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Universidade Presbiteriana Mackenzie
Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas
Valores Organizacionais e Valores Humanos como fatores de
impacto no Bem-estar Ocupacional
Letícia Seicenti Silva
São Paulo
2007
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Letícia Seicenti Silva
Valores Organizacionais e Valores Humanos como fatores de impacto no
Bem-estar Ocupacional
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós Graduação em Administração de
Empresas da Universidade Presbiteriana
Mackenzie para a obtenção do título de
Mestre em Administração de Empresas
Orientadora: Profª. Drª. Juliana Barreiros Porto
São Paulo
2007
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Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Professor Dr. Manassés Claudino Fonteles
Decano de Pesquisa e Pós-Graduação
Professora Drª. Sandra Maria Dotto Stump
Diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
Professor Dr. Reynaldo Cavalheiro Marcondes
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Administração de
Empresas
Professora Drª. Eliane Pereira Zamith Brito
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LETÍCIA SEICENTI SILVA
Valores Organizacionais e Valores Humanos como fatores de impacto no
Bem-estar Ocupacional
Dissertação apresentada ao Programa de Pós
Graduação em Administração de Empresas da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Mestre.
Aprovada em 14 de agosto de 2007.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________________
Dra. Juliana Barreiros Porto
Universidade Presbiteriana Mackenzie
________________________________________________________________
Dra. Maria Luisa Mendes Teixeira
Universidade Presbiteriana Mackenzie
________________________________________________________________
Dra. Lívia de Oliveira Borges
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
5
Ao meu pai, pelo incentivo em vida e
por zelar por mim onde quer que esteja.
6
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar às minhas amadas mãe e irmã, por cada momento e sempre.
À Juliana Porto que com paciência e sabedoria fez jus à palavra “orientadora”. Obrigada por
todo conhecimento transmitido, pelo empenho e pela amizade. À você minha admiração como
pessoa e profissional.
À professora Maria Luisa, pelos ensinamentos e contribuições que me conduziram aos
estudos de valores.
Ao Autair, meu exemplo na gestão de pessoas, pelas discussões produtivas, pela
compreensão, flexibilidade e apoio em cada momento.
À Ida e Conceição, pelo interesse neste trabalho e por tornarem viável a verificação empírica.
À minha amiga Elaine, sempre barbie, pelo apoio imensurável.
À professora Lívia Borges, pelas indagações e contribuições no desenvolvimento deste
trabalho.
Ao Fundo Mackenzie de Pesquisa, pela contribuição financeira no desenvolvimento deste
estudo.
Aos meus colegas de núcleo e disciplina, pela convivência e aprendizado.
7
RESUMO
Estudos apontam valores como antecedentes de vários tipos de atitudes e comportamentos e,
no ambiente de trabalho, influenciam a satisfação e o comprometimento dos empregados, o
que ocasiona níveis mais baixos de absenteísmo e rotatividade e mais eficácia para a
organização. Este estudo buscou investigar o impacto dos valores organizacionais e pessoais
no bem-estar ocupacional, a fim de apresentar contribuições às organizações para melhor
compreensão do nível de bem-estar dos empregados em função dos valores da organização e,
assim, adotar uma gestão de pessoas que proporcione a satisfação dos empregados,
considerados um dos importantes stakeholders das organizações. Como instrumentos de
medida foram utilizados o Inventário de Perfis de Valores Organizacionais (IPVO), o
Questionário de Perfis de Valores (QPV) e a Escala de Bem-Estar Ocupacional (EBEO)
validados. A amostra foi composta por 102 empregados de uma organização do ramo de
alimentação e os dados foram analisados por meio de regressão hierárquica múltipla com uso
do software SPSS v.13. Os resultados apontaram que os valores organizacionais impactam no
bem-estar ocupacional e que os valores pessoais moderam essa relação.
Palavras-chave: valores organizacionais, bem-estar ocupacional, valores humanos.
8
ABSTRACT
Studies point values as antecedents of many kinds of attitudes and behaviors. In the work
context, the values influence employees´ satisfaction and commitment, resulting in lower
levels of absenteeism and turnover and more effectiveness for the organization. This study
aimed to investigate the organizational and personal values impact on occupational well-
being, contributing to human resources management in organizations and employees´
satisfaction, an important stakeholder. The instruments of measures used were the Profiles of
Organizational Values Inventory (IPVO), the Portrait Values Questionnaire (PVQ) and the
Occupational Well-Being Scale (EBEO) already validated. The sample was composed by 102
employees of a food company and the results were analyzed by hierarchical multiple
regression using the software SPSS v.13. The results pointed that organizational values
impact on occupational well-being and personal values moderate this relation.
Keywords: organizational values, occupational well-being, human values.
9
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Correspondência entre fatores do IPVO e tipos motivacionais de Schwartz .....48
Quadro 2 Relação entre valores organizacionais e bem-estar ocupacional (hipóteses da
autora).................................................................................................................70
Quadro 3 Perfil demográfico da organização pesquisada................ .................................75
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Estatística descritiva dos resultados de valores organizacionais.........................84
Tabela 2 Resultado da regressão hierárquica para as variáveis de valores e afeto
positivo................................................................................................................89
Tabela 3 Resultado da regressão hierárquica para as variáveis de valores e realização no
trabalho...............................................................................................................90
11
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Estrutura teórica da relação entre valores ................................................................26
Figura 2 Tipologia de valores organizacionais ......................................................................38
Figura 3 Estrutura de valores organizacionais baseada nos valores culturais ........................40
Figura 4 Estrutura de valores organizacionais baseada na teoria de valores pessoais de
Schwartz ...................................................................................................................41
Figura 5 Diagrama da relação entre as variáveis da pesquisa.................................................67
Figura 6 Desenho da pesquisa ................................................................................................77
12
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Correlações de valores pessoais e bem-estar ocupacional......................................85
Gráfico 2 Correlações de valores organizacionais e bem-estar ocupacional..........................87
Gráfico 3 Hierarquia de VO e VP (Tradição) e nível de BEO-Realização.............................91
Gráfico 4 Hierarquia de VO e VP (Domínio e Poder/Realização) e nível de BEO-Realização
.................................................................................................................................92
Gráfico 5 Hierarquia de VO e VP (Realização e Poder/Realização) e nível de BEO-
Realização ..............................................................................................................92
Gráfico 6 Variação do bem-estar ocupacional em função da hierarquia de valores pessoais x
valores organizacionais percebidos como alto na organização..............................93
Gráfico 7 Variação do bem-estar ocupacional em função da hierarquia de valores pessoais x
valores organizacionais percebidos como baixo na organização...........................93
13
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................15
2. REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................18
2.1. Valores Humanos.............................................................................................................18
2.1.1. Um panorama dos estudos em valores humanos ...........................................................18
2.1.2. Valores individuais: perspectivas históricas, conceitos e características .......................20
2.1.3. Teoria de valores de Schwartz .......................................................................................24
2.1.4. Valores e outros conceitos .............................................................................................28
2.2. Valores Organizacionais .................................................................................................34
2.2.1. Conceito de valores organizacionais ..............................................................................35
2.2.2. Estrutura de valores organizacionais ..............................................................................37
2.2.3. Função dos valores organizacionais ...............................................................................41
2.2.4. Medidas de valores organizacionais ..............................................................................43
2.3. Bem-Estar Geral..............................................................................................................49
2.3.1. Bem-estar subjetivo ........................................................................................................50
2.3.2. Bem-estar psicológico ....................................................................................................51
2.3.3. Antecedentes de bem-estar geral ....................................................................................53
2.4. Bem-Estar Ocupacional...................................................................................................57
2.4.1. Medidas de bem-estar ocupacional ................................................................................60
2.5. A relação entre Valores e Bem-estar .............................................................................62
3. PROBLEMA, OBJETIVOS E HIPÓTESES...................................................................65
4. CONTEXTUALIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO DE ESTUDO....................................72
5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ....................................................................76
14
5.1. Desenho da pesquisa .......................................................................................................76
5.2. Dados da amostra ............................................................................................................78
5.3. Instrumentos de coleta de dados.....................................................................................78
5.3.1. Inventário de Perfis de Valores Organizacionais ...........................................................78
5.3.2. Escala de Bem-Estar Ocupacional..................................................................................79
5.3.3. Questionário de Perfis de Valores...................................................................................79
5.4. Procedimento de coleta de dados....................................................................................81
5.5. Tratamento dos dados ....................................................................................................82
6. RESULTADOS ...................................................................................................................84
6.1. Descrição dos valores organizacionais...........................................................................84
6.2. Correlações entre VP e BEO...........................................................................................85
6.3. Correlações entre VO e BEO..........................................................................................86
6.4. Regressões.........................................................................................................................88
7. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS............................................................95
8. CONCLUSÃO ..................................................................................................................101
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................................104
ANEXO..................................................................................................................................108
APÊNDICE............................................................................................................................116
15
1. INTRODUÇÃO
As organizações atuais possuem diversos stakeholders e a forma de relacionamento com eles,
bem como a sua satisfação podem trazer os resultados desejados para a organização como
sustentabilidade, rentabilidade e crescimento (DONALDSON; PRESTON, 1995). Essa é uma
das premissas da teoria organizacional do stakeholder que vem ganhando força na literatura e
na prática da Administração.
De acordo com Donaldson e Preston (1995), stakeholder é qualquer pessoa ou grupo que
participa ou tem interesse nos negócios de uma organização, como os empregados,
fornecedores, clientes, investidores, comunidade, etc. A teoria baseia-se em uma relação
dinâmica entre a organização e seus stakeholders, onde existe a troca de benefícios e
interesses entre os envolvidos.
Quais estratégias adotar para manter um relacionamento eficaz com os stakeholders? De
acordo com Phillips, Freeman e Wicks (2003), gerenciar stakeholders envolve mais do que
simplesmente maximizar a riqueza dos acionistas, requer atenção aos interesses e bem-estar
daqueles que podem ajudar ou retardar a realização dos objetivos da organização. Esta é uma
das questões que desafia a gestão das organizações atuais.
Neste estudo busca-se contribuir com a gestão de recursos humanos das organizações,
apresentando dados empíricos da relação entre os valores organizacionais e os valores
pessoais no bem-estar ocupacional dos empregados, considerados um dos principais
stakeholders das organizações.
Os valores pessoais, por exemplo, são apontados na literatura como antecedentes dos mais
diversos tipos de atitudes e comportamentos. No contexto de trabalho, por sua vez, pesquisas
indicam que valores influenciam a satisfação e o comprometimento dos empregados
resultando em níveis mais baixos de absenteísmo e rotatividade e mais eficácia para a
organização.
16
Estudos sobre bem-estar apontam que no ambiente de trabalho, o bem-estar relaciona-se com
afetos e com a possibilidade de realização profissional, também impactando no nível de
satisfação dos empregados.
Considerando os resultados que podem surtir nas organizações como reflexo dos seus valores
e do nível de bem-estar dos empregados, questiona-se neste estudo qual a relação empírica
entre essas variáveis e que tipo de impacto os valores organizacionais e pessoais podem
apresentar no bem-estar ocupacional.
Pesquisa de Wilson et al. (2004) encontrou que a percepção que o empregado tem da
organização em que trabalha afeta a sua percepção do clima organizacional, o que impacta na
maneira como se relaciona com seu trabalho e enxerga seu futuro na organização, impactando
também em seu ajustamento ao trabalho, saúde e bem-estar.
Wilson et al. (2004) argumentam que simplesmente mudar o ambiente organizacional ou
aumentar o salário dos funcionários não garante, por si só, a efetividade organizacional,
defendendo que é necessária a criação e manutenção de um ambiente de trabalho saudável, a
partir de ações organizacionais, políticas e procedimentos que reflitam os valores e crenças da
organização.
Dentro desse contexto, ter Doest et al. (2006) ainda defendem o papel das metas pessoais,
salientando que se essa percepção que o empregado tem de seu trabalho não facilita a
realização de suas metas pessoais, pode haver efeitos negativos no comprometimento
organizacional, sendo um preditor de burnout e turnover elevado.
Os estudos citados acima convergem para o fato de que a percepção que os empregados têm
de seu trabalho e da organização constituem um elemento importante para se analisar o
ambiente organizacional e obter indicadores de satisfação e bem-estar, sendo que o nível
desses indicadores ainda pode ter uma influência pessoal à medida que se questiona o quanto
a percepção que o funcionário tem da organização vai ao encontro das suas expectativas e
valores pessoais.
Os valores organizacionais percebidos pelos empregados indicam valores efetivamente
compartilhados pela organização o que possibilitaria um melhor conhecimento de sua
17
população interna e assim, a adoção de práticas e políticas condizentes com o perfil da
organização, a fim de gerar maior bem-estar aos empregados, uma vez que a satisfação desses
stakeholders pode ajudar na realização dos objetivos da organização.
Esta pesquisa propõe, então, explorar a relação entre os valores organizacionais e pessoais e
seu impacto sobre o bem-estar ocupacional, considerando que a similaridade na hierarquia dos
valores organizacionais percebidos e os valorizados pessoalmente pelos empregados, resultam
em nível mais elevado de bem-estar ocupacional e vice-versa.
Foi adotado o nível de análise individual, uma vez que as variáveis do estudo (valores
organizacionais, valores pessoais e bem-estar ocupacional) necessitam de análise no nível
individual para se avaliar o objetivo proposto. Os valores organizacionais, nesse caso, são
considerados no nível individual uma vez que se referem à percepção do funcionário acerca
dos valores da organização.
Este estudo teve por base a teoria de valores pessoais de Schwartz (1992; 2005a) sendo
utilizados os instrumentos PVQ (Portrait Values Questionnaire = Questionário de Perfis de
Valores), IPVO (Inventário de Perfis de Valores Organizacionais) e EBEO (Escala de Bem-
Estar Ocupacional) para a mensuração das variáveis. O teste empírico foi realizado com
empregados de uma empresa nacional privada do ramo de alimentação.
O capítulo a seguir tratará do referencial teórico, abordando os valores pessoais, os valores
organizacionais e o bem-estar geral e ocupacional, visando apresentar a teoria existente e a
relação entre as variáveis propostas nesta pesquisa. O terceiro capítulo discute o problema,
hipóteses e objetivos da pesquisa e o quarto apresenta o contexto da organização pesquisada.
O capítulo cinco refere-se aos procedimentos metodológicos utilizados e os capítulos seis e
sete apresentam os resultados e discussão dos resultados da pesquisa. No oitavo e último
capítulo são apresentadas as conclusões e recomendações para estudos futuros.
18
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Valores Humanos
Considerando o objetivo do presente estudo, que visa identificar a relação entre valores
organizacionais e bem-estar no trabalho, tendo os valores humanos como uma variável
moderadora, será apresentado a seguir, um panorama sobre a literatura de valores humanos e
valores organizacionais para melhor compreensão da relação entre as variáveis propostas
neste estudo.
2.1.1. Um panorama dos estudos em valores humanos
O estudo dos valores humanos não é um tema novo na literatura. Na Sociologia, a obra de
Thomas & Znaniecki, publicada em 1918-1920, apontava para os valores humanos ao se
dedicar ao processo de adaptação dos imigrantes polacos nos Estados Unidos no início do
século XX, conforme apontado por Ros (2001a).
Embora não seja um tema novo, o estudo dos valores humanos desenvolveu-se em diversas
áreas de conhecimento como a Sociologia, Psicologia e Antropologia, o que nos remete a uma
diversidade de abordagens e conceitos e ao desdobramento desses estudos até os dias atuais.
Além de perspectivas diferentes, de acordo com Ros (2001a), também existem níveis
psicossociais diferentes para se analisar os valores, representados pelos níveis cultural, grupal
(ou organizacional) e individual. Os valores individuais ainda podem ter diferentes focos,
como trabalho, família, etc. Considerando o foco trabalho, por exemplo, os valores são
expressões específicas dos valores individuais aplicados no ambiente de trabalho (ROS;
SCHWARTZ; SURKISS, 1999).
19
Schwartz (2005a) define que valores humanos são crenças acerca do desejável, que
transcendem situações específicas, variam em importância e servem como princípios-guia
para a vida das pessoas.
Também é possível encontrar na literatura a menção ao nível social de valores, porém, sem
um entendimento único entre autores. Molpeceres, Llinares e Musitu (2001), por exemplo,
empregam a definição de valores individuais ou gerais considerando que, se os valores obtêm
aceitação generalizada em um contexto social determinado, trata-se de valores sociais.
Rohan (2000) faz uma análise mais detalhada dos valores sociais, considerando que
praticamente não se faz na literatura, distinção entre esses dois sistemas intrapsíquicos de
valores, ou seja, o pessoal e o social. Para a autora, o sistema de valores sociais contém a
percepção das pessoas a respeito de valores endossados pelo grupo. Salienta, no entanto, que
embora haja discussões na literatura a respeito da similaridade estrutural entre os níveis
pessoal e social, acredita que eles têm a mesma estrutura e a questão tem um impacto mais
comportamental, considerando a maneira como as pessoas reconciliam o que elas querem com
o que acha que os outros querem. Dessa forma, os valores sociais não se caracterizariam mais
um nível e sim uma percepção de valores individuais que seriam desejáveis socialmente.
Em relação ao vel cultural, Sagiv e Schwartz (2005, p.204) apontam que “as dimensões
culturais dos valores refletem as questões básicas ou problemas que as sociedades enfrentam
para regular as suas atividades”. Esses problemas dizem respeito, basicamente, à natureza das
relações entre o indivíduo e o grupo, à garantia de comportamentos responsáveis dos
indivíduos que preservem a sociedade e à regulação da relação humana com o mundo natural
e social (SAGIV; SCHWARTZ, 2005).
No nível organizacional, Tamayo e Gondim (1996) definem que os valores são princípios ou
crenças organizados hierarquicamente, relativos a tipos de estrutura ou a modelos de
comportamento desejáveis que orientam a vida da empresa e servem a interesses individuais,
coletivos ou mistos.
As conceituações descritas acima visam, no entanto, apresentar um panorama geral dos níveis
de valores, não pretendendo caracterizar a complexidade e diversidade de estudos existentes
20
para cada um desses níveis. Será dada mais ênfase aos valores individuais e organizacionais
tendo em vista o foco da presente pesquisa.
2.1.2. Valores individuais: perspectivas históricas, conceitos e características
Tendo em vista as diferentes áreas de conhecimento que estudam os valores humanos, como a
Sociologia, Antropologia e Psicologia, a seguir, serão apresentadas as principais contribuições
dessas áreas para melhor compreensão do conceito de valores individuais e sua evolução até
os dias de hoje.
Na área da Sociologia, Ros (2001a) cita as contribuições de Thomas & Znaniecki (1918-
1920), bem como de Parsons, com publicações a partir da década de 50. Embora com
abordagens diferentes, a principal contribuição desses estudos, que perdura até hoje nas
discussões de valores, é a conexão entre valores e atitudes tendo como cenário a estrutura
social e as ações do indivíduo nesse cenário.
Para Thomas & Znaniecki, na leitura de Ros (2001a), os valores têm algumas motivações
subjacentes como reconhecimento social, segurança, resposta, domínio ou poder e novas
experiências, o que impacta na forma como o indivíduo se relaciona com a estrutura social.
Na visão de Parsons (1951), citada por Ros (2001a), as ações dos indivíduos são realizadas a
partir de três sistemas: o sistema de personalidade, o sistema social e o sistema cultural.
De acordo com Ros (2001a), no sistema de personalidade, o ator atua pessoalmente motivado
por suas necessidades e pela busca de gratificação, avaliando as alternativas ao seu alcance.
No sistema social, essa motivação pessoal é complementada com as expectativas das demais
pessoas com as quais se relaciona, ou seja, a ação pessoal está orientada em relação às
expectativas dos demais. Por fim, é o sistema cultural que proporciona estabilidade de
significado, que pode ser assegurada pelas convenções respeitadas por ambas as partes, e
também que torna possível o sistema social e o sistema pessoal. Ros (2001a) conclui que, para
Parsons, as pessoas são motivadas a atuar com base nesses três critérios e também com base
nas orientações de valor que as obriga a respeitar certas normas.
21
Tendo por base a visão da Sociologia, percebe-se que os primeiros estudos citando valores
discutiam algumas características que se mantiveram ao longo da evolução do conceito na
literatura, como o componente motivacional dos valores guiando ações, além de uma menção
acerca do desejável, considerando a relação entre indivíduo e sociedade.
Com características similares na Antropologia, Kluckhohn (1951, p.443), define que “um
valor é uma concepção, explícita ou implícita, própria de um indivíduo ou característica de
um grupo, acerca do desejável, que influi na seleção dos modos, meios e fins de ações
acessíveis”. Dessa forma, a interpretação de valores compreende elementos afetivos
(desejáveis), cognitivos (concepção) e relativos à ação (seleção), segundo o autor. Essa
definição também tem por base a cultura, o grupo e a relação do indivíduo com a cultura e
dentro de seu grupo.
A concepção, no sentido da definição de Kluckhohn (1951), sugere o entendimento de que há
um elemento cognitivo, porém não exclusivo no conceito de valores, que inclui idéias não
expressas que instigam dentro do indivíduo determinada conduta. O desejável para o autor,
significa aquilo que é sentido ou pensado como o que é correto querer, enquanto que a sua
união com a seleção, implica em dizer que tanto o elemento cognitivo quanto o conativo são
importantes, sendo que não há superioridade de um sobre o outro. A seleção, nesse contexto, é
uma função que permite aos indivíduos perceberem diversas alternativas no mundo externo,
com a finalidade da ação.
De forma mais sucinta, Hofstede (2001) deriva sua concepção de valores de Kluckhohn,
abordando-os como uma ampla tendência a preferir certos estados ou assuntos. Em sua
definição, enfatiza a distinção entre valores com desejado, ou seja, o que as pessoas na
verdade desejam, versus o desejável, o que elas acham que deveriam desejar.
Na vertente da Psicologia, autores como Allport, Maslow e Rokeach foram uns dos primeiros
a estudar os valores humanos.
De acordo com Ros (2001a), a contribuição de Maslow para o estudo dos valores humanos
diz respeito à sua teoria da motivação, que postula que os indivíduos têm sete distintos tipos
de necessidades fisiológicas, de segurança, de pertencimento e amor, de estima, de
22
atualização, de conhecimento e estéticas organizadas segundo um princípio de hierarquia
relativa, onde é possível ascender nessa hierarquia quando as necessidades básicas são
satisfeitas, salvo algumas exceções. Embora com algumas críticas na literatura, inclusive em
relação à falta de testes empíricos, observa-se que a noção de hierarquia e necessidades foi
uma importante contribuição de Maslow para a teoria de valores na psicologia.
Com contribuições complementares, Allport (1961 apud EWEN, 2003) aborda valores ou
orientação de valor como uma filosofia unificada que dá sentido à vida das pessoas. Conforme
aponta Ewen (2003), Allport, baseado no trabalho do filósofo Spranger, que propôs seis
orientações de valor: teórica, estética, econômica, social, política e religiosa, desenvolveu um
questionário para mensuração desses valores, considerando haver níveis de importância
diferentes entre eles para cada pessoa. Ewen (2003) salienta que Allport foi o primeiro teórico
a apresentar um questionário para mensuração de valores, cujos trabalhos foram também
desenvolvidos em conjunto com Vernon & Lindzey.
Embora com desenvolvimentos posteriores e mais abrangentes, os estudos de Allport já
apontavam para tipos de valores, com níveis de importância diferentes entre as pessoas e
possibilidades de mensuração, características essas, muito presentes nos estudos atuais de
valores.
Alguns autores, no entanto, como Rokeach (1973) e Schwartz (1992; 2005a), desenvolveram
uma teoria de valores humanos, exercendo grande impacto e contribuição aos estudos da área.
Na concepção de sua teoria, Rokeach (1973), apoiou-se em cinco pressupostos acerca da
natureza dos valores humanos quais sejam: o número total de valores que uma pessoa possui é
relativamente pequeno; todas as pessoas, em qualquer lugar, possuem os mesmos valores em
níveis diferentes; os valores são organizados em um sistema de valores; os antecedentes dos
valores podem ser sinalizados pela cultura, sociedade e personalidade e; as conseqüências de
valores humanos são manifestadas em praticamente todo fenômeno social.
Dessa forma, Rokeach (1973, p.5) definiu que “um valor é uma crença duradoura de que um
modo de conduta específico ou finalidade de existência é pessoalmente ou socialmente
preferível em relação à um oposto” e que o sistema de valores é a organização dessas crenças
ao longo de um continuum de importância relativa.
23
O autor se refere à característica duradoura dos valores, considerando que existe uma certa
estabilidade no sistema de valores das pessoas, no entanto, essa organização dentro do sistema
de valores pode se alterar a longo prazo, conforme aponta alguns experimentos realizados e,
por isso, os valores não podem ser considerados totalmente estáveis.
A crença nesse conceito distingue que valores são crenças do tipo prescritivas ou proscritivas,
ou seja, crenças onde alguns meios e fins de ações são julgados desejáveis e que, como toda
crença, carregam componentes cognitivos, afetivos e comportamentais (ROKEACH, 1973).
À medida que Rokeach (1973) propõe que os valores são crenças que abrangem modos de
conduta e finalidades de existência desejáveis, distingue dois tipos de valores, um que se
refere aos meios e outro aos fins, denominados valores instrumentais e valores terminais
respectivamente.
Considerando as diferentes concepções de valores encontradas na literatura, Schwartz e
Bilsky (1987, p.551) apontaram para cinco características comuns, encontrando que “valores
são conceitos ou crenças, acerca de comportamentos ou estados finais de existência
desejáveis, que transcendem situações específicas, guiam a avaliação ou seleção de
comportamentos e eventos e são ordenados por sua importância relativa”.
Visando uma melhor expressão do conteúdo dos valores, Schwartz e Bilsky (1987), ainda
agregaram o pressuposto teórico de que a natureza e a fonte dos valores baseiam-se nos três
requisitos universais da existência humana: necessidades dos indivíduos como organismos
biológicos, requisitos de ação social coordenada e necessidade de sobrevivência e bem-estar
dos grupos.
Schwartz e Bilsky (1987) apresentaram mais dois aspectos distintivos do conteúdo de valores:
ligação aos interesses a que servem (individualistas, coletivistas ou mistos) e a existência de
diferentes domínios motivacionais, que posteriormente Schwartz (1992) denominou tipos
motivacionais, nos quais os requisitos universais da existência humana podem expressar-se.
Considerando as características de valores encontradas e seus pressupostos de conteúdo dos
valores, Schwartz e Bilsky (1987) definiram valores como um conceito individual de uma
24
meta transituacional que expressa interesses a respeito de um tipo motivacional, avaliando-os
em nível de importância como princípios-guia para a vida.
Com o desenvolvimento da teoria, atualmente considera-se que os valores possuem cinco
principais características: são (a) crenças, (b) são um construto motivacional (objetivos
desejáveis, motivação para agir), (c) transcendem situações e ações específicas (são objetivos
abstratos), (d) guiam a seleção e avaliação de ões, políticas, pessoas e eventos e (e) são
ordenados pela importância relativa aos demais, ou seja, possuem uma característica
hierárquica. Todos os valores possuem essas características, porém, o que os diferencia é o
tipo de objetivo ou motivação subjacente a cada um deles (SCHWARTZ, 2005a).
Tendo por base os estudos de valores abordados, Schwartz reúne e relaciona diversas
características dos valores que vêm sendo enfatizadas desde os primeiros estudos na área
como sua função de preferência, aspecto motivacional ou seu impulso para algo desejável, por
exemplo. Sendo assim, a teoria de valores humanos de Schwartz (1992; 2005a) foi utilizada
como base para o desenvolvimento desta pesquisa e abordagem da variável moderadora de
valores pessoais.
2.1.3. Teoria de valores de Schwartz
A teoria de valores de Schwartz (1992) derivou-se da teoria de Rokeach (1973) e, a partir da
expansão teórica e empírica de seus estudos, propôs uma estrutura de valores humanos que é
apontada na literatura como uma estrutura muito próxima de ser universal.
Inicialmente, Schwartz e Bilsky (1987; 1990) definiram domínios motivacionais de valores
(satisfação, segurança, realização, autodireção, conformidade, pró-social, benevolência,
maturidade e poder social) e utilizaram a Escala de Valores de Rokeach e o método SSA
(Smallest Space Analysis) para testar empiricamente a hipótese de existência de uma estrutura
de valores humanos, que organiza os valores com base em suas similaridades e diferenças,
bem como a existência de relações compatíveis ou contraditórias entre os domínios
motivacionais.
25
O método SSA permite “representar os valores como pontos num espaço multidimensional,
de forma que as distâncias entre os pontos reflitam as relações empíricas entre os valores
como mensurados pelas correlações entre seus índices de importância”. Assim, esse método
permite avaliar que, quanto maior a similaridade conceitual entre dois valores, maior deve ser
sua relação empírica e mais perto devem estar localizados no espaço multidimensional
(SCHWARTZ; BILSKY, 1987, p.553).
O estudo foi aplicado em Israel, Alemanha, Austrália, Estados Unidos, Hong Kong, Espanha
e Finlândia e após realizados os procedimentos de mensuração e análise dos dados, embora
com algumas especificidades entre as amostras, os resultados demonstraram que as pessoas
discriminam valores de acordo com o tipo de meta (terminal ou instrumental), interesses a que
servem (individual, coletivo ou misto) e domínio motivacional. Além disso, os resultados
também apontaram que os domínios motivacionais são organizados dinamicamente,
apresentando compatibilidade ou oposição entre eles, corroborando as hipóteses inicialmente
postuladas por Schwartz e Bilsky (1987; 1990).
Avançando nos estudos de valores, Schwartz (1992) revisou a teoria anteriormente postulada,
propondo modificações e introduzindo um novo instrumento para avaliar valores, denominado
SVS (Schwartz Values Survey) ou Inventário de Valores de Schwartz. A partir de seus
postulados e instrumento, Schwartz (1992; 2005a) realizou testes empíricos, totalizando 210
amostras de 67 países localizados em todos os continentes habitados o que corresponde a
64.271 pesquisados até o momento e desenvolveu uma estrutura de valores humanos
composta por 10 tipos motivacionais – autodeterminação, estimulação, hedonismo, realização,
poder, segurança, conformidade, tradição, benevolência e universalismo – que apresenta
relações de compatibilidade e conflito entre os valores.
A estrutura circular das relações entre os tipos motivacionais, demonstrada na Figura 1,
representa que os tipos de valores adjacentes são mais compatíveis, sendo que, à medida que a
distância ao redor da ordem circular aumenta, os valores tendem a ser menos compatíveis até
que, se localizados numa posição oposta, indicam grande conflito (SCHWARTZ, 1992).
A estrutura de valores de Schwartz também apresenta quatro grandes ordens de valores,
formando duas dimensões conceituais básicas: (1) abertura à mudança vs. conservação e (2)
26
autopromoção vs. autotranscendência, que representam as relações de conflito entre os tipos
motivacionais de valores e entre os valores específicos, conforme dispõe Schwartz (1992).
A dimensão 1 combina estimulação e autodeterminação em oposição à combinação de
segurança, conformidade e tradição, e a dimensão 2 combina poder e realização em oposição
à combinação de universalismo e benevolência. O hedonismo pode estar relacionado tanto à
abertura à mudança quanto à autopromoção, pois seu conteúdo divide alguns dos elementos
nessas duas grandes ordens, por isso é representado graficamente com traços pontilhados na
estrutura de valores.
Em relação aos tipos tradição e conformidade, são considerados dentro de uma mesma fatia
nessa estrutura, pois sugerem dividir uma mesma meta motivacional, no entanto, com focos
diferentes, ou seja, conformidade estaria mais relacionada com a subordinação do eu em
relação a interações com pessoas, enquanto a tradição com a subordinação a objetos mais
abstratos, como costumes religiosos, por exemplo (SCHWARTZ, 1992).
Figura 1: Estrutura teórica da relação entre valores
Fonte: Schwartz (2005a)
Considerando os objetivos que expressam, os tipos motivacionais são definidos por Schwartz
(2005a) da seguinte forma:
Universalismo
Benevolência
Autodeter-
minação
Estimulação
Hedonismo
Realização
Poder Segurança
Conformidade
Tradição
27
1. Autodeterminação – independência de ação e pensamento;
2. Estimulação – busca por excitação, novidade, desafio na vida;
3. Hedonismo – objetiva o prazer ou a gratificação sensual;
4. Realização obtenção de sucesso pessoal por meio de demonstração de competência,
atendendo aos padrões sociais;
5. Poder – obter status social e prestígio, ter controle ou domínio sobre pessoas e recursos;
6. Segurança – objetiva a segurança, harmonia e estabilidade da sociedade e pessoal;
7. Conformidade restrição a ações, impulsos que possam prejudicar outras pessoas e violar
expectativas ou normas sociais;
8. Tradição – compromisso e aceitação de costumes e idéias de uma determinada cultura;
9. Benevolência visa preservar e fortalecer o bem-estar de pessoas mais íntimas do
indivíduo;
10. Universalismo – compreensão e proteção do bem-estar de todas as pessoas e da natureza.
A partir desta estrutura teórica de valores, onde alguns tipos são compatíveis, algumas vezes
se inter-relacionando, emergindo grandes ordens e dimensões básicas de valores, Schwartz
(1992) salienta que é possível conceber os valores como formando um continuum de
motivações relacionadas à medida que não é possível precisar onde termina um tipo e começa
outro, sendo a repartição da estrutura teórica demarcada mais para fins de estudo.
Em relação à importância relativa dos valores, no entanto, esta difere substancialmente entre
grupos e indivíduos, uma vez que suas motivações são diferentes, assim, os indivíduos têm
prioridades ou hierarquia de valores diferentes, podendo essa hierarquia ser verificada a partir
28
da mensuração dos valores do indivíduo por meio do Inventário de Valores de Schwartz
(SVS).
Além do SVS, os 10 tipos motivacionais de valores também podem ser mensurados por meio
de um outro instrumento, denominado PVQ (Portrait Values Questionnaire), cuja validação
no Brasil o denomina de Questionário de Perfis de Valores (QPV).
De acordo com Schwartz (2005b), o PVQ foi desenvolvido para possibilitar a aplicação em
amostras de baixa escolaridade, bem como em crianças e adolescentes, o que se torna mais
difícil com o SVS, uma vez que este exige um alto grau de abstração e apresenta conceitos
axiológicos fora de contextos específicos.
Schwartz (2005b) salienta que o nível de linguagem avaliado para o PVQ é o de uma criança
de 11 anos, além disso, o instrumento exige cerca de 10 minutos para ser completado e os
sujeitos dizem que é fácil e divertido.
Considerando as características dos dois instrumentos (SVS e PVQ), optou-se por utilizar o
PVQ neste estudo, tendo em vista sua facilidade de aplicação em sujeitos com baixa
escolaridade, além do benefício do tempo de aplicação, uma vez que será administrado em
conjunto com outros instrumentos. As características do instrumento PVQ serão detalhadas no
capítulo de metodologia.
2.1.4. Valores e outros conceitos
Conforme aponta Rokeach (1973), um dos critérios para satisfazer uma concepção científica
de valores humanos é distingui-los de outros conceitos como atitude, norma social e
necessidade.
Considerando os principais conceitos que possam suscitar discussões, será abordado neste
estudo, a diferenciação entre o conceito de valores e os conceitos de atitude e necessidade,
bem como a relação de valores e comportamento.
29
O conceito de atitude versus valores representa uma das discussões mais salientadas na
literatura de valores. Embora autores tenham posições diferentes a respeito da distinção entre
valores e atitudes, é possível não somente distingui-los de valores, como também
compreender o papel de cada um no sistema cognitivo do indivíduo.
Considerando algumas avaliações dos conceitos de atitudes e valores na literatura, Rohan
(2000) propõe que o termo atitude reserva-se a descrever avaliações das pessoas, sobre
entidades específicas, cujo termo entidade pode ser entendido como uma situação ou objeto
específico. Kluckhohn (1951, p.474) destaca a definição clássica de atitude de Allport, ou
seja, “um estado nervoso e mental de pré-disposição, organizado através da experiência, que
exerce uma influência direta ou dinâmica sobre a resposta do indivíduo a qualquer objeto e
situação com os quais está relacionado”. A partir dessa definição, aborda que a referência
exclusiva ao indivíduo e a ausência de menção ao desejável, seriam as principais diferenças
entre o conceito de valores e o de atitude.
Para Rokeach (1973), atitudes e valores diferem em diversos aspectos. Segundo o autor, um
valor é uma crença singular de um tipo específico, pois diz respeito a modos de conduta ou
estados finais desejáveis que guiam ações, julgamentos, comparações e as próprias atitudes,
enquanto que uma atitude refere-se a organização de diversas crenças, todas focadas em um
determinado objeto ou situação, cuja característica principal é avaliativa de favorabilidade ou
desfavorabilidade em relação a esse objeto ou situação. Assim, os valores também se
diferenciam de atitudes à medida que transcendem objetos e situações.
De acordo com Ros (2001b), as atitudes são orientações avaliativas, de favorabilidade ou
desfavorabilidade para um objetivo físico ou social, sendo que sua estrutura é composta por
elementos cognitivos, avaliativos e comportamentais.
O elemento cognitivo refere-se às informações que as pessoas têm sobre determinado objeto,
o componente avaliativo é a relação de afeto ou desafeto sobre esse objeto, enquanto que o
componente comportamental é o comportamento ou a intenção de comportamento realizada
diante do objeto de atitude (ROS, 2001b).
Katz (1960 apud ROS, 2001b), aborda que as atitudes cumprem quatro funções para o ser
humano, uma função utilitária, que visa maximizar recompensas e minimizar castigos
30
provenientes do ambiente, uma função de conhecimento, que imprime significado ao eu e
suas relações com o ambiente, a função de defesa do eu, visando proteger o eu de impulsos
inaceitáveis que possam causar ansiedade, e a função expressiva de valores, que se manifesta
em atitudes que servem para expressar valores centrais do autoconceito.
Dessa forma, pode-se observar que algumas características da atitude convergem entre os
autores mencionados. A atitude é abordada como uma posição avaliativa (favorável ou
desfavorável) do indivíduo frente a um determinado objeto ou situação, que o
necessariamente culmina com um comportamento. Além disso, alguns autores também
abordam que na atitude não está presente o componente desejável, como nos valores.
Os valores não são, no entanto, desvinculados de atitudes. De acordo com Rokeach (1973),
eles ocupam uma posição mais central na constituição da personalidade e sistema cognitivo da
pessoa, sendo determinantes de atitudes e comportamentos, que estariam numa posição mais
periférica. Por essa sua posição de centralidade, os valores também teriam uma relação mais
imediata com a motivação, segundo o autor.
Outra discussão que surge na teoria de valores refere-se ao conceito de valores e necessidades.
Assim como ocorre com o conceito de atitude, diferentes considerações a respeito do
assunto, sendo que muitas dessas considerações também tratam valores e necessidades como
conceitos equivalentes.
Rokeach (1973) discute que uma relação entre esses dois conceitos, no entanto, uma
necessidade estaria mais relacionada a algo que a pessoa quer fazer e sente que deve fazer ao
passo que os valores não se referem especificamente ao que se deva fazer, mas também a algo
que se deseja fazer. Assim, conforme aponta o autor, os valores possuem atributos que as
necessidades não possuem. O principal deles, por exemplo, é o fato de serem possíveis apenas
para os seres humanos, à medida que os valores transformam e representam cognitivamente as
necessidades, tanto necessidades individuais, quanto sociais e institucionais. As necessidades,
então, podem ou não ser negadas, dependendo da consciência pessoal e exame social do
indivíduo, já os valores não podem ser negados.
Kluckhohn (1951), considerando os trabalhos de Dorothy Lee e Maslow, também destaca que
existe uma relação estreita entre as necessidades e os valores, porém, que duas classes
31
diferentes relacionadas à satisfação de necessidades, uma ligada à aspectos biológicos, como
sede e fome, cuja necessidade é satisfeita após o indivíduo ter se alimentado, por exemplo, e
outra ligada à orientação de valor, cuja necessidade é contínua, não deixando de ser desejada
após sua satisfação.
Em relação às necessidades ligadas aos valores, Kluckhohn (1951) comenta que Dorothy Lee
discute que as necessidades surgem de valores básicos de uma cultura, como o valor de
individualismo, por exemplo, sendo um processo primeiramente psicológico, de
internalização do valor de uma dada cultura (como se aprende) e posteriormente cultural,
onde os indivíduos atuam de acordo com eles ao escolher o caminho de suas ações.
Dessa forma, observa-se que embora exista uma relação entre valores e necessidades, não se
pode concluir que sejam conceitos similares. O que os estudos citados denotam é que a
necessidade é transformada e representada pelos valores que o indivíduo possui, podendo
sofrer influência da cultura a que pertence em sua forma de manifestação e satisfação.
Por fim, a abordagem da atitude como uma variável antecedente do comportamento,
apresenta-se como um assunto mais sedimentado e homogêneo na literatura. Já no campo de
estudos dos valores, a questão é discutida de diferentes formas, embora admita-se a existência
da relação entre valores e comportamento.
Kluckhohn (1951), por exemplo, considera que os valores são idéias que formulam os
compromissos com a ação, ou seja, instigam a conduta. Para Rokeach (1973), o sistema
cognitivo-comportamental do indivíduo implica relação entre diversos elementos como
crenças, atitudes, valores e autoconceito.
Dos elementos mencionados, um conceito central para a teoria de Rokeach (1973) é o
autoconceito. De acordo com o autor, autoconceito é entendido na literatura como uma classe
de crenças que é mais central numa pessoa do que os valores, referindo-se às diversas
concepções e cognições que uma pessoa tem a respeito de si própria. Nesse sentido, o
autoconceito inclui todas as cognições, conscientes e inconscientes, sobre sua imagem física,
habilidades e fraquezas intelectuais e morais, posição sócio-econômica na sociedade,
identidade nacional, regional, étnica, racial e religiosa, papéis (ocupacional, familiar, etc.) que
desempenha na sociedade e o quão bem ou mal desempenha tais papéis.
32
Considerando a posição desses elementos no sistema cognitivo do indivíduo, Rokeach (1973)
aborda que o autoconceito constitui o núcleo dos valores que, por sua vez, ocupam uma
posição central nesse sistema, enquanto que as crenças e as atitudes ocupam uma posição
mais periférica. Dessa forma, o autoconceito e os valores são considerados determinantes de
atitudes e crenças, sendo que essas têm uma relação mais direta com o comportamento,
enquanto os valores configuram-se como um elemento mediador. Similarmente à teoria de
Rokeach (1973), Ros (2001b) comenta o estudo de Homer & Kahle (1988), por exemplo, que
de forma empírica apontaram que as atitudes se revelam como variáveis mediadoras entre os
valores e o comportamento.
Schwartz (2005a) também aborda em seus estudos a relação entre valores, atitudes e
comportamento, porém de forma separada, ou seja, valores-comportamento e valores-atitude,
não caracterizando atitudes como uma variável mediadora.
A relação entre valores e comportamentos se dá, de acordo com Schwartz (2005a), a partir de
quatro processos-chave. O primeiro deles é que os valores precisam ser ativados para afetar o
comportamento. Segundo, também precisam ser caracterizados como fonte de motivação,
uma vez que ações se tornam mais atraentes quando o objetivo a alcançar é valorizado pelo
indivíduo. O terceiro processo considera a influência dos valores na atenção, percepção e
interpretação de situações, onde valores de alta prioridade têm impacto maior sobre as
situações. O último processo aborda a influência dos valores no planejamento de ações,
considerando que quanto mais alta a prioridade de um valor para a pessoa, é mais provável
que elas formulem planos, levando à expressão dos valores no comportamento.
Dessa forma, Schwartz (2005a) relaciona os tipos motivacionais de sua estrutura de valores ao
comportamento, significando que a tendência de comportamento das pessoas recebe ênfase
dos seus valores prioritários e subjacentes relacionados, diminuindo monotonicamente ao
redor da estrutura de valores, do tipo motivacional relacionado mais positivo para o mais
negativo.
Embora com abordagens diferenciadas, os estudos de valores são convergentes em considerar
que os valores influenciam o comportamento humano. Dessa forma, o estudo de valores
permite analisar as inter-relações dos diversos elementos do sistema cognitivo do indivíduo e,
33
embora não possam ser observados diretamente, permite uma melhor compreensão de como
orientam e guiam a vida das pessoas.
34
2.2. Valores Organizacionais
Pesquisando a literatura, observa-se que ainda é pequeno o número de estudos abrangendo os
valores organizacionais, além de serem encontradas diferentes conceituações e medidas
acerca desse construto, o que nos sugere a necessidade de expandir os estudos na área. Mesmo
com diferentes enfoques encontrados na literatura, pode-se observar que alguns elementos
que prevalecem nas discussões dos estudiosos no assunto. Esses elementos relacionam-se com
o alcance de objetivos ou metas organizacionais e com o atendimento de necessidades dos
indivíduos.
Koslowsky e Stashevsky (2005), por exemplo, dividem os valores no contexto do trabalho em
dois grandes focos: um enfatizando os valores associados com trabalhos específicos,
geralmente estudados no contexto dos humores e atitudes dos trabalhadores e outro focando
na organização, visando investigar seu gerenciamento de metas e a forma comportamental
empregada para adquiri-las. Os autores enfatizam que o estilo de administração, cultura e
clima organizacional, são componentes dos valores que, por sua vez, são específicos de cada
organização.
Tamayo (1999, p. 255), um dos precursores nos estudos de valores organizacionais no Brasil,
também defende a importante relação entre a cultura organizacional e os valores
organizacionais, no entanto, aborda o assunto a partir da perspectiva de Deal & Kennedy
(1988), que consideram que os valores organizacionais “constituem o núcleo da cultura
organizacional, definem o sucesso esperado ou desejado e estabelecem os padrões que devem
ser alcançados na organização”.
De acordo com Tamayo (1999), da mesma forma que na cultura geral o indivíduo e os grupos
encontram exigências universais cuja satisfação ocorre por meio dos valores individuais, as
organizações também encontram exigências universais que têm de ser satisfeitas para garantir
a sua sobrevivência.
Os três problemas fundamentais enfrentados por toda organização, conforme afirma Tamayo
(1999) são: 1) a relação entre o indivíduo e o grupo, que será sempre conflituosa devido a
dificuldade de conciliar as metas e os interesses do indivíduo e da empresa; 2) a necessidade
35
de uma estrutura para subsistir, definindo normas, papéis, estratégias de trabalho, etc. e; 3) a
relação da organização com o meio ambiente natural e social, uma vez inserida numa
sociedade.
Tamayo (1999) salienta que a organização e seus membros, para poderem dar conta da
realidade, têm de reconhecer essas necessidades, que passam a ser representadas como valores
ou metas a serem atingidos, e planejar, criar ou aprender respostas apropriadas para a sua
satisfação.
2.2.1 Conceito de valores organizacionais
No âmbito dos estudos em valores organizacionais, Tamayo e seus seguidores, trouxeram
contribuições mais abrangentes e esclarecedoras sobre o conceito de valores organizacionais.
Tamayo e Gondim (1996), apoiados na definição de Katz & Kahn (1978), comentam que três
principais elementos definem e orientam o funcionamento da empresa, a saber:
1) Os papéis, que definem e prescrevem formas de comportamento associadas a determinadas
tarefas, diferenciando as funções e os cargos exercidos pelos indivíduos;
2) As normas, que são as expectativas da organização transformadas em exigências;
3) Os valores, definidos como “justificações e aspirações ideológicas mais generalizadas”, na
visão de Katz & Kahn (1978 apud TAMAYO; GONDIM, 1996, p. 63).
Tamayo e Gondim (1996, p. 63), visando clarificar o conceito, definem valores
organizacionais como “princípios ou crenças, organizados hierarquicamente, relativos a tipos
de estrutura ou a modelos de comportamento desejáveis que orientam a vida da empresa e
estão a serviço de interesses individuais, coletivos ou mistos”.
Nessa definição, os autores enfatizam elementos constitutivos dos valores organizacionais
quais sejam:
36
a) Aspecto cognitivo - crenças enfatizadas e valorizadas na vida organizacional, que
constituem a forma de se conceber a realidade organizacional e apresentar respostas a
problemas organizacionais;
b) Aspecto motivacional - expressão de interesses e desejos de alguém, seja de um indivíduo
ou grupo, por exemplo;
c) Hierarquização dos valores - assim como nos valores pessoais, permite a hierarquização a
medida que implicam em preferência, em distinção entre o importante e o secundário, entre o
que tem valor ou não;
d) Tipos de valores considerando a distinção de Rokeach (1973) entre instrumentais (metas
relativas a modelos desejáveis de comportamento organizacional) e terminais (metas relativas
a tipos de estrutura).
Em relação à existência de uma estrutura axiológica de valores organizacionais, Tamayo e
Gondim (1996) consideram haver poucas motivações, sendo que a diferenciação está na
percepção dessa estrutura pelos empregados, que assume diferenciadas formas e confere
valores distintos para cada organização. Dessa forma, os autores consideram que os valores
organizacionais emergem a partir da percepção compartilhada que os funcionários têm dos
valores de sua organização.
Sob uma outra perspectiva, Kabanoff e colaboradores consideram que os valores
organizacionais são aqueles esposados pela organização em documentos, discursos e
comunicações. Kabanoff e Daly (2002) definem que valores esposados são aqueles que as
pessoas expressam ou esposam em nome do coletivo, como uma organização, diferenciando
da visão de valores organizacionais como aqueles compartilhados pela maioria dos membros.
De acordo com Kabanoff e Daly (2002), os valores organizacionais são esposados
principalmente pela alta direção, refletindo as práticas organizacionais e o que a alta direção
acredita que a organização deve ser. Os autores acreditam que com a exploração e a
mensuração de valores esposados pode-se ter um melhor entendimento dos diferentes papéis e
funções dos valores.
37
Embora os autores tenham diferentes pontos de vista a respeito da identificação dos valores
organizacionais, pode-se considerar que as duas abordagens se complementam à medida que
para melhor compreensão da organização é necessário identificar não somente os valores
compartilhados pelo grupo, como também aqueles esposados pela organização e alta direção
em seus documentos.
2.2.2 Estrutura de valores organizacionais
Assim como Tamayo e seus seguidores defendem uma estrutura de valores organizacionais
com poucas motivações, sendo diferenciada pela percepção dos empregados, Kabanoff e seus
colaboradores também se dedicam a estudar se há realmente um pequeno número de valores
que caracterizam a maioria das organizações, utilizando a análise de conteúdo de documentos
organizacionais a fim de identificar traços de valores esposados.
Kabanoff (1991 apud KABANOFF; DALY, 2002) descreveu uma tipologia de valores
organizacionais com quatro diferentes tipos de estruturas de valores que as organizações
podem ter (Figura 2), enfatizando que as organizações mantêm, em geral, ênfase em apenas
um dos quatro tipos.
Os quatro tipos teóricos partem de como diferentes organizações resolvem duas tensões-chave
de qualquer sistema social de alocação eficiente de recursos: processos e estrutura, onde se
procura maximizar resultados e, ao mesmo tempo, alocar os recursos igualmente de forma a
manter a coesão social entre os membros de um grupo (KABANOFF; DALY, 2002).
38
+ indica que o valor é fortemente esposado pela organização
- indica que o valor é fraco ou não freqüentemente esposado
Figura 2: Tipologia de valores organizacionais
Fonte: Kabanoff (1991 apud Kabanoff & Daly, 2002)
O tipo elite enfatiza relações desiguais de poder (autoridade), não enfatizando valores de
igualitarismo (participação) e valores de coesão (afiliação, trabalho em equipe,
comprometimento), os quais enfatizam desempenho e recompensa. Ao contrário, o tipo
liderança representa uma mistura de características do tipo elite com valores de coesão. De
maneira similar, o tipo meritocrático combina conceitos de eficiência e igualdade e o tipo
colegial enfatiza o igualitarismo (KABANOFF; DALY, 2002).
De acordo com os autores, relatórios anuais e outros documentos foram coletados durante
cinco anos (1986-1990) numa amostra de organizações australianas, a fim de verificar a
ocorrência dessa estrutura de valores, cujos resultados apontaram para uma aproximação
desses quatro perfis teóricos.
Colegial
+ Valores
Trabalho em equipe
Participação
Comprometimento
Ética
Afiliação
Liderança
+ Valores
Autoridade
Liderança
Trabalho em equipe
Comprometimento
Desempenho
Recompensa
Afiliação
Meritocrático
+ Valores
Trabalho em equipe
Participação
Comprometimento
Desempenho
Recompensa
Ética
Afiliação
Elite
+ Valores
Autoridade
Desempenho
Recompensa
-Valores
Trabalho em
equipe
Liderança
Participação
Comprometimento
Ética
Afiliação
-Valores
Autoridade
Liderança
-Valores
Participação
Ética
-Valores
Autoridade
Liderança
Desempenho
Recompensa
Processos reforçados
pela estrutura
Processos compensados
pela estrutura
Poder Poder
Desigual ESTRUTURA Igual
Eqüidade
PROCESSOS
Igualitário
Colegial
+ Valores
Trabalho em equipe
Participação
Comprometimento
Ética
Afiliação
Liderança
+ Valores
Autoridade
Liderança
Trabalho em equipe
Comprometimento
Desempenho
Recompensa
Afiliação
Meritocrático
+ Valores
Trabalho em equipe
Participação
Comprometimento
Desempenho
Recompensa
Ética
Afiliação
Elite
+ Valores
Autoridade
Desempenho
Recompensa
Colegial
+ Valores
Trabalho em equipe
Participação
Comprometimento
Ética
Afiliação
Liderança
+ Valores
Autoridade
Liderança
Trabalho em equipe
Comprometimento
Desempenho
Recompensa
Afiliação
Meritocrático
+ Valores
Trabalho em equipe
Participação
Comprometimento
Desempenho
Recompensa
Ética
Afiliação
Elite
+ Valores
Autoridade
Desempenho
Recompensa
-Valores
Trabalho em
equipe
Liderança
Participação
Comprometimento
Ética
Afiliação
-Valores
Autoridade
Liderança
-Valores
Participação
Ética
-Valores
Autoridade
Liderança
Desempenho
Recompensa
Processos reforçados
pela estrutura
Processos compensados
pela estrutura
Poder Poder
Desigual ESTRUTURA Igual
Eqüidade
PROCESSOS
Igualitário
39
Sob o enfoque dos valores culturais, Tamayo (1996 apud TAMAYO, 1999) postula uma
estrutura de valores organizacionais formada por três dimensões bipolares, a fim de
representar as alternativas de resposta das organizações, considerando as três necessidades
universais que as organizações encontram para garantir sua sobrevivência, a saber:
1) Autonomia versus conservação – para solucionar o problema da relação entre o indivíduo e
o grupo;
2) Hierarquia versus estrutura igualitária – para dar conta do problema de estrutura da
organização;
3) Harmonia versus domínio – para definir sua forma de relacionamento com o mundo
externo, físico e social.
Na primeira dimensão, a conservação caracteriza-se pela manutenção do status quo na
organização e a interdição de comportamentos que possam perturbar as normas e as tradições
da empresa, enquanto que a autonomia promove a busca, por parte de cada um dos membros
da organização, de novos caminhos e soluções para os problemas organizacionais, pois a
ênfase é na inovação, na criatividade do indivíduo, novas formas de pensar e de agir.
Em relação ao problema de estrutura da organização, a hierarquia busca legitimar a definição
e distribuição hierárquica de recursos e papéis sociais na organização, sendo valores
característicos a autoridade, poder social, influência, fiscalização, supervisão, etc., ao passo
que a estrutura igualitária expressa a preocupação com o bem-estar dos outros e da
organização em geral, implicando em poucos veis de autoridade e um gerenciamento por
consenso, tendo como valores típicos a justiça social, a responsabilidade e a eqüidade.
Na dimensão harmonia versus domínio, o pólo domínio representa a tentativa de afirmação
assertiva da empresa por meio do domínio dos recursos materiais, do mercado, da tecnologia
e do conhecimento na sua área de atuação, enquanto que a harmonia expressa organizações
que enfatizam valores como proteção da natureza, cooperação e integração
interorganizacional, que enfatizam a harmonia com a natureza e com as outras organizações.
40
Dessa forma, Tamayo (1999) postula que a multiplicidade de valores existentes nas diversas
organizações estrutura-se, provavelmente, em torno de poucas motivações ou interesses
básicos dos sistemas sociais, representados pelas três dimensões bipolares mencionadas,
classificando os valores organizacionais em seis tipos motivacionais definidos pelos pólos
opostos das três dimensões, conforme representado na Figura 3.
Figura 3: Estrutura dos valores organizacionais baseada nos valores culturais
Fonte: Tamayo (1996)
Oliveira e Tamayo (2004) ainda apresentam uma estrutura de valores organizacionais pautada
na estrutura bidimensional de valores humanos individuais da teoria de Schwartz, que
representa as relações de compatibilidade e conflito entre os tipos motivacionais. Assim, os
autores defendem que os valores organizacionais e pessoais compartilham características
como os componentes motivacional, cognitivo, hierárquico e social, além de possuírem
função semelhante.
Para Oliveira e Tamayo (2004) a estrutura axiológica dos valores organizacionais também
apresenta poucas motivações que teoricamente mantém as relações de compatibilidade e
conflito conforme proposto por Schwartz (Figura 4).
A dimensão de abertura à mudança que enfatiza pensamento e ação independentes,
favorecendo a mudança, se opõe a conservação que enfatiza a auto-restrição, preservação de
práticas tradicionais e proteção da estabilidade.
AUTONOMIA
IGUALITARISMO HARMONIA
CONSERVAÇÃO
DOMÍNIO
HIERARQUIA
41
Nos outros dois pólos, a dimensão autopromoção apresenta valores que privilegiam os
interesses do indivíduo em oposição a autotranscendência, que preocupa-se com o bem-estar
dos outros e da natureza.
Figura 4: Estrutura de valores organizacionais baseada na teoria de valores pessoais de Schwartz
Fonte: Oliveira e Tamayo (2004)
Embora sob perspectivas diferentes, as estruturas de valores postuladas convergem em seu
objetivo de analisar a estrutura organizacional, processos e relações de poder, corroborando
para a afirmação de que a estrutura de valores organizacionais é formada por um número
pequeno de valores.
2.2.3 Função dos valores organizacionais
Koslowsky e Stashevsky (2005) comentam as contribuições de James & James (1989) que
afirmam que as percepções do indivíduo a respeito do ambiente de trabalho são uma função
do sistema de valor. De acordo com esse enfoque, o entendimento do clima percebido dentro
da organização gera insights ao sistema de valor do trabalhador que, por sua vez, torna-se
parte de seu bem-estar e ajuda a organização obter e manter suas metas (Jones; Jones, 2002
apud KOSLOWSKY; STASHEVSKY, 2005).
ABERTURA À
MUDANÇA
CONSERVAÇÃO
AUTOTRANSCENDÊNCIA
AUTOPROMOÇÃO
42
De acordo com Koslowsky e Stashevsky (2005), os processos e meios usados pela
organização para ganhar a confiança de seus empregados pode ser vista como correlata ou até
mesmo como produto dos valores organizacionais. Se um trabalhador sente que não está
sendo tratado honestamente, uma atitude negativa pode se instalar na organização, seguido de
baixo desempenho ou rotatividade de pessoal.
Em outras palavras, os autores acima denotam que os valores organizacionais regem a vida da
organização, corroborando com as idéias de Oliveira e Tamayo (2004), que defendem que a
função dos valores organizacionais é guiar a vida da organização, assim como a dos valores
pessoais é orientar a vida das pessoas.
Tamayo e colaboradores (1996; 2004) definem mais sistematicamente as funções dos valores
organizacionais, a saber:
- Orientar a vida da empresa e guiar o comportamento de seus membros, contribuindo para o
alcance das metas da empresa e;
- Operacionalizar normas existentes na empresa, o que seria o aspecto mais explícito uma vez
que os valores constituem uma parte mais ideológica (TAMAYO; GONDIM, 1996).
- Criar entre os empregados modelos mentais semelhantes relativos ao funcionamento e à
missão da organização;
- Contribuir para a construção da identidade social da organização, tornando-a distinta em
relação às demais organizações e;
- Atuar como mediadores nos conflitos, contribuindo para a solução dos problemas da
organização e assim, garantir sua sobrevivência (OLIVEIRA; TAMAYO, 2004).
Dessa forma, percebe-se que os valores organizacionais exercem funções importantes no
contexto organizacional, impactando nos níveis micro (indivíduos), meso (grupos) e macro
(organização) do comportamento organizacional, o que denota a relevância dos estudos nessa
área.
43
2.2.4 Medidas de valores organizacionais
É possível encontrar na literatura, alguns estudos que se propuseram a mensurar valores
organizacionais. Alguns deles, inclusive, não são de origem recente, como é o caso dos
estudos de Flowers & Hughes (1978), citado por Wallace, Hunt e Richards (1999), que
identificaram um grupo de 12 valores organizacionais: poder, elitismo, recompensa,
efetividade, eficiência, economia, justiça, trabalho em equipe, lei e ordem, defesa,
competitividade e oportunidade.
O que ocorre, no entanto, em alguns estudos que fazem menção a mensuração de valores
organizacionais, como é o caso do próprio estudo de Wallace, Hunt e Richards (1999), é a
mensuração em conjunto com outros construtos, como clima organizacional ou cultura
organizacional, por exemplo, e a utilização de itens de instrumentos diferentes, tentando
cobrir a relação entre os construtos que se pretende testar.
Algumas pesquisas também utilizam o estudo de documentos oficiais da empresa ou a média
dos valores individuais dos membros como estimativa dos valores organizacionais.
Oliveira e Tamayo (2004) apontam que a maioria dos estudos publicados no exterior enfatiza
a verificação do grau de ajustamento entre os valores pessoais e organizacionais por meio de
um único instrumento, respondido duas vezes pelo indivíduo, na primeira vez avaliando seus
valores pessoais e na segunda, os valores organizacionais. Citam, por exemplo, o modelo de
Finegan (2000), que adaptou a Escala de Valores Humanos de Rokeach ao contexto
organizacional.
O’Reilly, Chatman e Caldwell (1991), também propõem a identificação de valores
organizacionais a partir de um único instrumento, porém utilizando uma metodologia
diferente. Os autores tomam por base a premissa de que a cultura organizacional é um
importante fator na determinação de quão bem o indivíduo se adapta em um determinado
contexto organizacional, pautados em uma perspectiva psicológica, onde aspectos dos
indivíduos, como valores e expectativas, interagem com as situações afetando as atitudes e
comportamentos dos indivíduos.
44
Considerando que os valores constituem um elemento fundamental na constituição da cultura,
O’Reilly, Chatman e Caldwell (1991), acreditam que a proximidade entre valores individuais
e organizacionais pode ser crucial para a congruência indivíduo-cultura.
Os autores desenvolveram um instrumento para avaliar a congruência entre indivíduo-cultura,
denominado OCP Organizational Culture Profile ou Perfil de Cultura Organizacional, cuja
metodologia avalia a cultura com base nos valores da organização, sendo que a congruência
entre indivíduo-cultura é verificada pela correlação do perfil de valores organizacionais com o
perfil de preferências individuais. O instrumento é composto de 54 declarações de valores que
podem capturar tanto valores individuais como organizacionais, segundo os autores.
Para avaliar o perfil de uma cultura organizacional, respondentes com largo conhecimento da
organização são solicitados e instruídos a avaliar os 54 itens de acordo com as características
da cultura de sua organização, a partir da seguinte instrução: “Importantes valores podem ser
expressados na forma de normas ou expectativas compartilhadas a respeito do que é
importante, como se comportar ou quais atitudes são apropriadas. Por favor, avalie os 54
valores numa linha de 9 categorias, colocando numa extremidade aqueles que você considera
serem aspectos mais característicos de sua organização e na outra extremidade, aqueles que
você acredita serem aspectos menos característicos (O’REILLY; CHATMAN;
CALDWELL, 1991).
Para avaliar preferências individuais por culturas organizacionais, os indivíduos são
solicitados a avaliar os mesmos 54 itens em 9 categorias, a partir da questão: “O quanto é
importante essa característica fazer parte da organização para a qual você trabalha?”. As
categorias vão de muito desejável a muito indesejável (O’REILLY; CHATMAN;
CALDWELL, 1991).
A partir desta medida de congruência entre indivíduo-cultura, os autores utilizaram outros
instrumentos para relacionar com comprometimento organizacional, satisfação no trabalho e
rotatividade.
Resultados demonstraram que a congruência entre o perfil do indivíduo e da organização é
um significante preditor de comprometimento, satisfação no trabalho e intenção de deixar a
45
empresa, independente da idade, sexo ou cargo, dando suporte ao OCP como instrumento de
avaliação da congruência indivíduo-organização com base na congruência de valores.
De acordo com Oliveira e Tamayo (2004), no entanto, métodos como os citados acima podem
gerar incongruências, não sendo um procedimento muito confiável à medida que as pessoas
podem ter dificuldade de diferenciar valores pessoais dos organizacionais devido ao viés
cognitivo.
Tamayo (1999) defende que os valores organizacionais sejam estudados a partir da percepção
que os empregados têm dos valores existentes e praticados na empresa. De acordo com o
autor, a verdadeira realidade é aquela representada e experimentada pelos funcionários,
considerando que cada indivíduo constrói sua realidade por meio de esquemas interpretativos,
formando uma visão mais ou menos pessoal da realidade organizacional ou social.
Com o desenvolvimento de seus estudos na área, Tamayo e colaboradores (1996; 2000;
2004), defendem que valores com alto índice de compartilhamento na percepção dos
empregados estão mais próximos de serem caracterizados como valores da organização.
No Brasil, as medidas de valores organizacionais são diferentes das encontradas no exterior,
pois não utilizam o mesmo instrumento para medir valores pessoais e organizacionais, ou
seja, instrumentos específicos com foco no ambiente organizacional justamente para evitar
vieses e aumentar a confiabilidade da medida.
Dentre os instrumentos encontrados no Brasil, temos a Escala de Valores Organizacionais
(EVO), de Tamayo e Gondim (1996), o Inventário de Valores Organizacionais (IVO), de
Tamayo, Mendes e Paz (2000) e o Inventário de Perfis de Valores Organizacionais (IPVO),
de Oliveira e Tamayo 2004.
A Escala de Valores Organizacionais EVO (Tamayo & Gondim, 1996), foi construída com
base totalmente empírica, sem teoria que justifique sua estrutura. A EVO é composta por 38
valores, seguidos de seu significado, que configuram 5 fatores:
46
1. Eficiência / Eficácia - ênfase em qualidade, produtividade, comprometimento,
planejamento, pontualidade, competência e dedicação.
2. Interação no trabalho ênfase em coleguismo, amizade, cooperação, criatividade,
democracia, benefícios, flexibilidade, competitividade e sociabilidade.
3. Gestão reúne aspectos de tradição, hierarquia, obediência, fiscalização, supervisão,
postura profissional e organização.
4. Inovação - incentivo à pesquisa, integração interorganizacional, modernização de recursos
materiais e probidade.
5. Respeito ao servidor - respeito, reconhecimento, qualificação dos funcionários, polidez,
honestidade, plano de carreira, harmonia e justiça.
A EVO é administrada utilizando-se de uma escala de 7 pontos, que vai de 0 = nada
importante a 6 = muito importante, considerando a questão: como um princípio orientador
na vida da minha organização esse valor é...”. A EVO ainda possui as alternativas -1 =
oposto aos princípios da organização e 7 = de suprema importância, utilizadas como
ancoragem na mensuração.
Outro instrumento citado, o Inventário de Valores Organizacionais IVO (Tamayo; Mendes;
Paz, 2000), pauta-se na teoria de valores culturais de Schwartz, considerando os três
problemas fundamentais que as organizações enfrentam. O IVO é composto por 30 itens que
são alocados em 6 tipos motivacionais, configurando 3 pólos opostos:
(1) Autonomia (individualismo) ênfase na inovação, criatividade, teste de novas soluções,
de novas formas versus Conservadorismo (coletivismo) ênfase às tradições, conservação do
status quo e caminhos e soluções já conhecidas.
(2) Hierarquia – forma de garantir o comprometimento dos membros com a missão da
empresa versus Igualitarismo – preocupação com o bem-estar dos outros e da organização em
geral.
47
(3) Harmonia desenvolvimento e sucesso através de interação harmoniosa com a natureza e
com as outras organizações versus Domínio tendência ao sucesso mesmo às custas de
dimensões ecológicas do meio ambiente.
O IVO é administrado a partir de uma escala que vai de 0 = nada importante a 6 =
extremamente importante, onde o respondente é instruído a avaliar em 2 níveis (real e
desejado), quão importantes são os valores como princípios orientadores da vida da sua
organização.
O Inventário de Perfis de Valores Organizacionais IPVO (Oliveira & Tamayo, 2004), é um
outro instrumento e baseia-se na teoria de valores humanos de Schwartz, considerando que
existe similaridade motivacional entre valores pessoais e organizacionais.
O IPVO é composto por 48 itens que configuram 8 fatores de valores organizacionais a saber:
1. Realização - relação com o sucesso, competência da organização e empregados;
2. Conformidade - prioridade ao respeito a regras e modelos de comportamentos, tanto no
ambiente de trabalho quanto no relacionamento com outras organizações;
3. Domínio - relação com o poder, obtenção de status, controle sobre pessoas e recursos;
4. Bem-estar preocupação da organização em propiciar satisfação ao empregado, qualidade
de vida no trabalho;
5. Tradição - preservação e respeito aos costumes e práticas consagradas pela organização;
6. Prestígio Organizacional - busca de prestígio, admiração e respeito da sociedade por conta
de seus produtos ou serviços;
7. Autonomia – busca constante de aperfeiçoamento de seus empregados e da organização que
se expressa por meio de competência, curiosidade, criatividade, variedade de experiência,
objetivos profissionais;
48
8. Preocupação com a coletividade - relacionamento cotidiano com indivíduos próximos e
com a comunidade.
De acordo com Oliveira e Tamayo (2004), os 8 fatores do IPVO encontram correspondência
com 9 dos 10 tipos motivacionais previstos por Schwartz (Quadro 1), sustentando a premissa
de que existe similaridade entre as metas dos valores pessoais com os organizacionais.
Fatores do IPVO Correspondência com os tipos motivacionais
de Schwartz
1
Autonomia Hedonismo/Autodeterminação e Estimulação
Bem-estar Hedonismo/Autodeterminação
Realização Poder/Realização
Domínio Poder/Realização
Prestígio Poder/Realização
Tradição Tradição
Conformidade Conformidade
Preocupação com a coletividade Benevolência/Universalismo
Quadro 1 – Correspondência entre fatores do IPVO e tipos motivacionais de Schwartz
Fonte: Baseado em Oliveira e Tamayo (2004), Tamayo e Porto (no prelo)
Oliveira e Tamayo (2004) salientam que é possível comparar os valores pessoais e os
organizacionais utilizando o Inventário de Valores de Schwartz e o IPVO, pois ambos se
baseiam no modelo das motivações humanas.
Considerando o objetivo desta pesquisa, bem como as discussões acerca das medidas
encontradas no Brasil, foi utilizado o IPVO para análise dos valores organizacionais neste
estudo, cujo detalhamento do instrumento será abordado no capítulo de metodologia.
_____________________________________
1
Na validação do Questionário de Perfis de Valores (QPV) para o Brasil (Tamayo & Porto, no prelo), os tipos
motivacionais Autodeterminação e Hedonismo, Universalismo e Benevolência e Poder e Realização não se diferenciaram
no espaço quando submetidos à técnica de Escalonamento Multidimensional (MDS). Em 36% das amostras pesquisadas
por Schwartz, Universalismo e Benevolência também formaram uma região conjunta, o agrupamento para os tipos
motivacionais Poder, Realização e Hedonismo é uma especificidade da amostra brasileira, até o momento.
49
2.3. Bem-estar Geral
Tendo em vista o objetivo do presente estudo, que visa abordar a relação entre valores
organizacionais e bem-estar ocupacional, serão apresentadas a seguir, as principais
abordagens teóricas na área de estudos do bem-estar geral e seus antecedentes, visando uma
melhor compreensão das origens desse construto e de suas influências no entendimento do
bem-estar ocupacional.
De acordo com Ryan e Deci (2001), pesquisar sobre bem-estar não é uma tarefa fácil pois o
entendimento do conceito é complexo e controverso na literatura.
Pode-se considerar que uma das principais questões que corroboram com a afirmação dos
autores acima, reside na mistura existente na literatura, entre os conceitos de bem-estar e
felicidade, tratados muitas vezes como sinônimos, não sendo possível dissociá-los totalmente
nos estudos de bem-estar, até mesmo por conta da origem filosófica e religiosa do conceito.
Embora as discussões sobre bem-estar tenham origens na antiguidade, Ryan e Deci (2001)
comentam que os estudos se intensificaram a partir dos anos 60, quando uma maior atenção
começou a ser dada à saúde dos indivíduos, formando, inclusive, duas grandes correntes na
área: a do bem-estar subjetivo e a do bem-estar psicológico.
A principal diferença entre as duas correntes, reside na concepção de felicidade adotada,
considerando que o bem-estar subjetivo advém de uma perspectiva hedônica e o bem-estar
psicológico, de uma perspectiva eudaimonica da felicidade.
A perspectiva denominada hedônica reflete a visão de que o bem-estar consiste em prazer ou
felicidade, enquanto que a perspectiva eudaimonica considera que bem-estar não é apenas
felicidade, consiste em satisfação ou realização de sua verdadeira natureza humana,
entendimento derivado do conceito de eudaimonia de Aristóteles (RYAN; DECI, 2001).
A seguir, serão apresentadas as principais contribuições da literatura para os estudos de bem-
estar subjetivo e psicológico, bem como seus antecedentes.
50
2.3.1. Bem-estar subjetivo
De acordo com Ryan e Deci (2001), a perspectiva hedônica de bem-estar tem origem antiga,
desde o século IV a.c., o filósofo grego Aristippus defendia que a meta da vida era
experimentar o máximo possível de prazer e que a felicidade era a totalidade desses
momentos hedônicos.
Os autores complementam que essa filosofia foi sendo seguida por outros filósofos e a
perspectiva hedônica de bem-estar passou a ser expressa de muitas formas, variando de um
foco relativamente restrito de prazeres corporais, a um foco abrangente de desejos e interesses
pessoais.
A visão predominante dessa perspectiva é a de que o bem-estar consiste de felicidade
subjetiva e diz respeito às experiências de prazer x desprazer, largamente construídas para
incluir julgamentos sobre bons e maus elementos da vida (RYAN; DECI, 2001).
Dessa forma, o conceito de bem-estar subjetivo consiste de três elementos: satisfação com a
vida, presença de afeto positivo e ausência de afeto negativo (DIENER et al., 1999; RYAN;
DECI, 2001). Ryan e Deci (2001) ainda salientam que esses elementos reunidos podem ser
sumarizados como felicidade.
A satisfação com a vida relaciona-se com a avaliação cognitiva que as pessoas fazem de suas
vidas e o domínio de satisfação como família, trabalho, finanças, etc. (DIENER; SAPYTA;
SUH, 1998).
Os afetos positivos e negativos consistem em sentimentos transitórios, onde o afeto positivo
relaciona-se a “um contentamento hedônico puro”, como estados de entusiasmo e alegria, por
exemplo, experimentados em um determinado momento, enquanto que o afeto negativo,
“inclui emoções desagradáveis como ansiedade, depressão, agitação, aborrecimento,
pessimismo e outros sintomas psicológicos aflitivos e angustiantes” (ALBUQUERQUE;
TRÓCOLLI, 2004, p. 154).
51
Diener, Sapyta e Suh (1998) acreditam que o bem-estar subjetivo resulta das pessoas
sentirem-se com poder e caminharem na realização de suas metas, como também de seu
temperamento, da participação em atividades interessantes e prazerosas e de relacionamentos
sociais positivos.
Embora os estudos do bem-estar subjetivo tenham evoluído ao longo do tempo e agregado
diversos elementos de análise, Diener et al. (1999) salientam que duas considerações feitas
por Warner Wilson em 1967, derivadas de uma revisão da filosofia grega, perduram até os
estudos atuais. Essas considerações afirmam que (1) a rápida satisfação de necessidades causa
felicidade e que (2) o vel de preenchimento requerido para produzir satisfação depende do
nível de adaptação ou aspiração, que é influenciado por experiências passadas, comparações
com outros, valores pessoais e outros fatores.
Os autores salientam, no entanto, que o segundo ponto levantado foi pouco desenvolvido nos
últimos trinta anos, evoluindo um pouco mais a partir do final da década de 90.
2.3.2. Bem-estar psicológico
Como citado anteriormente, o bem-estar psicológico pauta-se na perspectiva eudaimonica da
felicidade. O termo eudaimonia provém da filosofia de Aristóteles e é comumente traduzido
para o inglês como happiness, o que na língua portuguesa corresponderia a “felicidade”. Uma
das grandes críticas dos estudiosos do bem-estar psicológico aos estudos do bem-estar
subjetivo é justamente em relação à tradução equivocada do termo eudaimonia como
happiness. Para Ryff (1995), igualar eudaimonia a felicidade é perder importantes distinções
feitas no passado entre a satisfação de desejos.
Ryan e Deci (2001) também salientam que na visão eudaimonica, filósofos e estudiosos de
religião não concordam em relacionar felicidade por si como o principal critério de bem-
estar, considerando que na visão de Aristóteles, a felicidade verdadeira é encontrada na
expressão de uma virtude, ou seja, no que o indivíduo tem de melhor.
52
Waterman (1993 apud RYAN; DECI, 2001) sugere que a eudaimonia ocorre quando as
atividades da vida das pessoas são mais congruentes com valores profundos e totalmente
engajadas. Dessa forma, o termo eudaimonia distingue bem-estar de felicidade, considerando
que nem todos os desejos ou resultados que uma pessoa possa valorizar trará o bem-estar
quando obtido (RYAN; DECI, 2001).
De acordo com Ryff (1995), o bem-estar psicológico é mais do que estar livre de estresse ou
outros problemas mentais. Pesquisando a literatura sobre o bem-estar psicológico, a autora
observou que as teorias convergiam em determinados pontos e apresentou um modelo
conceitual, formado por seis dimensões derivadas das literaturas de Rogers, Maslow, Jung,
Allport, dentre outros teóricos, para a definição do bem-estar psicológico.
As dimensões definidas por Ryff (1995) são as seguintes:
1- Auto-aceitação relaciona-se a satisfação com o eu (self), qualidades pessoais e aspectos
passados da vida;
2- Relações positivas com outras pessoas capacidade do indivíduo para estabelecer
relacionamentos mais verdadeiros e próximos com outras pessoas;
3- Autonomia relaciona-se a aspectos de auto-regulação, independência, posicionamento
diante de pressões sociais;
4- Controle do ambiente senso de poder e competência para gerenciar o ambiente, controlar
adversidades e aproveitar oportunidades;
5- Propósito na vida ter metas na vida, senso de direção, crenças, contribuindo para a
percepção de que a vida é significativa;
6- Crescimento pessoal – sentimento em relação ao desenvolvimento pessoal, abertura à
novas experiências, sentimento de aptidão para desenvolvimento de novas atitudes e
comportamentos.
53
De acordo com a autora, as seis dimensões juntas cercam os aspectos do bem-estar o que
inclui a avaliação positiva do eu e da vida, um senso de contínuo crescimento e
desenvolvimento enquanto pessoa, a crença de que a vida tem propósito e significado, o
desenvolvimento do bom relacionamento com outras pessoas, a capacidade de gerenciar sua
vida e o mundo ao seu redor e um senso de auto-regulação.
Diante das discussões sobre o bem-estar psicológico e bem-estar subjetivo, é possível
identificar as diferenças conceituais desses dois construtos. Para Ryan e Deci (2001), no
entanto, o que fica claro nesse choque de paradigmas é que essas diferentes definições de
bem-estar têm levado à diferentes tipos de indagações a respeito das causas, conseqüências e
dinâmicas do bem-estar, contribuindo para o desenvolvimento dos estudos na área.
Os autores apontam que o bem-estar é melhor concebido como um fenômeno
multidimensional que inclui tanto aspectos hedônicos quanto eudaimonicos do bem-estar.
Dessa forma, a consideração conjunta das duas perspectivas pode promover um quadro mais
completo dos fatores relacionados à promoção do bem-estar, à medida que as visões se
entrelaçam e se complementam.
2.3.3. Antecedentes de bem-estar geral
Seja na perspectiva hedônica ou eudaimonica, pesquisas considerando antecedentes de bem-
estar tem aumentado e o bem-estar tem sido relacionado separadamente com diferentes
variáveis, tendo em vista que fatores demográficos, como idade, sexo, estado civil, etc.,
enfatizado em pesquisas no passado, demonstram poucos efeitos sobre o bem-estar.
De acordo com Diener et al. (1999), nos estudos atuais, os pesquisadores estão mais
interessados em entender o processo subjacente à felicidade, do que simplesmente descrever
características demográficas relacionadas ao bem-estar.
54
Em relação a variável demográfica idade, por exemplo, estudos têm demonstrado (Ryan;
Deci, 2001; Ryff, 1995) que não há resultados satisfatórios de que a diferença de idade
apresente relações consistentes para a variação no bem-estar.
Em relação às diferenças de sexo, da mesma forma como com a idade, poucos indícios de
diferenças entre homem e mulher nos componentes do bem-estar (RYFF, 1995).
Classe social e riqueza também são estudadas como antecedentes de bem-estar, visando
identificar se esses elementos podem estar relacionados com mais felicidade e bem-estar dos
indivíduos. De acordo com os estudos revisados por Ryan e Deci (2001), o dinheiro não se
apresenta como uma fonte confiável de felicidade ou bem-estar. Salientam, no entanto, que o
suporte material pode aumentar o acesso aos recursos que são importantes para a felicidade e
auto-realização dos indivíduos.
Quando relacionado às diferenças culturais, Ryff (1995) aponta que as variações no bem-estar
entre sociedades envolvem basicamente, contrastes nos valores de individualismo e
independência versus coletivismo e interdependência.
A autora critica a corrente do bem-estar subjetivo que emprega fatores demográficos como
rendimento, idade, educação, estado civil, etc. para explicar variações. De acordo com a
autora, a soma desses fatores não chega a 10% da variação em pesquisas de felicidade e
satisfação com a vida. Para ela, entender quem possui ou não um alto perfil de bem-estar
requer um exame minucioso das experiências de vida das pessoas.
Considerando os fatores subjacentes à felicidade, Diener et al. (1999), apontam que a
personalidade aparece como um dos mais fortes preditores do bem-estar subjetivo,
relacionando que algumas pessoas possuem uma predisposição genética para a felicidade ou
infelicidade, causada por diferenças inatas em seu sistema nervoso.
Dos traços de personalidade associados ao bem-estar subjetivo, a extroversão e a neurose tem
recebido mais atenção. Os estudos encontrados geralmente relacionam extroversão ao afeto
positivo e neurose ao afeto negativo, discutindo como esses traços impactam no bem-estar
(DIENER et al., 1999).
55
Diener et al. (1999) apontam que também há estudos relacionando o bem-estar a outros traços
de personalidade como a auto-estima e o otimismo. O que os autores salientam, no entanto, é
que determinados traços podem não ser igualmente preditores de bem-estar em função dos
valores culturais, pois a influência dos traços nas emoções é provavelmente moderada pelo
ambiente no qual o indivíduo está inserido.
Considerando um outro aspecto ligado ao bem-estar, que são os relacionamentos
interpessoais, os estudos revisados por Ryan e Deci (2001) identificaram fortes evidências de
que a qualidade dos relacionamentos é um dos principais componentes do bem-estar. Como
os relacionamentos são complexos, é difícil justificar quais aspectos dos relacionamentos
interferem no bem-estar, no entanto, os autores destacam principalmente dois conceitos: afeto
e intimidade, como especialmente relevantes nesse contexto.
Ryan e Deci (2001) também abordam que muitas teorias em psicologia consideram que
sentimentos de competência ou eficácia com metas de vida podem estar associados com maior
afeto positivo e bem-estar. Salientam, no entanto, que controvérsias sobre o assunto nas
visões hedônica e eudaimonica. A visão hedônica considera que a autonomia não tem papel
nesse contexto, enquanto a visão eudaimonica considera que sim.
Conforme aponta Brunstein (1993 apud RYAN; DECI, 2001), alguns estudos abordando o
sentimento de competência e auto-eficácia revelaram que a realização de metas prediz
aumento de bem-estar, caso as metas sejam consideradas importantes para o indivíduo. Outros
estudos encontraram que o nível de desafio da meta também interfere em mais ou menos afeto
positivo.
Seja na perspectiva hedônica ou eudaimonica, verifica-se que fatores demográficos não
explicam grande parte da relação com o bem-estar. Estudos atuais têm focado em fatores
internos do indivíduo, considerados subjacentes à felicidade, e encontrado relações mais
fortes com o bem-estar.
Pode-se perceber, no entanto, que diversas variáveis inerentes ao indivíduo representam um
grau de impacto no bem-estar, levando-se em consideração o contexto e elementos que o
indivíduo valoriza. Dessa forma, os valores pessoais, embora não enfatizados nos estudos
56
abordados, podem ser considerados uma das variáveis para identificação do grau de bem-estar
dos indivíduos, cuja hipótese será testada no presente estudo.
57
2.4. Bem-estar Ocupacional
Quando se fala em bem-estar ocupacional, a literatura existente geralmente não apresenta
definições objetivas acerca do construto e sim, aponta mais para antecedentes do bem-estar
nas organizações e para dimensões testadas empiricamente, que, muitas vezes, misturam
aspectos do bem-estar psicológico e subjetivo, visando dar conta do conceito.
A menção a bem-estar ocupacional evolvendo basicamente elementos afetivos, é encontrada
com freqüência nos estudos da área. Há, no entanto, um movimento crescente nos últimos
anos, buscando identificar o bem-estar ocupacional como um conceito multidimensional.
van Horn et al. (2004), por exemplo, apontam que o bem-estar ocupacional não envolve
apenas elementos afetivos, como satisfação no trabalho, comprometimento, depressão, etc.
Salientam que, embora o afeto seja uma dimensão central do conceito de bem-estar
ocupacional, o mesmo pode ser entendido como a avaliação positiva de vários aspectos de um
trabalho, como aspectos afetivos, motivacionais, comportamentais, cognitivos e
psicossomáticos.
Para isso, com base no modelo de Warr (1987; 1994), que distingue o bem-estar ocupacional
em 4 dimensões primárias (bem-estar afetivo, aspiração, autonomia e competência) e uma
quinta dimensão secundária (funcionamento integrado), bem como nas dimensões de bem-
estar psicológico de Ryff (1989), já abordadas anteriormente, van Horn et al. (2004) definiram
5 dimensões (afetiva, profissional, social, cognitiva e psicossomática), a fim de conceitualizar
de forma mais completa o bem-estar ocupacional.
Com uma visão semelhante, ter Doest et al. (2006) apontam que numerosas teorias enfatizam
características do ambiente de trabalho como um importante determinante do bem-estar do
empregado. Citam que algumas pesquisas como as de Hackman & Oldham (1980) e Karasek
& Theorell (1990) identificam características especificas do trabalho como: demandas de
trabalho, autonomia e suporte social do ambiente, como fontes chave de influência na saúde e
bem-estar dos empregados.
58
Para os autores, no entanto, as características do trabalho não dão conta de responder a todas
as questões porque o bem-estar tem múltiplos determinantes, sendo que um deles é a
aquisição de metas pessoais, considerando que um ambiente que facilite a aquisição de metas
pessoais, tem impacto positivo na satisfação dos empregados e bem-estar.
O teste empírico realizado pelos autores, apontou que o trabalho como facilitador da obtenção
de metas de bem-estar está associado com alta satisfação no trabalho, menos exaustão
emocional e menos sintomas psicológicos e somáticos, concluindo, por exemplo, que a
percepção do indivíduo de que o trabalho não facilita a obtenção de metas pessoais pode gerar
efeitos negativos no contexto das metas e no comprometimento organizacional, podendo ser
um preditor de burnout e rotatividade no trabalho.
Seguindo essa visão multidisciplinar do bem-estar ocupacional, Warr (2006) aponta, no
entanto, que elementos afetivos e outras experiências do indivíduo não são determinados
unicamente por fatores do ambiente. Salientam que três influências adicionais requerem
consideração: traços de personalidade, opiniões de outras pessoas e o processo cognitivo
usado para interpretar a situação.
Buscando elementos de estudos anteriores (Daniel et al., 2004; Lazarus, 1999; Hackman &
Oldham, 1980; Warr, 1987), o autor propõe uma estrutura teórica baseada na hipótese de que
as pessoas são cognitivamente ativas de forma a afetar seu bem-estar, ou seja, dão
significados pessoais a estímulos particulares e influenciam o impacto desses estímulos. A
estrutura teórica proposta por Warr (2006), pauta-se nos julgamentos dos empregados,
distinguindo tipos de julgamentos (comparações com outras pessoas, comparações com
situações alternativas, comparações com tendências anteriores ou futuras e julgamentos de
pontos de referência pessoal) e foco dos julgamentos, ou seja, fatores que encorajam ou
desencorajam a ativação de cada julgamento.
Abordando uma perspectiva mais cognitiva, Paz (2004, p.138) define que o bem-estar
ocupacional consiste na “satisfação de necessidades e realização de desejos dos indivíduos no
desempenho de seu papel organizacional”. Baseada nos estudos de Warr (1987) e Álvaro &
Paéz (1996), a autora apresenta dois pólos do bem-estar ocupacional: gratificação e desgosto,
que também podem ser entendidos como antecedentes desse construto.
59
Os indicadores de gratificação, de acordo com Paz (2004), compreendem a valorização do
trabalho, reconhecimento pessoal, autonomia, expectativa de crescimento, suporte ambiental,
recursos financeiros e orgulho. os indicadores do pólo desgosto, refletem o sentimento de
mal estar no indivíduo marcado por elementos como:
- Percepção de indiferença e desvalorização do seu trabalho;
- Medo de não atender às exigências da organização, relativas às atividades que desempenha;
- Falta de habilidade para conseguir imprimir o seu estilo pessoal na execução de suas tarefas;
- Falta de condições adequadas de trabalho para o alcance do desempenho esperado;
- Percepção de injustiça salarial e;
- Sentimento de frustração por pertencer à organização.
A autora pressupõe que as características pessoais são moderadoras ou mediadoras do
impacto do meio organizacional sobre os membros organizacionais e, conseqüentemente,
sobre o bem-estar dos indivíduos nas organizações. Salienta que é possível argumentar que o
bem-estar é permeado pela subjetividade, significando que trabalhadores de um mesmo
contexto organizacional podem experimentar gratificação e/ou desgosto.
Reunindo estudos sobre bem-estar ocupacional, Paschoal (2006) salienta que as emoções
consistem em um elemento recorrente nas discussões sobre o tema. Aborda, no entanto, que
considerar apenas as emoções na conceituação de bem-estar ocupacional, deixaria de
considerar elementos importantes apontados por outros autores.
Visando estabelecer uma visão mais completa da conceituação de bem-estar ocupacional, a
autora considera as contribuições de Daniels (2000), enfatizando as emoções, assim como as
de Waterman (1993) e Paz (2004), enfatizando aspectos cognitivos e define bem-estar
ocupacional como a “prevalência de emoções positivas no trabalho e a percepção do
indivíduo de que, no seu trabalho, expressa e desenvolve seus potenciais/habilidades e avança
60
no alcance de suas metas de vida” (p.20), definição que, por sua vez, satisfaz aspectos das
abordagens hedônica e eudaimonica do bem-estar.
Considerando a clareza e base teórica da definição de Paschoal (2006), tal definição foi
utilizada como referência para as discussões de bem-estar ocupacional no presente estudo.
2.4.1. Medidas de bem-estar ocupacional
Em se tratando da identificação do bem-estar ocupacional, também existem diferentes
medidas na literatura da área.
Salienta-se, por exemplo, o modelo das 5 dimensões (afetiva, profissional, social, cognitiva e
psicossomática) de van Horn et al. (2004), construído com base nos estudos de Warr (1994) e
Ryff (1989), cuja característica multidimensional pode ser mais efetiva para entender a
natureza, causas e conseqüências do bem-estar ocupacional, uma vez que a maioria dos
instrumentos focam em dimensões afetivas do bem estar, de acordo com os autores.
Embora os resultados estatísticos tenham confirmado a distinção entre essas 5 dimensões,
pode-se avaliar que o modelo de van Horn et al. (2004) apresenta alguns inconvenientes para
utilização no presente estudo, que podem ser resumidos na fundamentação teórica, uma vez
que o modelo dos autores utiliza escalas diferentes para avaliar as dimensões propostas,
resultando na aplicação de 13 escalas, além da difícil generalização por conta da amostra, uma
vez que o modelo foi aplicado num grupo de professores alemães.
A estrutura proposta por Warr (2006), já mencionada anteriormente, além de ter o foco
específico no julgamento dos empregados, não possui base empírica, o que dificultaria sua
réplica neste estudo.
É possível ainda encontrar na literatura, outras escalas que se propõem a mensurar o bem-
estar no trabalho, como é o caso da Escala de Satisfação no Trabalho – Job Satisfaction Scale
(Cammann, Fichman, Jenkins & Klesh, 1979, não publicada) e a escala de bem-estar
psicológico ASSET Organizational Stress Screening Tool (Cartwright & Cooper, 2002).
61
Ambas as escalas foram utilizadas no estudo de Siu et al. (2005), cujo propósito foi testar o
efeito direto e moderador da auto-eficácia e valores do trabalho chineses e sua relação com
fatores estressores e bem-estar no trabalho entre empregados de Hong Kong e Beijing.
Conforme apresentado por Siu et al. (2005), a Escala de Satisfação no Trabalho é composta
por 3 itens que são avaliados pelos empregados, como por exemplo: “Eu estou satisfeito com
tudo em meu trabalho”. Já a escala ASSET, mensura 10 sintomas físicos e 10 sintomas
comportamentais, a fim de identificar sintomas de saúde mental precária, induzidos pelo
estresse no trabalho, como ataques de pânico e cansaço constante. Cada sintoma é avaliado
numa escala de 6 pontos, onde a alta pontuação denota satisfação no trabalho mais elevada e
pior bem-estar.
Considerando os instrumentos citados acima, observa-se que assim como em valores
organizacionais, precariedade nos estudos, na apresentação de um instrumento para
identificação da variável bem-estar ocupacional. Os instrumentos desenvolvidos em outros
países apresentam diferentes dimensões, podendo ser difícil replicar na realidade brasileira.
Além disso, podem ter uma mistura de foco com sintomas de saúde, não sendo o objetivo do
presente estudo.
No Brasil, podem ser encontradas três escalas para mensuração de bem-estar. Uma delas, a
Escala de Bem-estar Subjetivo (Albuquerque & Tróccoli, 2004), além de não apresentar
clareza para o respondente por ter muitos termos traduzidos de escalas internacionais, visa
avaliar o bem-estar geral, conforme aponta Paschoal (2006).
Outro instrumento, a Escala de Bem-estar Pessoal nas Organizações, desenvolvida por Paz
(não publicada), é bastante consistente, no entanto, não engloba a dimensão de afeto,
considerada como central na literatura (PASCHOAL, 2006).
Por fim, a Escala de Bem-Estar Ocupacional (EBEO), desenvolvida por Paschoal (2006),
abrange tanto aspectos afetivos quanto cognitivos do bem-estar ocupacional, apresentando-se
como um bom instrumento para utilização neste estudo. A validade e composição da EBEO
será abordada com mais detalhes no capítulo de metodologia.
62
2.5. A relação entre Valores e Bem-estar
Embora seja possível considerar a existência de uma relação entre valores e bem-estar,
levando-se em conta seu conceito e antecedentes, o assunto ainda é muito pouco discutido na
literatura científica.
Por um lado, observa-se a oportunidade de expansão dos estudos nessa área de conhecimento,
porém, por outro lado é possível se pensar na complexidade em se estudar essas duas
variáveis, que se desdobram, abrindo diferentes possibilidades de estudo.
Alguns autores (Diener; Sapyta; Suh, 1998; Diener et al., 1999) ligados principalmente à
perspectiva hedônica, consideram os valores como um elemento pertencente ao próprio
conceito de bem-estar, embora nem sempre seja explicitamente destacado.
Diener, Sapyta e Suh (1998) destacam que valores individuais, metas e circunstâncias de vida,
permitem às pessoas decidirem se suas vidas estão satisfeitas. Exemplificam que algumas
pessoas podem valorizar o poder acima de tudo, outras as relações e outras desejam um
imenso senso de propósito para a vida. Cada uma das pessoas escolhe e decide o nível de
importância dessas características em suas vidas, o que vale dizer que se uma pessoa está
satisfeita com sua vida, ela provavelmente possui o que julga importante.
Assim, os autores acreditam que é provável que um duradouro senso de felicidade venha, pelo
menos em parte, do alcance de nossos valores e metas, enfatizando que o conceito de bem-
estar reflete mais do que simplesmente ter prazer, ele também reconhece o que as pessoas
acreditam ser importante na vida.
O estudo de Oishi et al. (1999) examinou o papel dos valores na determinação da variação
intra e interindividual do bem-estar subjetivo. Os autores propuseram um modelo de valor
como moderador, baseado na teoria de valores de Schwartz, para integrar variações
intraindividuais, de desenvolvimento e cross-culturais no processo de bem-estar subjetivo. O
modelo assume que os valores dos indivíduos são influenciados por sua cultura e podem
mudar entre estágios de desenvolvimento.
63
Esse modelo prediz que as pessoas ganham senso de satisfação em atividades congruentes
com seus valores. Dessa forma, os autores apontam, por exemplo, que indivíduos que
enfatizam valores de realização se sentiriam mais satisfeitos nos dias em que recebessem
feedback positivo no trabalho ou escola. Assim, quanto mais alto o valor de realização na
hierarquia do indivíduo, mais forte a relação entre satisfação diária e satisfação no domínio de
realização para esse indivíduo.
Considerando as hipóteses investigadas por Oishi et al. (1999): (1) o papel moderador dos
valores nas relações intraindividuais entre a satisfação nos domínios de valores e a satisfação
diária; (2) o papel moderador dos valores nas relações entre a satisfação nos domínios de
valores e satisfação de vida global, no nível interindividual e (3) as diferenças individuais nos
tipos de atividades pelas quais pessoas ganham senso de satisfação, os testes foram realizados
para os domínios de valores Realização, Benevolência e Conformidade.
Na análise intraindividual da amostra pesquisada, constatou-se que a satisfação diária foi
influenciada pelo grau de sucesso no domínio de valor mais alto do indivíduo, suportando o
modelo de valor como um moderador.
Em relação aos tipos de atividades, consistente com a análise intraindividual, foram
encontradas diferenças individuais significativas nos tipos de atividades que estão
relacionadas com o bem-estar subjetivo. Oishi et al. (1999) salientam que essas diferenças
podem ser preditas pelas orientações individuais de valor, confirmando que atividades são
satisfatórias na extensão em que são congruentes com os valores individuais.
A análise interindividual também suportou o modelo de valor como moderador, na qual a
satisfação congruente com o domínio de valores está mais fortemente relacionada à satisfação
de vida global, do que a satisfação incongruente com o domínio de valores. Nessa análise
encontrou-se, no entanto, que alguns valores moderam mais a satisfação do que outros.
O modelo dos autores também apontou que relação direta entre valores e indicadores de bem-
estar é pequena. Por que valores servem como moderador não foi estudado na pesquisa de
Oishi et al. (1999). Uma possível explicação dos autores seria o fato de domínios de valor
congruentes serem cronicamente mais acessíveis.
64
Considerando os poucos estudos existentes na área, relacionando valores e bem-estar e o fato
de não ter sido encontrado estudos abordando essa relação no ambiente organizacional, o
objetivo deste estudo mostra-se relevante para a área acadêmica, como também para as
organizações que vem investindo nas relações de trabalho e apostando na gestão de pessoas
como um elemento importante para o alcance das metas da organização.
65
3. PROBLEMA, OBJETIVOS E HIPÓTESES
Os valores organizacionais como apontam alguns autores (Tamayo; Gondim, 1996; Ros;
Schwartz; Surkiss, 1999), podem ser tratados como expressões específicas dos valores
pessoais, aplicados a um outro contexto, no caso, a organização. Oliveira e Tamayo (2004)
ainda salientam que os valores pessoais podem ser considerados a base para os estudos em
valores organizacionais. Dessa forma, é possível identificar a relação existente entre os
valores pessoais e os organizacionais.
Por outro lado, considerando que a natureza e a fonte dos valores baseiam-se em três
requisitos universais da existência humana, dos quais a necessidade de sobrevivência e bem-
estar dos grupos configura-se como um deles, pode-se pensar que também existe uma relação
entre os valores e o bem-estar dos indivíduos.
Para alguns autores (Diener; Sapyta; Suh, 1998; Diener et al., 1999), por exemplo, os valores
são tratados como um elemento pertencente ao próprio conceito de bem-estar. estudos
empíricos (Oishi et al., 1999; Siu et al., 2005), no entanto, que encontraram que a relação
direta entre valores e bem-estar é fraca. Os estudos citados, porém, relacionam-se às culturas
chinesa e americana, respectivamente. Oishi et al. (1999) e Diener, Sapyta e Suh (1998),
enfatizam que os critérios avaliativos das pessoas variam a depender da prioridade de valores
da cultura estudada.
A partir dessas constatações, pode-se indagar se na cultura brasileira essa fraca relação direta
entre valores e bem-estar se manteria, uma vez que os critérios avaliativos variam entre
culturas.
Considerando uma cultura mais específica, como a organizacional, por exemplo, cabe ainda
indagar se teríamos os mesmos resultados entre valores organizacionais e bem-estar no
trabalho.
Oishi et al. (1999) encontraram que os valores exercem um papel moderador no bem-estar, o
que acrescenta outro elemento na relação questionada.
66
A moderação, de acordo com Abbad e Torres (2002), implica em influência entre as variáveis,
assim, numa relação entre as variáveis A, B e C, a moderação existe quando a interação A x B
é um preditor significativo de C e quando a relação entre A e C aumenta ou diminui,
dependendo do valor de B.
Dessa forma, considerando o possível papel moderador dos valores, pode-se pensar que a
relação entre valores organizacionais (A) e bem-estar ocupacional (C), pode ser maior ou
menor, dependendo dos valores pessoais (C). Sendo assim, argumenta-se que a similaridade
entre a hierarquia de valores percebidos na organização e a prioridade de valores pessoais do
indivíduo, tende a trazer mais bem-estar no trabalho, ao passo que o inverso também pode ser
verdadeiro, ou seja, divergências na hierarquia de valores percebidos na organização versus a
do indivíduo, podem gerar menor bem-estar, uma vez que o bem-estar ocupacional envolve,
em grande parte, emoções e metas de vida, que são diferentes entre os indivíduos. Essa
relação, no entanto, ainda é carente de verificação empírica.
Nesse sentido, o problema de pesquisa deste estudo propõe investigar: quais os efeitos dos
valores organizacionais no bem-estar ocupacional dos indivíduos, considerando o grau de
similaridade e divergência na hierarquia de valores pessoais e organizacionais?
O objetivo principal deste estudo consiste, então, em investigar o impacto dos valores
organizacionais no grau de bem-estar ocupacional do indivíduo, com moderação dos valores
pessoais.
Os objetivos específicos constituem:
a) Analisar a relação entre os valores pessoais e o bem-estar ocupacional;
b) Analisar a relação entre os valores organizacionais e o bem-estar ocupacional;
c) Analisar a relação entre os valores organizacionais e o bem-estar ocupacional,
moderada pelos valores pessoais.
A relação entre as variáveis propostas neste estudo apresenta-se conforme Figura 5.
67
Figura 5: Diagrama da relação entre as variáveis da pesquisa
A variável dependente deste estudo é constituída pelo bem-estar ocupacional, que
corresponde ao grau de intensidade em sentimentos despertados pelo trabalho (afeto positivo
e afeto negativo) e o grau de concordância em relação ao nível de realização pessoal no
trabalho.
Os valores organizacionais configuram-se como a variável independente, sendo
operacionalizada como a percepção do funcionário sobre o grau de importância dos valores
organizacionais enfatizados pela organização em que trabalha.
Os valores pessoais, nesse contexto, apresentam-se como uma variável moderadora da relação
entre as variáveis independente e dependente, sendo operacionalizada como o grau de
importância atribuído pelo indivíduo aos valores como guia em sua vida.
A hipótese principal desta pesquisa é a de que os valores organizacionais relacionam-se com o
bem-estar ocupacional, sendo que a diferenciação no grau de bem-estar apresentado por cada
indivíduo é moderada pelos valores pessoais.
Considerando que a proposta deste estudo é avaliar o bem-estar ocupacional a partir de uma
visão multidimensional, o que inclui aspectos das abordagens hedônica e eudaimonica do
Valores
Organizacionais
Bem-Estar
Ocupacional
Valores
Pessoais
Variável independente
Variável moderadora
Variável dependente
Valores
Organizacionais
Bem-Estar
Ocupacional
Valores
Pessoais
Variável independente
Variável moderadora
Variável dependente
68
bem-estar, supõe-se que os valores organizacionais tenham relações diretas diferentes com o
nível de bem-estar dos indivíduos, conforme as metas que expressam.
O valor organizacional preocupação com a coletividade, que expressa metas de justiça,
igualdade, tolerância, sinceridade e honestidade, assim como o valor de bem-estar, cuja meta
é a satisfação, bem-estar e qualidade de vida no trabalho, poderiam estimular emoções
positivas em seus empregados.
O valor de autonomia caracterizado por uma organização que busca o aperfeiçoamento
constante de seus empregados e da organização, estimulando a competência, curiosidade,
criatividade e inovação, possibilitaria aos indivíduos a percepção de que desenvolve seus
potenciais e habilidades com seu trabalho, o que também se configura como um elemento
constituinte do bem-estar ocupacional, além das emoções.
O valor de realização, cuja meta central é o sucesso e demonstração de competência da
organização e de seus empregados, pode relacionar-se positivamente com os componentes de
realização no trabalho e afeto positivo do bem-estar ocupacional, à medida que tende a
reconhecer a competência de seus empregados.
O valor organizacional de domínio, que enfatiza a competitividade, controle sobre pessoas e
recursos e domínio de mercado, assim como o valor de prestígio, que visa o reconhecimento
da empresa (marca, produtos, etc.) em seu meio, podem relacionar-se negativamente com
emoções positivas à medida que tendem a contribuir para um ambiente competitivo e
exigente, marcado pelo “senso de urgência” nas realizações, o que pode levar a problemas de
estresse e burnout, aumentando as emoções negativas e, assim, diminuindo o bem-estar do
indivíduo.
Fatores estressores no trabalho com correspondente impacto no bem-estar é um tema presente
na literatura da área, cujas discussões (Siu et al., 2005; ter Doest et al., 2006) apontam para
uma relação positiva entre estresse no trabalho e diminuição do bem-estar do indivíduo.
O valor de conformidade que enfatiza os limites das ações da organização e dos
comportamentos de seus membros, dando prioridade ao respeito a regras e modelos de
comportamentos, teria uma relação negativa com realização no trabalho, à medida que os
69
limites determinados pela organização poderiam diminuir a percepção do indivíduo de que
desenvolve seu potencial e habilidades no seu trabalho.
Em relação ao valor tradição que relaciona-se à preservação e respeito aos costumes e
práticas consagradas pela organização espera-se uma relação nula, uma vez que as práticas
tradicionais da organização, não poderiam impactar independentemente no nível de bem-estar
do indivíduo. Dessa forma, supõe-se que a tradição não impacta diretamente no bem-estar
ocupacional, a menos que desperte emoções positivas no empregado e também seja um valor
com alta prioridade na hierarquia pessoal do indivíduo.
Para o valor de tradição, acredita-se que o papel moderador dos valores pessoais é
fundamental para o nível de bem-estar. Para os demais valores organizacionais, no entanto,
acredita-se que os valores pessoais podem ter um efeito potencializador ou redutor no bem-
estar ocupacional a depender da sua localização na hierarquia de valores pessoais versus a
hierarquia de valores percebida na organização.
O Quadro 2, a seguir, apresenta as hipóteses postuladas acima, considerando a relação direta
entre valores organizacionais e bem-estar ocupacional. Assim, a partir das metas que os
valores organizacionais expressam, haveria uma correlação mais forte com determinados
componentes do bem-estar ocupacional. A coluna de hipóteses do Quadro 2 apresenta os
resultados esperados das correlações diretas entre as variáveis. O valor de preocupação com a
coletividade (PC), por exemplo, teria uma relação mais forte com o componente de afeto do
bem-estar ocupacional, sendo que a correlação com o afeto positivo (AP) seria positiva (>0) e
com o afeto negativo (AN), negativa (<0) e assim por diante.
70
Valores
Organizacionais
Metas que expressam (VO) Possível correspondência
com os componentes de BEO
Hipóteses
Preocupação com a
coletividade (PC)
justiça, igualdade, tolerância,
sinceridade e honestidade
Afeto positivo (AP)
Afeto negativo (AN)
H
A:
ρ
PC:AP
> 0
H
A:
ρ
PC:AN
< 0
Autonomia (AU)
aperfeiçoamento constante, estímulo à
competência, curiosidade, criatividade
e inovação
Realização no trabalho (RT)
H
A:
ρ
AU:RT
> 0
Bem-estar (BE)
satisfação, bem-estar e qualidade de
vida no trabalho
Afeto positivo (AP)
Afeto negativo (AN)
H
A:
ρ
BE:AP
> 0
H
A:
ρ
BE:AN
< 0
Realização (RE)
sucesso e demonstração de
competência da organização e de seus
empregados
Realização no trabalho (RT)
Afeto positivo (AP)
Afeto negativo (AN)
H
A:
ρ
RE:RT
> 0
H
A:
ρ
RE:AP
> 0
H
A:
ρ
RE:AN
< 0
Domínio (DO)
competitividade, controle sobre
pessoas e recursos e domínio de
mercado
Afeto positivo (AP)
Afeto negativo (AN)
H
A:
ρ
BE:AP
< 0
H
A:
ρ
BE:AN
> 0
Prestígio (PR)
reconhecimento da empresa (marca,
produtos, etc.) em seu meio
Afeto positivo (AP)
Afeto negativo (AN)
H
A:
ρ
BE:AP
< 0
H
A:
ρ
BE:AN
> 0
Conformidade (CO)
prioridade ao respeito a regras e
modelos de comportamentos
Realização no trabalho (RT)
H
A:
ρ
CO:RT
< 0
Tradição (TR)
preservação e respeito aos costumes e
práticas consagradas pela organização
Realização no trabalho (RT)
Afeto positivo (AP)
Afeto negativo (AN)
H
0:
ρ
TR:RT
= 0
H
0:
ρ
TR:AP
= 0
H
0:
ρ
TR:AN
= 0
H
A:
Hipótese alternativa
H
0:
Hipótese nula
Quadro 2: Relação entre valores organizacionais e componentes do bem-estar ocupacional (hipóteses
da autora)
Desta forma, as hipóteses postuladas a partir das teorias de valores e bem-estar são as
seguintes:
H1 – Existe relação direta entre os valores organizacionais e o bem-estar ocupacional;
H2 Os valores organizacionais preocupação com a coletividade e bem-estar relacionam-se
positivamente com o afeto positivo e negativamente com o afeto negativo;
H3 O valor organizacional de autonomia relaciona-se positivamente com a realização no
trabalho;
H4 – O valor organizacional de realização relaciona-se positivamente com realização no
trabalho e com afeto positivo e negativamente com o afeto negativo;
71
H5 Os valores organizacionais domínio e prestígio relacionam-se negativamente com afeto
positivo e positivamente com afeto negativo;
H6 – O valor organizacional de conformidade relaciona-se negativamente com a realização no
trabalho;
H7 O valor organizacional de tradição tem relação nula com os componentes do bem-estar
ocupacional;
H8 Os valores pessoais moderam a relação entre os valores organizacionais e os
componentes do bem-estar ocupacional;
Considerando estes objetivos e hipóteses, será apresentado a seguir o contexto da organização
de estudo e o delineamento metodológico utilizado para a verificação empírica.
72
4. CONTEXTUALIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO DE ESTUDO
A empresa pesquisada atua no ramo de alimentação coletiva e foi criada em julho de 1999 por
duas sócias-proprietárias.
A partir de uma vasta experiência na área de alimentação em outras empresas, as proprietárias
decidiram montar seu próprio negócio, visando conceber uma empresa diferenciada no ramo.
Para isso, realizaram uma pesquisa de opinião com usuários de restaurantes, profissionais das
áreas de alimentação e recursos humanos e de representantes de grandes empresas do mercado
brasileiro, cujos resultados colaboraram para a identificação do perfil de serviços de
alimentação necessário e desejado pelos clientes e consumidores.
A filosofia da empresa é a de que o restaurante seja mais do que um simples benefício, que
proporcione momentos de bem-estar aos seus usuários. Assim, não quer ser caracterizada
como uma empresa que vende serviços de alimentação e sim que promove o bem-estar.
Com sede em São Paulo, atualmente a empresa conta com cerca de 19 unidades terceirizadas
na região de São Paulo e interior de São Paulo, fornecendo serviços de alimentação coletiva e
realizando pequenos eventos como coffee-break, coquetéis e outras confraternizações
empresariais nessas unidades, tendo como base uma culinária e ambiente diferenciados.
A empresa declara a seguinte missão:
Nossa missão é
Alimentar com prazer
Servir com competência
Negociar com transparência
Criar a solução
Que agrada a cada cliente
Com ética, alegria, agilidade
E o compromisso da nossa gente
Acreditamos
Na sinergia das equipes
Entrosadas, proativas e atualizadas
Valorizamos
A rentabilidade e a racionalização
O controle que permite autonomia
O desenvolvimento e a participação
73
Para o mercado, somos vanguarda
Para os colaboradores, evolução
Para os usuários, a melhor alimentação
Para a empresa cliente, a verdadeira solução!
Explicitando o que considera sua missão, a empresa declara em seus documentos
organizacionais que acreditar no potencial humano, na sua valorização e no seu
reconhecimento é a base de sustentação da organização. Considera-se uma empresa com
espírito de aperfeiçoamento contínuo, que estimula os funcionários à criação de novos
produtos e soluções e a participar de todos os processos internos para ampliar cada vez mais
sua capacidade de criação.
Comercialmente a empresa propõe oferecer soluções sob medida, contribuindo para o negócio
e bem-estar dos clientes.
Em relação à dinâmica organizacional, a empresa declara em seu discurso e documentos
conceitos organizacionais como:
- Autonomia e descentralização com decisões próximas dos líderes e colaboradores;
- Administração participativa;
- Clareza de objetivos, metas e resultados com simplicidade, agilidade e foco;
- Estrutura de apoio focada no planejamento, desenvolvimento de sistemas e nas auditorias
e análises;
- Qualidade como base;
- Rentabilidade como conseqüência da satisfação dos clientes;
- Ética nos negócios;
- Processos operacionais voltados à racionalização de tarefas;
74
- Restaurante com ambiente agradável para onde as pessoas queiram ir todos os dias,
descaracterizando o tradicional restaurante industrial.
Considerando os fatores de valores organizacionais de Oliveira e Tamayo (2004), pode-se
identificar ênfase em valores como autonomia, preocupação com a coletividade, bem-estar,
realização e prestígio organizacional.
Tal análise foi baseada na declaração de práticas da organização como autonomia nas
atividades e administração participativa, valorização da equipe e ênfase no seu
desenvolvimento, relações éticas e honestas, equipe criativa, rentabilidade e soluções
diferenciadas para o mercado no qual atua, o que constitui os valores esposados da
organização, conforme conceito de Kabanoff e Daly (2002), refletindo principalmente valores
das sócias-proprietárias sobre as práticas organizacionais e o que elas acreditam que a
organização deve ser.
Cabe salientar, no entanto, que as unidades da empresa são terceirizadas e que, por enfatizar
serviços personalizados aos clientes, adaptando-se às suas necessidades, as unidades podem se
diferenciar em alguns aspectos de gestão, baseadas nas normas e práticas internas das
organizações nas quais se inserem.
A afirmação acima foi considerada a partir de conversa informal com uma das proprietárias,
onde a mesma salientou que cada unidade possui um gerente de restaurante com perfil
adequado para a empresa cliente. Nessa conversa também ficou clara a preocupação das
sócias em relação à manutenção e desenvolvimento de projetos, uma vez que perfis muito
diferentes do que a empresa acredita podem gerar resistências entre os funcionários, como
ocorrera em um determinado projeto.
Embora com algumas especificidades entre as unidades, acredita-se que a interferência nos
dados de pesquisa não seja significante para alterar a percepção dos valores da organização
por parte dos funcionários.
O Quadro 3 a seguir, apresenta o perfil demográfico da organização pesquisada em relação ao
número de funcionários, idade, gênero, tempo de empresa e grau de escolaridade.
75
Número de funcionários por região
São Paulo - capital Grande São Paulo Interior São Paulo Total funcionários
21 75 154 250
Perfil de idade
18 a 20 anos 21 a 30 anos 31 a 40 anos 41 a 50 anos 51 a 60 anos
7% 45% 33% 12% 3%
Perfil de gênero
Sexo Masculino Sexo Feminino
24% 76%
Tempo de empresa
até 1 ano 1 a 3 anos 3 a 5 anos 5 a 7 anos
40% 38% 18% 4%
Grau de escolaridade
Nível Percentual
Superior (completo) 10%
Superior (incompleto) 1%
Ensino médio completo 32%
Ensino médio incompleto 9%
Ensino fundamental completo 27%
Ensino fundamental incompleto 21%
Quadro 3: Perfil demográfico da organização pesquisada
Pelo número de funcionários observa-se que a empresa possui uma atuação mais forte no
interior de São Paulo e um quadro jovem de funcionários, a maioria na faixa de 20 a 30 anos.
A distribuição por gênero caracteriza uma empresa com mais mulheres, pela própria
disponibilidade de profissionais no mercado para as funções requeridas como nutricionistas,
copeiros, cozinheiros, etc., segundo informações da própria empresa, o que também impacta
em profissionais com níveis mais baixos de escolaridade.
Em relação ao tempo de empresa, observa-se que a maioria (78%) possui menos de 3 anos,
sugerindo alta rotatividade de pessoal. O fato de ser uma empresa que terceiriza serviços e
atua com contratos determinados aumenta a rotatividade de pessoal, considerando que quando
há perda de um contrato geralmente não há como aproveitar os funcionários em outras
unidades, segundo informações da empresa.
76
5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
5.1. Desenho da pesquisa
Este estudo tem o propósito de testar hipóteses uma vez que busca analisar a relação entre
valores organizacionais e pessoais e o nível de bem-estar ocupacional do empregado.
De acordo com Seakaran (1992), estudos que se dedicam ao teste de hipóteses geralmente
tentam explicar a natureza de certos relacionamentos ou estabelecer as diferenças entre grupos
ou independência de dois ou mais fatores em uma situação. A autora salienta que neste tipo de
pesquisa o pesquisador está interessado em entender e mensurar a variação da variável
dependente através do teste de hipóteses.
Em relação ao tipo de investigação, caracteriza-se como um estudo correlacional cujo
interesse é delinear variáveis que estão associadas a um problema (Seakaran, 1992), ou seja,
valores organizacionais e pessoais têm relação com bem-estar ocupacional? Qual a
contribuição deles para a variação no bem-estar ocupacional?
Por tratar-se de um estudo correlacional foi conduzido em um ambiente natural, ou seja, sem
interferências e/ou preparação no ambiente normal da organização.
A unidade de análise desta pesquisa é individual, uma vez que as variáveis do estudo (valores
organizacionais, valores pessoais e bem-estar ocupacional) necessitam de análise no nível
individual para se avaliar o objetivo proposto. Os valores organizacionais, nesse caso, são
considerados no nível individual uma vez que se referem à percepção do funcionário acerca
dos valores da organização.
Por fim, também caracteriza-se como uma pesquisa transversal, uma vez que os dados foram
coletados apenas uma vez, durante um período de 20 dias.
Conforme abordado na seção de medidas em valores organizacionais, pode ser observado
que, embora haja diferentes metodologias para a mensuração de valores organizacionais,
como a utilização de escalas normativas ou ipsativas ou o estudo de documentos oficiais da
77
empresa, o uso de escalas tem sido mais recentemente utilizado, principalmente na
mensuração de valores organizacionais no Brasil. Desta forma, optou-se pela utilização do
Inventário de Perfis de Valores Organizacionais (IPVO), elaborado por Oliveira e Tamayo
(2004) para a mensuração da variável independente de valores organizacionais.
Considerando os instrumentos disponíveis e o desenho desta pesquisa, também optou-se por
escalas para a mensuração das demais variáveis, ou seja, o Portrait Values Questionnaire-
PVQ (Schwartz et al., 2001; Schwartz, 2005b) para a variável moderadora de valores pessoais
e a Escala de Bem-Estar Ocupacional-EBEO (Paschoal, 2006), para a variável dependente de
bem-estar ocupacional.
Para o teste e análise da relação entre as variáveis foi necessária a utilização do procedimento
estatístico de regressão hierárquica múltipla.
O desenho desta pesquisa pode ser sintetizado conforme figura abaixo:
Figura 6: Desenho da pesquisa
Fonte: Baseado em Seakaran (1992)
Propósito do
estudo
Teste de
hipóteses
Tipo de
investigação
Correlacional
Extensão da
interferência do
pesquisador
Mínima: estudo dos
eventos como eles
normalmente ocorrem
Ambiente do
estudo
Natural
Itens de
medidas
Escalas
Unidade
de análise
Indivíduos
Desenho
da amostra
Não-
probabilística
Tempo de
horizonte
Transversal
Método de
Coleta de
dados
Questionário
1-Exploração
dos dados
2- Qualidade
dos dados
3- Teste de
hipóteses
DETALHES DO ESTUDO MENSURAÇÃO
ANÁLISE DE
DADOS
PROBLEMA DE PESQUISA
Propósito do
estudo
Teste de
hipóteses
Propósito do
estudo
Teste de
hipóteses
Tipo de
investigação
Correlacional
Tipo de
investigação
Correlacional
Extensão da
interferência do
pesquisador
Mínima: estudo dos
eventos como eles
normalmente ocorrem
Extensão da
interferência do
pesquisador
Mínima: estudo dos
eventos como eles
normalmente ocorrem
Ambiente do
estudo
Natural
Ambiente do
estudo
Natural
Itens de
medidas
Escalas
Itens de
medidas
Escalas
Unidade
de análise
Indivíduos
Unidade
de análise
Indivíduos
Desenho
da amostra
Não-
probabilística
Desenho
da amostra
Não-
probabilística
Tempo de
horizonte
Transversal
Tempo de
horizonte
Transversal
Método de
Coleta de
dados
Questionário
Método de
Coleta de
dados
Questionário
1-Exploração
dos dados
2- Qualidade
dos dados
3- Teste de
hipóteses
DETALHES DO ESTUDO MENSURAÇÃO
ANÁLISE DE
DADOS
PROBLEMA DE PESQUISA
78
5.2. Dados da amostra
A amostra foi constituída por 102 funcionários, todos efetivos da organização pesquisada,
com idade média de 31 anos, sendo 72% do sexo feminino e 28% do sexo masculino.
O tempo médio de empresa dos funcionários corresponde a 1 ano e 6 meses, sendo que 59%
da amostra corresponde a unidades do interior de São Paulo e 41% da Capital e Grande São
Paulo. O nível de escolaridade dos sujeitos pesquisados está distribuído em 38% = Ensino
Fundamental, 48% = Ensino Médio e 14% = Ensino Superior.
Após a análise de regressão hierárquica, a amostra composta pelas variáveis independentes
(preocupação com a coletividade, bem-estar, autonomia, realização, domínio, prestígio,
conformidade e tradição) mais as variáveis moderadoras (benevolência/universalismo,
conformidade, tradição, poder/realização, hedonismo/autodeterminação e estimulação),
apresentou poder estatístico de 0,89 para o componente de Realização do bem-estar
ocupacional e 0,68 para o componente Afeto Positivo.
Tanto para a Realização quanto para o Afeto Positivo, foi determinado nível de significância
de 0.05 e tamanho de efeito médio de 0.20, conforme Cohen (1992).
5.3. Instrumentos de coleta dos dados
5.3.1. Inventário de Perfis de Valores Organizacionais (IPVO)
O IPVO, desenvolvido e validado por Oliveira e Tamayo (2004), tem por base o conteúdo
motivacional dos valores pessoais da teoria de Schwartz. Validado em uma amostra de 833
empregados de organizações privadas e públicas, seus itens de valores obtiveram coeficientes
de precisão que variam entre 0,75 a 0,87, considerados satisfatórios pelos métodos
estatísticos.
79
O Inventário é composto por 48 itens de valores, para os quais os respondentes pontuam cada
um numa escala de 1 a 6, considerando a questão “quanto esta organização aqui descrita se
parece com aquela na qual você trabalha?”, sendo que 6 = é muito parecida com minha
organização e 1 = não se parece em nada com minha organização.
Esses 48 itens configuram 8 fatores de valores organizacionais: realização, conformidade,
domínio, bem-estar, tradição, prestígio organizacional, autonomia e preocupação com a
coletividade.
5.3.2. Escala de Bem-Estar Ocupacional (EBEO)
A EBEO, desenvolvida e validada por Paschoal (2006), é composta por 30 itens, divididos em
três fatores: afeto positivo (9 itens), afeto negativo (12 itens) e realização (9 itens). O
instrumento foi validado em uma amostra de 317 trabalhadores de diferentes organizações
públicas e privadas e obteve índices de confiabilidade (alpha de Cronbach) satisfatórios para
cada um dos três fatores: afeto positivo = 0,93, afeto negativo = 0,91 e realização = 0,88,
corroborando estudos anteriores sobre as dimensões de afeto do bem-estar.
Para os itens de afeto, o respondente parte da afirmativa “nos últimos seis meses meu trabalho
tem me deixado...”, utilizando-se de uma escala de 1 a 5, onde 1=nunca e 5=extremamente. Já
para os itens de realização, o respondente baseia-se na afirmativa: Neste trabalho...”,
pontuando os itens também de 1 a 5, onde 1=discordo totalmente e 5=concordo totalmente.
5.3.3. Questionário de Perfis de Valores (QPV)
O QPV, cuja denominação original é Portrait Values Questionnaire, foi desenvolvido
inicialmente por Schwartz et al. (2001) e contava com 29 itens. Validação posterior do
instrumento (Schwartz, 2005b), reformulou seu conteúdo compondo um questionário de 40
itens.
80
Os 40 itens do QPV contém retratos verbais de pessoas, sendo que cada descrição
corresponde às metas e desejos de pessoas que implicitamente se referem à importância de um
valor (PORTO, 2005). Para cada descrição o respondente parte da questão “Quanto esta
pessoa se parece com você?”, tendo seis possibilidades gradativas de respostas que vão de 1=
não se parece nada comigo a 6=se parece muito comigo.
De acordo com Schwartz (2005b, p. 57), neste instrumento “inferem-se os valores dos sujeitos
a partir de seus relatos de similaridade com as pessoas descritas implicitamente em termos de
valores pessoais”.
Considerando os resultados de aplicação do instrumento em 14 amostras de 7 países
diferentes, os coeficientes alpha médios estão próximos ou acima de 0,70 para todos os tipos
motivacionais, exceto tradição e autodeterminação. Assim, o instrumento apresenta índices
confiáveis para oito tipos motivacionais, sendo que para tradição e autodeterminação a
confiabilidade é baixa, não invalidando, no entanto, o instrumento, uma vez que resultados
similares foram obtidos com o instrumento original (SVS). Além disso, os dois instrumentos
(QPV e SVS) apresentam forte correlação (0,94 em média) e validade convergente e
discriminante, através do método multitraço-multimétodo (MTMM), o que mostra que ambos
medem o mesmo conteúdo motivacional de cada tipo (SCHWARTZ, 2005b).
No Brasil, o QPV foi validado por Tamayo e Porto (no prelo) em uma amostra de 614
estudantes do ensino fundamental, coletada em 2002 na cidade de Brasília. Nesta validação
foram encontradas 7 das 10 regiões previstas na teoria de valores pessoais, com os seguintes
coeficientes: Universalismo/Benevolência (α=0,78), Conformidade (α=0,59), Tradição
(α=0,47), Segurança (α=0,54), Poder/Realização (α=0,77), Autodeterminação/Hedonismo
(α=0,68) e Estimulação (α=0,50). De acordo com os autores, o agrupamento dos tipos
motivacionais Universalismo e Benevolência é comum em amostras pesquisadas por
Schwartz (2005b) não ocorrendo, porém, para Poder, Realização e Hedonismo.
Na amostra brasileira, Poder/Realização e Autodeterminação/Hedonismo formaram uma
região conjunta (com utilização do método de Escalonamento Multidimensional MDS),
indicando que esses tipos motivacionais compartilham bastante a motivação subjacente
81
(TAMAYO; PORTO, no prelo). Tendo em vista a validação do QPV para a amostra
brasileira, o agrupamento desses tipos motivacionais foi considerado para a análise dos dados.
5.4. Procedimento de coleta de dados
Os dados foram coletados por meio de questionários impressos, abrangendo todas as questões
dos instrumentos propostos – IPVO, EBEO e QPV (ANEXO A).
Foram distribuídos 250 questionários, o que correspondia ao número total de funcionários na
época da coleta de dados. Cada questionário foi precedido de uma carta explicativa para o
funcionário (APÊNDICE A).
A quantidade de questionários necessária foi enviada a cada unidade da empresa por
correspondência, aos cuidados do responsável pelo restaurante. Cada responsável também
recebeu por e-mail, instruções para que distribuísse a pesquisa para sua equipe, sendo
orientados a esclarecer apenas as dúvidas sobre a forma de preenchimento, não podendo
explicar o significado dos itens, caso algum funcionário não entendesse, visando garantir a
padronização do método.
Todos os responsáveis pelos restaurantes também foram contatados por telefone para
verificação de alguma dificuldade na aplicação. Algumas unidades explicitaram que o
questionário era extenso e complexo e que, devido ao baixo nível de escolaridade dos
funcionários, era possível que eles tivessem dificuldades para responder, porém que
aplicariam conforme instruções recebidas.
Os questionários respondidos foram devolvidos por correspondência ou retirados pela própria
autora nas unidades, totalizando 156 respondentes.
82
5.5. Tratamento dos dados
Os dados foram tratados com o auxílio do software SPSS v.13 (Statistical Package of Social
Science) utilizando-se do procedimento de regressão múltipla hierárquica.
A partir da análise das estatísticas descritivas do banco de dados, foram detectados e
corrigidos erros de digitação, casos omissos e os casos extremos univariados e multivariados.
Visando garantir a acuracidade do banco de dados, inicialmente foram eliminados os casos
que responderam a mesma alternativa para 80% ou mais das questões, na variável de Valores
Organizacionais. Com isto, foram eliminados 11 casos, restando 145 respondentes no banco
de dados.
Os casos omissos foram substituídos pela média do valor das variáveis. Foi observado que a
variável dependente de Bem-estar Ocupacional, no entanto, foi a que apresentou o maior
número de dados omissos, o que provavelmente ocorreu devido ao layout do questionário,
fazendo com que os sujeitos marcassem mais de uma alternativa no mesmo item de afeto da
escala, invalidando a resposta.
A quantidade de dados omissos substituídos pela média ficou por volta de 2% nas variáveis
de valores organizacionais e valores pessoais e 5% para bem-estar ocupacional. Nos itens de
bem-estar ocupacional, o afeto negativo apresentou maior índice de dados omissos (7%), o
afeto positivo apresentou 6% e o item realização no trabalho 2,9%.
De acordo com Tabachnick e Fidell (2001), para até 5% de dados omissos em amostras
maiores, qualquer procedimento utilizado apresenta resultados similares, sendo que para
amostras pequenas, não convenção na literatura sobre o percentual de dados omissos
tolerados. As autoras salientam, no entanto, que na ausência de outras informações, a média é
a melhor previsão do valor de uma variável.
Na seqüência, foi aplicado o procedimento de correção do uso da escala (Schwartz, 2005b)
para as variáveis de valores organizacionais e valores pessoais, visando corrigir as diferenças
no uso da escala pelos sujeitos. Para isto, os fatores calculados para cada sujeito foram
83
subtraídos da média geral de todos os itens de valores. Conforme observa Schwartz (2005b),
esse procedimento é crucial para obter resultados precisos na análise de valores.
Em seguida, as variáveis foram submetidas ao teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov,
considerando o índice de significância de 0.05. Apenas a dimensão de afeto positivo, que
compõe a variável de bem-estar ocupacional, não atingiu a normalidade. Neste caso, a
normalidade foi obtida utilizando-se a alternativa de raiz quadrada para a transformação da
variável, que cumpriu os critérios estatísticos.
O critério de linearidade entre as variáveis também foi satisfeito a partir da análise de
variáveis par a par, para uma amostra dos dados.
Após a transformação da variável, foram identificados e eliminados os casos extremos
univariados, resultando em uma amostra de 102 sujeitos.
Para a amostra de 102 sujeitos foi analisada primeiramente a correlação bivariada simples
entre as variáveis de Valores Pessoais (VP) com Bem-estar Ocupacional (BEO), bem como a
correlação das variáveis de Valores Organizacionais (VO) com Bem-estar Ocupacional
(BEO).
A regressão hierárquica foi então aplicada em três blocos para verificação do efeito
moderador dos valores pessoais no bem-estar ocupacional, conforme hipótese proposta neste
estudo. No 1º bloco foi verificada a relação entre VP e BEO, no 2º bloco a relação entre VO e
BEO e no bloco a interação entre VP e VO no BEO. Foram realizadas duas regressões
hierárquicas, uma para afeto positivo e outra para realização no trabalho. Não foi realizada
regressão para afeto negativo porque tanto VP quanto VO não apresentaram correlações
significativas com afeto negativo.
Devido à identificação de multicolinearidade no grupo de variáveis, foram retirados o VP-
Poder/Realização e o VO-Preocupação com a coletividade na regressão com Afeto Positivo e
o VP-Poder/Realização e o VO-Bem-Estar, na regressão com Realização no trabalho. As
variáveis retiradas apresentavam baixa relação com BEO.
Os resultados encontrados são apresentados e discutidos a seguir.
84
6. RESULTADOS
6.1. Descrição dos valores organizacionais
Os resultados demonstram que, embora as unidades da empresa pesquisada estejam inseridas
em organizações distintas, é possível identificar uma percepção compartilhada dos valores
organizacionais entre os funcionários.
Conforme Tabela 1, os valores organizacionais Preocupação com a Coletividade e
Conformidade apresentaram índices mais elevados de compartilhamento entre os
funcionários, enquanto que os valores de Tradição e Bem-Estar foram menos percebidos.
Tabela 1: Estatística descritiva dos resultados de valores organizacionais
Valores Organizacionais /
Resultados
Média Mediana Moda Desvio
Padrão
Preocupação com a coletividade 5,20 5,33 5,33 0,55
Conformidade 5,19 5,28 5,43 0,43
Realização 5,15 5,20 5,00 0,53
Prestígio 4,97 5,00 4,75 0,63
Domínio 4,95 5,00 4,83 0,62
Autonomia 4,88 4,87 5,00 0,57
Tradição 4,24 4,25 5,00 0,99
Bem-estar 4,01 4,00 3,33 0,87
Os valores organizacionais Preocupação com a Coletividade, Realização e Prestígio, são
esposados pelas sócias-proprietárias e também apareceram em posições mais privilegiadas na
hierarquia percebida pelos empregados, podendo caracterizar compartilhamento entre a alta
direção e os empregados.
Por outro lado, a Autonomia e o Bem-Estar também são valores recorrentes no discurso da
empresa, porém foram pouco percebidos pelos empregados. O contrário ocorreu com o valor
de Conformidade, percebido pelos empregados e com menor ênfase por parte da organização.
85
O valor organizacional de Bem-Estar apresentou uma percepção muito fraca entre os
empregados, porém têm uma forte ênfase por parte das sócias-proprietárias, caracterizando
um item que merece melhor análise por parte da empresa pesquisada.
6.2. Correlações entre VP e BEO
A correlação bivariada simples entre VP e BEO apresentou um efeito pequeno em afeto
positivo, cuja correlação mais positiva foi para Hedonismo/Autodeterminação e mais negativa
para Segurança e Universalismo/Benevolência, conforme Gráfico 1.
0,171
-0,057
-0,146
0,059
-0,083
0,040
-0,122
0,108
-0,201*
0,024
-0,213*
0,264**
0,023 0,013
-0,055
-0,019
-0,019
0,032
0,095
-0,106
-0,045
-0,300
-0,200
-0,100
0,000
0,100
0,200
0,300
Estimulação
Hedon/Autodet.
Poder/Realiz.
Segurança
Conformidade
Tradição
Univ/Benevol.
AfPositivo
AfNegativo
Realização
** Correlação altamente significativa (0.01)
* Correlação significativa (0.05)
Gráfico 1: Correlações de Valores Pessoais e Bem-Estar Ocupacional.
BEO
Valores Pessoais
86
A correlação positiva entre Hedonismo/Autodeterminação e Afeto Positivo indica que quanto
mais os indivíduos priorizam os valores pessoais de hedonismo e autodeterminação, mais
afeto positivo apresentam.
As correlações negativas, ao contrário das positivas, indicam que o afeto positivo é menor
para indivíduos que priorizam valores pessoais de segurança, universalismo e benevolência.
Para os componentes de Realização e Afeto Negativo do BEO, os valores pessoais não
apresentaram correlações significativas.
A curva do afeto positivo (Gráfico 1) também nos permite identificar que os valores pessoais
de estimulação e hedonismo/autodeterminação, apareceram em posições opostas aos valores
de conformidade/tradição e segurança, assim como os valores de realização e poder também
apareceram em posições opostas aos valores de universalismo e benevolência, corroborando
teoria de Schwartz (1992), a respeito das relações de compatibilidade e conflito entre os
domínios de valores pessoais.
A curva de afeto negativo e realização não cumpriram totalmente essa relação de
compatibilidade e conflito, porém, também não obtiveram correlações significativas com
valores pessoais.
6.3. Correlações entre VO e BEO
A correlação bivariada simples entre VO e BEO apresentou efeitos mais significativos para o
componente de Realização, tendo também apresentado um efeito pequeno em Afeto Positivo.
O componente de Realização do BEO apresentou correlação positiva com Autonomia e
negativa com Prestígio e Conformidade e o Afeto Positivo apresentou correlação também
negativa com Prestígio, conforme Gráfico 2.
87
0,166
0,156
-0,141
-0,065
0,050
0,025
-0,127
-0,078
-0,061
0,164
-0,063
0,062
0,142
0,037
0,015
0,170
-0,203*
0,072
-0,118
0,198*
-0,256**
-0,306**
0,065
-0,114
-0,400
-0,300
-0,200
-0,100
0,000
0,100
0,200
0,300
Autonomia
Bem-estar
Realização
Domínio
Prestígio
Conformidade
Tradição
Preoc.Col.
AfPositivo
AfNegativo
Realização
** Correlação altamente significativa (0.01)
* Correlação significativa (0.05)
Gráfico 2: Correlações de Valores Organizacionais e Bem-Estar Ocupacional.
A correlação positiva entre Autonomia e Realização indica que quanto mais a organização
prioriza o valor organizacional de autonomia, mais realização no trabalho os indivíduos
apresentam.
As correlações negativas, ao contrário das positivas, indicam que o sentimento de realização
no trabalho dos indivíduos diminui à medida que a organização prioriza valores de prestígio e
conformidade.
O afeto positivo dos indivíduos também diminui à medida que a organização prioriza valores
de prestígio, indicado pela correlação negativa entre Prestígio e Afeto Positivo no Gráfico 2.
Para o componente de Afeto Negativo do BEO, os valores organizacionais não apresentaram
correlações significativas.
Valores Organizacionais
BEO
88
A representação do componente de realização do BEO (Gráfico 2) indica que os valores
organizacionais de autonomia e bem-estar apareceram em posição oposta ao valor de
conformidade, o que o ocorreu para o valor de tradição. Da mesma forma, os valores de
realização e domínio também apareceram em posição oposta ao valor de preocupação com a
coletividade, o que não ocorreu com o valor de prestígio.
Em relação ao afeto positivo, os valores organizacionais de autonomia e bem-estar também
apareceram em posição oposta ao valor de conformidade, porém não ao valor de tradição. Os
valores de domínio e prestígio, por sua vez, apareceram em posição oposta ao valor de
preocupação com a coletividade, o que não ocorreu com o valor de realização.
A relação de compatibilidade e conflito entre as dimensões de valores pessoais, também
postulada para os valores organizacionais (Oliveira & Tamayo, 2004), porém até então não
verificada empiricamente, apresentou resultados compatíveis com a teoria. Os valores de
tradição, prestígio e conformidade podem não ter apresentado total oposição pelo fato de se
agruparem com outros valores organizacionais ou devido ao tamanho da amostra, o que
requer outros estudos para melhor verificação.
6.4. Regressões
A regressão para Afeto Positivo não apresentou coeficientes significativos, conforme
resultados sumarizados para os blocos 1 e 2 e detalhados para o bloco 3 (Tabela 2).
No bloco 2, unicamente o valor organizacional de Tradição apresentou coeficientes
significativos de regressão B=.070, β=.292 (p=0,05), porém, esse resultado não se sustentou
com a interação das variáveis no bloco 3.
89
Tabela 2: Resultado da regressão hierárquica para as variáveis de valores e
afeto positivo
Variáveis Resultados
1º bloco
Valores Pessoais
R = .322
R
2
= .104
R
2
ajustado = .047
Mudança R
2
= .104
2º bloco
Valores Pessoais e Valores
Organizacionais
R = .420
R
2
= .176
R
2
ajustado = .054
Mudança R
2
= .073
3º bloco
Valores Pessoais, Valores
Organizacionais e VoxVP
R = .523
R
2
= .274
R
2
ajustado = .072
Mudança R
2
= .098
B
β
ββ
β
VP-Estimulação -.023 -.091
VP-Hedon./Autodeterminação -.005 -.016
VP-Segurança -.027 -.073
VP-Conformidade .029 .080
VP-Tradição -.036 -.124
VO-Autonomia .068 .123
VO-Bem-estar .002 .008
VO-Realização .031 .054
VO-Domínio .055 .164
VO-Prestígio -.017 -.040
VO-Conformidade .050 .095
VO-Tradição .039 .161
VO-AutonomiaxVP-Estimulação -.062 -.110
VO-AutonomiaxVP-Hed/Autodet -.129 -.157
VO-BestarxVP-Hed/Autodet. -.047 -.200
VO-Conform.xVP-Conformidade -.053 -.098
VO-TradiçãoxVP-Tradição .023 .104
Conforme Tabela 3, a regressão para o componente de realização no trabalho do BEO, não
apresentou resultados significativos para o bloco (Valores Pessoais). No bloco, com a
inserção dos Valores Organizacionais, R foi significativo (p<0.05) e o coeficiente de
Mudança R
2
altamente significativo (p< 0.01), indicando que cerca de 20% da variabilidade
em BEO é explicada pelos valores organizacionais. As variáveis que contribuem para esse
resultado são os valores organizacionais de Conformidade e Domínio.
90
Tabela 3: Resultado da regressão hierárquica para as variáveis de valores e
realização
Variáveis Resultados
1º bloco
Valores Pessoais
R = .202
R
2
= .041
R
2
ajustado = -.020
Mudança R
2
= .041
2º bloco
Valores Pessoais e Valores
Organizacionais
R = .489*
R
2
= .239
R
2
ajustado = .127
Mudança R
2
= .199**
3º bloco
Valores Pessoais, Valores
Organizacionais e VoxVP
R = .611**
R
2
= .373
R
2
ajustado = .219
Mudança R
2
= .134*
B
β
ββ
β
VP-Estimulação .053 .068
VP-Hedon./Autodeterminação .046 .049
VP-Poder/Realização -.220 -.278
VP-Segurança -.059 -.053
VP-Conformidade .104 .094
VP-Tradição -.152 -.173
VO-Autonomia .736** .440**
VO-Realização 1.117** .650**
VO-Domínio .841** .826**
VO-Prestígio -.034 -.027
VO-Conformidade -.311 -.194
VO-Tradição .115 .159
VO-Preocupação Coletividade -.001 -.001
VO-AutonomiaxVP-Estimulação .351 .206
VO-AutonomiaxVP-Hed/Autodet -.214 -.086
VO-RealizaçãoxVP-Poder/Realiz.
.748** .689**
VO-DomínioxVP-Poder/Realiz. .378** .538**
VO-PrestígioxVP-Poder/Realiz. .149 .174
VO-Conform.xVP-Conformidade -.147 -.090
VO-TradiçãoxVP-Tradição -.271** -.401**
** p<0.01
* p<0.05
No bloco, os valores organizacionais de Autonomia, Domínio e Realização apresentaram
coeficientes altamente significativos (p<0.01) para explicar a variância no BEO. A interação
das variáveis de valores organizacionais e pessoais com o BEO também apresentou
coeficientes altamente significativos (p<0.01) para VO-RealizaçãoxVP-Poder/Realiz., VO-
91
DomínioxVP-Poder/Realiz. e VO-TradiçãoxVP-Tradição, indicando que os valores pessoais
moderam a relação entre os valores organizacionais e o bem-estar ocupacional.
Os resultados do bloco apontaram para R altamente significativo (p<0.01), bem como
coeficiente de Mudança R2 significativo (p<0.05), indicando que cerca de 13% da
variabilidade em BEO é explicada pelos valores organizacionais, moderados pelos valores
pessoais correspondentes.
Considerando as variáveis que apresentaram coeficientes significativos (p<0.01) na relação de
moderação, verifica-se o tipo de impacto dos valores pessoais na amostra pesquisada
(Gráficos 3, 4 e 5).
3,40
3,45
3,50
3,55
3,60
3,65
3,70
3,75
3,80
3,85
3,90
3,95
VO-Tradição baixo VO-Tradição alto
VP-Tradição alto
VP-Tradição baixo
Gráfico 3: Hierarquia de VO e VP (Tradição) e nível de BEO-Realização
O Gráfico 3 apresenta BEO mais alto tanto para sujeitos com VP-Tradição alto quanto baixo,
numa organização com o valor de Tradição mais alto. Entretanto, o vel de bem-estar para
indivíduos que valorizam menos Tradição é sempre mais baixo do que para aqueles que
valorizam mais.
os Gráficos 4 e 5 demonstram que o BEO é maior quando existe similaridade na hierarquia
de valores pessoais e organizacionais percebidos, ou seja, numa organização com o valor
organizacional Domínio alto, indivíduos que priorizam Poder/Realização tem BEO mais
elevado, sendo que o BEO do indivíduo também é mais elevado quando a organização
92
valoriza pouco Domínio e ele não prioriza Poder/Realização em sua hierarquia de valores
pessoais. A mesma relação ocorre para o VO-Realização com o VP-Poder/Realização.
3,65
3,70
3,75
3,80
3,85
3,90
VO-Domínio baixo VO-Domínio alto
VP-Poder/Realiz. alto
VP-Poder/Realiz.
baixo
Gráfico 4: Hierarquia de VO e VP (Domínio e Poder/Realiz.) e nível de BEO-Realização
3,50
3,55
3,60
3,65
3,70
3,75
3,80
3,85
3,90
3,95
4,00
VO-Realizão baixo VO-Realizão alto
VP-Poder/Realiz. alto
VP-Poder/Realiz.
baixo
Gráfico 5: Hierarquia de VO e VP (Realização e Poder/Realiz.) e nível de BEO-Realização
Mesmo a relação de moderação não tendo apresentado coeficientes significativos para todas
as relações entre valores e bem-estar, a divisão dos resultados em 2 blocos (1- Baixo = até a
média e 2-Alto = acima da média), apresenta resultados consistentes para a variação do BEO
conforme grau de similaridade e divergência (alto / baixo) na hierarquia de valores pessoais e
organizacionais (Gráficos 6 e 7).
93
O Gráfico 6, por exemplo, cujos valores organizacionais foram percebidos mais alto na
hierarquia da organização, demonstra BEO mais elevado para indivíduos com prioridade mais
alta nos valores pessoais correspondentes, exceto na relação com os valores organizacionais
de Autonomia, Conformidade e Preocupação com a coletividade.
3
3,2
3,4
3,6
3,8
4
4,2
VO-Au1 VO-Au2 VO-Bes VO-Re VO-Do VO-Pr VO-Co VO-Tr VO-Pc
Valores Organizacionais percebidos como alto
Nível de BEO
VP alto
VP baixo
Gráfico 6: Variação do bem-estar ocupacional em função da hierarquia de valores pessoais x valores
organizacionais percebidos como alto na organização.
No Gráfico 7, onde os valores organizacionais foram percebidos em nível mais baixo na
hierarquia da organização, o BEO também foi superior para indivíduos com baixa prioridade
nos valores pessoais correspondentes, no caso dos valores organizacionais de Realização,
Domínio e Conformidade.
3,1
3,2
3,3
3,4
3,5
3,6
3,7
3,8
3,9
4
4,1
VO-Au1 VO-Au2 VO-Bes VO-Re VO-Do VO-Pr VO-Co VO-Tr VO-Pc
Valores Organizacionais percebidos como baixo
Nível de BEO
VP alto
VP baixo
Gráfico 7: Variação do bem-estar ocupacional em função da hierarquia de valores pessoais x valores
organizacionais percebidos como baixo na organização.
94
A partir dos Gráficos 6 e 7, observa-se que apenas para os valores organizacionais de
Autonomia e Preocupação com a coletividade, não houve variação no nível de bem-estar
ocupacional compatível com a hierarquia de valores do indivíduo.
95
7. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Os resultados da regressão apontaram relações significativas entre os valores organizacionais
e o bem-estar ocupacional, dando suporte à H1 desta pesquisa, que admite uma relação direta
entre os valores organizacionais e o bem-estar ocupacional.
Para a relação entre os valores pessoais e o bem-estar ocupacional, a regressão não apontou
resultados significativos, a correlação bivariada apresentou uma relação fraca. Esses
resultados sugerem que a relação direta entre os valores pessoais e o bem-estar seja realmente
fraca uma vez que Oishi et al. (1999) também encontraram uma fraca relação, embora entre
valores pessoais e o bem-estar subjetivo.
Em relação aos componentes do bem-estar subjetivo, Oishi et al. (1999), encontraram
correlações significativas entre Realização e afeto positivo/satisfação com a vida e entre
Poder, Universalismo e afeto negativo. Considerando o bem-estar ocupacional, a presente
pesquisa encontrou resultados significativos (correlação bivariada) entre Hedonismo/
Autodeterminação, Universalismo/Benevolência, Segurança e afeto positivo, sendo que na
regressão os resultados não foram significativos para valores pessoais.
A partir dos dados acima, observa-se que apenas Universalismo apresentou coeficientes
significativos nos dois estudos, porém em diferentes componentes do BEO, ou seja, afeto
positivo nesta pesquisa e afeto negativo no estudo de Oishi et al. (1999), sugerindo uma fraca
relação direta dos valores pessoais, tanto com o bem-estar subjetivo quanto com o bem-estar
ocupacional.
Estudo de Siu et al. (2005), embora considerando os valores do trabalho, encontraram uma
fraca relação direta com o bem-estar ocupacional. Este estudo, entretanto, não permite uma
melhor comparação com os resultados desta pesquisa uma vez que os autores utilizaram uma
escala específica de valores do trabalho baseada nas sociedades chinesas, agrupando os itens
de valores ( funcionalismo, orientação de longo-prazo, coletivismo, competência, resistência,
96
autoritarismo, qualificação para o trabalho e “guanxi”
1
) em uma única variável denominada
Valores Chineses do Trabalho.
Quanto à relação entre valores organizacionais e bem-estar ocupacional, embora não tenham
sido encontrados estudos anteriores, nesta pesquisa houve resultados significativos de
Autonomia, Prestígio e Conformidade (correlação bivariada), assim como de Autonomia,
Realização e Domínio (regressão) no bem-estar ocupacional, indicando que essa relação não é
tão fraca e que os valores organizacionais podem ter uma relação mais forte com o bem-estar
do que outros tipos de valores.
A H2 desta pesquisa postulava que os valores organizacionais Preocupação com a
coletividade e Bem-estar relacionavam-se positivamente com o afeto positivo e
negativamente com o afeto negativo. Essa hipótese não foi apoiada, porém, considerando as
metas que expressam, os valores de Preocupação com a coletividade (justiça, igualdade,
tolerância, sinceridade, honestidade) e Bem-estar (satisfação, bem-estar e qualidade de vida
no trabalho) podem apresentar um efeito pequeno que não foi capturado devido ao tamanho
da amostra.
A relação do valor organizacional de Autonomia com o BEO-realização foi positiva tanto na
correlação bivariada quanto na regressão, apoiando a H3 e sugerindo que uma organização
que busca o seu aperfeiçoamento constante e também de seus empregados, estimulando a
competência, curiosidade, criatividade e inovação, possibilita aos indivíduos a percepção de
que desenvolve seus potenciais e habilidades com seu trabalho.
A H4 foi parcialmente apoiada por esta pesquisa, uma vez que o valor organizacional de
Realização apresentou relação positiva com realização no trabalho na regressão, porém, não
apresentou correlação positiva com afeto positivo e negativa com o afeto negativo. Esse
resultado pode ser indicativo de que a demonstração de competência da organização e de seus
empregados tenha impacto mais significativo em aspectos de realização no trabalho do que
em afetos.
________________________________________
1
Guanxi – termo comum nas relações de trabalho da China, que enfatiza o domínio de uma pessoa sobre outra .
97
O valor organizacional de Prestígio apresentou correlação negativa com BEO-realização e
BEO-afeto positivo e, na regressão, Domínio apresentou relação positiva com BEO-
realização, apoiando parcialmente a H5 que postulava que os valores organizacionais
Domínio e Prestígio relacionavam-se negativamente com afeto positivo e positivamente com
afeto negativo.
Os resultados para o valor de Prestígio indicam que a ênfase pelo reconhecimento da empresa
em seu meio tende a diminuir tanto o afeto positivo quanto a realização no trabalho. Já o valor
de Domínio, não apresentou impacto em afeto, porém, em realização, sugerindo que o
funcionário pode ter um nível de realização no trabalho maior, caso a empresa busque obter
status e uma posição dominante no mercado. Esse resultado pode ser uma especificidade da
organização pesquisada ou pode sugerir que a ênfase pelo reconhecimento de seus produtos,
serviços e marca diminua a realização no trabalho caso o indivíduo não perceba que a
organização o valorize como contribuinte para sua imagem no meio.
A H6 foi apoiada a partir da correlação negativa entre o valor de Conformidade e o BEO-
realização no trabalho, sugerindo que a ênfase em limites de ações e comportamentos,
priorizando regras e modelos de comportamentos, tende a diminuir a percepção do indivíduo
de que desenvolve seu potencial e habilidades com o seu trabalho.
Para a H7, que postulava uma relação nula para o valor organizacional de tradição e os
componentes do bem-estar ocupacional, não houve apoio nesta pesquisa. Os resultados
sugerem que as práticas tradicionais da organização podem exercer impacto direto no bem-
estar ocupacional. Sendo assim, é possível que haja práticas organizacionais com maior e
menor aceitação dos trabalhadores, independente da organização em que se trabalha, cabendo
um estudo mais específico para se avaliar essa hipótese alternativa.
O componente de afeto negativo do BEO não apresentou qualquer relação significativa,
sugerindo que o afeto negativo não tenha relação com valores organizacionais para a variável
de bem-estar ocupacional ou que, por apresentar um efeito pequeno, o tamanho da amostra
não tenha sido suficiente.
O efeito moderador dos valores pessoais na relação entre os valores organizacionais e o bem-
estar ocupacional, previsto na H8, foi encontrado para os valores organizacionais de Tradição,
98
Domínio e Realização. Os resultados apontam que existe uma relação de moderação dos
valores pessoais, cuja capacidade explicativa desta relação na amostra foi de 13%. Pode ser
que para as demais moderações haja um efeito pequeno, porém, nesse caso o tamanho da
amostra pesquisada não permitiria encontrá-las.
Considerando o papel moderador dos valores pessoais, os resultados corroboram com a
pesquisa de Oishi et al. (1999), que encontrou moderação dos valores pessoais de Hedonismo,
Estimulação, Realização, Conformidade, Universalismo e Benevolência na relação entre
satisfação com atividades diárias e bem-estar subjetivo. No caso desta pesquisa, porém,
diferentes valores pessoais exerceram papel moderador (Realização, Poder e Tradição),
podendo ser um indicador de que o tamanho do impacto dos valores pessoais é diferente em
função foco do bem-estar (ocupacional ou subjetivo).
Estudo de Siu et al. (2005), embora utilizando uma estrutura de valores do trabalho baseada
na sociedade chinesa, encontrou moderação dos valores do trabalho na relação entre itens de
estresse e bem-estar (satisfação no trabalho), indicando que os valores do trabalho também
podem exercer papel moderador no bem-estar e, dessa forma, observa-se a oportunidade para
novos estudos, utilizando outros tipos de valores, como os organizacionais, por exemplo,
como moderadores do bem-estar.
As relações entre valores e bem-estar da presente pesquisa, no entanto, apresentaram
resultados mais significativos para o componente de Realização do BEO, tanto na relação
direta com os valores organizacionais, quanto na relação moderada pelos valores pessoais.
Desta forma, cabe pensar que o impacto dos valores organizacionais e pessoais no bem-estar
ocupacional esteja mais relacionado com o componente de realização no trabalho do que com
afetos.
O componente afetivo do BEO pode ter recebido um impacto muito pequeno dos valores em
função de sua característica transitória e subjetiva apontada por diversos autores (Diener,
Sapyta, Suh 1998; Ryan, Deci, 2001; Albuquerque, Trócolli; 2004), influenciada também por
traços de personalidade (Diener et al., 1999; Warr, 2006; Paz, 2004).
Estudo de Oishi et al. (1999) encontrou uma relação moderadora dos valores pessoais nas
emoções positivas mensurando a satisfação dos indivíduos em tarefas diárias. O estudo
99
aponta, por exemplo, que indivíduos orientados para o valor de Realização tiveram uma
avaliação boa de seu dia quando também se superaram em domínios ligados à realização ao
passo que indivíduos mais orientados para o valor de Benevolência avaliaram o dia como bom
quando tiveram uma interação social positiva. Assim, verifica-se a característica transitória do
afeto em função de situações diárias ou periódicas e que podem ter refletido na amostra
pesquisada.
Os resultados também corroboram para o entendimento do bem-estar ocupacional como um
construto multidimensional (Pachoal, 2006; van Horn, 2004) uma vez que os resultados mais
significativos não se concentraram nos componentes de afeto.
Em relação ao maior impacto dos valores no componente de realização do BEO, ainda é
possível analisar que os valores organizacionais com relações diretas significativas para BEO
(Autonomia, Prestígio, Domínio e Conformidade), tanto na correlação bivariada quanto na
regressão, não se mantiveram os mesmos (Tradição, Domínio e Realização) quando inserida a
moderação dos valores pessoais. Dessa forma, é realmente provável que se encontre relações
mais significativas dos valores organizacionais, tanto na relação direta com BEO, quanto na
moderada pelos valores pessoais em estudos futuros.
O resultado das correlações entre os valores pessoais e o bem-estar ocupacional ainda nos
permite corroborar a teoria de valores pessoais de Schwartz (1992; 2005a) a respeito das
relações de conflito entre os tipos motivacionais de valores e entre os valores específicos,
representados pela estrutura bidimensional, ou seja, Abertura à mudança versus Conservação
e Autopromoção versus Autotranscendência.
A relação de oposição dos valores organizacionais postulada por Oliveira e Tamayo (2004)
com base na estrutura de valores pessoais, até então não testada empiricamente, tendem a
corroborar a teoria, conforme resultado das correlações entre valores organizacionais e bem-
estar ocupacional, requerendo, no entanto, novos estudos para melhor verificação.
Diante dos resultados e análises apresentadas é possível responder a questão-problema desta
pesquisa, ou seja: quais os efeitos dos valores organizacionais no bem-estar ocupacional dos
indivíduos, considerando o grau de similaridade e divergência na hierarquia de valores
pessoais e organizacionais?
100
Os resultados dos Gráficos 6 e 7, apresentados anteriormente, indicam que o bem-estar
ocupacional do indivíduo é mais elevado quando a hierarquia dos valores que percebe na
organização em que trabalha é similar à sua hierarquia de valores pessoais, ao passo que a
divergência nas hierarquias de valores tendem a diminuir o seu bem-estar ocupacional.
101
8. CONCLUSÃO
O objetivo principal deste estudo consistiu em investigar o impacto dos valores
organizacionais no grau de bem-estar ocupacional dos indivíduos, com moderação dos valores
pessoais.
Os resultados da amostra pesquisada indicaram que os valores organizacionais têm um
impacto mais significativo no componente de realização no trabalho do BEO, apontando que
o bem-estar ocupacional do indivíduo é maior quando percebe que a organização valoriza a
Autonomia e menor quando percebe a valorização de Prestígio e Conformidade.
O impacto dos valores organizacionais no bem-estar ocupacional, moderado pelos valores
pessoais apresentou índices altamente significativos (p<0.01) para os valores organizacionais
de Tradição, Domínio e Realização, tendo alcançado coeficiente de significância geral de
0.02, o que corresponde a existência de uma relação de moderação significativa (p<0.05),
considerando um efeito médio na amostra.
Para os valores de Domínio e Realização observou-se que o bem-estar ocupacional do
indivíduo é maior quando percebe que a organização prioriza esses valores e quando
pessoalmente também prioriza os valores de Poder e Realização. para o valor de Tradição,
observou-se que o bem-estar ocupacional do indivíduo é maior quando percebe que a
organização prioriza esse valor, mesmo quando Tradição não tem alta prioridade em sua
hierarquia de valores pessoais, remetendo à hipótese alternativa anteriormente discutida de
existência de práticas organizacionais com maior e menor aceitação dos trabalhadores,
independente da organização em que se trabalha.
A análise da hierarquia de valores organizacionais percebidos pelos empregados comparada à
sua hierarquia pessoal apontou que a similaridade entre as duas hierarquias aumenta o bem-
estar ocupacional, ao passo que a divergência diminui, respondendo ao problema desta
pesquisa. Essa relação, no entanto, não foi encontrada para os valores organizacionais de
Autonomia e Preocupação com a Coletividade na amostra pesquisada, sendo necessário o
desenvolvimento de novos estudos para melhor compreensão dessa relação.
102
Os resultados desta pesquisa contribuem significativamente para os estudos em valores
organizacionais, conforme proposto por Oliveira e Tamayo (2004), permitindo a verificação
empírica e resultados próximos ao pressuposto de compatibilidade e conflito entre os valores
organizacionais, considerando a estrutura bidimensional dos valores pessoais.
Esta pesquisa também contribuiu para a melhor compreensão do bem-estar ocupacional como
um conceito multidimensional, que além de possuir componentes afetivos, relaciona-se com o
progresso na realização de metas pessoais.
Os resultados da relação de moderação dos valores pessoais também acrescentam
contribuições aos estudos já existentes, além de proporcionar subsídios às organizações para a
melhoria na gestão de pessoas e obtenção dos resultados esperados a partir do relacionamento
com os empregados, considerados um dos importantes stakeholders da organização atual.
Esta pesquisa possui, no entanto, algumas limitações que devem ser consideradas no
desenvolvimento de estudos futuros, como a extensão e layout do questionário, escolaridade
dos sujeitos e tamanho da amostra.
A extensão do questionário, que reuniu três instrumentos (IPVO, QPV e EBEO) totalizando
118 itens para resposta, foi um dos itens salientados por alguns sujeitos e que pode ter
influenciado na quantidade de dados omissos e outliers.
A baixa escolaridade da amostra também se apresentou como um limitador, principalmente no
entendimento dos itens de valores organizacionais, cuja aplicação da escala apresentou
dificuldade de compreensão para sujeitos com menor escolaridade.
O número de dados omissos nos componentes de afeto do bem-estar ocupacional foi
identificado em função do layout do questionário, cujas colunas de alternativas ficaram pouco
espaçadas, fazendo com que o sujeito marcasse mais de uma alternativa para cada afeto,
invalidando a resposta e, talvez, contribuindo para o fato de não terem sido encontradas
relações entre valores e esses fatores.
103
Por fim, o tamanho da amostra também deve ser alvo de atenção para futuras pesquisas,
considerando que em caso de um efeito moderador pequeno dos valores pessoais, uma
amostra pequena pode não conseguir representar as relações satisfatoriamente.
É importante salientar, no entanto, que os resultados encontrados correspondem à amostra da
organização pesquisada, sendo necessário expandir os estudos na área para melhor
aprofundamento da relação entre valores organizacionais e bem-estar ocupacional e
reformulação dos instrumentos de coleta em função das limitações desta pesquisa.
104
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108
ANEXO
109
INSTRUÇÕES:
Descrevemos resumidamente abaixo algumas pessoas. Leia cada descrição e avalie o quanto cada uma dessas
pessoas é semelhante a você. Marque com um “X” a opção que indica o quanto a pessoa descrita se parece com você.
Quanto esta pessoa se parece com você?
Se
parece
muito
comigo
Se
parece
comigo
Se
parece
mais
ou
menos
comigo
Se
parece
pouco
comigo
Não se
parece
comigo
Não se
parece
nada
comigo
1. Pensar em novas idéias e ser criativa é importante para ela. Ela
gosta de fazer coisas de maneira própria e original.
2. Ser rica é importante para ela. Ela quer ter muito dinheiro e
possuir coisas caras.
3. Ela acredita que é importante que todas as pessoas do mundo
sejam tratadas com igualdade. Ela acredita que todos deveriam ter
oportunidades iguais na vida.
4. É muito importante para ela demonstrar suas habilidades. Ela
quer que as pessoas admirem o que ela faz.
5. É importante para ela viver em um ambiente seguro. Ela evita
qualquer coisa que possa colocar sua segurança em perigo.
6. Ela acha que é importante fazer várias coisas diferentes na vida.
Ela sempre procura novas coisas para experimentar.
7. Ela acredita que as pessoas deveriam fazer o que lhes é
ordenado. Ela acredita que as pessoas deveriam sempre seguir as
regras, mesmo quando ninguém está observando.
8. É importante para ela ouvir as pessoas que são diferentes dela.
Mesmo quando não concorda com elas, ainda quer entendê-las.
9. Ela acha que é importante não querer mais do que se tem. Ela
acredita que as pessoas deveriam estar satisfeitas com o que têm.
10. Ela procura todas as oportunidades para se divertir. É
importante para ela fazer coisas que lhe dão prazer.
11. É importante para ela tomar suas próprias decisões sobre o
que faz. Ela gosta de ser livre para planejar e escolher suas
atividades.
12. É muito importante para ela ajudar as pessoas ao seu redor.
Ela quer cuidar do bem-estar delas.
13. Ser muito bem sucedida é importante para ela. Ela gosta de
impressionar as demais pessoas.
14. A segurança de seu país é muito importante para ela. Ela acha
que o governo deve estar atento a ameaças de origem interna ou
externa.
15. Ela gosta de se arriscar. Ela está sempre procurando
aventuras.
16. É importante para ela se comportar sempre corretamente. Ela
quer evitar fazer qualquer coisa que as pessoas possam achar
errado.
17. É importante para ela estar no comando e dizer aos demais o
que fazer. Ela quer que as pessoas façam o que manda.
18. É importante para ela ser fiel a seus amigos. Ela quer se
dedicar às pessoas próximas de si.
19. Ela acredita firmemente que as pessoas deveriam preservar a
natureza. Cuidar do meio ambiente é importante para ela.
20. Ser religiosa é importante para ela. Ela se esforça para seguir
suas crenças religiosas.
ANEXO A: Questionário de pesquisa
Anexo A: Questionário de pesquisa – pág. 1
110
Quanto esta pessoa se parece com você?
Se
parece
muito
comigo
Se
parece
comigo
Se
parece
mais
ou
menos
comigo
Se
parece
pouco
comigo
Não se
parece
comigo
Não se
parece
nada
comigo
21. É importante para ela que as coisas estejam organizadas e
limpas. Ela realmente não gosta que as coisas estejam
bagunçadas.
22. Ela acha que é importante demonstrar interesse pelas coisas.
Ela gosta de ser curiosa e tentar entender todos os tipos de coisas.
23. Ela acredita que todas as pessoas do mundo deveriam viver
em harmonia. Promover a paz entre todos os grupos no mundo é
importante para ela.
24. Ela acha que é importante ser ambiciosa. Ela quer demonstrar
o quanto é capaz.
25. Ela acha que é melhor fazer as coisas de maneira tradicional.
É importante para ela manter os costumes que aprendeu.
26. Aproveitar os prazeres da vida é importante para ela. Ela gosta
de se mimar.
27. É importante para ela entender às necessidades dos outros. Ela
tenta apoiar aqueles que conhece.
28. Ela acredita que deve sempre respeitar seus pais e os mais
velhos. É importante para ela ser obediente.
29. Ela quer que todos sejam tratados de maneira justa, mesmo
aqueles que não conhece. É importante para ela proteger os mais
fracos na sociedade.
30. Ela gosta de surpresas. É importante para ela ter uma vida
emocionante.
31. Ela se esforça para não ficar doente. Estar saudável é muito
importante para ela.
32. Progredir na vida é importante para ela. Ela se empenha em
fazer melhor que os outros.
33. Perdoar as pessoas que lhe fizeram mal é importante para ela.
Ela tenta ver o que há de bom nelas e não ter rancor.
34. É importante para ela ser independente. Ela gosta de contar
consigo mesmo.
35. Contar com um governo estável é importante para ela. Ela se
preocupa com a preservação da ordem social.
36. É importante para ela ser sempre educada com os outros. Ela tenta
nunca incomodar ou irritar os outros.
37. Ela realmente quer aproveitar a vida. Divertir-se é muito importante
para ela.
38. É importante para ela ser humilde e modesta. Ela tenta não chamar
atenção para si.
39. Ela sempre quer ser aquela a tomar decisões. Ela gosta de liderar.
40. É importante para ela se adaptar e se ajustar à natureza. Ela acredita
que as pessoas não deveriam modificar a natureza.
Anexo A: Questionário de pesquisa – pág. 2
111
Para responder a esta parte do questionário, marque com um X a alternativa que melhor expressa sua
resposta em relação a frase abaixo:
Nos últimos seis meses, meu trabalho tem me deixado...
Nem um pouco Um pouco Moderadamente
Bastante Extremamente
Alegre
Preocupado
Disposto
Contente
Irritado
Deprimido
Entediado
Animado
Chateado
Impaciente
Entusiasmado
Ansioso
Feliz
Frustrado
Incomodado
Nervoso
Empolgado
Tenso
Orgulhoso
Com raiva
Tranqüilo
Agora você deve indicar o quanto as afirmações abaixo representam suas opiniões sobre o seu trabalho.
Neste trabalho...
Discordo
Totalmente
Discordo Concordo em
parte
Concordo Concordo
Totalmente
Realizo o meu potencial
Desenvolvo habilidades que
considero importantes
Realizo atividades que expressam
minhas capacidades
Consigo recompensas importantes
para mim
Supero desafios
Atinjo resultados que valorizo
Avanço nas metas que estabeleci para
minha vida
Faço o que realmente gosto de fazer
Expresso o que há de melhor em mim
Anexo A: Questionário de pesquisa – pág. 3
112
Agora pense na empresa em que você trabalha. Descrevemos, a seguir, algumas empresas. Leia cada
descrição e avalie o quanto cada uma dessas empresas é semelhante àquela na qual você trabalha. Assinale
com um “X” a opção que indica o quanto cada empresa descrita se parece com a sua.
Quanto esta organização aqui descrita se parece com aquela na qual
você trabalha?
É muito
parecida
com minha
organização
É parecida
com minha
organização
É mais ou
menos
parecida
com minha
organização
É pouco
parecida
com minha
organização
Não se
parece com
minha
organização
Não se
parece em
nada com
minha
organização
1. Esta organização estimula os
empregados a enfrentarem desafios. Para
ela, os desafios tornam o trabalho do
empregado mais interessante.
2. A sinceridade entre as pessoas é
encorajada por esta organização. Ser
verdadeiro com os outros é importante para ela.
3. Para esta organização, todas as pessoas
devem ser tratadas com igualdade. Na
visão dela, as pessoas merecem
oportunidades iguais.
4. Esta organização valoriza a
competência. Para ela, é importante que o
empregado demonstre as habilidades e os
conhecimentos que possui.
5. É muito importante, para esta
organização, ajudar seus empregados. Ela
deseja cuidar do bem-estar deles.
6. A tradição é uma marca desta
organização. Ela tem práticas que dão
continuidade aos seus costumes.
7. Esta organização influencia outras
organizações. Ela tem muito prestígio.
8. Esta organização acha que é importante
ser competente. Ela quer demonstrar o
quanto é capaz.
9. Esta organização oferece oportunidades
de diversão aos empregados. Ela acha
importante que eles tenham prazer no
trabalho.
10. É importante para esta organização ser
rica. Ela quer ter lucros nos negócios.
11. Para esta organização, é importante que
os empregados se comportem de forma
educada no ambiente de trabalho. Ela
acredita que as boas maneiras devem ser
praticadas.
12. Esta organização preserva os costumes
antigos. Ela respeita a tradição.
13. Esta organização incentiva o sucesso
profissional dos empregados. Ela os
estimula a trabalharem de maneira
competente.
Anexo A: Questionário de pesquisa – pág. 4
113
Quanto esta organização aqui descrita se parece com aquela na qual
você trabalha?
É muito
parecida
com minha
organização
É parecida
com minha
organização
É mais ou
menos
parecida
com minha
organização
É pouco
parecida
com minha
organização
Não se
parece com
minha
organização
Não se
parece em
nada com
minha
organização
14. Nesta organização, os empregados são
premiados. A satisfação deles com a
organização é uma meta importante.
15. Esta organização acredita no valor da
honestidade. Ela honra seus compromissos
com pessoas e organizações com as quais
se relaciona.
16. Para esta organização, é importante que
todas as pessoas sejam tratadas de maneira
justa. É importante, para ela, respeitar os
direitos dos outros.
17. Esta organização acha importante ter
modelos de comportamento definidos. Para
ela, os empregados devem ter um jeito
correto de se comportar no trabalho.
18. Esta organização busca o domínio do
mercado. Ela quer eliminar a concorrência.
19. Esta organização evita mudanças. Ela
prefere manter sua forma de trabalhar.
20. Nesta organização, é importante que os
empregados conheçam bem o trabalho que
fazem. Ela reconhece os empregados
competentes.
21. Esta organização acha importante ser
fiel a seus empregados e clientes. Ela
cumpre seus compromissos com eles.
22. Para esta organização, é importante
manter clubes destinados ao lazer dos
empregados. Ela considera que a diversão
é uma parte importante da vida do
empregado.
23. Esta organização valoriza empregados
curiosos. Ela gosta de empregados que
procuram se informar a respeito do trabalho.
24. Esta organização gosta de empregados
que mostram suas habilidades. Ela procura
desenvolver a competência desses
empregados.
25. Esta organização tem prestígio na
sociedade. Ela acha importante ser admirada
por todos.
26. Esta organização procura se aperfeiçoar
constantemente. Para ela, o aperfeiçoamento
é uma forma de melhorar a qualidade de seus
produtos e serviços.
27. Esta organização acredita que as regras
são importantes. Para ela, os empregados
deveriam obedecê-las.
Anexo A: Questionário de pesquisa – pág. 5
114
Quanto esta organização aqui descrita se parece com aquela na qual
você trabalha?
É muito
parecida
com minha
organização
É parecida
com minha
organização
É mais ou
menos
parecida
com minha
organização
É pouco
parecida
com minha
organização
Não se
parece com
minha
organização
Não se
parece em
nada com
minha
organização
28. O respeito à hierarquia faz parte das
tradições desta organização. Para ela, a
hierarquia deve ser respeitada pelos
empregados.
29. Esta organização valoriza empregados
que buscam realização no trabalho. Ela
reconhece quando um empregado tem
objetivos profissionais.
30. Para esta organização, é importante ser
criativa. Ela gosta de ser original.
31. Esta organização procura manter
práticas consagradas. Ela acredita que é
importante trabalhar sempre do mesmo
modo.
32. Esta organização preocupa-se com a
qualidade de vida dos empregados. Ela
realiza projetos sociais que contribuem
para o bem-estar deles.
33. Esta organização tem prestígio. Ela
oferece produtos e serviços que são
respeitados pelos clientes.
34. Esta organização acredita que a
cortesia é importante. Para ela, as boas
maneiras fazem parte do relacionamento
entre os empregados e as organizações.
35. Esta organização tem influência na
sociedade. Ela acha importante ser
respeitada por todos.
36. Para esta organização, planejar metas é
essencial. Ela considera a realização das
metas uma prova de sua competência.
37. Esta organização acha importante ser
competitiva. Ela quer ganhar novos
mercados.
38. Esta organização acredita que a pessoa
deve ser honesta em qualquer situação.
Dizer a verdade faz parte dos princípios
desta organização.
39. O prazer para esta organização é obter
lucros. Ela sente-se satisfeita quando os
rendimentos superam as despesas.
40. Esta organização deseja que o
empregado tenha uma vida profissional
variada. Ela valoriza o empregado que
tem experiências profissionais diferentes.
41. Nesta organização, as regras de
convivência são consideradas importantes.
Para ela, os empregados, clientes e outras
organizações deveriam respeitá-las.
Anexo A: Questionário de pesquisa – pág. 6
115
Quanto esta organização aqui descrita se parece com aquela na qual
você trabalha?
É muito
parecida
com minha
organização
É parecida
com minha
organização
É mais ou
menos
parecida
com minha
organização
É pouco
parecida
com minha
organização
Não se
parece com
minha
organização
Não se
parece em
nada com
minha
organização
42. Esta organização considera a segurança
dos negócios muito importante. Ela está
atenta às ameaças do mercado.
43. Esta organização acredita que os
empregados devem aceitar o trabalho que
têm a fazer. Para ela, os empregados
devem cumprir suas obrigações.
44. Esta organização considera a lealdade
importante. Ela é leal às pessoas e
organizações próximas dela.
45. Esta organização estimula, nos clientes,
o desejo de adquirir novidades. Ela
encoraja os clientes a provarem produtos e
serviços novos.
46. Esta organização incentiva o
empregado a ser criativo. Ela estimula a
criação de produtos e serviços originais.
47. O comportamento do empregado, nesta
organização, deve mostrar respeito aos
costumes. Para ela, a tradição deve ser
preservada.
48. Esta organização propõe atividades que
dão prazer ao empregado. Na visão dela, é
importante o empregado sentir-se satisfeito
consigo mesmo.
Dados pessoais:
Idade: _______ anos
Sexo: ( ) feminino ( ) masculino
Estado civil: ( ) solteiro ( ) casado ( ) separado/desquitado ( ) viúvo ( ) “mora junto”
Escolaridade:
( ) ensino fundamental incompleto (1ª a 8ª série) ( ) ensino fundamental completo (1ª a 8ª série)
( ) ensino médio incompleto (2º grau) ( ) ensino médio completo (2º grau)
( ) superior incompleto ( ) superior completo
( ) pós-graduação
Tempo na empresa: ______ anos _____ meses
Local de trabalho: ( ) São Paulo ( ) Interior
Anexo A: Questionário de pesquisa – pág. 7
116
APÊNDICE
117
São Paulo, abril de 2007
Prezado colaborador,
Esta é uma pesquisa do curso de mestrado da Universidade Mackenzie em São Paulo, cujo
objetivo é avaliar o bem-estar dos funcionários na empresa.
Gentilmente o (nome da empresa pesquisada) nos concedeu autorização para realizar esta
pesquisa em suas unidades. Dessa forma, solicito a sua colaboração para responder este
questionário com o máximo de sinceridade. Sua colaboração é voluntária e muito importante
para o sucesso deste trabalho.
Garanto que a divulgação dos resultados da pesquisa não identificará os participantes e que,
em hipótese alguma, os dados sobre os participantes serão utilizados para outros fins que
não o da pesquisa acadêmica.
Por favor, responda conforme as instruções e não deixe nenhuma questão em branco.
Qualquer dúvida entre em contato com Letícia Seicenti nos telefones (11) 2195-9119 (11)
8436-3337 ou por e-mail: [email protected].
Agradeço desde já a sua colaboração!!!
Atenciosamente,
Letícia Seicenti Silva
Pesquisadora Univ. Mackenzie
APÊNDICE A: Carta explicativa sobre o questionário de pesquisa
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