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Universidade de São Paulo
Faculdade de Saúde Pública
A Contribuição da comunicação para a saúde: Estudo de
comunicação de risco via rádio na Grande de São Paulo
Marcelus William Janes
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Saúde Pública para
obtenção do título de Mestre em
Saúde Pública.
Área de Concentração: Serviços de
Saúde Pública
Orientadora: Profa. Dra. Maria Cristina
da Costa Marques
São Paulo
2007
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ii
A Contribuição da comunicação para a saúde: Estudo de
comunicação de risco via rádio na Grande de São Paulo
Marcelus William Janes
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Saúde Pública da
Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo para obtenção
do título de Mestre em Saúde Pública.
Área de Concentração: Serviços de
Saúde Pública
Orientadora: Profa. Dra. Maria Cristina
da Costa Marques
São Paulo
2007
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iii
É expressamente proibida a comercialização deste documento tanto na sua forma
impressa como eletrônica. Sua reprodução total ou parcial é permitida
exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, desde que na reprodução figure a
identificação do autor, título, instituição e ano da dissertação.
iv
*E a história humana não se desenrola apenas
nos campos de batalha e nos gabinetes presidenciais.
Ela se desenrola também nos quintais, entre
plantas e galinhas, nas ruas de subúrbio,
nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas,
nos namoros de esquinas. Disso eu quis fazer a
minha poesia. Dessa matéria humilde e
humilhada, dessa vida obscura e injustiçada,
porque o canto não pode ser uma traição à vida, e
só é justo cantar se o nosso canto arrasta
consigo as pessoas e as coisas que
não tem voz".
Ferreira Gullar, poeta, escritor e teatrólogo.
"Um homem que tem algo a dizer e
não encontra ouvintes está em má situação.
Mas pior ainda estão os ouvintes
que não encontram quem tenha algo a dizer-lhes"
Bertold Brecht - Teoria do Rádio (1927-1932)
v
À minha mãe Alice Valim Janes (In Memorian),
pelo inicio da caminhada, ao meu pai, Antonio
Janes, pela continuação da caminhada e
à minha esposa, Adriana Pagnossim Janes,
pela companhia na caminhada
vi
Agradecimentos
Este projeto é a concretização de uma longa caminhada que só foi possível graças
ao privilégio e a sorte de encontrar pessoas pelo caminho que me incentivassem,
apoiassem e ajudassem concretamente para que eu possa tê-lo levado a termo.
São elas:
Meu pai, Antonio Janes, minha mãe Alice Valim Janes (in memerian) e meus
irmãos Robinsom, Márcio e Álvaro que me proporcionaram as condições para que
eu chegasse aqui;
Meu irmão Robinsom, que através de seu exemplo de vida, despertou-me o
interesse pelas teorias científicas, discussão epistemiológica e pela pesquisa;
Minha esposa, Adriana Pagnossim Janes, pela companhia, solidariedade,
compreensão e pela ajuda prática em alguns momentos difíceis;
Minha filha Isabella Pagnossim Janes, pelos momentos de convívio sacrificados
para a produção desta pesquisa;
Minha sogra, Agda Maria Fernandes pelo incentivo e ajuda prática no cuidado à
minha filha e em fases de revisão;
Prof. Dr. Aristides Almeida Rocha, Diretor da Faculdade de Saúde Pública (FSP)
da USP ao apoio quando de meu ingresso neste programa de pós-graduação, à
Bel. Irene Vitenti, minha chefe e ao Prof. Dr. Chester Luiz Galvão Cesar, atual
Diretor da FSP/USP pela autorização para que eu pudesse cursar este programa
vii
de pós-graduação - mestrado, revelando sua sensibilidade para a importância do
aperfeiçoamento profissional de seus funcionários;
Meus companheiros de Seção Adilson Manoel Godoy e Adolpho Levy de Oliveira,
pela compreensão e ajuda, compartilhando minhas atividades profissionais nos
momentos em que tive de me ausentar para pesquisas;
Funcionários do Serviço de Pós-Graduação, Angela, Marilene, Samantha, Cidinha,
Renilda e Vânia, pelo incentivo e apoio;
Prof. Dr. Glavour Matté pelo incentivo, por interessar-se pelo meu projeto de
pesquisa e apresentar-me à minha professora orientadora;
Profa. Dra. Maria Cristina da Costa Marques, minha orientadora, pela paciência,
bondade, compreensão, firmeza com que acompanhou iluminando meu caminho
neste percurso;
Centro Colaborador em Vigilância Sanitária (CECOVISA) do Departamento de
Prática de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da USP pelo apoio
logístico e infra-estrutura necessária à execução desta pesquisa.
Membros do CECOVISA-FSP-USP, Fabiana, Patrícia, Raquele, Paula, Silvia pelo
incentivo e apoio;
Funcionários do Departamento de Prática de Saúde Pública da FSP/USP, Cidinha,
Sonia, Daniel e Lívia, pelo apoio;
Prof. Dr. Fernando Lefevre e Ana Lefevre pelo incentivo, companheirismo e ajuda
prática na produção da metodologia de minha pesquisa;
viii
Prof. Dr. Ismar Soares de Oliveira, por mostrar-me os caminhos da
educomunicação, campo do conhecimento pelo qual me apaixonei durante a
produção de minha pesquisa;
Prof. Dr. Paulo Rogério Gallo e sua equipe (Amadeu "Pardal", Cida e Janaina)
pelo incentivo e apoio junto às rádios comunitárias;
À Cátia e à Elaine por ajudarem-me nas revisões gramatical e bibliográfica.
Por fim, meu agradecimento aos radialistas comunitários pela compreensão,
apoio, solidariedade para com esta pesquisa, especialmente o Pde. Cilto, Jussara,
Janis, Regina, Ari e outros comunicadores da Rádio Cantareira e Prof. Ricardo
Campolim, Prof. Edson, Rose, Pardal e outros comunicadores da Rádio 8 de
Dezembro.
ix
RESUMO
JANES, M.W. A contribuição da comunicação para a saúde: Estudo de
comunicação de risco via rádio na Cidade de São Paulo. São Paulo;
2007 [Dissertação de Mestrado – Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo].
O presente trabalho tem o objetivo de analisar a partir da programação das rádios
comunitárias: “8 de Dezembro”, situada na Cidade de Vargem Grande Paulista e
“Cantareira”, situada na Vila Brasilândia, município de São Paulo, e dos
discursos de seus ouvintes, como ocorre a comunicação de riscos sanitários
inerentes ao campo da vigilância sanitária e qual é a influência destas mensagens
nos hábitos cotidianos desse ouvintes.
Utilizou-se como instrumento de metodologia a análise dos documentos
produzidos pela programação das rádios, levantando o conteúdo abordado sobre
saúde e mais especificamente sobre vigilância sanitária, e entrevistas
qualiquantitativas junto a 106 ouvintes dessas rádios. Utilizou-se a metodologia do
Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), metodologia esta que une o aspecto
qualitativo ao quantitativo da pesquisa. Posteriormente os dados foram tabulados
com a ajuda do Software Qualiquantsoft.
Dentro desse quadro, concluiu-se que as rádios comunitárias podem ser um
espaço de comunicação em saúde pública, através de processos
educomunicativos, ou seja, processos onde a comunicação tem papel educativo
sobre a população, estimulando uma comunicação de riscos sanitários mais
eficiente e democrática, enquanto formadora de cidadania. Na educomunicação, a
recepção é crítica e interage com a emissão, resignificando a mensagem, a partir
de sua experiência de vida local, social, cultural, educacional, religiosa, etc.
Palavras-chaves: Vigilância sanitária, riscos sanitários, saúde, educação,
comunicação, comunicação em saúde, educomunicação, educação em saúde,
meios de comunicação de massa.
x
ABSTRACT
JANES, M.W. The contribution of communication for health: Study of the
communication of risk through broadcast in Sao Paulo City. Sao
Paulo, 2007 (Dissertacao de Mestrado – Faculdade de Saude Publica da
Universidade de Sao Paulo).
This paper aims to analyze, through community broadcasting (“8 de Dezembro”
located in Vargem Grande Paulista-SP e “Cantareira”, located in Vila Brasilandia,
Sao Paulo-SP) from their listeners, how the communication of public health risks
happens and what is the influence of these messages in the listener’s lives.
As methodological tools, were used both the broadcast program documents where
the public health matter contents was picked up and the interviews with 106
listeners. Eventually the data were tabulated with Qualiquantsoft Software.
From this picture, it was concluded that the community broadcasts can be a
communication room in public health through educational and communication
means, or, the processes where the communication has an educational role on the
people, stimulating a more efficient and democratic health risks communication
and building the citizenship. In the educational communication, the receiver is
critical and interacts with the broadcaster, giving the message a new meaning
according to their lives as they experience it in different local, social, cultural,
educational, religious meanings.
Key words: public health, health risks, health, education, communication, health
communication, educational communication, health education, means of wide
spread communication.
xi
Índice
1. Apresentação 1
2. A sociedade brasileira contemporânea - Contrastes e antagonismos 5
2.1. Panorama atual da saúde pública no Brasil 10
2.2. SUS - Panorama atual 11
3. O conceito de Sociedade de Risco 20
3.1. Não somos donos de nosso futuro como pensávamos anteriormente 24
3.2. História da evolução do conceito de risco na humanidade 27
3.3. O papel da comunicação de riscos no mundo globalizado 31
3.4. O papel da Vigilância Sanitária na prevenção, redução e
eliminação de riscos 35
4. Comunicação e Saúde 40
4.1. Comunicação de resistência 45
4.2. Conceito de educomunicação 49
4.3. A escolha pela Educomunicação nos estudos de comunicação e saúde 64
5. Rádio - o mais popular dos meios 66
5.1. História das rádios comunitárias no mundo, América Latina e Brasil 73
5.2 Situação atual e perspectivas futuras das Rádios Comunitárias no Brasil 84
5.3. Rádios Comunitárias - Situação legal 91
6. Formulação de problema e objetivos da pesquisa 92
7. Estudo de casos 94
7.1. Rádio Comunitária 8 de Dezembro - Vargem Grande Paulista 95
7.2. A Cidade de Vargem Grande Paulista 104
xii
7.3. Rádio Comunitária Cantareira – Jardim Brasilândia. 112
7.4. O bairro Jardim Vila Brasilândia. 125
8. Procedimentos Metodológicos 131
9. Resultados 141
10. Considerações finais 230
11. Bibliografia 236
Anexos 241
1
1. Apresentação
Este trabalho é o resultado de uma pesquisa que destina-se a
estudar um pouco da relação entre os campos da saúde e da comunicação e
como esta relação pode ser um fator de melhoria da qualidade de vida e das
condições de saúde da população do Brasil.
A ampliação dos horizontes de interlocução do campo da saúde
com a comunidade, representada pelos diferentes segmentos que a constituem,
depende em grande parte dos meios de comunicação. A mídia, em seus mais
diversos veículos de comunicação, exerce nesse contexto um papel de
fundamental importância, seja na difusão de orientações e informações de
interesse coletivo em relação a procedimentos sanitários básicos, seja na
formação da opinião pública quanto à promoção da saúde como um direito
subjetivo de cada cidadão.
Por outro lado, no campo da comunicação, é crescente o interesse
da mídia por assuntos sobre ciência e saúde. É cada vez maior os espaços em
jornais impressos e maior o tempo em noticiários de Rádio e TV dedicados a
informações e notícias referentes à ciência, particularmente de seus impactos no
cotidiano das pessoas.
Paralelamente a esta crescente inter-relação entre os campos da
comunicação e da saúde, a idéia de risco consolidou-se com a modernidade,
2
associada ao pensamento probabilístico e à idéia de cálculo, que possibilitaria seu
gerenciamento. Uso o conceito de "sociedade do risco", desenvolvido por
sociólogos como Ulrich Beck e Anthony Giddens, e que diz respeito à capacidade
das pessoas na sociedade pós moderna estabelecerem uma revisão contínua de
suas atitudes e comportamentos a partir de novas informações científicas ou
conhecimentos dos aspectos da vida social. E aí está novamente o papel da
comunicação na saúde, e particularmente dos meios de comunicação, na
veiculação contínua dessas informações.
Tendo em vista essas informações, começo este trabalho por uma
análise de conjuntura do Brasil, que expressa antagonismos e desigualdades,
configurando um quadro de BELÍNDIA
1
. O fenômeno das rádios comunitárias
surge como uma alternativa de participação popular e prática de cidadania, com
as classes populares instrumentalizando-se com recursos do mundo da
comunicação, que até então estavam a serviço apenas das elites e da
concentração de renda, para libertarem-se e se colocarem como protagonistas do
processo de construção do conhecimento via meios de comunicação.
Prossigo na análise da situação atual da saúde pública no Brasil
verificando que a evolução da luta pela reforma sanitária culminou na construção
do Sistema Único de Saúde (SUS), consagrado na Constituição de 1988, e
posteriormente a isso, procedo a uma análise do que significa o SUS hoje , tanto
em termos de direitos conquistados, quanto em termos do que ainda se tem por
fazer para aperfeiçoá-lo e garantir à população um direito efetivo em relação a
1
BELÍNDIA - Termo cunhado pelo Economista Edmar Bacha, em 1974, para definir o que seria a
distribuição de renda no Brasil na época - uma mistura entre uma pequena e rica Bélgica e uma imensa e
pobre Índia. O economista ainda pensa ser válida a expressão para definir a distribuição de riquezas no país.
Atualmente, fruto de desigualdades que existem a partir da congregação de realidades de primeiro e terceiro
mundos. http://www.alanhenriques1.hpg.ig.com.br/belindia.html
3
saúde sob a lógica da inclusão social, e não sob a lógica neo-liberal de Estado
Mínimo com perdas de direitos sociais e fortalecimento dos sistemas de saúde
privados.
A seguir, analiso também como foi construído historicamente o
conceito de risco em nossa sociedade e qual o papel da comunicação de riscos
com o objetivo de preveni-los, diminui-los e eliminá-los, assim como o papel da
Vigilância Sanitária no gerenciamento e comunicação destes riscos sanitários
como forma de melhorar a qualidade de vida da população e preservar o meio
ambiente.
No capítulo seguinte, proponho a relação dos campos de
conhecimentos da comunicação e da saúde, apontando o histórico desta relação
no Brasil e suas vantagens na educação em saúde e como impulso na
participação popular na gestão dos processos de saúde.
Por fim, adoto a educomunicação (SOARES, 1999) como
referencial teórico, situando-a em relação a outras teorias da comunicação como
modelo comunicativo mais eficiente e democrático, enquanto formador de
cidadania, e o mais adequado às práticas da radiodifusão comunitária, pois trata-
se de uma prática de comunicação caracterizada por um processo de mão dupla e
não unidirecional. Na educomunicação, a recepção é crítica e interage com a
emissão, resignificando a mensagem a partir de sua experiência de vida local,
social, cultural, educacional, religiosa, etc.
Finalmente, analiso esse mundo da radiodifusão comunitária
enquanto instrumento de controle da população sobre os gestores de saúde,
assim como sobre os agentes produtores de riscos em saúde, a qual essa
4
população está exposta em seu cotidiano, descrevendo um pouco do histórico do
movimento de rádios comunitárias.
Depois de expor todo esse quadro teórico sobre saúde, risco,
comunicação e radiodifusão comunitária, tento verificar a materialização dessas
teorias, analisando a programação de duas rádios comunitárias da Grande São
Paulo - Rádio 8 de Dezembro de Vargem Grande Paulista e a Rádio Cantareira de
Vila Brasilândia - por procurarem em suas programações difundir informações
sobre saúde.
Proponho-me a verificar se existe na programação dessas rádios,
um processo educomunicativo de comunicação de riscos em saúde e como esse
processo ocorre.
5
 A sociedade brasileira contemporânea - Contrastes e
antagonismos
O Brasil é um país de dimensões continentais com uma
população de cerca de 185 milhões de habitantes, segundo o IBGE, possuindo de
um lado as mais avançadas tecnologias com Universidades e Centros de estudos,
que desenvolvem pesquisas de ponta na área de saúde, objetivando a melhoria
da qualidade de vida das pessoas. Por outro lado possui graves problemas
sociais, um serviço de saúde pública que ainda não atinge os objetivos de
promover saúde e qualidade de vida para todos de uma forma eficiente.(BARROS
SILVA, 2003).
Em muitas áreas pode-se perceber estes contrastes e
antagonismos na sociedade brasileira que, em sua gênese, traz uma diversidade
de características sociais e culturais, uma formação de origem escravocrata e
oligárquica, o que contribuiu para que esta realidade excludente e injusta existisse.
Por um lado, temos um Brasil integrado ao primeiro mundo , à era
da globalização, à "sociedade da informação", um Brasil de recordes em produção
agrícola, produção de automóveis, recordes de exportações, auto-suficiência em
produção de petróleo, pesquisas de ponta em biocombustíveis, engenharia
genética, alimentos transgênicos, produção de tecnologia nacional e japonesa
para implantação de TV Digital, centros de pesquisas científicas altamente
desenvolvidos, primeiro astronauta brasileiro a ir ao espaço, pesquisas
avançadas na área de nanotecnologia.
Temos um Brasil onde alguns cidadãos moram em casas de alto
luxo, em condomínios fechados, cercado por todas as tecnologias de segurança,
como portões e cercas elétricas, câmeras e rede interna de TV, chips e
6
rastreadores via satélite, um conforto de ficção científica, onde sensores e
controles remotos acionam e acessam qualquer atividade do lar e do cotidiano de
uma casa.
Um Brasil de alguns cidadãos que fazem promoção e prevenção
de riscos à sua saúde com uma alimentação equilibrada por nutricionistas, uma
atividade física programada por "personal trainers" e um atendimento de sua
saúde garantida por "convênios médicos particulares" que lhes disponibilizam uma
ótima e confortável hotelaria, assim como tecnologias de ponta em consultórios,
clínicas médicas e hospitais.
Esse Brasil também não depende de transportes públicos, pois é
transportado por ótimos e modernos veículos particulares, muitos vezes equipados
com ar condicionado, blindagens à prova de bala, rastreadores GPS, portanto,
está mais protegido de riscos à saúde por causas externas - como acidentes e
violências - do que o Brasil que utiliza os transportes públicos.
Para sua educação, esse Brasil possui acesso aos melhores
colégios e escolas particulares, que lhes oferecem tecnologias modernas, salas
lúdicas com poucos alunos, equipadas com computadores individuais, TVs.,
vídeos, gravadores, câmeras, equipamentos multimídias, modernas técnicas
pedagógicas motivadoras da aprendizagem.
Por outro lado, temos um Brasil onde a globalização e a
"sociedade da informação" ainda não trouxe benefícios, onde quase-cidadãos são
excluídos das tecnologias de ponta da sociedade globalizada. Muitas vezes esse
Brasil serve de mão-de-obra desqualificada para sustentar o Brasil da inclusão.
7
Neste Brasil não há uma reforma agrária, mas legiões de
excluídos que perambulam pelas ruas, sem terra, que moram debaixo de viadutos,
em cortiços, favelas, acampados em assentamentos à beira das estradas.
Um Brasil da fome, da desnutrição, das doenças endêmicas, da
prostituição infantil, do trabalho escravo, do trabalho infantil, da marginalidade, das
drogas e alcoolismo, do analfabetismo funcional, da falta de acesso à
Universidade, à informação, à um sistema de saúde de qualidade.
Nesse outro Brasil, milhares de excluídos moram em sub-
habitações, ou não tem onde morar. Estão expostas a toda sorte de riscos
(sanitários, ambientais, sociais) quando conseguem transporte, este é público, de
má qualidade e inseguro, o que os expõem a riscos por causas externas.
Quanto ao acesso à educação, esse Brasil tem à disposição a
escola pública, com ensino de má qualidade, professores mal pagos e
desmotivados, uma escola desmotivadora e muitas vezes depredada com salas
abarrotadas de alunos, carteiras quebradas, má iluminação e tendo como
tecnologia, apenas um quadro negro e giz.
Estamos vivendo um momento de sucessão de transformações,
ruptura de processos, mudanças, embora lentas e graduais, mas que estão
acontecendo (se comparadas aos 500 anos anteriores onde esse modelo
excludente e oligárquico apenas se retroalimentava). Assim essas dicotomias,
essa situação de BELINDIA por que passa nosso país, parece tender a mudar,
mesmo que de forma gradual e lenta. Nos últimos anos, temos indicadores, como
o nível de concentração de renda que demonstram que o número de pessoas de
vivem abaixo da linha de pobreza tem diminuído. O valor da cesta básica de
alimentos e os níveis de nutrição, o poder de compra dos mais pobres, os níveis
8
de alfabetização vêm aumentando. O problema é que essas melhoras nos
indicadores sociais tem sido discretas, quase imperceptíveis e se continuarem
nesse ritmo, o Brasil demorará muito tempo para superar essa situação de
BELÍNDIA.
Considerando esse quadro de antagonismos, no que diz respeito à
área de comunicação, temos um país inserido no processo de globalização, com
meios de comunicação modernos, de massa, de abrangência nacional e uma
qualidade técnica que não fica atrás dos países de primeiro mundo (BENEVIDES,
2005). Nossas novelas fazem sucesso em todo o mundo, enquanto nova forma de
dramaturgia que recria a versão moderna dos folhetins (LOPES, 2004). Somos um
dos países que mais acessa a internet no mundo, embora esta ainda seja uma
mídia elitizada no país. Segundo a PNAD 2003, o computador foi o bem durável
cuja venda mais cresceu nos últimos anos. De 2001 para 2002, o crescimento foi
de 15,1%, e de 2002 para 2003, de 11,4%, sendo que entre os que tinham acesso
à internet, o aumento nos dois períodos foi, respectivamente, de 23,5% e 14,5%.
Em 2003, 15,3% das moradias tinham microcomputador e em 11,4% este
equipamento tinha acesso à Internet (IBGE, 2003).
Como alternativa a esse "mass media", as camadas menos
favorecidas da população expressam-se através de mídias populares, entre as
quais as rádios comunitárias têm papel cada vez mais essencial na organização
popular (GALLO, 2001). Através delas, esses agentes sociais têm espaço para se
expressar, divulgar seus usos e costumes e manifestar seu protesto contra a
exclusão a qual são submetidos.
O movimento de Rádios Comunitárias (RCs.) tornou-se nos
últimos anos um dos mais legítimos movimentos populares, que reivindica nada
9
mais, nada menos, do que o direito à liberdade de expressão. Segundo Coelho
Neto, em 1982, as RCs. eram pouco mais do que 100 emissoras. Hoje (2007) já
são mais de 10 mil disseminadas pelo Brasil. Voltadas para a população carente,
elas já conseguiram baixar o preço de alimentos, arrecadar remédios, cobertores,
encontrar crianças perdidas, distribuir cestas básicas, promover reconciliação
entre pessoas, apaziguar grupos rivais, num mundo marcado pela falta de
solidariedade e violência. (COELHO NETO, 2002)
10
. Panorama atual da saúde pública no Brasil
Segundo o próprio Ministério da Saúde, há uma grande
desigualdade regional em relação aos problemas que atingem as condições de
saúde de nossa população. A mortalidade infantil, apesar de ter diminuído nos
últimos anos, ainda apresenta como principal problema de morte, no primeiro ano
de vida, causas perinatais, geradas pelas condições de vida e nutrição ruins, baixo
nível de escolaridade e de vida das mulheres, assim como a baixa qualidade da
atenção básica prestada durante o pré-natal, parto e assistência ao nascimento
(BRASIL, 2005ª, p.806). O aumento da mortalidade por causas externas merece
destaque pela alta frequência, sendo a terceira causa de óbito no país, e também
por descrever uma situação de risco elevado da população jovem, especialmente
a masculina, com destaque para os óbitos por arma de fogo (BRASIL, 2005ª,
p.807).
Um dos maiores problemas de saúde detectado pelo Ministério da
Saúde é a gravidez na adolescência que correspondeu a um quinto dos
nascimentos em 2003 e a grande quantidade de filhos de mães com idade de 10 a
14 anos, devido ao baixo nível de escolaridade dessas grávidas e mães
prematuras (BRASIL, 2005ª, p. 819). Como estas informações demostram, os
grandes entraves para a superação desse quadro são obstáculos econômicos e
educacionais.
11
O atendimento à saúde no Brasil é reflexo de sua história política,
dos interesses econômicos que embasaram essa história e da evolução das
conquistas democráticas no país.
No Brasil colonial com o início do Estado bresileiro, já se
identificava a preocupação, com práticas de higiêne pública, herdadas pela
influência européia, mas concentradas nos estados onde o poder português
estava estabelecido (Rio de Janeiro e Bahia) e muito mais rarefeitas e esparsas
no resto do território nacional. Tais preocupações com a saúde pública, por parte
do Estado tinham muito mais causas econômicas de controle de epidemias que
não prejudicassem a agro-exportação e com a saúde da força de trabalho.
No Brasil colonial do século XVIII, a historiografia já identifica a presença
de ações de natureza assemelhada às práticas de higiene públicas européias, mas
esparsas e rarefeitas no vasto território ainda sem a demarcação atual, como de resto
parece valer para todas as manifestações da vida social em terras brasileiras no período. O
Estado nacional ainda não se criara, o capitalismo ainda não se formara como modo de
produção, e nas ações govenamentais já se evidenciava a mescla da tensão entre
preocupações com a atividade econômica - geradora de riquezas e poder para Portugal -, e
as relativas à proteção da saúde das pessoas. (VECINA NETO, MARQUES &
FIGUEIREDO, 2006, . 694)
A carência de profissionais médicos no Brasil-Colônia e no Brasil
Império era enorme. Para se ter uma idéia, no Rio de janeiro, nesta época, só
existiam quatro médicos, exercendo a profissão (SALLES, 1971). Em outros
estados brasileiros eles nem existiam, ficando a população entregue a própria
sorte, aos curandeiros, benzedeiras, padres e a um novo profissional, o "boticário"
(atual farmacêutico), que exercia a função do médico em todo o país.
E assim foram evoluindo estas práticas de saúde pelos séculos seguintes, ditados
pela lógica agroexportadora até que no final do século XIX e começo do século XX a
realidade política e econômica no Brasil se caracterizou por alguns aspectos como:
Aumento da produção e comercialização de café com o fortalecimento de uma
classe dominante (a oligarquia rural e o comércio);
12
A recente substituição da mão-de-obra escrava pela do imigrante atraído para o
Brasil por campanhas da produção do café e expulsão de seus países de origem pela
miséria e reordenamento da produção européia pós-primeira Guerra Mundial;
Aumento da população urbana, principalmente por trabalhadores ligados à
incipiente industrialização e ao comérico do café. (VECINA NETO, MARQUES &
FIGUEIREDO, 2006, . 694)
Esta realidade, fez com que o Estado aperfeiçoasse sua estrutura
de atendimento à saúde pública.
Rodrigues Alves, então presidente do país, nomeou Oswaldo
Cruz, como Diretor do Departamento Federal de Saúde Pública, que se propôs a
erradicar a epidemia de febre-amarela na cidade do Rio de Janeiro, pois os navios
estrangeiros não mais queriam atracar no porto do Estado, em função da precária
situação sanitária existente na cidade (POLIGNANO, sd.).
Sob uma ótica militar, foi criado o modelo campanhista de
combate às epidemias, um verdadeiro exército de 1.500 pessoas que passaram a
exercer atividades de desinfecção no combate ao mosquito vetor da febre
amarela. Com ajuda de forças policiais, os agentes invadiam casas, queimavam
pertences de doentes, o que revoltou a população.
Como a medida de Oswaldo Cruz, de instituir a vacina anti-varíola
obrigatória, foi implantada de forma autoritária sobre a população, inicÍa-se uma
grande revolta popular contra o sanitarista e o Estado, conhecida como a Revolta
da Vacina.
Nesse período, Oswaldo Cruz organizou a Diretoria Geral de
Saúde Pública, criando uma Seção Demográfica, um Laboratório Bacteriológico,
um Serviço de Engenharia Sanitária e de Profilaxia da Febre Amarela, a Inspetoria
de Isolamento e Desinfecção, e o Instituto Soroterápico Federal, posteriormente
transformado no Instituto Oswaldo Cruz (POLIGANO, sd.).
13
Com a vinda dos imigrantes europeus no início do século XX, a
formação das indústrias cafeeiras e outras indústrias como a têxtil, e a
consequente organização dos trabalhadores, o Brasil entra no modo de produção
capitalista. Por pressões de interesse capitalista em função das dificuldades que o
quadro sanitário do país impunha ao comércio exterior, o Estado brasileiro viu-se
na necessidade de organizar melhor um serviço de saúde para o país, que
contivesse as epidemias que estavam prejudicando a economia.
A organização e mobilização dos trabalhadores imigrantes, de
inspiração anarquista, faz com que o Poder Público crie as Caixas de
Aposentadoria e Pensão (CAPs.) que poderiam ser instituídas em fábricas ou
empresas urbanas onde houvesse mais pressão e mobilização dos trabalhadores
e necessidade de assistência à saúde. Neste período, apenas quem tinha
assistência à saúde eram os trabalhadores urbanos de algumas empresas, como
os ferroviários, por exemplo (que eram mais mobilizados). O restante da
população do país continuava entregue à própria sorte.
Com o Estado Novo, nas décadas de 30 e 40, o Governo de
Getúlio Vargas promulgou a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT),
regulamentando os direitos trabalhistas e transformando as CAPs em IAPs
(Institutos de Aposentadorias e Pensões). Nesses Institutos, os trabalhadores não
eram mais beneficiados apenas em algumas fábricas (como nas antigas CAPs),
mas agora, recebiam assistência à saúde por categorias profissionais - marítimos,
comerciários, bancários e não por empresa.
Nesse novo modelo, um maior número de pessoas era protegida
por uma assistência à saúde que era financiada por contribuições dos
14
trabalhadores, das empresas e do governo. Mas quem não tinha carteira assinada
continuava a não ter assistência à saúde.
Em 1953, foi criado o Ministério da Saúde, o que efetivamente não
significou uma nova postura do Estado e uma preocupação em atender aos
importantes problemas de saúde pública da população, (POLIGANO, sd.).
Com o Golpe Militar de 1964, os militares nomeiam interventores
para os IAPs e posteriormente promovem a sua unificação, implantando o Instituto
Nacional de Previdência Social (INPS), procurando garantir a todos os
trabalhadores urbanos e a seus dependentes , os benefícios da previdência social
e assistência à saúde.
O INPS é constituído por técnicos vindos dos IAPs, com
tendências privatizantes,. Estes criam as condições institucionais necessárias ao
desenvolvimento do "complexo médico-industrial", característica marcante deste
período (NICZ, 1982).
O governo militar continua com uma visão campanhista e
excludente de atendimento à saúde da população. O sistema de saúde brasileiro
nas décadas de 60 e 70 preocupava-se principalmente com o combate em massa
à epidemias através de campanhas pontuais. Em 1977, o INPS transformou-se no
INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social), criado
para atender exclusivamente as pessoas que possuíam carteira de trabalho,
ficando o restante da população sem direito à assistência do Estado. Mesmo os
que tinham assistência por serem trabalhadores formais, tinham acesso a um
serviço de assistência primária, de baixa qualidade, com enormes filas para
atendimento, poucos leitos e poucos hospitais. A atividade de promoção e
prevenção quase não existia. Nesse período começou o processo de privatização
15
da saúde com a instituição da saúde complementar, onde quem queria um
atendimento melhor e tivesse recursos financeiros contratava convênios médicos
particulares.
A situação de repressão política, penúria social, falta de
participação da sociedade nas decisões, falta de direito à saúde, à educação, aos
direitos humanos, à cidadania, provocou o surgimento de movimentos de
resistência à ditadura, como o movimento contra à carestia, pela abertura política,
pela anistia aos presos políticos e exilados. Oriundo dessa realidade surge no final
da década de 70, o Movimento pela Reforma Sanitária Brasileira, formado por
intelectuais, profissionais da área de saúde, parlamentares, integrantes de
movimentos populares como as CEBs. (Comunidades Eclesiais de Base), e outros
segmentos da sociedade, como centrais sindicais, que defendiam a construção de
uma nova política de saúde realmente democrática e não excludente.
Essa luta pela reforma sanitária vai crescendo e é reforçada pela
Conferência de Alma Ata, organizada em 1978 pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), que defende o lema "saúde para todos no ano 2000". A
democratização do Brasil com a queda do Regime Militar na década de 80 faz
com que a 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986 assuma todos
os pressupostos reivindicados pelo Movimento da Reforma Sanitária, ou seja uma
concepção de saúde ampliada que não considera apenas o aspecto biológico do
processo saúde/doença, mas também as interferências ambientais e sociais nesse
processo.
Considera-se saúde e doença como um único processo que
resulta da interação do homem consigo mesmo, com outros homens na sociedade e
com elementos bióticos e abióticos do meio. Esta interação se desenvolve nos
espaços sociais, psicológicos e ecológicos, e como processo tem dimensão histórica
(...). A saúde é entendida como estado dinâmico de adaptação o mais perfeito
possível às condições de vida em dada comunidade humana, num certo momento da
escala histórica (...). A doença é considerada, então, como manifestação de distúrbios
16
de função e estrutura decorrentes de falências dos mecanismos de adaptações, que
se traduz em respostas inadequadas aos estímulos e pressões aos quais os
indivíduos e grupos humanos estão continuamente submetidos nos espaços, social,
psicológico e ecológico (FLEURY, 1997, 13 apud SLIVA, 1973 - 31-37).
Esses princípios e a luta do movimento pela reforma sanitária que
cresceu nas décadas de 70 e 80 dão origem ao Sistema Único de Saúde (SUS),
criado na Constituição de 1988.
A Constituição de 1988, fruto do movimento pela formação de uma
Assembléia Nacional Constituinte, também como reação ao regime militar, coroa e
legitíma projetos e programas idealizados ao longo das duas décadas anteriores,
defendendo o acesso universal e igualitário da população à saúde, seja através de
serviços estatais prestados pela União, estado e municípios, seja através de
serviços privados conveniados ou contratados pelo Poder Público.
Com a criação do SUS, pela primeira vez, toda a população tem
acesso à assistência à saúde de forma universal, e não apenas os trabalhadores
com carteira profissional assinada, como ara anteriormente ao SUS. Pela primeira
vez, o estado reconhece saúde como um direito de cidadania (CONASS, 2006,
p.11).
Depois de quase duas décadas de sua criação, embora tenha sido
um marco de conquistas de direitos sociais na área da saúde, o SUS com o
acúmulo proporcionado pela sua prática nesses anos, com a mudança da
sociedade, também se deparou com novos desafios, e possíveis correções de rota
necessárias para que se possa superar a fase atual e ir em direção à conquista
dos princípios da reforma sanitária ainda não alcançados.
Por ser um sistema de cunho socializante, de garantia de direitos
sociais, de inclusão, o SUS vai na contramão da história em um país de orientação
17
neo-liberal como o Brasil, com sucessivos governos adotando políticas de
privatização, de diminuição dos recursos das políticas públicas, visando garantir
superávits primários para o equilíbrio da economia, do contínuo endividamento do
Estado, etc. Nessa contramão da história, o SUS tem tido problemas dos quais
podemos elencar: recursos insuficientes, constantes ameaças do Poder Executivo
e Legislativo, a não garantia da verba mínima para a saúde, embora esta esteja
garantida na Constituição, distribuição de verbas feita de forma injusta,
intermináveis filas que comprometem muitos dos serviços de saúde pública, falta
de leitos hospitalares, instalações precárias em Centros de Saúde e em Hospitais,
falta de equipamentos como mamógrafos, por exemplo, demora e dificuldade na
marcação de consultas e exames, desumanização (com tratamento descortês e
desrespeitoso por parte de atendentes de serviços de saúde e profissionais de
saúde), má remuneração de médicos e profissionais de saúde, visão
excessivamente burocrática e desumanizadora por parte dos gestores e dirigentes
dos serviços de saúde.
Tantos problemas e desafios a serem enfrentados parecem
desequilibrar o quadro de conquistas descrito anteriormente. Mas correções de
rota estão sendo feitas nos últimos anos e um engajamento maior dos últimos dois
governos com os princípios do SUS, como a participação popular (um dos
princípios do SUS), que vem sendo fortalecida nos últimos anos, com a efetivação
dos "Conselhos de Saúde", têm indicado uma nova direção.
Segundo o Ex-Ministro da Saúde, Saraiva Felipe, "o SUS é
utilizado por 120 milhões de brasileiros que não teriam qualquer outro tipo de
atendimento senão fosse o SUS, com 12 milhões de internações, em média por
ano, 625 milhões de consultas médicas, 300 milhões de exames laboratoriais".
Outro mérito de SUS, ainda segundo Felipe, "é o Programa Nacional de DST/Aids,
18
reconhecido mundialmente como referência na prevenção e controle da AIDS,
com a distribuição de 17 tipos diferentes de medicamentos gratuitamente a 170 mil
pessoas. Uma média de R$ 6,1 mil per capita a cada ano. Além disso, só em 2005
foram distribuídas em postos de saúde e ONGs. mais de 300 milhões de
camisinhas" (CONASS, 2006, p.6).
Sendo assim, o SUS sem dúvida traz grandes conquistas
2
e
avanços na história da formação dos serviços de saúde no Brasil, colocando a
saúde como um direito constitucional de todo cidadão, democratizando o acesso à
serviços de saúde, fortalecendo políticas de promoção e prevenção à saúde sob
uma ótica mais ampliada de saúde que envolve também qualidade de vida e
relação com o ambiente e com outros direitos de cidadania.
Segundo Marcus Pestana
3
, "o SUS tem uma tragetória vitoriosa e
é muito superior a quase todos os sistemas de saúde do mundo. É o maior caso
de inclusão social que já houve no Brasil " (CONASS, 2006, p.9).
Outras duas áreas de atuação em que o SUS vem recebendo
elogíos de profissionais da área de saúde são o Programa Nacional de
Imunizações e o Sistema de Transplantes. O Sistema de Transplantes no Brasil é
o segundo maior no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. O que
diferencia os dois países é a ação do Poder Público. Enquanto que nos Estados
Unidos apenas 20% dos transplantes são feitos pelo Governo, no Brasil 71% deles
são realizados pelo SUS, o que equivale a 12 mil transplantes por ano. Outra
conquista foi a erradicação da poliomielite, do sarampo e do controle da dengue.
2 Ver anexo "Um retrato do SUS".
3 Presidente do CONASS - Conselho Nacional de Saúde e Secretário de Saúde de Minas Gerais em março
de 2006.
19
Certamente a futura correção de rota será no sentido de
efetivamente fazer prevalecer os princípios universalização, equidade,
integralidade, regionalização, descentralização e participação popular no SUS,
aliado a melhoria na gestão e na humanização no atendimento ao usuário. Isso
certamente dependerá de uma correlação de forças na sociedade que fortaleça
um Sistema de garantia de direitos sociais onde o SUS é um exemplo em relação
a um quadro atual de governos de orientação neo-liberal cuja a tendência é
justamente uma redução de direitos sociais.
20
3. O conceito de Sociedade do Risco
Segundo LUIZ, a palavra risco data do Século XIV, ganhando
conotação de perigo apenas no Século XVI.
Risco é um termo bastante abrangente e de significados variados,
mas que costuma ser utilizado recentemente em quase todas as áreas, embora
seja um termo mais consolidado nas áreas de economia e saúde, podendo referir-
se a probabilidades de risco ou como metáfora de perigo (SPINK et al, 2002 citado
por LUIZ, 2006, p. 81).
Para LUIZ, o conceito de risco é reflexo da reorientação das
relações das pessoas com eventos futuros, numa espécie de 'domesticação dos
eventos vindouros'. Se antes da época moderna o perigo implicava fatalidade, agora
ele é re-significado em controle possível (SPINK et al, 2002 citado por LUIZ, 2006, p.
81).
No campo da saúde, o termo risco individualiza-se no que a autora
denomina "auto-gerenciamento": supõe-se que as pessoas, a partir de
informações suficientes, adaptem seus comportamentos, eliminando todos os
riscos e assim alcancem a saúde plena (LUIZ, 2006, p. 81). O que pressupõe
que um trabalho de prevenção de riscos implica, através de processos
probabilísticos, prever, prevenir, reduzir ou até evitar riscos à saúde das pessoas.
Nos últimos anos, o conceito de risco está podendo cada vez mais
ser observado em fenômenos naturais ou provocados pela ação humana, bastante
presente no cotidiano de nossas sociedades.
21
O ano de 2005 começou sob as repercussões de um fenômeno
natural nunca visto antes por nossas gerações. Trata-se do “Tsunami
4
”, maremoto
ocorrido no sul e no sudeste da Ásia, ao final de dezembro de 2004, atingindo
vários países, como consequência de um grande terremoto que ocorreu em alto
mar, atingindo 9 graus na escala Richter e que provocou imensa e avassaladora
onda oceânica.
Tal fenômeno deslocou o eixo de rotação da Terra em alguns
milímetros e deixou a humanidade estarrecida sobre a falta de controle que o ser
humano tem sobre a natureza, sobre a fragilidade da raça humana em relação aos
“riscos” naturais.
Talvez esse fenômeno, assim como os atentados às Torres
Gêmeas nos EUA, em 11 de Setembro de 2001, tenha sido um marco sinalizador
indicando um alerta para a reflexão da humanidade sobre a quebra de alguns
paradigmas, algumas certezas absolutas que começam a ser questionadas. Tais
paradigmas estavam calcados na falsa certeza sobre o poder da ciência no
controle dos riscos que vivemos na pós-modernidade. A sensação de segurança
que as sociedades modernas tinham, causada pela visão cartesiana que muito
tempo predominou nas ciências, de que tudo pode ser mensurado, nossas vidas
planejadas de modo a que possamos prevenir ao máximo os riscos a que estamos
expostos, está caindo por terra com a pós-modernidade.
Verifica-se que os fenômenos são dinâmicos e mutáveis e
juntamente com a complexidade do conhecimento causado pelo avanço da ciência
estão abalando “certezas” históricas. Some-se a isso, a influência cada vez maior
4 Onda marítima gigante ou uma série delas que ocorrem após perturbações abruptas que deslocam
verticalmente a coluna de água. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tsunami_(onda)
22
do ser humano sobre o meio, o que causa desequilíbrios naturais e novos riscos
que não tinham sido previstos, mensurados ou vivenciados anteriormente.
As instituições científicas, os estados nacionais e entidades
públicas ou da sociedade civil tentam criar órgãos e instituições para controlar
normatizar e regulamentar práticas sociais que miniminizem, reduzam ou evitem
possíveis riscos a que as sociedades estejam expostas, mas estão sempre
“correndo atrás”, apoiadas nas ciências e tecnologias que muitas vezes também
não dão respostas imediatas aos fenômenos que se sucedem de forma tão rápida.
Por outro lado, o senso comum que predomina na sociedade
moderna sobre o poder da ciência e do Estado em proteger o cidadão dos riscos a
que ele está cada vez mais exposto, é de que as ciências e o Estado nem sempre
dão respostas às pessoas comuns, que então ficam desnorteadas e procuram
soluções cada vez mais individuais ou metafísicas para a explicação dos
fenômenos que afligem suas vidas e para a prevenção aos riscos a que estão
expostas.
Nesse sentido, o papel da comunicação como fio condutor desse
entendimento é fundamental na sociedade moderna. Sociedade esta que, além
de ser marcada pela quebra de paradigmas e de certezas cristalizadas, além de
ser a “sociedade do risco” (BECK, 1999, p. 72-90), também é a “sociedade da
informação” (BECK,1999, p. 72-90), o que eleva os processos de comunicação a
um status privilegiado, uma uma forma de mediação fundamental para o
entendimento coletivo do conceito de “risco” ou a que riscos essa sociedade está
exposta, e como posicionar-se diante dos mesmos para evitá-los, reduzi-los,
preveni-los.
23
Diante disso, esta pesquisa direciona a sua análise utilizando os
conceitos de “sociedade do risco” e sociedade da informação” para entender o
papel dos processos comunicacionais na gestão dessa situação de riscos inerente
ao mundo em que vivemos e ao homem contemporâneo, entendendo que a
categoria risco é importante na discussão sobre o papel da vigilância sanitária.
24
3.1. Não somos donos de nosso futuro como pensávamos
anteriormente
Tsunamis na Ásia, furacões na América Central e EUA,
superaquecimento da Terra, derretimento das geleiras, aumento do nível dos
oceanos
5
, ressurgimento de epidemias já controladas, doenças emergentes,
epidemias de obesidade no primeiro mundo e países em desenvolvimento e fome
na África, ameaça da gripe aviária tornar-se contagiosa em humanos, alcoolismo,
tabagismo, aumento do uso de drogas, não controle da AIDS, são alguns
exemplos de riscos cada vez mais frequentes na sociedade moderna. São riscos
naturais ou provocados pela ação humana, intervindo na dinâmica natural do
planeta, da vida.
São a esses e a outros riscos a que se refere Ulrich Beck (BECK,
1999, p.72-90), quando lançou seu livro “Sociedade do Risco”, ou seja, “sociedade
na qual o conceito abstrato de risco se torna o princípio dominante que estrutura e
condiciona as relações sociais e institucionais, e de certa forma, substituindo a
riqueza e o privilégio social como as fontes principais das tensões distributivas e
de conflitos políticos” (BECK, 1999, p. 72-90). Na verdade, Beck faz uma análise
da sociedade moderna, descrevendo-a como a “modernidade da modernidade”
(BECK,1999, p. 72-90). Segundo Beck, na primeira modernidade, a ciência e a
tecnologia fundamentam o desenvolvimento industrial da sociedade. A ciência se
debruça exclusivamente sobre os novos processos de produção industrial,
enquanto que na segunda modernidade (modernidade da modernidade ou
modernidade reflexiva), a ciência é confrontada com seus próprios problemas, ou
5 Um estudo publicado na edição atual da revista Science mostra que os níveis dos oceanos estão subindo a
uma velocidade duas vezes maior do que há 150 anos. E, ao que tudo indica, a culpa é do homem. Fonte:
Boletim Agência FAPESP de Notícias – 28/11/05 -
http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=4681
25
com os “efeitos colaterais” que ela mesma causou na primeira modernidade. Os
riscos representam esses “efeitos colaterais” causados pelos próprios avanços da
ciência e tecnologia.
Para Beck, “a modernidade enfrenta cinco grandes processos: a
globalização, a individualização, o desemprego, a revolução dos gêneros e por
último, porém não de menor importância, os riscos globais da crise ecológica e da
turbulência dos mercados financeiros.
Tal definição e visão de mundo coloca-nos numa sociedade, onde
o desenvolvimento social errático, conseguido pela humanidade até aqui, abre a
possibilidade para a imprevisibilidade dos fenômenos; o progresso da ciência leva
além de seus avanços, também a conseqüências indesejáveis; a dinâmica social
está incontrolável. Por essa análise, podemos perceber que o risco está em toda a
parte, pois há, nos tempos atuais, uma rotinização da catástrofe e estas
constatações todas leva-nos a uma desconfiança em relação ao saber científico,
já que a complexificação dos fenômenos na sociedade pós-moderna desmente a
cada minuto “verdades científicas” antes acreditadas, consumadas e compradas
pelos meios de comunicação e conseqüentemente pelo cidadão comum como
“verdades absolutas” (BECK, 1999, p. 72-90).
Diante dessa realidade pós-moderna de incertezas, inclusive
científicas, e observando-se um contexto de reconhecimento da possibilidade
dessas incertezas nas avaliações científicas, consolidou-se juridicamente o
“princípio da precaução” (FURNVIAL, 2004, p. 5), que surgiu na Alemanha e é
usado por instâncias definidoras de políticas públicas, governos e órgãos
internacionais, como medida que antecipa possíveis perigos, prevendo tal prejuízo
até onde fosse possível.
26
Considerando a evolução histórica dos últimos séculos, podemos
perceber alguns momentos na história da humanidade de maior ou menor
agudização do conceito de risco para a sociedade.
27
3.2. História da evolução do conceito de risco na humanidade
Até a Idade Média, as condições de vida eram bastante precárias,
com um controle por parte do Poder Público bastante incipiente ou nenhum sobre
os riscos a que suas populações estavam submetidas, fossem eles de origem
natural ou humana. Muitos fenômenos que envolviam riscos, eram explicados por
teorias religiosas, mágicas, esotéricas ou metafísicas.
Com o Renascimento e o Iluminismo, afloram as ciências e as
teorias para tentar explicar o mundo e seus fenômenos. A visão cartesiana é uma
das teorias que tenta explicar os fenômenos em termos matemáticos, racionais e
não espirituais. “Descartes acerta as contas com Deus ao torná-lo primeiro
movimentador de toda a criação; daí em diante, ele explicou o resto do mundo
material inteiramente em termos matemáticos e mecânicos” (Haal, 2005, p. 27).
A visão cartesiana influencia o desenvolvimento das ciências. A
partir de então, começa a se esboçar uma tentativa de explicação e prevenção de
doenças, acidentes e minimização de riscos.
Com essas perspcetivas, vem as primeiras narrativas da noção de
“segurança” como forma de prevenção de riscos na sociedade, ou seja, O Estado,
como forma de controle social dos fenômenos naturais, pois até então se
assegurava uma proteção aos indivíduos bastante incipiente, as pessoas estavam
mais à mercê das forças da natureza, não havia nenhum controle das relações
sociais configurando uma realidade em que todos estão contra todos como no
mundo animal.
Nessa época, a humanidade começa a idealizar um Estado
regulador, que construa uma sociedade segura, que instaure regras de
28
convivência, um status quo social. Um Estado em que os indivíduos possam abrir
mão de seus direitos e os entregar a um soberano que irá reger a sociedade.
Instaura-se o direito à vida para todos e o direito à propriedade para os
proprietários. Ao Estado, cabe garantir a segurança dos cidadãos, garantindo-lhes
assim, o direito à vida e à propriedade. Cabe aí então a primeira noção de
prevenção de riscos, quando o Estado assume o papel de redutor de riscos
sociais para garantir a vida dos indivíduos. Esta função do Estado, se expressa na
prática com o nome genérico de "polícia".
Segundo FOUCAULT (1979), "o que se chamará até o fim do
Antigo Regime de polícia não é somente a instituição policial; é o conjunto dos
mecanismos pelos quais são assegurados a ordem, o crescimento canalizado das
riquezas e as condição de manutenção da saúde em geral".
Para se garantir essa ação do Estado, de proteção à vida dos
cidadãos, criam-se serviços, uma rede de proteção baseada na noção de polícia,
enquanto elemento regulador, fiscalizador e coercitivo de redução de riscos.
À polícia da época cabia assegurar os direitos à vida e à
propriedade e cuidar das condições de manutenção da saúde em geral,
promovendo o respeito às regras gerais de higiene dos gêneros postos à venda,
do abastecimento da água, da limpeza das ruas (FOUCAULT, 1979).
Foucault defende que o Estado Liberal desenvolveu o conceito de
bio-política, ou seja, o Estado como controlador tanto do “corpo social” quanto do
“corpo biológico” das pessoas, através de medidas médicas, policiais coercitivas e
de esquadrinhamento das populações.
29
Com a emergência do Estado do Bem Estar Social (Welfare State)
a prevenção ao risco social tem seu ápice, pois as conquistas conseguidas para
organização das classes trabalhadoras, pressionam os Estados-Nações a garantir
alguns direitos de vida que melhorem as condições sociais das populações e em
contrapartida, o capitalismo emergente estabelece algumas garantias mínimas
que garantam a produtividade e a capacidade de consumo das populações. Essa
melhoria nas condições de vida, que de certa forma melhoram a prevenção de
riscos, ocorre nos países que são metrópoles do capitalismo. Ou seja, na Europa,
pois em outros países do globo as condições de vida continuam precárias.
Mas nas décadas de 80 e 90, com a ascensão do neoliberalismo,
o mercado ganha poder. Há uma desregulamentação dos direitos até então
conquistados, pois acredita-se que o mercado regula a luta hegemônica entre as
partes. Muitos dos direitos garantidos com o Welfare State agora não são mais
garantidos, o que provoca um retrocesso na prevenção de riscos. O Estado não
garante mais muitas medidas de prevenção, deixando de ser interventor para ser
apenas regulador. Cabe lembrar que no Brasil, a construção do Sistema Único de
Saúde (SUS), garantido na Constituição de 1988, significou avanços nas garantias
de alguns direitos sociais por parte do Estado, se contrapondo um pouco a essa
tendência hegemônica de domínio da iniciativa privada no atendimento a saúde da
população.
Na área da saúde, por exemplo, as pessoas não têm mais a
garantia de serviços prestados pelo Estado, então recorrem à iniciativa privada
(planos de saúde). Tais dinâmicas econômicas regulando todos os outros setores
da vida humana, fazem aflorar a sociedade de riscos. Observa-se uma distribuição
social desigual, pois quem possui condições de ter uma segurança privada, um
plano de saúde privado, uma educação privada, portanto um melhor aporte de
30
informações, tem uma prevenção maior de riscos. Mas quem não possui essas
condições, está entregue a própria sorte, pois o Estado não garante tal proteção.
31
3.3. O papel da comunicação de riscos no mundo globalizado
A comunicação de riscos é uma das áreas de especificidade do
campo interdisciplinar denominado "análise de risco", surgido na década de 50 e
inicialmente composto por três áreas de especificidade: o cálculo de risco, a
percepção de riscos pelo público e a gestão dos riscos. Uma quarta foi
incorporada mais recentemente, que é justamente a área de comunicação de
riscos (SPINK, 2001 citado por LUIZ, 2006).
No período mais recente, o controle social dos riscos demandou a
conformação do campo da comunicação social sobre riscos, seja para a aceitação
e uma nova tecnologia, seja no autocontrole dos riscos comportamentais.
A onipresença da mídia na vida das pessoas e sua capacidade de
conferir visibilidade aos acontecimentos e às informações produzidas pela ciência,
desempenham um papel fundamental no processo de ressignificação da noção de
risco junto a população.
Diante da realidade colocada pela globalização e num contexto de
questionamentos dos caminhos que a economia neoliberal está levando a
sociedade, o alerta colocado por Beck, (1999) em relação ao conceito de risco ser
colocado como protagonista das relações econômico-sociais, faz-se necessário
enfrentar essa questão com formas eficientes no empoderamento da cidadania, de
forma a que a sociedade se aproprie dos conhecimentos técnicos sobre seu
destino e os utilize na produção de em ambiente mais justo, igualitário, ou seja,
propício à prevenção, redução e eliminação de riscos. Esse é o papel da
comunicação de riscos no mundo globalizado.
32
Essa tarefa está em grande parte colocada como desafios para os
processos de comunicação, no sentido de tradução dos termos técnico-científicos
para o público leigo, de democratização da informação para a sociedade sobre
seus próprios destinos e de mobilização para a reflexão numa atitude frente as
pressões e mudanças que possa levar à proteção e prevenção aos riscos
sanitários, ambientais, à melhoria da qualidade de vida no planeta, o que
conseqüentemente, levará à redução de riscos.
Os riscos da pós-modernidade se complexificaram, tornaram-se
globais e muitas vezes invisíveis aos olhos leigos, o que coloca um papel de
protagonista para as corporações técnico-científicas, que tem a capacidade
técnica de detectar esses riscos, analisá-los e alertar a sociedade sobre os
mesmos.
Para Beck, “na sociedade do risco, o público está totalmente
dependente do conhecimento científico e tecnológico dos peritos para identificar
onde estão os riscos” (GIDDENS, 1991, p.35 citado por FURNVIAL, 2004, p.3), o
que torna a comunidade perita acreditada e credenciada pela sociedade para
resolver seus problemas com relação à prevenção de riscos. O problema é que
essa confiança demasiada que a sociedade coloca na comunidade
científica/perita, impede que esta se auto-critíque, se recicle e fortaleça sua
obstinação no método científico puro com base em modelos matemáticos, que não
incorporam as dimensões complexas da vida real.
A comunicação pode contribuir nessa ponte entre comunidade
científica e sociedade. No momento em que a comunidade científica entender
melhor qual a percepção que a sociedade tem sobre os riscos a que estão
inerentes, qual a percepção que esta sociedade possui sobre a comunidade
33
científica e estabelecer essa mediação entre as influências culturais, religiosas,
educacionais, comportamentais a que está sujeito o público leigo, suas demandas
e necessidades e como recebe essas informações produzidas pelos cientistas,
proporcionará também um background para estes, sobre a percepção que a
sociedade tem a respeito de riscos.
Segundo SLOVIC, (2001, p.159-71 citado por FURNVIAL, 2004,
p.7):
as percepções das pessoas para riscos são freqüentemente
imprecisas, demonstrando uma tendência de superestimar a probabilidade de risco
das causas de morte mais 'sensacionais' ou 'dramáticas', como acidentes, homicídios,
desastres naturais; a informação sobre riscos pode alarmar as pessoas, pois a mera
menção da possibilidade de conseqüências adversas, mesmo sendo remota, tende a
gerar altos graus de ansiedade das pessoas; as pessoas não querem saber das
probabilidades de ocorrência de uma dada atividade, mas a certeza de que se
ocorrerá ou não; as pessoas já tem opiniões negativas bem formadas sobre uma dada
atividade arriscada. Qualquer informação que demonstre o contrário terá pouco efeito
em mudar essa opinião, ou será totalmente rejeitada. E vice-versa, na ausência de
fortes opiniões anteriores, as pessoas ficam à mercê da forma que a informação é
apresentada (por exemplo, o uso do termo 'morte' ao invés de 'sobrevivência' para
apresentar porcentagem de probabilidades de risco, pode alterar drasticamente a
percepção do risco).
Há uma tendência na comunidade científica que acredita que a
sociedade leiga é analfabeta cientificamente e é preciso municiá-la de informações
o tempo todo (paradigma cognitivo) e há outra tendência mais ligada aos
comunicadores que entende comunicação enquanto mediação, ou seja, a
mensagem emitida pelo emissor se transforma conforme o referencial da
recepção, tornando-a crítica e não passiva diante da mensagem recebida. O
conteúdo construído pela recepção, a partir da mensagem recebida, está
relacionado com seus referencias culturais, comportamentais, religiosos, da
relação que o receptor tem com o emissor. Nesse sentido a "terra firme" dos
saberes científicos é mediada com o referencial da recepção, da sociedade.
34
BARBERO e SOARES, colocam a importância de uma recepção
crítica que retrabalhe os conteúdos da mensagem a partir de seus referenciais,
assim como FREIRE apresenta em sua obra "Extensão ou Comunicação?"
(FREIRE, 1977), a necessidade de se estabelecer um diálogo, para se chegar a
uma compreensão mútua e não a um mero "repasse" de informação técnica,
resultando em uma aprendizagem mútua.
Nesse sentido o papel da comunicação na prevenção, redução e
eliminação de riscos tem um caráter paradoxal em uma sociedade de riscos cada
vez mais imprevisível e incontrolável, percebido por uma concepção de ciência
que está cada vez mais sendo questionada. E, ao mesmo tempo, essa
comunicação pode ser revolucionária, na medida em que, se mediada sob o
referencial da recepção crítica, pode ser um elemento de participação da
sociedade na fiscalização, elaboração de políticas públicas, incorporação da
participação popular nos processos de decisão, isso pode trazer o mundo para um
momento próximo ao momento do Welfare State, quando a prevenção de riscos
teve seu ápice, onde a distribuição social do risco seja mais equânime e onde a
sociedade redefina as prioridades mundiais com base na proteção e prevenção
aos riscos sanitários, na sustentabilidade ecológica, na preservação do meio
ambiente e do planeta e na qualidade de vida da sociedade.
Considerando isso, este trabalho enfatiza a importância da
informação como forma de intervenção no campo da Vigilância Sanitária em sua
categoria de risco sanitário.
35
3.4. O papel da Vigilância Sanitária na prevenção, redução e
eliminação de riscos
Conforme citado anteriormente, estamos cercados de riscos, cada
vez mais, nesta sociedade, desde os superaquecimento do planeta, os córregos
contaminados com suas enchentes de verão nas grandes cidades, o
"churrasquinho de gato" nas esquinas - símbolo da cultura nacional, as "tendinites"
causadas por longas jornadas de trabalho em frente aos computadores, até as
mortes causadas por trabalhos extenuantes em cortes de cana ou em carvoarias.
Preocupações com esses riscos que nos cercam fez com que os
governos organizassem órgãos de controle, as chamadas áreas de vigilância
sanitária.
Segundo LUCCHESE (2001), "desde a Idade Média e,
principalmente, nas primeiras décadas do século XIX, os sanitaristas e
administradores de saúde afirmavam a necessidade da criação de leis que
regulamentassem certos assuntos". As primeiras atividades da vigilância sanitária
no Brasil começaram no final do Século XVIII, para evitar a propagação de
doenças (p. 23).
No período colonial, originaram-se as primeiras preocupações por
parte do Estado com o controle sanitário do ambiente, objetivando a eliminação de
epidemias que ameaçavam a cidade do Rio de Janeiro, embora de forma bem
rudimentar.
Ainda segundo Lucchesi, o que seria hoje a área de controle
sanitário dos portos, aeroportos e fronteiras, era um dos principais campos de
fiscalização sanitária da época. Mas a re-estruturação da vigilância sanitária só
36
aconteceu no início do Século XX, com descobertas em campos como
bacteriologia e terapêutica, nos períodos que incluem as duas grandes guerras
mundiais (TEMA, 2002).
A expressão vigilância sanitária foi incorporada legalmente pela primeira vez
no Regulamento Sanitário Federal de 1923, que estabeleceu as competências do
Departamento nacional de Saúde Pública, criado em 1920 no bojo da Reforma Carlos Cahgas,
e dos órgãos afins. Vigilância sanitária foi então empregada indistintamente para o controle
sanitário das pessoas doentes, ou suspeitas de moléstias transmissíveis, e de
estabelecimentos e locais, entre outras ações de controle e intervenção no corpo social e
espaço urbano que se consolidava no Brasil. (Costa & Rosenfeld, 2000, citado por VECINA
NETO, MARQUES & FIGUEIREDO, 2006, p. 693).
Neste cenário, as epidemias absorviam os maiores recursos da saúde
pública e o controle sanitário de portos e fronteiras era um dos principais campos de
fiscalização sanitária. O saneamento foi a preocupação central nas três primeiras décadas do
século XX no Brasil, e as ações de regulação e controle sanitário, com atividades de
fiscalização do exercício profissional, controle de alimentos e das especialidades farmacêuticas
se davam de forma espalhada pelos órgãos federais da saúde e outros, não havendo um órgão
específico de vigilância sanitária com o significado que se tem atualmente.
Nas primeiras décadas do século XX dá-se início à organização das
administrações sanitárias estaduais sob a égide do pacto federativo que o Brasil adota por
influência da constituição norte-americana. A saúde pública considerada como um dos graves
problemas nacionais ocupa lugar privilegiado na agenda governamental e, nesta direção, a
constituição de ações de vigilância sanitária nas unidades da federação passa a ser
organizada. Atribui-se à União a responsabilidade pelos estudos das doenças pelas medidas
profiláticas, pelas estatísticas demográficas e sanitárias, pela fiscalização do exercício
profissional da medicina e da farmácia. Pela análise das susbstâncias importadas e pelo
controle das doenças na capital federal, nos portos e nas fronteiras. (LUCCHESI, 2001; COSTA
MARQUES & IBÃNHES, 2006; citado por VECINA NETO, MARQUES & FIGUEIREDO, 2006, p.
697).
Já na segunda metade do Século XX, o país transforma sua
produção para atividades em sua maioria industriais e entra de vez no capitalismo
industrial, o que tem reflexos também em suas ações de vigilância sanitária. O
foco principal não é mais o controle de epidemias, pois muitas já estavam
controladas, mas o controle de produtos e serviços da área de medicamentos e
alimentação. Segundo LUCCHESE (2001), "o país desenvolveu uma grande e
diversificada produção industrial na área dos produtos sob controle sanitário, em
que dominavam empresas transnacionais", o que exigiu por parte do Estado uma
estrutura mais complexa de controle sanitário.
37
Os serviços de vigilância sanitária foram além do controle de
doenças, produtos e serviços. Foi agregado o controle de portos, aeroportos e
fronteiras. As ações de vigilância sanitária foram distribuídas entre as esferas
federal e estadual de Governo.
Neste período de decadência do modelo agroexportador e
ascendênica da industrialização, o modelo de saúde pública deixa de ser
preventivo e coletivo e a ênfase volta-se para a assistência médica de caráter
individual, com a adoção do modelo médico-assistencial-privatista. Segundo
VECINA NETE, MARQUES & FIGUEIREDO (2006), o controle de doenças
epidemiológicas e endêmicas, objeto das práticas sanitárias que passam a ser
organizadas com fundamento na expansão do conhecimento epidemiológico que a
teoria dos germes e o conceito de transmissão possibilitam, será
progressivamente modificado, deslocando a ênfase do saneamento e ambiente
para a vigilância dos vetores e das pessoas doentes.
Com isso, a partir dos anos 40, a noção de riscos se altera com a
tensão entre as classes sociais mais distintas, frutos da nova dinâmica econômica,
com as relações trabalhistas acirradas, surge questões como riscos advindos da
saúde do trabalhador urbano, etc.
Na década de 70 , as ações de saúde pública de caráter coletivo
serão separadas em áreas distintas com as denominações consolidadas de
vigilância sanitária para o controle dos riscos sanitários relacionados em especial
aos processos produtivos de produtos, alimentos e medicamentos em especial, e
a epidemiológica para o controle das doenças em especial as transmissíveis
causadoras das principais epidemias e endemias. (VECINA NETE, MARQUES &
FIGUEIREDO, 2006, p. 698)
38
No final da década, com a Constituição de 1988, que coroou o
movimento pela reforma sanitária com a criação do SUS (Sistema Único de
Saúde), conforme já analisado neste trabalho, foi consolidado o conceito de
vigilância sanitária, ampliando-lhe a abrangência para o meio ambiente, ambiente
de trabalho e serviços de saúde.
Com a regulamentação da Constituição de 1988, foi criada na
década de 90, a Lei 8080 que regulamentou o SUS e a vigilância sanitária,
definindo-a como:
"... um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir
riscos à saúde, e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente,
da produção e circulação de bens e de prestação de serviços de interesse da saúde
abrangendo:
I - O controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se
relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção
do consumo, e;
II - O controle da prestação de serviços que se relacionam direta
ou indiretamente com a saúde" (Lei 8080).
Com a globalização, abriu-se a economia para a entrada de
produtos externos (particularmente alimentos e cosméticos), o que exigiria uma
estrutura de vigilância sanitária bem maior para acompanhar tal mudança. Esta
estrutura também foi abalada pelo sucateamento do aparato estatal que atendia
aos preceitos do neoliberalismo, baseado na idéia de "estado mínimo".
"No interior do processo de reforma administrativa que o Estado
brasileiro anuncia no final dos anos 90, está a reestruturação do órgão federal, a
extinção da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, criada em 1976, e a criação
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. A Lei 9.782, de 26/01/90, define o
Sistema nacional de Vigilância Sanitária e cria a ANVISA" (MARQUES, 2006).
Cabe atualmente então ao Sistema Nacional de Vigilância
Sanitária, a gestão e comunicação do risco sanitário, com o objetivo de prevení-lo,
diminuí-lo ou eliminá-lo.
39
Aqui o conceito de risco - definido anteriormente neste trabalho, a
partir do conceito de "sociedade do risco" (BECK, 1992), tratando a questão do
risco de forma abrangente e genérica - traduz-se nas ações da Vigilância Sanitária
de forma mais específica, nas seguintes áreas de atuação: riscos relacionados a
agrotóxicos, toxicologia, alimentos, cosméticos, derivados do tabaco,
farmacovigilância, medicamentos, portos, aeroportos e fronteiras, produtos para a
saúde, saneantes, sangue, tecidos e órgãos, serviços de saúde.
O conceito de risco - considerado neste trabalho a partir do
conceito de "sociedade do risco" (
BECK, 1992) - nas ações práticas de vigilância
sanitária diz respeito:
"a probabilidade de acontecer um efeito adverso por um agente
(químico, físico, biológico e outros) nos processos industriais, tecnológicos ou até
mesmo em processos naturais relacionados a essas ações. No campo da Vigilância
Sanitária, os fatores de risco são entendidos como os componentes críticos dos
acontecimentos, fatos ou coisas que colocam ou possam colocar em risco a saúde
dos indivíduos ou coletividades. Esses fatores de risco geram aumento da demanda
dos serviços de saúde, mortes, sofrimentos, baixa produtividade e prejuízos
econômicos." (TEMA, 2002).
40
4. Comunicação e saúde.
Após descrever o cenário em que se realiza esta pesquisa, ou
seja, num país pontuado por desigualdades gritantes na área de saúde e por
avançadas tecnologias na área de comunicação, penso a partir daqui em como se
encontram esses dois campos de conhecimentos: o da comunicação e o da
saúde.
Os "encontros" da comunicação com a saúde nem sempre
ocorrem na forma de construções epistemiológicas, mas através de iniciativas
pontuais em que áreas da saúde tentam incorporar estratégias de comunicação no
seu fazer cotidiano.
Segundo Pitta, desde a criação do Departamento Nacional de
Saúde Pública, em 1920, registra-se no âmbito das instituições governamentais de
saúde, a adoção de técnicas de propaganda. Neste contexto, já se propõe a
"introdução da propaganda e educação sanitária na técnica rotineira de ação ao
contrário do critério puramente fiscal ou policial até então utilizado."
(RODRIGUES, 1967) citado por (PiTTA, 1995).
A estruturação dos Setores de Saúde no Brasil, que se deram de
forma mais estruturada nos finais da Monarquia e durante a República, herdaram
em sua organização o "modus operant" dos militares, ou seja, a partir de planos,
estratégias, "campanhas" pontuais de combate às epidemias, de base tecnicista e
que consideravam as ações de comunicação como "ferramentas" de persuasão
das populações sobre a necessidade de cumprirem medidas sanitárias baixadas
pelos gabinetes da saúde pública estatal. (PITTA, 1995).
41
Essa visão desenvolvimentista que toma o país, principalmente
após a Segunda Grande Guerra até meados da década de 70, apóia-se
particularmente nas ações de planejamento em saúde, no modelo "funcionalista"
de comunicação, ou seja, um modelo em que o emissor tem que "persuadir" o
"receptor" através da mensagem.
No pós-Guerra essas propostas desenvolvimentistas que tentam
convencer as populações sobre a importância de mudanças que alavanquem o
desenvolvimento das economias capitalistas, fazem proliferar nos países latino-
americanos numerosas pesquisas e investigações para a comunicação
desenvolvimentista. Fazem parte dessas estratégias de comunicação algumas
sub-divisões como: comunicação e saúde, comunicação e educação e difusão de
inovações agrícolas, mas sempre sob a perspectiva "unilinear", ou seja, com o
protagonismo do processo comunicacional centrado no emissor, considerando o
receptor apenas como uma "população-alvo" a ser persuadida.
Esse modelo "campanhista" de comunicação para a saúde, de
caráter pontual e massificante que tentava persuadir todos de uma única forma,
sem considerar as particularidades geográficas, locais, étnicas, culturais e sociais
de cada grupo da população, esgota-se na década de 60.
Com o advento dos estudos da epidemiologia, ocupando os
planejamentos de ações de saúde, as práticas de comunicação das instituições
sanitárias passam, neste contexto, a se encarregar de uma dimensão não racional
do planejamento, buscando responder por um certo "espírito de relutância" das
pessoas de se ajustarem às normas e prioridades previamente definidas pela
administração sanitária" (PITTA, 1995).
42
A comunicação em saúde continua tendo o caráter de persuadir a
recepção, mas agora com técnicas mais apuradas de se investigar e se focar as
subjetividades e particularidades desse público, como o "ajuste de linguagem" e a
adoção do conceito de "população-alvo".
Começa-se nas décadas seguintes a perceber-se que as ações de
comunicação em saúde tem que se ajustar às necessidades de linguagens cada
vez mais especificas, de grupos populacionais cada vez mais segmentados e com
suas evidentes particularidades. Ações desenvolvidas até então pelos órgãos de
saúde pública, de "caráter campanhista", considerando os fenômenos como
isolados e independentes uns dos outros, gerando ações pontuais, fator por fator,
isolando os objetos não somente uns dos outros, mas também de seu ambiente e
do seu observador, desconsiderando inter-relações, tem explicado os grandes
fracassos de programas preventivos (PITTA, 1995).
Essa lógica de comunicação funcionalista influenciou as políticas
de comunicação e saúde durante toda a história da saúde pública no Brasil, em
que se tentou sempre impor à "recepção" verdades sanitárias defendidas através
de um discurso tecnicista, que desempodera cada vez mais a recepção, o "público
leigo" (que não é técnico), a "população-alvo"(que é passiva em relação a
mensagem disparada).
Diante dessa lógica comunicacional de discurso técnico,
especialista, medicalizante, que é praticado não só pelos agentes das políticas
públicas, mas também pelas estratégias comunicacionais da medicina privada,
dos planos de saúde, das indústrias de medicamentos e de alimentação, que em
tom professoral "ensina à recepção o que é melhor para a sua saúde"
(considerando saúde apenas enquanto "ausência de doenças" e não de uma
43
forma mais abrangente). O indivíduo comum, alvo dessas mensagens
comunicacionais, vai sentindo-se cada vez mais ignorante e inseguro em relação a
sua saúde, pois cada vez menos conhece o seu corpo, está mais dependente de
médicos, clínicas, hospitais, laboratórios, medicamentos, vitaminas, suplementos
alimentares, academias de ginástica, etc...
Lefevre afirma que existe um impasse estrutural nos processos
comunicativos entre o discurso sanitário de um lado, presidido pelas autoridades
sanitárias/profissionais de saúde e de outro lado a população/usuários/
clientes/consumidores de produtos e serviços de saúde que tem cada qual suas
representações sobre o que seja saúde. Esses dois campos falam sobre
saúde/doença de dois referenciais opostos. As autoridades sanitárias/profissionais
de saúde falam de saúde/doença sob uma perspectiva tecnico/científica e a
população entende saúde/doença sob uma perspectiva do senso comum. Isso
causa uma relação comunicacional assimétrica, pois na sociedade em que
vivemos a fala técnico/científica é uma fala legal, socialmente autorizada,
enquanto que a fala da população/indivíduo comum é "leiga, desautorizada,
prozaica, ilegal, deseducada, porque provem de um espaço vivencial da
cotidianidade" (LEFEVRE, 2004).
Mas se de um lado a lógica dominante nas ações institucionais de
saúde é essa, por outro lado, surgem a partir da década de 60 na América Latina,
como reação a esse modelo comunicacional descrito, teorias que colocam a
recepção como protagonista do processo comunicacional, considerando a
mensagem enquanto uma mediação dialógica entre emissão e recepção.
Isso enfatiza-se com a crítica do educador Paulo Freire ao modelo
extencionista de saberes, operante nos programas de desenvolvimento rural da
44
América Latina, através da crítica ao "agrônomo extensionista" e que reflete-se
também na crítica aos "agentes de saúde" equipados de suas "técnicas educativas
e de saúde" (TEIXEIRA, 2006). Trata-se do "modelo dialógico de comunicação" ou
da "teoria da recepção crítica".
A comunicação institucional desenvolvida por autoridades
sanitárias e serviços de saúde traz esse traço assimétrico de
prescrição/obediência, pelas características descritas, mas a partir do momento
em que se conheça as representações sociais que a população tem sobre o
processo saúde/doença, a partir de seus próprios espaços de cotidianidade, de
sua perspectiva da criança, do jovem, do adulto, do idoso, da mulher, do
trabalhador, pode-se desenvolver uma comunicação dialógica, que respeite estas
concepções, e transite do "power over" para o "power sith via empowerment" da
cidadania, como afirma LEFEVRE (2004).
Sob essa perspectiva de comunicação em que não há só o
discurso comunicacional oficial sobre saúde a ser considerado, mas uma gama de
discursos de diversos emissores/receptores que se entrelaçam, percebe-se um
farto campo para a construção de ecossistemas comunicacionais, que enriquecem
e possibilitam a participação social na construção democrática da saúde pública,
da participação política da população, do controle social (princípio garantido na
Constituição de 1988 e na Lei 8080 que regulamenta a criação do SUS), o que
evidencia a importância dessa comunicação na construção desse processo.
45
4.1. Comunicação de resistência
O discurso tecnicista das autoridades sanitárias, profissionais de
saúde, empresas de produtos e serviços de saúde em suas formas tradicionais de
comunicação com a população, contrapõe-se à comunicação de resistência, do
protagonismo para a recepção, da comunicação dialógica.
Nesse sentido, o empoderamento da cidadania, enquanto
receptora de informações sobre produtos/serviços/tecnologias de saúde, passa
por uma comunicação de resistência que vai na contramão da comunicação
institucional desenvolvida até agora. Segundo FESTA (1986), "os meios de
comunicação de massa (MCM) basicamente direcionam a discussão da sociedade
civil, quer seja através da negação da informação, quer seja através da
permanente explicitação de interesses políticos e econômicos da classe
dominante" (p. 11). Entendendo-se neste caso, os MCM como veículos da grande
imprensa (Tvs. Rádios Comerciais, grandes Jornais e Revistas de grande
circulação), além das campanhas oficiais desenvolvidas por grandes agências de
publicidade contratadas pelo poder público, empresas de medicina privada e
laboratórios fabricantes de medicamentos. Tal comunicação institucional atende
ideologicamento às classes dominantes.
Numa perspectiva histórica, a comunicação de resistência origina-
se com o surgimento do movimento sindical, impulsionado pelos anarquistas e
socialistas utópicos do começo de século XX , na época da Revolução Industrial,
como forma de mobilização da classe operária emergente.
Com o desenvolvimento das comunicações durante o século XX, a
hegemonia do controle dessas tecnologias por parte dos governos e empresas
capitalistas e o consequente uso dos processos e tecnologias de comunicação de
46
forma funcionalista, a reflexão sobre uma outra forma de comunicação torna-se
possível. Uma comunicação de resistência ressurge com a Escola de Frankfurt e
remonta aos acontecimentos ocorridos em várias partes do mundo em 1968, como
crítica ao sistema dos meios de comunicação hegemônicos que pressupõe uma
verticalidade nas emissões, uma comunicação unidirecional e a falta de pluralismo
na transmissão de informações. A comunicação de resistência extrapola a
imprensa sindical e toma outros espaços com o efervescente movimento
estudantil da década de 60 e outras esferas sociais de defesa das minorias,
pressupondo uma comunicação feita a partir das classes subalternas, produzindo
um uso tático das mídias, com meios alternativos como jornais sindicais, de
associações, estudantis, rádios comunitárias, experimentações estéticas e
narrativas, músicas, vídeos, fanzines, etc.
No Brasil, três fases distintas da vida política, econômica e social registram
igualmente três processos diferentes de comunicação alternativa e popular. A primeira fase,
que corresponde ao período de 68 a 78 - entre o Ato Institucional nº. 5 (AI-5) e a abertura
política - caracteriza-se por uma comunicação de resistência, denúncia e acumulação de forças
por parte das oposições; a Segunda faase, de 78 a 82, período de explosão social, eleições
nacionais, abrandamento das restrições políticas, caracteriza-se por projetos políticos mais
definidos e pela existência de uma comunicação popular, multiplicadora de meios nas bases e
pelo quase desaparecimento da comunicação alternativa; e o terceiro período, de 82-83,
caracteriza-se por uma atomizaçào do processo de comunicação popular e alternativa na
mesma medida que reflete a incapacidade das forças de oposição para articularem uma
alternativa política à crise atual vivida pela sociedade brasileira. (FESTA, 1986, 10).
Antes dos anos 60, no Brasil não se usava o termo "imprensa
alternativa', mas sim "imprensa popular" , uma imprensa democrática, nacionalista
e popular de resistência que atuava nos marcos consentidos da democracia. Com
o recrudescimento do sistema político através da implantação do regimo militar a
partir de 1964, essa imprensa é sufocada e a liberdade de comunicação,
expressa-se clandestinamente com o surgimento da então chamada "imprensa
alternativa", composta por operários, intelectuais de resistência ao regime.
47
Antes de 1964 a imprensa de oposição ao modelo capitalista de
desenvolvimento chamava-se "imprensa popular". A imprensa popular deve,
possivelmente, o apelido alternativa à fase recente do movimento democrático e
popular no Ocidente, que impôs a discussão de formas alternativas de vida, de
experiências comunitárias, de contra-culturas, de rebelião dos jovens e temas
correlatos. (FESTA, 1986. .p.61).
Destacou-se neste período o surgimento de periódicos como: Pif-
Paf, de autoria dos humoristas que depois deram origem ao Pasquim - Millor
Fernandes e outros; Semanário Reunião; Fato Novo; Amanhã - semanário para os
trabalhadores feito por estudantes da Faculdade de Filosofia da USP. Com o
recrudescimento do Regime militar , surgiram: Voz Operária, do PCB; Libertação,
da Ação Popular marxista-leninista; Classe Operária, do Partido Comunista do
Brasil; Unidade Proletária, do MR-8. Do ponto de vista mais alternativo, no que diz
respeito a se privilegiar cultura e costumes surge na década de 70: O Bondinho,
feito por um grupo de jornalistas responsáveis por um jornal de serviços do Grupo
Pão-de-Açúcar; o jornal EX,; o Mais Um; o Extra-Realidade Brasileira. Nesta
época surgem também: O Pasquim; Polítika, o Jornal de Debates, de cunho
nacionalista que tentava reafirmar a campanha de "O Petróleo é nosso"; e o
Semanário Opinião, feito por renomados intelectuais como Fernando Henrique
Cardoso e Celso Furtado.; o Jornal Versus feito pela corrente trotskista
"Convergência Socialista". (FESTA, 1986. p.61-2).
Além da explosão do movimento de rádios comunitárias como
forma de comunicação de resistência - a ser tratado mais especificamente em
outro capítulo desta Monografia - utra mídia utilizada nos anos 80, foi o vídeo
como uma forma fácil, barata e rápida de se documentar experiências do
48
movimento popular e retransmitir suas imagens através de fitas VHS para outros
grupos e movimentos em todo o país.
O vídeo começa a participar dos movimentos populares suprindo um vazio
que estabeleceu-se em sua documentação no aspecto som e imagem, diante do alto custo do
material cinematográfico e da inexistência, até o momento, de uma televisão que tenha um
projeto democrático de participação, que dê vez e voz aos movimentos populares. O exemplo
do I CONCLAT
6
, indica um caminho bastante promIssor na área de vídeo. Dos grupos que
gravaram o evento, poucos meses depois, se tem notícia de pelo menos quatro programas
acabados, que começam a ser distribuídos num circuito de exibição que não passa por nenhum
meio de comunicação de massa, ou casa de espetáculos mas toma forma a partir de
requisições de sindicatos, centros culturais, escolas, etc. (FESTA, 1986. P. 164)
Na década de 90, o movimento de comunicação de resistência
ganha um grande incremento com o surgimento das novas tecnologias de
informação e comunicação e principalmente com o surgimento e popularização da
Internet, onde os ativistas de movimentos alternativos e de resistência como o
Movimento Zapatista no México, ativistas opositores ao Fórum Econômico Mundial
(FEM) nas rodadas de Seattle e Gênova (PINHEIRO, 2005) fazem uso da Internet
para divulgarem livremente suas ideologias e defenderem suas causas.
Hoje, a comunicação de resistência propícia uma enorme gama de
formatos e conceitos, onde a atuação pode ser desde indivídual até coletiva, pois
com uma câmera digital, ou um telefone celular, ou um gravador, ou um lap-top,
pode-se fazer um documentário, produzir moda, difundir hábitos e costumes,
denunciar escândalos, fazer denúncias.
A comunicação de resistência passa então pela crítica à
comunicação funcionalista, hegemônica, e se traduz nas teorias das Escola de
Frankfurt, na escola da teoria crítica, nas teorias freirinianas, nas teorias da leitura
crítica dos meios, movimento de Media Education e da educomunicação.
6
(Congresso Nacional das Classes Trabalhadoras, ocorrido em 1983 em São Bernardo do Campo-SP, que
deu origem à Central Única dos Trabalhadores - CUT)
49
4.2. O Conceito de educomunicação.
Desde o início da humanidade a educação e a comunicação estão
presentes no desenvolvimento humano através da produção de saberes para a
sobrevivência e para a comunicação desses saberes às gerações seguintes.
Nessa trajetória, muitas vezes esses dois grandes campos do
conhecimento cruzam-se na prática e no cotidiano do ser humano, seja para
otimizar o processo educativo, seja para organizar melhor o que se comunica.
Mas esses dois campos do conhecimento só começaram a ser
estudados de uma forma mais sistematizada a partir do início do Séc. XX e a
relação entre eles a partir da década de 1950. Nessa década, com o final da 2ª
Guerra Mundial, o desenvolvimento do capitalismo acompanhado da
popularização da tecnologia da comunicação como os jornais, o rádio e nos EUA o
surgimento da televisão, assim como o surgimento da publicidade como grande
impulsionador do consumo, estimulam o surgimento de estudos sobre estes
fenômenos comunicacionais, destacando-se o funcionalismo, onde "há o
Predomínio dos modelos extensionistas e difusionistas, produzidas por Laswell,
Shramm, Lerner" (SOARES, 1999).
Como resistência ao funcionalismo, surge nos anos 70 um novo
paradigma baseado nos estudos da Escola de Frankfurt e nas teorias
Althuserianas (ALTHUSSER, 1985) que afirmam a total manipulação dos
receptores pelos emissores, ligados ideologicamente ao status quo dominante,
que usa os meios como forma de dominação ideológica sobre as massas.
Mas na América Latina, nos anos 70, surgem novas teorias
contrapondo-se e rompendo com o funcionalismo. Essas teorias dividem-se em
50
duas tendências. Surge o grupo de pensadores liderados por Armand Mattelard,
com a teoria da Sociologia da Dependência Cultural, que faz a análise da estrutura
política na comunicação e começa a ter um olhar mais cuidadoso para as
condições da recepção e não apenas para o emissor e a mensagem. Ao contrário
da Escola de Frankfurt, relativiza a capacidade de convencimento dos meios e
valoriza a capacidade de decodificação do receptor. Já um segundo grupo de
pensadores latino-americanos, liderados por Verón, privilegiam os estudos da
mensagem de forma estruturalista (SOARES, 1999).
Nos anos 80, a partir desses dois enfoques, os programas de
comunicação na AL buscam: a capacitação semiótica e audiovisual, desvendar as
ideologias das mensagens e a capacitação grupal para a mediação.
Com o surgimento dessas novas teorias latino-americanas, de
pensadores da comunicação como Barbero e Canclini contrapondo-se à Escola de
Frankfurt e defendendo uma recepção crítica a partir de seu recurso cultural, de
re-significado das mensagens, surge um novo campo de estudos denominado
"Educomunicação" (SOARES, 1999, p.19-74). que se caracteriza por uma prática
de inter-relações dos campos da comunicação e da educação
Essa inter-relação já poderia ser percebida com o surgimento do
funcionalismo de Skiner que defendia o uso de recursos tecnológicos no ensino,
mas segundo SOARES (1999, p.22):
o campo de inter-relações entre educação e comunicação começa
a se esboçar sob a perspectiva dialética, com Freinet que defende o uso de jornal na
sala de aula e com Paulo Freire que privilegia a educação para os meios, defende
uma relação educador/educando igualitária, dialogal através de um esquema
comunicativo básico, o binarismo e questiona: a quem servem os meios de
comunicação?
51
Porém para outros autores, essa constituição de um novo campo
de conhecimento não é tão fácil assim de ser esboçada. Segundo BOURDIEU
(1975, p.99) citado por LOPES (2001, p.48), "a noção de campo se dá como um
espaço social onde há uma concorrência de forças contrárias pelo monopólio da
autoridade científica que só acontece quando legitimada pelo reconhecimento
social de seus pares"
·,
Então a noção de que a educomunicação seja um campo
específico de conhecimento ainda está começando a ser trilhada, pois tanto o
conceito de campo para a educação, quanto para a comunicação, estão bem
definidos e legitimados em suas práticas.
Creio que as relações entre os dois campos são facilmente
identificáveis, mas ainda não está dada à cultura de se usar essas inter-relações
tanto nas instituições de ensino quanto nas empresas de comunicação, mesmo
porque a discussão desses conhecimentos está no campo epistemológico, nas
Universidades e Centros de Pesquisas, não está incorporado na prática, pois tanto
escolas quanto empresas de comunicação ainda praticam uma comunicação
funcionalista.
A meu ver, a relação comunicação/educação colocada sob um
cenário de pós-modernidade - onde os limites de cada área do conhecimento
estão cada vez mais tênues, e como efeito dessa pós-modernidade, surge a
globalização rompendo a noção de territórios definidos, com o surgimento da
Internet, educação à distância e novas tecnologias - modifica a forma de se
ensinar/comunicar. A comunicação tem facilidade de transitar por essas mudanças
por ser um fenômeno pós-moderno. Já a educação, se solidificou numa realidade
da modernidade.
52
Dessa forma, podemos perceber que a educação formal,
conforme está constituída secularmente, atrelada a um autoritarismo de Estado é
muito mais reticente a um novo campo de inter-relações comunicação/educação
(a educomunicação), admitindo no máximo uma visão funcionalista desse novo
campo, que se configura pela adoção de tecnologias de educação como
instrumentais didáticos para auxiliar no processo educativo, quando na verdade
trata-se de muito mais do que isto.
Conforme define Kaplun, citado por GARCIA (2006, p.7), essa
visão de atuação descrita corresponde ao modelo de "educação que põe ênfase
nos conteúdos, e corresponde à educação tradicional, baseada na transmissão de
conhecimentos e valores de uma geração a outra, do professor ao aluno, da elite
'instruída' às massas ignorantes. Nesse modelo, usa-se uma comunicação
bancária, vista como uma mera transmissão de informação. Trata-se de um
modelo autoritário, onde o protagonismo é dado ao emissor, a quem cabe iniciar o
processo, definir seus conteúdos e objetivos e determinar o seu fim".
Trata-se de um modelo em que a relação comunicação/educação
ocorre apenas ao se utilizar os meios de comunicação, como televisão, vídeo
didático, Internet, apresentações em power point e outras novas tecnologias, mas
sem questionar as mensagens emitidas por tais tecnologias e sem dar ao aluno a
experimentação sobre o processo do fazer comunicacional.
Creio que as possibilidades de uma inter-relação entre os dois
campos, uma efetivação real da educomunicação enquanto concepção dialética,
ou como afirma Kaplun, M., "uma educação que põe ênfase no processo não se
preocupa tanto com os conteúdos a serem comunicados ou com os efeitos em
termos de comportamento, e sim com a interação dialética entre as pessoas e sua
53
realidade. Todos são sujeitos do processo, sendo emissores e receptores ao
mesmo tempo. E um modelo de interação social, onde todos participam com igual
oportunidade de conhecimento e acesso aos meios de comunicação", se daria
melhor e mais facilmente no campo da comunicação do que no campo da
educação. Ou seja, através de uma intervenção com uma educação para os meios
onde se estabeleçam e se pratiquem formas de se educar os receptores nas
escolas, pela via da criação de disciplinas específicas para esses conteúdos
(interpretação de telenovelas, filmes, leitura crítica de jornais), ou através de
projetos transdisciplinares, como criação de jornais, rádios ou TVs na escola,
permitindo aos alunos vivenciarem o processo de produção comunicacional.
Provocaria a re-interpretação de seus conteúdos curriculares e os dotaria de uma
visão crítica sobre a interpretação de acontecimentos de sua vida, da vida de seu
bairro, sua cidade, país e mundo.
No espaço da educomunicação não deve prevalecer a supremacia
da comunicação sobre a educação ou vice-versa, pois trata-se de campo de inter-
relações que precisa beber da realidade cotidiana dos dois mundos e
experimentar seus constructos teóricos na prática das experiências vivenciadas
não apenas nos espaços escolares formais (embora a escola esteja redefinindo
seu modo de existir através do tempo), mas também em outros espaços de
educação não formal, como em rádios comunitárias, sindicatos, movimentos
sociais, empresas, etc...
A educomunicação apesar de ter elementos da educação
enquanto aspecto transformador e emancipador do indivíduo, através de sua
própria "leitura do mundo", pode dar-se de forma bastante positiva em ambientes
não escolares, em que não esteja tão presa institucionalmente a parâmetros
curriculares formais de educação.
54
Nos espaços não escolares, existem experiências
educomunicativas através da mediação tecnológica, por exemplo em
Organizações Sociais, ONGs, que usam de meios tecnológicos para promover
educação e inserção social, produzindo sites comunitários ou usando de recursos
da "informática comunitária"
(MCIVER, 2005, p.65).
Informática comunitária é também um campo de conhecimento
emergente e interdisciplinar, relativo ao desenvolvimento e gerenciamento de
sistemas de informação concebidos por comunidades, preferencialmente de
países não desenvolvidos ou em desenvolvimento para resolver seus problemas e
incluí-los socialmente. Propõe-se a ser uma alternativa mais barata e acessível às
camadas mais pobres das populações, contrapondo-se aos Sistemas de
Informações Gerenciais (SIG), ferramenta de gerenciamento de informações
ligado a concepções de grandes corporações capitalistas.
Outro campo de atuação da educomunicação são experiências de
expressão comunicativas, em que grupos sociais desenvolvem atividades culturais
como forma de expressão das pessoas e através disso, desenvolvem processos
de educação e conscientização das mesmas
(MACEDO NETO, 2004).
Mas sem dúvida, o campo de atuação de práticas
educomunicativas de mais relevância para minha pesquisa é o aspecto da
educação para os meios.
É senso comum dizer que a imprensa é o quarto poder nas
democracias ocidentais. Outro chavão comum quando tenta-se disciplinar a
atuação da mídia é a defesa da "liberdade de expressão". Fato é que a imprensa
nascida a partir de Gutemberg na Alemanha, no começo do Século XX tem sua
evolução associada a história do desenvolvimento do capitalismo no mundo.
55
Atualmente, com o capitalismo entrando em sua fase de neoliberalismo, a mídia
tem o maior poder de sua história, impulsionada por interesses econômicos. Se
não está claramente associada a interesses de governos, está associada a uma
linha ideológica que favorece os interesses de mercado. Se o governo de plantão
atende a essas premissas, a mídia apoia esse governo. Mas se esse governo
discorda dessas premissas, a mídia se opõe a ele, causando muitas vezes sua
queda em nome da "liberdade de expressão". Liberdade essa que na maioria das
vezes é a liberdade do dono da imprensa (entenda-se como dono a figura abstrata
do mercado capitalista). Nesse sentido, a mídia no Estado Moderno
Contemporâneo está acima do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, não
formalmente, mas nas entrelinhas do poder, uma vez que nenhum desses três
poderes tem coragem de se indispor contra os meios de comunicação. Isso para
não se indispor com a "opinião pública", esse ente também subjetivo, assim como
o mercado, sendo alvo de manipulação dos meios, que fabrica opiniões,
comportamentos, verdades.
Esse poder ilimitado da mídia não preocupa apenas sob o ponto
de vista político/ideológico, mas sob o ponto de vista da criação de hábitos de
consumo, de comportamentos, da deseducação das crianças e jovens e de um
suposto incentivo à violência, pela propagação de modismos relacionados à
mesma.
Nesse sentido a educomunicação, sob o ponto de vista latino-
americano, atua sob um outro aspecto e lança luzes sobre essa relação
meios/recepção, na medida em que empodera a recepção e sob uma óptica
construtivista se contrapõe a essa visão colocada anteriormente, que considera a
mídia como construtora de verdades absolutas.
56
Já nos EUA, a preocupação com educomunicação existe muito
mais sob o aspecto funcionalista do fenômeno, do que sob o aspecto
construtivista, retomando um pouco da análise de que os meios são poderosos e a
recepção vulnerável. Eles consideram a importância da educomunicação sob a
perspectiva de se ensinar aos alunos nas escolas como ler os meios. Há uma
preocupação com os estudos dos meios sob a ótica defensiva em relação à TV,
abordando os aspectos da manipulação televisiva sobre as crianças e alertando
para problemas como o excesso de violência na TV e o incentivo ao consumo
excessivo ou a formas inadequadas de alimentação. Existem movimentos de
cidadania Citizenship Model (SOARES, 2000) que expressam uma reação aos
meios e a comercialização do espaço escolar, reagindo aos excessos e a sanha
consumista que as programações televisivas investem contra os adolescentes.
A prática da educomunicação nos EUA também baseia-se na
crítica aos excessos da programação televisiva, fazendo uma análise de conteúdo
e na proteção de receptores contra os "efeitos nefastos" dos meios. Para isso,
desenvolve processos de aprendizagem em algumas escolas, onde o aluno
adquire capacitação para produzir comunicação, usando a produção midiática
como forma de expressão. Escolas de alguns Estados americanos desenvolvem
Círculo de empoderamento da recepção (Empowerment Circle) (SOARES, 2000),
onde o estudante é levado a fazer uma análise autobiográfica, pela qual entra em
contato com os sistemas de meios, através da observação de seus próprios
hábitos de uso da comunicação. Estrutura-se em quatro fases: vigilância, análise,
reflexão, ação. Escolas católicas analisam os conteúdos dos meios sob a ótica
dogmática da moral cristã, conduzindo a análise sob seu ponto de vista dogmático
(Proposta condutivista) (Empowerment Circle) (SOARES, 2000). Outras escolas
recuperam Paulo Freire, indo além da análise dos meios e fazendo o aluno
57
descobrir as intenções repressivas e ideológicas dos interesses de classes
existentes por trás dos conteúdos das mensagens, fazendo uma “leitura do
mundo” (Proposta de intermediação) (SOARES, 2000).
Já na Europa existe a preocupação para com a Educomunicação
mesmo sob o ponto de vista da capacitação da recepção para a “Leitura dos
Meios”, baseando-se não só na televisão mas também nas mídias: Cinema e
Jornais.
A partir dessas práticas espalhadas pelo mundo no enfrentamento
do poder da mídia, a teoria da comunicação interage com o campo de
conhecimento da educação de forma a tornar os receptores mais cidadãos no que
diz respeito a se apoderarem dos conteúdos e mediarem esses conteúdos a partir
de suas vivências e referências culturais.
Enfim, a vertiginosa revolução nas tecnologias de informação e
comunicação implica profundas mudanças na maneira como os cidadãos são
educados, fazendo com que o principal problema para a educação atualmente
seja onde e de que maneira as novas gerações aprenderão a lidar criticamente
com a profusão de mídias da sociedade da informação, em uma realidade em que
a escola em seu formato tradicional não dá mais conta de educar a geração atual
de forma eficiente e integral.
Para tornar-se cidadão na sociedade da informação, é necessário
não apenas ler a mídia como saber produzir mídia, isto é, comunicar-se
efetivamente numa arena social cada vez mais midiatizada. A educomunicação
vem dar respostas a essa nova realidade, através de experiências que usam a
criação de jornais, rádios, vídeos, sites e outros produtos de comunicação, de
maneira a auxiliar na formação de crianças, adolescentes e jovens.
58
Dentro desse novo campo de conhecimento, a educomunicação -
que ocorre nos espaços formais das escolas, secretarias, ministérios, e também
nos espaços não formais, como rádios comunitárias, ONGs, Sindicatos,
associações - é preciso atentar para o surgimento da necessidade de um novo
profissional que tenha condições de identificar, planejar e avaliar processos
comunicacionais, fazer diagnósticos e dar assessorias, indicando, quando
necessário, a oportunidade (ou não) da contratação de outros profissionais da
área de comunicação, que conheça tanto o campo da comunicação quanto o da
educação (e no caso desta pesquisa, também o campo da saúde). Teremos o
analista em “Comunicação Cultural”, com seu campo de atuação compreendendo
o âmbito da administração da cultura e das artes, no espaço público da pequena
comunidade, do Município e do Estado, ou no espaço privado da pequena, média
e grande empresa. Teremos o "Analista em Comunicação Educativa”, quando o
trabalho for exercido no âmbito das práticas formais ou não formais da educação
presencial ou à distância. No caso da saúde, o agende comunitário de saúde pode
cumprir esse papel.
O surgimento desse novo paradigma que é a educomunicação
tanto em relação à comunicação - educando as pessoas para que elas tenham
uma leitura crítica dos meios - quanto com relação à educação - que revitaliza a
escola, re-organizando e re-construindo seus métodos arcaicos de ensino e, a
partir da inserção de novas tecnologias no ambiente escolar e da inserção da
própria escola na sociedade da informação, traz a necessidade desse novo
profissional citado, que traduza e saiba atuar nessa nova realidade.
Um profissional que vá além de um professor ou de um assessor
de imprensa da instituição, mas que seja um agente transformador do espaço
escolar e um mediador de conflitos culturais. Que transforme cada professor, cada
59
funcionário e cada aluno num homo comunicacionalis, um homem - em -
comunicação (SOARES, 2002).
"O termo ‘Gestor’ traduz a natureza operacional do ofício de quem
gerencia, coordena, administra. No caso, gerencia, coordena e administra
processos comunicacionais. Igualmente, seu trabalho se dará ou no campo da
‘Cultura’ ou naquele da ‘Educação’” (SOARES, 1993) e particularmente, no caso
desta pesquisa, no campo da Saúde. Para o CCA/ECA/USP, esse novo
profissional será alguém em condições, portanto, de ‘analisar’ e ‘gestionar’, a um
só tempo, os processos comunicacionais. Portanto, pode ser um analista ou
gestor de comunicação, um educomunicador.
O espaço desse profissional começa a esboçar-se nas instituições
de ensino, quando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (L.D.B)
reconhece a relação da comunicação com a educação, mas também esboça-se
na presença desses profissionais em instituições não formais, como escolas e
empresas, mas sob o ponto de vista da organização comunitária, com a recente
profissionalização das entidades de cunho comunitário.
Na área da saúde é interessante discutir esse conceito do
profissional que interaja com os campos da comunicação, da educação e da
saúde, pois as políticas públicas e os órgãos públicos nunca deram valor real a
profissionais que não fossem das áreas de biológicas. Nos diários oficiais, nunca
se detecta o Ministério da Saúde, Secretarias estaduais e municipais de saúde
contratando comunicadores, mas apenas médicos, enfermeiros, biólogos,
auxiliares de enfermagem ou de laboratório. O profissional de comunicação pode
contribuir muito com a melhoria das condições de saúde, na participação da
população e no controle social do SUS.
60
As experiências com educomunicadores na área da saúde
começam a ocorrer por canais não formais, através de ONGs, como o Grupo
Doutores da Alegria (DUARTE & NOGUEIRA, 2001), que trabalham a questão da
humanização dos hospitais. Através de uma característica da educomunicação, a
educação pela expressão artística, ou como as rádios comunitárias, que levam
pelas ondas do ar informações sobre saúde para as comunidades. Esses
profissionais não se assumem enquanto educomunicadores, mas executam na
prática processos educomunicativos, ou seja, são gestores de educomunicação.
Minha intenção com essa pesquisa em comunicação e saúde é
deslocar o foco da educomunicação do âmbito escolar para o âmbito da
sociedade, com estudos de recepção junto a ouvintes da mídia rádio, e a relação
dialética destes com as mensagens sobre riscos em saúde e qualidade de vida
transmitidas pelos meios.
Assim, confronto-me com o campo da educomunicação como
campo emergente de inter-relações comunicação/educação, em que opto por
observar em igualdade de condições, esta relação dos campos da comunicação e
da educação, enquanto espaço privilegiado para se desenvolver uma
comunicação de riscos que propicie a eliminação, diminuição e prevenção de
riscos sanitários. As possibilidades de atuação na área de vigilância sanitária
estão sempre restritas aos limites de intimidação pela forma da lei ou no máximo
por recursos da educação formal, campanhas, etc. Já a educomunicação pode
propiciar possibiidades de atuação não só em espaços de educação formais como
escolas, faculdades, campanhas, etc., como também em espaços não formais
como rádos comunitárias, espaços de atuação de agentes comunitários de saúde,
de políticas de prevenção, redução e eliminação de riscos em saúde,
possibilitando uma flexibilidade e um processo dialético de mediação com o
61
receptor muito maior. Ou seja, identifico minha atuação com a seguinte definição
de materialização do campo da educomunicação, definida por SOARES, (1999,
p.99),
...área de gestão comunicativa, designando toda ação voltada para
o planejamento, execução e avaliação de planos, programas e projetos de
intervenção social no espaço da inter-relação Comunicação/Cultura/Educação,
criando ecossistemas comunicativos...
(SOARES, 2000)
E também através da definição:
... de área de educação para a comunicação, constituída pelas
reflexões em torno da relação entre os pólos vivos do processo de comunicação
(Estudos de recepção), assim como pedagógico, pelos programas de formação de
receptores autônomos e críticos frente aos meios ("media Education" ou "Media
Literacy", citado por
SOARES, 2000)
Nesse sentido, remeto esta reflexão à minha proposta de pesquisa
de inserir a educomunicação em um processo dialético de construção de
conhecimentos na área de saúde junto à população ouvinte da mídia rádio.
Proponho que a educomunicação esteja atuando em um espaço não formal,
através da análise de recepção crítica (Media Education)
(SOARES, 2000) sobre
os conteúdos que esta recebe via meios não formais (rádios comunitárias) e como
essa recepção interage dialeticamente com esses conteúdos, relacionando-os
como o seu viver cotidiano e sua cultura construída em suas relações sociais.
Estudarei os constructos epistemiológicos que expliquem
experiências mais pragmáticas de atuação dos que militam no campo da saúde e
da comunicação, a partir de experiências que possibilitem a prática da cidadania
na área da saúde através de uma comunicação "empoderadora". Segundo
LEFEVRE (sd. p.39), "é uma comunicação que implica na disponibilidade de uma
informação técnica para uso leigo que permita a este consumidor de produtos de
saúde, funcionar como agente controlador do seu consumo" no sentido de tornar
os cidadãos realmente agentes construtores de seus conhecimentos sobre riscos
62
em saúde, particularmente sobre vigilância sanitária, e receptores críticos das
informações sobre riscos em saúde e não meramente ouvintes passivos de uma
mídia cada vez mais manipuladora
7
. Nesse contexto a educomunicação tem seu
papel empoderador da recepção sobre seus direitos na área da saúde pública.
As ações políticas atuais, na área da saúde, reflexo da
consagração do SUS, erigido da Constituição de 1988, se acertam em direção à
busca pela equidade, integralidade, universalidade e da participação da
comunidade, pecam em suas políticas de proteção e prevenção aos riscos
sanitários, quando não utilizam adequadamente os aparatos do campo de
conhecimento da comunicação, que poderiam "empoderar" a população na
conquista de seus direitos à saúde, à vida e no fortalecimento de sua cidadania.
Faz-se necessário neste momento, discorrer sobre os processos
de comunicação que ocorrem na sociedade, pois com a evolução tecnológica há
um excesso de informações, mas não necessariamente em avanço no
conhecimento. Canclini, um dos grandes pensadores contemporâneos da
comunicação na América Latina, afirma que os processos de comunicação atuais
produzem "consumidores do século XVI e cidadãos do Séc. XIII" (CANCLINI,
2005, p.32).
Ainda segundo Canclini, existe no mundo atual um "predomínio da
imagem sobre a escrita" (CANCLINI, 2005, p.32), fenômeno ainda não descoberto
7 Kucinski, B. Jornalismo na era virtual: Ensaios sobre o colapso da razão ética. São Paulo. Fund. Perseu
Abramo/Ed. UNESP. 2005. Pag. 18 "No dia a dia das redações, o vazio ético é reforçado por mecanismos
diversos, entre os quais o fim da demarcação, entre jornalismo e assessoria de imprensa; a fusão
mercadológica da notícia, entretenimento e consumo; a concentração da propriedade na indústria da
comunicação; a crescente manipulação da informação por grupos de interesse; e, principalmente, a
mentalidade pós-moderna, que celebra o individualismo e o sucesso pessoal."
63
pelos estrategistas da comunicação do SUS por não utilizarem a imagem como
uma forma de Comunicação eficiente.
Penso em vislumbrar um pouco do papel da comunicação para a
saúde sob a ótica de um comunicação "mediadora", que segundo GARCIA (2006,
p. 8), "se dá no interior das práticas culturais cotidianas e que privilegia as
negociações de significados e de sentidos".
Ao contrário do que afirmavam os teóricos da Escola de Frankfurt,
os atuais teóricos da comunicação latino-americana afirmam que a recepção de
informações pelo receptor é muito mais um processo de mediação/negociações
como bases no repertório cultural originário da recepção, do que na relação
dominação/manipulação que supostamente o emissor tenta implementar, a partir
de um repertório ideológico de dominação, que seja do Estado, das elites ou do
mercado. O foco não está mais nos meios, mas sim nas mediações.
Nesse sentido, o espaço de negociação/mediação proporcionado
pelas rádios comunitárias, em suas comunidades, é campo fértil para verificar
como se dá a percepção de riscos em saúde por parte dessa população alvo e
para estudar a compreensão do conceito de risco junto à sociedade.
64
4.3. A escolha pela Educomunicação nos estudos de
comunicação e saúde
Considerando-se a análise inicial desses campos distintos do
conhecimento em nosso país, o da saúde e o da comunicação, verifica-se a
grande potencialidade em se fazer propostas transdisciplinares nesses dois
grandes campos.
A atenção primária em saúde, assim como as escolas não usam
de forma potencializada a da comunicação como grande aliado na comunicação
de riscos sanitários o que poderia contribuir no combate às iniquidades sociais.
Nesse sentido, justifico essa proposta de pesquisa como uma
contribuição para um estudo mais profundo do potencial dos recursos da
comunicação como forma de intervenção no campo da saúde pública, mais
especificamente, da comunicação do risco sanitário pela via das rádios
comunitárias.
Para analisar esta forma de comunicação uso como referência os
estudos de Comunicação do final dos anos 80 e começo dos 90, o paradigma da
teoria crítica, a análise das mediações com Paulo Freire(FREIRE, 2001), Jesus
Martin Barbero (BARBERO, 2001) e Nestor Garcia Canclini (CANCLINI, 2005),
assim como propostas de teóricos formuladores do SUS, que começam a ver o
componente “difusão” ou “disseminação” das informações sanitárias como um
instrumento de transparência e garantia da participação popular nos processos de
gestão dos serviços e programas de saúde (PITTA, 1994).
65
Essa abordagem que utilizarei na pesquisa pressupõe considerar
a educação como campo transdisciplinar a ser abordado, assim como o campo da
comunicação, pela sua importância quando da necessidade de educação da
população sobre os problemas de saúde e proteção aos riscos sanitários.
A preocupação formal com o uso da educação na saúde no Brasil
começa com a reforma Carlos Chagas que, em 1920, criava o Departamento
Nacional de Saúde Pública, associando técnicas de propaganda à educação
sanitária.
Essa preocupação com a educação marca uma mudança da
postura higienista para uma postura sanitarista da saúde pública, rompendo um
pouco com o modelo campanhista de Oswaldo Cruz. Porém essas novidades
eram incorporadas na época, sem que isso significasse, contudo, uma ruptura
total com a “filosofia” de ação do período anterior das administrações públicas na
área de saúde, essencialmente marcada pelo autoritarismo. O fato novo consistia
em associar o comportamento individual ao desenvolvimento das doenças da
pobreza (segundo a teoria do “ciclo vicioso pobreza-ignorância-doença”). A nova
proposta sanitarista – que trazia um germe de ruptura com o modelo
“campanhista” – passava a adotar a Educação Sanitária como instrumento de
ação privilegiado e tinha o Centro de Saúde como aparato institucional adequado
à sua realização.
Nesse sentido, as rádios comunitárias têm um papel educativo,
muitas vezes complementar à escola formal, ao Centro de Saúde e às
Campanhas de Saúde, pela sua proximidade com o público-alvo, pela linguagem
coloquial e familiar ao universo simbólico das populações atingidas.
66
5. O Rádio - o mais popular dos meios
O ser humano é por essência comunicativo, precisa se relacionar
para sobreviver enquanto espécie e desde os primórdios desenvolveu formas de
se comunicar. Entre tantas formas de comunicação que lhe estavam disponíveis,
certamente a voz, a emissão de sons a partir de seu próprio corpo, era a maneira
mais natural e acessível de comunicação.
Primeiro eram os ruídos, grunhidos, gemidos, berros, para
expressar o que estavam sentindo, depois vieram as palavras.
"A sabedoria passava da boca para o ouvido, do ouvido para a
boca, de geração para geração, em uma tradição oral que perdurou por muitos
séculos, equivalente a 99% de toda a história humana. Pintavam-se bisões e
estampavam-se mãos nas cavernas, mas não se desenhava a voz humana, não se
codificava o pensamento em sinais posteriormente decifráveis" (LÓPEZ VIGIL, 2003).
Portanto a oralidade foi atravessando a história humana como
uma das formas de comunicação mais efetiva, como forma de se contar a história
e de se acumular conhecimentos. Ainda hoje temos casos de tradições culturais
passadas à frente no tempo de forma oral em alguns grupos culturais. Não havia
escrita para explicitar os conhecimentos. Paralelamente, desenvolveu-se a escrita
e outras formas de comunicação que eternizassem os fatos históricos gravando
palavras, frases, estórias em pedras, tecidos e posteriormente com a invenção da
imprensa, em papéis e livros. A escrita portanto, havia capturado as idéias em
suportes físicos. Posteriormente a invenção da fotografia, capturou a luz e
eternizou imagens, momentos, acontecimentos.
E o som? Não seria capturado em algum tipo de suporte físico?
Não seria gravável em pedra, nem impresso em livros? Estava colocado um
desafio para a humanidade: Tornar a comunicação oral gravável, reprodutível,
67
ampliar o som, levando mensagens a outros ouvintes em lugares distantes, em
tempo real.
Este desafio começava a ser vencido em 24 de maio de 1844,
quando Samuel Morse, um pintor norte-americano, inventou o telégrafo. As letras
eram traduzidas em um código de pontos e traços. Com impulsos elétricos curtos
e longos, a razão de quinze palavras por minuto, podiam ser enviadas mensagens
por meio de delgados fios de cobre quase com a mesma velocidade da luz
8
(LÓPEZ VIGIL, 2003). Não eram mais necessários mensageiros, carros, barcos,
cavalos, pombos para levar mensagens de uma localidade a outra, por mais
distante que fossem, deste que houvessem postes e fios para transportar os sinais
do telégrafo
9
.
Ainda não eram sons e vozes transmitidos via telégrafo, mas sem
dúvida já era um passo em direção à invenção do rádio. Outro passo foi tomado
em 1876, quando Alexander Graham Bell, físico escocês radicado nos Estados
Unidos, inventou o telefone, aparelho que conseguia transportar sons e vozes por
um cabo elétrico à qualquer distância. Antes do telefone, salienta Bill Gates, as
pessoas acreditavam que os vizinhos eram sua única comunidade. Quase tudo
era feito com as pessoas que moravam perto.
Outro passo foi dado em direção à invenção do rádio em 1877,
quando Thomas Edison inventou o fonógrafo, um cilindro em cuja extremidade
vibrava uma fina membrana, pelo impacto das ondas acústicas. Esta membrana
trazia unida uma agulha que ia traçando um sulco de profundidade variável, de
8 O telégrafo funcionava com um eletroimã que fazia bater uma agulha contra uma fita de papel. Os sinais
elétricos de curta duração marcavam um ponto na fita. Os longos, marcavam um traço. A fita era movida
lentamente por um mecanismo de relojoaria.
9 Em 1851, estendeu-se o primeiro cabo submarino entre a França e Inglaterra.
68
acordo com a intensidade das ondas, sobre a lâmina metálica que cobria o
cilindro. A voz e os sons então já podiam ser gravados e guardados. Para
completar a invenção, em 1887, o alemão Emil Berliner inventou o gramofone. O
som não mais se registraria em um cilindro, conforme o modelo de Edison, mas
em um disco liso. Esses discos começaram a ser fabricados com resinas
sintéticas. Berliiner também descobriu a forma de tirar um molde do disco sulcado
pela agulha vibradora e, a partir dele, obter quantas cópias se quisesse. Mas
tarde, aperfeiçoada eletrônicamente a técnica de gravação e de amplificação, os
toca-discos invadiram o mercado. Também em 1887, o sábio alemão Henrich
Rudolph Hertz havia demonstrado a existência de ondas eletromagnéticas
capazes de transmitir energia sem necessidade de cabos, em forma de campos
elétricos e magnéticos alternados. (LÓPEZ VIGIL, 2003).
Os arquivos históricos dão conta, reiteradamente de que essa
descoberta de Rudolf Hertz, em 1887, o fez descobridor da onda de rádio e que,
em 1898, Aleksander Popov inventou a antena para captá-la. Com a mesma
ênfase, pesquisadores informam que teria sido Marconi Guglielmo quem
conseguiu desenvolver a técnica para transmissão de sinais pelas ondas
hertzianas. (COELHO NETO, 2002, Pág. 35).
Alguns anos mais tarde, em 1893, no Brasil um padre chamado
Roberto Landell de Moura também buscava resultados semelhantes, em
experiências feitas em São Paulo.
"Utilizando uma válvula amplificadora, de sua invenção e
fabricação, com três eletrodos, transmitiu e recebeu a palavra humana através do
espaço! A experiência foi por ele repetida dois anos depois, em 1894 (ainda antes do
aparecimento de Marconi), na capital de São Paulo. A nova e sensacional
demonstração foi feita no alto da Avenida Paulista para o Alto de Santana, numa
distância aproximada de oito quliômetros em linha reta". (TAVARES, 1997, p.22)
citado por ROSEMBACH (2006).
69
O ano de 1887 e particularmente o final do Século XIX, foi
promissor em descobertas e invenções que, pela sua proximidade de significados
e intenções, prenunciavam a criação do meio de comunicação que viria a ser o
mais popular do mundo, pela sua praticidade, portabilidade, compreensão
imediata das mensagens e preço acessível: o rádio.
Segundo Jesús Martin Barbero, o rádio é a mídia que oferece
maior possibilidade de acesso no tempo e no espaço. Este caráter popular exige
do editor de um programa de radiojornalismo uma linguagem coloquial, sintética e
disposta em frases curtas e claras. (Wikipedia, 2007).
A Radiodifusão no Brasil
Apesar de o Brasil do início do século XX apresentar-se social e
economicamente em diferente nível da Europa e, principalmente dos países onde
a experiência do rádio estava mais avançada, o pensamento de se aproveitar o
rádio como forma de comunicação eficaz também fervilhava por aqui. Aqueles que
demonstravam boa vontade em relação ao recente invento, julgavam-no capaz de
coisas maravilhosas, sem todavia poderem precisar onde, quando e de que
maneira se dariam os maravilhosos eventos radiofônicos. Para Roquette-Pinto, um
dos pioneiros do Rádio no Brasil:
todos os lares espalhados pelo imenso território do Brasil
receberão, livremente, o conforto moral da ciência e da arte, a paz será realizada
definitivamente entre as nações. Tudo isso há de ser o milagre das ondas misteriosas
que transportam no espaço, silenciosamente, as harmonias (PEREIRA, 1967, p.48)
citado por COELHO NETO (2002).
Apesar das experiências do Pde. Landell de Moura, em 1892, e de
oficialmente a inauguração da radiodifusão brasileira ter sido em 1922, por
70
ocasião do Centenário da Independência do Brasil, com a primeira transmissão
oficial realizada no Rio de Janeiro, o marco da radiodifusão no Brasil é a entrada
no ar da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro , fundada por Edgard Roquette Pinto
e Henry Morize (que era Diretor do Observatório Nacional), em 20 de abril de
1923, impondo à emissora um cunho nitidamente educativo, sendo um
empreendimento "financiado" por intelectuais e cientistas, com finalidades
culturais, educativas e altruísticas. A Rádio Roquete Pinto tinha como slogan:
"Trabalhar pela Cultura dos que vivem em nossa terra e pelo progresso do Brasil"
(SALGADO, 1946) citado por COELHO NETO (2002). As sociedades eram um
circuito fechado, de uma confraria de poucos, que lentamente foi aceitando mais
pessoas e terminou, mais de dez anos depois, abrindo suas portas para uma
participação mais popular (MARANINI, 2001) citado por COELHO NETO (2002).
Nesse começo do século as Rádios serviam como entretenimento,
com discos emprestados pelos próprios ouvintes, recitais de poesia, concertos,
palestras culturais, e aos poucos foi se popularizando, com o objetivo maior de
educar e integrar um país onde o analfabetismo era grande e não existiam
estradas suficientes, os transportes eram deficitários, o que dificultava a
integração nacional.
Em 1932, estudantes invadiram a Rádio Record, em São Paulo,
para lançar um manifesto à população durante a Revolução Constitucionalista.
Durante a invasão eles ganharam a adesão do dono da rádio, Dr. Paulo Machado
de Carvalho, e seus microfones tornaram-se instrumento de mobilização popular.
O envolvimento das emissoras de rádio paulistas na Revolução
Constitucionalista serviu para demarcar novas fronteiras para a utilização do
veículo. De acordo com uma das testemunhas da época, "o apogeu do rádio
71
brasileiro como expressão de comunicação com as massas foi em São Paulo, na
Rádio Record. O rádio foi mobilizando o Estado para um dos mais importantes
fatos históricos do Brasil - a Revolução de 32. Se o rádio da Nacional do Rio na
década de 40 e 50 vendeu sabonetes, sabão, shampoo, cigarros, o rádio de São
Paulo em 32 vendeu a idéia de consciência nacional com o movimento
constitucionalista, vendeu o espírito de constituição que se procura até hoje...
Então faça-se esta justiça a Paulo Machado de Carvalho, o 'Marechal da Vitória'"
10
(MOREIRA, 1988).
Foi então que Getúlio Vargas percebeu o potencial político das
rádios e em 1935 criou a “Hora do Brasil”. Na Constituição de 1935, o rádio passa
a ser uma concessão do Poder Federal. A “Hora do Brasil” foi uma das principais
peças de propaganda do Governo Getúlio Vargas. "Além de programas oficiais,
músicas folclóricas e apresentações de bandas militares 'dentro das normas
nacionalistas e educativas', a Hora do Brasil, incluía em suas transmissões notas
ufanistas "evocando aspectos fulgurantes do nosso passado, dados sobre turismo
e grandes homens da atualidade" (MOREIRA, 1998).
A constituição de 37 não só ratifica a concessão de rádios pelo
Poder Federal, como também, estabelece a censura para garantir a paz, a ordem
e a segurança pública.
Desencadeou-se a partir daí uma batalha contra as rádios. O
antigo DOP (Departamento Oficial de Propaganda) foi transformado em DIP
(Departamento de Imprensa e Propaganda)., Lia e censurava textos e programas
de todas as estações de rádio antes de irem ao ar. A fúria da censura chegou a
10 J. Antonio D'Avila. Depoimento O rádio paullista no centenário de Roquette Pnto (1884-1984) , São
Paulo: Centro Cultural São Paulo/Divisão de Pesquisas, 1984, p. 27.
72
proibir 108 programas de rádio e o governo encampou várias estações, entre elas,
a Rádio Nacional, então a melhor e mais equipada do país.
A Constituição de 46 ratifica as anteriores sobre o tema, induzindo
a doutrina jurídica do país a consolidar o pensamento de que a radiodifusão e a
radiocomunicação são efetivamente um serviço atrelado ao Estado, fazendo com
que o rádio perca sua origem libertária, de instrumento máximo de expressão
popular, brotando dentro da sociedade, ainda que com origem elitizada.
A situação permaneceu sem alterações, até que em 30 de maio
de 1961, através do Decreto-Lei nº. 50.666, o então Presidente Jânio Quadros
criou o Contel (Conselho Nacional de Telecomunicações), diretamente
subordinado à Presidência da República, cuja missão era, num prazo de noventa
dias, rever, coordenar e propor uma regulamentação sobre o assunto, com o
objetivo final de se criar um código nacional de telecomunicações. O resultado foi
o Decreto 50.840, que reduziu o prazo das concessões para três anos, revelando-
se desta forma muito mais agressivo que os diplomas legais editados na Era
Vargas. Somente em 1962 é editada a Lei 4.117 criando o velho Código Brasileiro
de Telecomunicações (COELHO NETO, 2002).
O Governo Militar continua a ter uma postura restritiva em relação
ao direito de transmissão, aprofunda a censura e a perseguição aos meios de
comunicação. Desencadeia uma onda de cassações de rádios. Fecha as Rádios
Nacional e Mayrink Veiga. Cria o Decreto-Lei 236 que revoga 41 dispositivos do
Código Brasileiro de Telecomunicações, eliminando direitos adquiridos e
aumentando punições.
73
5.1. História das rádios comunitárias no mundo, América Latina e
Brasil.
Assim como ocorreu com a história das "rádios oficiais", que
espalharam-se pelo mundo a partir de Marconi, como importantes instrumentos de
ações sociais e políticas tanto para o mundo capitalista quanto para o mundo
socialista, as experiências com rádios alternativas, piratas, livres, revolucionárias,
também espalharam-se pelo mundo como forma de mobilização social, expressão
das comunidades e alternativa aos meios de comunicação dominantes. Assim
como em outros campos, as experiências internacionais são sempre um
referencial importante para qualquer tipo de estudo, particularmente no campo da
radiodifusão comunitária.
Em 1920, o movimento operário na Alemanha fazia surgir a
primeira "sociedade radiofônica", como forma de defender seus interesses de
classe. (MOREIRA, 1998)
Este tema mereceu destaque por parte de Marisa Meliani Nunes
11
.
Em seu trabalho "Rádios Livres: o outro lado da Voz do Brasil" registra que, a hoje
oficial Rádio Vietnam iniciou suas transmissões em 1945, cinco dias após ser
proclamada a independência daquele país. A emissora teve marcante atuação
durante oito anos de resistência antifrancesa. Nos anos de resistência anti-
imperialista (1954 a 1975) seu lema era "construir e defender o Norte socialista,
liberar o Sul e reunificar a Pátria do Vietnam" (COELHO NETO, 2002, p.69). Com
o fim da guerra, a partir de 1975, mudou o nome para Voz Unida da República
Socialista do Vietnam. Chegou a alcançar 22 horas de transmissão diárias em 11
11
Mestra em Ciências da Comunicação pela Faculdade de Comunicações e Artes da Universidade de São
Paulo.
74
idiomas. Com luta similar a rádio Sandino da Nicarágua, que combatia o ditador
Anastázio Somoza, também tornou-se oficial com a vitória.
Na Espanha as transmissões não-autorizadas já tiveram
características de rádios de guerra. Com base em Moscou, combatiam o
franquismo e, em 1976, quando o Partido Comunista foi oficialmente reconhecido,
elas encerraram suas transmissões. Também com características de
combatividade, a Rádio Rebelde, criada por Che Guevara em 1958, foi de grande
utilidade para os guerrilheiros em Cuba. Conquistado o poder, tornou-se oficial.
(MOREIRA, 1998)
Nos anos 60, surge na Europa um novo uso para o rádio:
contestar a política oficial de comunicação, que mantinha as concessões sob o
controle do Estado. Pela primeira vez é empregado na Inglaterra o termo "rádio
pirata" para identificar transmissões em frequência modulada não autorizadas pelo
governo britânico, com sinais emitidos do mar para a terra, de um navio ancorado
além do limite das milhas marítimas do país. A rádio pioneira apresentava uma
produção musical baseada no movimento de contracultura, que não tinha espaço
nas emissoras oficiais. Para combatê-la, o governo inglês ampliou seu domínio
sobre as milhas marítimas. Quando a rádio foi apreendida houve uma reação da
juventude Inglesa que fez surgir centenas de emissoras em território inglês (Rádio
Nossa FM, 2007). Este foi um exemplo para o mundo e a partir desta experiência
inglesa, os movimentos sociais e de jovens no mundo todo começaram a
multiplicar experiências de "rádios piratas".
Os guerrilheiros de El Salvador tiveram voz através da Rádio Livre
Venceremos, criada em 1981. Com as grandes rádios controladas pelas
oligarquias e sob censura, a FMLN- Frente Farabundo Martí para a Libertação
75
Nacional - enfrenta o governo através das ondas magnéticas. Curiosamente, entre
os comunicados da guerrilha, era possível ouvir músicas de Chico Buarque e
Geraldo Vandré.
Na Itália e na França as rádios livres aproveitavam a agitação
político-cultural das eleições para inserir seus projetos comerciais na radiodifusão,
e foram privilegiadas com concessões no momento da legalização.
Mas é a Rádio Caroline da Inglaterra que se converte na grande
vedete e referência mundial. É o seu modelo que deverá vingar no Brasil. Fora dos
limites territoriais daquele país, ela rompe com a enfadonha programação da BBC
de Londres, decreta a liberdade de expressão e dá o novo tom da irreverência
radiofônica.
O desenvolvimento da experiência britânica ganhou tal expressão,
que em 1983 foi criada no Canadá, a Asociación Mundial de Rádios Comunitárias
(AMARC), entidade internacional que defende os interesses das rádios
comunitárias. Naquele ano, grupos de apaixonados por rádios comunitárias se
reuniram espontaneamente e deram início a um movimento mundial. Assim, já em
1986, realizaram uma assembléia em Vancouver, Canadá.
O que seria um movimento singular, espontâneo, transformou-se
oficialmente na Amarc. Nessa trilha, no ano de 1988, em Managua, a Associação
adquiriu o título de organização não-governamental.
Em Dublin, 1990, em sua Quarta Assembléia, a Amarc passou a
defender expressamente o Direito de Comunicação.
Naquela mesma ocasião se propôs a criar uma rede internacional
de mulheres trabalhadoras no setor de rádios comunitárias e em pouco tempo a
76
rede estava consolidada. Também como consequência surgiu uma Rede de
solidariedade da Amarc. Em franca evolução, em 1998 a Amarc realizou um
sistema de assembléias em Milão, Itália, onde ficaram definidas as linhas de
atuação do movimento internacional. Entre essas linhas consolidaram-se formas
de reconhecimento, bem como o debate sobre as fronteiras legais e o
reconhecimento desses meios de comunicação dentro das novas leis
internacionais. Mais amplamente, debateram-se as fronteiras legais e técnicas.
Formada por 3 mil membros, a Amarc é uma organização não-
governamental a serviço do movimento das rádios comunitárias e com sócios em
106 países. Para se ter uma idéia desse número, a Interpol (Polícia Internacional),
considerada por similaridade a maior ONG do mundo, tem 179 países associados.
O objetivo da Amarc é apoiar e contribuir para o desenvolvimento e
aprimoramento dessas emissoras, movida por princípios de solidariedade e
cooperação internacional.
Na visão da Amarc, as rádios comunitárias são emissoras
absolutamente livres e que podem atuar em vários pontos, inclusive em área rural
ou locais isolados, sempre de forma cooperativa, participativa, com programação
alternativa, popular, educativa. Nesse sentido, elas podem funcionar em
sociedades sem fins lucrativos, em regimes de cooperativas, ou sobreviver de
doações de seus ouvintes e usuários, ou até mesmo por recursos oriundos de
instituições internacionais simpáticas ao movimento.
A Amarc oferece algumas características do que pode ser uma
rádio comunitária. Para ela tais emissoras promovem a participação dos cidadãos,
defendendo seus interesses. Cumpre melhor sua finalidade quando atende aos
gostos dos ouvintes, informa a verdade, colabora na solução de problemas,
77
debate idéias de todos os segmentos, estimula a diversidade cultural e,
particularmente, não se curva às manobras das grandes empresas e mega-
interesses impostos pelo mercado dominante. Historicamente elas se prestam a
exprimir o pensamento dos que não têm voz e a abrir canais de expressão e
informação para eles. É o que professa a Amarc. (AMARC, 2006).
Na França a Amarc cita como exemplo a Charte de la
Confédération Nationale des Radios Libres, CNRL. Esta rádio tem como
característica marcante a ativa participação da comunidade até no processo de
criação de notícias. Divulgam matérias socialmente relevantes, utilizando como
locutores os integrantes e moradores da própria comunidade, podendo a
comunidade participar inclusive das operações da emissora e opinar
objetivamente na elaboração e conteúdo da programação, tal como ocorre na
maior parte das rádios comunitárias do Brasil.
Tem como pressuposto fundamental o caráter não comercial,
embora possa receber doações. Aqui silencia a Amarc, mas seria justo
acrescentar que soa lícito divulgar seus doadores e isso não se pode confundir
com propaganda. Estabelece ainda a Amarc que a rádio comunitária deve ter
independência em relação aos segmentos comerciais e responsabilidade social
com a aldeia a que serve. Deve, sobretudo, estar voltada para a melhoria das
condições sociais, culturais e da qualidade da vida de sua gente.
Um capítulo à parte sobre este assunto vem sendo escrito nessa
área pelos Estados unidos, que desde a década de 20 passou a viver uma nova
era, conciliando o pioneirismo econômico com a radiodifusão. Com propriedade,
Celso Antônio Pacheco Fiorillo chama a atenção para o fato de que, contrariando
o modelo inglês, a expansão nos EUA foi favorecida por um certo estado de
78
laissez-faire generalizado, de maneira que até o ano de 1929, o Estado americano
praticamente em nada intervinha nessa área. Não se cobravam impostos sobre os
emissores e não era preciso autorização (FIORILLO, 2000).
Foi dentro dessa visão flexível que se desenvolveram as rádios
comunitárias naquele país, onde além do pleno exercício, os integrantes da
comunidade contribuem com uma pequena fração de dólar para garantia de
funcionamento daquele tipo de rádio. Uma flexibilidade que, guardadas as
proporções e peculiaridades, repete-se na Austrália, Canadá, França e Holanda.
Outras experiências mais dinâmicas podem ser apontadas dentro
da América Latina, como na Colômbia, onde através do Decreto 1.445/47 o
espaço para rádios comunitárias está assegurado. Ainda na Colômbia todas as
cidades têm sua televisão comunitária.
Apesar das campanhas contrárias às rádios comerciais, em tentar
criminaliza-las, ninguém conseguiu ainda provar que RC é crime. Na tentativa do
Estado reprimir a atuação das RC, essa repressão oficial teve pelo menos
algumas consequências sociais negativas, como a perda de empregos. Ao fechar
quase 10 mil rádios no país, de forma arbitrária, o Governo tirou emprego de
quase 40 mil pessoas (COELHO0 NETO, 2002) que vivem desta atividade pelos
bairros, palafitas, favelas, cortiços, assentamentos em todo o país.
O próprio Estado tem uma relação esquisofrênica com o tema,
pois enquanto os ministérios da justiça e comunicações, Polícia Federal, ANATEL
e outros órgãos repressores, pressionados pelas grandes empresas de
comunicações, criminalizam, fecham as RCs. e reprimem seus integrantes, outros
ministérios do próprio Estado, como os da Saúde e Educação, fazem parcerias
com tais rádios, financiando projetos de educação via rádios comunitárias.
79
Panorama das Rádios Comunitárias no Brasil
As RCs. começaram a surgir também no Brasil como uma uma
forma de mediação e de conscientização das camadas excluídas da população,
juntamente com outros países da América Latina, nos anos de 60 e 70, através da
atuação do movimento da Igreja Católica denominado "Teologia da libertação"
(URIBE, 2000).
Em 1982, em Sorocaba, SP, mais de 100 pequenas rádios foram
levadas ao ar por estudantes de escolas técnicas e do segundo grau. O
movimento foi chamado “Verão de 82 da Liverpool Brasileira”, numa alusão à
experiência similar vivida na Inglaterra, por estudantes que, para escapar da
legislação daquele país, iniciaram uma experiência alternativa com a Rádio
Caroline que se repetiu mundo afora. No vácuo daquela experiência surgiram
rádios livres, para combater o monopólio da RAI, na Itália e da ORTF, na França já
em 1981 (COELHO NETO, 2002, Pág. 27).
A Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática
da Câmara Federal que legisla sobre Rádios Comunitárias (RC) tinha, em 1996
uma composição de 51 membros, 40 donos de rádios e TVs comerciais, o que
demonstra a dificuldade que essas emissoras enfrentam para se legalizarem em
nosso país.
Mas essas dificuldades vão sendo vencidas com a persistência e
mobilização das comunidades das quais estas rádios fazem parte. Finalmente, os
direitos à radiodifusão comunitária se concretizaram na Constituição de 1988 (a
chamada “Constituição Cidadã”) através do seguinte Artigo, Incisos e leis
complementares que regulamentam a existência das RCs.:
80
Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem discriminação de qualquer natureza;
Inciso IV – “é livre a manifestação de pensamento, sendo vedado o anonimato”;
Inciso IX – “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica, e de
comunicação, independentemente de censura ou licença";
Lei: 4.117/62 do Código das Telecomunicações;
Lei: 9.462/98 do Novo Código de Telecomunicações;
Lei: 9.612/98 da RadCom.
Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica),
da qual o Brasil é signatário. O Pacto de São José da Costa Rica
12
é um acordo de
direito internacional, que proclama a liberdade plena do uso das ondas
eletromagnéticas (COELHO NETO, 2002.).
A história das Rádios Comunitárias ganha expressão, deixa de ser
subterrâneo e torna-se público com a Constituição de 88 que reconhece a
liberdade de expressão e o direito à comunicação para o moderno Estado de
direito democrático.
Algumas rádios se tornaram históricas na consolidação do
movimento, como a Rádio Xilik
13
, feita por professores e alunos da PUC-SP, que
tornou-se um movimento pela democratização das comunicações, apesar das
tentativas de repressão pela Polícia Federal. Mas esteve sob proteção de D.
Paulo Evaristo Arms, na época Chanceler da PUC e Arcebispo da Arquidiocese de
São Paulo. A Xilik, contestava, principalmente, o sistema de concessão de canais
radiofônicos existente no Brasil. Os manifestos da emissora serviram durante
12 Convenção Americana sobre Direitos Humanos - Pacto de São José da Costa Rica
Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992. Garante o Direito a Radiodifusão. O Governo brasileiro
depositou a carta de adesão a essa convenção em 25 de setembro de 1992. Considerando que a Convenção
Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) entrou em vigor, para o Brasil em 25
de setembro de 1992. http://www.dji.com.br/decretos/1992-000678/000678-
1992_convencao_americana_sobre_direitos_humanos.htm Acesso em 22 jul. 2007.
13 Arlindo Machado, Caio Magri e Marcelo Masagão foram três dos criadores na Xilik. Um ano depois, em
1989, transformaram a sua experiência no único livro sobre o assunto publicado até então no Brasil –
“Rádios livres, a reforma agrária no ar”.
81
muitos anos como inspiração para grupos da sociedade interessados em mudar
as leis para a radiodifusão. (MOREIRA, 1998, p.97)
Outra Rádio importante foi a Reversão, que funcionava na Vila Ré,
Zona Leste de São Paulo, coordenada por Léo Tomás, que organizou a primeira
Associação de Rádios Livres do Estado de São Paulo.
Em 1989 foi organizado o 1º Encontro de Rádios Livres do Brasil
na Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP, onde nasceu o “REMELE”
(Movimento Nacional de Rádios Livres) que substituiu o termo “pirata” por “rádio
livre”.
O II Encontro Nacional foi realizado em Goiânia-GO e o III em
Macaé-RJ, onde Léo Tomás foi um dos palestrantes. Quando voltou para São
Paulo viu, sob a mira de uma arma em sua cabeça, sua Rádio Reversão ser
fechada pela Polícia Federal.
Em 1991, estabeleceu-se o movimento “cobra de vidro”
estabelecendo que para cada rádio que era fechada pela Polícia Federal, novas
rádios seriam abertas, fazendo com que houvesse 400 rádios em operação
(COELHO NETO, 2002)..
Em 1995, o Parecer de absolvição de um radiocomunicador, feito
por um juiz, usou como fundamento o Pacto de São José da Costa Rica, que
defende o Direito de Expressão, do qual o Brasil é signatário.
No mesmo ano, com a notícia do então Ministro das
Comunicações, Sérgio Motta, de que iria liberar as “Rádios Livres”, houve uma
explosão do movimento com até 5 rádios sendo instaladas por dia no Estado de
São Paulo. Tratou-se de “um marco sem precedentes na história das
82
comunicações” , afirma José Carlos Rocha,. professor de comunicação da
ECA/USP citado por COELHO NETO (2002). Em 1995, a primeira Dissertação de
Mestrado sobre o tema é defendida na ECA/USP, por Miriam Meliane Nunes, com
uma platéia de centenas de pessoas assistindo, fato que empolga o movimento
para realizar a 1ª Carta de São Paulo, como resultado do I Encontro de RC, que
contou com a presença de Irma Passoni, na época representando o Ministro das
Comunicações, Sérgio Motta. Neste Encontro começa-se a utilizar o termo “Rádio
Comunitária”, substituindo o nome “Rádio Livre”. Já nessa altura, são incontáveis,
o número de liminares concedidas por juizes federais para que as emissoras
continuem em funcionamento. COELHO NETO (2002).
As RC correspondem hoje a um fenômeno mundial, permitindo a
implementação de atividades sociais e educativas, de tendências que lutam pela
garantia de liberdade de expressão, em comunidades carentes.
Por que as Rádios Comunitárias e não as Rádios Comerciais
As RCs. são dirigidas ao público de baixa renda, identificadas com
sua cultura, e tornaram-se realizáveis para uma determinada faixa da população.
Este tipo de programação não pode ser abordado nas grandes emissoras. Seja o
anunciante da padaria, do açougue, do vendedor de verduras, que jamais veriam
seus anúncios e suas ofertas popularizadas, assim como o adolescente que
dificilmente teria condições de passar sua mensagem de aniversário aos amigos.
De acordo com BASTOS (1996), uma pequena comunidade
interiorana ou de um segmento citadino prefere sintonizar emissoras cuja
transmissão lhe propicie algo de mais prático e efetivo, sob o ponto de vista de
seus interesses pessoais, do que simplesmente sintonizar rádios cujos
83
destinatários se diluem por um território muito maior, daí ampliando o grau de
impessoalidade das mensagens.
84
5.2 Situação atual e perspectivas futuras das Rádios
Comunitárias no Brasil
Segundo dados apresentados na Mesa de Trabalho da
Associação Mundial das Rádios Comunitárias e Cidadãs (AMARC) pela
Secretaria de Serviços de Comunicação Eletrônica do Ministério das
Comunicações, através da Coordenadora do Serviço de Radiodifusão
Comunitária, Alexandra Luciana Costa, 11.605 pedidos de autorização de
funcionamento de rádios comunitárias foram analisados pelo Departamento de
Outorga entre fevereiro de 1998 e outubro de 2006. Do total de pedidos, 2.611
foram autorizados e 4.842 arquivados . Ainda estão em análise 4.152 processos,
dos quais 756 em exigência de documentos e 366 em análise final (RELATÓRIO,
2007).
As Rádios Comunitárias no Brasil alcançaram o respeito da
sociedade pelo trabalho social que desenvolvem e por terem tornado-se a voz da
população na expressão de suas angústias, demandas, talentos, fazeres e
saberes. A tendência é que essa forma de participação popular se viabilize
legalmente pela pressão dos movimentos sociais, pela multiplicação de emissoras,
pela organização de suas entidades, e pelo apoio de muitos segmentos
governamentais como o Ministério da Saúde, por exemplo.
Mas se por um lado, o movimento de rádios comunitárias
consolidou-se durante a luta pela redemocratização do Brasil e ganhou
reconhecimento até de órgãos governamentais como os já citados, por outro ainda
sofre implacável perseguição de outros setores da sociedade e de órgãos
governamentais ligados a estes setores, como o Ministério das Comunicações,
Polícia Federal, ANATEL, etc.
85
A ascensão do Partido dos Trabalhadores e do Presidente Lula ao
poder daria novo alento ao movimento de rádios comunitárias no país, pois estas
sempre foram bandeiras de luta deste partido, que sempre defendeu a legalização
das RCs. O Partido defendia em seu programa de governo "a separação de uma
faixa de frequência para a utilização livre por emissoras de rádio de baixa
potência, de caráter local".
Ocorre que, com a ascensão de Lula ao poder, houve um guinada
ideológica tanto do presidente quanto de seu partido que deixaram de enfatizar a
necessidade de se alterar a legislação da comunicação para promover a
democratização dos meios, como previsto em seu programa de governo antes das
eleições em 1994. (CALDAS, 2005).
O primeiro mandato do Presidente Lula caracterizou-se por um
retrocesso na luta pela democratização dos meios de comunicação e
particularmente pela legalização das rádios comunitárias. A história do PT e de
Lula, que sempre caracterizou-se por privilegiar e apoiar uma concepção de
comunicação de resistência e alternativa, agora se contrapõe à opção pelo
marketing político/eleitoral como forma de comunicação.
A reconfiguração da imagem pública de Lula e do PT - já tentada
bruscamente no início da campanha de 1998 com a substituição das bandeiras
vermelhas pelas bandeiras brancas - resulta de um longo processo, no qual
política e marketing interagem de modo exemplar, assegurando a consistência e a
competência das reformulações pretendidas. (RUBIM, 2002)
A fórmula publicitária usada pelos marketeiros de Lula para as
eleições de 2002, "Lulinha Paz e Amor", personifica o uso do marketing político
como opção de uma comunicação que "constrói" uma imagem pública de uma
86
pessoa negociadora, passiva, que não amedronta as elites dominantes, mas que
governa com elas e desconstrói a imagem pública de operário, sindicalista radical
que propunha a luta de classes.
A comunicação de resistência, alternativa e crítica ao status quo é
abandonada pelo Partido dos Trabalhadores no poder.
Em 2003, a Rádio Valente, no Município de Valente (BA) é a
primeira rádio comunitária lacrada pela Polícia Federal e pela Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) no governo Lula. De acordo com a Anatel, nos últimos
cinco anos, foram fechadas , em média, por semana, 50 rádios que não estavam
autorizadas a funcionar pelo governo. Rádios tipicamente comunitárias que
querem o direito de nascer. (A REDE, 2006) citada no site da OBORË.
Depois que a Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária
(Abraço) do Rio Grande do Sul, junto com outros movimentos sociais, ocupou a
sede da Anatel para denunciar a repressão contra as rádios comunitárias no
Brasil, o Governo Federal, durante o ano de 2004, nomeou um grupo de trabalho
interministerial (GTI) para analisar a situação das rádios comunitárias em vigor no
país e propor um Projeto de Lei com o objetivo de ser encaminhado ao Congresso
em 2006, sugerindo uma nova regulamentação para a existência das Rádios
Comunitárias.
O Relatório elaborado por esse GTI revela a necessidade de se
mudarem as relações do Poder Público com as rádios comunitárias e
conseqüentemente, com os movimentos sociais, uma vez que as rádios
comunitárias colocam-se historicamente enquanto expressão dos movimentos
sociais, voz das populações locais.
87
O Relatório do GTI é antagônico a evolução dessa relação, na
medida em que os órgãos governamentais continuam criminalizando as rádios
comunitárias, usando a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) como
órgão de polícia que pratica abuso de autoridade, violências contra os integrantes
das rádios, prendendo-os, quebrando e confiscando seus equipamentos
(RATTON, 2002). Isto reprime e desestimula essa forma de expressão e
manifestação da população, quando não os leva para a clandestinidade, numa
clara atitude de conter a organização e conscientização popular e em privilegiar os
interesses das rádios comerciais e grandes grupos de comunicação, sempre
interessados no monopólio das comunicações e não na democratização dos
sistemas de comunicação no país. Esta realidade só privilegia as grandes
oligarquias, ao grande interesse econômico, as práticas de compadrio, ao
privilegiar polítcias de concessões públicas para uso dos canais de comunicação
como ferramenta político/eleitoral.
Se o Relatório do GTI, for transformado em lei, haverá uma
evolução na relação do Estado com as rádios comunitárias, em comparação as
legislações anteriores. Isso não só pela descriminalização dessa prática mas
também por colocar o Estado como protetor desse direito, capacitador e
estimulador da prática de criação de rádios comunitárias, uma vez que apresenta
propostas e recomendações, que convergem no sentido da construção de uma
nova política pública para a radiodifusão comunitária sonora e de sons e imagens
no país, reconhecendo esta modalidade de comunicação como estratégia para o
Estado, propondo a revisão da Lei atual 9.618/98 que dificulta a disseminação das
rádios comunitárias.
O GTI avança ainda quando propõe (BRASIL, 2005b):
88
- A divulgação, por parte do governo, para a sociedade de que as rádios
comunitárias são legais e têm um importante papel social;
- Que programas e projetos do governo sejam divulgados nas rádios comunitárias;
- A realização de audiências públicas para mobilizar as comunidades a criarem suas
rádios comunitárias;
- Criação de conselhos de comunicação comunitária;
- Parcerias que facilitem o conhecimento e o acesso por parte da sociedade, da
existência e importância das RCs.
O GTI propõe ainda a educação e capacitação dos fiscais da
ANATEL, em cultura dos direitos humanos e do direito à comunicação, de modo a
sanar práticas violentas e o abuso de autoridade por parte dos fiscais.
Outra proposta inovadora é a capacitação por parte do governo
dos profissionais envolvidos na radiodifusão comunitária, para que as rádios se
tornem auto-sustentáveis e avança ainda mais nesse sentido quando propõe que
se retire da Lei atual a proibição de publicidade, dando condições das rádios se
sustentarem.
Complementando, o GTI propõe ainda (BRASIL, 2005b):
- A participação das Universidades em projetos voltados ao desenvolvimento
sustentável e técnico de emissoras de radiodifusão comunitárias;
- Financiamento por parte do Governo de projetos relacionados à disseminação e
sustentabilidade de emissoras de radiodifusão comunitária, através da criação de
fundo governamental ou a utilização de recursos de fundo já existente;
- Veiculação das ações e programas da União, frente à alocação de verba publicitária
para divulgação nas emissoras de radiodifusão comunitária.
Por fim o GTI, recomenda a formação de redes de comunicação
comunitária, o que a Lei atual proíbe, pois avalia que só a liberação da formação
de redes garante o direito à comunicação e à liberdade de expressão por parte da
comunidade.
Recomenda a anistia as RCs. punidas pela ANATEL até hoje e
propõe a 1ª Conferência Nacional de RCs.
89
Portanto esse Relatório do GTI de RCs. promovido pelo próprio
Governo Federal que subsidiaria a proposta de uma Nova Lei de RadCom que
seria encaminhada ao Congresso Nacional em 2006 pela Presidência da
República teria sido um marco histórico na luta pela democratização dos meios de
comunicação no país, encarando a comunicação comunitária, como:
mais do que um exercício de comunicação por meio de sistemas
radiodifundidos e de sons e imagens, mas como uma ferramenta que exerce o papel
de construtora da cidadania, não apenas por proporcionar a discussão dos conteúdos
das mensagens divulgadas, como pela possibilidade de participação popular em sua
produção. Diz respeito ainda ao direito constitucional das pessoas manifestarem
livremente sua opinião e terem acesso à diversidade de idéias
.(GTI - Radcom,
2005)
Nesse sentido, uma comparação justa aos objetivos dessa
pesquisa, demonstra que tais propostas se aproximam dos princípios do SUS, da
Vigilância Sanitária, onde é priorizado enquanto um de seus princípios garantia
da "participação popular" na sua gestão SUS.
O problema é que as resoluções e propostas do GTI nunca foram
colocadas em prática. Nunca foram ao Congresso para discussão, nem
subsidiaram qualquer proposta do Ministério das Comunicações neste sentido. É
como se o GTI, que está dentro do Governo, propusesse uma política de
comunicação que é contrária ao estilo de comunicação adotado pelo governo. A
política de comunicação que sustenta o atual governo é uma opção por uma
comunicação funcionalista, pelo por marketing político tradicional e não por uma
comunicação de resistência, alternativa e popular como está colocado no GTI.
90
A ABRAÇO considerou a proposta do GTI insuficiente, e seus
dirigentes não acreditam em solução de curto prazo. Argumenta que, mesmo com
o governo cumprindo o prometido, a proposta dependerá do Congresso, que há
mais de 40 anos se curva, sistematicamente, aos interesses das emissoras
comerciais. Até porque grande parte dos congressistas são donos indiretos de
meios de comunicação. Joaquim Carvalho, da ABRAÇO, acredita que o melhor
caminho para resolver o problema é pela via do Poder Judiciário. Para isso, as
entidades estão capacitando advogados e fazendo um trabalho de convencimento
dos juizes de primeira instância. No fim do ano passado, tiveram uma vitória
importante. (A REDE, 2006) citada no site da OBORË.
Parcerias com Universidades e outros órgãos governamentais
como o Ministério da Saúde, são também caminhos para a legitimação das Rádios
Comunitárias.
A XI Conferência Nacional de Saúde propõe que as escolas
médicas e de saúde pública latu sensu busquem, a partir de parcerias com os
comunicadores dessas pequenas emissoras, desenvolver uma série de cursos e
atividades de informação em saúde, compreendendo esforços para que a
informação sobre saúde atinja principalmente a população mais carente
(Brasil.2000b citado por GALLO (2001).
91
5.3. Rádios Comunitárias - Situação legal
Atualmente, as Rádios Comunitárias são regidas pela Lei das
Radcom, de 1998, e por Leis municipais como a Lei 14.013, do Vereador Carlos
Neder, que institui um Canal FM para as rádios comunitárias na Cidade de São
Paulo.
O Ministério das Comunicações informou aos representantes do
movimento "Cadê canal pra a Capital", de São Paulo, que os primeiros avisos de
habilitação para ocupação dos canais comunitários da Grande São Paulo devem
ser publicados ainda este ano. Falta apenas selecionar, entre as 308 entidades
que estão pleiteando um canal, aquelas que realmente prestam serviços
comunitários.
O problema é que a legislação é lenta na apreciação dos
processos, exige tantos documentos e burocracias, que desestimula as
comunidades e tentarem se legalizar, desistindo da maratona de documentos ou
simplesmente optando pela clandestinidade. "Providenciamos todos os
documentos, mas não temos esperança. Sabemos sempre haverá um novo
obstáculo por parte do poder público para impedir o funcionamento das rádios
comunitárias", afirma Jussara Zottis, da Rádio Cantareira sobre a abertura de
novos canais para radiodifusão comunitária na capital de São Paulo.
Isso propicia a proliferação de uma série de rádios que não estão
comprometidas com interesses comunitários, mas com interesses pessoais,
políticos, religiosos, ou até mesmo da criminalidade.
92
6. Formulação do problema e objetivos da pesquisa
Diante deste quadro dialético tratado anteriormente, de um país
com carências do século passado e tecnologias da pós-modernidade, a falta de
comunicação ou comunicação equivocada transmitida pelos profissionais de
saúde neste país, é um problema colocado para os sanitaristas.
A questão desta pesquisa é a de que a comunicação pode ser um
processo de educação sanitária, um processo de prevenção, redução e eliminação
de riscos à saúde, portanto, um processo de resgate da participação social e
popular na condução da saúde pública deste país, a partir da ótica da
comunicação alternativa, de resistência das rádios comunitárias. É necessário
trazer ao conhecimento da sociedade e, sobretudo, aos profissionais de saúde, a
importância das mídias alternativas e populares, sobretudo das rádios
comunitárias, no processo de comunicação e percepção do risco.
O problema colocado por esta pesquisa é o de descobrir em que
medida este risco está sendo incorporado pelas rádios comunitárias e como ele
está sendo percebido pela população.
Sendo assim, o objetivo principal desta pesquisa é analisar pela
via da programação das rádios comunitárias e junto aos discursos de seus
ouvintes, como ocorre a comunicação de riscos sanitários inerentes ao campo da
vigilância sanitária e qual é a referida influência destas mensagens nos hábitos
cotidianos desses ouvintes.
A pesquisa teve como objetivo específico avaliar como é
construída essa programação das rádios analisadas, pela análise das fontes
93
consultadas, uma análise das programações veiculadas no período de 2005 a
2006, que contenham informações sobre saúde e comunicação de riscos em
vigilância sanitária e de que forma é veiculada.
Outro objetivo específico desta pesquisa é e estudo da mediação
que ocorre entre o emissor e a recepção, sob a luz da "teoria crítica de recepção",
defendidas pelos grandes teóricos contemporâneos da comunicação na América
Latina: OROZCO GÓMES, Guillermo, BARBERO, J.M. e CANCLINI, N.G., pela
análise da forma como são construídas as pautas e via pesquisa realizada junto
aos ouvintes.
94
7. Estudo de Casos
Como a realidade do objeto desta pesquisa é bastante complexa,
pois aborda um universo de aproximadamente 11.605 rádios comunitárias atuando
no país e pela opção de se fazer um recorte entre rádios que trabalham a questão
da comunicação e saúde na grande São Paulo, optou-se por fazer dois estudos de
caso comparativos.
O estudo de Caso é o método introduzido por C.C. Laugbell no
ensino jurídico nos Estado Unidos. Sua difusão, entretanto, está ligada à prática
psicoterapêutica caracterizada pela reconstrução da história do indivíduo, bem
como o trabalho dos assistentes sociais junto a indivíduos, grupos e comunidades.
Ele pode ser visto como técnica psicoterápica, como método didático ou como
método de pesquisa (...) como um conjunto de dados que descrevem uma fase ou
a totalidade de um processo social de uma unidade, em suas várias relações
internas e nas suas fixações culturais, quer seja essa unidade uma pessoa, uma
família, um profissional, uma instituição social, uma comunidade ou uma
nação.(YOUNG, apud. GIL., 1991, p.59) citado por AZEVEDO, (2002).
A pesquisa foi realizada em duas rádios comunitárias da grande
São Paulo por apresentarem um trabalho de jornalismo de serviços regular,
abordando questões de saúde em suas definições de pautas, conforme indicação
da ABRAÇO - Associação Brasileira de Rádios Comunitárias. São elas: Rádio
Comunitária 8 de Dezembro, situada na Cidade de Vargem Grande Paulista e
Rádio Cantareira, situada no jardim Brasilândia, Município de São Paulo.
95
7.1. Rádio Comunitária 8 de Dezembro - Vargem Grande Paulista
A Rádio 8 de Dezembro foi criada como um dos principais projetos
da Associação de Comunicação e Cultura de Vargem Grande Paulista. Fundada
em 1995, como uma entidade sem fins lucrativos, seus objetivos são: a
valorização da cidadania e incentivo aos valores comunitários; a contribuição para
o aperfeiçoamento profissional nas áreas de atuação de jornalistas e radialistas
formados a partir da comunidade; a capacitação dos cidadãos para o exercício do
direito de expressão; o estímulo à livre expressão do pensamento e das atividades
artísticas, científicas e culturais, através da publicação de boletins, jornais e
revistas, da radiodifusão comunitária, da televisão comunitária e do uso de demais
meios de comunicação, segundo seu estatuto de fundação. A data de fundação da
Rádio 8 é a mesma data de fundação da Associação de Comunicação e Cultura
de Vargem Grande Paulista.
A Rádio 8, como é chamada carinhosamente pelos seus
integrantes, surgiu pela iniciativa de alguns moradores de Vargem Grande
Paulista, como professores, alunos e outros profissionais, que sentiram a
necessidade de ter meios de expressão e canais de comunicação com sua
comunidade, que pudesse ampliar horizontes culturais e a cidadania dos
moradores. Primeiramente surgiu a idéia de se montagem da rádio. Logo depois a
Associação vem como consequência, para dar suporte à rádio e como uma
exigência das leis de RadCom.
Embora fosse um projeto comunitário, algumas pessoas se
destacaram no processo de criação da rádio, pela sua liderança natural na
comunidade e pelo interesse e iniciativa na luta pela democratização dos meios de
96
comunicação, em uma época em que o país acabava de sair de uma ditadura
militar e estava iniciando seu processo de redemocratização. Em todas as áreas
de atuação afloravam esperanças de novos tempos e novas experiências de
cidadania se esboçavam. Uma dessas experiências foi a radiodifusão comunitária,
com o surgimento de inúmeras "rádios piratas", depois "rádios livres" e finalmente
as "rádios comunitárias", por várias cidades do país. Entre as pessoas que
começaram a construir a Rádio 8 destacam-se o Prof. Edson Francisco Ribeiro -
professor da rede estadual de ensino, o Prof. Ricardo Campolim - professor
universitário, Amadeu dos Santos - motorista, Sílvia Gomes - funcionária da USP
dentre outros moradores de Vargem Grande Paulista.
Segundo o Prof. Edson "inicialmente a Rádio 8 situou-se lá no alto
da serra entre São Roque e Vargem Grande Paulista, e de lá transmitia para
Vargem Grande. Então, essa foi a primeira morada da Rádio 8." Foi fechada pela
Polícia Federal (PF) no início de 1998 e reaberta 10 dias depois no Jardim
Floresta, centro de Vargem Grande. Fechada novamente pela PF, foi reaberta no
atual endereço, no Jardim Marialda, onde funciona até hoje, segundo Ricardo
Campolim.
Este grupo inicial que, com a ajuda de aproximadamente 20
pessoas viabilizou a existência da Rádio 8, decidiu que o nome da rádio seria
"Rádio 8 de Dezembro", em homenagem a data de aniversário da cidade que era
comemorada em 8 de dezembro, mas que posteriormente mudou-se para 27 de
novembro.
Segundo o Prof. Edson
14
a rádio foi criada a partir da constatação
deste grupo inicial de que "o país é bastante excludente na área de comunicação,
14
Relato cedido em entrevista feita em 20/11/2006, com o Prof. Edson, um dos fundadores da Rádio 8.
97
com poucas famílias controlando praticamente todos os meios de comunicação".
Para Edson, a criação da rádio "era uma forma de dar vez e voz à comunidade,
para que ela pudesse expressar-se, falar de seus problemas locais, mais
próximos, mais imediatos. Coisa que as rádios grandes, a grande mídia, não faz".
E assim a Rádio 8 foi consolidando-se, criando raízes na
comunidade, mudou para o Bairro de Jardim Marialda e aglutinou um maior
número de pessoas. Tratava-se de uma surpresa para a população de Vargem
Grande Paulista, que até então só sintonizava as grandes rádios FMs da Capital
Paulista. Foi crescendo o número de participantes da Rádio, que girava no início
em cerca de 20 pessoas na produção dos programas, e que ataualmente está em
torno de 10 ou 15, número este variável, dependendo dos programas que estão no
ar. Segundo o Prof. Edson
15
, "além dessas 20 pessoas aproximadamente, havia
um número maior de pessoas que não participavam diretamente dos programas,
mas que envolviam-se com outras atividades da Associação de Comunicação e
Cultura, que não cuidava apenas da área de comunicação e de rádio, mas que
também tinha outras frentes de atuação, como a luta pela melhoria das condições
de educação e saúde da cidade, organização de festas e eventos culturais para
sustento da própria associação, divulgação da rádio na cidade e para proporcionar
cultura e entretenimento aos moradores, pois a cidade não apresenta nenhum
equipamento cultural."
Como forma de preparo para essa consolidação, a Rádio 8
proporcionou vários cursos de capacitação, tanto para seus programadores,
quanto para membros da comunidade, visando não só o crescimento profissional
dos mesmos, como também seu crescimento emocional, intelectual e social,
15
Idem.
98
promovendo cidadania e inclusão na Cidade de Vargem Grande Paulista. Os
participantes fizeram cursos de comunicação, jornalismo comunitário, locução e
saúde pública, sempre oferecidos pelos próprios integrantes da rádio, pela
ABRAÇO, em parceria com ONGs, Ministérios, Secretarias Municipais e
Faculdades. Segundo Ricardo Campolim
16
, "a parceria da Rádio 8 com a
Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, propiciou a capacitação de mais de
10 integrantes da Rádio, que participaram desde 1997 até 2007 dos Cursos de
Formação em Saúde Pública para Rádio-comunicadores Populares, oferecidos
por esta Faculdade sob a Coordenação do Dr. Paulo Rogério Gallo, professor do
Departamento de Saúde Materno-Infantil da FSP/USP, em parceria com o
Ministério da Saúde."
17
Ainda segundo Campolim, "essa participação de
integrantes da rádio nos cursos e seminários sobre comunicação e saúde
promovidos pela FSP/USP, além de capacitar os integrantes da rádio no tema
"saúde pública", gerou uma aproximação da rádio com pesquisadores da área de
saúde e gestores municipais de saúde de Vargem Grande. Nesse processo, uma
integrante da rádio, Rose Rabelo
18
, tornou-se membro do Conselho Municipal de
Saúde de Vargem Grande Paulista e Presidente do Programa Bolsa Família no
Município, o que favoreceu a participação da comunidade nessas entidades,
facilitando o acesso às informações sobre saúde e bolsa família, pois a rádio
divulga tudo que acontece nesse conselho e nesse programa, para a população".
Outro projeto em que a Associação e a Rádio atuaram foi o
"Capacitação Solidária", desenvolvido por uma ONG. ligada a então Primeira-
Dama, Dna. Ruth Cardoso, que objetivava capacitar jovens carentes. A
16 Fundador e atual Coordenador de Programação da Rádio 8.
17
Idem.
18
Relato cedido em entrevista feita em 15/03/2007, com Rose Rabello, uma das programadoras da Rádio 8.
99
Associação e a Rádio 8 se candidataram e ganharam o Edital em Vargem Grande,
desenvolvendo o Projeto "Falando da Gente" que capacitou 30 jovens de Vargem
Grande em comunicação com um total de 600 horas de cursos, ministrados por 8
integrantes da rádio.
Hoje a Rádio 8 de Dezembro funciona diariamente das 6h30 às
0h00, com 100 Watts de potência, abrangendo desde o Km 40 até o Km 54 da
Rodovia Raposo Tavares, sendo que a rádio se localiza no Km 45. Atualmente
está funcionando com 18 pessoas envolvidas diretamente na programação. Já
recebeu ligações de moradores de Caucaia do Alto, Alto da Serra, São Roque,
mas em algumas regiões com altitude baixa, em alguns bairros de Vargem
Grande, não se consegue ouví-la, pela baixa potência dos transmissores, limitada
pela legislação de Rádios Comunitárias (RadCom). É ligada à Associação de
Comunicação e Cultura de Vargem Grande Paulista, como um serviço de utilidade
pública para a população da cidade, servindo como uma rede de comunicação
entre os moradores locais, onde dentre outras coisas: encontram-se documentos
perdidos; ocorre chamadas de ambulâncias; recados entre vizinhos, pedidos de
doadores de sangue; denuncias sobre a precariedade de serviços públicos,
problemas na biblioteca da cidade; nas escolas, na rede de atendimento à saúde;
sugestões de ouvintes para veiculação de músicas, para se abordar algum
assunto ou problema de interesse e até convida-se ouvintes para fazer algum
programa de rádio.
A programação da Rádio 8 caracteriza-se essencialmente por
entretenimento, com música e informações locais, mas tem a preocupação de
inserir no meio da programação, informações de prevenção sobre alcoolismo,
cuidados com a saúde da mulher e das crianças, campanhas de prevenção à
dengue, hipertensão, drogas, gravidez precoce e assuntos de gênero. Faz
100
denúncias quanto a questões de saneamento, saúde, educação, poluição dos
mananciais, preservação ambiental, limpeza urbana, segurança, problemas de
transportes e de acidentes na Rodovia Raposo Tavares (que atravessa a cidade),
etc.
A Rádio 8 é aberta a qualquer integrante da comunidade que
queira fazer um programa, desde que haja espaço na grade de programação.
Deve-se apenas submeter a idéia de programa ao Conselho de Programação da
Rádio, que é composto pelos responsáveis por cada programa da grade,
representantes da sociedade civil, função que é renovada a cada dois anos via
eleição. O conselho não costuma barrar programas ou intervir em seus conteúdos.
Nem mesmo recomenda temas ou sugere pautas aos "donos" de cada programa.
O Conselho apenas exige que o programa seja de caráter comunitário,
entendendo como "comunitário", assuntos que tratem de questões locais, da
cidade, da região, que tenham a mínima intenção pedagógica, educativa, cultural,
que tentem não reproduzir ou não imitar as grandes rádios comerciais FMs.
Além deste Conselho de Programação, que se reúne uma vez por
mês ou no máximo a cada dois meses para discutir diretrizes gerais da
programação, existe o Coordenador de Programação, que atualmente é um dos
fundadores da Rádio 8, o Prof. Ricardo Campolim. Este cargo coordena o dia-a-
dia da programação, mas só sob um aspecto organizativo e não de supervisão,
pois não influencia nos programas que têm total autonomia para estabelecerem
suas pautas. As pautas não são organizadas com um roteiro, como nas rádios
comerciais. Não existe reunião de pauta diária para definição de pautas, fontes e
como será a produção de cada programa ou matéria. Essa organização ocorre de
forma "meio anárquica", na qual cada responsável por programa, elabora a
programação de sua forma, improvisando muitas vezes, sem um roteiro pré-
101
definido. "Eu não uso roteiro, não tenho roteiro. Tenho tudo na minha cabeça
quando chego na rádio pela manhã. Não anoto nada. Chego, cumprimento as
pessoas, já ponho as músicas que seleciono na hora, no ar e vou tocando o
programa", afirma Rose Rabello, responsável pelo Programa "Rosa Choque", um
dos mais ouvidos da Rádio 8.
As fontes são variadas, de acordo com cada programador, e vão
desde ouvintes que ligam sugerindo matérias, músicas ou denunciando alguma
irregularidade em algum serviço público, até notícias de jornais da grande
imprensa. Alguns programadores começam o programa pela manhã lendo notícias
publicadas nos grandes jornais e comentando-as. Outros utilizam material
fornecido pelos Serviços Públicos, como o Posto de Saúde da cidade, que fornece
material sobre saúde, campanhas de prevenção, etc. Os boletins "Plantão Saúde",
fornecidos pela OBORÉ Comunicações até 2002, também foram bastante
utilizados, pois eram recebidos em forma de fitas K7 já produzidas, com matérias
acabadas sobre saúde, vinhetas, entrevistas com especialistas, etc. Os
programadores só tinham o trabalho de coloca-los no ar.
A Rádio 8 e a Associação de Comunicação e Cultura também têm
um papel importante na formação da cidadania, inclusão social e
profissionalização em Vargem Grande Paulista, uma vez que produz
periodicamente cursos de capacitação em comunicação e radiodifusão
comunitária a qualquer morador ou ouvinte interessado, proporcionando uma
forma de atividade profissional para muitos jovens que não teriam nenhuma
perspectiva profissional, além de incentivar a auto-estima de muitos jovens e
adultos através do exercício de sua oralidade, podendo descobrir e valorizar seu
próprio potencial.
102
"Temos o caso de um jovem que não tinha nenhuma profissão
aqui em um bairro de Vargem Grande. Aproximou-se da Rádio propondo fazer um
programa sobre rock (que é o que ele conhecia) e começou a fazer um programa
sobre rock aos domingos com uma turma jovem. Ele conhecia muito de música,
apresentava as músicas e fazia comentários sobre elas no ar. Enfim, ele se
entusiasmou pela atividade, prestou o vestibular para jornalismo na Fac. Cásper
Líbero, ligada ao Jornal Gazeta Esportiva, Rádio e TV Gazeta. Cursou a
faculdade, conseguiu um emprego na Rádio Eldorado e hoje é diretor de
programação da Rádio Eldorado. Creio que se nossa rádio não existisse, talvez
não tivesse despertado esse talento e encaminhado profissionalmente este jovem
de um dos bairros aqui da Vargem Grande", relata o Prof. Edson, um dos
fundadores da Rádio 8
19
.
A Rádio 8 cumpre assim um papel de recolocação profissional,
incentivando talentos de pessoas humildes, que jamais vislumbrariam novas e
criativas formas de atuação profissional e social, caso não existisse a Rádio em
suas vidas. Exemplos disso são lembrados por Ricardo Campolim, como o caso
do "Sr. Rocha, que começou a atuar na rádio como cantor de músicas sertanejas
e em uma de suas inserções ao vivo, foi ouvido por um produtor norte-americano
que passava pela cidade e procurado pelo mesmo. O resultado foi que em 3
meses o Sr. Rocha foi convidado para fazer um trabalho artístico por uma
gravadora norte-americana e mudou-se para Boston, EUA." Outra caso relatado
por Campolim trata de uma "moça humilde, de nome Geovana que integrou-se no
trabalho da rádio, tornando-se uma talentosa locutora. Também foi ouvido por uma
rádio comercial AM da cidade de São Roque, vizinha à Vargem Grande e foi
contratada pela mesma". "Um Sr. vindo do Rio Grande do Norte, para tentar a
19
Relato cedido em entrevista feita em 20/11/2006, com o Prof. Edson, um dos fundadores da Rádio 8.
103
vida em São Paulo, que estava desempregado e vivendo de bicos, tinha um
programa de música nordestina na rádio e foi ouvido ao vivo por um amigo do
então Presidente da República na época, Fernando Henrique Cardoso, que
passava pela cidade para ir ao sítio de Fernando Henrique na Cidade próxima de
Ibiúna. Esta pessoa encantou-se pela comunicabilidade deste Sr. 'potiguar' que o
procurou e o contratou para uma Rádio Comercial no Ceará", conta Campolim que
ainda lembra do caso do "Toniel, lavrador simples da zona rural de Vargem
Grande, extremamente tímido, que mal conseguia expressar-se. Procurou a rádio
para participar, foi integrando-se, desenvolvendo-se, soltando-se e venceu a
timidez, tornando-se um ótimo locutor, elogiado até por um Juiz da Cidade, que
ouvia seus programas e o elogiou pela sua forma cativante de comunicar-se"
20
.
Exemplos assim, demonstram a importância da rádio na capacitação, formação e
desenvolvimento de membros da comunidade, até sob o aspecto de crescimento
pessoal e de suas 'alto-estimas".
O caminho da participação e aproximação dos moradores à rádio
ocorre primeiramente como ouvinte, depois por telefone, sugerindo músicas ou
assuntos e em alguns casos podendo ser convidado pelo locutor para visitar a
rádio para aprender a fazer um programa; eventualmente, fazendo um ou outro
programa, em algum dia em que o locutor oficial não possa fazê-lo, e em alguns
casos, sendo convidado para propor um programa próprio em algum horário que
esteja livre na grade de programação.
Por estes e outros motivos, a Rádio 8 é reconhecida como forma
de expressão da população de Vargem Grande Paulista, tanto pelos ouvintes,
pelas autoridades, quanto pelos comerciantes e moradores da cidade.
20
Relato cedido em entrevista feita em 15/05/2006, com o Prof. Ricardo Campolim, um dos fundadores e
atual coordenador de programação da Rádio 8.
104
7.2. A cidade de Vargem Grande Paulista
A Cidade de Vargem Grande Paulista é um aprazível Município às
beiras da capital paulista, próximo cerca de uma hora da capital. Em um primeiro
olhar sugere uma cidade de interior, com forte presença de verde, árvores,
preservação de florestas, mas sob um olhar mais atento, emerge um aspecto de
periferia urbana de São Paulo, já emergente. Tendo em suas origens a
denominação de "boca do sertão", caminho dos bandeirantes para o interior,
torna-se Distrito de Cotia em 1963, sendo elevado à Município em 1981. O
aniversário da cidade é comemorado em 27 de novembro, dia da Padroeira Nossa
Senhora Medianeira das Graças. Até 1981, o aniversário da cidade era
comemorado no dia 8 de dezembro.
Surgiu basicamente da atividade agrícola, que foi predominante
até os últimos anos (finais da década de 90), quando a cidade começou a crescer
e a desenvolver o comércio e a indústria, enfraquecendo a atividade agrícola.
Essa vocação agrícola de Vargem Grande Paulista tem origem com a imigração
japonesa no começo do século, quando os japoneses começaram o cultivo da
batata na vizinha cidade de Cotia, criando uma cooperativa no pós-guerra que
cresceu muito e montou um armazém em Vargem Grande Paulista Na década de
90, a Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC) foi à falência e os produtores agrícolas
de Vargem Grande Paulista fundaram a Cooperativa Agrícola de Vargem Grande
Paulista, onde os associados eram essencialmente japoneses hortifrutigranjeiros.
Essa tradição e a fartura de terras agriculturáveis preservadas
como mananciais fez com que a cidade tenha sua história baseada na atividade
rural, sendo hoje um dos municípios que fazem parte do "cinturão verde" que
105
abastece a capital de São Paulo, produzindo essencialmente hortaliças, legumes,
flores e plantas ornamentais.
Atualmente a produção agrícola de Vargem Grande Paulista não é
o carro chefe da economia do Município, em função de sua urbanização. Os
antigos produtores japoneses foram morrendo e sua sabedoria de plantio não foi
passada a frente, pois seus descendentes migraram para a capital ou para o
Japão a procura de estudo e de melhores oportunidades profissionais
Com isso a tendência é que a atividade agrícola do Município se
restrinja à produção de flores, devido a poluição das nascentes e mananciais, as
águas se tornaram impróprias para o cultivo de produtos comestíveis, mas não
para o cultivo de flores. Muitos produtores estão migrando para essa cultura e
outros para a produção de agricultura orgânica.
Outra atividade em crescimento no Município de Vargem Grande
Paulista é a indústria. Até o final da década de 90 a cidade possuía poucas
indústrias pois pertencia à Zona da Lei de Proteção Ambiental (Cerca de 93% da
área do Município encontra-se dentro da Lei de Proteção de Mananciais, 1991).
Havia a proibição à instalação de indústrias, fato revertido pelas últimas
administrações que alteraram as Leis de proteção ambiental.
As indústrias são de pequeno e médio porte, destacando-se a
indústria têxtil, química e metalúrgica Se destacam as empresas: Cris Metal,
Órgus (faróis), Tapetes Serrano, Fábrica de Móveis para computador Multivisão,
Luz e Gás, fabricante de fogão e equipamentos de lavagem, etc. O setor de
indústria de confecções é impactado pela Levi's de Cotia. No Município há
também grande ocorrência de confecções que atuam na informalidade, nos fundos
de quintais. (SEBRAE, 2001).
106
Em relação ao comércio, trata-se de uma atividade pequena,
restringindo-se às margens da Rodovia Raposo Tavares, tendo como público-alvo
além da população local, os usuários da Rodovia que trafegam tanto em direção
ao interior quanto à capital, e turistas que possuem casas de campo, frequentando
a cidade nos finais de semana. O comércio caracteriza-se por empresas de lojas
de móveis rústicos, revenda de automóveis, madeiras para construção, e
supermercados de porte médio.
Na tentativa de desenvolver o comércio local, a Associação
Comercial de Vargem Grande Paulista procurou desenvolver alguns projetos
visando aumentar o número de associados. Para tanto, foi desenvolvido um plano
de saúde para os comerciantes e oferecido o programa "o Brasil empreendedor"-
curso do SEBRAE (AZEVEDO, 2002, p. 84).
Vargem Grande Paulista é cortada pela rodovia Raposo Tavares
ao centro da cidade, entre os quliômetros 39 a 47, e possui limites com Cotia,
Itapevi, Ibiuna e São Roque (AZEVEDO, 2002, p. 83) e pelo último Censo do IBGE
de 2000, conta com um total de 32.548 habitantes sendo 16.270 homens e 16.278
mulheres.
Nos últimos anos, tornou-se cidade urbana com um crescimento
de 80% causado pelo fato de oferecer loteamentos novos e baratos. Figura entre
os Municípios que mais cresceram no Estado de São Paulo nos últimos anos,
cerca de 11,43%
21
a mais do que os outros da região, mas esse crescimento
ocorre sem planejamento, não se estruturando para absorver a mão de obra
crescente que, não tendo emprego, procura ocupações em Municípios vizinhos.
21 Conforme dados fornecidos pela Prefeitura Municipal de Vargem Grande Paulista.
107
Embora com poucos anos de existência, Vargem Grande Paulista
tem potencial de crescimento, segundo levantamento feito pelo SEBRAE-SP, mas
tem como principais problemas: questões de infra-estrutura, onde o principal
problema identificado pelos moradores é o de saneamento básico; transporte,
desemprego e marginalidade. Problemas que precisam de investimentos para
serem resolvidos. Há a necessidade de melhorias nas vias de acesso,
principalmente ao centro da cidade. Em períodos de chuvas intensas alguns
bairros ficam intransitáveis. O Município também começa a apresentar problemas
de segurança pela carência das populações de bairros como São Marcos e
Parque do Agreste, embora a cidade ainda não apresente a existência de favelas.
Existem moradias em condições de saneamentos irregulares, com
falta de rede de esgotos e de redistribuição correta de águas, o que agrava a
possibilidade de riscos ambientais e sanitários.
O transporte ainda é deficitário, deixando a população dependente
de lotações que a transportam até Cotia, onde há mais opções de ônibus para São
Paulo. O saneamento e a poluição de mananciais é outro problema crescente com
o aumento da população.
Com a reforma da Rodovia Raposo Tavares no último ano, a
cidade foi literalmente dividida em duas com mureta e marginais que dificultam o
acesso entre os dois lados cortados pela Rodovia, o que tem causado frequentes
acidentes de trânsito e atropelamentos de transeuntes que tentam atravessar a
Rodovia fora da única passarela existente no perímetro urbano do Município.
Em relação à educação, a cidade por ser nova, está bem
estruturada oferecendo na educação infantil , 1465 vagas (AZEVEDO, 2002, p. 86)
em função da integração das creches à Secretaria Municipal de Educação que
108
ocorreu em 1995. Isso possibilitou a instalação de salas de pré-escola dentro das
creches, aumentando a oferta de vagas em 300% de 1995 a 2001. Em 1995, com
a municipalização da educação, houve a construção de 5 novas escolas de ensino
fundamental na cidade, passando de 0 a 2.379 vagas de 1ª a 4ª séries, sendo 574
alunos nas Escolas Municipais de Educação Infantil e Ensino Fundamental e
1.868 nas Escolas Municipais de Ensino Fundamental. A carência educacional
está relacionada à falta de escolas de ensino médio e faculdades. A população
interessada tem que procurar faculdades de outras cidades vizinhas ou da capital.
O município de Vargem Grande Paulista, por ser recente e pela
característica de ser uma "cidade dormitório" (ou seja, seus moradores não vivem
na cidade), ainda não possui uma identidade definida, embora comece a passar
uma imagem de "cidade descanso", por estar inserida numa região de mananciais
e pela proximidade com a capital, começa a receber moradores da capital para
descansarem nos finais de semana, além da construção de condomínios de luxo
que abrigam executivos, profissionais liberais e suas famílias, vindos da capital.
109
Saúde
Vargem Grande Paulista, como toda a cidade periférica às
grandes capitais, tem problemas de saúde inerentes a causas como desigualdade
social, miserabilidade, vulnerabilidade social, falta de infra-estrutura e recursos
destinados à saúde, agravado pelo problema de saneamento básico deficitário e
poluição dos mananciais. Apresenta taxa de mortalidade Infantil de 14,32 (Por mil
nascidos vivos) abaixo da média da região que é de 16,89, mas uma taxa elevada;
taxa de mortalidade geral de 4,86 (por mil habitantes), abaixo da região que é de
6,21; taxa de Mortalidade por homicídio de 40,21, abaixo da região que é de
59,55, mas alta, um índice de IDH de 0,802 acima da média da região. Esses
fatores não são ruins se comparados às cidades vizinhas, mas agravam os
problemas de saúde pública. (GALLO, 2007)
Ainda assim, os números do Ministério da Saúde (DATASUS,
2006) mostram uma recuperação positiva nos últimos anos nos indicadores de
saúde da cidade. Segundo o DATASUS (2006), os dados de mortalidade infantil
têm diminuído de 2001 a 2006, não tendo apresentado nenhum caso de óbito em
menores de 1 ano de idade, diminuição de casos de nascido vivo com baixo peso
ao nascer, diminuição de casos de óbito neonatal tardio, diminuição de casos de
óbito de mulher em idade fértil, diminuição de abandono de tratamento de
tuberculose, diminuição da taxa de incidência de tuberculose e houve aumento da
proporção de consultas pré-natais e conseqüente aumento da proporção de
nascidos vivos de mães com 3 ou mais consultas pré-natais, aumento da média
de procedimentos odontológicos, aumento da proporção de população coberta
110
pelo Programa de Saúde da Família, aumento anual de consultas médicas por
habitante nas especialidades básicas. (DATASUS, 2006)
22
.
Segundo a administração municipal atual de Vargem Grande
Paulista o poder municipal investiu em 2005, aproximadamente 23,13% do seu
orçamento na área da saúde, superando os 15% determinados por Lei. Esses
recursos possibilitaram a ampliação do atendimento, aquisição de novos
equipamentos, a construção de mais Unidades Básicas de Saúde, compra de
mais medicamentos, entre outros. (Site da PMVGP, acessado em 1503/07)
23
Em 2005, as ações da Secretaria da Saúde foram desenvolvidas baseadas em
sua agenda municipal, voltadas aos eixos prioritários pactuados através de
indicadores como: índice de mortalidade infantil, mortalidade materna, taxa de
tuberculosos tratados, índice de cura de tuberculose, índice de cura de
hanseníase, índice de flúor e de cloro na água, taxa de coleta de lixo, controle da
dengue, três consultas por habitante ano, vacinação em 100% das crianças de 0 a
5 anos, vacinação em 85% dos idosos, afirma ainda o site oficial da Secretaria
Municipal de Saúde de Vargem Grande Paulista.
O município oferece rede básica com 1 ambulatório de
especialidade, equipes PSF e PACs. Conta com 9 Unidades Básicas de Saúde e 4
equipes de PSF e não há hospital sediado. Os mais próximos estão localizados no
município vizinho de Cotia. A cidade mantém convênio com a Santa Casa de
Misericórdia no município vizinho, como centro de referência secundário e
22
DATASUS 2006.
http://tabnet.datasus.gov.br/tabdata/cadernos/SP/SP_Vargem_Grande_Paulista_Geral.xls
. Acessado em 23
de julho de 2007.
23
Site da Prefeitura de Vargem Grande Paulista: <www.vargemgrandepaulista.sp.gov.br >. Acessado em
15/03/07
111
terciário. (www.infopolíticas.sp.gov.br, acesso em 25 de maio de 2006), citado por
GALLO (2007).
112
7.3. Rádio Comunitária Cantareira FM – Vila Brasilândia.
A Rádio Cantareira foi fruto de um processo de organização social
que começou a ocorrer por volta da década de 90, na região da Brasilândia, Zona
Norte de São Paulo. Esta região cresceu desordenadamente com o processo de
expulsão das populações excluídas da capital paulista pelo progresso
desordenado que deixava o "centro" e "centro novo" para as camadas abastadas,
e as populações menos favorecidas para as periferias da cidade, tendo que
habitar em barracos pendurados nas encostas de morros ou espremidos em
fundos de vale, avançando suas precárias moradias para as regiões de
preservação ambiental da Serra da Cantareira, formando o bairro de Brasilândia.
Este bairro cresce desordenadamente a partir da década de 70 e divide-se em
centenas de outros bairros menores que compõem esta região intensamente
populosa. Primeiro formou-se o bairro da Vila Brasilândia e depois surgiram os
bairros do entorno que formam hoje o distrito de Vila Brasilândia com mais de 40
bairros.
É nesse cenário efervescente de problemas sociais que um grupo
de pessoas vindas de movimentos sociais, da própria comunidade, militantes
sociais e principalmente da Igreja Católica que atuava no local, partidários da
teologia da libertação
24
, começam a ver na comunicação comunitária, e
particularmente na rádio comunitária, uma forma de divulgar suas lutas, dando voz
e vez a essa população excluída e esquecida pelas autoridades públicas e pela
grande mídia.
24 Tendência político-teológica inspirada no Marxismo, que surgiu na Igreja Católica Latinoamericana nos
anos 60 pregando uma Igreja voltada aos pobres e que tem como principais idéólogos o teólogo Leonardo
Boff e Dom Paulo Evaristo Arms, Arcebispo de São Paulo na década de 70, indo de encontro aos dogmas
tradicionais e conservadores da Direção da Igreja Católica no Vaticano que até então pregava apenas uma
Igreja Espiritual, sem ligações com a questão social.
113
Esse grupo de moradores e de militantes sociais efetuavam
trabalhos sociais no Bairro de Vista Alegre, região da Brasilândia, próximo às
cabeceiras do Córrego Cabo Sul. Percebendo a importância para esta
comunidade de expressar essas necessidades, resolveram organizar-se e
desenvolver uma atividade que auxiliasse as pessoas da região. Surgiu então, a
idéia de se fazer uma rádio no ano de 1995 (FARIA, 2004, pág. 7).
Quando cheguei aqui, o Cilto já vinha atuando, discutindo e
refletindo com as lideranças locais, com as entidades comunitárias que haviam no
entorno sobre essa necessidade de se ter um meio de comunicação, uma rádio no
local. Aí foi feito uma pesquisa em todos os bairros próximos dali, com os moradores,
com as lideranças comunitárias locais, Igrejas, Associações de bairro, Centros de
Juventude, obras sociais. Todos participaram da pesquisa e aprovaram a idéia de se
construir uma rádio no bairro, afirma Juçara Terezinha Zottis.
25
Assim nasce, em 8 de setembro de 1995, a Rádio Cantareira, num
espaço cedido pela Igreja Católica da Paróquia Nossa Senhora das Dores, no
Jardim Vista Alegre, Rua Nortelândia, número 94, com o apoio do Padre José
Eduardo, então responsável pela Paróquia. Com a missão de desenvolver um
projeto de comunicação alternativa - Rádio Comunitária - contribuindo para a
democratização dos meios de comunicação tendo em vista dar voz ao povo, às
comunidades e organizações, proporcionar informação, cultura, entretenimento,
ser um laboratório de aprendizado em rádio.
Os objetivos da rádio são:
a) Ser um veículo de comunicação alternativo que favoreça o exercício da
cidadania;
b) Possibilitar aos ouvintes a informação dos fatos locais, nacionais e
internacionais de forma crítica e coerente;
25 Uma das fundadoras e atual Coordenadora de projetos da Rádio e da Associação Cantareira
114
c) Ser um espaço de debate, diálogo, questionamento da realidade sócio-política,
econômica, religiosa e cultural do país e da América Latina;
d) Veicular notícias, reportagens, entrevistas, documentários referente às lutas e
organizações do povo que visam a melhoria da qualidade de vida;
e) Estimular por meio de programas a organização do povo e o fortalecimento das
organizações populares que lutam pela transformação social;
f) Manter a independência e a coerência à programação e a versão dos fatos;
g) Possibilitar aos estudantes de comunicação uma base de pesquisa onde o
povo é sujeito do projeto e que tem uma proposta de comunicação alternativa;
h) Garantir capacitação permanente com cursos, oficinas, seminários teóricos e
práticos aos comunicadores que atuam na equipe de programação da
emissora visando a construção de uma linguagem própria da Rádio
Comunitária;
i) Garantir a realização de um encontro mensal dos comunicadores de formação
e organização interna.
26
A escolha desse nome para a rádio, baseou-se na vista que o
local tem próximo à Serra da Cantareira e pela preocupação ambiental do bairro
localizado nesta região.
"Quando a gente abria a janela, e olhava direto do
estúdio, avistávamos a Serra da Cantareira. Foi quando surgiu a idéia do nome.
Fizemos até um concurso de nomes no bairro. Aí, todo mundo achou que não
dava para pôr outro nome, a não ser Cantareira. Então, ficou Cantareira. E quando
a gente foi fazer a associação, logo em seguida, o pessoal do bairro falou: '- Não
26
Estatuto da Rádio Cantareira. Consultado em 15/03/07.
115
dá para desassociar o nome da associação, da rádio. Então, fica Associação
Cantareira também'. Então, foi por causa da Serra. Preocupação com a Serra da
Cantareira" (Juçara Zottis).
27
Com esse nome, essa missão e esses objetivos, definidos em
discussões com a comunidade, a primeira transmissão da Rádio Cantareira nasce
com características comunitárias e educomunicativas. Para realizar a 1ª
transmissão, houve a participação de pessoas da Creche, do Centro de Juventude
(CJ), da Unidade Básica de Saúde (UBS), do grupo de terceira idade, de
participantes da Igreja e de moradores do bairro que não pertenciam a nenhuma
entidade. A transmissão foi feita num espaço pequeno de madeira, apenas com
equipamentos básicos compostos por um transmissor, um toca discos e um
Rayfai.
O grupo que começou as transmissões ligava para a casa de
alguns moradores e os colocavam no ar para conferirem se a rádio estava sendo
ouvida. Muitos moradores começaram a empolgar-se com a novidade e a
comentar com outros e num processo de comunicaçào "boca-a-boca", a rádio
começou a ficar popular no bairro. Os moradores começaram a participar da
programação da rádio, desde as crianças até pessoas da terceira idade. (FARIA,
2004, pág. 7).
Segundo Juçara Zottis, "existem muitos moradores da região com
dificuldades na alfabetização, analfabetos e semi-alfabeitzados, o que dificulta a
leitura de jornais, então o pessoal da região houve muito rádio. Antes da criação
da Rádio Cantareira ouvia-se muito a Rádio Atual AM, a Rádio Cidade FM, mas
27
Relato cedido em entrevista feita em 15/03/2007, com Juçara Zottis, uma das fundadores da Rádio
Cantareira e atual responsável pela programação.
116
com a criação da Cantareira, os moradores começaram a se interessar, porque
essa rádio, diferentemente das outras, falava de problemas locais, de seus
problemas.
28
"
Entre as pessoas que começaram a construir a Rádio Cantareira,
destacam-se alguns nomes como o Padre Cilto José Rosembach, Juçara
Terezinha Zottis, Janis L. Kunrath, Padre José Eduardo, padre Claudio Trudelli
(em memória) e outros de igual importância que dedicaram muito tempo de suas
vidas à construção da Rádio, de forma voluntária.
O Padre Cilto estudou Filosofia em Conchas, PR, veio para São
Paulo cursar teologia na Pontifícia Universidade Católica - PUC-SP, então optou
por trabalhar com uma "ideologia mais libertadora", indo para Chapecó-SC, onde
ordenou-se padre. Por seguir a teologia da libertação, veio trabalhar em São
Paulo, onde o Dom Angélico Sândalo Bernardino, Bispo da Brasilândia,
desenvolvia um trabalho social muito grande e o acolheu no bairro. Assim o Padre
Cilto, como é popularmente conhecido e admirado pela população, começa seu
trabalho comunitário na região da Brasilândia em 1994.
Juçara Terezinha Zottis, natural de Xaxim, SC, atuava na Pastoral
da Juventude Rural, na Pastoral da Terra (CPT) e no Movimento dos Sem Terra
(MST) de Chapecó (SC), onde conhece o Pde. Cilto. Posteriormente, em 1995,
vem para São Paulo à procura de trabalho. Trabalhando como costureira numa
fábrica no Bom Retiro, fixa moradia na região da Brasilândia e lá começa seu
trabalho social e comunitário, tornando-se reconhecida liderança comunitária na
região .
28
Idem.
117
Janis L. Kunrath, vinda também do Paraná, conhece o trabalho da
Associação Cantareira por ser parente do Pde. Cilto e integra-se posteriormente
ao trabalho comunitário na Brasilândia. O Padre José Eduardo era pároco na
Paróquia do Bairro Vista Alegre, região da Brasilândia, e integra-se também ao
trabalho comunitário da Associação Cantareira. Padre Claúdio Trudelli, era
canadense e atuava na região do Elisa Maria e foi grande colaborador da Rádio.
Após alguns meses de funcionamento da Rádio Cantareira, em 6
de fevereiro de 1996, foi fundada a Associação Cantareira, que passou a ser
responsável pela rádio, como uma exigência legal da legislação de RadCom. A
Associação não se limita a atuar apenas com a rádio, tendo por missão
desenvolver projetos alternativos nas áreas de comunicação e educação popular,
aducação ambiental, capacitação de jovens, mobilização e participação social.
(ROSEMBACH, 2006, p. 93).
Atualmente, a Associação Cantareira não tem só a Rádio
Cantareira como proposta de atuação comunitária, desenvolve também os
seguintes projetos:
Rádio Comunitária: em processo de regulamentação pela Lei Federal
9.142/98, estava há 10 anos no ar com uma programação diversificada.
Funcionou até abril de 2006 e atualmente espera concessão de canal pelo
Ministério das Comunicações. Até sair do ar mantinha 20 programas com
equipe de 35 pessoas voluntárias;
Jornal Cantareira: Está no sétimo ano de edição com tiragem de dez mil
exemplares, tamanho standart, capa e contra-capa coloridas, com uma equipe
editorial de 12 pessoas e cerca de 20 colaboradores por edição. É distribuído
em 200 pontos, atingindo cerca de 30 mil leitores no Distrito de Brasilândia;
Estúdio de produção e gravação em áudio: existe para produzir vinhetas,
spots, programas para a rádio e gravações de peças de teatro, músicas para as
comunidades e salas de educação popular;
Formação na área de comunicação: Oferece a realização de oficinas,
cursos, palestras, seminários abordando temas sobre comunicação (Redação
jornalística, produção e locução de programas para rádio, interpretação,
118
legislação, história do rádio, filosofia e características da rádio comunitária,
etc.);
Educação Popular: Projeto com 22 salas de Alfabetização de Jovens e
Adultos em parceria com as comunidades, no oitavo ano de atuação, atendeu
500 educandos, capacitação permanente de 23 educandos atualmente;
Cursos de Capacitação para Jovens em parceria com a Associação de
Apoio à Capacitação Solidária:
- Monitoria Ambiental, ministrado em 1998 com 40 jovens de 14 a 21 anos;
- Agente Comunitário, ministrado em 1999 com 30 jovens de 16 a 21 anos;
- Audiovisual, ministrado em 2000 com 30 jovens de 16 a 21 anos;
- Agentes Sócio-Ambientais, ministrado em 2002 com 30 jovens de 16 a 21
anos;
Cursos de Capacitação para Jovens:
- Empreendedores Sociais, ministrado em 2001 em parceria com o Instituto Eu
Sou da Paz;
- Curso de Comunicação Ecologia e Paz, ministrado em 2001 e produção do
Documentário em Vídeo "O Melhor do Lixo" em parceria com a Rede Rua de
Comunicação;
- Oficinas, plenárias, palestras e elaboração de pequenos projetos de geração
de renda para jovens, lideranças comunitárias e professores da região em
parceria com o consórcio COGITO-ECOAR em 2000 e 2001;
Assessoria e Apoio aos Movimentos Sociais:
- Articulação da Sociedade Civil na organização dos Conselhos Gestores de
Saúde nas Unidades Básicas de Saúde e nos Hospitais, atuando no processo
de capacitação dos conselheiros eleitos;
- Apoio aos movimentos populares de moradia no meio urbano e mobilização e
organização dos trabalhadores sem teto desempregados para o projeto
Comuna da Terra do MST que visa a implantação de agrovilas auto-
sustentáveis próximo às grandes cidades;
Apoio às entidades, organizações e grupos que desenvolvem ações que
visam a construção da Cultura de Paz;
Incentivo e assessoria à formação de cooperativas e projetos de geração
de emprego e renda;
Participação ativa na luta pela democratização dos meios de comunicação,
na organização do Comitê Fome Zero da Brasilândia da Sociedade Civil;
Participação em fóruns de educação ( regional, municipal e estadual)
Em 1997, Dom Angélico Sândalo Bernardino passa para a
congregação dos vicentinos e eles propõem criar uma casa de formação de
padres no espaço em que funcionava a rádio, que muda-se de lugar passando a
ocupar um espaço na Paróquia Sta. Terezinha, por oferecimento do seu Padre, no
Bairro de Sta. Terezinha. Embora houvessem protestos dos moradores do bairro
119
de Vista Alegre de onde a rádio saiu, por medo de perderem a rádio, foi uma
grande vantagem essa mudança, pois o novo espaço era em um ponto
geograficamente mais alto, o que permitia uma melhor e maior transmissão da
programação, que agora atingia não só o bairro antigo onde estava, mas também
o novo bairro e outros bairros da Brasilândia, segundo Juçara Zottis.
29
A rádio fica funcionando neste novo espaço até 1998, quando foi
aprovada a Lei 9.612 (Lei de RadCom). Com a aprovação desta nova Lei, a
orientação do Ministério das Comunicações (MiniCom) para as rádios
comunitárias era para que se retirasse as rádios do ar e se disponibilizasse as
instalações para averiguações do Ministério, visando o processo de regularizações
das mesmas.
Em vista disso, a Associação Cantareira, segue as orientações do
MiniCom e retira a rádio do ar, solicitando formalmente um canal de concessão.
Mas como nenhuma resposta foi dada pelo Ministério, a pressão da comunidade
foi aumentando sobre a Associação Cantareira para que recolocassem a rádio no
ar. "Até abaixo-assinado e Assembléia a população do Jd. Guarani fez para que a
rádio voltasse a transmitir", comenta Juçara Zottis..
30
Como a Rádio Cantareira estava esperando a concessão, e para
atender a exigência da comunidade, principalmente do Jd. Guarani, a Associação
colocou a rádio no ar com outro nome, Rádio Amizade FM, que ficou funcionando
no Jd. Guarani de 1999 a 2003.
A Rádio que começara com uma equipe de 20 pessoas
aproximadamente, não só fazendo programas, mas ajudando em outras atividades
29
Ibdem
30
Ibdem
120
da mesma e da Associação, neste momento chega a aproximadamente 40
pessoas, com uma intensa participação da comunidade através de ligações
telefônicas, cartas, visitas à rádio, fornecimento de informações e sugestões.
A programação da Rádio Cantareira caracteriza-se
essencialmente por informações gerais e locais, prestação de serviços com
entretenimento e música. Mas tem a preocupação de informar de forma crítica, de
educar a população ouvinte. Até na programação musical existe essa
preocupação, evitando-se que se coloquem músicas no idioma inglês, músicas
que denigram ou discriminem a imagem da mulher, tenham um viés
preconceituoso ou racista. Quando algum programador insiste em colocar uma
música desse tipo, se faz um debate com os programadores da rádio, ouvindo-se
as diversas opiniões para se decidir o que fazer. A programação abarca desde
programas religiosos, jornalísticos com informações da comunidade, até
programas de músicas românticas, forró, MPB, sertanejo, esportivo, debates. Em
todos os programas há denúncias e informações quanto a questões de
saneamento, saúde, educação, poluição da Serra da Cantareira, preservação
ambiental, limpeza urbana, segurança, problemas de transportes .
A gente não concorda com músicas que têm, por exemplo, letras
que degrinam a imagem da mulher ou sejam racistas. Colocamos um pouco isso em
pauta com os programadores. Por exemplo, a música em inglês a gente sugere, na
medida do possível, para que não seja tocada ou então que seja traduzida. A maioria
do povo aqui não fala inglês. Você vai tocar aqueles blacks americanos para quem?
As pessoas não estão sabendo o que escutam. A gente reflete muito isso com os
meninos. Tem uns que argumentam: '- Mas, é isso que a galera quer ouvir, então eu
toco...'. '- Vocês vão tocar o que a galera quer ouvir ou vocês querem uma outra
proposta... uma outra proposta diferente para essa galera?'. Então, a gente conversa
muito isso. Tem uns programadores que fazem isso porque dá audiência. Mas nós
não estamos preocupados com a audiência, a gente não tem preocupação com a
audiência da rádio, mas nos preocupamos principalmente em exercitar a comunidade
em fazer rádio, em produzir cidadania. E se existe essa preocupação com a cidadania
você não coloca qualquer coisa, qualquer lixo para a comunidade ouvir.(Juçara Zottis)
121
Embora a rádio tenha tido sua origem dentro de uma Igreja
católica e alguns de seus integrantes sejam padres, a participação em programas
é bem eclética, já tendo tido a participação também de outros grupos religiosos
produzindo programas, além do que a maioria dos programas não são de caráter
religioso. Trata-se de uma rádio comunitária com interesses comunitários e não
uma rádio religiosa.
A participação na rádio obedecia a seguinte tragetória: primeiro o
morador tornava-se um ouvinte, logo após ligava para os programas sugerindo
músicas e assuntos. Depois começava a participar de entrevistas ao vivo ou
gravadas, dando suas opiniões sobre assuntos abordados na programação.
Dessa forma, periodicamente a rádio fazia chamadas no ar convidando quem
quisesse fazer programas a procurar a rádio. Alguns interessavam-se e a rádio
iniciava um processo de capacitação. O interessado começava acompanhando ao
vivo algumas edições de um programa que escolhesse, depois ajudava na
produção desse programa. Posteriormente passava por um curso de capacitação
em comunicação gratuito, e por último, apresentava uma proposta de programa,
que era levado para discussão no Conselho de Programação da Rádio (integrado
pelos responsáveis por cada programa), e se houvesse espaço de horário livre na
grade, era aceito e colocado no ar. Todo esse processo não envolvia nenhuma
forma de pagamento em dinheiro pelos que quisessem participar do curso e
montar um programa. Ninguém era remunerado pelos programas que fazia. Todo
o trabalho era e é voluntário.
A capacitação das pessoas foi um marco importante no processo
inicial da organização da rádio comunitária para contribuir no processo de pensar
sobre o que é um projeto comunitário de comunicação, a sua incidência na vida do
povo e a formulação da linha editorial. Para tanto, criou-se o primeiro curso de
comunicação para radialistas, que foi desenvolvido entre os meses de outubro a
dezembro de 1995, com 60 horas de duração. Participaram desse curso 65 pessoas.
O curso de comunicação passou a ser promovido anualmente e tornou-se um critério
122
básico para quem quisesse fazer parte da equipe da rádio e produzir programas na
emissora. (ROSEMBACH, 2006, P. 94)
Em 2003, a Associação Cantareira consegue adquirir um prédio
próprio e se estabelece na Rua Jorge Pires Ramalho, 71, Vila Isabel, SP, distrito
de Brasilândia. Isso significou uma grande vitória para a Associação e a Rádio que
viveram por 8 anos de trabalho voluntário, sem fins lucrativos. Sempre
economizando o que entrava de valores de contribuição dos moradores,
associados, taxas de administração de outros projetos e atividades que a
Associação realizava, como o Projeto Capacitação Solidária de Formação de
Jovens. Este projeto, realizado em 1998 por uma ONG coordenada pela então
primeira dama, Dona. Ruth Cardoso, reunia recursos públicos e privados e
financiava entidades sociais em todo o pais para desenvolver formação e
capacitação de jovens carentes. O Projeto era oferecido via licitação pública a
qualquer entidade que quisesse participar e a entidade interessada apresentava
um projeto para sua região, caso ganhasse, recebia uma determinada quantia
para desenvolver o projeto tendo direito a 10% do orçamento com gastos com a
administração. Na região da Brasilândia, a Associação Cantareira se candidatou e
ganhou a licitação para realizar o projeto. Os 10% do orçamento com a
administração foram guardados, mas ainda não eram suficientes para adquirir
uma sede própria. Então um morador da Cidade de São Paulo faleceu e deixou
como herança uma quantia de R$ 30 mil reais para a Associação Cantareira. Esse
valor foi o suficiente para completar o que faltava e comprar a sede própria. A
Rádio em sua nova sede ficou no ar até abril de 2006, parando de funcionar,
tentando novamente sua concessão de canal.
31
Um dia , um senhor de uma família de posses da cidade de São
Paulo, procurou o Pde. Cilto e o comunicou que quando morresse, gostaria de doar
31
Ibdem.
123
uma parte de sua herança para entidades sérias que desenvolvessem serviço social
em bairros carentes de São Paulo. Em 2002 , este Sr. veio a falecer e a família
procurou nossa Associação para conceder tal herança. Nessa brincadeira a gente
ganhou 30 mil reais e com o que a gente tinha, mais esse valor, conseguimos
comprar um espaço para nossa sede. (Jussara Zottis)
Antes de sair do ar, a Rádio Cantareira estava funcionando das 18
às 22h nos dias de semana e das 7 às 22h nos finais de semana, com 20
programadores, abrangendo de um a três quilômetros de raio, 28 a 39 bairros,
cerca de 40% do distrito de Brasilândia, que possui 250 mil habitantes, partes do
distrito de taipas, Cachoeirinha, Alto Imirim, conforme a topografia
32
. Mesmo
depois da rádio sair do ar, a Associação manteve-se mobilizada, oferecendo
cursos de comunicação para atualização dos programadores, mas aberto à
comunidade, gratuitamente.
Percebeu-se durante a pesquisa que a comunidade tem uma
grande espectativa pela volta da rádio. Muitos moradores dos bairros atingidos
pela rádio e alvos desta pesquisa indagam sobre quando a rádio voltará a
funcionar. A própria Associação recebe telefonemas diários de moradores
cobrando a volta da rádio ao ar, assim como crianças da Creche e do Centro de
Juventude, e pessoas do grupo de terceira idade. Percebe-se que a rádio além de
toda a função social que desenvolvia, também tinha uma papel importante de
entretenimento, de companhia para pessoas solitárias ou que se sentem
entediadas e deprimidas pela falta de opções de lazer na região da Brasilândia. A
rádio tinha também um papel de integração entre moradores que se telefonavam,
trocavam recados no ar, se visitavam em função de atividades da rádio.
O Ministério das Comunicações divulgou um edital de habilitação
de rádios comunitárias na cidade de São Paulo no final de 2006 e a Rádio
32 Essa abrangência aproximada é aferida pelos programadores com base em telefonemas que recebem de
ouvintes. Verificar Anexo: "Bairros e Vilas que a Rádio Cantareira 107,5 FM atinge".
124
Cantareira entrou novamente com pedido de habilitação para a concessão de
canal, estando atualmente, aguardando resposta do Ministério para voltar a
funcionar.
125
7.4. O bairro Jardim Vila Brasilândia.
No início do século XX esta região era apenas floresta. Na década
de 30, alguns sítios e chácaras de cana de açúcar foram se transformando em
núcleos residenciais, na zona norte da cidade de São Paulo. O crescimento de
sua ocupação veio a formar o bairro hoje denominado Brasilândia.
Na época, o comerciante Brasílio Simões liderou a comunidade
para a construção da Igreja de Santo Antonio, em substituição à antiga capela
existente. Por isso, o comerciante teve o seu nome empregado na denominação
do bairro, em reconhecimento ao feito.
Esses bairros nascentes, constituiam um avanço da urbanização
da cidade em direção às florestas da Serra da Cantareira, e não agrediam tanto a
região de mananciais da Serra. Ocorre que o país entra em um processo de
crescimento capitalista predatório, sem sustentabilidade, onde o que importa é
crescer a qualquer custo, não se importando com os recursos ambientais. O
Estado de São Paulo como o Estado mais produtivo e moderno da nação é a
locomotiva deste crescimento e conseqüentemente sua capital, a Cidade de São
Paulo, reflete esta corrida desenfreada utilizando a mão de obra imigrante do
Nordeste e passando por um processo de urbanização acelerado e sem
planejamento. Com isso, na gestão do Prefeito Prestes Maia, em 1950, as vilas
operárias, casas populares e cortiços da região central da cidade são demolidas
para dar lugar às Avenidas São João, Duque de Caxias e Ipiranga. Os moradores
pobres dessa região, sem ter para onde ir, são obrigados a ir morar na região da
Serra da Cantareira, onde a Empresa Brasilândia de terrenos e construções
constrói um loteamento no antigo Sítio pertencente a Brasílio Simões que é
vendido então à Construtora Brasilândia. (ROSEMBACH, 2006, p. 91).
126
O bairro recebeu um grande fluxo de imigrantes do Nordeste do
país, que fugiam da seca em seus Estados nas décadas de 50 e 60, além de
famílias vindas do interior do estado, em busca de oportunidades de trabalho.
A Brasilândia foi loteada em 1946 pela família Bonilha, que era
proprietária de uma grande olaria na região. Embora não fossem dotados de
qualquer infra-estrutura, os terrenos eram adquiridos com grandes facilidades de
pagamento, inclusive com a doação de tijolos para estimular a construção das
casas.
33
Outro elemento de incentivo à ocupação do bairro foi a instalação
da Empresa Veja-Sopave que, ao instalar sua sede na Brasilândia, oferecia
moradia a seus empregados, o que trouxe um considerável número de famílias
para a região.
Em torno desse loteamento, a região da Brasilândia, localizada na
Zona Noroeste de São Paulo, cresceu desordenadamente com o processo de
expulsão das populações da capital pelo progresso desordenado que deixava o
"centro" e "centro novo" para as camadas abastadas, e as populações menos
favorecidas para as periferias da cidade, tendo que residir em barracos
pendurados nas encostas de morros ou espremidos em fundos de vale. Há um
avanço das precárias moradias para as regiões de preservação ambiental da
Serra da Cantareira, formando o bairro de Brasilândia, que por sua vez, também
cresce desordenadamente a partir da década de 70 e divide-se em cerca de 40
outros bairros menores que compõem esta região intensamente populosa do atual
distrito de Vila Brasilândia.
33 Fonte: Site Oficial da Prefeitura do Município de São Paulo.
http://www2.prefeitura.sp.gov.br/subprefeituras/spfo/dados/0001. Acessado em 18/04/07
127
Nas décadas seguintes, chegaram à região moradores pobres de
outros bairros de São Paulo, de outros Estados e do interior, originados de
cidades como Jaú, Pederneiras e Bariri. Chegaram também imigrantes
portugueses e italianos que vinham à São Paulo, e assim a antiga Vila Brasilândia
começou a tornar-se o Distrito de Brasilândia, com o surgimento de bairros como a
Estrada da Parada, os Jardins Amanara, Ana Maria, Carombé, Damasceno,
Paraná, Elisa Maria, Elísio, Franco, Guarani, Maracanã, Ondina, Paulistano,
Recanto, Princesa, Vista Alegre, ou Parques Pedroso, Tietê, Belém, as Vilas Real,
Sousa, Icarai, Itaberaba, Nina, Penteado, Isabel, Siqueira e Brasilândia.
Houve um adensamento populacional muito grande, alargando os
limites da cidade sobre a Serra da Cantareira, sem que a isto se acompanhasse
uma infra-estrutura que apoiasse esse crescimento populacional desenfreado.
Atualmente a região possui 250 mil habitantes aproximadamente, distribuídos em
uma área de 21 quilômetros quadrados, sendo que 14% desta população (35,300)
tem entre 13 e 19 anos, sem nenhuma perspectiva de ensino, emprego ou apoio
social de qualquer tipo. A taxa de natalidade da região é de 28,02 por mil
habitantes, maior que a do Município de São Paulo (21,79 por mil habitantes). A
proporção de gravidez na adolescência entre jovens de 14 a 17 anos na região,
considerando o total de nascidos vivos, é de 8,6% e a taxa de fecundidade das
adolescentes é de 57,7 por mil mulheres, segundo dados da Prefeitura de São
Paulo.
A região não possui nenhuma forma de lazer para sua população,
como biblioteca e praça estruturada, apenas praças improvisadas pelos
moradores. Não possui nenhuma quadra esportiva ao ar livre, e apenas agora, a
partir do ano de 2000, um teatro e um cinema foram instalados dentro do Centro
de Educação Unificado - CEU Paz. Ou seja, para essa população pobre de lazer e
128
cultura, o que ajuda são as entidades sociais e culturais existentes na Brasilândia
como: a Sociedade Amigos do Jardim Icarí, a Associação Cantareira, as Obras
Sociais Vista Alegre, as Obras Sociais São Francisco de Assís, o Centro
Comunitário de Vila Terezinha, o Centro Comunitário do Jd. Damasceno, a
Entidade Luz do Mundo, a Associação Pionoro e o Centro Espírita Batuíra.
Quem não tem acesso a essas entidades é obrigado a procurar
assistência social, entretenimento, lazer e cultura na Região Central de São Paulo,
na Região de Pirituba/Perús, ou Santana, que são regiões distantes e de difícil
acesso, pois o transporte é ruim e caro para uma população carente e sem
recursos financeiros. A distância de vila Brasilândia para o Centro de São Paulo é
de aproximadamente 1 hora em transporte coletivo.
Quem fica na região é obrigado a procurar seu lazer e
entretenimento nos bares, mesas de bilhar e nos pontos de drogas, fato que
aumenta os índices de violência e criminalidade na região. O número de
homicídios entre pessoas do sexo masculino é o mais alto da região norte de São
Paulo, sendo que a taxa de mortalidade por homicídio de jovens masculinos de 15
a 19 anos é de 354,60 por 100 mil habitantes. A taxa de óbitos por 100 mil
habitantes é 13,61 (acidente de trânsito, homicídio e suicídio). Esta taxas estão
entre as mais altas da cidade de São Paulo, segundo dados do Instituto ECOS e
PMSP
34
.
A população local é constituída principalmente por imigrantes das
regiões Norte e Nordeste do Brasil. O nível de escolaridade é baixo: 28,05% dos
homens e 29,35% das mulheres são analfabetos ou estudaram até 3 anos.
35
A
34 Fonte : www2.prefeitura.sp.gov.br/subprefeituras/spfo/dados. Acesso em 17 de abril de 2007.
35 Cenpec - Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, Projeto Brasilândia:
levantamento socioeconômico, São Paulo, 2000.
129
renda média mensal dos chefes de família é de R$ 666,00, sendo 58% da
população de baixa renda.
36
A taxa de desemprego no distrito chega à quase 55%
da população maior de 16 anos. O distrito de Brasilândia ocupa o 21º lugar em
termos de qualidade de vida, sendo o 9º pior distrito em desenvolvimento humano
e 6º pior em inclusão social
37
. (ROSEMBACH, 2006, p. 92).
As atividades econômicas como indústria, comércio e serviços no
Distrito de Brasilândia são precárias, pois os poucos moradores que trabalham,
estão empregados em vendas, bares, biroscas, borracharias, mecânicas, etc. A
maioria dos moradores empregados se desloca a outros bairros de São Paulo ou
até a outras cidades, o que caracteriza o distrito de Brasilândia essencialmente
como "bairro dormitório".
Não há um problema principal a ser identificado pelos moradores,
como transporte, desemprego ou marginalidade, pois eles identificam todos os
problemas no distrito. Afirmam que eles não têm nada. Os seus roblemas que
precisam de muitos investimentos para serem resolvidos. Há a necessidade de
melhorias nas vias de acesso, principalmente ao centro da cidade, maior
quantidade de equipamentos públicos, urbanização das favelas, saneamento. Em
períodos de chuvas intensas alguns bairros ficam intransitáveis. Existem moradias
em condições de saneamentos irregulares, falta rede de esgotos e de
redistribuição de águas, o que agrava a possibilidade de riscos ambientais e
sanitários.
O transporte ainda é deficitário, deixando a população dependente
de lotações para o transporte até o Centro e outros bairros de São Paulo. O
36 Época, n. 208, maio de 2002
37 Mapa da Exclusão/Inclusão Social de São Paulo. São Paulo. 1996.
130
saneamento e a poluição de mananciais da Serra da Cantareira constituem outro
problema crescente com o aumento da população, do acúmulo de lixo e a
proliferação de ratos e de mosquitos.
Segundo Juçara Zottis, quando chove, os bairros que ficam nos
pés dos morros sofrem com enchentes, quando é tempo seco, os bairros que
ficam nos altos dos morros sofrem com a falta de água, que já chegou a durar 15
dias.
Saúde
Ainda segundo a PMSP, para cada 100 mil habitantes há na vila
Brasilândia 18,28 indivíduos com Aids, número este maior do que os outros
distritos do mesmo tamanho, sendo o bairro com o maior índice de mulheres
infectadas com o vírus HIV. O bairro apresenta ainda o 3º maior número de mortes
entre os homens, devido à violência.
Por outro lado, possui apenas 10 Unidades básicas de saúde
(UBS), sendo cinco do Programa Saúde da Família (PSF), e cinco UBS, uma
Unidade Ambulatorial Especializada, uma unidade de urgência e emergência geral
e uma unidade de apoio à saúde mental, não havendo nenhum hospital público.
Foi inaugurada recentemente duas AMAS: uma no Bairro Ladeira Rosa e outra no
Jd. Paulistano.
131
8. Procedimentos metodológicos.
Este trabalho, adotou um método quali-quantitativo de pesquisa
social descritiva para levantar opiniões e atitudes de ouvintes das rádios
comunitárias pesquisadas a respeito de sua compreensão sobre o que estas
rádios comunicavam em termos de informações de saúde, e quais as
consequências em suas mudanças de hábitos que pudessem eliminar, diminuir ou
prevenir riscos em saúde.
O pesquisador neste caso é um profissional de comunicação que
atua na comunicação de pesquisas científicas junto à sociedade, com o intuito de
democratizar o acesso as mesmas, atuando como fonte de informações científicas
sobre saúde e riscos sanitários tanto pela via da grande mídia, quanto pela via da
mídia alternativa, no caso "rádios comunitárias", mas que deseja verificar o que
"está do outro lado dos muros de marfim da academia". Quer estudar o cotidiano
de seus receptores para ter a compreensão de como estes interagem com as
mensagens recebidas de diversas fontes sobre saúde e riscos sanitários e no que
isso contribui para modificar ou não suas realidades.
Para atingir os objetivos propostos desenvolvo três movimentos de
pesquisa. Em um primeiro momento, esta pesquisa faz uma análise documental
da programação das rádios, levantando o conteúdo abordado sobre saúde e mais
especificamente sobre vigilância sanitária.
Os casos escolhidos para estudo, no caso as Rádios 8 de
Dezembro FM-98,7 na Cidade de Vargem Grande Paulista e Rádio Cantareira FM-
107,5 no Distrito de Brasilândia, Zona Norte de São Paulo, foram escolhidos, por
132
indicação da ABRAÇO - Associação Brasileira de Rádios Comunitárias e pelo
Prof. Dr. Paulo Rogério Gallo, docente da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da
USP que coordena cursos anuais de "Saúde Pública para Radio-comunicadores
Populares", e por serem duas rádios que têm a preocupação em veicular
informações sobre saúde em suas programações.
Sendo assim, no primeiro momento foram procuradas as referidas
rádios: conhecidas as dependências, os bairros do entorno em que atuam,
coletados materiais documentais como estatuto, regimento, textos e matérias
publicadas na mídia, roteiros de programação, fitas e CDs gravados com
programas que contivessem informações sobre saúde, grades de programações e
legislações sobre RadCom e Vigilância Sanitária.
Como estratégia para a entrada no campo de pesquisa,
apresentei-me às Rádios pesquisadas, esclarecendo às mesmas quem era este
pesquisador, qual era minha proposta de pesquisa e como seria executada, como
soube das rádios informando que me foram indicadas pela ABRAÇO e pelo Prof.
Paulo Rogério Gallo, da FSP/USP.
Nessa fase analisou-se os seguintes programas sobre saúde de
cada rádio: "Comunicação e Saúde", da Rádio Cantareira e o programa "Rosa
Choque", da Rádio 8, assim como a série de programas "Plantão Saúde", da
Empresa OBORÉ Comunicações, que produz e fornece esses programas para a
maioria das rádios comunitárias do país e que é utilizado também pelas duas
rádios como forma de veicular informações sobre saúde em suas programações.
O objetivo dessa análise documental neste momento da pesquisa
foi verificar se existia a preocupação de informar a população sobre como se
eliminar, diminuir ou prevenir riscos sanitários pela via das programações das
133
rádios, como esse risco é gestionado pelas mesmas, como elas organizam esse
risco em suas programações.
Em um segundo momento, apliquei um roteiro aberto semi-
estruturado de entrevista com os gestores das rádios pesquisadas com o objetivo
de verificar se as rádios trabalham sua gestão interna e como é a relação delas
com a comunidade, verificando se a rádio tem características comunitárias e
educomunicativas em sua relação com a recepção e com a comunidade da qual
participam.
Ainda neste momento, apliquei um outro roteiro de entrevista
aberto semi-estruturado com os programadores dos respectivos programas sobre
saúde das rádios analisadas, com o objetivo de verificar se existe ou não a
intenção de se trabalhar com informações sobre riscos sanitários nas
programações ou, se estes assuntos são pautados mesmo que sem intenção,
como são tratadas as informações sobre saúde nos programas, quais as fontes
utilizadas, se os assuntos sobre saúde são demandas da comunidade ou não.
Enfim, neste momento da pesquisa, procurou-se verificar como a programação da
rádio gestiona a questão do risco sanitário junto à sua recepção e como é feita
esta mediação de informações sobre saúde.
A entrevista semi-estruturada caracteriza-se por articular questões
abertas e estruturadas, possibilitando uma abordagem de forma livre, sem rigidez na
formulação das questões, havendo a elaboração de um roteiro composto por poucas
questões. O roteiro tem o objetivo de servir de guia ao entrevistador, não sendo um
instrumento de cerceamento para o entrevistado, ou seja, constitui-se num
mecanismo para orientação de uma "conversa com finalidade", um facilitador de
abertura, de ampliação e de aprofundamento da comunicação (MINAYO, 1992, p.99).
Para a análise de como ocorre a gestão das rádios, além do
estudo deste material documental e entrevistas com os gestores, descrito
anteriormente, contribuiu muito para esta pesquisa as visítas às sedes das rádios
134
pesquisadas, o contato pessoal com seus integrantes, a visita às comunidades
envolvidas e casas de ouvintes, pois por meio da observação direta nestes locais,
pôde-se captar a estrutura, procedimentos, pensamentos imperantes, mensagens
sub-liminares, aspectos psicológicos descritos na intenção dessas rádios serem
comunitárias e educomunicativas ou não.
E finalmente,em um terceiro momento, produzi uma análise dos
dados por meio de entrevistas usando a metodologia do Discurso do Sujeito
Coletivo (DSC), durante duas semanas junto ao público ouvinte dessas emissoras,
para se identificar como ocorre a "mediação" junto a "recepção".
O Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) foi utilizado como
metodologia para a realização da pesquisa de campo junto às rádios citadas e
aos seus ouvintes pelo seu caráter de proporcionar ao pesquisador a captação da
percepção coletiva dos ouvintes sobre riscos sanitários. O DSC é uma
metodologia que une o aspecto qualitativo ao quantitativo da pesquisa,
organizando e tabulando os depoimentos colhidos que servem como referencial
para a pesquisa qualitativa. Segundo LEFEVRE (2003, p.16), "o sujeito Coletivo
expressa-se, então, através de um discurso emitido no que poderia chamar-se de
'primeira pessoa (coletiva) do singular'. Trata-se de um 'eu' sintático que, ao
mesmo tempo sinaliza a presença de um sujeito individual do discurso e expressa
uma referência coletiva na medida em que este 'eu' fala pela ou em nome de uma
coletividade. Este discurso permite trazer à luz o sujeito coletivo. Como afirma
Gertz, 'a sociedade e as culturas podem ser lidas como um texto'".
O DSC é uma forma de apresentação de informações qualitativas
obtidas em depoimentos. Consiste da redação organizada pelo pesquisador sobre
as principais idéias, por ele selecionadas e conforme a sua compreensão, das
135
expressões verbais mais significativas, extraídas dos depoimentos de sujeitos
indagados. Expressões-chaves de conteúdos semelhantes podem ser
colecionadas sob idéias centrais semelhantes, compondo um ou vários discursos
que sintetizam os desdobramentos da compreensão da coletividade, sobre um
determinado tema (LEFEVRE, 2003).
Sendo assim, o DSC me proporcionará captar a opinião individual
dos pesquisados, a oportunidade de poder mensurá-la quantitativamente, e
também captar a opinião coletiva, as influências culturais e o entorno dessa
realidade a que os pesquisados estão submetidos. Ao mesmo tempo que
proporciona uma visão geral do coletivo através de tendências estatísticas revela
a identidade de casos individuais que expressam o coletivo.
Segundo Lefevre (2003, p. 13) "se um indivíduo tem um
pensamento (ou opinião, ou crença, ou visão, ou percepção, ou representação),
uma coletividade de indivíduos também apresenta uma distribuição estatística
desse pensamento".
Na terceira fase da pesquisa correspondente a coleta de
depoimentos junto aos ouvintes, utilizando o DSC, realizei entrevistas com 53
ouvintes da Rádio 8 de Dezembro FM-98,7 (Rádio 8), na cidade de Vargem
Grande Paulista. Durante uma semana, foram abordados moradores da cidade,
em feiras livres e no "centro" da cidade, junto à passarela da Rod. Raposo
Tavares, única forma que os moradores tem para atravessar à pé a Rodovia e
dirigir-se de um lado a outro da cidade. Também realizei 53 entrevistas com
depoimentos de ouvintes da Rádio Cantareira FM-107,5. Durante uma semana, as
entrevistas foram coletadas junto à feira livre do Jardim Guarani, distrito de
Brasilândia, junto à missa da Igreja Bom Pastor no Jd. Carombé e percorrendo
136
casas de antigos ouvintes no Jardim Guarani, Sta. Teresinha e Vila Isabel. Esta
estratégia teve de ser utilizada, devido ao fato de a rádio estar fora do ar há um
ano e muitas pessoas já não se lembrarem mais, havendo a necessidade de
localização de antigos ouvintes que a escutavam quando estava no ar e que ainda
se lembrassem da programação.
Com uma postura construtivista, conforme sugere a intenção
desta pesquisa, elaborei os roteiros de perguntas
38
direcionadas aos ouvintes,
primeiro testadas pelo telefone com 7 ouvintes, e gravadas no Laboratório de
Áudio (LAUDIO) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP para ajustar
possíveis incorreções nas mesmas. Definido o "Roteiro de Perguntas aos
Ouvintes", passei às entrevistas propriamente ditas, utilizando as perguntas mais
como um ponto de partida para disparar o discurso, deixando o entrevistado livre
para falar o que quisesse sobre o assunto. As intervenções foram feitas antes da
entrevista, explicando ao entrevistado sobre o que tratava a pesquisa e suas
finalidades, apresentando-se como entrevistador que cumpria as deliberações do
Comitê de Ética da FSP/USP, e esclarecendo ao entrevistado para não apenas
para elogiar as rádios, mas sim expressar sua opinião sincera, seja elogiosa,
crítica ou neutra em relação às rádios. Iniciada a entrevista e ligado o gravador,
minhas interações visaram apenas afiaçar a compreensão, esclarecer e ampliar o
contexto do discurso. Procurei não intervir opinativamente sobre o assunto,
mantendo minha neutralidade de pesquisador para não causar interferências ou
distorções no discurso.
As questões do roteiro dividiram-se em uma primeira parte de
identificação do entrevistado, com informações como: nome, sexo, idade, Bairro
38 Veja "Roteiro de Perguntas aos Ouvintes", na Seção de Anexos desta monografia.
137
em que mora e ocupação profissional. Na Segunda parte, elaborei quatro
perguntas que tratavam sobre o conhecimento do ouvinte a respeito das rádios
analisadas e suas programações, sobre a interação destas com os ouvintes e
formas de participação dos ouvintes na rádio. Minha intenção neste bloco era
averiguar se a rádio era educomunicativa ou não. Por fim, um último bloco com
três perguntas procurou-se averiguar se a rádio tinha uma preocupação com a
veiculação de informações sobre eliminação, diminuição ou prevenção de riscos
sanitários em saúde para os ouvintes ou para a cidade/bairro. Não usei a palavra
"risco sanitário" e sim a palavra "saúde" para adequar o vocabulário à
compreensão do entrevistado, visto que a expressão "risco sanitário" caracteriza-
se como termo técnico inerente a profissionais de saúde e é comum o
desconhecimento por parte do público leigo.
138
Perguntas introdutórias
Nome, sexo, idade, Bairro, ocupação
Objetivo das perguntas introdutórias:
Estas perguntas objetivaram a identificação do entrevistado.
Pergunta 1
Você ouve a Rádio 8/Rádio Cantareira? Com que frequência?
Objetivo da Pergunta 1:
Identificar se as rádios são conhecidas pela população e com que frequência. Se
há conhecimento pela população sobre a existência das rádios e sobre suas
programações.
Pergunta 2
O que você acha da Rádio 8/Rádio Cantareira? Fale um pouco sobre ela:
Objetivo da Pergunta 2:
Identificar quais as representações ou percepções que a população tem sobre as
rádios pesquisadas. Se elas possuem características comunitárias e
educomunicativas, sob o olhar da recepção, dos ouvintes.
139
Pergunta 3
A Rádio 8/Rádio Cantareira fala de problemas de saúde? Conte um pouco
para a gente sobre isso:
Objetivo da Pergunta 3:
Identificar quais as representações ou percepções que a população tem sobre as
informações a respeito de saúde e eliminação, diminuição e prevenção de riscos
sanitários veiculados pelas rádios pesquisadas.
Perguntas 4
Você pode participar dos programas da Rádio 8/Rádio Cantareira? De que
forma? Tem algum outro modo de participar?
Objetivos das Perguntas 4:
Identificar quais as representações ou percepções que a população tem sobre as
formas de participação que as rádios pesquisadas eventualmente proporcionem a
seus ouvintes. Se a participação dos ouvintes junto às rádios se dá realmente com
características comunitárias e educomunicativas, ou não.
Pergunta 5
A Rádio 8/Rádio Cantareira já ajudou a resolver algum problema de saúde seu
ou de sua família?
Objetivo da Pergunta 5:
Identificar quais as representações ou percepções que a população tem sobre o
fato de as rádios e suas programações de saúde interferirem em seus hábitos ou
140
atitudes pessoais a respeito de saúde e se essas informações recebidas pelas
rádios já eliminaram, diminuiram ou preveniram riscos sanitários presentes em
suas vidas.
Pergunta 6
A Rádio 8/Rádio Cantareira já ajudou você a resolver algum problema de
saúde de seu bairro?
Objetivo da Pergunta 6:
Identificar quais as representações ou percepções que a população tem sobre o
fato de as rádios e suas programações de saúde interferirem em hábitos ou
atitudes coletivas a respeito de saúde e se essas informações recebidas pelas
rádios já eliminaram, diminuíram ou preveniram riscos sanitários presentes em
seus bairros.
A metodologia do DSC aponta que neste tipo de pesquisa
quali/quantitativa não há necessidade de um grande número de participantes, uma
vez que, nessa modalidade, a opção é pela profundidade em detrimento da
amplitude. É possível ao pesquisador interagir com cada participante,
perguntando-lhe como sente determinado fenômeno, como pensa sobre ele, bem
como pedir esclarecimentos, de modo a ir estabelecendo o diálogo. Sendo assim,
mesmo dentro de um universo de uma população de 32.548 habitantes do
Município de Vargem Grande Paulista alcançados pelo raio de transmissão da
Rádio 8 de Dezembro FM e de uma população de 246.929 habitantes do Distrito
de Brasilândia-SP abrangidos pelo raio de transmissão da Rádio Cantareira FM,
considerei que o total de 50 ouvintes pesquisados para cada rádio poderiam dar o
resultado desejado por esta pesquisa, sob a ótica do DSC.
141
9. Resultados.
O quadro teórico de referência colocado considerandou os
conceitos de "sociedade do risco", para se analisar como as rádios observadas
trabalham esse conceito em suas comunidades, e o conceito de
"educomunicação", para se observar o quanto os casos estudados absorvem ou
não esse conceito de comunicação. Os resultados desta pesquisa baseam-se na
gestão destas rádios, em como são elaboradas as suas grades de programação,
no estudo dos programas de rádios escolhidos para análise, por serem os que
tratam de questões de comunicação de riscos e saúde em suas grades, na análise
de alguns programas "Plantão Saúde" fornecidos a ambas rádios pela empresa de
Comunicação OBORÉ e na apresentação dos resultados colhidos junto à
população ouvinte dessas rádios.
As rádios comunitárias não podem ser analisadas em relação a
suas formas de gestão, com um olhar de "gestão empresarial", um olhar que veja
a rádio comunitária como uma empresa que funcione sob os princípios
capitalistas, com os tradicionais conceitos fordistas e tailoristas de administração,
considerando essenciais questões como: hierarquia, organograma vertical,
relações de comando e de subordinação, noção de lucro, mercado, trabalho
assalariado, metas de produção, estratégias de marketing, etc. As rádios
comerciais podem ser observadas sob estes aspectos, uma vez que são
empresas de comunicação e assim, visam o lucro, a audiência para maior venda
de anúncios, propagandas, etc. Portanto, quem se debruçar sobre a gestão de
uma rádio comunitária, não pode fazê-lo com este olhar viciado, de análise de
gestão de uma "empresa" ou de uma rádio comercial.
142
As rádios comunitárias são exatamente o contrário dessa forma de
gestão de empresas de comunicação, pois colocam sob questionamento este tipo
de comunicação funcionalista, apresentando uma forma de gestão participativa;
sem hierarquias rígidas e verticais; sem um organograma rígido, mas flexível; sem
metas baseadas em produtividade, mas em prestação de serviços à comunidade;
sem a noção do lucro, mas com o princípio da solidariedade; sem a necessidade
desenfreada de audiência, mas com o compromisso de uma programação
alternativa às grandes rádios, que valorize a cultura local e o pensamento crítico,
mesmo que sem audiência; sem a noção de trabalho assalariado ou qualquer tipo
de remuneração, mas com o princípio do trabalho voluntário, idealista, da entrega
afetiva à causa da radiodifusão comunitária ("radio-amantes"). Isso pode ser
observado no movimento de radiodifusão comunitária e nos princípios e práticas
de entidades que as representam como a ABRAÇO e a AMARC, não se
desconsiderando, é claro, que possam existir rádios que não se enquadrem
nestes princípios, por não serem comunitárias autênticas, como algumas rádios de
seitas religiosas, que servem à políticos ou a ambições pessoais de indivíduos
que queiram obter lucro, dizendo-se comunitárias apenas pela facilidade de estar
no ar e para não estarem sujeitas a legislações rígidas.
Considerando-se esta noção de gestão adotadas pelas rádios
comunitárias, pôde-se observar nos estudos de casos que as duas rádios
analisadas enquadram-se nessa noção de gestão ou de auto-gestão adotadas
pelo movimento de rádios comunitárias. As rádios comunitárias apresentam
estruturas absolutamente democráticas e participativas, tendo seus organogramas
baseados simplesmente no Conselho de Programadores e na Coordenação de
Programação e estando sujeitas apenas ao estatuto das Associações
Comunitárias da qual fazem parte, estatutos estes que zelam pela participação
143
democrática da comunidade nas rádios através de eleições para os Conselhos de
Programação, entre os próprios programadores das rádios, além de
representantes de entidades da comunidade, como Associações de Moradores,
etc.
A nossa Rádio 8 tem um coordenador de programação, que
atualmente é o Ricardo Campolim, eu sou Coordenadora de Saúde, por participar do
Conselho Municipal de Saúde e estar mais envolvida com estas questões, tem o
coordenador de finanças que é o Toninho Seresta e o Coordenador Técnico que o
Amadeu Pardal e tem os locutores/programadores. A supervisão geral é feita pelo
Ricardo Campolim, mas com total autonomia aos programadores sendo as decisões
administrativas das rádios tomadas em reuniões com todo o pessoal, toda a rádio",
afirma Rose Rabello, programadora da rádio.
39
"Nós tínhamos o conselho de programação e havia momentos em
que nós delegávamos alguma atividade para alguns membros da rádio, por exemplo,
como direção de programação, para quem eventualmente tivesse mais tempo e
condições de contribuir com a organização da rádio. Esta pessoa era destacada para
assessorar, ajudar em todos os programas. Então as pessoas que tinham avançado
mais nesta questão das rádios comunitárias, acabavam ocupando esse cargo que era
temporário, depois passando a outros, mas não precisava de nenhuma capacidade
técnica, não. Isso valorizava a participação de muitas pessoas simples da
comunidade que sentiam-se mais valorizadas e se desenvolviam até como pessoa,
mesmo", afirma o Prof. Edson, membro da rádio.
40
Depoimentos como esse e a análise de documentos da emissora,
mostram que a Rádio 8 tinha uma forma simples de gestão que propiciava uma
fácil e ágil operacionalização da rádio. Possui os programadores (responsáveis e
locutores de cada programa), um o Conselho de Programação, composto por
estes programadores, um Supervisor de Programação que assessora e auxilia os
programadores. Os programadores têm autonomia para tocarem seus programas,
e as decisões sobre programação ou administrativas da rádio são tomadas em
reuniões com a participação de todos, que a princípio ocorriam mensalmente, mas
que atualmente estão ocorrendo a cada dois meses aproximadamente.
39
Relato cedido em entrevista feita em 15/03/2007, com Rose Rabello, uma das programadoras da Rádio 8.
40
Relato cedido em entrevista feita em 20/11/2006, com o Prof. Edson, um dos fundadores da Rádio 8.
144
A participação da comunidade na produção de programas e na
vida administrativa da Rádio 8 é gestionada da seguinte maneira: um membro da
comunidade, no caso morador de diferentes bairros do Município de Vargem
Grande Paulista, começa a ter contato com a rádio, ouvindo sua programação;
inicia sua participação por meio de telefonemas sugerindo músicas ou assuntos,
então começa a visitar a rádio algumas vezes. Nesta fase, o membro da
comunidade pede para participar de algum programa como locutor ou é convidado
por algum locutor para participar de alguns trechos dos programas. Se houver
interesse e houver horários livres na grade, ele é convidado a propor algum tipo de
programa ou então ele mesmo apresenta uma proposta de programa. A proposta
é submetida ao Conselho de Programação e se houver horário livre na grade, ele
começa a fazer o programa. Nesse processo de elaboração do programa, ele
toma conhecimento de aspectos técnicos e editoriais, sendo ensinado por antigos
programadores. Com a sua participação, vai crescendo e sentindo a necessidade
de participar da parte administrativas da rádio e da Associação de Comunicação e
Cultura da Vargem Grande Paulista. Este processo desperta seu interesse para
temas afeitos a questão da rádiodifusão comunitária e a questões de sua
comunidade, fortalecendo sua cidadania.
Sob o aspecto financeiro, a Associação, e a Rádio 8 não têm fins
lucrativos, criando uma dificuldade em manter-se a rádio. Embora existam poucas
despesas, como aluguel da sede, água, luz, material de escritório, manutenção de
equipamentos (que são poucos e simples). Essa gestão financeira da Rádio 8 é
feita através de contribuições pessoais de programadores ou membros da
comunidade, taxa de administração de projetos em parceria com ONGs., ou
Universidades, Secretarias Municipais, Ministério da Saúde, etc. , mas que somam
poucos recursos, pois são projetos esporádicos. Há a renda da venda de "apoio
145
cultural", espaços comerciais vendidos a estabelecimentos da cidade, mas que
também são escassos e baratos, pois poucos comerciantes têm verba para isso,
uma vez que a cidade possui um comércio pobre. Esse processo se desenvolve
da seguinte maneira: cada programador tem a liberdade de conseguir "apoios
culturais" para seu programa entre os comerciantes. Caso consiga, repassa uma
porcentagem para a administração da Rádio 8. Geralmente os programadores
fazem os programas em seu tempo livre, de forma voluntária, tendo outras
atividades profissionais, não se dedicando, assim, integralmente à captação de
recursos. Esse fato e também o fato da rádio manter uma postura independente
políticamente e crítica ao Poder Público os fazem independentes em relação a
possíveis anunciantes, o que também dificulta a entrada de recursos na rádio.
Mas, de uma forma geral, os gastos da rádio são poucos, como já mencionado, e
a gestão da parte financeira não apresenta grandes problemas.
A Rádio Cantareira, se enquadra também na noção de gestão
participativa e democrática adotada pelo movimento de radiodifusão comunitária,
pois à exemplo da Rádio 8, a Cantareira, se organiza de forma horizontal, sem um
organograma rígido, a partir de um Conselho de Programadores e uma
Coordenação de Programação, definidos em um estatuto que zela pela
democracia na escolha deste conselho e desta coordenação, por meio de eleições
entre os membros da rádio e de representantes da sociedade civil da comunidade
de Vila Brasilândia, onde está localizada a Rádio. Em relação à Rádio 8, a Rádio
Cantareira parece ter uma organização mais definida, pois as características de
suas comunidades são diferenciadas. O Distrito de Vila Brasilândia é muito mais
carente do que o Município de Vargem Grande Paulista, o que traz uma tradição
de movimentos sociais e comunitários maior, aliado a uma certa ligação de origem
da rádio com a Igreja Católica, que possui uma tradição na organização de
146
entidades sociais. Todos esses fatores possibilitam uma melhor organização da
Rádio Cantareira.
Os programadores/locutores da Rádio Cantareira possuem cada
um o seu programa, sem interferência direta da Coordenação. Mas as decisões
são tomadas entre todos os programadores, Conselho de Programação e
Coordenação da Rádio em reuniões mensais, onde se decide sobre problemas
nos programas, programas novos, questões técnicas e administrativas das rádios.
Foi observado à exemplo da Rádio 8, uma certa informalidade no arquivamento e
preservação de documentos, roteiros de programas e grades de programação que
possa reconstituir a história da Rádio. A história da Rádio é elaborada por meio de
mais de uma tradição oral de seus integrantes, do que por documentos escritos.
A Rádio Cantareira tem uma Coordenação. No caso somos em 3
pessoas: eu e mais 2 pessoas que fazemos a coordenação da rádio atualmente. Além
disso, temos um grupo de mais 3 pessoas que compõem a Coordenação Financeira e
agora mais recentemente estamos criando mais um grupo de 3 que é a Coordenação
de Formação. Todos essas pessoas mais a equipe de programadores que compõem
o Conselho de Programação, são quem decidem a vida da Rádio, através de reuniões
ordinárias mensais ou reuniões extraordinárias a qualquer tempo, quando
necessidade de se decidir uma coisa urgente, afirma Juçara Zottis, Coordenadora de
Programação da Rádio Cantareira.
41
Ainda, segundo Juçara:
essas equipes aqui descritas da Rádio Cantareira, não se
confundem com a coordenação da Associação Cantareira. A Rádio é apenas um
Projeto da Associação. O Jornal Cantareira, que também é outro projeto da
Associação tem uma equipe parecida com a da administração da Rádio e o Projeto de
Alfabetização de Jovens e Adultos, também tem sua própria coordenação com uma
equipe de educadores que trabalham no Departamento de Educação Popular da
Associação. Além disso a Associação possui também o Departamento de Formação
de Juventude, que realiza cursos de capacitação para jovens da comunidade.
42
41
Relato cedido em entrevista feita em 15/03/2007, com Juçara Zottis, uma das fundadores da Rádio
Cantareira e atual responsável pela programação.
42
Idem.
147
Por esse depoimento, percebe-se que a organização da
Associação e da Rádio Cantareira são mais complexos do que a organização da
Rádio 8 de Dezembro e da Associação de Vargem Grande, mas a forma de
gestão horizontal e participativa são parecidas, obedecendo aos preceitos de
radiodifusão comunitária, e não de uma empresa de comunicação como as rádios
comerciais.
Uma diferença é que a Rádio Cantareira não é filiada à ABRAÇO,
nem à AMARC, apesar de manter claramente os objetivos e características de
uma Rádio Comunitária autêntica.
"Nós somos simpatizantes da ABRAÇO, mas não somos filiados,
pois achamos que a ABRAÇO de São Paulo está muito partidarizada e por isso
não cresce, como a ABRAÇO de outros estados, como por exemplo, Rio Grande
do Sul, que é atuante e forte", afirma Juçara.
A forma de participação da população na Rádio Cantareira é
gestionada da seguinte forma: os moradores do Distrito de Vila Brasilândia
começam a ser ouvintes da Rádio, ao localizarem ela no Dial, por indicação de
amigos ou de entidades como Associações de Moradores, Igrejas, etc. Depois
disso começam então a participar da Rádio eventualmente por meio de
telefonemas ou indo pessoalmente para dar sugestões de músicas e assuntos.
Nesta fase, começam a se inteirar das atividades da rádio e da Associação
Cantareira, despertando interesse de participação, ajudando outros moradores,
vítimas de algum infortúnio através de divulgação pela rádio, participando de
mutirões no bairro convocados pela rádio, etc. Se houver interesse em participar
dos programas, o morador acompanha durante algum tempo a rotina do programa
que mais gosta, no estúdio, ajuda eventualmente o programador em alguma coisa.
148
Por último se ele mantiver o interesse, então faz um Curso de Comunicação
Comunitária que é dado pela Rádio de tempos em tempos com objetivo de
formação técnica, editorial e de cidadania. Feito isso ele apresenta uma proposta
de programa que é discutida pelo Conselho de Programação e sendo aprovada, e
havendo espaço livre na grade, o programa entra no ar. Daí em diante, o novo
programador começa a participar da vida da rádio, da Associação, do Jornal, o
que lhe proporciona grande experiência pessoal e o faz crescer enquanto cidadão.
Essa "aprovação" do Conselho de Programação para um novo
programa entrar no ar, está calcada em critérios de um regimento interno da Rádio
em que os programas devem obedecer princípios como: os assuntos devem tratar
de questões locais, não denegrir a imagem da mulher ou de nenhuma minoria,
não ser racista ou preconceituoso, não veicular músicas no idioma "inglês", etc...
Em relação a gestão financeira, a Rádio Cantareira, a exemplo da
Rádio 8, não tem fins lucrativos e portanto também vive com poucos recursos
financeiros, para cuidar do espaço físico, luz, água, telefone, internet, material de
escritório, gastos eventuais para operacionalisar a emissora, principalmente na
parte técnica. Não há gastos com mão-de-obra, pois todos trabalham de forma
voluntária. Não há gastos com aluguel, pois a Associação possui uma sede
própria, fruto de doação vinda de herança .
Os gastos citados são pagos com fundos angariados pela
contribuição de programadores e membros da comunidade. "Se precisasse pagar
uma taxa mensal, eu pagaria para que a rádio voltasse a funcionar", afirmaram
diversos moradores entrevistados durante esta pesquisa.
Há ainda fundos provenientes de "apoios culturais" do comércio
local, que é ainda mais escasso do que em Vargem Grande para a Rádio 8. O
149
Distrito de Vila Brasilândia tem um comércio muito pobre. Outra forma de
arrecadar recursos é pela administração de projetos sociais como o "Comunidade
Solidária - Formação Solidária", parcerias em projetos com ONGs., etc., mas que
também aportam poucos e eventuais recursos.
A gestão da Rádio Cantareira é de responsabilidade de uma
Diretoria e as decisões e encaminhamentos são tomados coletivamente pelos
comunicadores nos encontros mensais. Há uma Coordenação-Geral e cada
comunicador também contribui com uma ajuda em dinheiro conforme sua
disponibilidade. Não há valor estabelecido para as despesas da rádio, conforme
relata Marcos Gouveia, tesoureiro da Associação Cantareira:
"São promovidas rifas, bingos, festas juninas. Na Cantareira FM há
uma caixa comum que fica no estúdio da emissora onde os programadores colocam
um envelope com o nome do programa e sua contribuição mensal para ajudar a
manter o projeto de comunicação da rádio. Há algumas pessoas da comunidade que
espontaneamente colaboram com alguns trocados para manter a programação. As
comunidades apoiam os eventos, ajudam a organizar promoções para a arrecadação
financeira, são feitas algumas parcerias, seja promoção conjunta com comunidades
ou equipamentos para angariar fundos" (ROSEMBACH, 2006, P. 110).
Vale lembrar que o contexto de Vargem Grande Paulista e de Vila
Brasilândia e os históricos de origem das rádios são bem diferentes, o que faz
com que a gestão da Rádio 8 e da Rádio Cantareira sejam diferentes em alguns
aspectos e tenham nuances particulares, embora apresentem muita coisa em
comum: ambas adotam uma gestão compartilhada com suas comunidades,
características do movimento de radiodifusão comunitária e não de rádios
comerciais que apresentam uma gestão empresarial.
As Rádios Cantareira e 8 de Dezembro têm por base uma
programação baseada em músicas, entretenimento, entremeada com informações
jornalísticas baseadas em uma pauta local, assuntos da comunidade em que
estão inseridas, spots de campanhas de educação e saúde, anúncios
150
institucionais e de apoios culturais do comércio local, convidados entrevistados e
bate papo com ouvintes pelo telefone ou pessoalmente. A seleção musical fica a
cargo do gosto pessoal de cada apresentador e da sugestão de ouvintes,
prevalecendo estilos como sertanejo, forró, pagode e músicas antigas da
preferência da população local, que geralmente simpatizam com estes estilos. Há
algumas inserções de música black e hip-hop.
A Rádio 8 não faz nenhuma restrição à programação musical,
enquanto que a Rádio Cantareira faz algumas restrições à músicas no idioma
"inglês" e a músicas que denigram a imagem da mulher ou preguem preconceito,
racismo e violência. Em ambas as rádios há a valorização de músicos locais que
têm nestas um espaço de expressão e de divulgação de seus talentos. Além
dessas músicas locais as rádios apresentam sucessos comerciais tocados nas
emissoras privadas populares. Prevalece entre a maioria dos comunicadores, o
sentimento de que, sem música, afastarão a audiência. A Rádio Cantareira
preocupa-se um pouco mais em oferecer uma programação alternativa e
conectada com a realidade local e em discutir com seus comunicadores o
significado de cada música que veiculam.
A gente pega músicas que têm, por exemplo, letras que denigrem a imagem
da mulher, racista e coloca um pouco isso em pauta nas reuniões com os
programadores. Por exemplo, a música em inglês a gente sugere, na medida do
possível, para que não seja tocada ou então que as traduza. A maioria do povo aqui
não fala inglês. Você vai falar... vai tocar aqueles blacks americanos para quem? Com
letras ininteligíveis. Não estão sabendo o que escutam. A gente reflete muito isso com
os meninos (Locutores). Tem uns que argumentam: '- Mas, é isso que a galera quer
ouvir, então eu toco...'. Então argumentamos com eles: '- Vocês vão tocar o que a
galera quer ouvir ou vocês querem uma outra proposta... uma outra proposta diferente
para essa galera?'. Então, a gente conversa muito isso, afirma Juçara, coordenadora
de programação da Rádio Cantareira.
As programações das duas rádios analisadas pautam suas
informações jornalísticas e editoriais com a preocupação de falar do bairro, da
cidade, do país e do mundo, passando informações relevantes para suas
151
comunidades, informações que mesmo não relacionadas diretamente com suas
realidades locais, possam dar subsídios para o estabelecimento de uma ponte
com o que acontece no país e no mundo e no que isto reflete em suas realidades
locais. As informações locais são pautadas em sugestões de ouvintes por telefone
ou pessoalmente, de informações passadas pela Prefeitura, Secretarias,
entidades da sociedade civil como Associação de Moradores, Igrejas, Centros de
Saúde, Escolas, etc. As informações sobre o país e sobre o mundo são retiradas
de jornais locais, como Folha de S. Paulo e Estado de S .Paulo, em uma prática
conhecida nas emissoras comerciais como "gilete press": comenta-se assuntos e
temas abordados por notícia de jornal no ar, fazendo conexões com situações do
bairro ou recorta-se as notas e pequenas notícias e se lê no ar na íntegra,
simplesmente.
A Rádio Cantareira pauta-se muito por assuntos religiosos ou
notícias da comunidade enviadas por Igrejas e pastorais. Outra diferença entre
esta e a Rádio 8 é que a Cantareira apresenta alguns programas religiosos como
"Ave Maria", todas as tardes, comentando trechos do evangelho sob a ótica da
teologia da libertação, embora a Rádio 8 também tenha um programa religioso: "A
Grandeza de Deus".
As duas rádios também têm programas que tratam das questões
de saúde, como o "Rosa Choque" da Rádio 8 e o "Comunicação e Saúde" da
Rádio Cantareira (programas que serão objetos do próximo capítulo desta
pesquisa), mas independentemente desses programas, abordam informações
sobre saúde em toda a programação através de spots e programetos enviados por
órgãos do governo federal, estadual e municipal e por organizações não-
governamentais, além dos programas "Plantão Saúde" enviados pela empresa de
Comunicação OBORÉ. Estes programas pautam-se em entrevistas com médicos,
152
especialistas de Universidades, dando dicas de prevenção de doenças em geral,
dengue, AIDS, gravidez precoce, etc.
Diferentemente do que ocorre nas rádios comerciais, a
participação do ouvinte não fica restrita apenas a telefonemas sugerindo músicas
e oferecimentos. O público ouvinte é estimulado a dar opiniões sobre temas que
estão sendo abordados nos programas e por conhecerem o estilo adotado pela
rádio, já ligam com intenção de opinar, denunciar desmandos do Poder Público e
comentar notícias, até sugerindo temas para outros programas.
Em ambas as rádios os comunicadores eram ex-ouvintes que
tornaram-se comunicadores e por isso não possuem uma formação técnica em
radialismo ou acadêmica em jornalismo. Poucos têm nível superior, mas as rádios
não se preocupam com isso. Pelo contrário, querem que o próprio povo se
expresse com sua oralidade, portanto, não se exige "voz de locutor", nem
treinamentos de dicção. A Rádio Cantareira apresentou uma preocupação na
formação dos programadores / locutores, oferecendo-lhes sempre cursos de
capacitação em comunicação comunitária, que abordam desde aspectos
ideológicos de análise da conjuntura, até técnicas de jornalismo, mas sempre
preservando uma comunicação direta, simples na mesma linguagem de seu
público entre os comunicadores.
153
Grade de programação da Rádio Cantareira FM 107,5
Segunda-feira
Horário Programa Locutor
18hs. Ave Maria Antonio Francisco
18:20hs. Espaço das Comunidades Antonio Francisco
19hs. Alegria Geral Alberto dos Anjos
20 às 22hs. Agito Geral Daniel Henrique e equipe
Terça-feira
18hs. Ave Maria Juçara e equipe
18:20hs. Espaço das Comunidades Pde. Bragheto
19hs. Musical MPB Gravado
20 às 22hs. Magia Musical Aguinaldo Rigatti
Quarta-feira
18hs. Ave Maria Pastoral da
Criança/Catarina
18:20hs. Espaço das Comunidades Pastoral da
Criança/Catarina
19hs. Musical MPB Gravado
20 às 22hs. Você sabia? Anilson Brito/Neco Silva
Quinta-feira
18hs. Ave Maria Juçara e equipe
18:20hs. Espaço das Comunidades Juçara e equipe
19 às 22hs. Amizade Aberta Anderson Braz
Sexta-feira
18hs. Ave Maria Marlene e equipe
18:20hs. Espaço das Comunidades Marlene/Terezinha
19 às 22hs. La Voz de America Edwin Soria
Sábado
7hs. Festa Sertaneja Osny Salvador
9hs. Meu Caro Amigo Gilberto Cruz
10hs. Programa de Informes Equipe da Rádio
11hs. Comunicação e Saúde Regina, Ari e Rafael
Galvão
13hs. Pense e Dance Geneis Maciel
14hs. Dance e Balance Anilson Brito
16hs. Magia Musical Equipe: Guina, Jorge,
Ronaldo
154
18hs. Ave Maria Juçara
18:20hs. Espaço das Comunidades Juçara e equipe
19hs. Point 2000 - Versão 2005 Anderson Pinheiro
20 às 22hs. Corujão Sertanejo Luiz Sebrian/Assiz
Domingo
7hs. Sucesso na Cantareira Formigão/Souza
9hs. Doce Saudade Formigão/Souza
11hs. Dinamite de Amor Nelson Sampaio
13hs. Forró Gostoso Jorge dos Santos
14hs. Postal Sonoro Jorge dos Santos
15hs. Moacir Silva Moacir Silva
18hs. Ave Maria Juçara
18:20hs. Espaço Comunidades Juçara
19hs. Golaço Daniel Henrique e equipe
20 às 22hs. Tempos Dourados Luiz Sebrian
155
Grade de programação da Rádio 8 de Dezembro FM 98,7
De Segunda a Sexta-feira
Horário Programa Locutor
6:30 às 8:30hs. Alma Sertaneja Wilson Lopes
8:30 às 9:30hs. Livre
9:30 às 12hs. Rosa Choque Rose Rabello
12 às 13hs. Livre
13 às 15hs. Radar Basílio
15 às 16:30hs. Ana Fernanda com Você Ana Fernanda
16:30 às 18:30hs. Izaias dos 8 baixos Izaias
18:30 às 20:30hs. rio do Vale Adilson
20:30 às 22hs. Livre
22 às 0hs. A Grandeza de Deus Marcelo
Sábado
6 às 8hs. Porta lda Vida Nicolau
8 às 10hs. Livre
10 às 12hs. Sábado Livre Pardal
12 às 14hs. DJ Aladin Aladin
14 às 16hs. A Tarde é Nossa Paulo Santos
16 às 18hs. Saindo do Anonimato
através do rádio
Toninho Seresta
18 às 20hs. Joel Jr. Joel
20 às 22hs. Livre
22 às 0hs. Blackout Everton
Domingo
6 às 8hs. Portal da Vida Nicolau
8 às 11hs. Chapéu de Palha José Vitor
11 às 12hs. Livre
12 às 14hs. A Grandeza de Deus Marcelo
14 às 0hs. Livre
Obs.: Horário livre está disponível, enquanto não está ocupado fica com músicas e apoios
programados.
Conforme exposto anteriormente, as grades de programações das
duas rádios analisadas apresentam programas de estilos variados que vão do
entretenimento com músicas ao jornalismo com notícias, entremeados com
vinhetas institucionais e anúncios de apoio cultural do comércio local.
156
A preocupação com informações sobre saúde na programação é
intencional e fica bastante explícita nas falas dos membros das rádios.
"Especificamente sobre saúde, um só, que era o programa
Comunicação e Saúde, coordenado pela Regina, o Ari e o Rafael. Mas, os outros
programas a gente colocava vinhetas de campanhas, dava informes rápidos. O
próprio Gilberto que tinha o programa Meu Caro Amigo, fazia programa de debates.
Então, entre esses programas de debates ele elegia temas. Várias vezes elegeu a
saúde, meio ambiente, colocou temas e debates relacionados à saúde nesse
programa. O Nilson Brito também, no programa que ele fazia – Pense e Dance -
também elegia temas e chamava pessoas para debater esses temas de saúde de vez
em quando. Então, em diversos programas havia informações sobre saúde" (Juçara
Zottis, Rádio Cantareira).
43
"...Entendemos saúde também como um processo mais amplo.
Quando a gente trabalha na questão da qualidade de vida, você vai ver que a saúde
perpassa este tema também em quase todos os programas. Porque a saúde está
presente também no gênero musical..." (Juçara Zottis, Rádio Cantareira).
44
"...Agora, o programa da cidade já era uma comunicação mais
próxima porque os ouvintes estavam informados daquela situação, poderia ser, por
exemplo: uma reunião de conselheiros da saúde, a gente gravava, colocava no ar,
discutia. Enfim, poderia ser um evento do município. Alguma coisa assim..."(Prof.
Edson, Rádio 8).
45
"Nós tínhamos uma ligação com o posto de saúde, e lá nós
tínhamos uma pessoa que mandava as notícias da saúde que eram colocadas na
rádio. E ela tinha um programa de saúde que fazia e comunicava os problemas de
saúde do município. Era o “Plantão de Saúde”. E ela se encarregava, mas... porque
ela mandava o material que eram inseridos não apenas nesse programa específico de
saúde, mas era colocado em outros programas da rádio: trechos, ou avisos, ou
propaganda, ou ensinamentos de como controlar uma doença. Enfim, era
disseminado na programação ..."(Prof. Edson, Rádio 8).
46
Tínhamos até 2003 o programa "Plantão Saúde" recebido pronto
pela OBORÉ só para colocarmos nos ar, mas atualmente não recebemos mais. Hoje
temos a Rose Rabello que é conselheira municipal de saúde de Vargem Grande e
que traz todas as informações sobre saúde do Conselho e da Secretaria e coloca no
ar (Ricardo Campolim, Rádio 8).
47
43
Ibdem
44
Ibdem
45
Relato cedido em entrevista feita em 20/11/2006, com o Prof. Edson, um dos fundadores da Rádio 8.
46
Idem.
47
Relato cedido em entrevista feita em 15/05/2006, com o Prof. Ricardo Campolim, um dos fundadores e
atual coordenador de programação da Rádio 8.
157
Pelo o que estes depoimentos demonstram, a preocupação em
disseminar informações sobre saúde está presente em toda a programação das
Rádios, mas concentra-se mais em dois programas, um de cada rádio analisada.
A Rádio Cantareira veicula em sua grade o Programa
"Comunicação e Saúde"
48
, bem específico sobre questões de saúde e a Rádio 8
veicula em sua grade o Programa "Rosa Choque"
49
, que caracteriza-se por ser
uma revista de variedades, e não um programa específico sobre saúde, mas que é
o programa da rádio que mais concentra informações sobre saúde em sua grade.
O Programa "Comunicação e Saúde" da Rádio Cantareira foi
veiculado enquanto a rádio estava no ar, todo Sábado, das 11 às 14h. Era
produzido e apresentado pela Enfermeira Regina Galvão, por seu marido, o
Químico e Sindicalista Ari Galvão e pelo Rafael Galvão, 13 anos, filho do casal.
Tinha o objetivo de informar a população de como é possível
prevenir-se de doenças. Os cuidados com a água, os alimentos, estresse,
campanhas de vacinação e outros. O formato era de programa jornalístico com
debates ao vivo no estúdio com pessoas da comunidade convidadas, especialistas
em determinados assuntos sobre saúde, médicos dos Centros de Saúde e do PSF
da Vila Brasilândia. Havia também entrevistas gravadas de médicos especialistas
sobre o tema do dia abordado no programa. Além disso, veiculava vinhetas da
rádio, apoios culturais, spots e algumas notícias e recados gravados.
A Regina era quem falava de questões de saúde, usando como
fonte para suas pautas notícias que trazia do Hospital Brigadeiro, onde trabalha
como enfermeira, notícias passadas por médicos do próprio Hospital Brigadeiro,
48 Veja na Seção de Anexos desta Monografia, a transcrição de um dos Programas "Comunicação e Saúde"
49 Veja na Seção de Anexos desta Monografia, a transcrição de um dos Programas "Rosa Choque"
158
dos Centros de Saúde, de agentes de saúde do bairro, sugestões e demandas de
ouvintes e moradores da Brasilândia, que sugeriam assuntos e temas, ou ainda as
notícias retiradas de jornais e revistas da grande imprensa.
O Ari tratava de divulgar notícias gerais da comunidade e discutir
políticas públicas nas áreas de saúde, saneamento, meio ambiente, etc, tendo
como pauta notícias trazidas de seu Sindicato (Químicos de São Paulo), da
imprensa sindical e de movimentos populares como o MST. Usava as datas
comemorativas publicadas na agenda do MST para pautar cada dia de seu
programa.
O Rafael cuidava da sonoplastia, operação de som e do fundo
musical do programa composto basicamente por MPB, sertanejo raiz e músicas
infantis.
O Programa "Plantão Saúde" fornecido pela OBORÉ era utilizado,
mas apenas para as vinhetas durante o programa. Regina fez uma capacitação no
Curso de Saúde Pública para Comunicadores de Rádios Comunitárias, promovido
pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP em 2001.
Segundo integrantes da Rádio e os próprios programadores, a
rádio ajudou muito a mobilizar a população para combater uma epidemia de
dengue que ocorreu na Brasilândia em 2001-2002, também ajudou a mobilizar a
população para denunciar e exigir do Poder Público uma solução para casos de
leptospirose que começaram a ocorrer em função da falta de saneamento,
esgotos a céu aberto e consequente proliferação de ratos. Depois da denúncia, a
Prefeitura fez uma desratização nos córregos da região. O Programa também
ajudou a reverter uma situação de falta de médicos nos Centros de Saúde e UBS
do Jd. Guarani e Sta. Terezinha, Distrito de Vila Brasilândia. Outra contribuição do
159
Programa foi a denúncia de um depósito de lixo clandestino que estava ocorrendo
na Serra da Cantareira. A denúncia pela rádio e pelo Jornal Cantareira atraiu a
atenção da grande mídia e do Poder Público, fazendo com que a Prefeitura
interditasse o aterro clandestino.
O Programa "Rosa Choque" da Rádio 8 de Dezembro é
veiculado de Segunda à Sexta-feira, das 9h30 às 12hs., produzido e apresentado
pela programadora Rose Rabello e convidados.
Trata-se de um programa de variedades, direcionado à mulher,
dona de casa que costuma ouvir a rádio nesta hora da manhã enquanto está
cuidando da casa, mas também é bastante ouvido pelo comércio local, pois
apresenta entretenimento, músicas, notícias da cidade, serviços e utilidade
pública. Caracteriza-se por apresentar pautas sobre saúde, uma vez que sua
apresentadora, Rose Rabello, também é membro do Conselho Municipal de
Saúde, além de fazer parte do Programa Municipal Bolsa Família.
A primeira meia hora do programa é composta por músicas,
geralmente das décadas de 70 e 80, entremeadas com músicas atuais, rock, MPB
e sertaneja, quando o público pede. Na Segunda meia hora entram informações
locais, também com assuntos relacionados à saúde. Depois vem a primeira parte
do "astral", dividido em três blocos, que é uma taróloga que fala sobre assuntos
místicos.
As notícias são pautadas em jornais do dia, sugestões de
ouvintes, informações da Secretaria Municipal de Saúde, informações do
Conselho Municipal de Saúde, notícias do cotidiano em geral. Depois vem um
bloco de receitas, mais ou menos às dez e meia da manhã. E entre esses horários
há os pedidos dos ouvintes, pelo telefone dando sugestões de músicas e
160
assuntos. Nessa parte do Programa a apresentadora Rose coloca os ouvintes no
ar sem limitações, como numa tribuna livre. "Tem gente que liga para reclamar,
tem gente que pede ajuda. Tem denúncias..."
50
.
O Programa Rosa Choque tem uma característica de prestação de
serviços, de utilidade pública em relação à seus ouvintes. Já veiculou campanhas
de combate à Dengue, denunciou a falta da campanha do exame papanicolau na
cidade de Vargem Grande, a falta de médicos no Pronto Socorro, já ajudou
pessoas a conseguirem doadores de sangue, informou sobre os serviços que o
Pronto Socorro e as UBSs. prestam, etc.
As rádios analisadas utilizam-se muito de fitas cassete recebidas
pelo Projeto Plantão Saúde
51
, da Empresa de Comunicação OBORE. Tratam-se
de fitas cassetes recebidas periodicamente pelas rádios comunitárias com
programas prontos e formatados sobre diversos temas de saúde, com caráter
informativo de prevenção. Possui um formato jornalístico, com entrevistas de
especialistas na área da saúde, vinhetas institucionais e espaços para comerciais
locais. O programador da rádio as recebe e pode colocá-las no ar na íntegra,
como se fosse um programa inteiro ou em pedaços durante a programação diária
da rádio, funcionando como vinhetas.
O Projeto conta com a eficácia do rádio e com o empenho dos
radialistas na disseminação de assuntos ligados à prevenção e propõe-se a
colaborar na formação desses comunicadores para o controle social das políticas
50
Relato cedido em entrevista feita em 15/03/2007, com Rose Rabello, uma das programadoras da Rádio 8.
51 Fonte: www.obore.com, acessado em 03 de maio de 2007-05-04
161
de saúde orientadas pelo Sistema Único de Saúde – SUS. A Rede de
Comunicadores pela Saúde conta com a adesão voluntária de emissoras
comerciais e comunitárias, em todo o Brasil, na transmissão regular do Plantão
Saúde, um programa de 8 minutos, semanal, criado em julho de 99 por inspiração
e incentivo dos Drs. Adib Jatene e David Capistrano Filho, que desafiaram a
equipe da OBORÉ a apontar ações na área da comunicação popular que
pudessem contribuir na divulgação das políticas públicas de saúde e no
fortalecimento dos princípios do SUS.
Os programas são divididos em dois blocos para facilitar a
inserção de publicidade local e suas pautas privilegiam a prevenção e promoção
da saúde, alinhando-se às campanhas regulares do Ministério da Saúde. São
distribuídos mensalmente, pelo Correio, junto com mais duas Entrevistas
Exclusivas e uma Carta Falada com comentários de pesquisadores, especialistas,
dirigentes e profissionais da saúde, de forma a capacitar os radialistas a tratar dos
temas em destaque no mês, dando-lhes mais elementos para enriquecer as suas
pautas e os seus comentários no ar.
Atualmente, as 577 emissoras parceiras da Rede cobrem, no
conjunto, 4.131 municípios e alcançam algo em torno de 30 milhões de ouvintes.
Contabilizando-se as reprises, o Plantão Saúde vai ao ar, mensalmente, 8.120
vezes. São 64.960 minutos de transmissão, com dia e hora definidos.
O monitoramento da Rede de Comunicadores pela Saúde é
baseado no Modelo de Avaliação Permanente© (MAP), ferramenta de gestão
especialmente desenvolvida para as redes temáticas de parceria e cooperação da
162
OBORÉ e reconhecida academicamente como um método científico e alternativo
às tradicionais formas de medição de resultados de ações de comunicação e
educação em rádio.
Aos radialistas parceiros são reservadas vagas nas atividades de
capacitação promovidas pelo Núcleo de Cursos da OBORÉ, especialmente nos
encontros com profissionais da saúde. O projeto se completa com cursos sobre
como falar com a imprensa para dirigentes e profissionais da área da saúde.
PROGRAMA PLANTÃO SAÚDE É VEICULADO PARA:
577 emissoras parceiras
8.120 veiculações mensais
4.131 municípios alcançados
30 milhões de ouvintes potenciais
168 rádios comerciais
1.568 veiculações mensais
409 rádios comunitárias
6.552 veiculações mensais
A Rádio 8 utilizava como um programa na íntegra e também como
vinhetas distribuídas na programação, mas nos últimos anos não tem mais
recebido tais fitas, não os utilizando mais.
A Rádio Cantareira os utilizava enquanto estava no ar, em trechos
durante a programação e principalmente durante o programa “Comunicação e
Saúde”, intercalando com sua própria programação local e como vinhetas
intercalando durante outros programas.
163
Apresentação de resultados colhidos junto à população ouvinte
Os ouvintes entrevistados, depois de vencida a fase de
desconfiança para com o entrevistador e se estabelecendo uma relação de
confiança mútua entre os dois lados, muitas vezes eram contaminados pelo poder
da oralidade, pela importância que sentiam em poder estar sendo ouvidos,
expressando-se, e a lembrança da existência da rádio os faziam relembrar suas
relações com a rádio, as relações sociais e afetivas que foram estabelecidas por
intermédio da rádio com outros ouvintes ou mesmo com programadores que
também eram da comunidade, o que fazia com que aflorassem suas emoções,
como ocorreu com Dra. Clara, moradora do Jd. Guarani, que se emocionou e
chorou ao ser entrevistada e lembrar da Rádio Cantareira que está fora do ar há
um ano. Muitos moradores e ouvintes da Rádio Cantareira aproveitavam a
entrevista para cobrarem, indignados, a volta da rádio ao ar.
Minayo (1992) considera que "histórias de vida" são "instrumentos
privilegiados" para a interpretação do processo social, a partir das pessoas
envolvidas, sendo as experiências subjetivas dados importantes que "falam além e
através dela"(p. 126-127).
164
Resultado dos Discursos Coletivos com a população entrevistada,
ouvintes das duas rádios analisadas a respeito do conhecimento que tem
sobre as emissoras.
Pergunta 1: Você ouve a Rádio 8/Cantareira? Com que freqüência?
Em relação a esta questão, verificou-se que dos 106
entrevistados, 38 (35,85%) responderam que já ouviram as rádios algumas vezes,
32 (30,19%) responderam que ouvem as rádios diariamente, 18 (16,98%)
responderam que ouvem as rádios nos finais de semana e também outros 18
(16,98%) responderam que ouvem as rádios de duas a três vezes por semana.
Discursos Coletivos das rádios analisadas:
Idéias Centrais DSC
A = Algumas vezes
Sim. .Conheço. De vez em quando. Não escuto todo dia. Uma
vez por semana. Uma freqüência bem pequena. Mas eu ouço,
quando eu estou em casa, que eu tenho tempo, que eu não
estou trabalhando. Raramente. Um pouco mais. É difícil às
vezes eu ouvir. Eu não fico ouvindo freqüentemente. Uma vez
por mês. Pouca. Não sempre, que às vezes não dá tempo. Eu
estou ouvindo música, às vezes passo por ela, está passando
uma música legal, eu deixo, fico escutando. Mas não ouço mais,
não. É difícil. Já ouvi, mas não ouço, não. Não gosto. A rádio
aqui da cidade? Ah, de Vargem Grande. Ouvi uma vez só.
Rádio, na verdade, dificilmente eu ouço. Era de quinze em
quinze dias, mais ou menos. É a que mais ouvia. Eu ouvia
sempre quando eu sintonizava no dial. Olha, eu devo ter ouvido
acho que umas quatro vezes por mês, no caso.
B = Diariamente
Ouço. Duas vezes por dia. A gente escuta todo dia. Wilson
Lopes. O rádio da firma fica ligado. Direto eu ouço. Eu escuto
bastante. Sim, senhor. Ah, toda hora a gente está apanhando.
Minha mãe é o dia todo. Eu, na parte da manhã. Sempre que eu
ligo... É difícil eu pegar no meu radinho, porque ele é simples.
Mas sempre que eu ouvi... Eu gosto. Oito de Dezembro. Sempre
eu ouço ela. Toda noite. Porque eu trabalho à noite. Hum, hum.
Isso é direto. Eu tenho que arrumar meu rádio, que está ruim.
Mas quando está bom... Já liguei. Antes eu ouvia todo dia. Agora
eu comecei a trabalhar. Já. Quase diariamente, que na estrada a
gente trafegando para lá e para cá, até o alcance da rádio
comunitária - onde ela alcança -, a gente costuma ouvir. Ouvia
165
direto a Cantareira FM. Desde o começo. Até que o meu rádio
quebrou, e depois não liguei mais. O tempo que ela tava no ar
eu tava, com certeza, ouvindo. Muito. Eu ouvia mais de uma
vez... Toda semana eu ouvia um pouco. E como ouço! Eu ouvi a
Rádio Cantareira faz uns... A gente ouvia quase todo dia. Já,
antigamente. Se eu estava parado, eu ouvia todo dia! Todo dia à
tarde eu estava ouvindo o Cílto. À noite, mais à noite.
C = Fim de semana
Ouço. É variado. Ouço rádio só no final de semana. Sempre que
eu estou em casa, Sábado e Domingo. As vezes, ouvia. Já tem
algum tempo que eu não ouço, porque eu estou trabalhando em
período integral. Então chego em casa de noite, não dá mais.
Mas chega final de semana, eu costumo ouvir. Muitas vezes.
Depende, mais quando eu fico em casa, no Sábado e Domingo.
E a noite., quando está em casa mesmo. Porque, trabalho
durante a semana. Já ouvi, mas não cheguei a pegar todas as
programações. Porque, na semana, não estou em casa. Já
ouvi, muito! Eu era fã, ainda. Que era de manhã, às onze horas,
parece, não é?
D = De 2 a 3 vezes
por semana
Ouço. Bom, durante a semana, digamos que, duas vezes por
semana.Algumas vezes. Umas três vezes por semana. De vez
em quando. Porque eu fico aqui de Segunda e Terça. Que nós
não pára em casa. É que sempre a gente está saindo. Eu
conheço. Então não tem como você assimilar as coisas aqui.
Com os problemas que tem para resolver, fica difícil. Várias
vezes sim.
Discursos Coletivos da Rádio 8 de Dezembro de Vargem Grande Paulista:
Idéias Centrais DSC
A = Algumas vezes
A rádio aqui da cidade? Ah, de Vargem Grande. Sim. Ouço de
vez em Quando. Não escuto todo dia. Uma vez, duas por
semana. Quando eu estou em casa, que eu tenho tempo, que
eu não estou trabalhando. É difícil às vezes eu ouvir. Quando eu
estou ouvindo música, às vezes passo por ela, está passando
uma música legal, eu deixo, fico escutando. Rádio, na verdade,
dificilmente eu ouço.
.
B = Diariamente
Oito de Dezembro. Sempre eu ouço ela. Eu escuto diariamente,
um, duas vezes por dia, as vezes pela manhã, as vezes à noite.
Quando estou na firma, pois o rádio da firma fica ligado. Ouço o
Wilson Lopes. Toda hora a gente es apanhando. Minha
mãe é o dia todo. Quando estou em casa, é difícil eu pegar no
meu radinho, porque ele é simples. Eu tenho que arrumar meu
rádio, que está ruim. Mas quando está bom, eu ouço todo dia.
Eu já ouvi várias vezes. Já liguei. Quando estou na estrada
também. A gente trafegando para lá e para cá, até o alcance da
rádio comunitária - onde ela alcança -, a gente costuma ouvir.
166
C = Fim de semana
Ouço. É variado. Mais nos finais de semana, sempre que eu
estou em casa, pois eu trabalho em período integral e só chego
em casa à noite, então só dá para ouvir no Sábado e no
Domingo. Já tem algum tempo que eu não ouço.
D = De 2 a 3 vezes
por semana
Ouço. De duas a três vezes por semana porque nós não
paramos em casa. É que sempre a gente está saindo. Se não
ouvirmos, não temos como assimilar as coisas aqui de Vargem
Grande. Mas com os problemas que temos para resolver, fica
difícil ouvir sempre.
167
Discursos Coletivos da Rádio Cantareira de Vila Brasilândia:
Idéias Centrais DSC
A = Algumas vezes
Já ouvi algumas vezes. Não ouço todo dia, mais ou menos uma
vez por semana. Quando estava no ar eu ouvia algumas vezes,
mas era a que eu mais ouvia, quando eu estava em casa. Faz
tempo que eu não ouço.
B = Diariamente
Quando a Rádio Cantareira estava no ar eu ouvia diariamente,
desde o começo, mais de uma vez por dia. Todo dia ligava lá.
Até que o meu rádio quebrou, e depois não liguei mais. Eu ouvi
a Rádio Cantareira faz uns... Eu acho que tem mais de cinco
anos para trás que eu ouvi a Rádio Cantareira. Se eu estava
parado, eu ouvia à tarde o Cílto Também ouvia à noite, mais à
noite.
C = Fim de semana
Depende... mais quando eu ficava em casa, no Sábado e
Domingo. Umas 2 vezes no final de semana, quando estava em
casa mesmo. Mas não cheguei a pegar todas as programações,
porque trabalho durante a semana, então não fico em casa. Já
ouvi, muito! Eu era fã, ainda sou.
D = De 2 a 3 vezes
por semana
Sim. Geralmente umas 2 ou 3 vezes por semana. Não ouvia
muitas vezes. Era mais ou menos isso.
Percebe-se pela análise deste Discurso do Sujeito Coletivo (DSC),
expressa na idéia central (IC) "algumas vezes”, que a pessoa entrevistada tem
conhecimento da existência da rádio na cidade ou no bairro e que pelo menos
algumas vezes já ouviu ou ouve a rádio por motivos como "ter tempo livre" ou
"estar em casa" ou para "ouvir música". Portanto, este tipo de ouvinte procura
entretenimento e não tem uma relação muito próxima com a rádio, mas mesmo
assim conhece um pouco de sua programação.
Quando fazemos a variação por grupos, considerando-se as duas
rádios analisadas separadamente, não fica muito explícita a diferença entre as
duas rádios, pois o DSC da Rádio 8 e da Rádio Cantareira expressa em números
de vezes parecidos os mesmos motivos pelo qual se ouve a rádio.
168
Já o DSC que expressa idéia central (IC) "diariamente" dos
ouvintes das duas rádios analisadas revela uma proximidade e fidelização maior
destes ouvintes às rádios analisadas, pois eles dão ênfase ao fato de ouvirem
diariamente, lembram e citam programas de locutores como "Wilson Lopes" e
"Cilto", os nomes das rádios, o que revela uma mediação maior entre as
emissoras e seus receptores.
Quando se estratifica a amostra por ouvintes das duas rádios
separadamente, tem-se a percepção de que a Rádio Cantareira tem ouvintes mais
fiéis, pois citam mais o nome da rádio do que os ouvintes da Rádio 8, que não
conseguem sempre identificar o nome "8 de Dezembro" com a rádio que existe na
cidade. Só fazem esta associação por ser a única rádio existente na cidade.
Quanto a IC "Fim de semana", expressada pelo DSC dos ouvintes
das duas rádios analisadas, percebe-se a exemplo da IC "Algumas vezes", que
estes ouvintes, apesar de reconhecerem a existência da rádio em seus bairros,
não têm uma relação muito próxima com a mesma, escutando-a apenas nas horas
de descanso (finais de semana) de forma esporádica. Cabe revelar que a soma
destas duas ICs. perfaz a maioria dos ouvintes entrevistados, ou seja 69,81% dos
mesmos, mostrando que apenas a minoria dos ouvintes, ou aproximadamente
30%, tem uma fidelização maior às rádios. A maioria ouve apenas como
entretenimento, de forma transitória, e sem uma intenção mais séria de se
informarem.
Neste aspecto, mesmo quando se analisa os DSCs das duas
rádios separadamente, percebe-se que os ouvintes da rádio Cantareira são um
pouco mais próximos à rádio, devido a existência de expressões como "ouvia
muitas vezes" e "eu era fã, ainda sou". Considerando-se que a Rádio Cantareira
169
está fora do ar há dois anos, é surpreendente ouvir este tipo de afirmação, pela
memorização que os ouvintes ainda tem em relação à emissora.
Finalmente, em relação à IC "de 2 a 3 vezes por semana",
expressa um meio termo em relação as outras Ics., pois estes ouvintes revelam
conhecer a rádio e a incorporam em suas vidas e rotinas, ouvindo quando podem,
revelando uma proximidade média com a vida da rádio.
Quando se analisa individualmente os DSCs dos ouvintes das
duas rádios, não percebe-se tantas diferenças entre os números de vezes que
estes ouvintes ouvem tais rádios e entre os motivos que os movem a ouví-las.
170
Resultado dos Discursos Coletivos com a população entrevistada,
ouvintes das duas rádios analisadas a respeito do conhecimento que tem
sobre as emissoras.
Pergunta 2: O que você acha da Rádio 8/Cantareira? Fale um pouco sobre
ela:
Em relação a esta questão, verificou-se que dos 106
entrevistados, 20 (18,87%) responderam que gostam simplesmente, 25 (23,58%)
responderam que gostam para ouvir notícias locais, 24 (22,64%) responderam que
gostam pela diversidade de temas, 18 (16,98%) responderam que gostam para
ouvir músicas, 10 (9,43%) responderam que gostam mas acham que poderia
melhorar, 5 (4,72%) responderam que gostam pelos programas religiosos e
finalmente 4 ( 3,77%) responderam que não gostam.
Discursos Coletivos das rádios analisadas:
Idéias Centrais DSC
A = Não gosta.
Porcaria. Eu não gosto. Não gostei, não. Sei lá, tem que
evoluir mais um pouco. Por estar iniciando, falta mais
incentivo, mais recursos também. Parece que não tem
muitos recursos. Eu acho que tem uma programação de
emissora pequena, meio fraca. Eu não vejo nenhuma
expressão nas programações. Não sei se a gente deve
comparar com outras rádios.
B = Gosta.
Eu gosto. É da hora! Tem uma boa sintonia. Depende da
programação e do horário, mas eu gosto. Acho bacana,
legal, porque tem bastante coisa boa para a gente curtir e
se a gente precisa ligar, a gente liga para pedir uma
música, para falar qualquer coisa. Eles atendem. Já tenho
participado por telefone, tudo. Ela era muito interessante,
eu aproveitava muito as coisas. Eles falavam de datas
comemorativa, que hoje em dia as pessoas esquecem. Se
pergunta pra uma criança: "-Que é que vai acontecer
agora dia 21 de Abril?", eles não sabem, e sempre tavam
falando, sabe? Ajuda bastante, incentiva bem. A Rádio
Cantareira tá fazendo muito falta no bairro aqui, né? É
uma rádio muito ouvida aqui. É um meio de comunicação,
171
tipo assim, mais prático. Porque a gente que é do bairro
aqui, a gente não tem como ir numa Bandeirantes, numa
Globo... então uma rádio no bairro seria mais importante.
A rádio é um meio de comunicação muito importante na
vida de cada um. Mesmo com a vinda da televisão, da
internet, as pessoas nunca deixaram de ouvir o rádio.
Nem todo mundo pode ter um computador em casa,
assim, ligado na internet, uma televisão. E o rádio é
sagrado. Toda casa que você chega é difícil não ter um
rádio lá pra ouvir. Como ela é uma rádio pequena, de
porte pequeno, é num bairro, eu acho que é boa. Ela
atende às necessidades que ela pode comportar, no nível
de estrutura. Ela tem tudo que uma rádio tem que ter, pelo
que eu vi lá quando eu fui visitá-los. E acompanhei os
programas também dos colegas. Pessoal maravilhoso,
tanto os comunicadores como também os produtores lá,
os diretores da Radio, São pessoas gente fina, que dá a
maior força. A gente ouvia com satisfação a Radio, com
certeza. Porque passava informação do bairro, da nossa
comunidade. E isso é muito importante, não é, meu? Tem
gente que não gosta, mas ela fala de até que quem não
gosta é para ligar para ela e falar que não está gostando.
C = Gosta para
ouvir músicas.
A Rádio era legal, veio! Não é uma rádio boba. É boa sim
porque, passa alguns programas, músicas constantes,
não tem muito intervalo que nem as outras. Eu acho
bacana. Eu acho boa a programação. Eu gosto das
músicas. A transmissão toda é boa. Tem umas músicas lá
que a gente passa e ouve... Exclusive minha sogra já
conseguiu ganhar CD lá. Gosto de uma seção que toca as
músicas mais antigas, umas músicas bem lights. Eu acho
legal, principalmente para o pessoal de mais idade. Eles
ouvem bastante. A parte da manhã geralmente eu escuto
quando está naquela parte de sertaneja. É só esse
período que eu escuto, porque eu gosto. É raiz. Essa
seção é a que eu ouço. É uma boa atração, é um evento
da cidade, tem coisas boas. Eu gosto das músicas que ela
solta, tipo caipira, sertaneja. É até um laser. Um
divertimento. O atendimento está bom. Ela tem locutor
legal que sabe conversar. Tocava muita música antiga,
assim, essas músicas da Jovem Guarda. Gostava muito.
Para estar falando na Radio ao vivo. Eu gosto muito das
músicas. Tem umas músicas muito gostosas de você
ouvir. Bem... Bem pra frente. Sertaneja. E a freqüência aí
é boa. Por causa das músicas também. Programa de
Domingo, tinha o Formigão! Conheço ele pessoalmente.
Eles estavam sempre no mercado do Yoshiro aí. Fazendo
negócio de cesta básica no Domingo.
D = Gosta par ouvir
notícias locais
Ela é boa, fala muito das coisas de Vargem Grande. Só
fica sintonizado nela. É uma rádio legal. Passa bastante
propaganda aqui da própria cidade. Acho interessante
isso, divulgar bastante o comércio aqui da Vargem.
172
Precisava ter uma rádio aqui em Vargem Grande. Gostei
porque o Município, a cidade precisa de uma rádio, e
outra, que a gente pode anunciar os produtos, comércio,
tudo em geral. É, as músicas são boas, passa algumas
informações sobre a cidade de Vargem Grande. Ela foca
bem o pessoal daqui. Tem muitas coisas que a Rádio
ajuda. Eu prefiro a Rádio, a assistir televisão. Sempre.
Como rádio comunitária ela presta um serviço para a
comunidade, com relação a comércios locais e... É uma
rádio que se diferencia das outras demais. Porque você já
está cansado de ter aquela programação de sempre.
Então a Rádio Cantareira é isso, ela tem uma
programação diferenciada. É por isso, não só por ser
diferente também... Mas a gente se identifica com a
Rádio, né? Então, por ter essa proximidade, a gente
passava a ouvir com mais freqüência. A Rádio, é uma
comunicação dentro do bairro que ela alerta muita coisa
aos moradores daqui. Eu acho que ajuda muito os
moradores daqui. Nós, temos muitos ouvintes que já se
favoreceram com isso. Várias pessoas que tinham um
histórico assim, até de depressão, de problemas em casa
com a família, pessoas que a partir da Rádio, de ouvir os
comunicadores da Rádio Cantareira, eles passaram a ver
as coisas de uma forma diferente. A gente ouvia muito na
rádio ligações de ouvintes dando testemunho, ao vivo, da
diferença que a Rádio fazia na vida, no dia-a-dia das
pessoas. Ela ajudava as pessoas a se conscientizar, a
saber o que tá acontecendo no bairro; como elas podem
ajudar ou participar no bairro, em geral, na comunidade. O
ouvinte da rádio comunitária, quer algo mais que uma
rádio comercial: ele quer interatividade, ele quer participar;
não apenas ouvir música, mandar recado, mas participar,
de repente, no desenvolvimento do seu bairro, na
resolução de problemas. Ah, eu acho legal, né? Notícia,
tem mesmo o Jornal Cantareira, que vem de lá também.
Isso, da Rádio Cantareira. Isso ajudou muito a poder
participar das coisas, das notícias. Fala assim, sobre as
enchentes, porque aqui no Jardim Carumbé, tem muita
enchente. Orienta, assim, o pessoal a não jogar lixos nas
ruas, porque isso também prejudica muito as enchentes,
assim, tampando os bueiros. Ela é uma rádio que tá
inovando. Acho o profissionalismo bom. Fala sobre as
comunidades: o que as comunidades estão
desenvolvendo, com os trabalhos sociais, tudo. Ela
incentiva a comunidade, a população. Então, fica bom
porque é fácil do pessoal também interagir com ela. Poder
bater um papo mais perto. Tudo que passa no bairro,
aqui, a gente fica por dentro. São as pessoas que
trabalham, batalham para dar informação para as
Pessoas. Acho que é uma rádio cultural, educativa e
comunitária e divulga informações locais.
E = Gosta por programas
religiosos.
Boa, eu acho boa. Tem um programa evangélico, que eu
assistia direto. Importante, porque tem muito anúncio,
notícia. A gente precisa fazer uma prece, essas coisas,
173
pede para fazer uma Ave Maria, pra gente, que não pode
pagar. A gente agiliza e faz, né? Ajuda a gente nisso:
quando a gente precisa. É a rádio comunitária, É no
bairro, aqui. É, católica...
F = Gosta pela
diversidade de temas.
Legal. Passa bastante música e fala das coisas de nosso
bairro. Fala quando vai ter alguma coisa, alguma reunião,
fala sobre a comunidade. Quando passa música antiga.
Assisto sempre ao programa da Rose na Rádio, e eu
gosto muito. Ah, eu gostava, principalmente quando era
da Ana Fernanda, o horário da Ana Fernanda. Do Joel
Junior, eu gostava. Pelos tipos de música que ela tocava.
Gostava demais pelo que ela falava, pelo conteúdo que
passava no programa, pelas explicações do bairro, onde
alguma coisa estava acontecendo. Hora da receita com a
Rose! O horóscopo, também, eu gosto. Os sucessos
também, Eu gosto de ouvir a Rádio. Olha, eu acho assim:
a Rádio é interativa. Ela informa sobre problema de
saúde; ela informa a situação da cidade, como ela está.
Ela interage muito nesse assunto da cidade. Eles falam da
saúde, falam da Vargem. Eu gosto. Eles passam bastante
informações para a gente sobre o comércio de Vargem
Grande, sobre farmácia. O Joel comenta muito sobre
futebol. O pessoal gosta. Ele fala da auto-escola do
Walmir, ele fala sobre o supermercado São Roque, ele
fala da papelaria Mix Paper. Não gostaria dela ter ficado
fora do ar tanto tempo, espero que retorne logo. Porque é
uma rádio comunitária que passa muitas coisas de bom
pra gente. É muito importante pro bairro. Cada um tem a
sua maneira de fazer o seu programa, de contribuir pra
todos nós. Igual tem o programa do Caro Amigo; a gente
escutava muita entrevista de muitas pessoas. Às vezes
passava também muitas coisas que a gente não tá por
dentro, assim, do dia-a-dia, jornal que a gente não assiste,
mas o pessoal procura sempre estar passando isso. O
programa "Dance balance" também, é uma coisa assim,
muito... eles procuravam passar pra gente coisas, é...
curiosidades, assim, que a gente às vezes nem tem
tempo de ler em revista, então eles passam pra gente
isso. Eles davam muita dica pra gente, poblema de saúde,
negócio de escola, e tudo. Acho que é uma rádio que ela
passa boas informações, dentro do que você precisa
saber: saúde, prevenções, últimas notícias. Eu saio de
manhã pra trabalhar e eu retorno à noite, então eu voltava
correndo pra casa pra ouvir eles. Então, o padre Cilto eu
também gostava muito da programação dele; ele passa
muita tranqüilidade... a hora da Ave-Maria ele transmite
alegria; ele falava muito bem da comunidade... Ele
ajudava a comunidade ele não cobrava nada. Programa
de saúde eu ouvia. Eu escuto muito por causa de político,
né? Eu escuto esses pogramas assim. Pra mim, eu acho
interessante. Eu acho que é muito boa porque aqui na
periferia a gente não tem apoio governamental, a gente
não tem apoio de meio de comunicação de massa como a
Rede Globo, como a Bandeirantes, o SBT. A Rádio
174
Cantareira é uma alternativa para nós. E para conseguir a
melhoria no bairro, se não tem um meio de comunicação
que atinja bastante gente, principalmente a massa, a
gente não consegue fazer nada. A Rádio Cantareira é
muito válida. E também a programação dela é voltada
para, um conteúdo - religioso, um conteúdo que bote a
pessoa para pensar. Que não seja preocupada mais em
vender produto do que esclarecer as pessoas. Entre elas
as informações que são transmitidas ao ouvinte, como:
saúde, notícias do último momento; acontecimentos
poderosos, como trabalhos religiosos, tanto escândalos -
como lixo de rua. O locutor Moacyr Silva fala muito bem,
lá da Rádio. Fala muito bem na comunidade. Um locutor
que se expressa muito com a comunidade. Enfim, ele fala,
em muitos aspectos, sobre a melhoria da população.
Sobre a saúde, também, fala muito sobre a saúde. A
Cantareira é como se fosse propriedade minha, sabe? É,
eu gosto muito da Cantareira. Nossa! Eu tenho assim,
uma posse na Cantareira. Não sou dona, não sou nada.
Tenho uma posse, sabe? Gosto demais, de todos que
trabalham. Gosto muito. Olha, a Rádio, ela, para mim, ela
é uma companheira, ela é uma amiga, uma conselheira. E
eu achava muito legal a musiquinha dela, que era uma
música que, tipo assim, a gente de idade, a gente gosta
das músicas. Na verdade eu ouvia um programa que o
meu irmão fazia. Era interessante. Eles discutiam
problemas... Ai, como vou dizer? Da atualidade, não é?
Falava de alguma coisa ligada ao social, alguma coisa
assim, dar ajuda, assim. É uma rádio importante porque
ela traz as notícias do nosso bairro. Traz também as
notícias das nossas comunidades, das nossas igrejas aí
tudo. O que está nos movimentos, não é?
G = Gosta mas acha que
precisa melhorar
E uma rádio legal, acho que deveria melhorar uns
locutores, e alguns tipos de música, diversificar mais. Que
é mais sertanejão que toca. É uma Rádio boa. Assim,
musicalmente, boa. E, não sei se tem jornalismo, porque
jornalismo é... Passa pouco. Pelo que eu ouço, passa
pouco. Só que ela interrompe a minha Gazeta lá em casa.
A antena dela interrompe a Gazeta. Em vez de pegar a
Gazeta, pega a freqüência dela, da Rádio. Mas eu acho
que deveria passar mais aquelas músicas mais raiz.
Música de raiz é muito bom, e ela fala muito também, tem
muito a ver com a vida da gente hoje, Fala muito disso, da
cidade também.É legal porque ela passa música, fala
sobre a saúde, sobre a dengue. Os locutores também, eu
gosto. Eu também já fiz programa lá, mais a minha filha.
Já faz um tempo assim, uns dois anos, já, que nós
paramos de fazer, porque ela estuda e eu comecei a
trabalhar também. Eu escuto a Rose. É. Gosto de ouvir a
Rose. Então, é legal a Rádio daqui. Muito, utilitário. A
programação é gostosa. Apesar que ultimamente ela es
meio decadente. É, que tinha uns pessoal que trabalhava
lá, a gente gostava muito, saiu. Mas assim mesmo ela é
muito prestativa, Porque eu acho que deveria ter mais
175
variações de música. Eles ficam falando muito. Falam
demais e tocam pouca música.
Discursos Coletivos da Rádio 8 de Dezembro de Vargem Grande Paulista:
Idéias Centrais DSC
A = Não gosta.
Não gosto. Acho uma porcaria. A programação é fraca,
não tem nenhuma expressão. Parece programação de
emissora pequena. Talvez por estar iniciando, pela falta
de incentivo, de mais recursos também. Parece que não
tem muitos recursos. Sei lá, tem que evoluir mais um
pouco no tipo de programação deles. Não sei se a gente
deve comparar com outras rádios.
B = Gosta.
Eu gosto, acho boa. É da hora! Mas depende também da
programação, do horário. Acho que tem bastante coisa
boa para a gente curtir. Se a gente precisa ligar, a gente
liga para pedir uma música, para falar qualquer coisa.
Eles atendem bem. Eu até já tenho participado por
telefone e tudo. Pega bem, é fácil de sintonizar. Porque o
que importa muitas vezes é isso também. Não adianta ter
uma rádio boa que não pega aqui na cidade. Tem uma
boa sintonia. E tem gente que não gosta, Mas ela fala de
até que, quem não gosta, que é para ligar para lá e falar
que não está gostando.
C = Gosta para
ouvir músicas.
Não é uma rádio boba. É boa sim porque tem boa
programação musical e não tem muito intervalo que nem
as outras. Gosto de uma seção que toca as músicas mais
antigas, umas músicas bem lights. Eu acho bacana. Essa
seção é a que eu ouço. A maior parte das músicas são
sertanejas, caipiras e é a parte que eu gosto também, por
ser música raiz. O atendimento é bom. Tem locutores
legais que sabem conversar. Eu gosto das músicas mas
acho que toda a transmissão é boa. Inclusive minha sogra
já conseguiu ganhar CD lá. Eu acho legal, principalmente
para o pessoal de mais idade. Tem umas músicas antigas
que eles ouvem bastante. É uma boa atração, é um
evento da cidade, tem coisas boas, é até um laser, um
divertimento. Talvez pudesse ter um pouco de outro tipo
de músicas também, além das sertanejas.
D = Gosta par ouvir
notícias locais
Ela é boa, fala muito das coisas de Vargem Grande.
Passa bastante propaganda aqui da própria cidade. Acho
interessante isso, divulgar bastante o comércio aqui da
Vargem. Precisava ter uma rádio aqui em Vargem
176
Grande. Gostei porque o Município, a cidade precisa de
uma rádio, e a gente pode anunciar os produtos, o
comércio, tudo em geral. É, as músicas são boas, passa
algumas informações sobre a cidade de Vargem Grande.
Ela foca bem o pessoal daqui. Divulga, o processo daqui.
Tem muitas coisas que a Rádio ajuda. Eu prefiro a Rádio,
a assistir televisão. Sempre. Como rádio comunitária, ela
presta um serviço para a comunidade, com relação a
comércios locais e... trabalho publicitário, um trabalho que
corresponde à atenção do povo.
E = Gosta por programas
religiosos.
Gosto porque tem um programa evangélico, que eu
assistia direto.
F = Gosta pela
diversidade de temas.
Gosto porque passa bastante música e fala das coisas de
nosso bairro. A Rádio é boa, pois fala quando vai ter
alguma coisa, alguma reunião, sobre a comunidade. Tem
programa de música antiga, e tudo. Assisto sempre ao
programa da Rose na Rádio, e eu gosto muito. Gostava
também, principalmente quando era da Ana Fernanda. O
horário da Ana Fernanda, do Joel Junior. Eu gostava
pelos tipos de música que ela tocava. Gostava demais
pelo que ela falava, pelo conteúdo que passava no
programa, pelas explicações do bairro, onde alguma coisa
estava acontecendo ou na hora da receita com a Rose! O
horóscopo, também, eu gosto. Os sucessos também, Ela
é uma Rádio interativa, informa sobre problema de saúde,
a situação da cidade, como ela está, interage muito nesse
assunto da cidade. Eu acho que, em prol da cidade, é
importante. Ela está fazendo uma coisa legal. Passa
muitas coisas boas para as pessoas. Eles falam da saúde,
falam da Vargem, passam bastante informações para a
gente sobre o comércio de Vargem Grande, sobre
farmácia. O Joel comenta muito sobre futebol. O pessoal
gosta. Fala da auto-escola do Walmir, sobre o
supermercado São Roque, a papelaria Mix Paper. As
músicas que a gente pede, ele vai, coloca. Gosto muito do
programa deles. Eles tentam passar para a gente um
pouquinho do que eles sabem fazer, e eu gosto muito de
ouvi-los.
G = Gosta mas acha que
precisa melhorar
É uma Rádio boa. Assim, musicalmente, boa. E, não sei
se tem jornalismo, porque jornalismo passa pouco. Pelo
que eu ouço, passa pouco. É uma rádio legal, mas acho
que deveria melhorar uns locutores, e alguns tipos de
música. Deveria diversificar mais, não tocar só aquele
sertanejão. Deveria ter mais música raiz. E também
interrompe a minha Gazeta lá em casa. A antena dela
interrompe a Gazeta. Em vez de pegar a Gazeta, pega a
freqüência dela, da Rádio. Mas é boa a Rádio, porque ela
passa música, fala sobre a saúde, sobre a dengue. Os
locutores também, eu gosto. Eu também já fiz programa
lá, mais a minha filha. Mas é legal, porque a gente fica
177
sabendo das coisas que acontecem aqui em Vargem
Grande. Gosto muito de ouvir, escuto a Rose. Passa
música legal, é bem comunicativa e muito utilitária. Apesar
que ultimamente ela está meio decadente, pois tinha
umas pessoas que trabalhavam lá que a gente gostava
muito, mas saíram. Mas assim mesmo ela é muito
prestativa, muito bom para a cidade. Porém ultimamente,
eu acho está mais ou menos, na verdade. Porque eu acho
que deveria ter mais variações de música. Eles ficam
falando muito. Falam demais e tocam pouca música.
178
Discursos Coletivos da Rádio Cantareira de Vila Brasilândia:
Idéias Centrais DSC
A = Não gosta.
Não há registros desse tipo de DSC.
B = Gosta.
Ah, eu gostava demais. Ela era muito interessante, eu
aproveitava muito as coisas. Eles falavam de datas
comemorativas, que hoje em dia as pessoas esquecem.
Se perguntarmos para uma criança: "-Que é que vai
acontecer agora dia 21 de Abril?" Eles não sabem. E
sempre estavam falando, sabe? A Rádio Cantareira tá
fazendo muito falta no bairro aqui, né? Éra uma rádio
muito ouvida aqui, por ser um meio de comunicação, tipo
assim, mais prático. Porque a gente que é do bairro aqui,
a gente não tem como ir numa Bandeirantes, numa
Globo... então uma rádio no bairro é mais importante.
Como ela é uma rádio pequena, de porte pequeno, e num
bairro, eu acho que é boa. Ela atende às necessidades
que ela pode comportar, no nível de estrutura. Ela tem
tudo que uma rádio tem que ter, pelo que eu vi lá Quando
eu fui visitá-los. Eu já tive a oportunidade de participar, de
fazer um programa lá também. E acompanhei os
programas também dos colegas. Porque passava
informação do bairro, da nossa comunidade. E isso é
muito importante, não é, meu?
C = Gosta para
ouvir músicas.
Eu gostava bastante. Sinceramente, Ouvia a todos os
programas... Tocava muita música antiga, assim, essas
músicas da Jovem Guarda, mas também tinha músicas
bem pra frente, sertanejas. Gostava muito. O pessoal todo
gostava. A maioria do pessoal ia lá também, entendeu,
mano? Para estar falando na Radio ao vivo. Ela parou
acho que foi até por causa da fiscalização, porque não era
uma rádio que podia estar no ar, eu acho, não é? A
freqüência era boa. Aos domingos tinha o Programa do
Formigão! Conheço ele pessoalmente. Eles estavam
sempre no mercado do Yoshiro aí. Fazendo negócio de
cesta básica no Domingo. Gostava mesmo porque tocava
bastante músicas.
D = Gosta para ouvir
notícias locais
Gosto por ser uma rádio comunitária. É uma rádio que se
diferencia das demais, porque você já está cansado de ter
aquela programação de sempre. Mas a gente se identifica
com a Rádio, né? Então, por ter essa proximidade, a
gente passava a ouvir com mais freqüência ela. Eu acho a
Rádio uma boa. A Rádio, é uma comunicação dentro do
bairro por alertar sobre muita coisa aos moradores daqui.
Eu acho que ajuda muito os moradores daqui. Olha, a
Rádio ela foi muito importante aqui na região, né? Várias
pessoas que tinham um histórico assim, até de
179
depressão, de problemas em casa com a família, pessoas
que a partir da Rádio, de ouvir os comunicadores da
Rádio Cantareira, passaram a ver as coisas de uma forma
diferente. A gente ouvia muito na rádio ligações de
ouvintes dando testemunho, ao vivo, da diferença que a
Rádio fazia na vida, no dia-a-dia das pessoas. Ela ajudava
as pessoas a se conscientizarem, a saber o que tá
acontecendo no bairro; como elas podem ajudar ou
participar no bairro, em geral, na comunidade. Porque o
ouvinte da rádio comunitária, ele quer algo mais que uma
rádio comercial: ele quer interatividade, ele quer participar;
não apenas ouvir música, mandar recado, mas participar,
de repente, no desenvolvimento do seu bairro, na
resolução de problemas. Agora tem notícias pelo Jornal
Cantareira, que vem de lá também. Isso, da Rádio
Cantareira. Isso ajudou muito as pessoas a poderem,
participar das coisas, pelas notícias. Fala assim, sobre as
enchentes, porque aqui no Jardim Carumbé, tem muita
enchente. Orienta, assim, o pessoal a não jogar lixos nas
ruas, porque isso também prejudica muito, provocando as
enchentes, tampando os bueiros. Ela era uma rádio que
estava inovando, com profissionalismo. Falava sobre as
comunidades: o que as comunidades estavam
desenvolvendo, com os trabalhos sociais, tudo. Passava
as informações do que acontecia por aqui, na região,
incentivava a comunidade, a população. Você sabia que
aquilo era na comunidade, não é? Então, fica bom porque
é fácil do pessoal também interagir com ela. Não esquecia
da gente e estava sempre do nosso lado. São pessoas
que trabalham, batalham para dar informação para as
pessoas.
E = Gosta por programas
religiosos.
Boa, eu acho boa. Importante, porque se a gente precisa
fazer uma prece, essas coisas, pede para fazer um Ave
Maria, pra gente, que não pode pagar e eles fazem. Ajuda
a gente nisso: quando a gente precisa. É a rádio
comunitária, do bairro, aqui e é católica. Ela faz muito,
muito milagre. Gostava muito de ouvir-la. O padre, lá da
igreja, ele falava lá também, não é? O padre também era
locutor lá da Rádio também. Gostava. Beleza. Tenho nada
contra não.
F = Gosta pela
diversidade de temas.
Gosto porque é uma rádio comunitária que passa muitas
coisas de bom pra gente. É muito importante pro bairro.
As pessoas que convivem com ela há muito tempo, desde
o início, que fazem a rádio e os programas também,
sentem muita falta dela, pois passava muita coisa boa pra
gente. Dependendo de cada programa... Cada um tem a
sua maneira de fazer o seu programa, de contribuir pra
todos nós. No programa do Caro Amigo; a gente escutava
muita entrevista de muitas pessoas. Às vezes passava
também muitas coisas que a gente não tá por dentro,
assim, do dia-a-dia, jornal que a gente não assiste, mas o
pessoal procurava sempre estar passando isso. O
180
programa "Dance balance" também, era uma coisa assim,
muito... eles procuravam passar pra gente curiosidades,
assim, que a gente às vezes nem tem tempo de ler em
revista, então eles passam pra gente isso. Isso é muito
importante. A Cantareira dava muita dica pra gente, sobre
problema de saúde, negócio de escola, e tudo. Mais era
um prazer muito grande se ela voltasse a funcionar. O
pessoal da Rádio era muito legal, todos que trabalhavam
lá eram legais. Nos passavam informações dentro do que
você precisa saber: saúde, prevenções, últimas notícias.
O padre Cilto eu também gostava muito da programação
dele; ele passa muita tranqüilidade... na hora da Ave-
Maria ele transmite alegria; ele falava muito bem da
comunidade... Ele ajudava a comunidade e não cobrava
nada. Ouvia o Programa de saúde, o programa do
Anderson. Eu escutava muito por causa de político, né?
Eu escuto esses programas assim. Pra mim, eu acho
interessante. Eu acho que a Cantareira era muito boa
porque aqui na periferia a gente não tem apoio
governamental, a gente não tem apoio de meio de
comunicação de massa como a Rede Globo, como a
Bandeirantes, o SBT. A Rádio Cantareira era uma
alternativa para nós. E para conseguir a melhoria no
bairro, se não tem um meio de comunicação que atinja
bastante gente, principalmente a massa, a gente não
consegue fazer nada. E também a programação dela era
voltada também para um conteúdo religioso, um conteúdo
que bote a pessoa para pensar. Que não seja preocupada
mais em vender produto do que esclarecer as pessoas.
Entre elas as informações que são transmitidas ao
ouvinte, como: saúde, notícias do último momento,
acontecimentos poderosos, como trabalhos religiosos,
tantos escândalos como lixo de rua, etc. Na verdade eu
ouvia também um programa que o meu irmão fazia. Era
interessante. Eles discutiam problemas... Ai, como vou
dizer? Da atualidade, não é? Falava de alguma coisa
ligada ao social, alguma coisa assim, de dar ajuda aos
outros. Não gostaria dela ter ficado fora do ar tanto tempo,
espero que retorne logo.
G = Gosta mas acha que
precisa melhorar
Não há registros deste tipo de discurso.
Percebe-se através da análise deste discurso expresso pela idéia
central (IC) "Não gosta”, que este sujeito coletivo tem conhecimento da existência
da rádio mas não gosta da rádio, ao compará-la a uma emissora comercial,
contrapondo a idéia de profissionalismo em relação às comerciais e amadorismo
às comunitárias. Os motivos para a não satisfação da rádio são: considerá-la
181
pequena, fraca, sem expressão, sem recursos, sem incentivo. Este tipo de
receptor revela sua preferência por rádios convencionais e tradicionais.
Quando fazemos a variação por grupos, considerando-se as duas
rádios analisadas separadamente, não encontramos a IC "não gosta" entre a
parcela de 53 ouvintes da Rádio Cantareira entrevistados, o que revela-nos que a
Rádio Cantareira é mais aceita pelo público de sua comunidade do que a Rádio 8,
onde entre os ouvintes entrevistados aparece esta IC.
Já o DSC que expressa a IC "gosta", simplesmente, sem explicar
os motivos, expressa uma simpatia muito grande por parte dos ouvintes e
novamente a idéia de proximidade destes com as rádios analisadas há uma
ênfase ao fato de ouvirem pela facilidade de sintonia, por preencher sua
necessidade de entretenimento, pela facilidade de participação por telefone,
pessoalmente ou até fazendo programas. O fato de ser uma rádio do bairro
assegura uma identidade com os ouvintes. Estes atributos revelados neste DSC
revelam características educomunicativas das rádios, pela relação dialógica que
constróem com seus ouvintes.
Quando se estratifica a amostra por ouvintes das duas rádios
separadamente, observa-se que o DSC da Rádio 8 afirma gostar da rádio pela
oportunidade de entretenimento pois a Cidade não apresenta muitas formas de
lazer, pela programação musical, pela oportunidade de participação por telefone,
pedindo músicas ou para poder falar no ar, de expressar suas opiniões a respeito
de diversos assuntos, pelo bom atendimento que os integrantes da rádio
proporcionam a quem os procura e pela facilidade de sintonia, o que revela que a
Rádio tem a intenção de proporcionar uma interação com os seus ouvintes. Mas
uma participação efetiva não é frequente, sendo mais comum a participação pelo
182
telefone. sugerindo músicas. Esta é uma característica de participação das rádios
tradicionais. Enquanto a Rádio Cantareira tem ouvintes que expressam sua
satisfação pela rádio, devido as suas características educativas, demonstradas por
meio de expressões como "...aproveitava muito (a programação)..." ou "... falavam
de datas comemorativas..." , assuntos pertinentes ao bairro, por ser acessível em
comparação com emissoras comerciais da grande mídia, pela oportunidade de
participação dos ouvintes pelo telefone ou por meio de visitas. Estas
características revelam aspectos mais educomunicativos para a Rádio Cantareira
do que para a Rádio 8. Embora a intenção das duas rádios seja manter uma
relação dialógica com suas recepções, este tipo de relação é mais comum entre a
Rádio Cantareira e seus ouvintes, que podem se sentir donos da rádio a partir da
possibilidade de participação não só via telefone, como nas rádios comerciais,
mas na vida diária, no cotidiano da própria rádio. Isso talvez seja devido a uma
característica conjuntural, geográfica, cultural e social onde está inserida cada
rádio,. Os ouvintes da Cantareira sentem a sensação de carência e abandono pelo
Poder Público e pela grande mídia, apegando-se à rádio como uma defensora de
seus direitos.
Em relação a IC "Gosta para ouvir música" , estes DSCs revelam
uma parcela de ouvintes que preferem a rádio para o entretenimento. São
ouvintes de músicas que percebem o diferencial destas rádios para as outras,
devido ao fato de conseguirem ouvir música de raiz, músicas antigas, que não
tocam nas outras rádios normalmente. As rádios comerciais estão presas a uma
lógica de mercado, de satisfação de audiência, o que pasteuriza a programação
musical deixando-as sem muitas opções, além dos "sucessões" de audiência.
Estes fatores revelam mais uma característica educomunicativa das rádios
analisadas, pois sua programação musical guia-se não por esta lógica descrita
183
para as rádios comerciais, e sim pela lógica de respeito aos aspectos culturais e
regionais onde a comunidade está inserida.
Quando analisa-se os DSCs individuais de cada rádio, percebem-
se que os motivos que levam os ouvintes a gostarem das rádios devido ao
aspecto musical são parecidos, não se diferenciando muito. Os ouvintes
valorizam o fato das rádios tocarem musicas antigas, sertanejo de raiz. O
diferencial está em que ouvintes da Rádio 8 classificam a rádio como forma de
entretenimento para a cidade, pelo fato de que Vargem Grande tenha poucas
opções de lazer. Já os ouvintes da Rádio Cantareira valorizam o fato de poderem
falar ao vivo nas programações musicais da rádio, talvez explicado pela
proximidade da rádio com seus ouvintes, por ser um bairro e não uma cidade.
Na IC "gosta por ouvir notícias locais" os DSCs expressam a
característica comunitária das rádios analisadas, quando os sujeitos coletivos
citam os seguintes motivos pelos quais gostam da rádio: divulgar notícias locais,
porque "uma cidade ter que ter uma rádio", "presta um serviço para a
comunidade", "ajuda pessoas a se conscientizarem", ajuda pessoas com
"depressão". Enfim, trata-se de um discurso que revela o caráter de proximidade e
interação da rádio com seus ouvintes, o caráter cultural, educativo e comunitário
das rádios analisadas.
Quando analisa-se os DSC individuais das rádios, percebe-se que
o público da Rádio 8 gosta da rádio devido esta informar notícias locais e por
divulgar o comércio local. Na Rádio Cantareira, essa relação de proximidade com
o bairro, de gostar da rádio por falar de notícias do bairro, da comunidade, falar de
sua gente, é mais forte ainda. O DSC da Rádio Cantareira expressa sentimentos
184
de proximidade, identificação, interatividade, participação dos ouvintes em relação
à rádio. Gostam por se informarem, pela oportunidade dada aos moradores de
não só de participar pedindo músicas e sugerindo recados, mas de participar do
desenvolvimento do bairro através da mediação que a rádio faz entre os
problemas do bairro e a participação dos ouvintes na resolução destes problemas.
O DSC dos ouvintes da Cantareira revela que a rádio não "esquece deles", está
"sempre de seu lado" e prestigia músicos do bairro. Estes fatores também
revelam características educomunicativas na Rádio Cantareira.
Quanto a IC "gosta pelos programas religiosos", os DSCs revelam
uma preferência inusitada pelas rádios por veicularem alguns programas
religiosos, e preces, o que propicia um conforto espiritual a essas comunidades
tão carentes do material, do afetivo e do espiritual, atraindo uma certa parcela de
ouvintes.
Quando analisa-se individualmente o DSC de cada rádio, percebe-
se que ouvintes da Rádio 8 interessam-se pela rádio por poderem assistir a um
programa evangélico. Embora a rádio não se proponha a ser uma rádio religiosa
ou ligada a alguma religião. Ela expressa, dessa forma, a liberdade de expressão,
liberando um espaço em sua programação para um morador/ouvinte que gostaria
de fazer um programa evangélico e que de alguma forma atinge uma parcela de
ouvintes.
Já o DSC da Rádio Cantareira expressa uma intensidade maior
de conteúdo e de ouvintes católicos, talvez pelo fato de alguns de seus integrantes
serem padres. Embora a rádio seja composta por representantes de diversos
segmentos do bairro, recebe forte apoio de padres da Igreja Católica ligados a
tendência da "teologia da libertação". Isso se expressa em alguns programas de
185
conteúdo religioso como a "Hora da Ave Maria" e por um programa ser
comandado pelo Pde. Cilto, mas que tem como conteúdo assuntos da
comunidade. Isso faz com que a rádio arrebanhe um grande número de ouvintes
das igrejas do bairro que caracteriza esta parcela da audiência.
Em relação a IC "gosta pela diversidade de temas", os DSCs
mostram que esta parcela de público é a segunda que mais ouve a rádio e tendo
nela uma companheira do dia-a-dia, pois gosta da rádio por qualquer tema
abordado na programação como: para ouvir música, pelas notícias do bairro, para
saber das notícias que saem em jornais e revistas pois não tem tempo de ler,
pelas notícias do comércio do bairro, por falar sobre problemas de saúde,
prevenção, sobre educação, pelos programas que são lembrados e citados
nominalmente pelo nome do locutor, por ser uma rádio que não esteja preocupada
em vender produtos, mas em esclarecer a população. Estes fatores demonstram a
fidelidade à rádio pelos seus temas e pautas que falam da vida local das pessoas,
em contrapartida às rádios comerciais que estão distante delas e muitas vezes
abordam questões abstratas para a comunidade local.
Quando analisamos os DSCs separados das duas rádios, vemos
que o DSC da Rádio 8 gosta da rádio por esta tratar de temas como músicas,
músicas antigas, falar de temas próximos, reuniões da comunidade, por
programas de programadores citados e lembrados pelos nomes pessoais, futebol,
saúde, educação. Isso aproxima-se dos DSCs gerais, reforçando o caráter de
programação diversificada da rádio, atendendo a diversas tendências, enquanto
que no DSC da Rádio Cantareira percebe-se também estes motivos, mais o fato
de ser um recurso de defesa do bairro, pois estes ouvintes sentem-se órfãos do
Poder Público e de meios de comunicação da grande imprensa. Ressaltam que a
Cantareira diferencia-se pelo fato de não estar preocupada em vender produtos,
186
mas na melhoria do bairro. Vêem na rádio um recurso de defesa deles, das
pessoas do bairro por esclarecer, denunciar e ajudar a organizar a população com
relação a problemas de educação, saúde, saneamento.
E finalmente quanto a IC "gosta mas acha que precisa melhorar",
os DSCs revelam que a rádio é ouvida, revela o gosto da população, mas nesta
parcela de ouvintes tem uma representação de fraqueza, de uma programação
que ainda precisa ser aperfeiçoada. Os DSCs revelam a opinião de que a rádio
está decadente, que foi melhor no início e que enfraqueceu com a ausência de
alguns locutores da época em que a rádio começou a funcionar. Acham também
que a programação musical poderia ser mais diversificada e não lembram de
programação jornalística marcante.
Em relação ao DSC individual de cada rádio, percebe-se que a
Rádio 8 poderia melhorar, pois está decadente na opinião do ouvinte. Apesar do
público expressar sua preferência e gosto pela rádio, percebe-se por meio deste
discurso que a rádio caiu de qualidade desde seu início. O que espanta é que a
Rádio Cantareira não apresenta registros deste discurso, o que revela que seus
ouvintes gostam da rádio e não acham que ela precisa melhorar.
187
Resultado dos Discursos coletivos com a população entrevistada, ouvintes
das duas rádios analisadas a respeito da informação sobre comunicação de
risco que recebem através das mesmas.
Pergunta 3: A Rádio 8/Cantareira fala de problemas de saúde? Conte um
pouco para a gente sobre isso:
Em relação a esta questão, verificou-se que dos entrevistados, 48
(45,26%) responderam que as rádios falam de vários problemas de saúde, 34
(32,08%) responderam que as rádios não falam sobre nenhum problema de saúde
e 24 (22,64%) responderam que as rádios falam de problemas de saúde, mas não
souberam identificar qual problema.
Discursos Coletivos das rádios analisadas:
Idéias Centrais DSC
A = Sim
Fala. Eu acho legal, porque às vezes tem pessoas que não têm
oportunidade, tipo, se está vendo televisão, não tem tempo, e
acaba escutando a rádio, e assim é mais fácil de aprender. Acho
que tem bastante utilidade. Eles sempre dão informações. Às
vezes, muitas coisas que a gente não sabe, eles dão muita
informação. Eles iam lá, perguntavam; esclareciam no rádio,
para a gente poder ouvir sobre isso. Divulgam muita coisa aqui
do Município, de tudo que precisa. A última vez que eu ouvi
estava entrando no ar algumas coisas da saúde, mas depois eu
não assisti. Não me lembro se foi ginecologista ou o que foi.
Também estava tendo, começando uma taróloga, também, no
programa da Rose. Mais ou menos isso. A Rádio, por ser uma
rádio comunitária, como eu falei, ela trazia esse tipo de
benefícios pras pessoas na comunidade; as pessoas que tinham
uma proximidade ouviam com freqüência esse tipo de
informação. Ela falava de várias coisas, inclusive de saúde; era
um programa... Tinha programas sobre saúde. Uma coisa, por
exemplo,. é um programa que falava sobre o exame
papanicolau, e fazia isso freqüentemente... Orientava o pessoal.
Vamos tratar do negócio, que é um negócio sério. Dificilmente
isso aí, quando pega, tem cura... Mas era assim, um programa
que falava bastante sobre saúde. A rádio serve pra isso. Agora,
ela pode encaminhar, ajudar a pessoa também a como ela lidar
com esse problema. A pessoa liga, ou vai lá, participa no dia, e a
pessoa indica a ela como fazer o tratamento. Um
encaminhamento em geral. Isso é importantíssimo.
188
Principalmente tinha um programa muito bom que falava sobre
saúde, que é o "Comunicação e Saúde", que era comandado
pelo glorioso Ari Galvão e sua esposa Regina. Eles faziam um
programa muito bom, muito consciente sobre os problemas de
saúde. Cada semana um tema, problemas até sazonais, como a
dengue. Outros programas também sempre tinham alguma
coisa, alguns toques sobre saúde. Dão orientação legal. A
comunicação é boa. Sempre eles falavam sim, de saúde.
Quando tinha... quando eu precisava de algumas coisas, eu não
conseguia ir no posto, e eu fiquei sabendo através da Rádio
Cantareira, porque eles anunciaram que ia ter mutirão de saúde
nos hospitais..
B = Não
Ah, às vezes que eu escuto, que eu escutei, eu não vi. Eu ouço
música e tal. Mas eu não ouço nenhum comentário. Não. Como
eu não escuto muito, eu não sei se tem essa parte na rádio. Não
ouvi falar. Olha, no horário que eu costumo, não fala não. Não
lembro de ter ouvido. Olha, como eu ouço raramente, eu já não
prestei atenção nesse detalhe, viu? Aí, você passa, escuta um
pouquinho, e volta para o serviço e tal. No período que eu tenho
ouvido, não ouvi ainda. Sobre saúde? Quando começa falar
dessas coisas, eu mudo de rádio. Como eu não escuto muito,
umas 3 vezes como eu disse, pode ser no dia que tava falando
eu não tava escutando. Nunca prestei atenção. De saúde? Não,
programa de saúde eu já não assistia muito não. Eu sou mais as
músicas mesmo. Mas eles falam de tudo, de posto de saúde,
disso, daquilo, daquilo outro. Eles falam muita coisa. Posso até
ter ouvido, mas não estou lembrado. A Rádio sempre dava dica,
orientação. Não só de saúde... É, em outras áreas também,
mano. Ah, falava bastante para usar camisinha, esse tipo de
coisa assim. O que eu vejo mais, assim, que eu fico mais
sabendo assim, é quando eu pego o jornalzinho.
C = Fala de vários
problemas de saúde
Acho que fala. Já ouvi alguma coisa sobre dengue. De vez em
Quando. Com muito pouca freqüência. Único recente que teve
foi da campanha do, contra o mosquito da dengue, que eles
acabaram divulgando. Foi lá que eu acabei sabendo do mutirão
que ia ter. E principalmente agora nessa época da dengue, eles
falam muito. Tem uma senhora que vem, não sei se é de Terça-
feira, ou é de Quinta-feira, que ela fala muito de negócio da
saúde, desse negócio da dengue, agora, que o povo tem que
tomar cuidado. Fala que a saúde está precária. Ah, ela fala
sobre o atendimento, entendeu? Muitas horas as pessoas
esperam. Às vezes a gente chega lá às sete horas da manhã, e
é atendido às dez horas, onze horas da manhã. Ai, esses dias
estava falando de hepatite, alguma coisa assim. É. Dá dicas de
problemas de saúde. Ouvi falar sobre AIDS. Ela fala para
prevenir, conta do povo usar camisinha e tudo. Que é perigoso,
não é? A AIDS. Existem alguns programas específicos que
tratam da parte de saúde, parte de política. Isso é bem
interessante também. Geralmente alguma referente ao Postão,
que o atendimento não é lá essas coisas, então geralmente o
189
próprio povo ligando lá, fazendo pergunta, ou até mesmo
reclamando de algum atendimento, ou de algum médico. E,
rapaz, principalmente por causa da natureza, não é, meu?
Esses negócios de dengue, corrego. Esses córrego aberto, não
presta. Isso não é bom para a cidade, nunca foi. A gente estar
preservando a natureza aí, as minas de água. Que nem,
próximo à minha casa tem uma lá, está lá ao Deus dará, lá.
Daqui a pouco não tem mais. Muito boa, aquela mina. Devia ser
preservada. O Wilson Lopes, ele é uma pessoa que aborda
todos os assuntos da cidade, saúde, educação, segurança, meio
ambiente. Não só saúde, como todas as outras situações. Na
época que estava tendo ultra-som, foi falado. Ajuda bastante.
Tem um cidadão lá que fala sobre alcoolismo, você entendeu? É
só. É o único cara que eu conheço, que fala sobre isso. Eu não
sou pé de rádio. Eu ligo lá, e vou... É que sempre a gente liga,
mas a gente não fica para...Eu sei que ela fala, porque jã ouvi
um caso de um homem que precisava de doador de sangue, ele
conseguiu arrumar. Que ele fez uma cirurgia. Ela conseguiu
arrumar pela rádio. As pessoas que têm algum problema de
emergência... Vamos supor, tem um Posto de Saúde, precisa
ser atendida mais rapidamente. Então às vezes, as consultas
têm que ser mais rápidas. Porque tem casos de emergência,
que não tem como você... esperar. Tem pessoa que não tem
condição de pagar uma clínica particular, não é verdade?
Porque aqui, se você for se atualizar, aqui não tem hospital. Era
para ter hospital em Vargem Grande. Só tem o Posto de Saúde
para resolver... Mas é isso que a Rádio comenta. Esses
comentários. Referente ao saneamento básico, os esgotos: uns
alertas. Fala sobre o colesterol, diabetes... ter um certo cuidado
com caixa d'água, com tampa - às vezes fica aberta -, água
parada no quintal. Ele comenta algumas coisas sobre o Posto,
sobre vacinações, tudo. Mas não é direto. Não só no Carnaval,
como em todas as épocas. Em todos os dias da vida sempre se
proteger com camisinha, se cuidar... O Posto está aí... De
prevenção. O Posto está aí para ser utilizado, não é só para
quando está doente. E sempre comentam, sim. Então sempre
alguém chegava aqui e me pedia alguma instrução, alguma
coisa assim do que estava acontecendo. Alguém da Rádio.
Inclusive meu próprio irmão. Porque ele faz o programa "Dance
e balance", então ele tem aquela curiosidade de saber alguma
coisa do meu trabalho, e eu passava pra ele. Tem um programa
"Comunicação e Saúde". Lembro. Na época das vacinações
infantis, a Rádio alertava bastante, ajudava bastante os
moradores do bairro. Eles tinham um "Plantão Saúde", que
vinha, tocava chamadas, vinhetas... alertas sobre vacinação,
sobre as campanhas de vacinação, e sobre dengue; sobre
vários assuntos relacionados a saúde. Sempre teve. Um dos
enfoques da Rádio era essa questão da saúde, eles davam
muita prioridade a esse assunto. Informação de remédio que é
proibido vender, pra pessoa não comprar mais. Isso aí eu já vi
muitas vezes. A gente ouvia sobre tuberculose, dengue. Até
mesmo debates sobre o assunto, e outros... A maioria da
programação que é falada na Rádio, é editada também no
jornal. Olha, atualmente a gente está com foco de dengue aqui
no bairro. É. Eu tenho vizinhos próximos meus que já estão
hospitalizados, é, e a Prefeitura está vindo. Está vindo também
190
um pessoal do jornalismo. E, durante a semana, a gente está
recebendo um pessoal da Prefeitura. Agora... E a Rádio, com
certeza, deve estar inteirada nesse assunto, porque é aqui tão
próximo dela. Ela deve estar sabendo. A gente ouve sobre onde
a gente pode procurar, como, para ajudar a população a
entender como poder alcançar a saúde. Que a gente tem direito
à saúde pública, mas só que o Governo desincentiva. Então a
gente... Na Rádio Cantareira a gente vai procurando meios, e vai
ouvindo dicas também, na programação. Tinha tema sobre a
saúde dos idosos. A Rádio fazia alertas. Por exemplo, na época
de vacinação. No meio dos programas, sempre falava. Houve
problema de saúde, inclusive pessoas contaminadas com
algumas coisas dentro da sujeira de rua. E foi orientado como se
precaver, inclusive a acumulação de lixo na região. Tudo mais,
enfim. Varíola, de umas doenças assim... Daquela doença que
você pega, que... Aquela que tem um negócio de enferrujar.
Tétano. Inclusive tem um programa semana de saúde. É. Todo
tipo de saúde: pediatra, geriatria... Todo tipo de uma informação
que você precisa, eles passam nesse programa. Toda vez que
tivesse comercial, tinha aquela vinheta de saúde, falando sobre
saúde. Quando tem vacina nos postos, esses tipos de coisas. É
muito importante. Sempre lembrando a galera.
Discursos Coletivos da Rádio 8 de Dezembro de Vargem Grande Paulista:
Idéias Centrais DSC
A – Sim
Sim, fala. Eu acho legal, porque às vezes tem pessoas que não
têm oportunidade, tipo, se está vendo televisão, não tem tempo,
e acaba escutando a rádio, e assim é mais fácil de aprender.
Eles sempre dão informações. Perguntavam para um médico e
esclareciam no rádio para a gente poder ficar sabendo. A última
vez que eu ouvi, estava entrando no ar algumas coisas da
saúde, mas depois eu não assisti. Não me lembro se foi
ginecologista ou o que foi. Também estava, começando uma
taróloga, no programa da Rose. Mas é bom.
B = Não
As vezes que eu escutei, eu não vi. Já ouvi música, outras
coisas, mas sobre saúde não. Talvez seja porque eu não escuto
sempre e na hora que falou eu não estava ouvindo. No meu
trabalho é muito barulho, é só mais quando a máquina está
desligada, que dá para ouvir o rádio, não lembro de ter ouvido.
Tem outras salas que deixam o rádio ligado. Aí, você passa,
escuta um pouquinho, e volta para o serviço e tal. E quando
começa falar dessas coisas, eu mudo de rádio.
C = Sim. Fala de
191
vários problemas de
saúde
Acho que fala. De vez em quando, com muito pouca freqüência.
Único recente que teve foi da campanha, contra o mosquito da
dengue, que eles acabaram divulgando. Foi lá que eu acabei
sabendo do mutirão que ia ter. Lembro de ter ouvido uma
senhora que vem, não sei se é de Terça-feira, ou é de Quinta-
feira, que ela fala muito de negócio da saúde, desse negócio da
dengue, agora, que o povo tem que tomar cuidado. Fala também
que a saúde pública está precária, dos vários tipos de problemas
que tem a saúde na cidade. Sobre o atendimento ruim,
entendeu? Muitas horas as pessoas esperando nas filas dos
postos. Às vezes a gente chega lá às sete horas da manhã, e é
atendido às dez horas, onze horas da manhã. E a rádio fala
desta situação. Esses dias estava falando de hepatite, alguma
coisa assim. É. dicas de problemas de saúde. Ouvi falar
sobre AIDS. Ela fala para prevenir, conta do povo usar
camisinha e tudo. Que é perigoso, não é? A AIDS. Existem
alguns programas específicos que tratam da parte de saúde.
Geralmente referente ao Postão, que o atendimento não é lá
essas coisas, então geralmente é o próprio povo ligando lá,
fazendo pergunta, ou até mesmo reclamando de algum
atendimento, ou de algum médico. Acho isso bem interessante.
Comenta sobre o Posto de Saúde, os problemas de saúde que
tem na cidade. Eu acho bom, importante, rapaz,
principalmente por causa da natureza, não é, meu? Esses
negócios de dengue, corrego. Esses córrego aberto, não presta.
Isso não é bom para a cidade, nunca foi. A gente estar
preservando a natureza aí, as minas de água. Que nem,
próximo à minha casa tem uma lá, está lá ao Deus dará, lá.
Daqui a pouco não tem mais, não existe mais aquela mina.
Muito boa, aquela mina. Devia ser preservada e a rádio ajuda.
Eles falam sim. Principalmente o Wilson Lopes, ele é uma
pessoa que aborda todos os assuntos da cidade, saúde,
educação, segurança, meio ambiente. Ela volta muito para o
assunto, fala muito, esclarece muito isso aí à população a
respeito disso. Na época que estava tendo ultra-som, foi falado.
Ajudou bastante. Tem um cidadão lá que fala sobre alcoolismo,
você entendeu? É o único cara que eu conheço, que fala sobre
isso. A população está reclamando muito e a rádio fala isso.
Lembro também que já ouvi um caso de um homem que
precisava de doador de sangue, ele conseguiu arrumar. Que ele
fez uma cirurgia. Ele conseguiu arrumar pela rádio. Lembro
também que as pessoas que têm algum problema de
emergência... Vamos supor, tem um Posto de Saúde, precisa
ser atendida mais rapidamente. Então às vezes, as consultas
têm que ser mais rápidas. Porque tem casos de emergência,
que não tem como você esperar. Mas é isso que a Rádio
comenta. Esses comentários. Algumas vezes, eu ouvi, sim.
Referente ao saneamento básico, os esgotos: uns alertas. Fala
sobre o colesterol, diabetes... Ela comenta algumas coisas sobre
o Posto, sobre vacinações, tudo. Os jovens usarem camisinha
no Carnaval, enfim, épocas... Não só no Carnaval, como em
todas as épocas. Em todos os dias da vida sempre se proteger
com camisinha, se cuidar... O Posto está aí... De prevenção.
192
Discursos Coletivos da Rádio Cantareira de Vila Brasilândia:
Idéias Centrais DSC
A – Sim
Ah, sim. A Rádio, por ser uma rádio comunitária, como eu falei,
ela trazia esse tipo de benefícios pras pessoas na comunidade.
As pessoas que tinham uma proximidade ouviam ela com
freqüência por esse tipo de informação. Ela falava de várias
coisas, inclusive de saúde. Tinha programas sobre saúde. Uma
coisa, por exemplo, é o papanicolau. Orientava o pessoal.
Vamos tratar do negócio, que é um negócio sério. Dificilmente
isso aí, quando pega, tem cura... Façam o exame... Mas era
assim, um programa que falava bastante sobre saúde. Ela
ajudava na saúde espiritual também, mencionando o evangelho.
Ajudava muito as pessoas, no cotidiano, passando as
mensagens bíblicas e espirituais. Ajudou no lado espiritual,
sabe? A rádio serve pra isso também. Ela também encaminhava
para um centro de saúde, ajudava a pessoa também a como ela
lidar com problemas de doenças. A pessoa ligava, ou ia lá,
participava no dia, e os locutores indicavam a ela como fazer o
tratamento. Informavam sobre encaminhamentos em geral. Isso
é importantíssimo. Principalmente tinha um programa muito bom
que falava sobre saúde, que é "Comunicação e Saúde", que era
comandado pelo glorioso Ari Galvão e sua esposa Regina. Eles
faziam um programa muito bom, muito consciente sobre os
problemas de saúde. Cada semana um tema, problemas até
sazonais, como a dengue. Outros programas também sempre
tinham alguma coisa, alguns toques sobre saúde. Quando tinha
campanha, quando eu precisava de algumas coisas, eu não
conseguia ir no posto, eu fiqueva sabendo através da Rádio
Cantareira, porque eles anunciaram que ia ter mutirão de saúde
nos hospitais... Porque se a gente não ouvisse isso, ficava sem
atenção. Sempre eles davam informações sobre posto de
saúde, hospitais da região. Informava tanto quanto as outras.
B = Não
Não lembro de ter ouvido. Como eu não escuto muito, umas 3
vezes como eu disse, pode ser que no dia que tava falando eu
não tava escutando. Só que assim, escutar na rádio eu não
escutei. Então eu não posso dizer assim: "-Ah, eu vi". Mas eu
sou mais as músicas mesmo. Eles falam de tudo, de posto de
saúde, disso, daquilo, daquilo outro. Eles falam muita coisa.
Posso até ter ouvido, mas não estou lembrado. Eu não lembro
que assunto. É, em outras áreas eu lembro, mas saúde, mano...
C = Sim. Fala de
vários problemas de
saúde
Já ouvi sim. Assim, como eu trabalho na área da saúde, meu
trabalho é falar sobre dengue, ratos, né? Então sempre alguém
da rádio chegava aqui e me pedia alguma instrução, alguma
coisa assim do que estava acontecendo. Alguém da Rádio.
Inclusive meu próprio irmão. Porque ele faz o programa "Dance
e balance", então ele tem aquela curiosidade de saber alguma
193
coisa do meu trabalho, e eu passava pra ele. Tem um programa
"Comunicação e Saúde". Lembro. Nos foi alertado sobre a AIDS,
na época que a AIDS estava "assim", que o assunto era em
auge, né, foi alertado. Na época das vacinações infantis, a Rádio
alertava bastante. O Jardim Guarani é um lugar de periferia,
então onde tem moradores carentes. E é onde eles ajudam
bastante. Eles tinham um "Plantão Saúde", que vinha, tocava
chamadas, vinhetas... alertas sobre vacinação, sobre as
campanhas de vacinação, e sobre dengue; sobre vários
assuntos relacionados a saúde. Sempre teve. Um dos enfoques
da Rádio era essa questão da saúde, eles davam muita
prioridade a esse assunto. E a Rádio, com certeza, deveria estar
inteirada nesse assunto, porque é aqui tão próximo dela. Se ela
estivesse no ar, deveria estar sabendo. A gente ouve sobre
onde a gente pode procurar e como, para ajudar a população a
entender como poder alcançar a saúde. Que a gente tem direito
à saúde pública, mas só que o Governo desincentiva. Então a
gente... Na Rádio Cantareira a gente vai procurando meios, e vai
ouvindo dicas também, na programação. Tinha tema sobre
dengue, a saúde dos idosos. Tinha muitos temas sobre a saúde.
Na época, quando teve epidemia de dengue, enchentes, de
leptospirose. Ela abordou bastante esse tipo de tema, quando
estava bem em alta. A Rádio fazia alertas. Por exemplo, na
época de vacinação. No meio dos programas, sempre falava.
Aqui já houve problema de saúde, inclusive pessoas
contaminadas com algumas coisas dentro da sujeira de rua. E
foi orientado como se precaver, inclusive a acumulação de lixo
na região. Porque a Pastoral da Saúde, de vez em quando, ia lá
na rádio falar alguma coisa da saúde. Ouvi a rádio falar sobre
Varíola, de umas doenças assim... Daquela doença que você
pega, que... Aquela que tem um negócio de enferrujar. Tétano.
Sobre nosso problema maior: esgoto, segurança. Toda vez que
tivesse comercial, tinha aquela vinheta de saúde, falando sobre
saúde. Com certeza.
Percebe-se pela análise do discurso que o sujeito coletivo que
expressa a idéia central "sim” tem conhecimento sobre a intenção das rádios em
comunicar informações sobre saúde e expressa a relação dialógica que as rádios
têm com seu público e reconhecem essa intenção das rádios.
Quando fazemos a variação por grupos, considerando-se as duas
rádios analisadas individualmente, fica mais explícito essa idéia, pois o discurso do
sujeito coletivo da Rádio 8 expressa uma concordância em que a mesma tenta
passar informações sobre saúde para seus ouvintes, mas não consegue
194
especificar quais temas são ou foram tratados pela rádio. O programa "Rosa
Choque", da Rose, é lembrado e realmente trata-se do programa que mais divulga
informações sobre saúde na grade de programação, mas ainda assim o sujeito
não identifica que temas são tratados.
Já o discurso do sujeito coletivo dos ouvintes da Rádio Cantareira
confirma a tentativa da rádio em comunicar informações sobre saúde em sua
programação e lembram de alguns dos temas tratados. Os ouvintes atentam para
as mensagens que apaziguam o espírito, associando a programação com a saúde
espiritual dos ouvintes, identificam ou lembram de informações que orientam na
utilização de postos de saúde ou hospitais. Identificam a relação dialógica da rádio
em relação a seus ouvintes quando se lembram de casos de pessoas que
procuram a rádio até pessoalmente e recebem orientações de encaminhamentos
para os problemas de saúde que pssuam. Identificam informações sobre
prevenção em relação a dengue, e a divulgação do exame de papanicolau.
Já o DSC que expressa idéia central (IC) "não" dos ouvintes das
duas rádios analisadas, expressa o não reconhecimento de que as rádios tenham
a intenção de informar a população a respeito de prevenção a riscos sanitários.
Como trata-se da IC adotada pelo menor número percentual de entrevistados, o
que evidencia que apenas a minoria dos ouvintes não reconhece a intenção das
rádios analisadas em divulgar este tipo de informação. Essa categoria expressa
também uma população ouvinte que tem pouco interesse por este tipo de
informação pela via do rádio, optando por ouvir rádio apenas para entretenimento.
Quando se estratifica a mostra por ouvintes das duas rádios
separadamente, essa tendência se acentua mais uma vez entre os ouvintes da
Rádio 8, que tem a programação apenas como um som de fundo em seus
195
ambientes de trabalho. Ouvem esporadicamente a programação e quando
escutam este tipo de informação na rádio, mudam de emissora, expressando o
pouco interesse dessa faixa da população em receber informações sobre saúde e
comunicação de riscos por esse meio de comunicação.
A Rádio Cantareira tem também ouvintes que não lembram de ter
ouvido informações sobre saúde, mas lembram esporadicamente assuntos como
"uso de preservativos" e comentários de outros moradores que já ouviram tais
assuntos no rádio. Citam o "Jornalzinho" (Jornal Cantareira ligado à Rádio) onde
aprendem algumas informações sobre saúde, o que mostra um trabalho mais
apurado da rádio nesta intenção, pois fixa as informações transmitidas pelo rádio,
através de um jornal impresso direcionado ao mesmo público.
Finalmente, IC "Sim", fala de vários problemas de saúde",
expressada pelo DSC dos ouvintes das duas rádios analisadas, retrata a parcela
de ouvintes que além de reconhecer que as rádios analisadas tenham a intenção
de ter uma comunicação de riscos sanitários com seus ouvintes, conseguem se
lembrar dos temas tratados, o que resulta num efeito satisfatório das rádios em
atingir seus objetivos com este tipo de informações. Ouvintes de ambas as rádios
citam assuntos como prevenção à dengue, à AIDS, à leptospirose, informações
educativas sobre como tratar o lixo nas ruas para não causar doenças,
informações sobre como procurar atendimento nos centros de saúde e hospitais,
além de campanhas de vacinação, etc.
Neste aspecto mesmo quando se analisa os DSCs das duas
rádios separadamente, percebe-se que ambas atendem os objetivos de prevenir,
diminuir ou eliminar riscos sanitários por via de uma programação
educomunicativa.
196
Resultado dos Discursos Coletivos com a população entrevistada,
ouvintes das duas rádios analisadas a respeito da percepção sobre a
possibilidade de participação nas mesmas.
Pergunta 4: Você pode participar dos programas da Rádio 8/Cantareira? De
que forma? Tem algum outro modo de participar?
Em relação a esta questão, verificou-se que dos 106
entrevistados, 11 (10,28%) responderam que não podem simplesmente, 3 (2,80%)
responderam que não sabem simplesmente, 46 (42,99%) responderam que
podem, por telefone, 3 (2,80%) responderam que podem pessoalmente, 34
(31,78%) responderam que podem fazendo programas, 10 (9,35%) responderam
que podem, mas não sabem como ou não querem.
Discursos Coletivos das rádios analisadas:
Idéias Centrais DSC
A = Não pode.
Acho que não, por causa dos horários de trabalho. Eu
tenho pouco tempo... Ah, mas se eu pudesse participar,
eles deixariam sim. Deixavam. Deixaria sim. Os locutor da
Rádio é muito legal, menino. Mas é difícil. Eles convidam
quem quer participar, quem quer isso, aquilo. Mas para
mim, é um pouco difícil porque eu tenho outra atividade
em outra comunidade. Eu acho que não é fácil não, mas
acho que se quiser e for atrás, consegue. Não participo,
por falta, digamos assim, um pouco mais de jeito para a
coisa. Não tenho. Não sei se deixariam. Não sei. O
horário é meio indisponível, não é?
B = Não sabe.
Não sei. Eu acho que não. Eu acho que eu posso
participar assim, fazendo o que eu estou fazendo: falando.
Ligando, dando um cheguinho lá, essas coisas...
C = Pode. Por telefone.
Acho que posso. Ligando. Eu já liguei várias vezes,
pedindo música, sei lá, dando opinião. Acho que isso
melhora também a Rádio. A rádio sempre convida para
participar. Já participei também com perguntas... Isto. Tem
telefone para ligar lá, e participar ao vivo. Então dá para
participar. Eu tinha muito contato antes. Depois parei. Mas
sempre se tinha alguma coisa, evento, alguma coisa
197
assim, eu ia. Eu tinha até o número do telefone da Rádio.
Eu perdi. Acho que sempre opinando, para cada vez a
melhoria da cidade. Minha mãe já fez um programa lá já
há algum tempo. A principal parte dela era trabalhar com
debates, principalmente em cima do que vem
acontecendo na política de Vargem Grande. Ela tinha, tem
conhecidos da própria Rádio, alguns locutores. E como
ela sempre esteve envolvida com a Associação - agora
que ela saiu um pouco -, corria atrás de alguma coisa
referente à política para melhoria aqui da Vargem Grande,
então ofereceram, na realidade, um programa para ela.
Passava o programa de igreja, que aí minha mãe ligava
para mim pedir música. Se for preciso assim uma
entrevista sobre meu trabalho, alguma participação assim
pra ajudar na colaboração, eu tô disposta a ajudar. É,
conversar pessoalmente lá, com o pessoal da Rádio,
numa entrevista num estúdio. Para fazer um programa,
passar a ser um programador da Rádio, por exemplo, eles
deixam. Você tem que participar de reuniões, por
exemplo. Aí já tem que passar pelo curso de seleção,
fazer um curso de comunicação pra poder fazer o
programa, por exemplo. Não chegar: "-E eu quero ..." Não.
Primeiro tem um processo, antes de fazer o programa da
Rádio. Dando dicas, pedindo música, elogiando o
programa deles. Todos que trabalhavam lá, era muito
legal. Não tenho que falar mal de nenhum. Gosto de estar,
participando, desenvolvendo alguma pergunta; ou
opinando em alguma enquête que eles fizerem; ou outras
coisas.Eles têm uma parte que pode... Por exemplo, você
liga e passa o problema que está tendo na sua rua. Aí
eles vão e divulgam. Eu também faço curso lá na
Cantareira... Se quiser, posso participar de várias
formas... Isso. Domingo mesmo, pode ter uma chance de
ir lá. Se tiver oportunidade, eu estou lá para ajudar: na
área da saúde, no desempenho aí da nossa vida, o que
acontece no bairro. Dando sugestões. Eu falei para a
moça lá que eu cantava um pouco. Ela disse: "- Um dia
você vem aí". Só que eu não fui, não é?
D = Pode. Pessoalmente
Acho que tem caravana, não é isso? Não? Eu não sei. Eu
já fui convidado a participar, a ir lá um dia. É, eu já
participei. Pode. Assim... O que eu posso fazer é. Ir ver...
Como, um trabalho, não é? Da saúde mesmo, não é?
E = Pode. Fazendo
programas.
Posso. Ah, fazendo programa. A gente pode fazer
pesquisa de utilidade pública, porque essa cidade a gente
nunca sabe de nada. A gente vai ficar sabendo pelas
rádios, por outras pessoas. Porque a gente mesmo, nunca
fica sabendo de nada. Fiz um programa. Nesse programa
nosso, podia. Onde podia participar. Sim. O problema é
que a gente trabalha direto. Como a semana foi feriado,
trabalhamos ontem e hoje está fechado. Poderia. Tem até
um rapazinho que, é da igreja lá, ele até falava na Rádio.
Tem dois. Um chama até Genivaldo, e outro é o Edilson.
198
Só procuraram a Rádio e... É, eles tinham, eu acho que,
um espaço lá, para falar de Bíblia, essas coisas. É, tenho
contatos com pessoal, colegas. Eu fazia o programa
Rádio Criança com as meninas. Era Rádio Criança, que
chamava. Olha, eu já participei de um. Uns oito anos
atrás, eu tinha uma banda. Quando a Rádio era no Alto da
Serra, e a gente tocou lá. Mas uma vez só. É, a gente
estava, tipo, fazendo uma fita demo, a gente foi lá levar
para os caras lá, passar. Quem quer ir lá, pode. Cantar. O
meu marido mesmo, ele gosta muito. Até cantar em rádio,
ele já foi. Agora, eu, como dona de casa quer ouvir
receita, tem muitas coisas que a gente gosta. Sugerir
assuntos...É lógico. Sugestões. Tem, sim. Eles têm um
sistema lá. Mas poder, pode sim. Sugerir. E às vezes tem
uma dúvida, às vezes você quer ter alguma opinião. Às
vezes tem a pessoa assim: "-Bom, eu tenho um problema
em casa". Vou dar um exemplo. De vez em quando
acontece alguma coisa no Posto de Saúde - dar um
exemplo -, não assimilou, não deu certo. Eu vou chegar lá
na Rádio - porque é populacional - e vou tentar falar
desse problema, para ver se as pessoas vão assimilar na
mente ou na consciência, ver se vão resolver. Meu
pensamento é assim. Eu penso dessa forma. Eu já
participei de um programa com o Joel Junior. Uma vez ele
faltou, ele não pôde. Eu que estive fazendo o programa. É
bem aberto. A forma de participar é ligando...? Pode,
ligando. Pode ir lá, pode falar com o Joel, com a Ana
Fernanda. Não sabia o que ele ia fazer, e tentei passar
um pouquinho também do que eles me passaram, um
conhecimento. Bem pouquinho. Não conheço tanto assim
quanto eles, mas tentei também fazer uma coisa legal.
Mas assim, eu tenho que fazer um curso, entendeu? Eles
dão um curso, por 3 domingos... 3 sábados. De graça, o
curso é dado pela rádio. A gente faz o curso, e depois
apresenta a nossa programação pra eles. Se for aprovado
você pode participar da Rádio. Com tanto que a gente
tenha uma preparação pra isso, podemos fazer
programas. Inclusive eles tão sempre colocando isso no
ar, né? Ou no horário, se ela quer pessoalmente,
entendeu? No ar, no momento da Rádio funcionando. E
antigamente tinha muito. Porque eu participava bastante...
Eu gostava de participar na área do "Amigos e Amizades";
eu ligava, pedia a música, falava um comentário ao ar,
uma sugestão... Ou, se ele quiser comandar um programa
ele também pode, basta ele apresentar um projeto na
Rádio, e participar das reuniões - isso é importante - e
fazer o curso de comunicação, que é promovido pela
Associação Cantareira. É gratuito. E o programa tem que
ser aprovado pelo conselho comunitário da Rádio. São
membros da Rádio que foram eleitos em uma reunião. E
sempre que há algum programa novo, esse programa é
avaliado pra ver se é permitido o ingresso dele, ou não, na
grade de programação da Rádio. Primeiro a gente entra
em contato com alguém lá da Rádio: a Jussara, a
Jane, o Cilto, ou mesmo o Moacir. Como disse, é a rádio
comunitária do povo, então eu acho que a gente pode sim
199
tá participando. Primeiro a gente tem que fazer um curso
básico. Não vai chegar: "-Porque eu quero fazer um
programa." Você vai lá e faz um programa. Não.
Primeiramente você tem um curso básico, sabe? O curso
é sobre comunicação e outros... outros assuntos que os
ouvintes aprendem, durante uns 3 ou 4 meses. Então
você tem que ter uma preparação. Primeiro lugar foi o que
eu falei: um curso básico pra poder você chegar lá e
encarar de verdade, e fazer um programa na rádio. E
depois já pode fazer. Tem normas da rádio lá? Acabei
esquecendo, o regimento da Rádio. Eles tem o regimento,
e aquele regimento tem que ser cumprido, sempre. Dá pra
participar também em forma de publicar, fazer anúncios,
como eu já fiz aqui para a comunidade, para a igreja. E a
Rádio já ajudou muito, nesse sentido de estar também
ajudando a gente em divulgar nosso trabalho voluntário.
Talvez dando uma entrevista. De repente eu poderia até,
num horário que estivesse defasado de algum locutor, eu
ajudar, poder ajudar. Acredito que... Acho que deixariam
sim. Eu comecei a paticipar da rádio poruqe eu fazia parte
do coral. Aí surgiu o convite do Moacir Silva, e eu aceitei.
Passei a fazer parte da Rádio. Você tem uma rádio
comunitária que você tem vez e voz, na Rádio.
F = Pode. Não sabe
como, não quer
Posso. Ah, fazendo programa. A gente pode fazer
pesquisa de utilidade pública, porque essa cidade a gente
nunca sabe de nada. A gente vai ficar sabendo pelas
rádios, por outras pessoas. Porque a gente mesmo, nunca
fica sabendo de nada. Fiz um programa. Nesse programa
nosso, podia. Onde podia participar. Sim. Tem até um
rapazinho que, é da igreja lá, ele até falava na Rádio. Tem
dois. Um chama até Genivaldo, e outro é o Edilson. Só
procuraram a Rádio e... É, eles tinham, eu acho que, um
espaço lá, para falar de Bíblia, essas coisas. É, tenho
contatos com pessoal, colegas. Eu fazia o programa
Rádio Criança com as meninas. Era Rádio Criança, que
chamava. Olha, eu já participei de um. Uns oito anos
atrás, eu tinha uma banda. Quando a Rádio era no Alto da
Serra, e a gente tocou lá. Mas uma vez só. É, a gente
estava, tipo, fazendo uma fita demo, a gente foi lá levar
para os caras lá, passar. Quem quer ir lá, pode. Cantar.
Vai para cantar, porque é programa sertanejo. É
comunitária. O meu marido mesmo, ele gosta muito. Até
cantar em rádio, ele já foi. Agora, eu, como dona de casa
quer ouvir receita, tem muitas coisas que a gente gosta.
Sugerir assuntos...É lógico. Sugestões. Tem, sim. Eles
têm um sistema lá. Mas poder, pode sim. Às vezes tem a
pessoa assim: "-Bom, eu tenho um problema em casa".
Vou dar um exemplo. De vez em quando acontece
alguma coisa no Posto de Saúde - dar um exemplo -, não
assimilou, não deu certo. Eu vou chegar lá na Rádio -
porque é populacional - e vou tentar falar desse problema,
para ver se as pessoas vão assimilar na mente ou na
consciência, ver se vão resolver. Eu já participei de um
programa com o Joel Junior. Uma vez ele faltou, ele não
200
pôde. Eu que estive fazendo o programa. Pode, ligando.
Pode ir lá, pode falar com o Joel, com a Ana Fernanda.
Não sabia o que ele ia fazer, e tentei passar um
pouquinho também do que eles me passaram, um
conhecimento. Bem pouquinho. Não conheço tanto assim
quanto eles, mas tentei também fazer uma coisa legal.
Mas assim, eu tenho que fazer um curso, entendeu? Eles
dão um curso, por 3 domingos... 3 sábados. De graça, o
curso é dado pela rádio. A gente faz o curso, e depois
apresenta a nossa programação pra eles. Se for aprovado
você pode participar da Rádio. Eu gostava de participar na
área do "Amigos e Amizades"; eu ligava, pedia a música,
falava um comentário ao ar, uma sugestão... Se você
quiser participar, pra fazer algum programa, também
pode? Pode. É gratuito. E o programa tem que ser
aprovado pelo conselho comunitário da Rádio. São
membros da Rádio que foram eleitos em uma reunião. E
sempre que há algum programa novo, esse programa é
avaliado pra ver se é permitido o ingresso dele, ou não, na
grade de programação da Rádio. Primeiro a gente entra
em contato com alguém lá da Rádio: a Jussara, a
Jane, o Cilto, ou mesmo o Moacir. A gente mora aqui no
bairro e faz parte aqui do bairro da Zona Norte de São
Paulo aqui. Então pra gente é muito importante. Dá pra
participar também em forma de publicar, fazer anúncios,
como eu já fiz aqui para a comunidade, para a igreja.
Porque eu faço um trabalho voluntário aqui para ajudar a
comunidade, não só a igreja como também as pessoas
que freqüentam, os fiéis da igreja. Essa comunidade é
muito carente. E a Rádio já ajudou muito, nesse sentido
de estar também ajudando a gente em divulgar isso.
Talvez dando uma entrevista, talvez ajudando, de repente.
É um trabalho social. Projeto de um programa, desde que
ele atinja a trilha, o objetivo, o alvo que a Cantareira
oferece, e pede que seja cumprido. Que é ser
comunitário. Que nem, eu já fui, já conheci, tive o prazer
de conhecer. Não cheguei a dar entrevista. Fui no almoço
que fizeram. Já liguei para a Rádio. Fui muito bem
atendida. Porque a Rádio, ela é a rádio do povo. Você tem
uma rádio comunitária que você tem vez e voz, na Rádio.
O que você precisa, você tem aí à sua disposição. A
pessoa pode. Tem oportunidade. A gente tem
oportunidade de estar dentro, lá, Se comunicando, se
evoluindo com o pessoal também. E tem a oportunidade
também, que todo mundo pode falar no microfone, não é?
Participando da Rádio assim: vamos supor, se eu tiver um
tipo de uma música ou de um disco, uma coisa que já era
mais antigo, não é? Eu posso passar para ele e tal. E ele
manda ver, não é? É. Na área da saúde, no desempenho
aí da vida, o que acontece no bairro. Dando sugestões.
Isso, sugestão.
Discursos Coletivos da Rádio 8 de Dezembro de Vargem Grande Paulista:
201
Idéias Centrais DSC
A = Não pode.
Acho que não, por causa do horário, não dá. Olha, é um
pouco difícil por causa dos horários de trabalho. Não sei,
cara. Não tenho essa informação. Na verdade, não tenho.
Acho que não.
B = Não sabe.
Não sei. Eu acho que não. Eu acho que eu posso
participar assim, fazendo o que eu estou fazendo: falando.
Ligando, essas coisas... É
C = Pode. Por telefone.
Acho que posso. Ligando. Eu já liguei várias vezes,
pedindo música, com perguntas, dando dicas, sei lá,
dando opinião, sugerindo assuntos. Acho que isso
melhora também a Rádio. A rádio sempre convida. Então
dá para participar ao vivo. Ainda ontem eu liguei, pedindo
música e fui atendida. Eu tinha muito contato antes.
Depois parei. Mas sempre se tinha alguma coisa, evento,
alguma coisa assim, eu ia. Eu tinha até o número do
telefone da Rádio. Dá pra ligar e falar que a Rádio é muito
útil para a cidade. Pessoalmente também seria legal, mas
não dá pra ir, não tenho tempo. Então é só ligar,
sugerindo assuntos, criticando o que não está bom. Com
certeza. Eles sempre dão o telefone. É mais fácil esse
caminho de ligar. Para participar deve ligar, fazer um
pedido musical... Sim. Qualquer dúvida é só ligar, que
eles estão informando.
D = Pode. Pessoalmente
Gostei porque o Município, a cidade precisa de uma rádio,
e a gente pode anunciar os produtos, o comércio, tudo em
geral. É, as músicas são boas, passa algumas
informações sobre a cidade de Vargem Grande. Ela foca
bem o pessoal daqui. Divulga, o processo daqui. Tem
muitas coisas que a Rádio ajuda. Eu prefiro a Rádio, a
assistir televisão. Sempre. Como rádio comunitária, ela
presta um serviço para a comunidade, com relação a
comércios locais e... trabalho publicitário, um trabalho que
corresponde à atenção do povo.
E = Pode. Fazendo
programas.
Creio que posso particpar fazendo programas na rádio. O
problema é que a gente trabalha direto. Mas se tivesse
mais tempo, poderia. Tem até um rapazinho que, é da
igreja lá, ele até falava na Rádio. Tem dois. Um chama até
Gevinaldo, e outro é o Edilson. Só procuraram a Rádio e...
É, eles tinham, eu acho que, um espaço lá, para falar de
Bíblia, essas coisas. Eu fazia o programa Rádio Criança
com as meninas. Era Rádio Criança, que chamava. Olha,
eu já participei também de um. Uns oito anos atrás, eu
tinha uma banda. Quando a Rádio era no Alto da Serra, e
a gente tocou lá. Mas uma vez só. É, a gente estava, tipo,
202
fazendo uma fita demo, a gente foi lá levar para os caras
lá, passar. Quem quer ir lá, pode. Cantar. Vai para cantar,
porque tem programa sertanejo. É comunitária. O meu
marido mesmo, ele gosta muito. Até cantar em rádio, ele
já foi. Agora, eu, como dona de casa quero ouvir receita,
tem muitas coisas que a gente gosta. Sugerir assuntos..
lógico. Posso também ligar, tentando entrar em contato,
tentando ir lá, opinando. Mas tem que marcar... Eles têm
um sistema lá. Mas poder, pode sim. Eu já participei de
um programa com o Joel Junior. Uma vez ele faltou, ele
não pôde. Eu que estive fazendo o programa. É bem
aberto. A forma de participar é ligando...? Pode, ligando,
pode ir lá, pode falar com o Joel, com a Ana Fernanda. No
dia em que fiz o programa, não sabia o que ia fazer, e
tentei passar um pouquinho também do que eles me
passaram, um conhecimento. Bem pouquinho. Não
conheço tanto assim quanto eles, mas tentei também
fazer uma coisa legal.
F = Pode. Não sabe
como, não quer
Não existe discurso.
Discursos Coletivos da Rádio Cantareira de Vila Brasilândia:
Idéias Centrais DSC
A = Não pode.
Não, meu lindo. Eu acho que, não. Porque assim, eu
tenho pouco tempo. Eles convidam quem quer participar,
quem quer isso, aquilo. Mas para mim, é um pouco difícil
porque eu tenho outra atividade em outra comunidade.
Poderia participar fazendo o Terço, que eu adoro terço.
Aqueles terços deles são muito bonitos. Alguma coisa que
desse para a gente estar participando. O horário é meio
indisponível, não é? Provavelmente não deixariam, não é?
Acho que não pode, não é?
B = Não sabe.
Não... eu dou um cheguinho lá, mas acho que não dá.
C = Pode. Por telefone.
Posso. Assim, mais no final de semana. Se for preciso
assim uma entrevista sobre meu trabalho, alguma
participação assim pra ajudar na colaboração com a rádio,
eu tô disposta a ajudar. Eu acredito que sim. Você ligar
pra lá. Mas dá para participar telefonando, como eu fazia
sempre. Telefonando... todos que trabalhavam na Rádio
eu telefonava pra eles; todos, todos. Dando dicas,
pedindo música, elogiando o programa deles. Não tenho
que falar mal de nenhum. Dependendo da minha
disponibilidade, dava para participar pelo telefone, direto.
203
Ligar é o jeito de estar participando de algum programa,
desenvolvendo alguma pergunta; ou opinando em alguma
enquête que eles fizerem; ou outras coisas. Porque lá eles
têm uma parte que pode... Por exemplo, você liga e passa
o problema que está tendo na sua rua. Aí eles vão e
divulgam. Eu também faço curso lá na Cantareira... Isso.
Mas devido o horário, conforme for o horário, eu posso
mais é pelo telefone, não é? De acordo também com o
meu tempo de serviço. Porque o meu serviço é mais pelo
dia, trabalho mais pelo dia. Aí, de acordo com a
programação que tiver no ar, ou pela noite, sei lá, ou pela
madrugada. Fica com mais facilidade para a gente...
participar da programação. Se tiver oportunidade, eu
estou lá para ajudar: na área da saúde, no desempenho aí
da nossa vida, o que acontece no bairro. Dando
sugestões. Participar assim: para dar entrevista, alguma
coisa assim. Por telefone seria bem mais fácil, não é?
Creio que eles deixam. Eu falei para a moça lá que eu
cantava um pouco. Ela disse: "- Um dia você vem aí". Só
que eu não fui, não é?
D = Pode. Pessoalmente
Não existe discurso.
E = Pode. Fazendo
programas.
Posso participar, fazendo programas. Mas assim, eu
tenho que fazer um curso, entendeu? Eles dão um curso,
por 3 domingos... 3 Sábados. De graça, o curso é dado
pela rádio. A gente faz o curso, e depois apresenta a
nossa programação pra eles. Se for aprovado você pode
participar da Rádio. Com tanto que a gente tenha uma
preparação pra isso. Inclusive eles tão sempre colocando
isso no ar, né? Na época que a rádio tava no ar, eles
sempre colocaram isso. A partir do momento que a
pessoa se dispusesse a passar por um curso, ter uma
preparação, as pessoas poderiam participar; qualquer
pessoa do povo poderia participar da Rádio. Se você
quiser participar, pra fazer algum programa, também
pode. Ou, se ele quiser comandar um programa ele
também pode, basta ele apresentar um projeto na Rádio,
e participar das reuniões - isso é importante. E o
programa tem que ser aprovado pelo conselho
comunitário da Rádio. São membros da Rádio que foram
eleitos em uma reunião. E sempre que há uma... algum
programa novo, esse programa é avaliado pra ver se é
permitido o ingresso dele, ou não, na grade de
programação da Rádio. Primeiro a gente entra em contato
com alguém lá da Rádio: a Jussara, a Jane, o Cilto, ou
mesmo o Moacir. E a gente pode estar participando.
Como disse, é a rádio comunitária do povo. Em horários
que eu puder participar, sim. Talvez dando uma
entrevista, talvez ajudando, de repente. Poderia ajudar
também. De repente eu poderia até, num horário que
estivesse defasado de algum locutor, eu ajudar, poder
ajudar. Acredito que... Acho que deixariam sim. Eu
comecei... Há algum tempo atrás , eu fazia parte do coral.
204
Aí surgiu o convite do Moacir Silva, e eu aceitei. Passei a
fazer parte da Rádio. É um trabalho social. Projeto de um
programa, desde que ele atinja a trilha, o objetivo, o alvo
que a Cantareira oferece, e pede que seja cumprido. Que
é ser comunitário. E tem a oportunidade também, que
todo mundo pode falar no microfone, não é? Tem outros
jeitos de participar também. Vamos supor, se eu tiver um
tipo de uma música ou de um disco, uma coisa que já era
mais antigo, não é? Eu posso passar para ele e tal. E ele
manda ver, não é? É. Pode sugerir assunto, também. Ah,
de várias formas. É... Levando informações. Orientando
também o pessoal da comunidade, para participar, não é?
De várias maneiras, não é?
F = Pode. Não sabe
como, não quer
Depende do tempo. Mas... Com certeza. Não sei como, aí
eu não sei. Telefonando, fazendo uma visita. Tem também
a minha banda de pagode, tal, né? Então... Já, já me
ofereceram já. Já me ofereceram espaço. Não, eu fazer
programa lá, não. É, eu acredito que se quisesse eu
participaria e eles aceitariam. Eu não fui a fundo pra
participar, mas se fosse o caso de participar, alguma
coisa, já dava pelo menos uma meia hora de participação.
Mas eu não sei... Eu gostaria de saber se eu pudesse
participar. É que eu mexo com música.
Percebe-se através da análise deste discurso expresso pela idéia
central (IC) "Não pode” que este sujeito coletivo vê uma barreira na participação
do ouvinte, nem sempre pela proibição da rádio na participação dos ouvintes ou
pela existência de algum obstáculo para isso, mas na maioria das vezes pela falta
de tempo dos próprios entrevistados em se dispor a executar essa atividade. O
trabalho suga todo o tempo disponível desse sujeito coletivo, não sobrando tempo
para uma atividade com o qual possa exercer sua cidadania e desenvolver seus
potenciais como pessoa.
Quando fazemos a variação por grupos, considerando-se as duas
rádios analisadas separadamente, percebemos que o DSC da Rádio Cantareira,
apesar de apresentar os mesmos motivos de falta de tempo pela não participação,
tem mais presente a idéia de que a rádio não deixaria espaço para participação,
do que a Rádio 8.
205
O DSC que expressa idéia IC "não sabe" simplesmente, não
explicando muito os motivos, expressa uma confusão de idéias sobre a
possibilidade ou não de participar, dúvidas sobre como participar, ou a falta de
informação sobre o assunto.
Quando se estratifica a amostra por ouvintes das duas rádios
separadamente, tem-se a percepção de que o DSC da Rádio 8 apesar de
acharem que não podem participar, apresentam a idéia contraditória de que talvez
pudessem participar ligando, falando em entrevistas. A Rádio Cantareira tem
ouvintes que expressam a idéia de não poderem participar, mas acham que talvez
poderiam visitar a rádio.
Em relação a IC "Pode. Por telefone" , estes DSCs revelam uma
parcela de ouvintes que acham não só possível a participação na rádio como
afirmam que os locutores convidam os ouvintes para esta participação. Mas por
questão de tempo e praticidade, acham que a melhor forma de participação é via
telefone, ligando, pedindo músicas, sugerindo assuntos, dando opiniões sobre
temas da cidade, criticando o que está errado, etc. Estas constatações revelam o
caráter educomunicativo das rádios analisadas que propiciam uma participação
ativa dos ouvintes na produção de pautas para a grade das rádios.
Quando analisa-se os DSCs individuais de cada rádio, percebe-se
que os motivos que levam os ouvintes da Rádio 8 e da Rádio Cantareira a
gostarem delas pelo aspecto musical são parecidos. Os ouvintes da Rádio 8
escolhem mais a participação pelo telefone pela falta de tempo e pela praticidade,
dando sugestões de assuntos, pedindo músicas, etc. Esta parcela dos ouvintes da
Rádio Cantareira também escolhe o telefone como forma de participação, pela
falta de tempo devido o trabalho durante a semana, mas acham que poderiam ir
206
pessoalmente nos finais de semana. Os motivos que os levam a participar por
telefone seriam os mesmos citados pelos ouvintes da Rádio 8, adicionado ao fato
de poderem dar entrevistas, ajudando a rádio no que for preciso, denunciando
problemas que possam ocorrer em suas ruas, cantando, etc.
Na IC "Pode, pessoalmente" os DSCs expressam a característica
comunitária das rádios analisadas, quando os sujeitos coletivos citam ocasiões em
que já participaram pessoalmente das rádios, através de visitas pessoais ou em
caravanas.
Quando analisa-se os DSC individuais das rádios, percebe-se que
o público da Rádio 8 participa da rádio através de visitas, conversas ao vivo com
programadores, caravanas à rádio, etc. Enquanto que o DSC da Rádio Cantareira
não registra DSCs sobre essa IC.
Quanto a IC "Pode, fazendo programas", os DSCs revelam uma
preferência pela participação presencial de corpo e alma nas rádios, fazendo
programas. Esta parcela de ouvintes perfaz 31, 78% dos entrevistados , fato que
revela uma característica educomunicativa e autenticamente comunitária para as
rádios em relação às rádios comerciais onde a participação do ouvinte se dá
apenas por telefonemas pedindo músicas na maioria das vezes. Muitos
entrevistados desta parcela de ouvintes afirmam já terem feito programas para a
rádio e acham simples e acessível para quem quiser.
Quando analisa-se individualmente o DSC de cada rádio, percebe-
se que ouvintes da Rádio 8 afirmam que a forma de participação na rádio pode se
dar fazendo programas simplesmente ou participando de programas. Os ouvintes
da Rádio Cantareira também respondem que a forma de participação é
produzindo programas para a rádio, mas citam que o processo é feito por meio de
207
um curso de comunicação gratuito oferecido pela rádio, depois submeter o projeto
de um programa para o Conselho Comunitário da rádio, que o discute entre todos
os participantes da rádio e da Associação, se aprovado e havendo espaço livre na
grade, o programa é aceito e passa a ser veiculado. Este aspecto revela um
maior critério para a aceitação de programas de ouvintes pela Rádio Cantareira do
que pela Rádio 8, mas mesmo assim preservando a oportunidade de participação
do ouvinte.
Percebe-se pelo DSC da Rádio Cantareira que este público não só
acha que é possível participar fazendo programas, como insistem em participar,
colocam-se sempre a disposição da rádio para qualquer ajuda, sempre enquanto
trabalho voluntário. Ninguém que faz programas na rádio ganha por isso, outra
característica educomunicativa que não opta pela lógica do lucro, princípio
primeiro da sociedade capitalista, mas opta pela lógica do voluntariado e da
solidariedade, criando ecossistemas educomunicativos entre as rádios e suas
comunidades.
Finalmente na IC "Pode. Não sabe como ou não quer", os DSC
analisados expressam uma confusão de idéias sobre se podem ou não participar
das rádios. Para esta parcela dos entrevistados as rádios não conseguiram
comunicar a possibilidade de participação dos ouvintes. Apresentam-se tantos
motivos para não participarem que as vezes expressam a idéia de que não
querem participar, apenas serem ouvintes passivos, ouvindo músicas, etc...
Quando observa-se os DSCs das duas rádios separadamente,
percebe-se que esta parcela de ouvintes da Rádio 8 acha que não poderiam
participar, apresentam obstáculos para isso como falta de tempo, trabalho, etc.
Expressam que poderiam participar de alguma forma, por telefone, dando dicas,
208
etc. Já o DSC da Rádio Cantareira expressa dúvidas sobre como poderiam
participar. Às vezes expressam a vontade de cantar, outras de opinar. Às vezes
expressam a possibilidade de visitarem, outras de ligarem. Mas o obstáculo que
mais aparece é a falta de tempo disponível.
209
Resultado dos Discursos Coletivos com a população entrevistada,
ouvintes das duas rádios analisadas a respeito da percepção sobre a
eficácia das rádios na prevenção de riscos pessoais.
Pergunta 5: A Rádio 8/Cantareira já ajudou você a resolver algum problemas
de saúde seu ou de sua família?
Em relação a esta questão, verificou-se que dos 106
entrevistados, 73 (68,87%) responderam que não simplesmente, 27 (25,47%)
responderam que sim simplesmente, 6 (5,6%) responderam que não sabem ou
não lembram.
Discursos Coletivos das rádios analisadas:
Idéias Centrais DSC
A = Não.
Bom, até o momento não, porque graças a Deus eu não
tive nenhum... Nunca precisei e também nunca quis falar
sobre os meus problemas. Mas eu creio que se um dia
precisar, Terei ajuda, principalmente da Rose. Não foi
preciso, né? A família também é bem informada, então a
gente se informa. E a saúde também tá, tá tudo certinho.
Mas ajuda, meu! Muita gente ajuda... É que muita gente
não tem informação... muita gente que a cultura é baixa,
né? Então, precisa de informação; informação atrás de
informação. Geralmente eu não uso o Posto aqui da
Vargem Grande. Mas acho que tem ajudado bastante
gente. Meios de comunicação sempre ajudam. Mas é
aquilo que eu te falei. Só o fato deles estarem orientando
as pessoas a cuidarem melhor dos quintais, essas coisas,
já ajuda em geral as pessoas. Eu nunca soube também
que eles tivessem resolvido problema de saúde de
alguém daqui. Mas orientar, ocorre bastante, né? Eu
acredito que pra outras pessoas sim, por ter um programa
voltado à saúde; e esse programa orientava as pessoas
assim, Estar procurando outras formas de tá se
orientando. Uma rádio assim ajudaria muito a gente na
comunicação, e a procurar saber onde tem remédio...
B = Sim.
Sim. Ah, diríamos que orientando, ajudaria sim. Eu já ouvi
algumas coisas na rádio que eu já utilizei no meu dia-a-
dia. Ah, tabagismo... Bom, toques, ajudas que dão, que a
gente acaba captando para o nosso dia-a-dia, só ficar
sabendo das coisas para a minha informação maior.
210
Prevenindo. Isso. Assim, em parte de socorro, a gente
pedir. Não que eu estivesse doente, que eu tive que
correr, escutei a Rádio lá e fui correr para resolver. Que
eu sempre estou, quando é preciso, estou indo no médico.
Mas é bom, porque incentiva. E tem coisa que a gente
não fazia e começa a fazer. Se a pessoa pede alguma
coisa para eles fazerem, algum pedido para as pessoas
que estão escutando a Rádio, eles fazem. Quando eu fui
lá eu vi que tinha bastante folheto, falando sobre AIDS,
sobre uso de preservativo, sobre o cigarro. Eu vi bastante
folhas lá penduradas lá, assim, na parede. Eu acho que
isso é um incentivo a você se... tomar mais conta do teu
corpo, da sua saúde. Não, meu não, mas do meu filho já.
Do Meu filho, da minha família, a gente já utilizou muito do
serviço dela. Na época, um filho nosso sofreu um
acidente, a gente precisava de doador de sangue, e era
uma coisa imediata, então a Rádio prestou esse serviço.
Foi muito bem feito, tá? A gente vai mais pelas
informações. Eles sempre aconselham o que é bom, o
que é ruim. Então, a gente vai é mais pelas informações.
Mas a Rádio ajuda, sim. Ajuda mais do que a televisão, se
você quer saber. Porque às vezes você está ouvindo a
Rádio... E não só saúde. Em várias situações você ouve
rádio. Quem ouve rádio está mais atualizado nas coisas,
informado, do que televisão. Minha amiga conseguiu os
doadores de sangue para uma operação. Sobre o Ginco
Biloba, mesmo. Às vezes eles falam. Eu comprei, usei. Foi
bom. Tive pessoas, vizinhos meus que tiveram, sim,
assistência da Rádio, através dos dirigentes, locutores,
tal. Saúde: na questão da dengue, sempre eles estão
alertando o povo. Mas quando a minha irmã tava aqui...
porque ela tinha problema de saúde, né? Então a gente
conversava muito com as pessoas; e eles orientavam a
gente, entendeu? Então isso é importante. Olha, eu tive
uma amiga que ela vivia... ela tinha um problema de
câncer. Ela teve câncer de mama e ela vivia em
depressão. E ela depois deu um testemunho pra gente,
que a partir da Rádio, a partir dos programas,
principalmente o programa "Comunicação e Saúde", ela
enxergava as coisas de outro jeito, e ela passou a gostar
mais de si própria a partir desse momento. Saúde pessoal
não, só espiritual. Soube do Joaquim, ele é morador ali da
Vila Brasilândia. Ele faz ou fazia fisioterapia, no Hospital
Geral de Taipas. Lá teve uma época que ele não tinha
fisioterapeuta, ele foi lá, tinha agendado tudo, horário,
ficou na fila de espera e aí não tinha fisioterapeuta. Aí ele
ligou pra Rádio e avisou e aí avisaram na Rádio. E aí,
quando ele foi de novo tinha. Aí falou: "-Poxa, você
precisava falar na Rádio que não tinha fisioterapeuta". É
uma coisa que realmente interagiu na resolução do
problema. E não só esse, outros problemas que eu tenho
conhecimento. Aqui no Jardim Icaraí é uma região, bairro
bem carente próximo aqui, próximo do Jardim Guarani, e
eles tinham um problema de esgoto a céu aberto. E isso
foi dando na Rádio e também no Jornal Cantareira, que é
um outro veículo de comunicação, que age em parceria
211
com a Rádio e ajudou na resolução desse problema
Também fiquei sabendo do mutirão de papa, de várias
coisas assim, de saúde ginecológica; isso e aquilo outro,
que é difícil a gente conseguir no posto rápido. Eu já fiquei
sabendo, fui lá e marquei já pro outro dia. Orientações
sim. Deixa a gente mais alerto de alguns problemas. Eu
acho que, por exemplo, da dengue... pra você não jogar...
não deixar recipientes com água, você chegar e jogar a
água fora, você cobrir a caixa d'água. Então foram coisas
assim, interessantes, que ela passava pra gente precaver.
Sim, com problema de lixo. Isso é do bairro. Mas
indiretamente é uma coisa que afeta também a minha
família, porque se eu não cuidar do lixo da minha casa, vai
trazer doença para a minha família e para a minha casa, e
para o bairro. Então, é uma coisa que abrange um todo. É.
A rádio deva orientação em que médico a gente tinha que
ir... É bom, assim, porque a gente não está sabendo de
alguma informação. Então, pela Rádio a gente ouve, e
procura agilizar, não é? A minha mãe sempre ia lá. É,
minha mãe freqüentava muito lá. Saúde do idoso. Eu
lembro.
C = Não sabe u não se
lembra.
Não, que eu lembre... Eu não lembro. É que eu escuto
mesmo quando a minha mãe, tipo, Quando minha mãe
escuta. Minha mãe escuta direto, entendeu? Daí eu
escuto com ela. Mas não, não estou sabendo sobre isso
não. Dessa eu não estou sabendo, não. Olha, ajudar eu
não sei, porque eu sou da área, né? Mas alertou... Bom,
você tá sempre alertando. Mas não me lembro. Não me
lembro.
Discursos Coletivos da Rádio 8 de Dezembro de Vargem Grande Paulista:
Idéias Centrais DSC
A = Não.
Eu graças a Deus nunca precisei e nunca quis falar sobre
os meus problemas para a rádio. E geralmente eu não
uso o Posto aqui da Vargem Grande. Pelo fato de eu
trabalhar fora, eu tenho convênio, então... Bom, para mim
não, mas eu creio que para muita gente aí, eu creio que
sim, já ajudou. Mas eu acho que se um dia eu precisasse,
ajudaria, sim. A Rádio sempre ajuda. Meios de
comunicação sempre ajudam. Só o fato deles estarem
orientando as pessoas a cuidarem melhor dos quintais,
essas coisas, já ajuda em geral as pessoas. Eu nunca
soube também que eles tivessem resolvido problema de
saúde de alguém daqui.
B = Sim.
Ah, diríamos que orientando, ajudaria sim. Eu já ouvi, sim,
algumas coisas na rádio que eu já utilizei no meu dia-a-
212
dia, sim. Ah, tabagismo... Bom, toques, ajudas que dão,
que a gente acaba captando para o nosso dia-a-dia. Só
ficar sabendo das coisas para a minha informação maior.
Prevenindo. Mas é bom, porque incentiva. E tem coisa
que a gente não fazia e começa a fazer. Na época, um
filho nosso sofreu um acidente, a gente precisava de
doador de sangue, e era uma coisa imediata, então a
Rádio prestou esse serviço. Mas a gente vai mais pelas
informações. Eles sempre aconselham o que é bom, o
que é ruim. Então, a gente vai é mais pelas informações.
Contato direto, fica meio difícil da gente... Mas a Rádio
ajuda, sim. Ajuda mais do que a televisão, se você quer
saber. Porque às vezes você está ouvindo a Rádio... E
não só saúde. Em várias situações você ouve rádio.
Quem ouve rádio está mais atualizado nas coisas,
informado, do que televisão. Mas ajudou, porque sempre
está orientando a gente, e sempre a gente orienta outras
pessoas também, não é? Ajudando a gente, eu vou ajudar
outras pessoas, avisar: "-Olha, tal coisa está assim. Isso
está errado. Já ouvi no rádio, e tal". Teve também um
caso de minha amiga que conseguiu os doadores de
sangue para mim. Para uma operação que eu tive. Sobre
o Ginco Biloba, mesmo. Às vezes eles falam. Eu comprei,
usei. Foi bom. Tive pessoas, vizinhos meus que tiveram,
sim, assistência da Rádio, através dos dirigentes,
locutores, tal. Tiveram dica de emprego, com relação a
emprego. Assistência jurídica também. Saúde: na questão
da dengue, sempre eles estão alertando o povo.
C = Não sabe u não se
lembra.
Não, que eu lembre... Eu não lembro. É que eu escuto
mesmo quando a minha mãe, tipo, Quando minha mãe
escuta. Minha mãe escuta direto, entendeu? Daí eu
escuto com ela. Não estou sabendo, não. Dessa eu não
estou sabendo, não.
213
Discursos Coletivos da Rádio Cantareira de Vila Brasilândia:
Idéias Centrais DSC
A = Não.
Eu acredito que não. Mas orientar, bastante, né? Eu
acredito que pra outras pessoas sim, por ter um programa
voltado à saúde e esse programa orientava as pessoas.
Não foi preciso, né? Porque, graças a Deus, a família
também é bem informada, então a gente se informa. E a
saúde também tá, tá tudo certinho. Mas ajuda, meu! Muita
gente ajuda... É que muita gente não tem informação...
muita gente que a cultura é baixa, né? Então, precisa de
informação; informação atrás de informação. Mas, se
precisar, com certeza o pessoal vai ajudar, tenho certeza
disso. Porque uma rádio assim ajudaria muito a gente na
comunicação, e a procurar saber onde tem remédio mais
barato ou de graça. Até falamos um pouquinho, eu e a
Vera. Mas meu problema, meu e da minha família, nunca
tivemos oportunidade. Talvez tenha ajudado falando sobre
os problemas do posto, que tem. Alguma dica, sim, com
certeza. Todo mundo aproveita alguma dica, com certeza.
B = Sim.
Mas quando a minha irmã tava aqui, ela tinha problema de
saúde, né? Então a gente conversava muito com as
pessoas; e eles orientavam a gente, entendeu? Também
tive uma amiga que tinha um problema de câncer de
mama e vivia em depressão. E ela depois deu um
testemunho pra gente, que a partir da Rádio, dos
programas, principalmente o programa "Comunicação e
Saúde", ela enxergava as coisas de outro jeito, e ela
passou a gostar mais de si própria a partir desse
momento. Saúde pessoal não, só espiritual. Nas minhas
orações em que eu pedia pela minha família. Soube do
Joaquim, ele é morador ali da Vila Brasilândia. Ele faz ou
fazia fisioterapia, no Hospital Geral de Taipas. Lá teve
uma época que ele foi lá, tinha agendado tudo, horário,
ficou na fila de espera e aí não tinha fisioterapeuta. Aí ele
ligou pra Rádio e avisou e aí avisaram na Rádio. E aí,
quando ele foi de novo, o pessoal do Hospital falou: "-
Poxa, você precisava falar na Rádio que não tinha
fisioterapeuta?" É uma coisa que realmente interagiu na
resolução do problema. E não só esse, outros problemas
que eu tenho conhecimento. Aqui no Jardim Icaraí é uma
região, bairro bem carente próximo aqui, próximo do
Jardim Guarani, e eles tinham um problema de esgoto a
céu aberto. E isso foi dando na Rádio e também no Jornal
Cantareira, que é um outro veículo de comunicação, que
age em parceria com a Rádio e ajudou na resolução
desse problema também. Sim, um amigo meu, que ouvia
tantos anúncios sobre prevenção de Dengue e falava: "-
Ah, nada a ver, eu não vou pegar. Ah, o que tem deixar a
água... não vou ficar tirando de casa, limpando tudo"
Então ajudou pra caramba, porque ele teve começo de
dengue e foi uma boa ajuda. Agora ele já tá tomando mais
214
cuidado, tá legal... Também fiquei sabendo do mutirão de
papa, de várias coisas assim, de saúde ginecológica; isso
e aquilo outro, que é difícil a gente conseguir no posto
rápido. Eu já fiquei sabendo, fui lá e marquei já pro outro
dia. Orientações sim. A Rádio deixa a gente mais alerto de
alguns problemas. Eu acho que, por exemplo, da
dengue... pra você não jogar lixo... não deixar recipientes
com água, você chegar e jogar a água fora, você cobrir a
caixa d'água. Então foram coisas assim, interessantes,
que ela passava pra gente precaver. Sim, com problema
de lixo. Isso é do bairro. Mas indiretamente é uma coisa
que afeta também a minha família, porque se eu não
cuidar do lixo da minha casa, vai trazer doença para a
minha família e para a minha casa, e para o bairro. É. A
rádio dava orientação em que médico a gente tinha que
ir... É bom, assim, porque a gente não está sabendo de
alguma informação. Então, pela Rádio a gente ouve, e
procura agilizar, não é? A minha mãe sempre ia lá. É,
minha mãe freqüentava muito lá. Saúde do idoso. Eu
lembro.
C = Não sabe u não se
lembra.
Não me lembro. Olha, ajudar eu não sei, porque eu sou
da área, né? Mas alertou... Bom, você tá sempre
alertando.
Percebe-se através da análise deste discurso expresso pela idéia
central (IC) "Não” que esta parcela do sujeito coletivo não vê as rádios ou suas
programações como uma forma de ajuda direta a seus problemas de saúde. A não
ser orientando outras pessoas que não tem informações ou cultura sobre como se
cuidar melhor, como cuidar de seus quintais. Orienta como procurar lugares onde
possam ter acesso a remédios, fala de problemas do Posto de Saúde. Ou seja,
não vêm a rádio como uma ajuda emergêncial em seus problemas de saúde ou
não admitem terem problemas de saúde que possam ser resolvidos pelas rádios,
mas acreditam serem ajudados preventivamente com as informações que a rádio
transmite.
Quando fazemos a variação por grupos, considerando-se as duas
rádios analisadas separadamente, percebemos que o DSC da Rádio 8 e o da
Rádio Cantareira apresentam motivos parecidos na afirmação de que as rádios
215
não ajudam a resolver seus problemas de saúde. Não identificam ajuda direta,
mas identificam ajuda preventiva através de orientações a pessoas que não tem
muita informação ou "cultura". Os ouvintes da Rádio 8 fazem menção à prevenção
de Dengue, pois dizem que a rádio ajuda "... orientando as pessoas a cuidarem
melhor de seus quintais." Os ouvintes da Cantareira fazem menção a ajuda da
rádio quando estas orientam a "... acharem remédios mais baratos ou de graça"
ou ainda "... falando de problemas do Posto de Saúde".
Já o DSC que expressa a IC "sim" percebe a ajuda da rádio para a
sua saúde, através ajuda. Em se conseguir doadores de sangue, nos benefícios
da Ginco Biloba, na questão da prevenção ao tabagismo, à dengue. Expressam
que as informações das rádios ajudam em suas mudanças de hábitos,
incentivando a tomar atitudes que antes não tomavam, e que passaram a
preservar a saúde de seus corpos.
Quando analisa-se os DSCs individuais de cada rádio, percebe-se
que os motivos que levam os ouvintes da Rádio 8 e da Rádio Cantareira a
acharem que a rádio ajuda na resolução de seus problemas de saúde são um
pouco diferentes. Enquanto os ouvintes da Rádio 8 relacionam essa ajuda a
questões de informações e prevenção, citando apenas alguns casos de ajuda de
doadores de sangue e na denúncia de problemas no Posto de Saúde, os ouvintes
da Rádio Cantareira relatam a ajuda em problemas mais concretos e imediatos,
com na resolução de falta de profissionais no Posto de Saúde, na orientação a
pacientes de câncer e depressão, na prevenção de dengue e na conscientização
sobre o tratamento que deva ser dado ao lixo, alertas sobre mutirões de exames
ginecológicos, etc.
216
Na IC "Não sabe ou não lembra-se" os DSCs mostram uma
parcela bem pequena dos ouvintes que não tem bem clara com pode ser essa
ajuda que as rádios possam dar a resolução de seus possíveis problemas de
saúde.
Quando analisa-se os DSC individuais das rádios, percebe-se que
o público da Rádio 8 e o da Rádio Cantareira tem argumentação parecida para
expressarem suas dúvidas quanto a saberem se as rádios ajudam ou não.
217
Resultado dos Discursos Coletivos com a população entrevistada,
ouvintes das duas rádios analisadas a respeito da percepção sobre a
eficácia das rádios na prevenção de riscos em seus bairros.
Pergunta 6: A Rádio 8/Cantareira já ajudou você a resolver algum problema
de saúde de seu bairro?
Em relação a esta questão, verificou-se que dos 106
entrevistados, 61 (57,55%) responderam que sim simplesmente, 24 (22,64%)
responderam que não sabem ou não se lembram e 21 (19,81%) responderam que
não simplesmente.
Discursos Coletivos das rádios analisadas:
Idéias Centrais DSC
A = Não.
Que eu saiba, lá no bairro, nunca ouvi falar, não. Não
muito. É, não tem comentário no meu bairro, acho que a
rádio é pouco conhecida. Se eu falar que sim, é mentira. A
única coisa que eu acho errado, que devia existir aqui - lá
em Minas tem, -, que Quando falece uma pessoa, o carro
passa na rua anunciando. Eu acho que devia ser assim
aqui. A Rádio faz, mas tem muita gente que às vezes não
pode estar assistindo. Aí o carro passa anunciando a
pessoa que falece, para todo mundo ficar sabendo. Eu
acho ótimo isso. Pelo meu conhecimento, não vi porque
eu não escuto a Rádio com freqüência. Se já resolveu,
ainda não ouvi dizer.
B = Não sabe ou não
se lembra.
Bom, aí eu também não sei. Que eu saiba, que eu tomei
conhecimento, Pelo fato de eu ouvir raramente, já não tive
muito esse contato nessa área. Não sei nem se eles
passam esse tipo de informação. Deixa eu ver... Eu acho
que sim. Sim ou não. Eu não sei, nunca parei para
questionar isso daí. Bom, eu não estou informado sobre
essas partes. Eles falam para se prevenir. Mas são
pessoas que eu acho que se precisar, se eles puderem,
eles estão ali. Eles ajudam sim. É só ligar, é só falar, pedir
ajuda, conversar, que eles podendo, eles fazem, sim.
Escutava eles falar de saúde e tal. Como o pessoal tudo
gostava e tal, podia ser que ela estava fazendo alguma
coisa de boa para algumas pessoas, não sei. Porque eu
só ouvia de Sábado, não é?
218
C = Sim.
Ajuda bastante. Fiquei sabendo que podia fazer exame de
ultra-som no posto. Fiquei sabendo da campanha do
papa. Olha, igual falei do ultra-som, quando estava tendo
ultra-som ali mesmo no Posto. Foi emprestado o aparelho
de Cotia, se não me engano. Foi através da Rádio que a
gente ficou sabendo. Geralmente, quando tem para colher
o papa, eles anunciam quando está tendo a época. Eles
dão sempre o lembrete para as mulheres, principalmente,
não esquecerem de alguns exames. Ajudou nessa
campanha da dengue. Eu acredito que sim porque uma
informação a mais sempre ajuda a resolver. Se não
resolve, pelo menos ajuda a esclarecer. Atualmente todas
as rádios, que eu escuto sempre falando muito, é sobre a
dengue. Estamos naquela época que pega mais. Então,
sempre indicando para não deixar as garrafas e tal. Isso
tudo ajuda e muito. Porque apesar de todo ano eles
falarem a mesma coisa, ainda tem muita gente que é
desinformada, que todo ano tem que estar falando,
sempre falando, porque tem gente que ainda tem o hábito
de deixar a água parada. É o período que mais, que estão
falando mais agora, sobre a dengue. Eles também avisam
quando tem vacina, avisam para vacinar os cachorros;
quando tem vacina para as crianças, tudo eles avisam
para ir no Posto de Saúde. Então, eles estão orientando o
pessoal. Olha, eu sei que numa época dessas teve um
oculista aqui, que falou na Rádio, que estava tendo um
oculista, e aí a gente levou as crianças, as pessoas, para
fazer exame de oculista. Porque a gente nem estava
sabendo também. A gente ficou sabendo pela rádio. O
meu menino mesmo toma leite de soja, o menorzinho. E
aí essa moça da rádio até falou que foi eles que ajudaram
no caso do leite, né? Porque R$ 40,00 a lata de leite. Aí,
não sei como conseguir. Indicaram um lugar onde paga
metade, e metade o pessoal que paga. A gente sempre
você encontra alguém que acaba comentando que ajuda.
A rádio é muito importante, também, porque ela fala muito
também do relacionamento dos adolescentes de hoje, que
são menores de idade, com doze, treze anos e estão
tendo relação Sexual, e normalmente na casa, entre pai e
mãe, tem muito pai e mãe que não conversa a respeito
disso com a criança. Aí a criança acaba engravidando,
uma coisa indesejada, não é? Não está preparada para
aquilo. E a rádio ajuda muito sobre isso também. Ela fala
a esse respeito.Eles fazem a divulgação, e as pessoas
que escutam a Rádio, lá do Posto, acabem ajudando. Um
dia eu escutei, acho que um rapaz que passou mal na rua,
e acho que foi a Rose, que estava pedindo para a
ambulância ir pegar esse senhor. E sempre as pessoas
que trabalham no Posto, na Prefeitura, escutam, e
passam para a Central, para eles virem ajudar. Então, eu
acho muito bom essa rádio aí. Eu sei que tem um
programa, tem uma pessoa que faz lá, sobre o alcoolismo,
e convida as pessoas para ir na reunião do AA, Alcoólicos
Anônimos. E eu acho que muita gente deve ter participado
desses encontros por causa dessa propaganda que tem
219
lá. Sempre eles põem alguma notificação, pedindo para
que façam melhoria no bairro. Sobre limpeza,
pavimentação, coisa que está acontecendo na cidade.
Eles sempre dão informação, pedem para as autoridades
para que eles tomem providência. A gente fica sabendo
mais, por isso. Porque têm muitas pessoas aqui que não
têm muita informação, então assim... no trabalho, né? Até
pessoas assim, de mais idade, que escuta muito os
programas. Então ajuda bastante, porque eles passam
muita coisa interessante. Não só um programa, como
todos os outros, porque o pessoal trabalha mesmo em
prol disso. Inclusive a respeito do lixo jogado na rua, né?
Fizeram uma, acho que campanha, sobre isso aí; meses
falando sobre lixo na rua. Pela Rádio. Então eu acredito
que esse tipo de informação ajuda, né? Ou ajudou, na
época, a resolver uma situação dessa; a do lixo, por
exemplo. Nós tivemos uma entrevista com uma das
agentes daqui do bairro, agente do posto de saúde, e elas
tinham um problema com um menino, que tinha um
problema mental. E esse menino ficava preso direto,
sabe? E isso foi exposto na rádio, e nós... a Rádio foi
atrás, procurou saber, e realmente era um tratamento...
Não porque a família tivesse fazendo por maldade, eles
achavam que estavam fazendo certo por ele ter um
problema mental e ter que ficar preso por ter um problema
mental'. E não, seria o contrário, né? Seria colocar ele pra
tratamento, né? Levar ele pra tirar ele daquele claustro
que ele tava. Ele ficava preso num quartinho Isso foi
alertado, e a rádio foi atrás, sabe? Foi alertado pela
Rádio, entendeu? E foi uma coisa muito boa. Hoje o
menino tá melhor, tá recebendo tratamento, tá sendo
acompanhando pelo posto, tá recebendo tratamento fora,
tá uma outra pessoa. Então ajudou bastante isso.
Inclusive uma vez teve um problema com uma água; tava
vindo uma água suja nas torneiras, e a partir de um
ouvinte que ligou na Rádio e, a partir daí, o pessoal correu
atrás pra resolver. A Sabesp veio pra ver o que tava
acontecendo, deu todo um alerta pras pessoas prestarem
atenção na cor da água, no cheiro. E esse caso eu me
lembro que foi bem resolvido, bem comentado, na época.
Mas houveram outros casos também. É que o tempo vai
passando, e a gente acaba esquecendo. A rádio também
ajuda em problemas gerais. Não apenas problemas
individuais, como gerais. Acho que o acúmulo de lixo.
Melhorou. Eu queria até ouvir a rádio pra ver como é que
tá esse negócio da greve dos lixeiros, pra ver, porque faz
3 dias que não passa o lixeiro aqui, rapaz!Ah, o negócio
complicado, tá complicado. Se tivesse a rádio... Pau! Os
caras da rádio vão pra cima! Na hora de dar bronca, eles
sabem dar bronca também! Tem que ser assim.
Comunicação é comunicação; é coisa boa e coisa ruim,
tem que dar notícia, tem que informar o público. O pessoa
da rádio iam atrás, eles conversavam com a gente, saiam
em turminha... Até hoje eu encontro com uma turma que
trabalhou na Rádio; eles vem, conversam, perguntam
como é que tá, como é que não tá? Ah, no bairro ajudou
220
muito. Inclusive assim, tipo buraco na rua, esses negócio
assim, sempre o comunicador dava um toque. Aí,
rapidinho alguém vinha e fazia, entendeu? Aí, depois que
fechou, a gente não tem... não tem pra onde correr, a
gente não tem pra onde reclamar, entendeu? Então a
gente fica aí meio perdido, sem ter a força de ninguém.
Aqui a gente tem muito problema de enchente, de
escoamento de água que vem da parte de cima do bairro.
Porque aqui é a parte mais baixa. Na verdade, a gente
está no meio, aqui. Esse bairro está no meio. Então, ele
vem lá de cima - inclusive lá dos lados da Cantareira, do
Guarani, da Terezinha, do alto da Terezinha -, vem
passando aqui na frente da minha casa, na frente da
igreja. A gente não consegue atravessar a rua. Não.
Alaga tudo, enche tudo aqui. Tem casas que a água
invade, é. O lixo desce: carcaça de geladeira; descem
peças de carro, calota, essas coisas, tudo. Cachorro
morto desce. Nos dias que dá aquela enxurrada grande,
desce tudo. A Rádio ajuda no sentido da gente estar
cuidando para não deixar acumular lixo. Para não deixar
acumular lixo nas ruas, nas calçadas, para quando
chover, essa água não trazer tudo. É isso. Eles orientam
a gente assim. Porque tem os nossos vizinhos ali debaixo,
do Damasceno, eles é que sofrem mais do que a gente.
Porque eles recebem tudo. Enche tudo ali, alaga tudo,
pára tudo, pára... A Cantídio Sampaio pára. E têm muitas
casas que até desabam ali, devido a esses problemas que
são da comunidade, são da população, e é do Brasil. A
população é esclarecida. Também sobre os riscos que
tem a enxurrada. A criançada brincar na enxurrada, pode
pegar doença do rato. Assim, nesse sentido. Eu acho que
com isso melhorou um pouquinho, porque, se a pessoa
tem consciência, ela já vai começar a pensar duas vezes
antes de jogar lixo. Ela vai começar a observar aquela
enchente, vai pensar o porquê está acontecendo aquilo.
Então, ajuda. Eu acho que ajuda. Ajudou. Já eles, dando a
notícia das doenças, acho que as pessoas já se
conscientizam da doença e procuram o pronto-socorro,
para estar sabendo se está ou não com a doença. Saber
mais. Por exemplo, o posto está com problema de infra-
estrutura. Ela vai, divulga. É, os governantes deixam de
ficar sem saber. Aí, como está exposto, eles vão e
resolvem. Nós tivemos um exemplo. Eu lembro, aqui
mesmo no Damasceno, aqui embaixo, teve uma família
que teve problema de saúde, e foi muito rato, não é? Até,
outra vez, até por causa de uma enchente que teve, uma
época. Aí eu, assistindo, inclusive, um dia, uma outra
programação no dia de Domingo... Eu não estou lembrado
bem o locutor, mas eu estou lembrado disso aí. Ele estava
falando sobre essa família, que teve o pessoal que ficou
doente da família, e aí de repentemente a saúde pública
veio, o resgate. Pegaram o pessoal e... E a Rádio falou...
E conduziram para o hospital, e o pessoal ficou bem. Foi a
notícia que eu tive final, foi a dessa família. Pessoal ficou
bem. Olha, para o bairro tem ajudado muito, porque,
vamos supor, existem as campanhas de vacina, existem
221
as campanhas de... de qualquer coisa de saúde, a Rádio
está ali em cima, sabe? Orientando, avisando. Então eu
tenho praticamente certeza de que tem ajudado muitas
pessoas, a Rádio. Eles andam muito, eles fazem muita
coisa, que eu não sei nem explicar para você o tanto que
eles fazem. Sabe? É muito assim... Eles são muito
comunicativos, eles vão atrás. Tem aquela menina que
fala, a Jussara. Eles estão sempre batalhando. O padre...
Então é coisa que a gente tem que assimilar. Que é tanta
coisa. Mas eles trabalham bem. O trabalho deles é bom.
Eles ajudam bastante, correm atrás quando as pessoas
precisam. Eles batalham, entendeu? É muito bom, a
Rádio Cantareira.
Discursos Coletivos da Rádio 8 de Dezembro de Vargem Grande Paulista:
Idéias Centrais DSC
A = Não.
Que eu saiba, lá no bairro, nunca ouvi falar, não. Não tem
comentário no meu bairro, acho que a rádio é pouco
conhecida. Não tem muito comentário. A única coisa que
eu acho errado, que devia existir aqui - lá em Minas tem -
que quando falece uma pessoa, o carro passa na rua
anunciando. Eu acho que devia ser assim aqui. A Rádio
faz, mas tem muita gente que às vezes não pode estar
assistindo. Aí o carro passa anunciando a pessoa que
falece, para todo mundo ficar sabendo. Eu acho ótimo
isso.
B = Não sabe ou não
se lembra.
Bom, aí eu também não sei. Creio que pelo fato de eu
ouvir raramente, já não tive muito esse contato nessa
área. Não sei nem se eles passam esse tipo de
informação. Nunca parei para questionar isso daí. Eu não
posso dizer, porque eu, se ouvir a Rádio - e falar coisas
da saúde que me interessam -, eu não fico só para mim.
Eu passo para as outras pessoas também. Aquilo que
é de bom, tanto você guarda para si, quanto passa para
as outras pessoas. Até onde eu sei, não. Mas são
pessoas que eu acho que se precisar, se eles puderem,
eles estão ali. Eles ajudam sim. É só ligar, é só falar, pedir
ajuda, conversar, que eles podendo, eles fazem, sim.
C = Sim.
Ajuda bastante. Fiquei sabendo que podia fazer exame de
ultra-som no posto, da campanha do papa. Olha, igual
falei do ultra-som, quando estava tendo ultra-som ali
mesmo no Posto. Foi emprestado o aparelho de Cotia, se
não me engano. Foi através da Rádio que a gente ficou
sabendo. Geralmente, Quando tem para colher o papa,
eles anunciam quando está tendo a época. Eles dão
sempre o lembrete para as mulheres, principalmente, não
esquecerem de alguns exames. Soube sobre essa
222
campanha da dengue também. Eu acredito que sim
porque uma informação a mais sempre ajuda a resolver.
Se não resolve, pelo menos ajuda a esclarecer. Tudo eles
avisam para ir no Posto de Saúde. Então, eles estão
orientando o pessoal. Olha, eu sei que numa época
dessas teve um oculista aqui, que a Rádio falou, na
Rádio, que estava tendo um oculista, e aí a gente levou as
crianças, as pessoas, para fazer exame de oculista.
Porque a gente nem estava sabendo também. A gente
ficou sabendo pela rádio. Então, a rádio é muito
importante, também, porque ela fala muito também do
relacionamento dos adolescentes de hoje, que são
menores de idade, com doze, treze anos está tendo
relação sexual, e normalmente na casa, entre pai e mãe,
tem muito pai e mãe que não conversa a respeito disso
com a criança. Aí a criança acaba engravidando, uma
coisa indesejada, não é? Não está preparada para aquilo.
Ela fala a esse respeito. É, acho que sim, que se a pessoa
precisar, eles ajudam sim. Porque eles fazem a
divulgação, e as pessoas que escutam a Rádio, lá do
Posto, acabem ajudando. E sempre as pessoas que
trabalham no Posto, na Prefeitura, escutam, e passam
para a Central, para eles virem ajudar. Então, eu acho
muito bom essa rádio aí. Eu sei que tem um programa,
tem uma pessoa que faz lá, sobre o alcoolismo, e convida
as pessoas para ir na reunião do AA, Alcoólicos
Anônimos. E eu acho que muita gente deve ter participado
desses encontros por causa dessa propaganda que tem
lá. Sempre eles põem alguma notificação, pedindo para
que façam melhoria no bairro. Sobre limpeza,
pavimentação, coisa que está acontecendo na cidade.
Eles sempre dão informação, pedem para as autoridades
para que eles tomem providência. A gente fica sabendo
mais, por isso.
223
Discursos Coletivos da Rádio Cantareira de Vila Brasilândia:
Idéias Centrais DSC
A = Não.
Pelo meu conhecimento, não vi porque eu não escuto a
Rádio com freqüência. Que eu conheça, não.
B = Não sabe ou não
se lembra.
Isso eu não sei falar não, sabe? Escutava eles falar de
saúde e tal. Se já, não foi o meu conhecimento. Como o
pessoal tudo gostava e tal, podia ser que ela estava
fazendo alguma coisa de boa para algumas pessoas, não
sei. Talvez porque eu só ouvia de Sábado, não é? Eu
assistia, mas aí eu não conheço a pessoa. Não sei se ele
atendeu ou não, não é? Só pelo nome, não dá para saber,
não.
C = Sim.
Acredito que sim, e muito. Porque têm muitas pessoas
aqui que não têm muita informação Até pessoas assim, de
mais idade, que escuta muito os programas. Então ajuda
bastante, porque eles passam muita coisa interessante.
Não só um programa, como todos os outros, porque o
pessoal trabalha mesmo em prol disso. Vários. Inclusive a
respeito do lixo jogado na rua, né? Fizemos uma, acho
que campanha, sobre isso aí; meses falando sobre lixo na
rua. Pela Rádio. Então ajudou bastante isso. Inclusive
uma vez teve um problema com uma água; tava vindo
uma água suja nas torneiras, e a partir da... um ouvinte
ligou na Rádio e, a partir daí, o pessoal correu atrás pra
resolver. A Sabesp veio pra ver o que tava acontecendo,
deu todo um alerta pras pessoas prestarem atenção na
cor da água, no cheiro. E esse caso eu me lembro que foi
bem resolvido, bem comentado, na época. Mas houveram
outros casos também, porque a gente... assim, o tempo
vai passando, e a gente acaba... Mas a rádio comunitária
é importante nessa questão. Do bairro também,
problemas gerais. Não apenas problemas individuais,
como gerais. Acho que o acúmulo de lixo. Melhorou.
Porque nos jornais a gente escuta... porque só mesmo a
orientação que eles orientam a gente a não estar jogando
lixo na rua, porque isso é prejudicial a saúde. Então eu
acho que isso daí já faz parte, é orientação de saúde. Eu
queria até ouvir a rádio pra ver como é que tá esse
negócio da greve do lixo, pra ver, porque faz 3 dias que
não passa o lixeiro aqui, rapaz!Ah, o negócio tá
complicado, tá complicado. Se tivesse a rádio... Pau! Os
cara da rádio vai pra cima! Na hora de dar bronca, eles
sabe dar bronca também! Tem que ser assim.
Comunicação é comunicação; é coisa boa e coisa ruim,
tem que dar notícia, tem que informar o público. Porque a
comunitária ajudou muita gente que, às vezes, vai com
depressão, entretanto... . Mas sempre as pessoas
carente, as pessoas que vão necessitada de uma palavra
amiga, de ajuda. Então o pessoal tão sempre orientando
224
as pessoas e dando informação também. Inclusive assim,
tipo buraco na rua, esses negócio assim, sempre o
comunicador dava um toque. Aí, rapidinho alguém vinha e
fazia, entendeu? Aí, depois que fechou, a gente não tem...
não tem pra onde correr, a gente não tem pra onde
recramar, entendeu? Então a gente fica aí meio perdido,
sem ter a força de ninguém. E se a Rádio voltar, tem todo
meu apoio. Aqui a gente escuta em peso, escuta ela em
peso. Então se a gente precisar, ele ajuda. Aqui a gente
tem muito problema de enchente, de escoamento de
água que vem da parte de cima do bairro. Porque aqui é a
parte mais baixa. Na verdade, a gente está no meio, aqui.
Esse bairro está no meio. Então, ele vem lá de cima -
inclusive lá dos lados da Cantareira, do Guarani, da
Terezinha, do alto da Terezinha -, vem passando aqui na
frente da minha casa, na frente da igreja. A gente não
consegue atravessar a rua. Não. Alaga tudo, enche tudo
aqui. Tem casas que a água invade, é. O lixo desce:
carcaça de geladeira; descem peças de carro, calota,
essas coisas, tudo. Cachorro morto desce. Nos dias que
dá aquela enxurrada grande, desce tudo. A Rádio ajuda
no sentido da gente estar cuidando para não deixar
acumular lixo. Para não deixar acumular lixo nas ruas,
nas calçadas, para quando chover, essa água não trazer
tudo. É isso. Eles orientam a gente assim. Porque tem os
nossos vizinhos ali debaixo, do Damasceno, eles é que
sofrem mais do que a gente. Porque eles recebem tudo.
Enche tudo ali, alaga tudo, pára tudo, pára... A Cantídio
Sampaio pára. E têm muitas casas que até desabam ali,
devido a esses problemas que são da comunidade, são
da população, e é do Brasil. Não é? Um ano, dois anos
atrás, quando tinha o problema da Campanha da
Fraternidade que falava sobre a água; e aí a Rádio
Cantareira estava dando ênfase a isso. Então falou muito
sobre as enchentes que a gente tem aqui na rua. Nesse
sentido: sobre as enchentes, sobre esclarecer a
população que não é bom você jogar lixo na rua, porque o
lixo vai ser conduzido pela enchente para a baixada do
bairro, onde vai causar enchente. A população é
esclarecida. Também sobre os riscos que tem a
enxurrada. A criançada brincar na enxurrada, pode pegar
doença do rato. Assim, nesse sentido. Eu acho que com
isso melhorou um pouquinho, porque, se a pessoa tem
consciência, ela já vai começar a pensar duas vezes em
jogar lixo, em... Já eles, dando a notícia das doenças,
acho que as pessoas já se conscientizam da doença e
procuram o pronto-socorro, para estar sabendo se está ou
não. Saber mais. Já. Quando, por exemplo, o posto está
com problema de infra-estrutura. Ela vai, divulga. É, os
governantes deixam de saber. Aí, como está exposto, eles
vão e resolvem. Nós tivemos um exemplo. É, a única
coisa que eu sei que está meio pesada é a dengue. Então
alguma coisa sobre a dengue, quando o pessoal fala, não
é, sobre saúde pública, acho que é a dengue, que a
turma... Ela ajuda a orientar o pessoal. Ajuda. A Rádio
ajuda sim. Do bairro, sim. No geral, eu acho que, higiene,
225
cuidados pessoais. Sim. E era bem divertido aqui também
não é? Os caras, aí, olha, a gente passava, era direto
ligado. Não assim, mas eles andam muito, eles fazem
muita coisa, que eu não sei nem explicar para você o
tanto que eles fazem. Sabe? É muito assim... Eles são
muito comunicativos, eles vão atrás. Tem aquela menina
que fala, a Jussara. Eles estão sempre batalhando. O
padre. Então é coisa que a gente tem que assimilar. Que
é tanta coisa. Mas eles trabalham bem. O trabalho deles é
bom. Eles ajudam bastante, correm atrás quando as
pessoas precisam. Eles batalham, entendeu? É muito
bom, a Rádio Cantareira.
Percebe-se através da análise deste discurso expresso pela idéia
central (IC) "Não”, que esta parcela do sujeito coletivo, que representa a minoria
da população entrevistada, não vê as rádios ou suas programações como uma
forma de ajuda direta na resolução de problemas de saúde de seus bairros.
Afirmam que ouvem as rádios, com pouca frequência, dessa forma, podem não ter
tomado conhecimento de nenhum problema resolvido. Esta parcela de ouvinte não
vê a rádio como uma uma forma de prevenção, diminuição ou eliminação de
riscos sanitários.
Quando fazemos a variação por grupos, considerando-se as duas
rádios analisadas separadamente, percebemos que o DSC desta parcela de
ouvintes da Rádio 8 demonstra que a população não reconhece a rádio como um
recurso de eliminação, diminuição e prevenção de riscos sanitários por acharem a
rádio pouco conhecida, e com isso não tem conhecimento de possíveis problemas
de saúde resolvidos pela rádio. O DSC da Rádio Cantareira revela a mesma idéia,
mas pelo motivo de não ouvirem a rádio frequentemente e por isso talvez não
tenham conhecimento de possíveis problemas do bairro resolvidos.
A análise do discurso expresso pela IC "Não sabe ou não se
lembra”, desta parcela do sujeito coletivo, não consegue identificar nas rádios e
226
em suas programações uma forma de ajuda direta na resolução de problemas de
saúde de seus bairros. Afirmam a pouca frequência com que ouvem as rádios e
por isso, talvez, não tenham tomado conhecimento de nenhum problema
resolvido. Acreditam que a rádio talvez possa ajudar na prevenção ou no caso de
haver algum problema no bairro. Certamente as rádios contribuiriam de alguma
forma, ("é só entrar em contato"), expressando opiniões contraditórias. Para esta
parcela de ouvintes não está claro se a rádio pode ser ou não um recurso na
prevenção, diminuição ou eliminação de riscos sanitários.
Quando fazemos a variação por grupos, considerando-se as duas
rádios analisadas separadamente, percebemos que o DSC desta parcela de
ouvintes da Rádio 8 demonstra que não está claro se a população reconhece ou
não a rádio como recurso de eliminação, diminuição e prevenção de riscos
sanitários, pelo motivo de não ouvirem a rádio frequentemente e por isso talvez
não terem tido conhecimento de possíveis problemas do bairro resolvidos. Ao
mesmo tempo acham que se houver algum problema de saúde no bairro, a rádio
possa ajudar, se for procurada pela população. O DSC da Rádio Cantareira,
revela a mesma idéia. Os ouvintes sabem que a rádio fala sobre problemas de
saúde, mas não se isto ajudou a resolver problemas do bairro. Acreditam que
como muitas pessoas gostavam da rádio, isso talvez pudesse estar contribuindo a
resolver problemas do bairro.
Finalmente a análise deste discurso expresso pela idéia central
(IC) "Sim”, desta parcela do sujeito coletivo, que representa a maioria da
população entrevistada, mostra que esta parcela vê as rádios ou suas
programações como uma forma de ajuda direta na resolução de problemas de
saúde de seus bairros. Citam problemas que a rádio tenha ajudado a resolver
como: informações sobre o uso do ultra-som no posto de saúde, campanha do
227
papanicolau, avisos sobre a necessidade de se fazer exames ginecológicos,
campanhas contra a dengue, informações sobre como eliminar focos do mosquito
Aedes Aegipty, avisos sobre vacinação de crianças e cachorros, aviso sobre
presença de oculista no posto de saúde, orientações sobre como conseguir leite
de soja para crianças alérgicas pela metade do preço, orientações sexuais para
adolescentes, ajuda no pedido de atendimentos de ambulância para emergências
que ocorrem no bairro, prevenção de alcoolismo, pedidos de melhoria para o
bairro como limpeza pública, orientações sobre como tratar o lixo, entrevistas com
agentes comunitários esclarecendo dúvidas de ouvintes, orientações sobre
problemas causados por enchentes, denúncias em relação ao posto de saúde ou
em relação a esgotos sem tratamento, orientações sobre problemas mentais e
depressão. Esta parcela de ouvinte vê na rádio um recurso na prevenção,
diminuição ou eliminação de riscos sanitários.
Quando fazemos a variação por grupos, considerando-se as duas
rádios analisadas separadamente, percebemos que o DSC desta parcela de
ouvintes da Rádio 8 demonstra que a população reconhece a rádio como recurso
de eliminação, diminuição e prevenção de riscos sanitários pelos motivos descritos
anteriormente no DSC conjunto das duas rádios, com orientações sobre saúde e
assistência em problemas rotineiros de ouvintes.
O DSC dos ouvintes da Rádio Cantareira revela também o
reconhecimento da rádio como um recurso de eliminação, diminuição e prevenção
de riscos sanitários pelos seguintes motivos: a rádio informa a população sobre
cuidados com higiene, defende o bairro denunciando falta de serviços no posto de
saúde, esclarece sobre o tratamento do lixo, ajuda no conforto espiritual para
quem tem depressão. Percebe-se neste discurso que a rádio está sempre ao lado
228
da população, servindo como meio de expressão de suas demandas em relação a
problemas de saúde do bairro.
229
10. Considerações finais
Num primeiro momento, quando tentou-se levantar documentos
para a análise documental das rádios analisadas, pareceu que as rádios tinham
uma forma um tanto "anárquica" de gestão, não possuindo nenhuma gestão ou
que havia uma total informalidade no registro de sua vida administrativa. Mas
posteriormente, com as visitas às rádios e às comunidades em que estavam
inseridas, pôde-se perceber que não tratava-se disto, mas de uma forma de
gestão aberta, democrática e participativa, não se prezando cartorialização e pela
não burocratização através de documentos, ofícios, memorandos, cartas, atas,
etc. A gestão ocorre através do voluntariado, da confiança mútua entre os
membros da comunidade, da agilidade na tomada de decisões, na autonomia aos
programadores de cada programa, na influência da participação dos ouvintes e de
membros da comunidade não só nas decisões administrativas das rádios, como
na programação, o que caracteriza uma gestão autogestionária, democrática e
participativa.
Considerando-se esse olhar não funcionalista sobre a gestão das
rádios analisadas, pode-se concluir que as duas rádios apresentam características
comunitárias e educomunicativas, na medida em que tem sua organização,
organograma e estatutos definidos a partir de uma perspectiva participativa, com
representação da comunidade em que estão inseridas, tanto através da
composição dos conselhos de programação das rádios, como na composição dos
conselhos gestores das Associações as quais fazem parte.São consideradas a
participação de representantes de entidades sociais das comunidades, como
associação de moradores, associações beneficentes, Igrejas, etc, nesses órgãos
diretivos.
230
Percebe-se também a participação da comunidade na mediação
dialógica que coloca-se entre os programas e seus ouvintes, através de
telefonemas, visitas aos estúdios, depoimentos e entrevistas ao vivo, sugestão de
pautas e músicas, sugestão e implementação de programas, fase em que esses
ouvintes tornam-se programadores e consequentemente, participantes dos
conselhos de programação e daí agentes efetivos na vida das rádios e de suas
respectivas Associações.
Esta pesquisa conclui também que a gestão financeira das rádios
analisadas caracterizam-nas como comunitárias e educomunicativas pois realiza-
se sob a ótica da transparência, da solidariedade, da contribuição voluntária dos
membros da comunidade, de apoios culturais conseguidos pelos próprios
programadores junto ao comércio local e de parcerias com ONGs., Instituições
públicas, Universidades e Faculdades, em projetos sempre com objetivos culturais
e de incremento da cidadania. E não sob a ótica da economia capitalista de
mercado, da noção de lucro, nem do trabalho assalariado. As ações financeiras
das rádios analisadas tem por objetivo sustentar um projeto coletivo das
comunidades envolvidas e não o objetivo de obter lucros pessoais para seus
membros, diferentemente do que ocorre em rádios comerciais ou outras rádios
que se dizem comunitárias, mas em que o objetivo é a audiência a qualquer custo
para obtenção de anúncios cada vez em maior quantidade e valor, propiciando
lucro e acumulação de capital para seus dirigentes.
Sob o aspecto da gestão de riscos sanitários, esta pesquisa
conclui que os riscos sanitários são gestionados a partir da intenção da direção
das rádios envolvidas em ter um papel educativo e preventivo em suas grades de
programações, com inserções de vinhetas sobre saúde em intervalos entre os
programas e em temas tratados. Neste aspecto conclui-se que a Rádio Cantareira
231
mostra essa intenção de forma mais clara, quando coloca um programa específico
sobre saúde (Programa "Comunicação e Saúde") em sua grade, além das
inserções de vinhetas durante os intervalos. A Rádio 8 não tem a preocupação de
veicular um programa específico sobre saúde em suas grade, fazendo esse papel
o Programa "Rosa Choque", que não é um programa específico de saúde, mas
uma revista de variedades, na qual são inseridas algumas pautas sobre saúde em
função de sua programadora ser membro do Conselho Municipal de Saúde de
Vargem Grande Paulista. Ou seja, a preocupação com essa questão é devida
muito mais pelo interesse pessoal da programadora, do que como uma definição
de prioridades da direção da rádio.
As duas rádios utilizam-se de vinhetas em sua programação,
produzidas basicamente a partir do Programa "Plantão Saúde" fornecido pela
empresa OBORÉ, que são fontes interessantes na análise do tratamento de
temas de saúde e prevenção de riscos sanitários presentes nas comunidades em
que as rádios estão inseridas. Esses programas chegam às rádios em formato
fechado, produzidos integralmente nos estúdios da OBORÉ com pesquisadores e
profissionais da área de saúde. Isso não facilita uma inserção das rádios e de
suas comunidades na produção destes programas de saúde. As rádios
acomodam-se um pouco com este formato e não produzem suas próprias
vinhetas, dificultando uma prática educomunicativa na produção de conhecimento
coletivo na área de saúde por parte das rádios e de seus ouvintes.
A produção educomunicativa de conhecimentos a respeito da
identificação e prevenção de riscos sanitários pelas rádios analisadas verifica-se
nos programas "Comunicação e Saúde" da Rádio Cantareira e no Programa
"Rosa Choque" na Rádio 8, que produzem tais conhecimentos pautados pelas
demandas dos ouvintes, em sugestões de pauta, transmissão de notícias da
232
grande mídia e conhecimentos pessoais dos programadores e de profissionais de
saúde que atuam nas comunidades envolvidas.
Quanto a isto, esta pesquisa conclui que estas programações
caracterizam-se como educomunicativas na medida em que muitas vezes os
programas são fruto de intervenções e sugestões dos ouvintes e de demandas e
problemas sanitários ocorridos nas comunidades envolvidas. Até mesmo quando
as pautas tem como fontes matérias da grande imprensa, são tratadas sob uma
editoração crítica e relacionadas a problemas locais.
Conclui-se também que as grades de programação das rádios
analisadas, particularmente o Programa "Comunicação e Saúde" da Rádio
Cantareira e o Programa "Rosa Choque" da Rádio 8, conseguem cumprir sua
função de comunicação de riscos sanitários, assim como influenciam na
eliminação, redução e prevenção de tais riscos. Isso pode ser observado nas
campanhas de combate a dengue feitas pela Rádio 8 e de como tratar o lixo
produzidas pela Rádio Cantareira, assim como denúncias de faltas de médicos
nos postos de saúde das comunidades atingidas pelas duas rádios, obtendo como
resultado uma conscientização grande da população de Vargem Grande Paulista
na prevenção a Dengue, o que coloca a cidade com um dos menores índices da
doença no Estado e na redução de problemas de leptospirose que estava
avançando na região de Vila Brasilândia, o alerta de autoridades provocados pela
mobilização e pressão das comunidades a partir de notícias de falta de
profissionais de saúde nos Postos de Saúde e de denúncias de aterro clandestino
na Serra da Cantareira. Tais autoridades, alertadas e pressionadas por este
processo comunicativo, tomaram providências e reverteram tais situações de
riscos ambientais e sanitários denunciados.
233
Esta conclusão demonstra a importância da comunicação de
riscos via rádios comunitárias, pela onipresença, identificação e interação de tais
meios no dia-a-dia dos habitantes das comunidades analisadas e sua capacidade
de conferir visibilidade aos acontecimentos e informações produzidas pela ciência
na área de abrangência da vigilância sanitária, desempenhando um papel
fundamental no processo de ressignificação da noção de risco junto a estas
comunidades a partir de seus próprios referenciais de vida, pois as rádios nada
mais fazem do que associar informações científicas às experiências vividas
diarialmente por tais comunidades.
A atividade da comunicação de riscos deve, nessa perspectiva ter
um aprofundamento da análise de sua importância não só pela academia, mas
pelos poderes públicos, ONGs., agentes de atuação na área de saúde coletiva, e
pelas proprias comunidades, como fator educativo na elininação, dimunuição e
prevenção de riscos sanitários.
A sociedade do risco está cada vez mais se complexificando com
o surgimento de novos riscos sanitários e ambientais e a comunicação de riscos à
população ainda é pouco discutida no Brasil, estando mais relacionada a
estratégias de marketing de empresas de saúde ou de produtos químicos que
venham a provocar algum dano ao meio ambiente e que se utilizam da
comunicação e risco para amenizaar tais prejuízos à comunidade, do que como
estratégia do poder público de informação à população, incentivo à participação
social e empodramente da mesma na absorção de conhecimentos científicos que
a levem a uma autonomia, visão crítica e fortalecimento de sua cidadania.
Cientistas, pesquisadores e dirigentes da área de saúde, estão
conscientes sobre a importância de comunicar os resultados de suas pesquisas,
234
de se aproximarem da comunidade estudada e de estabeleceram estratégias para
que os riscos sejam compreendidos pela população de um forma geral.
Entretanto, ainda não compreenderam de forma profunda a importância da
incorporação de profissionais de comunicação em suas equipes para aprofundar
tais estratégias. Neste aspecto, cada vez mais se mostra importante o caráter
transdisciplinar e multiprofissional de atuação na esfera da saúde pública e
particularmente nos espaços de atuação da vigilância sanitária.
A junção da educação com a comunicação, mostra-se por esta
pesquisa, como um uma forma de mediação bastante eficaz nos processos de
proteção aos riscos sanitários. Portanto, considerando-se o referencial teórico
adotado, esta pesquisa conclui que sob o aspecto de gestão, da mediação e da
recepção, as rádios analisadas cumprem as definições de educomunicativas e têm
o papel relevante na eliminação, redução e prevenção de riscos sanitários. A
Rádio Cantareira em maior grau do que a Rádio 8 pelas diferentes formas como
surgiram e pelos contextos diferentes em que estão inseridas.
235
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em 19/02/2007.
240
Anexos
241
Roteiro de entrevistas com os ouvintes:
Qual é a sua idade?
Que bairro você mora?
Qual sua profissão?
Você ouve a Rádio 8/Rádio Cantareira? Com que frequência?
O que você acha da Rádio 8/Rádio Cantareira? Fale um pouco sobre ela?
A Rádio 8/Rádio Cantareira fala de problemas de saúde? Conte um pouco
para a gente sobre isso?
Você pode participar dos programas da Rádio 8/Rádio Cantareira? De que
forma? Tem algum outro modo de participar?
A Rádio 8/Rádio Cantareira já ajudou você a resolver algum problema de
saúde seu ou de sua família?
A Rádio 8/Rádio Cantareira já ajudou você a resolver algum problema de
saúde de seu bairro?
242
Termo de consentimento livre e esclarecido
Declaro que tenho conhecimento do conteúdo, objetivos e métodos a serem da
pesquisa de mestrado "A contribuição da comunicação para a saúde: Estudo
de comunicação de risco via rádio na Cidade de São Paulo", a ser realizada
pelo pesquisador abaixo sob a orientação de professora descrita abaixo, nas
rádios comunitárias 8 de Dezembro situada na Cidade de Vargem Grande Paulista
e Rádio Amizade, situada no Jardim Brasilândia, município de São Paulo e junto
aos seus ouvintes, com o objetivo de verificar como se dá a comunicação de
riscos sanitários inerentes ao campo da vigilância sanitária e qual é a influência
destas mensagens nos hábitos cotidianos desses ouvintes. Declaro ainda que dou
meu consentimento para participar de tal pesquisa, respondendo aos
questionários utilizados pelo pesquisador.
São Paulo, ___ de ___________________ de 2006.
_________________________________________
Assinatura do pesquisado
Nome do pesquisado
Nome do Pesquisador: Marcellus William Janes
Tel. Com: 3081-5091
Tel. Res.: 6238-9539
Nome da Orientadora: Profa. Dra. Maria Cristina da Costa Marques
Tels. Coms: 3061-5757, 3066-7783.
243
Declaração de Concordância da Instituição Pesquisada
Declaro concordar com a aplicação da pesquisa de mestrado "A contribuição da
comunicação para a saúde: Estudo de comunicação de risco via rádio na
Cidade de São Paulo", a ser realizada pelo pesquisador Marcelus William Janes,
aluno de Mestrado do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Saúde
Pública (FSP) da USP, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Cristina da Costa
Marques, a ser realizada na Rádio Comunitária 8 de Dezembro situada na Cidade
de Vargem Grande Paulista, sob minha responsabilidade e junto aos ouvintes da
mesma, com o objetivo de verificar como se dá a comunicação de riscos sanitários
inerentes ao campo da vigilância sanitária e qual é a influência destas mensagens
nos hábitos cotidianos desses ouvintes. Declaro ainda que dou meu
consentimento para participar de tal pesquisa, respondendo aos questionários
utilizados pelo pesquisador.
São Paulo, ___ de ________________ de 2006
______________________________________
Amadeu Pardal
Responsável pela Rádio Comunitária 8 de Dezembro
244
Declaração de Concordância da Instituição Pesquisada
Declaro concordar com a aplicação da pesquisa de mestrado "A contribuição da
comunicação para a saúde: Estudo de comunicação de risco via rádio na
Cidade de São Paulo", a ser realizada pelo pesquisador Marcelus William Janes,
aluno de Mestrado do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Saúde
Pública (FSP) da USP, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Cristina da Costa
Marques, a ser realizada na Rádio Comunitária Rádio Amizade, situada no Jardim
Brasilândia, município de São Paulo, sob minha responsabilidade e junto aos
ouvintes da mesma, com o objetivo de verificar como se dá a comunicação de
riscos sanitários inerentes ao campo da vigilância sanitária e qual é a influência
destas mensagens nos hábitos cotidianos desses ouvintes. Declaro ainda que dou
meu consentimento para participar de tal pesquisa, respondendo aos
questionários utilizados pelo pesquisador.
São Paulo, ___ de ________________ de 2006
______________________________________
Jussara
Rádio Amizade - Jardim Brasilândia, Município de São Paulo
245
Programa Comunicação e Saúde
Rádio Cantareira FM
ENTREVISTA COM SARA
(Agente de saúde comunitária do posto de saúde do Jardim Guarani)
[Início do Lado A]
[música]
Regina – Houve um contratempo na rádio, e nós precisamos parar o programa.
Acabou a força, nós tivemos que parar. Eu peço desculpa a todos os ouvintes.
Hoje nós voltamos, retornamos novamente com a Sara, agente comunitária da saúde
do posto de saúde do Jardim Guarani. Ela trabalha junto com a diretora Judith Maria.
Um abraço pra nossa diretora, e muito obrigado por ter concedido a Sara para nós.
Sara, aqui estamos de novo. [aplausos]
Uma boa tarde para você, você voltou pra completar sua entrevista, que na semana
passada houve um problema. Mas eu espero que você tenha gostado.
Hoje você retornou, novamente, para trazer mais informação para nós sobre o
agente comunitário.
Sara - Boa tarde, para você e pra todos os ouvintes.
Eu espero esclarecer algumas dúvidas, e fazer com que a população esteja mais
informada.
Regina – Sara, na semana passada eu te perguntei qual era o trabalho do agente
comunitário da saúde. Como teve gente que não ouviu - teve o problema aqui na Rádio -,
eu vou te perguntar novamente, para que você passe para os ouvintes qual é o papel do
agente comunitário da saúde, no posto de saúde.
Sara - O agente comunitário vai até a casa das pessoas, cujas ruas foram separadas
para o posto UBS Jardim Guarani cuidar. Ele oferece todo o trabalho do posto. Nós
fazemos um cadastro.
246
Atualmente também estamos fazendo o SUS com a população. É, um outro
cadastramento para que a população tenha um cartão universal, que vai ser usado em nível
do Brasil. Inclusive, nos hospitais grandes também, vai ser usado este cartão.
Nós estamos, no momento, cadastrando a população, e também oferecendo,
informando o dia das consultas, dando bastante atenção, bastante ênfase para os
hipertensos, diabéticos; para os que tenham tuberculose. Estamos dando bastante atenção
para essas doenças - que no momento têm controle; têm, caso eles se tratem, como
contornar a situação para eles ficarem livres dessas doenças. Então, estamos atrás dessas
pessoas.
Regina - Sara, eu te pergunto agora: vocês são muito procurados pelas pessoas do
bairro e pelas pessoas que freqüentam o posto?
Sara - Somos sim. Graças a Deus a população tem bastante confiança em nós. Já,
hoje, dois anos de luta - na verdade são treze anos -, eu há dois anos, porque entrei depois.
Dois anos de luta.
A população tem tido, dado um voto de confiança para nós... Isso tem sido muito
bom porque nós mostramos... Tentamos ser úteis para a população.
Regina - E quem é que comanda essa equipe do agente comunitário da saúde? É
comandado por... Tem um médico atrás, tem pessoas mais... do posto, que seja maior do
posto, para poder comandar essa equipe?
Sara - Nós temos a nossa diretora, que é a Judith Maria, temos...
Na nossa equipe, temos o doutor Carlos Rabassa, que é o nosso médico; temos a
enfermeira Ângela; temos as duas auxiliares. Uma delas é a Viviane, mora aqui próximo da
gente; e outra é a Lucimeire. Temos mais cinco agentes comunitários, divididos para as
ruas.
Nós somos comandados... Na verdade não tem... Tem o médico, a enfermeira, tudo,
mas a gente tem uma intimidade um com o outro. Tudo, lógico, o médico tem que saber o
que estamos fazendo.
Regina - É trabalho em equipe, não é?
247
Sara - É um trabalho em equipe.
Da mesma forma que nós contamos muito com o doutor Carlos, com a enfermeira
Ângela, eles contam muito conosco também. A gente tem uma certa proximidade um com o
outro, a ponto de conversar coisas que só mesmo com nosso médico, com a enfermeira que
verifica todo nosso [palavra inaudível].
Regina - Vocês levam os problemas dos pacientes para eles?
Sara - Levamos, levamos os problemas.
Regina – Sara, a gente vai para mais uma música, e voltaremos novamente.
Vinheta
Aí, você está na sua Rádio Amizade FM 107,5. E você acaba de ouvir Coisa de
Pele, com Jorge Aragão.
[música]
Ari – Exatamente. Agora são treze horas e vinte minutos. E você continua
sintonizado na 107,5 .
Aí, Clarisse, um grande abraço para você, e continue na sintonia do programa
Comunicação e Saúde.
A Elaine, lá do Imirim, também um grande abraço pra você, Elaine. E continue com
a gente.
E agora nós vamos continuar com a entrevista, com a...
[música]
Regina - Pois é, nós voltamos aqui para nossa entrevista, Sara. Eu espero que você
esteja gostando.
248
Você ouvinte, também esteja ligadinho e esteja ouvindo. E se quiser fazer alguma
pergunta, ligue para nós. Qual é o telefone Rafael?
[música]
Rafael Trinta e nove... Ligue para 3923-2560.
Regina - Deu um branco, não é Rafael? Então, pois é, peguei você.
Trinta e nove, dois, três, dois, cinco, meia, zero. Se você quiser fazer alguma
pergunta para a Sara, nós estamos aqui a disposição.
Sara, fala pra mim, vocês são uma equipe. Quantas equipes vocês são no posto, e
qual é a distribuição nessas equipes?
Sara - Nós somos seis equipes.
Regina - Como elas são distribuídas?
Sara - Elas são - eu expliquei como é, mais ou menos - um médico, a enfermeira,
são dois auxiliares e cinco a seis agentes comunitários.
Regina – Sim, mas vocês são divididos... Em cada equipe tem esse tanto de pessoas.
E vocês são divididos em quantas equipes pra sair? Distribuição no bairro.
Sara - Nós fazemos assim: tem um dia certo para cada equipe sair. O dia da equipe
F é na sexta-feira,...
Regina - Que é a sua?
Sara - ...que é a minha equipe. Nas sextas-feiras, de um modo geral, ela dá atenção
para os acamados, às pessoas que não podem vir ao posto.
Nesse dia não tem atendimento para a população que vai nos procurar, porque eles
estão já orientados. Lógico, existem exceções. Devemos ser sempre flexíveis...
Regina - É lógico.
Sara - ...porque existem algumas pessoas que...
249
Regina – Procuram.
Sara – ...sabem, mas procuram. Ninguém, elas não vão ser abandonadas.
Regina - Procuram porque precisam.
Sara - Isto!
Nós saímos e visitamos pessoas com o médico, com a enfermeira, com as auxiliares
de enfermagem, com os outros ACS, agentes comunitários de saúde. Nós vamos ao
encontro daqueles que nós consideramos acamados, pessoas que não podem vir ao posto,
que vivem em uma cadeira de rodas, e que dependem de outras pessoas para se locomover.
Regina – Então, se sua equipe é a F, vocês têm A, B, C, D...
Sara - E e a F.
Regina - ...e a F?
Sara – Isto.
Regina – Então, põe pra nós o que cada equipe faz.
Sara - Certo. A equipe A, no momento, está sem médico, e...
Regina - É uma pena.
Sara - É uma pena. Ela está só com o enfermeiro Alexandre, as auxiliares de
enfermagem e os ACS[?]. Mas os outros médicos não dão...
Regina - Eles não deixam de trabalhar. Eles continuam...
Sara - Continuam, normal.
Regina - ...trabalhando, tendo suporte das outras equipes?
Sara - Isso. Os outros médicos estão, dão ajuda nesta questão. A equipe A.
A equipe B, é o doutor Emanuel, dá ênfase para as favelas das ruas que ele trabalha.
Ele é uma pessoa muito dedicada, muito querida na área dele. Também tem a enfermeira
dele, as auxiliares e os ACS[?].
250
Depois tem a equipe C - que é o doutor Nelson -, que dá ênfase para creche próxima
ao posto de saúde. Independente de onde a criança mora, ele tem um dia que separa só para
verificar essas crianças, se elas estão com um probleminha.
Depois tem a equipe B, aliás,...
Regina - C.
Sara - A equipe D.
Regina - D.
Sara - A C é o doutor Nelson, que dá ênfase para creche. Depois tem a equipe D, d
de dado, que é a doutora Altair, que também dá ênfase também para creche lá da igreja
Santo Expedito.
Regina - Sem distinção, não é?
Sara - Inclusive... Sem distinção também. Inclusive, eles também fazem um
trabalho com os adolescentes do Ubaldo Costa Leite.
Regina – Ah, que bom.
Sara - A escola ali Dr. Ubaldo Costa Leite, a partir da quinta série em diante, eles
fazem um trabalho sobre doenças sexualmente transmissíveis...
Regina - Oh, isso é muito bom.
Sara - ...para informar os adolescentes que já estão engrenando nessa vida,
conhecendo, tudo. Então, eles têm muita curiosidade.
A doutora Altair tem uma equipe que ela trabalha. Inclusive tem até distribuição de
camisinha para alguns jovens que já têm vida sexual ativa. Então, a equipe D.
Depois tem a equipe E, que é o doutor Osvaldo. Ele também é uma pessoa muito
eficiente no trabalho. Ele é meio carrancudo, mas ele é muito eficiente. Ele também
trabalha na área dele sem acepção[?] de pessoas.
251
No dia da visita ele não vai especialmente nos acamados. Ele alcança os acamados e
vai na casa das pessoas sãs também para conhece-lo, para... Alguns que têm convênio, que
não vão ao posto, têm essa oportunidade de apertar a mão dele, conversar com ele.
Depois tem a F, que é a minha equipe, que o doutor Carlos visita especialmente os
acamados.
Regina – Ah, que bom.
Sara - A nossa equipe, infelizmente, tem muitos acamados. As nossas ruas são ruas
muito carentes. Uma das duas ruas bem carentes que abrangem a nossa equipe é a
Camaratibe Virajuba[?]. Lá tem bastante acamados. O doutor Carlos precisa... Tem duas
sextas-feiras especialmente para essas duas ruas, e ainda assim não dá conta.
Regina - Essas são as equipes que trabalham? A, B...
Sara – A, B, C, D, E e F.
Regina - E fala uma coisa para mim, Sara. Você me disse, você disse para todos nós
que vocês são muito procurados.
Sara - Isto.
Regina - Quais as dificuldades e quais as facilidades que vocês têm para arrumar as
coisas para os pacientes? Por exemplo, medicação... Vocês chegam na casa de um paciente,
vocês vêem que ele está sem condições para sobreviver, com alimentação. Vocês se
envolvem nisso também, na parte social do paciente?
Sara - Olha, como o nosso trabalho, PSF, visa bastante a parceria, então nós
ajudamos nessa área também. Não que nós iremos levar a cesta básica para a pessoa. Mas
nós instruímos aonde a pessoa vai procurar.
Regina – Ah, sim.
Sara - Por exemplo, aqui no nosso bairro tem o clube das mães. Tem a Associação
ali, que outrora o Milton cuidava. Agora é outra pessoa que está sendo presidente lá. Lá
fornece leite, e também fornece cesta básica. Não sei se atualmente está funcionando a
252
escola de computação, bem baratinho, para as pessoas que precisam ter noção de
informática e não pode pagar o preço correto. Como o nosso trabalho é um trabalho de
parceria, nós estamos na casa, vemos a necessidade do paciente, do cliente - é cliente, que
deve se falar, não é paciente -, nós tentamos alcançar a necessidade dele – dele ou dela –
inclusive sendo instruído referente ao INSS, para informar também as pessoas que têm
direito ao LOAS, que têm direito a alguns benefícios. Por exemplo, isenção tarifária: não
pagar ônibus. Às vezes eles não sabem. Como nós vamos na casa, e vemos a situação da
pessoa, vemos a doença que a pessoa tem, o quadro de doença que ela tem – com o médico,
enfermeira, tudo -, depois nós conversamos entre nós e verificamos que a pessoa tem
direito a não pagar ônibus, a fazer o seu tratamento, fazer fisioterapia, fazer qualquer
tratamento, acompanhamento, ...
Regina - Se precisar gastar.
Sara - ...sem precisar pagar ônibus. Nós iniciamos a papelada. Conseguimos.
O paciente vem, o cliente vem, passa pela consulta com o doutor Carlos. O doutor
Carlos fornece um laudo, nós preenchemos um papel, mandamos para um outro posto.
Nesse posto eles dão o aval, confirmando que a pessoa tem direito. Depois nós, agentes
comunitários, vamos a casa entregar, com uma alegria: “-Você vai conseguir, você vai
conseguir a isenção tarifária!” Entregamos, e a pessoa vai nos tais lugares para conseguir.
Aí ela tem as carteirinhas, que isso aí é uma ajuda nossa. Somos nós que fazemos.
Regina - Sim, Sara. E fala para mim: foi na gestão de quem que veio aparecer o
agente comunitário da saúde?
Sara - Então, na gestão da Marta, ...
Regina – Hum.
Sara - ...da Marta Suplicy, porque...
Regina - Então esse é um programa elaborado pela Marta?
Sara - Ela deu o primeiro impulso. Na verdade, já estava, fora de São Paulo,
acontecendo o PSF.
253
Regina - Ah, sim.
Sara - Tem em outros lugares.
Regina - São Paulo não tinha?
Sara - Só São Paulo que não. A Marta entrou, impulsionou a entrada do PSF. Aí
quando apareceram os agentes comunitários de São Paulo.
Regina - Espero que continue, não é? E a gente vai...
Sara - Acredito que sim.
Regina - ...lutar para que isso fique para sempre, porque para, como você diz, o
cliente, para ele isso é muito bom, saber que tem alguém interessado na vida dele, saber
que tem alguém interessado na saúde. E não só na vida como na saúde, mas dentro da casa
dele. Assim como ele está doente deve ter outros também na família doentes, e ninguém
sabe, não é mesmo?
Sara – É verdade. Quando nós nos aproximamos, nós fazemos várias perguntas, nos
envolvemos bastante com o cliente, no intuito de ajudá-lo, de ver onde nós vamos entrar
para poder favorecer aquela pessoa.
Regina - Ah, que bom.
Sara - Por isso que nós ficamos felizes quando a pessoa abre o coração para nós,
porque a nossa intenção é essa, mesmo às vezes sendo mal interpretada, ou às vezes não
conseguindo tudo que o cliente precisa. Porque às vezes ele realmente não tem direito.
Mesmo nós desejando, verificamos que ele não tem direito.
Quando não está no nosso alcance - como eu te falei, o PSF é um trabalho de
parceria -, passamos aqui para a Márcia, que é da 12 também, que trabalha, que mora aqui
também, para ela verificar se a pessoa tem como conseguir um auxílio doença, um
benefício para ela ...
Regina - Eu sei. Vocês procuram sempre ajudar da melhor forma possível, não é?
Sara - Isto.
254
Regina - Ter sempre um jeitinho para poder ajudar alguém, para ninguém ficar
insatisfeito.
Sara – É, verdade.
Regina - Ari, você tem alguma pergunta para fazer para a Sara?
[música]
Ari - Eu só quero dizer o seguinte: que você que está em casa, ouvindo a 107,5, e
quer mais informação, ligue para nós e faça sua pergunta no ar. A nossa agente comunitária
tem prazer de responder.
Regina - Vamos para mais uma música, [corte na gravação].
A respeito do paciente, que você encontra acamado e você não consegue ajudá-lo?
Sara - Olha, dificilmente nós não conseguimos ajudá-lo. Porque, se a gente não
conseguir fazer nada, pelo menos nós estamos ouvindo o paciente. Isso serve para ele como
um desabafo.
Tem paciente, que eu realmente não preciso fazer nada. Inclusive mora bem aqui
perto. E o que acontece? Ela não precisa muito da gente. Graças a Deus tem boas condições
financeiras, tem um bom convênio, tudo. O que acontece? A gente vai só para ouvi-la. Eu
acho que assim a gente já está ajudando, não é, Regina? Isso é muito importante para nós.
Mas fora o fato da gente ouvi-la - também uns, só para ouvir -, outros, nós
realmente fazemos alguma coisa que... Trazemos os remé... Trazemos, não. Trazemos a
receita para o paciente quando o paciente... O doutor Carlos vai, medica. Inclusive, remédio
para hipertensão não pode faltar para o paciente nunca, ...
Regina - Nunca.
Sara - ...então nós não trazemos o remédio, porque não pode trazer o remédio.
Sempre procuramos o cuidador. Tem que ter sempre um cuidador. Nós procuramos o
cuidador, para o cuidador ir ao posto buscar, porque senão a gente abraça aquela causa, e
255
nós temos muitas pessoas que precisam de nós. A gente não pode totalmente abraçar aquela
causa. Temos que dividir a nossa responsabilidade com o cuidador, certo?
Regina - Sara, infelizmente a nossa entrevista está chegando ao fim.
Sara - É verdade.
Regina - Gostei muito. Eu trouxe você hoje novamente aqui.
Eu sei que na semana passada conversamos mais, mas para a gente continuar a
nossa entrevista, tinha que trazer você novamente. Eu só posso te agradecer. E espero que
você volte outras vezes para conversar com os nossos ouvintes.
Sara - Certo.
Regina - Se você tiver alguém para mandar um abraço, você manda o seu abraço, e
dá o seu recado.
Sara - Eu vou mandar um abraço agora para o meu esposo, que está me escutando,
para a minha filha; para uma das minhas filhas.
Regina - Qual é o nome deles?
Sara - Meu esposo é Jaurino. A minha caçulinha é a Sâmia, que está em casa,
escutando.
Eu quero mandar um abraço também para o pessoal lá da igreja, que eu sei que
estão todos sintonizados nessa rádio que eles descobriram, e gostaram dessa programação.
Informaram que vão estar sempre ouvindo.
Regina - Que eles estejam sempre ligados. E a gente está aqui para...
Sara - A pastora Nilza, e todos os jovens... Lá nós estamos tendo um bazar, agora,
de roupas seminovas. Eles estão todos trabalhando lá em prol da igreja, para ajudar, para
quando as pessoas nos procurarem, nós termos como ajudá-las.
Quero mandar um abraço também para a minha diretora, Judith Maria. Eu gosto
muito dela, ela sabe disso; para a enfermeira Ângela.
256
Regina - Agradecer a ela por ter liberado você para vir...
Sara - É verdade.
Regina - ...conversar com a gente, expor o seu trabalho, que é muito bonito, viu?
Sara - Inclusive ela deu o maior apoio para eu estar aqui.
Regina - Espero que ela também venha um dia nos visitar.
Sara - Ela já falou que assim que você desejar a presença dela, é só comunicar...
Regina - Então está feito o convite. O dia que ela quiser...
Sara - Certo.
Regina - Está bom?
Sara - Inclusive, ela costuma nos sábados fazer trabalho voluntário para ajudar
algumas pessoas, creches: visitar. Ela é assistente social, sempre tem bastante informação
para transmitir. Eu quero agradecer a ela também.
Mandar um abraço para todos que estão me escutando, todos os agentes
comunitários, todos os lugares que estão nos escutando. Ah, um abraço para a dona Clara,
que é a nossa vizinha.
Regina – Hum, que deve estar ligadinha.
Sara - Para a minha mãe também, que está escutando; para a Rúbia, meu padrasto
também, todo mundo ouvindo ali, perguntando: “-Você está indo? É agora? Então a gente
vai estar sintonizando”.
Eu fico muito feliz por as pessoas terem boa vontade de querer nos escutar, porque é
um prazer sempre informar, não é, Regina?
Regina - Isso. Sara, já a equipe do programa “Comunicação e Saúde” agradece por
você ter vindo, esperando que você volte sempre...
Sara - Certo.
257
Regina - ... sempre trazendo algum assunto para nós, sobre o seu trabalho, sobre o
trabalho do posto.
Nós estamos aqui à sua disposição, e a disposição do posto, para sempre transmitir
para os nossos ouvintes esse belo trabalho que é de vocês.
Muito obrigada por você ter vindo.
Sara - Eu agradeço a você, Regina, ao teu esposo, ao teu filho. E gostaria que outras
pessoas tivessem o prazer de estar aqui, porque a gente compartilha de uma coisa muito
gostosa que há entre vocês, que dividem conosco.
Regina - E a próxima música eu vou oferecer a todos os agentes comunitários da
saúde, e a todos que trabalham no posto, e que fazem esse trabalho bonito que é.
Ari - Exatamente, Regina. A todos os agentes comunitários, meus parabéns. E a
próxima música é dedicada a eles.
[música]
FIM DA ENTREVISTA
258
PROGRAMA ROSA CHOQUE
(Rádio 8 de Dezembro)
[Arquivo CD1]
[música de fundo]
Homem
Está no ar o Programa Rosa Choque!
Com astral, notícias!
Informações, receitas, e mais!
Muito mais músi-música-música! No seu rádio a partir de agora-agora-de-agora!
[música de fundo]
Rose
Bom dia! Muito bom dia! São 9:03! Vamos dar início a mais um Programa Rosa
Choque aqui pela 98,7 FM.
[música de fundo]
E hoje, terça-feira, 7 de novembro de 2006. Essa manhã nublada aqui de Vargem Grande Paulista.
Até tem um chuvisquinho aí, né, caindo em cima de nós aí. Mas tá gostoso, né, apesar de tudo, ainda está
abafado o tempo. Quem sabe dá uma mudança, cai uma chuva aí. De repente pára, sai um sol, quem que sabe,
né?
[música de fundo]
Mas de qualquer maneira, esse calor humano sempre, sempre, sempre! está presente aqui no
Programa Rosa Choque. A gente tá sempre com alto astral aqui no nosso programa.
259
Eu sou a Rose, te dou mais uma vez um bom dia! para vocês, amigos e amigas ouvintes da Rádio 8
de Dezembro.
[música de fundo]
E o nosso Programa Rosa Choque sempre é assim, né? Aqui você tem informações, notícias, astral,
receita, e música! Muita música boa pra você.
O telefone daqui você já sabe, 4159-1364. Vamos lá?
A primeira meia hora é de música direto. Vamos começar hoje com Ice House[?], No Promise. Volto
daqui a pouquinho. Bom dia!
[música]
Propaganda
E atenção! Agora RD Madeira está em novo endereço! Localizado na Rua Bom Giro Lacau,
KM 46,5, sentido Ibiúna.
É isso mesmo!
Agora em novo endereço para melhor atender a todos!
Trabalhamos com as madeiras: garapeira, cedrinho, cambará, pinus e eucalipto, com preços
especiais pra você!
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atender a você!
RD Madeiras!
Ligue, 4158-2303, 4158-2303! Ou ainda: 4158-7159, 4158-7159.
RD Madeiras!
E agora com assoalhos de ipê e cumaru!
[música de fundo]
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260
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4158-5044, 4158-5044.
Rodovia Raposo Tavares, KM 44,5, na altura do número 213, no centro de Vargem Grade
Paulista.
[música de fundo]
Coro
Bom dia!
[música de fundo]
Homem
Hora certa.
Rose
Já são 9:34 minutos!
Bom dia!
[música de fundo]
E nessa terça-feira, meio que chuvosa aqui em Vargem Grande Paulista, né, o tempo tá nublado, tá aí
caindo uma garoínha de leve.
A gente tem muita coisa bom pra informar vocês, moradores aqui de Vargem Grande Paulista e
região!
[música de fundo]
261
Vamos conversar um pouquinho agora a respeito de saúde, né? A gente sempre conversa aqui sobre
saúde. Todos os dias, quase, a gente tá falando disso. Então a gente não pode deixar de reforçar aí os
recadinhos, porque senão a gente acaba esquecendo. E saúde a gente não pode esquecer nunca! É prioridade
em nossas vidas.
[música de fundo]
Hoje eu vou querer falar com vocês a respeito de dois assuntos. Um: é a dengue, que a gente está
sempre batendo na mesma tecla, né? Que a gente não pode esquecer o bichinho da dengue, aquele danado
daquele mosquitinho, que você pensa que acabou. Mas ele não acaba, não. Só acaba dependendo da tua
vontade, da minha vontade, enfim, da vontade de todos nós. A gente tem que ter esse maior cuidado aí em
nossas casas, no local onde nós trabalhamos, nossos vizinhos, né?
De repente a gente tem que dar uma olhadinha lá no quintal do vizinho, para ver se não tem nada lá
que pode juntar uma aguinha, ficar uma água parada. Por exemplo: pneu velho, garrafas, vasos de flores. A
gente tem que tomar todo esse cuidado. Você já sabe disso, né? Então, não esqueça! Olhe sempre aí os seus
vasinhos de planta, se não está com aquela aguinha juntando no pratinho. Coloca uma areia, né? Põe
areiazinha lá, aí você já está evitando o surgimento aí de larvas, e o próprio mosquito da dengue.
Se você já tem animal de estimação, também tenha todo o cuidado de lavar a vasilha de água desse
cachorrinho, ou desse gatinho, que seja, diariamente, passando uma buchinha. Porque a larva, ela consegue
viver impregnada nesses locais por muito tempo, até sem água, viu gente? Se você não sabia disso, fica
sabendo. Ela vive, sobrevive por muito tempo sem água. Então por isso há a necessidade de esfregar a vasilha
com uma buchinha, com uma escovinha, para não ter mais esse problema.
Graças a Deus não estamos tendo nenhum caso de dengue, porque é uma doença terrível, não é
brincadeira. A dengue hemorrágica é a mais perigosa, que pode levar até casos, né, à morte. Então não é
brincadeira, tá bom?
Então você fica sabendo, atenção é o nosso cuidado co a dengue, porque é a prevenção que faz a
gente acabar com isso, esse bichinho danado que é a dengue.
[música de fundo]
E hoje eu quero falar também de um assunto bem legal aí, bem interessante, que é sobre as doenças
sexualmente transmissíveis, o famoso, né, a famosa DST. Então vamos saber aí: é preciso tratar, é preciso
evitar.
Vou te falar o que é a DST, como nós podemos reconhecer essa doença, o quê que a gente tem que
fazer, o que não fazer, qual que é o perigo, e como evitar.
262
Então, vamos lá! Vamos prestar atenção, porque também é uma coisa grave aí, principalmente no
grupo de jovens. É, os jovens, né, dessa época, da nossa época agora, têm que ter todo cuidado, todo o alerta
aí, para essa moçada bonita aí se cuidar!
Mas, de qualquer maneira, independente de idade, né? É que o pessoal jovem aí, está mais... aflora...
Eles estão mais em evidência nesse assunto, mas todas as idades, claro, têm que ter esse cuidado, sim, com as
doenças sexualmente transmissíveis.
Então, o quê que é DST? São doenças sexualmente transmissíveis, tais como, exemplo: sífilis, a
gonorréia, triconomas, é... tricomonas. Nossa! Os nomes são terríveis, né? Herpes, crista de galo, cancro mole,
e outras doenças venéreas.
Então tem gente que conhece por nome de doenças venéreas, né? São doenças transmitidas aí através
do sexo, geralmente é isso daí.
Como que você reconhece se você está com uma doença desse tipo? Os sinais, eles podem aparecer:
no pênis, na vagina, no ânus, feridas, verrugas, ou corrimentos. Pode ser a DST. Então, apareceu qualquer
anormalidade, corra, procura um médico, porque com certeza pode ser uma doença sexualmente transmissível.
O que nós vamos fazer? Procurar um tratamento no posto de saúde!
Siga a recomendação do médico: o seu parceiro ou parceira também deve se tratar, viu? Senão um
passa para o outro de novo. Não vale, né, só um. Vocês estão juntos, os dois têm que ter esse tratamento.
O quê que não devemos fazer? Você não deve tomar nem passar nenhum remédio por conta própria!
É, de repente um vizinho indica, amiga, ou parente, né? Não faça isso. Só usa o que o médico indicar, e o
tratamento correto, tá bom? Não vai em conversa assim, não, que é muito perigoso.
Qual que é o perigo? Quando não descobertas, que perigo é esse, né? Quando não descobre ou trata a
tempo essas doenças transmissíveis aí, sexualmente transmissíveis, pode causar sérias complicações, até a
morte! Olha só, hein?
Mulheres grávidas podem abortar o bebê, ou o bebê pode nascer com graves defeitos. Além disso,
essas doenças aumentam o risco de você pegar o vírus da AIDS. Então, gente! aconteceu uma coisinha que
não é normal, procura o médico. É a melhor solução.
E como que a gente evita essas doenças? Pra você evitar as doenças sexualmente transmissíveis, quê
que você faz? Inclusive a AIDS, também é uma doença da DST, reduza o número de parceiros sexuais, e use
sempre a camisinha!
Você que, né, tem mais do que um ou uma parceria, procure evitar muitas parceiras, muitos
parceiros, e sempre, de qualquer maneira, sempre use a camisinha, que é o melhor, a melhor amiga sua sim!
Você homem, você mulher. É uma proteção que você faz a você mesmo, e ao seu parceiro, que você tanto
ama, né?
Põe isso na cabeça, e qualquer anormalidade, procura o posto de saúde mais perto da sua casa, pra ter
o devido tratamento.
[música de fundo]
263
E hoje, terça-feira, né, sempre todas as terças-feiras, acontece a reunião, as reuniões do Grupo Anti-
alcoólico Paulista, o GAP. Hoje, então, a reunião, ela acontece no período noturno, que é a partir das vinte
horas, das vinte até as vinte e duas horas, no salão paroquial, ali na praça da Matriz, número 75. É ao lado da
igreja da Matriz.
Independente de religião! Não tem nada a ver com religião. É usado o salão paroquial da igreja, para
poder, é, poder colocar as pessoas lá, é um bom lugar. Mas não tem nada a ver com a religião católica, nem
com outro tipo de religião.
Você que conhece alguém, que tem parentes que tá infelizmente no vício da bebida, ou você próprio
que tá me ouvindo, não consegue dominar mais esse danado desse copo, procura ajuda.
Claro que a gente sabe que a ajuda tem que vir da pessoa mesmo. Tem que partir de nós, quando a
gente precisa de uma ajuda, né? Então, pare e pensa um pouco, não é? Como tá dizendo aqui: “-Não seja um
bêbado, seja um homem!” Muito feio, né, você levar um nome: “-Ah, você é um bêbado”. É desagradável.
Não tem ninguém que gosta disso. Então, olha, procura hoje!
Vai até lá, tá bom? Se você quiser, você vai ser muito bem recebido, a família também, os amigos,
podem estar lá.
Eu já participei de reuniões, é muito agradável, é bacana, a gente dá um incentivo para aquele que
precisa, é assim que funciona mesmo. É como eu falo: ”-A união faz a força, né?”
Então, hoje, às vinte horas, a reunião do GAP, Grupo Anti-alcoólico Paulista. Ali na Praça da Matriz,
número 75, no salão paroquial.
E também acontecem as reuniões amanhã, no período do dia, da tarde. Amanhã, quarta-feira, né? São
todas as quartas-feiras, às treze e trinta. É lá no posto de saúde central, na Unidade Básica de Saúde central.
No posto do Bela Vista, mais conhecido, né? Então, uma e meia da tarde, na sala 28, você pode comparecer
também, que lá também acontece a reunião do Grupo Anti-alcoólico Paulista, com a nossa amiga, assistente
social Elizabete Dois, junto com o Seu Wilson Lopes. Eles comandam aí essa reunião bacana. Tem
depoimentos... É uma coisa bem legal da gente participar, viu?
E você que tá aí bebendo, não tem noção, de repente você fala: “-Não, mas eu... Ah,, eu bebo só um,
não faz mal”. Mas vai lá, participa, você vai ver. Você vai ver como vai te fazer bem. É muito agradável a
reunião.
Qualquer coisa, vocês podem ter maiores informações pelo telefone: 4159-1683, 4159-1683. Esse
telefone é do Serviço Social. Você fala com a Elizabete Dois, que é a assistente social!
[música de fundo]
Continuando, falando de saúde, agora temos uma excelente novidade aqui para nós moradores da
cidade de Vargem Grande. Deu início a campanha da boa visão. Olha que legal!
264
A Sociedade Amigos de Bairro do Jardim Floresta, em parceria com a Ótica Pontual, realizará neste
sábado, neste próximo sábado, dia 11 de novembro de 2006, das nove às quatorze horas, exame de vista
gratuito! Então, presta atenção: você tá precisando fazer exame de vista, não tá com muita graninha, não dá
para pagar o oftalmologista? Vá lá, tá bom? O endereço é Rua Cabreúva, 227. Vai ser aqui no Jardim Floresta,
na casa da Dona Célia, que muita gente conhece a Dona Célia. Um beijão pra senhora, viu, Dona Célia?
Então, olha aí, não percam a oportunidade, viu? Sábado, próximo sábado agora: 11 de novembro de
2006, a partir das nove da manhã até as duas da tarde, exame de vista gratuito! Na Rua Cabreúva, 227. No
Jardim Floresta, na casa da Dona Célia. Não perca essa oportunidade.
Para maiores informações vocês podem estar ligando em dois telefones: um é 4158-2918, 4158-2918,
ou na própria Ótica Pontual. O telefone: 4159-2799, 4159-2799.
Lembrando que esta campanha é realizada para pessoas acima de 14 anos, tá bom? Tem que ser
acima de quatorze anos, a idade. Para os menores de 14 anos, aí é só lá na Ótica. Aí você vai ter que ir
diretamente na Ótica, tá bom?
Campanha da Boa Visão!
A Sociedade Amigos de Bairro do Jardim Floresta, em parceria com a Ótica Pontual, dando essa
oportunidade para todos vocês, todos nós, moradores da cidade. Não é só para o bairro do Jardim Floresta,
não! Você que mora aí longe, São Marcos, São Judas, né, pode participar. É só comparecer na Rua Cabreúva,
227, no Jardim Floresta.
[música de fundo]
Daqui a pouquinho a gente conversa mais, são nove horas e quarenta e sete minutinhos.
Legal, né? Você tá com a cabecinha no lugar, sempre aí lembrando do bichinho da dengue, se
tratando aí com essas doenças da DST, que é coisa terrível, né? Puxa vida, vamos ficar esperto na vida.
Vamos lá, vamos ouvir mais música. Eu volto já, já, com a primeira parte do astral. Tem mais
informação pra você.
Rádio 8 de Dezembro, 98,7 FM, nossa rádio comunitária! Você está ouvindo Programa Rosa
Choque, comigo, a Rose.
Deixa eu mandar um beijão pra nossa amiga, né? A taróloga Janaína. Um beijo pra você, Janaína!
Amanhã deveria ser a participação da Janaína no Programa, mas infelizmente amanhã não teremos o
Programa Rosa Choque. Amanhã eu vou estar em São Paulo, então não vamos poder ter o Programa. Mas na
quinta-feira estarei de volta, e aí a Janaína vai vir na quinta-feira, participar do Programa no quadro Super
Astral, que é tudo de bom, não é? E também vamos ter a participação do repórter policial Vieira, no quadro
Ronda Policial.
Vamos lá, então? Vamos ouvir agora Information[?] Society, Repetition.
Eu volto daqui a pouquinho.
4159-1364, é o nosso telefone. Liga pra cá, pede a sua música, manda seu recado.
265
Vai lá.
[música]
Vinheta
Homem - 98,7- vírgula 7.
Muito mais sucesso, muito mais astral! Astral-astral. Ha-ha, ha-ha.
[música de fundo]
Vinheta
Horóscopo, horóscopo! Con-confira o seu signo!
[música de fundo]
Rose
Nove horas e cinqüenta e três minutos! Vamos lá pra primeira parte do astral, pra você que é de
Áries, Touro, Gêmeos e Câncer.
[música de fundo]
Olha aí, Áries, toda essa vontade de fazer e acontecer terá que ser dosada e muito bem direcionada.
As barreiras no seu caminho devem ser contornadas com muita imaginação, e nenhuma afobação. Arriscar-se
em assuntos de amor pode causar o fim do seu romance. Áries!
[música de fundo]
Agora o astral pra você que é de Touro. Seja prático e evite se perder em considerações inúteis viu?
Faça o que acredite ser melhor e traz sucesso. Nada deve ameaçar a sua estabilidade e o seu bom-humor. No
amor, seja paciente e carinhoso na busca do prazer. A pessoa amada se entregará com o tempo, Touro!
[música de fundo]
Agora o astral pra você que é de Gêmeos. Nada de modéstia na hora de mostrar seus conhecimentos
profissionais. Use sua facilidade de expressão e se exiba com segurança. Forças conservadoras no local onde
você trabalha vão se opor a qualquer proposta de mudança. A sua amada exigirá uma definição, Gêmeos!
266
[música de fundo]
Agora o astral pra você que é de Câncer. Conte com a ajuda de pessoas do sexo oposto para realizar
as suas tarefas. O dia está muito favorável para as atividades em grupo que dependem da colaboração de
todos. Ignore o ciúme dos outros colegas e vá em frente. Seja firme, mas tenha sensibilidade, Câncer!
[música de fundo]
Vinheta
Bom dia!
[música de fundo]
Homem
Hora certa!
[música de fundo]
Rose
São nove horas e cinqüenta e seis minutos. Rosa Choque, aqui pela 98,7 FM. É o que você está
curtindo agora!
[música de fundo]
E quem já ligou para nós foi o Clovis, né, Clovis, lá do Jardim Japão. Bom dia pra você, um beijo no
coração. E ele quer curtir aquele forró bem legal, bem gostoso, né? A Daniela. Ele oferece aí Forró Saborear,
né, a música Daniela. Oferece para todos nos da 98,7 FM, para os ouvintes de Vargem Grande Paulista,
Caucaia do Alto, Jardim Japão, pro seu sobrinho Beto, pro filho Cláudio, e especialmente para mim! Muito
obrigada, Clovis. Um beijo aí a todos vocês do Jardim Japão. Vamos lá curtir então sucesso da Banda Forró
Saborear, Daniela. E eu volto daqui a pouquinho. Vai lá, pra você, Clovis!
Vinheta
267
Ligou, tocou!
[música]
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Drogaria Avenida! Sempre o melhor pelo menor preço.
[música de fundo]
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E atenção! Agora RD Madeira está em novo endereço, localizado na Rodovia Bom Giro Lacau,
KM 46,5, sentido Ibiúna.
É isso mesmo!
Agora novo endereço para melhor atender a todos!
Trabalhamos com as madeiras: garapeira, cedrinho, cambará, pinus e eucalipto, com preços
especiais pra você!
RD Madeiras, tudo para sua construção!
Porcas, janelas, telhas, madeirite, compensado, forros. Tudo isso e muito mais, para melhor
atender a você.
RD Madeira!
Ligue, 4158-2303, 4158-2303! Ou ainda: 4158-7159, 4158-7159.
RD Madeira!
E agora com assoalhos de ipê e cumaru.
[música de fundo]
Rose
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Dez horas e dois minutos! Vamos lá para as nossas notícias de hoje, terça-feira, 7 de novembro de
2006! Notícias retiradas do Jornal Agora.
[música de fundo]
Tragédia em Porto Seguro. Garoto de sete anos morre decepado em banana boat.
[música de fundo]
Homem mais alto do mundo visita São Paulo.
[música de fundo]
Chuva deixa quatro bairros no escuro e derruba vinte e quatro árvores em São Paulo.
[música de fundo]
Reforma na Previdência? Central Sindical reage contra idade mínima para se aposentar.
[música de fundo]
O estudante mineiro Lucas Dias de Almeida, de sete anos, teve a cabeça decepada ao cair de um
banana boat - é um brinquedo, um equipamento inflável, puxado por uma lancha -, na praia de Tapurapuã, em
Porto Seguro, na Bahia. “-Somente o laudo irá apontar se a cabeça do menino foi arrancada pela hélice da
lancha ou pelo cabo que ligava a embarcação ao banana boat”, disse o tenente André Gomes. A lancha
estava regularizada.
Deus do Céu! Que terror, gente! Uma criança de sete anos! Fala pra mim, agora. Você deixaria uma
criança, o seu filho, brincar no mar, né? É no mar, isso. Sete anos, num brinquedo que anda em alta
velocidade, no mar? Você deixaria?? É a mesma coisa quando eu vejo crianças, vamos supor, de sete anos o
meio da rua, andando de bicicleta, soltando pipa aí em cima de lajes. Sete anos?
Criança não tem noção de perigo de forma alguma. Olha que tragédia aconteceu nesse caso! Essa
família, essa criança que já não tá mais entre nós? Que coisa terrível!
[música de fundo]
O chinês Chi-Chuan, de cinqüenta e cinco anos, chega a um hotel no Rio, com dois metros e trinta e
seis centímetros, e sapatos número cinqüenta e sete. Ele visita São Paulo amanhã - deixa eu ver aqui -, ode
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programou um passeio pela Avenida Paulista no horário do almoço! Ex-jogador de basquete, Chan é
considerado desde 2005 o homem mais alto do mundo! Ele veio divulgar e autografar o Guiness, o livro dos
recordes.
O hotel onde ele ficará hospedado adaptou a suíte para receber o grandalhão, que costuma dormir em
um colchão de dois metros e sessenta centímetros em sua casa, que tem cinco metros de altura.
[música de fundo]
O temporal que atingiu a capital e a Grande São Paulo no início da noite de ontem provocou estragos
em diversos pontos da cidade. Os mais prejudicados foram os moradores da Zona Sul e Oeste. Segundo os
bombeiros, vinte e quatro árvores caíram com o vendaval durante a chuva. Uma das árvores atingiu dois
carros na Avenida Rebouças, em Pinheiros, na Zona Oeste. Ninguém se feriu. Trechos de quatro bairros
ficaram sem luz, a partir das dezenove horas. Campo Limpo e Interlagos, na Zona Sul; Butantã, na Zona
Oeste; Tatuapé, Zona Leste. Os bombeiros registraram nove pontos de alagamento.
[música de fundo]
A Força Sindical divulgou ontem nota dizendo que não aceitará mudanças na Previdência, que
venham retirar direito dos trabalhadores. A Central reagiu às declarações do Ministério da Previdência – é,
aliás, desculpa – as declarações do Ministro da Previdência, Nelson Machado, que admitiu a possibilidade de
se instituir idade mínima para concessão de aposentadoria. “-Não tem de ter idade mínima. Os empregados
que começaram a trabalhar cedo, têm de se aposentar de acordo com o tempo de contribuição”, disse o
Presidente da Força.
[música de fundo]
E o tempo hoje nublado. A mínima é de dezoito graus, a máxima de vinte e quatro graus. Lembrando
você que for de carro a São Paulo hoje: hoje os carros com finais de placa três e quatro não devem circular por
lá dentro das dezessete até as vinte horas, por causa do rodízio. O primeiro horário já passou, que seria das
sete da manhã até as dez da manhã.
Cuidado, hein? Oitenta e cinco reais e doze centavos é o preço da multa, fora os pontinhos tirado aí
da sua Carta. Não faz isso, né? A Carta de habilitação, aí...
[música de fundo]
Vinheta
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Bom dia!
Homem
Hora certa!
FIM DA GRAVAÇÃO
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