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“Esse termo está na moda atualmente entre os que se preocupam com a
renovação do ensino, e deriva da pedagogia de Paulo Freire. Mas ele é usado em
pelo menos dois sentidos bastante diferentes. Suas origens extrapedagógicas,
como se sabe, localizam-se na idéia de “consciência de classes” ou consciência
“para si” (da classe, o “em si”), e também no movimento operário foi alvo de uma
polêmica entre os que pensavam que a consciência deve ser trazida à classe de
fora (através da parcela da pequena burguesia que teria assumido o marxismo e o
socialismo, e se organizado num partido; a classe por si só seria incapaz de atingir
uma consciência política mais aprofundada), e os que pensavam que essa
consciência ocorre na luta e pela luta (seja sindical, de greves, operações
tartaruga, criação de um partido, etc.) e que a classe não precisa que ninguém a
“organize” ou “conscientize”. Muitos professores raciocinam em termos de classes
(sociais) e conscientização nessas formas apropriadas do movimento operário.
Pensamos que isso é um equívoco. O educando, em geral (estamos falando de 1º
e 2º graus evidentemente), não é um trabalhador, mas sim uma criança ou um
adolescente que está formando em termos de personalidade, e apresenta
diferenças conforme a faixa etária ou a condição sócio econômica. Escola não é
seu local de trabalho, nem um sindicato e nem um partido político.” VESENTINI
(1992:29-30).
Moreira
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faz parte do grupo que desenvolve uma visão geográfica
comprometida com o social, contrária a seqüência clássica de relevo, clima,
vegetação, rios, população, partindo da análise das relações que envolvem o sujeito
com as categorias citadas, e o seu contexto histórico, para, a partir daí, desenvolver
o processo de produção do conhecimento geográfico nas academias, que passa por
um longo período de adaptação e de qualificação do seu corpo docente.
Este processo encontrará aceitação de poucas editoras, mas o suficiente para
alavancar uma inovação dos livros didáticos ao menos em termos de forma. Melhem
Adas, articulando conhecimentos de História, Política, Economia, Estatística,
Sociologia, e uma base cartográfica e de teoria geográfica consistente, seria o autor
mais divulgador das novas metodologias, abrindo espaço para tantos outros que,
imbuídos de aproximar a ciência do senso comum, trariam novos ares para o ensino.
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MOREIRA, Ruy, Repensando a Geografia. IN: SANTOS, Milton. Novos rumos da Geografia
Brasileira. Aponta para a necessidade de reformulações nas abordagens teóricas, aprofundando
questões que reconheçam o espaço, como integrante das ações da sociedade em transformação, e
a Geografia, apropriando de um discurso mais humanista, contrário ao discurso economicista, que
menosprezou o político, o jurídico, o militar e o ideológico.