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que tem por fim formular hipóteses. Estas podem ajudar a revelar aspectos
impensáveis. Procuro refletir por caminhos oblíquos. Lanço mão de fragmentos,
não de textos unificados por uma lógica rigorosa. Nesse raciocínio, o paradoxo é
mais importante que o discurso linear. Para simplificar, examino a vida que
acontece no momento, como um fotógrafo. Aliás, sou um fotógrafo.
Época: Como o senhor explica a espetacularização da realidade?
Baudrillard: Os signos evoluíram, tomaram conta do mundo e hoje o dominam.
Os sistemas de signos operam no lugar dos objetos e progridem
exponencialmente em representações cada vez mais complexas. O objeto é o
discurso, que promove intercâmbios virtuais incontroláveis, para além do objeto.
No começo de minha carreira intelectual, nos anos 60, escrevi um ensaio
intitulado “A Economia política dos Signos”, a indústria do espetáculo ainda
engatinhava e os signos cumpriam a função simples de substituir objetos reais.
Analisei o papel do valor dos signos nas trocas humanas. Atualmente, cada
signo está se transformando em um objeto em si mesmo e materializando o
fetiche, virou valor de uso e troca a um só tempo. Os signos estão criando novas
estruturas diferenciais que ultrapassam qualquer conhecimento atual. Ainda não
sabemos onde isso vai dar.
Época: A disseminação de signos a despeito dos objetos pode conduzir a
civilização à renúncia do saber?
Baudrillard: Alguma coisa se perdeu no meio da história humana recente. O
relativismo dos signos resultou em uma espécie de catástrofe simbólica.
Amargamos hoje a morte da crítica e das categorias racionais. O pior é que não
estamos preparados para enfrentar a nova situação. É necessário construir um
pensamento que se organize por deslocamentos, um anti-sistema paradoxal e
radicalmente reflexivo que dê conta do mundo sem preconceitos e sem nostalgia
da verdade. A questão agora é como podemos ser humanos perante a ascensão
incontrolável da tecnologia.
(
http://revistaepoca.globo.com – edição 263 – 02/05/2003)
Buscando subsídios teóricos para compreendermos o contexto do mundo
contemporâneo recorreremos a outros autores de peso que se pronunciaram acerca
das transformações e da quebra dos paradigmas, em curso.
Lyotard (1998, págs. 3-34), na obra Condição Pós-Moderna, afirma que a
investigação científica, ao multiplicar-se no mundo de forma explosiva, recria,