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Entrevistada: Como toda a disciplina, todo o curso, nem todos os alunos se envolveram
igualmente, mas os grupos, e dentro de cada grupo, aqueles que se envolveram
realmente, me deram muita alegria, porque eles ficaram extremamente motivados para
poder fazer o relatório e os cartazes, que um grupo tinha que apresentar para o outro.
Nem tanto no cartaz, mas mais no próprio relatório, eles ficaram extremamente
motivados para explicar o movimento Tecendo a Paz relacionando-o com autores
básicos, que definem o que é movimento social. Eles tinham dúvida se o movimento
social tinha que ser muito grande, se tinha que durar muito tempo, e todas essas dúvidas
foram sendo resolvidas. Eles traziam dúvidas sobre os textos, mas pensar em cima de
um caso concreto foi muito melhor que nos semestres anteriores, onde a teoria não tinha
uma vinculação tão direta com o movimento dos alunos. Antes, os alunos faziam uma
experiência de estudar um determinado movimento social que já tinha ocorrido.
Geralmente eu indicava um movimento social na área da saúde, porque está mais
próximo deles compreenderem, da sua realidade profissional, e mesmo de formação
política, da formação da cidadania do aluno de TO. Então esse semestre, em particular,
foi diferente de todos os outros que eu já havia dado. Esse foi diferente porque as alunas
vivenciaram concretamente o que estava acontecendo exatamente naquele momento,
naquela conjuntura. Foi muito mais vibrante, muito mais dinâmica a discussão em sala de
aula. Foi mais pesquisa da prática que ensino de teoria. Acho que cruzamos as duas
coisas, o tempo inteiro: ah, como é que a gente põe aqui? Como é que eu trabalho a
organização das mulheres fazendo a colcha? Como é que eu falo da visão dos homens
querendo participar? Eu fui muito desafiada, vamos dizer, a estar tentando pensar várias
possibilidades, não fechar as escolhas que elas poderiam fazer para apresentar o
trabalho. Teve uma apresentação interna na sala de aula, depois esses cartazes foram
para uma atividade mais coletiva que vocês fazem na faculdade, acho que foi a semana
de estudos. Elas levaram a experiência para os cartazes e eu também participei da
semana de estudos, vi outros materiais. Percebi que houve um tema comum que foi
trabalhado de diferentes maneiras e todo mundo muito motivado, tanto professores,
como alunos, querendo dar vazão, expressar de alguma maneira... e eu também me senti
incluída nessa forma de expressão que foi dada, embora não tão presente dentro do
movimento. Sobre o movimento, em particular, eu tenho uma leitura. O Tecendo a Paz
tem uma característica muito diferente, como todo movimento, lógico! Mas, ele foi criado
não como um movimento sozinho, um movimento que começou, teve seu auge, como
todo movimento social, e depois ele se desfaz naturalmente. O Tecendo a Paz,
sintetizou, propiciou a participação de outros movimentos. Percebi indo ao Paço
Municipal, quando eu estava no Paço Municipal... reconheci, naquele espaço, diferentes
lideranças de diferentes movimentos sociais. Eu vi lideranças do movimento de moradia
de anos anteriores, vi representantes de movimentos sindicais de diferentes sindicatos, vi
ali representantes de CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), eu vi ali representantes de
movimentos de periferia, de creches, de mães, de igrejas, de diferentes igrejas, de
diferentes expressões religiosas e, pelo menos no início, a presença de outros partidos,
não só o partido dos trabalhadores. Lideranças políticas da cidade, faziam questão de
passar, cumprimentar, elogiar, dar apoio, se colocar à disposição do movimento. Então
percebi que aquele movimento Tecendo a Paz, na verdade, permitiu aglutinar todos os
espaços de organização política e popular da cidade, principalmente popular, que queria
de alguma forma, fazer essa manifestação. Fizeram. O enterro do Toninho também foi
uma grande manifestação. O próprio enterro foi uma manifestação de massa da cidade.
Várias celebrações. A missa de sétimo dia foi uma grande celebração que, além de
religiosa, teve uma grande expressão política. Expressões políticas de indignação, de
perplexidade, de dor, não só pela morte do Toninho, mas pela situação social política que
a gente estava vivendo naquele momento na cidade, descontrole da violência na cidade.
Isso tudo me fez perceber que o Tecendo a Paz, e aquela colcha, é aquilo mesmo que eu
li no resumo da sua pesquisa: a cidade inteira dividida e querendo se expressar. A colcha
para mim é cada movimento social dessa cidade, o O.P., enfim aquilo que estava
germinando, e o que já estava posto na cidade, em termos de organização popular, eles