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Obra “excêntrica”, destoante, original, não logrou sucesso, junto ao
leitor da época, mas antecipou algumas linhas do Realismo, do
Modernismo, da Literatura Contemporânea e do folclore nacional. As
aventuras e desventuras de Leonardo, o primeiro “malandro” da nossa
literatura, ancestral de Macunaíma, “herói-sem-nenhum-caráter”,
moldado pelas contingências, impulsionado pelo prazer, vão compondo
um saboroso retrato da vida social e familiar do Rio Colonial, fervilhante
com a presença de corte joanina, já em transição para a vida
independente.
É uma malandragem meio idílica, que escamoteia as diferenças sociais
extremas. São omitidos tanto o trabalho escravo, ainda sustentáculo da
produção, como a elite cortesã e burguesa. O tom humorístico substitui o
sentimentalismo e o ufanismo; o realismo ingênuo, espontâneo (não
pragmático), registra cenas vulgares, nada poéticas. A linguagem é
coerente com o seu objetivo: norma culta, em estilo jornalístico,
prosaico, sem afetações. Nos diálogos, incorpora, algumas vezes, o
registro colonial do falar da época, eivado de lusitanismos, solecismos e
outras “anomalias”.
É um anti-herói, malandro, oportunista, que se aproxima do pícaro
espanhol pela bastardia, pela ausência de uma linha “ética” de conduta,
mas, diferentemente do pícaro espanhol, não é ele, Leonardo, quem
relata suas peripécias. Além disso, não chega a ser um “excluído”:
nunca trabalhou, teve sempre o amparo do barbeiro, da Comadre e de
outros e, por fim, também se arranja, e muito bem, com “status” de
sargento e cinco heranças no bolso. É um genuíno malandro que deu
certo.
(Introdução retirada de trabalho apresentado por aluna da 2ª série B).
Primeiramente, na visão do leitor, a obra é considerada “excêntrica”, julgamento de valor
que implica análise profunda dos valores que veiculavam na sociedade da época. Em seguida,
a obra é comparada ao clássico Macunaíma, de Mário de Andrade, cujas características dos
personagens coincidem por serem descritas como anti-heróis. Além disto, o texto traz nas
entrelinhas conceitos fundamentais para se compreender o comportamento do personagem,
denotando a ruptura com o sentimentalismo romântico em prol de situações reais comparadas
à literatura contemporânea, ao folclore nacional e a conhecimentos sobre questões políticas e
econômicas da época, quando se faz menção à “transição para a vida independente”, ou no
fragmento “(...) são omitidos tanto o trabalho escravo, ainda”.
Na maneira como está disposta, a introdução traz informações sobre a vida do autor, as
influências do teatro de comédia e observações sobre inovações da linguagem utilizada. Essas
análises encontradas na introdução perdem-se no contexto das questões elaboradas, denotando
um desencontro entre a leitura feita pelos alunos e a análise de um leitor conhecedor não só
desta obra como também de outras tantas obras que culminaram na visão deste leitor que
revisita, em sua análise, a obra Macunaíma.