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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA
CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM MEDICINA: CIRURGIA
MESTRADO
CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS DA
GENITÁLIA EXTERNA NO RECÉM-NASCIDO
Marília Hojaij Carvalho Ronchetti
Orientador: Prof. Dr. Walter José Koff
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-
Graduação em Medicina: Cirurgia para obtenção
do título de Mestre em Medicina, área de
concentração Urologia.
Porto Alegre
2000
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R769c Ronchetti, Marília Hojaij Carvalho
Características anatômicas da genitália externa no recém-
nascido / Marília Hojaij Carvalho Ronchetti ; orient. Walter José
Koff. – 2007.
92f. : il. color.
Dissertação (mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Ciências
Médicas: Cirurgia. Porto Alegre, BR-RS, 2005.
1. Genitália feminina 2. Genitália masculina 3. Pênis 4. Clitóris
5. Anormalidades urogenitais I. Koff, Walter José II. Título.
NLM: WJ 101
Catalogação Biblioteca FAMED/HCPA
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Ao meu esposo, Daniel, pela compreensão,
carinho e pelas horas não compartilhadas.
À minha mãe, sinônimo de força e coragem.
Ao meu pai, que mesmo à distância foi sempre
um apoio.
Aos meus irmãos, Mônica, Maristela, Rafael e
Marina, pela amizade.
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Professor Doutor Walter José Koff pelo incentivo e pelo apoio
que sempre me prestou;
Aos Diretores Clínicos e às Comissões de Ética dos hospitais por me abrirem as
portas para desenvolver essa pesquisa;
Aos médicos pediatras de Caxias do Sul que me autorizaram o exame clínico em
seus pacientes;
Às auxiliares de enfermagem e enfermeiras dos hospitais, pela receptividade e
amizade;
Aos pacientes e às mães, pela colaboração;
Ao Dr. Mário Wagner, pela elaboração da análise estatística;
À professora Maria Helena Bortolon Rech, pelo seu trabalho na correção e
estruturação do texto;
Ao Curso de Pós Graduação em Medicina: Cirurgia, pela oportunidade;
A todos que, direta ou indiretamente, me apoiaram e colaboraram para que este
estudo se concretizasse.
SUMÁRIO
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
RESUMO
ABSTRACT
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 1
1.1 Genitália Externa Masculina ................................................................ 3
1.2 Genitália Externa Feminina ................................................................. 7
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................. 10
3. OBJETIVOS ............................................................................................ 23
4. PACIENTES E MÉTODOS .................................................................... 24
4.1 Delineamento ..................................................................................... 24
4.2 Amostra ............................................................................................. 25
4.3 Variáveis ............................................................................................ 26
4.4 Exame Físico ...................................................................................... 29
4.5 Análise Estatística .............................................................................. 31
4.6 Aspectos Éticos .................................................................................. 32
5. RESULTADOS ........................................................................................ 33
5.1 Variáveis Maternas ............................................................................ 33
5.2 Variáveis do RN ................................................................................ 37
5.3 Genitália Externa Masculina ............................................................. 39
5.4 Genitália Externa Feminina ............................................................... 44
6. DISCUSSÃO ........................................................................................... 46
6.1 Variáveis Maternas ............................................................................ 46
6.2 Variáveis do RN ................................................................................ 51
6.3 Genitália Externa Masculina .............................................................52
6.4 Genitália Externa Feminina .............................................................. 60
7. CONCLUSÕES ....................................................................................... 64
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 65
ANEXOS .................................................................................................... 71
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
A: abortamento
AC: distância do ânus ao clitóris
AF/AC: índice anogenital
AF: distância do ânus a fúrcula
CHARGE: síndrome que consiste em coloboma, doença cardíaca, atresia de coana,
retardo de crescimento e desenvolvimento, hipoplasia genital e anomalias de orelha.
cm: centímetro
CMV: citomegalovírus
Cols.: colaboradores
DM: diabetes melitus
DMG: diabetes mellitus gestacional
DP: desvio padrão
G: gestação
g: grama
HA: hipertensão arterial
HAS: hipertensão arterial sistêmica
HCG: hormônio gonadotrófico
HC-PA: Hospital de Clínicas de Porto Alegre
HPV: papiloma vírus
IC: intervalo de confiança
IG: idade gestacional
ITU: infecção do trato urinário
LH: hormônio luteinizante
MFAR: malformação anorretal
OMS: organização mundial da saúde
RN: recém nascido
RNs: recém nascidos
SUS: sistema único de saúde
TGU: trato genitourinário
UTI: unidade de tratamento intensivo
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 - Distribuição das mães por idade ............................................. 39
Tabela 02 - Distribuição da idade gestacional ............................................ 39
Tabela 03 - Relação número de gestações/hospital .................................... 40
Tabela 04 - Relação número de abortamentos/hospital .............................. 41
Tabela 05 - Doenças maternas ................................................................... 42
Tabela 06 - Tipos de parto e sua incidência ............................................... 43
Tabela 07 - Distribuição por tipo de parto e por hospital .......................... 43
Tabela 08 - Divisão por sexo nos hospitais que participaram do estudo..... 45
Tabela 09 - Distribuição do peso ao nascimento ....................................... 46
Tabela 10 - Tamanho do pênis ................................................................... 47
Tabela 11 - Direção do eixo peniano em relação a linha média ................ 47
Tabela 12 - Características do prepúcio .................................................... 49
Tabela 13 - Localização dos testículos ...................................................... 51
Tabela 14 - Distribuição do índice AF/AC ................................................ 53
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Variáveis da ficha de avaliação ............................................... 29
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Pontos de referência das medidas da genitália feminina ............. 35
Figura 2 – Medida do pênis sob tração ........................................................ 35
Figura 3 – Desvio do meato uretral em graus e sua incidência em relação aos
meatos visíveis ............................................................................................ 48
Figura 4 – Características da rafe mediana ................................................. 50
RESUMO
A determinação do sexo de uma criança, ao nascimento, é feita após a
inspeção da genitália externa, que vai definir se é uma menina, um menino ou
indefinido. O conhecimento da anatomia é que nos permite entender a morfologia e
as variações anatômicas.
De maio de 1998 a novembro de 1999, foram estudados 1704 recém nascidos
de diversos hospitais da cidade Caxias do Sul- RS. Os dados foram coletados através
de uma ficha de avaliação e todos os exames foram feitos por um único observador.
Nessa ficha de avaliação foram registrados nome da mãe, hospital, idade materna,
idade gestacional, doenças maternas, antecedentes obstétricos, tipo de parto, data de
nascimento, sexo, peso, altura, índice de Apgar e Capurro. Para meninos, foi
avaliado o pênis, eixo peniano, tipo e ângulo do meato, tipo de prepúcio, tipo de
rafe, escroto e testículos. O pênis foi medido sob tração da raiz do púbis até a ponta
determinada por palpação pois todas as crianças foram medidas sem serem
circuncidadas. Para meninas, foi avaliado medidas do ânus até fúrcula e até clitóris e
o aspecto de pequenos lábios, clitóris e hímen. As medidas foram realizadas com a
criança com os joelhos fletidos e as pernas abertas. A medida ânus-fúrcula foi do
centro do ânus até comissura posterior da fúrcula vaginal e feita com uma régua
rígida. A medida ânus-clitóris era realizada logo após a medida anterior com a
criança na mesma posição e medindo do centro do anus até a base do clitóris, onde a
mucosa termina.
Todos os RNs foram examinados nos três primeiros dias de vida. Foram 855
meninos e 849 meninas com idade gestacional média de 38,9 + 1,4 semanas, o peso
médio foi 3.151 + 0.446g e comprimento médio de 48,43 + 2,08cm.
O comprimento médio do pênis foi 3,36 + 0,44cm (IC 95%: 3,33 a 3,39cm).
O eixo em relação ao corpo foi central em 69,9%, desviado para a direita em 11,7%
e para a esquerda em 18,4%. O meato foi visível em 25,6% estando desviado no
sentido anti-horário em 11,3%. Apenas 4,1% desses eram hipospádicos. Quando a
glande era parcialmente visível o prepúcio era considerado curto e isso ocorreu em
12,2% dos meninos examinados. A rafe era seguida da raiz do pênis até sua ponta e
apresentou diversas formas e desvios, em 20,7% ela apresentava desvio terminal. Os
testículos não estavam na bolsa em 1,8% sendo em apenas dois casos ausentes
bilateralmente.
Nas meninas a inspeção da genitália mostrou hipertrofia do clitóris em apenas
um caso, não foi encontrado nenhum caso de sinéquia de pequenos lábios e duas
meninas apresentavam hímen imperfurado e foram submetidas a cirurgia.
A medida AF teve média de 1,63 + 0,25cm e AC teve média de 3,66 + 0,31cm.
AF/AC foi 0,445 + 0,055.
Com base nos resultados podemos dizer que pênis menor que 2,26cm deverão
ser considerados micropênis e esse poderá ser indicativo de uma deficiência de
testosterona primária ou a uma insuficiência testicular secundária a uma alteração do
eixo hipotálamo-hipofisário. Também o índice AF/AC, quando maior que 0,53,
poderá ser indicativo de uma fusão labioescrotal e ser o único sinal de virilização na
menina.
Concluímos que esse estudo forneceu dados anatômicos para que diante de um
achado anormal uma investigação minuciosa seja realizada para diagnóstico e
tratamento adequados.
ABSTRACT
As soon as a baby is born, all in attendance focus on the external genitalia of
the infant to make an appropriate gender assignment. In this manner, early diagnosis
of external genitalia malformation is necessary, for this the anatomy and the normal
variation need to be known. With a better understanding of what is normal, a greater
number of genital abnormalities can be diagnosed earlier, avoiding late or erroneous
diagnosis. Unfortunately, a detailed description of the normal characteristics of the
newborn external genitalia, along with its normal variations is lacking in the
literature. The purpose of the present study is to present the results of an
anatomical evaluation of the external genitalia in a series of babies from both sexes.
From May 5, 1998 to November 5, 1999, A total of 1704 newborns (855 males
and 849 females) were examined in the first 72 hours of life, to determine the
normal anatomic features of the external genitalia. All infants presented no additional
anomalies or congenital defects. Recorded variables included hospital, mother´s age,
date of birth, type of delivery, gestacional age, length and weight of the infant. All
the measurements of this study were made by the same observer and to estimate the
reability of the measurements, at least 20 babies of each gender were measured twice
and the differences between the paired measurements were not significant ( P> 0,05).
The mean and SD for gestacional age was 38,9 + 1,4 weeks (range from 33 to
42 weeks). The weight was 3.151 + 0.446g (range from 1.830 a 4.815g) and the
length 48,4 + 2,1cm (range from 40 to 56cm).
Penile lengh was determined from the pubis to the tip of the glans penis by
placing the end of a ruler against the pubic ramus and applying traction along the
length of the phallus to the point of increased resistance. The location of the tip of
the glans penis was determined by palpation, as all infants were measured without
circumcision. The average size of the penis was 3,36 + 0,44cm (range from 1,8 to
5,1cm). The spontaneous direction of penile shaft was in the midline in 69,9%,
deviated to the left in 18,4% and deviated to the right side in 11,7%. The prepuce
was present in all newborns and when part of the gland was visible the prepuce was
defined as short (12,2%). The meatus was visible in 25,6% and its direction,
estimated in degrees, was in the midline in 88,7%, 45° counterclockwise in 10,8%
and 90° in 0,5%. A hypospadic meatus was found in 4,1% and were distal in 88,9%.
The median raphe was deviated from the midline in 20,7%. The testis were non
palpable in only 1,8%, 17 newborns had unilateral undescended testis, eight on the
right and nine on the left. Only two newborns had bilateral undescended testis. In
19,6% of the boys we found hydrocele.
In girls, the distance from the center of the anus to the the base of the clitoris
and the distance from the center of the anus to the fourchette were measured with the
baby´s hips and knees flexed and open, using an flexed ruler. The AF measure was
1,63 + 0,25cm and the AC measure was 3,67 + 0,31cm. The calculated anogenital
ratio (AF/AC) was 0,45 + 0,05. The labia majora and minor were inspected and no
additional abnormalities were found. Only one female newborn had clitoral
hypertrophy. Two cases of imperfurate hymen were found and in those babies, an
incision of the hymen was done. One baby had septaded hymen.
There wasn´t a strong positive linear correlation between the measures (penis
lenght, AF, AC, AF/AC) and gestacional age and body size (r=0,05 to 0,33).
In conclusion, the present study provides objective anatomical data regarding
normal and abnormal development of the external genitalia in both male and female
babies. Since the clinical finding of an abnormal external genitalia in a newborn may
require additional diagnostic evaluation, the normal anatomical features must be
available to the phisician.
1.INTRODUÇÃO
Assim que uma criança nasce, todos estão interessados na sua genitália externa
com o intuito de fazer o reconhecimento do gênero. Dessa maneira, alterações
grosseiras são logo identificadas, mas alterações menos óbvias podem passar
despercebidas.
A inspeção da genitália externa do recém-nascido vai identificar o bebê como
menina, menino, ou indefinido que chamamos de genitália ambígua (Reynolds,
1998).
A literatura sobre a anatomia da genitália no recém-nascido é escassa,
encontrando-se apenas relatos de parte dela como anomalias do pênis ou
características do hímen. Assim, fazendo uma revisão bibliográfica tentou-se unir
todas as características da genitália externa e desenvolver um estudo com o objetivo
de analisá-las de forma conjunta.
O conhecimento da anatomia é o ponto de partida para entender a morfologia e
as variações anatômicas. As malformações da genitália externa não são raras, o
mesmo acontecendo com as variações anatômicas, não necessariamente anormais.
No entanto, existem poucas descrições das características normais da genitália de
recém-nascidos, da incidência de malformações e variantes anatômicas e
praticamente nada sobre a classificação das últimas (Koff e cols., 1992). Com a
anatomia definida, é possível o acompanhamento de mudanças do desenvolvimento
(Berenson e cols., 1991).
Nem sempre uma genitália aparentemente normal é certeza de uma
diferenciação sexual normal. A diferenciação sexual é um fenômeno complexo e
pode ser resumida como uma seqüência de eventos embrionários, genéticos e
hormonais que ocorrem especialmente nas primeiras 15 semanas de gestação. Nem
todas as anomalias da diferenciação sexual apresentam ambigüidade genital e, por
isso, nem sempre são diagnosticadas precocemente. A genitália ambígua é
considerada como urgência pediátrica, pois não permite a determinação do sexo
quando a criança nasce. Sua investigação diagnóstica deve ser extensa e bastante
criteriosa (Damiani & Setian, 1998).
Avanços na imagem pré-natal e técnicas de coleta de amostras fetais têm
permitido o diagnóstico de várias malformações fetais, antes diagnosticadas após
o nascimento (Housley & Harrison, 1998).
Uma parte importante na avaliação do trato geniturinário do feto inclui a
visualização da genitália e, quando vista, é usada para determinar o sexo durante a
gestação. A genitália pode ser visualizada em 80% dos casos ao redor da vigésima
semana da gestação. Os achados ultra-sonográficos normais incluem a visualização
dos lábios no feto feminino e escroto e falo no feto masculino. Anormalidades da
genitália podem ser achados isolados ou associados a malformações complexas
(Benacerraf e cols., 1989; Mandell e cols., 1995; Bunduki, 1998).
1. - Genitália externa masculina
Embora as anomalias penianas não sejam raras, existem poucas descrições das
características normais do pênis e suas variações anatômicas em recém-nascidos.
Com um melhor conhecimento do normal, mais anomalias podem ser diagnosticadas
ao nascimento, resultando em tratamento adequado (Ben-Ari e cols., 1985).
As informações a respeito do tamanho peniano em recém nascidos são
escassas. Foi visto que a medida do pênis flácido não é fiel e não serve para estudos.
Schonfeld & Beebe (1942) demonstraram que as medidas penianas devem ser
feitas com pênis sob tração e medido da sínfise até a ponta, excluindo o prepúcio.
Essa medida pode se tornar difícil em crianças com pênis com corda ventral, com
gordura pré-púbica proeminente ou transposição do pênis.
Crianças com pênis pequeno podem ter micropênis ou pênis embutido como
diagnóstico diferencial e, por isso, uma medida do comprimento peniano deve ser
bem feita e comparada com os resultados referentes à idade e desenvolvimento
sexual já estabelecidos (Smith e cols., 1995).
Um pênis pequeno pode ser indicativo de uma deficiência de testoterona fetal,
secundária a uma deficiência do eixo hipotálamo-hipofisário, ou primária a uma
insuficiência testicular. Durante o primeiro trimestre, a gonadotrofina coriônica
placentária aumenta seu níveis e estimula as células de Leydig a iniciarem a
produção de testosterona, o que resulta na masculinização da genitália externa.
Sendo assim, uma disfunção testicular pode causar defeitos na masculinização e/ou
micropênis, dependendo do período e do grau da insuficiência. Uma disfunção
hipotalâmica ou hipofisária não interferem na diferenciação, mas podem levar a uma
diminuição no crescimento peniano (Feldman & Smith, 1975).
Micropênis é um pênis perfeitamente formado, mas anormalmente pequeno.
Usualmente é um pênis que, medido sob tração, tem menos que 2,5 desvio padrão da
média. Este é um dado de grande preocupação familiar e, certamente, deve ser
investigado (Aaronson, 1994).
O pênis embutido é uma condição incomum, devido ou à fixação pobre da
pele na base do pênis, ou à obesidade excessiva. É uma deformidade congênita que,
muitas vezes, não é reconhecida no período neonatal. Sua incidência é desconhecida
e vários graus de severidade. Pode causar balanites, dificuldade de higiene,
dificuldade de segurar o pênis durante a micção e embaraço perante os colegas (Alter
e cols., 1994; Casale e cols., 1999). Se o pênis for pequeno, qualquer cirurgia deve
ser postergada até que se esclareça o diagnóstico (Alter e cols., 1994; Van Howe,
1997).
Outra malformação freqüente, resultado do desenvolvimento embriológico
anormal ou incompleto do pênis, é a hipospádia, caracterizada pela abertura do
meato uretral em diferentes níveis da face ventral do pênis, ausência de prepúcio
ventral e excesso dorsal, graus variáveis de corda ventral causando curvatura peniana
e glande malformada. É uma anomalia que acomete principalmente o sexo
masculino. Na menina, a ectopia do meato uretral é bem mais rara. Não existe fator
etiológico único, e o mais provável é que fatores genéticos e embriológicos motivem
o seu aparecimento (Carnevale,1986; Silveira, 1998).
Torção peniana é caracterizada pela rotação do pênis em seu eixo longitudinal,
a glande e o pênis se apresentam rodados no sentido horário ou anti-horário,
desviando a rafe para o prepúcio dorsal. Se possível, expõe-se a glande e se observa
a rotação do meato que pode variar até 270 graus (Carnevale, 1986).
controvérsias em relação aos elementos responsáveis pela rotação peniana, a
literatura não esclarece se a torção existe pela inserção anômala da pele, da dartos ou
da fáscia de Buck ou ainda se devida a uma desproporção do corpo cavernoso
(Redman, 1983).
O prepúcio cresce no dorso do pênis e vai circundá-lo para fundir
ventralmente à glande formando o freio. na hipospádia, essa fusão não ocorre. A
maioria dos RNs apresentam fimose fisiológica ou incapacidade de retrair o
prepúcio. Durante os primeiros 3 a 4 anos de vida, há um acúmulo de restos epiteliais
e ereções que eventualmente vão separar o prepúcio da glande permitindo a retração
(Kayaba e cols., 1996).
Quanto ao escroto do RN, apresenta-se flácido com coloração escura e rafe
bem marcada, a pele é enrugada e pode ter um pouco de lanugo (Schonfeld, 1943).
Anomalias congênitas do escroto são raras, podendo-se citar 4 tipos: transposição
penoescrotal, escroto bífido, escroto ectópico e escroto acessório. O escroto é
raramente envolvido em malformações isoladas, geralmente associa malformações
complexas.(Sule e cols., 1994; Monfort, 1994).
A rafe mediana do escroto é o resultado da fusão das duas proeminências
labioescrotais na linha média, e a rafe mediana do pênis é formada pela fusão do
folhetos uretrais. As anomalias que acometem a rafe mediana são duas: cistos e
canais ectodérmicos. Curiosamente, essas anomalias recebem pouca atenção, até
mesmo na literatura especializada (Wooldridge, 1955).
Criptorquidia ou testículo não descido é a desordem mais comum da
diferenciação sexual masculina, sendo responsável pelos efeitos relacionados com a
fertilidade e no aumento de risco de câncer de testículo. Pode acometer até 5% de
RNs a termo, entretanto, como a descida espontânea até o escroto pode ocorrer no
primeiro ano de vida, tem prevalência ao redor de 0,8 a 1% (Cendron e cols., 1993).
Os testículos não encontrados no escroto devem ser pesquisados em localizações
ectópicas, como na parede abdominal, na raiz da coxa, no períneo e ainda na base do
pênis.
também uma alta incidência de hérnia inguinal associada à criptorquidia,
podendo chegar a 55% em prematuros (Monfort, 1994).
Outras patologias do período neonatal, que também merecem diagnóstico
precoce e correção cirúrgica, são as hérnias inguinais e as hidroceles comunicantes,
mais freqüentes em prematuros, em meninos e no lado direito (Velhote, 1998).
1.2 - Genitália Externa Feminina
A literatura sobre a anatomia da genitália feminina é escassa. O conhecimento
da anatomia, porém, é o início para entender a morfologia e as variações
anatômicas (Berenson, 1991).
Numa genitália de aspecto feminino normal, os grandes lábios são os
primeiros a serem examinados. Lesões dos grandes lábios são raras, mas podem ser
encontrados tumores de partes moles, como hemangiomas ou linfangiomas. Após
afastar os grandes lábios, vemos o clitóris e os pequenos lábios, podendo estes estar
fundidos ou hipertrofiados. Abrindo ainda mais os grandes lábios, podem-se ver a
uretra e a abertura da vagina com o hímen. O hímen tem inúmeras variações
anatômicas, e sua anatomia deve ser bem conhecida para que seja possível identificar
anomalias quando ao nascimento, e abuso ou trauma mais tardiamente (Reynolds,
1998).
A aparência do hímen neonatal é predominantemente anular (circunferencial)
ou fimbriado (redundante). Pode ainda ser crescente (posterior com fixação de 1 a 11
horas), septado (duas aberturas himenais com uma banda de tecido entre elas) e
cribiforme (múltiplas aberturas himenais) (Berenson, 1991). O hímen pode ser
imperfurado ao nascimento, causando obstrução vaginal e hidrocolpos, resultado do
acúmulo de secreção produzida em resposta aos estrógenos maternos, encontrando-se
em 1:2.000 pacientes e sendo prescrito no tratamento uma simples incisão do hímen
(Monfort, 1994; Reynolds, 1998).
A presença de aderência entre os pequenos lábios é explicada como sendo o
resultado de uma inflamação do epitélio associada a um déficit local de estrógenos.
É rara no período neonatal, mas deve ser desfeita para permitir a visualização do
intróito vaginal e da uretra ( Monfort, 1994).
As anomalias resultantes da virilização da genitália externa em fetos femininos
consistem em graus variáveis de fusão labial e de hipertrofia do clitóris. A
identificação clínica de uma genitália virilizada pode, algumas vezes, ser difícil,
especialmente em RN pré-termo, pois o clitóris termina seu desenvolvimento na 27
ª
semana de gestação, e o corpo, como um todo, ainda não. A hipertrofia do clitóris
está relacionada à secreção excessiva de andrógenos intra-útero. A fusão labial
também induzida por andrógenos pode resultar num aumento da distância anogenital
e ser o único sinal de virilização; por isso os valores normais devem ser conhecidos
para acessar as possíveis genitálias ambíguas (Callegari e cols., 1987).
Devemos lembrar que muitas anomalias do desenvolvimento ocorrem na fase
embrionária, podendo se apresentar de várias formas, tais como serem bem
evidentes ao nascimento, ou se manifestarem na puberdade. também um
número de malformações que não são evidentes ao exame clínico, devendo, portanto,
serem investigadas em nível radiológico e laboratorial (Monfort, 1994).
A nossa justificativa para esse estudo é que, conhecendo-se melhor a
morfologia e a anatomia da genitália externa, pode-se, através de um exame
cuidadoso, identificar-se as características normais e as variações da genitália
externa do recém-nascido e, quando necessário, investigar possíveis anomalias.
Muitas vezes, o diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento adequado.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
“Se você rouba idéias de um autor, é plágio.
Se você rouba de muitos autores, é pesquisa.”
Wilson Mizner
A genitália externa de meninos e meninas se desenvolve a partir do tubérculo
genital. Antes de 8 a 9 semanas de gestação, a genitália externa existe num estado
indiferenciado, ou seja, não diferença na aparência das genitálias, mas, a partir
daí, as alterações são distintas. Durante o primeiro trimestre, a gonadotrofina
coriônica placentária aumenta seu níveis em ambos os sexos, mas isso parece ser um
estímulo para as células de Leydig sofrerem hiperplasia e iniciarem a produção de
testosterona. A produção máxima ocorre por volta da 11ª e 14ª semanas de gestação,
resultando na masculinização da genitália externa. Espantosamente, nessa fase, não
diferença de tamanho entre clitóris e pênis, apesar da grande diferença nas
concentrações de testosterona. A diferenciação sexual da genitália externa ocorre
com a função hormonal dos testículos fetais (Jirasek, 1968). Os folhetos genitais
ficam ao longo da face ventral do tubérculo genital, com a placa uretral entre eles.
Nos meninos, com quatro semanas, o tubérculo genital se alonga e empurra os
folhetos genitais, anteriormente formando o sulco uretral. Esses folhetos vão então se
fundir sobre este sulco e formar a uretra; o local da fusão fica marcado pela rafe.a
proeminência labioescrotal cresce lateralmente ao tubérculo genital e inicia o
desenvolvimento do escroto. Após 12 semanas, as duas proeminências migram
caudalmente e se fundem medialmente, com a rafe mediana marcando a linha de
confluência. A uretra da glande se forma da placa ectodérmica que invade a glande
ventralmente e, mais tarde, funde-se formando a uretra. O prepúcio se desenvolve de
um tecido na base da glande que cresce dorsalmente e circunda a glande para se
fundir na face ventral e formar o freio. Com 14 semanas, a diferenciação da genitália
terminou. Após 14 semanas, os níveis de HCG e testosterona diminuem. Por volta
de 18 semanas, aumento do LH, que atinge o pico entre 20 e 26 semanas e cai
próximo ao termo da gestação, sendo esse o estimulante da produção de testosterona
na última metade da gestação (Feldman, 1975). O pênis atinge seu crescimento
máximo entre 20 semanas e o nascimento. Do nascimento até os 5 anos, essa taxa de
crescimento diminui, voltando a crescer na puberdade e durando por mais 5 ou 6
anos (Smith, 1995).
Nas meninas, o tubérculo genital também se alonga, flete-se ventralmente e se
insere entre as proeminências labioescrotais formando o clitóris (Jirasek e cols.,
1968). Quanto às proeminências labioescrotais, estas formam os grandes lábios e se
fundem na linha média, formando a comissura posterior.
Entre 71 e 83 dias de vida intra-uterina, a genitália externa está diferenciada
em sexo masculino e feminino. Jirasek e cols. (1968) mostraram isso através de um
estudo em fetos humanos abortados.
A avaliação do trato geniturinário fetal deve incluir a visualização da genitália
externa, que pode ser acessada por uma ultra-sonografia pré-natal de rotina, e trazer
informações sobre potenciais defeitos. Num estudo de Reece e cols. (1987), com
115 fetos, a genitália pôde ser visualizada em 83,5% dos casos ao redor da vigésima
semana de gestação com acurácia na determinação do sexo fetal ao redor de 92,7%.
Mandell e cols. (1995) analisaram, retrospectivamente, os achados ultra-
sonográficos anormais de 17 fetos e tiveram o diagnóstico confirmado por autópsia
ou exame clínico pós-natal. Foram 12 do sexo masculino e 5 do sexo feminino;
apenas 14 sobreviveram. Anomalias isoladas foram identificadas em 2 fetos somente,
sendo uma hipospádia e um microfalo, o restante apresentavam anomalias da
genitália associadas a outras malformações complexas. A presença de uma
malformação de genitália pode ser associada a grupos de malformação como
megauretra com prune-belly, deformidade do falo com cloaca, criptorquidia e
micropênis com CHARGE e genitália ambígua com pseudohermafroditismo. Outras
malformações podem ser atribuídas como resultado de um efeito sistêmico de uma
deficiência ou de um excesso de produção hormonal. Isso é importante, pois, se
diagnosticado precocemente, pode ser estabelecido tratamento intra-útero.
Um dos primeiros trabalhos que se preocuparam em estudar as características
normais e as variações da genitália externa masculina foi realizado por Schonfeld &
Beebe em 1942. Eles acreditavam que, em virtude da grande variação existente,
muitos diagnósticos eram feitos erroneamente e, por isso, um padrão normal deveria
ser estabelecido. Para isso, eles examinaram 1500 meninos com idades variadas
(2meses a 25 anos) e avaliaram os métodos para medidas (comprimento e largura) do
pênis e dos testículos. Eles analisaram cada variável quanto à validade e à
reprodutibilidade. Qualquer medida se constitui um elemento de aproximação. A
verdadeira medida do pênis é sua medida quando em ereção e isso não é possível de
ser sempre obtido. Por isso, uma maneira indireta de conseguir esse resultado é fazer
uma medida do púbis até a ponta do pênis sob tração. As medidas do pênis flácido
variam muito com a temperatura ambiente e com a gordura suprapúbica. Para
garantir que essa medida fosse válida, em 150 casos de idades variadas, foram
comparadas três medidas independentes do pênis em ereção e sob tração, mostrando
correlação da média entre elas. A medida do pênis esticado mostrou-se bem próxima
da medida do pênis ereto. No entanto, a circunferência do pênis flácido tem uma
relação pobre com a do pênis ereto. A concordância entre medidas repetidas e
independentes de um mesmo objeto é relativa e, por isso, quanto mais próximas mais
confiável se torna a observação.
Em virtude da grande complexidade de processos de maturação e crescimento
da genitália, não é de se surpreender do grande número de variações do normal.
Continuando o estudo da genitália masculina, Schonfeld, em 1943, estudou o
grau de desenvolvimento das características sexuais secundárias e estabeleceu
curvas, do nascimento à maturidade, para tamanho dos testículos, tamanho e largura
peniana, além de analisar o escroto e a próstata. Schonfeld verificou que no RN o
corpo esponjoso é relativamente maior que o cavernoso e continua a crescer nos
primeiros 4-5 anos de vida. Na puberdade, crescimento do corpo cavernoso e
esponjoso, e o pênis cresce em tamanho e largura. Associada a isso, a glande se torna
túrgida e o prepúcio, que era longo, retrocede. O escroto do RN é flácido, com
coloração vermelho escuro e rafe bem definida; a pele é enrugada e coberta por uma
esparsa camada de lanugo. Essa forma persiste até por volta de 7-10 meses quando o
escroto se torna menos flácido.
Feldman, em 1975, estudou as medidas do pênis. Para isso, estudou 68 fetos
masculinos e 33 fetos femininos fixados em formalina após abortamento espontâneo
ou induzido e sem anomalias aparentes, e também 39 RNs masculinos prematuros e
37 RNs masculinos a termo, aparentemente normais. O comprimento peniano foi
determinado da raiz do púbis até a ponta do pênis colocando uma régua sobre o púbis
e tracionando o pênis até obter resistência. A localização da ponta era determinada
pela palpação, pois todas as crianças foram medidas sem serem circuncidadas. A
medida dos espécimes fixados em formalina era realizada sem tração. Em 57 RNs,
foi realizada medida também do pênis flácido para uma comparação, e a média de
diferença das medidas entre pênis flácido e pênis esticado foi de 18%, mostrando
uma apreciável diferença entre essas medidas. As medidas mostraram crescimento
linear do pênis e do clitóris durante a gestação, mas com velocidades de crescimento
diferentes. A média e o DP encontrados nos RNs a termo foi de 3,5 + 1,1cm.
Disfunção hipotalâmica ou hipofisária não interferem na diferenciação, mas podem
levar a uma diminuição no crescimento peniano. Feldman verificou isso em 7 RNs
anencéfalos que apresentavam diferenciação normal, embora com comprimento de
pênis pequeno, sendo igual ou menor que o percentil 3 para a idade gestacional.
Pouca informação existia a respeito do tamanho peniano em recém- nascidos
e, por isso, Flatau e cols. (1975) estudaram 100 crianças que foram randomizadas
por três meses e examinadas entre o primeiro e o quarto dia de vida. Todas as
medidas foram feitas pelo autor. O pênis foi medido com um compasso colocado na
raiz do pênis até a glande, excluindo o prepúcio. O volume dos testículos foi
determinado por palpação bimanual com orquidômetro. As medidas foram feitas
duas vezes, e a média anotada. A diferença entre as medidas não foi maior que
0,15cm. O comprimento do pênis foi de 2,9 a 4,5cm com média e DP de 3,5 +
0,4cm. O comprimento das crianças foi 47 a 54cm, com média e DP de 50 + 2cm e
peso de 2.520 a 4.250g, com média e DP de 3.350 + 370g. Houve correlação entre
tamanho do pênis e comprimento, entre tamanho do pênis e peso e entre tamanho do
pênis com IG.
Smith e cols.(1995) questionaram a reprodutibilidade de medidas do
comprimento peniano pela dificuldade produzida por curvatura peniana severa,
gordura suprapúbica, transposição peno-escrotal incompleta e até variação
interobservadores. Por isso, desenvolveram um estudo para observar se o ultra-som
era mais acurado para verificar o comprimento peniano. Foram estudados 27
meninos de 0 a 24 meses, e as medidas penianas eram realizadas com o pênis sob
tração e depois medido com o ultra-som na face dorsal. Concluiu-se que a medida
peniana realizada por ultra-som pode ser útil, pois não é afetada pelo prepúcio,
obesidade ou curvatura peniana.
As anomalias penianas não são raras, mas existem poucas descrições das
características normais do pênis e suas variações anatômicas em recém- nascidos.
Assim, Ben-Ari e cols., em 1985, estudaram as características do pênis em 274
RNs, com idade gestacional de 36 a 42 semanas. O pênis era inspecionado, e sua
direção em relação à linha média e ao púbis era anotada. O prepúcio era examinado e
considerado curto quando parte da glande podia ser vista sem retração. Quando o
meato era visualizado, sua medida no maior eixo era estimada, e a sua direção era
dada de acordo com sua posição em relação à linha média. A rafe mediana era
acompanhada da raiz do pênis até a ponta, e sua direção e forma eram anotadas. Não
foram feitas medidas do pênis. Ele mostrou que a direção peniana era 76,8%
centralizada, o prepúcio foi dado como curto em 10%, e o meato não estava desviado
em 97,7% dos visualizados. A rafe mediana foi presente em todos os RNs.
Koff e cols. (1992), num estudo com 463 RNs do HC-PA, encontrou 5,4% de
testículos ausentes da bolsa escrotal uni ou bilateralmente. O comprimento peniano,
medido sem tração, foi de 1,6 a 4,1cm, e o eixo do pênis coincidiu com a linha média
em 89,6% e estava desviado em 10,4%. O meato uretral foi visível em 54 (11,7%)
meninos, sendo típico em 94,7% e hipospádico em 3 (5,3%).
Sule e cols. (1994) fizeram uma extensa revisão bibliográfica sobre as raras
anomalias congênitas do escroto com o intuito de elucidar suas causas. 4
categorias: transposição penoescrotal, escroto bífido, escroto ectópico e escroto
acessório. A transposição penoescrotal está relacionada a malformações como
MFAR e hipospádia. O escroto bífido é geralmente visto em problemas de intersexo.
O escroto ectópico é raro e sempre associa anomalias do TGU como agenesia renal
ipsilateral e rotação peniana, o escroto pode ou conter o testículo ou este estar nas
proximidades, pois o gubernaculum testis migra com o escroto e guia a descida do
testículo. Em contraste, o escroto acessório é uma bolsa vazia que se localiza numa
posição posterior ao escroto, não associa outras anomalias e tem sua etiologia
desconhecida. Durante a embriogênese normal, a proeminência lábioescrotal cresce
lateralmente ao tubérculo genital e inicia o desenvolvimento do escroto. Lamm &
Kaplan (1977) acreditam que uma divisão precoce da proeminência labioescrotal
com migração anômala da porção inferior, resultaria em escroto acessório, e a
migração anormal resultaria em escroto ectópico. Segundo Sule, Takayasu acredita
que o escroto acessório é um crescimento de tecido pluripotente tipo teratoma, pois
uma grande associação com lipoma perineal. Redman & Morris (1983) relataram
caso de escroto acessório em períneo direito e sem associação com anomalias de
TGU. Sule (1994), após rever os 23 casos da literatura, acredita que o lipoma
causa uma interrupção no desenvolvimento caudal da proeminência labioescrotal,
sendo responsável pelo escroto acessório. Ele recomenda que, na ausência de lipoma
perineal associado, devam ser investigadas outras malformações de TGU.
Wooldridge, em 1955, relatou três casos de anomalias que acometem a rafe
mediana. Tais anomalias são os cistos e os canais ectodérmicos, sendo os cistos mais
freqüentes que os canais. Como essas anomalias recebem pouca atenção, até mesmo
na literatura especializada, esse autor revisou tanto a embriologia, quanto o
diagnóstico e o tratamento dessas lesões.
Crianças com pênis pequeno podem ter micropênis ou pênis embutido como
diagnóstico diferencial e, por isso, uma medida do comprimento peniano deve ser
bem feita e comparada com os resultados referentes à idade e desenvolvimento
sexual estabelecidos. Para Aaronson (1994), a importância imediata do micropênis
é que ele pode ou ser a única manifestação de uma deficiência múltipla de hormônios
hipofisários ou indicar a presença de um testículo disgenético.
Reilly & Woodhouse (1989) entrevistaram e examinaram 20 pacientes com
diagnóstico de micropênis na infância e encontraram que todos eram heterossexuais,
tinham ejaculação e orgasmo, e todos os pacientes estavam felizes com sua
identidade sexual. Concluíram, assim, que um pênis pequeno não impede um
desenvolvimento como homem, e que o micropênis ou microfalo isoladamente não é
indicativo de sexo feminino na infância.
Kogan & Williams (1977) revisaram 34 meninos com diagnóstico de
micropênis. O exame físico mostrou discrepância entre tamanho do pênis e do corpo
com glande também diminuída e escroto hipodesenvolvido, principalmente nos
casos de testículos rudimentares ou ausentes. O acompanhamento foi feito até a
puberdade, e o tratamento com testosterona induziu a um crescimento adequado do
pênis em pacientes com testículos palpáveis.
O pênis embutido é uma condição rara, pouco diagnosticado no período
neonatal e com várias etiologias como: fixação pobre da pele na base do pênis,
obesidade excessiva ou seqüela de cicatrização de uma cirurgia peniana. Segundo
Casale e cols. (1999), sua incidência é desconhecida, e há vários graus de severidade.
Devido à grande variedade de apresentação, a correção cirúrgica também é variada, e
todas as técnicas devem ser conhecidas para atingir um melhor resultado estético.
Para Carnevale (1986), o diagnóstico de torção peniana é simples e se faz
observando a rafe mediana que termina no prepúcio dorsal ou, quando possível,
expõe-se a glande e se observa a rotação do meato, que pode variar até 270 graus. Na
literatura, controvérsias em relação aos elementos responsáveis pela torção
peniana. Por isso, Redman (1983) realizou um estudo prospectivo da anatomia intra-
operatória de 15 meninos submetidos à correção de torção do pênis e conseguiu um
resultado satisfatório na maioria dos casos, com correção e realinhamento apenas da
pele e da túnica dartos.
Outra malformação freqüente do pênis é a hipospádia, abertura do meato
uretral em diferentes níveis da face ventral do pênis. Não existe fator etiológico
único, e o mais provável é que fatores genéticos e embriológicos motivem o seu
aparecimento.
O prepúcio aparece como um espessamento da epiderme por volta de 8
semanas de gestação, cresce no dorso do pênis e vai circundá-lo para fundir
ventralmente à glande formando o freio. A separação do prepúcio e da glande inicia-
se na 24
ª
semana e atinge graus variados de separação ao nascimento. Num estudo
com 603 meninos japoneses, em que a circuncisão neonatal não é rotina, Kayaba e
cols. (1996) avaliaram a retratibilidade do prepúcio, assim como a presença ou não
de anel, e classificaram os achados. Antes de 6 meses de idade, a incidência de
prepúcio não retrátil foi de 68,6%, e nenhum caso com retratibilidade e exposição
completa da glande foi encontrado. A maioria dos RNs apresenta fimose fisiológica
ou incapacidade de retrair o prepúcio. Durante os primeiros 3 a 4 anos de vida,
um acúmulo de restos epiteliais e ereções intermitentes que vão separar o prepúcio
da glande permitindo a retração.
Criptorquidia ou testículo não descido é comum por ocasião do nascimento e
afeta 0,8% dos meninos com 1 ano. Cendron e cols. (1993), estudando a anatomia e
morfologia de 602 pacientes, concluíram que o testículo direito é mais acometido
que o esquerdo, e até 15,5% eram acometidos bilateralmente. Além disso, os autores
apontaram a associação de 5,7% de hipospádia, sugerindo uma endocrinopatia.
Também encontraram uma maior associação de anomalias do sistema nervoso
central, suportando a teoria de que o eixo hipotálamo-hipofisário deve estar anormal
na criptorquidia.
Khuri e cols. (1981) fizeram um estudo retrospectivo de crianças com
hipospádia e encontraram uma freqüência de criptorquidia de 31,6% nas hipospádias
penoescrotais e perineais. Também mostraram prevalência de 9,1% de hérnias
inguinais nesses pacientes.
Como existiam valores normais de meninos e meninas pré-termo e a termo,
Phillip e cols. (1996), estudaram RNs de dois grupos étnicos para verificar se existia
variação do tamanho da genitália conforme o grupo étnico. Foram estudados 302
meninas e 268 meninos, encontrado diferenças apenas no comprimento do clitóris e
no índice AF/AC entre os dois grupos étnicos estudados.
Com o intuito de avaliar a anatomia da genitália de meninas recém- nascidas,
com ênfase para a configuração himenal, Berenson e cols. (1991) estudaram 449
neonatos que foram examinados e fotografados. Concluíram que o hímen neonatal é
predominantemente anular ou circumferencial (80%) ou ainda fimbriado ou
redundante (19%). Não houve diferença por idade gestacional ou peso.
Berenson (1993) comparou a aparência himenal de acordo com a idade num
estudo longitudinal que avaliou características do hímen ao nascer e com um ano de
vida. De 62 meninas estudadas do nascimento até o primeiro ano de vida, o hímen
tinha aspecto redundante em todas os RN examinados, e o tecido parecia abundante
em relação ao pequeno orifício da vagina. Houve um decréscimo de tecido em 58%
das meninas, no primeiro ano de vida, resultando em mudança da configuração
himenal. A variação existente em relação à quantidade de tecido himenal se
correlaciona a um decréscimo nos níveis séricos de estradiol no primeiro ano de vida.
Os estrógenos são altos no período neonatal devido à passagem intra-útero de
hormônios maternos, mas cai drasticamente após o nascimento. A variação existente
em relação à quantidade de tecido himenal se deve a variações individuais de
estrógeno e seu efeito sobre o tecido.
Em 1987, um estudo de Jenny e cols. relatou que, de 1.131 meninas
examinadas ao nascimento, todas tinham hímen. Não foram diagnosticadas outras
anomalias genitais, e 3 a 4% tinham variações anatômicas do hímen como apêndices
e estrias transversais. Baseado nisso, os autores enfatizam que a chance de uma
menina nascer sem hímen é de 0.3% e, por isso, na ausência de tecido himenal, o
trauma local deve ser considerado.
A virilização da genitália externa em fetos femininos é causada pela exposição
a andrógenos intra-útero e consiste de graus variáveis de fusão labial e de hipertrofia
do clitóris. Wolff e cols., em 1977, relataram um caso de hiperplasia de adrenal em
que apenas a fusão dos pequenos lábios era indicativo de exposição a andrógenos
intra-útero. Riley & Rosenbloon (1980) estudaram medidas do clitóris em 69 RNs
pré-termos e 90 RNs a termo e compararam essas medidas com o peso mostrando
que os prematuros m a proporção clitóris/peso maior, pois o clitóris atinge seu
tamanho ao redor de 27 semanas de gestação, não alterando até o termo.
O reconhecimento de genitália ambígua na presença apenas da fusão labial
com aumento da distância anogenital é difícil e necessita de valores para
comparação. A falta de dados na literatura se referindo a esses valores fez Callegari
e cols. (1987) desenvolverem um estudo em que 115 meninas foram examinadas, nas
primeiras 24 horas de vida, sem malformações aparentes associadas. A distância
anogenital foi medida com a criança com os joelhos fletidos sobre o abdômen,
pressionando-o ligeiramente. As medidas foram feitas por um mesmo observador,
usando um compasso e medida em uma régua. A medida AF foi do centro do ânus
até comissura posterior da fúrcula vaginal, AC do centro do ânus até a base do
clitóris, onde a mucosa termina. Foi calculado AF/AC e FC/AC, e não houve
diferença entre as raças. A IG variou de 25 a 42 semanas, com média de 36,4
semanas, o comprimento do RN variou de 30 a 53cm, com média de 45,6cm, o peso
médio foi de 2.530g, indo de 530 a 4.890g. Houve correlação linear entre todas as
medidas e idade gestacional. Concluíram que a medida anogenital tem distribuição
normal com um estreito limite de confiança e, por isso, foi proposta essa medida para
acessar possível virilização no RN.
3.OBJETIVOS
3.1 Objetivo Principal
O objetivo desse estudo é identificar, descrever e classificar as variações anatômicas
do pênis, escroto, testículos, vulva e hímen de recém-nascidos.
3.2 Objetivos Secundários
- Determinar a média da medida peniana sob tração para meninos recém-nascidos.
- Determinar a média das medidas AF e AC para meninas recém-nascidas.
- Estabelecer o índice AF/AC para meninas recém-nascidas.
4.PACIENTES E MÉTODOS
4.1 Delineamento
O presente estudo é o resultado de uma análise prospectiva de crianças nascidas
em Caxias do Sul, com dados coletados através de uma ficha de avaliação. A ficha
de avaliação foi elaborada especificamente para essa pesquisa e pode ser vista no
Anexo 1. Essa ficha de avaliação foi preenchida pelo examinador com dados
coletados do prontuário do RN, perguntas feitas à mãe do RN e dados do exame
físico do RN. Foram incluídos no estudo RNs sem anomalias aparentes graves e sem
internação em UTI, examinados durante o primeiro e o terceiro dia de vida. Nessa
ficha de avaliação, ficaram registrados o nome da mãe, hospital, idade materna,
idade gestacional, doenças maternas, antecedentes obstétricos, tipo de parto, data de
nascimento, sexo, peso, altura, índice de Apgar, Capurro. Nos meninos avaliaram-se
o pênis e sua medida, eixo peniano, tipo e ângulo do meato, tipo de prepúcio, tipo de
rafe, escroto, testículos. Nas meninas avaliaram-se as medidas do ânus até a fúrcula
e do ânus até o clitóris, aspecto dos pequenos lábios, clitóris e hímen (Quadro 1).
QUADRO 1
VARIÁVEIS DA FICHA DE AVALIAÇÃO
Variáveis
Maternas
Variáveis do
RN
Genitália
Masculina
Genitália
Feminina
Hospital data nascimento medida do
pênis
clitóris
idade materna peso eixo do pênis pequenos lábios
idade
gestacional
altura tipo de meato hímen
antec.
obstétrico
Apgar ângulo meato medida AF
fumo e drogas Capurro hipospádia medida AC
doenças sexo tipo de prepúcio
pré-natal rafe mediana
tipo de parto escroto
testículos
4.2 Amostra
Foram estudadas 1704 RNs, não consecutivos, em cinco hospitais de Caxias
do Sul, de maio de 1998 a novembro de 1999. A escolha dos RNs foi aleatória, sendo
que o exame foi feito em todos os bebês que estavam nos hospitais, fora de UTI no
dia em que era feita a visita ao hospital. São cinco os hospitais de Caxias do Sul em
que existe o setor de obstetrícia, sendo três desses exclusivamente para atendimento
privado (Hospital Medianeira, Fátima e Saúde), um de atendimento público e
privado (Hospital Pompéia) e outro exclusivamente público, com atendimento de
pacientes da cidade e da Região de Caxias do Sul (Hospital Geral).
4.3 Variáveis
As variáveis incluídas nesse estudo foram citadas no Quadro 1. Para cada
criança, havia uma ficha de avaliação preenchida por um único examinador.
Hospital: H.Pompéia, Hospital Geral, H. Saúde, H. Medianeira e H. Fátima. Idade
materna: Este dado foi coletado do prontuário do RN.
Idade gestacional: Foi calculada a partir da data da última menstruação e da data do
parto.
Antecedente obstétrico: Número de gestações incluindo a gestação atual e abortos
anteriores à gestação atual.
Tabagismo e drogas: Este dado foi perguntado à mãe durante a entrevista no
momento do exame do RN.
Doenças maternas: Estes dados foram coletados do prontuário materno e
classificadas em HAS, HA da gestação, DM, DMG, ITU e outras.
Pré-natal: Realizado consultas pré-natal ou não, este dado foi coletado do prontuário
materno.
Tipo de parto: Pode ser vaginal, cesárea ou cesárea de urgência.
Peso: Os RNs eram pesados após o nascimento, esses dados foram coletados da ficha
de atendimento do RN.
Comprimento: Este dado foi coletado da ficha de atendimento ao RN.
Índice de Apgar: A escala de Apgar (Apgar, 1953) é um índice que determina
vitalidade ao nascer e é também um preditor de morbidade e mortalidade, sendo
calculado para o primeiro e quinto minutos. Quando os dois valores estavam
disponíveis, usamos o do quinto minuto, pois se relaciona melhor com prognóstico.
Índice de Capurro: Este índice usa dados do RN ao nascimento para estimar a idade
gestacional. Estes dados foram coletados da ficha de atendimento do RN.
Sexo: Masculino, feminino ou indeterminado.
Pênis: O comprimento peniano foi determinado da raiz do púbis até a ponta do pênis
colocando uma régua rígida sobre o ramo do púbis, deprimindo a gordura supra
púbica e aplicando uma tração sobre o pênis até ter resistência. A localização da
ponta era determinada pela palpação, pois todas as crianças foram medidas sem
serem circuncidadas. Consideramos micropênis quando o comprimento do pênis
medido sob tração foi menor que a média menos 2,5 vezes o desvio padrão.
Eixo peniano: Foi observada a posição anatômica do pênis em repouso e sua direção
em relação à linha média e se estava centralizada, ou para a direita ou para a
esquerda.
Meato uretral: Podia ser visível ou não visível após retração do prepúcio.
Ângulo do meato: Quando visível, era classificado de acordo com o seu maior eixo
em relação à linha média.
Tipo do meato uretral: Considerado normal ou hipospádico (com abertura fora da
extremidade distal da glande).
Classificação da hipospádia: A classificação ocorreu de acordo com a abertura da
uretra na face ventral do pênis em balânica, distal, média ou proximal.
Prepúcio: Observou-se se o prepúcio cobria ou não a glande e a sua retratibilidade,
classificado em longo, médio ou curto. Considerou-se o prepúcio curto aquele com
ausência parcial ou com a glande parcialmente exposta durante o exame; prepúcio
médio, com cobertura de toda a glande; e longo quando havia excesso de prepúcio ou
prepúcio redundante.
Rafe mediana: Foi seguida da base do pênis até sua ponta e analisada de acordo
com sua forma e direção em cinco tipos.
Escroto: Foram avaliados aspecto, forma e inserção em relação ao pênis. Podia ser
bífido, atrófico, com transposição completa ou incompleta e ectópico.
Testículos: Foi verificado se eram tópicos, retráteis, no canal ou não palpáveis. Foi
avaliado o lado acometido: direito, esquerdo ou bilateral.
Hérnia e hidrocele: Observou-se se presente, ausente e lado acometido.
Clitóris: Se normal ou hipertrofiado, apenas inspeção, mas não foi medido.
Pequenos lábios: Observou-se se normal, hipertrofiado ou se havia fusão.
Ânus-fúrcula: Medida realizada com a criança com os joelhos fletidos e as pernas
abertas. A medida AF foi do centro do ânus até a comissura posterior da fúrcula
vaginal e feita com uma régua.
Ânus-clitóris: Foi realizada logo após a medida anterior com a criança na mesma
posição e medindo do centro do ânus até a base do clitóris, onde a mucosa termina.
Hímen: Foi observado se era normal, septado ou imperfurado. Não foram
pesquisados apêndices e estrias.
4.4 Exame Físico
Foi realizado seguindo-se sempre a mesma seqüência e usando os mesmos
instrumentos (régua). Sempre era retirada toda a roupa que cobria a genitália da
criança. As meninas ficavam com as pernas fletidas e abertas, e os grandes e
pequenos lábios eram tracionados para expor a fúrcula, clitóris e hímen. Após a
inspeção, era medida a distância entre o ânus e a fúrcula e entre o ânus e o
clitóris, sem tração (Figura 1). Os meninos foram observados quanto ao escroto,
testículos (presença e localização), eixo peniano (direção em relação à linha
média), rafe mediana (presença, direção e forma), prepúcio (aspecto e
retratibilidade), meato uretral (visível ou não e direção em relação à linha média)
e medida peniana, distância entre a sínfise púbica e a ponta do pênis usando uma
régua rígida; o pênis era tracionado e a gordura pré-púbica deprimida (Figura 2).
Tudo foi anotado numa ficha durante o exame.
Figura 01 – Medidas da genitália externa feminina
Figura 02 – Medida do pênis sob tração
Todos os exames e medidas foram feitos por um único observador e, para
diminuir a possibilidade de erros, foram realizadas, numa série de 20 meninos e 22
meninas, duas medidas independentes, e não houve diferença estatisticamente
significativa entre a primeira e a segunda medida. A diferença média observada foi
de 0,005cm para o pênis, 0,02cm para AF e 0,03cm para AC.
4.5 Análise estatística
Inicialmente, foram obtidas tabelas de freqüência para todas as variáveis do
banco de dados criado no programa EPI-INFO V6. Variáveis quantitativas foram
descritas através de média e desvio padrão, e as variáveis qualitativas, através de
percentual. A comparação dos grupos com dados qualitativos foi feita através do
teste t de Student e pela análise de variância (ANOVA) na presença de três ou mais
grupos. A comparação de variáveis categóricas foi feita através do teste do qui-
quadrado, com localização através do procedimento de comparações múltiplas de
zar. A avaliação da correlação entre variáveis quantitativas foi feita através do
coeficiente de correlação linear de Pearson com sua significância determinada pelo
teste t de Student. O nível de significância adotado no estudo foi de P= 0,05.
O processamento estatístico dos dados foi feito pelo programa EPI-INFO e
SPSS for Windows.
4.6 Aspectos éticos
O protocolo deste estudo foi aprovado pela comissão de ética de todos os
hospitais e também por todos os pediatras responsáveis pelo atendimento aos recém-
nascidos. Apenas dois colegas não autorizaram o exame em seus pacientes.
5. RESULTADOS
O estudo foi realizado em vários hospitais de Caxias do Sul - RS, tendo sido
examinados 1704 recém nascidos sem malformações complexas aparentes e sem
necessidade de internação em UTI. Analisando-se as variáveis pesquisadas nas fichas
de avaliação, verificamos níveis distintos de perdas, que será descrito junto com os
resultados que obtivemos. Foram examinados 704 RNs no Hospital Pompéia
(41,4%); 355 no Hospital Saúde (20,9%); 256 no Hospital Medianeira (15,1%); 333
no Hospital Geral (19,6%); e 52 no Hospital Fátima (3,1%). Em quatro (0.2%) fichas
não houve esse registro, restando 1700 fichas completas e analisadas.
5.1 Variáveis Maternas
Idade materna: A média de idade das mães foi de 26,5 + 6,7anos, com mínimo
de 13 anos e máximo de 53 anos (Tabela 1). Faltaram informações em 51 fichas
(3%).
TABELA 1
DISTRIBUIÇÃO DAS MÃES POR IDADE
Idade materna (anos) número %
menos de 16 28 1,7%
16 – 19 263 15,9%
20 – 34 1.136 68,7%
35 ou mais 226 13,7%
Total 1.653 100%
Idade gestacional: A média foi de 38,9 + 1,4 semanas, variando de 33 a 44
semanas, sendo apenas 1,8% menor que 36 semanas e 0,4% maior que 42
semanas. Dados faltando em 189 fichas (11,1%).
TABELA 2
DISTRIBUIÇÃO POR IDADE GESTACIONAL
Duração gestação
(sem.)
númer
o
%
32 - 36 65 4,5%
> 36 - 38 379 26,2%
> 38 - 41 958 66,1%
> 41 e mais 46 3,2%
Antecedentes obstétricos: A média de gestações foi de 2,22, com mínimo de
1 e máximo de 13 gestações. Era primeira gestação em 39,1% dos casos,
segunda em 29,3%, terceira em 17,1%, e, com mais de três gestações, apenas
15,5% (Tabela 3). A média de abortamentos foi de 0,18 com máximo de 4,
sendo que 85% das mães nunca tinham abortado, 12,6% tiveram 1
abortamento e apenas 2,5% tiveram dois ou mais abortamentos (Tabela 4).
Não houve registro em 64 fichas (3%).
TABELA 3
RELAÇÃO NÚMERO DE GESTAÇÕES/ HOSPITAL
pompéia saúde medianei
ra
geral fátima
G1 216 147 124 129 25
G2 182 125 81 80 12
G3 137 57 28 52 9
G4 57
(8,1%)*
7
(2,0%)
8 (3,1%) 34
(10,2%)*
4
(7,7%)
> G4 81
(11,5%)
7
(2,0%)
4 (1,6%) 34
(10,2%)
2
(3,8%)
* significativamente diferente dos outros hospitais
TABELA 4
RELAÇÃO NÚMERO DE ABORTAMENTOS/HOSPITAL
pompéia saúde medianei
ra
geral fátima
A0 567 289 211 283 44
A1 95 47 27 34 4
A2 9 5 7 10 3
>A3 2 (0,3%) 1
(0,3%)
1 (0,4%) 1
(0,3%)
1(1,9%)
Não houve diferença estatística significante entre os grupos
Tabagismo e drogas: Esse dado foi perguntado às mães que estavam
presentes ao exame dos filhos e, por isso, pesquisado apenas em 851 (50%)
pacientes. Dessas, 75,6% não fumaram, 23,7% fumaram e 0,7% ( 06 mães)
usaram drogas durante a gestação.
Doenças maternas: Apenas 268 mães tinham doenças que necessitaram
acompanhamento durante a gestação. Dessas, 38,4% apresentaram doença
hipertensiva da gravidez; 4,9% eram hipertensas quando engravidaram; 6,3%
desenvolveram diabetes gestacional; 0,4% eram diabéticas antes da gravidez;
29,1% apresentou pelo menos 1 episódio de ITU que necessitou tratamento; e
20,9% apresentaram outras doenças sendo: 5 casos de toxoplasmose, 5 doenças
da tireóide, 5 casos de vulvovaginites, 4 casos de pneumonia, 2 convulsões,1
caso de tuberculose, 1 com infecção por CMV, 1 crise asma, 1 colecistite, 1 caso
de sinusite, 1 infecção por HPV, 1 meningite, 1 febre reumática. Observação:
Trabalho de parto prematuro não foi considerado doença materna (Tabela 5).
TABELA 5
DOENÇAS MATERNAS
Doenças Maternas %
Doença Hipertensiva da Gravidez 38,4%
Infecção do Trato Urinário 29,1%
Diabetes Gestacional 6,3%
Hipertensão Arterial Sistêmica 4,9%
Diabetes Mellitus 0,4%
Outras 20,9%
Pré-natal e tipo de parto: Apenas 18 mães não fizeram acompanhamento
pré-natal adequado (1,1%). O parto foi vaginal em 43,2%; cesárea em 55,7% e
cesárea de urgência em 1,1% (Tabela 6). Dados não foram coletados em 24
fichas (1,4%).
TABELA 6
TIPOS DE PARTO E SUA INCIDÊNCIA
Tipo de Parto %
Cesárea 55,7%
Parto Vaginal 43,2%
Cesárea Urgência 1,1%
TABELA 7
DISTRIBUIÇÃO POR TIPO DE PARTO E POR HOSPITAL
Pompeia Saude Median Geral Fatima
Parto
Normal
401 29 26 265 3
Cesárea 293
(41,8%)
**
217
(88,1%)
57
(17,3%)*
45
(88,2%)
Cesárea
Urgência
3 1 4 8 3
* Significativamente diferente dos outros grupos.
** Significativamente diferente dos outros grupos.
5.2 Variáveis do RN
Idade: Todos os RNs foram examinados até o terceiro dia de vida.
Índice de Apgar: Os RNs desse estudo apresentaram Apgar médio de 9,0. Os
dados disponíveis estão registrados em 1424 fichas com perda de 280 casos
(16,4%).
Índice de Capurro: Foi calculado em um pequeno número de crianças com
mínimo de 33 semanas e máximo de 42,2 semanas, com média semelhante à IG
de 38,65 semanas. Os dados encontrados referem-se a apenas 428 fichas, o que
significa uma perda de 74,9%.
Sexo: 855 casos são masculinos (50,2%) e 849, femininos (49,8%). A tabela 8
mostra a distribuição por sexo nos hospitais pesquisados.
TABELA 8
DISTRIBUIÇÃO POR SEXO NOS HOSPITAIS QUE PARTICIPARAM DO ESTUDO
Pompéia Saúde Medianeira Geral Fátima Total
masculino 353 181 120 167 31 852
feminino 351 174 136 166 21 848
total 704 355 256 333 52 1700
Peso e comprimento: O peso variou de 1.830 a 4.815g, com média de 3.151 +
0.446g. O percentil 25 foi 2.860g e o percentil 75 foi 3.430g (Tabela 9). Houve
diferença significativa (P=0,01) da média de peso entre meninos (3.186g) e
meninas (3.116g). O comprimento médio foi de 48,43 + 2,08cm, com mínimo de
40cm e máximo de 56cm, percentil 25 de 47cm e percentil 75 de 50cm.
Calculando a média do comprimento entre meninos (48,7cm) e meninas (48,1cm)
houve diferença significativa (P<0,001). Em 12 fichas, não houve registro de peso
(0,7%), e em 15 fichas (0,9%) não houve registro do comprimento.
TABELA 9
DISTRIBUIÇÃO DO PESO AO NASCIMENTO
Peso de nascimento (g) número %
1.500 a 1.999 07 0,4%
2000 a 2.499 108 6,4%
2.500 a 2.999 481 28,4%
3.000 a 3.499 733 43,4%
3.500 a 3.999 270 15,9%
4.000 ou mais 93 5,5%
Total 1692 100%
5. 3 Genitália Externa Masculina
Pênis: O comprimento do pênis, de sua base junto ao púbis até a ponta da glande,
sob tração, variou de 1,8 a 5,1cm, com média de 3,36 + 0,44cm (IC95%: 3,33 a
3,39). O percentil 25 foi de 3,1cm, e o percentil 75, de 3,6cm (Tabela 10).
Calculando a média menos 2,5 vezes o desvio padrão, teremos um valor de
2,26cm, o que indica que abaixo disso teremos 9 (1,1%) meninos que deverão ser
avaliados quanto às causas de micropênis. Dados não disponíveis em 8 fichas
(0,9%).
TABELA 10
TAMANHO DO PÊNIS
Tamanho do pênis
(cm)
Númer
o
%
1,8 a 2,3* 9 1,1%
2,4 a 3,0 177 20,9%
3,1 a 3,6 480 56,6%
3,7 a 4,4 170 20,1%
> 4,4 11 1,3%
Total 847 100%
* grupo com medidas penianas compatíveis com micropênis.
Eixo: A direção do pênis em relação ao eixo do corpo foi central em 69,9%, com
desvio para a direita, em 11,7%, e para a esquerda, em 18,4%. Dados não
disponíveis em 101 fichas (11,8%).
TABELA 11
DIREÇÃO DO EIXO PENIANO EM RELAÇÃO À LINHA MÉDIA
Direção em relação ao eixo do
corpo
%
Central 527 69,9%
Desviado para a direita 88 11,7%
Desviado para a esquerda 139 18,4%
Meato: O meato uretral foi visível após retração sem fissurar o prepúcio em 219
(25,6%) meninos examinados. Dos 219 meatos visíveis, foram descritos 213,
havendo uma perda de dados em 6 casos (2.7%). Nesses, o ângulo do maior eixo
do meato em relação à linha média foi analisado e encontrado em 88,7% na linha
média; 10,8% com desvio anti-horário de 45 graus e 0,5% com desvio de 90
graus. Não foram encontrados, nessa amostra, desvios do meato no sentido
horário (Figura 3). O meato estava normalmente localizado em 95,9% e
hipospádico em 9 meninos (4,1%). A hipospádia foi classificada de acordo com a
posição ventral do meato nesses 9 meninos, encontrando-se 3 meninos com
hipospádia balânica, 5 com hipospádia distal e 1 com hipospádia média. Não
foram encontrados meninos com hipospádias proximais ou escrotais.
0° 45° 90°
88,7% 10,8% 0,5%
189 meatos 23 meatos 1 meato
Fig.3 - Desvio do meato uretral em graus e sua incidência
em relação aos meatos visíveis.
Prepúcio: Presente em todos os RNs, sendo incompleto ou dorsal nas
hipospádias. Classificado como longo (67,3%), médio (20,5%) e curto (12,2%). A
aderência balano-prepucial era completa em 76,3% e, incompleta em 20,3%.
Houve ausência de dados em 29 fichas (3,4%).
TABELA 12
CARACTERÍSTICAS DO PREPÚCIO
Características %
Forma
circular 846 98,9%
dorsal 09 1,1%
Comprimento
longo 559 67,3%
médio 170 20,5%
curto 101 12,2%
Aderência balano-prepucial
completa 652 76,3%
incompleta 173 20,3%
Rafe mediana: Na figura 4 observam-se as características da rafe mediana. As
rafes medianas retas totalizaram 70,2%, sendo 54,5% tipo A e 15,7% split; as
rafes espiraladas totalizaram 29,8%, sendo 5,3% tipo B, 9,1% tipo C, 12,5%
tipo D e 2,9% tipo E. Em 13 fichas não foi registrado esse dado, sendo que, 9
delas por serem pênis com hipospádia. (0.5%).
Reta A Split Tipo B Tipo C Tipo D Tipo E
54,5% 15,7% 5,3% 9,1% 12,5% 2,9%
Fig. 4- Características da rafe mediana.
Escroto: Encontramos o escroto com características normais em 828 meninos
(96,8%) e alterado em 27 meninos, sendo 0,4% com escroto bífido; 1,9% com
transposição incompleta; 1,0% com atrofia associada à testículo criptorquídico,
dos quais 0,5% à direita, 0,4% à esquerda e 0,1% bilateral.
Testículos: Foi encontrado um baixo índice de testículos fora do escroto. Em
duas crianças os testículos eram criptorquídicos bilateralmente: em uma, era não
palpável bilateral, e a outra, tinha os testículos não palpável à esquerda e no canal
à direita. Avaliando os testículos quanto ao lado, observamos que o testículo
direito ficou fora da bolsa 8 vezes, sendo retrátil em 1(0,1%), palpado no canal
em 4 (0,5%) e não palpado em 3 (0,4%). o testículo esquerdo não foi
encontrado na bolsa em 9 exames, sendo retrátil em 2 (0,2%), no canal em 3
(0,4%) e não palpável em 4 (0,5%).
TABELA 13
LOCALIZAÇÃO DOS TESTÍCULOS
Localização Número %
Ambos na bolsa 840 98,2%
Criptorquidia direita 06 0,7%
Criptorquidia esquerda 07 0,8%
Criptorquidia bilateral 02 0,2%
Hidrocele: Havia hidrocele em 167 meninos (19,6%), sendo bilateral em
42,9%, à direita em 40,5% e à esquerda em 16,7%. Não foi avaliado se a
hidrocele era ou não comunicante, mas foram identificados três meninos com
aumento do volume escrotal redutível à direita e, por isso, foi diagnosticado
hérnia inguinal nesse lado.
5. 4 Genitália Externa Feminina
Clitóris: Foi considerado clitóris hipertrofiado em 1 menina (0,1%), o restante foi
normal à inspeção.
Pequenos lábios: Não foi encontrado nenhum caso de fusão neonatal e apenas
uma menina com hipertrofia de pequenos lábios, sendo que esta não era a mesma
que apresentava hipertrofia do clitóris.
Hímen: Foi identificado como normal em 99,6%. Uma menina apresentava septo
transversal de hímen e, em duas meninas, o hímen era imperfurado, sendo por
isso submetidas à cirurgia.
Ânus-fúrcula: Essa medida foi realizada em 713 meninas, sendo a média de 1,63
+ 0,25cm (IC95%: 1,62 a 1,65), com mínimo de 1,0cm e máximo de 2,5cm. Esta
medida não foi realizada no início da pesquisa e, por isso, não existem dados de
16% das meninas examinadas.
Ânus-clitóris: A medida variou de 2,4 a 4,8cm, com média de 3,67 + 0,31cm
(IC95%: 3,65 a 3,69). Sem dados em 136 fichas (16%).
Índice AF/AC: O índice calculado foi de 0,445, com desvio padrão de 0,055.
TABELA 14
DISTRIBUIÇÃO DO ÍNDICE AF/AC
Índice AF/AC número %
0,26 a 0,35 33 4,6%
0,36 a 0,41 165 23,2%
0,42 a 0,48 340 47,7%
0,49 a 0,53 143 20%
> 0,54 32 4,5%
total 713 100%
6.DISCUSSÃO
A proposta desse estudo foi diagnosticar e classificar as características da genitália
externa dos RNs e entender a origem das variações e anomalias.
Anormalidades no tamanho do clitóris e do pênis podem ser o único sinal de uma
alteração genética ou endócrina. Achados anormais nas medidas do pênis, do clitóris
ou da medida anogenital vão inferir numa busca minuciosa do diagnóstico. Por isso,
os valores padrões dessas medidas devem estar disponíveis ao médico como
instrumento de comparação.
6.1 Variáveis Maternas
Idade materna: A média de idade das mães, nesse estudo, foi de 26,5 + 6,7anos.
Num trabalho de Araújo (1999), realizado em Caxias do Sul, em 1995, com
5.528 casos de nascimentos, foi verificado que a idade média das mães foi de 26,4
anos no momento do parto. A mãe mais nova tinha 10 anos e a mais velha 54
anos. Tomasi e cols., em um estudo realizado em Pelotas, em 1993, verificaram a
idade média das mães em 26 anos.
Idade gestacional: A média da IG no presente estudo foi de 38,9 + 1,4 semanas,
variando de 33 a 44 semanas. Inicialmente, esse estudo seria feito apenas com
crianças a termo, mas, quando vimos que o percentual de prematuros foi pequeno,
optamos por não excluir os dados. No estudo de Araújo, em que 5.528
nascimentos foram avaliados, a média foi de 38,7 semanas de gestação e a
mediana, de 39 semanas. A informação da idade gestacional foi obtida na maioria
dos casos pela data da última menstruação e pela avaliação pediátrica através do
método de Capurro quando disponível. O cálculo do índice de Capurro deve ser
realizado assim que o bebê nasce. Não é difícil de ser feito, pois usa dados
anatômicos do RN, mas, como envolve cálculos para se obter o resultado, foi
muito pouco usado e praticamente encontrado apenas nas fichas de RNs do
Hospital Geral, que é um hospital escola.
Antecedentes obstétricos: A média de gestações foi de 2,22. Araújo (1999)
encontrou a média de 2,1 + 1,4 gestações, e Tomasi (1996) encontrou a média de
1,3 filhos. Para Araújo, esses dados diferem do restante do país, pois segundo a
Secretaria da Saúde e Meio Ambiente, o Rio Grande do Sul tem uma média de
gestações mais baixa que outros estados, sendo que nos últimos anos, a média do
Estado do RS foi de 2,2 gestações. Araújo cita um trabalho de Tanaka (1986) que
relata uma média de 3,19 gestações em um município da grande São Paulo.
Avaliando o número de gestações em relação ao local estudado, vemos que mães
pesquisadas nos hospitais com atendimento ao SUS (H. Pompéia e H. Geral)
tinham uma média de gestações superior às mães dos outros hospitais (P< 0,001).
Supomos, assim, que a natalidade é maior entre a população de nível sócio-
econômico menor (Tabela 3). Esse dado foi também verificado por Victora, em
1988, que encontrou 5 vezes mais múltiparas no grupo de gestantes de menor
renda.
Em relação aos abortamentos, Araújo verificou que 11,5% das mulheres
tiveram um ou mais abortos anteriores, sendo que 9,2% tiveram apenas um aborto.
Tomasi e cols. observaram 28,2% de mulheres com história de um ou mais abortos.
No trabalho deste autor, a frequência de abortamentos não variou em relação à renda
familiar. No presente estudo, comparando a média de abortamentos encontrada com
o nível sócio-econômico das entrevistadas, não verificamos diferença
estatisticamente significativa (P=0,714), mostrando ser este um problema que atinge
igualmente todas as classes sociais (Tabela 4).
Tabagismo e drogas: Esse dado foi perguntado às mães que estavam presentes
ao exame dos filhos, sendo que a maior dificuldade dessa pergunta foi porque,
muitas vezes, o quarto era coletivo, e a mãe podia não se sentir à vontade para
responder corretamente. Do total de 851 mães entrevistadas, 75,6% não
fumaram, 23,7% fumaram e 0,7% usaram drogas durante a gestação. O hábito de
fumar traz inúmeros riscos para a mãe e o RN. uma redução no peso do
concepto entre 150 e 250 gr, sendo o fumo um dos determinantes mais
importantes e previsíveis de baixo peso entre os RNs ( Araújo, 1999). No estudo
de Araújo, 18,7% das mães eram fumantes. Victora e cols., citado por Araújo, em
estudo realizado em Pelotas, no ano de 1982, encontraram 35,6% de mulheres
fumantes durante a gestação. Em 1993, o mesmo autor encontrou uma incidência
ligeiramente menor, com 33,4% de gestantes fumantes, e o predomínio de
fumantes era entre as mães de baixa renda. Essas diferenças encontradas sugerem
que o hábito de fumar pode ser regionalizado, com variação entre os locais
estudados e também, possivelmente, com diferenças entre os períodos do estudo.
Nos Estados Unidos, estudos recentes mostram diminuição na taxa de gestantes
fumantes (Araújo, 1999).
Pré-natal: A saúde do RN está relacionada com a história da gestação e do parto.
Segundo Araújo (1999), diversos estudos têm relatado correlação positiva da
freqüência ao pré-natal com o peso ao nascimento e mortalidade infantil. O início
precoce do pré-natal pode identificar as situações de risco, podendo até prevenir
malformações congênitas. Nesse estudo, apenas 18 mães não fizeram nenhum
acompanhamento pré-natal (1,1%). No estudo de Araújo, 3,2% das mães não
fizeram nenhuma consulta, enquanto 84,6% fizeram pré-natal adequado. Um
estudo de Costa e cols. (1996) relata que 4,8% das mulheres da cidade de Pelotas
não fizeram nenhuma consulta pré-natal. Comparando esse valores, verificamos
que atualmente há uma tendência maior na procura do pré-natal pelas gestantes.
Tipo de parto: A incidência de cesáreas no Brasil tem atingido números
alarmantes. Em nosso estudo, o parto foi vaginal em 43,2%, cesárea, em 55,7%, e
cesárea de urgência, em 1,1%. Nos Estados Unidos, até os anos 70, as taxas de
cesárea situavam-se abaixo de 5% e, em 1995, a taxa foi de 20,8%, sendo
estimado que metade dessas cesarianas foram possivelmente desnecessárias
(Araújo, 1999). Dados semelhantes foram vistos no estudo de Araújo, com 55,7%
de parto cirúrgico e 44% de parto normal, sendo que, nas gestantes com
escolaridade de nível superior, este índice foi de 82% de cesáreas. Costa e cols.,
em 1996, observaram 31% de cesarianas em Pelotas, com 55,7% no grupo de
mães com renda maior de 10 salários mínimos.
Infelizmente, também no presente estudo, quando comparamos os índices de
cesárea e o hospital de atendimento, verificamos diferença significativa entre
hospitais com atendimento público e hospitais de atendimento privado (Tabela 7).
No Hospital Geral, o índice de cesáreas é o menor, o Hospital Pompéia vem a seguir,
sendo que ambos são diferentes estatisticamente do restante do grupo (P<0,005). Isso
nos permite inferir que as pessoas com maior poder aquisitivo têm um maior acesso a
esse procedimento e que se trata de uma opção pessoal e não uma necessidade
médica.
6.2 Variáveis do RN
Idade: Para obter resultados com maior confiabilidade, todos os RNs foram
examinados até o terceiro dia de vida, estreitando o período de modificações e
crescimento rápido.
Sexo: 855 meninos (50,2%) e 849 meninas (49,8%). O trabalho de Araújo, com
RNs, desenvolvido em Caxias do Sul, mostrou uma proporção maior de meninos
(50,1%) em relação às meninas (49,9%).
Peso e comprimento: O peso ao nascer reflete o que foi a vida intra-uterina do
RN, sendo apenas o reflexo de inúmeros fatores que, muitas vezes, estão
associados entre si, tais como as condições sócio-econômicas, educacionais e de
assistência, considerando-se que é do equilíbrio desse fatores que resulta o ritmo
de crescimento fetal e, consequentemente, o peso ao nascer. Nesse estudo, foi
encontrado peso variando de 1.830 a 4.815g, com média de 3.151 + 446g. Houve
diferença estatística da média de peso entre meninos (3.186g) e meninas (3.116g).
O estudo de Araújo encontrou a média de 3.144 + 532g com mínimo de 500g e
máximo de 5.480g, em relação ao sexo, a média para meninos foi de 3.213g e
para meninas 3.101g. O comprimento médio foi de 48,43 + 2,08cm, com mínimo
de 40cm e máximo de 56cm. Calculando a média do comprimento entre meninos
(48,7cm) e meninas (48,1cm), também houve diferença estatisticamente
significativa.
6.3 Genitália Externa Masculina
Pênis: Comparado com medidas de pênis flácido, o pênis medido sob tração é
mais confiável e reprodutível e continua sendo gold standard para comparar
medidas penianas (Schonfeld, 1943; Feldman,1975). A técnica preconizada para
medir o pênis é segurar a glande firmemente e tracionar até obter resistência.
Usando uma régua rígida, mede-se a distância entre a sínfise púbica, deprimindo a
gordura pré-púbica, até a ponta do pênis, descontando o prepúcio (Figura 2).
Usamos a técnica descrita por Schonfeld, e a média dos valores que encontramos
foi de 3,36 + 0,44cm (IC95%: 3,33 a 3,39), semelhantes a outros trabalhos que
usaram a mesma técnica. Em todos os estudos, sempre críticas ou falta de
dados. Flatau (1975) estudou 100 meninos a termo com média de comprimento
peniano de 3,5 + 0,4cm, mas a incidência de circuncisão não foi relatada,
Schonfeld encontrou média de 3,75cm e também não avaliou a circuncisão.
Segundo Smith, diferença (p=0.036) na medida de pênis circuncisado e não
circuncisado, sendo maior as medidas do pênis circuncidado. Feldman e Smith
(1975) examinaram 63 RNs com média do tamanho peniano de 3,5 + 1,1cm,
todos medidos antes de serem circuncidados, mas não avaliou raça. Koff estudou
463 RNs, mas a medida peniana foi feita sem tração. Smith defende que o uso do
ultra-som para medida do pênis em meninos com anomalias pode ser mais
fidedigno.
Reilly (1989) e Aaronson (1994) definem micropênis quando a medida do
pênis sob tração for menor que a média menos 2,5 vezes o desvio padrão. Assim, 9
meninos (1,1%) tiveram medidas do pênis sob tração menor que 2,26cm e deverão
ser avaliados quanto às causas de micropênis. Aaronson cita dados compilados por
Lee no qual meninos a termo, com medida do pênis sob tração menor que 1,9cm,
teriam diagnóstico de micropênis. Franks (1964) sugere que uma medida do pênis
menor que 2,0cm estaria abaixo dos limites da normalidade. Não encontramos na
literatura a incidência dessa anomalia, mas Koff (1992) que mediu pênis sem tração
encontrou 3,9% de meninos com microfalo.
Alguns autores associam o comprimento do pênis com peso e comprimento do
RN e com IG. Nosso estudo mostrou associação fraca entre essas variáveis com r
=0,18 para o peso e r= 0,14 para o comprimento. Esses dados estão de acordo com o
que Schonfeld, 1943, relata: não relação entre o tamanho peniano e o tamanho do
corpo. Flatau e cols. (1975) relatam correlação significativa entre tamanho
peniano e peso, comprimento e idade gestacional. Feldman & Smith (1975) relatam
associação apenas do tamanho peniano com a idade gestacional.
Eixo do pênis: A direção do pênis em relação ao eixo do corpo foi central em
69,9%, desviada para a direita em 11,7% e desviada para a esquerda em 18,4%.
Ben-Ari e cols. (1985) que também estudaram essa característica, encontraram
desvio em 23,2% com predomínio para o lado esquerdo. Koff e cols. (1992)
também avaliaram essa característica da genitália e encontraram desvio em
apenas 10,4% sem predomínio de lado.
Meato: O meato não é facilmente visível nos RNs em virtude da aderência do
prepúcio com a glande como mencionado. No nosso estudo, após uma tração,
não traumática e sem causar fissuras, no prepúcio, o meato uretral foi visível em
apenas 219 meninos (25,6%) e estava desviado em 2,8% dos meninos
examinados. Desses meatos visíveis, 10,8% apresentavam o eixo do meato com
desvio anti-horário de 45 graus e 0,5% com desvio anti-horário de 90 graus. Não
foram encontrados, nessa amostra, desvios do meato no sentido horário. O desvio
do meato foi sempre acompanhado por desvio da rafe mediana. Koff e cols.
(1992) encontraram meato visível em 54 meninos (11,7%) e o desvio do meato,
no sentido anti-horário, em 11,1%. Esses valores são bem diferentes de Ben-Ari
(1985) que não conseguiu retrair o prepúcio em apenas 23,2% dos RNs e
encontrou desvio do eixo do meato, no sentido anti-horário, em 2,2%. Isso talvez
se deva a maior proporção de meatos visíveis e analisados. Num estudo de
Kayaba (1996), realizado no Japão, onde a circuncisão também não é rotina,
encontramos que em meninos menores de 6 meses não foi possível a retração do
prepúcio em 47,1%; extrapolando esses valores, podemos inferir que esse número
seria maior se apenas RNs fossem avaliados.
Não medimos o calibre do meato uretral nesse estudo, mas visualmente
encontramos estenose em apenas um menino com hipospádia distal que foi
submetido a meatotomia antes da alta do berçário.
Tipo de meato: Na literatura, a incidência de hipospádia varia de 4,4% a 8% em
meninos nascidos vivos, segundo a classificação temos 74,3% de balânicas e
distais, 7,4% médias e 17,5% proximais e perineais (Silveira, 1998). Esses dados
são bastante semelhantes aos nossos resultados em que o meato era típico em
95,9% e hipospádico em 9 meninos (4,1%). A hipospádia foi classificada de
acordo com a posição ventral do meato nesses 9 meninos e encontrado 33,3%
balânicas, 55,6% distais e 11,1% média. Não foram encontrados meninos com
hipospádias proximais ou escrotais. Segundo Khuri (1981), uma maior
associação de criptorquidia e hérnia em meninos com hipospádia proximal. No
nosso estudo, dos 9 meninos com hipospádia, apenas dois apresentavam
associação com hidrocele ou hérnia. Nenhum associava criptorquidia.
Prepúcio: O prepúcio é aderido à glande ao nascimento em maior ou menor grau.
Estava presente em todos os RNs examinados, sendo incompleto ou dorsal nas
hipospádias. Classificado como longo (67,3%), médio (20,5%) e curto (12,2%). A
alta incidência de prepúcio curto talvez se deva por considerarmos prepúcio curto
quando a glande podia ser vista mesmo que uma mínima parte sem tração do
prepúcio. A classificação de longo e médio é difícil, pois a diferença entre eles
não é precisa, podendo variar entre os observadores de trabalhos distintos. Essa
mesma classificação foi usada por Ben-Ari que encontrou 10% de prepúcio curto.
Koff encontrou 7,2% de prepúcio curto, 16,1% longo e o restante médio ou
normal. A aderência balano-prepucial estava completa em 79,7% e incompleta em
20,3%.
Rafe mediana: A rafe mediana estava presente em todos os meninos examinados
e foi classificada nos tipos: reta (A), reta com divisão(A split), espiralada sem
desvio distal (C), espiralada com desvio distal para a direita (B), espiralada com
desvio para a esquerda (D) e espiralada com desvio terminal e torção do pênis
(E). As rafes medianas retas totalizaram 70,2%, sendo 54,5% tipo A e 15,7% A
split. As rafes espiraladas totalizaram 29,8%, sendo 5,3% tipo B; 9,1% tipo C;
12,5% tipo D e 2,9% tipo E. Ben-Ari encontrou 83% de rafe reta e 17% de
espiraladas e Koff encontrou 66,1% retas e 33,5% espiraladas. Os desvios da rafe
em espiral com término no freio devem ocorrer pela assimetria na fusão das
pregas genitais que originam a uretra e provavelmente não tenham significado
clínico. Os desvios distais, sem desvio do meato, são explicados pela fusão do
prepúcio que não têm relação com a formação da parte distal da uretra. A rafe tipo
E, que associa desvio do meato, foi encontrada em 2,9% dos meninos e em todos
eles o desvio se iniciava na parte proximal do pênis e implicava em torção do
pênis. Isso se devido ao desenvolvimento embriológico da rafe que é formada
pela fusão das pregas genitais que se fundem para formar a uretra. Concluindo,
desvios distais da rafe não associam desvios de meato, mas desvios proximais da
rafe podem associar desvios de meato. Isso se torna importante quando o meato
não pode ser visualizado, e a forma da rafe mediana pode ser a única indicação de
torção peniana em RNs com essa anomalia (Ben-Ari, 1985). Pequenos graus de
torção peniana são comuns, mas torção de 90 graus ou mais aparece com
freqüência ao redor de 0,5% nesse estudo. A verdadeira prevalência de torção do
pênis ao nascer não existe na literatura.
Escroto: O escroto se forma pela migração caudal das proeminências
labioescrotais que se fundem na linha média abaixo do pênis. A migração
incompleta resulta em algum grau de transposição penoscrotal, e a fusão
incompleta, em escroto bífido. Encontramos o escroto com características
normais em 828 meninos (96,8%) e alterado em 27 meninos, sendo que 1,5% dos
meninos apresentavam uma inserção alta da bolsa escrotal, considerado
transposição incompleta, 0,4% escroto bífido, 1,0% com atrofia associada à
testículo criptorquídico. O escroto é relativamente resistente a anomalias
congênitas isoladas, mas algumas malformações são vistas em associação a outras
anomalias como ânus imperfurado e anomalias do trato urinário. Como nesse
estudo avaliamos somente RNs sem outras malformações, não encontramos
muitas anomalias do escroto.
Hérnia e hidrocele: Por volta do terceiro mês de vida, aparece, na parte inferior
do abdome, uma evaginação do peritônio em direção à região inguinal. O
testículo, que é embriologicamente um órgão intra-abdominal, migra
caudalmente a partir do sétimo mês de vida fetal até atingir a bolsa escrotal. A
descida testicular é guiada pelo gubernaculum testis e se realiza pela ação de
hormônios androgênicos secretados localmente. Com o posicionamento final do
testículo, o conduto peritônio vaginal é reabsorvido em direção caudal, e a
reabsorção é completa ao longo do trajeto de descida, à exceção da porção que
envolve o testículo que é a túnica vaginal. Na menina, o ligamento redondo se
fixa externamente ao púbis e também é acompanhado dessa evaginação do
peritônio com a mesma sucessão de eventos. A reabsorção incompleta do conduto
peritônio vaginal permite a passagem de estruturas intra-abdominais para a região
inguinal e explica o aparecimento da hérnia inguinal indireta e da hidrocele
comunicante que tem incidência ao redor de 4% em RNs a termo e ao redor de
30% em pré-termos (Velhote,1998). Havia hidrocele em 167 meninos (19,6%),
sendo bilateral em 42,9%, à direita em 40,5% e à esquerda em 16,7%. Não foi
avaliada se a hidrocele era ou não comunicante, mas foram evidenciados três
meninos com aumento do volume escrotal redutível à direita e, por isso,
diagnosticado hérnia inguinal. A hidrocele não comunicante não deve ser operada
antes dos seis meses de vida, devido à possibilidade de reabsorção.
Testículos: Os testículos durante a sua descida podem não chegar até o escroto ou
ter localização ectópica. A criptorquidia é geralmente acompanhada da falta de
reabsorção do conduto peritônio vaginal e, não raro, apresenta uma hérnia clínica.
A incidência de criptorquidia na literatura varia entre 3 e 6% nos RNs a termo,
sendo maior em prematuros. Berkowitz (1993), que avaliou 6.935 RNs, encontrou
3,7% de criptorquidia ao nascimento, mas essa incidência era de 1% aos três
meses, também encontrou que RNs pesando mais de 2.500g e maior de
37semanas de gestação tem a incidência de criptorquidia de 2,08 a 2,22% ao
nascimento. Nesse estudo, foi encontrado um baixo índice de testículos fora do
escroto (1,8%). Em duas crianças, os testículos estavam fora da bolsa
bilateralmente. O testículo direito não foi encontrado na bolsa 8 vezes e o
testículo esquerdo não foi encontrado na bolsa em 9 exames. Olsen (1989)
estudou 37 meninos com testículos fora do escroto e mostrou que existe diferença
no diagnóstico da posição e da mobilidade dos testículos entre dois observadores
distintos nas mesmas condições de exame. Isso poderia justificar em parte essa
variabilidade na incidência de criptorquidia, também poderíamos justificar com o
fato de só termos examinado RNs sem malformações grosseiras aparentes.
6.4 Genitália Externa Feminina
A exposição de um feto feminino a andrógenos durante a organogênese pode
causar diferentes formas de virilização. Mesmo na ausência de hipertrofia do clitóris,
podemos encontrar fusão labial como o único sinal de virilização em meninas. A
masculinização da genitália externa da menina não implica em clitoromegalia. Nesse
estudo, apenas uma vez o clitóris foi considerado hipertrofiado (0,1%), o restante foi
normal à inspeção. O clitóris no RN pode parecer anormalmente proeminente
principalmente em prematuros. Isso ocorre porque o clitóris atinge seu tamanho final
por volta de 27 semanas de gestação e não cresce muito até o primeiro ano de vida
(Riley & Rosenbloon, 1980).
As malformações dos pequenos lábios quase sempre são assintomáticas, como
as aderências, ou resultar apenas em problema estético, como as hipertrofias. Não foi
encontrado nenhum caso de aderência neonatal e apenas uma menina com hipertrofia
de pequenos lábios sendo que não era a mesma com hipertrofia do clitóris. Capraro
(1972) cita que apenas uma vez a aderência de pequenos lábios foi relatada ao
nascimento provavelmente como resultado de uma inflamação intra-útero.
As características do men neonatal foram discutidas anteriormente e não
foram detalhadas nesse trabalho. O hímen foi normal em 99,6%, mas foram
encontradas duas meninas com hímen imperfurado e que foram submetidas à
cirurgia, e uma menina com septo transversal de hímen. Jenny (1997) encontrou 3 a
4% de apêndices e estrias do hímen; nós não fizemos avaliação minuciosa do hímen
e não investigamos detalhes de sua anatomia. Berenson (1993), que mostrou o
predomínio de hímen anular ou fimbriado no período neonatal, mostrou que esse
achados não se correlacionam com a aparência himenal em meninas maiores em que
o estrógeno está diminuído.
Wolff (1977) relatou caso em que ocorreu fusão dos pequenos lábios sem
clitoromegalia e sugere que seu paciente pode ter tido os folhetos genitais, que
formam os pequenos lábios, mais sensíveis ao andrógeno que o clitóris. Essa fusão
é estimada pela medida dada entre o ânus e a fúrcula. Como ela pode ser influenciada
pelo tamanho da criança, a proporção AF/AC é mais usada para acessar a fusão
labial (Phillip, 1996).
Ânus-fúrcula: Essa medida foi realizada em 713 meninas, sendo a média de 1,63
+ 0,25cm (IC95%: 1,62 a 1,65), com mínimo de 1,0cm e máximo de 2,5cm.
Phillip (1996), num estudo com RNs a termo e peso maior que 2.750g de duas
raças distintas, encontrou valores de 1,61 + 0,2cm para judeus e 1,65 + 0,2cm
para beduínos. Callegari (1987), num estudo com 115 RNs com idade gestacional
de 25 a 42semanas e média de 36,4 semanas, encontrou valores de 1,09 +
0,35cm. A diferença na média das medidas em relação ao estudo de Callegari é,
provavelmente, pela inclusão de RNs prematuros na pesquisa desse autor.
Ânus-clitóris: A medida variou de 2,4cm a 4,8cm, com média de 3,66 + 0,31cm
(IC95%: 3,65 a 3,69). Para Phillip (1996), os valores dessa medida foram de 3,41
+ 0,25cm para judeus e 3,39 + 0,24cm para beduínos. Para Callegari (1987), essa
medida teve média de 2,96 + 0,63cm, lembramos que este autor incluiu RNs pré-
termos na sua pesquisa.
AF/AC: O índice foi de 0,44 + 0,05( IC95%: 0,436 a 0,444), variando de 0,26 a
0,71. O percentil 95 do nosso trabalho foi de 0,53. Essa medida tem pouca
variação com tamanho ou idade, é relativamente simples e útil para diagnóstico
de virilização. Encontramos valores um pouco diferentes da literatura. Segundo
Callegari (1987), em meninas normais, a medida do segmento AF é 1/3 da
distância AC ( 0,37 + 0,07), se AF for metade ou mais da medida AC, esses
valores excedem o IC de 95% e deverão ser investigados. Phillip também usou
essa medida em meninas a termo e maiores de 2.750gr. e encontrou valores de
0,47 + 0,05 para judeus e 0,48 + 0,05 para beduínos.
A média das medidas encontradas foi maior que alguns estudos e menor que
outros. Essa diferença existe provavelmente devido à técnica usada em cada estudo,
pois, em nosso trabalho todas as crianças foram medidas pelo mesmo pesquisador,
que usou sempre o mesmo método.
Concluímos que o presente estudo proporcionou dados da anatomia da
genitália externa de recém-nascidos de ambos os sexos. Diante de um achado
anormal na genitália externa, estudos adicionais deverão ser feitos e, por isso, os
valores normais e as variações das características anatômicas devem estar
disponíveis ao examinador.
Para o futuro, novos estudos deverão ser feitos com o objetivo de acompanhar o
desenvolvimento da genitália e as características do seu crescimento.
7. CONCLUSÕES
Os resultados do trabalho permitem que se estabeleçam as conclusões abaixo.
- Houve uma discreta prevalência dos nascimentos do sexo masculino.
- Os meninos foram mais pesados e mais compridos que as meninas com diferença
estatisticamente significante.
- A média do tamanho peniano na população estudada foi de 3,36cm e determinou-
se que pênis menor que 2,26cm terá diagnóstico de micropênis e deverá ser
investigado quanto às causas.
- Verificou-se que uma torção peniana leve pode ser encontrada com maior
freqüência que as de 90 graus ou mais.
- O tipo de rafe mediana, em que o desvio é na porção proximal do pênis, pode
associar desvios do meato.
- Quando encontramos um índice AF/AC maior que 0,53, devemos investigar as
causas de virilização na menina, tais como a hiperplasia de adrenal.
- Todas as medidas são muito variáveis e dependentes da técnica empregada.
Assim, o melhor seria que essas medidas fossem padronizadas em cada
instituição.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANEXO 1
FICHA DE AVALIAÇÃO DA GENITÁLIA EXTERNA DE
RECÉM- NASCIDOS
RN DE __________________________________________________________________
Identificação: ________________ Hospital: ___________________________________
DADOS MATERNOS
Idade: ________ Idade Gestacional: ________________ Gesta_______ Aborto______
Pré-natal:__________1-sim 2-não Moradia: ______1-urbana 2- rural
Etilismo:____ Tabagismo:____ Drogas:________ Medicação: ___________________
DM: ____ DM Gestacional:_____ HAS: _____ Pré – eclampsia: _____ITU: ______
DADOS DO RN
Idade: _______hs DN ________________ Dia do exame _____________, _______hs
Parto: ________1- normal 2-cesárea 3- ces. urgência 4-outros
Sexo: ________ 1- masc. 2- fem. 3- indet. Peso:_______ Altura:_______
Apgar: ____________ Capurro: _______________
Eco Prénatal: ______1-sim 2-não Achados:_______________________________
MALFORMAÇÕES ASSOCIADAS
__________________________________________________________________________________
________________________________________________________________
GENITÁLIA
Pênis: ________cm Eixo: ______1- normal 2- para a direita 3- para a esquerda
Meato Uretral: __________mm
1- visível 1-normal
2- epispádia
3- hipospádia 1- balânica Ângulo do meato:
2- distal 1- 0
3- media 2- 45
4- proximal 3- 90
5- escrotal
6- seio urogenital
2- não visível
Prepúcio:_________1-longo Aderência Balano-Prepucial : ___________1-completa
2- médio 2- incompl
3- curto
Rafe Mediana: ______ A reta A split B C D E
Clítoris: _______ 1- normal 2: hipertrofiado Ânus-clítoris: ___
Pequenos Lábios: _______ 1- normal 2- sinéquia 3- hipertrofia Ânus-fúrcula:___
Escroto: ________1- normal
2- atrófico
3- bífido
4- transposição incompleta
5- transposição completa
Testículos: ______1- tópico
2- retrátil
3- no canal
4- não palpável 1- direito
2- esquerdo
Hidrocele: ______ 1- sim 3- bilateral
2- não
Hérnia inguinal: _________
Extrofia de bexiga: ________________ Cloaca: _______________________
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