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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA
Lorena Madruga Monteiro
A ESTRATÉGIA DOS CATÓLICOS NA CONQUISTA DA
SOCIOLOGIA NA UFRGS
(1940-1970)
Porto Alegre, 2006
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Lorena Madruga Monteiro
A ESTRATÉGIA DOS CATÓLICOS NA CONQUISTA DA
SOCIOLOGIA NA UFRGS
(1940-1970)
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciência Política da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul como requisito
parcial para a obtenção do título de Mestre em
Ciência Política.
Orientador
Prof. Dr. Hélgio Casses Trindade
Porto Alegre, Dezembro de 2006
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Lorena Madruga Monteiro
A ESTRATÉGIA DOS CATÓLICOS NA CONQUISTA DA
SOCIOLOGIA NA UFRGS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciência Política da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul como requisito
parcial para a obtenção do título de Mestre em
Ciência Política.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Clarissa Baeta Neves (PPGSOC/ UFRGS)
Prof. Dr. Mercedes Loguercio Cánepa (PPGPOL/ UFRGS)
Prof. Luiz Osvaldo Leite (Instituto de Psicologia/UFRGS)
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AGRADECIMENTOS
Ao professor Hélgio Trindade pela orientação dedicada, sobretudo pela amizade, paciência e
seriedade, por ter colocado a minha disposição o precioso acervo das pesquisas de seu irmão
Fernando Trindade e dado amplo acesso aos documentos e ao banco de entrevistas do Núcleo
de Estudos das Ciências Sociais na América Latina (CISOAL).
Ao Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Sul, especialmente seu diretor Gervásio
Neves por ter permitido o acesso ao acervo de Laudelino Medeiros por vários meses, período
que foi importante para o início da pesquisa e o desenvolvimento do meu projeto.
A Biblioteca Central e ao Centro de Documentação da Universidade de Caxias do Sul -
exemplo de preservação de acervos bibliográficos e documentais - pela atenção e dedicação
de seus bibliotecários e arquivistas que tornaram possível a digitalização dos documentos do
fundo Laudelino Medeiros e a consulta exaustiva a sua biblioteca.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política pela importante
contribuição que deram para a minha formação intelectual, especialmente à professora
Mercedes Loguercio Cánepa pelos comentários sobre o projeto e sugestões imprescindíveis
para o desenho final da pesquisa.
Às professoras do Clarissa Baeta Neves e Suzana Arrosa Soares, do Departamento de
Sociologia, por disponibilizarem gentilmente os materiais levantados em suas pesquisas e
documentação do Centro de Estudos Sociais e do Departamento de Ciências Sociais da
UFRGS.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio
decisivo na Bolsa de Iniciação Cientifica e, agora, com a Bolsa de Mestrado.
Especialmente para minha amigas e colegas Carine Leal, Daniela Barcellos, Joana Teresa
Vaz de Moura e Magda Pinto pela ajuda solidária durante a pesquisa e pela “força” durante o
curso de Mestrado.
Aos meus pais, Cléia Maria Madruga Monteiro e João Costa Monteiro, por tudo.
5
LISTA DE QUADROS
1 Relação dos Constituintes Eleitos em 1934 com a LEC ou/e com a Liga Pró-
Estado Leigo
46
2 - Configuração inicial do Curso de Filosofia 54
3 - Curso de Geografia e História 56
4 - Curso Pedagogia 57
5 - Curso de Filosofia (Reitorado Armando Câmara) 60
6 - Curso de Didática 60
7 - Curso de Pedagogia 61
8 - Curso de Geografia e História 61
9 - Primeiros Catedráticos da Faculdade de Filosofia (efetivados em 1950). 62
10 - Programa de Sociologia Geral do curso de Administração e Finanças 83
11- Pontos para o exame final de Sociologia Geral de 1947, 1949, 1951 85
12 - Pontos para exame final de Sociologia Econômica 1950, 1951, 1953 86
13- Pontos da disciplina de Princípios de Sociologia aplicados á Economia 1957
e 1960
89
14 - Pontos de Estudos comparados dos sistemas econômicos 1954 e 1961 91
15- Programas da Disciplina de Fundamentos sociológicos da educação 95
16- Programa de Sociologia 96
17 - 1° Currículo do Curso de Ciências Sociais 1959 128
18- Currículo do Curso Ciências Sociais 1963 131
19- Currículo do Curso de Ciências Sociais 1969 133
6
LISTA DE SIGLAS
ABE Associação Brasileira de Educação
ABRS Ação Brasileira de Renovação Social
AC Ação Católica
ACJF Associação Católica de Juventude Francesa
AF Ação Francesa
AIB Ação Integralista Brasileira
APC Associação dos Professores Católicos
AUG Ação Universitária Católica
CAPES Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CCA Centro Católico de Acadêmicos
CEDOC/ UCS Centro de Documentação da Universidade de Caxias do Sul
CEPE Centro de Pesquisas Econômicas
CES Centro de Estudos Sociais
CISOAL Núcleo de Estudos das Ciências Sociais na América Latina
CLACSO Centro Latino Americano de Ciências Sociais
CLAPCS Conselho Latino Americano de Pesquisas em Ciências Sociais
COSAL Programa de Contatos para a Pesquisa Social na América Latina
CRPE Centro Regional de Pesquisas Educacionais
CTA Conselho Técnico Administrativo
CU Colégio Universitário
ELSP Escola livre de Sociologia e Política
FCE Faculdade de Ciências Econômicas
FFCL Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
FGV Fundação Getúlio Vargas
FNF Faculdade Nacional de Filosofia
IBECC Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IEPE Instituto de pesquisas econômicas
IHGRS Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Sul
LEC Liga Eleitoral Católica
MEC Ministério da Educação
PDC Partido Democrático Cristão
PL Partido Liberal
PRL Partido Republicano Liberal
PRR Partido Republicano Riograndense
PSD Partido Social Democrático
PTB Partido Trabalhista Brasileiro
RGS Rio Grande do Sul
SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Educacional
SUDESUL Superintendência do Desenvolvimento da Região Sul
UBA Universidade da Bahia
UDF Universidade do Distrito Federal
UDN União Democrática Nacional
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
USP Universidade de São Paulo
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RESUMO
Este trabalho tem um duplo objetivo: primeiro, analisar a relação entre a elite católica e o
desenvolvimento universitário brasileiro, com ênfase na formação e a institucionalização das
Ciências Sociais no Brasil; segundo, estudar o itinerário de um dos representantes dessa
“elite”, Laudelino Medeiros, que se tornou o fundador da disciplina de Sociologia na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Seu foco é o de analisar, dentro da estratégia
mais ampla da “geração católica” na conquista das cátedras da Faculdade de Filosofia, o
itinerário do primeiro e único catedrático de Sociologia. Ao contextualizar a formação da
UFRGS num período de renovação católica nacional em que a Igreja tenta conquistar espaços
universitários, o estudo demonstra, tendo como referencia outras situações similares, qual foi
a atuação do referido professor como membro do grupo católico e sua posição na divisão do
trabalho intelectual entre os católicos das áreas do Direito, Filosofia e Humanidades.
Finalmente, reconstitui seu papel na organização e no desenvolvimento da disciplina nas
Faculdades de Ciências Econômicas e de Filosofia. Apoiando-se em fontes inéditas de
entrevistas, documentos de seu arquivo pessoal e de varias outras fontes documentais, bem
como pelo acesso à sua ampla biblioteca foi possível reconstituir sua atuação como professor,
pesquisador e fundador da Sociologia na UFRGS no período de 1940 a 1970.
Palavras chaves: Elite Católica, Ciências Sociais, Sociologia, Laudelino Medeiros,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
8
ABSTRACT
This work has two aims: first, to analyse the relation between catholic elite and Brazilian
universities development, focusing on shaping and institutionalization of Social Sciences in
Brazil; second, to study the course of one representative of this “elite” Laudelino Medeiros,
the founder of Sociology discipline in Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Our main interest is to study, in a broader strategy of “catholic generation” for conquering
disciplines in Philosophy College, the course of the first and only professor of Sociology. By
putting into context the shaping of UFRGS in a time of national catholic renovation when the
church tried to gain space in university milieu, this study shows, having other similar
situations as reference, which were the activities of that professor as a member of a catholic
group and which was his position concerning division of intellectual work among catholics in
courses like Law, Philosophy and Humanities. Finally, this analysis reconstitutes his role in
organizing and developing of Sociology in courses of Economics and Philosophy. Having
as a support unpublished fonts with interviews, documents from his personal files and many
other document fonts, as well as his extensive library, it was possible recover his activities as
a professor, researcher and founder of Sociology at UFRGS, from 1940 to 1970.
Keywords: Catholic Elite, Laudelino Medeiros Social Sciences Sociology- Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.
9
SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS
LISTA DE SIGLAS
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................11
PARTE I: A “GERAÇÃO CATÓLICA” E O PROJETO DE CONQUISTA DA
UNIVERSIDADE PÚBLICA
1. A Renovação católica no Brasil e os projetos universitários da década de
1930...............................................................................................................................20
1.1. O advento da República: Separação entre a Igreja e Estado e a estratégia dos
intelectuais católicos.....................................................................................................22
1.2. A laica universidade do Distrito Federal e a pressão da Igreja sobre o governo
Vargas...........................................................................................................................31
1.3. Os intelectuais católicos e o controle sobre a Faculdade Nacional de Filosofia da
Universidade Brasil.......................................................................................................34
2. Católicos e o ensino superior no Rio Grande do Sul................................................36
2.1. A “Geração Católica” e as estratégias de conquista no espaço universitário........38
2.2. Os jesuítas e a estratégia de conquista: O papel da Congregação Mariana e da
Ação Católica................................................................................................................40
2.3. O reitorado de Armando Câmara e a alocação das cátedras da Faculdade de
Filosofia em favor do grupo católico gaúcho................................................................58
2.4. A presença dos católicos na Faculdade de Direito, Medicina, Engenharia e
Economia da UFRGS....................................................................................................65
2.5. A hierarquia das disciplinas controladas pelos católicos e a situação da Cátedra de
Sociologia......................................................................................................................67
3. O jovem Laudelino Medeiros e sua inserção na geração católica..........................69
10
3.1. Origem social e escolaridade pré-universitária......................................................69
3.2. Estudos Universitários: Economia e Direito..........................................................71
3.3. Laudelino Medeiros e seu espaço na “divisão católica do trabalho”.....................74
PARTE II: O ITINERÁRIO DE LAUDELINO MEDEIROS NA SOCIOLOGIA DE
CÁTEDRA.
1. O itinerário docente: a instituição da cátedra e seus assistentes............................77
1.1. A (in)definição da Sociologia: A docência no Colégio Universitário e no Colégio
Júlio de Castilhos..........................................................................................................77
1.2. A Sociologia precursora na Cátedra da Faculdade de Economia e
Administração...............................................................................................................81
1.3.A Cátedra de Sociologia na Faculdade de Filosofia e sua inserção na formação de
professores....................................................................................................................94
1.4. A modernidade possível: O ensino de Sociologia na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.............................................................................................................103
2. Das pesquisas precursoras à criação do Centro de Estudos Sociais.....................104
2.1. As pesquisas sociais precursoras e seu impacto...................................................105
2.2. Os seminários rio grandenses de Sociologia........................................................112
2.3. O Centro de Estudos Sociais: Do projeto de Laudelino Medeiros ao seu
desenvolvimento real..................................................................................................117
3. O professor, a Cátedra e a hegemonia da Sociologia no curso de Ciências Sociais
da UFRGS..................................................................................................................125
3.1. Os primeiros anos do curso de Ciências Sociais: A hegemonia da Sociologia sob a
direção do seu catedrático...........................................................................................128
3.2. O ensino de Sociologia e sua organização no Departamento de Ciências
Sociais...............................................................................................................................133
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................138
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................................154
ANEXOS................................................................................................................................171
11
INTRODUÇÃO
Em 1954, a CAPES patrocinou um inquérito sobre o estado da arte das Ciências Sociais
no Brasil, que um ano após foi publicado por Edson Carneiro e L.A. Costa Pinto com o título
“As Ciências Sociais no Brasil”. No relato sobre o desenvolvimento da disciplina no Rio
Grande do Sul Laudelino Teixeira de Medeiros, lente de Sociologia da Faculdade de Filosofia
e da Faculdade de Ciências Econômicas no período, e os outros profissionais consultados,
descreveram uma situação desoladora: duas Faculdades de Filosofia, uma federal, e outra
católica, nenhum curso de Ciências Sociais, pouco interesse dos alunos nos cursos nos quais
se ministravam a matéria, falta de recursos para pesquisas e poucos profissionais treinados.
No entanto, acreditavam numa mudança da situação, porque o curso livre de Sociologia
Urbana ministrado por Laudelino Medeiros na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
UFRGS estava tendo certa repercussão no meio universitário, e o Centro de Estudos e
Pesquisas Econômicas (IEPE) projetava criar um curso de Sociologia e Política nos moldes
do existente em Minas Gerais.
Mais de vinte anos após o inquérito, em 1979, em resposta a uma carta do sociólogo
Oracy Nogueira que colhia informações sobre o desenvolvimento das Ciências Sociais no Rio
Grande do Sul, Medeiros afirma que a Sociologia no Estado “é recente e muito pobre”
1
. Nesse
momento, o catedrático já estava aposentado de suas atividades na Faculdade de Filosofia e da
Faculdade de Ciências Econômicas, apenas atuando como docente no curso de Pós-graduação
em Sociologia Rural. O período pode ser considerado como o fim de sua influente atuação
como catedrático de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O
curso de Ciências Sociais havia sido criado em 1959 e se apresentava com uma
configuração bem diferente de seu formato original, uma vez que, com a Reforma do Ensino
Superior de 1968, os Departamentos de ensino foram reestruturados por disciplinas
acadêmicas e o de Ciências Sociais abrigou as três disciplinas do curso de Ciências Sociais:
Antropologia, Ciência Política e Sociologia. Posteriormente, com quadros docentes pós-
graduados tanto no Brasil, quanto no exterior (Europa, América Latina e do Norte) vai se
constituir, em 1973, o primeiro Mestrado em Sociologia e Política, cuja organização foi
liderada pelo professor Francisco dos Santos Ferraz, seu primeiro coordenador.
12
Esses dois momentos são importantes para se compreender o desenvolvimento das
Ciências Sociais na UFRGS e o itinerário do seu precursor, o catedrático Laudelino Medeiros,
tarefa a qual se dedica esse trabalho. Partindo da década de 1950, classificada por Liedke
(1990) como a etapa da Sociologia Científica no Brasil, e considerada por alguns autores
como o período da consolidação da Escola Paulista de Sociologia, com a formação da
primeira geração de sociólogos brasileiros (Azevedo, 1956, Fernandes, 1977), até a década de
70, marcada pela proliferação de Programas de Pós-Graduação e pela profissionalização dos
quadros docentes promovida pela Reforma de 1968 em plena Ditadura Militar. Neste período,
o poder acadêmico dos catedráticos foi extinto pela Reforma de 1968 com a implantação da
nova carreira docente em que o topo da docência era o professor titular. Esse estudo busca
resgatar esse processo de fundação e institucionalização das Ciências Sociais na UFRGS com
o seguinte recorte histórico: da década de 1940, que é o início da Faculdade de Filosofia da
UFRGS, até a década de 1970, com o afastamento progressivo de Laudelino Medeiros do
ensino de Sociologia no curso de Ciências Sociais e da Faculdade de Ciências Econômicas,
refugiando-se no espaço do IEPE até sua aposentadoria.
A interpretação de Costa Pinto (1955) dos dados recolhidos no inquérito de 1954 sobre
as Ciências Sociais é importante, porque mostra o contexto histórico do surgimento das
Ciências Sociais e os problemas enfrentados em seu desenvolvimento, podendo ser válida
também, em algumas questões, para o Rio Grande do Sul. Segundo essa perspectiva, o
surgimento das disciplinas não foi um desdobramento do bacharelismo no Brasil, mas sim um
produto do novo clima cultural e político instaurado com a Revolução de 1930, o qual
precisava de novas profissões que apreendesse e desse rumo às novas mudanças estruturais da
sociedade. Deste modo, a reforma educacional de 1931 foi à concretização desses objetivos,
ao tornar o ensino de Ciências Sociais obrigatório no ensino secundário, sobretudo nas
Escolas Normais, e que logo se expandiu para o nível universitário com a fundação da Escola
Livre de Sociologia e Política (1933), da Universidade de São Paulo (1934) e da Universidade
do Distrito Federal (1935). Essa nova realidade provocou o boom do livro didático com a
publicação de vários manuais de conteúdo sociológico sistematizado (Meucci, 2000), como
também o aprofundamento e revisão crítica das obras de história social brasileira, a fundação
da Sociedade de Sociologia (1934), além da tradução dos clássicos, como os de Durkheim.
13
A situação alterou-se com o Estado Novo e a nova Lei Orgânica do Ensino Secundário
que suspendeu a obrigatoriedade do ensino de Ciências Sociais fazendo apologia do
conhecimento técnico em detrimento do saber científico, e assim as Faculdades de Filosofia
perdiam sua função original que era formar professores secundários e pesquisadores
especializados. Nesse momento, é que as Ciências Sociais ficam numa situação de
marginalidade estrutural, uma vez que perdem seus fins científicos, profissionais e até sociais.
Dessa forma, a partir de 1945 proliferam Faculdades de Economia, que, segundo Costa Pinto
(1955), preenchem o vazio deixado no espaço social e profissional com o recuo da expansão
das Ciências Sociais. E será a fusão entre esses dois cursos que o autor verá a solução para a
situação das Ciências Sociais na década de 1950.
Interessante que a Cátedra de Sociologia de Laudelino Medeiros surgiu na Faculdade de
Ciências Econômicas, um ano antes da sua criação na Faculdade de Filosofia. No entanto, a
Faculdade de Filosofia é instituída no contexto da Lei Orgânica do Ensino Secundário, ou
seja, nessa situação desfavorável ao desenvolvimento e expansão das Ciências Sociais. Foi
neste contexto que Laudelino Medeiros tornou-se o catedrático de Sociologia nas Faculdades
de Economia e de Filosofia nelas permanecendo da década de 1940 até sua extinção. Desse
fato e da leitura do inquérito de Edison Leão e Costa Pinto se colocaram as primeiras questões
da pesquisa: qual fora o papel Laudelino Medeiros no desenvolvimento das Ciências Sociais
no Rio Grande do Sul? O que foi feito, produzido durante esses 30 anos nas cátedras? Qual
solução propôs para o desenvolvimento da área? Essas foram as questões levantadas no
começo desse estudo, dado a inexistência de estudos sobre o itinerário do próprio catedrático,
e poucos sobre as Ciências Sociais na UFRGS.
Em relação ao desenvolvimento e da posterior institucionalização da Sociologia no Rio
Grande do Sul, especificamente na UFRGS, poucos trabalhos revelando uma área de
pesquisa praticamente inexplorada. Entretanto, cabe destacar o artigo intitulado “O
desenvolvimento da Sociologia no Rio Grande do Sul e a cooperação acadêmica Brasil e
Alemanha” e a comunicação de pesquisa apresentada no Congresso da Sociedade
Brasileira de Sociologia, que ocorreu em 1997, “Experiências Regionais de
institucionalização do ensino e da pesquisa em Sociologia: A experiência da UFRGS”, ambos
os artigos dos pesquisadores Enno Liedke Filho e Clarissa Baeta Neves. Todavia, esses
14
artigos partem de um quadro geral, no qual identificam duas etapas e quatro períodos do
desenvolvimento da Sociologia no Brasil, que são: 1) a etapa da herança-cultural da
Sociologia, incluindo o período dos pensadores sociais e da Sociologia de Cátedra; e 2) a
etapa contemporânea da Sociologia, quando emerge a Sociologia científica e posteriormente
passa por um período de crise e diversificação (Liedke & Neves, 2003). Embora esse modelo
de desenvolvimento das Ciências Sociais no Brasil tenha inspirado-se nos casos mais “bem
sucedidos” de institucionalização como São Paulo e Rio de Janeiro, em suas devidas
proporções e diferenças
2
, e o padrão do desenvolvimento das Ciências Sociais no Brasil
como um todo tenha sido “a variante regional” no que diz respeito a “institucionalização da
Sociologia entre as décadas de 1930 e 1950” (Oliveira, M, 2006: 13), especialmente no caso
do desenvolvimento desta no Rio Grande do Sul, a reconstrução da trajetória da Sociologia na
UFRGS, além do caráter pioneiro, ofereceu uma contribuição importante, mas não exaustiva.
O primeiro, e quiçá, o mais importante, foi ter enfatizado o papel do convênio com a
Alemanha para a institucionalização da pesquisa empírica, através do Centro de Estudos
Sociais, instituição idealizada e criada pelo catedrático de Sociologia Laudelino Medeiros,
cujo projeto é analisado em detalhe nesta pesquisa. O segundo foi destacar o ambiente
propício em que foi criado o curso de Ciências Sociais no RGS, muito distante
cronologicamente das instituições originárias das Ciências Sociais no Brasil, mas dada à
conjuntura política, especialmente com a ascensão de João Goulart ao poder, a demanda pelo
curso aumentou e assim a Sociologia foi vista como conhecimento legitimo para a intervenção
social (Liedke & Neves, 1997, 2003).
Ainda que seja possível pensar a produção ensaística com pretensões sociais, não como
uma etapa, mas constituindo discursos sobre a realidade social em disputa por legitimidade
(Lepenies, 1996), a Sociologia e as Ciências Sociais, enquanto disciplinas modernas, e deste
modo, científicas, surgiram legitimadas como um saber imprescindível à estrutura
universitária (Wallerstein, 2001). Assim, com a criação das Universidades brasileiras com a
incorporação das Faculdades de Filosofia na década de 1930 e 1940, à exceção da
Universidade de São Paulo, da Escola Livre de Sociologia e Política e da Universidade do
Distrito Federal, instituições para as quais vieram professores estrangeiros, todas as outras
Universidades recrutaram para assumir as Cátedras indivíduos advindos das elites culturais e
políticas, formados nas escolas de ensino superiores existentes, especialmente oriundos dos
15
cursos de Ciências Jurídicas e Sociais das Faculdades de Direito. Dessa forma, a Sociologia
considerada científica não surgiu espontaneamente, seus precursores não foram sociólogos,
mas sim diletantes influenciados pelo clima intelectual da época que reproduziram os
conhecimentos socialmente aceitos e definiram as “problemáticas consideradas legítimas”
(Bourdieu, 1979). Uma das críticas feitas por Guerreiro Ramos (1954: 47) ao ensino da
Sociologia brasileira dirigiu-se nesse sentido, por que:
“Aqui as Cátedras de Sociologia não surgiram para consagrar uma tradição
militante de trabalho pedagógico, como é regra em todos os países avançados. As
cátedras aparecem de modo intempestivo e foram providas, inicialmente, mais ou
menos, por pessoas que, no momento, ou eram diletantes, quando muito; ou
desconheciam completamente os estudos de sociologia.”
É exatamente esse o objetivo da presente pesquisa, compreender, através do itinerário de
um representante de certa elite social e política, primeiramente a construção da Universidade
no Rio Grande do Sul, e especificamente o desenvolvimento da Sociologia para compreender
sua posterior expansão. A relação entre elites e o desenvolvimento das instituições de ensino
superior no Rio Grande do Sul historicamente ocorreu sob a hegemonia política do governo
positivista de Júlio de Castilhos. Desta forma, em 1891, em plena República, foi criada a
Escola de Agricultura e Veterinária de Taquari, e em 1896, surgiram a Escola de Engenharia e
a Faculdade de Farmácia, que dois anos depois, ao incorporar a Escola de Partos, deu origem
à Faculdade de Medicina de Porto Alegre.
Porém, é na Faculdade Livre de Direito, fundada em 1900, nove anos após o golpe
republicano, que a relação entre o grupo dirigente do Partido Republicano e formação da
“elite” política e cultural gaúcha se concretiza. Primeiramente pelos magistrados convidados
por Borges de Medeiros que estudara na Faculdade de Direito de Recife, e que terão um papel
decisivo, sob a liderança de Manuel André da Rocha, na fundação da instituição e na
formação de seu corpo docente. É a partir dessa Faculdade que se constituíra uma elite social
no Rio Grande do Sul e que atuará na política, no judiciário, na Universidade, nas letras e até
mesmo na economia. Os antigos centros formadores das elites republicanas em Recife e São
Paulo perdem sua importância anterior, embora tenham formado uma gama de homens que
terão papel destacado na política rio grandense e brasileira (Júlio de Castilhos, Assis Brasil,
entre outros), mas as gerações seguintes (de Getúlio Vargas, João Neves da Fontoura, Mem de
Sá, João Goulart, entre outros) são egressas da Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre. A
16
Faculdade de Medicina e a Faculdade de Direito, além do papel que terão na formação e
reprodução das grandes famílias no Rio Grande do Sul (Coradini, 1998, Engelmann, 2004),
num primeiro momento difundiram na formação dos futuros profissionais um arsenal de
teorias cientificistas correntes à época, caracterizadas por Boeira (1980) como o positivismo
difuso. Portanto, essas foram, em linhas gerais, as Faculdades profissionais mais
representativas da relação entre elites e formação universitária no Rio Grande do Sul, até o
surgimento da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, quando, por imposição de lei, surge
a Universidade do Rio Grande do Sul, em 1934.
É nesse momento, na criação das Universidades no Brasil, que os confrontos entre
projetos políticos e culturais aparecem em relação à Universidade. No Rio Grande do Sul a
“elite” que conquistou a Faculdade de Filosofia foi a Católica. Esse grupo intelectual atuou
em várias esferas do espaço social rio-grandense e entre seus membros encontramos o
precursor da Sociologia na Universidade do Rio Grande do Sul: Laudelino Teixeira de
Medeiros. Apesar de inicialmente fosse nosso objetivo tratar da formação e desenvolvimento
das Ciências Sociais como um todo, acabamos centrando nossa análise no itinerário do
catedrático Laudelino Medeiros. Isso ocorreu por dois fatores: primeiro porque, até os
primeiros anos do curso de Ciências Sociais, a Sociologia na UFRGS tinha um nome e
sobrenome e segundo, sendo Laudelino Medeiros membro da “geração católica”, interessava-
nos ver como ele redefiniu seus preceitos morais e referenciais de luta do grupo católico para
a Sociologia que ministrou. Nesse sentido, o próprio itinerário de Medeiros, especialmente,
sua relação com o catolicismo, e o que ele reproduzirá na Cátedra é importante para
compreendermos, primeiro qual foi a “Sociologia” que defendeu como legítima, e segundo
qual foi o efeito de suas posições pessoais no desenvolvimento das Ciências Sociais na
UFRGS. Essas questões se colocam, porque “há uma estreita relação entre o tipo de capital
que dispõem os diferentes pesquisadores e a forma de Sociologia que eles defendem como a
única legitima” (Bourdieu, 1983: 50).
Ainda que a Sociologia de cátedra tenha se caracterizado na América Latina e no Brasil
especialmente pela docência universitária (Brunner, 1988), na Cátedra de Sociologia da
UFRGS houve iniciativas de pesquisa científica. Essas pesquisas envolveram alunos e
pesquisadores, tanto da Faculdade de Ciências Econômicas, quanto da Faculdade de Filosofia.
17
Essa preocupação com a pesquisa, com métodos científicos, que Laudelino vai demonstrar em
certo momento de sua carreira, foi objetivada nas iniciativas que criou com seu grupo, como o
Centro de Estudos Sociais e a relação que construiu com o Instituto de Sociologia Industrial
de Dortmund, através do contato com o sociólogo alemão Helmut Schelsky, o qual vai
desaguar no intercâmbio acadêmico com a Alemanha que proporcionou a formação no nível
pós-graduado de uma nova geração.
Portanto, os primeiros impulsos para a institucionalização da Sociologia no RGS foram
dados por Medeiros, não da mesma forma como foi a institucionalização da Sociologia nos
outros centros produtores, mas com seus próprios conteúdos e instituições que foram
importantes para a formação dessa área acadêmica. Dessa forma, pretende-se mostrar nessa
pesquisa, qual foi o papel das iniciativas institucionais e pessoais de Laudelino Medeiros
dentro da Universidade para a formação da disciplina no Rio Grande do Sul.
Para tanto, buscou-se reconstruir o itinerário na “geração católica” e o itinerário docente
de Medeiros na UFRGS, assim como suas iniciativas de pesquisa e institucionais através de
ampla pesquisa em fontes variadas buscadas no acervo do Instituto Histórico Geográfico do
Rio Grande do Sul (IHGRS), no acervo do Centro de Documentação da Universidade de
Caxias de Sul (CEDOC/ UCS), na biblioteca de Laudelino Medeiros disponível na
Universidade de Caxias do Sul, no acervo do Núcleo de Estudos sobre as Ciências Sociais na
América Latina (CISOAL) da UFRGS, e nos documentos referentes às Ciências Sociais na
UFRGS generosamente concedidos pelas professoras Maria Suzana Soares e Clarissa Baeta
Neves.
A exposição da pesquisa está dividida em duas partes. Na primeira parte à analisada a
relação entre as Elites culturais e políticas, especialmente a católica, com os projetos
universitários no Brasil, primeiramente no plano nacional, e posteriormente no Rio Grande do
Sul. Ainda nessa primeira parte, analisa-se a inserção de Laudelino Medeiros na Geração
Católica e na Universidade Federal. Deste modo, essa parte está dividida em três capítulos.
O primeiro capítulo reconstrói, a partir de dados secundários, o movimento de
renovação católica no Brasil, especialmente as instituições criadas pelo grupo em torno do
18
Centro Dom Vital no Rio de Janeiro, e suas ações em relação ao controle do ensino superior
no Brasil. Baseado em fontes diversas, o segundo capítulo é dedicado à “geração católica”
que conquistou as cátedras da Faculdade de Filosofia da URGS. O terceiro capítulo
concentra-se no itinerário de Laudelino Medeiros, sua origem social, sua formação escolar e
inserção e participação nas atividades do grupo católico, assim como seu referencial teórico
de compreensão do mundo.
A segunda parte buscou reconstituir o itinerário docente de Laudelino Medeiros através
de três capítulos, dispostos da seguinte forma: a docência nas cátedras de Sociologia, as
iniciativas de pesquisas e seu papel na criação e na formação dos especialistas no curso de
Ciências Sociais. O primeiro capítulo, além do reconstruir seu itinerário docente, analisa que
Sociologia ele apresentou como legitima, primeiramente na formação das gerações que
pretendiam ingressar na Universidade no Colégio Universitário, após na Faculdade de
Economia e Administração, e por fim, na formação dos professores na Faculdade de
Filosofia. A partir do seu itinerário docente verifica-se como vai construindo seu grupo tanto
na cátedra de Sociologia da Faculdade de Economia e Administração, como na de Filosofia.
No segundo capítulo mapeia-se as iniciativas de pesquisas desenvolvidas em ambas as
cátedras de Sociologia e as tentativas de promoção, tanto da pesquisa na Universidade, quanto
da Sociologia na sociedade rio-grandense e a relação dessas iniciativas com a necessidade de
formação de especialistas.
No terceiro e último capítulo, reconstitui-se as condições que tornaram possível a
criação do curso de Ciências Sociais e seu desenvolvimento, e o papel de Medeiros nesse
sentido. Analisa-se ainda, a redefinição da Sociologia de Medeiros na formação dos
especialistas e na nova conjuntura política.
Mesmo que essa dissertação não tenha a pretensão de esgotar o tema diante da riqueza
da documentação disponível nos arquivos, depoimentos e literatura, seu recorte analítico e
cronológico pretende trazer uma contribuição aos estudos sobre a institucionalização das
Ciências Sociais no Brasil e na América Latina. Apesar de não analisarmos a fundação e o
posterior processo de autonomização e diferenciação das disciplinas que compõem as
19
Ciências Sociais, assim como a relação com outros centros de produção, certamente, no
futuro, a pesquisa deverá ser ampliada e essas questões aprofundadas.
20
PARTE I: A “GERAÇÃO CATÓLICA” E O PROJETO DE CONQUISTA DA
UNIVERSIDADE PÚBLICA
A Universidade brasileira foi um projeto tardio e “temporão”, ao contrário daquelas
implantados nas colônias ibéricas, que, após a independência foram transformadas em
universidades nacionais e expandidas por todo território (Holanda, 1936; Cunha, 1980). Nesse
contexto, a Universidade de Coimbra teve um papel fundamental na formação da “elite”
imperial brasileira, porque gerou, pela formação escolar, um grupo dirigente homogêneo que
possibilitou a construção de um tipo específico de Estado Nacional e uma tradição
bacharelesca que perdurou por muito tempo na política e na transmissão da cultura brasileira
(Carvalho, 1980, Azevedo, 1943). Assim, até a década de 1930, quando surgem os primeiros
projetos universitários no Brasil, predominou um tipo de ensino superior profissional,
principalmente nas Faculdades de Direito, de Medicina e de Engenharia. Essas Faculdades
profissionais tiveram, até à década de 1930, o papel formador das “elites”, especialmente, a
Faculdade de Direito de São Paulo no plano político (Adorno, 1988) e a de Recife na esfera
cultural e doutrinária ( Bevilaqua, 1977).
Na década de 1930 as primeiras universidades foram criadas por projetos universitários
distintos. Na capital federal houve disputa do projeto da elite liberal com o da católica e no
Rio Grande do Sul o grupo católico teve destacada atuação na conquista de setores da
Universidade do Rio Grande do Sul. Dessa forma, reconstituí-se, nessa parte, a relação entre
elites e projetos universitários no Rio de Janeiro, e perifericamente o caso do Rio Grande do
Sul, do controle da “Geração Católica” sobre a Faculdade de Filosofia e o itinerário nesse
grupo de Laudelino Medeiros, o católico designado para assumir a cátedra de Sociologia na
UFRGS.
1. A RENOVAÇÃO CATÓLICA NO BRASIL E OS PROJETOS UNIVERSITÁRIOS
DA DÉCADA DE 1930
Com o advento da República (1889) e da promulgação da Constituição de 1891, a Igreja
perdeu seu poder político. No novo contexto político as antigas esferas de atuação da Igreja
21
católica foram laicizadas. Esses fatores exigiram do clero um efetivo trabalho apostólico, o
que ficou conhecido como renovação católica no Brasil. Apesar do renascimento católico
tenha sido uma reação à situação de ostracismo político no qual a Igreja encontrava-se no
período da república velha, o período da República não pode ser desconsiderado, uma vez
que com a perda da influência política da Igreja, a primeira estratégia passou a ser a sua
construção institucional e a expansão territorial do laicato, com a organização de novas
Dioceses que investiram na formação e reprodução de quadros eclesiásticos e na formação da
elite política através da expansão das escolas católicas (Miceli, 1988).
Esse esforço na república proporcionou as bases institucionais para que a Igreja
passasse ter visibilidade na sociedade brasileira. Para tanto, teve que impor seu projeto de
sociedade e disputar com outros os projetos de reconstrução nacional que surgiram na década
de 1920, como o Tenentismo, o Partido Comunista, o Modernismo e o Movimento da Escola
Nova. Frente a este contexto novas estratégias imperaram como a criação do Centro Dom
Vital, a revista “A Ordem”, a Liga Eleitoral Católica (LEC), etc. No entanto, na década de
1920 o grande tema que conduziu os embates entre projetos distintos de construção nacional
foi o problema educacional brasileiro. Assim de um lado estava o projeto liberal de Anísio
Teixeira, Fernando Azevedo e Loureiro Filho, e noutro extremo o católico, de D. Leme e
Jackson de Figueiredo, e com a morte do último, de Alceu Amoroso Lima e do Padre Jesuíta
Leonel Franca.
Num primeiro momento essa disputa ocorreu em relação ao ensino primário e
secundário, especialmente no período em que Jackson de Figueiredo dirigiu o Centro Dom
Vital, na luta pela inclusão do ensino religioso nas escolas oficiais. No entanto, com as
sucessivas reformas educacionais do ensino secundário e profissional, elaboradas e
empreendidas pelo grupo dos educadores profissionais em São Paulo (Sampaio Dória, 1920),
Ceará (Lourenço Filho, 1925), Minas Gerais (Francisco Campos, 1927) e Distrito Federal
(Fernando de Azevedo, 1928), a disputa passou a ser a formação das elites através da disputa
pelo controle ideológico dos novos projetos universitários que surgiram na década de 1930,
com a criação das Faculdades de Filosofia.
22
Deste modo, a primeira Universidade criada foi a Universidade de São Paulo (USP) com
a sua Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (1934) seguida pela criação da Universidade
do Distrito Federal (1935), pela Universidade do Brasil com sua Faculdade Nacional de
Filosofia (1937) e na década de 1940 pelas Universidades Católicas. Todavia, o surgimento de
projetos universitários e a concretização deles estiveram intimamente ligados às disputas entre
a elite católica e o grupo liberal e suas relações com o governo, a exceção do caso da USP, a
exemplo da extinção da Universidade do Distrito Federal (UDF), idealizada por Anísio
Teixeira, e a criação da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, sob o
controle católico num primeiro momento. Portanto, demonstra-se às estratégias dos
intelectuais católicos no espaço social, especialmente em relação ao ensino superior no Brasil,
para poder analisar e compreender como esse processo ocorreu no Rio Grande do Sul.
1.1. O Advento da Republica: separação entre a Igreja e Estado e a estratégia dos
intelectuais católicos
Como conseqüência da Revolução Francesa (1789) a Igreja perdeu seus privilégios e seu
espaço político, como também, com a ascensão dos ideais iluministas, contidos no
liberalismo, no racionalismo e no socialismo, viu sua influência ideológica em várias esferas
sociais ser questionada e combatida. Frente às novas ideologias modernas a Igreja lançou a
encíclica de Pio IX, intitulada Syllabus (1864), condenando o individualismo liberal, o
materialismo e o socialismo.
O catolicismo romano ultramontano
3
irradiou-se em vários países com frentes de
combate distintas. Na França, diante da derrocada da Monarquia Absoluta, se constitui, no
século XIX, um “conservadorismo cristão” que geralmente foi definido como um pensamento
“contra-revolucionário” cujas expressões mais conhecidas foram Joseph de Maistre e Louis
de Bonald. Na sua trilogia clássica Nolte (1966: 112) considera que o traço principal desse
conservadorismo católico é “a recusa da Revolução em suas raízes e em todas as suas
manifestações”
4
. Outros intelectuais, tais como o marquês La Tour du Pin, Edouard
Drummont e Maurice Barrès, radicalizaram suas posições. O primeiro pelo retorno nostálgico
aos ideais hierárquicos corporativos da sociedade medieval; o segundo, pelo anti-semitismo
23
radical (La France Juive, 1886) e o ultimo pelo desenvolvimento mais consistente do
nacionalismo de direita francês. Na tipologia de Nolte (1966: 144-157) estes seriam os
representantes do “conservadorismo radical” e, segundo Sternhell (1978), os precursores da
“direita revolucionaria” que entre de 1885-1914 estabeleceram as “origens francesas do
fascismo”.
No final do século, diante da proclamação da Terceira Republica Francesa (1875) após a
queda do Segundo Império com a derrota da Prússia de Bismarck, a Igreja começa a mudar
sua posição visando adaptar-se as novas realidades sociais e políticas. Nesse sentido, o papado
de Papa Leão XIII foi marcante com sua encíclica Rerum Novarum (1891), em que a Igreja
começa posicionar-se diante dos efeitos sociais da Revolução Industrial, especialmente as
condições inumanas do trabalho e a perda da classe operaria com a laicização da sociedade e
o desenvolvimento das idéias socialistas. Ao dialogar com novos tempos buscou reconciliar-
se com a Republica conservadora embora enfrentasse, no final do século XIX, dois sérios
conflitos: na França, o anticlericalismo dos republicanos radicais no poder, impondo o
controle das escolas católicas substituídas por escolas laicas e gratuitas, o que provocou o
êxodo da maior parte das ordens religiosas; na Itália, o conflito entre o Estado Italiano e os
territórios pontifícios do Vaticano que levou ao Papa a proibir os católicos de participarem
das atividades políticas.
A França foi um laboratório intelectual de muitos movimentos radicais que eclodirão no
século XX. Ao lado dos teóricos da contra-revolução francesa, o affaire Dreyfus produz um
conflito que será marcante para os desdobramentos ideológicos direta - esquerda. De um
lado, o famoso “J´Accuse” que coloca os intelectuais pela primeira vez na cena publica em
defesa do oficial judeu acusado de espionagem em favor da Alemanha; e de outro, os
movimentos nacionalistas, anti-semitas que se organizam em torno do processo militar (Ligas
dos Patriotas e da Pátria Francesa), cujos desdobramentos desembocam no movimento mais
importante dirigido por Charles Maurras: a Ação Francesa (AF). Segundo Nolte (1966: 167)
“a historia da Ação Francesa começa com o affaire Dreyfus”. Dessa forma, a contra-
revolução foi defendida teórica e militantemente por católicos reacionários e pelos intelectuais
da AF, cuja ideologia da AF terá uma forte influencia entre os católicos na Europa e na
24
América Latina, com sua posição nacionalista, monarquista, positivista e antiliberal até sua
condenação pelo Vaticano em 1926.
Noutro campo estavam outros teóricos e movimentos que dentro de uma perspectiva de
“catolicismo social” tentavam construir outras respostas aos novos desafios da sociedade
moderna de seu tempo. A Itália foi possivelmente o país que mais absorveu a política social
da Igreja de Leão XIII na luta contra as instituições liberais e em relação à práticas de
proteção ao operariado. Através do professor de economia política José Toniollo iniciou-se a
Democracia Cristã na Itália por meio da União Popular, espécie de embrião do Partido
Popular Italiano, criado em 1919, no qual Luigi Sturzo foi um dos líderes
5
. Ainda que com a
unificação Italiana em 1870, o poder dos Estados Papais tenha terminado, com Pio XI, em
1926, através do acordo de Latrão com Mussolini é restaurada a aliança da Igreja com o
Estado. Portanto, a reação católica na Itália ocorreu ligada à esfera política, ou seja, a Igreja
continuou próxima ao Estado.
A França teve através da ação social do movimento Sillon, liderado por Marc Sangnier,
um movimento católico que se opõe claramente a visão política e religiosa da Action
Française, (polemisando publicamente com Maurras), mas cuja trajetória fez dele um dos
precursores da democracia cristã. Tendo estudado no Colégio Stanislas, ligado a congregação
do Marianistes, em plena Terceira Republica (1879 a 1894) viveu o período em que a Igreja,
sob a inspiração de Leão XIII, vai estimular ao Cardeal Lavigerie à política de Ralliement ao
novo regime republicano através de uma “declaração de respeito pelas instituições francesas
e que contava com a apoio dos religiosos da congregação e do clero católico. O movimento
Sillon se organiza, a partir de 1899, em Círculos de Estudos, depois em Institutos Populares
visando oferecer educação popular e, finalmente, se envolve nas eleições se aproximando da
Democracia Cristã, fundada em 1893
6
. Outra iniciativa na mesma direção foram as Semanas
Sociais de França que surgiram em 1904, por iniciativa de dois católicos laicos (Marius Gonin
e Adéodat Boissard), com o objetivo de difundir o pensamento social da Igreja, adaptando-o
aos problemas do seu tempo para melhorar, sobretudo, a situação operaria denunciada como
inumana pela encíclica Rerum Novarum.. Estava preparado o terreno para o Papa Pio X
instituir a Ação Católica (AC) para a ampliação do laicato e participação dos fieis nos rumos
da Igreja. Instituída em 1922 se organizou em quatro ramos: homens e mulheres com setores
25
de jovens e adultos Na França havia um movimento precursor, Associação Católica de
Juventude Francesa (ACJF) criada, em 1866, por Albert de Mun, que depois deu origem a
setores especializados autônomos (JOC, JAC, JEC, JMC, JIC). Em 1938, o Papa cria um
órgão central de coordenação da AC e a ACJF foi dissolvida em 1956
7
.
A Alemanha, após a Reforma Protestante, a luta contra a modernidade, ocorreu através
da atuação dos militantes do Partido do Centro (Partido Católico) no Parlamento, e
radicalizou-se com a expulsão dos Jesuítas pelo Império Germânico. No entanto, a
representação social do Partido não se alterou e Bismarck acabou aliando-se a Igreja.
Observa-se, porem, que exceto na Holanda, os começos da Democracia Cristã, de 1820 a
1880, foram essencialmente católicos. No entanto, desde 1880 a 1940, um país atrás do outro,
começam a seguir a rota dos católicos e de seus correligionários na Holanda, sobretudo na
Alemanha, nação com a maior população protestante. Foi somente em 1878, que Adolf
Stocker (ex-capelão militar protestante de Berlim) tomou a iniciativa de fundar um
“movimento político social cristão, com um programa de reforma social através da
intervenção estatal” (Forgaty, 1964: 303-305). Este movimento depois se articulou com o
“movimento operário evangélico”, dirigido pelo pastor Weber, de Munique, que se aproxima
também do Movimento Católico dos Trabalhadores
8
.
Neste contexto de transformações profundas nas relações entre o Estado, a Igreja e as
sociedades européias em mutação é que se pode compreender o significado das novas relações
entre a Igreja e o Estado no Brasil que, após as tensões da “questão religiosa” no fim do
Império, se agonizaram com a proclamação da Republica, obrigando os católicos a reverem
sua estratégia para assegurar a defesa de seus interesses institucionais e espirituais. Assim, no
Brasil, com a implantação da República, em 1889, foi rompido o regime de padroado entre a
Igreja e o Estado. Embora houvesse essa relação com o Estado, a Igreja não se constituía
como um poder político e popular, porque mesmo a Questão Religiosa, na qual envolveu
Dom Vital e Dom Macedo Costa, não gerou cisões na relação com o Império e muito menos
teve apoio popular (Oliveira, P, 1985). Foi a partir desse quadro, e da perda do espaço
institucional da Igreja com o advento da República, que Dom Leme, Arcebispo de Olinda e
Recife, elaborou e publicou sua famosa Carta Pastoral de 1916. Nela, constatou que apesar do
Brasil ser um país essencialmente católico, a população vivia numa situação de ignorância
26
religiosa e por isso a Igreja deveria intensificar a doutrinação através da cooptação de
intelectuais para a irradiação da obra do apostolado através da ampliação do laicato. (Dias,
1996, Mainwaring, 2004)
Dois anos após a Carta Pastoral de Dom Leme, o jovem sergipano bacharel em Direito
Jackson de Figueiredo, após curar-se da gripe espanhola converteu-se ao catolicismo romano.
Assim, quando D. Leme é transferido para a Arquidiocese do Rio de Janeiro, em 1921,
encontrou o recém-convertido Figueiredo e começaram a orientar a reação católica através da
fundação do Centro Dom Vital (1922) e da revista “A Ordem” (1921). Nos escritos do
Episcopado nesse período, especialmente os de Dom Leme, e nos de Jackson Figueiredo,
Romualdo Dias (1996) identificou a influencia dos documentos pontifícios, quanto da ação
francesa contra revolucionária. Nesse sentido, apontou a influência das encíclicas de
combate à modernidade e dos teóricos que criticavam a Revolução francesa e buscavam a
volta da cristianidade medieval. Nessa perspectiva, além de um nacionalismo exagerado, viam
os regimes liberais-democráticos como perigos à ordem natural do mundo e sua hierarquia,
além de serem uma fase para a implantação do Estado Comunista.
Assim, Jackson de Figueiredo, Dom Leme e seu grupo em torno do Centro Dom Vital
buscaram combater o liberalismo político através da recristianização da sociedade brasileira.
Para tanto, “o episcopado deveria contar com a contribuição de uma elite capaz de entender a
doutrina, compreender o mal da sociedade moderna e defender entre as massas o princípio de
autoridade” (Dias, 1996: 78). O primeiro investimento de doutrinação nesse sentido foi, além
do Centro Dom Vital, a Revista A Ordem. Nela, reproduziram a autoridade e hierarquia do
movimento católico, e buscaram, além de mobilizar as elites, estabelecer um dialogo entre o
catolicismo e a cultura brasileira.
Apesar, desse primeiro momento os católicos do Centro Dom Vital terem manifestado
uma preocupação com a formação de uma Universidade Católica, que pudesse recrutar e
socializar as elites de acordo com os princípios cristãos, e reproduzir, através de uma
Faculdade de Filosofia, o conhecimento escolástico e neotomista, não houve nenhum
empenho para a criação de um centro de cultura superior, isso ocorreu quando Alceu
Amoroso Lima assumiu a liderança do movimento, em 1928, com a criação da Associação
27
dos Universitários Católicos, em 1929, e com o Instituto Católico de Estudos Superiores, em
1932. Portanto, num primeiro momento a militância católica girou apenas em torno da
inclusão do ensino religioso nas escolas oficiais, uma vez que, na carta de Dom Leme, datada
de 1916, o grande motivo do laicização nacional foi à falta de instrução dos brasileiros
(Salem, 1982).
Alceu Amoroso Lima assumiu o Centro Dom Vital em 1928, após a morte de Jackson
de Figueiredo. Ao contrário de Figueiredo, tanto na origem social quanto na formação escolar,
o crítico literário Tristão de Athayde, educado entre a França e o Brasil, demorou dez anos
para converter-se. No entanto, nos primeiros anos de conversão Amoroso seguiu os ditames e
o radicalismo político de Figueiredo, mas posteriormente sofreu a influência do também
convertido Jacques Maritain, em meados de 1938 e inclinou-se pelo ideal da democracia
cristã, do humanismo integral e pelo comprometimento com as reformas sociais (Mainwaring,
2004). Mesmo que mude sua orientação, nos primeiros tempos à frente do Centro Dom Vital
seguiu a direção anterior de cooptação de intelectuais e a missão de recristianizar o Brasil,
além de manter a concepção de Igreja hierárquica, mas com uma visão mais ambiciosa e
abrangente. Inclusive na revista A Ordem, sob a direção de Amoroso, os temas passaram da
afirmação da disciplina, da ordem e da autoridade aos temas das correntes neotomistas
dispostas a dialogar com a modernidade (Dias, 1996).
Contando com a assistência espiritual do Padre Jesuíta Leonel Franca
9
em todas as
organizações do laicato incentivadas por Dom Leme, Amoroso buscou combater a crise do
mundo moderno através da formação das consciências para mudar as instituições modernas.
Isso pode ser verificado na expansão de Centros similares ao Dom Vital em várias cidades
brasileiras na década de 1930, na ampliação de intelectuais ligados ao movimento, além do
sucesso de público nas conferencias e cursos de Filosofia, Sociologia e religião ministrados
no Centro Dom Vital. Esses investimentos que buscavam a formação de consciências
ocorreram no contexto Revolução de 30, na qual a Igreja converteu-se numa força social para
a legitimação do novo arranjo no poder e a questão educacional configurou-se como um
elemento de barganha que reaproximou a Igreja do Estado.
28
No entanto, as propostas educacionais do laicato em torno do Centro Dom Vital
divergiram de outras como as dos educadores profissionais (Anísio Teixeira, Loureiro Filho,
Fernando Azevedo, entre outros) que estavam, desde a década de 1920, implantando reformas
educacionais em certos Estados da federação, como São Paulo, Ceara e Rio de Janeiro, Minas
Gerais e Paraná. Ainda que o governo provisório tenha cooptado os intelectuais liberais e
autoritários através dos cargos na burocracia estatal
10
, a indefinição de uma política
educacional nacional levou ambos os grupos a definirem sua ação perante o governo,
especialmente após a reforma da educação de Francisco Campos, em 1931. De um lado, os
católicos empolgados com a inclusão do ensino religioso facultativo na reforma educacional
de Francisco Campos em Minas Gerais, mobilizaram-se pela aprovação dessa emenda na
constituinte de 1934, e por outro lado o grupo dos educadores profissionais, influenciados
pelos ideais da Escola Nova ou progressista do filósofo e pedagogo John Dewey,
especialmente Anísio Teixeira, pretenderam elaborar, através dos congressos da Associação
Brasileira de Educação (ABE), a política educacional nacional. Em relação às iniciativas do
grupo dos educadores profissionais, o movimento católico fundou a Associação dos
professores católicos, em 1931, por Everaldo Beckhauser e Pe. Franca, visando formular
políticas educacionais, uma vez que na concepção católica a família e a religião deveriam
controlar o ensino oficial, não o Estado, e, em 1933, essa organização passou a ser organizada
nacionalmente com a criação da Associação Católica de Educação.
Embora os congressos dos católicos não tivessem tido o vulto dos da ABE, eles
definiram o meio de operar suas reivindicações: a Liga Eleitoral Católica. Deste modo, o
grupo católico nacionalmente ingressou na esfera eleitoral, para que suas demandas,
principalmente a da inserção do ensino religioso nas escolas oficiais, fossem contempladas na
Constituição de 1934. Esse fato é paradoxal, porque ao mesmo tempo em que estavam ligados
ao governo provisório, autoritário, queriam ver suas demandas contempladas numa
constituição liberal. Assim, queriam um governo forte e centralizado, mas desejavam alcançar
isso pela via constituinte, e nesse sentido, estavam defendendo os mesmos objetivos de
movimentos distintos do seu, como o Tenentismo. No entanto, apesar do caráter contraditório
da atuação católica nesse período, a Carta Constitucional revelou-se numa oportunidade ímpar
de reformular o estatuto da Igreja e do Catolicismo frente à sociedade brasileira e ao Estado,
ou seja, uma via de “recristianizar” o Brasil.
29
A LEC foi criada por Dom Leme e Alceu Amoroso Lima em 1932. Organizou-se
nacionalmente através de quatro juntas: a nacional, coordenada pelo Centro Dom Vital, as
estaduais pelas Dioceses, e as regionais e locais, nas quais os padres tinham por função
arregimentar os eleitores católicos. Os católicos buscavam, através dessa organização
apartidária, que fosse incluído nas constituições estaduais e nacionais as seguintes emendas:
1) Que a Constituição fosse consagrada em nome de Deus, 2) a defesa da indissolubilidade do
matrimônio, 3) a inclusão do ensino religioso nas escolas públicas tanto primárias quanto
secundárias; 4) que as forças armadas, as prisões e os hospitais contassem com assistência
religiosa oficial. Dentre essas demandas do grupo católico foi incorporada à emenda do
ensino religioso facultativo na Constituição de 1934. Nesse momento, a ação do grupo
católico em relação ao ensino primário encerrou-se e passaram à luta pela educação superior.
De acordo com Villaça (1977) quando a luta passou da esfera política para a
universitária é que começou a fase cultural do movimento católico. Essa fase foi marcada pela
ampla formação intelectual do crítico literário Alceu Amoroso Lima, uma vez que suas obras
abrangeram todos os setores da cultura. Desta maneira:
“A ambição de Alceu Amoroso Lima, depois de convertido, parece que foi à de
oferecer às novas gerações, às elites universitárias, uma ‘Suma’ contra gentes
tropicais, uma série de introduções aos diferentes setores da cultura universitária”,
com o objetivo de “renovar a nossa atmosfera cultural, impregnada de naturalismo,
de relativismo, de cientificismo” (VILLAÇA, 1977: 110).
Com esta orientação Amoroso Lima publicou “Problemas da Burguesia” (1931),
“Preparação à Sociologia” (1932), “Introdução ao Direito Moderno” (1932) e “Política”
(1932). Portanto, é a partir de Alceu Amoroso Lima, no Centro Dom Vital e na Revista “A
ordem”, e de seus empreendimentos culturais, institucionais, que o movimento dirigiu-se à
esfera universitária
11
. Seguindo esse objetivo o grupo católico criou a Associação dos
Universitários Católicos do Rio de Janeiro, em 1929, na secção juvenil do Centro Dom Vital.
Essa associação teve como propósito completar a instrução e a educação religiosa de seus
membros, mas acabou constituindo-se “numa liga de combate à infiltração comunista nas
faculdades” (Salem, 1982: 19). Isso ocorreu porque os católicos não viam com bons olhos o
ensino superior brasileiro, considerado tecnicista e profissionalizante, e desta forma, na
30
ausência de uma Universidade Católica, pretenderam formar as novas camadas dirigentes do
país através das atividades da associação dos universitários católicos.
Em 1935 a associação tornou-se a Juventude Universitária católica (JUC) ou Ação
Universitária Católica (AUC), que foi, conforme Salem (1982: 19) “a primeira tentativa da
Igreja em cooptar, para o seu seio, as futuras elites dirigentes da nação, representadas pelos
universitários”. Os universitários ao passarem pela AUC, onde estavam subordinados à
hierarquia católica, além de “submissos à autoridade Diocesana” deveriam “aderir às
determinações da Santa e se comprometer com a disciplina associativa”, e após saírem da
Universidade, habituados com a disciplina e hierarquia da Igreja na AUC, poderiam
associar-se ao Centro Dom Vital, e, portanto, fazerem parte da elite católica (Dias, 1996: 99).
Em 1932, foi instituído o Instituto Católico de Estudos Superiores que deu ênfase a
formação na área de humanidades, suprindo um vácuo da formação universitária carioca. A
proeminência da formação humanística ocorreu porque a Reforma do Ensino Superior de
1931 não organizou a concepção católica de Universidade. Esta reforma instituiu um estatuto
para a organização administrativa e didática das Universidades brasileiras, ou seja, definiu as
regras para o desenvolvimento das Universidades privadas e públicas. Apesar de ter ligações
com o movimento católico, Francisco Campos, mentor da Reforma, não os convenceu com
uma idéia de função cultural tão abrangente da Universidade, a qual deveria “elevar o nível da
cultura geral, estimular a investigação científica em quaisquer domínios dos conhecimentos
humanos, habilitar ao exercício de atividades que requerem preparo técnico e científico
superior” (Fávero, 2000: 23). Como também, considerava como Universidades às instituições
que incorporassem apenas três institutos de ensino superior e desta maneira, não fez
referencia à Filosofia, que era a faculdade considerada pelos católicos como essencial. Assim,
a Igreja excluída do domínio e da organização do ensino superior oficial criou o instituto
Católico de Estudos como um projeto embrionário da Universidade Católica, que: “pretendia
se integrar no movimento internacional de renascimento filosófico católico, e
concomitantemente, como um modelo alternativo de organização universitária no Brasil”
(Salem, 1982: 127).
31
Seguindo os preceitos da renovação filosófica católica no plano internacional os cursos
do Instituto Católico de Estudos Superiores dividiam-se em três disciplinas consideradas
obrigatórias: a Sociologia, a Filosofia e a Teologia. Para dar conta da ênfase nos estudos
morais o quadro docente foi composto por Alceu Amoroso Lima, na secção de estudos morais
e políticos, Romeu Rodrigues da Silva, em Economia Política, L.A Rego Monteiro, em
Sociologia; Hélder Câmara, em pedagogia experimental, Theobaldo Miranda dos Santos, em
pedagogia geral, Eremildo Luiz Vianna, em História da Civilização; e Hamilton Nogueira em
Biologia e Antropologia. Mesmo que o grupo católico crie sua Faculdade Católica em
1941, e o Instituto tenha sido seu projeto embrionário, durante esse intervalo de nove anos do
Instituto até a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, seus membros exerceram
pressão para dominarem o sistema público de ensino superior, especialmente durante o
período da gestão de Gustavo Capanema no Ministério da Educação e Saúde (1934- 45),
que projetavam garantir o espaço universitário para a Igreja e exercer controle hegemônico na
Universidade pública (Almeida, 2001).
Isso ocorreu porque, embora o autoritarismo prevalecesse no governo central, nos
Estados São Paulo e no Rio de Janeiro dominavam às idéias liberais, a exemplo da criação
Escola livre de Sociologia e Política (ELSP), em 1933, da Universidade de São Paulo (USP),
em 1934, e da Universidade do Distrito Federal (UDF), em 1935. Deste modo, além do
projeto nacional-autoritário do grupo católico, os projetos de ensino superior do grupo liberal
podem ser divididos em dois, a visão liberal –elitista de Fernando de Azevedo, objetivada na
criação da USP, e o ideal liberal- igualitarista de Anísio Teixeira vislumbrado na organização
da UDF (Cunha, 1980).
1.2. A "laica" Universidade do Distrito Federal e a pressão da Igreja sobre o Governo
Vargas
O projeto educacional de Anísio Teixeira, fundador da UDF, diferiu-se daquele de São
Paulo, a USP, criada um ano antes, em 1934, por contemplar todos os níveis de ensino no seu
ideário, não apenas formação das elites. Inclusive nos discursos e estatutos da UDF a
32
formação de elites ou das classes dirigentes não é considerada, por isso seu projeto é
considerado liberal - igualitarista (Cunha, 1980). A nova Universidade foi criada no centro
das contradições entre o Estado Nacional e os interesses regionais e municipais. O UDF,
instituição municipal, foi criada pelo decreto nº. 5.513 do presidente Vargas, em 1935, após a
expressiva vitória eleitoral do antigo interventor do Distrito Federal Pedro Ernesto nas
eleições municipais do Rio de Janeiro (Vicenzi, 1986)
A UDF foi à última instituição prevista na Reforma Educacional desenvolvida no
Distrito Federal, entre 1931 à 1935, por Anísio Teixeira, então Diretor de Instrução, que teve
como objetivo a integração das diferentes níveis de ensino. O fato da administração de Pedro
Ernesto, além de possuir uma base popular de sustentação, revelar uma preocupação com a
fundamentação científica de seus projetos políticos e buscar conciliar os interesses das classes
populares, intelectuais e políticas estava em sintonia com o projeto liberal de Anísio Teixeira
e com sua concepção de política educacional (Meucci, 2006).
Assim, nesse contexto, a UDF foi criada um ano após a USP, ambas com uma estrutura
diferenciada das escolas superiores existentes, com a incorporação da Faculdade de Filosofia
Ciências e Letras, conforme o relato do idealizador e fundador da UDF, Anísio Teixeira
(1998: 163):
“As primeiras escolas do tipo, no Rio (Universidade do Distrito Federal) e em São
Paulo (Universidade de São Paulo), trouxeram da Europa missões de professores
estrangeiros para implantá-las. Representavam real acréscimo ao ensino superior
então no País e tinham o propósito de se fazerem escolas centrais da Universidade,
ministrando os cursos básicos propedêuticos aos cursos das Escolas propriamente
profissionais de Medicina, Direito e Engenharia, e depois, a especialização literária,
científica e filosófica (....) Somente em 1934 e 1935, o Distrito Federal e o Estado
de São Paulo lançam as bases de uma Universidade com maior integração”
Mesmo que a UDF contasse com uma Faculdade de Filosofia e Letras o Instituto de
Educação foi considerado a unidade central da nova Universidade, porque deveria qualificar
o corpo docente das redes de ensino municipais para seu projeto educacional democratizante.
Além do Instituto o projeto da Universidade contava com um conjunto de escolas de Ciências,
de Economia, de Filosofia e Letras, e de um Instituto de Artes (Vicenzi, 1986). Para tanto,
assim como a experiência da USP, vieram professores franceses, como Emílie Brehier
(Filosofia), Eugene Alberti, Henri Hauser e Henri Tronco (História), Gaston Léduc
33
(Lingüística), René Robert Garit (Literatura), além de professores que estavam na USP e na
ELSP, como Donald Pierson, Robert Park e Pierre Deffontaines. No entanto, ao contrário das
Instituições paulistas, os docentes majoritários foram os brasileiros, como Hermes Lima,
Mário de Andrade, Cecília Meirelles, Heitor Villa- Lobos, Portinari, Josué de Castro,
Lourenço Filho, Sérgio Buarque de Holanda, Arthur Ramos, Gilberto Freyre, entre outros.
(Schwartzman, 2000). No entanto, ainda que tenha tido semelhanças em sua concepção com
a USP, a UDF não teve a mesma rede de apoio. Nesse sentido argumenta Almeida (2001:
234):
“A instituição paulista foi percebida, pelas elites locais, como parte de um projeto
de redenção política através da afirmação cultural paulista. E como tal, legitimou-se
e pôde ficar relativamente ao abrigo de tempestades políticas. a UDF não contou
com o mesmo tipo de escora social no momento que foi sacudida pela reverberação
do processo de radicalização política de meados da década de 30.”
Desta maneira, desde a sua fundação, em 1935, Pedro Ernesto e Anísio Teixeira,
sofreram as pressões da Igreja através do ministro da educação e saúde Gustavo Capanema
que alegava que a UDF não obedecia aos padrões da reforma de 1931, e nem da Constituição
de 1934. Para Capanema a criação de uma Universidade nacional consistia num projeto de
formar e aparelhar a elite que iria dirigir a nação, e, portanto, à preparação das elites estava
acima do ideal da alfabetização das massas e, assim, para a concretização do projeto de
Capanema a UDF foi desfeita.
Juntamente com a posição de Capanema e a reação católica contra a UDF, o Estado
Novo foi instaurado após a insurreição da Aliança Nacional Libertadora. Consequentemente
Anísio foi destituído do Departamento Municipal de Educação do Distrito Federal como
também vários professores são afastados da Universidade. A reitoria passou a Afonso Pena Jr.
no lugar de Afrânio Peixoto. Em 1937, a reitoria é exercida por Alceu Amoroso Lima. Em
1939 a UDF é finalmente extinta pela alegação de inconstitucionalidade, porque um prefeito
não poderia criar uma Universidade municipal e de que a UDF não possuía todos os institutos
previstos em lei. Com efeito, conforme Almeida (2001: 234) tratou-se de “liquidar no
nascedouro um projeto universitário leigo, estatizante, racionalista e perigosamente propenso
à contaminação marxista”. Deste modo, os cursos da UDF são incorporados à Universidade
Federal. E em 1939, o presidente assina o decreto que criou a Faculdade Nacional de Filosofia
como um modelo para todas as Universidades do país.
34
1.3. Os intelectuais católicos e o controle sobre a Faculdade Nacional de Filosofia da
Universidade do Brasil
A Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil foi criada nos moldes da FFCL da
USP, mas sob a tutela federal e com o controle doutrinário da Igreja Católica. De fato, a igreja
teve uma posição privilegiada na organização da Faculdade Nacional de Filosofia através da
relação de Alceu Amoroso Lima com o Ministro Capanema. No entanto, na Faculdade de
Direito o grupo católico não teve o mesmo prestígio, porque Alceu Amoroso Lima não foi
aprovado nos dois concursos que prestou. O primeiro foi para a cátedra de Economia Política,
que foi aprovado Leônidas de Rezende, e o segundo para a de Introdução à Ciência do
Direito, a qual ficou com Hermes Lima. Portanto, na nova Universidade, o espaço de atuação
do grupo católico esteve circunscrito apenas à Faculdade Nacional de Filosofia (Oliveira, L,
1995).
Apesar de Amoroso Lima não ter aceitado a direção da nova faculdade, atribuindo sua
recusa à incorporação dos professores e alunos da UDF, influenciou na escolha do corpo
docente e sugeriu a indicação do integralista Francisco San Thiago Dantas para a Direção da
Faculdade. O quadro docente foi organizado pelo Ministro Capanema através: 1) da indicação
do presidente; 2) da indicação de professores franceses católicos pela embaixada francesa e
por George Dumas; 3) dos professores da UDF; 4) dos pedidos dos próprios docentes; 5) das
indicações de Alceu Amoroso Lima, Heloísa Alberto Torres, Raul Leitão Cunha (Reitor), e de
outros (Oliveira, L; 1995).
Getúlio Vargas autorizou a contratação de quinze professores estrangeiros para a
Faculdade, entre Italianos e franceses. Os Italianos vieram pela via administrativa através de
negociações de Getúlio Vargas com a embaixada para as cátedras de Ciências Exatas (Silva,
2002). No caso dos franceses contratados por Gustavo Capanema para a área de humanidades,
além da contratação pela via oficial, foram escolhidos pela sua orientação religiosa e
ideológica, visto que deveriam seguir a direção pedagógica da Faculdade. Então para a área
de humanidades vieram os franceses Poirier (Filosofia), Ombredonne (Psicologia), Jacques
35
Lambert (Sociologia), Strowsk (Literatura Francesa), André Gros (Política), Gilbert
(Geografia Humana), Antoine Bom (História antiga e medieval), entre outros (Schwartman,
2000).
De outro modo, por indicação presidencial incorporaram-se à Faculdade Nacional de
Filosofia (FNF) o professor de Sociologia do Colégio Pedro II Delgado de Carvalho, para a
cadeira de Geografia do Brasil, Alcides Gentil foi designado para substituir Carvalho no
colégio Pedro II, Almir Andrade indicado como professor auxiliar e Vitor Nunes Leal
assumiu interinamente a cátedra de André Gros na Política. Alceu Amoroso Lima indicou
os professores do Instituto Católico de Estudos Superiores Heremildo Luiz Viana para a
Cátedra de História Medieval, Romeu Rodrigues para a de Economia Política e Silvio
Edmundo Elia que assumiu a de Filologia. Os outros indicados por Alceu foi o filósofo
Álvaro Vieira Pinto, católico, que havia passado pela Ação Integralista Brasileira (AIB),
ficando com a docência da cadeira de História da Filosofia e Hildebrando Leal para a Cátedra
de Sociologia. Em relação a este último foi primeiramente nomeado como assistente de
Jacques Lambert, assim como foi o caso de Costa Pinto, e com a saída de Lambert ambos
tornaram-se catedráticos, sem concurso. O resto das indicações, conforme mostrou Lucia Lipp
Oliveira (1995), foram da diretora do Museu Nacional Heloísa Alberto Torres, e do Reitor,
além da incorporação do corpo docente da UDF.
Após 1939, Alceu Amoroso afasta-se das ingerências políticas da contratação de novos
professores, mas continuou na cátedra de Literatura Brasileira. Conforme Schwartzman
(2000) isso ocorreu porque a igreja havia desistido de assumir a Universidade Pública e
começava a organizar a sua própria Universidade, a Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro (1941). Tudo isso revelou a complexa relação entre a política e a Faculdade
Nacional de Filosofia, ou seja, entre a relação da política com o desenvolvimento universitário
carioca (Oliveira, L, 1995). Relação clara na própria lei que criou a Universidade do Brasil, de
número 452, especialmente no artigo 27, o qual determinava que tanto o Reitor como os
“diretores dos estabelecimentos de ensino seriam escolhidos pelo presidente da República,
dentre os respectivos catedráticos e nomeados em comissões” (Fávero, 1999: 25.) Portanto, ao
tornar a Universidade do Brasil o padrão para todas as Universidades brasileiras, muitas
dessas relações, dada às devidas proporções e especificidades regionais, foram reproduzidas.
36
2. OS CATÓLICOS E O ENSINO SUPERIOR NO RIO GRANDE DO SUL
A universidade do Rio Grande do Sul, ao contrário de outras universidades brasileiras
não foi “criada a partir de arranjos regionais intra-elites e da ação de seus representantes junto
Ministério de Educação e ao Congresso” (Trindade, H. 2006: 83). Sem entrar em detalhes, de
modo geral, a Universidade de Porto Alegre foi instituída pela junção das Faculdades de
Direito, de Medicina com a Universidade Técnica. Essas instituições de ensino superior no
Rio Grande do Sul foram criadas a partir de iniciativas de particulares após a Constituição de
1891, de orientação positivista, a qual preconiza a liberdade de ensino e profissional.
A primeira instituição criada foi a Escola Livre de Farmácia e Química Industrial de
Porto Alegre, idealizada e fundada por um grupo de farmacêuticos liderados por Alfredo Leal,
em 1892. Em 1897 foi criado o curso de Partos, e assim, um ano após, os dois cursos juntam-
se dando origem a Escola Livre de Medicina e Farmácia de Porto Alegre, sendo a primeira
escola de medicina não oficial fundada no Brasil. Sua instituição ocorreu no contexto do
exercício profissional não regulamentado pelo governo, o que, como demonstram os trabalhos
de Costa Franco (1978) e de Beatriz Weber (1999), fez com que médicos e professores
ligados ao PRR tomassem posições divergentes da orientação constitucional vigente do
governo positivista. Frente a essa situação, em busca do reconhecimento profissional pelo
Estado, a Escola Livre de Medicina buscou sua equiparação às escolas federais, sendo
reconhecida em 1900. Logo, em relação às outras escolas, sobretudo a de Engenharia, a
Faculdade de Medicina foi a mais afastada do governo. Além que ela foi à primeira instituição
a ser federalizada, em 1931, o que dificultou a sua incorporação a Universidade estadual.
A Escola Livre de Engenharia teve um percurso oposto à de Medicina, uma vez que seus
objetivos estavam em sintonia com a Carta Constitucional Estadual e com os preceitos do
PRR. Foi idealizada e estruturada, em 1896, por um grupo de engenheiros militares,
professores da Escola Militar de Porto Alegre, como: João Simplício Alves de Carvalho, João
Vespúcio de Abreu e Silva, Juvenal Octaviano Muller e Lino Carneiro da Fontoura,
juntamente com os engenheiros civis: Gregório Paiva Meira e Álvaro Nunes Pereira, todos
ligados às concepções positivistas de ensino. Desta maneira, a Escola de Engenharia pode ser
37
considerada, ao incorporar, além da formação superior e secundária, o ensino primário
profissionalizante, uma escola de preparação de quadros técnicos para o governo, porque seus
fins práticos estavam em consonância com os ideais da sociedade agropecuária gaúcha e com
o processo de urbanização do Rio Grande do Sul (Diniz, 1992).
Com uma estrutura de ensino composta de onze institutos de ensino seus idealizadores
não buscaram a equiparação com a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, uma vez que seus
objetivos e estrutura diferiram daquela instituição inspirada na École Polytechnique
parisiense. Os modelos de escolas que influenciaram a constituição da futura Universidade
Técnica (1931) foram buscados nos EUA e na Alemanha. Nesse sentido, após o deputado do
PRR João Simplício Alves, fundador da Escola, ter se proclamado presidente vitalício da
instituição em 1922:
“A Escola de Engenharia passou a ter lugar destacado entre as grandes escolas do
Brasil, adquirindo as linhas modernas das Universidades Européias e norte-
americanas e introduzindo o ensino tecnológico no Estado, através dos cursos de
engenharia civil, eletrotécnica, mecânica e química, agronomia e veterinária,
agricultura e zoologia, etc. ( GONÇALVES NETTO, 1987: 19)
Portanto, a Universidade Técnica, foi uma das instituições mais importantes na
modernização tecnológica do Estado, assim como no desenvolvimento científico
12
, embora
não tenha sido seu objetivo imediato. Por outro lado, a formação das elites políticas rio-
grandenses coube a Faculdade Livre de Direito, fundada em 1900, e equiparada às escolas
federais em 1903. Nesse sentido, a própria trajetória das gerações egressas da Faculdade de
Direito, sugere profundamente que essa escola tenha, através da reprodução das teorias
vigentes, legitimado e dado prosseguimento a ditadura castilhista, além, é claro, do seu papel
formador dos quadros dirigentes (Grijo, 2005).
Foi anexa à Faculdade de Direito a Escola de Comércio
13
, criada em 1909, embrião da
Faculdade de Economia e Administração, que apenas surgiu em 1945. A Escola de Comércio
foi idealizada e fundada por um grupo de professores da Escola de Direito, entre os quais
desembargador Manuel André da Rocha. Nos primeiros tempos a Escola funcionou nos
porões da Faculdade de Direito e oferecia o curso geral que habilitava para a profissão de
guarda-livros, perito judicial, e após a conclusão deste curso os alunos ingressavam no curso
superior, o qual formava profissionais com conhecimentos atuariais e contábeis para atuarem
em empresas privadas e/ou públicas
14
.
38
É a partir desse panorama que se projetou à criação da Universidade do Rio Grande do
Sul, em 1934, no entanto, ao juntar instituições com tradições distintas de ensino superior,
com a finalidade de estruturar a universidade com todos os órgãos previstos em lei, como a
Faculdade de Filosofia e a de Administração e Economia, sem ter sido um projeto
universitário definido pelas elites gaúchas, a nova instituição demorou a funcionar, uma vez
que o relacionamento com o governo do Estado foi conflituoso, como mostrou com detalhes o
estudo de Diniz e Soares (1992). E deste modo, conseqüentemente houve disputa pelo
controle do ensino superior.
É neste contexto que a chamada geração católica imprimirá seu projeto a nova faculdade
de Filosofia. Desta forma, neste capítulo analisa-se como o grupo católico foi inserindo-se no
controle do ensino superior e busca-se compreender qual foi seu projeto específico para a
Faculdade de Filosofia e a sua relação com a institucionalização tardia de certas áreas de
conhecimento científico, a exemplo das Ciências Sociais.
2.1. A “ geração católica” e as estratégias de conquista no espaço universitário
A relação entre o laicato católico e a Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS) foi
uma estratégia de conquista historicamente construída, que começou com a formação
intelectual das gerações católicas. Nesse sentido, Fernando Trindade (1982) situou essa
relação cronologicamente. Conforme o autor citado a ascensão ideológica da geração católica
no Rio Grande do Sul começou quando Dom João Becker assumiu a Arquidiocese de Porto
Alegre, em 1912, e declinou quando Armando Câmara renunciou ao Senado na década de
1950. Como a influência “positivista” na sociedade política rio-grandense perdurou do fim do
século XIX até meados da década de 1940
15
, poder-se-ia inferir que a ascensão do grupo
católico fez parte da reação mais ampla posterior a separação da Igreja e do Estado,
rompendo com o regime de Padroado do Império e sob a pressão ideológica dos positivistas
após a Constituição de 1891. De fato, a Igreja nacionalmente passava por uma situação de
marginalização e buscara organizar o seu laicato através da Ação Católica para agir como um
grupo de pressão junto ao Estado (Villaça, 1977; Salem, 1982) No entanto, a relação da
39
arquidiocese de Porto Alegre, liderada por D. João Becker, e do catolicismo com a política
republicana rio-grandense, e depois com Getúlio Vargas no plano nacional, não foi
conflituosa, ao contrário, a Igreja foi beneficiada pela Constituição rio-grandense na qual o
Estado ausentou-se do controle ideológico do ensino secundário, o que possibilitou a
ampliação da rede de escolas católicas e a formação do novo laicato (Isaia, 1998).
Dessa forma, a expansão do ensino católico favoreceu o surgimento de um grupo coeso
intelectualmente, que pode ser considerado produto de uma escola de pensamento e de
formação dos corpos, no sentido atribuído por Pierre Bourdieu (1989), empreendida pelos
jesuítas, principalmente através do Ginásio Anchieta e do papel formador do jesuíta Padre
Werner von und zur Mühlen. Portanto, a particularidade da “geração católica” dos anos 1920
à 1960 que vai conquistar as cátedras da Faculdade de Filosofia foi o investimento
educacional de uma ordem específica da Igreja, os Jesuítas
16
. Porém, as estratégias
educacionais da igreja no Rio Grande do Sul, especialmente nas colônias, datam do início da
imigração. A distinção do empreendimento dos jesuítas foi à incorporação da capital do
estado nesse investimento educacional, e assim, “a principal novidade, além dos
deslocamentos geográficos, está no público visado, que não se restringe mais aos seminários
ou à educação formal no âmbito das colônias, mas volta-se especificamente para as elites
estaduais concentradas na capital”, o que tem como conseqüência que a “geração católica” é
“social e etnicamente heterogênea” em relação às outras gerações originárias da colônia
17
(Coradini, 2003: 138).
Por outro lado, se o castilhismo não teve confronto com a Igreja, até mesmo
convergiram no ideal de regenerar a sociedade porque as “gerações católicas” que
conquistaram os espaços na esfera universitária reagiram contra o positivismo no espaço
cultural rio grandense?
“Se a experiência castilhista de governo, apesar de embasada filosoficamente no
comtismo, coexista amigavelmente com a Igreja, a ambientação cultural, longe
estava de manifestar a primazia da Igreja. Entre a intelectualidade, ao lado do
positivismo comtista predominante, divulgavam-se idéias embasadas pelo
materialista e pelo evolucionismo” (ISAIA, 1998: 116).
Desta maneira, os referenciais de luta do grupo católicos no espaço universitário rio-
grandense foram os diversos cientificismos difundidos nas Faculdades existentes. Isso não
40
significa que foi uma ação isolada, relacionada apenas à esfera universitária, pelo contrário, a
geração católica atuou em vários espaços sociais, por um lado, seguindo a orientação dos
católicos organizados na capital federal, e por outro se defrontando em sua missão de
recristianização da sociedade com as próprias especificidades regionais. Embora não seja o
objetivo da pesquisa reconstruir todas as esferas de atuação da geração católica, centra-se a
análise no grupo que dominará a Faculdade de Filosofia e busca-se apreender qual foi o
projeto subjacente dessa elite em relação à Universidade do Rio Grande do Sul, e que
conseqüência isso teve no desenvolvimento das Ciências Sociais na Universidade.
2.2. Os jesuítas e a estratégia de conquista: o papel da Congregação Mariana e da Ação
Católica
O Colégio Anchieta
18
foi criado, em 1901, como desdobramento do famoso Colégio dos
Padres, de 1890, criado pelo padre jesuíta Alemão Pe. Trappe. Quando o Colégio Anchieta
chegou à matrícula de 418 alunos foi equiparado, pelo governo federal, a excelência
acadêmica do Ginásio Nacional Pedro II. Esse contexto é bem descrito por um ex-aluno do
Anchieta e pesquisador dos primórdios da Filosofia no Rio Grande do Sul, Luiz Oswaldo
Leite (2004: 571):
“A excelência acadêmica deitara raízes profundas no Rio Grande do Sul. E o
Anchieta tornara-se herdeiro deste patrimônio. As famílias social e
economicamente destacadas queriam ver seus filhos estudando com os filhos de
Inácio. As famílias de classe média, desejosas da ascensão social de seus filhos,
aspiravam pela mesma educação”.
O papel do Colégio Anchieta e dos outros colégios da rede católica de ensino secundário
foi à formação de uma geração de leigos intelectualmente capazes de se opor as correntes
laicizantes da sociedade rio-grandense. Nesse sentido, a peculiaridade dos investimentos do
colégio Anchieta em relação aos outros colégios católicos, foi à escolha de prover uma
formação intelectual continuada, que foi além dos muros do Ginásio e da própria formação
dos ginasianos. Trata-se dos cursos livres de atualização cultural aberto à sociedade porto
alegrense, das Congregações Marianas, como a Maters Salvatoris que agregou os
universitários e formados da época, e das repúblicas católicas organizadas pelos padres
Jesuítas. Dentre estas estratégias a Congregação Mariana “Mater Salvatoris”, orientada pelo
Jesuíta Alemão, de origem nobre, Pe. Werner von und zur Mühlen durante a década de 1920 a
41
1930, foi à instituição mais importante na conversão de jovens leigos e na orientação da
juventude universitária para a ação política.
A gênese da Congregação Mater Salvatoris foi a Congregação Nossa Senhora da Glória
destinada aos acadêmicos, criada em 1911, por Adroaldo Mesquita da Costa e dirigida por
Padre Estevão Muser. Posteriormente essa congregação tornou-se conhecida como a “Mater
Salvatoris”, tendo congregado uma primeira geração de católicos que sob a orientação de Pe.
Muser foram os primeiros que levaram o catolicismo para a vida pública porto alegrense.
Entre os membros dessa primeira geração destacamos: Armando Câmara, Adroaldo Mesquita
da Costa, Armando Dias de Azevedo, Ary de Abreu Lima, Mansueto Bernardi, Heitor Annes
Dias.
Essa geração, na década de 1920, vai manifestar publicamente sua fé nas comemorações
do sétimo centenário de morte de São Francisco de Assis, que ocorreram em 1926, no Teatro
São Pedro. Nesse momento, destaca-se a atuação do francês Frei Pacífico de Bellevaux
19
, que
reunia a nova inteligência católica na residência dos capuchinhos no bairro Partenon. Essas
manifestações podem ser consideradas pioneiras na cristianização cultural do Estado, porque
a prática pública religiosa masculina não era bem vista pela sociedade militarizada e
caudilhista rio-grandense
20
. No final desse mesmo ano o grupo em torno do Frei Pacífico
fundou um Instituto Católico de Ciências e Letras, que teve como presidente de honra Dom
João Becker, e foi dirigido por Heitor Annes Dias. Nesse instituto Frei Pacífico dava aulas de
Filosofia, no entanto, na falta de evidência empírica do desenvolvimento do Instituto, como, a
partir de 1928, Frei Pacífico afastou-se de Porto Alegre dedicando-se a Congregação Nossa
Senhora Aparecida de Caxias do Sul e na construção de seu seminário, essa geração juntou-se
ao grupo do Padre Werner.
Ainda que esses investimentos tenham sido importantes, os anos 1920 consistiram na
organização e formação do laicato e os anos 1930 na atuação pública, especialmente da
geração do Padre Werner
21
. Este veio para o Brasil quando foram proibidas as atividades das
Congregações Católicas, em Portugal, país em que atuava. Entre 1923 a 1939, foi professor
do Colégio Anchieta além de orientador espiritual da Congregação Mariana “Mater
Salvatoris”, onde deu conferências e cursos livres sobre Psicologia e Filosofia, a exemplo do
42
seu estudo sobre “O livre-arbítrio”, publicado em 1919, o qual teve grande repercussão. É
dentro desse universo da Filosofia e da Psicologia do Padre Werner, que muitos congregados
vão se inserir na docência, como Armando Câmara, Victor de Brito Velho, Ernani Maria Fiori
e Álvaro Magalhães. A maioria dos congregados formados por Padre Werner, no decorrer de
suas vidas, escreveram sobre ele
22
, o que revela a importância que ele teve na formação
integral dessas gerações. A homenagem prestada pelo professor de Botânica do Colégio
Anchieta e catedrático de Antropologia da Faculdade de Filosofia da UFRGS, Balduíno
Rambo (1940: 15) reproduzida no primeiro volume da Revista Estudos da Associação de
Professores Católicos, demonstra como Padre Werner era visto pelos seus discípulos:
“Dono da ciência profana e sagrada de dois milênios de estudos eclesiásticos,
portador de uma dignidade essencialmente superior às forças da natureza humana,
depositário da confiança de três gerações de acadêmicos, guarda do segredo
profissional de milhares de consultas espirituais e do sigilo sacramental de milhares
de confissões, o vulto do sacerdote Werner Von Und Mühlen se levanta aos nossos
olhos na penumbra dos arcanos da mediação entre Deus e os homens, mediação
misteriosa, que constitui o sacerdócio católico.”
Entre tantas vocações de Padre Werner, Rambo (1940: 15) assinala como a mais
importante à cristianização da nova juventude acadêmica de Porto Alegre. Nesse sentido,
escreve:
“Neta duma era de positivismo filosófico, a juventude estudiosa clamava, por
alguém que lhe saciasse a fome inata do espírito humano pela metafísica: foi o
Padre Werner que lhe abriu os tesouros imortais da filosofia perene. Filha de uma
era eivada de materialismo, a juventude necessitava de um guia, que lhe ajudasse a
reivindicar os direitos inauferíveis das verdades transcendentes da espiritualidade:
foi o Padre Werner que a conduziu a fonte inextinguível da filosofia espiritualista e
sã. Rodeado pelos castelos de ar e os escombros caóticos do anarquismo da nossa
era, a juventude precisava de um arrimo, de uma autoridade, de um fundamento
capaz de sustentar o edifício espiritual da vida sincera, séria e verdadeiramente
humana: foi Padre Werner que lhe descobriu o subsolo granítico dos princípios
eternos de toda ciência, de toda a cultura, de toda atitude humanamente sólida e
imperecedora.- A vocação especial do Padre Werner foi de servir como núcleo de
cristalização para as aspirações de são filosofia da juventude acadêmica nova de
Porto Alegre”.
Mesmo que Padre Werner não tenha publicado livros, sumas para a juventude, sua ação
concentrou-se na formação intelectual e espiritual dos jovens nos seminários livres da
congregação e nas orientações individuais dos congregados
23
. Como Werner não foi um
grande orador “fez com que seu zelo, suas idéias, seus ideais se divulgassem pela boca de
43
seus congregados, mais moços, mais ardentes, mais inteirados da realidade da vida no grande
público” (Rambo, 1940: 16).
De fato, Werner formou “um exército católico de combate” especialmente pela atuação
dos mais jovens na Universidade, como Francisco Machado Carrion, Victor de Britto Velho,
Carlos de Britto Velho e Ernani Maria Fiori. Através de Werner que esses jovens aprenderam
“a polemica de ser adepto à Maritain e ser anti-Maritain”
24
, leram e conheceram Alceu
Amoroso Lima, e lutaram para conquistar as faculdades existentes para a doutrina católica do
humanismo integral, muitas vezes utilizando-se de violência à revelia do próprio padre
25
. Essa
juventude católica de vanguarda que entrou na década de 1930 nas Faculdades de Direito e
Medicina, no contexto da revolução de 1930, queriam conquistar o mundo, no início contra a
penetração americana, mas definiram-se pela conquista da Universidade, “das cátedras do
futuro” para “transformar a faculdade agnóstica e positivista em faculdade católica”
26
.
Com esse objetivo criaram o Centro Católico de Acadêmicos (CCA), assim que
entraram na Universidade, em 1931. Esse centro foi autônomo a Ação católica, e à
arquidiocese de Porto Alegre de D. Becker, mas contou com Padre Werner como assistente
eclesiástico. Embora Carrion, afirmasse que o pequeno grupo dos católicos dominasse as
faculdades existentes, em 1933 o Centro tinha cinqüenta membros efetivos, e destes membros
dez eram acadêmicos da engenharia, vinte e um do Direito, dezessete da Medicina, um da
Agronomia e um das Ciências econômicas
27
. Provavelmente no Direito o movimento tenha
sido mais forte, mas na Medicina que entravam pouco mais de vinte alunos por ano não se
confirma
28
. Por outro lado, é com seus membros honorários, da primeira geração católica, que
o projeto começou a concretizar-se com o papel que desempenhavam como docentes, a
exemplo de Armando mara, Eloy José da Rocha, Ruy Cirne Lima, Armando Dias de
Azevedo na Faculdade de Direito, Mário Bernd na Faculdade de Medicina e Ary de Abreu
Lima na Escola de Engenharia.
Em 1933, o CCA realizou Congresso Universitário rio-grandense e criou a revista
Idade Nova, em 1934. Esse congresso definiu a ação para a esfera política, principalmente em
relação à Constituinte de 1934. As teses apresentadas foram: a “Família Cristã” do Prof.
Mário Bernd, o “Sindicato Cristão” do acadêmico Ernani Maria Fiori, o “Estado Cristão” do
44
Acadêmico Luiz Abis da Cruz. Essas teses referem-se diretamente as diretrizes que os
católicos queriam ver incorporadas na próxima Carta Constitucional, como a proibição do
divórcio, o ensino facultativo religioso nas escolas públicas e os sindicatos livres de
orientação católica. Nesse sentido, na defesa dessas teses a juventude católica elaborou o
programa da Liga eleitoral católica no Rio Grande sul, nas palavras de Carrion
29
:
“Com 18 membros apenas, fizemos o Congresso de caráter nacional das ações
católicas para definir uma mensagem que mandamos para a Constituinte.
Praticamente, o Adroaldo Mesquita da Costa leu-a no discurso dele, constou dos
anais e foi aceita pela Constituinte de 1934. Lançamos um manifesto que foi
incorporado aos partidos, para terem liberdade de ação”.
No entanto, a mudança do contexto político-partidário do Rio-Grande do Sul após a
Revolução Constitucionalista em 1932, acabou tencionando as relações entre a Arquidiocese e
a ação católica leiga no decurso da atuação da LEC, ultrapassando seu caráter apartidário. A
conjuntura do pós 1930 definiu um novo panorama político com o processo de centralização
política implantado por Vargas que desarticulou as oligarquias estaduais. As elites políticas do
Rio Grande do Sul dividiram-se quando o interventor federal no Estado Flores da Cunha
apoiou Vargas na Revolução Constituinte, e assim, por um lado ficou o grupo que apoiou o
governo provisório na revolução de 1932 rearticulando-se em um uma nova agremiação
partidária, e por outro lado o grupo que não se sujeitava ao poder Central, membros do
Partido Republicano Rio-grandense (PRR) e do Partido Liberal (PL) que compunham a Frente
Única Gaúcha, chamados de regionalistas (Pesavento, 1980).
A solução desse impasse no Rio Grande do Sul foi à convocação de um tribunal de
honra presidido por Dom. João Becker e composto por Manuel André da Rocha, José de
Almeida Martins Costa Jr e Heitor Annes Dias, os quais inocentaram Flores da Cunha da
acusação de traição e decidiram pela realização da Constituinte. Frente a esses fatos o
Arcebispo Dom João Becker apoiou o novo partido de Flores da Cunha, o Partido
Republicano Liberal (PRL), e a juventude católica militou em prol da Frente Única, de
Adroaldo Mesquita da Costa. A opção de D. Becker, apesar de delineada anteriormente à
Revolução de 1932, ocorreu porque o Partido Republicano Liberal foi o primeiro a incorporar
publicamente as reivindicações católicas, mas, no entanto, apresentou elementos mais
abrangentes às emendas católicas nas palavras de Isaia (1998: 102):
45
“O PRL prescindia do positivismo, que servia de fonte inspiradora para o
castilhismo, abrindo-se não apenas a antigos próceres do PL, como cortejando a
Igreja. Se bem que a orientação comtista não tenha impedido as boas relações entre
os governos castilhistas e a arquidiocese de Porto Alegre, a refutação do
positivismo favor de uma explicita valorização da religião revelada, pelo PRL,
evidenciava, inequivocamente, uma situação nova. Se em relação aos governos do
PRR a prática política de coexistência e apoio à Igreja não tinha embasamento em
um substrato doutrinário que referendasse os princípios católicos, o novo partido
mostrava-se plenamente identificado com os interesses do catolicismo, habilitando-
se ao consórcio da arquidiocese de Porto Alegre”.
Essa ligação do Governo provisório com a Arquidiocese através do PRL não agradou o
grupo do CCA que acusaram Dom João Becker de ter se vendido a Flores da Cunha, inclusive
promoveram um desagravo público a ambos
30
. Deste modo, a LEC sugeriu aos eleitores
católicos que votassem na maioria dos candidatos do PRL num primeiro momento, e
posteriormente nos candidatos do PRR, quando este incluiu a emenda católica da proibição do
divórcio. O PL não inclui todas as emendas, e assim seus candidatos não foram
recomendados. De fato, a relação da Arquidiocese com o PRL criou desconfianças no próprio
eleitorado católico, confundindo-o sobre o caráter a-partidário do movimento levando o
candidato católico Adroaldo Mesquita da Costa da Frente Única a explicar o funcionamento
da LEC publicamente em carta aberta no Jornal Correio do Povo em 1932
31
:
“Ela não é um partido político, mas apenas um eleitorado de católicos. Paira fora e
acima dos partidos. Verificado que estes nada propugnam contra o qual o partido
for omisso, a respeito daqueles postulados referidos, cabe a liga interpelar,
oficialmente, os candidatos oficiais desse partido, de que votarão, eleitos quanto
aqueles postulados. Se a resposta for favorável nada mais tem a liga a fazer, senão
dizer aos católicos pertencentes àquele partido que podem votar. Se o contrário
suceder, porém então a liga, para que os católicos então pertencentes àquele partido
não fiquem, praticamente privados de votar, que em consciência não poderão
votar nos candidatos que se declararem infensos àqueles postulados, apresentará ela
candidatos próprios que se comprometam a defender, uma vez eleitos, os
postulados da Igreja .”
Além dos candidatos do PRL e do PRR, a arena eleitoral contava ainda com os
candidatos apoiados pela Liga Pró Estado Leigo
32
. Essa Liga representou o contraponto às
emendas da LEC
33
, agregando, na luta pela liberdade de credo, positivistas, maçons,
metodistas, espíritas, protestantes
34
, etc. A liga foi presidida pelo grão-mestre da maçonaria, o
marechal reformado Carlos F. de Mesquita e teve atuação em várias cidades do Rio Grande
do Sul. Os membros da liga temiam que as emendas católicas representassem instrumentos de
afirmação de uma nova união entre a Igreja e o Estado (Isaia, 1998).
46
De qualquer modo, a eleição constituinte configurou-se com os candidatos indicados
pela Liga Pró-Estado Leigo os quais lutavam por uma Constituição que honrasse “as tradições
do seu vero liberalismo, contrário às pretensões do clero romano e a qualquer tentativa
reacionária que procure diminuir as amplas prerrogativas outorgadas aos brasileiros pelo
artigo 72° da constituição de 1891”
35
, e com os candidatos apoiados pelos católicos divididos
nas listas do PRL, do PRR, os quais viam o processo constituinte como um meio de aprovar
suas emendas. O PRL saiu vitorioso, elegendo treze deputados e a Frente Única apenas três,
entre os quais o católico Adroaldo Mesquita da Costa, conforme quadro abaixo:
Nome
Partido Apoiado pela
LEC
Apoiado pela Liga Pró-
Estado Leigo
1. Adroaldo Mesquita da Costa PRR/FUG SIM
2. Augusto Simões Lopes PRL SIM
3. Carlos Maximiliano Pereira dos Santos PRR
4. Demétrio Múrcio Xavier PRL SIM
5. Euclides Minuano de Moura PL/FUG SIM
6. Frederico João Wolfenbütell PRL SIM
7. Gaspar Saldanha PRL
8. Heitor Annes Dias PRL SIM
9. João Ascanio de Moura Tubino PRL SIM
10. João Fanfas Ribas PRL SIM
11. João Simplício Alves de Carvalho PRR e PRL SIM SIM
12. Joaquim Maurício Cardoso PRR/FUG SIM
13. Pedro Vergara PRL SIM
14. Raul Jobim de Bittencourt PRL
15. Renato Barbosa PRL SIM
16. Victor de Russomano PRL SIM
Quadro 1 - Relação dos Constituintes Eleitos em 1934 com a LEC ou/e com a Liga Pró- Estado Leigo
Fonte: Trindade (1980), Correio do povo 02/05/1933, Correio do Povo 26/04/1933.
Independentemente da posição dos jovens do CCA, a opção tomada pela Arquidiocese
de Porto Alegre pelo PRL fortaleceu a relação da Igreja no Rio Grande do Sul com o governo
de Getúlio Vargas, ao priorizar o apoio ao partido do governo central. Como também o
resultado da LEC demonstrou quanto o movimento católico estava presente na sociedade rio-
grandense. Por outro lado, a influência da liga Pró-Estado Leigo no eleitorado não teve
representação nenhuma, visto que apenas dois candidatos
36
apoiados pela Liga foram eleitos.
Portanto, ainda que a literatura sobre a criação da Universidade do Rio Grande do Sul oponha
os católicos da LEC com os liberais da Liga, a exemplo do papel de Waldemar Ripoll (Soares
& Diniz, 1992; Regner, 1993), na esfera política essa oposição não foi representativa.
47
O relacionamento da Arquidiocese e da Ação Católica (AC) com a geração do CCA
mudou radicalmente após a LEC de 1934. De fato, a juventude católica não se submetia ao
controle da Arquidiocese e de qualquer hierarquia, somente seguiram a Arquidiocese quando
Padre Werner intervinha a favor de D. João Becker
37
. Além que suas posições especialmente
em relação às questões sociais não agradavam a Arquidiocese. Um exemplo foram suas
posições em relação à classe trabalhadora, porque ao mesmo tempo em que reivindicavam a
volta das corporações de ofício da idade média atuando junto com os sindicatos controlados
pelo governo, para a edificação de uma ordem cristã conforme a Rerum Novarum de Leão
XIII, lutavam pela adoção de uma legislação trabalhista e instituições de proteção social aos
operários. Esses ideais não foram bem absorvidos pela sociedade Porto Alegrense e pela
arquidiocese. Essa luta pela cristianização do capitalismo
38
presentes nas suas teses, a
exemplo do trabalho apresentado, no congresso anteriormente citado, por Ernani Maria Fiori,
geraram desconfianças de suas posições ideológicas, sendo muitas vezes taxados de
comunistas e esquerdistas (Isaia, 1998).
Embora, o grupo do CCA tenha tido uma atuação expressiva na ampliação do
movimento católico de juventude no Estado com a criação de centros similares em várias
cidades do Rio Grande do Sul e com a instituição do conselho diretivo da juventude
católica em 1935
39
, em 1936 quando os Centros Católicos de Juventude vincularam-se à
Ação Católica e à Arquidiocese, o grupo do CCA dirigiu-se as iniciativas lideradas por
Armando Câmara como a Associação dos Professores Católicos (APC) e o movimento de
Renovação Social. Cabe lembrar que a partir de 1934 está geração está saindo da
Universidade
40
, muitos deles começando a carreira docente no colégio universitário, nos
cursos pré-jurídico, pré-médico, ou nas suas carreiras liberais.
A Associação dos Professores Católicos, criada, em 1934, por Armando Câmara, foi
sugerida por Everardo Backhauser, quando visitou Porto Alegre, após ter idealizado e
objetivado a do Rio de Janeiro anos antes
41
. Mesmo que Trindade (1982) considere essa
associação uma pré-faculdade de Filosofia, porque a maioria de seus membros futuramente
constituiu o corpo docente da Faculdade, ela dirigiu-se para a formação de um núcleo de
professores das escolas públicas e privadas capazes de reproduzir seu projeto de
recristianização social. Num Estado com tradição do ensino religioso nas escolas privadas e
48
oficiais e possuindo a terceira rede escolar do país era de se esperar que o grupo católico se
orientasse para esse público. Tendo como assistente eclesiástico Luiz Gonzaga Jaeger SJ, a
APC manteve boas relações com a Arquidiocese principalmente ao promoverem eventos
culturais, como a semana de cultura que ocorreu no ano de 1935. Contudo, através da revista
Estudos, editada a partir de 1940, que a ligação com o grupo católico do Rio de Janeiro, e com
a Ação católica de uma forma geral, se fortalece através dos artigos escritos pelos associados
da APC e por aqueles escritos pelo grupo em torno do Centro Dom Vital.
Outro empreendimento que congregou os católicos gaúchos sob a liderança de Armando
Câmara foi a Ação Brasileira de Renovação Social (ABRS). Criada em 1935 como uma
organização direcionada para conter o avanço comunista no Estado no mesmo período que foi
aprovado os Estatutos da Ação Católica Brasileira pela Santa Fé. No entanto, a ABRS não se
vinculou à Ação Católica porque a finalidade da mesma:
“Não era particular, mas voltado para o vastíssimo campo da formação de
consciências. Desta forma não deveria ser confundida com nenhuma associação de
finalidade especifica. Seria impossível envolver a AC na vanguarda direta da luta
política e do relacionamento frontal com o poder constituído, sem comprometer a
hierarquia que coordenava a atuação dos leigos. Desta maneira, o surgimento de um
grupo de pressão direcionadamente voltado para a luta anticomunista teria que ser
obra distinta da AC.” (ISAIA, 1998: 134).
Por outro lado, a ABRS surgiu no mesmo ano do manifesto Anti-Fascista cunhado pelo
escritor Érico Veríssimo. O contexto histórico do surgimento do movimento ARBR é
importante, uma vez que a ação foi organizada frente à Aliança Nacional Libertadora no Rio
Grande do Sul, não frente à Intentona Comunista, que foi posterior. Na esfera internacional
foi à invasão da Etiópia pelos Italianos que dividiu a intelectualidade riograndense. Do lado
dos católicos, apesar da lenta reação, o Papa Pio XI aprovou a ação italiana como também o
Arcebispo de Porto Alegre Dom João Becker, e deste modo às posições oscilaram entre a
simpatia pelo fascismo
42
e a ação anticomunista.
A ligação com o fascismo não fez parte dos preceitos da juventude católica urbana, a
não ser a relação que tiveram com o movimento integralista. Os católicos, especialmente do
grupo do CCA, foram incentivados por Alceu Amoroso Lima a ingressar na esfera política
através da AIB, como foi o caso de Ernani Maria Fiori, mas posteriormente afastou-se dessa
49
orientação
43
. Apesar dessa breve ligação de alguns membros do CCA com o integralismo, de
um lado pela influência de Alceu Amoroso Lima, e por outro pelo esforço de cooptação
empreendido por Miguel Reale da AIB, os católicos na sua maioria não ingressaram porque
viam a doutrina dos camisas verdes como próxima ao materialismo histórico, no seu sentido
político, e eles repudiavam todas doutrinas materialistas e naturalistas, assim como aquelas
que sustentavam o capitalismo e o comunismo
44
.
De todo modo, é com esse espírito que tentarão converter, através da ABRS, o
operariado, mais propício a aderir às idéias marxistas pela situação de vulnerabilidade que se
encontravam no contexto da retração econômica do Estado, com crise da pecuária refletida
nas indústrias urbanas nos anos 1930. Desta maneira, buscaram resolver o aprofundamento da
questão social urbana pressionando para que as prerrogativas sociais da Constituição de 1934
e da Legislação trabalhista de Vargas se concretizassem. Nesse sentido:
“O manifesto da ABRS não via nenhum outro instrumento hábil de diagnóstico e
profilaxia da sociedade fora da doutrina social da Igreja. O liberalismo como
indício de paganismo, ampliava a exploração do trabalhador, enquanto o
comunismo, igualmente derivado do abandono dos princípios éticos, tentando
instaurar a igualdade econômica, pregava a subversão ao direito natural. O fim da
cristandade medieval, rompendo com uma ordenação social onde os princípios
religiosos eram ao mesmo tempo normas sociais, deixou o trabalhador
desprotegido ante a cobiça de uma burguesia alheia a qualquer preocupação ética.
Dessa realidade resultava a necessidade de dotar a vida social e suas instituições de
princípios éticos, baseados nos ensinamentos da Igreja. Em uma palavra, o
movimento pregava a recristianização como condição básica de enfrentamento dos
problemas sociais. (ISAIA, 1998: 138).
Portanto, a proposta da Ação de Renovação Social foi a criação de uma “frente única”
anticomunista
45
. Contudo, o objetivo real da ação era muito além do combate aos comunistas,
porque se tratava de “restaurar a ordem moral” e a “recristianização dos costumes”, ou seja,
impor a moral católica a toda sociedade brasileira (Trindade, F, 1984: 82). Com esse objetivo,
após o fim do ABRS, que durou apenas seis meses, os católicos orientam-se por duas vias,
não excludentes e simultâneas. A primeira foi o ingresso na esfera eleitoral-partidária
anteriormente à LEC de 1945, e a segunda foi à conquista da nova Universidade.
A primeira orientação teve sua gênese no desejo da criação de um Partido Católico, por
Armando Câmara e Francisco Machado Carrion, mas o projeto não se concretizou por decisão
política do próprio grupo em reunião com Ruy Cirne Lima
46
. Inclusive Carrion e Eloy José da
50
Rocha foram convidados para organizar e liderarem o Partido Democrático Cristão (PDC) no
Rio Grande do Sul, e ambos não aceitaram o convite de Cesarino Júnior. Assim o
desenvolvimento político do PDC no sul foi conseqüência da ação de uma geração católica
posterior, a exemplo do papel que Leônidas Xausa
47
teve na política rio grandense. Deste
modo, o grupo católico estrategicamente optou por dividirem-se pelos Partidos disseminando
na arena política os ideais católicos, segundo Carrion
48
:
“Firmamos entre nós, um pacto de honra que, fosse qual fosse o Partido, em que
cada um de nós viesse a se filiar, estaríamos sempre juntos e solidários na defesa
daqueles princípios objeto de nosso manifesto. Com esta posição, tínhamos como
grande objetivo renovar a cultura riograndense profundamente impregnada pelo
positivismo.”
A maioria ligou-se ao Partido-Libertador como Ernani Fiori e Vitor de Brito Velho, e
outros foram para o Partido Social Democrático (PSD), como Francisco Carrion e Aires da
Cruz, e ainda houve quem se dirigiu à União Democrática Nacional (UDN), ambos partidos
liberais conservadores
49
. Nesse momento, com a queda de Getúlio Vargas do poder Nacional,
organizou-se novamente um novo processo constituinte, e a ação católica mais uma vez
convoca seus leigos a votarem nos candidatos da Liga Eleitoral Católica. Contudo, na LEC de
1945, embora apartidária, decepcionados com a falta de neutralidade do movimento católico
na constituinte anterior, e com um novo espectro político após o regime autoritário de Vargas,
o grupo católico militou na LEC como organizadores, assim como candidatos dos partidos
políticos existentes. Nesse momento D. Becker não tinha mais voz ativa, estava doente, e
desta forma os representantes eclesiásticos com atuação destacada foram: D. Luiz Vitor
Sartori da cúria de Porto Alegre
50
e o Bispo de Pelotas D. Antônio Zaterá. O clima político da
nova constituinte foi descrito por Eloy José da Rocha
51
:
“Tínhamos presentes a lembrança da Constituinte de 1934, quando muito dos
deputados eleitos com os votos da LEC, falharam na hora da votação. No
concernente ao ensino religioso, relação Estado/ Igreja, capelães, militares - podia
haver concessões. A questão da indissolubilidade do casamento era ponto divisor
maior. Éramos 303 constituintes. o PSD contava com 190 e podia com seus
próprios votos aprovar a Constituição. Na votação da emenda do divórcio -
rejeitada após apaixonados debates, apuraram-se mais de cinqüenta votos a seu
favor. Alguns deles haviam se comprometido com a LEC, inclusive constituintes
rio-grandenses. Justificaram o voto, dizendo que votavam contra o princípio
constitucional da indissolubilidade do casamento, por não o considerem matéria
constitucional.”
51
Do grupo católico Eloy José da Rocha, Adroaldo Mesquita da Costa e Vitor de Brito
Velho, entre outros, assinaram a nova Constituição dos Estados Unidos do Brasil, em 1946.
Essa carta Constitucional consagrou o início da abertura democrática e definiu as instituições
políticas liberais do Brasil. Ainda que o grupo católico esperasse que se implantasse um
regime político semi-parlamentarista
52
, os partidos majoritários, como a UDN e o PSD
garantiram a vigência do presidencialismo, mas com sua ação limitada, pelo legislativo e pelo
judiciário. O contexto histórico ditou essa abertura política, com a derrota dos regimes
totalitários na Segunda Guerra mundial e a queda do Estado Novo.
Um dos meios de manter sua influência foi o domínio da Universidade pública, e o
grupo católico nutria o desejo da criação de uma Faculdade de Filosofia desde a década de
1930 quando começaram a conquistar as cátedras das escolas existentes. Portanto, com a
criação da Universidade do Rio Grande do Sul em 1934 pelo decreto estadual 5.758,
estabelecida pela junção das faculdades e escolas existentes
53
o grupo católico através de seus
representantes formados que haviam conquistado algumas cátedras nas faculdades e/ou
exerciam a docência no colégio universitário vão direcionar-se para a conquista e organização
da futura Faculdade de Filosofia, que completou a organização Universitária.
Em 1934, representantes do grupo católico mandaram um memorial ao interventor
Federal Flores da Cunha reivindicando que a nova instituição universitária, a Faculdade de
Filosofia tivesse a orientação dos ginásios existentes, ou seja, espiritualista e cristã, conforme
abaixo:
[...] a)Testemunhas da crise moral que empolga o mundo, originária de uma
concepção naturalista e pagã da vida, e cônscios das responsabilidades que lhes
cabem de reagir, no âmbito de suas influências, afim de revigorar nos espíritos os
princípios de uma cultura espiritualista e cristã, cogitam, quase um ano,
organizar, de acordo com a lei do ensino superior, uma Faculdade de Educação,
Ciências e Letras; b) Devendo esta, segundo a lei, dar formação filosófica às novas
gerações, afigurou-se-lhes como órgão adequado à realização de seus ideais de
irradiação cultural, pois das doutrinas sobre os grandes problemas metafísicos,
sempre dependeram a vida dos povos, o pensamento e a ação do homem; c) O
trabalho de organização da Faculdade de Educação, Ciências e Letras estava quase
ultimado, estando elaborado os estatutos que a deviam reger, os programas de
suas disciplinas, a seriação destas, o quadro de seu corpo docente, quando o
Governo resolveu criar, na futura Universidade, um Faculdade de Educação; d)
Devendo ser a população escolar da futura Faculdade constituída, na sua maioria,
de ex-alunos dos Ginásios religiosos, onde dominam diretrizes ideológicas
marcadamente espiritualista e cristãs, seria moralmente funesta a ruptura desta
52
orientação, por um ensino acadêmico que lhe fosse franca ou veladamente
contrário; e) Além disso, competindo à citada Faculdade formar os futuros
professores para os mesmos ginásios, é natural que ela aos seus estudos uma
orientação que se concilie com a dos referidos Institutos de ensino secundário; f)
Dadas as relações de Estado e a Igreja, estabelecidas em nova Carta Magna que se
reconhece a necessidade do fator religioso na escola primária, secundária e normal,
parece-lhes estar na lógica dos princípios políticos vigentes uma cooperação dos
poderes espiritual e temporal na esfera da cultura superior, dada a incomparável
transcendência desta, sob o ponto de vista da influência social que exerce; g) De
outro lado, por motivos múltiplos, não seria conveniente a concorrência, nesta
capital, de duas Faculdades com objetivo identifico; h) Pelos argumentos aduzidos,
parece justo que o Estado aproveite a cooperação dos representantes da cultura
católica na organização definitiva da Faculdade de Educação, Ciências e Letras, de
modo que fiquem resguardados, integralmente, os interesses morais a que fazem
referência os itens ulteriores; i) Sobre o modo prático de realizar esta cooperação,
V. Ex. poderia ouvir o ilustre Sr. Arcebispo D. João Becker. Nos termos expostos,
os infra-escritos pedem ao esclarecido espírito de V. Ex., as medidas que venham
consagrar os anseios da Cultura católica do Estado. (DINIZ, 1979: 12).
Assinaram o documento Raul Moreira, Frederico Dahne, Elyseu Paglioli, Ary de Abreu
Lima, Normélia Rosa, Ruy Cirne Lima, Mário Bernd, Álvaro Magalhães, Adalberto Pereira
da Câmara, Ivo Correia Meyer e Armando Câmara. Os católicos acreditavam que Flores da
Cunha, seu aliado político na LEC de 1934, fosse aprovar as reivindicações católicas de
controle do ensino do Rio Grande do Sul em todos os seus níveis, e por em prática a união da
Igreja com o Estado.
Não foram apenas os católicos que tentaram aprovar projetos universitários no contexto
da década de 1930, e do processo constituinte de 1934. Anteriormente, os estudantes, em
torno da Federação Acadêmica, reivindicavam, através de um memorial dirigido ao governo
estadual, à criação da Universidade do Rio Grande do Sul, com autonomia didática e
administrativa, gratuita e reproduzindo os modernos métodos de ensino. Esses estudantes,
liderados por Waldemar Ripoll, encaminharam esse memorial
54
para o governo, mas a
Universidade tão desejada viria a implantar-se em 1934, longe de ser a instituição que
idealizaram:
“Viram-na criada pelo Governo quatro anos mais tarde, com autonomia didática e
administrativa somente no papel, sem representação estudantil no Conselho
direcional, conservando a vitaliciedade de Cátedra, que eles condenavam, sem
ampliação e aperfeiçoamento do quadro docente que pregavam, sem equipamento
para ensinar de acordo com as conquistas contemporâneas da Ciência e sem
mudança nos métodos de ensino.” (SOARES & DINIZ, 1992: 35).
53
Para a defesa de seu projeto universitário, membros da Federação acadêmica, como os
doutorandos Ripoll e Paulo Whestphalem e os professores Vieira Pires, Raymundo Vianna e
Rodolfo Simch, criaram o Partido Universitário enquanto um grupo de pressão pela reforma
do ensino superior no Rio Grande do Sul. No entanto, com o assassinato de Ripoll, esse
movimento não teve continuidade. Inclusive na Liga Pró Estado Leigo, apesar de terem
apresentados teses não apresentaram nenhum candidato na chapa. Não se pode esquecer que
durante esse período, no pós 1930, o projeto católico na Universidade estava concretizando-
se, com a conquista das cátedras das faculdades pelos membros da 1° geração.
Os católicos reivindicando a Faculdade de Filosofia
55
também não obtiveram êxito,
porque Flores da Cunha não respondeu ao memorial, e a comissão que estava organizando a
Universidade, e a nova Faculdade, dificultou a entrada dos católicos, num primeiro momento,
ao decretar que os cargos de docentes, vagos ou a vagar, e os títulos de livres docentes seriam
obtidos por concurso de prova de títulos. Nesta comissão o único do grupo católico foi Ary de
Abreu Lima. Quando este assumiu a Reitoria, após André da Rocha e Aurélio de Lima Py
terem renunciado à esse cargo
56
, em 1939, nada pode fazer, uma vez que as regras
estabelecidas de contratação de professores estavam sendo cumpridas.
Com a morte de Abreu Lima assumiu Edgar Schneider, em 1942. Com Schneider,
mesmo não sendo representante do grupo católico, o antigo regulamente é modificado pelo
Conselho Universitário, pelo decreto 548 de 6 de junho de 1942, e assim, sendo possível à
contratação de professores sem concurso. Deste modo, o reitor escolheu os novos professores
em sua maioria do grupo católico, porém, introduziu uma nova linha ideológica: os
metodistas. Nesse sentido, os metodistas podiam competir com os católicos porque muitos de
seus representantes tinham formação intelectual nos Estados Unidos sendo importantes para a
renovação pedagógica e filosófica da nova faculdade (Trindade, F, 1982). Portanto, com a
provação de todos os cursos, em 1943, a instituição passou a denominar-se Faculdade de
Filosofia, dirigida num primeiro momento pelo Conselho Universitário orientado pelo reitor
Schneider.
Com a possibilidade de contratar professores das Faculdades existentes, no curso de
Filosofia o grupo católico fora beneficiado, mas também os metodistas, como Oscar
54
Machado, o pastor Derly Chaves e José Gomes de Campos. As boas relações que o Reitor
tinha na política podem ter facilitado à implantação da nova faculdade, mas nesse momento o
Secretário de Educação era o Dr. Coelho de Souza, aliado de Armando Câmara e do grupo
católico no movimento de Ação Brasileira de Renovação Social, de tal modo que a inclusão
dos católicos na preferência do Reitor pode ter sido influenciada ou imposta pelo Secretário
de Educação.
Contudo, a formação do quadro docente da Faculdade defrontou-se com legislação
proibitiva das cumulações, a qual não permitia que funcionários públicos, como os
professores da universidade, viessem a assumir cursos na nova Faculdade. A solução
encontrada fora categorizar os professores indicados como comissionados, ou seja,
remunerados por aula ministrada. Nesse contexto inicialmente no curso de Filosofia, sobre o
qual existem os estudos de Fernando Trindade (1982) e Regner (1993), por ser mais fácil
contratar os professores da Universidade, houve certa abertura ideológica, com a incorporação
dos metodistas, conforme tabela abaixo:
Professor Cadeira Faculdade de origem/
Colégio/ Cargo público
Armando Câmara História da Filosofia Faculdade de Direito
Darcy Azambuja Introdução à Filosofia e a
Estética
Faculdade de Direito
Décio de Souza Psicologia Faculdade de Medicina
Álvaro Magalhães Didática especial Faculdade de Engenharia
Edgar Schneider Sociologia Faculdade de Direito
Oscar Machado Filosofia Geral Instituto Metodista
Quadro 2 - Configuração inicial do Curso de Filosofia
Fonte: Trindade (1982), Faculdade de Filosofia (1967), Faculdade de Filosofia (1943).
O grupo católico ficou com a metade das cadeiras da Faculdade, os metodistas como
Oscar Machado juntamente com o Reitor Edgar Schneider, garantiram o equilíbrio na
orientação do curso. Do grupo católico e do CCA constam os nomes do catedrático de
psiquiatria da Faculdade de Medicina Décio de Souza, de Álvaro Magalhães, que viera da
Faculdade de Engenharia e do Colégio Universitário aonde havia sido diretor. O colégio
universitário teve esse papel porque, ainda durante o governo de Flores da Cunha,
Magalhães foi convidado, em 1935, para dirigir o colégio por Othelo Rosa, secretário de
educação no período, e Darcy Azambuja, naquele momento, além de catedrático da Faculdade
de Direito, era secretário de Estado. Embora, Othelo Rosa fosse positivista, inclusive tendo
55
participado da Liga Pró-Estado Leigo, convidou Álvaro Magalhães para organizar o colégio
universitário com liberdade para compor o corpo docente. Conforme Rodrigues (2002), esse
fato não é paradoxal, porque o Estado dependia dos católicos em relação aos assuntos
educacionais. Além disso, o grupo católico possuía um canal de comunicação com o governo
Flores da Cunha, através de Darcy Azambuja. A despeito de sua formação militar, Azambuja
posicionou-se várias vezes à favor dos católicos, porque além de ter freqüentado os cursos da
Congregação “Mater Salvatoris”, compôs o corpo docente da Faculdade de Educação,
Ciências e Letras da Faculdade Católica e publicou artigos na revista “Estudos” da APC.
Num primeiro momento, no quadro de vinte e nove indicações de docentes para os
cursos da área de humanas, encontramos apenas 1/3 de nomes formados nas Congregações
Marianas
57
. Isso não quer dizer que a influência foi pequena, mas revela que a concentração
foi em determinados cursos e tipos de conhecimentos (ver anexo). Os únicos do grupo que
prestaram concurso para o provimento interno da Faculdade foram Francisco Machado
Carrion e Lourenço Mário Prunes, e dos Metodistas foi o caso de José de Campos. Contudo,
nessa lista inicial do quadro docente, de 1943, figuraram alguns nomes de pessoais com
trajetória política e intelectual reconhecidos na sociedade rio-grandense que nem assumiram
definitivamente as cátedras, como o historiador e ex deputado constituinte Moisés Vellinho,
o secretário de Educação José P. Coelho de Souza e o próprio reitor Edgar Schneider. O
primeiro foi designado para a cátedra de literatura brasileira, não permanecendo mais de um
semestre, sendo substituído por Guilhermino César em 1944. O segundo Coelho de Souza,
que havia sido, antes de assumir a Secretaria da Educação, Deputado estadual entre 1935 à
1937, no final do primeiro semestre foi substituído por Álvaro de Magalhães na cátedra de
História da Educação. E o Reitor, Edgar Schneider, que dispunha de alguma notoriedade
política, foi substituído na cátedra de Sociologia por Laudelino Medeiros. Desta forma, esses
nomes que figuraram no quadro de docentes e não assumiram efetivamente fizeram parte da
estratégia de implantação da nova faculdade, uma vez que esses “intelectuais e políticos
estariam conferindo seu prestígio à Universidade, facilitando os trâmites em torno de sua
finalização” ( Rodrigues, 2002: 115).
O curso de Geografia e História contou com o professor de Botânica do Colégio
Anchieta Pe. Balduíno Rambo para as cadeiras relacionadas à Antropologia e Etnografia, e os
56
jovens que lecionavam no pré-jurídico do Colégio Universitário e na Escola de Comércio,
Francisco Machado Carrion e Laudelino Medeiros, ambos que posteriormente serão
professores da Faculdade de Economia. No entanto, Medeiros não chegou a lecionar a cadeira
de História do Brasil, desde o princípio ela foi ministrada por Dante de Laytano, e Francisco
Machado Carrion ingressou no corpo docente em 1944, através de prova de títulos,
substituindo Francisco Juruena. Conforme Mara Rodrigues (2002: 114), o nome de Juruena
no corpo docente “pode também estar relacionada tanto ao seu prestígio nos institutos
superiores administrados pelos Irmãos Maristas, quanto ao seu destaque na magistratura
estadual.”
De todo modo, o curso de Geografia e História manteve certa heterogeneidade
ideológica, porque ainda que tivesse no seu quadro docente pessoas de orientação católica,
como Lourenço Mário Prunes, apesar de não praticante da religião, ou ex congregados da
“Mater Salvatoris”, como Dante de Laytano, do grupo católico aguerrido do CCA que
assumiram em definido as cadeiras só consta o nome de Francisco Machado Carrion.
Nome Cadeira Faculdade de origem/ função
pública
Ney Chrysostomo da Costa Geografia Física Faculdade de Ciências Políticas
Econômicas (PUC)
Lourenço Mário Prunes Geografia Humana Desembargador
Pe. Balduíno Rambo Antropologia, Etnografia, Etnografia
do Brasil
Colégio Anchieta
1) Dante Laytano
2) Darcy Azambuja
História da Antiguidade e da Idade
Média
1) Faculdade de Educação
Ciências e Letras (PUC)/
Escritor
2) Faculdade de Direito/
Secretário de Estado
1)Francisco Juruena/
2)Francisco Machado Carrion
História Moderna e Contemporânea 1)Faculdade de Ciências
Políticas e Econômicas (PUC)
2) Colégio Universitário
1)Laudelino Teixeira de Medeiros
2)Dante de Laytano
História do Brasil 1) Colégio Universitário
2) Faculdade de Educação
Ciências e Letras (PUC)
Quadro 3 - Curso de Geografia e História (1943)
Fonte: Anuário 1943, Rodrigues (2002)
57
Porém, o curso de pedagogia constituiu seu quadro docente em sua maioria por
representantes do grupo católico, e exceção de Edgar Schneider, Pery Pinto Diniz, Ernesto
Pellanda e Carlos Schmitt. Isso pode ser explicado porque desde a APC os integrantes do
grupo preparavam professores através de seus cursos culturais para a formação intelectual das
futuras gerações, além que a “proximidade dos católicos à secretária da educação acabou
fazendo prevalecer à ênfase na formação de professores” na nova faculdade (Rodrigues, 2002:
73).
Nome Cadeira Faculdade de Origem/
Colégio/ Cargo Público
Carlos de Carvalho Schmitt Complementos de matemática
1)Armando Câmara
2) Darcy Azambuja
História da Filosofia Faculdade de Direito
1)Edgar Luiz Schneider
2)Laudelino T. Medeiros
1) Sociologia
2) Fundamentos Sociológicos da
Educação
1) Faculdade de Direito
2) Colégio Universitário/
Faculdade de Administração e
Ciências Econômicas
Carlos de Brito Velho Fundamentos biológicos da
educação
Colégio Universitário
Décio de Souza Psicologia educacional Faculdade de Medicina
Ernesto Pellanda Estatística educacional Faculdade de Administração e
Ciências Econômicas
1)José Coelho de Souza
2) Álvaro Magalhães
História da educação e Filosofia da
Educação
1) Secretário da educação
2) Faculdade de Engenharia/
Colégio Universitário
Pery Pinto Diniz Administração escolar e Educação
Comparada
Faculdade de Administração e
Ciências Econômicas
Quadro 4 - Curso de Pedagogia
Fonte: Faculdade de Filosofia (1943), Faculdade de Filosofia (1968), Rodrigues (2002).
Desta forma, a formação do quadro docente, neste primeiro momento foi composta de
três estratégias:
1) Certa abertura ideológica, incluindo em seu corpo docente católicos, metodistas e
protestantes, a exemplo da designação da cátedra de Botânica para o professor
Alemão Alarich Rudolf Schultz (Trindade, F, 1982);
2) Doação de prestigio de intelectuais e políticos necessários ao processo de
implementação da Faculdade (Rodrigues, 2002);
58
3) Pelo aproveitamento dos professores das Faculdades existentes e do Colégio
Universitário como comissionados (Diniz & Soares, 1992)
Portanto, os professores católicos foram designados para disciplinas da área de Ciências
Humanas, como Filosofia, Psicologia, História, e Educação, conhecimentos que estavam de
acordo com a formação humanística que tiveram. Na secção de ciências também estiveram
presentes, a exemplo de Luiz Pilla, assim como no curso de letras com René Ledoux e Jorge
Paleikat, porém não foram hegemônicos. No entanto, é no reitorado de Armando Câmara que
a orientação ideológica e pedagógica da nova faculdade foi definida, com a hegemonia no
quadro docente do grupo católico.
2.3. O Reitorado de Armando Câmara e a alocação das Cátedras da Faculdade de
Filosofia em favor do grupo católico gaúcho
Armando Câmara foi indicado pelo Interventor Federal Samuel Figueiredo da Silva
58
à
Reitoria da Universidade do Rio Grande do Sul em 1945, após a renúncia de Antônio Saint
Pastous de Freitas. Quando assumiu teve dois problemas a enfrentar. O primeiro foi organizar
a localização das unidades de ensino das novas faculdades, como a de Filosofia e a de
Ciências Econômicas, e o segundo foi à composição da congregação da Faculdade de
Filosofia. Por um bom tempo, até a década de 1950
59
, os cursos da Faculdade de Filosofia
funcionavam em quatro locais distintos: no Instituto de Educação, no Instituto de Física, no
Instituto de Química, e no subsolo da Faculdade de Direito. A Faculdade de Ciências
Econômicas e Administração teve sua origem na antiga Escola de Comércio anexa à
Faculdade de Direito e foi criada e incorporada à Universidade do Rio Grande do Sul em
1942.
O novo reitor considerava a Universidade do Rio Grande do Sul no período uma
“maloca universitária”, uma vez que não havia criado um espaço “psicológico-social” para a
transmissão da cultura, e, deste modo, lutou pela construção da cidade universitária,
começando com a criação do prédio da Reitoria, apenas concluído no reitorado de Elyseu
Paglioli
60
. Conforme a interpretação de Armando Câmara (1948: 88) da situação universitária:
59
“Nossas Universidades se constituíram pela reunião dessas escolas, sob o influxo
de iniciativas políticas do Estado. Nelas existe um sistema, que um conglomerado
cultural. Constituem, ainda, simples unidades administrativas. Nelas não se traduz a
existência de um espírito universitário, que pressupõe convívio demorado,
comunicação de idéias, de experiências, de pesquisas em torno de problemas
comuns. Carecemos, lamentavelmente, de um espaço psicológico-social,
indispensável à constituição de uma cultura integral. Para merecer o nome que traz,
nossa universidade deverá constituí-lo. E ela poderá fazê-lo, precipuamente,
organizando o convívio de seus mestres e de seus alunos, proporcionando-lhes,
através das vivências tipicamente universitárias, a consciência do ideal comum”.
Para garantir que se formasse um espírito universitário conforme a concepção cristã de
Universidade nomeou como diretores das novas instituições que completaram a estrutura
universitária
61
Álvaro Magalhães para a direção da Faculdade de Filosofia e Laudelino
Medeiros para a direção da Faculdade de Ciências Econômicas, ambos do grupo católico. Em
relação à Faculdade de Filosofia, conforme analisou Mara Rodrigues (2002: 79), embora
Álvaro Magalhães não tenha medido esforços para desenvolver a faculdade, a estrutura
administrativa na sua gestão não teve condições materiais de se burocratizar, inclusive não
constituiu a congregação, assim como um Conselho Técnico Administrativo (CTA). Dessa
forma, “as tratativas em torno dos destinos da Faculdade de Filosofia e seus cursos recém
implantados, provavelmente ocorreram no nível de conversações, que a estrutura estava
precariamente complexificada” [...].
No entanto, o que favoreceu Armando Câmara para compor o quadro docente da
Faculdade de Filosofia foi Eloy José da Rocha ter assumido a Secretaria da Educação no
governo de Walter Jobim, em 1947. Desta maneira, a partir do decreto estadual 1500 de
1947 foi estabelecido a organização geral da Faculdade de Filosofia com 45 cátedras
distribuídas pelos onze cursos em funcionamento, prevendo a contratação de professores
assistentes, adjuntos e colaboradores em caráter extranumerários. Assim, além de aproveitar
os catedráticos das outras unidades universitárias como comissionários, foi possível
incorporar docentes como professores assistentes, e nesta situação favorável o Reitor
preencheu as cátedras vagas com pessoas que tivessem a sua orientação doutrinária. Nesse
sentido, o quadro docente do curso de Filosofia, que antes tivera certa abertura ideológica,
tornou-se um ensino quase confessional (Trindade, F, 1982). Conforme abaixo:
60
Professores Cadeiras
Pe. Urbano Thiesen História da Filosofia
Maria Pereira Estética
Ernani Maria Fiori Introdução à Filosofia e Filosofia Geral
Hugo Di Primio Paz Lógica e Ética
Victor de Britto Velho Psicologia
Laudelino Teixeira de Medeiros Sociologia
Quadro 5 - Curso de Filosofia no Reitorado de Armando Câmara (1945-1949)
Fonte: Trindade (1982)
Pe. Urbano Thiesen lecionava no colégio Anchieta e foi convidado por Armando
Câmara para ser seu assistente na cadeira de História da Filosofia. Hugo Di Primio Paz foi
convidado pelo Reitor, como Ernani Maria Fiori que nessa época era professor da
Faculdade Católica desde 1941 a convite de Eloy José da Rocha, como também lecionava
História da Filosofia, desde 1937 no pré-jurídico do Colégio Universitário. A professora
Maria Pereira foi convidada por Ernani Fiori para lecionar Estética. Portanto, a cátedra de
Filosofia foi composta por indicações de Armando Câmara e Ernani Maria Fiori
62
.
O curso de Didática começou a funcionar em 1945, quando os alunos dos cursos
implantados em 1943 obtiveram o bacharelado, estando aptos para ingressarem na
licenciatura através do curso de didática de duração de um ano. O curso de Pedagogia
modificou-se na gestão de Álvaro Magalhães. Ele trouxe do Instituto de educação Graciema
Pacheco para lecionar didática, ainda que ela lecionasse Psicologia e fosse formada no curso
de Filosofia. No entanto possuía experiência na Secretária da Educação na Seção Técnica de
Pesquisas Educacionais, além de ter sido aluna de Décio de Souza na Faculdade de
Filosofia
63
. Salvador Petrucci veio da Faculdade de Medicina em 1945 quando foi nomeado
assistente da cátedra de Antropologia. Embora tivesse uma orientação positivista, ele foi um
dos signatários da moção em favor do Padre Fritzen, S.J na polêmica com Érico Veríssimo, e
deste modo é possível que tenha se convertido ao catolicismo. Os outros professores são os
metodistas, como José Gomes dos Santos e Oscar Machado, docentes desde o início da
Faculdade. Portanto, a área da educação teve alguma abertura para diversas orientações
pedagógicas.
Professor Cadeira
Salvador Petrucci Fundamentos biológicos da Educação
Laudelino T. Medeiros Fundamentos Sociológicos da Educação
Oscar Machado Psicologia Educacional
Graciema Pacheco Didática geral
José Gomes dos Santos Administração escolar
Quadro 6 - Curso de Didática
Fonte: Trindade (1982), Anuário (1943), Diário de notícias (14/01/1949)
61
Nome Cadeira
Antônio Rodrigues Complementos de matemática
Armando Câmara História da Filosofia
Salvador Petrucci Fundamentos biológicos da educação e
Estatística educacional
Psicologia educacional Oscar Machado
História da educação
Fundamentos Sociológicos da Educação Laudelino Teixeira Medeiros
José Gomes do Campos Administração escolar e Educação comparada
Filosofia da Educação Álvaro Magalhães
Quadro 7 - Curso de Pedagogia
Fonte: Faculdade de Filosofia (1943), Faculdade de Filosofia (1968), Diário de notícias (14/01/1949).
O curso de Geografia e História no reitorado de Armando Câmara desenvolveu-se sob a
hegemonia do grupo católico. No entanto, a nomeação de Dorival da Silva Schmitt, assistente
da cátedra de antropologia, do grupo do CCA, como professor da disciplina de História da
América gerou protesto público dos alunos com ameaça de greve. Os alunos do Centro
acadêmico Franklin D. Roosevelt reivindicavam que a Universidade já havia formado quadros
especializados que poderiam ser indicados para a cadeira de História da América, mas mesmo
assim Armando Câmara nomeou uma pessoa formada em Direito, com experiência docente
em etnografia na Faculdade Católica para lecionar História da América. Os alunos
questionavam como tal professor poderia passar do Direito, para Etnografia e por fim assumir
História da América, porque para tanto, além de ser autodidata, deveria ter uma cultura
enciclopédica. De todo modo, Armando Câmara manteve a indicação, e os alunos viram
frustrados suas pretensões de ingressar no magistério superior
64
.
Nome Cadeira
Othelo Laurent Geografia Física e História da Antiguidade e da
Idade Média
Lourenço Mário Prunes Geografia Humana
Pe. Balduíno Rambo Antropologia, Etnografia e Etnografia do Brasil
Francisco Machado Carrion História Moderna e Contemporânea
Dante Laytano História do Brasil
Dorival da Silva Schmitt História da América
Quadro 8 - Curso de Geografia e História
Fonte: Anuário 1943, Diário de notícias (14/01/1949).
Os estudantes continuavam protestando contra as indicações do Reitor, a exemplo da
nomeação de Alberto Cibils para a cadeira de Sociologia Educacional, e, em janeiro de 1949,
Armando Câmara renunciou. Porém o motivo não foi à pressão dos alunos para a realização
62
de concursos para compor a congregação como também não foi o relacionamento com o
governo em relação à anexação do Instituto de Artes
65
. O que estava em jogo nesse momento
foi à questão da gratificação e remuneração dos diretores dos institutos, das faculdades, e da
Reitoria, que exerciam a docência em duas cátedras, uma nos cursos da Universidade e outra
cátedra na Faculdade de Filosofia e mais cargo de direção. Os diretores dos institutos
universitários que estavam no exercício de duas cátedras queriam que fossem pagos os valores
correspondentes às duas cátedras, que, pela legislação vigente seria Cr$ 8.400.000 por
cátedra, e assim duas seria o equivalente à Cr$16.800.000, e recebiam Cr$ 4.500.000 por
cátedra, e, portanto Cr$ 9.000.000 pelas duas. Além disso, queriam a gratificação de Cr$
2.500.000 pelo exercício de cargo de direção. Essas questões foram levadas ao governo por
Armando Câmara, mas como os trabalhos legislativos estavam por encerrar o governador
nada pode fazer, e frente a esse fato Armando Câmara pede exoneração da Reitoria,
juntamente com os diretores das faculdades.
Anteriormente ao pedido da exoneração, o reitor Armando Câmara baixou várias
portarias internas de abertura de cátedras na Faculdade de Filosofia, por tempo indeterminado,
indicando pessoas que já estavam exercendo as cadeiras durante seu reitorado (Ver Anexo). A
partir disso, Alexandre Martins da Rosa, escolhido por lista tríplice pelo governador, assumiu
a Reitoria, e Gaspar Dilermando Ochoa a direção da Faculdade de Filosofia. O que importa
nesse momento é que a estratégia de Armando Câmara configurou o corpo docente da
Faculdade, professores os quais serão efetivados na década de 1950, segundo o quadro
abaixo:
Nome Cátedra
Álvaro Magalhães História e Filosofia da Educação
Armando Câmara História da Filosofia
Ary Nunes Tietböhl Análise Matemática e Análise superior
Antonio Rodrigues Geometria
Alarich Rudolf Schultz Botânica
Balduíno Rambo Etnografia e Antropologia
Bernardo Geisel Química Geral e Inorgânica e Química
analítica
Darcy Pereira de Azambuja Política
Dante Laytano História do Brasil
Elpídio Ferreira Paes Língua e Literatura Latina
Francisco Machado Carrion História Moderna e Contemporânea
Guilhermino César da Silva Literatura Brasileira e Portuguesa
João Francisco Simões da Cunha Física Teórica e Superior
Jorge Godofredo Felizardo Zoologia
63
Jorge Paleikat Língua e Literatura Grega
José Rafael de Azambuja Júnior Mineralogia e Petrografia
José Lodeiro Língua e Literatura Espanhola
José Gomes de Campos Administração Escolar e Educação
Comparada
Leonardo Tochtrop Língua e Literatura Alemã
Lourenço Mário Prunes Geografia Humana
Luiz Pilla Físico-Química e Química superior
Laudelino Medeiros Sociologia
Oscar Machado da Silva Psicologia Educacional
Othelo Laurent Geografia Física
René Ledoux Língua e Literatura Francesa
Romeu Muccillo Biologia Geral
Sylvio Ramos da Silva Literatura Norte Americana
Quadro 09- Primeiros Catedráticos da Faculdade de Filosofia (efetivados em 1950)
Fonte: Faculdade de Filosofia (1967).
Portanto, a maioria das cátedras ficou no controle do grupo católico, como a do próprio
Armando Câmara, a de Álvaro Magalhães, a de Baduíno Rambo, a de Francisco Machado
Carrion, a de Luiz Pilla, a de Laudelino Medeiros, a de Othelo Laurent e a de Romeu Mucillo.
Os professores assistentes e adjuntos, como Ernani Maria Fiori, Victor de Brito Velho,
Dorival Schmitt também foram efetivados como professores fundadores. A estratégia de
composição do quadro docente empreendida por Armando Câmara, de certa forma foi bem
sucessiva, no entanto, conforme depoimento de Laudelino Medeiros
66
houve iniciativas do
Reitor para a realização de concursos:
“Organizada a Faculdade era necessário constituir a congregação, que por força de
lei se cumpriu com catedráticos, e por força de lei era quem devia constituir os
órgãos de execução de concursos, as bancas, de modo que se criou uma espécie de
círculo vicioso, porque não havia congregação, e não havia concurso porque não
havia congregação. Então, Doutor Câmara fez uma proposta com os professores da
época, ele estimulou a coisa, e surgiu uma proposta dos professores, uma proposta
ao MEC que se abrissem concursos realizando-se eles perante congregações afins,
por exemplo, nas matérias de Ciências Humanas e Sociais os concursos seriam
feitos perante a faculdade de Direito, cuja congregação substituiria a inexistente
congregação, os de biologia a de Medicina, os de Ciências Exatas a engenharia.”
Essa proposta não foi aceita no MEC, e deste modo, não houve concurso. Por outro
lado, desde a fundação da Faculdade Católica de Filosofia do Rio Grande do Sul, em 1941,
apesar de ter sido criada pelos Irmãos Maristas, o grupo católico começou a integrar o quadro
docente da Instituição, primeiramente na direção de José Eloy da Rocha, e a partir de 1948 no
Reitorado de Armando mara, função que exerceu simultaneamente ao último ano da
Reitoria da UFRGS. Nos anais da Faculdade de Filosofia Católica de 1945
67
constam os
64
nomes de Armando Câmara, Ernani Maria Fiori, Armando Dias de Azevedo, Carlos de Brito
Velho, Darcy Azambuja, Dante de Laytano, Luiz Pilla, Mário Bernd e Victor de Brito Velho.
Contudo, na década de 1950, especialmente com a morte de Getúlio Vargas, o grupo
católico orientou-se novamente para a esfera política em torno do comitê pró-candidatura de
Armando Câmara ao Senado Federal. Armando Câmara elegeu-se Senador
68
, em 1954, na
disputa com João Goulart. Concorreu pela frente democrática (UDN, PL, PDC) em clara
oposição às políticas trabalhistas do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), de Goulart e
Vargas, consideradas de orientação comunista, e assim, conforme seu discurso de candidatura
propôs uma terceira via entre o capitalismo e o comunismo como solução para o contexto
histórico brasileiro após Getúlio Vargas:
“Constitui uma confusão funesta, um erro de conseqüências imprevisíveis, afirmar-
se, como enfaticamente se afirma, que o mundo contemporâneo se situa nas pontas
de um dilema: Capitalismo ou comunismo. Podemos e devemos optar por uma
terceira atitude, única, integral e justa: a ordem social cristã. Se um dilema
diante de nós, ele se poderá formular nesses termos: ordem social cristã ou
ordem social pagã (...) A questão social pode e deve ser interpretada à luz de uma
mais justa orientação doutrinária. Essa interpretação no-la a Igreja, que lhe
atende todas as faces e lhe considera todos os fatores. Da teologia fluiu uma
sociologia, uma integral sabedoria político-econômica. O dogma frutificou numa
teoria social. Os Papas, doutores universais do pensamento católico, fizeram-se
líderes da reforma de um mundo econômico desumanizado pelo capitalismo
materialista e ateu. (...) Dentro da presente realidade nacional, possuímos homens
públicos e agremiações partidárias que, pela influência de sua ação, pela orientação
cristã de seus itinerários ideológicos, pelo alto teor moral de seus métodos de ação
política, revelam-se idôneos e aptos para concretizar uma autêntica democracia
orgânica. Eles, por que realizam a plena vivência dos valores que inspiram a
doutrina social da Igreja, estão aptos para, sem profanação da sacralidade dessas
mensagens de libertação que é fruto da caridade de Cristo, levá-la às situações
coletivas que carecem de seu ordenamento e de sua disciplina. Partidos como o
libertador, o Democrata Cristão, o Social democrático, e a União Democrática
Nacional, pela pureza doutrinária de seus princípios e programas, pela austeridade
de seus métodos de tratamento da coisa pública, pela história de seus serviços à
nação e pela esplendida elite de estadistas que lhe povoam os quadros, representam
vitoriosas forças retificadoras dos rumos temerários da política dominante no País.”
(CÂMARA, 1954: 188)
Portanto, na sua candidatura congregou os católicos filiados ao Partido Libertador
liderado por Raul Pilla, que, segundo Carrion, depois da entrada de Victor de Britto Velho e
Ernani Maria Fiori nunca mais foi o mesmo, os filiados do Partido Social Democrático o qual
Machado Carrion elaborou o programa
69
, como também os militantes católicos da Democracia
Cristã, representados por uma terceira geração católica, como o assistente da cátedra de
65
Ciência Política Leônidas Xausa, além daqueles ligados à União Democrática Nacional. No
entanto, Armando Câmara renunciou ao Senado em 1955, após General Lott ter conduzido ao
poder Juscelino Kubitschek e João Goulart, porque não se submetia a ficar num congresso
nacional de um governo que não considerava legitimo. Nesse momento, conforme Fernando
Trindade (1982) que começou o declínio da geração católica.
De todo modo, até a federalização da Universidade, em 1950, o relacionamento com a
Secretária da Educação Estadual manteve-se coeso através dos representantes católicos que
sucessivamente controlaram a pasta, como Eloy José da Rocha, Adroaldo Mesquita da Costa,
José Mariano Beck, Carlos de Brito Velho, Zilah Totta. Após a federalização, completou-se a
organização da Faculdade de Filosofia com a criação do curso de Jornalismo, em 1952, e o de
Ciências Sociais em 1959. Dessa forma, até a reforma universitária de 1968, a congregação
manteve-se com os catedráticos fundadores, mais os assistentes contratados conforme a
necessidade de quadros qualificados com o crescimento da demanda de alunos pelos cursos da
Faculdade.
2.4. A presença dos católicos na Faculdade de Direito, Medicina, Engenharia e
Economia da UFRGS.
Fernando Trindade (1982) considerou que relação do catolicismo com as instituições
universitárias no Rio Grande do Sul constituiu uma reação à dominação dos positivistas na
esfera universitária. No entanto, aqueles que os católicos classificavam como “positivistas”
estavam mais identificados com as teorias cientificistas, materialistas e todas as teorias que
não convergissem com os ideais metafísicos humanistas cristãos. (Grijo, 2005; Isaía, 1998).
De fato, a maioria dos católicos direcionou-se para o quadro docente da Faculdade de Direito,
como: Adroaldo Mesquita da Costa, Armando Dias de Azevedo, Armando Câmara, Dario de
Bittencourt, Eloy José da Rocha, Elpídio Ferreira Paes e Ruy Cirne Lima.
Intelectualmente neste período “as concepções materialistas eram a tônica filosófica -
doutrinária do Direito e das Ciências Sociais na Faculdade de Direito de Porto Alegre”, seja
por via dos professores advindos da Escola de Direito de Recife, seja por meio daqueles que
vieram da de São Paulo, independente das distinções de orientação dessas escolas
70
. Nesse
66
sentido, a nomeação sem concurso de Armando Câmara foi emblemática, tanto para a cadeira
de “Introdução a Ciência do Direito” que lecionava interinamente desde 1931, quanto para a
de “Filosofia do Direito” ambas em 1935. Com efeito, a entrada de Câmara modificou o clima
intelectual da Faculdade, uma vez que “a percepção cientificista, naturalista e pragmática
anterior é substituída por concepções especulativas sobre a justiça, o valor e as finalidades
últimas do Direito” (Grijo, 2005: 351).
Entretanto, a ênfase no Direito público não é descaracterizada na Faculdade, porque seu
objetivo continuou sendo a formação de lideranças republicanas para a condução dos
negócios públicos do Rio Grande. (Grijo, 2005: 353-354) Portanto, a papel do humanismo
católico na Faculdade de Direito foi ter atualizado os referenciais filosóficos das concepções
dominantes.
A Faculdade de Medicina em relação ao domínio “positivista” apresentou uma
especificidade em relação às outras escolas, que foi a luta contra a liberdade profissional que
acabou dividindo suas lideranças universitárias na sua afinidade com à política positivista,
embora os cientificismos tenham sido desenvolvidos. No entanto, do grupo católico militante
da universidade, daqueles ligados ao CCA, poucos foram os que assumiram a docência na
Faculdade de Medicina, apenas encontramos os nomes de Mário Bern, Heitor Cirne Lima,
Raul Moreira e Waldemar Job. No pólo oposto encontrava-se a Universidade Técnica que foi
a instituição pioneira na formação de técnicos para o Estado, assim como nos avanços
científicos do período. Inclusive, em sua concepção de ensino, a pesquisa esteve presente nos
onze institutos de formação tecnológica tendo vindo professores estrangeiros para algumas de
suas escolas. Com essa configuração a qual o positivismo está relacionado com a origem e o
destino prático da Universidade, o grupo católico marcou presença no corpo docente, como
Álvaro Magalhães, Ary de Abreu Lima, Paulo Ferlini, José Carlos de Moraes, Ivo Wolff
(Trindade, F, 1982), mas teve pouca influência nos destinos do conhecimento técnico.
Na recém instaurada Faculdade de Administração e Economia, que começou suas
atividades em 1945, os professores da Escola de Comercio foram aproveitados, como os
católicos Laudelino Medeiros e Francisco Machado Carrion. Ambos prestaram concursos de
títulos, sendo que o primeiro prestou concurso, em 1938, na secção de Economia Política e
67
Sociologia, classificando-se em sexto lugar, sendo contratado em 1942 por indicação do
Conselho Técnico da escola para reger a secção de “Sociologia e Psicologia” e “Lógica e
Ética” até 1946 quando iniciou as atividades dos cursos da nova Faculdade, na qual será o
catedrático de Sociologia. Machado Carrion também ingressou primeiramente na escola de
comércio, em 1938, através de concurso para a secção de “História do comércio, indústria e
agricultura” tendo entrado em primeiro lugar. Assim, como Medeiros, também continua na
nova Universidade até se aposentar, ministrando “História das doutrinas econômicas
71
”.
Portanto, ao contrário da Faculdade de Filosofia, as escolas mais tradicionais tiveram
influência de docentes católicos de uma forma mais pontual, não tão integrada como um
projeto de conquista ideológica. No entanto, a que chegou mais próxima da influência que os
católicos passaram a ter na Faculdade de Filosofia, em suas devidas proporções, foi a
Faculdade de Direito. Isso se explica porque o grupo católico objetivava também conduzir os
negócios do Estado, e realmente a geração católica que ingressou no corpo docente da
Faculdade de Direito, em sua maioria, foram homens públicos, como Adroaldo Mesquita da
Costa, Armando Câmara, Eloy José da Rocha. Por outro lado, enquanto dirigiram-se para o
domínio da Faculdade de Filosofia, e da própria Faculdade Católica, dos irmãos Maristas, não
se orientaram para o controle da nova Faculdade de Economia. Uma das explicações é que
essa Faculdade utilizou-se dos recursos provenientes da Escola de Comércio num primeiro
momento, e outro fato é que a área de Economia e Finanças não se configurava como ensino
próprio de elites, como também não formava futuros docentes do magistério.
2.5. A hierarquia das disciplinas controlada pelos católicos e a situação da Cátedra de
Sociologia.
As estratégias dos católicos, orientadas originalmente pelo Padre Werner, seguiram a
tendência dos Jesuítas no plano intelectual de influir na formação de elites e, no caso da
UFRGS, de controlar o ensino e a formação dos universitários a permanecerem fieis a sua
formação católica através das Congregações e da Ação Católica e do controle das cátedras de
caráter humanístico ou cursos profissionais relevantes. Como vimos, no Rio Grande do Sul, o
empreendimento começou pela Faculdade de Direito, especialmente com a indicação de
Armando Câmara para a Cátedra de “Introdução à Ciência do Direito” sem provimento de
68
concurso, em 1935. Formado numa tradição escolástica tomista, Câmara buscava unir a
com a razão no ideal socrático de reflexão sobre todas as técnicas e ciências, no caso da sua
primeira cátedra, sobre o Direito. Na década de 1970, num evento da associação dos
professores católicos, Armando Câmara ponderou sobre o seu papel docente na Faculdade de
Direito dizendo que buscava passar para seus alunos o humanismo jurídico
72
. Essa foi a
tradição de pensamento que o grupo católico buscou impor em todas as áreas que atuou
baseado no humanismo cristão, da primeira fase de Jacques de Maritain, difundida nos cursos
do Padre Werner e nos livros de Alceu Amoroso Lima.
Por isso, a Filosofia foi à disciplina mais importante, tanto nos cursos do Padre Werner,
quanto na Faculdade de Filosofia da Universidade. Especialmente por um motivo, Maritain
retomou a Escolástica, ao tomar a Filosofia como um instrumento essencial da Teologia na
busca da verdade. Deste modo, os católicos em sua maioria assumiram as cátedras de
Filosofia, como o próprio Câmara com a de “Introdução à Filosofia do Direito” na Faculdade
de Direito e “Introdução à Filosofia” na Faculdade de Filosofia, Álvaro de Magalhães na
“História e Filosofia da Educação” e o assistente Ernani Maria Fiori com “Filosofia Geral”,
entre outros. Portanto, não foi por acaso que o primeiro Instituto criado na área de humanas
foi o de Filosofia, em 1953.
Essa escola de pensamento católico considerava como objeto por definição de reflexão
filosófica o homem enquanto ser humano dotado de livre arbítrio, então o grupo católico
buscou conquistar a cátedra de Psicologia, assegurando que as teorias naturalistas não fossem
reproduzidas. Foi essa a missão dos professores Oscar Machado, Décio de Souza Soares e do
psiquiatra católico Victor de Brito Velho quando assumiam as cadeiras de psicologia. Ainda
que fossem ordens religiosas distintas, suas orientações convergiam, a exemplo da aula
inaugural da Faculdade ministrada por Oscar Machado intitulada “Aspectos psicológicos e
filosóficos da interpretação da história”. Oscar Machado foi o Catedrático de “Psicologia
Educacional” e Victor de Brito Velho foi seu assistente, e, assim como a Filosofia, a cadeira
de Psicologia fez parte da maioria dos currículos da Faculdade.
A cátedra de Sociologia foi criada primeiramente na Faculdade de Economia, e deste
modo, as disciplinas vinculadas à sociologia privilegiaram os temas econômicos. Em 1943 foi
69
criada na Faculdade de Filosofia, uma vez que a Sociologia constava no currículo dos cursos
existentes. De todo modo, as áreas de Ciências Sociais e de Psicologia começaram a
institucionalizar-se na Universidade tardiamente. O curso de Ciências Sociais é apenas criado
após a federalização em 1959, e o de Psicologia após a reforma universitária de 1968, em
1973
73
. De qualquer forma, uma explicação para esse fato pode ser o papel que os catedráticos
das próprias disciplinas tiveram no desenvolvimento institucional e cientifico, e nessa
pesquisa interessa especialmente o caso do catedrático de Sociologia Laudelino Medeiros.
3. O JOVEM LAUDELINO MEDEIROS E SUA INSERÇÃO NA GERAÇÃO
CATÓLICA
Laudelino Medeiros, catedrático de Sociologia da Faculdade de Economia e
Administração e da Faculdade de Filosofia fez parte da “Geração Católica”. No entanto, teve
uma formação diferente do grupo do CCA, que vinham do Colégio Anchieta diretamente para
os tradicionais cursos de Direito, Medicina, Engenharia da futura Universidade Federal. Em
determinado momento de seu itinerário integrou-se a esse grupo e na Ação Católica. Neste
capítulo, a partir de uma diversidade de fontes localizadas no IHGRS, reconstitui-se sua
formação escolar e cultural, assim como suas posições junto ao grupo católico.
3.1. Origem social e escolaridade pré – universitária
Laudelino Medeiros nasceu em Dom Pedrito, em 1914. Descende de uma família de
origem luso-brasileira com uma história intimamente ligada à do distrito de Herval e à defesa
das instituições monárquicas. Nesta cidade, sua tataravó Maria Nunez Amaro da Silveira
possuía a estância do Serro do Bahú (Cerro do Baú), que na época abrangia praticamente a
metade do distrito, que pertencia à comarca de Jaguarão. Nesta estância viviam e
desenvolveram-se as famílias Costa e Medeiros. A matriarca da família teve sete filhos, entre
eles, o bisavô de Laudelino Medeiros, o Major José Ignácio Medeiros, veterano da Revolução
Farroupilha tendo atuado no lado das forças imperiais de Chico Pedro. Seu bisavô casou-se
com Maria Auta Pereira da Costa, irmã do Barão de Aceguá Astrogildo Pereira da Costa,
70
destacado Brigadeiro que atuou na guerra do Paraguai, e que conforme consta, recebeu como
recompensa pelos serviços prestados ao imperador, terras.
Da união de José Ignácio e de Maria Auta nasceram três filhos, dentre eles Laudelino da
Costa Medeiros, avô de Laudelino Medeiros. Foi justamente seu avô que escreveu a história
das famílias Costa e Medeiros, em 1936, destinado aos seus descendentes. Nesse livro Costa
Medeiros conta, que embora tenha ganhado uma boa herança da parte de sua mãe Maria Auta,
como terras, escravos e gados, acabou perdendo tudo nos seus negócios. Os outros irmãos que
receberam a herança, como sua irmã Adelina, administraram bem a herança, mas perderam
tudo na revolução de 1893.
Sem herança seu avô vai para Hulha Negra, até então Rio Negro, distrito de Bagé.
exerceu a atividade de Oficial de Registro Civil na Prefeitura, mas destacou-se pela sua
atuação cultural na região tendo recebido homenagem póstuma com uma rua com seu nome
no município de Hulha Negra. No entanto, conforme uma retificação de seu neto a uma
homenagem na imprensa a seu avô, o funcionalismo público não consistiu em sua atividade
principal, porque também era proprietário rural de porte médio, exercendo a agricultura.
Quando Medeirinhos, alcunha de Laudelino Medeiros, estava em Porto Alegre estudando
na Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas, seu avô faleceu, no ano de 1936, em Hulha
Negra.
Do matrimonio de seu avô, Laudelino da Costa Medeiros, com sua prima, Auta da
Costa Medeiros, em 1872, nasceu Waldemiro da Costa Medeiros, pai de Laudelino Medeiros.
Em relação ao seu pai, os dados disponíveis são poucos, mas sabemos que exerceu a profissão
de Agente de Estação Ferroviária de Ibaré, hoje incorporado ao município de Lavras do Sul,
também na região da zona da campanha do RGS. Nessa cidade conheceu Mariana Teixeira,
com quem se casou. Dessa união nasceu Laudelino Teixeira de Medeiros, em 1914, tendo
residido durante sua infância em Hulha Negra e Bagé, e realizado nesta última cidade sua
primeira comunhão, em 1928, na Igreja Nossa Senhora Auxiliadora
74
e completado os seus
estudos primários.
71
Os dados mais completos de sua formação escolar começam a partir de 1931
75
com
sua formação no Ginásio Municipal Santa Maria, especificamente com sua formação no
Instituto Comercial anexado à essa escola. A formação no Instituto Comercial do Ginásio
Municipal Santa Maria, coordenada pelos irmãos Maristas
76
, compreendia as disciplinas de
religião, português, francês, inglês, aritmética, álgebra, contabilidade mercantil, geografia do
Brasil, História Geral e Pátria, desenho e concurso de datilografia e, deste modo, apesar do
caráter de curso técnico, teve uma formação similar aos melhores colégios católicos.
No primeiro bimestre de 1931, Laudelino obteve o lugar entre 13 alunos em
aproveitamento, com 83 pontos, no segundo período obteve lugar entre 16 alunos em
procedimento, aplicação e em aproveitamento. É justamente nesse ano que à admitido na
Congregação Mariana “Mater Divinae Gratiae” do Ginásio Municipal Santa Maria, cujo
diretor é o Pe. Frederico Lelmes, e o prefeito Homero Menezes. Termina seu curso em 1933,
mantendo um destacado rendimento escolar. Nesse ano também exerceu a atividade de
professor de contabilidade nessa Escola. Logo, essa breve descrição do desempenho escolar
de Laudelino demonstra o incentivo à competição escolar, revelando-se, desta forma, também
como parte dos irmãos Maristas na formação de uma elite cultural.
3.2. Estudos Universitários: Economia e Direito
Em 1933, então com 19 anos, Laudelino transfere-se para a capital do Estado afim de
prosseguir seus estudos e incorporou-se logicamente ao grupo católico de Porto Alegre do
Centro Católico de Acadêmicos. Conforme seu depoimento
77
:
“Eu era da Congregação Mariana no ginásio em Santa Maria, mas quando me
transferi para Porto Alegre, eu vim residir na Independência, 482, aonde havia certa
pensão para estudantes, organizada e patrocinada pela congregação Mariana.
Inclusive conhecida como pensão do Padre Werner, e o Padre Werner ficava brabo,
dizia que não tinha pensão é a casa “Mater Salvatoris”. De fato, continuei minha
vida de congregado na Congregação e eu pude conviver com congregados de
várias áreas, e esse convívio, inclusive, foi muito salutar para mim, porque eu tinha
feito um curso secundário que foi razoavelmente bom, porque o ginásio de Santa
Maria era um dos melhores da época, apesar de ser dos irmãos Maristas e era
ensino médio. Tanto que meu primeiro contato com a Universidade foi através da
Congregação Mariana, eu tive toda a influência dessas boas cabeças que estavam
por lá e, sobretudo da orientação pessoal de Padre Werner.”
72
Essas boas cabeças, a que se refere Laudelino, estavam cursando Direito, Engenharia ou
Medicina
78
, e Laudelino, teve uma formação diferente, que era acadêmico de
Administração e Finanças da Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas de Porto Alegre.
Formou-se nesta Escola em 1936, sendo o orador da turma. Durante o período de formação
acadêmica em Administração, de 1935 e 1936, e um ano após, em 1937, trabalhou como
contador no escritório de advocacia Becker, Monsen e Rocha, onde posteriormente exerceu
atividades na área de Direito também, uma vez que estava começando sua formação jurídica
na Universidade de Porto Alegre. Cabe ressaltar que esse escritório fora de pessoas destacadas
da “geração católica” ligados à família de Dom João Becker e Eloy José da Rocha.
Após se formar em Administração, de 1937 à 1938, foi professor contratado para a
disciplina de “Técnica comercial e Processo de Propaganda”, do curso técnico de Perito
Contador, na Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas de Porto Alegre. Portanto, forma-
se em Ciências Econômicas, em 1936, um curso que não estava dentro das profissões de
prestígio social do período, mas foi essa titulação que lhe deu as condições de trabalho,
consequentemente suporte financeiro, para estabelecer na capital e dar cabo do curso de
Direito, este sim mais ligado à formação da “elite” católica.
O seu discurso como orador da turma de 1936, ousadamente intitulado “Rumos de
pensamento à juventude” revela seu engajamento no grupo dos jovens católicos, a qual ele
exercera nesse ano a função de diretor de cultura, como também mostra suas disposições
teóricas e práticas com a ampliação de seus conhecimentos em economia e contabilidade que
adquirira na Escola e o uso que fez deste conhecimento. No entanto, Medeiros como seguia
fielmente os conselhos do Padre Werner submeteu seu primeiro discurso ao crivo do jesuíta, ,
conforme seu depoimento
79
:
“Eu me lembro que, em 1936, eu fui indicado para fazer o discurso de formatura, e
então redigi um pequeno discurso, que para mim na época era a coisa mais
importante do mundo. Levei para o Padre Werner e disse a ele: Padre Werner não
quero que o senhor veja isso apenas com olhos de revisão moral e religiosa, mas
também na parte dos conteúdos. Ele disse: Então o senhor volte daqui a três dias.
Então eu voltei e ele tinha a margem do papel, na margem em branco, tinha feito
umas cruzinhas à lápis bem levezinho, e tinha uma dizendo: eu não entendi bem
o que o senhor queria dizer com isso. Aí eu pegava a borracha e apagava aquilo que
ele não concordava, mas em dois pontos ele me fez uma correção que eu retifiquei,
uma dessas é que eu fazia um desses discursos virtuosos que se faz sempre, e falava
na formação do espírito pragmático americano e ligava isso um pouco às correntes
73
protestantes, então ele me disse assim, o senhor aqui está cometendo duas
injustiças, a primeira é que está sendo muito severo com o espírito protestante e o
segundo é que está ignorando um vasto movimento católico que se desenvolveu nos
EUA.”
Além das formalizações típicas deste tipo de documento, e das modificações sugeridas
pelo Padre Werner, Medeiros (1937) fez uma crítica à modernização, principalmente
econômica, ou seja, ao utilitarismo econômico e ao individualismo. No entanto, não é uma
crítica em termos do efeito social dessas práticas e teorizações, mas focaliza-se, na divisão
entre o espírito e a matéria, ou seja, nas palavras de Laudelino na perda da “vida espiritual”.
Para tanto, ele utiliza-se de alguns autores, como Thomas de Aquino e Alceu Amoroso Lima,
para definir, a partir deste último, que o processo moderno consistiu numa “sacralidade
decrescente e economismo ascendente” (Medeiros, 1937: 10).
Assim, a crítica específica de Medeiros dirigia-se ao fato que a “Economia passou a ser
uma ciência natural, sem relação alguma com a ética” (pág. 12), e deste modo, a moral fora
excluída da atividade humana, ao exemplo da dominância no mundo social da idéia de lucro,
na qual “o homem passou a existir para a produção e não a produção para o homem”
(Medeiros, 1937: 13). Frente a esta situação Medeiros (1937: 14) sugeria que exista uma
reação, atingindo também as Ciências Sociais, que busca o renascimento de uma “filosofia
integral da vida”. Para ele a reforma da economia começará em seus princípios, por que:
“Passará de Ciência natural que pretendeu ser, ao verdadeiro conceito de ciência
moral. A economia é um ramo das Ciências Sociais e o seu fundamento é o homem
e não a natureza. E, portanto, deverão seus princípios ser coordenados pelas leis da
ética. De economia de produção, que estava sendo, passará a economia de
consumo. Isto é, o fim de toda atividade econômica não será o de produzir cada vez
mais para conseguir maior lucro; mas, produzir com o fim de satisfazer o consumo,
orientando-se pelo bem comum e pelo bem moral”.
Portanto, esta é a finalidade da economia cristã, ou seja, é uma redefinição do saber
econômico, baseada em preceitos morais de autores como Amoroso Lima, Thomas de Aquino
e Salvador Minguijón
80
, todos fora do universo do conhecimento econômico, elaborada para
fins práticos, como demonstra o final do discurso:
“E quando amanhecer o dia do fim desta noite de séculos, teremos tido a glória de
haver levantado debaixo deste céu e por cima do solo da América a maior
civilização espiritual, de beleza, de ciência e de fé, que o historiador de todos os
povos haverá de chamar a grande IDADE NOVA” (MEDEIROS, 1937: 19).
74
Em 1937, Medeiros entrou na Faculdade de Direito, no momento que seus colegas do
CCA haviam se formado, ou estavam no último ano de seus cursos universitários, como
Ernani Maria Fiori, Francisco Machado Carrion e Victor de Brito Velho. Dentre os futuros
catedráticos da Faculdade de Filosofia, Hugo di Primio Paz e Dante de Laytano foram
contemporâneos seus na Faculdade de Direito. Neste momento, conforme Laudelino
Medeiros
81
, a influência do positivismo na vida universitária, especialmente na Faculdade de
Direito havia mudado em relação ao que ele lembrava da convivência com os estudantes de
Direito do período anterior:
“Quando eu entrei para a Faculdade de Ciências Econômicas pela convivência
interna com o centro acadêmico, com a congregação e com os estudantes de
Direito, eu tenho a impressão que ainda era dominada nos últimos estágios de
evolução daquela concepção comteana. Que de comteana inicialmente evoluiu para
um positivismo cientificista de estilo alemão. Bom, o evolucionismo tinha
assumido uma importância nessa época. Mas quando eu entrei em 1937, na
Faculdade de Direito, isso tinha reduzido consideravelmente, por exemplo,
tinham entrado para pessoas que não tinham essas posições e gente que tinha
uma posição católica, tinha entrado o Elpídio Paes, o Armando Câmara, o Eloy
José da Rocha, o Mem de Sá, o Armando Azevedo. Mas ainda havia alguns
professores, como Francisco Velho era nitidamente positivista, mais um
positivismo Kantiano do que Comteano, marcado pela influência evolucionista,
Darwiniana, do fim do século passado. Por exemplo, a competição no campo
econômico ele assimilava a luta pela vida, inclusive a luta física dos animais. Era
aquilo que a gente sentia, mas tinha mudado muito o clima intelectual.”
Em 1941
82
, formou-se, então, no curso de Direito, sendo o paraninfo da turma Edgar
Luiz Schneider. Os professores homenageados foram Armando Câmara, Darcy Azambuja,
Dario de Bittencourt, Elpídio F. Paes; F.J. Simch Júnior, Salomão Pires Abrahão, João
Bonumá. Contudo, nesse momento, em que Laudelino se forma, ele está com 27 anos, mas
faz parte da nova “geração católica”, sendo formado pela “geração” anterior, de Armando
Câmara, que já haviam conquistado as faculdades existentes.
3.3. Laudelino Medeiros e seu espaço na “divisão católica do trabalho”
O congregado do CCA Laudelino Medeiros participou da maioria dos movimentos da
geração católica na década de 1930. Seu lócus de atuação, no entanto, é na juventude católica,
juntamente com Francisco Machado Carrion, Ernani Maria Fiori e Carlos de Brito Velho. É
75
com esse grupo que participa da LEC, tanto em 1933, como em 1945. Nesta última, conforme
depoimento de Carrion
83
, Laudelino foi um dos signatários do manifesto da LEC e em 1933,
Laudelino foi até o Bispo de Santa Maria convencê-lo que a Frente Ampla, principalmente o
Partido Liberal, deveria incluir a emenda contra o divórcio, que seria defendida pelo
representante dos católicos, Adroaldo Mesquita da Costa
84
.
Em 1940, Medeiros fez parte da “Primeira mobilização da Juventude Católica”,
promovida pela Arquidiocese, em Porto Alegre. Ele apresentou a tese inaugural do evento
sobre “A vocação apostólica das novas gerações”. Neste pronunciamento Medeiros (1940:
21-23) desenvolve sua interpretação da História:
A renascença embora constituísse a aplicação da enorme força criadora
preparada pela Idade Média- desgarrou-se pela direção que lhe imprimiram seus
orientadores. O culto exagerado do homem deslocou o centro do universo do
criador para a criatura, foi o humanismo antropocêntrico. O protestantismo de
Lutero e seus congêneres, num brado desordenado de revolta - de revolta quase
satânica proclama o dogma do livre exame. Cada um como entender as
escrituras;- ou mais propriamente cada um como quiser entende-las. E o
protestantismo se apoiou na Espada de Reis e Imperadores para impor, a preço de
sangue, a liberdade da consciência religiosa: foi a expulsão dos sacerdotes, a
decapitação de bispos, o trucidamento de católicos, tudo em nome da liberdade, de
que nos fornecem pormenores a história da Dinamarca, Escócia, Suécia, Inglaterra
e Alemanha. Em continuação ao humanismo desorientado e ao protestantismo
tirânico e anárquico veio a nova miséria social da Revolução Francesa, com seu
laicismo liberal na vida político, na escola e na sociedade. Cristo foi expulso da
vida pública e, o mais grave ainda, da consciência moral e religiosa de um grande
número. (...) As mais nobres manifestações espirituais do homem tinham sido
afogadas dentro das consciências pelo liberalismo laico da Revolução.”
Essa reprodução de uma parte de seu discurso revela quanto a Ação Francesa (Action
Française) de Maurras o influenciou. Entretanto, o próprio título de seu discurso “A vocação
apostólica das novas gerações” evidência o quanto estava envolvido e como acreditava nos
movimentos católicos da década de 1930 e 1940, especialmente aqueles do grupo do CCA,
como abaixo:
Uma outra mocidade, surgida de entre os bancos da escola e das faculdades, e de
entre as máquinas da fábrica, compreendeu onde estava o verdadeiro apostolado
A cátedra de Pedro. E por isso que participamos do apostolado hierárquico da
Igreja, a nossa, como a Juventude Católica de todo o mundo, é a mocidade nova
surgida para o verdadeiro apostolado.” (MEDEIROS, 1940: 23)
76
Com essa postura, Laudelino Medeiros envolveu-se em quase todos os investimentos do
grupo católico, desde a moção a favor do Pe. Fritzen em relação à polemica com Érico
Veríssimo, até o movimento de renovação social de Armando Câmara. Escreveu eventuais
artigos, a partir do final dos anos 1930 até 1942, no jornal “A Nação”
85
, da Arquidiocese de
Porto Alegre, versando sobre temas como educação da juventude, sobre a Segunda Guerra
mundial, sobre o salário mínimo e contra o divórcio.
Portanto, a militância de Laudelino inseriu-se nessa segunda geração que assumiu
cátedras na Faculdade de Filosofia. No entanto, ele não foi um dos mais ativos no grupo,
como Machado Carrion, Ernani Fiori, que podem ser considerados líderes de tal movimento.
Por outro lado, mesmo escrevendo no jornal “A Nação” que tinha uma posição ideológica
ligada aos grupos teutos, e assim com vínculos estreitos com a defesa do Integralismo e até
mesmo do Nazismo, Laudelino não defenderá essas posições, e posteriormente no encontro da
juventude alerta para o perigo desses regimes políticos. Essa posição é legitimada por
Francisco Machado Carrion
86
quando afirmou que Laudelino nunca teve envolvimento com o
movimento Integralista, ao contrário de outros integrantes do grupo. Portanto, apesar de ter
uma posição menor dentro do grupo, militou em quase todos os movimentos, principalmente
na juventude, como os outros membros do grupo católico, inseriu-se na Universidade, e
conseqüentemente na “missão” atribuída a essa esfera do mundo social.
77
PARTE II: O ITINERÁRIO DE LAUDELINO MEDEIROS NA SOCIOLOGIA DE
CÁTEDRA
Nesta segunda parte analisa-se como a Sociologia ministrada por Medeiros foi sendo
construída no Colégio Universitário, e que Sociologia Laudelino Medeiros apresentou como
legítima na Faculdade de Economia e Administração e qual se utilizou para a formação dos
professores na Faculdade de Filosofia. Além do conteúdo de suas aulas, busca-se ver como
ele foi construindo um grupo em torno das duas cátedras e como esse sistema operava. Ainda
demonstra-se que tipo de promoção a Sociologia teve, porque mesmo sendo um sistema de
cátedra, houve pesquisas sociais, congressos, e certo relacionamento com outros centros de
produção das Ciências Sociais, como também, busca-se analisar que tipo de esforço científico
foi característico da produção intelectual do catedrático. E por fim, analisa-se porque o curso
de Ciências Sociais foi criado tardiamente em relação aos outros centros de produção de
Ciências Sociais.
1. O ITINERÁRIO DOCENTE: A INSTITUIÇÃO DA CÁTEDRA E SEUS
ASSISTENTES
Neste capítulo analisa-se o itinerário docente do catedrático de Sociologia para
demonstrar como redefiniu ou modificou seus referenciais ideológicos católicos dominantes
para a Sociologia que ministrou e para aquela que apresentou como cientifica. Por outro lado,
busca-se ver, através de seu itinerário docente, como o foi o processo de construção da
Sociologia no espaço universitário rio-grandense.
1.1. A (in) definição da Sociologia: A docência no Colégio Universitário (CU) e no
Colégio Júlio de Castilhos
Sua missão
87
como docente na universidade começou em 1938, ainda estudante de
Direito, quando assumiu o curso de Sociologia no Colégio Universitário (CU), juntamente
com os outros jovens do CCA, como Francisco Machado Carrion e Ernani Maria Fiori. Os
cursos complementares chamados de pré-médico, pré-jurídico e pré-técnico que no Rio
Grande do Sul realizados no colégio universitário eram destinados aos candidatos ao ingresso
78
nos cursos de Engenharia, de Medicina e de Direito. O ensino de Sociologia no RGS esteve
presente nesses cursos preparatórios de 1931 até 1942, que seu conhecimento era um dos
requisitos para o exame de admissão da Universidade. No Brasil, a Sociologia nos cursos
preparatórios, assim como seu ensino nas Escolas Normais foram os primeiros esforços de
institucionalização da área, especialmente favorecida pela reforma educacional de 1931. No
momento que Laudelino Medeiros assumiu a docência de Sociologia no Colégio Universitário
começava a vigorar a Lei Orgânica do Ensino Secundário de 1937, decretada por Gustavo
Capanema, a qual excluiu o ensino de sociologia obrigatório das escolas secundárias. Desta
forma, até 1942, com sua extinção definitiva, a matéria era ministrada no Rio Grande do Sul
apenas no colégio universitário
88
e na Escola Normal, e, após constava no apenas no currículo
desta última, e a partir de 1943 na cátedra de Sociologia da Universidade.
A cadeira de Sociologia do Colégio Universitário, no ano de 1942, funcionava em
condições precárias. Medeiros contava com 307 alunos distribuídos nas diversas sessões,
possuía como material de ensino um mapa sobre a distribuição das raças, além de mapas
demográficos, tabelas sobre as grandes migrações brasileiras e tabelas de dados estatísticos
construídos pelos próprios alunos. Apesar da cadeira seguir um programa fixo, estabelecido
pelo decreto 21.241 de 04 de abril de 1932, o lente de Sociologia sugeria que, poderiam ir
além do programa, se fosse possível ministrar aulas práticas, realizando-se excursões
observativas de bairros típicos, morros, que pudessem despertar o interesse pela Sociologia.
De todo modo, Laudelino preparava os futuros ingressantes da Universidade a partir dos
manuais de Sociologia listados no programa fixo, como o de Amaral Fontoura e os de Alceu
Amoroso Lima. Também utilizava como obras de apoio como: A comunidade e a Sociedade
de L. D. Osborn e M. H. Neumeyer de 1936, Précis de Sociologie de A. Lemonnyer, J. Delos
e Sociologia de Tito Prates da Fonseca
89
. Em relação à proliferação de manuais de Sociologia
Católica na década de 1930 fizeram parte da estratégia da elite católica, especialmente a partir
do manual de Alceu Amoroso Lima, de redefinir a Sociologia científica nos termos dos
dogmas cristãos, uma vez que:
“ Afirmando a ilegitimidade da Sociologia e retirando-a do domínio do positivismo,
Amoroso Lima acaba de identificar um campo de possibilidades para uma nova
definição da disciplina. Em verdade ele acessa com a possibilidade de
compatibilidade entre os pressupostos cristãos e a reflexão racional acerca da vida
social inspirado em autores como Le Play e Jacques Maritain.” (MEUCCI, 2000:
40)
79
Nesse sentido, Medeiros, desde o início da década de 1930, estava bem familiarizado
com esses autores, inclusive anteriormente à Alceu Amoroso Lima ter traduzido as obras de
Maritain publicadas pela editora Agir, possuía as obras na sua versão francesa original, assim
como contava com um vasto acervo
90
das teorias materialistas e naturalistas, como o
“evolucionismo”, o “positivismo” e o “marxismo”, tanto de crítica a essas teorias do mundo
social, como as obras clássicas. Ao analisar seus cadernos de aula do Colégio Universitário
91
,
além da Sociologia de orientação católica, contemplou a escola de Le Play, especialmente na
temática da evolução da família, e a Sociologia de Durkheim. Por exemplo, no curso pré-
médico contrastava o conceito de Fato Social de Durkheim, com a interpretação de Alceu
Amoroso Lima e de Jaques Valdour. Nesse panorama, conseguiu trabalhar com orientações
tão diversas de Sociologia, uma vez que se sustentava na sua interpretação da concepção de P.
Sorokin de Sociologia a qual “tem por campo o mundo superorgânico” e assim, tanto o
enfoque católico preponderou, quanto a influência de Durkheim, especialmente a valorização
da pedagogia. Como o programa era dividido em vários campos temáticos da Sociologia, a
diversidade de pontos de vistas imperou.
No curso pré-médico
92
, ministrou aulas sobre a definição da Sociologia e seu método
científico, sobre a Sociologia da Religião, da Família, e sobre a Etnologia. Em sua aula
93
sobre a definição da Sociologia utilizou-se da concepção de Osborn e Neumeyer (1936: 366),
na qual a sociologia “é o estudo dos processos e produtos da vida humana associativa,
manifestados nas relações interativas dentro dos grupos sociais”, juntamente com o código de
doutrina moral cristã de Malinas, de 1927, da União Nacional de Estudos Sociais, o qual
definiu como objeto da sociologia todas as “manifestações da vida social, tais como são e tais
como deveriam ser” e sua finalidade consiste em “determinar as leis que presidem a sua
evolução e de estabelecer as regras práticas a que convém submeter às relações sociais para
harmonizá-las com o destino humano”. A partir dessas duas concepções, Medeiros entendeu
que o objeto material da Sociologia era o homem relacionado (em sociedade) e o formal o
fato social, ou a relação societária. A partir disso, dividiu a Sociologia quanto à sua
modalidade de conhecimento podendo ser Sociografia, Filosofia social e Socioprudencia,
quanto à especificidade dos fatos a estudar os quais podem ser classificados como Sociologia
Geral ou Sociologias especiais – a doméstica, a econômica, a política, a pedagógica - e quanto
80
à modalidade de pesquisa social divididas entre estática social e dinâmica social. Desta
maneira, ao misturar preceitos morais, filosóficos, e supostamente “científicos” ampliava o
campo da sociologia na defesa do que considerava seu fim prático: o progresso social, assim
como a Sociologia finalista de Alceu Amoroso Lima.
As áreas de conhecimento que estudam o homem relacionado, conforme a interpretação
de Medeiros seriam a Filosofia, a Economia Política, o Direito, a Política, a Geografia
Humana, a História e a Sociologia. Portanto, o estudo do homem em sociedade não distingue
a disciplina de outras sendo necessário serem distinguidas pelo método de análise. Para tanto,
definiu como Sociologia aplicada como àquela que se utiliza do método dedutivo-indutivo, a
Filosofia Social como a que desenvolve o procedimento dedutivo e a Sociografia como aquela
que se utiliza do enfoque indutivo. Portanto, a Sociografia, enquanto descrição dos fatos
sociais seria a “Sociologia científica” por excelência através da observação dos fatos sociais
por meio de fichas escritas ou “enquête pessoal e vivida”
94
.
Nas chamadas sociologias especiais às orientações teóricas foram variadas. Por
exemplo, na sociologia doméstica, quando tratou da temática da Família e sua evolução,
discorreu sobre a teoria evolucionista de Spencer, como também sobre a tipologia da família
de Le Play e sobre a teoria de Durkheim e da Escola Histórico Culturalista. Na Sociologia da
Religião preponderaram os autores da Sociologia cristã, Como: Otto Karrer, W. Schmidt, A.
Bros, entre outros. Também ministrou um curso de Etnologia, no qual trabalhou com a obra
de Herbert Baldus intitulada Estudos de Antropologia Brasileira e com a de Nina Rodrigues
sobre os Africanos no Brasil. Portanto, apesar do currículo da Sociologia no colégio
universitário ser fixo, as obras representativas da Sociologia católica foram dominantes nas
aulas de Laudelino Medeiros, no entanto, ele demonstrou uma preocupação inicial com a
prática de pesquisa, mesmo que de uma forma incipiente, sem clareza conceitual, mas, que, de
toda forma, não estava presente na “sociologia” que considerava legítima. (Meucci, 2000).
Quando o Colégio Universitário foi incorporado ao Colégio Júlio de Castilhos,
Medeiros passou a lecionar nesse colégio História do Brasil e Problemas Brasileiros, por dois
anos. Encontramos apenas uma sugestão
95
de atividades para comemorar a Semana da Pátria
no curso de Problemas Brasileiros do Colégio Júlio de Castilhos. A atividade referia-se a
81
apresentação de uma obra dos seguintes autores: Alberto Torres, Felix Contreiras Rodrigues,
Alceu Amoroso Lima, Euclides da Cunha, Oliveira Vianna e Ovídio da Cunha. Ainda sugeria
livros específicos de determinados autores, como: O divórcio de Pe. Leonel Franca, A ilusão
americana de Tasso da Silveira, Aspectos da cultura brasileira de Almir de Andrade, Divórcio
e Anarquismo de R. Barbosa e a Formação do Rio Grande do Sul de Salis Goulart. De todo
modo, esse primeiro momento de sua docência preparava os futuros engenheiros e médicos
com um conhecimento sociológico eclético, meio indefinido em seus objetivos, prevalecendo
as grandes interpretações do Brasil, assim como os temas da Sociologia cristã.
1.2. A Sociologia precursora na Cátedra da Faculdade de Economia e Administração
A Sociologia inicialmente foi incluída na secção de “Psicologia e Lógica” da Escola de
Comércio. Esta escola foi fundada em 1909, fruto do projeto dos professores da Faculdade de
Direito Manuel André da Rocha, Francisco Rodolfo Simch e Leonardo Macedônia. Em 1934
foi incorporada a Universidade de Porto Alegre como Escola Superior de Comércio, ainda
funcionando nos porões da Faculdade de Direito até 1945. Posteriormente foi transformada,
pelo decreto - lei 789, do Interventor Federal Ernesto Dornelles, em Faculdade de
Economia e Administração. Como citado anteriormente, Medeiros prestou concurso para a
Escola de Comércio em 1938, sendo efetivado em 1942. Embora os dados empíricos de sua
atuação nessa Faculdade não contemplem o período de 1942 à 1945, seu depoimento
96
concedido à Clarissa Baeta Neves explica como foi sua incorporação à nova Faculdade:
“Eu estava no Colégio Universitário quando ocorreu um concurso para as várias
cátedras na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade, que era a velha
Escola de Comércio, havia a disciplina de Sociologia. Eu me inscrevi em duas
disciplinas. A Faculdade de Economia selecionava os professores pelo mesmo
regime da Escola de Engenharia, que era um concurso de títulos inicialmente e
depois um estágio de dois anos. depois desses dois anos era que este individuo
estava efetivado no curso. Eu fiz concurso e fui aprovado em psicologia, lógica e
ética, e sociologia, isto por volta de 1939-40. Faziam dois anos que estava no
Colégio Universitário, lembro que era pouco tempo para um título de magistério.
eu entrei na Faculdade de Economia. Houve um pormenor. É que a cadeira de
psicologia havia outro professor. Mas logo depois do concurso, ele desistiu daquela
disciplina. Então, fui chamado. passei a lecionar na Faculdade de Economia.
Nessa época eu lecionava Sociologia, mas, em verdade, eu estudava sociologia
junto aos alunos. Estudava para preparar as aulas. O meu preparo escolar da
82
Faculdade de Economia era insuficiente para um curso desses. Porque nessa
época a Sociologia começava a tomar corpo na opinião universitária.”
A Faculdade de Economia e Administração, em 1945, incorporou a estrutura acadêmica
existente da antiga Escola Superior de Comércio dois novos cursos: Ciências Econômicas e
Ciências Contábeis e Atuariais. E assim, no curso de Ciências Econômicas Medeiros
ministrou sucessivamente duas disciplinas do último ano: Estudo comparado dos sistemas
econômicos, de 1946 à 1961, e Princípios de Sociologia aplicados à Economia, de 1954 à
1960. Anteriormente, porém, exerceu a docência na disciplina de Sociologia Geral e
Sociologia Econômica, de 1942-1953, no curso de Administração e Finanças. Por isso
analisamos as disciplinas do curso de Administração e Finanças em ordem cronológica:
Sociologia Geral e Sociologia Econômica.
Encontram-se muitas súmulas da disciplina de Sociologia Geral sem data, dispersas nos
acervos consultados como o do IHGRS, e o do CEDOC/UCS, mas a do ano de 1947 pode ser
considerada a mais completa dentre as consultadas, como abaixo:
Aula Inaugural
Importância e significação da Sociologia nos estudos da
Faculdade de Economia e Administração. As principais disciplinas
estudadas no curso e os seus fundamentos sociológicos
1. Introdução à Sociologia
Conceito de Sociologia; delimitação do campo de trabalho (em
comparação com as demais ciências sociais); modo como encarar a
realidade investigada; definição, Posição no quadro geral das ciências.
2. Postulados da Sociologia
Implícitos e explícitos. Posições contraditórias. Sociologia
Ciência especulativa ou normativa. Moral e Sociologia
3. Método Sociológico
Método e realidade investigada. Modalidade do método
empregado pela sociologia. Classificação dos métodos das diferentes
escolas. Processos metodológicos de análise. Técnica de Pesquisa.
4. Fato Social
Conceituação, elementos e caracteres, dinamismo intrínseco,
classificação. Exame crítico do determinismo sociológico.
5. O homem
O homem, animal racional. Individuo e pessoa. O homem e a
sociedade, sociabilidade natural do homem. Tríplice tendência humana. O
homem e a lei natural. Dois erros sobre o conceito de homem: o
individualismo e o despersonalismo. O homem como causa de seus atos e
como causa da história.
6. Mesologia Social
Conceito de meio social. O fator geográfico e biológico, o fator
tecnológico e a sociedade mesma considerada como meio social
extrínseco com relação a cultura determinadas. Evolução histórica dos
fatores mesológicos. Os fatores Os fatores mesologicos no mundo atual
(características geográficas importantes nos países contemporâneos).
Interpretação sócio –geográfica do Brasil
7. Etnologia e Antropologia
Origem da espécie humana. Raças. Raças antropológicas e raças
históricas. O valor sociológico das raças. Fusão étnica. Assimilação. O
83
problema no Brasil e especialmente no Sul. Racismo: Na investigação e
na aplicação
8. Demografia
Valor sociológico da povoação. Movimentos da população e suas
causas. Evolução histórica dos fenômenos demográficos. Os fenômenos
demográficos no mundo atual (estatísticas). Interpretação sócio-
demográfica do Brasil e especialmente do Rio Grande do Sul.
9. Psicologia Social
Definição entre Psicologia social e psicologia individual. A base
psicológica das estruturas e dos comportamentos sociais. Momentos
psicológicos da coletividade. Tentativas de interpretação psicosociológica
da alma brasileira.
10. História, Filosofia da História e
Sociologia
Contribuições para a sociologia. Diferenciação. Fundamentos
históricos dos fatos sociais. As grandes linhas de interpretação
sociohistórica do Brasil.
11. As bases naturais da sociedade
As bases físicas, biológicas e psicológicas. Sua Análise
13. A inteligência e a vida social
A inteligência e a racionalização das instituições. A inteligência e
a cultura. A inteligência e os desajustamentos sociais. O sentimento e a
vida social. A simpatia- formas e funções sociais
14. Forças Sociais
A interação, processos sociais- formas e funções
15. A estrutura e a organização social
Análise. A autoridade e a hierarquia. As classes sociais-
formação, estrutura e funcionamento. As elites
16. A comunidade e as associações
Conceito, elementos característicos, formas, grupos sociais:
biológico, econômico, político e espiritual
17. As transformações Sociais
Definição, formas, fatores. Princípios que regem a dinâmica
social. As transformações sociais anormais. Fatores e mecanismo dos
diferentes tipos.
18. Civilização e progresso
Civilização. Conceito, elementos e formas. Classificação.
Evolução e progresso. Natureza do progresso; teorias. A participação das
massas no destino econômico dos povos e a consecução de seu bem estar.
19. A alma Social
Natureza e elementos constitutivos. Consciência e inconsciente
social. A linguagem e os símbolos, influência social. Tradição. Opinião
social, como se forma, como atua e seu significado. Espírito grupal. A
pátria e o patriotismo. O sentido social nas nações americanas.
20. Sociologia Doméstica
Família, Formas, origem e evolução. A escola Histórico cultural
21. Constituição natural e constituição
cristã da família
A família como instituição. Importância na Sociedade. A família
e o Estado
22. Casamento Civil
Desquite. Divórcio, O problema em Si e no Brasil
23. A finalidade natural da família
Erros correspondentes. O anto-concepcionismo. População-
denatalidade e suas causas, remédios, eugenia.
24. A família moderna e contemporânea
Tipos de família contemporânea e seus caracteres. Fatores sociais
que influem sobre a família.
25. O feminismo
Posição natural e posição artificial da mulher na sociedade, o
trabalho da mulher fora do lar
26. Sociologia educacional
Os fundamentos sociológicos da educação. Grupos que nela
interferem
27. Importância das instituições
educacionais
Nas transformações sociais e econômicas. Orientação e seleção
profissional. Educação e ajustamento comunitário.
28. Sociologia econômica
Fundamentos sociológicos dos quadros da vida econômica.
Constituição e condições sociais da produção. Instituições econômicas
modernas originadas pela sociedade.
29. O trabalho
O caráter moral, social e econômico do trabalho. Os fenômenos
sociais do trabalho. Os direitos do trabalho. A valorização do homem
brasileiro pelo aperfeiçoamento de seu trabalho.
30. A origem da Propriedade
Contribuição da etnologia moderna para a solução dos
84
problemas. Direito de propriedade, limites. Função social da propriedade.
31. O grupo econômico e sua evolução
Economia doméstica e fabril. A revolução industrial. A máquina.
32. Sociedade profissional
Classe e profissão. Organização profissional. A organização
profissional do Brasil.
33. Colonização e produção-
Política colonizadoras do Brasil. A colonização no Rio Grande
do Sul.
34. Fundamentos sociológicos do
mecanismo da vida econômica
Relações entre o econômico e o social. Fatores sociais que
aumentam ou retardam a velocidade das trocas; e reflexos sobre a
produção. Conseqüências sociais e morais da divisão do trabalho.
35. Pressupostos sociológicos na
distribuição e no consumo
Salário, previdência, renda e lucro do ponto de vista dos
princípios fundamentais do convívio humano. Participação do operário
nos rendimentos de empresa. O consumo e a ordem econômico- social
36. Aspectos sociológicos dos problemas
de economia nacional e internacional
A situação do Brasil
37. Os dados sociológicos das doutrinas
econômicas mais importantes
Economia liberal. O capitalismo. Economia Socialista. Economia
Orgânica.
38. Sociologia Rural
Sociologia das comunidades rurais. A população rural. A
organização social rural. Os processos sociais na sociedade rural. Linhas
gerais da nossa evolução rural
39. Sociologia Política-
Sociedade civil. Origens e finalidades. O bem comum. Raças e
nacionalidade.
40. A nação e o Estado
Fatores que transformam a nação e o Estado. Teorias do Estado.
Concepção orgânica do poder civil. Modos de organização social
41. Democracia
Formas e fundamentos. Raízes históricas e sociológicas da
democracia no Brasil
42. Sociedade internacional
Nacionalismo, Continentalismo, internacionalismo,
universalismo. O problema da paz na mundo
43. Sociologia Religiosa
Origem e evolução das religiões. O fator religioso na história. O
cristianismo e a civilização ocidental
44. Modos de relação entre a Igreja e o
Estado
A Igreja e a educação. A situação no Brasil
45. Patologia Social
Anomalias sociais periódicas- guerra- Revoluções- crises
econômicas e trabalhistas- desemprego
46. Anomalias sociais constantes
Pauperismo, degenerência, criminalidade, alcoolismo,
fragilidades sociais
47. História da Sociologia
Estudos sociais desde a antiguidade até o início da idade
moderna. Classificação das diferentes escolas contemporâneas
48. As Sociologias mecanistas
Geográficas. Biológicas e sociológicas
49. As escolas com fundamento no
sociologismo
Escolas psicológicas psico-sociais
50- A escola de Le Play
Seus continuadores. O método da Sociologia
51. A Sociologia contemporânea
Na França, nos Estados Unidos da América do Norte, na
Inglaterra e na Alemanha. A sociologia na América Latina, a Sociologia
no Brasil
Fonte: Programa da disciplina de Sociologia Geral do Curso de Administração e Finanças 1947 (acervo IHGRS)
Quadro 10: Programa de Sociologia Geral do curso de Administração e Finanças
Nesse período Medeiros era o diretor da Faculdade de Economia e Administração, tendo
renunciado em 1948, juntamente com o Reitor da UFRGS Armando Câmara. Enquanto
Diretor esteve preocupado com o desenvolvimento da pesquisa na Faculdade de Economia, e
propôs ao Conselho Técnico Administrativo (CTA) a criação de um Instituto de Pesquisas
85
Econômicas sendo aprovado por unanimidade pelo CTA e pela Congregação em 30 de julho
de 1947, e assim, o Reitor da UFRGS encaminhou ao Governo do Estado, mas por
dificuldade de ordem administrava e financeira não foi concretizado, apenas criado na década
de 1950.
De todo modo, essa preocupação aparece no seu programa de Sociologia Geral, ao
incluir a discussão de técnicas de pesquisa e demografia especialmente centradas no caso do
Brasil e do Rio Grande do Sul. No entanto, na sua bibliografia mínima para o programa
indicou apenas o manual de L.D Osbourn e H Neumeyer, que utilizava no Colégio
Universitário, o manual de método sociológico de Paul Bureu, o de A. Menzel, as obras de
cunho católico de Tristão de Athayde e Murray, e a sistematização do conteúdo sociológico
de E. Willems e R. Barreto e o de Sociologia rural de T.L. Smith, e por fim indicou
Fernando de Azevedo com seu clàssico A cultura brasileira
97
.
Desse enorme programa, e dos posteriores, conforme os pontos dos exames finais,
Medeiros esperava que os alunos compreendessem os seguintes temas:
Sociologia geral (1947) Sociologia Geral (1949) Sociologia Geral ( 1951)
Sociologia Geral
Conceituação da Sociologia e
sua situação no quadro geral das
Ciências
Isolamento social
Contato Social
Grupos sociais
Comunidade
Estrutura Social
Cultura
População
A Sociologia e as demais ciências
sociais
Interação e processos sociais
Grupos e instituições sociais
Comunidade Local e região.
Sociedade Global
Estrutura e Organização Social
Cultura e mudança sócio- culturais
Determinação do campo de estudo
Fato social
Método sociológico
Sociedade
Estrutura e organização social
Interação social
Processos sociais e culturais
Comunidade
Mudança cultural
A família
O econômico e o social
Trabalho e profissão
Nação e Estado
Sociologia do conhecimento
Anomalias sociais
Fonte: Pontos para exame final do ano de 1947, 1949, 1951 acervo IHGRS
Quadro 11: Pontos para o exame final de Sociologia Geral de 1947, 1949, 1951
De um exame para outro se mencionam apenas os temas novos, porque os pontos da
prova de 1947 mantiveram-se na de 1949, e no de 1951, e assim em cada uma adicionado
mais pontos os quais o catedrático considerava essencial. Nos questionamentos elaborados
86
para os alunos a partir de 1949 prepondera a discussão sobre classes sociais. Ainda que nos
seus cadernos de aula
98
e nas suas bibliografias não contenham nenhuma discussão mais
aprofundada sobre modo de produção do sistema capitalista e das teorias estruturalistas e
materialistas, ele inquiria seus alunos sobre as causas e os aspectos ideológicos da luta de
classe. Por outro lado, as questões enfatizam a Sociologia Urbana e a Rural, os estudos de
comunidade, especialmente influenciados pela Escola de Chicago, inclusive o manual
indicado para esses temas foi o de Teoria e Pesquisa de Donald Pierson, de 1945. Alguns
temas são colocados numa ordem moral, como a dignidade de trabalho e sua fecundidade, ou
então quando questiona sobre o trabalho da mulher fora do lar, e classifica o feminismo como
moderado ou radical. Esses tópicos vão manter-se nos outros programas dos outros cursos, e a
grande ênfase é na definição da Sociologia e sua aplicação para a realização de diagnósticos
sociais. É com essa orientação que Medeiros propõe atividades de pesquisa sobre a variada
temática dos programas, como revisões bibliográficas, e visitas à instituições e a comunidades
no Estado com o “objetivo de habituar o aluno à pesquisa científica e o de informar de modo
direto sobre a vida social e econômica do Estado”.
99
. Embora tenha diversificado a
bibliografia, inclusive incluindo Max Weber, mas sem discutir a teoria da secularização e
modernização, a hegemonia continuou sendo da redefinição dos temas sociológicos em
preceitos morais.
A disciplina de Sociologia Econômica do Curso de Administração e Finanças ampliou
sua temática especialmente no ano de 1951. Medeiros incluiu uma discussão sobre sociedade
e multidão, no contexto da administração federal “populista” de Vargas. Interessante que
Medeiros não opôs sociedade às massas, como a Sociologia sistematizada por católicos
compreendia essa dinâmica (Fontoura, 1943), mas sim à multidão.
Sociologia Econômica 1950 Sociologia econômica 1951 Sociologia econômica 1953
1. Conceituação da Sociologia
2. Classificação das
sociedades
3. Luta de classes e conflitos
sociais
4. Hierarquia social
5. Estratificação social
6. Posição da sociologia no
quadro das ciências
7. Autoridade
8. Sociologia econômica
9. População
21. Relação interpsicológica e
relação social
22. Delimitação do campo de
trabalho da Sociologia
23. Sociologia como Ciência
especulativa
24. Patologia Social
25. Sociabilidade natural do
homem
26. individualismo e
despersonalismo
40. comunidade rural
41. vizinhança
42. Autoridade e hierarquia,
43. Reforma agrária- o que é,
objetivos da reforma
agrária no Brasil
44. Formas de família
45. Família rural e família
urbana
46. Competição e conflito
47. Sociabilidade humana
48. Divisão da Sociologia
87
10. Método sociológico
11. Método de Le Play
12. Diferenciação social
13. Método de Jacques
Valdour
14. Fato Social
15. Conceito de homem
16. Partidos políticos
17. Inteligência e
racionalização das
instituições
18. Elites
19. Comunidade
20. Contatos sociais e interação
social
27. Método e realidade
investigada
28. Diferença de sociedade e
multidão
29. Cultura
30. Métodos das diferentes
escolas sociais
31. Impulsões sociais e contatos
sociais
32. Dever, direito e importância
moral do trabalho
33. interação social
34. Acomodação e assimilação
35. Anomalias sociais
periódicas e constantes
36. Cooperação social
37. Guerras e revoluções
38. Espaço e Distância Social
39. Status social
49. Cooperação social
Fonte Programa de Sociologia Econômica de 1950, 1951, 1953
Quadro 12: Pontos para exame final de Sociologia Econômica 1950, 1951, 1953
Nesses programas aparece mais claramente uma preocupação de Medeiros com a
reprodução de métodos de pesquisa social acabando por definir sua orientação teórica: Le
Play e Jacques Valdour. Ambos não estavam ligados aos sistemas universitários modernos, o
que demonstra que a tradição da leitura da realidade social nem sempre foi construída no
ambiente acadêmico, muito menos foi desenvolvida nos moldes “cientificistas”, mas foram
tradições que desenvolveram em torno de grupos que criaram certas instituições e, deste
modo, deram continuidade a certas linhas de pensamento, que posteriormente defrontam-se,
desaparecem ou são “reatualizadas” no processo de institucionalização da Sociologia como
disciplina acadêmica (Lepenies, 1996). Portanto, Medeiros “reatualizou” essas orientações
ligadas ao catolicismo francês, ambas das enquêtes sociais, especialmente sobre os operários.
Entretanto a escola não construiu respeitabilidade acadêmica, porque não teve um projeto
científico de valor universal, apenas um papel particular entre a propagação de idéias
conservadoras e a difusão de técnicas de coleta de dados sociais. No entanto, mesmo que os
historiadores da Sociologia considerem a escola de Le Play como precursora da Sociologia
empírica, conforme Karady (1976) não nenhuma continuidade histórica entre os
empreendimentos de Le Play e as práticas científicas posteriores.
88
A “Escola sintética e geográfica de Le Play”, estava dentro do conteúdo sociológico
sistematizado por Pitirim Sorokin
100
. Logo, foi este o manual amplamente utilizado na
maioria dos cursos de Sociologia de Laudelino Medeiros
101
e classificado por Levine (1997)
como de tradição pluralista. Portanto, embora outras orientações ainda estivessem obscuras
nos cursos de Medeiros, como a weberiana ou até mesmo a interpretação marxista da
realidade social capitalista, o fato social de Durkheim, a classificação da Sociologia entre as
Ciências de Comte, e o método de Le Play e o de Valdour prevaleceram em seus cursos. Por
outro lado, cabe destacar, a introdução da temática da reforma agrária nos programas, porque,
na década de 1950, após a industrialização acelerada do pós -1930 representou um problema
latente brasileiro, revelando que a orientação dos cursos de Medeiros, ou melhor, a finalidade
da Sociologia para Medeiros era, justamente a resolução dos problemas brasileiros através de
diagnósticos da realidade, tanto a social, quanto à econômica (Neves & Liedke, 1997).
A partir de 1946, Laudelino Medeiros assumiu as disciplinas de Sociologia do Curso de
Ciências Econômicas, especialmente o “Estudo comparado dos sistemas econômicos” (1946-
1961) e “Princípios de Sociologia aplicados à economia” (1954-1960). Os primeiros anos
reproduzidos nos programas
102
do curso de “Princípios de Sociologia Aplicados à Economia”
são muitos similares àqueles do curso de Administração e Finanças, só diferindo-se a partir de
1957. Um dos fatores explicativos dessa mudança foi à criação do Centro de Pesquisas
Econômicas (CEPE), posteriormente IEPE, em 1953, sob a direção de Pery Pinto Diniz no
Reitorado de Elyseu Paglioli. O IEPE foi criado quando a Universidade estava sendo
federalizada com o objetivo de: 1) realizar pesquisas na área de economia nacional e regional,
2) proporcionar o aperfeiçoamento dos economistas e dos professores, 3) exercitar os alunos
na investigação científica, complementando o ensino do FCE; e 4) cooperar com a
administração pública e entidades privadas. É nesse contexto, na Divisão de Pesquisas do
IEPE que foi criada a Secção de Estudos Sociais, coordenada por Laudelino Medeiros, a qual
agregou alunos colaboradores, assistentes e pesquisadores no intuito de realizar pesquisas
científicas.
Nesta disciplina de “Princípios de Sociologia aplicados à Economia”, Medeiros teve
como assistente Túlio Bogo. Este foi seu aluno na Faculdade de Ciências Econômicas, e
colaborou na Pesquisa sobre o Padrão de Vida no Rio Grande do Sul, coordenado
89
regionalmente por Laudelino Medeiros, em 1952, e em outra pesquisa de Medeiros sobre a
Mobilidade social para Porto Alegre, em 1956, além de colaborar na pesquisa de Fernando de
Oliveira sobre São Sebastião do Caí.
Alguns temas novos são incluídos no programa de 1957 como a planificação regional, e
no de 1960, o padrão de vida familiar. É claro que, esses temas estão relacionados com as
pesquisas desenvolvidas no IEPE por ambos, Medeiros e Bogo, como colaborador,
especialmente nos anos 1960, pois juntando os dados das sucessivas pesquisas sobre o padrão
de vida de operariado (1954, 1960, 1970, 1983) foi possível posteriormente construir índices
de preço ao consumidor (Massina, 2003, pág. 11). Em relação ao tema da planificação desde
1951 Medeiros é membro correspondente do Instituto de Sociologia e Planificação Regional
da Universidade de Tucumán (Arg), e num ofício do ano de 1955 revelou seu desejo de
desenvolver estudos sobre a possibilidade da Planificação
103
no RGS. Possivelmente o curso
de 1957 tenha sido ministrado por Medeiros, porque os temas continuam seguindo a mesma
orientação culturalista, e o de 1960 ministrado por Bogo, uma vez que incorpora temas novos,
como: burocratização, a questão da produção, além da ênfase na Sociologia Econômica
propriamente dita. Posteriormente, esse curso, assim como o de “estudo comparado dos
sistemas econômicos” tiveram Túlio Bogo como o docente responsável
104
.
Princípios de Sociologia aplicados à Economia
(1957)
Princípios de Sociologia aplicados à Economia (1960)
1. Sociologia,
2. Fato social,
3. Método Sociológico
4. Sociologia Geral (Sociedade- aspectos
fundamentais, estrutura social, bases naturais e
racionais, o homem e a sociedade. Interação
social e processos sociais, comunidade, cultura)
5. Sociologia Familiar (Família- generalidades,
Família rural e urbana, Família- Significação
social e econômico. )
6. Sociologia Econômica (trabalho, propriedade,
grupos econômicos, empresa, associação
profissional, profissão, classes sociais,
organização social e atividade econômica)
7. Planificação Regional (Análise regional, área
subdesenvolvida, organização social da
comunidade)
8. Conceituação da Sociologia econômica
9. Status Social
10. Estratificação social e classe social
11. Significação econômica da família
12. Sociologia economia e o economista
13. Teoria evolucionista sobre origem e evolução da
família
14. Estrutura social e estrutura de classes
15. Comunidade
16. Classe média
17. população
18. Família, Produção e o consumo
19. mudança cultural e estrutura de classes
20. Teoria de Durkheim sobre a origem e a evolução da
família
21. Grupos primários e secundários e a comunidade
22. A sociedade industrial e a estrutura de classe
23. Processos sociais
90
24. A Burocracia e a moderna estrutura de classes
25. Família e o padrão de vida
26. Acomodação e assimilação
27. Sociologia Urbana
28. Cultura
29. Demografia
30. Mudança e ruptura cultural
Fonte: Programa de Princípios de Sociologia aplicados à Economia de 1957 e 1960
Quadro 13: Pontos da disciplina de Princípios de Sociologia aplicados à Economia 1957 e 1960
Embora, a Cátedra de Sociologia da Faculdade de Filosofia tenha tido uma maior
tradição de assistentes e colaboradores de ensino, o que se justifica pela ênfase na formação
de professores, a cátedra de Sociologia da Faculdade de Economia contou mais com
assistentes e colaborados de pesquisa, especialmente no IEPE. Inclusive, até as atividades de
pesquisa dos cursos a partir de 1955, não se reduzem mais a visitas à cidades e instituições,
mas sim à realização de estágios de cinco horas por períodos da semana juntamente às
atividades da cadeira destinando-se à pesquisa bibliográfica e a pesquisa de dados para a
elaboração do trabalho escrito final
105
. Portanto, na Faculdade de Economia, Medeiros teve
como colaboradores de pesquisa no IEPE e assistentes de ensino num primeiro momento
Fernando Corrêa Oliveira e Túlio Bogo, ambos na pesquisa sobre mobilidade para Porto
Alegre, e após, na década de 1960, José Fraga Fachel, e Ivo Alberto Schneider na sobre a
educação rural em Santa Cruz do Sul e na docência do curso de Ciências Sociais e no
Programa de Pós-Graduação de Sociologia Rural.
A disciplina de “Estudos comparados dos sistemas econômicos” foi à primeira cadeira
assumida por Laudelino Medeiros no curso de Ciências Econômicas, criada pelo decreto
estadual 1757 de 29 de outubro de 1946
106
. Como o nome indica o objetivo da disciplina
consistiu no estudo dos sistemas econômicos presentes no mundo pós-guerra, a saber: o
socialismo e o capitalismo. A contribuição da Sociologia nesse sentido, numa disciplina
estritamente econômica, foi relacionar uma série de aspectos do mundo social com os
sistemas econômicos, como: a cultura, as instituições, as comunidades. Portanto, ao analisar
as súmulas, o papel da Sociologia e de seu catedrático, foi incluir a discussão dos princípios
não econômicos na constituição dos sistemas econômicos, conforme abaixo:
91
Estudos comparados dos sistemas econômicos
(1954)
Estudos Comparados dos sistemas econômicos (1961)
1. Sistema Econômico
2. Liberalismo
3. Planificação no sistema socialista
4. O meio natural e o sistema econômico
5. Instituições econômicas liberais
6. Socialismo
7. Vida econômica e comunidades naturais
8. Vida econômica e as comunidades
confessionais
9. Sistemas puros e sistemas reais
10. Padrões culturais e o sistema econômico
11. Sistemas permutativos
12. Sistemas distributivos
13. Corporativismo
14. Embasamento cultural no capitalismo
15. Sistema capitalista
16. A disciplina e o seu campo de estudo. Relações com a
teoria econômica
17. Teoria e doutrina econômica e sua utilização nos estudos
comparados
18. Política econômica e sistema econômico
19. Análise de elementos do sistema econômico - relações,
instituições e objetivo. Classificação: teóricos e reais;
distributivos e permutativos, de direção central à
economia do tráfico
20. Implicações da variação dos elementos dos sistemas
econômico e necessidade de sua compatibilidade. A
compatibilidade e a essência do sistema econômico.
Variação entre o sistema teórico e o real. Embasamento
natural do sistema econômico
21. Embasamento social e cultural do sistema econômico
22. Sistemas econômicos: classificação
23. Aula de Jean Roche sobre a estrutura agrária na região
colonial do rio grande do sul
24. Classificação das escolas socialistas
25. O socialismo como sistemas econômico e seus princípios
básicos não econômicos
26. Análise das implicações dos princípios não econômicos
na estruturação do sistema econômico socialista
27. Princípios econômicos do sistema
Fonte: Programa de Estudos comparados dos sistemas econômicos de 1954 e 1961
Quadro 14: Pontos de Estudos comparados dos sistemas econômicos 1954 e 1961
Essa imbricação da Sociologia na Economia, ou socialização da Economia, foi descrita
por Medeiros em 1952, no artigo intitulado “A Sociologia Econômica e a formação dos
economistas”, no qual demonstra que:
“A economia, ao elaborar a teoria econômica, não pode ignorar a realidade
propriamente social, sobre a qual, ou na qual, existem os fatos econômicos. Em
primeiro lugar, as instituições econômicas pontos de partida ou de amarra das
relações econômicas são instituições sociais e muitas vezes organizações
societárias: a empresa, o mercado, o costume regulador, a divisão profissional do
trabalho, etc. É necessário, pois, que a Sociologia informe sobre a natureza e a
resistência desses materiais. De outro lado os fatos econômicos não se comportam
da mesma maneira em todos os meios sociais indiscutivelmente. E, por fim, a
ordem econômica, o sistema econômico, não é senão um aspecto da polimórfica
realidade social. E a ordem econômica, encarada do ponto de vista teleológico,
existe para a organização social; para que, sendo boa (a ordem econômica), também
sob este aspecto a ordem social propicie o bem comum. É claro que uma boa ordem
social deve assegurar uma boa ordem jurídica, uma boa ordem política, uma boa
ordem social - recreativa e social-religiosa, uma boa ordem educacional e, também,
uma boa ordem econômica. Portanto, é ainda uma vez manifesta a contribuição da
92
Sociologia à Economia, quando se elabora a teoria econômica, ao fornecer
conclusões, supostos sociais e princípios.” (MEDEIROS, 1952: 700-701)
A importância da análise dos princípios sociais no estudo de sistemas econômicos e na
formação de especialista em Economia é reiterada por Medeiros (1952: 701):
Mais evidentes se tornam as relações da Sociologia com a Economia ao se
examinar a política e a técnica econômica. A política econômica é o conhecimento
dos meios necessários e eficazes para que seja conduzido um sistema econômico,
admitidos os conhecimentos oferecidos pela teoria e doutrinas econômicas. A
elaboração desse conhecimento da política não pode deixar de lado os
ensinamentos da sociologia sobre a natureza e o mecanismo da vida social, sobre os
objetivos gerais da sociedade, aos quais se deve ajustar o objetivo particular
econômico. E o mesmo ocorre com a técnica econômica. Esta não é a elaboração
de um conhecimento, mas um fazer. E a maneira de realizar isso, diante das
situações concretas individualizadas, a política econômica adotada. E então é
indispensável o conhecimento da realidade com a qual se está trabalhando a
sociedade- para o que é necessário recorrer a sociologia.”
Medeiros escreveu esse artigo em 1952, um ano após a profissão de economista ser
reconhecida. Na análise das súmulas e provas da disciplina, anteriormente à 1954, e após, até
1960, a relação da realidade social com a econômica ainda é representativa nos pontos
trabalhados, mas a partir de 1960 a teoria econômica prepondera. Isso é representativo do
processo de institucionalização e profissionalização do economista, que, especialmente a
partir da década de 1960, proliferaram-se programas de pós-graduação da disciplina no
Brasil
107
. No entanto, no Rio Grande do Sul, a expansão do ensino com a criação da Pós-
Graduação ocorreu juntamente com a Sociologia, no curso de Mestrado em Economia e
Sociologia Rural, de 1963. Essa vinculação da Economia com a Sociologia Rural, objetivada
na criação do primeiro curso de Pós-Graduação dessa área de pesquisas foi decorrente das
atividades de pesquisa e intercâmbios acadêmicos desenvolvidos no IEPE.
Desde o final da década de 1950 o IEPE recebeu apoio da Fundação Rockfeller e da
Fundação Ford para seu desenvolvimento institucional, assim como da Fundação Getúlio
Vargas (FVG), do Conselho Nacional de Economia, e do Instituto Roberto Simonsen. Com
esses recursos financeiros a Instituição pode, além de desenvolver pesquisas, aperfeiçoar o
seu pessoal técnico através formação qualificada de seus pesquisadores e alunos tanto no
Brasil, quanto no exterior. Uma das iniciativas nesse sentido foi o intercâmbio acadêmico
firmado entre a secção de estudos rurais do IEPE com a Universidade de Wisconsin (EUA),
93
iniciado em 1961, que resultou na realização do curso de aperfeiçoamento em Economia
Rural, realizado em 1962, uma espécie de embrião do Programa Mestrado de Economia e
Sociologia Rural.
O curso de Mestrado em Economia e Sociologia Rural foi criado em 1963, e
desmembrado em 1965, como Economia Rural e Sociologia Rural, e deste modo, o estudo da
Economia “pura” propriamente dita surgiu posteriormente em 1971, com a criação de um
curso de Pós-Graduação específico de Ciências Econômicas. Portanto, o desenvolvimento da
Sociologia Rural foi favorecido pelos empreendimentos da secção de estudos rurais do IEPE,
especialmente pela cooperação internacional de formação e recomposição dos quadros
docentes. Por ter sido uma área precursora foi hegemônica, inclusive, quando surgiu o curso
de Ciências Sociais (1959) e o Centro de Estudos Sociais (1961), muitos dos especialistas do
IEPE, formados ou não no exterior, foram aproveitados no corpo docente da Faculdade de
Filosofia e Ciências Humanas, especialmente pelo apoio de Laudelino Medeiros, que ainda
dispunha de alguma influência na Universidade.
Na década de 1970 Medeiros pede aposentadoria dos cursos de Ciências Econômicas e
Ciências Sociais
108
. No entanto, desde a criação do Centro de Estudos Sociais, em 1963, na
Faculdade de Filosofia, estava afastado da Faculdade de Ciências Econômicas,
especialmente com a extinção da secção de estudos sociais do IEPE, mas manteve-se até a
década de 1980 no curso de Pós -Graduação de Sociologia Rural, ministrando a disciplina de
“ Teoria Sociológica”.
De todo modo, após a Reforma Universitária, de 1968, Medeiros ficou numa situação
indefinida nos novos departamentos de ensino, porque não era mais o catedrático, tendo que
disputar espaços de atuação com outros professores, com formação distinta da sua, o que de
certa forma explica seu pedido de afastamento da Universidade. Todavia, a particularidade da
Sociologia de Cátedra no Rio Grande do Sul, é o fato dela ter surgido na Faculdade de
Ciências Econômicas e não a partir da Faculdade de Direito como foi o padrão na Sociologia
de Cátedra latino-americana (Azevedo, 1956).
94
1.3. A Cátedra de Sociologia na Faculdade de Filosofia e sua inserção na formação de
professores
Na condição de catedrático de Sociologia da Faculdade de Economia e Administração
Medeiros assumiu Sociologia na Faculdade de Filosofia tendo feito parte das primeiras
comissões julgadoras do concurso de habilitação para a matricula da década de 1940,
juntamente com Egídio Hervé, Leogildo Paiva e Álvaro Magalhães
109
. Na Faculdade de
Filosofia primeiramente foi designado para reger a cadeira de História do Brasil, que
naquele momento a Sociologia estava a encargo do reitor Edgar Schneider. Em 1944, com a
nomeação de Dante de Laytano para essa disciplina, Laudelino Medeiros assumiu a
Sociologia.
Neste primeiro momento, e posteriormente, as disciplinas ao encargo do catedrático
foram Sociologia e Fundamentos Sociológicos da Educação. A primeira era ministrada,
conforme o currículo nacional padrão da Universidade do Brasil, no segundo ano de Filosofia
e no primeiro ano do curso de Pedagogia. A segunda disciplina constava no currículo do
segundo ano do curso de Pedagogia, e no primeiro e único ano do curso de Didática. Portanto,
nesse primeiro momento, a Sociologia da Faculdade de Filosofia teve como objetivo a
formação de professores.
Quando assumiu disciplina de Sociologia do curso de Filosofia em 16 de junho de 1944,
reproduziu em suas primeiras aulas a sociologia sistematizada por Tristão de Athayde no seu
manual “Preparação à Sociologia”
110
. A Sociologia proposta por Amoroso Lima, e seguida
nos primeiros cursos de Laudelino, defende uma Sociologia finalista e integral. Nessa
perspectiva a Sociologia aparece como a “ciência que tem por objetivo os fatos sociais e por
fim o progresso coletivo” (Athayde, 1932: 83) Assim, esta sociologia com pretensão científica
estaria a serviço de fins práticos, e por isso finalista, que seria a recristianização da Sociedade.
A partir dos programas da disciplina de “Fundamentos Sociológicos da Educação”
ministrada no curso de Pedagogia, Didática e Filosofia, pode-se analisar que tipo de
sociologia Laudelino defendia como legítima nesse primeiro momento na Faculdade. As aulas
ministradas versavam sobre os seguintes pontos, segundo quadro abaixo:
95
Ponto Assunto
1 Sociologia e Sociologia Educacional
2 O Homem
3 Sociedade e educação
4 Comunidade e educação
5 Família e educação
6 A escola e seus problemas sociais
7 A missão social e cultural da Universidade
8 Classes Sociais e educação
9 Profissão e educação
10 Elites e sua função social
11 Estado e educação
12 Igreja e educação
13 Liberdade, autoridade, responsabilidade e disciplina
14 Ajustamento ao meio
15 Tradição
16 Progresso Social
17 Doutrinas políticas: Racismo, fascismo, socialismo, nacionalismo, democracia.
18 Guerras e revoluções
19 Crises econômicas
20 Pauperismo
21 Desgenerências
22 Crime
23 Alcoolismo
24 Menores abandonados
25 Surdos, mudos, cegos
Fonte: Programas de 1944, 1945, 1947, 1948.
Quadro 15: Programas da Disciplina de Fundamentos sociológicos da educação
Para dar conta desses pontos a relação bibliográfica não é muito extensa, mas a
predileção é por representantes de uma Sociologia Cristã, ou Pedagogia cristã como a obra de
Lúcio José dos Santos, de Alceu Amoroso Lima, E. Guerrero, Jacques Maritain, Ettiene
Gilson e Pio XI. Por outro lado, utiliza-se dos manuais de Fernando de Azevedo entre os
quais “A Sociologia Educacional” e a “Educação e seus problemas”, e o manual de Archero
Júnior intitulado Lições de sociologia educacional”. Do universo do grupo católico gaúcho
discorreu sobre a missão cultural e social da Universidade a partir dos artigos da Revista
Estudos. Portanto, a Sociologia ministrada era aquela intimamente ligada aos postulados
cristãos, inclusive com uma visão assistencialista dos problemas sociais, sendo assim muito
próxima das finalidades do serviço social.
Com efeito, a disciplina de Fundamentos Sociológicos da Educação, era, visto a
clientela a que se destinava - os futuros professores da rede secundária de ensino - o curso
ideal para a propagação dos ideais católicos. Apesar de Medeiros ter advertido na súmula da
disciplina sua total indefinição de orientação, conforme abaixo:
96
“Quer pela circunstância nova à preocupação de estudo neste setor do
conhecimento, quer pelo fato de ser recente a introdução desta disciplina no
currículo oficial, quer ainda porque nestes últimos anos é que se tem tentado a
sistematização desta disciplina e por outras razões varias, o fato é que de um modo
geral- e entre nós principalmente uma grande dificuldade de bibliografia
sistemática. Excluída a fonte norte americana, não é muito o que há. O material
bibliográfico de estudo, portanto, está disseminado nas obras de Sociologia,
Filosofia e de história da educação, e de um sem número de monografias diversas.
Indicaremos aqui algumas obras de maior utilidade para o curso, sem que façamos
a indicação exaustiva da utilidade para o curso, sem que façamos a indicação
exaustiva da utilidade para cada ponto, o que será feito em aula após o seu
desenvolvimento. Esta indicação, porém, não implica na recomendação de todas
essas obras e nem da aceitação dos pontos de vista das doutrinas expendidas pelos
seus autores. Os comentários bibliográficos durante o desenvolvimento do
programa darão o ponto de vista da cadeira” (SUMULA, 1948)
O enfoque católico foi dominante. Embora mencione a fonte norte americana, ela não
consta em sua bibliografia, assim, mesmo que a orientação fosse se definir a posteriore,
durante o desenvolvimento da disciplina, pela bibliografia estava dada: a Pedagogia, a
Filosofia e a Sociologia orientadas por dogmas católicos. As atividades de pesquisa, nessa
disciplina, e na disciplina de Sociologia do curso de Pedagogia, foram realizações de
inquéritos, um por aluno, sobre o nível cultural da empregada doméstica, ou a cultura na
camada social das domésticas ou análises históricas sobre uma determinada rua de residência
urbana de Porto Alegre à escolha do aluno
111
. Portanto, a prática de pesquisa consistiu numa
espécie de figuração, não sendo o objetivo real desses cursos, que foi a formação intelectual
dos futuros professores, especialmente para a rede católica de ensino.
Os programas de sociologia do curso de Filosofia, a partir de 1948 diversificam-se
daqueles dos primeiros anos e são muito similares aqueles de Sociologia geral do curso de
Administração e Finanças da Faculdade de Economia. Os pontos, ou assuntos ministrados
foram:
Assunto Conteúdos
Introdução à Sociologia Conceito, delimitação, campo de trabalho, modo geral como encara a
realidade investigada, divisão, definição, posição no quadro geral de ciências
Fato Social Conceituação, elemento e caracteres, dinamismo intrínseco,
classificação
Postulados da Sociologia Implícitos e explícitos, posições contraditórias, Sociologia- ciência
especulativa ou normativa, moral e Sociologia
Método Sociológico Método e realidade investigada, modalidade do método empregado pela
97
sociologia. Classificação dos métodos das diferentes escolas, processos
metodológicos de análise, técnica de pesquisa.
O homem Animal racional, indivíduo e pessoa, o homem e a sociedade,
sociabilidade natural do homem, tríplice tendência humana: O homem e a lei
natural, dois erros sobre o conceito de homem: o individualismo e o
personalismo. O homem como causa de seus atos e como causa da história.
Mesologia Social Conceito de meio social. O fator geográfico e biológico, o fator
tecnológico e a sociedade. Os fatores mesologicos no mundo atual,
Interpretação sociogeográfica do Brasil.
Etnologia e Antropologia A origem da espécie humana, raças, raças antropológicas, raças
históricas. O valor sociológico das raças. Fusão étnica. Assimilação. O
problema do Brasil e especialmente do Sul. Racismo na investigação e na
aplicação
Demografia Valor sociológico da população da povoação, movimentos de população
e suas causas. Evolução histórica dos fenômenos demográficos, os fenômenos
demográficos no mundo atual (estatísticas), interpretações sócio-demograficas
do Brasil e especialmente do Rio Grande do Sul.
Psicologia Social Distinção entre psicologia social e psicologia individual. A base
psicológica das estruturas e dos comportamentos sociais, Momentos
psicológicos da coletividade, tentativas de interpretação sociológica da alma
brasileira.
História Filosofia da história e da Sociologia. Contribuições para a Sociologia.
Diferenciação. Fundamentos históricos dos fatos sociais. As grandes linhas
para uma interpretação sócio-histórica do Brasil.
Fonte: Programa de 1948, 1949, 1950
Quadro 16: Programa de Sociologia
Este programa, que é a base dos posteriores, tem quarenta e quatro pontos, mas esses são
os conteúdos considerados básicos. Os outros assuntos versam sobre as sociologias
especificas como: a doméstica, a econômica, a rural, a política, a religiosa, a patologia social.
No final incluí a história da Sociologia, na qual analisa os estudos sociais desde a Antiguidade
até o início da Idade Moderna e classifica as escolas sociológicas como:
1) Escolas mecanistas, geográficas, biológicas e sociológicas
2) Escolas com fundamentos no sociologismo: Escolas psicológicas e psico-sociais
3) A Escola de Le Play e seus continuadores e o método sociológico
Apesar da Escola de Le Play não ter se constituído como uma tradição sociológica, para
Medeiros não foi apenas uma escola metodológica, mas sim uma Sociologia que teve
98
continuidade, inclusive uma das obras indicadas em suas bibliografias é Frederic Le Play por
ele mesmo, de F. Alburtin. De toda forma, no programa de aula previsto, ainda analisa a
Sociologia contemporânea na França, nos EUA e na Alemanha, através das obras de conteúdo
sociológico sistematizado, especialmente as de Piritin Sorokim, C. Bouglé, L. D. Osborn e M.
H. Neumeyer R. Murray, A. Menzel, Lemonnyer, Georg Simmel, F. Tönnies, entre outros
112
.
Noutra perspectiva discorre sobre a Sociologia na América Latina e no Brasil. Nesse
sentido, apenas para citar os manuais de Sociologia brasileiros, indicou três interpretações
distintas da Sociologia no Brasil, como a Gilberto Freyre, a de Donald Pierson, e a de
Guerreiro Ramos. De fato, Medeiros não se posicionou em relação ao debate dos anos 1950
entre a sociologia considerada “científica” e, deste modo, universal, defendida pelo grupo da
USP e da ELSP, representados por Florestan Fernandes e Fernando Azevedo, e a
possibilidade de uma Sociologia nacional, a qual preconizava Guerreiro Ramos. De todo
modo, sua interpretação da Sociologia no Brasil estava distante da dicotomia entre tradição
ensaística versus cientificista, porque a questão nem se colocava nesses termos para ele,
preocupava-se em determinar os precursores dos estudos sociais no Brasil, como Gilberto
Freyre e Oliveira Vianna:
“ São dois que desempenharam o importante papel de encaminhar a pesquisa para o
campo da realidade brasileira e procuraram imprimir objetividade, diria mesmo
caráter empírico, aos estudos sociais no país. Gilberto Freyre teve reconhecida
importância de sua contribuição, no Brasil, e no Exterior. Oliveira Vianna foi o
mais discutido. Colocado porém, em sua época, ressalta naturalmente o valor de
suas elaborações, da colocação dos problemas de pesquisa e de muitas de suas
análises. Oliveira Vianna elaborou e publicou algumas de suas mais importantes
contribuições nos anos 1920, quando a Sociologia era quase completamente
ignorada.” (MEDEIROS, 1971: 2)
A ênfase nos estudos sociais foi predominante nos conteúdos de suas aulas na Faculdade
de Filosofia, desde a década de 1940. Logo, Alberto Torres, Thales de Azevedo, Almir de
Andrade e Oliveira Vianna, foram referencias importantes. Assim como os estudos sociais e
históricos sobre o Rio Grande do Sul publicados na Revista Província de São Pedro como o
de J. Sallis Goulart, J. Pinto da Silva, E. Lassance Cunha. Especificamente na bibliografia da
sumula de 1948, são indicados uma série de estudos urbanos e de ecologia humana como:
Introdução à Sociologia do município brasileiro, de O. Medeiros, Problemas fundamentais
dos municípios de Orlando de Carvalho, O moderno município brasileiro de A. Severo,
99
Estudos de Ecologia Urbana de Donald Pierson, Geografia das Vilas de Pierre Lavedan, entre
outros.
Além dos estudos sociais os programas mantiveram uma matriz básica de temas e
orientação. A matriz foi a Sociologia de orientação moral e as temáticas discutidas estão
dentro do universo do grupo católico desse período, como as questões que envolvem o
divórcio, a família, o perigo da modernidade, e o anticomunismo. Para tanto Medeiros
utilizou-se de autores como: Pe. Werner, Amoroso Lima, J.C de Oliveira Lima, Julio Marias,
Jacques Maritain, Leonel Franca, F. Ozanam, C. Dawson, Pierre Fernessole, L. Van Acker,
Foillée, F. Perroux, entre outros. A redefinição da Sociologia em preceitos morais,
reproduzidas nas manuais de Sociologia católicos impera nas aulas ministradas, através de
autores como: Alceu Amoroso Lima, R. Brugeilles, Luigi Sturzo, J.M. Llovera, etc. Portanto,
Medeiros, ao situar o início da Sociologia na antiguidade, reproduziu em suas aulas uma
espécie de “Sociologia Tomista”, sustentada na escolástica, assim como fora o
desenvolvimento das temáticas no curso de Filosofia nesse período, através de Armando
Câmara e Ernani Maria Fiori (Trindade, F, 1982)
No entanto, há dois pontos nos programas essenciais para posteriormente entendermos o
desenvolvimento da pesquisa proposta e objetivada por Laudelino Medeiros, que será
analisado no próximo capítulo. Um é o ponto que trata da demografia e o outro o da
Sociologia rural. Serão exatamente esses temas que orientaram as preocupações teóricas e
práticas de Laudelino Medeiros, que se traduzem no processo de urbanização no Rio Grande
do Sul, na questão das vilas e malocas em Porto Alegre e no problema das migrações internas
no Estado, e a educação em áreas rurais no Estado. Portanto, apesar de Laudelino ter sido
mais o catedrático que ministrava aulas, ou seja, o docente, não um pesquisador no sentido
estrito do termo, apresentará um tipo de Sociologia em suas primeiras pesquisas, que pode
revelar um tipo de tradição sociológica a qual marcará o surgimento do curso de Ciências
Sociais na UFRGS, apenas criado em 1959.
A partir de seu interesse pelas questões urbanas de Porto Alegre objetivada na suas
pesquisas sobre as malocas de Porto Alegre, publicada em 1952, sob o título “Vilas e malocas
- Ensaio de pesquisa sobre as favelas” e de sua obra geral de análise do processo de
100
urbanização, publicada em 1959, lhe renderam o convite do Reitor da Universidade Pery
Pinto Diniz, para ministrar a cadeira de “Organização Social das Cidades” no curso de
Urbanismo na Faculdade de Arquitetura, em 1957
113
.
Dessa forma as análises demográficas e populacionais estiveram presentes tanto nas
disciplinas da Faculdade de Ciências Econômicas, como na de Filosofia e na de Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo. Nas suas provas nas três Faculdades, pedia que os alunos
dissertassem sobre as causas do surgimento das vilas e malocas como um fato social
habitacional e as causas do crescimento da população assim como sobre a complexidade
social de certas regiões, cidades
114
. É importante destacar que suas preocupações em relação
às questões demográficas foi anterior ao boom dos estudos demográficos na América Latina,
especialmente na década de 1970, quando a explosão demográfica era considerada um entrave
ao desenvolvimento social e econômico, especialmente nos governos autoritários. No entanto,
ainda que seu interesse temático seja anterior, Medeiros seguirá o desenvolvimento desse
campo de estudos com a pesquisa sobre as migrações internas, e posteriormente quando
assumiu a disciplina de “Sociologia do desenvolvimento” no PPG de Sociologia Rural.
Portanto, é o aspecto populacional a característica das aulas e das preocupações científicas de
Medeiros, e essa é sua ligação com desenvolvimento das Ciências Sociais em outros centros
brasileiros, como o Centro Latino Americano de pesquisas em Ciências Sociais (CLAPCS)
através de sua comissão de População e Desenvolvimento.
Desde sua efetivação como catedrático fundador, na década de 1950, a cátedra contou
com quatro vagas para seu funcionamento, a de titular, que era Laudelino Medeiros, a de
assistente de ensino que desde o início foi Luiz Alberto Cibils (também um dos fundadores), e
de dois colabores. Alberto Cibils, como Medeiros, era formado em Economia na Faculdade de
Ciências Políticas e Econômicas e em Direito, e fora nomeado por Armando Câmara, em
1947 para assumir a cátedra, conforme seu depoimento
115
:
“O Laudelino lecionava na Faculdade de Ciências Econômicas. Ele, então era
mandado servir, ele não tinha nomeação para a filosofia, eu é que tinha, ma ele era
mandado servir. E como ele era mais antigo do que eu, formado também em
Ciências Econômicas com a cadeira de sociologia no curso, ele foi nomeado o
titular, o catedrático fundador. E eu fui assistente em 1946. (...) E depois então,
eu fiquei assistente, lecionei em vários cursos: pedagogia, filosofia, ciências
sociais, jornalismo. Fui professor fundador do curso de jornalismo, por isso eu
era professor adjunto. E então a federalização, os professores que estivessem
101
regendo passaram a ser catedrático e eu fui catedrático, me tornei catedrático, hoje
transformado em professor titular”
O catedrático escolhia seus colabores e assistentes de ensino. Apenas Ivan Dall’ Igna e
João Guilherme Correa de Souza prestaram concurso para admissão na cátedra como
assistentes, embora João Guilherme fosse colaborador de ensino enquanto estudante de
Filosofia. Nesse sentido, esclarece Medeiros
116
:
“Pelo regime de cátedra os colaboradores eram escolhidos ad libtum, de livre
escolha; eram por isso inteiros. Podiam ser dispensados. Mas a gente sempre
escolhia demoradamente e a tendência era deles ficarem. Eu nunca destitui
colaboradores. Houve quem sentiu dificuldades e se retirou.”
Posteriormente, Medeiros convidou Ivan Dall’Igna Osório para compor o grupo de
assistentes da Cátedra, após ter prestado concurso. Ivan foi o primeiro com formação na área
de Ciências Sociais e em Pedagogia, ambos cursos realizados Pontifícia Universidade
Católica (1950), mas também teve formação jurídica na Faculdade de Direito da URGS, todos
concluídos durante a década de 1950. De 1951 à 1961 foi assistente das disciplinas de
“Fundamentos Sociológicos da Educação” e “Sociologia Geral”
117
. João Guilherme de Souza,
no final do seu curso de Filosofia, associou-se à Cátedra de Sociologia como colaborador,
sendo efetivado professor assistente, após ter prestado exame de habilitação, em 1959, perante
uma banca composta por Ernani Fiori, Darcy Azambuja e pelo próprio catedrático como
presidente. Deste modo, apenas ele, e Ivan Dall’ Igna Osório prestaram concurso, sendo todos
os outros assistentes escolhidos diretamente pelo catedrático Laudelino Medeiros. Portanto,
anteriormente à criação do curso de Ciências Sociais foram dois
118
assistentes: Cibils e
Dall’Igna na Faculdade de Filosofia, e no ano da criação do curso João Guilherme foi
incorporado à Cátedra.
As disciplinas e turmas eram divididas entre eles, mas a forma de funcionamento assim
como a avaliação dos alunos eram as mesmas. Desta forma, no ano específico de 1959 que as
demandas da cátedra ampliaram-se com a criação do curso de Ciências Sociais e o de
Jornalismo, eles dividiam-se entre as turmas desses cursos mais as de Filosofia, de Didática e
de Pedagogia
119
. Assim, nesses cursos eles dividiram a carga horária, e as avaliações.
Portanto, a cátedra funcionava como um sistema conjunto, ao exemplo da primeira turma do
primeiro ano de Ciências Sociais, composta de quinze alunos, os quais Laudelino deu 34
102
aulas, aplicou três exames e pediu seis “carrefours” e João Guilherme ministrou às 15 aulas
restantes, aplicou três exames, e pediu um “carrefour”. Em relação a esse último tipo de
avaliação chamada de “Carrefour” era uma espécie de avaliação livre, tanto escrita, como
oral, que consistia em dissertar sobre algum ponto do programa ministrado. O depoimento de
Alberto Cibils
120
é representativo dessa dinâmica: “Eu dava em geral a parte introdutória da
sociologia: a colocação da sociologia entre as ciências e qual é o objetivo das ciências sociais.
O relacionamento do homem em si: Como se relaciona? Porque se relaciona? E quais os
frutos desse relacionamento?”
O relacionamento do Catedrático com os assistentes e a organização do ensino era
decidido em reuniões, principalmente após 1959 quando assumiram as turmas dos cursos
novos, segundo depoimento de Medeiros
121
:
Tendo muitas turmas, turmas às vezes em que a matéria era a mesma, embora
com conteúdos diferenciados, era necessário a gente ajustar o grupo. Então nos
fazíamos, tanto na Filosofia, como na economia, reuniões periódicas, quinzenais,
com pauta estabelecida, em geral para avaliar o andamento de ensino e para
reajustar questões pendentes. No final fazíamos uma ou duas reuniões de previsão
do ano seguinte. A minha participação nessa coordenação era deixar cada
assistente seguir um caminho próprio. Até hoje não sei, por exemplo, qual era a
religião de Ivan Dall’Igna Osório que é uma questão central, mas eu procurava
respeitar essas coisas. Interessava era a eficiência de ensino e tanto quanto
possível um certo rigor científico nas afirmativas. Não é porque desejo que as
coisas sejam assim. E muitas vezes na Filosofia deixei prevalecer o ponto de vista
de um assistente, que pareciam interessados. Ta bom, estou convencido que não
vai dar certo, mas vamos experimentar. às vezes acontecia que eu tinha razão, às
vezes não. Agora havia sempre uma espécie de avaliação do trabalho de cada um,
inclusive o meu. Não se tinha o intuito de depreciar ninguém, de castigar, mas de
que o curso fosse razoável. E isso deu resultado.”
Portanto, dessa maneira a cátedra operou até o surgimento dos departamentos, na
reforma de 1968, e apesar de num momento inicial a Catedrático tenha assumido os encargos
sozinhos, a partir da década de 1950 começou a formar um grupo em torno da Cátedra e de si,
que com a criação do curso de Ciências Sociais e do Centro de Estudos Sociais (1963)
incorpora-se mais assistentes, e que depois, com a criação dos departamentos após reforma de
1968, serão efetivados como docentes do curso de Ciências Sociais, e, deste modo, terão
papeis importantes no desenvolvimento das Ciências Sociais, e especialmente na Sociologia
da UFRGS.
103
1.4. A modernidade possível: O ensino de sociologia na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul
A partir da promulgação da Lei Orgânica do ensino secundário, de 1937, o ensino de
Sociologia restringiu-se às Escolas Normais e a Universidade. Nesta última, a cadeira de
Sociologia, desde a fundação da Faculdade de Filosofia e da Faculdade de Economia e
Administração, fez parte do currículo dos cursos de Administração e finanças, Ciências
Econômicas, Didática, Filosofia, Pedagogia. O catedrático titular foi Laudelino Medeiros,
membro do grupo católico que conquistou os espaços de atuação na nova Faculdade de
Filosofia. Mesmo que tenha assumido a Sociologia, seu universo cultural girava em torno da
Filosofia, da Psicologia, da Economia e do Direito. Como freqüentava os cursos livres de
Padre Werner na Congregação “Mater Salvatoris” a Filosofia neo-tomista e a Psicologia
consistiram nos conhecimentos refletidos para o combate à modernidade. Por outro lado sua
formação escolar foi em Economia e Direito, e assim, utilizou-se desses conhecimentos em
sua reflexão sobre a decadência do mundo moderno. Portanto, foi essa mistura da sua
formação escolar e cultural que reproduziu nos cursos de Sociologia.
Essa espécie de Sociologia espontânea foi construída e reproduzida de formas distintas
visto o publico a que se destinava, o desenvolvimento das áreas de conhecimento e o contexto
político e social do mundo e do Brasil. Desta maneira, em todos os cursos houve,
inicialmente, um esforço de definir o que era a Sociologia e sua classificação no campo das
Ciências. Nesse sentido, seguiu a tendência do ensino da Sociologia no Brasil, reproduzidos
nos manuais de conteúdo sociológicos sistematizados surgidos após 1930 quando a Sociologia
foi incluída nos cursos secundários e normais (Meucci, 2000). No entanto, ao questionar se a
Sociologia era uma ciência especulativa ou normativa distanciou-se da reflexão científica e
aproximou a Sociologia da Filosofia, como também ao discutir a relação dela com a moral
aproximou-se das convicções expostas por Alceu Amoroso Lima em suas aulas no Instituto
Católico de Estudos Superiores compiladas em seu manual “Introdução à Sociologia”,
conforme demonstra Meucci (2000: 50):
A sociologia, para o intelectual cristão, é sobretudo, uma disciplina moral. Não
ocupa portanto, o ápice na classificação geral das disciplinas. O lugar da sociologia
no quadro geral das disciplinas é ao lado do Direito, da Economia, da Pedagogia.
Está, pois, sob a ética, a metafísica e a teologia: como uma disciplina moral,
subordina-se às filosofias morais.”
104
Com efeito, se pudéssemos eleger um autor privilegiado nas aulas de Medeiros foi
Alceu Amoroso Lima. Mesmo nas aulas do curso de Economia e no de Administração, que a
Sociologia de Laudelino teve outro enfoque, as questões levantadas nos manuais de Amoroso
e nos livros de Pe. Leonel Franca, e aquelas, de um modo geral, que fizeram parte do universo
católico do período como autoridade e hierarquia, individualismo e despersonalismo, moral
do trabalho, a propriedade privada, a classe média, etc, estiveram presentes. Juntam-se a essas
os outros temas trabalhados nos cursos de Pedagogia, Didática e Filosofia, como: o divórcio,
o alcoolismo, o crime, etc. Portanto, sua definição da Sociologia seguiu a orientação cristã,
especialmente nos cursos de formação de professores, uma vez que preparavam os quadros
para a rede secundária de ensino, especialmente para Católica.
Por outro lado, ao contrário da maioria dos sistematizadores do conteúdo sociológico
identificados com essa corrente de definição cristã da Sociologia, Medeiros preocupou-se com
os métodos de investigação. Inicialmente com Le Play e Jacques Valdour, e após com a
metodologia de estudos de comunidades urbanas e rurais como os de Donald Pierson, T. L.
Smith e Emilio Willems. Assim, como as grandes interpretações do Brasil, ou estudos sociais,
como os de Gilberto Freyre, Oliveira Vianna, Alberto Torres, Almir de Andrade, etc. Dessa
forma, nos cursos da Faculdade de Economia Medeiros privilegiou os temas nos quais
constituíam seu interesse de pesquisa, como os problemas populacionais urbanos e noutro
extremo as comunidades rurais, cooptando colabores de pesquisa, e nos cursos da Faculdade
de Filosofia o catedrático preocupou-se na formação intelectual e cultural dos futuros
professores através da uma Sociologia orientada moralmente para o diagnóstico dos
problemas sociais, especialmente na comunidade escolar, e conseqüentemente o progresso
social da humanidade.
2. DAS PESQUISAS PRECURSORAS EM SOCIOLOGIA À CRIAÇÃO DO CENTRO
DE ESTUDOS SOCIAIS
Neste capítulo analisa-se o que foi feito no sentido do desenvolvimento científico da
Sociologia, e que tipo de pesquisas caracterizou a Sociologia de Cátedra no Rio Grande do
105
Sul. Nessa perspectiva busca-se ver em que momento foi inevitável à promoção da Sociologia
no Estado, através de Congressos, associações, a criação de projetos que desenvolvam a
pesquisa social e a relação desses empreendimentos com a criação do curso de Ciências
Sociais na UFRGS.
2.1. As pesquisas sociais precursoras e seu impacto
A primeira pesquisa de Laudelino Medeiros foi à análise de Vilas e Malocas de Porto
Alegre, na qual, de 1948 à 1951, coletou e analisou os dados da Vila do Forno do Lixo entre
o bairro Partenon e Petrópolis de Porto Alegre, determinando as características desse
fenômeno urbano e a sua articulação no processo de urbanização da cidade. No final da
década de 1950 a pesquisa ampliou-se, incorporando a análise dessas relações para todo o Rio
Grande do Sul, sendo publicada em 1959 como “O processo de Urbanização no Rio Grande
do Sul”.
De 01 de setembro à 31 de outubro de 1952, Medeiros envolveu-se, juntamente com seu
assistente Túlio Bogo, no IEPE, na pesquisa encomendada pela Comissão de Bem-Estar da
União Pan Americana, dirigida nacionalmente pelo sociólogo carioca Guerreiro Ramos, sobre
o padrão de vida do operariado industrial no Brasil. A pesquisa teve como objetivo geral
determinar o nível de vida das classes populares e médias para servir de base a qualquer
planejamento social que a comissão de Bem-estar pretendesse levar adiante. Medeiros foi o
coordenador da pesquisa no Rio Grande do Sul, que também foi realizada em mais quatro
Estados brasileiros e no Distrito Federal. No Rio Grande do Sul foi realizada em Porto
Alegre, Caxias do Sul, Santa Maria, Pelotas, Livramento e São Jerônimo, conforme discorre
Medeiros (1954) sobre o seu papel na pesquisa
122
:
Na comissão nacional de Bem- Estar Social foram constituídas sub-comissões
técnicas, às quais foram atribuídas a função de pesquisas cientificas sob os diversos
aspectos da vida social. Ao professor Guerreiro Ramos, Sociólogo de renome e de
muito dedicado aos estudos do padrão de vida, com obras publicadas sobre o
assunto, foi atribuída a presidência de uma sub-comissão e a Direção Nacional da
pesquisa do Padrão de Vida no país. Foi, pois, a convite daquele professor, e por
intermédio do Dr. Johmam, técnico de grande experiência e integrante daquela sub-
comissão que aceitei o encargo da direção regional da pesquisa no Rio Grande do
106
Sul. Salvo o método de pesquisa, elaborado por aqueles técnicos, aliás muito bem
elaborado e com o qual concordei, foi me dada toda a autonomia na execução do
trabalho.”
Através de uma amostra de cerca de 4000 famílias
123
foram observados os seguintes
aspectos da vida do operariado industrial em Porto Alegre: a situação econômica, familiar,
de moradia, o salário médio per capita, a situação moral e religiosa, a procedência das
famílias
124
. Em seu relatório final
125
, Medeiros enfatizou as questões referentes à situação de
moradia as vilas e malocas - e a procedência das famílias em sua maioria do meio rural -
logo, dois temas que fizeram parte de suas preocupações de pesquisa na década citada.
Medeiros (1954) comentou os resultados da pesquisa no “Jornal do Dia”, jornal do grupo
católico ligado à Armando Câmara, conforme abaixo:
“O padrão de vida do operário industrial em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul
em geral, é confortador dizer, relativamente é dos mais elevados do país. Não se
entenda por isso que a situação é de desafogo. Não. Particularmente nesse dois anos
depois da pesquisa (que foi feita em 1952) a situação se agravou enormemente para
todas as camadas sociais e principalmente para as assalariadas. De outro lado, não
quero dizer com aquela afirmativa que não haja miséria, e muita, entre nós. É
apenas, uma comparação com o resto do país. É interessante registrar como
exemplo, que a percentagem com a alimentação revelada pela amostragem foi: em
Porto Alegre, 35, 40, em Caxias 38, 75, em Arroio dos Ratos 47, 54 (a situação
notoriamente mais aguda das pesquisadas). E no Distrito Federal foi de 47, 32, São
Paulo 41,10, Belo Horizonte 41, 64, Salvador 58, 29. Outro dado curioso é relativo
à habitação; em Porto Alegre 32% tinham casa própria ou em aquisição; em Caxias
e em Livramento 44%. No Distrito Federal 16%; em São Paulo 24%; em Belo
Horizonte 30%, em Salvador 40%. O orçamento, entretanto, era deficitário no
momento da pesquisa em quando em Porto Alegre a receita média, por pessoa era
de Cr$ 880,00, a despesa de 944,00. Ainda outros dados curiosos foram levantados:
Em Porto Alegre 92% das habitações possuíam rádio; 76% máquinas de costura;
96% luz elétrica; 36% geladeira não elétrica; mas 8% possuíam filtros. (....) A
pesquisa realizada sobre o Padrão de vida teve um caráter imediatamente científico.
As medidas práticas devem ser tomadas por quem tenha o dever e a possibilidade
de toma-la. Com a pesquisa se procurou conhecer a realidade. E sem isto mesmo
que se desejassem, os homens de ação não podem fazer muito. Mas foi uma
pesquisa. Outras e várias outras devem ser feitas, si se quiser acertar na solução dos
problemas desta ordem. Si lhe for possível diga pelo seu jornal que as investigações
dessa espécie carecem de apoio entre nós e, todavia, as pesquisas sociológicas,
dizem respeito aos problemas mais cruciais do momento. Esses problemas não são
físicos ou biológicos: São problemas humanos”.
Como não publicou o relatório da pesquisa a única divulgação no Rio Grande do Sul foi
destinada aos homens de ação do grupo católico. Nesse momento, muitos do grupo católico
estavam dirigindo-se à esfera política, como: Armando Câmara e Eloy José da Rocha.
Portanto, as pesquisas de Medeiros eram divulgadas na imprensa católica e internamente no
Boletim do Centro dos Estudantes de Economia da Faculdade de Economia. Deste modo, a
107
Sociologia constituía em objeto de interesse dos católicos e internamente na Faculdade de
Economia, por que
126
:
“Na época, os projetos não tinham uma iniciativa. A gente tinha que propor isso,
obter os recursos e fazer. Não havia uma consciência pública das possibilidades
técnicas do conhecimento sociológico. Ninguém acreditava nisso. Para a sociedade
em geral o conhecimento de sociologia era balela, oba-oba”
É, justamente nessa década, que Laudelino Medeiros começou de uma forma bem
artesanal a desenvolver pesquisas com verbas da cátedra de Sociologia da Faculdade de
Filosofia
127
. Essas pesquisas seriam, conforme os dados recolhidos em seu currículo e ofícios
mandados para o Diretor da Faculdade de Filosofia, sobre a mobilidade social de pessoas de
cor em Porto Alegre, e análises de comunidades rurais
128
, especialmente sobre Belém Velho
(município satélite). O primeiro enfoque de pesquisa mudou seu caráter temático de
mobilidade social de negros para mobilidade de pessoas para Porto Alegre, e o segundo
desdobrou-se em uma série de iniciativas de pesquisa sobre a organização social e os
processos de aculturação de comunidades rurais. Embora, Medeiros
129
não tivesse grandes
expectativas em relação à participação dos alunos nas pesquisas, propunha algumas
atividades:
Eu nunca fiz uma idéia muito otimista das possibilidades de participação de alunos
em pesquisa, com encargos de investigação propriamente. Apenas com encargos de
objetivação do ensino. Eu lembro por exemplo nos primeiros anos que funcionou o
curso de Ciências Sociais eu peguei a turma e levei a Belém Velho para a gente fazer
uma observação numa área de pequenos agricultores que se instalaram por lá. Não era
uma pesquisa, é mais uma objetivação de pequenas comunidades rurais. As vezes a
gente apanhava um aluno com mais vocação e um pouco melhor de preparo para
trabalhar na coleta de material.”
Uma das preocupações de Medeiros, desde a pesquisa sobre o padrão de vida dos
operários industriais, foi compreender a dinâmica da mobilidade social. Para tanto,
empreendeu a pesquisa sobre Mobilidade de pessoas para Porto Alegre, na qual buscou
“medir a intensidade das correntes das possíveis áreas de origem e o reflexo sobre a
composição da população local"
130
. Ainda que não tenha sido publicada, foi à gênese de sua
pesquisa posterior sobre as “Migrações internas no Rio Grande do Sul”. Nessa pesquisa,
Medeiros com a colaboração de Fernando Correa e Túlio Bogo coletaram, através de
aplicação de 2304 questionários, dados demográficos sobre a migração rural-urbano nos
108
colégios públicos e privados de vários bairros porto alegrenses
131
, buscando descobrir as
causas da mobilidade social. A conclusão preliminar de Medeiros, baseada em sua hipótese de
que as pessoas migravam para a capital do Estado na busca de melhores salários, foi o que o
desejo de poder decorrente da riqueza acumulada e o status urbano foram os fatores
desencadeadores da mobilidade para Porto Alegre
132
. Medeiros não discorreu, em sua
pesquisa, sobre as conseqüências da mobilidade, como o êxodo rural e a explosão
demográfica, que à época a discussão recaía sobre questão do controle da fecundidade,
porque, segundo seu depoimento
133
:
Na época era moda falar em explosão demográfica. Então a gente estudava a
estrutura e o dinamismo da população e depois mostrava os limites do problema.
Inclusive eu sempre fui desfavorável a uma política de frenação drástica da
população porque achava que no Brasil o problema não era esse . O Brasil se
tivesse a densidade do Japão, teria 2 bilhões de habitantes, e não 150 milhões,”
Portanto, posicionou-se, mesmo a posteriori, na defesa dos ideais católicos, que a
Igreja nunca viu com bons olhos as questões como controle de natalidade, por exemplo. Foi
nesse período, do desenvolvimento dessa pesquisa, que Medeiros respondeu ao inquérito
realizado da Capes sobre as Ciências Sociais no Brasil, em 1955. As pesquisas realizadas por
Laudelino foram classificadas, por Costa Pinto, como ligadas à área de Geografia Humana,
pela ênfase nos estudos demográficos, revelando que os primeiros esforços de pesquisa
sociológica na UFRGS ocorreram numa total indefinição das suas fronteiras disciplinares,
inclusive, desde final da década de 1940, Medeiros participava da Sociedade de Geografia,
com o catedrático da UFRGS Lourenço Prunes
134
.
Essas primeiras atividades congregaram alunos, assistentes e colaboradores das cátedras
ou de fora da UFRGS, no ideal de realizar pesquisa sociológica, como Fernando Corrêa
Oliveira e João Guilherme Correia de Souza, ambos, naquele momento, colaboradores e
assistentes de ensino na Cátedra de Sociologia, e José Fachel, então, professor da Escola
Normal de Santa Cruz do Sul. O enfoque de pesquisas sobre a organização social e
aculturação das comunidades rurais foi dominante até os primeiros anos do Centro de Estudos
Sociais, quando, através do convênio com a Alemanha, a pesquisa empírica começou a
institucionalizar-se na Sociologia da UFRGS (Baeta Neves & Liedke Filho, 1997). Todavia, a
produção intelectual do assistente fundador da Sociologia Alberto Cibils parece afastar-se
109
dessa orientação, porque suas primeiras pesquisas foram sobre a história, a geografia de sua
região de origem, a exemplo da obra “Tapes, Camaquã, Guaíba e Barra do Ribeiro:
Contribuições para o estudo do Rio Grande”, publicada em 1959. Posteriormente, Cibils com
essa obra foi indicado a compor o IHG/RS
135
. De toda forma, as iniciativas de pesquisa de
Laudelino sobre a organização social e o processo de aculturação das regiões rurais foram em
relação aos grupos teutos e ítalos, conforme depoimento de João Guilherme de Souza
136
:
Eu era assistente do Laudelino e fui me interessando por essas coisas. O
Laudelino tinha uma concepção de aculturação baseada na admiração pelos
alemães e começou a escrever um livro sobre aculturação dos alemães no Brasil,
no Rio Grande do Sul, e a tese dele era que os alemães adquiriram certo traço
cultural gaúcho, isso pela gratidão com que foram acolhidos pelo povo gaúcho (..)
Então isso nos obrigou a fazer pesquisa, os alemães e os italianos, seus
acasalamentos com mulheres de origem lusitana, e aquilo dava uns relatórios
enormes (...) e a gente levava a sério aquilo, então fazíamos todas as fichas dos
católicos, aquele monte de nome alemão e tínhamos que procurar, consultava uma
pessoa ou outra e tal e ai nos fazíamos, e ninguém resistia fazendo esse trabalho, e
nós fizemos mais de anos este trabalho, ele nos pagava, era um saco aquilo, mas
agente fazia com vontade”
Sobre esse processo explicou o catedrático
137
:
Eu fiz um levantamento nos cartórios da nacionalidade das pessoas que se
casaram, para a gente conhecer um pouco isso e depois fizemos fichas, em
bloquinhos de tipografia, cada folhinha do bloco se preenchia lá. Bom, depois para
apurar isso. Então eu peguei,o João Guilherme era um deles, íamos para um sala,
peguei dez caixas de sapatos, primeiro fazia uma drenagem e depois pegava uma
caixa e redistribuía. Meu computador era esse caixa de sapato.”
Desse interesse temático na ecologia humana e nos processos de aculturação nas
comunidades rurais resultou num relatório de pesquisa do assistente da cátedra de Sociologia
João Guilherme de Souza sobre o município de Joaneta intitulado “Uma comunidade Teuto-
Brasileira: Aspectos de sua estrutura e organização social”, apresentado no I colóquio de
Estudos Teuto-Brasileiros, o relatório de Laudelino Medeiros sobre “Encantado: Uma Região
de Aculturação” e um primeiro estudo sobre a comunidade rural de Santa Cruz do Sul,
realizado por José Fachel, em colaboração com a cátedra de Sociologia. Sobre essas pesquisas
iniciais discorre o catedrático
138
:
A gente fazia alguns projetos que eram ensaios destinados a definir o no futuro
uma pesquisa. Por exemplo, nós fizemos uma visita à Joaneta, o João Guilherme
esteve junto, estivemos em Joaneta com o objetivo de definir uma possível pesquisa
110
sobre a comunidade rural de Joaneta, que era um área isolada (...) Ficou nisso, não
houve possibilidade de avançar. (...) Houve um primeiro contato com o campo, com
vistas a definição de uma futura pesquisa. O João Guilherme escreveu um artigo
sobre isso. (...) A nossa inexperiência, a falta de recursos e falta de tempo. “
Apesar de Medeiros e seus colabores de pesquisa tenham realizado a pesquisa sobre o
Padrão de Vida do Operariado Industrial num campo marginal entre a Sociologia e a
Economia, com a extinção da Comissão de Bem-Estar da União Pan Americana, esses
investimentos não tiveram repercussão, mesmo tendo sido realizados durante a ascensão das
políticas trabalhistas de Vargas e Goulart. Entretanto, o grande estudo social de Medeiros foi
à continuação de sua primeira pesquisa objetivada no livro “O processo de urbanização do
Rio Grande do Sul”. Não é por acaso que predominou em sua correspondência pessoal
pedidos destas publicações, tanto de cientistas sociais brasileiros quanto estrangeiros. Em
alguns casos, existe a evidência de que Medeiros tenha enviado suas publicações, como a obra
Vilas e Malocas para Victor Nunes Leal
139
. Portanto, inicialmente a sociologia no Rio Grande
do Sul, na figura do único catedrático da disciplina, caracterizou-se pela ênfase nos estudos
urbanos, que vai desenvolver-se, em confluência com o crescente interesse pelos estudos
demográficos e estatísticos realizados no IBGE no interesse por estudos sobre as migrações
populacionais.
Noutro extremo, a iniciação na pesquisa científica dos colabores de ensino e assistentes
das cátedras de Sociologia da Universidade ocorreram através de estudos das comunidades
rurais, especialmente a organização social e o processo de aculturação nas regiões de
colonização Alemã do Rio Grande do Sul. Com a criação do Centro de Estudos Sociais, e a
vinda do alemão Achim Schrader, os estudos sobre a aculturação das comunidades teutas
refinam-se com os relatórios do colaborador de ensino Manfredo Berger sobre “A função da
Igreja no processo de aculturação dos teuto brasileiros” e do próprio Achim Schrader sobre
os “Problemas de aculturação dos teuto-brasileiros”.
As pesquisas de Laudelino Medeiros com esse enfoque, embora não fossem estudos de
comunidade no sentido estrito do termo, foram direcionadas para o município de Santa Cruz
do Sul. Seu interesse por esse município começou após José Fachel, professor da Escola
Normal da cidade citada, ter apresentado sua pesquisa sobre o negro no município de Santa
Cruz do Sul no Congresso Sul-rio grandense de Sociologia. Medeiros estava começando
111
sua pesquisa sobre a educação rural. Deste modo, como a assistência de Fachel realiza a
pesquisa sobre a Educação Rural em Santa Cruz do Sul, financiado pelo Centro Regional de
Pesquisas Educacionais, publicada em 1961, e com outra perspectiva, desenvolveu uma
pesquisa sobre os minifúndios em Santa Cruz do Sul patrocinada pelo Comitê interamericano
de Desenvolvimento Rural.
Portanto, a partir da década de 1960 interessou-se cada vez mais pelas questões rurais e
inseriu-se nessa área de estudos como especialista, uma vez que era docente do curso de Pós-
Graduação em Sociologia Rural da UFRGS, e nesta posição apresentou a conferência sobre
“população e desenvolvimento” no curso de crédito rural da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) em 1967, e participou e colaborou no seminário sobre Sociologia Rural
realizado pelo CLAPCS
140
, em 1969, na cidade de Buenos Aires.
Mesmo com o isolamento característico das Ciências Sociais periféricas, como o caso
do Rio Grande do Sul, Medeiros teve certa inserção acadêmica nos centros e eventos
científicos de Ciências Sociais da América Latina, especialmente na Argentina, que era
membro correspondente do Instituto de Sociologia e Planificação de Tucumán e da Academia
Argentina de Sociologia
141
. Como também participou do I, II e do V Congresso Latino
Americano de Sociologia
142
. No Brasil, participou, entre outros eventos, no Instituto de
Sociologia e Política de Minas Gerais do seminário “Mudança social e desenvolvimento
econômico”
143
, e no Centro Latino Americano de pesquisas em Ciências Sociais (CLAPCS/
UNESCO) do seminário “Resistências à mudança”, de 19 à 26 de outubro de 1959
144
.
Também ministrou algumas conferências e cursos. Em 1957, à convite de Thales de Azevedo
e financiado pela Fundação para o Progresso da Ciência na Bahia ministrou cursos sobre as
áreas de habitações subnormais, na escola de Belas Artes, o processo de urbanização no Rio
Grande do Sul, na faculdade de filosofia da UBA, os aspectos sócios culturais do Estado
sulista, no Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, e sobre a Cultura Lusa e as áreas de
aculturação, no seminário de Antropologia da Faculdade de Filosofia da UBA
145
. Na década
de 1970, apresentou os resultados mais avançados de sua pesquisa sobre migrações internas
num curso de Sociologia das populações, ministrado de 2 à 9 de agosto no departamento de
economia da Universidade Federal de Santa Catarina
146
.
112
Portanto, as pesquisas de Medeiros e sua inserção acadêmica nas Ciências Sociais no
Brasil e na América Latina ligam-se ao desenvolvimento da área de estudos populacionais e
urbanos, assim como no desenvolvimento da Sociologia Rural. Mesmo que tenha sido
considerado pela comunidade acadêmica como especialista em ambas as áreas, no campo das
Ciências Sociais teve uma trajetória marginal, no sentido de não ter pesquisado os temas
dominantes dos centros produtores centrais, como as relações étnicas, especialmente a questão
do negro e do índio no Brasil, a Sociologia do desenvolvimento, os estudos culturais, etc.
2.2. Os seminários rio grandenses de Sociologia
O seminário riograndense de Sociologia foi o primeiro projeto de um grupo em torno da
“Sociedade Oliveira Vianna”, criada em 17 de junho de 1957. O objetivo do grupo foi o
desenvolvimento das Ciências Sociais no Rio Grande do Sul através da realização de
seminários e congressos. Fizeram parte Laudelino Medeiros, como presidente, Ivan Dall’Igna
Osório, como secretário, Eva Nicolaiewsky, Fernando Afonso Gay da Fonseca, Túlio Roberto
Bogo, Dante de Laytano, Luis Alberto Cibils, Antônio César Alves e Fernando Oliveira.
Todos:
Resolveram em comum acordo, fundar uma sociedade com o fim de colaborar
com o desenvolvimento das Ciências Sociais, especialmente emprestando seu apoio
à realização de reuniões, congressos e seminários, que aproximem cientistas sociais
com objetivos científicos, sob a denominação de Sociedade Oliveira Vianna, como
homenagem ao ilustre sociólogo pátrio.” ( SOCIEDADE OLIVEIRA VIANNA,
1957: 1)
Portanto, o grupo, em sua maioria foi composto pelos assistentes da cátedra de
Sociologia, ou colabores de pesquisa como: Túlio Bogo, Alberto Cibils e Ivan Dall’Igna, e
Fernando Oliveira. Fernando Gay da Fonseca era professor no curso de Direito, e no de
Serviço Social da Universidade Católica, sendo assim, colega de Medeiros na Escola de
Serviço Social. Portanto, todos eles estavam vinculados ao catedrático Medeiros, o que revela
que seu grupo, apesar de tardiamente, em 1957, se comparado aos outros centros, buscavam
criar um ambiente propício para o desenvolvimento das Ciências Sociais.
113
Por outro lado, o seminário de Sociologia, também foi idealizado e patrocinado pela
Comissão de Ciências Sociais do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBECC)
da UNESCO
147
, composta pelo folclorista e professor de História da UFRGS Dante de
Laytano, como presidente, por Medeiros, como secretário geral, pelo catedrático de Política
da Universidade Darcy Azambuja, pelo professor de Geografia Lourenço Mário Prunes, pela
professora do Instituto de Educação Eva Nicolaiwsky e por Ivan Dall’ Igna Osório. Deste
modo, as duas iniciativas convergiram, tanto no grupo formado, quanto no ideal: a promoção
da ciência.
O seminário, que ocorreu na Faculdade de Filosofia, foi dividido em três sessões de
estudos: teoria sociológica, comunidade e cultura e o ensino de Sociologia, revelando quais
eram as preocupações mais imediatas da área no período, assim como o que os especialistas
do Rio Grande do Sul estavam produzindo de pesquisas. Nesse sentido, o professor Alberto
Cibils apresentou um trabalho sobre teoria sociológica, o qual discorre sobre o papel da
Filosofia Social na Sociologia, e introduz como Sociologia especial à teoria da estrutura
dinâmica dos fenômenos sócios - culturais de P. Sorokin
148
. Na secção de estudos de
comunidade e cultura, José Fachel apresentou “O negro no Município de Santa Cruz”,
Fernando Oliveira comunicou seu estudo sobre “Áreas Rurais e urbanas da comunidade”, e na
última secção Eva Nicolaiewaky apresentou “O ensino de Sociologia no curso normal”.
Portanto, esses estudos reproduziram o que vinha sendo discutido na cátedra de Sociologia,
como os estudos de comunidade e a teoria de Pitirim Sorokin, a exceção do trabalho de José
Fachel.
As preocupações dos representantes da Sociologia gaúcha foram expressas nas
sugestões apresentadas para o desenvolvimento da Sociologia no Estado nos Anais do
referido evento (1957: 41) como abaixo:
1) Que, nas atividades de ensino, bem se distinga, entre a Sociologia como
ciência pura, e os efeitos que, para a formação da personalidade, de seu
estudo possam discorrer; 2) Que, antes de se introduzirem em determinadas
comunidades inovações capazes de provocar mudanças culturais, se estudem
os possíveis efeitos sociais dos mesmos, a fim de serem evitados os
inconvenientes e sejam conseguidos os melhores resultados positivos; 3)
Que, tendo em vista as rápidas e profundas mudanças culturais que se
processam em nosso Estado, sejam feitas pesquisas, verdadeiramente
objetivas e científicas, daqueles aspectos mais significativos em nossa
114
comunidade ou região; 4) Que sejam criadas por instituições privadas ou
públicas de fontes de coletas e informações sobre oportunidades para
professores e pesquisadores sociais, levando-se em consideração o papel
estimulante que a utilização de seus serviços tem sobre quantos se inclinam
para este campo das ciências sociais; 5) Que aquelas instituições, públicas ou
privadas, que intervêm nas planificações regionais ou locais e nos processos
de reorganização social, procurem integrar seus grupos de trabalho com
pessoas tecnicamente habilitadas em ciências sociais; 6) Que na organização
e execução dos programas de ensino na sociologia também se leve em
consideração a proveniência escolar e os futuros interesses profissionais a
que se destinam os diversos cursos, bem como seja prevista a integração
desse conteúdo programático com os das demais disciplinas do currículo; 7)
Que os professores de sociologia em escolas normais procurem dar ênfase ao
estudo das relações da escola com a comunidade, visando mesmo capacitar
os futuros professores a transformarem sua escola em centro ativo da
comunidade; 8) Que, para o melhoramento do ensino e desenvolvimento do
estudo da sociologia se considere o professor como elementos fundamental,
propiciando-se-lhe tempo e recursos para o exercício proveitoso de sua
missão; 9) Que os estabelecimentos de ensino procurem enriquecer suas
bibliotecas no setor de Ciências Sociais, inclusive pela assinatura da revista
Sociologia, criando oportunidades efetivas da utilização dessas fontes pelos
alunos, na forma de pesquisas pessoais, estudo dirigido e seminários de
análise bibliográfica; 10) Que os membros da Sociedade Brasileira de
Sociologia, no Rio Grande do Sul, considerando a necessidade de
intercâmbio regular e periódico entre quantos se dedicam à pesquisa e ao
ensino da Sociologia, promovam a criação da Secção Regional da referida
sociedade; 11) Que, enquanto não se formar a Secção Regional da Sociedade
Brasileira de Sociologia, se promova o intercambio cultural, trocas de
experiências e desenvolvimento dos estudos da Sociologia, através da
realização de seminários, cada dois anos, e de outros encontros, gerais ou
regionais, comuns ou especializados, quando a oportunidade o sugerir; 12)
Que sejam tomadas pelos senhores professores na devida consideração as
relações entre o folclore e a Sociologia e que se àquele tratamento
particular nas pesquisas de campo, ao mesmo tempo que se procure
estabelecer normas de investigação, técnicas especiais de inquérito e limites
de áreas folclóricas.”
Algumas ponderações devem ser feitas sobre as sugestões. Primeiramente, enquanto em
outros centros o processo de institucionalização das Ciências Sociais começou no momento
em que se desvincularam do Folclore, ao que parece devido à influência do Folclorista Dante
de Laytano, esse campo de estudos no Rio Grande do Sul poderia ligar-se ao da Sociologia.
Segundo, a necessidade de abrir um nicho de mercado para o trabalho técnico dos
sociológicos em instituições públicas e privadas, embora nem se cogitasse a criação do
próprio curso de constituição de cientistas sociais, portanto, a formação e o caráter de
profissionalização técnica ainda seriam definidos pelo envolvimento nas Cátedras, não por
formação superior específica. E por último, a necessidade de intercâmbio com outros centros,
através de realização de seminários, e da criação de uma subseção regional da Sociedade
115
Brasileira de Sociologia, revelando que havia pouca cooperação com os outros centros de
Ciências Sociais.
Dois anos após, em de 1959, foi realizado o Seminário Rio Grandense de Sociologia
na Faculdade de Ciências Econômicas, presidido por Laudelino Medeiros e organizado pelo
seu grupo. Mais uma vez foi patrocinado pela Sociedade Oliveira Vianna, mas nesse
momento, o clima foi outro pelas presenças dos convidados especiais
149
de outros centros
produtores de Ciências Sociais, como Djacir Menezes, Arthur Rios, Maria Alice Foracchi,
Thales de Azevedo, entre outros. Ainda que os trabalhos apresentados, em virtude das
características do seminário, versassem sobre o Rio Grande do Sul e o ensino de Sociologia,
as temáticas mudaram em relação ao de 1957. Neste encontro foram discutidos os seguintes
temas: Sociologia Econômica, especialmente as mudanças sociais e culturais relacionadas às
mudanças do capitalismo, Sociologia da empresa, Sociologia Rural, incluindo os estudos de
comunidade e a mobilidade rural-urbana.
As resoluções desse seminário (1959: 237-238) diferem-se das expressas no seminário
de 1957, apenas preservando a reivindicação da criação de uma subseção regional da
sociedade brasileira de Sociologia, conforme abaixo:
a) Que na fase atual do desenvolvimento brasileiro, seja considerado do maior
interesse a elaboração de monografias regionais ou locais, que sirvam de
contribuição aos planos de conjunto; b) que, como decorrência se desenvolva junto
aos professores de sociologia das Escolas Normais estímulos no sentido de
fomentar a elaboração de monografias sobre a comunidade em que trabalham; c)
que mereçam especial atenção dos pesquisadores e estudiosos, nas diferentes áreas,
o estudo das mudanças sociais e culturais consideradas importantes; d) que é
considerado conveniente, sempre que possível, a utilização de modernos manuais
de pesquisa para a elaboração de monografias, afim que haja uma certa
uniformidade na apresentação dos resultados obtidos, de forma a possibilitar o seu
ulterior aproveitamento; e) que se realizem estudos de empresas industriais e
agrícolas, de diversas áreas econômicas e, sobretudo, das que encerrem
experiências de renovação das estrutura econômica vigente; f) que se concentre
igualmente a atenção nos processos de urbanização e industrialização, focalizando
principalmente os fatores de mudança da estrutura social e econômica, tendo em
vista seu significado para a fase de desenvolvimento, que o país atravessa; g) que se
estimulem os estudos de tipos de propriedades agrícolas e comunidades nas
diversas áreas do Estado, para fins comparativos; h) que os professores procurem se
interessar-se e a seus alunos pelos movimentos de reforma agrária, existentes ou
programados, assim como pelos demais problemas rurais; i) que dada a importância
dos aspectos sociais da vida rural para a solução dos problemas agrícolas, seja
estudada a possibilidade de criação de uma cadeira de sociologia rural nas escolas
de agronomia do País; j) que, sempre que possível, os professores promovam
projetos de pesquisa com seus alunos em sua comunidade, tendo em vista o
116
importante papel socializador de tais atividades; k) que se estimule a cooperação
interdisciplinar no ensino e na pesquisa, afim de que melhor se atenda as
necessidades formativas do educando; l) que as Faculdade de Filosofia considerem
a oportunidade e a conivência de propiciarem, com maior extensão e profundidade,
aos alunos dos cursos de Ciências Sociais, Filosofia e Pedagogia preparo específico
para o exercício da pesquisa, seja revisando e aperfeiçoando os planos e técnicas
adotados, seja organizando cursos de pós-graduação; m) que, nas Escolas Normais,
o estudo da disciplina Fundamentos sociológicos da educação seja precedido de
uma introdução sistemática à Sociologia, e, que seja estudada, pelos órgãos
competentes, a possibilidade de ampliar o período destinado aos estudos de
sociologia geral e educacional; n) na medida em que os dados apresentados na
pesquisa forem suscetíveis de quantificação, seja utilizada a colaboração do
estatístico, o) que na organização dos currículos das escolas Normais e de outros
cursos especializados, se considere a necessidade de situar os estudos de estatística
em posição que permita sua utilização nos trabalhos de pesquisa social; p) que os
pesquisadores sociais procurem o domínio sobre os métodos estatísticos, através de
cursos de especialização, q) que seja criada a secção regional da Sociedade
Brasileira de Sociologia, dentro do período limitado até o próximo seminário, r)
que na Sociedade Brasileira de Sociologia seja criado um departamento de pesquisa
social”
O quadro apresentado para o desenvolvimento da Sociologia no Estado, estava em
consonância com as mudanças econômicas e sociais do Brasil. Os pesquisadores gaúchos,
dentre eles Laudelino Medeiros, entenderam que se deveriam empreender pesquisas regionais
das mudanças sociais, sobre os processos de urbanização e industrialização, no sentido de
analisar o impacto no Estado dessas transformações, e por outro lado, centraram-se numa
especificidade gaúcha, que é a importância das transformações do mundo rural, por isso
sugeriram a ênfase em pesquisas sobre a reforma agrária. Realmente, a Sociologia Rural teve
um espaço privilegiado, inclusive com as reivindicações da inserção de seu estudo nas escolas
de Agronomia e a criação do estudo Pós-Graduado da matéria, e assim, nesse sentido, não foi
por acaso que a PPG de Sociologia Rural foi o primeiro desse tipo de ensino no Estado. No
entanto, o desenvolvimento da Sociologia Rural estava no horizonte de pesquisa de
Laudelino, uma vez que, havia publicado, em 1952, no Boletim do Instituto de Sociologia
da Universidade de Buenos Aires, intitulado “Sociologia rural latino americana - Suas
possibilidades, necessidades e oportunidades”, no qual reiterou a importância da investigação
sociológica da vida rural.
Por outro lado, surgiu aí, nas resoluções do seminário, a figura de um novo especialista,
o estatístico, uma vez que, nesse contexto, a pesquisa quantitativa seria a melhor metodologia
para apreensão dessa sociedade em mudança. Com a incorporação, no início do ano de 1960,
dos jovens professores Herbert Calhau e José Carlos Grijó, ambos formados em Ciências
117
Estatísticas na Escola Nacional de Ciências Estatísticas do Rio de Janeiro no final da década
de 1950, na secção de Estatística da Faculdade de Economia, a ligação entre a técnica
estatística e as pesquisas desenvolvidas na Sociologia Rural concretizaram-se, fato que
também vai influir na formação dos cientistas sociais após a criação do curso
150
.
Apesar de não ter sido citado nos anais do II seminário de sociologia, o curso de
Ciências Sociais foi criado no mesmo ano de sua realização. Desta maneira, a formação de
especialistas era um problema latente, tanto para o desenvolvimento de pesquisas ligadas a
instituições públicas e privadas, quanto para o magistério secundário e para as Escolas
Normais, porque com a Lei de diretrizes e Bases da educação de 1961, o ensino da Sociologia
voltou aos cursos médios regulares (científico e clássico). Também, neste mesmo ano
tramitava a lei de regulamentação de profissão de Sociólogo. Em suma, a sociedade em
mudança, especialmente com as sucessivas reformas estruturais dos governos
desenvolvimentistas não poderiam abrir mão das análises sociológicas e dos sociólogos.
Deste modo, as iniciativas de formação e reprodução de pesquisas sociológicas a partir das
cátedras de Sociologia coordenadas por Medeiros não davam conta dessa nova realidade,
sendo necessário à criação do curso especifico da área para atender as novas demandas da
sociedade e de um centro de pesquisas.
2.3. O Centro de Estudos Sociais: Do projeto de Laudelino Medeiros ao seu
desenvolvimento real
O projeto de criação do Centro de Estudos Sociais surgiu na conjuntura política
conturbada da década de 1960: o clima ideológico inaugurado por Juscelino Kusbishek do
nacional-desenvolvimentismo, a instabilidade do regime político frente à posse de Jango e de
suas reformas de base e por fim, o golpe de Estado dos militares. No campo específico do
desenvolvimento das Ciências Sociais surgiram novas instituições que buscavam
compreender a nova realidade brasileira que tiveram ligação com as iniciativas institucionais
de Medeiros, como: o Centro Latino Americano de Ciências Sociais (CLACSO), o Instituto
118
de Ciências Sociais da Universidade do Brasil, o Instituto de Ciências Sociais da
Universidade da Bahia.
Desde a criação do curso de Ciências Sociais, em 1959, a formação de especialistas em
pesquisa social para a compreensão da complexidade da realidade e para formar os quadros
dirigentes e profissionais para as instituições privadas e públicas era “uma necessidade social
manifesta, que não precisa de demonstração” como afirmava o catedrático de Sociologia no
requerimento de criação de um Centro de Estudos Sociais ou Instituto de Sociologia
encaminhado ao diretor da faculdade de filosofia, Luiz Pilla, em 1961
151
.
Antes de ter idealizado a criação de um centro de pesquisas científicas, um fato foi
fundamental para a viabilidade do seu projeto inicial de formação de pesquisadores sociais: a
sua viagem à Alemanha no início do mês de novembro de 1961. Assim, ao final do
1°Colóquio Científico do Ultramar das Universidades da Alemanha Ocidental e de Berlim
Oeste sobre problemas sociais na sociedade industrial em desenvolvimento na Universidade
de Munster, os pesquisadores latino-americanos presentes, dentre eles Medeiros,
consideraram
152
:
“1) Que o diálogo desenvolvido atingiu problemas de uma transcendência decisiva
para todo continente latino-americano e talvez para todo o continente ocidental; 2)
que o mesmo dialogo revelou diversidades radicais entre as problemáticas latino-
americana e européia, que se traduz antes de tudo em termos de uma necessidade
iniludível de modificações estruturais rápidas e profundas; 3) que os problemas
discutidos assumem um caráter de urgência dramática e, para muitos, angustiosa,
que não pode mais contentar-se com um puro academismo; 4) que para o
desenvolvimento econômico-social e técnico, que constituem uma exigência
inadiável da América Latina, pode ser de suam utilidade a cooperação do povo
alemão-exemplo admirável do que pode o esforço cientificamente organizado e
orientado para a solução dos problemas vinculados ao surgimento de uma nação e
até de um continente e de toda uma civilização; 5) que os cientistas modernos, e em
especial os cientistas sociais, dedicados ao estudo de problemas de importância
vital, especialmente daqueles que envolvem alterações das estruturas sociais e
modificações dos padrões culturais, estão chamados orientar, pela objetividade
mesma de suas investigações, os homens responsáveis pela ação, tal como hoje
acontece entre os alemães”
E sugeriram
“1) Que o primeiro colóquio, que acaba de se realizar em Munster, seja o inicio de
uma série planificada de colóquios semelhantes destinados a analisar
sistematicamente as condições socioeconômicas da América Latina; 2)Que este
colóquio, assim institucionalizado em um dialogo permanente, se baseie em uma
119
investigação conjunta contínua, que prepare cuidadosamente um intercâmbio
fecundo; 3) Que esta investigação constitua um ponto de partida para a
intensificação das relações entre os povos da Alemanha e da América Latina, e
muito especialmente entre seus cientistas sociais, sob as diversas formas de
intercâmbio de conhecimentos, documentação, publicações, como também de
pesquisadores e professores; 4) Que tais colóquios, tal investigação e tal
intercambio sejam colocados, dada a urgência acima assinalada, em uma
perspectiva operacional, e conduzam à criação de assessorias que possam ser
utilizadas por organizações sociais, econômicas, educacionais, assistenciais e
outras, para a promoção e o progresso de imensos efetivos humanos
subdesenvolvidos.”
Assinaram o documento acima transcrito
153
pessoas importantes da Sociologia latino-
americana, como Gilberto Freyre, José Medina Echevarria e Alfredo Poviña. Foi a partir
desse contexto favorável às relações acadêmicas e científicas entre a Alemanha e a América
Latina que Laudelino conheceu Dr. Helmut Schelsky, da Universidade de Münster. Nas
próprias palavras de Medeiros em correspondência à Oracy Nogueira
154
sobre o início da
cooperação acadêmica alemã com o Rio Grande do Sul:
“Quando estive na Alemanha, em 1961, fiz contatos com o prof. Schelsky, que era
titular em Munster e mantinha um instituto de Sociologia industrial em Dortmund.
Ele viria à América Latina e promovi a vinda à Porto Alegre. Um convênio
informal, pessoal, se estabeleceu para intercambio. Viriam jovens professores e
mandaríamos estudantes graduados, para doutoramento”.
Portanto, o requerimento da criação do CES, em 1961, inspirou-se no Instituto de
Sociologia Industrial de Dortmund. No entanto, essa relação se oficializou, em 1966, com
o financiamento da Fundação Volkswagen por meio do programa de Contatos para a Pesquisa
Social na América Latina (COSAL) que era, naquele momento, coordenado pelo professor
Hans-Albert Steger do Instituto de Dortmund. O pesquisador recém-doutor que veio da
Alemanha foi Achim Schrader.
Em 1966, Achim Schrader começou a pesquisa sobre a educação como oferta e procura
no Rio Grande do Sul, a qual envolveu alunos do curso de Ciências Sociais e pesquisadores
do CES, como Manfredo Berger e o estatístico da Faculdade de Ciências Econômicas Eli de
Moraes Souza. Nesse mesmo ano intensificaram-se a formação em pesquisa social dos
membros do CES através do curso de metodologia de pesquisa de Achim Schrader, que durou
um mês. Em 1967, Schrader e Berger terminam a pesquisa sobre educação
155
e Manfredo
Berger vai para Bielefeld realizar seu doutoramento e trabalhar na Soozialforschungstelle em
120
Dortmund, assim como Schrader volta para a Alemanha. Apesar de Schrader ter descrito as
dificuldades de institucionalização do COSAL
156
como entidade única para os contatos entre a
Alemanha e a América Latina, o convênio permaneceu até o final da década de 1960, tendo
sido mandados para fazer doutoramento, além de Manfredo Berger, Berlindes Rutger e Eva
Zjubert, em épocas sucessivas.
Laudelino afasta-se do CES no final do ano de 1967, sendo escolhido seu assistente Ivan
Dall’Igna Osório para substituí-lo. Antes disso, porém, convida Achim Schrader mais uma
vez para ministrar curso de metodologia no Centro, no ano de 1968. Portanto, o papel que
Achim Schrader teve na formação de especialistas em Ciências Sociais foi através do ensino
da pesquisa empírica
157
, papel objetivado no seu manual “Introdução à pesquisa social
empírica: um guia para o planejamento, a execução e a avaliação de projetos de pesquisa não-
experimentais” que será muito utilizado no desenvolvimento das Ciências Sociais no Rio
Grande do Sul.
Contudo, voltando ao projeto inicial do CES idealizado por Laudelino, embora as
instituições de pesquisa social alemãs tenham influenciado, houve um abismo entre os
programas de pesquisas sugeridos e o real desenvolvimento científico do Centro. Medeiros
previa a realização de um amplo programa de pesquisa sobre “a colonização italiana e sua
contribuição para a formação do Rio Grande do Sul”. Sem dúvida, e ele mesmo deixa claro,
que esse projeto de pesquisa foi inspirado na análise do francês Jean Roche sobre a imigração
alemã no Rio Grande do Sul, finalizada naquele ano. A temática da influência teuta na
sociedade brasileira, especialmente após a clássica obra
158
de Jean Roche, constituiu-se uma
área de estudos interdisciplinar que contou com um espaço privilegiado de divulgação: os
Colóquios Teuto - brasileiros.
Nesse sentido, as primeiras pesquisas do grupo em torno do CES ligam-se diretamente
aos trabalhos apresentados no colóquio de Estudos Teuto-brasileiros, evento promovido
pelo CES, em 1963, que ocorreu em Porto Alegre. No entanto, a idéia de realizar esse
colóquio nacional não partiu de Laudelino, ou dos seus assistentes, como é possível pensar ao
analisar os boletins do CES
159
, mas de um grupo de intelectuais, inspirados por Gilberto
Freyre, que se reuniram no Rio de Janeiro em 1961 que propuseram à Faculdade de Filosofia
121
da UFRGS o patrocínio do evento. Dentre esses intelectuais encontra-se o próprio Gilberto
Freyre, José Fernandes Carneiro, José Arthur Rios, Guilherme Auler, entre outros. Coube a
Laudelino, juntamente com José Fernando Carneiro, Leonardo Trochtrop, Heirich Bunse e
Lourenço Mário Prunes compor a Comissão organizadora do Colóquio por indicação do
Diretor da Faculdade de Filosofia Luiz Pilla.
A apresentação dos anais do Colóquio, escrita por Laudelino, descreve a importância de
estudos sobre as contribuições dos diversos povos na formação do Brasil, principalmente a
Alemã, que no sul do Brasil constitui um campo especial de estudos. Ao mesmo tempo em
que reiterou a importância do estudo sobre a colonização Alemã, que até aquele momento
havia sido objeto de grandes pesquisas como a de Jean Roche e Emílio Willens, Laudelino
(Anais, 1963) lembra que ainda não se fez uma análise da contribuição italiana no Brasil,
exatamente a pesquisa a qual pensava em promover no CES em seus primórdios.
Apesar de lembrar dessa área de estudos não explorada e da relevância da temática do
Colóquio, Laudelino não apresentou nenhuma comunicação de pesquisa. Do grupo do
Laudelino apresentaram relatórios de pesquisa João Guilherme Corrêa de Souza, José Fraga
Fachel e Walter Kock. Por outro lado, Manfredo Berger, futuro pesquisador do CES,
contribuiu na aplicação dos questionários
160
da pesquisa “A colonização Alemã na área de
Joaneta” empreendida pelos professores Alba Gomes, Kleber de Assis e Rafael Copstein do
departamento de geografia da Faculdade de Filosofia da UFRGS.
A preocupação científica de Laudelino Medeiros com a influência dos ítalo-brasileiros,
não será desenvolvida especificamente por ele, ou por seus assistentes, nem pelos
pesquisadores do CES. Para ele, essa temática, justificava-se para um amplo projeto de
pesquisa, porque além de ter sido pouco estudada, “ajudaria aos administradores a
compreenderem melhor os grupos que dirigem e, assim, resolver acertadamente seus
problemas”
161
. Portanto, a pesquisa teria fins práticos, e um dos problemas que os
“administradores” defrontavam-se naquele momento, e que justificariam uma pesquisa sobre
a colonização Italiana, não era uma questão local, dizia respeito às migrações internas desse
grupo as quais, para Laudelino, constituía - se num grave problema social. No entanto, esse
programa de pesquisa sobre migrações internas, num sentido amplo, não apenas das regiões
122
de imigração italiana, estava sendo desenvolvido, por ele, na secção de estudos sociais do
IEPE cujo relatório parcial encontrasse no livro de ensaios “A formação do Rio Grande do
Sul”
162
.
Um ano após o requerimento da criação do CES, em 1962, Benno Sternberg, da
CLACSO, através de carta
163
, relembrou Laudelino da idéia que discutiu com ele e com
Manuel Diegues Jr, no congresso de Sociologia que ocorreu em Belo Horizonte, em 1961, da
possibilidade de uma cooperação entre o CES e a CLACSO, para executar uma pesquisa
sobre a estrutura agrária de uma área de colonização do Rio Grande do Sul financiada pelo
Serviço Social Rural. Contudo, essa cooperação não houve, mas demonstra que a temática
constituía-se num programa de pesquisa nacional no período, inclusive o antropólogo Diegues
Jr publicou trabalhos sobre migrações internas e formação cultural do Brasil. Especificamente
quem trabalhou com os Ítalo-gaúchos foi Thales de Azevedo, do Instituto de Ciências Sociais
da Universidade da Bahia, o qual teve uma relação duradoura tanto com os temas do sul,
quanto com Laudelino.
Porém, as pesquisas realizadas no CES no convênio de cooperação com a Universidade
de Münster, em sua maioria, trataram da temática dos teuto-brasileiros de várias formas, e
nesse segundo momento o enfoque da aculturação prevaleceu. O Colóquio Teuto-
Brasileiro ocorreu, em 1968, no Centro regional de pesquisas educacionais de Recife. Nesse
período, através do convênio entre a Universidade Federal de Pernambuco, o Instituto
Joaquim Nabuco, o CRPE/PE com o Centro de Pesquisa Social de Munster que a ligação
dessa temática com os trabalhos de pesquisa desenvolvidos na primeira fase da cooperação
alemã no Rio Grande do Sul efetivou-se. Mesmo comparecendo ao evento Laudelino
Medeiros não apresentou trabalhos, e as pesquisas comunicadas foram a de Achim Schrader, a
de Manfredo Berger e a de Birgit Schrader.
Portanto, enquanto na primeira fase do CES, ainda sem o convênio com a Alemanha, os
problemas investigados estavam diretamente ligados as preocupações teóricas de Medeiros,
com a organização social da comunidade, posteriormente, sob a influência de Achim Schrader
as análises privilegiam o processo de aculturação das comunidades teutas. Assim, os três
primeiros anos do CES, coordenados por Medeiros, não tiveram o impacto do intercambio,
123
uma vez que ainda reproduziam as pesquisas científicas de Laudelino na Cátedra, e no IEPE,
como sua pesquisa sobre o uso e posse da terra financiada pelo Comitê Interamericano de
Desenvolvimento Agrícola e aquela análise dos minifúndios em Santa Cruz do Sul, além da
pesquisa sobre a educação na área rural de Santa Cruz, concluída em 1962 e financiada pelo
Centro regional de pesquisas educacionais.
A temática da educação, nesse primeiro momento, também foi desenvolvida por
Laudelino Medeiros na pesquisa inacabada financiada pelo CES, sobre as condições sociais e
econômicas do ensino primário, a qual incorpora seus alunos da cadeira de Pesquisa Social do
curso de Ciências Sociais, como André Forster, Mário Rield e Mercedes Loguercio
164
. Porém,
podemos considerar a pesquisa de Schrader e Becker de maior relevância nesse campo de
estudos, porque além da publicação simultânea em Português e Alemão, constituiu-se um
programa de pesquisa. Nesse sentido, Manfredo Berger trabalhou posteriormente sobre a
educação em países dependentes, que publicará em 1976, sob o título de “Educação e
dependência” e Schrader finaliza o programa de pesquisas da Universidade de Münster sobre
“A escola primária na sociedade etnicamente diferenciada”.
As pesquisas de Laudelino não constituíram programas efetivos de pesquisa do CES,
conforme a análise da produção científica do Centro descrito nos boletins informativos. Deste
modo, seu papel foi de iniciador da cooperação acadêmica com a Alemanha, uma vez que esta
cooperação teve continuidade. Na década de 1970, a cooperação acadêmica ocorrerá através
do Programa de Parceria Acadêmica de Estudos financiado pela Igreja Evangélica da
Alemanha, e novamente com a Universidade de Münster na década de 1980. Intercâmbios que
foram importantes para a formação do ensino Pós-Graduado e a formação dos cientistas
sociais.
Em suma, foi assim que a modernidade foi analisada no Rio Grande do Sul. No entanto
o projeto original de Medeiros (1961) ainda previa duas outras áreas de pesquisa. A primeira
dizia respeito ao estudo do processo de conurbação de Porto Alegre que deveria ser planejado
seguindo linhas de desenvolvimento que não afetassem negativamente a população, e a
segunda pesquisa seria o estudo do lazer nas variadas camadas sociais. Em relação à esta
última, sua justificativa era que as medidas de proteção social do trabalhador restringiram as
124
horas de trabalho e aumentaram as de lazer, e em sua interpretação, o campo abria-se para
uma espécie de “Sociologia do Lazer”, buscando compreender “o que faz? O que fará e que
problemas se apresentam ao operário nesse tempo disponível? Qual a possibilidade de
interferência nesse campo?”.
Essas pesquisas específicas não constam nos boletins e na vasta documentação do CES e
de Laudelino Medeiros. Nesse sentido, o posterior desenvolvimento do CES encaminhou-se
para a Sociologia Industrial, não para uma Sociologia do Lazer. Essa inclinação ocorreu com
o afastamento de Laudelino Medeiros, e a ascensão do seu assistente Ivan Dall’igna Osório à
diretoria e com a incorporação do sociólogo José Hugo Ramos como coordenador da divisão
de Estágios juntamente com o apoio do Sociólogo Jorge Furtado como diretor de ensino
industrial do MEC. Nesse momento é que, primeiramente através do convênio com o MEC, a
prática de pesquisa se efetiva no CES numa área especifica de pesquisa social.
As primeiras pesquisas foram sobre “Os mestres na Indústria Gaúcha” e a “situação dos
egressos das escolas industriais”, ambas conveniadas pelo MEC, e concluídas em 1969, tendo
sido a segunda publicada no Boletim do CES do corrente ano por Ivan Dall’igna Osório como
“Egressos nas escolas industriais: Estratégias para o desenvolvimento”. Em 1969 começaram
a fazer um levantamento sobre o histórico do ensino profissional no Brasil e no Rio Grande
do Sul, com ênfase no caso do SENAI no Estado, e, neste mesmo ano, iniciaram a pesquisa
sobre “Industrialização no Rio Grande do Sul”
165
financiada pela Diretoria do Ensino
Industrial do MEC
166
. O grupo de pesquisadores e estagiários do CES também integraram a
pesquisa “Alternativas de desenvolvimento urbano Rio Grande do Sul” financiada pela
sudesul e pelo Governo do Estado, e pela SHERFAU. Este foi um projeto integrado de vários
institutos da UFRGS publicada como “Análise do setor secundário” pelo CES.
Em síntese, mesmo que os programas de pesquisas de Laudelino Medeiros não tenham
sido concluídos não significa que o Centro tenha se desvirtuado dos seus objetivos
originais
167
. Ao contrário, o Centro obteve êxito no seu desenvolvimento, e supriu
necessidades urgentes do desenvolvimento das Ciências Sociais no Rio Grande do Sul, tendo
sido uma instituição importante para a posterior criação dos programas de Pós-Graduação.
125
3. O PROFESSOR, A CÁTEDRA E A HEGEMONIA DA SOCIOLOGIA NO CURSO
DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA UFRGS.
O Curso de Ciências Sociais na UFRGS, embora sua criação estivesse prevista desde a
implantação da Faculdade de Filosofia, foi apenas criado em 1959. No início da Universidade
de Porto Alegre, em 1934, no reitorado de André da Rocha, houve certo empreendimento de
promoção das Ciências Sociais, com a vinda dos professores Maurice Byé e Jacques Lambert
para ministrarem cursos de extensão em Economia Política e Sociologia respectivamente
(Soares & Silva, 1992: 51). Conforme Medeiros
168
, esses intercâmbios ocorreram com certa
freqüenta nos primórdios da Universidade de Porto Alegre (UFRGS):
A universidade, criada em 1935, e em 1936 o governo do Estado convidou mais
de uma leva de professores franceses para darem cursos rápidos aqui, cursos de
conferências em geral. Nessa leva vieram alguns professores, que, na área de
Ciências Sociais se vincularam ao Brasil. Um deles foi Jacques Lambert, veio para
um curso de um ano. Na leva de 1936 veio o François Perraut, o Paul Arbousse
Bastide, que esteve em São Paulo; o Roger Bastide que na vez no Brasil esteve
aqui, depois é que foi para São Paulo. Depois teve o Gaston Leduc, vários
professores franceses.”
Posteriormente à criação da Faculdade de Filosofia as atividades relacionadas às
Ciências Sociais desenvolveram-se apenas nas cátedras de Sociologia, Política e
Antropologia, sem nenhum esforço substantivo de criação de um curso próprio dessa área
científica. A necessidade de desenvolver as ciências sociais na UFRGS, desde o I seminário
de sul rio-grandense de sociologia, e especialmente a partir do II seminário, estava presente
no horizonte do grupo de professores assistentes e do próprio catedrático de Sociologia da
UFRGS Laudelino Medeiros. Inclusive, no ano de 1959, Medeiros tentou trazer professores
para desenvolver as Ciências Sociais na UFRGS. A primeira tentativa foi o professor francês
Jean Labens, que naquele momento estava ligado ao CLAPSO, para ministrar cursos na
UFRGS, mas não foi possível, porque o professor citado estava voltando à Europa
169
. Em
1960, também tentou trazer mais uma vez Jean Roche ao Rio Grande do Sul, mas por falta de
recursos não foi possível. Nesse sentido, Medeiros desabafou para seu amigo Thales de
Azevedo, em correspondência de 7 de junho de 1960
170
, que gostaria que Roche ministrasse
uma palestra ambiciosa sobre a “metamorfose do Rio Grande do Sul” juntamente com
126
geógrafos, historiadores, sociólogos, antropólogos e economistas, mas estava cansado,
conforme depoimento abaixo:
“Tenho lutado muito. E estou talvez cansado. Talvez não saiba nadar e a falta de
técnica me produza tanto cansaço e tão pouco resultado. Estou tentando mudar as
grandes linhas de estratégia para o desenvolvimento das ciências sociais nessas
regiões. Vou readaptar a estratégia, mas espero não abandonar a batalha!”
Pode-se considerar como um dos fatores desencadeadores dessa percepção da
necessidade de desenvolver às Ciências Sociais no Estado foi à oferta de vagas no ensino
secundário e nas Escolas Normais para professores de Sociologia, no contexto da LDB de
1961, e outra foi o projeto de lei da profissionalização do Sociólogo. De fato, conforme
parecer 1159, a criação do curso, em 1959, ocorreu sem grandes impedimentos, como
abaixo:
O senhor diretor da Faculdade de Filosofia encaminhou à apreciação do Egrégio
Conselho Universitário expediente que informa que a colenda Congregação daquela
Faculdade resolveu autorizar a abertura de matrícula para o curso de Ciências
Sociais, criado pelo decreto-lei n.° 1190, de 4 de abril de 1939, e previsto no
Regimento da mesma Faculdade. No ofício do ilustre Diretor da Faculdade de
Filosofia apontam-se dois problemas: o da necessidade de autorização do Conselho
Universitário para instalação do curso e da oportunidade do curso. Quanto ao
primeiro, embora não esteja enquadrado nas atribuições dessa Comissão, porquanto
afigura-se-nos uma questão de aplicação de regulamento que caberia à Comissão de
legislação resolver, parece que o senhor diretor esclareceu a desnecessidade de tal
consulta “por não haver criação de cátedras, ainda que implique o funcionamento
do curso num aumento o número de auxiliares de ensino”, o que não seria da alçada
da Comissão de Legislação, mas da de orçamento, visto que envolve problemas de
ordem econômica e não legal. Quanto à oportunidade do curso não dúvida de
que dispensa maior exame, dada a importância dos estudos sociais, quer para a
administração pública, quer para as instituições de caráter social. A estrutura do
Curso será a preconizada pelo art. 15 do Regimento da Faculdade, portanto,
aprovada por este egrégio Conselho, quando aprovou o Regimento daquele Instituto
de Ensino. Das cadeiras do curso, esclarece o Diretor da Faculdade de Filosofia,
quase todas (com exceção das cadeiras de Estatística Geral e Aplicada e de
Economia Política e História das Doutrinas Econômicas) são comuns a outros
cursos da própria Faculdade e estão em pleno funcionamento. Quanto aquelas duas
cadeiras, ainda vagas, propõe o diretor a colaboração da Faculdade de Ciências
Econômicas, desta Universidade, cujos professores especializados poderiam
atender devidamente àquelas disciplinas. Não vemos, pois, motivos para negar
aprovação do curso de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, nos termos
solicitados pelo respectivo diretor, professor Luís Pilla.”
Sua rápida implantação deveu-se ao fato do currículo estar fixado pela Faculdade
Nacional de Filosofia e pela disponibilidade de professores das cátedras de Sociologia da
Faculdade da Filosofia, como Alberto Cibils, João Guilherme de Souza, Ivan Dall’ Igna
127
Osório; e da Faculdade de Economia, como os estatísticos Grijó e Calhau e o assistente Túlio
Bogo. Outro fator importante no processo de criação do curso foi à influência que Laudelino
Medeiros tinha nas decisões da congregação da Faculdade de Filosofia. Em relação ao ultimo
aspecto, conforme depoimento do professor João Guilherme Correa de Souza
171
, a Sociologia
na UFRGS não teve que afirmar sua cientificidade para ter credibilidade, e conseqüentemente
conquistar seu espaço institucional, como foi o caso da Escola da USP, por que:
“Na congregação não era a Sociologia, era o Laudelino. Quando ele foi
representante da Faculdade no Conselho Universitário, não era a Sociologia, era
Laudelino. A Sociologia não teve essa luta. Para mim, a criação do curso de
Ciências Sociais na UFRGS foi burocrática”.
Medeiros fez parte de comissões internas da Faculdade de Filosofia desde o reitorado
de Armando Câmara, analisando o problema da localização e construção do campus
universitário, da comissão de criação e avaliação da revista da Faculdade de Filosofia
172
, e do
primeiro Conselho Técnico Administrativo durante a direção de Luís Pilla
173
, e no reitorado
de Pery Pinto Diniz, e nenhum dado indica que tenha, durante esse longo período, requerido a
criação do curso de Ciências Sociais. Conforme seu depoimento
174
não o fez pela questão do
orçamento da Universidade nos primeiros tempos, situação que se modificou com o
desenvolvimento dos quadros docentes nas Cátedras, uma vez que, em 1959:
Nós tínhamos gente para dar sociologia, a parte de estatística cultivada na
economia, então foi possível; havia economia, ciência política, com o professor
Darcy Azambuja, que era professor de teoria do Estado na Faculdade de Direito.
[...] No início não havia recursos, mas quando foi criado o curso o orçamento da
Universidade tinha crescido. A Universidade foi se firmando. [...] Então o curso
de Ciências Sociais foi criado em 1959, nessa ocasião a Faculdade contava com
mais recursos.”
Portanto, foi esse o contexto burocrático da criação do curso de Ciências Sociais em
1959, que dependeu da vontade e esforço do catedrático de Sociologia. A partir da criação do
curso que houve certa circulação de especialistas da área na Faculdade de Filosofia, como
Jean Roche, David Mayburg Lewis, Raymond Aron, Jean Pierre Deffarges, Helmet Schelsky,
entre outros
175
, mas nenhum compôs o corpo docente, apenas ministraram palestras e
seminários. Deste modo, embora existisse a cátedra de Política e a de Antropologia, ao
incorporarem os professores assistentes e colaboradores, tanto da Faculdade de Economia,
quanto da Faculdade de Filosofia no novo curso, a Sociologia foi hegemônica no início da
institucionalização das Ciências Sociais na UFRGS.
128
3.1. Os primeiros anos do curso de Ciências Sociais: A hegemonia da Sociologia sob a
direção do seu catedrático
A primeira estrutura curricular do curso de Ciências Sociais seguiu o currículo nacional
fixo e seriação anual da Faculdade Nacional de Filosofia. Esse currículo funcionou na
Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil de 1939 à 1946 e refletiu uma das
especificidades das Ciências Sociais cariocas, que, como a Faculdade de Filosofia e o curso
de Ciências Sociais foram criados antes da Faculdade de Economia, e de seu respectivo curso,
a formação do economista era realizada no curso de Ciências Sociais, por isso a concentração
dos estudos no campo da sociologia e da economia no currículo fixo (Villas Boas, 1995). No
Rio Grande do Sul, foi o contrário, na inexistência do curso de Ciências Sociais, os que
buscavam formação em sociologia cursavam os cursos nos quais as duas cátedras de
Sociologia atendiam, como: Filosofia, Pedagogia e Economia. Portanto, na criação do curso,
em 1959, as cátedras contavam com corpo docente de assistentes com formação em sua
maioria em Economia, e alguns com formação em Filosofia. Dessa forma, foi implantado o
primeiro currículo, como abaixo:
Ano Disciplina obrigatória
1 Complementos de matemática
Sociologia I
Economia Política I
História da Filosofia
2 Estatística geral
Sociologia II
Economia Política II
Ética
3 Sociologia III
História das Doutrinas Econômicas
Política
Antropologia e Etnografia
Estatística aplicada
Quadro 17: Currículo do Curso de Ciências Sociais de 1959
Assim, conforme o parecer do Conselho Universitário de n°1190, a exceção das
disciplinas de Economia Política, História das Doutrinas Econômicas e Estatística geral e
Aplicada, o resto das disciplinas eram ministradas na Faculdade de Filosofia. No entanto, isso
não consistiu num empecilho ao funcionamento do curso, porque a disciplina de História das
Doutrinas Econômicas era ministrada na Faculdade de Economia pelo catedrático de História
Francisco Machado Carrion, que posteriormente será chefe do departamento de Ciências
129
Sociais, e as disciplinas de Estatísticas ao encargo do professor assistente Maurício Filchtiner
e dos instrutores José Carlos Grijó e Herbert Guarini Calhau. As disciplinas de Filosofia
ficaram ao encargo do então catedrático da área Ernani Maria Fiori.
As disciplinas exclusivas das Ciências Sociais - Sociologia, Antropologia e Política
foram assumidas pelos professores titulares, assistentes, colaboradores das cátedras existentes
na Faculdade de Filosofia desde 1946. Nesse sentido, enquanto a cátedra de Antropologia e a
de Política assumiram uma disciplina, a cátedra de Sociologia ficou com três disciplinas no
curso de Ciências Sociais. A cátedra de Política, até então, havia construído sua tradição na
Faculdade de Direito com a disciplina Teoria Geral do Estado ministrada pelo titular Darcy
Azambuja. Na Faculdade de Filosofia estava a cátedra de Antropologia, coordenada apenas,
até aquele momento, pelo Pe. Balduíno Rambo e por Salvador Petrucci, o primeiro na
disciplina de Antropologia e Etnografia e o segundo na Antropologia Física, que desde 1946
estavam vinculadas ao curso de História e Geografia. Portanto, a única cátedra que contava
com um grupo instituído de professores assistentes, auxiliares de ensino e pesquisa, em 1959,
foram as duas cátedras de Sociologia.
Num esforço de juntar as cátedras e organizar o curso, foi instituído em 27 de maio de
1960 o primeiro departamento, sendo o catedrático de Sociologia Laudelino Medeiros o
primeiro diretor, escolhido pelos professores Luiz Pilla (Diretor da Faculdade de Filosofia),
Pe Balduíno Rambo, Luiz Alberto Cibils, Renato Costa, Jorge Rabot Miranda e Jorge
Bermejo
176
, esses últimos da Faculdade de Economia. Portanto, sendo o criador do curso era
de se esperar que assumisse a sua organização e considerasse o objetivo do curso de Ciências
Sociais a preparação intelectual das elites, através da formação sociológica, como abaixo
177
:
“A Sociologia devia dar aos alunos uma formação capaz de compreenderem os
mecanismos básicos de funcionamento da sociedade. E qualquer que fosse a
ocupação de posto de elite, eles tinham que ter uma noção disso. Afora a
preocupação com os estudos dos problemas sociais que ocorriam no Brasil. Seria
básica a formação sociológica para isso. Não havia preocupação em formar
pesquisadores especificamente ou desenvolver a sociologia”.
Os primeiros alunos formados nesse currículo em sua maioria foram mulheres
178
, a
exceção de Benito Cardoso. Desses primeiros alunos Suzana Arrosa Soares foi indicada à
cátedra de Sociologia, juntamente com Ilse Harres, como professoras assistentes. Nesse
130
momento, as cátedras de Antropologia e Política haviam começado a formar um grupo de
professores, assistentes e instrutores de ensino. Na Antropologia foi convidado o aluno de
Geografia e História Pedro Ignácio Schmitz, assumindo a cátedra como professor assistente
em 1961 com a morte de Pe Rambo. Posteriormente foram incorporados à Cátedra de
Antropologia alunos egressos do curso de História e Geografia como: Pe. Arthur Blásio
Rambo, José Joaquim Brochado e Sérgio Teixeira. Segundo Ignácio Schmitz
179
, após a morte
de Pe. Rambo a Antropologia sofreu significativa mudança:
nos últimos anos de sua docência fora introduzida, por determinação do
Ministério de Educação, a disciplina de língua Tupi, para os alunos da História. O
assistente de Rambo, que estudara Guarani, por dois anos, com o professor
paraguaio Alejandro Ortizoga e fizera um estágio nas missões jesuíticas, foi
encarregado dessa disciplina, que ministrou durante alguns anos e abandonou. A
escola dos círculos culturais, de Viena, foi substituída pela Antropologia Cultural
americana, desde seguida por outras universidades brasileiras. [...] Com a
aposentadoria do Prof. Petrucci a Antropologia Física perdeu autonomia e passou a
ser uma parte do programa de Antropologia Cultural, de acordo com os manuais
americanos, que serviam para as aulas. Aos poucos foi se insinuando a
Antropologia Social, até se impor.”
No entanto, nesse primeiro momento, a Antropologia teve um desenvolvimento mais
ligado ao curso de Geografia e História e em torno das pesquisas arqueológicas e de
Antropologia Física da própria cátedra. (Schmitz, 1997) A política, ao contrário, com a
incorporação de Leônidas Xausa à Cátedra, em 1963, como professor assistente, ficou
desvinculada da Teoria Geral do Estado na Faculdade de Direito, e começou a montar um
grupo de assistentes e colaboradores no Curso de Ciências Sociais. Leônidas Xausa também
fez parte da geração católica, posterior à de Laudelino Medeiros, e trouxe para a Universidade
toda sua experiência política no PDC, além de uma formação intelectual especificamente de
Ciência Política, concluída nos EUA, sendo assim o fundador da Ciência Política da UFRGS.
Ainda que escrito num tom de consagração, o argumento de Hélgio Trindade (2004: 558) é
representativo da mudança da Ciência Política com a incorporação de Leônidas Xausa no
curso:
Fortemente identificado com o objeto da sua disciplina- a Ciência Política- da
qual será, de fato, o fundador na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sua
visão estratégica, de curto e longo prazo, sobre o desenvolvimento institucional da
mesma. Xausa teve um impacto renovador no Departamento de Ciências Sociais.
Como um Quixote, pôs em xeque a hegemonia da Sociologia, rotinizada sobre a
liderança de Laudelino Medeiros”
131
Para tanto, inicialmente teve como colaborador de ensino José Tavares, e posteriormente
os professores Hélgio Trindade e Francisco Ferraz. A hegemonia da Sociologia consolidou-se
no currículo de 1963, justamente o ano que Xausa assumiu a cátedra de Política como
professor assistente, no qual incluíram, além de mais um ano de curso, as disciplinas
idealizadas por Laudelino Medeiros como Problemas Brasileiros e Pesquisa Social, sendo seu
fundador e titular. Conforme depoimento de Medeiros (1965: 2) sobre a orientação dessas
disciplinas:
Os cursos das diferentes áreas estão procurando seguir uma linha de análise
realista, sempre em função da realidade brasileira, mesmo naquelas disciplinas
básicas, que procuram construir a aparelhagem conceitual e os quadros teóricos. E
para uma visão sociológica da realidade brasileira, em particular dos grandes
problemas sociais dessa fase de transformações, foi introduzida uma disciplina no
curso de Ciências Sociais com o nome de Problemas Brasileiros e outra na
faculdade de Ciências Econômicas de Sociologia do Desenvolvimento. Problemas
Brasileiros foi um nome menos ambicioso que, por exemplo, Sociologia brasileira.”
O currículo mínimo obrigatório de 1963 ampliou as cadeiras de Política e Antropologia,
apesar da preeminência das disciplinas de conteúdo sociológico, conforme abaixo:
Ano Disciplinas
1 Iniciação à metodologia científica
Sociologia I
Antropologia I
2 Estatística Geral
Sociologia II (Geral)
Política I
Antropologia II
Economia I
3 História Econômica Política e Social do Brasil I
Historia Econômica Política e Social geral
Pesquisa Social
Política II
4 Problemas Brasileiros
Sociologia III
Geografia Humana e Econômica
Quadro 18 - Currículo do Curso de Ciências Sociais 1963
No final de 1964, no contexto do golpe de Estado dos militares, formou-se a turma que
passou por essa transição de currículo. Como a primeira turma, a clientela era essencialmente
feminina, a exceção de Ivo Alberto Schneider, que foi colaborador de ensino da Cátedra de
Sociologia, e passou a ser professor assistente assim que ingressou no Mestrado de Sociologia
Rural do IEPE/ FCE. Ao mesmo tempo em que Medeiros formava e cooptava pessoas para
fortalecer as atividades da Cátedra de Sociologia, especialmente enriquecidas com a criação
132
do Centro de Estudos Sociais (1963) e com a pesquisa sobre a educação rural em Santa Cruz
financiada pelo Centro Regional de Pesquisas Educacionais, a sua postura frente à Ditadura
Militar e a radicalização ideológica foi de defesa da neutralidade da Sociologia o que acabou
dividindo seu próprio grupo e deixando o campo de luta ideológica e posicionamento crítico
da realidade à Ciência Política. Conforme seu depoimento
180
:
“Dentro da Sociologia, a primeira coisa que havia era uma preocupação com a
objetividade e isso limitava enormemente os interesses. As posturas ideológicas
cediam lugar aos critérios positivos, os critérios objetivos. Durante muito tempo,
não se levantou uma questão dessas. Quando o sujeito resolvia “ah é porque o
econômico é que determina tudo, que as estruturas sociais são um fruto das
influências dos fatos econômicos, e como interesses em jogo, a luta de classes é
que dá o dinamismo à sociedade, tal e tal. Esse é o modo de pensar marxista. Agora
vamos ver nos fatos, é outra coisa. Vamos ver nos fatos até que ponto essas coisas
funcionam? Sempre os fatos deviam estar na ponta da coisa. Havia fora da
Universidade uma luta ideológica muito forte, que nos anos 1950 e 1960 sobretudo,
foi muito forte. Mas dentro das cátedras de Sociologia não aparecia isso. Não
aparecia porque todos estavam interessados no problema político que não era nosso
campo. Isso apareceu já os anos 1960; lembro que surgiram alguns atritos dentro da
Universidade, mas não tão dentro da Sociologia, mais de outras disciplinas com a
Sociologia, como a Ciência Política.”
No entanto, essa posição foi sua, uma vez que seus assistentes, em sua maioria,
mudaram suas posições e visões de mundo no período, afastando-se de Medeiros, a exemplo
da mudança radical de João Guilherme e José Fachel. Primeiramente foi em relação ao
catolicismo, conforme abaixo:
Eu comecei a me desiludir e comecei a ler Max Weber, mas não pela Sociologia
da Religião, mas pelo Economia e Sociedade, e li, num esforço terrível para
compreender o cara, mas eu fui indo, e entendendo o cara eu entro pela
sociologia da religião, porque o católico pensa que a verdade religiosa é uma só,
que a ética religiosa é uma [...] Mas Weber mostra essa auto-análise da religião.
[...] E aí bom, eu estava desiludido
181
E os assistentes
182
distanciaram-se também em relação à sua análise do período
histórico, como abaixo:
“Veio o golpe de 64 a e começou as divergências. [...] A ditadura dos militares e
as perseguições. [...] O Laudelino me perguntou “O que é que tu ta achando do
novo regime?”, isso bem defronte da Faculdade de Ciências Econômicas, e eu
disse assim pra ele, ele nem podia ter ficado bravo, mas ficou, eu disse “Olha, isso
ta ficando, pelo que eu leio, e pelo que dizem, igual a União Soviética”. [...]
Naquela época até católico eu era. [...] Sabe o que ele fez, não sei mais uma outra
coisa que eu disse, e tava só eu e ele na frente da faculdade, aí ele eu tava no IEPE,
que eu trabalhava, ele mandou me chamar, ele tinha uma sala na faculdade,
dentro do Departamento de Ciências Sociais da Faculdade de Economia, me
133
chamou e a primeira pergunta que ele fez foi a seguinte: “O senhor tem
possibilidade de voltar para Santa Cruz do Sul?”. eu digo: “Ta, mas qual é o
problema?”,“É que eu estou pensando em lhe mandar embora”, “O que houve?”,
“Eu não gostei das coisas que o senhor me disse sobre o regime militar, então eu
vou pensar, mas eu estou inclinado a lhe mandar embora”. Eu era assistente naquela
época, ele catedrático.”
Assim, as tomadas de posições dos professores assistentes, dos alunos e de outros
professores da Universidade frente à Ditadura Militar foram opostas à posição de Medeiros.
Os professores assistentes, juntamente com os da Ciência Política vão orientar-se pela crítica
da realidade, através da discussão da questão da dependência, do desenvolvimento associado
e da dominação de classes no Brasil, além buscarem a expansão das Ciências Sociais na
UFRGS, objetivado em 1973 na criação do Programa de Pós - Graduação de Sociologia e
Ciência Política.
A última turma de Ciências Sociais, formada, em 1968, no currículo implantado em
1963, em sua maioria direcionou-se para a docência e a pesquisa, assim como buscaram a
formação de nível de pós-graduação
183
. Nesse momento, as experiências de pesquisas não se
restringiam mais apenas a Sociologia, como as de Medeiros e as do Centro de Estudos
Sociais, porque, a partir de 1968, o novo departamento de Ciência Política cooptou estudantes
e pesquisadores na realização de pesquisas eleitorais e sobre o comportamento político da
população em Porto Alegre e Ijuí, financiado pela fundação Ford.
3.2. O ensino de Sociologia e sua organização no Departamento de Ciências Sociais
Com a Reforma Universitária de 1968 houve nova mudança curricular determinada
pelo Conselho Nacional de Educação, estabelecido pela comissão de Ciências Sociais da qual
fez parte Laudelino Medeiros, como abaixo:
Semestre Bacharelado Licenciatura
1 Introdução ao problema do homem
Problemas Brasileiros
Introdução à metodologia científica
Língua Portuguesa
Introdução ao problema do homem
Problemas Brasileiros
Introdução à metodologia científica
Língua Portuguesa
134
Introdução ao pensamento
matemático
Introdução ao pensamento matemático
2 Hist. Eco. Pol. Soc do Brasil I
Hist. Eco, Pol. Soc. Geral I
Geografia humana e econômica
Antropologia I
Sociologia I
Política I
Hist. Eco. Pol. Soc do Brasil I
Hist. Eco, Pol. Soc. Geral I
Geografia humana e econômica
Antropologia I
Sociologia I
Política I
3 Economia I
Geografia humana e econômica II
Antropologia II
Sociologia II
Política II
Hist. Eco. Pol. Soc do Brasil II
Hist. Eco. Pol. Soc Geral II
Economia I
Geografia humana e econômica II
Antropologia II
Sociologia II
Política II
Hist. Eco. Pol. Soc do Brasil II
Hist. Eco. Pol. Soc Geral II
4 Economia II
Epistemologia das Ciências Sociais
Estatística I
Economia II
Epistemologia das Ciências Sociais
Estatística I
5 Pesquisa Social I
Estatística II
Pesquisa Social I
Estatística II
Psicopedagogia desen individual
Psicopedagogia do adolescente
6 Pesquisa Social II Pesquisa Social II
Psicologia da aprendizagem
Psicologia de ensino
Estr. Func. Ens. I e II grau
7 Estudos dos problemas brasileiros I Didática I
Estudos dos problemas brasileiros I
8 Estudos dos problemas brasileiros II Estudo dos problemas brasileiros II
Didática II
Estágio Supervisionado
Quadro 19 - Currículo do Curso de Ciências Sociais 1969
Neste currículo, dividido em semestres, Medeiros continuou apenas com sua disciplina
de Problemas Brasileiros, e foram introduzidas as disciplinas de Epistemologia das Ciências
Sociais e Estudos dos Problemas Brasileiros. Quanto à essa última, as famosas disciplinas de
EPB foram implantadas na universidade por determinação da Reforma Universitária
empreendida pelos militares, juntamente com novos professores de diferentes formações. A
incorporação dessas disciplinas no ensino superior, e das disciplinas de humanidades (Moral e
135
Cívica) no ensino secundário, criaram novas demandas no mercado de trabalho para os
sociólogos, e deste modo, aumentou a procura pelo curso de Ciências Sociais (Holzmann,
1995).
Medeiros foi o criador da disciplina de Pesquisa Social, inspirado na sua experiência na
Escola de Serviço Social, na qual, além de professor de 1942 até 1945, foi diretor na década
de 1950, conforme abaixo
184
:
“Eu tinha feito uma experiência na escola de serviço social. A escola de serviço
social foi criada nos anos 1940-1950, eu tinha feito uma conferencia numa semana
de estudos sociais e nesse conferencia estava presente uma assistente social do Rio
de Janeiro. A palestra era sobre solidariedade, e ela introduziu a discussão sobre a
necessidade de criar em Porto Alegre uma Escola de Serviço Social, mostrando que
era uma técnica de resolução dos problemas sociais das pessoas ocupadas em
diferentes ramos. Então dessa sugestão de Ilda Pereira nasceu essa escola de serviço
social. E eu fui convidado e lecionei nessa escola Sociologia e Pesquisa Social.
Então essa experiência que fiz, porque cada assistente social, no último ano, devia
fazer um estágio numa empresa e, como fruto desse estágio, ela devia coletar o
material para fazer uma tese. Chamavam tese, mas na verdade era um trabalho de
campo. Eu lecionava como elaborar essa tese, etc. E essa experiência eu amadureci
um pouco e levei para o curso de Ciências Sociais com a criação da disciplina de
Pesquisa Social. Desde já estar funcionando o curso dois ou três anos.”
Nesta disciplina, a partir dos dados de suas anotações de aula
185
, além de dar um
panorama geral da Sociologia, convidava seus alunos a participarem de suas pesquisas,
primeiramente na pesquisa sobre a educação em Santa Cruz do Sul, na qual teve o então aluno
Ivo Schneider como colaborador e na pesquisa sobre a educação primária no Rio Grande do
Sul
186
, na qual colaboraram, como entrevistadores, os alunos, Mercedes Loguercio, Mário
Rield e André Forster
187
. Portanto, buscou, muitas vezes juntamente com as atividades do
Centro de Estudos Sociais, despertar e preparar os alunos para a pesquisa sociológica da vida
brasileira. No entanto, como sua trajetória de pesquisa foi ligada à temática da população, das
migrações internas, dos dados demográficos e a relação disso com o desenvolvimento das
comunidades, das cidades, etc, e assim, não abrangendo os grandes debates da época, como as
teorias da modernização, mudança social, do desenvolvimento associado ou periférico, etc;
propôs no curso de Ciências Sociais ministrar a disciplina de Problemas Brasileiros, uma vez
que:
“Não havia margem para um curso de sociologia brasileira, não de exposição e
crítica das concepções, das visões sociológicas existentes como também da
construção de uma nova visão sociológica, não havia margem para isso. Então eu,
136
mais modestamente, sugeri e se criou a cadeira de Problemas Brasileiros. Nessa
disciplina se estudava o problema demográfico
188
” .
Deste modo, os temas do curso
189
reproduziam sua experiência em pesquisa, como sobre
a população, a urbanização, a estrutura agrária, a educação, no entanto introduz temas que
estavam na agenda das ciências sociais da época, como resistências à mudanças na estrutura e
na organização social, a distribuição regional do poder político e o debate das transformações
da sociedade brasileira pós trinta. Para tanto, exigia que seus alunos elaborassem trabalhos
práticos sobre um problema brasileiro dentro dessas temáticas. Simultaneamente a sua
docência no curso de Ciências Sociais, juntamente com seu assistente José Fachel, assumiu a
disciplina de “Sociologia do Desenvolvimento” no Programa de Pós Graduação em
Sociologia Rural, e a partir dos anos 1970 a disciplina de “Teoria Sociológica” nesse mesmo
programa.
A temática da mudança social, ou resistências a mudanças foi amplamente influenciada
pelos argumentos de Luiz Costa Pinto reproduzido no seu livro “Sociologia e
Desenvolvimento”, de 1962, mas Medeiros começou a incluir essa temática após participar do
seminário resistências à mudanças promovido pela CLACSO em 1959. Nesse sentido,
Medeiros privilegiou a temática do desenvolvimento, especialmente o econômico, à
modernização para explicar a mudança social. A partir desse panorama utilizou-se de autores
como: Celso Furtado, Pedro Beltrão, José Echevaria, Juares Lopes Brandão, F. Perroux, entre
outros
190
.
Dessa forma, Sociologia finalista que buscava o progresso social, presente
principalmente em suas aulas para o curso de Pedagogia, Filosofia e Didática no período da
Sociologia de Cátedra foi substituída pela idéia de uma Ciência Social aplicada, apta a
diagnosticar os problemas sociais para intervir nessa realidade através de projetos de
desenvolvimento econômico e social. Essa sua concepção, Medeiros sistematizou na
comunicação apresentada no III encontro inter- regional de Cientistas Sociais do Brasil,
promovido pelo Instituto Joaquim Nabuco, em Recife, no ano de 1975. Neste trabalho, muito
similar ao conteúdo de suas aulas, tanto de problemas brasileiros, quanto na de Sociologia do
Desenvolvimento, demonstra que o uso de métodos quantitativos juntamente com as teorias
de longo alcance, como a de Weber, de Parsons, para explicar a mudança social não eram
137
adequados, e sugeriu a utilização de teorias de médio alcance como conhecimento sobre as
condições sociais de inovação e sobre as resistências às mudanças. Dessa forma, a Sociologia
deve elaborar um diagnóstico da realidade social, no qual: “Será um conhecimento o mais
objetivo possível da realidade, envolve a análise dos aspectos econômicos, obviamente o
levantamento mais ambicioso, e a análise dos aspectos sociais e culturais implicados no
plano” de desenvolvimento brasileiro (Medeiros, 1975: 33).
Portanto, a Sociologia que Medeiros ministrou através da disciplina de “Estudos
Sociais” e “Pesquisa Social” buscou preparar os cientistas sociais na elaboração de
diagnósticos para a resolução dos problemas sociais. De toda forma, embora Medeiros tenha
assumido posições divergentes de seu grupo e dos outros professores do curso de Ciências
Sociais, as cadeiras que assumiu mudaram em relação as anteriores que ministrara nas
cátedras, porque se afastou da Sociologia de orientação católica e definiu o papel da
sociologia enquanto instrumento de mudança social. Com a instituição da estrutura
departamental, na qual era apenas um professor como todos os outros, e deste modo,
confrontando-se com pessoas com formação universitária distinta da sua, uma vez que muitos
dos novos professores e até mesmo os professores que foram seus assistentes buscaram a
formação pós-graduada no Brasil e no exterior, Medeiros foi perdendo sua antiga influência
no curso. Inclusive a disciplina de Estudos Brasileiros não consta no currículo mínimo de
1970 que vigorou até 1976. Em suma, com a nova composição do quadro docente e a
diversificação temática nas pesquisas do departamento com sua vinculação ao Programa de
Pós-Graduação de Sociologia e Política o antigo catedrático voltou-se para as áreas que ainda
mantinha alguma influência, como a Sociologia Rural e, na década de 1980, o Instituto
Histórico Geográfico do Rio Grande do Sul.
138
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Buscou-se resgatar nessa pesquisa a relação da chamada “geração católica” com a
Universidade do Rio Grande do Sul. Essas “gerações” formadas no Colégio Anchieta e
agregadas na Congregação “Mater Salvadoris” podem ser assim consideradas, porque,
diferentemente do grupo católico do Rio de Janeiro, cujos seus maiores representantes do
laicato como Jackson de Figueiredo e Alceu Amoroso Lima passaram por processos distintos
de conversão e ação (Villaça, 1977), converteram-se através da mesma educação e escola de
pensamento, e assim consequentemente suas ações, iniciativas e referenciais de luta foram
homogêneos até a década de 1950. Nesse sentido, a atuação do nobre Padre alemão von und
zur Mühlen S.J foi essencial, porque, até sua morte em 1939, orientou a juventude católica no
projeto de recristianização de todas as esferas sociais, especialmente a universitária.
Também ao contrário do grupo católico do Rio de Janeiro, no qual Dom Leme
representou o mentor e autoridade máxima de todas as iniciativas da renovação católica, no
Rio Grande do Sul Dom João Becker não teve o mesmo papel, uma vez que a “geração
católica” não se submeteu a hierarquia da Arquidiocese. Os fatos mais ilustrativos foram:
primeiro, a posição tomada pela juventude do CCA na LEC de 1933 de apoiar Adroaldo
Mesquita da Costa do PRR e não os candidatos do PRL de Flores da Cunha aliado a D. João
Becker, e segundo, o abandono do movimento da juventude católica quando este se vinculou
à Arquidiocese.
Por outro lado, em suas devidas proporções, a ação dos jesuítas Padre Werner no Rio
Grande do Sul e Padre Franca no Rio de Janeiro, ambos assistentes eclesiásticos,
direcionaram-se para o combate da crise do mundo moderno na Universidade. O primeiro
através de sua atuação de assistência aos jovens católicos do CCA no projeto de domínio de
setores da UFRGS, e o segundo na criação de instituições, junto com Alceu Amoroso Lima,
destinadas a cooptação e formação humanísticas dos universitários, como o Centro Católico
de Estudos Superiores além da produção de livros para a juventude. Deste modo, não foi por
acaso que Alceu Amoroso Lima e Pe. Leonel Franca fossem, além de Padre Werner e
Armando Câmara, as referências intelectuais mais importantes da “geração católica” rio-
grandense.
139
Armando Câmara, neto de dois Viscondes, o de Pelotas José Antônio Correa da Câmara,
e o de São Leopoldo, José Feliciano Fernandes Pinheiro, foi, sempre sombra de dúvida, a
figura mais importante dos primeiros católicos que demonstraram publicamente sua na
sociedade rio-grandense caudilhista e machista, na qual a prática religiosa era vista como
atividade essencialmente feminina. Se Pe. Werner foi o mentor espiritual e intelectual daquela
“geração católica” que assumiu as cátedras da Faculdade de Filosofia, Armando Câmara foi o
mentor da ação pública e política da citada geração. Foi presidente de honra de todas as
instituições que agregaram os jovens católicos, como o CCA, além de idealizador da APC e
da ABRS. Assim, com a morte de Padre Werner, a condução do projeto de conquista da
Universidade foi liderado por Armando Câmara.
Sua atuação na Universidade como docente começou em 1931 e desta forma, no mesmo
ano que a maioria dos jovens do Colégio Anchieta ingressou nos cursos de Direito, Medicina
e Engenharia. Portanto, o movimento de conquista da Universidade começou com a atuação
de Armando Câmara na Faculdade de Direito e concretizou-se com a alocação das cátedras da
Faculdade de Filosofia entre o grupo católico no seu reitorado. Enquanto Alceu Amoroso
Lima não aceitou o Reitorado da FNF no final da década de 1930, Câmara não aceitou o
cargo após a renúncia de vários reitores, como completou o quadro docente, em sua maioria
com católicos, que influenciaram nos destinos das áreas disciplinares e da Faculdade até
meados da década de 1960.
Portanto, pode-se considerar a década de 1960 com o fim da influência dos católicos em
determinadas disciplinas e na Universidade. Nesta década, a “geração católica” não constitui
mais um grupo homogêneo ideologicamente e politicamente, e durante o processo repressivo
na Universidade, a partir de 1964, com instauração da Comissão Sumária de Inquérito muitos
docentes, antigos membros do CCA, foram condenados pelos seus próprios colegas, por
subversão à ordem, como Ernani Maria Fiori e Victor de Britto Velho. De todo modo, após a
instauração dos departamentos e o fim das cátedras na prevista na Reforma Universitária de
1968, muitos catedráticos católicos resistem, mas acabam aposentando-se na década de 1970,
como Laudelino Medeiros e Francisco Machado Carrion. Portanto, a Reforma Universitária
ao terminar com as cátedras, e estabelecer como critérios de seleção e classificação a
meritocracia, a influência dos antigos catedráticos foi reduzida.
140
Esse processo fez parte da constituição histórica das Universidades e de construção de
esferas de produção de conhecimento relativamente autônomas às inferências de outras
ordens sociais, como a política e a religiosa. Nesse sentido, na segundo parte da pesquisa
demonstrou-se a formação histórica da disciplina de Sociologia na UFRGS através do
itinerário do catedrático Laudelino Teixeira de Medeiros. Este, foi membro da “geração
católica”, participou de todas as instituições formadas pelos católicos, mas não assumiu uma
posição de liderança. Não foi aluno do Colégio Anchieta, mas juntou-se ao grupo na
Congregação “Mater Salvatoris” e na pensão coordenada pelo Padre Werner, quando veio de
Santa Maria para estudar no curso de Administração e Finanças da Faculdade de Ciências
Políticas e Econômicas em 1934.
Durante o reitorado de Armando mara, Medeiros assumiu definitivamente a cátedra
de Sociologia, disciplina que ministrava no Colégio Universitário. A primeira Cátedra foi
criada na nova Faculdade de Economia e Administração, e a segunda, um ano após na
Faculdade de Filosofia. Demonstrou-se, num primeiro momento, que, embora a Sociologia
apresentada por Medeiros como legítima tivesse uma orientação definida, a católica, houve
variações conforme a clientela a que se destinava. Assim sendo, na Faculdade de Filosofia,
nos cursos de Pedagogia, Filosofia e Didática as temáticas desenvolvidas ligavam-se as
questões do universo católico visando à formação dos futuros professores para a rede
católica de ensino. Na Faculdade de Administração e Economia interessou-se por demografia
e estudos populacionais e urbanos revelado em suas primeiras pesquisas sobre Vilas e
Malocas e o Processo de urbanização no Rio Grande do Sul. Nesses trabalhos, ao contrastar as
comunidades urbanas às rurais, influenciados pelos estudos americanos de P. Sorokin e T. L.
Smith, Medeiros inseriu-se na área rural, através dos estudos de comunidade.
Mesmo que T.L. Smith não considerasse a possibilidade de uma Sociologia Rural, mas
sim uma Sociologia da vida rural ou urbana e P. Sorokin acreditasse na existência de uma
Sociologia Rural como um ramo autônomo da disciplina científica, ambos os autores
influenciaram Medeiros, portanto, não foi por acaso que o Programa Pós-Graduação de
Sociologia Rural, impulsionado pelo intercâmbio com os EUA, tenha sido o programa
pioneiro nos estudos das questões rurais no Rio Grande do Sul antes do próprio
141
desenvolvimento da Sociologia na UFRGS. Desta maneira, Medeiros passou das
metodologias ligadas ao catolicismo social de Le Play e Jacques Valdour que ele ensinava em
todos os cursos, para os estudos de comunidade.
Por outro lado, em ambas as cátedras montou um grupo em torno de si que possibilitou,
além da criação do curso de Ciências Sociais, a hegemonia da Sociologia, especialmente
durante sua direção. E partir desse momento buscou desenvolver a pesquisa social através do
Centro de Estudos Sociais que projetou. Embora seus projetos iniciais de pesquisas não
tenham sido realizados, a iniciativa do Centro e o convênio com a Alemanha foi uma etapa
importante na formação dos especialistas em Ciências Sociais e no inicio da
Institucionalização da Sociologia científica na UFRGS através da formação e recomposição
dos quadros docentes.
O curso de Ciências Sociais após ser criado teve uma rápida expansão após a Reforma
de 1968, com a criação do PPG de Sociologia e Política em 1973, e o desenvolvimento da
Antropologia Social através da renovação dos quadros docentes com pessoal egressos de pós-
graduações no exterior. Apesar dessa pesquisa tenha se limitado a atuação do primeiro
catedrático de Sociologia, como uma etapa fundacional importante das Ciências Sociais, as
dinâmicas das três áreas pós 1960 e os agentes dessas transformações podem revelar como o
campo de produção foi sendo autonomizado e se diversificado em relação aos primeiros anos
de monopólio de catedráticos diletantes. Essa é uma questão para uma próxima pesquisa, a
análise da formação do campo profissional e científico das Ciências Sociais no Rio Grande do
Sul.
De todo modo, o processo histórico da construção da Sociologia na UFRGS revelou
algumas especificidades regionais. Primeiro a ligação com a Economia e os Estudos Rurais,
relação que se mantém até hoje no PPG de Desenvolvimento Rural e na linha de pesquisa
Sociedade e Agricultura do PPG de Sociologia. Segundo, a institucionalização da pesquisa
empírica que começou com o convênio com a Alemanha através dos cursos do alemão
Achim Schrader no CES. No entanto, a produção intelectual da Sociologia atualmente
nada tem haver com as a etapa da Sociologia de Cátedra, assim como a Antropologia e a
Ciência Política, mas a reconstrução de sua formação e de seu processo histórico de
142
autonomização da influência católica constituiu uma fase importante para o estudo histórico
da relação entre elites e universidades ocorridas na década de 1930 e 1940 e para a História
das Ciências Sociais no Brasil.
1
MEDEIROS, L. [Carta] 13 de junho de 1979, Porto Alegre [para] Oracy Nogueira, São Paulo.
2
A literatura sobre as Ciências Sociais no Brasil tende a opor o caso paulista ao carioca, no sentido que aquele
estaria mais para a ciência e o outro, pela proximidade com o governo, estaria mais para a política. Ver
especialmente ALMEIDA, M. Dilemas da institucionalização das Ciências Sociais no Rio de Janeiro. In:
MICELI, Sérgio. História das Ciências Sociais no Brasil. São Paulo, Sumáre, 2001; CARVALHO,, M.A,
MELO, M.P, VIANNA, W. Cientistas Sociais e vida pública. Dados. Revista de Ciências Sociais, Rio de
Janeiro, vol37, n.3, 1994; e MICELI, Sérgio. Por uma Sociologia das Ciências Sociais. In: MICELI, Sérgio.
História das Ciências Sociais no Brasil. São Paulo, Sumáre, 2001. No entanto, hoje essa versão estereotipada da
institucionalização das Ciências Sociais é contestada, porque, mesmo as instituições paulistas, embora sem
relações com o governo central, foram projetadas e financiadas pela oligarquia cultural e política de São Paulo,
além que a produção científica dos primeiros especialistas reproduziram a indefinição disciplinar do período,
como os estudos antropológicos e sociológicos de comunidade realizados na ELSP. Sobre isso ver
especialmente: TRINDADE, Hélgio. Institucionalização e internacionalização das Ciências Sociais na
América Latina em questão. In: ALMEIDA, A et al. Circulação internacional e formação intelectual das elites
brasileiras. Campinas: Ed. Unicamp, 2004; PÉCAULT, Daniel. Os intelectuais e a política no Brasil. Entre o
povo e a nação. São Paulo: Ed. Ática, 1990; JACKSON, L.C. A Sociologia paulista nas revistas
especializadas (1940-1965). Tempo Social. São Paulo: USP, FFCLH, Vol. 16, n.1, junho de 2004.
3
Conforme o verbete de U.Benigni o termo “Ultramontanismo”: “La palabra señalaba un catolicismo activo e
integral y era utilizada porque reconocían como su cabeza espiritual al papa que, para la parte mayor de Europa,
era un morador màs allá (ultra) de los montes es decir, màs allá de los Alpes. El término "ultramontano", de
hecho, es relativo: para los franceses, alemanes, y para cualquier otro pueblo situado al norte de los Alpes son
ultramontanos los romanos, o los italianos, y en un sentido eclesiàstico puro se aplica esta palabra a un
catolicismo integral. The Catholic Enciclopedia, v.1, On-line ACI-Prensa.
4
Vide capitulo “Le conservatisme chrétien (Joseph de Maistre Louis de Bonald) in NOLTE, Ernest Action
Française, T.1, Le Fascisme dans son Epoque, Paris, Ed.Julliard, p.112-120
5
“ Entre os católicos o modernismo teve certa aceitação no seio do clero mais jovem (..); ao passo que no campo
ortodoxo houve o ressurgimento do neotomismo que ressuscitou e melhorou o escolasticismo aristotélico do
período anterior a Leão XIII e recebeu novo ímpeto na Universidade Católica de Milão. Giuseppet Toniolo foi o
expoente da economia social, da democracia cristã, da sociologia orgânica e teve muitos seguidores”., STURZO,
Luigi – Depois do fascismo, Rio de Janeiro, Livraria Agir Editora, 1947, p 28
6
“Os Círculos de Estudos constituirão uma elite católica de operários, futuros membros dessa nova classe
dirigente que reclamam os tempos novos, enquanto que os estudantes e os intelectuais deverão dar a si mesmos
esta necessária opinião democrática que hoje se impõe a todos, poderão exercer a parte da influencia que lhe
cabe legitimamente” Sillon, 10 de janeiro de 1902, in CARON, Jeanne – Sillon et la Democratie Chrétienne
(1894-1910), Paris, Librairie Plon, 1967, p.365
7
Juventude operária cristã (Jeunesse ouvrière chrétienne -JOC) criada por um jovem par un jeune padre belga,
l'abbé Cardijn na Bélgica (1925) depois na France (1927) ; Juventude agricola Cristã (Jeunesse agricole
chrétienne -JAC) criada em 1929 ; Juventude estudante cristã (Jeunesse étudiante chrétienne -JEC) criada em
1930 ; Juventude maritima católica (Jeunesse maritime catholique - JMC) criada em 1934 ; Juventude
independente cristã ( Jeunesse indépendante chrétienne -JIC) criada em 1935.
8
Ver também ROVAN, Joseph – Le Catholicisme politique en Allemagne, T.2, Collection Esprit, Paris, Edition
du Seuil, 1957
9
Obras de Padre Leonel Franca: Noções de História da Filosofia; A Igreja, a Reforma e a Civilização;
Polêmicas, O Divórcio; Catolicismo e Protestantismo, O protestantismo no Brasil, A psicologia da fé; A crise do
mundo moderno, O método pedagógico dos Jesuítas, Liberdade e determinismo, O problema de Deus, A
formação da Personalidade. Todos publicados pela editora Agir.
10
Ver especialmente: BOMENY, H. M.B. (org.). Constelação Capanema: Intelectuais e políticas. Rio de.
Janeiro: FGV, 2000; PÉCAUT, D. Os intelectuais e a política no Brasil: entre o povo e a nação. São Paulo,
Ática, 1990; MARTINS, L. A gênese de uma intelligentsia; os intelectuais e a política no Brasil: 1920 a
1940. Revista Brasileira de Ciências Sociais. São Paulo, ANPOCS, 4, v. 2, jul./1987, pp. 65-87; MICELI, S.
Intelectuais à brasileira. São Paulo: Cia. das Letras, 2001.
11
Por outro lado, além das instituições criadas para cooptar os universitários, buscaram conquistar o domínio
ideológico do movimento operário. Assim, criaram a Confederação dos operários católicos, inspirada nos
círculos operários do Rio Grande do Sul, que desde 1913, liderado pelo Padre Bretano, que além de lutar pelos
direitos trabalhistas dos operários, buscavam educar segundo os dogmas cristãs o operariado. Com o crescimento
desse movimento, em 1936 foi criado a Frente trabalhista Cristã Nacional. Ver especialmente SOUZA, Jessé.
Círculos operários: A Igreja Católica e o mundo do trabalho no Brasil. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2002.
12
Ver especialmente Morosini, Maria Costa; Dal Pai Franco, Maria Estela. Escola de Engenharia de Porto
Alegre (1896-1934) Hegemonia Política e construção da Universidade. http://
www2.uerj.br/anped11/19/MOROSINI
13
Esse tipo de ensino também fez parte das iniciativas dos Irmãos Maristas, que criaram uma Escola Superior de
Comércio no Colégio Nossa Senhora do Rosário, desde o início do século XX, com ênfase na formação de
contadores. Em 1931, essa Escola passou a ser a Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas, a qual foi
idealizada por Irmão Afonso, com a colaboração dos professores Eloy José da Rocha, Elpídio Ferreira Paes,
Salomão Pires Abrahão, Francisco Juruena, Irmão José Otão e Antônio César Alves, entre outros. Essa escola,
juntamente com a Faculdade de Educação, Ciências e Letras, criada em 1940, e a Escola de Serviço Social em
1945, são consideradas as Escolas fundadoras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
14
Ver especialmente: CARRION, Otília. Da Escola de Comércio a Faculdade de Ciências Econômicas. In:
CARRION, O (Org). O ensino de Economia na UFRGS, Porto Alegre: Editora UFRGS, 2000.
15
A primeira geração dos Republicanos surgiu no período imperial sob a hegemonia do Partido liberal no RGS.
Sobre as particularidades dessa geração e sobre esse período inicial ver especialmente: PINTO, C. R. J.
Positivismo. Um projeto político alternativo. Porto Alegre, L&PM, 1986. Em relação às estratégias dos grupos
economicamente e politicamente dominantes, especialmente os liberais, no espaço social rio-grandense, ver:
LOVE, J. O regionalismo gaúcho. São Paulo, Editora Perspectiva, 1975; e PESAVENTO, S. J. República
Velha gaúcha: charqueadas, frigoríficos, criadores. Porto Alegre, Editora Movimento, 1980. Depois do Golpe
de 1889, e a exclusão da arena política dos opositores dos republicanos e a construção do PRR, como também da
situação dos partidos no RGS nesse período, ver: TRINDADE, H. Aspectos políticos do sistema partidário
republicano rio-grandense (1882-1937). In: RS: Economia e política. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1979,
como também, sobre o domínio dos positivistas na esfera legislativa, ver: TRINDADE, H. Poder legislativo e
autoritarismo no Rio Grande do Sul (1891-1937). Porto Alegre, Sulina, 1980. A nova geração fora aquela de
Getúlio Vargas, Flores da Cunha, João Neves da Fontoura e Oswaldo Aranha, os quais lançaram na política
nacional a modernização pela via autoritária, através da Aliança Liberal. No entanto, o governo provisório
dividiu o espaço político partidário do Rio Grande do Sul, e especialmente os republicanos, principalmente em
relação à Revolução Constituinte, porque enquanto Flores da Cunha apoiou Getúlio contra a constituinte, Borges
de Medeiros e Raul Pilla juntam-se na Frente Única Gaúcha (PRR, PL) a favor da Revolução constitucionalista
de 1932. Frente a isso, Flores da Cunha e Oswaldo Aranha fundaram o Partido Republicano Liberal, como
contraponto ao PRR e ao PL. Portanto, além das divisões políticas, esse espectro trouxe a arena política e
eleitoral setores até então marginalizados da política rio-grandense, como as classes médias em ascensão e os
imigrantes, surgindo assim movimentos como a AIB e a ANL, como também o grupo católico, através da LEC.
Por isso, a literatura tende a considerar esse período como o declínio da influência positivista na esfera política
Rio-Grandense. Especialmente sobre esses fatos, e a configuração político-partidária do pós-1930 ver: NOLL,
M. I. Partidos e política no RS (1928-1937). Dissertação de Mestrado. UFRGS. 1980.
16
Sobre o papel da ordem Jesuítica no desenvolvimento do sistema educacional brasileiro ver: AZEVEDO, F. A
Cultura Brasileira: introdução ao estudo da cultura no Brasil. 4.ed. rev. ampliada. Brasília: Ed.
Universidade de Brasília, 1963. Sobre a influência dos Jesuítas Alemães no Rio Grande do Sul ver
especialmente: SCHUPP, A. Missões dos Jesuítas Alemães no Rio Grande do Sul. Edição, Unisinos, São
Leopoldo, 2004 e BOHNEN, A. e ULLMANN, R.(Org): A atividade dos Jesuítas em São Leopoldo, 1944-
1989. São Leopoldo, Editora Unisinos, 1989; sobre o papel dos Padres dessa ordem religiosa no
desenvolvimento científico do Rio Grande do Sul ver: LEITE, L. O. Jesuítas Cientistas no Sul do Brasil.
Edição, Unisinos, São Leopoldo, 2005.
17
Em relação ao catolicismo de imigração nas colônias alemãs, ver: ROCHE, J. A Colonização Alemã e o Rio
Grande do Sul. Editora Globo, Edição, Porto Alegre, 1969; RABUSCKE, A. S.J. A contribuição teuta à
Igreja Católica no Rio Grande do Sul. In: Estudos Leopoldenses, Unisinos, ano 1974, 28, São Leopoldo;
RAMBO, A. B. Os Católicos e a Revolução Federalista. In: Revolução Federalista e os Teuto-Brasileiros,
RAMBO e FÉLIX (Orgs), São Leopoldo; Ed. Unisinos; Porto Alegre: Editora da Universidade UFRGS, 1995.
Sobre o catolicismo de imigração nas colônias Italianas, ver especialmente: BONI, L. A. (Org.); COSTA, R.
(Org.). A presença italiana no Brasil - III. 1. ed. Porto Alegre/Torino: EST/Fondazione Agnelli, 1996. V. 1.
708 p.
18
A tradição do Colégio Anchieta remonta ao Colégio Conceição de São Leopoldo. Este internato havia sido
criado em 1869, e formou várias lideranças políticas, militares e religiosas do Rio Grande do Sul, como:
Oswaldo Aranha, Nereu Ramos, João Neves da Fontoura, Adroaldo Mesquita da Costa, Alberto Bins, Jacinto
Godoy, Álvaro Moreira, Antonio Saint Pastous, Feliz Contreiras Rodrigues, Alfeu Bica de Medeiros, General
Raul Silveira de Mello e D. João Becker, entre outros. O Brasil, principalmente o Rio Grande do Sul, foi
beneficiado com a expulsão dos jesuítas da Alemanha, pela Kulturkampf de Bismarck, em 1872, uma vez que
religiosos da mais alta qualificação vieram para o Sul do Brasil e criaram um estabelecimento fiel aos princípios
do Ratio Studiorum, como os ginàsios alemães. Mesmo assim, num primeiro momento, a escola enfrentou para
se firmar o antijesuítismo do período, principalmente a reação dos Muckers, mas a partir de 1878 o colégio
firma-se com o sucesso de seus alunos nos exames públicos em Porto Alegre, chamados de parcelados. Ver
especialmente: TRINDADE, F. Uma contribuição à história da Faculdade de Filosofia da UFRGS. In:
Revista do IFCH/UFRGS, Porto Alegre, n. 10, 1982; e, LEITE, L. O. A década Anchietana. In: TRINDADE e
LEITE (Orgs): Leônidas Xausa. Editora UFRGS, Porto Alegre, 2004.
19
A produção intelectual de Frei Pacífico de Bellevaux foi compilada e organizada por Rovíli Costa na obra de
Bellevaux, Pacífico, Frei. Criteriologia. Uma teoria do conhecimento/ Frei Pacífico de Bellevaux; org.
Rovílio Costa- 2. ed- Porto Alegre EDIPUCRS 1999.
20
Numa Sociedade a qual imperava a figura do caudilho, a prática religiosa pública era considerada estritamente
feminina. Ver especialmente: TRINDADE, F. A polêmica entre Érico Veríssimo e o Pe. Leonardo Fritzen,
SJ. In: Revista do IFCH, Porto Alegre, n. 11/12. 1984.
21
A produção intelectual do Padre Werner foi pesquisada, compilada e publicada por RABUSKE, A. S.J. Padre
Werner: a serviço da inteligência gaúcha (1923-1939). São Leopoldo, Editora Unisinos, 1999.
22
MAGALHÃES, A. Um nobre alemão que amou acertadamente o Brasil: "Werner Von Zur Muhlen".
In: Correio do CRPE. Porto Alegre Vol. 4, n. 34 (jul./ago. 1963), p. 28-31; AZEVEDO, A. D. Padre Werner.
In: Estudos, N° 2, Porto Alegre, Agosto/setembro, 1940, ano 1; BOTTINI, A. O Padre Werner. In: Estudos,
2, Porto Alegre, Agosto/setembro, 1940, ano 1; RAMBO, B.S.J. Um apostologo da inteligência: O Padre
Werner. In: Estudos, 1, Porto Alegre, Junho, 1940, ano 1; MEDEIROS, L. Padre Werner. In: Jornal do
dia15/08/1964.
23
Dentre os acadêmicos e formados das Faculdades de Direito, Medicina, Engenharia que freqüentaram os
seminários e seguiram a orientação de Pe. Werner estão Armando Câmara, Ary de Abreu Lima, Armando Dias
de Azevedo, Alberto Pasqualini, Eloy José da Rocha, Ruy Cirne Lima, Álvaro Magalhães, Dante de Laytano,
Luiz Pilla, Darcy Azambuja, Carlos de Britto Velho, Ernani Maria Fiori, Francisco Machado Carrion, Romeu
Mucillo, Othelo Laurent, Victor de Britto Velho, Mário Bernd, Décio de Souza, entre outros, conforme
MEMÓRIAS DA CONGREGAÇÃO DOS ACADÊMICOS, “Mater Salvatoris”, Typ Selbach & Cia., Porto
Alegre, 1926, 1932, 1933, 1935.
24
FIORI, E. M. 23 de julho de 1980. Entrevista concedida a Fernando Casses Trindade (Mimeo).
25
Conforme Carrion o grupo católico muitas vezes usava da violência nas Faculdades e na vida cultural porto
alegrense, porque o “católico tinha que mostrar que não era maricas, que era homem”, no entanto Padre Werner
não aprovava tais atos. Segundo CARRION, F. M. 1967. Depoimento sobre a Ação Integralista Brasileira.
Entrevista concedida à Hélgio Casses Trindade. (Mimeo).
26
CARRION, F, M. 1967. Op Cit.
27
Conforme LISTA DE SÓCIOS EFETIVOS DO CENTRO CATÓLICO DE ACADÊMICOS, em 30 de Março,
1933. (Mimeo). O Sócio acadêmico da Economia foi Laudelino Medeiros de Teixeira, estudante da Faculdade de
Ciências Políticas e Econômicas, criada por Pe. Afonso em 1931, contando com a iniciativa dos professores Eloy
José da Rocha, Elpídio Ferreira Paes, Salomão Pires Abrahão, Francisco Juruena, Irmão José Otão e Antônio
César Alves. Essa Faculdade foi a primeira com ensino superior de economia no Rio Grande do Sul, como
também foi o primeiro curso da futura Universidade Católica.
28
Em relação aos nomes e números de alunos ingressantes no curso de Medicina de Porto Alegre, desde sua
fundação, e especialmente no ano de 1933, ver [online] disponível na internet via WWW: URL:
http://www.famed.ufrgs.br/comgradmed/form_med.htm#1933, acessado em 25 de janeiro de 2006.
29
CARRION, F. M. In: Simpósio Revolução de 1930. LEC: depoimentos de Adroaldo Mesquita da Costa,
Francisco Machado Carrion e Eloy José da Rocha. 10 de Outubro de 1980. (Mimeo)
30
No congresso universitário do Rio Grande do Sul, o qual deveria ser presidido por Flores da Cunha, o
grupo católico preferiu que Frederico Dahne fosse o presidente, e deste modo Flores da Cunha teve que ceder
seu lugar na mesa de honra à Dahne, diante desse fato Flores da Cunha e Dom João Becker não compareceram
mais ao congresso. Ver especialmente: Depoimento de Francisco Machado Carrion em CARRION, F. M. In:
Simpósio Revolução de 1930. LEC: depoimentos de Adroaldo Mesquita da Costa, Francisco Machado Carrion
e Eloy José da Rocha. 10 de Outubro de 1980. (Mimeo)
31
COSTA, Adroaldo Mesquita da Costa. Carta Aberta. Correio do povo, Porto Alegre, 4 de dezembro, 1932.
32
Os candidatos inscritos sob a legenda “Legião Pró Estado Leigo: Dr. Manuel Serafim Gomes de Freitas, Dr.
Fernando de Souza do Ó, Eduardo Menna Barreto Jayme, Dr. Lucidio Ramos, Dr. Alcides Chagas de Carvalho,
Agnélio Cavalcanti de Albuquerque, Ângelo Plastina, Almirante Américo Silvado, Almirante Arthur Thompson,
Dr. Athalicio Pittan, Dr. Alberto Pasqualini, Dr. Barros Cassal, Euclydes Minuano do Moura,Dr. Joaquim Luiz
Osório, Dr. Simplicio Alves de Carvalho, Dr. João Gonçalves Vianna. A LEGIÃO PRÓ-ESTADO LEIGO. Ao
eleitorado Rio-grandense. Correio do Povo, 26 de abril de 1933.
33
A Liga Pró-Estado Leigo foi um movimento nacional, mas regionalmente os representantes da Liga discutiram
em seu congresso de 5 de janeiro de 1932, presidido por Othelo Rosa, às seguintes teses: A igreja e o Estado e
suas relações dentro do genuíno regime republicano, por Alberto de Brito, O decreto de 30 de abril, por Clotario
Soares Pinto, Liberdade de Consciência, por João C. de Freitas, A igreja e o Estado, por João Henrique, o ensino
leigo e a organização republicana do Rio grande, por Augusto Meirelles de Carvalho, Símbolos religiosos nas
repartições públicas do País, por Paulo Hecker, A Igreja e o Estado, por Waldemar Ripoll, O Direito do
operariado à liberdade de pensamento, por Agnello Cavalcanti e a assistência espiritual nos quartéis, debatida
por Othelo Frota; conforme: .1° Congresso pro- Estado Leigo. Correio do Povo, 5 de janeiro de 1932.
34
A Liga Pró Estado Leigo teve comitês e representantes em várias cidades do Estado, como: Uruguaiana
(Antônio Messias, Dr. Joaquim Maciel de Lemos, Américo Brito de Oliveira, Arthur Passardi) Pinheiro
Machado (Dr. M. Pereira Pitta e Miguel de Souza Soares) Loja maçônica “Luz e Ordem” e Supremo conselho de
Porto Alegre (Jerônimo Pires Missel e Irineu Trajano da Silva) Centro espírita Fraternidade de Cruz Alta (Lucio
Simões), Capão do Leão (Dr. Gesualdo Crocco),Grupo espírita Leon Denis e Comitê pró estado leigo de
livramento (Dagoberto Guimarães), Igreja Crucificado de Bagé (Reverendo José Silveira Silva) Acácia
Vitoriense de Santa Vitória (Francisco Martins da Costa Junior) Loja Rio Branco de Piratini (Francisco Martins
da Costa Junior) Comitê pró estado leigo de Piratini (Othelo Rosa) Sociedade metodista de senhoras de Caxias
(Cecília dos Santos), cachoeira (Dr. Frederico Castelletti), Bom Jesus (Paulo Hecker e Carlos Leiria), Loja
Maçônica Saldanha Marinho de Livramento (Dr. João Pinto Martins de Oliveira), Loja Maçônica Luz e Ordem e
Estrela de Jerusalém, do Grande Oriente de Brasil, Porto alegre (Augusto Ferraz de Mendonça) Comitê pró
Estado Leigo de Garibaldi (reverendo Armando Lima, Dr. Júlio Motti e engenheiro Jorge Jackman) Loja
Harmonia Cruzaltense e Igreja Metodista de Cruz Alta (Olympio Roussellet), conforme: O Congresso da
Liga pró-Estado leigo. Correio do povo, 7 de janeiro de 1932.
35
A LEGIÃO PRÓ- ESTADO LEIGO. Ao eleitorado rio-grandense. Correio do Povo, 23 de Abril de 1933.
36
João Simplício Alves de Carvalho, um dos revolucionários da revolução de 1930, e fundador da Escola de
Engenharia, parece não ter decidido naquele momento sua orientação política, porque ao mesmo tempo estava
no partido do centro, o PRL, estava no PRR, assim como foi apoiado pela LEC, quanto pelos partidários da
liberdade de credo.
37
CARRION, F. M. 1967. Op. Cit.
38
No sentido atribuído por VIANNA, L. J. W. Liberalismo e Sindicato no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1976.
39
Em 1935, instituíram o primeiro conselho diretor da juventude católica, sendo Francisco Machado Carrion, o
presidente, Paulo Barros o secretário da presidência, Laudelino Medeiros secretário masculino, Cruzaltina do
Valle, como secretaria feminina, Carlos de Brito Velho, como secretário cultural, entre outros. Conforme
CARRION, Francisco Machado.. Comunicação aos C.J.C. (Nota da direção do C.C.A). Revista Idade Nova,
março-abril de 1936.
40
Ernani Maria Fiori e Francisco Machado Carrion formaram-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1935,
Victor de Brito Velho formou-se em Medicina em 1937, Laudelino Medeiros terminou seu curso superior de
Administração e Finanças na Faculdade de Ciências Econômicas e Políticas em 1936, e o de Ciências Jurídicas e
Sociais em 1941.
41
Em 1931.
42
Em 1936, muitos dos intelectuais gaúchos haviam manifestado seu apoio à Mussolini e a causa Italiana
publicamente, no artigo: “Pela causa da Itália”. Manifesto lançado por intelectuais Rio-grandenses se
solidarizando com a pátria de Dante no conflito Euro-africano. Correio do Povo, Porto Alegre, 21 de janeiro de
1936,.
43
CARRION, F. M, 1967. Op Cit.
44
Idem, 1967.
45
Participaram deste manifesto o que podemos chamar de “núcleo central” das duas gerações do grupo católico
gaúcho, como Armando Câmara, Adroaldo Mesquita da Costa, Carlos de Britto Velho, Elias Cirne Lima, Ernani
Fiori, Ary de Abreu Lima, Francisco Machado Carrion, Álvaro Magalhães, Ruy Cirne Lima, Armando Dias de
Azevedo, entre outros.
46
CARRION, F. M, 1967. Op Cit, e CARRION, F.M, 1980. Op Cit.
47
Ver especialmente TRINDADE, H. O Político e o professor. In: Leônidas Xausa. TRINDADE e LEITE
(ORG). Editora da UFRGS, Porto Alegre, 2004.
48
Depoimento de Francisco Machado Carrion em CARRION, F. M. 1980. Op Cit
49
Depoimento Eloy José da Rocha In: SIMPÓSIO REVOLUÇÃO DE 1930. LEC: depoimentos de Adroaldo
Mesquita da Costa, Francisco Machado Carrion e Eloy José da Rocha. 10 de Outubro de 1980. (Mimeo)
50
Posteriormente Bispo de Santa Maria.
51
Idem, 1980. (Mimeo)
52
CARRION, F, M, 1967. Op. Cit.
53
Chamamos de Universidade do Rio Grande do Sul, a Universidade de Porto Alegre, criada pelo governo do
Estado pelo decreto n.5.758, de 28 de novembro de 1934, integrada inicialmente pelos seguintes
estabelecimentos: Faculdade de Medicina (com as escolas anexas de Odontologia e de Farmácia), Faculdade de
Direito (Com a sua Escola de Comércio), Escola de engenharia, Escola de Agronomia e Veterinária. Como a
instalação da Universidade dependeu da autorização do governo federal para congregar a Faculdade de Medicina
(até então instituição federal), assim como a Escola Técnica, a universidade só é oficialmente instalada em 1936,
incorporando os Institutos da Escola Técnica (Escola de Engenharia, Instituto Montaury, Instituto de Química
Industrial, Instituto Borges de Medeiros, Curso superior de Agronomia e Veterinária). O estatuto da nova
Universidade veio a ser aprovado em 1940, pelo decreto n. 6.627 como Universidade Estadual. em 1942
que completaram a organização universitária prevista em lei federal, com a criação da Faculdade de Educação,
Ciências e Letras. Ver especialmente: UFRGS, Anuário, 1955.
54
Assinado por Egídio Costa, José Azeredo e Luiz Bolick estudantes da engenharia, Eduardo de Assis Brasil,
Adhir Eiras Araújo, Ramiro Frota Barcellos, da Medicina, Plínio Brasil Milano, José Neves da Fontoura, do
Direito, Vicente Maia, Carlos Moritz, Armando Montano, da Agronomia, e Francisco Cardoso Filho, Nilo
Ruschel, Álvaro Coelho Borges, da Escola de Comércio.
55
A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras foi criada pelo decreto N.6194, em 1936, assinado pelo
governador interino Darcy Azambuja e pelo secretário de educação Othelo Rosa. Embora, em 1938 o conselho
universitário tenha aprovado os cursos de Matemática, Ciências Físicas, Ciências Químicas, História Natural,
Filologia, Filosofia, Educação, Geografia e História, a autorização para o funcionamento dos cursos veio a
ocorrer em 1942, pelo decreto n. 9.076, em relação aos cursos da secção de Ciências. Deste modo, nesse mesmo
ano a Faculdade passou a intitular-se Faculdade de Filosofia, e em 1943 obteve autorização para o
funcionamento dos demais cursos. Ver especialmente: REGNER, A. C. IFCH: Origens e trajetórias. In: 50
anos da Faculdade de Filosofia: publicação comemorativa/organização: Comissão 50 anos - Porto Alegre:
UFRGS, 1993 e DINIZ, P. P. Origem e evolução da Universidade do Rio Grande do Sul. In: Fundamentos da
cultura rio-grandense. Porto Alegre, UFRGS/ Faculdade de Filosofia, 1960.
56
A instabilidade da Política com as sucessivas mudanças da chefia do Estado durante o Estado Novo (foram
cinco interventores durante esse período, Manuel da Cerqueira Daltro Filho, Oswaldo Cordeiro de Farias,
Ernesto Dorneles, Samuel Figueiredo da Silva, Walter Só Jobim) dificultou o desenvolvimento da Universidade,
levando a renuncia e exoneração dos primeiros Reitores.
57
Conforme CONGREGAÇÃO Mariana “Auxilium Christianorum”. Relação de seus Congregados. Dezembro
de 1950 (Mimeo).
58
Governo Judiciário, instaurado com a queda do Estado Novo, e o fim da interventoria de Ernesto Dornelles.
59
Posteriormente todos os cursos, a exceção dos da secção de Ciências, começaram a funcionar no Instituto de
Educação, aonde se localizava também uma parte da secretária da Faculdade de Filosofia. Apenas em 1953 a
Faculdade foi instalada em prédio novo, completando sua demanda de espaço com a construção do Instituto de
Ciências Naturais.
60
Conforme Alberto Cibils, assistente da cátedra de sociologia, e posterior catedrático da matéria, o projeto da
Reitoria foi de Armando Câmara,. Conforme: CIBILS, A. . Entrevista concedida a Hélgio Trindade, 2006.
61
Reforma Universitária de 1931
62
FIORI, E,M. Entrevista concedida à Fernando Trindade, 1980.
63
PACHECO, G. Entrevista. [online] disponível pela internet via WWW.URL:http://www.ufrgs.br/museupsi/
graciema.htm
64
Sem governo a Universidade. Aceita a renúncia do Reitor Armando Câmara: A verdadeiras causas do
inédito episódio. Diário de Notícias, Porto Alegre, 14 de janeiro, 1949.
65
A questão da anexação ou não do Instituto de Artes vinha desde a criação da Universidade. A princípio foi
incorporado, em 1934, mas como não estava previsto na legislação de 1931 que padronizou todas universidades,
foi desanexado em 1939, o que causou a renuncio do Reitor Egydio Hervé. Em 1945 o Governo baixou um
decreto-lei reincorporando o Instituto de Artes, mas Armando Câmara não o fez, sendo incorporado apenas em
1948, quando a Universidade passou a denominar-se Universidade do Rio Grande do Sul com a anexação da
Faculdade de Direito e Odontologia de Pelotas e a Faculdade de Farmácia de Santa Maira. Nesse sentido,
Rodrigues (2002, pág. 198) entende que a incorporação do instituto de Artes e das Faculdades de Pelotas e Santa
Maria esteja vinculada à renúncia de Armando Câmara em 1949.
66
MEDEIROS, L. Depoimento sobre a Geração Católica concedido à Fernando Trindade, 1980.
67
FACULDADE DE FILOSOFIA, Anais, PUCRS, 1945.
68
Armando Câmara obteve 402.438 contra 346.196 de João Goulart.
69
CARRION, F. M. 1980, Op Cit.
70
A escola de Recife teve uma orientação mais doutrinária e a de São Paulo mais político partidária ver
especialmente ADORNO, S. Os aprendizes do poder: o bacharelismo liberal na política brasileira. Rio de
Janeiro. Paz e Terra, 1988 e BEVILAQUA, Clovis. Historia da Faculdade de Direito de Recife. Brasília, INL/
Conselho Federal de Cultura, 1977.
71
Conforme as informações sobre o itinerário na UFRGS de Francisco Machado Carrion e Laudelino Medeiros
localizadas por Mara Rodrigues em sua dissertação de Mestrado. Ver: RODRIGUES, Mara. A
institucionalização da formação superior em História: O curso de Geografia e História da UPA/URGS-
1943 a 1950. Porto Alegre, Dissertação de Mestrado. PPGH/UFRGS, 2002.
72
Esse evento está reproduzido em TILL, Rodrigues. História da Faculdade de Direito de Porto Alegre,
1900-2000. Porto Alegre, Martins livreiro, 2000, pág 463.
73
Embora o curso de Ciências Sociais tenha surgido na década de 1940 na Faculdade católica, mas foi fechada
por falta de alunos.
74
Conforme sua certidão de comunhão localizada no acervo Laudelino Medeiros do IHGRS.
75
Cabe lembrar que nesse mesmo ano ele havia ingressado no serviço militar, também em Santa Maria,
conforme carteira do Serviço Militar localizada no acervo do IHGRS.
76
Em 12 de fevereiro de 1905 a cidade de Santa Maria com uma população de aproximadamente 7500
habitantes, ganhava o primeiro Ginàsio, modestamente inspirado nos famosos liceus franceses, mas sob a
doutrina de Champagnat. O Gymnasio Santa Maria recebeu várias denominações até chegar a ser Colégio
Marista Santa Maria. http://www.maristas.org.br/colegios. Visitado em 25/06/2006
77
MEDEIROS, L. 1980, Op. Cit.
78
De todos os Congregados Laudelino fora o único com formação em Ciências Econômicas, conforme:
CONGREGAÇÃO Mariana “Auxilium Christianorum”. Relação de seus Congregados. Dezembro de 1950
(Mimeo).
79
MEDEIROS, L. 1980, Op Cit.
80
O Catedrático espanhol da Universidade de Zaragoza, Salvador Minguijón Adrián na década de 1920
traduziu livros sobre a Filosofia Medieval, como a obra de Grabmann Martin, em 1928, e publicou Historia del
derecho español, em 1927, pelo Editorial Labor, s. a.
81
MEDEIROS, L, 1980. Op Cit.
82
Ele também se casa em 1941, com Hortense da Costa Franco, conforme certidão de casamento localizada no
acervo do IHGRS.
83
CARRION, F,M. 1967. Op. Cit.
84
Idem, 1967.
85
MEDEIROS, Laudelino. A questão do salário mínimo. A Nação, 23 de julho, 1939; MEDEIROS, Laudelino.
A educação da juventude. A Nação, 16 de fevereiro, 1941; MEDEIROS, Laudelino. Meditações sobre essa
guerra. A Nação, 7 de dezembro, 1941; MEDEIROS, Laudelino. É o divórcio uma necessidade. Folha da
Tarde, Rio de Janeiro, 22 de outubro, 1942.
86
CARRION, F,M. 1967. Op. Cit.
87
Sua atividade profissional não se restringiu á UFRGS, tendo também exercido a atividade docente na Escola
de Serviço Social de Porto Alegre, de 1942 á 1945, sendo diretor desta em 1953. Em 1951, foi professor na
Escola Familiar e Doméstica de Porto Alegre fundada em 1949, a qual teve como objetivo a preparação das
moças da sociedade para o trabalho doméstico. Portanto, a formação e as atividades profissionais de Laudelino
Medeiros giraram em torno do universo da Economia, do Direito, do Serviço Social e da Sociologia, os quais
foram redefinidos nos termos de sua orientação moral.
88
Incorporado ao Ginàsio Júlio de Castilhos, renomeado como Colégio Julio de Castilhos.
89
Resposta ao questionário formulado á Cadeira de Sociologia de 10 de junho de 1942 encontrado no acervo do
CEDOC/ UCS, em Caxias do Sul.
90
Em sua biblioteca pessoal, atualmente localizada na Universidade de Caxias do Sul, encontra-se as obras
originais de Jacques Maritain desde seus primeiros escritos como “Une opinion sur Charles Maurras et le devoir
des catholiques”, de 1926, e “primauté du Spirituel” publicado em 1927, Humanisme intégral: problemes
temporels et spirituels d’une nouvelle chrétienté” de 1936, até as obras traduzidas por Alceu Amoroso Lima e
publicados pela Editora Agir na década de 1960 e 1970, como “Problemas fundamentais da Filosofia moral”, de
1977 e “Da graça e da humanidade de Jesus”, de 1968. Também encontram-se as obras originais de Augusto
Comte, como: “Cours de philosophie positive” e o “Systém de politique positive” ou seu “Traité de sociologie:
instituant la religion de l’humanité”, ambos publicados entre 1870 e 1881, como as obras evolucionistas
originais de Herbert Spencer como “Les bases de la morale évoluctionniste”, de 1881, e “Problémes de morale et
de sociologie”, publicada em 1894. Por outro lado, sua biblioteca contempla de autores ligados ao materialismo
histórico, como Lenin, Granmsci, Bukharin, obras sobre o Socialismo real , como as de Lenin, além de um vasto
acervo anti-comunista especialmente de autores católicos, como: Émile Baas, Ângelo Brucculeri, François Coty,
D. João Becker, Nicolas Berdiaff, entre outros.
91
Curso do ano de 1941 localizado no acervo do CEDOC/ UCS
92
Medeiros não assumiu o pré-jurídico porque era aluno de Direito na Universidade,
93
Aula do ano de 1943, sem data, localizada no CEDOC/ UCS
94
Termo usado por ele, no último curso do ano de 1943, sem data, localizado no CEDOC/ UCS
95
Localizado no acervo do CEDOC/ UCS
96
MEDEIROS, L. 1996. Entrevista concedida a Clarissa Baeta Neves.
97
OSBOURN, L.D; NEUMEYER, H. A comunidade e a sociedade. Ed Nacional, 1936, BUREU, P.
Introduction à la méthode sociologique. Boln & Gay, 1926; MENZEL, A.
Introduccion a la sociologia. F cult,
1940; ATHAYDE, T.
Introdução à sociologia, Agir, 1947; MURRAY, Raymond W. Introdução à Sociologia.
Rio de Janeiro, Agir, 1947; WILLEMS, E. BARRETO, R. Leituras sociológicas. São Paulo: Revista Sociologia,
1940; SMITH, T. L. Sociologia da Vida rural. Rio de Janeiro: C.E.B, 1946, AZEVEDO, F. A cultura brasileira.
1 ed. IBGE, Rio de Janeiro, 1943, conforme programa localizado no CEDOC/ UCS.
98
Localizados no CEDOC/ UCS
99
Para tanto, sugeria a seguintes autores para o desenvolvimento de alguns temas: Valdour, para metodologia
em Ciências Sociais, Leonel Franca, S.J.. sobre o divórcio, e sobre a crise do mundo moderno, Amoroso Lima
com a obra Idade sexo, tempo e problema da burguesia, E. Willems com a obra Assimilação e populações
marginais no Brasil, Oliveira Vianna com A evolução do povo brasileiro e Populações meridionais do Brasil,
Alberto Torres com A organização nacional e o problema nacional brasileiro, Max Weber. Com a obra clàssica
Economia y Sociedad, na vers]ão espanhola do Fundo de Cultura, Tavares Bastos sobre a Província de São
Pedro, Gilberto Freyre com seu manual de Sociologia, e os manuais de Georg Simmel e Pitirim Sorokin.
100
SOROKIN, Pitirim. Contemporany Sociologial Theories. Harper & Brothers publishers, New York, 1928.
101
Conforme Bibliografia dos programas e SOARES, M.S, 2006. Entrevista da professora Maria Suzana A.
Soares concedida a Hélgio Trindade, 206.
102
Consultados no acervo Laudelino Medeiros do IHGRS
103
TOBAR, Anacleto [Ofício] 17/ julho/ 1951, e 13/ setembro/ 1955, Túcuman (Arg) [para] Laudelino
Medeiros, Porto Alegre. Resolução de 17 de julho do 1951 do diretor do instituto de Sociologia e planificação
designa membros correspondentes os Srs. Laudelino Teixeira de Medeiros (Brasil), Rafael Poló (Porto Rico),
Ananlolo Solow e Thea R. Crevenna (EUA) E Pedro Amadeo Hireda (Secretário Geral) de 1951.
Correspondências consultadas no acervo do IHGRS.
104
Todas as informações sobre Túlio Bogo foram extraídas do seu currículo do Acervo do CISOAL/ UFRGS.
105
Conforme Programa de 1955, 1957, 1960 consultados no CEDOC/UCS.
106
Conforme Currículo profissional de Laudelino localizado no IHGRS
107
A Escola de Pós- Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas foi criada em 1966, a da USP em
1970.
108
Conforme MEDEIROS, L. [Ofício] 21 de Agosto de 1972, Porto Alegre [para] Reitor UFRGS Ivo Wolff,
Porto Alegre. Correspondência consultada no acervo do IHGRS..
109
Conforme atas das bancas de habilitação de 1944 à 1946 localizadas no acervo Laudelino Medeiros do
CEDOC/UCS
110
Conforme seu caderno de aulas, de 1944, encontrado no IHGRS. Interessante que é o mesmo caderno que
Edgar Schneider utilizava-se anteriormente à Medeiros ter assumido a disciplina, o que sugere, que embora
Schneider fosse metodista, naquele momento, no seu Reitorado, estava ligando-se às redefinições do mundo
social empreendidos pelos católicos. Nesse sentido, até a incorporação dos católicos na nova faculdade não
estaria em dissonância com as posições ideológicas do Reitor.
111
Todos esses trabalhos estão localizados no acervo Laudelino Medeiros do CEDOC/UCS.
112
Bibliografia em anexo
113
Convite do Reitor e programa da disciplina foram consultados no acervo do IHGRS
114
Por exemplo, numa prova sem data, ele elaborou o seguinte enunciado: “A cidade do Rio de Janeiro tem
cerca de três milhões de habitantes e é o segundo centro industrial pelo país. O distrito de Seival, no município
de Bagé, tem um mil e oitocentos habitantes, dos quais trezentos na sede, e é zona de pecuária e de agricultura.”
E perguntou: 1) A estrutura social tem a mesma complexidade nesses dois lugares? Porque? 2) As classes sociais
se distribuem da mesma maneira? Tem as mesmas características? Prova localizada no acervo do IHGRS.
115
CIBILS, A, 2006. Op Cit.
116
MEDEIROS, L, 1996. Op Cit..
117
Conforme currículo localizado no CISOAL
118
Houve uma assistente do curso de Medicina que acabou encaminhando-se para essa área. Conforme
CIBILS, A, 2006. Op. Cit.
119
Segundo MEDEIROS, L. [Ofício] 30 de dezembro de 1959, Porto Alegre [para] Luiz Pilla (Diretor da
Faculdade de Filosofia/ UFRGS), Porto Alegre. Medeiros relata as atividades de ensino e pesquisa da cátedra
de Sociologia no ano de 1959, consultada no acervo do IHGRS.
120
CIBILS, A. 2006. Op. Cit.
121
MEDEIROS, L, 1996. Op. Cit.
122
MEDEIROS, L, C. Os problemas econômicos aflitivos não se resolvem com a cafiaspirina de salários de
salários mínimos. Fala ao jornal do Dia o dr. Laudelino Medeiros, diretor da Comissão de Bem Estar sobre o
desenvolvimento de pesquisa sobre o nível de renda que orientou no nosso Estado e problemas sociais da
população- O padrão de vida do operariado industrial no Rio Grande do Sul é um dos mais elevados do país:
Jornal do Dia, ano VII, Porto Alegre, 18 de julho de 1954. Entrevista concedida a Carlos Fehlberg.
123
Conforme os dados agrupados dos boletins familiares, localizado no acervo do CEDOC/ UCS
124
Todos esses dados da pesquisa estão no acervo do CEDOC/ UCS
125
Localizado no CEDOC/ UCS
126
MEDEIROS, L, 1996. Op. Cit. .
127
Guias de recolhimento UFRGS: Laudelino recebe 127, 30 cruzeiros para auxílio na cadeira de Sociologia em
14/11/1955. Em 12/08/1955 recolheu 681,20 cruzeiros para pesquisas na cadeira de Sociologia através do crédito
especial resolução n. 266/55 14, referente ao auxílio à cadeira de Sociologia. Em 31/12/1955, foram
destinados10 mil cruzeiros para atender as despesas com a cadeira de Sociologia, ofícios consultados no acervo
Laudelino Medeiros do IHGRS.
128
Conforme Ofício de MEDEIROS, L. [Ofício] 18 de março de 1955, Porto Alegre [para] Elyseu Paglioli
(Reitor UFRGS), Porto Alegre.
129
MEDEIROS, L, 1996. Op Cit.
130
Conforme informações contidas em seu currículo localizado no acervo do IHGRS.
131
Centro, Menino Deus, Padre Cacique, Cristal, Floresta, Passo da Mangueira, São João, Vila Jardim,
Petrópolis, Rio Branco, Auxiliadora, Navegantes, Vila Ipiranga, Teresópolis, Glória, Partenon, Vila São Luís,
Santana, Diretor Pestana, Chácara das Pedras, Passo da Areia, Vila São José, Mont Serrat, Higienópolis.
Conforme o código da pesquisa sobre mobilidade social de Porto Alegre, localizado, juntamente com os dados
demográficos no acervo do CEDOC/ UCS.
132
Relatório S/D localizado no CEDOC/ UCS
133
MEDEIROS, L, 1996. Op Cit.
134
Informação localizada no acervo do IHGRS
135
CIBILS, A, 2006. Op Cit.
136
SOUZA, J.G.C, 2006. Entrevista concedida a Hélgio Trindade, 2006.
137
MEDEIROS, L, 1996 Op Cit.
138
MEDEIROS, L, 1996. Idem
139
Correspondência localizada no acervo do IHGRS, LEAL, Vitor Nunes. [Carta], 31 de janeiro de 1956
[para] Laudelino Medeiros, Porto Alegre. Agradece o envio da monografia sobre as vilas e malocas de Porto
Alegre.
140
Conforme MEDEIROS, L. [Carta] 20 de junho de 1969, Porto Alegre [para] Manuel Diegues Júnior, Rio de
Janeiro. Confirma sua participação no Seminário de Sociologia Rural da CLAPCS.
141
TOBAR, Anacleto. Op. cit.
142
Conforme certificados de participação consultados no acervo do IHGRS.
143
Conforme PILLA, Luiz. [Ofício] 17 de abril de 1957, Porto Alegre [para] Laudelino Medeiros, Porto Alegre.
O diretor da Faculdade de Filosofia autoriza o afastamento de Medeiros para participar do Seminário sobre
mudança social e desenvolvimento econômico na UFMG.
144
COSTA PINTO, L.A. [Carta] 25 de agosto de 1959, Rio de Janeiro [Para] Laudelino Medeiros, Porto Alegre.
Convite para participar do seminário sobre resistências à mudança- fatores que impedem o desenvolvimento a
ser realizado de 16 a 25 de outubro de 1959, e MEDEIROS, L [Carta] de 7 de outubro de 1959 [para] Luiz Pilla
(Diretor Faculdade de Filosofia, UFRGS), Porto Alegre. Comunica a participação no seminário Resistências à
mudança, promovido pelo centro Latino Americano de pesquisas em Ciências Sociais. (CLAPCS/ Unesco).
145
AZEVEDO, T. [Carta] e de setembro de 1957, Salvador, [para] Laudelino Medeiros, Porto Alegre. Convite
de Thales de Azevedo, Diretor de Pesquisas da Fundação para o Progresso da Ciência no Bahia, para ministrar
cursos na UBA e AZEVEDO, T [Ofício] de 27 de maio 1958, Salvador [para] para o diretor da Faculdade de
Filosofia Luiz Pilla, Porto Alegre. agradecendo a cooperação que o professor Laudelino Medeiros deu aos
estudos sócio-culturais na Bahia com a visita que fez a esta capital a convite do programa de pesquisas sociais.
146
MEDEIROS, L. [Carta] 17 de maio de 1971, Porto Alegre [para] para Murilo Martins (Departamento de
Economia UFSC), Florianópolis. Envia o programa do seu Seminário sobre sociologia das populações: 1.
Crescimento das populações e implicações gerais. 2. Natalidade e mortalidade no Brasil. 3. Migrações internas.
4. População ativa. 5. Optimum de população. 6. População e desenvolvimento. Curso de Sociologia das
populações a ser ministrado no período de 2 a 9 de agosto no departamento de economia da UFSC.
147
Embora o patrocínio do IBECC/ UNESCO tenha tipo um maior impacto na UFRGS na área de Ciências
Exatas, especialmente no ensino de Física, promovendo na década de 1950 publicação de livros didáticos, e na
de 1960, após a LDB de 1961, juntamente com outras instituições promoveram e incentivaram a reforma
curricular, na área de humanas descobrimos essa iniciativa. Sobre o ensino de Física na UFRGS ver:
http://www.if.ufrgs.br/public/ensino/vol10/n1/v10 visitado em 10/11/2006.
148
Essa teoria social foi desenvolvida por Pitirim sorokin no livro: SOROKIN, P. Society, culture and
personality: their struture and dynamics. New York: Harper & Brothers Publisher, 1947.
149
Ausências de Costa Pinto, , Guerreiro Ramos Pe. Ávila, Darcy Ribeiro, Fernando de Azevedo, Florestan
Fernandes, Oracy Nogueira, Orlando de Carvalho
150
Informações retiradas do currículo de José Grijó e Herbert Calhau consultados no acervo do CISOAL/
UFRGS. Ambos foram professores os primeiros professores de Estatística do curso de Ciências Sociais, do
programa de Pós Graduação em Sociologia Rural e da Faculdade de Ciências Econômicas.
151
MEDEIROS, L. [Ofício], 25 de setembro de 1961, Porto Alegre [para] Luiz Pilla (Diretor da Faculdade de
Filosofia), Porto Alegre. Requerimento da criação do Centro de Estudos Sociais, 4 f.
152
Conforme PRIMEIRO COLÓQUIO CIENTÍFICO DO ULTRAMAR DAS UNIVERSIDADES DA
ALEMANHA OCIDENTAL E DE BERLIM-OESTE, 6 A 20 de novembro, 1961, Munster, AL. Lista de
participantes e resoluções do colóquio, 2 p.
153
Roberto Álamo Blanco, da Universidade Central da Venezuela, Francisco Ayala, da Universidade de Rio
Pedras de Porto Rico, Balthazar Barbosa da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Fernando
Bastos de Ávila, da Universidade Católica do Rio de Janeiro, Cayetano Betancur, da Universidade Nacional da
Colômbia, Aristides Calvani, da Universidade Católica da Venezuela, Orlando Fals-Borda, da Universidade
Nacional da Colômbia, Eduardo Frei Montalva, Senador da Republica do Chile, Gilberto Freyre, da
Universidade de Recife, Eduardo Hamuy, da Universidade do Chile, Manuel Madrazo Garamendi, da
Universidade Autônoma do México, José Medina Echevarria da CEPAL, Alfredo Poviña da Universidade
Nacional de Córdoba, Jaime Quijano- Caballero do Instituto INCA da Colômbia, Luís Recaséns-Siches, da
Universidade Nacional Autônoma do México, Julio Ruiz- Bourgeois, da Universidade Católica de Valaparaíso,
Luís Valcárcel, da Universidade maior de São Marcos, Rger Vekemans, da Universidade católica do Chile,
Emílio Willems, da Universidade de Nashville, e Laudelino Teixeira Medeiros, da UFRGS.
154
MEDEIROS, L. [Carta] 13 de junho de 1979, Porto Alegre [para] Oracy Nogueira, São Paulo. Sobre a
cooperação acadêmica com a Alemanha, correspondência localizada no acervo do CEDOC/ UCS
155
Publicada em Português e Alemão simultaneamente, em 1971. Ver: SCHRADER, Achim; BERGER,
Manfredo. Oferta e procura educacional: pesquisa realizada no interior do Rio Grande do Sul. Edições
UFRGS, Porto Alegre, 1971.
156
SCHRADER, A. [Carta] 14 de dezembro de 1967, Munster (Alemanha) [Para] Laudelino Medeiros, Porto
Alegre, 2 p.
157
Sobre importância dos programas de cooperação alemã com a UFRGS, especialmente o papel de Achim
Schrader ver especialmente: BAETA, Clarissa; SOBOTTKA, Emil (Org). Sociologia, pesquisa e cooperação:
Achim Schrade. Homenagem á um cientista. UFRGS, Porto Alegre, 2000. As novas contribuições de Achim
Schrader no campo da Sociologia empírica foram reunidas em coletânea recente, pelos seus ex-alunos Clarissa
Baeta Neves e Emil Albert Sobottka. Ver: SCHRADER, Achim Métodos de pesquisa social empírica e
indicadores sociais. UFRGS, Porto Alegre, 2002.
158
Ver ROCHE, Jean. A colonização Alemã no Rio Grande do Sul. Editora Globo, Porto Alegre, 1969.
159
Neste capítulo analisamos os seguintes boletins do Centro de Estudo Sociais: BOLETIM DO CENTRO DE
ESTUDOS SOCIAIS, Faculdade de Filosofia da UFRGS. n.1 de julho de 1966, n. 2 dezembro de 1966, n. 3
junho de 1967, n. 4 de novembro de 1967, n. 5 e 6 junho/ dezembro, 1968, n. 7, dezembro de 1969; e,
BOLETIM DO CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS, Faculdade de Filosofia da UFRGS. Documentos para o
estudo da imigração e da colonização no Brasil. UFRGS, 1965.
160
Juntamente com Ivo Schneider.
161
MEDEIROS, L. [Ofício], 25 de setembro de 1961, Porto Alegre [para] Luiz Pilla (Diretor da Faculdade de
Filosofia), Porto Alegre. Requerimento da criação do Centro de Estudos Sociais e projeto, 4 f.
162
Ver MEDEIROS, Laudelino. A formação da sociedade rio-grandense: ensaios. Porto Alegre, UFRGS,
1975.
163
STERNBERG, Benno. [Carta], 9 de novembro de 1962, Rio de Janeiro [para] Laudelino Medeiros, Porto
Alegre.
164
LOGUÉRCIO, Mercedes, 2006. Entrevista concedida a Hélgio Trindade.
165
O convênio do MEC com o CES foi estabelecido finalizado em 1969 e publicado por OSÓRIO, Ivan
Dall’igna; RAMOS, José Hugo. Rio Grande do Sul: industrialização posta á prova. Diretoria do ensino
industrial MEC, Centro de estudos sociais da Faculdade de Filosofia da UFRGS, 1969.
166
Essas pesquisas sobre o ensino industrial encomendadas pelo MEC foi publicada por Jorge Furtado como:
FURTADO, Jorge. “Panorama industrial na atual conjuntura brasileira”. João Pessoa, Brasil, Escola
Industrial Federal da Paraíba, divulgação do setor de relações públicas, 1967 e também no relatório FURTADO,
Jorge. Porque se realizou o programa intensivo de preparação de mão-de-obra industrial. Rio de Janeiro,
Diretoria do ensino Industrial, 1968.
167
Objetivos: “(1) Promover estudos e pesquisas sociais- particularmente sobre o Rio Grande do Sul;
(2)possibilitar a constituição de grupos para o estudo interdisciplinar, reunindo professores e pesquisadores das
diferentes especializações no campo das Ciências Humanas; (3) Criar a oportunidade de intercâmbio para
quantos se dedicarem a essas atividades de pesquisa no Estado e no País, promovendo assim o desenvolvimento
das Ciências Sociais; (4) e colaborar para a formação de cientistas sociais, de que tanto carece o sul do país.” IN:
CES, Projeto, 1963. (Mimeo)
168
MEDEIROS, L, 1996. Op cit
169
Correspondência de COSTA PINTO, L.A [Carta] 26 de agosto de 1959, Rio de Janeiro [para] Laudelino
Medeiros, Porto Alegre e LABENS, Jean [Carta] 17 de setembro de 1959, Paris [Para] Laudelino Medeiros,
Porto Alegre.
170
MEDEIROS, Laudelino [Carta] 7 de junho de 1960, Porto Alegre, [para] Thales de Azevedo, Salvador.
171
CORREA, J.G.S, 1996. Op cit, grifos meus.
172
A comissão de publicações da Faculdade de Filosofia foi instituída em 1956. As publicações em questão eram
a revista fundamentos da cultura rio-grandense e Organon. Fizeram parte da Comissão: Ary Nunes Tieböhl,
Elpídio Ferreira Paes, Ernani Maria Fiori, Geraldo Brochado da Rocha, Guilhermino César e Laudelino Teixeira.
173
O primeiro conselho técnico administrativo da Faculdade de Filosofia, foi instaurado em 21 de março de
1957, tendo como conselheiros: Ary Nunes Tieböhl, Elpídio Ferreira Paes, Francisco Machado Carrion, José
Rafael Alves de Azambuja Júnior, Laudelino Medeiros e Lourenço Mário Prunes, mais o acadêmico Ayrton
Santos Vargas. Em 1964, o CTA foi substituído pelo Conselho departamental.
174
MEDEIROS, L, 1996. Op Cit, grifos meus.
175
Conforme HESSEL, Lothar. MACARTHY MOREIRA, Earle Diniz. Faculdade de Filosofia: 25 anos.
UFRGS, 1967.
176
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, Ata n. 1 de 27 de maio de 1960, UFRGS. (Mimeo).
177
MEDEIROS, L. 1996. Op Cit
178
A primeira turma concluiu o curso em 1962, composta de três alunos: Benito Cardoso, Cecília Hedwig Rech
e Gilcélia Alves de Rodrigues, Em dezembro de 1963 concluíram o curso os seguintes alunos: Ana Maria
Bresolin, Annita Rosa Manfron, Dirce Marion Brasil Ferrari, Maria de Lurdes Camargo e Suzana Arrosa Soares
Em 1964 formaram-se Cecília Maria Breda Isatto, Elba Doralina Porciúncula Nûnes, Eneida Valkíria Trindade
dos Santos, Ivo Alberto Schneider, Lacy Machado, Lucy Chagas Boehl, Maria Elena de Almeida Nunes, Nilze
Pereira da Silva Santos e Venina Pereira de Mello, e em 1965 Arabela Ribeiro Campos, Clara Macline, Eunice
Lima Meira, Lerci Poersch, Lésia Wald Barth, Mara Helena Soares Motta, Marlene Chaves, Marlene Souza
Machado da Silva, Oldemar de Oliveira, Regina Muria Moura Waterloo, Teresinha Machado Chagas e Vera
Regina Porto Pimentel, e em 1966 Iara de Almeida Bendati, Iolanda Maria Barcellos de Abreu, Lígia Gomes
Torres, Maria Marlene Andretta da Motta, Marilene Somnitz Martins, Marlise Feijó Mancuso, Neyta Oliveira,
Orlem Camargo Alves, Rosilda Raposo Fernandes e Shirley Piva Von Dieen.Ver especialmente: FACULDADE
DE FILOSOFIA. 25 anos de atividade, 1967.
179
Texto de Pedro Schmitz, sem data, encontrado em 25 de novembro em
http://www.abant.org.br/downloads/informativos/605/ufrgs-palestra.pdf.
180
MEDEIROS, L, 1996. Op Cit, grifos meus.
181
SOUZA, J,G,C, 2006. Op Cit.
182
FACHEL, J, F, 2006. Entrevista concedida a Hélgio Trindade.
183
Como Mercedes Loguércio, Lorena Holzmann, Mário Rield e Manfredo Berger.
184
MEDEIROS, L. 1996. Op Cit. Grifos meus
185
Localizadas no acervo do CEDOC/ UCS
186
Dessa pesquisa foi publicado um relatório no Correio do Centro Regional de Pesquisas educacionais
coordenado por Álvaro Magalhães. Ver: MEDEIROS, L. Divisão de estudos e pesquisas sociais: notas sobre o
ensino primário no Rio Grande do Sul. Porto Alegre, n. 7, pág 3-11, dezembro de 1960.
187
Conforme anotações de aulas Medeiros localizadas no acervo do CEDOC/UCS e as entrevistas de
LOGUÉRCIO, M, 2006.
188
MEDEIROS, L, 1996, Op. Cit.
189
Sobretudo o programa do ano de 1966 e o de 1971 localizados no CEDOC/ UCS
190
Especialmente Furtado, Celso. Desenvolvimento e subdesenvolvimento, 1963; Pinto, L.A. Costa. Sociologia
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A LEGIÃO PRÓ- ESTADO LEIGO. Ao eleitorado rio-grandense. Correio do Povo, 23 de
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MEDEIROS, L. Padre Werner. Jornal do dia, 15 de Agosto de 1964.
MEDEIROS, Laudelino. A educação da juventude. A Nação, 16 de fevereiro, 1941;
MEDEIROS, Laudelino. A questão do salário mínimo. A Nação, 23 de julho, 1939
MEDEIROS, Laudelino. É o divórcio uma necessidade. Folha da Tarde, Rio de Janeiro, 22
de outubro, 1942.
MEDEIROS, Laudelino. Meditações sobre essa guerra. A Nação, 7 de dezembro, 1941;
O 1° Congresso da Liga pró-Estado leigo. Correio do povo, 7 de janeiro de 1932.
Sem governo a Universidade. Aceita a renúncia do Reitor Armando Câmara: A verdadeiras
causas do inédito episódio. Diário de Notícias, Porto Alegre, 14 de janeiro, 1949.
Depoimentos
CARRION, F. M. Depoimento sobre a Ação Integralista Brasileira. Entrevista concedida à
Hélgio Casses Trindade. (Mimeo).
CARRION, F. M. In: Simpósio Revolução de 1930. LEC: depoimentos de Adroaldo
Mesquita da Costa, Francisco Machado Carrion e Eloy José da Rocha. 10 de Outubro de
1980. (Mimeo)
ROCHA, Eloy José da. In: Simpósio Revolução de 1930. LEC: depoimentos de Adroaldo
Mesquita da Costa, Francisco Machado Carrion e Eloy José da Rocha. 10 de Outubro, 1980.
MEDEIROS, L. 1980. Geração Católica Depoimento concedido a Fernando Trindade, 1980.
Entrevistas
CIBILS, Luiz Alberto. Entrevista concedida a Hélgio Trindade, 2006.
FACHEL, José Fraga. Entrevista concedida a Hélgio Trindade, 2006
FIORI, Ernani Maria. Entrevista concedida a Fernando Casses Trindade, 23 de julho de
1980.
LOGUERCIO, Mercedes, 2006. Entrevista concedida a Hélgio Trindade, 2006.
MEDEIROS, Laudelino. 1996. Entrevista concedida a Clarissa Baeta Neves, 1996.
SOARES, Maria Suzana A. 2006. Entrevista concedida a Hélgio Trindade, 2006.
SOUZA, João Guilherme Correa de 1996. Entrevista concedida a Clarissa B. Neves, 1996.
SOUZA, João Guilherme Correa de 2006. Entrevista concedida a Hélgio Trindade, 2006.
LEITE, Luiz Osvaldo. Entrevista concedida a Hélgio Trindade, 2000.
FONTES DOCUMENTAIS
1. Acervos consultados
FUNDO LAUDELINO MEDEIROS. Acervo de 20 mil volumes de livros da biblioteca
pessoal do professor Laudelino Medeiros acessível no setor de coleções especiais da
Biblioteca Central; documentação pessoal e institucional do referido professor disponíveis no
Centro de Documentação (CEDOC), ambos da Universidade de Caxias do Sul (/UCS),
ACERVO DOCUMENTAL LAUDELINO MEDEIROS: contém documentos pessoais,
correspondência ativa e passiva em fase de organização doados pelo professor que foi
membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul.
ACERVO DOCUMENTAL FERNANDO TRINDADE: formado por entrevistas,
documentos, cursos, bibliografia e dados de sua pesquisa sobre a “geração católica” no Rio
Grande do Sul
ACERVO DOCUMENTAL E DE ENTREVISTAS SOBRE CIENCIAS SOCIAIS NO
BRASIL E AMERICA LATINA: vinculado aos projetos de pesquisa do CISOAL do
Instituto de Estudos Avançados da América Latina (ILEA), coordenados pelo Prof. Hélgio
Trindade.
DOCUMENTAÇÃO DOS ANTIGOS DEPARTAMENTOS DE CIENCIAS SOCIAIS E
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS, sob a guarda das Profas. Clarissa Baeta Neves e Maria
Susana Arrosa Soares.
CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
DO BRASIL (CPDOC) DA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS/Rio de Janeiro
NUCLEO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DA POLITICA RIO-GRANDENSE
(NUPERGS), vinculado ao PPG de Ciência Política da UFRGS.
BIBLIOTECA DA FACULDADE DE FILOSOFIA DA USP: acesso a coleções de livros
de sociologia nacionais e estrangeiros, especialmente os manuais de Introdução a Sociologia.
BIBLIOTECAS CENTRAL, SETORIAL DO INSTITUTO DE FILOSOFIA E
CIENCIAS HUMANAS E FACULDADE DE CIENCIAS ECONOMICAS DA UFRGS.
BIBLIOTECA DA ESCOLA LIVRE DE SOCIOLOGIA E POLITICA/São Paulo:
Coleção da Revista Sociologia, órgão oficial da Instituição.
2. Obras e documentos consultados
COLOQUIO ESTUDOS TEUTO-BRASILEIROS. Anais. Porto Alegre: Ed. da Ufrgs,
1966.
BOLETIM DO CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS, Faculdade de Filosofia da UFRGS. N.1
de julho de 1966.
BOLETIM DO CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS, Faculdade de Filosofia da UFRGS, N. 2,
dezembro de 1966.
BOLETIM DO CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS, Faculdade de Filosofia da UFRGS, N. 3,
Junho de 1967.
BOLETIM DO CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS, Faculdade de Filosofia da UFRGS, N. 4,
novembro de 1967.
BOLETIM DO CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS, Faculdade de Filosofia da UFRGS, N. 5
e N.6, junho/dezembro de 1968.
BOLETIM DO CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS, Faculdade de Filosofia da UFRGS, N. 7,
dezembro de 1969.
BOLETIM DO CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS, Faculdade de Filosofia da UFRGS. 65.
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS, Projeto, 1963. (Mimeo)
CONGREGAÇÃO Mariana “Auxilium Christianorum”. Relação de seus Congregados.
Dezembro de 1950 (Mimeo).
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, Ata n. 1, 27 de maio de 1960, UFRGS.
FACULDADE DE FILOSOFIA, Anais, PUCRS, 1945.
FACULDADE DE FILOSOFIA. Anuário, 1943.
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO. Súmula. UFRGS, 1948.
LISTA DE SÓCIOS EFETIVOS DO CENTRO CATÓLICO DE ACADÊMICOS, em 30 de
Março, 1933. (Mimeo).
MEMÓRIAS DA CONGREGAÇÃO DOS ACADÊMICOS, “Mater Salvatoris”, Typ
Selbach & Cia., Porto Alegre, 1926, 1932, 1933, 1935
PRIMEIRO COLÓQUIO CIENTÍFICO DO ULTRAMAR DAS UNIVERSIDADES DA
ALEMANHA OCIDENTAL E DE BERLIM-OESTE, Lista de participantes e resoluções
do colóquio. 6 A 20 de novembro, 1961, Munster, AL, 2 p.
SOCIEDADE OLIVEIRA VIANNA, Termo de Abertura, 1957.
UFRGS, Anais do 1° Seminário Sul-Riograndense de Sociologia, 1957.
UFRGS, Anais do 2° Seminário Sul-Riograndense de Sociologia, 1959.
UFRGS, Anuário, 1955
UFRGS. Ata do Conselho Universitário N° 256 de 21 de maio de 1959.
3. Cartas
Correspondência ativa e passiva de Laudelino Medeiros/IHGRS
AZEVEDO, T. [Carta] e de setembro de 1957, Salvador, [para] Laudelino Medeiros, Porto
Alegre
MEDEIROS, L. [Ofício] 21 de Agosto de 1972, Porto Alegre [para] Reitor UFRGS Ivo
Wolff, Porto Alegre.
MEDEIROS, L. [Ofício] 18 de março de 1955, Porto Alegre [para] Elyseu Paglioli (Reitor
UFRGS), Porto Alegre.
COSTA PINTO, L.A [Carta] 26 de agosto de 1959, Rio de Janeiro [para] Laudelino
Medeiros, Porto Alegre
COSTA PINTO, L.A. [Carta] 25 de agosto de 1959, Rio de Janeiro [Para] Laudelino
Medeiros, Porto Alegre.
LABENS, Jean [Carta] 17 de setembro de 1959, Paris [Para] Laudelino Medeiros, Porto
Alegre.
LEAL, Vitor Nunes. [Carta], 31 de janeiro de 1956, [para] Laudelino Medeiros, Porto
Alegre. Agradece o envio da monografia sobre as vilas e malocas de Porto Alegre.
MEDEIROS, L [Carta] de 7 de outubro de 1959, [para] Luiz Pilla (Diretor Faculdade de
Filosofia, UFRGS), Porto Alegre.
MEDEIROS, L. [Carta] 17 de maio de 1971, Porto Alegre [para] para Murilo Martins
(Departamento de Economia – UFSC), Florianópolis.
MEDEIROS, L. [Carta] 13 de junho de 1979, Porto Alegre [para] Oracy Nogueira, São Paulo.
MEDEIROS, L. [Carta] 13 de junho de 1979, Porto Alegre [para] Oracy Nogueira, São Paulo
MEDEIROS, L. [Carta] 20 de junho de 1969, Porto Alegre [para] Manuel Diegues Júnior,
Rio de Janeiro.
MEDEIROS, L. [Ofício] 30 de dezembro de 1959, Porto Alegre [para] Luiz Pilla (Diretor da
Faculdade de Filosofia/ UFRGS), Porto Alegre.
MEDEIROS, L. [Ofício], 25 de setembro de 1961, Porto Alegre [para] Luiz Pilla (Diretor da
Faculdade de Filosofia), Porto Alegre.
MEDEIROS, L. [Ofício], 25 de setembro de 1961, Porto Alegre [para] Luiz Pilla (Diretor da
Faculdade de Filosofia), Porto Alegre.
MEDEIROS, Laudelino [Carta] 7 de junho de 1960, Porto Alegre, [para] Thales de
Azevedo, Salvador.
PILLA, Luiz. [Ofício] 17 de abril de 1957, Porto Alegre [para] Laudelino Medeiros, Porto
Alegre.
SCHRADER, A. [Carta] 14 de dezembro de 1967, Munster (Alemanha) [Para] Laudelino
Medeiros, Porto Alegre, 2 p.
STERNBERG, Benno. [Carta], 9 de novembro de 1962, Rio de Janeiro [para] Laudelino
Medeiros, Porto Alegre.
TOBAR, Anacleto [Ofício] 17/ julho/ 1951, e 13/ setembro/ 1955, Túcuman (Arg) [para]
Laudelino Medeiros, Porto Alegre.
AZEVEDO, T [Ofício] de 27 de maio 1958, Salvador [para] para o diretor da Faculdade de
Filosofia Luiz Pilla, Porto Alegre.
ANEXOS
1. CORPO DOCENTE DA FACULDADE DE FILOSOFIA EM 1943
2. CORPO DOCENTE NOMEADO INTERINAMENTE POR ARMANDO
CÂMARA
3. DOCUMENTOS DE LAUDELINO MEDEIROS
4. FOTOS
5. BIBLIOGRAFIAS INDICADAS NOS CURSOS DE LAUDELINO MEDEIROS
6. BIBLIOTECA DE LAUDELINO MEDEIROS (LIVROS)
ANEXO I: CORPO DOCENTE DA FACULDADE DE FILOSOFIA EM 1943
QUADRO I: Corpo Docente 1943. Cursos de Filosofia, Pedagogia, Geografia e História, Letras
Clássicas, Letras Neolatinas e Letras Anglo-Germânicas.
Professor designado Cadeira
Darcy Azambuja Filosofia
Armando Câmara História da Filosofia
Oscar Machado Psicologia e lógica
Edgar Luiz Schneider Sociologia
Carlos de Carvalho Schmitt Complementos de Matemática
Ney Closostomo da Costa Geografia Física
Lourenço Mário Prunes Geografia Humana
Dante de Laytano História da Antiguidade e Idade Média
Padre Balduíno Rambo Antropologia e Etnografia
Elpídio Ferreira Paes Língua e Literatura Latina
Jorge Paleikat Língua e Literatura Grega
Ubaldino Moura Língua Portuguesa
Carlos Dante de Moraes Literatura Portuguesa
Moyses Vellinho Literatura Brasileira
René Ledoux Língua e Literatura Francesa
Gino Battocchio Língua e Literatura Italiana
José Lodeiro Língua Espanhola e Literatura espanhola e Hispano- Americana
Sylvio Ramos da Silva Língua Inglesa, Literatura Inglesa e Anglo-americana
Leonardo Tochtrop Língua e Literatura Alemã
Décio Souza Psicologia Educacional
Ernesto Pelanza Estatística Educacional
Pery Pinto Diniz Administração Escolar e Educação Comparada
José P. Coelho de Souza História e Filosofia da Educação
Carlos de Brito Velho Fundamentos biológicos da educação
Francisco de Silva Juruena História Moderna e Contemporânea
Abio Hervé História da América
Laudelino Medeiros História do Brasil
Jorge Paleikat Filologia Romântica
Décio Souza Didática Geral
Fonte: Faculdade de Filosofia (1967)
QUADRO II: Prova de Títulos para provimento interino de cadeiras vagas da Faculdade de Filosofia- 1944
Cadeira Relator Indicado
História Moderna Elpídio Paes Francisco Machado Carrion
Geografia Humana Elpídio Paes Lourenço Mário Prunes
Administração Escolar Walter Castilhos José Gomes de Campos
Fonte: Ata da 108° Sessão do Conselho Universitário da U.P.A (26/abril/1944)
ANEXO II: CORPO DOCENTE NOMEADO INTERINAMENTE POR ARMANDO CÂMARA EM
1949
Nome Cadeira
Álvaro Magalhães História e Filosofia
Francisco Machado Carrion História Moderna e Contemporânea
Ernesto de Freitas Xavier Botânica
Ernani Maria Fiori Filosofia
Luis Leseigneur da Faria Geometria
Guilhermino César da Silva Literatura Brasileira
Leonardo Tochtrop Língua e Literatura Alemã
Antônio Rodrigues Complementos de Matemática e Didática especial de Matemática
Salvador Petrucci Estatística Educacional e Fundamentos biológicos da educação
Oscar Machado Psicologia educacional
René Ledoux Língua e Literatura Francesa e didáticas especiais das línguas neo-latinas
Álvaro Difini Química Orgânica
José Rafael Azambuja Júnior Mineralogia e Petrografia
Laudelino Medeiros Sociologia
José Gomes de Campos Administração escolar e educação comparada
Carlos de Carvalho Smith Mecânica racional, Mecânica Celeste e Física Matemática
Dante de Laytano História do Brasil
Atahualpa Cibils Química geral e inorgânica
Ari Nunes Tieböhl Análise matemática e superior
Padre Balduíno Ramos Antropologia e Etnografia
Othelo Laurent História da Antiguidade e da Idade Média
Victor de Britto Velho Psicologia
Silvio de Ramos da Silva Língua e Literatura Inglesa
Romeu Mucillo Biologia Geral
José Lodeiro Língua e Literatura espanhola
Gaspar Dilermando Ochoa Geologia e Palentologia
Graciema Pacheco Didática Geral e especial
João Henrique Língua Portuguesa
Jorge Godofredo Felizardo Zoologia
Ubaldino Moura Literatura Portuguesa
Mário da Silva Brasil Física Geral e experimental
Luis Pilla Físico-química e Química Superior
Lourenço Mário Prunes Geografia Humana
Elpídio Paes Língua e Literatura Latina
Dorival da Silva Schmitt História da América
Fonte: Diário de Notícias (14/01/1949)
ANEXO III: DOCUMENTOS DE LAUDELINO MEDEIROS
Notas do Instituto Comercial do Ginásio Santa Maria. Fonte: IHGRS
Notas do Instituto Comercial do Ginásio Santa Maria. Fonte: IHGRS
Notas do Instituto Comercial do Ginásio Santa Maria. Fonte: IHGRS
Notas do Ginásio Estadual Santa Maria Fonte: IHGRS
Carteira do Ginásio Estadual Santa Maria. Fonte: IHGRS
Diploma de admissão na Congregação Mariana “MATER DIVINAE GRATIAE”.
Fonte: IHGRS
Diploma de Bacharel em Ciências Econômicas pela Faculdade de Ciências Políticas e
Econômicas de Porto Alegre, 1936. Fonte: IHRGS
Convite para a colação de grau em Ciências Econômicas da turma de 1936.
Fonte: IHRGS
Diploma de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais. Fonte: IHGRS
Lista dos bacharéis em Direito de 1941. Fonte: IHGRS
Via Sacra por Pe. Werner S.J. Fonte: CEDOC/ UCS
Comunicação apresentada na 5° sessão das semanas de Ação Social.
Fonte: CEDOC/ UCS.
Atestado de serviços prestados como técnico contabilista. Fonte: IHGRS
Certidão de casamento de Laudelino Medeiros e Hortense da Costa Franco. Fonte: IHGRS
Caderneta de contribuições mensais de Obreiro da Nova Matriz de São Sebastião,
Petrópolis, Porto Alegre. Fonte: CEDOC/ UCS
ANEXO IV: FOTOS
Laudelino Medeiros. Fonte: CEDOC/UCS.
Sr. Waldemiro da Costa Medeiros, pai de Laudelino Medeiros.
Fonte: CDOC/UCS
Auditório da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS. Fonte: IHGRS.
PRIMEIRO COLÓQUIO CIENTÍFICO DO ULTRAMAR DAS UNIVERSIDADES DA ALEMANHA
OCIDENTAL E DE BERIM-OESTE, 6 a 20 de novembro de 1961, Münster, Alemanha. Fonte: IHGRS
ANEXO V: BIBLIOGRAFIAS INDICADAS NOS CURSOS DE LAUDELINO
MEDEIROS
1.BIBLIOGRAFIA DA CADEIRA DE SOCIOLOGIA URBANA DO CURSO DE URBANISMO DA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO.
1. FREYRE, Gilberto. Sociologia. 2 vols, Joá Olympio, Rio de Janeiro, 1945.
2. SOROKIN, Pitirim A. Teorias Sociológicas Contemporâneas- trad. Arg. Buenos
Aires, 1951.
3. Idem- Society, Culture and Personality. New Yorque, 1947
4. SICHES, Luis R. Leciones de Sociologia. México, 1948
5. GINSBERG, Morris. Manual de Sociologia. Trad. Arg, B.A, 1945
6. ATHAYDE, Tristão. Preparação á Sociologia. Rio de Janeiro, 1932
7. POVINÂ, Alf. Cursos de Sociologia- 2 vols, Córdoba, 1950
8. MURRAY, Raimond. Introdução á Sociologia. Rio de Janeiro, 1947
9. BOUTHOUL, Gaston. Traité de Sociologie. Payot, Paris, 1949
10. HILLER, E. Social Relations and Strutures. N.Y, 1947
11. HOMANS, George C. The Human Group. London, 1951.
12. LOWIE, Rob. Social Organization. London, 1950
13. PIERSON, Donald (Org). Estudos de organização social.
14. Idem. Estudos de Ecologia Humana. São Paulo, 1948.
15. CUVILLIER, Armand. Manuel de Sociologie. Paria, 1950, 2 vols.
16. GURVITCH, G. e MOORE, W.E. La Sociologie au XXe Siécle. Paris, 1947
17. DICKINSON, Rob. City, Regien and Regionalism. London, 1947.
18. BARRETO, R e WILLEMS, E. Leituras Sociológicas. São Paulo, 1940.
19. GANON, Isaac. Sociologia General. Montevideu, 1952, 2 vols.
20. HALBWACHS, Maurice. Las classes sociales. México, 1950.
21. BERDIAEFF, N. El cristianismo y la lucha de classes. B.A, 1946.
22. Materiales para el estúdio de la clase media em la Amarica Latina. Dep. De Ciências
Sociales. União Pan Americana. Direção de Theo Crevena. Washington, 1950, 1951, 6
vols.
23. JOUSSAIN, André. Les Classes Sociales. Paris, 1949.
24. MENZEL, A. Introducción a la Sociologia. México, 1940.
25. OSBORN, L.D. e NEUMEYER, M.H. A comunidade e a sociedade. São Paulo, 1936.
26. FONTOURA, Amaral. Introdução á Sociologia. Globo, Porto Alegre, 1948
27. SMITH, T. LYNN. The Sociology of Urban Life. N.Y. 1951
28. Idem. Sociologia da Vida Rural. Rio de Janeiro, 1946.
29. Idem. Brasil: People and Institutions. Lousiana St. University, 1946.
30. BRUNNER, ad. A Stdy of Rural Society. N.Y, 1946.
31. SIMS, N. Leroy. Elements of Rural Sociology. N.Y. 1947
32. QUEEN, Stuart. The American City. N.Y, 1953
33. GEORGE, Pierre. A Ville. Paris, 1952.
34. MAUNIER, Rená, L’Origine et la Fonction Économique des Villes (Etude de
Morphologie sociale), Paris, 1910.
35. LAVEDAN, Pierre. Géografhie des Villes, Paris, 1936.
36. TAYLOR, Griffith. Urban Geografhy. London, 1949.
37. GIEDION, Sigfried. Soace, Time and Architecture. Harvard University Printing
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38. OURDOM, C.B. The Building of Satellite Tows.London, 1949.
39. SHARP, Thomas. The Anatomy of the Village. Middlenex, 1946.
40. VIOLICH, Francis. Cities of Latin America. N.Y, 1944
41. MUNFORD, Lewis. The Culture of Cities. N.Y, 1938.
42. GRAY, G.H. Housing and Citizenship. N.Y, 1946.
43. SAUVY, Alfred. Théorie générale de la population, Paris, 1952.
44. LANDRY, Adholfe. Traíté de Démografhie. Paris, 1949.
45. LAMBERT, J e COSTA PINTO, L.A. Problémes démographiques contemporaines,
Rio de Janeiro, 1944.
46. MACLIVER, R. Comunidad. Ed. Losada, B.A, 1944.
47. TÖNNIES, F. Comunidad y sociedad. Ed. Losada, B.A, 1947
48. HILLMAN, A. Comunity Organization and Planning. N.Y, 1950.
49. DAVIS, Kingsley. Human Society. N.Y, 1950.
50. AZEVEDO, Fernando de. A cultura Brasileira. Rio de Janeiro, 1943.
51. HUDNUT, Josefh. Architecture- and the spirit of man (Harvard University Press),
1949.
52. MOORE, Wilbert. Industrial relations and the social ordem. N.Y, 1951
53. SOROKIN, P. A crise do nosso tempo. São Paulo, 1945
54. VALVERDE, Orlando. Excursão á Região Colonial Antiga do Rio Grande do Sul. Rio
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55. MORTARA, Giorgio. Observações sobre a discriminação da população urbana no
Censo de 1940. Rio de Janeiro, 1950.
56. BARROS, Ernani. As aglomerações urbanas no Brasil segundo o censo de 1950. Rio
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57. FIGUEROA ROMAN, M. Planificacion y sociografia. Tucuman, 1949.
58. MANNHEIM, K. Freedom Power and Demoncracie Planning. London, 1951.
2.BIBLIOGRAFIA CADEIRA DE SOCIOLOGIA DO ANO DE 1948 PARA OS CURSOS DE
FILOSOFIA E PEDAGOGIA.
Destinada ao preparo mínimo do programa:
7. OSBORN, LD e NEUMEYER, M.H. A comunidade e a sociedade. Ed. Nac, 1936.
8. MURRAY, R. Introdução á Sociologia. Agir, 1947.
9. BUREAU, Paul. Introduction á la Meth. Sociologique. B & Gay, 1926.
10. MENZEL, A. Introduccion a la Sociologia. Fundo de Cultura, 1940.
11. LEMONNYER, A e outros. Précis de Sociologie. Paris, 1934.
12. ATHAYDE, TRISTÃO. Preparação à Sociologia. Rio de Janeiro, 1931.
13. WILLEMS, E. e BARRETO, R. Leituras Sociológicas. São Paulo, 1940.
14. ATHAYDE, TRISTÃO. Política. Rio de Janeiro, 1932.
15. SMITH, T.L. Sociologia da vida rural. C.E.B.1946.
16. SOROKIN, Pitirin. Society, Culture and Personality. Brothers, 1947.
17. SOROKIN, Pitirin. Contemporary sociologica Theory. Brothers, 1928.
18. FRANCA, Leonel. O divorcio. A.B.C., 1936.
Destinada ao desenvolvimento de alguns temas:
1. VALDOUR, J. Les Méthodes em Science Sociale. Paris, 127.
2. PIERSON, Donald. Teoria e Pesquisa em Sociologia. Melhoramentos,
1945.
3. MUNTSCH, A. and SPALDING, H. Introd. Sociology. Heath & C, 1928.
4. YONG, K. An Introductory Sociology. A. Book, 1934.
5. SOROKIN, P.Sociocultural causality. Space, Time, 1943.
6. SOROKIN, P. Social and Cultural Dynamics. 4 Vols. A. Book, 1941.
7. BRUGEILLES, R. Introd. Á une Sociologie Thomiste. Paris, 1934.
8. BELLINI, L. Saggio di una teoria generale della societá. Milano, 2 vols,
1934.
9. MACIVER, R.M. Comunidad. Losada, 1944.
10. SIMEL, G. Sociologia, Losada, 1944.
11. STURZO, Luig. Essai de Sociologie. B& Gay, 1937.
12. SPANN, O. Filosofia de la Sociedad. Madrid, 1933.
13. FREYRE, G. Sociologia. 2 vols, J. Olimpio, 1945.
14. LLOVERA, J.M. Tratado elemental de Sociologia Cristina. B.A. 1945
15. GARRIGUET, L. Manuel de Sociologie. Paris, 1924.
16. SEPICH, J. Estrutura de lo social. B.A, 1940.
17. GONELLA, Guido. Bases de uma ordem social. Rio de Janeiro, 1947.
18. TÖNNIES, F. Princípios de Sociologia. F. de Cultura, 1942.
19. LOWIE, R. Manuel d’ Anthropologie Culturelle. Payot, 1936.
20. GRAEBNER, F. El mundo del hombre primitive. Ver. De Occidente, 1925.
21. FRANCESCHI, G.J. Três estúdios sobre la família. B.A, 1923.
22. Pe. WERNER, S.J. O respeito á vida mascitura. Globo, 1933.
23. BUREAU, P. L’ Indisciplina des Moeurs. B& Gay, 1931.
24. FEBVRE, L. L aterre et l’evolution humaine. Paris, 1938.
25. AMOROSO LIMA, A. Amazonia. A terra e o homem. Brasiliana, 1937.
26. TORRES, J.C Oliveira. O homem e a montanha. Belo Horizonte, 1944.
27. AMOROSO LIMA, A. A voz de Minas. Agir, 1945.
28. CUNHA, Ovídio. O homem e a paisagem. Rio de Janeiro, 1938.
29. BERTOQUY, P. Sociogeografia. México, 1944.
30. MANGABEIRA, F. O que é o homem? José Olimpio, 1943.
31. AMOROSO LIMA, A. Idade, Sexo, tempo. José Olímpio, 1938.
32. MARIAS, Julio. El tema del Hombre.Madrid, 1943.
33. SHEEN, F. O problema da liberdade. Agir, 1945.
34. MARITAIN, J. Trois reformateurs. Paris, 1925.
35. MARITAIN, J. Os direitos do homem. J. Olimpio, S/D
36. EVERARDO, G. Solidarismo. São Paulo, 1938.
37. MONTANDON, G. La rece, les races. Paris, 1933.
38. MONTANDON, G. L’Ehnologie française. Paris, 1935
39. MONTANDON, G. Traité d’ ethnologie culturelle. Paris, 1934
40. BOAS, F. Cuestiones fundamentals de antropologis cultural. B.A, 1947.
41. VIANNA, O. Raça e assimilação. Brasiliana, 1934.
42. VIANNA, O. Evolução do povo brasileiro. Brasiliana, 1939.
43. AMOROSO LIMA, A. No limiar da Idade Nova. José Olimpio, 1936.
44. PERROUX, F. Os mitos hitleristas. Ed. Nacional, 1937.
45. WILLEMS, E. Assimilação e população marginais no Brasil. Brasiliana,
1940.
46. FRANCA, L. A crise do mundo moderno. J. Olimpio, 1941.
47. MANNHEIM, K. Diagnóstico de nouestro tiempo.F.C, 1944.
48. OZANAM, F. Del progresso em los siglos de decadência. B.A, 1942.
49. FRANCO, A.A de Mello. Conceito de Civilização brasileira. Brasiliana,
1936.
50. RAMOS, G. Introdução á cultura. Rio de Janeiro, 1939.
51. SOROKIN, P. A crise do nosso tempo. São Paulo, s/d.
52. DAWSON, C. Progresso y religion. B.A, 1943.
53. SPENGLER, O. La decadencia de occidente. Esp, Calpe, 1934.
54. MASSI, H. Défense de l’occident. Paris, 1921.
55. DAVENSON. Fundement d’une culture chrétienne
56. FERNESSOLE, P. De la civilization chretiénne. Paris, 1945.
57. MARITAIN, J. Religion et culture. Paris, 1930.
58. AZEVEDO, F. A cultura brasileira. IBGE, 1943.
59. VAN ACKER, L. Haverá um critério objetivo de civilização? Revista A
Ordem, março de 1941.
60. PIROU,G. Introduction à L’étude de l’econ. ´politique. Paris, 1939
61. MIGUIJÓN, SL. Propriedad y trabajo. Zaragoza, 1920.
62. FOILLÉE, AL.La propriété sociale et la democratie. Paris, 1922.
63. BELLOC, H. La Iglesía católica y el principio de propriedad privada.
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64. AMOROSO LIMA, A. Introdução á Economia Moderna. Civilização
Brasileira, 1933.
65. LEÃO, Carneiro. Sociedade rural. Rio de Janeiro, S/D.
66. TORRES, A. O problema nacional brasileiro. Brasiliana, 1938.
67. TORRES, A. A organização nacional. Brasiliana, 1938.
68. VIANNA, O. Populações meridionais do Brasil. Brasiliana, 1938.
69. SALLIS GOULART, J. A formação do Rio Grande do Sul. Globo.
70. PINTO DA SILVA, J. A província de São Pedro. Globo, 1930.
71. LASSANCE CUNHA, E. O Rio Grande do Sul, Rio de Janeiros, 1908.
72. MEDEIROS, O. Introdução á sociologia do município brasileiro. Ver.
Serviço Público, nov-dez 1947.
73. CARVALHO, O.M. Problemas fundamentais do município. Brasiliana,
1937.
74. SEVERO, A. O moderno município brasileiro. P.A, 1947.
75. PIERSON, D. Estudos de ecologia humana. São Paulo, 1948.
76. LAVEDAN, Pierre. Géographie des villes. NRF, 1936.
77. AZAMBUJA, Darcy. Teoria Geral do Estado. Globo.
78. LECKERCQ, Abbé J. L’ état ou la politique. Louvain, 1934.
79. MEINVIELL, J. Concepcion católica de la política. B.A, 1941.
80. MARITAIN, J. Cristianismo y democracia. B.A, 1944
81. FRANCA, L. Discurso no jornal do comércio de 26-3-1944
82. PIO XII. A democracia e a Igreja. Revista Idade Nova, 1947.
83. LEÃO XIII. Sobre a democracia cristã. Ed. Vozes, 1946.
84. AUBURTIN, F. Frederico Le Play según él mismo. Madrid, s/d
85. ARON, RAYMOND. La sociologie Allemande contemporaine. Alcan,
1935.
86. BOUGLÉ, C. Bilan de la sociolo. Française contemporaine, Alcan, 1935.
87. TREVES, Renato. Sociologia y filosofia social. B.A, 1941.
88. SOMBRA, S. Formação da Sociologia. Rio de Janeiro, 1941.
89. FARIA, Octávio. Destino do Socialismo. Rio de Janeiro, 1933.
90. ANDRADE, A. Formação da Sociologia brasileira. Rio de Janeiro, 1941.
91. DUCATTILLON, R.P. O comunismo e os cristãos. Rio de Janeiro, 1939.
92. GOMES, Martim. O comunismo e a educação no Brasil. Selba, 1936.
93. LE BON, G. Psicologia del socialismo. Chile, 1937.
94. MARITAIN, J. Humanismo integral. São Paulo, 1941.
95. BERDIAEFF, N. Probléme du comunisme. Paris, 1925.
96. VELOSO, M.J. Comunidade ou comunismo? Agir, 1946.
ANEXO VI: BIBLIOTECA LAUDELINO MEDEIROS
Acervo Universidade de Caxias do Sul
Algumas obras selecionadas
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