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Helena de Araujo Neves
AALMA DO NEGÓCIO”: ASPECTOS DA EDUCAÇÃO EM
PELOTAS-RS NA PROPAGANDA INSTITUCIONAL (1875-1910)
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação da Faculdade de Educação
da Universidade Federal de Pelotas, como
requisito parcial à conclusão do Mestrado
em Educação.
Orientadora: Profª. Drª. Giana Lange do Amaral.
Pelotas, 2007
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Catalogação na Fonte: Renata Braz Gonçalves CRB 10/ 1502
N518a Neves, Helena de Araujo
A “alma do negócio”: aspectos da educação em
Pelotas-RS na propaganda institucional (1875-1910) /
Helena de Araujo Neves – 2007.
260 f.
Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação,
Universidade Federal de Pelotas, 2007. Orientação: Profa.
Dra. Giana Lange do Amaral.
1.História da Educação. 2.Pelotas. 3.Instituições de Ensino.
4.Propaganda Institucional. 5.Imprensa. I.Título.
CDU: 37 (091)
Banca Examinadora:
---------------------------------------------------------------------------------
Giana Lange do Amaral
---------------------------------------------------------------------------------
Elisa dos Santos Vanti
---------------------------------------------------------------------------------
Elomar A. Callegaro Tambara
---------------------------------------------------------------------------------
Maria Helena Câmara Bastos
Dedico este trabalho à memória de minha mãe,
Neila Mara de Araujo Neves, por ter me ensinado
a importância de se investir na educação. Um
exemplo de mulher e de educadora, que sempre
seguirei.
AGRADECIMENTOS
São muitos aqueles a quem devo agradecimentos, neste momento de
conclusão do trabalho.
Em primeiro lugar, agradeço a Prof
a
. Dr
a
. Giana Lange do Amaral pela
orientação efetiva, amizade e pelo interesse e preocupação com o meu futuro
profissional.
Aos professores Elomar Tambara, Maria Helena Câmara Bastos e
Elisa Vanti, pelas importantes contribuições realizadas na qualificação desta
pesquisa.
Ao professor Elomar Tambara, pelo convite para participar do CEIHE
(Centro de Estudos e Investigações em História da Educação), o que acabou
possibilitando a minha aproximação com o Grupo de Pesquisa e com a FaE.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal de Pelotas UFPEL, Curso de Mestrado e a todos os
colegas que, de uma forma ou outra, me estimularam e contribuíram para a
execução desta pesquisa.
À colega e amiga Renata Braz Gonçalves, pela ajuda prestada antes
mesmo de me conhecer, uma amiga com quem pude verdadeiramente contar ao
longo do curso.
À funcionária da Bibliotheca Pública Sônia e à estagiária Nádia, pelo
auxílio, interesse e companheirismo.
Ao meu pai, Carlos Roberto e aos meus irmãos, Rita e Lúcio, pelo
constante apoio e paciência de forma especial à Rita que, além de irmã foi
amiga e colega nessa jornada, colaborando com suas críticas na elaboração
deste estudo. Agradeço também por ter me incentivado a realizar a seleção neste
Programa de Pós-Graduação.
Na história da imprensa e na história da propaganda,
que convergem para a história da civilização, o anúncio
é como um painel inesgotável por onde se exprime a
organização social com seus atores e suas
circunstâncias. Nele se exibem a paisagem, a
economia, as artes e as letras, as lutas políticas, a
educação e a cultura, os hábitos e costumes, as
correntes de pensamento e ação, a vida em sociedade,
os movimentos como as idéias e o progresso, as
influências internas e externas, o avanço da tecnologia,
as conquistas científicas, as cidades e as modas, o
triunfo e a derrota (BRANCO, 1990, p.210).
RESUMO
Esta pesquisa, desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação
da Universidade Federal de Pelotas, na linha de História da Educação, tem como
enfoque principal a educação em Pelotas-RS no final do século XIX e início do
XX. A investigação foi realizada por meio de uma abordagem sócio-histórica,
utilizando a análise documental cujas principais fontes consultadas foram
propagandas institucionais. A pesquisa visa a analisar as características do
processo educacional pelotense, no final do período Imperial e início da República
Velha, buscando detectar elementos que diferenciavam, ou não, as instituições de
ensino, observando a capacidade desses elementos em despertar, na população,
o interesse pelos estabelecimentos de ensino, e pela própria educação. Também
é objetivo desta dissertação fazer um rastreamento a fim de dar luz às instituições
de ensino existentes em Pelotas e aos seus docentes. Essa opção resultou em
um levantamento quantitativo, na busca da apreensão das instituições que
atuaram em Pelotas e que deixaram registrado, nos anúncios institucionais, o foco
de suas atividades, bem como os seus atores e sua filosofia de trabalho. O
embasamento teórico foi construído a partir dos estudos da História Cultural,
enfocando algumas particularidades sobre a fonte privilegiada nesta investigação,
a propaganda. Além disso, em virtude de contextualizar o período estudado,
apresentam-se reflexões sobre a história regional e local, além de aspectos sobre
a educação brasileira, gaúcha e pelotense. Nesta pesquisa a propaganda permitiu
investigar alguns traços sobre as instituições de ensino e sobre a própria
educação na cidade de Pelotas-RS, tais como: a existência de ensino para
meninas e para meninos; a oferta de ensino primário e secundário, interno, semi-
interno e externo, privado ou blico; a ocorrência de aulas particulares; os
valores cobrados pelo ensino; o corpo docente; os diretores, entre outros
aspectos que são aprofundados neste estudo.
Palavras-Chave: História da Educação; Pelotas; Instituições de Ensino;
Propaganda Institucional; Imprensa.
ABSTRACT
This research has been developed at the Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal de Pelotas (Post-Graduation Program of the
Federal University of Pelotas), in the field of History of Education and has, as its
main focus, the education in Pelotas, in the end of the 19
th
century and the
beginning of the 20
th
. The investigation has been conducted in the light of a socio-
historical approach, using documental analysis whose main sources were
institutional advertisement. The research intends to analyze the characteristics of
the educational process in Pelotas, in the end of the “Período Imperial” (Monarchic
Period) and in the beginning of the “República Velha”(Old Republic), trying to find
elements that made the educational institutions different or not, observing the
institutions’ capabilities of raising the populations’ interest in them and in the
education itself. This research also has the aim of keeping track of the educational
events in order to come up with some clarifications for the institutions in Pelotas
and its educators. This choice has resulted in a quantitative data gathering, in the
search of selecting the institutions that have worked in Pelotas and have left
registered the focus of its activities, as well as its subjects and work philosophy in
the institutional advertisement. The theoretical basis has been built from the
studies about the Nova História Cultural (Cultural History), concentrating some
specific traits of the privileged source, in this case, advertisement. Furthermore, in
order to contextualize the studied period, reflections on the regional and local
history are presented, as well as some aspects about Brazilian, “gaúcha” (from Rio
Grande do Sul state) and “pelotense” (from the city of Pelotas) education. In this
research, advertisement has made it possible to investigate some traits of the
educational institutions and of education itself in the city of Pelotas-RS, such as:
the existence of teaching for boys and girls; the offering of primary and secondary
teaching, being it a full-time boarding school, a part-time boarding school and a
regular school, private or public; private classes, amounts charged for the
teaching, the body of teachers, principals, among other aspects that are deeply
studied.
Keywords: History of Education; Pelotas; Educational Institutions; Institutional
Advertisment; Press.
Lista de Ilustrações
Figura 1 Anúncio do Collegio Santa Rosa ................................................... 16
Figura 2 Anúncio do Curso Racional ........................................................... 22
Figura 3 Anúncio do Collegio Mario de Artagão .......................................... 28
Figura 4 Anúncio do Collegio de Meninas ................................................... 52
Figura 5 Anúncio do Collegio Arnizaut Furtado ........................................... 68
Figura 6 Anúncio do Collegio Perseverança................................................ 70
Figura 7 Anúncio do Collegio São Francisco de Assis ................................ 71
Figura 8 Anúncio do Collegio Particular....................................................... 73
Figura 9 Anúncio do Collegio Evolução ....................................................... 79
Figura 10 Anúncio do Curso Racional ........................................................... 80
Figura 11 Anúncio do Collegio Perseverança................................................ 82
Figura 12 Anúncio do Lyceu Municipal .......................................................... 83
Figura 13 Anúncio do Collegio Franco Rio-Grandense ................................. 84
Figura 14 Anúncio do Collegio Sul-Americano .............................................. 85
Figura 15 Anúncio do Collegio Commercial................................................... 87
Figura 16 Anúncio do Collegio Franco Rio-Grandense ................................. 88
Figura 17 Anúncio do Curso Secundario ....................................................... 89
Figura 18 Anúncio do Curso de Desenho e Pintura....................................... 90
Figura 19 Anúncio da Escola Nocturna Pelotense......................................... 90
Figura 20 Anúncio do professor J. Napoleão Arruda,.................................... 95
Figura 21 Anúncio do Collegio Evolução ....................................................... 97
Figura 22 Anúncio do Lyceu Rio-Grandense................................................. 99
Figura 23 Collegio Curso Racional .............................................................. 101
Figura 24 Anúncio do Collegio Sul-Americano ............................................ 101
Figura 25 Anúncio do Collegio Evolução ..................................................... 102
Figura 26 Anúncio do Collegio São Francisco de Paula.............................. 103
Figura 27 Anúncio da Escola Moderna........................................................ 104
Figura 28 Anúncio do Lyceu Municipal ........................................................ 107
Figura 29 Planta da Cidade de Pelotas ....................................................... 111
Figura 30 Anúncio do Collegio São Francisco de Paula.............................. 114
Figura 31 Anúncio da Escola Moderna........................................................ 114
Figura 32 Anúncio da Professora Mme. Jeanne Chagneaud ...................... 116
Figura 33 Anúncio do Professor Eduardo Borges........................................ 117
Figura 34 Anúncio do Collegio Eduardo Borges.......................................... 118
Figura 35 Anúncio do Collegio Reis............................................................. 120
Figura 36 Anúncio do Lyceu Municipal ........................................................ 125
Figura 37 Anúncio do Collegio Sul-Americano ............................................ 126
Figura 38 Anúncio do Gymnasio.................................................................. 127
Figura 39 Anúncio do Collegio Acacia ......................................................... 128
Figura 40 Anúncio do Collegio União .......................................................... 129
Figura 41 Anúncio do Internato Normal ....................................................... 131
Figura 42 Anúncio do Instituto Porto-Alegrense .......................................... 132
Figura 43 Anúncio do Collegio da Immaculada Conceição.......................... 133
Figura 44 Anúncio do Collegio Venerando .................................................. 134
Figura 45 Anúncio do Collegio Curso Racional ........................................... 137
Figura 46 Anúncio do Collegio Reis............................................................. 138
Figura 47 Anúncio do Collegio São Francisco de Paula.............................. 138
Figura 48 Anúncio do Collegio São Francisco de Paula.............................. 140
Figura 49 Anúncio do Collegio Arnizaut Furtado ......................................... 142
Figura 50 Anúncio do Collegio Particular..................................................... 143
Figura 51 Anúncio da Bibliotheca Publica Pelotense................................... 149
Figura 52 Anúncio do Collegio Sul-Americano ............................................ 152
Figura 53 Anúncio do Collegio Particular..................................................... 153
Figura 54 Anúncio do Atheneu Pelotense.................................................... 153
Figura 55 Anúncio da Escola Popular.......................................................... 154
Figura 56 Anúncio da Escola Popular Príncipe do Grão-Pará..................... 155
Figura 57 Anúncio do Collegio Pelotense.................................................... 158
Figura 58 Anúncio do Atheneu Pelotense
.
................................................... 167
Figura 59 Anúncio da Escola Moderna........................................................ 168
Figura 60 Anúncio do Atheneu Pelotense.................................................... 169
Figura 61 Anúncio do Collegio de Mme. Jeanneret ..................................... 169
Figura 62 Anúncio do Lyceu Municipal ........................................................ 170
Figura 63 Anúncio da professora Eugenie Lamaignere............................... 172
Figura 64 Anúncio do Collegio Francez....................................................... 173
Figura 65 Anúncio do Internato e Externato Francez .................................. 174
Figura 66 Anúncio da Aula de Francez de Mme. Audissou ......................... 176
Figura 67 Capa do Jornal A Ventarola......................................................... 178
Figura 68 Retrato da professora Mme. Berta Jeanneret.............................. 179
Figura 69 Retrato do professor Bernardo Taveira Junior............................. 180
Figura 70 Carta escrita por Bernardo Taveira Junior................................... 184
Figura 71 Anúncio do Collegio Reis............................................................. 185
Figura 72 Programas de ensino de Bernardo Taveira Junior ...................... 186
Figura 73 Retrato do professor Fernando Antonio Pimentel........................ 188
Figura 74 Anúncio do Curso Particular ........................................................ 189
Figura 75 Anúncio do Guia aos examinandos de Línguas escrito por
Fernando Pimentel ...................................................................... 191
Figura 76 Retrato do Bibiano Francisco de Almeida.................................... 192
Figura 77 Anúncio do Collegio Dupont ........................................................ 193
Figura 78 Fotografia do professor Charles Dupont
.................................... 193
Figura 79 Anúncio do Collegio Dupont ........................................................ 194
Figura 80 Anúncio do Collegio Dupont ........................................................ 194
Figura 81 Fotografia do professor José Rodrigues de Araujo...................... 195
Figura 82 Fotografia do professor Carlos André Laquintinie........................ 196
Figura 83 Anúncio do Atheneu Pelotense.................................................... 197
Figura 84 Anúncio da Escola Moderna........................................................ 198
Figura 85 Anúncio do Lyceu de Agronomia................................................. 200
Figura 86 Anúncio do Collegio de Instrucção Elementar ............................. 201
Figura 87 Anúncio do Collegio Santa Cecilia............................................... 203
Figura 88 Página do Jornal Correio Mercantil.............................................. 208
Figura 89 Página Onze de Junho ................................................................ 209
Figura 90 Anúncio do Collegio S. José........................................................ 210
Figura 91 Anúncio do Collegio Sul-Americano ............................................ 211
Figura 92 Anúncio da Escola Moderna........................................................ 211
Figura 93 Anúncio do Collegio São Francisco de Paula.............................. 211
Figura 94 Anúncio do Lyceu Municipal ........................................................ 212
Figura 95 Anúncio do Collegio Curso Racional ........................................... 216
Figura 96 Anúncio do Collegio Reis............................................................. 216
Figura 97 Anúncio do Collegio Dupont ........................................................ 216
Figura 98 Anúncio do Collegio Reis............................................................. 217
Figura 99 Anúncio do Collegio de Mme. Jeanneret ..................................... 218
Figura 100 Anúncio do Collegio de Meninas ................................................. 219
Figura 101 Anúncio do Collegio de Mme. Jeanneret ..................................... 219
Figura 102 Anúncio do Collegio Honra e Trabalho........................................ 221
Figura 103 Anúncio do Collegio de Mme. Jeanneret ..................................... 222
Figura 104 Anúncio da Escola Moderna........................................................ 223
Figura 105 Anúncio do Lyceu Municipal ........................................................ 224
Figura 106 Anúncio da Escóla Allemã ........................................................... 225
Figura 107 Anúncio do Collegio Redempção................................................. 227
Lista de Tabelas
Tabela 1 Instituições privadas que ofereceram o ensino secundário em Pelotas,
segundo as Propagandas Institucionais (1875-1910)......................... 77
Tabela 2 Instituições de Ensino de Pelotas, localizadas por meio das
Propagandas Institucionais (1875-1910). ........................................... 93
Tabela 3 Professores que lecionaram e/ou dirigiram Instituições de Ensino em
Pelotas, segundo as Propagandas Institucionais (1875-1910)......... 158
Lista de Quadros
Quadro 1 Disciplinas oferecidas no ensino privado em Pelotas, segundo as
Propagandas Institucionais............................................................ 65
Quadro 2 Endereços das Instituições de Ensino mapeados por meio das
Propagandas Institucionais (1875-1910) ..................................... 108
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................. 7
ABSTRACT ............................................................................................................. 8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES ...................................................................................... 9
LISTA DE TABELAS ............................................................................................. 13
LISTA DE QUADROS ........................................................................................... 14
INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 17
DO “RECLAME” À EDUCAÇÃO: OS CAMINHOS DA PESQUISA....................... 23
1 A DIVERSIFICAÇÃO DE FONTES: A IMPRENSA E A PROPAGANDA . 29
1.1 A Imprensa e a Propaganda .................................................................... 33
1.1.1 Os Jornais Pelotenses ............................................................................. 34
1.1.2 O que é mesmo Propaganda? ................................................................. 40
1.1.3 A
Imagem Institucional e as Instituições de Ensino.................................. 48
2 ASPECTOS SOBRE A EDUCAÇÃO EM PELOTAS (1875-1910) ........... 53
2.1 A Cidade de Pelotas ................................................................................ 53
2.2 As Instituições de Ensino em Pelotas: aspectos do ensino privado e do
ensino público/gratuito ............................................................................. 60
2.2.1 “Condições de admissão”: o ensino privado ............................................ 60
2.2.2 As Instituições de Ensino em Pelotas ...................................................... 91
2.2.3 “Atenção alumnos pobres”: iniciativas de ensino gratuito/público.......... 145
2.2.4 Mercado docente em Pelotas: os(as) professores(as) “vantajosamente
conhecidos(as)” ..................................................................................... 156
3 “BOMBÁSTICOS E PONPOSOS”: A LINGUAGEM
PUBLICITÁRIA
NOS ANÚNCIOS INSTITUICIONAIS..................................................... 204
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... 228
REFERÊNCIAS................................................................................................... 237
ANEXOS ............................................................................................................. 252
INTRODUÇÃO
A investigação que aqui se apresenta caracteriza-se como uma
pesquisa qualitativa, que tem uma abordagem cio-histórica envolvendo, como
procedimento técnico, a pesquisa documental cujas principais fontes
consultadas são anúncios publicitários de instituições de ensino pelotenses. Seu
propósito é analisar as características do processo educacional pelotense, além
de realizar um rastreamento, a fim de dar visibilidade às instituições de ensino
existentes em Pelotas e aos seus docentes. O recorte temporal estabelecido para
a investigação compreende o período entre os anos de 1875 a 1910. Essa
determinação foi estabelecida levando em consideração dois fatores:
O primeiro, e provavelmente mais importante, foi que a
propaganda tornou-se, nesse período, uma das únicas fontes
existentes que continha informações sobre as instituições de
ensino existentes em Pelotas algumas com uma duração
efêmera, constituídas por um único professor.
O segundo fator foi relacionado à possibilidade de acesso ao
acervo de jornais existentes na Bibliotheca Pública Pelotense.
Foram disponibilizados, para consulta, jornais com publicações a
partir do ano de 1875, por isso essa data de início. o ano de
1910 foi ligado ao fato de que, a partir da década seguinte,
surgiram escolas públicas municipais e estaduais e escolas
particulares que, ao que tudo indica, configuraram um diferente
perfil educacional para a cidade de Pelotas.
18
É importante destacar que a Bibliotheca Pública possui jornais mais
antigos do que os do ano de 1875, mas esses se encontram ou em um número
reduzido, ou não são disponibilizados para consulta. Foram analisados seis
exemplares de jornais com a periodização anterior ao ano de 1875 com títulos e
anos distintos. Neles foi possível encontrar apenas um anúncio que não trazia
nenhum elemento novo e relevante para a investigação. Optou-se, então, por
estabelecer-se, definitivamente, o ano de 1875 como o início do período, levando-
se em consideração o ano em que foi possível encontrar jornais com uma
publicação diária.
Dentre os jornais pesquisados estão os seguintes: Jornal do Comércio,
Correio Mercantil, A Discussão, A Nação, A Tribuna Federal, Nacional, Onze de
Junho, Opinião Pública, Rio-Grandense, O Nacional, Diário de Pelotas, Diário
Comercial, Diário Popular e a Gazeta da Manhã. Além desses, foram investigados
também os Relatórios da Intendência de Pelotas dos anos de 1904, 1906, 1909,
1910 e 1912; os Relatórios da Secretaria de Estado dos Negócios do Interior e
Exterior do Rio Grande do Sul dos anos de 1889, 1893, 1894, 1900, 1901, 1902,
1903 e 1909; os Relatórios de entrega da administração da Província do Rio
Grande do Sul de 1849, 1868, 1881, 1882 e 1887; as Estatísticas Demográficas
de Pelotas (1814-1930) organizadas por Alberto Coelho da Costa; e ainda um
conjunto de documentos relativos ao professor Bernardo Taveira Junior. Os
Annuarios do Estado do Rio Grande do Sul de 1908, 1909, 1910 e o Almanak
Litterario e Estatístico do Rio Grande do Sul dos anos de 1892, 1894, 1895, 1896,
1897 também foram acessados, assim como o Almanak Lammert, do Rio de
Janeiro, dos anos de 1875, 1876, 1877, 1880, 1888, 1889. Fotografou-se também
uma planta da Cidade de Pelotas do ano de 1916, editado pela Livraria Universal
Echenique Companhia.
Além do acervo da Bibliotheca Pública Pelotense são utilizados dados
do Acervo do Museu do Colégio Pelotense e uma fotografia encontrada no
19
Colégio Carlos André Laquintinie. Parte do acervo da Biblioteca Pública da cidade
de Rio Grande-RS também foi pesquisado
1
.
Buscou-se, também, contato com descendentes de dois professores
que atuaram no período estudado
2
.
Para a construção teórico-metodológica da pesquisa, no que tange à
história regional e local, foram consultados autores como Anjos (1996), Amaral
(1998), Arriada (1994), Barreto (2003), Loner (1998), Magalhães (1993), Osório
(1962), Pesavento (1982), Reverbel (1981), Rüdiguer (1993), Tambara (2000) e
Vanti (2003), que fornecem subsídios sobre o contexto histórico-cultural do
período investigado.
Os estudos que abordam aspectos da educação brasileira, gaúcha e
pelotense, foram investigados nas obras dos seguintes autores: Anjos (1997),
Amaral (2003,2005), Bastos (1998), Buffa (2005), Cardoso (2005), Corsetti
(2000), Faria Filho (2000), Hunt e Tambara (1995), Nagle (2001), Peres (1995),
Ribeiro (1978), Tambara (2000), Vanti (2003), Vechia (2005), Vidal (2003), Xavier
(1994), Werle (1993).
As reflexões acerca das tendências teórico-metodológicas em História
da Educação estão baseadas em: Amaral (2001), Le Goff (1924), Lopes e Galvão
(2001), Magalhães (1996, 2000), Pesavento (2004), Pinsky (2005), Ragazzini
(2001), Reis (1998), Saviani (1998), Tambara (2000).
Com relação aos estudos referentes à fonte privilegiada para a
realização da pesquisa a propaganda destacam-se os estudos de Aldrighi e
Ribeiro (1995), Branco (1990), Martins (1997), Sampaio (1997) e Vestergaard
1
Realizou-se um mapeamento nos jornais e revistas do acervo da Biblioteca Pública da cidade de
Rio Grande com o intuito de encontrar edições publicadas em Pelotas que não existissem no
acervo da Biblioteca Pública de Pelotas. Foi possível localizar, em Rio Grande, Revistas Ilustradas
de Pelotas com numerações diferentes das até então encontradas. No entanto, não contribuíram
com dados expressivos para esta pesquisa.
2
Mais informações sobre esses contatos serão explicitadas no subcapítulo intitulado “Mercado
docente em Pelotas: os professores `vantajosamente conhecidos´”.
20
(2000), que auxiliaram na ampliação de um referencial mais diversificado, em
busca de uma imersão nas fontes selecionadas.
Constituiu-se, portanto, intenção e objetivo desta pesquisa investigar e
analisar as características do processo educacional pelotense no final do século
XIX e início do XX divulgado nos anúncios institucionais. Por isso, buscou-se
detectar elementos que diferenciavam, ou não, as instituições de ensino,
observando a capacidade desses em despertar, na população, o interesse pela
instituição educacional, e pela própria educação.
Sendo assim, o trabalho foi construído em três capítulos. No primeiro
são abordadas as discussões sobre a diversificação das fontes em História da
Educação, além de identificadas algumas características da propaganda
mostrando como ela se inseriu nas sociedades e de que maneira foi utilizada para
divulgar as questões do ensino. O fato de ela ter sido tomada como uma fonte
principal neste estudo gerou, então, a necessidade de esclarecer, neste capítulo,
de que forma ela vem sendo utilizada pelas sociedades desde a sua criação. Na
tentativa de elucidar as questões propostas por este trabalho, destaca-se,
também, o conceito de imagem institucional
3
pois chegou-se à conclusão de
que as instituições de ensino de Pelotas trabalhavam com esse a todo o
momento. Dessa forma, ao observá-lo no contexto de produção do anúncio, foi
possível investigar a imagem que as instituições criavam e vivenciavam. Ainda
neste capítulo é apresentado o conceito de Instituição de Ensino uma categoria
de análise que ganha forma e espaço no capítulo posterior.
No capítulo 2 é apresentado um breve histórico sobre a cidade de
Pelotas, além de alguns apontamentos sobre a educação nacional e local,
capazes de contextualizar o ambiente/objeto de análise. Embora o trabalho se
proponha a investigar uma periodização específica, tornou-se necessário, em
alguns momentos, abranger tanto períodos posteriores como anteriores. Também
são apresentados dados sobre o ensino privado e o ensino público em Pelotas,
destacando as características do cotidiano dessas instituições, além da sua
3
É importante salientar que, neste momento histórico, este conceito ainda não tinha sido criado.
21
participação no cenário educacional pelotense. Por fim, analisou-se o papel dos
professores e diretores que fundaram e trabalharam nas instituições encontradas
neste estudo.
Com o objetivo de utilizar um referencial teórico-metodológico que
possibilitasse realizar uma análise na estrutura dos anúncios na tentativa de,
neste contexto histórico, apresentar dados sobre os discursos usados pelas
instituições de ensino e por seus educadores no que se refere à educação –,
elaborou-se o terceiro e último capítulo. Nele foram investigadas as técnicas de
comunicação empregadas pelas instituições de ensino, buscando visualizar como
essas se comunicavam com o seu público, trabalhavam a sua imagem
institucional e como lidavam com a concorrência na disputa pela atenção de seus
possíveis consumidores.
Em suma, esta pesquisa apresenta o cenário educacional pelotense
nos final do culo XIX e princípio do XX a partir dos dados encontrados nos
anúncios institucionais, que foram uma realidade para aquele tempo escolar.
Pretende-se, com isso, corroborar com os estudos sobre a educação na cidade
de Pelotas, tendo em vista que investigações regionais auxiliam na visão de um
todo nacional, além de apresentar-se como um novo subsídio para se pensar a
educação nos dias atuais.
DO “RECLAME” À EDUCAÇÃO: OS CAMINHOS DA PESQUISA
O passado pelotense é estudado por meio de diferentes fontes
históricas. São investigações que envolvem temas ligados a grupos sociais e
étnicos e à conjuntura política, econômica, educacional e cultural. Na presente
dissertação, utilizou-se a propaganda institucional como uma fonte para investigar
aspectos da História da Educação em Pelotas.
O interesse por esta temática nasceu quando me tornei bolsista junto
à Escola de Informática da Universidade Católica de Pelotas de um projeto de
pesquisa que investigava e elaborava acervos digitais. Nesse grupo, tive a
oportunidade de conhecer um pouco sobre a história da cidade de Pelotas, além
de ter contato com acervos históricos e com preservacionistas. Pelotas tornou-se,
então, parte integrante dos meus estudos.
Junto à pesquisa desenvolvi uma “estranha paixão pelo mofo”, o que
me fez, ao concluir a graduação, optar pelo tema Propaganda, Cultura, e a
História de Pelotas, para o trabalho de conclusão de curso em Comunicação
Social da Universidade Católica de Pelotas. O contato com a memória da cidade,
fez florescer em mim o interesse pela elaboração de uma pesquisa que estudasse
ainda mais a história e a cultura pelotense, através da propaganda, ressaltando
sua contribuição como uma fonte de investigação.
Ao investigar anúncios comerciais de Pelotas, para o trabalho de
graduação, deparei-me com inúmeras propagandas de instituições escolares,
algo que, naquele momento, instigou meu interesse para futuras pesquisas,
24
acreditando que tal fonte poderia corroborar com investigações acerca da História
da Educação em Pelotas.
Esse contato com a pesquisa histórica acabou, portanto, suscitando
meu interesse pelo ingresso na linha de História da Educação, oferecida pelo
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pelotas.
Esta pesquisa, que ora se apresenta como já mencionado, foi realizada
tendo por base jornais pelotenses que circulavam entre os anos de 1875 e 1910 e
se propôs a investigar elementos contidos em anúncios publicitários, observando
seus conteúdos, suas técnicas de comunicação, além de demais traços que
pudessem levar ao passado da educação em Pelotas, buscando, assim, perceber
a sociedade pelotense e a sua relação com a educação.
Por meio de análise das propagandas das instituições de ensino
pelotenses, pretendi investigar como elas retrataram esse período e pesquisar,
em um primeiro momento, as seguintes questões:
1) Que escolas havia na cidade, e quem eram seus professores?
2) O que elas anunciavam?
3) Qual a ênfase dada aos saberes escolares, à disciplina, e às
propostas pedagógicas?
Ao longo da coleta dos dados, foram investigadas aproximadamente
14.400 unidades de jornais, totalizando a catalogação, dentre as propagandas
não repetidas, de 598
4
anúncios de escolas privadas entre femininas,
masculinas e mistas. Por meio desses foram arroladas 82 instituições de ensino,
entre privadas e públicas, e o nome de 202 professores(as) que lecionaram na
cidade de Pelotas.
4
Considerando-se os anúncios repetidos em um mesmo jornal, ou em diferentes jornais, este
número cresce para 4.510 propagandas, totalizando uma média de 3 anúncios de escolas
publicados por dia ao longo de um ano. Um número significativo, que não se repete nos dias de
hoje.
25
Como em toda pesquisa, esta também teve as suas singularidades,
descobertas, alegrias, enfrentamentos e dificuldades. Após a realização da
qualificação do projeto de dissertação, muitas escolhas tiveram de ser tomadas. A
principal delas refere-se à opção pelo objeto de investigação e ao real
entendimento de que a propaganda institucional deveria ser, pelo menos neste
momento, prioritariamente uma fonte e não um objeto de estudo.
Essa compreensão fez com que a investigação se aprofundasse cada
vez mais no conteúdo das fontes e na história que elas testemunhavam. Isso na
tentativa de se delimitar o objeto de análise.
Não foi um estudo cil, principalmente levando-se em consideração o
fato de minha formação acadêmica não ser em História, o que demandou um
aprofundamento nos estudos no campo da História da Educação. Além disso, tive
que conciliar o tempo entre a coleta dos dados que não foram poucos –, a
revisão bibliográfica, e, por fim, a análise dos dados. No entanto, acredito que
minha percepção, oriunda de um outro campo de formação acadêmica, auxiliou
no olhar dado para o tema pesquisado.
Também não foi simples, dentre os muitos aspectos rastreados por
meio das fontes, escolher e aprofundar a análise de um único tema, ou um grupo
de temas. Sabe-se que a cada leitura e análise de diferentes pesquisadores,
tópicos distintos chamarão a atenção. Isso significa que esta pesquisa não está
acabada, mas que se projeta em inúmeras possibilidades de estudos.
Então, de posse dos dados, optei por aprofundar dois dos muitos
aspectos das instituições encontradas e observadas ao longo da pesquisa, quais
sejam: as instituições de ensino de caráter privado, e os seus professores. Essas
categorias, por sua vez, se ramificaram em questões relevantes para a História da
Educação em Pelotas.
A escolha metodológica dessas duas temáticas se fez porque, além da
freqüência com que apareceram no corpus documental organizado, também se
26
apresentaram como temas de importância ímpar no que se referia a um sistema
de ensino que, aos poucos, se constituía na cidade de Pelotas. Além disso,
acredito que essa é uma das significativas contribuições da fonte privilegiada
neste estudo: a capacidade de revelar características do cotidiano das instituições
de ensino algumas delas até hoje desconhecidas da comunidade acadêmica,
bem como da população pelotense e de mapear e registrar os profissionais que
se dedicavam à educação em Pelotas, nos finais do século XIX e início do XX. O
rastreamento das instituições e de seus docentes foi tomado também como
objetivo desta investigação. Essa opção resultou em um trabalho exaustivo, que
compreendeu um levantamento quantitativo, na busca da apreensão daquelas
instituições de ensino que atuaram em Pelotas e que deixaram registrado, nas
páginas dos jornais
5
, o foco de suas atividades, bem como os seus atores e
filosofia de trabalho.
Com a coleta dos dados também foi possível trazer à tona alguns
achados sobre o ensino público/gratuito. Com base nessas informações, optei por
apresentar, nesta pesquisa, algumas iniciativas de ensino gratuito, não
necessariamente público, que foram anunciadas em Pelotas, no final do século
XIX e início do XX. Em um primeiro momento, parti do pressuposto que, optando
pela fonte privilegiada nesta pesquisa, a propaganda, e por um período histórico
em que a iniciativa privada era muito presente no setor educacional nacional, esta
pesquisa iria se deter apenas à iniciativa privada. De fato essa ocupou grande
parte deste estudo, que ela utilizou-se da propaganda mais do que a iniciativa
pública. De qualquer forma, ao encontrar vestígios do ensino público ou gratuito
em Pelotas, por meio dos anúncios, considerei importante dar luz a essas
informações pois, além de emergirem de uma fonte dita não oficial
6
, auxiliariam no
entendimento das relações do público e do privado na educação pelotense, no
período que se investigou.
5
Durante o desenvolvimento da pesquisa, a Bibliotheca Pública Pelotense tirou de circulação, por
motivos de deteriorização dos materiais, alguns jornais que já haviam sido investigados pela
pesquisadora. As informações levantadas por este estudo servirão, também, como um registro dos
dados sobre a educação em Pelotas para futuros pesquisadores, que poderão ter dificuldade de
acesso aos referidos jornais.
6
Ou seja: fontes que não eram documentos oficiais no período investigado.
27
Por fim, torna-se relevante destacar que, ao longo de toda pesquisa, a
grafia original dos textos, dos documentos e das fontes usadas foi mantida. De
igual forma, saliento que, em algumas propagandas, optei por destacar os textos
do anúncio dentro de uma caixa de texto. Essa escolha metodológica foi tomada
para deixar mais claro o texto, principalmente quando o anúncio possuía um
tamanho maior do que a formatação desta dissertação, ou quando esse se
apresentava com uma qualidade cnica prejudicada para se realizar uma boa
leitura. Além disso, tornou-se necessário deixar alguns espaços em branco na
formatação do trabalho, em virtude de deixar o anúncio em outra página, com um
tamanho que lhe desse legibilidade.
1. A DIVERSIFICAÇÃO DE FONTES: A IMPRENSA E A PROPAGANDA
Antes de realizar uma investigação histórica, que se ter em vista as
críticas ou as contestações de certas posturas historiográficas presentes na
ruptura dos paradigmas das últimas décadas do século XX. Segundo Pesavento
(2003, p.9) essa ruptura:
não representa uma ruptura completa com as matrizes originais. Ou seja,
foi ainda dentro da vertente neomarxista inglesa e da história francesa
dos Annales que veio o impulso de renovação, resultando na abertura
desta nova corrente historiográfica a que chamamos de História Cultural
ou mesmo de Nova História Cultural.
Para a autora, essa mudança se deu nos anos de 1970, ou mesmo
antes em 1960, quando se iniciou a hoje tão comentada crise dos paradigmas
explicativos da realidade, que acabou por ocasionar secções epistemológicas
profundas pondo em xeque os marcos conceituais dominantes na História
(PESAVENTO, 2003, p. 8).
No panorama da história mundial, ainda havia então uma vertente
interpretativa da história, que vinha desde o século XIX. Essa chamava a atenção
para as descontinuidades dos tempos históricos e para a necessidade de se
buscar os sentidos de cada momento do passado. Assim, o positivismo com
seus pressupostos normativos científicos que estabelece critérios de verdade
absoluta contida na fonte documental, acabou por encontrar um vasto campo de
ação, tanto pela seriedade que as pesquisas das fontes proporcionavam, como
pela defesa do caráter da história como ciência.
30
O que se observou sobre as transformações no século XX, no campo
dos estudos históricos, sobretudo na França, foi uma crise dos paradigmas, uma
descrença nas formas de interpretar o real, crise essa que se instaurou no seio
das ciências humanas. Para Luca (2005, p.112):
a face mais evidente do processo de alargamento do campo de
preocupação dos historiadores foi a renovação temática, imediatamente
perceptível pelo título das pesquisas, que incluíam o inconsciente, o
mito, as mentalidades, as práticas culinárias, o corpo, as festas, os
filmes, os jovens e as crianças, as mulheres, aspectos do cotidiano,
enfim uma miríade de questões antes ausentes no território da História.
Com o alargamento dos temas abordados pelos pesquisadores, aos
poucos foram também ampliados os usos das fontes e, assim, os historiadores da
educação observaram que a História se faz a partir de qualquer vestígio deixado
pelas sociedades passadas. Souza e Gatti Júnior (2004) apontam que:
toda essa compreensão do desenvolvimento na pesquisa em História,
levou conseqüentemente, ao avanço das investigações em História da
Educação. Devido ao avanço da investigação da história educacional
brasileira o conhecimento sobre as mais diferentes épocas e temáticas
ampliou-se consideravelmente. Isso trouxe a possibilidade de recriação
de um dos objetos da história da educação brasileira, a instituição
escolar, trazendo à tona aspectos antes ignorados ou secundarizados.
Passa-se a analisar a escola não como um prédio cheio de carteiras,
com alguns alunos, alguns professores, com materiais didáticos, a
diretora, a faxineira e a merendeira. Começa-se a questionar o porquê
deste prédio, o porquê destes alunos, o porquê destes professores. Qual
era a situação política e econômica na época em que esta escola foi
instalada.
As fontes são, então, a matéria básica para um pesquisador. A palavra
fonte origina-se de duas outras source e fonte que contêm uma dimensão de
origem e também de surgimento, que se relacionam a uma idéia de
espontaneidade. Para Lopes e Galvão (2001, p.78), o significado da palavra
revela um engano, que as fontes não possuem um caráter espontâneo, pois o
material usado pelo historiador é, ao mesmo tempo, disponível e indisponível:
as fontes estão aí, disponíveis, abundantes ou parcas, eloqüentes ou
silenciosas, muitas ou poucas, mas vemos, pelos trabalhos que são
realizados, que elas existem. Mas estão também indisponíveis porque
inicialmente é preciso que aquele que se propõe ao trabalho atrás
delas e só faça isso se tiver um problema ou, no mínimo, um tema.
31
As autoras alertam que o pesquisador precisa ser capaz de
problematizar a fonte, de lhe fazer perguntas, e de ser capaz de discutir sobre o
seu conteúdo, que as fontes não falam por si. São vestígios, testemunhos que
respondem como podem e por um número limitado de fatos às perguntas que
lhes são feitas. Segundo Ragazim (2001, p.14): “a fonte provém do passado, é o
passado, mas não está mais no passado quando é interrogada”.
As fontes permitem, então, encontrar e reconhecer. O pesquisador a
encontra materialmente e busca reconhecer culturalmente a intencionalidade
inerente ao seu processo de produção. “Para encontrar é necessário procurar e
estar disponível ao encontro: não basta olhar, é necessário ver” (RAGAZIM, 2001,
p.14). Isso porque, segundo Vovelle (1995, p.78):
o Historiador constrói os seus fatos e não os recebe automática e
passivamente dos documentos. A realidade do passado não é fixa e
definitiva. Ela seria como uma “imagem de holograma”: dependendo do
ângulo e da incidência a luz, a imagem do passado muda. Ângulo e
“incidência da luz” significam que é o sujeito com seus problemas e
orientação teórica que “faz aparecer” uma nova imagem do passado.
É coerente perceber que a escolha das fontes, a sua seleção, não é
realizada somente pelo pesquisador, uma vez que foi feita uma seleção por
parte daqueles que produziram o material, por aqueles que organizam os acervos,
ou até mesmo pelo próprio tempo. Conforme Le Goff (1996, p.110
):
quer se trate de documentos consistentes ou inconscientes (traços
deixados pelos homens sem a mínima intenção de legar um testemunho
à prosperidade), as condições de produção do documento devem ser
minuciosamente estudadas. As estruturas do poder de uma sociedade
compreendem o poder das categorias sociais de grupos dominantes ao
deixarem, voluntariamente ou não, testemunhos suscetíveis de orientar a
história num ou noutro sentido; o poder sobre a memória futura, o poder
de perpetuação deve ser reconhecido e desmontado pelo historiador.
Nenhum documento é inocente.
Nesse sentido, retoma-se as palavras de Chartier (1990) quando este
enfatiza que os historiadores da cultura devem criar suas estratégias para ler os
textos que estão investigando, que eles afetam o leitor de formas variadas e
individuais. Os documentos que descrevem ações simbólicas do passado não são
textos inocentes e transparentes; já que foram escritos por autores com diferentes
intenções e estratégias.
32
O uso de novas fontes não trouxe implicações somente para a seleção
dos objetos a serem pesquisados, mas também mudou o tratamento dado a elas.
Cada vez mais se procura desmistificar o documento tentando superar o
deslumbre frente a ele. Conforme foi apontado, tão importante, quanto o
documento, são as perguntas que o pesquisador formula sobre o mesmo. O ponto
de partida, desse modo, torna-se um questionamento e não o documento por si
só. É por isso, segundo Lopes e Galvão (2001), que se diz que uma fonte nunca
está esgotada, que enquanto existirem perguntas, o material não estará
suficientemente explorado. As autoras salientam que o trabalho com fontes exige
paciência, e que o cruzamento e confronto entre elas poderá ajudar no controle
da subjetividade inerente a toda pesquisa. A categorização, segundo elas
(2001), evita a mera descrição do documento cabendo ao pesquisador explorar
as categorias e o cruzamento dos documentos fazendo, com isso, o maior
número possível de associações e relações, interpretando e explicando aquele
passado que busca aprender.
Assim, os historiadores passaram a demonstrar um interesse especial
com relação à imprensa, à edição, aos museus, à escola e às exposições
universais, conduzindo a análise num percurso que vai do significante ao
significado, do veículo de comunicação com a sua mensagem, e desta para os
grupos sociais que a produzem ou que se apropriam dela (NUNES e CARVALHO,
1993, p.44).
Percebeu-se, assim, que o olhar da História ampliou-se, voltou-se para
outras questões e problemas, não buscando mais uma verdade definitiva. Essa
expansão no campo do trabalho do historiador, tanto no que diz respeito a atores,
quanto aos temas e objetos é, nesta pesquisa, contemplada ao propor uma
investigação sobre aspectos da História da Educação Pelotense utilizando, como
fonte privilegiada para esse estudo o uso de anúncios publicitários. Entende-se
que estes foram um testemunho das características e visões pedagógicas de um
período, que ilustravam uma concepção moral e social de um grupo de
profissionais. Além disso, podem ser utilizados como um caminho para se estudar
33
a vida escolar e o pensamento pedagógico através dos discursos veiculados
dentro e fora do universo escolar.
1.1 A Imprensa e a Propaganda
O primórdio da imprensa brasileira é datado em 1703 quando uma
tipografia, em Recife, imprimia orações e letras de câmbio, tipografia essa que foi
confiscada pelo governo português no ano de 1706. Em 1746 foi aberta, na
cidade do Rio de Janeiro, uma outra tipografia que, logo no ano seguinte, foi
fechada. Somente em 1808, com a instalação da Corte Portuguesa no Brasil, que
a imprensa, então, começou a se desenvolver, época em que o Regente D. João
instituiu – através do Decreto de 13 de maio de 1808 – a Impressão Régia
7
.
Em um segundo momento, o advento da tipografia permitiu a
impressão de volantes que possuíam conteúdo mais atual e menos denso do que
o livro. Os tipógrafos, ao perceberem que os volantes – folhas contendo notícias
eram vendidos, começaram a diversificar os assuntos, aumentando o número de
notícias em cada publicação, a freqüência de publicação e a quantidade dos
exemplares. Segundo Costella (1993, p.82):
quando se chega a esse ponto, conclui-se que a tipografia já tinha
absorvido, quase imperceptivelmente, toda experiência jornalística das
gazetas manuscritas. Em outras palavras, o tipógrafo, sem saber,
começara a produzir o jornal. Não tinha ele consciência de ter criado
essa coisa nova e fascinante, que hoje chamamos jornal impresso
.
Em 1808, existiam no Brasil dois tipos de periódicos: a Gazeta e o
Correio. A primeira possuía periodicidade curta, intenção informativa mais do que
doutrinária, poucas folhas e baixo custo. o Correio tinha em sua estrutura mais
de cem páginas, uma publicação mensal com o custo alto e conteúdo mais
doutrinário do que informativo (SODRÉ, 1996).
7
Esta era um tipo de impressão em que se imprimiam, em um primeiro momento, exclusivamente
a legislação e papéis diplomáticos oriundos de qualquer repartição do serviço Real, sendo que
pertencia ao governo a administração da tipografia.
34
No fim do século XVI e início do século XVII, as gazetas manuscritas
não desapareceram, mas conviveram, sim, com os jornais até o século XVIII. As
gazetas tinham sobre os jornais a vantagem da liberdade, visto que a tipografia
viveu o regime da censura. As gazetas sofriam com o controle, mas, por serem
feitas à mão, esse era mais facilmente contornado, que um vidro de tinta e um
papel eram mais facilmente escondidos do que uma tipografia (SODRÉ, 1996).
No ano de 1809, surgiu a arte da gravura nos jornais brasileiros.
desenhistas, gravadores e tipógrafos começaram a ilustrar as publicações.
A informação verbal passa então a ter esses novos e importantes aliados
visuais, além de famílias tipográficas que eram utilizadas como
diferencial persuasivo, abrindo caminho para a maior exploração de
imagens (CARRASCOZA, 1999, p. 74).
O desenvolvimento das técnicas de impressão
8
, juntamente com a
evolução social, tornaram possível, em 1821, a publicação de trinta e nove
periódicos no Brasil. O que se percebeu é que tal acabou por influenciar o
surgimento da imprensa industrial. Ressalta-se que o baixo custo das edições
devido à produção em série – foi um fator de estímulo à leitura dos jornais.
1.1.1 Os Jornais Pelotenses
Cinco anos depois da Independência do Brasil, em 1827, era criado o
primeiro Jornal do Rio Grande de Sul: o Diário de Pôrto Alegre (SODRÉ, 1996).
8
Segundo Crato (1992, p.32) o desenvolvimento da imprensa também está ligado:
À evolução da técnica tipográfica: a difusão em massa de material impresso pressupõe o invento
de Gutemberg, mas tem de passar por novas etapas até atingirem as actuais possibilidades. Do
prelo de madeira passou-se ao prelo metálico, do prelo manual ao mecânico, das primeiras
máquinas de impressão a vapor às modernas rotativas. Também na composição do texto se
evoluiu: da composição manual para a linotipia e depois para a fotocomposição.
O preço do material impresso: o embaratecimento dos jornais é resultado da evolução da técnica
tipográfica e também da fabricação de papel a partir da madeira (1840) e da introdução
sistemática de publicidade.
À melhoria dos transportes e das comunicações postais: que possibilitou o a mais rápida
recolha de informações, como sobretudo a difusão dos jornais, em tempo útil, a todos os pontos
importantes.
À constituição de um público: com o comércio e a fixação de massas urbanas formaram-se
estratos interessados nas notícias do que se passa pelo país e pelo mundo. Depois, com a difusão
da escolaridade, diminui grandemente o número de analfabetos e forma-se uma classe média
alfabetizada, interessada em conhecer e participar na vida pública”.
35
em Pelotas, segundo Magalhães (1993), no ano de 1851, mudou-se da cidade
de Rio Grande para Pelotas o habilidoso tipógrafo Cândido Augusto de Mello que
fundou, em 7 de novembro de 1851, o primeiro jornal denominado O Pelotense.
Até a década de 1920, conforme Osório (1998), além desse título, Pelotas chegou
a abrigar mais de sessenta jornais.
Para Carlos Reverbel (1981, p.41), apesar do aparecimento tardio da
imprensa pelotense em relação à cidade de Porto Alegre logo que se instalou
na cidade de Pelotas, equiparou-se à da capital. Em Pelotas, existiam periódicos
como o Onze de Junho, o Diário de Pelotas, o Correio Mercantil e A Pátria, jornais
que, segundo o autor, possuíam uma qualidade que pouco, ou nada, devia ao
padrão porto-alegrense. Sobre o jornal O Pelotense, Reverbel (1981, p.40)
apresenta a seguinte informação:
o jornal de Cândido Augusto de Melo, lançado 24 anos após o
estabelecimento do jornalismo na Província de São Pedro é lembrado
pela circunstância de ter sido o primeiro periódico de Pelotas. Bem mais
significativo foi o Noticiador, segundo jornal pelotense, que circulou de
1854 a 1868, mantendo-se, assim, cerca de 14 anos, duração pouco
comum, notadamente nos primórdios da imprensa gaúcha, cujos órgãos
eram em geral de vida efêmera. Além de chegar aos 14 anos, o
Noticiador teve o mérito de imprimir, na sua tipografia, diversas obras
didáticas.
em junho de 1854, Cândido Augusto Mello decidiu publicar jornais
que seriam distribuídos de forma gratuita para a população. Acabou por criar
assim quatro jornais com esta política de distribuição, sendo destacados os
jornais O Pelotense e O Grátis.
No ano de 1857, o quarto jornal a surgir em Pelotas foi o Ramalhete
Rio-Grandense; logo depois, no mesmo ano, foram criados O Cometa, Araribá, O
Brado do Sul (1858-1861), O Grátis de Pelotas (1859). Em 1860 apareceram
títulos como: Diário de Pelotas (1861); Álbum Pelotense (1861-1862), Mercantil
(1862), O Mosaico (1862-1863), O Comércio (1862-1865), A Estrela (1863), Onze
de Junho (1868-1889). Em 27 de agosto de 1890 foi fundado o Diário Popular
jornal em crescente circulação até os dias de hoje. Conforme Loner (1998, p.13),
“o Diário Popular seo primeiro a abandonar o pequeno número de 4 páginas,
insuficientes para acomodar todas as notícias e especialmente avisos, editais e
36
outros tipos de publicações”. No século XIX, Osório (1997) lembra que era
freqüente, em Pelotas, a fundação de jornais por donos de tipografia.
A partir de 1870, surgiu, em Pelotas, o prelo de ferro e, logo em
seguida, a máquina a vapor que vai agilizar a editoração e produção jornalística,
viabilizando a sustentação de periódicos diários como o Diário de Pelotas (1868-
1889), de Ernesto Augusto Gerngross, e o Correio Mercantil (1875-1915), de
Antônio Joaquim Dias. No período de seu apogeu econômico e cultural (1860-
1890), apontado por Magalhães (1993), Pelotas chegou a ter uma dezena de
jornais com circulação simultânea. Pelos estudos de Loner (1998) encontra-se
que dos jornais existentes na cidade, no período investigado, os que tinham uma
periodicidade diária eram os seguintes: Correio Mercantil (1875), A Pátria (1886),
Diário Popular (1890), Tribuna Federal (1893), A Opinião Pública (1896) e A
Reforma (1906-1911). Segundo a autora, esses jornais, no princípio da República
Velha, costumavam ter 2 folhas, impressas dos dois lados, com um tamanho
variável entre 45cm x 62cm e 41cm x 60cm. Era comum que as duas primeiras
páginas ficassem dedicadas às notícias; na terceira, estas dividiam espaços com
os anúncios e os editais; e a última era constituída integralmente por
propagandas. Dentre os jornais investigados nesta pesquisa, o Correio Mercantil
destacou-se por ser um dos mais antigos e por envolver-se em campanhas de
melhoria da cidade de Pelotas. Conforme Loner (1998, p.4), seu fundador esteve
presente em campanhas beneméritas como a fundação da Bibliotheca Pública
Pelotense e do Asilo de Mendigos e, em suas mãos, “o jornal foi abolicionista e
depois republicano, mas sempre com posições moderadas e conservadoras, sem
partidarismo explícito”.
Rüdiger (1993, p.47) informa que o Correio Mercantil foi também o
introdutor do uso de maquinários de gás na imprensa da província, tornando-se
um dos primeiros jornais a estabelecer serviço telegráfico regular para
transmissão de notícias. Ainda em 1881, apesar do alto custo, seu fundador,
Antônio Dias, conseguiu montar uma estrutura empresarial em seu jornal. Dessa
maneira a imprensa pelotense foi deixando de ser artesanal, com publicações
esporádicas e eventuais, para se tornar industrial, com a circulação de
37
exemplares diários. Já no princípio do século XX, ocorreu em Pelotas a difusão de
duas grandes complementações às técnicas até então utilizadas na impressão: o
uso da fotografia nas ilustrações das publicidades e crônicas, em substituição aos
desenhos, e a utilização do sistema de impressão offset (1904) que ampliaram
enormemente o campo de aplicação litográfica. Esta passou a ser gradativamente
utilizada em maior escala na publicidade para, posteriormente, ser empregada
nas reportagens jornalísticas (VANTI, 2003, p.51).
Dos jornais investigados nesta pesquisa, é importante destacar uma
atitude adotada pelo jornal A Discussão no ano de 1884. Em meio ao movimento
abolicionista, esse jornal baniu de suas páginas os anúncios referentes aos
escravos, tanto aqueles que anunciavam suas fugas, como os que falavam da
venda e dos aluguéis (OSÓRIO, 1998). Isto faz refletir sobre o fato de que o
conselho editorial do jornal adotava um posicionamento em que definia quais
anunciantes poderiam fazer uso de suas páginas, e quais o poderiam. O que
estava em jogo, portanto, não era somente o interesse no lucro trazido pelo
anunciante.
Sobre o Jornal A tria, sabe-se que foi fundado em 1886 por Albino
Costa, um português de nascimento, que se mudou de Livramento, dirigia o
Correio do Sul, além de também ter sido redator de um outro jornal também
denominado A Pátria. Este era publicado em Montevidéu, em português, na
condição de órgão da colônia brasileira no Uruguai. É importante lembrar que este
era um tempo em que Montevidéu era uma referência cultural com muitas
ligações com Pelotas. A capital uruguaia abrigava muitos rio-grandenses, fato que
levava o jornal a ser escrito em português que existia um público leitor. O
Jornal A Pátria teve duas fases. A primeira durou de sua fundação ao ano de
1888, período em que foi dirigido por Albino Costa. Na segunda, foi vendido para
Ismael Simões Lopes, que parou de publicar o jornal dois dias antes de seu
falecimento, em junho de 1891. O acervo do A Pátria, incluindo seu parque
gráfico, foi incorporado ao Diário Popular, criado no ano anterior (REVERBEL,
1981, p.41).
38
No Brasil, entre os anos de 1861 e 1890, existiam mais ou menos três
mil e trezentos títulos de jornais. Esses números mostram a ebulição do
jornalismo que, além de noticioso, apresentava, em suas páginas temas literários,
artísticos e científicos. Foi nesse período que surgiu a imprensa especializada em
temas rurais, jurídicos, militares e de moda. o conteúdo apresentado pelos
jornais cresceu, dando espaço à propaganda, aos acontecimentos dos outros
países, às notícias locais do dia-a-dia (SODRÉ, 1966).
É importante salientar que a utilização da propaganda, como um
grande atrativo de receita, fez-se porque existia um número expressivo de tiragem
de jornais, e, com isso, um vasto número de leitores, algo que se tornava
realmente interessante aos comerciantes. Novais (1998, p.201) ilustra como a
publicidade era presente na sociedade oitocentista brasileira. Segundo ele:
a destacada presença da publicidade na corte aponta para um mercado
consumidor bastante movimentado já na década de 1850. Trinta anos
depois os anúncios, que ultrapassavam as folhas dos jornais diários,
invadiam os muros e espaços vazios da cidade. A cultura visual dos
jornais, revistas e das ruas abre uma janela para o cotidiano oitocentista
do Rio de Janeiro, permitindo avaliar os significados atribuídos às
noções de conforto e bem viver. A maior parte da publicidade era
ilustrada com desenhos ou acompanhada de uma minuciosa descrição
que permitia uma visualização clara do produto a ser consumido.
O elevado volume de produtos a serem anunciados nos fins do século
XIX tornou inviável a relação entre os comerciantes e os responsáveis pelos
periódicos; com isso, surgiram, então, os intermediários – pessoas especializadas
para o cargo bem como os escritórios ou agências. Esses assumiram, assim, o
controle dos anúncios. A penetração cada vez maior da publicidade nos jornais
fez mudar radicalmente a maneira como a imprensa vinha sendo feita. Evoluindo
cada vez mais, os anúncios passaram a fazer parte da estrutura básica de um
jornal.
Em 1912, quando foi lançada a Revista do Centenário de Pelotas
uma publicação comemorativa do centenário de fundação da cidade observa-
se a forma como a propaganda anunciada nessa publicação foi vista por João
Simões Lopes Neto, seu diretor-proprietário:
39
os anúncios publicados devem ser tomados mais como atestados,
documentos da capacidade industrial e comercial desta época da cidade,
do que propriamente como reclames. O conjunto deles, no futuro, dirá o
que éramos e o que valíamos; e, mesmo atualmente, provará a
potencialidade econômica municipal, em cotejo com outras da mesma e
até de maior idade (LOPES NETO apud REVERBEL, 1981, p.77).
Para Reverbel (1981, p.77) com essa publicação ele pretendia que as
comemorações não se limitassem a atos de caráter apenas festivo. Desejava que
tivessem “embasamento histórico, sentindo-se no dever de proporcionar aos
interessados os elementos de que dispunha, como estudioso do passado da sua
terra e da sua gente”. Tornou-se bastante significativo o modo como Lopes Neto
enxergava o conteúdo sócio-econômico da publicidade. Esse testemunho apontou
para o fato de que os anúncios eram uma realidade para aquela sociedade que
fazia uso da propaganda: um espaço em que o contexto da época ficou registrado
para a história. Além disso, é importante perceber, nesta revista, o misto de um
discurso positivista, que procurava impressionar pela eloqüência das palavras, e a
preocupação em enaltecer o passado e o que estava estabelecido. Observou-se,
tanto nos anúncios comerciais como nos das instituições de ensino, a existência
de um discurso que explorava o desenvolvimento da cidade. Expressões, como “a
melhor”, “vastíssimos”, “vantajosamente conhecido”, “reconhecida qualidade”,
foram comumente exploradas nos anúncios.
Ao realizar esta investigação não foi possível identificar, nos jornais
pelotenses, os valores cobrados pelos espaços destinados à propaganda. No
entanto, pela oferta de jornais existentes na cidade, e de sua conseqüente
concorrência, pela diversidade de anunciantes encontrados e pela quantidade de
anúncios publicados, imagina-se que os valores não deveriam ser tão elevados.
A fonte privilegiada, nesta pesquisa, a propaganda, ao que tudo indica,
foi um dos meios preferidos pelas instituições de ensino de Pelotas para se
comunicar com o seu mercado consumidor – até porque, nesse momento, o jornal
era o meio de comunicação mais popular e difundido no Brasil. Ao utilizar a
propaganda como forma de expressão e divulgação dos estabelecimentos de
ensino, seus dirigentes deixaram registrado, no conteúdo dos anúncios, dados
40
importantes sobre o passado da educação pelotense no final do culo XIX e
princípio do XX.
1.1.2 O que é mesmo Propaganda?
Os conceitos de publicidade e propaganda foram discutidos durante
muitos anos. Alguns autores afirmam que a terminologia “publicidade” tem o seu
significado ligado ao ato de divulgar, tornar público. o de “propaganda”, é
entendido como sendo a responsabilidade por implantar uma idéia, uma crença.
Com relação aos tipos e denominações da propaganda, Sampaio (1997, p.16)
divulga que, no Brasil, os termos “propaganda e publicidade”, são termos usados
indistintamente. Por acreditar, que hoje, ambos são usados como sinônimos,
assim serão adotados seus significados neste estudo.
Importa salientar que a propaganda institucional é uma especificidade
da propaganda, cujo objetivo é o de promover a imagem favorável de uma
determinada instituição, marca, empresa, órgão público ou privado. Ela exerce
noções vitais ligadas ao posicionamento e à imagem da instituição. Conforme
Gracioso (1995), seu objetivo principal é o de reforçar ou corrigir a imagem
pública de uma instituição, e o de associar essa imagem a atributos específicos
que sejam considerados valiosos pela comunidade, tais como seriedade, respeito
ao cliente, etc.
A prática da propaganda existe muito tempo. Na Roma Antiga, por
exemplo, ela fazia parte da vida do império, onde era manifestada através dos
muros que ficavam nas ruas de maior movimentação. Neles eram pintadas as
mensagens publicitárias. Mais tarde, ainda em Roma, a Igreja Católica criou uma
congregação religiosa responsável por propagar a significado que origem
à palavra propaganda
9
. Após a chegada dos portugueses no Brasil, ela foi por
9
Segundo Sandmann (2000, p.9) “[...] o termo propaganda foi extraído do nome Congregatio de
propaganda fide, congregação criada em 1622, em Roma, que tinha como tarefa cuidar da
propagação da fé. Em tradução literal teríamos `Congregação da que deve ser propagada´.
Propaganda, como feminino ablativo do gerúndio latino propagandus (masculino), propaganda
(feminino), propagandum (neutro), exerce na frase função adjetiva e expressa idéia de dever, de
necessidade: propagandus = que deve ser propagado, que precisa ser propagado”.
41
mais de três séculos expressa quase que exclusivamente de maneira oral. Mas
publicações escritas e desenhadas existiram, como os anúncios afixados em
locais públicos.
É interessante destacar os precursores da gráfica urbana que eram
feitas nas fachadas das casas de comércio como forma de sua identificação. o
início da logotipia pode estar ligado à criação das marcas de ferro de gados
(BRANCO, 1990).
No início da propaganda brasileira, os anúncios eram publicados pelas
“primitivas” agências de propaganda, compostas por vendedores de espaço dos
jornais. Nesse período, os anúncios recebiam o nome de “reclames” e
apresentavam textos longos e completos, que possuíam um caráter explicativo e
persuasivo, dispensando a ilustração. Neles eram divulgadas vendas, compras,
ou mesmo captura de escravos, como também negócios sobre o comércio
varejista, além de hotéis, produtos farmacêuticos, entre outros.
Nessa fase, a responsabilidade ficava toda com o redator, cargo que,
em muitos casos, era exercido por poetas. No entanto, vários textos encontrados
nos primeiros anúncios brasileiros possuíam rimas, não somente porque eram
feitos por poetas, mas porque ajudavam a gravar a mensagem contida nos
mesmos. O público, composto por analfabetos ou semi-alfabetizado, encontrava
nas rimas a indispensável ajuda mnemônica para melhor guardar temas e
anúncios (BRANCO, 1990, p. 3). Por volta de 1850, os poetas tornaram-se os
primeiros free-lancers de redação, e os anúncios de classificados foram mudando,
cresciam no tamanho para dar maior espaçamento necessário à composição de
versos mais longos. E, em 1875, surgiram os primeiros colaboradores e
desenhistas
10
de anúncios ilustrados – feitos, principalmente, por caricaturistas.
Durante muito tempo, independente do tipo de produto veiculado,
anúncios contendo geladeira, perfume, remédios, etc. eram sinônimos de
10
Cabe ressaltar que, aqui, se refere a uma categoria de profissionais, já que a arte da gravura em
livros e volantes, segundo (RIZZINI, 1998) é data de 1809.
42
ilustração e acabavam sempre representados através de desenhos. Com isso, os
pequenos classificados continuavam a brotar nos periódicos, mas possuíam uma
importância secundária, pois estavam perdendo destaque para os grandes
anúncios, que continham ilustrações e que, a partir de 1900, começaram a se
tornar uma constante nos diários.
No princípio da propaganda brasileira, era comum encontrar, nos
anúncios, algumas técnicas de comunicação que, em alguns casos, persistem até
os dias de hoje. Dentre elas, destaca-se a técnica narrativa eu-era-assim-fiquei-
assim, utilizada principalmente em anúncios de remédios, com pessoas que
testemunhavam ter usado o produto mostrando que ele realmente funcionava. O
apelo à autoridade também aparecia muito nessa época. Os anúncios recorriam a
essa técnica ao utilizar uma figura importante da sociedade para atestar o produto
ou serviço anunciado. Conforme Carrascoza (2003, p. 67):
a utilização de figuras públicas foi, desde outrora, um recurso extraído do
universo literário. Explorou-se tanto a citação que, atualmente, uma
saturação de testemunhais com artistas de novela, modelos, jogadores
de futebol.
Em meados dos anos vinte, alguns anúncios começaram a apresentar
linguagem coloquial em suas redações. nos anos trinta, a principal novidade
encontrada estava ligada ao tamanho dos textos, ainda superadjetivados,
apresentam, todavia, junto às informações, argumentos subjetivos de venda
(CARRASCOZA, 1999, p. 90). Salienta-se ainda que, no início da década de
1930, o jornal era o veículo predominante, e a qualidade de impressão continuava
muito deficiente. Nas ilustrações dos anúncios, predominava o desenho a traço,
única arte capaz de assegurar um mínimo de qualidade de impressão.
A
precariedade dos recursos técnicos e a falta da qualidade de impressão
atrasaram a introdução da fotografia publicitária no Brasil.
Com a melhoria das técnicas de impressão, somente na década de
quarenta, a fotografia começou a conquistar um espaço mais definitivo nos
anúncios, e até hoje continua presente na cena publicitária brasileira.
43
Ao longo dos anos, a estrutura dos anúncios vinha mudando, como
observado anteriormente. Conforme Vestergaard (2000, p.50), os simples
classificados foram ganhando mais espaço e mais texto, depois ilustrações, até
serem formados por cinco partes
11
contendo título, texto, ilustração, slogan e
assinatura.
Para Martins (1997), o título caracteriza-se por estar destacado do
resto do texto, pelo tamanho, tipo e formas de letras. Sua função é a de conter
palavras e expressões-chave altamente informativas; mostrar algum benefício do
produto que possa fazer desejá-lo; apresentar a marca de identificação da
empresa e conduzir a alguma decisão por meio de argumentação lógica. Segundo
ele, o título possui ainda dentre outras funções as de atrair e prender a
atenção, causar impacto emocional ao leitor, personalizar a mensagem e
provocar interesse pelo conteúdo do texto. O texto é a parte do anúncio onde se
desenvolve a argumentação e a explanação sobre o produto ou serviço a que se
destina. Seu conteúdo é formado por elementos que se referem às características
objetivas e reais do produto; a seus valores racionais e concretos, assim como
aos valores emotivos dirigidos às faculdades psíquicas dos receptores. Além
disso, fazem parte do conteúdo os processos argumentativos e os juízos que
acionam, como instrumentos, os campos da significação e da expressão de
idéias.
Ainda sobre o texto encontrou-se, em Martins (1997, p.129), os tipos de
argumentos que podem conter os textos publicitários:
Argumentos lógico-racionais ou referenciais destinados a
demonstrar a utilidade prática do produto, ou a explorar seus
atributos ou características para poder evidenciar sua objetividade e
persuadir o leitor;
11
A importância de se explorar as partes contidas nos anúncios foram estudadas por autores
como Roland Barthes, Martine Joly, Jorge Martins e Torben Vestergaard. Esta pesquisa não vai
aprofundar-se nas cinco partes dos anúncios, pois algumas dessas não são encontradas nas
propagandas do período que está sendo investigado. Optou-se, obviamente, por explorar apenas
as partes que existem nos anúncios pesquisados.
44
Argumentos lógico-emocionais que exploram o componente
emocional das pessoas, os sentimentos naturais e aos aspectos
inconscientes. É uma argumentação mais profunda que exige mais
conhecimentos psicológicos da parte do redator;
Textos mistos que são utilizados na maioria dos anúncios, isto é,
com argumentos racionais e argumentos emocionais como fórmula
mais aceita de poder persuadir o consumidor.
Vestergaard (2000, p.16) afirma ainda que a linguagem pode cumprir
várias funções na comunicação que é empregada para expressar nossas
emoções, para informar os leitores de fatos por eles desconhecidos, para
influenciar atos e pensamentos dos outros, para falar sobre a linguagem, para
conversar com os amigos, entre outras. Essa linguagem presente nos anúncios
sofreu alterações com o aumento da produção industrial, que trouxe como
conseqüência a necessidade de se ampliar o consumo dos produtos estocados.
Esse fator fez com que a linguagem contida nos textos publicitários tivesse que se
adaptar ao sistema vivido. O discurso usado nos anúncios – que antes era
basicamente informativo passou a ser de convencimento: a sociedade deveria
consumir mais, tanto os produtos de necessidade básica, como os supérfluos. Foi
surgindo, assim, segundo Martins (1997, p.33), a linguagem publicitária, que
buscava apresentar as características reais do produto e também as subjetivas.
Ao observar as partes que compõem um anúncio, Martins (1997,
p.149) argumenta que esse possui duas funções essenciais: a de interessar o
público através da mensagem e a de transmitir o conteúdo. As duas funções
podem ocorrer simultaneamente na mesma mensagem, ou apenas uma ter
predominância sobre a outra.
Muitos são os modelos teóricos utilizados para explicar como a
publicidade funciona. Nesta dissertação serão destacadas duas correntes
teóricas. Segundo Aldrighi (1991), uma corrente que supõe que a publicidade
provoca no indivíduo a propensão para consumir tal produto/serviço através da
“formação de atitude”. Atitude, segundo a autora, refere-se a uma predisposição
45
psicológica em relação a determinado objeto (produto, pessoa ou serviço) que
pode ser desdobrada em três dimensões:
Dimensão cognitiva: que diz respeito a conhecimentos, crenças,
convicções, informações, opiniões, ou seja, a todos os elementos
conscientes que um indivíduo adquire através do aprendizado sobre
o objeto.
Dimensão afetiva: refere-se aos sentimentos que o objeto desperta
no indivíduo.
Dimensão conativa: está relacionada à predisposição que o indivíduo
tem para agir com relação a determinado objeto. Por necessidade,
ou condicionamento, o ser humano pode estar predisposto a se
comportar de certa forma em relação a um objeto (produto/serviço),
de maneira mais ou menos independente do que sabe ou sente em
relação a ele.
Segundo essa versão, a publicidade atua de maneira a ensinar, ao
consumidor, formas de pensar, sentir e agir favoráveis a um produto/serviço.
Outra corrente teórica, conforme Aldrighi (1991), é aquela que
pressupõe que a publicidade age mais diretamente sobre o comportamento
predispondo o consumidor à compra do produto/serviço sem que ele
necessariamente perceba que está alterando sua forma habitual de pensar ou
sentir. Assim, a influência da propaganda se manifestaria no momento da compra
do produto e/ou serviço, por ter deixado previamente impressões e imagens, não
necessariamente conscientes, no consumidor. Dessa maneira, a publicidade
interfere no comportamento, sem interferir nas convicções e sentimentos do
consumidor. As atitudes se formariam, provavelmente, após o uso continuado do
produto/serviço como uma racionalização da escolha.
Aldrighi (1991) afirma que as duas correntes exageram o poder de
influência da propaganda sobre o ser humano, que a corrente atitudinal
superestima o caráter educativo e formador da publicidade ao supor que ela é
capaz de provocar mudanças radicais em valores, crenças e sentimentos. Esses
possuem raízes em todo um sistema sócio-cultural, que foram sendo formadas ao
46
longo dos anos na vida das pessoas. A corrente atitudinal, conforme a autora,
superestima a publicidade ao apontá-la como capaz de “doutrinar” o
consumidor. Já a corrente mais comportamentalista supervaloriza o poder da
publicidade como condicionadora do comportamento humano. “Supõe um
consumidor obediente, praticamente sem vontade e convicções próprias, que
simplesmente responde aos estímulos e aos comandos da mensagem
publicitária”. Para Aldrighi (1991, p. 80), o consumidor:
não é uma mente vazia que passivamente registra idéias e aprende as
lições que o anunciante quis transmitir. Ele interpreta a mensagem
recebida de acordo com os seus valores culturais, linguagem,
escolaridade, condição cio-econômica e experiência, suas condições
físicas e emocionais.
Segundo a autora, por mais exageradas que essas correntes possam
ser com relação ao poder de influência da propaganda é necessário perceber
que elas se baseiam em situações que podem realmente ocorrer. O importante,
para ela, é ter consciência de que, por mais que se estude a maneira como a
propaganda funciona analisando seus objetivos, etc. é preciso lembrar que a
mensagem publicitária é recebida e reorganizada aos olhos do consumidor, por
isso, mesmo que ela tenha sido planejada, o resultado está sujeito ao
comportamento do receptor.
Analisando alguns aspectos da propaganda, observa-se seus objetivos
promocionais, ou seja, sua função básica é a venda de produtos ou serviços.
Nesse caso, é direta, quando, por exemplo, divulga a liquidação de uma loja, ou
indireta, ao anunciar as virtudes ou simplesmente o nome de determinada
marca de produto ou serviço. Dessa maneira, a publicidade funciona como um
elemento para que as empresas conquistem mais consumidores, e para que
esses estejam informados sobre os produtos que irão consumir. As principais
tarefas da propaganda, como instrumento de promoção de vendas e negócios,
segundo Sampaio (1999, p. 28), são:
Divulgação da marca (de produto ou serviço ou empresa) para tor-la
mais íntima dos consumidores que já a conhecem, ou fazê-la conhecida
pelos queo a conheçam.
Promoção da marca ou empresa para seus consumidores, visando a
aumentar sua presença entre eles, ou ressaltando seus aspectos
47
mais competitivos em relação ao que existe no mercado e que é
oferecido pela concorrência.
Criação do mercado para a marca ou empresa através da conquista
de consumidores.
Expansão do mercado através da conquista de mais consumidores.
Correção do mercado, quando a imagem da marca ou empresa não
estiver sendo percebida de maneira adequada pelos consumidores
ou, quando esses não estiverem corretamente informados sobre as
características e vantagens do produto ou serviço do anunciante.
Educação do mercado, quando o consumo depender da formação de
uma atitude ou hábito do consumidor.
Consolidação do mercado, quando o importante for solidificar uma
posição conquistada, através da reafirmação das qualidades da
marca ou empresa.
Manutenção do mercado, através da constante reafirmação das
características e vantagens da marca ou empresa, e da ação de
resposta aos ataques e esforços da concorrência.
Percebeu-se assim, através do contato com as fontes utilizadas nesta
pesquisa, que os anúncios das instituições educativas em Pelotas, no período
analisado, tornavam-se um meio para divulgação do ensino, e das próprias
instituições. Para Kotler (1994), os estabelecimentos de ensino, a partir do
instante que são considerados como uma organização que mantém contatos com
um determinado mercado, se comprometem também com a aplicação do
marketing para atingir os seus objetivos. Esses, nada mais são do que satisfazer
de forma rápida e eficiente seu cliente e, conseqüentemente, obter sucesso – seja
ele material, ou através da consolidação de metas.
Conforme Kotler (1994, p. 358), alguns educadores consideram a idéia
de utilizar a propaganda uma novidade, todavia, segundo ele, a educação
usava propaganda 2.000 anos atrás. Os sofistas gregos, como médicos ou
profissionais nômades, por exemplo, faziam publicamente grandes
demonstrações das suas realizações, através de exibições e da utilização de
argumentos para mostrar o valor dos seus feitos.
48
1.1.3 A Imagem Institucional e as Instituições de Ensino
A imagem tem sido um meio de expressão da cultura humana valioso.
Teve início nas pinturas pré-históricas das cavernas milênios antes do
aparecimento do registro da palavra pela escrita e hoje gera uma variedade de
sinais propagados em várias partes do mundo atingindo uma linguagem quase
universal. As imagens são capazes de gerar sensações, motivações, enfim, uma
infinidade de reações que são muito estudadas pelo homem que está numa
busca constante dos efeitos que elas provocam.
Essa explosão de imagens deve-se muito à importância que as
pessoas têm dado a elas. Isso porque a imagem pode ser considerada
originariamente como símbolo e unidade, junção, integração, síntese de duas
realidades separadas e opostas, o real e o ideal. A imagem é uma unidade
originária que permite compreender as partes separadas (JOLY, 1999). Com vista
nisso, percebeu-se que as instituições de ensino de Pelotas também faziam parte
desse mundo visual e eram percebidas pela sociedade como uma unidade que
possui forma e personalidade.
A primeira impressão sobre uma pessoa, um produto, ou uma
empresa, geralmente, atende a um estímulo visual. Atualmente esse é um dos
fatores mais significativos na construção de uma identidade, pois, assim como as
pessoas, as empresas possuem também uma identidade própria. As instituições
se expressam através da imagem, da identidade do seu negócio, dos seus
princípios e propósitos, geram novas oportunidades, diferenciam-se das
concorrentes e demonstram que se dedicam à comunicação com o cliente.
Segundo Pinho (1954), uma instituição é como uma pessoa: comunica-se e tem
estilo próprio. Esse estilo se apresenta na forma de se mostrar para o público, os
elementos usados em sua comunicação vão formando, portanto, a sua Imagem
Institucional. Com isso, a instituição é percebida pelas pessoas como alguém que
possui interesses intelectuais, ideológicos e econômicos. Isso porque uma
instituição pode ser vista como um indivíduo, como uma pessoa que tem tanto
pontos fortes como fracos.
49
Cada indivíduo projeta uma imagem. Isso também ocorre com as
instituições. A imagem pode ser abstrata ou concreta, tanto visível, quanto
invisível, e todas essas características unidas vão contribuir na formação da visão
que os indivíduos têm da instituição, a partir dos estímulos causados pela mesma.
A Identidade Institucional possui um papel vital, que é o de estabelecer e realizar
a imagem pública da empresa ou instituição perante o mercado. Obviamente a
empresa quer ter máxima influência possível sobre sua imagem para que seu
público seja atingido com as mensagens que ela propõe.
Cabe ao emissor formular o discurso, juntando elementos expressivos.
Numa empresa, esses elementos vão desde o relatório anual e a fala do
Presidente ou dos Diretores ao vestuário do mais simples dos
funcionários, passando pela arquitetura dos prédios, pelo layout dos
ambientes, pela expressão dos atendentes, pela publicidade na mídia, e
por uma série de outros “textos” capazes de estimular a atenção do
consumidor. Tudo o que é expressivo de uma empresa para seus
públicos constitui o seu discurso. Portanto, as empresas não fazem
imagem. Fazem discursos (IASBECK, 1999, p. 32).
A criação de um discurso pela instituição está ligado a sua origem, a
seus princípios, a sua visão de mercado, e a do produto ou serviço que possui.
Conforme Schein (1998, p.12):
a formação da cultura organizacional se dá desde o surgimento das
organizações, quando os fundadores estabelecem quais são os objetivos
e valores a que a organização se destina, até o momento em que se
encontra a empresa.
A partir daí, a cultura organizacional vai se sedimentando, e sendo
reforçada pelo grupo por meio da aprovação e reprovação de certos
comportamentos e resultados. Com isso, cria-se, para a instituição, uma
identidade que é reconhecida no ambiente de negócios, nos mercados, e por seu
público interno.
Por fim, é importante destacar que é, na cabeça do consumidor, que o
discurso das empresas fará algum sentido e ganhará – em contato com sua
memória, sua subjetividade, sua sensibilidade a conformação final, que
resultará na decisão por aquele serviço, por aquela instituição.
50
Com relação ao suporte teórico-metodológico, para definir o conceito
de Instituição de Ensino, esta investigação utiliza os estudos de Werle (1999), de
Magalhães (1996, 2002) e de Sanfelice (2002). Werle (1999, p.26) lembra que o
conceito de instituição é ambíguo e complexo, pois pode ser utilizado para indicar
uma única escola e também para indicar o sistema escolar. Contudo, segundo a
pesquisadora, instituições o aquelas unidades escolares espacialmente
localizáveis com componentes identificáveis na memória coletiva, tais como as
aspirações coletivas fundadoras e que, embora possam ter passado por
reestruturações, por várias mantenedoras ou formas político-administrativas e,
mesmo tendo sido extintas, mantêm ou mantiveram ao longo de sua
existência um conjunto de elementos identificáveis referentes à base material e
à base de gestão.
A instituição é constituída por relações de poder vinculadas à figura de
uma pessoa principal, que contribuiu para criá-la, e de seus “herdeiros” que, em
diferentes momentos temporais, interpretaram o ideário, as aspirações, e as
necessidades institucionais. As instituições de ensino caracterizam-se também
pelo caráter formativo, ou seja, “pelo movimento de transmissão de um saber, o
qual deve se integrar num sistema de conduta e, ao mesmo tempo, num conjunto
de limites e interdições” (WERLE, 1999).
Para Magalhães (2000, p.23), as instituições de ensino são a condição,
o meio e fim da educação, são espaços em que o ensino é oferecido. Elas
desenvolvem-se como totalidades em organização, estabelecendo linhas de ação
em conformidade com os objetivos e com os públicos a que se destinam. A sua
complexificação surge quando essa se complementa, orientada por fatores de
natureza sócio-profissional, fatores de natureza científica e cnica, mas também
por um aprofundamento da ação educativa, através do princípio da educação ao
longo da vida. O processo de escolarização, para o autor, integra as seguintes
modalidades: educação de infância, educação sica (primária), educação
secundária, educação terciária, educação permanente ou educação ao longo da
vida. Enquanto estruturas complexas, as instituições de ensino apresentam uma
51
diversidade de dimensões materiais e de fatores de organização tecnológica,
humana, além de uma multiplicidade de papéis e funções.
Sanfelice (2002) destaca que as instituições de ensino foram, em
tempos passados, ou o, hoje, totalidades em construção, em organização. São
portadoras de identidade dentro de um contexto social mais amplo, com projetos
pedagógicos reveladores e projetos educativos destinados a determinados
públicos. Os projetos educativos, por sua vez, são entendidos como processos
que envolvem dimensões pedagógicas, sociológicas, administrativas, culturais,
profissionais, relações de poder e de comunicação, relações de transmissão e
apropriação do saber. Para o autor, é preciso revelar ainda o papel dos seus
diferentes atores, para que se possa interpretar o itinerário histórico da cada
instituição à luz do seu próprio modelo educacional.
Magalhães (1996, p.2) aponta que compreender e explicar a existência
histórica de uma instituição educativa é, sem deixar de integrá-la na realidade
mais ampla que é o sistema educativo, “contextualizá-la, implicando-a no quadro
de evolução de uma comunidade e de uma região, é por fim sistematizar e
(re)escrever-lhe o itinerário de vida na sua multidimensionalidade, conferindo um
sentido histórico”.
Portanto, a história das instituições educativas não é um simples relato
de acontecimentos, mas uma narrativa com interpretações, releituras que se
apresentam na dimensão de representação de uma versão da história
institucional.
Ao longo desta pesquisa, serão destacadas inúmeras tentativas e
ferramentas utilizadas pelas instituições de ensino de Pelotas, no intuito de
promover a sua imagem institucional. Consciente ou inconscientemente, a todo o
momento, elas usaram, por meio das propagandas publicadas nos jornais,
elementos para lhes dar legitimidade, buscando o reconhecimento por parte da
comunidade.
2. ASPECTOS SOBRE A EDUCAÇÃO EM PELOTAS (1875-1910)
2.1 A cidade de Pelotas
Nas três primeiras décadas do século XIX, Pelotas transformou-se de
incipiente povoação em próspera cidade, assumindo uma posição de centro
econômico da região. Nesse período sua economia estava centrada nas
estâncias e nas charqueadas.
No século XVIII, com a chegada do imigrante português José Pinto
Martins que se estabeleceu às margens do arroio Pelotas –, criou-se a primeira
indústria saladeril. Martins veio do Ceará, onde possuía comércio de carne. O
motivo de sua transferência estava ligado às sucessivas secas ocorridas no
nordeste. Em 1780 fundou uma charqueada, aproveitando a grande abundância
de matéria-prima existente na região: o gado. O cenário para o desenvolvimento
da charqueada acabou possibilitando que Martins fosse, em pouco tempo,
seguido por outros, dando início ao desenvolvimento de novas charqueadas.
Estas, conforme Arriada (1994, p. 62), ficavam situadas no entorno dos arroios
Pelotas e São Gonçalo devido a dois fatores:
primeiro ao fato desses dois cursos d´água permitirem o acesso e a
navegação de barcos de pequeno calado, ao contrário de outros cursos
onde não havia condições de navegabilidade. Em segundo lugar, o
escoamento era feito rapidamente para o porto de Rio Grande. Podemos
salientar ainda que vários charqueadores eram comerciantes radicados
em Rio Grande, podendo assim se deslocarem facilmente de Rio Grande
à zona das charqueadas.
54
A safra do boi gordo ocorria de 15 de dezembro a 15 de julho, mas
mudanças no calendário das matanças das charqueadas poderiam ocorrer,
dependendo do tempo e, às vezes, em função do próprio mercado: “chegaram a
ser abatidas cerca de 500 mil reses numa safra, mas os abates, normalmente, mesmo
nos anos considerados excepcionais, em geral o iam além de 400 mil cabeças”
(REVERBEL, 1981, p.21). Dessa maneira, o ato de salgar a carne atividade de
subsistência existente no Rio Grande do Sul passa a ser uma indústria
poderosa em Pelotas.
Dando origem à povoação que demarcaria o início da cidade de
Pelotas, os charqueadores que ali se estabeleceram, sob a influência da
prosperidade da indústria saladeril, em pouco tempo transformaram a região na
capital econômica da Província, pois o pastoreio ganhou caráter industrial, tendo
utilizado a escravidão em larga escala. Em 1830, segundo Loner (2002), Pelotas
tinha 22 charqueadas sendo que, boa parte delas possuía de oitenta a cem
escravos. As maiores propriedades podiam processar trinta mil reses por ano.
Sobre o cenário em que vivia Pelotas no período das charqueadas,
Helbert Smith, um geólogo norte-americano que esteve na cidade em 1882, fez tais
observações:
um não sei que de revoltante e, ao mesmo tempo, cativador, nestes
grandes matadouros; os trabalhadores negros, seminus, escorrendo
sangue; os animais que lutam, os soalhos e sarjetas correndo rubros, os
feitores estólidos, vigiando imóveis sessenta mortes por hora; os montes
de carne fresca dessorando, o vapor assobiando nas caldeiras, a
confusão que, entretanto, é ordem: tudo isso combina-se para formar
uma pintura tão peregrina e horrível quanto pode caber na imaginação.
De toda esta carnificina dimanou a riqueza de Pelotas [...] Todo o
comércio de Pelotas deve-se à indústria do charque, ou ao comércio
com o interior, diretamente dependente desta indústria. Este comércio
estende-se por metade da Província, para o oeste até o rio Uruguai e
para o sul até o Estado Oriental. Denota a atividade comercial da praça
de Pelotas o grande número de embarcações no porto: contei o
menos de 54, ao tempo de nossa passagem, sem levar em linha de
conta os numerosos vasos miúdos e as chatas (SMITH apud
REVERBEL, 1981, p.21).
Com o tempo os charqueadores tornaram-se aristocratas, cheios de
prestígio e de riqueza, “atenuavam os gestos largos dos gaúchos de fronteira com
as boas maneiras dos europeus [...] o dinheiro e o lazer lhes permitiam o contato
55
com a Europa, o bito da leitura, a freqüência aos teatros e salões”
(MAGALHÃES, 2002, p.36). Mas, conforme o estudioso, torna-se ingenuidade
pensar que os charqueadores abandonavam as charqueadas por seis meses
(período da entressafra) para se entregar somente ao lazer. Durante esses meses
os negócios prosseguiam, diversificando-se em atividades complementares. Nos
meses de entressafra, os escravos eram desviados para outras atividades, como
a colheita em lavouras de milho, e a produção de tijolos nas olarias. Estas,
segundo Gutierrez (1993, p.179), ficavam situadas nos terrenos existentes nos
saladeiros, local em que a população cativa produzia elementos cerâmicos para a
construção civil, que permitiam ampliar e conservar as instalações rurais das
charqueadas. Verificou-se nos estudos de Gutierrez (1993, p.77), que a
sazonalidade do charque possibilitou a construção de prédios urbanos como uma
alternativa à atividade charqueadora:
o processo de produção e organização do espaço se teria verificado
desde a fabricação de tijolos e telhas, até o erguimento e manutenção
das edificações. Por suposto, esse trabalho, ao mesmo tempo que
ocupou os cativos, no período de entressafra da charquia, produziu a
cidade. Não os palacetes que serviam de residência urbana aos
charqueadores, como uma série de casas de aluguel, destinadas à
moradia, ao comércio e aos serviços. Essas edificações abrigavam a
população, que crescia na cidade, e as pessoas que ali chegavam para
os negócios da carne salgada,e em busca de tudo o que um centro
produtivo oferecia.
Nesse período, os charqueadores mudavam seus hábitos indo morar
na cidade, convivendo assim com uma vida social e cultural intensa e rica. Para
Arriada (1994, p.64), as charqueadas não trouxeram apenas riqueza “mas o
adensamento populacional, pois cada grande estabelecimento contava, pelo
menos, com mais de cem pessoas”. Para o pesquisador, as charqueadas
possibilitaram um crescimento populacional, seja através da natalidade, seja por
meio de importações que acabaram dando condições para o nascimento da
freguesia.
Por alvará de 7 de julho de 1812, era criada a freguesia de Pelotas, que
inicialmente chamou-se São Francisco de Paula. Nascia a mesma sem
existir zona urbana, a própria Capela foi erguida no ano seguinte.
Desse modo podemos ver que Pelotas nasceu sob o influxo da
economia pastoril, que há muito tempo vinha se desenvolvendo e
criando as condições materiais para fixação de pessoas.
56
Em abril de 1832 a freguesia é elevada à Vila, devido às suas
condições sócio-econômicas. Esse fato acabou por abrir uma nova etapa na vida
administrativa da comunidade. Ao ser transformada em Vila, o povoado passou a
ter capacidade administrativa, deixando de estar administrativamente ligado a Rio
Grande.
Em 1835, devido ao espantoso crescimento econômico e urbano de
1812 a 1835, Pelotas passou de Freguesia de São Francisco de Paula ao status
de cidade. em 1870, o jornalista alemão Carlos Von Koseritz, ao traçar um
paralelo da cidade onde vivia – Porto Alegre – com Pelotas, faz a seguinte
observação em seu livro intitulado A História da Ciência:
Pelotas se acha em circunstâncias diversas. Não podendo contar com os
elementos oficiais que a Porto Alegre proporcionam acanhado
movimento, viu-se obrigada a recorrer à indústria que a sua posição
topográfica lhe facilita. Reina ali uma atividade industrial que Porto
Alegre não conhece; nota-se ali, em geral, progresso mais rápido,
abastança maior, fortunas mais sólidas. Cremos até que para uma
cidade nestas condições, não seria sorte alguma se, de repente, se
mudasse para ela a sede do governo e o mundo oficial (KOSERITZ apud
MAGALHÃES, 2002, p.27).
O crescimento populacional foi percebido por meio da Estatística
Demográfica de Pelotas
12
entre os anos de 1814 a 1930. Nos anos de 1860 a
1890, a cidade se expandiu de modo considerável, sem paralelo nos decênios
anteriores, nem nos 30 anos seguintes. O índice populacional, pelas estatísticas
oficiais, praticamente quintuplicou no período urbano. Em 1858 havia 9.055
moradores, em 1872, 21.756, em 1890, 41.591, em 1920, 82.294 habitantes.
Percebe-se que a partir da atividade econômica do charque, formou-se
uma elite que não tardou em criar outras indústrias como a da fabricação de
velas e sabão que aproveitava a gordura animal restante do processo de salga da
carne bovina, importando maquinário europeu para implantação de um sólido
setor secundário, que ia se tornando poderoso, tanto quantitativamente como
qualitativamente. Segundo o recenseamento realizado em 1890, Pelotas possuía
um total de 83 indústrias e 18 charqueadas, responsáveis pela industrialização de
12
Estatística, organizada por Alberto Coelho da Costa, existente no acervo da Bibliotheca Pública
de Pelotas.
57
270.600 reses na safra. Dessas 16, na safra 89-90, industrializavam mais de
10.000 bois cada uma, o que permite considerá-las de grande porte (LONER,
2002, p.52). Em 1893, Pelotas contava com as seguintes indústrias:
moinho Pelotense, a fábrica de chapéus, a fábrica de guaco e cola, as
fábricas de sabão e sabonetes e velas de sebo e de cera, as fábricas de
móveis, de carruagens, de cerâmica, de penachos e vassouras, além de
diversos curtumes, produtos farmacêuticos, pequenas indústrias e
barracas de enfardagem de e preparação de couros para exportação
(VANTI, 2003, p.76).
O porto foi importantíssima passagem de comunicação da emergente
Pelotas com o resto do mundo. Era através dos vapores que os produtos
estrangeiros chegavam à cidade e, junto com eles, os costumes europeus. Em
1876 atracou no porto de Pelotas o Tambico, primeiro navio em que se exportou
diretamente o charque para os Estados Unidos. Em matéria de embarcações,
Pelotas possuía, além de nome, o privilégio de ter construído, em 1832, por
iniciativa de Domingos José de Almeida e Gonçalvez Chaves, entre outros, o
primeiro barco a vapor da Província: a barca Liberal (MAGALHÃES, 2002, p.47).
Os navios que exportavam o charque traziam, em seu retorno, livros, louças da
Europa, revistas de moda, móveis, além de açúcar do nordeste. Era também no
porto que desembarcavam os europeus oferecendo seus serviços como
professores, músicos, técnicos, artistas de companhias líricas ou teatrais, e outros
ofícios disputados por uma sociedade que estava sedenta de cultura e de
modernização. Os teatros pelotenses recebiam companhias líricas ou dramáticas
que, a caminho de Porto Alegre, Montevidéo, Buenos Aires, ou Rio de Janeiro,
aportavam em Pelotas.
A localização da cidade facilitava o contato com a cultura do
considerado “mundo civilizado”. Sua hidrografia, sendo dominada pelo canal São
Gonçalo, possibilitava a comunicação com as lagoas Mirim que dava acesso a
Jaguarão, na fronteira com o Uruguai e dos Patos, onde, através dos vapores,
se viajava para Porto Alegre e Rio Grande, uma importante cidade gaúcha, cujo
porto possibilitava o acesso direto ao mar (AMARAL, 2005, p.105).
58
A vida cultural da cidade era intensa, os contatos que mantinha com o
centro do país e com a Europa conferiam à elite pelotense um destacado padrão
literário e artístico. Neste cenário houve o desenvolvimento de instituições de
ensino, clubes e associações. O Theatro 7 de Abril foi inaugurado em 1834, e a
Bibliotheca Pública, em 1875.
No segundo semestre do ano de 1865, em uma viagem realizada no
Rio Grande do Sul, Conde D´Eu (1936, p.213) descreve suas impressões sobre
Pelotas:
o rápido desenvolvimento de Pelotas é um facto notável, que não
encontra análogo na Província e que présagia a esta cidade um futuro
considerável. Foi em 1815 que, por ordem do Márquez de Alegrete, que
era Capitão-General da Província, se traçaram as suas primeiras ruas,
sem casas, se vê, e hoje, ao fim de 50 annos, conta a cidade com
10.000 habitantes, eglalando-se por conseqüência, a Porto-Alegre,
capital da Província, e deixando muito abaixo o Rio Grande, cidade que
tem quase que mais de um século de existência.
A pujança vivida em Pelotas foi consolidada ao se tornar um centro
industrial e comercial charqueador mais importante de toda a Província. A riqueza
que circulava na cidade proporcionou uma vida social e cultural intensa e os
costumes, os comportamentos, o lazer, as artes e as atividades intelectuais de
um modo geral foram inspirados principalmente no município da Corte (Rio de
Janeiro) e nos países da Europa.
Sendo assim, Pelotas, no final do século XIX e início do XX, era o
centro de uma região produtiva. A cidade estava desenvolvendo uma moderna
estrutura urbana, quase simultaneamente à expansão mundial dessas, enquanto
que as estruturas sociais locais viviam ainda timidamente a transição de uma
sociedade escravista rumo às relações sociais tipicamente capitalistas.
Na primeira década do século XX, um fator de desenvolvimento para
Pelotas e região foi a criação, em 1906, do Banco Pelotense, fruto ainda da
grande opulência financiada pela indústria saladeril, pela pecuária, e pelas
atividades urbanas, principalmente as do comércio.
59
Por outro lado, é importante salientar que com a abolição da
escravatura, em 1888, ocorreu o declínio da produção do charque, pois trouxe
como conseqüência a diminuição da procura do produto por parte dos donos dos
escravos que compravam o charque para os maiores consumidores do
alimento: os escravos. Além disso o surgimento dos frigoríficos, em 1910,
possibilitou também uma nova e revolucionária cnica de conservação da carne,
o que fez com que a técnica utilizada pelas charqueadas fosse ultrapassada.
Com o declínio como pólo escravista charqueador, a cidade passa a
desenvolver diversificadas atividades urbanas voltadas para a produção de
serviços e bens de consumo. A abolição da escravatura e o progresso técnico do
charqueio liberaram a força de trabalho que vivia nas estâncias e charqueadas,
que acabam sendo atraídas para o centro urbano pelas fábricas que ali se
estabeleceram, como o Engenho de Arroz do Coronel Pedro Osório, a Fábrica
Rheingantz (de chapéus), as cervejarias Haertel e Ritter (décadas de 1880 e
1890, respectivamente) e a fábrica Fiação e Tecidos Pelotense (construída entre
1908 e 1910) (OSÓRIO, 1922). Estas eram as principais indústrias da cidade,
além das charqueadas que resistiam, os frigoríficos que começavam a ser
implantados, e outro grande número de empresas menores que formavam parte
da estrutura de um dos mais importantes centros industriais do estado (SOARES,
2001).
Assim é possível caracterizar, pelo que foi apontado até aqui e através
da investigação nos jornais da época, que no período analisado, Pelotas abrigou
uma população em que conviveram homens e mulheres da elite,
trabalhadores(as) livres, assim como desempregados(as), escravos(as), e
posteriormente, como mencionado, ex-escravos(as), além de uma emergente
classe média composta por indivíduos que se dedicavam aos serviços públicos e
privados.
Esse foi um momento, portanto, de ascensão e de declínio das
charqueadas, em que a oferta de serviços aumentou com a diversificação de
atividades econômicas voltadas para o comércio e para os serviços. Por sua vez,
60
esse alargamento das atividades econômicas gerou uma necessidade de
especialização da mão-de-obra existente. Acredita-se, então, que, neste
momento, a educação, que era basicamente voltada para as classes privilegiadas
da sociedade, começa a tornar-se fundamental para o desenvolvimento de tais
atividades e, conseqüentemente, para a cidade, o que acabou gerando,
gradativamente, a criação de instituições de ensino voltadas para um público que
as exercesse.
2.2 As Instituições de Ensino em Pelotas: aspectos do ensino privado e do
ensino público/gratuito
2.2.1 “Condições de admissão
13
”: o ensino privado
Antes de analisar o ensino privado em Pelotas, é importante que se
apresente os conceitos de blico e de privado adotados por esta pesquisa, além
de tornar claro o que essas duas esferas representavam para o momento
educacional que se investigou. Considera-se público o ensino mantido com
recursos governamentais/provinciais, e privado, o ensino mantido por particulares
como a Igreja, as ordens religiosas ou os proprietários leigos. Segundo Buffa
(2004, p.61), as transformações ocorridas na sociedade e na escola brasileira
exigiram uma melhor conceituação sobre o que vem a ser o público, ou seja, o
que é destinado ao conjunto da população, estatal, o que é mantido pelo estado,
e o privado, como sendo aquele regido pela lógica do lucro além do privado
confessional, filantrópico, comunitário.
Por mais de duzentos anos, os jesuítas mantiveram no Brasil um
sistema escolar de ensino que visava ao preparo dos jovens da elite brasileira
para estudar em Coimbra ou na França. O alvará do Marquês de Pombal, em
1759, resultou no fechamento de colégios jesuítas mantidos no Brasil, quebrando
13
Expressão encontrada nos anúncios ao definir o que seria exigido dos alunos para terem acesso
ao ensino privado.
61
o monopólio que, até então, a ordem exercia. No ano de 1772, a Coroa
Portuguesa propôs as aulas-régias, que eram disciplinas autônomas e isoladas,
ministradas por diferentes professores, sem articulação com os demais, ou com
uma escola.
A constituição de 1824, em seu art. 179, XXXII, estabelecia que “a
instrução primária é gratuita a todos os cidadãos”. Entretanto, Tambara e Arriada
(2005, p.7), lembram que não era citado de onde viriam as verbas para garantir a
gratuidade. Com relação à criação de instituições de ensino, a lei de 15 de
novembro de 1827, decretada por D. Pedro I, considerando a necessidade de
facilitar a instrução no que se referia ao estudo das primeiras letras, e entendendo
que não era possível estabelecer escolas em todos os lugares do Reino por conta
da Fazendo Pública, permitiu a qualquer cidadão o ensino e abertura de escolas
de primeiras letras.
Dessa forma, verificou-se, por meio da lei, que o Estado assumiu o
papel de educador mas, impotente, não conseguiu universalizar o indispensável
estudo das primeiras letras, repassando, parcialmente, essa responsabilidade
para a iniciativa privada (CURY, 2005, p.4).
Durante o período imperial, havia, nas Províncias, intensas discussões
acerca da necessidade da escolarização da população, sobremaneira das
camadas inferiores da sociedade. Todavia, a presença do estado no tocante à
educação, neste período, como observado, pode ser considerada pequena e
pulverizada. No Rio Grande do Sul, segundo Tambara (2000, p.102):
a idéia da liberdade de ensino constitui a pedra angular da estrutura
escolar que se vai instalando na província. Apesar de em meados do
século os secretários se preocuparem com o controle dos
estabelecimentos particulares de ensino. Esta é uma atitude que
paulatinamente vai cedendo terreno para a implantação de um sistema
genuinamente positivista seguindo o lema: ensina quem quer onde
quiser e como puder. Por uma série de circunstâncias o ensino privado
procurava na liberdade de ensino uma forma de escapar do controle
provincial sobre suas atividades.
Cury (2005, p.11) afirma que, no Brasil, se o princípio da educação
pública tinha sua matriz no princípio da igualdade, a da educação escolar, sob
62
instituições privadas, se aninhava no princípio da liberdade de ensinar, inclusive
algo de diferente, “desde que garantidos os elementos comuns e desde que esse
diferencial seja conseqüente com os princípios de uma sociedade democrática”.
O ensino no Rio Grande do Sul, tinha, portanto, um processo de
exclusão de significativos contingentes da população no que se referia à instrução
elementar e, principalmente, à oportunização do ensino secundário. Este aspecto
decorria principalmente porque, na Província, assim como no resto do Brasil, o
ensino era uma reserva de mercado da iniciativa privada; “assim somente aqueles
segmentos da população que podiam arcar com o ônus do ensino pago é que
prosseguiam nos estudos” (TAMBARA, 2000, p.66).
A exclusão, para Ribeiro (1978), não ocorria gradativamente de um
nível de ensino para o outro, mas, sim, marcadamente, no início da escolarização
que a grande maioria não tinha condições, e boa parte, nem interesse, diante
do regime de vida a que estava submetida, em ingressar e permanecer na escola.
A reduzida camada da classe média é que, aos poucos, nas últimas décadas do
império, ampliou-se e pressionou a abertura de escolas.
Com relação aos primórdios da escolarização em Pelotas, em 1832
sabe-se do funcionamento de cinco aulas particulares, freqüentadas por 244
alunos, sendo 35 do sexo feminino (MAGALHÃES, 1993, p.225). O nome de
Pelotas como importante centro educacional da Província, conforme Reverbel
(1981, p.35), vinha desde 1832, quando foram fundados os primeiros colégios
particulares de projeção que começaram a ser freqüentados por estudantes
oriundos de quase todos os rincões gaúchos. No ano de 1835 a primeira escola
pública pelotense é instalada (MAGALHÃES, 1993, p.226).
Durante a segunda metade do século XIX, Pelotas abrigou um número
expressivo de instituições de ensino particulares. Eram conceituadas escolas
particulares de ensino primário e, mesmo, de humanidades que nada ficavam a
dever às da capital rio-grandense na mesma época: “ali professoravam mestres
do quilate de Carlos Von Koseritz, Carlos André Laquintinie, Bibiano de Almeida,
63
Bernardo Taveira Junior, Luís Carlos e Afonso Emílio Massot” (REVERBEL, 1981,
p.35). Nesse período a cidade recebia estudantes oriundos de outras localidades
do estado, que se deslocavam de sua terra natal para, em Pelotas, obter o ensino
de qualidade que então procuravam. Conforme Reverbel (1981, p.36):
alguns o precisavam fazer longas viagens para matricular-se, vinham
de perto [...]. Outros atravessavam o território rio-grandense, vindos da
fronteira Oeste, de municípios distantes como São Borja, mudando de
diligência pelo caminho. Mas todas as viagens em busca do saber, em
escolas pelotenses do século passado, a mais interessante, pela
singularidade, talvez tenha sido a que foi feita por Assis Brasil: ele veio
de São Gabriel, sua terra natal, acompanhando uma tropa de gado
destinada à “Tablada”. Isso aconteceu em 1872 [...].
Com base nos dados apresentados por Magalhães (1993), sobre a
escolarização entre 1847 e 1891, constata-se que houve um aumento da oferta
de instrução o crescimento quadriplicou. Em 1847 havia 11 escolas públicas e
particulares em Pelotas, em 1861 passam a existir 14 escolas. No ano de 1873
esse número cresce para 28 escolas, em 1891 ela contava com o total de 46
escolas. Durante esses trinta anos as escolas particulares que possuíam em seus
quadros professores estrangeiros, especialmente franceses ou de origem
francesa, e portugueses ou descendentes de portugueses, proliferavam-se no
cenário educacional pelotense.
No Relatório de entrega da administração da Província de 13/4/1868,
organizado por Francisco I. Marcondes Homem de Mello, analisou-se um quadro
contendo dados sobre as escolas primárias privadas da cidade de Pelotas. Nele
consta que no ano de 1866 Pelotas tinha 3 escolas masculinas com 230 alunos e
6 escolas femininas contendo 187 meninas. a cidade de Rio Grande, apesar
de a quantidade de escolas ser menor, o número de alunos era maior do que em
Pelotas, e o de meninas encontrava-se em menor número, 2 escolas masculinas
com 260 alunos, e 3 escolas femininas com 139 alunas. Porto Alegre, no mesmo
ano, apresentava os seguintes números: 9 escolas masculinas contendo 536
alunos e 7 femininas com 337 meninas.
no ano de 1891, de 22.919 habitantes urbanos existentes em
Pelotas, 11.164 sabiam ler, efetivando 48% do total. Esse percentual se manteve
64
até 1911 “apenas discriminando-se que do restante, 33,5% eram analfabetos e
18,4% crianças sem idade escolar” (LONER, 2001, p.60). O ensino privado, como
mencionado anteriormente, era livre no Rio Grande do Sul. Segundo Schneider
(1993, p.283), essa liberdade de ensino acabava trazendo efeitos negativos no
que se refere à oferta do ensino público. Aliás, como observado anteriormente, no
Brasil em geral havia o incentivo do Estado para a proliferação do ensino
particular, tanto no período colonial como durante o Império. É importante
perceber, portanto, que, no período estudado, o ensino público não tinha o status,
a credibilidade, e o incentivo do estado.
As escolas de caráter privado, tanto para o sexo feminino, quanto para
o masculino, encontradas nesta pesquisa, deixaram evidenciados em seus
anúncios as disciplinas que eram oferecidas, a localização da instituição, o seu
programa, bem como seu corpo docente, sendo que deveriam manter os pais de
seus alunos informados caso houvesse alguma modificação no contrato firmado.
Esta realidade ficou evidenciada no Art.107º, parágrafo 2º, do Decreto 1331,
de 17 de fevereiro de 1854, no Capítulo Unico “do Ensino particular primário e
secundário”, quando foi vetado aos diretores: “mudar, sem previa declaração e
licença, o caracter de seu estabelecimento, quer estendendo o programma, quer
deixando de observar e de cumprir os empenhos tomados com as famílias nos
prospectos ou annuncios” (TAMBARA e ARRIADA, 2005, p.64).
A análise das disciplinas ministradas em Pelotas, nos anos finais do
século XIX e princípio do XX, não foi o objetivo primeiro deste trabalho. No
entanto, realizar-se-á a divulgação dessas, no intuito de apresentar mais uma
característica do ensino privado apreendida pelas propagandas, além de
contextualizar as idéias que se tinha nesse momento histórico, sobre os “papéis”
adequados aos homens e às mulheres. Estas informações certamente renderão
futuras pesquisas sobre, por exemplo, o papel dos saberes na vida dessa
sociedade específica e às questões de gênero que esses dados carregam
consigo – aspecto este bastante pesquisado em todo o Brasil.
65
Nesse sentido foi importante saber o que apresentava o Art.4º do
decreto 7247, de 19 de abril de 1879, sobre o que deveria constar nas
disciplinas das escolas primárias de 1º grau dos municípios da Corte:
instrucção moral, instrucção religiosa, leitura, escripta, noções de
cousas, noções essenciais de grammatica, princípios elementares de
arthmética, syxtema legal de pesos e medidas, noções de historia e
geographia do Brazil, elementos de desenho linear, rudimentos de
musica, com exercícios de solfejo e canto, gymnastica, costura simples
(para meninas) (TAMBARA e ARRIADA, 2005, p.77).
as de grau, do ensino primário, constavam da continuação e
desenvolvimento das disciplinas ensinadas nas de 1º grau e mais das seguintes:
princípios elementares de álgebra e geometria, noções de physica,
chimica natural, com explicação de suas principaes applicações á
industria e aos usos da vida, noções geraes dos deveres do homem e do
cidadão, com explicação succinta da organização política do Império,
noções de lavoura e horticultura, noções de economia social (para os
meninos), noções de economia domestica (para as meninas), pratica
manual de officios (para meninos), trabalhos de agulha (para meninas).
(TAMBARA e ARRIADA, 2005, p.77).
Com base no corpus documental, foi possível encontrar sinais relativos
aos planos de estudo de cada instituição condicionados ao nível de ensino
oferecido. Com os dados coletados na investigação, montou-se, então, um quadro
referente somente ao ensino privado que, nos anúncios de instituições
públicas, não foi possível encontrar informações sobre as disciplinas ofertadas
naquele momento, sendo possível apenas constatá-las através da legislação,
como anteriormente citado.
Quadro 1 Disciplinas oferecidas pelo ensino privado em Pelotas, segundo as Propagandas
Institucionais (1875-1910).
DISCIPLINAS OFERECIDAS PELO ENSINO PRIVADO EM PELOTAS (1875-1910)
Feminino Primário Feminino Secundário Masculino Primário Masculino Secundário
- álgebra;
- allemão;
- analise grammatical;
- applicação aos systema
métrico decimal;
- arithmetica até as quatro
operações;
- bordados a ouro, seda,
froco, branco, flores de
papel e cera;
- botanica;
- álgebra;
- allemão;
- analyse oral e escripta
dos clássicos;
- bordado a ouro, matiz e
branco;
- caligraphia;
- cortezias adequadas aos
deveres de uma perfeita
dona de casa;
- cosmographia;
- álgebra;
- arithmetica;
- as quatro operações
arithmeticas e sua
applicação ao sistema
métrico decimal;
- calligraphia;
- chimica;
- desenho linear;
- esgrima e gymnastica;
- francez;
- álgebra;
- arithmetica;
- francez;
- geographia;
- geometria plana e no
espaço;
- história do brazil com
especialidade da
província;
- historia universal;
- inglez;
66
DISCIPLINAS OFERECIDAS PELO ENSINO PRIVADO EM PELOTAS (1875-1910)
Feminino Primário Feminino Secundário Masculino Primário Masculino Secundário
- calculo;
- calligraphia;
- canto;
- cathecismo;
- chorographia do Brazil;
- civilidade;
- compor cartas, themas, e
declamação;
- contabilidade;
- correspondecia epistolar;
- cortar vestidos e coser
em maquina;
- cosmographia;
- costura a mão e a
machina;
- dança
- desenho;
- doutrina christã;
- economia domestica;
- francez;
- geographia do Brazil;
- geographia terrestre e
astronomica;
- grammatica elementar;
- grammatica nacional;
- hespanhol;
- historia do Brazil;
- historia natural;
- historia romana e
mythologia;
- historia sagrada;
- história universal;
- inglez;
- italiano;
- leitura de autores
clássicos e de letra
manuscriptas;
- leitura de prosa e verso;
- leitura recreativa e
fabulas;
- leitura;
- lições orais de
urbanidade;
- musica vocal e
instrumental;
- ortographia theorica e
pratica;
- pianno;
- pintura oriental;
- pontos de lã baixo e alto
relevo, a soutache, a
canutilho, a contas, a
fróco, a seda, a prata, a
ouro e flores de diversas
qualidades;
- pontos de malha;
- portuguez;
- proporções progressivas;
- prosa e verso;
- prosódia e metrificação;
- redacção;
- rendas de malha, pontos
de lan e crochet, trabalhos
de coral, de solla, de
cortiça, de musgo;
- desenho e pintura a óleo
sobre tela, seda,
porcelana e crystal;
- elementos de culinária;
- francez;
- geographia geral e
pátria;
- noções de litteratura;
- habilidades de agulha;
- historia do brazil e
universal;
- inglez;
- geometria;
- italiano;
- latim;
- lingua portugueza;
- musica;
- mythologia;
- phylosophia;
- piano;
- pintura oriental;
- redacção;
- rethorica;
- trabalhos de agulha;
- trabalhos domésticos.
- geografia (divisão das
cinco partes da terra, sua
configuração, limites,
systemas hydrograficos e
ortographicos).
- geographia geral;
- grammathica oral;
- grammatica portugueza;
- historia do Brazil;
- historia universal;
- inglez;
- historia universal;
- latim;
- leitura;
- língua portuguesa;
- literatura;
- mathematica;
- musica;
- noções de historia
sagrada;
- noções elementares de
geometria;
- operações sobre
números inteiros e
decimaes;
- ortographia pratica e
theorica;
- philosophia;
- physyca;
- prosa e verso nos
melhores clássicos;
- rhetorica e poética;
- rudimentos da língua
latina;
- systema metrico decimal;
- systema métrico francez.
- latim;
- mathematica;
- rethorica;
- trigonometria rectilinea e
princípios geraes de
geometria analytica;
- curso commercial
(e demais disciplinas
preparatórias exigidas
para o curso das
differentes carreiras
scientificas);
- escripturação mercantil
(curso).
67
DISCIPLINAS OFERECIDAS PELO ENSINO PRIVADO EM PELOTAS (1875-1910)
Feminino Primário Feminino Secundário Masculino Primário Masculino Secundário
- trabalhos de agulha
(crochet, tricot, netting,
ponto de marca, flores de
papel, lã e pennas,
abordados e branco, filó,
matiz, frocó, ouro e
applicação);
- violino e bandolim;
- trabalhos de modista.
Por meio dos conteúdos dos anúncios, e da organização do quadro 1
verificou-se, com o passar do tempo, a ampliação do currículo das escolas, em
especial as voltadas para o ensino feminino, que aos poucos foram tendo o
acréscimo de conhecimento geral. Para Anjos (1996, p.99), enquanto o saber
corriqueiro aponta para o fato de que o sexo feminino recebia um aprendizado
restrito” ele destaca que, em 1876, o programa do Colégio, para meninas, Mme.
Audissou compreendia o ensino de francês, história da pátria e universal, antiga e
moderna, geografia, contabilidade, escrita e noções científicas sobre os diferentes
ramos dos conhecimentos humanos. No entanto, verificou-se, no Regulamento de
Instrução Primária e Secundária da Corte de 1854 (Reforma Couto Ferraz), que o
currículo relativo às aulas primárias de meninas estabelecia limites no ensino de
álgebra, geometria, gramática, história e geografia pátrias, matérias que
constavam regularmente na grade das escolas dos meninos. Para as alunas, a
doutrina cristã, a leitura, a escrita e o lculo elementar acrescidos das aulas de
agulha, bordados e costura, eram considerados ensinamentos básicos. À primeira
vista, conforme o estabelecido pela legislação, a formação das meninas visava à
vida doméstica, em detrimento da vida pública, reservada aos futuros homens.
Segundo Louro (1992) houve, no século XIX, um discurso segundo o qual, para
os indivíduos do sexo feminino era suficiente uma educação moral sólida, visando
à formação de esposas e mães, em detrimento da instrução escolar propriamente
dita, a qual poderia ser superficial e meramente ilustrativa.
Não compete a esta pesquisa discutir o papel social dos homens e das
mulheres em Pelotas, mas sim destacar o que vinha ao encontro da legislação
vigente no período que se investigou, e o que se detectou de diferente do que era
proposto na educação nacional. Dentre as propagandas analisadas, dá-se ênfase,
a seguir, a uma instituição de ensino que deixou visualmente claro na forma
68
como diagramou a sua propaganda as diferenças existentes nos programas do
ensino primário feminino e masculino, definidos pela legislação, qual seja: o
Collegio Arnizaut Furtado.
Figura 5 – Anúncio do Collegio Arnizaut Furtado.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 1/1/1876.
69
Constata-se, nesse momento histórico, uma restrição às disciplinas que
envolvessem cálculos no currículo do ensino feminino. De fato, essas eram
disciplinas que não foram encontradas na totalidade dos estabelecimentos de
ensino feminino pelotenses mas, se verificou sua oferta em instituições como o
Collégio de Meninas de Berta Jeanneret, o Collegio Pedro II e o Collégio Acácia.
As matemáticas não tinham então um peso significativo na grade do ensino
feminino, que era mais recheado pelas disciplinas das “áreas humanísticas”.
no ensino masculino predominava as áreas ditas “científicas”. Esse fato também
foi constatado em uma pesquisa realizada na cidade do Rio de Janeiro, que
também utilizou a propaganda como fonte. No que se refere ao ensino feminino,
Limeira (2006, p.5) afirma que:
[...] o mais recorrente é que qualquer complemento curricular estabeleça
restrições às matemáticas (álgebra, aritmética, geometria) e fique
condicionado a oferta de prendas que aperfeiçoam a educação de uma
menina”, como destaca o Colégio Nacional [...] ou o Colégio Augusto,
onde somente pela vontade dos pais poderá ser aplicada a Aritmética
(grifo do autor).
Assim como em Pelotas, no Rio de Janeiro, também foram
encontradas instituições que ofereciam um repertório de disciplinas mais amplo
do que se esperava para o ensino feminino, como aponta a pesquisadora:
não podemos deixar de salientar, evidentemente, as marcas que
descaracterizam uma imagem generalizante lançada a estas questões.
Identificamos algumas instituições marcadas por tencionar estas
tradições, como o Colégio de Meninas, dirigido por M.me. Lacombe,
onde o destaque é para os estudos de algumas sciencias como
aritmética, geometria e princípios da física (LIMEIRA, 2006, p.6).
Outrossim, o que era esperado com relação ao “belo sexo” não ficava
em segundo plano nos programas dos colégios femininos em Pelotas. O Collegio
Perseverança apresentava, em seu anúncio, a preocupação de acompanhar a
moderna pedagogia, oferecendo as disciplinas exigidas nos preparatórios mas
sem deixar de lado os bordados e todos os ensinamentos “que não poderiam ser
ignorados por uma menina bem-educada”:
70
Figura 6 – Anúncio do Collegio Perseverança.
Fonte: JORNAL A PÁTRIA, 7/1/1891.
no anúncio do Collegio São Francisco de Assis, uma instituição
religiosa, registrado a seguir, foi destacado que o propósito do colégio era
preparar as alunas para uma educação religiosa e literária. Esse objetivo se
refletiu em seu programa, que enfocava também a educação moral das meninas.
Era mencionado ainda que a ausência de comportamento por parte das alunas,
conforme os preceitos pregados pela instituição, ou a falta freqüente às aulas,
seria punida com expulsão. Acredita-se que, o fato de a falta de “docilidade” por
71
parte das meninas ter ganhado espaço na propaganda, pode significar que a
instituição ou havia passado por casos parecidos, ou não pretendia que tal
episódio ocorresse. Além disso era objetivo da escola, como se pode observar,
incutir nas alunas “o amor à docilidade e à modéstia”:
Figura 7 – Anúncio do Collegio São Francisco de Assis.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 7/01/1894.
72
Quanto às instituições de ensino femininas localizou-se, ainda, uma
escola que aplicava na prática os ensinamentos ministrados às alunas com
relação aos ensinos de agulha. Esse é outro traço do cotidiano escolar, presente
em alguns anúncios referente à aplicação do que era ensinado no ambiente
interno da escola, ser exteriorizado e dividido com a comunidade, como ocorreu
no Curso Particular. É curioso observar também que o curso oferecia vagas para
alunas oriundas de escolas públicas, mas somente para as aulas de bordado.
Estas possuíam, em seu programa, uma variedade de trabalhos manuais, que
reflete uma demanda existente na moda, que incluía até mesmo a confecção de
bordados para guarda-sóis. Além disso, o estabelecimento de ensino oferecia a
mão-de-obra de suas alunas, não somente como um meio de divulgar o quanto
elas aprendiam nessa instituição, mas também com o intuito econômico que
seria gerado com a comercialização das peças executadas no espaço escolar. O
que parece, é que o foco do anúncio era o produto realizado pelas alunas, e não
as possibilidades de ensino, como foi anunciado:
73
Figura 8 – Anúncio do Collegio Particular.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 5/1/1894.
74
Em um artigo escrito pelo professor Bernardo Taveira Junior
14
,
destaca-se um trecho em que aborda a educação feminina nacional e local:
[...] por que razão gostam tantos as moças do de arroz, dos brincos,
dos pregadores, das pulseiras e dos annéis? [...] porque o fim de tudo
isto é brilhar, excitar a admiração de quem as contempla [...] por que
razão na educação da mulher, ainda mesmo pertencendo esta ás de
mais modesta classe, concede-se muito mais á dança, ás etiquetas de
salão, á melhor maneira de sentar-se ao piano [...] do que a um cem
numero de cousas utilíssimas e necessárias no meio da vida domestica?
E por que razão ainda são tantissimos pais (as maes principalmente)
solícitos a mandar ensinar as filhas o francez, o italiano, o inglez, o
allemão, etc.? Podemos conscientemente assegurar, porque ahi estão
os factos para o comprovar, que essa educação é toda para produzir
effeito porque a moda olharia com desdém para toda a moça de
educação que não soubesse dançar [...] Mas o pense que se ensina
tudo isso ás moças no sentido de que o possuir taes prendas seja motivo
de verdadeira utilidade. Não maior engano: é tudo inspirado pela tola
vaidade de que uma moça de sociedade não deve ignorar todas essas
cousas para simplesmente, segundo caprichosas exigências da moda,
poder brilhar e applaudir em qualquer reunião [...] (Diário de Pelotas,
25/1/1881).
O professor Taveira Junior, que lecionou em colégios femininos (ver
Tab.3), questionou, então, os saberes destinados às mulheres nesse contexto
histórico, em que muitas delas, como no caso do ensino secundário, davam
continuidade aos seus estudos muitas vezes para acompanhar seus esposos e
para brilhar nos espaços públicos e privados. Conforme Tambara (1997, p.71) o
final do Império foi marcado por ganhar simpatizantes que defendiam e
começavam a criar alternativas para a implantação de uma “emancipação
feminina”, segundo ele: “em meados do culo passado a concepção de
`libertação´ da mulher através da educação passou a cativar cada vez mais
adeptos [...] envolvendo tanto discussão teóricas como iniciativas concretas [...].
Essa é uma preocupação que se revelou no texto do professor Taveira Junior.
Além disso, também reforçou a idéia de que esse era um momento em que a
educação, para as meninas, tinha como objetivo um contínuo desenvolvimento
cultural. Acredita-se que esse artigo pode ser considerado uma crítica ao fato de
que mesmo as alunas de classes mais abastadas, que teriam condições para
exigir mais da educação e da forma como aplicariam tais conhecimentos
também recebiam uma educação pautada, normalmente, pelo desenvolvimento
14
No subcapítulo “Mercado docente em Pelotas: os(as) professores(as) `vantajosamente
conhecidos(as)´”, será aprofundado como se deu o contato com este material.
75
da civilidade. Isso se dava, segundo Louro (1992), porque a valorização do ensino
feminino tinha alguns limites, impostos pelas idéias, vigentes na época, sobre os
papéis femininos e masculinos.
Com relação às classes economicamente privilegiadas mencionadas,
torna-se relevante destacar que o Ato Adicional de 1834 propiciou ao governo
central concentrar seus esforços no suprimento de cursos superiores, enquanto
as províncias ficariam encarregadas da instalação e manutenção dos cursos
elementares e secundários. Quando as províncias assumiram a incumbência da
criação das Escolas de Primeiras Letras, o ensino elementar público praticamente
inexistia na maior parte delas. Cabe ressaltar que, desde o Período Colonial, o
ensino elementar era uma instrução predominantemente familiar, reforçada nos
colégios jesuíticos. Muitos políticos defendiam que cabia às províncias investir em
recursos na escola elementar, deixando de vez a instrução secundária a cargo da
administração particular, que a escola secundária atraía a elite como clientela,
por se tratar de uma passagem preparatória para o topo da escolaridade, e por
não ter uma manutenção onerosa como a escola superior.
No que tange à instrução secundária, assistiu-se no Brasil a
proliferação de aulas avulsas e particulares, que consistiam no ensino do Latim,
da Retórica, da Filosofia, da Geometria, do Francês e do Comércio. Essas aulas,
com o tempo, foram diminuindo porque não incluíam todas as matérias
necessárias para os exames preparatórios; pela necessidade de os alunos terem
de se deslocar até as residências dos professores; e também pelos encargos
enfrentados pelos professores para manter o espaço onde ministravam as aulas.
Esses cursos acabaram por serem procurados pelos alunos que queriam
continuar a desenvolver-se culturalmente, sem terem intenção de ingressar no
colégio ou ensino superior. Conforme Ribeiro (1978) “mesmo em se tratando de
uma sociedade aristocrática, o atendimento, em número, era muito limitado em
tais circunstâncias. Estas, como é evidente, comprometem também a qualidade”.
Verificou-se que, nas primeiras décadas de século XIX, a situação do
ensino secundário no Brasil era semelhante à da segunda metade do século
76
XVIII, em termos de aulas-régias ofertadas. A mentalidade do ensino jesuítico
continuou permeando os estudos secundários, que a maioria dos professores
havia estudado nos colégios jesuítas existentes no Brasil, ou no Cogio de Artes
e na Universidade de Coimbra – todos administrados por jesuítas (VECHIA, 2005,
p.79). Aos poucos foi se rompendo a concepção do ensino clássico-humanístico
dos jesuítas, com a introdução de novas disciplinas em diversos pontos do Brasil,
como Retórica, Hebraico, Matemática, Filosofia, Teologia, Línguas Modernas,
Ciências Experimentais, Grego, Comércio e Música. Ao final do período, o aluno
poderia prosseguir no próprio colégio e obter o diploma de Bacharel em Letras, ou
requerer um certificado para ingressar em institutos de formação técnica. Ou
ainda seguir nos chamados estudos da Segunda Classe, que lhe propiciavam
aprimorar os conhecimentos humanísticos e literários que eram pré-requisito
para ingressar nos cursos superiores. Durante a República Velha (1889-1930)
predominava uma política de incentivo à iniciativa privada, e ao municipalismo,
sem um real comprometimento do estado com o desenvolvimento das atividades
econômicas, representando ele um papel de supervisor delas mais do que
propriamente seu propulsor.
Com relação ao ensino secundário em Pelotas, assim como no resto
do país, era normalmente caracterizado por aulas avulsas, que preparavam os
alunos para prestar os exames de acesso ao ensino superior. Esse nível de
ensino que estava concentrado nas mãos da iniciativa privada e possuía,
fundamentalmente, como diretriz principal, o currículo, as matérias e os conteúdos
do Colégio Dom Pedro II
15
.
No que se refere ao ensino secundário, os anúncios institucionais
arrolados na pesquisa apontaram que, das 85 escolas encontradas, 60 chegaram
a oferecê-lo na cidade, concomitante ao primário. Dessas, apenas 9 dedicavam-
15
Em 1837, o Ministro da Justiça do Império propôs a fundação de uma escola secundária no
Município da Corte que viesse a servir de modelo a todas as instituições de ensino público e
particulares do Império. Pelo Decreto de 02/12/1837, a Assembléia Legislativa aprovou o projeto
do Ministro Bernardo de Vasconcellos, criando o Imperial Collegio de Pedro II, que representou a
primeira iniciativa do Governo Imperial de estabelecer o ensino secundário público, No Município
da Corte, bem como de adotar um plano de estudos integral, estruturado em níveis ou séries”
(VECHIA, 2005, p.33).
77
se integralmente a essa modalidade de ensino, como verificado na tabela a
seguir.
Tabela 1 Instituições privadas que ofereceram o ensino secundário em Pelotas, segundo as
Propagandas Institucionais (1875-1910).
ENSINO SECUNDÁRIO PRIVADO EM PELOTAS (1875-1910)
NOME DA INSTITUIÇÃO
TIPO DE ENSINO
VAGAS PARA O SEXO
FEMININO (F) OU
MASCULINO (M)
ANO/DATA INÍCIO
DAS ATIVIDADES
16
Atheneu Pelotense P/S F/M 7/1884
Atheneu São João P/S M
Aula Nocturna P/S M 1/1879
Collegio Acácia P/S F 1872
Collegio Amarante E. Bibiano P/S M
Collegio Commercial - Eduardo Wilhelmy P/S M 1879
Collegio de Instrucção Elementar –
Fernando Pimentel e Washington
Barcellos
P/S
M
1879
Collegio de Mme. Jeanneret P/S F 1872
Collegio Dupont P/S M 1904
Collegio Esperança P/S F/M 2/1887
Collegio Evolução P/S M 1/1886
Collegio Francez – Aristides Guidony S F/M
Collegio Francez – Charles Bachelery S M 1/1876
Collegio Franco Brazileiro P/S M 1/2/1909
Collegio Franco Rio-Grandense P/S M 1º/2/1876
Collégio Gonzaga P/S M 4/2/1895
Collégio Honra e Trabalho P/S F 1/1887
Collegio Minerva P/S F
Collegio N. S. da Conceição P/S F 7/1885
Collegio Mme. Messeder P/S F
Collegio Ozório/Collegio Commercial P/S M
Collegio Pedro II P/S F
Collegio Perseverança P/S F 1883
Collegio Racional/Curso Racional P/S M 7/1/1878
Collegio Redempção P/S M
Collegio Reis P/S M
Collegio S. Francisco de Assis P/S F 6/2/1893
Collegio S. Francisco de Paula (1)
17
P/S M 1864
Collegio S. Francisco de Paula (2) P/S F
Collegio S. Francisco de Paula (3) P/S M
Collegio São João P/S F
Collegio S. José – Francisco Rodrigo de
Souza
S M
Collegio S. José – Irmãs da congregação
de S. J.
P/S F 19/03/1910
Collegio Santa Cecília P/S F 1872
Collegio Santa Rosa P/S F
Collegio Silveira P/S M
Collegio Sul-Americano P/S M 3/2/1881
Curso Completo de Musica P/S M 7/1888
Curso de Estudos Preparatórios -
Bernardo Taveira Junior e Alfredo Ferreira
Rodrigues
S
M
1887
Curso Livre S M 1/1883
Curso Normal de Instrucção P/S F
16
Os espaços deixados em branco ocorreram porque, por meio dos anúncios, não se encontraram
tais dados.
17
Apesar de possuir o mesmo nome de outras duas escolas, esta é uma instituição distinta das
demais. Sendo assim, optou-se por numerar a escola, diferenciando-a das demais existentes.
78
ENSINO SECUNDÁRIO PRIVADO EM PELOTAS (1875-1910)
NOME DA INSTITUIÇÃO
TIPO DE ENSINO
VAGAS PARA O SEXO
FEMININO (F) OU
MASCULINO (M)
ANO/DATA INÍCIO
DAS ATIVIDADES
Curso Nocturno de Preparatórios/Curso
de Preparatórios em Pelotas
S M
Curso Particular (Fernando A. Pimentel) P/S M 1/21883
Curso Particular Complexo/Instituto
Brazileiro
P/S M 1908
Curso Secundário – Arthur Toscano S M 1/1882
Escola Moderna P/S M
Escola Nocturna Pelotense P/S M 1877
Escola “Quintino Boca Yuva” S M
Externato Francez – Mme. Marguerite
Gastal
P/S F 1895
Externato Nacional – Antonina Rochefort
e Josephina Laquintinie Queiroz
P/S F 1º/2/1890
Externato Particular – Emilia de
Mendonça
P/S F
Externato Pelotense – Idalina Calero de
Carvalho
P/S F 1/09/1909
Gymnasio – José Henrique Lara Ulrich P/S M
Gymnasio Pelotense P/S M 24/10/1902
Instituto Latino P/S M 1899
Internato e Externato Francez P/S F
Lyceu Municipal/Rio-Grandense (antigo
Collegio Franco Rio-Grandense) - Carlos
Bachelery
P/S
M
1/1/1878
Lyceu Rio-Grandense de Agronomia e
Veterinária
Escola de Agronomia e Veterinária -
Eduardo Wilhelmy
S
M
1890
Luso-Brasileiro P/S F 4/3/1910
Total = 59 S = 9 P/S = 50 M = 35 F = 21 M/F = 3
Com base na Tab.1, e nos dados sobre o ensino privado secundário
em Pelotas, verificou-se que o número de instituições de ensino secundário
feminino (21) era significativo se comparado ao número de escolas secundárias
masculinas (35)
18
. De qualquer forma, é preciso considerar que a quantidade
19
de
alunos homens nas instituições era maior do que a das meninas, chegando,
muitas vezes, ao dobro desta. Ainda assim é importante refletir sobre o fato de
que, no que tange aos saberes femininos, o ensino secundário era basicamente
um complemento ao ensino primário. Além disso, tinha como público-alvo alunas
com condições econômicas favoráveis que buscavam ampliar seus
conhecimentos culturais, aprofundando o que foi visto no ensino primário (ver
quadro 1) e dando continuidade às lições domésticas e às destinadas aos
18
Ao investigar a Tab2. observa-se que em relação ao ensino secundário, a oferta do ensino
primário era maior: 37 escolas femininas e 42 masculinas. Isso porque provavelmente eram
poucos aqueles que conseguiam manter seus estudos em escolas privadas onde o nível
secundário tornava-se, muitas vezes, mais oneroso do que o primário.
19
Esses dados foram observados tanto pelo conteúdo de alguns anúncios que divulgavam o
número de alunos como através dos seguintes relatórios: Relatório do Inspetor Geral da
Instrucção Pública 1901, Relatório da Intendência de Pelotas de 1912 e Relatório da Secretaria de
Estado dos Negócios do Interior e Exterior de 1899.
79
traquejos sociais, como pode ser observado, a seguir, no anúncio do Collegio
Perseverança:
Figura 9 – Anúncio do Collegio Perseverança.
Fonte: JORNAL ONZE DE JUNHO, 3/1/1884.
80
O foco do ensino secundário masculino, por sua vez, como
mencionado anteriormente, estava, geralmente, na preparação dos alunos para o
acesso ao ensino superior. Um exemplo é o Lyceu Municipal, que, além de
preparar os alunos para o ensino superior, oferecia, como um diferencial, cursos
noturnos que permitiam àqueles alunos que trabalhavam durante o dia a
freqüência às aulas à noite, e “onde a regra sendo aplicada rigorosamente os
repugnava”.
Figura 10 – Anúncio do Lyceu Municipal.
Fonte: JORNAL DO COMÉRCIO, 8/1/1878.
No ano de 1837 fundou-se uma escola secundária no Município da
Corte que serviu de modelo para todas instituições de ensino do Império entre
públicas e privadas. Com a criação do então Collegio Pedro II, ainda que
indiretamente, teve-se início a uma certa uniformização do ensino secundário no
Brasil. Com a fundação desse estabelecimento de ensino instaurou-se um
processo chamado equiparação, que permitia ao aluno o mesmo direito de
acesso ao ensino superior do que os alunos do D. Pedro II. Como em Pelotas no
81
final do século XIX ainda não havia instituições equiparadas
20
, os exames
preparatórios para ingresso no ensino superior podiam ser realizados na
capital da Província. Esses exames eram freqüentemente divulgados na imprensa
pelotense, em especial pelas instituições de ensino que conseguiam aprovar o
maior número de alunos nas provas realizadas em Porto Alegre. O anúncio do
colégio que se observará a seguir narra que, apesar de a instituição ter começado
a funcionar naquele ano, conseguiu preparar e levar para Porto Alegre 10 alunos
que prestaram 29 exames para as disciplinas ali indicadas. Por sua vez, foram
aprovados em todas as provas, sendo que um deles recebeu uma distinção, a
única, segundo o colégio, concedida naquela sessão.
Um outro ponto observado foi a ocorrência de instituições oferecendo
prédios distintos para o ensino secundário e primário, fato esse que ilustrou uma
realidade encontrada no período analisado: que, em algumas, os alunos ficavam
misturados, independentemente do nível de ensino em que estariam submetidos.
Entretanto, o Collegio Evolução cumpria, segundo ele próprio anunciava, com “as
exigências da moderna pedagogia”, ao separar os alunos do primário e do
secundário, como apresentado nesta propaganda:
20
Segundo Amaral (2005, p.136), as primeiras instituições de ensino equiparadas em Pelotas
foram o Ginásio Gonzaga, em 1904, e o Colégio Pelotense, em 1906.
82
Figura 11 – Anúncio do Collegio Evolução.
Fonte: JORNAL A DISCUSSÃO, 1/4/1886.
Além de buscar constantemente melhorar não somente o seu
programa, esta instituição, correspondendo ao seu nome “Evolução”, ao longo
dos anos foi se estruturando, evoluindo, sempre apresentando à comunidade
seus esforços para progredir, e o porquê de os pais confiarem no que a instituição
propunha à educação de seus filhos.
83
É comum observar também que as instituições de ensino divulgavam
seus programas para a comunidade pelotense, e para outras cidades da Região
Sul aquelas nas quais os jornais pelotenses também circulavam. Nesse caso,
um anúncio que chama atenção é o do Curso Racional. Em seu texto, o colégio
anunciava a abertura da instituição, justificando que não prometeria disciplinas
que não viesse a oferecer pela falta de recursos. No anúncio ainda foi possível
constatar que a instituição de ensino se propõe a cumprir com aspectos da
educação que caberia à família, comparando a atuação do professor à atuação
paterna. Além de demonstrar o quanto se colocava refém da opinião da
comunidade, com relação aos serviços por ela oferecidos.
Figura 12 – Anúncio do Curso Racional.
Fonte: JORNAL DIÁRIO DE PELOTAS, 7/1/1878.
84
Constata-se, por fim, que essa instituição propunha que a educação de
seus alunos ultrapasse o espaço escolar, estendendo-se para o cotidiano dos
alunos, em que os professores também seriam responsáveis pelas atitudes dos
discentes no convívio social, responsabilizando-se por um papel que caberia,
quem sabe, à família.
Figura 13 – Anúncio do Collegio Franco Rio-Grandense.
Fonte: JORNAL DIÁRIO DE PELOTAS, 10/1/1877.
85
Nesta outra propaganda além de destacar os serviços que a instituição
oferecia, o colégio também utilizou o espaço do anúncio para divulgar as
aprovações dos alunos, ao longo dos anos de seu funcionamento:
Figura 14 – Anúncio do Collegio Sul-Americano.
Fonte: JORNAL A PÁTRIA, 20/1/1888.
86
Com base nas propagandas das instituições que ofereciam o ensino
secundário, verificou-se que, os seus discursos, em Pelotas, estavam pautados,
geralmente, nos resultados obtidos por seus alunos nos exames para o ingresso
no ensino superior, e que os seus calendários escolares ficavam condicionados
às datas dos exames.
Além de instituições de ensino com o foco voltado para os exames,
encontrou-se também uma oferta de cursos que preparavam os alunos para o
comércio. O Curso Commercial, fundado em 1879, dirigido por Eduardo Wilhelmy
(ver Tab.2), que deixava claro no nome da instituição o tipo de ensino a que se
dedicava, é um exemplo. Em sua propaganda, o diretor garantia a colocação de
seus alunos no mercado de trabalho, além de um histórico para que a
comunidade tivesse acesso à vida escolar de determinado aluno ao longo do
curso. Percebeu-se, com isso, que essa era uma forma encontrada pela
instituição de atestar a sua eficiência. Diferentemente dos preparatórios que
possuíam uma maneira de “testar a qualidade” do ensino oferecido por meio dos
exames, elas utilizavam, para isso, os cargos alcançados por seus alunos, como
se pode observar no anúncio que segue:
87
Figura 15 – Anúncio do Collegio Commercial.
Fonte: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 10/1/1895.
Foi possível também constatar que os colégios, diferentemente dos
preparatórios, além das disciplinas exigidas nos exames, ofereciam também aulas
extras, normalmente pagas separadamente. Isso poderia significar que as
disciplinas que não constavam nos exames não eram procuradas pela totalidade
de seus alunos, caso contrário, fariam parte das cobranças trimestrais efetuadas
[...] Os alumnos que frequentaram e
concluiram sua educação neste
estabelecimento, sempre têm
encontrado collocação com
facilidade em acreditadas casas
commerciaes, tanto nesta cidade
como no Rio Grande. Cada alumno,
ao despedir-se deste collegio,
recebe um certificado sobre o seu
comportamento e a saber, os Srs.,
comerciantes, etc. que desejarem
tomar para seu empregado um ex-
alumno deste estabelecimento,
devem exigir o dito certificado, para
sua informação [...]
88
pelas instituições. A lista de disciplinas dos colégios apresentava-se, muitas
vezes, mais ampla do que a grade dos preparatórios. De qualquer forma, a
conclusão de um curso secundário regular em escolas não equiparadas ao “Pedro
II” não dava direito ao aluno ingresso nos cursos superiores. Esses seriam obtidos
somente através dos exames. A diversificação de oferta de disciplinas foi
oferecida pelo Collegio Franco Rio-Grandense, um espaço em que os alunos
teriam acesso a aulas de ginástica e esgrima disciplinas que também vinham
corroborar com uma ampliação cultural por parte de seus alunos:
Figura 16 – Anúncio do Collegio Franco-Rio-Grandense.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 23/1/1877.
Uma outra instituição que deixou claro o seu posicionamento quanto a
oferecer uma grade curricular mais ampla do que muitas instituições de ensino
secundárias, não se direcionando apenas aos pontos cobrados nos exames, foi o
Curso Secundário:
89
Figura 17 – Anúncio do Curso Secundário.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 5/1/1893.
Nesse período em Pelotas, como mencionado anteriormente, existiu
um conjunto de motivos que viabilizaram a instalação de instituições de ensino
privadas. Dentre eles está, principalmente, a riqueza advinda da indústria do
charque, a presença de uma elite e de seu conseqüente interesse em educar não
somente os meninos como também as meninas; a tímida presença do poder
público na esfera educacional, entre outros.
[...] As licções serão dadas
a todos os alumnos á
mesma hora,
impreterivelmente, e
versarão, não
exclusivamente sobre os
pontos para exame mas
sobre o conhecimento
completo da matéria, o
que é muito diverso [...]
90
Todos esses fatores, aliados a uma sociedade que vivenciava e
prestigiava o desenvolvimento da estética e das artes, vendo nelas o reflexo de
um modo de vida civilizado, acabava por proporcionar aos seus artistas espaços
de ensino em que teriam oportunidade de desenvolver técnicas mais avançadas.
Observou-se, com isso, que os cursos dirigidos para os artistas existiram porque
havia, na cidade, uma demanda por atividades ligadas às áreas, por exemplo, da
arquitetura, da pintura e da escultura. A preocupação em qualificar a mão-de-obra
dos artistas, que se especializariam, estava relacionada a esse desenvolvimento
cultural presente na cidade. Verificou-se, então, que os cursos adaptavam seus
horários conforme a disponibilidade de seu público, os artistas, como se constata
nos anúncios do Collegio Ozório e da Escola Nocturna Pelotense:
Figura 18 – Anúncio do Curso de Desenho e Pintura.
Fonte: JORNAL ONZE DE JUNHO, 12/2/1893.
Figura 19
21
– Anúncio da Escola Nocturna Pelotense.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 11/1/1877.
21
A fotografia deste anúncio não está completa porque esse se apresentava deteriorado. Como
não foi possível encontrá-lo em uma outra data ou jornal, fotografou-se a parte em que são
mencionadas as vagas para artistas no ensino noturno.
91
Diante do quadro exposto conclui-se que, em Pelotas, assim como no
Brasil, a população recorria às aulas particulares, ou à generosidade alheia, para
suprir a ausência do Estado na educação. Conforme Cardoso (2005, p.183):
não havia disputa entre a escola pública e a particular nesse contexto, o
que não deixa de ser um paradoxo, porque a Coroa portuguesa teve um
grande empenho em elaborar uma legislação bastante restritiva,
minuciosa, comprometida com uma idéia de progresso e de civilização,
voltada tanto para a implantação da escola pública quanto para o
funcionamento da particular, sem no entanto promover condições reais
de aplicabilidade da mesma.
Segundo esse autor, mesmo durante o Período Imperial brasileiro, não
se observa uma disputa entre o ensino público e o privado, uma vez que a escola
pública não preencheu as necessidades da população. Por isso a escola
particular mantinha um espaço de atuação que era complementar e não
concorrente.
Nesse cenário de expansão da instrução, passaram a ser valorizadas
as inovações pedagógicas, principalmente as estrangeiras, além de, por exemplo,
o espaço escolar, os novos materiais pedagógicos bem como o mobiliário escolar
especializado. Era um momento em que jornais e revistas passaram a destinar
espaço para anúncios de materiais escolares diversos e listas de livros. Esse
movimento era ainda reforçado pelas exposições pedagógicas nacionais e
internacionais, em que se tornava hábito exibir o que os países possuíam de mais
adiantado em recursos educacionais (VILLELA, 2000, p.117).
2.2.2 As Instituições de Ensino em Pelotas
De posse do corpus documental que suporte a esta pesquisa
organizou-se uma tabela, em ordem cronológica, de criação das instituições, que
apresenta as de ensino público e privado rastreadas no período estudado, no
intuito de sistematizar e reunir alguns dados mais relevantes considerando,
inclusive, outras pesquisas que venham a ser feitas e que abordem aspectos da
História da Educação em Pelotas. Ressalta-se que os espaços deixados em
branco na tabela ocorreram porque, através dos anúncios e dos relatórios
investigados, não foi possível detectar tais dados.
92
É preciso destacar ainda que, por conter muitos dados, optou-se por
imprimir a tabela num formato maior do que o deste trabalho. Sabe-se que o
manuseio dessa, além de não ser muito prático, pode se tornar prejudicado pelas
sucessivas aberturas e fechamentos. De qualquer forma, sentiu-se a necessidade
de reunir em uma única tabela todos os dados, encontrados nos anúncios, sobre
as instituições de ensino. Assim, será possível visualizar e compreender a
totalidade das informações sobre as instituições, permitindo a comparação entre
essas. Caso esse formato não fosse adotado ela ficaria secionada em oito
páginas, dificultando a visualização da totalidade dos dados.
Com base nesse entendimento, ao longo desta pesquisa, foram
elaborados pequenos quadros e tabelas destacando e aprofundando a discussão,
quando necessária, sobre algumas informações nelas contidas.
A tabela a seguir contém, então, as seguintes informações: ano ou data
de criação das instituições de ensino encontradas, tipo de ensino oferecido,
primário ou secundário, de cunho privado ou público, população a que se dirigia
(masculina ou feminina), anos em que foi possível encontrar a instituição
anunciando nos jornais, total de anos de atuação segundo a divulgação dos
anúncios e da periodização desta pesquisa, além de endereço das instituições. É
importante destacar que foram acrescidos na tabela todos os endereços das
instituições, com o respectivo ano em que se manteve nesse endereço. De igual
forma torna-se necessário comentar que se o ano de publicação dos anúncios
não conferir com a data de início das atividades de uma instituição, isso ocorreu,
porque, normalmente, nos meses de novembro e dezembro do ano anterior,
era possível encontrar propagandas divulgando a abertura da escola para o
próximo ano.
Ver Tabela 2 em anexo.
94
Em Pelotas, nos anos investigados, como pode ser constatado, foram
muitas as iniciativas de ensino privado, entre escolas femininas, masculinas e
algumas mistas (ver Tab.2). Além das 78 escolas privadas rastreadas na
pesquisa, também se encontrou anúncios referentes a aulas particulares, ou seja:
as aulas que ocorriam nos domicílios dos professores ou dos alunos e que
conviveram com as instituições que iam se formando. O fato de os dados sobre o
ensino particular, individual e domiciliar não estarem contemplados na tabela
ocorreu em função da premência de tempo para a realização deste trabalho.
Ainda assim, com base nas propagandas sobre o ensino privado,
constatou-se que os professores que ministravam o ensino particular também
eram docentes de instituições de ensino. Nas horas em que não lecionavam nas
escolas, preenchiam seus horários com aulas particulares.
Ao observar a grade curricular das escolas, foi possível perceber que
essas ofereciam mais ou menos de 4 a 5 horas/aula, 2 pela manhã e duas à tarde
quando não se tratava do ensino noturno. Isso pode levar à seguinte hipótese:
quando um professor não dava aula em diferentes escolas, o seu tempo semanal
se tornava amplo, por isso oferecia o tempo restante. Fazia isso, provavelmente,
para complementar os seus salários
22
, como o professor Joaquim Napoleão
Epaminondas de Arruda, que lecionava no Collegio Reis (conforme Tab.3) e
oferecia suas horas vagas neste anúncio:
22
Este tema será discutido no subcapítulo “Mercado docente em Pelotas: os(as) professores(as)
`vantajosamente conhecidos(as)´”.
95
Figura 20 – Anúncio do professor J. Napoleão Arruda.
Fonte: JORNAL DO COMÉRCIO, 28/1/1876.
É importante salientar que, ao longo dos 35 anos em que esta pesquisa
se concentrou, inúmeros estabelecimentos de ensino abriram e fecharam na
cidade de Pelotas. Esses números totais, arrolados por meio dos anúncios, não
representam, necessariamente, a existência de instituições funcionando
concomitantemente. Com o passar do tempo, determinadas instituições, como os
Ginásios Gonzaga e Pelotense, acabaram por receber uma crescente quantidade
de alunos, o que provavelmente refletiu na diminuição de instituições de ensino
primária e secundária.
Ainda com relação à iniciativa privada, no relatório da Intendência de
Pelotas de 1912, apresentado pelo intendente Cypriano Corrêa Barcellos ao
Conselho Municipal em 20 de setembro, encontrou-se um mapa escolar, referente
ao ano de 1911, das aulas particulares que perfaziam um total de 83 escolas
particulares com 3.391 alunos desses, 2.256 eram do sexo masculino e 1.135,
do feminino.
96
Nesse contexto percebe-se, tanto pelo conteúdo dos anúncios, como
através dos relatórios, que foram muitas as iniciativas do ensino privado na
cidade. Por meio da exposição das características dos serviços de que as
instituições dispunham, foi possível encontrar, nos anúncios, dados sobre sua
origem e seu cotidiano. Desse modo, pode-se saber como as escolas eram
constituídas uma vez que eram detalhados, por exemplo, seu calendário escolar,
seu corpo docente, suas condições de admissão, as disciplinas que ofereciam,
além de sua estrutura física.
Com relação à estrutura física das escolas, foram encontrados dois
anúncios que ilustram o prédio da instituição. Em uma propaganda do Collegio
Evolução, além da ilustração da fachada do prédio, aparece a descrição do
mesmo. O texto chama a atenção para o fato de que o colégio ocupava duas
casas, possuindo três grandes pátios que possibilitavam separar os alunos por
idade. Essa preocupação por parte da escola, diferentemente de outras
instituições, permite perceber que os alunos poderiam ser separados por classes,
dentro das horas de estudo, como também nos momentos de lazer.
97
Figura 21 – Anúncio do Collegio Evolução.
Fonte: JORNAL DIÁRIO DE PELOTAS, 1/1/1888.
Ressalta-se que somente foram encontrados nos anúncios imagens de
duas fachadas dentre as tantas escolas que funcionaram em Pelotas. Causa
Este
estabelecimento
de instrucção
primaria e
secundaria reabre
as aulas a 9 de
janeiro p.f.
Funcciona, á
praça da igreja,
em dous espaços
edifícios, que
dispõem de três
grandes pateos
para jogos e
recreios dos
alumnos
separados
segundo as idades
[...]
98
estranheza o fato de, por exemplo, o Gymnasio Pelotense não publicar sua
fachada, uma vez que possuía prédio próprio, um palacete que pertencia à família
Ribas e que fora adquirido pela Maçonaria. Este prédio, no final do século XIX,
chegou a abrigar membros da família real em visita a Pelotas. Portanto, o espaço
ocupado pelo Gymnasio Pelotense era um diferencial dentre outros existentes na
cidade. Embora não apresentasse o prédio, discorria nos anúncios, as suas
características singulares. Convém lembrar que muitas delas mudaram seu
endereço ao longo dos anos como aponta a Tab.2. Um exemplo disso é a Escóla
Allemã/Deutsche Schule que, em 1902 se localizava na rua General Osório, já em
1904, tinha como endereço a rua Felix da Cunha e no ano de 1906, muda-se para
a General Netto n.16. Os textos dos anúncios revelam, então, que muitas delas
alugavam um espaço para desenvolver as atividades da educação não
possuindo, portanto, o seu próprio prédio. Com isso, as aulas particulares e os
colégios representam, segundo Faria Filho e Vidal (2000, p.22), uma
“multiplicidade de modelos de escolarização realizados nas escolas do século
XIX”, em que “todos eles, com exceção dos colégios, utilizavam espaços
improvisados nas casas das famílias ou dos professores e de prédios públicos ou
comerciais”.
Por outro lado, aquelas escolas que divulgavam sua estrutura física
apresentavam um discurso sobre a qualidade, a tradição, além de reforçar a
identidade pretendida por elas. Esse discurso auxilia na construção de um
sentimento de pertencimento, pois além de um nome e de professores
competentes, a instituição possuía um marco que lhe identificava dentro do
espaço urbano pelotense. Esse é o caso do Lyceu Rio-Grandense observado na
próxima propaganda.
A Fundação da Imperial Escola de Medicina Veterinária e de
Agricultura Practica em 1883, origem da atual Faculdade de Agronomia Eliseu
Maciel, a mais antiga do Brasil, começou com a doação de um terreno pela
Câmara de Pelotas às custas da família Maciel, e sob direção do Dr. Claude
Rebourgeon um francês que viria ao Brasil produzir um antígeno de vacina anti-
variólica. Mas, na sua criação, houve uma divergência da Corte com relação à
99
constituição da Faculdade. O ministro Antônio Prado decreta o fechamento da
Escola Imperial e manda leiloar os animais e aparelhos agrícolas trazidos da
Europa. O leilão aconteceu de uma forma tumultuada, com protestos e
manifestações. Em 1887, a Câmara Municipal conseguiu reverter o patrimônio e
transformou a instituição em um Liceu de Agronomia (MAGALHÃES,1993).
Figura 22 – Anúncio do Lyceu Rio-Grandense.
Fonte: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 1/1/1893.
100
Quanto ao tamanho das instituições escolares, torna-se necessário
realizar uma pesquisa mais ampla e aprofundada, mas encontrou-se alguns
dados que podem dar pistas da estrutura de determinadas escolas. Por exemplo:
o número de alunos e de professores e a importância destes no cenário educativo
local; o preço cobrado pelos trimestres; o número de disciplinas oferecidas e o
número de diretores que a instituição possuía. Além disso, o próprio tamanho dos
anúncios trabalhava a favor de uma imagem imponente divulgada pela instituição
como, por exemplo, as apresentadas pelos Collegios Racional e Sul-Americano,
que no jornal onde estão publicados, apresentam-se em destaque, com um
tamanho de 40 x 15 cm. Ao analisar-se a Tab.2, verifica-se que ambos colégios,
se comparados com as demais escolas, tiveram um número significativo de
publicações de anúncios. É provável que, por terem melhores condições
econômicas, ao oferecerem um número maior de serviços, algumas escolas
acabavam publicando anúncios maiores, que facilitavam a disposição das
informações, além de destacar a variedade de serviços de que dispunham e de
vender uma imagem de imponência para a instituição.
101
Figura 23 – Anúncio do Collegio Curso Racional.
Fonte: JORNAL ONZE DE JUNHO, 4/1/1884.
Figura 24 – Anúncio do Collegio Sul-Americano.
Fonte: JORNAL ONZE DE JUNHO, 9/1/1884.
Sobre o número de alunos que cada instituição abrigava, algumas
propagandas apontam a quantidade máxima de discentes permitida para a
matrícula; outras não davam pistas da capacidade da escola. O que se percebeu
foi que provavelmente algumas instituições de ensino divulgavam o número total
de alunos ao somar a quantidade de matriculados em cada disciplina oferecida.
Com isso, a quantidade seria bem maior do que o número real de alunos
freqüentando a escola. O Collegio Evolução, por exemplo, apresentou, no anúncio
seguinte, que o número anual de alunos chegou a 120. Isso significa que, ao
102
longo de quatro trimestres, 120 matrículas foram efetuadas no colégio, não
necessariamente por 120 alunos. Isso porque poderiam ser, por exemplo, 30
alunos que se matricularam durante 4 trimestres.
Figura 25 – Anúncio do Collegio Evolução.
Fonte: JORNAL A DISCUSSÃO, 1/4/1886.
outras instituições davam a entender que o mero de alunos
divulgado era de fato absorvido pela instituição trimestralmente. Esse é um
elemento que pistas do tamanho da instituição, que algumas publicavam
que 60 seria a quantidade máxima de matrículas. Esse número seria dividido em
duas turmas do ensino primário, acrescido de dez matrículas para o nível
secundário, como foi descrito no anúncio da Escola Moderna encontrado no
Jornal Diário Popular de 9/1/1898. Um caso em que a quantidade de alunos
divulgada era significativa, se comparada com a de outras instituições, refere-se
103
ao Collegio São Francisco de Paula, que se dispunha a receber um número
superior a 100 alunos.
Figura 26 – Anúncio do Collegio São Francisco de Paula (3).
Fonte: JORNAL A NAÇÃO, 16/1/1894.
Este estabelecimento de
instrucção primaria e
secundaria, situado no
centro da cidade com
espaço sufficiente para
recreio dos alumnos e
acompanhado de todas
as circunstancias
hygienicas, tem
capacidade para receber
numero superior a 100
discípulos [...]
104
Mesmo que o colégio não tenha deixado claro se era anual a
capacidade de recebimento de alunos, o fato de tornar público que poderia
abrigar uma população superior a 100 alunos e que possuía espaçosos pátios
além condições higiênicas favoráveis para receber os discentes, permite constatar
aspectos sobre a estrutura física da escola, além de dar sinais sobre o que era
oferecido aos alunos com relação a um tipo de ambiente escolar, existente na
cidade de Pelotas, no período estudado.
Com relação à localização das instituições, conforme destacado nos
anúncios, ministravam-se, em sua maioria, (ver planta p.111) na zona central nas
principais ruas da cidade – que aos poucos melhoravam suas condições de
saneamento e urbanização. A preocupação com “as exigências higiênicas” que
atendessem às expectativas das “famílias dos alunos” era constantemente
apontada nos anúncios, como apresentado a seguir:
Figura 27 – Anúncio da Escola Moderna.
Fonte: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 3/3/1898.
105
Em Pelotas, o pensamento higienista foi difundido no contexto das
discussões sobre o saneamento da cidade, debate que ganhou força justamente
na transição do final do século XIX para o início do século XX. Como em outras
cidades do Brasil, o progresso e o crescimento urbano acelerado resultaram em
obras de saneamento. Como afirma Soares (2001), “o triunfo dos postulados
positivistas de ordem e progresso com a proclamação da república foi o sinal da
abertura definitiva do caminho para a penetração social das idéias higienistas”. O
pensamento higienista refletiu-se não na educação local, mas na educação
nacional. Conforme Faria Filho (2000, p.147):
o desenvolvimento dos saberes científicos, notadamente da medicina e,
dentro dessa, da higiene, e sua aproximação do fazer pedagógico, vão
influir decisivamente na elaboração da necessidade de um espaço
próprio para a escola. Ao mesmo tempo em que elaboravam uma
contundente crítica às péssimas condições das moradias e dos demais
prédios para a saúde da população em geral, os higienistas acentuaram
sobremaneira o mal causado às crianças pelas péssimas instalações
escolares. Além disso, expunham o quanto a falta de espaços e
materiais higienicamente concebidos era prejudicial à saúde e à
aprendizagem dos alunos (grifo do autor).
Ao analisar os anúncios, foi possível identificar a localização de parte
das instituições de ensino. Algumas apresentavam o endereço como um elemento
meramente informativo; outras exploravam a localização da escola como mais um
diferencial de qualidade e de preocupação com a comunidade, além de respeito
às exigências de higiêne da época.
Investigando-se o quadro 2 e a planta da cidade de Pelotas
apresentados nas próximas páginas pode-se inferir que a rua General Victorino e
a rua do Imperador (hoje Anchieta e Félix da Cunha, respectivamente) tiveram, ao
longo dos anos investigados, uma concentração maior de instituições. Aparecia
nos discursos das escolas, instaladas, que essas se localizavam em ruas com
“melhores condições higiênicas”.
No relatório apresentado ao Conselho Municipal, em 2 de setembro de
1904, pelo Intendente José Barbosa Gonçalves, um quadro demonstrativo dos
calçamentos e recalçamentos efetuados durante o ano de 1903 em Pelotas. Das
ruas contempladas com o serviço de construção de novos calçamentos a rua
106
General Victorino, entre General Telles e Tiradentes, obteve investimento neste
setor pela então intendência na ordem de 619,60 m
2
e pela iniciativa particular
num total de 937,29 m
2
. Foi a rua em que mais se investiu no ano de 1903. A que
obteve o menor investimento foi a rua Gonçalves Chaves, entre 16 de Julho e
Voluntários, em que somente a iniciativa particular foi responsável pelos
calçamentos novos, chegando a 123,12 m
2
.
Ainda com relação à rua do Imperador em 1869, o português Augusto
de Pinho, em uma viagem realizada ao sul do Brasil, destacou, no seu diário de
viagem, o que percebera sobre os aspectos urbanos de Pelotas. Entre seus
escritos foi possível encontrar o seguinte:
o arruamento de Pelotas é talvez o mais bem traçado que possue o
Imperio do Brazil, e bem poucas cidades da Europa o terão tão perfeito e
regular. Dezoito ruas de boa largura e quatro praças muito bem
alinhadas, o o que por enquanto pode-se chamar cidade. [...] A rua
do Imperador conta entre os seus melhores prédios, o da residência do
Sr. commendador Ribas [...] A cidade que conta com um bom mero
de prédios, virá em pouco a tornar-se mais bella, pois que o gosto pelas
boas construcções começa ali a desenvolver-se rapidamente (PINHO,
1872, p.48-50).
No Relatório da Intendência de 1906, analisou-se um quadro
comparativo das edificações e reedificações que ocorreram em Pelotas de junho
de 1895 a junho de 1906. As ruas que tinham um maior número de edificações ao
longo dos anos analisados foram: Manduca Rodrigues atual Prof. Araújo (58
edificações), Quinze de Novembro (51), Marechal Deodoro (50), Paysandú – atual
Barão da Santa Tecla (47), General Osório (35), General Victorino (34). Essas
ruas foram escolhidas por muitos dirigentes de instituições de ensino que ali
fixaram os seus colégios, como se pode averiguar no quadro 2.
Ao analisar o destaque dado à localização de uma determinada
instituição de ensino, foi possível perceber as representações produzidas pelos
agentes e profissionais da educação sobre o espaço escolar que ocupavam, e
conseqüentemente, sobre o espaço urbano pelotense. Nos seus discursos
estavam presentes não as qualidades da rua e do prédio que ocupavam mas,
também, em alguns casos, os seus antigos proprietários e seus vizinhos que,
107
por serem pessoas conhecidas na cidade, eram usados como referência do local,
como ocorreu no anúncio do Lyceu Municipal:
Figura 28 – Anúncio do Lyceu Municipal.
Fonte: JORNAL DIÁRIO DE PELOTAS, 2/1/1878.
Mesmo entendendo que esse foi um momento em que não era comum
a construção de prédios escolares, foi importante perceber que, para este fim,
eram alugadas construções de pessoas reconhecidas pela comunidade
pelotense, em espaços urbanos também privilegiados, como muitas vezes
divulgado nas propagandas encontradas. Segundo Faria Filho (1998), esta:
é uma cultura escolar que dialoga com a cultura urbana, criando e/ou se
apropriando de representações sobre o conjunto do social a partir do seu
lugar específico na cidade. É a cultura de uma escola que se localiza,
literal e simbolicamente, no centro, visando a influenciar os "poderes
constituídos" e, neste movimento, constituir-se como um poder de
influência sobre os "outros", sobre aqueles que se localizam na periferia
(grifo do autor).
Salienta-se que este foi um momento em que as escolas buscavam
melhores condições higiênicas para desenvolverem o seu trabalho e respeitar a
legislação, mas também usavam o espaço urbano como um diferencial, ajudando,
portanto a construir as representações de um espaço público que estava em
construção: a cidade de Pelotas.
108
Diante dos inúmeros indícios sobre a localização das instituições de
ensino de Pelotas, estruturou-se um quadro demonstrativo, contendo os seus
diferentes endereços ao longo dos anos analisados. Esses dados foram
aplicados, posteriormente, em uma planta da cidade de Pelotas, ilustrando a
quantidade de instituições que optaram por se localizar em uma determinada rua
da cidade. Cada rua recebeu um código de cor identificado no quadro, sendo
apresentadas suas diferentes denominações no período estudado. Essas cores
foram aplicadas em pequenas circunferências, localizadas na planta, para que
demarcassem as ruas e representassem a quantidade de instituições de ensino
que se situaram em determinadas ruas – conforme é possível verificar no quadro.
Quadro 2 Endereços das Instituições de Ensino mapeados por meio das Propagandas
Institucionais (1875-1910).
ENDEREÇOS DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO (1875-1910)
NOME(S) DA RUA
NOME DA INSTITUIÇÃO/Nº DO PRÉDIO/ANO
CÓDIGO DE COR
IDENTIFICADOR
DA RUA USADO
NA PLANTA
PARQUE PELOTENSE
23
ESCOLA POPULAR PRÍNCIPE DO GRÃO-PARÁ (1885)
PRAÇA DA IGREJA
COLLEGIO FRANCO RIO-GRANDENSE n.24
PRAÇA DA REPUBLICA
COLLEGIO DUPONT n.12 (1905-1906)
CURSO NOTURNO – BIBLIOTHECA PÚBLICA
PELOTENSE n.103
EXTERNATO PELOTENSE – IDALINA CALERO DE
CARVALHO n.35
ROSA BEBÊ
PRAÇA PEDRO II
COLLEGIO S. JOSÉ (1876)
COLLEGIO PEDRO II n.22 (1887) – Junto ao Theatro
Sete de Abril
RUA 15 DE NOVEMBRO
24
---------
RUA SÃO MIGUEL
COLLÉGIO GONZAGA n.46 (1889)
COLLEGIO MARIO DE ARTAGÃO n.322 (1898)
INTERNATO E EXTERNATO FRANCEZ n.266 (1905)
GYMNASIO GONZAGA n.671 (1912) n.166 (1895-1896)
COLLEGIO S. JOSÉ n.207 (1912)
---------
COLLEGIO SANTA ROSA n.113 (1875)
COLLEGIO MME. JEANNERET n.153 (1876) n.151 (1876)
COLLÉGIO FRÓES n.62 (1878)
ESCOLA “QUINTINO BOCA YUVA” (1903)
COLLEGIO S. JOSÉ n.163 (1878)
COLLEGIO PERSEVERANÇA n.226 (1887-1889)
COLLEGIO MINERVA n. 259 (Fundos da Igreja Matriz)
(1891)
EXTERNATO PARTICULAR – EMILIA DE MENDONÇA
n.307 (1884)
VERMELHA
RUA 24 DE OUTUBRO
CURSO NORMAL DE INSTRUCÇÃO n.70 (1878)
23
A Escola Popular não foi localizada na planta apresentada a seguir, pois seu endereço era o
Parque Pelotense, que se situava no atual bairro Fragata. Este, por sua vez, não aparece na
planta da cidade.
24
As linhas pontilhadas dividem as nomenclaturas pelas quais uma rua foi denominada em
diferentes épocas.
109
ENDEREÇOS DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO (1875-1910)
NOME(S) DA RUA
NOME DA INSTITUIÇÃO/Nº DO PRÉDIO/ANO
CÓDIGO DE COR
IDENTIFICADOR
DA RUA USADO
NA PLANTA
RUA 7 DE ABRIL
COLLEGIO RACIONAL n.46 (1884)
COLLEGIO DE INSTRUCÇÃO ELEMENTAR n.26 (1878)
ATHENEU PELOTENSE n.58 (1889-1901)
RUA 7 DE SETEMBRO
COLLEGIO PERSEVERANÇA n.58 (1887)
BETERRABA
RUA ANDRADE NEVES
COLLEGIO ESPERANÇA n.41 (1887)
ESCOLA MODERNA n.176 (1896-1898)
COLLEGIO S. FRANCISCO DE PAULA (2) n.67 (1901)
n.39 (1902)
LUZO-BRASILEIRO n.172 (1910)
CURSO SECUNDÁRIO ARTHUR TOSCANO – (esquina
Três de Fevereiro) (1893)
COLLEGIO VICTORIA n.151 (1889)
COLLEGIO FRANCEZ – ARISTIDES GUIDONY n.141
(1876)
COLLEGIO PERSEVERANÇA n.221 (1905)
AZUL CYAN
RUA DO IMPERADOR
---------
RUA FÉLIX DA CUNHA
ATHENEU S. JOÃO ns.36, 38, 40 (1877)
COLLEGIO PELOTENSE n.38 (1876)
COLLEGIO FRANCEZ - ARISTIDES GUIDONY n.98
(1880)
COLLEGIO HONRA E TRABALHO n.169 (1887)
CURSO DE ESTUDOS PREPARATORIOS – BERNARDO
TAVEIRA JUNIOR e ALFREDO FERREIRA RODRIGUES
n.85 (1887)
COLLEGIO ACÁCIA n. 124
COLLEGIO FRANCO BRAZILEIRO – MME LAMEIGNARE
CURSO PARTICULAR - FERNANDO A. PIMENTEL n.130
(1888) n.150 (1889-1890-1891)
LYCEU RIO-GRANDENSE DE AGRONOMIA E
VETERINÁRIA n.165 (1889)
ESCÓLA ALLEMÃ/DEUTSCHE SCHULE n.165 (1889)
COLLEGIO EVOLUÇÃO n.24 (1889)
---------
GYMNASIO – JOSÉ HENRIQUE LARA ULRICH n.226
(1894-1901)
INSTITUTO LATINO n.129 (1900)
COLLEGIO COMERCIAL – EDUARDO WILHELMY n.165
(1893) n.184 (1902-1904) n.163 n.129 (1886) n.249 (1885)
COLLEGIO ALLEMÃO n.137 (1909-1910) n.763 (1912)
CURSO PARTICULAR COMPLEXO/INSTITUTO
BRAZILEIRO – Esquina Praça da República (1909)
GYMNASIO PELOTENSE n.520
AULA PARTICULAR /CURSO PRIMÁRIO/COLLEGIO
FRÓES – ALBERTO FRÓES n.195 (1893) n.159 (1896)
COLLEGIO COMMERCIAL/CURSO PRÁTICO – JOSÉ
MARCHIARO n. 184 (1903-1904) n. 137 (1906)
COLLEGIO MARIO DE ARTAGÃO n.124 (1899)
CURSO PARTICULAR – FERNANDO A. PIMENTEL n.150
(1889-1890-1891)
EXTERNATO NACIONAL/EVOLUÇÃO n.24 (1890)
RUA DR. MIGUEL BARCELLOS
GYMNASIO PELOTENSE (1902-1903)
RUA GENERAL NETTO
COLLÉGIO EDUARDO BORGES n.28 n.24 (1901-1902)
COLLEGIO S. FRANCISCO DE PAULA (2) n.49 (1905)
AULA PARTICULAR – ALBERTO FRÓES n.21 (1886)
ESCÓLA ALLEMÃ/DEUTSCHE SCHULE n.16 (1906)
ESCOLA MODERNA n.16 (1906)
RUA GENERAL OSÓRIO
ESCÓLA ALEMÃ n.47 (1899-1902)
COLLEGIO FRANCO BRAZILEIRO - JOÃO B. GIUDICULLI
n.106 (1909)
AULA NOCTURNA – (esquina São José)
COLLEGIO UNIÃO n.131 (1901)
RUA GENERAL VICTORINO
---------
RUA DA IGREJA
COLLEGIO ARNIZAUT FURTADO & GUIDONY n.130
(1875)
COLLEGIO REIS - canto da Três de Maio (1876)
COLLEGIO ARNIZAUT FURTADO ns.128 e 132 (1876)
COLLEGIO SILVEIRA n.75 (1881) n.80 (1882)
110
ENDEREÇOS DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO (1875-1910)
NOME(S) DA RUA
NOME DA INSTITUIÇÃO/Nº DO PRÉDIO/ANO
CÓDIGO DE COR
IDENTIFICADOR
DA RUA USADO
NA PLANTA
RUA DA IGREJA
COLLEGIO CURSO RACIONAL
COLLEGIO S. FRANCISCO DE PAULA (3) n.103 (1875-
1881-1883-1894)
COLLEGIO PARTICULAR n.35 (1894)
COLLEGIO MINERVA n.80 (1882)
ESCÓLA ALLEMÃ/DEUTSCHE SCHULE n.47 (1899)
COLLEGIO PERSEVERANÇA n.103 (1891) n.141 (1889)
---------
AULA DE FRANCEZ – MME. AUDISSON (1875-1876)
RUA GONÇALVES CHAVES
---------
RUA JATAHY
COLLEGIO N. S. DA CONCEIÇÃO n.166 (1898)
ESCOLA MODERNA n.113 (1901)
COLLEGIO S. FRANCISCO DE ASSIS n.352 (1910)
EXTERNATO FRANCEZ – MME. MARGUERITE GASTAL
n.164 (1898)
EXTERNATO PELOTENSE – IDALINA CALERO DE
CARVALHO n. 671 (1912)
COLLEGIO S. FRANCISCO DE PAULA (2) – D. MARIA
BATISTA PEREIRA n.113 (1902)
---------
COLLEGIO ESPERANÇA (1875)
COLLEGIO DE INSTRUCÇÃO ELEMENTAR – FERNANDO
PIMENTEL E WASHINGTON BARCELLOS n. 108 (1879)
RUA PAYSANDU
COLLEGIO SANTA CECILIA n.62 (1905) n.108 (1878-1881-
1887)
COLLEGIO VICTORIA n.98 (1881)
AULA PARTICULAR – ALBERTO FRÓES n.108 (1887)
COLLEGIO CURSO RACIONAL n.86 (1892)
RUA RIACHUELO
---------
RUA SÃO PAULO
ATHENEU PELOTENSE n.46 (1889)
COLLEGIO SANT´ANNA n.42 (1892)
---------
COLLEGIO REDEMPÇÃO n.35 (1877)
RUA SANTA BÁRBARA
---------
RUA MARECHAL DEODORO
COLLEGIO REDEMPÇÃO n.87 (1878-1884)
COLLEGIO SANTA CECILIA n.20 B (1880)
COLLEGIO PERSEVERANÇA n.109 (1884)
CURSO PRIMÁRIO - ALBERTO FRÓES n.68 (1889)
---------
ESCOLA PROGRESSO n.269 (1909)
RUA SÃO JERÔNYMO
---------
MARECHAL FLORIANO
COLLEGIO SUL-AMERICANO n.44 (1881)
LYCEU MUNICIPAL/RIO-GRANDENSE (1878)
COLLEGIO S. FRANCISCO DE PAULA (1) (1878)
RUA SÃO JOSÉ
MME. JEANNE CHAGNEAUD (1894)
RUA TIRADENTES
COLLEGIO MINERVA n. 159 (1902)
COLLEGIO UNIÃO ESPÍRITA n.47 (1909)
RUA VOLUNTÁRIOS
COLLEGIO STA. CECILIA n.45 n.37 (1906) n.57 (1895-
1899-1900-1901) n.49 (1890-1891)
COLLEGIO S. FRANCISCO DE PAULA (2) n.44 A (1905)
COLLÉGIO HONRA E TRABALHO n.25 (1891)
COLLEGIO OZÓRIO n.216 (esquina Imperador)
COLLEGIO COMMERCIAL/CURSO PRÁTICO – JOSÉ
MARCHIARO n. 49 (1906)
111
Figura 29 – Fotografia da Planta da Cidade de Pelotas, localizando as ruas em que as instituições
funcionaram.
Fonte: PLANTA DA CIDADE DE PELOTAS DE 1916, LIVRARIA UNIVERSAL, ECHENIQUE
COMPANHIA.
112
Ao localizar as escolas na planta, por meio de círculos coloridos,
buscou-se visualmente destacar a expansão das escolas na urbe pelotense.
Apesar de se ter o endereço das instituições com seus respectivos números, não
se encontrou um mapa em que a numeração das ruas aparecesse com a mesma
classificação do período investigado. Isso acabou dificultando a localização exata
de uma instituição. O mais próximo a que se chegou, foi situar um colégio no
espaço urbano quando este informava entre que ruas se dava o seu endereço. A
planta tem por propósito, então, destacar as ruas em que as instituições se
localizavam, sem necessariamente situá-las por zonas. Por isso é importante
salientar que foram apontados os endereços encontrados e as respectivas
escolas rastreadas ao longo dos 35 anos que este trabalho aborda. Pelo tempo
exíguo para ampliar esta pesquisa, e por não ser este o seu objetivo primeiro, não
foi possível traçar uma relação entre a densidade populacional e a localização das
instituições, mas entende-se que este é um ponto pertinente a ser considerado e
que poderá ser aprofundado em investigações futuras. Acredita-se, então, que
esta pesquisa cumpre com o seu objetivo ao trazer esses dados, pois entende-se
que eles poderão ser subsídios para estudos futuros em que se verifique, por
exemplo, se, atualmente, na cidade de Pelotas, ainda existem os prédios que
abrigaram tais colégios, como eram as suas estruturas, entre outros aspectos.
Durante este estudo, e por meio do quadro organizado, deparou-se
também com o fato de que, em diferentes anos, escolas distintas ocuparam o
mesmo prédio provavelmente porque este apresentava condições para o
desenvolvimento das atividades relacionadas à educação. Ao analisar o quadro 2
verificou-se que o Collegio Pelotense, em 1876, localizava-se na rua do
Imperador n.38, assim como veio a ocupar o mesmo endereço, no ano de 1887, o
Atheneu S. João, nos números 36, 38 e 40. O mesmo ocorreu com o Lyceu
Municipal que, em 1889, tinha como endereço a rua do Imperador n.165, que veio
a ser ocupada em 1893 pelo Collegio Comercial, e no ano de 1904, pela Escóla
Allemã/Deutsche Schule – na então rua Félix da Cunha n.165.
Existiu, também, a ocorrência de instituições localizando-se juntas,
quase no mesmo endereço de outra instituição em um mesmo ano. Como o
113
Collegio Comercial que, em 1904, tinha como endereço a rua Félix da Cunha
n.163, dividindo o espaço urbano com a Escóla Allemã/Deutsche Schule na
então rua Félix da Cunha n.165. O Collegio Comercial também chamou atenção
pela quantidade de vezes em que se mudou (ver Tab.2), sempre se localizando
na mesma rua: a rua Félix da Cunha n.129 (1886), n.165 (1893), n.249 (1895),
n.184 (1903), n.163 (1904). Os motivos da mudança não apareceram nos
anúncios mas acredita-se que poderiam estar ligados ao número de alunos que
crescia ou diminuía tornando necessário um espaço maior ou menor; à relação
de gastos com o aluguel; e à própria necessidade de se adequar às condições de
higiene. Ao observar-se a Tab.2, entendeu-se que essa era uma característica do
período investigado: as constantes mudanças das escolas no espaço urbano.
Além disso, em muitas propagandas, era divulgado que o endereço de
determinadas instituições seria provisório, possivelmente porque necessitavam
saber o número de alunos matriculados para, então, definir o tamanho do prédio a
ser ocupado e o que gastariam de aluguel com o mesmo. Esse fato deixa
evidenciado que, nesse momento, essas instituições de ensino não tinham um
espaço físico próprio, como o caso da Escola Moderna e do Collegio S. Francisco
de Paula, apresentado nos anúncios a seguir. Essa realidade, enfrentada pelo
ensino privado, poderia ocorrer, em função da deficiente oferta de espaços
adequados para aluguéis. Conforme foi apontado por Werle (2005, p.87), com
relação ao ensino público no Rio Grande do Sul, “em lugares mais populosos a
disputa por espaços residenciais era maior o que tornava mais altos os aluguéis
das casas em que funcionavam as escolas”.
114
Figura 30 – Anúncio do Collegio São Francisco de Paula (2).
Fonte: JORNAL A OPINIÃO PÚBLICA, 7/1/1902.
Figura 31 – Anúncio da Escola Moderna.
Fonte: JORNAL A OPINIÃO PÚBLICA, 12/1/1902.
No entanto, foi constatado, também, casos em que instituições
mantiveram seus endereços por longos anos. Como o Collegio Acácia (mais de
15 anos) e o Collegio de Instrucçao Elementar, dirigido por Fernando Pimentel e
por Washington Barcellos, que lecionaram por aproximadamente 21 anos no
115
mesmo endereço (ver quadro 2). Esses fatos aconteceram provavelmente porque
seus espaços escolares deveriam obedecer às condições exigidas pela Inspetoria
e também por serem prédios dos diretores proprietários que deveriam, quando
necessário, investir nas melhorias da estrutura física de sua instituição.
Sobre a expansão urbana de Pelotas percebeu-se, pelos estudos de
Arriada (1994, p.122), que em 1815, por meio da organização de uma planta da
cidade, os locais de maior concentração urbana ocorriam num quadro
compreendendo doze quadras, que tinha como limites a rua São Miguel (atual
Quinze de Novembro) e a rua Alegrete. “Nesse quadro quase todas as ruas estão
ocupadas por prédios, enquanto alguns quarteirões adiante desse perímetro mais
urbanizado ocorria uma pequena concentração”.
Já em um quadro comparativo das Edificações e Reedificações de
junho do ano de 1895, a junho de 1906, no Relatório apresentado ao Conselho
Municipal, em 20/9/1906 pelo Intendente Engenheiro Cypriano Corrêa Barcellos,
observou-se que 55 novas edificações tinham sido construídas em Pelotas, no
mesmo ano em que os próximos anúncios foram publicados.
Ainda com relação ao ensino privado em Pelotas, uma realidade
nacional, que também ocorria em nível local, refere-se ao ensino realizado nas
casas dos alunos ou mesmo na casa do professor ao se contratar um tutor
para se responsabilizar pelo ensino das crianças e dos jovens. O que se observou
foi que, em Pelotas, essa era uma oferta significativa, que não se extinguia com a
abertura de instituições de ensino, mas que coexistia com essas, e ao que tudo
indica, diminuindo gradativamente com o passar dos anos.
Essa realidade ficou
registrada no anúncio da professora Mme. Jeanne Chagneaud:
116
Figura 32 – Anúncio da Professora Mme. Jeanne Chagneaud.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 15/1/1894.
Por meio desse anúncio e de outras propagandas, observou-se que
muitos dos professores e professoras que vinham para Pelotas ofereciam seus
serviços por meio de propagandas anunciadas nos jornais. Muitos, em seguida, já
eram absorvidos pelas instituições existentes na cidade. Isso foi percebido porque
seus nomes, pouco depois de chegarem à cidade, apareciam nas listas de
docentes de alguns colégios. Essa ocorrência pode apontar para o fato de que
existia mercado para esses profissionais já que as próprias escolas anunciavam
que estavam aumentando a sua estrutura física para conseguir oferecer uma
ampliação no currículo, o que acabava por exigir a contratação de novos
docentes.
Além disso, nos anúncios das aulas a domicílio, verificou-se também
como os professores estrangeiros iniciavam suas práticas educativas.
117
Primeiramente ofereciam seus serviços como professoras particulares e, depois
de um tempo, normalmente, eram absorvidos pelos colégios existentes, ou
abriam suas próprias escolas possivelmente porque tinham conquistado o
seu público, sendo mais proveitoso concentrar seus alunos em um único espaço
de aprendizagem.
Um fato que se constatou foi a vinda para Pelotas do professor,
normalista pela escola de Lisboa, Sr. Eduardo Borges, que em 1898 chegava à
cidade contratado para lecionar na Escola Moderna (ver Fig.59). Foi possível
encontrar nos jornais anúncios dele, fixado em Pelotas, oferecendo suas horas
vagas para lecionar em casas particulares uma prática que também era
exercida por outros docentes, como abordado anteriormente.
Figura 33 – Anúncio do Professor Eduardo Borges.
Fonte: JORNAL A OPINIÃO PÚBLICA, 1/11/1900.
Este anúncio se repete até o ano de 1901, quando então o professor
abre o seu próprio colégio:
118
Figura 34 – Anúncio do Collegio Eduardo Borges.
Fonte: JORNAL A OPINIÃO PÚBLICA, 23/3/1901.
119
A abertura de escolas pelos professores estrangeiros – homens e
mulheres revela que tinham alcançado, durante o tempo que lecionaram
particularmente, legitimidade e credibilidade perante a população pelotense.
Já com relação às “condições de admissão” dos alunos no ensino
privado em Pelotas, ao analisar o conteúdo dos anúncios, percebeu-se as
relações comerciais que essas instituições de ensino mantiveram com a
população, como pode ser verificado nesta propaganda:
120
Figura 35 – Anúncio do Collegio Reis.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 3/01/1876.
121
Esse anúncio apresenta uma prática exercida por muitas das
instituições de ensino: a cobrança do trimestre adiantado. Isso pode apontar para
o fato de que, neste período, havia inadimplência na cidade, ou mesmo
desistência de alunos. Sendo assim, o colégio estaria se prevenindo de uma
possível desvantagem financeira. Além do trimestre ainda foi possível constatar a
cobrança de outros encargos, como o custo do papel, tinta, pena, roupa lavada e
engomada, botica, médico, entre outros.
É relevante destacar que a prática de divulgar nos anúncios, os valores
cobrados pelas instituições de ensino era típica do período analisado, que
praticamente não se mantém até o fim da Republica Velha
25
. Além disso,
constatou-se que o ensino foi um dos únicos serviços que divulgou nos jornais o
seu valor. Isso acabou dificultando a realização de uma comparação, entre outros
tipos de serviços existentes, na cidade na mesma época
26
.
O fato de as instituições tornarem público os valores cobrados, am de
possibilitar fazer a relação de custo do ensino no período, também permitiu
verificar as diferenças de preços entre elas. Ao se debruçar sobre os vestígios
que os anúncios forneceram acerca dos valores do ensino, foi possível averiguar
que o custo para as famílias manterem seus filhos em um dos estabelecimentos
encontrados variava. Poderiam optar por serem pensionistas com uma
permanência integral na instituição, em que o retorno para a casa se daria nas
férias. Nessa modalidade, o aluno recebia, além da instrução, alimentação e, em
alguns casos, cuidados médicos. Os meio-pensionistas passavam o dia na
escola, recebiam alimentação e retornavam diariamente a suas casas. Esta era
uma situação possível em função de que as aulas começavam no turno da manhã
e terminavam à tarde. Os alunos externos vinham à instituição diariamente para
receber a instrução, sem receber alimentação. Além dos valores cobrados pelo
25
Essa afirmação é feita porque no princípio desta dissertação a periodização pesquisada tinha
como foco às décadas de 1920 e 1930, tendo sido coletado, então, anúncios desse período que
corresponde à última década da República Velha.
26
os preços de produtos eram mais comumentemente publicados. Sendo assim, por mais que
se tenha pretendido fazer uma relação entre os produtos e os serviços da educação, na tentativa
de compreender o que esses números e cifras significavam para aquele momento histórico, não
se chegou a uma conclusão coerente.
122
trimestre, também foi possível encontrar a exigência de outras taxas. Essas se
referiam a alguns materiais utilizados pelos alunos, mas também à cobrança por
disciplinas extras como, por exemplo, de desenho, canto e ginástica.
Ao buscar estabelecer referências extremas de preços das pensões
cobradas pelas instituições em Pelotas, foram selecionadas as taxas mais caras e
as menos onerosas cobradas pelos colégios
27
. O Collegio Sul-Americano, em seu
anúncio publicado no Jornal A Pátria, de 20/1/1888, cobrava por trimestre: para
pensionistas do ensino secundários 150$000, para pensionistas do ensino
primário 120$000, para semipensionista secundário 90$000, para semipensionista
primário 75$000, para externato do ensino secundário 50$000, para externato
primário de grau, 30$000, externato primário de grau, 15$000. Além disso,
os alunos deveriam pagar uma jóia no valor de 40$000 para terem cama, colchão,
lavatório, etc. No mesmo ano, o Collegio Evolução cobrava praticamente os
mesmos valores, com exceção do externato primário de grau que tinha o valor
de 24$000 e a jóia, que também era cobrada de forma diferente. Todo aluno
deveria pagar anualmente uma jóia de 6$000 para o fornecimento de papel,
penas, tinta. Os internos pagavam 40$000 mesmo valor do Sul-Americano
para despesas correspondentes ao uso da mobília no dormitório.
Com relação aos saberes oferecidos pelo Collegio Sul-Americano,
eram organizados da seguinte maneira: o curso primário estava dividido em dois
graus. O compreendia leitura de prosa, caligrafia, numeração falada e escrita,
as quatro operações, frações ordinárias e decimais, sistema métrico, noções de
geografia geral e chorografia da província. O 2º grau compreendia leitura de prosa
e verso, caligrafia, gramática elementar com exercícios de analise aritmética
prática, geografia geral, especialmente do Brasil, noções de cosmografia, historia
pratica e francês. O curso secundário comportava quase todas matérias exigidas
como preparatórios para admissão à matricula nas academias ou escolas
superiores do Império (Anúncio do Collegio Sul-Americano, Jornal A Pátria de
20/1/1888).
27
Para isso selecionou-se o ano em que existiu um maior número de instituições divulgando os
seus preços, ou seja: o ano de 1888. Isso não significa que não foi possível encontrar, em outras
épocas, preços mais altos ou mais baixos.
123
no Collegio Evolução, o curso primário (1º grau) oferecia leitura,
língua materna, cálculo aritmético, caligrafia, desenho linear. O grau
comportava leitura de prosa e verso, gramática, português, aritmética, caligrafia,
geografia e história do Brasil, com especialidade da província, noções de
cosmografia, de desenvolvimento linear e de geometria, rudimentos de ciências
naturais, princípios de latim e francês. O curso secundário abrangia todas as
matérias exigidas para a matricula em qualquer academia do Império (Anúncio do
Collegio Evolução, Jornal Diário de Pelotas de 3/1/1888).
Essas duas instituições, ao que tudo indica, tinham uma destacada
atuação com relação a outras instituições de ensino. O Collegio Sul-Americano,
um colégio destinado ao sexo masculino, que oferecia ensino primário e
secundário, além de possuir dois diretores um que se responsabilizava pelos
alunos, outro pela administração interna da instituição tinha como professores
os mais afamados e reconhecidos da época. Dentre eles, Bernardo Taveira
Junior, Carlos André Laquintinie, Carlos Cantaluppi, Benjamin Luiz da Cunha,
Benjamin Manoel Amarante e João Affonso Corrêa D´Almeida. Já o Collegio
Evolução foi um dos que mais anunciou nos jornais pelotenses (ver Tab.2)
destacando-se, em relação a outras instituições de ensino, fazendo-se atuante ao
longo de, no mínimo
28
, 10 anos (conforme a Tab.2). Em 1886, ano de sua
fundação, divulga, conforme foi apresentado anteriormente, que vai dividir os
alunos do secundário e do primário em distintos espaços físicos, ocupando um
outro sobrado em frente à escola existente, com a preocupação de separar os
alunos por idade. Seu corpo docente além de numeroso, se comparado com
outras instituições da época, era também “vantajosamente conhecido” na cidade
como os professores: Carlos André Laquintinie, Dr. Alexandre Cassiano do
Nascimento, Luiz Oscar Bedu, Antonio Agostinho Duarte, Guilherme Litran,
Demetrio Bandeira, Rev. Padre Octaviano Pereira de Albuquerque, Affonso
Massot e Luiz Carlos Massot. No ano de 1888 o Collegio Evolução publicou um
anúncio em que ilustra a fachada da instituição destacando que essa possui “dous
espaçosos edificios, que dispõem de tres grandes pateos para jogos e recreio dos
28
Não foi possível detectar quando o colégio fechou, mas sim, quando deixou de anunciar, no ano
de 1895. Acredita-se que este deve ter sido o seu último ano de funcionamento.
124
alumnos separados segundo a idade” (Fig. 21, Jornal Diário de Pelotas de
1/1/1888). No ano de 1890 faz mais um investimento fundando um colégio
feminino denominado Externato Nacional
29
estendendo, com isso, seus serviços a
um novo público consumidor.
Ao fazer uma comparação por ano, as instituições que se destacaram
por oferecer o ensino com o menor custo foram aquelas ofertadas nas casas dos
professores, e ministradas, normalmente, por um único professor. Como o caso
do Curso Particular que em 6/2/1893 anunciava no Jornal Correio Mercantil que o
trimestre para o ensino primário seria de 20$000 e que o trimestre para o
secundário teria como custo 30$000. Além disso, destaca que o ensino seria
garantido com um método de ensino moderno, com um progresso rápido e
garantido. No mesmo ano o Curso Secundário dirigido por Arthur Toscano
cobrava três vezes mais do que era cobrado pelo Curso Particular.
Com base nos dados aqui apresentados, e no restante verificado no
conjunto de fontes coletadas, percebeu-se que, na maioria das vezes, os valores
se equiparavam provavelmente porque ofereciam a mesma quantidade de
disciplinas, professores, condições higiênicas, ou mesmo pela concorrência que
era travada entre as instituições. Na propaganda do Lyceu Municipal, apresentado
a seguir, foi destacado que, naquele ano, os valores sofreriam uma pequena
alteração, justificando que isso ocorrera porque o diretor tinha contratado um
número maior de professores. Esses, por sua vez, eram tidos como os mais
renomados da cidade, sendo provavelmente melhor remunerados. Dessa forma
pode-se, quem sabe, inferir que existiam salários diferenciados entre os docentes,
e que tal fato se dava, talvez, levando em conta seu status profissional perante a
comunidade pelotense.
29
COLLEGIO DE MENINAS - Os directores do Collegio Evolução querendo estender á mocidade
em geral, inclusive a do sexo feminino, os benefícios de seus largos planos de instrucção
resolveram estabelecer um collegio de meninas que começará a funccionar a de fevereiro p.f. a
cargo das professoras exmas. Sras. Antonia Rochefort e Joaquina Laquintinie Queiroz. Pedem
desde aos Srs. chefes de família toda a sua coadjuvação para levar a cabo esta obra, iniciada
em proveito da juventude, como é e continuará a ser o antigo estabelecimento que sustentam com
dedicação e sacrifícios. Opportunamente sahirão à luz o programma e estatutos do novo
estabelecimento. Affonso E. Massot e Luiz C. Massot (Anúncio do Collegio de Meninas, Jornal A
Pátria de 6/1/1890).
125
Figura 36 – Anúncio do Lyceu Municipal.
Fonte: JORNAL DO COMÉRCIO, 8/01/1878.
na próxima propaganda, o colégio anunciava que os valores seriam
os mesmos do ano anterior. Isso ocorria possivelmente porque não tinha se
alterado o programa, o número de professores, e nem a localização da instituição.
126
Esses elementos, ao que tudo indica nos anúncios, eram os principais
responsáveis pela variação dos valores cobrados pelo ensino.
Figura 37 – Anúncio do Collegio Sul-Americano.
Fonte: JORNAL ONZE DE JUNHO, 8/1/1884.
Algumas instituições de ensino pelotenses também apontavam para o
fato do quanto seus valores se equiparavam as das de mesma categoria no
estado, como foi trazido no anúncio do Gymnasio, dirigido por JoHenrique de
Lara Ulrich, apresentado a seguir. Nessa propaganda, ficou evidenciado, o fato de
127
que a escola, em Pelotas, que oferecia o mesmo nível de ensino de outras
localidades do estado, segundo o diretor, tinha valores equivalentes aos dessas.
Essa informação leva a crer que a escola divulgava que os seus valores eram
compatíveis com a concorrência para que os alunos de Pelotas não saíssem da
cidade para estudar em outras localidades e para que alunos de outras cidades
se deslocassem para estudar em Pelotas que a escola ofereceria um estudo
tão bom, ou melhor, do que os seus concorrentes e com valores compatíveis para
tal. Essa prática também foi encontrada no anúncio do Collegio Acacia, que se
apresentado posteriormente. Isso significa que os estabelecimentos de ensino
disputavam alunos não somente com as instituições da própria cidade, como
também nas demais do estado, e do Brasil. Isso porque, como apontado nesta
pesquisa, essa era uma prática comum: as crianças eram mandadas estudar em
colégios internos, muitas vezes em outras localidades do país e do exterior.
Figura 38 – Anúncio do Gymnasio.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 9/1/1895.
[...] Aceita-se internos, meio-
internos, externos aos preços dos
collegios de igual categoria do
estado, não fazendo desconto por
férias. [...]
128
No anúncio do Collegio Acácia, foi registrado que a instituição recebia
alunos no regime de internato. Logo, os discursos em seus anúncios estavam
voltados para um público de dentro e de fora da cidade de Pelotas:
Figura 39 – Anúncio do Collegio Acácia.
Fonte: JORNAL DIÁRIO DE PELOTAS, 4/1/1889.
129
A concorrência com instituições de outras cidades também foi
encontrada em um anúncio de um colégio de Dom Pedrito:
Figura 40 – Anúncio do Collegio União.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 2/3/1877.
130
Nesta propaganda, do Collegio União de D. Pedrito, foi possível
encontrar o valor cobrado pelo ensino. Dessa forma, efetuou-se uma relação de
custo com estabelecimentos de ensino de outras cidades. Essa comparação
tornou-se necessária para visualizar se o que se tinha em Pelotas, em termos de
custo, era maior, menor ou compatível com demais cidades do país. Além do
Collégio União, apresentam-se agora os valores cobrados pelo insino na iniciativa
privada de outras cidades do estado e do país e a sua respectiva relação com os
da educação pelotense.
O Collegio União, um estabelecimento de ensino primário e secundário,
no ano de 1877, cobrava, por trimestre adiantado, pelo ensino primário para
pensionista, 30$000; para meiopensionista, 15$000 e para externos 5$000. Já,
para o secundário externo, cobrava 8$000. No mesmo ano, o Collegio Reis, uma
instituição de Pelotas, divulgava que o ensino primário para pensionista custava
100$000 e para o meiopensionista, 60$00. Para os externos secundários, 30$000
e para os externos primários, 15$000. Verificou-se, portanto, que o colégio de
Pelotas cobrava mais do que o de Dom Pedrito. O importante é perceber que
essa comparação não pode ser somente em nível de cifras. É preciso lembrar
que, em uma primeira análise, o número e tipo de disciplinas se equiparavam.
Como foi mencionado, esses não eram, provavelmente, os únicos elementos
que compunham o preço de uma instituição. Nesse caso específico, não foi
possível detectar nenhuma diferença entre as duas instituições, que chamasse a
atenção. Esses valores foram os mais distintos encontrados em toda a pesquisa.
No entanto, havia também, em Pelotas, no mesmo ano, instituições de ensino que
cobravam valores semelhantes aos da escola de D. Pedrito.
o Internato Normal, da cidade de Porto Alegre, no ano de 1883,
oferecia o curso primário para ambos os sexos e o curso normal para o sexo
feminino. A pensão para o primário era de 5$000 e para o curso normal, 15$000.
Para cada aula facultativa, naquele ano, era cobrado um aumento de 5$000. Não
se encontrou o valor real do ano anterior. Com relação às lições de música e de
piano, cobravam 10$000. No ano de 1884, um ano após ser anunciada a
propaganda do Internato Normal, o Collegio Sul-Americano divulgava que o preço
131
cobrado pelo ensino primário externo também era de 15$00. os pensionistas
primários pagariam 120$000; os semipensionistas primários, 75$000, os
semipensionistas secundários, 90$000 e os externos secundários, 50$000 (Jornal
Onze de Junho de 9/1/1884).
Figura 41 – Anúncio do Internato Normal.
Fonte: JORNAL DIÁRIO DE PELOTAS, 10/1/1883.
132
No anúncio do Instituto Porto-Alegrense, um estabelecimento que tinha
por propósito preparar os alunos para a carreira do comércio, além de oferecer
um curso preparatório para acesso ao ensino superior, não foi possível descobrir
o número nem as matérias oferecidas por ele.
Figura 42 – Anúncio do Instituto Porto-Alegrense.
Fonte: JORNAL DIÁRIO DE PELOTAS, 10/1/1887.
Realizou-se ainda uma comparação com os valores cobrados no Rio
de Janeiro, então capital brasileira. Por meio de anúncios encontrados no
Almanak Administrativo, Mercantil e Idustrial da Corte e Província do Rio de
133
Janeiro, conhecido popularmente como “Almanak Lammert
30
”, apresentado a
seguir:
Figura 43 – Anúncio do Collegio da Immaculada Conceição.
Fonte: ALMANAK LAMMERT, 1888, p.2040.
30
Segundo Limeira (2006), essa obra, de “utilidade permanente não só ao comércio senão a todas
as classes da sociedade” foi publicada anualmente entre os anos de 1844 a 1889. Seu conteúdo
realizava uma quase radiografia dos espaços blicos e privados da Corte e Rio de Janeiro ao
detalhar, em cada edição, profissionais dos mais diversos ramos de atividade e uma infinidade e
variedade de temas. Suas edições foram encontradas digitalizadas no seguinte sítio na Internet:
http://www.crl.edu/content/almanak2.htm.
134
No mesmo ano em que o anúncio do Collegio da Immaculada
Conceição foi publicado em Pelotas, o Collegio Honra e Trabalho, uma instituição
de ensino primário e secundário, divulgava que o trimestre, para as alunas,
custava 100$000. Mais uma vez é preciso destacar que eram instituições com
portes distintos, mas que, ainda assim, seus valores não se mostravam tão
desiguais. Essa realidade foi constatada em outros anúncios publicados no
AlmanaK, inclusive com relação ao ensino masculino, como aponta a próxima
propaganda.
Figura 44 – Anúncio do Collegio Venerando.
Fonte: ALMANAK LAMMERT, 1888, p.2072.
135
Na propaganda do Collegio Venerando, os valores eram cobrados por
mês. os do Collegio Sul-Americano, de Pelotas, eram por trimestre. Em seu
anúncio publicado no Jornal A Pátria, de 20/1/1888, divulgado anteriormente
nesta pesquisa, eram cobrados os seguintes valores: para pensionistas
secundários, 150$000; para pensionistas primários, 120$000; para
semipensionista secundário, 90$000; para semipensionista primário, 75$000; para
externato secundário, 50$000, para externato primário de 2º grau, 30$000; para
externato primário de 1º grau, 15$000. Além disso os alunos deveriam pagar uma
jóia no valor de 40$000 para terem cama, colchão, lavatório, etc. Com esses
valores, mais uma vez observou-se que, em alguns momentos, eles eram
praticamente os mesmos e, em outros casos, distintos.
Com base nessas informações, a conclusão mais pertinente foi a de
que, nas cidades investigadas, e provavelmente nas demais cidades brasileiras,
existiram instituições que cobravam valores mais expressivos do que outras, mas,
na maioria delas, não existiram diferenças tão consideráveis.
Além dessas instituições de ensino ilustradas também foram
localizadas outras escolas, que não eram de Pelotas, anunciando nos jornais
locais. Essas não deixaram pistas sobre o valor cobrado pelo ensino. Dentre elas
destaca-se o Gymnasio S. Pedro, de Porto Alegre, que funcionava 21 anos
quando foi publicada a propagada. No anúncio oferecia o curso completo de
preparatórios para a matrícula nas academias do Império, além de um curso
comercial (Jornal Diário Popular, de 9/1/1904). O Gymnasio N. Senhora da
Conceição, situado na cidade de São Leopoldo, uma instituição que em 1900 foi
equiparada ao Ginásio Nacional do Rio de Janeiro, também divulgou seus
anúncios (Jornal Diário Popular de 19/2/1907). Outra instituição de ensino
primário e secundário que também publicou sua estrutura curricular no Jornal
Diário Popular de 7/3/1907, foi o Gymnasio Espírito Santo, de Jaguarão. Por não
se ter conseguido descobrir os valores cobrados por essas instituições, optou-se,
obviamente, por realizar uma comparação somente com aquelas em que essa
informação tenha ficado registrada nos anúncios. De qualquer forma, é importante
registrar um trecho da propaganda do Gymnasio Nossa Senhora da Conceição,
136
de São Leopoldo. Segundo o texto assinado pelo diretor: “para commodidade dos
srs. paes estará em Pelotas, do dia 23 até 26 de fevereiro, no Gymnasio Gonzaga
um dos lentes do Gymnasio, para receber os alumnos e acompanhá-los em
viagem” (Jornal Diário Popular, de 3/2/1906). Verificou-se então que, além da
disputa interna, havia ainda um mercado externo interessado nos estudantes
pelotenses, que oferecia, em alguns casos, a comodidade de acompanhá-los até
a cidade em que se encontrava a instituição, como foi percebido por meio desse
anúncio.
Foi interessante também observar algumas estratégias usadas pelas
instituições pelotenses no intuito de cooptar novos alunos, o que pode ilustrar
como o estudo era oneroso para parte da população que as próprias escolas
tomavam algumas atitudes para tornar seus preços mais atrativos. Foi o caso da
Escola Nocturna Pelotense que, em 11/1/1877, divulgou no, Jornal Correio
Mercantil, que, se as aulas fossem freqüentadas por um número superior ou igual
a 40 alunos, faria um abatimento nas mensalidades. Uma outra instituição que
prometia um preço diferenciado, caso irmãos estudassem nela
31
, foi o Collegio
Curso Racional, como divulgado nas condições de admissão no anúncio
publicado:
31
Prática essa comum, em escolas particulares, até os dias de hoje.
137
Figura 45 – Anúncio do Collegio Curso Racional.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 3/1/1889.
Nas instituições privadas, percebeu-se, também, que ocorriam
avaliações individuais, orais e públicas, no final de cada semestre, denominadas
de exames finais”. Era um momento em que os alunos passavam a ser
avaliados, além de seus professores e as próprias instituições de ensino. No mês
de novembro, os jornais pelotenses começavam a ser recheados com anúncios
que convidavam a comunidade para participar dessa solenidade:
138
Figura 46 – Anúncio do Collegio Reis.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 5/12/1875.
Figura 47 – Anúncio do Collegio São Francisco de Paula (1).
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 27/11/1875.
139
Além das propagandas, também se encontrou matérias nos jornais
destacando o andamento da solenidade e os resultados obtidos pelos alunos,
como destacado a seguir:
COLLEGIO JEANNERET
[...] houve um bonito dialogo na lingua franceza entre as intelligentes
jovens Maria Luiza Chaves, Lucilia Souza e Alice Duarte, o qual merece
vivos applausos do numeroso auditório, seguindo-se outro dialogo no
mesmo idioma pelas não menos intelligentes alumnas D. Luiza Leivas, a
Senhorinha Laquintinie. As gentis discipulas de Mme. Jeanneret, D. D.
Leopoldina Lopes, e Magdalena Tamborindeguy recitaram lindas poesias
analogas ao acto, pronunciando uma bella producção poetica a cerca de
Joanna d’Arc, a galante jovem Adelaide Ramos. Pela digna directora
foram distribuídos a todas as suas alumnas, como signal de lembrança,
pela assiduidade e applicação aos trabalhos escolares durante o anno
lectivo, lindos livros elegantemente encadernados (Jornal A Discussão,
30/11/1882).
O que se percebeu foi que os jornais divulgavam os exames finais
como encontros festivos, mas também como prova da qualidade dos espaços
educativos freqüentados pelos alunos. Essas notícias, apresentavam-se, portanto,
como uma maneira de propagandear as instituições de ensino, inaltecendo o que
se esperava da habilidade desenvolvida junto aos alunos. Elas revelam, ainda,
que os exames eram feitos em blico e em voz alta, para serem ouvidos por
todos que prestigiassem a solenidade. Conforme Souza (1998, p.83):
sabemos hoje que a escola imperial tomou de empréstimo da educação
jesuíta, junto com a noção de classe e de sala de aula, com o papel dos
exercícios e das antologias, com o domínio do corpo e a disciplina do
silêncio o exercício da repetição e as virtudes pedagógicas da
memória. [...] A memorização mecânica foi tornada possível,
entretanto, numa cultura letrada, onde um texto pode servir de cânon
para as repetições exatas. O formato do catecismo, feito de perguntas e
respostas padronizadas, tornou-se um modelo de cultura – as avaliações
escolares espelhavam esse protótipo. Os professores ensinavam dessa
forma porque era essa a maneira com que eles próprios, e seus alunos,
eram avaliados.
Essa realidade foi observada não pelas matérias dos jornais, que
divulgavam os exames, mas também por meio de algumas propagandas, como a
do Collegio São Francisco de Paula. No seu texto a instituição comenta sobre a
sua qualidade, atrelando essa, ao fato de um jornal ter divulgado o sucesso nos
exames obtido por suas alunas. A imprensa torna-se, portanto, a testemunha e a
prova da qualidade do estabelecimento de ensino.
140
Figura 48 – Anúncio do Collegio São Francisco de Paula (2).
Fonte: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 30/1/1905.
Com base no que foi apresentado até aqui, pôde-se constatar a
importância do ensino privado para determinada parcela da população pelotense.
O mero de escolas privadas encontradas 78 (ver Tab.2), ao longo do período
investigado, ilustra o momento econômico-cultural vivido na cidade. Ressalta-se
que essas inúmeras instituições de ensino existiam porque havia clientela para
tal, além, é claro, de uma consciência das classes mais abastadas sobre a
importância da educação como um investimento pessoal, numa sociedade que
realmente valorizava a educação como um bem cultural.
141
Com este estudo, foi possível investigar, dentre outras características,
como as instituições privadas começavam o seu trabalho, como se desenvolviam,
de que forma propunham novos programas, como contratavam e dispensavam
professores, como alteravam seus espaços físicos, quais eram os resultados
obtidos por seus alunos. No entanto, não se encontrou, ao longo da pesquisa, o
momento em que essas instituições fecharam as suas portas, nem os motivos
que as levaram a isso. Com a Tab.2, buscou-se fazer um rastreamento dos anos
em que estiveram na ativa, utilizando para tal os anúncios divulgados por elas. O
fato de não estarem anunciando não pode levar a uma certeza de que naquele
momento, deixavam de existir. Contudo, pode ser um indício para ser investigado.
O que se encontrou, por meio das propagandas, foram algumas mudanças no
nome da instituição, como por exemplo, a do Collegio Ozório, que, no ano de
1885, passa a denominar-se Collegio Commercial, dirigido por Eduardo Wilhelmy.
Como o Collegio Commercial foi fundado no ano de 1879, ao que tudo indica, no
ano de 1885, o professor Eduardo uniu as duas instituições transformado-as em
Collegio Commercial. O mesmo ocorreu com o Collegio Reis que, no ano de
1875, passa a se chamar Collegio Arnizaut Furtado, sobrenome de seu novo
proprietário, como verificado nesta propaganda:
142
Figura 49 – Anúncio do Collegio Arnizaut Furtado.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 14/8/1876.
Sobre o fechamento prematuro de algumas instituições, foi possível
encontrar um texto em uma propaganda divulgada pelo professor Francisco A.
Pimentel, em que ele discutia e criticava uma prática que era comum na cidade:
143
Figura 50 – Anúncio do Curso Particular.
Fonte: JORNAL A PÁTRIA, 10/1/1890.
Analisando as críticas deste anúncio, percebe-se dois pontos: o
primeiro refere-se à condenação de uma ocorrência da ampla abertura de
instituições que acabaram não ultrapassando dois anos de existência em Pelotas.
O segundo ponto foca-se na defesa do professor para manter poucos alunos por
classe, que, segundo ele, os docentes não eram capazes de atender mais de
uma dúzia de alunos ao mesmo tempo. Ele fala em método no anúncio, mas não
144
destaca qual seria utilizado. Imagina-se que se tratava do método individual de
ensino. Tal procedimento, segundo Faria Filho (2000, p.140), “consistia em que o
professor, mesmo quando tinha vários alunos, acabava por ensinar a cada um
deles individualmente”.
Quando o professor Pimentel aborda sobre o fechamento de escolas,
poderia estar se referindo também àquelas instituições de ensino que existiram na
cidade de Pelotas e que não anunciavam nos jornais, tornando-se, assim, ainda
mais difícil apreender essa realidade. Mas, pelo o que é apresentado na Tab.2,
pode-se constatar a provável existência efêmera de muitas instituições.
É importante deixar claro que, na Tab.2, ficaram registrados os anos
em que as instituições se mantiveram anunciando; para isso, conforme justificado
na periodização dessa pesquisa, utilizou-se, como marco final de análise, o ano
de 1910. Isso significa que, apesar de não ter se investigado, neste estudo, até
quando as instituições continuaram a funcionar, sabe-se, por exemplo, que
instituições como o Collegio Alemão, o Collegio Pelotense e o Collegio Gonzaga
continuaram a desenvolver suas atividades após o ano de 1910.
O que se quer chamar atenção é que, ao não se encontrar avisos
sobre o fechamento de instituições por meio das propagandas, parece óbvio que
as instituições de ensino não dividiam com a comunidade os motivos de seu
fechamento porque, muito provavelmente, alguns desses não seriam
interessantes de serem divulgados abertamente
32
. Era diferente da abertura das
escolas, que era sempre acompanhada de justificativas e da visão dessas
instituições com relação à educação. Imagina-se que, dentre as motivações que
levavam ao término das atividades, estivessem a falta de alunos, o custo com os
aluguéis, a falta de professores reconhecidos, a associação de professores de
instituições distintas na abertura de uma terceira escola, ou mesmo a morte do
fundador de um colégio – como ocorreu com Marguerite Gastal. Esta, após
32
A única exceção foi o anúncio do Lyceu Municipal (ver Fig.94), que divulgou o fechamento, mas
não os motivos que levaram a essa ocorrência.
145
lecionar 15 anos na cidade de Pelotas, teve seu colégio fechado em virtude de
sua morte.
Diante do todo exposto, é importante lembrar que as instituições de
ensino privadas estavam sob o julgo da legislação e da comunidade e foram se
constituindo, com o passar dos anos, buscando melhorar seu quadro de
professores assim como a sua estrutura física e pedagógica. Conforme Faria
Filho (2000, p.136):
os defensores da escola e de sua importância no processo de civilização
do povo tiveram de, lentamente, apropriar, remodelar, ou recusar
tempos, espaços, conhecimentos, sensibilidades e valores próprios de
tradicionais instituições de educação. Mas não apenas isso: a escola
teve também de inventar, de produzir o seu lugar próprio, e o fez,
também, em íntimo diálogo com outras esferas e instituições da vida
social.
Além dos ajustes e reajustes no espaço escolar e de todo o processo
de escolarização apontado até aqui, observou-se também um comprometimento
das instituições e de seus dirigentes em manter o nome da cidade de Pelotas
como um centro de educação e cultura no estado – um sentimento que era
freqüentemente divulgado. O que vem sendo apontado até aqui, bem como as
hipóteses construídas, certamente darão pistas para futuros estudos sobre a
gênese e o desenvolvimento das instituições de ensino arroladas nesta
investigação.
2.2.3 “Atenção alumnos pobres”
33
: iniciativas de ensino gratuito/público
Como mencionado o período de concentração desta pesquisa, anos
de 1875 a 1910, foi intensa a diversificação de atividades econômicas voltadas
para o comércio e para os serviços. Acredita-se, então, que, a educação que era
basicamente voltada para as classes privilegiadas da sociedade, começa a se
tornar fundamental para o desenvolvimento de tais atividades e,
33
“Alumnos pobres” foi uma expressão usada na legislação no artigo 10, do Ato de 22 de
fevereiro de 1876 ao se referir aos alunos carentes. Também foi encontrada nos anúncios de
algumas instituições de ensino, ao oferecerem vagas para esse público específico.
146
conseqüentemente, para a cidade, o que acabou gerando, gradativamente, a
criação de instituições de ensino voltadas para um público que exercesse tais
atividades.
No decorrer desta pesquisa, encontrou-se, através das propagandas,
apenas 3 instituições de caráter público. Em contrapartida, ao se analisar o
Relatório do Inspetor Geral da Instrucção Pública do ano de 1901, sobre o ensino
público em Pelotas no ano de 1900, verificou-se um total de 27 escolas sendo
16 do sexo masculino, 9 do sexo feminino e 12 mistas que abrigavam uma
população escolar de 1.833 alunos. no Relatório do Inspetor Geral da
Instrucção de 1903, esse número cresce em 1902: Pelotas passa a ter 37
escolas. Diante desses números, concluiu-se que o ensino público, apesar de
existir, não era anunciado em jornais como fazia a iniciativa privada,
provavelmente pelos custos da publicação, e por não ser um serviço que,
necessariamente, precisava de apelos de venda para convencer seus possíveis
consumidores.
No Relatório da Intendência de Pelotas do ano de 1902, há um mapa
demonstrativo das aulas públicas e particulares no período compreendido entre
os anos de 1834 a 1850 que registra uma aula pública de ensino noturno com
96 meninos e uma aula pública para meninas freqüentada por 22 alunas. No
entanto, convém lembrar que, “todas elas as aulas públicas e as particulares
foram fechadas durante a Revolução Farroupilha, sendo reaberta a escola pública
apenas em 1845
34
” (MAGALHÃES,1993, p.226).
No Relatório da Intendência de Pelotas do ano de 1868, analisou-se
um quadro estatístico e geográfico da Província de o Pedro do Rio Grande do
Sul, referente aos dados do ano de 1866. Pelotas aparece contendo 3 escolas
para o sexo masculino com uma população de 339 alunos e 2 escolas para o
sexo feminino, com 141 alunas. No mesmo ano, na cidade de Rio Grande,
verificou-se que esses números diminuem: são 2 escolas masculinas com 128
34
Segundo Osório (1998, p.322) essa escola funcionou num prédio à direita do Teatro Sete de
Abril.
147
alunos e 2 destinadas ao sexo feminino, com 135 meninas. em Porto Alegre, a
capital da Província, os números crescem: são 4 escolas masculinas com 513
alunos e 6 femininas com 381 alunas. No quadro demonstrativo do movimento
das escolas públicas do estado no ano de 1900, encontrado no Relatório do
Inspetor Geral da Instrucção Publica de 1901, os números da população escolar
são os seguintes: 1.833 alunos(as) em Pelotas, 1.149 em Rio Grande, e 6.359 em
Porto Alegre.
Sobre o cenário e as discussões em torno da educação pública,
encontrou-se, em um jornal da cidade, no ano de 1889, uma denúncia sobre as
condições em que as crianças estavam submetidas naquele espaço escolar:
INSTRUCÇÃO PUBLICA
tempos reclamamos da illustrissima câmara municipal, moveis para a
aula publica que funcciona a rua Santa Bárbara n.98 e dirigida com muito
critério pelo distincto professor Sr. Pedro Gama. Dessa infeliz
reclamação nada resultou em favor dos pobres meninos que freqüentam
aquela escola, que como dissemos, alguns ficam de pé durante o tempo
de estudo, e outros, os menores, acentados no chão ou sobre o estrado
da mesa do professor. Naquela época da aclamação um mez mais ou
menos a freqüência do collegio era de 46, hoje eleva-se a 61
matriculados!!
Não se pode dizer que a illustrissima câmara não tenha recebido
reclamações tanto da imprensa como do Sr. Inspetor Escolar, não se
pode dizer também que ella não tenha verba para suprir os moveis,
porquanto a sua atribuição é levar ao conhecimento da presidência da
província para esta providenciar segundo o regulamento. Ora sendo
apenas uma intermediária, tem representado mal o seu papel. De curar
tão afoitamente das escolas é retrogradar aos olhos de todos que
prezam o ensino entre nós, é mais é ter desídia pela palpitante
necessidade de um povo. Ao critério do Sr. Arthur Maciel presidente da
câmara submettemos esta pequena lembrança (Jornal A Pátria de
16/2/1889, p.2).
Essa notícia revela a relação de cobrança da sociedade para com os
poderes públicos. Além disso, evidencia a realidade do espaço de um
estababelecimento público de ensino da época em que “os pobres meninos que
freqüentam aquela escola, alguns ficam de durante o tempo de estudo, e
outros, os menores, acentados no chão ou sobre o estrado da mesa do
professor”.
no ano de 1910, é registrada, no Relatório da Intendência de
Pelotas, uma estatística escolar em que aparecem 3 aulas noturnas municipais
148
com 132 alunos homens e 44 aulas estaduais com um total de 828 meninos e
1007 meninas. O que se verificou foi que, com uma diferença de oito anos, duas
aulas são criadas, ocasionando o aumento da quantidade para 36 alunos. Outro
fator relevante observado, foi a oferta de ensino estadual, em que as crianças se
encontravam em maior número. Nesse relatório ainda foi possível encontrar tal
registro com relação ao ensino público no município:
procurando cooperar com o estado na disseminação do ensino, alem das
aulas que o município já mantem na cidade, estabeleceu outras no
distrito ruraes, localisando-as nos pontos julgados mais convenientes, de
forma que seus benefícios alcancem o maior número de creanças [...]
(Relatório Intendencial de 1910).
De 1875 a 1910, existiu, como anteriormente explanado, uma
significativa rede de instituições de caráter privado que mantinham escolas com
ensino misto, ou separadamente para meninos e para meninas, cursos
preparatórios para os exames, aulas avulsas oferecidas por professores
particulares que ministravam seus conteúdos em suas próprias residências, ou
na casa de seus alunos. O ensino privado continuou a existir, mas, a partir de
1910, percebeu-se, principalmente por meio dos relatórios e das notícias dos
jornais, que aumentou o número de escolas públicas municipais e estaduais.
Além disso, ao investigar-se a Tab.2, foi possível visualizar que, em torno do ano
de 1905, o número de instituições privadas criadas diminuiu, se comparado ao de
períodos anteriores. Também notou-se uma gradual e conseqüente diminuição na
divulgação de anúncios por parte das instituições existentes – isso deve ter
ocorrido porque muitas delas poderiam ter encerrado as suas atividades em
função do investimento do setor público na educação.
A relevância desse aspecto também foi abordada nos estudos de Huch
e Tambara (2005, p.68), quando mostram que o investimento feito pela iniciativa
privada no setor educacional estava associado à ineficiência do poder público em
atender esta demanda. Esta assertiva seria comprovada pelo fato de que, a partir
de meados da cada de 1910, começa a diminuir a intensidade do investimento
privado devido, principalmente, à política de nacionalização do ensino e a
conseqüente expansão da rede pública de ensino.
149
Em relação ao ensino destinado “aos pobres”, por meio dos anúncios,
foram encontradas algumas iniciativas de ensino gratuito, realizadas, por
exemplo, pela Bibliotheca Pública Pelotense, através dos cursos noturnos:
Figura 51 – Anúncio da Bibliotheca Publica Pelotense.
Fonte: JORNAL A DISCUSSÃO, 30/3/1881.
A criação, em 1875, da Bibliotheca Pública Pelotense, que não era uma
instituição pública, mas, sim, destinada ao público, foi um fator importante para o
desenvolvimento educacional pelotense. Ela era uma instituição benemérita, a
150
primeira de instrução gratuita fundada na Província pela iniciativa individual
(OSÓRIO, 1998, p.324). Um grupo de homens, que não ficou esperando pela
iniciativa dos poderes públicos municipais ou provinciais, acabou fundando essa
instituição de “caridade espiritual”. Entre eles estavam intelectuais, poetas,
políticos, prósperos comerciantes, jornalistas e charqueadores. Dentre os
responsáveis pela sua fundação estavam alguns renomados professores tais
como Arnizaut Furtado, Antônio Rosas Pereira Reis, Antônio JoRodrigues de
Araújo, João Affonso Corrêa de Almeida, João Chaves Campello e Carlos
Laquintinie (OSÓRIO, 1998, p.325).
Conforme Peres (1995, p.184), a Bibliotheca Pública foi resultado do
momento cultural e econômico vivido pela cidade, associado “à disponibilidade e
ao interesse da elite em fazer de Pelotas um dos maiores e mais importantes
centros culturais do Rio Grande do Sul”. Para Loner (2001, p.73) a educação e a
possibilidade das aulas noturnas, incluindo as da Bibliotheca Pública, não eram
apenas “arma de disciplinamento do trabalhador para a elite, mas eram vistas,
pelos operários, como uma arma para a sua libertação social, pois somente
através do estudo poderiam vislumbrar a mudança de sua situação”.
Como as aulas públicas da cidade eram diurnas e diminutas, tornava-
se pouco provável que os trabalhadores pudessem freqüentá-las. Com isso,
entidades e associações mantiveram aulas gratuitas noturnas, que atendiam à
demanda de operários, bem como a de seus filhos: “a mais antiga e que se
manteve por mais tempo foi a Bibliotheca Pública, atuando desde 1877 com um
curso noturno, em que muitos trabalhadores se alfabetizaram, inclusive ex-
escravos” (LONER, 2001, p. 74).
É importante mencionar que as escolas noturnas públicas de instrução
primária no Brasil, no período de abertura e funcionamento dos cursos noturnos
da Bibliotheca Pública, por exigência da legislação, eram destinadas somente a
alunos do sexo masculino. Conforme Peres (1997, p.23), nos cursos oferecidos
na Bibliotheca Pública:
151
homens de qualquer idade aprendiam a ler, a escrever, a contar,
noções de aritmética e de gramática, história e geografia, em dois
cursos, independentes entre si [...] havia ainda, as aulas de francês e de
inglês, que podiam ser freqüentadas pelos alunos dos cursos de
instrução primária ou por indivíduos que se matriculassem apenas nas
aulas, que todas tinham um caráter independente. Não dúvida,
também, de que o projeto de instrução primária destes homens trazia em
seu bojo a idéia de “moralizar” o povo, de incutir uma nova ética de amor
ao trabalho, principalmente em função da luta abolicionista, com a
perspectiva das novas relações de trabalho que se delineavam com o
advento do trabalho livre.
No texto do anúncio da Bibliotheca, anteriormente apresentado, é
possível encontrar o discurso da elite dirigente, que acabava por dar condições de
educação para uma classe desfavorecida. É importante lembrar que, nesse
período, assim como no resto do país, em Pelotas, as atividades comerciais e
industriais cresciam com o desenvolvimento da cidade. Isso acabou por gerar a
necessidade de um número maior de trabalhadores preparados para assumir tais
compromissos. Por isso, além de cuidar da civilidade, esses espaços davam
condições de ensino aos “menos privilegiados”.
Outra forma de oferta gratuita de ensino foi encontrada nas
propagandas de algumas instituições, que ofereciam vagas para “alunos pobres”.
Além disso, encontrou-se o seguinte texto no anúncio do Collegio Arnizaut
Furtado: “acceitam-se grátis doze meninos e meninas, filhos de viúvas, cuja
fallencia de meios as inhiba de pagar, comprovada por certificado do
referendissimo parocho” (Jornal do Comércio, de 8/1/1876). Esse texto ilustra
uma prática realizada por algumas instituições, em que as viúvas tinham um
auxílio, que muitas o trabalhavam, uma realidade comum para aquele
momento histórico. Deixou registrado, ainda, a importância do pároco para aquela
sociedade. Além desse estabelecimento de ensino, nos próximos anúncios, é
possível visualizar outras instituições que destinaram vagas para os alunos
carentes.
152
Figura 52 – Anúncio do Collegio Sul-Americano.
Fonte: JORNAL ONZE DE JUNHO, 9/1/1884.
153
Figura 53 – Anúncio do Collegio Particular.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 5/1/1894.
Figura 54 – Anúncio do Atheneu Pelotense.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 6/1/1894.
[...] Acceita-se meninos para o ensino
primário, até 7 annos, e assim também
para o trabalho de bordados, meninas
que freqüentem as aulas publicas, das
duas horas em diante. Entrada às nove
horas, preços conforme o ensino, de
dois até cinco mil réis. Ensina-se grátis
aos pobres reconhecidos.
Attendendo á proteção expontanea e
sempre crescente que nos tem sido
dispensada, continuaremos, como o
fizemos durante o anno findo, a dar
instrucção gratuita aos alumnos (no
máximo até 20) estudiosos e de bom
comportamento, cujos Paes não possam
satisfazer as contribuições. Também
fornecemos gratuitamente os livros
necessários aos alumnos que, nessas
condições não poderem por falta absoluta
de meios, fazer acquisição dos mesmos.
154
Cabe assinalar que na Reforma de Couto Ferraz, em 14 de dezembro
de 1849, a oferta de vagas para alunos que não tinham condições de arcar com
os custos do ensino privado, estava prevista em lei:
quando em uma paróquia ou distrito por sua pequena população, falta de
recursos ou qualquer outra circunstância, não se reunir número
suficiente de alunos que justifique a criação da escola, ou sua
continuação, e houver no lugar escola particular, poderá o Diretor Geral,
com a aprovação do Presidente da Província, contratar com o professor
dessa escola a admissão de alunos pobres mediante uma gratificação de
2$000 réis por cada um até o número de vinte, e a de 50$000 réis
mensais desse número para cima (SCHNEIDER, 1993, p.282).
No caso específico das instituições, apontadas anteriormente, que
ofereciam vagas para alunos economicamente desfavorecidos, não foi possível
detectar se estavam cumprindo a lei, ou se ofereciam vagas como política da
instituição – já que a filantropia era retribuída com um status social positivo.
Ao longo da pesquisa, além de se encontrar vagas destinadas pelo
ensino privado aos alunos carentes, identificou-se, nos jornais locais, uma
instituição pública criada no ano de 1886, denominada Escola Popular
anunciando vagas para meninos. O interessante de observar é que a escola
nasce como sendo uma instituição privada que oferece ensino gratuito e somente,
no ano de 1887, o poder público assume a sua administração. Este fato ficou
registrado nos dois anúncios que seguem:
Figura 55 – Anúncio da Escola Popular.
Fonte: JORNAL A NAÇÃO, 6/1/1885.
155
Figura 56 – Anúncio da Escola Popular Príncipe do Grão-Pará.
Fonte: JORNAL DIÁRIO DE PELOTAS, 11/1/1887.
Conforme foi possível perceber, durante o período em que esta
pesquisa se concentra, constata-se que a propaganda foi uma ferramenta
utilizada muito mais pela iniciativa privada do que pela pública. Por outro lado,
mesmo que os relatórios intendenciais, da Secretaria de Estado dos Negócios do
Interior e Exterior do Rio Grande do Sul e da entrega da administração da
Província do Rio Grande do Sul, contenham dados mais específicos sobre o
ensino público, a propaganda foi que possibilitou encontrar dados do dia-a-dia de
uma instituição escolar, algo que os relatórios não permitiram. Além disso, o
ensino privado não enviava ao governo uma declaração fiel e sistemática de seus
quadros, como observado no Relatório apresentado ao Sr. Antonio Augusto
Borges de Medeiros, presidente do estado do Rio Grande do Sul, pelo Dr. João
Abbott, quando fez a seguinte afirmação:
[...] quanto a estes estabelecimentos, continúa o mesmo facto por mim
tantas vezes narrado, em meus anteriores relatórios. Transcrevo aqui os
insufficientes dados estatísticos, colhidos atravez de muitas difficuldades,
e assim procedo em obediência somente ao art. 10 n. 26 porque os
dados obtidos sobre o ensino particular não attingem á metade do real.
156
(Relatório dos Negócios do Interior e Exterior do Rio Grande do Sul de
30/6/1899).
Por esse motivo, optou-se, nesta pesquisa, por reunir essas duas
fontes: a propaganda e os relatórios, que elas se complementam,
principalmente no que se refere a informações sobre o ensino público na cidade
de Pelotas.
Por fim, a partir do exposto, concluiu-se que, no período desta
pesquisa, houve uma forte concentração do ensino privado, começando a existir
uma oferta de ensino gratuito mais sistematizada, que caminhou em direção a
uma alteração no perfil educacional pelotense, que aos poucos foi se
municipalizando e estadualizando, aumentando a oferta do ensino público no
Município.
2.2.4 Mercado docente em Pelotas: os(as) professores(as) “vantajosamente
conhecidos(as)
35
Foram muitas as iniciativas de ensino em Pelotas que, como
conseqüência, proporcionou um amplo campo de trabalho para os professores.
Nas propagandas das instituições de ensino, identificou-se que existia um
destaque especial para o corpo docente. Nelas, era exaltada a importância de a
escola possuir, em seus quadros, profissionais altamente reconhecidos.
Em função da importância atribuída ao papel do professor, e do
especial destaque dado ao corpo docente pelas propagandas institucionais neste
trabalho, buscou-se um aprofundamento nos dados referentes ao professorado de
Pelotas. Isso, no intuito de apresentar algumas reflexões sobre o perfil dos
professores que, formal, ou informalmente, ofereciam serviços ligados à educação
na cidade, na segunda metade do século XIX e início do século XX.
35
Vantajosamente conhecidos” foi uma expressão muito utilizada nos anúncios, ao se referirem a
professores(as) destacados(as) e reconhecidos(as) pela comunidade Pelotense.
157
Foram arrolados, por meio dos anúncios, os nomes de 204 professores
que lecionaram em instituições de ensino, no período investigado. Não foram
acrescidos à tabela aqueles professores(as) que davam aula em casas
particulares a não ser que os mesmos tenham trabalhado nos ditos
“Collegios”
36
, “Gymnasios”, “Escolas”, entre outros. Essa opção foi tomada em
virtude da amplitude de variáveis encontradas nesta pesquisa. Com isso, o foco
se deu nas instituições de ensino que abrigavam o número superior a um aluno,
onde existia, também, normalmente, mais de um professor responsável pelos
alunos.
Conforme se afirmou, nas propagandas, os professores ganhavam
grande destaque. Nelas eram listados os nomes de todos aqueles que
compunham o quadro docente da instituição, além de serem destacados, em
alguns casos, os atributos de determinados profissionais como sua formação e
seu tempo de exercício na profissão. As fontes, portanto, possibilitaram investigar
acerca dos sinais sobre a formação desses profissionais e o que se esperava
deles.
Observou-se, também, que determinadas escolas publicavam anúncios
em que a única informação se referia ao corpo docente – como na propaganda do
Collegio Pelotense
37
apresentada a seguir. Esse fato leva à seguinte reflexão:
para o projeto de uma instituição, o corpo docente tornava-se vital. Por isso,
naquele momento histórico, esse era um elemento muito valorizado que iria
diferenciar a instituição de outros espaços educacionais. Entendeu-se que era por
isso que algumas instituições de ensino, conforme apontado em alguns
36
Conforme Silva (2001, p.127) havia diferenças entre as expressões aulas (isoladas), escolas e
colégios. Conforme parecer do Conselho de Instrução Pública da Corte, de 1861, respondendo a
esclarecimentos a respeito ao Ministério do Império, as aulas ou escolas eram os
estabelecimentos nos quais lecionava apenas um professor, em casa de sua residência ou não,
funcionando como externatos. Nas aulas, a matéria lecionada era isolada, especializada, como por
exemplo, as aulas de latim, matemática ou inglês. Nas escolas ocorria o ensino de várias matérias
ou o de um grau de escolaridade, como no caso das escolas de primeiras letras ou primárias.
os colégios eram os estabelecimentos nos quais havia vários professores e uma direção, muitos
dos quais dedicados ao ensino primário e secundário, em regime de internato, externato e semi-
internato (grifo autor).
37
Este colégio não é o Gymnásio Pelotense, que décadas mais tarde passou a se denominar
Colégio Pelotense.
158
anúncios, exigiam exclusividade de seus docentes, já que fariam a diferença
perante a concorrência.
Figura 57 – Anúncio do Collegio Pelotense.
Fonte: JORNAL DO COMERCIO, 21/1/1878.
De posse do corpus documental, organizou-se uma tabela em que os
nomes dos docentes aparecem em ordem alfabética, respeitando os títulos e
designações quando esses apareciam nos anúncios, tais como: Doutor, Tenente,
Maestro, Senhor, Padre e Madame. Entende-se que esses dão pistas da
formação dos professores, refletem o seu pertencimento socialmente
reconhecido, além de reforçarem sua imagem na comunidade.
A tabela apresenta os nomes dos(as) professores(as), além de conter
duas outras subdivisões, que mostram as escolas em que eles(as) lecionaram, e
se ocuparam o cargo de diretor(a).
Tabela 3 – Professores que lecionaram e/ou dirigiram Instituições de Ensino em Pelotas, segundo
as Propagandas Institucionais (1875-1910).
PROFESSORES QUE LECIONARAM E/OU DIRIGIRAM INSTITUIÇÕES DE ENSINO EM PELOTAS
SEGUNDO AS PROPAGANDAS INSTITUCIONAIS (1875-1910)
NOME DO(A) PROFESSOR(A) INSTITUIÇÃO EM QUE LECIONOU INSTITUIÇÃO QUE DIRIGIU
A C Teixeira Instituto Latino Instituto Latino
A Gomes da Silva Curso Particular Complexo
A Hanry Collegio Franco Rio-Grandense
Abílio Silva Escola Moderna
1º tenente Dr. Abrilino de Abreu Atheneu Pelotense
Collegio União
Adelaide Rodrigues Patrício Collegio Santa Cecília Collegio Santa Cecilia
159
PROFESSORES QUE LECIONARAM E/OU DIRIGIRAM INSTITUIÇÕES DE ENSINO EM PELOTAS
SEGUNDO AS PROPAGANDAS INSTITUCIONAIS (1875-1910)
NOME DO(A) PROFESSOR(A) INSTITUIÇÃO EM QUE LECIONOU INSTITUIÇÃO QUE DIRIGIU
Affonso Emílio Massot Missimy Collegio Acácia
Collegio Evolução
Collegio Curso Racional
Collegio S. Francisco de Paula
Collegio Evolução
Collegio Curso Racional (sub-
diretor)
Alberto Fróes Aula Particular/Curso Primário
Collegio Reis
Aula Particular/Curso Primário
Alberto de Mendonça Moreira Collegio de Mme. Jeanneret (Collegio de
Meninas)
Collegio Pelotense
Albino da Silva Silveira Collegio Instrucção Elementar
Collegio Minerva
Collegio Silveira
Aula Nocturna
Collegio Silveira
Aula Nocturna
Dr. Alexandre Cassiano do
Nascimento
Collegio Evolução
Alfredo Marcellino Rodrigues Curso Completo de Musica
Atheneu Pelotense
Atheneu Pelotense
Curso Completo de Musica
Alfredo Ferreira Roiz Collegio S. Francisco de Paula
Collegio Sul-Americano
Curso Completo de Musica
Alfredo Ferreira Rodrigues Curso de Estudos Preparatórios Curso de Estudos Preparatórios
Alice Dias Rodrigues Collegio União Collegio União
Amadêo G. Gastal Externato Francez (Mme. Marguerite
Gastal)
Amália Pereira Furtado Collegio Arnizaut Furtado
Collegio de Instrucção Elementar
Collegio Arnizaut Furtado
Collegio de Instrucção Elementar
Amélia Rodrigues Atheneu Pelotense Atheneu Pelotense
(diretora do sexo feminino)
Anna Barcellos de Moura Collegio Pedro II Collegio Pedro II
Antonia Rochefort Externato Nacional
Antonio Agostinho Duarte Junior Collegio Evolução
Dr. Antonio Candido Borges Collegio União
Antonio Lorenzini Collegio Evolução
Antonio Manoel de Faria Collegio Redempção
Antonio Maurell Collegio Arnizaut Furtado
Antonio Pires de Souza Atheneu Pelotense
Antonio Rodrigues de Souza Collegio Redempção
Antonio T. De Faria Escola Popular
Aristides Guidony Collegio Francez
Collegio Acácia
Collegio Arnizaut Furtado & Guidony
Collegio Pelotense
Collegio Redempção
Collegio Silveira
Collegio Curso Racional
Arnizaut Furtado Collegio Arnizaut Furtado & Guidony
Collegio Curso Racional
Collegio Arnizaut Furtado
Collegio Arnizaut Furtado &
Guidony
Collegio Arnizaut Furtado
Arthur da Silva Lopes Collégio Perseverança
Arthur Rodrigues de Abreu Atheneu Pelotense
Arthur Toscano Curso Secundário Curso Secundário
Arthur Trajano Ubatuba Curso Racional Curso Racional
D. Augusta Martinez Collegio Santa Cecilia
Augusto Cezar Navarro Collegio Pelotense
Mme. Audissou Collegio Francez Collegio Francez
Benjamin Luiz da Cunha Collegio Sul-Americano
Collegio Curso Racional
Collegio Sul-Americano
(diretor primário)
160
PROFESSORES QUE LECIONARAM E/OU DIRIGIRAM INSTITUIÇÕES DE ENSINO EM PELOTAS
SEGUNDO AS PROPAGANDAS INSTITUCIONAIS (1875-1910)
NOME DO(A) PROFESSOR(A) INSTITUIÇÃO EM QUE LECIONOU INSTITUIÇÃO QUE DIRIGIU
Benjamim Manoel do Amarante Collegio Amarante E. Bibiano
Collegio de Mme. Jeanneret
(Collegio de Meninas)
Collegio Pelotense
Collegio Sul-Americano
Curso Racional
Collegio Amarante e Bibiano
Collegio Sul-Americano
Bento José Taveira Collegio Honra e Trabalho
Bento Martins Azambuja Collegio União
Bernardo Figueira Filho Escola Moderna
Atheneu Pelotense
Escola Moderna
Bernardo Taveira Junior Collegio de Mme. Jeanneret (Collegio de
Meninas)
Collegio Franco Rio-Grandense
Collegio Pelotense
Collegio Perseverança
Collegio Sul-Americano
Curso Completo de Musica
Atheneu Pelotense
Lyceu Municipal
Bibiano Francisco de Almeida Collegio Amarante e Bibiano
Collegio Sul-Americano
Collegio Amarante e Bibiano
Collegio Sul-Americano
Brasiliano da Costa e Silva Curso Particular Complexo/Instituto
Brazileiro
Curso Particular
Complexo/Instituto Brazileiro
Camilo Tarnac Collegio de Mme. Jeanneret (Collegio de
Meninas)
Collegio Reis
Collegio S. José
Camilo Mendes de Arruda Collegio Redempção
Carlos André Laquintinie Atheneu Pelotense
Collegio Curso Racional
Collegio de Mme. Jeanneret (Collegio de
Meninas)
Collegio Evolução
Collegio Perseverança
Collegio Reis
Collegio S. Francisco de Paula
Collegio Sul-Americano
Collegio União
Externato Francez (Mme. Marguerite
Gastal)
Gymnasio Pelotense
Lyceu Municipal
Collegio S. Francisco de Paula
Carlos Cantaluppi Collegio Sul-Americano
Liceu Municipal
Dr. Carlos Ferreira Ramos Gimnasio Pelotense
Carlos Kratz Collegio de Mme. Jeanneret (Collegio de
Meninas)
Carlos Maisvald Collegio Curso Racional
Dr. Carlos Schaeffler Gimnasio Gonzaga Gimnasio Gonzaga
Castro Ramalho Escola Progresso Escola Progresso
Conceição Pelotina Ouriques Collegio Minerva Collegio Minerva
Charles Dupont Collegio Dupont
Gymnasio Pelotense
Gymnasio Pelotense
Collegio Dupont
Charles H. Bachelery Collegio Franco Rio-Grandense
Collegio Francez
Collegio Franco Rio-Grandense
Lyceu Municipal
Collegio Sul-Americano (diretor
do curso primário)
Christovam Ferrando Gymnasio Pelotense
Capitão Dr. Cypriano da Costa
Ferreira
Atheneu Pelotense
D. Dora Klinger Externato Francez (Mme. Marguerite
Gastal)
161
PROFESSORES QUE LECIONARAM E/OU DIRIGIRAM INSTITUIÇÕES DE ENSINO EM PELOTAS
SEGUNDO AS PROPAGANDAS INSTITUCIONAIS (1875-1910)
NOME DO(A) PROFESSOR(A) INSTITUIÇÃO EM QUE LECIONOU INSTITUIÇÃO QUE DIRIGIU
D. Pulcheria Soares Collegio de Mme. Jeanneret
(Collegio de Meninas)
Demétrio Bandeira Atheneu Pelotense
Collegio Evolução
Deolinda de Freitas Collegio Perseverança
E. Laquentinie Collegio Racional
E. Messimy Collegio Racional
Eduardo Borges Collegio Eduardo Borges
Escola Moderna
Collegio Eduardo Borges
Eduardo F. Laranja e Oliveira Collegio de Instrucção Elementar
(Fernando A. Pimentel)
Collegio Redempção
Eduardo Wilhelmy Collegio Commercial
Collégio Ozório
Collegio Commercial
Collégio Ozório
Emerik Royol Collegio S. Francisco de Paula
Emetrio Soares Collegio Curso Racional
Emilia Frazão Silveira Collegio Minerva Collegio Minerva
Emilia Pecker de Barros Aula da Luz Aula da Luz
Emilio de Miranda F. Campello Collegio Instrucção Elementar
Eugenia Rodrigues Atheneu Pelotense Atheneu Pelotense
(diretora aulas do sexo feminino)
J. F. de Souza Soares Atheneu S. João
Lyceu Municipal
Atheneu S. João
Felisberto Rodrigues Atheneu Pelotense
Collegio Sul-Americano
Curso Completo de Musica
Atheneu Pelotense
Curso Completo de Musica
Felix Marçal Gleyraud Collegio Curso Racional
Collegio Pelotense
Collegio Redempção
Fernando Antonio Pimentel Curso Particular
Collegio de Instrucção Elementar
(Fernando A. Pimentel e Washington
Barcellos)
Collegio Racional
Escola Nocturna Pelotense
Collegio de Instrucção Elementar
(Fernando A. Pimentel e
Washington Barcellos)
Escola Nocturna Pelotense
Curso Particular
Ferreira Reis Collegio Reis
Dr. Fr. X. Zartmann Gymnasio Gonzaga
Francisca Garcia de Oliveira Curso Particular Complexo/Instituto
Brazileiro
Francisco de Paula Ibirapitan
Ourique
Collegio Redempção
Francisco de Paula Laquintinie Atheneu Pelotense
Gymnasio Pelotense
Francisco de Paula Maiwal Collegio S. Francisco de Paula
Francisco de Paula Pires Collegio Honra e Trabalho
Collegio Redempção
Francisco J. Rodrigues de Araújo Gymnasio Pelotense Gymnasio Pelotense
Francisco José de Souza Bastos Lyceu Rio-Grandense de Agronomia Lyceu Rio-Grandense de
Agronomia
Francisco M. Germano Collegio Perseverança
Francisco Rodrigo de Souza Collegio S. José
Dr. Francisco Simões Lopes Gymnasio Pelotense
Frederico A. Trebbi Collegio de Mme. Jeanneret
(Collegio de Meninas)
Collegio Evolução
Externato Francez
Frederico Henrique Wetzel Curso Particular Complexo/Instituto
Brazileiro
162
PROFESSORES QUE LECIONARAM E/OU DIRIGIRAM INSTITUIÇÕES DE ENSINO EM PELOTAS
SEGUNDO AS PROPAGANDAS INSTITUCIONAIS (1875-1910)
NOME DO(A) PROFESSOR(A) INSTITUIÇÃO EM QUE LECIONOU INSTITUIÇÃO QUE DIRIGIU
Frederico Sattanitini Collegio Pelotense
Collegio Redempção
Mme. Fulcher Collegio Acácia
Collegio de Mme. Jeanneret (Collegio de
Meninas)
Gregório Romeu Iruzun Curso Primário
Curso Particular Complexo/Instituto
Brazileiro
Gymnasio Pelotense
Giuseppe Marchiaro Atheneu Pelotense
Collegio Sul-Americano
Guilherme Litran Collegio Evolução
Collegio Ozório
Gustavo Krebin Collegio Redempção
Dr. Guilherme Minssen Escola Moderna
H. Blechmman Escola Moderna
Hans Von Hof Escola Moderna
Hemetrio José de Oliveira Marques Collegio Redempção
Collegio Minerva
Henrique Wetzel Collegio Ozório
Curso Particular Complexo
Gymnasio Pelotense
Henriqueta Gareaux Pereira Gama 2ª Aula Pública
Hercules de Almeida de
Vasconcellos
Collegio Pelotense
Hermenegildo Bicker Collegio Dupont
Curso Primário
Escola Moderna
Escola Moderna
D. Herminia F. da Rocha Collegio N. S. da Conceição Collegio N. S. da Conceição
Honorina Dupont Collegio Dupont
Dr. Hyppolito Cabeda Atheneu Pelotense
Curso Particular Complexo
Escola Moderna
Externato Francez (Mme. Marguerite
Gastal)
Gymnasio Pelotense
Idalina C. Carvalho Curso Secundário Curso Secundário
Ildefonso Vaz do Amaral Collegio Pelotense
Izabel Mac-Ginity Collegio Victoria Collegio Victoria
Dr. J. A de Sequeira Canabarro Liceu Municipal
J. Theodoro de Miranda Escola Nocturna Pelotense Escola Nocturna Pelotense
Jacob Reischer Collegio União
Atheneu Pelotense
Jacques Reischer Gymnasio Pelotense
Mme. Berta Jeanneret Collegio de Mme. Jeanneret
(Collegio de Meninas)
Collegio de Mme. Jeanneret
(Collegio de Meninas)
Joanna da Silva Pereira Passos Collegio Esperança Collegio Esperança
João Affonso Corrêa de Almeida Atheneu Pelotense
Collegio de Mme. Jeanneret (Collegio de
Meninas)
Collegio Pelotense
Collegio Sul-Americano
Curso Completo de Musica
Escola Moderna
Gymnasio Pelotense
Collegio Sul-Americano
Collegio Pelotense
João B. Giudiculli Collegio Brazileiro Collegio Brazileiro
163
PROFESSORES QUE LECIONARAM E/OU DIRIGIRAM INSTITUIÇÕES DE ENSINO EM PELOTAS
SEGUNDO AS PROPAGANDAS INSTITUCIONAIS (1875-1910)
NOME DO(A) PROFESSOR(A) INSTITUIÇÃO EM QUE LECIONOU INSTITUIÇÃO QUE DIRIGIU
João Baptista Domingues Collegio Pelotense
João da Silva Silveira Collegio Silveira
João de Souza Mursa Collegio Perseverança
João Francisco de Souza Soares Lyceu Municipal Atheneu S. João
Maestro João Pinto Bandeira Collegio União
Joaquim Napoleão Epaminondas de
Arruda
Collegio Redempção
Collegio Reis
Collegio Redempção
Joaquim Francisco de Oliveira
Braga
Aula Nocturna
Collegio Redempção
Joaquim Ramos Collegio Dupont
José Gomes de Andrade Collegio de Instrucção Elementar
(Fernando A. Pimentel e Washington
Barcellos)
José Henrique da Lara Ulrich Collegio Acácia
Collegio de Mme. Jeanneret
(Collegio de Meninas)
Collegio Pelotense
Gymnasio (José Henrique L. Ulrich)
Gymnasio (José Henrique L.
Ulrich)
José Marchiaro Atheneu Pelotense
Collegio Commercial
Collegio Sul-Americano
Collegio União
Curso Completo de Musica
Collegio Commercial
José Maria Rodrigues Barcellos Collegio Pelotense
Curso Racional
Collegio de Instrucção Elementar
(Fernando A. Pimentel)
José Stott Collegio Evolução
Collegio Perseverança
Collegio Evolução (diretor
interno)
Collegio Perseverança
José Vaz Bento Atheneu Pelotense
Josephina H. de Moura Barcellos Collegio Sant´Anna Collegio Sant´Anna
Josephina Laquentinie Queiroz Externato Nacional Externato Nacional
Julie Jeanneret
Collegio de Mme. Jeanneret
(Collegio de Meninas)
Julio Freire Collegio Acácia
Collegio Instrucção Elementar
Dr. Julio de Mendonça Moreira Collegio Pelotense
Mme. Lamaigniere Collegio Franco-Brazileiro Collegio Franco-Brazileiro
Leon Eugenio Lapafesse Collegio Arnizaut Furtado & Guidony
Luiz Carl Bernhardt Escóla Allemã/Deutsche Schule
Luiz Carlos Massot Collegio Curso Racional
Collegio Evolução
Collegio S. Francisco de Paula
Collegio Evolução
Luiz Krunsener Collegio Curso Racional
Luiz M. da S. Carvalho Escola Popular Príncipe do Grão-Pará
Luiz Oscar Bedu Collegio Evolução
Madre Paulina Collegio São Francisco de Assis
Major Joaquim Alves de Macedo Collegio Pelotense
D. Maria Batista Pereira Collegio S. Francisco de Paula Collegio S. Francisco de Paula
Manoel Bicker Escola Moderna
Manoel Ignácio Fernandes Collegio Curso Racional
Curso Particular Complexo
Collegio de Instrucção Elementar
(Fernando A. Pimentel e Washington
Barcellos)
Collegio Curso Racional
Collegio de Instrucção Elementar
(Fernando A Pimentel)
164
PROFESSORES QUE LECIONARAM E/OU DIRIGIRAM INSTITUIÇÕES DE ENSINO EM PELOTAS
SEGUNDO AS PROPAGANDAS INSTITUCIONAIS (1875-1910)
NOME DO(A) PROFESSOR(A) INSTITUIÇÃO EM QUE LECIONOU INSTITUIÇÃO QUE DIRIGIU
Manoel J. A. de Almeida Lyceu Municipal
Manoel Velleda Rosa Atheneu Pelotense
Marçal Felix Gueyraud Collegio Perseverança
Mme. Marguerite Gastal Internato e Externato Francez Internato e Externato Francez
Maria Antonia Mursa Collegio Perseverança Collegio Perseverança
Maria Antonia de Sá Mendes Curso Particular
Maria Baptista Pereira Collegio S. Francisco de Paula
Externato Francez (Mme. Marguerite
Gastal)
Collegio S. Francisco de Paula
Maria das Dores de Leon Roiz Collegio Santa Cecília Collegio Santa Cecilia
Maria Imbert Collegio Perseverança
Maria Luiza Arruda Pires Collegio Honra e Trabalho Collegio Honra e Trabalho
Maria M. Monsarro Collegio União
Maria Malvina de Medeiros Collegio Acácia Collegio Acácia
Mário de Artagão Collegio Mario de Artagão Collegio Mario de Artagão
Mario de Paula Couto Collegio S. Francisco de Paula Aula Nocturna
Mary Milne Collegio Francez Collegio Francez
Matts Hardim Collegio Perseverança
M. I da Costa Silva Curso Particular Complexo/Instituto
Brazileiro
Mauricio Rodrigues Filho Atheneu Pelotense Atheneu Pelotense
(Vice-Diretor)
D. Mathilde Figueira Collégio Honra e Trabalho
Miguel de Azevedo Collegio Arnizaut Furtado & Guidony
Capitão Miranda Campello Collegio Acácia
Collegio Franco Rio-Grandense
Collegio Instrucção Elementar
Collegio Silveira
M. S. Gomes de Freitas Gymnasio Pelotense
Octacílio Rodrigues Atheneu Pelotense
Collegio União
Atheneu Pelotense
Collegio União
Rev. Padre Octaviano Pereira de
Albuquerque
Collegio Evolução
Octávio Augusto de Faria Biblioteca Pública Pelotense
Curso Primário
Dr. Octavio Rocha Gymnasio Pelotense
Olegaria D´Albuquerque Aula Pública
P. Bret Collegio Franco Rio-Grandense
P. P. Bucker Collégio Gonzaga
Padre Dr. Frederico Catani Collegio Franco Rio-Grandense Collegio Franco Rio-Grandense
Pastor Paulo Sudhaus Escóla Allemã
Paulo Marques Collegio Ozório Collegio Ozorio
Paulina Gastal Externato Francez (Mme. Marguerite
Gastal)
Paulo Hugo Fuchs Atheneu Pelotense
Collegio Dupont
Collegio União
Curso Completo de Musica
Curso Particular Complexo
Pedro A. Gama Collegio Evolução
Escola de Instrucção Publica
Escola de Instrucção Publica
Pedro B. Barcellos Collegio Evolução
Pereira Reis Collegio Reis Collegio Reis
165
PROFESSORES QUE LECIONARAM E/OU DIRIGIRAM INSTITUIÇÕES DE ENSINO EM PELOTAS
SEGUNDO AS PROPAGANDAS INSTITUCIONAIS (1875-1910)
NOME DO(A) PROFESSOR(A) INSTITUIÇÃO EM QUE LECIONOU INSTITUIÇÃO QUE DIRIGIU
Rita da Conceição Reis Luso-Brasileiro Luso-Brasileiro
Rodolfo Alves da Porciúncula Collegio Franco Rio-Grandense
Rosa B. Pinto Collegio Santa Rosa Collegio Santa Rosa
Rubens de Freitas Weyne Curso Particular Complexo/Instituto
Brazileiro
Dr. Saturnino Epaminondas de
Arruda
Collegio Redempção
Sebastião Domingues Collegio Acácia
Silvestre F. Galvão Gymnasio Pelotense
Pastor Theodoro W. Weller Escola Alemã
Thomaz King Collegio Curso Racional
Tristão V. de Borba Collegio Perseverança
Ursula da Silva Lima Hameister Collegio Minerva Collegio Minerva
Valença Appel Collegio Dupont
Escola Moderna
Venerando José Rodrigues Collegio Curso Racional
Washington da Câmara Barcellos Collegio Instrucção Elementar
Collegio Pelotense
Collegio S. Francisco de Paula
Collegio Pelotense
Collegio Instrucção Elementar
Collegio S. Francisco de Paula
Washington de Siqueira Canabarro Collegio Pelotense
Collegio Franco Rio-Grandense
Collegio Pelotense
Total Professores:
Mulheres (46)
Homens (156)
Total (202)
Total Diretores:
Mulheres (28)
Homens (51)
Total (79)
Ao analisar-se a Tab.3, muitos dados são revelados. O primeiro que
salta aos olhos refere-se à quantidade de professores homens (156) e à de
mulheres (46). Essa diferença ocorria, principalmente porque, como discutido
anteriormente, o número de instituições masculinas, tanto primárias como
secundárias, era superior ao número destinado ao sexo feminino. Além disso,
observou-se que nas instituições femininas os professores também encontravam
um espaço para desenvolver seu ofício. No entanto, ao investigar o processo de
feminização no magistério da instrução primária no Rio Grande do Sul, Tambara
(1998, p.39) ressalta que:
a participação da mulher no magistério aumentou, obviamente, na
medida em que mais aulas femininas foram instaladas, uma vez que
havia uma reserva de mercado para cada sexo em relação à docência
das aulas dos respectivos sexos. Em um segundo momento,
proporcionalmente, o gênero feminino passou a conquistar mais espaço
quando se instalaram as aulas mistas, onde normalmente as professores
exerciam a atividade docente.
166
Um outro aspecto analisado na Tab.3, refere-se ao fato de pessoas da
mesma família atuarem como professores
38
. Ao organizarem-se os dados da
tabela, verificou-se que parentes lecionaram na mesma escola, ou em escolas
diferentes. Em alguns anúncios era destacado o grau de parentesco,
principalmente quando a família era proprietária do colégio. O fato de uma família
dirigir e lecionar unida, era divulgado como um aspecto de qualidade e de
comprometimento para com o seu público. Assegurava também, que traria
literalmente um “ambiente familiar” que a escola, nesta época, deveria ser vista
como a continuidade do lar. Revela ainda que a educação foi um ofício exercido
por famílias inteiras em Pelotas, como o caso do Sr. Amadêo Gastal, que era
esposo da Madame Marguerite Gastal; ambos lecionaram no Externato Francez.
Já os professores e irmãos, Affonso Emílio Massot e Luiz Carlos Massot, diretores
do Collegio Evolução, contavam com o auxílio de sua mãe, que tinha, como
cargo, a direção interna do colégio. Uma outra instituição de ensino que teve
como dirigentes pessoas com nculo de parentesco foi o Atheneu Pelotense, em
que o diretor do ensino masculino, Felisberto Rodrigues, abriu vagas para o sexo
feminino – deixando claro que o ensino seria independente. Destaca ainda que as
diretoras do ensino feminino seriam as suas irmãs Amália e Eugênia Rodrigues:
38
Como, por exemplo, a família Laquintinie. Carlos André Laquintinie era pai de Francisco de
Paula Laquintinie e irmão de Josephina Laquintinie Queiroz. Todos eles aturam como professores
na cidade de Pelotas.
167
Figura 58 – Anúncio do Atheneu Pelotense.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 14/1/1896.
Esses dados, em relação aos parentescos dos professores, podem
também revelar um sistema educacional que principiava, muitas vezes, nas casas
desses professores que se reuniam dividindo os saberes conforme a
especialidade de cada um, tornando este espaço ora público (profissional), ora
privado (familiar).
Ainda com relação aos docentes, é interessante observar, na próxima
propaganda, que a instituição se colocava totalmente disponível à opinião da
comunidade sobre o seu quadro de professores. Apesar de não serem
conhecidos pela comunidade, o estabelecimento os considerava competentes, a
ponto de abrir suas portas para que ela se certificasse disso. Essa era,
provavelmente, uma alternativa para as escolas que não possuíam um corpo
docente conhecido.
168
Figura 59 – Anúncio da Escola Moderna.
Fonte: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 14/1/1898.
Foram encontrados, também, alguns anúncios em que a escola, ao
divulgar o retorno nas aulas, dava ênfase ao corpo docente, como é o caso do
anúncio do Atheneu Pelotense:
[...] Brevemente publicaremos os
nomes dos professores que têm
de formar o corpo docente, e se
alguém puzer em dúvida a sua
competência, pode, querendo,
assistir ás aulas, para melhor
certificar-se da autoridade dos
novos professores em cada uma
das disciplinas a seu cargo [...]
169
Figura 60 – Anúncio do Collegio Atheneu Pelotense.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 6/1/1897.
Ao elencarem, nos anúncios presentes nesta pesquisa, os nomes dos
docentes, bem como sua formação, nacionalidade e disciplinas que ministravam,
as instituições os utilizavam como um importante recurso de qualidade. No
anúncio do Collegio de Mme. Jeanneret, também ficou evidenciada a exposição
da contratação de dois professores de reconhecida competência:
Figura 61 – Anúncio do Collegio de Mme. Jeanneret.
Fonte: JORNAL DO COMERCIO, 11/1/1878.
170
Percebeu-se também a ocorrência de uma possível rivalidade entre as
escolas, que acabavam apresentando os docentes como um diferencial
competitivo, chegando a anunciar que um professor iria, a partir de determinada
data, lecionar somente naquela escola específica. A existência da exclusividade
docente foi bastante explorada, que muitos deles lecionavam em mais de uma
instituição (ver Tab.3), além de serem profissionais de renome, que atrairiam,
para os espaços educativos, o público desejado, como se vê nesta propaganda:
Figura 62 – Anúncio do Lyceu Municipal.
Fonte: JORNAL DO COMERCIO, 7/1/1878.
[...] Os preços do
Lyceu Municipal
apresentam uma
certa alteração,
mas o director do
Lyceu faz observar
aos interessados,
que é por
sacrifícios
consideráveis que
elle reuniu os
melhores
professores da
cidade, e debaixo
da condicção de
elles não poderão
leccionar fora do
estabelecimento,
sendo só para os
collegios de
meninas [...]
171
Ao observar-se os nomes dos professores que constam na Tab.3 e o
conteúdo das propagandas, constatou-se que muitos dos docentes que
lecionavam em Pelotas eram estrangeiros. Isso acontecia muito em função de
que, o desenvolvimento econômico e cultural de Pelotas atraiu vários estrangeiros
que se estabeleceram na cidade, praticando profissões que contribuíram para o
desenvolvendo de uma infra-estrutura considerável de serviços e comércio. Em
1891 habitavam na zona urbana 4.160 estrangeiros, totalizando 18,1% das
pessoas presentes na cidade (LONER, 2001). A autora relata que os portugueses
se dedicavam especialmente ao comércio, mas também trabalhavam em
indústrias e oficinas. Os alemães preponderavam no alto comércio e entre os
industriais, constituindo-se num grupo de peso na cidade. os italianos e os de
outras nacionalidades, como poloneses e espanhóis, trabalhavam como operários
nas grandes fábricas e nas oficinas. Os franceses eram contratados
principalmente como artesãos, e trabalhavam com profissões vinculadas ao luxo e
à moda, além da educação (LONER, 2001, p.59). Segundo Anjos (1996, p.37), ao
se observarem os jornais da época, verifica-se que existia uma valorização do
que se originava do estrangeiro, tanto dos produtos, quanto das pessoas. Esse
sentimento refletia-se também com relação aos professores oriundos de outros
países fossem eles de piano, canto, primeiras letras ou de ensino secundário
que surgiam no cenário educacional pelotense com um diferencial que lhes dava
vantagem na disputa por alunos. Observou-se então, por meio das propagandas,
que as titulações dos professores e sua origem tornavam-se, muitas vezes,
fundamentais para exaltar ainda mais as aulas oferecidas.
172
Figura 63 – Anúncio da professora Eugenie Lamaignere.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 06/4/1878.
Conforme foi afirmado, Pelotas era extremamente influenciada pelos
padrões europeus e abrigou, na segunda metade do século XIX, um expressivo
número de escolas particulares, que usavam, também como tática de cooptação
da clientela, a origem européia de seus professores. Segundo Cerqueira e Cézar
(1994, p.37), as famílias urbanas pelotenses, de classe média e alta, contratavam
os professores de origem estrangeira – seja como tutores ou professores de
língua estrangeira – para que ficasse garantida a seus filhos uma “formação
européia”, que iria diferenciá-los daqueles do meio rústico e rural que os
circundavam. Essa realidade se reflete no argumento apresentado por este
colégio:
173
Figura 64 – Anúncio do Collegio Francez.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 07/1/1876.
Além de oferecer a oportunidade de uma educação igual à que as
alunas teriam na França, este colégio tem como nome o país de origem de seu
fundador. Ele propõe aplicar em Pelotas os conhecimentos que adquiriu em sua
A applicação paulatina
de todos os elementos
de ensino aconselhado
por uma longa pratica,
me permite publicar um
programa que,
aproveitado pelas
alumnas que se
eduquem n´este
collegio, possa
satisfazer os justos
desejos dos paes de
familia que se propõe
dar a suas filhas, uma
educação tal, como
poderiam receber em os
melhores collegios da
Europa.
174
pátria, diferentes do que eram ofertados em outros espaços de ensino. Ao
observar-se a Tab.3, identificou-se o nome de alguns professores de origem
francesa que deram aula em Pelotas, como: Mme. Audissou, Charles Bachelery,
Mme. Lamignére, Aristides Guidony, Eduardo Wilhelmy, Affonso Emilio Massot
Missimy, Luis Carlos Massot, Camilo Tarnac, Carlos André Laquintinie,
Henriqueta Gareaux Pereira Gama, Mme. Marguerite Gastal e Mme. Berta
Jeanneret. Muitos deles, como anteriormente inferido, usavam, nos discursos dos
anúncios, a sua formação e a sua nacionalidade como uma forma de atrair novos
alunos, como no texto do anúncio que segue:
Figura 65 – Anúncio do Internato e Externato Francez.
Fonte: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 03/2/1905.
A professora do Internato e Externato Francez, Marguerite Marlin
Gastal, em julho de 1888 chegou ao Brasil, mais precisamente, a Pelotas.
Segundo Gastal (1965)
39
ela veio:
acompanhada por sua mãe, na qualidade de noiva de Amadêo Gustavo
Gastal, seu cunhado que havia ficado viúvo de sua irmã. Amadêo G.
Gastal que possuía a profissão de agrimensor que o fatigava demasiado,
juntamente com sua esposa Madame Gastal, como era chamada por
todos resolveu fundar um colégio misto, para ensino primário e
secundário. Em 1895, tivera inicio as atividades do “Externato Francês”,
da professora Madame Gastal, diplomada pela Universidade de
Grenoble, França. Foi um estabelecimento de ensino moderno e
avançado, que funcionou com pleno êxito durante quinze anos,
congregando em seu corpo docente os mais capacitados professores da
época, ali radicados, e discente jovens das principais famílias de
Pelotas, predominando o elemento feminino. [...] Marguerite foi diretora
do Externato Francês até sua morte em 1909, dois dias após ter
completado 49 anos [...].
39
Livreto sem título e sem editora, escrito em 1965, por seu filho Paulo Gastal.
175
A presença francesa em Pelotas é investigada por Betemps (1999,
p.119), que afirma ser anterior ao ano de 1875 à entrada de imigrantes franceses
na cidade. Segundo ele, no Brasil, procuravam habitar as vilas que eram, em
sua maioria, professores, artistas e comerciantes. Conforme o autor, Pelotas
estava entre as cidades mais procuradas pelos imigrantes franceses porque se
tratava de um dos maiores núcleos urbanos em que a cultura européia se
tornava marcante além de possuir inovações que a diferenciava das cidades
das outras províncias, como a iluminação a gás, as linhas de bonde, o serviço de
águas e esgotos e o calçamento das ruas centrais. Betemps (1999, p.119) afirma
que as:
famílias abastadas de Pelotas mandavam vir da França professores para
os filhos, entre eles: Charles Bachelléry que fundou um dos colégios
mais famosos de Pelotas e do Rio Grande do Sul onde se fazia até
exercício de tiro; Afonso Emílio Massot e Luis Carlos Massot que em
1886 fundam o colégio Evolução fechado em 1893 com a guerra civil;
Aristides Guidony que fundou o colégio Francês com aulas de esgrima,
ginástica e dança; Berta Jeanneret com um colégio para meninas; e
Carlos André Laquintinie que, entre outros, ministrava nas residências
aulas particulares, lecionando as primeiras letras, gramática, aritmética,
geografia, história, matemática, latim, francês e caligrafia.
Trazer professores franceses para ensinar seus filhos ilustra, portanto,
a opulência vivida e pretendida pelas famílias pelotenses. Além disso, durante o
período analisado nesta dissertação, a escolarização era concebida como
ilustradora, isto é, como um caminho de luz para o progresso e para a civilização.
Nessa direção, tudo o que se referice às nações mais adiantadas, especialmente
à França, seriam bem-vindo. Nesse sentido, tratavam de associar a importância
da instrução escolar ao desenvolvimento dos povos.
Com base nos anúncios, contata-se que os discursos das instituições
estavam ligados à sua origem, aos seus princípios, à sua percepção sobre o
mercado e sobre o serviço que estavam oferecendo: a educação. Os discursos
articulados nos documentos, segundo (CHARTIER, 1990), são compreendidos
como práticas de representação e, como tais, são perspectivadas por uma
posição determinada: a do sujeito que as produz, enquanto também nelas se
produz. Dessa forma, ao analisar os anúncios, os métodos de ensino oferecidos
176
pelas escolas – que eram por elas ditos como rápidos, fáceis e modernos
chamaram a atenção:
Figura 66 – Anúncio da Aula de Francez de Mme. Audissou.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 28/01/1875.
O que se observou foi que em anúncios sobre o ensino das línguas
estrangeiras, como o da francesa ilustrado nesta propaganda, vendia-se a idéia
de que ela seria assimilada pelo aluno rápida e eficientemente. Esta característica
177
da rapidez no ensino também é encontrada nos discursos dos colégios
preparatórios, que ofereciam a máxima eficiência, em pouco tempo, para que o
aluno ingressasse no ensino superior o quanto antes. Conforme Ribeiro (1978,
p.36), o fato de o governo central ter-se omitido da tarefa de reorganização dos
níveis anteriores ao superior, deixando-os sob a responsabilidade das províncias,
mantendo os cursos preparatórios e os exames parcelados para o ingresso no
curso superior, acarretou que:
[...] os pais não pediam aos diretores de colégios que ensinem a seus
filhos, mas simplesmente que os habilitem no menor prazo possível, e
com o menor incômodo deles pais e de seus filhos, para os exames de
preparatórios das aulas superiores. Sob essa condição, os estudos
acanham-se e perdem-se (RIBEIRO, 1978, p.36).
Cabe refletir sobre o fato de que os poucos alunos que conseguiam
matricular-se nos Liceus e nos Colégios tinham como objetivo ingressar no curso
superior. O ensino secundário era propedêutico, assim como ainda o é nos dias
atuais.
Um outro aspecto constatado ao longo da pesquisa foi a afirmação e a
construção da imagem dos professores realizada por meio dos anúncios e pela
comunidade. Ao procurar dados sobre os professores que atuaram na cidade
analisou-se cinco folhas ilustradas pelotenses intituladas, respectivamente, A
Ventarola, O Cabrion, O Bisturi e o Zé Povinho e O Pervigil. Esses eram
pequenos jornais que se dedicavam à abordagem do cotidiano da cidade de
Pelotas e às questões políticas nacionais e internacionais, contendo ainda muitas
ilustrações como charges e retratos.
Nesses jornais, a capa era sempre dedicada a uma figura importante,
fosse nacional ou local, como se pode observar a seguir. Segundo Nascimento
(1989, p.279), o jornal A Ventarola era uma “folha ilustrada e humorística [...] suas
curiosíssimas charges a bico de pena tinham como assunto a política em geral e
os aspectos sociais da cidade. Também publicava retratos de ilustres
personagens, em excelentes litografias”.
178
Figura 67 – Capa do Jornal A Ventarola 1888.
Fonte: JORNAL A VENTAROLA, 1888.
As folhas ilustradas apresentavam, na parte interna das suas primeiras
páginas, uma pequena biografia da pessoa que tinha destaque na capa do jornal.
Essa era uma prática recorrente, que também deu espaço à apresentação de
retratos de alguns professores da cidade. Esse fato levou a refletir sobre o que
Nóvoa aponta em relação à imprensa (1997, p.13):
[...] ela é o lugar de uma afirmação em grupo e de uma permanente
regulação coletiva, na medida em que “cada criador está sempre a ser
julgado, seja pelo público, seja por outras revistas, seja pelos próprios
companheiros de geração”.
Em relação aos professores, o que se percebe é que, além de serem
publicados elogios a eles, reafirmando suas qualidades, as folhas ilustradas
também permitiram desvendar mais dados sobre as atividades dos docentes fora
179
da sala de aula, dando pistas da vida intelectual e cultural que levavam em sua
vida pública e, algumas vezes privada.
Dos números encontrados na Bibliotheca Pública Pelotense, e na
Biblioteca Pública da cidade de Rio Grande-RS, apresentam-se a seguir, as
capas contendo o retrato de alguns professores que lecionaram em Pelotas, e a
respectiva biografia contida na folha ilustrada.
Figura 68 – Retrato da professora Mme. Berta Jeanneret.
Fonte: A VENTAROLA, 1888, nº 40.
Abrilhanta a nossa página de honra o retrato da respeitável madama
Berta Jeanneret. longos annos estabelecida entre nós com o collégio
de meninas, tem madama Jeanneret adquirido geraes sympathias pela
circumspecção e critério com que desempenha árdua tarefa de
educadora da mocidade. Encarada como professora todos serão
unânimes em dizer que madama Jeanneret é o verdadeiro typo do
trabalho empregando todas as suas aptidões na boa ordem que se nota
no collegio que tão dignamente dirige.
Como particular recommenda-se pelas raras virtudes que possue e que
a tornaram um dos preciosos ornamentos da nossa sociedade. É pois
com a maior satisfação que a Ventarola apresenta o retrato de tão
respeitável matrona (A Ventarola, 1888, nº 40).
Nos aspectos biográficos apresentados sobre Mme. Jeanneret, foi
possível perceber o discurso do papel do educador: uma profissão que exigia um
180
árduo esforço e aptidão. A biografia testemunha a qualidade da professora,
indicando o seu estabelecimento para os leitores da folha ilustrada. Ao observar-
se na Tab.2, verificou-se que o Colégio de Meninas, administrado por Mme.
Jeanneret, anunciou seus serviços por cerca de vinte e cinco anos. Foi uma
instituição que se manteve sistematicamente no mercado educacional pelotense,
oferecendo o mesmo conteúdo programático, que envolvia as boas maneiras
assim como todos os trabalhos de agulha, além de Português, Francês,
Geografia, Retórica, Desenho, Aritmética e Historia. Ao que tudo indica, era
considerado um dos melhores colégios femininos, senão o melhor. Observou-se
também que, ao contrário da afirmação de Anjos (1996), o colégio de Mme.
Jeanneret não fecha suas portas no ano de 1890, que foi possível encontrar
anúncios de início do ano letivo dessa instituição até o ano de 1900 (ver Tab.2).
No mesmo ano em que Mme. Jeanneret recebia tal homenagem do
Jornal A Ventarola, o professor Bernardo Taveira Junior também foi agraciado
pela folha ilustrada.
Figura 69 – Retrato do professor Bernardo Taveira Junior.
Fonte: A VENTAROLA, 1888, nº 63.
181
Nesta edição do Jornal A Ventarola, além do retrato de Taveira Junior,
também havia o seguinte texto:
o nosso semanário exhibe hoje, em sua página de honra, o retrato de um
distincto pelotense que serve de grandioso ornamento à nossa
sociedade, como cidadão, como professor, como escriptor hemerito e
como poeta que honra as lettras pátrias. Falamos de Bernardo Taveira
Junior esse gênio trabalhador, que tem levado uma vida de mais de
cincoenta annos illustrando os cabedaes do seu saber. Sentimos
sinceramente não dispor de espaço sufficiente para dar uma leve idéia
dos merecimentos litterarios que ornamentam a fonte de tão distincto
mestre, de tão denotado cultor das lettras pátrias. Só systeticamente
ousamos traçar a sua honrosa biographia de homem de lettras [...]
Comecemo-lo há longos annos e temos tido sobejo tempo para, em meio
de todas as nossas poucas habilitações, julgar não da rigidez de seu
caracter de cidadão, como dos dotes intelectuaes com que foi fadado
pela natureza.
Deixemos de parte, na placidez do lar, o cidadão, e vejamos a sua
personalidade litteraria. Desde os mais tenros annos Taveira Junior
demonstrou a mais viva dedicação à causa das lettras. As suas primeiras
poesias, se não revelavam um gênio precoce, deixavam ante-ver um
promettedor talento poético. Não havendo nascido entre européis e
púrpura, seu finado pai, de gloriosa memória, aproveu as suas aptidões,
não poupando saccrificios para que elle adquirisse a maior cópia de
conhecimentos, em uma epocha em que a instrucção era caríssima.
Depois de ter conseguido todos os preparatórios na província, foi
Bernardo Taveira Junior para o Paulo onde teve occasião de dilatar
todos os seus conhecimentos. De regresso á província, escolheu a
carreira do magistério, na qual tem tido a gloria de preparar centos de
alumnos que hoje possuem pergaminhos de doutor em varias matérias
(A Ventarola, 1888, nº 63).
A biografia deixa clara a importância atribuída à figura de Bernardo
Taveira Junior para a educação e para cultura pelotense. No texto, foi também
destacado o fato de não pertencer a uma classe abastada, o que acarretou em
um sacrifício para o seu pai que buscou investir em sua instrução. Taveira
Junior foi um dos professores que atuou em um maior número de instituições
rastreadas nesta pesquisa (conforme Tab.3). Lecionou no Collegio de Mme.
Jeanneret além do Franco Rio-Grandense, do Pelotense, do Perseverança, do
Sul-Americano, do Curso Completo de Musica, do Atheneu Pelotense e do Lyceu
Municipal, instituições em que ministrou Português, Biologia, Física, Retórica,
Latim e História.
Conforme observou-se anteriormente, pelos nomes dos professores
nos anúncios, foi permitido quantificar o número de escolas em que determinado
182
docente lecionou, conhecer o que era dito sobre ele nos jornais e no conteúdo
das propagandas, além de registrar as disciplinas que eram por eles ministradas.
Na busca de mais subsídios e dados sobre aqueles que em Pelotas
vivenciaram a educação nos finais do século XIX e início do XX, encontrou-se
uma verdadeira relíquia sobre o professor Taveira Junior. Na Bibliotheca Pública
Pelotense, depois de muita insistência pois o material o estava
completamente catalogado – teve-se acesso a um conjunto de documentos recém
doados ao acervo da instituição, o qual continha documentos sobre o referido
professor. Nele, além de constar uma coluna publicada no Jornal Diário de
Pelotas, em que o professor utilizava um pseudônimo para escrever sobre
diversos assuntos, incluindo a educação, ainda foi possível localizar: alguns
programas e planos de aula, escritos de próprio punho, das disciplinas que
ministrava; uma pequena biografia; cartas a ele destinadas, como a do Grêmio
Literário Rio Grandense comunicando-lhe a sua nomeação como sócio
correspondente; uma carta da Sociedade Italiana dando-lhe o título de sócio
honorário no ano de 1878; uma carta da Câmara Municipal comunicando a sua
nomeação para lecionar a cadeira de Português no Lyceu de Artes e Ofícios no
ano de 1890; além de uma carta do Intendente Augusto Simões Lopes, conferindo
a Bernardo Taveira Junior no ano de 1928, depois de sua morte seu nome
para uma escola localizada na colônia Santa Eulália 5º distrito de Pelotas.
Os documentos aqui destacados não foram analisados em sua
totalidade, o que oportunamente será realizado em outras pesquisas, mas se
tornaram subsídios para entender a vida cultural desse docente.
Ainda sobre Taveira Junior encontrou-se uma fotografia de sua lápide
contendo a data de seu nascimento e de sua morte. Com esse dado, juntamente
com uma biografia escrita à mão por Alfredo Ferreira Rodrigues, contida nos
documentos localizados, concluiu-se que, se o retrato de Taveira Junior
apresentado na capa do jornal A Ventarola foi feito no mesmo ano da publicação
do jornal, o professor encontrava-se com a idade de 55 anos, quatro anos antes
de sua morte. Na biografia consta que Taveira Junior nasceu na cidade de Rio
183
Grande–RS e que, primeiro, abriu um colégio na cidade de São Gabriel, o qual
funcionou durante quatro anos. Somente depois do seu fechamento, veio para
Pelotas, onde lecionou até o dia de sua morte, no ano de 1892. Foi possível
encontrar ainda um boleto de cobrança da sua escola em São Gabriel (sendo
usado como rascunho em suas aulas), além de algumas poesias escritas por ele
nas páginas do jornal A Ventarola, O Cabrion e O Pervigil. Com relação à sua
vida literária, encontrou-se nos estudos de Magalhães (1993, p.266) que ele
também publicou seus versos na revista Arcádia (1867-1870) e, em seguida, na
revista mensal do Partenon Literário (1869-1879), editada em Porto Alegre.
Escreveu livros, destacando-se as Provincianas em que dava um tratamento
poético aos assuntos campeiros; escreveu também para o teatro e fez traduções
de prosa de Alexandre Dumas e Victor Hugo.
Destaca-se aqui, também, uma carta encontrada no referido acervo,
escrita pelo professor Taveira Junior, no dia 1/5/1886, dirigida ao professor João
Affonso Corrêa de Almeida, então diretor do Colégio Sul-Americano. Nela Taveira
Junior comunicava o seu desligamento do colégio. Solicitava, ainda, formalmente,
que seu nome fosse retirado dos anúncios publicados nos jornais. Com a intenção
de investigar se o pedido dessa carta foi aceito, pesquisou-se os anúncios dos
anos de 1886-1887-1888, não confirmando a retirada do nome de Bernardo
Taveira Junior do corpo docente da instituição. Não foi possível descobrir se essa
foi realmente enviada, que se encontrava em meio aos pertences do professor.
De igual forma não se descobriu se ele mantinha um contrato por tempo
determinado com a escola. Ainda assim, o documento retrata a forma como
poderia ter se desligado da instituição dando pistas, portanto, para se entender
como funcionavam as relações internas entre professores e proprietários dos
colégios no que se referia às contratações e aos desligamentos.
184
Figura 70 – Carta escrita por Bernardo Taveira Junior destinada ao professor João Affonso Corrêa
de Almeida, diretor do Collegio Sul-Americano.
Fonte: CARTA ESCRITA POR BERNARDO TAVEIRA JUNIOR, 1886
40
.
Diante da solicitação de Taveira Junior, verificou-se também, que era
comum encontrar nos jornais anúncios das escolas avisando ao blico que, a
partir de tal data, determinado professor não lecionaria na instituição. Esta atitude
poderia estar respeitando o Decreto 1331 de 17 de fevereiro de 1854, em que as
instituições privadas ficavam obrigadas a informar o seu corpo docente, pode
revelar ainda aspectos do pertencimento de determinado professor com relação a
uma instituição. Esta ficaria desobrigada de responder pelos atos de tal
profissional, assim como aquele deixaria de compactuar com o ensino oferecido
pelo colégio em que deixou de lecionar, como pode ser percebido na propaganda
do Collegio Reis:
40
Acervo da Bibliotheca Pública Pelotense.
Ilmo Sr. João Affonso Corrêa
de Almeida
Rogo-lhe o obsequio
de mandar retirar o meu nome
do annuncio do “Collegio Sul-
Americano” devendo por
conseguinte considerar-me
inteiramente desligado do
corpo professoral d´aquelle
estabelecimento.
Sou com estima,
Bernardo Taveira
Junior
Pelotas 1 de maio de
1886.
185
Figura 71 – Anúncio do Collegio Reis.
Fonte: JORNAL DO COMÉRCIO, 5/1/1876.
Por fim, do rol de documentos localizados sobre Bernardo Taveira
Junior, ilustra-se aqui a imagem de alguns dos programas das disciplinas
ministradas pelo professor no intuito de dar visibilidade à organização e à
preparação de suas aulas. Dessa forma, reforça-se a idéia de Carvalho (1998),
quando essa afirma que a historiografia da educação vem demandando a
utilização de novos documentos, enfatizando a materialidade de práticas sociais
educativas, além da constituição dos saberes e da formação docente. Novas
formas de olhar e abordar as fontes também têm sido responsáveis pela atenção
que os textos impressos e os jornais vêm adquirindo nas pesquisas em Histórica
da Educação, que alarga seus interesses para as práticas culturais, os sujeitos
históricos e os produtos culturais. Como quaisquer documentos, os textos,
impressos ou manuscritos, constituem um produto cultural, cuja produção é
atribuída a sujeitos históricos determinados, em um dado contexto histórico e
social.
186
Figura 72 – Programas de ensino de Bernardo Taveira Junior.
Fonte: PROGRAMAS DE ENSINO
41
.
Apesar de essa fonte não ter sido explorada por este estudo, acredita-
se que ela se torna mais uma peça na construção do momento histórico
educacional que se busca apreender. Entende-se, ainda, que, conforme
mencionado, essa poderá contribuir, e muito, nas análises futuras em que se
busque, por exemplo, investigar a construção do saber de determinada disciplina.
Ainda com relação à vida profissional desse professor, no Almanak
Litterario e Estatístico de 1895 (p.5), pertencente ao acervo da Bibliotheca Pública
Pelotense, foi possível encontrar uma biografia sua, escrita por Alfredo Ferreira
Rodrigues, que era seu cunhado e afilhado. Segundo ela:
[...] Bernardo Taveira, julgando que a vida de commercio não se
adaptava ao temperamento e tendências do filho, para quem entrevia
mais largos horizontes, resolveu faze-lo cursar uma academia. Aos 18
annos seguiu o moço estudante para São Paulo, onde esteve pouco
mais de 1 anno, completando o curso de preparatórios. Não chegou a
matricular-se na academia. Por esse tempo começaram os atrazos de
seu pae e, por falta de recursos teve de pedir trabalho para seu meio de
subsistência, para não se tornar pesado a ninguém. Dahi foi para o Rio
de Janeiro, empregando-se no escriptorio de casa Souza & Irmão, onde
41
Acervo da Bibliotheca Pública Pelotense.
187
esteve apenas 7 mezes. Adoecendo gravemente, teve de voltar para
junto do pae, em 1856. Aggravando-lhe a doença, por conselho dos
médicos retirou-se para uma estância do interior. Ahi identificou-se com
o viver dos gaúchos riograndenses, começando também logo que se
sentiu mais forte, a vida do magistério. De volta a Pelotas, foi convidado
para lecionar no melhor collegio que então havia ali, sendo-lhe dado o
logar a que por seus merecimentos tinha incontestado direito. Occupou
simultaneamente, durante 5 annos, as cadeiras de portugues, inglez,
latim e historia estava decidida a sua carreira. Em 1862 casou com D.
Maria Agostinha Rodrigues [...] foi em seguida para São Gabriel,
pequena cidade do Rio Grande do Sul. Ahi esteve estabelecido com um
collegio. Em 1866 voltou a Pelotas donde nunca mais saiu. Ahi continuou
a vida de professor, abriu um collegio, que fechou mais tarde, limitando-
se a lições particulares [...] Nunca mais abandonou o ensino, de que fez
profissão, em que consumiu os melhores annos da mocidade e que
nenhuma compensação lhe reservou os dias cansados da velhice [...]
Ao que tudo indica, Bernardo Taveira Junior não teve uma formação
acadêmica, já que desistiu dos estudos, por falta de condições econômicas,
dedicando-se então ao comércio. O que se percebeu, também, com a biografia,
foi uma indignação do parente com relação à forma como seu padrinho havia
passado os últimos anos de vida. Alfredo Ferreira Rodrigues deixa claro que toda
a dedicação de Taveira Junior para com sua profissão não foi suficiente para que
esse tivesse um conforto econômico no momento da velhice. É importante que
seja levado em conta quem escreveu essa biografia, o afilhado e cunhado de
Taveira Junior, que também era professor. Mas, ao mesmo tempo, que não seja
desmerecido o seu conteúdo. Baseado na indignação contida no texto, visualizou-
se que a profissão de docente não dava o retorno financeiro que se imaginava
adequado. Essa realidade também foi encontrada numa denuncia efetuada pelo
professor Fernando Antonio Pimentel, que também teve o seu retrato publicado
nas folhas ilustradas, juntamente com uma matéria sobre o mesmo:
188
Figura 73 – Retrato do professor Fernando Antonio Pimentel.
Fonte: O BISTURI, 20/3/1892.
Natural de Portugal, Fernando A. Pimentel depois de ahi receber uma
esmerada educação, ainda creança abandonou os lares paternos e a
pátria e veio para Pelotas onde iniciou como jornalista e como preceptor.
[...] Na árdua carreira do magistério tem Fernando A. Pimentel sempre
dado as mais exuberantes provas do seu fino cultivo intelectual, no
colégio que fundou na cidade de Pelotas sob sua direcção elle soube
incutir no espírito de seus discípulos o amor ao estudo e tão
vantajosamente foram seus conselhos que elle hoje com orgulho os
seus discipulos de hontem ocuparem as mais brilhantes posiçoes nos
destinos do paiz [...] É com grande satisfação que hoje estampamos na
primeira pagina do nosso periódico o retrato do sympatico e inteligente
cidadão Fernando A. Pimentel redactor do “Artista” importante
publicação local (Jornal O Bisturi de 20/3/1892).
Nessa pequena biografia, o jornal O Bisturi considera árdua a carreira
do magistério exercida por Fernando Pimentel. De todos os anúncios de escolas e
textos escritos por professores, constatou-se, na pesquisa, que o professor
Pimentel foi o único que, em um anúncio, divulgou abertamente a sua insatisfação
com a remuneração destinada aos professores, como será visto a seguir. Cabe
lembrar que, na Tab.3, é possível verificar que muitos dos docentes davam aula
em mais de uma instituição, isso, provavelmente, em função dos baixos salários.
Além disso, alguns destinavam as horas vagas para lecionar em sua própria
residência ou na casa de seus alunos. Essas práticas levam ao entendimento de
que suas horas livres deveriam ser preenchidas não com o lazer, mas com
trabalho, que as remunerações, ao que tudo indica, eram baixas. Tambara
(1998, p.39), em seu estudo sobre a profissão docente na esfera pública do Rio
189
Grande do Sul no século XIX, afirma que, apesar de profissão docente possuir um
prestígio social relativamente elevado, não tinha um reconhecimento financeiro.
Isso acontecia não na esfera pública, mas, também, na esfera
institucional privada. que, além de lecionar em distintas instituições ao mesmo
tempo, Fernando Pimentel ainda tinha o seu próprio curso. Na propaganda a
seguir, divulgava que esperava merecer a confiança dos pais de família para com
a sua instituição de ensino, pois, além de destacar os ótimos resultados obtidos
por seus alunos, recorria à “consagração religiosa” com que vinha
desempenhando a “árdua e mal remunerada profissão do magistério”.
Figura 74 – Anúncio do Curso Particular.
Fonte: JORNAL ONZE DE JUNHO, 2/11/1889.
190
Encontrou-se também nos jornais a divulgação de um livro didático
escrito por Fernando Pimentel, como mais um sinal da ilustração e das atividades
exercidas por ele. A qualidade dessa obra foi atestada por seu colega, o professor
Bibiano Francisco de Almeida que lecionava a disciplina de língua portuguesa.
Oito anos antes, no Jornal do Comercio, de 1881, do dia 2 de agosto ao dia 5, foi
publicada uma briga entre o professor Bibiano de Almeida e o Sr. Hilário Ribeiro,
que teria escrito uma gramática de língua portuguesa e que foi veementemente
criticada por Bibiano. No entanto, em demérito às publicações de Ribeiro e
Pimentel, não se deve descartar a hipótese de Bibiano trazer a blico uma
discussão que pudesse ser fruto de simpatias, ou antipatias, entre os envolvidos.
Esse anúncio revela a importância da opinião de um reconhecido
professor, sobre a obra publicada por seu colega, atestando que, além de utilizá-
la, em suas aulas, considerava importante a sua contribuição para a instrução
pública:
191
Figura 75 – Anúncio do Guia aos Examinandos de Línguas escrito por Fernando Pimentel.
Fonte: JORNAL A PÁTRIA, 11/1/1888.
Diante desses dados reflete-se sobre o que Nóvoa (1997, p.30) afirma
com relação à utilização dos jornais: “na verdade é difícil encontrar um outro
corpus documental que traduza com tanta riqueza os debates, os anseios, as
desilusões e as utopias que têm marcado o projeto educativo nos últimos
séculos”. O professor Pimentel era um desses agentes da história que deixou
registrado as insatisfações e as alegrias que o seu ofício lhe proporcionava dando
pistas portanto, no final do século XIX, do real investimento da sociedade para
com os professores.
192
Encontrou-se ainda um retrato referente ao professor Bibiano Francisco
de Almeida, anteriormente mencionado. Ele lecionou em casas particulares e
também foi um dos fundadores do Collegio Amarante e Bibiano, diretor do
Collegio Sul-Americano, escrevendo, também, uma gramática portuguesa, que
ficou conhecida no mercado educacional. Na ocasião de sua morte, foi
homenageado pelo jornal O Bisturi:
Figura 76 – Retrato do professor Bibiano Francisco de Almeida.
Fonte: O BISTURI, 13/5/1892.
Deixa de existir este notável preceptor da mocidade, sendo bastante
lamentada a sua perda. Um homem de grande talento e illustração, que
consagrou os seus melhores dias de existência na educação da
mocidade que perdeu nelle um mestre notável. Deixou diversos
trabalhos que lhe deram renome. Hoje que para sempre o ilustre mestre
dorme á sombra dos cypestres, nós que o apreciamos, sob a lage fria do
seu tumulo lançamos um punhado de flores em signal de
reconhecimento eterno e saudade profunda pelos immorredouros
serviços prestados á mocidade brazileira.
Com o intuito de conseguir mais dados e imagens sobre os professores
que em Pelotas lecionaram, e que foram figuras destacadas nos
estabelecimentos encontrados, recorreu-se ao Museu do Colégio Pelotense, onde
se encontrou a fotografia de dois ex-diretores do colégio. A primeira imagem
refere-se ao professor Charles Dupont. Segundo uma notícia divulgada no Jornal
Diário Popular de 11/12/1902:
193
o Sr. Charles Dupont, que vem dirigir nesta cidade o Gymnasio
Pelotense, a instalar-se em fevereiro, fechou seu colégio na cidade de
Rio Grande, que, por vários annos, ali funcionou. Hoje SS. virá a esta
cidade conferenciar com a comissão da maçonaria, a fim de tratar da
distribuição de materiais e escolha do corpo docente definitivo, de o
importante estabelecimento de intrucção.
Antes de o professor Charles Dupont ser contratado pelo Gymnasio
Pelotense, encontrou-se anúncios, da sua escola na cidade de Rio Grande, sendo
divulgados nos jornais pelotenses. Destaca-se aqui algumas informações sobre o
que o professor divulgava a respeito de sua instituição em Rio Grande, além de
de sua fotografia:
Figura 77 – Anúncio do Collegio Dupont.
Fonte: JORNAL A OPINIÃO PÚBLICA, 10/1/1902.
Figura 78 – Fotografia do professor Charles Dupont.
Fonte: FOTOGRAFIA DO PROFESSOR CHARLES DUPONT
42
.
Segundo Amaral (2005, p.121), ele foi o professor escolhido pela
Maçonaria para assumir a direção interna do Gymnasio Pelotense, no ano de sua
fundação em 1902. Após um ano de atuação, por motivos não suficientemente
claros, o professor exonerou-se do Gymnasio, abrindo um colégio seu em
42
Acervo do Museu do Colégio Municipal Pelotense.
194
Pelotas. Este foi um internato e externato misto, que ofereceu ensino primário e
secundário conforme pode ser visto nos anúncios divulgados pelo professor:
Figura 79 – Anúncio do Collegio Dupont.
Fonte: JORNAL A OPINIÃO PÚBLICA, 31/1/1906.
Figura 80 – Anúncio do Collegio Dupont.
Fonte: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 1/1/1906.
195
Após a saída do professor Charles Dupont, o Gymnasio Pelotense
passou a ser dirigido pelo Dr. Francisco José Rodrigues de Araujo, ilustrado na
próxima fotografia. Segundo Amaral (2005) ele foi um dos principais responsáveis
pela criação do Gymnasio Pelotense.
Figura 81 – Fotografia do professor José Rodrigues de Araújo.
Fonte: FOTOGRAFIA DO PROFESSOR JOSÉ RODRIGUES DE ARAÚJO
43
.
Além de ter sido homenageado com o nome de uma conhecida rua, a
“Professor Araújo” em Pelotas, também teve a sua vida profissional divulgada e
registrada em muitos espaços. Conforme Amaral (2005, p.121):
vários são os depoimentos e referências escritas, através da imprensa
da época e de documentos do Gymnasio, sobre a atuação do médico e
professor José Francisco Rodrigues de Araújo, considerado o principal
responsável pela fundação do Gymnasio e dos cursos superiores
anexos. Ele foi diretor do Gymnasio de 1904 a 1911.
Por fim foi localizada ainda uma fotografia do professor Carlos André
Laquintinie. Esta figura chamou bastante atenção, no decorrer deste estudo,
porque foi o nome mais citado nos anúncios das instituições de ensino. Lecionou
(conforme a Tab.3) nas seguintes instituições: Atheneu Pelotense, Collegio Curso
Racional, Collegio de Mme. Jeanneret (Collegio de Meninas), Collegio Evolução,
Collegio Perseverança, Collegio Reis, Collegio S. Francisco de Paula, Collegio
Sul-Americano, Collegio União, Externato Francez (Mme. Marguerite Gastal),
Gymnasio Pelotense e no Lyceu Municipal. Além disso, em 1864, fundou o
43
Acervo do Museu do Colégio Municipal Pelotense.
196
Collegio São Francisco de Paula, e ajudou a consolidar a criação da Bibliotheca
Pública Pelotense (Jornal Correio Mercantil de 3/1/1875).
No intuito de conseguir mais dados sobre o professor entrou-se em
contato com a família Laquintinie, em um evento organizado pelo Colégio
Pelotense, em que um de seus netos, ex-aluno da instituição, recebeu uma
homenagem do colégio. Na conversa foi possível descobrir o grau de parentesco
do professor com outros docentes de sobrenome Laquintinie, mapeados por esta
pesquisa. Além disso, obteve-se uma indicação sobre onde encontrar uma
fotografia de Carlos Laquintinie. Embora ela tivesse sido localizada no livro de
Osório (1998), não possuía qualidade técnica para uma futura reprodução nesta
pesquisa. Por isso, essa imagem foi procurada em uma escola municipal, que
recebeu o nome do professor Carlos André Laquintinie, localiza atualmente na
zona do porto da cidade de Pelotas. Nela encontrou-se a fotografia do professor
apresentada a seguir.
Figura 82 – Fotografia do professor Carlos André Laquintinie.
Fonte: FOTOGRAFIA DO PROFESSOR CARLOS ANDRÉ LAQUINTINIE
44
.
O que despertou o interesse por este docente não foi somente a
quantidade de vezes em que seu nome foi anunciado nos jornais, mas a
44
Acervo do Colégio Municipal Carlos André Laquintinie.
197
importância que as instituições lhe atribuíam. Seu nome ficava sempre em
destaque nos anúncios, além de ser normalmente o primeiro a ser citado, como
pode ser percebido nesta propaganda:
Figura 83 – Anúncio do Atheneu Pelotense.
Fonte: JORNAL A PÁTRIA, 9/1/1890.
Com este trabalho, tem-se muito claro que o número de professores
aqui destacados foi ínfimo se comparado com o universo encontrado. Além disso,
percebeu-se que seria possível apresentar mais dados sobre a vida do corpo
docente que compõe a Tab.3. Tendo em vista o tempo para realização desta
dissertação, o propósito de apresentar estas figuras foi o de apontar a ilustração
de parte da comunidade docente que se encarregou da educação em Pelotas,
destacando a visibilidade desses perante uma sociedade que em seus discursos
valorizava a educação. Acredita-se que mesmo sendo poucos, os textos
encontrados nos jornais sobre os professores trazem consigo a visão de uma
profissão tida como ilustrada e importante para a sociedade, além de mostrar o
importante papel dessas pessoas para com as instituições de ensino. No entanto,
ao que tudo indica, não recebiam uma justa retribuição pecuniária por seus
serviços.
198
Além do discurso atribuído ao papel do professor, também se verificou
a imagem do diretor das escolas. Este além de dar aulas, administrava uma
instituição de ensino. Nos próximos anúncios, além de aparecer o elemento
estrangeiro, aparece também o papel dos diretores para as instituições de ensino
que iam se constituindo na cidade de Pelotas. Em sua maioria, eram
responsáveis por congregar os melhores docentes; testemunhar a qualidade dos
mesmos; assumir a cadeira ministrada por eles, caso algum imprevisto ocorresse,
planejar o currículo, criando novos cursos e disciplinas. Na Tab.3, constatou-se
que 79 dos professores encontrados exerceram a função de diretor, algumas
vezes em mais de uma instituição, mas em momentos diferentes. Destaca-se
ainda o fato de que algumas instituições recebiam o nome de seu fundador,
exaltando a sua figura e, ao mesmo tempo, firmando o compromisso que elas
tinham com a qualidade de ensino. Observa-se o exemplo a seguir:
Figura 84 – Anúncio da Escola Moderna.
Fonte: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 14/1/1898.
Caso o professor normalista pela
Escola de Lisboa Sr. Eduardo
Borges não tenha chegado a
tempo para assumir a regência da
cadeira instrução primaria
elementar, será esta, no entanto,
regida única e exclusivamente pelo
director da escola. Numero de
alumnos limitado: Instrução
primaria 60, divididos em duas
classes. Instrução Secundaria, o
maximo 10 alumnos em cada
disciplina.
199
O que se constatou, com relação às instituições rastreadas nesta
pesquisa, foi que muitas delas começavam com um projeto idealizado na
maioria das vezes pelos diretores e esse ia se modificando com o passar dos
anos, pelo acréscimo de novas disciplinas; pela troca e busca de professores
mais qualificados; pela expansão da estrutura física das escolas, entre outras
melhorias que eram constantemente divulgadas para a comunidade por meio dos
anúncios. Dessa forma, recorre-se a Kant (1996, p.17), quando afirma que “o
projeto de uma teoria da educação é um ideal muito nobre e não faz mal que o
possamos realizá-lo [...] uma idéia não é outra coisa senão o conceito de uma
perfeição que ainda não se encontra na experiência”.
O papel do professor e a relação que mantinha com seus alunos e os
pais também ficaram registrados em muitos dos anúncios rastreados. Além de
ensinar às crianças, as instituições prometiam ter um zelo que ultrapassava a
relação profissional, estendendo-se para o afetivo e disciplinar. Em algumas
delas, principalmente nas destinadas ao público feminino, a professora chegava a
se colocar como representante do papel de mãe para com as alunas. Essa era
outra tarefa esperada pelos pais com relação à profissional da educação.
É importante entender que as intenções anunciadas pelas escolas
traziam consigo aquilo que era esperado pelos pais. O cuidado com os alunos
ultrapassava, portanto, uma relação de pura prestação de serviço. Revela ainda o
ambiente educativo, em que se davam as relações afetivas, neste momento
histórico, mostrava-se como uma extensão da casa do aluno. Esse discurso
revela o incentivo que se dava aos pais dos alunos para que proporcionassem
aos seus filhos a convivência em um espaço de socialização com os demais
colegas, deixando, portanto, de receber uma educação privada, realizada dentro
das casas com o professor tutor. Prometia-se não perder o ambiente fraterno da
realidade domiciliar anteriormente vivenciada pelas crianças.
Esse discurso foi muito utilizado pelas escolas que ofereciam vagas
para alunos internos, em que as instituições apresentavam uma preocupação com
os cuidados constantes, para se tornarem uma extensão do lar. Isso foi divulgado
200
pelo Lyceu de Agronomia, que deixou claro, em seu texto, que o trato na
instituição seria “familiar”, mas debaixo de regras pedagógicas:
Figura 85 – Anúncio do Lyceu de Agronomia.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 4/1/1889.
o Collegio de Instrucção Elementar optou por fazer um apelo às
mães das famílias diferentemente da quase totalidade das instituições que se
dirigiam, provavelmente, ao casal, pai e mãe, quando falavam em “paes”, ou
quando utilizavam apenas a expressão “responsáveis”. Isso revela a
probabilidade de serem elas as responsáveis por administrar, pensar e agir sobre
a educação dos filhos do sexo feminino.
201
Figura 86 – Anúncio do Collegio de Instrucção Elementar.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 2/2/1878.
Em relação aos professores, o levantamento dos dados, realizados
nesta pesquisa, permitiu inferir alguns aspectos relevantes no que tange ao seu.
A investigação apontou para o fato de que a propaganda foi um recurso muito
utilizado pelas instituições no período estudado. Os anúncios institucionais
tornaram-se um recurso de divulgação e consolidação das identidades escolares,
em que os professores eram apresentados como um elemento de qualidade.
Observou-se também que o destaque dado ao corpo docente, pelas instituições
de ensino, em seus anúncios, ilustra a importância que tinha para essas possuir,
em seus quadros, profissionais altamente capacitados. Verificou-se ainda, com
202
relação à imagem institucional, que era formada por um grupo de professores
reconhecidos pela comunidade por sua capacidade intelectual que organizavam
uma matriz curricular específica, sólida e diversificada. O status profissional
acabava sendo assegurado pelo reconhecimento do público, através de
sucessivas publicações sobre o mesmo.
Os professores tornaram-se um diferencial mercadológico amplamente
utilizado pelas instituições de ensino, com o intuito de prestigiá-los e enaltecê-los,
ao mesmo tempo em que divulgava o próprio espaço educacional. Essas
divulgavam e ajudavam a construir, através dos anúncios, uma imagem de
profissionalismo para o seu corpo docente. Entretanto, não eram remunerados à
altura de seu destaque junto à comunidade. Percebe-se que eles, tornaram-se,
muitas vezes, parte vital da alma das instituições pelotenses.
3. “BOMBÁSTICOS E PONPOSOS”: A LINGUAGEM
PUBLICITÁRIA NOS
ANÚNCIOS INSTITUICIONAIS
Ao longo da pesquisa, constatou-se a partir das fontes localizadas
que, em Pelotas, a propaganda, além de divulgar e implantar questões relativas à
educação, tais como ensino oferecido, professores, disciplinas ofertadas, ela
também foi muito utilizada pelas instituições de ensino como uma prática de
mercado, que difundia e consolidava sua identidade.
A constante presença das instituições nos jornais, o tamanho dos
anúncios, a quantidade de informações e de serviços oferecidos, o nome do
diretor e dos professores e a data da fundação das instituições de ensino foram
alguns dos elementos discursivos amplamente presentes na linguagem
publicitária contida nos anúncios institucionais. Neste capítulo, se destacado,
portanto, o que se apreendeu nos discursos das instituições quando essas
começaram a se formar e disputar a atenção do público consumidor, buscando
divulgar e ampliar seu espaço e o seu prestígio frente a ele, além de destacar a
forma como elas usaram a propaganda para chegar a tais fins.
O variado número de jornais que circulou em Pelotas, no período
investigado, ia deixando sua forma artesanal de produção, tornando-se industrial,
como explanado neste estudo. Esse fato possibilitou uma circulação diária das
propagandas nos jornais, permitindo às instituições de ensino uma comunicação
com o seu público-alvo fosse ele de Pelotas ou de outras cidades do estado.
Como no Correio Mercantil, no Diário Popular, no Diário Pelotense, entre outros
jornais.
205
Nos jornais investigados, constatou-se que existia uma organização
espacial voltada para a propaganda, e, em alguns deles, espaços definidos para
anúncios de algumas instituições de ensino, que eram publicados sempre na
mesma página, no mesmo quadrante. Dessa forma, o público, além de se
familiarizar com os serviços oferecidos, também poderia estar recebendo uma
mensagem de qualidade, de tradição que essa instituição se mantinha
existente e em pleno funcionamento durante um tempo significativo, ainda mais
se comparado com o de outras. Além disso, a publicação intensa de alguns
anúncios nos jornais, ou seja, a divulgação por três meses ou mais, quase
diariamente, ilustrou uma freqüência de comunicação usada pelas instituições.
Conforme Sant´Anna (1998, p.198), “é preciso lembrar que em publicidade não
adiantam esforços isolados, deve haver persistência e continuidade. Para incutir o
hábito deve haver repetição”. Sendo assim, as instituições poderiam estar
investindo diariamente em anúncios para que, a cada dia, a população tivesse
contato com os serviços que estavam oferecendo aos que ali estudassem.
Constatou-se, ainda, que algumas instituições publicaram anúncios em
determinados jornais e não anunciaram em outros. Por sua vez, alguns jornais
deram espaço em suas matérias editoriais para algumas escolas, e não para
outras. É possível que isso aponte para a necessidade de se investigar as
posições políticas dos administradores das instituições de ensino, bem como dos
diretores dos jornais, para então tentar entender o porquê dessa atitude. É
provável, ainda, pensar que, nesse período, a propaganda tenha sido usada como
uma alternativa para aquelas escolas que não recebiam apoio político dos jornais.
Como estes atendiam, provavelmente, a nichos diversificados, o fato de uma
escola optar por um determinado jornal poderia estar ligado, também, apenas ao
tipo de público que gostaria de atingir.
Como foi mencionado, as instituições de ensino encontradas estavam
inseridas em um contexto sócio-histórico em que a propaganda foi uma
ferramenta de comunicação muito utilizada. Seus conteúdos apresentavam, em
sua maioria, como ilustrado ao longo desta pesquisa, a estrutura da escola,
destacando as questões internas de funcionamento, as suas propostas de ensino,
206
a sua localização na cidade, os seus agentes, os valores cobrados pelo ensino,
os programas e, em alguns casos, o conteúdo dos mesmos. Através dos
anúncios, também convocavam os alunos para o início das aulas e buscavam
atrair novos foi por isso que se encontrou, provavelmente, uma concentração
maior de anúncios no primeiro semestre de cada ano e nos dos meses de
novembro e dezembro.
Notou-se ainda que existiu uma hierarquia nas informações contidas
nos anúncios. Normalmente eram apresentadas em destaque aquelas
consideradas mais importantes como o nome da escola, do diretor, dos seus
professores e os seus preços. Essa ordem de informações era seguida,
praticamente, por todas as instituições que anunciavam. Acredita-se que esse fato
ocorria, não somente porque essas eram as informações básicas para a
comunidade, mas porque esse foi um momento em que se constituiu um sistema
educacional que se modificou, adaptou e buscou, em algumas ocasiões,
diferenciar-se do que era oferecido pela concorrência. Dessa forma, as
propagandas tornaram-se veículos para divulgar as especificidades das
instituições de ensino. Esse padrão de anúncio, usado pela quase totalidade
delas em Pelotas e em outras cidades, investigadas neste estudo, fez concluir
que existiu, no final do século XIX e no início do XX, um modelo de comunicação
das instituições com o seu público.
Um outro aspecto que se constatou na coleta de dados foi que algumas
escolas divulgaram o mesmo anúncio durante anos consecutivos. Isso pode
significar que, como mencionado anteriormente, durante esse intervalo de
tempo não existiram mudanças significativas nesses estabelecimentos de ensino.
Mas, pensando-se tecnicamente, constrói-se também a hipótese de que o
trabalho e o custo de diagramação e produção dos jornais poderiam, também,
inviabilizar as mudanças constantes nos modelos de propagandas anunciadas
pelas instituições de ensino.
Ao analisar a Tab.2, foi possível inferir que um número expressivo de
anúncios de instituições de ensino foi publicado em Pelotas. Com o total de
207
propagandas arroladas, chegou-se a uma média de, anualmente, 3 a 4 anúncios
de instituições de ensino publicados por dia. Esses, por sua vez, eram
diagramados no espaço de quatro páginas – equivalente ao número de folhas dos
jornais na época. Ocorria, então, a divulgação de mais de uma instituição em uma
mesma página de jornal, num mesmo dia. No jornal Correio Mercantil de 1876,
verificou-se que havia duas colunas dedicadas aos anúncios das escolas,
destacando-se, dentro da página, espaço para esse tipo de anunciante. Outro fato
que despertou interesse foi a constatação de que os anúncios de algumas
escolas ficavam sempre em páginas separadas, ou seja, cada um de um lado da
folha. Não foi possível desvendar se esta separação ocorria propositadamente.
Acredita-se que poderia acontecer de forma consciente. outras instituições de
ensino publicaram, lado a lado, as suas propagandas, chegando a conter em
alguns jornais, até seis anúncios de escolas em uma mesma gina, como é
ilustrado na próxima figura. Nela anunciaram as seguintes instituições: Collegio
Reis, duas vezes, além do Collegio S. José, Collegio de Mme. Jeanneret, Collegio
Francez e do professor J. Napoleão Arruda.
208
Figura 88 – Página do Jornal Correio Mercantil.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 4/1/1876.
Por estarem lado a lado, a comparação entre as instituições poder-se-
ia dar de uma forma ainda mais imediata, que o leitor do jornal teria condições
de confrontar as informações e escolher entre o que estava sendo oferecido, e ao
que lhe conviesse. Isso era comum ocorrer com inúmeras instituições, como
ilustra, a seguir, o anúncio do Collegio Sul-Americano e o Curso Racional. Ambos
tinham como público-alvo o sexo masculino e ofereciam, igualmente, dois níveis
de ensino: o primário e o secundário (ver Tab.2).
209
Figura 89 – Página do Jornal Onze de Junho.
Fonte: JORNAL ONZE DE JUNHO, 8/1/1884.
Ao analisar o conjunto das propagandas, concluiu-se que existiu um
discurso visual muito forte e presente nos anúncios das instituições de ensino. Ele
se apresentava das mais variadas formas, mas ocorria, principalmente, na
publicação massiva de anúncios de distintas instituições de ensino que, em
muitos momentos, dividiam os espaços dos jornais pelotenses. Tornou-se
relevante realizar, dessa forma, uma investigação quanto à estrutura dos
anúncios que essa se apresentou como uma preocupação para os próprios
anunciantes da época. Esse fato pode ser visualizado no texto do anúncio do
210
Collegio São José, em que o diretor salientou que os resultados obtidos pelos
alunos da instituição o eximiam de “bombásticos e pomposos” anúncios:
Figura 90 – Anúncio do Collegio do Collegio S. José.
Fonte: JORNAL DO COMÉRCIO, 28/1/1876.
O diretor deixa claro que, para a sua instituição, os resultados eram
mais importantes do que a divulgação, por meio de anúncios atrativos, de outros
serviços ofertados pela escola. Com base no sentimento expressado nesse
anúncio, e pela observação realizada ao longo da pesquisa, foi constatado que
muitas instituições investiam no discurso sedutor sobre o seu produto, a
educação, e na qualidade gráfica de suas propagandas.
Com relação à estrutura gráfica apresentada nos anúncios, foi possível
perceber que algumas escolas investiam na sua apresentação ao utilizar, por
exemplo, barras trabalhadas em volta do anúncio. Esse elemento gráfico,
211
recorrente em algumas propagandas, apresenta-se no estilo Art Nouveau
45
,
técnica muito utilizada no período investigado como demonstração de
modernidade, auxiliando a destacar o anúncio em meio a tantos outros. O
Collegio Sul-Americano, a Escola Moderna e o Collegio S. Francisco de Paula,
invariavelmente, usavam esse recurso como encontrado nestes anúncios:
Figura 91 – Anúncio do Collegio Sul-Americano.
Fonte: JORNAL DIÁRIO DE PELOTAS, 6/1/1883.
Figura 92 – Anúncio da Escola Moderna.
Fonte: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 14/1/1898.
Figura 93 – Anúncio do Collegio S. Francisco de Paula (1).
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 8/1/1876.
45
Segundo Dondis (2000, p.88) “O termo Art Nouveau refere-se a um estilo das artes, associado
com a sinuosidade de formas botânicas estilizadas, com uma profusão de motivos florais e
femininos em curvas assimétricas [...] com a exuberância vegetal de formas que brotam de uma
base tênue [...] também abrange a austeridade de formas geométricas e angulares [...] a
severidade de planos, retos e delgados”.
212
Algumas propagandas sobressaíam pelo seu tamanho, ficando
evidente o impacto do anúncio de determinada instituição de ensino dentro de
uma página específica do jornal. Muitos chegavam a ter 28cm x 15cm. Este
tamanho era escolhido para organização dos elementos dentro do anúncio, mas
também servia para diferenciá-los dentro de uma página de jornal. A maior
propaganda encontrada, por esta pesquisa, foi a do Lyceu Municipal. Esse
anúncio, que ocupou quase toda a página do jornal, sem dúvida, não passou
despercebido. O tratamento gráfico do anúncio, em que as partes são
harmoniosamente diagramadas dentro de um espaço retangular, merece ser
destacado porque transfere a ele um caráter organizado auxiliando, assim,
também, na imagem que a instituição está apresentando ao público
(SANT´ANNA, 1998). É importante ressaltar, portanto, que o tamanho do anúncio
é percebido como um discurso visual, que vem corroborar à imagem institucional.
Esse fato é estudado nos dias atuais e provavelmente deveria ter o mesmo
significado e impacto no momento em que esse foi publicado. O tamanho do
anúncio, do Lyceu Municipal, pode ser constatado por esta fotografia:
Figura 94 – Anúncio do Lyceu Municipal.
Fonte: JORNAL DO COMÉRCIO, 1/1/1878.
213
O que se observou é que a quantidade de informações foi a
responsável pelo tamanho do anúncio. Ele foi publicado por Charles Bachelery,
diretor proprietário do Collegio Franco Rio-Grandense (Tab.3). Nele, o professor
divulgou que, a partir do ano de 1878, o colégio que dirigia fecharia as portas,
fundindo-se com o Collegio São Francisco de Paula, sob a direção de Carlos
Laquentinie, e dando origem a uma nova instituição denominada de Lyceu
Municipal. Ressaltou, ainda, os méritos dos dois anos de funcionamento do
Collegio Rio-Grandense, mostrando como iria funcionar a nova instituição, o
Lyceu. Segue aqui parte do que foi divulgado num dos anúncios que mais revelou
dados sobre o cotidiano de uma instituição de ensino. A citação é longa, porém,
contém dados bastante elucidativos:
Compreendendo o Ensino primario e preparatorios em todos os
Graos.
Director Charles Bachelery
No momento de fazer entrar em nova phase a casa de educaçao que
tenho a honra de dirigir, julgo dever expor a população rio-grandense, e
sobretudo a pelotense, minhas vistas sobre o futuro e ao mesmo tempo
uma rapida noticia do que já por mim tem sido feito com o fim de
desenvolver a educação e introduzir melhoramentos tão necessarios ao
progresso da intelligente mocidade rio-grandense. Meus esforços, creio
poder declara-lo, não m sido superfluos; um corpo professoral dos
mais dedicados tornou-me facil essa tarefa; mas o que principalmente
contribuiu para tornar mais apparente a excellencia do methodo
adoptado, foi a docilidade, o amor da disciplina e do trabalho dos jovens
confiados a meus cuidados. Posso, entretanto, affirmar que durante os
dous annos que acabam de decorrer, excepto leves infracções aos
regulamentos do collegio, jamais vi-me forçado a reprimir actos de
alguma gravidade. É pois, cheio de confiança, que hoje me dirijo ao bom
senso e ao patriotismo da sociedade pelotense afim de aceitar e
favorecer uma idéia que deve contribuir para o desenvolvimento tão
consideravel de uma cidade a o altos destinos. Actualmente, o collegio
FRANCO RIO GRANDENSE, depois de ter tido uma honrosa carreira,
não existe mais: é da fusão com o Collegio S. Francisco de Paula,
dirigido pelo Sr. C. Laquintinie que origina-se o LYCEU MUNICIPAL para
o qual venho hoje pedir a protecção de todos os amigos do
desenvolvimento physico e intellectual da mocidade. Minha divisa será a
que eu havia inscripto no frontispicio do edificio do collegio FRANCO RIO
GRANDENSE "LABOR IMPROBUS OMNIA VINCIT".
Trabalhos do collegio “Franco Rio Grandense”
DURANTE OS ANNOS ESCOLARES DE 1876-1877
Os estudos deste collegio abrangem duas grandes divisões: Trabalho
litterario e trabalho scientificio, comprehendendo cada um delles e
escola. O methodo adoptado neste estabelecimento tem sido sempre
aquelle que a experiencia tem demonstrado mais vantajoso.
RESULTADOS OBTIDOS - Devido a uma stricta observancia dos
estatutos do collegio e ao zelo e dedicação da parte dos professores
poucos estabelecimentos de instrucção tem, como este, conseguido,
realisar tamanha somma de proveitos. Os resultados obtidos desde
214
principios de 1876, anno em que foi fundado o collegio, até o fim do
presente, excederam muito ao que se esperava. Mais de cincoenta
approvações alcançadas pelos alumnos do collegio FRANCO RIO
GRANDENSE nos exames de differentes preparatórios na capital da
provincia bastam para a recommendação do LYCEU MUNICIPAL.
ORDEM E DISCIPLINA - Ninguem ignora que a alma das instituições
qualquer que seja a natureza dellas, é a ordem e a disciplina. Sem uma
e outra, nada é possivel consegui-se, e póde-se mesmo asseverar que
de ambas dependem a prosperidade e engrandecimento das casas de
educaçao. Com ordem e disciplina, cedo ou tarde, consegue-se tudo o
que é humanamente possivel. Assim é que este ponto capital para o bom
exito de todas as emprezas, tem merecido da parte do director a mais
rigorosa vigilancia. [...]
ESGRIMA - Optimos resultados se tem conseguido nesta secção. No
florete e na espada são dignos de louvores os alumnos que se tem
dedicado ao manejo dessas armas. [...]
HYGIENE - Tem sido a mais lisongeira possivel. A boa escolha de local
é sem duvida uma das circunstancias que mais tem concorrido para esse
desideratum - um dos mais essenciais n'um estabebelecimento d'esta
ordem.
ESTATUTOS DO LYCEU
Admite-se pensionista, meio-pensionista e externos
Pensionistas - trimestre 150$000
Joia d'entrada 40$000
Externos Trimestre - 30$000
Os meio-pensionistas entrarão as 8 horas da manha e sahirao as 6 da
tarde; terao a comida dos pensionistas e participarao de todos os
exercicios comprehendidos entre essas horas. Os externos deverão
entrar para o collegio ás 9 horas da manha e sahirão ás 3 horas da tarde
[...]
UNIFORME - Foi adoptado um uniforme obrigatorio para os pensionistas
e meio-pensionistas.
CASTIGOS - tanto para a conservação da boa ordem e da disciplina,
sem as quaes nao ha direcçao possivel, como para o exemplo
necessario, os professores e os vigias são autorisados a exigir uma
penitencia escripta, copia de lições não sabidas ou trabalhos mal feitos
ou não feitos, para toda e qualquer infração das regras estabelecidas.
Para os casos mais graves dirigir-se-hão ao director que, segundo a
falta, infligirá os seguintes castigos: Privação de recreio com trabalho no
estudo. - Privação de sahir ao domingo. - Admoestações em presença
dos alumnos reunidos. As faltas excepcionaes, cujo exemplo for de
natureza pernisiosa para os condiscipulos de delinquente acarretarão
consigo a expulsão immediata. As punições encorridas serão lidas todos
os dias no refeitorio a hora do jantar. Em nenhum caso se recorrerá a
castigos corporaes, sempre tão aviltantes para o que os inflige como
para o que os recebe [...]
FERIAS - Considerando que depois de um trabalho aturado de muitos
mezes, é necessario um repouso tanto aos professores como aos
alumnos, o director decidiu que de 20 de junho a de julho e de de
dezembro a 8 de janeiro de cada anno se abrissem as ferias.
HYGIENE - A maior regularidade é observada para os differentes
exercicios do dia: - Levantar, no verão ás 5 horas; no inverno ás 5 horas
30 minutos. - Cuidados de asseio - Um quarto de hora depois de
levantar, café; estudos até as 7 1/2 horas. - Banhos frios de rio no verão,
e no inverno cuidados de asseio. As 8 1/2 horas, almoço composto de
dois pratos de carne, um prato de legumes, chá e pão, 8 1/2 horas,
recreio - 9 horas classes diversas - 1 hora, recreio refeição - 1 1/2 horas
classes diversas - 3 horas, cuidados de asseio antes de se apresentarem
a mesa - 3 1/4 horas, jantar, composto de sopa, 2 pratos de carne, 1
215
prato de legumes, café - 4 horas, recreio - 6 horas, estudo, 8 1/4 horas,
chá - 9 horas deitar. Os exercicios militares, esgrima e gymnastica terão
lugar entre as lições e os estudos, as horas de recreio [...]
ADVERTENCIA - A lingua franceza é obrigatoria no Lyceu. [...]
A cidade de Pelotas, pois, vai breve possuir uma instituição capaz de
preencher todas as lacunas e essa falta de unidade de que ainda se
recente aqui a INTRUCÇÃO PRIMARIA E SECUNDARIA OU CURSOS
de preparatorios exigidos para a admissao nas ACADEMIAS DO
IMPERIO. Quanto á parte religiosa o director assentou ficar ella
exclusivamente adstrieta á familia. É esta a medida mais acertada para
evitarem-se conflitos ou divergencias em objetos de crenças religiosas,
cuja liberdade deve ser plena [...] Os cursos para o anno escolar de 1878
principiarão a 7 de janeiro. Eis ahi em resumo o que tem sido o collegio
Franco Rio Grandense, actualmente denominado Lyceu Municipal,
dirigido pelo Sr. Charles Bachelery que dispõe, como tem provado, de
especiais dotes para um excellente institular.
O Lyceu conta hoje em seu seio habilissimos professores, que á
reconhecida capacidade profissional, reunem uma longa pratica dentre
os quaes os illms. Srs. Carlos Laquentinie, contratado por tres annos, J.
F. de Souza Soares, Bernardo Taveira Junior, Dr. J. A. de Sequeira
Canabarro, cujas habilitações honram sobremaneira a classe a que
pertencem. As vistas do diretor convergem todas, pela reunião de
preciosos elementos, a elevar o seu estabelecimento a um grau que
jámais nenhum attingiu no sul da província (Anúncio do Lyceu Municipal,
Jornal do Comércio 1/1/1878).
Pode-se apontar ainda que, nos jornais, em meio a anúncios de
escravos, de hotéis, de remédios, de modistas, de médicos, de dentistas, de
alimentos, e de outros, as propagandas destinadas ao ensino estavam sempre
presentes nos jornais. Talvez seja por isso que muitos destes davam espaços
para as notícias das instituições de ensino: não porque valorizavam a
educação e divulgavam o quanto a sua cidade era próspera nesse ramo, mas
porque existiria uma troca de favores, que esses eram seus clientes assíduos,
além de, em alguns casos, amigos.
No subcapítulo 1.1.2 desta dissertação, foi dito que a mensagem
publicitária utiliza-se de elementos para compor sua argumentação. Partindo-se
desse conceito, foi possível formular algumas observações sobre as partes dos
anúncios institucionais. No que refere à linguagem visual, sabe-se que título é
utilizado para causar um impacto emocional no receptor, mostrar um atributo do
produto, além de chamar atenção e provocar interesse com relação à leitura. Os
títulos contendo os nomes das instituições apresentavam-se de tamanhos
variados e com fontes trabalhadas. As fontes tornaram-se um elemento gráfico
usado como uma ilustração dentro dos anúncios. Muitas instituições analisadas
216
exploraram o título como um elemento gráfico. Algumas escolas publicavam
títulos com tamanhos de fontes expressivos, exaltando o nome da instituição, que
acabava se destacando dentro das páginas dos jornais. O nome da instituição de
ensino, neste período, tornava-se a sua marca, que era usada como uma forma
de sua identificação e diferenciação dentre as encontradas no mercado. Essa
realidade ficou registrada nos anúncios aqui destacados:
Figura 95 – Anúncio do Collegio Curso Racional.
Fonte: JORNAL ONZE DE JUNHO, 8/1/1883.
Figura 96 – Anúncio do Collegio Reis.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 3/01/1876.
Figura 97 – Anúncio do Collegio Dupont.
Fonte: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 1/1/1906.
Os nomes das instituições de ensino nos anúncios, auxiliaram no
reconhecimento de sua proposta e fidelidade perante os consumidores,
transmitindo uma mensagem à comunidade, como por exemplo, o dos colégios:
Honra e Trabalho; Perseverança; Curso Racional, Evolução e a Escola Moderna.
Essas são denominações que carregam consigo significados que ajudam a
explicar parte da personalidade dessas instituições, ou pelo menos o que estava
sendo proposto por tais espaços educacionais.
217
quanto à forma do texto, na maioria dos anúncios, caracterizava-se
por ser bastante informativo isso porque apresentava o serviço oferecido pela
instituição, destacando seus atributos. A forma testemunhal também foi
encontrada em alguns anúncios. Ela ocorre quando se utiliza o testemunho de
pessoas importantes e reconhecidas na comunidade, com a intenção de atestar a
eficácia do serviço que se está oferecendo. Essa técnica foi usada no anúncio do
Collegio Reis, posteriormente apresentado. A forma do texto chamou a atenção
não somente pela técnica de comunicação empregada, mas também pela
ilustração das representações sociais existentes naquele momento. Foram
usados depoimentos de engenheiros pessoas estudadas e importantes,
conforme o anúncio, para aquele contexto social. Esse recurso acabou sendo
usado no intuito de divulgar uma imagem de responsabilidade e
comprometimento, além de atestar a eficácia do serviço que a instituição oferecia.
Figura 98 – Anúncio do Collegio Reis.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 3/1/1876.
Um outro aspecto analisado nesse anúncio foi o fato de a escola
permitir visitação ao público tornando evidente, aos olhos da população, que se
[...] O ensino primário é n´este Collegio
vantajosamente conhecido. O secundário, que é o
curso preparatório, segundo determina o governo,
foram este anno provadas as vantagens bem como a
perícia dos professores d´este estabelecimento,
sobresaindo as mathematicas e geometria pratica,
de que é professor o Sr. Camillo, o que foi
plenamente demonstrado, com admiração dos Srs.
Drs. Christiano Ottoni e mais colegas que fazem
parte da commissão da estrada de ferro da província,
o que pode ser attestado com o testemunho dos
mesmos senhores, se assim por necessário[...]
O estabelecimento acha-se colocado n´um dos
melhores lugares da cidade, em um espaçoso
edifício, com grandes pateos e jardim para recreio. O
collegio estará sempre franqueando a qualquer hora
a quem queira visitar. No collegio há sempre um
professor para cuidar dos alumnos internos [...]
218
sentia preparada para possíveis vistorias, propagandeando, assim, mais um
elemento que destacava a sua qualidade.
Existiram, ainda, nos textos de diversos anúncios, argumentos do tipo
misto, que envolveram aspectos racionais e emotivos. Um exemplo de apelo
emocional foi encontrado, com freqüência, nos textos do Colégio de Meninas, em
que a sua diretora, ao finalizar o anúncio, sempre destacava o que esperava
merecer dos pais das alunas:
Figura 99 – Anúncio do Collegio de Mme. Jeanneret.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 8/1/1876.
Algumas instituições também utilizaram a tradição do estabelecimento
de ensino como um diferencial competitivo, ao destacar, no topo do anúncio, a
data de sua fundação. Percebeu-se, com isso, uma busca pela associação da
tradição versos a qualidade. Além disso, como foi apresentado, as próprias
instituições percebiam e divulgavam que este era um momento em que muitas
delas não conseguiam se manter funcionando por muito tempo no mercado.
Aquelas em que isso não ocorria, acabavam por destacar seu mérito, como foi o
caso do Collegio de Meninas:
[...] espera continuar a
merecer a confiança do
ilustrado publico d´esta
cidade, e enviará todos
os esforços, afim de
condignamente a ella
corresponder.
219
Figura 100 – Anúncio do Collegio particular de Meninas.
Fonte: JORNAL A TRIBUNA FEDERAL, 20/2/1887.
com relação às tarefas realizadas pela propaganda, anteriormente
apresentadas no subcapítulo, 1.1.2, detectou-se a presença de uma técnica, por
meio dos anúncios publicados nos jornais analisados: a divulgação e a
manutenção do nome da escola que ocorria através de uma massiva e
constante publicação de anúncios. Uma das instituições de ensino que ao longo
de 25 anos, (ver Tab.2) anunciou os programas oferecidos, o nome de seus
professores e os seus objetivos, ou apenas divulgando o início do ano escolar, foi
o Collegio de Mme. Jeanneret.
Figura 101 – Anúncio do Collegio de Mme. Jeanneret.
Fonte: JORNAL A NAÇÃO, 6/1/1885.
Ao que tudo indica, depois de muita presença na mídia jornal e do
reconhecimento público sobre a sua qualidade, esse anúncio não precisava dizer
nada sobre a instituição, pois o seu nome dizia tudo. Com essa sistemática de
220
publicação e permanência nos jornais, o Collegio Jeanneret se fazia presente na
memória de seus consumidores, além de buscar constantemente a consolidação
no mercado que atuava através de uma reafirmação de seus atributos. A relação
quantidade de anúncios x tempo de funcionamento de uma instituição não foi
realizada neste estudo, primeiro, porque não seria um cálculo exato nem
confiável, que ela poderia ter mais anúncios justamente porque atuou mais
tempo. Não se está defendendo, no entanto, que, por ter anunciado
significativamente, a instituição se manteve no cenário educacional por mais
tempo, que se entende que a propaganda, é hoje, e sempre foi uma ferramenta
que o funciona sozinha. Torna-se necessário que o produto ou, neste caso, o
serviço também seja eficiente, pois de nada adiantaria uma boa comunicação se
o que era ofertado pela instituição não funcionasse. O que se quer destacar, isso
sim, é que existiu, no final do século XIX e no início do XX, uma disputa pela
atenção dos consumidores de educação, que se refletia na ferramenta de
comunicação e conquista selecionada pela instituição de ensino para atrair seus
potenciais alunos, ou seja: a propaganda.
Observou-se, também que, mesmo sendo uma instituição conhecida e
reconhecida pela comunidade, seus dirigentes, como a professora Berta
Jeanneret, continuavam constantemente divulgando seus espaços de ensino. Isso
porque, provavelmente, ao existir a concorrência oferecendo os mesmos serviços,
essas instituições se viam obrigadas a se manterem na vitrina. Essa exposição,
por meio dos anúncios e dos seus resultados, lhes dava legitimidade e visibilidade
diante do público consumidor. Uma outra hipótese está no fato de que o próprio
mercado tenha gerado essa necessidade de exposição, não somente pela sua
sobrevivência, na busca de novos alunos, mas pela legitimidade que lhes dava,
diferenciando-os de outros espaços.
Encontrou-se também, na quase totalidade dos anúncios, a técnica da
busca de uma aproximação da escola com a população, onde aquela
apresentava, no conteúdo dele, suas virtudes e comprometimento com a
educação e com a comunidade. Além dos inúmeros anúncios citados, ao longo
desta dissertação, destaca-se ainda o texto apresentado pelo Collegio Honra e
221
Trabalho, uma instituição que começou suas atividades, no ano de 1887. A
diretora usou, como elementos emotivos e de aproximação, argumentos lógico-
emocionais para com os pais de seus possíveis alunos. O fato de ser pelotense e
de ter aberto um colégio na sua cidade natal foi um dos argumentos apresentados
por ela. Além disso, utilizou, também, um apelo aos pais ao colocar seu colégio
como um espaço onde suas filhas seriam tratadas com zelo e com afetividade.
Conforme explicitado no subcapítulo 1.1.2, o anúncio fez, portanto, o uso da
dimensão afetiva, ou seja, buscou despertar no consumidor, neste caso os
responsáveis pelas alunas, uma forma de agir favorável ao serviço que estava
sendo oferecido.
Figura 102 – Anúncio do Collegio Honra e Trabalho.
Fonte: JORNAL DIÁRIO DE PELOTAS, 11/1/1887.
Impulsionada por essa vontade que nos
demove geralmente a prestar um serviço á
terra natal, resolvi fundar n ´esta cidade um
estabelecimento de educação e instrucção
para o sexo feminino, com a denominação
acima. O collegio Honra e Trabalho, sob
minha direcção, terá os moldes da mais
severa moralidade e as alumnas confiadas
aos meus cuidados encontrarão em mim a
ternura maternal de que tanto carecem.
222
Uma outra técnica, obviamente presente nos anúncios, foi a criação de
mercado, em que as instituições divulgavam, através das propagandas, o nome
da escola, do diretor, dos docentes, bem como suas propostas de ensino, sua
localização e qualidade da estrutura física. Elementos presentes no anúncio do
Collegio de Mme. Jeanneret :
Figura 103 – Anúncio do Collegio de Mme. Jeanneret.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 7/1/1876.
A busca pela educação do mercado também foi uma técnica presente
nos anúncios. Essa ocorreu quando as instituições procuravam desenvolver, na
população pelotense, uma atitude positiva com relação à educação, incutindo, por
exemplo, o hábito de os alunos freqüentarem as aulas já no começo de cada ano.
No ensino feminino acontecia, também, quando os colégios discursavam sobre a
importância de as meninas terem acesso à educação.
Sobre a concorrência entre as instituições, além das técnicas
apresentadas, também se deparou com textos em que as disputas ficavam
evidenciadas claramente, sem usar subterfúgios para tal. Esse foi o caso do
argumento apresentado no anúncio da Escola Moderna uma instituição que
utilizou abertamente os resultados dos seus alunos, para confrontar com os
obtidos pelos alunos de outros espaços educacionais:
223
Figura 104 – Anúncio da Escola Moderna.
Fonte: JORNAL A OPINIÃO PÚBLICA, 12/1/1902.
No próximo anúncio, anteriormente apresentado, também aparece a
disputa entre as escolas. O texto desse, como mencionado, dizia que
determinados professores seriam de total exclusividade daquela instituição. Fazia,
contudo, uma exceção para, caso eles quisessem, lecionar nas escolas de
[...] Convém dizer que, sem fazermos
conferencias de antemão preparadas,
não temos duvida alguma em admitir a
comparação de alguns dos nossos
alumnos de arithmetica e gepgraphia
com os melhores de qualquer
estabelecimento congênere.
Abominamos o charlatanismo, apenas
nos propomos ao ensino de geographia
e mathematica elementares disciplinas,
que pensamos ensinar com alguma
autoridade [...]
224
meninas – instituições que não eram suas concorrentes porque atingiam um
público diferenciado do seu.
Figura 105 – Anúncio do Lyceu Municipal.
Fonte: JORNAL DO COMERCIO, 7/1/1878.
225
Diante de todas as técnicas empregadas pelas instituições de ensino,
concluiu-se que, em praticamente todos os anúncios, havia um discurso de
pertencimento, que explorava o nome da instituição, dos seus professores, da rua
onde se localizava, das línguas estrangeiras ofertadas, entre outros. De uma
forma ou de outra, elas apresentavam as vantagens de fazer parte daquele
ambiente e daquela realidade educacional. Dos tantos anúncios de espaços
escolares, destaca-se aqui, por fim, o da Escola Alemã. Essa foi uma instituição
que, ao longo dos anos investigados, fez propagandas na língua original de seus
fundadores, para o público a que se destinava, ou para aqueles que tinham
interesse em aprender a língua alemã. Na propaganda foi destacado que os
ensinamentos seriam realizados por meio de conversação na língua alemã:
Figura 106 – Anúncio da Escóla Allemã.
Fonte: JORNAL CORREIO MERCANTIL, 15/1/1889.
Em alguns momentos, a escola apresentava, dentro do mesmo
anúncio, seus textos em alemão e a tradução em língua portuguesa. Esse fato
ocorria, provavelmente, porque a instituição queria receber alunos com interesse
em aprender a língua e por aqueles que tinham o idioma alemão como língua
pátria. Cabe ressaltar que esse anúncio apresentou um discurso implícito e
226
explícito de pertencimento de um grupo socialmente existente na cidade, que se
diferenciava dos demais, qual seja: pessoas de origem alemã.
Diante do que foi exposto, constatou-se que, em Pelotas, as
concepções e ações de incentivo à educação, por meio da publicidade, foram
uma realidade. Ressalta-se que, nesta pesquisa, a busca pela apreensão das
técnicas de comunicação empregadas pelas instituições de ensino, em Pelotas,
ocorreu, principalmente, pela formação e interesse da pesquisadora que realizou
este estudo. Essas informações não puderem ficar afastadas deste trabalho, pois,
além de acrescentarem subsídios para uma análise das instituições, revelaram a
forma como essas construíram sua imagem institucional e buscaram incutir, na
sociedade pelotense, a importância da educação.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho foi investigar e analisar as características do
processo educacional pelotense, no final do século XIX e início do XX, divulgadas
nos anúncios institucionais. Ele teve, como conseqüência a elaboração de um
estudo com muitas variáveis, o que dificultou a exposição de algumas conclusões,
no momento do fechamento deste trabalho.
A primeira consideração necessária a ser feita é que, em Pelotas, o
ensino privado predominou nos espaços da educação no período em que se
investigou. Essa era uma hipótese que se tinha, em virtude das inúmeras
pesquisas sobre a educação no período Imperial e no princípio da República
Velha no Brasil, que apontam para este fato. O que esta dissertação buscou não
foi apenas ratificar essa informação, mas, além disso, investigar e apresentar
dados sobre as especificidades de estabelecimentos de ensino de Pelotas, bem
como as características do ambiente educacional da cidade num determinado
período.
Ao buscar encontrar elementos que diferenciavam, ou não, as
instituições de ensino, foi possível concluir que elas mantiveram uma espinha
dorsal que era comum a todas as instituições. Isso ocorreu em virtude da
legislação e do que era exigido com relação aos níveis de ensino e das profissões
existentes na época. O fato de uma escola registrar em seus anúncios o
crescimento do número de alunos de um ano para o outro foi entendido como,
além de uma necessidade de instrução sustentada pelas classes mais
favorecidas, a capacidade das instituições, com seus serviços e atores, de
229
despertar na população o interesse pelo espaço educacional e pela própria
educação. Essas instituições, além de preservarem a qualidade de seus serviços,
sendo comparadas com outras de igual nível na cidade, também eram
submetidas ao crivo do público-consumidor com relação a outras instituições de
ensino existentes no país. A constatação de que os valores cobrados pelos
estabelecimentos de ensino no Brasil se equiparavam, quando essas tinham um
mesmo porte, levou à conclusão de que existiu, provavelmente, uma auto-
regulação dos preços que podia se dar em termos de país e de região. Constatou-
se que o valor cobrado pelo ensino de Pelotas não era inferior nem superior ao
oferecido pelas instituições de outras cidades do estado do Rio Grande de Sul e
da capital do país. O que fazia diferença nos valores cobrados era, normalmente,
o porte da instituição e o que ela oferecia em termos de disciplinas e
professorado. No entanto, a oferta de saberes e de professores era, muitas vezes,
equivalente, possivelmente porque seguiam a legislação.
Com relação às questões que suscitaram uma primeira análise dos
dados, quais sejam: que escolas havia na cidade; quem eram seus professores; o
que elas anunciavam; qual a ênfase dada aos saberes escolares, à disciplina, e
às propostas pedagógicas, como pode ser constatado ao longo dos capítulos,
não foi possível encontrar informações aprofundadas sobre as propostas
pedagógicas. Não que essas não fossem apontadas nos anúncios. O que ocorreu
foi que as escolas falavam em métodos eficientes, em moderna pedagogia, mas
não deixavam claro o que eram esses métodos, nem a forma como eram
explanados os conteúdos. Das poucas pistas deixadas, encontrou-se uma
referência, no anúncio do Collegio Commercial, no Jornal Nacional de 10/1/1892,
em que a conversação, dentro da escola, se daria somente na língua alemã, no
intuito de os alunos aprenderem-na exercitado-a cotidianamente. Em uma
propaganda do Collegio Eduardo Borges, anunciava-se que este utilizava o
método João de Deus
46
.
46
Em 1876 foi publicada em Portugal a “Cartilha Maternal ou Arte da Leitura”, escrita pelo poeta
português João de Deus. A partir do início da década de 1880, o “método João de Deus”, contido
nessa cartilha, passou a ser divulgado sistemática e programaticamente principalmente nas
províncias no Brasil. Diferentemente dos métodos até então habituais, o “método João de Deus”
ou “método da palavração” baseava-se nos princípios da moderna lingüística da época e consistia
230
Sobre os saberes ministrados nos estabelecimentos de ensino, tanto
no primário, como no secundário, verificou-se uma diferenciação nos programas
voltados para o ensino feminino e masculino, como apontado. Essa realidade
foi percebida também nos programas de instituições de outras localidades do
estado e também na Corte e província do Rio de Janeiro. Apesar de esta
pesquisa não se propor a investigar a categoria gênero, acredita-se que seria
muito rico aprofundar, em uma futura investigação, o conhecimento sobre o
ensino masculino, já que esse foi um momento histórico em que os homens
estavam no centro das atividades intelectuais e do mundo do trabalho.
Já com relação aos estabelecimentos existentes em Pelotas, cabe
ressaltar que foram destacadas apenas aquelas instituições de ensino que
anunciaram nos jornais. Com base nos relatórios, foi possível visualizar a
existência de outras instituições de ensino, especialmente públicas, que
atuavam em Pelotas com uma concentração maior de alunos principalmente a
partir do ano de 1908. Ainda que se tenha encontrado dados quantitativos nos
relatórios, foi possível detectar dados mais concretos sobre as instituições, tais
como nome, ano de fundação, endereço e quantidade de alunos, no Relatório da
Intendência de Pelotas do ano de 1912. Por isso concluiu-se que a fonte dita não
oficial, a propaganda, sem dúvida alguma, deixou muitos dados registrados sobre
os estabelecimentos de ensino em Pelotas, possibilitando uma infinidade de
abordagens que ainda podem ser realizadas, no intuito de apreender mais sobre
esse momento educacional.
Sobre o papel dado à disciplina, além do Collegio São Francisco de
Assis (ver Fig.7) e do Curso Racional (Fig.10) que diziam acompanhar os alunos
no seu dia-a-dia comprometendo-se com as suas condutas dentro e fora da sala
de aula, as únicas referências sobre castigos corporais foram realizadas por
Eduardo Borges. No anúncio afirmava que no seu estabelecimento essa prática
não ocorria, assim como no anúncio do Lyceu Municipal, que também declarava
não praticar os castigos corporais, mas, sim, outras sansões. Essa informação
em iniciar o ensino da leitura pela palavra, para depois analisá-la a partir dos valores fonéticos das
letras (MORTATTI, disponível em:http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos.pdf).
231
leva a crer na existência, por parte de algumas instituições, de castigos como uma
prática de disciplinamento nesse mesmo período
47
.
Concluiu-se, ainda, que os discursos sobre o ensino primário e o
ensino secundário pautavam-se de forma diferente, que esses níveis de ensino
propunham-se a objetivos distintos. Enquanto o primeiro focava, além das
primeiras letras, a preparação para a vida social, o segundo se pautava,
principalmente, pela preparação para o ensino superior. Tanto para o secundário,
como para o primário, os resultados dos alunos eram uma garantia da sua
qualidade, que neles, os alunos e os estabelecimentos de ensino seriam
testados. Não foram coletados, nesta pesquisa, muitos dados sobre os resultados
dos exames públicos, nem dos exames para acesso ao ensino superior. Isso
ocorreu porque, por mais que se tenha investigado muitas informações sobre os
estabelecimentos de ensino nos jornais, inclusive aquelas que não eram
divulgadas por meio de propagandas, não se tinha por objetivos, no princípio da
coleta de dados, investigar se existiu uma relação entre o sucesso nos resultados
e a permanência da instituição no mercado de ensino pelotense. No entanto,
entende-se que essas informações poderão ser mapeadas e aprofundadas em
um outro estudo.
Ressalta-se também que, durante o período investigado, encontraram-
se espaços institucionais com diferentes perfis. Estes atendiam às exigências de
grupos heterogêneos, que possuíam diferentes necessidades e expectativas com
relação à educação. Por isso as instituições com aulas avulsas, os colégios, os
espaços domésticos com suas as aulas individuais, não puderam ser comparadas
quanto ao número de profissionais docentes, bem quanto ao número de
disciplinas ministradas que possuíam diferentes estruturas e propostas de
ensino, como foi problematizado neste estudo.
47
Pois, ao divulgar que não havia castigos corporais, concluiui-se que, provavelmente, este fosse
um diferencial da instituição, qual seja, não praticar castigos corporais. Além disso, essa prática
era prevista inclusive em lei, como pode ser observado no Artigo 15º da Lei de 15 de outubro de
1827.
232
Com relação à localização das escolas, não foi possível realizar uma
distribuição geográfica respeitando os zoneamentos dessas, pois, como
explicado, a grande maioria das instituições não informava entre que ruas se
situavam. Mesmo tendo sido procurados documentos que contivessem a
numeração dos prédios nas respectivas ruas de Pelotas, acredita-se que é
possível fazer uma busca mais criteriosa nesse sentido, tentando encontrar dados
mais específicos sobre as ruas nesse período que se investigou. Entende-se que
os dados levantados neste estudo podem contribuir com uma busca pela
localização dos prédios, para então verificar a sua existência. Essas informações,
caso encontradas, trarão elementos concretos sobre a estrutura dos
estabelecimentos de ensino um tema importante para auxiliar na construção do
ambiente histórico-espacial da educação pelotense.
Durante os anos investigados, algo que esteve presente na quase
totalidade dos anúncios foi o mercado docente. A busca por mais informações
sobre os professores(as) acabou resultando num achado de fotografias de
algumas figuras de maior destaque no cenário educacional pelotense. É
importante que se entenda que não foi objetivo realizar uma investigação sobre a
fotografia e o retrato, como uma técnica. As imagens foram retratadas nesta
investigação com o intuito de caracterizar o ambiente histórico com os seus atores
e singularidades, além de fazer reconhecer a identidade/imagem de figuras
educacionais importantes que atuaram em Pelotas.
Sabe-se que deve existir um número ainda maior de fotografias
contendo a imagem dos professores(as) arrolados na pesquisa. Esse fato levou a
refletir sobre o que Le Goff (1996) apontou, ou seja, que a escolha das fontes, a
sua seleção, não é realizada apenas pelo pesquisador, uma vez que foi feita
por parte daqueles que produziram o material, pelos que organizam os acervos e,
até mesmo, pelo tempo. Essa realidade foi percebida ao longo de quase três
meses, o tempo em que se buscou conseguir uma fotografia da professora
Marguerite Gastal junto a sua família. O contato se deu mais especificamente com
uma neta dela. Essa, por mais que tenha sido atenciosa, dificultou o acesso desta
investigação até um primo seu que, segundo ela, teria a imagem. Persistiu-se
233
muito em encontrar mais fotografias sobre as professora mulheres, com a
intenção de dar visibilidade a elas. Nesse sentido, conforme Le Goff (1996),
insistiu-se contra o tempo e contra a seleção que a história fez dessas figuras.
Mesmo assim, elabora-se a hipótese
48
de que, essa dificuldade em encontrar
fotografias de professoras mulheres, é mais um traço do período que se
investigou, em que o cenário professoral ainda era constituído numericamente por
professores homens, reconhecidos pela sociedade porque eram os responsáveis
por preparar os também homens que fariam funcionar as engrenagens da história.
Com base em todas as informações encontradas sobre o mercado
docente local e nacional, concluiu-se, então, que em Pelotas, a imagem de uma
instituição de ensino esteve, quase sempre, atrelada à figura de um(a)
professor(a) ou de um grupo de professores(as), reconhecidos(as) pela
comunidade por sua capacidade intelectual. Eles organizavam os saberes e toda
a estrutura do estabelecimento de ensino, para oferecê-los à comunidade. O
status profissional era então assegurado pelo reconhecimento público, através de
uma sucessiva publicação sobre o mesmo.
Sobre os achados quanto ao ensino público/gratuito, entendeu-se que
os dados obtidos, por meio dos relatórios, dos anúncios e da imprensa, ou mesmo
pelas pesquisas em História da Educação, fizeram apreender as relações entre a
sociedade e a escolarização. Com isso, concluiu-se que, no período investigado,
começou a existir uma oferta de ensino gratuito mais sistematizada aumentando,
assim, a oferta do ensino público em Pelotas. Dessa forma, aos poucos, o perfil
educacional pelotense, que era substancialmente privado, foi se municipalizando
e estadualizando.
Concluiu-se, ainda, que a propaganda permitiu apresentar dados
concretos do que ocorria em muitas instituições de ensino, atividades
desenvolvidas e supervisionadas, formal ou informalmente, pelos professores.
48
É importante também destacar que, neste período, o registro fotográfico era muito oneroso e
estava restrito a um pequeno segmento social privilegiado. Além disso, a localização de retratos
de figuras masculinas pode estar vinculada ao fato de que os homens, nesse momento histórico,
diferentemente das mulheres, ocupavam funções públicas que iam além do espaço escolar.
234
Tem-se claro que uma das características primeiras da propaganda é enaltecer e
divulgar o que se tem de melhor em um serviço. Por isso, concluiu-se que o que
estava sendo apresentado à comunidade eram os pontos fortes das instituições
de ensino. Suas virtudes, como pôde ser constatado ao longo desta dissertação,
foram constantemente divulgadas. Mas os problemas, obviamente, não eram
divulgados, como por exemplo, a falta de qualidade do espaço físico de uma
escola. foi possível descobrir que essa realidade existia, quando as
instituições divulgavam que tinham mudado a sua localização devido aos
problemas higiênicos. Ainda assim, foi possível constatar que elas dividiam com a
sociedade, através dos anúncios, as suas angústias e muitas das suas
fragilidades, se não abertamente, por meio de um discurso que envolvia uma
melhora institucional e um comprometimento com os pais, com a disciplina e a
presença de seus alunos, com a inadimplência, etc. Com base nos modelos
teóricos apresentados nesta dissertação sobre a propaganda e as correntes
teóricas existentes sobre como a ela funciona, constatou-se que as instituições
utilizaram-na como uma ferramenta de convencimento, mas estavam, em muitos
momentos, submetidas ao que a sociedade esperava delas. Além de divulgarem
o seu serviço, destacando suas singularidades, mostravam-se preocupadas com
a opinião das famílias que elas seriam as responsáveis pela escolha das
instituições. Entende-se que esse fato mostra uma fragilidade típica do ensino
privado, que convivia em meio às leis de mercado um sistema de oferta e de
procura. Sendo assim, esses espaços estariam, obviamente, reféns da opinião
pública e do público consumidor do serviço ofertado: a educação.
Torna-se relevante ainda, neste momento de reflexões finais sobre o
estudo ora apresentado, destacar que, atualmente, é possível encontrar, em
Pelotas, instituições de ensino particulares concorrendo pela a atenção dos pais e
de seus alunos. Seus discursos, muitas vezes, também se pautam pelos
resultados dos alunos. Essas disputas são mais comumentemente encontradas
entre os, atualmente denominados cursos Pré-Vestibulares, que preparam os
alunos para o acesso ao ensino superior. Ao criar o PAVE
49
Programa de
49
O PAVE foi lançado no ano de 2004, tornou-se, segundo o Governo Federal, uma modalidade
alternativa de seleção para os cursos de graduação, constituindo-se em um
processo gradual e
235
Avaliação da Vida Escolar o Governo Federal, buscando uma “solução” para a
“correção” do perfil de aluno que atualmente ingressa nas universidades públicas,
ou seja, um bom capital cultural que, na maioria das vezes se adquire nas boas
escolas particulares, incitou nas instituições particulares, do ensino fundamental e
médio, um retorno aos jornais. Essas têm divulgado anúncios destacando o
quanto preparam, continuamente, seus alunos e o grande papel que exercem na
sua educação, sendo também responsáveis, assim como os cursos pré-
vestibulares, pelos ótimos resultados para o ingresso no ensino superior. Isso
ficou claro ao observar as propagandas divulgadas por escolas particulares nos
meses de dezembro de 2006 e janeiro de 2007 (ver Anexos). o se pretende
discutir aqui as possíveis intenções do governo com relação à cobrança e ao
controle sobre o ensino fundamental e médio no Brasil, mas apontar como é
possível, por meio da História da Educação, verificar o quanto aspectos da
educação podem se tornar cíclicos, em um outro tempo e contexto histórico.
Em relação ao período que se investigou (1875-1910) constatou-se que
nesse, momento estava sendo constituído, pouco a pouco, um sistema de
educação não em Pelotas como no Brasil. Em que o ensino saía de dentro
das casas, como prática do ensino privado, para, aos poucos, serem formadas
instituições de ensino, cujas estruturas iam sendo alteradas com o passar dos
anos. O que se percebeu, na educação pelotense, é que não existiu
necessariamente uma evolução no sentido de mudar para melhor, pois se
entende esse como um processo ora em ascensão, ora em estagnação, ora em
declínio. Compreendeu-se, assim, que os sujeitos da história pesquisada
acreditavam em uma civilização, em um crescimento através da educação, que se
refletiu no grande número de professores e de instituições de ensino que
atenderam os alunos que podiam pagar pelo ensino e também pelas iniciativas do
ensino público.
sistemático, que acontece ao longo do Ensino Médio, alicerçado na integração entre a educação
básica e a superior, visando à melhoria da qualidade do ensino. O PAVE permite o
acompanhamento das aprendizagens construídas pelo aluno durante o Ensino Médio, motivando-
o a buscar um melhor desempenho durante o processo. As notas obtidas pelo aluno no PAVE são
levadas em consideração ao ingresso no ensino superior.
236
Tendo em vista em tudo que foi apresentado nesta dissertação, é
coerente ainda fazer a seguinte reflexão: para muitos a propaganda é tida como a
“alma do negócio”. Hoje sabe-se que são muitos os elementos que permitem o
sucesso ou não de um produto ou um serviço. Essa responsabilidade, portanto,
não fica integralmente nas mãos da publicidade. A propaganda, se bem pensada
e administrada, pode se tornar um desses elementos, tendo como característica
ainda a capacidade de ilustrar e de eternizar características do serviço que está
divulgando como se constatou nesta investigação. Ao observar os conteúdos
dos anúncios, verificou-se que foram muitos os aspectos envolvidos no
desenvolvimento das instituições de ensino pelotenses que aos poucos iam
ampliando suas estruturas, vendendo à comunidade o serviço que administravam:
a educação. Ainda assim, mesmo que a propaganda não tenha sido inteiramente
responsável pela “alma“ das instituições investigadas, acredita-se que ela ilustrou
muitos aspectos que auxiliaram na formação da alma de cada uma delas
encontrada nesta pesquisa.
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A PÁTRIA (1887-1891)
A VENTAROLA (1886-1888)
CORREIO MERCANTIL (1875-1910)
DIÁRIO COMERCIAL (1886)
DIÁRIO DE PELOTAS (1876-1908)
DIÁRIO POPULAR (1880-1910)
GAZETA DA MANHÃ (1890-1892)
JORNAL DO COMÉCIO (1875-1885)
O NACIONAL (1890-1892)
ONZE DE JUNHO (1882-1889)
O PERVIGIL (1883)
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O BISTURI (1891-1892)
O CABRION (1880-1881)
RIO GRANDENSE (1886-1887)
ZÉ POVINHO (1883)
Relatórios
RELATÓRIO DA INTENDÊNCIA APRESENTADO AO CONSELHO MUNICIPAL,
EM 2 DE SETEMBRO DE 1904, PELO INTENDENTE ENGENHEIRO JOSÉ
BARBOSA GONÇALVES.
RELATÓRIO APRESENTADO AO CONSELHO MUNICIPAL EM 20/9/1906,
PELO INTENDENTE ENGENHEIRO CYPRIANO CORRÊA BARCELLOS.
RELATÓRIO APRESENTADO AO CONSELHO MUNICIPAL, EM 20 DE
SETEMBRO DE 1909, PELO INTENDENTE ENGENHEIRO JOSÉ BARBOSA
GONÇALVES.
RELATÓRIO APRESENTADO AO CONSELHO MUNICIPAL, EM 20 DE
SETEMBRO DE 1912, PELO INTENDENTE CYPRIANO CORRÊA BARCELLOS.
RELATÓRIO APRESENTADO AO PRESIDENTE DO ESTADO DO RIO GRANDE
DO SUL PELO SECRETÁRIO DE ESTADO INTERINO DOS NEGÓCIOS DO
INTERIOR E EXTERIOR, EM 1849.
RELATÓRIO COM QUE O SR. FRANCISCO I. MARCONDES HOMEM DE
MELLO PASSOU A ADMINISTRAÇÃO D´ESTA PROVINCIA AO
EXCELENTíSSIMO SR. DR. JOAQUIM VIEIRA DA CUNHA, VICE-
PRESIDENTE, 13/4/1868 – PORTO ALEGRE.
RELATÓRIO DA ENTREGA DA ADMINISTRAÇÃO DA PROVÍNCIA DE S.
PEDRO DO RS AO DR. FRANCISCO DE CARVALHO SOARES BRANDÃO
1881.
RELATÓRIO DA ENTREGA DA ADMINISTRAÇÃO DA PROVÍNCIA DO RS DE
FRANCISCO DE CARVALHO SOARES BRANDÃO AO DR. JOAQUIM SOARES
– 1882.
250
RELATÓRIO APRESENTADO PELO DESEMBARGADOR HENRIQUE PEREIRA
DE LUCENA AO SR. MANOEL DEODORO DA FONSECA – 1887.
RELATÓRIO APRESENTADO AO SR. ANTONIO AUGUSTO BORGES DE
MEDEIROS, PRESIDENTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PELO DR.
JOÃO ABBOTT, SECRETÁRIO DE ESTADO INTERINO DOS NEGÓCIOS DO
INTERIOR E EXTERIOR, EM 30/6/1899.
RELATÓRIO APRESENTADO AO PRESIDENTE DO RIO GRANDE DO SUL EM
15 DE SETEMBRO DE 1893, PELO SECRETÁRIO DE ESTADO INTERINO DOS
NEGÓCIOS DO INTERIOR E EXTERIOR, POSSIDONIO M. DA CUNHA JUNIOR.
RELATÓRIO APRESENTADO AO PRESIDENTE DO RIO GRANDE DO SUL DR.
JULIO PRATES DE CASTILHOS, PELO SECRETÁRIO DE ESTADO INTERINO
DOS NEGÓCIOS DO INTERIOR E EXTERIOR, EM 31/8/1894, DR.
POSSIDONIO M. DA CUNHA JUNIOR.
RELATÓRIO APRESENTADO AO PRESIDENTE DO ESTADO DO RIO GRANDE
DO SUL, PELO SECRETÁRIO DE ESTADO INTERINO DOS NEGÓCIOS DO
INTERIOR E EXTERIOR, EM 20/8/1900.
RELATÓRIO APRESENTADO AO SR. ANTÔNIO AUGUSTO BORGES DE
MEDEIROS, PRESIDENTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, PELO DR.
JOÃO ABBOT, SECRETÁRIO DO ESTADO DOS NEGÓCIOS DO INTERIOR E
EXTERIOR, 15/8/1901.
RELATÓRIO APRESENTADO AO PRESIDENTE DO ESTADO DO RIO GRANDE
DO SUL, PELO SECRETÁRIO DE ESTADO INTERINO DOS NEGÓCIOS DO
INTERIOR E EXTERIOR, EM 21/8/1902.
RELATÓRIO APRESENTADO AO PRESIDENTE DO ESTADO DO RIO GRANDE
DO SUL, PELO SECRETÁRIO DE ESTADO INTERINO DOS NEGÓCIOS DO
INTERIOR E EXTERIOR, EM 20/8/1903.
Almanaques e Outros
ALMANAK, LITERARIO E ESTATÍSTICO DO RIO GRANDE DO SUL,
ORGANIZADO POR ALFREDO FERREIRA RODRIGUES. EDIORES CARLOS
PINTO E SUCCESSORES. LIVRARIA AMERICANA, RIO GRANDE (1892-1897).
251
ALMANAK ADMINISTRATIVO, MERCANTIL E INDUSTRIAL DA CORTE E
PROVÍNCIA DO RIO DE JANEIRO, “ALMANAK LAMMERT” (1875-1889).
PLANTA DA CIDADE DE PELOTAS, LIVRARIA UNIVERSAL, ECHENIQUE
COMPANHIA.
ANNUARIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL FUNDADO PELO DR.
GRACIANO DE AZAMBUJA, PUBLICADO SOB A DIREÇÃO DO DR. ALCIDES
CEUZ, PORTO ALEGRE, EDITORES: KRAHE E CIA, SUCCIES DE
GUNDALACH & KRAHE, LIVREIROS (1908-1910).
ESTATÍSTICA ESCOLAR APRESENTADA POR JOSÉ BARBOSA GONÇALVES,
EM 15/4/1910.
ANEXOS
253
ANEXO A – Anúncio do Colégio Gonzaga.
Fonte: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 20/12/2006.
254
ANEXO B – Anúncio do Colégio Gonzaga.
Fonte: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 16/01/2007.
255
ANEXO C – Anúncio da Escola Mário Quintana.
Fonte: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 16/01/2007.
256
ANEXO D – Anúncio da Escola Mário Quintana.
Fonte: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 16/01/2007.
257
ANEXO E – Anúncio da Escola Mário Quintana.
Fonte: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 16/01/2007.
258
ANEXO F – Anúncio da Escola Mário Quintana.
Fonte: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 16/01/2007.
259
ANEXO G – Anúncio da Escola Mário Quintana.
Fonte: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 18/01/2007.
260
ANEXO H – Anúncio da Escola Mário Quintana.
Fonte: JORNAL DIÁRIO POPULAR, 18/01/2007.
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