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Resposta: Eu falo...eu falo, mas sempre... com medo de me questionarem,
acho que eu sou um pouco... tipo ditador (risos) eu falo as coisa e não
quero ser questionado, tenho medo. Tenho medo de ser questionado...
Quando é pra ter uma idéia, também, eu fico... tipo uma responsabilidade
de ter alguma idéia legal, só que aí não vem a idéia, entendeu, fico
travado.Também tem isso... Mas eu acho a associação legal (Miguel).
Ou no caso de Sofia, ao relatar sua dificuldade em participar do Projeto Culinária
acompanhada somente de usuários, sem a presença de um funcionário do ASM-MC:
Era, tinha que ter uma pessoa que tava normal pra, dirigir nós mesmo,
porque a cabeça num... num, num dava – pelo menos a minha. Eu ficava
muito preocupada e eu ficava, me dava dor de cabeça.(...)
Pergunta: Você fica mais tranqüila, quando tem alguém?
Resposta: É. Eu fico. Porque agora, nesse ano eu senti que você e a D.
chegou mais, junto aqui no bazar pra, ver as coisas, eu senti, que era
melhor, foi melhor, pros paciente. Porque às vezes a gente faz coisas, que
num ta certo e a gente pensa que ta certo. E vocês tando, como pessoal,
normal, vocês já corrige a gente (Sofia).
Percebemos na atuação da Associação “Loucos pela Vida” um esforço na
desconstrução dessa imagem, através de pequenos atos cotidianos de compreensão e
solidariedade, como o citado por Sofia, em que conta a vivência de sua aceitação na
Associação “Loucos pela Vida” apesar de sua limitação em lidar com dinheiro e em
efetuar cálculos:
Aí eu entrei na, na reunião, aí eles perguntaram o que, que eu ia fazer,
mas eu falei, já entrei, que eu não sabia mexer com dinheiro no bazar –
queria me colocar no bazar. Aí eu falei: - Eu não sei mexer com dinheiro.
Eu não sei fazer conta, não sei... contar dinheiro. Aí a C. falou assim: -
Ela, ela pode dobrar as roupa. Aí a C. deu um jeitinho, falou ela pode
dobrar as roupa, eu lembro até hoje. Aí, nisso eu entrei, eu nunca quis ter
responsabilidade de, de assinar ali no, no caderno, assim, que tava...
fazendo as coisa ali, eu nunca quis, com medo de, de sumir as coisa, não
sei, não sei se era de sumir, não sei, eu não queria, ter aquela
responsabilidade. Com o tempo, muitos anos, que surgiu, que eu tive, que
eu entendi as coisa e eu tive vontade de assinar, ali, no caderno. Aí eu
assinei, hoje, hoje eu já venho, assino, e, e, já, já to começando, já to
começando a fazer continha de cabeça. Só, que eu não sei, é conta de, de
calculadora. Mas de cabeça eu to entendendo um pouco, já, já tô
contando, e tô aprendendo, aos poucos. (Sofia)