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Cada tempo tem a cultura que merece. O nosso, que é o tempo dos meios
de comunicação, e que parece, graças ao automóvel, ao avião, ao telefone,
e à rádio, à televisão, ter suprimido a distancia entre o homem e o homem,
nada fez para conseguir a única verdadeira aproximação do diálogo
autêntico. E semelhantemente, a nossa época, em que se vê afirmar-se,
para além da civilização do trabalho, a que se consagra a humanidade
recente, uma civilização dos tempos livres, não parece procurar os tempos
livres senão no escape ao trabalho e na distração de si próprio. Ora a
essência da cultura reconcilia trabalho e tempo livre na confrontação do
homem com o homem, na busca em comum de uma verdade que congrega
a humanidade (GUSDORF, 1970, p.234).
É óbvio que a cultura, DNA de toda sociedade, se articula na necessidade de
cada tempo, como diz Georges Gusdorf, e, partindo deste ponto, é fundamental
pensar a educação num mundo de especializações e fragmentações, que se une e
se distancia numa globalidade midiática, sufocada de ausências e vazias de
presença, pode ser o fiel da balança. E, de certo, que é preciso cultivar outra
humanidade: “Tanto em nossa educação quanto em nosso lazer precisamos cultivar
o homem “total” e nos concentrarmos nas habilidades criativas do ser humano”
(COURTNEY, 2003, p.4).
A humanidade ocidental veio, ao longo do século XX, perdendo a sua
devoção ao cientificismo céptico e, no decorrer das últimas décadas, tem posto em
pauta as carências do “império” das objetividades. Por conseguinte, a educação não
pode se abster de enfrentar o estado das coisas, é na escola que se prepara a
próxima humanidade, é do interior dela que saem os novos personagens sociais. E
são estes personagens que farão as “cenas” da sociedade vindoura.
Então, quando as professoras trazem questões como ...entendo o teatro
como um fazer social (ÁRVORE), faz-se necessário observar que estes agentes são
os que, de uma maneira ou de outra, estão operando mais próximos na emergência
do “homem total” (COURTNEY, 2003). E, nesse sentido, pode ser pensada além do
“processo educacional (uma filosofia), [...] de ajudar o desenvolvimento individual
(uma psicologia) ou assistir o indivíduo em sua adequação ao meio (uma sociologia)
[...] é o mais efetivo método para todas as formas de educação” (COURTNEY, 2003,
p.278).