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RESUMO
Como profissional, professora, é possível perceber em momentos vários que as professoras,
de modo geral, enunciam vários descontentamentos no seu fazer docente, o que as levam a
lamentar, no entanto não abandonam à carreira docente. Por outro lado, é um crescente no
Brasil o número de mulheres que lamentam por sofrerem violência doméstica. A partir dessas
lamentações, esta dissertação se propôs a analisar o discurso de professoras de nível de ensino
básico e de mulheres depoentes na Delegacia de defesa da mulher. A aparente desarticulação
entre os discursos a serem analisados torna-se compreensível se analisarmos esse ponto de
intersecção. A docência constituiu uma das primeiras conquistas da mulher no sentido de que,
pela primeira vez, deixa o espaço privado e se constitui como pessoa pública, já a depoente
conquista o direito de trazer para o espaço público aquilo que se esconde no privado. Foi,
mais precisamente, a percepção assistemática da existência de um ponto de intersecção entre
os dizeres de professoras e de depoentes que motivou a presente pesquisa: ambas
apresentavam em comum um discurso de lamentação. Este estudo, assim, tem origem na
manifestação da inquietação que existe nas mulheres que as levam a lamentarem. A hipótese
para esse discurso pautado na lamentação é que as mulheres repetem um discurso histórico da
condição feminina. Estabelecida a hipótese inicial, este trabalho assumiu como objetivo
detectar, no discurso produzido por professoras e depoentes, o discurso comum que enunciam
uma determinação histórica da condição feminina. Os dispositivos da análise do discurso de
linha francesa constituíram os instrumentos para a análise do discurso produzidos nos dois
espaços em que se inserem essas mulheres: a sala de aula e a delegacia. Nesses espaços, é
possível visualizar a intersecção entre os espaços privados e públicos vivenciados e
estabelecidos pelas mulheres. A hipótese de que o discurso pautado na lamentação, presente
tanto no discurso de professoras como no discurso de depoentes, tinha origem na repetição de
um discurso histórico da condição feminina, de onde partiu este estudo, confirmou-se:
professoras e depoentes revelaram-se determinadas por um discurso histórico feminino,
segundo o qual lhes cabe abnegação e submissão. Para além dessa hipótese inicial, a análise,
permitiu a comprovação dos dispositivos de subjetivação de que fala Foucault. Ao se
apresentarem falando de si, reforçam a eficácia do dispositivo confessional postulado por
Foucault, revelando que a verdade sobre si se encontra não só nas mulheres, mas no ato da
confissão que se realiza entre as mulheres e seus ouvintes. A verdade flui no momento em que
elas se apresentam falando de si, em virtude de a verdade estar não só na materialidade
lingüística do enunciado das mulheres professoras e depoentes, mas no ato discursivo: a
verdade escapa-lhes no momento da enunciação. Se, por um lado, constituem-se como corpos
dóceis historicamente determinados para garantir o funcionamento das instituições escolar e
familiar em que elas se encontram inseridas, por outro lado, conhecem-se um pouco mais.
Palavras-chave: mulher, confissão, análise do discurso, o público e o privado.