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ANEXO E - Parecer Final do Orientador
Da consciência crítica à prática pedagógica: é desta forma que faço minha análise sobre a trajetória da
Daniela como pesquisadora, como investigadora da sua própria prática. Para tal, dois pontos
importantes devem ser ressaltados:
A sua inquietação diante dos problemas percebidos na sua área remeteu-a a investigar a
formação do profissional - tal inquietação, provavelmente, deve-se a dois fatores: a educação
não-formal, entendida como fruto do meio familiar e social, e a formal, compreendida pela
trajetória escolar, incluindo principalmente a universitária em relação à visão da Comunicação
Social nos dias de hoje.
A consciência crítica moveu-a a empreender uma prática educativa - entre apossar-se de um
discurso e mudar a própria prática há um processo de amadurecimento; sua formação inicial
foi direcionada para ser uma profissional do mercado, e não uma educadora.
A partir daí, foi possível perceber as ocorrências dentro da trajetória. Sem sombra de dúvida, a visão
pedagógica crítica foi construída em grande parte pelas leituras realizadas no mestrado e, mais
especificamente, pelas recomendadas durante as orientações - quanto à literatura específica na área de
Comunicação Social a orientanda já a dominava em grande escala, assim como a legislação.
O olhar do orientador direcionou-se a analisar cada etapa cumprida dentro do projeto, não deixando
que a convicção da orientanda a fizesse se posicionar de forma autoritária, influenciando as ações dos
alunos sem antes ocorrer um processo de reflexão. Este procedimento - o de “educar o profissional
reflexivo” - passou pelo seguinte questionamento apresentado por Schön
*
(2000):
Quando o profissional leva a sério a singularidade da situação em questão, de que forma ele
utiliza a experiência que acumulou até então em sua prática? Quando ele não pode aplicar
categorias da teoria e da técnica que lhe são familiares, como ele aplica o conhecimento
anterior à invenção de novas concepções, teorias ou estratégias de ação? (p. 61)
A experiência aqui foi considerada não só a da orientanda como professora, mas da docente que teve
uma trajetória de formação superior e que pode se espelhar nas práticas das quais participou como
aluna.
O instrumento para análise que possuía era a fala da orientanda e os registros do diário de campo. O
procedimento foi o de levantar questionamentos, provocando o distanciamento da orientanda de sua
própria prática, repleto de perguntas do tipo: Por que houve essa ou aquela postura do aluno ou grupo
de alunos? Por que a docente agiu dessa forma e não de outra? Considera que a atitude não representou
autoritarismo? Que obstáculos encontrou para atingir os objetivos propostos? Teriam outros
procedimentos a serem utilizados que, por algum motivo, não o foram? O que você acha que seus
alunos ganharam com a forma de desenvolvimento de suas práticas? Você considera que, dentro da
concepção de ética assumida, os objetivos de sua disciplina foram atingidos?
Creio que, diante da postura crítica da orientanda, tanto em relação à parte teórica e técnica de
disciplina que ministrou, quanto em relação à prática pedagógica, o que inclui o trabalho em equipe
necessário ao desenvolvimento do PIC, pouco foi necessário fazer, mesmo às vezes assumindo o papel
do “advogado do diabo”. Creio também que as reflexões ocorridas causaram um crescimento cognitivo
e profissional de ambas as partes, pois o orientador colocou-se no papel de investigado diante de
posicionamentos da orientanda.
Prof. Dr. Jairo de Araujo Lopes
(*) SHÖN, Donald A. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem.
Porto Alegre: Artmed. 2000
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