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Em Porto Alegre deram que falar de si pela primeira vez em
circunstâncias especiais. Habitavam eles uma pensão, propriedade de uma
senhora que passava por possuidora de alguns bens de fortuna. Uma noite
a pensão foi alarmada por tiros repetidos de revólver, partidos do aposento
dos Brocato. Verificada a causa disso alegaram que tinham visto ladrões
no quarto e que alarmados dispararam seus revólveres. O plano era
extorquir dinheiro a dona da casa, pois disseram-se roubados, mas nada
conseguiram.
Foram para Caxias e lá fizeram proezas, seduziram raparigas, arrancaram
dinheiro etc., que remataram a vida flibusteira com o assalto audacioso da
comitiva do capitalista Costa, em plena estrada, arrebatando-lhe a filha,
depois de ferirem o chefe da família e a esposa deste. Só mesmo bandidos
de extrema audácia fariam o que lhes fizeram, isto é, postarem-se em uma
estrada, para atacarem um homem respeitável, rico, enfermo; e raptando-
lhe a filha! – Fui eu o advogado dos ofendidos contra eles, mas a Colônia
os amparou, absolveu-os. E agora uma nota curiosa. Viajando eu em um
vapor da linha do Cahy, conheci Ernesto Canozzi que imprudentemente
provocou uma discussão comigo sobre os Brocato. Defendeu-os muito,
disse que eram dois homens de bem etc. Lembro-me que cortei essa
discussão com estas palavras: “O senhor é caixeiro viajante e costuma
andar por estradas desertas com dinheiro. Pois bem, evite nessas
viagens, em tais estradas, encontrar-se com os Brocato, que eles o
liquidam para roubar-lhe o dinheiro. Estes bandidos são capazes de
tudo.” Dei as costas a Canozzi e não tratei mais do assunto.
Ele não morreu sem saber donde lhe veio o golpe fatal.
Pobre rapaz! Dizem que os que morrem assim surpreendidos subitamente
pela desgraça, têm, numa rápida visão, a recordação de fatos que cruzam
pela sua memória vivamente. Teria ele se recordado das minhas palavras?
Pode ser. E como lhe doeria então essa morte dada por homens que ele
defendera com energia, com sinceridade, com todo o ardor de sua alma
dedicada?
E não é a primeira vez que eles apagam a amizade assim torpemente.
Quando foragido, o Thomaz encontrou um protetor que o acolheu, que o
escondeu em sua casa, deu-lhe sustento, expondo-se a sofrer as
conseqüências de sua conduta no que ela se relacionava com o código.
Isto foi por ocasião do processo Costa, em Caxias. Pois bem, Thomaz
pagou esta hospitalidade deflorando a filha do seu protetor, abandonando-
a grávida, depois de espancar o pai que o [...] pela sua vergonhosa
conduta. A mesma vítima, foi quem tudo me narrou, vindo procurar-me
na esperança de poder eu dar remédio ao seu infortúnio.
São dois tipos sem sentimentos, cheios de infâmias, não recuando diante
de coisa alguma. Numa festa em Caxias, quando eram distribuídas
medalhas aos expositores vitoriosos do certâmen de indústria realizado no
Rio Grande para humilharem um feliz homem do trabalho, o Domingos,
mandado pelo irmão, encheu de excremento o rosto deste pobre a que me
aludo. [...]
Lute com o direito na mão e convença a sociedade de Lages, que deve
condenar tais bandidos. Ela só se elevará assim procedendo,
desafrontando-se de tão grave insulto. E não é só isso: condenar os
Brocato é poupar novas vítimas, porque livres, eles continuarão a vida de
salteadores por este mundo e quantos não cairiam ainda sob os seus
golpes.
O senhor tem a boa causa e fala a uma sociedade que sempre honrou-se de
abominar o crime e amar a Justiça. Lages não vai vingar somente o pobre
Ernesto Canozzi. Deus faz da obscura paragem de Santa Catarina braço
que executa os bandidos Sicilianos, os assassinos de Buenos Aires, os
raptores da filha de Costa, os estupradores da Donzela, os aventureiros de