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Outra descoberta é a classificação das virtudes. Primeiramente Aristóteles faz uma distinção
na alma humana: a que concebe um princípio racional e a desprovida de razão. Também dissemos que
há no homem duas espécies de virtudes, as Intelectuais e as Morais; as virtudes intelectuais são
resultado do ensino e necessitam de tempo; já as virtudes morais são resultado do hábito, e é pelo
exercício que as adquirimos. Para isso resumimos neste trabalho treze virtudes morais, explicitando
serem elas o meio-termo em relação a dois extremos viciosos. O próximo passo foi resumir as cinco
virtudes intelectuais; chegamos à conclusão de que as intelectuais são as melhores, porque a melhor
parte do homem é aquela que concebe um princípio racional. Dentre as virtudes intelectuais, a
sabedoria é superior.
Outra contribuição significativa desse trabalho foi ter esclarecido qual é o ideal de felicidade;
a conclusão foi de que feliz é aquele que vive as virtudes dentro da pólis. É aquele que vive uma vida
intelectual, sendo capaz de dirigir bem a vida, deliberando de modo correto o que é bem ou mal para
si. É o exercício dessa virtude que constitui a perfeição da atividade contemplativa, e dessa forma que
é possível alcançar a felicidade máxima.
Podemos avaliar a ética aristotélica, dizendo que sempre se pensa a ética na pólis; não há
ainda a concepção de indivíduo separado de sua cidade. A vida ideal e feliz é a vida racional; essa
vida feliz supõe a estima de si mesmo e a amizade.
Na ética Aristotélica, toda ação humana está orientada para a execução de algum bem, ao
qual estão unidos o bem e a felicidade; o bem possui o caráter de causa final, que age sobre o agente.
Mas há uma dificuldade em determinar em que consiste esse bem e essa felicidade, já que não há a
identificação do sumo bem do homem com deus, a ele corresponde o bem mais alto em si mesmo.
Para Aristóteles há muitos bens: uns são preciosos, dignos de estima como a virtude, a alma e o
entendimento; outros são desejáveis, como as virtudes que servem para agir bem; outros, como a
força, o poder, a riqueza e a beleza são simplesmente potências, que podem ser empenhadas para o
bem ou o mal; outros, como a saúde e a ginástica, contribuem para a prática do bem; uns como a
justiça e as virtudes são sempre desejáveis, e outros, como a força, a riqueza e o poder nem sempre o
são; alguns bens possuem finalidade, como a saúde, outros são meios para consegui-la, como a
medicina; alguns bens pertencem à alma, como a virtude, outros ao corpo, como a saúde e a beleza,
outros são exteriores, como as riquezas. Usando o método da exclusão, descarta-se que os bens do
homem sejam os prazeres sensíveis, tampouco consistem nas riquezas, que são apenas meios para a
felicidade; tampouco a glória e a honra, que são apenas uma compensação na vida política. Para
determinar quais são os bens e a atividade própria do homem, Aristóteles analisa as funções do ser
humano: uma é viver, mas esta é comum aos homens e às plantas, outra é sentir, que também é
comum ao homem e aos animais, a terceira, e a que distingue verdadeiramente o homem, é a atividade
racional; portanto, essa é sua atividade própria, e assim a vida do homem deve consistir em viver
conforme a razão. Mas isso não basta: a razão deve dirigir e regular todos os atos da vida do homem,
e isto consiste essencialmente na vida virtuosa. E, como há muitas virtudes, esta fórmula deve
completar-se dizendo que a perfeição do homem, logo, seu bem e sua felicidade, é a atividade dirigida
pela virtude mais alta e elevada, a sabedoria, porque ela é a virtude das virtudes. No primeiro livro da
Ética à Nicômaco, Aristóteles detém-se nesse ponto; mas no livro X, tratando do mesmo tema, ele