grau de espontaneidade e uma certa independência com relação à CGT, cresceu entre os
trabalhadores o sentimento de identificação nacional, reforçando o poder de Perón que,
a partir de então, passou a ter o controle sobre os militares. Esses, à alternativa da
eclosão de uma guerra civil, preferiram trazer Perón de volta ao poder.
62
Há um dado importante no 17 de outubro que precisa ser destacado. Embora não
possa ser negado o papel da CGT no movimento, este saiu do controle da central
trabalhadores de todo país por 24 horas, ‘paro’ que se cumprirá na data com o propósito de exteriorizar o
pensamento da classe operária sobre o momento excepcional que vive a Nação. O citado organismo dá
como razões do momento disposto o seguinte:
1. Contra a entrega do goveno à Suprema Corte e contra todo gabinete da oligarquia.
2. Formação de um governo que seja uma garantia da democracia e liberdade para o país e consulte
a opinião das organizações sindicais dos trabalhadores.
3. Realização de eleições livres em data fixada.
4. Decreto de estado de sítio, pela liberdade de todos os presos civis e militares que tenham se
distinguido por suas claras e firmes convicções democráticas e por sua identificação com a classe
operária.
5. Manutenção das conquistas sociais e ampliação das mesmas. Aplicação da regulamentação das
associações profissionais de trabalhadores.
6. Que se termine de firmar imediatamente o decreto-lei sobre aumento de soldos e jornais, salário
mínimo básico e móvel participação nos lucros e que se resolva o problema agrário mediante o
repartimento da terra ao que a trabalha e o cumprimento integral do estatuto do peão” (La Prensa,
18/10/1945, p. 8; tradução da autora).
62
Ao lado da chamada para a greve geral para o dia 18 de Outubro, feita pela CGT, o jornal La Prensa
publicou uma nota de entidades operárias independentes, que se mostravam contrárias ao movimento.
Cito abaixo o texto de contestação dessas entidades: “Todas essas organizações tanto as independentes
que se mantêm à margem de toda orientação sindical, política ou idearia, como as devidas à Federação
Operária Argentina (FOA) ou à União Operária Local, fizeram ademais manifestações repudiando os
sucessos ocorridos à véspera, assim como as incidências resgistradas em dias anteriores na Praça San
Martin e lugares centrais da cidade. Em geral, essas entidades qualificam duramente tais fatos que exigem
o imediato retorno à normalidade constitucional com o império de um governo de ordem, de
inquestionável orientação democrática e se possível encabeçada pelo presidente da Suprema Corte da
Justiça da Nação”. Subscrevem essas declarações: Federación Obrera Argentina, Unión Obrera Local,
Federación Obrera Nacional de La Constituicción, Federación Obrera de la Industria de la Carne,
Sindicato Obreros Unidos del Puerto de la Capital, Sindicato de Chóferes de Camiones y afines,
Comissión Unitaria Central de los Obreros y Empleados de la Corporación de Transportes de la Ciudad
de Buenos Aires, Unión Obrera Textil, Obreros de las Barracas, Mercado Central de Frutas, Sacoderos
de Sarras y Anexos, Sindicato Obrero Gastronomico aderido a la Federación Obrera Gastronomica
Regional Argentina, Sindicato Obrero de la Industria del Pan, Comisión de Empleados de Comércio
Democráticos, Comisión Reorganizadora de los Trabajadores del Estado, Federación Gráfica
Bonaerense, Sindicato Obrero de la Industria Metalurgica, Sindicato Unión de Obreros e Madera,
Unión Obreros Curtidores y Anexos, Sindicato Obrero de la Industria del Calzados, Comisión de Unidad
Nacional de Obreros de la Industria de la Madera, Sindicato Autonomo de Luz y Fuerza, etc. Ver: La
Prensa (18/10/1945, p. 8). No mesmo dia 17 de outubro, o jornal antiperonista Critica denunciava as
manobras peronistas na propaganda da greve geral, chamada pela CGT para o dia 18 do mesmo mês. O
jornal informava sobre os “comunicados de numerosas organizações operárias autênticas que
desautorizavam a greve nazi-fascista”. Ver Editorial, (Critica, 17/10/1945; tradução da autora). O jornal
La Acción de San Juan, em 18 de outubro de 45, publicou uma nota informando sobre as manifestações
ocorridas no dia anterior em Buenos Aires. Ao lado da coluna que descrevia detalhes da concentração, em
frente à Casa Rosada, de pessoas que exigiam a liberdade de Perón, a “Unión Obrera” local deu a
conhecer, em comunicado, que elementos nazistas da Secretaria de Trabalho e Previsão e outros
valentões, apoiados pela polícia, tinham tratado de realizar a paralisação de todas as atividades do país em