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ELEMENTOS DA MARCA “CIDADE ECOLÓGICA” EM
CURITIBA (BRASIL) E KITAKYUSHU(JAPÃO)
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM GESTÃO URBANA
ELIANE HARUMI SAKAMOTO
ELEMENTOS DA MARCA “CIDADE ECOLÓGICAEM
CURITIBA (BRASIL) E KITAKYUSHU (JAPÃO)
CURITIBA
2007
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ELIANE HARUMI SAKAMOTO
ELEMENTOS DA MARCA “CIDADE ECOLÓGICAEM
CURITIBA (BRASIL) E KITAKYUSHU (JAPÃO)
Dissertação apresentada como
requisito para a obtenção do Título de
Mestre em Gestão Urbana. Programa
de Pós-Graduação em Gestão Urbana,
Setor de Ciências Exatas e de
Tecnologia da Pontifícia Universidade
Católica do Paraná.
Orientador: Prof. Dr. Carlos Hardt
CURITIBA
2007
Sakamoto, Eliane Harumi
S158e Elementos da marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu
2007 (Japão) / Eliane Harumi Sakamoto ; orientador, Carlos Hardt. – 2007.
116 f. : il. ; 30 cm
Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná,
Curitiba, 2007
Inclui bibliografia
1. Planejamento urbano. 2. Meio ambiente – Curitiba (PR). 3. Meio ambiente
– Kitakyushu (Japão). I. Hardt, Carlos. II. Pontifícia Universidade Católica do
Paraná. Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana. III. Título.
CDD 20. ed. – 711.4
304.25
TERMO DE APROVAÇÃO
“ELEMENTOS DA MARCA “CIDADE ECOLÓGICA” EM CURITIBA (BRASIL) E
KITAKYUSHU (JAPÃO)”
Por
ELIANE HARUMI SAKAMOTO
Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre no
Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana, área de concentração em Gestão
Urbana, do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia, da Pontifícia Universidade
Católica do Paraná.
Prof. Dr. Denis Alcides Rezende
Diretor do Programa - PUCPR
Prof. Dr. Carlos Hardt
Orientador - PUCPR
Prof. Dr. Fábio Duarte de Araújo Silva
Membro - PUCPR
Prof. Dr. Pedro de Novais Lima Junior
Membro Externo - UFJF
Curitiba, 31 de agosto de 2007.
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
A Sakamoto, Olga e Cristiano, dedico.
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
AGRADECIMENTOS
A todos que de alguma forma ajudaram a enfrentar este desafio e a tornar este
trabalho uma realidade.
Ao meu orientador Prof. Dr. Carlos Hardt, que sempre acreditou em meu trabalho,
incentivando e compartilhando seu precioso tempo e conhecimento.
Aos professores do mestrado em Gestão Urbana, pelo conhecimento repassado,
aulas ministradas e discussões de vários assuntos, contribuindo para a consolidação
deste trabalho, em especial a Letícia Peret Antunes Hardt, Fabio Duarte de Araújo
Silva, Klaus Frey, Clovis Ultramari, Denis Alcides Rezende e Harry Alberto Bollmann.
À Tahise Negro Marques, pela atenção, paciência e tranqüilidade, sempre solícita,
nos mais variados momentos desta caminhada.
À equipe da Prefeitura Municipal de Curitiba, sobretudo a Sergio Galante Tocchio,
Leny Toniolo, Elaine Guedes Nunes, Cinthia Fernandes de Paula, Gisele dos Anjos
e Dâmaris Seraphim, e à equipe da Prefeitura de Kitakyushu, principalmente ao
Professor Naoshi Kawabata, Hirotoshi Kakisako e Reiji Hitsumoto, pelas informações
divididas, material cedido e atenção dispensada.
Aos colegas do mestrado, pela amizade e pelas discussões diversas, que ajudaram
a enriquecer esta pesquisa, especialmente à Elisabete Tieme Arazaki, que acreditou
em meu trabalho e me incentivou nesta trajetória.
À equipe de Ecotécnica, pelo apoio e torcida, principalmente à Mari Kajihara. Hitoshi
Nakamura e Sandra Mayumi Nakamura, pela atenção dispensada e contribuições
para a realização deste trabalho.
Às famílias Sakamoto e Lima, pelo apoio incondicional e pela presença.
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
RESUMO
A necessidade do desenvolvimento econômico calcada em ações preocupadas com
o meio ambiente, fez com que algumas cidades implementassem políticas
específicas visando criar uma imagem para se inserir no cenário internacional como
ambientes favoráveis ao recebimento de investimentos no setor produtivo. No
sentido de investigar a implementação destas políticas, a presente pesquisa objetiva
analisar os elementos que contribuíram para o estabelecimento da marca “Cidade
Ecológica” de Curitiba, no Brasil, e Kitakyushu, no Japão. Utiliza-se da abordagem
qualitativa, baseando-se na pesquisa exploratória e descritiva. Curitiba e Kitakyushu
são duas cidades situadas em países de culturas diferentes que iniciaram o
processo de inserção como “Cidade Ecológica” na década de 1970 e em 1990
receberam o prêmio máximo da Organização das Nações Unidas para o Meio
Ambiente. Com políticas fundamentadas na produção de parques e de coleta
seletiva de resíduos sólidos, Curitiba utilizou-se do tema ambiental, com atitudes
simples, para aproximar-se da população, que incorporou as atitudes de separação
dos resíduos recicláveis no cotidiano. Kitakyushu sofreu intensa degradação
ambiental devido à forte industrialização no período pós-guerra e, graças à
reivindicação das mães residentes, fez uso de estratégias de recuperação do meio
ambiente e reciclagem de resíduos, sendo intitulada ‘Eco Town’ pelo governo
japonês. A sua renovação urbana foi possível devido às parcerias do governo com a
comunidade e iniciativa privada, produzindo tecnologias de controle ambiental e de
reciclagem de materiais. Ambas as cidades souberam aproveitar o período histórico
em que as questões ambientais estavam emergentes e com suas iniciativas de
conservação ambiental tiveram sua imagem veiculada internacionalmente. Da
análise dos dois casos, inferiu-se que, apesar das particularidades em relação às
causas e ao processo de implementação das estratégias, a marca de cidade foi
fundamental para a inserção das mesmas no contexto mundial.
Palavras-chave: Cidade Ecológica. Planejamento Urbano. Marca de Cidade.
Curitiba (Brasil). Kitakyushu (Japão).
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
ABSTRACT
The necessity of economic development in an environmental concerned basis, made
that some cities have implemented specific politics to create an image that insert
itself in the international scene as favorable places to receive investments in
productive sector. In order to investigate the implementation of these politics, this
research intent is to evaluate the elements that were essential to establish the
"Ecological City” mark in Curitiba, Brazil, and Kitakyushu, Japan. Using a qualitative
approach, this case study utilizes two examples to proceed the investigation with the
dimensional multiplicity of one fact, basing itself in the exploratory and descriptive
research. Curitiba and Kitakyushu are two cities located in different countries with
different cultures that began their placing process as “Ecological City” in the 1970`s
and that in 1990 received the United Nations Environment Programme maximum
award. With park building and selective waste collecting politics, Curitiba used the
environmental theme with simple attitudes to get closer to the population, that
incorporated the selective waste collecting to their habits. Kitakyushu suffered
intense environmental degradation due an intensive industrialization in the postwar
period and started, thanks to local housewives claim, to use environmental recovery
strategies and residue recycling. Its urban renewal became possible with
partnerships involving the government, local communities and the local industry,
developing technologies of environmental control and waste recycling. Both cities
were able to take the opportunity as the environmental issues were emerging and,
with its initiatives, had their images published internationally. With analysis of these
two cases, is possible to conclude that, despite the particularities in relation to its
causes and strategies implementation process, the city mark was essential to include
these cities in a global context.
Keywords: Ecological City; City Planning; City Mark; Curitiba (Brazil); Kitakyushu
(Japan)
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Relação dos conceitos da fundamentação teórica.....................................16
Figura 2: Estrutura da Pesquisa................................................................................36
Figura 3: Localização da cidade de Curitiba .............................................................38
Figura 4: Plano das Avenidas de Agache, em 1943..................................................40
Figura 5: Esquema de verticalização em Curitiba, apresentada em 1975 ................41
Figura 6: Paisagem da cidade de Curitiba, a partir da Torre da Telepar, com a
verticalização do Eixo Estrutural. .............................................................................42
Figura 7: Vista do lago do Parque Barigüi, a partir da Torre da Telepar...................47
Figura 8: Jardim de entrada do Jardim Botânico.......................................................48
Figura 9: Ópera de Arame, vista da entrada .............................................................49
Figura 10: Ópera de Arame, vista do lago.................................................................49
Figura 11: Parque Tanguá ........................................................................................50
Figura 12: Parque Iguaçu..........................................................................................51
Figura 13: Vista do Parque das Nascentes do Rio Belém.........................................52
Figura 14: Centro de Referência das Águas, no Parque das Nascentes do Rio Belém
..................................................................................................................................52
Figura 15: Portão de entrada do Passeio Público.....................................................53
Figura 16: Vista aérea do Parque São Lourenço ......................................................54
Figura 17: Vista aérea do Parque Tingui...................................................................55
Figura 18: Universidade Livre do Meio Ambiente......................................................56
Figura 19: Vista da edificação da UNILIVRE.............................................................56
Figura 20: Caminhão da coleta seletiva de Curitiba..................................................61
Figura 21: Marcador que indica o número de árvores poupadas com o Programa
“Lixo que não é Lixo.................................................................................................62
Figura 22: Grupo Separe, novos personagens do “Lixo que não é Lixo”..................63
Figura 23: Painel sobre meio ambiente em exposição na Rua XV, no evento
COP8/MOP3, em 2006 .............................................................................................65
Figura 24: Ilha digital com informações sobre Curitiba na Rua XV, no evento
COP8/MOP3, em 2006 .............................................................................................65
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 25: Localização da Cidade de Kitakyushu......................................................69
Figura 26: Yahata Steel Works, instalada em Kitakyushu em 1901..........................71
Figura 27: Localização da Baía de Dokai..................................................................72
Figura 28: “Mar da Morte”, como ficou conhecida a Baía de Dokai, na década de
1960 ..........................................................................................................................72
Figura 29: ‘Arco-íris de fumaça’, como ficou conhecido o céu de Kitakyushu, na
década de 1960.........................................................................................................73
Figura 30: Gráfico relacionando o desenvolvimento econômico com a poluição
ambiental, no período de 1960 a 1980......................................................................75
Figura 31: Gráfico dos investimentos dos setores privado e público na recuperação
ambiental no período de 1972 a 1991.......................................................................77
Figura 32: Estratégia de Kitakyushu para a Promoção da Indústria Ambiental.........78
Figura 33: Projeto Eco Town: Área de Hibikinada.....................................................80
Figura 34: Área de Pesquisas da Eco Town. ............................................................81
Figura 35: Complexo Ambiental – Complexo de Reciclagem Hibiki..........................83
Figura 36: Empresas instaladas na Segunda Fase da Eco Town, em 2006.............84
Figura 37: Localização do Museu Ambiental de Kitakyushu. ....................................85
Figura 38: Vista do Museu Ambiental de Kitakyushu. ...............................................86
Figura 39: Exposição sobre a história de Kitakyushu................................................87
Figura 40: Painel sobre a relação da cidade e meio ambiente natural......................87
Figura 41: Vista da cidade de Kitakyushu, nos dias atuais. ......................................92
Figura 42: Vista do céu azul de Kitakyushu, nos dias atuais.....................................92
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
LISTA DE QUADROS E TABELAS
Quadro 1: Quadro Comparativo das taxas de crescimento entre Brasil, Região
Sul, Cidade de São Paulo e Curitiba na década de 1950 .........................................40
Quadro 2: Resultados do Programa Olho D´Água, nos anos de 2000 e 2001..........59
Quadro 3: Resultados da Compra do Lixo, dos anos de 2000 e 2001......................64
Quadro 4: Resultados do Câmbio Verde, dos anos de 2000 e 2001 ........................64
Tabela 1: Protocolo de análise..................................................................................33
Tabela 2: Modelo de matriz interpretativa dos elementos relacionados com a marca
“Cidade Ecológica”....................................................................................................35
Tabela 3: Intercâmbio internacional, no período de 1986 a 2005..............................89
Tabela 4: Matriz interpretativa dos elementos relacionados com a marca “Cidade
Ecológica” em Curitiba e Kitakyushu.........................................................................93
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
LISTA DE ABREVIATURAS
APA Área de Proteção Ambiental
CIAM Congresso Internacional de Arquitetura Moderna
CO
2
Dióxido de carbono
COP Conferência das Partes da Conservação sobre a Biodiversidade Biológica
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IGES Institute for Global Environmental Strategies
IPPUC Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba
JICA Japan International Cooperation Agency
KITA Kitakyushu International Techno-cooperation Agency
km Quilômetro
km² quilômetro quadrado
m Metro
m² Metro quadrado
mg/l miligrama por litro
MOP Reunião das Partes do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança
ONG Organização não-governamental
ONU Organização das Nações Unidas
PET Politereftalato de etila
PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
RMC Região Metropolitana de Curitiba
SEMA Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Paraná
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação
UNEP United Nations Environment Programme
UNILIVRE Universidade Livre do Meio Ambiente
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
SUMÁRIO
1. Introdução..........................................................................................................10
2. Abordagem Teórico-Conceitual..........................................................................16
2.1. O Novo Espaço Urbano ..........................................................17
2.2. Planejamento Municipal e Gestão Urbana..............................19
2.3. Marca de cidade......................................................................25
3. Metodologia........................................................................................................29
4. “Cidade Ecológica”: Curitiba...............................................................................37
4.1. Processo de urbanização........................................................38
4.2. Sistema de Áreas Verdes........................................................43
4.2.1. Parques: ícones da cidade...............................................46
4.3. Educação Ambiental ...............................................................57
4.4. Divulgação de Curitiba “Cidade Ecológica”.............................66
5. “Cidade Ecológica”: Kitakyushu .........................................................................68
5.1. Processo de industrialização...................................................70
5.2. Recuperação Ambiental..........................................................74
5.2.1. Projeto Eco Town .............................................................78
5.3. Educação Ambiental ...............................................................84
5.3.1. Museu Ambiental de Kitakyushu ......................................85
5.4. Cooperações Internacionais....................................................88
5.5. Reconhecimento Internacional................................................90
6. Análise Sintético-Comparativa ...........................................................................93
7. Conclusões ......................................................................................................101
8. Referências......................................................................................................105
ANEXO A: ÁREAS VERDES DE CURITIBA...........................................................111
ANEXO B: BOSQUES E PARQUES DE CURITIBA ..............................................113
10
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
1. INTRODUÇÃO
A economia não é o único campo que sofreu conseqüências com o
fenômeno da globalização. O espaço urbano e sua produção, assim como a
consolidação das políticas urbanas, também estão refletindo estas mudanças
(SÁNCHEZ, 2001). Como resposta a este fenômeno, o planejamento municipal deve
garantir a melhor qualidade de vida aos seus cidadãos, repensando a cidade e
formulando estratégias inovadoras para inseri-las num contexto mundial, sem deixar
de lado a questão local (DOWBOR, 1998). Uma das estratégias adotadas pelos
municípios para se alcançar a sustentabilidade da inserção internacional é o uso da
imagem de cidade, que reflete a qualidade de vida urbana oferecida ao cidadão, e
sua conseqüente divulgação. Neste contexto, segundo Ultramari e Duarte (2006), há
um grupo de cidades que se destaca por suas iniciativas ambientais, configurando-
se em cidades globalizadas com capacidade de atrair atores relevantes da economia
mundial. Objetivando inserir-se neste contexto, tem-se Curitiba, no Brasil e
Kitakyushu, no Japão, que alcançaram posição privilegiada perante o cenário
mundial, com a implementação de ações evidenciando a conservação e preservação
ambiental, sendo citadas em periódicos de circulação internacional. Em 1990,
Curitiba e Kitakyushu receberam o “Global 500 Award”
1
, do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente, um grande reconhecimento das Organizações das
1
Trata-se de um prêmio concedido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, prêmio
máximo na área ambiental, para indivíduos e organizações como reconhecimento às boas iniciativas
ambientais. Segundo o UNEP (2007), “Fornece prestígio mundial e atrai público, mídia e apoio
político”, além de se tornar um modelo para a população jovem.
11
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Nações Unidas. Curitiba passou a ser conhecida com o título de “Cidade Ecológica”.
Kitakyushu ainda ganhou a certificação do governo japonês de Eco Town, em 1992
e teve suas iniciativas citadas no Relatório de Joanesburgo, no Rio +10
2
, em 2002
(CURITIBA, 2007a; KITAKYUSHU, 2003c; CITY AND LIFE, 2003).
A identificação das variáveis utilizadas por estas duas cidades de
realidades distintas para a construção de uma imagem relacionada com a questão
ecológica poderá trazer contribuições relevantes para o planejamento e gestão
urbanos. Vários são os autores que discutem o uso do modelo de planejamento
urbano-ambiental e a divulgação de práticas bem sucedidas utilizados pelas
cidades, tais como City and Life (2003), Institute for Global Environmental Strategies
(2001; 2003), Menezes (1996), Moura (2001), Rogers e Gumuchdjian (1997),
Sánchez (1997; 2001), Sánchez e Moura (2005), Walsh (2006), entre outros.
Neste sentido, propõe-se a discussão dos projetos e programas
relacionadas com a criação da marca ‘Cidade Ecológica’, comparando os casos de
Curitiba, no Brasil, e Kitakyushu, no Japão. Ambas com a intenção de incrementar o
desenvolvimento da cidade e de se inserir na esfera global como cidades sociais e
ambientalmente sustentáveis. Para tanto, são considerados os últimos 30 anos do
século XX, período em que ambas as cidades se dedicaram à construção desta
imagem. Acredita-se que o estudo analítico destas experiências pode subsidiar a
atividade de planejamento e gestão municipais.
Segundo Moura (2001, p.215), “a imagem urbana construída
transforma o imaginário da cidade instalando, no nível da consciência social, o
desejo de uma ‘nova cidade’, que se sustenta na veiculação de uma paisagem
2
Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, realizada em
Joanesburgo, dez anos depois da Conferência da Terra, do Rio de Janeiro.
12
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
urbana articulada com um novo imaginário social.” A visão de Moura é reforçada por
Sánchez (2001) ao defender que o marketing de Curitiba foi a construção de uma
“imagem pasteurizada”, não condizente com a realidade. Por outro lado, Tocchio
(2006), Diretor de Parques e Praças da Prefeitura de Curitiba, afirma que “a imagem
de ‘Capital Ecológica’ não é artificial, pois, se fosse, não teria se consolidado”. Isto
ocorre, segundo ele, porque a comunidade já se apropriou desta idéia. Técnicos
envolvidos no processo de construção e consolidação desta imagem de cidade,
como é o caso de Tocchio (2006), Nakamura (2007) e Toniolo (2006), citados neste
documento, contestam a idéia da pasteurização da imagem citada anteriormente,
talvez pela proximidade a esta problemática, não alcançando o distanciamento
necessário para a análise crítica. A continuidade administrativa do grupo político que
esteve à frente da prefeitura municipal por quatro gestões
3
pode ter facilitado a
implementação da marca ‘Cidade Ecológica’, segundo Moura (2001).
Em Kitakyushu, segundo a própria prefeitura (KITAKYUSHU, 2003c), a
renovação urbana e a conseqüente consolidação da marca “Cidade Ecológica”, foi
possível através das parcerias firmadas. A cidade de Kitakyushu, como todo o país,
sofreu uma industrialização rápida, deixando um rastro de degradação ambiental e
sérios problemas de saúde nas crianças. A partir daí, as mães formaram um
movimento para reivindicar medidas de recuperação ambiental. Com o slogan “nós
queremos nosso céu azul de volta”, mobilizaram governo local, empresas privadas,
residentes e comunidade acadêmica. Assim, o governo local criou políticas e
programas como resposta. O setor privado passou a cuidar de seus resíduos e a
3
Grupo político do qual fazem parte Jaime Lerner, Rafael Greca de Macedo e Cassio Taniguchi, que
esteve à frente da Prefeitura Municipal de Curitiba, de 1989 a 2004, ininterruptamente. Ainda, há que
se ressaltar que Jaime Lerner foi prefeito de Curitiba nas gestões de 1971 a 1974 e 1979 a 1983.
(CURITIBA, 2007a)
13
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
adotar novas tecnologias e processos para uma produção mais limpa. As novas
tecnologias introduzidas são desenvolvidas pelas universidades e centros de
pesquisas locais, com o devido incentivo da administração municipal.
Em comum, além da marca adotada, as duas cidades têm os pactos e
parcerias que firmaram com o setor privado e com a comunidade, cada qual com um
grau de envolvimento e de maneira diferentes. Além disso, o papel do governo como
liderança significativa neste processo foi fundamental em ambos os casos.
Diante deste contexto, este estudo tem como objetivo principal
analisar a estruturação dos elementos que contribuíram para o estabelecimento da
marca “Cidade Ecológica” em Curitiba, no Brasil, e em Kitakyushu, no Japão. Para a
consolidação da análise tem-se como objetivos específicos:
- conceituar e relacionar gestão e planejamento urbanos com a marca
de cidade;
- analisar o papel de programas e projetos específicos relacionados à
marca de cidade;
- identificar os elementos constantes no processo de promoção da
marca ‘Cidade Ecológica’ para Curitiba e Kitakyushu.
Para a primeira parte do trabalho, utilizando-se do levantamento
bibliográfico, é demonstrado que, com a globalização, passou-se a discutir a
competitividade das cidades e a necessidade de sua inserção neste ambiente. Com
isso, o planejamento e gestão urbanos, assim como a formulação de políticas e
programas, mudaram o enfoque de suas ações e incluíram a adoção de “marca da
cidade” para incrementarem seu desenvolvimento.
14
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Posteriormente, procede-se à avaliação do papel de programas e
projetos específicos relacionados à marca de cidade. O enfoque são as políticas e
programas ambientais, as áreas verdes urbanas, em especial os parques de
Curitiba, os ícones de cada cidade e a educação e comunicação ambiental. Além
disso, dá-se um enfoque especial ao Projeto Eco Town de Kitakyushu, devido à sua
importância no contexto, por ter sido um dos projetos que serviram de base para
desenvolver a proposta de alteração da imagem da cidade. As pesquisas
bibliográfica e documental orientam a identificação dos programas e projetos
relacionados e dos resultados obtidos. A validação das informações dá-se através
de material obtido na visita realizada pela autora em 2004 à cidade de Kitakyushu,
quando foram realizadas visitas técnicas orientadas e entrevistas com diversos
órgãos e instituições envolvidos no processo de reversão da situação ambiental dos
anos pós-guerra. Informações complementares do município de Kitakyushu foram
obtidas mais recentemente por intermédio dos contatos pré-estabelecidos. Quanto
ao caso curitibano, as informações foram obtidas por meio da realização de
entrevistas e visitas de campo que se mostraram necessárias. Destaca-se a opção
pelo discurso oficial de cada governo, já que se pretende delinear e entender os
elementos de fixação da marca de cidade a partir da iniciativa, ou não, da
administração pública. Assim, não faz parte desta pesquisa a discussão sobre os
méritos concretos do atingimento de parâmetros efetivos relacionados à ecologia
urbana muito menos sobre o processo de participação democrática na construção
da marca. Estas temáticas surgem como sugestões de estudos que enriquecerão a
discussão sobre este assunto.
15
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Por fim, relacionam-se os elementos constantes no processo de
promoção da marca de cidade de Curitiba e Kitakyushu. Com isso, pretende-se dar
contribuições para o planejamento e gestão municipais, uma vez que ambas as
cidades se firmaram como “Cidades Ecológicas”.
16
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
2. ABORDAGEM TEÓRICO-CONCEITUAL
O espaço urbano reflete as mudanças na sociedade, e, tal qual afirma
Dowbor (1998, p.28): “A globalização constitui ao mesmo tempo uma tendência
dominante neste fim de século, e uma dinâmica diferenciada.” Assim, a relação entre
as mudanças no mundo e o espaço urbano influencia o modo de planejar e gerir a
cidade, trazendo novos conceitos e novas visões. Neste contexto, a preocupação
com a imagem da cidade no cenário internacional passa a ser um viés importante na
administração pública. E, com isso, a adoção de marca para a cidade desponta
como uma das estratégias adotadas no planejamento municipal e gestão urbana.
Assim, esta fundamentação teórica compreende os conceitos de Novo
Espaço Urbano; Planejamento Municipal e Gestão Urbana, e Marca de Cidade,
conforme a relação da Figura 1.
Figura 1: Relação dos conceitos da fundamentação teórica
17
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
2.1. O Novo Espaço Urbano
Segundo Lopes (1998), após o crescimento significativo das cidades no
século XX, o fenômeno da globalização tornou a cidade como o centro gerador do
desenvolvimento da humanidade. As cidades tornaram-se receptoras, contenedoras
e responsáveis por solucionar os problemas sociais. A cidade representa o ‘ponto
modal dos fluxos globais’ (LOPES, 1998).
A globalização é usada como emblema para o entendimento do mundo
moderno (SÁNCHEZ, 2001), mostrando cada vez mais a importância que o
capitalismo tem no cotidiano atual. Afinal, a produção da cidade está intimamente
relacionada com a economia e o modo de produção vigente (SINGER, 1983). De tal
forma que é possível identificar as características urbanas de cada época histórica
analisando-se o modo de produção correspondente. O desenho da cidade se
modifica de acordo com as necessidades sociais e econômicas de cada período.
Com isso, as relações dentro e fora da cidade também se tornam diversas.
A partir da Segunda Guerra Mundial, passou-se a intensificar as
relações sociais internacionais em escala mundial, criando uma interdependência
política, militar, econômica e comunicacional. Nos anos 1950 as corporações
multinacionais surgem e as redes de comunicação em massa passam a se formar a
partir da década de 1960. Nos anos 1980, o processo de globalização se evidencia
de sobremaneira. As empresas passam a se dispersar espacialmente e criam novas
formas de gerenciamento e de campos de produção e mercados financeiros. O
sistema comunicacional também foi atingido, fazendo com que os fluxos de
informações fossem ampliados junto com os fluxos econômicos. (MENEZES, 1996)
18
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
A globalização trouxe grandes desafios para as administrações
públicas. A característica mais importante deste fenômeno, segundo Lopes (1998) é
a estruturação em rede, com espaço de fluxos, fazendo com que a transformação
causada seja tanto cultural quanto social. Enquanto os fluxos possuem uma escala
mundial, os instrumentos de regulação permanecem no âmbito local, conforme
Dowbor (1998). Este autor diz que a desarticulação entre o campo de atuação local
e o campo técnico mundial resulta em
(...) descompasso entre a rapidez da evolução das técnicas, e a relativa
lentidão das transformações institucionais, gerando uma ampla esfera
econômica mundial sem controle ou regulação, e uma perda
generalizada de governabilidade no planeta (DOWBOR, 1998, p. 29)
Com tudo isso, surge o local como “elo formador e condicionante da
sociedade em rede” (LOPES, 1998, p.26), ou seja, o local torna-se o centro da
gestão do global. Assim, o autor diz que as cidades, como locais de concentração e
integração de atividades e pessoas, são onde os desafios da globalização se
materializam. Como concentração entenda-se a relação entre regional, nação,
cidade e indivíduo. A integração deve ser competitiva, tanto física quanto cultural. E,
seguindo a afirmativa de Porter (1993, p.21): “deve-se partir da premissa de que a
competição é dinâmica e evolui.”, tanto o planejamento quanto a questão da
publicidade das cidades devem ser dinâmicos.
A globalização é hierarquizada e elitiza a economia mundial, de acordo
com o poder econômico e tecnológico (DOWBOR, 1998). O autor aconselha que
para o alcance global do sucesso, o espaço nacional e/ou local deve estar bem
organizado. Ou seja, há que se fortalecer a base interna para a sustentabilidade da
inserção internacional. É necessário admitir que nem tudo se globalizou, como é de
costume anunciar:
19
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Daí a necessidade de substituirmos a visão de que ‘tudo se globalizou’,
por uma melhor compreensão de como os diversos espaços do nosso
desenvolvimento se diferenciaram e se rearticulam, cada nível
apresentando os seus problemas e as suas oportunidades, e a
totalidade representando um sistema mais complexo. (DOWBOR, 1998,
p.30)
2.2. Planejamento Municipal e Gestão Urbana
É inegável que a inter-relação global tenha trazido muitos avanços à
sociedade que passou a apresentar novas necessidades e novas consciências
acerca de sua relação com o ambiente e com o mundo. Com tudo isso, as teorias
inerentes ao tema também precisaram ser adaptadas para esta nova realidade,
exigindo-se um novo entendimento da função que o planejamento e gestão das
cidades assumem neste contexto. Para entender este processo, há que se remeter
aos conceitos de planejamento municipal e gestão urbana.
Dentre os variados conceitos formulados, o planejamento pode ser
traduzido como instrumento para harmonizar a eqüidade social, sustentabilidade
ecológica, eficácia econômica, aceitabilidade cultural e distribuição espacial
equilibrada das atividades e dos assentamentos humanos (MENEZES,1996). Em
termos territoriais, segundo o autor, deve orientar a localização das atividades e
ordenar o uso dos recursos naturais para a continuidade da expansão econômica e
busca da qualidade de vida.
O planejamento nada significa sem uma gestão adequada e
responsável. É importante ressaltar que a gestão está ligada à administração das
situações diversas dentro dos recursos disponíveis e de acordo com as
necessidades imediatas (SOUZA, 2004). O autor ainda esclarece que “Planejamento
20
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
e gestão são distintos e complementares” (SOUZA, 2004, p.46), contrapondo a idéia
de que sejam conceitos antagônicos ou concorrentes.
De fato, a gestão urbana é imprescindível para que o planejamento
seja implementado. Para Hardt (2000), a gestão diz respeito ao processo de
determinar diretrizes para o futuro, tratando-se de um procedimento contínuo,
dinâmico e integrado, que envolve as mudanças de um sistema em evolução.
Segundo a autora, este processo de gestão engloba três fases, a saber:
- referenciação, no qual se traça um modelo referencial, através da
definição de conceitos e critérios, objetivos e técnicas;
-desenvolvimento, que compreende a análise da situação atual,
proposição de diretrizes e o prognóstico, com o delineamento de cenários futuros; e,
-implementação, representando a fase de concretização das propostas,
envolvendo a viabilização executiva e/ou política das propostas, o monitoramento e
fiscalização das ações e do processo de gestão, e a revisão e atualização constante
das diretrizes adotadas.
Hardt (2000) ainda afirma que a fase da implementação caracteriza a
dinâmica do processo de gestão e permite ajustes constantes para alcançar a
qualidade ideal recomendada.
Da mesma forma, o planejamento urbano e as políticas públicas estão
intimamente ligados, tal qual afirma Lopes (1998, p.71): “É preciso entender que o
planejamento é um processo político, e as ações estratégicas não são só
cientificamente ou tecnicamente corretas, mas também politicamente apropriadas”.
Sendo política uma palavra que se refere diretamente à pólis, segundo Bobbio,
Matteucci e Pasquino (1992, p.954), pode-se dizer que a política, desta forma, torna-
21
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
se uma destas ferramentas para a efetivação do planejamento municipal e gestão
urbana. A política é uma forma de intervenção na sociedade orientada para
promover o bem-estar de segmentos sociais, principalmente os mais destituídos,
devendo ser um mecanismo de eqüidade social (SILVA, 2001, p.38ss; BARREIRA,
2000). Neste sentido, Maricato (2000, p.168) reforça que “As políticas urbanas,
ignoradas por praticamente todas as instituições, cobram um papel importante na
ampliação da democracia e da cidadania.” Na realidade, a cidade democrática deve
ser uma conquista permanente, significando uma constante confrontação de valores
e interesses, segundo Borja (2005). Porém, para que isto aconteça, deve-se evitar o
uso da legislação como instrumento para o exercício arbitrário do poder, sem
condizer com os interesses coletivos. Quando da sua elaboração, deve-se começar
por elencar os problemas que chamam a atenção do governo e que podem se
transformar em questão social para, assim, tornar-se política (SILVA, 2001).
Com as mudanças no mundo econômico, as referências da questão
urbana também mudam. Arantes (2000) diz que, por definição, o planejamento
urbano deveria disciplinar a economia e o crescimento e que, no entanto, estava
perdendo o perfil de racionalidade. A racionalidade é a tônica da afirmação de
Ferrari (1979) ao definir planejamento como um método baseado nela para a
seleção de alternativas para atingir determinadas finalidades. Vainer (2000)
acompanha o raciocínio de Arantes, ao dizer que temas como crescimento urbano
desordenado, reprodução da força de trabalho, equipamentos de consumo coletivo,
movimentos sociais urbanos e racionalização do uso do solo deixam de estar em
evidência.
22
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
O mesmo autor afirma que a competitividade urbana passa a ser a
tônica das discussões, sendo divulgada por agências de cooperação e instituições
multilaterais, como ONU e Banco Mundial, na forma de exemplos de cidades e
modelos de planejamento urbano. No entanto, o aumento da competição entre
lugares deveria levar à produção de espaços mais variados no âmbito da crescente
homogeneidade da troca internacional, segundo Harvey (1992). Assim, o autor
lamenta que a competitividade acabe gerando lugares quase idênticos em termos de
ambientes em diferentes cidades, a partir de padrões ou modelos conhecidos ou
difundidos. Porter (1993) diz que a cidade ou nação não são competitivas por si só,
mas deve-se esta competição aos empreendimentos instalados em seu território.
Logo, a cidade é tão competitiva quanto as possibilidades que seu espaço oferece a
determinados setores empresariais, industriais ou de interesse das agências
multilaterais.
A existência de liderança urbana forte é imprescindível para o sucesso
da implementação das políticas da cidade no mundo capitalista (VAINER, 2000). O
autor diz que esta liderança é representada pela administração pública e
personificada na figura do prefeito municipal, que, no caso da cidade-mercadoria,
toma o perfil de prefeito-empresário. O caso curitibano ilustra esta afirmação visto
que o grupo político que idealizou e comandou o processo de criação da marca de
cidade governou o município por 16 anos ininterruptos a partir da década de 1980,
tendo ficado à frente da prefeitura anteriormente por 9 anos, divididos em duas
gestões.
23
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
O novo modelo de planejamento traz novos atores. Com o capitalismo
(ou mercado
4
), o conceito de que a administração pública deve se assemelhar à
administração de um negócio ganhou mais espaço nas discussões. Porém,
Mintzberg (1998) contra-ataca afirmando que a sociedade não se restringe a ocupar
a função de meros consumidores e clientes. Seus direitos e deveres extrapolam isto.
O fato é que, em vez disso, os indivíduos devem ser considerados cidadãos e se
portar como tal. Daí aparece uma outra classificação: a dos indivíduos de acordo
com os seus papéis. As atividades oferecidas pelo governo condicionam esta
classificação. Consumidores e cidadãos possuem um tipo de relacionamento estreito
com o governo, ou seja, para ambos o poder público disponibiliza serviços. Neste
contexto, a comunidade de Kitakyushu deixou de ser meros consumidores e clientes
das políticas do governo local para exercer seus direitos como cidadãos, exigindo de
sua administração atitudes para melhorar a qualidade de vida. Desta forma, o
governo da cidade japonesa investiu na recuperação ambiental e aproveitou este
processo para se projetar como “Cidade Ecológica” e se inserir no mercado mundial.
Assim, surgem também novos termos, que, segundo Arantes (2000),
começam a ser difundidos, como a ‘revitalização urbana’ que juntamente com as
‘parcerias’ entre setor público e iniciativa privada, ‘alavancam’ o crescimento da
cidade. Vainer confirma isso dizendo que: “A parceria público-privada assegurará
que os sinais e interesses do mercado estarão adequadamente presentes,
representados, no processo de planejamento e gestão.” (VAINER, 2000, p.87).
Porém, Dowbor (1998) contrapõe esta visão, afirmando que as parcerias e outras
4
O sentido de mercado, quando aplicado ao meio urbano, segue a afirmativa de Dowbor, que diz que
estas forças de mercado são “dimensão política do poder que resulta da concentração econômica”,
representadas pelo grupo de “transnacionais que exercem poder político e econômico de forma
articulada e organizada.” (DOWBOR, 1999, p.9)
24
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
articulações sociais podem ser usadas para a recuperação do espaço econômico e
da dimensão da cidadania local.
O ideal é que a competição seja vista de forma ampla para que se
torne uma força motriz do desenvolvimento socioeconômico urbano, tal qual afirma
Lopes (1998). O autor ainda diz que o espaço local, com a sua estruturação social e
cultural, representa o diferencial das cidades nesta competição. Porter confirma a
visão de Lopes, ao afirmar que “as diferenças nacionais de caráter e cultura, longe
de estarem ameaçadas pela competição global, são fundamentais para o sucesso
dela.” (PORTER, 1993, p.32). Desta forma, a gestão local deve ter uma visão global
para definir e implantar estratégias competitivas. (LOPES, 1998)
No entanto, Arantes critica a competitividade econômica das cidades,
conforme abaixo:
(...) participação ativa nas redes globais via competitividade econômica,
obedecendo portanto a todos os requisitos de uma empresa gerida de
acordo com princípios da eficiência máxima, e prestação de serviços
capaz de devolver aos seus moradores algo como uma sensação de
cidadania.( ARANTES, 2000, p.47).
Desta forma, segundo a autora, as administrações públicas investem
em equipamentos urbanos como patrimônio e que têm o papel de imagem
publicitária. De fato, o mundo capitalista traz a cidade como empreendimento e suas
imagens de cidade supostamente representam seu modo de vida.
Apesar de tudo, o planejamento ainda é o que garante a justiça social e
um futuro melhor para as cidades, tal qual afirma Maricato, apesar de tudo:
“Concluímos portanto que, apesar da história referida e do descrédito (...) Não há
como vislumbrar um futuro melhor para as cidades brasileiras sem planejamento.”
(MARICATO, 2000, p. 178).
25
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
2.3. Marca de cidade
O desenvolvimento da cidade pode ser mensurado por sua capacidade
de atrair novos investimentos, gerando fluxo de capital, impulsionando para o
desenvolvimento e, assim, satisfazendo a sua população. E, assim, para atrair
investimentos e adquirir visibilidade internacional, a publicidade, juntamente com a
marca de cidade, passa a fazer parte do cotidiano urbano. A partir dos anos 90, os
governos passam a utilizar estratégias para divulgar a qualidade da cidade,
transformando-as em mercadoria (SÁNCHEZ, 2001).
O novo conceito de cidade-mercadoria representa a negociação do
espaço não só localmente, mas em escala internacional. Porém, há que se admitir
que a cidade seja um artigo complexo de se vender. “Nestas condições, o que é
que, afinal de contas, se vende quando se põe à venda uma cidade?”, questiona
Vainer (2000, p. 78). O próprio autor afirma a preferência dos prefeitos-
empreendedores por atrair os investidores internacionais, colocando em evidência a
imagem de uma cidade justa e democrática, como boa locação para instalar o
capital, elitizando cada vez mais o direito à cidade. Da mesma forma, Harvey (1992)
afirma que as cidades criam climas favoráveis aos negócios, se esforçando para
forjar uma imagem distintiva e criar uma atmosfera de lugar e tradição que aja como
um atrativo tanto para o capital como para pessoas do ‘tipo certo’ (abastadas e
influentes).
A cidade é o local onde convergem os fluxos internacionais, como
afirma Lopes (1998). Assim, pode-se entender o interesse das administrações
públicas em investir no mercado de cidades, que movimenta outros campos,
conforme Sánchez (2001) exemplifica: atrai a instalação de empresas e
26
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
organizações internacionais; mobiliza o mercado imobiliário; impulsiona o consumo
de espaços e de mercadorias; atrai turistas; servem de exemplo no planejamento
municipal e gestão urbana como práticas bem sucedidas; e abre uma nova área
para seus técnicos locais como disseminadores do conhecimento de práticas que
deram certo, objetivando exportar o conhecimento técnico adquirido nas
experiências de sucesso. Na realidade, todos estes campos se inter-relacionam,
fazendo com que o resultado da publicização da cidade seja múltiplo. No caso de
Curitiba e Kitakyushu houve reflexos da marca de “Cidade Ecológica” em todos os
campos citados, em proporções diferentes, com especial atenção ao último item,
que tem se revelado como um campo novo e promissor.
Da mesma forma, a consolidação do city marketing se dá devido a
várias relações de atores, não significando apenas a ação dos governantes locais. O
que pode se pensar é que a administração pública, juntamente com os cidadãos,
constrói um modelo que depois é descoberto por agentes externos (SÁNCHEZ,
2001). Desta forma, ]pode-se afirmar que o city marketing é, antes de tudo, político.
Sánchez (2001) afirma que é necessária a articulação do município em diferentes
escalas para que se alcance a visibilidade desejada. As mídias e as instituições
supranacionais são fundamentais para o reconhecimento dos resultados das
estratégias mercadológicas e são também instrumentos de publicidade para a
consolidação da marca (SÁNCHEZ, 2001; UNEP, 2007). As cidades deste estudo
recorreram a instâncias políticas internacionais e nacionais para divulgar suas boas
práticas, seguindo esta lógica.
A importância desta publicidade está na vitrine em que a cidade se
coloca, para ser vista, de modo a movimentar outros mercados. Conforme Arantes
27
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
(2000, p.17): “(...) o que está assim em promoção é um produto inédito, a saber, a
própria cidade, que não se vende, como disse, se não se fizer acompanhar por uma
adequada política de image-making”.
Então, como forma de inovar e adquirir visibilidade internacional, as
administrações passaram a adotar a elaboração de marcas que construam a sua
identidade para serem reconhecidas em âmbito local, regional e internacional. Como
afirma Dowbor (1999), o “ser humano gosta de símbolos”. Esta simbologia pode
significar senso de segurança emocional e de identidade, caso seja uma boa
imagem, segundo Lynch (1999). Para Del Rio (1990), a imagem representa, além de
identidade, personalidade e caráter, significando também possibilidades. Assim, as
administrações públicas, como os casos apresentados neste documento, buscam a
criação e veiculação de imagem de cidade que transmita oferta de boa qualidade de
vida a seus cidadãos. O que acontece é que esta identidade construída é apenas
uma das leituras possíveis da cidade. Desta forma, definir uma imagem-síntese para
a cidade, transformando-a em marca da mesma, é uma forma de poder, tornando a
cidade um espetáculo no qual a imagem age sobre o objeto (SÁNCHEZ, 2001;
1997). Estas imagens-síntese representam a fabricação de consensos, peça-chave
da mercantilização das cidades, despertando o que Molotch chamou de ingredientes
indispensáveis aos bons negócios: o ‘orgulho cívico’ dos habitantes e ‘patriotismo de
massa’, conforme Arantes (2000). De fato, Souza (2004) trata o ‘patriotismo de
cidade’ como um elemento de importância singular na construção da imagem da
cidade. Ainda, Vainer (2000) afirma que este ‘patriotismo’ é conseqüência do projeto
de cidade-mercadoria e que representa, ao mesmo tempo, resultado e condição do
sucesso da marca.
28
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Apesar da marca de cidade, deve ficar claro que esta não é a única
forma de se ver a cidade. A cidade não pode ficar engessada no slogan. Neste
sentido, há que se atentar para a afirmação de Vainer (2000): de que as cidades-
empresa não são democráticas, somente servem aos interesses da iniciativa privada
que ocupa um papel cada vez mais central no espaço da cidade. Isto pode não
acontecer de maneira plena, de acordo com a aceitação da população e da ética dos
governantes. Como exemplo, tem-se o caso de Kitakyushu, no qual a iniciativa
popular impulsionou a ação do governo e das empresas poluidoras a melhorarem o
meio ambiente e assim pôde-se usar a marca de “Cidade Ecológica” para divulgar
suas ‘boas práticas’ internacionalmente.
29
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
3. METODOLOGIA
A metodologia diz respeito aos procedimentos utilizados para a
realização deste documento. Segundo Fachim (2001), o procedimento metodológico
é necessário para que a investigação científica aconteça e sejam alcançados novos
conhecimentos. A metodologia impede a especulação das informações, “pois
somente com o embasamento dos procedimentos metodológicos é que se poderá
assegurar o desenvolvimento e a coordenação de diversas etapas.” (FACHIM, 2001,
p.53). Assim, este capítulo trata do procedimento metodológico utilizado neste
documento, de modo a atingir os objetivos da pesquisa.
Para tanto, a dissertação utiliza-se das pesquisas exploratória e
descritiva. A pesquisa exploratória permite a aproximação e familiaridade com o
tema, tornando-o mais claro (GIL, 1991; SANTOS, 2004). Este trabalho adota
Curitiba e Kitakyushu como exemplos
5
de cidades que adotaram o slogan “Cidade
Ecológica” para melhor compreender a relação entre city marketing e planejamento
urbano. Para isso, a caracterização das cidades em questão e o estabelecimento da
relação de programas e projetos com a marca de cidade são primordiais. De acordo
com Gil (1991), estes itens indicam a pesquisa descritiva, que complementará a
exploratória.
A abordagem qualitativa se fez presente em todo o trabalho. A
dificuldade de entrevistar a comunidade japonesa direciona esta pesquisa a se
5
Segundo Gil (1991, p.45), geralmente a pesquisa exploratória compreende o levantamento
bibliográfico, entrevistas com atores envolvidos com o problema e análise de exemplos que
estimulem a compreensão.
30
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
limitar aos setores público-administrativos e aos responsáveis e/ou pessoas ligadas
às questões pesquisadas. Da mesma forma, a pesquisa documental e bibliográfica
assume papel fundamental.
Como técnicas da pesquisa, utilizam-se a bibliográfica e a documental,
entrevistas e formulários, além da observação direta. Segundo Gil (1991), a técnica
de investigação por meio de livros e artigos possibilita a coleta de dados variados e
a construção histórica dos fatos. E a pesquisa através de documentos incita o
questionamento para investigação por outros meios. O documento é uma fonte rica
e estável de dados, porém, há que se atentar em relação à subjetividade dos
mesmos (GIL, 1991) para que os resultados reflitam uma discussão imparcial de
modo a contribuir para o debate acerca o planejamento municipal e gestão urbana.
A observação direta diz respeito às visitas ao local, objeto de estudo, visando à
percepção de alguns comportamentos ou condições ambientais relevantes para
informações adicionais, de acordo com Yin (1994). Esta observação foi em parte
realizada em março de 2004 através de visitas orientadas aos diversos
equipamentos sociais e à prefeitura de Kitakyushu. No caso da cidade de Curitiba,
foi realizada no período da pesquisa, entre 2005 e 2007.
Já o estudo de caso se dá ao se selecionar um objeto de pesquisa
(GIL, 1991). Segundo Yin (1994) é usado em pesquisas de políticas, administração
pública, de planejamento de cidades, dentre outras. Além disso, estuda os eventos
contemporâneos, ou seja, aqueles que se encontram dentro de um contexto da vida
real (YIN, 1994), representado neste documento pelas experiências de Curitiba e
Kitakyushu. Alguns itens devem estar claros ao se propor este tipo de estudo,
segundo Gil (1991). É um tipo de investigação que se volta para a multiplicidade de
31
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
dimensões de um fato ou problema, dando ênfase na totalidade. A limitação do
estudo de caso é a dificuldade de generalização dos resultados (GIL, 1991; YIN,
1994), sendo necessário um cuidado especial na coleta de dados para perceber
quais serão suficientes para se chegar à compreensão do todo (GIL, 1991).
O desenvolvimento desta pesquisa foi delineado em fases, explicitadas
a seguir.
Fase 01: pesquisa bibliográfica e documental
A pesquisa junto a fontes bibliográficas e documentais permite
estabelecer conceitos, além de discutir assuntos importantes para o aprofundamento
da pesquisa. Esta primeira fase baseia-se em livros, trabalhos acadêmicos (teses e
dissertações), revistas científicas, relatórios emitidos pelos órgãos, entre outros.
Trata-se de uma fase fundamental para estabelecer a fundamentação teórica,
segundo capítulo deste documento. Além disso, serve como base para os capítulos
subseqüentes, que tratam da análise da marca de cidade.
Fase 02: consultas, entrevistas e visitas a órgãos pertinentes
Após estabelecer o embasamento conceitual e teórico, parte-se para o
aprofundamento da pesquisa através de consultas a diversos órgãos e entrevistas a
pessoas relacionadas com os programas e projetos pesquisados. Além disso, esta
fase utiliza-se da observação direta, com visitas orientadas aos equipamentos de
ambas as cidades, assim como aos órgãos pertinentes com a pesquisa. No caso da
cidade de Kitakyushu, estas visitas foram realizadas no ano de 2004.
32
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Fase 03: análise dos dados
Com os dados pesquisados e com base na abordagem teórico-
conceitual elaborado no capítulo 2, procede-se à análise dos dados de cada cidade.
Para facilitar a análise dos dados de modo a atingir o objetivo da pesquisa, dividiu-se
em itens da seguinte forma:
- Projetos e programas relacionados com o slogan: diz respeito ao sistema de
áreas verdes de Curitiba e do Projeto Eco Town de Kitakyushu; e,
-Educação e comunicação ambiental: trabalho de educação ambiental
realizado nas escolas e junto à comunidade, assim como as formas de
reconhecimento nacional e internacional.
Ainda, para melhor direcionar esta fase, elaborou-se o protocolo de
análise (Tabela 1). Neste protocolo, tem-se o construto de marca de “Cidade
Ecológica” que orienta a pesquisa, possibilitando a análise da trajetória das cidades
como tal. As variáveis específicas dizem respeito ao agrupamento supracitado, de
modo a ressaltar as suas relações com a criação da marca e o seu papel na
consolidação da mesma. Ainda, tem-se a indicação dos autores necessários para a
compreensão de cada construto e/ou variável, citados ao longo do texto e que
serviram como base para a análise. Em seguida, tem-se a estratégia de análise para
cada variável, com o foco na relação das variáveis com a marca, seu papel e
importância no processo de criação e consolidação da marca de cidade.
33
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Tabela 1: Protocolo de análise
Construtos
e Variáveis
Variáveis
Específicas
Autores
Elementos
Destacados
Estratégia de
Análise
Programas e
projetos
CITY AND LIFE (2003);
CURITIBA (2007; 2004; 2002;
2000);
KITAKYUSHU (2003);
NAKAMURA (2007));
SÁNCHEZ (1997, 2001);
SÁNCHEZ, MOURA (2005);
TOCCHIO (2006);
SERAPHIM (2005)
*pontos fortes dos
projetos
*resultados atingidos
*Relação com
a marca
*Função na
construção e
consolidação
da marca
*Importância
na construção
e consolidação
da marca
Marca
“Cidade
Ecológica”
Educação e
comunicação
ambiental
ULTRAMARI , DUARTE (2006);
CITY AND LIFE (2003);
CURITIBA (2007; 2004; 2002;
2000);
IPPUC (2005);
KITAKYUSHU (2003);
NAKAMURA (2007);
ROGERS, GUMUCHDJIAN
(1997);
SÁNCHEZ (1997, 2001);
SÁNCHEZ, MOURA (2005);
TOCCHIO (2006);
ANJOS (2006);
WALSH (2006);
NUNES, PAULA (2006);
TONIOLO (2006)
*Atividades
relacionadas com
educação ambiental
*divulgação da
marca no meio
nacional e
internacional
*Relação com
a marca
*Função na
construção e
consolidação
da marca
*Importância
na construção
e consolidação
da marca
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Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Fase 04: relação das estratégias para promoção da marca “Cidade Ecológica”
Com a análise dos dados é possível discutir as similaridades,
diferenças e peculiaridades de cada caso, conforme modelo de matriz (Tabela 2). As
variáveis selecionadas têm relação com aspectos considerados relevantes no
processo e que interessam para a consolidação da imagem da cidade. A localização
no período histórico em que foi iniciada a construção da imagem é necessária
para o entendimento do contexto local, regional e mundial em que as cidades deste
estudo se inserem. Os pontos fortes e os ícones da marca demonstram os itens
que se destacam no planejamento municipal e na criação e consolidação da marca
de “Cidade Ecológica”. Neste caso, estes ícones são apresentados pelas próprias
administrações como locais e/ou projetos de interesse para a divulgação das boas
práticas da “Cidade Ecológica”. A palavra-chave indica como se pode explicar, em
poucas palavras, o sucesso da marca. A participação da população revela a
relação da administração pública com a população da cidade, principalmente no que
diz respeito à marca de cidade. Para a divulgação da marca para a população e para
os turistas, é necessário um local determinado para disseminar informações
ambientais e práticas relacionadas com a marca da cidade. A premiação
internacional é relevante para que se possa avaliar a abrangência e poder de
influência nos diversos meios de divulgação mundial.
35
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Tabela 2: Modelo de matriz interpretativa dos elementos relacionados com a marca “Cidade
Ecológica”
Elementos relacionados com a marca de cidade Curitiba Kitakyushu
Início da construção da marca
Pontos fortes
Ícones
Palavra-chave
Participação da população
Local de disseminação de informações ambientais
Premiação internacional
Este passo é importante para relacionar as estratégias para promoção
da marca “Cidade Ecológica” das cidades de Curitiba e Kitakyushu. Assim, é
possível apontar as contribuições para o planejamento e gestão urbanos
contemporâneos, a partir da prática dessas duas cidades.
A estrutura da pesquisa seguiu conforme a Figura 2, iniciando com a
abordagem teórico-conceitual, que embasa teoricamente esta pesquisa, a descrição
e análise dos casos de Curitiba e Kitakyushu, para, finalmente, identificar os
elementos relacionados com a marca “ Cidade Ecológica” das respectivas cidades.
A abordagem teórico-conceitual engloba os conceitos e relações entre o novo
espaço urbano, reflexo da globalização, planejamento municipal e gestão urbana, e
a importância e papel da marca de cidade nas administrações municipais.
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Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 2: Estrutura da Pesquisa
37
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
4. “CIDADE ECOLÓGICA”: CURITIBA
A adoção da marca de cidade por Curitiba não ocorreu de uma maneira
repentina. Inicialmente criados com o intuito sanitarista, os parques acabaram por se
tornar marcos da qualidade de vida oferecida aos cidadãos. Somando-se a isso, há
a questão ambiental em evidência que impulsionou o slogan “Cidade Ecológica”,
com o qual Curitiba se apresentou internacionalmente. Desta forma, este capítulo
trata do caso da capital paranaense baseada em pesquisa de materiais e
documentos disponíveis na Prefeitura Municipal e nas entrevistas com atores
integrantes da equipe do governo municipal atualmente (ANJOS, 2006; NUNES;
PAULA, 2006; TOCCHIO, 2006; TONIOLO, 2006) e na época da consolidação da
marca de “Cidade Ecológica”, tais como Nakamura (2007) e Tocchio (2006). Outros
protagonistas relacionados ao processo estão referenciados no decorrer do texto.
Curitiba localiza-se a aproximadamente 100 km do litoral sul do Brasil,
em um altiplano a 934 m do nível do mar. É também a cidade-pólo da RMC (Região
Metropolitana de Curitiba), constituída por 28 municípios, conforme se observa na
Figura 3.
38
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 3: Localização da cidade de Curitiba
Fonte: elaborado pela autora, com base em Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos do Paraná (SEMA), 1999.
Em uma área de 435 km², abriga a população de 1.788.559 habitantes
em 2006, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(2007). A sua população é formada por imigrantes de vários países, o que torna a
cultura local e o desenho urbano ricos. Várias são as festas étnicas incorporadas ao
cotidiano municipal assim como a culinária e outras expressões culturais. Muitos
espaços públicos representam homenagens a estas etnias na forma de memoriais e
praças espalhados pela cidade.
4.1. Processo de urbanização
A marca de cidade de Curitiba não é resultado de apenas um período
de gestão política. É fruto das escolhas ocorridas no processo de urbanização da
cidade. A seguir, á apresentado um breve histórico deste processo para
contextualizar as discussões subseqüentes.
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Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Segundo Gnoato (2006), Curitiba adotou conceitos de intervenção a
partir das vocações locais, herança dos Congressos Internacionais de Arquitetura
Moderna (CIAM), tornando-se uma das mais importantes experiências brasileiras na
área urbanística. De fato, em 1943, com o Plano de Urbanização de Agache para a
cidade baseada em sua experiência em grandes cidades, e no modelo Haussmann,
do Plano de Paris, a urbanização de Curitiba começava a inovar, antes mesmo da
adoção em larga escala das premissas do Movimento Moderno pelas cidades no
período pós-guerra. (GNOATO, 2006)
Agache (1943) propôs a implantação do Plano das Avenidas, de
Centros Funcionais, de espaços livres e do Código de Obras. O Plano das Avenidas
consiste em vias estruturais para orientar o tráfego e descongestionar o centro
urbano; descentralizar as locações; escoar as águas pluviais como defesa contra
inundações; induzir o zoneamento; e, integrar diversas áreas com ótimas condições
de salubridade e topografia. Além disso, a implantação deste plano contribuiria com
a imagem da cidade de Curitiba como a de uma metrópole de grandes avenidas,
digna de uma capital de estado. Os centros funcionais ou centros especializados
possuem tipologias de acordo com suas funções, que são: comando (Centro Cívico),
produção (centros comerciais, como a avenida XV de Novembro, e centros
industriais), consumo (centros residenciais) e sociais (centros educativos e
residenciais).
40
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 4: Plano das Avenidas de Agache, em 1943
Fonte: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, 2007.
Este plano acabou por se mostrar insuficiente diante do crescimento
acelerado da cidade. Realmente, já na década de 1950 o município de Curitiba
apresentava taxas de crescimento muito maior que as nacionais e até mesmo
superava as da cidade de São Paulo, conforme tabela abaixo (WILHEIM, 1965).
Quadro 1: Quadro Comparativo das taxas de crescimento entre Brasil, Região Sul, Cidade de São
Paulo e Curitiba na década de 1950
Taxa de crescimento ao
ano (%)
Taxa de Urbanização ao
ano (%)
Brasil 3,2 5,5
Região Sul 3,9 5,9
São Paulo (cidade) 5,7 4,5
Curitiba 7,2 9,5
Fonte: WIlheim, 1965. Organizado pela autora.
Desta forma, em 1964, iniciou-se a elaboração do Plano Preliminar de
Urbanismo, elaborado pela Sociedade Serete de Estudos e Projetos Ltda sob a
41
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
orientação do arquiteto Jorge Wilheim (WILHEIM, 1965). A equipe era composta por
arquitetos paranaenses que despontavam no cenário brasileiro, dentre eles, Jaime
Lerner, que ocuparia o cargo de prefeito da cidade posteriormente. Em decorrência
da elaboração deste Plano, em 1965, foi criado o IPPUC, Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano de Curitiba, formado por um corpo técnico da administração
pública para acompanhar os trabalhos da equipe de Wilheim
6
.
A idéia de um desenho concêntrico, de Agache, foi substituída pela
linearidade, em evidência na época, principalmente com a construção de Brasília.
Com os chamados Eixos Estruturais definiram-se as áreas de adensamento vertical.
A adoção destes Eixos fez com que o perfil da cidade se tornasse singular, conforme
esquema de verticalização apresentada em 1975 (Figura 5) e a foto da Figura 6.
Aprovou-se o zoneamento da cidade, que tem como base o tripé uso do solo,
transporte coletivo e circulação.
Figura 5: Esquema de verticalização em Curitiba, apresentada em 1975
Fonte: Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba, 2007.
6 Atualmente, o IPPUC coordena o processo de planejamento urbano da cidade, compatibilizando as
ações municipais às da Região Metropolitana de Curitiba.
42
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 6: Paisagem da cidade de Curitiba, a partir da Torre da Telepar,
com a verticalização do Eixo Estrutural.
Fonte: autora, 2004
A década seguinte foi marcada pela implementação do Plano
Preliminar de Urbanismo. E foi também nesta década que se iniciou a construção da
“Cidade Ecológica” (TOCCHIO, 2006; ANDRADE, 2001; SÁNCHEZ, 1997;
NAKAMURA, 2007). A questão ambiental ganha força e é incorporada ao discurso
político
7
. Como a “genuína expressão do ‘milagre brasileiro’ em sua versão urbana”
(SÁNCHEZ, 1997, p.27) e associando Curitiba às cidades de Primeiro Mundo, o
marketing é usado para direcionar as políticas para melhoria da imagem, atração de
investimentos e complacência dos cidadãos (ANDRADE, 2001). Segundo Tocchio
(2006), a administração de Curitiba teve a clarividência de perceber o trabalho
ambiental que estava sendo realizado na cidade e o trouxe à tona com o slogan
“Cidade Ecológica”. Ainda citando Tocchio (2006), a construção da marca se deu
7
Jaime Lerner, em seu discurso de posse de prefeito municipal, em 1971, afirmou que seria dada
atenção especial à questão ambiental, com a execução de um Plano de Arborização, construção de
áreas verdes e uma política de ocupação de solo para “coibir o processo de intensificação da
poluição do ar e da água”. (MENEZES, 1996, p.102)
43
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
através de diretrizes e bases, criando um caminho a seguir pelas gestões
administrativas subseqüentes. E, apesar da cultura política brasileira de se negar o
trabalho do antecessor, mesmo com a descontinuidade política, a marca de cidade
permanece. Segundo Tocchio (2006) e Nakamura (2007), isto se deve porque a
comunidade já se apropriou desta idéia. Eles ainda afirmam que, portanto, a imagem
de “Capital Ecológica” não é artificial, ainda que haja controvérsias (SÁNCHEZ,
1997; MOURA, 2001), pois, se fosse, já teria se desmanchado. Atualmente, é
tratada como modelo em planejamento urbano, como a “capital brasileira que
suportou os problemas urbanos conseqüentes da concentração população dos
grandes centros” (ANDRADE, 2001, p.3).
4.2. Sistema de Áreas Verdes
Entre outras medidas para consolidar a marca de cidade, a prefeitura
de Curitiba procedeu à criação de parques e bosques, aumentando sobremaneira as
áreas verdes urbanas. Atualmente, o município tem em suas áreas verdes os
principais cartões postais da cidade.
Na década de 1970, iniciou-se o processo de implantação de parques
lineares ao longo dos rios para garantir a preservação das florestas e da fauna
lindeiras, para proteger o sistema de drenagem assim como solução para
enchentes. Porém, somente no ano 2000, através de Lei Municipal, foi criado o
Sistema de Unidades de Conservação de Curitiba.
No Sistema de Unidades de Conservação de Curitiba (CURITIBA,
2000), tem-se que áreas verdes são aquelas com características naturais de
relevante valor ambiental ou de uso público, sob condições especiais de
administração e uso. A utilização destas áreas deve ser tal que garanta a
44
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
conservação, a proteção da natureza ou, ainda, ser destinada à utilização pública.
Enquadram-se nesta classificação de unidades de conservação, além de áreas de
proteção ambiental, bosques e reservas biológicas, praças, jardinetes, largos e
espaços livres urbanos afins. O documento municipal segue a definição constante
no Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba (WILHEIM, 1965), que diz que as
áreas verdes são áreas municipais destinadas à recreação descoberta. Ou seja, em
Curitiba, as unidades de conservação têm ênfase na questão recreativa.
Neste sentido, entra em controvérsia com a definição do Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), no qual se entende por unidade de
conservação o “espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas
jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo
Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime
especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”
(Brasil, 2000. grifo da autora).
De qualquer modo, a criação de áreas verdes em Curitiba foi intensa,
no período de 1970 a 2000. Em relação ao índice de área verde por habitante, em
1972, este índice, segundo dados da Prefeitura Municipal de Curitiba (CURITIBA,
2005), era de 0,5 m². Atualmente, a administração curitibana anuncia haver 49m² de
área verde por habitante (IPPUC, 2007; 2004). Porém ,há controvérsias neste
índice, mesmo no âmbito da administração municipal. Na mesma página eletrônica
da prefeitura, ao tratar dos dados principais da cidade, há dois índices: um de 51m²
por habitante e outro de 52m² (CURITIBA, 2007a). Ainda, segundo o relatório da
Secretaria Municipal do Meio Ambiente, em 2002, foi calculado o índice de 39,67 m²,
45
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
considerando o somatório das áreas verdes por bairro e o número de habitantes
(CURITIBA, 2002).
Hardt (2000) procedeu a uma vasta pesquisa acerca as áreas verdes
de Curitiba e chegou a índices apoiados em um procedimento metodológico
criterioso, analisando as várias tipologias de áreas não construídas de modo
detalhado. Segundo a autora, 63,42% do município de Curitiba é composto por
áreas permeáveis
8
. As áreas verdes representam 59,53% do território municipal,
correspondendo ao índice de 195,99m²/ hab. Porém, ao se investigar com detalhe
as áreas verdes, percebe-se que os índices caem para 45,80% do território
curitibano correspondem à área sem vegetação arbórea enquanto somente 13,73%
correspondem à área com este tipo de vegetação, chegando a índices de
150,79m²/hab e 45,20m²/hab, respectivamente. Ao considerar os espaços públicos
dentre estas áreas verdes, a pesquisa aponta para a ocorrência de 3,11% do
território curitibano e a um índice de 10,23m²/hab. As ruas arborizadas representam
32,80% do total de vias e apenas 0,91% da área da cidade está ligada à questão da
existência de árvores, o que representa o índice de 3,00m²/hab.
Ainda que os parques sejam relacionados primeiramente à contenção
de cheias e de preservação ambiental há que se considerar algumas outras
questões. Algumas áreas sem uso, ou com sua utilização abaixo da capacidade, e
com localização estratégica foram transformadas em parques, significando uma
maneira de se revitalizar o terreno e o entorno, evitando usos indesejáveis, como a
ocupação irregular. A recuperação de áreas degradadas é outro ponto relevante:
áreas que outrora eram sinônimos de natureza destruída, pela ação de pedreiras ou
8
Hardt (2000) considera áreas permeáveis os espaços com ou sem vegetação arbórea, terra nua e
cursos de água não canalizados.
46
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
mineração, são recuperadas e podem servir à população como área de lazer. A
política de solo criado também contribuiu para a produção de áreas verdes urbanas.
O instrumento de transferência de potencial construtivo proporcionou à
administração pública a aquisição de áreas com grande potencial paisagístico e de
interesse público para a transformação em parques.
4.2.1. Parques: ícones da cidade
A criação de vários parques na década de 1990 fomentou o turismo na
cidade de Curitiba. Segundo Custódio (2006), os parques aparecem como as
atrações turísticas mais visitadas na cidade de Curitiba pelos turistas, entre 2000 e
2003. Desta forma, a seguir, caracterizam-se alguns parques da cidade de Curitiba.
Foram destacadas as áreas que se tornaram ícones da cidade, estando incluídas no
roteiro de turistas e que são consideradas cartões-postais da cidade, de acordo com
os documentos da Prefeitura Municipal. Além disso, fazem parte do mote desta na
divulgação da marca de cidade. Neste sentido, apesar da Universidade Livre do
Meio Ambiente (UNILIVRE) estar inserida no Bosque Zaninelli, está em destaque
por seu simbolismo relacionado com a “Cidade Ecológica”.
O Parque Barigüi possui em seu lago (Figura 7) a função original de
contenção de cheias e enchentes, regulando a vazão durante os períodos de
chuvas, fazendo parte da política municipal de preservação de fundos de vale
(CURITIBA, 2007a; 2007b; CITY AND LIFE, 2003; SERAPHIM, 2005; NAKAMURA,
2007). Transformado em parque em 1972, é, hoje, o mais freqüentado pela
população curitibana, com o registro de até 30 mil pessoas em finais de semana
(SERAPHIM, 2005; CURITIBA, 2007a). Ainda segundo estes autores, o parque
possui três bosques de capão de floresta primária nativa e de floresta secundária,
47
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
que abrigam uma fauna diversa e que auxiliam na regulagem da qualidade do ar.
Segundo Seraphim (2005), houve a valorização dos imóveis do entorno, exploração
do potencial turístico e criação de frentes formais e informais de trabalho.
Este parque representa o processo de construção da marca com a
difusão de parques no território municipal, por se tratar do maior e mais bem
freqüentado parque, como já citado, ressaltando-se que a freqüência é de grande
parte dos moradores da cidade. Porém, com a valorização da área provocou a
especulação imobiliária nas terras localizadas em seu entorno.
Figura 7: Vista do lago do Parque Barigüi, a partir da Torre
da Telepar.
Fonte: autora, 2004
Outro exemplo de ícone da marca de cidade é o Jardim Botânico
(Figura 8). Com as pesquisas do museu botânico e exposições na estufa, promove a
cultura ambiental (TONIOLO, 2006). Além disso, dá uso a uma área anteriormente
ociosa (CURITIBA, 2007a; CITY AND LIFE, 2003; NAKAMURA, 2007). Foi
inaugurado em outubro de 1991 e funciona como um centro de pesquisa da flora
estadual. Mais de 40% dos seus 278.000 m² correspondem a um remanescente
florestal típico da vegetação regional. A estufa de ferro e vidro possui 450 m² e foi
48
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
inspirada no Palácio de Cristal de Londres. Segundo Toniolo (2006), incentivar o
amor à natureza e sua proteção fazem parte dos objetivos dos trabalhos do Museu
Botânico. Ao se referir aos objetivos do museu e do espaço do Jardim Botânico, a
administração revela a forma lúdica que se quer colocar as áreas verdes perante a
população e mídias, reforçando a divulgação da imagem de uma cidade preocupada
com o meio ambiente.
Figura 8: Jardim de entrada do Jardim Botânico
Fonte: Curitiba, 2007a
O conjunto da Pedreira Paulo Leminski e Ópera de Arame, de
103.500m² remete ao trabalho de requalificação de áreas degradadas (CURITIBA,
2007a; CITY AND LIFE, 2003; NAKAMURA, 2007). Trata-se do local onde outrora
funcionava uma pedreira municipal e usina de asfalto. Além do significado ambiental,
tem-se um espaço para a utilização da comunidade, tanto em eventos culturais,
como para lazer e passeio (NAKAMURA, 2007; TONIOLO, 2006). Trata-se de um
auditório ao ar livre, com capacidade para até 30 mil pessoas e palco de 480 m². O
paredão de rocha maciça de 30 m de altura faz a sua acústica singular. Em 1992, no
primeiro festival de teatro da cidade, foi entregue a Ópera de Arame, com sua
estrutura metálica aparente (Figura 9). Possui capacidade para 2.400 espectadores,
49
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
em meio à cratera de pedreira desativada, rodeado por lagos e cascatas (Figura 10),
proporcionando um cenário único. (CURITIBA, 2007a; CITY AND LIFE, 2003)
A recuperação ambiental de áreas como esta e posterior reciclagem de
uso, transformando-as em paisagens únicas, demonstra a atuação da administração
pública na implantação de grandes projetos e intervenções urbanas, utilizando-se
destas para a divulgação de sua preocupação com a qualidade de vida municipal.
Figura 9: Ópera de Arame, vista da entrada
Fonte: autora, 2007
Figura 10: Ópera de Arame, vista do lago
Fonte: autora, 2007
Da mesma forma, o parque Tanguá (Figura 11) foi inaugurado em uma
área de pedreiras desativadas e topografia acidentada, na porção norte da cidade.
Atualmente, são 235.000m² de área de lazer equipada com lagos, pista de corrida,
ciclovia, cascatas, mirantes e equipamentos de apoio. (CURITIBA, 2007a; CITY AND
LIFE, 2003)
50
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 11: Parque Tanguá
Fonte: Curitiba, 2007a
O Parque Iguaçu (Figura 12), com seus 14 km de extensão e
8.264.316m² de área, é um dos maiores parques urbanos do país (CURITIBA,
2007a; SERAPHIM, 2005). Dentro de sua área está o zoológico da cidade,
inaugurado em 1982, que abriga animais de grande porte oriundos do passeio
público, propiciando condições para reprodução de animais nativos e ponto de
parada de aves migratórias (TONIOLO, 2006). Há casa de acantonamento e de
educação ambiental, voltada para o público infantil das escolas da cidade
(TONIOLO, 2006; CURITIBA,2007a).
Apesar disso, não é muito citado nem visitado pelos turistas. Porém,
percebeu-se que possui uma importância para os integrantes da equipe do governo
que criou e ajudou a consolidar a marca de cidade, pela sua representatividade
como um grande parque urbano e atividades de educação ambiental.
51
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 12: Parque Iguaçu
Fonte: Curitiba, 2007a
O Parque das Nascentes do Rio Belém (Figura 13) tem como objetivo
principal proteger as nascentes do rio Belém, que possui 20,4 km de extensão e 26
afluentes. É o ‘rio curitibano’ e considerado Patrimônio Natural de Curitiba
(CURITIBA, 2007a; SERAPHIM, 2005; TONIOLO, 2006). Neste parque há o Centro
de Referência das Águas (Figura 14), um espaço para atividades de educação
ambiental com referência nas atividades do Programa Olho d’água, o qual monitora
a qualidade das águas dos rios curitibanos (CURITIBA, 2007a; TONIOLO, 2006).
Apesar da importância como local de proteção e preservação e como centro de
atividades de educação ambiental, não possui muito espaço na publicidade da
administração municipal.
52
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 13: Vista do Parque das Nascentes do
Rio Belém
Fonte: Curitiba, 2007a
Figura 14: Centro de Referência das Águas, no
Parque das Nascentes do Rio Belém
Fonte: autora, 2004
O Parque Passaúna localiza-se dentro da Área de Proteção Ambiental
Municipal e da APA Estadual do Passaúna. São 6.500.000m² protegidos pela APA e
somente 886.337,90m² são área efetiva implantada do parque. Dada sua
importância no abastecimento de água de Curitiba, é fundamental a sua proteção e
manutenção da qualidade de água (CURITIBA, 2007a; NAKAMURA, 2007), apesar
desta importância não estar divulgada pelos órgãos da administração municipal,
assim como acontece com o Parque das Nascentes.
O Passeio Público foi criado por forças da elite local e “magnatas do
mate”, durante o governo do Alfredo Taunay como presidente da província do
Paraná, com contribuições financeiras, segundo Seraphim (2005). Seus portões
principais são réplicas dos que existem no Cemitério de Cães e Gatos de Paris,
primor do art nouveau, obra de Frederico Kirchigassner (Figura 15) e são tombados
pelo Departamento Histórico e Artístico do Paraná (SERAPHIM, 2005). A área,
porém, configura-se em local de pouca visitação e pouco interesse turístico
atualmente.
53
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 15: Portão de entrada do Passeio Público
Fonte: Curitiba, 2007a
O Parque São Lourenço (Figura 16) foi implantado em local onde
outrora funcionava uma fábrica de adubos, curtume e cola. Atualmente, o Centro de
Criatividade, com 2.500m² é um grande centro cultural, com ateliês e laboratórios de
artes, além de salas de aula, biblioteca, local para exposições e auditórios para
palestras e espetáculos. As caldeiras da fábrica tiveram seu uso reciclado,
transformando-se em esculturas que decoram o espaço. A Casa Erbo Stenzel, de
1928, retrata a arquitetura de madeira resultante da aculturação de imigrantes. Em
1998, foi remontada e restaurada, transferida do seu terreno original no Alto São
Francisco. Transformada em casa de cultura, possui local para exposição e acolhe o
acervo e documentação do artista paranaense. (CURITIBA, 2007a; SERAPHIM,
2005)
54
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 16: Vista aérea do Parque São Lourenço
Fonte: Curitiba, 2007a
Segundo a prefeitura, o Parque Tingüi (Figura 17) tem em seu nome a
homenagem ao povo indígena que habitou a região de Curitiba e significa “nariz
afinado”. Nele encontra-se o Memorial Ucraniano com monumento em forma de
“Pessanka”
9
. A estátua do cacique Tindiqüera, em bronze, foi feito em tamanho
natural e representa o líder que indicou o local para instalar a Vila de Nossa Senhora
da Luz, marcando o início da ocupação de Curitiba. Ainda, há uma praça em formato
de disco com 15 m de diâmetro e rosa dos ventos construída para homenagear os
500 anos do Brasil. (CURITIBA, 2007a; 2007b; SERAPHIM, 2005; CITY AND LIFE,
2003)
O papel dos parques como imagem na divulgação e na publicidade da
cidade pode ser percebido na temática eclética com a qual a Prefeitura Municipal
interveio neste parque, através da construção de memorial, estátua indígena,
homenagem nacional, além da questão ambiental.
9
Ovo de filigrana pintado à mão, típico do artesanato ucraniano.
55
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 17: Vista aérea do Parque Tingui
Fonte: Curitiba, 2007a
A exploração de granito originou um grande paredão de pedra e lago
que enriquecem a paisagem do Bosque Zaninelli, onde está localizada a
Universidade Livre do Meio Ambiente, a UNILIVRE (Figura 18). Como uma área de
regeneração natural, possui uma forte relação com a imagem da cidade. A sua
edificação possui 874 m² de área e 15 m de altura, com uma rampa helicoidal em
balanço. Tudo isso construído com vidro e troncos de eucalipto, como forma de
demonstrar a potencialidade de uso do eucalipto de reflorestamento (Figura 19).
Simboliza a integração de arquitetura e natureza. Como instituição, representa um
local de livre debate sobre questões de ecologia e meio ambiente, por meio de
cursos, para profissionais e para a população em geral, de modo a disseminar
assuntos e práticas para aprimorar a qualidade de vida dos centros urbanos.
(UNILIVRE, 2007; CURITIBA, 2007a; 2007b; CITY AND LIFE, 2003)
O fato das atividades serem voltadas para um público seleto faz com
que a UNILIVRE seja somente mais um dos parques de Curitiba para a população
em geral, apesar da sua produção técnica.
56
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 18: Universidade Livre do Meio Ambiente
Fonte: Universidade Livre do Meio Ambiente, 2007
Figura 19: Vista da edificação da UNILIVRE
Fonte: Universidade Livre do Meio Ambiente, 2007
Como uma das conseqüências da estratégia de aumentar as áreas
verdes no território municipal, pela administração pública curitibana, é que grande
parte da população passou a usufruir dos parques e bosques. Isto se confirma a
partir da pesquisa realizada em 2002, segundo o relatório de Avaliação de Políticas
Públicas Municipais (CURITIBA, 2005), referente ao meio ambiente, que revela que
67,1% da população está satisfeita com as áreas para lazer (incluindo quadras
esportivas, parques e bosques) oferecidas pela cidade. Em pesquisas realizadas
pelo Paraná Turismo, nos anos de 2001 e 2003
10
, sobre a qualificação de Curitiba,
verificou-se que as áreas verdes ocupam um lugar de destaque, tendo recebido o
melhor índice. Ainda nesta pesquisa, a definição da cidade como ‘cidade com
qualidade de vida’ aparece em destaque, sendo seguida pela “Cidade Ecológica”.
(CUSTÓDIO, 2006)
Ainda que se diga que o objetivo de criação de parques era a proteção
ambiental, deve-se concordar que a grande produção de parque na década de 1990
contribuiu para a divulgação da imagem da “Cidade Ecológica” curitibana, tanto para
10
Nestas pesquisas, solicitou-se para os turistas avaliarem alguns itens da cidade, tais como: áreas
verdes, conservação de edifícios, poluição do ar e sonora, qualidade de vida, qualidade de tráfego
(CUSTÓDIO, 2006).
57
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
a comunidade interna como para a internacional. Inclusive, alguns parques são
tomados pelo discurso oficial da prefeitura como exemplo bem sucedido de
utilização de instrumentos urbanísticos e de ferramentas de planejamento e gestão.
4.3. Educação Ambiental
Em Curitiba, os parques não são considerados importantes somente
para a preservação ambiental, mas, sobretudo, para contribuir para a qualidade de
vida do cidadão curitibano (SERAPHIM, 2005). Os parques atuam também como
objetos de educação ambiental, segundo Toniolo (2006). Assim, muitos parques
possuem equipamentos sociais de educação ambiental e divulgação de pesquisas
ambientais, como se pôde verificar no item anterior, tais como centros de educação
ambiental e espaços culturais.
No Parque Iguaçu, por exemplo, o Centro de Visitantes e o
Acantonamento são pioneiros no que diz respeito a grandes espaços para atividades
de educação ambiental, recreativas e ecológicas com grupos de crianças das
escolas municipais e particulares do município. O acantonamento tem capacidade
para aproximadamente 40 alunos das escolas municipais, recebidos nos finais de
semana (TONIOLO, 2006; NUNES; PAULA, 2006).
No Jardim Botânico acontecem cursos para jardineiros, com princípios
de biodiversidade, controle natural e resgate do patrimônio de flora e fauna. Os
cursos visam aproximar o conceito de biodiversidade urbana da população através
de jardins e sua beleza (TONIOLO, 2006). Neste contexto, segundo a autora, o uso
de flores nativas na estufa e no jardim atrai espécies de pássaros, contribuindo para
58
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
a biodiversidade urbana
11
e trazendo para o convívio dos cidadãos este contato com
a natureza.
O Museu Botânico, que atualmente se localiza no Jardim Botânico,
existe desde 1965 e tem como objetivos a pesquisa e divulgação de resultados,
além da manutenção de coleções da flora paranaense. Possui um herbário, além do
acervo de 300 mil amostras, dentre amostras de plantas, madeira e frutos.
(SERAPHIM, 2005)
O Parque das Nascentes do Rio Belém abriga o Centro de Referência
das Águas, que, por sua vez, abriga o Programa Olho D’água. Este programa de
educação ambiental consiste no monitoramento da qualidade da água dos principais
rios que têm seus cursos dentro do território curitibano (total ou parcialmente), com o
auxílio de estudantes das escolas municipais, principalmente. Desta forma, procura
envolver a população como co-responsável na preservação dos recursos hídricos da
cidade. Foi lançado em 1997, no Dia do Meio Ambiente e em 2000 obteve o auxílio
do Ministério do Meio Ambiente. Esta parceria trouxe bons resultados como se pode
ver no Quadro 2. Em 2001, houve a diminuição de pessoas envolvidas nas
atividades, porém, há o aumento na quantidade de lixo retirado que pode ser
conseqüência do aumento de postos de monitoramento. Em 2004, a UNILIVRE
passou a auxiliar a Secretaria do Meio Ambiente nas atividades. E, no início de
2007, o programa passa a atender o Planejamento Estratégico de Revitalização da
Bacia Hidrográfica do Rio Barigüi, como forma de envolver a comunidade (Curitiba,
2007a).
11
Segundo Toniolo (2006), Curitiba é rica na diversidade de pássaros e borboletas.
59
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Quadro 2: Resultados do Programa Olho D´Água, nos anos de 2000 e 2001
2000 2001
Lixo retirado dos rios 558 ton 813 ton
Pessoas atendidas na unidade móvel de educação ambiental 21.341 11.541
Pessoas envolvidas nas atividades de mobilização 37.005 4.540
Pessoas envolvidas no monitoramento 17.000 12.480
Pontos de monitoramento 184 228
Fonte: Curitiba, 2002.
Ainda, fora dos parques e dentro das escolas, o tema ambiental está
inserido no currículo escolar municipal. O Programa Alfabetização Ecológica é
desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educação nas escolas municipais de
Curitiba como forma de promover a aproximação dos alunos com a realidade. No
início era um trabalho restrito à horta da escola e passou a realizar capacitações,
envolvendo tanto alunos como professores. Em 2003, 14 escolas participaram do
Programa. No ano seguinte, a participação aumentou para 78 e atualmente, são 169
escolas, com aproximadamente 13 mil alunos envolvidos e capacitação para
professores duas vezes ao ano. Nos projetos de cada escola, procura-se trabalhar
de modo inter e multidisciplinar, com a integração de vários professores de
diferentes disciplinas durante o ano. (CURITIBA, 2004; NUNES; PAULA, 2006)
Segundo Toniolo (2006) e Nunes e Paula (2006), a filosofia da
educação ambiental curitibana é trabalhar conceitos, idéias e respeito à cidade
visando resultados no comportamento do cidadão (desejos, paixões, imagem,
mídia). Ainda, Toniolo (2006) afirma que, com o tempo e um trabalho mais profundo,
atinge conceitos sobre “como eu vejo o mundo e a mim mesmo”. A educação
ambiental de Curitiba está baseada em três etapas que devem ser tratadas em
conjunto: informação, sensibilização e prática. (TONIOLO, 2006; NUNES; PAULA,
60
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
2006). Segundo elas, a informação é realizada por intermédio dos meios de
comunicação; a sensibilização utiliza-se da emoção e a prática baseia-se em coisas
simples de fácil acesso e que possam ser incorporadas no cotidiano. Neste
município, procurou-se focar a realidade local e trabalhar a mudança de valores e
conceitos, ao contrário do usualmente é feito na América Latina, segundo Tocchio
(2006), em que a inserção de programas tecnológicos é muito distante da cultura e
realidade do seu povo. Trata-se de uma visão realista, já que a situação econômica
da população e das administrações pública no Brasil não pode ser igualada aos dos
Países Desenvolvidos, como é o caso da cidade de Kitakyushu. Desta forma,
percebe-se que as soluções locais são imprescindíveis. Ainda, tem-se que a
sensibilização através da emoção é uma tônica da implementação da marca de
cidade neste município. A administração curitibana faz crer que o planejamento é
um processo emocional, apesar de ser da sua racionalidade característica como foi
visto no item 2.2 (sobre Planejamento Municipal e Gestão Urbana),
Em Curitiba, Toniolo (2006) acredita que a crise ambiental é, na
realidade, o resultado da crise mundial de distorção da percepção de valores, ou
seja, a ponta do iceberg. Assim, a autora informa que foram adotados os princípios
da “simplicidade voluntária”. Ou seja, procura-se dar valor ao que tem valor,
demonstrando que a vida de qualidade pode acontecer com o básico. A palavra
Simplicidade é a que rege a política curitibana relacionada à marca “Cidade
Ecológica”, sendo responsável pelo seu sucesso, pois é um conceito forte e que
integra toda a comunidade independente de classe social. Assim, acredita-se que a
educação ambiental deve resgatar o que há de simples e essencial nas pessoas
(TONIOLO, 2006). Esta questão da simplicidade nas ações também faz parte do que
61
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
já foi dito sobre a realidade de um país em que as condições econômicas são
precárias.
Neste contexto de simplicidade, ocorrem os programas de coleta
seletiva. Em relação à campanha de coleta seletiva curitibana, não houve projeto-
piloto, o que comumente acontece em outros municípios (TOCCHIO, 2006). O
município adotou um plano global para estabelecer uma nova mentalidade no âmbito
da rotina de cada cidadão. Assim, desde 1989
12
, com o programa ‘Lixo que não é
lixo’, a mudança de hábito para que o cidadão selecionasse o resíduo sólido em
casa para se obter melhores resultados foi sendo trabalhada. A cor verde do
caminhão e os personagens desenhados também auxiliam na publicidade,
relacionando-o à coleta ecologicamente correta (Figura 20). Prova do atingimento
destas estratégias na população são as reclamações da comunidade recebidas pelo
Departamento de Limpeza Pública (ANJOS, 2006) ao menor desvio na rota do
caminhão verde ou em relação à velocidade e à freqüência, o que denota a
participação popular.
Figura 20: Caminhão da coleta seletiva de Curitiba
Fonte: Curitiba, 2007c
12
No ano de 1989, Jaime Lerner volta à prefeitura de Curitiba como prefeito eleito. Inicia-se a gestão
do seu grupo político, de 1989 a 2004, com Rafael Greca de Macedo e Cássio Taniguchi sucedendo
Lerner.
62
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Como maneira de mostrar os resultados desta coleta, havia um
marcador no Parque Barigüi, até o ano de 2004 (Figura 21), que demonstrava a
quantidade estimada de árvores que estavam sendo poupadas através da coleta
seletiva realizada. Este é outro ponto importante: a prestação de contas da prefeitura
à população para se estimular a continuidade da atividade (NAKAMURA, 2007).
Figura 21: Marcador que indica o número de árvores
poupadas com o Programa “Lixo que não é Lixo”
Fonte: City and Life, 2003
A Família Folhas foi o símbolo deste programa por 10 anos. Realizava
atividades nas escolas e em locais públicos para a divulgação da campanha. Num
primeiro momento, o intuito era ganhar espaço no cotidiano da população. Porém,
houve interrupção na divulgação, o que refletiu nos resultados que registraram leve
queda, apesar da continuidade da coleta. Em 2006, houve o relançamento da
campanha com o Grupo Separe (Figura 22), os novos personagens que
representam os materiais recicláveis. Esta nova fase na conscientização procura
melhorar a separação do material reciclável e está trazendo bons resultados.
Conforme Anjos (2006), com o lançamento dos novos personagens, houve um
63
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
incremento de 22% na coleta seletiva. Isto demonstra, de acordo com Anjos (2006),
que há sintonia entre publicidade, educação ambiental e operacionalização do
sistema.
Figura 22: Grupo Separe, novos personagens do “Lixo que não é Lixo”.
Fonte: Curitiba, 2007a
Segundo a prefeitura municipal (ANJOS, 2006; TONIOLO, 2006),
atualmente, a coleta seletiva domiciliar atinge 100% da área urbana. Uma frente de
trabalho da coleta seletiva é a Compra do Lixo (CURITIBA, 2002; CITY AND LIFE,
2003), que consiste em trocar o material reciclável por produtos alimentícios, sendo
o público-alvo os moradores de locais em que os caminhões não conseguem
acessar, geralmente ocupações irregulares. A equipe de educação ambiental da
prefeitura entra em contato com os moradores para ajudar a organizá-los, afinal, são
eles que se responsabilizam pela distribuição dos sacos plásticos e controle do
número de sacos depositados na caçamba. De acordo com a quantidade de resíduo
depositado, cada morador recebia um vale-transporte, até 1991, quando foi firmada
a parceria com a Federação Paranaense das Associações dos Produtores Rurais,
da Região Metropolitana de Curitiba. Desde então, passou-se a trocar por produtos
hortifrutigranjeiros. (CURITIBA, 2002; CITY AND LIFE, 2003)
64
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Quadro 3: Resultados da Compra do Lixo, dos anos de 2000 e 2001
2000 2001
Pontos de Troca 39 33
Média de lixo recolhido por mês 512,93 ton 546,00 ton
Média de pessoas atendidas por mês 21.584 20.000
Fonte: Curitiba, 2002
O Câmbio Verde (CURITIBA, 2002; CITY AND LIFE, 2003) também
está atrelado ao “Lixo que não é Lixo” e é uma derivação da Compra do Lixo,
atuando junto às comunidades de baixa renda
13
, trocando o resíduo reciclável por
produtos hortifrutigranjeiros desde 1991.
Quadro 4: Resultados do Câmbio Verde, dos anos de 2000 e 2001
2000 2001
Média de lixo reciclável coletado no total 4.208,64 ton 3.675,00 ton
Pessoas atendidas por mês 18.023 18.000
Pontos de troca 61 63
Fonte: Curitiba, 2002
O Mutirão Cidadania realizado no âmbito dos bairros obteve bons
resultados com a distribuição de mudas. Ressalte-se que a distribuição das mudas
vem acompanhada da explicação do custo e do trabalho para que a comunidade
respeite as árvores plantadas e o patrimônio. As mudas distribuídas são plantas
nativas de médio porte. (TONIOLO, 2006)
Com o evento realizado em 2006, Conferência das Partes da
Convenção sobre a Biodiversidade Biológica - COP8 e Reunião das Partes do
Protocolo de Cartagena sobre Biosseguranca – MOP3, a equipe da prefeitura
13
Renda entre 1 a 3 salários mínimos mensais, independente se reside em local de acesso ao
caminhão.
65
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
realizou 5 mil capacitações em Curitiba, Pinhais e São José dos Pinhais, além de
mobilização de vários segmentos da sociedade curitibana através de informações
turísticas, de fóruns de professores, debates em salas de aula, entre outras
atividades, segundo informações da administração pública (TONIOLO, 2006). Os
painéis que compuseram a exposição na Rua XV (Figura 23 e Figura 24) continuam
percorrendo a cidade durante o restante do ano, mesmo depois do período do
evento. Estes painéis procuram mostrar de forma crítica a escala da identidade
humana, tendo num dos primeiros painéis o universo, conforme afirmam Toniolo
(2006) e Paula e Nunes (2006)
Figura 23: Painel sobre meio ambiente em
exposição na Rua XV, no evento
COP8/MOP3, em 2006
Fonte: autora, 2006
Figura 24: Ilha digital com informações sobre
Curitiba na Rua XV, no evento
COP8/MOP3, em 2006
Fonte: autora, 2006
Os programas e projetos coordenados pela administração curitibana
são simples e de fácil implementação. O que torna mais fácil a aproximação da
equipe da prefeitura em relação à população e a identificação da comunidade com
as ações definidas. Porém, os dados e resultados oficiais nem sempre são
apresentados de modo claro, deixando apenas a mensagem do sucesso da
implementação.
66
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
4.4. Divulgação de Curitiba “Cidade Ecológica”
Ainda que posteriormente ao grupo que ficou no poder municipal de
1989 a 2004, caracterizado pela marca “Cidade Ecológica”, outras administrações
tenham lançado outros slogans, tais como ‘Capital Social’ e ‘Capital da Cultura’,
Curitiba é conhecida e reconhecida nos meios de comunicação e por entidades
internacionais, por seu planejamento e preocupações ambientais, como “cidade
ecológica”. Vários são os grupos de estudantes e técnicos de outros países que
visitam a cidade para estudá-la.
Por depender da participação da população, o programa “Lixo que não
é Lixo” é uma campanha que avalia a conscientização dos cidadãos curitibanos
(ESPÍNOLA, 2006). Foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas, em
1990, com o “Global 500 Award”, do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente, prêmio máximo na área ambiental. A partir desse prêmio, a cidade teve
consolidada sua imagem como uma “cidade ecológica”.
Em 1992, sediou o Fórum Mundial das Cidades
14
. Além disso, sediou
outros eventos de grande importância internacional, tais como Dia Mundial do
Habitat, em 1995, Fórum Mundial Sustentável da América Latina e Caribe, em 2002,
Primeiro Fórum Regional da Sociedade de Informação de Cidades e Governos
Locais da América, em 2003, e a Conferência das Partes da Convenção sobre a
Biodiversidade Biológica - COP8 e Reunião das Partes do Protocolo de Cartagena
sobre Biosseguranca – MOP3
15
, em 2006 (CUSTÓDIO, 2006). Esta última foi
14
Encontro preparatório para a Conferência da Terra, da Organização das Nações Unidas, realizado
na cidade do Rio de Janeiro, no mesmo ano.
15
O COP e MOP compõem a Convenção sobre Diversidade Biológica, da Conferência da Terra, em
1992, e que define acordos ambientais, sob o ponto de vista legal e político.
67
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
realizada pela primeira vez no Brasil, representando os reflexos da divulgação da
imagem de Curitiba, tanto nacional quanto internacionalmente (ESPÍNOLA, 2006).
Em relação a publicações citando Curitiba, com referências ao seu
planejamento urbano e às questões ambientais em âmbito internacional, há, pelo
menos, 140 reportagens registradas na Secretaria Municipal de Comunicação
Social, em publicações de outros países, no período entre 1974 e 2000, segundo
Custódio (2006). Isto demonstra a veiculação internacional do que se acredita ser
um modelo de planejamento urbano.
Com toda a publicidade acerca as boas práticas urbanísticas e a boa
oferta de qualidade de vida a seus cidadãos, Curitiba atraiu investimentos no setor
industrial, registrando nos últimos 30 anos, a instalação de grandes grupos
empresariais como Renault, Audi-Volkswagen e Detroit Motors, na Região
Metropolitana de Curitiba. Neste contexto, em 2005, atingiu o número de 11.764
indústrias instaladas na cidade. (CUSTÓDIO, 2006).
68
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
5. “CIDADE ECOLÓGICA”: KITAKYUSHU
A seguir, explana-se sobre o processo de despoluição desta cidade
antes conhecida por ‘cidade cinza’ e, trinta anos depois, intitulada “Eco Town” pelo
governo japonês. A redação deste capítulo teve como base documentos da
administração de Kitakyushu, principalmente da Secretaria de Meio Ambiente, da
observação direta, e demais fontes citadas no decorrer do texto.
A cidade de Kitakyushu é uma cidade portuária que se localiza ao sul
do Japão, na ilha de Kyushu
16
, província de Fukuoka (Figura 25). Este município
possui uma localização privilegiada e estratégica, que se deve ao fato de se
encontrar no extremo norte desta ilha, fazendo a conexão com a ilha central de
Honshu, além de se estar a meio caminho de Tókio, capital japonesa, e Xangai, na
China.
16
O Japão é formado por quatro grandes ilhas, sendo a de Honshu a maior e central, a de Hokkaido
ao norte, a de Kyushu ao sul e a de Shikoku ao sudoeste, além do arquipélago de Okinawa ao sul.
69
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 25: Localização da Cidade de Kitakyushu
Fonte: elaborado pela autora, com base em Kitakyushu, 2007; MUTO, 2004.
Possui 993.525 habitantes, segundo o Censo Populacional realizado
em outubro de 2005, configurando-se na 2ª cidade mais populosa da Região de
Kyushu e na 12ª maior cidade japonesa. Esta população se distribui em 487,66 km²,
sendo a maior cidade em extensão da província, maior ainda que a capital Fukuoka
que possui 340 km² de área. Kitakyushu é dividida em sete distritos
17
, direito
conquistado pela importância econômica, apesar de não ser capital provincial.
Fundada em fevereiro de 1963, é o resultado da fusão de cinco
cidades: Moji, Kokura, Tobata, Yahata e Wakamatsu, que denominaram as atuais
divisões distritais do município.
17
Segundo a legislação japonesa, as cidades com população acima de 500.000 habitantes e com
importantes funções econômica e industrial podem estabelecer distritos, diferenciando-se de outros
municípios comuns. Atualmente, as cidades que se enquadram nesta categoria são: Osaka, Nagoya,
Yokohama, Quioto, Kobe, Kitakyushu, Sapporo, Kawasaki, Fukuoka, Hiroshima, Sendai, Chiba,
Saitama, Shizuoka, Sakai, Niigata e Hamamatsu.
70
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
5.1. Processo de industrialização
Kitakyushu é uma cidade industrial que se integrou à força de
desenvolvimento do país, como a própria administração gosta de enfatizar em seu
material informativo. O processo de industrialização foi feito de maneira
indiscriminada, sem nenhuma preocupação com a conservação e preservação dos
recursos naturais. A trajetória de Kitakyushu representa o rumo da industrialização
japonesa e os graves resultados negativos de poluição que isto causou e,
conseqüentemente, a luta para reverter esta situação, como se pode perceber na
análise de sua industrialização e posterior recuperação ambiental.
Com a instalação da Yahata Steel Works (Figura 26), em 1901, iniciou-
se o desenvolvimento da região de Kitakyushu como uma área de indústrias
pesadas e químicas. O impulso da política governamental japonesa dos anos 1950,
fez com que a cidade aproveitasse a proximidade da China (para obter minério de
ferro) e das minas de carvão em Fukuoka (na ilha central de Honshu) para se tornar
uma das quatro zonas industriais do país. Assim, nos anos 1960, o Japão conheceu
um rápido crescimento econômico. O desenvolvimento econômico e a prosperidade
industrial trouxeram consigo problemas de poluição nunca antes experimentados.
Os resultados negativos da degradação ambiental ainda não eram compreendidos
pelos habitantes na época, afinal, a sociedade japonesa acreditava que isso
significava o desenvolvimento do país e não um perigo para o meio ambiente
(WALSH, 2006). A localização das zonas industriais muito próximas das
residenciais, devido à falta de espaço no território japonês, potencializou os
impactos ambientais. Em Kitakyushu não foi diferente.
71
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 26: Yahata Steel Works, instalada em Kitakyushu em 1901
Fonte: Kitakyushu, 2003c.
Kitakyushu possuía uma zona industrial ao norte que concentrava
indústrias de grande porte, causando índices de poluição nunca antes registrados
em todo o Japão. A Baía de Dokai (Figura 27) sofreu igualmente com a poluição
deste período, conforme se pode observar na Figura 28. O despejo de esgoto
doméstico juntamente com os efluentes industriais, fez com que os índices de
qualidade de água chegassem a níveis extremos, e, em 1966, registrou os índices
de oxigênio dissolvido igual a 0 mg/l e de demanda de oxigênio químico
18
igual a 36
mg/l. Então, a Baía de Dokai ficou conhecida como “Mar da Morte”.
18
Segundo a Universidade de Água (2007), o Oxigênio Dissolvido representa a possibilidade de
existência de vida dos organismos aeróbios, como peixes, e é um dos principais parâmetros de
qualidade de água. A alta Demanda Química de Oxigênio indica grande concentração de matéria
orgânica e baixo teor de oxigênio, tendo como causa principal o despejo industrial.
72
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 27: Localização da Baía de Dokai.
Fonte: adaptado de Nakazono, 2006.
Figura 28: “Mar da Morte”, como ficou conhecida a Baía de Dokai, na década de
1960
Fonte: Kitakyushu, 2003c.
Ainda, no ano de 1965 registrou a maior precipitação de fuligem, com a
assombrosa média de 80 toneladas por mês por quilômetro quadrado, chegando a
108 toneladas por mês. Além disso, em 1969, em Kitakyushu, ocorreu o maior alerta
de smog (mistura de nevoeiro e poluição) do Japão. E assim, o distrito industrial de
Shiroyama passou a ser conhecido como local de 'acúmulo de poluição’, com seu
73
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
‘arco-íris de fumaça’
19
(Figura 29). Com a intensa poluição do ar, intensificou-se
também a incidência de pessoas com asma, chegando ao fechamento da Escola
Primária de Shiroyama. No Museu Ambiental, estão expostos relatos de que as
crianças apresentavam, pelo menos, dois tipos de doenças das vias respiratórias
nesta época.
Figura 29: ‘Arco-íris de fumaça’, como ficou conhecido o céu de Kitakyushu,
na década de 1960.
Fonte: Kitakyushu, 2003c.
Com a doença de seus filhos, as donas de casa de Kitakyushu, que já
enfrentavam a sujeira de fuligem constante em suas casas, tendo que lavar as
calçadas e as roupas várias vezes por dia, resolveram reivindicar melhorias. As
mães locais adotaram o slogan “queremos nosso céu azul de volta” e formaram
voluntariamente um grupo de monitoramento da poluição do ar, com o auxílio da
comunidade acadêmica local
20
. Com os resultados em mãos, os apresentaram aos
empresários e às autoridades governamentais para reivindicar medidas de reversão
da situação em que se encontravam. Assim, a cidade de Kitakyushu foi uma das
19
Referência às várias tonalidades da fumaça do céu de Kitakyushu.
20
Esta parceria se deu, principalmente, pela necessidade de cautela nas ações, já que a maioria
dessas mulheres era casada com operários das fábricas e uma atitude abrupta poderia colocar em
risco o sustento da família (WALSH, 2006).
74
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
primeiras no país a implementar políticas locais mitigatórias para recuperar o meio
ambiente.
A parceria que se estabeleceu com a comunidade local ainda hoje é
presente no planejamento municipal e nas atividades de melhorias ambientais da
região. Além disso, estas parcerias são muito bem valorizadas internacionalmente
como um modelo de melhoria ambiental.
5.2. Recuperação Ambiental
De acordo com Nakazono (2006), de 1960 a 1968, a poluição
ambiental acompanhou o desenvolvimento econômico, tendo seu pico na época do
alerta de smog. A partir do movimento das donas de casa de Kitakyushu, iniciou-se
a adoção de medidas mitigatórias para a poluição, invertendo esta relação, como se
pode observar na Figura 30. Apesar da maioria das áreas urbanas japonesas só
conseguirem melhorar seus níveis de poluição no final da década de 1970,
Kitakyushu reduziu em, aproximadamente, 75% seu índice de poluição entre 1970 e
1975, com a diminuição da utilização do carvão mineral.
75
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 30: Gráfico relacionando o desenvolvimento econômico com a poluição ambiental,
no período de 1960 a 1980.
Fonte: Nakazono, 2006.
O governo municipal estabeleceu o Centro de Monitoramento
Ambiental encarregado de realizar pesquisas científicas sobre a poluição ambiental
e auxiliar no seu controle. Houve também a assinatura do “Acordo de Prevenção à
Poluição” pela iniciativa privada e pelo governo, como forma de suprir as deficiências
da legislação em relação ao controle ambiental. Além disso, a administração de
Kitakyushu promoveu melhorias no saneamento básico e na provisão de áreas
verdes; criou locais de incineração e tratamento de resíduos sólidos e estabeleceu
medidas para assistir às vítimas da poluição. Em 1972, foi realizada na Baía de
Dokai a dragagem de sedimentos contendo mercúrio e outras substâncias tóxicas. O
volume chegou a 350 mil m³ de solo contaminado.
A iniciativa privada, no início, resistiu às mudanças, declarando que “a
sociedade deve ser capaz de suportar certo grau de poluição em função do
desenvolvimento” (WALSH, 2006, p.41). Porém, em 1967, foram aprovadas leis
76
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
nacionais de controle da poluição. E, com a pressão que a administração de
Kitakyushu estava exercendo, finalmente, as empresas empreenderam medidas
para conter a poluição, tais como revisão dos processos de produção, instalação de
equipamentos de tratamento de efluentes e promoção de campanhas de incremento
de áreas verdes industriais. Do mesmo modo, passaram a utilizar tecnologias para
melhoria de equipamentos e dos processos de manufatura, além do uso eficiente de
recursos e energia. Além dos ganhos ambientais, houve benefícios econômicos com
o aumento da produtividade.
Além disso, a administração municipal procedeu à política de apoio
especial a empresas de pequeno e médio porte, concedendo empréstimos a juros
baixos e suporte técnico; construção de instalações de medição do controle de
poluição; melhoria da rede de esgoto; e construção de instalações para o
gerenciamento de resíduos sólidos, cinturão verde e parques.
As melhorias ambientais foram conduzidas pela comunidade, tanto
cidadãos quanto iniciativa privada (KITAKYUSHU, 2003c). Conforme o gráfico da
Figura 31, no período de 1972 a 1991, dos gastos com a recuperação ambiental, o
governo arcou com 68,6%, concentrando-se no tratamento de efluentes e na
manutenção das áreas verdes, e o setor privado, com 31,4%, combatendo a
poluição do ar e da água. (NAKAZONO, 2006)
77
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 31: Gráfico dos investimentos dos setores privado e público na recuperação
ambiental no período de 1972 a 1991.
Fonte: Nakazono, 2006.
Há que se ressaltar, ainda, o apoio de instituições sem fins lucrativos
de abrangência internacional, como é o caso do Institute for Global Environmental
Strategies (IGES)
21
, da Japan International Cooperation Agency (JICA), Kitakyushu
International Techno-cooperation Agency (KITA), entre outros. Estas entidades
possuem tecnologia, capital e equipe técnica para elaboração e desenvolvimento de
tecnologias relacionadas aos processos de despoluição urbana. Estas entidades
assumem papel fundamental não só nos resultados ambientais obtidos, como na
divulgação do processo de recuperação ambiental.
A tática de Kitakyushu baseia-se em três pontos, conforme a Figura 32.
As estratégias se concentram em promover educação e pesquisas de base,
incentivar pesquisas técnicas e empreendedorismo. A educação e pesquisas de
21
Entidade ligada à United Nations Economic and Social Comission for Asia and the Pacific, com
sede na cidade de Kitakyushu.
78
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
base dizem respeito às pesquisas acadêmicas, formadoras de opinião pública e
como forma de consolidar a filosofia das políticas ambientais. As pesquisas técnicas
e de verificação de resultados práticos são representadas pela incubadora para
empreendimentos locais e funciona na Área de Pesquisas do Projeto Eco Town
22
. O
empreendedorismo trata do desenvolvimento de empreendimentos ambientais e de
reciclagem, assim como do suporte a pequenas e médias empresas, localiza-se no
Projeto Eco Town, mais especificamente na área do Complexo Ambiental e no
Complexo de Reciclagem Hibiki.
Figura 32: Estratégia de Kitakyushu para a Promoção da Indústria Ambiental
Fonte: adaptado de Kitakyushu, 2003b.
5.2.1. Projeto Eco Town
O Projeto Eco Town compreende dois dos itens norteadores da estratégia de
promoção da indústria ambiental de Kitakyushu. Trata-se de um empreendimento
22
O Projeto Eco Town foi criado como forma de se reagir à degradação ambiental, motivado pelas
manifestações populares, com a tônica da reciclagem, reciclando, inclusive a área destinada à
expansão industrial, conforme item 5.2.1.
79
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
para planejar a construção de uma sociedade ambientalmente sustentável
23
, visando
à ‘emissão zero de resíduos, dando um uso alternativo a todos os rejeitos’
(KITAKYUSHU, 2005; 2003b).
O Projeto começou a ser idealizado em 1989, com a estruturação
básica da exploração da área de Hibikinada. Entre o período de 1994 a 1996 definiu-
se o plano de desenvolvimento da área de Hibikinada e, em 1997, a cidade foi
reconhecida como uma Eco Town japonesa. Atualmente, são 19 Eco Towns no
Japão, sendo que Kitakyushu foi a pioneira na obtenção deste certificado.
(KITAKYUSHU, 2005; 2003b; 2003d).
Segundo a prefeitura (Kitakyushu, 2003c), o Projeto Eco Town é um
pólo industrial às avessas, ou seja, na área aterrada para expansão da área
industrial a administração pública local criou um complexo de equipamentos de
reciclagem diversos e centros de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias limpas
e produção de energia alternativa. Está localizado estrategicamente, com seus
equipamentos voltados para o mar e para a ilha de Honshu, no local chamado
Hibikinada, na Baía de Dokai, esta área é dividida em duas partes, de acordo com a
função estratégica (ver Figura 32): Área de Pesquisas e Complexo Ambiental –
Complexo de Reciclagem Hibiki (Figura 33).
23
Na língua japonesa é usado um termo que, literalmente, significa ‘sociedade nos moldes da
renovação cíclica dos recursos naturais’.
80
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 33: Projeto Eco Town: Área de Hibikinada.
Fonte: Nakazono, 2006.
Na Área de Pesquisas se reúnem várias instituições ligadas às
pesquisas de reciclagem e disposição de resíduos. Graças à cooperação de
empresas, governo e universidades, esta parte de Hibikinada foi pioneira na
verificação de resultados práticos das altas tecnologias na área ambiental. São
aproximadamente 17 equipamentos auto-sustentáveis para esta finalidade,
realizando vários tipos de pesquisas, desde controle ambiental (um laboratório
pertencente às universidades públicas da província de Fukuoka) até pesquisas de
reciclagem de materiais específicos. Apesar de haver um custo para as entidades se
instalarem no local, o governo do país ajuda com uma parte dos encargos do
empreendimento. Como se pode observar na Figura 34, uma parte da área pertence
ao município de Kitakyushu, onde se instalou o Instituto de Pesquisa de Resíduos
Sólidos e o Centro Eco Town. (KITAKYUSHU, 2003C; 2007; 2003b; NAKAZONO,
2006)
81
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 34: Área de Pesquisas da Eco Town.
Fonte: Nakazono, 2006.
*Nota: A área demarcada em azul pertence ao município e a área em laranja, às universidades provinciais de
Fukuoka.
Para a prefeitura de Kitakyushu (2003c; 2003d), o Centro Eco Town é
um centro de informações, com exposições e palestras de educação ambiental e
sobre as atividades de Hibikinada. Foi construído em 2001 e representa a
transparência para com a população, ou seja, é o elo de comunicação da
comunidade com a prefeitura. É uma forma de a administração pública divulgar os
resultados do empreendimento para a comunidade. Além disso, duas vezes por
semana são realizadas visitas das escolas para divulgar as atividades do Eco Town.
O Complexo Ambiental – Complexo de Reciclagem Hibiki está
localizado estrategicamente ao norte de Hibikinada, tendo um porto exclusivo para
entrada e saída de produtos. No Complexo Ambiental estão instalados vários
equipamentos de reciclagem de materiais da cidade de Kitakyushu além de área
reservada para médias e pequenas empresas se instalarem, como se pode observar
82
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
na Figura 35. Nesta área, encontra-se um dos dois centros de reciclagem de
eletrodomésticos do município de Kitakyushu, cujas matérias-primas são máquinas
de lavar roupas, aparelhos de ar condicionado, televisores entre outros. Os restos de
construção civil também têm um centro de reciclagem nesta área. Ainda, há um
centro de reciclagem de energia, onde se queimam as sobras das próprias fábricas
para geração de energia para o próprio complexo, contribuindo para a auto-
sustentabilidade. A fábrica de reciclagem de garrafas PET foi a primeira a se instalar
na área. Esta e as fábricas de reciclagem de materiais de informática, de
automóveis, de eletrodomésticos e de lâmpadas fluorescentes recebem um subsídio
de 5% dos custos das atividades por terem sido as primeiras a se instalarem.
Já a área assinalada em vermelho na Figura 35, o Complexo de
Reciclagem Hibiki, é destinada a pequenas e médias empresas que atuem na área
de reciclagem. Os terrenos são alugados a baixo custo pela administração pública
local por longo período, dando suporte à instalação dos equipamentos. Nesta área
há empreendimentos de reciclagem de automóveis, de óleo de cozinha, de papéis e
de latas de alumínio.
83
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 35: Complexo Ambiental – Complexo de Reciclagem Hibiki.
Fonte: Nakazono, 2006.
*Nota: a área em vermelho representa o Complexo de Reciclagem Hibiki.
Em 2000, ficou definido o planejamento da Segunda Fase da Eco Town
com incentivos à instalação de equipamentos na área remanescente de Hibikinada,
sendo o prazo para tal o ano de 2010. O objetivo desta fase é se estabelecer como
uma ‘cidade ambientalmente sustentável’ perante a Ásia. São pontos relevantes
desta fase:
- Ocupar toda a Área de Pesquisas;
- Promoção da prática de Reuso e Reconstrução;
- Promover capacitações;
- Desenvolvimento dos empreendimentos que usufruam da infra-estrutura Eco
Town;
- Incentivo à instalação de empreendimentos que usem novas Tecnologias de
energia limpa, tecnologia micro/nano e afins.
Logo, de acordo com os preceitos acima, nesta área há preferência
para a instalação de equipamentos ligados ao reuso dos resíduos e a formas
alternativas de energia, conforme Figura 36.
84
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 36: Empresas instaladas na Segunda Fase da Eco Town, em 2006.
Fonte: elaborado pela autora, baseado em Nakazono, 2006; Kitakyushu, 2003b.
O Projeto Eco Town está instalado em uma área anteriormente destinada à
instalação de indústrias e por isso ainda apresenta resquícios da paisagem
industrial. Apesar de não haver espécies nativas por se tratar de uma área de aterro,
o plantio de vegetação está sendo feito de modo gradativo e lento, para se reverter a
imagem industrial.
5.3. Educação Ambiental
A educação ambiental está inserida no currículo escolar, como ocorre
em Curitiba, de modo interdisciplinar. Como atividade extra, há um programa
denominado “Bosque Escolar”, que consiste em plantar árvores e cultivá-las dentro
de uma área da escola. Além disso, promove o reaproveitamento do resíduo
orgânico, produzindo adubo utilizado na horta e no jardim da escola. Os adubos são
85
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
produzidos também pela comunidade, em hortas comunitárias, muito comuns no
Japão devido à falta de espaço.
Ainda, a prefeitura de Kitakyushu mantém campanhas de venda de
papel usado, junto às crianças. No início, a prefeitura comprava o papel usado, por
não ter interessados na compra. Em 2004, havia problemas de roubo de papel pelo
preço alto que o produto adquiriu.
5.3.1. Museu Ambiental de Kitakyushu
O Museu Ambiental de Kitakyushu foi criado como memória e registro
da história de extrema degradação ambiental e a vitória sobre a poluição. É também
uma maneira de efetivar a educação ambiental e pensar o futuro. Representa a
herança para as futuras gerações do duro aprendizado de Kitakyushu.
Localizado na porção norte da cidade, fica próximo às antigas
instalações do Yahata Steel Works. É um local para ver, vivenciar e pensar o futuro,
de maneira divertida e leve. Procura passar aos visitantes que a questão ambiental
não é um assunto complicado.
Figura 37: Localização do Museu Ambiental de Kitakyushu.
Fonte: elaborado pela autora, baseado em Nakazono, 2006.
86
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 38: Vista do Museu Ambiental de Kitakyushu.
Fonte: Kitakyushu, 2007.
O Museu Ambiental de Kitakyushu é um edifício ecologicamente
correto. Utiliza-se de painéis de energia solar; laje-jardim, para diminuir as trocas de
calor e aumentar a eficiência energética; sistema de reaproveitamento de água das
chuvas, acumulado embaixo da edificação arredondada. Esta edificação possui
também 130 diodos de bateria solar para iluminar externamente a cúpula durante a
noite. O sistema de ar condicionado contribui para a diminuição da produção de CO
2
e economiza energia, pois aproveita as baixas temperaturas noturnas para produzir
gelo e o utiliza durante o dia para resfriar os ambientes do museu. Há, ainda, um
sistema híbrido de iluminação gerada da energia solar e eólica utilizada nos
escritórios administrativos do museu. (KITAKYUSHU, 2007b; 2003a)
Funciona como um centro de educação ambiental, destinado à
visitação de crianças, principalmente. Com várias atividades para formar líderes
ambientais, atua com as palavras-chaves: sensibilização, brincadeira e reflexão.
Além disso, o Museu é equipado com salas de uso múltiplo, salas de conferência e
87
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
teatro que podem ser utilizadas para reuniões e eventos pela comunidade e
empreendimentos sem fins lucrativos.
Há exposições sobre a história do combate à poluição de Kitakyushu,
desde a cidade industrial até a Eco Town (Figura 39) e a intenção de se tornar
“Capital Ecológica Mundial”. Mas não se limita à questão municipal. Procura tratar
das questões ambientais mundiais e das tecnologias para uma vida ecologicamente
correta. Pretende sensibilizar os visitantes sobre as ações cotidianas de preservação
ambiental (Figura 40). Há, ainda, um teatro que se localiza na porção arredondada
do museu (vide Figura 38), que lembra o globo terrestre. As imagens são projetadas
na parte interna da abóbada, tornando a sessão divertida e dinâmica.
Figura 39: Exposição sobre a história de
Kitakyushu.
Fonte: Kitakyushu, 2007.
Figura 40: Painel sobre a relação da
cidade e meio ambiente natural.
Fonte: Kitakyushu, 2007.
Cerca de 100 voluntários trabalham no museu ambiental de
Kitakyushu, acompanhando os visitantes ou promovendo atividades de educação
ambiental. Esta equipe é fundamental no processo de aprendizagem e no repasse
das mensagens para os visitantes.
A atividade ‘Divirta-se aprendendo! Sala de aula ambiental’ consiste em
experiências simples para desmistificar a imagem dura de meio ambiente. Há
88
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
também o Ecoclube que funciona nas instalações do museu. São grupos de
estudantes da educação fundamental que realizam experiências de reciclagem,
pesquisas sobre o lixo e muitas outras atividades.
5.4. Cooperações Internacionais
O meio ambiente é o eixo orientador do planejamento municipal desta
cidade. Porém, a divulgação da imagem de ‘cidade que obteve resultados bons
resultados através de ações ambientais bem sucedidas’ possui um papel relevante
no contexto administrativo da cidade. Isto fica ainda mais claro na sua Agenda 21,
que tem como um dos itens orientadores básicos a contribuição para o mundo de
suas experiências em preservação ambiental, disseminando a experiência de
combate à poluição através da força das parcerias entre público, privado e
população. Além disso, visa difundir a atual política de administração ambiental e
política de tratamento de resíduos. Afinal, como a própria administração de
Kitakyushu gosta de enfatizar: “Nossa história mostra que a produção mais limpa é
importante para atingir o desenvolvimento sustentável.” (NAKAZONO, 2006)
Assim, desde a década de 1980, a cidade de Kitakyushu tem repartido
suas experiências com os países em desenvolvimento que estão sofrendo com a
poluição ambiental. Segundo Walsh (2006), a contribuição de Kitakyushu é valiosa,
pois mostra que é possível a despoluição e a obtenção de uma ‘identidade verde’,
ou seja, a sociedade em harmonia com o meio ambiente. Várias são as
organizações sem fins lucrativos que atuam na área de cooperação internacional
difundindo a experiência de Kitakyushu para o leste asiático. Com a filosofia: “pelas
pessoas, pelo planeta e pelas gerações futuras”, têm como objetivos: contribuições
para a preservação ambiental mundial; contribuições para um planejamento
89
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
municipal de boa habitabilidade; contribuições para mobilização da região leste da
Ásia. (KITAKYUSHU, 2005; 2003b; 2003c; 2003d)
Em 1980, foi inaugurado o KITA (Kitakyushu International Techno-
cooperation Agency), com o objetivo de promover o intercâmbio internacional no que
diz respeito à harmonia entre desenvolvimento industrial e conservação ambiental
(KITAKYUSHU INTERNATIONAL TECHNO-COOPERATION AGENCY, 2006). Em
1989, iniciou-se o programa de estágio técnico internacional com a vinda de
estagiários da JICA (Japan International Cooperation Agency).
Com isso, o intercâmbio com os países em desenvolvimento se
intensificou e se consolidou. No período de 1986 a 2005, o intercâmbio internacional
registrou 1.438 pessoas de 102 países aceitos como estagiários técnicos e mais de
108 técnicos enviados para 25 países, conforme Tabela 3. Note-se que a área de
abrangência de atuação dos técnicos não se restringe à Ásia. (KITAKYUSHU,
2003c)
Tabela 3: Intercâmbio internacional, no período de 1986 a 2005.
País
Técnicos aceitos
pelo Japão
Técnicos enviados
para o país
Estados Unidos 348 17
Europa Ocidental 148 2
Á
sia 673 76
Oceania 26 0
A
mérica Latina 243 13
Totais 1438 108
Fonte: Kitakyushu, 2003c. Organizado pela autora.
A cidade-irmã de Kitakyushu é Dalian que demonstra os melhores
resultados do intercâmbio. Situada no nordeste da China, a sua situação de
degradação ambiental assemelhava-se ao de Kitakyushu dos anos 1960. Com o
90
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
conhecimento adquirido de Kitakyushu a cidade conseguiu se despoluir e ainda se
tornou um modelo chinês de combate à poluição (KITAKYUSHU, 2003c; WALSH,
2006).
5.5. Reconhecimento Internacional
O esforço de Kitakyushu em promover a cooperação internacional
ambiental foi reconhecido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA) em 1990, através do ‘Global 500 Award’, sendo a primeira cidade
japonesa a receber este título. Além disso, na Conferência da Terra, em 1992,
realizada no Rio de Janeiro, Kitakyushu foi a única representante japonesa a receber
o Prêmio das Nações Unidas para Governos Locais, devido às suas boas práticas
de planejamento urbano.
Em 2000, Kitakyushu sediou a Conferência Ministerial em Meio
Ambiente e Desenvolvimento organizado pela Comissão Econômica e Social das
Nações Unidas para a Ásia e Pacífico. Este foi o primeiro evento realizado fora de
Bangkok, onde a secretaria está situada. Isto demonstra quão fortes e significativas
são as políticas ambientais de Kitakyushu e suas relações com a região asiática.
Nesta conferência, definiu-se um documento denominado “Iniciativas de Kitakyushu
para um Meio Ambiente Limpo”, contendo a luta no combate à poluição desta cidade
e seus resultados de revitalização urbana como modelo para as cidades asiáticas da
região do Pacífico. Desta forma, foi instalado um escritório do IGES, representando
a Comissão Econômica e Social das Nações Unidas para a Ásia e Pacífico. Até
março de 2003, 62 cidades de 18 países desta região participaram da rede
estabelecida, seja na forma de intercâmbio de informações através de seminários
temáticos seja como projetos pilotos.
91
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Dez anos após a Conferência da Terra, em 2002, aconteceu a
Conferência Mundial de Desenvolvimento Sustentável (RIO +10), em Joanesburgo.
A delegação de Kitakyushu era composta por representantes do governo e por
lideranças locais, mostrando ao mundo a força das parcerias vínculo da cidade para
com seus cidadãos. No documento final desta conferência o documento “Iniciativas
de Kitakyushu para um Meio Ambiente Limpo”, de 2000, foi citado como um dos
bons exemplos mundiais a ser seguido. Porém, o ponto alto para Kitakyushu foi o
recebimento do Prêmio de Desenvolvimento Sustentável da Conferência da Terra
2002, pelo esforço na busca do desenvolvimento sustentável e resultados notáveis
em dez anos, desde a Conferência do Rio.
Assim, a cidade de Kitakyushu ruma em direção ao título de “Capital
Ecológica Mundial”, baseando-se na vivência e construção coletiva da cidade, com
desenvolvimento econômico através de um ambiente saudável, visando a
sustentabilidade do município. Além disso, promove fóruns de discussão entre seus
cidadãos, organizações não-governamentais, universidades, iniciativa privada e
administração pública, além das cooperações internacionais. Estes encontros
representam o intercâmbio de idéias de várias naturezas, enriquecendo a
experiência da cidade na busca pelo desenvolvimento sustentável.
92
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Figura 41: Vista da cidade de Kitakyushu, nos dias atuais.
Fonte: Walsh, 2006.
Figura 42: Vista do céu azul de Kitakyushu, nos dias atuais.
Fonte: Kitakyushu, 2003c.
93
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
6. ANÁLISE SINTÉTICO-COMPARATIVA
Os capítulos anteriores contextualizam as cidades de Curitiba e
Kitakyushu, tanto geograficamente quanto em relação às suas ações que envolvem
a marca “Cidade Ecológica”. Na seqüência trata-se das estratégias de criação desta
marca, de modo a identificar os elementos integrantes do processo e proceder a sua
análise.
De acordo com as análises dos programas e projetos descritos,
agrupou-se e sintetizou-se elementos que contribuíram para a criação e
consolidação da marca de cidade, apontando as similaridades e particularidades de
cada cidade, visando promover a identificação dos fatores intervenientes. A seguir,
tem-se a matriz interpretativa dos elementos relacionados com a marca “ Cidade
Ecológica” (Tabela 4). Na seqüência, explana-se cada item desta matriz para cada
caso.
Tabela 4: Matriz interpretativa dos elementos relacionados com a marca “Cidade Ecológica” em
Curitiba e Kitakyushu
Elementos relacionados com a marca de
cidade
Curitiba Kitakyushu
Início da construção
Anos 1970, com a
implementação do Plano
Preliminar de Urbanismo
Início dos anos 1970,
com a situação de
extrema degradação
ambiental
Pontos fortes
Áreas verdes e Coleta
seletiva de resíduos
sólidos
Recuperação ambiental
e Reciclagem de
resíduos sólidos
Ícones
Parques e “Lixo que não é
Lixo”
Projeto Eco Town
Palavra-chave Simplicidade Inovações tecnológicas
Participação da população
Programas no cotidiano
do cidadão
Reivindicação por
melhorias ambientais
Local de disseminação de informações ambientais
Universidade Livre do
Meio Ambiente
Museu ambiental
Premiação internacional The Global 500 Award The Global 500 Award
94
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
O início da construção da marca de cidade aconteceu na década de
1970, tanto em Curitiba quanto em Kitakyushu. Neste período, o rápido crescimento
populacional e o esgotamento dos recursos renováveis estavam sendo discutidos
por cientistas de vários países, formando o Clube de Roma. Apesar de ter a sua
proposta contestada, tem um papel importante como incentivador de realizações de
conferências internacionais sobre o meio ambiente (FRANCO, 2001). Em 1972,
segundo a autora, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
Humano, em Estocolmo, foi discutida a questão da industrialização e
desenvolvimento rápido, sem priorizar a conservação ambiental.
Kitakyushu era um exemplo de cidade que estava sentindo o efeito da
falta de cuidado ambiental devido à sua industrialização, apresentando um quadro
de extrema degradação do meio ambiente, em meados da década de 1960. A
administração da cidade de céu cinza (devido à poluição) iniciou neste período a
implementação de políticas de recuperação do meio ambiente e controle da
poluição.
Diante o contexto mundial de conferências sobre a qualidade de vida
nas cidades contemporâneas, os governantes de Curitiba perceberam que o
discurso referente à conservação do meio ambiente estava se configurando como
temática dominante daquele período. O Plano Preliminar de Urbanismo começou a
ser implementado, com a adoção da verticalização dos eixos estruturais e o uso do
solo vinculado ao transporte coletivo e à circulação.
Ambas aproveitaram este momento histórico para se colocarem como
modelos de planejamento internacional. Esta situação depende não somente de
intenções verbalizadas, mas também do contexto local e regional e das ações
95
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
implementadas, assim como da aceitação pela população. Enfim, as respectivas
administrações públicas souberam investir nas potencialidades que se apresentaram
no momento adequado do contexto local e internacional, aliando-o à vontade
política.
A questão natural e de resíduos sólidos são temáticas utilizadas pelas
cidades como ponto forte da marca de cidade.
Os parques e bosques da cidade são uma das imagens veiculadas
quando a mídia se refere à Curitiba. A abundância de áreas verdes de Curitiba é
divulgada como sinônimo de qualidade de vida urbana e, assim, auxilia na
consolidação da marca de cidade, com uma administração pública que se esforça
por oferecer espaços abertos e ambientalmente ecológicos. O processo de
implantação de parques e bosques na cidade de Curitiba começou na década de
1970, com a implementação do Plano Preliminar de Urbanismo, conforme já visto. A
criação de parques foi mais intensa na década de 1990, coincidindo,
estrategicamente, com a época em que a administração da cidade iniciou a
divulgação da marca de “Cidade Ecológica”. Os parques, que foram criados para
conter as cheias e preservar o meio ambiente, primordialmente, acabaram tornando-
se atrações turísticas de Curitiba. Muitos são os visitantes destas áreas, tanto da
população interna quanto de turistas, conforme item 4.2, que trata do sistema de
áreas verdes de Curitiba.
A coleta seletiva de resíduos sólidos realizada em Curitiba desde 1989,
com seu caminhão de cor verde (ver Figura 20) e ilustrado com os personagens do
96
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Grupo Separe
24
(ver Figura 22), também se tornaram destaque no discurso
curitibano. Há, também, programas voltados para a população de baixa renda, como
o Câmbio Verde
25
, para divulgar a temática ambiental de forma prática para estas
classes.
Em Kitakyushu, a recuperação ambiental pós-industrialização é
constante na divulgação da “Cidade Ecológica” japonesa. A administração
conseguiu reverter esta situação extremada e recuperou a credibilidade perante
seus moradores e perante o país, conforme descrito anteriormente, tendo como
resultados o mar novamente limpo e o céu, azul.
A reciclagem de resíduos na cidade de Kitakyushu acontece na área
denominada Complexo Ambiental – Complexo de Reciclagem Hibiki. Além disso, há
a Área de Pesquisas da Eco Town, com as entidades de pesquisas de reciclagem
de resíduos diversos e de controle ambiental que auxiliam na produção de
tecnologias de melhorias ambientais
26
.
Os parques de Curitiba e o Programa “Lixo que não é Lixo”
transformaram-se em ícones da cidade, como símbolos da preocupação ambiental
da administração municipal e da qualidade de vida oferecida aos cidadãos. Os
parques geralmente possuem a infra-estrutura para a prática de esportes e para o
lazer. Atualmente, atrai muitos turistas, que consideram estas áreas muito relevantes
ao relacionar a qualidade de vida à cidade de Curitiba, conforme Custódio (2006).
Além disso, há estruturas específicas para atividades de educação ambiental, tais
como o Centro de Visitantes e o Acantonamento do Parque Iguaçu, Centro de
24
Personagens que ilustram a campanha do “Lixo que não é Lixo”, da campanha de coleta seletiva
de resíduos sólidos urbanos da cidade de Curitiba, conforme item 4.3.
25
Sobre o Câmbio Verde, ver item 4.3.
26
Ver item 5.2.1, que dispõe sobre a Eco Town.
97
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Referência das Águas do Parque das Nascentes do Rio Belém, entre outros. Pela
sua relevância para a imagem, os parques estão incluídos no roteiro turístico de
Curitiba, tanto pelas agências de turismo como pela existência de uma linha que
percorre os pontos turísticos da cidade e no qual estão incluídos os parques.
O Programa “Lixo que não é Lixo”, referente à coleta seletiva de
resíduos sólidos, também se tornou símbolo da marca de cidade. O intuito era
ganhar espaço no cotidiano da população. Por isso, procedeu a outras campanhas
de separação de resíduos recicláveis, tais como o Câmbio Verde e Compra do Lixo,
como forma de aproximação com o público de baixa renda.
Em Kitakyushu, o grande projeto Eco Town é um ícone da marca de
cidade, representando o esforço da administração em reverter a situação de
degradação ambiental alcançada pela industrialização do período pós-guerra e que
ajudou a transformar a cidade em referência de planejamento urbano preocupado
com a questão do meio ambiente. Compreende dois dos itens norteadores da
estratégia de indústria ambiental da cidade: a área de pesquisas e de
empreendedorismo, com o complexo de reciclagem, conforme item 5.2 e 5.2.1.
A palavra-chave de Curitiba indicada pelos técnicos envolvidos no
processo de criação da marca de Curitiba e representantes da administração pública
(NAKAMURA, 2007; TOCCHIO, 2006; TONIOLO, 2006) é simplicidade. Iniciou-se
com uma idéia simples e criou-se um sistema. Com a linguagem fácil e com ações
pontuais, ganhou o apoio da população. Ainda, segundo Toniolo (2006), as pessoas
se habituaram às diretrizes lançadas pela administração municipal nos anos 70, as
quais estavam baseadas no tripé uso do solo, sistema viário e transporte.
98
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Já na cidade japonesa de Kitakyushu, a reversão da situação extrema
de degradação ambiental só foi possível devido à união de forças entre os vários
setores da sociedade. Segundo a própria prefeitura de Kitakyushu, a renovação
urbana foi possível por meio das parcerias firmadas entre residentes, iniciativa
privada e governo local. Além disso, as empresas privadas e entidades sem fins
lucrativos, tais como Kitakyushu International Techno-cooperation Agency (KITA),
Institute of Global Environment Strategies e Japan International Cooperation Agency,
possuem tecnologia, capital e equipe técnica para elaboração e desenvolvimento de
tecnologias necessárias para a sustentabilidade municipal. Graças a estas
tecnologias, puderam-se visualizar resultados eficientes em tão pouco espaço de
tempo.
Em relação à participação da população, há grandes diferenças. No
caso de Curitiba, a administração pública assume integralmente a função de refletir
sobre a cidade. A prefeitura implementa suas propostas e seu sucesso é avaliado à
medida que a população aceita as ações e as incorpora ao seu cotidiano. De acordo
com o nível de aceitação da comunidade, as empresas privadas também passam a
firmar parcerias. No caso de Kitakyushu, foi necessária a iminente ameaça à saúde
da sociedade, como sinal da extrema degradação ambiental, para que a população
se unisse a grupos de pesquisa e reivindicasse melhorias. À medida que a prefeitura
respondia a este chamado, era também avaliada, pela população, com base nos
resultados obtidos. Há que se ressaltar que a sociedade japonesa, ao contrário da
brasileira, não tem o hábito cultural de se envolver nas questões políticas em geral.
Por isso, o exemplo de Kitakyushu é tão emblemático no seu país, pois foi um marco
da participação popular.
99
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Mesmo que as atividades da Universidade Livre do Meio Ambiente de
Curitiba (UNILIVRE) e do Museu Ambiental de Kitakyushu
27
sejam relativamente
independentes, estas instituições compartilham do mesmo objetivo de ser o local de
disseminação de informações sobre o meio ambiente e sobre as práticas
relacionadas à “Cidade Ecológica”. Representam também um ícone para a
cidade, com as características arquitetônicas de suas construções singulares. A
UNILIVRE é um espaço destinado a difundir questões de ecologia e ambiente
natural, visando a melhoria da qualidade de vida urbana. O Museu Ambiental de
Kitakyushu atua como centro de educação ambiental com suas exposições e
atividade destinadas a formar líderes ambientais, voltadas para as crianças,
principalmente.
Complementarmente, as duas cidades investiram em práticas e
projetos urbanísticos que pudessem consolidar a pretensa imagem. Desta forma,
trazem o discurso de simbolismos para o campo físico, materializando-os e
estimulando o sentimento de pertencimento do cidadão à cidade e potencializam sua
auto-estima, ainda que de maneira vertical, já que as ações foram lideradas e, de
certa forma impostas, pela administração municipal. Ademais, recebem o
reconhecimento da Organização das Nações Unidas a algumas destas práticas, por
meio do principal prêmio internacional na área: The Global 500 Award. Este fato
induz e facilita o recebimento de outros prêmios que auxiliam na consolidação
internacional. O papel da mídia e das organizações internacionais foi fundamental
neste processo como meio de divulgação da imagem e das ações urbanísticas.
Além disso, esta premiação indica a articulação política de cada cidade perante as
27
Sobre a Universidade Livre do Meio Ambiente, ver item 4.2.1; sobre o Museu Ambiental de
Kitakyushu, ver item 5.3.1.
100
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
instituições multilaterais, para se alcançar a condescendência destas organizações e
serem apontadas como modelos de planejamento urbano internacionalmente.
Além dos elementos citados acima, há que se ressaltar a questão
política das administrações públicas. Vale ressaltar que, apesar da cidade japonesa
não possuir a autonomia que a cidade brasileira possui, a liderança governamental e
política foram fortes na implementação e consolidação da marca de cidade em
Kitakyushu.
Já em Curitiba, o que garantiu a continuidade dos programas foi a
vontade política forte da administração pública (TOCCHIO, 2006; NAKAMURA,
2007). De fato, Vainer (2000) diz ser necessária uma liderança urbana forte,
representada pela administração, para o sucesso das políticas da cidade capitalista.
Porém, a maneira como Curitiba procedeu conferindo a sua intenção de se
estabelecer como “Cidade Ecológica” é discutível por estes autores, por se tratar de
um processo imposto por esta mesmo administração pública. O envolvimento da
comunidade ficou restrito à condição de beneficiária de uma intervenção pública e a
sua aceitação das ações incorporadas em seu cotidiano representou o resultado
positivo destas intervenções.
101
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
7. CONCLUSÕES
Em Curitiba, as ações de criação e o processo de consolidação da
marca de cidade, referente a uma cidade com preocupações ambientais coincidiu
com a presença do mesmo grupo político à frente da prefeitura, permitindo haver
uma continuidade na concretização de um objetivo.
Na cidade japonesa, as parcerias entre governo, residentes e iniciativa
privada foram fundamentais no processo de despoluição de Kitakyushu. Apesar de a
iniciativa popular possuir uma importância inestimável sob o viés social, a parceria
firmada com a iniciativa privada e com as instituições internacionais foi a que
garantiu o desenvolvimento de tecnologias para o alcance das metas ambientais.
Isto confirma o modelo de planejamento urbano que faz uso de atores como a
parceria público-privada, demonstrando os princípios do capitalismo também no
espaço urbano.
O embasamento teórico possibilitou estabelecer conceitos e discutir
temas importantes para o entendimento das situações vividas pelas cidades. Após a
busca de conceitos que fundamentaram teoricamente a pesquisa e com a descrição
e análise dos programas e projetos relacionados com a marca de cidade de Curitiba
e Kitakyushu, pôde-se relacionar os elementos envolvidos da marca “Cidade
Ecológica”. Deste modo, os objetivos específicos foram alcançados e auxiliaram a
atingir o objetivo principal de analisar a estruturação dos elementos que contribuíram
para o estabelecimento da marca “Cidade Ecológica” em Curitiba, no Brasil, e em
Kitakyushu, no Japão.
102
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
Apesar da pesquisa de estudo de caso fornecer poucas bases para a
generalização científica, verificou-se que a criação de marca de cidade reflete-se
como um importante ponto no planejamento de cidades. Por ser um tipo de
investigação que se volta para a multiplicidade de dimensões de um fato, o estudo
de caso dá ênfase na análise do conjunto de variáveis. Para estudos futuros, tendo
como base esta pesquisa, seria interessante voltar-se para a especificidade de
algum item na questão de marca de cidade, tal como a influência de cada programa
das cidades na consolidação da marca, o papel da mídia na construção e
consolidação da marca de cidade, o papel da educação ambiental na consolidação
da marca perante a comunidade, entre outros.
De certa forma, a distância física da cidade de Kitakyushu dificultou a
coleta de dados, ficando a autora limitada à visita técnica e entrevistas realizadas
em 2004. Por outro lado, informações complementares obtidas por meio dos
contatos pré-estabelecidos, enviados por meio eletrônico e pelo correio, foram
fundamentais para a efetivação desta pesquisa.
A pesquisa e produção científica dentro deste tema tão atual, fazendo
um paralelo de um país desenvolvido com outro em desenvolvimento, se mostra de
relevada importância. Num mundo capitalista, a cidade também deve ser
competitiva, para atrair investimentos, gerando fluxos de capital e impulsionando
para o desenvolvimento. Porém, para que as políticas urbanas se tornem efetivas, é
necessário que as políticas sejam elaboradas e implementadas visando a
participação da comunidade de forma ativa na construção da cidade e de sua
imagem. Cada vez mais a participação democrática da sociedade se faz
fundamental no processo de construção do espaço urbano.
103
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
A importância da comparação de duas realidades distintas é a análise
crítica de outras experiências de modo a considerar as iniciativas e resultados
respectivos. Com isso, pode-se planejar a cidade com ampla visão e soluções
locais, de modo a incrementar o planejamento municipal e gestão urbana. Afinal, o
planejamento municipal deveria garantir a melhor qualidade de vida aos seus
cidadãos. E, usando a escala do lugar, pode auxiliar a formular estratégias
inovadoras para inserir a cidade num contexto mundial, subsidiando os gestores
urbanos em relação à formulação de políticas urbanas que visem o desenvolvimento
sustentável da cidade, considerando as dimensões política e cultural, num contexto
em que as barreiras físicas deixaram de ser fatores limitantes.
As cidades desta pesquisa possuem realidades muito diferentes entre
si. Porém, têm em comum a adoção de marca de “Cidade Ecológica”, começando a
construção desta marca no início da década de 1970. Em 1990, na Conferência da
Terra, tanto Curitiba quanto Kitakyushu receberam o prêmio do Programa da
Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente, sendo reconhecida pelas
iniciativas ambientais. Os critérios condicionantes para a premiação consiste em
assunto a ser aprofundado em investigações posteriores, já que não foram
discutidos no âmbito desta dissertação. Seria interessante também analisar as
conseqüências diretas na população após o recebimento deste prêmio, como um
dos resultados deste, além da eminente visibilidade da administração da cidade
perante a sociedade internacional. Independentemente do processo a ser cumprido
para se obter a premiação, interessa à presente pesquisa o fato de o mesmo
legitimar junto à comunidade internacional, a boa prática implementada pelas
104
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
cidades premiadas, servindo para dar credibilidade a este importante meio para a
divulgação e consolidação das imagens.
Sendo a cidade um sistema complexo, não se pode afirmar a
existência de uma relação de elementos e estratégias definidas para o seu pleno
desenvolvimento, pois o planejamento é um processo dinâmico e singular para cada
sociedade. O desafio é tornar a cidade-mercadoria, que alguns acreditam que não
possa ser democrática, em um espaço de negociação de interesses, de modo a
prevalecer o interesse coletivo. Neste sentido, o papel das administrações públicas é
central. É ela que lidera, governando de maneira responsável e ética e equilibrando
as várias faces da cidade. Nos casos estudados, percebeu-se que esta participação
democrática nem sempre esteve presente.
Assim sendo, este trabalho não pode ser considerado conclusivo, já
que muitas questões ainda devem ser discutidas para se alcançar uma cidade mais
justa para seus moradores e em harmonia com o meio ambiente. A utilização da
marca de cidade, sobretudo a de “Cidade Ecológica”, remete a temas como à
identidade de cidade, análise da ecologia das cidades contemporâneas; atitude
ecológica das administrações públicas e de sua comunidade; questão social e/ou
ambiental das cidades sustentáveis; relação entre democracia e city marketing;
aceitação da população em relação à marca de cidade; entre muitas outras.
.
105
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
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111
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
ANEXO A: ÁREAS VERDES DE CURITIBA
28
28
Segundo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (2007)
01 - Centro
02 - São Francisco
03 - Centro Cívico
04 - Alto da Glória
05 - Alto da Rua XV
06 - Cristo Rei
07 - Jardim Botânico
08 - Rebouças
09 - Água Verde
10 - Batel
11 - Bigorrilho
12 - Mercês
13 - Bom Retiro
14 - Ahú
15 - Juvevê
16 - Cabral
17 - Hugo Lange
18 - Jardim Social
19 - Tarumã
20 - Capão da Imbuia
21 - Cajuru
22 - Jardim das Américas
23 - Guabirotuba
24 - Prado Velho
25 - Parolim
26 - Guaíra
27 - Portão
28 - Vila Isabel
29 - Seminário
30 - Campina do Siqueira
31 - VistaAlegre
32 - Pilarzinho
33 - São Lourenço
34 - Boa Vista
35 - Bacacheri
36 - Bairro Alto
37 - Uberaba
38 - Hauer
39 - Fanny
40 - Lindóia
41 - Novo Mundo
42 - Fazendinha
43 - Santa Quitéria
44 - Campo Comprido
45 - Mossunguê
46 - Santo Inácio
47 - Cascatinha
48 - São João
49 - Taboão
50 - Abranches
51 - Cachoeira
52 - Barreirinha
53 - Santa Cândida
54 - Tingui
55 - Atuba
56 - Boqueirão
57 - Xaxim
58 - Capão Raso
59 - Orleans
60 - São Braz
61 - Butiatuvinha
62 - Lamenha Pequena
63 - Santa Felicidade
64 - Alto Boqueirão
65 - Sítio Cercado
66 - Pinheirinho
67 - São Miguel
68 - Augusta
69 - Riveira
70 - Caximba
71 - Campo de Santana
72 - Ganchinho
73 - Umbará
74 - Tatuquara
75 - Cidade Industrial
*
*
BAIRROS
Áreas Verdes de Curitiba - 2005
N
Escala: 1:150.000
1
0
12
3
4Km
Fonte: SMMA/IPPUC/Banco de Dados.
Elaboração: IPPUC/Banco de Dados
e Geoprocessamento.
Divisa de Bairros
LEGENDA
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba
:: Rua Bom Jesus, 669 :: Cabral :: Curitiba :: Paraná :: CEP 80035-010 :: Fone (41) 250-1414 :: Fax (41) 254-8661 :: E-Mail [email protected] ::
- SIN - Banco de Dados
Área Verde
.
65
64
66
58
57
56
38
23
24
25
26
40
41
27
42
75
43
28
29
31
34
35
09
08
06
01
10
11
12
02
04
03
13
14
05
17
18
19
20
15
16
39
07
22
21
30
45
46
69
60
63
47
59
62
48
61
51
49
52
50
32
33
53
54
55
68
67
44
75
73
72
74
70
71
36
37
113
Elementos da Marca “Cidade Ecológica” em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão)
ANEXO B: BOSQUES E PARQUES DE CURITIBA
29
29
Segundo Secretaria Municipal de Meio Ambiente. (CURITIBA, 2007a)
171
MEIO AM BI EN TE
CURITIBA EM DADOS 2004
TABELA 064
BOSQUES E PARQUES DE LAZER E DE PRESERVAÇÃO, EM CURITIBA - JANEIRO 2003
Fonte: SMMA/Parques e Praças, IPPUC/Banco de Dados.
Elaboração: IPPUC/Banco de Dados.
ÁREAS VERDES E DE LAZER
Ano de
Implantação
Bosque Martin Lutero Boa Vista Boa Vista R. Holanda X R. Vicente Ciccarino 11.682 1974
Bosque João Paulo II Centro Cívico Matriz R. Mateus Leme X R. Vieira Santos X R. José Sabóia Cortes 48.000 1980
Bosque do Cao da Imbuia Cao da Imbuia Cajuru R. Nivaldo Braga X R. Benedito Conceição 42.417 1981
Bosque Dr João Carlos H. Gutierrez Vista Alegre Sta.Felicidade R. Albino Raschendorfer X R.Gaspar Carrilho Jr X R. do Ama 18.000 1986
Bosque Reinhard Maack Hauer Boqueirão R. Raggi Izzar X R. Waldemar Kost X R. Oswaldo Aranha 78.000 1989
Bosque do Pilarzinho Pilarzinho Boa Vista R. Caetano Granato X R. Miguel A. Silva 28.146 1991
Bosque Zaninelli Pilarzinho Boa Vista R. Victor Benato X R. Brochado da Rocha X R. João Ballin 37.065 1992
Bosque dos 300 Anos Sítio Cercado Bairro Novo Bairro Novo 27.720 1993
Bosque de Portugal Jardim Social Matriz R. Fagundes Varela X R. Ozório D. Estrada X R. Helly M. Souza 20.850 1994
Bosque da Fazendinha Fazendinha Portão R. Carlos Klemtz 72.851 1995
Bosque Alemão Vista Alegre Sta.Felicidade R. Francisco Schaffer X R. Niccolo Paganini X R. Robert Schumann 40.000 1996
R. Franz
Schubert
Bosque Italiano Sta. Felicidade Sta.Felicidade R. Margarida A. Zardo Miranda 23.540 1996
Bosque do Trabalhador CIC Pinheirinho Av. Manoel Valdomiro de Macedo 192.016 1996
Bosque São Nicolau CIC Portão Final da Rua das Águias - Moradiaso Nicolau 20.520 2000
Total de Bosques 14 660.807
Passeio Público Centro Matriz R. Carlos Cavalcanti X Av. João Gualberto X Pres. Faria 69.285 1885
Parque Barigüi Mercês Matriz BR-277 X Av.ndido Hartmann X Av. Manoel Ribas 1.400.000 1972
Parque Municipal Barreirinha Barreirinha Boa Vista Av. Anita Garibaldi 275.380 1972
Parqueo Lourenço o Lourenço Boa Vista Entre ruas Mateus Leme X Nilo Brandão e Sta. Rita Durão 203.918 1972
Parque Reg. do Iguaçu - Zoológico Alto Boqueirão Boqueirão Av. Mal. Floriano Peixoto X Rio Iguaçu 8.264.316 1978
Parque General Ibe de Mattos Bacacheri Boa Vista R. Cana X R. Rodrigo de Freitas X R. Paulo Nadolny 152.000 1988
Parque das Pedreiras Abranches Boa Vista R. João Gava 103.500 1990
Jardim
Botânico Jardim Bonico Matriz Av. Lothário Meissner X Av. Ostoja Roguski 278.000 1991
Parque Nascente do Bem Cachoeira Boa Vista R. Rolando Salin Zappa X Linha Férrea 11.178 1991
Parque Municipal Passaúna Augusta Sta.Felicidade Rua Eduardo Sprada 6.500.000 1991
Parque Tingüi o João Sta.Felicidade R. Fredolin Wolf X R. José Vale 380.000 1994
Parque Cai CIC Portão Av. Juscelino K. de Oliveira X Mª Lucia Locher de Athayde 46.000 1994
Parque Diadema CIC Portão Av. Juscelino K. de Oliveira X Parque dos Tropeiros 112.000 1994
Parque dos Tropeiros CIC Portão Acesso pela R. Raul Pompéia ( Próx. Av. Juscelino K. de Oliveira) 173.474 1994
Parque Tanguá Taboão Boa Vista R. Oswaldo Maciel 450.000 1996
Parque Cajuru Cajuru Cajuru Rio Atuba 104.000 2003
Total de Pa
rques 16 18.523.051
Total de Áreas de Preservação 30 19.183.858
Á
rea
(m²)
Nome Bairro Endere
çoRegional
172
MEIO AMBIENTE
CURITIBA EM DADOS 2004
MAPA 054
LOCALIZAÇÃO DE BOSQUES E PARQUES DE CURITIBA - 2003
Fonte: Secretaria Municipal do Meio Ambiente.
Elaboração: IPPUC/Banco de Dados.
TABELAS 065
ÁREAS VERDES POR HABITANTE E POR BAIRRO, EM CURITIBA 2000
Continua...
Abranches 4.318.000,00 11.165 1.580.167,72 36,59 141,53
Água Verde 4.764.000,00 49.866 47.600,74 1,00 0,95
Ahú 1.844.000,00 11.148 117.312,15 6,36 10,52
Alto Boqueirão 12.112.000,00 51.155 2.360.676,08 19,49 46,15
Alto da Glória 882.000,00 5.588 41.267,45 4,68 7,39
Alto da XV 1.504.000,00 8.683 12.086,47 0,80 1,39
Atuba 4.269.000,00 12.632 386.609,47 9,06 30,61
Augusta 8.841.000,00 3.617 3.677.596,06 41,60 1.016,75
Bacacheri 6.981.000,00 23.106 738.696,84 10,58 31,97
Bairro Alto 7.018.000,00 42.033 264.556,39 3,77 6,29
Barreirinha 3.733.000,00 17.021 1.208.814,89 32,38 71,02
Batel 1.760.000,00 11.778 59.750,75 3,39 5,07
Bigorrilho 3.503.000,00 27.127 191.679,89 5,47 7,07
Boa Vista 5.136.000,00 29.391 492.061,23 9,58 16,74
Bom Retiro 1.944.000,00 5.633 142.569,93 7,33 25,31
Boqueirão 14.802.000,00 68.495 591.859,37 4,00 8,64
Butiatuvinha 10.583.000,00 10.759 3.735.675,09 35,30 347,21
Cabral 2.040.000,00 11.720 131.755,23 6,46 11,24
Cachoeira 3.069.000,00 7.738 1.452.793,70 47,34 187,75
Cajuru 11.552.000,00 89.784 185.541,87 1,61 2,07
Campina do Siqueira 1.693.000,00 7.108 57.037,17 3,37 8,02
Campo Comprido 8.549.000,00 21.638 2.843.984,66 33,27 131,43
Campo de Santana 21.574.000,00 7.335 6.029.667,35 27,95 822,04
Capão da Imbuia 3.163.000,00 20.976 47.496,89 1,50 2,26
Capão Raso 5.063.000,00 34.376 14.089,83 0,28 0,41
Cascatinha 2.567.000,00 2.061 961.025,36 37,44 466,29
Caximba 8.167.000,00 2.475 2.743.994,48 33,60 1.108,68
Centro 3.297.000,00 32.623 109.368,70 3,32 3,35
Centro Cívico 965.000,00 4.767 79.153,63 8,20 16,60
Cidade Industrial 43.378.000,00 157.461 5.772.173,39 13,31 36,66
Cristo Rei 1.464.000,00 13.325 38.904,11 2,66 2,92
Fanny 1.996.000,00 7.866 29.817,13 1,49 3,79
Fazendinha 3.717.000,00 26.122 157.435,05 4,24 6,03
Ganchinho 11.196.000,00 7.325 4.590.970,59 41,01 626,75
Guabirotuba 2.631.000,00 10.678 90.886,84 3,45 8,51
Guaíra 2.322.000,00 14.268 13.980,23 0,60 0,98
Hauer 4.021.000,00 13.851 157.640,24 3,92 11,38
Hugo Lange 1.150.000,00 3.167 32.973,44 2,87 10,41
Bairros
m² / habÁrea em m²
Habitantes no
Bairro
Áreas Verdes do Bairro
Área do Bairro
(m²)
%
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Bosques e Parques
Parques/APAS
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Sistema Viário Básico
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Terminais
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Paranaguá
Lapa
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Norte do Paraná
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Ribeira
BR - 11
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São Paulo
Santa Cândida
Boa
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Cabral
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Vila Oficinas
Centenário
Boqueirã
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Parque
Regional
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Bosque
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Gal. Iberê de Matos
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