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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Programa de Pós-graduação em Administração de Empresas
Teoria da Troca entre Líder Liderado (LMX):
Uma teoria diádica de liderança para a identificação dos aspectos
que compõem a interação líder-liderado
Derly Jardim do Amaral
São Paulo
2007
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2
Derly Jardim do Amaral
Teoria da Troca entre Líder Liderado (LMX):
Uma teoria diádica de liderança para a identificação dos aspectos
que compõem a interação líder-liderado
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Administração de
Empresa da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, para obtenção do título de
Doutor em Administração de Empresa.
Orientadora: Profa. Dra. Arilda Schimidt Godoy
Co-orientadora: Profa. Dra. Ana Maria Roux Valentini Coelho Cesar
São Paulo
2007
14
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3
Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Professor Dr. Manassés Claudino Fontelis
Coordenadora Geral da Pós-Graduação
Professora Dra. Sandra Maria Dotto Stump
Diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
Professor Dr. Reynaldo Cavalheiro Marcondes
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas
Professora Dra. Eliane Pereira Zamith Brito
14
4
Dedico
este trabalho às pessoas que contribuíram com ajuda, inspiração
e companheirismo para a finalização dessa etapa de vida:
- à minha esposa Marise, pela compreensão, pelas privações,
pelas minhas ausências de corpo presente e pelo apoio ao longo
dessa caminhada;
- aos meus filhos, pelas palavras de incentivo;
- ao meu pai (in memoriam) pela inspiração e exemplo;
- à minha mãe, pelas preocupações construídas no alto dos seus
86 anos;
- ao amigo de sempre, Sérgio Diório, pela inspiração, pelas
palavras de carinho e de otimismo;
- ao meu ego auxiliar, Ana Maria Roux, pela mão estendida no
momento mais difícil da caminhada;
- à minha orientadora, Profa. Arilda, pela coragem, esmero e
zelo com que se dedicou à tarefa de me conduzir pelo terreno
escorregadio do saber.
14
5
Agradeço
aos que contribuíram para a finalização deste trabalho:
- a Deus, Pastor Eterno, por me acompanhar nos momentos em
que atravessei “o vale da sombra e da morte” e por me guiar
“mansamente às águas tranqüilas” e aos “pastos verdejantes”;
- aos Profs. Diógenes Bido e Adilson Aderito, pelas longas
horas que gastaram visitando e revisitando os meus dados
estatísticos;
- ao amigo Prof. Carvalho (in memoriam), colega de turma,
ouvinte e conselheiro sábio e cioso;
- aos colegas de turma Thomaz, Denis, Alexandre Nabil e
Silvia, pela convivência diária e pelas trocas enriquecedoras de
conhecimento;
- à Gabriela, um anjo que encontrei na biblioteca da CCSA;
- à Dagmar, pelas orientações e ajuda sempre segura;
- aos colegas que freqüentaram comigo a sala dos professores,
pelos ouvidos atentos e ombros amigos;
- aos confrades, pela paciência e por partilharem comigo as
conquistas e dissabores da minha caminhada;
- ao Mackpesquisa pelo apoio financeiro que permitiu viabilizar
a realização desta tese.
14
6
SUMÁRIO
Resumo..................................................................................................................... 13
Abstract.................................................................................................................... 14
1 INTRODUÇÃO 15
1.1 Formulação do problema de pesquisa................................................... 24
1.2 Objetivos do trabalho.............................................................................. 24
1.3 Hipóteses da pesquisa.............................................................................. 25
2 REFERENCIAL TEÓRICO 27
2.1 Interação de pessoas no ambiente social............................................... 27
2.2 A percepção de pessoas........................................................................... 28
2.3 Atração interpessoal................................................................................ 33
2.4 Formulações a propósito da interação de pessoas................................ 35
2.4.1 Teoria da Autocategorização – TAC...................................................... 35
2.4.2 A troca social e a reciprocidade entre pessoas...................................... 38
2.4.3 Teoria da Identidade Social – TIS.......................................................... 42
2.5 Considerações finais sobre interação de pessoas.................................. 45
3 LIDERANÇA 48
3.1 Definições de liderança............................................................................ 48
3.2 Níveis de análise em liderança................................................................ 51
3.2.1 A liderança no nível individual............................................................... 52
3.2.2 A liderança no nível diádico.................................................................... 52
3.2.3 A liderança no nível grupal..................................................................... 54
3.2.4 A liderança no nível organizacional....................................................... 55
3.3 Teorias de liderança................................................................................. 56
3.3.1 Teorias que foca os traços do
líder...........................................................
57
3.3.2 Teorias que focam o comportamento do líder....................................... 59
3.3.3 Teorias que focam as situações ou contingências.................................. 60
3.3.4 A Vertical Dyad Linkage – VDL……………………………………….. 64
3.3.5 Teoria da Troca entre Líder e Liderado – LMX................................... 68
3.4 Dificuldades presentes nos estudos de liderança................................... 72
3.4.1 A efetividade da liderança....................................................................... 77
4 PRINCIPAIS PESQUISAS ELABORADAS A PARTIR DA LMX 80
4.1 LMX e feedback........................................................................................ 81
4.2 LMX e Qualidade de Vida no Trabalho................................................ 82
4.3 LMX e Desempenho................................................................................. 84
4.4 LMX e desempenho apresentado pelo liderado.................................... 85
4.5 LMX e avaliação do desempenho do liderado....................................... 86
4.6 LMX e diversidade de gênero e etnia..................................................... 87
4.7 LMX e relacionamento interpessoal....................................................... 91
4.8 LMX e atributos pessoais e interpessoais...............................................
97
14
7
4.9 LMX e processo criativo dos liderados.................................................. 101
4.10 LMX, emoção e inteligência emocional.................................................. 105
4.11 LMX e os efeitos dos estilos cognitivos................................................... 106
4.12 LMX e percepção dos liderados quanto aos líderes.............................. 107
4.13 LMX e mentoring..................................................................................... 110
4.14 LMX e comportamento de cidadania organizacional........................... 112
4.15 LMX e percepção de troca social............................................................ 116
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 129
5.1 O método de pesquisa escolhido............................................................. 129
5.2 O questionário enquanto instrumento de coleta de dados....................
132
5.3 Construção do instrumento utilizado neste trabalho............................ 134
5.4 Tradução dos itens que fazem parte da LMX-MDM............................
137
5.5 Amostra da pesquisa............................................................................. 138
5.6 Considerações teóricas sobre a utilização de técnicas multivariadas.. 139
5.6.1 Informações gerais................................................................................... 139
5.6.2 Preparação para uma análise multivariada...........................................
140
5.7 Pré-teste do instrumento.......................................................................... 144
5.7.1 O primeiro pré-teste................................................................................. 144
5.7.2 Análise estatística do primeiro pré-teste e reformulação do
instrumento...............................................................................................
145
5.8 O segundo pré-teste.................................................................................. 147
5.8.1 Análise estatística do segundo pré-teste................................................. 148
5.9 Aplicação do instrumento definitivo.......................................................
153
5.10 Estágios e técnicas utilizadas na análise dos dados............................... 153
6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 156
6.1 Apresentação e discussão dos dados demográficos dos respondentes. 156
6.2 Primeiro estágio da análise dos resultados............................................ 160
6.2.1 Análise fatorial exploratória da amostra total...................................... 160
6.3 Segundo estágio da análise dos resultados............................................. 179
6.3.1 Análise fatorial por categorias demográficas........................................ 179
6.3.2 Análise fatorial por gênero...................................................................... 180
6.4 Considerações sobre as análises fatoriais............................................... 185
6.5 Análise das médias de respondentes por natureza da empresa........... 189
6.6 Dependência entre variáveis independente e dependente.................... 193
6.6.1 Análise discriminante.............................................................................. 193
6.6.2 O tempo de convivência e a construção do relacionamento com o
líder............................................................................................................
198
6.6.3 Percepção de convivência com o líder.................................................... 201
6.7 Análise de regressão múltipla..................................................................
205
6.7.1 Predição da percepção de quão excelente é o relacionamento pessoal
e profissional que o liderado acredita ter com seu líder.......................
208
6.8 Resumo das análises de dados realizadas anteriormente..................... 214
6.9 Terceiro estágio para análise dos dados................................................. 214
6.9.1 Modelagem de Equação Estrutural – SEM........................................... 215
6.9.2 Análise comparativa dos softwares Lisrel Linear Structural
Relations e PLS – Partial Least Square...................................................
217
6.10 Modelagem de equação estrutural no Lisrel......................................... 218
6.10.1 Validade convergente............................................................................... 222
14
8
6.10.2 Validade discriminante............................................................................ 222
6.11 Modelagem de equação estrutural no PLS............................................ 227
6.12 Análise qualitativa do modelo proposto................................................. 231
7 CONCLUSÃO.......................................................................................... 233
7.1 Achados e contribuições do estudo......................................................... 233
7.2 Limitações do estudo................................................................................ 244
7.3 Sugestões para futuras pesquisas............................................................ 248
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 250
APÊNDICES 259
Apêndice A – Instrumento utilizado para coleta de dados.................................. 260
Apêndice B – Holdout da discriminante................................................................ 263
14
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Personalidade e influência: características do período dos
traços.............................................................................................
57
Figura 2 Evolução da LMX.........................................................................
66
Figura 3 Estágios e técnicas estatísticas utilizadas................................... 155
Figura 4 Primeiro estágio Como as dimensões propostas se
agrupam?......................................................................................
160
Figura 5 Segundo estágio Análises estatísticas com outras variáveis
do estudo........................................................................................
179
Figura 6 Objetivos para a Análise Discriminante.....................................
195
Figura 7 Histograma e PP-Plot dos resultados de regressão................... 210
Figura 8 Modelo teórico.............................................................................. 215
Figura 9 Modelo estrutural......................................................................... 226
Figura 10 Modelo estrutural no PLS........................................................... 230
14
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Total da variância explicada do primeiro pré-teste (solução
não-rotacionada)...........................................................................
146
Tabela 2 Missing value do segundo pré-teste............................................. 148
Tabela 3 Análise fatorial exploratória do segundo pré-teste................... 150
Tabela 4 Dados demográficos da amostra total........................................ 158
Tabela 5 Tempo de convivência dos respondentes com o superior......... 158
Tabela 6 Idade dos respondentes................................................................ 159
Tabela 7 Natureza da empresa................................................................... 159
Tabela 8 Índices das comunalidades das variáveis................................... 164
Tabela 9 Total da variância explicada....................................................... 165
Tabela 10 Análise fatorial por componentes principais............................. 165
Tabela 11 Total da variância explicada....................................................... 167
Tabela 12 Comunalidades abaixo do esperado........................................... 167
Tabela 13 Fatores encontrados pelo método de extração componentes
principais.......................................................................................
168
Tabela 14 Análise fatorial por fator comum............................................... 171
Tabela 15 Freqüências do fator 1................................................................. 173
Tabela 16 Freqüências do fator 2................................................................. 174
Tabela 17 Freqüências do fator 3................................................................. 175
Tabela 18 Freqüências do fator 4................................................................. 176
Tabela 19 Freqüências das respostas por fator........................................... 177
Tabela 20 Comparação dos agrupamentos extraídos das análises
fatoriais..........................................................................................
177
Tabela 21 Análise fatorial por fatoramento do eixo principal do gênero
masculino.......................................................................................
180
Tabela 22 Total da variância explicada....................................................... 181
Tabela 23 Análise fatorial por fatoramento do eixo principal do gênero
feminino.........................................................................................
182
Tabela 24 Estatística comparativa das análises fatoriais........................... 185
Tabela 25 Freqüências de respondentes pertencentes a empresas
privadas, públicas ou de economia mista...................................
190
Tabela 26 Resultados do Teste U de Mann-Whitney................................... 190
Tabela 27 Teste estatístico do Teste U de Mann-Whitney...........................
191
Tabela 28 Teste de normalidade................................................................... 196
Tabela 29 Box’s M teste................................................................................. 199
Tabela 30 Classificação dos resultados........................................................ 200
Tabela 31 Análise de regressão..................................................................... 201
Tabela 32 Box’s M teste................................................................................. 202
Tabela 33 Classificação dos resultados........................................................ 203
Tabela 34 Coeficiente padronizado da função discriminante canônica.... 204
Tabela 35 Modelo sumarizado...................................................................... 211
14
11
Tabela 36 Índices padronizados de regressão............................................. 212
Tabela 37 Contribuição da variável independente em cada passo da
análise de regressão múltipla......................................................
213
Tabela 38 Validade discriminante dos modelos competitivos................... 224
Tabela 39 Índices de ajuste dos modelos..................................................... 224
Tabela 40 Cargas fatoriais............................................................................ 228
Tabela 41 Índices de confiabilidades, de comunalidades e Alfa de
Cronbach.......................................................................................
228
Tabela 42 Validade discriminante das variáveis........................................ 229
Tabela 43 Correlações entre os construtos................................................. 229
14
14
12
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Hipóteses de trabalho................................................................ 26
Quadro 2 Principais conceitos sobre liderança........................................
49
Quadro 3 Teorias de liderança sob o enfoque contingencial.................. 62
Quadro 4 Investigações em LMX.............................................................. 70
Quadro 5 Diferenças entre gerentes e líderes.......................................... 76
Quadro 6 Variáveis e assertivas que compõem o quinto bloco do
instrumento...............................................................................
135
Quadro 7 Variáveis submetidas à tradução reversa............................... 138
Quadro 8 Demonstração dos objetivos, hipóteses e técnicas
multivariadas.............................................................................
157
Quadro 9 Construtos e respectivas variáveis........................................... 162
Quadro 10 Dados comparativos entre o Lisrel e o PLS............................ 217
Quadro 11 Índices gerais de ajuste do modelo testado............................. 221
Quadro 12 Modelos competitivos................................................................ 223
Quadro 13 Agrupamentos e dimensões obtidas na fatorial
exploratória................................................................................
227
14
13
Resumo
O estudo do comportamento organizacional tem chamado à atenção dos pesquisadores
interessados em compreender o fenômeno da liderança exercida nas organizações. A gama de
possibilidades que estes estudos apresentam se em vários níveis de análise. O propósito
deste trabalho foi o de identificar e analisar os fatores que estimulam a construção de
relacionamentos no vel diádico. Adotou como referência fundamental a Teoria da Troca
entre Líder e Liderado LMX, conhecida, em inglês, como Leader-Member Exchange
Theory LMX e ainda não explorada no Brasil. Para a LMX, o relacionamento de alta
qualidade é formado a partir da Lealdade, do Afeto, da Contribuição e do Respeito
Profissional, sendo essa uma quarta dimensão recentemente descoberta. Optou-se por utilizar
o instrumento elaborado por Liden e Maslyn (1998). Foram adicionadas a esse instrumento
assertivas concebidas a partir dos pressupostos da Teoria da Identidade Social e da Teoria da
Autocategorização, ambas entendidas na literatura como bases que sustentam a construção do
relacionamento diádico. A aplicação do instrumento envolveu uma amostra composta por 255
sujeitos. A análise dos resultados permite afirmar que as dimensões da LMX, exceto a
Contribuição, se apresentaram correlacionadas entre si e com as outras variáveis envolvidas
no estudo. O agrupamento fatorial obtido indicou que a dimensão Respeito Profissional
aglutinou as dimensões da identidade social e da autocategorização, evidenciando que os
respondentes se percebem identificados e pertencentes ao círculo mais próximo do líder.
Verificou-se que a percepção da qualidade do relacionamento e o gênero dos respondentes
foram capazes de discriminar as prioridades dadas à construção desse relacionamento. O
mesmo não foi observado no tocante ao tipo de empresa a que o respondente pertence e ao
tempo que possuem de relacionamento diádico. Obteve-se, ainda, um modelo estrutural
considerado adequado, composto por variáveis formativas e reflexivas. Conclui-se que
relacionamentos diádicos de alta qualidade podem influenciar os resultados do desempenho
individual, merecendo, por conta disso, atenção e investimento das organizações.
Palavras-chave: liderança, LMX, respeito profissional, lealdade, afeto, identidade social e
autocategorização.
14
14
Abstract
The study of organizational behavior has called the attention of the researchers interested in
understanding the phenomenon of the leadership exerted in the organizations. The range of
possibilities of these studies permeates several levels of analysis. The intention of this work
was to identify and to analyze the factors that stimulate the relationships´ construction in a
dyadic level. The Leader-Member Exchange Theory - LMX, was adopted as the basic
reference, not yet explored in Brazil. In LMX´s theory, high quality relationship is based on
Loyalty, Affection, Contribution and Professional Respect, this fourth dimension, recently
discovered. The instrument chosen for this study was the one elaborated from Liden and
Maslyn (1998) added with some assertive created on assumptions from the Theory of the
Social Identity and the Theory of the self-categorization, both interpreted in literature as the
bases of the construction of the dyadic relationship. The instrument was applied on a sample
of 255 individuals. The result analysis permits to affirm that the four dimensions of LMX,
except Contribution, presented a correlation, among them and with the other variables of the
study. The factor grouping obtained indicated that the Professional Respect dimension
agglutinates the dimensions of the social identity and the auto-categorization giving evidence
that the respondents perceive themselves as pertaining to the leader’s closest circle. It was
also verified that the perception of the quality of the relationship and the gender of the
respondents were useful to discriminate the priorities given to the construction of this
relationship. On the other hand, the same was not observed when it came to the type of
company’s respondent or to the elapsed time of dyadic relationship. Another outcome of the
study was an acceptable structural model for formative and reflective variables. As a
conclusion, high quality dyadic relationships can influence the results of personal
performance, hence deserving, attention and investment from organizations.
Key-words: leadership, LMX, professional respect, loyalty, affection, social identity and
auto-categorization.
14
15
1 INTRODUÇÃO
O estudo da liderança tem se tornado um desafio a ser enfrentado por quem pretende
compreender fenômenos comportamentais que ocorrem em organizações. Pesquisas
nacionais, como, por exemplo, Mirlene e Amaral (2006) e internacionais como Lucas, Diener
e Suh (1996), desenvolvidas sobre o tema nos últimos anos, focaram a relação entre a
liderança em organizações e o seu impacto no bem-estar psicológico do trabalhador,
examinando as dimensões: otimismo, auto-estima, estado de ânimo, satisfação no trabalho e
satisfação geral com a vida.
Os resultados dessas pesquisas indicam que a percepção, que os liderados possuem do
seu líder, está diretamente correlacionada com o modelo de gestão, de comunicação e de
departamentalização adotados pela organização. Isso significa que o tipo de liderança
exercido nas organizações pode influir no bem-estar psicológico dos liderados.
O bem-estar psicológico dos indivíduos, portanto, deve ser alvo de preocupação por
parte da organização, na medida em que o capital humano é que faz a diferença entre a
organização e os seus concorrentes. São as pessoas que criam, inovam, decidem,
empreendem, aprendem e transformam processos, produtos ou serviços tornando-os mais
atrativos para os clientes. O investimento em pessoas, nos relacionamentos interpessoais e nas
trocas sociais que as pessoas fazem é de fundamental importância para a organização.
As manifestações e as implicações do comportamento humano nas organizações, não
somente aquelas que envolvam relacionamentos interpessoais, mas também as voltadas para o
alcance de metas e objetivos organizacionais, podem ser compreendidas a partir dos estudos
da liderança. Nesse sentido, pesquisadores têm realizado inúmeras investigações relacionando
liderança a diversos fenômenos organizacionais e produzindo uma vasta literatura a respeito,
14
16
como poderá ser verificado a partir da leitura da seção específica deste trabalho que apresenta
e discute o assunto. Apenas para ilustrar, vale a pena citar os estudos de Sparrowe e Liden
(1997) sobre processo, estrutura e modelo de liderança; de Mueller e Lee (2002) acerca da
comunicação interpessoal; de Graen, Cashman, Giunbusg e Shiemann (1977) sobre qualidade
de vida dos liderados e de Keller e Dansereau (1995) sobre percepção de justiça e de suporte
organizacional.
Embora o conjunto da produção que examina a liderança tenha gerado diferentes
conceituações e teorias explicativas, como pode ser detectado em obras como a de Yuhl
(2002), é importante apresentar uma definição, ainda que genérica, sobre o conceito de
liderança, visando a estabelecer um ponto de partida para o estudo aqui proposto. Outras
definições serão apresentadas e analisadas no capítulo referente ao tema. Baseando-se em
autores reconhecidos na área (KATZ; KAHN, 1978; BASS, 1990; YUKL, 2002), pode-se
entender a liderança como um processo de influência mútua exercida entre líder e liderado.
Esse conceito traz alguns elementos que merecem ser mais bem explicitados, como a idéia de
processo, que está sendo entendido, neste trabalho, como as atitudes e ações que líder e
liderado empreendem, com a finalidade de construir um relacionamento baseado na influência
mútua, sancionada e exercida por ambos.
Várias disciplinas têm estudado esse processo de influência mútua, especialmente a
psicologia social, a sociologia, a administração e a antropologia, e os seus efeitos em diversos
ambientes, entre eles o organizacional (KATZ; KAHN, 1978; BASS, 1990; YUKL, 2002).
Outra questão importante a ser considerada é que a liderança pode ser examinada a
partir de vários níveis de análise: o individual, o diádico, o grupal e o organizacional. O nível
individual envolve o estudo das diferenças humanas (McCLELLAND, 1965). Nesse nível é
possível examinar aspectos humanos que demarcam as diferenças individuais, como as
necessidades, interesses e aspectos motivacionais, perfil e traços de personalidade, sobre qual
17
o estilo de tomada de decisão dos líderes, seus aspectos emocionais e cognitivos. O nível
diádico de análise envolve o exame das relações interpessoais formadas entre duas pessoas,
no caso, um líder e um liderado. Pode-se examinar, nesse vel, a qualidade do
relacionamento que o líder mantém como o liderado e vice-versa, os componentes afetivos e
comportamentais que determinam a qualidade do relacionamento, e o quanto essa qualidade
serve como diferenciador para o atingimento de metas individuais e organizacionais (LIDEN;
MASLYN, 1998; DIENESCH; LIDEN, 1986). O nível grupal envolve o exame das relações
entre um líder e vários liderados. Podem ser examinados, nesse nível, temas como: a dinâmica
do grupo, o papel do líder na tarefa que o grupo executa e a influência que esse líder exerce
no desempenho e produtividade do grupo (YUKL, 2002). Por último, tem-se o nível
organizacional que envolve o exame da influência que uma determinada organização exerce
sobre as outras organizações, como nos casos de joint venture (DANSEREAU; ALUTTO;
YAMMARINO, 1984).
A opção deste estudo, para exame da liderança, foi pelo nível diádico, tendo em vista a
preocupação com a identificação e análise dos aspectos que afetam a relação entre o líder e o
seu liderado. Intenta-se com isso um entendimento mais aprofundado dessa relação nas
organizações, visto que a qualidade desse relacionamento pode contribuir para o atingimento
de metas individuais e organizacionais.
A literatura consultada (COLEMAN, 1998) apresenta alguns contrapontos a respeito
dos níveis de análises anteriormente mencionados, como o fato de que os níveis não são tão
claros quanto se pretende. Alguns desses níveis são tão próximos que se confundem como,
por exemplo, dimensões do comportamento humano que, a princípio, são pertinentes ao nível
individual, mas também podem ser decorrentes do nível diádico. Daí o imperativo de se
conceber com muita clareza o que se pretende estudar e qual ou quais possíveis níveis de
análises serão focados no estudo.
18
Uma vez que o nível diádico foi estabelecido como foco central do presente estudo,
buscou-se um referencial teórico que auxiliasse o pesquisador na articulação de suas hipóteses
de trabalho e que apresentasse elementos capazes de facilitar esse entendimento. Para tanto,
escolheu-se a Teoria da Troca entre Líder e Liderado LMX (tradução nossa), embora se
acredite que ela não esgota as possibilidades de entendimento do assunto. Contudo, o foco da
LMX é de examinar a formação da díade e identificar a qualidade do relacionamento que
possui. A teoria separa a díade em duas, denominando aquela que apresenta alta qualidade de
relacionamento de endogrupo e a que apresenta baixa qualidade de relacionamento de
exogrupo. Essa discussão será apresentada, de forma mais ampliada, em seção específica
deste trabalho.
O estudo acerca das relações diádicas em liderança propõe rios modelos e teorias
explicativas (DIENESCH; LIDEN, 1986; EVANS, 1970). Dentre eles, destaca-se a teoria
mencionada, denominada em inglês de Leader-Member Exchange Theory LMX, que será
mais detalhada no corpo desta tese.
No entanto, é importante apresentar alguns esclarecimentos preliminares acerca da
teoria que orienta este estudo. A Teoria da Troca entre Líder e Liderado - LMX surgiu na
década de 70 e foi fruto do trabalho que Dansereau, Caschman e Graen (1973) realizaram
junto a 261 gerentes e seus supervisores. A hipótese por eles proposta foi a de que o gerente
estabelece interações diferenciadas com cada um dos seus liderados, formando dois diferentes
tipos de díades. Os membros dessas díades recebem do supervisor formas de tratamento
diferenciadas, denominadas “amplitude de negociação”. Os autores denominam essas díades
de endogrupo e de exogrupo.
O primeiro tipo de díade é denominado, na Teoria da Troca entre Líder e Liderado -
LMX, de endogrupo ou díade de alta qualidade de relacionamento. Nesse tipo de díade, a
amplitude de negociação ou a forma de tratamento manifestada pelo supervisor para com o
19
membro da díade caracteriza-se pelo reconhecimento de que esse membro faz parte do seu
círculo de comunicação pessoal e de conhecimento. Portanto, supervisor e membro formam
um relacionamento de mútua proximidade. O supervisor desempenha o papel de líder, à
medida que exerce e recebe influência de seu liderado. Com isso o líder delega ao membro da
díade tarefas de maior responsabilidade, além de facilitar sua participação no seu processo de
tomada de decisão, maior possibilidade de carreira e acesso às informações privilegiadas. Por
outro lado, o membro da díade recebe maior suporte e atenção do der na execução das
tarefas que executa.
O segundo tipo de díade é denominado, na Teoria da Troca entre Líder e Liderado -
LMX, de exogrupo ou díade de baixa qualidade de relacionamento, portanto, o oposto do que
a teoria propõe para a primeira díade. Nesse caso, a amplitude de negociação ou a forma de
tratamento dada pelo supervisor para o membro da díade caracteriza-se por considerar o
membro fora do seu círculo de comunicação pessoal e do seu conhecimento. Isso significa
que supervisor e membro não mantêm relacionamento de reciprocidade. O supervisor
desempenha papel de chefe ou de gerente, à medida que faz o subordinado cumprir o
esperado no contrato de trabalho formalizado entre empregado e organização, quando de sua
admissão. Em conseqüência, o membro da díade realiza tarefas sem grandes impactos no dia-
a-dia da unidade de trabalho.
Essa diferenciação não significa, à luz da Teoria da Troca entre Líder e Liderado -
LMX, que o membro do exogrupo é discriminado ou maltratado pelo seu supervisor.
Significa que o supervisor não dispõe de tempo, energia e recursos para tratar todos os seus
subordinados da mesma forma. Por essa razão, ele pode dar a alguns membros do seu grupo
mais atenção e suporte, exercendo e recebendo influência, enquanto com outros se fixa no
exercício de seu papel de supervisão, fazendo cumprir o contrato de trabalho estabelecido
entre os membros e a organização.
20
O tratamento recebido pelo membro da díade, seja do endo ou do exogrupo, traz, no
seu bojo, a questão da reciprocidade. O membro do grupo corresponde, em termos de
comportamentos e atitudes, ao tratamento recebido. Pode comportar-se favoravelmente em
relação ao outro, visando à possibilidade de retorno, seja em termos de troca social ou
econômica, dependendo do caso. Pode também visar à qualidade do retorno com a finalidade
de atender às expectativas dos membros da díade ou, ainda, refrear interesses pessoais,
visando a interesses mútuos dos membros envolvidos na díade (SPARROWE; LIDEN, 1997).
Os aspectos da reciprocidade correspondem à base das relações sociais em todas as suas
esferas. Retribuem-se os “benefícios e favores recebidos de outras pessoas” (RODRIGUES;
ASSMAR; JABLONSKI, 2003, p.259), com a finalidade de se manterem as relações sociais
estáveis.
Outro aspecto subjacente ao tratamento dado pelo supervisor ao membro do endo ou
do exogrupo diz respeito à profecia auto-realizadora. Profecia auto-realizadora
Consiste na exibição de um padrão de comportamentos que, guiado por
esquemas, faz com que a pessoa alvo deste comportamento seja influenciada
por ele e responda de forma coerente com as expectativas (RODRIGUES;
ASSMAR; JABLONSKI, 2003, p.82).
É possível que o supervisor, a partir de um esquema cognitivo, perceba o membro da
díade como pertencente ao seu círculo de comunicação e do seu conhecimento pessoal. No
papel de líder, comporta-se, com o membro da díade, segundo o esquema concebido, levando-
o a convencer-se de que está incluído nesse círculo. O membro da díade, por sua vez,
corresponde ao esquema concebido pelo líder, fechando, assim, o ciclo da profecia auto-
realizadora. Os reflexos dessa percepção de inclusão podem ser observados no grau de
comprometimento, desempenho e satisfação do membro da díade.
21
Um processo semelhante ocorre com os membros da díade que são percebidos pelos
supervisores como distantes do seu círculo de comunicação pessoal e de conhecimento. Nesse
caso, o membro se convence, a partir do tratamento que recebe de seu supervisor, de que é
excluído do seu círculo de comunicação e conhecimento e, por conta disso, procura atender,
formalmente, o que o contrato de trabalho firmado prevê entre ele e a organização,
contemplando, desse modo, a previsão inicial do supervisor.
Esses aspectos subjacentes à formação do endo ou do exogrupo representam os fatores
de convergência na composição da díade. Fatores de convergência, portanto, podem ser
entendidos como as dimensões que suportam o relacionamento de alta ou de baixa qualidade
ou, ainda, os critérios que líder e liderado utilizam na formação da díade.
Pesquisas realizadas (GRAEN; UHL-BIEN, 1998; DIENESCH; LIDEN, 1986)
encontraram três fatores que interferem na formação de díades de alta qualidade de
relacionamento: lealdade, afeto e contribuição no tocante às obrigações tuas dos membros
da díade. Liden e Maslyn (1998) encontraram um quarto fator que denominaram de respeito
profissional pela capacidade do outro membro da díade. A incorporação desse quarto fator aos
demais ampliou as possibilidades de investigação em torno da LMX, denominada por esses
autores de LMX-MDM. Neste trabalho, utiliza-se essa visão ampliada da LMX.
O pressuposto da Teoria da Troca entre Líder e Liderado - LMX é de que díade de alta
qualidade de relacionamento ou endogrupo apresenta resultados diferenciados para a díade e
para a organização, em relação aos apresentados por díades de baixa qualidade de
relacionamento ou exogrupo. São muitos os estudos apresentados e discutidos na literatura
que tratam dos resultados diferenciados do endogrupo. Entre outros, encontram-se estudos
que investigam: desempenho e comprometimento (LIDEN; MITCHELL, 1983; DUNEGAN;
DUCHO; UHL-BIEN, 1992); motivação no trabalho (MUNFORD; DANSEREAU;
YAMMARINO, 2000; HUMPHERYS; EINSTEINS, 2004); maior nível de satisfação do
22
superior, com colegas e com o trabalho e maior comprometimento com as metas
organizacionais (KLEIN; KIM, 1998; BAUGH; GRAEN, 1997). Dada a importância desse
tipo de estudo para a pesquisa aqui apresentada, será feita sua discussão mais detalhada em
seção específica.
A Teoria da Troca entre Líder e Liderado LMX tem produzido um amplo e rico
conjunto de pesquisas examinando-a a partir de diferentes perspectivas. Um aspecto relevante
refere-se à tentativa de identificar a gênese da formação dos fatores que levam líder e liderado
a construir o endogrupo ou exogrupo. Embora não se pretenda, no âmbito deste trabalho,
examinar o processo de formação do endogrupo ou do exogrupo, enquanto fenômeno social,
construído no interior das organizações, supõe-se, baseado nos estudos de Sparrowe e Liden
(1997), que a Teoria da Autocategorização e a Teoria da Identidade Social forneçam
elementos importantes na compreensão desse processo.
Os pressupostos da Teoria da Autocategorização e da Teoria da Identidade Social
devem ser considerados para essa compreensão. A primeira teoria pressupõe, segundo Hogg e
Terry (2000), que as pessoas, quando se aproximam de outras, priorizam valores, hábitos,
comportamentos, perfis manifestados pelos membros do grupo e procuram construir seus
comportamentos a partir desses ícones escolhidos. Assim, elas se autocategorizam como
membros do grupo ou da díade em foco. A segunda teoria propõe como idéia central que as
pessoas tendem a identificar-se e a classificar-se a si mesmas e aos outros a partir de rias
categorias sociais. Dessa maneira, as pessoas organizam-se cognitivamente e o ambiente no
qual estão inseridas, dando a si mesmas e às com quem estão identificadas diversos
significados. Trata-se, portanto, da percepção que a pessoa faz de si mesma e das
características pessoais que percebe possuir em relação ao grupo ao qual pertence (TAJFEL,
1978 e 1981; TAJFEL; TURNER, 1985; ASHFORTH; MAEL, 1989). É possível supor que a
23
Autocategorização e a Identidade Social constituam aspectos que antecedem a formação da
díade, ou seja, na relação líder-liderado (endogrupo) ou chefe-supervisor (exogrupo).
De acordo com a revisão efetuada por Dienesch e Liden (1986), pesquisas foram
realizadas com o objetivo de se compreender a qualidade desses relacionamentos diádicos em
organizações de diversos tipos, como hospitais, escolas, universidades e organizações
públicas. Essas organizações estão inseridas em ambientes homogêneos, burocráticos e de
fácil controle. A maioria dos estudos investigou essas relações em solo americano. Poucos
foram os estudos realizados em organizações privadas americanas que, em teoria, estão
inseridas em ambientes competitivos, heterogêneos, com menor nível de burocracia e de
difícil controle.
No Brasil, apenas um estudo foi identificado (AMARAL et al., 2007) sob a ótica das
proposições da Teoria da Troca entre Líder e Liderado LMX (em fase de publicação)
1
. Essa
busca permitiu que se descobrisse uma lacuna de pesquisa, na medida em que não foi
localizado nenhum outro estudo de caráter científico, publicado em periódicos ou eventos
acadêmicos, que retratasse as relações diádicas entre líder e liderado à luz da teoria proposta.
Assim, buscar entender a formação de díades envolvendo líder e liderado, como
propõe a Teoria da Troca entre Líder e Liderado LMX, em organizações localizadas no
Brasil, representa, pois, a contribuição deste trabalho. Espera-se que seus resultados tragam
elementos complementares ao entendimento do fenômeno da liderança e possibilitem que
implicações para a área organizacional sejam apontadas.
1
AMARAL, D.J.; GODOY, A.S; CESAR, A.M.R.V.C; ADERITO, A.S. Diversidade de Gênero e Formação do
Endogrupo: uma Contribuição da Teoria da Troca entre Líder e Membro (LMX). Artigo submetido à Revista
Brasileira de Gestão de Negócios –RBGN. Aprovado para publicação no nº. 24, maio/agosto de 2007.
24
1.1 Formulação do problema de pesquisa
Nessa busca de compreensão do fenômeno da liderança, apoiada na LMX, encontram-se
estudos que examinam a percepção que o líder possui da díade (SCHRIESHEIM; NEIDER;
SCANDURA, 1998) a percepção que o liderado possui da díade (MARTIN; EPITROPAKI,
1999), como, também, a percepção que ambos possuem da díade (MUELLER; LEE, 2002
)
.
O estudo, aqui proposto, enfatiza a percepção que o liderado possui do relacionamento que
mantem com seu líder. Entende-se que, pelo fato de a LMX ter sido pouco estudada no Brasil,
o exame da presença das dimensões da LMX nos relacionamentos diádicos, sob a ótica do
liderado, constitui-se numa contribuição. Além disso, é importante pontuar que os
questionários construídos para mensurar as dimensões da LMX foram elaborados sob a ótica
do liderado. Assim, a opção em examinar o fenômeno a partir da percepção do liderado
permite que os resultados sejam analisados e discutidos a partir de um quadro teórico mais
robusto.
Portanto, o problema de pesquisa deste trabalho é: quais os elementos envolvidos no
processo de interação líder-liderado em organizações localizadas no Brasil, a partir da ótica
do liderado?
1.2 Objetivos do trabalho
O objetivo geral deste trabalho é identificar e analisar os aspectos que compõem a interação
entre líder-liderado em organizações localizadas no Brasil, considerando-se as dimensões da
LMX. Para tanto, tem como objetivos específicos:
25
Examinar se as dimensões propostas pela LMX se apresentam na amostra pesquisada, da
mesma forma que foi identificada nos estudos originais.
Identificar e analisar se os pressupostos da Teoria da Identidade Social e da Teoria da
Autocategorização se correlacionam na formação da ade composta por líder-liderado,
sob a ótica do liderado.
Estabelecer se existe correlação das dimensões da LMX com a percepção do liderado a
respeito dos resultados do seu trabalho.
Verificar se o tempo de convivência diária do liderado com o líder é capaz de discriminar
a percepção do liderado quanto ao relacionamento que mantem com seu líder.
Verificar se o gênero do respondente interfere na percepção do relacionamento entre
líder-liderado, sob a ótica do liderado.
Verificar se a percepção da excelência do relacionamento entre der-liderado pode ser
predita pelas dimensões da LMX.
Verificar se respondentes de empresas privadas percebem o relacionamento líder-
liderado diferentemente de respondentes de empresas públicas ou de economia mista.
Explorar a possibilidade de um modelo alternativo para a LMX.
1.3 Hipóteses da pesquisa
Para alcançar os objetivos anteriormente estabelecidos, as hipóteses de trabalho que serão
testadas estão apresentadas no Quadro 1.
26
Quadro 1 – Hipóteses de trabalho
H1
As dimensões da LMX apresentam-se na amostra pesquisada da mesma forma que foi
identificada nos estudos originais.
H2
As dimensões autocategorização, identidade social, respeito profissional, lealdade, afeto e
contribuição correlacionam-se positivamente.
H3
As dimensões da autocategorização, identidade social, respeito profissional, lealdade, afeto e
contribuição são preditoras da percepção dos resultados do trabalho.
H4
O gênero interfere na percepção do relacionamento líder-liderado.
H5
Liderados de empresas privadas percebem o relacionamento com o líder diferentemente de
liderados de empresas públicas ou de economia mista.
H6
A pré-disposição perceptiva do liderado em relação ao líder ajuda na construção do
relacionamento com o líder.
H7
O tempo de convivência do liderado com o líder interfere na construção do relacionamento
com o líder.
H8
A percepção da excelência do relacionamento pessoal e profissional que o liderado acredita
ter com seu líder, pode ser predita pelas quatro dimensões da LMX.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Este trabalho está estruturado em seções. Na primeira, seção faz-se uma revisão da
literatura que trata dos conceitos relativos ao processo de interação humana, como a
percepção de pessoas, a sua interação no ambiente social, a atração interpessoal, fatores que
afetam a atração interpessoal e uma exposição a respeito de quatro importantes teorias que
tratam da interação humana. Na segunda seção, apresenta-se uma revisão sobre definições de
liderança, possíveis níveis de análise em liderança e um breve histórico a respeito das teorias
de liderança. Na terceira seção, discorre-se sobre a Teoria da Troca entre Líder e Liderado
LMX, seu desenvolvimento e os questionários que foram elaborados para sua investigação.
Na quarta seção, apresentam-se as investigações realizadas em LMX e na quinta e sexta
seções os procedimentos metodológicos e a apresentação e análise dos resultados,
respectivamente. Conclusões e limitações deste trabalho compõem a última seção deste
estudo.
27
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Essa seção tem como objetivo a apresentação e discussão da interação de pessoas no ambiente
social. Para tanto, discute-se o processo de percepção de pessoas, como um passo importante
na construção da interação humana. As pessoas constroem relacionamentos a partir de
percepções mútuas, dos estigmas e das inferências que formulam umas sobre as outras. Trata-
se, antes de tudo, de um julgamento, baseado em questões motivacionais, no estado
psicológico das pessoas, nos valores culturais e na personalidade do percebedor, na
experiência acumulada, enfim, no julgamento que as pessoas fazem a respeito da outra pessoa
e, a partir daí, optam por interagir ou não com o outro. Apresentam-se e discutem-se, também,
os fatores que interferem na atração interpessoal e, por fim, faz-se uma revisão de teorias que
tratam dessa temática.
2.1 Interação de pessoas no ambiente social
A Psicologia Social tem uma importante contribuição na compreensão de como se dá a
interação de pessoas no ambiente social. Quando as pessoas entram em contato com outras,
desconhecidas ou não, são capazes de coletar, processar e julgar informações a respeito do
ambiente social e das pessoas que dele fazem parte. A esse processo dá-se o nome de
cognição social, “no qual somos influenciados por tendenciosidades, esquemas sociais,
heurísticas e no qual tem lugar uma forte tendência de descobrir as causas do comportamento,
tanto o nosso como o de outrem” (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2003, p.67).
28
Esse processo é ativo no sentido de que as pessoas, no contato com o seu ambiente
social, formam uma idéia a seu próprio respeito, julgando, redirecionando ou construindo seu
próprio comportamento, por meio da comparação com outras pessoas, bem como
categorizando o ambiente e as pessoas que dele fazem parte, a fim de facilitar o seu
relacionamento e a sua possível integração com esse ambiente. Decorre disso, segundo
Rodrigues, Assmar e Jablonski (2003), a formulação de estereótipos e preconceitos por meio
dos quais pessoas rotulam outras ou grupos de pessoas.
Trata-se de uma percepção altamente seletiva. As pessoas identificam ou percebem
seletivamente, nas demais, características que lhes agradam ou características que podem lhes
causar dissabores e desgostos. A partir dessa percepção, optam por interagir ou por distanciar-
se das demais pessoas.
2.2 A percepção de pessoas
Para Krech e Crutchfield (1978), o estudo da percepção humana trata da maneira como as
pessoas vêem, ouvem, cheiram, sentem o mundo ao seu redor. A percepção, portanto, é uma
maneira extremamente peculiar que as pessoas encontram para dar sentido aos estímulos e as
sensações que apreendem do seu mundo exterior. Percepção não deve ser confundida com
opiniões ou atitudes sobre fatos do mundo exterior, como lembram Bacha, Strehlau e Romano
(2006). Antes, é a maneira como as pessoas dão sentido e organizam os estímulos que são
apreendidos pelos órgãos do sentido.
Os estudos em torno da percepção de pessoas apresentam diferenciações dos estudos
clássicos sobre percepção de objetos (BACHA; STREHLAU; ROMANO, 2006; HASTORF;
29
SCHNEIDER; POLEFKA, 1973). As percepções dos objetos dizem respeito às questões
relativas à sensação, aos estímulos e à exatidão com que esses estímulos são armazenados na
memória do percebedor, a fim de lhe propiciar a construção de um sentido de percepção.
Da mesma forma, as pessoas também procuram exatidão e estabilidade na percepção
dos estímulos a respeito do outro, a fim de que possam predizer o seu comportamento. As
pessoas procuram cognitivamente dois tipos essenciais de estabilidade nos estímulos
percebidos sobre o outro. A essa procura Krech e Crutchfield (1978) dão o nome de
constância perceptiva. Os dois tipos essenciais de estabilidade são: a) a estabilidade de
processos gerais de inferência, baseada nas informações contidas na personalidade humana:
por menores que sejam essas informações, permitem que as pessoas façam inferências a
respeito das demais; b) a estabilidade de atribuição, baseada no conhecimento e nas
propriedades disposicionais do percebedor.
As duas formas de estabilidade apontadas anteriormente apresentam semelhanças e
diferenças na formulação dos seus conceitos. A primeira “refere-se à estabilidade entre
pessoas diferentes” e a segunda “refere-se à estabilidade de inferências para uma única
pessoa, embora em momentos diferentes” (HASTORF; SCHNEIDER; POLEFKA, 1973,
p.91). Em outras palavras, procura-se em todas as pessoas com quem o percebedor entra em
contato, informações que permitam a construção de inferências e de previsão do
comportamento do percebido. No segundo caso, trata-se de uma característica ou atributo
particular que o percebedor atribui a uma determinada pessoa, considerando o momento e a
circunstância em que essa pessoa percebida está inserida. A estabilidade poderá ser mantida,
no primeiro ou no segundo caso, se os fatos percebidos forem confirmados com os fatos reais
a respeito da pessoa percebida.
Quando um pequeno número de casos em que a percepção não se confirma com a
realidade (desmentidos), então, maior probabilidade de que a estabilidade seja mantida.
30
Quando os desmentidos são significativos, o percebedor ajusta seu sistema cognitivo a fim de
responder às novas demandas percebidas. Hastorf, Schneider e Polefka (1973) apresentam três
razões para que as percepções sejam mantidas estáveis. A primeira pode ser formulada da
seguinte forma: a estabilidade percebida reflete a estabilidade real? O percebedor tende a
julgar o percebido a partir do seu conjunto de referências cognitivas, sustentado pelas
evidências reais que o percebido apresenta. Nesse caso, ignora-se o efeito Halo, que é uma
característica que um indivíduo ou grupo usa para encobrir todas as demais características
daquele indivíduo ou grupo e a tendência central no processo perceptivo.
Segundo esses autores, essa primeira formulação sobre a estabilidade percebida e a
estabilidade real, no processo de percepção, apresenta algumas características, que podem ser
expressas da seguinte forma:
a. A estabilidade excessiva ignora “estereótipos nacionais e raciais” (p.92). Nesse
caso, o tipo de estabilidade que se procura alcançar está mais centrado nas
situações do que no comportamento do percebido ou do percebedor. Por
exemplo, o fato de o percebido ser realmente afetuoso e não parecer
afetuoso em seus comportamentos.
b. As situações podem ser fatores determinantes para que o percebedor
identifique os ícones que lhe possibilitem a estabilidade. Por exemplo: as
mulheres parecem ser mais afetuosas do que os homens porque elas estão,
desde o berço, em contato com situações que denotam que elas possuem mais
afetuosidade, como lidar com crianças.
c. É possível que efetivamente haja coerência entre características pessoais que se
apresentem mais duradouras e que são percebidas com maior exatidão pelo
percebedor.
31
A segunda razão, segundo Hastorf, Schneider e Polefka (1973), diz respeito ao fato de
que a estabilidade não é absoluta. As pessoas não procuram estabilidade absoluta nas demais,
porque a estabilidade absoluta não existe na realidade. Nem todas as pessoas gordas são
alegres, como comentam os autores, e nem todas as pessoas afetuosas são honestas. As
pessoas, no cotidiano, ignoram a regra e admitem exceções. Nesse caso, as contingências das
situações novamente se apresentam como fator determinante para que se possa justificar a
quebra da regra. É possível admitir que alguém seja honesto em um determinado momento e
como conseqüência das circunstâncias aja com desonestidade em outro momento.
A terceira razão, segundo Hastorf, Schneider e Polefka (1973), está no fato de que a
informação sobre outros é limitada. A ausência de informação sobre as demais pessoas pode
levar o percebedor a não desmentir ou não questionar uma inferência ou um atributo. Os
autores apresentam algumas razões que justificam esse argumento:
a. As questões relativas ao amor próprio inibem ou induzem as pessoas a somente
dizer coisas agradáveis aos outros. As informações positivas a respeito do
outro são mais facilmente comunicadas do que as informações negativas a
respeito do outro, principalmente se o percebido apresenta um status
diferenciado no seu grupo social.
b. As interações são seletivas tanto do percebedor em relação ao percebido como
do percebido em relação ao percebedor. Em qualquer dos casos, pode haver
distanciamento e negação de informação que, em última análise, poderá
facilitar as interações entre ambos.
c. “Alguns erros de atribuição não são corrigidos porque não são revelados”
(HASTORF; SCHNEIDER; POLEFKA, 1973, p.94), isto é, falta de condições
ou atribuições não verbalizadas por qualquer razão, podem estimular que elas
32
continuem implícitas. Quando o percebedor “sofre” por conta de um erro de
atribuição, ele apresenta a tendência de alterar ou modificar sua percepção do
outro. O oposto é verdadeiro. Ambos os casos indicam que as situações sociais
podem deformar a percepção que o percebedor faz do percebido e vice-versa.
d. As percepções provocam provas confirmadoras, isto é, o comportamento dos
outros confirmam as percepções que as pessoas fazem deles. É o que se
denomina de “profecia auto-realizadora”, cujo conceito foi apresentado e
discutido em seção anterior. O fato é que as pessoas iniciam uma série de
comportamentos dependentes que favorecem espontaneamente a interação de
ambos.
Na tentativa de aprofundar as formas que as pessoas utilizam para manter ou modificar
a estabilidade ou constância perceptiva, os autores apresentam e discutem o conceito de
estigma. Definem estigma como “qualquer característica negativamente avaliada por grande
número de pessoas” (HASTORF; SCHNEIDER; POLEFKA, 1973, p.96), como defeito
físico, cor da pele, questões relativas à opção sexual, entre outros. O processo perceptivo -
se a partir dos estigmas estabelecidos. A partir deles, o percebedor atribui características
positivas ou negativas ao percebido e o trata a partir delas, criando um estereótipo da pessoa
estigmatizada.
Alguns mecanismos que os percebedores utilizam para criar a estabilidade do estigma
podem ser apresentados da seguinte maneira:
a. “Sustenta-se que muitas inferências feitas a partir de estereótipos são corretas”
(HASTORF; SCHNEIDER; POLEFKA, 1973, p.97). Primeiro, o percebedor
acredita que um defeito físico pode limitar uma pessoa em relação à outra
33
pessoa, depois passa a fazer uma série de outras atribuições, a partir da
primeira, para estigmatizar ainda mais o percebido que apresenta deficiência
física;
b. “Nota-se que as inferências a partir dos estereótipos quase nunca são
absolutas” (HASTORF; SCHNEIDER; POLEFKA, 1973, p.97). Também se
admitem as exceções ou, na linguagem dos autores, crédito para os grupos
estigmatizados.
c. Também apresentam falta de informação a respeito dos estigmas, de tal forma
que os erros de atribuição quase sempre não são corrigidos.
d. Os estigmatizados, também, são alvos da profecia auto-realizadora.
É provável que, no processo de atração, interação, identificação, trocas e
reciprocidade, temas que serão abordados e discutidos a seguir, as pessoas recebam a
influência das atribuições, inferências e estigmas na construção da percepção da imagem do
outro e, conseqüentemente, na construção do relacionamento que possuem. Apesar dessas
influências não serem objeto de estudo neste trabalho, entende-se que poderão, de certa
forma, constituir um leque de variáveis intervenientes que poderão ter algum peso na
compreensão da qualidade do relacionamento, conforme proposto pela LMX.
2.3 Atração interpessoal
A natureza humana constrói-se e se manifesta somente dentro de ambientes sociais, no
contato e no convívio com as demais pessoas. A privação do convívio social ou isolamento
34
dele desencadeia, nas pessoas, ansiedade e medo. Na revisão da literatura sobre a necessidade
que as pessoas têm do convívio social, Rodrigues, Assmar e Jablonski (2003) indicam a
existência de várias pesquisas que foram realizadas com voluntários, em situações de
laboratório, objetivando compreender o quanto o isolamento social provocaria ansiedade e
medo nas pessoas. Os resultados dessas pesquisas indicam que as pessoas optam pelo
convívio social como forma de minimizar a ansiedade e o medo que sentem do isolamento.
Encontram-se, também, nessa revisão da literatura, algumas razões para a necessidade
humana do convívio social. Dentre essas razões estão: a) a possibilidade de escape: o contato
com outras pessoas que se encontram na mesma situação, seja ela qual for e que provoque
ansiedade e medo, permite que se criem expectativas de se encontrar, através do convívio
social, alternativa de escape para a situação ansiosa; b) redução direta e indireta da ansiedade:
o apoio encontrado nas outras pessoas ajuda a minimizar a ansiedade e o medo. Esse convívio
faz com que as pessoas encontrem outras razões para concentrarem suas preocupações,
fazendo com que esqueçam o fator gerador da ansiedade; c) auto-avaliação: o convívio
humano permite que as pessoas estabeleçam um processo padrão para a realidade social e, a
partir daí, possam avaliar a ansiedade experimentada.
Para Rodrigues, Assmar e Jablonski (2003), há dois fatores básicos que são capazes de
afetar a atração interpessoal. A proximidade física é o primeiro deles. Convivência e
familiaridade estão entre os fatores que podem estimular a atração interpessoal. Elas permitem
às pessoas se conhecerem mais, no que tange aos hábitos, valores e costumes, entre outros.
Quanto maior a freqüência com que as pessoas se vêem, maior sea possibilidade de elas
predizerem o comportamento do outro e estabelecerem com o outro maior atratividade.
O segundo fator é a identidade de valores e atitudes. Valores ou características
pessoais, que são considerados idênticos ou semelhantes, propiciam a atração interpessoal. O
oposto é verdadeiro. O consenso em torno da realidade social evita conflitos de valores ou de
35
atitudes, ajuda as pessoas a se compararem às demais, adquirindo um sentimento de igualdade
e de concordância com o comportamento do outro.
O uso do termo aplica-se à identidade ao nível individual como também se aplica ao
nível coletivo ou a grupos de pessoas. Isso não ocorre de maneira fortuita, à medida que os
indivíduos integram suas identidades a identidades dos grupos e das organizações a que
pertencem. Uma questão importante é identificar e discutir como os indivíduos constroem
suas identidades sociais em termos de categorias sociais.
A discussão dessa temática deveria fazer parte da agenda das organizações modernas
(BROWN, 2001), que ajuda a compreender como as pessoas se agrupam e as relações que
se formam nos ambientes organizacionais.
2.4 Formulações a propósito da interação de pessoas
A literatura, principalmente da psicologia social, apresenta diversas teorias que foram
formuladas para a compreensão da interação de pessoas. Nessa seção, serão apresentadas duas
dessas teorias, tendo em vista os aspectos abordados nesta pesquisa. É dado destaque para a
Teoria da Autocategorização – TAC e a Teoria da Identidade Social – TIS, tendo em vista que
ambas serviram de base para as investigações realizadas neste trabalho.
2.4.1 Teoria da Autocategorização – TAC
A autocategorização de pessoas pode ser entendida como um processo de categorização social
sendo a base cognitiva do comportamento do grupo. A categorização social dos indivíduos, na
36
condição de integrantes do endogrupo ou do exogrupo, evidencia a percepção que esses
indivíduos possuem das características prototípicas relevantes do endogrupo ou exogrupo.
Trata-se de uma “representação cognitiva das características que descrevem e prescrevem
atributos do grupo” (HOGG; TERRY, 2000, p.3). As características prototípicas não
representam unicamente os indivíduos, mas apresentam-se como processo de
despersonalização do indivíduo, à medida que ele incorpora os protótipos relevantes do seu
grupo de preferência. Os indivíduos, à proporção que se autocategorizam como membros de
um determinado grupo, cognitivamente despersonalizam a autoconcepção que possuem de si
mesmos para que possam assimilar o protótipo do grupo.
A despersonalização do indivíduo e a sua conseqüente autocategorização representam
o surgimento de fenômenos subjacentes ao grupo, à medida que estimula a autopercepção e a
expectativa do comportamento do indivíduo alinhado com o contexto protótipo relevante do
endogrupo. Por exemplo, produz comportamento normativo, enquanto expectativa de que o
estereótipo esteja presente no comportamento dos indivíduos pertencentes ao grupo, na
tendência etnocêntrica do grupo, “nas atitudes e coesão positivas do endogrupo, cooperação e
altruísmo, contágio emocional e empatia, comportamento coletivo, normas compartilhadas e
influência mútua” (HOGG; TERRY, 2000, p.4).
Nesse sentido, despersonalização é simplesmente uma mudança de como os
indivíduos se concebem, bem como representam a base da percepção dos outros indivíduos
membros do grupo. Segundo Hogg e Terry (2000), a despersonalização não tem conotações
negativas em termos de perda da individualidade ou desumanização.
A noção de protótipos é central para a Teoria da Autocategorização – TAC. “As
pessoas cognitivamente representam e definem os atributos e estereótipos dos grupos em
forma de protótipos” (HOGG; TERRY, 2000, p. 3). Protótipo não é uma lista de verificação
de atributos, mas representa uma forma de os membros do grupo compreenderem as
37
características do contexto daquele grupo, freqüentemente na forma de representações dos
membros que são considerados os melhores representantes das características do grupo.
Protótipos representam “todos os atributos que caracterizam os grupos e os distinguem de
outros grupos, inclusive convicções, atitudes, sentimentos e comportamentos” (HOGG;
TERRY, 2000, p. 4). Nesse sentido, os protótipos possibilitam a potencialização das
similaridades existentes dentro dos grupos e, conseqüentemente, evidenciam as diferenças
existentes entre grupos, tornando os grupos entidades específicas.
Os “protótipos não são armazenados na memória, mas são construídos, mantidos e
modificados por características do contexto interativo social imediato ou mais duradouro”
(HOGG; TERRY, 2000, p.4) que envolvem o grupo. Nesse sentido, os protótipos são
dependentes do contexto social e recebem influência da possível proeminência do exogrupo.
É possível que os protótipos passem por processos de mudanças. A mudança dos protótipos
redunda na mudança da autoconcepção individual, à medida que se estabelece uma
comparação relevante com a mudança do exogrupo. Isso denota que o leque de protótipos que
a pessoa possui do seu grupo é dinâmico.
Pode-se observar esse processo quando se estuda a liderança de grupos. A
característica estrutural do endogrupo, no nível diádico, está centrada na autocategorização e
na despersonalização a partir do protótipo representante do grupo. Hogg e Terry (2000)
apresentam três aspectos desse processo. A autocategorização constrói a idéia de que algumas
pessoas são mais prototípicas do que outras dentro do grupo e, por serem assim, influenciam a
despersonalização do comportamento individual. Na permanência da estabilidade do contexto
social e do protótipo, o processo de influência pode ter efeitos mais duradouros. O líder, nesse
sentido, poderá encarnar “as aspirações, atitudes e comportamentos do grupo” (HOGG;
TERRY, 2000, p.9), mas não necessariamente exercitar a liderança.
38
Outro aspecto desse processo se na atração social. A atração social assegura que
quando o protótipo for consensual entre os membros do grupo, os membros prototípicos são
admirados. várias implicações importantes disso. Primeiro, os contextos que são
socialmente atraentes acabam por fornecer ao líder “a capacidade para ganhar a
complacência” (HOGG; TERRY, 2000, p.9) das pessoas e essas tendem a concordar e
obedecer ao líder que admiram. Segundo, quando isso ocorre, o líder fica publicamente
autorizado a confirmar a sua habilidade para exercitar a influência sobre essas pessoas.
Terceiro, quando o líder prototípico se identifica com o grupo, influencia o exercício da
empatia, provocando benefícios coletivos que acabam fortalecendo o prototípico que
representa, intensificando, assim, o consenso em torno da sua atratividade social. Quarto, esse
consenso em torno da atratividade social do líder confirma sua popularidade e o endossa
perante seu grupo, trazendo-lhe prestígio e status como diferencial na relação intergrupal.
2.4.2 A troca social e a reciprocidade entre pessoas
As trocas feitas entre pessoas podem ser “sociais, psicológicos ou materiais, orientadas por
uma economia social” (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2003, p.253). As interações
humanas não se dão somente envolvendo trocas de bens materiais, como dinheiro, por
exemplo. Também se dão envolvendo trocas de bens imateriais ou sociais como: afeto, amor,
status, respeito, entre outros. No caso das trocas sociais, segundo Rodrigues, Assmar e
Jablonski (2003), as pessoas usam de uma estratégia denominada de minimax(p.253). Elas
minimizam os custos e maximizam as recompensas. Se a interação for lucrativa e interessante
para ambas as partes, ela se manterá. Caso contrário será interrompida, à proporção que uma
39
parte ou ambas perceberem que a interação não está trazendo as recompensas esperadas e
desejadas.
Essa perspectiva teórica ajuda a entender comportamentos de reciprocidade, de
altruísmo, de gentileza, de solidariedade e de cooperação. Ajudar alguém a vincular-se a
alguém, ser gentil com alguém, solidarizar-se com alguém, cooperar com alguém, pode
representar um investimento social que determinada pessoa está fazendo em relação ao seu
futuro. Pode também representar um alívio da ansiedade percebida, à medida que o
sofrimento e a necessidade do outro podem ser incômodos ao percebedor (RODRIGUES;
ASSMAR; JABLONSKI, 2003).
As trocas sociais estimulam a criação de sentimentos de obrigação, de gratidão e de
confiança. Já a troca econômica se apresenta nos benefícios que podem ser alcançados na
observância contratual que o termo econômico forja (SPARROWE; LIDEN, 1997).
O processo de troca que se estabelece entre líder e liderado pode ser vislumbrado,
também, sob a ótica da reciprocidade. Nesse sentido, a reciprocidade pode ser analisada a
partir de três dimensões (SPARROWE; LIDEN, 1997). A primeira dimensão da reciprocidade
é a possibilidade do retorno. Trata-se da compreensão do tempo no qual o recebedor deve
corresponder para a realização das obrigações instantâneas para um período indefinido. Isso
quer dizer que a baixa possibilidade de retorno reflete uma reciprocidade localizada em algum
ponto futuro, enquanto a alta possibilidade de retorno reflete uma reciprocidade simultânea. A
segunda dimensão é a denominada de equivalência de retorno. Isso reflete a extensão com a
qual os parceiros correspondem em termos de qualidade e quantidade de possibilidades de
correspondência para ambos para a completa divergência. Portanto, a baixa equivalência se
refere àquilo que para um corresponde como sendo bom e que, ao mesmo tempo, é
considerado mais ou menos válido para o outro. Alta equivalência é o oposto, isto é, quando é
considerado muito bom para ambos. A terceira dimensão diz respeito ao tipo e à natureza dos
40
interesses de cada parte na troca. Essa dimensão reflete a natureza das trocas, envolvendo os
parceiros no que diz respeito ao refreamento dos interesses pessoais, visando a interesses
mútuos que dizem respeito às partes envolvidas na parceria.
Essas dimensões remetem a um modelo de reciprocidade apresentado e discutido por
Sparrowe e Liden (1997), que envolve três formas específicas. A primeira denomina-se de
reciprocidade generalizada. Caracteriza-se por uma obrigação indefinida, em termos de
igualdade e imediação de lucros e reflete um tipo de interesse altruístico entre outros.
Exemplos de reciprocidade generalizada incluem hospitalidade, ajuda e generosidade. A
segunda denomina-se reciprocidade equilibrada. Caracteriza-se por imediação do retorno
habitual e reconhecido equivalente e reflete interesses mútuos entre os envolvidos na troca.
Exemplos incluem comércio, relações tipo aluguel e relações de compra-venda. A terceira
denomina-se reciprocidade negativa e representa a antítese da reciprocidade generalizada na
qual o dar é substituído por pegar e representa interesse pessoal do tipo egoísta.
A abordagem proposta pela Psicologia Social, segundo Rodrigues, Assmar e Jablonski
(2003), no que tange à reciprocidade, envolve três normas sociais determinantes para o
comportamento de ajuda. Trata-se da norma da reciprocidade, da norma da justiça social e a
da norma da responsabilidade social. A primeira tem uma dimensão universal e é a base das
relações sociais em todas as esferas. Retribuem-se os “benefícios e favores recebidos de
outras pessoas” (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2003 p.259). Esse sentido mantém
as relações sociais estáveis. A segunda norma de reciprocidade trata da forma com que os
bens e recursos (tangíveis ou intangíveis) são distribuídos entre as pessoas envolvidas. A
percepção de eqüidade, portanto, é uma representação desse tipo de reciprocidade. Se todos
contribuem igualmente no seu grupo, espera-se que todos tenham as mesmas recompensas. A
terceira norma de reciprocidade diz respeito à necessidade de “ajudar as pessoas que
dependem de nós ou que são incapazes de se ajudarem a si próprias” (RODRIGUES;
41
ASSMAR; JABLONSKI, 2003, p.260). Essa norma trata das relações sociais mais próximas,
como as relações familiares, educacionais, o dever e a obrigação para com os idosos,
enfermos, entre outros.
Segundo Sparrowe e Liden (1997), as observações sobre reciprocidade remetem
diretamente à dicotomia existente nas pesquisas em LMX, qual seja, as relações se
estabelecem em torno das trocas sociais ou em torno das trocas econômicas. O modelo de
reciprocidade apresentado e discutido por Sparrowe e Liden (1997) possibilita visualizar o
tipo e a natureza dos interesses presentes nas relações entre líder e liderado, bem como o
caráter atual das trocas, considerando a amplitude das negociações que se firmam. Nesse
sentido, as pesquisas envolvendo LMX deveriam, segundo Graen e Uhl-Bien (1998), ampliar
os leques de análise, isto é, ir além das relações diádicas para considerar os interesses sociais
envolvidos nessas relações ou, ainda, as estruturas sociais dos relacionamentos e os impactos
nos resultados organizacionais.
A liderança, na sua capacidade formal de estabelecer vínculos verticais e horizontais
dentro da organização, pode ser um distribuidor de significados e de oportunidades para os
envolvidos (SPARROWE; LIDEN, 1997). Trata-se de lidar com questões “intangíveis como
lealdade, informação, suporte emocional e respeito” (p.526). Essas questões permitirão aos
pesquisadores da LMX compreender os efeitos das relações sociais informais influindo nos
resultados do trabalho.
Relações sociais informais podem se caracterizar por redes de relacionamento de
amizade e de vínculos no trabalho, à medida que o líder formal não é o único a exercer a
liderança em seu ambiente de trabalho. Em organizações burocráticas, essas relações
informais podem ter um caráter mais instrumental. Para Sparrowe e Liden (1997) relações
sociais informais constituem-se de um grande recurso competitivo em organizações que
42
sofrem pressões, ou em organizações que optaram por downsizing, ou em organizações que
formaram equipes para comporem grupos voltados para a resolução de projetos específicos.
Outra contribuição para a compreensão do processo de interação entre pessoas está
formulada nos pressupostos teóricos da Teoria da Identidade Social TIS. A apresentação e
discussão desses pressupostos serão apresentadas a seguir.
2.4.3 Teoria da Identidade Social – TIS
A identificação de pessoas é um tema crítico na literatura de comportamento organizacional,
(ASHFORTH; MAEL, 1989), ao passo que afeta, simultaneamente, a satisfação do indivíduo
e a efetividade organizacional. A Teoria da Identidade Social TIS pode trazer maior
coerência para a compreensão do significado de identificação organizacional (TAJFEL, 1978
e 1981).
No tocante à TIS, as pessoas tendem a classificarem-se a si mesmas e aos outros
dentro de vários núcleos sociais, por exemplo, como membros da organização, afiliação
religiosa, gênero, faixa etária, categoria profissional, entre outras. Isso implica dizer que as
pessoas possuem vários núcleos com os quais se identificam (TAJFEL; TURNER, 1985).
As pessoas, quando se identificam com esses núcleos sociais, estão organizando
cognitivamente o ambiente no qual vivem, dando-se a si mesmas e aos outros diferentes
significados. Isso se a partir de estereótipos ou categorias prototípicas que representam ou
identificam uma determinada categoria (ASHFORTH; MAEL, 1989; TAJFEL, 1981).
Também o fazem como forma de se localizarem e se definirem como indivíduos dentro de
determinado ambiente social. O autoconceito que as pessoas elaboram a respeito de suas
43
características idiossincráticas como: traços físicos; habilidades; traços psicológicos;
interesses; entre outros, advém dessa percepção ou enquadramento proposto pela classificação
social do grupo em que estão inseridas.
A identificação social, portanto, é a percepção que as pessoas têm de si próprias e das
suas características pessoais em relação ao outro. Isso faz com que as pessoas denominem o
grupo como o seu grupo. É uma forma de responder à clássica pergunta, conforme apontado
por Ashforth e Mael (1989), quem sou eu?
Nesse sentido, as pessoas podem usar dois critérios, segundo Tajfel e Turner (1985): o
critério relacional e o critério comparativo. As pessoas identificam-se (relacionam-se) e se
comparam com as demais pessoas. Uma determinada pessoa que se enquadra na categoria
masculina (categoria relacional) não se enquadra na categoria feminina (critério comparativo).
Esses critérios, segundo Ashforth e Mael (1989), estão no centro do processo da identificação
social, à medida que as pessoas não escolhem uma ou outra categoria, mas optam, nem
sempre por estímulos conscientes, por uma categoria comparativamente a outra categoria,
notabilizando, assim, um juízo de valor a respeito de si próprias.
A identificação social aparece como derivação da identificação grupal. Sugerem
quatro princípios relevantes, dentro de uma visão convencional de formação de grupo. O
primeiro princípio relevante diz respeito à identificação grupal. Nesse sentido, ela é “vista
como um construto de percepção cognitiva que não está necessariamente associado com
qualquer comportamento específico ou estado afetivo” (ASHFORTH; MAEL, 1989, p.21).
Afirmam que um indivíduo para identificar-se com um determinado grupo não precisa estar
vinculado às metas e objetivos do grupo. Ele simplesmente precisa perceber-se
psicologicamente vinculado ao grupo. Comportamentos e afetos são vistos como antecedentes
e conseqüências potenciais dessa visão.
44
Um segundo princípio relevante para a identificação grupal pode ser resultante da
experiência pessoal de fracasso ou de sucesso do grupo. Identificar-se com o outro pode
ocorrer na presença de fracassos, de grandes perdas ou situações que podem levar as pessoas
ao sofrimento, tarefas ou expectativas fracassadas ou, ainda, de grandes conquistas e
notoriedade.
O terceiro princípio proposto por Ashforth e Mael (1989), para a identificação grupal,
pode ser compreendido como processo de internalização, não obstante os autores entenderem
que o conceito de internalização ainda não está suficientemente discutido e claro na literatura.
Definem identidade como resultante de categoria social e internalização como “a
incorporação de valores, atitudes e princípios ou crenças” (p.22) que guiam o comportamento
da pessoa. Essas definições podem apontar para situações ambíguas, no sentido de que uma
pessoa pode identificar-se com uma determinada categoria social sem concordar ou aceitar os
valores, as atitudes e os princípios daquele grupo social.
O quarto princípio relevante para a identificação grupal pode confundir-se com a
identificação estabelecida com determinada pessoa, como herói do futebol, ou com
relacionamentos que se estabelecem a partir de regras específicas, como marido e mulher,
doutor e paciente ou professor e aluno (ASHFORTH; MAEL, 1989). Nesse sentido, a
identificação com uma determinada pessoa pode ser vista como processo complementar da
identificação grupal. As pessoas identificam-se com as outras para associar-se, competir ou
ganhar as qualidades do outro e, por complementaridade, se identificam com o grupo ao qual
aquela pessoa pertence.
Identificar-se com a organização é uma forma de identidade social. Trata-se de uma
personificação ou concretização das características prototípicas dos membros da organização.
As pessoas identificam-se com as categorias sociais existentes na organização porque querem
aumentar a auto-estima pessoal. Elas se identificam e se comparam com os demais membros
45
ou grupos organizacionais para obter o status e o sucesso que estes membros ou grupos
possuem. A identidade, nesse sentido, é ampla e complexa porque a organização possui vários
grupos como seus departamentos, unidades, os grupos formados por faixa etária, por gênero,
entre outros (ASHFORTH; MAEL, 1989).
2.5 Considerações finais sobre interação de pessoas
O processo de interação de pessoas é bastante complexo, como pode ser observado nas
discussões feitas até aqui. As formulações teóricas apresentadas são tentativas de
sistematização e de organização de rios fenômenos psicológicos e sociais que, ao olho do
percebedor, se confundem e se mesclam. Nesse sentido, seria interessante perguntar se
categorizar-se é o caminho para o processo de identificação, ou primeiro as pessoas
identificam-se umas com as outras e depois se categorizam como pertencentes a um
determinado grupo.
A psicologia social aponta a existência de aspectos que podem ser observados nesse
processo. São três os aspectos: a) há o aspecto da percepção ou identidade: as pessoas
definem-se a si mesmas e aos outros como um grupo. As pessoas partilham à mesma
percepção sobre si própria, definindo-se como uma entidade social distinta; b) há o aspecto da
interdependência: as pessoas estabelecem uma interdependência positiva entre si para que, de
alguma maneira, possam “satisfazer suas necessidades, para empreender metas e objetivos,
validação consensual de atitudes e valores em termos de influência social, interação social,
mútua atração” (TURNER, 1984, p.519). A literatura sobre o assunto pressupõe que essa
interdependência, além de estimular a interação anteriormente abordada, também estimula um
46
“comportamento cooperativo, influência mútua e coesão social entre os indivíduos”
(TURNER, 1984, p.519). A atração pelos outros, através do processo de interdependência,
está baseada na percepção de recompensa mediada pelos demais; c) há, ainda, o aspecto de
estrutura social: o processo de interação entre pessoas deve ser “estabilizado, organizado e
regulado por um sistema de papéis, diferenciação de status e partilhar as normas e valores”
(TURNER, 1984, p.519).
Turner (1984) introduz o conceito do grupo psicológico para ampliar essas discussões.
As características de identidade, interdependência e estrutura social não são suficientes,
segundo Turner (1984), para explicar o processo de formação psicológica do grupo. As
nações podem ser consideradas como um exemplo de grupo psicológico. Elas não emergem
da amizade entre amigos. O processo de socialização e o consenso social sobre as
necessidades individuais e como elas podem ser satisfeitas formam a base cultural e histórica
de construção das nações. Seus membros podem estar associados em torno de metas comuns,
não obstante estarem divididos por numerosas questões menos ou mais relevantes para a
nação.
Nesse sentido, grupo psicológico pode ser definido “como um conjunto de pessoas que
partilham da mesma identificação social, definindo-se a si mesmas como membros de uma
determinada categoria social” (TURNER, 1984, p.524). As pessoas não precisam gostar umas
das outras ou manter relações afetivas com os outros ou com o grupo ou, ainda, serem aceitas
pelos demais membros de um determinado grupo para que possam fazer parte do grupo
psicológico. Elas simplesmente precisam materializar ou creditar ao grupo a sua realidade
psicológica dissociada da necessidade de manter relacionamentos afetivos com os membros
desse grupo.
A literatura apresenta, segundo Ashforth e Mael (1989), várias razões relevantes para
que as organizações estimulem o processo de identificação com grupos. A primeira razão é a
47
distinção dos valores e práticas do grupo em comparação com outros grupos. A identidade
surge na percepção de um grupo distinto em comparação a outro grupo. A organização, então,
deve distinguir valores e práticas (positivas e negativas) do grupo, deixando-os claros a fim de
servirem como delimitadores dos domínios e das fronteiras do funcionamento do grupo. A
segunda razão é o prestígio do grupo. A identificação social aumenta a auto-estima dos
indivíduos a partir do prestígio adquirido pela organização. As pessoas sentem-se,
cognitivamente, vencedoras como a organização é. A terceira razão está associada à
proeminência do grupo. A consciência da existência do exogrupo reforça a consciência da
existência do endogrupo. A condição é a presença do endogrupo e do exogrupo. A base de
referência é sempre um ou outro. A consciência do exogrupo fortalece a fronteira entre o
endogrupo e o exogrupo. A quarta razão está associada aos fatores tradicionais de formação
de grupo, como a “interação interpessoal, similaridade, vínculo, proximidade, ameaças e
metas partilhadas, histórias comuns” (ASHFORTH; MAEL, 1989, p.25).
Como visto, a literatura apresenta um vasto leque de considerações a respeito de como
as pessoas interagem. Esse leque mostra a complexidade e a amplitude dos fenômenos que
envolvem a interação de pessoas. As investigações em torno da LMX, interessadas na
formação de díades no âmbito organizacional, o consideraram as proposições apresentadas
e discutidas até aqui, apesar de entenderem que as interações humanas são mais complexas do
que as formulações da LMX (SPARROWE; LIDEN, 1997). Nesse sentido, um dos desafios
deste trabalho é verificar se o processo da interação humana, com todas as implicações
abordadas e discutidas anteriormente, pode ser observado nas relações diádicas existentes nas
organizações brasileiras.
48
3. LIDERANÇA
Essa seção tem a finalidade de apresentar uma revisão da literatura sobre liderança
organizacional. Faz parte dessa revisão discutir algumas definições de liderança encontradas
na literatura, em quais níveis de análise é possível examinar o tema e as principais teorias que
explicam esse fenômeno. Pretende-se com essa seção criar uma moldura teórica que permita
uma discussão mais ampliada da liderança sob a ótica da Teoria da Troca entre Líder e
Liderado – LMX.
3.1 Definições de liderança
Liderança representa um dos mais complicados e multifacetados fenômenos “com o qual as
organizações e as pesquisas psicológicas” (SETERS; FIELD, 1990, p.29) têm se defrontado.
A constatação desta complexidade não é nova. Ela havia sido observada por Bennis (1959,
p.259) quando afirmou que “mais tem sido escrito e menos conhecido a respeito de liderança
que qualquer outro tópico em ciências comportamentais”.
O esforço para se compreender o fenômeno tem se verificado no aumento significativo
de pesquisas realizadas sobre liderança nos últimos anos. Se, por um lado, esse esforço tem
produzido conhecimento a respeito da liderança, por outro, tem estimulado que seus conceitos
sejam associados a outros conceitos mais focados na supervisão formal de grupos
organizacionais, como “poder, autoridade, gerenciamento, administração, controle e
supervisão” (YUKL, 2002, p.2).
49
Os estudos sobre liderança têm mobilizado inúmeros pesquisadores ao longo desses
últimos 100 anos. O resultado desses esforços foi traduzido na formulação de várias tentativas
de conceituar e explicar a liderança a partir de diversos níveis de análise, redundando na
concepção de inúmeros conceitos a respeito de liderança.
A diversidade de estudos e teorias sobre liderança evidencia a dificuldade de se cunhar
um conceito que conta de todos os aspectos envolvidos nesse fenômeno. Portanto,
liderança torna-se quase impossível de ser analisada e definida com absoluta precisão como os
fenômenos próprios das ciências exatas. Nesse sentido, o Quadro 2 procura identificar alguns
dos principais conceitos sobre liderança.
Quadro 2 – Principais conceitos sobre liderança
ANO PESQUISADOR CONCEITO
1957 Hemphill e Coons “É o comportamento de um indivíduo quando está dirigindo as atividades
de um grupo em direção a um objetivo comum”.
1960 Janda “É um tipo especial de relacionamento de poder caracterizado pela
percepção dos membros do grupo no sentido de que outro membro tem o
direito de prescrever padrões de comportamento na posição daquele que
dirige, no que diz respeito a sua atividade na qualidade de membro do
grupo”.
1970 Jacobs Ë uma interação entre pessoas na qual uma apresenta informação de um
tipo e de tal maneira que os outros se tornam convencidos de que seus
resultados serão melhorados caso se comporte da maneira sugerida ou
desejada”.
1974 Stogdill “E o início e a manutenção da estrutura em termos de expectativa e
interação”.
1974 Fiedler e Chemers “Liderança é uma relação entre pessoas na qual a influência e poder não
são desigualmente distribuídos em bases legítimas... implica que
seguidores devem consentir explícita ou implicitamente em sua parte dessa
relação de influência”.
1975
Dansereau, Graen e
Haga
“Liderança envolve a natureza das trocas verticais que são feitas entre um
supervisor e um membro”.
“A influência está ancorada nos relacionamentos que permitem trocas
interpessoais entre um supervisor e um membro”.
“A maior iniciativa de negociação ao membro a noção da importância
da negociação de suas tarefas. Quando isto ocorre, maior probabilidade
do supervisor estar experimentando a liderança. Quando não ocorre,
probabilidade do superior ser simplesmente supervisor do seu membro”.
Continua
50
Continuação
ANO PESQUISADOR CONCEITO
1978 Katz e Kahn “É o incremento da influência sobre e acima de uma submissão mecânica
com as diretrizes rotineiras da organização”.
1979
Burns
“... um processo recíproco de mobilização, por pessoas... visando atingir
objetivos independente ou mutuamente defendidos por ambos, líderes e
seguidores”.
1990
Bass
“É uma interação entre duas ou mais pessoas de um grupo, que
freqüentemente envolve construção ou desconstrução de situações,
percepções e expectativas dos membros. A liderança ocorre quando um
membro do grupo modifica a motivação ou a competência de outros
membros do grupo. Qualquer membro do grupo pode apresentar uma certa
liderança...”.
1998
Bennis
“Liderança ... sempre uma transação entre um líder e seus ou suas
seguidoras com a finalidade de atingir um objetivo ou sonho. Uma
ressonância existe entre líderes e seguidores que faz deles aliados em
abraçar uma causa comum”.
2002
Yukl
“É um processo de influenciar outros a compreenderem e concordarem a
respeito das necessidades que devem ser satisfeitas e como elas podem ser
eficazmente realizadas e o processo de facilitação dos esforços individuais
e coletivos para alcançar objetivos compartilhados...”.
2003
Graen
“Liderança é um conceito complexo que inclui pelo menos um líder de
equipe, um membro da equipe e um relacionamento de troca entre o líder e
o membro... sem que haja a presença destes três elementos a liderança não
pode ser invocada”.
FONTE: Adaptado de Yukl, 2002, p. 3.
A apresentação desse leque de definições não contempla toda a gama de conceitos
sobre liderança já cunhados até hoje. Apesar disso, é possível observar-se, no Quadro 2, que,
a partir da década de 70, a maioria dos conceitos define liderança como processo de
influência. Percebe-se que o exercício da influência pode ocorrer em vários níveis, como, por
exemplo, nas interações diádicas entre líder e liderado.
O poder ou a autoridade formal, incluídos nas definições cunhadas anteriormente à
década de 70, estavam centrados na pessoa do líder. Ele, o líder, possuía o direito de
prescrever padrões de comportamento para o outro. Com a inserção da concepção de
influência mútua na interação de pessoas, esse poder se dilui, igualmente, entre líder e
liderado, tornando a liderança um processo recíproco de mobilização de pessoas. A liderança,
portanto, passa a ser resultado de uma ação conjunta visando ao atingimento de metas e
expectativas comuns. A entrada dos conceitos de liderança, a partir da ótica da LMX,
51
potencializa o processo de interação de pessoas. A interação e a influência não são
estabelecidas entre o líder e todos os seus liderados. Muito pelo contrário, elas se dão somente
com as pessoas que conferem legitimidade a elas.
Percebe-se, ainda, que os conceitos apresentados no Quadro 2 possuem uma
característica mais psicológica do que propriamente organizacional. Eles tratam da interação,
da influência, da troca social que um líder faz com um liderado. A exceção é a definição de
Katz e Khan (1978) que tem maior foco na questão das diretrizes rotineiras da organização.
O conceito de liderança que melhor se ajusta aos propósitos deste trabalho é o
elaborado por Dansereau, Graen e Haga (1975), visto que contempla a interação entre um
líder e um liderado enquanto influência mútua que exercem um sobre o outro, com a
finalidade de atingirem objetivos pessoais e organizacionais comuns.
3.2 Níveis de análise em liderança
Para Yammarino, Dansereau e Kennedy (2001), o estudo da liderança envolve diferentes
níveis de análise: individual, diádico, grupal e organizacional. A opção dos estudiosos em
examinar a liderança a partir, fundamentalmente, de um desses níveis resultou num conjunto
de teorias que buscam explicar o fenômeno examinando-o numa perspectiva individual,
diádica, grupal e organizacional, conforme apresentado e discutido a seguir.
52
3.2.1 A liderança no nível individual
Os estudos que examinam a liderança no nível individual focam as características da
personalidade do líder como fator preponderante para o exercício da liderança
(YAMMARINO; DANSEREAU; KENNEDY, 2001).
Abordam algumas características do líder sem se preocupar com as características do
liderado. O liderado é visto de forma passiva à influência do líder. O que se torna relevante é
conhecer aquilo que o líder é, sua personalidade, seus traços, seu perfil, suas motivações, seu
estilo de tomada de decisão (McCLELLAND, 1965). Por meio dessas características pessoais,
pode-se compreender e definir o que é liderança. Esse é o enfoque dado pela Teoria dos
Traços, representada por autores como R.D.Mann e F.E.Fiedler.
Para Yukl (2002) são raros os teóricos que se dedicam ao estudo da liderança no nível
individual, que boa parte das definições utilizadas em liderança envolve influências entre
indivíduos.
3.2.2 A liderança no nível diádico
No nível diádico, os estudos focam as relações entre duas pessoas, no caso, o der e seu
liderado (YAMMARINO; DANSEREAU; KENNEDY, 2001), independentemente do
relacionamento que se estabelece entre líder e seu grupo ou líder e a organização.
Pela própria inerência do processo, trata-se de uma influência mútua, isto é, líder
influencia liderado e liderado influencia líder. Nessa perspectiva, a liderança pode ser
53
compreendida por meio do exame das influências mútuas existentes entre der e liderado.
Yukl (2002, p.15) afirma que “a questão chave (para a compreensão desta abordagem) é como
desenvolver a cooperação, relações de confiança com liderados e como influenciar um
liderado para estar mais motivado e comprometido”, diferentemente da liderança examinada
no nível individual.
Para Yammarino e Dansereau (2002), esse nível de análise está baseado em
investimentos e retornos que der e seguidor promovem. Investimento está sendo entendido
como o que uma parte oferece a outra parte e, retorno, como o que uma parte recebe da outra
parte. Investimento dispara o retorno e o retorno dispara o investimento. No equilíbrio entre
retorno e investimento é que se a riqueza ou a pobreza da qualidade do relacionamento,
nesse nível de análise. O supervisor propicia investimentos econômicos ou sociais para o
subordinado e o subordinado responde com desempenho, por exemplo. O investimento e o
retorno, para ambas as partes envolvidas, servem de estímulo para o fortalecimento do
relacionamento.
A liderança, no nível diádico, tem sido estudada por Sparrowe e Liden (1997) e Liden
e Maslyn (1998), sendo uma das mais representativas a Teoria da Troca entre Líder e
Liderado – LMX (DANSEREAU; GRAEN; HAGA, 1975). Parte do princípio de que a ação e
a influência do líder não se dão da mesma forma com todos os subordinados. Os líderes e
subordinados que formam o processo diádico desenvolvem uma relação interpessoal que é
marcada por influências mútuas entre eles. No ambiente organizacional, eles negociam os
papéis que devem desempenhar (DIENESCH; LIDEN, 1986). Essas interações podem ser de
alta ou baixa qualidade de relacionamento e se apresentam como precursoras do desempenho
do liderado (LIDEN; MITCHELL, 1983; DUNEGAN; DUCHON; UHL-BIEN 1992).
54
Um destaque especial será dado na apresentação dessa teoria, por tratar-se do escopo
teórico escolhido para fundamentar esta pesquisa. As implicações e as aplicações dessa teoria
serão apresentadas e discutidas posteriormente.
3.2.3 A liderança no nível grupal
Procura-se discutir, nesse nível de análise, a liderança nos grupos formais e informais.
Algumas questões são importantes e ajudam a compreender melhor o papel do líder no
exercício da liderança no nível grupal (YUKL, 2002), como, por exemplo, por que alguns
membros dos grupos são mais influentes do que outros dentro do grupo? Quem, dos membros
do grupo, será escolhido ou eleito para exercer o papel de líder? Por que alguns líderes
acabam perdendo a confiança e credibilidade dos liderados?
Uma questão latente que aí se impõe como resposta a essas perguntas, diz respeito aos
interesses que são negociados, muitas vezes de forma tácita, entre líder e seu grupo de
liderados. Esse processo de negociação de interesses não envolve somente o líder e liderados,
mas a organização como um todo. Wayne, Shore e Liden (1997) entendem que, nessa
negociação de interesses, se dá a percepção que os liderados possuem do suporte que a
organização forneceu para que os interesses da díade fossem alcançados (EISENBERGER et
al., 1986).
A percepção desse suporte organizacional, como contrapartida no processo de troca
entre liderados e líder, pode estimular, segundo esses pesquisadores, o comprometimento dos
liderados com a organização. Portanto, altos níveis de percepção de suporte organizacional
criam sentimentos e obrigações por parte dos liderados.
55
3.2.4 A liderança no nível organizacional
Para Yukl (2002), esse vel de análise de liderança deve ser entendido a partir da
compreensão das organizações como sistemas abertos. Sistemas abertos, segundo Katz e
Kahn (1978), são aquelas organizações que sobrevivem e prosperam tendo em vista os
relacionamentos que são capazes de manter com o ambiente externo no qual estão inseridas.
Os sistemas abertos recebem vários insumos oriundos do meio ambiente, tais como: restrições
e regulamentações governamentais, necessidades e desejos dos consumidores dos seus
produtos e serviços, os planos estratégicos dos seus competidores, entre outros, e os processa
em forma de produtos ou serviços que oferece à coletividade.
O papel do executivo consiste em ajudar a organização líder a se ajustar e se adaptar às
exigências do meio ambiente, oferecendo soluções e alternativas para a sua sobrevivência.
Yukl (2002) entende que faz parte desse papel estratégico a coleta de dados e informações
sobre o meio ambiente, fazer negociações que favoreçam a organização líder na sua
sobrevivência, influenciando pessoas a fim de que tenham uma boa impressão da organização
e dos produtos e serviços oferecidos.
Com essa finalidade, o executivo investe para que as pessoas de fora da sua
organização cooperem e ajudem nesse processo, sem contar, ainda, com a seleção de novos
empregados que estejam comprometidos com essa visão. Ainda deve repensar a estrutura
organizacional apropriada para enfrentar o processo de sobrevivência e elaborar os
determinantes que implicarão nos níveis de autoridade, entre outros.
Para Dansereau, Alutto e Yammarino (1984), esse nível de análise de liderança
envolve o estudo de agrupamentos de organizações, como cluster, grupo de grupos”, nos
56
quais organizações líderes estabelecem relações de interdependência com outras
organizações.
Trata-se, portanto, da análise do nível coletivo (DANSEREAU; YAMMARINO;
KOHLES, 1999). Esses pesquisadores usam esse nível como metáfora para a compreensão
das relações existentes entre as unidades estratégicas de negócios (GOLDEN, 1992) ou, ainda,
entre as organizações que compõem as unidades estratégicas de negócios (RUMELT, 1991).
No primeiro caso, as díades compõem duas organizações e os grupos compõem múltiplas
organizações. Esses agrupamentos representam as relações que as organizações estabelecem
entre si (KLEIN; KIM, 1998).
Como visto, o estudo da liderança pode se dar em diversos níveis de análise.
Diferentemente dos níveis individual e organizacional de estudos, os níveis diádico e grupal
foram amplamente investigados através de vários trabalhos de campo (YUKL, 2002),
demonstrando que liderança deve ser entendida como interação de duas ou mais pessoas, em
alcançar objetivo e motivo comuns. Nesses níveis de análise os interesses pessoais são mais
evidentes, tornando o processo da influência uma importante ferramenta para a obtenção de
resultados organizacionais.
3.3 Teorias de liderança
Tradicionalmente, as abordagens teóricas sobre liderança podem ser divididas em três grupos
distintos, a saber: as teorias que focam os traços do líder, as teorias que focam os
comportamentos do líder e as teorias que focam as situações ou as contingências.
57
3.3.1 Teorias que focam os traços do líder
Seters e Field (1990) denominam as teorias que focam os traços do der como Era da
Personalidade e de Era da Influência, conforme mostra a Figura 1.
Figura 1 – Personalidade e influência: características do período dos traços
Fonte: Yukl, 2002
Denomina-se Era da Personalidade porque era senso comum que, se as pessoas
imitassem a personalidade e o comportamento dos grandes deres, elas também se
transformariam em grandes líderes. Disso decorre a idéia de se identificarem os traços dos
líderes ideais para a seleção de novos líderes.
O expoente desse pensamento, conforme citado por Seters e Field (1990), foi Bowden
(1927). Ele fez associação entre liderança e personalidade ou, ainda, liderança associada à
hereditariedade.
Foco no líder
Traços
Personalidade
Habilidades
Comportamentos
Atributos
Era da Personalidade:
Imitar a personalidade
e comportamento
Era da Influência:
Poder nas relações
Persuasão
Liderança
Participativa
Foco no lideradoFoco no líder
Traços
Personalidade
Habilidades
Comportamentos
Atributos
Era da Personalidade:
Imitar a personalidade
e comportamento
Era da Influência:
Poder nas relações
Persuasão
Liderança
Participativa
Foco no liderado
58
No período posterior denominado de Era da Influência, a liderança é vista como o
líder influenciando o liderado e não simplesmente a partir da característica que um líder
possui. Influência à medida que o líder usa do poder de coerção e de persuasão nas suas
relações com os liderados. Na coerção, o líder comanda seus liderados usando o poder de
coerção como poder ditatorial e autoritário. Esses poderes são usados para manter o controle
exercido pelo líder. Por mostrar-se inadequado para tratar dos interesses e necessidades dos
seguidores, o líder deixou de usar o poder de coerção e passou a usar o poder da persuasão. O
líder ainda continuou sendo visto como um fator dominante na sua relação com o liderado.
Somente alguns pesquisadores se dedicaram a estudar as características dos liderados,
nesse nível de análise, como as pesquisas sobre Liderança Participativa (LEWIN; LIPPITT;
WHITE, 1939; COCH; FRENCH, 1948). Essa abordagem torna possível visualizar a
perspectiva de quanto os liderados são capazes de influenciar situações e resultados
importantes para a organização; de como são capazes de influenciar as regras do seu próprio
trabalho e o seu relacionamento com seus líderes; de como podem, em situações específicas,
diminuir a importância do líder.
A abordagem da liderança, a partir dos traços do líder, apresenta, segundo Yukl
(2002), quatro limitações. A primeira diz respeito à inexistência de traços que sejam
universais e que possam dar sustentação à liderança em qualquer situação. A segunda
limitação refere-se aos aspectos de formalização e padronização que são exigidos em muitas
organizações. Quanto mais rígido for o contexto organizacional, no sentido de incentivar ou
punir determinados comportamentos, menor será a possibilidade de manifestação espontânea
de traços pessoais. A terceira limitação trata das poucas evidências de que os traços do líder
são que levam ao sucesso. São os traços de auto-estima do líder que tornam a liderança um
sucesso ou seria o sucesso da liderança que estimula o fortalecimento da auto-estima do líder?
A quarta limitação concerne ao questionamento de que, mesmo que alguém tenha traços que o
59
possibilite ser um líder, isso não significa que ele será bem-sucedido no exercício da
liderança. Não é possível, pois, fazer uma relação direta entre traços e efetividade no exercício
da liderança.
3.3.2 Teorias que focam o comportamento do líder
Também é possível classificar as teorias de liderança a partir do comportamento do der. O
foco dessas teorias é a não preocupação com os traços do líder, mas sim com o que o líder faz
ou como o líder se comporta. De que maneira o líder se comporta? Surgem, então, as teorias
comportamentais.
Os estudos pioneiros, nessa área, foram desenvolvidos nas universidades de Ohio e
Michigan. Esses estudos analisaram os comportamentos dos líderes e separaram esses
comportamentos em dois grandes grupos: comportamentos voltados para as pessoas e
comportamentos voltados para as tarefas. Em decorrência, surgiram os estilos de liderança
“voltados para o início da estrutura quando a preocupação era conseguir que um trabalho
fosse feito e voltados para a consideração, centrado principalmente no incremento do
relacionamento entre pessoas” (BERGAMINI, 1994, p.321).
Seters e Field (1990) denominam esse bloco de teorias em Era do Comportamento.
Para esses autores, a liderança passou a ser vista como um subconjunto do comportamento do
líder. Acreditam que essa abordagem ganhou a atenção dos pesquisadores e gerentes pela sua
abrangência na busca de uma melhor efetividade da liderança. Acreditam, também, que o
líder não tem influência direta na causa do comportamento do subordinado, mas provê
condições e estímulos para que isso aconteça.
60
A Era do Comportamento, segundo Seters e Field (1990), pode ser dividida em dois
subperíodos. No primeiro ainda estão presentes as influências do período dos traços. Seu foco
está no desenvolvimento dos traços do comportamento do líder e não nos seus traços de
personalidade. No segundo, surge a preocupação de aplicar o conhecimento adquirido no
período dos traços na atividade gerencial. O modelo da Grade Gerencial 9X9 de Blake e
Mouton (1964 e 1978) é um bom exemplo disso. Outro exemplo é a Teoria X e Y de Douglas
McGregor (1966).
As teorias comportamentais de liderança desencadearam, com relativo sucesso, uma
nova concepção. Sendo possível identificar quais são os determinantes críticos que envolvem
a ação do líder no ambiente organizacional, então, seria possível desenvolver no líder técnicas
e comportamentos adequados para atender a esses determinantes. Contudo, também se
mostraram ineficazes à medida que não se aplicam em todas as situações ou contingências em
que a liderança é exercida.
3.3.3 Teorias que focam as situações ou contingências
As teorias que focam as situações ou contingências se apresentam como outra possibilidade
de classificação da liderança. Sob esse foco, as investigações passaram a considerar as
situações ou as contingências em que a liderança ocorre para defini-la e compreendê-la. Os
teóricos envolvidos com esses estudos não atribuíram o sucesso ou o fracasso da liderança
somente aos traços e à personalidade do líder, nem à forma como o líder se comporta em
relação ao liderado, mas consideram, sobretudo, as circunstâncias ou as situações em que o
processo de liderança ocorre.
61
Esse grupo de teorias sobre liderança é denominado por Seters e Field (1990) de Era
Situacional e Era Contingencial. A Era Situacional apresenta importantes avanços na
compreensão da liderança, à proporção que considera os tipos de tarefas, o status social do
líder e do subordinado e a natureza do ambiente externo.
três momentos importantes na Era Situacional. O primeiro momento está
circunstanciado pelo ambiente organizacional. O sucesso do líder ocorre se ele estiver no
lugar certo, na hora certa e diante das circunstâncias certas. A confluência desses fatores torna
as ações do líder sem importância. Se ele não estiver presente quando esses fatores
confluírem, uma outra pessoa ocupará o seu lugar. O segundo momento refere-se ao status
social do líder e do grupo. Os membros do grupo encarregam-se das tarefas específicas,
mantendo, por conta própria, os comportamentos previstos. Os comportamentos esperados
tanto do líder como do liderado contribuem para o grupo. o terceiro momento trata do
período sócio-técnico, no qual questões técnicas passam a ser consideradas no processo de
liderança.
A Era Contingencial, segundo Seters e Field (1990), também, apresenta um
substancial avanço na abordagem sobre liderança em relação aos períodos anteriores, ao passo
que aglutina conceitos abordados por outras teorias. Essa abordagem considera fatores do
comportamento, da personalidade, influência e situação. Sob a perspectiva desses fatores
contingenciais, escolhe-se o estilo de liderança.
A importância desse terceiro grupo de abordagens teóricas sobre liderança está no fato
de que elas abarcam, nas suas proposições, o líder, o liderado e as contingências, no que diz
respeito ao contexto e ao simbolismo captado pelo líder. Nesse sentido, a influência que o
líder exerce sobre o liderado deixa de ser feita pelo exercício dos poderes de coerção,
persuasão ou autoritário, mas passa a ser a influência sancionada pelo liderado. O liderado
62
submete-se, espontaneamente, à influência do seu líder e permite que seu comportamento seja
modelado ou controlado para que metas e objetivos comuns sejam alcançados.
Essa abordagem permite visualizar um novo papel do liderado na liderança e
compreender que o liderado também exerce um papel importante nesse processo, à medida
que ele também passa a ter certo nível de influência sobre seu líder. O liderado deixa de ter
um papel eminentemente passivo diante do seu líder, à proporção que as interações que
estabelece com seu líder estão demarcadas por processos de trocas sociais de interesses
mútuos. Nesse caso, questões motivacionais são consideradas no processo de liderança, como
também a atitude recíproca que o liderado empreende em direção do comportamento benéfico
do seu líder. Trata-se, portanto, de trocas de benefícios e favores que líder e liderado realizam
mútua e espontaneamente ao longo do seu tempo de convivência. Esses benefícios e favores
não se restringem somente às questões econômicas e materiais, como também às questões
psicológicas (BERGAMINI, 1994).
As teorias contingenciais e suas propostas estão apresentadas no Quadro 3.
Quadro 3 – Teorias de liderança sob o enfoque contingencial
Os grandes blocos Representantes Períodos O que propõe
Teoria Contingencial
Fiedler
1964 e 1967
O líder analisa as
situações em que está
envolvido e opta por um
estilo mais adequado a
elas.
Teoria Caminho-Meta
Evans, House, House e
Mitchell
1970, 1971 e 1974
O líder foca o sucesso do
subordinado no alcance
de suas metas, oferecendo
apoio e orientação
necessários para que os
objetivos organizacionais
sejam alcançados.
Continua
63
Continuação
Os grandes blocos Representantes Períodos O que propõe
Average Leadership
Style – ALS
Graham 1970 O líder procura tratar da
mesma maneira todos os
seus liderados.
Vertical Dyad Linkage
Theory – VDL
Dansereau, Graen e Haga
e Liden e Graen
1975 e 1980
O líder estabelece
interações diferenciadas
com seus liderados,
formando o endogrupo e
o exogrupo.
Leader-Member
Exchange Theory –
LMX
Dansereau e Graen,
Dinesh e Liden
1978 e 1986
O líder e o liderado
estabelecem
relacionamento de
parceria em busca de
benefícios mútuos. Este
relacionamento está
baseado na confiança e
nas compatibilidades
pessoais.
Social Exchange
Theory
Hollander, Jacobs
1979 e 1970
O líder e o liderado
estabelecem elementos de
troca, formalizado em
papéis que devem ser
cumpridos por ambos.
Role-Making Model
Foco transacional
Graen e Cashman
Hollander
1975
1979
O líder e liderado, dentro
da perspectiva dos papéis,
criam expectativas
positivas em relação a
ambos, a partir da
maturidade, habilidades
interpessoais e
competências.
Teoria
Transformacional
Bass
1985
O líder deixa a
perspectiva transacional
no trato dos liderados e
assume uma postura que
inspire seus subordinados
a transcenderem seus
próprios interesses para o
bem da organização.
Teoria Neocarismática
House, Conger e Kanungo
1976 e 1977
O líder exerce sobre o
liderado um
comportamento simbólico
e emocionalmente
apelativo, como os
estudos do líder
carismático e visionário.
Este vai além do carisma.
Ele cria e articula uma
visão do futuro.
FONTE: Adaptado pelo autor de Seters e Field (1990, p. 18).
As referências bibliográficas constam do original.
64
O Quadro 3 apresenta o esforço das diversas investigações em compreender qual a
amplitude e a complexidade das interações entre líder, liderado e as contingências
organizacionais. Assim, o cenário em que a liderança ocorre engloba a análise das
circunstâncias que estão no entorno do líder e do liderado, a capacidade do líder em oferecer
apoio e orientação necessários ao liderado, para que alcance os objetivos organizacionais.
Considera, ainda, as necessidades e expectativas da díade, os processos de troca decorrentes
dessas expectativas e o papel simbólico e inspirador que a figura do líder exerce sobre o
liderado. As pressuposições da Teoria da Troca entre Líder e Liderado – LMX emergem nesse
cenário como ampla possibilidade de investigação das interações diádicas no âmbito
organizacional. Ela será examinada em seção específica, por tratar-se da teoria orientadora
deste trabalho.
3.3.4 A Vertical Dyad Linkage – VDL
A Vertical Dyad Linkage VDL é a primeira fase, segundo Graen e Uhl-Bien (1998), da
Teoria da Troca entre Líder e Liderado - LMX.
Trabalhos empíricos originalmente desenvolvidos por Dansereau, Cashman e Graen
(1973) investigaram as interações entre o líder e seus liderados. Para tal, utilizaram os
conceitos da Average Leadership Style ALS”. A ALS pressupõe que o líder organizacional
mantém o mesmo tratamento e a mesma interação pessoal com todos os seus liderados. A
investigação realizada por esses autores, em coleta de dados junto a 261 gerentes e seus
superiores, constatou que os superiores não se relacionavam com seus gerentes da mesma
forma. Com alguns estabeleciam relacionamento de maior proximidade e com outros
65
gerentes, relacionamento mais formal. Para o primeiro tipo de relacionamento deram o nome
de endogrupo e para o segundo de exogrupo. Esses achados os levaram a concluir que a VDL,
e não a ALS, poderia ser uma “melhor opção conceitual para se tentar explicar os mistérios da
liderança” (DANSEREAU; GRAEN; HAGA, 1975, p.48), à medida que apresentava ênfases
diferenciadas nas interações entre líder e liderado.
A expressão “mistérios da liderança” foi utilizada no sentido de que uma mesma
pessoa exerce papéis de supervisão, baseada exclusivamente na questão da autoridade formal
e, ao mesmo tempo, também exerce a liderança que pode ser entendida como um processo de
influência sem o exercício da autoridade formal. Em alguns momentos, espera-se que o
gerente exerça papéis e desenvolva características de supervisão e, em outros, exerça papéis e
desenvolva características de líder.
Nesse sentido, o pressuposto básico daAverage Leadership Style - ALSé o de que o
gerente, no papel de líder, não diferencia o tratamento ou as interações que estabelece com
seus liderados. Como dito anteriormente, a forma de interagir é a mesma para todos os
liderados. Para a VDL, conforme se vê no primeiro estágio da Figura 2, o gerente, no papel de
líder, estabelece interações diferenciadas com cada liderado, as quais se baseiam nos
respectivos papéis que ambos, líder e liderado, negociam. Somente a compreensão da
amplitude dessa negociação é que permite identificar as diferenças de comportamentos de
líderes e liderados e as conseqüências que esses comportamentos têm para ambos e para a
organização. É uma tentativa de mostrar que os estudos sobre liderança não devem ser vistos
de maneira unilateral, somente focando o líder, mas devem ampliar os horizontes de análise
envolvendo os liderados.
66
Figura 2 – Evolução da LMX
Fonte: Adaptado de Graen e Uhl-Bien, 1998, p. 111
Para Liden e Graen (1980), os trabalhos em torno da VDL concluem que as
diferenciações nas interações entre líder e liderado se dão a partir de escolhas que o líder faz.
O líder considera, para fazer suas escolhas, as competências e as habilidades dos liderados, o
quanto pode confiar no liderado e as motivações dos liderados. Essas, em especial, assumem,
sob a ótica do der, um importante papel com relação à responsabilidade que o liderado pode
assumir dentro das unidades de trabalho.
Trata-se de um grupo seleto, escolhido pelo líder que é denominado na VDL de
endogrupo ou de grupo de alta qualidade de relacionamento. Compõem o “círculo de
comunicação e de conhecimento do líder” (YAMMARINO; DANSEREAU; KENNEDY,
2001, p.157). Os liderados que compõem o endogrupo são responsáveis por tarefas e por
responsabilidades que podem ter grande impacto no dia-a-dia da unidade a que pertencem.
Por conta disto, os liderados recebem maior atenção, apoio, ajuda e informações do líder
(LIDEN; GRAEN, 1980).
O grupo não escolhido pelo líder é denominado, na VDL, de exogrupo ou grupo de
baixa qualidade de relacionamento. Trata-se do grupo que fica “fora do círculo de
comunicação e de conhecimento do líder” (YAMMARINO; DANSEREAU; KENNEDY,
2001, p.157). Para o exogrupo, o líder delega tarefas rotineiras, sem grandes impactos no dia-
Estágio 1 – VDL
Validação e diferenciação
dentro das unidade
de trabalho
Estágio 2 – LMX
Validação dos
relacionamentos
diferenciados para os
resultados da organização
Estágio 3 – Leadership Making
Teoria e exploração do
desenvolvimento do
relacionamento diádico
Estágio 4 – Team Making
Competência da
networh
Investigação da reunião
de díades
em coletividades amplas
67
a-dia da unidade a que pertence, interagindo de maneira formal, seguindo as premissas básicas
pertencentes ao contrato de trabalho. Os membros do exogrupo são subordinados e o líder
torna-se gerente, que utiliza os procedimentos padrões praticados para todos os empregados,
indistintamente, da organização como forma de tratamento (LIDEN; GRAEN, 1980).
Os escolhidos para o endogrupo desenvolvem maior dependência em relação ao seu
líder, mostram mais empenho e responsabilidade para as tarefas, são mais comunicativos,
possuem maior nível de satisfação no trabalho e apresentam desempenho mais elevado e
menor índice de turnover que os liderados pertencentes ao exogrupo (VECCHIO;
GRIFFETH; HOM, 2001). Isso pode ser observado no estágio 2 da Figura 2.
O terceiro e o quarto estágios demonstrados foram denominados por Graen e Uhl-Bien
(1998) de Leadership Making e Team Making, cujos conceitos podem ser sintetizados, por
não fazerem parte do escopo deste trabalho, da seguinte maneira: quando as pessoas
ingressam na organização elas não têm conhecimento umas das outras, nem dos papéis de
interdependência que possuem. Nesse momento, as relações são formais, o líder é considerado
supridor de necessidades econômicas. Contudo, basta que o convívio aconteça para que os
relacionamentos alcancem níveis elevados de trocas sociais.
Se, num primeiro momento, o líder é transacional, num segundo momento ele passa a
ser transformacional, à medida que a liderança é caracterizada como “além de seus próprios
interesses” (GRAEN; UHL-BIEN, 1998, p.118). Nesses estágios de maior amadurecimento,
segundo Graen e Uhl-Bien (1998), a LMX deve ser entendida tanto da perspectiva da
liderança transacional como da perspectiva da liderança transformacional. A primeira, porque
propõe trocas materiais como compensação material e a segunda, porque propõe trocas o
materiais, como trocas sociais e psicológicas. Os benefícios das trocas sociais e psicológicas
podem ser, por exemplo: aprovação, confiança, auto-estima, fortalecimento e consideração,
presentes nas parcerias propostas pelos estágios três e quatro apresentado na Figura 2.
68
Para Hudges (1997), os conceitos de Liderança Transacional e Liderança
Transformacional, apesar de possuírem modelos diferenciados, podem ser aplicados no
tocante aos pressupostos LMX. Em certo sentido, a LMX é transacional, tendo em vista os
fatores de similaridade entre membros da díade e preferência por pertencer à ade,
fenômenos que se apresentam nos relacionamentos entre os membros das díades, serem
elementos que permitem aos membros obterem resultados almejados a partir das trocas
estabelecidas. Similaridade e preferência, segundo Hudges (1997), estão relacionadas a
desempenho e satisfação, por exemplo.
Tirando o primeiro estágio apresentado na Figura 2, os demais tratam do
relacionamento de parceria que líder e liderado estabelecem no ambiente de trabalho. Quanto
mais amadurecida for essa parceria, mais se vai avançando nos estágios propostos por Graen e
Uhl-Bien (1998) e mais evidentes ficam os pressupostos básicos da LMX. Contudo, o objeto
de estudo deste trabalho está focado no segundo estágio, apresentado na Figura 2. Esse
estágio permite compreender a passagem da VDL para a LMX, cujos conceitos e definições
são apresentados a seguir.
3.3.5 Teoria da Troca entre Líder e Liderado - LMX
Como comentado, o segundo estágio proposto pela Figura 2 é o surgimento da LMX. Um
ponto importante na compreensão da LMX é a do quanto a liderança (relacionamento líder
liderado) consegue produzir resultados favoráveis às diádicas e às organizações. Trata-se,
portanto, do quanto “líderes e liderados são hábeis para desenvolver um relacionamento
69
maduro em termos de parceria e, desse modo, obter acesso aos muitos benefícios que este
relacionamento traz para ambos” (GRAEN; UHL-BIEN, 1998, p.110).
A LMX passa a considerar a possibilidade de ganhos mútuos tanto para líder como
para liderado e ambos, conscientes disso, estabelecem entre si um relacionamento baseado na
parceria ou no comprometimento mútuo. Como foi dito, quando a parceria se estabelece é
denominada, na LMX, de endogrupo. Quando não se estabelece é denominada, na LMX, de
exogrupo.
Liden e Graen (1980) afirmam que esse comportamento de selecionar liderados e
formar parcerias com eles, formando o endogrupo, acaba por influir, em última instância, na
melhoria da unidade sob a responsabilidade do líder. Ele é o responsável pelos resultados que
seus liderados apresentam ou deixam de apresentar. Como sozinho o líder não é capaz de
alcançar os resultados que dele são esperados, ele delega tarefas e responsabilidades para
pessoas confiáveis, parceiros, pessoas que ele acredita serem capazes de produzir os
resultados esperados.
A parceria pode ser concebida em termos de um processo de influência mútua,
baseada nas trocas que os parceiros realizam. No caso das díades entre líder e liderado, a troca
está baseada na confiança e nas compatibilidades pessoais. O líder fornece mais informações,
delega mais poderes e autoridade, enriquece as tarefas e as responsabilidades dos liderados,
aumenta a participação desses liderados em níveis maiores de tomada de decisão, facilita o
desenvolvimento da carreira dos liderados (recomendando para promoções, dando a eles
maior visibilidade), fornece aumentos e premiações especiais, além de outros benefícios
extras. Em contrapartida, os liderados assumem maiores obrigações, trabalham mais
efetivamente, comprometem-se mais com as tarefas, são mais leais aos líderes e partilham
com os líderes tarefas e responsabilidades (DANSEREAU; GRAEN; HAGA, 1975).
70
A literatura de LMX apresenta amplos resultados e benefícios tanto para líder, como
para liderado que formaram o endogrupo ou, na linguagem da LMX, relacionamento de alta
qualidade. Contudo, esse tipo de relacionamento necessita que a organização dê poder e
permita que o líder faça investimentos no endogrupo. A questão que se impõe é: o líder não
tem tempo e recursos sociais para realizar, o tempo todo, o investimento necessário para a
manutenção constante da capacidade de obtenção de resultados e benefícios por parte do
endogrupo. Isso torna questionável, segundo Graen e Uhl-Bien (1998), o desenvolvimento e a
manutenção de um relacionamento de alta qualidade. É possível, portanto, que “haja um
pouco de alta qualidade de relacionamento de troca e o restante das relações tornem-se de
baixa qualidade de trocas, envolvendo somente comportamento obrigatório à submissão dos
membros para com as regras formais da organização” (p.112).
A existência dessas díades (endogrupo) abriu espaços para muitas investigações no
âmbito da compreensão das características dos relacionamentos estabelecidos na LMX,
conforme Quadro 4.
Quadro 4 – Investigações em LMX
FOCO DE PESQUISA PESQUISADORES ANO
Sparrowe e Liden 1997
Dienesch e Liden 1986
Bauer e Green 1996
Processo, estrutura e modelo Liden e Maslyn 1998
Jones 2001
Yammarino e Dansereau 2002
Stamper e Masterson 2002
Processo de comunicação Mueller e Lee 2002
Yrle, Hartman e Galle 2003
Martin 1999
Confiança Shneider-Borowicz 2003
Helland 2004
Qualidade de vida dos liderados Graen, cashman, Giumbusg e Shiemann 1977
Efetividade do grupo George 1996
de trabalho Gerstner 1998
Continua
71
Continuação
FOCO DE PESQUISA PESQUISADORES ANO
Salzmann e Grasha 1991
Phillips e Bedeian 1994
Características cognitivas Therney e Farmer 1999
e de George 2000
personalidade dos liderados Allinson, Armstrong e Hayes 2001
Dunegan 2003
Ford 2003
Processo de Vitor e Scandura 1991
Mentoring Scandura e Schriesheim 1994
Cidadania organizacional Deluga 1994
Keller e Dansereau 1995
Percepção de justice e Wayne, Shore e Liden 1997
suporte Masterson, Lewis, Goldman e Taylor 2000
Organizacionais Murphy, Wayne, Liden e Erdogan 2003
Motivação no Munford, Dansereau e Yammarino 2000
Trabalho Humpherys e Einsteins 2004
Valores no trabalho Erdogan, Kraimer e Liden 2004
Stress, estilo de Seers, McGee, Serey e Graen 1983
gerenciamento e Graen e Uhl-Bien 1998
Processo decisório Law, Wong, Wang e Wang 2000
Estilos de liderança Hughes 1997
Inaptidão do liderado Colella 2001
Graen, Dansereau, Mianami e Cashman 1973
Feedback Greenwood 1999
e desempenho Elicker 2000
Campbell 2003
Liden e Mitchell 1983
Dunegan, Ducho e Uhl-Bien 1992
Desempenho e comprometimento Duarte, Goodson e Klicha 1994
Baugh e Graen 1997
Klein e Kim 1998
Martin e Epitropaki 1999
Diversidade e Vama, Stroh e Schimidt 2001
Cultura organizacional Somech 2003
Kim, Dansereau, Kim e Kim 2004
Treinamento e seleção Fiedler 1996
Delegação Schriesheim, Neider e Scandura 1998
Fonte: Elaborado pelo autor
O Quadro 4 evidencia o interesse na realização de pesquisas sobre LMX. As
informações contidas nesse quadro foram coletadas na busca realizada nas bases de dados
disponíveis. Detalhamentos dessas pesquisas serão apresentados e discutidos na próxima
seção.
72
Os focos de análise dessas pesquisas concentraram-se desde os aspectos envolvendo a
formalidade da supervisão, como o processo decisório, até aspectos que envolvam a
personalidade dos liderados. Servem, contudo, para notabilizar que a LMX se apresenta como
uma vertente possível para se compreender quais as conseqüências das interações de alta
qualidade dentro do âmbito organizacional.
A possibilidade de estudos em torno da LMX dentro do universo organizacional
podem ajudar a compreender como os relacionamentos são estabelecidos, qual o grau de
influência que eles exercem nas díades envolvidas, como eles afetam o desempenho
individual, dos grupos de trabalho e, em última instância, da própria organização a respeito.
Diferentemente da VDL, a LMX ajuda a diferenciar o desenvolvimento das relações de
trocas, a identificar as características e os comportamentos do líder e do seguidor e os
resultados que esses relacionamentos trazem para suas unidades de trabalho e para a
organização em geral.
3.4 Dificuldades presentes nos estudos de liderança
O estudo da liderança apresenta algumas dificuldades que precisam ser consideradas. Uma
dessas dificuldades é a de compreender como surgem os líderes. Para Yukl (2002) é possível
compreender o surgimento dos líderes organizacionais a partir de duas perspectivas
diferenciadas. Na primeira, o líder surge como resultado da necessidade funcional de um
determinado grupo em dar respostas, apresentar soluções para questões que o grupo não
consegue ou precisa responder ou, ainda, alcançar metas e objetivos que são impostos pela
organização aos grupos de trabalho. Em função dessas necessidades, o líder passa a exercer
73
nesse grupo uma atividade diferenciada, imbuído do poder que lhe foi outorgado pela
hierarquia organizacional. Essa atividade diferenciada também pode ser chamada de liderança
formal. Os demais membros do grupo são chamados de liderados ou seguidores. Eles
acompanham e apóiam o líder no exercício dos seus papéis e funções. Pessoas escolhidas para
ocuparem postos de gerenciamento nas organizações são um bom exemplo desse tipo de
liderança formal.
Nesse sentido, liderança e gerenciamento são a mesma coisa. Os estudos de liderança,
sob a ótica do gerenciamento, focam os atributos que determinam a seleção e a designação
dos líderes gestores, os comportamentos típicos que esses líderes gestores apresentam e os
efeitos e as conseqüências que exercem sobre as pessoas, um grupo ou sobre a organização
como um todo.
Na segunda perspectiva, segundo Yukl (2002), o líder surge espontaneamente dentro
de um sistema social. Nesse sistema social, o líder exerce influência sobre as demais pessoas
que dele fazem parte. Isso ocorre naturalmente, sendo essa influência outorgada e pactuada
pelos membros pertencentes a esse grupo. Líder e liderado são “entidades”, conforme definem
Yammarino, Avolio e Waldman (1990), diferenciadas dentro desse sistema social. Cabe ao
líder influir no que as pessoas ou os grupos fazem, como devem fazer e a maneira como as
pessoas do grupo se relacionam entre si. Liderança, portanto, dentro dessa visão, é um
processo de construção social.
Como visto, a liderança pode ser considerada como o resultado de uma ação de
alguém, denominado líder, com a incumbência e com poder hierárquico para desempenhar
papéis e funções especializadas, como também pode ser vista como resultante de um processo
de influência desse alguém sobre pessoas, grupos ou organizações.
Em qualquer uma dessas perspectivas o líder, no exercício da liderança, formal ou
informal, precisa apresentar resultados satisfatórios para os envolvidos, isto é, precisa atender
74
às necessidades e expectativas próprias, negociar com os liderados às necessidades e
expectativas que possuem e, no caso da liderança formal, atender as necessidades e
expectativas da organização.
Parece ser mais compatível com os objetivos deste trabalho pensar, dentro do âmbito
organizacional, em líder como alguém que é percebido como capaz de influenciar o outro ou
em líder como um processo de construção social a partir da negociação de interesses
múltiplos e, por vezes, conflitantes dos atores pertencentes a esse sistema social, do que
pensar em líder como resultado da escolha de alguém para exercer formalmente a autoridade
para fazer com que as pessoas desempenhem tarefas e funções para as quais a organização
precise de respostas.
A pergunta que sempre ecoa na literatura é se a organização precisa mais de der ou
de gerente ou de ambos? Apesar dessa discussão não ser o escopo desta tese, não se pode
negar a importância da compreensão clara dos papéis e perfis que líder e gerente possuem e
desempenham na organização. É claro que a organização não pode abrir mão dos seus
gerentes nem dos seus líderes. Isso significa que, para ela, não deveria haver um grau de
importância do gerente em relação ao líder e nem do líder em relação ao gerente. As
características dos papéis a serem desempenhados e dos traços que possuem é que irá
determinar as atribuições mais adequadas que deverão desempenhar na organização.
A revisão que Bergamini (1994) faz a esse respeito amplia a necessidade da
organização manter gerentes e líderes em posições distintas e específicas. Afirma que é um
desperdício de tempo e de investimento tentar transformar gerentes em líderes ou líderes em
gerentes, sem contar o fato de que essa polarização estimula o surgimento de um ambiente de
conflito e de antagonismo entre esses atores. Tanto o líder como o gerente pode sentir-se mais
prestigiado que o outro e isso pode acabar se tornando totalmente prejudicial ao clima
organizacional.
75
Tentar transformar líder em gerente ou vice-versa esbarra em dois pontos primordiais.
O primeiro pode ser visto nos estudos de psicologia. Segundo Bergamini (1994) é quase
impossível às pessoas mudarem os aspectos básicos do seu comportamento, não obstante os
investimentos que se possa fazer em programas de treinamento e desenvolvimento. As
pessoas mudam perifericamente seus traços de personalidade, suas crenças e valores quando
vêem benefícios e vantagens na mudança. Contudo, são ações periféricas que pouco
mobilizam as pessoas para mudanças mais profundas. O segundo ponto primordial está no
fato de que, se for entendida a liderança como um processo de construção social, pode
existir líder se existir liderado, ou seja, alguém que sancione e autorize a influência do líder
sobre seu comportamento.
Líder e gerente, portanto, possuem características diferenciadas. Os gerentes estão
mais focados nas questões organizacionais que indiquem a necessidade de atingimento de
metas e resultados, ou para ações concretas que visem correções do planejamento estratégico
adotado pela organização, não exercendo, necessariamente, influência sobre pessoas. Para
tanto, precisam estar providos de um poder legítimo, delegado pela organização, para que
possam realizar os quatro pilares básicos do gerenciamento: planejamento, organização,
direção e controle.
Por outro lado, os líderes não estão focados na execução de tarefas organizacionais e
sim em questões de maior amplitude, como pode ser visto no Quadro 4. O líder possui a
habilidade de exercer uma influência que é sancionada pelos liderados, a fim de que esses
busquem o sentido para o trabalho que executam e, em última instância, à organização
(BERGAMINI, 1994). Devem, para isso, desenvolver a sensibilidade e a intuição, entre outras
competências humanas.
O Quadro 5 mostra as diferenças de foco existentes nas ações do gerente e do líder,
segundo Bennis (1996).
76
Quadro 5 – Diferenças entre gerentes e líderes
GERENTES LÍDERES
O gerente administra O líder inova
O gerente é uma cópia O líder é original
O gerente mantém O líder desenvolve
O gerente prioriza sistemas e estrutura O líder prioriza pessoas
O gerente depende do controle O líder inspira confiança
O gerente tem uma visão de curto prazo O líder, perspectiva de longo prazo
O gerente pergunta como e quando O líder pergunta o que e por que
O gerente foca o possível O líder foca o horizonte
O gerente imita O líder inventa
O gerente aceita o status quo O líder desafia
O gerente é bom soldado clássico O líder é comandante
O gerente faz certo as coisas O líder faz as coisas certas
Fonte: Bennis, 1996, p.42
Nessa perspectiva, o gerente está mais voltado para a gestão das complexidades
administrativas organizacionais. O líder está mais voltado para os processos que envolvem
mudança, transição e mobilização da organização para metas e objetivos desejados e que
estão à frente, no futuro (BENNIS, 1996).
Contudo, sabe-se que nem sempre a complexidade organizacional é previsível,
exigindo tanto do líder como do gerente que desenvolvam características próprias um do
outro. Nesse sentido, é possível que se encontrem gerentes que também sejam líderes e líderes
que também gerenciem. Isso pode ser um indicativo de que nem sempre esses dois atores
organizacionais são tão diferentes como mostra o Quadro 5.
O desempenho de papéis diferenciados não deveria significar que o líder é capaz de
trazer maiores vantagens competitivas para a organização do que o gerente. Nem tampouco
que o gerente, por estar mais focado nas questões mais administrativas, não seja capaz de
influenciar pessoas na busca de inovação, criatividade para a solução dos problemas que as
organizações enfrentam. O ideal é que não houvesse níveis de conflitos entre líder e gerente,
mas que ambos encontrassem equilíbrio no exercício de seus “perfis comportamentais”
(BERGAMINI, 1994, p. 336).
77
Enfim, as organizações, em busca de vantagem competitiva, precisam de gerentes e de
líderes. Precisam de uma supervisão hierárquica ou gerente que seja capaz de planejar,
resolver problemas, mas também precisam de líderes que sejam capazes de mobilizar as
forças humanas presentes na organização. Precisam, enfim, de pessoas que não somente
conheçam e dominem as técnicas, instrumentos e tecnologia relativa à sua atividade. Mas,
também, de líderes que tenham atitude empreendedora e estratégica. Que tenham habilidades
para lidar com diversidade, com processos de mudança, com interesses divergentes presentes
na organização. De líderes que sejam parceiros e mediadores dos interesses dos diversos
stakeholders envolvidos com a organização. De líderes que sejam capazes de exercer e
receber do liderado influência, trocas sociais e que interajam com os liderados
(DANSEREAU; GRAEN; HAGA, 1975).
3.4.1 A efetividade da liderança
Das duas perspectivas apresentadas e discutidas anteriormente de como surge o líder, decorre
outra discussão que é a compreensão da efetividade da liderança exercida pelo líder informal.
A liderança apresenta resultados? Qual a qualidade dos resultados que a liderança produz?
Efetividade da liderança pode ser vista sob a perspectiva das conseqüências das ações
dos líderes sobre os liderados ou sobre a organização. Em termos práticos, isso significa que a
efetividade se no desempenho ou no desenvolvimento dos grupos ou da organização, na
prontidão para comportar-se em processos de mudanças ou de crises, na satisfação que os
seguidores sentem pelo líder, no comprometimento dos seguidores a respeito dos objetivos
organizacionais, no desenvolvimento e no bem-estar psicológico dos seguidores e no
78
posicionamento do líder na estrutura hierárquica da organização. Esses resultados podem ser
medidos no alcance das metas financeiras, na capacidade de venda ou produção ou, ainda,
sobre o retorno do investimento (YUKL, 2002).
Uma outra perspectiva pela qual pode ser vista a efetividade da liderança está nas
atitudes dos seguidores ou liderados em relação ao líder (YUKL, 2002). Atitudes favoráveis
ao líder porque esse é capaz de satisfazer as necessidades e expectativas dos seus seguidores.
Nesse caso, os seguidores manifestam em atitudes e comportamentos, o quanto respeitam,
gostam e admiram o seu líder e mostram-se dispostos a executar e a se comprometer com as
solicitações do líder.
A observação de atitudes favoráveis ao líder o indicadores que poderão ajudar a
dimensionar a efetividade da liderança. Indicadores de satisfação, insatisfação, amabilidade
ou hostilidade do subordinado podem ajudar o líder e a organização a compreender a
efetividade da liderança.
A efetividade da liderança também pode ser observada na sua contribuição para a
qualidade dos processos grupais, como percebido pelos seguidores ou, até mesmo, por
aqueles que estão fora da convivência dos grupos, mas são impactados através dos produtos e
serviços oferecidos pelos grupos. Nesse sentido, algumas perguntas se sobressaem à mente,
como, por exemplo, se os líderes contribuem para a coesão e motivação dos membros do
grupo. Se cooperação e capacidade entre os membros do grupo para resolver problemas
próprios das atividades que desenvolvem (YUKL, 2002; BERGAMINI, 1994).
Os critérios anteriormente apresentados e discutidos para se compreender a efetividade
da liderança devem ser considerados quando se pretende examinar esse fenômeno dentro dos
ambientes organizacionais. A utilização de apenas um dos critérios apresentados poderia
excluir ou ignorar outros fatores importantes, como, por exemplo, o fato de o líder apresentar
79
resultados positivos em uma determinada área, mas apresentar resultados negativos em outra
área, como baixa auto-estima dos seus seguidores.
Neste trabalho, compreende-se por efetividade da liderança o relacionamento de alta
qualidade que líder e liderado mantêm, considerando-se as dimensões propostas pela LMX,
além dos aspectos que envolvem a interação de pessoas, como o processo de
autocategorização e de identificação, conforme apresentado e discutido anteriormente. Trata-
se de um corte conceitual decorrente do aporte teórico que será utilizado para a compreensão
das relações entre líder e liderado. Tem-se clareza que não estarão sendo considerados, ao se
fazer essa opção, outros aspectos importantes que poderiam ajudar a entender a efetividade da
liderança nos ambientes organizacionais a serem pesquisados.
80
4 PRINCIPAIS PESQUISAS ELABORADAS A PARTIR DA LMX
Muitos têm sido os estudos e pesquisas realizados a partir dos pressupostos da LMX,
conforme pode ser verificado a seguir. Esses trabalhos têm sido conduzidos em países como
os Estados Unidos, China e poucos na Europa. No Brasil são quase inexistentes, razão pela
qual se optou em fazer uma exposição detalhada dessas pesquisas, apresentando seus
objetivos, métodos de pesquisa, instrumentos para coleta de dados, técnicas utilizadas para
tratamento de dados e principais resultados. Busca-se, assim, contribuir para que haja uma
maior compreensão das inúmeras possibilidades de conceitos e realização de estudos
empíricos desenvolvidos a partir dos pressupostos da LMX e de reflexão que os resultados de
tais estudos oportunizam em relação à teoria e à prática organizacional.
Optou-se por organizar e apresentar as pesquisas sem a preocupação de se fazer um
rigoroso agrupamento temático. É possível que esse rigor pudesse tornar a leitura dessa seção
mais palatável. Contudo, a fim de se conseguir demonstrar a amplitude das investigações,
conforme comentado anteriormente, decidiu-se por preservar a exposição individual das
pesquisas, que giram em torno do feedback, da qualidade de vida no trabalho, do desempenho
e avaliação de desempenho do liderado, da diversidade de gênero e etnia, do relacionamento
interpessoal, dos atributos pessoais e interpessoais, do processo criativo dos liderados, da
emoção e inteligência emocional, dos efeitos dos estilos cognitivos, da percepção dos
liderados quanto aos líderes, do processo de mentoring, do comportamento de cidadania
organizacional, da percepção de troca social e da percepção de justiça. É importante informar
que as referências bibliográficas referentes aos questionários utilizados pelos pesquisadores
constam dos seus respectivos originais.
81
4.1 LMX e feedback
Um dos temas pesquisados a partir dos conceitos da LMX foi o feedback (GRAEN;
DANSEREAU; MINAMI; CASHMAN, 1973). Esses pesquisadores discutem a importância
do feedback que o supervisor ou a organização dão aos empregados, como forma de ajudá-los
a compreenderem e avaliarem melhor seu desempenho. Entendem que essa prática não é feita
de forma adequada e os empregados acabam recebendo feedbacks inadequados o que lhes
propicia uma visão incompleta ou incorreta do seu desempenho.
Desenvolveram essa pesquisa junto a empregados de uma indústria, envolvendo todo o
seu corpo gerencial e de staff. A fim de evitar constrangimentos, os participantes da pesquisa
receberam, via postal, os questionários que deveriam responder. De todo o quadro gerencial e
de staff, 87% devolveram os questionários respondidos. Ao todo a amostra foi comporta por
542 respondentes.
O questionário utilizado foi o Leadership Behavior Description Questionnaire
LBDQ composto por medidas sobre atitudes no trabalho e sobre desempenho observado e
esperado pelo superior imediato. Também foram adicionados a esse questionário dois outros,
a saber, Hoppock Job Satisfation Index e o Role Orientation Index ROI. O objetivo foi
identificar os valores intrínsecos do trabalho, as relações interpessoais com o supervisor, as
competências técnicas do superior como também dos liderados e valores psicológicos
decorrentes das recompensas do desempenho no trabalho.
Os resultados das duas amostras (gerente e staff) foram separadas em três grupos a
partir das considerações e dos escores obtidos na análise dos dados. Os três grupos com alto,
médio e baixo grupo de escores. Esses grupos foram usados para verificar as trocas verticais
estabelecidas entre líder e liderado. Altos escores “indicam que o superior está descrito por
82
um membro particular como permitindo um nível de envolvimento com seu membro na
determinação do futuro da unidade e como tratando seu membro de maneira igual” (GRAEN;
DANSEREAU; MINAMI; CASHMAN, 1973, p. 617). Baixos escores indicam exatamente o
inverso.
As trocas verticais entre líder e liderado foram consideradas a partir da concepção de
que: a) quando favores pessoais eram realizados para os membros; b) quando os membros
eram ajudados na resolução de problemas pessoais; c) quando os membros obtinham
aprovação para questões julgadas importantes; d) perguntando mais para os membros do que
eles eram capazes de realizar; e) perguntando mais do que questionando; f) criticando o
membro antes que outros; g) cedendo aos membros.
Os resultados da pesquisa indicam que a relação de confiança existente entre a
percepção dos empregados e o comportamento dos superiores e a avaliação que eles fazem do
desempenho dos empregados acontece sobre certas condições. Quais condições? Quando for
moderado e significante para os membros e quando os membros vêem seus superiores como
iguais no processo de construção do comportamento. Em condições opostas isso não
acontece. Essas condições se fizeram encontrar tanto nas relações restritas no nível gerencial
como nas relações mais amplas presentes na estrutura hierárquica da organização.
4.2 LMX e Qualidade de Vida no Trabalho
Graen; Cashman; Ginbusg e Shiemann (1977) realizaram pesquisa junto a 103 díades de
gerentes e subordinados de uma grande universidade americana, em três de seus
departamentos, a fim de verificar a relação entre a percepção dos subordinados e de seus
83
superiores, no tocante a comportamentos, atitudes e formas de tratamento e a qualidade de
vida no trabalho. Foram realizadas pesquisas longitudinais, utilizando-se da técnica de
entrevista para coleta de dados. Foram entrevistados tanto os subordinados como os
superiores.
Os pesquisadores optaram pela pesquisa longitudinal, compreendendo alguns meses
durante o ano letivo, a fim de garantir a estabilidade das relações diádicas pesquisadas. A
partir da coleta de dados nas primeiras fases da pesquisa, os pesquisadores identificaram as
variáveis independentes, dependentes e as demográficas que foram objeto do estudo.
Foi utilizado o roteiro que foi produzido originalmente por Dansereau, Graen e Haga
(1975) para a realização das entrevistas. Esse roteiro sofreu alterações para que pudesse se
ajustar à amostra que estava sendo alvo de pesquisa. Para a identificação das variáveis
dependentes foi utilizado o Hoppock Job Jatisfation Scale e o Role Orientation Index – ROI.
Procedeu-se à análise da variância entre as variáveis e identificaram-se variações entre
os respondentes, evidenciando-se um grupo de respondentes com alto nível de qualidade de
ligação com seu líder e outro grupo com baixo nível de qualidade de ligação com seu líder. Os
resultados indicam que não foi encontrada diferença do nível de qualidade de ligação entre
líder e liderado considerando o tempo que possuem no cargo, nível hierárquico, números de
subordinados, idade, educação formal ou a formação do membro na organização. Contudo, foi
encontrada qualidade de ligação com o líder na questão da amplitude da ação do líder no que
tange ao suporte aos liderados, satisfação dos liderados no que diz respeito à competência
técnica do líder e à forma como o líder se envolve na resolução de problemas dos liderados.
Os resultados da pesquisa indicam que a qualidade da ligação entre líder e liderado
está relacionada com as experiências dos liderados, com o tratamento que recebem dos
superiores imediatos e com a qualidade de vida que obtêm no trabalho. Esses resultados
indicam, portanto, que o liderado que possui alta qualidade de ligação com o líder está mais
84
satisfeito no tocante à amplitude de negociação, ao suporte e atenção que recebem de seu líder
do que o liderado que possui baixa qualidade de ligação com o líder.
4.3 LMX e Desempenho
Liden e Mitchell (1983) elaboraram uma pesquisa junto a três grupos de pessoas que
trabalhavam em ambientes próximos, com a finalidade de identificar se aqueles que possuíam
alta interdependência com o supervisor imediato também apresentavam melhor desempenho
do que aqueles que possuíam baixa interdependência e, conseqüentemente, baixo desempenho
no trabalho. A amostra total foi formada de 72 estudantes de uma escola de negócios de uma
universidade metropolitana americana.
Os participantes do estudo foram divididos em duas turmas a fim de que vivenciassem,
em um jogo formado de várias etapas, o papel de trabalhadores e o papel de supervisores
desses trabalhadores. Deveriam elaborar políticas e procedimentos quanto ao processo de
análise do trabalho, análise e seleção de candidatos. Essa tarefa foi realizada separadamente e
alguns grupos receberam mais informações do que outros grupos. Os dados coletados do
trabalho desses grupos foram analisados em termos de avaliação de desempenho e de grupos
interdependentes. Esses dados receberam pesos que foram distribuídos pelos pesquisadores.
Com base nesses pesos totais auferidos pelos grupos, os pesquisadores realizaram uma
MANOVA.
Os resultados dessas análises indicaram que quanto maior a interdependência entre
supervisor e supervisionado melhor o desempenho apresentado pelo supervisionado. Baixo
85
nível de interdependência, portanto, quanto mais o grupo se mostrava independente do
supervisor mais baixo era seu nível de desempenho no trabalho.
4.4 LMX e desempenho apresentado pelo liderado
Dunegan, Duchon e Uhl-Bien (1992) pesquisaram 152 empregados de vários departamentos
de um grande hospital americano. O objetivo da pesquisa era o de verificar se a qualidade do
relacionamento entre líder e liderado exercia alguma influência no nível de desempenho do
liderado, caso o liderado tivesse percepção clara e variedade das tarefas que deveria executar.
Os pesquisadores utilizaram, para a mensuração da qualidade do relacionamento, o
instrumento de cinco itens criado por Graen. No tocante à percepção da variedade de tarefas e
das tarefas em si, os pesquisadores utilizaram o instrumento criado por M. Withey, R. L. Daft
e W. H. Cooper’s. No tocante ao desempenho do liderado, os pesquisadores usaram o
instrumento adaptado por R.P. Vecchio e B. C. Godbel. Essas questões foram acopladas a
uma escala tipo Likert de 7 itens. Os dados foram submetidos a uma regressão hierárquica.
Os resultados indicam que a qualidade do relacionamento existente entre líder e
liderado é influênciada pelas atividades que os subordinados realizam. Se o liderado percebe
sua tarefa como rotineira e sem desafios, seu desempenho é baixo e a qualidade de
relacionamento diádico também é baixa. O oposto é verdadeiro, isto é, se o liderado percebe
sua tarefa como desafiadora, seu desempenho é alto e a qualidade do seu relacionamento com
seu líder também é alta.
86
4.5 LMX e avaliação do desempenho do liderado
Duarte, Goodson e Klicha (1994) realizaram pesquisa junto a 261 empregados de uma
companhia telefônica americana, com o objetivo de verificar a influência do tempo de
duração da qualidade do relacionamento que líder e liderado possuem no processo de
avaliação do desempenho do liderado. Os pesquisadores acreditam que o tempo de
convivência do líder e do liderado influi na qualidade do relacionamento e,
conseqüentemente, no processo de avaliação do desempenho do liderado.
Os respondentes, tanto os deres como os liderados, foram convidados a participar da
pesquisa e a responder o questionário encaminhado pelos pesquisadores. A amostra foi
composta dos mais diversos níveis hierárquicos da organização.
O desempenho do liderado foi mensurado a partir de dados objetivos, como tempo de
atendimento ao telefone, a fim de se evitar possíveis contaminações no processo. Para cada
nível hierárquico participante da pesquisa foram identificados dados objetivos para análise de
desempenho. Esses dados foram coletados pelos pesquisadores nos registros da organização a
que os respondentes pertencem. Também foi solicitado que os supervisores fizessem à
avaliação quantitativa do desempenho dos subordinados. Essa avaliação deveria ser
distribuída entre possíveis sete pontos de análise. Aos supervisores também foi solicitado que
avaliassem seus subordinados no que diz respeito às tarefas e ao relacionamento, indicando,
entre sete pontos possíveis, se eram competentes, dependentes, se possuíam iniciativa, se
eram agradáveis, dignos de confiança e se possuíam habilidade em relação aos demais
subordinados.
Os pesquisadores utilizaram o instrumento de sete itens elaborado por Graen, Novak e
Sommerkamp (1982) para medir a qualidade do relacionamento mantido entre líder e
87
liderado. O tempo de convivência entre líder e liderado foi identificado em termos de quantos
meses trabalhavam juntos, sendo que se considerou -1 desvio-padrão como sendo 2 meses,
portanto, de pouco tempo de convivência e +1 desvio-padrão como sendo 34 meses e,
portanto, de longo tempo de convivência.
Os dados colhidos foram submetidos à análise multivariada e indicam que o tempo de
convivência entre líder e liderado influencia o processo de avaliação do desempenho do
liderado. O tempo de convivência gera no líder uma expectativa de desempenho do liderado e
essa expectativa mostrou-se presente no processo de avaliação. Entendem que esse tempo de
convivência faz parte do processo de socialização do liderado, no qual o liderado assume
papéis, expressos no desempenho rotineiro das tarefas, diante do seu relacionamento com seu
líder. Quando o tempo de convivência é longo, o der deixa de se preocupar com questões
rotineiras do desempenho do liderado e passa a se preocupar com questões mais amplas que
envolvem esse desempenho.
4.6 LMX e diversidade de gênero e etnia
Baugh e Graen (1997) identificaram um aumento na diversidade da força de trabalho
americano, aumentando, por conseqüência, o número de mulheres e pessoas pertencentes a
grupos minoritários nessa força de trabalho. Para tanto, realizaram estudo junto a 31 equipes,
composta de 500 empregados, pertencentes a uma agência do governo americano, para
verificar de se a qualidade do relacionamento entre líder e liderado era afetada pelas questões
de diversidade em termos de gênero e etnia. A hipótese levantada pelos pesquisadores foi de
88
que equipes que possuem diversidade em termos de gênero e etnia, recebem de seus líderes
avaliações menos positivas do que equipes que são homogêneas em termos de gênero e etnia.
A agência governamental escolhida para estudo possui 13 departamentos, composta de
35 seções, que se reportam a um presidente. Os pesquisadores identificaram que somente uma
dessas seções possui uma supervisora e outra seção possui um supervisor pertencente a
grupos minoritários. As demais seções possuem supervisores do gênero masculino e branco.
Os níveis hierárquicos mais baixos desaa agência são compostos por engenheiros e
advogados, dos quais vários possuem mestrado ou doutorado.
Os pesquisadores desenvolveram um questionário que foi utilizado para a coleta de
dados, a partir de uma série de entrevistas que realizaram com os funcionários da agência.
Esse questionário foi submetido a um ajustamento de linguagem e conteúdo pela secretaria da
agência, para que pudesse refletir a preocupação e o interesse de negócio da agência. O
questionário distribuído ao funcionário procurou identificar a sua experiência de trabalho e o
seu interesse em participar de pelo menos três projetos oferecidos pela agência. O
questionário distribuído ao supervisor procurou identificar a avaliação que ele fazia do
projeto.
Os pesquisadores identificaram que 16 equipes formadas em torno de projetos da
agência eram heterogêneas no que diz respeito a gênero, primeira variável independente, e 15
equipes eram homogêneas, isto é, formadas somente por homens. Também observaram que,
no que diz respeito à diversidade de etnia, segunda variável independente, 11 equipes eram
heterogêneas, sendo que 4 delas incluíam mais que um membro não branco.
Os pesquisadores utilizaram o instrumento de 14 itens denominado de Leader-Member
Exchange Scale para medir a qualidade do relacionamento entre der e liderado. Esse
instrumento fez parte integral do questionário distribuído ao liderado. A análise dos dados
89
indicou alto índice de confiabilidade do questionário (0.90) como também alto índice de
correlação com todo o questionário (0.78), explicando 61% da variância total.
Também utilizaram o questionário de 7 itens denominado de Team Member Exchange
Scale. Esse questionário faz parte na íntegra do questionário distribuído aos profissionais
(engenheiros e advogados). Também apresentou alto índice de confiabilidade (0.90) e alto
índice de correlação com todo o questionário (0.64), explicando 41% da variância total.
A avaliação do processo de trabalho das equipes foi feita por avaliadores externos
como também pelos próprios membros das equipes. Para tal, adaptaram o questionário
desenvolvido por Dyer composto de 6 itens. A dimensão da efetividade das equipes de
trabalho incluiu estado de espírito dos membros, comprometimento com as metas, efetividade
no processo de comunicação, concordância em partilhar informações críticas, confiança entre
os membros da equipe e envolvimento com os demais membros da equipe. Apresentou alto
índice de confiabilidade (0.90).
Os pesquisadores consideraram o tamanho da equipe e o estágio em que ela se
encontrava na realização do projeto como variáveis de controle. O tamanho da equipe
considerou a quantidade de pessoas que estavam envolvidas no projeto e o estágio considerou
se o projeto estava no início, no meio ou em fase final de elaboração.
Os dados colhidos foram submetidos à análise multivariada (Manova e Ancova) e
indicaram que as equipes que possuíam diversidade em termos de gênero e etnia percebiam
que a equipe possuía menos efetividade do que as equipes homogêneas, isto é, sem
diversidade em termos de gênero e etnia. Equipes formadas só por homens e por brancos
eram mais efetivas do que equipes formadas por diversos.
Essa diferença de percepção quanto à diversidade na efetividade da equipe de trabalho
também impacta no líder da equipe. Os pesquisadores não encontraram impactos no
relacionamento com líderes de equipes homogêneas.
90
Outra expressiva pesquisa vinculando a Teoria da Troca entre Líder e Liderado
LMX e desempenho foram desenvolvidos por Klein e Kim (1998) em organizações
americanas de varejo. A amostra foi composta de 105 vendedores que atuam tempo integral
em 25 diferentes departamentos dessas organizações. O tempo médio de emprego desses
vendedores é de 9.38 anos, a idade média é de 45,78 anos e 88,2% é formada por mulheres e
85,7% por pessoas da etnia branca.
Os participantes da pesquisa receberam o questionário enviado pelos pesquisadores
somente depois que tiveram conhecimento das metas de vendas estabelecidas pela
organização. Os questionários foram lacrados e enviados para suas residências por via postal.
Os respondentes, após o seu preenchimento, deveriam devolvê-los pela mesma via. Somente
59% dos vendedores devolveram os questionários respondidos a contento.
Para a medição da qualidade do relacionamento entre líder e liderado, os
pesquisadores adaptaram o instrumento de 7 itens elaborado por Graen et al. (1982),
acrescentando níveis intermediários para resposta. Esse instrumento apresentou alto índice de
confiabilidade (0.91).
Para a medição do desempenho em vendas, os pesquisadores utilizaram o pagamento
que a organização faz aos seus vendedores. Deve-se considerar que a organização paga seus
vendedores por hora. Procedeu-se a um levantamento da avaliação que esses vendedores
receberam nos últimos três meses que antecederam à pesquisa. Esse indicador também
apresentou alto índice de confiabilidade (0.83).
Os resultados indicam que os vendedores que percebem e qualificam sua relação com
seus líderes como sendo de boa qualidade, são aqueles que também apresentam altos índices
de comprometimento com metas e, conseqüentemente, alto desempenho. Os que apresentam
baixos índices de relacionamento com o líder também são aqueles que apresentam baixo
desempenho. Entendem que isso é possível na medida em que o líder despende mais tempo e
91
recurso no suporte e apoio de seus liderados que com ele apresentam altos índices de
relacionamento.
4.7 LMX e relacionamento interpessoal
Law, Wong, Wang e Wang (2000) realizaram pesquisa junto a 189 díades formadas por
supervisor e subordinado do People’s Republic of China (PRC) com a finalidade de verificar
as estratégias que são usadas pelos supervisores estrangeiros para criar e manter um bom
relacionamento interpessoal com subordinados chineses. Para tal consideraram três questões
empíricas importantes que foram consideradas pelos pesquisadores para realização deste
estudo, a saber: a) o conceito de relacionamento interpessoal na China é diferente do conceito
concebido na literatura ocidental em termos da Teoria da Troca entre Líder e Liderado
(LMX); b) o relacionamento interpessoal da díade supervisor e subordinado é afetada pelas
decisões administrativas dos supervisores chineses; c) o relacionamento interpessoal da díade
supervisor subordinado pode ser medida de forma concreta através das atividades e dos
comportamentos adotados pela díade.
Os pesquisadores entendem que a abertura do mercado chinês facilitou o ingresso de
supervisores estrangeiros. Isso se deu como forma encontrada pelas empresas chinesas em
aumentar a sua competitividade junto ao mercado mundial. Se por um lado isso trouxe
inúmeros benefícios em termos de competitividade organizacional, por outro trouxe um
grande desafio a ser enfrentado pelos departamentos de recursos humanos. Citam várias
pesquisas que foram desenvolvidas neste sentido. pesquisadores interessados em estudar o
ambiente cultural, social, legal e de negócios da China. Esses estudos discutem aspectos da
92
legislação chinesa, fatores culturais como a autoridade paternalista existente na China ou,
ainda, a importância do gerenciamento hierárquico existente na China.
Um outro grupo de pesquisadores concentrou esforços em entender e explorar as
características dos sistemas de recursos humanos existentes nas empresas chinesas, tais como:
treinamento e desenvolvimento, remuneração, relacionamento entre empregadores e
empregados e gerenciamento de recursos humanos. Um terceiro grupo de pesquisadores
pesquisou os modelos de liderança e motivação, os quais não se assemelham aos modelos
ocidentais.
Os pesquisadores constataram que os estudos ocidentais realizados em torno da
Teoria da Troca entre Líder e Liderado (LMX) foram desenvolvidos unicamente no ambiente
de trabalho da díade. Em contrapartida, os relacionamentos interpessoais chineses acontecem
em ambientes fora do trabalho, e os benefícios desses relacionamentos são de natureza social
e econômica. Uma evidência apresentada pelos pesquisadores é de que os relacionamentos
interpessoais entre supervisor e subordinado são desenvolvidos depois do trabalho, através
das visitas ou outras funções sociais.
Isso levou os pesquisadores a levantarem duas hipóteses de pesquisa. A primeira é de
que o relacionamento interpessoal com o supervisor é diferente do relacionamento proposto
pela LMX, podendo, assim, servir como “preditor das decisões do supervisor como o
comprometimento no trabalho, promoção e alocação de bônus (LAW; WONG; WANG;
WANG, 2000). A segunda é de que o conceito ocidental de relacionamento interpessoal está
vinculado à idéia de comprometimento para com o supervisor, ou à idéia de internalização dos
valores do supervisor. Esse comprometimento traz, por sua vez, inúmeros benefícios em
termos de desempenho no trabalho. O relacionamento interpessoal chinês é concebido como
relacionamento entre duas pessoas com a finalidade de obtenção de trocas sociais e
econômicas como fruto do processo de interação.
93
A amostra do estudo foi composta por consumidores (13 supervisores) internacionais
de produtos de uma companhia têxtil chinesa, como também de seus empregados (53
supervisores). Os pesquisadores perguntaram para toda a amostra a respeito do processo de
avaliação de desempenho, objetivos do trabalho, possibilidade de promoção e recebimento de
bônus em relação a três de seus subordinados imediatos. A escolha desses subordinados ficou
a critério do próprio supervisor. Após isso, os pesquisadores encaminharam um questionário,
envolvendo as mesmas questões abordadas pelos supervisores, via postal, para esse grupo de
subordinados escolhidos pelos supervisores. A amostra total de subordinados respondentes
permitiu que os pesquisadores formassem 189 díades (supervisor-subordinado).
O relacionamento interpessoal do supervisor e subordinado chinês foi realizado a
partir de seis comportamentos e atitudes previstos no People’s Republico f China (PRC). A
esses seis comportamentos e atitudes foi acoplada uma escala de sete itens variando de
1=discordo totalmente até 7=concordo totalmente. O coeficiente alfa encontrado pelos
pesquisadores foi de 0.84.
A Teoria da Troca entre Líder e Liderado (LMX) foi verificada através do questionário
de sete itens desenvolvido por Scandura e Graen (1984). Esse questionário apresenta alguma
evidência de validade entre culturas. Foi acoplada ao questionário uma escala que varia de
1=discordo totalmente a 7=concordo totalmente. O coeficiente alfa encontrado pelos
pesquisadores foi de 0.87.
O comprometimento com o supervisor foi medido através do instrumento
desenvolvido por T.E. Becker. Trata-se de um questionário de nove itens que medem dois
aspectos do comprometimento, a saber: identificação e internalização. A esse instrumento foi
acoplada uma escala que varia de 1=discordo totalmente a 7=concordo totalmente. O
coeficiente alfa encontrado pelos pesquisadores foi de 0.94.
94
Para as medidas de resultados (processo de avaliação de desempenho, objetivos do
trabalho, possibilidades de promoções e de recebimento de bônus) os pesquisadores usaram o
instrumento desenvolvido por Williams composto por seis itens. O coeficiente alfa encontrado
pelos pesquisadores foi de 0.91. A este questionário foram acoplados itens específicos
elaborados pelos pesquisadores, com a finalidade de especificar o relacionamento interpessoal
do supervisor e do subordinado chinês. O coeficiente alfa desse ajustamento feito pelos
pesquisadores apresentou índices de 0.86, 0.88 e 0.90. Também foi acoplada a esee
questionário uma escala de sete itens variando entre 1=discordo totalmente até 7=concordo
totalmente.
Os dados colhidos foram submetidos à análise fatorial confirmatória, utilizando-se
para tal o LISREL 8.14, análise estrutural, análise de correlações das variáveis e a estatística
básica. Os resultados da análise dos dados indicam que há efeitos evidentes do
relacionamento interpessoal entre supervisor estrangeiro e do subordinado chinês no processo
de decisão administrativa do superior chinês, em termos de alocação de bônus, promoção e
objetivos no trabalho. Isso significa que quando o subordinado tem bom relacionamento com
seu supervisor, ele está constantemente sendo indicado para receber promoções ou
bonificações.
Ainda sob essa temática, Salzmann e Grasha (1991) realizaram pesquisa junto a 125
supervisores do primeiro nível hierárquico e 35 supervisores de nível intermediário, de uma
empresa de manufatura americana, com a finalidade de estudar o papel do status e do afeto
positivo e negativo como dimensões subjacentes da qualidade emocional dessas interações
interpessoais. Entendem por dimensão status como “dominância para elucidar mais
comportamentos submissos” (p.1) e por dimensão afeto como “raiva obtida de raiva, amizade
obtida de amizade” (p.1). Essas dimensões não são unidimensionais e possuem certo número
de componentes que contribuem para o relacionamento interpessoal. De qualquer forma, elas
95
são importantes, segundo os pesquisadores, para elucidar o relacionamento entre supervisor e
subordinado no tocante à concordância que possuem em relação ao trabalho, o nível de
satisfação que possuem dessas interações e a efetividade que essas interações trazem para o
trabalho.
Os pesquisadores usaram o instrumento denominado de Grasha-Ichiyama
Psychological Size and Distance Scale (GIPDS), composto por 22 itens, para medir as
dimensões status e afeto da amostra. Este instrumento permite entender o desenho do círculo
de representações das relações diádicas, denominadas pelos pesquisadores de distância
psicológica e, ao mesmo tempo, a avaliação individual para identificar os atributos específicos
dessas dimensões para os respondentes, denominadas pelos pesquisadores de tamanho
psicológico. Ambos os círculos de representações diferem de pessoa para pessoa e de díade
para díade.
Os pesquisadores utilizaram a Teoria da Troca entre Líder e Liderado LMX para
compreender o índice de percepção dos subordinados em relação à capacidade de adaptação
do seu supervisor, eficiência, acessibilidade e a efetividade das relações de trabalho. Um
importante foco de pesquisa é se os componentes do status interpessoal como conhecimento
pessoal, especialidade e dominância ou a qualidade emocional da interação supervisor-
subordinado são importantes para se compreender a natureza e a qualidade das trocas
estabelecidas pela díade.
A primeira página do Grasha-Ichiyama Psychological Size and Distance Scale
informa aos respondentes que eles serão argüidos a respeito do círculo que representa as
relações entre ele e seus supervisores. Foram instruídos a expressarem seus pensamentos e
sentimentos a respeito dessas interações, incluindo o círculo da díade e como ele se percebe
nesse círculo. Devem fazer dois círculos, sendo um para representar a díade e outro para
representar como o respondente se percebe em relação à díade. Também foram informados
96
que não uma maneira correta de realizar essas representações. Contudo, os pesquisadores
forneceram modelos de círculos, com tamanhos diferentes, que poderiam ser usados para
representar essas relações. Os respondentes ficaram à vontade para usarem qualquer um
desses modelos ou criar um modelo não previsto.
A segunda página do instrumento solicitou ao respondente que desenhasse suas
percepções a respeito do relacionamento gerencial. A escolha foi aleatória, isto é, o
subordinado escolheu um entre seus rios gerentes para incluir nas suas representações.
Baixos níveis gerenciais denotam o relacionamento que eles percebem existentes entre eles e
seus supervisores. Feito isso, os respondentes foram convidados a relaxarem e pensarem na
qualidade do relacionamento com a pessoa que eles escolheram. Completadas as
representações, os respondentes foram convidados a responderem ao questionário.
O GIPDS possui 22 itens, sendo 11 para medir o status e 11 para medir o afeto. Esse
instrumento é denominado de diferencial semântico e seus resultados são extraídos em duas
pesquisas. A primeira concilia as descrições interpessoais identificadas nos comentários
escritos. A segunda pesquisa identifica os adjetivos interpessoais apontados. Juízes foram
escolhidos para julgar a construção da escala de status e afeto.
Também foi utilizado o instrumento elaborado por Graen et al. (1982) para medir a
natureza da troca interpessoal entre o líder e o seu subordinado. A consistência interna desse
instrumento é de 0.80. Os dados foram submetidos à análise multivariada e os resultados
indicam que os subordinados se percebem com status pessoal maior do que os gerentes vêem
neles. O mesmo aconteceu com a visão que os gerentes têm sobre si mesmos. Os gerentes de
primeiro nível acreditam que o conhecimento pessoal e a experiência são melhores
indicadores para o status interpessoal. Os gerentes de nível médio acreditam que a
dominância pessoal é o melhor indicador.
97
4.8 LMX e atributos pessoais e interpessoais
Phillips e Bedeian (1994) realizaram pesquisa junto a 130 enfermeiras registradas e seus
respectivos supervisores, com a finalidade de estudar os atributos pessoais e interpessoais que
estão associados à alta qualidade do relacionamento, conforme preconiza a Teoria da Troca
entre Líder e Liderado (LMX). Os pesquisadores examinaram os antecedentes e as
conseqüências das trocas no nível diádico formado por líder e liderado, procurando descrever
as relações existentes na díade. Para tanto escolheram alguns atributos para investigar, como a
similaridade atitudinal da díade. Entendem essa dimensão como sendo um construto empírico
da psicologia cognitiva. No campo da administração, similaridade e atração têm sido
pesquisadas para identificar questões relativas à demografia organizacional. Nos estudos da
LMX, similaridade tem sido estudada como um importante componente de influência na
interação do líder e do seu liderado, resultando, ainda, no principal componente para o
sucesso mais progressivo do relacionamento.
A primeira hipótese levantada, então, pelos pesquisadores é de que a percepção do
líder, no tocante a similaridade atitudinal da díade, está positivamente relacionada no nível
diádico de troca.
Outro atributo investigado pelos pesquisadores foi a introversão e a extroversão. Essas
duas dimensões são amplas e centrais na personalidade humana. Uma personalidade
extrovertida pode ser identificada “como sendo ativa, assertiva, dominante, venturosa,
vigorosa, sociável, sensitiva e tranqüila” (PHILLIPS; BEDEIAN, 1994, p.991). As
personalidades extrovertidas vêem as interações com outras pessoas como algo estimulante e
desafiador. Já as personalidades introvertidas resguardam-se das interações interpessoais. A
qualidade do relacionamento, sob o enfoque da LMX, dependerá do liderado possuir uma
98
personalidade extrovertida, não somente como forma de buscar maior satisfação nas trocas,
mas por ver as trocas ou os relacionamentos diádicos como estimulantes e desafiadores.
A segunda hipótese levantada pelos pesquisadores considera que a extroversão do
seguidor (liderado) está positivamente relacionada no nível diádico de troca. O terceiro
atributo investigado pelos pesquisadores foi o lócus de controle. Consideram, também, que
esse atributo é um importante componente para explicar os comportamentos humanos no
trabalho. Pessoas com lócus de controle interno “sentem que eles podem controlar eventos
relativos às suas vidas e percebem suas iniciativas pessoais como sendo largamente
instrumentais para alcançar o sucesso” que almejam (PHILLIPS; BEDEIAN, 1994, P.992).
Essas pessoas são capazes de administrar agendas, políticas e práticas organizacionais,
realizar processos de negociação, entre outras atividades. O oposto é verdadeiro, isto é, as
pessoas que entendem que o ambiente externo é capaz de determinar os eventos relativos às
suas vidas, relacionam-se pouco ou não valorizam suas iniciativas porque entendem que o seu
sucesso não depende do seu esforço pessoal.
Para investigar esse atributo, os pesquisadores elaboraram a hipótese considerando que
o lócus de controle do seguidor (liderado) está relacionado com o nível diádico de troca, com
o lócus interno de controle associado com a alta qualidade de relacionamento.
O quarto atributo investigado pelos pesquisadores diz respeito à necessidade que as
pessoas vêem em desenvolver-se. É um construto importante que permite compreender a
influência das características do trabalho no processo motivacional e no potencial humano.
Em outras palavras: as descrições de atividades que as organizações elaboram, podem
estimular as pessoas potencialmente capazes em almejar o desenvolvimento pessoal e isso
contribui para o sucesso da troca estabelecida entre líder e liderado. Pessoas que mantêm alta
qualidade de relacionamento com seu líder estão mais abertas às tarefas mais desafiadoras do
que pessoas que mantêm baixa qualidade de relacionamento com seu líder.
99
Para investigar esse atributo, os pesquisadores elaboraram a hipótese de que o
crescimento do seguidor necessita de influência e que isso está positivamente relacionado
com o nível diádico de troca.
A população pesquisada era composta de 130 enfermeiras e seus respectivos
supervisores, que atuavam em 12 grupos de trabalho em um grande hospital americano. Desse
montante, somente 84 enfermeiras e 12 supervisores responderam, adequadamente, ao
questionário. Os demais questionários foram desprezados. Os pesquisadores consideraram
essa amostra representativa o que lhes deu segurança para a investigação da similaridade
percebida da díade e o desempenho do seguidor (liderado). Os dados colhidos foram
submetidos à análise estatística multivariada, como o Teste T, Correlação e Regressão
Hierárquica.
Os pesquisadores usaram o instrumento criado por Graen, Liden e Hoel (1982) para
medir a qualidade do relacionamento diádico. Trata-se de um questionário de sete itens com
cinco pontos para escolha múltipla dos respondentes. O coeficiente alfa encontrado foi de
0.87. Para medir a similaridade atitudinal os pesquisadores perguntaram aos líderes a respeito
da similaridade que percebiam entre eles e seus liderados em termos de seis possíveis
relacionamentos como: atitudes na família, dinheiro, estratégias de carreira, metas na vida,
educação e perspectiva geral. A esses seis relacionamentos foi acoplada uma escala variando
de 1=discordo totalmente até 5=concordo totalmente. O coeficiente alfa encontrado foi de
0.81.
Para medir os aspectos de personalidade, introversão e extroversão, os pesquisadores
usaram uma versão do questionário criado por H. J. Esysenck’s. Esse questionário foi
aplicado em forma de teste re-teste durante um mês apresentando um índice de confiabilidade
de 0.89. Para medir o lócus de controle dos liderados, os pesquisadores usaram um
questionário compactado denominado de I-E Scale. Esse questionário é composto por 11
100
pares de itens, tipo escolha forçada, que apresentam para o respondente um relato mais
representativo que uma pessoa teria como lócus interno de controle e, da mesma forma, um
relato mais representativo que uma pessoa teria como lócus externo de controle. O tratamento
estatístico apresentou 0.72 em termos de grau de confiabilidade do questionário.
Por fim, para medir a necessidade que as pessoas vêem em desenvolverem-se, os
pesquisadores utilizaram uma sessão do questionário Job Diagnostic Survey. O questionário
apresenta aos respondentes 12 pares de trabalhos hipotéticos, para que o respondente
manifeste sua preferência. Estes pares estão acoplados a uma escala de cinco pontos, variando
de “A para forte preferência” a “B para forte preferência”. Os pesquisadores assumiram que
altos escores representariam altas necessidades de desenvolvimento pessoal. Esse questionário
foi aplicado durante seis meses, na forma de teste re-teste, apresentando 0.65 de
confiabilidade.
Os pesquisadores usaram, ainda, algumas variáveis de controle, como a idade, nero,
tempo de empresa, tamanho do grupo de trabalho, educação e desempenho. Para medir a
variável desempenho, os pesquisadores usaram um questionário de sete itens, que percorre a
questão da fidelidade, vigilância, habilidades pessoais, planejamento, know-how, desempenho
presente e desempenho esperado, conforme foi concebido por Graen, Dansereau e Minami
(1972). O coeficiente alfa encontrado foi de 0.91.
Os dados colhidos foram submetidos à análise multivariada, como correlação e
regressão, e indicam que liderados mais extrovertidos apresentam alta qualidade de
relacionamento com seus líderes do que liderados mais introvertidos. O atributo lócus de
controle e a necessidade do liderado em desenvolver-se não apresentaram correlações
significativas na análise efetuada pelos pesquisadores.
101
4.9. LMX e processo criativo dos liderados
Therney, Farmer e Graen (1999) realizaram pesquisa com a finalidade de identificar qual o
peso da liderança no processo criativo dos liderados no ambiente de trabalho. Para tal,
utilizaram uma amostra composta de 191 empregados da área de Recursos Humanos de uma
indústria química, para identificar as características de criatividade desses empregados, as
características de seus líderes e a qualidade do relacionamento que mantêm.
Os autores entendem que a criatividade dos empregados é essencial para a
prosperidade e competitividade da organização. É dela que brota a inovação tão essencial para
que as organizações enfrentem desafios e momentos críticos de sua trajetória. Apesar disso,
estudos a respeito da criatividade humana ainda estão em estágio inicial e ainda apresentam
várias lacunas a serem pesquisadas.
Os autores definem criatividade como a capacidade de o empregado apresentar
resultados, no sentido de transformar idéias em produtos ou serviços novos. Algumas
características pessoais dos empregados são fundamentais, para os autores, para o processo de
criatividade, como, por exemplo, o estilo cognitivo voltado para a inovação. Esse estilo
possibilita que os empregados integrem rias informações, redefinam problemas visando a
soluções e tangenciem as normas estabelecidas pela organização.
Outra característica pessoal dos empregados entendidas como fundamentais pelos
pesquisadores para o processo criativo é a motivação intrínseca que demonstram. Entenda-se
por motivação intrínseca a capacidade do empregado de envolver-se espontaneamente com as
atividades e o dia-a-dia da organização. Essa iniciativa, segundo os pesquisadores, sustenta o
esforço criativo dos empregados o tempo todo.
A partir da análise dessas duas características pessoais dos empregados, os
pesquisadores levantaram as hipóteses de que empregados que apresentam estilo cognitivo
102
voltado para a inovação e empregados que apresentam motivação intrínseca também
demonstram possuir criatividade.
Outra dimensão estudada pelos pesquisadores foi a qualidade do relacionamento que
líder e liderado possuem e quanto essa qualidade afeta o processo de criatividade do
empregado. Entendem que alta qualidade de relacionamento leva os liderados a maiores
desafios profissionais e a tarefas de maior relevância que os empregados que apresentam
baixa qualidade de relacionamento. Os que mantêm alta qualidade de relacionamento são
estimulados porque também recebem mais informações, maior reconhecimento e suporte do
líder, possuem maior autonomia no trabalho, estabelecem processos de negociação mais
amplos com seus líderes do que os que apresentam baixa qualidade de relacionamento. Para
tanto, levantaram a hipótese de que a alta qualidade do relacionamento em empregados que
possuem estilo cognitivo voltado para inovação e motivação intrínseca afeta o processo de
criatividade do empregado.
Os pesquisadores também consideraram as características do líder afetando o processo
de criatividade do liderado. Consideraram que líder que possui capacidade cognitiva, em
termos de comportamentos, preferências e valores, inteligência e motivação intrínseca possui
recursos cognitivos suficientes para interagir e influenciar o desempenho dos seus liderados.
Em função disso, levantaram como hipóteses a possibilidade de que empregado criativo
possuí um líder com estilo cognitivo voltado para a inovação e motivação intrínseca.
A amostra composta para essa pesquisa foi de 191 empregados de uma indústria
química americana. Desses, 16 empregados que participaram das entrevistas do projeto piloto
não participaram da pesquisa. Os participantes ocupavam cargo de gerentes de pesquisa,
cientistas pesquisadores, líderes de seção, líderes de projeto, profissionais e técnicos do grupo
de trabalho. Essa amostra está distribuída em oito níveis hierárquicos da organização
pesquisada, incluindo 40 supervisores.
103
Foi realizado um projeto piloto durante três meses utilizando-se de entrevistas semi-
estruturadas para coleta de dados a respeito de como os participantes entendiam a
organização. Os resultados da entrevista foram usados para validar as definições operacionais
estabelecidas para criatividade, avaliação da criatividade geral e motivação intrínseca e
identificar arquivos de pesquisa existentes na organização a respeito dos empregados
criativos. Os dados da pesquisa foram coletados através de questionários disponibilizados no
site da organização, para que os respondentes pudessem preenchê-lo durante o expediente. Os
dados coletados foram sendo enviados aos pesquisadores a partir do primeiro mês de iniciado
o processo. Ao todo, a coleta levou 10 meses para ser processada.
Para medir a motivação intrínseca dos empregados, os pesquisadores utilizaram a
escala desenvolvida por T. M. Amabile, que contém 05 itens dispostos num instrumento de 06
escalas. Esse instrumento, que apresentou alfa de Cronbach de 0.74, permitiu aos
pesquisadores verificarem a quantidade de idéias novas dos empregados que foram
aproveitadas pela organização. Da mesma forma, para medir o estilo cognitivo dos
empregados foi utilizado o instrumento Kirton Adaption-Innovation Survey, o qual apresentou
um alfa de Cronbach de 0.86. Esse instrumento é composto de 32 itens distribuídos em 06
escalas, com a finalidade de identificar a preferência para resolução de problemas e estilos de
tomada de decisão dos respondentes. Altos escores representam estilo cognitivo maior. A
qualidade do relacionamento entre líder e liderado foi medida a partir do instrumento de 07
itens elaborado por Graen, Novak e Sommerkamp (1982), o qual apresentou alfa de Cronbach
de 0.91. Para acessar as características do líder e sua motivação intrínseca, foi utilizado o KAI
Instruments, que apresentou alfa de Cronbach de 0.72 e 0.87, respectivamente.
Os pesquisadores utilizaram três indicadores para medir a criatividade dos
respondentes. O primeiro foi a avaliação do supervisor em relação ao subordinado. Esse
instrumento consiste de nove itens dispostos numa escala de 06 pontos. Quatro desses itens
104
foram adaptados de um outro instrumento elaborado por J.E. Ettlie e R.D. O’Keefe e os itens
restantes foram resultados de pesquisa bibliográfica e do projeto piloto realizado pelos
pesquisadores. Os supervisores foram orientados a responderem a cada um desses itens a
partir da freqüência com que eles enquadravam seus subordinados nos temas propostos por
esses itens. Altos escores indicavam altos índices de criatividade. Baixos escores indicavam
baixo índice de criatividade. Esse instrumento apresentou alfa de Cronbach de 0.95.
O segundo indicador utilizado foi o Invention Disclosure Forms - IDFs. Os
pesquisadores lançaram mão dos registros de idéias que cada subordinado apresentou durante
os últimos 06 meses que antecederam à pesquisa. Cada idéia foi submetida a um julgamento
para que se pudessem identificar quantas idéias foram capazes de gerar produtos ou processos
que agregaram valor para a organização. Esses registros foram revisados pelos supervisores,
mesmo tendo sido submetidos a um julgamento independente. O terceiro indicador utilizado
foi o relatório de pesquisa, isto é, quantos relatórios de pesquisa, apresentando idéias novas
envolvendo produtos ou processos, que cada subordinado publicou.
Ao todo os pesquisadores identificaram 147 IDFs, 97 relatórios de pesquisa sendo que
31% da amostra apresentou um ou mais IDFs, relatórios de pesquisa ou ambos.
Os pesquisadores também utilizaram algumas variáveis de controle entendendo que
elas são capazes de influenciar o processo criativo dos empregados, como o nível educacional,
avaliado numa escala de 11 pontos (0 = sem nível universitário; 1-10 = números de anos
completos em nível universitário); nível hierárquico (1 = nível mais baixo; 8 = nível mais
alto) e afiliação divisional (código “dummy” 0 = básico; 1 = aplicado).
Os dados coletados foram submetidos à análise estatística multivariada, como a
correlação, a regressão e a regressão hierárquica. A análise dos dados apresenta uma
correlação entre motivação intrínseca e estilo cognitivo voltado para a criatividade tanto do
empregado como do líder. Alta qualidade do relacionamento entre líder e liderado é um
105
facilitador para o processo criativo do liderado, à medida que o comportamento e as
características do líder são capazes de compreender os esforços e as investidas criativas do
liderado. Para os pesquisadores, a análise dos resultados indica que o efeito da interação entre
LMX e criatividade se dá por duas razões: a) porque apresenta uma significante combinação
entre estilo cognitivo e relações com o líder; b) porque sugere que existe uma fronteira entre o
processo de criatividade do liderado e o relacionamento que possui com seu líder.
Compreender isso significa que a organização pode incentivar os fatores que facilitam a
criatividade do subordinado e eliminar aquelas condições que inibem ou dificultam o processo
criativo.
4.10 LMX, emoção e inteligência emocional
George (2000) estudou o papel do humor e das emoções humanas como princípio central no
processo de liderança, através de uma extensa revisão bibliográfica. Seu objetivo foi o de
entender o quanto a inteligência emocional, a habilidade de compreender e gerenciar as
emoções e os humores dos outros e de si próprio, contribuem para a efetividade da liderança
nas organizações. Em seu ensaio, a pesquisadora propõe cinco elementos essenciais para que
tal ocorra, como: desenvolvimentos de metas e objetivos coletivos, estimular nas outras
pessoas a apreciação e importância pelas atividades do trabalho, gerando e mantendo o
entusiasmo, a confiança, o otimismo, a cooperação e a fé, encorajando a flexibilidade no
processo de tomada de decisão e no enfrentamento de situações que envolvam mudança,
estimulando e mantendo, nos liderados, a identidade essencial da organização.
106
Para tanto, estudou quatro aspectos da inteligência emocional, a saber: avaliação e
expressão da emoção, o uso da emoção como forma de aumentar os processos cognitivos e as
tomadas de decisões, o conhecimento a respeito das emoções e o gerenciamento das emoções.
4.11 LMX e os efeitos dos estilos cognitivos
Allinson, Armstrong e Hayes (2001) realizaram pesquisa junto a 142 díades formadas de
gerentes seniores e de nível médio e seus respectivos subordinados imediatos, em duas
empresas de manufatura inglesas, com a finalidade de verificar se os estilos cognitivos de
ambos, como os paradigmas similaridade e atração, exercem influência na qualidade do
relacionamento existente na díade. As propostas da Teoria da Troca entre Líder e Liderado
LMX permite, segundo os pesquisadores, maior abrangência na compreensão desse
fenômeno, à medida que possibilita ao pesquisador estudar esse fenômeno a partir da análise
individual das díades.
O interesse dos pesquisadores dá-se na medida do aumento das pesquisas em torno da
necessidade de ajustamento dos atributos individuais e as situações de trabalho existentes na
organização. A qualidade desse ajustamento verifica-se no desempenho, na satisfação, no
comprometimento e na rotatividade que os funcionários apresentam.
Para a medição do estilo cognitivo dos respondentes, os pesquisadores utilizaram o
The Cognitive Style Index (CSI). Trata-se de um questionário que foi administrado para todos
os líderes e seus respectivos liderados, com a finalidade de verificar dimensões cognitivas
denominadas de dimensão intuitiva e dimensão analítica dos respondentes. Esse questionário
é formado de 38 questões do tipo verdadeira e falsa. As relações interpessoais foram medidas
107
através de um questionário desenvolvido pelos pesquisadores, distribuídos em sete pontos
numa escala tipo Likert.
A análise dos dados indica que líderes analíticos não dão atenção aos estilos
cognitivos de seus liderados, percebem a si mesmos sendo mais dominantes do que líderes
intuitivos com seus liderados analíticos. Concluíram, ainda, que liderados intuitivos com
líderes intuitivos são mais dominantes que liderados analíticos com líderes analíticos. Líderes
intuitivos não dão atenção aos estilos cognitivos de seus membros e são mais educados que os
líderes analíticos. Líderes intuitivos com liderados analíticos são mais amados e respeitados
pelos seus liderados do que os líderes analíticos com seus liderados intuitivos.
4.12 LMX e percepção dos liderados quanto aos líderes
Dunegan (2003) realizou pesquisa junto a 175 profissionais de suporte de uma universidade
americana, e desses 124 eram mulheres, variando entre 40,9 anos de idade, e 51 homens,
variando entre 43,8 anos de idade, com a finalidade de verificar se havia compatibilidade de
percepção entre os respondentes no tocante à imagem que fazem da liderança. A pesquisa
considerou os pressupostos da Teoria da Imagem com a finalidade de estudar se as diferenças
de percepções entre a imagem ideal e a imagem atual do comportamento do líder estão
correlacionadas com o descontentamento do liderado.
Três foram às razões que levaram o pesquisador a construir sua investigação a partir
dos pressupostos da Teoria da Imagem. A primeira diz respeito à possibilidade de avaliação
da compatibilidade da imagem do líder. Essa alternativa se apresenta em duas vertentes: a
possibilidade de a compatibilidade ser medida nas diferenças de percepções do liderado entre
108
a imagem ideal e a imagem real do líder. A segunda diz respeito às medidas de percepção e de
atitude que são relevantes para a organização, em termos de observar o grau de
descontentamento do liderado com relação ao líder e para com a organização, sua satisfação
no trabalho, suas intenções de sair da organização, seu comprometimento com a organização,
a questão da ambigüidade e do conflito de papéis. A terceira diz respeito ao vínculo que essa
compatibilidade tem com a questão dos relacionamentos diádicos existentes na organização,
conforme os pressupostos da Teoria da Troca entre Líder e Liderado - LMX.
O pesquisador considerou duas hipóteses que nortearam seu trabalho, a saber: 1) a
compatibilidade de imagem está positivamente correlacionada com satisfação no trabalho,
comprometimento organizacional, baixa ambigüidade e correlacionada negativamente com
intenções de rotatividade e conflito de papéis; 2) a compatibilidade de imagem está
positivamente correlacionada com a LMX, de modo que díades que apresentam altos escores
de LMX também terão altos escores de compatibilidade da questão da imagem do líder.
Para medir as dimensões levantadas nessa investigação, o pesquisador utilizou rios
instrumentos para coleta de dados, conforme abaixo mencionado:
a. Para medir a satisfação no trabalho instrumento de 05 itens elaborado por
R.P. Quinn e G.L. Staines. Esse instrumento apresenta alfa de Cronbach de
0.79;
b. Para medir as intenções de sair da organização instrumento de 05 itens
elaborado por S.E. Seashore et al. Esse instrumento apresenta alfa de Cronbach
de 0.84;
c. Para medir a ambigüidade de papéis instrumento de 06 itens elaborado por
J.R. Rizzo et al. Esse instrumento apresenta alfa de Cronbach de 0.86;
109
d. Para medir o conflito de papéis instrumento de 08 itens elaborado por J.R.
Rizzo et al. Esse instrumento apresenta alfa de Cronbach de 0.86;
e. Para medir o comprometimento organizacional instrumento de 15 itens
elaborado por L.W. Porter e F.J. Smith’s. Esse instrumento apresenta alfa de
Cronbach de 0.86;
f. Para medir a qualidade da LMX instrumento de 07 itens elaborado por
Graen e Uhl-Bien (1995). Esse instrumento apresenta alfa de Cronbach de
0.92;
g. Para medir a compatibilidade da imagem instrumento elaborado pelo
pesquisador a partir do referencial teórico de que lançou mão. Esse
instrumento foi composto de 06 itens que solicitava do respondente que
manifestasse sua opinião quanto à imagem corrente do seu der em relação à
imagem ideal que concebe para o seu líder.
Os dados coletados foram submetidos à análise multivariada, como a Análise Fatorial,
Correlação e Regressão Hierárquica. A análise dos resultados indicou que uma correlação
entre as percepções e atitudes dos respondentes e a qualidade da LMX. Alta qualidade de
LMX estava correlacionada com alta satisfação no trabalho e comprometimento, e baixa
ambigüidade, conflito de papéis e intenções de sair da organização. Esses achados permitiram
ao pesquisador não rejeitar as hipóteses levantadas para sua investigação.
110
4.13 LMX e mentoring
Scandura e Schriesheim (1994) investigaram em uma amostra formada de 183 díades a
relação entre a LMX e o processo de mentoring, tanto da perspectiva da teoria da liderança
transformacional como na perspectiva da liderança transacional. Em ambas as perspectivas, o
líder assume um papel perante seu liderado, e, na perspectiva transformacional, o líder
estimula seu liderado, usando do seu tempo, conhecimento e experiência, seja como coach,
professor ou mentor, a desejar por transformações.
Para esses pesquisadores, uma interação bastante acentuada entre o processo de
mentoring e os pressupostos da Teoria da Troca entre Líder e Liderado LMX, que, em
ambos os casos, o líder está envolvido com resultados da carreira do liderado. Por
considerarem que o processo de mentoring fica mais evidenciado na perspectiva da teoria da
liderança transformacional, acreditam que ele trará um progressivo investimento na carreira
do liderado e, consequentemente, aumentará os efeitos das trocas que líder e liderado
estabelecem.
Considerando esses fatores, os pesquisadores elaboraram três hipóteses para
fundamentar o processo de investigação que empreenderam, a saber: ) supervisor e
subordinado fazem distinção, em nível perceptivo, entre os construtos das trocas estabelecidas
entre eles e o processo de mentoring; 2ª) com as trocas entre líder e liderado controladas, o
processo de mentoring estará positivamente relacionado com a avaliação de desempenho do
liderado, com aumento do seu salário e com promoções; 3ª) com o processo de mentoring
controlado, as trocas que líder e liderado estabelecem estarão positivamente relacionadas com
a avaliação de desempenho do liderado, com aumento do seu salário e com promoções.
111
Os dados foram coletados junto a empregados de uma organização de alta tecnologia
americana. Esses empregados foram escolhidos, aleatoriamente, entre os diversos níveis
hierárquicos e nas diversas áreas da organização. Receberam o questionário, via mala direta,
acompanhado de uma correspondência auto-explicativa assinada pelo gerente de Recursos
Humanos da organização. Dos 350 contatados, somente 244 devolveram o questionário
devidamente preenchido, o que representa 70% da amostra total. Os pesquisadores lançaram
mão, ainda, de informações sobre resultados que os subordinados alcançaram em suas
carreiras dentro daquela organização, a fim de completar as informações a respeito desses
respondentes.
Os 244 respondentes que devolveram o questionário devidamente preenchido
informaram o nome do seu supervisor imediato. Esses supervisores, que são gerentes do topo
da hierarquia da organização, também foram contatados pelos pesquisadores através de mala
direta para que participassem da pesquisa. Dos contatados, somente 191 manifestaram-se
favoravelmente, o que permitiu que os pesquisadores os procurassem pessoalmente. No total,
os pesquisadores conseguiram formar 183 díades, mantendo os dados de somente um
subordinado para cada supervisor.
Para medir a qualidade da LMX, os pesquisadores usaram o questionário de 07 itens
elaborado por Graen et al.(1982). Esse questionário apresentou alfa de Cronbach de 0.86. Para
medir a carreira de mentor, os pesquisadores usaram o Supervisor Career Mentoring SCM,
que se propõe a analisar os relacionamentos entre supervisor e subordinado. Esse questionário
foi aplicado tanto para supervisor como para subordinado. Ele foi escolhido porque permite
investigar o tempo em que supervisor e subordinado mantêm relacionamento. Esses
questionários apresentaram alfa de Cronbach de 0.79 e 0.85, respectivamente. Para medir as
variáveis de resultados obtidos na carreira, os pesquisadores construíram um questionário a
partir de uma revisão bibliográfica a respeito do progresso na carreira, aumento de salário e
112
avaliação do supervisor do desempenho do subordinado. Esse questionário apresentou alfa de
Cronbach de 0.93.
Os dados coletados foram submetidos à análise multivariada como correlação,
regressão, Manova, T-test e análise fatorial. A análise dos dados suporta a idéia de que a
LMX e o processo de mentoring são percebidos como diferentes construtos para supervisor e
subordinado. Esse não faz distinção entre esses construtos, à medida que o subordinado
percebe globalmente o comportamento do supervisor, não fazendo distinção entre um papel e
outro. A análise dos dados ainda demonstra que o processo de mentoring apresenta, na
amostra utilizada, maior nível de correlação com as variáveis dependentes, isto é, progresso
na carreira, aumento de salário e avaliação do supervisor do desempenho do subordinado, do
que a LMX.
4.14 LMX e comportamento de cidadania organizacional
Deluga (1994), a partir dos conceitos propostos pela Teoria da Troca Social e pela Teoria da
Equidade, realizou pesquisa junto a 86 díades formadas de supervisores e de seus respectivos
subordinados, para investigar a conexão entre a maneira com que o supervisor constrói
atividades de confiança, a Teoria da Troca entre Líder e Liderado – LMX e o Comportamento
de Cidadania Organizacional do subordinado.
A Teoria da Troca Social apresenta um modelo econômico a respeito do
comportamento motivacional humano, no qual as pessoas empenham-se em maximizar
recompensas e minimizar perdas. A premissa básica da teoria é de que os relacionamentos que
provêem aos interessados mais recompensas que custos apresentam confiança e atração mais
113
duradouras do que os que provêem mais custos que recompensas. As recompensas previstas
pela teoria abarcam tanto as de cunho material como as de cunho psicológico, como status,
lealdade e aprovação. No ambiente organizacional, o supervisor fornece ao subordinado
suporte e recompensas monetárias e o subordinado contribui com sua devoção pessoal e com
suas competências.
A Teoria da Equidade sustenta que os subordinados e os supervisores estão satisfeitos
quanto à proporção entre os benefícios que recebem da organização e suas contribuições,
estão em patamar similar aos recebidos pelos seus pares. A questão central, nessa teoria, é a
da justiça percebida. Quando a questão da justiça não é percebida, os subordinados respondem
eliminando possíveis contribuições que podem oferecer ou criando expectativas de
recompensas adicionais.
O Comportamento de Cidadania Organizacional prevê que o subordinado adota
espontaneamente um comportamento que vai além do previsto na sua descrição de cargo,
empenhando-se a realizar tarefas e a atingir resultados extras. Trata-se de um comportamento
arbitrário, não direta e explicitamente reconhecido ou recompensado pelo sistema
organizacional. Segundo Deluga (1994), cinco categorias que identificam esse tipo de
comportamento, a saber: altruísmo, cortesia, consciência, esportividade e valores cívicos.
A partir dessas revisões conceituais, o pesquisador elaborou três hipóteses que
nortearam sua investigação: 1ª) a percepção de justiça do subordinado está associada ao
comportamento do supervisor, no sentido de construção de confiança, refletida nas cinco
categorias do comportamento de cidadania organizacional; 2ª) a percepção do subordinado da
justiça do supervisor está positivamente associada com a qualidade do relacionamento (LMX)
com o supervisor; 3ª) a qualidade do relacionamento que o subordinado percebe está
associada positivamente com seu comportamento de cidadania organizacional, incluindo
altruísmo, cortesia, consciência, esportividade e valores cívicos.
114
A amostra utilizada pelo pesquisador para essa investigação é formada de estudantes
de uma universidade americana. No período de aula, os instrutores distribuíram os
questionários para que os respondentes informassem as suas percepções do comportamento do
seu supervisor em construir confiança, como também a qualidade do relacionamento que
mantém. No questionário, os respondentes informaram o nome da organização em que
trabalham e o nome do seu supervisor. Os respondentes foram informados de que os seus
supervisores seriam convidados a participarem da pesquisa. Nesse sentido, alguns
respondentes optaram em não fornecer dados do seu supervisor, a fim de que ele não fosse
convidado a participar da pesquisa, apesar de que também foram informados de que as
informações fornecidas por eles receberiam sigilo absoluto.
Os supervisores indicados pelos respondentes foram contatados e informados de que
seus subordinados estavam participando da pesquisa ao mesmo tempo em que foram
convidados a participarem também. Os supervisores que se disponibilizaram em participar
receberam o questionário e, nele, deram informações quanto ao comportamento de cidadania
organizacional demonstrado pelos seus subordinados, o comportamento dos seus
subordinados na função que desempenham e a qualidade do relacionamento que mantém com
seus subordinados. Também foram informados de que os dados que forneceriam receberiam
tratamento sigiloso.
O pesquisador coletou 123 questionários entre os subordinados e somente 97
informaram os dados de seus supervisores. Desses, somente 86 questionários devolveram os
questionários devidamente preenchidos, o que representou uma amostra final de 88,7% de
díades formadas por supervisores e subordinados.
O pesquisador utilizou vários instrumentos para medir suas variáveis, a saber:
115
a. Confiança no supervisor Questionário de 44 itens denominado de
Conditions of Trust Inventory CTI. Os subordinados avaliaram seus
supervisores em 10 comportamentos identificados como capazes de construir
confiança. Cada um desses 10 comportamentos foi avaliado numa escala tipo
Likert de 05 pontos, sendo 05 para concordo totalmente e 01 para discordo
totalmente. Esse questionário apresentou alfa de Cronbach de 0.93.
b. Qualidade da LMX Questionário de 08 itens denominado de Information
Exchange Scale IES. Esses itens estão dispostos numa escala de 07 pontos,
sendo 07 para muito e 01 para nada. Esse questionário apresentou alfa de
Cronbach de 0.91.
c. Comportamento de Cidadania Organizacional OCB Questionário de 24
itens denominado de Organizational Citizenship Behavior Scale OCBS. Esse
questionário foi utilizado para medir as 05 categorias do OCB. Os supervisores
responderam a cada um dos itens utilizando uma escala de 07 pontos tipo
Likert, sendo 07 para concordo totalmente e 01 para discordo totalmente. Esse
questionário apresentou alfa de Cronbach de 0.92.
Os dados coletados foram submetidos à análise multivariada, como: Análise Fatorial
Confirmatória, Manova, Regressão, Correlação e Regressão Hierárquica. Os resultados
indicam que a alta heterogeneidade apresentada na análise dos dados, não permitiu ao
pesquisador aceitar as hipóteses que previam que a percepção de justiça do subordinado está
associada ao comportamento do supervisor, no sentido de construção de confiança, refletida
nas cinco categorias do comportamento de cidadania organizacional e que a percepção do
subordinado da justiça do supervisor está positivamente associada com a qualidade do
relacionamento (LMX) com o supervisor. Contudo, permitiu admitir que houvesse uma
116
correlação entre o comportamento do subordinado no cargo que exerce e seu comportamento
de cidadania organizacional, nas cinco dimensões mencionadas anteriormente. Essa
correlação pode, segundo o pesquisador, ser explicada pela qualidade da LMX.
4.15 LMX e percepção de troca social
Keller e Dansereau (1995) realizaram pesquisa com a finalidade de investigarem os vínculos
que as práticas de liderança que estabelecem a interação entre superior e subordinado e o
empowerment provocam na percepção de autovalor do subordinado. Esse vínculo é discutido
na literatura por duas razões apontadas pelos pesquisadores: 1ª) os estudos de liderança e
gerenciamento sugerem que dar poder ao subordinado é um dos principais componentes da
efetividade organizacional; 2ª) os estudos sobre poder e controle sugerem que à proporção que
o superior partilha poder e controle com seu subordinado, aumenta a efetividade da utilização
desse poder por parte dos subordinados.
Os pesquisadores entendem que a questão do controle é um tema central nos estudos
da psicologia e é considerado um dos principais fatores necessários para o bem-estar
individual, envolvendo o autoconceito e a autoestima. Nos ambientes organizacionais isso
significa que o subordinado recebe poder do seu supervisor para controlar suas tarefas diárias
para dar conta de duas responsabilidades. Além do que, o supervisor devota tempo, atenção e
suporte para ouvir as idéias, opiniões e necessidades de seus subordinados.
O suporte teórico encontrado pelos pesquisadores está na Teoria das Trocas Sociais e
na Teoria da Troca entre Líder e Liderado LMX. A primeira estabelece que o líder dê
benefícios aos liderados e esses, por sua vez, retribuam ao líder com aumento da sua
117
eficiência. Entendem que a base dessa teoria é a confiança, isto é, o líder beneficia seu
liderado porque acredita, confia que seu liderado corresponderá espontaneamente. As trocas
sociais e econômicas envolvidas nesse processo não parecem ser muito claras ou explícitas,
segundo os pesquisadores. A segunda pressupõe que o superior tratamento diferenciado
para seus subordinados, elegendo alguns para fazerem parte do seu grupo mais próximo, com
quem mantém relacionamento de alta qualidade e, para o grupo mais distante, mantém
relacionamento previsto no contrato de trabalho firmado entre subordinado e a organização.
Ambos os suportes teóricos pressupõem, em última instância, que o superior faz
investimentos maiores em alguns subordinados do que em outros subordinados. Esses
investimentos podem ser traduzidos, segundo os pesquisadores, em maior possibilidade de
negociações com os subordinados, mais amplitude nas tomadas de decisões e possibilidade de
mudança das características do trabalho dos subordinados. Redundam no aumento da
percepção que o subordinado tem do seu autovalor. Também faz parte desses pressupostos
teóricos a atitude de reciprocidade do subordinado em relação aos benefícios e investimentos
recebidos do seu superior.
Para dar conta dessa investigação, os pesquisadores lançaram mão de duas hipóteses
de trabalho: 1ª) a amplitude de negociação e o suporte que superior estabelece para com o
autovalor do seu subordinado, estão positivamente relacionados com a percepção que o
subordinado possui da sua capacidade de controlar situações de trabalho; 2ª) a amplitude de
negociação e o suporte que o superior estabelece para com o autovalor do seu subordinado,
estão positivamente relacionados com a percepção de justiça do subordinado; 3ª) a amplitude
de negociação e o suporte que superior estabelece com o autovalor do seu subordinado, estão
positivamente relacionados com o satisfatório desempenho do subordinado; 4ª) a amplitude de
negociação e o suporte que o superior estabelece com o autovalor do seu subordinado, estão
positivamente relacionados com a satisfação que o subordinado tem do seu supervisor; 5ª) a
118
amplitude de negociação e o suporte que superior estabelece com o autovalor do seu
subordinado, estão negativamente relacionados com problemas oriundos das relações
diádicas.
A amostra utilizada pelos pesquisadores foi uma divisão de uma empresa americana de
computadores. Os participantes foram voluntários e a maioria dos empregados optou em
participar da pesquisa. Os questionários foram completados durante uma reunião de trabalho
que foi conduzida por um dos pesquisadores. Essa amostra inclui 20 gerentes, 30 profissionais
liberais e 42 trabalhadores denominados de horistas. Reunida a amostra, os pesquisadores
lançaram mão das informações contidas nos bancos de dados da empresa e contataram os
respectivos superiores para que participassem da pesquisa. Todos os superiores contatados se
dispuseram em participar da pesquisa e completaram os questionários em reunião separada do
restante da amostra. O resultado final foi composto de 92 díades de superiores e subordinados.
Os pesquisadores utilizaram vários instrumentos para medir suas variáveis, a saber:
b. Investimento do supervisor e retorno do subordinado foi medido através de
duas variáveis: autovalor e amplitude de negociação. Para a primeira, os
pesquisadores usaram três questões: a) o supervisor tem confiança nas
habilidades dos subordinados; b) o supervisor atenção às necessidades e
sentimentos dos subordinados; c) o supervisor dá suporte para às idéias e ações
dos subordinados. Para tanto, usaram o instrumento de 05 itens, ajustados a
uma escala tipo Likert, desenvolvido por Dansereau, Alutto e Yammarino
(1984). A amplitude de negociação foi medida através do instrumento de 04
itens elaborado por Liden e Graen (1980).
c. Investimento do subordinado e retorno do supervisor foi medido a partir da
percepção de satisfação do supervisor em relação ao desempenho do
119
subordinado. Foi utilizado um instrumento de 05 itens, ajustados a uma escala
tipo Likert, desenvolvido por Dansereau, Alutto e Yammarino (1984).
d. Percepção de controle foi medida através do instrumento de 05 itens,
ajustados a uma escala tipo Likert, desenvolvido por Greenberger.
e. Lócus de controle foi utilizado para demonstrar se a percepção do construto
de controle difere do lócus de controle. Trata-se de uma predisposição
individual para ver seu destino, como: a) controlado por si mesmo; b)
controlado pelos outros; c) controlado de maneira inesperada. Para tanto, os
pesquisadores utilizaram um instrumento de 36 pontos, distribuídos numa
escala tipo Likert de 08 itens, elaborado por Levenson.
f. Percepção de justiça do superior foi medida através de um instrumento de
05 pontos, Folger e Konovsky.
g. Problemas diádicos e satisfação com o supervisor o primeiro foi medido
através de um instrumento de 04 pontos, distribuídos numa escala de 04 itens,
tipo Likert, desenvolvido por Dansereau, Graen e Haga (1975) e a satisfação
com o supervisor foi medida através de um instrumento de 16 pontos,
distribuídos numa escala de 05 itens, tipo Likert, desenvolvido por Scarpello e
Vanderberg.
h. Desempenho foi medido a partir dos dados obtidos nos registros da
organização a respeito do desempenho de seus funcionários.
Os dados coletados foram submetidos à análise multivariada, tipo correlação e análise
de variância. Os resultados permitiram aos pesquisadores não rejeitar as hipóteses levantadas
para a investigação, isto é, o investimento que o superior faz no subordinado em termos de
amplitude de negociação e autovalor, resulta em reciprocidade do subordinado no tocante a
120
desempenho, diminuindo problemas diádicos, na percepção de que o supervisor é justo, na
satisfação do subordinado em relação ao seu superior.
Outro estudo que investigou esse mesmo fenômeno foi desenvolvido por Wayne,
Shore e Liden (1997). A intenção desses pesquisadores foi de verificar as trocas sociais que
empregados realizam com a organização e com seus superiores imediatos, simultaneamente.
Para tanto, utilizaram-se do suporte da Teoria das Trocas Sociais. Quando as trocas sociais
são estabelecidas com a organização, utilizaram-se dos pressupostos da Perceived
Organizational Support – POS e quando as trocas são estabelecidas com os superiores
imediatos, utilizaram-se dos pressupostos da Teoria da Troca entre Líder e Liderado LMX.
Entendem, por fim, que ambos os construtos propõem, que quando uma pessoa faz algum tipo
de favor a ou de investimento em outra pessoa, fica, no fundo, na expectativa de receber, no
futuro, algo em troca.
Apesar de esses construtos fazerem parte do processo de trocas sociais que os
empregados estabelecem com a organização e com seus superiores imediatos, eles são
abordados em literaturas diferenciadas. A POS é utilizada para explicar o comprometimento
do empregado com a organização. Esse comprometimento está vinculado aos valores
organizacionais e aos benefícios que os empregados podem obter para suas carreiras pessoais
e para seu bem-estar no trabalho. Altos níveis de POS criam no empregado sentimentos de
obrigação com a organização, que podem se expressar na manifestação e no emprego da
criatividade e na inovação.
Os pesquisadores entendem que um dos antecedentes da POS é a personificação que o
empregado faz o tempo todo das recompensas e das punições que são por ele percebidas e que
representam o poder dos membros da organização. Essa percepção permite que o empregado
analise as decisões que a organização toma em relação ao quadro de pessoal. O acúmulo
121
dessas experiências é que permitem ao empregado comprometer-se ou não com a
organização.
Para os pesquisadores, a Teoria das Trocas Sociais é a base da Teoria das Trocas entre
Líder e liderado LMX, à medida que envolve o relacionamento entre superior e
subordinado. Esse relacionamento interpessoal pode ser entendido como o pano de fundo das
formalidades organizacionais, visto em que alta qualidade de relacionamento indica que o
empregado recebe de seu superior imediato maiores recursos e informações organizacionais
além de maior suporte para a realização de suas tarefas.
Os pesquisadores elegeram dois antecedentes, a partir de estudos prévios a respeito da
LMX referenciados na literatura. O primeiro denominaram de vínculo mútuo como uma das
variáveis importantes nos estudos das interações interpessoais. Trata-se de uma influência
mútua estabelecida nas relações entre o der e seu seguidor. O segundo denominaram de
expectativa do líder em relação ao liderado como determinante da qualidade do
relacionamento.
Em vista disso, os pesquisadores elaboraram sete hipóteses para investigar esse
fenômeno: 1ª) o número de experiências obtidas e promoções recebidas estão positivamente
relacionados com a percepção do suporte organizacional; 2ª) o vínculo e as expectativas do
líder em relação ao empregado estão positivamente relacionadas com a qualidade das trocas
entre o líder e o liderado; 3ª) existe um relacionamento recíproco e positivo entre as trocas
que líder e liderado estabelecem e a percepção de suporte organizacional; 4ª) a percepção do
suporte organizacional está positivamente relacionada com a avaliação do desempenho e o
comportamento de cidadania organizacional; 5ª) as trocas entre líder e liderado estão
positivamente relacionadas com a avaliação do desempenho e o comportamento de cidadania
organizacional; 6ª) a percepção do suporte organizacional está positivamente relacionada com
o comprometimento afetivo e negativamente relacionada com as intenções de deixar a
122
organização; 7ª) as trocas entre líder e liderado estão positivamente relacionadas com os
favores que o liderado faz para o líder.
A amostra foi selecionada entre 20.000 empregados de uma grande organização
americana. O critério de escolha foi o tempo de casa, na medida em que os pesquisadores
estavam interessados em observar o sucesso obtido na carreira. O ponto de corte para a
escolha da amostra foi de 05 anos de tempo de organização. Desse modo, 1.413 empregados
foram selecionados e somente 570 responderam ao questionário enviado pelos pesquisadores.
Os pesquisadores também encaminharam, separadamente, um questionário para os gerentes
ou superiores desses empregados. Dos 505 questionários enviados somente 289 foram
devolvidos devidamente preenchidos. Ao final, os pesquisadores obtiveram 252 díades
formadas de líder e de liderado, respectivamente.
Os pesquisadores obtiveram informações nos registros da organização a respeito da
avaliação de desempenho dos empregados que responderam ao questionário e dos
empregados que não responderam. A média da avaliação de desempenho dos respondentes foi
de 3.39 e dos não respondentes foi de 3.32, considerando um item distribuído numa escala de
cinco pontos, tipo Likert. Realizaram a mesma comparação em relação aos dados
demográficos dos respondentes e dos não respondentes. Os pesquisadores não identificaram
diferenças significativas no tocante à educação, gênero e tempo de empresa. A diferença mais
significativa foi encontrada na questão etnia.
Os questionários foram enviados por mala direta aos empregados e seus respectivos
gerentes. Depois de preenchidos, os questionários deveriam ser devolvidos via postal
diretamente aos pesquisadores. Os questionários foram numerados a fim de permitir aos
pesquisadores estabelecer comparação entre o líder e o liderado e os informações obtidas nos
registros da organização.
123
Os pesquisadores utilizaram vários questionários para medir as variáveis da
investigação, a saber:
a. Experiências desenvolvidas foram desenvolvidas quatro assertivas para
medir os aspectos formais e informais das experiências obtidas pelos
empregados. Para as duas primeiras assertivas, os respondentes deveriam
indicar se concordam ou discordam das assertivas apresentadas, variando de 01
para discordo totalmente até 07 para concordo totalmente. Para as duas últimas
assertivas, os respondentes deveriam indicar como percebiam os investimentos
da organização no tocante a treinamento, desenvolvimento e recompensas,
variando de 01 para nenhuma até 07 para amplo investimento. Essas assertivas
apresentaram um alfa de Cronbach de 0.87.
b. Promoções os pesquisadores obtiveram informações dos registros da
organização a respeito das promoções que os respondentes tiveram nos últimos
06 anos que antecederam à pesquisa. Entendeu-se por promoção movimento de
salário ou de cargo ou função dentro da organização.
c. Tempo de empresa o mesmo se deu nesse caso, isto é, os pesquisadores
obtiveram informações nos registros da organização a respeito do tempo de
empresa dos respondentes.
d. Vínculo foi utilizado o questionário de 03 itens elaborado por S.J. Wayne e
G.R. Ferris, ajustado a uma escala de sete pontos, variando de 01 para discordo
totalmente a07 para concordo totalmente. Esse questionário obteve um alfa
de Cronbach de 0.83.
e. Expectativa cada gerente teve a incumbência de dar uma nota específica
para cara um dos seus empregados, considerando os cinco anos de trabalho e a
124
carreira do empregado. A expectativa atual foi comparada com a nota dada,
considerando o tempo de trabalho do empregado. A correlação entre essas
notas apresentou um alfa de Cronbach de 0.86.
f. Percepção do suporte organizacional os empregados preencheram um
questionário, versão simplificada, do Survey Perceived Organizational Support
– SPOS. Os respondentes indicaram suas concordâncias ou discordâncias numa
escala variando entre 01 para discordo totalmente até 07 para concordo
totalmente. Esse questionário apresentou um alfa de Cronbach de 0.93.
g. Trocas entre líder e liderado LMX foi utilizado o questionário de 07 itens
desenvolvido por Scandura e Graen (1984) para medir a qualidade do
relacionamento. Esses itens estavam acoplados a uma escala de 07 pontos,
variando de 01 para discordo totalmente até 07 para concordo totalmente. Esse
questionário apresentou um alfa de Cronbach de 0.90.
h. Comprometimento afetivo foi utilizado o questionário de 09 itens
desenvolvido por L.W. Porter, R.M. Steers, R.T. Mowdas e P.V. Boulian. Os
respondentes indicaram, numa escala de 07 pontos, se discordavam totalmente
(01) até concordavam totalmente (07). Após análises multivariada, os
pesquisadores optaram em eliminar dois itens do questionário. Os 07 itens
restantes apresentaram um alfa de Cronbach de 0.87.
i. Intenção de deixar a empresa foi utilizado um questionário de 05 itens,
sendo que 03 desses itens foram desenvolvidos por J. Landau e T.H. Hammer,
01 item faz parte do Michigan Organizational Assessment Questionnaire e 01
foi elaborado pelos pesquisadores. Esse questionário foi acoplado a uma escala
de 07 pontos, variando entre 01 para discordo totalmente até 07 para concordo
totalmente. Esse questionário apresentou um alfa de Cronbach de 0.89.
125
j. Avaliação do desempenho os superiores avaliaram o desempenho de seus
subordinados através de um questionário de 06 itens, sendo que 02 desses itens
foram elaborados por A.S. Tsui, 02 foram elaborados por M.E. Heilman, C.J.
Block e J.A. Lucas e 02 pelos pesquisadores. Esses 06 itens foram acoplados a
uma escala de 05 pontos, tipo Likert. Esse questionário apresentou um alfa de
Cronbach de 0.92.
k. Comportamento de cidadania organizacional OCB a dimensão altruísmo
foi medida através do questionário desenvolvido por C.A. Smith, D.W. Organ
e J.P. Near, sendo que os pesquisadores realizaram pequenas modificações
para que pudessem atender aos objetivos da investigação. Os superiores
indicavam a freqüência com que seus subordinados estavam envolvidos com
cada um desses 07 itens, considerando a questão do comportamento de
cidadania organizacional. Esses itens foram acoplados a uma escala de 07
pontos, variando entre 01 para nunca até 07 para sempre. Esse questionário
apresentou alfa de Cronbach de 0.86.
l. Fazendo favor foi utilizado um questionário composto por 03 itens,
desenvolvido por K. Kumar e M. Beyerlein. Os empregados indicaram a
freqüência com que viam seus comportamentos engajados nesses itens. O
questionário estava acoplado a uma escala de 07 pontos, variando de 01 para
nunca até 07 para sempre. Apresentou um alfa de Cronbach de 0.86.
Os dados colhidos foram submetidos à análise multivariada, como a correlação e
análise fatorial confirmatória. Os resultados indicam que tanto as trocas que empregados
realizam com superiores, sustentada pela Teoria da Troca entre Líder e Liderado LMX,
como as trocas realizadas com a organização, Percepção de Suporte Organizacional POS,
126
influenciam diferentes resultados. Essa conclusão se deu por duas razões: primeiro porque os
pesquisadores encontraram, na análise fatorial confirmatória, a existência de dois fatores que
sustentam ambos os construtos. Segundo porque encontraram padrões distintos de
antecedentes e resultados destes construtos, o que mostra que os empregados distinguem as
diferentes trocas que realizam tanto com seus líderes como com suas organizações.
Para os pesquisadores, a qualidade da troca entre líder e liderado possui um influente
impacto na percepção que o empregado tem do suporte organizacional, indicando que a LMX
exerce um papel-chave nessa percepção organizacional. O der é um representante da
organização, que está em posição hierárquica favorável e tem a delegação e instrumentos
para distribuir recursos aos liderados ou discriminá-los desses recursos, como, por exemplo,
determinar aumentos salariais, incentivo na carreira, entre outros. O oposto também é
verdadeiro, isto é, a POS também pode afetar a qualidade das trocas que o líder estabelece
com seus liderados, à proporção que o líder pode desenvolver altas expectativas em relação ao
seu liderado, o que se denomina de profecia auto-realizadora. Essa alta expectativa
desenvolvida pelo líder é suportada pela organização e as experiências que o liderado
acumulou, nesse sentido, podem alimentar o desenvolvimento de suas habilidades, o que pode
trazer benefícios para o líder.
Masterson, Lewis, Goldman e Taylor (2000) realizaram outro estudo investigando os
vínculos da LMX com a percepção de justiça denominada de procedimento ou processo e de
interação ou ação. Entendem que existe substancial evidência na literatura mostrando que a
percepção de justiça influencia importantes dimensões do comportamento e da atitude dos
empregados dentro das organizações. Apesar disso, não encontraram, na literatura, pesquisas
que mostrassem os mecanismos que suportam tal fenômeno.
Os pesquisadores definiram justiça de procedimento ou de processo como a percepção
que os empregados formam a respeito da justiça evidenciada nos procedimentos formais e nos
127
processos de decisão da organização. Identificaram seis domínios desse tipo justiça: exatidão,
representatividade, supressão do preconceito, ética e correção. Esses domínios são utilizados
pelos empregados na percepção e julgamento da justiça de procedimentos.
As investigações apresentadas e discutidas anteriormente apresentam características
interessantes. A maioria utiliza múltiplos métodos, quantitativo e qualitativo,
simultaneamente, seguida por pesquisas que utilizam somente o método quantitativo. O
questionário foi o tipo de instrumento preferido pelos pesquisadores para a coleta de
informações e os dados coletados foram submetidos a várias técnicas multivariadas. A
entrevista aparece como a segunda forma mais utilizada para obtenção de informações. O
tamanho da amostra varia de 72 a 570 respondentes, demonstrando a extensão da coleta feita
pelos pesquisadores em empresas de naturezas diversas, sendo que hospitais, universidades e
agências do governo são as predominantes.
Os resultados dessas investigações fortalecem a idéia de que a Teoria da Troca entre
Líder e Liderado LMX é um recurso que ajuda a identificar e analisar a qualidade dos
relacionamentos construídos por líderes e liderados e as conseqüências que isso pode trazer
para a dinâmica organizacional. Líder e liderado fazem parte de uma mesma dinâmica, o que
possibilita que ambos se percebam como iguais e interdependentes, possibilitando a criação
de um ambiente de confiança, voltado para o atingimento de metas. O desempenho e o
comprometimento apresentados pelo liderado estão correlacionados com o tratamento, com o
suporte e atenção recebida do líder, diminuindo a ambigüidade e o conflito de papéis. O
tempo de convivência entre ambos foi apontado como um importante fator que influencia a
avaliação do desempenho do liderado. As expectativas do líder de que o liderado apresentará
um bom desempenho se ampliam ao passo que o tempo de convivência entre ambos aumenta.
Questões de diversidade cultural também foram observadas. Equipes homogêneas, em
se tratando de gênero e etnia, apresentaram resultados mais efetivos do que equipes
128
heterogêneas. O mesmo observou-se com líderes estrangeiros e com liderados não-
estrangeiros. O relacionamento interpessoal favorece mais os iguais do que os diferentes, em
termos de expatriação, de alocação de bônus, de promoção na carreira profissional e no
estabelecimento de objetivos. Outros aspectos da diversidade humana também se mostraram
importantes na construção de relacionamento de alta qualidade. Liderados mais extrovertidos
tendem a apresentar maior facilidade de manter relacionamento de alta qualidade do que
liderados mais introvertidos. Por outro lado, líderes que são mais analíticos não dão atenção a
liderados que possuem estilos cognitivos mais intuitivos. A qualidade do relacionamento
também influi na criatividade do liderado e na sua percepção do suporte organizacional que
está à disposição para seu processo de troca com o líder.
129
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O objetivo dessa seção é de apresentar e discutir os procedimentos metodológicos utilizados
na pesquisa. Para tanto, discute-se o método escolhido, descreve-se o processo de elaboração
do instrumento utilizado, assim como o procedimento envolvido na sua tradução. Descreve-
se, ainda, a amostra da pesquisa, os estágios e as técnicas multivariadas usadas na análise dos
dados coletados e, por fim, os pré-testes realizados com o instrumento.
5.1 O método de pesquisa escolhido
Os fenômenos sociais e humanos podem ser estudados utilizando-se, basicamente, de dois
métodos de pesquisa: o método qualitativo e o método quantitativo. Ambos permitem uma
melhor compreensão do fenômeno a ser estudado e podem ser usados separadamente ou de
forma combinada, complementando-se, permitindo ao pesquisador ampliar seu leque de
entendimento sobre o fenômeno em questão (NEWMAN; BENZ, 1998; SILVERMAN,
2001).
Optou-se, neste trabalho, pela utilização do método quantitativo, tendo em vista os
objetivos que se pretendeu alcançar. Por conta disso, passa-se a discorrer a respeito dos
aspectos que caracterizam esse método e que indicam ser ele o mais adequado para o
desenvolvimento da presente investigação.
O método quantitativo de pesquisa é freqüentemente reconhecido por permitir ao
pesquisador testar uma ou mais hipóteses de trabalho. Técnicas estatísticas são empregadas
130
para garantir que se verifique a freqüência com que o fenômeno acontece (NEWMAN;
BENZ, 1998) e também se possam testar hipóteses de trabalho aprofundando o conhecimento
a respeito do relacionamento entre os construtos que estão em estudo.
A partir dos objetivos que se pretende alcançar, é possível classificar a pesquisa
quantitativa como exploratória, descritiva, analítica ou preditiva (MALHOTRA, 2004;
COLLIS; HUSSEY, 2005). A pesquisa exploratória é realizada quando o problema que a
envolve reúne poucas informações oriundas de estudos anteriores. O objetivo, portanto, é
aprofundar o conhecimento pouco explorado anteriormente, procurando padrões, idéias ou
hipóteses que possam ser testadas empiricamente em um momento posterior. Estudos de caso,
observação e análise histórica podem ser considerados técnicas típicas desse tipo de pesquisa
científica. A pesquisa descritiva tem por finalidade descrever, como o próprio nome sugere, o
comportamento dos fenômenos estudados. Lança-se mão desse tipo de pesquisa quando se
pretendem identificar características de uma questão que estão envolvidas em um problema de
pesquisa. Os dados costumam ser tratados sob o enfoque quantitativo e técnicas estatísticas
são empregadas para permitir ao pesquisador resumir as informações coletadas em campo. A
pesquisa analítica ou explanatória pode ser considerada uma continuação da pesquisa
descritiva, na medida em que o pesquisador vai além da identificação das características do
tema estudado. Os dados são usados para permitir a análise e a explicação dos fenômenos
alvo da pesquisa, facilitando o descobrimento das relações causais entre eles. A pesquisa
preditiva avança em relação às demais, porque “oferece uma explicação para o que está
acontecendo em determinada situação” (COLLIS; HUSSEY, 2005, p. 25).
Assume-se, neste trabalho, o enfoque da pesquisa analítica ou explanatória na medida
em que se procurou descrever e mensurar dados da amostra estudada, com a finalidade de
organizar, analisar, interpretar e correlacionar as informações coletadas a respeito do
131
fenômeno. Buscou-se, também, estabelecer relações causais e de interdependência das
variáveis envolvidas no estudo, pela especificação do modelo estrutural adotado.
várias modalidades descritas, na literatura, para pesquisa quantitativa
(KERLINGER; LEE, 2000; MALHOTRA, 2004), destacando-se a pesquisa experimental e o
levantamento. A primeira modalidade tem como um dos seus pressupostos a necessidade do
pesquisador de manipular e controlar as variáveis independentes envolvidas no estudo. Para
tanto, o pesquisador forma grupos experimentais, através dos quais obtém controle dessas
variáveis. Nesse sentido, nem sempre é viável ser usada a modalidade experimental em
pesquisas de cunho social, que se torna quase impossível para o pesquisador “provar a
causalidade” entre as variáveis ou “demonstrá-la de forma conclusiva” (MALHOTRA, 2004,
p.208). A segunda modalidade de pesquisa é o levantamento, que pode ser definido como um
procedimento composto basicamente por perguntas sistematizadas e estruturadas para se
obterem informações junto a determinados respondentes a respeito do fenômeno estudado.
Trata-se de uma modalidade extremamente utilizada por pesquisadores das ciências sociais e
humanas, pelas possibilidades que ela apresenta. Entre elas destaca-se a padronização de
interesses de pesquisa formulados junto a uma grande amostra, assim como permitir maior
simplicidade “na análise e na interpretação dos dados” que foram coletados (MALHOTRA,
2004, p. 179). No caso de o pesquisador adotar essa modalidade de pesquisa, ele poderá
lançar mão de diferentes técnicas e instrumentos de coleta de dados, sendo o mais comum o
questionário, usado na coleta de dados desta pesquisa, cujo detalhamento segue na seção
seguinte. A pesquisa aqui realizada pode ser identificada como um levantamento uma vez que
atendeu os preceitos anteriormente discutidos.
132
5.2 O questionário enquanto instrumento de coleta de dados
Trata-se de um tipo de instrumento muito usado para coleta de dados em pesquisas
quantitativas. Esse instrumento pode ser caracterizado como “uma série de perguntas escritas
sobre um determinado tópico, que deverão ser respondidas por sujeitos que representem a
população a ser estudada” (GODOY, 2007, p. 365). São três os objetivos envolvidos na
elaboração de um instrumento (MALHOTRA, 2004). O primeiro é ser capaz de traduzir os
interesses de pesquisa em um conjunto de assertivas específicas que os respondentes deverão
responder. O segundo é ser capaz de estimular o processo motivacional do respondente, de tal
forma que ele se sinta disposto a cooperar dando informações precisas. O terceiro deve ser
capaz de provocar a menor quantidade de erro na resposta dos respondentes.
Malhotra (2004) informa, ainda, quais diretrizes devem orientar o pesquisador na
construção do questionário. O primeiro passo é especificar o interesse de pesquisa e o
conhecimento prévio da população-alvo onde o pesquisador vai buscar suas respostas. A
população-alvo é que vai determinar a adequação das perguntas que irão compor o
questionário. O segundo passo diz respeito ao método de coleta de dados a ser usado.
várias possibilidades apresentadas, como a entrevista pessoal ou telefônica, questionários
enviados via postal, eletronicamente ou deixados com os respondentes, entrevistas assistidas
por meios eletrônicos, entre outras. Cada método mencionado exige diversos cuidados que o
pesquisador deve tomar a priori. O terceiro passo é verificar a quantidade de perguntas que
deverá ser elaborada na construção do questionário e se essa quantidade é capaz de contribuir
para a compreensão do fenômeno estudado. O pesquisador deverá eliminar do conjunto total
toda pergunta que não conseguir atingir essa finalidade. O quarto passo é garantir que os
respondentes superem possíveis dificuldades em dar as respostas desejadas, por
133
desconhecimento, falta de informação, falta de lembrança sobre o fenômeno, falta de
capacidade de formular suas respostas ou, simplesmente, por não quererem dar a informação
solicitada. O quinto passo é decidir se o questionário será construído com perguntas
estruturadas, que podem ser definidas como capazes de especificar “o conjunto de respostas
alternativas e o formato da resposta... podendo ser de múltipla escolha, dicotômica ou
escalonada” (MALHOTRA, 2004, p. 282) ou, ainda, não-estruturadas. Essas são definidas
como “perguntas abertas, que os entrevistados respondem com suas próprias palavras”
(MALHOTRA, 2004, p. 281). O sexto passo diz respeito ao enunciado de uma questão. Esse
passo deve garantir que o respondente compreenda clara e facilmente o que se pretende com a
questão. O sétimo passo é determinar a ordem das questões do questionário. Deve-se colocar
na abertura do questionário questões que sejam capazes de estimular o interesse do
respondente. As demais devem se suceder a partir do grau de complexidade com que elas se
apresentam para o respondente. O oitavo passo é o cuidado com a reprodução do questionário.
Deve ser feita em papel e formato que dêem ao respondente a dimensão da importância da sua
resposta. O nono passo é o pré-teste do questionário. Esse passo deve ser feito tantas vezes
quantas forem necessárias para garantir ao pesquisador que os passos anteriores alcançaram o
sucesso pretendido.
várias vantagens e desvantagens na utilização do questionário como técnica para
coleta de dados. Uma das vantagens é a possibilidade de acumular grande quantidade de
informações a respeito do fenômeno estudado. Uma das desvantagens está no fato de o
respondente escolher uma das respostas apontadas no instrumento sem que realmente ela
expresse o seu pensamento ou o seu julgamento a respeito. O questionário foi escolhido como
instrumento para a coleta de dados deste trabalho porque permitiu o acesso a uma ampla e
variada amostra, possibilitando acumular percepções a respeito das interações entre líder e
liderado no ambiente organizacional.
134
5.3 Construção do instrumento utilizado neste estudo
Neste trabalho, optou-se por utilizar o instrumento denominado de LMX-MDM, elaborado
por Liden e Maslyn (1998), apresentado e discutido em seção específica. Optou-se pela
utilização desse instrumento para identificar, sob a ótica do liderado, a multidimensionalidade
dos relacionamentos diádicos em organizações localizadas no Brasil. Além das assertivas
características da LMX-MDM, incorporaram-se outras de interesse para o alcance dos
objetivos propostos no trabalho. Esse instrumento pode ser visualizado no Apêndice A.
O instrumento utilizado, neste estudo, ficou constituído de cinco blocos. No primeiro,
coube fazer uma pequena apresentação das intenções do pesquisador e de alguns conceitos
usados, como deixar claro que a pesquisa tinha por objetivo identificar como o respondente
percebe o relacionamento que mantém com seu superior imediato. Definiu-se, nesta pesquisa,
que se entende por superior imediato aquela pessoa a quem o respondente se subordina
hierarquicamente em seu ambiente de trabalho.
O segundo bloco levanta dados demográficos dos respondentes. É composto de alguns
itens que visam a identificar se o respondente está empregado ou não, seu gênero, idade, nível
do seu cargo na estrutura hierárquica, quantas pessoas se reportam ao respondente, caso
possua cargo de gestão, se convive diariamente com seu supervisor, quanto tempo possui de
convivência com seu líder e se essa convivência ajudou na aproximação entre eles.
O terceiro bloco identifica a natureza e o tipo da empresa em que o respondente
trabalha, isto é, se é indústria, prestadora de serviços, comércio ou de outra natureza e se é
empresa privada, pública ou de economia mista. O quarto bloco levanta dados a respeito do
supervisor imediato do respondente, como: nome do cargo que ocupa na empresa e quantas
pessoas se reportam a ele.
135
O quinto bloco engloba as 11 assertivas decorrentes da tradução do questionário
denominado de LMX-MDM, construído por Liden e Maslyn (1998), e as 14 assertivas
elaboradas pelo pesquisador para operacionalizar as variáveis das dimensões Identidade
Social, Autocategorização e Resultados do Trabalho. Também foi incluída 01 assertiva para
que o respondente informasse a respeito da percepção que possui do relacionamento pessoal e
profissional que mantém com seu líder. Ao todo essa parte reúne 26 assertivas. As assertivas
elaboradas pelo pesquisador foram submetidas à crítica de dois professores da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, com a finalidade de validação de conteúdo. O objetivo foi o de
assegurar que elas fossem entendidas de maneira clara, como também visar à manutenção da
coerência entre os itens e a definição conceitual subjacente. O resultado dessa avaliação
permitiu que algumas assertivas fossem eliminadas e que se chegasse ao conjunto que compôs
o instrumento, que pode ser visualizado no Quadro 6.
Quadro 6 – Variáveis e assertivas que compõem o quinto bloco do instrumento
VARIÁVEIS QDE ITENS/ASSERTIVAS
Percepção do
relacionamento
1
Eu e meu supervisor mantemos um excelente relacionamento pessoal e
profissional.
2
Parece que meu supervisor antecipa meus pensamentos.
3
Percebo que meu supervisor e eu possuímos valores pessoais semelhantes.
Identificação 4
Sinto-me profundamente identificado com meu supervisor.
5
Tenho orgulho de pertencer ao mesmo grupo profissional do meu
supervisor na Empresa.
6
Sinto-me valorizado porque eu e meu supervisor trabalhamos no mesmo
grupo.
7
Meus colegas me reconhecem como fazendo parte do grupo do meu
supervisor.
8
Sinto-me reconhecido na empresa pelo fato de me parecer com meu
supervisor.
Autocategorização 9
Percebo que coopero com meu supervisor e com o seu grupo.
10
Sinto que meu supervisor e eu fazemos parte de um grupo coeso.
11
Os demais grupos da empresa pensam duas vezes antes de falar mal do meu
supervisor e do seu grupo na minha frente.
Continua
136
Continuação
VARIÁVEIS QDE ITENS/ASSERTIVAS
12
Sinto-me satisfeito com o trabalho que realizo.
Resultados 13
Minha avaliação de desempenho sempre apresenta bons resultados.
do Trabalho 14
Alcanço sempre 100% das metas que são estabelecidas para mim na
empresa.
15
Na maior parte das vezes eu supero as metas que me são propostas.
16
Eu gosto muito do meu supervisor como pessoa.
LMX - Afeto 17
Meu supervisor é o tipo de pessoa que qualquer um gostaria de ter como
amigo.
18
Meu supervisor é uma pessoa com a qual é agradável trabalhar.
19
O meu supervisor defende minhas ações (atitudes) no trabalho sempre e
sem completo conhecimento das questões que estão envolvidas.
LMX - Lealdade 20
Meu supervisor poderá me defender se eu for “atacado” por outros.
21
Meu supervisor me defenderia perante outros na organização se eu
cometesse um erro sem querer, ou seja, sem ter a intenção.
LMX -
22
O trabalho que faço para meu supervisor vai além do que consta na
descrição do meu cargo.
Contribuição 23
Eu estou disposto a fazer um esforço extra, além daquele normalmente
requerido, para desenvolver o meu grupo de trabalho.
LMX – Respeito
24
Eu estou impressionado com o conhecimento do meu supervisor a respeito
do seu trabalho.
Profissional 25
Eu respeito o conhecimento do meu supervisor e a sua competência no
trabalho.
26
Eu admiro as habilidades profissionais do meu supervisor.
Fonte – As assertivas de 01 a 15 foram elaboradas pelo autor.
As demais foram extraídas de Liden e Maslyn (1998)
Concebidas as assertivas, o pesquisador procurou fazer sua distribuição aleatória,
através de sorteio, no corpo do instrumento. Essa distribuição envolveu tanto as que foram
construídas pelo pesquisador como as que fazem parte do instrumento concebido por Liden e
Maslyn (1998). Procedeu-se, assim, como forma de dificultar uma possível identificação do
bloco das assertivas que correspondem a uma determinada variável.
No quinto bloco, as perguntas estão dispostas no formato Likert, com as possibilidades
de respostas variando de 01 para discordo totalmente até 07 para concordo totalmente. Optou-
se por essa escala para que se pudesse acompanhar a utilizada no instrumento construído por
Liden e Maslyn (1998).
Todos os procedimentos utilizados no pré-teste do instrumento estão apresentados em
seção posterior.
137
5.4 Tradução dos itens que fazem parte da LMX-MDM
Como o instrumento concebido por Liden e Maslyn (1998) foi elaborado originalmente em
inglês, ele foi traduzido para o português, lançando-se mão da Técnica da Tradução Reversa,
conforme descrita por Hurtado e Weidmer (2004). Essa técnica possibilitou ao pesquisador
certificar-se de que o conteúdo do instrumento fosse mantido como o concebido pelos seus
criadores.
Essa tradução obedeceu ao seguinte procedimento: a) o instrumento original em inglês
foi vertido para o português pelo pesquisador; b) a versão em português foi traduzida para o
inglês por um nativo da língua inglesa; c) a versão produzida pelo nativo da língua inglesa foi
vertida novamente para o português e, finalmente, d) foi comparada com a tradução original
feita pelo pesquisador.
A técnica foi utilizada pelo pesquisador em dois momentos diferentes. O primeiro
momento foi quando da realização do pré-teste do instrumento. Observou-se, pela análise dos
resultados cuja apresentação e discussão serão feitas posteriormente, a necessidade de revisar,
semanticamente, algumas assertivas, tendo em vista a duplicidade de entendimento da
tradução realizada. Isso levou o pesquisador a usar a técnica novamente, isto é, proceder a
uma segunda tradução reversa, antes da aplicação do teste final. Somente as variáveis
apresentadas no Quadro 7 necessitaram de reformulação para a composição do instrumento
final, sendo que as demais permaneceram as mesmas. O resultado final dessa tradução pode
ser visualizado no Quadro 6, apresentado e discutido anteriormente.
138
Quadro 7 – Variáveis submetidas à tradução reversa
CONSTRUTOS ASSERTIVAS
LMX - Afeto
Eu realmente gosto do meu supervisor como pessoa.
Eu gosto muito do meu supervisor como pessoa.
Meu supervisor é uma pessoa com a qual é agradável trabalhar.
O meu supervisor é muito engraçado no trabalho.
LMX - Lealdade
Meu supervisor me defenderia perante outros na organização se eu cometesse
um erro sem querer, ou seja, sem ter a intenção.
Meu supervisor me defenderia perante outros na organização se eu cometesse
um erro honesto (inocente).
Fonte: Elaborado pelo autor
Legenda: Estão grafadas em azul as assertivas da segunda tradução.
As grafadas em vermelho são da primeira tradução.
5.5 Amostra da pesquisa
A amostra da pesquisa é de caráter não-probabilístico e por conveniência (MALHOTRA,
2004). É composta por alunos de graduação e de pós-graduação lacto senso de duas
Universidades localizadas na cidade de São Paulo. Os requisitos exigidos dos participantes
eram de que deveriam estar empregados, tanto em empresas de economia privada,
independentemente da natureza da empresa, como em empresas de econômica pública ou
mista. Ao todo foram envolvidas 390 pessoas que preencheram esses requisitos, sendo que
255 atenderam aos requisitos para compor a amostra final. O perfil dos respondentes será
apresentado e discutido posteriormente.
O fato de os respondentes pertencerem a empresas de várias naturezas apresenta
vantagens para a compreensão do fenômeno estudado. Uma vantagem observada é a
possibilidade de uma análise mais diversificada dos dados. A decisão de se optar por uma
amostra heterogênea, formada por conveniência, está amparada por pesquisas realizadas por
Stamper e Masterson (2002) e Somech (2003).
139
5.6 Considerações teóricas sobre a utilização de técnicas multivariadas
Como o estudo utiliza técnicas estatísticas multivariadas, optou-se por apresentar um item
destinado à sua discussão. Além de informações gerais sobre tais cnicas, também se
apresentam os cuidados a serem tomados com o banco de dados.
5.6.1 Informações gerais
As técnicas computacionais disponíveis permitem avanços significativos na análise de dados
oriundos das ciências sociais aplicadas, como a psicologia, sociologia e outras ciências
interessadas na compreensão do comportamento humano. Esses avanços representam a
possibilidade de se trabalhar com um número bastante amplo de dados, sejam dados
complexos ou não. Isso quer dizer que qualquer problema de pesquisa pode ser analisado
através de programas estatísticos, disponíveis em computadores pessoais.
Segundo Hair Jr. et al. (2005, p. 25), “limitações metodológicas não são mais uma
preocupação crucial para o teórico que se esforça por apoio empírico”, à medida que os
progressos computacionais têm permitido que se desenvolvam habilidades na manipulação de
dados.
A análise multivariada representa esse progresso e avanço computacional, que ela
permite que se utilizem simultaneamente várias técnicas estatísticas, que apresentam múltiplas
medidas sobre pessoas ou objetos de investigação. Ela envolve “um conjunto de técnicas para
análise de dados que está sempre em expansão” (HAIR JR. et al., 2005, p.32). Ainda segundo
esse autor, o pesquisador deve formular três perguntas que o ajudarão no julgamento que
140
deverá fazer sobre o objetivo da pesquisa e a natureza dos dados que possui. A primeira
pergunta refere-se ao fato de as variáveis poderem ser divididas em dependentes e
independentes, com base em alguma teoria. A segunda pergunta diz respeito à quantidade de
variáveis que devem ser tratadas como dependentes e, a terceira, como são medidas as
variáveis, sejam elas dependentes ou independentes. A resposta que o pesquisador der a cada
uma dessas perguntas é que vai determinar a escolha da técnica que ele deve utilizar.
No caso de interdependência de variáveis, lembram Hair Jr. et al. (2005) que não é
possível determinar se elas são dependentes ou independentes, mas elas devem ser analisadas
para se encontrar uma estrutura subjacente ao conjunto de variáveis envolvidas no fenômeno
objeto de estudo.
Como visto, apesar de o pesquisador ter à sua disposição inúmeras possibilidades para
análise de seus dados de pesquisa, ele deve escolher a técnica multivariada com muita
atenção, tomando alguns dos cuidados apontados a seguir.
5.6.2 Preparação para uma análise multivariada
Como comentado anteriormente, a análise multivariada abre um leque de possibilidades para
que o pesquisador organize, avalie, interprete e compreenda os dados de sua pesquisa, sejam
eles complexos ou não, muitos ou poucos. Um dos primeiros passos para que a análise
multivariada ocorra é a análise do banco de dados. Esse é um passo que consome tempo do
pesquisador, mas totalmente necessário para que se consiga uma boa previsão e uma
avaliação mais precisa da dimensionalidade dos dados. Esse passo envolve o exame gráfico
141
dos dados, a análise dos dados perdidos (missings), a identificação de pontos fora da curva
(outliers) e testes de suposições.
Os programas computacionais têm facilitado o acesso ao exame gráfico dos dados,
principalmente quando o pesquisador se utiliza de análises multivariadas. Os softwares
estatísticos disponibilizam várias possibilidades gráficas, como é o caso do histograma, do
diagrama de dispersão e o gráfico de caixas. Trata-se de gráficos pictóricos da distribuição
dos dados. Segundo Hair Jr. et al. (2005), quanto mais representativas forem as informações
fornecidas pelo gráfico de caixas, maior a dispersão das observações, permitindo, entre outras
possibilidades, a identificação de outliers.
Outro passo importante é identificar os dados perdidos (missings). Segundo Hair Jr. et
al. (2005), dados perdidos são uma realidade em análises multivariadas. A questão por ele
levantada não é evitar que tais fatos ocorram, mas determinar até que ponto os dados perdidos
interferem ou afetam a generalidade dos dados. Preocupar-se com o porquê isso ocorre deve
ser uma atitude constante do pesquisador. Pode-se chamar de dado perdido todo e qualquer
evento sistemático externo ao respondente ou ação por parte do respondente que conduz a
valores perdidos” (HAIR JR. et al., 2005, p.57).
Depois de determinadas as razões pelas quais os dados foram perdidos, o pesquisador
deve escolher o tratamento corretivo adequado para lidar com eles. Um primeiro tratamento
corretivo é a utilização dos dados considerados completos. Outro tratamento é simplesmente
eliminar os casos ou as variáveis que apresentam dados perdidos. Outro tratamento é o
método de atribuição. “Atribuição é o processo de estimação de valores perdidos com base em
valores válidos de outras variáveis e/ou casos na amostra” (HAIR JR. et al., 2005, p.61).
Também várias maneiras de o pesquisador substituir dados perdidos em sua
amostra. A primeira dá-se através das características de distribuição. Na verdade, esse método
não substitui dados perdidos, antes atribui, a partir de valores válidos disponíveis,
142
características de distribuição, como médias ou desvios-padrão, entre outros, às variáveis e/ou
casos que contenham dados perdidos.
No caso da substituição propriamente dita de dados perdidos, o pesquisador pode
lançar mão de várias possibilidades. Pode substituir por um caso ou por uma observação
escolhida fora da amostra; substituir pela média ou trocar o valor perdido pelo valor médio de
uma variável presente na amostra; atribuição por carta marcada, que é a substituição dos
valores perdidos por um valor constante obtido, por exemplo, em pesquisas anteriores;
substituir por atribuição e por regressão, que é usada para prever valores perdidos de uma
variável com base na sua relação com as demais variáveis; a substituição por atribuição
múltipla, que é uma combinação de vários métodos anteriormente apresentados.
Outro passo importante diz respeito à identificação de casos fora da curva (outliers).
Esses casos, por natureza, apresentam distorções em relação à tendência de respostas
coletadas na amostra total. Hair Jr. et al. (2005) informam que são muitas as razões que
justificam a presença de outliers nos dados. Podem surgir por erro de procedimento, por
apresentar valores únicos, apesar de estarem dentro da média de uma determinada variável ou,
ainda, por possuir observações ou respondentes que sejam únicos dentro da amostra total.
O pesquisador tem à sua disposição várias possibilidades para detectar a presença de
outliers dentro da amostra, seja na realização de uma pesquisa univariada, bivariada ou
multivariada. Nesse caso, o pesquisador deve fazer uma avaliação de cada observação por
meio de um conjunto de variáveis. De todo caso, o pesquisador deve preocupar-se com a
identificação dos outliers a fim de que eles não prejudiquem o tratamento estatístico dos seus
dados.
O último passo no exame dos dados para a utilização da análise multivariada é o teste
das suposições estatísticas. Duas razões impõem-se: a primeira diz respeito à complexidade e
ao tamanho dos dados envolvidos na análise. Nesse caso, algumas suposições são violadas e
143
alguns vieses tendem a estar presentes; a segunda diz respeito à complexidade da análise dos
resultados. Essa complexidade pode mascarar os sinais de violações de suposições.
O pressuposto fundamental a ser considerado nas suposições estatísticas é a
normalidade, “a qual se refere à forma da distribuição de dados para uma variável métrica
individual e sua correspondente com a distribuição normal” (HAIR JR. et al., 2005, p.76).
Esse pressuposto de normalidade multivariada tem como base a idéia de que as variáveis
possuem normalidade na sua dimensão univariada, apesar de que o oposto não é verdadeiro,
segundo esse autor.
Com o teste da homoscedasticidade, o pesquisador pode verificar as relações de
dependência entre as variáveis. Esse teste tem como premissa a idéia de que as variáveis
dependentes possuem níveis iguais de variância através do leque de variáveis independentes
ou preditoras. Nesse caso, “a homoscedasticidade é desejável porque a variância da variável
dependente sendo explicada na relação de dependência não deveria concentrar apenas em um
domínio limitado dos valores independentes” (HAIR JR. et al., 2005, p. 78).
Outro teste que deve ser realizado pelo pesquisador é o de linearidade. Trata-se da
suposição de que medidas correlacionais de associação possuem associação linear entre as
variáveis (HAIR JR. et al., 2005). Os efeitos da não-linearidade podem ser observados
visualmente nos gráficos que apresentam os diagramas de dispersão das variáveis. A não-
linearidade representa uma subestimação da força real de predição da variável.
No caso do estudo aqui apresentado, todos esses cuidados foram observados quando
da análise do banco de dados utilizado durante os dois pré-testes e na aplicação do
instrumento definitivo, o que é descrito nos próximos itens.
144
5.7 Pré-teste do instrumento
Como visto anteriormente, o pesquisador deve submeter o instrumento a tantos testes quantos
forem necessários, a fim de garantir que ele atenda aos interesses da pesquisa. No caso deste
estudo, foram realizados dois pré-testes, cujos procedimentos e resultados são apresentados e
discutidos a seguir.
5.7.1 O primeiro pré-teste
O primeiro instrumento construído foi aplicado junto a alunos de graduação e de pós-
graduação lato sensu em negócios de uma grande universidade situada na cidade de São
Paulo.
No caso dos alunos de pós-graduação, o preenchimento do instrumento deu-se fora da
sala de aula, tendo em vista que sua aplicação implicaria no uso de um tempo indisponível
pelo programa. Portanto, o pesquisador disponibilizou 120 instrumentos ao coordenador do
programa que se responsabilizou em distribuí-los aos alunos, para que esses respondessem e
devolvessem o instrumento na semana seguinte à sua entrega. O pesquisador tomou o cuidado
de orientar o coordenador quanto às questões vitais que deveriam ser repassadas aos
respondentes. Dos 120 instrumentos disponibilizados aos alunos de pós-graduação somente
50 foram devolvidos e, desses, 40 em condições de serem utilizados. Cinco estavam com
dados incompletos e 05 foram preenchidos por respondentes que não atendiam aos requisitos
básicos concebidos.
145
O mesmo procedimento foi adotado para os alunos de graduação. O pesquisador
distribuiu pessoalmente 90 instrumentos para os alunos de graduação, forneceu as instruções e
os cuidados que eles deveriam tomar e recebeu os instrumentos respondidos na semana
seguinte à entrega. Desses 90 instrumentos, somente 60 foram devolvidos e desses, 56
atendiam às expectativas da pesquisa. Os instrumentos que foram descartados estavam com
campos importantes não preenchidos, como, por exemplo, se estavam trabalhando ou não, ou
foram respondidos visivelmente de forma aleatória, sem discriminação das assertivas, como,
por exemplo, pontuando as respostas numa única coluna do instrumento.
Ao final, o pesquisador reuniu no pré-teste 96 instrumentos que atendiam às
expectativas da pesquisa. Esses instrumentos foram submetidos à análise multivariada, através
da utilização do software Statistical Package for the Social Sciences SPSS, versão 11.0, e
apresentaram os resultados dispostos a seguir.
5.7.2 Análise estatística do primeiro pré-teste e reformulação do instrumento
Os dados coletados foram submetidos às análises de normalidade das variáveis e elas
apresentaram distribuição próxima da normalidade. Optou-se por realizar essa verificação
através do gráfico de probabilidade normal e não através da análise visual do histograma. A
finalidade desse gráfico é “comparar a distribuição cumulativa dos valores obtidos na coleta
de dados, com a distribuição cumulativa de uma distribuição normal” (HAIR JR. et al., 2005,
p.77). Nesse caso, a análise das variáveis não apresentou assimetria normal de todas as
variáveis (Teste de Kolmogorov-Smirnov).
146
Apesar do teste de adequação da amostra ter sido capaz de indicar certo grau de
intercorrelações entre as variáveis, conforme Hair Jr. et al. (2005), decidiu-se submeter os
dados à Análise Fatorial Exploratória, por Componentes Principais, com extração varimax.
Optou-se por não forçar a extração de fatores e determinar o número de fatores a serem
considerados pela porcentagem da variância (MALHOTRA, 2004), tendo em vista que
construtos novos estavam sendo inseridos e por se desejar identificar em quantos
agrupamentos seriam realizados. Os resultados dessa análise indicaram que as variáveis
apresentaram carga fatorial em 09 fatores. O esperado era que as variáveis se agrupassem em
07 fatores, o que corresponderia aos construtos que essas variáveis representam. Por essa
razão, deixou-se de apresentar a matriz das cargas fatoriais encontradas. Os 09 fatores
encontrados explicam 73.9% da variância total, conforme Tabela 1, apresentando índices
adequados de comunalidades (acima de 0.50) e um KMO de 0.844.
Tabela 1 – Total da variância explicada do primeiro pré-teste (solução não-rotacionada)
Fatores % da Variância % Cumulativo da Variância
1 39,124 39,124
2 6,141 45,265
3 5,858 51,123
4 4,641 55,764
5 4,281 60,045
6 3,922 63,966
7 3,684 67,650
8 3,313 70,964
9 2,933 73,896
Fonte: Elaborada pelo autor
A dispersão das variáveis (09 e não 07 fatores) levantou a suspeita de que os
respondentes não foram capazes de discriminar os construtos, talvez por uma deficiência da
tradução reversa ou na validade de conteúdo que foram realizadas. Decidiu-se, então,
147
proceder a uma revisão da tradução reversa das assertivas da LMX. Percebeu-se, nessa
revisão, que algumas delas eram difíceis de serem interpretadas pelos respondentes por
indicarem duplo sentido conceitual. A providência tomada foi a realização de uma segunda
tradução reversa, procedimento apresentado e discutido anteriormente, como também a uma
nova validade de conteúdo, no mesmo molde da que foi realizada anteriormente. O
instrumento foi, então, reformulado mantendo os mesmos campos para a coleta de dados
demográficos, o mesmo número de assertivas relativas às variáveis de Identificação e
Autocategorização e as assertivas da LMX, inclusive as que foram submetidas às novas
traduções reversas. Na segunda versão do instrumento, as assertivas foram redigidas conforme
apresentadas anteriormente no Quadro 7 que compõem o item 5.4 deste trabalho.
Tomadas essas providências, passou-se a uma nova aplicação do instrumento e novo
tratamento estatístico.
5.8 O segundo pré-teste
A segunda versão do instrumento foi aplicada a 120 respondentes, formados por alunos de
graduação de outra universidade de negócios localizada na cidade de o Paulo. Todos os
respondentes encontravam-se empregados. Todos os instrumentos coletados atendiam às
exigências básicas estabelecidas neste trabalho.
A aplicação foi realizada pelo próprio pesquisador, durante o período de aula. Os
respondentes receberam as mesmas instruções previstas e discutidas anteriormente e o
instrumento foi recebido ao término do seu preenchimento. A análise dos resultados é
apresentada e discutida no próximo item.
148
5.8.1 Análise estatística do segundo pré-teste
Para a análise do banco de dados, procedeu-se ao exame visual do histograma e o mesmo
indicou que as variáveis apresentavam certa normalidade na distribuição dos dados (Teste de
Kolmogorov-Smirnov). Acredita-se que total normalidade é difícil de ser encontrada em
pesquisas das ciências sociais, à medida que o pesquisador não é capaz de controlar todas as
variáveis que interferem no fenômeno estudado. Acredita-se, ainda, que tal fato ocorreu
porque a escala que foi utilizada no instrumento é do tipo ordinal, assumida, neste trabalho,
como métrica. Tal é possível, tendo em vista tratar-se de uma escala com mais de 05 pontos,
segundo informam Hair Jr. et al. (2005).
Outro passo na análise dos dados foi a identificação de missing value. Como a amostra
pesquisada apresentou pequena quantidade de missings, resolveu-se, então, repô-los pela
média, conforme sugerem Hair Jr. et al. (2005). Esses dados estão apresentados na Tabela 2.
Tabela 2 – Missing value do segundo pré-teste
Variáveis N
o
de dado faltante Casos válidos %
ID 1_2
1 120
0,01
AC 1_3
0 120
0,00
RT 1_4
0 120
0,00
XAF 1_5
0 120
0,00
XLE 1_6
1 120
0,01
XCO 1_7
0 120
0,00
XRE 1_8
0 120
0,00
ID 2_9
0 120
0,00
AC 2_10
2 120
0,02
RT 2_11
3 120
0,03
XAF 2_12
0 120
0,00
XLE 2_13
1 120
0,01
XCO 2_14
0 120
0,00
XRE 2_15
1 120
0,01
Continua
149
Continuação
Variáveis No de dado faltante Casos válidos %
ID 3_16
1 120
0,01
AC 3_17
0 120
0,00
RT 3_18
0 120
0,00
XAF 3_19
0 120
0,00
XLE 3_20
1 120
0,01
XRE 3_21
1 120
0,01
ID 4_22
0 120
0,00
AC 4_23
0 120
0,00
RT 4_24
0 120
0,00
ID 5_25
2 120
0,02
AC 5_26
1 120
0,01
Fonte: Elaborada pelo autor
A análise dos outliers indicou a presença de oito respondentes que polarizaram suas
respostas, isto é, os respondentes escolheram um dos pesos da escala e descarregaram neles a
sua escolha. Os dados referentes a esses respondentes foram excluídos do banco de dados.
Ficou-se, então, com 112 instrumentos para a realização do segundo pré-teste.
Foi realizada uma análise fatorial exploratória com os dados do segundo pré-teste,
observando-se os pressupostos indicados por Hair Jr. et al. (2005) para a realização e
aplicação dessa cnica estatística. Optou-se por determinar o mero de fatores a serem
extraído pela análise da percentagem de variância (MALHOTRA, 2004).
A análise fatorial foi realizada considerando-se o método de componentes principais,
com rotação varimax e com engenvalues > que 1,0. Esse último procedimento foi possível
tendo em vista que estão envolvidas mais de 20 variáveis no estudo em questão (SHARMA,
1996). Os resultados indicaram um agrupamento das variáveis em seis fatores, conforme
podem ser mais bem observados na Tabela 3.
150
Tabela 3 – Análise fatorial exploratória do segundo pré-teste
NOME DOS CARGAS FATORIAIS
COMUNALIDADES
FATORES 1 2 3 4 5 6
Eu gosto muito do meu supervisor como pessoa.
0,795
0,740
Parece que meu supervisor antecipa meus
pensamentos.
0,718
0,573
Meu supervisor é uma pessoa com a qual é
agradável trabalhar.
0,716
0,679
Sinto-me profundamente identificado com meu
supervisor.
0,709
0,717
Eu respeito o conhecimento do meu supervisor e
a sua competência no trabalho.
0,705
0,691
Meu supervisor é o tipo de pessoa que qualquer
um gostaria de ter como amigo.
0,676
0,682
Eu admiro as habilidades profissionais do meu
supervisor.
0,665
0,661
Eu estou impressionado com o conhecimento do
meu supervisor a respeito do seu trabalho.
0,630
0,572
Percebo que meu supervisor antecipa meus
pensamentos.
0,579
0,651
Tenho orgulho de pertencer ao mesmo grupo
profissional do meu supervisor na Empresa.
0,562
0,744
Sinto-me reconhecido na empresa pelo fato de me
parecer com meu supervisor.
0,723
0,687
Sinto-me valorizado porque eu e meu supervisor
trabalhamos no mesmo grupo.
0,638
0,671
Meus colegas me reconhecem como fazendo
parte do grupo do meu supervisor.
0,561
0,547
Sinto que meu supervisor e eu fazemos parte de
um grupo coeso.
0,439
0,662
Meu supervisor me defenderia perante outros na
organização se eu cometesse um erro sem querer,
ou seja, sem ter a intenção.
0,754
0,757
O meu supervisor defende minhas ações
(atitudes) no trabalho sempre e sem completo
conhecimento das questões que estão envolvidas.
0,734
0,593
Meu supervisor poderá me defender se eu for
“atacado” por outros.
0,716
0,728
Os demais grupos da empresa pensam duas vezes
antes de falar mal do meu supervisor e do seu
grupo na minha frente.
0,547
0,654
Alcanço sempre 100% das metas que são
estabelecidas para mim na empresa.
0,856
0,762
Na maior parte das vezes eu supero as metas que
me são propostas.
0,847
0,791
Minha avaliação de desempenho sempre
apresenta bons resultados.
0,702
0,668
Eu estou disposto a fazer um esforço extra, além
daquele normalmente requerido, para desenvolver
o meu grupo de trabalho.
0,753
0,702
Sinto-me satisfeito com o trabalho que realizo.
0,609
0,703
Percebo que coopero com meu supervisor e com o
seu grupo.
0,564
0,639
O trabalho que faço para meu supervisor vai além
do que consta na descrição do meu cargo.
0,822
0,703
Variância explicada 38,4% 9,9% 5,9% 5,1% 4,5% 4,1%
-
KMO
0.88 - - - - -
-
Alfa de Cronbach 0.92 0.77 0.80 0.78 0.59 -
-
Fonte: Elaborada pelo autor
151
Pode-se constatar, na Tabela 3, que os seis fatores explicam 67.9% da variância total,
acima do mínimo recomendável que é de 0.60 (MALHOTRA, 2004). O primeiro fator explica
38.4% da variância total, o segundo 9.9%, o terceiro 5.9%, o quarto 5.1%, o quinto 4.5% e o
sexto 4.1%. O KMO encontrado foi de 0.88 e todas as variáveis apresentaram comunalidades
acima de 0.50. Todos os fatores apresentaram Alfa de Cronbach acima de 0.77, exceto o
quinto fator que apresentou índice de 0.59. Como foi dito anteriormente, o limite mínimo que
um fator pode obter em termos de índice de confiabilidade (Alfa de Cronbach) é de 0.70.
Contudo, em casos de pesquisas exploratórias é possível aceitar-se índice de 0.60 para (HAIR
JR. et al., 2005). Como esta pesquisa é de caráter exploratório, resolveu-se dar continuidade
da análise tendo em vista que o índice alcançado pelo quinto fator foi de 0.59, portanto, muito
próximo do limite mínimo de 0.60.
O primeiro fator agrupou todas as variáveis da dimensão Afeto da LMX, quatro
variáveis da dimensão Identidade Social e todas as variáveis da dimensão Respeito
Profissional da LMX. Esse fator apresentou um Alfa de Cronbach de 0.92. O agrupamento
dessas variáveis faz sentido, visto que Afeto para a LMX significa assumir publicamente o
apoio dado ao líder, reforçado pelas variáveis de Respeito Profissional, que indicam o
reconhecimento do liderado relativamente à competência e habilidade demonstradas pelo
líder. As variáveis de Identidade Social denotam que o liderado reconhece no líder valores
pessoais ou profissionais e procura identificar-se com eles.
O segundo fator agrupou uma variável da dimensão Identidade Social,
especificamente aquela que indica o sentimento de valorização sentida pelo liderado por
pertencer ao grupo do líder e três variáveis de Autocategorização. Faz sentido esse
agrupamento, na medida em que essas variáveis indicam o sentimento de reconhecimento
público que os respondentes sentem em pertencer ao grupo próximo do líder. Esse fator
apresentou um Alfa de Cronbach de 0.77.
152
O terceiro fator agrupou todas as variáveis da dimensão Lealdade da LMX e uma
variável da dimensão Autocategorização, especificamente aquela em que os respondentes
reconhecem que as demais pessoas da empresa não se sentem à vontade de falar mal do seu
líder perto deles. Esse agrupamento faz sentido porque fidelidade publicamente assumida para
com o líder é reconhecida pelas demais pessoas da organização. Esse fator apresentou um alfa
de Cronbach de 0.80.
O quarto fator agrupou três variáveis da dimensão Resultados de Trabalho e
apresentou um Alfa de Cronbach de 0.78. Essas variáveis procuram demonstrar o quanto o
respondente se percebe produtivo e desempenhando a contento as atividades que lhe são
confiadas e o quanto eles se percebem atingindo metas e desafios que deles são esperados.
O quinto fator agrupou uma variável da dimensão Contribuição da LMX, uma variável
da dimensão Resultados do Trabalho e uma variável da dimensão Autocategorização. Faz
muito sentido esse agrupamento, tendo em vista que todas essas variáveis denotam a
percepção do respondente quanto a sentir-se satisfeito com o trabalho que realiza e sentir-se
cooperando com o líder no tocante ao esforço extra que estão dispostos a fazer para o
cumprimento de metas. Esse fator apresentou um Alfa de Cronbach de 0.59. Segundo Hair Jr.
et al. (2005), essa medida varia de 0 a 1, sendo que os valores mínimos aceitáveis devem estar
entre 0.60 a 0.70, como visto anteriormente. Como será visto e comentado posteriormente, a
dimensão Contribuição da LMX não se mostrou suficientemente adequada, nas diversas
análises feitas, no tocante à consistência interna, o que levou à adoção de algumas medidas, as
quais serão apresentadas e discutidas em itens posteriores.
O sexto fator apresentou somente uma variável da dimensão Contribuição da LMX,
especificamente aquela que denota o quanto o respondente está disposto a realizar tarefas que
vão além das previstas em sua descrição de cargo. O esperado era que essa variável se
agrupasse às demais que compõem o quinto fator. Não foi possível obter o Alfa de Cronbach
153
desse fator, tendo em vista o isolamento dessa variável. Providências foram adotadas, as quais
serão apresentadas e comentadas posteriormente, no tocante a essa única variável do sexto
fator.
Tendo em vista os resultados obtidos com essa análise fatorial exploratória, decidiu-se
manter a segunda versão do instrumento como definitiva e suficientemente adequada, para a
coleta final de dados. Em função disso, resolveu-se incorporar aos dados finais os dados do
segundo pré-teste.
5.9 Aplicação do instrumento definitivo
O instrumento final foi distribuído a 230 alunos de s-graduação de uma universidade de
negócios situada na cidade de São Paulo. O pesquisador forneceu os instrumentos ao
professor da sala, orientando-o a respeito dos cuidados quanto à aplicação e ele os submeteu
aos alunos, pedindo que respondessem o instrumento e que o devolvessem na aula seguinte.
Dos 230 instrumentos entregues somente 143 retornaram devidamente preenchidos e todos
atenderam aos requisitos básicos exigidos pelo pesquisador.
Ao todo, reunindo os resultados do segundo pré-teste (112) e os resultados do teste
final (143), o pesquisador conseguiu 255 instrumentos válidos.
5.10 Estágios e técnicas utilizadas na análise dos dados
Com a finalidade de se verificarem os relacionamentos entre os construtos envolvidos neste
trabalho, conforme apresentado e discutido anteriormente, optou-se por utilizar técnicas
154
multivariadas a serem aplicadas em estágios distintos. A aplicação de múltiplas técnicas
estatísticas permite mensurar, analisar, explicar as correlações e dependências existentes entre
os dados que compõem a presente pesquisa.
Os estágios e as técnicas multivariadas a serem utilizadas podem ser visualizados na
Figura 3. Essa figura está apresentada de forma sintética, tendo em conta que não foram
relacionados todos os procedimentos estatísticos realizados em cada técnica.
155
Segundo estágio – Análises estatísticas com outras variáveis do estudo
Terceiro estágio – Modelo alternativo à LMX
Primeiro estágio As dimensões propostas se agrupam?
Dimensões da LMX:
Afeto, Lealdade,
Respeito Profissional
e Contribuição
Identidade
Social
Auto-
categorização
Resultados
do trabalho
Análise Fatorial
Figura 3 – Estágios e técnicas estatísticas utilizadas
Fonte: Elaborada pelo autor
Gênero
Convivência
diária e o
Tempo de
convivência
Percepção da
qualidade da
convivência
Natureza da
empresa
Análises
Estatísticas
Regressão
Múltipla
Teste U
Mann-Whitney
Análise
Fatorial
Análise
Discriminante
Modelagem Estrutural
PLS e LISREL
Afeto
Lealdade
Auto-
Categorização +
Identidade
Social +
Respeito
Profissional
Segundo estágio – Análises estatísticas com outras variáveis do estudo
Terceiro estágio – Modelo alternativo à LMX
Primeiro estágio As dimensões propostas se agrupam?
Dimensões da LMX:
Afeto, Lealdade,
Respeito Profissional
e Contribuição
Identidade
Social
Auto-
categorização
Resultados
do trabalho
Análise Fatorial
Dimensões da LMX:
Afeto, Lealdade,
Respeito Profissional
e Contribuição
Identidade
Social
Auto-
categorização
Resultados
do trabalho
Análise Fatorial
Figura 3 – Estágios e técnicas estatísticas utilizadas
Fonte: Elaborada pelo autor
Gênero
Convivência
diária e o
Tempo de
convivência
Percepção da
qualidade da
convivência
Natureza da
empresa
Análises
Estatísticas
Regressão
Múltipla
Teste U
Mann-Whitney
Análise
Fatorial
Análise
Discriminante
Gênero
Convivência
diária e o
Tempo de
convivência
Percepção da
qualidade da
convivência
Natureza da
empresa
Análises
Estatísticas
Regressão
Múltipla
Teste U
Mann-Whitney
Análise
Fatorial
Análise
Discriminante
Modelagem Estrutural
PLS e LISREL
Afeto
Lealdade
Auto-
Categorização +
Identidade
Social +
Respeito
Profissional
Afeto
Lealdade
Auto-
Categorização +
Identidade
Social +
Respeito
Profissional
156
6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Essa seção tem por objetivo apresentar e discutir os resultados que foram obtidos com o
tratamento estatístico dos dados. As técnicas foram utilizadas com a finalidade de se testarem
ou não as hipóteses concebidas a partir dos objetivos específicos que constituem o quadro
metodológico deste trabalho. Para tanto, elaborou-se o Quadro 8. Nesse Quadro, é possível
visualizar, a partir do objetivo geral, os objetivos específicos, as respectivas hipóteses e as
técnicas estatísticas utilizadas.
Nesse sentido, a seção apresenta e discute os dados demográficos dos respondentes, as
análises fatoriais realizadas, as técnicas de dependência entre variáveis e, por último, a
modelagem de equação estrutural. A seqüência da utilização dessas técnicas multivariadas
seguiu um planejamento prévio e foi realizada em estágios, os quais foram apresentados e
discutidos anteriormente.
6.1 Apresentação e discussão dos dados demográficos dos respondentes
A amostra que compôs este trabalho está apresentada nas Tabelas 4, 5, 6 e
157
Quadro 8 Demonstração dos objetivos, hipóteses e técnicas estasticas.
estrutural Lisrel e
PLSalternativo para a LMX-MDM
Análise de
equação
9. Há um modelo alternativo para a LMX-
MDM.8. Explorar a possibilidade de um modelo
MDM.
Múltipla
líder, pode ser predito pelas quatro dimensões
da LMX-pelas dimensões da LMX-MDM.
Análise de
Regressão
e profissional que o liderado acredita ter para
com seu
relacionamento entre der-liderado pode
ser predito
8. A percepção da excencia do
relacionamento pessoal
7. Verificar se a percepção da excelência
do
na construção do relacionamento com o líder.com seu líder.
Teste U Mann
Whitney
7. O tempo de convivência do liderado com o
líder interfere
liderado quanto ao relacionamento que
manm
Análise
Discriminante
líder ajuda na construção do relacionamento
com o líder.
com o líder é capaz de discriminar a
percepção do
6. A p-disposão perceptiva do liderado em
relação ao
6. Discutir se o tempo de convivência
dria do liderado
empresas públicas ou de economia mista.
diferentemente de respondentes de
empresas mistasorganizações brasileiras.
Análise Fatorial
relacionamento com o líder diferentemente de
liderados depercebem o relacionamento der-liderado
dos liderados que
trabalham em
5. Liderados de empresas privadas percebem o
5. Verificar se respondentes de empresas
privadas
entre der-liderado, sob
a ótica
sob a ótica do liderado.
Identificar e analisar a
interação
Análise Fatoriallíder - liderado.
percepção do relacionamento entre líder-
liderado,
4. O gênero interfere na perceão do
relacionamento
4. Verificar se o gênero do respondente
interfere na
respeito dos resultados do seu trabalho.
são preditoras da percepção dos resultados do
seu trabalho.
da LMX-MDM com a perceão do
liderado a
Respeito Profissional, Lealdade, Afeto e
Contribuição
3. Examinar qual a correlação das
dimenes
3. As dimensões da Autocategorização,
Identidade Social,por líder-liderado, sob a ótica do liderado;
Análise Fatorialcorrelacionam-se positivamente.
correlacionam na formação da ade
composta
Respeito Profissional, Lealdade, Afeto e
Contribuiçãoe da Teoria da Autocategorização se
2. As dimensões Autocategorizão,
Identidade Social,
2. Identificar se os pressupostos da Teoria
da Identidade Social, da LMX-MDM
amostra pesquisada.
LMX-MDM se apresentam na amostra
pesquisada
Análise Fatorial
1. As dimensões da LMX-MDM apresentam-
se na1. Examinar se as dimensões propostas na
Técnicas
utilizadasHipótesesObjetivos específicosObjetivo Geral
Fonte: Elaborado pelo autor
Quadro 8 Demonstração dos objetivos, hipóteses e técnicas estasticas.
estrutural Lisrel e
PLSalternativo para a LMX-MDM
Análise de
equação
9. Há um modelo alternativo para a LMX-
MDM.8. Explorar a possibilidade de um modelo
MDM.
Múltipla
líder, pode ser predito pelas quatro dimensões
da LMX-pelas dimensões da LMX-MDM.
Análise de
Regressão
e profissional que o liderado acredita ter para
com seu
relacionamento entre der-liderado pode
ser predito
8. A percepção da excencia do
relacionamento pessoal
7. Verificar se a percepção da excelência
do
na construção do relacionamento com o líder.com seu líder.
Teste U Mann
Whitney
7. O tempo de convivência do liderado com o
líder interfere
liderado quanto ao relacionamento que
manm
Análise
Discriminante
líder ajuda na construção do relacionamento
com o líder.
com o líder é capaz de discriminar a
percepção do
6. A p-disposão perceptiva do liderado em
relação ao
6. Discutir se o tempo de convivência
dria do liderado
empresas públicas ou de economia mista.
diferentemente de respondentes de
empresas mistasorganizações brasileiras.
Análise Fatorial
relacionamento com o líder diferentemente de
liderados depercebem o relacionamento der-liderado
dos liderados que
trabalham em
5. Liderados de empresas privadas percebem o
5. Verificar se respondentes de empresas
privadas
entre der-liderado, sob
a ótica
sob a ótica do liderado.
Identificar e analisar a
interação
Análise Fatoriallíder - liderado.
percepção do relacionamento entre líder-
liderado,
4. O gênero interfere na perceão do
relacionamento
4. Verificar se o gênero do respondente
interfere na
respeito dos resultados do seu trabalho.
são preditoras da percepção dos resultados do
seu trabalho.
da LMX-MDM com a perceão do
liderado a
Respeito Profissional, Lealdade, Afeto e
Contribuição
3. Examinar qual a correlação das
dimenes
3. As dimensões da Autocategorização,
Identidade Social,por líder-liderado, sob a ótica do liderado;
Análise Fatorialcorrelacionam-se positivamente.
correlacionam na formação da ade
composta
Respeito Profissional, Lealdade, Afeto e
Contribuiçãoe da Teoria da Autocategorização se
2. As dimensões Autocategorizão,
Identidade Social,
2. Identificar se os pressupostos da Teoria
da Identidade Social, da LMX-MDM
amostra pesquisada.
LMX-MDM se apresentam na amostra
pesquisada
Análise Fatorial
1. As dimensões da LMX-MDM apresentam-
se na1. Examinar se as dimensões propostas na
Técnicas
utilizadasHipótesesObjetivos específicosObjetivo Geral
Fonte: Elaborado pelo autor
158
Tabela 4 – Dados demográficos da amostra total (dados expressos em %)
DADOS
DEMOGRÁFICOS
M
F
P
PE
OT
GO
S
N
AV
Gênero 43 57 - - - - - - -
Tipo de empresa - - 90.0 10.0 - - - - -
Cargos - - - - 55.6
44.4 - - -
Convive diariamente
com o líder
- - - - - - 87.1 12.9 -
A convivência
ajudou na
aproximação
- - - - - - 70.2 9.4 20.4
Fonte: Elaborado pelo autor
Legenda: M = Masculino S = Sim
F = Feminino N = Não
P = Empresa Privada AV = Às Vezes
PE = Empresa Pública ou de Economia Mista
OT = Operacionais ou Técnicos
GO = Gerenciais ou Outros
Como demonstrado na Tabela 4, trata-se de uma população formada por 109 (42.7%)
respondentes do gênero masculino e 145 (56.9%) do gênero feminino, e 01 respondente
deixou de informar seu gênero. Todos estão empregados: 90% em empresas privadas e 10%
em empresas públicas ou de economia mista. Ocupam cargos operacionais ou técnicos
(55.6%) e cargos gerenciais ou outros (44.4%) e 87.1% afirmaram que convivem diariamente
com o seu supervisor imediato. 70.2% acreditam que essa convivência ajudou na aproximação
entre o respondente e seu supervisor imediato.
Tabela 5 – Tempo de convivência do respondente com o supervisor
Tempo de convivência
%
< 06 meses
32.5
De 6 meses a 2 anos
36.5
De 2 a 5 anos
21.6
> que 5 anos
9.4
Fonte: Elaborada pelo autor
159
O tempo de convivência, conforme apresentado na Tabela 5, entre os respondentes e
os superiores imediatos oscila de menos de 06 meses até 5 anos (90.6%) e a maioria convive
diariamente de menos de 06 meses até 02 anos (69%).
Tabela 6 – Idade dos respondentes (expresso em %)
De 19 a 26 anos
60.3
De 27 a 34 anos
29.8
De 35 a 43 anos
7.9
Acima de 44 anos
2.0
Fonte: Elaborada pelo autor
Trata-se de uma população relativamente jovem, compreendendo respondentes de 19 a
26 anos (60.3%).
Tabela 7 – Natureza da empresa (expresso em %)
Indústria
22.4
Prestação de Serviços
57.6
Comércio
11.0
Outros
9.0
Fonte: Elaborada pelo autor
A natureza das empresas a que os respondentes pertencem é, predominantemente, de
prestadoras de serviços. Com menor representatividade estão as indústrias e as voltadas para o
comércio.
160
6.2 Primeiro estágio da análise dos resultados
O primeiro estágio da análise dos resultados teve como finalidade verificar se as dimensões
envolvidas neste estudo, quais sejam: Identidade Social, Autocategorização, Respeito
Profissional, Lealdade, Afeto e Contribuição, sendo que essas quatro últimas são da LMX, e
Resultados do Trabalho se agrupam, conforme previsto na literatura estudada. Para esse tipo
de análise foi utilizada a técnica multivariada denominada de Análise Fatorial Exploratória.
Esse estágio pode ser visualizado na Figura 4.
Figura 4 – Primeiro estágio – Como as dimensões propostas se agrupam?
Fonte: Elaborada pelo autor
6.2.1 Análise fatorial exploratória da amostra total
diversas formas apresentadas na literatura para a realização da Análise Fatorial
Exploratória. As mais comumente utilizadas e disponibilizadas nos softwares estatísticos são:
Dimensões da LMX:
Afeto, Lealdade,
Respeito Profissional
e Contribuição
Identidade
Social
Auto-
categorização
Resultados
do trabalho
Análise Fatorial
Dimensões da LMX:
Afeto, Lealdade,
Respeito Profissional
e Contribuição
Identidade
Social
Auto-
categorização
Resultados
do trabalho
Análise Fatorial
161
a Análise dos Componentes Principais e a Análise dos Fatores Comuns. Os propósitos da
escolha do tipo de estimação na realização da Análise Fatorial estão associados a três tipos de
variâncias, segundo Hair Jr. et al. (2005). A primeira é denominada de comum, isto é, a
variância que é compartilhada com todas as outras variáveis envolvidas no estudo. A segunda
denomina-se de específica, isto é, está associada com apenas uma variável específica e a
terceira denominada de erro, isto é, a variância que é decorrente do erro de medida aleatório.
A Análise de Componentes Principais considera “a variância total e determina fatores
que contêm pequenas proporções de variância única e, em alguns casos, variância do erro
(HAIR JR. et al., 2005, p. 99). Nesse caso, a análise das comunalidades torna-se importante, à
medida que ajuda a estimar a variância compartilhada entre as variáveis. Recomenda-se,
segundo Malhotra (2004), a utilização desse método quando se pretende identificar o número
mínimo de fatores que se agrupam em torno da máxima variância dos dados da amostra.
A Análise dos Fatores Comuns considera apenas as variâncias comuns existentes entre
os dados da amostra. Nesse caso, “as comunalidades são inseridas na diagonal da matriz de
correlação” (MALHOTRA, 2004, p. 508). Recomenda-se a utilização desse método quando
se pretende identificar as dimensões subjacentes e as variâncias comuns entre os dados.
Tendo em vista os objetivos deste trabalho, optou-se pela utilização dos dois métodos
para a realização da análise fatorial. Com o primeiro, isto é, Análise dos Componentes
Principais, pretende-se identificar ou prever um número mínimo de fatores a fim de se
explicar a variância representada no conjunto de variáveis submetidas à análise fatorial. Com
o segundo método, isto é, Análise de Fatoramento no Eixo Principal ou Análise dos Fatores
Comuns, pretende-se identificar as dimensões subjacentes dos dados envolvidos na amostra.
O critério de extração utilizado neste trabalho, denominado de latent root criterion”,
indica os engenvalues que são significantes a 1,0. Os engenvalues ajudam a identificar a
162
quantidade de fatores que poderão ser usados na análise, bem como explicam a soma da
variância presente em cada fator (GREEN; SALKIND, 2003).
O índice de 1.0 deve ser considerado quando o instrumento utilizado na coleta de
dados apresenta mais que 20 variáveis (HAIR JR. et al., 2005). Esse é o caso deste trabalho, já
que o instrumento utilizado é composto por 26 variáveis, sendo que 25 delas envolvendo
diretamente as dimensões objeto do estudo.
Hair Jr. et al. (2005) apresentam várias possibilidades de escolha de métodos de
rotação das cargas fatoriais disponíveis na análise fatorial. É possível utilizar o método
quartimax, que tem como finalidade rotacionar o fator para se encontrar uma alta carga em
um único fator e cargas baixas nos demais. Outro método disponível é a rotação fatorial
varimax, que tem como finalidade obter uma simplificação máxima possível das variâncias
das cargas exigidas na carga fatorial. Há, ainda, o método equimax, que é uma aproximação
dos métodos anteriormente demonstrados, visto que apresenta um pouco dos resultados que
os outros métodos também apresentam. O método ortogonal tem a finalidade de identificar a
independência entre os fatores rotacionados (HAIR JR. et al., 2005).
No caso deste trabalho, optou-se por utilizar o método varimax, pelas razões
expostas anteriormente.
O Quadro 9 indica os construtos e suas respectivas variáveis que foram submetidas nas
diversas análises fatoriais realizadas.
Quadro 9 – Construtos e respectivas variáveis
CONSTRUTOS VARIÁVEIS ASSERTIVAS
ID_1_2 Parece que meu supervisor antecipa meus pensamentos.
ID_2_9 Percebo que meu supervisor e eu possuímos valores pessoais
semelhantes.
Identificação
ID_3_16 Sinto-me profundamente identificado com meu supervisor.
ID_4_22 Tenho orgulho de pertencer ao mesmo grupo profissional do
meu supervisor na Empresa.
ID_5_25 Sinto-me valorizado porque eu e meu supervisor trabalhamos no
mesmo grupo.
Continua
163
Continuação
CONSTRUTOS VARIÁVEIS ASSERTIVAS
AC_1_3 Meus colegas me reconhecem como fazendo parte do grupo do
meu supervisor.
Autocategorização
AC_2_10 Sinto-me reconhecido na empresa pelo fato de me parecer com
meu supervisor.
AC_3_17 Percebo que coopero com meu supervisor e com o seu grupo.
AC_4_23 Sinto que meu supervisor e eu fazemos parte de um grupo
coeso.
AC_5_26 Os demais grupos da empresa pensam duas vezes antes de falar
mal do meu supervisor e do seu grupo na minha frente.
RT_1_4 Sinto-me satisfeito com o trabalho que realizo.
Resultados do
Trabalho
RT_2_11 Minha avaliação de desempenho sempre apresenta bons
resultados.
RT_3_18 Alcanço sempre 100% das metas que são estabelecidas para
mim na empresa.
RT_4_24 Na maior parte das vezes eu supero as metas que me são
propostas.
XAF_1_5 Eu gosto muito do meu supervisor como pessoa.
LMX - Afeto
XAF_2_12 Meu supervisor é o tipo de pessoa que qualquer um gostaria de
ter como amigo.
XAF_3_19 Meu supervisor é uma pessoa com a qual é agradável trabalhar.
XLE_1_6 O meu supervisor defende minhas ações (atitudes) no trabalho
sempre e sem completo conhecimento das questões que estão
envolvidas.
LMX - Lealdade
XLE_2_13 Meu supervisor poderá me defender se eu for “atacado” por
outros.
XLE_3_20 Meu supervisor me defenderia perante outros na organização se
eu cometesse um erro sem querer, ou seja, sem ter a intenção.
XCO_1_7 O trabalho que faço para meu supervisor vai além do que consta
na descrição do meu cargo.
LMX - Contribuição
XCO_2_14 Eu estou disposto a fazer um esforço extra, além daquele
normalmente requerido, para desenvolver o meu grupo de
trabalho.
XRE_1_8 Eu estou impressionado com o conhecimento do meu supervisor
a respeito do seu trabalho.
LMX – Respeito
Profissional
XRE_2_15 Eu respeito o conhecimento do meu supervisor e a sua
competência no trabalho.
XRE_3_21 Eu admiro as habilidades profissionais do meu supervisor.
Fonte: Elaborado pelo autor
Legenda: As letras iniciais da coluna variáveis referem-se às dimensões estudadas.
O primeiro número refere-se à ordem de sorteio das assertivas
e o segundo à posição que elas ocuparam no instrumento.
Essas variáveis foram submetidas ao processamento da Análise Fatorial por
Componentes Principais. A primeira providência tomada quanto aos resultados apresentados
foi a análise visual da matriz de correlações. Essa análise evidenciou a existência de poucas
variáveis que apresentaram correlações parciais acima de 0.30, o que é evidência, segundo
164
Hair Jr. et al. (2005), de que a análise fatorial é apropriada. Outra providência tomada foi a
análise do teste de Barlett de esferacidade, o qual tem a finalidade de indicar a existência de
correlações significativas entre pelo menos algumas das variáveis. Esse teste apresenta o qui-
quadrado e o índice de significância. Neste estudo, a estatística qui-quadrado apresentou-se
significativa em um vel de 0.000. A terceira providência foi a análise de adequação da
amostra (MSA), que também se mostrou significativa, alcançando índice acima de 0.90, o
que, para Hair Jr. et al. (2005) se trata de uma medida admirável do tamanho da amostra.
O KMO (Kaiser-Meyer-Onklin) apresentou índice de 0.925. Esse índice representa
uma medida de adequação da amostra para a realização da Análise Fatorial, na medida em
que ele compara a magnitude dos coeficientes de correlação com a magnitude dos coeficientes
de correlação parcial (HAIR JR et al. 2005).
A análise das comunalidades também foi outro critério utilizado para verificar a
existência de variância compartilhada entre as variáveis do estudo. A análise visual das
comunalidades de cada variável apresentou índices acima de 0.50. Esse índice é considerado
um limite adequado (HAIR JR. et al., 2005) para se aceitar que as variáveis são explicadas
pelos componentes extraídos, exceto as variáveis indicadas na Tabela 8.
Tabela 8 – Índices das comunalidades das variáveis
VARIÁVEIS COMUNALIDADES
Meus colegas me reconhecem como fazendo parte
do grupo do meu supervisor (AC_1_3).
0.489
Minha avaliação de desempenho sempre apresenta
bons resultados (RT_2_11).
0.444
Fonte: Elaborada pelo autor
165
Como visto na Tabela 8, essas variáveis apresentaram comunalidades um pouco
abaixo do esperado (HAIR JR. et al., 2005). A opção adotada foi à manutenção dessas
variáveis, na medida em que elas ajudam a identificar aspectos representativos deste estudo.
O método de Análise Fatorial por Componentes Principais utilizado agrupou as
variáveis em 6 fatores (engenvalues de 4.012 a 40.038), que explicam 66.2% da variância
total, conforme apresentado na Tabela 9. Essa porcentagem é considerada aceitável em
pesquisas de ciências sociais, visto que muitas outras variáveis intervenientes podem estar
presentes influindo na compreensão do fenômeno estudado (SHARMA, 1996).
Tabela 9 – Total da variância explicada (após rotação)
Fatores % da Variância Variância acumulada
1 18.525 18.525
2 14.478 33.003
3 11.711 44.714
4 8.670 53.383
5 8.349 61.732
6 4.446 66.178
Fonte: Elaborada pelo autor
A Tabela 10 apresenta os 6 fatores com suas variáveis agrupadas e respectivas cargas
fatoriais.
Tabela 10 – Análise Fatorial por Componentes Principais
Variáveis Cargas Fatoriais
1 2 3 4 5 6
Sinto-me reconhecido na empresa pelo fato de me
parecer com meu supervisor.
0.731
Eu estou impressionado com o conhecimento do meu
supervisor a respeito do seu trabalho.
0.693
Continua
166
Continuação
Variáveis Cargas Fatoriais
1 2 3 4 5 6
Eu admiro as habilidades profissionais do meu
supervisor.
0.682
Parece que meu supervisor antecipa meus pensamentos.
0.657
Percebo que meu supervisor e eu possuímos valores
pessoais semelhantes.
0.598
0.415
Eu respeito o conhecimento do meu supervisor e a sua
competência no trabalho.
0.596
0.467
Sinto-me valorizado porque eu e meu supervisor
trabalhamos no mesmo grupo.
0.590
Sinto-me profundamente identificado com meu
supervisor.
0.580
0.535
Tenho orgulho de pertencer ao mesmo grupo
profissional do meu supervisor na Empresa.
0.548
0.489
Os demais grupos da empresa pensam duas vezes antes
de falar mal do meu supervisor e do seu grupo na
minha frente.
0.481
Meu supervisor é uma pessoa com a qual é agradável
trabalhar.
0.803
Meu supervisor é o tipo de pessoa que qualquer um
gostaria de ter como amigo.
0.790
Eu gosto muito do meu supervisor como pessoa.
0.721
O meu supervisor defende minhas ações (atitudes) no
trabalho sempre e sem completo conhecimento das
questões que estão envolvidas.
0.702
Meu supervisor me defenderia perante outros na
organização se eu cometesse um erro sem querer, ou
seja, sem ter a intenção.
0.687
Meu supervisor poderá me defender se eu for “atacado”
por outros.
0.661
Meus colegas me reconhecem como fazendo parte do
grupo do meu supervisor.
0.518
Sinto que meu supervisor e eu fazemos parte de um
grupo coeso.
0.428
0.403
Alcanço sempre 100% das metas que são estabelecidas
para mim na empresa.
0.855
Na maior parte das vezes eu supero as metas que me
são propostas.
0.811
Minha avaliação de desempenho sempre alcança bons
resultados.
0.526
Eu estou disposto a fazer um esforço extra, além
daquele normalmente requerido, para defender o meu
grupo de trabalho.
0.774
Percebo que coopero com meu supervisor e com o seu
grupo.
0.645
O trabalho que faço par meu supervisor vai além do
que consta na descrição do meu cargo.
0.754
Sinto-me satisfeito com o trabalho que realizo.
0.465
-0.529
Fonte: Elaborada pelo autor
No Fator 6, a variável Sinto-me satisfeito com o trabalho que realizo” (RT_1_4) da
dimensão Resultados do Trabalho apresentou carga negativa. Essa variável foi retirada do
167
estudo, para que nova fatorial pudesse ser processada. Em decorrência dessa ação, a variável
“O trabalho que faço para meu supervisor vai além do que consta na descrição do meu cargo”
(XCO 1_7) ficou isolada nesse setor.
Procedeu-se, então, à segunda tentativa utilizando-se ainda o método de componentes
principais. Dessa feita, o método apontou 5 fatores (engenvalues de 4.372 a 40.987) que
explicam 63.7% da variância, conforme pode ser mais bem visualizado na Tabela 11.
Tabela 11 – Total da variância explicada (após rotação)
Fatores % da Variância Variância acumulada
1 27.009 27.009
2 14.176 41.185
3 8.984 50.169
4 8.536 58.705
5 5.040 63.745
Fonte: Elaborada pelo autor
Algumas variáveis apresentaram comunalidades abaixo do esperado, sendo que duas
delas são reincidentes e a outra (XCO_1_7) não, conforme apresentado na Tabela 12.
Tabela 12 – Comunalidades abaixo do esperado
VARIÁVEIS COMUNALIDADES
Meus colegas me reconhecem como fazendo parte do grupo do meu
supervisor (AC_1_3).
0.479
Minha avaliação de desempenho sempre apresenta bons resultados
(RT_2_11).
0.450
O trabalho que faço para meu supervisor vai além do que consta na descrição
do meu cargo (XCO_1_7).
0.435
Fonte: Elaborada pelo autor
168
A decisão continuou sendo a mesma, tendo em vista que são variáveis importantes
para a identificação de aspectos estudados, como também por apresentarem índices muito
próximos de 0.50, o que é considerado índice ideal por Hair Jr. et al. (2005).
Procedeu-se, então, a uma nova análise fatorial, seguindo os mesmos critérios
anteriormente discutidos, cujos agrupamentos e cargas fatoriais podem ser observados na
Tabela 13.
Tabela 13 – Fatores encontrados pelo método de extração “componentes principais”
Variáveis Cargas Fatoriais
1 2 3 4 5
Eu admiro as habilidades profissionais do meu supervisor.
0.756
Sinto-me profundamente identificado com meu supervisor.
0.740
0.406
Eu estou impressionado com o conhecimento do meu
supervisor a respeito do seu trabalho.
0.718
Percebo que meu supervisor e eu possuímos valores pessoais
semelhantes.
0.717
Sinto-me reconhecido na empresa pelo fato de me parecer
com meu supervisor.
0.702
Tenho orgulho de pertencer ao mesmo grupo profissional do
meu supervisor na Empresa.
0.687
0.414
Sinto-me valorizado porque eu e meu supervisor trabalhamos
no mesmo grupo.
0.673
Parece que meu supervisor antecipa meus pensamentos.
0.669
Eu respeito o conhecimento do meu supervisor e a sua
competência no trabalho.
0.643
0.497
Meu supervisor é uma pessoa com a qual é agradável
trabalhar.
0.609
0.406 -0.409
Eu gosto muito do meu supervisor como pessoa.
0.599
Meu supervisor é o tipo de pessoa que qualquer um gostaria
de ter como amigo.
0.593
-0.440
Os demais grupos da empresa pensam duas vezes antes de
falar mal do meu supervisor e do seu grupo na minha frente.
0.584
Meu supervisor me defenderia perante outros na organização
se eu cometesse um erro sem querer, ou seja, sem ter a
intenção.
0.751
Meu supervisor poderá me defender se eu for “atacado” por
outros.
0.713
O meu supervisor defende minhas ações (atitudes) no trabalho
sempre e sem completo conhecimento das questões que estão
envolvidas.
0.707
Sinto que meu supervisor e eu fazemos parte de um grupo
coeso.
0,439
0.475
0.435
Meus colegas me reconhecem como fazendo parte do grupo
do meu supervisor.
0.443
0.408
Alcanço sempre 100% das metas que são estabelecidas para
mim na empresa.
0.853
Na maior parte das vezes eu supero as metas que me são
propostas.
0.809
Minha avaliação de desempenho sempre alcança bons
resultados.
0.526
Continua
169
Continuação
Variáveis Cargas Fatoriais
1 2 3 4 5
Eu estou disposto a fazer um esforço extra, além daquele
normalmente requerido, para defender o meu grupo de trabalho.
0.747
Percebo que coopero com meu supervisor e com o seu grupo.
0.644
O trabalho que faço par meu supervisor vai além do que consta
na descrição do meu cargo.
0.603
Alfa de Cronbach 0.93 0.80 0.70 0.58 -
Fonte: Elaborada pelo autor
O Fator 1 (Alfa de Cronbach: 0.93) apresenta todas as variáveis da dimensão
Identidade Social, todas as variáveis das dimensões Respeito Profissional e Afeto da LMX e
duas variáveis de Autocategorização “Sinto-me reconhecido na empresa pelo fato de me
parecer com meu supervisor” (Ac_2_10) e “Os demais grupos da empresa pensam duas vezes
antes de falar mal do meu supervisor e do seu grupo na minha frente” (Ac_5_26). Faz
bastante sentido a aproximação dessas variáveis, que elas tratam do sentimento de
pertencimento, de respeito e afeição que o liderado mantém para com seu líder, a partir de
uma atração interpessoal e de valores profissionais relativos ao trabalho. Esse fator recebeu o
nome de Afeição e Respeito Profissional.
O Fator 2 (Alfa de Cronbach: 0.80) apresenta todas as variáveis da dimensão Lealdade
da LMX e duas variáveis de Autocategorização “Sinto que meu supervisor e eu fazemos parte
de um grupo coeso” (Ac 4_23) e “Meus colegas me reconhecem como fazendo parte do grupo
do meu supervisor” (Ac 1_3). A predominância das variáveis de Lealdade denota a idéia de
apoio público por parte dos respondentes em relação ao líder, bem como de reconhecimento
dos demais membros da organização de que os respondentes são coesos e comprometidos
com o líder. Esse fator recebeu o nome de Lealdade.
O Fator 3 (Alfa de Cronbach: 0.70) apresenta todas as variáveis da dimensão
Resultados do Trabalho. O agrupamento dessas variáveis mostra a existência de correlação
170
entre as variáveis que compõem esse fator, indicando uma percepção positiva dos
respondentes quanto aos resultados que alcançam em termos de metas e objetivos no trabalho.
Duas dessas variáveis apresentaram com cargas fatoriais acima de 0.80 e uma com carga de
0.53. Esse fator recebeu o nome de Resultados do Trabalho.
O Fator 4 (Alfa de Cronbach: 0.58) apresenta uma variável da dimensão Contribuição,
“Eu estou disposto a fazer um esforço extra, além daquele normalmente requerido, para
desenvolver o meu grupo de trabalho” (Xco 2_14) da LMX e uma variável de
Autocategorização, “Percebo que coopero com meu supervisor e com o seu grupo” (Ac 3_17).
O agrupamento dessas variáveis denota o comprometimento que os respondentes demonstram
quanto à cooperação e à contribuição que podem oferecer ao líder e ao grupo próximo do
líder. Esse fator recebeu o nome de Cooperação e Contribuição.
O Fator 5 apresenta apenas uma variável, “O trabalho que faço para meu supervisor
vai além do que consta na descrição do meu cargo” (Xco 1_7) da dimensão Contribuição da
LMX. Essa variável trata da contribuição que o liderado percebe que ao líder na execução
do seu trabalho. Não uma contribuição rotineira, mas uma contribuição que vai além dos
limites esperados pelo líder. O Fator 4 agrupou outras duas variáveis que também representam
a idéia de contribuição e de cooperação. Por essa razão, optou-se por excluir esse fator e
considerar essa variável como pertencente ao Fator 4.
Observe-se, ainda, que os construtos da Identidade Social e Autocategorização se
distribuíram nos fatores 1, 2 e 4. Isso pode ser indicativo de que os respondentes não os estão
discriminando, talvez porque eles remetem os respondentes aos aspectos mais subjetivos que
estão presentes no relacionamento diádico presente no ambiente de trabalho.
Procedeu-se, também, à Análise Fatorial através do método de Fatoramento do Eixo
Principal cujo objetivo foi apresentado e discutido anteriormente. Esse procedimento
apresentou KMO de 0.931, demonstrando que a amostra é adequada para a realização da
171
Análise Fatorial. Apresentou 4 fatores com eingenvalues de 4.794 a 45.162 explicando 64.2%
da variância. Os fatores encontrados e sua porcentagem de explicação da variância
encontram-se na Tabela 14.
Tabela 14 – Análise Fatorial por Fator Comum (Principal Axis Factoring)
Variáveis Cargas Fatoriais
1 2 3 4
Eu admiro as habilidades profissionais do meu supervisor (Xre
3_21).
0.773
Eu estou impressionado com o conhecimento do meu
supervisor a respeito do seu trabalho (Xre 1_8).
0.696
Eu respeito o conhecimento do meu supervisor e a sua
competência no trabalho (Xre 2_15).
0.640
Tenho orgulho de pertencer ao mesmo grupo profissional do
meu supervisor na Empresa (Id 4_22).
0.626
Sinto-me profundamente identificado com meu supervisor (Id
3_16).
0.597
0.507
Sinto-me valorizado porque eu e meu supervisor trabalhamos
no mesmo grupo (Id 5_25).
0.569
Sinto-me reconhecido na empresa pelo fato de me parecer com
meu supervisor (Ac 2_10).
0.540
Parece que meu supervisor antecipa meus pensamentos (Id
1_2).
0.519
Percebo que meu supervisor e eu possuímos valores pessoais
semelhantes (Id 2_9).
0.495
0.420
Os demais grupos da empresa pensam duas vezes antes de falar
mal do meu supervisor e do seu grupo na minha frente (Ac
5_26).
0.456
Sinto que meu supervisor e eu fazemos parte de um grupo
coeso (Ac 4_23).
0.438
0.411
Meu supervisor é uma pessoa com a qual é agradável trabalhar
(Xaf 3_19).
0.762
Meu supervisor é o tipo de pessoa que qualquer um gostaria de
ter como amigo (Xaf 2_12).
0.734
Eu gosto muito do meu supervisor como pessoa (Xaf 1_5).
0.671
Meu supervisor me defenderia perante outros na organização se
eu cometesse um erro sem querer, ou seja, sem ter a intenção
(Xle 1_6).
0.738
Meu supervisor poderá me defender se eu for “atacado por
outros (Xle 3_20).
0.681
O meu supervisor defende minhas ações (atitudes) no trabalho
sempre e sem completo conhecimento das questões que estão
envolvidas (Xle 2_13).
0.485
Alcanço sempre 100% das metas que são estabelecidas para
mim na empresa (Rt 3_18).
0.806
Na maior parte das vezes eu supero as metas que me são
propostas (Rt 4_24).
0.726
Minha avaliação de desempenho sempre alcança bons
resultados (Rt 2_11).
0.470
Percebo que coopero com meu supervisor e com o seu grupo
(Ac 3_17).
0.432
Fonte: Elaborada pelo autor
172
Os 4 fatores apresentaram agrupamentos diferenciados dos encontrados na Análise
Fatorial por Componentes Principais. No que diz respeito às comunalidades das variáveis,
todas apresentaram índices significativos, exceto as que pertencem à dimensão Contribuição
da LMX, que apresentaram indicadores abaixo do esperado (0.104 e 0.296). A opção foi pela
exclusão dessas variáveis, na medida em que elas não apresentaram variância comum para
com as demais variáveis envolvidas no estudo.
Interessante observar que essas variáveis também apresentam comunalidades abaixo
do esperado em outros estudos empíricos (LIDEN; MASLYN, 1998). Na ocasião, esses
autores resolveram pela permanência desse construto, tendo em vista os interesses de pesquisa
que pretendiam alcançar. A quantidade (duas) de variáveis que compõem a dimensão
Contribuição da LMX pode ter interferido no seu desempenho estatístico. Para Hair Jr et al.
(2005) o pesquisador deve incluir cinco ou mais variáveis para que consiga medir
adequadamente a força de um fator. Quando o número de variáveis é menor, a força da
análise fatorial também diminui e ela não se mostra eficaz. Outra possibilidade que justifica
sua baixa performance pode estar em questões culturais que estão influindo na percepção dos
respondentes, como, por exemplo, considerarem o conteúdo de outras dimensões envolvidas
no estudo como suficientes para representarem algum esforço adicional quanto ao
comprometimento com o líder. Em todo caso, esse assunto deverá ser alvo de preocupações
de futuros pesquisadores interessados nessa temática.
O agrupamento fruto dessa Análise Fatorial ficou assim composto:
O Fator 1 (Alfa de Cronbach de 0.92) agrupou todas as variáveis da dimensão
Respeito Profissional da LMX, todas as variáveis da Identidade Social e todas as variáveis da
Autocategorização. Esse agrupamento tem um peso diferenciado nos resultados da Análise
Fatorial, na medida em que ele explica 45.2% da variância total, índice bastante
representativo se considerados os demais indicadores. Faz bastante sentido o agrupamento
173
dessas variáveis. Os respondentes autocategorizam-se como pertencentes ao círculo próximo
ao líder e desenvolvem sentimentos de orgulho e valorização por se sentirem identificados
com o líder. Essas percepções são amparadas pelo respeito profissional que nutrem pelo líder,
em termos de reconhecimento do conhecimento, das habilidades, competências e do poder
hierárquico que o líder possui. A esse fator foi dado o nome de Respeito Profissional.
O agrupamento das variáveis das dimensões Identidade Social e Autocategorização em
um único fator reforça as suspeitas formuladas anteriormente, quando da Análise Fatorial por
Componentes Principais. Como conseqüência, procedeu-se à criação de um novo construto,
englobando as variáveis agrupadas nesse fator.
A Tabela 15 apresenta a freqüência das respostas obtidas no Fator 1.
Tabela 15 – Freqüências do Fator 1
Primeiro fator --> Respeito Profissional
Xre Xre Xre Id Id Id Ac Id Id Ac Ac Soma Total %
3_21
1_8 2_15 4_22 3_16 5_25 2_10 1_2 2_9 5_26 4_23
Discordo
totalmente
8 22 3 11 27 14 57 38 19 31 12
242
Discordo
muito
16 19 4 17 27 17 49 38 17 18 12
234
Discordo
um pouco
16 21 11 17 34 27 33 42 35 28 29
293 769 27%
Nem
concordo
nem
16 34 19 52 44 68 60 52 43 57 32
477 475 17%
discordo
Concordo
um pouco
68 53 38 47 63 56 36 60 63 49 67
600
Concordo
muito
71 53 90 67 37 48 14 16 58 33 64
551
Concordo
totalmente
60 53 90 44 23 25 6 9 20 39 39
408 1559 56%
Total
255 255 255 255 255 255 255 255 255 255 255
2805
Fonte: Elaborada pelo autor
As assertivas podem ser identificadas na Tabela 14.
174
Observe-se que os respondentes priorizaram as variações das opções concordo (56%)
em relação às demais opções disponíveis no instrumento, que apresentaram baixo nível de
representatividade na escolha. Esses dados corroboram o agrupamento das variáveis nesse
Fator, conforme foi discutido anteriormente.
O Fator 2 (Alfa de Cronbach: 0.88) agrupou todas as variáveis da dimensão Afeto da
LMX e o Fator 3 (Alfa de Cronbach: 0.79) agrupou todas as variáveis da dimensão Lealdade
da LMX, diferentemente da Análise Fatorial por Componentes Principais, que agrupou a
dimensão Afeto no Fator 1. A separação dessas variáveis em fatores diferenciados ajuda a
compreender mais facilmente os aspectos da afeição e da lealdade que os respondentes
percebem possuir para com o líder. São duas dimensões importantes, já que elas manifestam o
quanto os respondentes se sentem atraídos e, ao mesmo tempo, o quanto estão dispostos a
manifestarem publicamente seu apoio e lealdade ao líder. Esses dois fatores explicam 9.3% e
5.0% da variância total. Ao primeiro fator foi dado o nome de Afeto e ao segundo de
Lealdade.
A Tabela 16 apresenta as freqüências das respostas que os respondentes deram ao
Fator 2. A Tabela 17 apresenta as freqüências para o Fator 3.
Tabela 16 – Freqüências do Fator 2
Segundo fator --> AFETO
XAF_3_19 XAF_2_12 XAF_1_5 Soma Total
%
Discordo totalmente
15 13 6
34
Discordo muito
10 17 7
34
Discordo um pouco
26 32 13
71 139 18%
Nem concordo nem discordo
20 47 28
95 95 12%
Concordo um pouco
58 66 39
163
Concordo muito
65 47 80
192
Concordo totalmente
61 33 82
176 531 69%
Total
255 255 255 765
Fonte: Elaborada pelo autor
As assertivas podem ser identificadas na Tabela 14.
175
Tabela 17 – Freqüências do Fator 3
Terceiro fator --> LEALDADE
Xle 1_6 Xle 3_20 X2_13 Soma Total %
Discordo totalmente
21 10 12
43
Discordo muito
30 12 12
54
Discordo um pouco
37 22 19
78 175 23%
Nem concordo
nem
30 36 30
96 96 13%
discordo
Concordo um pouco
69 71 67
207
Concordo muito
48 63 80
191
Concordo totalmente
20 41 35
96 494 65%
Total
255 255 255 765
Fonte: Elaborada pelo autor
As assertivas podem ser identificadas na Tabela 14.
Observe-se, nas Tabelas 16 e 17, que 18% das respostas dadas pelos respondentes às
assertivas do Fator 2 oscilam entre o discordo totalmente e o discordo pouco. 12%
mantiveram-se no campo neutro do nem concordo nem discordo e 69% estão entre o
concordo um pouco até o concordo totalmente. Essas freqüências demonstram a acentuada
percepção que os respondentes têm a respeito da afeição que manifestam em relação ao líder.
E no Fator 3 as respostas se concentram (65%) nas possibilidades do concordo em relação às
demais opções da escala do instrumento, como 12% para nem concordo nem discordo e 23%
para as variações do discordo.
O Fator 4 (Alfa de Cronbach: 0.72) agrupou todas as variáveis da dimensão
Resultados do Trabalho e uma variável de Autocategorização. “Percebo que coopero com
meu supervisor e com o seu grupo” (Ac 3_17). Esse Fator explica 4.8% da variância total. Faz
sentido esse agrupamento, na medida em que as variáveis nele envolvidas indicam que os
respondentes se percebem atingindo metas e resultados que a organização e o líder esperam
dele, bem como o quanto se percebem cooperadores com seu líder. Em futuros estudos essa
176
variável de Autocategorização poderá ser testada junto a uma amostra maior, compondo o
construto Resultados do Trabalho e não o seu construto original. Este fator recebeu o nome de
Cooperação visando a resultados.
A Tabela 18 apresenta as freqüências das respostas dadas pelos sujeitos para o Fator 4.
Tabela 18 – Freqüências do Fator 4
Fator 4 --> Cooperação visando a resultados
Rt 3_18 Rt 4_24 Rt 2_11 Ac 3_17 Soma Total %
Discordo totalmente
1 1 4 1
7
Discordo muito
1 2 4 0
7
Discordo um pouco
15 9 6 5
35 49 5%
Nem concordo
nem
26 48 58 14
146 146 14%
discordo
Concordo um pouco
70 72 53 47
242
Concordo muito
100 88 99 115
402
Concordo totalmente
42 35 31 73
181 825 81%
Total
255 255 255 255 1020
Fonte: Elaborada pelo autor
As assertivas podem ser identificadas na Tabela 14.
A Tabela 18 indica que uma concentração significativa de respostas nas variações
da opção concordo (81%) em relação às demais opções (14% para nem concordo nem
discordo e 5% para as variações do discordo).
A Tabela 19 apresenta uma análise sintética das freqüências das respostas dos sujeitos
em todos os fatores.
177
Tabela 19 – Freqüência das respostas por fator
FREQÜÊNCIA DAS RESPOSTAS POR FATOR
Fator 1 Fator 2 Fator 3 Fator 4 Soma Total %
Discordo totalmente
242 34 43 7
326
Discordo muito
234 34 54 7
329
Discordo um pouco
293 71 78 35
477 1132 21%
Nem concordo
nem
477 95 96 146
814 814 15%
discordo
Concordo um pouco
600 163 207 242
1212
Concordo muito
551 192 191 402
1336
Concordo totalmente
408 176 96 181
861 3409 64%
Total
2805 765 765 1020 5355
Fonte: Elaborada pelo autor
As assertivas podem ser visualizadas na Tabela 14.
Percebe-se, na Tabela 19, que uma predominância (64%) de concordância entre as
respostas apresentadas pelos respondentes em relação às demais opções (15% para nem
concordo nem discordo e 21% para discordo). Estes indicadores demonstram a percepção do
liderado no que diz respeito ao reconhecimento (de concordância) de que o relacionamento
que mantém com o líder é capaz de influenciar a maneira como vê o respeito profissional, o
afeto, a lealdade e o quanto essas percepções se fazem presentes nos resultados do trabalho.
A análise comparativa dos agrupamentos extraídos dos dois métodos utilizados está
representada na Tabela 20.
Tabela 20 – Comparação dos agrupamentos extraídos das análises fatoriais
Número de fatores 5 4
Método usado Componentes principais Fatoramento por eixo principal
Variância total explicada 63.7% 64.2%
Legenda
(A) Fatores,
(B) % de explicação da
variância,
(C) Alfa de Cronbach,
(D) Indicadores.
(A) Afeição e respeito Profissional
(B) 40.9%
(C) 0.93
(D) Xre 3_21, Id 3_16, Xre 1_8, Id
2_9, Ac 2_10, Id 4_22, Id 5_25 Id
1_2, Xre 2_15, Xaf 3_19, Xaf 1_5,
Xaf 2_12 e Ac 5_26
(A) Respeito Profissional
(B) 45.2%
(C) 0.92
(D) Xre 3_21, Xre 1_8, Xre 2_15,
Id 4_22, Id 3_16, Id 5_25, Ac
2_10, Id 1_2, , Id 2_9, Ac 5_26 e
Ac 4_23
Continua
178
Continuação
Número de fatores 5 4
Método usado Componentes principais Fatoramento por eixo principal
Variância total explicada 63.7% 64.2%
(A) Lealdade
(B) 8.8%
(C) 0.80
(D) Xle 3_20, Xle 2_13, Xle 1_6,
Ac_4_23 e Ac 1_3
(A) Afeto
(B) 8.9%
(C) 0.88
(D) Xaf 3_19, Xaf 2_12 e Xaf 1_5
Legenda
(A) Fatores,
(B) % de explicação da
variância,
(C) Alfa de Cronbach,
(D) Indicadores.
(A) Resultados do Trabalho
(B) 4.9%
(C) 0.70
(D) Rt 3_18, Rt 4_24 e Rt 2_11
(A) Lealdade
(B) 5.1%
(C) 0.79
(D) Xle 1_6, Xle 3_20 e Xle 2_13
(A) Contribuição
(B) 4.6%
(C) 0.58
(D) Xco 2_14 e Ac 3_17
(A) Resultados visando
resultados
(B) 4.6%
(C) 0.72
(D) Rt 3_18, Rt 4_24, Rt 2_11 e
Ac 3_17
(A) Cooperação
(B) 3.8%
(C) sem Alfa de Cronbach
(D) Xco 1_7
Fonte: Elaborada pelo autor
Os indicadores podem ser identificados na leitura da Tabela 14.
Optou-se por utilizar os agrupamentos da Análise Fatorial por Fatoramento por Eixo
Principal nas demais análises que foram feitas posteriormente. Para tanto, considerou-se que
os índices de Alfa de Cronbach são mais consistentes e mais significativos para todos os
fatores, com relevantes níveis de concentração das respostas nas variações das opções
concordo, além de permitir um melhor ajuste teórico das variáveis agrupadas em todos os
fatores. Esse método permite a mensuração das correlações apresentadas entre as variáveis e
da existência de variância comum entre os fatores. O método também facilita identificar as
dimensões subjacentes presentes nos dados analisados (HAIR JR. et al., 2005; MALHOTRA,
2004).
179
6.3 Segundo estágio da análise dos resultados
O segundo estágio envolve análises estatísticas com outras variáveis envolvidas no estudo.
Isso pode ser visualizado na Figura 5.
Figura 5 – Segundo estágio – Análises estatísticas com outras variáveis do estudo
Fonte: Elaborada pelo autor
6.3.1 Análise fatorial por categorias demográficas
Pretende-se com a utilização dessa técnica identificar e analisar quais os agrupamentos
fatoriais e as respectivas cargas que apresentam diferenças significativas para homens e
mulheres.
Gênero
Convivência
diária e o
Tempo de
convivência
Percepção da
qualidade da
convivência
Natureza da
empresa
Análises
Estatísticas
Regressão
Múltipla
Teste U
Mann-Whitney
Análise
Fatorial
Análise
Discriminante
Gênero
Convivência
diária e o
Tempo de
convivência
Percepção da
qualidade da
convivência
Natureza da
empresa
Análises
Estatísticas
Regressão
Múltipla
Teste U
Mann-Whitney
Análise
Fatorial
Análise
Discriminante
180
6.3.2 Análise fatorial por gênero
Utilizaram-se dos mesmos procedimentos anteriormente adotados quando da análise fatorial
por fatoramento dos eixos principais, conforme mencionado e discutido anteriormente. A
Tabela 21 apresenta os agrupamentos resultantes e as cargas fatoriais das variáveis envolvidas
no estudo.
Tabela 21 – Análise fatorial por fatoramento do eixo principal do gênero masculino
Variáveis Cargas Fatoriais
1 2 3 4 5
Meu supervisor é o tipo de pessoa que qualquer um gostaria
de ter como amigo.
0.787
Eu gosto muito do meu supervisor como pessoa.
0.754
Meu supervisor é uma pessoa com a qual é agradável
trabalhar.
0.731
0.335
Eu respeito o conhecimento do meu supervisor e a sua
competência no trabalho.
0.715
Eu admiro as habilidades profissionais do meu supervisor.
0.661
0.344 0.373
Tenho orgulho de pertencer ao mesmo grupo profissional do
meu supervisor na Empresa.
0.439
0.538
0.323
Eu estou impressionado com o conhecimento do meu
supervisor a respeito do seu trabalho.
0.522
Sinto-me profundamente identificado com meu supervisor. 0.454
0.499
0.318 0.431
Sinto que meu supervisor e eu fazemos parte de um grupo
coeso.
0.477
0.403 0.305
Parece que meu supervisor antecipa meus pensamentos.
0.392
0.304 0.345
Meu supervisor poderá me defender se eu for atacado” por
outros.
0.770
Meu supervisor me defenderia perante outros na organização
se eu cometesse um erro sem querer, ou seja, sem ter a
intenção.
0.767
O meu supervisor defende minhas ações (atitudes) no trabalho
sempre e sem completo conhecimento das questões que estão
envolvidas.
0.654
Sinto-me reconhecido na empresa pelo fato de me parecer
com meu supervisor.
0.797
Sinto-me valorizado porque eu e meu supervisor trabalhamos
no mesmo grupo.
0.337 0.321
0.547
Percebo que meu supervisor e eu possuímos valores pessoais
semelhantes.
0.456
0.543
Os demais grupos da empresa pensam duas vezes antes de
falar mal do meu supervisor e do seu grupo na minha frente.
0.376
0.493
Continua
181
Continuação
Variáveis Cargas Fatoriais
1 2 3 4 5
Alcanço sempre 100% das metas que são estabelecidas para mim
na empresa.
0.819
Na maior parte das vezes eu supero as metas que me são
propostas.
0.746
Minha avaliação de desempenho sempre alcança bons
resultados.
0.583
Alfa de Cronbach 0.88 0.88 0.80 0.81 0.73
Fonte: Elaborada pelo autor
Os resultados demonstrados na Tabela 21 apresentam agrupamento das variáveis em 5
fatores. Esses 5 fatores explicam 71% (Tabela 22) da variância total e possuem índices de
MSA adequado ao nível de significância de 0.000. O KMO (Kaiser-Meyer-Onklin) total
encontrado foi de 0.89, o que permite dizer que a amostra está adequada para a realização da
Análise Fatorial.
Tabela 22 – Total da variância explicada
Fatores % da Variância Variância acumulada
1 9.226 43.931
2 2.061 53.745
3 1.274 59.810
4 1.224 65.638
5 1.139 71.059
Fonte: Elaborada pelo autor
A análise visual da matriz anti-imagem permite afirmar que as variáveis apresentam
correlações significativas entre si e poucas variáveis apresentam correlações parciais acima de
0.30, conforme apontado por Hair Jr. et al. (2005) como o maior valor aceitável. Também
apresentaram comunalidades acima de 0.50, exceto as variáveis “Parece que meu supervisor
antecipa meus pensamentos” (0.420), “Eu estou impressionado com o conhecimento do meu
supervisor a respeito do seu trabalho” (0.414), “Minha avaliação de desempenho sempre
apresenta bons resultados” (0.464) e “Percebo que coopero com meu supervisor e com o seu
182
grupo” (0.438), que apresentaram comunalidade um pouco abaixo do esperado. A opção foi
pela manutenção dessas variáveis, por se entender que elas ajudam a identificar os construtos
para os quais foram elaborados.
Esses agrupamentos, conforme indicado na Tabela 21, permitem dizer que, para o
gênero masculino, afeições nutridas pelo líder se dão através de valores do trabalho e valores
profissionais, baseadas na atração interpessoal, segundo indicado na literatura estudada e
discutida anteriormente. Seguidas as afeições estão o respeito, a admiração e o orgulho de
pertencer ao mesmo círculo profissional que o líder pertence. Aspectos relativos à lealdade e à
fidelidade assumidas publicamente para com o líder aparecem em terceira prioridade dos
respondentes. Percebem-se valorizados e reconhecidos, tanto pessoal como publicamente, por
conta desses vínculos, pelos demais integrantes da organização. A percepção que possuem
reflete-se no atingimento de metas e expectativas que deles são esperadas.
Procedeu-se, também, à análise fatorial por método de fatoramento por eixo principal
para o gênero feminino. Os resultados estão demonstrados na Tabela 23.
Tabela 23 – Análise fatorial por fatoramento do eixo principal do gênero feminino
Variáveis Cargas Fatoriais
1 2 3
Meu supervisor é o tipo de pessoa que qualquer um gostaria de ter como amigo.
0.786
Meu supervisor é uma pessoa com a qual é agradável trabalhar.
0.778
Sinto-me profundamente identificado com meu supervisor.
0.742
0.427
Eu gosto muito do meu supervisor como pessoa.
0.683
0.394
Os demais grupos da empresa pensam duas vezes antes de falar mal do meu supervisor e
do seu grupo na minha frente.
0.602
Sinto-me valorizado porque eu e meu supervisor trabalhamos no mesmo grupo.
0.580
0.469
Meu supervisor poderá me defender se eu for “atacado” por outros.
0.574
0.364 0.347
Sinto-me reconhecido na empresa pelo fato de me parecer com meu supervisor.
0.537
0.362
Parece que meu supervisor antecipa meus pensamentos.
0.503
0.362
Meu supervisor me defenderia perante outros na organização se eu cometesse um erro
sem querer, ou seja, sem ter a intenção.
0.490
0.350 0.424
Sinto que meu supervisor e eu fazemos parte de um grupo coeso.
0.476
0.423 0.451
Percebo que meu supervisor e eu possuímos valores pessoais semelhantes.
0.455
0.445
O meu supervisor defende minhas ações (atitudes) no trabalho sempre e sem completo
conhecimento das questões que estão envolvidas.
0.408
Continua
183
Continuação
Variáveis Cargas Fatoriais
1 2 3
Eu admiro as habilidades profissionais do meu supervisor. 0.409
0.759
Eu respeito o conhecimento do meu supervisor e a sua competência no trabalho.
0.713
Eu estou impressionado com o conhecimento do meu supervisor a respeito do seu
trabalho.
0.354
0.691
Tenho orgulho de pertencer ao mesmo grupo profissional do meu supervisor na
Empresa.
0.586
0.591
0.308
Na maior parte das vezes eu supero as metas que me são propostas.
0.670
Alcanço sempre 100% das metas que são estabelecidas para mim na empresa.
0.640
Percebo que coopero com meu supervisor e com o seu grupo.
0.509
Minha avaliação de desempenho sempre alcança bons resultados.
0.466
Alfa de Cronbach 0.93 0.88 0.67
Total da variância explicada 46.3
%
9.2% 5.3%
Fonte: Elaborada pelo autor
Os resultados demonstrados na Tabela 23 apresentam a existência de 3 fatores. Esses 3
fatores explicam 61% da variância (Tabela 3) e possuem índices de MSA adequado ao nível
de significância de 0.000. Também apresenta KMO (Kaiser-Meyer-Onklin) total de 0.91, o
que permite dizer que a amostra está adequada para a realização da Análise Fatorial.
A análise visual da matriz anti-imagem permite afirmar que as variáveis apresentam
correlações parciais significativas entre si e que poucas variáveis apresentam correlações
acima de 0.30, conforme apontado por Hair Jr. et al. (2005) como o maior valor aceitável.
Também apresentaram comunalidades acima de 0.50, exceto as variáveis “Parece que meu
supervisor antecipa meus pensamentos” (0.386); “O meu supervisor defende minhas ações
(atitudes) no trabalho sempre e sem completo conhecimento das questões que estão
envolvidas” (0.235); “Percebo que meu supervisor e eu possuímos valores pessoais
semelhantes” (0.417); “Sinto-me reconhecido na empresa pelo fato de me parecer com meu
supervisor” (0.470); “Minha avaliação de desempenho sempre apresenta bons resultados”
(0.315); “Alcanço sempre 100% das metas que são estabelecidas para mim na empresa”
(0.421); “Na maior parte das vezes eu supero as metas que me são propostas” (0.467); “Os
184
demais grupos da empresa pensam duas vezes antes de falar mal do meu supervisor e do seu
grupo na minha frente” (0.446) e “Percebo que coopero com meu supervisor e com o seu
grupo” (0.353), que apresentaram comunalidade abaixo do esperado. A opção foi pela
manutenção dessas variáveis, por se entender que elas ajudam a identificar os construtos para
os quais foram elaborados.
A análise da fatorial, conforme demonstrado na Tabela 23, mostra que os respondentes
do gênero feminino deram pesos e formaram cargas fatoriais diferentemente dos respondentes
do gênero masculino. O Fator 1 agrupou todas as variáveis das dimensões Afeto e Lealdade
da LMX, quatro variáveis da dimensão Identidade Social e três variáveis da dimensão
Autocategorização. A concentração das variáveis das duas dimensões da LMX permite dizer
que sentimentos de afeição e de lealdade ao líder se misturam. A essas dimensões se agrupam
também as variáveis que denotam sentimentos de valorização, orgulho e as que indicam
sentimento de pertencimento ao círculo mais próximo do líder. A esse fator deu-se o nome de
Comprometimento Afetuoso.
O Fator 2 agrupou todas as variáveis da dimensão Respeito Profissional e uma
variável de Identidade Social. O orgulho evidenciado por essa variável pode se justificar pelo
respeito que os respondentes nutrem em relação à competência e à habilidade mostradas pelo
líder. Esse fator recebeu o nome de Respeito Profissional.
O Fator 3 agrupou todas as variáveis de Resultados do Trabalho e uma variável de
Autocategorização. Nesse sentido, os respondentes do gênero feminino, igualmente, pactuam
com a percepção dos respondentes do gênero masculino que também formaram esse mesmo
agrupamento. Isso denota que se percebem produtivas e alcançando as metas e expectativas
que delas são esperadas. Este fator recebeu o nome de Resultados do Trabalho.
A Tabela 24 apresenta a comparação dos resultados obtidos das análises fatoriais para
o gênero masculino bem como para o gênero feminino.
185
Tabela 24 – Estatística comparativa das análises fatoriais
Número de fatores 4 5 3
Tipo de fatorial Amostra total Gênero Masculino nero Feminino
Variância total explicada 64.2% 71% 61%
Média total das cargas
fatoriais
0.668 0.595
. (A) Respeito Profissional
(B) 45.2%
(C) 0.92
(D) Xre 3_21, Xre 1_8, Xre
2_15, Id 4_22, Id 3_16, Id
5_25, Ac 2_10, Id 1_2, Id
2_9, Ac 5_26 e Ac 4_23
(E) 0.577
(A) Afeto
(B) 43.9%
(C) – 0.89
(D) Xaf 2_12, Xaf 1_5 e
Xaf 3_19
(E) 0.757
(A) Comprometimento
afetuoso
(B) 46.3%
(C) – 0.93
(D) Xaf 2_12, Xaf 3_19, Id
3_16, Xaf 1_5, Ac 5_26, Id
5_25, Xle 2_13, Ac 2_10, Id
1_2, Xle 3_20, Ac 4_23, Id
2_9 e Xle 1_6
(E) 0.525
(A) Afeto
(B) 8.9%
(C) 0.88
(D) Xaf 3_19, Xaf 2_12 e
Xaf 1_5
(E) 0.722
(A) Respeito Profissional
(B) 9.8%
(C) 0.89
(D) Xre 2_15, Xre 3_21, Id
4_22, Xre 1_8, Ac 4_23 e
Id 1_2
(E) 0.543
(A) Respeito Profissional
(B) 9.2%
(C) 0.88
(D) Xre 3_21, Xre 2_15, Xre
1_8 e Id 4_22
(E) 0.689
(A) Fatores,
(B) % de explicação da
variância,
(C) Alfa de Cronbach,
(D) Indicadores,
(E) Média das cargas
fatoriais.
(A) Lealdade
(B) 5.1%
(C) 0.79
(D) Xle 1_6, Xle 3_20 e
Xle 2_13
(E) 0.635
(A) Lealdade
(B) 6.1%
(C) 0.85
(D) Xle 1_6, Xle 3_20 e
Xle 2_13
(E) 0.730
(A) Resultados do trabalho
(B) 5.3%
(C) 0.67
(D) Rt 4_24, Rt 3_18, Ac 3_17
e Rt 2_11
(E) 0.571
(A) Cooperação visando
resultados
(B) 4.6%
(C) 0.72
(D) Rt 3_18, Rt 4_24, Rt
2_11 e Ac 3_17
(E) 609
(A) Reconhecimento e
valorização
(B) 5.5%
(C) 0.83
(D) Ac 2_10, Id 5_25, Id
2_9 e Ac 5_26
(E) 0.595
(A) Resultados do
trabalho
(B) 5.1%
(C) 0.76
(D) Rt 3_18, Rt 4_24, Rt
2_11e Ac 3_17
(E) 0.716
Fonte: Elaborada pelo autor
As assertivas podem ser identificadas na leitura da Tabela 14.
6.4 Considerações sobre as análises fatoriais
O objetivo dessa seção foi o de identificar se os respondentes do gênero masculino e do
feminino apresentariam diferenças de percepção no agrupamento das variáveis envolvidas
neste estudo, em relação ao agrupamento da amostra total. A Tabela 24 demonstra que a
186
diversidade de gênero afetou as escolhas dos respondentes. Na Análise Fatorial por Eixos
Principais, obtiveram-se 4 fatores, representando 64.2 da variância total explicada. Enquanto
os respondentes do gênero masculino agruparam as variáveis em 5 fatores (média das cargas
fatoriais de 0.668), os respondentes do gênero feminino agruparam as variáveis em 3 fatores
(média das cargas fatoriais de 0.595), representando 71% e 61% da variância total explicada.
As variáveis de Respeito Profissional ficaram agrupadas no primeiro fator com as variáveis de
Autocategorização e de Identidade Social, seguidas das variáveis de Afeto, Lealdade e
Cooperação visando a resultados. Afeto está no topo das escolhas do gênero masculino,
enquanto as variáveis de Afeto, de Lealdade e algumas variáveis de Identidade Social e de
Autocategorização aparecem no topo das escolhas do gênero feminino.
Os resultados das análises fatoriais realizadas, conforme Tabela 24, demonstram que
os neros masculino e feminino apresentam diferenças em termos de percepções quanto às
dimensões envolvidas no estudo, se comparados com os resultados obtidos com a amostra
total. Homens e mulheres percebem os relacionamentos diádicos que mantêm com seus
líderes a partir de perspectivas diferentes. Identificar e analisar essas perspectivas pode guiar
decisões organizacionais. A Teoria da Troca entre Líder e Liderado – LMX pode ajudar nessa
tarefa, à medida que ela permite investigar a qualidade do relacionamento diádico.
Os estudos organizacionais que tratam da temática diversidade de gênero vêm
chamando a atenção dos pesquisadores (CALÁS; SMIRCICH, 1999; NKOMO; COX, 1999).
Pitts (2005) informa que esses estudos são realizados para atender a duas demandas
específicas. A primeira envolve a representatividade que a diversidade tem na hierarquia da
organização. O diverso formula políticas que atendem aos interesses dos seus iguais,
trazendo-lhes benefícios. As similaridades entre os diversos fortalecem e facilitam a troca de
valores e crenças. A segunda foca os efeitos da diversidade em termos de desempenho
organizacional.
187
Baugh e Graen (1997) investigaram a diversidade de gênero e etnia a partir dos
pressupostos da LMX. Realizaram pesquisa procurando identificar se as equipes de trabalho
heterogêneas, isto é, formadas por homens e mulheres, brancos ou negros, recebiam dos seus
líderes as mesmas avaliações das equipes formadas somente por um dos gêneros e uma
etnia, portanto, homogêneas. Os resultados indicaram que os líderes de equipes formadas por
diversos, homens e mulheres de etnias diferentes, possuíam avaliações diferenciadas e menos
positivas do que as equipes homogêneas, formadas por homens e brancos. Aquelas eram
vistas como sendo menos efetivas, isto é, menos produtivas do que as homogêneas.
Martin e Epitropaki (1999), também, realizaram pesquisa com o intuito de verificar se
diferenças demográficas como idade, tempo de casa e gênero eram capazes de influenciar a
qualidade do relacionamento que líder e liderado mantêm, sob a ótica da LMX. Entendem que
características demográficas diferentes dificultam a identificação das similaridades entre líder
e liderado no processo de construção da atração e do relacionamento interpessoal. Contudo,
informam que a diferença de gênero não é consenso entre os pesquisadores. pesquisadores
para quem a diversidade de gênero entre líder e liderado implica em relacionamento de baixa
qualidade, segundo a LMX (GREEN; ANDERSON; SHIVERS, 1996), enquanto para outros
pesquisadores o gênero não é capaz de discriminar a qualidade da LMX (LIDEN; WAYNE;
STILWELL, 1993). Para Martin e Epitropaki (1999) as diferenças demográficas como idade e
tempo de casa são capazes de afetar a qualidade da LMX, como também as atitudes e o bem-
estar que os empregados têm no trabalho. Contudo, também observaram que o gênero não foi
capaz de afetar a qualidade da LMX.
Pesquisa com foco semelhante foi realizada por Somech (2003). A hipótese levantada
foi de que as diferenças demográficas, como idade, tempo de casa, nível educacional e
gênero, são capazes de afetar a construção do relacionamento com base na LMX. Observaram
que os líderes pesquisados não se comportam da mesma forma com seus liderados dentro da
188
organização. Líderes que se relacionam na base da punição e da recompensa, portanto,
relacionamento baseado na impessoalidade e na formalidade, não afeta a qualidade da LMX.
Diferentemente, líderes que consideram as diferenças demográficas nos seus relacionamentos
diádicos, constroem relacionamentos de maior qualidade, segundo a LMX. Quanto mais
longo for o relacionamento entre líder e liderado, maior será a possibilidade de que díades do
mesmo gênero sejam formadas.
Varma (2001) realizou interessante pesquisa para investigar como as organizações
globais se comportam quando da necessidade de designação de seus funcionários para
trabalharem no exterior. Em suas conclusões afirma que o número de mulheres que são
designadas para exercerem funções no exterior é bem menor do que o número de homens.
Justifica que o relacionamento que o líder mantém com o liderado, à luz da LMX, é decisivo
no processo de escolha. Argumenta que dois fatores são decisivos no processo de escolha. O
primeiro é a posição hierárquica de quem tem o poder de designar pessoas. Varma (2001)
constatou em outras pesquisas que uma maioria esmagadora dessas pessoas, nesses postos-
chaves, é formada por homens. O segundo é o gênero de quem designa pessoas. Quando o
líder é do gênero masculino, sua opção de designação é feita para liderados que fazem parte
do seu endogrupo e que sejam do gênero masculino. O mesmo ocorre quando o líder é do
gênero feminino. Essas são as razões da baixa presença das mulheres em designações
internacionais, segundo Varma (2001).
A gestão da diversidade representa um momento crítico de transição das organizações
(DOUGLAS et al., 2003). Esses pesquisadores entendem que, em momentos de transição, de
desafios como os que as organizações contemporâneas estão vivendo, o líder se apresenta
como um recurso vital, que provê direção e pode atuar de forma preventiva na manutenção do
compromisso das pessoas com a organização e com suas metas e objetivos centrais. Nesse
sentido, a gestão da diversidade sob a ótica da LMX apresenta-se como um importante
189
recurso. A compreensão e gestão das diferenças entre homens e mulheres podem ser
representativas no âmbito organizacional, tendo em vista que eles percebem diferentemente a
base do relacionamento que mantêm com o líder, conforme observado na análise dos dados
desta pesquisa. Se para os liderados do gênero masculino as afeições públicas em relação ao
líder foram representativas entre a amostra pesquisada, para o gênero feminino essas afeições
vêm acompanhadas de sentimentos de lealdade e de identificação com a figura e o papel do
líder. As diferenças identificadas podem afetar as decisões organizacionais, das mais simples
às mais complexas. Podem influir na elaboração de políticas que representem os iguais, na
identificação das similaridades no relacionamento diádico, na escolha de pessoas para
ocuparem posições de maior responsabilidade ou, ainda, na atração interpessoal construída a
partir de valores profissionais relacionados ao trabalho.
6.5 Análise das médias de respondentes por natureza da empresa
O objetivo da realização dessa seção foi o de identificar e analisar se os respondentes
pertencentes a empresas privadas, de economia pública ou mista percebem diferentemente o
relacionamento que mantém com o líder.
Contudo, a análise de freqüência mostrou existir uma grande desproporcionalidade no
tamanho das amostras considerando a natureza das empresas. O tamanho da amostra de
empresas públicas ou de economia mista não contempla o ideal estatístico, que segundo
Malhotra (2004), deve ser de 4 a 5 vezes a quantidade de variáveis que compõem o estudo,
conforme mostra a Tabela 25.
190
Tabela 25 – Freqüências de respondentes pertencentes a Empresas Privadas,
Públicas ou de Economia Mista
Freqüência Porcentagem Porcentagem Porcentagem
Válida cumulativa
Empresa privada
229 89.8 90.2 90.2
Empresa pública ou de
Economia mista
25 9.8 9.8 100.0
Total
254 99.6 100.0 -
Dado perdido
1 0.4 - -
Total
255 100.0 - -
Fonte: Elaborada pelo autor
É interessante observar que 90% dos respondentes que compõem o presente estudo
pertencem a empresas privadas. Essa maciça presença amostral permite que se usem os
resultados da Análise Fatorial por Eixo Principal realizados, apresentados e discutidos
anteriormente como um importante indicador da aplicabilidade da LMX e das demais
dimensões envolvidas neste estudo, para identificar o relacionamento diádico entre líder e
liderado em empresas privadas.
Apesar disto, resolveu-se comparar as tendências centrais dessas duas amostras, isto é,
respondentes de empresas privadas e respondentes de empresas públicas ou de economia
mista. Para tal, optou-se pelo Teste U de Mann-Whitney. Trata-se de um teste não
paramétrico, “para comparar as tendências centrais de duas amostras independentes”
(WAGNER et al., 2004, p. 137). Para tal, utilizaram-se os escores que foram salvos na
Análise Fatorial por Eixos Principais. Os resultados podem ser visualizados na Tabela 26.
Tabela 26 – Resultados do Teste U de Mann-Whitney
DIMENSÕES TIPO DE EMPRESA N
Média dos
Postos
Somatória dos
Postos
RESPEITO PROFISSIONAL
Empresa privada
229
129.29 29607.00
IDENTIDADE SOCIAL
Empresa pública ou de economia mista
25
111.12 2778.00
AUTOCATEGORIZAÇÃO
Total
254
Continua
191
Continuação
DIMENSÕES TIPO DE EMPRESA
N
Média dos
Postos
Somatória dos
Postos
Empresa privada
229
128.28 29377.00
AFETO
Empresa pública ou de economia mista
25
120.32 3008.00
Total
254
Empresa privada
229
125.82 28812.00
LEALDADE
Empresa pública ou de economia mista
25
142.92 3573.00
Total
254
COOPERAÇÃO
Empresa privada
229
131.95 30216.00
VISANDO
Empresa pública ou de economia mista
25
86.75 2169.00
RESULTADOS
Total
254
Fonte: Elaborada pelo autor
A Tabela 26 permite avaliar a “semelhança entre as duas séries por meio do grau de
intersecção dos postos” (WAGNER et al. 2004, p. 139), indicando que uma diferença
significativa entre as médias dos postos da dimensão Cooperação Visando Resultados dos
respondentes pertencentes a empresas privadas em relação aos respondentes de empresas
públicas ou de economia mista. A confirmação dessas observações pode ser visualizada na
Tabela 27.
Tabela 27 – Teste estatístico do Teste U de Mann-Whitney
RP_PR_ID_AC AFETO LEALDADE
COOPERAÇÃO VISANDO
RESULTADOS
Mann-Whitney U
2453 2683 2477 1844
Wilcoxon W
2778 3008 28812 2169
Z
-1.174 -. 515 -1.105 -2920
Asymp. Sig.
(2-tailed)
0.240 0.607 0.269 0.003
Fonte: Elaborada pelo autor
192
A análise dos resultados contidos na Tabela 27 permite aceitar a hipótese de que os
respondentes, independentemente do tipo da empresa, possuem a mesma percepção das
dimensões dos construtos da Identidade Social, Autocategorização e Respeito Profissional,
Afeto e Lealdade, com níveis de significância de 0.240, 0607 e 0269, respectivamente, todos
superiores a 0.05 (HAIR JR. et al., 2005). A dimensão Cooperação Visando Resultados
apresentou níveis de significância abaixo do esperado (0.003), o que indica que, no tocante a
atingimento de metas e resultados, os respondentes de empresas privadas têm percepção
diferente dos respondentes de empresas públicas ou de economia mista.
Os relacionamentos diádicos, à luz da LMX, foram pouco explorados em empresas
privadas (DIENESCH; LIDEN, 1986). A atenção dos pesquisadores voltou-se para a
compreensão dos relacionamentos diádicos que líder e liderado constroem dentro de
organização pública ou de universidades. O pressuposto levantado por esses pesquisadores é
de que a informalidade da estrutura organizacional, nesse tipo de empresa, facilita a
construção dos relacionamentos diádicos, diferentemente de organizações privadas nas quais a
formalidade da estrutura é imperativa para sua sobrevivência. Para Hemsley e Vasconcelos
(1989), nessas organizações há um desenho hierárquico concebido para alcançar resultados. O
mesmo acontece com a autoridade e o poder. Eles são distribuídos através de todos os seus
níveis, objetivando o atingimento de metas organizacionais.
Nas organizações privadas, o supervisor ocupa uma posição de destaque na hierarquia.
A ele é dado a autoridade e o poder para formar sua equipe de trabalho, fazer o gerenciamento
de tarefas, punir ou recompensar pessoas. Faz parte do seu papel intermediar todos os
interesses presentes no seu âmbito de atuação. Seria esperado, então, sob a perspectiva dos
pressupostos de Dienesch e Liden (1986), que, em empresas privadas, a formação dos
relacionamentos diádicos, como preceitua a LMX, fosse mais dificultada do que em empresas
públicas. Os dados do presente trabalho mostram que respondentes pertencentes a empresas
193
privadas ou públicas e de economia mista possuem a mesma percepção do relacionamento
que mantêm com o líder.
6.6 Dependência entre variáveis independente e dependente
Nesse item, procurou-se apresentar e discutir a utilização de duas técnicas multivariadas que
têm por finalidade verificar a possível dependência entre variáveis independente e
dependente. Os procedimentos necessários na utilização dessas técnicas estão definidos e
especificados a seguir.
6.6.1 Análise Discriminante
Trata-se de uma técnica multivariada que permite ao pesquisador tratar uma variável
dependente categórica e diversas variáveis independentes métricas (HAIR JR. et al., 2005). É
uma tentativa de classificar indivíduos ou grupos de indivíduos dentro de uma mesma
amostra, tomando como base uma única variável dependente (DILLON; GOLDSTEIN,
1984), bem como permite a discriminação das variáveis que mais explicam a variável
dependente categórica.
Malhotra (2004) apresenta quatro outras possibilidades à disposição do pesquisador na
utilização da análise discriminante: a) permitir ou estabelecer as funções discriminantes das
variáveis independentes a fim de se encontrar a melhor performance das categorias presentes
194
na variável dependente; b) verificar a existência de diferenças significantes entre os grupos,
considerando as variáveis independentes ou preditoras; c) determinar quais as variáveis
independentes que mais contribuem para a diferença entre os grupos estudados; d) avaliar a
predição da classificação feita.
Essa técnica é apropriada para “testar a hipótese de que as médias do grupo de um
conjunto de variáveis independentes para dois ou mais grupos são iguais” (HAIR JR. et al.,
2005, p. 209). Dessa operação matemática decorre a origem do escore Z discriminante, que é
composto para cada indivíduo envolvido na análise. Quando se múltiplam todos os escores
discriminantes de todos os indivíduos da amostra, alcança-se o centróide, que nada mais é do
que a média desse ou de cada grupo de indivíduos. Haverá tantos centróides quantos forem os
grupos envolvidos na análise discriminante. Por definição, cada centróide indica o local mais
provável que o respondente ocupa dentro de um grupo específico. A comparação de
centróides mostra o quanto os grupos estão próximos ou afastados dos demais grupos
discriminados na amostra.
A significância estatística da análise discriminante dá-se, portanto, na comparação das
distâncias dos centróides dos grupos. “Se a sobreposição das distribuições é pequena, a função
discriminante separa bem os grupos. Se a sobreposição é grande, a função é um discriminador
pobre entre os grupos” (HAIR JR. et al., 2005, p. 209). Grandes sobreposições denotam que
uma probabilidade de que a classificação dos grupos envolvidos não se deu como deveria,
isto é, não discriminou.
Dois objetivos foram almejados, neste trabalho, para a realização da análise
discriminante. O primeiro foi verificar se o tempo que líder e liderado convivem juntos se
apresentou como uma variável discriminante na construção desse relacionamento. O segundo
foi verificar se a predisposição perceptiva do respondente a respeito da convivência com o
líder se apresenta como uma variável discriminante na construção do relacionamento entre
195
ambos. Os resultados dessas análises estão apresentados separadamente nas seções
posteriores, conforme demonstra a Figura 6. As variáveis independentes envolvidas nessa
análise foram obtidas a partir dos escores fatoriais encontrados na análise fatorial por eixo
principal, já apresentada e discutida anteriormente.
Figura 6 – Objetivos para Análise discriminante
Fonte: Elaborada pelo autor
A análise discriminante é muito sensível ao tamanho da amostra e ao número de
variáveis independentes incluídas no estudo. Não consenso entre os teóricos quanto à
relação entre respondentes e variáveis envolvidas no uso dessa técnica. No caso deste
trabalho, a proporção foi de 10 respondentes por variável, considerando que a amostra total
tem 255 respondentes. Essa proporção é considerada adequada, segundo Hair Jr. et al. (2005).
É necessário que certas condições estatísticas sejam atendidas para que se possa obter
uma aplicação apropriada da análise discriminante. Duas condições são consideradas chaves,
a saber, a normalidade multivariada das variáveis independentes e a covariância desconhecida
para os grupos definidos como variável dependente seja igual e a baixa multicolinearidade
entre variáveis, principalmente se a opção para análise discriminante for pelo método
stepwise. Em caso de violação dessas condições, o pesquisador deve adotar métodos capazes
RESPEITO
PROFISSIONAL
IDENTIDADE SOCIAL
AUTOCATEGORIZAÇÃO
AFETO
LEALDADE
COOPERAÇÃO VISANDO
A RESULTADOS
QUALIDADE
DA
CONVIVÊNCIA
TEMPO
DE
CONVIVÊNCIA
196
de corrigi-las, a fim de que não se tenham problemas de estimação da função discriminante.
Se for esse o caso, a regressão logística deve ser usada como técnica alternativa à análise
discriminante (HAIR JR. et al., 2005). No caso desta pesquisa, esses pressupostos não foram
violados, conforme Tabela 28.
Tabela 28 – Teste de normalidade
Kolmogorov-Smirnov Shapiro-Wilk
Statistic df Sig. Statistic df Sig.
RESPEITO PROFISSIONAL
IDENTIDADE SOCIAL
AUTOCATEGORIZAÇÃO
0.082
255
0.000
0.960
255
0.000
AFETO
0.116 255
0.000 0.938 255
0.000
LEALDADE
0.099 255
0.000
0.950 255
0.000
COOPERAÇÃO VISANDO
RESULTADOS
0.086 255
0.000 0.970 255
0.000
Fonte: Elaborada pelo autor
dois métodos disponíveis nos softwares que podem ser utilizados para a realização
da análise discriminante. O primeiro é denominado de método simultâneo direto e o segundo
de método stepwise. O método simultâneo considera todas as variáveis independentes juntas
ou o seu conjunto inteiro, na determinação da função discriminante de cada variável
independente. Razões teóricas justificam essa opção, isto é, o pesquisador não está interessado
na identificação das variáveis com maior poder discriminante.
O método stepwise pressupõe que as variáveis independentes vão sendo colocadas na
análise uma por uma, com base no seu poder discriminante. Escolhe-se a variável que melhor
discrimina e essa vai fazendo pares com as demais variáveis independentes, uma por vez, para
que se escolha qual dessas variáveis possui poder discriminante tal qual a primeira escolhida.
Esse procedimento se repete com todas as variáveis independentes. Nesse caso, é possível que
o pesquisador considere a exclusão de variáveis com menor poder discriminante. Esse método
197
é útil quando o pesquisador tem em mãos uma grande quantidade de variáveis independentes
e para identificar qual ou quais dessas variáveis possui maior poder discriminante.
Depois que a função discriminante tiver sido realizada, deve-se verificar o seu nível de
significância. Há vários critérios disponíveis à disposição do pesquisador, conforme apontam
Hair Jr. et al. (2005). As medidas de lambda de Wilks, traço de Hotelling e o critério de Pillai,
avaliam o poder discriminante das funções discriminantes, enquanto a raiz característica de
Roy avalia apenas a primeira função discriminante. Como vantagens e desvantagens na
utilização de cada um desses métodos, cabe ao pesquisador escolher o método que melhor lhe
convém na interpretação dos resultados da análise discriminante. Contudo, se a opção do
pesquisador for pelo método stepwise, então, as medidas D
2
de Mahalanobis e V de Rao o
as medidas mais apropriadas, porque são medidas de distância generalizada entre grupos.
Nesse sentido, o critério convencional de igual ou abaixo de 0.05 de nível de
significância é freqüentemente usado. Resultados abaixo desse nível de significância indicam
que discriminação entre grupos. Contudo, se a função discriminante não for significante
nesse nível, isto é, não há discriminação entre grupos, então, há poucas chances de se
prosseguir com a análise discriminante. Contudo, isso não é consenso na literatura. Quando a
função discriminante apresentar um nível de significância maior do que o freqüentemente
usado, isto é, acima de 0.05 ou um índice maior que 0.10, por exemplo, o pesquisador deve
avaliar o custo versus o valor da informação obtida, para, então, decidir se continuidade ou
não à análise discriminante (HAIR JR. et al., 2005).
se deve passar para a interpretação dos resultados da análise, se a função
discriminante possuir significância estatística e a precisão de classificação for aceitável,
conforme discutido anteriormente. três métodos que podem ser usados para se determinar
a importância relativa de cada variável independente na análise discriminante. O primeiro
trata-se de uma abordagem tradicional que é o exame do sinal e da magnitude dos pesos
198
discriminantes padronizados. Variáveis com pesos maiores possuem maior poder
discriminante. O segundo, de cargas determinantes, mede a correlação linear simples entre
cada variável independente e a função discriminante. O terceiro, dos valores dos F parciais,
mais ajustado ao método stepwise, determina os tamanhos de F que são significantes e os
ordena. Grandes valores de F, isto é, tamanhos absolutos dos valores obtidos na análise,
indicam maior poder discriminante de cada variável.
Outra preocupação do pesquisador é quanto à validade externa e a validade interna dos
resultados da análise discriminante (HAIR JR. et al., 2005; DILLON; GOLDSTEIN, 1984). A
primeira é usada para “determinar se a relação de causa e efeito encontrado no experimento
pode ser generalizado” (MALHOTRA, 2004, p. 213), e a segunda trata-se “de uma medida de
precisão de um experimento” (MALHOTRA, 2004, p. 212). Ainda, segundo esse autor, é
possível para o pesquisador trocar uma validade por outra, em casos de pesquisas que
envolvem fenômenos das ciências sociais. Neste trabalho, a validade interna foi verificada
através do procedimento holdout e considerando-se a possibilidade de generalização desses
achados. O método holdout pressupõe a divisão da amostra em duas, uma usada para a
estimação dos coeficientes da função discriminante e a outra usada para validação. Optou-se
por estimar a função discriminante de 70% das observações, a fim de se verificar se os dados
eram compatíveis com os resultados da totalidade da amostra. Os resultados estão disponíveis
no Apêndice B.
6.6.2 O tempo de convivência e a construção do relacionamento com o líder
É possível determinar se o tempo de convivência com o líder é capaz de discriminar as
dimensões do Respeito Profissional, da Identidade Social, da Autocategorização, Afeto e
Lealdade e Cooperação visando a resultados?
199
Considerou-se a variável tempo de convivência que o liderado tem com o líder como a
variável independente e as demais dimensões como variáveis dependentes. Para tal, procedeu-
se ao cálculo da média das respostas dadas pelos respondentes na escala, que varia de
discordo totalmente (1) até concordo totalmente (7), através do software SPSS, versão 11.0.
Encontradas as médias, realizou-se um agrupamento em uma nova variável. O primeiro
agrupamento englobou as médias menores que 4.42. O segundo as médias que ficaram entre
4.43 a 5.36 e, o terceiro as médias que ficaram com mais de 5.38.
O teste de igualdade de médias entre grupos (Wilk’s Lambda) apresentou índices de
0.99 para todos os agrupamentos, todos com um nível de alfa acima de 0.05. Esses resultados
são confirmados na análise da matriz de covariância entre os três grupos. O Box’s M teste
apresentou um índice de significância de 0.63, indicando que as médias são diferentes entre os
três grupos analisados. Apesar de o nível de significância transcender os critérios
convencionais, optou-se em dar continuidade à função discriminante, pelos mesmos motivos
já apresentados e discutidos anteriormente. Esses resultados podem ser mais bem visualizados
na Tabela 29.
Tabela 29 – Box’s M teste
Box's M
0,92
F
Approx. 0,46
df1 2
df2 142674,7
Sig. 0,63
Fonte: Elaborada pelo autor
A análise dos centróides indica que, apesar da variável independente não ser capaz de
discriminar os grupos, uma leve tendência para os respondentes que possuem mais de 5
anos de convivência com o líder. A Tabela 34 apresenta a classificação dos resultados da
200
discriminante. A análise dos dados indica que probabilidade (34.1%) de que isso possa
acontecer e 23.9% de que não ocorra. Isso pode ser um indicativo de que quanto maior o
tempo de convivência maior será a possibilidade de construção de um relacionamento
baseado nas três dimensões da LMX envolvidas na discriminante.
Tabela 30 – Classificação dos resultados
Qualidade do Grupo predito
relacionamento <= 4,42 4,43 - 5,37 5,38+ Total
Soma <= 4,42
61 27 0 88
4,43 - 5,37
57 26 0 83
>= 5,38
58 26 0 84
Original % <= 4,42
69,32 30,68 0 100
4,43 - 5,37
68,67 31,33 0 100
>= 5,38
69,05 30,95 0 100
Soma <= 4,42
61 27 0 88
4,43 - 5,37
57 0 26 83
>= 5,38
58 26 0 84
Validade cruzada % <= 4,42
69,32 30,68 0 100
4,43 - 5,37
68,67 0 31,33 100
>= 5,38
69,05 30,95 0 100
34,1% classificado corretamente.
23,9% classificado incorretamente.
Fonte: Elaborada pelo autor
Os mesmos dados foram submetidos à análise de regressão, cujos procedimentos serão
apresentados e discutidos na próxima seção, e os resultados indicam que somente 0.4% (r
2
0.004) do tempo de convivência entre líder e liderado explicam a qualidade do
relacionamento que mantêm, com um índice de significância de 0.289, conforme pode ser
observado na Tabela 31.
201
Tabela 31 – Análise de regressão
Modelo R R
2
R
2
Ajustado Erro padrão R
2
Mudado F df1
df2 Sig
1
0,067 0,004 0,001 0,823 0,004 1,127 1 253 0,289
Fonte: Elaborada pelo autor
A análise desses dados não indica a presença de indicativo de que haja fator
discriminante do tempo de convivência na qualidade do relacionamento que líder e liderado
mantêm. Esses achados contraditam o que se a respeito na literatura. Os pressupostos dos
estudos mais avançados da LMX são de que com o passar do tempo de uma convivência, líder
e liderado vão estreitando relacionamento, tornando-se parceiros mais comprometidos um
com o outro (DANSEREAU; GRAEN; HAGA, 1975; GRAEN; UHL-BIEN, 1998). Deixam
de estabelecer relações transacionais e passam a exercer relações mais transformacionais,
baseadas em trocas sociais de interesse e de influência mútuos.
O mesmo é encontrado nos pressupostos apresentados e discutidos anteriormente
sobre os fatores que levam à atração interpessoal. Quanto maior o tempo de convivência,
maior deveria ser a possibilidade de as pessoas conhecerem as outras no que tange a hábitos,
valores e costumes. O aumento dessa freqüência tenderia a aumentar a possibilidade de as
pessoas serem capazes de predizer o comportamento das demais, o que facilitaria a atração
interpessoal na construção do relacionamento.
6.6.3 Percepção de convivência com o líder
É possível que a percepção que os respondentes possuem do relacionamento que mantêm com
o líder, pode ser discriminada pelas dimensões do Respeito Profissional, formada pelo
202
Respeito Profissional da LMX, pela Identidade Social e Autocategorização, além da dimensão
Afeto e Lealdade? Considerou-se a percepção que os respondentes têm do relacionamento
como variável dependente e as demais dimensões como variáveis independentes. O
instrumento permitia que os respondentes optassem por escolher as opções sim, não e, às
vezes, para manifestarem suas percepções a respeito.
Determinada essa hipótese, procedeu-se à realização da análise discriminante. Os
resultados obtidos o indicaram a presença de missings, na medida em que esse cuidado
havia sido tomado quando da realização de outras técnicas multivariadas, conforme
apresentado e discutido anteriormente.
O teste de igualdade de médias entre grupos (Wilk’s Lambda) apresentou índice de
85.2% para o fator 1 (Respeito Profissional), 95.8% para o fator 2 (Afeto) e 93.4% para o
fator 3 (Lealdade), todos com significância menor que o convencional de 0.05. Também o
foram encontradas diferenças significativas na matriz de covariância entre os três grupos
(Box’s M teste = 0.168), cujos resultados podem ser mais bem visualizados na Tabela 32.
Tabela 32 – Box’s M teste
Box’s M 17,151
F
Approx. 1,378
df1 12
df2 20609,55
Sig. 0,168
Fonte: Elaborada pelo autor
Como comentado anteriormente (HAIR JR. et al., 2005), o pesquisador pode adotar
alguns critérios de significância para decidir se dá ou não continuidade à função
discriminante. O critério convencional é o de 0.05, contudo, podem-se adotar níveis de
203
significância maior que 0.10, dependendo do interesse do pesquisador no tocante ao valor da
informação que possui. Optou-se por dar continuidade à função discriminante, assumindo-se o
nível de significância maior que o convencional, tendo em vista o interesse de pesquisa.
A análise dos resultados indica que das variáveis independentes incluídas no estudo, a
que mais poder discriminante possui é o fator 1 (Respeito Profissional), apresentando 0.82 da
função discriminante, classificados corretamente em 61.2% dos casos (179), conforme Tabela
33. Para os grupos “não” a probabilidade é de 33.3% e para o grupo “às vezes” a
probabilidade é de 21.2%. Ambos os grupos apresentaram probabilidades menores de serem
classificados corretamente. Vale ressaltar que há uma acentuada diferença na composição dos
grupos. O grupo “não” foi composto por 24 casos (13.4%) e o grupo “às vezes” por 52 (29%)
casos.
Tabela 33 – Classificação dos resultados
A
predisposição
perceptiva
ajudou na
aproximação
Sim
Membros do
grupo predito
Não
Às vezes
Total
Original Soma
Sim 133 19 27 179
Não 7 10 7 24
Às vezes 19 20 13 52
%
Sim 74,3 10,6 15,1 100,0
Não 29,2 41,7 29,2 100,0
Às vezes 36,5 38,5 25,0 100,0
Validade
cruzada
Soma
Sim 132 20 27 179
Não 7 8 9 24
Às vezes 20 21 11 52
%
Sim 73,7 11,2 15,1 100,0
Não 29,2 33,3 37,5 100,0
Às vezes 38,5 40,4 21,2 100,0
(B) 61.2% dos casos agrupados originalmente estão corretamente classificados
(C) 59.2% dos casos agrupados com validade cruzada estão classificados corretamente
Fonte: Elaborada pelo autor
204
O quadrado da correlação canônica dessa função discriminante foi de 0.248. Isso
significa que uma proporção da variância total nos escores discriminantes que explica as
diferenças encontradas. Os demais fatores também apresentam algum poder discriminante,
como o fator 3 (Lealdade) com 0.57 e o fator 2 (Afeto) com 0.43 de função discriminante,
apesar de esses índices não serem significativos. Contudo, são relativamente baixos em
relação ao primeiro fator identificado, conforme Tabela 34.
Tabela 34 – Coeficiente padronizado da função discriminante canônica
FUNCTION
1 2
Regressão do escore do fator 1 para a 1
a
análise
0.820 -0.257
Regressão do escore do fator 2 para a 1
a
análise
0.428 0.907
Regressão do escore do fator 3 para a 1
a
análise
0.572 -0.258
Fonte: Elaborada pelo autor
Os respondentes consideraram a possibilidade da convivência, não no sentido de
quantidade de tempo, mas no sentido de estar junto com o líder, como um fator importante
para que construíssem o relacionamento com o líder, baseado, primeiramente, na percepção
das competências, habilidades, conhecimento e reconhecimento profissional conquistado pelo
líder (Respeito Profissional), seguido do apoio público que o respondente manifesta para com
as metas e os objetivos pessoais e profissionais do líder (Lealdade) e a afeição mútua baseada
na interação pessoal (Afeto), esses com menor poder discriminante.
A proximidade física entre líder e liderado poderá ser um grande estimulador na
construção do relacionamento, à medida que ela permite que as pessoas possam coletar,
processar e julgar informações a respeito do outro. A convivência pode permitir, ainda, o
reconhecimento no outro de hábitos, valores, costumes, entre outras características pessoais
205
ou profissionais, que são comuns a ambos. Da posse dessas informações, as pessoas podem
decidir se interagem ou não com o outro (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2003).
Pode, ainda, apurar o processo perceptivo do percebedor, à proporção que cria
condições para a verificação se aquilo que está sendo percebido no outro é compatível pelas
evidências reais, observadas através da convivência. O refinamento do processo perceptivo
pode levar o líder e o liderado, ambos percebedores um do outro, a repensarem estereótipos
ou atributos que possam, de alguma maneira, dificultar a construção do relacionamento entre
ambos (HASTORF; SCHNEIDER; POLEFKA, 1973).
Os pressupostos da profecia auto-realizadora (RODRIGUES; ASSMAR;
JABLONSKI, 2003) ajudam a compreender essa relação, na medida em que a formulação de
atribuições e de construção de estigmas positivos facilita a expressão de atitudes e
comportamento e estimulam o outro, no caso, o líder, a responder à altura aos estímulos que
recebe do liderado. Esses pressupostos não podem ser controlados a priori, que acontecem
a partir de percepções e julgamentos que as pessoas fazem umas das outras.
Os resultados das análises discriminantes feitas e apresentadas anteriormente mostram
que a possibilidade ou expectativa de estar junto com o líder possui maior poder discriminante
do que o tempo real de convivência com o líder na construção do relacionamento com base
nas dimensões de Respeito Profissional, Afeto e Lealdade. É até possível que com o passar do
tempo as atribuições e as formulações cognitivas que o liderado construiu preventivamente se
contradigam com os fatos observados com a convivência, levando-o à frustração.
6.7 Análise de Regressão múltipla
A técnica estatística que permite analisar a relação existente entre uma única variável
dependente e um conjunto de variáveis independentes (HAIR JR. et al., 2005) é denominada
206
de Análise de Regressão Múltipla. Quando se trata de apenas duas variáveis, uma dependente
e uma independente, denominam-se de Análise de Regressão Simples. No caso da regressão
múltipla, a técnica permite que se utilize dos valores conhecidos das variáveis independentes
para que se possam prever ou explicar os valores da variável dependente eleita para o estudo.
Nesse sentido, os pesos encontrados indicam o quanto as variáveis independentes são capazes
de prever e ajudar na interpretação da variável dependente.
A seleção das variáveis independentes torna-se vital para a utilização dessa técnica.
Essa seleção, segundo Hair Jr. et al. (2005), não pode ser feita de forma indiscriminada nem
sustentada em bases empíricas. Quando tal ocorre várias premissas da técnica são violadas.
Nesse sentido, deve-se estar atento ao erro de medida, que permite verificar o quanto a
medida de uma variável é precisa e consistente em relação ao seu conceito. Quanto maior o
erro de medida, maiores serão as dificuldades das variáveis independentes encontrarem
precisão preditiva aceitável.
Outra violação dos princípios básicos da técnica diz respeito ao erro de especificação,
que, segundo Hair Jr. et al. (2005), se trata da inclusão de variáveis irrelevantes ao estudo ou
mesmo a omissão de variáveis que são relevantes considerando o conjunto de variáveis
independentes. Três impactos podem ser sentidos: o primeiro, a redução da parcimônia do
modelo; o segundo, a que as variáveis adicionais podem mascarar ou substituir aquelas
variáveis que são consideradas mais úteis para o modelo e, em terceiro, podem tornar os testes
estatísticos das variáveis independentes menos preciso, reduzindo, assim, sua significância.
O tamanho da amostra é outra preocupação que se deve ter quando da utilização dessa
técnica, à medida que seus efeitos são vistos “no poder estatístico do teste de significância e
na generalização do resultado” (HAIR JR. et al., 2005, p.147). Amostras pequenas (20
observações) permitem somente a realização de regressão simples, mesmo assim indicando
que somente relações muito fortes poderão ser detectadas. Amostras muito grandes (1.000
207
observações) tornam-se muito sensíveis indicando que qualquer relação pode ser
estatisticamente significante, mas pode não ter significância “prática”.
No presente estudo, todos os princípios anteriormente descritos foram observados. A
amostra total é formada de 255 observações, compreendendo um total de 03 fatores
independentes representativos. Essa proporção é considerada uma medida adequada para a
determinação do poder estatístico (R
2
) e a possível generalização dos resultados obtidos, em
um nível de significância de 0.05 com um poder de probabilidade de 0.80. Nesse caso, o R
2
apresentaria valores mínimos para predição da técnica ao nível maior ou igual a 5%. O ideal,
segundo Hair Jr. et al. (2005), seria que a proporção fosse de 15 a 20 observações para cada
variável e se a opção for pelo procedimento stepwise, a proporção sobe para 50 observações
para cada variável. Isso significa que o R
2
apresentaria maiores valores preditivos.
A utilização de qualquer técnica multivariada exige que se observem quatro
pressupostos básicos, a saber: “de linearidade, de variância constante dos termos do erro,
independência dos termos do erro e a normalidade da distribuição dos termos do erro” (HAIR
JR. et al., 2005, p.153). Entre as formas disponíveis para análise e preservação destes
pressupostos encontra-se a utilização de gráficos dos resíduos, que é “a diferença entre os
valores observados e previstos para a variável dependente” (HAIR JR. et al., 2005). Quando
se examinam resíduos, o pesquisador deve procurar alguma padronização, visto que ela
possibilita compará-los com os valores previstos. Resíduos padronizados correspondem a
valores t, o que facilita a avaliação da significância estatística. Os softwares estatísticos
disponibilizam gráficos que permitem ao pesquisador visualizar os resíduos, como o
histograma, técnica disponível no SPSS utilizado neste trabalho. A visualização dá-se através
da análise visual da caixa de diálogo plots, fazendo-se a escolha pelo standardized residual
plots e pelo normal probability plot.
208
Os efeitos da multicolinearidade, também, devem ser alvos de investigação na
utilização da análise de regressão. Trata-se de verificar os índices de correlações entre as
variáveis independentes, presentes nos dados e não na especificação do modelo. O ideal seria
que as variáveis independentes apresentassem alto grau de correlação com a variável
dependente, “mas com pouca correlação com elas próprias” (HAIR JR. et al., 2005, p.165).
Contudo, pesquisas em torno de temas sociais sempre apresentam algum grau de
multicolinearidade. A questão é avaliar o grau de multicolinearidade e procurar determinar o
seu impacto sobre os resultados obtidos. No caso do presente estudo, não foi encontrado
efeito da multicolinearidade, tendo em vista que se optou pela utilização de três fatores,
obtidos com a rotação varimax.
A observação visual da matriz de correlação permite verificar a presença de
colinearidade ou de multicolinearidade das variáveis. Se as correlações apresentarem índices
acima de 0.90, isso pode significar que a colinearidade está presente nas variáveis. Hair Jr. et
al. (2005) apresentam duas formas para se avaliar a colinearidade das variáveis estudadas, a
saber: o valor da tolerância ou a quantia de quanto a variável independente selecionada varia
em relação a outras variáveis independentes e o fator de inflação de variância (variance
inflation factor VIF). Grandes valores de VIF indicam multicolinearidade elevada. Uma
tolerância referência é de 0.10, o que acaba correspondendo a um VIF acima de 10.
6.7.1 Predição da percepção de quão excelente é o relacionamento pessoal e profissional
que o liderado acredita ter com seu líder
A percepção de quão excelente é o relacionamento pessoal e profissional que o liderado
acredita ter com seu líder, pode ser predita pelas dimensões do Respeito Profissional, formada
209
pelo Respeito Profissional da LMX, da Identidade Social e da Autocategorização, além da
dimensão Afeto e Lealdade?
Com a finalidade de se viabilizar a análise de regressão múltipla, conforme discutido
anteriormente, elegeu-se a variável quão excelente é o relacionamento que o liderado percebe
ter com seu líder como variável dependente e as demais como variáveis independentes. Para
tanto, optou-se pelo procedimento stepwise para seleção de variáveis, na medida em que se
pretendia examinar a contribuição de cada variável independente para o modelo de regressão.
Todas as variáveis, tanto a dependente como as independentes, são medidas em escalas
ordinais, supostas como métricas, conforme Sharma (1996).
A variável independe usada na análise de regressão múltipla é um construto formado
por um conjunto de quatro indicadores acima mencionados, razão pela qual se resolveu
trabalhar com a soma das respostas dadas pelos respondentes para esses fatores.
Pode-se afirmar que os pressupostos relativos ao tamanho da amostra no que dizem
respeito ao poder preditivo dessa análise foram atendidos. O tamanho dessa amostra o
apresenta poder preditivo para o pressuposto da generalização de resultados (HAIR JR. et al.,
2005), tendo em vista que a variável independente é composta de três fatores das dimensões e
o banco de dados composto por 255 respondentes.
Através do exame visual dos gráficos (scatterplot) foi possível observar a existência
de linearidade entre as variáveis independentes e a variável dependente. O mesmo se deu com
o exame do histograma dos resíduos no qual se observa a sobreposição da curva normal das
variáveis. Esses dados podem ser observados na Figura 7.
210
Figura 7 – Histograma e PP-Plot dos resíduos de regressão
Fonte: Elaborada pelo autor
A análise do gráfico dos resíduos da regressão múltipla da Figura 7, também indica
que os pressupostos de normalidade, variância constante dos erros, independência dos erros e
normalidade da distribuição dos erros foram atendidos, conforme preceitua Hair Jr. et al.
(2005). O gráfico normal probability plot indica que os resíduos se distribuem muito
próximos da diagonal, indicando a existência de normalidade da distribuição.
A matriz de correlação entre as variáveis indica que correlações entre as variáveis
independentes entre si e a variável dependente. Apresentam índices altos de significância. Isso
indica o quanto ela é explicada pelas demais variáveis. Há, ainda, um alto grau de
variabilidade na variável selecionada. A análise dos valores de VIF indica que, por estarem
próximos de 1.0, permite afirmar que “a interpretação dos coeficientes da variável estatística
de regressão não deve ser afetada desfavoravelmente pela multicolinearidade” (HAIR JR. et
al., 2005, p. 179). A Tabela 36 apresenta os índices de VIF e de correlação dos dados
envolvidos no estudo.
Regression Standardized Residual
2
,
50
2,
0
0
1
,
50
1
,
00
,50
0,
0
0
-,50
-1,
0
0
-1
,
5
0
-2
,
00
-2
,
50
-3
,
00
-3
,
50
Histograma
Frequency
40
30
20
10
0
Std. Dev = ,99
Mean = 0,00
N = 255,00
Scatterplot
Observed Cum Prob
1,0,8,5,30,0
Expected Cum Prob
1,0
,8
,5
,3
0,0
Regression Standardized Residual
2
,
50
2,
0
0
1
,
50
1
,
00
,50
0,
0
0
-,50
-1,
0
0
-1
,
5
0
-2
,
00
-2
,
50
-3
,
00
-3
,
50
Histograma
Frequency
40
30
20
10
0
Std. Dev = ,99
Mean = 0,00
N = 255,00
Scatterplot
Observed Cum Prob
1,0,8,5,30,0
Expected Cum Prob
1,0
,8
,5
,3
0,0
211
O procedimento utilizado nessa análise de regressão múltipla foi o stepwise, que
considera a contribuição marginal para a verificação do modelo, a partir dos coeficientes de
correlação parcial e o seu índice de significância. No caso, as variáveis compostas pelos
fatores 1 (Afeto), 2 (Respeito Profissional) e 3 (Lealdade) foram incluídas no processo.
A inclusão das variáveis formadas pelo fator 1 (Afeto) no modelo de regressão,
apresenta um coeficiente de correlação (R) demonstrado no model summary de 0.555,
indicando a existência de correlação entre Afeto e percepção da qualidade do relacionamento.
O R
2
calculado nesse primeiro passo foi de 0.306, indicando que 30.6% da percepção da
qualidade do relacionamento é explicada pelas variáveis que compõem o fator Afeto,
conforme Tabela 35.
Tabela 35 – Modelo sumarizado
Modelo R R
2
R
2
ajustado Estimativa do erro
1
0.555
a
0.306 0.306 1.3052
2
0.623
b
0.388 0.384 1.2299
3
0.674
c
0.455 0.448 1.1637
Fonte: Elaborada pelo autor
Introduzindo as variáveis que compõem o fator 2 (Respeito Profissional) na análise do
modelo, observa-se que o coeficiente de correlação é de R = 0.623 e o R
2
de 0.388
aumentando a relação dos coeficientes do primeiro fator. O coeficiente desse R
2
indica um
aumento de 8.2% na explicação da percepção da qualidade do relacionamento, com a inclusão
das variáveis que compõem o fator 2 (Respeito Profissional).
A inclusão das variáveis formadas pelo fator 3 (Lealdade) no modelo de regressão,
indica que os coeficientes de correlação de R = 0.674 e o R
2
de 0.455 aumentaram. O
212
aumento do R
2
significa que a percepção da qualidade do relacionamento é explicada em
6.7% com a introdução das variáveis do fator 3 (Lealdade).
O valor β padronizados dos fatores não mudam na introdução de cada fator na análise
do modelo, conforme podem ser observados na Tabela 36, indicando que as variáveis não são
independentes. Os t values parciais desses fatores indicam que são preditores estatisticamente
significativos na percepção da qualidade do relacionamento, todos com vel de significância
de 0.000, conforme Tabela 36.
Tabela 36 – Índices padronizados de regressão
Coeficientes Coeficientes Correlação Estatística de
Modelo não-padronizados Padronizados
colinearidade
B Erro Ordem-
Padronizado
Beta t Sig. zero Parcial
Parte
Tolerância
VIF
1
Constante 5,082 0,820 62,180
0,000
Regressão
do Afeto
para a 1a
análise 0,870 0,820 0,555 10,623
0,000
0,555 0,555 0,555
1,000 1,000
2
Constante 5,082 0,077 65,990
0,000
Regressão
do Afeto
para a 1a
análise 0,870 0,077 0,555 11,274
0,000
0,555
Regressão
da Lealdade
para a 1a
análise
0,443 0,077 0,283 5,741 0,000
0,283 0,340 0,283
1,000 1,000
3
Constante 5,082 0,073 69,745
0,000
Regressão
do Afeto
para a 1a
análise 0,870 0,073 0,555 11,916
0,000
0,555 0,601 0,555
1,000 1,000
Regressão
da Lealdade
para a 1a
análise
0,443 0,073 0,283 6,067 0,000
0,283 0,358 0,283
1,000 1,000
Regressão
do Respeito
Profissional
para a 1a
análise 0,403 0,073 0,257 5,522 0,000
0,257 0,329 0,257
1,000 1,000
Fonte: Elaborada pelo autor
213
As análises das estatísticas feitas em regressão múltipla indicam que todas as variáveis
propostas como independentes apresentam-se como preditoras significantes e explicam a
percepção da qualidade de relacionamento percebido pelo liderado em relação ao líder. A
teoria da profecia auto-realizadora, apresentada e discutida anteriormente, ajuda a entender o
quanto essa percepção pode ser indutora de estabelecimento desse relacionamento.
Os dados da análise de regressão múltipla estão apresentados na Tabela 37 com a
finalidade de permitir uma visualização mais objetiva da ordem de entrada das variáveis que
foram alvo da análise feita.
Tabela 37 – Contribuição da variável independente em cada passo
da análise de regressão múltipla
VD – Percepção da excelência da qualidade do relacionamento
VI R R
2
R ajustado % de explicação da
variância
Aumento de R
2
Afeto
0.555
a
0.308 0.306 30.8% 30.8%
Respeito
Profissional
0.623
b
0.388 0.384 38.8% 8.8%
Lealdade
0.674
c
0.455 0.448 45.5% 6.7%
Fonte: Elaborada pelo autor
Os resultados apresentados na Tabela 37 indicam que as variáveis das três dimensões,
isto é, Afeto, Respeito Profissional e Lealdade apresentam valor preditivo na percepção que
os respondentes possuem da excelência do relacionamento que mantêm com seu líder. Não é
de se estranhar a existência desses valores preditivos significativos, tendo em vista que essas
dimensões obtiveram resultados semelhantes nas análises fatoriais, conforme foi apresentado
e discutido anteriormente.
214
6.8 Resumo das análises de dados realizadas anteriormente
Foram utilizadas várias técnicas multivariadas e uma técnica não paramétrica para análise e
interpretação dos dados desta pesquisa. Primeiramente, foi realizada análise fatorial pelos
métodos de componentes principais e por eixo principal, depois por distribuição de gênero e,
por tipo de empresa, foi usado um teste não-paramétrico. Essas técnicas permitiram a
identificação de construtos (fatores), com suas variáveis latentes. Posteriormente, realizaram-
se duas técnicas de dependência de variáveis, a análise discriminante, uma não paramétrica e
a regressão ltipla. O objetivo foi determinar as variáveis com maior poder preditivo ou
discriminante na amostra.
Os resultados encontrados nessas análises multivariadas corroboram positivamente o
modelo construído para este trabalho. Esse modelo foi submetido à técnica de Modelagem de
Equação Estrutural SEM. Os passos e as decisões adotadas em torno dessa cnica são
apresentados e discutidos na seção seguinte.
6.9 Terceiro estágio para análise dos dados
Nesse estágio, procurou-se testar o modelo de tese sugerido pelo referencial teórico e apoiado
nos resultados estatísticos obtidos anteriormente, como pode ser observado na Figura 8.
215
Figura 8 – Modelo teórico
Fonte: Elaborada pelo autor
Optou-se por utilizar os softwares Lisrel e PLS para a modelagem estrutural, tendo em
vista que os dados que a compõem não possuem normalidade desejada (HAIR JR et al. 2005),
e o Lisrel é sensível à não-normalidade. Os procedimentos para utilização dos softwares, bem
como os modelos de mensuração e estrutural e os resultados estatísticos obtidos são
apresentados e discutidos a seguir.
6.9.1 Modelagem de Equação Estrutural - SEM
A modelagem de equação estrutural é uma técnica que engloba uma família inteira de outras
técnicas multivariadas, que “também são conhecidos por outros nomes, como a análise de
estrutura de covariância, análise da variável latente, análise fatorial confirmatória” (HAIR JR.
et al., 2005, p.470), representando uma segunda geração de análise multivariada (CHIN,
2000). O software mais conhecido e usado na realização dessa técnica é o LISREL Linear
Structural Relations.
Afeto
Lealdade
Auto-
Categorização +
Identidade
Social +
Respeito
Profissional
Afeto
Lealdade
Auto-
Categorização +
Identidade
Social +
Respeito
Profissional
216
Originalmente, a modelagem de equação estrutural foi construída para atender aos
interesses das ciências econométricas, originada dos princípios de mensuração da psicologia e
da sociologia (HAIR JR. et al., 2005). Para Dillon e Goldstein (1984), os pesquisadores das
ciências sociais aplicadas possuem vantagens significativas na utilização dessa técnica, à
medida que eles podem trabalhar com construtos não observáveis tanto para estimação de
parâmetros de dependência entre variáveis como para teste de hipóteses de seus modelos de
pesquisa.
A diferença básica entre modelagem de equação estrutural e outras técnicas
multivariadas é que para a modelagem são utilizadas “relações separadas para um conjunto de
variáveis dependentes” (HAIR JR. et al., 2005, p. 470). Em outras palavras, a modelagem
estima uma regressão múltipla separada, mas com capacidade de mensurar as
interdependências dessas variáveis, pela especificação do modelo estrutural adotado na
pesquisa. Para a construção desse modelo estrutural, o pesquisador deve basear-se na teoria,
entre outras fontes, para poder distinguir quais variáveis independentes são capazes de
predizer as variáveis dependentes. As possíveis soluções para essa distinção são traduzidas em
equações estruturais, semelhantes às regressões múltiplas, para cada variável dependente.
A modelagem de equação estrutural permite, ainda, a identificação e a incorporação de
variáveis latentes na análise. Variável latente é um conceito que foi construído a partir da
teoria estudada pelo pesquisador e que não é observada diretamente na análise dos dados, mas
que podem ser observadas através das variáveis manifestas ou simplesmente variáveis
mensuradas.
As variáveis latentes são oriundas dos construtos Autocategorização, Identidade Social
e Respeito Profissional, e as variáveis manifestas são oriundas das dimensões Afeto e
Lealdade. As variáveis podem ser visualizadas no Quadro 6, apresentado na seção 5.9 deste
trabalho.
217
6.9.2 Análise comparativa dos softwares Lisrel Linear Structural relations e PLS –
Partial Least Square
A escolha do software implica em providências que o pesquisador deve adotar na realização
da modelagem de equação estrutural. No caso do LISREL, o pesquisador encontra
amplamente na literatura quais as providências e cuidados que o pesquisador pode adotar na
utilização da técnica (HAIR JR. et al., 2005; DILLON; GOLDSTEIN, 1984, SHARMA,
1996), conforme apresentado e discutido em seção posterior.
Os dados comparativos, apresentados no Quadro 10, procuram mostrar a diferença
entre os dois softwares.
Quadro 10 – Dados comparativos entre o LISREL e o PLS (Virtual ou Smart)
PLS LISREL
Orientado para predição das variáveis manifestas e
latentes, baseado na variância.
Orientado para estimação do parâmetro modelando as
covariâncias.
Variáveis manifestas são entendidas como
reflexivas e formativas.
Variáveis latentes são tipicamente reflexivas.
Possui livre distribuição na especificação do
preditor.
Parte da suposição da distribuição.
Observações podem ser dependentes. As observações precisam ser independentes.
Cada variável latente é uma combinação linear de
suas próprias variáveis manifestas.
Indeterminação de fatores.
Consistência para grandes amostras. Estimação indireta das variáveis latentes é construída
com a partir do todo das variáveis manifestas.
Ótima predição de exatidão do modelo. Estimativas consistentes.
Avaliação da performance preditiva pela média do
Jackknife ou Q
2
.
Ótima predição de exatidão do modelo.
Permite amostras de até 10 respondentes. Avaliação do modelo pela média do teste de hipótese
somente quando o tamanho da amostra for requerido.
Melhor modelo de mensuração porque as variáveis
latentes são obtidas em um espaço X.
Melhor modelo estrutural porque as variáveis latentes
são obtidas em um espaço livre.
Mais cedo ou mais tarde o modelo será substituído
pelo qui-quadrado (RMSEA).
Fonte: Vinzi e Tenenhaus, 2003, p. 27.
218
Vale ressaltar, neste quadro, que o LISREL considera todas variáveis envolvidas no
estudo, sejam elas latentes ou manifestas como variáveis reflexivas, enquanto o PLS
considera tanto as variáveis latentes como as manifestas nas suas análises como formativas e
reflexivas, respectivamente. Outra diferença é que, no PLS, os escores das variáveis latentes
são estimados diretamente, enquanto no LISREL elas não são determinadas (CHIN, 2000).
Essa é uma importante diferença entre esses softwares, como pode ser observado no Quadro
10.
Para Chin (2000), a escolha do software PLS precisa atender a alguns requisitos
básicos, como por exemplo: a) o modelo teórico que envolve as variáveis latentes; b) as
variáveis envolvidas no estudo devem possuir problemas de multicolinearidade; c) verificar se
o pesquisador deseja considerar o erro de medida; d) observar se os dados não possuem
normalidade; e) quando a amostra é pequena, determinar mensuração de validade e de
confiabilidade dentro do contexto da teoria estudada e f) indicar se as variáveis são formativas
e reflexivas. Quando uma dessas questões surge, então, o pesquisador pode optar pela
utilização do software PLS.
6.10 Modelagem de equação estrutural no Lisrel
Segundo Hair Jr. et al. (2005), o software Lisrel é o mais comumente empregado na estimação
da modelagem de equação estrutural, especialmente nas questões de pesquisa das ciências
sociais. Esse software pode ser expresso em termos de matrizes que têm a finalidade de
“formar equações básicas para ambos os modelos, estrutural e de mensuração” (p. 515). A
formulação dessas equações se para a definição da estrutura e da correspondência entre os
219
construtos e seus indicadores, para a correlação dos construtos e dos erros correlacionados das
variáveis exógenas e das endógenas.
Diferentemente de outras técnicas estatísticas, o modelo de equação estrutural não
utiliza nenhum teste estatístico que possa representar o ajuste ideal das previsões do modelo.
Para suprir essa ausência, pesquisadores desenvolveram algumas medidas que ajudam a
identificar a qualidade do modelo em termos de “ajuste geral, ajuste comparativo com um
modelo base e parcimônia do modelo” (HAIR JR. et al., 2005, p.521). Como essas medidas
de ajuste não estão atreladas às técnicas estatísticas, exceto a estatística qui-quadrado, cabe ao
pesquisador verificar e decidir se o ajuste do modelo da sua pesquisa é aceitável ou não.
Entre as medidas mais comuns que estão disponibilizadas no software Lisrel estão
a estatística qui-quadrado, o parâmetro de não-centralidade, a
estatística de qualidade de ajuste, a raiz do erro quadrático médio, a
raiz do erro quadrático médio da aproximação e o índice esperado
de validação cruzada (HAIR JR. et al., 2005, p.522).
A medida de maior impacto estatístico disponível no Lisrel é a estatística qui-quadrado
da razão de verossimilhança (χ
2
). Quando o pesquisador obtém um grande valor de qui-
quadrado relativo aos graus de liberdade, pode-se afirmar que as matrizes observadas e
estimadas diferem sensivelmente. Os níveis de significância indicam que as diferenças
encontradas são devidas às possíveis variações da amostra. Quanto maior o tamanho da
amostra mais sensível será o teste para indicar diferenças significantes entre os modelos
testados. O mesmo se quando a amostra é pequena (menos que 100). Esse teste se torna
mais eficiente com amostras que variam de 100 a 200 respondentes (HAIR JR. et al., 2005).
Nesse caso, para ser significante, os resultados devem apontar para altos valores de
qui-quadrado com níveis de significância de 0.05 ou 0.01. Valores diferentes desses indicam
220
que as matrizes observadas e previstas não são estatisticamente distintas. Esses resultados não
garantem que o modelo testado seja o correto, nem que seja o único, mas que ele se ajusta
bem às correlações e às covariâncias observadas.
O Lisrel, também, fornece como medida alternativa para a influência do tamanho da
amostra na análise dos valores de qui-quadrado os parâmetros de não-centralidade (NCP) e de
não-centralidade escalonados (SNCP). No primeiro caso, a medida do qui-quadrado será
menos afetada pelo tamanho da amostra, no tocante às diferenças encontradas nas matrizes
observadas e previstas. O pesquisador pode calcular esse parâmetro da seguinte forma: NCP =
χ
2
– graus de liberdade. Para se obter o SNCP, medida padronizada do NCP, basta dividir o χ
2
– graus de liberdade pelo tamanho da amostra.
Outras medidas de ajuste fornecidas pelo Lisrel são a raiz do resíduo quadrático médio
(RMSR) e a raiz do erro quadrático médio de aproximação (RMSEA). O primeiro diz respeito
a uma “média dos resíduos entre matrizes observadas e estimadas” (HAIR JR. et al., 2005, p.
523) e o segundo trata da discrepância por grau de liberdade. Valores variando entre 0.05 a
0.08 são considerados aceitáveis.
Também são disponibilizados os índices de validação cruzada esperada (ECVI) e o
índice de validação cruzada (CVI). O primeiro diz respeito a uma “aproximação da qualidade
de ajuste que o modelo estimado conseguiria em outra amostra de mesmo tamanho” (HAIR
JR. et al., 2005, p. 523) e, o segundo, “avalia a qualidade do ajuste quando uma validação
cruzada real foi executada” (p.523). Ambos os casos não apresentam intervalos estabelecidos
como valores aceitáveis, ficando a cargo do pesquisador usar seus resultados na comparação
entre modelos e verificar o que melhor se ajusta.
uma segunda classe de medidas que são fornecidas pelo Lisrel que pode ser usada
na comparação do modelo proposto com o modelo de referência, chamado também de modelo
nulo. Esse modelo, por sua vez, deve ser o mais realista possível de tal forma que todos os
221
demais modelos propostos possam superá-lo em termos de ajuste de qualidade. Entre essa
classe de medidas está o índice de qualidade de ajuste calibrado que é uma extensão do GFI
ou índice de ajuste parcimonioso. Um nível de aceitação recomendado para esse índice é de
um valor maior ou igual a 0.90. Trata-se de uma medida de razão entre “os graus de liberdade
para o modelo proposto e os graus de liberdade para o modelo nulo” (HAIR JR. et al., 2005,
p. 523).
Também é possível que o pesquisador use o índice de Tucker-Lewis (TLI) como
medida de ajuste incremental do modelo a ser testado. Esse índice é conhecido como índice
de ajuste não-normado (NNFI). Ele combina “uma medida de parcimônia com um índice
comparativo entre os modelos proposto e nulo” (HAIR JR. et al., 2005, p. 523). O valor
recomendado para o TLI é de 0.90 ou mais. O ajuste de índice normado (NFI) é uma das mais
populares medidas de ajuste normado e deve variar de 0 (sem qualquer ajuste) a 1.0 (ajuste
perfeito). Apesar de não existir um valor considerado como ideal, assume-se que qualquer
valor igual ou maior que 0.90 deve ser entendido como recomendado.
Em suma, Hair Jr. et al. (2005) sugerem como critério geral para se verificar ajustes
aceitáveis dos modelos testados, a utilização dos seguintes índices:
Quadro 11 – Índices gerais de ajuste do modelo testado
χ
2
não-significante (pelo menos p>0.05, talvez 0.10 ou 0.20).
Índices de ajuste incremental (NFI, TLI) maiores que 0.90.
Baixos valores de RMSR e RMSEA baseados no uso de correlações ou covariâncias. Valores
aceitáveis > ou igual a 0.08.
Índices de parcimônia que retratam o modelo proposto como mais parcimonioso do que modelos
alternativos.
Fonte: Hair Jr. et al., 2005, p.525
222
6.10.1 Validade convergente
A validade convergente tem por finalidade permitir ao pesquisador certificar-se de que as
variáveis que compõem seu instrumento estão relacionadas com a teoria. duas formas
disponíveis para se verificar a existência da validade convergente (HAIR JR et al., 2005). A
primeira é observar se os indicadores apresentam carga fatorial alta em um fator (construto) e
tem significância estatística. A segunda é analisar se a % de variância extraída dos seus dados
é > 50%. No caso do presente estudo, utilizaram-se de ambas as possibilidades, cujos
resultados serão apresentados e discutidos na seção 6.12, nas Tabelas 42 e 43.
6.10.2 Validade discriminante
Primeiramente, os dados do presente estudo foram submetidos ao Lisrel versão 8.8 a fim de se
verificar se apresentavam índices que garantissem validade discriminante entre todas as
variáveis envolvidas. O resultado indicou que realmente as variáveis da Autocategorização e
Identidade não apresentam validade discriminante desejada (D
2
=2.63 para 01 grau de
liberdade).
Na Análise Fatorial Exploratória, apresentada e discutida anteriormente, a dimensão
Respeito Profissional da LMX também ficou agrupada com as dimensões da Identidade
Social e Autocategorização e as dimensões Afeto e Lealdade, também da LMX, ficaram
agrupadas isoladamente no segundo e no terceiro fator. Esses agrupamentos representam a
223
multidimensionalidade do modelo hipotetizado, conforme havia sido discutido em trabalhos
empíricos desenvolvidos por Liden e Maslyn (1998).
Esses achados permitem a criação de uma nova variável latente, para a qual se deu o
nome de Respeito Profissional (Identidade Social, Autocategorização e Respeito Profissional)
envolvendo todas as variáveis dessas dimensões. Feita essa junção de variáveis construiram-
se os modelos competitivos, os quais podem ser representados da seguinte maneira:
Quadro 12 – Modelos competitivos
Modelos competitivos Justificativa
(1) Modelo nulo Nenhuma das variáveis está relacionada.
(2) Modelo Unidimensional Composto de um único fator através do qual é
possível acessar a unidimensionalidade do
modelo.
(3) Lealdade+Autocategorização, Afeto e Respeito. Composto por combinações envolvendo três
fatores, alternando-os entre si.
(4) Afeto+Autocategorização,
Lealdade e Respeito.
O pressuposto é de que o respondente não é
capaz de diferenciar com clareza as quatro
dimensões,
(5) Afeto+Lealdade,
Respeito e
Autocategorização.
mas somente o relacionamento objetivo
(Respeito e Autocategorização) e subjetivo
(Lealdade e Afeto) existente entre as variáveis.
(Hipotetizado) Respeito Profissional + Identidade
Social +Autocategorização,
Afeto e Lealdade.
Modelo hipotetizado, envolvendo todas as
dimensões.
Fonte: Adaptado de Liden e Maslyn (1998)
Feito isto, procedeu-se à realização dos testes estatísticos através do Lisrel em três
momentos diferenciados. No primeiro, os modelos foram estimados no módulo free. De posse
dos resultados, o modelo foi estimado fixando-se a correlação e 1. Obtidos ambos os
resultados, procedeu-se a comparação do χ
2
a fim de se encontrar os respectivos graus de
liberdade de cada modelo testado. Consideraram-se os graus de liberdade, cujos resultados
podem ser visualizados na Tabela 38.
224
Tabela 38 – Validade discriminante dos modelos competitivos
MODELO
COMPETITIVO
ANTES DO AJUSTE DEPOIS DO AJUSTE χ
χχ
χ
2
/DF χ
χχ
χ
2
-χ
χχ
χ
2
QUEM COM QUEM χ
χχ
χ
2
df P=Value RMSEA
χ
χχ
χ
2
df P=Value
RMSEA
Ajustado A/D
NULO
9665.0
8
165 12,1200 0.48 - - - - - -
UNIDIMENSIONAL 632.87 152 0.00000 0.112 632.9 153 0.00000 0.111 0.07 0.07
Lealdade+Autocategor
ização, Afeto e
Respeito.
406.85
149
0.00000
0.083
430.0
152
0.00000
0.085
7.73
23.18
Afeto+Autocategorizaç
ão, Lealdade e
Respeito.
476.33
149
0.00000
0.093
572.9
153
0.00000
0.104
24.15
96.58
Afeto+Lealdade,
Respeito e
Autocategorização.
512.03
149
0.00000
0.098
564.9
152
0.00000
0.103
17.65
52.94
HIPOTETIZADO
Respeito Profissional
+ Identidade Social
+Autocategorização,
Afeto e Lealdade.
410.05
149
0.00000
0.083
423.2
152
0.00000
0.084
4.39
13.18
Fonte: Elaborada pelo autor
A análise dos resultados indica que o modelo hipotetizado apresenta validade
discriminante ao nível de significância de 0.05 e com 01 grau de liberdade. Os demais
modelos também apresentaram validade discriminante, contudo, não apresentam índices de
ajuste considerados adequados, conforme pode ser visualizado na Tabela 39.
Tabela 39 – Índices de ajuste dos modelos
Medida de qualidade Índices Modelos concorrentes
de ajuste Ideais
Modelo
hipotetizado 3 4 5
Medidas de ajuste absoluto
Qui-quadrado (χ
2
)
< valor
410.05 406.85 476.33 512.03
Graus de liberdade
A critério
7.81 23.18 96.58 52.94
Parâmetro de não centralidade (NCP)
< valor
260.80 278.03 419.92 412.97
Índice de qualidade de ajuste (GFI)
> valor
0.97 0.85 0.81 0.81
Raiz do resíduo quadrático médio (RMSR)
A critério
0.12 0.21 0.26 0.38
Raiz do resíduo quadrático médio de
aproximação (RMSEA)
< 0,08
0.08 0.09 0.10 0.10
Índice de validação cruzada esperada (ECVI)
1.97 1.99 2.55 2.52
Continua
225
Continuação
Medida de qualidade Índices Modelo Modelos concorrentes
de ajuste Ideais hipotetizado 3 4 5
Medidas de ajuste incremental
Índice ajustado de qualidade de ajuste
(AGFI)
0.90
0.82 0.81 0.77 0.77
Índice de Tucker-Lewis (TLI) ou (NNFI)
0.90
0.97 0.97 0.96 0.96
Índice de ajuste normado (NFI)
0.90
0.96 0.96 0.94 0.95
Medidas de ajuste parcimonioso
Índice de ajuste normado parcimonioso
(PNFI)
> valor
0.84 0.85 0.85 0.84
Índice de qualidade de ajuste parcimonioso
(PGFI)
> valor
0.67 0.68 0.65 0.65
Qui-quadrado normado
< 5
4.39 7.73 24.15 17.65
Critério de informação de Akaike (AIC)
< valor
499.23 506.03 646.92 640.97
Fonte: Elaborada pelo autor
Observe-se, na Tabela 39, que o modelo hipotetizado apresenta resultados mais
favoráveis do que os demais modelos. A análise dos índices do qui-quadrado indica que esse
modelo possui menor possibilidade de apresentar diferenças entre as freqüências observadas e
as esperadas, portanto, ajustando-se melhor a uma distribuição teórica (WAGNER et al.,
2004), na medida em que o χ
χχ
χ
2
/df é o menor e é o único ficar abaixo de 5, considerado o ideal
(HAIR et al., 2005). Como comentado anteriormente, o NCP é um índice que reespecifica o
qui-quadrado em comparação com modelos alternativos. Portanto, quanto menor for o índice,
maior será a comparação. O GFI e o AGFI indicam qualidade de ajuste parcimonioso do
modelo. São esperados índices que oscilem entre 0 e 1.0. Quanto mais próximo do 1.0 melhor
será o ajuste. O RMSR e o RMSEA são valores “representativos da qualidade de ajuste que
poderia ser esperada se o modelo fosse estimado na população, não somente na amostra”
(HAIR JR et al., 2005, p.523). São esperados valores que oscilem de 0.05 a 0.08. O CVI e o
ECVI são uma validação cruzada em outra amostra. Índices altos indicam que, em uma
amostra real, o pesquisador deverá encontrar maiores diferenças do que na amostra utilizada
na pesquisa. O TLI e o NNFI combinam medidas de parcimônia como índice comparativo
226
“entre os modelos proposto e nulo” (HAIR JR et al., 2005, p.523). O valor recomendado é de
0.90 ou mais. O NFI é uma das medidas mais populares de ajuste normado, segundo Hair Jr et
al. (2005). Trata-se de uma comparação entre o modelo proposto e o modelo nulo. O mesmo
ocorre com o PNFI e com o AIC, sendo esse normado parcimonioso. Para o NFI é esperado
valor de 0.90 e para o PNFI valores que oscilem entre 0.6 a 0.9. É esperado para o AIC
valores próximos de zero, à medida que indiquem melhor ajuste e melhor parcimônia.
A Figura 9 apresenta o modelo estrutural, com coeficientes padronizados, apresentado
e discutido anteriormente.
Figura 9 – Modelo Estrutural
Nota: Coeficientes padronizados
Fonte: Elaborada pelo autor
227
6.11 Modelagem de equação estrutural no PLS
Optou-se pela utilização do software Smart PLS considerando que esse software apresenta
maior suporte acadêmico do que o Visual PLS. Para tal, consideraram-se os mesmos
agrupamentos utilizados na modelagem através do Lisrel, realizada e apresentada
anteriormente, conforme demonstra o Quadro 13.
Quadro 13 – Agrupamentos e dimensões obtidas na fatorial exploratória
Agrupamentos Dimensões
1
Respeito Profissional +
Identidade Social +
Autocategorização
2 Afeto
3 Lealdade
Fonte: Elaborado pelo autor
A validade convergente foi verificada segundo Chin (2000). Para esse autor,
validade convergente quando os indicadores possuem em suas variáveis latentes cargas
fatoriais altas e cargas baixas nas demais variáveis latentes. A significância da carga fatorial
depende do tamanho da amostra, segundo Hair Jr et al. (2005). Para este autor, carga fatorial
significativa de 0.75 deve ser esperada quando a amostra é composta por 50 respondentes.
Para amostras com 350 respondentes, a carga fatorial significativa é de 0.30. A amostra que
compõem esta pesquisa é formada por 255 respondentes, o que permite afirmar, segundo Hair
Jr et al. (2005), que todas as cargas fatoriais apresentadas na Tabela 40 podem ser
consideradas significativas.
228
Tabela 40 – Cargas fatoriais
Variáveis
Respeito Profissional
+Identidade Social +
Autocategorização
Lealdade Afeto
ID_1_2_1
0,63
0,47 0,48
XRE_1__1
0,59
0,42 0,47
ID_2_9_1
0,65
0,41 0,57
AC_2_1_1
0,60
0,47 0,44
XRE_2__1
0,59
0,41 0,47
ID_3_1_1
0,92
0,65 0,74
XRE_3__1
0,77
0,57 0,58
ID_4_2_1
0,88
0,63 0,69
AC_4_2_1
0,75
0,59 0,55
ID_5_2_1
0,79
0,59 0,60
AC_5_2_1
0,68
0,50 0,52
XLE_1__1 0,50
0,76
0,40
XLE_2__1 0,67
0,88
0,54
XLE_3__1 0,64
0,89
0,53
XAF_1__1 0,68 0,53
0,90
XAF_2__1 0,69 0,50
0,89
XAF_3__1 0,76 0,55
0,92
Fonte: Elaborada pelo autor
O Smart PLS disponibiliza, entre as análises estatísticas que possui, o teste de
confiabilidade. Os índices de Alfa de Cronbach e de comunalidades foram considerados
acima do esperado, conforme indicado por Hair Jr. et al. (2005). Esses dados podem ser
visualizados na Tabela 41.
Tabela 41 – Índices de confiabilidades, de comunalidades e Alfa de Cronbach
AVE
Índice
de
Confiabilidade
R
2
Alfa
de
Cronbach
Respeito Profissional +
Identidade Social +
Autocategorização
0.58
0.93
-
0.92
Afeto
0.81 0.93 0.55 0.88
Lealdade
0.71 0.88 0.50 0.80
Fonte: Elaborada pelo autor
229
Nesse mesmo ambiente, realizaram-se testes a fim de se verificar a validade
discriminante das variáveis envolvidas no estudo. Os resultados podem ser visualizados na
Tabela 42.
Tabela 42 – Validade discriminante das variáveis
CONSTRUTO
AVE
Respeito Profissional
+Identidade social +
Autocategorização
0.58
0.76
Afeto
0.81 0.90
Lealdade
0.71 0.84
Fonte: Elaborada pelo autor
No Smart PLS, a validade discriminante é encontrada obtendo-se a raiz quadrada da
AVE e verificando-se se o índice encontrado é maior do que o índice das correlações de todas
as demais variáveis latentes envolvidas no estudo (FORNELL; BOOKSTEIN, 1982). No
presente estudo, todos os construtos apresentaram validade discriminante, conforme pode ser
visualizado na Tabela 43.
Tabela 43 – Correlações entre os construtos
Autocategorização Afeto Lealdade
Respeito Profissional
+Identidade social +
Autocategorização
1.00
Afeto
0.73 1.00
Lealdade
0.70 0.58 1.00
Fonte: Elaborada pelo autor
AVEAVE
230
Diante desses dados procedeu-se ao teste do modelo resultante das análises realizadas
neste trabalho, cujos resultados podem ser visualizados na Figura 10.
Figura 10 – Modelo estrutural no PLS
Nota: Coeficientes padronizados
Fonte: Elaborada pelo autor
231
Apreende-se da Figura 10 que o novo construto Respeito Profissional, Identidade
Social e Autocategorização apresentam efeito significativo nos construtos Lealdade (0.70) e
Afeto (0.74). O R
2
de Afeto é de 0.55 e da Lealdade é de 0.50. Todas as variáveis manifestas
apresentam altas correlações com suas respectivas variáveis latentes.
6.12 Análise qualitativa do modelo proposto
O pressuposto inicial era de que as pessoas, no processo de construção do relacionamento
com o líder, observam ícones que podem ser denominados de valores, hábitos, costumes,
comportamentos em comum e que são percebidos pelo liderado em relação ao líder. Os
resultados obtidos na modelagem estrutural indicam que esse “caminho é percorrido pelo
liderado na construção do relacionamento com o líder, apresentando altos índices de
correlação e de explicação entre os construtos envolvidos na análise.
Os construtos Identidade Social, Autocategorização e Respeito Profissional da LMX,
com suas respectivas variáveis latentes, mostram-se totalmente interligados. As variáveis que
compõem as dimensões Lealdade e Afeto da LMX também apresentaram-se representadas por
suas variáveis latentes.
Considerando os resultados significativos da modelagem estrutural e dos demais dados
obtidos nas outras análises estatísticas, pode-se, ainda, afirmar que das dimensões da LMX
que mais são apoiadas pelas dimensões Identidade Social e Autocategorização é o Respeito
Profissional. A definição que a LMX propõe para essa dimensão tem a ver com o
reconhecimento público que os liderados têm do líder, em função da competência, habilidade,
conhecimento e carreira construídos pelo líder, dentro ou fora da organização, e o seu poder
232
hierárquico. Tomar essas referências como sendo próprias para construção da própria carreira,
pode ser umas das possibilidades apontadas nesse modelo.
As demais dimensões, exceto a dimensão Contribuição da LMX, se apresentam de
forma complementar ao entendimento mencionado anteriormente, isto é, o liderado mostra
possuir afeição pelo líder, baseada na atração interpessoal, bem como de lealdade e fidelidade
públicas com o líder. A performance dessas variáveis aponta para a multidimensionalidade da
LMX, conforme identificado por Liden e Maslyn (1998).
Esses resultados, também, são amplamente apoiados na experiência pessoal de todo
trabalhador. Sem que haja pontos em comum que propiciem atração e facilitem a
identificação com o outro, dificilmente se estabelecerá relacionamento de alta qualidade,
baseado no respeito, na confiança, na lealdade e na afeição.
233
7 CONCLUSÃO
A presente seção tem por finalidade discutir os achados deste trabalho, bem como apontar as
contribuições advindas desses achados e as limitações que essa investigação apresenta.
Também sugere, ao final, possíveis direcionamentos para futuras pesquisas.
7.1 Achados e contribuições do trabalho
O objetivo desta pesquisa foi o de identificar os aspectos que compõem a interação entre
líder-liderado nas organizações localizadas no Brasil, sob a ótica do liderado. Para tal,
elegeram-se os pressupostos da Teoria da Troca entre Líder e Liderado – LMX para a
realização da investigação. A LMX pressupõe que é possível que o líder forme dois tipos de
díades com seus liderados. O primeiro tipo denominado de endogrupo e o segundo
denominado de exogrupo. O primeiro partilha do circuito mais próximo do líder, com quem
estabelece relacionamento pautado na Lealdade, no Afeto, na Contribuição e no Respeito
Profissional. No segundo tipo, o líder exerce o papel de supervisor, fazendo cumprir as
formalidades previstas no contrato de trabalho firmado com seus subordinados.
As pesquisas em torno da LMX iniciaram-se em 1975, quando foi concebida
(DANSEREAU; CASCHMAN; GRAEN, 1973) e amplamente utilizada, a partir de então,
para identificar a qualidade da interação líder-liderado em diversos tipos de empresas. Essa
interação traz em seu bojo os pressupostos de reciprocidade (RODRIGUES; ASSMAR;
JABLONSKI, 2003), à medida que os membros da díade correspondem, em termos de
comportamentos e atitudes, ao tratamento recebido do outro (SPARROWE; LIDEN, 1998),
234
bem como do processo que envolve a autocategorização (HOGG; TERRY, 2000) e a
identificação (TAJFEL, 1978 e 1981; TAJFEL; TURNER, 1985; ASHFORT; MAEL, 1989)
de pessoas.
Visando, portanto, a esse cenário, formulou-se como problema de pesquisa, a
identificação de quais são os elementos envolvidos no processo da interação líder-liderado em
organizações, que estão localizadas no Brasil, sob a ótica do liderado. Optou-se também por
investigar o fenômeno em organizações privadas, tendo em vista que investigações anteriores
foram realizadas em universidades, hospitais, departamentos públicos e organismos militares,
como apontaram Sparrowe e Liden (1998).
Para viabilizar a pesquisa, construiu-se um instrumento composto pelas assertivas que
envolvem os pressupostos da LMX, que Liden e Maslyn (1998) denominaram de LMX-
MDM, mais as assertivas desenvolvidas por esse pesquisador envolvendo conceitos da Teoria
da Identidade Social e da Teoria da Autocategorização, e algumas outras que procuravam
identificar a percepção do respondente quanto ao seu desempenho no tocante aos resultados
que alcança em termos de objetivos e metas organizacionais. Esse instrumento foi submetido
ao processo de validação de conteúdo, mostrando-se consistente com os construtos que ele
representava. A construção desse instrumento, também, se apresenta como uma contribuição
que este trabalho traz para a ampliação dos estudos organizacionais sob a ótica da LMX. Os
instrumentos tradicionalmente utilizados pelos pesquisadores para investigação da LMX têm
sido questionados na literatura (COLEMAN, 1998), à proporção que não contemplam os
demais pressupostos teóricos que envolvem as trocas existentes entre líder e liderado, como o
processo de identidade social e de autocategorização, priorizados no instrumento construído a
propósito deste estudo.
Os três primeiros objetivos específicos foram o de examinar se as dimensões propostas
pela LMX se apresentam na amostra pesquisada, se estavam correlacionados com as demais
235
dimensões envolvidas no estudo. A hipótese levantada (H1) foi de que essas dimensões da
LMX estavam presentes e se correlacionavam entre si e com as dimensões da identidade
social, da autocategorização (H2) e dos resultados do trabalho (H3). A análise dos dados
permite afirmar que a H1 não pode ser aceita, visto que somente Respeito Profissional, Afeto
e Lealdade se agruparam como esperado. A dimensão Contribuição apresentou
comunalidades bem abaixo do esperado (HAIR JR et al., 2005) tanto na Análise Fatorial por
Componentes Principais como na Análise Fatorial por Eixos Principais. Observou-se, na
literatura, que essas variáveis também apresentaram baixas comunalidades em outros estudos
empíricos (LIDEN; MASLYN, 1998).
O baixo desempenho dessa dimensão pode ser explicado tanto pela ótica da estatística
como pela ótica da cultura organizacional. No primeiro caso, pode-se supor que um construto
composto somente por duas variáveis não seja capaz de representar o que se pretende em
termos de Contribuição. Quanto maior a quantidade de variáveis melhor o construto pode
estar representado e melhor pode ser observado junto aos respondentes (HAIR JR. et al.,
2005). Isso indica que, quanto menor for a quantidade das variáveis, menor será a força da
Análise Fatorial. No segundo caso, pode-se também considerar que questões relativas à
cultura organizacional podem ter influído para que os respondentes entendessem que essas
variáveis estariam representadas em outro construto. Sabe-se pelos trabalhos de Schein (1992)
que a cultura que uma organização partilha, influencia o processo da liderança e as suas
relações interpessoais.
Para esse autor, a cultura organizacional nasce de três possíveis fontes: a) das crenças,
valores e convicções dos fundadores da organização; b) das experiências de aprendizagem dos
membros do grupo e das suas organizações; c) das novas crenças, valores e convicções
trazidas por novos líderes e novos membros. A partir do momento que a cultura está
estabelecida, ela passa a ser a essência da organização. Torna-se um modelo de premissas e
236
convicções básicas partilhadas, que se manifestará em níveis observáveis através dos seus
artefatos e valores, normas, regras e comportamentos esposados. Nesse sentido, o líder passa a
ser, ao mesmo tempo, resultado e forte representante da cultura da organização, fazendo valer
desses mecanismos culturais na sua atuação.
Como este trabalho não elegeu a investigação da cultura organizacional como uma
variável a ser observada, tornou-se impossível de se verificar a influência que as premissas e
as convicções básicas das organizações em que os respondentes atuam, exerceram nos
resultados obtidos neste estudo.
Quanto à (H2) pode-se afirmar, pelos resultados estatísticos encontrados, que ela pode
ser confirmada, isto é, as demais dimensões da LMX, exceto a Contribuição, apresentam forte
correlação com as dimensões de autocategorização e de identidade social. Os agrupamentos
da Análise Fatorial por Eixos Principais indicaram que as dimensões Respeito Profissional,
identidade social e autocategorização mostraram-se altamente correlacionadas, explicando
45.2% da variância total. Os respondentes autocategorizam-se como pertencentes ao círculo
mais próximo do líder e, por conta disso, acabam por identificar-se e desenvolver sentimentos
de orgulho e valorização pessoal. Esse agrupamento representa 56% das opções concordo
disponíveis no questionário, em contraposição aos 27% que escolheram as opções discordo.
A dimensão Respeito Profissional está, conforme se constata na literatura (LIDEN;
MASLYN, 1998), diretamente vinculada à idéia de reconhecimento público das
competências, habilidades, experiências, conhecimentos que o líder conquistou dentro e fora
da organização. Esse reconhecimento “ganha” maior força ao passo que o liderado se percebe
pertencente à mesma categoria profissional do seu líder e manifesta desejo de identificar-se
com ele, isto é, de partilhar com seu líder os mesmos valores, crenças e hábitos profissionais
observados. Os agrupamentos formados pelas dimensões Afeto e Lealdade corroboram essa
idéia. Indicam que os respondentes percebem-se leais e mantendo sentimento de afeição para
237
com seu der. A dimensão Afeto foi capaz de explicar 9.3% da variância total e a dimensão
Lealdade 5.0%. Nesses dois casos, a escolha dos respondentes foi de 69% e 65%,
respectivamente, das opções concordo disponíveis no questionário, em contrapartida dos 18%
e 23%, respectivamente, das opções discordo. Aqueles que se colocaram numa posição neutra
em relação a esses agrupamentos representam 12% e 13%, respectivamente.
É interessante observar que 81% dos respondentes concordam com a idéia de que as
relações entre os construtos envolvidos no estudo são capazes de influir positivamente nos
Resultados do Trabalho dos respondentes, no que diz respeito ao atingimento de metas e
objetivos organizacionais e outros oriundos da própria díade. Isso permite confirmar a
hipótese (H3), de que as dimensões propostas no estudo são preditoras da percepção que os
respondentes têm dos Resultados do Trabalho que realizam. Essa dimensão foi medida através
de índices de percepção dos próprios respondentes, sem que levantamentos do real
desempenho que apresentam pudessem ser considerados. Se por um lado pode-se deparar com
um viés, tendo em vista a seletividade perceptiva dos respondentes, por outro indica a
existência de um julgamento positivo dos respondentes em relação às dimensões envolvidas
no estudo. Julgar-se a si próprios e aos outros faz parte da formação dos esquemas cognitivos
necessários que as pessoas utilizam para organizar os estímulos ao redor (RODRIGUES;
ASSMAR; JABLONSKI, 2003).
Esse processo é mais específico do que a percepção de objetos, conforme informa
Bacha, Strehlau e Romano (2006). Perceber-se e perceber os outros se dentro de uma
perspectiva na qual não há nem exatidão nem estabilidade perceptiva, por mais que se procure
por elas (HASTORF; SCHNEIDER; POLEFKA, 1973). Somente o convívio entre percebedor
e percebido é que pode permitir a verificação se o fato construído, julgado e organizado pelos
esquemas cognitivos pode ser verificado na vida real.
238
Outro objetivo específico almejado, neste trabalho, foi o de verificar se o gênero do
respondente interfere na percepção do relacionamento entre líder-liderado. A hipótese (H4)
levantada é de que o gênero interfere na percepção que homens e mulheres têm do
relacionamento diádico. Os resultados encontrados permitem afirmar que os respondentes do
gênero masculino agruparam as variáveis diferentemente do agrupamento formado pelos
respondentes do gênero feminino. O primeiro ficou composto das dimensões Afeto (43.9% da
variância explicada), seguido do Respeito Profissional (9.8%), Lealdade (6.1%),
Reconhecimento e Valorização (5.5%) e Resultados do Trabalho (5.1%). O segundo
agrupamento ficou constituído da dimensão Comprometimento Afetuoso (46.3%), Respeito
Profissional (9.2%) e Resultados do Trabalho (5.3%).
A priorização dada pelos respondentes é indicador de que o gênero deve ser
considerado na formação e manutenção das díades dentro das organizações. O gênero
masculino considera as afeições que o liderado mantém pelo líder, afeições baseadas em
valores relativos ao trabalho e valores profissionais, respeito, admiração e fidelidade pública
para com o líder, na formação das díades. Já os respondentes do gênero feminino mesclaram
os sentidos da afeição, lealdade e algumas dimensões de autocategorização e identidade social
na formação de suas díades. Essas diferenças devem ser consideradas na agenda das
organizações, à medida que apontam caminhos distintos para a construção dos
relacionamentos.
Pretendeu-se com este trabalho observar o relacionamento diádico líder-liderado nas
organizações, sob a ótica do liderado. Sabe-se que 57% dos respondentes são do gênero
masculino e que 43% do gênero feminino. Contudo, não se objetivou saber qual o gênero do
líder do respondente, o que limita a possibilidade de se verificar, na amostra pesquisada, se a
igualdade de gêneros líder-liderado foi capaz de influenciar os resultados obtidos.
239
Torna-se importante, entretanto, que as organizações se preocupem com a questão da
diversidade de gênero por duas razões (PITTS, 2005). A primeira está na representatividade
que os diversos buscam em termos de elaboração de políticas organizacionais que sejam
capazes de atender as suas necessidades e aos seus interesses. A segunda razão diz respeito
aos efeitos que a diversidade é capaz de produzir quanto ao desempenho. Nesse sentido,
Baugh e Graen (1997) realizaram pesquisa a fim de identificar se as avaliações feitas pelos
líderes de equipes formadas por homens e mulheres eram as mesmas do que as formuladas
para equipes formadas somente por homens ou somente por mulheres. Os resultados
indicaram que em equipes formadas por diversos, isto é, por homens e mulheres recebiam de
seus líderes avaliações menos positivas e eram vistas como sendo menos efetivas do que
equipes homogêneas, formadas só por homens ou só por mulheres.
Percebe-se, ainda, na revisão da literatura que não consenso entre os pesquisadores
a respeito do efeito que o gênero pode causar nos relacionamentos entre líder e liderado.
Martin e Epitropaki (1999) identificaram que características demográficas como idade e
tempo de casa possuem maior força preditora no relacionamento diádico do que a diversidade
de gênero. Aquelas diferenças podem exercer maior influência na identificação de
similaridades entre líder e liderado do que esta. Por outro lado, observa-se nos trabalhos de
Green, Anderson e Shivers (1996) que o relacionamento diádico é fortemente influenciado
pela diversidade de gênero. Varma (2001) pesquisou se o gênero era fator discriminador para
as organizações globais designarem funcionários para trabalharem no exterior. Constatou que
quando o líder é do gênero masculino ele tende a optar por liderado que faça parte do seu
endogrupo e que também seja do gênero masculino. O mesmo ocorre quando o líder é do
gênero feminino.
Nesse sentido, uma interessante questão levantada por Varma (2001) diz respeito à
existência de mais líderes do gênero masculino do que líderes do gênero feminino nos postos
240
de comando das organizações. Para Eagly (2003), é possível que isso ocorra por conta da
concepção que a sociedade faz tanto de homens como de mulheres. Essas crenças estão
presentes nas regras sociais criadas para os dois gêneros. As normas sociais não
representam as expectativas a respeito do que os grupos sociais fazem, como também o
consenso do que é idealmente esperado que os grupos sociais deveriam fazer. Fazem parte
dessas regras os estereótipos de que as mulheres devem se ocupar com as atividades
domésticas, que possuem baixo poder e status social, enquanto do homem é esperado que seja
o provedor do lar, o que lhe acarreta alto poder e status social. Esses estereótipos estão
presentes nas relações construídas dentro da organização, o que também pode ajudar a
compreender a existência de maior similaridade entre pessoas do mesmo gênero.
Os dados coletados, neste trabalho, apontam exclusivamente para a priorização
diferenciada que homens e mulheres dão na construção do relacionamento diádico. Como dito
anteriormente, essa diferença pode ser representativa no âmbito organizacional. Pode afetar
decisões, das mais simples às mais complexas. Pode influir na elaboração e aplicação de
políticas organizacionais e no processo de decisão. Pode, ainda, dificultar na identificação de
similaridades, na identificação e na atração interpessoal entre der e liderado. Essas
possibilidades podem ser potencializadas no caso da organização ser global.
Outro objetivo deste trabalho foi o de investigar se os respondentes de empresas
privadas percebiam o relacionamento diádico diferentemente de respondentes de empresas
públicas ou de economia mista. A hipótese (H5) levantada foi a de que diferenças entre
respondentes de empresas privadas e respondentes das empresas públicas ou de economia
mista. As razões que justificaram essa investigação foi a de que as pesquisas desenvolvidas
em torno da LMX foram pouco exploradas em empresas privadas (DIENESCH; LIDEN,
1986). O pressuposto levantado por esses pesquisadores é o de que a informalidade da
241
estrutura organizacional de empresas públicas ou de economia mista facilita a formação e a
manutenção de díades, do que a formalidade de empresas privadas.
Os dados obtidos, neste trabalho, indicam que não é possível aceitar a hipótese (H5),
visto que não se observaram diferenças nas percepções sobre as dimensões envolvidas no
estudo entre os respondentes de empresas privadas e respondentes de empresas públicas ou de
economia mista. As suposições de Dienesch e Liden (1986) de que o desenho hierárquico das
organizações privadas, que ênfase à autoridade e poder destacado ao supervisor, e que esse
cenário dificultaria a formação de díades, à luz dos preceitos da LMX, não se confirmaram na
amostra obtida neste estudo.
Dois outros objetivos deste trabalho foram verificar se o tempo e a percepção da
convivência que os respondentes possuem do relacionamento que mantêm com o líder são
capazes de discriminar as dimensões Respeito Profissional (formada pelo Respeito
Profissional da LMX, as assertivas da identidade social e da autocategorização), Afeto e
Lealdade, ambas da LMX. As hipóteses levantadas foram de que o tempo de convivência do
liderado com o líder interfere na construção do relacionamento com o líder (H7) e que a
percepção do liderado em relação ao líder ajuda na construção do relacionamento (H6).
Os dados obtidos neste trabalho permitem aceitar a hipótese (H6) de que a
predisposição perceptiva do liderado é um importante fator na construção do relacionamento
com o líder, contudo, o tempo de convivência não se apresentou como fator discriminante na
qualidade desse relacionamento (H7). Os respondentes priorizaram a dimensão Respeito
Profissional, que trata das competências, das habilidades, dos conhecimentos e do
reconhecimento profissional conquistado pelo líder, como o aspecto capaz de produzir função
discriminante na construção do relacionamento (82% da função discriminante). Em segundo
lugar, aparece a dimensão Lealdade com 57% da função discriminante. Essa dimensão diz
respeito ao apoio público que o respondente manifesta com as metas e os objetivos pessoais e
242
profissionais do líder. Em terceiro, a dimensão Afeto, com 43% da função discriminante.
Trata-se da uma dimensão que foca a afeição mútua baseada na interação pessoal.
Um facilitador importante na estimulação perceptiva dos membros da díade é a
possibilidade da proximidade física entre eles. Conviver dentro do mesmo ambiente
organizacional pode facilitar a coleta, o processamento e o julgamento das informações a
respeito do outro. Pode, ainda, facilitar o reconhecimento de hábitos, valores, costumes,
crenças e outras características pessoais e profissionais, que são comuns a ambos, conforme
Rodrigues, Assmar e Jablonski (2003). O tempo de convivência (HASTORF; SCHINEIDER;
POLEFKA, 1973) poderia refinar a percepção dos membros da díade, no sentido de permitir
que ambos verificassem se o que é percebido por eles é compatível pelas evidências reais
observadas no cotidiano de ambos.
Contudo, diferentemente do que se na literatura a respeito, a quantidade do tempo
de convivência (H7) o apresentou poder discriminante na construção do relacionamento
entre líder e liderado. Em pesquisas anteriores (DANSEREAU; GRAEN; HAGA, 1975;
GRAEN; UHL-BIEN, 1998), os resultados indicaram que, com o passar do tempo de
convivência, líder e liderado vão estreitando relacionamento, tornando-se parceiros com
maior nível de comprometimento um com o outro, à luz dos pressupostos mais avançados da
LMX. Em outras palavras, deixam os aspectos mais transacionais envolvidos na troca e
buscam trocas sociais de interesse e de influência mútuos, como se nas relações
transformacionais. Quanto maior o tempo de convivência, maior deveria ser a possibilidade
de as pessoas se conhecerem e aumentarem a qualidade do relacionamento profissional que
mantêm. Trocas sociais podem, segundo Sparrowe e Liden (1997), estimular a criação de
sentimentos de obrigação, de gratidão e de confiança mútuos.
Se a proximidade física pode estimular a predisposição perceptiva e a conseqüente
identificação de fatores que permitem a construção do relacionamento (RODRIGUES;
243
ASSMAR; JABLONSKI, 2003), o tempo de convivência, segundo os dados deste trabalho,
pode ajudar a desfazer as atribuições e as formulações cognitivas que o liderado fez
preventivamente. A organização deve se preocupar não somente com a criação de um
ambiente que estimule a construção do relacionamento, como também a elaboração de
políticas voltadas para o processo de gestão com pessoas. Ações desse tipo poderiam ajudar a
fixar as percepções e julgamentos cognitivos que os membros da díade fazem a respeito do
outro, evitando, assim, que o tempo de convivência possa ser um fator negativo que influa na
qualidade do relacionamento diádico.
Outro objetivo deste trabalho foi o de verificar se a percepção da excelência do
relacionamento entre líder-liderado pode ser predito pelas três dimensões Respeito
Profissional, Afeto e Lealdade. A hipótese levantada (H8) foi a de que a percepção da
excelência do relacionamento pessoal e profissional pode ser predita pelas três dimensões
envolvidas neste estudo.
Os dados encontrados permitem aceitar a hipótese (H8) levantada, que todas as
dimensões se apresentaram como preditoras significantes e são capazes de explicar a
percepção da qualidade do relacionamento percebido pelo liderado. A dimensão Afeto explica
30.6% da qualidade do relacionamento, a dimensão Respeito Profissional explica 8.2% e a
dimensão Lealdade explica 6.7%. Esses achados corroboram a Profecia Auto-Realizadora,
isto é, a percepção de esquemas cognitivos concebidos por um membro da díade, pode
estimular o percebedor a comportar-se favoravelmente, obtendo, assim, a correspondência em
termos de comportamento e benefícios do membro que concebeu o esquema (RODRIGUES;
ASSMAR; JABLONSKI, 2003).
244
7.2 Limitações do estudo
Embora existam inúmeras implicações positivas da LMX, foram observadas na literatura
internacional algumas limitações da sua aplicação, as quais serão apresentadas e discutidas
nesta seção. A LMX se propõe a investigar a interação entre líder e liderado dentro das
organizações. As interações humanas estudadas acontecem dentro de redes sociais mais
amplas e complexas, cujas variáveis são difíceis de serem controladas. O debate em torno da
LMX representa o leque de possibilidades que, se envolvidas em um único estudo,
contemplaria e explicaria a moldura social na qual a díade líder-liderado está envolvida.
Nesse sentido, Dienesch e Liden (1986) apresentam três limitações que devem ser
consideradas sobre a LMX. A primeira está no fato de que as díades estão inseridas em um
grupo de trabalho. Dependendo do número de membros que o grupo possui, o líder pode ter
mais ou menos dificuldade para estabelecer com os novos entrantes um relacionamento de
alta qualidade. A segunda diz respeito ao poder que o líder recebe da organização. Ele deve
possuir “suficiente poder organizacional, autonomia e recursos para tratar os membros de
maneira diferente” (DIENESCH; LIDEN, 1986, p. 630). Isso é crítico, segundo esses autores,
já que o tipo de relacionamento, bom ou ruim, que o membro mantém com o superior
imediato determina o que o líder tem a oferecer a esse membro. A terceira limitação diz
respeito à cultura e a política organizacionais. Dependendo do tipo de política, valores,
normas e práticas adotadas pela organização, o líder terá que, no exercício de suas atribuições,
abandonar ou alterar o desenvolvimento do relacionamento concebido pela LMX. Isto pode
levar os membros desses grupos a se sentirem incluídos ou excluídos dessas políticas e
práticas.
245
Sparrowe e Liden (1997), por sua vez, apontam outra limitação à compreensão dos
pressupostos da Teoria da Troca entre Líder e Liderado – LMX. Essa limitação diz respeito ao
tipo de troca que está envolvida no funcionamento da díade. dois tipos de trocas
apresentadas na literatura que podem ser consideradas: a troca social e a troca econômica. A
primeira diz respeito a qualquer aspecto que envolva interesses sociais dos membros da díade,
como reconhecimento, status, auto-estima, entre outras. A segunda diz respeito aos interesses
econômicos, como recompensa financeira, promoções, bonificações, entre outras. Essas
abordagens, segundo Sparrowe e Liden (1997), não foram suficientemente consideradas nos
estudos realizados em torno da LMX, na medida em que esses estudos priorizaram a formação
e a qualidade do relacionamento da díade, sem considerar, segundo esses autores, os
interesses sociais envolvidos nas trocas.
Nesse sentido, a Teoria da Troca Social e a Teoria da Reciprocidade podem trazer
contribuições mais significativas para a compreensão dos fatores de convergência presentes
na formação tanto do endo como do exogrupo. O relacionamento entre líder e liderado pode
ser um importante ícone de significados tangíveis e intangíveis para os envolvidos. A
identificação e a compreensão dos interesses sociais na construção e na manutenção do
relacionamento diádico, poderá ser de grande valia para a organização, porque ela pode
verificar a extensão das redes de relacionamento formais e informais. Sabe-se (SPARROWE;
LIDEN, 1997) que relações sociais informais podem representar um grande recurso
competitivo para as organizações.
Outra limitação apontada na literatura internacional é de que a LMX investiga relações
no nível diádico dentro de um determinado grupo de trabalho. É problemática, segundo
Coleman (1998), a idéia de se constituir uma díade dentro de um grupo maior, por três razões
específicas. A primeira razão diz respeito à própria essência da LMX, isto é, como é possível
um supervisor dentro da organização eleger um subordinado com quem manterá um
246
relacionamento de alta qualidade, com todas as decorrências em termos de trocas sociais e
econômicas, em detrimento das demais pessoas que compõem o grupo como um todo?. A
segunda razão apontada é denominada de comportamento “politicamente incorreto”, na
medida em que as pessoas que pertencem ao grupo não são tratadas de forma igualitária no
ambiente de trabalho. Comportamentos dessa natureza podem ser qualificados de
discriminadores. A terceira razão diz respeito ao fato de que os pressupostos da LMX são
apenas mais uma possibilidade de investigação das relações sociais entre indivíduos, mas não
apresenta uma perspectiva de análise das estruturas formais da organização.
Contudo, não se pode negar que interesses diversos estimulam a aproximação de
pessoas entre si e, ao mesmo tempo, a falta ou a divergência de interesses pode distanciar as
pessoas umas das outras. O fenômeno da formação de grupo é estudado intensamente pela
Psicologia Social, haja vista os trabalhos envolvendo dinâmica de grupo de Kurt Lewin e J.
Moreno realizados no século passado. As pessoas formam suas díades e os seus grupos, às
vezes interdependentes entre si, dentro ou fora das organizações, para suprir necessidades
psicológicas, sociais, econômicas e políticas. A contribuição que os pressupostos da LMX
trazem para ajudar os estudiosos a identificar e compreender o processo da liderança
organizacional, está na constatação empírica da existência dessas díades e, ao mesmo tempo,
de poder indicar algum ou alguns dos fatores de convergência que estimulam a formação de
díades, diferentemente dos pressupostos da ALS, apresentada e discutida anteriormente.
O nível de análise proposto pela LMX também é objeto de questionamento, conforme
pode ser verificado na literatura (COLEMAN, 1998). Se a LMX é investigada a partir das
díades e se as díades estão inseridas dentro de um determinado grupo, seria possível que
houvesse um intercâmbio de relacionamentos entre ades do mesmo grupo? Se isso
ocorresse, seria possível afirmar que o nível apropriado de estudo deveria ser o nível grupal e
não o nível diádico? O fato é que liderança é um fenômeno social, que se dentro de um
247
contexto social e sua compreensão, em última instância, transcende qualquer corte
metodológico que se pretenda em termos de nível de análise. Yukl (2002), a propósito dessa
discussão, entende que, pelo fato de a liderança ser resultado do processo de influência mútua
entre der e liderado, também é possível que, em grandes organizações, a efetividade da
liderança seja resultante da influência que o líder recebe de seus pares, de seus superiores e de
outras direções.
É possível que se eleja, portanto, o nível grupal para estudo da liderança, conforme
foi apresentado e discutido anteriormente. Nesse sentido, algumas variáveis de estudo podem
ser escolhidas, como, por exemplo, a percepção de justiça e de equidade que os liderados
possuem. Entre as várias possibilidades de investigação dessas temáticas, pode-se buscar
suporte nos pressupostos na Teoria do Conflito Realístico e na Teoria da Equidade, que se
propõem analisar as relações de interdependência existentes entre grupos. A primeira entende
que as atitudes e os comportamentos dos grupos se dão a partir das metas que possuem.
Quando possuem metas antagônicas, evidenciando demandas e interesses diferenciados,
surgem os comportamentos discriminatórios e hostis de um grupo para com o outro. Nesse
caso, os grupos adotam estratégias de relacionamento do tipo ganhar-perder, o que induz à
formação de preconceitos e julgamentos negativos do endogrupo para com o exogrupo. Jogos
de competição são utilizados como regra central dos relacionamentos. O oposto é verdadeiro,
isto é, quando as metas e os interesses desses grupos são congruentes, demonstram
comportamentos mais amigáveis e conciliatórios.
A segunda teoria, por sua vez, pressupõe que as pessoas são capazes de perceber
situações de justiça ou equidade e, ainda, de injustiça ou iniqüidade a que são submetidas. Se
a percepção é de justiça ou de equidade, as pessoas desenvolvem comportamento cooperativo.
Se a percepção é de injustiça ou de iniqüidade, as pessoas desenvolvem estado emocional
248
desagradável, impulsionando-as a comportarem-se de forma a reduzir ou eliminar a injustiça e
restabelecer a justiça (ASSMAR, 1997).
O presente estudo traz uma importante contribuição para a superação das limitações
encontradas na literatura internacional a respeito da LMX. Os dados coletados nesta pesquisa
permitem afirmar que os pressupostos da Teoria da Identidade Social e da Teoria da
Autocategorização constituem-se em aspectos importantes para a compreensão da formação
da díade líder-liderado nas organizações.
7.3 Sugestões para futuras pesquisas
O instrumento que foi construído para dar conta dos objetivos desta pesquisa deverá em
estudos futuros ser devidamente testado em uma amostra maior, visando à sua validação. A
amostra desta pesquisa foi composta por 255 respondentes. Uma amostra mais representativa,
em termos de quantidade e de representatividade, poderá trazer informações mais
significativas para a consolidação deste instrumento. Juntamente com a ampliação da amostra,
futuras pesquisas deverão ampliar a quantidade de assertivas da dimensão Contribuição da
LMX, a fim de se verificar se essas variáveis serão incorporadas em outros construtos, como
ocorreu com esta investigação.
O tipo da amostra que compôs este trabalho também poderá ser ampliado, isto é,
objetivou-se investigar a LMX junto a respondentes que são alunos universitários, de
graduação e de pós-graduação e que estão na condição de empregados de empresas privadas,
públicas ou de economia mista. Futuras pesquisas poderão ser realizadas dentro dessas
249
organizações, mantendo, assim, a coleta de dados mais próxima da realidade organizacional
em que as díades estão inseridas.
Como foi apresentado e discutido anteriormente, em futuras pesquisas poderá ser
verificado se a similaridade de gênero entre o líder e o liderado é capaz de discriminar a
qualidade do relacionamento que mantêm. Da mesma forma, poderá ser ampliado o leque de
percepções envolvendo a que o líder possui da qualidade do relacionamento que mantém com
seu liderado. Dados secundários sobre o desempenho do liderado poderão ser utilizados para
que se possa verificar se ades de alta qualidade do relacionamento apresentam desempenho
mais destacado do que díades de baixa qualidade de relacionamento.
O modelo testado pela SEM também poderá ser objeto de futuras investigações, a fim
de se verificar se em outras circunstâncias ele apresenta os mesmos resultados encontrados
neste estudo.
250
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259
APÊNDICES
260
APÊNDICE A – Instrumento utilizado para coleta de informações
PESQUISA
Este questionário tem como objetivo identificar a percepção que você tem do relacionamento
que você mantém com seu supervisor. Portanto, na hora de responder as questões propostas a
seguir, você deverá “pensar” neste superior imediato, para quem você responde
hierarquicamente.
Todas as informações contidas neste questionário são importantes e, portanto, você deverá
tomar o cuidado de responder a todas elas com a veracidade e a sinceridade possíveis. Deve
considerar, ainda, que todas estas informações são sigilosas e confidenciais e serão utilizadas
somente para fins acadêmicos.
PRIMEIRO BLOCO - DADOS DEMOGRÁFICOS
Gênero:
Masculino
Feminino
Idade: _________ anos Tempo de empresa: __________ anos
Natureza da empresa:
Indústria
Prestação de Serviços
Comércio
Outros:
_________
Tipo de empresa:
Empresa privada
Empresa pública ou de economia mista
Nível do cargo que você ocupa:
Operacional
Técnico
Gerência
Outros
(consultor, Auditor, etc.).
Quantas pessoas se reportam a você (caso você ocupe cargo de gerência): _____(em
quantidade)
Nome do cargo do seu supervisor na Empresa: _________________
Quantas pessoas se reportam ao seu supervisor: _________ (em quantidade)
Sua escolaridade:
2º Grau completo
Universitário
Pós-graduado
Quanto tempo você e seu supervisor trabalham juntos: ________ (em meses)
261
SEGUNDO BLOCO - PERCEPÇÃO DO RELACIONAMENTO COM O SEU
SUPERVISOR
Todas as frases abaixo dizem respeito ao seu relacionamento com o seu supervisor. Analise
cada uma delas e coloque o seu grau de concordância ou de discordância, usando a escala
abaixo:
DT
Discordo
totalmente
DM
Discordo
muito
DP
Discordo
um pouco
NcNd
Nem
concordo
nem
discordo
CP
Concordo
um pouco
CM
Concordo
muito
CT
Concordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7
QDE FRASES
DT DM DP NcNd CP CM CT
01 Parece que meu supervisor antecipa meus
pensamentos.
02 Percebo que meu supervisor e eu possuímos
valores pessoais semelhantes.
03 Sinto-me profundamente identificado com meu
supervisor.
04 Tenho orgulho de pertencer ao mesmo grupo
profissional do meu supervisor na Empresa.
05 Sinto-me valorizado porque eu e meu supervisor
trabalhamos no mesmo grupo.
06 Conquisto algumas vantagens pessoais na
Empresa por causa da minha convivência com
meu supervisor.
07 Trabalho junto com o meu supervisor todos os
dias.
08 Meu supervisor participa ativamente do meu dia-
a-dia profissional.
09 A convivência com meu supervisor mudou alguns
de meus princípios e crenças pessoais.
10 A convivência com meu supervisor ampliou meu
leque de valores pessoais.
11 Eu e meu supervisor fazemos uma boa dupla no
trabalho.
12 Meu supervisor e eu temos hábitos muito
parecidos.
13 Sei como o meu supervisor se comportaria e que
decisão tomaria em determinadas circunstâncias.
14 Meu supervisor e eu possuímos interesses
pessoais semelhantes.
Continua
262
Continuação
QDE FRASES
DT DM DP NcNd CP CM CT
15 Gostaria de seguir a mesma trajetória de carreira
do meu supervisor.
16 Meus colegas me reconhecem como fazendo parte
do grupo do meu supervisor.
17 Sinto-me reconhecido na empresa pelo fato de me
parecer com meu supervisor.
18 Percebo que coopero com meu supervisor e com o
seu grupo.
19 Sinto que meu supervisor e eu fazemos parte de
um grupo coeso.
20 Os demais grupos da empresa pensam duas vezes
antes de falar mal do meu supervisor e do seu
grupo na minha frente.
21 Sinto-me satisfeito com o trabalho que realizo.
22 Minha avaliação de desempenho sempre
apresenta bons resultados.
23 Alcanço sempre 100% das metas que são
estabelecidas para mim na empresa.
24 Na maior parte das vezes eu supero as metas que
me são propostas.
25 Eu gosto muito do meu supervisor como pessoa.
26 O meu supervisor é o tipo de pessoa que eu
gostaria de ter como amigo.
27 O meu supervisor é muito engraçado no trabalho.
28 O meu supervisor defende minhas ações no
trabalho diante de um eventual superior, sem
completo conhecimento das questões que estão
envolvidas.
29 Meu supervisor poderá me defender se eu for
“atacado” por outros.
30 Meu supervisor me defenderá de outros na
organização se eu cometer um erro honesto
(inocente).
31 Eu trabalho para meu supervisor além do que está
previsto na minha descrição de cargo.
32 Eu estou desejoso em aplicar meus esforços
extras, além do que me é requerido normalmente,
para promover os interesses do meu grupo de
trabalho.
33 Eu estou impressionado com o conhecimento do
meu supervisor a respeito do seu trabalho.
34 Eu respeito o conhecimento do meu supervisor e a
sua competência no trabalho.
35 Eu admiro as habilidades profissionais do meu
supervisor.
263
APÊNDICE B – Holdout da discriminante
Discriminant
Analysis Case Processing Summary
184 100,0
0 ,0
0 ,0
0 ,0
0 ,0
184 100,0
Unweighted Cases
Valid
Missing or out-of-range
group codes
At least one missing
discriminating variable
Both missing or
out-of-range group codes
and at least one missing
discriminating variable
Total
Excluded
Total
N Percent
Group Statistics
,2190195 ,95114117 129 129,000
,1116948 ,94956373 129 129,000
,1144777 ,90364182 129 129,000
-,6508513 1,17453609 20 20,000
-,2113188 1,00098932 20 20,000
-,3783007 1,06725960 20 20,000
-,4965253 1,03845613 35 35,000
-,2032702 ,95385565 35 35,000
-,3638106 1,00709027 35 35,000
-,0116407 1,05047024 184 184,000
,0166728 ,96179365 184 184,000
-,0300639 ,96287779 184 184,000
REGR factor score
1 for analysis 1
REGR factor score
2 for analysis 1
REGR factor score
3 for analysis 1
REGR factor score
1 for analysis 1
REGR factor score
2 for analysis 1
REGR factor score
3 for analysis 1
REGR factor score
1 for analysis 1
REGR factor score
2 for analysis 1
REGR factor score
3 for analysis 1
REGR factor score
1 for analysis 1
REGR factor score
2 for analysis 1
REGR factor score
3 for analysis 1
A convivência ajudou
na aproximação
Sim
Não
Às vezes
Total
Mean Std. Deviation Unweighted Weighted
Valid N (listwise)
264
Tests of Equality of Group Means
,885 11,783 2 181 ,000
,977 2,133 2 181 ,121
,947 5,081 2 181 ,007
REGR factor score
1 for analysis 1
REGR factor score
2 for analysis 1
REGR factor score
3 for analysis 1
Wilks'
Lambda F df1 df2 Sig.
Pooled Within-Groups Matrices
1,000 -,062 -,070
-,062 1,000 -,022
-,070 -,022 1,000
REGR factor score
1 for analysis 1
REGR factor score
2 for analysis 1
REGR factor score
3 for analysis 1
Correlation
REGR factor
score 1 for
analysis 1
REGR factor
score 2 for
analysis 1
REGR factor
score 3 for
analysis 1
Analysis 1
Box's Test of Equality of Covariance Matrices
Log Determinants
3 -,437
3 ,222
3 -,058
3 -,232
A convivência ajudou
na aproximação
Sim
Não
Às vezes
Pooled within-groups
Rank
Log
Determinant
The ranks and natural logarithms of determinants
printed are those of the group covariance matrices.
Test Results
11,689
,929
12
14461,192
,517
Box's M
Approx.
df1
df2
Sig.
F
Tests null hypothesis of equal population covariance matrices.
Summary of Canonical Discriminant Functions
Eigenvalues
,232
a
99,8 99,8 ,434
,000
a
,2 100,0 ,021
Function
1
2
Eigenvalue % of Variance Cumulative %
Canonical
Correlation
First 2 canonical discriminant functions were used in the
analysis.
a.
265
Wilks' Lambda
,811 37,684 6 ,000
1,000 ,079 2 ,961
Test of Function(s)
1 through 2
2
Wilks'
Lambda Chi-square df Sig.
Standardized Canonical Discriminant Function Coefficients
,810 -,593
,381 ,425
,556 ,629
REGR factor score
1 for analysis 1
REGR factor score
2 for analysis 1
REGR factor score
3 for analysis 1
1 2
Function
Structure Matrix
,748* -,664
,491 ,661*
,318 ,448*
REGR factor score
1 for analysis 1
REGR factor score
3 for analysis 1
REGR factor score
2 for analysis 1
1 2
Function
Pooled within-groups correlations between discriminating
variables and standardized canonical discriminant functions
Variables ordered by absolute size of correlation within function.
Largest absolute correlation between each variable and
any discriminant function
*.
Functions at Group Centroids
,311 ,001
-,818 ,048
-,680 -,031
A convivência ajudou
na aproximação
Sim
Não
Às vezes
1 2
Function
Unstandardized canonical discriminant
functions evaluated at group means
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