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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS E TRADUÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGÜÍSTICA APLICADA
CRENÇAS DE UMA PROFESSORA DE LÍNGUA ESTRANGEIRA (INGLÊS) SOBRE
AVALIAÇÃO CONTÍNUA NOS CICLOS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO: UM
ESTUDO DE CASO
BRASÌLIA – DF
2007
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II
JACYMARA PAIVA JUNQUEIRA DE SOUZA
CRENÇAS DE UMA PROFESSORA DE LÍNGUA ESTRANGEIRA (INGLÊS) SOBRE
AVALIAÇÃO CONTÍNUA NOS CICLOS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO: UM
ESTUDO DE CASO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Lingüística Aplicada do Departamento de Línguas
Estrangeiras e Tradução da Universidade de Brasília (UnB),
como requisito parcial à obtenção do título de mestre em
Lingüística Aplicada.
Orientadora: Profa. Dra. Maria Luisa Ortiz Alvarez
BRASÍLIA – DF
2007
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III
BANCA EXAMINADORA
Presidente: Profa. Dra. Maria Luisa Ortiz Alvarez
Universidade de Brasília (UnB)
Examinadora Externa: Profa. Dra. Edleise Mendes Oliveira Santos
Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Examinador Interno: Prof. Dr. José Carlos Paes de Almeida Filho
Universidade de Brasília (UnB)
Suplente: Prof. Dr. Augusto César Luitgards Moura Filho
Universidade de Brasília (UnB)
Brasília-DF, 09 de junho de 2007
IV
Ao meu esposo, Wilmar, e
meus filhos, Gabriela e Wilmar Filho
V
RESUMO
A nossa pesquisa é de tipo qualitativo-interpretativista, configurando-se um estudo de
caso e buscando investigar as crenças de uma professora de LE-Inglês sobre avaliação contínua
nos Ciclos de Desenvolvimento Humano em uma escola municipal de Goiânia. O trabalho
objetivou identificar as crenças da professora participante (PP), observando a influência da
avaliação somativa em sua prática pedagógica. Os instrumentos utilizados na coleta de dados da
investigação foram dispostos em dois grupos: os primários, englobando a narrativa, a entrevista
semi-estruturada e a observação de aulas com notas de campo; e os secundários que envolvem
algumas sessões reflexivas para discussão de textos teóricos sobre avaliação e um questionário
com perguntas abertas para o levantamento da visão dos alunos sobre o modelo avaliativo
utilizado pela participante. Através da análise e interpretação dos dados, classificamos suas
crenças em: crenças sobre ensinar, crenças sobre aprender, crenças sobre formação continuada e
crenças sobre avaliação. Igualmente, descrevemos a prática avaliativa da professora que se
fundamenta em critérios somativos e classificatórios, provavelmente baseados em suas
experiências como aprendiz e educadora. Observamos, ainda, que a avaliação contínua, na
verdade, desenvolve a função de regularidade no modelo formativo de avaliar, não se
enquadrando como um tipo individualizado de avaliação. Por outro lado, encontramos no
discurso da PP indícios de uso da concepção formativa de avaliação, necessitando, todavia, de
aprimoramento teórico, através de textos, discussões e eventos sobre a temática, buscando
promover em sua prática a reflexão-na-ação.
Palavras chaves: crenças de professor; avaliação continua; Ciclos de Desenvolvimento Humano;
reflexão – na - ação
VI
ABSTRACT
Our research is a qualitative-interpretative case study which investigating an English
teacher’s beliefs about on-going evaluation in Human Development Cycle (CDH), in a municipal
school in Goiânia. The aim of the study is to identify the teacher’s beliefs, observing the
influence of the summative evaluation on her pedagogical practice. The investigation
instruments to collect data were divided into two groups: the primary data used narrative, semi -
structured interview and classroom observation with notes; and the secondary data were
reflexive sections to discuss theory about evaluation and an opened-
question questionnaire to get students’ view on the evaluation type used by the teacher. Thus,
through data analysis and interpretation, we classified the teacher’s beliefs into: teaching,
learning, teaching education and evaluation. Moreover, we described the teacher’s evaluation
practice that is based in some classified and summative criteria, probably rooted in her
experience as a student and a teacher. We observed that on-going evaluation is considered a
progressive function of the formative evaluation; indeed, it is not a type itself, but a function of
the formative one. On the other hand, teacher’s speech or discourse is full of formative concepts,
needing to improve her theoretical knowledge through some texts, discussions and participate in
different events from the area, and provoking her reflexion-in-action.
Key words: teacher’s beliefs; on-going evaluation; Human Developing Cycles; reflection-in-
action
VII
SUMÁRIO
CAPÍTULO I - A PESQUISA E A SUA RELEVÂNCIA..........................................................1
1.1
I
NTRODUÇÃO
.........................................................................................................................1
1.2
J
USTIFICATIVA
......................................................................................................................3
1.3
P
ROBLEMA E RELEVÂNCIA DO TEMA
....................................................................................5
1.4
O
BJETIVOS E PERGUNTAS DA
P
ESQUISA
...............................................................................6
1.5.
M
ETODOLOGIA DA PESQUISA
...............................................................................................8
1.5.1 Introdução...............................................................................................................8
1.5.2 Histórico da pesquisa qualitativo-interpretativista .................................................8
1.5.2.1 Definição do conceito de pesquisa qualitativo-interpretativista........................10
1.5.2.2 Tipos de Pesquisa qualitativa ............................................................................13
1.5.3 Natureza da pesquisa ............................................................................................15
1.5.4 Metodologia de pesquisa das crenças ...................................................................18
1.5.4.1 Abordagens de investigação das crenças...........................................................18
1.5.4.2 Abordagem adotada na pesquisa .......................................................................20
1.5.5 Coleta de dados.....................................................................................................21
1.5.5.1 Os instrumentos de coleta de dados...................................................................22
1.5.5.2 Os procedimentos de pesquisa...........................................................................29
1.5.6 O contexto da pesquisa .........................................................................................31
1.5.7 Participante da pesquisa........................................................................................33
1.6
O
RGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
.......................................................................................34
CAPÍTULO II - CRENÇAS SOBRE AVALIAÇÃO CONTÍNUA NOS CICLOS DE
DESENVOLVIMENTO....................................................................................36
2.1
I
NTRODUÇÃO
.......................................................................................................................36
2.2
O
TERMO CRENÇAS E SUAS DIVERSAS DEFINIÇÕES
............................................................38
2.2.1 Elaboração de um conceito...................................................................................38
2.2.2 Contexto, crenças e ações.....................................................................................45
2.2.3 Crenças sobre o ensino e aprendizagem de línguas..............................................48
2.2.3.1 Culturas/Crenças (Abordagens) de aprender e de ensinar.................................50
2.2.3.2 Crenças sobre avaliação
.....................................................................................................................
54
2.3
A
VALIAÇÃO NOS CICLOS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO
...............................................56
2.3.1 Avaliação e escola: um binômio perfeito .............................................................57
2.3.2 Avaliação: um panorama histórico .......................................................................59
2.3.2.1 O princípio do castigo: a avaliação jesuíta ....................................................61
2.3.2.2 A Legitimação da tortura: avaliação no período burguês..............................63
2.3.2.3 Um processo de libertação: a revolução da avaliação ...................................64
2.3.2.4 A democratização da educação: re-pensando a avaliação.............................65
2.3.2.4.1 LDB e avaliação .....................................................................................70
2.3.2.4.2 PCNs e avaliação....................................................................................75
2.3.3 Concepções de avaliação ......................................................................................80
2.3.4 Tipos de avaliação ................................................................................................88
2.3.41 Avaliação somativa ou tradicional .................................................................89
2.3.4.2 Avaliação formativa ......................................................................................92
VIII
2.3.5 Modelos alternativos de avaliação (fichas e tabelas)............................................95
2.4
O
S CICLOS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO
.....................................................................96
2.4.1 A Implantação dos Ciclos de Formação no Brasil e a avaliação..........................97
2.4.2 Os Ciclos de Desenvolvimento Humano em Goiânia e a avaliação...................100
2.5
A
REFLEXÃO SOBRE O ATO DE AVALIAR
...........................................................................107
CAPÍTULO III - ANÁLISE, DISCUSSÃO E INTERPRETAÇÃO DE DADOS .................109
3.1
I
NTRODUÇÃO
.....................................................................................................................109
3.2
A
VISÃO DOS ALUNOS COM RELAÇÃO À AVALIAÇÃO
........................................................110
3.2.1 Conceito de avaliação ........................................................................................111
3.2.2 Tipos mais conhecidos de avaliação ..................................................................114
3.2.3 Sugestões de avaliação .......................................................................................117
3.3
I
DENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DAS CRENÇAS SOBRE ENSINO
-
APRENDIZAGEM DE LÍNGUA
ESTRANGEIRA
(LE)
E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
....................................................120
3.3.1 Crenças sobre o ensino de LE ............................................................................120
3.3.2 Crenças sobre a aprendizagem de LE ................................................................125
3.3.3 Crenças sobre formação continuada de professor.............................................130
3.4
D
ESCRIÇÃO DO TIPO DE AVALIAÇÃO UTILIZADA PELA PROFESSORA PARTICIPANTE
.....131
3.5
C
RENÇAS SOBRE AVALIAÇÃO OBSERVADAS NO COTIDIANO DA PROFESSORA PARTICIPANTE
........................................................................................................................................137
3.5.1 Crenças de que avaliar é aplicar prova / teste escrito.......................................137
3.5.2 Crença de que só a nota avalia ..........................................................................138
3.5.3 Crença no uso da avaliação como instrumento punitivo.....................................139
3.5.4 Crença de que a avaliação tradicional é a 'natural'...........................................140
3.6
R
ELATÓRIO DAS SESSÕES REFLEXIVAS SOBRE TEXTOS TEÓRICOS
(
PRÁTICA PEDAGÓGICA E
AVALIAÇÃO
)...................................................................................................................141
C
ONSIDERAÇÕES FINAIS
.........................................................................................................144
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................148
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ......................................................................................160
ANEXOS............. ...................................................................................................................162
ANEXO
1................................................................................................................................162
ANEXOS
2..............................................................................................................................165
ANEXOS
3..............................................................................................................................170
ANEXOS
4..............................................................................................................................187
ANEXOS
5..............................................................................................................................188
ANEXOS
6..............................................................................................................................190
ANEXOS
7..............................................................................................................................195
ANEXOS
8..............................................................................................................................196
ANEXOS
9..............................................................................................................................198
ANEXOS
10............................................................................................................................199
IX
“[...] beliefs not only change over time,
but may be expressed differently in
different situations.”
(Furhan, 1988)
X
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ser a razão de o meu existir, concedendo-me a graça de finalizar o curso.
Ao meu esposo, Wilmar, meu amor e agradecimentos pelo companheirismo e apoio, pela
compreensão e ajuda nos momentos mais difíceis.
Aos meus filhos, Gabriela e Wilmar Filho, pelo incentivo e ajuda, compreendendo os momentos
de ausência.
Aos meus pais, Getúlio e Maria de Lourdes, e meus irmãos, Sandra e Neivandson, por terem
acreditado em mim desde o início dos meus estudos.
Às minhas amigas Suzy Mara Gomes e Myrian Lacerda pela solidificação da amizade,
colaboração nos estudos e companheirismo nas viagens para Brasília.
À Profª Drª Maria Luisa Ortiz Alvarez, minha orientadora, pela sua grandeza de alma,
competência intelectual, parceria na construção do trabalho, humanidade e compreensão diante
dos meus limites e desânimos, motivando-me a continuar e crescer, segurando minha mão e
olhando além das possibilidades humanas.
À Profª Drª Rosane Rocha Pessoa, por me encaminhar na reflexão crítica e orientar no
dialogismo textual.
À Maria Natércia Alencar, pelas leituras, discussões e sugestões para melhorar o meu trabalho,
ao Martin Pavilik pelo apoio técnico e ajuda com o uso da informática e à Karla Avanço, pelas
correções do texto e compreensão pelo prazo exíguo.
A todos os professores do Programa de Mestrado em Lingüística Aplicada que deixaram
plantadas as sementes do saber em nosso ser e serão perpetuados em nossos corações.
Aos meus colegas de trabalho da escola municipal, pela compreensão diante das dificuldades
enfrentadas.
À professora participante da nossa pesquisa, por ter aberto as portas da sua sala de aula e
compartilhado os momentos mais íntimos de sua prática pedagógica.
Aos meus colegas de curso, pelos momentos gratificantes, nos quais dividimos angústias e
alegrias.
XI
LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Lista de figuras
Figura 1: Concepção de crenças. ..............................................................................................45
Figura 2: Modelo Ampliado da Operação Global do ensino de língua.....................................52
Figura 3: Concepções de avaliação............................................................................................86
Figura 4: Avaliação somativa no desenvolvimento escolar.......................................................92
Lista de quadros
Quadro 1: Distinção entre as perspectivas quantitativa e qualitativa de pesquisa.....................11
Quadro 2: Síntese comparativa das abordagens positivista e interpretativista..........................12
Quadro 3: Abordagem de investigação de crenças....................................................................20
Quadro 4: Classificação da observação.....................................................................................26
Quadro 5: Desenho dos instrumentos usados na coleta de dados.............................................29
Quadro 6: Termos variados usados para designar crenças........................................................40
Quadro 7: Definições de crenças e seus autores.......................................................................43
Quadro 8: Marco teórico dos trabalhos desenvolvidos sobre crenças de ensino e aprendizagem
de línguas...................................................................................................................................49
Quadro 9: A organização do ensino nas disposições da LDB...................................................75
Quadro 10: Estrutura dos PCNs para o Ensino Fundamental....................................................80
Quadro 11: Uma nova visão dos tipos de avaliação.................................................................96
Quadro 12: Orientações para o registro do desenvolvimento dos alunos................................105
Quadro 13: Modelos de avaliação sugeridos pelos alunos: quadro comparativo....................119
Lista de gráficos
Gráfico 1: Conceito de avaliação............................................................................................113
XII
Lista de abreviaturas
AbC – Abordagem Comunicativa
AC – Abordagem Contextual
AF – Avaliação Formativa
AG – Abordagem Gramatical
AM – Abordagem Metacognitiva
AN – Abordagem Normativa
AS – Avaliação Somativa
AvC – Avaliação Contínua
BAK - Belifs, Assumption and Knowledge (Crenças – Pressupostos – Conhecimento)
BALLI – Beliefs About Language Learning Inventory
CDH – Ciclos de Desenvolvimento Humano
CRESAL – Crenças sobre Aprendizagem de Línguas
EAJA – Educação para Adolescentes, Jovens e Adultos
FLAS – Foreing Language Aptitude Survey
LA – Lingüística Aplicada
LDB – Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional
LE – Língua Estrangeira
P - Pesquisadora
PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais
PP – Professora Participante
QUALE – Questionário para Levantamento de Atitudes para com uma Língua Estrangeira
RME – Rede Municipal de Educação
SME – Secretaria Municipal de Educação
ZDP – Zona de Desenvolvimento Proximal
Convenções utilizadas para as transcrições
(...) - Corte em trecho de registro
... - Pausa
Eh - Hesitação
[ ] - Palavra acrescentada pela pesquisadora
A - Aluno
1
CAPÍTULO I
A PESQUISA E A SUA RELEVÂNCIA
(...) não é o meu propósito ensinar aqui o método que cada indivíduo deveria
seguir para bem conduzir a sua razão, mas apenas mostrar de que maneira
procurei guiar a minha.
(Descartes, 1ª ed. 1637/ ed. atual 2003, p.22)
1.1 Introdução
Para Paulo Freire (2006), o homem é quem constrói a sua história, uma história
compartilhada com outras e reconstruídas em outras. Pensando no processo de ensino-
aprendizagem, percebemos que a afirmação cabe perfeitamente nesse contexto, pois o aprender e
o ensinar se constroem no cotidiano do professor e do aluno, permeados por outras experiências,
provocando e sofrendo alterações através do contato com outras histórias.
Entendemos, então, que aluno e professor deveriam ser companheiros na longa caminhada
rumo ao conhecimento; todavia, observamos que, muitas vezes, eles transformam a sala de aula
em um campo de batalha, onde o mais forte, possivelmente o professor, usa o seu arsenal técnico
(conteúdos, autoridade, avaliação) contra o seu inimigo para impor (ou resguardar) o seu lugar no
ciclo educacional. Por outro lado, o aluno (considerado o lado mais fraco) se prepara para o
ataque, usando os recursos disponíveis: o mau comportamento, a indisciplina, a falta de respeito e
de interesse, a avaliação da prática do professor.
Olhando a trajetória da educação, percebemos que não foi essa a história que os nossos
antepassados desenharam ao longo de um processo de lutas, perdas e ganhos. Piaget não
classificou o desenvolvimento da criança em fases de aprendizagem para que o aluno que não se
encaixasse fosse excluído; Vygotsky não desenvolveu a Zona de Desenvolvimento Proximal
(ZDP) para que o adulto fizesse o trabalho da criança, mas para que ambos aprendessem
2
compartilhando os conhecimentos; Paulo Freire não dispensou o uso dos conteúdos na escola,
contudo orientou a sua utilização de forma significativa para os alunos; assim também, as
experiências do professor não negam a necessidade do conhecimento teórico, porém explicam a
origem das crenças que direcionam suas ações; ainda, a avaliação não deve ser um instrumento
de punição, todavia uma maneira de diagnosticar as dificuldades e descobrir soluções e
estratégias para diminuir as angústias dos educandos, além de dinamizar a prática pedagógica do
educador; os ciclos de desenvolvimento não vieram para desestruturar o sistema escolar,
entretanto buscaram equalizar as injustiças, oportunizando o crescimento integral do aluno junto
com os seus pares; e a reflexão não é mais trabalho para o professor, mas um momento de
consciência do educador sobre o trabalho desenvolvido.
Assim, a nossa pesquisa nasceu dessas inquietações educacionais e, em especial, sobre o
uso da avaliação contínua nos ciclos de desenvolvimento humano na Rede Municipal de
Educação (RME) de Goiânia. Observando a utilização dos critérios somativos em uma avaliação
formativa, decidimos investigar como as crenças de uma professora de LE-Inglês sobre avaliação
somativa poderiam interferir no seu ato de avaliar, moldado por paradigmas formativos. Desse
modo, a pesquisa foi realizada em uma escola municipal onde a professora participante
(doravante PP) atuava, com
alunos do Ciclo II (equivalente às 3ª, e 5ª séries do sistema
seriado).
Nas últimas décadas, o conceito de crenças ganhou espaço no cenário mundial, sendo
amplamente utilizado no campo da Lingüística Aplicada, a fim de explicar as questões que
envolvem o dizer e o fazer no processo de aprender e ensinar. Segundo Barcelos (2001, p. 73), as
crenças “são idéias, opiniões e pressupostos que alunos e professore têm a respeito dos processos
de ensino-aprendizagem de línguas e que são formulados a partir de suas próprias experiências” e
Ortiz Alvarez (2007, p. 9, no prelo) argumenta que a crença é “uma firme convicção, opinião
e/ou idéia que tem o individuo com relação a algo, com base nas experiências vivenciadas e
construídas socialmente”. Baseados nas autoras mencionadas e outros pesquisadores
apresentados no capítulo da fundamentação teórica, formulamos o nosso conceito de crenças, o
qual usaremos para identificação das crenças da PP.
3
Outrossim, apresentamos um histórico da avaliação, tentando mostrar os caminhos
tomados pelo uso indevido da ação avaliativa, a compreensão do ato avaliativo na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional e nos Parâmetros Curriculares Nacionais, além da
classificação elaborada por Romão (2002, p. 61), o qual agrupa os tipos de avaliação em duas
grandes concepções, encaixando-os segundo padrões tradicionais ou progressistas. Com base em
autores diversos, elaboramos um conceito formativo de avaliação e sugerimos utilizar o termo
funções avaliativas no lugar de tipos, a saber: função diagnóstica, função dialógica, função
contínua e função certificativa. Introduzimos também uma visão geral do desenvolvimento dos
ciclos de formação no Brasil e o atual funcionamento desse sistema em Goiânia. Enfocamos o
conceito de reflexão-na-ação (Shön, 2000) na tentativa de provocar o processo reflexivo da PP,
evidenciado em algumas sessões reflexivas. E, ainda, selecionamos alguns modelos de fichas
para registro avaliativo do educando, os quais podem ser adaptados em qualquer língua.
Para realização da pesquisa, utilizamos o estudo de caso como o tipo indicado na pesquisa
qualitativo-interpretativista de um fenômeno observável, investigando uma única participante.
Para o levantamento dos dados, escolhemos instrumentos que ressaltassem a voz da participante e
valorizassem a sua opinião sobre o tema em questão, a saber: narrativa, entrevista com questões
abertas, observação de aulas com notas de campo, sessões reflexivas e questionário aplicado entre
os alunos. Assim, a nossa pesquisa objetivou identificar as crenças de uma professora de LE-
Inglês sobre avaliação contínua nos ciclos de desenvolvimento humano, mostrando como essas
crenças podem influenciar a sua prática pedagógica. Entendemos que o tema é de extrema
relevância para a construção de um processo de ensino-aprendizagem compartilhado e reflexivo.
Sendo assim, procuramos saber qual o conceito de avaliação usado pela PP, a interferência das
crenças sobre avaliação somativa na aplicação da formativa, bem como o seu conceito de
avaliação contínua.
1.2 Justificativa
A escolha do tema avaliação foi determinada pela nossa experiência como professora de
Língua Estrangeira (doravante LE) Inglês na Rede Municipal de ensino da cidade de Goiânia
GO. Foi assim que, em 2003, assumindo uma sala de aula em uma escola do município de
4
Goiânia, entramos em contato com a chamada educação através dos Ciclos de Desenvolvimento
Humano, atuando no ciclo II (período que compreende crianças com idade entre 9 e 11 anos).
Não fazendo idéia de qual era o trabalho realizado nos Ciclos, começamos, então, a fazer
perguntas sobre o assunto, discutindo-o com a coordenação e colegas de escola. Logo, porém,
descobrimos que pouco se sabia sobre esse tema, mesmo sendo ele um projeto educacional
adotado na rede municipal desde 1998.
Iniciamos, então, uma pesquisa mais detalhada, buscando informações que apresentassem
possíveis respostas para as indagações levantadas, encontrando, tão somente, algumas
informações preliminares. No material adquirido, faltava-nos orientação especializada sobre os
principais pensadores de um modelo teórico (o sistema de ciclos) que revolucionara o ensino
fundamental em Goiânia, pelo menos em nível municipal; outrossim, os textos não mencionavam
a linha de pesquisa seguida: se francesa, espanhola, italiana, inglesa
1
ou de outro país que o
usasse. Mesmo obtendo um conteúdo pouco significativo em nossas investigações sobre o tema,
fomos convidados pela coordenadora para fazer uma palestra em uma das reuniões pedagógicas
do grupo. Após a discussão do assunto, surgiram novos questionamentos, desta vez sobre o
processo avaliativo que era realizado dentro dos Ciclos.
Sabíamos que nessa modalidade de ensino o tipo de avaliação adotada era a contínua;
entretanto, o que se observava era a utilização de um ato avaliativo classificatório, seletivo e
excludente, ou seja, a manutenção da avaliação tradicional. Em linhas gerais, a avaliação
contínua era compreendida como a não utilização de notas, provas, testes, não havendo, pois,
reprovação, e a anuência entre os docentes de que o aluno deveria ser avaliado todos os dias.
Percebeu-se, assim, que os professores realmente não aplicavam testes, mas, lamentavelmente,
rotulavam os alunos através de conceitos (fraco, bom, ótimo), continuando com o processo de
avaliação como um julgamento de valor.
Dessa forma, decidimos investigar o processo avaliativo nos Ciclos de Desenvolvimento
Humano em uma escola da rede municipal de ensino da cidade de Goiânia-GO, começando pelas
crenças de uma professora de LE-Inglês sobre a temática. A escolha desse tema se deu por
1
É interessante destacar que diversos países experimentam ou experimentaram o sistema de ciclos como um
recurso alternativo de melhor a educação básica, dentre eles estão a França e a Inglaterra.
5
entendermos, em primeiro lugar, que os professores de LE-Inglês na escola pública municipal
baseiam suas ações avaliativas na crença de que é preciso mensurar o desempenho ou
desenvolvimento cognitivo do aluno; e, segundo, eles estabelecem seus parâmetros de avaliação
contínua na experiência pessoal da avaliação tradicional, ou somativa, ocorrendo, na verdade,
apenas a mudança de nomenclatura e não de conceitos. Assim, compreendemos a necessidade de
trabalhar as crenças sobre avaliação contínua por se tratar das convicções próprias da professora,
da sua maneira de ensinar e aprender línguas, das teorias e abordagens aprendidas e utilizadas ao
longo da construção de sua identidade docente. Nesse sentido, esta pesquisa procurou identificar
as crenças da professora, estudar os conceitos teóricos da avaliação contínua, procurando discuti-
los em sessões reflexivas, observando-os em sua prática pedagógica.
1.3 Problema e relevância do tema
Um trabalho científico, normalmente, se desenvolve quando determinado assunto começa
a incomodar o pesquisador / professor. Sendo assim, este estudo também nasceu das nossas
preocupações com a complexidade que envolve o ato de avaliar no processo de ensino /
aprendizagem e, mais especificamente, sobre as crenças que envolvem a ação avaliativa do
professor.
Note-se que o número de pesquisas em avaliação é enorme, haja vista a grande quantidade
de publicações sobre o tema (Demo,2002; Hadji, 2001; Hoffmann, 2003 / 2006; Luckesi, 2005;
Perrenoud, 1999; Rabelo ,1998; apenas citando alguns autores), fato, pois, que vem confirmar as
dificuldades, divergências e controvérsias suscitadas em debates e discussões em eventos
educacionais.
Outro aspecto importante, e não menos complexo, é a possibilidade de professores e
alunos participarem da ação avaliativa como partes integrantes e imprescindíveis na construção
desse processo. Complexo, porque estamos falando de conhecimento, aprendizagem e aquisição
de ngua, aspectos imensuráveis no ser humano, isto é, que não podem ser medidos; e
imprescindível, porque são o professor e o aluno que fazem a avaliação, compreendem como foi
desenvolvida durante um período de trabalho, estando envolvidos diretamente na prática de
6
avaliar, conhecendo os seus critérios, as suas condições e os fatores observáveis e relevantes.
Por outro lado, as pesquisas em Lingüística Aplicada sobre crenças, de professores e
alunos, têm crescido bastante nos últimos anos e muitos trabalhos têm surgido, sejam em formato
de artigos e livros (Barcelos, 1995; 2000; 2004; Félix, 2004; Silva, 2004; Barcelos e Vieira-
Abrahão, 2006; etc.), sejam dissertações de mestrado (Barcelos, 1995; Belam; Silva, 2004; Silva,
2006) e teses de doutorado (Barcelos, 2000; Conceição, 2004, dentre outras). Entretanto,
investigar as crenças é tão amplo e necessário como investigar avaliação. Amplo, porque
procuramos lidar com aspectos extremamente subjetivos da prática de sala de aula, com o intuito
de levar o professor a fazer uma reflexão aprofundada do trabalho pedagógico que desenvolve; e
necessário, porque a partir desse olhar interior do professor sobre as maneiras de aprender,
ensinar e, gostaríamos de incluir aqui, avaliar, ele pode compreender, diagnosticar e, por que não
dizer, orientar os seus aprendentes a descobrir as particularidades da aprendizagem de cada um.
Sendo assim, é relevante reunir em um mesmo trabalho os dois temas, porque, através da
compreensão de suas próprias crenças sobre avaliação, os educadores podem tentar equalizar a
diferença existente entre as visões do professor e do aluno sobre o processo de ensino-
aprendizagem. Além disso, ambos devem procurar caminhos alternativos para a realização de
uma avaliação justa e participativa.
1.4 Objetivos e perguntas da Pesquisa
Inicialmente, o objetivo maior deste trabalho era conhecer melhor a avaliação contínua
praticada nos Ciclos de Desenvolvimento Humano e a ação pedagógica da professora de LE-
Inglês na realização do processo avaliativo dos alunos do Ciclo II, na prefeitura de Goiânia. À
medida que a pesquisa foi tomando corpo, novos direcionamentos foram aparecendo e outros
objetivos se redefinindo. Dessa maneira, o nosso estudo apresenta objetivos geral e específicos,
os quais serão descritos a seguir:
1. Objetivo Geral
- Conhecer as crenças de uma professora de LE-Inglês sobre avaliação contínua nos
7
Ciclos de Desenvolvimento Humano, observando a relação entre crenças e prática pedagógica.
2. Objetivos Específicos
- Levantar as crenças da participante sobre avaliação contínua;
- Observar a relação entre o discurso e a ação pedagógica da professora e se essas crenças
influenciam o seu fazer em sala de aula, promovendo a reflexão dos seus atos pedagógicos.
É certo que esses objetivos não cobrem toda a problemática que envolve a pesquisa de
crenças sobre avaliação e que, talvez, os possíveis resultados observáveis não sejam aqueles
idealizados por nós. Todavia, é bom lembrar que, sendo as crenças um suporte para explicar "por
que ensino como ensino, por que ensino nguas assim e por que meus alunos aprendem como
aprendem" (Almeida Filho,1997, p. 13), o fato de se estabelecer uma discussão e reflexão sobre o
dizer e o fazer do professor abre caminhos para a melhoria do ensino, finalidade primeira de
uma educação consciente.
Estabelecer um elo explicativo entre temas distintos torna a nossa investigação um desafio
ainda maior. Entretanto, considerando que crenças e avaliação são aspectos inter-relacionados no
processo de aprendizagem, procuramos conduzir a pesquisa com a finalidade de identificar o
efeito das crenças na compreensão do uso da avaliação contínua.
Com base nos objetivos da pesquisa, apresentamos a seguir as perguntas que nortearam
este estudo:
a) Quais as concepções de avaliação observadas na prática pedagógica da professora
participante da pesquisa?
b) Como as crenças da professora de LE (inglês) sobre avaliação somativa interferem nas
crenças sobre avaliação contínua?
c) Quais as crenças da professora sobre avaliação contínua nos Ciclos de Desenvolvimento
Humano?
8
1.5. Metodologia da pesquisa
1.5.1 Introdução
Entre os séculos XVII e XVIII surgiu a corrente filosófica denominada Iluminismo’ e
com ela a necessidade de se encontrar explicações para os problemas humanos (Bello, 2004).
Baseando-se nessas mudanças, o filósofo francês René Descartes (1ª ed. 1637 / ed. atual 2003)
elaborou o método científico como uma tentativa de organizar o pensamento para produção do
conhecimento. Posteriormente, considerou-se inaceitável falar em investigação científica sem
uma fundamentação metodológica.
Nesse sentido, a metodologia (a qual se refere à elaboração, desenvolvimento e
organização, tanto externa quanto interna, da pesquisa) tornou-se parte importante de um trabalho
científico. Ela também fornece uma compreensão mais acurada dos recursos utilizados pelo
pesquisador na obtenção dos resultados (Fragata, 1981, p.13). Assim sendo, este capítulo
apresenta a metodologia de nossa pesquisa e as partes que a compõem.
O estudo se divide em cinco partes: a primeira propõe um histórico sobre a evolução da
pesquisa qualitativo-interpretativista e os seus tipos; a segunda define a natureza da investigação,
particularizando o estudo de caso; a terceira descreve o contexto da pesquisa e o sujeito
participante; a quarta explicita os instrumental cnico utilizado para coleta dos dados e o porquê
da escolha desses instrumentos; e, finalmente, a quinta destaca os procedimentos usados na
análise dos dados obtidos.
1.5.2 Histórico da pesquisa qualitativo-interpretativista
No final do culo XIX, a comunidade científica colocou em xeque as investigações ditas
quantitativas, argumentando sobre a complexidade e dinamicidade dos fenômenos humanos e
sociais e admitindo, portanto, que não se podia, simplesmente, enquadrá-los em leis gerais ou
apenas quantificá-los (André, 1995). Com base nesses princípios, começou-se a usar a
9
hermenêutica, ou seja, a interpretação dos significados como abordagem
2
metodológica na
investigação dos problemas sociais, observando o contexto e as suas inter-relações (op.cit.).
A partir daí, essas idéias transformaram-se numa perspectiva idealista-subjetivista,
opondo-se à concepção positivista de conhecimento científico que valorizava a mensuração na
pesquisa. Esse mesmo positivismo não negava a importância dos significados; entretanto, tratava-
os como realidade incapaz de ser abordada cientificamente (Landim, 2006). Isso provocou uma
discussão mais ampla entre o paradigma quantitativo e o qualitativo no trabalho científico,
entretanto essas concepções foram incorporadas às discussões na área de educação por volta
da década de 1960 (André, 1995, p.170).
Nesse período, deflagraram-se os movimentos sociais, a luta contra a discriminação racial
e pela a igualdade de direitos, as rebeliões estudantis na França e o uso da abordagem
antropológica e etnográfica na investigação do cotidiano escolar. Com esse modelo de
investigação, os pesquisadores buscavam priorizar a voz de todos os participantes, mesmo a dos
menos favorecidos, atitude que privilegiava as idéias de democracia surgidas no cenário mundial.
Assim, na década seguinte, essas idéias revolucionárias de mudança sócio-político-cultural
surgiram com mais vigor, provocando o aparecimento de estudos (principalmente nos Estados
Unidos e na Inglaterra) e pesquisas utilizando a abordagem qualitativa, com destaque especial
para os estudos de caso (André, 1995, p.21).
Com a evolução dos estudos qualitativos, surgiram grupos de pesquisadores que
defendiam pressupostos diferenciados na utilização dos todos, procedimentos, estilos e
conteúdos. Dessa maneira, grupos variados de autores e pesquisadores buscaram desenvolver
trabalhos em linhas que divergiam dessas raízes fenomenológicas da abordagem qualitativa,
mantendo-se, entretanto, a sua oposição à quantificação positivista. Dentre eles, destacam-se aqui
o grupo que associava os pressupostos da teoria crítica aos estudos de natureza etnográfica e
aqueles que desenvolviam investigações sob influência da linha cognitivista-interacionista-
construtivista (op. cit.).
2
Entenda-se aqui abordagem como linha ou foco.
10
1.5.2.1 Definição do conceito de pesquisa qualitativo-interpretativista
A partir dos anos 80 e com a expansão mundial da abordagem qualitativa, os educadores
brasileiros passaram a usá-la freqüentemente em suas pesquisas, provocando a necessidade de
uma definição mais apropriada para o termo e as suas conseqüentes subdivisões. Sendo assim,
muitos pesquisadores consideravam que só era qualitativa a pesquisa fenomenológica, ou a
etnográfica, ou a que não utilizava números (André, 1995, p. 23). Note-se que não é só separando
o quantitativo do qualitativo que se obtém uma pesquisa qualitativa. É bom salientar que muitas
pesquisas qualitativas usam dados quantificáveis, embora suas análises tragam marcas da
subjetividade próprias da abordagem qualitativa.
Por esses motivos, quando se trata de encontrar um conceito mais adequado para a
pesquisa qualitativa, André (1995, p.24) prefere termos como: histórica, descritiva, participante,
etnográfica, fenomenológica, etc., nomeando de qualitativo ou quantitativo as técnicas de coleta
ou o tipo de dado obtido. Nesse sentido, Allwright & Bailey (2000, p.65) enfatizam a idéia de
que os termos ‘qualitativo’ e ‘quantitativo’ são aplicados tanto para as fases de coleta quanto para
análise de dados de uma investigação.
Pensando nessa distinção entre as perspectivas quantitativa e qualitativa de pesquisa,
Almeida Filho (2005)
3
elaborou um quadro representativo com as características dos dois
modelos:
3
O material do quadro representativo foi elaborado pelo autor e utilizado numa sala de aula do curso de mestrado
em Lingüística Aplicada da UnB, em 2005.
11
Quadro 1: Distinção entre as perspectivas quantitativa e qualitativa de pesquisa
QUANTITATIVA QUALITATIVA
Particularista; busca detalhes para categorizá-los Globalista; holista; lida com dados singulares
Centrado no produto; nos resultados Centrado no processo
Distância dos dados; visão-ética (de fora) Proximidade aos dados; visão-êmica (de dentro)
Poder de generalização; estudo de múltiplos casos Sem poder de generalização; estudo de casos únicos
Objetividade Subjetividade controlada
Positivismo lógico; busca fatos ou causas para
fenômenos sociais pouco se atendo a estados
subjetivos dos sujeitos
Fenomenologismo: busca compreender/interpretar o
comportamento humano a partir de um quadro interno
de referências do sujeito
Não fundado na realidade; voltado para a verificação
confirmatória; reducionista, inferencial e hipotético-
dedutiva
Fundado na realidade; voltado para a heurística
(descoberta); exploratório; descritivo e indutivo
Pressupõe realidade estável Conta com realidade dinâmica
Confiável; “duro” e replicável quanto aos dados Válido; “real”; “rico” e “profundo” nas interpretações
Métodos testadores de hipóteses (busca o certo x
errado; verdadeiro x falso)
Métodos fortalecedores de hipóteses
Mensuração interventiva e controlada Observação natural e com controle (com filtros) da
subjetividade através do cotejo de dados de mais de uma
fonte
Fonte: Almeida Filho (2005)
Observando o quadro 1, percebemos que as distinções elaboradas pelo autor não tornam
as perspectivas boas ou ruins, certas ou erradas, tradicionais ou inovadoras. As características
apresentadas facilitam a identificação do tipo de abordagem indicado para cada investigação. É
importante destacar, ainda, que a natureza da pesquisa deve direcionar o pesquisador na seleção
do tipo de tendência mais adequada à coleta e análise dos dados do estudo.
Ampliando a discussão, em seu livro Qualitative Methods (1990, pp. 78-79), Erickson
utiliza o termo “interpretativista” para todo o grupo de pesquisa de observação participante
(participant observational research), apresentando algumas razões para essa generalização: a) esse
termo é mais indutivo; b) ele evita o uso da definição ‘não-quantitativo’ para representar o
aspecto qualitativo da pesquisa; e c) aponta para sua característica principal o interesse central
da pesquisa está na questão social, na sua elucidação e exposição pelo pesquisador. É, pois,
preocupação fundamental do investigador qualitativo a construção de significados através das
suas interpretações dos dados analisados.
12
Ainda segundo o autor, duas abordagens principais na pesquisa em sala de aula: a
positivista / behaviorista (interessa-se pelos procedimentos) e a interpretativista (preocupa-se com
o conteúdo). Seguindo a linha interpretativista, a pesquisa em sala de aula tem um papel
significativo em educação e isso se deve a suas preocupações centrais: a) a natureza social e
cultural da sala de aula organizada em ambientes para aprendizagem; b) a natureza do ensino
como um, e um, aspecto do ambiente de aprendizagem reflexiva, e c) a natureza (e conteúdo)
do significado intrínseco da perspectiva de professores e aprendizes no processo educacional
(Erickson, 1990, p.79).
Corroborando com essa concepção de pesquisa qualitativo-interpretativista, Moita Lopes
(1994) escreveu um artigo que apresentava o uso desse tipo de investigação na Lingüística
Aplicada (doravante LA), chamando-o de tradição inovadora, em oposição à tradição positivista.
Assim, o autor elaborou uma comparação entre essas tendências sintetizadas no quadro a seguir.
Quadro 2: Síntese comparativa das abordagens positivista e interpretativista
CIÊNCIAS HUMANAS
Ciências Naturais
(Abordagem Positivista)
Ciências Sociais
(Abordagem Interpretativista)
1. Saber científico = verdade científica 1. Ciência = interpretação e re-interpretação
2. Mundo social existe independentemente do
homem
2. O homem constrói os significados do mundo
social
3. O mundo social é padronizado e
estatisticamente generalizado
3. O mundo social é construído através da
linguagem e pela multiplicidade de significados
4. A objetividade dos fatos sociais não
representa a realidade natural – foco no produto
4. A subjetividade ou intersubjetividade – os
significados são construídos a partir da
interação social, aproximando o homem da
realidade – foco no processo
5. O fato é estudado através da observação
direta e experiência pessoal
5. Observação indireta do fato e interpretação
dos vários significados
Fonte: Baseado em Moita Lopes (1994)
O quadro 2 evidencia o caráter impositivo da abordagem positivista, a qual prioriza a
ciência como verdade inquestionável, além da utilização da observação direta como garantia de
fidedignidade da pesquisa. Por sua vez, a abordagem interpretativista trabalha com a
possibilidade de multi-significação dos fatos sociais, construídos dinamicamente pelos
indivíduos.
13
Observando as idéias do autor, entendemos que a investigação em LA segue a linha das
Ciências Sociais, pois ela “tem que dar conta da pluralidade de vozes em ação no mundo social e
considerar que isso envolve questões relativas a poder, ideologia, história e subjetividade” (Moita
Lopes, 1994, p.331). Sendo assim, uma pesquisa interpretativista não pode ignorar a visão dos
participantes do mundo social, o qual depende do homem para existir. Nesse sentido,
entendemos que o nosso estudo segue a linha qualitativo-interpretativista de pesquisa em LA,
buscando a compreensão dos significados da ação de um sujeito (nesse caso, a professora-
participante), em um determinado contexto escolar, tentando entender sua realidade pedagógica e
as implicações de suas crenças sobre avaliação contínua nos ciclos de desenvolvimento.
Depois de discorrer sobre o desenvolvimento histórico da pesquisa qualitativa,
apresentaremos alguns dos modelos de investigação mais comumente usados em LA.
1.5.2.2 Tipos de Pesquisa qualitativa
Os estudos sobre a abordagem qualitativa proporcionaram o surgimento de tipos
diferentes de pesquisas que utilizavam os mesmos pressupostos teóricos: a interpretação, a
subjetividade, o contexto, a interação entre sujeito e ambiente pesquisado, apenas para citar
alguns deles. Assim, selecionamos alguns modelos considerados mais comuns em pesquisas
qualitativas e apresentamos uma descrição sucinta deles, a saber:
a) A pesquisa etnográfica
nasceu na antropologia e sociologia, buscando estudar a cultura e a
sociedade, significando, etimologicamente, “descrição cultural”. Em LA, a etnografia tem sido
utilizada nas investigações em sala de aula, focalizando o processo de ensino/aprendizagem de
línguas (Moita Lopes, 1994, p.334). Os instrumentos de coleta utilizados visam informações
sobre a prática cotidiana (diários, entrevistas, questionários, gravação de vídeo e áudio, etc.), a
análise de dados, seguindo o paradigma interpretativista, trabalha com os significados produzidos
a partir das transcrições feitas pelo pesquisador (Telles, op. cit.) e o tempo de duração da
investigação pode variar desde algumas semanas até vários meses ou anos (André, 1995, p.30).
b) A pesquisa introspectiva se fundamenta na psicologia cognitiva e tem sido estudada e utilizada
14
na LA “para investigar os processos que subjazem à compreensão e à produção lingüística e os
processos de ensino/aprendizagem (Moita Lopes, 1994, p.335). O pesquisador investiga a
compreensão do leitor sobre determinado fato, usando a técnica dos protocolos verbais, ou seja, a
descrição do que está acontecendo na cabeça do participante da pesquisa, no momento em que ele
está executando alguma atividade mental - processo de leitura, tradução etc. (Moita Lopes, op.
cit.). Os instrumentos utilizados são: o auto-relato, a auto-observação e a auto-revelação.
c) A pesquisa-ação
aparece, inicialmente, nas Ciências Sociais no século XIX, propagando-se
depois para as outras áreas do conhecimento. Após um período de esquecimento (anos 60), ela
ressurge em meados dos anos 1970 com novos enfoques e dando origem a várias correntes: a
anglo-saxônica, a australiana, as linhas espanhola e portuguesa e a francesa. Inicialmente, os
traços essenciais da pesquisa-ação eram: análise, coleta de dados e conceituação dos problemas;
planejamento da ão, execução e nova coleta de dados para avaliá-la; repetição desse ciclo de
atividades (André, 1995, p.31). A pesquisa-ação também é denominada de estudo de intervenção,
utilizando as mesmas técnicas das Ciências Sociais, as quais contribuem para a solução do
problema identificado; todavia, duas delas merecem maior destaque: a observação participante e
o diário (Barbier, 2004, p.126),
d) A pesquisa participante se desenvolveu por volta da década de 1970, repercutindo no mundo
científico como um novo paradigma de investigação que exige renovação na sua forma de pensar
e um ambiente de estudo aberto, provocador de questionamentos. Ela busca identificação
totalizante entre sujeito e objeto, de tal maneira que possa eliminar a característica de objeto,
tornando-o co-produtor do saber. A população pesquisada é motivada a participar da pesquisa
como agente ativo, produzindo conhecimento e intervindo na realidade própria. Ela é um gênero
de pesquisa, sendo assim deve-se considerar outros gêneros na complementação da investigação
(Demo, 1982, p.28). Ela ainda acentua o lado da prática, sem negligenciar o aspecto teórico do
estudo (Demo, 2004, p.44)
e) A pesquisa narrativa tem como método e objeto de investigação as histórias pessoais e
profissionais dos participantes. Essas histórias representam o contexto em que os significados são
produzidos e o participante atua como agente ativo, parceiro do pesquisador. Os instrumentos de
15
coleta utilizados são variados: entrevistas, diários, autobiografias dos participantes, cartas, caixas
de recordações, etc. e os seus resultados denominados textos de pesquisa (Telles, 2002, p.106-
107). Para Clandinin & Connelly (1999, p. 50), as narrativas compreendem os aspectos pessoal e
social (interação), passado, presente e futuro (continuidade), combinados com a noção de lugar
(situação. Assim, estudos de narrativas enfocam o indivíduo imerso em ação na sociedade, em
um espaço físico e em um período de tempo específicos, características coincidentes com as do
estudo de caso.
f) O estudo de caso
, frequentemente descritivo, é utilizado quando um professor-pesquisador
deseja enfocar um determinado evento pedagógico, componente ou fenômeno relativo à sua
prática profissional. Os instrumentos são diversificados e seguem as mesmas linhas daqueles
usados pela etnografia e pela pesquisa-ação, dentre outras. Além disso, os objetivos dos estudos
de caso estão centrados na descrição e explicação de um fenômeno investigado (Johnson,
1992).
Nesta seção, não descrevemos pormenorizadamente o estudo de caso, por entendermos
que, como essa foi a forma de investigação selecionada neste trabalho, é necessário descrevê-la
mais detalhadamente, explicando conceitos, instrumentos e procedimentos de aplicação dessa
modalidade de pesquisa. É, pois, esse o conteúdo apresentado no item seguinte, denominado
“Natureza da pesquisa”.
1.5.3 Natureza da pesquisa
O nosso trabalho configurou-se um estudo de caso, primeiro por investigar uma única
participante; segundo, por observar um fenômeno específico da prática escolar, isto é, crenças de
uma professora sobre avaliação contínua; e terceiro, por delimitar um contexto específico de
investigação, uma escola pública. Dessa maneira, entendemos que é necessário fazer um recorte
explicativo sobre esse tipo de pesquisa, destacando os aspectos que a identificam como um
estudo de caso.
16
Inicialmente, vemos que, ao longo dos anos, as áreas de medicina, psicologia, serviço
social, enfermagem, sociologia e antropologia têm utilizado exaustivamente o estudo de caso em
seus trabalhos acadêmicos, a fim de diagnosticar, tratar ou acompanhar os pacientes mais
críticos(André, 1995, p.30). Em educação, esse tipo de investigação aparece por volta dos anos
60 e 70 , porém de forma mais restrita: é um estudo descritivo de uma unidade, seja ela uma
escola, um professor, um grupo de alunos, uma sala de aula (André, 2005, p.14) e bastante ligado
a modelos pré-experimentais de pesquisa.
Atualmente, muita controvérsia na elaboração de um conceito único de estudo de caso
e alguns autores têm apresentado diversas definições. Segundo Gil (1991, p.58), o estudo de caso
se caracteriza pelo trabalho profundo de um ou de poucos casos. Para And(2005, p.15), esse
tipo de pesquisa estuda um caso, simples ou específico, complexo ou abstrato, com uma área
de investigação delimitada. Johnson (1992) afirma, ainda, que essa abordagem é comumente
representativa do fenômeno sob investigação, fornecendo uma descrição que pode, inclusive,
evoluir para uma interpretação contextual ou cultural do fenômeno investigado. Segundo
Seliger e Shohamy (1995, p.125), o estudo de caso é indicado quando o pesquisador está
interessado em descrever algum aspecto individual do sujeito, por acreditar que o desempenho
de um indivíduo é mais revelador do que de grandes grupos, promovendo uma descrição mais
profunda e detalhada do caso estudado. Nunan (1997) diz que o estudo de caso é mais limitado
no seu objetivo e o contexto cultural não recebe um destaque especial.
Nunan (1997, p. 77) estabelece, ainda, distinções e semelhanças entre o estudo de caso e a
etnografia. Segundo o autor, uma diferença ressaltada entre os dois tipos é que a etnografia
apresenta um estudo completo de uma cultura particular, enquanto o estudo de caso examina um
aspecto particular de uma cultura ou sub-cultura investigada. Os dois estudos se assemelham por
serem tipos de pesquisa qualitativa, com base filosófico-metodológica, possibilitando a
investigação do fenômeno no seu contexto natural. Além disso, podem representar uma
multiplicidade de pontos de vista, oferecendo suporte para interpretações alternativas. Essas
características aliadas à maneira profunda como é trabalhado são consideradas vantagens da
utilização do estudo de caso.
Uma desvantagem do estudo de caso, apontada por Nunan (1997) e por Johnson (1992),
17
refere-se ao fato de não podermos generalizar os resultados desse tipo de estudo para outros
casos. André (1986) explica que, de fato, segundo o paradigma científico convencional que
envolve processos lógico-dedutivos ou estatísticos, não podemos universalizar os resultados. A
autora ressalta, também, que os resultados obtidos em um estudo de caso não podem ser
estatisticamente generalizados para toda a população de aprendizes, grupos, instituições ou
quaisquer partes às quais essa determinada instância pertence. Entretanto, por meio de
generalizações naturalísticas (André, 1986, p.23), o leitor percebe a equivalência do que está
sendo apresentado com outros casos ou com situações experienciadas por ele e, dessa forma,
estabelece bases para suas conclusões, desenvolvendo, inclusive, novas idéias, significados e
compreensões acerca do fenômeno abordado.
Em um estudo de caso qualitativo, destacam-se quatro características básicas:
a) a particularidade focaliza uma situação, um programa, um fenômeno particular, sendo,
pois, o estudo de caso indicado para investigar problemas práticos do dia-a-dia;
b) a descrição indica que a situação investigada será descrita de forma completa e fidedigna;
c) a heurística clarifica a compreensão do leitor sobre o fenômeno estudado, revelando
novos significados e fazendo com que esse fenômeno investigado seja repensado;
d) a indução significa que, na maioria das vezes, os estudos de caso se baseiam na gica
indutiva.
Stake (1983) afirma que o estudo de caso é “o estudo da particularidade e da
complexidade de um caso singular, levando a entender sua atividade dentro de importantes
circunstâncias”. Ele se baseia, ainda, na concepção de estudo de caso qualitativo, fundamentada
nos métodos de pesquisa naturalístico, holístico, etnográfico, fenomenológico e biográfico. Por
conseguinte, o autor apresenta três tipos distintos de estudo de caso: o intrínseco, quando o
interesse é no caso em si; o instrumental, quando há uma questão específica que o caso vai ajudar
a resolver; e o coletivo, quando vários casos são utilizados.
Assim, a nossa pesquisa é um estudo de caso intrínseco, focalizando o levantamento das
crenças de uma professora de LE-Inglês sobre avaliação contínua nos ciclos de desenvolvimento,
numa escola da rede municipal de Goiânia. E sendo as crenças de uma professora o ponto focal
18
de nossa pesquisa, necessário se faz falar sobre a metodologia utilizada na investigação das
crenças para o desenvolvimento e compreensão do tema abordado. Portanto, esse é o tópico
apresentado na próxima seção.
1.5.4 Metodologia de pesquisa das crenças
A pesquisa das crenças, em Lingüística Aplicada, despontou em meados dos anos 80 e
recentemente vem crescendo consideravelmente. Apesar de atualmente existirem muitos estudos,
revistas, simpósios, congressos e conferências sobre o assunto, poucos autores escreveram sobre
uma metodologia de pesquisa das crenças sobre aprendizagem de nguas (Kalaja, 1995;
Barcelos, 2001, e Vieira-Abrahão, 2006). Vendo, pois, a necessidade de elaborar um material
mais específico da área, Barcelos (2001) organizou os estudos de investigação das crenças em
três abordagens principais: a normativa, a metacognitiva e a contextual, as quais serão descritas
no tópico seguinte.
1.5.4.1 Abordagens de investigação das crenças
Baseamos a discussão sobre as abordagens de investigação de crenças em no artigo de
Barcelos (2001); todavia, utilizamos também o trabalho elaborado por Vieira-Abrahão (2006)
que associa as abordagens de investigação das crenças com as perspectivas positivista
(abordagem normativa) e qualitativa (abordagens metacognitiva e contextual), além de apresentar
alguns dos instrumentos que vêm sendo usados para a investigação das crenças.
a) A abordagem normativa
Para Barcelos (2001, p.75), a abordagem normativa (doravante AN) infere as crenças
através de um conjunto pré-determinado de afirmações. Isso quer dizer que, nesse modelo, o
método de investigação mais utilizado é o questionário do tipo escala Likert (ou Likert-scale), no
qual os alunos apenas dizem se concordam ou discordam dessas afirmações pré-estabelecidas
pelo pesquisador. Um exemplo desse questionário é o BALLI (Beliefs About Language Learning
Inventory) que foi desenvolvido por Howitz (1985) e usado pela AN para descrever e classificar
os tipos de crenças que os aprendizes apresentam (Barcelos, op, cit.).
19
Observamos, pois, que a AN se enquadra num paradigma positivista de pesquisa, voltado
para a quantificação dos dados através da aplicação de questionários fechados (Vieira-Abrahão,
2006, p. 220). As crenças coletadas aqui são descontextualizadas, as afirmações pré-elaboradas
são inflexíveis, podendo ser interpretadas de forma diferente por pesquisador e alunos, ou não
serem significativas à aprendizagem dos educandos (Barcelos, 2001, p. 78). Muitos
pesquisadores têm criticado essas falhas da AN (Gimenez, 1994; Pajares, 1992; Munby, 1984;
Kalaja, 1995), principalmente no que se refere à voz do pesquisado na investigação das crenças.
É na abordagem metacognitica que este aspecto é introduzido.
b) A abordagem Metacognitiva
A Abordagem Metacognitiva (doravante AM) compreende as crenças como conhecimento
metacognitivo dos alunos, que constituíram suas teorias em ação, ajudando-os a refletir sobre o
que fazem. Sendo assim, os aprendizes são capazes de pensar sobre seu processo de
aprendizagem de línguas e articular algumas de suas crenças. Os instrumentos de investigação
utilizados são, basicamente, as entrevistas semi-estruturadas e auto-relatos, embora questionários
semi-estruturados também possam ser usados (Barcelos, 2001).
Segundo Vieira-Abrahão (2006, p. 220), a AM se enquadra no modelo qualitativo de
pesquisa e representa um estágio mais avançado da AN. Segundo a autora, o uso de entrevistas
favorece a elaboração e reflexão das experiências pessoais dos envolvidos na pesquisa. Por outro
lado, como a AN, a AM não infere as crenças através das ações, tratando-as somente através de
intenções e declarações verbais. Outrossim, apesar de reconhecer a relação entre crenças e
contexto, essa abordagem não a utiliza como base para análise dos dados (Barcelos, 2001). É na
abordagem contextual que os aspectos citados serão observados, pois ela segue uma tendência
mais etnográfica na investigação das crenças.
c) A abordagem Contextual
Segundo Barcelos (2001), a Abordagem Contextual (doravante AC) investiga as crenças
através de observações em sala de aula e análise do contexto
4
específico onde os alunos (ou
4
O contexto, nesse estudo, é definido como “um fenômeno socialmente constituído e sustentado interativamente”
(Barcelos, 2001, p.81).
20
professores) atuam. Esta abordagem busca, pois, compreender as crenças em contextos
específicos. A técnica instrumental usada por essa abordagem inclui observações com anotações
de campo do pesquisador; entrevistas estruturadas, semi-estruturadas ou não estruturadas; diários;
análise de materiais, dentre outros (Silva, 2005, p. 37). Os estudos que utilizam a AC estão
ligados à perspectiva qualitativa de pesquisa e entendem as crenças como dinâmicas, culturais,
sociais e emergente (Vieira-Abrahão, 2006, p. 220), além de não defini-las como conhecimento
cognitivo, considerando as relações entre as crenças e as ações, priorizando o ambiente onde elas
ocorrem (Barcelos, 2001, p. 80-81). O quadro a seguir apresenta uma síntese das três abordagens
descritas nesse tópico.
Quadro 3: Abordagens de investigação de crenças
NORMATIVA METACOGNITIVA CONTEXTUAL
Metodologia
Questionários fechados
tipo Likert-scale
Entrevistas e auto-relatos Observações, diários,
entrevistas e estudos de
caso
Definição de
crenças sobre
aprendizagem de
línguas
Crenças: idéias pré-
concebidas; influenciam
a abordagem de ensinar
e aprender; concepções
errôneas e opiniões.
Crenças: conhecimento
metacognitivo concebido
como teorias de ação; são
estáveis, às vezes, falíveis .
Crenças: inferidas de
ações contextualizadas;
partem da cultura de
aprender; representações
de aprendizagem em uma
determinada sociedade.
Relação entre
crenças e ações
Crenças: são bons
indicadores do
comportamento futuro
dos alunos; disposição
para ensino autônomo e
sucesso como
aprendizes de língua.
Crenças: são bons
indicadores do
comportamento futuro dos
alunos; disposição para o
ensino autônomo e sucesso
como aprendizes de língua;
admite-se a influência de
fatores como os objetivos.
Crenças: são específicas
do contexto; elas devem
ser investigadas dentro
do contexto de suas
ações.
Fonte: Adaptado de Barcelos (2001) e Vieira-Abrahão (2006)
1.5.4.2 Abordagem adotada na pesquisa
A escolha da AC em nossa pesquisa foi baseada nas características apresentadas por
Barcelos (2000, apud, Conceição (2006, p. 15) e adaptadas aqui, as quais: a) as crenças como
fenômenos sociais inseridas em um contexto; b) não prioriza a generalização a respeito das
POSITIVISTA QUALITATIVA
21
crenças, mas a sua compreensão em contextos determinados; c) procura entender como as
crenças influenciam a aquisição do processo de aprendizagem dos alunos e a prática pedagógica
dos professores; d) busca compreender a relação entre crenças e ação, promovendo a reflexão
sobre as experiências anteriores, que pode levar a mudanças ou criação de outras crenças; e)
permite uma compreensão mais profunda das crenças e sua relação com a abordagem de ensinar
dos professores.
As pesquisas mais recentes têm procurado resolver as imperfeições de cada abordagem
combinando diferentes instrumentos utilizados na coleta dos dados. Assim, os pesquisadores
podem usar questionários com observações de sala de aula e com entrevistas; analisar metáforas,
diários e narrativas; interpretar desenhos e investigar um fenômeno através do estudo de caso.
Portanto, esses recursos múltiplos favorecem a identificação das crenças que são formadas pela
cultura dos aprendentes e pelos contextos sociais nos quais estão inseridos (Barcelos, 2001).
Nesse sentido, a seção seguinte descreve os instrumentos usados na coleta de dados de nosso
estudo, reforçando o caráter diversificado do instrumental técnico próprio das pesquisas
qualitativo-interpretativista.
1.5.5 Coleta de dados
Ao se pensar em fazer pesquisa, uma das preocupações básicas do investigador é o
levantamento dos dados, a seleção dos instrumentos para coleta e a triangulação na análise desses
dados. Assim, usamos instrumentos de coleta diversificados, buscando maior credibilidade à
triangulação dos dados (Allwright & Balley, 2000), haja vista ser o uso das técnicas adequadas
que garantirá os critérios de qualidade da investigação, a saber: validade, confiabilidade e
precisão à observação dos dados (Barros e Lehfeld, 2004, p. ). Segundo as autoras (op. cit. p. 71),
a validade diz respeito à capacidade de observação (interpretabilidade) dos instrumentos
selecionados, a confiabilidade dá-se através da generalização dos resultados e a precisão refere-se
à capacidade de se identificar o fenômeno estudado.
Trabalhar com aspectos subjetivos da prática pedagógica (no nosso caso, as crenças sobre
avaliação contínua), e com uma única participante, pode colocar em xeque os critérios
22
mencionados. Além disso, Seliger e Shohamy (1995, p.104) advertem que o próprio ato de
pesquisar e a presença do pesquisador no ambiente de investigação podem alterar o
comportamento dos participantes, contribuindo para a invalidação da pesquisa. Assim,
procuramos diversificar os instrumentos de coleta utilizados, garantindo a realidade dos dados
levantados. Além disso, esse instrumental técnico prioriza a abordagem qualitativa-
interpretativista da pesquisa, favorecendo uma compreensão mais aprofundada sobre as crenças
(Barcelos, 2001, p.86), quais sejam: narrativas, entrevistas, observação de aulas com notas de
campo, gravação em áudio (como instrumentos primários), sessões reflexivas usando textos
teóricos e questionário de alunos sobre avaliação (como instrumentos secundários).
Nossa pesquisa não fez uso dos questionários na coleta dos dados primários, por
entendermos que esse tipo de instrumento poderia dificultar a interpretação dos participantes, por
causa de suas respostas generalizadoras. Além disso, pela subjetividade das crenças, preferimos
deixar que a voz da participante fosse preponderante nos dados coletados, através do uso da
narrativa, da entrevista e da observação de aulas (dados primários); entretanto, essa técnica foi
usada para coletar a opinião dos alunos sobre avaliação (dados secundários).
1.5.5.1 Os instrumentos de coleta de dados
A nossa pesquisa procurou utilizar instrumentos diversificados na coleta dos dados,
buscando ressaltar a voz da participante, para, assim, deixar que suas crenças emergissem,
mesmo sendo observada por outrem. Por outro lado, essa variedade de instrumental técnico pode
garantir a confiabilidade das análises requeridas neste estudo, como também corrigir possíveis
problemas apresentados na utilização desses instrumentos e validar a escolha do estudo de caso
como tipo de pesquisa (Allwright & Balley, 2000).
Os dados coletados em nosso estudo foram divididos em primários e secundários e os
instrumentos selecionados também seguem essa mesma categorização. Segundo Passos e Barbosa
(2004, p. 2-3):
a) dados primários a sua fonte básica é o pesquisado. Em nossa investigação, os
instrumentos primários são a narrativa de vida, a entrevista e as observações de aula.
23
b) dados secundários são os dados catalogados, à disposição dos interessados e que
auxiliam na análise dos dados principais. Para nossa investigação, eles são as sessões
reflexivas e o questionário com os alunos.
Nesta seção, descreveremos cada um dos instrumentos usados na coleta dos dados de
nossa investigação, citando suas vantagens e desvantagens.
Narrativas
5
A palavra “narrativas” é encontrada nos estudos de Teles (2002) e Barcelos (2006a),
entretanto pode ser designada também como histórias de vida (Woods, 1987), auto-relatos,
biografias e autobiografias (Vieira-Abrahão, 2006, p. 224). As narrativas têm sido usadas como
“técnicas que buscam captar as histórias de professores e aprendizes para explicar com maior
profundidade suas ações e respostas em sala de aula” (op. cit.).
Sabemos que é próprio do ser humano a reconstrução das experiências através das
histórias que contamos (Barcelos, 2006a, p.148), sendo assim, a palavra-chave das narrativas é a
“experiência”. Clandinin e Conelly (2000, p. 50) corroboram a idéia de que as narrativas são a
melhor forma de representar e entender a experiência e, para os autores, elas se constituem em
uma fonte de dados valiosa para o estudo de caso por enfocarem o indivíduo imerso e em ação na
sociedade, em um espaço físico e em um período de tempo específicos. Nesse sentido, as
narrativas transmitem a história pessoal do participante, evidenciando fatores contextuais que
podem influenciar a prática profissional.
Para Barcelos (2006, p. 151), as narrativas o adequadas para investigar as crenças, pelo
fato de incorporarem as atitudes e as próprias crenças, pois as histórias representam o centro do
significado das pessoas. Em nosso estudo, a gravação da narrativa de vida foi o primeiro
instrumento usado com a professora participante e aconteceu em março de 2005. O objetivo era
buscar dados relevantes em momentos particulares da vida da participante, focalizando as suas
experiências anteriores de ensino e aprendizagem (op. cit. p.225).
5
A transcrição da narrativa se encontra no Anexos 1.
24
Entrevista
6
A entrevista é um dos instrumentos de coleta de dados mais utilizados em pesquisas
qualitativas, sendo “considerada um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha
informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza
profissional” (Lakatos, 1993, p. 196). Ela é constituída de perguntas, realizadas na interação face
a face (Szymanski, 2004, p. 12), utilizando gravação em áudio ou filmagens. De acordo com
Vieira-Abrahão (2006, p.223), as entrevistas podem ser classificadas em três tipos: estruturadas,
semi-estruturadas e não-estruturadas ou abertas, descritos a seguir:
1) Entrevista estruturada aproxima-se dos questionários; utiliza perguntas especificadas com
antecedência e apresentadas na mesma ordem, permitindo esclarecimentos e evitando
ambigüidades; assegura maior consistência e confiabilidade aos resultados; pode usar alternativas
fixas (sim ou não), perguntas abertas (respostas mais flexíveis) e perguntas em escala
(concordância e discordância).
2) Entrevista semi-estruturada: não um roteiro fechado; constitui-se de perguntas orientadas,
sem uma ordem fixa, permitindo a emergência de assuntos não previstos; é um tipo mais
adequado às pesquisas qualitativas, permitindo interações ricas e respostas pessoais.
3) Entrevista não-estruturada ou aberta (também informal): é uma conversa livre com base nas
questões orientadoras da investigação; busca identificar as percepções que os informantes têm de
si próprios, de sua situação e de experiências sociais; embora seja um tipo mais aberto de
entrevista, o pesquisador precisa exercer certo controle ou perderá o seu foco principal.
O nosso estudo considerou a entrevista semi-estruturada como um recurso apropriado na
investigação das crenças, pois levanta a perspectiva da participante acerca da realidade observada
(Vieira-Abrahão, 2006, p.224), abrindo espaço para discussão e questionamento entre os
participantes da pesquisa. Este foi o segundo recurso utilizado e realizado em maio de 2005. As
perguntas utilizadas na entrevista foram adaptadas de Vieira-Abrahão (2002, p. 74) e estão
6
A transcrição da entrevista se encontra no Anexos 2.
25
disponíveis nos Anexos 2.
Gravações em áudio
As gravações em áudio são consideradas técnicas usadas na pesquisa qualitativa com a
finalidade de registrar em detalhes as ações e interações entre pesquisador e participante. Elas
auxiliam na reflexão sobre crenças implícitas, ações e esquemas mentais trazidos para a sala de
aula, servindo como registro das observações gerais de contexto de sala de aula e funcionando
como recurso complementar na coleta de dados (Vieira-Abrahão, 2006, p.227).
O nosso trabalho utilizou as gravações para registrar a narrativa de vida e entrevista
realizadas com a PP, haja vista o fenômeno observado (as crenças) encontrar-se implícito no
discurso e nas ações da professora, necessitando ser inferido pelo pesquisador (op. cit.)
Observação de aula
7
A observação é uma técnica importante na coleta de dados e significa apurar os sentidos
para um objeto, buscando adquirir dele conhecimento claro e preciso (Barros, 2004, p.76). Em
LA, a observação de aulas é usada para documentação sistemática das ações e ocorrências
relevantes para a investigação (Vieira-Abrahão, 2006, p.225). Uma classificação mais abrangente
da observação de aula foi elaborada por Barros & Lehfeld (1990, p. 78) e seapresentada no
quadro seguinte.
7
A transcrição das Observações de aula está no Anexos 3.
26
Quadro 4: Classificação da Observação
1) Quanto à estruturação
a) Observação assistemática ou não estruturada: não tem controle e
nem instrumental apropriado;
b) Observação sistemática ou planejada: é realizada em condições
controladas; usa instrumental adequado.
2) Quanto à participação do
observador
a) Observação não participante: o pesquisador permanece de fora da
realidade estudada; não há envolvimento do pesquisador;
b) Observação participante: o observador se incorpora natural ou
artificialmente ao grupo ou comunidade pesquisados.
3) Quanto ao número de
observações
a) Observação individual: realizada por um só pesquisador;
b) Observação em equipe: quando há o trabalho integral de uma
equipe de observadores.
4) Quanto ao local de
observação
a) Observação em campo: observação dos fenômenos na realidade
social;
b) Observação em laboratório: quando as situações são criadas
artificialmente em laboratórios.
5) Como técnica de atuação na
realidade
Observação militante: técnica de estudo permeada por concepções
ideológicas e políticas, que visa a estimulação da mudança social dos
grupos e comunidades envolvidas.
Fonte: Baseado em Barros & Lehfeld (1990, p. 78)
Nossa pesquisa utilizou a observação sistemática, pois buscava aspectos específicos da
sala de aula, usando anotação de campo; foi uma observação não participante, pois procuramos
não interferir nas crenças da professora; também foi individual, haja vista ser uma única
pesquisadora investigando o fato; e foi uma observação de campo, ou seja, as anotações se
referem às aulas ministradas pela participante. Selecionamos cinco aulas que foram observandas
durante o mês de junho de 2005.
Notas de campo
8
As notas de campo são descrições ou relatos de eventos no contexto da pesquisa que são
escritos de forma objetiva. Podem conter informações verbais, do ambiente físico ou das ações
dos participantes, além de registros de conversas e interações. Elas buscam responder as
perguntas quem / o quê / onde / quando / como / e por que, sendo, ainda, considerada uma análise
preliminar dos dados obtidos (Vieira-Abrahão, 2006, p.226). Em nossa investigação, as notas de
campo foram escolhidas como registro das observações de aula, pois esse era um recurso menos
inibidor para a professora observada e para as crianças envolvidas.
8
As notas de campo foram usadas na observação das aulas e podem ser encontradas nos Anexos 3.
27
Sessões reflexivas
As sessões reflexivas são espaços colaborativos onde o professor pode conversar sobre
seu fazer diário, analisando e interpretando suas ações de sala de aula, a fim de provocar a
conscientização e a reflexão sobre a sua prática pedagógica (Liberali, Magalhães e Romero,
2003, p. 152). Em nossa pesquisa, utilizamos as sessões reflexivas para discussão de textos
teóricos
9
selecionados para promover debates sobre o tema em destaque (avaliação) e assuntos
gerais (abordagem de ensinar). Inicialmente, planejamos uma série de cinco seções reflexivas
com a professora participante, nas quais discutiríamos textos previamente lidos e de onde seriam
retirados novos tópicos para os próximos encontros.
Entretanto, apenas duas das seções foram realizadas: na primeira, discutimos as formas de
avaliação observadas nas aulas; e na segunda, debatemos os textos anteriormente apontados.
Estes encontros aconteceram no mês de agosto de 2005, durante os momentos de estudos da pp.
Após estes encontros iniciais, tivemos um período de greve de professores na rede municipal e
precisamos repor as aulas que foram suspensas por causa do movimento. Assim, interrompemos
as sessões reflexivas e decidimos retomar as reuniões no ano seguinte. Entretanto, no ano
seguinte, ela resolveu pedir remoção para uma escola mais perto da sua casa, dificultando o nosso
acesso a outra instituição escolar. Salientamos, porém, que a interrupção das seções não interferiu
no desenvolvimento da nossa investigação, pois elas foram consideradas dados secundários e
usadas para confirmação das crenças identificadas por outros instrumentos (narrativa, entrevista e
observação de aulas), validando as análises realizadas.
9
Os textos usados foram: 1) NEVES, M. S. Os mitos de abordagens tradicionais e estruturais ainda interferem na
prática em sala de aula. In: PAIVA, V. L. O. M. (Org.). Ensino de ngua inglesa: reflexões e experiências. São
Paulo: Pontes Editores, 1996, p. 69-80. 2) PERRENOUD, P. A parcela de avaliação formativa em toda avaliação
contínua. In: PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens entre duas lógicas.
Porto Alegre, 1999, p. 77-85. 3) PERRENOUD, P. Não mexa na minha avaliação! Uma abordagem sistêmica da
mudança. In: PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens entre duas lógicas.
Porto Alegre, 1999, p. 144-159.
28
Questionário
10
Os questionários são instrumentos muito utilizados para o levantamento de informações,
principalmente nas pesquisas do tipo quantitativo. Eles são preenchidos pelo próprio entrevistado,
de fácil aplicação, alcançam um grande número de informantes, consumindo menos tempo do
pesquisador, e podem ser enviados pelo correio, tendo um baixo custo financeiro para a pesquisa
(Vieira-Abrahão, 2006, p.221). Há, porém, algumas desvantagens na aplicação de um
questionário: é preciso a boa vontade e disposição do pesquisado para preenchê-lo; muitas vezes,
problemas no entendimento das perguntas, causando respostas pouco objetivas para a
investigação (Barros & Lehfeld, 2004, p.75). Além disso, os participantes tendem a responder o
que acreditam ser adequado e não sobre sua realidade, sem contar que a quantidade de perguntas
pode ser outro fator desmotivador para quem responde (Barcelos, 2001, p.78).
Os questionários podem ser elaborados com: a) itens fechados - alternativas fixas como
sim ou não, concordo ou discordo, não sei, que são fáceis de serem tabulados e tratados
estatisticamente; b) itens em escala afirmações que devem ser assinaladas dependendo do grau
de concordância e discordância do participante, são usados para levantamento de opiniões e
perspectivas - o Likert Scale é um exemplo desse tipo de questionário - c) itens abertos - objetiva
explorar as percepções pessoais, crenças e opiniões dos informantes, produzem respostas mais
ricas, detalhadas e precisam ser analisadas com mais cuidado (Vieira-Abrahão, 2006, p.222).
Segundo Vieira-Abrahão (op. cit.), os questionários de itens abertos o utilizados na
abordagem contextual de investigação das crenças, primeiro por permitirem o mapeamento de
percepções e crenças dos envolvidos no processo e, segundo, por estudarem a sua construção em
ambiente natural. Esse foi o tipo de questionário aplicado entre 21 alunos da série da escola
onde a PP atuava, no qual três perguntas foram feitas, buscando investigar as opiniões das
crianças sobre a avaliação (especialmente a contínua) e a sua forma de aplicação. Em nossa
pesquisa, o uso do questionário é considerado um dado secundário, pois não investigamos o
levantamento das crenças dos alunos.
10
As perguntas estão dispostas nos Anexos 4.
29
A seguir, elaboramos um quadro-resumo dos instrumentos utilizados em nossa pesquisa,
com o objetivo de melhor ilustrar quais deles fazem parte do grupo de dados primários e
secundários.
Quadro 5: Instrumentos usados na coleta dos dados
1.5.5.2 Os procedimentos de pesquisa
No início do ano de 2005, desenvolvendo um projeto de complementação de carga horária
numa escola municipal de Goiânia, começamos a trabalhar canto coral e teatro com os alunos do
Ciclo II, no turno matutino. Foi nesse período que conhecemos a professora responsável pela
disciplina de LE-Inglês e estabelecemos o primeiro contato com trocas de materiais e
experiências. Como no ano anterior havíamos atuado na mesma disciplina, tínhamos
informações sobre o comportamento dos alunos, os casos de indisciplina, bem como uma apostila
elaborada para cada uma das séries representadas (3ª, e 5ª). Foi, então, que ela surgiu como a
possível professora participante (doravante PP) da nossa pesquisa. Conversamos com ela,
explicamos quais seriam os procedimentos e ela aceitou, vendo a investigação como uma forma
de melhorar a sua prática pedagógica, através da troca de experiências que o estudo previa.
A primeira etapa do levantamento dos dados ocorreu em março de 2005 e usamos as
narrativas como instrumento de coleta. Pedimos para que a professora participante gravasse a sua
Investigação de Crenças
Primários
Secundários
Instrumentos
Sessões reflexivas
Questionário
Narrativas
Observação de
aulas
Entrevistas
Gravação de
áudio
Notas de campo
30
história de vida, particularizando o contato com a língua inglesa, como ela foi avaliada durante o
período de escolarização e a sua formação profissional. Ao utilizar esse recurso, objetivávamos a
identificação das suas crenças sobre avaliação e ensino / aprendizagem de línguas de uma forma
mais ampla.
A nossa inexperiência como pesquisadora não nos permitiu enxergar a relevância desses
dados iniciais, sendo assim, decidimos elaborar uma entrevista semi-estruturada, a fim de obter
novas informações, mais direcionadas e objetivas. Dessa maneira, durante o mês de maio,
gravamos as suas respostas para as perguntas sobre assuntos variados que envolviam língua /
linguagem, ensino aprendizagem, avaliação e formação continuada de professores. A verdade é
que, ao transcrever as informações e já com algumas leituras sobre os temas, percebemos a
riqueza dos dados coletados. Passamos, assim, para o terceiro instrumento de coleta: as
observações de sala de aula, realizadas durante o mês de junho de 2005.
Como todo processo de observação gera desconforto para os envolvidos, neste caso
professora e alunos, pensamos em, inicialmente, observar cinco aulas, levando em consideração
as possíveis dificuldades das primeiras: inibição da professora, estranhamento por parte dos
alunos, etc. Contrariamente, nem a professora nem os alunos se intimidaram com nossa presença.
Ela, por ser uma pessoa tranqüila e nos considerar parceira de trabalho; eles, porque já nos
conheciam, pois em sua maioria, haviam sido nossos alunos. Assim, as observações começaram
no dia 10 de junho de 2005 e compreenderam o período pré-estabelecido para as avaliações dos
alunos (o final do mês). Elas não foram filmadas, primeiro numa tentativa de não constranger a
participante e, segundo, porque a câmera da escola estava com defeito. Desse modo, usamos as
anotações para descrever as observações em sala de aula.
Depois das observações, marcamos a primeira sessão reflexiva em agosto de 2005, com
objetivo de discutirmos a forma de avaliação utilizada em uma das aulas. Novamente, essa seção
foi documentada através de notas de campo e ela nos mostrou a necessidade de trabalhar textos
teóricos sobre os temas investigados. Selecionamos alguns textos de Perrenoud (1999) que
discutem avaliação e outro de Neves (1996) sobre abordagens de ensino. Em nosso segundo
encontro (ou sessão reflexiva), discutimos a opinião da PP sobre o material de leitura. Ela se
31
interessou pelo texto de Neves (1996), mas achou artigos de Perrenoud,(1999) muito técnicos.
Logo após, tivemos alguns desencontros por causa do nosso horário e pelas reposições de
aulas advindas de uma greve de professores na rede municipal. Às vezes, durante os intervalos,
discutíamos as novas leituras que ela estava fazendo, sua atuação no grupo de trabalho de língua
estrangeira (GT de LE, promovido pela SME) e o curso de inglês – conversação, do qual
participava. No final do semestre, fomos assistir sua apresentação na última aula do curso de
línguas e a entrega dos certificados.
Finalmente, no ano seguinte, 2006, ela pediu remoção para uma escola mais próxima da
sua casa e nosso contato foi interrompido. Ainda tentamos agendar alguns encontros para a
realização das sessões de reflexão, mas alguns problemas familiares da participante impediram o
encerramento da investigação como fora inicialmente planejada. Salientamos, porém, que os
contratempos mencionados não prejudicaram o andamento do estudo, haja vista que um de
nossos objetivos de pesquisa era apenas instaurar na PP o processo de reflexão na ação (Schön,
2000) e não provocar mudanças em suas crenças.
O próximo tópico apresenta o contexto onde a pesquisa foi realizada, mostrando o
funcionamento da escola, os grupos variados que a compõem e o seu espaço físico.
1.5.6 O contexto da pesquisa
A nossa investigação foi realizada em uma instituição educacional da rede pública
municipal da cidade de Goiânia Goiás, onde a participante atuava como professora de LE-
inglês. A escola está localizada em um dos bairros da periferia de Goiânia, margeado por um
córrego, atualmente poluído, porém não é um local muito afastado do centro da cidade. A maior
parte da população da localidade é constituída por pessoas de baixa renda, áreas de invasão e
favela, gangues de adolescentes e os moradores sofrem com a violência urbana. Apesar disso, o
ambiente escolar é tranqüilo, com índices de indisciplina relativamente baixos.
A Secretaria Municipal de Educação (SME) divide a coordenação das escolas em
32
Unidades (ou núcleos) Regionais de Ensino
11
, as quais oferecem apoio técnico e pedagógico às
escolas que são distribuídas de acordo com a sua localização. Assim, a escola onde
desenvolvemos a pesquisa recebe orientação da Unidade Regional Central, facilitando o acesso e
a assessoria dos profissionais responsáveis por essa área.
Atualmente, a escola funciona nos três turnos (matutino, vespertino e noturno): pela
manhã, temos o Ciclo II (equivalente às 3ª, 4ª e 5ª séries do programa seriado) com uma média de
160 alunos matriculados; à tarde, as crianças são agrupadas no Ciclo I (alfabetização, e
séries) e o número aproximado de matriculados é de 170 alunos; e, à noite, a escola trabalha
com uma modalidade denominada Organização Alternativa
12
da Educação para Adolescentes,
Jovens e Adultos (EAJA), com uma média de 140 alunos matriculados.
A comunidade escolar é formada por crianças relativamente pobres, moradoras da região,
vivendo em famílias sustentadas principalmente pelas mães. Essas mulheres trabalham durante o
dia, deixando seus filhos na escola durante um período. No horário contrário ao das aulas,
algumas pagam para a vizinha, ou algum parente mais próximo, cuidar deles e, à noite, elas vão
para a escola, participando da EAJA da escola. Normalmente, elas não têm tempo e, muitas
vezes, conhecimento, para acompanhar o desenvolvimento cognitivo das crianças, tornando-se
quase impossível vir às reuniões de pais ou comemorações especiais realizadas no ambiente
escolar. Sendo assim, poucas crianças recebem a orientação familiar necessária, seja na execução
das tarefas de casa ou estudo das disciplinas, seja no acompanhamento de leituras diversificadas,
auxiliando no seu desempenho extra-curricular.
11
A Secretaria Municipal de Edução (Goiânia-GO), na gestão 1993-1996, na intenção de descentralizar parte de suas
ações, implantou os Núcleos Regionais de ensino; na gestão 1997-2000, houve a reestruturação do denominado
projeto de descentralização, e os Núcleos Regionais passaram a denominar-se Unidades Regionais de Ensino
(Mundim, 2004, p.256). O núcleo regional de ensino é, pois, uma subdivisão administrativa e pedagógica que
abrange escolas conforme as regiões em que se encontram (Knoblauch, 2004, p.25).
12
A Organização Alternativa surgiu em 2003 na Rede Municipal de Educação de Goiânia (RME) como uma forma
de continuar garantindo o direito de acesso à educação a pequenos grupos de educandos (mínimo de 40 e máximo de
90 alunos). A Organização Alternativa divide a EAJA de 5ª à 8ª séries em 2 (duas) ou 3 (três) turmas, que funcionam
com o agrupamento de duas séries e apenas 5 (cinco) professores assumem as 8 (oito) matérias curriculares
(Português, Inglês, Geografia, História, Arte, Educação Física, Ciências e Matemática).
33
O corpo docente é formado por professores graduados nas diferentes disciplinas, sendo a
maioria especialista em sua área de atuação. Para os turnos matutino e vespertino, reuniões
quinzenais, para realização do planejamento dos projetos temáticos que serão trabalhados no
período. O turno noturno trabalha com o tema gerador para a elaboração do conteúdo escolar.
O seu espaço físico é composto de sete salas de aula amplas, banheiro feminino e
masculino, bebedouro, biblioteca com um acervo significativo, quadra, pátio e cozinha. Além
disso, tem uma máquina de fotocópias, retroprojetor, grafoscópio, câmera de vídeo, TV, vídeo
cassete, DVD, aparelhos de som e materiais didáticos e paradidáticos variados.
1.5.7 Participante da pesquisa
A participante de nosso estudo é uma professora de LE-inglês da rede municipal de
ensino, nascida em Tucano, uma cidade do interior da Bahia. Em sua narrativa de vida, ela conta
que foi uma criança de família pobre, alfabetizada em uma escola pública da cidade, onde
ocorreu também o seu primeiro contato com a língua inglesa. Posteriormente, ainda adolescente,
ela saiu da sua cidade natal e foi morar com uma tia em São Paulo. Lá, terminou o segundo grau
e conseguiu um emprego como secretária em uma agência de publicidade. Durante esse período,
ela decidiu não dar continuidade aos estudos por dois motivos básicos: o primeiro foi por não se
considerar apta para enfrentar um vestibular em uma universidade pública; e o segundo não ter
dinheiro para pagar uma faculdade particular; todavia, com o auxílio da empresa onde trabalhava,
ela fez o curso de Letras em uma faculdade particular.
Depois da faculdade, ela se casou e teve dois filhos. Após o casamento e por causa do
emprego do marido, ela teve que mudar de cidade várias vezes, dificultando a continuação de sua
formação profissional. Mesmo assim, pelas cidades onde passava, ela fazia cursos de
aperfeiçoamento na língua estrangeira e trabalhava em escolas variadas (públicas e particulares),
como professora temporária. Finalmente, há pouco mais de cinco anos, sua família fixou
residência em Goiânia, ela conseguir passar em um concurso público realizado pela Prefeitura da
34
cidade e hoje atua como professora de LE-Inglês. Além disso, ela participa de cursos de formação
oferecidos pela SME, incluindo um curso específico para aperfeiçoamento na língua, pois é uma
pessoa preocupada com a sua ação pedagógica, principalmente com o seu desempenho
lingüístico. Ela tem buscado, ainda, melhorar a sua condição de educadora, compreender a
realidade dos educandos com quem trabalha e estabelecer uma forma mais real de entendimento
do valor da língua estrangeira na vida dos seus alunos.
A seção seguinte apresenta a composição estrutural do nosso estudo, bem como a divisão
dos capítulos e o conteúdo de cada um deles.
1.6 Organização da dissertação
Nossa investigação foi realizada com a intenção de contribuir para um melhor
conhecimento sobre o trabalho com a avaliação contínua nos ciclos de desenvolvimento e para a
conscientização dos agentes educacionais, apresentando, então, uma estrutura organizacional que
facilite a sua compreensão. Sendo assim, ela está composta por quatro capítulos e suas
subdivisões que serão descritos nos parágrafos seguintes.
O primeiro capítulo traz os aspectos formais e introdutórios da dissertação, os quais
procuram apresentar a importância e relevância do tema selecionado, bem como o problema a ser
pesquisado, os objetivos e as perguntas a serem respondidas ao final do estudo. Apresenta,
também, a organização estrutural desse trabalho dissertativo. Em seguida, mostramos o conteúdo
metodológico do estudo, traçando um breve histórico da pesquisa qualitativo-interpretativista e
seu desdobramento na Lingüística Aplicada, especificando também alguns dos tipos mais
utilizados atualmente. Além disso, discorremos sobre a metodologia usada na investigação das
crenças, os tipos de abordagens existentes e aquela adotada em nosso trabalho. Também
descrevemos os instrumentos de coleta dos dados, os procedimentos de análise, o contexto e a
participante da pesquisa.
No segundo capítulo, procuramos mostrar os principais teóricos dos tópicos em destaque
e as teorias que tentam explicar os fenômenos obtidos na coleta e análise dos dados. Nossa
35
tentativa é esclarecer o conceito, a influência das crenças do professor na aplicação dos
instrumentos de avaliação, um breve panorama da história da avaliação (suas concepções e tipos
variados) e da proposta denominada ciclos de desenvolvimento humano, finalizando-o com uma
apresentação sucinta da reflexão na prática pedagógica do professor.
A terceira e última parte deste trabalho apresenta a visão de alunos sobre avaliação, bem
como os modelos conhecidos por eles e suas sugestões para melhorar o ato de avaliar; traz
também a identificação das crenças da participante através da análise dos dados coletados,
descrevendo, pois, o tipo de avaliação que ela utiliza com grupos de alunos do ciclo II e o
relatório de algumas sessões reflexivas entre a pesquisadora (P) e a professora participante (PP).
Finalmente, apresentamos as considerações finais, as possíveis respostas às perguntas de
pesquisa, as referências e a bibliografia consultada. Outrossim, serão destacadas as limitações
desse estudo e propostos temas futuros inferidos a partir desta investigação.
Assim, o segundo capítulo introduz os aspectos teóricos que fundamentam o nosso estudo,
fortalecem as análises interpretativas dos dados, proporcionam uma discussão mais coerente dos
resultados apresentados.
36
CAPÍTULO II
CRENÇAS SOBRE AVALIAÇÃO CONTÍNUA NOS CICLOS DE
DESENVOLVIMENTO
É esse contato com diferentes realidades educacionais (escolas públicas,
particulares e assistenciais, escolinhas rurais, universidades federais e
particulares) que me permite perceber com clareza que a prática avaliativa do
professor reproduz e (assim) revela fortemente suas vivências como estudante e
como educador.
(Hoffmann, 2003, p. 12)
2.1 Introdução
Para alguns professores, avaliar é sinônimo de julgar, medir, rotular (Hoffmann, 2003).
Entretanto, educadores que entendem a avaliação como um recurso didático capaz de
diagnosticar dificuldades, reforçar a aprendizagem dos conteúdos e estimular a participação dos
alunos neste processo (Perrenoud, 1999, p.15). Assim, essa nova maneira de conceber a avaliação
tenta transformar o ato individual e autoritário de medir o conhecimento (comumente exercido
pelo docente) em uma ação colaborativamente compartilhada pelos envolvidos, isto é, entre
professores e alunos.
Essa é, pois, a concepção atual do processo avaliativo da educação fundamental proposto
para as escolas públicas municipais de Goiânia-GO. A partir da instituição do regime de Ciclos
de Aprendizagem para o ensino de crianças e adolescentes (Perrenoud, 2004), muitos conceitos
educacionais importantes foram substituídos, tais como: a seriação das fases de aprendizagem,
por ciclos de desenvolvimento cognitivo; a avaliação somativa, pela avaliação contínua; a
37
reprovação anual, pela retenção no final de um ciclo; e a recuperação, por acompanhamentos
individualizados ou reagrupamentos, apenas para citar alguns deles.
Contudo, a transição do regime de seriação para o sistema de ciclos não foi amplamente
aceita por todos os profissionais da educação. Havia aqueles que a entendiam como uma
inovação, uma modernização do ensino público brasileiro e outros que não viam a necessidade de
mudar o que estava previamente estabelecido, e mesmo para aqueles que não apresentavam
resistência a essas mudanças, a transposição do pensar para o agir não foi automática. É, pois,
nessa dimensão entre o discurso e a ação (prática) que encontramos as crenças.
As crenças representam as idéias, opiniões, concepções e teorias (implícitas) que
embasam a nossa prática, envolvendo o nosso fazer com o conhecimento adquirido através da
experiência pessoal (Dewey, 1959), e vão moldando a nossa ação pedagógica. Assim, a
experiência vivenciada no regime de seriação não foi abandonada por completo na implantação
do sistema de ciclos. Pelo contrário, ela tem influenciado o pensar e o agir dos agentes
responsáveis por essa mudança. Desse modo, muitos dos paradigmas que orientavam a antiga
prática continuam influenciando esse “novo” fazer pedagógico no que se refere à prática
avaliativa.
Com base nesses dados, elaboramos um estudo investigativo, a fim de identificar as
crenças de uma professora de LE-inglês sobre a avaliação contínua (doravante AvC) usada nos
Ciclos de desenvolvimento Humano (doravante CDH) em uma escola municipal da cidade de
Goiânia e como elas influenciam a prática pedagógica da participante da pesquisa. Com esse
estudo, queríamos, na realidade, que a AC fosse estudada e discutida, de modo que sua definição
e aplicação pudessem ser questionadas, resignificadas
13
, ou reafirmadas no cotidiano escolar
dessa professora.
13
Entende-se por ‘resignificações’ as mudanças processuais, lentas e compreensivas que o professor vai sofrendo nas
suas abordagens de aprender e ensinar, como fruto de uma relação dialógica ente teoria e prática (Blatyta, 2005, p.
66).
38
Sendo assim, o objetivo deste capítulo é trazer as teorias e os construtos que embasam
essa pesquisa, a saber: crenças, avaliação, ciclos de aprendizagem e reflexão do professor,
pensando em proporcionar um olhar mais verticalizado sobre os assuntos que fundamentam a
nossa análise. O tópico seguinte introduz as crenças, seus conceitos, contextos e ações na prática
pedagógica do professor.
2.2 O termo crenças e suas diversas definições
As crenças têm sido objeto de estudo de muitas áreas do saber, como a Antropologia, a
Sociologia e a Psicologia, por exemplo. Dentro da Lingüística Aplicada, elas vêm permeando as
abordagens de ensinar e aprender, a prática pedagógica do professor de LE e as diferentes
estratégias de aprendizagem utilizadas pelos alunos (Barcelos, 2004). É, pois, através da análise e
discussão das crenças que podemos entender melhor as escolhas e as tomadas de decisão do
professor, bem como o que o faz tomar consciência de suas ações, levando-o à reflexão sobre a
sua prática e propondo formas e caminhos novos para atingir os objetivos propostos.
Nesta pesquisa sobre crenças, dois questionamentos foram levantados: primeiro, que o
professor de LE–inglês, na escola pública municipal, baseia suas ações avaliativas na crença de
que é preciso mensurar (avaliação somativa) o desempenho cognitivo do aluno; e, segundo, que
esses educadores estabeleceram seus parâmetros de avaliação contínua com base na experiência
pessoal da avaliação somativa. Entretanto, para se discutir o tema é necessário fazer uma breve
introdução sobre o desenvolvimento das crenças, além de esclarecer o significado do termo, tanto
de forma ampla como específica, de acordo com o significado usado em nosso trabalho, traçando
um panorama geral dos possíveis conceitos utilizados.
2.2.1 Elaboração de um conceito
Elaborar a definição de um termo demanda estudos, pesquisas e discussões sobre o
assunto nos diversos eventos científicos. No caso das crenças, a dificuldade de conceituação está
no fato de ela ser usada por diferentes campos de estudo e constituir significados variados,
39
tornando complexa a adoção de uma definição funcional específica, mesmo na área educacional
(Pajares, 1992, p.313).
Assim sendo, as crenças foram, inicialmente, associadas ao conceito de crendice popular,
ou seja, “aquilo que as pessoas acreditam em relação a determinados assuntos” (Conceição, 2004,
p. 5). Corroborando com essa afirmação, Riley (1994, p.8) define-as como “idéias populares
sobre a natureza, estrutura e uso da língua, relação entre linguagem e pensamento, linguagem e
inteligência, linguagem e aprendizado e assim por diante”. Esse conceito, porém, não confere um
caráter científico às crenças, antes reforça a sua relação com o conhecimento popular, não sendo
considerado um assunto teórico ou sistematicamente investigado.
À medida que as pesquisas foram evoluindo, outros significados foram sendo construídos,
tais como: a) crenças como representações (Holec, 1987; Magalhães 2004; Horikawa, 2004): a
compreensão que o homem tem do mundo (o seu ambiente) e das relaçoes (sociais, interacionais)
que desenvolve com o Outro; b) as teorias pessoais (Pessoa, 2006): o conhecimento que o
professor adquire a partir das suas experiências pessoais, do contato com novas teorias e os
valores essenciais que vão sendo construídos ao longo da vida; c) a cultura (ou abordagem) de
aprender (Almeida Filho, 1993) que se caracteriza “pelas maneiras de estudar, de se preparar para
o uso, e pelo uso real da língua-alvo que [a pessoa] tem como normais” (Almeida Filho, 2002, p.
13); d) em Barcelos, 1995, o termo é utilizado como “o conhecimento intuitivo implícito (ou
explícito) dos aprendizes constituído de crenças, mitos, pressupostos culturais e ideais sobre
como aprender línguas” (Barcelos, 2005, p. 158), dentre muitos outros .
Note-se que os conceitos apresentados anteriormente não representam a variedade total de
termos existentes na literatura para designar crenças. Entretanto, eles foram selecionados apenas
como amostra da evolução sofrida ao longo dos tempos. Assim, o quadro a seguir oferece uma
visão global dos termos usados para representar crenças.
40
Quadro 6: Termos variados usados para designar crenças
TERMOS AUTOR
Proposições descritivas, prescritivas e
avaliativas
Rokeach, 1968
Determinantes do comportamento Brown & Cooney, 1982
Conhecimento prático Elbaz, 1983
Imagens Schön, 1983; Calderhead & Robson, 1991
Perspectiva do professor Tabachnick & Zeichner, 1984
Teoria populares Lakoff, 1985
Conhecimento metacognitivo / Crenças Wenden, 1986
Representações dos aprendizes Holec, 1987
Filosofia de aprendizagem de línguas Abraham & Vann, 1987
Conhecimento prático pessoal Clandinin & Connelly, 1987
Idéias pré-concebidas / Teorias implícitas Clark, 1988
Crenças culturais Gardner, 1988
Representações Riley, 1989; 1994
Cultura de aprender Almeida Filho, 1993; Barcelos, 1995
Concepções de aprendizagem e crenças Benson & Lor, 1999
Fontes: Barcelos, 2004; Kudiess, 2005; Silva, 2006
A expressão “crenças sobre aprendizagem de línguas”, finalmente, aparece em meados
dos anos 80, quando Howitz (1985) desenvolve o questionário BALLI
14
, instrumento usado para
fazer um levantamento sistemático das crenças de aprendizes de línguas. Posteriormente, outros
instrumentais técnicos foram elaborados para explicitação e avaliação das crenças de professores
e aprendizes: o CRESAL
15
, uma forma adaptada do BALLI; o QUALE
16
que é uma adaptação do
FLAS
17
, também organizado por Horwitz (Silva, 2004, p.104-105).
14
A sigla BALLI significa “Beliefs about Language Learning Inventory (Inventário de crenças sobre a aprendizagem
de línguas.
15
CRESAL: Crenças sobre Aprendizagem de Línguas.
16
QUALE: Questionário para Levantamento de Atitudes para com uma Língua Estrangeira.
17
FLAS: Foreing Language Aptitude Survey (Pesquisa de Atitudes em Língua Estrangeira)
41
Atualmente, os pesquisadores vêm optando pelo uso do termo crenças’, por diversos
motivos: a) por ser um conceito mais abrangente e vem sendo pesquisado mais tempo em
outras áreas fora da Lingüística Aplicada (Educação, Psicologia Cognitiva, Sociologia,
Antropologia, etc.); b) por ser o termo mais empregado em pesquisas nessa área no Brasil
(Gimenez, 1994; Barcelos, 1995; Feliz, 2004; Conceição, 2004; Silva, 2004; Silva, 2005, dentre
outros); e c) por ter sido trabalhado por teóricos representativos ao longo do tempo (Dewey,
1959; Horwitz, 1985; Wenden 1986; Nespor 1986; Pajares 1992, citando apenas alguns deles).
Por outro lado, encontrar uma definição unificada para o termo crença tem sido uma tarefa
complexa (Pajares, 1992). Sendo assim, alguns dos significados de crenças sobre aprendizagem
de línguas serão apresentados (Barcelos, 2004) como pressupostos teóricos para a formação de
um conceito usado na análise dos dados desta pesquisa.
Para Jonh Dewey (1959, p. 16), as crenças
abrange[m] todas as matérias de que não temos conhecimento seguro, mas em
que confiamos o bastante para nelas basear a nossa ação; e, igualmente, as
matérias aceitas como verdadeiras, como conhecimento, suscetíveis, todavia, de
futuras indagações (...).
De acordo com Wenden (1986, p. 5), as crenças são “opiniões baseadas em experiências e
opiniões de pessoas que respeitamos e que influenciam a maneira como eles (os alunos) agem”.
Por sua vez, Woods (2003, p.202) afirma que as crenças são individuais, mas podem ser mais
facilmente resignificadas através das interações sociais em instâncias (ou contextos) específicos.
Para o autor, elas estão integradas num modelo dinâmico maior de pensamento e ação no
processo de aprendizagem. Woods (p.205) ressalta, ainda, a relação existente entre crenças e
conhecimento: “Em termos de sua gênese e evolução, eles (os termos) são paralelos. O
42
conhecimento individual é visto como sendo estruturado e construído o tempo todo através de
interações sociais, assim como as crenças dele ou dela”
18
.
O paralelo de Woods (op. cit.) sobre crenças e conhecimento (Dewey, 1959, e Barcelos,
2000) é utilizado em muitas definições do termo, e, por isso, foi ressaltado no parágrafo anterior.
Desse modo, as crenças podem ser entendidas como o conhecimento sobre a aprendizagem de
línguas, obtido através das experiências, o qual está interrelacionado ao contexto sócio-histórico-
cultural onde estamos inseridos. As crenças são utilizadas, também, para a compreensão e
interpretação das ações dos professores e alunos, haja vista o seu caráter dinâmico, situacional e
individual; podem ser, ainda, modificadas, resignificadas ou ratificadas através da troca de
experiências (contexto social) ou do contato com as diversas teorias sobre a aprendizagem de
línguas (Barcelos, 2004).
Pajares (1992, p.311), entretanto, adverte sobre o cuidado que devemos ter com a
distinção existente entre crenças e conhecimento. Para o autor, apesar de pesquisadores, como
Lewis (1990, apud Pajares, 1992), considerarem os termos como sinônimos, os processos
cognitivos que envolvem o funcionamento e a ativação dos dois são diferentes. Ainda, Pajares
explica que a relação estabelecida entre conhecimento e crenças é artificial, pois “[a c]rença é
baseada na avaliação e no julgamento; o conhecimento é baseado no fato objetivo”
19
(op. cit. p.
313).
Assim, que definição adotar? Pajares (1992, p. 315) orienta que definições são apenas
convenções entre pesquisadores de que um determinado termo representa um conceito específico.
O autor também recomenda que o pesquisador deve justificar a definição escolhida de forma
consistente, precisa e apropriada. Desse modo, selecionamos algumas definições de crenças
relacionadas com experiências e ações de um quadro recentemente elaborado por Ortiz Álvarez
(2007, no prelo), identificando a visão de autores variados.
18
In terms of their gênesis and evolution, they are parallel. An individua1s knowledge is seen as being structured and
constructed over time through social interactions, as his or her beliefs.
19
Belief is based on evaluation and judgment; knowledge is based on objective fact” (op. cit. p.313).
43
Quadro 7: Definições de crenças e seus autores
Autor Definição de crenças
BROWN & COONEY (1982)
Disposições para ações e determinantes
principais de comportamento, embora essas
disposições estejam num tempo e num contexto
específico.
BARCELOS (1995)
Opiniões e idéias que alunos e professores têm a
respeito dos processos de ensino e
aprendizagem de línguas
LEWIS (1990)
A origem de todo conhecimento está enraizada
na crença. Os modos de conhecer basicamente
são os modos de escolher valores. A coisa mais
simples, empírica e observável que uma pessoa
conhece, através da reflexão revela-se como um
julgamento avaliativo, uma crença.
GERALDINI (1995)
As crenças o construídas gradualmente com o
tempo e se compõem de dimensões subjetivas e
objetivas. Para muitos professores suas crenças
se sustentam em sua experiência; fatores de
personalidade, sua própria experiência como
aluno e suas crenças sobre o ensino. Geralmente
são um reflexo da forma como foram ensinados.
KALAJA (1995)
As crenças são construídas socialmente, são
também interativas, sociais e variáveis, pois
podem ser modificadas.
RAYMOND & SANTOS (1995)
São as idéias fundamentais das pessoas a
respeito de suas experiências de vida, e afetam
diretamente as suas ações, quer se admita
conscientemente estas crenças, quer não.
ORTIZ ALVAREZ
A crença constitui uma firme convicção,
opinião e/ou idéia que tem o indivíduo, baseada
nas experiências vivenciadas e no tipo de
personalidade, além de serem constituídas no
meio social, podendo ser modificadas com o
tempo, de acordo com as necessidades do
indivíduo.
Fonte: Adaptado de Ortiz Álvarez (2007, no prelo)
A essa visão panorâmica dos conceitos utilizados no meio acadêmico para designar as
crenças, gostaríamos de acrescentar a definição de Ortiz Álvarez (2007, p. 9, no prelo): “a crença
constitui uma firme convicção, opinião e/ou idéia que tem o indivíduo”. A autora enfatiza, ainda,
a ligação existente entre convicção e intuição, sendo ambas baseadas nas experiências
44
vivenciadas e no tipo de personalidade, além de serem construídas no meio social. As crenças
podem ser também modificadas com o tempo, de acordo com as necessidades do indivíduo.
Observando as definições anteriores, percebemos nelas a dificuldade que Pajares (1992,
p.313) apontou: muitos significados diferentes para um termo. Por outro lado, verificamos
entre elas aspectos convergentes, como idéias, opiniões, orientação do comportamento, formadas
com base na experiência.
Respaldados pela descrição de Ortiz Álvarez (op. cit.), entendemos que crença é um saber
intuitivo, o qual se forma a partir das experiências anteriores, que envolvem as ações do
indivíduo, podendo ser modificada por influência das interações sociais e teóricas. Essa é, pois, a
definição que adotaremos para a identificação das crenças da professora participante desta
pesquisa. Assim, tentamos elaborar uma figura que explica e sintetiza a nossa concepção de
crença, baseada nas leituras realizadas sobre o termo em discussão.
Figura 1: Concepção de crenças
45
Através da figura queremos mostrar que é possível que situações externas ao professor
tornem-se contatos pessoais ou profissionais, sendo que tais contatos podem transformar-se em
experiências. As experiências, por sua vez, podem modificar suas crenças, reforçá-las ou não
provocar grandes perturbações em suas ações, caso não tenham sido significativas para ele.
Entretanto, salientamos que, após certo contato com crenças variadas, a compreensão do
professor sobre determinado assunto pode ser alterada pela reflexão provocada pelo
conhecimento teórico e pela interação social.
Na seqüência, apresentaremos uma discussão sobre contexto, crenças e ações, baseada no
artigo de Barcelos (2006b), onde Ele faz um levantamento das tendências mais recentes na
pesquisa de crenças sobre ensino e aprendizagem de línguas, apresentando os trabalhos mais
expressivos nos diversos temas investigados em LA.
2.2.2 Contexto, crenças e ações
Barcelos (2006b) apresenta uma retrospectiva do número crescente de estudos sobre
crenças realizados no Brasil e no mundo: em nível de pós-graduação - Conceição, 2004; Garbuio,
2005; S. Silva, 2004; K. Silva, 2005; em formato de artigo - Barcelos, 2004; Félix, 2004; Silva,
2004; Kudiess, 2005; dentre outros; a publicação de livros - Kalaja & Barcelos, 2003; Barcelos &
Vieira-Abrahão, 2006; revistas - System, 1999; Revista Brasileira de LA, 2001, Horizontes,
2004; Linguagem & Ensino, 2004; e outros; além dos eventos nacionais e internacionais -
Conferência Internacional de LA, Tóquio, 1999; VI Congresso Brasileiro de LA-MG, 2001; VII
Congresso Brasileiro de LA- SP, 2004; Impla, 2004, 2005; apenas para citar alguns), mostrando
assim, a importância que o tema vem ganhando atualmente.
Inicialmente, os métodos de pesquisa eram baseados no que as pessoas diziam (forma
falada ou escrita) e nos dados coletados, principalmente, através de questionários e entrevistas,
não permitindo um tratamento mais aprofundado que respeitasse as múltiplas faces do tema. Por
esse motivo, nas pesquisas mais recentes foram acrescentados outros métodos: análise de
46
metáforas (Kramsch, 2003); análise de discurso e de repertórios interpretativos (Grigoletto, 2001,
apud Barcelos, 2006b); narrativas e histórias de vida (Vieira-Abrahão, 2004; Pereira, 2006);
diários (Sakui e Gaies, 2003; Garbuio, 2005); além das autobiografias, ou auto-estudo ou estudo
de si mesmo (Sakui, 2002) e desenhos (Swales, 1994; Lima, 2005, apud Barcelos, 2006b). Isso
mostra a evolução das pesquisas em crenças, pois, de um método, os questionários fechados,
ela passou ao uso variado de instrumentos na coleta dos dados, aspecto que favorece a
triangulação e a fidedignidade da investigação (Barcelos, 2006b, p.21).
Os primeiros trabalhos focalizam, basicamente, a identificação das crenças (Howitz,
1985); mais tarde, a preocupação era com a influência das crenças na prática do professor e na
aprendizagem dos alunos (vertentes ainda atuais); os modelos mais recentes sugerem a busca
por uma compreensão maior da função das crenças na aprendizagem e ensino,
seja através da análise do papel que as crenças exercem no ensino reflexivo, na
tomada de decisão dos professores, na sua identidade ou em como elas
interferem na relação professor-aluno (Barcelos, 2006b, p.25) .
Outro aspecto de grande importância para as novas investigações é o estudo de um
contexto que represente a realidade brasileira de ensino (no nosso caso, o de línguas) e contemple
o valor do caráter social e colaborativo da cognição - do ponto de vista da construção do
conhecimento através da interação social moldada por processos culturais e sócio-políticos
(Barcelos, 2006b, p.16).
Segundo Barcelos (2006b, p.25), as crenças exercem grande influência nas ações e as
ações também podem influenciar as crenças. Assim, com base nos apontamentos de Richardson
(1996, citado por Barcelos, 2006, p. 25), existem pelo menos três maneiras de se entender ou
perceber a relação entre crenças e ações: 1) uma relação de causa-efeito, isto é, ligada ao
comportamento; 2) uma relação interativa (influência mútua), ou seja, crenças e ações podem
sofrer mudanças através da reflexão; e 3) uma relação complexa entre as crenças do professor e
suas ações dentro de um contexto natural (op. cit.).
47
Barcelos, afirma ainda, que a compreensão da relação entre o discurso e a prática do
professor, depende do contexto e suas influências. Assim, a autora, apoiada nos estudos de
Woods (2003), argumenta que o conflito entre crenças e ações é provocado
por discrepâncias
entre o BAK
20
e o comportamento, ou melhor, “a crença evolui, mas o comportamento não
acompanhou a evolução, encontrando-se fossilizado em um estágio anterior ao da crença”
adquirida (Barcelos, 2006b, p.28).
E mais, a autora afirma que as ações dos professores moldam o contexto e são , também,
moldadas por ele. A complexidade da sala de aula gera conflitos para o professor, afetando a
percepção do mundo educacional à sua volta. Além disso, fatores contextuais extra sala de aula
(como pais, coordenadores, políticas públicas, colegas, condições de trabalho etc.) interferem na
habilidade do professor de adotar práticas que reflitam suas crenças (Borg, 2003, citado por
Barcelos, 2006b, p.30).
Barcelos (op. cit. p.32) também apresenta o Modelo de Operação Global de Línguas
criado por Almeida Filho (1993), o qual “inclui a abordagem ou cultura de aprender do aluno, a
abordagem do material didático e de terceiros como forças influentes na abordagem de ensinar do
professor”. Igualmente, as crenças dos alunos são apontadas como um fator que influencia nas
crenças e prática do professor, bem como a concepção do professor sobre a abordagem
comunicativa, as expectativas dos alunos sobre as aulas, materiais usados, dentre outros.
Sendo o foco de nossa investigação as crenças de uma professora de LE (inglês) sobre
avaliação contínua e a influência delas em sua prática pedagógica, acreditamos ser imprescindível
a discussão de dois temas distintos: crenças sobre o ensino e aprendizagem de línguas e crenças
sobre avaliação. O primeiro é importante porque as crenças da professora participante são
constituídas com base em suas experiências como aluna e professora de LE, e o segundo, por
ser o motivo da existência dessa pesquisa. Esses são os temas apresentados na sessão seguinte.
20
O termo foi usado por Woods (1996, citado por Barcelos, 2000) e significa: Belifs, Assumption and
Knowledge(Crenças – Pressupostos – Conhecimento).
48
2.2.3 Crenças sobre o ensino e aprendizagem de línguas
O interesse pelas crenças na aprendizagem de línguas começou em 1978, quando
Hoselfeld, desenvolvendo uma pesquisa, utilizou a expressão “mini-teorias de aprendizagem de
línguas”, referindo-se ao conhecimento adquirido pelos alunos (Barcelos, 2004, p.127; Silva,
2004, p.101). Entretanto, a partir dos anos 80 é que o termo começou a ser seriamente
investigado. Alguns dos primeiros nomes envolvidos com os estudos de crenças no exterior
são: Howitz (1985, 1987, 1988, dentre outros) e Wenden (1986, 1987).
No Brasil, os primeiros estudos em crenças surgiram na década de 90, embora os
pesquisadores não utilizassem a palavra “crenças” como um paradigma teórico. Assim, a
pesquisa desenvolvida por Leffa (1991) é considerada o marco da temática, pois investiga
as concepções de alunos da série de uma escola pública de Porto Alegre. Além disso, outros
nomes surgiram como precursores de trabalhos nessa área: Almeida Filho (1993), Gimenez
(1994) e Barcelos (1995).
O quadro seguinte mostra os primeiros trabalhos desenvolvidos na área de crenças sobre
ensino e aprendizagem de línguas nos contextos internacional e nacional.
49
Quadro 9: Marco teórico dos trabalhos desenvolvidos sobre crenças de ensino e aprendizagem de línguas
Fonte:
Baseado em Barcelos (2004) e Silva (2005)
Visualizando os primeiros trabalhos sobre crenças no exterior, percebemos a distância
entre eles e o início das investigações no Brasil. Entretanto, a partir dos anos 90, houve uma
proliferação significativa dos estudos nessa área e, atualmente, o número de pesquisas
21
em
crenças sobre ensino e aprendizagem de línguas é abundante, principalmente pela atenção que
tem sido dada às crenças do professor e do aluno no contexto natural de sala de aula.
Como citado anteriormente, a criação do BALLI (Howitz, 1985), questionário usado para
levantamento de crenças, introduziu o uso da expressão “crenças sobre ensino e aprendizagem de
línguas”, referindo-se à investigação voltada para a sala de aula.
Todavia, o surgimento da abordagem
22
comunicativa, no final da década de 70,
revolucionou o ensino de línguas, promovendo a mudança de foco nos paradigmas de ensino de
21
Alguns dos trabalhos realizados na Lingüística Aplicada com enfoque nas crenças de professores e de aprendizes
de línguas: Wenden (1986), Leffa (1991), Gimenez (1994), Barcelos (1995), Kern (1995), Rolim (1998), Howitz
(1999), Benson e Lor (1999), Yang (1999), Sakui e Gaies (1999) Cotterall (1999), Barcelos (2000), Belam (2004),
Conceição (2004), Silva, (2004), Garbuio (2005), Silva, (2005).
22
Entenda-se abordagem como definida em Almeida Filho (2002, p.13) : “uma filosofia de trabalho, um conjunto de
pressupostos explícitos, princípios estabilizados ou mesmo crenças intuitivas quanto à natureza da linguagem
humana, de uma língua estrangeira em particular, de aprender e de ensinar línguas, da sala de aula de línguas e de
papéis de aluno e de professor de uma outra língua”.
Investigaçã
o de
Crenças
Exterior
Brasil
Hoselfeld
(1978)
Howitz
(1985)
Wenden
(1986)
Leffa
(1991)
Almeida
Filho
(1993)
Gimenez
(1994)
Barcelos
(1995)
50
línguas: a) a função da língua é a interação social e a comunicação; b) o professor é um
facilitador do processo comunicativo; e c) o aluno participa ativamente do processo de
aprendizagem (Silva, 2004, p.102).
Assim, o aprendiz passou a desempenhar um papel mais específico dentro de sua
aprendizagem e o professor ganhou um parceiro na tarefa de ensinar (Larsen-Freeman, 1998,
p.207). Com a crescente modernização das bases educacionais, era preciso, pois, reorganizar as
concepções teóricas que envolviam as maneiras de ensinar e de aprender. Seguindo a orientação
de Almeida Filho (2002), discutiremos a nova visão dessas abordagens.
2.2.3.1 Culturas/Crenças (Abordagens) de aprender e de ensinar
Almeida Filho (2002, p.13) argumenta que, para produzir as mudanças profundas e
inovadoras evidenciadas pelo comunicativismo, é preciso alterar a “compreens[ão] vivenciada da
abordagem de aprender dos alunos e da abordagem de ensinar do professor”. Incorporando essa
nova concepção de ensino de línguas, o autor elaborou um conceito de crenças como abordagens
(ou culturas) de aprender e de ensinar.
As culturas/abordagens de aprender dos alunos são, pois, “maneiras de estudar, de se
preparar para o uso, e pelo uso real da língua-alvo que o aluno tem como ‘normais”. Essas
culturas se desenvolvem com o tempo, solidificando-se em tradições. Assim, a cultura de
aprender de um aluno pode ser diferente da cultura de ensinar de um professor, gerando
conflitos para o processo de ensino e aprendizagem (Almeida Filho, 2002, p.13). Segundo o
autor, os confrontos podem ser minimizados através da compreensão consciente dessas culturas.
Desse modo, Almeida Filho apresenta a cultura de ensinar como um “conjunto de disposições de
que o professor dispõe para orientar todas as ações da operação global de ensinar uma língua
estrangeira” (op. cit.)
Conforme Barcelos (2004, p.128), quando um conceito começa a fazer parte de modelos
teóricos, isso significa que ele está se fortalecendo. Assim, esse Modelo de Operação Global,
51
sistematizado teoricamente pela primeira vez por Almeida Filho (2002, p.17), influenciou toda
uma visão do processo de aprendizagem de LE, colocando as crenças (ou cultura) de ensinar
como um dos fatores responsáveis pelas possíveis mudanças, através de rupturas ou reflexões, na
prática do professor (Barcelos, 2004, p.128).
A figura a seguir representa o Modelo Ampliado da Operação Global de ensino de
línguas, apresentando quatro dimensões essenciais: o planejamento, o material didático, o método
(experiências de aprender do aluno) e a avaliação do rendimento do aluno.
Figura 2: Modelo Ampliado da Operação Global do ensino de línguas
Fonte: Almeida Filho (2002, p. 17)
Nesse modelo, podemos observar os aspectos exteriores, incluindo as competências
23
, que
formam a abordagem de ensinar do professor, inclusive suas concepções de linguagem, de
aprender e de ensinar. Essa abordagem é responsável pelas ações do professor no planejamento,
na produção e seleção de materiais didáticos, no uso dos métodos e das técnicas e na aplicação
23
Para um estudo mais detalhado sobre as competências ver: Almeida Filho (2005, p. 80-82); Neves (1996, p.73-
74), dentre outros.
52
dos critérios avaliativos. Todo esse processo de construção da prática pedagógica do professor é
permeado pelas crenças que envolvem todos os níveis de conhecimento e podem ser modificadas
ou resignificadas através das ações do professor.
Concordamos com Blatyta (2005, p. 66) na adaptação do termo rupturas, usado por
Almeida Filho (2002, p. 17), para a palavra resignificação, pois segundo a autora rupturas pode
remeter a rompimentos, mudanças bruscas, que aconteceriam de modo drástico”. Nesse sentido,
Blatyta (op. cit) argumenta que o processo de modificação das crenças na ação é lento e gradual,
necessitando de tempo para ser percebido na maneira de ensinar do educador.
Entendemos que falar sobre a abordagem de ensinar do professor, remete-nos a duas
grandes abordagens de ensino de línguas (ou seja, teorias sobre a natureza da língua e sobre
como são aprendidas): a tradicional ou gramatical e a comunicativa (Almeida Filho, 1997, p. 16).
Segundo Neves (1996, p.70), a abordagem gramatical (doravante AG) enfatiza o “ensino de
gramática de forma dedutiva, através de explicações de regras gramaticais, feitas na língua do
aprendiz”. A autora afirma também que o professor exerce o papel de autoridade e a interação
professor-aluno é centrada no educador. No modelo tradicional, a avaliação utiliza testes sobre o
“conhecimento de regras gramaticais e descrições metalingüísticas, além de questões abertas com
itens de traduções, redações, ditados, leitura e compreensão de textos e lista de vocabulários (op.
cit.). Os métodos Gramática e tradução, Direto, Estrutural ou Áudio-Lingual são classificados
dentro da AG de ensino de línguas.
A abordagem comunicativa (doravante AbC) propõe o resgate da língua como um todo,
“no propósito da comunicação, e não mais na forma, na estrutura, na gramática” (Ridd, 2003,
p.99). De acordo com Neves (1996, p.73), foi na AC que o conceito de competência começou a
ser desenvolvido e, finalmente, Canale (1983, apud, Neves, 1996, p. 73) “propôs um modelo final
que integrasse as quatro habilidades ouvir, falar, ler e escrever com quatro componentes da
maior importância competência gramatical, competência socio-lingüística, competência
discursiva e competência estratégica. Finardi (2005, p. 193) argumenta que um dos princípios
básicos do comunicativismo é o uso da linguagem autêntica, a qual
53
assemelha-se àquela usada pelos falantes nativos do idioma e origina-se em
situações reais e não fabricadas para uso em sala de aula, e é relevante para o
aluno uma vez que é selecionada conforme as suas necessidades de interação.
Era de se esperar que o método comunicativo valorizasse as relações sociais dentro um
grupo, buscando um tipo de linguagem marcadamente natural (a lúdica) que favorecesse a
aprendizagem da LE. Porém, segundo a autora, a linguagem lúdica não é considerada uma forma
de instrução eficaz pelo uso da repetição, manipulação e ficção da linguagem, originando-se no
prazer mais do que na necessidade do falante (op. cit.). Segundo Cook (2000, apud, Callegaro,
2005, p. 123), o aprofundamento no conhecimento de uma LE “requer o uso lúdico dela, isto é, se
o aprendiz está apto para brincar com a língua, isso significa que ele tem ferramentas para o uso
desta língua em ocasiões ordinárias da vida”, além de ajudar na superação das dificuldades fora
de sala de aula. Essa afirmação corrobora a hipótese do filtro afetivo, pois segundo Krashen
(1987), ele faz parte do processo interno no qual configuram os estados emocionais, as atitudes,
as necessidades, a motivação do aprendiz ao aprender uma língua, e que regula e seleciona
modelos de língua a serem aprendidos, a ordem de prioridade na aquisição e a velocidade nesta
aquisição.
A hipótese do filtro afetivo, portanto, incorpora a visão de Krashen (1987) de que um
número de variáveis afetivas tem um papel facilitador na aquisição de uma segunda língua. Estas
variáveis afetivas incluem: motivação, autoconfiança e ansiedade. Aprendizes motivados,
confiantes e com baixa ansiedade tendem a ser bem sucedidos no processo de aquisição de uma
segunda língua. Esses aprendizes teriam um baixo filtro afetivo e absorveriam insumo com muito
mais facilidade, enquanto que alunos tensos, ansiosos e com baixa estima, tenderiam a elevar o
nível de seu filtro afetivo e a formar um tipo de bloqueio mental, diminuindo, assim, sua
capacidade de absorção de insumo. Aqueles aprendizes cujas atitudes não são ideais com relação
à aquisição de uma segunda língua, não apenas tenderão a procurar menos insumo como terão um
alto filtro afetivo, e “mesmo que a mensagem seja entendida, impedirá que o insumo alcance a
parte do cérebro responsável pela aquisição de língua, ou o Dispositivo de Aquisição de Língua -
LAD” (Krashen, 1987).
54
Segundo Almeida Filho (2002, p.36), alguns métodos de ensino se identificam com os
parâmetros da abordagem comunicativa, tais como: o método Silencioso, da Resposta Física
Total, Aprendizagem Comunitária e Sugestopedia, os quais não utilizam o foco na forma como
princípio central e valorizam “a providência de oferecer situações de aprendizagem não-defensiva
em ambientes o menos tenso possível”. Ainda segundo Neves (1996, p.74), o material didático
usado na AC reflete o paradigma nocional/funcional, observando as necessidades dos alunos e
oportunizando atividades que desenvolvem suas estratégias de aprendizagem e comunicação.
Para Maia et. al. (2002, p.38), o papel do professor é de facilitador e monitor do processo
comunicativo, gerenciando as atividades em sala e promovendo a comunicação com o grupo
(alunos e professor).
No próximo tópico, procuramos ampliar o histórico das crenças, apresentando as crenças
sobre avaliação e oferecendo uma visão sucinta de alguns trabalhos já realizados na área.
2.2.3.2 Crenças sobre avaliação
Note-se que, até aqui, as crenças foram tratadas num contexto mais generalizado de
ensino e aprendizagem de professores e alunos. Todavia, como essa pesquisa busca investigar as
crenças de uma professora de LE sobre avaliação, faz-se necessário discorrer sobre a cultura de
avaliar implícita nas abordagens de ensinar e aprender de professores e alunos.
Scaramucci (1997, p.77) utiliza o termo cultura de avaliar (o termo se relaciona com a
cultura de ensinar e aprender Almeida Filho, 1993; Richards & Lockhart, 1995; e Barcelos,
1995) como
crenças, pressupostos teóricos, atitudes, mitos - construídos ao longo dos anos a
partir de nossas experiências de ensinar e aprender, muitas vezes superadas e sem
reflexão - e que acabam por determinar, na maioria das vezes de forma
inconsciente, os rumos de nossa prática.
55
A autora, ainda, argumenta que a cultura de avaliar dos professores, mesmo de
nacionalidades variadas, se assemelha quando mostra “práticas a serviço de um ensino autoritário
e centralizador, em que a avaliação é verificação de acertos e erros baseada no produto ou no
desempenho do aluno” (1997, p.77). Essa cultura, pois, se reflete na utilização da prova como
forma de medir o conhecimento do aprendiz, atribuindo-lhe conceitos que estabeleceram seu
sucesso ou fracasso na aprendizagem (Belam, 2004, p.10).
De acordo com Scaramucci (1997, p.76), uma contradição entre o discurso e a prática
do professor no que se refere à avaliação. Se no discurso ela é importante para o processo de
ensino e aprendizagem de línguas, na prática, ela carrega os velhos paradigmas, pressupostos e
conceitos ultrapassados, remanescentes da sua experiência pessoal, como educando e educador.
Concordamos com a afirmação de Rolim (1998, p.47) de que o reconhecimento da
importância da avaliação apenas no discurso não é suficiente para promover as mudanças
necessárias na cultura de ensinar/aprender do professor. É preciso haver discussões, reflexões e
ações que promovam a compreensão de questões subjacentes ao tema, bem como a
ampliação do conceito de avaliar que
nesse contexto tem a função mais ampla de coletar informações de forma
sistemática, para tomar decisões; informações sobre a prática para a prática, e,
portanto, um processo dinâmico de tomada de consciência para mudar quando
necessário, para reconsiderar, para redimensionar a ação e sua direção
(Scaramucci, 1997, p.78).
Para Rolim, (op. cit.), nos estudos de Barcelos (1995) sobre a cultura de aprender
identificamos algumas crenças do professor sobre avaliação, tais como: a) ele exerce seu poder
pela atribuição de notas; b) o professor deve reprovar para mostrar sua autoridade; c) ele deve,
também, enfatizar os erros de alunos que insistem em demonstrar maior conhecimento que os
colegas.
56
Com a sistematização teórica do construto ‘crenças’ (Almeida Filho, 1993; Gimenez,
1994; Barcelos, 1995, etc.), outras pesquisas surgiram e o tema evoluiu para crenças mais
específicas a respeito de diferentes aspectos dentro do ensino e aprendizagem de línguas. Assim,
Barcelos (2006, p.23) apresenta-os: gramática, leitura, bom aprendiz, correção de erros, linguagem
lúdica, vocabulário e ensino de vocabulário, motivação, oralidade e avaliação.
Assim, com o desenvolvimento da cultura de ensinar e aprender de professores e alunos, os
estudos sobre a cultura de avaliar foram incorporados à discussão do fazer pedagógico dos
educadores. Os trabalhos de Rolim (1998) e Belam (2004) investigaram a cultura de avaliar de
professoras de LE-inglês, auxiliando na solidificação do tema entre os pesquisadores de LA.
Após a apresentação das crenças como o tema central do nosso trabalho, o item posterior
introduz o assunto motivador da pesquisa: a avaliação.
2.3 Avaliação nos ciclos de desenvolvimento humano
A avaliação vem, ao longo dos anos, sofrendo diversas transformações (como, por
exemplo, a substituição do modelo somativo para o formativo, a auto-avaliação, etc.) e
questionamentos sobre a sua utilização. Numa época de inúmeras mudanças sociais que afetam
diretamente o modo de atuar da sociedade, exige-se dos agentes educacionais uma posição mais
definida como instrumentos transformadores do processo educacional escolar (Ferreira, Souza,
Souza, 2003). Assim, a escola passa a ser um espaço privilegiado de análise e prática deste novo
momento da educação, e, portanto, torna-se necessário refletir quanto a sua finalidade e realidade,
bem como a relação que ela estabelece com o processo avaliativo.
A subseção seguinte apresenta uma breve discussão sobre a educação brasileira, o valor
atribuído à avaliação na história educacional, o conceito e o papel que ela desempenha na
estrutura do ensino fundamental e o resultado obtido nas escolhas avaliativas dentro dos ciclos de
desenvolvimento humano.
57
2.3.1 Avaliação e escola: um binômio perfeito
Com a globalização da educação, a escola também precisou reformular a sua prática
educacional e redirecionar os seus objetivos e metas de ensino. Sobre esse novo status da escola,
Bernardo Toro ( apud, Maragon e Lima, 2002, p.25), filósofo e educador colombiano, afirma que
ela “tem a obrigação de formar jovens capazes de criar, em cooperação com os demais jovens,
uma ordem social, na qual todos possam viver com dignidade”.
Baseado na visão das realidades sociais, culturais e econômicas, Toro (op. cit.) elabora
oito habilidades que considera necessárias no desenvolvimento da educação de crianças e jovens
para que tenham uma participação mais produtiva no século XXI, a saber:
Dominar as linguagens utilizadas pelo homem; saber resolver problemas;
analisar é interpretar fatos; entender a sua função e atuação na sociedade;
receber criticamente os meios de comunicação; localizar, acessar e usar melhor a
informação acumulada; planejar, trabalhar e decidir em grupo; e desenvolver a
sua mentalidade internacional (Toro, apud, Maragon e Lima, 2002, p.25).
O autor também valoriza o “saber social”, isto é, um conjunto de conhecimentos, práticas,
valores, habilidades e tradições, que envolve outras áreas da sociedade na complementação da
aprendizagem da criança. Assim, a escola, a família, os amigos, a igreja e os meios de
comunicação são ambientes de aprendizagem e, ao unirem seus propósitos comuns, estarão
contribuindo para mudanças sociais profundas e para a conscientização da atuação de cada um no
processo de transformação da sociedade onde vivemos (op. cit.).
Percebe-se, então, que Educação e Escola se complementam, por buscarem mecanismos
mais apropriados de melhoria do ensino, alternativas para facilitar o acesso ao conhecimento e
dinamizar os recursos avaliativos. É interessante observar a importância da avaliação no
58
desempenho educacional do aluno, isso porque com o poder de rotular os estudantes (atribuindo
notas), ela pode criar monstros” os alunos abandonam os estudos e vivem à margem da
sociedade, trabalhando em subempregos - ou “médicos” crianças que continuam seus estudos e
chegam à universidade (Ferreira, Souza e Souza, 2003, p.17). Dessa maneira,
a avaliação é parte integrante e intrínseca ao processo educacional, indo muito
além da visão tradicional, que focaliza o controle externo do aluno por meio de
notas e conceitos, [...] é um meio de se compreender o que se alcança e por quê.
Torna-se, desse modo, uma atividade iluminadora e alimentadora do processo de
ensino-aprendizagem, uma vez que dá retorno ao professor sobre como melhorar
o ensino, possibilitando correções no percurso e retorno ao aluno sobre seu
próprio desenvolvimento. Ensinar torna-se, então, um processo dinâmico, no
qual reações, ao fluir da interação, entre professor e aluno / entre aluno e
aluno / entre aluno e conteúdos [...]; a avaliação não deve ser confundida com
testes [...], pois [e]stes são instrumentos, meios para um fim. [Assim, devemos]
[a]valiar para quem? A avaliação é necessária para o professor (para
acompanhar a evolução do processo de aprendizagem), para o aluno (para ter
indicações imediatas e contínuas do resultado de sua atividade), para os pais
(participantes envolvidos no processo educacional de seus filhos) e para a
sociedade (a quem o sistema educacional deve uma satisfação sobra sua
eficácia) (PCNs, p.57-9).
Questiona-se, assim, qual o sentido da avaliação, haja vista o seu comprometimento com
o sistema, marginalizando ideologicamente os envolvidos no processo intelectual. A solução seria
excluí-la do processo escolar? Dir-se-ia que as respostas estão nos critérios avaliativos
24
utilizados. Existem formas boas e variadas para tornar esse recurso, a princípio didático, justo e
produtivo. Para isso, é imprescindível que os envolvidos participem desse processo de
aprendizagem, estabeleçam objetivos propostos nos conteúdos a serem estudados em cada
disciplina e observem o projeto político-pedagógico da escola. Assim, o planejamento é um ponto
inquestionável para o sucesso das ações na escola e os mecanismos de avaliação são tão
importantes quanto os conteúdos (Libâneo, 1984, p.33).
Dessa maneira, como mediador do processo avaliativo, o professor deve estar consciente
de que a avaliação não se dá num dia estabelecido e com uma determinada nota. É nos trabalhos
24
Os critérios avaliativos podem ser a clareza de objetivos e metas; a utilização dos resultados da avaliação no
processo de ensino aprendizagem, especificados pelos mais variados modelos de avaliação adotados.
59
individuais, na interação com o grupo e com o mestre, nas relações interpessoais que o professor
está apto para analisar o rendimento de cada estudante. Sendo assim,
o desempenho do aluno não pode ser o resultado de apenas um dia de prova,
mas de outros dias (muitos) em que construiu sua aprendizagem passo a
passo, com retrocessos e avanços, em processo especial, característica do ato
de aprender (Oliveira, 1990).
Apesar das controvérsias sobre a avaliação, não estamos propondo o abandono dos
métodos avaliativos formais (provas, testes, etc.), contudo questionamos o seu uso como um
instrumento de punição e injustiça, atrelada a uma concepção sentenciva, de julgamento de
resultados (Hoffmann, 2003, p.24). Pensando nisso, não devemos considerar a avaliação um
mecanismo de averiguação do conhecimento, mas transformá-la em mais um momento de
aprendizagem compartilhado por professores e alunos (Romão, 1998, p.88).
No tópico seguinte, faremos uma inserção na história da avaliação, procurando
compreender a sua evolução e descobrir onde ela perdeu sua função de recurso didático e se
tornou um instrumento de tortura.
2.3.2 Avaliação: um panorama histórico
O ato de avaliar é tão antigo quanto a própria existência humana e, por que não dizer,
remonta à criação do mundo. Assim, quem criou a avaliação? Quais os critérios usados em sua
elaboração? Em que comunidades ela foi instituída? O relato a seguir introduz algumas respostas
para esses questionamentos.
No princípio, Deus criou os céus e a terra e, ao observar o que havia feito, disse:
“Vejam só como é bom o que fiz!” E esta foi a manhã e a noite do sexto dia. No
sétimo dia, Deus descansou. Foi então que o seu arcanjo veio e lhe perguntou:
“Senhor, como sabe se o que criou é bom? Quais são os seus critérios? Em que
baseia o seu juízo? Que resultados, mais precisamente, o senhor estava
esperando? O Senhor, por acaso, não está demais envolvido em sua criação para
fazer uma avaliação desinteressada?” Deus passou o dia pensando sobre estas
perguntas e à noite teve um sono bastante agitado. No oitavo dia, Deus falou:
60
“Lúcifer, para o inferno!” E assim nasceu, iluminada de glória, a avaliação.
(De a verdadeira estória do paraíso perdido de Halcom, apud Belam, 2004, p.17)
Mas, será que esse é o começo da tortura
25
escolar dos educandos? Sabendo-se que desde
os rituais de iniciação realizados por tribos primitivas, significando a aprovação do jovem à vida
adulta; a sugestão de crates da auto-avaliação: “Conhece-te a ti mesmo”; os critérios criados
por chineses e gregos para selecionar trabalhadores; os exercícios orais usados como avaliação
nas universidades medievais podem ser considerados os precursores do nosso sistema avaliativo
(Aranha, 1993, p.48).
Outras comunidades, como a romana, também procuraram criar suas próprias formas de
exames, entretanto determinamos o descobrimento do Brasil como o ponto em que os jesuítas
plantaram as raízes da escola brasileira, moldada sob parâmetros europeus, elitistas,
discriminatórios e seletivos (Ferreira, Souza e Souza, 2003, p.21). Nesse período, a prática
avaliativa era usada como ação punitiva (para infligir sofrimento àqueles com desempenho
inferior ao esperado pelas instituições) e essa idéia foi se espalhado até penetrar na consciência
dos envolvidos no processo escolar, achando-as viáveis, produtivas e justas.
Precisamos destacar, também, o fato de que pedagogia escolar e avaliação são temas
intrinsecamente ligados e indissociáveis. A escola existe para “educar” academicamente a
população, transformá-la em sujeitos úteis à sociedade. Essa sociedade, também, tem
estabelecido os paradigmas de checagem de aprendizagem e utilizado a avaliação, seja
positiva ou negativamente, como a forma mais comum, eficiente e simplória de se chegar a esses
resultados. É, pois, o próprio grupo o responsável pela denominação, inadequada, de castigo à
avaliação.
25
Não pretendemos, aqui, dizer que a avaliação surgiu na era medieval da história humana, mas apenas comparar o
seu uso a uma forma medieval de tortura. Nesse sentido, concordamos com Perrenoud (1999, p. 9) quando ele afirma
que “a avaliação não é uma tortura medieval. É uma invenção mais tardia, nascida com os colégios por volta do c.
XVII e tornado indissociável do ensino de massa (...) no séc XIX, com a escolaridade obrigatoriedade”. O termo é,
também, utilizado por Luckesi (2005) e Hoffmann (2003) , referindo-se ao caráter sentencivo e punitivo impingindo
à avaliação.
61
O tópico que se segue apresenta três fases do desenvolvimento da avaliação no Brasil: a
avaliação jesuíta, a avaliação no período burguês e a avaliação libertadora.
2.3.2.1. O princípio do castigo: a avaliação jesuíta
Os padres jesuítas (os primeiros mestres) chegaram ao Brasil em 1549, com o
ilustre Governador Geral Tomé de Souza. Eram estudiosos religiosos, os quais foram enviados ao
país, principalmente, com o objetivo de catequizar os habitantes dessa nova terra”, levando-os à
conversão da fé católica em detrimento das crenças pagãs das tribos aborígines (Tavares, 2006).
A priori, essa era uma finalidade camuflada, haja vista a verdadeira intenção dos
dirigentes portugueses que era conseguir mão-de-obra barata para a exploração da “terra-
brasilis”. Entretanto, devido a fragilidade de saúde dos índios, a rebeldia das tribos em aceitar a
submissão do domínio português e a “preguiça” desses povos, os jesuítas foram levados a
redirecionar sua linha de orientação escolar, enfocando, assim, o caráter religioso (Aranha, 1993,
p.109).
Dessa forma, os padres jesuítas baseavam as orientações dos seus estudos na filosofia
escolástica
26
, criando um ensino fundado em conceitos gramaticais, lógicos, silogísticos e
antológicos. Os ensinamentos eram provindos de Aristóteles e aplicados aos diversos graus de
ensino, seja inferiores (níveis iniciantes), ou superiores (níveis mais avançados). Historicamente,
comprovou-se que o objetivo maior dos primeiros professores era a construção de uma
hegemonia católica contra os ensinamentos heréticos e os rituais pagãos. Assim, eles instituíram
as escolas de catecismo, um caminho para a conversão dos povos bárbaros e sua dominação
intelectual (Aranha, 1993, p.112).
È também no período jesuítico (séc. XVI) que o castigo físico em crianças foi introduzido
no Brasil, causando indignação nos indígenas, que repudiavam o ato de bater em crianças (Lima,
2004).
26
Filosofia Escolástica - ensino filosófico que circulou na Europa do séc. X ao séc. XV, o qual consistia em religar
os dogmas cristãos e a Revolução à filosofia tradicional, num formalismo completo, no plano do discurso (Grande
Enciclopédia Larousse Cultural, São Paulo: Nova Cultura Ltda, 1998).
62
Com o desenvolvimento dessa primeira educação e a necessidade de escolarização dos
filhos das personalidades importantes, quase todos econômica ou politicamente influentes, as
escolas jesuítas transformaram-se em colégios de educação secular, servindo aos interesses dos
dirigentes do país que, na época, mandavam seus filhos estudar na Europa para se graduar
(Almeida ; Teixeira, 2000, p.40).
Portanto, pela necessidade de avaliar a competência intelectual do aluno, os colégios
utilizaram o primeiro e mais antigo recurso avaliativo: a prova oral. Nessa modalidade, os alunos
eram avaliados individualmente o que requeria muito tempo para a sua realização. Com o
crescimento das escolas e alunos, esse recurso tornou-se quase impossível a sua realização
(Ferreira, Souza e Souza, 2003, p.22).
A solução para o problema veio através de prova escrita. Inicialmente, ela era ditada ou
escrita na lousa para que os estudantes respondessem por escrito; depois, começou a ser
preparada com antecedência, sendo definitivamente adotada como recurso avaliativo. Outro
aspecto que merece destaque é a atenção especial que a avaliação recebia na pedagogia jesuítica.
De acordo com Aranha (1993, p.111), uma característica do ensino jesuítico é a
emulação, ou seja,
o estímulo à competição entre os indivíduos e as classes. Por exemplo, os alunos
recebem títulos de imperador, ditador, cônsul, tribuno, senador, cavalheiro,
decurião
27
e edil. (...) Outro incentivo poderoso a emulação o os prêmios,
reservados aos alunos que mais se destacaram nos trabalhos escolares.
Os alunos passavam por verdadeiros rituais na realização das provas, consideradas
ocasiões solenes, nas quais os exames eram aplicados por bancas examinadoras e os resultados
eram auferidos publicamente para toda a comunidade (op. cit. p. 111-112).
Del Priore (2000, apud, Lima 2004) afirma que ao expulsar os jesuítas de Portugal e de
suas colônias, em 1760, o Marquês de Pombal pôs fim à principal forma de educação vigente no
27
Nota do autor: uma decúria, em Roma, era um corpo de cavalaria e infantaria composto de dez soldados, e
decurião era o chefe da decúria.
63
Brasil. Segundo o pesquisador Luiz Kelly Martins dos Santos, a Reforma Pombalina foi
catastrófica porque era um plano político, não pedagógico. "O alvará assinado pelo rei de
Portugal e aplicado no Brasil (seria precursor da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira) introduziu normas punitivas a professores e alunos - nestes últimos, podia-se aplicar
castigos físicos como palmatória e ajoelhar-se no milho”.
Foi assim que, um recurso exclusivamente didático e usado para facilitar a verificação da
aprendizagem, tornou-se um mecanismo de tortura para os que precisavam se submeter à
avaliação, e a melhor definição para tal atitude era “castigo”. Continuando a história,
apresentamos a avaliação no período burguês.
2.3.2.2 A Legitimação da tortura: avaliação no período burguês
Desde o ano de 1385, a história das sociedades tem sido marcada pelas Guerras e
conquistas do povo burguês, entretanto é com as Revoluções Inglesa (1649) e Francesa (1789)
que se registraram as grandes modificações no funcionamento dos sistemas geradores das
sociedades (Larousse Cultural, 1998). Assim, a ascensão da burguesia provocou mudanças
profundas no cenário mundial da época. Não é à toa que os muitos conflitos, gerados pela
insatisfação de uma categoria social compreendida por pessoas relativamente abastadas e que não
exerciam trabalho braçal, tornaram-se revoluções (Aranha, 1993, p.130-131).
Essa reviravolta nos processos econômico, político e social imposta pela sociedade
burguesa atingiu o campo educacional, pois foi nesse período que a hegemonia da pedagogia
tradicional se ratificou, aperfeiçoando seus mecanismos de controle dos conteúdos, da didática
utilizada pelo professor e das formas de avaliação da aprendizagem (Luckesi, 2005, p.23).
Consolidando-se no poder, a burguesia estabeleceu as suas metas: a construção de uma
sociedade democrática; a educação como direito de todos e dever do estado; a escola deveria ser
leiga (não religiosa) e livre (independe de privilégios de classe); e a criação de escolas como
antídoto à ignorância. Nesse modelo se constrói a pedagogia tradicional, na qual a escola tem
64
o papel de difundir a instrução, transmitir os conhecimentos acumulados pela
humanidade e sistematizados logicamente. (...) Assim as escolas eram
organizadas por classes, cada uma contando com um professor (razoavelmente
bem preparado) que expunha as lições, que os alunos seguiam atentamente, e
aplicavam os exercícios, que os alunos deveriam realizar disciplinadamente
(Saviani, 2006, p.6).
Dessa maneira, as autoridades promoveram investimentos em pesquisas para melhorar e
qualificar os recursos aplicados à avaliação, tentando encontrar formas menos torturante de se
avaliar o rendimento escolar do estudante, e buscando, também, dissociar a avaliação do castigo
instituído. A partir de 1772, começou a implantação do ensinou público oficial: a coroa se
encarrega de organizar a educação, nomeando professores e estabelecendo planos de estudo e
inspeção (Aranha, 1993, p.166).
Nesse período, também, o processo avaliativo do desenvolvimento cognitivo do aluno é
executado independentemente das implicações entre a relação professor-aluno, sendo as provas
(escritas) realizadas conforme o interesse do mestre e do sistema de ensino. Não se levava em
consideração o conteúdo ensinado, mas o que estava proposto para o período e as ries
escolares. Assim, o único elo de ligação entre o professor e o aluno era o resultado desse processo
cognitivo: as notas. Elas foram, então, divinizadas e adoradas por todos os envolvidos no
processo de aprendizagem. Desse modo, as notas dominavam o cenário escolar e é em função
delas que se vive a prática educacional. Ela é, portanto, “usada como mecanismo de repressão,
classificação e exclusão” (Werneck, 2000, p.45). Além disso, pela má formação do corpo
docente e dificuldade de manter a disciplina, as escolas intensificaram os castigos corporais,
legitimando a tortura no ensino.
2.3.2.3 Um processo de libertação: a revolução da avaliação
As mudanças preconizadas no séc. XVIII alteraram a compreensão global de mundo,
sendo assim o início do século XIX trouxe para a educação novas tendências de ensino,
metodologias e recursos avaliativos. Houve, então, o que se pode chamar de a segunda revolução
do sistema educacional: o desenvolvimento do positivismo, a psicologia experimental, a
nacionalização da educação, a educação feminina, dentre outras (Aranha, 1993, p. 175-176 e
194).
65
No Brasil, entretanto, as transformações eram lentas. A ênfase dada ao ensino superior
não acompanhava o interesse pelos demais níveis de educação. Era uma escola para nobres, pois
o diploma tinha a função de ‘enobrecimento’, distanciando os jovens do trabalho físico (Aranha,
1993, p. 191). Foi, pois, a partir do séc. XIX, com o surgimento das primeiras escolas modernas,
que a avaliação começou a assumir uma forma mais estruturada, os livros passaram a ser
acessíveis a todos e criaram-se as bibliotecas.
O sistema de ensino nacional formalizou a prova escrita dissertativa ou subjetiva,
tornando-a uma prática popular entre os docentes e as instituições escolares investiram em sua
reestruturação e até readaptação aos contextos modernos. Entretanto, preocupados com a eficácia
do ensino, alguns educadores sugeriram medidas mais objetivas para avaliar a aprendizagem das
crianças, isto é, a elaboração de um teste com questões variadas e objetivas, a fim de classificar
os alunos segundo o grau de aproveitamento. Buscando formas mensuráveis de controle
avaliativo, um professor inglês (George Fisher) organizou uma escala de avaliação em que as
notas variavam de 1 a 5, havia ainda uma escala para classificar a caligrafia das crianças e uma
lista padronizada para a ortografia (Ferreira, Souza e Souza, 2003).
Essa retrospectiva sobre a avaliação remete-nos à indagação de Werneck (2000, p.45): ”É
possível uma escola sem nota e sem reprovação?” e a sua resposta traduz a proposta libertadora
das novas tendências pedagógicas e o sonho de todos os estudantes.
Na sessão seguinte, introduziremos as mudanças educacionais mais revolucionárias
observadas no ambiente escolar, bem como as transformações no processo de avaliar.
2.3.2.4 A democratização da educação: re-pensando a avaliação
No séc. XIX, a educação brasileira foi direcionada à preparação da elite e não do povo. A
erudição estava ligada ao status social, prestigiada pela vida na Corte, pelas atividades públicas e
pelo regime parlamentar, no qual a retórica era necessária. Essa época foi marcada pela quase
66
total ausência da educação popular, a falta de iniciativa oficial em relação ao ensino elementar e
secundário e a inexistência de uma política de educação profissional (Bielinski, 2007).
O séc. XX, ao contrário, foi marcado por profundas transformações: intensificação das
propostas educacionais, com a implantação oficial da escola pública, leiga, gratuita e obrigatória;
a nacionalização da educação com enfoque na formação do cidadão; a ampliação da rede escolar
para três níveis (elementar, secundário e superior); expansão das profissões técnicas; e o
nascimento da escola nova (Aranha, 1993, p. 202-203).
Envolvidos por esse ambiente revolucionário, os governantes buscavam melhorias e
modificações para todas as áreas da sociedade. Como o fenômeno da marginalidade crescia, por
causa da densidade demográfica dos centros urbanos, os governos acreditavam que poderiam
combatê-lo através da escola. Pensando assim, eles entendiam que o fato de ela não conseguir
solucionar o problema se devia a inadequação da escola (ou pedagogia) tradicional. Desse modo,
nasceu um amplo movimento de reforma denominado ‘Escola Nova’
28
que via o marginalizado
como rejeitado, não mas como ignorante. Assim, por causa das dificuldades de aprendizagem, o
número de estudos com crianças portadoras de necessidades especiais
29
cresceu muito e
é a partir das experiência levadas a efeito com [essas crianças] que se pretendeu
generalizar procedimentos pedagógicos para o conjunto do sistema escolar.
Nota-se, então, uma espécie de biopsicologização da sociedade, da educação e
da escola” (Saviani, 2006, p.8).
Assim, um dos objetivos do escolanovismo era estabelecer uma educação que se tornasse
fator de equalização, um instrumento de correção da marginalidade. Portanto, para a pedagógica
nova, o importante não era aprender, mas aprender a aprender. De acordo com Saviani (2006,
p.9), a organização escolar sofreu uma sensível modificação, assim “os alunos eram agrupados
segundo áreas de interesse decorrentes de sua atividade livre e o papel do professor era de
28
A Escola Nova foi um movimento educacional que se expandiu pelo séc. XX e tinha como características
principais: a educação integral (intelectual, moral e física); educação ativa; educação prática, sendo obrigatórios os
trabalhos manuais; exercício de autonomia; vida no campo; internato; co-educação; ensino individualizado (Aranha,
1993, p. 203).
29
No texto original, Saviani (2006) utiliza a palavra ‘anormais referindo-se a crianças com dificuldades de
desenvolvimento físico, mental ou psíquico, todavia preferimos usar a expressão ‘portadores de necessidades
especiais.
67
estimulador e orientador da aprendizagem”. Ainda, as salas de aula agrupavam pequenos grupos,
facilitando a relação professor e aluno, valorizando o ambiente diversificado com materiais
didáticos, bibliotecas de classe, e construindo um ar alegre, movimentado, barulhento e
multicolorido (op. cit.). Corroborando as idéias do autor, Aranha (1993, p. 204) afirma que as
escolas novas, também, trabalhavam com jogos, exercícios físicos, as práticas de
desenvolvimento da motricidade e da percepção que estimulassem as mais diversas habilidades.
Segundo Saviani (2006, p. 11), as modernas idéias escolanovistas poderiam reverter,
teoricamente, as dificuldades educacionais da sociedade, entretanto as conseqüências das
mudanças foram mais negativas do que positivas, provocando: o afrouxamento da disciplina e a
despreocupação com a transmissão de conhecimento; rebaixamento do nível de ensino destinado
às camadas populares, que têm a escola como único meio de acesso ao conhecimento elaborado;
e o aprimoramento da qualidade do ensino destinado às elites. Esses aspectos reforçaram o
ideário dessa nova pedagogia de que “é melhor uma boa escola para poucos do que uma escola
deficiente para muitos”.
Durante este período, a prova escrita dissertativa ou subjetiva se tornou a prática popular
de avaliação entre os docentes e as instituições escolares investiram em sua restauração e até
adaptação ao contexto moderno. Nesta época, registramos, também, as primeiras tentativas de
elaboração da prova objetiva: na Inglaterra, surgiu um teste com questões variadas e de escolhas,
a fim de classificar os alunos segundo o grau de aproveitamento. Buscando formas mensuráveis
de controle avaliativo, John Fisher, um professor inglês, organizou uma escala de avaliação em
que as notas variavam de 1 a 5, , havendo uma outra escala para classificar a caligrafia das
crianças e uma lista padronizada para a ortografia (Ferreira, Souza e Souza, 2003, p.24).
Com o crescimento das idéias democráticas e a ineficiência da escola nova em resolver os
problemas da marginalidade, os educadores mais progressistas tentaram criar uma espécie de
‘Escola Nova Popular’, representada por Freinet
30
e Paulo Freire
31
, de um lado, e a pedagogia
tecnicista, de outro (Aranha, 1993, p.206; Saviani, 2006, p.11).
30
Célestin Freinet (1896-1966) foi um educador francês que lutou pela democratização do ensino através da
educação pelo trabalho, valorizando o trabalho manual e a atividade em grupo que estimulasse a cooperação, a
iniciativa e a participação (Aranha, 1993, p. 268).
68
Proliferando-se a partir dos anos 70, o tecnicismo educacional, imposto pelo governo
militar e inspirado nas teorias behavioristas da aprendizagem, definiu uma prática pedagógica
altamente controladora e com atividades mecânicas, aplicadas pelo professor. O objetivo
principal da educação tecnicista era a garantia da eficiência do ensino, a supervalorização da
técnica, criando a falsa idéia de que aprender não é algo humano, mas depende exclusivamente de
especialistas - o professor e a utilização de manuais, restringindo a criatividade aos limites da
técnica (Zacharias, 2007; PCNs, 1997, p. 31). Esse foi o período em que o governo instituiu a
obrigatoriedade do ensino profissionalizante, buscando o crescimento econômico do país e o
esvaziamento das universidades - que continuaram a ser os centros de excelência do
conhecimento e reduto das elites, às quais os pobres não tinham acesso (Lorenzo, 2004).
Salientamos, ainda, que no paradigma tecnocrata, o erro era tratado como
incompetência e o marginalizado considerado ineficiente e improdutivo, pois era o processo que
definia o que professores e alunos deveriam fazer, como e quando o fariam (Saviani, 2006, p. 13-
14). Nesse momento, também, houve o desmantelamento e abandono do ensino público e a
expansão da educação privada (opção das elites) para o ensino fundamental e médio.
No modelo anteriormente descrito, a prova objetiva se tornou o instrumento mais
utilizado como forma de medida do rendimento escolar dos alunos. Assim, a avaliação passou a
ser, também, obrigatória a todos os programas sociais e educativos, sendo um mecanismo
fundamental dos governos nos esforços obsessivos de implantação de uma cultura gerencialista e
fiscalizadora.
No final da década de 70, começaram a surgir as primeiras propostas de avaliação dentro
de uma abordagem qualitativa, como também os primeiros questionamentos das limitações dos
testes padronizados para propiciar a compreensão do processo de ensino e aprendizagem, isto é,
daquilo que o professor ensina e o que o aluno aprende (Caldas, 2001, p. 22-23). As idéias
31
Paulo Freire (1921- 1997), educador brasileiro, é o mentor da pedagogia do oprimido e defensor da escola
libertária. É, também, o criador da expressão educação bancária, representando o ensino como “um ato de depositar
conhecimento nos recipientes (alunos), sendo o professor o próprio depositante” (Aranha, 1993, p.270; Freire, 2006).
69
inovadoras dessa época originaram a pedagogia libertadora, que teve suas bases lançadas nos
movimentos de educação popular
32
iniciados no final dos anos 50 e início dos anos 60, mas foram
interrompidos pelo golpe militar de 1964. Há, ainda hoje, certo conflito entre os educadores com
relação à utilização de métodos quantitativos ou qualitativos na avaliação da aprendizagem,
colocando em discussão a real finalidade do processo de avaliar, bem como a relação vertical
educador – educando (Aranha, 1993, p. 271).
A pedagogia libertadora é, pois, retomada no final dos 70 e início dos anos 80, propondo
que a atividade escolar seja inserida em discussões de temas sociais e políticos e em ações sobre a
realidade social imediata. Nesse modelo, o professor é visto como um coordenador de atividades
que organiza e atua conjuntamente com os alunos (Brasil, 1997, p.31-32).
No mesmo período, a pedagogia crítico-social dos conteúdos surge como uma reação ao
tecnicismo, trazendo os conteúdos para o cerne da discussão e reavaliando-os continuamente face
ao contexto sócio-cultural dos estudantes. Essa tendência pedagógica tem na democratização dos
conhecimentos a principal tarefa da escola em nossa sociedade, valorizando as experiências dos
alunos desde o início do processo de ensino-aprendizagem (Cazelli, 2007, p.2). Ainda, entende-se
que não basta ter como conteúdo escolar as questões sociais atuais, mas que é necessário que se
tenha domínio de conhecimentos, habilidades e capacidades mais amplas para que os alunos
possam interpretar suas experiências de vida e defender seus interesses de classe (Brasil, 1997,
p.32).
A partir dos anos 80 surge um movimento que pretende lutar pela integração entre as
tendências pedagógicas, caracterizado pelo enfoque centrado no caráter social do processo de
ensino e aprendizagem e é marcado pela influência da psicologia genética. Assim, essa pedagogia
evidencia a atividade construtiva do aluno sobre a língua escrita, objeto do conhecimento escolar.
A metodologia utilizada foi interpretada como uma proposta construtivista para a alfabetização,
difundindo idéias equivocadas de que não se deve corrigir os erros e de que as crianças aprendem
fazendo “do seu jeito” (Cazelli, 2007, p.3).
32
Podemos destacar o educador Paulo Freire como uma das referências da escola popular.
70
Atualmente, as instituições públicas se popularizaram e novas tendências educacionais
foram introduzidas: a relação dialógica entre professor e aluno; o modelo atual de escolas de
ciclos, em que a avaliação é descritiva, contínua e sem data de realização pré-estabelecida; a
supressão da reprovação ao final do ano letivo; recuperação paralela através dos reagrupamentos;
a participação ativa da sociedade no contexto escolar, dentre outras.
As mudanças anteriormente apresentadas preconizaram dois momentos importantes na
história da educação que delinearam os novos rumos da prática escolar e os novos parâmetros
para a avaliação: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs). Os dois documentos oficiais orientam o sistema educacional brasileiro, regem
as decisões da educação nacional, fixando leis, além de orientar o currículo, a forma e os critérios
de avaliação.
A seguir faremos referência à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, enfocando
o papel da avaliação dentro dessa lei.
2.3.2.4.1 LDB e avaliação
Em 1961, foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 4.024,
de 20 de dezembro, a primeira lei geral de educação, que permitiu a descentralização da educação
da esfera federal para a estadual, com a institucionalização dos sistemas de educação e recriação
dos Conselhos de Educação com funções normativas. Segundo Carneiro (2002, p. 25), a lei
4.024 trouxe flexibilização para a estrutura do ensino e possibilitou o acesso ao curso superior,
bem como propiciou a migração interna do aluno através de aproveitamento de estudos, ou seja,
“migrar de um ramo para o outro de ensino, sem ter de recomeçar como se nada houvera antes”.
Quanto à avaliação, ela era mensurável, classificatória e seletiva, haja vista o uso de uma prova
de acesso na passagem do curso primário para o ginasial, denominada de Exame de Admissão”
(Carneiro, 2002, p. 28).
71
Como essa lei não trazia mudanças para o ensino fundamental, elaborou-se uma
reformulação em 11 de agosto de 1971, estabelecendo a Lei n°5692
33
que representava uma
mudança radical na estrutura básica do ensino brasileiro (a reforma do ensino de e graus) e
nos critérios para avaliação da aprendizagem. Assim, no capítulo II, seção I, art.14, a LDB (1971)
determina:
“A verificação do rendimento escolar ficará, na forma regimental, a cargo dos
estabelecimentos, compreendendo a avaliação de aproveitamento e a apuração
da assiduidade.
§1° Na avaliação do aproveitamento a ser expressa em notas ou menções,
preponderarão os aspectos qualitativos sobre os quantitativos e os resultados
obtidos durante o período letivo sobre os da prova final, caso esta seja exigida.
É possível observamos que o texto menciona as idéias de critérios qualitativos de
avaliação que proliferam na década de 70, porém o destaque de que a avaliação do
aproveitamento deve ser expressa em notas ou menções” (Brasil, 1971) reforça o caráter
mensurável e classificatório (Hoffmann, 2003; Luckesi, 2005) atribuído à avaliação.
Com a evolução das teorias pedagógicas e das lutas encetadas pelos educadores nos
últimos vinte anos, uma nova reformulação da LDB é sugerida, sendo, então, promulgada a Lei
9.394 de 20 de dezembro de 1996, buscando a consolidação e ampliação do dever público para a
educação em geral e em particular para o ensino fundamental (Brasil, 1997, p.14). Assim, o
ensino proposto pela LDB está em função do objetivo maior do ensino fundamental que é o de
propiciar a todos formação básica para a cidadania e condições de aprendizagem (op. cit.). É
inegável que algumas mudanças favoreceram o ensino e melhoraram as condições da
aprendizagem, como por exemplo:
a) a ampliação da carga horária mínima anual de 720 horas para 800 horas aumento do tempo
de permanência do aluno na escola (cap. II, seção I, art. 24, Inc. I);
33
Também chamada de segunda LDB (Carneiro, 1998, p. 25).
72
b) tempo de duração do ensino fundamental
34
: “o ensino fundamental obrigatório, com duração
de nove anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos seis anos de idade, terá por objetivo a
formação básica do cidadão” (cap. II, seção III, art. 32); e
d) o desdobramento do ensino fundamental em ciclos
35
: fica facultativo a cada sistema de ensino
(cap. II, seção III, art. IV, §1°).
Podemos destacar, também, que a Lei 9.394/96 manteve os critérios de sustentação da
avaliação do rendimento escolar adotados na lei anterior: os tipos qualitativo e quantitativo
(Hoffmann, 2005, p36). Entretanto, ela introduz uma avaliação qualitativa contínua e cumulativa,
com menos processo de medição e mais discussão (Carneiro, 2002, p. 89). Assim, no cap. II,
seção I, artigo 14 da LDB (Brasil, 1997), lemos:
V - a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios:
a)avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência
dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do
período sobre os de eventuais provas finais; (...)
Concordamos com Caldas (2001, p.24-26) em um aspecto que a autora considera
contraditório: a taxionomia utilizada na redação do texto . Assim, apesar do texto se basear nas
modernas teorias educacionais, a taxionomia “verificação do rendimento escolar” remete-nos a
aferição da aprendizagem escolar, com o intuito de classificar o aluno, pois
[a] dinâmica do ato de verificar encerra-se com a obtenção do dado ou
informação que se busca, isto é, “vê-se” ou “não se vê” alguma coisa. E...
pronto! Por si, a verificação não implica que o sujeito retire dela conseqüências
novas e significativas (Luckesi, 2005, p. 92).
Além disso, o uso do termo “avaliação contínua e cumulativa” implica em uma ação
avaliativa processual, que compreende os avanços, limites e dificuldades dos educandos na
34
O texto de 1996 apresenta o ensino fundamental com duração mínima de oito anos, entretanto a Lei 11.274 de
2006 reformulou o artigo, ampliando o período de 8 para nove anos. Neste caso, a pré-escola passa a ser considerada
o primeiro ano, saindo da educação infantil e sendo incorporada no ensino fundamental (Klinger, 2006).
35
O sistema de ciclos é a organização do ensino fundamental por etapas, que podem ser divididas em: dois ciclos
(São Paulo), três ciclos (Goiânia) ou cinco ciclos (Ceará). Nessa modalidade de ensino, o aluno é promovido
automaticamente para a série seguinte, ficando a reprovação limitada ao final de cada ciclo (Carneiro, 2002, p. 100).
73
configuração da sua aprendizagem (Luckesi, 2005, p. 93). Neste sentido, avaliar não é uma ação
estagnada, encerrada no momento em que o objeto ou o ato de investigação é constatado em
nosso caso, se o aluno aprendeu ou não o conteúdo ensinado (op. cit., p. 92).
Outro ponto que merece atenção é a subjetividade da proposição, principalmente no que
se refere à utilização dos critérios qualitativos e quantitativos, sem, no entanto, oferecer
informações de como transpor as instruções teóricas para a realidade da prática avaliativa.
Sendo assim, observamos que a única alteração importante que foi introduzida na Lei 9.394/96
diz respeito à exigência que ela impõe aos sistemas públicos e particulares de ensino de
efetivarem um processo avaliativo contínuo e qualitativo, não provocando transformações
imediatas na prática escolar (Hoffmann, 2005, p.37). Podemos observar também que, antes
mesmo de promover a regulamentação e o conhecimento das nuances da lei, outras
reformulações
36
recentes foram incluídas, modificando o texto original. Outrossim, é
desalentador perceber que a LDB é pouco estudada pelos educadores, corroborando com a falta
de divulgação e discussão nas instituições educacionais. Dessa maneira, vemos a necessidade de
reivindicar o cumprimento das propostas que estão inseridas na lei, para que possamos
experimentá-la, confirmá-la ou mudá-la através dos fatos concretos.
A fim de demonstrar mais claramente a organização do ensino nas disposições das
diversas leis de diretrizes e bases da educação nacional (4.024/61, 5.692/71 e 9.394/96),
apresentamos o quadro a seguir.
74
Quadro 9: A organização do ensino nas disposições das Leis de Diretrizes e Bases da educação nacional
Lei 4.024/61
Duração
Lei 5.692/71
Duração
Lei 9.394/96
Duração
- Ensino Primário
- Ciclo Ginasial do
Ensino médio
- Ciclo Colegial do
Ensino Médio
- Ensino Superior
4 anos
4 anos
3 anos
variável
- Ensino de Primeiro
Grau
- Ensino de Segundo
Grau
- Ensino Superior
8 anos
3 a 4 anos
variável
- Educação Básica:
. Educação Infantil
. Ensino Fundamental
. Ensino Médio
-Educação Superior
Variável
9 anos
3 anos
variável
OBS.:
OBS.: OBS.:
a) A passagem do Primário para o
Ginasial era feita através de uma
prova de acesso: o Exame de
Admissão.
b) Os ciclos Ginasial e Colegial
eram divididos em ramos de
Ensino, a saber: Secundário,
Comercial, Industrial, Agrícola,
Normal e outros.
a) Com a junção dos antigos
Primário e Ginasial, desapareceu o
Exame de Admissão.
b) A duração normal do grau era
de 3 anos. Ultrapassava, no entanto,
este limite quando se tratava de
Curso Profissionalizante.
c) O Ensino de e graus
tinham uma carga horária mínima
anual de 720 horas e o ano letivo a
duração mínima de 180 dias.
a) Os níveis da Educação Escolar
passam a ser dois: educação básica
e educação superior.
b) Ensino Fundamental com
duração de 9 anos e o sistema de
ensino podendo ser dividido em
ciclos.
c) A educação de jovens e adultos,
a educação profissional e a
educação especial são modalidades
de educação.
d) A educação básica, nos níveis
fundamental e médio, passam a ter
a carga horária mínima de 800
horas anuais, distribuídas em 200
dias letivos anuais, no mínimo.
AVALIAÇÃO AVALIAÇÃO AVALIAÇÃO
- A avaliação é feita através de
métodos somativos,
classificatórios e mensuráveis.
- Faz-se a verificação do
rendimento escolar expressa em
notas ou menções; faz referência a
uma avaliação formativa,
preponderando os aspectos
qualitativos sobre os quantitativos.
- Faz a verificação do rendimento
escolar, usando-se a avaliação
contínua e cumulativa do
desempenho do aluno, com
prevalência de aspectos qualitativos
sobre os quantitativos.
Fonte: Adaptado de Carneiro (2002, p. 28)
No quadro anterior, observamos que os avanços constatados desde a primeira LDB (1961)
são considerados tímidos. Tudo isso se deve à influência das teorias pedagógicas inovadoras que
36
Como a que amplia o tempo de duração do ensino fundamental de 8 para 9 anos (Lei n°11.274 de 2006); e outras
como a Lei n°10.639 de 2003 e a Lei n°11.183 de 2005.
75
se desenvolveram ao longo dos anos e das expectativas criadas em torno de uma educação
pública, gratuita e de qualidade para todos.
Na seção seguinte, apresentaremos outro documento oficial responsável pela orientação
do currículo escolar e pela discussão sobre a renovação da avaliação da aprendizagem: os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).
2.3.2.4.2 PCNs e avaliação
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) são documentos elaborados por uma
comissão composta de educadores, buscando estabelecer as referências de qualidade para a
educação do Ensino Fundamental do país. Os PCNs pretendem garantir investimentos na área,
diversificando o currículo escolar e respeitando as diferenças culturais manifestadas no Brasil. Os
documentos, também, auxiliam o professor na reflexão e discussão de aspectos do cotidiano da
prática pedagógica a serem transformados continuamente (Brasil, 1997, p.10).
Os documentos estão distribuídos em onze volumes e organizados da seguinte forma: um
documento de Introdução; sete documentos referentes às áreas do conhecimento (Língua
Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais, História, Geografia, Arte e Educação Física, e
Línguas Estrangeiras); e três volumes com seis documentos referentes aos Temas Transversais
(Ética, Saúde, Mo Ambiente, Orientação Sexual, Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo).
A partir da elaboração da nova LDB/96, o Ensino Fundamental deixou de ser estruturado
pela Lei Federal 5.692/71 e incorporou um novo objetivo para a educação básica no Brasil:
“proporcionar aos educandos a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades
como elemento de auto-realização, preparação para o trabalho e para o exercício consciente da
cidadania” (Brasil, 1997, p.13). Com isso, os PCNs pretendem, pois, que o aluno seja o autor de
sua própria formação, através de um processo interativo, no qual o professor, também, se veja
como sujeito do conhecimento (Brasil, 1997, p.33).
A discussão sobre uma reformulação do ensino básico foi motivada pela situação caótica
em que vivia a educação brasileira. Assim, na década de 80, vários estados e municípios
76
reestruturaram o ensino fundamental a partir das séries iniciais. Esse processo de reorganização
objetivava minimizar o problema da repetência e da evasão escolar que atingiam índices
alarmantes no país. Desse modo, adotou-se a flexibilidade da seriação como princípio norteador
das mudanças, abrindo a possibilidade de trabalhar o currículo em um período maior de tempo e
respeitando os diferentes ritmos de aprendizagem dos alunos. Nesse sentido, a seriação foi
substituída pelo ciclo
37
básico com duração de dois anos, tendo como objetivo propiciar maiores
oportunidades de escolarização voltada para alfabetização efetiva das crianças e como uma
tentativa de superar os problemas do desenvolvimento escolar (Brasil, 1997, p.42).
Com a exposição anterior, procuramos oferecer uma visão geral da importância dos PCNs
para a reestruturação do ensino fundamental, bem como a compreensão da situação atual do
sistema educacional brasileiro. A nosso ver, esses são pontos sine qua non para o entendimento
da concepção de avaliação adotada por este documento.
De acordo com os PCN (Brasil, 1997, p.55), a concepção de avaliação adotada deve ser
compreendida como parte integrante e intrínseca do processo educacional. Assim,
a avaliação (...) é um conjunto de atuações que tem a função de alimentar,
sustentar e orientar a intervenção pedagógica; (...) acontece contínua e
sistematicamente por meio da interpretação qualitativa do conhecimento
construído pelo aluno.
Ainda, através da avaliação, o professor pode refletir continuamente sobre a sua prática,
criar novos instrumentos de trabalho e revisar conteúdos adequados para o processo de
aprendizagem individual ou de todo o grupo (op. cit.).
Quanto aos critérios de avaliação estabelecidos, os PCNs determinam que é importante a
diversificação dos instrumentos, possibilitando a observação das diferentes capacidades e
conteúdos curriculares, como também a utilização de códigos variados como o verbal, o oral, o
escrito, o gráfico, o numérico, o pictórico, considerando as múltiplas aptidões dos alunos (Brasil,
1997, p.56-57).
37
Neste trabalho, o sistema de ciclos será discutido mais adiante.
77
Ao contrário da LDB que apresenta orientações gerais, os PCNs direcionam o professor
na realização das avaliações, indicando algumas formas: a observação sistemática, a análise das
produções dos alunos e as atividades específicas para a avaliação. Salienta-se,
também, que, apesar de o professor ter a responsabilidade do ato de avaliar, não é função
exclusiva dele. A participação dos alunos no processo é uma condição necessária para a
construção de instrumentos de auto-regulação para as diferentes aprendizagens. Exemplo disso é
o uso da auto-avaliação, pois promove o desenvolvimento de estratégias de análise e
interpretação das produções, amplia a construção da autonomia e a participação dialógica do
professor e aluno (Brasil, 1997, p.57).
Pensando no foco da nossa pesquisa que investiga uma professora de LE, trazemos a
discussão para a avaliação nos PCNs de LE. Segundo o documento, a avaliação de LE não se
restringe à aplicação de testes, ou provas, pois são meios de se avaliar um aspecto apenas do
processo de aprendizagem, ou seja, o produto em relação ao desempenho, visando conteúdos,
sobre o progresso e a proficiência do aprendente (1998, p.79). Para os PCNs-LE (Brasil,
1998, p.80),
[é] necessário enfatizar a diferença entre avaliar a capacidade de desempenho do
aluno e estabelecer diferentes níveis de proficiência. A avaliação somativa
38
, e
os testes em particular, dão informação e certificam os níveis de proficiência
alcançados, mas não revelam o desenvolvimento do processo de aprendizagem.
Em uma avaliação formativa
39
interativa procedimentos constantes e
personalizados envolvendo professor e alunos, a partir de critérios não apenas
normativos, mas principalmente pessoais, que irão envolver, da parte do
professor, uma reflexão sobre si mesmo (sua auto-avaliação) e sobre os seus
alunos, e, da parte dos alunos, uma auto-avaliação e uma avaliação do professor,
garantindo a participação dos alunos e a pluralidade de visões.
38
Entende-se por avaliação somativa a que é feita no final do processo de aprendizagem, geralmente por meio de um
teste, sem permitir ajustes no ensino (Brasil, 1997, p.80).
39
Entende-se por avaliação formativa o processo contínuo de acompanhamento da aprendizagem como bússola
diretiva que determina os ajustes a serem feitos no ensino (op. cit.).
78
Após trazermos o conceito de avaliação segundo os PCNs, é importante destacar os
critérios usados na avaliação das habilidades comunicativas no que se refere à compreensão
escrita e oral dos alunos. São eles:
a) demonstrar compreensão geral de tipos de texto variados, usando as linguagens verbal e
não-verbal;
b) usar as estratégias de leitura;
c) demonstrar conhecimento da organização textual e do uso dos conectores articuladores do
discurso e das funções da linguagem;
d) demonstrar leitura e consciência críticas, posicionando-se em relação ao texto e ao mundo
social;
e) demonstrar conhecimento sistêmico (da LE).
Finalmente, apresentamos a estrutura global da reformulação do Ensino Fundamental
dentro dos PCNs na figura a seguir.
79
Figura 3: Estrutura dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental
Fonte: PCN-LE (Brasil, 1998, p..9)
80
Entendemos que é necessário explicar que, como a organização do ensino em sistemas de
ciclos é facultativa (LDB, 1996, título. V, cap. II, seção III, inc. IV, §1°), podendo a escola optar
por um modelo de dois, três ou quatro ciclos. Assim, quando da implantação do regime de ciclos,
a Prefeitura Municipal optou pela divisão do ensino em três ciclos básicos: Ciclo I (Pré-escola,
e 2ª séries), Ciclo II (3ª, 4ª e 5ª séries) e Ciclo III (6ª, 7ª e 8ª séries).
Como a LDB, os PCNs se constituem documentos legais que regem o funcionamento da
educação brasileira. Entretanto, boa parte dos professores não se preocupa em conhecer, muito
menos pôr em prática, as propostas sugeridas nesse documento. Normalmente, as poucas vezes
que foram colocados para apreciação, os PCNs foram mais criticados do que elogiados nas
discussões apresentadas. Acreditamos que a rejeição se pela falta de disposição dos agentes
educacionais (os professores) em estudar, analisar e refletir sobre a sua própria prática
pedagógica. Com essa afirmação não queremos dizer que concordamos integralmente com todas
as mudanças impostas; todavia, entendemos que elas podem ser usadas como uma forma de
repensar, transformar ou redirecionar a estrutura do ensino no país.
A próxima seção introduz uma discussão sobre as concepções e os tipos de avaliação
encontrados nas modernas pedagogias educacionais.
2.3.3 Concepções de avaliação
Para Grillo (2003, p. 21), “avaliar faz parte de toda ação pedagógica. Esta, por sua vez, é
construída sobre avaliações”. Envolvido com escola, educação, planejamento e avaliação, o
professor estabelece julgamentos sobre o conteúdo a ser estudado e os melhores procedimentos a
partir de diferentes critérios. O processo avaliativo, que começa antes mesmo do planejamento da
aula, tem sido motivo de grandes discussões e muita insatisfação entre os educadores (op. cit).
Primeiro, por envolver nossas concepções e crenças sobre o ensino e aprendizagem, e, segundo,
por envolver modelos teóricos delineados pelo homem e pela sociedade através do currículo
escolar e da proposta político-pedagógica da escola. Sendo assim, gostaríamos de apresentar,
81
inicialmente, concepções de avaliação elaboradas por alguns pesquisadores do tema
40
, e, em
seguida, mostrar as duas concepções básicas usadas atualmente no meio escolar em que os tipos
diversificados podem ser agrupados.
É consenso entre os educadores que há muitos conceitos de avaliação, entretanto isso não
significa que existem concepções variadas de educação. Se fôssemos analisar cada conceito sobre
o assunto, veríamos que eles se enquadrariam ou como modelos somativos ou formativos de
avaliação. Assim, escolhemos alguns autores mais atuais e procuramos analisar as suas definições
de avaliação:
Luckesi (2005, p. 9) afirma que “[a avaliação é] um juízo de qualidade sobre dados
relevantes para uma tomada de decisão”. Os estudos do autor têm sido referência nos trabalhos
sobre o tema em questão e observamos que a sua definição envolve o caráter diagnóstico da
avaliação, apontando para um conceito mais inovador. Entretanto, Romão (2002, p.58)
argumenta que o pesquisador peca no cuidado em não ser tradicional e se esquece do aspecto
positivo das teorias classificatórias. Na verdade, Luckesi (2005, p.9), em sua definição, mudou a
expressão inicial “juízo de valor” para “juízo de qualidade”, como se a marca sentenciva do
termo “julgamento” pudesse ser retirada apenas com a troca da palavra.
Com o conhecimento adquirido através dos estudos sobre o assunto, é inegável a
contribuição dos seus trabalhos na construção de uma avaliação mais democrática. O autor sugere
que de classificatória, a avaliação se torne diagnóstica. “Desse modo, a avaliação não seria tão-
somente um instrumento para a aprovação ou reprovação dos alunos, mas sim um instrumento de
diagnóstico de sua situação (Luckesi, 2005, p. 81). Nesse contexto, percebemos a identificação
do autor com a concepção mais formativa da ação avaliativa.
De acordo com Hoffmann (2003, p.57), “a ação de avaliação, enquanto mediação, (...)
está presente no interstício entre uma etapa de construção de conhecimento do aluno e a etapa
possível de produção de um saber enriquecido, complementado”. A autora elaborou o conceito
40
Como é o caso de Scaramucci (1993), Perrenoud (1999), Hadji (2001), Romão (2002), Hoffmann (2003), Luckesi
(2005), Demo (2005), dentre outros.
82
de avaliação mediadora, ou processual, buscando introduzir uma prática inovadora de avaliação
baseada em uma relação intensa em tempo com os alunos, direta e comunicativa (Carvalho, 2001,
p.44). Entendemos que a definição da autora reflete a postura diagnóstica e formativa das mais
recentes teorias de educação, tornando ativos os sujeitos do processo de aprendizagem. As
críticas que o modelo suscita é quanto ao tempo dispensado na realização da tarefa e a
inadequação da sua aplicação em turmas com grande número de alunos.
Segundo Hadji (2001, p. 19-21), “a avaliação é uma utopia promissora, que precede a
ação de formação, ocorre depois da ação e se situa no centro do processo de aprendizagem”. O
autor apresenta um conceito filosófico de avaliação e explica a utopia como a impossibilidade de
apresentar e realizar um modelo acabado de avaliação formativa, pois ela será sempre sonhada
(op. cit., 25). Apesar de não particularizar as etapas do processo avaliativo, Hadji (op. cit.) diz
que o conhecimento e as descobertas podem prosseguir na evolução das práticas rumo a um
modelo de avaliação.
Romão (2002, p. 88-89) entende que
a avaliação [dialógica] é um momento de aprendizagem, tanto para o aluno,
quanto para o professor mormente para este [último], se estiver atento aos
processos e mecanismo de conhecimento ativados pelo aluno, mesmo no caso de
‘erros’, no sentido de rever e refazer seus procedimentos de educador.
De acordo com o autor, a definição está alicerçada na educação libertadora, em que o
pensamento não é dicotômico, mas dialético e a liberdade começa quando o homem se faz sujeito
da sua história (Freire, 2005, p. 84-85). Assim, como parte da história do próprio homem, o ato
avaliativo deve promover a liberdade na ampliação do conhecimento, reconhecendo a
participação dos envolvidos no processo.
Descrevendo a avaliação qualitativa, Pedro Demo (2005, p. 12-13) ressalta o prazer em
fazer uma avaliação e não a necessidade de ser avaliado, enfatizando que ela precisa considerar a
qualidade de vida atingida e o envolvimento. Assim, o autor argumenta que
83
[n]a qualidade não vale o maior, mas o melhor; não o extenso, mas o intenso;
não o violento, mas o envolvente; não a pressão, mas a impregnação. Qualidade
é estilo cultural, mais que tecnológico; artístico, mais que produtivo; lúdico,
mais que eficiente; sábio, mais que cientifico. Diz respeito ao mundo tão tênue
quanto vital da felicidade. Por isso, não pode ser medido quantitativamente,
como não se pode medir a intensidade da felicidade”.
Escrevendo o prefácio do livro de Demo, Gadoti (2005, p.11) afirma que
[o autor] se aproxima da filosofia educacional de Rubens Alves que, ao invés de
avaliar suas aulas em termos de rendimento escolar, se pergunta, ao final delas,
se seus alunos conseguiram viver mais felizes, se o conhecimento aprendido lhes
trouxe alguma nova alegria de viver, se eles sentiram sabor em saber mais”.
Nesse sentido, percebemos em Demo (2005, p. 15-16) uma forma diferenciada de fazer
avaliação, preocupada com o aspecto histórico-sócio-afetivo do aluno, pois a conquista da
felicidade não subentende a “preocupação metodológica em definir, em sistematizar, em testar
(...). [Ela] encontra-se e faz-se em comunidade, em convivência, em participação”. É assim, pois,
que o autor concebe o ato de avaliar e propõe que para haver uma modificação verdadeira nos
modelos de avaliação, é preciso adequar todo o sistema de ensino, onde as pessoas diferentes
deveriam ser ensinadas e avaliadas de maneiras distintas, pois números não definem pessoas;
conhecimento, sim (Bettio e Martins, 2003). Completando o pensamento, Demo (2005) reforça
que a aprendizagem não pode ser medida quantitativamente, como não podemos medir a
intensidade da felicidade.
Perrenoud (1999, p. 103) argumenta que “é formativa toda avaliação que ajuda o aluno a
aprender e a se desenvolver, ou melhor, que participa da regulação das aprendizagens
41
e do
desenvolvimento no sentido do projeto educativo” (Perrenoud, 1999, p. 103). Para o autor, a
avaliação formativa pretende melhorar as aprendizagens em curso, contribuindo para o
acompanhamento e orientação dos alunos durante todo o processo de formação. Uma avaliação
formativa “dá informações, identifica e exemplifica erros, sugere interpretações quanto às
41
O termo regulação aparece com freqüência na literatura francesa. Perrenoud define regulação dos processos de
aprendizagem, num sentido amplo, como oconjunto das operações metacognitivas do sujeito e suas interações com
o meio que modificam seus processos de aprendizagem no sentido de um objetivo definido de domínio” (Perrenoud,
1999, p.90).
84
estratégias e atitudes dos alunos e alimenta diretamente a ação pedagógica” (op. cit. p.68). O
autor, ainda apresenta três funções para este tipo de avaliação: a função formativa (que apresenta
características da diagnóstica, no nosso modelo); a função certificativa (que se assemelha à
somativa); e a prognóstica ( identificada, também, como diagnóstica).
Para Scaramucci (1993, p. 94), “a avaliação [seria] uma verificação mútua [professor e
aluno] de acertos e erros e de possibilidades para outras alternativas [na identificação dos erros],
[tornando-se] parte da aprendizagem”. A autora sugere que a opção mais indicada na escolha de
um modelo é a utilização da “avaliação formativa, de processo de aprendizagem,
complementando uma avaliação somativa, ou seja, de produto de aprendizagem” (op. cit. p.95).
Segundo a autora, a diversificação de instrumentos e mecanismos de observação poderá garantir
uma avaliação mais justa e efetiva no processo de aprendizagem. Argumentando sobre não haver
distinção entre o processo de avaliar e o de ensinar, Scaramucci afirma que “[n]ão porque não
usar, tanto em situações formais como informais de avaliação, aquelas atividades usadas para
ensinar, como atividades em pares ou em grupos, roleplays, etc” (Scaramucci, 1993, p. 96),
tornando os dois processos em momentos complementares, e não rivais.
Poderíamos relacionar aqui outras definições, entretanto as selecionadas são suficientes
para os objetivos propostos nesta pesquisa. Destacamos, também, que os conceitos apresentados
anteriormente podem ser classificados em dois grandes grupos, que, por sua vez, se referenciam
às duas concepções antagônicas de educação: a positivista e a dialética (Romão, 2002, p. 60).
Pensando em avaliação da aprendizagem, a escola vive prensada, também, entre essas
duas visões pedagógicas, entretanto Romão (op. cit. p.61) preferiu não qualificar nenhuma das
concepções e denominou-as apenas de “I” e “II”, procurando não adjetivá-las de avançada e
progressista, atrasada e retrograda. A figura a seguir é uma tentativa de explicar melhor as duas
concepções.
85
Figura 2: Concepções de avaliação
42
Fonte: Romão (2002, p. 61)
A concepção I indica uma predominância dos aspectos qualitativos sobre o quantitativo
estabelecidos nas últimas LDB (71/96) e entende a avaliação como um processo contínuo e
paralelo ao processo de ensino-aprendizagem. A sua finalidade básica é a de diagnosticar as
dificuldades dos estudantes para que o professor possa trabalhar na correção e reformulação de
procedimentos didático-pedagógicos, objetivos e metas. Para os defensores da concepção I, os
instrumentos válidos utilizados para a verificação da aprendizagem são a auto-avaliação ou a
avaliação interna, pois, para eles, somente os alunos (avaliadores internos) seriam os legítimos
avaliadores do seu desenvolvimento cognitivo (Romão, 2002, p. 62). Salientamos que esta
concepção enquadra-se no conjunto denominado construtivista, porque se preocupa com o
processo de aprendizagem, desprezando o produto (resultado).
A segunda concepção (II) se denomina pedagogicamente oposta à primeira e entende a
auto-avaliação como uma forma de enganar tanto alunos como instituições, pois valoriza
qualquer desempenho, mesmo aqueles medíocres. Para evitar esses equívocos, ela
42
Romão (2002, p. 62) não apresenta uma definição para a expressão hetero-avaliação, mas reforça o seu uso na
concepção II como uma forma de verificação da aprendizagem dos alunos. Buscando uma interpretação mais
significativa para o termo, entendemos que a ‘hetero’ se opõe a ‘auto’, representando uma avaliação realizada
pelo Outro, mostrando a visão do Outro (o professor) sobre o processo de aprendizagem e não a do próprio aluno.
Este só participa do momento avaliativo respondendo às questões da prova/teste.
86
acredita na validade da hetero-avaliação e das verificações de avaliadores externos. Nessa
modalidade, os aspectos quantificáveis são importantes, pois a subjetividade não expressa o real
desempenho dos educandos. Os adeptos da concepção II defendem a institucionalização da
periodicidade do processo de avaliação e do registro de resultados, especialmente nos momentos
finais: fim de aula, unidade, série ou curso. Essa concepção está relacionada ao grupo
denominado positivista, para quem o produto, isto é, o resultado do desempenho cognitivo do
aluno, é o mais importante. A sua função básica é a classificação, referenciada em padrões
universais pré-estabelecidos, extremamente técnicos e estatísticos (op. cit. p.63)
Retomando o conceito de avaliação dialética, Romão (2002, p.64) argumenta que ela não
se encaixa entre os pólos dicotômicos das concepções I e II, pois busca, dentro da realidade
concreta, a organização reflexiva de sua ação. Desse modo, a avaliação dialética apresenta três
funções específicas, dependendo das finalidades e do momento de desenvolvimento do processo
de ensino-aprendizagem:
a) uma função prognóstica
é a constatação inicial observável pelo professor, ou seja, a
verificação do domínio de certas habilidades e conhecimento prévio, adquiridos no
ambiente familiar ou em uma unidade de educação escolar;
b) uma função diagnóstica é a verificação das dificuldades dos alunos, a fim de que sejam
disponibilizados os instrumentos e as estratégias que permitam melhorar o
desenvolvimento do aluno ou grupo. Além disso, o erro deve ser considerado um
indicativo dos esquemas e mecanismos acionados pelo aluno na solução das situações-
problemas apresentados na avaliação.
c) Uma função classificatória - é a verificação da absorção dos conhecimentos ou da
incorporação das habilidades previstas nos objetivos estabelecidos inicialmente através de
instrumentos variados e a comprovação do nível alcançado.
O autor reforça que, na educação básica, as três funções são pertinentes, desde que se
estabeleçam as finalidades e o momento de desenvolvimento do processo de ensino-
aprendizagem. Romão (2002, p. 66), ainda, destaca que as duas concepções (I e II) se completam
e deveriam ser usadas conjuntamente. Isso implica dizer que, no início e no decorrer do processo
de ensino-aprendizagem, devemos usar a Concepção I, entretanto ela não prioriza a verificação
87
do progresso do aluno. na Concepção II, a verificação do nível alcançado se justifica nas
avaliações de terminalidade, não podendo prever, no entanto, se o aluno está preparado para a sua
iniciação crítica na vida da sociedade.
Analisando as definições relatadas e as duas concepções apresentadas por Romão (2002),
procuramos elaborar um conceito que representasse a nossa compreensão do ato avaliativo e
descrevesse a nossa visão de avaliação. Sendo assim, entendemos que a ação de avaliar não pode
ficar concentrada em aspectos unilaterias ou fragmentados da aprendizagem, pois é parte
integrante de um complexo arquitetônico denominado ser humano, envolvendo as dimensões
afetiva, social, motora-corporal e cognitiva (Rabelo, 1998, p. 14).
Dessa maneira, alguns dos termos usados como tipos de avaliação pelos autores
anteriormente citados foram classificados como funções no conceito que propomos a seguir.
Assim, compreendemos a avaliação como uma ação utópica e formativa, constituída das funções
diagnóstica, dialógica, contínua e certificativa. A utopia (Hadji, 2001, p.25) se deve ao fato de
ela ser um modelo idealizado, porém inacabado, estando sempre em construção; formativa
(Perrenoud, 1999), porque o professor procura desenvolver o conhecimento do aluno através do
uso de estratégias, envolvendo critérios qualitativos de observação; diagnóstica (Luckesi, 2005;
Romão, 2002), por ser usada para a identificação dos pontos a serem reconstruídos ou re-
apresentados no dia-a-dia da sala de aula; dialógica (Romão, 2002; Freire, 2006), pois envolve
dois agentes participantes do mesmo processo (ensino-aprendizagem) e enfatiza o diálogo como
mecanismo de realização da ação avaliativa; contínua (Rabelo, 1998, p.70), pois se refere à
regularidade com que a avaliação acontece em sala de aula; e certificativa (Perrenoud, 2004, p.
128), porque são balanços dos conhecimentos adquiridos no final da formação, em função dos
objetivos, através de ferramentas cumulativas aprimoradas, garantindo um perfil definido de
saberes e de competências.
A subseção a seguir apresenta os dois tipos de avaliação mais recorrentes na literatura
pedagógica: a avaliação somativa e a formativa, dividindo a segunda em funções de avaliação e
não em modelos pré-definidos como apresentado pelos autores anteriormente citados.
88
2.3.4 Tipos de avaliação
As práticas avaliativas do nosso sistema educacional baseiam-se, principalmente nos
conteúdos das áreas e disciplinas. Porém, segundo Blaya (2005), a aprendizagem não está
somente associada ao domínio dos conteúdos, mas também à mobilização desses saberes no
desenvolvimento das habilidades acadêmicas. Na verdade, não ficou muito claro para nós o que a
autora quis dizer com ‘habilidades acadêmicas’; entretanto, interpretamos o termo usado por
Blaya (2005) como desenvolvimento cognitivo. Assim, ensinar/aprender/avaliar não compete
à dimensão cognitiva, como envolve os conhecimentos, capacidades, comportamentos e atitudes
formadores de um processo complexo denominado de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, Leal
(2003, p. 30) adverte-nos que a avaliação “não é mero complemento do processo [educacional]
43
,
mas elemento integrante e indissociável da nossa ação pedagógica diária (...)”.
Desse modo, é preciso entender que a avaliação tem uma função e um desenvolvimento
lógicos dentro do processo de ensino-aprendizagem, sendo utilizada como um instrumento para
redimensionamento da prática pedagógica (op. cit.). Assim, segundo Leal (2003, p. 30), devemos
reconhecer que avaliamos em diferentes momentos e com diferentes finalidades:
Avaliamos para identificar os conhecimentos prévios dos alunos e trabalhar a
partir deles; avaliamos para conhecer as dificuldades dos alunos e, assim,
planejar atividades adequadas para ajudá-los a superá-las; avaliamos para
verificar se eles aprenderam o que nós ensinamos e, assim, decidir se precisamos
retomar os conceitos trabalhados naquele momento; avaliamos para verificar se
os alunos estão em condições de prosseguir para um nível escolar mais
avançado; avaliamos para verificar se nossas estratégias de ensino estão dando
certo ou se [e quando] precisamos modificá-las.
Com base na discussão estabelecida anteriormente, não podemos entender a ação
avaliativa como
um ato mecânico nem mecanizante (...) e a escola não pode continuar
trabalhando com verdades absolutas, prontas e acabadas” (Rabelo, 1998, p. 11).
Pelo contrário, devemos elaborar um projeto de avaliação diagnóstica que possa
servir a todo instante como feedback para avaliar não o aluno, seu
43
Nós acrescentamos o elemento educacional, pois entendemos que a autora está falando do processo educacional.
89
conhecimento, mas também toda a escola (...) e o trabalho pedagógico
[desenvolvido
44
] (op. cit. 1998, p. 12).
Nesse sentido, que tipo de avaliação adotar? Sabemos que vários modelos podem ser
apresentados; contudo, o que os autores anteriormente citados chamam de tipos, gostaríamos de
denominar de funções da ação avaliativa. Assim, apresentamos apenas os dois modelos de
avaliação comumente usado na literatura da área pedagógica (Romão, 2002; Rabelo, 1998;
Pigrau, 2003), classificando as funções de acordo com os critérios e objetos de cada um. Dessa
maneira, identificamos os tipos somativo e formativo que serão descritos na subseção seguinte.
2.3.4.1 Avaliação somativa ou tradicional
A avaliação somativa (doravante AS) ou tradicional tem função classificatória e é
realizada ao final de um curso, período letivo ou unidade de ensino. Nesse modelo, os alunos são
classificados de acordo com níveis de aproveitamento previamente estabelecidos, geralmente
tendo em vista sua promoção de uma série para outra, ou de um grau para outro (Carvalho, 2001,
p. 42). A aprendizagem é equivocadamente entendida como memorização de um conjunto de
conteúdos desarticulados, obtida através da repetição de exercícios sistemáticos de fixação e
cópia.
Silva (2003, p. 17) afirma que a AS “dá o resultado integral e final, em um tempo
pedagógico determinado da interação entre docentes / conteúdos / objetivos / metodologias /
educandos”, atribuindo notas ou conceitos quantitativos para determinar o grau de domínio do
aprendiz em uma área de aprendizagem. Além disso, ela promove a distância entre processo e
produto. Como argumenta Esteban (2003, p. 86)
[é] sobre o produto, no entanto, que se realiza a verificação da aprendizagem:
mede-se o desempenho do estudante a partir dos conhecimentos
predeterminados como relevantes pelo professor ou professora, utilizando
instrumentos que permitam a comparação do resultado com o proposto.
Entende-se que a avaliação do sujeito é o resultado da soma da análise do
44
Usamos a palavra ‘desenvolvido’ para concluir a frase mais apropriadamente.
90
processo com a verificação do desempenho, gerando uma informação que
permite a classificação de cada um.
Para Blaya (2005), esse tipo de avaliação é muito usado por instituições que baseiam a sua
prática pedagógica na premissa de uma escola meritocrática, isto é, supostamente oferece a todos
o mesmo ensino, entretanto obterão melhores resultados aqueles que tiverem maior mérito, forem
"mais dotados"
45
, mais esforçados. A responsabilidade do fracasso ou êxito é do próprio aluno e a
missão da escola, além de ensinar, é selecionar os mais aptos.
Na AS, os instrumentos utilizados são provas e testes aplicados pelo professor,
respondidos pelo aluno, sem nenhuma interação entre eles, demonstrando a verticalização da
relação: de cima para baixo.
Como Romão (2002, p. 65), entendemos que a ação avaliativa deve conter uma função
classificatória, pois independentemente do sistema educacional (seriado ou ciclo) “é necessário
verificar se um aluno conseguiu incorporar os conhecimentos, as habilidades e as posturas que se
tinha como objetivos finais”. Ainda concordando com Romão (op. cit. p. 76), lembramos que
“a verificação do rendimento escolar implica dois momento: medir e avaliar. No
primeiro, tentamos, com mais ou menos objetividade, por meio de (...)
instrumento[s] adequado[s], ‘medir’ o desempenho do educando, isto é,
simplesmente coletar e registrar seu desempenho; em seguida, ‘avaliamos’ em
sentido estrito (...).
Essa avaliação em sentido estrito implica aspectos subjetivamente observáveis, ou seja,
“padrões [que] reproduzem o caráter ideológico dos objetivos educacionais determinados pelo
sistema educacional” (Romão, 2002, p. 81). Isso não quer dizer que concordamos com a
utilização da avaliação somativa, mas com a função exercida por ela registro do desempenho
do aluno.
45
Destaque do próprio autor.
91
De acordo com Rabelo (1998, p. 41), na AS, os resultados alcançados pelos alunos são medidos
ao final de cada etapa da aprendizagem, segundo uma conduta observável. Ainda, considera-se a
avaliação separada do processo de ensino-aprendizagem, pois acontece em momentos especiais,
com rituais especiais, com valores especiais” (op. cit. p. 42). Assim, “avalia-se o aluno apenas em
determinado momento, pois se avalia apenas o produto, sem se interessar pelo processo” (op.
cit.). Outrossim, não se leva em conta as diferenças entre os educandos; todavia, a escola espera
que eles se encaixem dentro de um lugar pré-determinado e uniforme para todos. Nesse sentido, a
função classificatória permeia os princípios desenvolvidos e a nota é o seu objetivo final.
A figura a seguir representa o ponto de vista da AS que é classificatória, seletiva e
somente para quem, apesar das diferenças, conseguir se enquadrar no espaço que lhe for
reservado. Percebemos, ainda, a satisfação dos que se adaptaram ao sistema e a insatisfação
daqueles que não se encaixam. A diferença, nesse caso, é a exclusão do aluno do processo
educacional.
Figura 3: Avaliação somativa no desenvolvimento escolar
Fonte: Adaptado de Cuidado, Escola! (Apud Rabelo, 1998, p. 42)
92
2.3.4.2 Avaliação formativa
A avaliação formativa (doravante AF) não tem como objetivo a classificação ou seleção
dos alunos, antes a sua preocupação central está em coletar dados para reorientação do processo
de ensino-aprendizagem. Sendo assim, ela não se realiza através de uma nota, mas sim por meio
de comentários, fundamentando-se no processo de ensino-aprendizagem, em seus aspectos
cognitivos, afetivos e funcionais que se aplicam em diversos contextos,
atualizando-se constantemente para que se continue aprendendo (Blaya, 2005). Os princípios da
avaliação formadora, como o próprio nome diz, objetivam uma maior participação do aluno,
buscando conseguir que o educando seja
capaz de criar suas próprias estratégias e instrumentos que o torne conhecedor
de seus interesses, possibilidades, dificuldades e, sempre, do ponto de vista da
aprendizagem onde se encontra (Pigrau, 2003, p. 106).
Ainda, a AF considera que “aprender é um longo processo por meio do qual o aluno vai
reestruturando seu conhecimento a partir das atividades que executa” (Jorba & Sanmarti, 2003, p.
30). Ela pretende identificar os pontos frágeis da aprendizagem. Através dos erros também
podemos diagnosticar as dificuldades dos alunos para a realização das tarefas, perseguindo os
seguintes objetivos: a regulação pedagógica, a gestão dos erros e a consolidação dos êxitos (op.
cit.).
Para Carvalho (2001, p. 41-42), essa avaliação exerce uma função de controle, que
podemos chamar de regularação
46
, orientando o professor sobre o rendimento da aprendizagem
do aluno e ajudando-o a identificar as possíveis deficiências do processo de ensino-
aprendizagem. Esse controle pode acontecer durante a aula (parcial), através da interação entre
professor e alunos ou no final de cada unidade (final).
46
A regulação da aprendizagem foi descrita anteriormente na página ...., apresentando a definição de Perrenoud
(1999, p. 90), porém gostaríamos de complementar o conceito. Nesse sentido, Santos (2001, p.1) afirma que
regulação é “todo o acto intencional que, agindo sobre os mecanismos de aprendizagem, contribua directamente
para a progressão e/ou redireccionamento dessa parendizagem”.
93
De acordo com Rios (2005, p. 2; Jorba & Sanmarti, 2003, p.30), a expressão avaliação
formativa foi utilizada pelo americano Michael Scriven, em seu livro Metodologia da Avaliação,
publicado em 1967, quando, buscando classificar as funções da avaliação, definiu a função
formativa como “o processo de fornecimento de informações a serem utilizados na melhoria do
desempenho, ainda que estivesse sob o poder do avaliador”.
A AF deve ser usada pelo professor como uma ferramenta pedagógica para o aluno
aprender, procurando diagnosticar o desempenho da turma num processo contínuo,
proporcionando o mapeamento das dificuldades apresentadas e buscando melhores soluções.
Acontece, portanto, o tempo todo e deve levar tanto o professor como o aluno a se auto-avaliar,
aprendendo com os erros e aprimorando os seus papéis (Fernandes, 2003, p. 97; Zacharias, 2007).
Para Perrenoud (1999, p. 103 e 143), a AF é a que ajuda o aluno a aprender (e se
desenvolver) e o professor a ensinar. Assim, o professor deixa de ser o detentor do conhecimento
e se prepara, numa parceria com os alunos, para desenvolver formas de aplicar os conhecimentos
no dia-a-dia e melhorar a aprendizagem do grupo.
Afonso (2003, p. 92) destaca que esta é uma modalidade de avaliação muito trabalhosa,
que exige do professor disponibilidade de tempo e energia, atualizando os registros dos alunos,
elaborando estratégias adequadas e individualizadas, sendo fundamental, também, planejar
cotidianamente as atividades a realizar.
Seguindo a nossa intenção inicial, e baseados no fato de que
uma nova atitude avaliadora (...) parte da idéia de que a avaliação se desenvolve
em si mesma em cada uma das atividades executadas: o fato de realizar uma
atividade não deve pressupor que sejam avaliados separadamente aqueles
conceitos, procedimentos ou atitudes da própria atividade, o que não evita o
estabelecimento de certo controle baseado em critérios previamente acertados
entre os envolvidos para poder, assim, comprovar o grau de desenvolvimento de
capacidades (Moreno & Córdoba, 2003, p. 124),
94
apresentamos as funções em que desdobramos a AF, pensando em uma forma mais integralizada
de se avaliar o aluno. É bom lembrarmos que o que chamamos de função aqui, os autores citados
anteriormente classificam como tipos de avaliação, sendo assim, temos as funções diagnóstica,
dialógica, contínua e certificativa que serão descritas a seguir.
a) Função diagnóstica: é preditiva e usada para determinar a situação do aluno antes do
início de um determinado processo de ensino-aprendizagem (Jorba & Sanmarti, 2003, p.
27); ela faz um prognóstico sobre as capacidades de um determinado aluno em relação a
um novo conteúdo a ser abordado. Além disso, é o “momento de detectar dificuldades dos
alunos para que o professor possa melhor conceber estratégias de ação para solucioná-las
(Rabelo, 1998, p. 72). Nesta função o papel do educador é de mediador, incentivando a
integração e a participação no processo de aprendizagem escolar (Donatoni e Lemes,
2007).
b) Função dialógica: na ação avaliativa, é uma das mais importantes, pois o ato avaliativo
deve ampliar o conhecimento com liberdade, reconhecendo a participação dos envolvidos
no processo (Romão, 2002, p. . Assim, deve haver o diálogo entre professor e aluno em
todas as fases do processo de ensino-aprendizagem, o que inclui a avaliação.
c) Função contínua: é aquela que acontece de forma regular, continuamente, em sala de
aula e não se espera chegar ao final de um trabalho para proceder a uma avaliação; a
continuidade se refere, pois, à regularidade com que a avaliação é feita e não a um tipo
específico de avaliação (Rabelo, 1998, p. 70).
d) Função certificativa: consiste em uma verdadeira certificação, realizada ao longo do
ciclo ou da formação; o balanços dos conhecimentos adquiridos no final da formação,
em função dos objetivos, através de ferramentas cumulativas aprimoradas, garantindo um
perfil definido de saberes e de competências (Perrenoud, 2004, p. 128).
Após a apresentação dos tipos de avaliação entendidos em nossa pesquisa, elaboramos um
quadro esquemático que proporcione uma visão integral da nossa proposta.
95
Quadro 11: Uma nova visão dos tipos de avaliação
AVALIAÇÃO: uma classificação
TIPOS FUNÇÕES
SOMATIVA FORMATIVA
Diagnóstica Não faz o diagnóstico das
necessidades dos alunos
É preditiva, fazendo um prognóstico
das dificuldades dos alunos no início do
processo de aprendizagem
Dialógica Não há diálogo entre professor e
aluno sobre o processo de ensino
-
aprendizagem
O diálogo é uma forma de promover o
conhecimento; professor e aluno são
responsáveis pelo processo de ensino-
aprendizagem
Contínua Não há continuidade de avaliação;
ela acontece em momentos pré-
determinados pelo professor ou
sistema pedagógico
Acontece de forma regular,
continuamente, em sala de aula.
Certificativa Não percebemos a certificativa,
mas a somativa que acontece num
período determinado e busca
avaliar se o aluno aprendeu ou
não o conteúdo ensinado; seu
objetivo final é a classificação do
aluno através de uma nota ou
conceito.
É uma certificação, realizada ao longo
do ciclo ou da formação; é o balanço
dos conhecimentos adquiridos no final
da formação em função dos objetivos,
garantindo um perfil definido de saberes
e de competências.
Essa discussão dos tipos de avaliação embasa o nosso conceito de ação avaliativa
encontrado na seção 2.3.3, o qual entende o ato de avaliar como momentos diferenciados na
prática educativa, definidos por objetivos diferenciados, mas que formam um conjunto de ações
integralmente direcionadas ao processo de ensino-aprendizagem dos educandos.
O subitem seguinte apresenta uma coleção de modelos alternativos de fichas que pode ser
usada para um melhor acompanhamento do desenvolvimento do aluno.
2.3.5 Modelos alternativos de avaliação (fichas e tabelas)
Segundo Moreno & Córdoba (2003, p. 124), devemos considerar alguns aspectos na hora
de se fazer um registro minucioso do desempenho dos estudantes. Não havendo tempo suficiente,
o uso das fichas é mais indicado, pois “permitem obter suficiente informação, tanto de alunos
como professores, sobre os aspectos que interessam avaliar” (op. cit.). Os autores sugerem
96
também que a utilização de determinadas fichas de auto-avaliação
47
pelos alunos “pode ser uma
forma mais ágil de consultar a qualquer momento” (Moreno & Córdoba, 2003, p. 124). Os
modelos sugeridos subentendem o uso de uma avaliação formativa, sendo fundamental a
participação do aluno.
Assim, apresentamos alguns modelos de fichas e registros que podem ajudar o professor a
refletir e acompanhar melhor o desenvolvimento dos educandos. As fichas foram retiradas de
Moreno & rdoba (2003, p. 125-127), podendo ser usadas em situações diversas e momentos
variados do processo de ensino-aprendizagem e estão disponíveis nos Anexos 5.
A seção subseqüente apresenta uma visão geral do sistema de ciclos, particularizando a
estrutura dos ciclos de desenvolvimento humano implantados na cidade de Goiânia-GO.
2.4 Os ciclos de desenvolvimento humano
A escola em Ciclos de Formação originou-se na França, inicialmente com Jean Zay, em
1936, como uma proposta ao ensino médio profissionalizante. Posteriormente, a reforma francesa
Langevin-Wallon
48
propôs: 1) classes novas e inovação pedagógica no ensino secundário; 2) a
abrangência de toda a organização escolar, dos programas, dos horários dos exames e das bases
sociais do ensino; e 3) todas as crianças têm direito a se desenvolver, independente das origens
familiares, sociais, étnicas (Krug, 2002, p. 41).
Sabemos também que países como Inglaterra, Itália, Estados Unidos, tiveram suas
experiências com sistemas de ensino inovadores e preconizaram mudanças educacionais
profundas. Porém, cada sociedade vive seus momentos que são particulares e únicos. Assim, a
implantação dos ciclos no Brasil faz parte da história educacional brasileira e não é uma cópia
47
A auto-avaliação é descrita como um processo de metacognição, entendido como um processo mental interno
através do qual o próprio aluno toma consciência dos diferentes momentos e aspectos da sua atividade cognitiva”
(Santos, 2001, p. 2). Portanto, a auto-avaliação não é, simplesmente, um instrumento de avaliação, mas um processo
de compreensão do trabalho realizado. Para Hadji (1997, p. 103) ela é “uma habiliadde de construir”; além disso, é
um olhar crítico consciente sobre o que se faz, enquanto se faz (op. cit. p.102).
48
Nota da autora: Projeto de uma comissão do Ministério de Educação, em 1945, inicialmente sob a presidência de
Paulo Langevin e, após sua morte, de Henri Wallon. Nunca chegou a ser aprovado (Krug, 2002, p. 147).
97
importada de países de primeiro mundo. Os próximos tópicos descrevem o regime de ciclos no
Brasil, a estrutura do sistema atuante em Goiânia e o tratamento dispensado à avaliação.
2.4.1 A Implantação dos Ciclos de Formação no Brasil e a avaliação
A origem dos ciclos no Brasil remonta às décadas de 60 e 70 quando os educadores,
preocupados com os altos índices de repetência escolar, começaram a discutir possíveis soluções
para a educação básica (Barreto & Mitrulis, 1999, p. 195). Segundo Fernandes (2007, p. 97), os
anos 80 registraram as primeiras implantações do Ciclo Básico de Alfabetização nos estados de
São Paulo, Minas Gerais e Paraná, tendo se ampliado para as demais séries ao longo dos anos 90.
Assim, as experiências aconteceram de diferentes formas nas diversas regiões do país; todavia, as
mesmas justificativas eram usadas para a implantação dos Ciclos: “o processo de ensino-
aprendizagem deveria ser contínuo e sem retrocessos e desenvolver-se por meio de metodologia
que contemplasse esses princípios, sendo assim, a avaliação deveria ser também um processo
contínuo” (op. cit. p. 98).
Com as mudanças no cenário mundial, o advento das novas teorias pedagógicas, as
proposta em curso na LDB e nos PCNs, os ciclos foram institucionalizados e “o que surgiu como
solução para o problema da repetência nas séries iniciais nas redes públicas de ensino amplia-se
também para a rede privada, modifica-se e passa a ter destaque como proposta de ensino e de
aprendizagem” (Fernandes, 2007, p.99). Apesar das experiências anteriormente citadas, foi só na
década de 90, com a implantação da Escola Cidadã
49
, em São Paulo (1993) e a Escola Plural
50
em
49
Para Knoblauch (2004, p. 50), “[a] Escola Cidadã utiliza argumentos de caráter cultural, biológico e psicológico
que se diferenciam em cada grupo de idade correspondente a cada ciclo, ou seja, a infância possui características
diferenciadas da pré-escola e da adolescência, tanto no que se refere ao desenvolvimento físico, como cognitivo e
moral. Para isso, utiliza o referencial de Piaget, Vygotsky e Wallon”. O currículo é revisto de acordo com as
necessidades da comunidade, de onde surge o tema para definir o Complexo Temático, organizado através de um
trabalho interdisciplinar. A avaliação é parte integrante de todo o processo, é contínua e diagnóstica. A auto-
avaliação também é utilizada.
50
Segundo Knoblauch (2007, p. 48) a Escola Plural busca a aceitação e o convívio de diferentes pluralidades, além
da “reorganização dos tempos escolares e a não interrupção no processo de desenvolvimento do aluno por meio da
reprovação”. Também o trabalho com os conteúdos deve considerar as vivências sócio-culturais dos alunos. A autora
ainda ressalta que a avaliação quebra a idéia de avaliar o produto final, avaliando “todo o processo não de
aprendizagem do aluno (...); [a] avaliação mais específica da sala de aula é feita por meio de objetivos e de auto-
avaliação (...), procurando identific[ar] os avanços alcançados e de aspectos a serem revistos” (op. cit. p. 49).
98
Belo Horizonte (1995) que a proposta se tornou realidade (Knoblauch, 2004, p. 48). Entre o
período de 1999 a 2002, muitas escolas em todo o Brasil aderiram ao regime de ciclos,
totalizando um percentual de 19,4%, segundo dados do Censo Escolar (Fernandes, 2007, p. 100).
Assim, de acordo com Krug (2002, p. 17), os Ciclos de Desenvolvimento Humano
representam uma forma diferenciada de escola para o ensino fundamental e não representam um
método de ensino, nem mesmo um sistema de ensino. Eles “dizem respeito à forma de
distribuição / organização (...) dos anos que os alunos passam na escola” Fernandes, 2007, p.100).
Podemos dividir o tempo escolar dos alunos ano a ano (séries / organização seriada), ou de dois
em dois anos, de três em três anos, de quatro em quatro anos (ciclos / organização em ciclos).
Assim, o fundamento teórico dos ciclos “defende que a aprendizagem dos sujeitos não se de
forma linear nem ao mesmo tempo nem a partir somente de estímulos externos” (op. cit. p. 101).
Desse modo, o objetivo proposto pelo sistema de ciclos é agrupar os alunos pelas fases de
formação: infância (6 a 8 anos); pré-adolescência (9 a 11 anos); e adolescência (12 a 14). Além
disso, o conteúdo escolar é definido através de uma pesquisa realizada na comunidade e depois os
resultados são discutidos pelos segmentos da sociedade: escola e comunidade. Os professores são
coletivamente organizados por ciclos, sendo o grupo integral responsável pela aprendizagem dos
educandos (Krug, 2002, p. 17).
Em se tratando de ciclos de formação (também de aprendizagem ou de desenvolvimento),
algumas questões merecem atenção especial, tais como: a promoção, a retenção de ciclo para
ciclo, a professora itinerante, o histórico escolar e a avaliação. Para Krug (2002, p. 39), a
promoção, nos ciclos, tem que ser por idade e não por nível de conhecimento, pois, as crianças da
mesma idade têm os mesmos interesses e comportamentos, assim
99
[é] preciso respeitar o repertório comportamental da criança e seus propósitos,
sem lhe impor maneiras de agir e pensar que não correspondam às suas
necessidades e competências atuais e que podem ser adequadamente
assimiladas e utilizadas mais tarde (op. cit., p. 43).
Ainda segundo a autora, uma escola organizada em Ciclos não pode ter a retenção de
ciclo para ciclo porque se baseia na fase de desenvolvimento das crianças e adolescentes. Sendo
assim, algumas características do desenvolvimento humano, “como memória, atenção,
consciência e emoção, não acompanham o movimento de voltar atrás
51
, (...) antes se
desenvolve sempre a partir da fase em que se está” (Krug, 2002, p. 76).
Por estas razões, não há reprovação ao final de cada ano letivo, mas uma forma de avanço
ou progressão de acordo com as necessidades educativas dos alunos, as quais serão trabalhadas
no próximo ano letivo por uma professora itinerante. Krug (op. cit. p. 78) afirma que existe uma
professora itinerante para cada três turmas no primeiro Ciclo, uma para cada quatro turmas no
segundo Ciclo e uma para cada cinco turmas no terceiro Ciclo. Ela desenvolve um trabalho
coletivo com a professora referência; todavia, não se trata aulas de reforço. A professora
itinerante pode revisar conteúdos ou apresentar novos conhecimentos que ajudem a todos na sala
de aula.
Outro ponto de discussão é a questão do histórico escolar. No sistema de ciclos, o
histórico é preenchido de acordo com a organização escolar, podendo-se apontar a série
correspondente aos seus anos de estudos no ciclo. Em caso de transferência, a criança levará o
seu histórico escolar, apontando que ano Ciclo cursou e a indicação da série que ela poderá cursar
em uma escola seriada (Krug, 2002, p. 79).
Finalmente, apresentamos a concepção de avaliação adotada nos Ciclos de Formação.
Seguindo o pensamento de Perrenoud (1999), a avaliação formativa é a mais coerente com a
organização em ciclos. Assim, os Ciclos propõem uma avaliação “processual, contínua,
51
Grifo da autora.
100
participativa, diagnóstica e investigativa, (...) promovendo o redimensionamento da ação
pedagógica e educativa, reorganizando as próximas ações do educando (...) e avançando no
entendimento e desenvolvimento do processo de aprendizagem” (Smed, 1996, p. 28, apud Krug,
2002, p. 68). Os instrumentos utilizados são trabalhos cotidianos, auto-avaliação individual e de
grupo, relatórios dos professores, avaliação da família, compondo o que a Rede chama de dossiê
dos alunos (Krug, 2002, p. 68-69; Fernandes, 2007, p. 107).
Embora muitos professores tenham tentado se convencer dos méritos da avaliação
contínua e diagnóstica, a maioria dos educadores se manifesta indignada com a eliminação da
reprovação dos alunos. Barreto e Mitrulis (1999, p. 219) afirmam que o assunto é extremamente
problemático, pois os professores “sentem que perdem poder e controle da situação de ensino,
sendo que o manejo da classe se torna bem mais difícil na nova forma de organização”. Como ex-
professora do Ciclo II, entendemos as angústias dos professores e, agora, o trabalho
desenvolvido no sistema proposto. Assim, gostaríamos de apresentar alguns aspectos relevantes:
a falta de compreensão dos fundamentos teóricos que embasam a proposta, muitas vezes por
desinteresse do grupo de educadores e outras por omissão das instituições escolares; o número
exagerado de alunos por turma torna o trabalho muito difícil e, porque não dizer desmotivador; as
secretarias de ensino que propõem medidas de funcionamento da escola, sem que tenham
delineado claramente os novos mecanismos de ação (op. cit, p.225), dificultando a execução do
projeto e a adaptação dos papéis no sistema educacional.
2.4.2 Os Ciclos de Desenvolvimento Humano em Goiânia e a avaliação
A proposta de ciclos de formação foi elaborada pela equipe pedagógica da Secretaria
Municipal de Educação (SME) no final de 1997 e implantada no início de 1998. Nesse ano, a
implantação do ciclo I ocorreu em todas as escolas da rede municipal e o ciclo II, em apenas 39
escolas. No ano seguinte, mais 11 escolas foram integradas ao sistema, atingindo um total de 50
escolas. O ciclo III foi implantado em 2000, em treze escolas que tinham o ciclo II (Mundim,
101
2004, pp. 245 - 247).
Para a SME-Goiânia (Goiânia, 2002, pp. 4 -5), os ciclos são as diferentes fases de
desenvolvimento do ser humano, objetivando a formação integral do educando em suas várias
dimensões: física, psíquica, cognitiva, afetiva, social e emocional, entre outras. A adoção do
sistema de ciclos, pois, se fundamenta na idéia do “desenvolvimento progressivo e na
temporalidade própria para as aprendizagens (...) que se consubstancia nas fases do
desenvolvimento. Essas fases funcionam como um período de preparação de uma para a outra
subseqüente” (Goiânia, 1998, p.1). Assim, cada fase é caracterizada por determinadas atividades
e necessidades específicas da criança, apresentando particularidade própria e determinada por
faixa etária, diferenciando-se uma da outra em função das características cognitivas e bioculturais
dos educandos.
Assim, buscando adaptar-se às alterações recentes na LDB baseado no sistema de ciclos, o
ensino fundamental na rede municipal de Goiânia tem a duração de nove anos, distribuídos em
três ciclos de três anos cada um deles: ciclo da infância, agrupando alunos de 6 a 8 anos (Ciclo I);
ciclo da pré-adolescência, agrupando alunos de 9 a 11 anos (Ciclo II); e o ciclo da adolescência
que agrupa alunos de 12 a 14 anos (Ciclo III). Nesse sentido, os alunos que integram cada um
destes ciclos partilham momentos semelhantes de suas vidas, como interesses por certos tipos de
brincadeiras, jogos, curiosidades, além de interesses e possibilidades para participarem de
determinadas atividades físicas, esportivas, culturais (Goiânia, 2002, pp. 4-5). O agrupamento dos
educandos por idade se justifica pela criação de condições para que o aluno cresça vivenciando e
partilhando experiências comuns aos de sua idade, isto é, aprenda com outros do mesmo grupo
(op. cit. p. 6).
Sendo um sistema diferenciado de ensino, os Ciclos de Desenvolvimento Humano
(doravante CDH), organizado pela SME-Goiânia, apresentam temas complexos que provocam
discussões acirradas entre os educadores e que, a nosso ver, merecem destaque em nossa
pesquisa, principalmente ao tratamento dispensado a essas questões problemáticas.
102
1. Retenção / Reprovação
Não podemos ignorar que, na prática, as sucessivas reprovações contribuem para que os
alunos se desestimulem, sentindo-se deslocados em meio a colegas mais novos, com interesses
diferentes um do outro e acabem por abandonar a escola. É preciso ressaltar, também, a
importância da convivência com pessoas da mesma faixa etária, com as quais possamos
compartilhar as descobertas e experiências, os segredos e as brincadeiras próprias da idade. Além
disso, consideramos, também, que não devemos apenas preparar hoje o cidadão de amanhã, mas
que devemos garantir, no presente, a condição de cidadão ao nosso aluno, e essa cidadania deve
começar pelo respeito à sua condição de criança, pré-adolescente, de adolescente (Goiânia, SME,
2002, p. 6).. Entendemos, pois, que reter o aluno significa “segurar” o seu desenvolvimento
cognitivo e físico, fato que sabemos é impossível acontecer.
2. Progressão
A progressão não é uma forma relaxada de o professor passar o aluno de ciclo/ano. Na
realidade, dentro dos ciclos, o aluno obedece, prioritariamente, à progressão de acordo com a sua
faixa etária, compartilhando situações semelhantes entre eles, mas diferentes em nível de domínio
de conteúdos. Assim, a equipe pedagógica deve se esforçar para descobrir formas de garantir
que todos os alunos tenham oportunidade de aprender os conteúdos; todavia, aqueles com maior
necessidade de atenção serão atendidos através dos reagrupamentos
52
, e pelo próprio professor
em horários agendados
53
(Goiânia, 2002, pp. 8-9).
Em caso de um aluno chegar à escola quase analfabeto com 12-13 anos de idade, ele não
deve ser incorporado ao ciclo II; mas, tampouco, deve se incorporar ao ciclo I, onde,
supostamente, se localiza seu nível de conhecimento escolar. Neste caso, o aluno deve ser
52
Proposta de ões didático-pedagógicas que tem como foco a reorganização das turmas e educandos para ir
superando as dificuldades e dar tratamento as dimensões a serem exploradas (Goiânia, SME, 2002-2003, p.2). Os
reagrupamentos são acompanhamentos específicos e funcionam como oficinas de reforço, nas quais os alunos são
divididos em pequenos grupos segundo as suas dificuldades e o professor utiliza recurso variados para facilitar a
compreensão, desenvolvendo práticas que tornem mais concreto o aprendizado.
52
Dentro da proposta de ciclos, o professor tem uma carga horária que disponibiliza horários de estudo e de
atendimento extra para os alunos.
103
matriculado no ciclo II e receber acompanhamento específico, como descrevemos anteriormente
(op. cit. pp. 8-10).
3. Transferência de escola
O documento de transferência emitido pela escola municipal, organizada em ciclos,
indicará os anos de escolarização da criança ou adolescente e a série correspondente ao sistema
seriado. Da mesma forma, quando a escola municipal receber um aluno oriundo do sistema
seriado, serão observados a série indicada na sua transferência e a idade; a criança ou
adolescente será matriculado no ciclo que atender a estes dois aspectos: da aprendizagem dos
conteúdos e do agrupamento por idade (Goiânia, SME, 2002, p. 11).
4. Avaliação
O sistema de ciclos eliminou as notas de 0 a 10, mas não restringiu a avaliação; pelo
contrário, ele ampliou o conceito e diversificou os instrumentos. Assim, o aluno é avaliado não
pelo acúmulo de conhecimento que teve ou deixou de ter, mas em todos os aspectos que
compõem a formação humana. É preciso que superemos a visão competitiva, a visão que destaca
o “melhor”, pois, geralmente, o destaque vai para o melhor em conteúdos, desconsiderando os
outros aspectos da formação global do ser humano (op. cit. p. 9).
Desta maneira, a avaliação do educando deve ser: dinâmica - utiliza instrumentos variados
e a participação da comunidade escolar no processo de ensino-aprendizagem; qualitativa –
identifica as aprendizagens significativas para o contexto social do educando; contínua refere-
se à regularidade periódica e não apenas no ‘período de avaliação’
54
ou no final do bimestre;
diagnóstica – busca a identificação dos avanços, potencialidades e dificuldades dos educandos no
processo de ensino-aprendizagem, buscando a reflexão da prática educativa e a superação dos
problemas; e descritiva é realizada através da descrição do desenvolvimento integral do aluno,
utilizando o chamado registro descritivo que será apresentado mais adiante (Goiânia, 2002-2003,
p. 1).
54
Destaque nosso.
104
Com base na descrição anterior, a avaliação deve ser construída na prática pelas escolas e
pelos educadores, podendo utilizar diversos instrumentos que irão compor os dados para o
registro descritivo. O registro descritivo é imprescindível dentro da proposta de organização da
escola a partir dos ciclos de desenvolvimento humano, uma vez que permite um olhar amplo e
diagnóstico do desenvolvimento dos educando, tanto individual como coletivo e por constituir-se
num documento rico de dados, revelador das vivências pedagógicas entre educadores e
educandos (Goiânia, 2007, p. 5). Pensando em orientar os educadores em como e o quê registrar
sobre o desenvolvimento dos educandos, a SME encaminhou às escolas um quadro orientador
para registro do desenvolvimento integral do aluno, o qual apresentamos a seguir (op. cit., 2002-
2003, p. 2).
105
Quadro 12: Orientações para o registro do desenvolvimento dos alunos
ASPECTO
SOCIALIZAÇÃO/
INTERAÇÃO NOS
GRUPOS
Neste aspecto deve-se identificar a(s) forma(s), o(s) momento(s) em que
o(a) educando(a) interage no espaço educativo (sala, ginásio, quadra, pátio,
corredores, passeios e outras vivências. Refere-se à socialização que o(a)
educando(a) consegue exprimir através de suas ações e relações com
respeito e limites junto a colegas, professores, coordenadores e funcionários
em geral.
ASPECTO DA
PARTICIPAÇÃO/
ENVOLVIMENTO/
INICIATIVA
Neste aspecto, observa-se a participação e iniciativas para o apreender, a
autoconfiança nas tentativas, a criatividade para produzir formas
alternativas de soluções de problemas, a adesão às propostas das atividades,
o reconhecimento dos objetivos propostos e sua capacidade de
argumentação sobre suas idéias.
ASPECTO COGNITIVO
Neste aspecto, servirão de referencial a proposta curricular da escola,
projetos e a listagem dos objetivos a serem trabalhados com a turma
durante o período. Fazem parte desses referenciais: o processo de
construção do seu próprio texto; a relação entre o conhecimento apreendido
na escola e o cotidiano vivido; capacidade de formular questões acerca do
objeto de conhecimento; capacidade de construir novos
sentidos/significados a partir das informações trabalhadas; capacidade de
organizar sínteses orais, escritas, dramatizadas, gráficas, desenhadas, etc.
ASPECTO DE SUAS
RESPONSABILIDADES/
COOPERAÇÃO
Neste aspecto, considera-se que o(a) educando(a) possui um conjunto de
responsabilidades junto ao coletivo dos seus pares da sala, da escola e dos
educadores. Pensa-se também que a forma como suas ações, palavras e
julgamentos são encaminhados, revela suas intenções, desejos, expectativas
diante do processo educativo e sua capacidade de ajudar a construir as
aprendizagens de seus pares.
ASPECTOS DE SUAS
POTENCIALIDADES/
TALENTOS/
DIMENSÕES A SEREM
EXPLORADAS
Neste aspecto, considera-se que o processo como se aprende não é único,
que existem metodologias e ambientes diversificados, assim como a
participação efetiva dos sujeitos na construção das aprendizagens. Com
isso, considera-se que junto à(s) dificuldade(s) também dimensões
potenciais a serem exploradas para facilitar a apreensão dos saberes o
compreendidos nas situações “cotidianas”. Considera-se apreensão as
dimensões como: o teatro, a dança, expressão e linguagem corporal, a
música, as composições artísticas, as dimensões da formação estética, do
sensível.
Fonte: Goiânia, SME, 2002-2003, p.2
Além das orientações apresentadas, a SME elaborou uma série de modelos de fichas que
auxiliassem os registros descritivos dos alunos, assim como dos projetos e objetivos
desenvolvidos pelos professores, uma ficha de auto-avaliação do aluno e do professor, de
avaliação do professor pelo aluno e ficha de avaliação dos pais/responsáveis (Goiânia, op. cit., p.
2-10). Os modelos mencionados estão disponíveis nos Anexos 6.
Cabe-nos esclarecer também que um novo projeto está em andamento na SME-Goiânia
106
que é a escola em tempo integral. Em 2005, a Secretaria de Educação o implantou com o objetivo
de ampliar a permanência do educando na escola, oportunizando a todos desenvolver atividades
curriculares e extracurriculares que contribuam para a formação global do indivíduo. Nas escolas,
um dos períodos é reservado ao currículo regular e o outro para atividades que valorizem o
desenvolvimento geral e a vivência em grupo, oferecendo oficinas pedagógicas no contra-turno,
com um conjunto de atividades extracurriculares que possibilitem o aproveitamento integral do
tempo na escola (Goiânia, 2007, p.2).
Entendemos que os projetos (Ciclos de Desenvolvimento e Escola em tempo integral) são
inovadores e representam tentativas de sanar a evasão escolar e a defasagem de aprendizagem
dos alunos; contudo, precisamos lembrar que a maioria das escolas sequer conseguiu
compreender e pôr em prática a proposta educacional de sistema de ciclos; além disso, a falta de
estrutura das escolas para manter um projeto de tempo integral, bem como toda a dificuldade de
materiais e profissionais qualificados para o trabalho exigido sejam entraves na execução da
proposta. Some-se a tudo o isso a medíocre disponibilidade da SME em fornecer recursos
financeiros para a viabilização dos novos modelos, faltando comprometimento dos governos
estadual e federal para a sua implementação.
Portanto, o que temos, na verdade, é um conjunto de boas idéias para uma educação de
qualidade e para todos, emperrado por ações burocráticas e interesses pessoais dos dirigentes
políticos, transformando a educação em uma máquina monstruosa e deformada pelas alterações
introduzidas ao longo do processo de instituição. Vale salientar também o trabalho executado
pelos professores, que, muitas vezes, fazem “verdadeiros milagres” na superação das dificuldades
de aprendizagem de alguns alunos, mesmo com recurso escassos, falta de material adequado ou
estrutura física ideal. Além disso, os educadores sofrem com os problemas de reajuste salarial
incompatível com os avanços inflacionários, dificultando a preparação exigida, pois, em modelos
como estes, o professor trabalha mais, pesquisa mais, está mais perto do aluno; todavia, o número
exagerado de alunos por sala também inviabiliza a proposta. É fato que a SME oferece cursos de
formação continuada aos educadores, sem custo financeiro adicional para a sua realização.
Porém, o curso escolhido deve ser feito em horário contrário ao turno de trabalho o que, na
maioria dos casos, é impossível, pois o professor trabalha em dois ou mais períodos para poder
107
pagar (cobrir) suas despesas pessoais. Sendo assim, ele trabalha demais, não tem tempo para a
atualização de conhecimentos, vive estressado com a carga de trabalho exagerada e, ainda, se o
aluno aprende bem, o mérito é do sistema de ensino, do governo que investe em educação; se a
aprendizagem não foi alcançada, a culpa é do professor que não “vestiu a camisa” do projeto.
Na seqüência seguinte, discutiremos o papel da reflexão na prática pedagógica do
professor, enfatizando o conceito de reflexão-na-ação.
2.5 A reflexão sobre o ato de avaliar
Atualmente, falar da prática pedagógica inclui cursos de formação e a reflexão das ações
do professor. Sabemos da importância do estudo continuado para o crescimento e
amadurecimento do educador, além de proporcionar os encontros que favorecem as discussões e
reflexões sobre os problemas da sala de aula. Queremos, entretanto, apresentar algumas
considerações sobre a reflexão do professor.
Encontramos em Dewey (1959, p. 18), as primeiras referências ao ensino reflexivo,
instigando “o exame ativo, persistente e cuidadoso de todas as crenças ou supostas formas de
conhecimento (...)”, através das teorias que estão à nossa disposição e da prática que confirmam
as observações do dia-a-dia. O autor aconselha a não dissociarmos a teoria da prática, mas usá-las
como instrumento de reflexão no desenvolvimento do conhecimento e das ações.
Corroborando o pensamento de Dewey, Schön (2000) insiste em que os cursos de
formação devem favorecer a relação entre teoria e prática, pois com a experiência da sala de
aula, o professor pode ver a utilizão e aplicação dos conceitos teóricos.
Segundo Cunha (2004, p. 240), os estudos de Schön fundamentam a teoria sobre o
professor reflexivo, formulando três aspectos básicos: conhecimento tácito, reflexão na ação e
reflexão sobre a ação, as quais definiremos a seguir.
Para Schön (2000, p. 29), o termo conhecimento tácito foi cunhado por Michael Polanyi
108
em 1967, e significa um conhecimento prático, produzido na execução de tarefas e utilizado para
a solução de questões variadas sem que o profissional necessite de uma reflexão prévia.
O autor (op. cit., p. 31), ainda, chama de conhecer–na-ação “os tipos de conhecimento que
revelamos em nossas ações inteligentes”, as quais estão ligadas a situações físicas observáveis e à
capacidade de operações mentais, “[p]orque o processo de conhecer – na - ação é dinâmico, e os
‘fatos’, os ‘procedimentos’ e as ‘teorias’ são estáticas”.
Ao propor o conceito de reflexão na ão, Schön (2000, p. 32) sugere que “podemos
refletir no meio da ação, sem interrompê-la. Assim, o professor aprende , partindo da análise e
interpretação da sua própria prática (Cunha, 2004, p. 240). Schön (op. cit. p. 35) ambém
acrescenta que “a reflexão – na - ação é um processo que podemos desenvolver sem que
precisemos dizer o que estamos fazendo”. Dessa maneira, a reflexão acontece ao mesmo tempo
em que a ação, em tempo real.
A reflexão pode, ainda, se dar após a ação, apresentando um caráter retrospectivo e
desenvolvendo a reflexão sobre a ação (Cunha, 2004, p. 241). Nesse caso, um distanciamento
do professor sobre a sua prática e podemos considerá-la uma segunda fase da reflexão. O terceiro
momento do processo reflexivo é descrito como reflexão sobre a reflexão na ação, no qual,
segundo a autora (op. cit.) “ocorre um processo mais elaborado em que o próprio professor
procura a compreensão da ação, elabora sua interpretação e tem condições de criar alternativas
para a aquela situação”.
Em nosso estudo, o objetivo das sessões reflexivas era provocar o processo de reflexão-
na-ação da PP e não desencadear intervenções profundas na prática da professora. Assim,
buscamos trabalhar textos sobre abordagens de ensino e avaliação, procurando discutir aspectos
que se identificassem com a sua maneira de ensinar.
Reservamos o capítulo seguinte à analise, triangulação e interpretação dos dados
coletados em nossa pesquisa.
109
CAPÍTULO III
ANÁLISE, DISCUSSÃO E INTERPRETAÇÃO DE DADOS
“Tudo o que é dito ou escrito é suscetível de ser submetido a uma análise de
conteúdo” (HENRY; MOSCOVICI, 1968, apud Bardin, 1995, p. 33).
3.1 Introdução
Cervo e Bervian (1983, p.188) afirmam que análise e interpretação dos dados é a fase
mais demorada e difícil da pesquisa, pois “é o momento da leitura, da reflexão, da análise, da
diferenciação, da comparação e dos apontamentos”. Ainda, segundo os autores, é a parte em que
elaboramos as provas, os argumentos e a demonstração, a fim de apresentar as respostas
encontradas para o problema formulado no início da investigação (op. cit.) e aqui
acrescentaríamos que é o momento de triangular (comparar) os dados, pois a triangulação permite
analisar as incongruências, os desencontros entre o discurso dos participantes da pesquisa e a
ação (o ideal X o real; o dizer X o fazer).
Sendo a análise de dados o ponto central deste capítulo, gostaríamos de apresentar a sua
estruturação, procurando facilitar a compreensão das categorias levantadas. Desse modo, ele está
organizado em cinco seções, além de apresentar a análise, discussão e interpretação dos dados
coletados, orientada pelos objetivos e perguntas de pesquisa. Inicialmente, apresentaremos a
visão dos alunos com relação à avaliação, por entendemos que, como parte integrante do
processo de aprendizagem, eles podem revelar aspectos pessoais das crenças da professora; em
segundo lugar, faremos a identificação das crenças da professora sobre ensino-aprendizagem de
LE, através dos três instrumentos primários de coleta de dados, a saber: depoimento, entrevista e
110
observação de aulas com notas de campo. A terceira parte será dedicada à descrição do tipo de
avaliação observada na prática pedagógica da PP. Em seguida, procuraremos identificar as
crenças sobre avaliação, com destaque para a avaliação contínua, realizada pela professora. E,
finalmente, discutiremos o resultado das sessões que objetivavam a reflexão da ação avaliativa da
PP.
3.2 A visão dos alunos com relação à avaliação
A nossa pesquisa teve como foco principal a visão do professor (suas crenças) sobre
avaliação; contudo, gostaríamos de considerar que sem o aluno não existe o processo de ensino-
aprendizagem, no qual a avaliação está inserida; existe, sim, a posição de uma das partes (a do
professor). Utilizando um questionário básico, contendo três perguntas abertas, coletamos a
opinião de alguns alunos sobre avaliação. Segundo Vieira-Abrahão (2006, p.222), esse tipo de
questionário objetiva explorar as perspectivas pessoais, crenças e opiniões dos informantes,
produzindo respostas mais detalhadas, corroborando, pois, a nossa intenção de investigar: o
conceito de avaliação, os tipos conhecidos pelos alunos e as possíveis sugestões das crianças para
melhorar o ato de avaliar. Assim, vinte e um alunos da série responderam o questionário, que
será analisado e interpretado nas seções seguintes.
Igualmente, o nosso objetivo era observar se as expectativas dos educandos sobre a ação
avaliativa correspondem às da professora e qual a influência da opinião deles em sua prática
pedagógica. Entretanto, percebemos que não há preocupação da PP em envolver os alunos no
momento de avaliar. Eles participam executando as tarefas ou testes, mostrando o produto final
do aprendizado, atitude própria da concepção somativa (Silva, 2003, p. 17; Esteban, 2003, p. 86).
P: Ela voltou para a correção do exercício que estava no quadro. (...) Ela explicou a atividade, dizendo
que era sobre preço. Era uma tarefa de casa e a professora pediu que as crianças que a fizeram
levantassem a mão (Observação aula 3).
P: A professora cumprimentou os alunos, organizou as carteiras em fileiras e entregou o teste de
inglês. Depois disso, ela explicou as questões, uma por uma. Os alunos fizeram algumas perguntas
sobre a prova e pediram para a professora traduzir as perguntas, mas ela respondeu que eles
sabiam o que significavam e não podiam desapontá-la (Observação aula 4).
111
Ressaltamos, pois, a idéia de que a execução de tarefas nada mais é do que a verificação
do aprendizado ou conhecimento do aluno e, nas observações de aula, a ação da PP reforça essa
relação unilateral. Pensando assim, apresentamos a opinião dos alunos, organizando, pois, as
respostas do questionário em categorias para facilitar a análise dos resultados. São elas:
Conceito de avaliação
Tipos mais conhecidos de avaliação
Sugestões de avaliação
3.2.1 Conceito de avaliação
Os dados provenientes das respostas do questionário revelaram que os alunos definem o
ato de avaliar como: o uso de prova e teste; uma forma de saber se o aluno vai bem ou mal
na escola, ou seja, se estão aprendendo ou não; é uma tarefa que ensina o aprendizado das
pessoas; apenas para avaliar o aluno.
Prova e teste
Os dados apontam que 61% dos alunos responderam que avaliação é fazer uma prova ou
um teste para avaliar o aluno, seu conhecimento, aprendizado, comportamento. Sendo
assim, podemos dizer que o conceito de avaliação dos alunos é somativo, isto é, promove a
verificação do conteúdo estudado. A conceituação dos educandos pode ser o reflexo das próprias
crenças e ação da PP com o grupo, pois as crenças dos alunos são reforçadas com a experiência
de serem testados com provas ao final de períodos terminais (não é contínua), como forma de
medir o conhecimento (e porque não dizer o comportamento dos estudantes, também) e ao
atribuir-lhes notas ou conceitos, estabelecendo seu fracasso ou sucesso na aprendizagem (Belam,
2004, p.10)
Forma de saber se o aluno está bem ou mal na escola
Cerca de 19% das respostas identificaram a avaliação como uma maneira de
diagnosticar o desenvolvimento cognitivo do aluno. O diagnóstico aqui sugerido não equivale
112
ao uso da avaliação como um instrumento de identificação dos pontos a serem reconstruídos ou
re-apresentados no dia-a-dia da sala de aula (Romão, 2002; Luckesi, 2005), mas apenas voltado
para a checagem de conhecimento adquirido.
Tarefa que ensina o aprendizado das pessoas
Pudemos observar que aproximadamente 5% dos educandos utilizaram a palavra tarefa,
referindo-se à avaliação e, ao invés de ‘verificar’ o aprendizado, usaram o termo ensinar,
compartilhando a idéia de que avaliar é também um momento de aprender e não de mostrar
resultados. Segundo Leal (2003, p. 30), no processo de ensino-aprendizagem devemos reconhecer
que avaliamos em diferentes momentos e com diferentes finalidades: nessa categoria, o aluno
aprende enquanto executa a tarefa, começando a esboçar a vontade de uma avaliação diferenciada
ou formativa. . Jorba & Sanmarti (2003, p. 30) ratificam a idéia de que “aprender é um longo
processo por meio do qual o aluno vai reestruturando seu conhecimento a partir das atividades
que executa”.
Para avaliar o aluno
Os resultados mostram que 10% (dois alunos) responderam que avaliação é apenas
avaliar o aluno. Os alunos não expressaram outras idéias ou complementaram as opiniões. Em
se tratando de alunos no final do ciclo II (5ª série), deveríamos esperar um contato muito maior
com recursos diversificados de avaliação, pois a SME sugere que a ação avaliativa seja
“dinâmica, utilize instrumentos variados e incentive a participação da comunidade escolar no
processo de ensino-aprendizagem”.
Variedade de perguntas
Aproximadamente 5% das respostas definiram avaliação como uma variedade de
perguntas que você tem que saber tudo que estudou no bimestre. Primeiro, a evidência de um
período determinado para realização da avaliação reforça o pouco contato do aluno com a função
de continuidade do ato avaliativo; segundo, saber tudo significa ser o melhor, ter uma
qualificação privilegiada na comunidade escolar. Segundo Blaya (2005), obterão melhores
resultados aqueles que tiverem maior mérito, forem "mais dotados", mais esforçados na opinião
do professor; finalmente, a variedade de perguntas (talvez subjetivas, objetivas com múltiplas
113
escolhas) sugere uma tentativa de buscar formas diferenciadas de avaliação.
De acordo com a análise e interpretação das respostas dos alunos à pergunta sobre o
conceito de avaliação, pudemos perceber que as crianças estão mais expostas a critérios
somativos, experimentando a prova e o teste, escrito e oral, como instrumentos regularmente
utilizados na verificação da aprendizagem. Outro aspecto a destacar é que as crianças são
extremamente concisas ou repetitivas nas respostas. Na seqüência, apresentamos um gráfico com
o objetivo de ilustrar a predominância do conceito somativo de avaliação na compreensão dos
alunos.
Gráfico 1: Conceito de avaliação dos alunos
Conceito de avaliação
61%
19%
5%
10%
5%
prova e teste
forma de saber se o aluno
está bem ou mal na escola
tarefa que ensina o
aprendizado das pessoas
para avaliar o aluno
variedade de perguntas
114
3.2.2 Tipos mais conhecidos de avaliação
A diversidade dos instrumentos é uma das características dos ciclos de desenvolvimento e
uma recomendação da SME-Goiânia para garantir uma avaliação que privilegie as múltiplas
formas de aprender desenvolvidas pelos alunos. Assim, procuramos observar a experiência das
crianças com recursos avaliativos variados, investigando os tipos mais conhecidos. Pudemos
perceber que a maioria dos educandos apresentou mais de um tipo de avaliação e apenas dois
participantes não citaram nenhuma forma significativa para eles. Os tipos classificados a seguir
foram encontrados nas respostas das crianças e agrupados de acordo com o maior mero de
modelos citados.
As provas / testes escritos / prova “normal”
Os dados indicaram que 86% dos alunos se referiram às provas e testes escritos como a
primeira opção em suas respostas e alguns a denominam de prova normal, ou seja, um tipo a que
eles estão acostumados. Entendemos que a palavra normal pode ser substituída por tradicional e
mais usual. Buscando a verificação da aprendizagem, esses instrumentos permitem a comparação
entre o conteúdo apresentado e o resultado idealizado, objetivando coletar e registrar o
desempenho das crianças, produzindo uma informação que permite a classificação de cada uma
(Esteban, 2003, p. 86). O fato de a maioria dos alunos citar as provas e testes escritos sugere que
estes são os principais meios utilizados pelos professores em seus momentos avaliativos. Mais
uma vez, o contato com a avaliação somativa se fortalece na escolha de instrumentos mais
comumente usados para medir o conhecimento. Isto não quer dizer que provas e testes não
possam fazer parte do instrumental técnico da avaliação formativa, o tipo indicado no sistema de
ciclos; todavia, não recomendamos o seu uso como única forma de avaliação da aprendizagem
dos estudantes.
Provas de consulta
Analisando os resultados dos questionários, pudemos observar que aproximadamente 19%
dos alunos indicaram a prova de consulta como um tipo de avaliação freqüente entre eles. Esse
instrumento pode ser entendido como uma forma de estudo dirigido, no qual o aluno pesquisa os
conteúdos apresentados, reforçando o aprendizado ou solucionando as possíveis dúvidas
115
remanescentes das explicações do professor em sala de aula. Esse modelo pode ser classificado
como um dos instrumentos da avaliação formativa, devendo fazer parte da prática avaliativa do
educador, pois ajuda o aluno a aprender e se desenvolver (Perrenoud, 1999, p. 103).
Perguntas (ou provas) orais
Cerca de 52% dos participantes mencionaram as perguntas, ou provas, orais como um
recurso avaliativo bastante utilizado. Infelizmente, as análises não revelam detalhes sobre a sua
aplicação, porém em turmas com números elevados de alunos (entre 36-40 alunos por turma),
fica difícil supor que as crianças são avaliadas individualmente. Possivelmente, a professora faz a
pergunta e indica o aluno que vai respondê-la diante de todo o grupo. Precisamos ter cuidado para
não constranger os estudantes, principalmente aqueles que apresentam dificuldades em algumas
habilidades ou têm um ritmo diferenciado de aprendizagem.
Olhar os cadernos (o professor dá um visto
55
)
Verificamos que 29% das respostas registraram o “olhar o caderno” como um recurso
avaliativo. Assim, o professor pode fazer um acompanhamento contínuo da organização do
aluno, observar as tarefas incompletas e as que não foram resolvidas, identificando os problemas
da criança e buscando as soluções no dia-a-dia de sua prática, promovendo a função diagnóstica
da avaliação no modelo que elaboramos.
Analisando a ação pedagógica da PP, identificamos essa prática no decorrer das aulas
observadas:
P: Enquanto isso, ela pede que os alunos abram o caderno, pois ela vai dar o visto, isto é, olhar como os
alunos têm organizado a matéria ministrada (Observação aula 5).
Sendo assim, as crianças consideram “o visto” um instrumento formal de avaliação,
legitimado pelas ações da professora.
55
O visto da professora é a assinatura que ela põe no caderno do aluno acompanhado por notas de recomendações
ou palavras de incentivo.
116
Observar o comportamento dos alunos
Aproximadamente 14% dos alunos utilizaram a observação do comportamento do
aluno como um item de registro avaliativo. dois aspectos que gostaríamos de considerar no
tópico em questão: 1) o comportamento envolve a interação social, assim essa avaliação deveria
incluir as relações desenvolvidas pelo estudante com colegas, professores e a comunidade escolar
em geral; e 2) podemos entender a observação do comportamento como uma forma de punição
para os alunos indisciplinados ou que apresentem dificuldades no relacionamento com os outros.
É possível que os dois aspectos sejam considerados na avaliação dos diferentes tipos de alunos
encontrados em uma sala, porém evidenciamos o segundo na observação das aulas:
P: A professora retoma a contagem até 10 (em inglês) para que os alunos voltem a seus lugares. Ela
avisa que hoje vai haver reunião de pais e que as lembranças dela sobre cada um estão bem
fresquinhas, que ela vai falar para os pais deles como eles estão se comportando em sala (Observação
aula 1).
Seminários e debates
Os resultados mostram que 14% dos participantes demonstraram relativa familiaridade
com o uso de seminários e debates como tipos de avaliação aplicados pelos professores. Com
certeza, esses instrumentos são reconhecidos pela avaliação formativa, pois asseguram a pesquisa
e o desempenho dos educandos diante de um tema proposto. Além disso, entendemos que a
autonomia do grupo é incentivada através da participação e exposição das opiniões dos
envolvidos. Para o professor, a atividade pode proporcionar uma avaliação conjunta de
procedimentos e atitudes do aluno e não apenas do seu conhecimento cognitivo (Moreno &
Córdoba, 2003, p. 124).
Prova de brincadeiras
Orientados pela análise dos dados, percebemos que 10% das respostas apontaram para um
tipo desconhecido de avaliação: a prova de brincadeiras. Entendemos que ao usar o termo, as
crianças se referiam à utilização de atividades lúdicas como forma de avaliação da aprendizagem,
buscando tornar o momento de tensão atribuído à avaliação em um espaço de descontração, em
que as brincadeiras possam equilibrar o filtro afetivo dos educandos, haja vista o papel facilitador
da afetividade na aquisição de uma segunda língua ou LE, neutralizando sentimentos negativos
que dificultem a manipulação significativa da língua.
117
Observamos, ainda, que a resposta das crianças corrobora a opinião da PP quanto ao uso
do lúdico no ensino de uma LE:
PP: “(...) você tem que trabalhar muito com o lúdico, com brincadeiras” (Narrativa).
PP: Ah... eu acho que ela [a LE] deve ser introduzida no início da vida escolar, de uma maneira bem
lúdica, bem ... cativante, (...)”(Entrevista).
Ressaltamos, entretanto, que nas aulas presenciadas nenhuma atividade dica (jogos ou
brincadeiras pedagógicas) foi utilizada pela PP, mesmo quando trabalhando um vocabulário
determinado, através da repetição das palavras ou em momentos de aquecimento, revisando um
tópico específico. O excerto a seguir confirma essa afirmação:
P: A professora voltou a trabalhar com a apostila, mostrando um desenho na página 14 e perguntando o
que havia de errado nele. As crianças responderam que estava incompleto. Ela chamou a atenção dos
alunos para os nomes dos desenhos e pediu que eles repetissem as palavra: milk, bread, coffee, orange,
juice, butter, cake. Depois perguntou o significado das palavras (Observação aula 1).
Com base nos dados analisados, percebemos que os tipos de avaliação mencionados pelos
estudantes, isto é, aqueles mais citados, reforçam o uso de instrumentos somativos que legitimam
a mensuração do conhecimento, cobrando do aluno o conteúdo ministrado. Note-se também que
o grupo apresentou alguns modelos utilizados na avaliação formativa, como por exemplo:
seminários, debates, atividades lúdicas, que privilegiam a participação do educando e exige a
exposição de suas idéias, opiniões e interação com os colegas. Assim, ousamos dizer que a
experiência dos alunos está apenas começando e que, se bem direcionada pelos educadores, pode
transformá-los em sujeitos do processo de ensino-aprendizagem e parceiros dos momentos
avaliativos.
3.2.3 Sugestões de avaliação
Ao pedir aos alunos sugestões de avaliação, objetivamos conhecer a forma como eles
gostariam de ser avaliados, dando-lhes a oportunidade de mostrar suas idéias e apresentar a visão
simples que eles têm sobre um aspecto profundo do aprender e ensinar. A maioria dos tipos
sugeridos foi os mesmos citados na resposta anterior, reforçando a característica somativa na
118
concepção de avaliação das crianças. Assim, faremos um resumo desse tipos conhecidos e
arrolaremos os diferentes modelos que ainda não foram citados.
Dos 21 educandos que responderam o questionário, cinco deles disseram não ter
sugestões para melhorar a ação avaliativa na escola. Gostaríamos de destacar, porém, que nas
respostas anteriores os modelos indicados por esses alunos foram aqueles de cunho somativo
como provas e testes escritos. Nesse sentido, podemos deduzir que ou eles não tiveram
oportunidades de contato com tipos variados de avaliação, ou não se sentem compromissados, ou
participantes do ato de avaliar.
Outros cinco alunos reforçaram a aplicação de provas ou teste escritos e orais, incluindo,
ainda, perguntas feitas oralmente pelo professor. Entendemos que a referência ao instrumento
somativo de avaliação se deve ao fato de um contato maior com esse tipo de recurso, pois
encontramos sugestões diferenciadas nas respostas das mesmas crianças.
Observamos também que o uso de seminários foi bem lembrado, sendo mencionado por
dez das crianças inquiridas, assim como cerca de seis alunos indicaram a confecção de maquetes
como outro modelo possível. Além dos tipos citados, observamos outros conhecidos pelos
estudantes, tais como: “o visto no caderno (ou nas tarefas do caderno), observar o
comportamento do aluno, provas de consulta e a “prova de brincadeira”.
Alguns alunos procuraram inovar nas sugestões, demonstrando a capacidade de compor a
parceria com o professor na elaboração de instrumentos formativos de avaliação. Dentre os
recursos sugeridos, citamos: fazer cartazes em cartolinas; trabalho em grupo; o uso de vídeo com
debates; atividades de pintura e modelagem; a utilização de músicas na avaliação da
aprendizagem; e, finalmente, a participação dos alunos na elaboração dos testes.
Compreendemos que algumas das respostas representam uma tentativa de escapar dos
rigores de uma avaliação formal e, porque não dizer, do caráter punitivo que, muitas vezes, ela
encerra. Por outro lado, é inegável a contribuição que o nosso aluno poderia dar na construção de
momentos significativos de avaliação, resgatando o aspecto formador da personalidade, através
119
do debate das idéias, da expressão artística - pelo uso da pintura, modelagem, música e a
utilização da função dialógica da AF, isto é, um trabalho cooperativo entre professor e aluno na
elaboração de instrumentos avaliativos.
Elaboramos o quadro a seguir com a finalidade de facilitar a visualização dos tipos de
avaliação sugeridos pelos alunos, separando os recursos citados e os modelos inovadores
observados.
Quadro 13: Modelos de avaliação sugeridos pelos alunos: quadro comparativo
Modelos de Avaliação - Sugestões dos alunos
Já citados anteriormente Recursos Inovadores
1. Provas e testes escritos e orais 1. Cartazes em cartolinas
2. Seminários 2. Trabalho em grupo
3. Confecção de maquetes 3. Uso de vídeo com debates
4. O “visto” no caderno 4. Atividades de pintura e modelagem
5. Observação do comportamento 5. Utilização de músicas
6. Provas de consulta 6. Testes elaborados pelos alunos
7. Prova de brincadeira
Observando o quadro anterior, podemos dizer que a visão dos alunos sobre avaliação está
na fronteira entre os critérios somativos e formativos; todavia, percebemos que os recursos
somativos fazem parte da experiência deles, os quais são também próprios da experiência, e
porque não dizer, das crenças do professor evidentes em suas ações em sala de aula; o espírito
inovador das crianças é enfatizado pelas atividades que estimulam a criatividade e a participação
real e significativa dos educandos, tornando-os, no dizer de Paulo Freire (2005), Romão (2002),
Hoffmann (2003) e outros, sujeitos do conhecimento e parceiros no ato de avaliar, desde a
confecção dos instrumentos, a aplicação e apresentação dos resultados.
120
3.3 Identificação e análise das crenças sobre ensino-aprendizagem de língua estrangeira
(LE) e formação de professores
O ponto principal de nossa investigação foi a identificação das crenças da PP sobre
avaliação contínua nos CDH, porém o desenvolvimento da pesquisa nos levou a um
desdobramento importante no levantamento das suas crenças, a saber: crenças sobre ensinar,
aprender e formação continuada de professores. Os aspectos ressaltados nos pareceram relevantes
por fazerem parte da vivência da professor, sendo, na verdade, a própria prática pedagógica da
educadora. Nesse sentido, as subseções seguintes apresentam as crenças da PP, enfatizando o
discurso e a prática no seu cotidiano pedagógico. Começaremos, pois, com as crenças sobre
ensinar LE.
3.3.1 Crenças sobre o ensino de LE
Entendemos o ensino-aprendizagem como um processo único, do qual a avaliação é parte
integrante. Gostaríamos de salientar, entretanto, que, nesta subseção, ele aparece dividido,
destacando-se o ensinar e o aprender apenas para facilitar o levantamento das crenças da PP.
Dessa maneira, selecionamos dos dados observados os aspectos que demonstram suas crenças
sobre ensinar LE, utilizando três instrumentos sicos para comprovar as nossas interpretações: a
narrativa, a entrevista e as notas de campo das observações de aula. Sendo assim, estabelecemos
uma classificação que mostra as suas crenças sobre ensinar LE.
Crenças sobre o ensino como estímulo e mudança de conduta
Pudemos observar que PP compreende o ensino como uma forma de estímulo, que
provoca mudanças no aluno.
PP: “(...)
ensinar é você ter a responsabilidade de participar do processo de estímulo de uma pessoa, ,
de instrução, de fazer conhecer (...) e dirigir a formação ou modificação da, da conduta, né, do, do ser
(Entrevista)
.
PP: “Então, eu procuro plantar, da melhor forma possível, né, essa ..., essa mudança neles, né, (...)”
(Narrativa).
PP: “Ela soube conduzir, soube, eh, como colocar, né, uma segunda língua pra gente”
(Narrativa).
121
Para a nossa participante da pesquisa, ensinar significa estimular o conhecimento do
Outro, é dirigir a formação ou modificar a conduta do Outro. Consideramos, pois, que ela tem a
noção moderna de educação que é promover mudanças através dos estudos, da aquisição do
conhecimento. Por outro lado, identificamos algumas crenças baseadas no papel tradicional do
professor, que seria ‘dirigir a formação ou modificação da conduta do ser’, aspectos herdados da
Abordagem Gramatical de ensino. Nesse sentido, ao tentar ‘conduzir’, ‘plantar’, ‘dirigir’ o ensino
e ‘modificar’ a conduta, a PP sustenta a crença no controle do conteúdo ensinado e no poder de
mudar as ações dos alunos, reforçando uma atitude centralizadora do ato de ensinar,
características próprias de uma visão tradicional do processo. Quando ensinamos, não temos
garantias de quanto o nosso aluno vai aprender, se pouco ou muito, ou mesmo se ele vai aprender
alguma coisa, por isso não podemos apostar nas mudanças que acontecerão, pois elas poderão ser
vistas somente muitos anos depois.
Entendemos que os traços da Abordagem tradicional de ensino se revelam na prática da
PP como resultado de suas experiências anteriores como aprendiz de língua e que se
solidificaram como referencial na prática pedagógica. Outro ponto que confirma o uso AG da PP
é o enfoque dado às traduções, a utilização de testes sobre o conhecimento gramatical e
compreensão de texto (nos Anexos 10, mostramos um modelo de teste usado pela PP), além de
atividades com lista de vocabulário e repetições na ngua do aprendiz (Neves, 1996, p. 70). A
afirmação anterior pode ser comprovada através das notas de campo das observações de aula.
P: O trabalho de correção continuou; agora, ela vai pedindo para eles repetirem individualmente. Ela vai
chamando os nomes e os alunos repetindo as palavras. A PP também usa palavras de incentivo em
português e em inglês:
PP: “Very Good!”, “Congratulations!”, “Parabéns!” (Observação da aula 1).
P: A PP tentou arrumar as carteiras que se mantêm em fileiras, depois começou a corrigir uma tarefa
começada na aula anterior (Observação da aula 3).
Os exemplos enfatizam uma prática pautada pela AG, em que a correção, a repetição e o
reforço positivo fazem parte das aulas em todas as séries trabalhadas. Destacamos, porém, que o
objetivo da PP é facilitar a aprendizagem da língua pelos aprendentes, usando recursos que
122
possivelmente auxiliaram a sua própria compreensão.
Crença no papel do professor como responsável pelo ensino
PP: “(...) a professora era muito boa, e ... ela soube conduzir, soube, eh, como colocar, né, uma segunda
língua pra gente (Narrativa).
PP: “(...) ser um professor é tentar transmitir, eh... estabelecer uma conexão entre a língua materna e a
segunda língua, né, que, que a gente ensina; é usar diferentes metodologias, com diferentes públicos pra
se atingir os objetivos (Entrevista).
De acordo com a visão da PP, o professor, ainda, é quem decide, ou melhor, transmite o
conhecimento, é quem ensina. Segundo o seu depoimento, o professor não é participante, mas
condutor do processo de ensino, exercendo o papel da autoridade, no controle e a interação aluno-
professor é centrada no educador (Neves, 1996, p. 70). Esse aspecto pode ser observado nas aulas
ministradas, pois a maioria das atividades não evidencia a interação entre os alunos, mas a
intervenção da PP.
P: A PP, então, perguntou quem tinha a apostila e pediu para eles abrirem na página 14 (Observação aula
1)
P: A PP propõe que eles continuem a tarefa que estavam fazendo na aula anterior. (...) Ela começa a fazer
perguntas à classe sobre palavras opostas (Observação aula 2).
P: Ela voltou para a correção do exercício que estava no quadro (Observação aula 3).
P: A PP cumprimentou os alunos, organizou as carteiras em fileiras e entregou o teste de inglês
(Observação aula 4).
Nos excertos citados, percebemos a presença da professora na condução das tarefas
propostas, sem permitir que os alunos interfiram ou participem das etapas da aula. Por exemplo:
na aula 4, ela poderia pedir para os alunos ajudarem a organizar a sala; na aula 2, um aluno
poderia perguntar para outro, e assim por diante. Nesse sentido, as ações da PP ressaltam sua
crença no professor controlador e podemos observar essa atitude quando ela chama a atenção de
uma aluna que estava conversando com o colega:
PP: “Patrícia, a próxima vez que eu tiver de chamar a sua atenção, eu vou te mandar para a
coordenação” (Observação aula 5).
123
Ela exerce a sua autoridade de professora para coibir as indisciplinas e reforçar os limites
do aluno e o seu lugar de educadora.
Por outro lado, percebemos que, no discurso, ela está entre a fronteira do professor
tradicional (o que ensina) e do dialógico (o que estabelece conexões entre a língua materna e a
segunda língua). Entendemos que ao usar o termo, a PP tem a visão do professor como facilitador
no ensino da LE, identificando as dificuldades dos alunos e procurando trabalhá-las de acordo
com seus objetivos e metas (Romão, 2002). Na entrevista, a PP se refere ao uso de “diferentes
metodologias, com diferentes públicos”, mostrando-nos a preocupação com a utilização de
recursos variados para ensinar, percebendo que as crianças são diferentes nas formas de receber o
insumo disponibilizado pelo professor. Além disso, ela acredita que o professor deve ser criativo,
levando coisas novas e diferentes para a sala de aula.
P: (...) a gente, a professora de inglês, ela tem que ser muito criativa, tem que tá sempre, tá em busca de
coisas novas, né, diferenciando as aulas (...). (Narrativa).
Reforçando o papel do professor em uma aula de LE, PP acrescenta
PP: “(...) o papel principal do professor é você conscientizar os alunos sobre a importância de se
aprender uma LE, né. E o papel é ensinar a língua, né, nas suas diferentes maneiras”. (Entrevista).
A professora começa apontando uma função importante do trabalho do educador que é
tornar relevante para os alunos o insumo que ele traz para a sala de aula, entretanto a PP não
indica como isso pode ser feito. Também, ela destaca o ‘papel real’ do professor que é ‘ensinar a
língua’, dando a impressão de que o de conscientizador é um desvio de função, não fazendo parte
do trabalho pedagógico.
Através da análise dos dados, observamos que uma divergência entre o dizer e o fazer
da PP, como indicamos anteriormente. Observamos, ainda, a confusão da PP no uso de termos
teóricos, referentes ao ensino de línguas: ao invés de LE, ela usa segunda língua para falar do
ensino da língua inglesa no Brasil.
124
Crenças sobre o uso do recurso lúdico no ensino de LE
Observamos, no discurso da PP, a crença de que o uso de brincadeiras no ensino de LE
desperta o interesse do aluno, motivando a aprendizagem.
PP: “(...) você tem que trabalhar muito o lúdico, com brincadeiras” (Narrativa).
Esse aspecto é reforçado na entrevista, quando perguntamos a PP como uma LE deve ser
ensinada. Ela diz que
PP: “(...) De uma maneira bem lúdica, bem ... cativante (...)”. (Entrevista)
A opinião da PP corrobora o pensamento de Cook (2000, apud, Callegano, 2005, p. 123)
que afirma que o recurso lúdico é importante no ensino de uma LE, pois brincar com a língua
demonstra conhecimento aprofundado e usado em ocasiões ordinárias da vida. Além disso, o uso
do lúdico pode ajudar o aluno a superar suas dificuldades, controlando as variáveis afetivas que
têm um papel facilitador na aquisição de uma língua.
Embora essa crença seja marcante em seu discurso, observamos que a prática da PP nos
remete ao uso da correção de exercícios, da tradução e repetição de vocabulário, reforçando a
utilização da AG de ensino em seu dia-a-dia escolar.
P: A professora começa a correção do exercício. Ela faz um “spelling”, corrigindo a atividade, segura a
folha na mão para que todos vejam, vai mostrando a figura e eles repetem a palavra. (Observação aula 1).
P: Começa a repetição individual. O aluno tem a primeira letra da palavra (J) e deve completar o restante
(JAM). (...) Após conseguir a atenção dos alunos, ela continua a correção do exercício 2: ‘spelling words’
em português – ao invés de usar as letras em inglês, ela as usa em português. Ex: a – p –p – l – e = apple, e
não: ei – pi – pi – el – i). (Observação aula 1).
P: (...) A professora vai falando as palavras e os alunos vão dizendo o preço. Depois, ela fala as palavras
em português e eles em inglês. (Observação aula 3).
A identificação da crença no recurso lúdico como uma forma viável de ensino é bem
visível; todavia, as ações demonstram outra realidade. Segundo Barcelos (2006b, p. 28), a relação
entre o discurso e a prática do professor depende do contexto e suas influências, pois as ações
podem moldar o contexto e serem moldadas por ele. Para autora, o conflito entre crenças e ações
125
é provocado porque a crença evolui, mas o comportamento não acompanhou a evolução, ficando
fossilizado em um estágio anterior ao da crença adquirida.
3.3.2 Crenças sobre a aprendizagem de LE
A aprendizagem de uma LE é a outra face do processo de ensino-aprendizagem e merece
destaque no levantamento das crenças. Segundo Almeida Filho (2002, p. 13), a
abordagem/cultura (ou crença) de aprender é definida como maneiras de estudar, de se preparar
para usar a LE. Como a crença de aprender do aluno pode ser diferente da crença de ensinar do
professor, isso gera conflitos na interação em sala de aula. Para haver um equilíbrio entre a
relação professor-aluno e os confrontos minimizados, um deve compreender a cultura do outro,
tentando conviver com as diversidades individuais.
Assim, todo professor tem o seu lado aprendiz e a sua própria crença de aprender, o que
pode funcionar como um fator facilitador na compreensão da crença do aluno, tornando o
ambiente escolar um lugar mais adequado para o crescimento dos dois. Com base nos dados
coletados, apresentamos as crenças sobre a aprendizagem de LE da professora participante.
Crença sobre a vontade/interesse do aluno em aprender uma LE
Para a PP, a aprendizagem de uma LE depende tanto do professor quanto do aluno,
confirmando a tendência das novas pedagogias educacionais de uma parceria entre educador e
educando no processo de aprender. No entanto, ela destaca que é o aluno quem deve buscar o seu
aprendizado.
PP: “(...) Agora, por mais que o professor seja eficiente, depende muito do aluno também, né, aprender,
ter vontade, desejo de conquistar esse aprendizado. Então, quando isso acontece, quando o aluno
consegue ..., eu acho que a eficiência acontece das duas partes” (Entrevista)
Em seu comentário, a PP afirma que o aprendizado acontece quando o aluno se envolve
no processo e, porque não dizer, quando ele se torna sujeito do seu conhecimento.
126
PP: “(...) porque pra pessoa aprender uma LE, primeiro, ela precisa ter vontade de aprender, né;
segundo, ela precisa ter objetivos. (...) Então, você precisa trilhar uma, um caminho. (Entrevista)
A professora reforça o compromisso do aluno através da vontade de aprender e dos
objetivos que precisam ser traçados na aprendizagem de uma LE. Sendo assim, a PP considera
que o papel do aluno é mostrar o interesse pelo aprendizado e buscar conhecimento.
PP: “(...) que eu, eu fiquei interessada, né, em saber que existiam outras línguas (...)” (Narrativa).
PP: (...) o papel do aluno em uma aula, (...), é interesse pelo aprendizado, né. A partir do momento que
ele está ali, exercendo a função de aluno, ele ... tem que saber que posição que ta assumindo, né, que
papel ele tá exercendo naquele momento. Então a posição de aluno é você ir lá, eh ..., buscar orientação,
buscar conhecimento, (...)”. (Entrevista).
P: (...) Algumas crianças participam e outras ficam desenhando sombras na parede usando as mãos. Ela
pára e pergunta se eles não estão interessados na aula ou se querem sair da sala e diz que vai esperar que
eles peçam para ela continuar a aula. (Observação aula 1).
Nos excertos destacados, notamos que uma convergência entre a crença da PP na
vontade/interesse do aluno em aprender e a sua ação em sala de aula. Poderíamos dizer que essa
concordância se deve à sua própria experiência como aprendiz, influenciando suas ações, pois se
funcionou com ela pode ser boa para seus alunos.
Crença sobre a aprendizagem de LE desde o início da vida escolar
Os dados analisados revelam a importância que a PP ao contato da criança com uma
LE logo no início da sua vida escolar. Ela, então, afirma
PP: “Ah... eu acho que ela [a LE] deve ser introduzida no início da vida escolar. (...) e quando isso
acontece ..., eh, desde a fase pré-escolar ... eh, isso é inserido com muita facilidade na criança, então, ela
vai, ela não vai ter aquele choque, assim” (Entrevista).
Percebemos, ainda, que outra crença reside nas afirmações da PP: a de que a criança tem
mais facilidade de aprender uma LE, assim, quanto mais jovem, menos problemas de
aprendizagem ela terá. Esse argumento é ratificado nas palavras da PP sobre a sua própria
127
experiência com a LE-inglês, deixando transparecer que na época em que a língua lhe foi
apresentada, já foi tarde para começar e que, atualmente, isso é diferente.
PP: “Eh... o inglês foi introduzido na minha vida a partir da série, eu me lembro. (...) E, naquela
época, era, era muito diferente, porque hoje em dia, a gente o inglês ao nosso redor, né, sem, sem
perceber ele ta aí, nos aparelhos eletrônicos, nos computadores, (...)”(Narrativa).
PP: Antigamente, a gente começava, na escola pública, a, a trabalhar uma segunda língua na ; hoje
em dia, ... nós vimos, nós vemos na, na rede municipal, a partir d, do ciclo II, né, falando assim em ciclo,
equivalente a 3ª série, na, quando se fala em seriação.” (Entrevista).
É importante lembrar que o adulto tem suas limitações de aprendizagem, até mesmo
porque fala uma língua num contexto definido de uso; todavia, em nossa prática pedagógica,
encontramos crianças e adultos com dificuldades e facilidades em aprender uma LE e o papel do
professor é ajudá-los a descobrir estratégias que tornem essa aprendizagem mais significativa. A
análise dos dados coletados revela também que as respostas da PP são baseadas no senso comum
e que são aspectos relevantes para o início de uma discussão. Contudo, falta o conhecimento
teórico e prática reflexiva que representam um estágio mais avançado do estudo e pode ajudar os
alunos a vencer as suas dificuldades. Percebemos, muitas vezes, problemas na utilização de
alguns termos (segunda língua, ao invés de LE; definição das abordagens de ensinar e aprender)
ou quando inquirida a explicar certas situações (conceituar aprendizagem). Um exemplo disso é a
sua definição de aprendizagem, indicada nos excertos a seguir.
PP:
“(...) ela soube conduzir, soube, eh, como colocar, né, uma segunda língua pra gente (...)”
.
(Narrativa).
PP: “(...) nós sabemos da, da grande importância de você estabelecer uma ligação entre a, a língua
materna e uma segunda língua, (...)”. (Entrevista).
PP: “Ao meu ver, aprendizagem é quando a gente põe em prática ... eh, aos estímulos vivenciados em uma
determinada prática de ensino. Quando isso ocorre, né, quando a gente põe esses estímulos em prática...,
podemos ter certeza que aconteceu, que houve a aprendizagem. (Entrevista).
128
Crença de que aprender é receber estímulos
Considerando que ensinar é estimular o aluno, identificamos a crença da PP de que
aprender é receber estímulos.
PP: Ao meu ver, aprendizagem é quando a gente põe em prática ... eh ... aos estímulos vivenciados em
uma determinada prática de ensino. Quando isso ocorre, né, quando a gente põe esses estímulos em
prática ... podemos ter certeza que aconteceu, que houve a aprendizagem.” (Entrevista)
Acreditamos que a crença da PP na recepção de estímulos como processo de
aprendizagem foi moldada pelo contato com métodos behavioristas que enfatizaram a idéia do
estímulo-resposta em ensino-aprendizagem. A nossa análise se baseia em dois aspectos da fala da
PP: primeiro, aprendemos quando pomos em prática os estímulos vivenciados; e, segundo, se
fazemos isso temos certeza de que aprendemos.
PP: “E a partir desse fio, voir trabalhando as aulas, de forma que você tenha o ... o retorno, né”.
(Narrativa).
A PP aposta na garantia da aprendizagem através da amostragem, ou seja, se eu aprendo,
eu mostro os resultados e isso é totalmente experimental, ou marcas da abordagem tradicional.
Por outro lado, vemos a contradição no seu discurso, quando ela diz:
PP: “(...) mas nem sempre essa aprendizagem acontece em sua totalidade, né, depende de uma rie de
fatores (...)”. (Entrevista).
O fato anterior reforça a necessidade de um trabalho teórico-reflexivo com a PP,
encaminhando-a para discussões mais fundamentadas e argumentos mais convincentes.
Crença de que aprender uma LE é usar as quatro habilidades
Para a PP, as quatro habilidades são imprescindíveis na aprendizagem de uma língua, e,
na verdade, o professor não pode fugir delas.
129
PP: “(...) tá observando a questão da leitura, da escrita que na língua inglesa não tem como fugir. Ler,
escrever, ouvir, falar, né, então são quatro pontos-chave pra você aprender uma língua, o tem como.”
(Narrativa).
PP: “Bom, o professor de LE, ele trabalha essa aprendizagem com as quatro habilidades da língua, que
são ouvir, falar, ler e escrever (...)” (Entrevista).
Constatamos que, para a PP, aprender uma LE é aprender as quatro habilidades. Tal
afirmação pode ser evidenciada na sua prática, pois nas observações de aula, ela procurou
diversificar o uso das habilidades.
P: (...) Ela sugere que eles escutem a música novamente (Imagine – John Lennon). (...) Usando a música,
ela pede à classe o antônimo das palavras. (Observação aula 2).
P: A professora passa para outra atividade. Eles praticam um diálogo. A professora escolhe os alunos
para serem os personagens. (...) As crianças se levantam e vão para a frente da sala. (...) Ela pergunta se
eles percebem que a gente só aprende a língua falando. (Obsevação aula 2).
P: A atividade seguinte é um listening’, na página 23 do livro. Ela explica que é um anúncio sobre um
vídeo game e diz para os alunos não ficarem preocupados se não conseguirem ouvir tudo.
(Observação de aula 2).
Os excertos destacados atestam a diversidade das habilidades trabalhadas em uma mesma
aula. Além disso, eles mostram a preocupação da PP em promover o uso da oralidade da LE,
fazendo com que o aluno experimente a língua estudada. Outro ponto de preocupação da PP é
preparar a criança para não se desestimular com as possíveis dificuldades do ‘listening’.
Crença de que aprender uma LE é ter uma experiência complementar no exterior
PP: (...) e ... na época em que eu terminei minha, minha faculdade, a maioria dos meus amigos, minhas
amigas em especial, viajaram para fora, fizeram estágio fora. Então, elas ... tiveram ... um complemento
extra, né, do curso, que é a parte da ..., da prática mesmo da língua.” (Narrativa)
A maioria dos estudantes de LE entende que um bom aprendiz é aquele que faz um curso
no exterior. A PP usa o termo complementação ao se referir a um curso fora do Brasil; contudo,
dois motivos são percebidos na busca desse recurso complementar: primeiro, ela se sente
despreparada para a concorrência por ser aluna da escola pública é a questão da baixa auto-
130
estima; e segundo, por entender suas dificuldades na aprendizagem da LE.
PP: “(...) sempre estudei na escola pública. “(...) e também achava que não ia conseguir ingressar
numa [faculdade] pública, pela concorrência, pelo grau de instrução, né, que eu achava que, que as
outras pessoas tinham, que eram melhor do que eu, e entra um pouco da auto-estima também, .
(Narrativa).
PP: “(...) Eu tenho muita dificuldade na, ... na fluência, (...), mas também tenho bloqueio na hora de
falar, as palavras engasgam na minha boca... (Narrativa).
Ainda analisando a narrativa da PP, confirmamos a crença de que estudar fora pode
minimizar os seus problemas na LE.
PP: “(...) eventualmente ..., né, ir pra fora, ficar três meses lá, fazer uma imersão, eu, falta, sinto falta
dessa parte ainda” (Narrativa).
Os dados sustentam a crença da PP, não na aprendizagem de uma LE através de um curso
no exterior, mas em um curso como complementação dessa aprendizagem.
3.3.3 Crenças sobre formação continuada de professor
A formação continuada faz parte da prática pedagógica do professor e, atualmente, ela
está associada à reflexão das ações do educador. Essa formação diz respeito a cursos, seminários
e encontros variados em que o professor participa, proporcionando o contato com teorias e
experiências diversas, motivando o crescimento e amadurecimento profissional. Para Schön
(2000), os cursos de formação devem enfatizar a relação entre teoria e prática, pois com a
experiência da sala de aula, o professor pode ver a utilização e aplicação dos conceitos teóricos.
Entendendo a importância da formação continuada no dia-a-dia do docente, decidimos investigar
as crenças da PP sobre o assunto. A classificação apresentada foi elaborada com base nos dados
analisados e interpretados à luz das teorias que fundamentam o nosso trabalho.
Crença sobre a continuidade dos estudos
Observamos que a PP considera relevante o estudo continuado, mantendo a atualização da
formação do professor.
PP: “(...) então, a cada dois anos, a gente tava morando num lugar, e pra eu me instalar, me estabelecer e
131
... continuar, a estudar (...). Mas, eu sempre estava fazendo meus curso de inglês, de conversação”.
(Narrativa).
PP: “(...) eu sinto necessidade de, né,, de aprender mais, eu sei que tenho potencial, uma bagagem boa ...,
mas, ainda, falta um pedacinho. (Narrativa).
PP: “(...) eu ame empenho. Uma vez por semana, fo meu cursinho à tarde, mas é muito pouco, perto
do que eu preciso. Eu sei que eu deveria fazer um curso intensivo, de quatro horas por dia, (...)”.
(Narrativa).
Nos excertos citados, destacamos o empenho da PP em melhorar o seu aprendizado, em
‘continuar a estudar’, e considerar que ainda ‘falta um pedacinho’. Igualmente, gostaríamos de
mencionar que a PP faz cursos de formação continuada oferecidos pela SME, participa de um
grupo de estudo de Língua Estrangeira, no qual se discute o trabalho desenvolvido na disciplina
em toda a rede municipal.
O tópico a seguir elabora uma descrição da ação avaliativa praticada pela PP no cotidiano
educacional.
3.4 Descrição do tipo de avaliação utilizada pela professora participante
Durante o período de observação de aulas, tentamos descrever como a PP realizava a
avaliação dos alunos, utilizando os critérios estabelecidos pelo sistema de ciclos, seguindo as
recomendações da SME e praticando uma avaliação dinâmica, descritiva, contínua e diagnóstica
(Goiânia, 2002-2003, p. 1). Nessa seção, utilizaremos somente as observações de aula, pois
objetivamos a descrição da prática avaliativa da PP e seguiremos os tipos indicados pela SME.
Avaliação dinâmica
Uma avaliação dinâmica utiliza instrumentos diversificados, além da participação da
comunidade escolar no processo de ensino-aprendizagem. Os dados levantados através das notas
de campo revelaram que a PP usa poucos recursos avaliativos em sua prática.
P: A professora cumprimentou os alunos, organizou as carteiras em fileiras e entregou o teste de inglês.
(Observação de aula 4).
132
P: A professora pergunta pelas atividades anteriores que deveriam ter sido entregues e devolve outros
trabalhos corrigidos. (Observação de aula 4).
P: (...) ela pede que os outros alunos abram o caderno, pois ela vai dar o visto. Para os alunos que não têm
as tarefas completas, a PP pergunta pelas atividades restantes e pede para que a mãe em casa assine
naquele lugar. (Observação de aula 5).
Os recursos avaliativos identificados nos excertos anteriores são: o teste escrito,
atividades ou trabalhos entregues à PP e o visto da professora no caderno das crianças. Os três
instrumentos buscam a verificação da aprendizagem do conteúdo ministrado, realizados em
momentos especiais e com valores específicos, avaliando “o aluno apenas em determinado
momento, pois se avalia o produto, sem se interessar pelo processo” (Rabelo, 1998, p. 42). A
nosso ver, não houve dinamicidade na utilização desse instrumental técnico, pois não prioriza os
diferentes tipos de aluno e as inteligências múltiplas
56
detectadas em sala de aula.
Avaliação descritiva
A avaliação descritiva é realizada através da descrição do desenvolvimento integral do
aluno, utilizando o chamado registro descritivo (Goiânia, 2002-2003, p. 1). Nesse modelo, o
professor preenche uma ficha
57
sobre o desenvolvimento cognitivo, emocional, afetivo e socio-
interativo. A idéia é que o professor de cada disciplina relate como a criança tem evoluído em sua
matéria e em outras áreas de convívio observadas.
A crítica que fazemos ao uso do registro descritivo é que ele é realizado ao final de cada
trimestre, sendo, pois um instrumento terminal, isto é, utilizado no final de um período. Assim,
um recurso predominantemente formativo é usado como classificatório, favorecendo aos critérios
somativos de avaliação. Outro aspecto negativo é que, como os registros não são feitos a longo
do mês, bimestre ou trimestre, as anotações podem se referir somente ao período mais recente do
desenvolvimento do aluno, desprezando o crescimento alcançado pelo educando no período
56
As inteligências múltiplas são aspectos que devem ser observados na avaliação descritiva de cada aluno,
valorizando as suas potencialidades como ser multifacetado e com habilidades diferenciadas.
57
Os modelos de fichas avaliativas podem ser encontrados no Anexos 6.
133
completo. Por ser um instrumento de final de trimestre, não acompanhamos a execução desse
instrumento de avaliação.
Avaliação contínua
A avaliação contínua se refere à regularidade periódica e não apenas realizada no ‘período
de avaliação’ ou no final do bimestre (Goiânia, 2002-2003, p. 1). O objetivo da avaliação
contínua é criar uma rotina sistemática no uso de instrumentos avaliativos variados capaz de
interpretar qualitativamente o conhecimento construído pelo aluno. Além da avaliação do aluno,
o educador pode usar esse recurso para refletir continuamente sobre a sua prática, criando novos
instrumentos de trabalho e revisando conteúdos adequados para o processo de aprendizagem
individual ou de todo o grupo (Brasil, 1997, p. 55)
Durante o período de observação de aulas, percebemos que a PP procura realizar testes e
atividades avaliativas, tentando criar certa regularidade na aplicação da avaliação. Identificamos,
entretanto, que a escola adota um período pré-determinado para a realização dos exames
coincidindo com o final do semestre, fato que quebra os critérios recomendados pela avaliação
contínua, haja vista muitos professores deixarem para aplicar as avaliações somente nesse
período. É importante salientar que nas aulas observadas, poucas delas são destinadas à avaliação
da aprendizagem das crianças como mostram os excertos seguintes.
P: (...) e entregou o teste de inglês. (Observação de aula 4)
P: A professora pergunta pelas atividades anteriores que deveriam ter sido entregues e devolve outros
trabalhos corrigidos. (Observação de aula 4).
P: (...) Enquanto isso, ela pede que os outros alunos abram o caderno, pois ela vai dar o visto.
(Observação de aula 5).
P: A professora explica que tinha marcado o teste para quarta-feira, mas iria antecipá-lo para a
segunda-feira. (Observação de aula 5).
Outro aspecto indicado na utilização da avaliação contínua é provocar a reflexão
progressiva do professor sobre a sua prática e não identificamos essa atitude nas ações avaliativas
da PP.
134
Avaliação diagnóstica
A avaliação diagnóstica busca a identificação dos avanços, potencialidades e dificuldades
dos educandos (Goiânia, 2002-2003, p. 1), revelando-se um momento de aprendizagem para o
professor e o aluno (Romão, 2002, p. 88). Esse modelo reforça o uso da avaliação como
investigação dos problemas de aprendizagem dos alunos, servindo como feedback não para o
educando e o educador, mas para toda a escola (Rabelo, 1998, p. 12).
PP: “(...) Então, não tem, não é possível você ... eh ... desenvolver um trabalho sem você ter um retorno,
e o retorno só é feito através da avaliação. (Entrevista)
O ‘retorno’ aqui não equivale a uma reflexão sobre o desenvolvimento do aluno, mas uma
forma de checar se ele aprendeu o que o professor ensinou. Nesse sentido, confirmamos os
equívocos teóricos produzidos pela PP, principalmente no que se referem ao uso do feedback.
Ainda, analisando a entrevista da PP, constatamos a noção do conceito diagnóstico de avaliação,
sem, contudo, observá-lo em suas ações, como os excertos anteriormente apresentados podem
comprovar.
PP: “(...) com exceção de algumas escolas que fazem uma avaliação diferenciada, com, com parte de
socialização, interação. (Narrativa).
PP: “(...) E, na hora de avaliar essas crianças, a gente procura ta observando ... eh ... o interesse, a
participação, porque envolve a questão da, da avaliação.” (Narrativa)
PP: E você avalia a criança, eh ... através da participação dela nesses projetos, na, na, eh, avaliações
escritas, mas não se pratica muito essa coisa de nota, de zero a dez”. (Entrevista).
PP: “O erro é uma coisa natural, como acontece em qualquer área do conhecimento; e a correção, ela
deve ser feita, com certeza, efetivamente, pra... pra que... essas falhas não fiquem marcadas, né.”
(Entrevista).
Até o momento, a prática de avaliar da PP foi descrita com base nos paradigmas
recomendados pela SME e propostos pelo sistema de ciclos. Percebemos, pois, que o discurso da
PP interage com a teoria, necessitando, porém, de uma busca mais intensa de leituras e
participações em eventos sobre o tema. Assim, reafirmamos a divergência entre o dizer e o fazer
135
da PP, que, como afirma Barcelos (2006b, p. 28), depende do contexto e suas influências. Desse
modo, observamos que alguns aspectos das crenças da professora com relação à aplicação de uma
avaliação mais formativa, seguindo os parâmetros educacionais modernos, não acompanharam as
mudanças sofridas na sua maneira de entender os novos mecanismos adotados. Nesse sentido,
entendemos que a PP consegue falar como deve ser a avaliação formativa; contudo, sua atuação
ainda está arraigada aos critérios somativos internalizados ao longo de sua experiência como
aprendiz e com educador.
PP: “(...) porque a avaliação sempre foi feita com, com prova, com nota, com números. E hoje, ela
continua assim, também
,
com exceção de algumas escolas que fazem uma avaliação diferenciada, com,
com parte de socialização, interação. (Narrativa).
PP: “(...) E, na hora de avaliar essas crianças, a gente procura ta observando ... eh ... o interesse, a
participação (...)”. (Narrativa).
PP: “(...) É através dessa avaliação é que a gente vai ter certeza se as metodologias estão adequadas, ou
se serão necessárias interferências, né, nessas aplicações, nessas metodologias. Então, não tem, não é
possível você ... eh ... desenvolver um trabalho sem você ter um retorno, e esse retorno é feito através
da avaliação.” (Entrevista).
PP: “(...) a avaliação praticada dentro dos ciclos, eh ..., o trabalho é desenvolvido dentro dos ciclos, eh
..., vai muito em torno de projetos, né. Então, não existe um currículo a ser seguido. Eh ..., o ciclo
trabalha com levantamento de necessidades daquele grupo de alunos e através dessas necessidades são
criados os projetos, né.” (Entrevista).
P: (...) Algumas crianças participam da atividade e outras ficam desenhando sombras na parede usando as
mãos. A PP pára e pergunta se eles não estão interessados na aula, ou se eles querem sair da sala. Os
meninos continuam desenhando na parede. Ela, então diz:
PP: Vocês vão continuar com um conceito 3? Não querem subir? Ou só vão baixar?” (Observação de
aula 1).
O último excerto comprova uma forte influência dos critérios da avaliação somativa na
prática da PP, que, afinal de contas, é moldada segundo suas crenças e, portanto, na experiência
em um modelo classificatório e mensurável de avaliação (Romero, 1998; Romão, 2002, Luckesi,
2005; Hoffmann, 2003).
Finalmente, com base na análise dos dados coletados, podemos dizer que o tipo de
avaliação praticado pela PP é advindo de modelos aos quais ela foi exposta durante a sua
formação educacional:
136
PP: “Então, a avaliação na, nas escolas do estado, porque a avaliação sempre foi feita com, com provas,
com nota, com números.”(Narrativa).
PP: “Sim, eu me lembro, eh ... eram passados os conteúdos, né ... pros alunos, e a gente tinha que fazer
provas e essas provas tinham valores ... e, através desses valores, a gente passava de ano ou não. Essa
forma tradicional que acontece há, há muitos anos, né.”(Entrevista);
e pela sua experiência como professora de LE, motivada por opiniões diversas que reforçam a
funcionalidade da AS na mensuração do conhecimento cognitivo do aluno.
PP: “(...) eles [aluno e família] acham que se estão indo pra escola, eh ... eles sabem, né, como é que
eles estão, se estão aprendendo através da nota. (...) Porque a criança, por sua vez, achando que não
tem avaliação, ela perde totalmente o interesse, (...); não tem aquele estímulo natural, (...); ele [o aluno]
vai [à escola] porque ele quer saber de nota (...)”. (Entrevista).
P: (...) Ela conversou com eles sobre um acordo que tinham acerca do comportamento do grupo. A PP
disse também que iria premiar os que melhor se comportassem. (Observação de aula 1).
P: (...) A professora pergunta pelas atividades anteriores que deveriam ter sido entregues e devolve outros
trabalhos corrigidos. Um aluno pergunta quanto vale o teste e ela responde que vale dez.
(Observação de aula 4).
Os exemplos apresentados apontam para uma exposição intensa do valor da avaliação
como aspecto quantificável do processo de ensino-aprendizagem. Baseados na afirmação de que
as crenças do professor são formadas através da experiência acumulada como aluno e educador,
justifica-se a prática avaliativa da PP ser fundamentada nos pressupostos da avaliação somativa, a
qual classifica o aluno de acordo com níveis de aproveitamento previamente estabelecidos,
enfatizando a verificação da aprendizagem, medindo o desempenho da criança a partir de
conhecimentos ensinados pelo professor (Esteban, 2003, p. 86). É por isso que ela espera uma
constatação da aprendizagem do educando, pois se ela ensinou, é natural que ele aprendeu.
P: (...) Os alunos fizeram algumas perguntas sobre a prova e pediram para a professora traduzir as
perguntas, mas ela respondeu que eles sabiam e que não podiam desapontá-la. (Observação de aula
4).
PP: “(...) Quando isso ocorre, né, quando a gente põe esses estímulos em prática ... podemos ter certeza
que aconteceu, que houve a aprendizagem”. (Entrevista).
137
A sessão seguinte descreve as crenças da PP sobre avaliação contínua observadas em sua
prática pedagógica.
3.5 Crenças sobre avaliação observadas no cotidiano da professora participante
O conceito de avaliação concebido nos CDH prioriza um modelo formativo que entende o
professor e o aluno como participantes do processo integral de ensino-aprendizagem. Sendo
assim, objetivávamos encontrar essa parceria no trabalho da PP, fato negado pelos dados obtidos.
Outrossim, mostramos, anteriormente, que o tipo de avaliação evidente na prática da PP é o
somativo, podendo também serem observados indícios de uma consciência dos pressupostos
formativos, sem, contudo, percebemos uma aplicação real desse paradigma avaliativo. Dessa
forma, procurando identificar as crenças da PP sobre avaliação, elaboramos uma classificação
básica levantada através dos instrumentos de coleta de dados e analisada com base nos teóricos
estudados na pesquisa. Assim, classificamos suas crenças em:
Crenças de que avaliar é aplicar prova escrita
Crença de que só a nota avalia
Crença no uso da avaliação como instrumento punitivo
Crença de que a avaliação tradicional é a ‘natural’
As subseções seguintes ampliam a classificação, procurando estabelecer uma relação entre
as crenças e as ações da PP.
3.5.1 Crenças de que avaliar é aplicar prova / teste escrito
A crença no uso da prova escrita como instrumento de avaliação remonta à sua instituição
no período jesuítico da educação brasileira (Aranha, 1993, p.111) e está arraigado tanto na prática
do professor como na experiência dos alunos. Para comprovar a afirmação, utilizamos excertos
retirados dos dados coletados dos alunos e da PP.
PP: “(...) porque a avaliação sempre foi feita com, com prova, (...)”. (Narrativa).
138
PP: “(...) E você avalia a criança, eh... através da participação dela nesses projetos, na, nas, eh...,
avaliações escritas, (...). (Entrevista).
P: A professora cumprimentou os alunos, organizou as carteiras e entregou o teste [escrito]. (Observação
de aula 4).
P: A professora explica que tinha marcado o teste [escrito] para quarta-feira, mas que iria antecipá-lo
para segunda-feira. (Observação de aula 5).
Observamos nos exemplos que existe uma aura de especialidade quando a PP fala da
avaliação escrita (ou teste, ou prova), mostrando a importância que o recurso deve ter no trabalho
dela e nas expectativas dos alunos. E é bem verdade que os alunos também sentem esse clima
especial, mostrando-se ansiosos com relação à prova, como apresentado nos excertos a seguir.
P: (...) Os alunos fizeram perguntas sobre a prova e pediram para a professora traduzir as perguntas,
(...). (Observação de aula 4).
Além disso, quando indagados sobre um conceito de avaliação, 61% dos alunos
responderam que avaliar é fazer uma prova ou um teste (Questionário aplicada pela P com
alunos da série), reforçando que, apesar dos movimentos educacionais registrados durante
décadas, a cultura de avaliar através dos testes escritos continua forte na compreensão do aluno e
do professor. Essa forma ainda tradicional de se conceber a avaliação é entendida como uma forte
tendência ao uso dos critérios somativos como seguros (porque mensuráveis), garantidos (porque
antigo e testado há muito tempo) e ideal (porque classifica os melhores e piores alunos).
3.5.2 Crença de que só a nota avalia
Tão forte quanto a anterior, a crença de que a nota avalia é uma constante no meio
educacional. Ela é quase um fator sine qua non em educação, confirmando-se em um modelo
somativo de avaliação, observado nas experiências e no discurso da PP.
PP: “(...) porque a avaliação sempre foi feita com, (...) nota, com números”. (Narrativa).
PP: “(...) e a gente tinha que fazer provas e essas provas tinham valores... e, através desses valores a
gente passava ou não. (Entrevista).
139
PP: “(...) eles [os alunos e a família] sabem, , como é que eles estão, se eles estão aprendendo
através da nota. (Entrevista).
PP: “(...) não, ele vai lá, porque ele quer saber de nota, (...)”. (Entrevista).
Os dados destacados revelam marcas discursivas que reforçam as crenças de PP na
avaliação como sinônimo de nota: primeiro, ela usa a palavra ‘sempre’, como se essa fosse a
única maneira usada para avaliar o educando através da história da educação; e, segundo, ela
reveste a opinião dos alunos e suas famílias com conceitos pessoais, usando a sua concepção
como se fosse a deles. Também, as suas ações confirmam a sua crença no critério classificatório
da verificação da aprendizagem através de notas.
P: (...) Os meninos continuam desenhando na parede. Ela [a PP], então, diz:
PP: “Vocês vão continuar com conceito 3? Não querem subir? Ou vão só baixar?”. (Observação de aula
1).
P: (...) Um dos alunos pergunta quanto vale o teste e a professora responde que vale dez. (Observação de
aula 4).
A noção de quantificação está presente na prática pedagógica, tanto quanto nas crenças da
PP, pois a nota prende, estimula o interesse da criança que se sente avaliada, pois sem nota não há
avaliação.
PP: “(...) Porque a criança, por sua vez, achando que não tem avaliação, ela perde totalmente o
interesse, (...)”. (Entrevista).
PP: “(...) a avaliação, ela funciona como um termômetro. (...)”. (Entrevista).
O excerto anterior corrobora a idéia de mensuração, pois, como termômetro, a avaliação
mede o conhecimento adquirido pelo aprendiz, atribuindo-lhe conceitos que estabeleceram seu
sucesso ou fracasso na aprendizagem (Belam, 2004, p. 10).
3.5.3 Crença no uso da avaliação como instrumento punitivo
A avaliação foi instituída como instrumento de punição na escola dos jesuítas por volta do
140
século XVII. Inicialmente, havia as torturas morais - exposição pública dos melhores e piores
alunos (Aranha, 1993, p. 111); depois, as agressões físicas - palmatória, ajoelhar no milho (Del
Priore, 2000, apud, Lima 2004); e, atualmente, o caráter punitivo da avaliação se revela através
da autoridade do professor ou como forma de coibir a indisciplina. O uso da avaliação como fator
sentencivo é uma característica da AS e pode ser identificada nas ações da PP através das
observações de aula.
P: Quando a professora entrou, os alunos conversavam em voz alta. Eles contaram ate 3, em inglês, e se
sentaram. A PP cumprimentou a turma e o grupo respondeu ao cumprimento. Ela conversou com eles
sobre um acordo que tinham acerca do comportamento do grupo e disse que iria premiar os mais
comportados. (Observação de aula 1).
A premiação, outro recurso utilizado na AS, subentende uma avaliação subjetiva do
comportamento dos alunos, tendo como possíveis critérios: não conversar nas aulas, obedecer à
professora, fazer as tarefas, etc. Nesse sentido, entendemos a premiação como uma forma de
punir aqueles que não se encaixarem nos paradigmas de crianças comportadas’. A figura 3
representa muito bem a nossa afirmação, pois tenta adaptar os alunos ao sistema, sem levar em
consideração as suas diferenças, os seus problemas, suas individualidades.
P: (...) Para os alunos que não têm as tarefas completas, ela pergunta pelas atividades restantes e pede
para que a mãe em casa assine naquele lugar. (Observação de aula 1).
P: A professora retoma a contagem até 10, em inglês, para que eles voltem a seus lugares. Ela avisa que
hoje vai haver reunião de pais e que as lembranças dela sobre cada um estão bem fresquinhas; que ela
vai poder falar para os pais deles como estão se comportando em sala. (Observação de aula 1).
Mais uma vez, a avaliação se apresenta como um recurso punitivo , estendendo suas
conseqüências e envolvendo os responsáveis pela criança. Possivelmente, o aluno levará broncas
ou palmadas como castigo pelas tarefas que deixou de fazer. Também, o professor pode usar a
sua autoridade para intimidar ou inibir ações de indisciplina, antecipando a sentença impingida.
3.5.4 Crença de que a avaliação tradicional é a ‘natural’
Dentro da concepção tradicional (ou gramatical) de ensino, a avaliação denominada
tradicional é a prova escrita. Não podemos apresentar muitos exemplos do discurso ou das ações
141
da PP, entretanto entendemos que seria relevante apresentar a sua opinião, haja vista ela ressaltar
uma crença consolidada ao longo das análises e interpretações dos dados: crenças sobre avaliação
somativa.
PP:
“(...) Porque a criança, por sua vez, achando que não tem avaliação, ela perde totalmente o interesse,
em..., pelo menos a grande maioria, né, dessas crianças, perde o interesse em, em fazer alguma coisa; não
tem aquele estímulo natural, (...)”
.
(Entrevista).
O que chamou a nossa atenção no trecho destacado é o entendimento de que se a
avaliação não for realizada através de uma prova, mantendo a tradição escolar, o aluno não
demonstra interesse pela aprendizagem. O estímulo natural se refere a utilização de um
instrumento que é responsável por apenas um aspecto do ato avaliativo: a verificação da
aprendizagem (ou sua função certificativa). Por outro lado, se bem explorada, a prova (ou
avaliação tradicional) pode representar a função diagnóstica da avaliação (identificar as
dificuldades dos alunos), ou dialética (exercendo um diálogo entre professor e aprendiz), e,
finalmente, aplicá-la com mais regularidade e não apenas em um período de terminalidade
planejado pelo professor ou pela escola.
A avaliação da aprendizagem precisa ser tratada de uma forma mais simples,
estabelecendo-se objetivos para o seu uso. Se pensarmos em um modelo formativo de avaliação e
suas funções, determinando momentos e recursos variados para a sua aplicação, contemplaremos
as inteligências múltiplas dos nossos alunos e estimularemos a descobertas de estratégias que
valorizem as melhores formas de aprender e de ensinar.
3.6 Relatório das sessões reflexivas sobre textos teóricos (prática pedagógica e avaliação)
As sessões reflexivas foram usadas como dados secundários, porque não objetivávamos as
modificações das crenças da PP, mas provocar os primeiros passos da reflexão na ação
(Schön, 2000). Na verdade, não existem segredos para se começar a refletir sobre a prática
pedagógica, porém é necessário que o próprio professor busque a reflexão e torne-a significativa
no seu cotidiano escolar.
142
No caso da PP, entendemos que uma discussão teórica sobre assuntos da prática
pedagógica e avaliativa seriam importantes no desencadeamento do processo reflexivo sobre o
seu fazer e dizer e pela necessidade de ampliar a sua competência teórica sobre assuntos
pedagógicos. Assim, selecionamos o texto de Neves (1996) sobre abordagens de ensino, com a
finalidade de ajudá-la, através das discussões, a perceber qual a abordagem que utilizava,
compreendendo, assim, as escolhas que fazia, ou seja, porque ensinava como ensinava (Almeida
Filho, 1997). Depois da leitura, conversamos sobre as suas considerações sobre o tópico em
questão e descobrimos que ela havia se identificado com o texto, despertando-se para a leitura de
temas relacionados. Neste primeiro encontro, não conseguimos analisar a sua prática,
identificando a sua abordagem. Mas entendemos que a despertamos para a busca de outras
referências. Pensando em um segundo encontro, separamos alguns textos de Perrenoud (1999)
sobre avaliação, principalmente os artigos que discutiam a formativa e a contínua, procurando
direcionar as conversas para um dos tópico pesquisados.
O segundo encontro foi tumultuado por outras atividades que estavam sendo realizadas na
escola, mas, mesmo assim, sentamos para discutir os textos. A primeira impressão da PP é que o
material era muito teórico e que a linguagem do autor era mais técnica do que a de Neves.
Observamos que não houve identificação da professora com o assunto abordado, por não fazer
parte da sua prática pedagógica. Assim, acreditamos que a falta de embasamento teórico havia
provocado a rejeição, pois suas considerações em relação ao texto giravam em torno do senso
comum. Buscamos, pois, investigar a sua compreensão sobre o sistema de ciclos e a avaliação
recomendada pelos CDH em conversas informais e anotações feitas pós-conversas.
Apesar de trabalhar com o sistema de ciclos, ela demonstra restrições a sua utilização e
aponta as dificuldades do professor em conceber a avaliação sugerida. Usaremos os excertos da
entrevista para comprovar a afirmação anterior.
PP: “(...) a avaliação praticada dentro dos ciclos, eh..., o trabalho desenvolvido dentro dos ciclos, eh...
vai muito em torno de projetos, né. Então, não existe um currículo a ser seguido. Eh..., o ciclo trabalha
com levantamento de necessidades daquele grupo de alunos e através dessas necessidades são criados
os projetos, né
.
(Entrevista
).
PP: “(...) O professor que trabalha em ciclo, eu tenho certeza, que ele, que ele fica perdido também;
143
porque é um trabalho, esse trabalho de conscientização, eh... ele tem que fazer com uma coisa que
está arraigada, ali, na cabeça das pessoas, né, sempre foi assim, por que que ta mudando agora? Então,
esse negócio de avaliação no ciclo precisa ser repensada (...). (Entrevista).
Podemos inferir que para a PP trabalhar projetos não implica um currículo definido, fato
contraditório, pois ao fazer o levantamento das necessidades dos alunos, os professores deveriam
trabalhar conteúdos mais significados para o grupo investigado. Além disso, a avaliação é mal
entendida e praticada, provocando incômodos para avaliadores e avaliados. Entendemos que,
embora muitas discussões tenham sido feitas quando da implantação dos ciclos, e ao professor foi
destinada apenas a realização, a execução de um projeto idealizado pelos teóricos da educação. O
resultado foi a rejeição da proposta pela maioria dos educadores, dificultando o desenvolvimento
de uma educação inovadora.
144
Considerações finais
Ao longo da história da educação, foi-se de um extremo ao outro na utilização dos
recursos avaliativos. De um aspecto punitivo e classificatório, passou-se para o protecionismo
exarcebado, como se avaliar fosse um ato medonho e castrador. Bom seria, portanto, se o
problema da avaliação fosse a discórdia entre Deus e o diabo, que, depois de contestar os critérios
utilizados pelo seu Senhor para avaliar a criação do mundo, foi mandado para o inferno.
Acreditamos que, se todo o problema da avaliação fosse uma disputa entre Deus e Satanás, não
precisaríamos nos preocupar, pois a solução seria celestial, sobrenatural. Entretanto, essa é uma
questão humana, merecendo, assim, um tratamento humanístico.
Ousamos dizer, porém, que o problema da avaliação não repousa em si mesma, mas no
que fazemos com ela depois de sua aplicação. Assim, usá-la como um estágio final do processo
de ensino-aprendizagem é desconsiderar o longo caminho percorrido pelo educando e inutilizar
os instrumentos que possibilitaram o crescimento (ou amadurecimento, mudança) em etapas
alcançadas (Hoffmann (2003; Luckesi, 2005; Romero, 1998).
Segundo Romão (2002), uma avaliação mais justa deve priorizar o aprendente que é o
único capaz de realmente compreender as nuances do seu processo de aprender e ensinar e,
consequentemente, de avaliar. Acreditamos, no entanto, que o processo envolve vários
elementos, mas dois deles estão intimamente ligados, de forma que se um faltar o outro não
existe: o educador e o educando.
Dessa maneira, concordamos com Leal (2003, p. 30) quando afirma que a ação avaliativa
deve obedecer momentos e objetivos específicos. Nesse sentido, avaliamos para formar o
conhecimento do aluno e ajudá-lo a superar suas dificuldades, para refletir sobre a nossa prática,
para certificação da aprendizagem, utilizando recursos diversificados e regulariidade e aplicação.
Pensando nisso, entendemos que a avaliação é uma ão idealizada e formativa que compreende
funções diversas: diagnóstica, para identificar os problemas (Romão, 2002); dialógica, porque
realizada com a parceria entre professor e aluno (Paulo Freire, 2005); contínua, obedecendo a
regularidade da aplicação dos instrumentos (Romero, 1998); e certificativa, pois todo ato de
145
avaliar deve ter também o seu momento de balanço dos conhecimentos adquiridos no final da
formação em função dos objetivos (Perrenoud, 1999).
Então, se podemos compreender a avaliação de uma maneira menos complicada, por que
tantas discussões e divergência de opinião sobre as formas variadas de avaliar o aluno? A
resposta nos revela uma questão pessoal, individualizada nas crenças de cada personagem do
cenário educacional.
A crença é um saber intuitivo, formada através das nossas experiências, capaz de
influenciar as nossas ações, podendo ser modificadas pelo contato social ou teórico. Assim sendo,
ela pode determinar o nosso comportamento diante de situações diversas (Barcelos, 2006b;
Woods, 2003), e isso inclui o ambiente escolar. No educador, as crenças se revelam fortes, pois
estão fundamentadas em suas experiências como aprendiz e professor. Entretanto, elas podem ser
resignificadas, ou mesmo modificadas, quando houver necessidade.
No caso da professora participante (PP) da nossa pesquisa, suas crenças em uma avaliação
somativa, mensurável e classificatória (Hoffmann, 2003; Romão, 2002; Luckesi,2005; Romero,
1998) podem ser vistas na sua prática avaliativa, pois se baseiam na sua exposição a esse tipo de
avaliação durante sua formação educacional. Ainda, segundo Barcelos (2006b), as crenças são
assimiladas, primeiro no discurso, levando-se determinado tempo para serem percebidas na
prática, pois ficam “fossilizadas na mente”. Desse modo, percebemos, em alguns momentos que a
PP internalizou o discurso da AF, falando sobre critérios formativos, tais como: observar a
participação, interação dos alunos; usar metodologias diversificadas; estimular o aluno a
aprender; dentre outros. Apesar disso, identificamos ações que se revelam somativas, com reflexo
das experiências advindas da prática pedagógica.
Respondendo às perguntas de pesquisa
A nossa pesquisa procurou identificar a concepção de avaliação da professora
participante, mostrar como as crenças sobre avaliação formativa interferem na aplicação da
avaliação contínua e descrever as suas crenças sobre avaliação contínua nos Ciclos de
146
Desenvolvimento Humano.
Desse modo o conceito de avaliação da PP é baseado na concepção II (Romão, 2002), ou
seja, a concepção tradicional de avaliar, na qual a prova escrita é o instrumento reconhecidamente
indicado na verificação da aprendizagem do aluno, pois foi elaborado, testado e comprovado,
principalmente pelo sistema seriado de ensino. Segundo a PP, a prova escrita é o recurso
“natural” para avaliar o conhecimento do aluno. Destacamos também a crença de que a nota é
sinônimo de avaliação. Para a PP, a mensuração estimula o aluno à aprendizagem, mostrando que
ele está sendo avaliado, que esse é um critério sério, deixando evidente a noção de que “sem nota
não avaliação” (Observação de aula 4). Igualmente, identificamos a crença do uso da ação
avaliativa como recurso sentencivo. Todavia, essa punição não é física e se revela através das
ações da professora para coibir a indisciplina, a improdutividade e o descaso do aluno em relação
à sua disciplina. Assim, ela usa a sua autoridade de professora, ameaçando mandar a criança para
a coordenação ou diretoria, pedindo a assinatura do responsável na tarefa incompleta ou
mencionando relatar o comportamento dos educandos nas reuniões de pais.
A análise dos dados revelou a tendência somativa como prática de avaliação da PP, ação
que está respaldada na abordagem de ensino que acompanha a sua ação pedagógica. Segundo
Almeida Filho (2002, p. 17) em seu Modelo Ampliado de Operação Global, as ações do professor
são determinadas pela abordagem de ensino adotada e acrescentamos que mesmo que o educador
não tenha consciência de qual abordagem utiliza, ele escolhe aquela que apresentou melhores
resultados na sua experiência como aluno e como professor. Sendo assim, entendemos que os
critérios utilizados na avaliação somativa são transferidos na utilização da avaliação contínua,
pois servem como parâmetros seguros na ação avaliativa. Essa segurança se dá pelo fato de que o
fator mensurável é exato e pode garantir a precisão necessária à verificação da aprendizagem do
aluno. Por outro lado, a subjetividade dos critérios avaliativos, recomendados pela proposta de
ensino através dos ciclos, faz com que o professor não se sinta seguro na hora de avaliar,
dependendo da contribuição do aluno no processo e precisando conhecer não só o aspecto
cognitivo, mas os outros fatores que formam a personalidade integral do aluno.
Contudo, compreendemos que o maior problema na utilização da avaliação contínua está
147
no fato de ela não se constituir um tipo individualizado de avaliação, mas representar uma função
dentro do modelo formativo de avaliar. Se pensarmos que a ação avaliativa do professor deve ser
regular, isto é, observada de forma contínua em sua prática escolar, poderíamos dizer que a PP
tenta aplicá-la através de instrumentos prioritariamente somativos, como prova escrita ou o
‘visto’ no caderno. Dessa maneira, a professora continua usando uma prática da avaliação
somativa, mas trabalhada de forma contínua no seu cotidiano pedagógico.
Considerando a discussão anterior, podemos dizer que as crenças da PP sobre avaliação
contínua nos Ciclos de desenvolvimento repousam no uso sistemático dos instrumentos
selecionados na classificação dos alunos. Para ela, o professor que trabalha nos ciclos encontra
muita dificuldade em promover a conscientização dos alunos na compreensão dos novos meios
de ensino e que “esse negócio de avaliação no ciclo precisa ser repensada, pra não, não tomar
esse caminho, dos alunos não se interessarem mais” (Entrevista). Segundo a PP, os alunos não
acreditam em uma avaliação sem notas e perdem o estímulo ‘natural’ da aprendizagem. Assim,
podemos inferir que a nota garantirá a confiabilidade da educação das crianças e o sistema de
ciclos precisa rever os parâmetros institucionalizados.
Não é a nossa intenção crucificar as crenças e ações da PP, pois sabemos que, como ela,
muitos outros professores têm buscado em suas próprias experiências resolução dos problemas
educacionais enfrentados todos os dias. Igualmente, nem o sistema de ciclos nem o seriado
conseguiram resolver o dilema da evasão escolar e dos déficits de aprendizagem, ou promover a
inclusão de alunos portadores de necessidades educacionais especiais. Apesar de os aspectos
mencionados anteriormente serem bandeiras levantadas pela proposta de ciclos, tanto o regime
quanto o seu processo avaliativo não convencem os docentes. Aparentemente, o grande choque
está na imposição do novo sistema de ensino e avaliação (formativo) e a formação pedagógica
dos professores, remanescentes de uma tradição gramatical, somativa, constatadora e
classificatória. Almeida Filho (2007, em discussão de defesa) argumente que o sistema de ciclos
possue faixas de desempenho bem estabelecidas e sugere que elas poderiam ser mais facilmente
atingidas se ajudadas por metas para os ciclos. Segundo o autor, essas metas seriam ajustadas
mediante seu uso e adesão, devolvendo responsabilidades a professores e alunos e promovendo
uma nova motivação na busca de uma educação de qualidade para todos.
148
Percebemos também uma lacuna significativa entre os órgãos gerenciadores da educação
e aqueles que fazem com que ela aconteça: os educadores. Dizemos assim que os responsáveis
pelo dia-a-dia escolar dos alunos não são chamados para contribuir com a elaboração de novos
sistemas e leis de ensino, mas, tão somente, para executar o que os teóricos educacionais
pensaram. Isso não deveria ser diferente? Aqueles que constroem a aprendizagem não deveriam
estar aptos a discutir as reformas na educação? Sem contar que, no Brasil, a educação é deixada
em segundo plano pelos governantes, tem suas verbas cortadas para priorizar interesses políticos
assumidos em campanha e ainda aqueles que acham que professor trabalha pouco, ganha
muito e reclama demais. Acreditamos que, enquanto não houver uma revolução educacional, na
qual a educação seja o ponto mais importante nas propostas dos políticos, não haverá uma
mudança profunda, fundamentada nas conquistas de educadores batalhadores, progressistas e
humanistas.
A intenção maior da nossa pesquisa não foi esgotar as discussões sobre os temas em
questão, mas construir uma ponte entre as ações do passado e os resultados atuais do dizer e do
fazer em educação, particularizando o processo de ensino-aprendizagem e as crenças que
permeiam a prática pedagógica do professor. Acreditamos que o conhecimento das crenças e a
reflexão contínua podem transformar a abordagem de ensinar e aprender de professores e alunos,
ressignificando as concepções erigidas ao longo das experiências de cada um, de forma que,
colaborativamente, eles possam reescrever as suas histórias, fazendo parte da história do Outro.
Finalmente, compreendemos que o trabalho realizado com a PP foi o princípio de um
novo momento em sua prática pedagógica, principalmente porque não objetivamos mudar as suas
crenças e ações, mas discutir as diferentes maneiras de ensinar, aprender e avaliar construídas
diariamente através das experiências, compartilhadas com os colegas e responsáveis pelos
professores(as) que nos tornamos. É fato inquestionável também que a nossa investigação deixou
espaços que precisam ser preenchidos no trabalho com a PP, isto é, a continuação das discussões,
promovendo melhor embasamento teórico e incentivando a reflexão como parte integrante do ato
pedagógico.
149
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163
ANEXO 1
Narrativa
(...) chamava Tucano, no interior da Bahia, (...) de Salvador. E como, eh..., uma criança muito
pobre, sempre estudei em escola pública. Eh ... o inglês foi introduzido na minha vida a partir
da série, eu me lembro. Foi uma experiência bem marcante, porque ... eh, a professora
era muito boa, e... ela soube conduzir, soube, eh, como colocar, né, uma segunda ngua pra
gente, de forma que ... que eu, eu fiquei bem interessada, né, em saber que existiam outras
línguas, que existiam outras, outros povos, , que não falavam a língua portuguesa. E,
naquela época, era, era muito diferente, porque hoje em dia, a gente, a gente o inglês ao
nosso redor, né, sem, sem perceber ele ta aí, nos aparelhos eletrônicos, nos computadores, ...
nos computadores de bordo dos veículos, eh ..., no nosso dia-a-dia, né, às vezes até em algumas
frases, alguns, alguns alimentos, e então isso não é mais assim uma novidade. Então o que me
chamou atenção foi o fato de ter essa novidade (aula de inglês), né, sair daquela mesmice,ta?
Então, eu comecei a, a sentir uma certa simpatia, eh..., pela língua, ? Então, avaliação na,
nas escolas do estado, porque a avaliação sempre foi feita com, com prova, com nota, com
números. E hoje, ela continua assim também, com exceção de algumas escolas que fazem
uma avaliação diferenciada, com, com parte de socialização, interação. Acho que isso
antigamente era menos discutido, né, vamos dizer assim.
Bem, quando eu tinha dez anos, eu fui morar com uma tia minha, em São Paulo, ... eh ...
porque ela tinha passado por umas dificuldades, o marido .... acabará de falecer e ela tava
precisando de companhia e .... me convidou pra morar com ela uns tempos. E eu fui, mas acabei
não voltando mais, porque ... São Paulo é aquela mega cidade, um vislumbre, né, oferece “n”
recursos pra gente, coisa completamente diferente do lugar onde eu nasci. Então, eu acabei
ficando, porque eu achei que meu crescimento ia ser melhor naquele lugar, como realmente foi,
né, e .... fiquei lá, até me casar e .... vir morar em Goiânia, que é outra história.
Depois que eu terminei o segundo grau, né, hoje atual ensino médio, eu... , eu não tinha
condição financeira de fazer uma faculdade particular e também achava que não ia
conseguir ingressar numa blica, pela concorrência, pelo grau de instrução, né, que eu
achava que, que as outra pessoas tinha, que era melhor do que eu, tal, e entra um pouco da
164
auto-estima também, né?
Mas, eu trabalhava numa, numa agência de publicidade ... e, e como secretária de um dos
diretores,e a ... a empresa, né, a agência me ofereceu uma ajuda de custo na época, eu lembro que
era setenta por cento, né, pra eu fazer uma faculdade, desde que fosse na área que eu atuava, né,
que era secretária. Então, eu poderia escolher ou secretária executiva ou línguas, né, Letras, no
caso. Aí, pra mim foi uma bênção, né, eu imediatamente já providenciei de ... prestar o vestibular
e começar a fazer o curso.
No meio do caminho, eu tive outras barreiras, né, a agência foi vendida, eu tive que mudar
de emprego, mas, aos trancos e barrancos, eu consegui concluir o curso.
Aí, depois de concluir o curso de letras, eh ..., eu casei ... e mudei pra ... Goiânia. Meu
marido, como ele tem uma profissão também que, na época, né, trabalhava num emprego que
transferia muito ..., então, a cada dois anos, a gente tava morando num lugar, e pra eu me instalar,
me estabelecer e ... continuar, né, a estudar ou então a querer um emprego fixo, pra mim foi, eu
tive um pouco de perdas, nesse ponto. Mas, eu sempre estava fazendo meus cursos de
inglês, de conversação .... . Toda cidade que a gente morava, eu ... procurava sempre
trabalhar na área, mesmo que fosse por pouco tempo ... E, por fim, dei um giro, vi algumas
cidades do Brasil e, por fim, estou em Goiânia, vai fazer quatro anos, tou muito feliz aqui,
gosto da cidade, eh ... trabalho na Prefeitura, no município, e ... procuro desenvolver o
melhor de mim pras crianças, né, as crianças que eu atendo, elas ... têm a faixa etária de 8 a 12,
13, 14 anos. Então, eu procuro plantar, da melhor forma possível, né, essa ..., essa mudança
neles, né, porque pra vocolocar uma segunda língua, pruma criança que nunca viu, né,
apesar de que hoje, a gente entra em sala e eles já sabem muita coisa, não é como
antigamente. E o meu público, é um público carente, eu, né, é um público que você tem que,
você tem que trabalhar muito com o lúdico, com brincadeiras. E, na hora de avaliar essas
crianças, a gente procura ta observando ... eh ... o interesse, a participação, porque
envolve a questão da, da avaliação. Às vezes, o aluno é interessado, mas falta recurso, aí, né,
tem “n” problemas que você encontra, né, nessa ... nessa área. Especialmente, porque a
gente num, num tem, recebe muito material, e ... a gente, a professora de inglês, ele tem que
ser muito criativo, tem que sempre ta em busca de coisas novas, né, diferenciando as
aulas, porque o aluno chega analfabeto e votem que ... né, tem que se virar pra, pra ele
começar a aprender, , essa, esse bloqueio de que “Ah, eu não sei, não entendo nada.”, tal
165
e ... sempre buscar, né, sempre ... observando a questão da leitura, da escrita que na
língua inglesa não tem como você fugir. Ler, escrever, ouvir, falar, né, então são quatro
pontos-chave pra você aprender uma língua, não tem como. E a partir desse fio, você ir
trabalhando as aulas, de forma que você tenha o ..., o retorno, né.
Agora, falando mais das, das, das minhas ... dificuldades, eu quando eu me formei ... ,
depois fiz, assim, estágios, né, em escolas específicas de línguas. Eu tenho muita dificuldade
na, ... na fluência, de repente, eu ... compreendo muito bem a gramática, tenho o, o
vocabulário amplo, mas, também, tenho bloqueio na hora de falar, as palavras engasgam
na minha boca ..., e ... na época em que eu terminei minha, minha faculdade, a maioria dos
meus amigos, minhas amigas em especial, viajaram pra fora, fizeram estágio fora. Então,
elas ... tiveram ... um complemento extra, né, do curso, que é a parte da ..., da prática
mesmo da língua. E eu, eu não tive essa parte, então ... eu sinto muita necessidade de, né, de
aprender mais, eu sei que eu tenho potencial, uma bagagem boa ..., mas, ainda, falta um
pedacinho. Assim, de repente ... , né, a minha vida toda atribulada, com família, com, com casa
pra administrar, com marido, com ..., com escola, né, com o trabalho. Então, falta, com certeza,
tempo ..., eu até me empenho. Uma vez por semana, faço meu cursinho à tarde, mas é muito
pouco, perto do que eu preciso. ... Eu sei que eu deveria ou fazer um curso intensivo, de
quatro horas por dia, ou, então ..., eventualmente ..., né, ir pra fora, ficar três meses lá,
fazer uma imersão, eu, falta, sinto falta dessa parte ainda.
Mas o resto, eu to muito feliz com o que eu ... consegui. Na verdade, a vida foi me
levando, né, eu num, desde de pequena, eu nunca pensei Ah, eu vou ser isso e fui lá e busquei”.
Não, eu fui, fui indo, né, como a música do Zeca Pagodinho “deixa a, deixa a vida me
levar”, ela foi me levando, as oportunidades foram aparecendo, e eu fui aproveitando. É
isso!
166
ANEXOS 2
Entrevista com a professora participante
1. O que é linguagem para você?
2. Qual é o seu conceito de ensinar? Que abordagem de ensinar você utiliza na sua prática
pedagógica?
3. Qual o seu conceito de aprendizagem?
4. O que é ser um professor eficiente de língua estrangeira?
5. Como você acha que uma língua estrangeira é aprendida?
6. Quais são os principais fatores na aprendizagem de uma língua estrangeira?
7. Como você acha que uma língua estrangeira deve ser ensinada?
8. Qual o papel do professor em uma aula de língua estrangeira?
9. Qual o papel do aluno em uma aula de língua estrangeira?
10. Como você vê o erro e a correção na aula de língua estrangeira?
11. Qual a sua opinião sobre a adoção de livro didático em cursos de línguas?
12. O que é avaliar para você?
13. Você se lembra de como era feita a avaliação quando você era criança, adolescente e na
faculdade?
14. O que você acha da avaliação praticada nos ciclos?
Transcrição das reposta da PP
1) O que é linguagem para você?
PP: Eu acho que linguagem é uma das, das, uma forma de comunicação, talvez a principal,
porque é, é a que, é a mais usada, né, dentre todas elas. Todo ser humano pra .... pra se
comunicar utiliza a linguagem.
2) Qual é o seu conceito de ensino? E que abordagem de ensino vo utiliza na sua prática
pedagógica?
PP: Bom, pra mim, ensinar é você ter a responsabilidade de participar do processo de
167
estímulo de uma pessoa, né, de instrução, de fazer conhecer, eh... e dirigir a formação ou
modificação da, da conduta, né, do, do ser. Então, ensinar, teoricamente, é isso.
3) Qual o seu conceito de aprendizagem?
PP: Ao meu ver, aprendizagem é quando a gente põe em prática ... eh ... aos estímulos
vivenciados em uma determinada prática de ensino. Quando isso ocorre, né, quando a gente
põe esses estímulos em prática ... podemos ter certeza que aconteceu, que houve a
aprendizagem.
4) O que é ser um professor eficiente de LE?
PP: Vou responder o que é ser um professor, porque eficiência é de cada um, né, no, no exercício
da sua profissão. Eh... ser um professor é tentar transmitir, eh... estabelecer uma conexão
entre a ngua materna e a essa segunda língua, né, que, que a gente ensina; é usar
diferentes metodologias, com diferentes públicos pra se atingir os objetivos. Agora, por mais
que o professor seja eficiente, depende muito do aluno também, né, aprender, ter vontade,
desejo de conquistar esse aprendizado. Então, quando isso acontece, quando o aluno consegue ...,
eu acho que a eficiência aconteceu das duas partes.
5) Como você acha que uma língua estrangeira é aprendida?
PP: Bom, o professor de LE, ele trabalha essa aprendizagem com as quatro habilidades da
língua, que são ouvir, falar, ler e escrever, mas nem sempre essa aprendizagem acontece na
totalidade, né, depende de uma série de fatores, depende de... de ambiente, de material, do
aluno, da forma como isso é passado pelo professor.
6) Quais são os principais fatores na aprendizagem de uma LE?
PP: Eu acho que a resposta anterior, também, tem muito a ver com essa pergunta, porque pra
pessoa aprender uma LE, primeiro, ela precisa ter vontade de aprender, ; segundo, ela
precisa ter objetivos. Pra que que eu vou aprender uma língua? Porque se você não estabelece
alguns objetivos, você num responde a muitas perguntas, num, num, num se interessa. Então,
você precisa trilhar uma, um caminho.
168
7) Como você acha que uma língua estrangeira deve ser ensinada?
PP: Ah... eu acho que ela deve ser introduzida no início da vida escolar. De uma maneira bem
lúdica, bem... cativante, porque ... nós sabemos da, da grande importância de você estabelecer
uma ligação entre a, a língua materna e uma segunda língua, seja ela qual for, por várias
razões, né. E, e quando isso acontece..., eh, desde a fase pré-escolar... eh, isso é inserido com
muita facilidade na criança, então, ela vai, ela não vai ter aquele choque, assim. Antigamente, a
gente começava, na escola pública, a, a trabalhar uma segunda língua na 5ª série; hoje em dia,...
nós vimos, nós vemos na, na rede municipal, a partir do, do, do ciclo II, né, falando assim em
ciclo, equivalente a série, na, quando se fala em seriação. Então, né, o aluno tem, né, se você
não sabe trabalhar esse interesse, essa ..., essa motiva, eh... você vai minar o aluno logo de cara,
enquanto que se você fizer o contrário, você motivar, eh... com, com metodologias apropriadas
pra essa fase, a criança vai crescer ... sem problemas, estimulada, e tudo mais.
8) Qual é o papel do professor em uma aula de LE?
PP: Eu acho que o... papel principal é você conscientizar os alunos sobre a importância de se
aprender uma LE, né? E o papel real é ensinar a língua, né, nas suas diferentes maneiras.
9) Qual é o papel do aluno em uma aula de língua estrangeira?
PP: Eu acho que o papel do aluno em uma aula, não de LE, é interesse pelo aprendizado,
né. A partir do momento que ele está ali, exercendo a função de aluno, ele... tem que saber que
posição que ele assumindo, né, que papel ele exercendo naquele momento. Então, a
posição de aluno é você ir lá, eh..., buscar orientação, buscar conhecimento, eh ... tentar
mudar sua forma de pensamento, através desses conhecimentos adquiridos e tudo mais.
10) Como você vê o erro e a correção na aula de língua estrangeira?
PP: O erro é uma coisa natural, como acontece em qualquer área do conhecimento; e a
correção, ela deve ser feita, com certeza, efetivamente, pra... pra que ... essas falhas não
fiquem marcadas, né. ...; porque, às vezes, o professor comete um engano, e, e, vai passando e a
criança lá, mais na frente, vai, vai, ficar com dúvida, porque se aquilo que ele aprendeu é, é
correto ..., então como é que na frente, ele vai observar que, que não é verdade, né, que aquilo
não é correto. Ele põe em xeque tudo aquilo que ele aprendeu; então, precisa haver a correção
169
quando há o erro, com certeza.
11) Qual a sua opinião sobre a adoção do livro didático em cursos de línguas?
PP: Eu sou a favor da adoção do livro eh..., mas como um instrumento, como um recurso e
não te limitar a ele, né, não como aquela coisa certinha, formada, aquilo que você tem que
seguir, mas ajuda bastante o professor.
12) O que é avaliar para você?
PP: Bom, avaliar, para mim, é extremamente importante, porque, através, a avaliação, ela
funciona como um termômetro. É através dessa avaliação é que a gente vai ter certeza se as
metodologias estão adequadas, ou se serão necessárias interferências, né, nessas aplicações,
nessas metodologias. Então, não tem, não é possível você... eh ... desenvolver um trabalho sem
você ter um retorno, e esse retorno só é feito através da avaliação.
13) Você se lembra de como era feita a avaliação quando você era criança, adolescente e na
faculdade?
PP: Sim, eu me lembro, eh... eram passados os conteúdos, né, ...pros alunos, e a gente tinha
que fazer provas e essas provas tinham valores ... e, através desses valores, a gente passava
de ano ou não. Essa forma tradicional que acontece há, há muitos anos, né?
14) O que você acha da avaliação praticada nos ciclos?
PP: Bom, essa é uma questão muito ampla, porque avaliação praticada dentro dos ciclos, eh...,
o trabalho desenvolvido dentro dos ciclos, eh ..., vai muito em torno de projetos, né. Então, não
existe um currículo a ser seguido. Eh..., o ciclo trabalha com levantamento de necessidades
daquele grupo de alunos e através dessas necessidades são criados os projetos, né? (Mas isso
não descarta os conteúdos).
E você avalia a criança, eh... através da participação dela nesses projetos, na, nas, eh,
avaliações escritas, mas não se pratica muito essa coisa de nota, de zero a dez. Então, isso tá,
tá se tentando romper. Só que, que, a própria criança, a própria família não está habituada
com esse tipo de avaliação e eles não levam muito a sério, porque eles acham que se estão
indo pra escola, eh... eles só sabem, né, como é que eles estão, se eles estão aprendendo através
170
da nota. Então, isso é uma política, né, um sistema complicado. Porque a criança, por sua vez,
achando que não tem avaliação, ela perde totalmente o interesse, em ..., pelo menos a grande
maioria, né, dessas crianças, perde o interesse em, em fazer alguma coisa; não tem aquele
estímulo natural, né, não, eu vou pra escola, porque eu sei que eu vou buscar conhecimento,
euvou melhorar, vou, né, me tornar um ser melhor; não, ele vai lá, porque ele quer saber de
nota, ele, aquela coisa forçada, né. Então, eu não sei ... por onde a gente deve partir. O
professor que trabalha em ciclo, eu tenho certeza, que ele fica perdido também; porque é um
trabalho, esse trabalho de conscientização, eh... ele tem que fazer com uma coisa que está
arraigada, ali, na cabeça das pessoas, né, sempre foi assim, porque qui tá mudando agora?, né.
Então, esse negócio de avaliação no ciclo precisa ser repensada, pra num, num tomar esse
caminho, os alunos não se interessarem mais.
171
ANEXOS 3
Observação das aulas da professora participante (PP) da pesquisa
Aula 1- observada no dia 03/06/2005
Disciplina: Língua Estrangeira (Inglês) Turma: 3ª série (D1)
N° de alunos: 27 Idade: 08-10 anos
Quando a professora entrou, os alunos conversavam em voz alta. Eles contam até 3, em
inglês, e se sentam. Ela cumprimentou a turma: “Good morning, students!”. O grupo respondeu:
“Good morning, teacher!”. Ela conversou com eles sobre um acordo que les tinham acerca do
comportamento do grupo. PP disse que iria premiar os que melhor se comportassem.
Ela, então perguntou quem tinha a apostila e pediu para eles abrirem na página 14
59
.
Nesse momento, a secretária da escola interrompeu a aula, mas não falou nada. A professora
pediu para ela tirar umas cópias.
A professora voltou a trabalhar com a apostila, mostrando um desenho na página 14
e perguntando o que havia de errado nele. As crianças responderam que estava incompleto.
Ela chamou a atenção para os nomes dos desenhos e pediu que eles repetirem as palavras:
milk, bread, coffee, orange, juice, butter, cake. Depois, ela perguntou o significado das
palavras. A professora usa a língua materna, explicando a atividade em português e lendo
os enunciados em inglês.
Os alunos se aquietaram e começaram a fazer o exercício. A professora monitorava a
atividade e usava elogios em inglês para incentivar os alunos: “beautiful”. As crianças
perguntavam se era para escrever as palavras em inglês e ela resolveu colocá-las no quadro com o
seu referencial ao lado.
a) milk d) orange juice
b) bread e) butter
c) coffee f) cake
59
A página 14 pode ser encontra nos Anexos 7.
172
Algumas crianças terminaram logo o exercício e começaram a perguntar sobre a próxima
tarefa. A professora explicou a tarefa seguinte. Eles tinham que escrever o nome dos objetos
procurando a palavra correta. Ela deu as instruções em português, sugerindo que, a medida que
eles fossem achando as palavras, eles deveriam circulá-las.
A atmosfera da sala estava boa, tranqüila. Os alunos não ficaram conversando e a
professora monitorava o grupo, explicando a tarefa para aqueles que o estavam conseguindo
desenvolvê-la.
Algumas crianças avisaram que haviam terminado. Ela pediu que eles colorissem as
gravuras, enquanto esperavam pelos outros. Ela deu assistência aos alunos durante todo o
tempo, falando que não podia fazer a tarefa por eles, que eles tinham que fazer sozinhos e que ela
podia orientá-los. Ela avisou que faltavam 3 minutos para terminar essa atividade,
chama a atenção da turma, relembrando que o exercício 1 está no quadro. Um aluno pergunta se a
palavra é “banana”. A professora pergunta se essa palavra cabe nos espaços. “Se cabe a palavra
banana, então escreva banana”.
A professora começou a correção do exercício. Ela fez um “spelling”, corrigindo a
atividade, segurou a folha na mão para que todos vissem, foi mostrando a figura e eles
repetiam. dois alunos participavam, então ela pára e pede a colaboração de todos no
“spelling” da palavra “orange juice”. Algumas crianças participam da atividade e outras ficam
desenhando sombras na parede usando as mãos. A PP pára e pergunta se eles não estão
interessados na aula, se querem sair da sala e diz que vai esperar que eles peçam para ela
continuar a aula. Os meninos continuam desenhando na parede. Ela, então, diz: Vocês vão
continuar com um conceito 3? Não querem subir? Ou vão baixar? (Esse grupo é
considerado pelos professores como difícil, problemático).
O trabalho de correção continuou; agora, ela vai pedindo para eles repetirem
individualmente. Ela vai chamando os nomes e os alunos repetindo as palavras. A PP também
usa palavras de incentivo: “Very good!”, “Congratulations!” , “Parábens!”.
Quando um aluno não sabe e o outro sorri, ela pede para esse último repetir ao invés do
colega que não conseguiu. Algumas vezes, ela ajuda o aluno que não conseguiu fazer a atividade
ou tarefa. A correção segue, agora no exercício 2. Ela vai falando as palavras e os alunos
repetindo. Eles soletram a palavra em português.
Algumas crianças começam a ir até a mesa da professora para mostrar a tarefa. Ela olha os
173
trabalhos, mas alguns alunos começam a jogar o estojo de lápis nos outros e ela pede que eles
retornem a seus lugares.
A professora retoma a contagem até 10 (em inglês) para que eles voltem a seus lugares.
Ela avisa que hoje vai haver reunião de pais e que as lembranças dela sobre cada um estão
bem fresquinha, que ela vai poder falar para os pais deles como eles estão se comportando
em sala.
Começa a repetição individual. O aluno tem a primeira letra (J) e deve completar o
restante (jam). A professora traduz a palavra como presunto. Ela continua a atividade,
perguntando a próxima palavra e outra aluna completa. Neste momento, outra professora entrou,
avisando que os alunos da oficina
60
devem ficar, fato que deixou as crianças eufóricas.
A professora retoma a contagem até 10. Após conseguir a atenção dos alunos, ela
continua a correção do exercício 2: “spelling words” em português (ao invés de usar as
letras em inglês, ela as usa em português. Ex.: a – p – p – l – e = apple, e não: ei – pi – pi – el
i). Ela pergunta o significado das palavras e as crianças vão falando. Depois, ela pede para eles
pegarem o caderno de inglês e copiarem o exercício para ver se aprenderam a tarefa. Ela põe o
cabeçalho no quadro: nome da escola, a data, e começa a escrever:
1) De acordo com o menu/cardápio da página 14, responda à pergunta.
Quantos dólares eu vou precisar para comprar:
a) Soup c) Salad
Water Ice-cream
b) Pizza d) Spaghetti
Orange juice Fruit salad
Enquanto a professora vai escrevendo o exercício no quadro, alguns alunos começam a
cantar: “Tchau, preguiça; tchau, sujeira, adeus cheirinho de suor”. Outros começam a sorrir, mas
isso não perturba a professora ou a ordem da sala. Também, algumas conversas paralelas (bem
baixinho) podem ser ouvidas e a professora continua escrevendo a tarefa. A maioria do grupo
está envolvida na atividade.
60
Essas oficinas foram realizadas por um grupo de estagiárias de uma faculdade em Goiânia.
174
Ela termina de copiar a tarefa e volta a caminhar entre as fileiras de alunos,
monitorando-os.
Depois, a PP pede que eles parem de copiar e volta para a atividade na página 14. Começa
a perguntar quanto custam os itens do menu. Os alunos respondem em português, a professora
explica o vocabulário e reponde a primeira questão com a ajuda dos alunos.
a) 2,70
0,00
2,70
R: Eu vou precisar de R$2,70 (dois dólares e setenta centavos).
O sinal de saída toca. Ela diz que eles vão sair quem terminar de copiar. Os alunos vão
mostrando a tarefa para ela e saindo. A professora diz que quem não fez nada vai ficar sem
ponto. A maioria se despede da professora em português.
Ao final da aula, fomos conversar com ela explicar como as anotações estavam sendo
feitas. Então, ela falou que queria nos perguntar sobre a tradução da palavra JAM, pois ela estava
com dúvidas. Dissemos que a tradução era geléia e não presunto. Ela falou que poderíamos
interferir na aula para auxiliá-la, quando necessário, e que ela estava aberta às nossas
interferências, podendo ajudá-la a crescer
175
Aula 2- observada no dia 10/06/2005
Disciplina: Língua Estrangeira (Inglês) Turma: 5ª série (F)
N° de alunos: 26 Idade: 11 – 14 anos
A professora apanhou a chave da sala, chamou a turma, identificando a série, e as
crianças, em fila, acompanharam-na. Ela abre a porta, entra e espera que as crianças entrem,
procurem seus lugares e se acomodem.
Então, inicia um diálogo com os alunos:
PP: “Good morning, students!”
Alunos: “Good morning, teacher!”
PP: “How are you?”
Alunos: “Fine, thanks. And you?
PP: “I’m very good.”
A professora propõe que eles continuem a tarefa que estavam fazendo na aula anterior.
Ela, então, distribui os livros
61
(Magic English 1) e pede que eles abram-no na página 22
62
.
Antes da realização do exercício, ela sugere que eles escutem novamente a música Imagine
(John Lennon), retomando a atividade começada na aula anterior. Um aluno interrompe a
professora dizendo que não gostou de um “palavrão” na música. Ela pergunta qual é e ele
responde “Inferno”. Ela diz, então, “hell”. Usando a música, ela pede à classe o oposto das
palavras.
PP: “O oposto de céu ...”
A1: “Inferno.”
PP: “O oposto de hot...”
A2: “Cold.”
Ela explica que o compositor estava trabalhando palavras opostas na música.
Ela sai para buscar um CD e o grupo ficou esperando-a. Um aluno levantou, foi até a
carteira do outro e voltou para o seu lugar.
Os estudantes estavam sentados em fila.
A professora retorna e pede que eles abram os cadernos na gina onde está a música,
61
O livro Magic Reading foi adotado pela Prefeitura Municipal de Goiânia para os alunos que estão cursando a
série (último nível do Ciclo II) e Ciclo III.
62
A atividade da página 22 está nos Anexos 8.
176
pergunta se eles se lembram sobre o que a música fala. Um deles disse que era sobre a paz. A
professora completa: “Sobre a paz entre os homens.”
Ela põe o CD, a música começa e os alunos cantam junto com o cantor. Eles estão
cantando e tentando acompanhar a pronúncia da língua inglesa. No coro, eles cantam mais forte.
Porém, nem todos estão cantando, mas quando a música acaba, alguns pedem para ouvir de novo.
A professora passa para outra atividade.
Eles praticam um diálogo. A professora escolhe os alunos para serem os personagens
(Essa tarefa já foi iniciada na aula anterior). As crianças se levantam e vão para a frente da sala.
Três alunos apresentam o diálogo e a professora ajuda-os com as sentenças. Ela faz
“drills” com os alunos e eles repetem. Eles apresentam o diálogo três vezes e a professora diz:
“Very good! Congratulations!”, e pede para a turma aplaudi-los. Um novo grupo é formado
pela professora e os alunos vão para frente da sala. A professora diz que eles podem levar o
livro, mas eles não querem usar o livro. Ela pergunta: “No book? Really?” Eles respondem que
não. Depois, um dos garotos resolve pegar o seu livro. Eles apresentam duas vezes. A professora
diz: “Very good! Congratulations!”, e pede para o grupo aplaudi-los.
Ela pergunta se eles percebem que a gente aprende a língua falando. O grupo diz que
sim. Ela, então, começa a perguntar a tradução das sentenças:
PP: “O que é Nice to meet you?
Alunos: “Prazer em conhecer.”
Ela chama a atenção de uma aluna que não abriu o livro. Ela pergunta: “Evelyn, por que
você não abriu o livro? A garota responde: “Eu abri o caderno.” A professora diz: “Nós não
estamos no caderno. Estamos no livro.”
A atividade seguinte é um Listening na página 23
63
do livro. Ela explica que é um
anúncio sobre um vídeo game e diz para os alunos não ficarem preocupados se não conseguirem
ouvir tudo. Ela prepara o CD e pergunta se eles entenderam a tarefa. Ela avisa para eles não
marcarem as respostas no livro e pede que escrevam os nomes das personagens no caderno.
Uma aluna pergunta se é para escrever todos os nomes. A professora, então, responde:
PP: Eu, se fosse vocês, não escreveria todos os nomes, só os que aparecem no texto.
A professora põe o listening errado, pede desculpas e recomeça a atividade.
Todos os alunos estavam atentos à tarefa.
63
A atividade mencionada pode ser encontrada nos Anexos 9.
177
Ela diz: “Tem alguns que pra ouvir perfeitamente, não é?” Ela repete a atividade. Os
alunos permanecem concentrados em escrever as respostas. A professora pergunta: “Pegaram
mais algum?” Alguns respondem:
A1: “Eu peguei dois.”
A2: “Eu peguei quatro”.
A professora repete a tarefa.
Ela pára o CD e pergunta: “Até aqui, quantos personagens apareceram?” Alguns alunos
respondem: Tommy.Outros: “Terrific Luke!” E a professora escreve os nomes no quadro. Ela
espera alguns segundos e diz: “Ok?Os alunos respondem: “”No!”A professora pergunta: Is it
difficult?” Eles respondem: “Não!” Então, ela diz que a primeira vez que eles ouvem é mais
complicado, mas depois eles vão entendendo. Ela passa o CD novamente e pergunta: “Quem?”
Eles repondem: “Samanta, the great and Dolly!” A professora pergunta: “Who else?” Eles
respondem: Mr. Woodson”. Ela, então, diz: “Apareceu mais algum? Qual?”Desta vez, não houve
resposta. A professora coloca o CD de novo. Despois do listening, a professora pára o CD e eles
respondem: “Mr. MacRae.” Ela escreve Mr. MacRae no quadro e pergunta o que significa “Mr.”
Eles dizem: “Senhor.” Ela escreve Miss MacRae, e eles dizem: “Senhora”. Ela pede para eles
ouvirem de novo e responderem se é senhor ou senhora. Eles dizem que é senhor. A professora
diz que é senhora. Ela fala: “Miss Ann MacRae.” Uma aluna pede para ela fazer o cabeçalho no
quadro. A professora pergunta ao grupo se é preciso e eles respondem que não.
A tarefa seguinte é um “drill”. Ela fala as frases e os alunos repetem. Ela fala a expressão:
“How do you do?” e pergunta se eles sabem o que significa. Eles respondem que não. Ela traduz
a sentença: “Como vai você?”.
Eu fui até à mesa dela, com a intenção de buscar um livro e falei-lhe que a expressão
significava “prazer em conhecer” e não “como vai você?” Ela fez um sinal de ok, mas não
corrigiu a expressão usada erroneamente. Eles terminaram as atividades do livro e a professora
passou a música de novo.
Os alunos cantaram com mais força, realmente tentando usar a língua.
O sinal tocou, ela arrumou os seus materiais, mas só um aluno levantou. Os outros
continuaram cantando a música.
Observamos que não fomos ignoradas pelas crianças, pois havíamos sido professora
delas na 3ª série. Assim, elas nos cumprimentaram e a PP nos apresentou formalmente ao grupo.
178
Aula 3- observada no dia 10/06/2005
Disciplina: Língua Estrangeira (Inglês) Turma: 3ª série (D1)
N° de alunos: 29 Idade: 08-10 anos
A professora entrou e os alunos estavam em pé e conversando. Alguns se sentaram sem que a
professora pedisse. Ela esperou que eles se aquietassem e falou:
“Good morning, students! Eles responderam:
“Good morning, teacher”.
Ela tentou arrumar as carteiras que mantêm a ordem de fileiras. Depois, ela
começou a corrigir uma tarefa começada na aula anterior, escrevendo no quadro:
a) Soup = 2,70
Water = free
R= Eu vou
precisar de R$2,70
(dois dólares e
setenta centavos)
b) Pizza
Orange-juice
c) Salada
Ice-cream
d) Spaghetti
Fruit salad
A professora começou a contar até 10 em inglês (Entendemos que esse era um acordo pré-
estabelecido entre eles: ela começa a contagem e eles param de fazer barulho conversar). O
barulho continuava. Então, ela disse: “Tem aluno que não percebeu que eu contei até dez”. Ela
esperou mais um pouco, mas as crianças continuaram conversando. A professora falou bem alto:
PP: Será que eu falo em inglês aqui, para vocês não me entenderem? Será que a
diretora tem que vir aqui sempre? Vocês não querem que a gente aula? Eu nunca vi uma
turma que adora levar bronca”.
Ela voltou para a correção do exercício que estava no quadro. Enquanto isso, alguém bate
na porta, a professora atendeu, conversou com a pessoa e voltou para a atividade iniciada.
Ela explicou a atividade, dizendo que era sobre preço. Era uma tarefa de casa e a
professora pediu para as crianças que fizeram levantassem as mãos.
Um aluno chegou atrasado, pediu para entrar e ela não deixou. Ele insistiu na explicação,
179
ela ouviu e deixou-o entrar.
Voltando ao quadro, ela pediu para que os estudantes fizessem a conta de quanto eles precisariam
para comprar os dois itens descritos. Ela disse que quem havia feito era para conferir e quem
não fez, deveria fazer. Pp circulou entre os alunos, olhando quem havia feito a tarefa e quem não.
Para aqueles que não tinham a tarefa no caderno, ela disse para eles copiarem. Ela disse:
PP: “Oh, gente! Eu não posso sentar na cadeira de vocês e copiar por vocês. Que
preguiça danada é essa?
Então, ela continuou olhando os cadernos, parabenizando quem fez e incentivando os
que não tinham feito a fazer na sala. Ela dá algumas explicações para a realização da tarefa, diz
a um dos alunos que é para ele caprichar na atividade e que vai esperar um pouquinho mais.
A professora chama os alunos pelos nomes e pede para ajudá-la na resolução dos
problemas. Muitos respondem, procurando participar da aula. PP utiliza uma apostila que
confeccionou, selecionando algumas atividades de livros variados e retoma a correção da tarefa:
PP: “Vamos voltar ao enunciado da tarefa: Quanto eu vou precisar para comprar: letra
a?”
Algumas crianças responderam e ela passou para o exercício b, respondendo no quadro e
observando quem está acompanhando. Então, ela diz:
PP: “Aqueles amiguinhos que ficaram muito atarefados e não tiveram tempo de fazer a
tarefa, podem fazer agora”.
A correção continuou e ela esperou pelos alunos. Eles estavam trabalhando, tentando
fazer as contas e as respostas. Os alunos estavam quietos e participando da aula. De vez em
quando, um alunos a chama e pede explicações. Ela atende ao pedido, tira as dúvidas, explica
de novo a atividade, dando atenção ao problema do aluno.
Ela chama um aluno para resolver o problema no quadro. Outro aluno sorri. Ela diz para
ele não rir do colega, pois será o próximo a ir ao quadro e os outros podem rir dele. Ela
auxilia o aluno a fazer a conta no quadro e a escrever a resposta. Ela parabeniza o aluno
quando ele termina. Ela usa muito o estímulo ao aluno talvez a noção de estímulo positivo
esteja muito forte em sua prática (ações). Outro aluno se voluntaria para resolver o problema.
Muitos querem ir ao quadro, dizendo que sabem a resposta. A professora diz: “Gente, eu sei que
vocês sabem, mas ele pediu para vir responder. O aluno termina de escrever a resposta e ela
apaga a palavra que ele escreveu errado e pede para ele corrigir: “presisa” em vez de
180
“precisar”. (Ela fez uma correção imediata, pois acredita que o aluno deve ser corrigido).
PP confere os resultados com todo o grupo, reescreve as palavras em que os alunos
apresentaram dificuldade de compreensão e pede que eles abram a apostila na página 13. PP diz
que vai corrigir algo que ensinou errado. (Obs: Ela havia me perguntado qual a tradução da
palavra “jam”, pois ela não se lembrava e tinha dito na aula anterior que era presunto).
A professora vai falando a palavra em inglês e os alunos em português. Ela corrige o
significado da palavra “jam” (geléia). Ela explica para o grupo que a palavra presunto, em
inglês, é “ham”, e é muito parecida com “jam”. Então, ela pede que eles a desculpem, pois
professor também erra.
(Ela tem a crença de que o professor não deve dar informações erradas aos alunos, e, quando isso
acontece, é preciso corrigir o problema. Professor também pode errar.)
Alguns alunos dizem que não vieram na aula passada e que não têm a folha do exercício.
A professora entrega umas folhas com o exercício e os alguns alunos repetem que não têm a
apostila. Ela, então, diz que tem sido muito paciente com eles, pois já é 10 de junho e eles não
conseguiram juntar R$5,00 (cinco reais) para comprar a apostila. Ela cita o nome de alguns
alunos que ainda não têm a apostila. A professora diz que não quer constrangê-los, mas
esperou demais. Diz, ainda, que, no segundo semestre, só assistiriam às aulas quem estiver com o
material completo. Ela explica que alguns repassaram o dinheiro, entretanto ela precisa juntar
uma quantidade determinada para que as apostilas fiquem mais baratas.
A professora pede para eles abrirem na página 15 e diz que todos estão no supermercado.
Um aluno responde: “Eu não. Eu estou na sala de aula”. Ela não responde e pergunta o que eles
estão fazendo. As crianças descrevem a figura: o menino está com a mãe, empurrando um
carrinho de compras. A professora pergunta que coisas estão no carrinho que fazem bem à saúde,
depois o que faz mal. Ela explica que não é o chocolate que faz mal pra gente, mas o comer
muito que faz mal. Ela relembra a pirâmide dos alimentos, reexplicando o valor nutritivo de cada
espaço e o que devemos comer pouco (açúcar, gordura) ou muito (frutas, verduras). A professora
vai falando as palavras e os alunos vão dizendo o preço. Depois, ela diz as palavras em
português e eles repetem em inglês. Ela usa alguns comandos em inglês, com: “all right!”, e
eles entendem o significado. Assim, a atividade de “drills” continua.
A próxima tarefa é a preparação de um menu. Ela vai perguntando o que cada figura
significa e pede para eles colocarem o nome das comidas. Os alunos vão falando em português.
181
De repente, todos começam a falar ao mesmo tempo. A professora interrompe a tarefa e diz que
se eles não escutarem o que ela queria que eles fizessem, eles não conseguiriam realizá-la. Eles
devem procurar o vocabulário em inglês e escrever ao lado da figura. Os alunos continuam
conversando, todos ao mesmo tempo e ela diz que vai contar até 5. A secretária bateu na porta
trazendo alguns alunos que ficaram fora da sala e um convite para a festa junina que as crianças
deveriam entregar aos pais. A professora diz aos alunos que entraram atrasados que eles ficariam
com ela depois que a aula acabasse.
OBS: As sextas-feiras, as escolas que trabalham com ciclos de desenvolvimento têm reunião de
planejamento, dispensando as crianças mais cedo (em nosso caso, às nove horas da manhã).
A professora vai para o quadro e começa a desenhar as figuras da tarefa, colocando os
nomes em inglês.
Apple pizza hamburger sandwich
Ela diz que está colocando no quadro os nomes das figuras que não têm na apostila. O
sinal toca, a professora diz que as crianças podem sair, menos os que ficaram do lado de fora.
Ela, pois, fica com eles, fazendo as tarefas do dia.
182
Aula 4- observada no dia 24/06/2005
Disciplina: Língua Estrangeira (Inglês) Turma: 5ª série (F1)
N° de alunos: 24 Idade: 11-14 anos
A professora cumprimentou os alunos, organizou as carteiras em fileiras e entregou o
teste
64
de inglês. Depois disso, ela leu e explicou as questões, uma por uma. Os alunos fizeram
algumas perguntas sobre a prova e pediram para a professora traduzir as perguntas, mas ela
respondeu que eles sabiam e que o podiam desapontá-la. (PP tem a crença de que ela
ensina e os alunos aprendem).
A professora escreve a tradução de alguns verbos no quadro:
To get up – levantar
To sleep – dormir
To wash – lavar
To go - ir
Um aluno pede explicação do item 2 (text comprehension) e ela uma explicação para
todos, incentivando-os a tentar entender o texto.
Os alunos começam a responder a prova. A professora circula entre eles e diz que é para
responder em inglês. Alguns alunos pedem ajuda e a professora atenção a cada um. Ela vai
explicando cada questão e espera que eles resolvam as atividades. Despois, ela passa para o item
seguinte.
A professora a questão 3, passando as frases em inglês e traduzindo em português
(a tradução, ou o uso da língua materna é uma estratégia usada pela professora para ensinar a LE.
Isso pode ter relação com a forma como ela mesma aprendeu inglês uso das experiências
anteriores como aprendiz). No item 4, ela procede da mesma forma: traduz todas as frases para
64
O modelo do teste utilizado está nos Anexos 10.
183
facilitar a compreensão dos alunos. Ela lembrou de traduzir mais um verbo, acrescentando-o à
lista no quatro: to dress – vestir.
A turma está quieta e alguns alunos se dirigem à professora Para esclarecer as dúvidas.
Ela diz:
PP: “Então, é isso! O que podia fazer pra ajudá-los, eu fiz. Leiam o texto novamente.
Se precisar leiam mais uma vez, e novamente!”
Ela senta à mesa, porém alguns alunos vão até ela, fazem perguntas e ela responde. Ela
não dá as respostas, apenas sinaliza positiva ou negativamente, de acordo com as dúvidas
apresentadas.
Faz-se silêncio na sala e todos estão concentrados nas respostas do teste. Alguns alunos
começam a entregar a avaliação. A professora pergunta pelas atividades anteriores que
deveriam ter sido entregues e devolve outros trabalhos corrigidos. Um aluno pergunta
quanto vale o teste e a professora responde que vale dez.
Uma aluna pede que a ajudemos, mas pedimos para ela procurar a professora e pedir para
ela esclarecer a sua dúvida.
Um dos alunos entrega a avaliação, a professora revisa e a devolve, pois faltava a resposta
da última questão. Uma outra aluna pergunta se pode pintar as figuras e ela diz que sim.
Dois alunos estão conversando e a professora chama a atenção deles. Uma das alunas nos
pergunta se a folha da prova está apagada, pois ela não estava entendendo a questão 2 porque
estava apagada.
A professora avisa que vai recolher o teste, alguns alunos dizem que estão pintando as
figuras e ela diz: pintar se der tempo!” Depois, ela pergunta se eles acharam a prova difícil e
alguns dizem que não. Ela também pergunta se todos entregaram e despede-se do grupo em
inglês.
184
Aula 5- observada no dia 24/06/2005
Disciplina: Língua Estrangeira (Inglês) Turma: 3ª série (D1)
N° de alunos: 27 Idade: 08-10 anos
A professora cumprimenta os alunos em inglês, eles respondem também em inglês e
pedem para ela não apagar o quadro. Ela diz para eles pedirem “por favor” e pergunta se querem
uns minutinhos para terminar a tarefa do quadro. Enquanto isso, ela pede que os outros alunos
abram o caderno, pois ela vai dar o visto
65
. Para os alunos que não têm as tarefas completas,
ela pergunta pelas atividades restantes e pede para que a mãe em casa assine naquele lugar.
Ela se preocupa em alinhar as carteiras em fileiras, procurando organizar a sala de aula.
Os alunos levantam, andam pela sala, conversam com os colegas. (Obs: Segundo a professora,
esta turma é muito difícil e ela precisa chamar a atenção o tempo todo.)
A professora explica que tinha marcado o teste para quarta-feira, mas iria antecipá-lo para
segunda-feira. Ela pede para eles estudarem, dizendo que vai tirar o cartaz com os números
cardinais que fica pregado na parede e que não pode consultar a apostila. Então, escreve no
quadro a matéria da prova:
. numerais cardinais (1-10)
. frutas
. brinquedos
. membros da família
. animais
PP começa a contar com os alunos em coro os números de 1 a 10. A professora escolhe
alguns alunos e pede para eles contarem de 1-10. Um aluno não consegue e ela pede para todos
repetirem juntos para ajudar o colega. Ela, então, diz:
PP: “D1, eu acho que não é inteligente não prestar atenção na professora agora, não é?”
A prfessora pede para eles falarem o vocabulário de fruta. Ela fala em português e os
alunos traduzem para o inglês, enquanto vai anotando no quadro. Depois, a professora chama
65
Um modelo do visto no caderno dado pela professora pode ser encontrado nos Anexos 11.
185
a atenção de uma aluna e diz:
PP: Patrícia, a próxima vez que eu tiver de chamar a sua atenção, eu vou te mandar
para a coordenação.”
A professora vai praticando a pronúncia das palavras, elogiando a turma quando as
crianças acertam. Ela vai anotando os nomes das frutas no quadro:
Apple peach – pêssego melon lemon watermelon
Orange pear – pera pineapple strawberry banana
Grape mango coconut
PP pára a aula e diz: “Quando vocês fizerem silêncio, eu continuo a aula”. Ela trocou
alguns alunos de lugar, mas eles continuaram andando e conversando com outros colegas. Alguns
alunos pedem que os outros colaborem com a professora e se calem. De repente, eles fazem
silêncio e a revisão continua.
A professora começa a revisar o vocabulário referente a brinquedos, desenhando-os
objetos no quadro, pedindo a palavra que define cada coisa :
Ball kite
Doll bike
skate
Ela desenhou e escreveu a palavra “kite” no quadro, e perguntou se os meninos passavam
cerol na linha. Perguntou, também, porque eles passavam o cerol nas pipas. Um aluno diz:
A1: “É o meu padrasto que passa para mim”. A professora fala:
PP: “Pra que passar cerol? Outro aluno responde:
A2: “Pra cortar a pipa dos outros”. PP responde:
PP: Além de cortar a pipa dos outros, pra que mais serve?” As crianças acrescentam:
Alunos: Pra cortar o pescoço do motoqueiro, cortar as pessoas”. Ela diz que eles
podem brincar com a pipa sem cerol, num lugar adequado, sem perigo para ninguém.
A professora volta aos desenhos no quadro:
186
Car
Shuttlecock
Ela retoma a contagem ( Essa atitude funciona como um acordo que ela tem com as
crianças: quando elas estão conversando demais, eles contam até 10). Depois disso, ela pratica a
pronuncia dos brinquedos e os alunos repetem.
Começa, então, a revisão de “family members”: a professora pratica a pronúncia e o
significado das palavras (mother, father, sister, brother). Ela pergunta:
PP: “Breno, você tem brother? Qual é nome do seu brother?, e assim por diante,
mudando a palavra e o aluno a cada vez.
A professora pede para alguns alunos arrumarem os materiais e ir conversar
com a diretora (ela conta até dez para eles saírem da sala). Começa uma revisão de nomes de
animais: PP fala a palavra em português e eles dizem o referencial em inglês. Muitas vezes,
eles falam a palavra da maneira como se escreve e ela corrige a pronúncia. Então, a professora
pergunta: “Como se chama aquele aparelhinho que a gente usa no computador?” Eles
respondem: “Mouse”. Ela pergunta o que significa a palavra e alguns respondem: “Rato”. Ela
pergunta porque ele tem esse nome, mas ninguém responde. A professora diz que é porque ele se
parece com um rato.
Ela avisa que vai fazer alguns exercícios de revisão e que é para eles escreverem
no caderno. Ela escreve no quadro:
Exercise:
1. Desembaralhe as letras e forme o nome dos animais:
a) NOMSKEY = monkeys e) FGIRAFE ____________
b) EBE _______________ f) CTA _________________
c) ONIL ______________ g) ODG ________________
d) IGTERS ____________ h) ROSHO ______________
A professora precisa chamar a atenção de alguns alunos, enquanto copia a tarefa
no quadro. Alguns alunos vão respondendo o exercício oralmente e quando algum um deles erra
187
a pronúncia (Ex: “doga”), eles sorriem, fazendo gozação do colega.
A professora continua a escrever o exercício no quadro:
2. Relacione a segunda coluna de acordo com a primeira.
a) father ( ) irmão
b) mother ( ) pai
c) brother ( ) irmã
d) sister ( ) mãe
e) family ( ) família
A professora explica a atividade e responde a letra a” com eles. Os alunos pedem
para ela responder outra, mas ela diz que é para eles tentarem sozinhos. A professora, ainda,
explica que no exercício 1 é preciso descobrir o animal e colocar a tradução da palavra.
A aula termina, a professora se despede do grupo e sai da sala.
188
ANEXOS 4
Questionário sobre avaliação usados com as crianças
1. Para você, o que é avaliação?
2. Quais os tipos de avaliação que você conhece?
3. Você tem sugestões de outras formas de avaliação?
189
ANEXOS 5
a) Tipos de textos em geral
Idéias principais
de cada parágrafo
Tipo de linguagem utilizada
Sublinhar as palavras mais
características
Formas
verbais usadas
b) Textos comparativos
Intenção do autor Tipo de linguagem Formas verbais
Texto nº 1
Texto nº 2
c) Auto-avaliação da leitura gravada
Primeira Leitura Segunda Leitura
Como foi... Correta Pode Melhorar Uff! Correta Pode
melhorar
Uff!
Minha entonação?
Minha expressividade?
Meu ritmo?
As pausas?
d) Avaliação dos membros do grupo de trabalho
Participaram Nomes dos
membros
do grupo
No
planejamento
Na realização
do trabalho
O que
trouxe para
o grupo
Respeitou
as idéias e
o trabalho dos
demais
(Meu nome)
e) Ficha de participação
Como participei? Muito Pouco Nada
Intervim
Interrompi
Respeitei as opiniões dos demais
Trouxe alguma idéia?
Qual?
190
De que idéias dos demais eu gostei?
f) Avaliação do trabalho em grupo
Nome do Grupo:
Sim Não Como fazê-lo melhor?
Planejamos o trabalho?
Distribuímos bem as tarefas?
O resultado do trabalho
foi o esperado?
g) Assinale com um (x) o que lhe corresponde
Com
entusiasmo
Com
interesse
Com
entusiasmo
Sem
Interesse
Em geral, participei no trabalho...
Minha participação em debates, colóquios, etc.,
foi...
Quando trabalhei
em grupo, eu o fiz...
Comentário Pessoal
h) Ficha de auto avaliação
Nome: Curso:
Nome do projeto de trabalho Data:
O que queria
Conseguir?
O que
aprendi?
Que
dificuldades
encontrei?
Como resolvi
as dificuldades?
Alcancei os
objetivos?
191
ANEXOS 6
PREFEITURA DE GOIÂNIA
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE GOIÂNIA
Escola Municipal________________________________________________________
Nome:_________________________________Data de Nascimento:____/____/______
Ciclo: I ( ) II ( ) III ( ) Idade:____Agrupamento:_______Turno:_______Ano:_____
Professores:_____________________________________________________________
Ficha de Registro Descritivo das Aprendizagens-Avanço e dificuldades dos Educandos-
Tomando como Referencial os Objetivos de cada Projeto de trabalho Desenvolvidos por
Bimestre
Todos os aspectos do Quadro Orientador deverão ser contemplados nesta ficha de registro
de aprendizagens.
Assinatura dos(as) Professores(as
_______________________ _______________________ ________________________
______________________ _______________________ ________________________
______________________ _______________________ ________________________
Coordenador(a) Pedagógico(a)
__________________________________
192
FICHA DE AUTO-AVALIAÇÃO DO(A) EDUCANDO(A)
1) Atento as propostas do/a professor/a?
2) De que forma cumpro minhas responsabilidades/tarefas?
3) Sou freqüente e chego no horário?
4) O que mais gosto na escola? Por quê?
5) O que não gosto na escola? Por quê?
6) O que mais gostei de estudar nesse período? Por quê?
7) O que gostaria que fosse diferente na escola? Por quê?
8) De que maneira eu poderia contribuir para essa(s) mudança(s)?
9) Em quais aspectos eu tenho melhorado e o que ainda preciso melhorar?
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
OBS: Estas questões foram elaboradas a título de sugestão de temas a serem utilizados para auto-
avaliação dos educandos.
Este instrumento é sugerido para ser utilizado em periodicidade estabelecida por cada
escola.
193
FICHA DE AVALIAÇÃO DO(A) PROFESSOR(A) PELO(A)
EDUCANDO(A)
O(a) professor(a):________________________________________________
1) Apresenta aos educandos o programa/objetivos da disciplina?;
2) Deixa claro que se prepara para dar as aulas?;
3) Expõe seus conhecimentos com clareza?;
4) Deixa claro como será a avaliação?;
5) Incentiva a leitura e a pesquisa da turma?;
6) Diversifica suas formas de dar aula (trabalha em grupo, dinâmicas, seminários, etc)
além de aulas expositivas usando quadro?;
7) Possui um relacionamento aberto ao diálogo junto aos educandos?;
8) Proporciona um ambiente prazeroso favorecendo a aprendizagem aos educandos?;
9) Você definiria o(a) professor(a) como:
( ) gentil, atencioso, não domina o conteúdo;
( ) autoritário, domina e sabe expor o conteúdo;
( )gentil e domina o conteúdo;
( )autoritário, domina o conteúdo, mas não sabe expor bem;
( ) gentil, atencioso e domina o conteúdo e expõe bem;
10) O que o(a) professor(a) deve fazer para melhorar as aulas? Dê
sugestões de aulas criativas.
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Obs: estas questões foram elaboradas a título de sugestão de temas a serem utilizados para a
avaliação dos educadores pelos educandos. Forma elaboradas não como forma fechada, e pode/deve
sempre que possível solicitar que o(a) mesmo(a) expresse descritivamente sobre estes temas
Este instrumento é sugerido para ser utilizado em periodicidade estabelecida por cada escola
194
FICHA DE AVALIAÇÃO SEMESTRAL DOS PAIS/RESPONSÁVEIS
Pai/mãe/responsável:______________________________________________
Educandos(as):____________________________________________________________________
_____________________________________________
Ciclo:_______Agrupamento:______________Turno:____________________
1)Os trabalhos escolares são atividades desafiadoras para seu filho(a)?
( ) sim ( ) não ( ) às vezes
2)Ele consegue realizar as tarefas com organização?
( ) sim ( ) não ( ) às vezes
3)O seu(a) filho(a) gosta de realizar as atividades escolares?
( ) sim ( ) não ( ) às vezes
4)Em casa ele(a) tem horário, local, e ajuda para realizar as atividades escolares?
( ) sim ( ) não ( ) às vezes
5)Seu filho(a) gosta de ir à escola?
( ) sim ( ) não ( ) às vezes
6)Aquilo que ele(a) estuda desperta interesse?
( ) sim ( ) não ( ) às vezes
7)Quando quer saber alguma coisa sobre o desenvolvimento dele(a) você procura o(a) professor(a)
coordenador(a) pedagógico(a)?
( ) sim ( ) não ( ) às vezes
8)Com qual freqüência você participa das reuniões de pais?
( ) sim ( ) não ( ) às vezes
9)Você gosta da escola que seu filho(a) estuda?
( ) sim ( ) não ( ) às vezes
10)Quais sugestões você tem para que a escola possa melhorar o atendimento pedagógico a seu/sua
filho(a)?
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Obs: Estas questões foram elaboradas a título de sugestão de temas a serem utilizados para os
pais/responsáveis avaliarem o cotidiano escolar.
195
FICHA DE AUTO-AVALIAÇÃO DO(A) EDUCADOR(A)
Ciclo:________Agrupamento:___________________Período de Observação__________
Educador(a)______________________________________________________________
1) Vario a dinâmica das minhas aulas? De que forma?
2) Procuro dar assistência individual aos educandos atendendo as suas dificuldades? Como?
3) Quais aspectos relacionais (professor-aluno; aluno-aluno; professor-professor) foram trabalhados
nesse período? Como o grupo de professores se encontra quanto a esse aspecto?
4) Quais os assuntos foram objeto de conhecimento nesse período? Como a turma se comporta frente
a eles?
5) Como avalio a minha pontualidade e envolvimento com o trabalho da escola?
6) O que deve ser melhorado em sala?
7) Que aspectos avalio como dificuldades para minha ação pedagógica?
8) Interrompo a aula para esclarecer dúvidas de algum aluno?
9) Costumo ouvir os alunos e colegas professores sobre suas dúvidas e sugerir alternativas para
ajudá-los a encontrarem o caminho?
10) Facilito ou sugiro ao aluno que leia um livro ou um artigo, assista um filme que interesse para a
própria disciplina ou para ele próprio?
11) Digo ao aluno que ele é capaz de fazer melhor, encorajando-o a aprimorar algo que não ficou
bem feito?
12) Costumo ouvir a razão do outro antes de julgá-lo e de orientá-lo?
13) tenho me empenhado em renovar minha prática? Em quais aspectos avancei na minha prática
pedagógica?
Obs: Estas questões foram elaboradas a título de sugestão de temas a serem utilizados pelos
educadores para sua auto-avaliação.
Este instrumento é sugerido para ser utilizado em periodicidade estabelecida por cada
coletivo da escola.
196
ANEXOS 7
197
ANEXOS 8
198
199
ANEXOS 9
200
ANEXOS 10
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