunos, professores, pediria sugestões, tá? Eu tomaria
como base a minha escola, daquela sugestão, sempre
procurando resolver os problemas através do diálogo e
através da força de vontade mesmo, sabe? Porque eu
penso alto. Tenho vontade é... de colocar, esses
meninos, por exemplo, que estão de horário vago, já
estariam ali naquela oficina, sabe? Trabalhando ali com
arraiolo, trabalhando aquela aptidão que ele tem,
aquele ali, né, com música... Não tem ninguém no pátio,
tá todo mundo nas suas oficinas. Eu penso numa escola
Escola organizada
a partir das
decisões de uma
assembléia.
Muito diálogo e
liberdade de ação.
Oficinas para
ocupar horários
vagos.
212
assim, onde o diálogo é que vai funcionar, cê tá
entendendo? Dando liberdade de ação pra pessoas.
Confiando nas pessoas porque a mentira tem perna
curta.
SIDNEY
Aquilo que eu defini quando você me perguntou o que
seria uma boa escola, uma boa escola com uma boa
estrutura física, com excelente corpo discente e
docente, uma grande assessoria de coordenação
pedagógica, uma diretoria voltada para altruísmo total.
Isso, se transformaria numa escola excelente.
Boa estrutura física,
com excelente
corpo discente e
docente, uma
grande assessoria
de coordenação
pedagógica, uma
diretoria voltada
para altruísmo total
RITA
Ah, meu Deus!!! Isso é difícil, eu não conheço nenhuma
escola igual a particular, a essas coisas, eu não sei o
que tem nelas para a gente saber o que pode ser
implantado do melhor.
Trabalhar menos, só isso.
Diz não conhecer
nenhuma escola
como a particular.
Mas, cita trabalhar
menos como uma
característica da
escola de seus
sonhos
MARISA
Não sei. Não sei. Que desse todo... essa parte que eu
falo que é importante, dar o suporte todo ao aluno. Da
parte do lazer, da parte do artístico, da parte do
conteúdo. Tudo que ele precisar pra ele crescer. Se a
escola tiver tudo isso, ela ainda seria o ideal. Não sei.
Dar o suporte na
parte artística, de
lazer, de conteúdo
para o aluno.
Os descritores da escola dos sonhos projetada por seis gestores ora se
aproximam ora se afastam dos seus descritores da boa escola. Centram-se nas
condições de ensino e aprendizagem que a escola deve oferecer e nas
características dos alunos e professores.
Em relação aos alunos, a escola deve oferecer: condições para promover o
prazer em estar na escola e o envolvimento no trabalho; atendimento individual,
suporte na parte artística, de lazer, de conteúdo.
Quanto aos professores: condições para promover o prazer em estar na
escola e o envolvimento no trabalho, jornada de trabalho confortável.
Em relação aos funcionários, são apontados: condições para promover o
prazer em estar na escola e o envolvimento no trabalho, trabalhar menos.
Da diretoria da escola espera-se o altruísmo e os alunos e professores devem
ser “excelentes”.
A escola ainda deve oferecer uma boa estrutura física e organização:
biblioteca bem equipada, escola organizada a partir de decisões de uma
assembléia, oficinas para ocupar horários vagos, grande assessoria de coordenação
pedagógica.
213
No que se refere á filosofia da escola são mencionados: escola aberta à
comunidade, muito diálogo e liberdade de ação.
Ainda são feitas referências ao currículo, que além dos conteúdos básicos
deve conter terapia familiar.
O nível de ensino (escola infantil) e a especificidade da escola (escola de
filosofia) também são apontados na escola dos sonhos.
4.14 - A ESCOLA DOS SONHOS DOS PROFESSORES
DEPOIMENTOS SÍNTESE
CINARA
Oh, a primeira coisa que eu faria ... é sonhar .... não faz
mal né, é deixar os meninos em tempo integral. Eu acho
que menino não tem que ficar levando para-casa, pra
casa. Eu acho que ele tem que ter o horário dele, pra ele
fazer as tarefas. Então, um horário, mesmo que
funcionasse dois horários, teria que ter espaço pra
menino guardar, esse troço que eu sei que realmente a
gente é chato manda eles trazerem material, mas eles
tinham que ter o escaninho deles, com as coisas deles.
(...) Uma escola que não segregue tanto, igual as
Universidades Federais são, que todo mundo quer né -
mesmo as deficiências - não segregue tanto o rico do
pobre pra eles aprenderem a conviver, que eu acho que é
importante o menino saber conviver com as diferenças
sociais. E, principalmente, a escola que valoriza o
professor muito, eu acho que nós, infelizmente - eu tenho
27 anos de escola - eu acho que é muito pouco, então o
que acontece aqui não é valorizado. Porque que a
sociedade vai valorizar a gente, se a gente aqui dentro
mesmo não é valorizado, se a própria Secretaria de
Educação trata a gente com descrédito (...)
Tempo integral
Espaço para guardar
material escolar.
Escola que não
segregue ricos e
pobres.
Escola que valorize o
professor
ELBA
Vou procurar o resto da entrevista
FÁFA
Olha só, como eu já disse, no princípio, dentro das
condições sócio econômicas, que a gente vivencia hoje
em dia, aqui no colégio, é a escola dos meus sonhos.
Tem algumas coisas que a gente tem que alterar , mas
nós estamos trabalhando para isso. E não existe o
conhecimento absoluto, o viver absoluto. Quem disser
isso, pode mandar para o Galba Veloso ou então para a
Pinel. Então, a gente está sempre batalhando. Então eu
acho que a escola dos sonhos é aquela que a gente se
sente bem, é aquela que a gente está vestindo a camisa.
Escola dos sonhos é
aquela que a gente se
sente bem, é aquela
que a gente está
vestindo a camisa.
SIMONE
Ah, a escola que eu queria... Tanta coisa! Não vai
caber aqui nesta fitinha não! (Risos)
Então está ótimo!
Ah, eu queria que os alunos chegassem e tivesse uma
equipe esperando toda sorridente, alegre e feliz, porque
teve uma noite maravilhosa, preparou uma aula linda no
seu horário especial para isso! (Risos) E toda empolgada!
E não a noite inteira! E sem aquela preocupação de que
Equipe com condições
de trabalho.
Tempos escolares
mais amplos e
flexíveis.
Empolgação dos
214
: “tem aquele horário, vai acabar logo, eu tenho que
passar pra outro!” e esse aluno viesse com toda vontade
pra escola como ele vai por exemplo, pro shopping, como
ela pro estádio assistir um jogo de futebol... Essa é a
escola que eu gostaria que tivesse, né, essa empolgação
dos alunos e também dos profissionais. Seria o ideal!
Né? (Risos)
alunos e professores.
VITÓRIA
A escola dos meus sonhos, Nossa Senhora, seria a
melhor escola do mundo com todos os recursos, tudo de
melhor qualidade que pudesse ter pra aluno, pra
professor, pra aluno, pra funcionário, tudo assim:
primeiríssimo mundo! Sabe assim, aquela escola que só
existe aqui na minha imaginação? (Risos) Seria essa
escola. Sonhar não custa nada.
E o quê que são esses recursos de primeiro mundo?
Ah, seria... seria o quê gente? Seria tudo, uma biblioteca
assim maravilhosa com todos, as ultimas obras literárias,
todos os recursos, né, é... como é que é? DVD, não sei
mais... sabe aquelas coisas todas, as tecnologias mais
sofisticadas, (risos) que a gente pudesse usar e saber
usar, seria ideal, né? Tudo. Aquela quadra de esporte,
cada uma maravilhosa que os alunos pudessem ficar
aqui depois da aula treinando, jogando, brincando, nossa,
seria bom demais! Sonhar, né? Você quer que eu sonhe,
né? (Risos) Sonhar não custa nada! (Risos)
Escola com os
melhores recursos
para alunos,
professores e
funcionários.
CAZUZA
Não fiz esta pergunta
JERRY
Bom, seria aquela escola que trabalharia justamente com
o aluno que tem dificuldade. Que você trabalhar com o
gênio, né, como a gente comentou em off outro dia, cê
trabalhar com gênio é muito fácil! Cê tudo o que falar, ele
vai entender! Ótimo! Mas cê ensinou? Você, de repente o
que cê falou pra ele, ele aprenderia sozinho. Que ele é
gênio! Agora, você pegar o aluno que tem dificuldade e
torná-lo um aluno que tem facilidade? Aí, você ensinou!
Então a minha, a minha escola seria essa. Mas ela
atenderia a esses alunos que têm dificuldade que querem
sanar essas dificuldades. Não porque ele é obrigado a ir
pra minha escola. Ele iria porque ele, ele faria até uma
inscrição talvez, porque ele queria resolver a dificuldade
dele. Ele não seria discriminado. (...)
Escola que ensinasse
ao aluno com
dificuldades.
LÚLU
Perdi parte da entrevista
MANO
Óh, a primeira coisa, eu colocaria nessa escola uma sala
de multimídia. Porque por exemplo, (puxando o peixe pro
meu lado) é tem tantas animações legais pra você ter
interação, informação de uma ligação química, que isso
facilitaria tudo. Então, eu colocaria, a primeira coisa, uma
sala de multimídia. Segundo, eu acho que a distribuição
dos alunos na sala seriam diferentes. Eu dividiria a sala
em grupos igual é feita no COLTEC. Os alunos ficariam
em grupos; esse grupos ficariam até o final do ano.
Grupos de máximo cinco pessoas, e que assistiriam
daquela forma, agrupados fazendo atividades em
comum, juntos, discutindo. O quadro não seria negro,
seria de pincel, pra acabar com este bendito pó de giz.
É... e eu acho que equiparia melhor essa sala de aula.
Sala de multimídia.
Organização da sala
em grupos de alunos.
Quadro de pincel, sala
mais bem equipada.
Bons espaços
(quadras, anfiteatros,
áreas verdes)
215
Ela é... seria demais essa escola. Teria um data show em
cada sala. (Risos). É... teria uma parte... uma, uma, boa
estrutura de quadras, teria um excelente anfiteatro, pra
apresentações diversas, desde peças teatrais a
apresentações musicais. É... acho que no mais seria
assim. E teria uma boa área verde. Ah! Tinha que ter!
MC BILL
Difícil... meus sonhos são muito altos (risos).
Então, sonhe alto !
A escola dos meus sonhos seria o Colégio Estadual
Central mais aperfeiçoado, mais do que já é. Mantendo a
mesma infra-estrutura, mas mantendo os professores
mais bem pagos, com dedicação exclusiva, mais
próximos dos alunos, e cada vez mais democrática. Essa
é a escola dos meus sonhos.
O próprio Colégio
Estadual com a
mesma infra-estrutura.
Professores bem
remunerados, com
dedicação exclusiva,
mais próximos dos
alunos.
Escola democrática.
Dentre os sete professores que responderam esta questão, dois afirmaram
que o Colégio Estadual é a escola dos sonhos, um deles porém indica algumas
medidas necessárias para que a escola se aperfeiçoe: melhor remuneração para os
professores, dedicação exclusiva e proximidade com os alunos, escola democrática.
A escola do sonho dos professores deve ser uma escola democrática; não
deve segregar os alunos ricos e pobres; oferecer tempo integral; organizar tempos
escolares mais amplos e flexíveis; ensinar aos alunos com dificuldades; oferecer
todos os recursos tecnológicos aos professores, alunos e funcionários; possuir bons
espaços físicos . Os professores da escola dos sonhos devem ser valorizados; bem
remunerados; com dedicação exclusiva; próximos dos alunos; empolgados; devem
ter jornada suficiente para seus estudos e preparo das aulas. As salas de aula
devem ser mais bem equipadas e os alunos devem ser organizados em grupos.
Os depoimentos dos professores acerca da escola dos sonhos evidencia a
incorporação de vários slogans difundidos nos espaços onde se discute educação,
destacamos, entre eles: escola democrática, escola de tempo integral, dedicação
exclusiva dos professores, professores valorizados e bem remunerados, ensinar aos
alunos com dificuldades.
QUADRO 4.15 – A ESCOLA DOS SONHOS DOS ALUNOS
DEPOIMENTOS SÍNTESE
ANA
É igual eu falei e falo de novo. É... um ambiente bem,
agradável que não tivesse esse negócio de preconceito,
tanto com aquele que não tem , quanto com o que já
Sem preconceitos,
agradável.
Acompanhamento e
216
teve. Sei lá, agradável, as pessoas pudessem, assim.,
mostrar mais, porque todo mundo tem um lado, lógico,
todo mundo tem um lado melhor e se pudesse mostrar;
e às vezes, não pode porque é a pessoa tá querendo
assim. Então... pode ter... ter mais, ter
acompanhamento, ter mais trabalhos no lado
psicológico com os alunos. Ter mais relação, poder
trabalhar mais relação com todo mundo. Todo mundo
fala mal de filosofia, eu não sei por quê. Porque a
filosofia que eu tive no Magnum, era todo mundo sentar
no chão numa sala e todo mundo ali trabalhar, todo
mundo junto. Eu acho que seria legal a filosofia, mas
parece que é diferente. Filosofia bem diferente do que
escola pública, que ninguém gosta.
relações melhores.
CIBELE
Uma escola dos meus sonhos... Ah, acho que a escola
dos meus sonhos, primeiro só teria as matérias que eu
gosto, que é biologia, química, historia, geografia e
inglês. Física, matemática, não tinha não. O que mais?
Os professores seriam muitos bonitos, principalmente e
todos homens ...
- Deixa eu ver, teria... normal, né, quadra, piscina, essas
coisas. Acesso direto aos livros, assim, deixa eu, ver...
alunos, também só alunos bonitos, bem aparentados.
Deixa eu ver... ah é, que desse lanche, um lanche bem
gostoso e tal, com ... (risos) com refrigerantes,
salgadinho, um chocolate de sobremesa! (Risos). Deixa
eu ver... é.... tivesse aula de... outros tipos de aula, tipo
aula de piano, essas coisas... é... é que tipo você não
precisasse escrever no caderno, você tivesse um
computador assim na sua frente, ao invés de você
escrever você digitava, não, não ia ... Ai, deixa eu ver,
que tivesse um computador e tal, na aula, é... eu acho
que só isso tá bom!
Só teria as matérias
das quais gosta.
Todos os professores
bonitos e do sexo
masculino.
Alunos bonitos e bem
aparentados.
Espaço físico com
quadras, piscinas, etc.
Lanche gostoso.
Aulas de piano e
outras coisas.
Computadores na sala
de aula para utilização
pelos alunos.
DANI
Bom, em questão de estrutura, seria igual essa, eu
acho que ela tem estrutura, bom mudando, eu acho
que teria uma grande tecnologia, ia pôr computadores,
Internet. No laboratório ia ter tecnologia, no mais, ia ter
eventos culturais para os alunos, ia ter o momento de
lazer para os alunos, ia ter regras, tanto para os
funcionários agir com os alunos, como os alunos agir
com os funcionários, ter democracia entre eles. Que
que eu posso dizer mais, a escola ia ser uma escola
democrática e ia ter ótimos professores.
Estrutura igual
d
Estadual
Computadores, interne
t
Momentos de lazer pa
r
os launos
Regras para alunos
f
uncionários
Escola democrática
Ótimos professores.
DIVA
Uma escola como esta. Escola como o
Estadual Central
LIA
Nossa! Eu acho que a escola dos meus sonhos, é
aquilo que eu te falei, ela seria a base do diálogo acima
de tudo. Acho que assim, não existiria essa coisa sabe,
de ... dessa rivalidade que eu te falei entre alunos
professores, também. Não existiria isso do professor
jogar, jogas mesmo as necessidades dele, as
frustrações dele em cima dos alunos. Acho que tudo
dependeria muito disso, dessa base, sabe, de uma
A base da escola seria
o diálogo.
Parceria com as
famílias .
Acompanhamento
psicológico.
217
conversa mesmo... Teria parceira com as famílias,
independente assim teria o acompanhamento
psicológico não só com os alunos, mas também com os
pais e professores, sabe? A escola dos meus sonhos
seria assim.
NATI
Ah! Não sei, uma que tivesse muita coisa, muita, uma
estrutura muito boa, uns recursos muito bons pro aluno
tá fazendo, tivesse uma direção legal que a gente
tivesse um relacionamento bom, que ele deixasse a
gente fazer assim varias coisas como, como eu posso
dizer, ter uma aula de informática, uma coisa que, é
profissionalizante, é uma coisa que fosse período
integral mesmo, O aluno fazia uma coisa de manhã uma
aula de manhã né, mas ai tinha que aumentar muito,
muito a escola pra caber tanta gente porque aqui é
quatro mil alunos né. De manhã.
Estrutura e recursos
bons.
Direção com bom
relacionamento com
os alunos.
Atividades
diversificadas
Período integral.
ROSA
Ah, eu tinha vontade de... Ah, meu Deus do céu! É igual
à escola do... Harry Porter . Você ir, ter um lugar mágico
daquele, e morar lá, morar lá na escola, mas poder ver
todo mundo, poder sair pra poder ver todo mundo. Sair,
ter horário de estudo, de jogar, esse negócio, isso é
muito, muito melhor. Acho que ia ter mais
aproveitamento do que tem. Assim acho mais legal. Eu
sou apaixonada com aquele filme por causa disso.
Por causa da escola?
É. Por causa da escola e de bruxa. Ensina um monte
de coisa. Tem laboratório e aí podia ter também ter
uma, aí lá, aqui ter, igual no Instituto de Educação tem
uma faculdade, né? Já tem uma faculdade. Aqui
também podia ter alguma coisa que especializasse a
gente, já pra o que a gente quer, já dá pra gente
escolher alguma coisa e não seria obrigado a fazer
educação física, colocar outra coisa no lugar de
educação física. A gente ter a opção de fazer ou
educação física ou outra língua ou outra coisa, porque
nem todo mundo gosta de jogar... ou então fazer
ginástica ou alguma coisa que alguém goste mas não
ser obrigado a fazer aquilo que querem que a gente
faça, porque nem todo mundo gosta de jogar, nem
todo mundo tem aquela disposição de jogar. Só isso.
Lugar mágico onde
você poderia morar,
Ter horário de estudo,
de lazer.
Ter uma faculdade ou
alguma curso de
especialização.
Não ser obrigado a
fazer Educação
Física.
BIAL
Ah! Tá. A escola tipo Estadual Central com duas
unidades. Uma só pra estudo e outra só pra lazer.
A de estudo teria várias salas grandes com
ventiladores, que isso aqui não tem , pelo amor de
Deus, tem hora que não dá! Quadros, é... não de giz,
de pincel. É... o pátio, eu tô satisfeito. Este pátio aqui é
bom. Cantinas maiores e com som, dentro da cantina.
E na outra unidade de lazer teria além das quadras e a
piscina, teria pista de skate, poderia andar de skate na
escola, poderia trazer skate pra dentro da sala, lógico
com consciência, mas poderia trazer. Teria mais
campeonatos e a escola faria do skate um esporte
também, porque eles só colocam futebol, vôlei e
esquecem do skate. O skate é um esporte também e a
A escola tipo Estadual
Central com duas
unidades. Uma só pra
estudo e outra só pra
lazer.
Salas grandes,
ventiladores, quadros
de pincel.
Cantina com som.
Reconhecimento dos
esportes que fazem
218
maioria dos alunos aqui faz.. parte da cultura dos
jovens.
DINO
Nó, sonhar alto! Acho que ia ter tudo o que o aluno
precisasse para poder estudar, sabe. Acho que... ia
ter... eu não ia ficar - eu tenho vontade de ser
professor de física, né - eu não ia ficar falando na frente
da sala; eu ia tentar demonstrar, tendo laboratório todo
dia dentro da sala, entendeu. Acho que as duas de
laboratório é muito, mas é pouco, entendeu? Ao
mesmo tempo que é muito é pouco. Acho que todo dia
você tem que estar vivendo a prática e com a teoria
dentro da sala, só com a teoria é meio difícil você
relacionar as coisas. E... e tudo tanto em português,
quanto é... ia ter mais trabalhos, mais, sabe. Minha
escola ia ser assim totalmente diferente, uma coisa
totalmente... ia ser sério, mas não ia ser aquela coisa,
sabe... totalmente rígida. Ia ser séria, mas ia Ter muita
descontração também porque acho que faz parte. Você
chegar na sala de cara fechada, passar dois mil e
quatrocentos exercícios para o aluno fazer e achar que
ele aprendeu. Não é assim. É igual professor que
chega, tinha um professor que chegava, brigava em
casa e descont-ava tudo nos alunos. Não é assim que
funciona. Então, tem que ter mais demonstração, mais
sabe... é isso mesmo... você entendeu, (risos).
Mais aulas práticas.
Uma escola séria,
rígida, mas com muita
descontração e que
tenha tudo que o
aluno precisar para
estudar
FÁBIO
Com os alunos do Estadual mesmo, com ensino
exemplar. Aquele ensino que o professor preocupa com
o aluno, vai atrás, quando ele precisa, que a direção
tenha diálogo sempre com aluno, tenha uma
comunicação visível com o aluno, sempre lado a lado,
numa parceria mesmo, como se fosse pai e filho, mãe e
filho, uma coisa assim... bem unida mesmo. Acho que
essa seria escola ideal para mim.
Estrutura e alunos do
Estadual.
Professor que vai atrás
do aluno Quando ele
precisa.
Diálogo da direção
com o aluno como
filho e mãe
GIL
A escola do meu sonho, eu tomo como molde o
Estadual Central, onde eu estudo hoje, com uma
biblioteca maior, os laboratórios maiores, um laboratório
de informática e deixe-me ver... porque não uma pista
de skate também, é... e claro rádio escolar, que aqui no
colégio falta. Isso.
O modelo é o Estadual
Central com
bibliotecas e
laboratórios maiores,
laboratórios de
informática.
Pista de skate, rádio
escolar.
GINO
Ah, ela seria uma escola assim, no pensar de muita
gente, seria uma escola de doidos, seria uma escola
alegre, que os alunos chegassem, igualzinho eu te falei,
a gente saberia cobrar do aluno e não cobrar também,
lógico que cobrar, assim e levar o aluno tipo assim por
trabalho extra escolares assim, saber divertir o aluno
pra o aluno ter gosto em estudar, gosto em ir pra escola,
entendeu? Acho que a escola não precisa Ter muita
coisa não, só de o aluno ter gosto de ir pra escola: hoje
eu vou pra escola, hoje eu vou estudar, acho que isso
se resume numa escola boa pra mim, dos meus sonhos
Pra muita gente, uma
escola de doidos: uma
escola alegre, que os ,
a gente saberia cobrar
do aluno e não cobrar,
levar o aluno para
trabalhos extra
escolares, divertir o
aluno para ele ter
gosto de estudar, de ir
para a escola.
219
assim?
LEO
Bom, a escola dos meus sonhos, primeiro lugar teria
uma ... primeiro lugar acho que necessário para
construir uma escola dos sonhos seria diálogo, diálogo,
mais um diálogo honesto, cara a cara mesmo,
realmente, porque muito que a gente vê, desculpa voltar
à realidade, mas muito que a gente vê na realidade é
um diálogo assim, até preconceituoso com o aluno,
muita gente pensa assim, é estudante, como eu sou
mais velho eu já passei...( fim da fita) É... uma idéia
seria umas assembléias periódicas com os alunos, mas
assembléias sinceras, né? Honestas com as pessoas,
porque temos hoje, na realidade, nesta terrível realidade
que a gente vê hoje, é um relacionamento
preconceituoso, né, do, de... é... da população
economicamente ativa, (risos) diria assim, né, com os,
com os estudantes. É... segundo lugar, acho que
englobaria esse lado né, da função social das escolas,
que é trabalhar sempre com atividades, né? Estimular a
criação de atividade dos próprios alunos, né? Aí, de que
forma? Eu reafirmo ainda: sociologia, filosofia no
mínimo, né? É... e uma coisa que eu acho muito
interessante, muito interessante, muito bacana mesmo,
é o tutoramento, né? Claro que a gente sabe que não é
uma, pela população que a gente tem, pela estrutura
fonte, o ideal seria pra mim, na minha opinião,
tutoramento uma forma muito interessante de ensino
porque a pessoa tem... é um contato mais, mais
humano né? Eu acho que tem se esquecido muito isso,
né? O do contato humano. Então a escola dos sonhos
teria que ter um contato mais humano, talvez aí, eu
chutaria dez, quinze alunos por turno, e hoje o que a
gente vê, soca cinqüenta numa sala e taca matéria, taca
matéria no quadro, né? Eu acho muito interessante, né?
Até sonhando realmente, né? É... na Grécia uma coisa
que era fantástico, era aquela coisa de aula ao ar livre,
né? O professor é... passando, explicando, tudo aquilo,
uma coisa muito, muito interessante, né? E, ainda por
último, né? É... cê fala do essencial assim, né? Por
último, eu creio que esse contexto que deve ser criado
entre a matéria estudada e a atualidade, o que a gente
vê, né? E devem, e, na minha opinião devem ser
estimulado a partir pra vida, ir por mundo mesmo, né?
Porque o ideal seria se todo mundo pudesse discutir
tudo, e se todo mundo quando concordasse com uma
coisa pudesse ir pra rua ou fazer ou que for e conseguir
aquilo que a maioria quer, né? O ideal seria isso. Creio
que seja isso, uma escola onde, sem ... é uma escola
onde, priorizasse né? O tutoramento, contextualização e
função social.
Base da escola o
diálogo sem
preconceitos.
Assembléias com os
alunos.
Estimular a criação de
atividade dos próprios
alunos.
Contato mais humano.
Contextualização entre
a matéria estudada e a
atualidade.
LINO
Ah, uma escola que teria de tudo. Ah, tudo de bom
mesmo, não é? Se possível, né? É sonhar mesmo!
É sonhar mesmo. Estou propondo sonhar agora!
É... o quê que eu posso falar? Eu não sei... Tudo de
Tenha tudo de bom e
ninguém seja
reprovado.
220
bom que tem!
Ah, aí que vai resultar que todo mundo passe de ano
também.
RUI
Bom, acho que é bem isso que o Fábio falou aí.
Acrescentando que seria escola mãe, não seria escola
modelo, seria a escola mãe. Uma escola que visse
quando o estudante está emburrado, porque ele está
emburrado; visse quando nego não quer assistir aula,
está chorando nos cantos - como você vê aqui muita
gente chorando nos cantos. você nunca vê um
professor chegar lá, você vê um outro aluno chegar lá: -
aí, o que você tem? Seria... eu acho que os alunos do
Estadual Central dentro do Padre Massote.
Ah, que bacana!
Ou o diretor do Padre Massote, dirigindo o Estadual
Central, ficava mais bacana ainda por causa da
estrutura.
Escola mãe.
Estrutura igual do
Estadual Central.
Professores que se
preocupam com o
aluno emburrado,
triste, chorando.
TUCA
Não posso nem... não posso nem falar, porque .... ah,
eu acho que essa escola aqui é boa e mais ou menos,
entendeu? Porque em nível de estadual, poxa, essa
escola aqui dá de dez a zero em qualquer uma de
bairro.
O Estadual Central já
é a escola dos sonhos.
O Colégio Estadual, mesmo com algumas sugestões para melhoria, é a
escola dos sonhos de sete dos alunos entrevistados.
Nas entrevistas dos alunos destacamos dezoito incidências que se referem à
dimensão socio afetiva na caracterização da escola dos sonhos: melhores relações
entre direção e alunos, diálogo, atenção do professor para com o alunos, contato
mais humano, regras para alunos e funcionários (9); acompanhamento e parceria
com as famílias (3); escola-mãe, agradável, divertida, descontraída, sem
preconceitos, democrática, que ofereça lazer (6).
Quanto à organização da escola desejam escola com período integral (1);
sem reprovação (1); faculdade para especialização (1).
Em relação à dimensão cognitiva e atuação docente, há sete referências:
atividades e aulas diversificadas, mais aulas práticas, trabalhos extra escolares,
assembléias, atividades que estimulem a criatividade do aluno, contextualização
entre matéria estudada e atualidade (7).
A importância do espaço físico e infra-estrutura é destacada por sete alunos
que sonham com a mesma estrutura do Estadual potencializada com salas grandes,
ventiladores, pistas para esportes variados (duas referências ao skate - habitus
geracional) , som na cantina, rádio comunitária.
221
Na escola dos sonhos dos alunos deveriam atuar somente professores do
sexo masculino e bonitos, ter alunos bonitos e bem aparentados, servir lanches
gostosos; ter a liberdade de matricular-se apenas nas disciplinas com as quais se
identifica, não ser obrigado a fazer educação física.
QUADRO 4.16 - SINTESE
Núcleo da Representação
GESTORES
Núcleo da
Representação
PROFESSORES
Núcleo da
Representação
ALUNOS
Escolas em
que
estudaram
Atuação do professor
(habitus).
Atuação e formação do
professor (habitus e
capital profissional).
Atuação e formação
dos alunos (habitus de
classe/escolar capital
cultural).
Bom ensino.
Atuação do professor
(habitus profissional).
Boa escola
Aluno aprende. Desempenho do aluno
(volume de capital
escolar)
Atuação e formação do
professor (habitus e
capital profissional).
Atuação e formação
do professor (habitus
e capital profissional).
Dimensão sócio
afetiva das relações.
Exemplos
de boa
escola
Hierarquia axiológica que
atribui o bom ao privado e o
ruim, ao público.
Destacam a aprovação No
vestibular.
Hierarquia axiológica
que atribui o bom ao
privado e o ruim, ao
público.
Destacam o
investimento
financeiro, estrutura
física e recursos,
envolvimento dos
professores com a
aprendizagem dos
alunos, abertura da
escola nos finais de
semana.
Hierarquia axiológica
que atribui o bom ao
privado e o ruim, ao
público.
Destacam a
dimensão socio
afetiva das relações.
Estadual
Central
05 consideram que é uma
boa escola, devido ao seleto
grupo de alunos e
professores e do seu
comprometimento, atuação
da direção,disposição para
acatar as propostas da
SEE/MG; clima de harmonia
entre os professores, pais
alunos e funcionários.
05 consideram que é
uma boa escola,
devido ao papel da
administração.
08 consideram que é
uma boa escola e 04
entendem que está
caminhando porque
tem boa infra-
estrutura, professores
qualificados.
Escola dos
sonhos
Destacam: condições de
trabalho para professores e
funcionários, condições de
aprendizagem para os
Destacam a
organização dos
tempos escolares a
infra-estrutura, a
Estadual é a escola
do sonho de sete
alunos.
Destacam: as
222
alunos.
Características dos alunos e
professores (excelência).
Estrutura física e
organização.
filosofia da inclusão, a
valorização, jornada e
remuneração dos
professores.
dimensões sócio
afetivas, cognitivas e
a atuação dos
professores.
Os gestores, os professores e os alunos acreditam que as escolas em que
estudaram eram boas devido à atuação e formação dos professores – habitus e
capital profissional – e atuação e formação dos alunos – habitus de classe, habitus
escolar e capital cultural.
A representação de boa escola dos atores do processo educativo escolar,
que foram sujeitos desta pesquisa, centra-se no volume do capital acumulado pelo
aluno – aluno aprende – no habitus e capital profissional do professor – atuação e
formação e na dimensão sócio afetiva das relações que caracterizam o clima e as
práticas escolares ou, segundo Reimers (2003), baseado em Putnam, capital social
“que entre otras cosas consiste en la capacidad que tienem las personas de confiar
em los demás y de asociarse com ellos para lograr proyetos compartidos” (p.22)
Os exemplos de boa escola parecem ter origem em ideários, slogans,
reconhecimento social difundidos em Belo Horizonte, são cifrados pela percepção
de uma instituição educacional “portadora de um estilo mais ou menos visível, isto é,
capaz de falar à imaginação dos jovens e de suas famílias. Um estilo tributário tanto
da história da instituição e da imagem que seus fundadores construíram para ela,
quanto do destino social reservado aos alunos que formou” (Almeida e Nogueira
(org.), 2002, p.138.). Nos exemplos – como exemplos de boa escola os alunos
citam 11 escolas públicas, totalizando 18 incidências e 14 escolas privadas,
totalizando 19 incidências - é visível também a força da hierarquia axiológica que
atribui a boa qualidade às instituições privadas e a má qualidade ás instituições
públicas, sobretudo, no que diz respeito ao âmbito da educação básica.
Na representação de 50% dos entrevistados o Colégio Estadual Central é
uma boa escola e sua qualidade é atribuída à atuação dos gestores, ao grupo seleto
de alunos e professores e à harmonia existente entre a direção, alunos, pais,
professores e funcionários.
A escola dos sonhos parece acumular grande parte dos atributos
qualificadores de uma escola de qualidade ou de uma escola eficaz apontados na
literatura nacional e internacional.
223
CAPÍTULO V
O QUE NUTRE A REPRESENTAÇÃO DE BOA ESCOLA DOS
ATORES DO PROCESSO EDUCATIVO ESCOLAR?
A dificuldade particular da sociologia
advém do fato que ela ensina coisas que
de uma certa maneira todo mundo sabe,
mas que não se quer saber e que não se
pode saber porque a lei dos sistemas é
ocultá-las. ( Bourdieu, 1983f, p.155)
No cenário mineiro, particularmente, em Belo Horizonte, constitui-se fato
inquestionável as queixas, denúncias, lutas, reivindicações, discursos que têm a má
qualidade da educação , ou a “qualidade perdida da educação” como centro e como
atestado de negação do direito universal à escola básica.
O reconhecimento do “status quo” das escolas não é um fato novo, nem tem
deixado de receber determinado tratamento, seja pelo discurso ou ação do poder
público, dos professores, dos diretores e vices das escolas, dos alunos ou de suas
famílias. No entanto, esse tratamento tem apresentado pálidos resultados quando se
pensa em seus impactos tanto na dimensão quantitativa, quanto qualitativa,
sobretudo no ensino médio.
Não se pode desconsiderar que em algumas escolas públicas estaduais e
municipais algumas experiências têm apresentado bons resultados. Um número
expressivo delas está sendo divulgado em periódicos destinados às questões
educacionais, premiado em concursos, debatido no interior das escolas. Entretanto,
os resultados apresentados estão longe de reverter o quadro concreto mostrado
pelas escolas e comprovado pela exclusão social branda ou pelo aumento cada vez
maior da proporção de excluídos do e no interior da escola.
Se não há um ranking oficial de escolas, como em cidades de outros países,
há um ranking configurado pelas representações de “boa” escola, por meio do qual
os pais e mães, alunos e alunas, professores e professoras distribuem/prescrevem
“bônus de excelência” a determinadas escolas ou até mesmo a uma escola que
idealizam. Que qualificadores os gestores, professores e alunos atribuem às
escolas que ocupam o topo deste ranking construído por eles próprios?
224
Num momento e movimento em que se torna possível a universalização da
escola de nível fundamental
1
e busca-se, mesmo que lentamente, ampliar a oferta
do Ensino Médio, e, ainda, potencializar e qualificar a participação dos atores do
processo educativo escolar na discussão e luta pela melhoria da escola pública,
torna-se emergente a necessidade de apreender e compreender a sua
representação sobre “boa escola”.
É necessário confrontá-las como elas são na realidade, não para as
relativizar, deixando jogar até o infinito o jogo das imagens cruzadas, mas, ao
contrário, para fazer aparecer, pelo simples efeito da justaposição, o que resulta do
confronto de visões de mundo diferentes ou antagônicas: isto é, em certos casos, o
trágico que nasce do confronto sem concessão nem compromisso possível de
pontos de vista incomparáveis, porque igualmente fundados em razão social.
(Bourdieu, 2001, p. 11)
Este estudo buscou apreender nos depoimentos dos gestores e gestoras,
professores e professoras, alunos e alunas as representações sobre a “boa” escola
pública. Ao fazê-lo tentou-se não apenas identificar as representações, mas
compreender como as políticas educacionais, os sistemas valorativos, presentes nas
práticas escolares levaram à construção dessas representações e como essas
levaram à construção daquelas, ou seja, como as representações produzem
políticas educacionais, sistemas valorativos e práticas escolares e como essas
produzem as representações. Que elementos orientam a configuração de tais
representações, e como as representações contribuem para mobilizar ou imobilizar
os atores sociais em busca da qualidade da escola pública e para qualificar ou
desqualificar suas ações. Ou seja, as representações sociais podem tornar-se armas
ou armadilhas na luta pela qualidade? Qual é a eficácia do discurso da qualidade,
quem o enuncia? quem o consente?
Este capítulo tem, pois, o objetivo de apresentar, na forma de considerações
e breves análises – como ressalta a epígrafe, para alguns, talvez novidade; para
outros, pura realidade – alguns qualificadores que perpassam a classificação das
1
Pereira (2001) identifica uma ambigüidade na democratização da educação pública: objeto de consumo
popular, torna-se sem valor no mercado escolar: escolablica massificada, desclassificada e desclassificante.
A escola como instância de produção e circulação de bens simbólicos não foge à lei geral de distinção das trocas
simbólicas: “ todos os bens ofertados perdem sua raridade relativa e seu valor distintivo à medida que cresce o
número de consumidores que são simultaneamente inclinados a aptos deles se apropriar” (Bourdieu, 1984, apud
Pereira, 2001, p. 50).
225
escolas pelos atores do processo educativo escolar do estabelecimento pesquisado
e, portanto, são significativas na constituição das suas representações sobre "boa
escola".
A eleição dos qualificadores tem por base a análise das entrevistas dos
atores do processo educativo escolar, alguns estudos sobre estratégias de
rentabilização do capital escolar, indicadores da boa escola ou da qualidade da
escola, dentre outros
2
.
Como qualificadores que nutrem a representação de "boa escola" dos atores do
processo educativo escolar do Colégio Estadual, identificamos, sob um olhar
caleidoscópico, que não desconsidera o poder de reconversão dos diversos tipos de
capitais : o capital simbólico da escola, o capital cultural dos alunos e professores, o
capital social construído no espaço escolar e o capital econômico investido na
escola desde a sua construção.
O capital simbólico compõe-se da "referência" da escola, da destinação social
de sucesso dos alunos, da hierarquia axiológica estabelecida entre as escolas
públicas e privadas, da hierarquia axiológica estabelecida em relação à localização
das escolas. O capital cultural compõe-se do conteúdo do ensino da escola, da
atuação e formação dos professores e da atuação e formação dos alunos. O capital
social está constituído pela dimensão socioafetiva das relações estabelecidas no
espaço escolar. E o capital econômico se traduz nos aspectos físicos e materiais.
1. O CAPITAL SIMBÓLICO
O capital simbólico associado a um estabelecimento pode, muitas vezes, ser
constituído por seu prestígio, sua notoriedade, sua reputação, em suma, por todas
as crenças e representações cujas possibilidades de existirem como qualidades são
tanto maiores quanto mais predispostos estiverem em reconhecê-las como legitimas
aqueles que vierem a freqüentá-lo. (Almeida, 2002, p. 129).
Como forma de reconstruir parte da história do acúmulo do capital simbólico
do Colégio Estadual, optei por elaborar um texto a partir dos depoimentos coletados
pelos investigadores que desenvolveram os subprojetos, já mencionados no capítulo
introdutório, que elegeram também o Colégio Estadual como locus de pesquisa; de
2
Good e Weinstein ( 1995); Nóvoa (1995); Reynolds (1996); Mortimore(1996); Ribeiro (2001);
OCDE (1987); Nogueira (1995, 2002, ); Soares (2002) ; Ação Educativa, UNICEF, PNUD, INEP-MEC
( 2004); Nogueira, Romanelli e Zago (2003); Brandão (2004).
226
matérias de alguns jornais e do cruzamento desses dados com os colhidos junto aos
atores do processo educativo escolar que atualmente participam das práticas
pedagógicas da escola.
Desde 1956, quando passa a ocupar uma construção, projetada por Oscar
Niemeyer, localizada na confluência de bairros cujos moradores possuem volume
considerável de capital econômico e capital cultural , o conjunto de edificações de
linhas modernas “enchia os olhos” de quem por ali passava:
(...) Bom, [escolhi] o Colégio Estadual [1968 a 1970] porque para
gente era novidade ter um colégio ... a gente ouvia falar do Colégio
Estadual, a gente ia passear, pegava trólebus na Floresta, ali na
Contorno, e ia até lá em cima, já sabia que lá era um grande colégio,
gigantesco, bonito com quadra de esporte etc e tal, a gente tinha a
idéia de estudar lá um dia.
3
Na década de 60, conseguir uma vaga no Estadual Central era mais
difícil que cursar medicina da UFMG. Os exames de admissão
chegavam a ter 60 candidatos por vaga. Na época menos de 60%
das crianças de 07 a 14 anos estavam na escola e apenas 20% dos
estudantes chegavam ao ensino médio. Como conseqüência, as
escolas públicas de ensino médio dos grandes centros urbanos eram
elitizadas.
4
Alguns versos do Hino da Escola, algumas reportagens publicadas em jornais
e fragmentos de algumas entrevistas realizadas com ex-alunos são fontes onde se
verifica que a excelência da escola é atribuída a aspectos como: tradição dos
alunos, tradição dos professores e imponência do prédio escolar, ou seja, são
atributos de natureza da destinação social, da atuação e prática docentes, dos
aspectos físicos.
Nesta casa de luz já passaram
Numerosas triunfais gerações
Que no afã de saber nos legaram.
As mais belas fiéis tradições.
Emprendamos igual escalada,
Imitemos que é nobre esta gente
E façamos da glória passada,
Uma glória maior no presente
5
Em sua trajetória, o Colégio Estadual Central passou por diversas
fases. Dentre elas, a de excelência no ensino que formou líderes,
3
Entrevista de ex-aluno no período de 1968 a 1970 que o compõe o corpus do subprojeto: “Colégio Estadual de
Minas Gerais: currículo e práticas pedagógicas” desenvolvido pela Professora Doutora Lucíola Licínio de
Castro Paixão. FAE/UFMG.
4
Jornal Estado de Minas. Quinta-feira, 11 de março de 2004. Sessão Gerais p. 25.
5
Hino da Escola Estadual Governador Milton Campos. Letra de Hely Menegale e Música de Honorina Prates
Campos (ex-professora de música da escola) .
227
intelectuais e políticos e uma menos expressiva quando deixou de
ser referência pedagógica.
6
Então esse primeiro científico eu fiz em cinqüenta e oito no Colégio
Santo Antônio, com idéia fixa de entrar para o Colégio Estadual
porque eu era o melhor aluno, eu era sempre primeiro da turma e
queria o melhor colégio.
7
Na época [1963 a 1965] era uma realização pessoal, era uma
questão até de status, o cidadão ser aluno do Colégio Estadual e do
Colégio Municipal. Colégio Municipal e Colégio Estadual era uma
nata, contavam com quase os mesmos professores, certo. Então o
ensino era muito elevado, como hoje [2002] os colégios religiosos, o
Marista, o Colégio Padre Machado, o Colégio Arnaldo, os femininos,
Sagrado Coração de Jesus, eles têm fama, naquele tempo nós não
tínhamos isto, eram os colégios públicos, o ensino público era um
ensino de primeira linha.
8
(...) então aí eu fui motivado a ir para o Colégio Estadual. Eu fiz a
prova de seleção [1962] e passei na prova de seleção. E tive a
felicidade naquela época das filhas do Magalhães Pinto, inclusive a
Maria Virgínia a Maria Beatriz foram nossas colegas. A Elke
Maravilha, o Paulo César de Oliveira que escreve no Estado de
Minas, o Boris Feldman que escreve sobre veículos no Estado de
Minas. Quer dizer, o colégio era a nata do ensino em Minas Gerais.
9
(...) os professores eram os melhores de Minas Gerais, eram
professores da Escola de Engenharia, professores da Escola de
Direito. Era um nível muito bom o nível dos professores. (...) e como
tinha uma seleção muito rígida o nível dos alunos era muito bom.
Isso fazia com que o Colégio tivesse alto índice de desempenho nas
universidades por causa da seleção, que já tinha uma seleção
prévia... os alunos que eram melhores.
10
Os jornais oficiais estampam matérias que reafirmam a perspectiva de se
reconstruir a excelência da escola:
Reconhecido como tradicional modelo para a educação de todo o
País, Minas trabalha para retomar e garantir sua posição de
destaque no ensino básico. Como parte desse esforço, a Secretaria
de Estado da Educação, iniciou no ano passado, o projeto-piloto
das Escolas-Referência, que irá priorizar recursos para
instituições escolares historicamente relevantes. A partir da
construção do Plano de Desenvolvimento Pedagógico Integrado
(PDPI), as escolas receberão recursos para a realização de projetos
6
Escola A – Escola quer ser referência. Reportagem de Ana Carolina Seleme. Publicada em (VERIFICAR NO
ARQUIVO MUNICIPAL.
7
Entrevista de ex-aluno, coletada por pesquisadores do subprojeto: “Colégio Estadual de Minas Gerais:
currículo e práticas pedagógicas” desenvolvido pela Professora Doutora Lucíola Licínio de Castro Paixão.
FAE/UFMG.
8
Idem.
9
Idem.
10
Idem.
228
específicos. (Minas Gerais: órgão oficial dos poderes do Estado. Nº
47. 13 de março de 2004, p. 05) (grifos nossos)
(...) O projeto [Escolas-Referência] prevê investimento para que as
escolas desenvolvam ações para a reconstrução da excelência no
ensino público. Neste ano o estado vai investir R$ 18 milhões na
capacitação de diretores, vice-diretores, professores e especialistas
em educação nas escolas estaduais. Também será oferecida
melhoria da infra-estrutura e equipamentos, bibliotecas, para alunos
do ensino Médio e salas ambientes de física e química. (Minas
Gerais: órgão oficial dos poderes do Estado.Nº 50. 17 de março de
2004, p. 06)
O reconhecimento dessa escola como escola referência -instituição escolar
historicamente relevante - também fica evidente nas ações propostas pelo Poder
Público estadual.
No ano de 2003, três escolas foram escolhidas
como piloto, dentro do projeto de resgate da
excelência da escola pública: a Escola Estadual
Governador Milton Campos, (Colégio Estadual
Central) o Instituto de Educação de Minas Gerais
e a Escola Estadual Plínio Ribeiro, de Montes
Claros. Em março de 2004, o projeto foi
apresentado a 450 escolas, e entre estas
selecionadas 200 que foram incorporadas ao
projeto.
As ações da SEE/MG não só reproduzem um discurso já existente de
necessidade de resgatar a qualidade/excelência/referência da escola pública, mas
também o instituem e legitimam no mercado lingüístico escolar, sobretudo entre os
atores do processo educativo escolar que atuam nas escolas selecionadas para
participarem do projeto. Segundo Bourdieu (1983g), existe um mercado lingüistico
sempre que alguém produz um discurso para receptores capazes de avaliá-lo,
apreciá-lo e dar-lhe um preço. (p.96).
No mercado escolar alguns compram/reconhecem o discurso e tentam vendê-
lo, outros o recusam e outros ainda acham caro o que se tem que pagar para
comprá-lo, assumindo formas diversas de resistência - é o que poderíamos chamar
de economia das grifes.
A qualidade da escola ou a “boa escola” reveste-se de formas diferenciadas,
ao longo dos tempos, de acordo com a importância e a funcionalidade do nível de
O Colégio Estadual
está sendo visto como
escola de referência
até pelo próprio
Governo do Estado.
Então, nós temos essa
esperança de que aqui
fique cada vez melhor.
Entrevista Professores,
MC Bill
.
229
formação ou qualificação profissional – capital cultural – para o campo econômico já
que este tende a impor sua estrutura sobre os outros campos e, entre eles, o campo
da educação.
O reconhecimento da excelência ou da boa qualidade desse estabelecimento
parece constituir-se sobre um mito, uma crença que se para alguns se sustenta em
bases pedagógicas, para outros, se sustenta, sobretudo, nos aspectos físicos da
escola.
Hoje, muitos pais de alunos de escolas públicas preferem pagar passagens
de ônibus para que seus filhos freqüentem esta escola que, segundo eles tem boa
qualidade de ensino, um bom espaço físico, prédio com grande extensão, boas
instalações e situado em uma região de maior segurança que as escolas de
periferia. Os pais de alunos transferidos das escolas particulares reivindicam, de
forma insistente, vagas para os filhos nesta escola, alegando que o seu perfil
aproxima-se muito do perfil das escolas particulares no que diz respeito à qualidade
de ensino, contudo essa qualidade assume aspectos vagos. Outros a determinam
pelo contingente de alunos aprovados em vestibulares, sobretudo da Universidade
Federal de Minas Gerais, e os professores, pais e alunos têm isso como um dos
fatores que qualificam a escola e, alguns, portanto, como expectativa, desejo e
objetivo.
Não desprezando o fato de que no mercado lingüistico escolar, o diretor da
escola tem o papel fundamental de locutor e interlocutor autorizado e legítimo da
SEE/MG e, assim sendo pode e deve assumir para si o discurso do órgão central, o
atual diretor da escola afirma ter como meta “resgatar a excelência da escola” que,
em termos, se resume à aprovação em vestibulares. Mostra bastante entusiasmado
diante dessa perspectiva, como se pode ver nos fragmentos extraídos de dois
momentos distintos: entrevista dada a uma aluna e publicada em um jornalzinho da
escola e entrevista dada à pesquisadora:
230
;
Alunos e professores entrevistados afirmam a importância – status, realização
pessoal - de estudarem e trabalharem nessa instituição escolar historicamente
relevante.
As representações de "boa escola” dos atores do processo educativo escolar
do Colégio Estadual Central nutrem-se do volume de capital simbólico que o
estabelecimento acumulou e que se compõe por seu prestígio, notoriedade e
reputação que, de acordo com a análise das entrevistas, podem ser traduzidos na
"referência" da escola, na destinação de sucesso dos alunos, na hierarquia
axiológica estabelecida entre as escolas públicas e privadas, na hierarquia
axiológica estabelecida em relação à localização das escolas, como veremos.
1.1. A referência da escola
Não desconsiderando as expectativas geradas na escola em razão das ações
de resgate da referência da escola propostas pela SEE/MG - exaltadas ou
abraçadas por alguns, desacreditadas ou desmerecidas por outros, - nos vários
encontros, reuniões, intervalos e entrevistas, onde se desenvolveram conversas
Sonho ver o Estadual na
mesma efervescência dos
(seus) anos dourados, no
início dos anos 60. Agora com
a colaboração de empresas
privadas, com as quais já
fizemos várias parcerias, como
o Minas Tênis Clube, Instituto
Júnia Rabelo,
A
cesita e outras
mais que estamos procurando
como nossas parceiras. Sonho
também em ver aumentar cada
vez mais o número de alunos
que se destacam no vestibular.
Boletim Escola Estadua
l
Governador Milton Campos. Nº2,
maio 2004.
Olha, cada vez mais, o que a
gente pretende é resgata
r
mesmo essa... não essa
excelência imaginária das
pessoas, mas a excelência
que eu acho que a escola
teve e que deu margem a
inclusive para alguém ficar aí
no imaginário viajando muito
mais. Eu quero uma
excelência que seja assim
realmente mostrada,
vivenciada, a cada momento,
pelas pessoas e não aquela
excelência do imaginário das
pessoas, realmente, não. É
realmente quanto a isso, mas
com pé-no-chão.
Entrevistas Gestores
231
formais e informais, pude presenciar, ao longo dos três últimos anos (2004-2006),
uma recorrente alusão à necessidade do resgate da referência da escola.
Em virtude do caráter polissêmico do vocábulo "resgatar", proponho um
ensaio que situe os possíveis significados que lhe atribuem os atores do processo
educativo escolar do Colégio Estadual, processo que nos levará também a discutir o
significado da “referência” a ser resgatada.
Tomando por base algumas acepções apresentadas nos dicionários Caldas
Aulete (1958), Aurélio (2005) e Luft (1998), inicio, considerando que a palavra,
“resgatar” pode significar recuperar algo cedido a outrem ou algo
subtraído/sequestrado por alguém. Nesse caso pode-se supor que o Colégio
Estadual cedeu ou teve subtraída sua referência, seu nome, sua grife e agora está
imbuído do dever de reaver aquilo que cedeu ou o que lhe foi subtraído.
Seguindo essa linha de raciocínio, a análise das entrevistas me autoriza a
supor que o Colégio Estadual cedeu/teve subtraída sua referência, sua grife a/por
outras instituições escolares, sobretudo privadas, que hoje são reconhecidas no
mercado educacional mineiro, ou seja, "perdeu" seu lugar no mercado educacional e
deseja resgatá-lo. O capital/aluno, produto de seus investimentos, já não apresenta
a mesma rentabilidade - destinação social de sucesso -, que, na representação de
muitos, apresentam os alunos de determinadas escolas privadas, não sendo
aproveitado no mercado de trabalho nem tampouco no mercado educacional.
11
Na empreitada de reaver o lugar de destaque que "perdeu", ou seja, na
empreitada de rentabilizar seu capital, coexistem e contrastam entre os atores do
processo educativo escolar várias posições. Há aqueles que entendem que a
empreitada em busca da rentabilização é tarefa de todos, há os que imputam essa
tarefa unicamente aos órgãos centrais responsáveis pela educação, outros mais
elegem alunos, ou professores, ou gestores, ou pais, como os responsáveis. Assim,
há o envolvimento de alguns nas ações propostas pela SEE/MG, que preconizam o
resgate da referência da escola, e a resistência ou omissão de outros.
È necessário sublinhar que as alusões ao (des)compromisso do Governo do
Estado de Minas Gerais - denominado "sistema" por alguns - responsável pela
11
Essas considerações ficarão mais claras na discussão da hierarquia axiológica entre escolas públicas e privadas
que será tratada mais adiante.
232
educação, sobretudo do ensino médio - permite-nos inferir que Esse pode ser o
responsável pela subtração/seqüestro da referência/qualidade da escola, posto que
não remunera bem os professores, não investe em sua formação, obriga a escola a
aceitar "qualquer aluno", promete e não cumpre, não reconhece as especificidades
do Colégio Estadual.
Essa posição é significativa, pois nos sugere que há uma representação de
"boa escola" centrada nas ações e responsabilidade do "sistema", que pode
engendrar disposições para a resistência, a omissão ou a desesperança.
Resgatar pode também significar recuperar capital aplicado como
investimento. Nessa acepção há de se pensar que se tem investido um certo volume
de capital na educação - às escolas que participam do Projeto Escolas-referência, a
SEE/MG tem disponibilizado verbas consideráveis - e que é necessário a
contrapartida que não vem sendo apresentada, sobretudo quando os resultados das
É... tivemos aqui uma série de discussões aqui e ... blá, blá , blá danado,
mas até agora de concreto, até agora eu não vi nada. Continuo dando
aula no quadro com giz do mesmo jeito. Essas discussões, debates... eu
j
á fui testemunha , já passei por vários planos de educação que no fim
não deu em nada. Continua o professor na sala de aula, dando aula do
mesmo jeito: as mesmas condições péssimas de trabalho e ninguém tá
nem aí.
Entrevista Professores, Lúcio
(...) Mas eu acho que
hoje, com essa
defasagem, com
essa falta de
compromisso da
própria Secretaria,
ou do Estado, do
Sistema com o
professor, ele tá mais
desinteressado, mais
descompromissado!
Entrevista
Professores, Simone
(...) o problema é
a Secretaria de
Educação, e a
realidade daqui é
diferente da
realidade de uma
escola de periferia
e a Secretaria de
Educação trata
todo mundo igual.
Entrevista
Professores, Cinara
(...) O sistema
né, é... não
reconhece o
valor do Colégio
Estadual Central,
né? O sistema
que eu falo é a
Secretaria de
Educação.
Entrevista
Professores,
Jerry
233
avaliações sistêmicas apontam que o nível dos alunos está muito abaixo do que se
espera. Os depoimentos dos gestores, professores e alunos não oferecem indícios
de que essa seja uma acepção reinante, embora alguns professores se queixem do
desinteresse dos alunos frente aos seus malabarismos - investimentos - para tentar
ensinar algo, como sustenta o professor Lúcio:
Essa posição também é arriscada uma vez que se não se avaliar
cuidadosamente as condições em que foram realizados os investimentos e as
expectativas de seus resultados a curto, médio e longo prazo, as conclusões
apressadas ou reducionistas podem levar à descontinuidade de políticas, muito
comum no campo educacional, ao imobilismo ou desesperança dos atores.
Salvar, tirar do esquecimento é outra acepção apresentada para a palavra
resgatar. As inúmeras referências à tradição, à excelente reputação, ao
reconhecimento social do Estadual Central , ao desejo, à glória e honra de ali
estudar ou trabalhar nos permitem inferir que resgatar a referência pode significar
fazer com que a escola mantenha a distinção de melhor escola do Estado de Minas
Gerais, sustentada durante muitas décadas por um sistema de valores da sociedade
em torno e em função do qual muitas escolas se ergueram.
Quanto à "glória", à distinção dos professores de pertencerem a essa escola,
ou mesmo aos sacrifícios que se impõem para tal
12
havemos de pensar, dentre
outros aspectos, que o capital simbólico em que se reconverte seu trabalho nesse
estabelecimento - reconhecimento social no âmbito das escolas de ensino médio de
Minas Gerais - é uma forma de valorização da profissão de ocupantes dos postos
12
Elba afirma: Eu por tá aqui, eu não me importo de morar no Barreiro e dar aula em Lourdes, gasto nisso mais
de ônibus do que na verdade do que ganho, e isso para mim não é problema porque eu tô procurando qualidade
de ensinar, né.(...)
Nos últimos anos, de uns anos para cá, de uns oito anos para cá,
desanimei por completo. Porque chega um ponto que você perde a
batalha, não é? Porque você chega na sala de aula, igual outro dia, outro
dia eu entrei na sala de aula aí. Tinha uns trinta alunos, eu tentei da
r
aula, não tinha um olhando para mim. Não tinha um., Nem um. Todos
eles conversando entre eles. Depois de uns vinte minutos que eu fiquei
parado lá, alguém gritou lá: - o professor tá querendo dar aula, e tal.
Quer dizer, numa situação dessa não tem condições.
Entrevista Professores, Lúcio
234
mais inferiores das escalas de prestígio intelectual (Pereira et al, 2006, p.10)
sobretudo, quando se trata de trabalhar em escola pública (mesmo considerando
que nas classes de baixo rendimento os professores ainda sejam louvados pelas
famílias). Na representação dos professores uma escola que permite e sustenta o
reconhecimento do valor de sua profissão não é uma escola sem qualidade. Nesse
jogo simbólico, configura-se a representação de "boa escola" de alguns professores
e gestores do Colégio Estadual, assentada exclusivamente na reputação da escola.
A meu ver essa acepção mantém uma estreita relação com obter, conseguir,
conquistar. Isso pode nos parecer arriscado, se as tomadas de posição dos atores
do processo educativo escolar em busca da conquista da referência da escola, se
mantiverem orientadas por disposições/habitus, que conservam um ideal de aluno e
professor, que não corresponde ao aluno e professor que ali se dedicam aos
processos de aprendizagens e ensinagens.
Os depoimentos deixam pistas de que essa disposição não parece orientar os
gestores, professores e alunos. Premidos pelo fazer pedagógico e administrativo
cotidiano, esses atores sentem (e quiçá podem até contar!) o esvaziamento do
significado da escola pretérita onde alguns estudaram ou até mesmo trabalharam e
da qual outros ouviram ou leram os feitos e os "feitios".
Diante dessa constatação, empenham-se em obter, conseguir, conquistar
um significado para o Colégio Estadual Central, desconstruindo homeopaticamente
"uma crença" que produziu valores, engendrou formas e figuras quase "mágicas"
que ainda povoam práticas e discursos. Essa desconstrução, mesmo lenta, às vezes
equivocada e deslocada parece sustentar a representação de "boa escola" que está
Eu acho que a maioria não tem projeto de estudos. Que eu noto que
nas conversas, nos trabalhos : "ah, eu quero sair daqui e trabalhar.
Então isso não é um projeto de estudo, eles querem mais é
trabalhar. Eu acho que isso tem muito a ver com o que ele recebe
que é consumir... consumir... consumir... consumir. Ele quer ganha
r
um dinheiro, que ele quer consumir. Infelizmente, o estudo não dá
dinheiro nesse país. Então ele não é incentivado a estudar, a
aprender, a descobrir, a pesquisar porque não dá dinheiro. Então ele
quer o que? Ter escolaridade, sair da escola e trabalhar não sabe
em quê.
Entrevista Professores, Cazuza.
235
em construção também de forma homeopática e exigindo uma nova concepção de
educação, de bom aluno, bom de professor, bom ensino e de "boa escola".
Portanto, se a princípio o envolvimento maior com diversos atores do
processo educativo escolar que atuam no Colégio Estadual, a análise das primeiras
entrevistas e o movimento de resgate da referência, já instaurado na escola,
levaram-me a supor que a referência/qualidade pretérita da escola seria a base
configuradora das representações de "boa escola", a análise do conjunto das
entrevistas aponta que, embora haja toda uma "crença" em uma "referência perdida"
e os discursos se pautem no resgate dessa, em geral, os atores entrevistados não
se "agarram" às heranças idealizadas de alunos, professores, ensino quando
definem a boa escola. Como defende Arroyo (2004) perceberam que estas imagens
estão quebradas e necessitam ser reconstruídas.
Qualquer que seja o juízo que se possa fazer a partir das análises não se pode
descartar nenhum dos significados que aqui apresentamos: o nome, a grife, o
reconhecimento social, a capacidade de fomentar um ensino e uma aprendizagem
que tragam rentabilidade no mercado de trabalho e no mercado educacional, a
afirmação de um determinado projeto educacional, a escola como espaço
privilegiado de ensino e aprendizagem do conhecimento sistematizado das várias
áreas, a capacidade de formar recursos humanos, o comprometimento com a
qualificação intelectual e desenvolvimento emocional e afetivo das juventudes
povoam a escola.
1.2 A destinação social de sucesso dos alunos
Como já disse, a confirmação da seleção inicial da escola, mesmo após a
mudança radical do objeto de estudo, deu-se após a constatação, por meio da
leitura e análise de entrevistas colhidas pelos investigadores responsáveis pelos
outros subprojetos
13
, da representatividade que essa possui junto a inúmeros
cidadãos de Belo Horizonte que ali matricularam seus filhos, estudaram,
trabalharam, dirigiram.
O capital simbólico da escola - sempre fundado sobre atos de conhecimento e
reconhecimento (Bourdieu, 2004b, p. 26) - foi determinante na seleção, uma vez que
13
Os subprojetos já foram citados no capítulo introdutório desse relatório de pesquisa.
236
parti do pressuposto que poderia ser um elemento significativo na construção das
representações de “boa escola” dos atores do processo educativo escolar.
Essa instituição, instalada em
Belo Horizonte, é reconhecida
no cenário mineiro como o
locus da educação de boa
qualidade, justificado pelo fato
de que alunos e alunas, hoje
ilustres personalidades, ali se
prepararam para o ensino
superior, marcando, pois, a
diferença em meio a outras
escolas públicas. Em Minas
Gerais, sobretudo, na capital,
Belo Horizonte, falas
românticas e nostálgicas
atestam e reivindicam o resgate
da qualidade dessa escola
pública, lembrando que em seus bancos formou-se uma geração de intelectuais que
hoje é destaque no cenário nacional, seja no meio político, artístico ou das
profissões liberais.
A destinação social de sucesso dos alunos, tomada sem uma efetiva análise
das suas condições de existência – capital econômico, cultural e social - e do
papel/eficácia da escola em suas vidas constituiu por décadas um dos balizadores
da determinação da qualidade desta escola.
O reconhecimento da excelência da escola não levava em consideração os
casos, como diz Bourdieu (1999c), em que diferentes indivíduos obtêm um
rendimento muito desigual de um capital econômico ou cultural mais ou menos
equivalente, o que pode ser atribuído à alquimia dos efeitos do capital social seja ele
herdado (nome, sobrenome) ou não. É comum a referência à excelência da escola
por essa ter formado grandes políticos, pessoas do meio artístico e grandes
empresários ou ter em seu quadro discente filhos de personalidades famosas.
PERSONAGENS ILUSTRES QUE
ESTUDARAM NO GINÁSIO MINEIRO,
HOJE, COLÉGIO ESTADUAL
Betinho – Sociólogo
Dilma Roussef – Ministro da Casa Civil no
Governo Luis Inácio da Silva
Eduardo Azeredo – ex Governador de Minas
Gerais
Elias Murad – Deputado Federal
Elke Maravilha – Atriz
Fernando Sabino – Escritor
Fernando Pimentel – Prefeito de Belo
Horizonte
Getúlio Vargas – Ex Presidente da
República
Henfil – Cartunista
José Maier – Ator
Toninho Horta – Cantor e compositor mineiro
Tostão – Jogador de futebol
237
Nessa perspectiva, o trabalho de sociabilidade da escola que produzia
ocasiões em que os alunos tinham oportunidade de participar de grupos culturais,
grupos musicais, grupos políticos, grupos religiosos, grupos esportivos afirmando e
reafirmando os efeitos do capital econômico, cultural e social e a competência
específica para utilizá-los não pode ser desconsiderado ao se pensar em definir a
sua excelência a partir dessa relação com a formação. Este trabalho de
sociabilidade da escola funcionou como os grupos instituídos com vistas à
concentração do capital e a concorrência interna, citados por Bourdieu (1999c)
(escolas seletas, bairros chiques, cruzeiros, clubes, saraus, recepções, caçadas,
etc.).
No decorrer das entrevistas, percebe-se que embora as representações de
“boa escola" dos atores resgatem a concepção de excelência centrada na
destinação social de sucesso dos alunos, esse capital simbólico não as configura
como tal, uma vez que alunos, professores e gestores, deixam transparecer que já
percebem que
o rendimento escolar da ação escolar depende do capital cultural
previamente investido pela família e que o rendimento econômico e
social do certificado escolar depende do capital social - também
herdado - que pode ser colocada seu serviço. ( Bourdieu, 1999d,
p.74).
Percebem, embora ainda não assumam na orientação de suas práticas, que o
prestígio de um político, de um ator, de um cantor não é resultado único do efeito
escola. O título escolar - capital cultural objetivado - dessa escola não se reverte
"facilmente" em capital econômico, social nem tampouco em capital simbólico, uma
vez que essa reconversão exige condições que não dependem unicamente da
escola, como se fazia crer.
Creio que, em meio à contradição entre suas percepções e práticas, alunos,
professores e gestores, embora não explicitem, entendem que a "boa escola" é
aquela que consegue perceber a quebra das imagens e busca reconstruí-las. Sendo
assim, essa disposição - habitus - para a percepção é um dos elementos que nutrem
a representação de "boa escola", ou seja, a capacidade de percepção é um
qualificador.
Nesse caso, observamos que a prática conforma a representação, mas a
representação não conforma a prática.
238
O índice de aprovação no vestibular é outro "título" de destinação social de
sucesso do aluno. Tem sido um quantificador nacional do que é a boa escola e um
ensino médio de qualidade.
Parte dos alunos de escolas privadas são categóricos em afirmar:
Uma boa escola é aquela que tenta fazer o possível e o impossível
para que a gente possa alcançar um patamar, uma boa faculdade.
(Abramovay e Castro, 2003, p.175)
Por sua vez os alunos de escolas públicas tendem a avaliar negativamente
suas escolas quando estas não os preparam para o vestibular, afirmam:
Aqui não é muito bom. Falta uma preparação mais dirigida pro
vestibular. Porque o que a maioria aqui sonha é entrar numa
universidade, de preferência pública, porque particular é muito cara.
Ou, a escola pública não está preparada para capacitar os alunos a
prestar vestibular ou qualquer outro tipo de coisa nesse sentido. E,
ainda, o ensino é tão fraco que no ano passado os alunos dessa
escola foram fazer o vestibular e nenhum passou. ( ib. p.176).
Portanto, entre os alunos brasileiros, o ensino médio tem um em valor si, ou
seja, no que pode propiciar de imediato – preparação para o vestibular ou
habilidades para o mercado de trabalho, tem um “estatuto de passaporte para a
mobilidade social”. (ib. p. 163).
Um dos objetivos da escola, explícito na fala do diretor, de alguns professores
e alunos do Colégio Estadual e implícito na proposta da SEE/MG, quando propõe o
resgate da referência da escola, é preparar os alunos para o ingresso no curso
superior. Portanto, a “boa escola” define-se, também, para eles em função desse
objetivo. Ou seja, ser referência no Estado, ter qualidade ou ser uma boa escola
depende também das possibilidades de ampliar a aprovação no vestibular.
Sonho também em ver aumentar cada vez mais o
número de alunos que se destacam no vestibular.
Tudo faremos para dar cada vez mais condições de
enfrentar o desafio do vestibular e sem dúvida vocês
irão brilhar. [Diretor, quando perguntado por uma aluna:
Quais são os planos da escola em relação aos alunos do 3º ano
de 2004?]
(Boletim Escola Estadual Governador Milton
Campos. Nº2, maio 2004).
239
Com base nas discussões de Bourdieu (1999a, p.78) acerca de capital
cultural objetivado e incorporado, conclui-se que a alquimia social já produziu
a crença coletiva de que a aprovação no vestibular, assim como a obtenção do
diploma ou a aprovação em disputados concursos, “é uma certidão de
competência cultural” de seu portador. No caso da aprovação no vestibular, “a
certidão de competência cultural” adquire duplo valor, ou seja, uma autonomia
relativa em relação ao seu portador, pois além de atestar o volume de capital
cultural do portado, atesta também o volume de capital cultural da instituição
escolar responsável por sua formação. Dito de outra forma, o simples fato da
escola ter um certo número de alunos aprovados no vestibular já leva à
suposição de que seja uma boa escola.
Considerando que a função precípua do ensino médio tem sido a
preparação para a entrada no curso superior, e que o investimento em tempo e
esforços nos estudos “só tem sentido se um mínimo de reversibilidade da
conversão que ele implica for objetivamente garantido” (p.79), é possível
apreender a importância do índice de aprovação no vestibular na qualificação
da "boa escola" na representação dos atores do processo educativo escolar do
estabelecimento pesquisado. Entretanto, não se pode desconsiderar que o
depoimento dos alunos sobre o que aprendem na escola e as expectativas dos
professores infirmam o investimento na aprovação no vestibular.
Tem, tem demonstrado em fazer: " ah, eu quero
fazer um curso superior!" Mas, quando eu dou uma
prova pra eles, eu faço umas perguntas, inclusive
de outras matérias, exigindo o conhecimento para
eles chegarem lá, eles não têm base. Então, é uma
incoerência, incutir na cabeça deles que eles
devem fazer escola superior, mas como eles têm
que competir com vestibular, com não sei o que,
para poder entrar na faculdade... eles não têm
base para isso. Não é falta de inteligência, não! É
diferente, eles não têm base porque a escola
pública, hoje, infelizmente, como já falei, ainda há
pouco, ela está dando escolaridade, mas não está
dando conhecimento para eles competirem.
Entrevista Professores, Cazuza
240
1. 3 A hierarquia axiológica entre as escolas públicas e privadas
A diferença inclusive, colocar o menino numa
escola pública ou escola particular. Ele tem mais
atenção, ele tem grupos, tem coordenador de
área, tem coordenador de turno, ele tem
coordenador pra tudo quanto é coisinha dele.
Então ele não tem onde não, não... não destaca
r
ou ir pra frente. Enquanto que aqui não tem não.
Tem a escola pública, ela tem uma orientadora,
uma psicóloga, pensa bem. É pouca gente pra
poder dar mais suporte a esses meninos. (...) .
É... o menino toma bomba, a reprovação, né?
Porque ele quer. Que a escola dá todo o suporte
pra ele. Enquanto o nosso não tem. Ele fica
aqui... (...) Enquanto na escola particular, não.
Ele tem um outro horário, outro professor, é
módulos, né? Que eles falam, pra o menino ir lá,
assistir aula com outro professor da matéria, pra
onde que tá fraco. (...)
Entrevista Gestores, Marisa
O ensino dela, sabe,
não era ... não parecia
que era uma escola
estadual, sabe? Até
parecia que era
particular pelo
comportamento dos
professores, as
atitudes.
Entrevista Alunos.
Bial.
O professor... porque a
maioria que aqui está
não daria aula numa
escola particular boa
que ela iria cobrar dele,
ele não tem
competência para dar.
Faz concurso e acha
que só porque fez
concurso pode dar aula
de qualquer jeito. Eu
sou contra isso.
Entrevista Professores,
Cazuza
241
A hierarquia axiológica que atribui o bom ao privado e o ruim ao público
parece uma representação firmemente assentada entre os atores do processo
educativo escolar do Colégio Estadual Central.
Em se tratando de algumas considerações acerca da hierarquia axiológica
que atribui o bom ao privado e mau ao público, cabe lembrar que, como afirmam
Pereira e Andrade (2003), o campo jornalístico
14
, no que se refere especificamente
às questões educacionais, tende a uma submissão às dualidades socialmente bem
fundadas. Os esquemas de classificação fundam-se em pares de oposição como:
útil e agradável; rápido e lento; novo e antiquado; público e privado; bom e mau. As
matérias são dissimuladas sob a forma de apresentação imparcial, geralmente
denunciatória, da real situação das instituições, inculcando hierarquias axiológicas,
que muitas vezes identificam os bons valores ao privado e os maus ao público, e
esquemas práticos de percepção. Essa inculcação é um dos impactos do efeito de
intrusão denunciado por Bourdieu (1997, p.109) e, somada à real situação das
escolas públicas de Belo Horizonte, pode apresentar-se também como um fator de
14
A mídia impressa insiste num trabalho de publicação de ranking de melhores escolas particulares,
como o fez a Revista Veja, no ano de 2002, em edição especial nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo
Horizonte, Salvador e Recife e em reportagem publicada em 2004, como pode ser visto no anexo II deste
relatório de pesquisa.
Ah, depende da escola, se estiver numa escola particular tá
melhor, agora, se tiver numa escola pública tá pior. Porque lá
você tá pagando né, o professor, acho que, a partir do
momento que você tá pagando uma coisa, se você tem
dúvida, por exemplo, já acabou, o professor não tá mais
explicando aquela matéria, se você tem dúvida naquela
matéria, ele é obrigado a ir lá e te explicar, você tá pagando.
Funcionário nenhum pode gritar com você, ou falar mais alto
com você , porque você tá pagando, é uma coisa boba que eu
acho que não deveria ter entre as duas escolas pública e
particular mas tem, mas não por culpa nossa, dos alunos mas
deles mesmo, acho que tinha que ser igual.
Entrevista Alunos
,
Dan
i
242
expressiva interferência na configuração das representações de “boa” escola pelos
atores do processo educativo escolar.
O depoimento
de Rosa, aluna que
passou por escola
pública e privada,
ilustra com
propriedade o efeito
de intrusão, embora
a classificação
mencionada faça
referência a uma
escola pública.
Logo depois, ao falar sobre suas expectativas em relação ao Estadual
Central:
Completamos a ilustração com matéria jornalística que, de certa forma, pode
configurar a representação de "boa escola", como no caso da mãe de Rosa, que por
meio da consulta a uma publicação pôde indicar à filha as "boas escolas" públicas
onde poderia estudar já que por problemas financeiros sairia da escola particular.
Eu achei que ia ser fraca porque era escola
pública e eu quebrei a cara! (Risos)
Entrevista Alunos, Rosa
Rosa, quando você veio pra cá, você fez a
opção naquela lista do Estado que escolhe
as escolas?
Não, minha mãe que olhou e ela falou assim:
“Já que vai ter que ser numa escola publica,
então vai ter quer ser numa melhor.” Aí tava na
classificação: CL tava em primeiro lugar. Só que
não conseguiu vaga lá.
Classificação de que ela olhou?
Saiu a classificação “A escola melhor do ano”,
uma coisa assim. Aí pra mim entrar tinha o
Instituto e o Estadual. Aí arrumou a vaga nos
dois, aí eu tinha que escolher.(...).
Entrevista Alunos
,
Rosa
O Estado de S.Paulo
Rede particular tem melhor resultado no Enem
Escola paga pesa mais no desempenho que renda familiar e
escolaridade dos pais
DEMÉTRIO WEBER
BRAS
Í
LIA – Mais do que a renda familiar ou a escolaridade dos pais, a
escola particular é o fator decisivo na qualidade do aprendizado,
segundo os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) este
ano. Desde que foi criado, em 1998, o Enem vem sendo anunciado como
instrumento de “democratização do acesso à universidade”, que ajudaria
alunos da rede pública a passar no vestibular. Na prática, porém, os
alunos da rede particular não só se saem melhor na prova, como os
pontos do Enem fizeram subir as notas de corte na Fuvest.
14/12/2000
243
Não se pode desconsidera r também que os efeitos da socialização da
própria escola - habitus escolar - sobre os alunos e professores podem fazer com
estes cristalizem a crença nessa hieraraquia axiológica.
O fato de ser questionada se me referia à escolas públicas ou particulares,
tão logo solicitasse ao entrevistado que citasse algumas boas escolas ou algumas
escolas de qualidade, a reiterada observação de que há vários professores do
Colégio Estadual que são professores também de escolas privadas ou que
determinado professor do Estadual Central deixa tanto a desejar que jamais
trabalharia em uma escola privada constituem indícios de que há uma hierarquia
axiológica que identifica o bom ao privado e o ruim ao público.
A referência à real situação das escolas públicas, principalmente falta de
verbas, que caracteriza alguns depoimentos, que comparam as escolas públicas e
privadas, e os depoimentos da mãe de uma das alunas e de uma funcionária,
referindo-se ao fato de achar a escola boa em função da impossibilidade de pagar
uma escola particular - deixando claro o seu critério de classificação das escolas,
diante das chances objetivas e da “reputação das escolas particulares” - reafirmam
a força dessa inculcação na classificação das escolas e, portanto, na representação
da “boa escola” pública.
[Referindo-se à boa escola ou
escola de qualidade] É aquela
escola que não fica parada no
tempo, é aquela escola que
está sempre andando, com
inovações, tendo... oferecendo
ao aluno... lógico que eu não
posso querer escola
estadual... e pedir isso, né.
Porque aqui não tem verba
para esse tipo de coisa, é a
escola particular que tem isso.
Mas, uma infra-estrutura
melhor para que o aluno possa
utilizar da escola como um
todo.
Entrevista Alunos, Dino
Bom, eu vejo aqui no
Estadual, o que é de se esperar
de uma escola pública, é alguns
pontos, porém em outros
compensa até mais que numa
escola particular, se for pensar
em relação a espaço físico, se for
pensar em relação, a como se
diz, relacionamento, como dizem
os outros é uma coisa muito mais
aberta, muito mais humana
mesmo, muito mais real né. É eu
acho que isso transcende assim
a experiência que eu tive assim
principalmente no Nossa
Senhora das Dores.
Entrevista Alunos
,
Leo
244
Tanto no depoimento dos alunos, quanto no dos gestores e dos
professores a qualidade superior atribuída às instituições privadas advém,
sobretudo, do apoio pedagógico e psicológico que estas asseguram aos
alunos e alunas.
Embora não conheça profundamente as relações estabelecidas nas
escolas privadas citadas, até mesmo por não ser objeto de estudo desta
pesquisa, as falas de alguns alunos apresentam indícios de que esses
“atendimentos” não são oferecidos pela própria escola, mas por instituições ou
pessoas físicas contratadas pelos pais, como professores particulares ou
clínicas psicológicas.
Uma análise dos elementos que sustentam essa hierarquia axiológica,
socialmente construída, leva a deduzir que na representação de alguns alunos,
professores e gestores a escola particular, “per se” já a habilita a ser uma boa
escola, assim como são bons seus professores e seu atendimento. Portanto, a
[Referindo-se à escola privada] Pois é, deixa eu ver. É.. lá é assim... É... lá
é como se fosse a sua segunda casa. Não tenho explicação, porque
eles dão apoio psicológico. Que quando eu estava lá, eles falaram, me
orientaram para a psicóloga, por causa que eu tinha, sei lá, eu não sei
explicar, porque eu era novinha. Mas me mandaram, aí eu tinha duas
psicólogas, até que não adiantou muito (........). Mas aí eu fui pra uma
clínica aqui no Santa Efigênia que tinha uma que chama MPP que é
excelente. Não sei se você conhece.
Entrevista Alunos. Ana
(...) E assim, lá já foi um pouco mais difícil, porque saí de uma escola
pública que não te dá assim uma base pra uma escola particular. Aí
eu fiz de primeira a oitava série lá, sempre também me dei muito bem
com os meus amigos, me dei muito bem com os professores. Acabei
sendo reprovada na oitava série por problemas pessoais lá em casa,
e não tava tempo de conciliar escola com família, e acabei sendo
reprovada. Mas quando...e aí a escola mesmo me deu um apoio
psicológico até pra eu poder retornar a essa oitava série e poder
fazer uma ótima oitava série.
Entrevista Alunos, Lia
245
caracterização da boa escola pública assume, em alguns depoimentos uma
dimensão estritamente relacional, tendo a escola privada como parâmetro.
Nessa lógica, na representação dos atores do processo educativo escolar do
Estadual Central, as escolas privadas constituem a referência de "boa escola" e lá
estão os "bons alunos", os "melhores professores" e o "bom atendimento", portanto,
é esta escola que oferece ao mercado de trabalho e ao mercado educacional os
alunos com capital cultural rentável.
1.4 A hierarquia axiológica em relação à localização das Escolas
Gestores, professores, alunos parecem haver “conspirado” para dar curso às
mais diferentes representações que sustentam a qualidade superior das escolas
centrais e a qualidade inferior das escolas localizadas na periferia.
Mas adianto que é... é, uma fala bem geral de que
as escolas de bairro e de periferia, os professores
são menos críticos e talvez de formações inferiores
a dos professores das escolas centrais. Aí qual que
seria a explicação pra isso, na minha visão? Pela
própria origem social do professor e que ele acaba
é, é, quanto melhor é a formação dele, melho
r
colocado ele passa nos concursos, melhor ... então
escolas centrais são de preferências dele, uma vez
também que ele já mora nessas regiões. Então ,
é... isso seria a minha explicação pra esse fato. Pra
esse fator de, nas escolas centrais estarem os
professores com maior capacitação e mais
intelectualizados.
Entrevista Professores. Jerr
y
E os alunos daqui do Estadual Central eles tem um certo nível econômico
melhor, tanto que tem condição pra pagar todos os dias, né, o lanche,
muitos deles, a grande maioria faz o cursinho pré-vestibular, junto com o
terceiro ano, que ajuda muito... Então esse retorno fica bem mais fácil em
relação ao aluno da periferia.
Entrevista Professores. Simone.
246
Tanto alunos quanto professores avaliam que as escolas localizadas em
determinados bairros, até mesmo os que não se situam na periferia, deixam
muito a desejar no que diz respeito à qualidade.
A heterogeneidade de origem social dos alunos, habitus (xingam
palavrões, não respeitam os colegas e os professores, gostam de procurar
brigas), capital cultural (nível baixo de aprendizagem, exigem menos dos
professores, desejos abafados pelas chances objetivas), assim como a
heterogeneidade do capital profissional (professores mal formados, sem
diploma, menos críticos, menos capacitados) e habitus dos professores
(ignorantes, não sabem tratar os alunos) são creditadas, por alguns, à região
geográfica, onde se localiza a escola.
Os depoimentos transitam entre o que Bourdieu (2001, p 482) denomina
de lógica da responsabilidade pessoal que leva a “culpar a vítima” pelo seu
fracasso, assinalando suas deficiências e pela lógica da responsabilidade
coletiva que leva a substituir as causas consideradas naturais “por fatores
sociais mal definidos, como a insuficiência dos recursos oferecidos pela
Escola, ou a incapacidade e incompetência dos professores (cada vez mais
responsabilizados, na visão dos pais, dos maus resultados dos filhos): ou
mesmo de modo confuso, ainda na lógica de um sistema globalmente
deficiente, que haveria que reformar”.
Os exemplos de boa escola citados pelos gestores, professores e alunos
também são indícios dessa representação de boa escola, pois entre as 40
escolas públicas citadas apenas 06 situam-se em bairros mais distantes da
região central de Belo Horizonte, não desconsiderando que a localização,
muitas vezes pode gerar o desconhecimento da realidade da escola, o que
torna menos previsível a citação.
Então minha mãe me trazia, tava no caminho e eu
queria mudar de ar, porque apesar dos bairros serem
bons, né? Cidade Nova, Floresta, ali as escolas
públicas dão pessoas mais simples.
Entrevista Alunos, Ana
247
Acredito que as condições de existência desses atores, mais no que
tange ao volume de capital cultural familiar do que ao volume de capital
econômico, são responsáveis pela configuração destes critérios de distinção,
que levam à crença de que o Colégio Estadual devido à sua localização
geográfica não seja “invadido” por "qualquer tipo" de aluno e professor, sendo,
portanto, uma "boa escola".
Outro fator que pode sustentar essa axiologia é a crença popular - efeito
simbólico - de que o Estadual Central, em virtude da localização - zona considerada
“bem” habitada - e imponência do prédio, é uma escola bem freqüentada tanto por
alunos, quanto por professores.
Essa crença, somada a fatores como a existência de porteiros e até uma
mobilização da antiga Associação de Pais para a instalação de catracas para se
controlar a entrada – o que não foi realizado – produz algumas “certezas”, às quais
alguns professores e alunos fizeram referência. Entre elas, destaca-se que uma das
características da escola é ser um local onde se tem um certo nível de segurança, o
que hoje é uma das maiores preocupações das comunidades escolares.
A estrutura física – quadras de esporte, piscinas, biblioteca, laboratórios,
auditório, jardins – sugere uma diversidade de possibilidades de práticas
pedagógicas e de condições de trabalho, mesmo que os espaços sejam
subutilizados.
A representação do status, da competência, do compromisso das condições
de trabalho dos professores que ali estão em exercício, por sua vez, sugere a idéia
de um lugar ideal para se trabalhar, de um lugar onde se tem a possibilidade de
desenvolver-se profissionalmente e até de rentabilizar o capital profissional e social,
galgando espaços que podem significar ascensão social no campo educacional, pois
o Estadual Central, como já mencionado é o símbolo da distinção profissional, social
- e quiçá econômica, já que há ou houve, por um tempo, uma crença de que os
profissionais que atuavam nas grandes escolas estaduais eram mais bem
remunerados e em três escolas da rede municipal isso foi realidade até fins da
década de 1980.
Cabe considerar, como adiantou Jerry no depoimento que abre este item, que
é uma distinção que mantêm as desigualdades profissionais e educacionais: vão
para as “boas” escolas centrais os “bons” profissionais e, aos “desclassificados”,
248
cabem as escolas “desclassificadas” situadas na periferia, o que me faz recordar o
provérbio:” pé torto no chinelo velho”.
No depoimento da professora de Geografia, 27 anos, que leciona há apenas
um ano e meio, sendo um ano nesse estabelecimento, moradora de um bairro de
classe de rendimento baixo, onde passou a infância e parte da adolescência entre
alunos de uma escola de periferia e que afirma ter enfrentado muitas dificuldades,
ao vir para o Estadual Central, na 7ª série - aconselhada pelo pai, professor na
escola pesquisada há muitos anos - devido a dessimetria social e cultural entre ela e
os seus colegas, fica evidente a força do capital cultural e, sobretudo, da trajetória
escolar na configuração do habitus e a força que ele tem na configuração da
hierarquia axiológica que atribui às escolas centrais uma qualidade superior às
escolas de periferia.
Em outra parte de seu depoimento esclarece:
(...) Então, a minha escolha do Estadual Central, hoje, eu já
eliminei todas as que ou não quero dar aula. Engraçado que
você vai criando uma seleção natural: não quero isso para mim,
não quero isso para mim e vai criando o foco. Então, hoje se eu
passar no concurso, se fosse para mim efetivar teria que se
r
aqui no Central ou no Vila Lobos, ou outra boa que tem aqui no
centro que eu não conheço, do contrário, eu não gostaria de
viver presa na escola porque eu passei no concurso e de lá
ficar fazendo um mau trabalho que eu acho que isso tudo
reflete, né.
Você acha que as escolas de periferia trazem esse
problema?
Traz, para mim traz, não por ser periferia, mas acho que a
formação não chega lá, entendeu. Os alunos não são
preparados para viver tanta coisa como esses daqui são,
porque o legal é você sair do meio. Eu acredito que se eu
ficasse lá perto da minha casa, dessa escola de cinco minutos,
eu nem teria metade dessa formação que eu tenho hoje como
pessoa. Essa formação tem que sair do meio, as minhas
colegas, de quando eu estudei lá, todo mundo hoje são
casadas e tem filhos e eu, meu irmão, e uns outros que saíram
daquela periferia, vamos dizer, estão hoje na faculdade,
especialização, querem estudar, querem ser algo mais. Lá não,
lá ficaram retidas naquele mundinho. Então, é interessante que
o aluno saia do meio, procure uma escola boa, se é que ainda
tem, né.
Entrevista Professores
,
Elba.
249
A seleção estabelecida pela professora nada tem de natural, é a força do
habitus de classe, a reprodução da estratégia de distinção que vivenciou, quando
adolescente, sob a orientação do pai. Ela "sente" as diferenças de habitus de classe
e a perversa reprodução da desigualdade no espaço escolar.
Se o habitus da família engendrou disposições para não poupar sacrifícios e
manter a distinção de estudante, a "herdeira" também não poupa sacrifícios para
manter sua distinção profissional:
O juízo professoral sobre os alunos emitido por Simone, ao falar de suas
realizações como professora no Colégio Estadual, assim como o "juízo
professoral" sobre os professores, expresso por Jerry, ao discorrer sobre os
motivos que o levaram a ir trabalhar nessa mesma escola - registrados no
início deste item - deixam claro mais um critério que estabelece o ranking das
boas escolas.
2. O CAPITAL CULTURAL
O capital cultural, entendido aqui como o conteúdo ensinado na escola, a
atuação e formação dos professores e a atuação e formação dos alunos são
elementos significativos na configuração da representação de "boa escola".
2.1. O conteúdo ensinado na escola
Embora as entrevistas nos permitam perceber que há, entre os gestores, um
discurso que a "boa escola" é aquela que ensina e o aluno aprende, tem como ponto
chave a aprendizagem, tem ensino, oferece condições para o aluno aprender, os
momentos de observação permitam detectar (e até mesmo participar) um movimento
Eu por tá aqui, eu não me importo de morar no Barreiro e dar aula em
Lourdes, gasto nisso mais de ônibus do que na verdade do que ganho,
e isso para mim não é problema porque eu tô procurando qualidade de
ensinar, né. E aí eu falo muito assim, eu dei aula nessa escola que eu
estudei até a 6
ª série, a cinco minutos da minha casa, dei aula lá por um
período de um mês e eu prefiro 1000 vezes acordar quatro e quarenta
da manhã e vir pro Estadual Central e dar aula, do que acordar seis e
quarenta e dar aula perto da minha casa.
Entrevista Professores.
Elba
250
de reestruturação curricular com participação significativa do corpo docente, o
conteúdo ensinado na escola não é destacado pelos alunos e professores como um
dos qualificadores da "boa escola", do Colégio Estadual ou mesmo da escola dos
sonhos.
As pistas oferecidas pelas entrevistas, observações e análise de documentos
não nos permitem afirmar, sem grandes riscos, que na prática pedagógica dos
professores há ênfase a esse ou àquele aspecto curricular ou a articulação dos
aspectos. As propostas curriculares, os diários de classe, o sistema de avaliação
apontam ênfase nos aspectos cognitivos. Já a realidade descrita pelos professores,
suas baixas expectativas em relação aos alunos e as referências às práticas
desenvolvidas na sala de aula sugerem a ênfase nos aspectos relacionados às
dimensões social e afetiva da formação humana. Portanto, não podemos afirmar que
exista uma política consciente de ênfase a esse ou àquele aspecto, mesmo
considerando que há todo um movimento de elaboração do Currículo Básico
Comum (CBC), imposto pela SEE/MG às escolas que participam do Projeto Escolas-
referência.
Na verdade o que se percebe é que a ênfase aos aspectos curriculares -
aspectos cognitivos e aspectos psicossociais - é determinada pelo capital
profissional dos professores, isto é, depende menos de uma decisão coletiva do que
da visão que os professores têm dos alunos - juízo professoral -, do valor que
atribuem e que é atribuído à disciplina lecionada e de alguns aspectos de sua
formação. Há os que parecem ter incorporado o discurso da importância da
formação psicossocial e esquecido da formação cognitiva, os que defendem que ao
professor cabe ensinar os conteúdos das disciplinas e as outras aprendizagens
devem ficar a cargo da família ou da equipe de apoio e, ainda a tentativa, por parte
de alguns de associar as ênfases.
Como já foi dito, não há um acordo ou uma referência clara do que se deve
ensinar e do que se deve aprender, como sugerem os estudos sobre as escolas
eficazes.
O depoimento de Cazuza sobre "boas escolas" é a expressão da dicotomia e
dos equívocos vividos pelos professores na elaboração e desenvolvimento da
proposta curricular de sua disciplina :
251
Quando falam do ensino ou do conteúdo a ser desenvolvido, os professores
do Colégio Estadual recorrem ao slogan “preparar o aluno para a vida” - respeitando
a sociedade e o colega, compreendendo seu papel no seio da sociedade, sendo
disciplinado e cumprindo seu papel.
Os depoimentos dos professores sobre suas expectativas em relação aos
alunos - engendradas pelo habitus - permitem inferir que pretendem ou esperam
que os alunos aprendam um pouco da disciplina lecionada que para eles não vai
valer para nada, mas sejam bons cidadãos, bons pais, como se pode observar nos
excertos de algumas entrevistas
A valorização e desvalorização do conteúdo da disciplina lecionada pelo
professor pode ser entendida a partir da análise de suas expectativas em relação
aos alunos. Ao que parece, não há uma convergência entre o que alguns proclamam
ser o objetivo da escola no resgate de sua referência, - aprovação no vestibular - os
planos futuros do aluno - entrar para o um curso superior ou para o mercado de
trabalho - e as expectativas dos professores e consequentemente a seleção dos
conteúdos.
Eu francamente não preocupo com conteúdo. Eu acho que curso
de língua portuguesa no segundo grau, principalmente no
terceiro ano, tem que ser mais voltado pra formação do
adolescente. Ele tá saindo da escola sem nenhuma, nenhum
diploma profissional, nenhum gabarito profissional, mas ele
precisa dessa formação cidadã, é... saber conversar com
qualquer autoridade, saber escrever e isso a gente desenvolve é
na prática mesmo.
Uma escola boa de qualidade depende, depende definir o que é isso.
Se for qualidade de ensino é aquela qualidade em que o aluno tá ali, ele
sai da escola realmente tendo conteúdo dominado. Dá uma prova para
ele, ele sabe, resolve, e isso seria uma escola de conteúdo Uma escola
de qualidade, ela pode ter qualidade humana, o aluno sai dali sabendo
respeitar a sociedade, o colega, o ambiente onde ele está. Sabe
proceder no auditório, coisa que eu não vejo aqui, a aluno não sabe
conversar, grita, deixa o celular ligado. Então, tem esses dois lados, a
escola pode ser de qualidade, humana ou de qualidade de conteúdo, o
que eu penso de qualidade de escola.
Entrevista Professores, Cazuza
252
A minha expectativa é que eu
tenha passado para eles algum
conhecimento além da
matemática. Porque a
matemática para eles, na maioria,
não vai valer para nada, porque
eles não vão encontrar no
mercado de trabalho. Não vão
ser pesquisadores, não vão se
r
estudiosos da área de exatas.
Então, minha expectativa é que
eles vão ser bons cidadãos, bons
pais. Se eles conseguirem isso,
se eu passei alguma coisa a
respeito disso, eu acho que terei
feito minha parte.
Entrevista Professor Cazuza
Olha, as expectativas são
as melhores possíveis.
Dentro do colégio, eu
acredito que a formação
para exercerem a sua
cidadania fora da escola
está sendo... é... essa ação
escolar está sendo muito
positiva. Inclusive, da minha
parte, eu procuro levar o
conhecimento teórico para
fora da sala de aula. Então,
peço que eles observem
mais as coisas.
Entrevista Professor Mc Bil
l
Por isso que eu valorizo mais a formação do cidadão, a
formação do intelectual, pra eles ter segmento na vida. Porque
passar num vestibular, é pra um aluno da escola pública uma
exigência muito grande. Então são muito poucos que
conseguem. E também nós não teríamos nem como é... cinco
mil alunos passassem todos no vestibular, hein? Não teria nem
como ter tanto profissional, né?
Entrevista
p
rofessores
,
Simone
... a minha expectativa é que eles sejam responsáveis,
cumpridores das tarefas, das obrigações, que eu acho
que a gente educa mais do que ensina, que eu acho que
quem quer aprender pega o livro e estuda, quem não
quer dá um jeito de colar, dá um jeito de copiar o
trabalho do colega, entendeu? E acaba passando. Mas o
que é envolvido, ele vai e gosta e vai por ai adiante e o
que não é envolvido, não adianta, que você não vai
conseguir muito coisa com ele não, mas pelo menos
aquelas noções de responsabilidade, de dever cumprido,
de tarefa que é de qualquer conteúdo eu procuro te
r
essa expectativa, procuro chegar no fim do ano e senti
r
isso .
Entrevista Professores
,
Cinara
253
Como já vimos, alguns professores acreditam que o conteúdo ensinado não
fará parte da vida dos alunos, portanto, se conseguirem prepará-los para a vida, já é
o suficiente; outros crêem que o conteúdo pode ser aplicado à pratica e, portanto,
utilizado pelo aluno no encaminhamento, na solução e na avaliação de problemas e
situações impostos por sua realidade.
A princípio, podemos levantar duas suposições acerca dessa relação dos
professores com os saberes universais: a) a representação dos professores já
mostra indícios da incorporação de um slogan do discurso pedagógico muito comum
hoje no campo educacional e, sobretudo, na rede pública; b) a representação dos
professores está configurada sob a ”lógica da necessidade”.
Quanto à primeira suposição, consideramos, como Scheffler (1974), que os
slogans são bastante utilizados no campo educacional, proporcionando símbolos
que unificam idéias. Os slogans têm uma dimensão prática, porém não podem ser
compreendidos tão somente como frases de efeito, chavões feitos e acabados, mas
devem ser analisados também como frases e expressões comumente utilizadas em
justificativas e explicações para situações que não mereceram grandes reflexões,
como é o caso de dizer que se quer formar para a cidadania. Aceitar e divulgar este
slogan pode significar “ter uma postura politicamente correta” no que diz respeito às
discussões curriculares emergentes e que supõem uma ação transformadora no
campo educacional.
Uma das características dos slogans é seu poder de repetição, pois,
quanto mais repetidos, maiores serão as chances de tornarem-se
autônomos em relação às pessoas e ao próprio conjunto de idéias
que os gerou, até que se torne uma verdade inquestionável. Dessa
forma, parece ser intrínseco ao slogan não exigir muito esforço
analítico, pelo contrário, intenta induzir respostas cada vez mais
automáticas até que, quando cair em desuso, outro slogan
sintonizado com o momento venha ocupar o espaço. (Novaes, 2005,
p.172)
Não é demais lembrar do objetivo/slogan tão repetido pelos professores em
planos curriculares, projetos político-pedagógicos e outros documentos escolares:
“formar alunos críticos e participativos que agora pode ter sido substituído por:
“preparar cidadãos”.
Ter como objetivo preparar o aluno para a vida também pode ser uma
estratégia dos professores alimentada pela “lógica da necessidade” (habitus). O
ensino dos conteúdos universais não é para os alunos que não têm base e não
precisarão deles, esses precisam de conteúdo para aprender viver.
254
Por sua vez, os alunos do Colégio Estadual tendem a dizer que os conteúdos
– conceituais, procedimentais e atitudinais - que aprendem na escola têm
contribuído para o desenvolvimento de tarefas não escolares. O aprendizado de
conteúdos atitudinais e procedimentais parece ser um dos fatores constitutivos da
representação de “boa escola” dos alunos que não projetam a utilidade dos
conhecimentos para o futuro, mas identificam-na no presente.
Essa posição reforça a teoria do capital cultural: os alunos de classe social
privilegiada – alunos da escola particular – adquirem esses conteúdos ensinados
pela escola no seio familiar e esses passam a ser desvalorizados quando
desenvolvidos pela escola. Para as classes de baixo rendimento e de rendimento
baixo médio, a escola é o lugar da aprendizagem desses conteúdos que, portanto,
são significativos, por serem considerados conhecimentos que tanto podem ser fator
de distinção nas relações profissionais como nas relações sociais. Os excertos das
entrevistas dos alunos, que se seguem, explicitam com propriedade a importância
dos conteúdos desenvolvidos na escola para sua vida cotidiana.
Olha, algumas matérias, biologia, assim... que você está
aprendendo aqui, você lê uma revista você não fica perdido.
Matemática assim você não fica perdido quando está ... igual
no meu serviço lá, a gente tem que fazer uma conta de
matemática lá, já ajuda no raciocínio rápido, né. Igual não
poder usar calculadora na prova, ajuda pra caramba. Eu
achava maior chato: -“ah, não pode
usar calculadora!” mas
ajuda muito, depois que você não pode usar a calculadora
você percebe o escravo que você era dela. É... mas, é isso
mesmo.
Entrevistas Alunos, Dino.
Ah, eu acho que sim, eu acho assim que a vinda pro Central,
por ser uma escola grande e ter tantas pessoas você aprende
a conviver com as pessoas, você aprende a respeitar o
espaço do outro né, que lá era uma escola muito pequena,
você aprende a respeitar o espaço do outro e ai isso foi
passando e hoje eu faço outras coisas assim fora da escola,
fora do grêmio, fora do colégio que me ajudaram bastante
graças a essa boa convivência que eu aprendi a ter com as
pessoas aqui dentro..
Entrevista Alunos, Nat
i
255
Creio que, após essas considerações, pode-se concluir que a dicotomia vivida
em relação aos aspectos curriculares em face ás várias imagens quebradas -
alunos, professor, escola, currículo, conteúdos disciplinares - e as expectativas dos
professores em relação aos alunos são condições objetivas da prática dos
professores que configuram representações de "boa escola", nas quais os
conteúdos ensinados na escola são apagados. As representações dos alunos
também engendram-se nessas condições.
2.2. Atuação e formação dos professores – capital profissional
Considerando que nos seus depoimentos sobre a qualidade das escolas em
que estudaram, definição de uma boa escola, qualificação do Colégio Estadual e
caracterização da escola dos sonhos, os gestores, professores e alunos referem-se
a uma escola pretérita, uma escola atual e uma escola “a devir”; que a qualidade da
escola varia no tempo; que são atores que pertencem a espaços diferentes, dentro
do âmbito da educação em nível médio; pertencem a gerações e espaços sociais
também diferentes, a convergência das respostas e o destaque dado à atuação e
formação dos professores - capital profissional - este qualificador assume grande
relevância na análise do que nutre a representação de boa escola dos atores do
processo educativo escolar.
A relativa independência e interdependência da natureza das
"competências" requeridas ou identificadas no professor – atuação e formação –
torna difícil e complexa sua categorização. Entretanto, arrisco-me a dizer que foram
Contribui até mesmo pelo
meio de convivência
entre as pessoas, que
aqui no Estadual Central
é a primeira escola que
eu entro que tem
pessoas de diferentes
gostos, ao extremo,
muito diferente.
Entrevista Alunos, Bia
l
Porque aqui na escola você
aprende também várias
coisas que você pode usa
r
do lado de fora, entendeu?
Como a questão de
adolescência, de como se
comportar em certos
lugares, que com certeza
que você vai levar para sua
vida lá fora também.
Entrevista Alunos, Dina
256
destacadas as características centradas na sua atuação, ou seja, no seu patrimônio
disposicional, engendrado por dimensões do habitus de classe e dimensões
relativas ao habitus profissional.
Assim o bom professor deve ter: gosto pelo que faz; prazer; satisfação;
empolgação; capacidade de encantar os alunos; comprometimento; envolvimento e
proximidade com os alunos e a família; dedicação ao acompanhamento vigilante dos
alunos; ligação com o conhecimento; disciplina; nível de cobrança e, ainda, deve
cobrar respeito, mas ser flexível; esforçar-se para transmitir o conhecimento aos
alunos e valorizar a escola.
Em termos de formação, ou seja, de volume de capital profissional, ele deve
ser atualizado e competente para ministrar suas aulas; ser capaz de contextualizar
a matéria estudada e a atualidade, adquirir conhecimentos durante viagens. O bom
professor também deve ter uma boa remuneração que lhe permita investir na
rentabilidade de seu capital cultural e profissional, mediante viagens e participação
em cursos; dedicação exclusiva; jornada suficiente para estudos e preparação das
aulas e acesso a recursos e equipamentos que potencializem seu trabalho.
Observa-se que os depoimentos que identificam o professor como o maior
responsável pela qualidade da escola apontam que o capital requerido centra-se
mais na dimensão das relações socioafetivas - capital simbólico, reconhecimento -
do que no capital cultural exigido para ensinar o conteúdo, saber selecioná-lo e
avaliá-lo. Ou seja, as exigências em relação ao capital profissional do professor
centram-se no que Tardif e outros (1991) denominam saberes da experiência ou
saberes práticos, secundarizando os saberes das disciplinas e os saberes
pedagógicos - capital profissional.
Considerando a ênfase dada ao capital simbólico, não se pode deixar de
aludir à disposição que os educadores e alunos construíram para "curvar a vara", ao
referir-se à proposta curricular, e também para se tornar alquimistas, transformando
as relações de dominação e de submissão em relações afetivas e o poder em
carisma ou em encanto.
No primeiro caso, retomo as considerações apresentadas no capítulo
introdutório, quando tratamos da valorização e desvalorização da escola, discutindo
o lugar hoje ocupado pela aprendizagem dos conteúdos universais na organização
das práticas pedagógicas. Muitas escolas no afã de “atender às necessidades e
diversidade dos alunos” têm organizado uma proposta curricular com ênfase nos
257
aspectos psicosssociais, culturais e de lazer, - "curvando a vara" - , ou seja, não
buscando o equilíbrio, desconsiderando, portanto, a importância do lugar da escola
no ensino e aprendizagem dos conteúdos universais. Sendo assim, deduz-se que a
prática pedagógica configura a representação de "boa escola" centrada no capital
simbólico do professor e a representação de "boa escola" centrada na valorização
de atividades sociais, culturais e de lazer, em detrimento do ensino e aprendizagem
dos conteúdos universais, configura a prática pedagógica.
No que diz respeito à alquimia simbólica Bourdieu (2004) explica:
Um dos efeitos da violência simbólica é a transfiguração das relações
de dominação e de submissão em relações afetivas, a transformação
do poder em carisma ou em encanto adequado a suscitar um
encantamento afetivo (por exemplo, nas relações entre patrões e
secretárias [e eu acrescento nas relações entre professores e aluno].) (p.170)
Ainda, segundo o autor, a alquimia simbólica produz em proveito daquele que
cumpre com o ato de transfiguração, de conformação, um capital de reconhecimento
que lhe permite efeitos simbólicos.
Esse tipo de relação é muito comum hoje nas escolas, não é novidade o fato
do professor e aluno alegarem que sendo amigos, aproximando-se, torna-se muito
mais fácil conseguir o "respeito", a "disciplina", a "atenção", " compreensão" devidos.
Vejamos o que diz, até exagerando um pouco, a aluna Rosa, que já percebeu os
efeitos da alquimia simbólica na relação aluno-professor:
A identificação do professor como o maior responsável pela boa qualidade da
escola apresenta um lado vantajoso e um lado de risco.
No primeiro caso, avalio que joga por terra o temor da desvalorização do
professor, que teima em engendrar-se de forma explícita ou implícita no campo
Eu sempre tive dificuldade com Matemática. Aí depois eu comecei
a aprender e fui melhorando. Aí fiquei com ótimas notas em Matemática.
Fui melhorando. Mais ou menos. Aí fui subindo. Mesmo assim o
português sempre ruim, sempre, desde pequena, sempre o meu
português foi ruim. Aí, deixa eu ver....é... aí, tinha professor chato. Tinha
uma professora que era brava demais mas ela gostava de mim na
terceira série. Ela chamava Isa, ela parecia uma bruxa, ninguém gostava
dela. Aí eu ficava fingindo, sabe, falando que gosto, todo professor que
você puxa um saco, ele fica gostando de você e te dá nota, né? Aí, era
assim, ninguém gostava dela e eu lá puxando o saco dela. Aí todo
mundo falava: “Só você mesmo, ninguém merece!”
Entrevista Alunos, Rosa
258
educacional, pois os atores do processo educativo escolar insistem em reafirmar o
valor desse profissional no processo de aprendizagem e de socialização escolar.
Reafirma a necessidade de investir na formação de um novo professor,
reconhecendo que o ofício de mestre não é imutável e cada vez mais exige a
capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos, éticos e afetivos para
enfrentar um novo tipo de desafio.
No segundo caso, lembramos que aqueles que sustentam essa posição
correm o risco de acreditar que a boa escola faz-se tão somente com bons
professores, o que desresponsabiliza os outros atores do processo educativo
escolar e sobrecarrega os professores de responsabilidades. Corre-se, ainda, o risco
de acreditar ou fazer acreditar que há uma relação linear entre ser bom professor e
o aluno aprender, o que sabemos exige maiores cuidados.
Ou, como já vimos em "filmes passados", e Valle (1997) nos recorda: tanto a
crítica impiedosa quanto a valorização inconsciente da figura do professor e de sua
prática tomam o lugar de outras reflexões que também necessitam ser feitas.
De certa forma, os depoimentos dos atores do processo educativo escolar
“visitaram” algumas das 10 novas competências para ensinar citadas por Perrenoud
(2000). Contudo, a expectativa positiva dos professores em relação ao
desenvolvimento do aluno preconizada, tanto na literatura internacional como na
literatura nacional, como um dos fatores que leva ao sucesso do aluno não figura
como elemento significativo nas características do bom professor que “faz” a boa
escola nas representações dos gestores, professores e alunos.
A estabilidade no serviço - apenas destacada de forma consistente nos
estudos que tratam da realidade brasileira - e a formação dos professores são
também apontadas como fatores qualificadores da " boa escola" na representação
dos atores do processo educativo escolar do Estadual Central.
2.3. A atuação e formação dos alunos – habitus de classe, habitus
escolar
Este qualificador é enfatizado apenas pelos professores na avaliação das
escolas em que estudaram e na definição da boa escola. Entre os gestores, apenas
um cita a seriedade do aluno como um dos fatores que o levam a classificar como
259
boa a escola em que estudou e, entre os alunos, há uma que afirma que a escola é
sempre boa pois quem faz a escola é o aluno.
Nos depoimentos dos professores, a relação do desempenho do aluno com a
qualificação da escola assume prioridade e dimensões diferenciadas quando se trata
da escola em que estudaram e da definição da boa escola.
Na representação das "boas escolas" em que estudaram, o desempenho dos
professores é priorizado e o desempenho dos alunos secundarizado, entretanto, são
relevantes as referências a este qualificador da boa escola. Para os professores, a
escola em que estudaram era boa porque, além de bons professores, havia bons
alunos, acostumados a obedecer, exigindo menos do professor; respeitando-o,
prestando mais atenção às aulas, dedicando-se mais aos estudos em virtude de não
trabalharem, nem se dedicarem a uma diversidade de tarefas; isto é, alunos que já
tinham incorporados o habitus escolar e o habitus de classe valorizados pela
escola, não tinham acesso a tantos bens culturais e a família era detentora de um
volume de capital econômico suficiente para não serem obrigados a trocar os
estudos pelo trabalho.
Fazem também referências a alunos com maior conhecimento e continuidade
intelectual após deixarem a escola, ou seja, alunos que chegam à escola com um
volume de capital cultural que os habilita, segundo o juízo professoral, a tornar seus
estudos mais rentáveis durante e após o período escolar de educação básica.
Quando os professores definem a boa escola, a prioridade se inverte, o
desempenho do aluno ocupa lugar de destaque e o desempenho dos professores é
secundarizado. Na definição da boa escola, o desempenho dos alunos é definido a
partir do volume de capital cultural/escolar acumulado pelo alunos ao final do
processo, dito de outra forma, o desempenho dos alunos passa a ser definido em
função do “domínio do conteúdo”, seja este de natureza cognitiva ou de natureza
socioafetiva, que eles apresentam ao final do curso . A boa escola, portanto é aquela
de onde o aluno sai com o conteúdo dominado, respeitando a sociedade e o colega,
preparado para compreender seu papel no seio da sociedade, sendo disciplinado e
cumprindo seu papel.
A qualidade dos alunos e professores, ou seja, suas disposições para
desenvolverem seus ofícios assentam-se em bases subjetivistas, embora sejam
feitas algumas referências à origem social, condições de existência, trajetória
escolar e profissional.
260
Com efeito, as representações que se ancoram na qualidade do aluno e do
professor, como um dos atributos qualificadores da “boa” escola, por vezes, são
marcadas pela lógica da responsabilidade pessoal que atribui unicamente ao sujeito
a responsabilidade pela construção ou pela falta de qualidades (habitus) como:
interesse, compromisso, responsabilidade, seriedade, disciplina, respeito,
autonomia, no que diz respeito às questões de aprender e de ensinar. Essa
evidência fica explícita quando gestores e professores, ao resgatarem sua trajetória
escolar e profissional, remetem-se às suas condições de existência e de
escolarização: condições favoráveis para estudar; pais que acompanham os estudos
e cobram; capital cultural objetivado, sob a forma de bens culturais; mas insistem em
afirmar, sem estabelecer relações com as questões sociais, que os alunos ou os
próprios colegas não têm suas qualidades de ex-aluno ou de professor. Ou seja, a
força do habitus, que tem uma gênese coletiva e individual (Bourdieu p. 84 1999e) é
desconsiderada ou mesmo desconhecida como princípio gerador dessas
“qualidades”, ser bom aluno ou bom professor parece ser evidência natural que
acomete determinados sujeitos, ou o que vem a ser o mesmo, uma experiência
dóxica do mundo. (ver depoimento no fim deste item).
Não podemos, pois, prescindir de considerar que a posição ocupada pelos
agentes no campo determina ou orienta sua posição no mesmo (Bourdieu, 2004b,
p.23) e que
os agentes sociais estão inseridos na estrutura e em posições que
dependem do seu capital e desenvolvem estratégias que dependem,
elas próprias, em grande parte, dessas posições, nos limites de suas
disposições [habitus]. Essas estratégias orientam-se seja para a
conservação da estrutura, seja para sua transformação, e pode-se
genericamente verificar que quanto mais as pessoas ocupam uma
posição favorecida na estrutura, mais elas tendem a conservar ao
mesmo tempo a estrutura e sua posição, nos limites, no entanto de
suas disposições ( isto é de sua trajetória social, de sua origem
social) que são mais ou menos apropriadas à sua posição. (p. 29)
A posição no campo pode, pois, ser um fator determinante na configuração
das representações dos professores sobre “boa escola” como se pode observar na
análise das suas representações.
Entendo que o destaque ao desempenho dos alunos nas representações de
boa escola dos professores configura-se a partir da posição do professor no campo
educacional e de seu habitus profissional: embora já seja apregoado um conceito
mais amplo de educação e de espaços formativos e o professor faça queixas e
denúncias infindáveis sobre a ampliação desmesurada de suas funções e das suas
261
dificuldades para assumi-las, a força do seu habitus profissional faz com que se
sinta o agente mais diretamente responsável pela formação do aluno, assumindo
como de sua única responsabilidade, mesmo que em alguns casos, apenas na
retórica, várias funções.
3. O CAPITAL SOCIAL
Ao definirmos a dimensão socioafetiva das relações estabelecidas no espaço
escolar como um dos componentes do capital social, tínhamos clareza de que esse
qualificador da "boa escola", tão enfatizado pelos atores do processo educativo
escolar do Colégio Estadual, deveria entrar na composição do capital cultural, haja
vista que deve ser parte intrínseca do conteúdo ensinado na escola. Entretanto,
destacamos como capital social, em virtude da ênfase dada, sobretudo pelos alunos,
ao caráter socializador da "boa escola" que deve procurar conhecer e reconhecer o
aluno, esforçando-se - investindo todo tipo de capital - para construir relações mais
humanas no interior da escola.
Parece-me que alunos, professores e gestores repetem em uníssono seus
desejos, necessidades, sugestões e denúncias assim como o fez Fernando Pessoa
(s/r) nos seus versos:
Eu falo de cara com você uma coisa, comparando os alunos da
minha época com os alunos da época de hoje água e vinho,
uma comparação na minha época o ensino era sério,
seríssimo, e nós também éramos sérios é posso falar pela
minha situação familiar, é claro que eu convivi com milhões de
alunos, mas nunca convivi com centenas de colegas e todos
tinham o mesmo objetivo. Posso dizer que todos os meus
colegas do ensino médio, hoje eu sei, é claro, eu tenho uma
memória muito boa, lembro de quase todos, é claro que tem
exceções, mas não lembro de tudo, no entanto eu conheço um
colega meu, posso esquecer de alguns, de repente aparece um
no jornal, todos eles estão formados em curso superior. Eu, na
minha área, que era uma área médica, deve ter uns cinqüenta.
Então a gente leva o negócio a sério, assim você tem duas
opções ou estudar ou trabalhar. Eu, graças a Deus, tinha uma
situação financeira bastante razoável e fui formado pra estuda
r
e conseguir um objetivo na vida e de lá em diante me virar.
Entrevistas Gestores
,
Sidne
y
.
262
Fui ficando só, sem cuidados. Todos os que
nos cuidavam tomaram outros rumos e,
com eles, foi-se o carinho de que eu vivia.
De novo voltam a preocupar-se comigo
não por cuidado, mas por medo.
Porque me tornei um incômodo.
A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou...
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Quero poder imaginar a vida
como ela nunca foi,
e assim vivê-la vívida e perdida,
num sonho que nem dói.
3.1. A Dimensão socioafetiva das relações estabelecidas no espaço escolar
Nas representações dos alunos sobre "boas escolas" – definição,
exemplos, qualificação do Estadual Central e escola dos sonhos – não lhes
faltam desejos de que a escola tenha professores que se preocupem com o
aluno, como se fosse filho, mãe e filho, uma coisa assim... bem unida mesmo;
de que a escola seja como a casa do estudante; que se tenha uma escola-
mãe, onde haja diálogo.
Entendo que estas sugestões e desejos são a expressão da
necessidade de uma escola onde as práticas pedagógicas orientem-se por
relações socioafetivas. Reafirmam a avaliação dos gestores sobre a qualidade
das relações de socialização entre professores e alunos, escola e pais para as quais
foram atribuídas as menores médias – respectivamente 6,8 e 6,7 – se comparadas
com as que descrevem outros processos de socialização.
Não há como negar o peso do capital econômico, cultural e social da família
na carreira escolar do aluno, nem tampouco o papel importante da família, por
intermédio de suas ações materiais e simbólicas, na vida escolar de seus/as
filhos/as-aluno/as e, consequentemente, na constituição de sua representação de
boa escola.
O que pude observar no grupo de alunos, estudado no 1º, 2º e 3º turnos do
Colégio Estadual Central, é que as condições econômicas e culturais desses
sujeitos não são altamente desfavoráveis à escolarização. Não se encontram em
grande situação de vulnerabilidade material e social, porém em muitos casos
263
encontram-se em situação de “vulnerabilidade afetiva”
15
, como é o caso explícito de
cinco alunos entre os dezessete entrevistados.
Os depoimentos dos
alunos são reveladores do
lugar ocupado pela escola,
sobretudo no que concerne às
relações estabelecidas com a
direção, professores, colegas e
funcionários, nas suas vidas e
no seu processo de
socialização.
Para eles, a escola e,
sobretudo o Estadual Central,
menos pela sua
intencionalidade educativa do
que pela sua dimensão e, pela
sua configuração
espacial, - que por si só já são educativas - é o lugar de aprendizagens que vão
além dos conteúdos formais. Nas palavras do aluno Fábio, o Colégio Estadual
Central é uma escola de qualidade, “qualidade de relação sim, de convivência, de
comunicação entre os alunos, de experiência, de aprendizagem. Aprendizagem, não
de conteúdo, aprendizagem entre os alunos, porque você aprende muita coisa boa
com os alunos.
15
Chamo de vulnerabilidade afetiva os riscos psicológicos e físicos a que estão expostos os alunos em função da
A minha mudança assim que houve mesmo foi o ano passado que eu vim
para cá e tal... comecei a pensar em trabalhar, entendeu. [...] E o que
escola me ajudou foi nesse sentido de criar uma mentalidade mais ampla
assim, procurar sempre o melhor, entendeu? Porque antes eu já não
pensava nisso. Antes eu pensava: “ah, ficar o dia inteiro em casa,
dormindo, à-toa, sem fazer nada.” Ultimamente, não, depois que eu vim
para cá, para Estadual Central acho que por causa das amizades e de
alguns professores que me apoiam, eu procurei já uma coisa, já procurei
um trabalho, procurei uma responsabilidade maior para mim, entendeu?
Entrevista Alunos, Fábio.
É mais uma questão de responsabilidade,
você tomar atitudes, é... que você
controle a sua vida e rompe o seu umbigo
com sua família porque você está na
escola. Nesse período em que você está
na escola, você faz o que você quiser de
sua vida, você pode é... virar maconheiro
ou você pode virar intelectual, você pode
sair daqui um grande profissional, ou sai
r
daqui um gigolô (risos), se você quiser.
Então, assim, é saber que esse lugar que
se abre quando você entra no Estadual
Central faz com que você passe a toma
r
decisão em sua vida. Que seja, nem
sempre decisões boas, mas é você que
está decidido, você não tem mais
ninguém para decidir por você.
Entrevista Alunos, Ru
i
264
Fábio, Gino e Rui mostram as diferentes dimensões formativas que associam
ao espaço escolar:
violência na família, da rejeição, do abandono, da discriminação.
Acho que sim. A começar pelo
negócio do grêmio, me ajudou
a procurar, me inteirar mais
sobre política, porque antes eu
não estava nem aí. Política
para mim era política e eles
que se danassem. Eu na
minha vidinha e eles na
vidinha deles. Depois que eu
entrei pro grêmio que fiquei
conhecendo o Rui já... já fui
mudando a cabeça, já fui me
interessando mais por política,
correndo mais atrás,
procurando saber. Eu estou
correndo atrás, procurando me
informar, lendo jornal,
assistindo jornal, procurando
na Internet, procurando com
pessoas que são mais
instruídas do que eu.
Entrevista Alunos, Fábio
Nossa! Tem contribuído muito!
Tudo o que a gente aprende na
escola, não só o que eles
ensinam na sala de aula, você
aprende com os seus amigos
na convivência com o pessoal,
até mesmo com o pessoal que
trabalha no colégio, você
percebe que... eu me abri muito
quando eu vim aqui pro colégio,
soube mais conversar com as
pessoas, dialogar, diferenciar,
dialogar com professor, com um
colega de classe. Hoje eu
converso com os serventes do
colégio, coisa que eu não fazia,
vejo que eles são pessoas
supergente boa, por isso que
adoro esse colégio.
Entrevista Alunos, Gino
Claro, né! É mais uma questão de responsabilidade, você tomar atitudes,
é... que você controle a sua vida e rompe o seu umbigo com sua família
porque você está na escola. Nesse período em que você está na escola,
você faz o que você quiser de sua vida, você pode é... virar maconheiro ou
você pode virar intelectual, você pode sair daqui um grande profissional,
ou sair daqui um gigolô (risos), se você quiser. Então, assim, é saber que
esse lugar que se abre quando você entra no Estadual Central faz com
que você passe a tomar decisão em sua vida. Que seja, nem sempre
decisões boas, mas é você que está decidido, você não tem mais ninguém
para decidir por você. (...) Eu acho mais o Estadual Central, porque as
outras escolas, por serem menores, é aquela coisa que eu falei do
automático. Você está indo lá, você estuda, passa suas quatro horas na
sala de aula, sai e volta para sua rotina. Aqui no Estadual, querendo ou
não, você não vai conseguir fazer isso, entendeu? (...)
Entrevista Alunos, Ru
i
265
Como evidenciam os excertos dos depoimentos dos alunos, a escola é o
espaço socio cultural onde se ampliam as visões; são construídas as bases da
autonomia; aprende-se a conviver, mesmo que reforce o habitus de classe,
reproduzindo as desigualdades sociais.
A dimensão socioafetiva das relações construídas na escola é um atributo
constitutivo da “boa escola” na representação dos alunos e fica bem evidente nos
depoimentos analisados. Dito de outra forma, para os alunos, a "boa escola" é
aquela que os tem como centro de suas relações, organização, funcionamento,
levando em consideração sua diversidade cultural
16
.
Com efeito, transitando nas fronteiras da sociologia e da psicologia, não se
pode desconsiderar que muitos são adolescentes e nesse ciclo de formação humana
necessitam do reconhecimento social de seus pares, menos do que da família e de
outras instituições. Reside aí também a importância da relação entre os pares, do
pertencimento a grupos, na configuração das representações da “boa escola”, como
ressalta Rui.
16
O conceito de diversidade cultural aqui deve ser entendido como diversidade de identidade que se expressa na
raça, gênero, etnia, idade, história de vida, formação educacional, estilo de vida, preferência sexual, origem
geográfica, crenças, habilidades físicas, entre outras.
É... eu vou falar primeiro o que que e
u
acho que deveria repetir. Na minh
a
época de “Madre Paula” foi até u
m
questionário aqui da escola, e
u
respondi, que é aquela coisa parceir
a
escola/família, entendeu? Por mai
s
que minha mãe, minha avó não s
e
interessassem, no “Madre Paula
tinha muito isso, de ficar buscando o
s
pais pra conversar. Apesar de o turn
o
ser noturno mesmo e as pessoa
s
serem mais velhas, algumas nã
o
precisarem, existem sim pessoas qu
e
precisam de auxílio. E
u
principalmente gostaria de ter ess
e
auxilio novamente.
Entrevistas Alunos, Lia.
266
Nas entrevistas fica evidente que a representação de “boa escola” está
diretamente ligada às relações que os alunos estabelecem no âmbito familiar e
escolar: relação pai/mãe-filho/a-aluno/a, aluno/a-aluno/a; aluno/a-professor/a, aluno/a-
funcionário/a, aluno/a-gestores/as.
Pode-se supor que a configuração desta representação tem muito a ver com
o habitus familiar e escolar, disposições criadas para responder às dificuldades de
relacionamento em casa e na escola.
Portanto, embora possa parecer
contraditório, - tendo em vista que o
relacionamento familiar de alguns é
bastante conturbado - a boa escola, para
eles é aquela que trata bem o aluno, como
se fosse uma família mesmo, é aquela que
trata o estudante como o ser principal da
escola. ( Entrevistas Alunos, Fábio).
As condições de existência de vários adolescentes, marcadas pelo
sentimento de abandono e rejeição, na maioria das vezes, em virtude da ausência
do pai no núcleo familiar; pela exposição à violência física e psicológica; pela
ausência de atitudes afetivas cotidianas (a escuta, o diálogo, o consolo, os gestos
físicos), fazem com que a escola torne-se o lugar das chances objetivas de prover
estas necessidades básicas.
Se a escola não der atenção
para ele, ele não vai da
r
atenção para os outros. Ele vai
achar que cada um se vira da
forma que puder. E... e isso é
muito fácil você ver nos países
de primeiro mundo, porque a
escola é quase como se fosse
a casa do estudante (...)
Entrevista Alunos Rui
Varia... varia... [referindo-se aos grupos que se formam na escola] tem o
grupo evangélico, tem a galera que gosta do axé, tem a galera que gosta do
rap, tem a galera que gosta do forró, tem a galera que gosta de usar drogas,
tem a galera que gosta de beber. Entendeu? Então assim... tem a galera
que fica no recreio estudando, tem a galera do teatro. Então... assim... nessa
multidão aqui tem várias galeras. Tem várias... tem várias a galera que... -
hoje eu quase não vejo, mas quando entrei aqui, em 2002 tinha - a galera
sertaneja, a galera vinha de chapéu, cinto de fivela grande, tinha o cara que
a gente apontava como líder, que era o Rural. Porque o cara fazia... -
amanhã a gente vai fazer aqui uma rodinha aqui com sertanejas. Vinha
tocava violão, cantava. Entrevista Alunos, Rui.
267
As classes mais providas de capital econômico e até mesmo de capital
cultural podem criar estratégias para suprir essas necessidades, ou pelo menos
para amenizá-las, ocupando o tempo com atividades não escolares dirigidas,
acompanhamento de psicólogos e professores particulares que dão a atenção
individualizada solicitada pelos alunos do Colégio Estadual Central.
A evidência do peso das relações interpessoais na escola na configuração da
representação da “boa” escola se reforça na descrição da escola dos sonhos:
Nunca tive acompanhamento de mãe [referindo-se aos
estudos]. Tipo quando ela tentava, não sei, se pelo fato de
minha criação foi sempre no meio de briga, assim... tal...
meu pai é alcoólatra, e tal... foi uma convivência é meio
ruim em com minha família. Então, eu não sei se foi tipo
uma defesa minha, eu não sei explicar exatamente o que é,
eu nunca deixava ninguém da família se aproximar de mim.
Então, eu sempre fui um garoto mais isolado, assim da
família, eu fui mais isolado, então ela não...
Entrevistas Alunos, Fábio.
Ó, meu pai não me assumiu, minha mãe me teve muito
nova. Com dezessete anos. Então, hoje minha mãe é
casada, eu não converso com o meu padrasto porque
eles brigam muito. Ele bate nela. Então eu acho que, se
eu não me engano, eu tenho dois irmãos por parte de
pai, não conheço. E na minha casa mora a minha avó,
minha tia e eu. (...)É. É isso, minha avó é mãe da minha
mãe. E essa tia também é irmã da minha mãe, mas a
gente não dá muito certo porque é aquela coisa: eu corri
atrás daquilo que eu quis e ela por ela não ter estudado,
ela joga as frustrações dela em cima de mim. Porque eu
corro atrás daquilo que eu quero. Então somos,
praticamente, somos minha avó e eu. É a única pessoa,
é a única base que eu tenho na minha vida, a única
estrutura que eu tive até hoje.
268
As realidades vividas constituem circunstâncias produtoras de sentido, de
disposições e de práticas, portanto influenciam na configuração das representações
da boa escola. As falas de Fábio e Rui que defendem que a escola de qualidade é
aquela que tem a estrutura do Colégio Estadual e se preocupa com o aluno
emburrado, professor vai atrás do aluno, quando ele precisa e a direção tem com o
aluno um diálogo como filho e mãe, não é uma escola modelo, mas uma escola-
mãe, pode também ser produto de suas condições de aluno: o aluno Rui, filho de
jornalista e professora da rede estadual que adotou três crianças, o que pressupõe
um certo capital cultural e uma disposição para a luta condicionada pelo habitus
familiar, apaixonou-se pela escola, ao passar na porta e presenciar, em 2001, uma
grande mobilização estudantil. Passou a freqüentar a porta da escola, pular muros
para conhecer laboratórios e nadar. E segundo suas palavras: fui me apaixonando,
apaixonando, aí em 2002, quando me deram opção, você quer estudar onde? -
Estadual Central e lá está “numa luta apaixonada” tentando, à sua maneira, garantir
os direitos do aluno, incluindo aí também o direito ao bem estar psicológico. Vale
lembrar que esse aluno passou por cinco escolas entre públicas e particulares, e
aponta questões desfavoráveis tanto do ensino público, como do ensino privado no
que concerne às relações socioafetivas construídas no espaço escolar.
Bom, acho que é bem isso que o
Fábio falou aí. Acrescentando que
seria escola-mãe, não seria escola
modelo, seria a escola-mãe. Uma
escola que visse quando o
estudante está emburrado, porque
ele está emburrado; visse quando
nego não quer assistir aula, está
chorando nos cantos - como você vê
aqui muita gente chorando nos
cantos. você nunca vê um professo
r
chegar lá, você vê um outro aluno
chegar lá: - aí, o que você tem?
Seria... eu acho que os alunos do
Estadual Central dentro do Padre
Massote.
Entrevistas Alunos, Rui.
Com os alunos do Estadual
mesmo, com ensino
exemplar. Aquele ensino
que o professor preocupa
com o aluno, vai atrás,
quando ele precisa, que a
direção tenha diálogo
sempre com aluno, tenha
uma comunicação visível
com o aluno, sempre lado a
lado, numa parceria
mesmo, como se fosse pai
e filho, mãe e filho, uma
coisa assim... bem unida
mesmo. Acho que essa
seria escola ideal para
mim.
Anexo I, Entrevistas
Alunos, Fernando.
269
Já para Fábio, o processo de escolha do Estadual Central não se mostrou,
aparentemente, portador de uma dimensão de intencionalidade, matriculou-se nessa
escola por falta de opção de outra onde pudesse estudar no turno diurno, e defendo
que a força do habitus, construído no espaço social onde convivia com alunos que já
conheciam essa escola, “empurrou-o” para a busca de vaga nesse estabelecimento,
mesmo depois de vencido o prazo de matrícula.
Em suas falas queixa-se da falta de compreensão da família e das escolas
em que estudou (estadual e municipal) em relação aos seus problemas, das brigas
em que sempre se envolveu tanto na escola com alunos e funcionários, como no
âmbito da vida privada com o pai alcoólatra e a tia que se “mete em sua vida”,
daí sua representação de “boa” escola, expressa na escola de seus sonhos, como
aquela que tem um ensino que o professor preocupa com o aluno... como se fosse
filho, mãe e filho, uma coisa assim... bem unida mesmo.
Essa relação que alguns desses jovens mantêm com a escola de ensino médio
não excluí a presença de outros significados simbólicos importantes, como é o caso
de Rui que deseja estar ali para lutar pelos direitos dos alunos e ser lembrado como
um líder estudantil.
Na fala dos professores e gestores a força da dimensão sócio-afetiva das
relações construídas na escola como atributo constitutivo da “boa” escola também
se faz presente na escola dos sonhos.
(...) A única vó viva que eu tenho. ela não fica cobrando,
entendeu. Agora, minha tia... nem as outras tias, o resto, o
resto cobra, joga na minha cara: - ah, seu pai é vagabundo, é
alcoólatra, você está ficando igualzinho. Já tomou bomba,
bebe, fuma, falta usar droga e virar vagabundo que nem seu
p
ai. O que eu já não suporto isso, ver jogar isso na minha
cara, não. Eu mando para aquele lugar, grito, fico nervoso. Eu
j
á até cheguei a sair com uma tia minha no tapa, sair, de
brigar mesmo. Só que eu dei uma primeira porrada e fiquei
com dó, entendeu, e parei de bater, mas ela bateu sem dó.
Ela chegou a me arranhar todinho com a unha. Tipo normal,
tirando essas briguinhas assim, mais ou menos normais, é
tranqüilo assim, a convivência.
Entrevistas Alunos, Fábio.
270
Contudo, se na fala dos alunos essa dimensão significa um certo cuidado da
escola com sua estabilidade emocional, na fala de alguns professores significa
atendimento individualizado para resolver problemas cognitivos de alunos com
dificuldade de aprendizagem, alunos sem base, alunos indisciplinados, alunos
oriundos de “famílias desestruturadas”, ou ainda significa condições para se criar
um clima propício à aprendizagem.
Nessa perspectiva, cabe considerar que as referências às dimensões
socioafetivas no interior da escola podem ser a expressão da necessidade de
estratégias que criem na escola condições internas para a existência de um
ambiente propício ao desenvolvimento do ensino e da aprendizagem, que na
literatura que trata da questão costuma-se denominar "clima escolar". O clima
escolar é destacado por alguns autores
17
como um dos fatores preponderantes no
desempenho dos alunos e professores, podendo, portanto, ser considerado um dos
qualificadores da "boa escola
Em geral, fica evidente nas considerações e sugestões dos atores que a
escola não deve buscar a rigidez e a distância entre alunos e professores que já
viveram ou já ouviram falar, mas deve ser ao mesmo tempo organizada, firme e
relaxada. A recorrente referência a esse aspecto da escola pode ser explicada
levando-se em consideração as reflexões de Soares (2002):
Vamos sonhar. Eu acho que se eu tivesse
uma escola, deixa ver o que que eu faria
uma escola boa. É igual eu te falei, seria
uma escola aberta, aberta aos pais, aos
alunos. E eu daria, eu teria no currículo
dessa escola, não só as matérias, os
conteúdos necessários e básicos exigidos
pela sociedade, eu ofereceria jogos, eu
ofereceria sei lá ... terapias de grupo pros
pais, junto com os filhos que eu acho que
tá precisando de amor, calor humano. Ah,
eu sei lá o que eu faria!
Entrevistas Gestores, Ga
l
271
A falta de pessoal dentro das escolas, as carências sociais e
econômicas dos alunos e de seus pais, as políticas públicas de
ensino, entre outros, são todos elementos que vêm contribuindo
diretamente para as dificuldades disciplinares das escolas públicas
brasileiras. (p26).
Embora, como já mecionado, o clima escolar do Colégio Estadual não se
revele contaminado pelo mal estar - sobretudo no primeiro turno - alguns excertos
das entrevistas são suficientes para demonstrar a angústia de alguns professores
em função de seus habitus e do que vivem na escola.
17
Sobre a importância do clima escolar no processo de ensino e aprendizagem ver: Reynolds (1996) e
[Referindo-se ao turno da tarde] Só
primeiro ano. Então, a faixa etária de
14,15 anos. Eu tenho uma aluna
grávida na sala de aula. Eu tenho
uma paralítica. Então, assim é lida
r
com muita coisa. Essa menina
paralítica, no caso teve uma chuva,
uma tempestade que acabou a luz
aqui no bairro inteiro, e ela mora
parece que lá em Neves, não sei! Sei
que é longe, não tinha ninguém para
buscar ela, como é que a gente vai
embora para casa imaginando isso,
né?! Ou você não se envolve, ou
você larga para lá, né. Então, assim
que aceitou essa tal de inclusão, aí
coloca os alunos, mas não dá suporte
nem nada. Eu não posso dar aula de
vídeo por causa dela, se ela
escorregar lá, como é que pega ela,
ela anda com duas muletas assim,
totalmente paralítica assim. E tem
uma agora que tá grávida, o
namorado é da escola. Então, assim,
é uma infinidade de fatores de tarde
aqui que é complicado.
Entrevista Professores, .Elba
272
Arrisco, pois, a afirmar que a representação da “boa” escola, tanto para
alunos, quanto para gestores e professores tem como atributo também a qualidade
das relações estabelecidas no interior da escola e está crivada pela articulação da
vida privada e da vida escolar.
Mortimore (1996).
[Referindo-se ao pessoal de apoio] Primeiro, era justamente tenta
r
manter umas condições legais na sala de aula, porque se
você tentar fazer com que o aluno fique na sala de aula,
comportando a ferro e fogo como muitos professores fazem,
com pouco tempo perde até a saúde, não é porque não vai
agüentar ... então eles estão com a corda toda. Os alunos são
j
ovens e o professor sozinho, infelizmente ele não agüenta.
Depois ele adoece, é uma peça de reposição, é retirado,
depois ninguém lembra dele na escola e simplesmente
acabou. Agora, o que tinha que ter sido feito, é a escola, todo
mundo se empenhar pra manter essas condições de trabalho,
pelo menos isso, dentro da sala de aula. Eu acho que é a
única coisa que depende de nós. Mas ninguém se interessa
porque é uma só pessoa responsável. Um só, um professo
r
dentro da sala de aula. Nem os próprios colegas se
interessam. Eu já tentei várias vezes, da gente criar uma
comissão na escola de valorização do professor na regência
de classe em que todos os professores se empenhassem
para ficar ao lado do nosso colega que está dentro da sala de
aula, para manter pelo menos as condições mínimas de
trabalho, porque isto está envolvendo a sua própria saúde. É
uma coisa que depende de nós. Isso não depende do Estado.
Isto não depende de tentar fora da sala de aula, porque quem
está fora da sala de aula, já fugiu dela porque não quer, fica
r
na sala de aula. Então essa pessoa não tem condições
nenhuma e nem quer nos apoiar, não é? Porque não que
r
serviço ( já saiu da sala de aula, pra fugir disso). Então nem
isto os próprios colegas não se interessam. Esquecem que
eles serão a vítima depois como eu já vi muitos professores
adoecerem, saírem daqui carregados, serem encostados, po
r
problemas. (...) Esse ano teve um aqui... lamentável. É ... um
professor há muito tempo aqui, que se viu pressionado pelos
alunos e por quem está fora das salas de aula, não sei o quê..
ele não agüentou a pressão e não voltou mais. Eu vou quere
r
isso para mim? Não, não.
Entrevista Professores
,
Lulu.
273
4. O CAPITAL ECONÔMICO
Para análise do capital econômico como um dos qualificadores da "boa escola"
destacados pelos atores do processo educativo escolar, partimos do princípio que
assim, como Bourdieu defende que o capital econômico - dinheiro, patrimônio , bens
materiais - permite que os agentes elaborem estratégias para manter ou melhorar
sua posição, o capital econômico permite que a instituição - Colégio Estadual -
elabore estratégias para conservar ou melhorar sua posição no campo educacional.
Portanto, tomamos capital econômico tanto como dinheiro, patrimônio e bens
materiais, como em termos de bens e serviços a que ele pode dar acesso.
4.1 CONDIÇÕES FÍSICAS E MATERIAIS
O capital econômico "objetivado" na localização e arquitetura do prédio
escolar - segundo o aluno, Rui o quarteirão mais caro de Belo Horizonte - é o
símbolo da distinção que produz a crença coletiva da qualidade da escola, sobretudo
em função da homogeneidade social que sugere.
Num lugar “espetacular”, o Colégio Estadual, há de se supor que estudam e
trabalham alunos e professores "espetaculares" e se dá também uma educação
"espetacular" (a boa educação). A arquitetura dos prédios escolares dá corpo e
visibilidade à educação ali desenvolvida Não se pode negligenciar o papel da
arquitetura dos prédios escolares na conformação da representação da educação ali
realizada.
Segundo Frago (1995),
O espaço escolar não é, pois, um “contenedor”, nem um “cenário”,
mas sim uma “espécie de discurso que institui em sua materialidade
um sistema de valores, (...), uns marcos para o aprendizado
sensorial e motor e toda uma semiótica que cobre diferentes
símbolos estéticos, culturais, e, ainda, ideológicos”. É, em suma,
como a cultura escolar: da qual forma parte, “uma forma silenciosa
de ensino”. Qualquer mudança em sua disposição, como lugar ou
território, modifica sua natureza cultural e educativa. (Frago, 1995, p.
69)
Plagiando Frago e Escolano (1998), o espaço jamais é neutro: em vez disso,
ele carrega, em sua configuração como território e lugar, signos, símbolos e
vestígios das condições e das relações sociais de e entre aqueles que o habitam.
No que diz respeito ao aspecto físico, esse é citado diversas vezes pelos
atores do processo educativo escolar como um fator de distinção do Colégio
Estadual e de influência significativa na formação dos alunos e como característica
274
de uma "boa escola". Os alunos citam a existência de quadras de esporte, piscina,
jardins, auditório e laboratórios como um fator de distinção da escola.
Os exemplos de boa escola citados pelos atores de processo educativo
escolar parecem reunir as escolas públicas e particulares que apresentam uma
estrutura física muito próxima à estrutura do Estadual Central.
È interessante lembrar que a
relação da extensão da escola com
as práticas ali desenvolvidas é
avaliada de forma diferente pelos
alunos e pelos professores e
gestores. Os primeiros apontam a
extensão como um aspecto
qualificador da escola que possibilita
o contato com uma diversidade
muito grande de pessoas e culturas
e a construção da autonomia na
regulação do trânsito pela escola no
período de aulas.
Os professores e alguns gestores apontam como um dos grandes problemas
da escola. Ou seja, enquanto para os alunos é um fator qualificador, para os
educadores, se não chega a ser um fator de desqualificação, é um dos entraves da
escola.
Batista e Odelius (1999) definem a infraestrutura como:
Um conjunto de aspectos que servem de suporte para as atividades
que caracterizam a dinâmica da instituição escolar e que informam
sobre as condições de trabalho, que influenciam de forma mais ou
menos direta o processo de ensino e aprendizagem (p.61)
A infraestrutura e os recursos e equipamentos, suportes fundamentais no
processo ensino e aprendizagem e na determinação de alguns aspectos do clima e
das relações sociais e profissionais das escolas, constituíram também um aspecto
relevante identificado na configuração das representações de “boa” escola" dos
atores do processo educativo escolar.
Então, você vive dentro desses
dois quarteirões que são escola, o
que você vive lá fora, porque isso
aqui é... é uma cidade, você tem
pessoas de Sabará, do centro, da
zona norte, da zona leste, de
todos os lugares. Você tem gente
de todos os lugares, então você
convive com todos tipos de
realidades. Eu já conheci aqui
nego que é filho de milionário, que
estuda aqui. Mas, já conheci gente
que estuda aqui que mora na rua,
entendeu? Então, a coisa assim...
essa diversidade cultural, essa
diversidade de raças... é...
Entrevista Aluno, Rui
275
As críticas sobre as escolas públicas brasileiras centram-se nos aspectos
degradantes das fachadas, paredes, janelas, banheiros, salas das escolas e demais
dependências (pichações, mofo, vazamentos); na inadequação dos sistemas
hidráulico e elétrico; dos sistemas de ventilação e iluminação; na inadequação e
qualidade das reformas e do serviço de limpeza.
Centram-se, ainda na dimensão e lotação das salas de aulas; ausência de
espaços de lazer e esporte, laboratórios, auditórios, falta de planejamento para
utilização de espaços ou subutilização dos mesmos.
Em Belo Horizonte, assim como na realidade brasileira, ainda que se possa
identificar algumas avaliações positivas acerca do aspecto físico, da infraestrutura e
dos recursos disponíveis da escola, o que predomina é a crítica em relação à sua
inexistência ou inadequação.
São relevantes os depoimentos de alunos do Colégio Estadual que atribuem a
boa qualidade das escolas particulares à existência de recursos/equipamentos.
Não faltam aos alunos do Colégio Estadual sugestões para tornar a escola
e as aulas mais atrativas e motivadoras, o que exige investimento de capital
econômico, assim como de capital cultural: maior número de aulas práticas,
atividades extraclasse, laboratórios de informática, biblioteca bem equipada,
música na cantina, reconhecimento de outras práticas esportivas e culturais
dos alunos, além daquelas já escolarizadas.
Na avaliação da qualidade dos serviços e instalações, as médias atribuídas
pelos professores aos quesitos biblioteca (6,6); recursos didáticos e
equipamentos (4,9) e uso do computador e internet no desenvolvimento das
aulas (2,2) corroboram as deficiências apontadas pelos alunos nas suas
sugestões e também supõem a necessidade de investimento de capital
econômico.
Menos enfáticos, os professores afirmam que uma "boa escola" deve dispor de
todos os recursos e equipamentos necessários aos alunos e professores e as
referências a esta necessidade e à boa estrutura física tornam-se mais evidentes
quando falam da escola dos sonhos.
276
Cabe ainda sublinhar, com base nos estudos de Soares (2002), que o
tamanho das turmas, fator abordado como importante nas pesquisas sobre a
eficácia das escolas, uma vez que as classes menores compostas por 13 a 20
alunos vêm sendo associadas a um desempenho mais positivo dos alunos e
professores, sobretudo se os alunos pertencem às classes de baixo volume de
capital econômico e cultural, não foi considerado pelos atoes do processo educativo
escolar do Colégio Estadual Central na definição ou classificação das boas escolas,
nem mesmo na escola dos sonhos.
Ah, seria... seria o quê gente? Seria tudo, uma biblioteca assim
maravilhosa com todos, as ultimas obras literárias, todos os
recursos, né, é... como é que é? DVD, não sei mais... sabe
aquelas coisas todas, as tecnologias mais sofisticadas, (risos)
que a gente pudesse usar e saber usar, seria ideal, né? Tudo.
Aquela quadra de esporte, cada uma maravilhosa que os
alunos pudessem ficar aqui depois da aula treinando, jogando,
brincando, nossa, seria bom demais! Sonhar, né? Você que
r
que eu sonhe, né? (Risos) Sonhar não custa nada! (Risos)
Entrevista Professores, Virna.
Ó, a primeira coisa, eu colocaria nessa escola uma sala de
multimídia. Porque por exemplo, (puxando o peixe pro meu
lado) é tem tantas animações legais pra você ter interação,
informação de uma ligação química, que isso facilitaria
tudo. Então, eu colocaria, a primeira coisa, uma sala de
multimídia. Segundo, eu acho que a distribuição dos alunos
na sala seriam diferentes. Eu dividiria a sala em grupos
igual é feita no COLTEC. Os alunos ficariam em grupos;
esse grupos ficariam até o final do ano. Grupos de máximo
cinco pessoas, e que assistiriam daquela forma, agrupados
fazendo atividades em comum, juntos, discutindo. O quadro
não seria negro, seria de pincel, pra acabar com este
bendito pó de giz. É... e eu acho que equiparia melhor essa
sala de aula. Ela é... seria demais essa escola. Teria um
data show em cada sala. (Risos)
Entrevista Professores, Mano
277
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CLÁUDIO
A turma estava organizada em uma grande roda, discutindo
um texto que havíamos lido, intitulado “Você Sabia?”, que tratava de
algumas curiosidades sobre o corpo humano e sobre o ser humano.
Entre as citações do texto, uma chamou mais a atenção e provocou
mais discussão entre os alunos. Tratava-se da capacidade de falar,
que permite ao ser humano comunicar-se com o outro, diferenciando-
o dos animais. Discutíamos uma questão que remetia às formas de
comunicação e de como as pessoas, através de atitudes e posturas,
podem influenciar, o ambiente tornando-o mais agradável, ou
extremamente desagradável. O autor, no texto, fazia uma
comparação dessas pessoas com a luz do sol e a sombra, e eu pedi
que os alunos citassem exemplos de pessoas que, na convivência
diária, funcionavam com um raio de sol ou como uma sombra.
A professora Marta, de artes, foi muito citada como um raio de
sol, pois tinha a capacidade, de levantar o astral da turma em
qualquer situação. Alguns professores e parentes foram citados como
sombra, pois só de entrar na sala de aula ou em casa, ficava todo
mundo mal humorado.
O Cláudio não participava da discussão.
- E você, Cláudio, tem alguém que você conheça que funciona
como m raio de sol na sua vida?
- Tem sim. Lá no serviço tem um cara que não perde a
oportunidade de puxar o tapete da gente, que dedura todo mundo
para o chefe. Por conta dele, duas pessoas já foram mandadas
embora, ele vive pegando no meu pé.
A turma se agita.
- Ih ... Cláudio, você não está entendendo nada!
Eu intervenho:
- Ué Cláudio, mas esse cara é um sol na sua vida?
- Claro que é, fêssora.
- Mas me parece mais uma sombra...
- Que é isso, féssôra! Esse sol danado, a gente morrendo de
calor, de cansaço, a cabeça quente, doido para achar uma sombra
para descansar e não pode parar. Olha a minha cor!
E puxou a gola que desenhava a marca do sol na pele. Ele, o
Cláudio, entregava marmitas de 10 às 14 horas da tarde.
In: REIS, Romilda Conceição. Da escola e da vida: casos de uma
p
rofessora. Prefeitura Munici
p
al de Belo Horizonte. 2000.
278
Se para muitos pode parecer estranho ou até mesmo subversor a redação de
um trabalho acadêmico terminar (ou quiçá iniciar!) utilizando um conto, e um conto
recheado de metáforas, a mim, ao “entregar minhas marmitas”, convivendo com
centenas de estudantes e trabalhadores em educação – gestores, professores,
supervisores pedagógicos, orientadores educacionais, funcionários - nas salas de
aulas, pátios, corredores, salas dos professores e outros ambientes escolares,
durante mais de vinte anos e, agora, ampliando essa vivência durante quatro anos
no Colégio Estadual, não me parece mais, pois parte dos “raios de sol” e das
“sombras” com os quais eles (nós) conviveram, convivem, conviverão, bem como
parte das “marmitas” que eles (nós) entregaram, entregam e entregarão constituíram
o objeto da minha investigação. Além disto, os processos vividos durante a
investigação me fizeram desejar conviver cada dia mais entre raios e sombras e não
desistir nem desanimar de entregar e receber “marmitas”, mantendo aceso o
fogo/folêgo, que as aquece.
Esta ousadia e subversão sustentam-se no habitus profissional – professora
de Língua Portuguesa – marcado pelo uso e abuso da língua e das linguagens, e
são corroboradas por Bourdieu
18
que defende que para pensar - e eu acrescento
para escrever - o social é necessário um pouco de ousadia e muita subversão pois
a sociologia - e também a escrita - é um esporte de combate.
Estar no Colégio Estadual, no Estadual Central, ou, como possam desejar
alguns, na Escola Estadual Governador Milton Campos por quatro anos; dissecar
livros, teses, dissertações, artigos, entrevistas e assistir a inúmeras aulas
permitiram-me abrir algumas frestas na caixa preta da escola, espiando,
espreitando e analisando alguns aspectos a partir dos quais elaborei algumas
considerações, que ora apresento.
O estudo das representações de "boa escola" dos atores do processo
educativo do Colégio Estadual constituiu uma porta de entrada para a construção de
um conhecimento mais aprofundado da instituição escola e de seu papel na vida dos
atores que nela atuam. Constituiu uma base para entender as relações
estabelecidas entre os atores no e com o espaço escolar, bem como entre esses e
os órgãos responsáveis pela administração da política educacional local e, ainda,
um dos caminhos para entender algumas dimensões das práticas de aprendizagem
18
Citado por Setton na apresentação do livro A produção da crença: contribuição para uma economia dos bens
simbólicos. Bourdieu, Pierre. São Paulo: Zouk, 2004. (p.11)
279
e de ensinagem. Ou seja, o trânsito, as idas e voltas entre as condições objetivas
da escola e de seus atores, suas representações e o aporte teórico utilizado
permitiram-me entender algumas dimensões da organização e funcionamento desse
estabelecimento de ensino.
Esse percurso, que fica evidente na metodologia desenvolvida desde a
entrada na escola até a escrita desse relatório de pesquisa permitiu e sustentou o
trânsito teórico a que me propus. O estudo das representações sobre "boa escola"
ultrapassou a perspectiva de aduzir ou prescrever uma lista de "condições" para que
a escola seja eficaz, ou que a faz uma escola de qualidade, ou, ainda, que explique
o desempenho dos alunos.
Na busca de apreender e entender o que nutre as representações de “boa
escola” dos atores do processo educativo escolar deste estabelecimento de ensino,
parti do princípio que as condições objetivas da escola e dos sujeitos, ou seja, o
espaço escolar e as práticas pedagógicas dos sujeitos que nele atuam, configuram
as representações de "boa escola, assim como as representações de "boa escola"
configuram as práticas, assim, pude constatar que:
a- as representações de “boa escola” apontam que entre os atores do mesmo grupo
há uma convergência de pelo menos 50% das representações e uma divergência
clara entre os grupos, que podemos atribuir à posição ocupada no espaço
escolar;
b- as representações não estão centradas numa escola pretérita, embora as
práticas com ela se identifiquem. Ou seja, a configuração da representação de
"boa escola" está acompanhada do "sentimento/intuição" da modificação da
função da escola, de seu público de estudantes e profissionais e de suas
exigências e expectativas.
c- as representações de “boa escola”, por configurarem as condições objetivas da
escola e por elas serem configuradas, ora reafirmam alguns aspectos dessas
condições, ora contrastam ou negam.
Considerando que a escola busca reafirmar-se como locus e expressão da
qualidade da educação, torna-se interessante destacar:
1. COLÉGIO ESTADUAL: UM ESPAÇO ESCOLAR, PÚBLICO, “ESPETACULAR”
A construção do prédio onde hoje funciona o Colégio Estadual Central data de
um período – meados da década de 50 – de ênfase especial ao planejamento das
280
edificações. Como lembra Dórea (2000), remetendo-se a Anísio Teixeira, o prédio
escolar constituía a base física e preliminar para qualquer programa educacional,
tornava-se indispensável para a realização de todos os demais objetivos do ensino
propriamente dito. As escolas converteram-se em um lugar de referência para as
cidades, “novos templos da civilização”, passando a incorporar novos ambientes
como auditório, biblioteca, quadras de esporte, piscinas, refeitórios, dentre outros.
De forma sintética, pode-se dizer que devido à urbanização, à necessidade de
expansão das vagas nas escolas públicas, ao pouco investimento destinado e à
concepção de educação/escola vigente, as modernas e suntuosas edificações são
abandonadas, dando lugar a prédios-padrão de baixo custo, que oferecem, com
algumas exceções, espaço apenas para que a escola cumpra a sua restrita função
de instruir.
O Colégio Estadual, reconhecido socialmente como “um lugar público
espetacular, com alunos, professores e ensino espetaculares”, “o novo templo da
educação”, diante do quadro diferenciado da realidade das escolas públicas que se
instaura a partir da década de 70, passa a ser visto como uma escola pública que se
diferencia muito das outras escolas públicas. Nessa realidade, cada vez mais ganha
força a inculcação da hierarquia axiológica de que o bom é o privado e o ruim é
público, dessa forma, o reconhecimento de uma escola pública “de referência” cede
lugar ao reconhecimento de uma escola pública com características de instituição
privada e isto fica muito claro quando se atenta para sua estrutura física e
organizativa e seu sistema de recrutamento de professores e seleção dos alunos
durante longos anos.
Ao falarem da qualidade da escola, os atores do processo educativo escolar,
sobretudo alunos, fazem referências constantes ao espaço físico da escola. È
interessante observar que tanto os alunos que vieram de grandes escolas
particulares, como alunos de escolas públicas que têm outro projeto arquitetônico
enaltecem a qualidade do Estadual Central, comparando-o com a escola de origem.
São reticentes os depoimentos dos entrevistados que permitem inferir que o
Estadual Central é uma boa escola porque não tem estrutura física de uma escola
pública, mas de uma escola privada, mesmo desconsiderando que nem todas as
escolas privadas têm as características e oferecem os espaços destacados.
281
Essa condição objetiva e singular do espaço físico do Colégio Estadual
Central muito contribui para a configuração da representação de “boa escola” e
também para sustentar a representação “de ser uma boa escola”.
2. COLÉGIO ESTADUAL: O BOM PROFESSOR E O BOM ALUNO
Como já foi mencionado, a representação de boa escola dos atores do
processo educativo escolar centra-se na atuação e formação dos professores e dos
alunos, entretanto o bom professor e o bom aluno que caracterizam essa boa escola
em muito se distanciam do professor e aluno evocados na escola prétérita
O discurso e as práticas pedagógicas desvalorizam ou secundarizam a
função de ensinar da escola e do professor, como ilustrado nos depoimentos que
constam no item que trata do ensino na escola. No depoimento dos professores,
fica evidente o apagamento da importância de se ensinar e de se aprender os
conteúdos sistematizados, a ênfase do ensino recai no slogan “formar bom cidadão”
, aquele que sabe viver na sociedade. Entretanto, defendem que a escola busca dar
aos alunos condições para que sejam aprovados nos vestibulares.
Esse conflito é perfeitamente entendido se pensarmos que as dicotomias
como bom e ruim, tradicional e inovador, conservador e progressista são muito
presentes no campo educacional, o que na prática provoca uma reação de negação
ou de resistência a isto ou àquilo. Assim as discussões, debates e propostas que
tratam do currículo, e consequentemente das práticas pedagógicas desenvolvidas
nas salas de aula, são orientadas pela concepção de que o ensino dos conteúdos
universais é uma oposição/negação à formação cidadã. Se o politicamente correto,
nos dias atuais, é a formação cidadã, então despreza-se o ensino dos conteúdos
universais. Lembrando Cecília Meireles: “ou isto ou aquilo”.
Esse equívoco sustenta-se no fato de que, sobretudo na escola secundária,
os conteúdos sempre foram tomados como um fim em si mesmos. As propostas
curriculares e as intervenções pedagógicas desconsideram que o ensino do
conteúdo só tem sentido a partir da concepção de que as diferentes abordagens,
lógicas de raciocínio e complexidade exigidas no ensino e aprendizagem próprias de
cada disciplina curricular permitem ao sujeito construir habilidades e competências
para a vida cidadã.
E ainda sustenta-se na expectativa que os professores têm dos alunos.
Acreditam que os alunos não necessitam aprender os conteúdos sistematizados
282
porque não lhes serão úteis, seja na vida estudantil – a não ser passar no vestibular
– seja vida na vida profissional..
Nessa lógica, a representação da boa escola, centrada no bom professor
também é conflitiva pois, de forma implícita e por vezes explícita os depoimentos
sustentam que o professor não precisa mais saber e se esforçar para ensinar o
conteúdo da disciplina de sua responsabilidade, as competências exigidas, tanto do
professor quanto do aluno, situam-se nos saberes necessários à construção ou
manutenção da relação afetiva ou empatia professor-aluno, características que não
eram comuns aos professores da escola pretérita, como ressalvam alguns
depoimentos.
Merece ainda lembrar que, embora os professores desvalorizem o ensino de
conteúdo de suas disciplinas, eles afirmam que a satisfação com o trabalho tem
como motivo a “paixão” pela disciplina lecionada.
Embora o ensino e a aprendizagem não sejam destacados como um dos
qualificadores da "boa escola", acredito que as discussões e debates que
perpassam a elaboração do Currículo Básico Comum (CBC) e o próprio cotidiano
têm levado alguns professores a entender, como propõe Machado (s/d)
19
, que
nossos alunos tanto precisam de matemática, português, história, ciências, inglês,
geografia, física, química, biologia, sociologia, dentre outras, quanto de civilidade,
vontade de viver, respeito pelo próximo, solidariedade, saúde física e mental, amor
a arte e ao conhecimento, capacidade criativa e disposição para transformar o
mundo num lugar muito melhor para se viver.
Para os alunos, a "boa escola" também não precisa ensinar os conteúdos
universais. O espaço escolar foi reduzido a espaço de socialização, de construção
de relações sociais e afetivas.
3. COLÉGIO ESTADUAL: TRÊS ESCOLAS
Não surpreende a nenhum educador o fato de cada turno de uma escola,
constituir-se em uma escola, com suas características próprias. Contudo, causa, no
mínimo, estranheza o fato da escola organizar-se e desenvolver suas práticas
19
João Luís Almeida Machado é doutorando pela PUC-SP no programa Educação: Currículo; Mestre em
Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie-SP; Professor universitário e
Pesquisador atuando no Centro Universitário Senac em Campos do Jordão; Editor do Portal Planeta Educação.
(http://www.planetaeducacao.com.br/new/colunas2.asp?id=469)
283
pedagógicas tendo clareza de que a referência a ser resgatada ou construída
poderá estar a serviço de alguns alunos de um determinado turno da escola – o 1º
turno. Os alunos reprovados que vão para o 2º turno e, sobretudo, os alunos do 3º
turno, constituem e talvez constituirão o contingente de excluídos no interior. Faz-
me lembrar Machado de Assis, em Dom Casmurro: “Ao vencedor, as batatas”.
A tensão vivida no reconhecimento da necessidade de uma nova escola, no
reconhecimento de que o aluno não é mais aquele que habitava a escola em outras
décadas, que a necessidade de se pensar um novo currículo exige do professor e
do gestor habitus profissionais os quais ainda não foram incorporados e, em meio ao
"estica-encolhe" da elasticidade do habitus, acirrada pelas condições objetivas a que
estão expostos - enfrentamento aos alunos, decepções com o trabalho, exigências
da SEE/MG -, os alunos do primeiro turno ainda compõem o universo de alunos
desejados pelos professores, pois conservam muitas "qualidades" dos alunos que
foram os professores ou que estudaram no Estadual Central.
Reproduzem, portanto, a característica fundamental da escola cuja referência
foi perdida e que nessa lógica, na verdade, não se perdeu: a escola continua e
poderá continuar sendo para os poucos detentores do capital cultural exigido, como
reconhece Lia, ao comentar que muita gente fala que o curso noturno é pra quem
não quer estudar, é só pros bagunceiros e que quer uma base para a Federal -
referindo-se à Universidade Federal de Minas Gerais - tem que estudar pela manhã.
Por outro lado, ao falarem de referência, como o faz o diretor, que deseja
resgatar uma excelência que não é aquela excelência do imaginário das pessoas,
mas com os pés no chão, deixam transparecer que já perceberam que o Estadual
Central não terá o mesmo valor simbólico que teve, pois esse foi construído sob as
condições necessárias à sua sustentação. Se não há mais as condições de
sustentação - e isso fica claro na vivência no cotidiano da escola e na sociedade - o
valor dificilmente poderá ser assegurado. (Bourdieu 2004, p.170).
4. COLÉGIO ESTADUAL: DA BOA ESCOLA, À ESCOLA LEVADA NUMA BOA
Creio que ainda se faz necessário apresentar algumas reflexões sobre as
relações que os atores do processo educativo escolar estabelecem com a escola a
partir da qualificação que lhe atribuem. Ou seja, apresentar algumas questões
acerca das disposições que podem orientar a prática de gestão, ensinagem e
284
aprendizagem dos atores do processo educativo escolar a partir da relação que
estabelecem com a escola, orientados pela representação de boa escola.
A expressão “levar a escola numa boa” pareceu-me bastante apropriada para
a qualificação destas relações tendo em vista a complexidade destas e a polissemia
da expressão.
A princípio podemos atribuir à expressão “levar a escola numa boa” um
sentido pejorativo que nos remete ao descompromisso, à irresponsabilidade, ao
descaso, ao sofrimento, ao “não estar nem aí”, como ocorreu com a professora de
Cláudio quando falava de sombra. Entretanto, ao “entregar minhas marmitas”,
percebi que esta expressão aplica-se com propriedade à categorização das
relações que os atores do processo educativo escolar constróem com a escola, na
escola e a partir da escola tendo em vista a qualificação que lhe atribuem.
Considerando as acepções apresentadas para a expressão “levar numa boa”
no dicionário Houaiss, disponível on line, temos: “levar a escola numa boa” pode
significar em uma “situação de satisfação, conforto, despreocupação
20
ou
desenvolver suas práticas de gestão, aprendizagem e ensinagem de “modo fácil,
prazeroso; sem problemas, dificuldades ou descontentamento “
21
, ou em uma
“situação ou estado de quem sente prazer, contentamento, ou de quem desfruta de
algum tipo de conforto, vantagem”
22
. Pode, ainda, numa acepção marcada pela
ironia, significar desenvolver práticas de gestão, aprendizagem e ensinagem numa
“situação difícil, problemática, trabalhosa onde se carrega o peso de agüentar sobre
si o sofrimento".
De acordo com os dados analisados, pode-se inferir que a despeito dos
problemas e dificuldades, sobretudo relacionados à questão salarial, os professores
e gestores do Colégio Estadual desenvolvem suas práticas pedagógicas num clima,
ou em uma situação ou estado de quem sente prazer, contentamento, ou de quem
desfruta de algum tipo de conforto e até mesmo de uma certa vantagem - distinção -
de trabalhar numa escola onde recorrentemente as representações do pretérito são
chamadas a validar a marca distintiva impressa nos seus alunos e professores.
A professora Fafá, que desde a adolescência na cidade mineira de Cláudio,
surpreendia sua mãe expressando o desejo de estudar e trabalhar no Colégio
20
http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=levar ; http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=boa
21
idem nota anterior.
22
Idem nota anterior.
285
Estadual, mesmo antes de conhecê-lo, suspira e emociona-se ao falar de sua
realização ao conseguir uma vaga para lotação nessa escola. E em determinado
momento da entrevista arremata elegendo o Estadual Central como a escola de
seus sonhos.
Gal, que iniciou seu trabalho na escola em 2005, afirma estar muito satisfeita
devido à organização da escola o que lhe permite pela primeira vez na carreira de
onze anos de supervisão, inclusive em escolas estaduais que na representação de
muitos são consideradas “boas” escolas, a realizar as suas funções - elaborar
projetos, preparar conselhos de classe com alunos, fazer reuniões, trabalhar com os
professores – uma vez que não tem que exercer outras funções como ocorre em
várias escolas estaduais.
O que se percebe na fala de grande parte dos gestores e professores é um
certo prazer e orgulho de estarem trabalhando no colégio que não é qualquer
colégio ou escola pública, mas o Colégio Estadual Central. Diante da realidade de
desânimo, desesperança e descrédito no trabalho escolar que grassa nas escolas
públicas e privadas, é importante identificar um estabelecimento onde esse clima
não contaminou grande parte de seus atores, sejam eles alunos, professores,
gestores.
Aqueles que evocam uma escola pretérita, alunos pretéritos, professores e
gestores pretéritos parecem situar todos os problemas identificados por eles próprios
fora do âmbito da escola, ou, de certa forma, justificá-los de forma ampla, num
exercício por vezes velado, por vezes aberto, de conferir à escola uma certa
“blindagem” , ou seja, numa tentativa de preservar o local “sagrado”.
Entre estes há aqueles e aquelas que levam a escola numa boa, procurando
participar das discussões, do planejamento e do desenvolvimento de ações que
acreditam levar a "boa escola" a ser melhor. E há também aqueles para os quais a
"boa escola" está ali, pronta e acabada, cumpre seu papel, não deve ser motivo de
preocupação já que continua sendo reconhecida como uma boa escola e, portanto,
levam-na numa boa, assentados em suas posições e convicções. Suas "certezas" e
suas práticas são sagradas, portanto, "imexíveis", lembrando aquele nosso velho
político.
Há, também, aqueles que de forma irônica levam a escola numa boa, de
forma descompromissada, mesmo para estes estar ali é uma boa, ou seja, faz
diferença trabalhar ou estudar no Estadual Central.
286
Os atores do processo educativo escolar do Colégio Estadual que não
qualificam-no como uma boa escola deixam transparecer em seus depoimentos uma
certa decepção, amargura, uma “situação difícil, problemática, trabalhar ou estudar
numa escola que carrega a grife de “boa escola”, mas na verdade não é. Sentem-se
como aqueles que carregam um nome ou sobrenome reconhecido como importante,
conferindo-lhes um certo capital simbólico que não corresponde necessariamente ao
seu capital econômico, social ou cultural. Atribuem a desqualificação da escola ora
à “qualidade” dos alunos, ora à “qualidade” dos professores, ora ao descaso dos
órgãos públicos responsáveis pela educação. Carregando um certo sofrimento,
“levam a escola numa boa”, restringindo suas funções ao desenvolvimento de suas
aulas e mantendo o conforto, as vantagens, o status de trabalhar ou estudar no
Colégio Estadual, ou seja, sustentando o capital simbólico da escola.
Bem, encerro, por enquanto, minhas considerações, lembrando que as
discussões e debates acerca da qualidade da escola, que muito podem contribuir na
manutenção ou na ressignificação da representação de “boa escola” , se fazem cada
vez mais necessários pois, ao mesmo tempo que as escolas vivem um
momento/movimento em que de forma visível alguns atores do processo educativo
escolar buscam desenvolver práticas pedagógicas que podem apontar caminhos
para se construir uma boa qualidade para a escola, outros a abandonam em função
da violência, da desigualdade social, das diferenças de habitus, ou, ainda, nela
permanecem desesperançosos da rentabilidade do capital escolar,
desprofissionalizados, impotentes como gestores, professores ou alunos.
Emprestando as palavras de Canário (1995), sobre problemas e perspectivas
de estudos sobre a escola, embora a investigação de uma escola leve a um
conhecimento de validade local, isso não inviabiliza algum grau de generalização.
Sendo assim, defendo, finalmente que alguns parâmetros de julgamento da
qualidade da "boa escola" - lembrando que o julgamento é uma habilidade
construída socialmente - não são específicos da realidade dos atores do Colégio
Estadual, podendo, a princípio, ser identificados na configuração da representação
de "boa escola" de atores que atuam em outras escolas tanto estaduais como
municipais, já que essas pertencem a um sistema educacional que também tem
suas condições objetivas. Seria específico dos atores do Colégio Estadual
sustentarem a qualidade da escola com base em alguns aspectos que compõem,
por exemplo, o capital simbólico da escola, como: a hierarquia axiológica entre as
287
escolas públicas e privadas, a hierarquia axiológica em relação à localização da
escola, a destinação social de sucesso dos alunos; ou que compõem o capital
cultural dos alunos e professores - sobretudo no que diz respeito ao habitus de
classe e habitus escolar dos alunos?
Vivendo se aprende:
mas o que mais se aprende mais
é só a fazer outras maiores perguntas.
Guimarães Rosa.
288
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DOCUMENTOS DA ESCOLA CONSULTADOS
Fichas individuais dos alunos e professores
Ponto dos professores e funcionários
Plano Pedagógico de Desenvolvimento Institucional
Censo 2004
Boletim – E. E. Governador Milton Campos, v. 1-8.
Regimento da Escola Estadual Governador Milton Campos de 1º e 2º graus ( Com
as modificações contidas na EMENDA aprovada pela Secretaria de Estado de
Educação, juntamente com o Regimento em 13/12/1993.
Hino da Escola.
299
ANEXOS
ANEXO I
MODELOS DE QUESTIONÁRIO
Prezado aluno ou prezada aluna,
Este questionário tem o objetivo de colher alguns dados importantes
sobre você e suas atividades. Os dados colhidos integrarão o estudo que estamos
realizando sobre Boa Escola ou Escola de Qualidade em uma pesquisa
desenvolvida no Curso de Pós-graduação, em nível de Doutorado, na Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo.
Sua colaboração é relevante para a realização desse trabalho e por ela
somos gratos.
Áurea Regina Damasceno
1. IDENTIFICAÇÃO
1.1. ESCOLA (onde a pesquisa está sendo realizada)
____________________________________________________
1.2. ENDEREÇO (da residência)
___________________________________________________TEL_______
_____
1.3. MORA EM BELO HORIZONTE
sim não
Há quanto tempo?
Em que bairro você mora?
onde mora?
1.4. IDADE _______________________
1.5. NATURALIDADE ________________________________
1.6. SEXO feminino masculino
1.7. ESTADO CIVIL
1.8. solteiro casado divorciado separado viúvo outro
1.9. TEM FILHOS/AS? sim Quantos? ------------------ não
1.10. SÉRIE OU CICLO: ______________TURNO:
______________________
1.11. HÁ QUANTO TEMPO ESTUDA NESTA ESCOLA?
______________________
300
1.12. ONDE ESTUDAVA ANTES?
__________________________________________________________
2. NÍVEL SÓCIO-ECONÔMICO-CULTURAL
2.1. MORA EM CASA PRÓPRIA? sim não
2.2. COM QUEM VOCÊ MORA?
_______________________________________
2.3. VOCÊ ESTÁ TRABALHANDO? sim não nunca
trabalhou
2.4. SE TRABALHA, QUAL É SUA PREOFISSÃO?
______________________________________________________________
_____
2.5. SE EMPREGADO, MARQUE QUAL A SUA RENDA PESSOAL:
até 1 Salário
Mínimo
até 2 Salários Mínimos até 3 Salários Mínimos
até 4 Salários
Mínimos
até 5 Salários Mínimos até 6 Salários Mínimos
até 7 Salários
Mínimos
entre 7 e 10 Salários
Mínimos
mais de 10 Salários
Mínimos
2.6. QUANTO DA SUA RENDA MENSAL É GASTA COM A FAMÍLIA?
menos da
metade do
dinheiro
mais da metade
do dinheiro
todo o
dinheiro
não gasto
dinheiro com minha
família
2.7. MARQUE A OPÇÃO QUE CORRESPONDE AO TOTAL DA RENDA DE
TODOS QUE CONTRIBUEM COM AS DESPESAS DE SUA CASA, MENOS
A SUA.
até 1 Salário
Mínimo
até 2 Salários Mínimos até 3 Salários Mínimos
até 4 Salários
Mínimos
até 5 Salários Mínimos até 6 Salários Mínimos
até 7 Salários
Mínimos
entre 7 e 10 Salários
Mínimos
mais de 10 Salários
Mínimos
ninguém contribui com as despesas de minha casa
2.8. MARQUE A OPÇÃO QUE CORRESPONDE AO NÍVEL DE INSTRUÇÃO DE
SEU PAI E DE SUA MÃE:
301
PAI
analfabeto
1ªà 4ª série incompleta
1ªà 4ª série completa
5ªà 8ª série incompleta
5ªà 8ª série completa
Ensino médio incompleto
Ensino médio completo
Ensino superior incompleto
Ensino superior completo
MÃE
analfabeta
1ªà 4ª série incompleta
1ªà 4ª série completa
5ªà 8ª série incompleta
5ªà 8ª série completa
Ensino médio incompleto
Ensino médio completo
Ensino superior incompleto
Ensino superior completo
2.9. QUAL APROFISSÃO DE SEU PAI E DE SUA MÃE?
Pai: Mãe:_
2.10. MARQUE OS OBJETOS EXISTENTES EM SUA CASA:
geladeira freezer fogão
tanquinho máquina de lavar roupa máquina de secar
roupa
máquina de lavar louça forno microondas aparelho de som
televisão rádio vídeo cassete ou DVD
máquina fotográfica computador telefone
tv a cabo internet vídeo game
2.11. VOCÊ TEM PLANO DE SAÚDE? sim não
2.12. SUA FAMÍLIA É SÓCIA DE ALGUM CLUBE?
sim. Qual_________________________________ ___? não
2.13. EM SUA CASA TEM CARRO? sim não
2.14. EM SUA CASA TEM EMPREGADA DOMÉSTICA OU FAXINEIRA?
sim não
2.15. VOCÊ COSTUMA COMPRAR:
Uma vez
por
semana
Uma vez
por mês
Algumas
vezes
por ano
Uma
vez há
muito
tempo
Nunca
CDs
302
Fitas cassete
Fitas de vídeo ou DVD
Livros
Revistas
Jornais
2.16. VOCÊ JÁ PARTICIPOU OU PARTICIPA DE:
associação sindicato partido político
grupo musical grupo de esportes grupo de estudo
grupo religioso ONG trabalho voluntário
outro. Qual?
3. FORMAÇÃO:
3.1. QUE TIPO DE ESCOLA VOCÊ FREQÜENTOU?
fez 1ª à 4ª série em: fez 5ªà 8ª série em:
escola pública escola pública
escola particular escola particular
3.2. ASSINALE AS SÉRIES EM QUE FOI REPROVADO/A EM SUA VIDA
ESCOLAR
Ensino Fundamental Ensino Médio
Nunca fui reprovado/a
3.3. VOCÊ FAZ CURSOS PARA APERFEIÇOAR SUA FORMAÇÃO?
sempre nunca algumas vezes
Último curso que você fez? Onde ? Há quanto tempo?
3.4. VOCÊ JÁ ESTUDOU (fora da escola) OU ESTUDA ALGUMA LÍNGUA
ESTRANGEIRA ?
sim
Qual?
Onde?
Durante quanto tempo?
não
3.5. VOCÊ SABE USAR COMPUTADORES, SABE INFORMÁTICA?
sim não
303
4. JORNADA DE TRABALHO E ATIVIDADES
4.1. SE TRABALHA, QUANTAS HORAS TRABALHA POR SEMANA? _______
4.2. QUANTAS HORAS, POR DIA, DEDICA-SE AOS TRABALHOS ESCOLARES
E ESTUDO? _______________
4.3. QUE TIPO DE ATIVIDADES FAZ QUANDO NÃO ESTÁ NA ESCOLA?
___________________________________________________________
4.4. ENTRE AS ATIVIDADES ABAIXO, MARQUE AQUELAS QUE VOCÊ
COSTUMA PRATICAR NAS SUAS HORAS DE FOLGA?
ATIVIDADES
Uma vez
por
semana
Uma vez
por mês
A
lguma
s vezes
por ano
Uma vez
há muito
t
empo
Nunca
Ver televisão
Assistir a vídeo ou DVD
Ouvir rádio
Ler livros
Ler jornais
Ir ao cinema
Ir ao teatro
Ir a shows de música
Ir a shoppings
Ir a bares e restaurantes
Praticar esportes
Assistir a jogos de futebol, vôlei,
etc
Namorar
Dançar
Freqüentar a igreja
Descansar
Cuidar da casa
Cuidar da família
Visitar parentes e amigos
Fazer compras
Tocar instrumento musical
Divertir no computador
4.5. MARQUE OS TRÊS TIPOS DE MÚSICA DE QUE VOCÊ MAIS GOSTA
Axé Forró
Samba/ Pagode MPB
Rock Nacional Reggae
Rock Internacional Sertaneja
304
Jazz Clássica
outras Quais? _______________________.
4.6. MARQUE TRÊS TIPOS DE LEITURA VOCÊ GOSTARIA DE FAZER EM
SEU TEMPO LIVRE:
auto-ajuda biografias romances
ficção religiosos revistas / jornais
policiais quadrinhos nenhuma
outro. Qual?
4.7. MARQUE TRÊS TIPOS DE PROGRAMAS DE TELEVISÃO A QUE VOCÊ
MAIS ASSISTE:
documentários esportes noticiários
mini-series novelas revistas / jornais
opinião variedades humorísticos
outro. Qual?
4.8. ENTRE OS ESPORTES ABAIXO QUAL O SEU PREFERIDO (marque
apenas um)
corrida de aventura Artes marciais Automobilismo
basquete boxe futebol
natação tênis vôlei
xadrez peteca atletismo
outro. Qual?
5. SOBRE A ESCOLA:
5.1. POR QUE ESTUDA NESTA ESCOLA?
5.2. DE QUE VOCÊ GOSTA NESTA ESCOLA? POR QUÊ?
5.3. DE QUE VOCÊ NÃO GOSTA? POR QUÊ?
5.4. QUE É NECESSÁRIO FAZER PARA MELHORAR ESTA ESCOLA?
5.5. VOCÊ GOSTARIA DE ESTUDAR EM OUTRA ESCOLA? QUAL? POR
QUÊ?
5.6. FALANDO DESTA ESCOLA, QUE NOTA (DE 0 A 10 ) VOCÊ DARIA PARA
CADA UM DESTES ITENS?
( ) QUALIDADE DA BIBLIOTECA
( ) QUALIDADE DAS SALAS DE AULA
( ) QUALIDADE DAS QUADRAS DE ESPORTE
( ) QUALIDADE DO PÁTIO E CORREDORES
( ) QUALIDADE DA CANTINA, LANCHONETE OU REFEITÓRIO
( ) QUALIDADE DOS BANHEIROS
( ) QUALIDADE DO ATENDIMENTO NA SECRETARIA
( ) QUALIDADE DO ATENDIMENTO NA BIBLIOTECA
( ) QUALIDADE DAS AULAS
( ) REALIZAÇÃO DE AULAS NOS LABORATÓRIOS
( ) REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES CULTURAIS
305
( ) REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES EXTRA ESCOLARES
( ) UTILIZAÇÃO DE COMPUTADORES E INTERNET DURNTE AS AULAS
( ) RECURSOS DIDÁTICOS E EQUIPAMENTOS OFERECIDOS PELA
ESCOLA
( ) PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS NAS TOMADAS DE DECISÃO NA
ESCOLA
( ) RELAÇÃO ENTRE PROFESSOR-ALUNO
( ) RELAÇÃO ENTRE DIREÇÃO-ALUNO
( ) RELAÇÃO ESCOLA-PAIS
Prezado/a colega,
Este questionário tem o objetivo de colher alguns dados
importantes sobre você e suas atividades. Os dados colhidos integrarão o estudo
que estamos realizando sobre Boa Escola ou Escola de Qualidade em uma
pesquisa desenvolvida no Curso de Pós-graduação, em nível de Doutorado, na
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Sua colaboração é relevante para a realização desse trabalho e por ela
somos gratos.
Áurea Regina Damasceno
1. IDENTIFICAÇÃO
1.1. ESCOLA (onde a pesquisa está sendo realizada).
____________________________________________________
1.2. ENDEREÇO (residência)
__________________________________________________TEL ------------
1.3. MORA EM BELO HORIZONTE
sim
Há quanto tempo?
Em que bairro você mora?
não Onde mora?
1.4. IDADE _______________________
1.5. NATURALIDADE ________________________________
1.6. SEXO feminino masculino
1.7. ESTADO CIVIL
solteiro casado divorciado separado viúvo outro
306
1.8. FUNÇÕES QUE DESEMPENHA NESSA ESCOLA:
___________________________________________________________
1.9. HÁ QUANTO TEMPO TRABALHA NESSA ESCOLA? ________________
1.10. SITUAÇÃO FUNCIONAL
efetivo contratado
Há quanto tempo no Estado? Há quanto tempo no Estado?
Há quanto tempo nessa escola? Há quanto tempo nessa escola?
1.11. TEM OUTRA ATIVIDADE REMUNERADA?
sim
Qual?
Onde?
não
1.12. ONDE TRABALHAVA ANTES DE ASSUMIR UM CARGO NESSA
ESCOLA? ___________________________________________
2. NÍVEL SOCIOECONÔMICO
2.1. MORA EM CASA PRÓPRIA sim não
2.2. COM QUEM MORA ? ______________________________
2.3. PROFISSÃO DA ESPOSA/ DO MARIDO ________________________
2.4. SUA ESPOSA/ MARIDO ESTÁ EMPREGADO? sim não
2.5. ESCOLARIDADE DOS PAIS:
Pai: Mãe:
2.6. PROFISSÃO DOS PAIS
Pai: Mãe:
2.7. QUAL A PROFISSÃO DOS SEUS IRMÃOS E IRMÃS?
1º irmão/a 6º irmão/a
2º irmão /a 7º irmão /a
3º irmão a 8º irmão/a
4º irmão /a 9º irmão /a
5º irmão/a 10º irmão /a
NÃO TENHO IRMÃOS
307
2.8. QUAL A PROFISSÃO DOS SEUS FILHOS OU DAS SUAS FILHAS?
1º filho/a 6º filho/a
2º filho /a 7º filho /a
3º filho/a 8º filho/a
4º filho /a 9º filho /a
5º filho/a 10º filho/a
NÃO TENHO FILHOS
2.9. RENDA PESSOAL
até 1 Salário
Mínimo
até 2 Salários Mínimos até 3 Salários Mínimos
até 4 Salários
Mínimos
até 5 Salários Mínimos até 6 Salários Mínimos
até 7 Salários
Mínimos
entre 7 e 10 Salários
Mínimos
mais de 10 Salários
Mínimos
2.10. MARQUE A OPÇÃO QUE CORRESPONDE AO TOTAL DA RENDA
DE TODOS QUE CONTRIBUEM COM AS DESPESAS DE SUA CASA,
MENOS A SUA.
até 1 Salário
Mínimo
até 2 Salários Mínimos até 3 Salários Mínimos
até 4 Salários
Mínimos
até 5 Salários Mínimos até 6 Salários Mínimos
até 7 Salários
Mínimos
entre 7 e 10 Salários
Mínimos
mais de 10 Salários
Mínimos
ninguém contribui com as despesas de minha casa
2.11. QUANTO DA SUA RENDA MENSAL VOCÊ GASTA COM A FAMÍLIA?
menos da metade do
dinheiro
mais da metade do
dinheiro
todo o dinheiro
2.12. MARQUE OS OBJETOS EXISTENTES EM SUA CASA:
geladeira freezer fogão
tanquinho máquina de lavar roupa máquina de secar
roupa
máquina de lavar louça forno microondas aparelho de som
televisão rádio vídeo cassete ou DVD
máquina fotográfica computador telefone
tv a cabo internet vídeo game
308
2.13. VOCÊ TEM PLANO DE SAÚDE?
sim não
2.14. VOCÊ É SÓCIO/A DE ALGUM CLUBE?
Sim
Qual?
não
2.15. VOCÊ TEM CARRO? sim não
2.16. EM SUA CASA TEM EMPREGADA DOMÉSTICA OU FAXINEIRA?
sim não
2.17. A SUA ATUAL SITUAÇÃO FINANCEIRA, EM RELAÇÃO A DE SEUS
PAIS, QUANDO VOCÊ ERA CRIANÇA, É:
melhor igual pior
2.18. JÁ PARTICIPOU OU PARTICIPA DE:
associação sindicato partido político
grupo musical grupo de esportes grupo de estudo
grupo religioso ONG trabalho voluntário
outro. Qual? _____________________________
3. FORMAÇÃO
3.1. TIPO DE ESCOLA FREQUENTADA
Fez 1ª à 4ª série em: Fez 5ª à 8ª série em: Fez Ensino Médio em:
escola pública escola pública escola pública
escola particular escola particular escola particular
3.2. ESCOLARIDADE
Nível médio
Em que instituição se formou?
Superior ( licenciatura curta) Superior ( licenciatura plena)
Disciplina? Disciplina?
Em que instituição se formou? Em que instituição se formou?
Especialização Mestrado Doutorado
Qual? Qual? Qual?
Instituição ? Instituição? Instituição?
309
3.3. VOCÊ FAZ CURSOS PARA APERFEIÇOAR SUA FORMAÇÃO?
sempre algumas vezes nunca
Último curso que você fez? Onde ? Há quanto tempo?
3.4. VOCÊ JÁ ESTUDOU (fora da escola) OU ESTUDA ALGUMA LÍNGUA
ESTRANGEIRA ?
Sim
Qual?
Onde?
não
3.5. VOCÊ SABE USAR COMPUTADORES, SABE INFORMÁTICA?
sim não
4. SOBRE A JORNADA DE TRABALHO E ATIVIDADES
4.1. QUANTAS HORAS POR SEMANA TRABALHA NESSA ESCOLA?
_______________________
4.2. QUANTAS HORAS POR DIA DEDICA-SE AOS TRABALHOS EXTRA
CLASSE?
____________________ Que tipo de trabalho?________________________
4.3. ENTRE AS ATIVIDADES ABAIXO, QUAIS VOCÊ COSTUMA PRATICAR
NAS HORAS DE FOLGA?
ATIVIDADES Uma
vez
por
sema
na
Uma
vez
por
mês
Algumas
vezes por
ano
Uma vez
há muito
tempo
Nunc
a
Ver televisão
Assistir a vídeo ou DVD
Ouvir rádio
Ler livros
Ler jornais
Ir ao cinema
Ir ao teatro
Ir a shows de música
Ir a shoppings
Ir a bares e restaurantes
Praticar esportes
Assistir a jogos de futebol, vôlei,
etc.
Namorar
Dançar
Freqüentar a igreja
Descansar
310
Cuidar da casa
Cuidar da família
Visitar parentes e amigos
Fazer compras
Tocar instrumento musical
Divertir-se no computador
4.4. MARQUE OS TRÊS TIPOS DE MÚSICA DE QUE VOCÊ MAIS GOSTA
Axé Forró
Samba/ Pagode MPB
Rock Nacional Reggae
Rock Internacional Sertaneja
Jazz Clássica
Hip Hop Pop
outras Quais?.
4.5. MARQUE TRÊS TIPOS DE LEITURA VOCÊ GOSTARIA DE FAZER EM
SEU TEMPO LIVRE:
auto-ajuda biografias romances
ficção religiosos revistas / jornais
policiais quadrinhos nenhuma
outro. Qual?
4.6. MARQUE TRÊS TIPOS DE PROGRAMAS DE TELEVISÃO A QUE VOCÊ
MAIS ASSISTE:
documentários esportes noticiários
mini-series novelas revistas / jornais
opinião variedades humorísticos
outro. Qual?
4.7. ENTRE OS ESPORTES ABAIXO, QUAL O SEU PREFERIDO (marque
apenas um)
corrida de aventura artes marciais automobilismo
basquete boxe futebol
natação tênis vôlei
xadrez peteca atletismo
outro. Qual?
4.8. POR QUE ESCOLHEU A PROFISSÃO DE PROFESSOR/A?
4.9. ESTA CONTENTE COM SUA PROFISSÃO? POR QUÊ?
4.10. SE PUDESSE MUDAR DE PROFISSÃO, O QUE DESEJARIA FAZER?
POR QUÊ?
5. SOBRE A ESCOLA:
311
5.1. POR QUE VEIO TRABALHAR NESSA ESCOLA?
5.2. POR QUE ESCOLHEU ASSUMIR ESTA FUNÇÃO?
5.3. DE QUE VOCÊ GOSTA NESSA ESCOLA? POR QUÊ?
5.4. DE QUE VOCÊ NÃO GOSTA? POR QUÊ?
5.5. O QUE É NECESSÁRIO FAZER PARA MELHORAR ESSA ESCOLA?
5.6. VOCÊ GOSTARIA DE TRABALHAR EM OUTRA ESCOLA? QUAL? POR
QUÊ?
5.7. FALANDO DESTA ESCOLA, QUE NOTA (DE 0 A 10 ) VOCÊ DARIA PARA
CADA UM DESTES ITENS?
( ) QUALIDADE DA BIBLIOTECA
( ) QUALIDADE DAS SALAS DE AULA
( ) QUALIDADE DAS QUADRAS DE ESPORTE
( ) QUALIDADE DO PÁTIO E CORREDORES
( ) QUALIDADE DA CANTINA, LANCHONETE OU REFEITÓRIO
( ) QUALIDADE DOS BANHEIROS
( ) QUALIDADE DA SALA DOS PROFESSORES
( ) QUALIDADE DO ATENDIMENTO NA SECRETARIA
( ) QUALIDADE DO ATENDIMENTO NA BIBLIOTECA
( ) QUALIDADE DAS AULAS
( ) REALIZAÇÃO DE AULAS NOS LABORATÓRIOS
( ) REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES CULTURAIS
( ) REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES EXTRA ESCOLARES
( ) UTILIZAÇÃO DE COMPUTADORES E INTERNET DURANTE AS AULAS
( ) RECURSOS DIDÁTICOS E EQUIPAMENTOS OFERECIDOS PELA ESCOLA
( ) PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS NAS TOMADAS DE DECISÃO NA ESCOLA
( ) RELAÇÃO ENTRE PROFESSOR-ALUNO
( ) RELAÇÃO ENTRE DIREÇÃO-ALUNO
( ) RELAÇÃO PROFESSOR- PROFESSOR
( ) RELAÇÃO PROFESSOR-DIRETOR
( ) RELAÇÃO PROFESSOR-VICE-DIRETOR
( ) RELAÇÃO PROFESSOR-SUPERVISOR
( ) RELAÇÃO ESCOLA-PAIS
312
ANEXO II
ROTEIROS DE ENTREVISTA
GESTORES/AS
SOBRE A ESCOLA EM QUE ESTUDOU
1. Você estudou em escola (pública, particular), o que teria a me dizer sobre a
escola em que estudou? (como era esta escola? as aulas? os professores?, os
colegas? a participação de sua família na escola?)
2. Se você comparar o que viveu na escola com o que os alunos vivem hoje, o que
aponta como semelhanças e como diferenças? O que viveu que gostaria que
eles vivessem e o que deveria ser evitado?
3. Você diria que era uma boa escola? Por quê? ( esmiuçar o porquê)
4. Quais as principais dificuldades enfrentadas e realizações na sua vida de aluno?
SOBRE A CARREIRA E A ESCOLA
5. Quando iniciou a carreira?
6. Quando veio trabalhar aqui já tinha referências/informações sobre essa escola?
Que informações eram?
7. O que levou você a trabalhar nessa escola?
8. O que levou você a assumir esse cargo?
9. Que mudanças você observa em si mesmo/a e que atribui à escola?
10. Que projetos a escola vem desenvolvendo?
11. Quais são suas expectativas em relação a essa escola?
12. Quais são suas expectativas em relação aos professores e alunos?
13. O que poderia dizer das expectativas dos professores em relação ao trabalho da
direção (incluído o seu)?
14. O que poderia dizer das expectativas dos professores em relação aos alunos?
15. Como está seu entusiasmo em relação ao seu trabalho aqui? Você está
satisfeito/a com seu trabalho?
16. O que você poderia dizer da sua relação com os alunos, pais, professores e
funcionários?
17. Quais as principais dificuldades enfrentadas e realizações na sua vida
profissional?
18. Como são traçados as metas e os objetivos a serem alcançados nessa escola?
19. Quais são as instâncias de decisão existentes na escola?
20. Há outras lideranças além das legalmente instituídas?
21. Como a escola estimula a participação da comunidade na vida escolar?
22. Qual é o nível de reconhecimento do seu papel? E do papel da direção e vice-
direção?
23. O que admira em sua equipe de professores e funcionários e o que precisa
mudar?
24. Como a escola promove a valorização profissional? Qual o apoio oferecido aos
professores e funcionários em relação à oportunidade de desenvolvimento
profissional?
25. A escola contribui para a sua formação profissional?
26. Quais as principais conversas e discussões na sala dos professores?
313
SOBRE PAIS E ALUNOS
27. O que os pais e os alunos acham desta escola? Estão satisfeitos com a escola?
28. Comparados com alunos de outras escolas, você crê que os alunos dessa escola
estão em melhor situação, mesma situação ou pior situação? Por quê?
29. O que um aluno precisa para permanecer na escola até finalizar seus estudos?
30. O que a escola precisa oferecer para que o aluno nela permaneça até finalizar
seus estudos?
31. Qual o apoio oferecido aos alunos no que diz respeito a sua formação?
A BOA ESCOLA
32. Para você o que é uma escola boa ou uma escola de qualidade?
33. Esta escola é boa? Por quê? Quais seriam os indicadores de qualidade?
34. Você poderia citar algumas escolas que acha boas?
35. Quais são os principais problemas enfrentados pela escola?
36. Como estes problemas poderiam ser solucionados?
37. Que sugestões você daria para melhorar a qualidade desta escola? E para
outras escolas públicas?
38. Se você pudesse ter uma escola de seus sonhos, quais seriam suas principais
características?
PROFESSORES/AS
SOBRE A ESCOLA EM QUE ESTUDOU
1. Você estudou em escola (pública, particular), o que teria a me dizer sobre a
escola em que estudou? (como era esta escola? as aulas? os professores?, os
colegas? a participação de sua família na escola?)
2. Quais as principais dificuldades enfrentadas e realizações na sua vida de aluno?
3. Se você comparar o que viveu na escola com o que seus alunos vivem hoje, o
que aponta como semelhanças e como diferenças? O que viveu que gostaria que
eles vivessem e o que deveria ser evitado?
4. Você diria que era uma boa escola? Por quê?
SOBRE A CARREIRA E A ESCOLA
5. Quando iniciou a carreira?
6. Quando veio trabalhar aqui já tinha referências/informações sobre esta escola?
Que informações eram?
7. O que levou você a trabalhar nessa escola?
8. Quais eram e quais são suas expectativas em relação a essa escola?
9. Como está seu entusiasmo em relação ao seu trabalho aqui?
10. Você está satisfeito com seu trabalho?
11. Que mudanças você observa em si mesmo/a e que atribui à escola?
12. Que projetos a escola vem desenvolvendo? E você?
13. Como a escola promove a valorização profissional?
14. Como a escola estimula a participação da comunidade na vida escolar?
15. Qual o apoio oferecido aos professores e funcionários em relação à oportunidade
de desenvolvimento profissional?
16. Quais as principais conversas e discussões na sala dos professores?
17. Quais as principais dificuldades enfrentadas e realizações na sua vida de
professor?
18. Quais são as instâncias de decisão existentes na escola?
314
19. Quais são suas expectativas em relação à direção, coordenação, supervisão,
orientação?
20. Há outras lideranças além das legalmente instituídas?
21. Como são traçadas as metas e os objetivos a serem alcançados?
SOBRE PAIS E ALUNOS
22. O que os pais e os alunos acham desta escola? Estão satisfeitos com a escola?
23. Você conhece o projeto de estudos de seus alunos?
24. Quais são suas expectativas em relação aos seus alunos?
25. Qual o apoio oferecido aos alunos no que diz respeito a sua formação?
26. O que você poderia dizer da sua relação com os alunos, com os colegas e com a
direção?
27. Comparados com alunos de outras escolas, você crê que seus alunos estão em
melhor situação, na mesma situação ou em pior situação? Por quê?
28. Quando seus alunos apresentam dificuldades na escola o que você faz?
29. O que um aluno precisa para permanecer na escola até finalizar seus estudos?
30. O que a escola precisa oferecer para que o aluno nela permaneça até finalizar
seus estudos?
31. Quais são os principais problemas enfrentados pela escola?
32. Como estes problemas poderiam ser solucionados?
A BOA ESCOLA
33. Para você o que é uma escola boa ou uma escola de qualidade?
34. E esta escola é boa? Por quê? Quais seriam os indicadores de qualidade?
35. (Se trabalha em outra escola) A outra escola em que você trabalha é boa por quê
?
36. Você poderia citar algumas escolas que acha boas?
37. Que sugestões você daria para melhorar a qualidade desta escola? E para
outras escolas públicas?
38. Se você pudesse ter uma escola de seus sonhos, quais seriam suas principais
características?
ALUNOS/AS
SOBRE A ESCOLA EM QUE ESTUDOU
1. Você estudou em escola (pública, particular), o que teria a me dizer sobre a
escola em que estudou? (como era esta escola? as aulas? Os professores?, os
colegas? A participação de sua família na escola?
2. Se você comparar o que viveu na escola com o que vive hoje, o que aponta
como semelhanças e como diferenças? O que viveu que gostaria que de
continuar vivendo e o que deveria ser evitado?
3. Quais as principais dificuldades enfrentadas e realizações na sua vida de aluno?
4. Você diria que era uma boa escola? Por quê?
SOBRE O ALUNO E A ESCOLA
5. Desde quando estuda nesta escola? Como está composta sua família Quantos
irmãos e irmãs? Quantos estudam ou estudaram? Onde estudaram? O que
fazem? Vive com seus pais?
6. O que você pode dizer sobre seu interesse pelos estudos?
315
7. Já interrompeu os estudos alguma vez? Por quê?
8. Qual é seu projeto de estudos?
9. Seus pais acompanham seus estudos?
10. Quando veio para esta escola já tinha referências/informações sobre ela? Que
informações eram?
11. O que levou você a estudar nessa escola?
12. Quais eram e quais são suas expectativas em relação a esta escola e em relação
aos seus professores? Que mudanças você observa em si mesmo e que atribui à
escola?
13. A escola (aprendizagem desenvolvida) ajuda você a desenvolver outras tarefas?
14. Quando está com dificuldades na escola o que você faz?
15. O que um aluno precisa para permanecer na escola até finalizar seus estudos?
16. O que a escola precisa oferecer para que o aluno nela permaneça até finalizar
seus estudos?
17. Você conhece os diretores da escola?
18. Você conhece as dependências da escola? Costuma utilizá-las com freqüência?
19. Participa de alguma organização escolar?
20. Identifica lideranças de alunos e professores na escola?
21. Quais são os principais problemas enfrentados pela escola?
22. Como estes problemas poderiam ser solucionados?
23. Comparado com alunos de outras escolas, você crê que esta em melhor
situação, igual situação ou pior situação?
A BOA ESCOLA
24. Para você o que é uma escola boa ou uma escola de qualidade?
25. E esta escola é boa? Por quê? Quais seriam os indicadores de qualidade?
26. Você poderia citar algumas escolas que acha boas?
27. Que sugestões você daria para melhorar a qualidade desta escola? E para
outras escolas públicas?
28. Se você pudesse ter uma escola de seus sonhos, quais seriam suas principais
características?
316
ANEXO III
Superintendência Regional de METROPOLITANA A - Projeto Escolas-
Referência
Investimentos Realizados na EE GOV MILTON CAMPOS
Atualizado até 30/09/2005 Dados de Empenho - Superintendência de Finanças
Escolas-Referência / PDPI
ANO Rede Física
Mobiliário e
Equipamento
Direto
GDP
Projetos
Ensino
Direto
GDPeas
Kit
Informática*
Total /
Ano
2003 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
2004 0,00 4.208,00 9.000,00 0,00 0,00 6.788,00 19.996,00
2005 0,00 160.654,00 0,00 13.500,00 0,00 0,00 174.154,00
Total Escolas-referência / PDP
I
194.150,0
0
Outros Repasses
ANO Merenda
Livro
Didático *
Manutenção
e Custeio
Outros Recursos Total / Ano
2003 0,00 0,00 82.143,00 0,00 82.143,00
2004 0,00 0,00 73.143,00 500,00 73.643,00
2005 0,00 94.098,00 103.200,00 9.963,00 207.261,00
Total Outros Repasse
s
363.047,0
0
Total de Investimentos 557.197,00
* Kit Informática e Livro Didático - valor benefício
317
ANEXO IV
Edição Especial . 22 de maio de 2002
As condições de trabalho do corpo docente, suas qualificações e os equipamentos dos
colégios definiram a classificação final
Quando decidiu realizar esse inédito ranking das melhores escolas particulares de Belo Horizonte,
VEJA foi procurar 100 dos mais respeitados especialistas em educação do país. A lista dos
profissionais consultados abrange pedagogos, educadores, autoridades do MEC, diretores de escola,
orientadores e professores de reconhecido prestígio. A revista fez a todos eles uma indagação: quais
são as características comuns aos bons colégios? Depois de entrevistá-los, foi possível elaborar um
questionário com 72 perguntas. Montado o roteiro, VEJA voltou a procurar os especialistas –
excluindo, dessa vez, os que tinham ligação direta com alguma escola – para que atribuíssem peso a
cada um dos itens, de acordo com sua importância. Depois dessa etapa, foram selecionadas trinta
perguntas bastante diretas que podem ser formuladas a todos os tipos de estabelecimento de ensino.
Foram essas trinta questões que contaram pontos na elaboração do ranking final. As outras 42 não
valeram para a classificação. Isso porque, embora fossem relevantes para traçar um panorama da
rede particular de ensino da cidade, tratavam de temas que não influem diretamente na qualidade do
projeto pedagógico ou que são difíceis de avaliar objetivamente. É o caso, por exemplo, das questões
relacionadas com a disciplina. Não se levou em conta, no resultado do ranking, se a escola permite
que os alunos entrem e saiam livremente das aulas, se o namoro é aceito, se o uniforme é
obrigatório ou se os pais são avisados no mesmo dia em caso de falta. Afinal, esses fatores não
indicam que a instituição é boa ou ruim.
Houve consenso em um ponto fundamental: o fator decisivo para a avaliação de um estabelecimento
de ensino é o quadro docente. Mais do que salas espaçosas, ginásios cobertos, número de idiomas
lecionados, a qualificação dos professores e as condições de trabalho que lhes são dadas pemitem
medir o nível do ensino mantido pelas escolas. "Muitos colégios dispõem de computadores modernos,
laboratórios bem equipados, piscina e belos auditórios", diz Noeli Weffort, da Faculdade de Educação
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. "Mas, se não tiverem também um corpo docente
eficiente e estimulado, nada disso adianta." Por isso, as questões referentes ao professorado
ganharam o maior peso na tabulação dos resultados. A pesquisa tratou de levantar qual o salário
deles, quantas horas remuneradas recebem para atividades de planejamento, há quanto tempo
lecionam na escola. Também se perguntou com que freqüência se reúnem e qual o porcentual dos
que trabalham em regime de dedicação exclusiva. A análise das respostas levou a conclusões
importantes.
Descobriu-se que apenas dezesseis das escolas participantes pagam mais de 2 300 reais por mês a
seus professores da 1ª à 4ª série. Nas demais séries do ensino fundamental e no ensino médio, os
professores são pagos por hora-aula. Apurou-se que 25 escolas oferecem remuneração superior a 23
reais por hora de aula no ensino médio – e por isso mereceram pontuação maior nesse quesito. Com
relação ao regime de trabalho, o Colégio Espanhol Santa Maria, o Frei Orlando e o Promove são
318
exemplos de instituições em que mais de 70% do corpo docente atua exclusivamente na escola.
Outro item levado em conta na pesquisa foi a estabilidade do corpo docente.
É
inviável desenvolve
r
um projeto pedagógico sério e consistente trocando boa parte do quadro de educadores a cada ano
letivo. Aqui, foram bem pontuadas as escolas com professorado estável. A média de permanência dos
professores do Izabela Hendrix, Santa Dorotéia e Loyola, entre outros, é superior a dez anos, o que
possibilita a essas instituições desenvolver um trabalho contínuo.
O segundo maior peso foi atribuído a questões que dizem respeito à pedagogia. Entre elas, figuraram
as seguintes:
A escola tem um coordenador para quantos professores?
Qual a freqüência das aulas de artes?
Qual a freqüência das aulas de educação física?
Quantos idiomas são lecionados?
Há aulas de sociologia ou filosofia?
Qual o limite de alunos por sala?
O levantamento revelou que o Edna Roriz e o Método não colocam mais que trinta jovens em uma
sala de ensino médio. Trata-se de um diferencial positivo. "As pesquisas mostram que é impossível
dar aula utilizando métodos mais modernos em classes com quarenta pessoas", diz o professo
r
Bernard Charlot, catedrático em ciências da educação da Universidade de Paris e uma das maiores
autoridades do assunto. No Magnum Agostiniano, no Marista Dom Silvério e no Santa Dorotéia,
alunos da 1ª à 4ª série do ensino fundamental têm aulas de filosofia ou sociologia. É claro que não
discutem conceitos de Platão. Mas é por meio dessas disciplinas que os colégios começam a
desenvolver o espírito crítico e a capacidade de raciocínio dos estudantes.
Finalmente, com um peso bem menor, vieram perguntas sobre os equipamentos disponíveis –
laboratórios de informática, física e química, ginásios de esportes – e sobre itens de segurança, como
a existência de controle de acesso na entrada e a presença de inspetores no pátio durante o recreio.
O instituto Ipsos Marplan, contratado para aplicar o questionário, procurou todos os 107 colégios
particulares da cidade com ensino fundamental, médio ou ambos. Destes, 97 responderam à
pesquisa. As respostas foram fornecidas pelos diretores ou por funcionários designados por eles. Na
reportagem seguinte, estão publicados os resultados dos dois rankings. São escolas com histórias,
propostas e perfis bastante distintos. A diferença de pontuação entre elas é pequena, e todas que
figuram na lista, independentemente da classificação, proporcionam a seus alunos um nível de ensino
muito acima da média encontrada nos estabelecimentos particulares de Belo Horizonte.
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