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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
PR
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
CAMPUS PONTA GROSSA
DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
PPGEP
MONALISA RODRIGUES
“O PROCESSO DE SUCESSÃO FAMILIAR EM
EMPRESAS DE PEQUENO PORTE: UM ESTUDO
EXPLORATÓRIO”
PONTA GROSSA
NOVEMBRO - 2005
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
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MONALISA RODRIGUES
“O PROCESSO DE SUCESSÃO FAMILIAR EM
EMPRESAS DE PEQUENO PORTE: UM ESTUDO
EXPLORATÓRIO”
Dissertação apresentada como requisito parcial
à obtenção do título de Mestre em Engenharia
de Produção, do Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Produção, Área de
Concentração: Produção e Manutenção, do
Departamento de Pesquisa e Pós-Graduação,
do Campus Ponta Grossa, da UTFPR.
Orientador: Prof. Luis Mauricio Martins de
Resende, Dr.
PONTA GROSSA
NOVEMBRO – 2005
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
12
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AGRADECIMENTOS
Ao professor Luis Mauricio Martins de Resende, pela orientação objetiva e
clara, através de seus conhecimentos, experiências e amizade, sem os quais este
trabalho não teria sido possível.
Ao programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, na pessoa de seus professores,
coordenadores e funcionários.
Aos colegas de Mestrado, pelo companheirismo, motivação e auxílio,
compartilhados.
Ao professor Luis Alberto Pilatti e às professoras Magda Lauri Gomes
Leite e Mirian Palmeira, por terem aceitado o convite para participação da
banca examinadora e pela avaliação criteriosa desta pesquisa, o que muito
enriqueceu o trabalho.
As empresas, em especial na figura dos empreendedores, sucessores,
herdeiros, profissionais externos e demais membros das famílias, que participaram
das pesquisas de campo, fornecendo materiais e disponibilizando seu tempo para
conversas e demais questionamentos.
Aos meus pais, Leoni e José Carlos Rodrigues, por terem investido na minha
educação e incentivado na busca da minha profissão. Aos meus irmãos Emanoel e
Mônica pelo carinho.
Ao meu amor Marcos Aurélio, pela dedicação, incentivo, paciência, carinho nos
momentos fáceis e difíceis estando sempre ao meu lado.
As amigas Gláucia, Yaskara, Andréia e Neuza, e ao amigo Marcos Vinícios,
pelas orações, conhecimentos, incentivos e apoio neste período de estudo.
Aos meus alunos pelo estímulo, pelas idéias e pela compreensão.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
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A Deus
pela criação,
pelas famílias
e pela vida.
Ao Pai,
ao Filho
e ao Espírito Santo.
A Nossa Senhora da Conceição Aparecida
Pelas graças concebidas
e pela constante proteção.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
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RESUMO
Este trabalho trata do processo de sucessão em empresas de pequeno porte – um
estudo exploratório. A pesquisa de campo realizou-se na cidade de Ponta Grossa. O
objetivo geral da pesquisa foi analisar os fatores que interferem no processo de
sucessão em empresas familiares de pequeno porte no setor industrial. Os objetivos
específicos foram: descrever a estrutura de poder nas empresas selecionadas, bem
como sua caracterização; analisar o perfil do empreendedor e fundador da empresa,
bem como do sucessor e a sua relação entre empresa X família na administração;
descrever como é pensado, pelos sujeitos sociais envolvidos, o processo de
transferência de poder da primeira para a segunda geração; identificar quais são os
obstáculos que interferem no desenvolvimento do processo de profissionalização
das empresas. As empresas que participaram da pesquisa de campo foram
selecionadas por: estarem vivenciando a participação efetiva dos sucessores (2ª
geração) nas atividades da empresa, já sendo estes, preparados para assumirem os
cargos dos fundadores (1ª geração) na gestão do negócio, visando sua continuidade
no mercado. Optou-se pelo modelo de procedimento científico que considera três
etapas: a ruptura, a construção e a verificação. A pesquisa de campo foi realizada
com uma abordagem qualitativa de natureza interpretativa através de entrevistas
exploratórias estruturadas, questionários estruturados e observações diretas ou
pessoais. Foram realizados questionamentos junto aos empreendedores
(fundadores), herdeiros sucessores, profissionais externos e parentes próximos
vinculados à gestão da empresa (quando existente). A partir daí, construiu-se as
análises subdivididas em quatro grupos: caracterização das empresas; perfil dos
empreendedores; planejamento sucessório e profissionalização; e os problemas de
sucessão. A pesquisa revelou uma grande ligação entre o mundo da família e da
empresa, patrimônios que se equivalem, entrelaçam e se sucedem, da primeira para
a segunda geração, profundas dificuldades em se estabelecer métodos organizados
e planejados visando à sucessão.
Palavras-chave: empresa de pequeno porte, empresa familiar, processo de
sucessão.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
15
ABSTRACT
The aim of this work is the process of succession in small business companies - a
exploratory study. The research was developed in Ponta Grossa - Brazil. The main
objective of the research was to analyze the factors that intervene with the process of
succession in familiar small companies in the industrial sector. The specific
objectives were to describe the structure of power in the studied companies, as well
as its characterization; to analyze the profile of the entrepreneur and founder of the
company, as well as the successor’s profile, and its relation between company X
family in the administration; to describe how it is thought, for the involved persons,
the process of transference of power of the first one for the second generation; to
identify which are the obstacles that intervene with the development of the process of
professionalization of the companies. The companies who had participated of the
research had been selected by: to be living deeply the participation accomplishes of
the successors (2
nd
generation) in the activities of the company, also being these
prepared to assume the positions of the founders (1
st
generation) as manager of the
business, aiming at the continuity of the company in the market. It was opted to the
model of scientific procedure that considers three stages: the rupture, the
construction and the verification. The field research was carried through with a
qualitative boarding through structuralized interviews, structuralized questionnaires
and direct or personal comments. The successors, entrepreneurs (founders), and
relatives involved in the company were interwied. From there, the analysis was
subdivided in four groups of questionings: characterization of the companies; profile
of the entrepreneurs; successory planning and professionalization; and succession
problems. The research disclosed a great linking between the world of the family and
the company, worlds that are equivalent, interlaced from the first to the second
generation, as well as deep difficulties in establishing organized and planned
methods aiming the succession.
Keywords: Small business companies, familiar companies, process of succession.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Os públicos da empresa familiar ............................................................27
Figura 2: O futuro das sociedades familiares ........................................................49
Figura 3: O processo de sucessão nas sociedades familiares ............................. 57
Figura 4: Diagrama de dois triângulos ...................................................................60
Figura 5: Etapas do procedimento metodológico ..................................................62
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
17
LISTA DE QUADRO
Quadro 1: Pontos fortes e fracos das empresas familiares ...................................25
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
18
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Etapas do procedimento metodológico ..................................................64
Tabela 2: Caracterização das empresas ...............................................................76
Tabela 3: Características fundamentais para missão e valores das empresas
familiares ...............................................................................................87
Tabela 4: Características das empresas visionárias e de sucesso .......................89
Tabela 5: “Mandamentos do bom empreendedor”.................................................89
Tabela 6: Sucessores das empresas A, B e C ......................................................93
Tabela 7: Fatores de liquidez e “saúde” financeira da empresa A segundo os
sujeitos sociais ...................................................................................... 99
Tabela 8: Fatores de liquidez e “saúde” financeira da empresa B segundo os sujeitos
sociais .....................................................................................100
Tabela 9: Fatores de liquidez e “saúde” financeira da empresa C segundo os
sujeitos sociais .....................................................................................101
Tabela 10: A importância dos valores familiares na empresa A ..........................103
Tabela 11: A importância dos valores familiares na empresa B ..........................104
Tabela 12: A importância dos valores familiares na empresa C ..........................106
Tabela 13: A importância da missão para as empresas A, B e C .......................107
Tabela 14: Fatores familiares considerados na sucessão pela empresa A
........111
Tabela 15: Visão dos sucessores quanto ao processo de sucessão na empresa A
..............................................................................................................112
Tabela 16: Questões de sucesso (ou fracasso) da sucessão na empresa A ......114
Tabela 17: Questões de sucesso (ou fracasso) da sucessão na empresa B
......118
Tabela 18: Questões de sucesso (ou fracasso) da sucessão na empresa C ......122
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
19
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADRO
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................11
1.1. Justificativa ..............................................................................................14
2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................17
2.1 Empresas Familiares – Definição e classificação .................................17
2.1.1 Conceituando empresas familiares ....................................................18
2.1. 2 Tipos de empresas familiares ...........................................................20
2.1. 3 Dificuldades e facilidades das empresas familiares ..........................23
2.2 Sujeitos sociais importantes na continuidade das empresas familiares
.....................................................................................................................26
2.2.1 A figura do empreendedor .................................................................29
2.3 Profissionalização nas empresas familiare............................................30
2.3.1 Planejamento Organizacional nas empresas familiares.....................35
2.3.2 O processo de tomada de decisão na empresa familiar.....................37
2.4 O desafio da continuidade da empresa familiar.....................................40
2.4.1 A longevidade das empresas familiares de pequeno porte................47
2.4.2 Empresas familiares no Paraná..........................................................51
2.5 Ênfase no aspecto da sucessão familiar ...............................................54
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
20
2.5.1 Processo sucessório – as faces da sucessão....................................56
2.5.2 Estágios do processo de sucessão.....................................................58
3 METODOLOGIA .................................................................................................62
3.1 Limitações do estudo ...............................................................................67
3.2 Sugestões para estudos futuros .............................................................67
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ....................................................8
4.1 As empresas estudadas...........................................................................68
4.1.1 Análise da caracterização das empresas estudadas .........................72
4.2 O perfil dos empreendedores ..................................................................77
4.2.1 Análise do perfil dos empreendedores ...............................................86
4.2.2 Análise das situações a serem superadas visando a continuidade de
seus empreendimentos................................................................................90
4.3 Planejamento sucessório e a profissionalização das empresas .........92
4.3.1 Governança e gestão corporativa ......................................................94
4.3.2 Capitalização e liquidez das empresas visando sua continuidade ....98
4.3.3 A importância dos valores familiares nas empresas ........................102
4.3.4 A importância da missão para as empresas
....................................107
4.4 Problemas de sucessão .........................................................................109
4.4.1 O processo de sucessão na empresa A ..........................................110
4.4.2 O processo de sucessão na empresa B ..........................................116
4.4.3 O processo de sucessão na empresa C ..........................................120
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................124
REFERÊNCIAS ...................................................................................................136
APÊNDICE A - CARTA DE APRESENTAÇÃO PARA PESQUISA NAS EMPRESAS
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
21
APÊNDICE B - CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS
APÊNDICE C - O INÍCIO E A CONTINUIDADE DO EMPREENDIMENTO
APÊNDICE D - PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO E PROFISSIONALISMO
NA EMPRESA
APÊNDICE E - O PROCESSO DE SUCESSÃO DA EMPRESA
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
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1 INTRODUÇÃO
A história mostra que o ser humano sempre procurou formas de melhor
utilizar seus esforços para conseguir excelentes resultados. As organizações são
uma dessas criações. Até meados do século XVII, as organizações se
desenvolveram lentamente e a agricultura era a indústria predominante em todos os
países. A manufatura como conhecemos hoje, não existia e as mercadorias eram
feitas sob medida por artesãos. Esta abordagem de produção baseada em baixa
escala começou a mudar a partir do século XIX.
A máquina a vapor (que surgiu na Inglaterra em 1765) trouxe grande força
para a manufatura. A metade do século XIX viu a torrente da Revolução Industrial
com suas grandes fábricas (DAVIS, AQUILANO, CHASE, 2001). A partir da
Revolução Industrial, entre outras invenções tecnológicas, apareceram modernas
organizações e novos desafios no campo administrativo (DONATTI, 1999).
A administração científica, introduzida por Frederick W. Taylor foi,
provavelmente, o primeiro marco histórico na área produtiva, apresentando pela
primeira vez uma abordagem sistemática à manufatura. No ano de 1913,
presenciou-se a introdução das máquina num processo de linha de montagem em
movimento, com Ford e seu modelo T. Os desenvolvimentos matemáticos e
estatísticos dominaram a evolução administrativa da produção até aproximadamente
40 anos. Foi necessária a evolução das teorias administrativas que conduzissem no
que se refere às mudanças, desenvolvendo um modelo aberto, mais ágil e flexível,
concebendo uma organização verdadeiramente moderna (DAVIS, AQUILANO,
CHASE, 2001).
Avanços tecnológicos em anos recentes também produziram significativos
impactos sobre a administração da produção nas empresas. Porém, antes de tais
conquistas a administração enfrentou profundas e significativas transformações.
Entre os principais desafios dos dias de hoje estão: avanços tecnológicos,
competitividade, redirecionamento do processo de gestão de pessoas (desde
funcionários, fornecedores a consumidores), virtualização da empresa, cultura
organizacional e a terceirização (DRUCKER, 2002). Um conjunto de medidas
necessita ser assumido pelos gestores, desde as relacionadas às questões
materiais: espaço físico, quantidade e volume de trabalho, higiene e segurança do
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
23
trabalho, salário; até aquelas vinculadas à organização social do trabalho: o estilo de
liderança, processo de delegação, perspectivas de participação nas decisões,
sinergia entre os setores e departamentos; enfim, o contínuo engajamento à
dinâmica organizacional visando sobreviver a todas estas mudanças.
Para melhor entender-se as dificuldades e os desafios das empresas
familiares de pequeno porte, visando sua continuidade, escolheu-se a classificação
do Sebrae (2005), descrita da seguinte forma:
Microempresa – faturamento anual menor ou igual a R$ 244.000,00
(Duzentos e quarenta e quatro mil Reais);
Empresa de pequeno porte – faturamento anual superior a R$ 244.000,00
(Duzentos e quarenta e quatro mil Reais) ou igual a R$ 1.200.000,00 (Hum
milhão e duzentos mil Reais).
Em se tratando de empresas familiares, Bernhoeft (2002), aponta que existem
problemas dos mais diversos e afirma que o nível de complexidade varia de acordo
com o porte da empresa e as características da estrutura familiar. As crises, que por
vezes, impulsionam as mudanças, têm sido com freqüência, a busca por
lucratividade, o emprego de novas tecnologias e a competitividade mercadológica,
remetendo ao empresário a tomada de decisão sobre as diferentes formas de obtê-
las, caracterizada muitas vezes pela falta de objetividade, e pela falta de
profissionalização. O processo de mudança pelo qual as empresas têm que passar
para alcançar sucesso e amadurecimento no mercado é, sem dúvida, o diferencial
entre as pequenas empresas familiares que fracassam e as que triunfam.
Um dos estágios mais críticos nesse processo de mudança, ainda segundo o
mesmo autor, é o da sucessão, pois há uma interferência direta de dois sub-
sistemas: família e empresa. Percebe-se que o grande desafio do empresário de
pequeno porte, tem sido conviver com a sua frustração de não ter filhos identificados
com o negócio ao qual se dedicou a vida toda, como também a superação num
mercado cada vez mais competitivo ao qual tem dificuldades em estar preparado.
Os aspectos que envolvem e caracterizam a empresa familiar de pequeno
porte, a fim de proporcionar-lhe condições de continuidade, são tratadas neste
estudo. Faz-se necessário entender os procedimentos que nele se operam, desde a
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
24
sua fundação (primeira geração) e a transmissão às gerações seguintes, levando em
conta as variadas definições existentes na literatura, características e vantagens
neste tipo de empresa, bem como sua problemática.
Portanto, a presente Dissertação, apresentada junto ao Programa de Pós-
Graduação em Engenharia de Produção, do Centro Federal de Educação
Tecnológica do Paraná, Unidade de Ponta Grossa, tem como delineador o seguinte
problema:
Quais são os fatores e como eles interferem no processo de sucessão nas
empresas familiares de pequeno porte do setor industrial?
Como objetivo geral, tem-se:
Analisar os fatores que interferem no processo de sucessão em empresas
familiares de pequeno porte, do setor industrial.
No que concerne aos objetivos específicos, estes se definem nos itens a
seguir:
Descrever a estrutura de poder nas empresas selecionadas, bem como sua
caracterização;
Analisar o perfil do empreendedor e fundador das empresas, bem como do
sucessor e a sua relação entre empresa x família na administração;
Descrever como é pensado, pelos sujeitos sociais envolvidos, o processo de
transferência de poder da primeira para a segunda geração;
Identificar quais são os obstáculos que interferem no desenvolvimento do
processo de profissionalização das empresas;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
25
1.1 Justificativa
Visando analisar o processo de sucessão familiar em empresas de pequeno
porte, do setor industrial, considerou-se além do ambiente interno e externo no qual
se desenvolve tal atividade, os aspectos subjetivos que envolvem o comportamento
dos sujeitos sociais envolvidos no processo de sucessão e as suas percepções
quanto ao problema em questão. O presente estudo possui características que
justificam sua importância no contexto empresarial e acadêmico. Pode-se citar a
importância de estudar empresas de pequeno porte do setor industrial, pelo fato de
ser um segmento representativo, tanto do ponto de vista social como econômico, e a
amplitude desta realidade para a economia de nosso país.
A pequena empresa é quem mais emprega mão-de-obra no Brasil. Portanto,
deve-se analisar um conjunto maior de fatores para fortalecer tais empreendimentos,
criando condições para que novos empreendimentos se instalem, gerando emprego,
renda e desenvolvimento para economias locais (ALTRÃO, 2001).
Com relação às empresas de pequeno porte, estatísticas do IBGE (2004),
revelam que elas são responsáveis por:
4,5 milhões de empresas constituídas;
60% da força total de empregos formais;
42% dos salários pagos;
21% da participação no PIB;
1,7% de participação nas exportações;
96,3% do número de estabelecimentos; e
48% de participação estratificada da configuração da produção nacional.
Cada vez mais, passam a ter presença marcante em diferentes cadeias
produtivas, na forma de fornecedores terceirizados e quarterizados de grandes
empreendimentos produtores de bens intermediários e finais, além de atuar como
fornecedores de pequenos lotes em nichos de mercado ou em mercados
especializados (ALVIM, 2003). Existem hoje no Brasil, segundo dados da Relação
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
26
Anual de Informações Sociais – RAIS – divulgados pelo SEG (2004), cerca de 5,6
milhões de empresas, das quais 90% são micro e pequenas empresas.
Sendo a pequena empresa responsável pela movimentação de cerca de 50%
da economia nacional e por aproximadamente 60% dos empregos do país (CRUZ,
1998), os problemas relacionados às empresas familiares de pequeno porte,
encontram-se associados também ao estilo de gestão e atitudes dos seus
fundadores. Collins e Porras (1999), apontam que o processo de sucessão nestas
empresas podem ser afetados por fatores econômicos, mas devemos considerar
antes de qualquer coisa os fatores referentes à verdadeira natureza de suas
organizações que são geradas pelos seres humanos que nela trabalham.
Quanto ao estudo de sucessão em empresas familiares, justifica-se devido a
grande representatividade destas empresas na economia brasileira, sendo que se o
processo de sucessão da primeira para a segunda geração não for bem planejado e
conduzido pode comprometer sua continuidade, uma vez que da fundação (primeira
geração) para a sucessão (segunda geração), ocorrem mudanças fundamentais nas
empresas familiares de pequeno porte. Passam de uma sociedade constituída sobre
o trabalho para outra, constituída sobre o capital, gerando expectativas por parte dos
membros da família e demais colaboradores da empresa, resultando por vezes em
conflitos e tensões que devem ser gerenciados em prol da continuidade da empresa
e da harmonia familiar (SPANGER, 2003).
Quanto ao estudo das pequenas empresas familiares, segundo dados do
Sebrae/PR (SEBRAE, 2004), cerca de 70% das pequenas empresas brasileiras são
controladas e/ou administradas por famílias. Por volta dos anos 60 e 70, chamavam
atenção devido aos aspectos negativos destas organizações, relacionadas ao
nepotismo e rivalidade entre gerações de familiares. A partir dos anos 80, essas
empresas passaram a ser encaradas como organizações detentoras de
especialidades próprias e únicas, às quais, contudo, eram reconhecidas
simultaneamente por pontos fortes e fracos.
A partir dos anos 90, foi atribuída a devida importância às empresas familiares
de pequeno porte, de tal forma que tem vindo a ser, cada vez mais reconhecida
pelos poderes públicos e pela sociedade, pelo seu importante papel na economia,
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
27
sendo responsável por grande parte da riqueza produzida e pela criação e
sustentabilidade de emprego que proporcionam (SEG, 2004).
No entanto, apesar do importante papel que estas representam em nosso
país, enfrentam uma série de dificuldades que decorrem da estreita ligação entre a
vida familiar e a atividade empresarial. Segundo Teló (2001), muitas destas
empresas fracassam, sendo fechadas ou vendidas, devido a fatores como: sucessão
da gestão do empreendimento da primeira para segunda geração falta de uma
gestão profissional e abertura de capital. Portanto, as conseqüências advindas do
seu fechamento ou falência acarretam problemas à economia brasileira de uma
forma geral.
O fato preocupante é que mesmo com tanta representatividade no mercado,
as empresas de pequeno porte, apresentam um grande problema na sua
continuidade, pois apenas 35% destas empresas passam para a segunda geração
familiar e menos de 13% para a terceira geração (PÁDUA, 2004).
Frente ao universo de empresas familiares, do setor industrial da cidade de
Ponta Grossa, foram selecionadas três empresas de pequeno porte para a
realização do estudo exploratório, pelos seguintes motivos:
1 – Por estarem vivenciando o momento de ingresso da segunda geração nas
atividades da empresa, o que caracteriza o preparo dos sucessores visando à
continuidade da empresa;
2 – Por possuírem perfis diferenciados de sucessão, onde a empresa A
possui um sucessor e uma sucessora; a empresa B possui apenas um sucessor; e a
empresa C possui duas sucessoras; o que possibilita análises diferenciadas sobre
um mesmo problema;
3 – Por se tratarem de empresas tradicionais no ramo industrial.
Nesse sentido, a conjuntura atual torna relevante o estudo relacionado ao
processo de sucessão em empresas de pequeno porte.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
28
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Empresas Familiares – Definição e classificação
Platão disse que o tempo é uma imagem em movimento da eternidade. O
tempo começa pela eternidade, por um ser eterno e este ser eterno querer
se projetar nos outros seres. Ora, ele não pode fazê-lo em sua eternidade:
deve fazê-lo na sucessão. (Jorge Luiz Borges - O tempo)
A empresa familiar é provavelmente uma das mais antigas formas de negócio.
É também a estrutura predominante de empresas em todo mundo. Nos Estados
Unidos e nos países desenvolvidos, a maioria das empresas é controlada e
administrada por famílias. No Brasil não é diferente, pois 70% das empresas
existentes são do tipo familiar. Tal tipo de organização ocupa expressivo lugar na
vida econômica e social do país, tanto que as empresas familiares são responsáveis
por 21% do PIB, cerca de 3,5 milhões, além de empregar 60% da força de trabalho
nacional (BORNHOLDT, 2005).
As empresas familiares nascem de idéias, empenho e investimentos de
indivíduos empreendedores e seus parentes, de sonhos de casais, irmãos, para que
depois os filhos assumam e levem adiante. O sucesso e a continuidade da empresa
é o sonho de todo fundador. Requerem regras próprias e diferentes, caso contrário,
não conseguirão sobreviver e tampouco prosperar. Bernhoeft (1999, p. 10) cita que
a empreitada da empresa familiar não é fácil, mas merece ser examinada por todos
aqueles que sonham e desejam transformá-la em realidade. Construir uma
sociedade familiar é uma forma de conseguir viabilizar desejos. Para o autor,
“Sociedade na empresa familiar é um processo coletivo que somente se mantém
uma vez que viabiliza a realização individual de seus componentes”.
Para Donatti (1999), via de regra existe certo grau de incompatibilidade da
visão dos sucessores com a dos fundadores em relação à estratégia da empresa e à
centralização do poder pelo fundador. Colabora com isso, o fato que a maioria dos
empresários possui baixo nível de profissionalização. Muitas empresas familiares
cresceram e tornaram-se complexas, exigindo administração profissional. Torna-se
necessário então, buscar por alternativas viáveis para sua sobrevivência no mercado
globalizado, desde que haja uma readequação de sua estrutura gerencial. Diferente
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
29
da estrutura tradicionalmente encontrada, a pequena empresa atualmente deve
possuir perfil e mentalidade aberta, gestão profissional, racionalidade e ousadia no
processo de tomada de decisão.
De maneira geral, a origem e características dessas empresas tem um ponto
em comum: representam essencialmente um ideal que deu certo, e ainda, o intenso
desejo de que a empresa possa crescer com o passar dos anos.
2.1.1 Conceituando empresas familiares
Estar em uma empresa familiar é algo que afeta a todos os participantes, visto
que as relações abrangem tanto o aspecto profissional, quanto às relações afetivas,
que são à base de toda a relação em família. Dentro da conceituação da empresa
familiar, convém considerar o de ciclo de vida das empresas familiares. Segundo
Bernhoeft (1999), para absorver esta evolução, é possível utilizar o modelo de
mudança do ciclo de vida da empresa familiar. Tal modelo envolve simultaneamente
o ciclo de vida de seus proprietários:
1º ciclo – Sobrevivência: onde todo processo de surgimento e início do
empreendimento se faz presente;
2º ciclo – Sucesso: onde aparecem as maiores crises. Ou a empresa se
prepara para crescer ou para o declínio;
3º ciclo – Apogeu: quando a empresa se transforma numa grande
organização.
Este tipo de empresa possui características próprias, como dedicação sem
horários definidos para sair, levar trabalho pra casa, trabalhar nos fins de semana,
confiança mútua, dificuldade na separação do que é emocional e racional (tendendo
mais para o emocional), laços afetivos fortes, jogos de poder, postura de
austeridade, valorização do tradicionalismo no processo administrativo do fundador.
Para Leone (1992) algumas características diferenciais as conceituam como:
Forte valorização da confiança mútua, independente de vínculos familiares;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
30
Laços afetivos extremamente fortes, influenciando comportamentos,
relacionamentos e decisão da organização;
Valorização da antiguidade como atributo que supera eficácia ou
competência;
Exigência de dedicação, caracterizada por atividades, tais como a de não
ter horário para sair da empresa;
Postura de austeridade;
Expectativa de alta fidelidade com a empresa;
Dificuldades na separação do emocional com o racional.
Empresa familiar, de acordo com Teló (2001), é a fusão de esforços e
recursos para um dado fim, com a presença de uma determinada família no
empreendimento. Todavia, há diversas abordagens ao estudo da empresa familiar.
Alguns conceitos foram selecionados, para melhor explicar e caracterizar tais
empreendimentos. Segundo Donneley (1987), uma empresa para ser considerada
familiar deve ter sido iniciada com a participação de um membro da família, estando
presente na direção da empresa, possuindo um vínculo com a propriedade. Tal
vínculo resulta na política geral da empresa e nos interesses e objetivos da família. E
para que a sucessão ocorra deve ser observado o fator hereditário.
Por outro lado, para Donatti (1999) empresa familiar é aquela onde a gestão
administrativa e a propriedade são controladas, na sua maior parte, por uma ou mais
famílias, na gestão e na força de trabalho. Lodi (1993) cita que deve identificar-se
com uma família há pelo menos duas gerações, resultando numa influência
recíproca. Portanto, uma empresa de fundador sem herdeiro, não é uma empresa
familiar. O autor também caracteriza uma empresa familiar quando um ou mais
membros de uma família exercem controle administrativo sobre a gestão, por
possuírem parcela expressiva da propriedade do capital e caracterizada pelo desejo
de seus fundadores e sucessores de que a propriedade e a gestão da empresa se
mantenham em mãos da família.
E finalmente, Longenecker (1997) define empresa familiar como organizações
produtivas, com a presença de duas ou mais gerações da família, onde ideais,
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31
valores e histórico estão vinculados aos dessa família, buscando transferir o
patrimônio a um ou mais sucessores hereditários.
Desta forma, pode-se dizer que o conceito de empresa familiar nasce
normalmente com a segunda geração de dirigentes, quando estes necessitam criar
novas ligações com os antigos colaboradores e estabelecer novas relações de
poder, sob a égide de determinada ideologia. No contexto da empresa familiar,
vários aspectos, inter-relacionados, provenientes da família, das relações de poder,
principalmente nas fases de sucessão, influenciam a atividade e o resultado global
do empreendimento (PALMEIRA, 1995).
2.1.2 Tipos de empresas familiares
Segundo Gersick et al (1997, p. 142) as empresas familiares podem ser
classificadas conforme o ciclo de amadurecimento pelo qual estão passando.
Possuem três tipos básicos, que são combinações dos estilos de desenvolvimento
de propriedades, de família e de empresa. O primeiro tipo diz respeito à empresa de
primeira geração, dirigida pelo fundador, sendo de propriedade de um indivíduo
empreendedor. Ainda segundo os mesmos autores, recebem a seguinte designação:
É um dos tipos mais estimulantes de empresa familiar. São fundamentais
para as economias capitalistas; possui uma importante identidade simbólica
como degrau de oportunidade da sociedade para indivíduos e famílias.
Seus fundadores têm profunda influência sobre as culturas organizacionais
das suas criações. Suas crenças, sagacidade para negócios, regras práticas
para tomada de decisões e seus valores fazem parte da estrutura básica da
empresa. A experiência do fundador (primeira geração) é a única e todos os
estágios subseqüentes são afetados por aquilo que acontece durante os
primeiros anos de vida da empresa.
Algumas novas empresas permanecem como domínio individual de um só
fundador, nunca empregando parentes nem os tendo como acionistas, e são
vendidas ou liquidadas sem que se pense na continuidade da família. A competência
do fundador em várias áreas críticas – em especial qualidade de liderança, de
gerenciamento, de marketing, finanças e técnicas – irão influenciar para o sucesso
ou não da empresa.
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32
O segundo tipo diz respeito à empresa de família, estabelecida entre a
sociedade de irmãos e que passa por estágios de crescimento e mudanças rápidas.
Neste caso, o fundador pode começar como empreendedor, apresentando todo o
primeiro conjunto de qualidades. A certa altura, ocorre uma transição em seus
valores, em sua visão, identidade e comportamento e nasce a empresa familiar.
Para este tipo, algumas ações são importantes:
A transmissão de um novo empreendimento de proprietário controlador para
uma empresa familiar, requer ações concretas: contratar membros da
família prepará-los para posições de gerenciamento, distribuir participação
acionária aos herdeiros da família e, antecipar uma transição de controle
gerencial dentro da família. (Gersick et al, 1997, p. 144)
Já no terceiro tipo, aparece a empresa à beira da transição, controlada por
uma família para ser administrada por membros que não compõem a família,
denominada como empresa nova. Não é um caso comum em empresas familiares.
Profissionais externos podem contribuir com idéias, capitais ou incentivos. Mas para
ser familiar necessitará sempre da ligação de entes familiares:
É um tipo complexo de empresa familiar, que tem em sua continuidade,
várias gerações e de propriedade de primos, que atingiu um estágio maduro
de desenvolvimento – é uma raridade entre empresas familiares. É provável
que não mais que 5% de todas as empresas familiares atinjam este estágio
de desenvolvimento, embora tenham grande importância econômica.
(Gersick et al, 1997, p. 184)
Bernhoeft (1996) classifica as empresas familiares em função de sua relação
com o capital:
1º - Tradicional: onde o capital é fechado e existe pouca transparência
administrativa e financeira e a família exerce um domínio completo sobre
os negócios;
2º - Híbrida: onde o capital é aberto, mas com a família controlando, havendo
mais transparência administrativa por profissionais não-familiares;
3º - Influência familiar: nas quais as ações encontram-se em poder do
mercado, mas a família ainda mantém influência, mesmo estando
afastada, através da participação acionária significativa.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
33
Existem ainda, segundo Donneley (1987), quatro grandes vertentes de
empresas familiares. São elas:
Empresa individual: nesta categoria estão as empresas formadas por um
indivíduo que inicia um pequeno negócio;
Empresa artesanal: são todas que exploram um pequeno patrimônio
agrícola ou um negócio artesanal transmitido de pai para filho;
Empresa de capital familiar: quando uma parte importante do capital está
nas mãos da família, mas a direção está entregue nas mãos de gestores
com base na sua competência técnica;
Empresa familiar: é aquela em que o controle está nas mãos de uma
família.
Ainda segundo o mesmo autor, existe distinções entre os tipos de empresas
familiares, relacionadas a outros dois grupos:
1º - Empresas familiares centralizadas, onde o controle é centralizador. São
geralmente de pequeno e médio porte, de capital fechado, onde o controle é
exercido por um ou mais membros da família, que ocupam os principais
cargos administrativos;
2º - Empresas familiares descentralizadas ou abertas, compostas por
empresas de grande porte, que tendem a sofrer certas transformações, como
abertura de capital, profissionalização da gestão e busca de maior
centralização apenas no controle administrativo.
Percebe-se assim que, a empresa familiar pode ser caracterizada de
diferentes formas e sistemáticas. Conceituações de empresas familiares estão
correlacionadas, portanto, aos aspectos de participação acionária, garantia de
posições estratégicas ou nos efeitos de atos sobre a reputação da empresa.
Diferencia-se em muitas características (particulares a cada organização e ao seu
contexto), como os reflexos nas famílias, cultura familiar, segmentos de atuação,
porte e região.
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34
2.1.3 Dificuldades e facilidades das empresas familiares
Quando olho para trás e vejo o que fiz no meu trabalho, uma das coisas de
que me mais me orgulho é ter ajudado a criar uma empresa que, em virtude
dos seus valores, práticas e sucesso, tiveram um impacto enorme sobre a
forma como empresas são gerenciadas em todo mundo. E me orgulho
principalmente de estar deixando para vocês uma organização que poderá
continuar sendo um modelo mesmo sem mim. (Willian R. Hewlett, co-
fundador da Hewlett-Packard Company)
Dentre os vários desafios enfrentados pelas empresas familiares na busca da
sobrevivência, competitividade e longevidade, Teló (2001) discorre que há fatores
que são quantitativos (taxa de retorno interno sobre o capital investido, participação
no mercado, índices financeiros) e também existem fatores qualitativos (tecnologia,
conhecimento, qualidade), que influenciam o destino dessas empresas. É por esses
motivos principais que, nos dias de hoje, gerenciar corretamente as capacidades
existentes é de vital importância para o sucesso da empresa familiar.
Os problemas fundamentais das empresas familiares residem, segundo Silva
(2001), na falta de capital, seja para inovações, seja para ampliações da empresa, e
na salvaguarda do seu caráter familiar. Na falta de um planejamento financeiro, as
empresas familiares concentram-se na qualidade dos produtos, em melhorias na
fábrica, nos equipamentos, gerando sistemas inadequados de controle de custos.
Há ainda a grande resistência ao marketing, tendências ao nepotismo, à dupla
jornada de trabalho, que podem vir a dificultar também as relações pessoais no
ambiente de trabalho.
Dentre as fraquezas da administração familiar, as mais comuns segundo
Macedo (2003), são:
Transferência de poder de uma geração para outra;
Obstáculos para o desenvolvimento de profissionalização;
Conflitos entre os interesses da família;
Falta de disciplina em todos os setores da organização;
Falta de uma reação rápida para enfrentar desafios;
Situações em que prevalece nepotismo.
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35
Com relação aos problemas e dificuldades da empresa familiar, Freitas (2004)
identifica três momentos de crise que devem ser observados com muito cuidado
para minimizar suas dificuldades:
Crise da sucessão: na interface entre a geração do fundador e a segunda
geração, que coincide com sua consolidação e a diversificação dos
negócios;
Crise de liderança: com o aparecimento da terceira geração, surgem as
tentativas de repartição do poder;
Crise de identidade: quando outros membros da família, sem muita
formação e com interesses divergentes ingressam na empresa,
distanciando dos valores do fundador do empreendimento.
Apesar de muitos acreditarem que a empresa e a família, quando reunidas,
tendem a fracassar, a realidade demonstra que isso não necessariamente, é
verdade. Segundo Donatti (1999), muitas empresas, tanto no caso brasileiro, como
de outros países, demonstram ser essa parceria possível. O importante é entender
que não é a família em si que atrapalha a empresa, mas sim, a ignorância dos
problemas e a dificuldade em potencializar seus pontos positivos. Ainda segundo o
mesmo autor, embora as dificuldades existam, não se devem desprezar as
substanciais vantagens, tais como:
Disponibilidades de recursos financeiros e administrativos impossíveis de se
obter de outra forma, devido a sacrifícios da família;
Importantes relações comunitárias e comerciais, devido a um nome
respeitado;
Organização interna leal e dedicada;
Um grupo interessado e unido de administradores e acionistas;
Sensibilidade pelas responsabilidades sociais;
Continuidade e integridade de diretrizes administrativas e dos objetivos da
empresa;
Reputação do nome da família na região onde está instalada.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
36
Segundo Cruz (1998), as empresas familiares têm muitas vantagens
competitivas que poderão ser mantidas se forem bem administradas, estiverem
abertas às mudanças e atentas ao mercado, porém apresentam outras
desvantagens que merecem cuidado. Alguns pontos fortes e fracos enumerados
pelo autor estão listados no Quadro 1.
Quadro 1 - Pontos fortes e fracos das empresas familiares
10 pontos fortes 10 pontos fracos
Interesses comuns
Autoridade reconhecida e
inquestionável
Confiança mútua entre proprietários
e gestores
Comunicação aberta e informal
Dedicação e envolvimento pessoal
Flexibilidade de processos e
decisões
Entrega a um ideal comum
Sacrifício pessoal
Altos patamares de exigência
Pensamento em longo prazo
Interesses em conflito
Existência de várias facções em
disputa
Respeito quanto a uma possível
alienação da empresa
Proliferação de rumores e boatos
Ódio pessoal às chefias
Grande resistência às mudanças
Negação da empresa a um ideal
Cobrança de sacrifícios anteriores
Empresa é um refúgio de inúteis
O “hoje” é o importante
Fonte: Cruz (1998).
Uma empresa familiar apresenta várias características que ora facilitam o
atingimento dos objetivos, ora afastam qualquer resultado positivo. Quando houver
um desequilíbrio, onde os pontos fracos eliminem os pontos fortes, tende a perder
sua competitividade e tem sua continuidade ameaçada (PALMEIRA, 1995).
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
37
2.2 Sujeitos sociais importantes na continuidade das empresas familiares
Quando se pergunta por que as empresas familiares falem, tem-se como
reposta: a família não estava preparada para entender a empresa; o
fundador consumiu suas energias na construção do império e não teve
tempo para educar seus filhos; a profissionalização descaracterizou a
empresa familiar; não há um sucessor preparado ou nem mesmo consenso
na família sobre qual dos pretendentes deve assumir; a rivalidade entre
irmãos desorienta os profissionais. (LEONE, 1992, p. 86)
Sociedade não é outra coisa senão instituições que regulam as relações entre
pessoas no desenvolvimento de um projeto organizacional. Portanto, não há como
entender como funciona uma sociedade se não se compreender os diversos tipos de
relações que as pessoas estabelecem entre si (BERNHOEFT, 1999). Ao examinar-
se qualquer organização, sabe-se que ela está composta por vários públicos. De
maneira reduzida, o autor distingue-os como acionistas, clientes, fornecedores,
funcionários e comunidade. Cada um deles tem relações, interesses e objetivos
diferentes na sua relação com a empresa. É evidente que também existem pontos
convergentes entre os agrupamentos. O autor divide tais públicos em oito
agrupamentos:
1 - Membros da família;
2 - Membros da família que são proprietários;
3 - Proprietários que não pertencem à família;
4 - Membros da família que trabalham na empresa;
5 - Membros da família que são proprietários e trabalham na empresa;
6 - Executivos da empresa sem vínculo familiar;
7 - Proprietários não pertencentes à família e que trabalham na empresa;
8 - Membros da família que são proprietários e ocupam posições estratégicas
na sociedade.
Estes grupos não são estanques e interagem de forma dinâmica e
constante. Assim a relação entre esses agrupamentos pode ser demonstrado pela
Figura 1.
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38
EMPRESA
6
7
3
5
84
2
1
FAMÍLI
A
PATRIMÔNIO
Figura1 - Os públicos da empresa familiar
Fonte: Bernhoeft e Gallo (2003).
Segundo Bernhoeft (2002), a entrada dos herdeiros na empresa familiar deve
levar em conta algumas diretrizes, como por exemplo:
É aconselhável que os filhos façam o seu aprendizado profissional em
outras empresas para adquirir experiências antes de entrar na empresa da
família;
É importante que a atividade empresarial dos herdeiros inicie pelos níveis
hierárquicos mais baixos para depois chegar a posições de comando;
O fundador não deve pressionar a entrada dos herdeiros no negócio.
Em muitos casos a origem da destruição de uma empresa familiar é o próprio
fundador. Ao filho resta a habilidade para aceitar a rivalidade do pai, desenvolvendo
a sua própria personalidade perto ou longe da figura paterna. A entrada da segunda
geração na empresa familiar deve levar em conta algumas diretrizes ligadas ao seu
estilo profissional e pessoal. As empresas que possuem uma estrutura familiar frágil,
com a presença constante de disputas de idéias, filhos desestruturados
emocionalmente, têm dificuldades de lidar com o processo sucessório.
A sucessão deve ser olhada do ponto de vista do pai, muito antes do filho
entrar na faculdade. Segundo Barnes e Hershon (2002), o pai deve perguntar-se: Eu
empregaria o meu filho em minha empresa? Também o fundador deve analisar
como os filhos foram criados.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
39
A habilidade administrativa pessoal do líder, seu estilo de liderança e suas
motivações, seu comportamento e seu preparo para as mudanças são essenciais
para que todo processo seja bem conduzido. É importante considerar o papel a ser
desempenhado pelo herdeiro no contexto da empresa familiar. Segundo Bornholdt
(2005) são três as possibilidades:
1ª – Ser apenas acionista: certamente a mais importante, pois a condição de
acionista é inerente ao direito de propriedade, à sucessão patrimonial.
Todo herdeiro é ou será acionista;
2ª – Ter uma função de comando: é um erro pensar que por ser filho do dono
não precisa de preparação. É necessário buscar aperfeiçoamento e
desenvolvimento profissional;
3ª – Naturalmente atuar na gestão: sua atuação deve ser profissional, sendo
mais exigido que os outros funcionários.
Caso opte por profissionais externos, a empresa deve saber aproveitá-los,
pois poderão ocorrer problemas se for o profissional errado, que ao invés de auxiliar
na gestão da empresa, com apoio e acompanhamento por parte da administração,
acaba confundindo sua função com a dos familiares. Uma nova geração de
profissionais externos deve crescer junto com os herdeiros até que eles efetivamente
assumam um cargo de maior poder dentro da organização.
A partir destes pontos, Bernhoeft e Gallo (2003), destaca a complexidade da
gestão da empresa familiar, reverenciando e reconhecendo como competentes os
administradores da empresa familiar na sociedade brasileira. Tal processo de
sucessão nas sociedades familiares é algo muito delicado. Não existe lógica ou
racionalidade que o resolva integralmente. O que se necessita é de envolvimento e
compromisso de todas as partes interessadas.
2.2.1 A figura do empreendedor
Existem pessoas que apresentam características empreendedoras muito cedo.
Inicialmente dentro do contexto familiar, depois na escola ou na comunidade,
desenvolvendo habilidades através de uma liderança que envolve e motiva os
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
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outros. Existem outras pessoas que estão preocupadas em obter autonomia e
independência (AWAD, 2003).
É da maior importância examinar algumas questões relativas a essa suposta
liberdade que apenas as pessoas imaginam encontrar quando montam seu próprio
negócio. Para evidenciar isso, Bernhoeft (1996), aponta alguns “Mandamentos do
bom empreendedor” visando caracteriza-los:
1 – Nada substitui o lucro;
2 – Vai a busca do ótimo e não do que é bom;
3 – Mais importante que o cliente é a segurança;
4 – A maneira mais fácil de ganhar dinheiro é parar de perder;
5 – Pense muito antes de agir.
Todo empreendedor é uma pessoa que mobiliza forças e pessoas. Então,
torna-se necessário pensar sobre a missão como algo útil desde o início da vida de
um empreendedor, contribuindo inclusive como referencial e estímulo nas horas em
que se sentir abatido com fracassos e dificuldades. Assim, poderá dar uma
dimensão maior ao seu trabalho e a seus resultados. Bernhoeft (1996) aponta como
missão e valores mais importantes para a atuação empreendedora, as seguintes
características:
1 – Intuição;
2 – Não despreze ninguém;
3 – Se você não compraria, então não tente vender;
4 – As coisas deram erradas? Então ria!
5 – Fazer o inesperado só quando for para ajudar o outro;
6 – Desista de pensar em desistir;
7 – Espere o inesperado;
8 – Seu pior emprego é aquele bom demais para ser demitido;
9 – Vencedores se sentem vencedores. Perdedores agem como perdedores;
10 – O sucesso vem de quem dá mais do que recebe.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
41
Seguindo o perfil e as características importantes de um empreendedor, como
figura fundamental para o surgimento de um empreendimento, Collins e Porras
(1999) traçam alguns critérios de vital importância para empreendedores e seus
empreendimentos:
1 – Ser uma instituição líder no setor;
2 – Ser muito admirado por empresários conhecidos;
3 – Deixar sua marca no mercado e no mundo;
4 – Ter várias gerações de altos executivos;
5 – Passar por vários ciclos de vários produtos e serviços.
Todo empreendedor deve atentar a fatores que possam vir a comprometer
suas atividades empreendedoras e conseqüentemente as suas empresas, pois
podem comprometer a continuidade do negócio.
2.3 Profissionalização nas empresas familiares
A profissionalização nas empresas familiares é um processo recente e
desafiador. Lidar com a tridimensionalidade dos sistemas societário, familiar
e empresarial é agir em um campo potencialmente carregado de emoções.
Portanto, é desafiador estabelecer regras entre os três sistemas para que
cada um possa crescer autonomamente. Organizações, normas e regras
são as principais aliadas das sociedades familiares (BORNHOLDT, 2005).
É bastante comum encontrarmos pessoas que passam por períodos em que
profissionalmente não conseguem desempenhar suas funções com todo seu
potencial, empenho e responsabilidade, por problemas pessoais dos mais diversos
tipos. De outra forma, é possível encontrar pessoas que incorporam os problemas da
empresa e acabam não conseguindo ter uma vida pessoal e familiar harmoniosa,
porque estes problemas incomodam incessantemente: “Essa dificuldade em separar
o privado do público, o profissional do familiar, comprometem o profissionalismo nas
empresas familiares” (RODRIGUES, 2000).
Segundo Bernhoeft (2002, p. 64):
O que destrói muitas das empresas familiares, é a falsa idéia de que
profissionalizar é contratar executivos que não pertençam à família. Ou
ainda, de que profissionalizar é mandar os filhos estudar em boas escolas
de administração, economia ou engenharia. Profissionalizar é, em primeiro
lugar, tornar os herdeiros bons sócios.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
42
O processo de profissionalização na empresa familiar deve ser entendido
como o caminho pelo qual as estratégias de gestão das atividades e esforços
organizacionais adotados vão se formalizando, à medida que a empresa vai
passando pelas diferentes fases de crescimento. Lodi (1993), afirma que o processo
de profissionalização nas empresas familiares assume práticas administrativas
menos racionais, modernas e especializadas, acarretando por vezes a necessidade
de contratação profissional externo à família e à empresa.
Ainda, segundo o autor, a profissionalização é o processo pelo qual uma
organização familiar ou tradicional assume práticas administrativas mais racionais,
modernas e menos personalizadas; é o processo de integração de gerentes
contratados e assalariados no meio de administradores familiares; é a adoção de
determinado código de formação ou de conduta num grupo de trabalhadores; é a
substituição de métodos intuitivos por impessoais e racionais.
Por outro lado, quando este fator efetivamente acontece é importante à
integração destas pessoas contratadas no meio da administração familiar. Tal
profissionalização pode representar, como afirma Ward (2003), duas grandes
responsabilidades. A primeira, diz respeito ao processo de delegação de
responsabilidades e a segunda referencia-se ao grau de formalização dos
mecanismos utilizados para o controle das atividades no interior da organização. A
relação existente entre profissionalização da administração e o processo de
sucessão familiar com o intuito da continuidade da empresa, necessitam de alguns
questionamentos, como por exemplo, (WARD, 2003):
Quais são as necessidades de desenvolvimento futuro para a empresa?
Existe uma preocupação com o profissionalismo da empresa?
Como funcionará a execução dos planos de desenvolvimento profissional?
Como se realizará o controle e o acompanhamento destas ações no dia a
dia da empresa?
Mas para que todo esse processo ocorra da forma menos traumática possível
para todos os membros da empresa, familiares e demais colaboradores, Rodrigues
(2000) afirma que caberá ao dirigente perceber tais necessidades e oportunidades
de mudanças, avaliando fatores ligados a áreas como produção, financeira,
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
43
mercadológica e pessoal. Deve tomar alguns cuidados, como a integração dos
novos profissionais à empresa, e delegar gradualmente as suas atribuições e níveis
de autoridade, trabalhando de maneira cuidadosa a relação do executivo e os
interesses da família.
Profissionalização e investimentos em áreas especializadas são aspectos
importantes a considerar, uma vez quem nem sempre os herdeiros e demais
familiares estão preparados para ocupar cargos estratégicos, embora não deixe de
ser viável de acontecer, afirma Rodrigues (2000). Ainda segundo o mesmo autor,
profissionalização é o processo onde a organização familiar ou tradicional, passa a
assumir práticas personalizadas:
Tal processo não diz respeito apenas em entregar a administração dos
negócios nas mãos de um profissional externo. Diante dos fatores
existentes num macroambiente, como os relacionados a globalização
econômica, é imprescindível que estas empresas estejam preparadas,
podendo competir e aproveitar as oportunidades do mercado, onde não
mais espaço para improvisações. Terão de profissionalizar o processo
gerencial e produtivo para competir neste mercado. (RODRIGUES, 2000)
Donatti (1999), aponta tal processo em três pontos nevrálgicos:
A família: onde estão envolvidas questões emocionais, que devem ser
resolvidas sem comprometer o futuro da empresa;
A propriedade: onde se distingue herança de sucessão;
A profissionalização: onde se prepara os que conduzirão os negócios.
Visando um comportamento favorável para o processo de sucessão familiar, é
imprescindível compreender que a profissionalização faz parte deste processo.
Altrão (2001), relata que a necessidade existente por parte destes empreendedores
gira em torno de aceitar o fato de que as empresas não são criadas para viverem
enquanto durar a vida das pessoas que interagem com elas, mas sim, para
continuarem os seus objetivos, independente das pessoas envolvidas serem outras.
Portanto, torna-se indispensável sob este aspecto, que a empresa gere a
capacidade de auto-gestão e que não haja excessiva influência da vida das pessoas
sobre a vida das empresas, não criando a figura de alguém que seja insubstituível
neste processo.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
44
Com o processo de globalização, a empresa tradicional, viu-se sob o desafio
de modernizar-se e profissionalizar-se para competir e sobreviver, ou desagregar-se
e ser absorvido por grupos estrangeiros. A receita do sucesso pode estar em
profissionalizar a família, através do treinamento dos jovens que tenham vocação
gerencial, treinando os futuros herdeiros para serem acionistas (SICSÚ, 2003).
Profissionalizar não é necessariamente entregar a administração dos
negócios nas mãos de um profissional externo. Para Gersick; Davis; Hampton;
Lansberg (1997) em concordância com Donatti (1999), o trabalho deve consistir
mesmos três pontos:
1 – A família;
2 – A propriedade;
3 – A profissionalização.
Existem vantagens e desvantagens de se realizar a profissionalização. As
vantagens, segundo Cruz (1998), baseiam-se em: receber de maneira mais rápida e
efetiva as experiências e os conhecimentos de um executivo profissional; incorporar
novos estilos de administração; flexibilizar a alocação de executivos para gerar
mudanças e adquirir agilidade. As desvantagens, podem basear-se em: ao contratar
um executivo profissional, este não poderá fugir da maneira de ser da empresa ao
incorporar seu estilo de administração; existe grande possibilidade da perda do
executivo contratado quando este receber propostas de novas oportunidades no
mercado de trabalho.
Para Bernhoeft e Gallo (2003), profissionalização poderá assegurar a
longevidade organizacional, evitando que conflitos, ingerências familiares e
herdeiros com outras habilidades não associadas à empresa, interfiram na sua
administração, levando à descontinuidade dos negócios e em alguns casos à
falência da empresa. Esta é uma questão tão delicada quanto à própria sucessão.
Pode soar como a incapacidade da família em dirigir seus próprios negócios, por não
possuir membros competentes. Por outro lado, muitas empresas familiares
cresceram e tornaram-se complexas exigindo uma administração profissional para
mantê-las competitivas no mercado.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
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Ao atingirem um determinado momento de sua existência, a empresa, no
ápice de seu desenvolvimento, tornando difícil ultrapassar desse patamar, necessita
renovar-se. Se nada for alterado, a tendência é que fique estagnada no tempo,
perdendo oportunidades de expansão no mercado onde está inserida. Existe então a
necessidade de contratar executivos com experiências múltiplas no mercado para
ajudar a empresa. Quando se trata de profissionalização da organização, Sicsú
(2003, p. 20), pensa-se que contratar um profissional capacitado para assumir e
administrar a empresa não é o suficiente. Para o autor:
É necessário diagnosticar todos os fatores positivos e negativos da empresa
neste momento e aí sim partir para melhor decisão. Portanto, um
diagnóstico preciso da empresa é muito importante para o início do
processo de mudanças, que poderá incluir a profissionalização de suas
estruturas buscando um aumento da longevidade da organização. O
fundamental é a atitude que a empresa assume diante da necessidade da
profissionalização para a evolução da empresa (SICSÚ, 2003).
Quando se fala em empresas familiares é comum pensar em algo atrasado,
impossível de aperfeiçoar-se e que jamais atenderá as exigências de mercados
globais. Para Cruz (1998), esse pensamento, talvez gire em torno do passado, pois
cabe às empresas atuais estarem inovando frente às exigências contemporâneas e
racionalidade administrativa moderna. Apesar dos vários problemas gerenciais,
existem alternativas para a sobrevivência da empresa no mercado globalizado,
desde que haja readequação de sua estrutura administrativo-gerencial. Apesar da
comprovação de que as empresas familiares fracassam em menor tempo que as
não-familiares, as primeiras têm muitas vantagens competitivas, que poderão ser
preservadas se forem bem administradas e estiverem abertas às mudanças exigidas
pelo mercado.
Mas em se tratando de empresas familiares de pequeno porte, as dificuldades
em profissionalizar a gestão dizem respeito em especial aos recursos financeiros
necessários em contratar um profissional externo para trabalhar exclusivamente para
a empresa (por exemplo, um contador, advogado, administrador, engenheiro, entre
outros). Outro problema também bastante comum da pequena empresa é encontrar
profissionais qualificados para desempenhar atividades tanto no âmbito
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
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administrativo quanto operacional, que por sua vez estejam dispostos a receber um
salário que a empresa possa pagar.
Ou ainda, membros da família passam por dificuldades em
“autoprofissionalização”, devido ao tempo dedicado à gestão no negócio, suas
responsabilidades para com a empresa (ALTRÃO, 2001). E também conflitos entre
fundadores e sucessores das empresas quanto à profissionalização “forçada”,
visando auxiliar nas atividades da empresa.
2.3.1 Planejamento Organizacional nas empresas familiares
As alterações que estão ocorrendo na estrutura e no perfil gerencial das
empresas familiares estão prejudicando e levando ao fim empresas sob
gestão familiar. Isto consiste na falta de um sistema de planejamento.
Planos de negócios raramente são feitos, ou se o faz, é de forma precária.
Quem não faz um plano de negócios detalhado fica sem conhecer por
completo o mercado em que pretende trabalhar. (WARD, 2003)
O planejamento organizacional de uma empresa familiar, criativa e duradoura,
deve estar fundamentado na decisão familiar de que a empresa, por mais imbuída
que esteja dos valores e preferências dos seus fundadores e dirigentes, deve ser
regida por sólidos princípios empresariais (BERNHOEFT, 2002). Deve por sua vez,
estabelecer o modo pelos quais os objetivos podem ser alcançados. Ele vem a ser
uma declaração do que deve ser feito no futuro. Além disso, esse instrumento
oferece uma estrutura para coordenar as diversas atividades da empresa, atuando
como mecanismo de controle, estabelecendo um padrão de desempenho contra o
qual é possível avaliar os eventos reais. Para Gallo apud Bernhoeft (2002), o
planejamento de uma empresa familiar criativa e duradoura, está fundamentado na
decisão familiar de que a empresa, por mais imbuída que esteja dos valores e
preferências dos acionistas principais, deve ser regida por sólidos princípios
empresariais: o mérito, e não o sangue, é que conta no momento de colocar as
decisões básicas em matéria de pessoal:
Eu diria que todo este esquema montado e que está funcionando tem sido
uma forma de proporcionar a realização dos sonhos de muitos membros da
família. É importante sonhar. Sem sonho não existe diversão nem
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
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resultados e tais resultados devem estar pautados num planejamento
organizacional sólido. Todo este sistema está estruturado de maneira a ser
dirigido pelos mais competentes. É um dos resultados que obtemos com a
sua prática e disciplina na execução. (BERNHOEFT, 2002, p. 106)
Para Albuquerque (2004), os proprietários de empresas familiares devem
estar conscientes que o planejamento organizacional baseia-se em quatro níveis:
1º - Estratégico: definem-se os objetivos a serem perseguidos e atingidos em
um determinado prazo;
2º - Patrimonial: ampliam-se as vias de novos empreendimentos;
3º - Continuidade: discute o futuro da liderança empresarial, envolvendo as
regras e critérios que orientarão os candidatos à sucessão;
4º - Contingêncial: busca preparar a empresa, familiares e gestores para
crises inesperadas.
O desafio de descobrir vocações no processo de sucessão encontra-se na
“moderna estratégia gerencial”. O planejamento organizacional para as empresas
familiares, deve ir do nível operacional até os mais diferentes níveis da
administração. Sinalizações positivas do mercado, novos produtos e serviços
reforçando o processo de inovação e da capacidade de enxergar o futuro e criar
alternativas que ajudem as empresas familiares a encontrar soluções rápidas e
eficazes sobre problemas inesperados, são alguns objetivos do planejamento
organizacional nas empresas familiares. Segundo Naidtch (2004), trata-se de uma
forma de garantir que os objetivos e planos elaborados em relação às áreas
específicas sejam viáveis e coerentes. O fato de o planejamento obrigar a
administração familiar a refletir sobre os objetivos e fixar prioridades, talvez seja o
mais importante resultado desse processo.
Leone (1992) relata que, ao realizar o planejamento organizacional formal e
coerente às suas necessidades, as empresas familiares podem minimizar suas
ameaças e reforçar suas oportunidades, investindo corretamente em recursos reais
às suas necessidades e as influências do seu ambiente externo. Precisam conhecer
ao máximo seus objetivos, tendo clareza e foco, num determinado período de tempo
futuro pretendido.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
48
O autor ainda ressalta que também podem passar a existir conflitos
interpessoais, principalmente entre os membros da família, pois há um desequilíbrio
mesmo que apenas percebido e não real, entre as tarefas realizadas e as
recompensas obtidas. Sem contar com um plano de carreira, o interesse por
resultados imediatos compromete objetivos de longo prazo, pois não se prepara para
o futuro e perde excelentes oportunidades de mercado.
2.3.2 O processo de tomada de decisão na empresa familiar
A partir da década de 80, as empresas familiares passaram a estar mais
“sintonizadas” do fato de que a tomada de decisão é um processo de
aprendizado, oriundo de um processo social simples, heróico e científico.
(DE GEUS, 1998, p. 46)
Na empresa familiar, historicamente, sob o ponto de vista do dono, quase
sempre o idealizador é o grande mentor do empreendimento. Segundo Mairesse
(2000), o mais importante valor da empresa é a família, identificada e representada
em temas formais e nas tradições informais. Mas se torna fundamental refletir sobre
o processo decisório neste tipo de empresa, desenvolvendo a idéia de que “planejar
é aprender”, pois todo processo de tomada de decisão em si é um processo de
aprendizado. Drucker (2001) afirma que toda decisão na empresa familiar deriva de
um aprendizado arraigado na cultura vigente do seu fundador, que com seu estilo de
gestão e liderança, derivado do seu aprendizado, tomará então, as decisões,
baseadas em fatores externos e internos à organização.
Todas as decisões crescem no solo fértil das conversas formais e informais –
por vezes estruturadas e por vezes técnicas (dedicadas à implementação de planos
ou práticas específicas). Tal processo, o autor explica através de quatro fases, que
bem administradas, ou não, cada ato em si, indica uma tomada de decisão e um
processo de aprendizado:
1º - Percepção: quando uma reunião é convocada porque alguém viu ou
soube de um evento que está fora do curso normal dos negócios;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
49
2º - Inserção: quando se passa a maior parte do tempo explicando uns aos
outros “como vemos o problema”. É preciso entender sua relação com o
mundo dos negócios e inserir a mudança no entendimento anterior;
3º - Conclusão: aos poucos o entendimento compartilhado leva a planos de
ação. Discutem-se as conseqüências das opções e ações potenciais.
Esta fase corresponde à simulação de um modelo da situação mediante
interações imaginárias da decisão;
4º - Ação: quando a empresa está pronta para implementar e agir. A única
relevância do processo decisório reside na ação que dele resulta,
projetando a ação da melhor forma possível para acompanhar os efeitos,
monitoramentos e avaliações do processo.
As empresas hoje, incluindo-se principalmente a estruturas das empresas
familiares de pequeno porte, inseridas num cenário de competitividade e
concorrência, exigem um sistema de gestão a partir de uma transparência absoluta
de tudo que é feito. Dentro deste contexto, para se manter com uma visão de
perpetuidade, é preciso que se estruture com clareza qual é o processo decisório da
empresa, contemplando as relações da família e a estrutura da mesma. Bernhoeft e
Gallo (2003), apontam importantes competências para o processo de tomada de
decisão, como:
Capacidade decisória em conjunto;
Planejamento das ações;
Mudanças na propriedade;
Preservação de valores;
Transferência de liderança;
Poder das gerações para a continuidade da empresa.
Se tomar decisões é aprender, então todas as empresas aprendem o tempo
todo. Mas esse processo natural de aprendizado tende por vezes, na empresa
familiar, a ser lento e limitado. A velocidade, abertura, inventividade e coragem de
nossos esforços de aprendizado devem, todas, ser melhoradas para que a
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
50
organização sobreviva. De Geus (1998, p. 62), afirma que: “O processo decisório é,
independente do porte e do tipo de empresa, um processo de aprendizado e que
existem formas de aumentar a velocidade e a qualidade das decisões”. Em
empresas que buscam por uma mudança interna em larga escala, as decisões não
podem ser tomadas à velha moda autoritária. Elas precisam de interação, reflexão
intuitiva e desenvolvimento cooperativo e também precisam de muito aprendizado.
Uma das razões que determinam o sucesso de uma empresa familiar é a
clara definição da unidade de comando. Ou seja, independente do estilo utilizado
pelo fundador, sabe-se quem manda, de quem é a última palavra e a quem recorrer
no caso de qualquer dúvida. Pode-se afirmar então que uma empresa comandada
por vários, em que todas as decisões necessitam de consenso, ou no mínimo seja
do agrado da maioria, não terão um futuro brilhante. Na medida em que não existe
uma definição da unidade de comando, as conseqüências segundo o autor, são
claras:
Decisões lentas;
Lutas pelo poder;
Surgimento de facções de preferência entre os aliados ou subordinados dos
herdeiros em disputa.
Toda atitude ou decisão tomada por um membro da família é refletida ou
interpretada como um reflexo da reputação e da cultura da companhia,
independente de quaisquer laços formais com a administração, gerando conflitos de
interesses entre a família, refletindo na empresa.
Na geração do fundador, o empreendedor tende a ser autocrata,
concentrando as decisões, afirma Hisrich e Peters (2004). Termina por se envolver
nas atividades empresariais, isolando-se da família. O ingresso da segunda geração
na empresa coincide com sua consolidação e com a diversificação dos negócios. Há
necessidade de profissionalizá-la, para atender às mudanças. Entretanto, o fundador
deseja manter as coisas como sempre foram. Os sucessores querem mudar, mas
não tem poder para isto. Em sua maioria, as decisões neste tipo de empresa
demoram bastante para ser implantadas.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
51
Se as empresas familiares não aceitarem a hipótese da “aceleração do
aprendizado” no processo de tomada de decisão, elas sofrerão o efeito sério e de
longo prazo de aprender mais lentamente que seus concorrentes. De Geus (1998),
conclui que a empresa viva precisa encontrar uma forma de lidar com a intrínseca
resistência a parecer “incorreta”. Algo precisa ser feito para que os membros da
empresa familiar se sintam seguros quanto à identidade da empresa e assim
possam revelara si mesmo com segurança e emitir suas opiniões. Essas questões
vão além do aprendizado; elas têm a ver com a construção de uma identidade
coerente com a história de vida da empresa e sua continuidade.
2.4 O desafio da continuidade da empresa familiar
A história do trabalho e do esforço humano é muito mais significativa do que
a história do homem como indivíduo. Porque os homens, na maioria,
morrem sem alcançar sequer cem anos, mas sua obra sobreviverá durante
muitos séculos. (Máximo Gorki)
Para vencer o desafio da globalização, é necessário que as empresas
atualmente busquem parcerias, atualizações tecnológicas, ampliação do parque
fabril, dentre outros pontos. Também é necessário que se modernizem, abram o
capital, profissionalizem a gestão, realizem associações com outras empresas
internacionais, planejem a sucessão, preocupem-se com o desenvolvimento
tecnológico e conquistem o mercado internacional. Analisar, rever e conscientizar.
São algumas das ações necessárias para as organizações que estão se adaptando
ao novo ambiente de negócios, cada vez mais competitivo, onde ter um
novo/extraordinário produto/serviço não é mais condição suficiente para assegurar o
sucesso e a lealdade do cliente.
Analisando a inserção da empresa familiar na nova ordem econômica
mundial, notam-se vários aspectos relacionados ao estilo de gerenciamento por tais
empresários que dificultam sua competitividade nessa nova ordem. Donatti (1999)
destaca como problemas mais relevantes nesse aspecto:
Baixo nível de profissionalização;
Problemas de sucessão;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
52
Papel a ser assumido pela mulher na relação empresa-família;
O planejamento da mesma, entre outros.
Diante da globalização, as recentes vendas de tradicionais empresas
familiares no Brasil deram espaço para que estrangeiros considerassem as
empresas controladas por família, como o “paraíso dos compradores”. Se por um
lado, a globalização cria desafios, por outro, gera oportunidades de aumentar e
melhorar as condições de concorrer no mercado atual. Porém é necessário que elas
busquem parcerias, atualizações tecnológicas, ampliação do parque fabril, a fim de
ganhar escala e reduzir impactos da globalização, afirma Vidigal (2002).
Segundo dossiê publicado na HSM Management (2003), as organizações
controladas e administradas por famílias, constituem quase 80% da unidade
empresarial em todos os países e geram cerca da metade de sua riqueza, mas os
fatores presentes no macro ambiente mundial, muitas vezes são cruéis com elas. De
pequeno ou grande porte, novas ou antigas, as empresas familiares têm algumas
vantagens competitivas, mas, em sua grande maioria, sofrem atritos em virtude das
diferenças entre prioridades do negócio e preferências da família ou do fundador.
Ainda, segundo este mesmo documento, os dilemas comuns às empresas
familiares em sua fase inicial são: aceitar as mudanças ou restringir-se às
estratégias originais; empregar ou não membros da família; planejar a sucessão ou
permitir que a geração seguinte naturalmente se encarregue do negócio; e também
o grande desafio da continuidade. “As estatísticas informam que de cada cem
empresas familiares fundadas no Brasil e no mundo, apenas trinta sobrevivem à
segunda geração, quinze a terceira e quatro à quarta”. (HSM MANAGEMENT, 2003,
p. 83)
Nascidas do projeto e do trabalho dedicado de seus fundadores, esses
estabelecimentos tornam-se mais singulares à medida que neles ingressam novos
membros da família. Os delicados (e algumas vezes conflitantes) vínculos afetivos
entre os profissionais dificultam o estudo deste tipo de empresa. No entanto, Drucker
(2002) afirma que está muito enganado quem reduz uma empresa familiar a um
negócio “tocado pelo pai e pela mãe”.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
53
Segundo Vidigal (2002) existe literalmente milhões de empresas nos EUA que
são de controle familiar, inclusive de micro e pequeno porte. Afirma ainda que é um
setor em crescimento na economia americana, sendo responsável por 78% dos
empregos gerados entre 1999 a 2001. O mesmo problema que ocorre com as
empresas familiares brasileiras, nas americanas que são bem sucedidas
inicialmente, sob a gestão do seu fundador, apenas 30% sobrevive à mudança para
segunda geração. Para o autor, alguns fatores de sucesso em empresas familiares
que conseguem ter êxito além da primeira geração, são:
Existência de um conselho de administração, de preferência incluindo
membros externos, não acionistas nem executivos da empresa;
Comunicação permanente, aberta e franca, entre os membros da família;
Sistema permanente de reuniões familiares, mantendo os membros da
família bem informados;
Decisões tomadas nas reuniões familiares são explicadas claramente e são
obedecidas;
Regras claras sobre o acesso das novas gerações da família à empresa e
sobre a sucessão.
Ainda que pequenas em sua origem, algumas crescem e se transformam em
grandes corporações, como Wal-Mart, Ford, Carrefour e a Fiat. São companhias que
abriram seu capital para negociações em bolsas de valores, mas nas quais os
sucessores ou herdeiros ainda mantêm boa parte do controle da propriedade
(CRUZ, 1998).
Estatísticas disponíveis no Sebrae (2004) comprovam que cerca de metade
das empresas familiares fracassam, quebrando ou sendo vendidas na passagem do
fundador para a segunda geração. Segundo Donatti (1999), de 30% a 40% das
empresas fracassam na passagem do fundador para a segunda e para a terceira
geração. Contudo, as empresas não familiares também fracassam, tendo um ciclo
de vida médio de 60 anos, independente de serem familiares ou não, enquanto as
exclusivamente familiares são de 25 anos.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
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Pequenas, médias ou grandes empresas familiares têm em seu caminho o
grande desafio da continuidade. A maioria das empresas brasileiras, segundo um
estudo feito pelo Sebrae, citado por Pádua (2004), tem a base familiar. Tal estudo
revelou que 73% das micros e pequenas empresas são controladas e gerenciadas
por famílias. Durante a fase inicial de criação da empresa, a participação familiar
desempenha um papel fundamental, o que não se observa nas fases de crescimento
e maturidade organizacional. Para Drucker (2002), três pontos são fundamentais
para a continuidade de uma empresa familiar:
1. Os integrantes da família não devem trabalhar na empresa, a menos que
sejam tão capacitados quanto qualquer outro colaborador e atuem com
dedicação. Se o quadro de funcionários inclui um filho ou sobrinho
medíocre ou improdutivo, os demais profissionais perderão o respeito pela
empresa;
2. Independentemente de quantos membros da família atua na gestão da
empresa e da capacidade de cada um desses profissionais, é essencial
que pelo menos um posto elevado sempre seja ocupado por alguém de
fora do grupo familiar;
3. Com a única exceção das empresas familiares muito pequenas, o restante
necessita, cada vez mais, de profissionais sem vínculo de sangue nos
cargos essenciais.
Antigas ou de história recente, as empresas familiares também se destacam
com uma peculiaridade comum: a presença de conflitos e disputas, que obedecem a
objetivos e prioridades diferentes dos que rege as relações estritamente familiares.
De Geus (1998), afirma que os problemas parecem se intensificar à medida que a
empresa envelhece. Tendências mundiais apontam sinais para as corporações
como a concentração em diversos setores, investindo em ramos de atividades
diversificados, a redução do ciclo de vida dos produtos e serviços, os avanços
tecnológicos e as transformações em matéria de logística e gestão da cadeia de
fornecimento, entre outros fatores, anunciando modificações constantes no mundo
dos negócios. Essas mudanças, profundas e em alta velocidade atingem as
empresas familiares de maneira mais intensa do que para outros tipos de
estabelecimentos (OLIVEIRA, 2002).
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
55
Segundo Altrão (2001), as mudanças rápidas são mais assustadoras para
empresas familiares, muitas vezes por estas viverem “engessadas” em suas
tradições por adotarem uma cultura que privilegia a estabilidade, e em algumas
ocasiões, pelo paternalismo que rege suas relações; seus proprietários em geral são
avessos a riscos; e os sucessores hesitam em desafiar a filosofia ou o estilo de
gestão vigente.
Desta forma, são essenciais que seus líderes abandonem antigas formas de
pensar e agir, ancoradas no passado e se esforcem para fomentar uma cultura
orientada para as mudanças – mas isso não significa sacrificar valores familiares.
Pádua (2004) destaca que toda empresa familiar deve estabelecer, implementar e
controlar suas diretrizes e estratégias apoiadas em:
Um modelo de gestão formalizada;
Decisões mais racionais;
Um quadro de recursos humanos competente;
Um programa de ações minimizadoras de conflitos entre a família e a
empresa.
O ideal pretendido pelos fundadores de empresas familiares é a continuidade
do negócio, e sua principal preocupação é realizar a transição para a geração
seguinte sem suscitar conflitos, afirma Spanger (2003). Muitas vezes, no entanto,
não planejam a sucessão como devem. Ward (2003) destaca os seguintes princípios
e passos que podem ajudar as empresas familiares a se perpetuarem em épocas de
globalização:
A sucessão é um processo, não um ato isolado. Quando é feita
acertadamente, quase ninguém se dá conta dela;
É difícil iniciar as conversações sobre a necessidade de planejar a
sucessão, mas o melhor é não protelá-la;
Nenhum plano de sucessão é seguro se o fundador da empresa não tem
garantido seu futuro econômico;
A participação do sucessor na empresa deve ser um gesto voluntário e não
uma obrigação;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
56
Experiências em outras empresas são essenciais para uma carreira de
sucesso na empresa familiar. É preciso estimular os descendentes neste
sentido;
Planejamento sólido de sucessão contribui para aumentar o valor da
empresa;
A sucessão é percebida mais dolorosamente pelos filhos do que pelo
proprietário.
Na medida do possível, os sucessores não devem trabalhar diretamente sob
as ordens dos pais, afirmam Barnes e Hershon (2002). Os autores argumentam que
quando são fundadas, as empresas raramente não são concebidas como familiares.
Representam a típica expressão do desejo e da paixão isolada de um
empreendedor, que a encara como “meu negócio” ou “minha vida”. À medida que
transcorre o tempo, o fundador vislumbra passar o negócio a seus descendentes. O
sonho começa a se formar, quando os filhos ou filhas entram na adolescência e
passam a trabalhar nele em parte de seu tempo.
Bernhoeft (2002) discorre que o sonho se torna mais difícil de permanecer
vivo à medida que o dono envelhece, e não pode mais permanecer sozinho gerindo
a empresa. Porém, nesta hora é que ele percebe que ninguém da família quer
continuar com o seu sonho ou também pelo fato de não ter preparado seu sucessor.
E aí pode ser tarde demais. Segundo HSM Management (2003), os fatores que
apontam os motivos pelos qual o fundador de uma empresa familiar quer preservá-
la, são, por ordem de importância:
Oferecer uma oportunidade para os filhos, dando a eles possibilidade de
independência, controle do seu futuro e autonomia;
Conservar o legado, gerando uma tradição, uma história e fincar raízes;
Manter unida a família, para que ela trabalhe junto, fortalecendo laços
familiares;
Criar vantagem econômica e riquezas;
Assegurar a renda e projetos pessoais depois da aposentadoria;
Proteger empregados leais;
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57
Garantir segurança econômica da família;
Beneficiar a sociedade.
Com esses dados pode-se observar que o interesse principal por parte do
empreendedor de uma empresa familiar, e que tradicionalmente é de pequeno e
médio porte, é beneficiar a família. Segundo Bernhoeft e Gallo (2003), um dos erros
mais comuns que muitos empresários e seus herdeiros cometem em relação à
continuidade da empresa familiar, é encaminhar a sucessão apenas levando em
conta um foco. Ou seja, a substituição naquilo que envolve a gestão dos negócios.
Ele ainda afirma que perpetuar uma sociedade familiar envolve compreender que ela
deve envolver muito mais que a gestão dos negócios, mas também um modelo
societário, que viabilize a preservação do controle do capital da organização.
Portanto, incentivar o espírito empresarial requer incentivar a empresa familiar
e possibilitar sua continuidade. Mas o que se observa, é que as empresas familiares
que sobrevivem a seus fundadores, sem citar as que ainda estão prosperando na
terceira e quarta gerações da administração familiar, são mais a exceção do que a
regra. Como afirma Drucker (2002, p. 154), “a palavra de peso na expressão –
empresas familiares – não é ” familiar “. Tem de ser a palavra “empresa””.
Dentre os fatores que afetam o processo de sucessão em empresas
familiares, algumas características mostram-se comuns em várias empresas,
independente do tamanho que ela esteja no momento da sucessão, ou da troca de
membros da família no comando da empresa. Tais fatores mostram-se associados à
falta de um planejamento correto para o processo de sucessão. Entre eles, Vidigal
(2002) cita:
O fundador não tem visão da necessidade de planejar a sucessão, deixando
esse problema ser resolvido por seus herdeiros;
O fundador faz questão de continuar comandando o negócio até a velhice,
não abrindo espaço para seus sucessores, que se frustram não vendo
chegar nunca o dia em que poderão assumir o comando e vêem a empresa
deixar de crescer e inovar sob o comando de uma pessoa que já perdeu a
capacidade de ter idéias novas – a síndrome do “não se mexe em time que
está ganhando”;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
58
Uma providência que se pode tomar para melhorar as chances de a
empresa ter um bom processo de transição para a nova geração é treinar
bem os candidatos a sucessores.
Apesar de parecer óbvio, não é uma atitude comum, onde os futuros
herdeiros são levados a trabalhar na empresa desde jovens, sem que haja um
planejamento de carreira adequado, é o que aponta Naidtch (2004). Outro problema
a ser enfrentado e de difícil solução, é a escolha do sucessor. O que acontece com
freqüência, na opinião do autor, é a divisão da empresa em vários pedaços, um para
cada filho, desmembrando algo que, se existia como um todo é porque havia uma
lógica para isso. Mas ainda, seguindo esta hipótese, estas empresas têm mais
chances de sobreviverem.
Awad (2003) aponta que uma das piores situações ocorre quando existem
vários herdeiros (filhos) querendo disputar o controle, e o fundador (pai) não tem
uma solução que seja aceita por todos. Outra situação comentada pelo autor é
quando a empresa sobrevive por várias gerações e a família vai aumentando de
tamanho. Quando isso acontece o melhor é profissionalizar a empresa no interesse
de salvá-la.
2.4.1 A longevidade das empresas familiares de pequeno porte
Talvez a primeira tarefa para a longevidade e prosperidade de uma empresa
familiar, de pequeno e médio porte, seja mudar a maneira de pensar.
Porém, muitas parecem estar ainda com pensamentos e ações muito
primitivas, desenvolvendo e explorando apenas uma pequena parte do seu
potencial. Bastam considerar as altas taxas de mortalidade. (DE GEUS,
1998, p. 20)
A pequena empresa movimenta cerca de 50% da economia nacional, e é
responsável por aproximadamente 60% dos empregos do país (CRUZ, 1998). É
quem mais emprega mão-de-obra no país, e ao mesmo tempo, o encerramento de
suas atividades não causa grandes problemas à sociedade, pois individualmente
não representam números significativos em termos de emprego e desempenho. Mas
devemos analisá-las num conjunto maior para fortalecê-la, criando condições para
que as novas se instalem, gerando ainda mais empregos (ALTRÃO, 2001).
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
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De Geus (1998, p. 33), aponta questionamentos com relação à longevidade
das empresas familiares de pequeno porte, comparando-as com as pessoas, ou
melhor, com os seres vivos: “Porque então, tantas empresas morrem
prematuramente?
[...] Os seres humanos aprenderam a sobreviver por 75 anos ou
mais, mas são poucas as empresas que atingem essa idade e estão prosperando.
Porque isso acontece”?
Problemas relacionados à morte das empresas familiares de pequeno porte,
encontram-se associados também ao estilo de gestão e a atitudes dos seus
administradores, afirmam Collins e Porras (1999). Os autores apontam que a causa
de mortalidade dessas empresas está ligado a fatores como a economia, mas não
podemos ignorar o fato de que a verdadeira natureza de suas organizações é aquela
gerada pelos seres humanos que nela trabalham. Mas elas não estão sozinhas
nesses erros, pois áreas jurídicas, educacionais, econômicas e financeiras, da nossa
sociedade, as acompanham. A globalização da economia é um grande e importante
desafio para as sociedades familiares. Muitos dos fundadores das empresas
familiares de pequeno porte consideram a constituição do seu negócio não apenas a
realização de um sonho. Os grandes desafios da longevidade a serem enfrentados,
segundo Bernhoeft (2002), para os empreendedores de pequeno porte são
compreender alguns pontos, como:
Sua obra torna-se maior do que ele próprio;
Não deixa para os filhos apenas uma empresa ou patrimônio;
Os herdeiros vão receber sócios que não tiveram a liberdade de escolher;
Relacionamentos familiares que dificultam o surgimento ou aceitação de
novas lideranças;
Pulverização da propriedade com o desaparecimento da figura de “dono”,
característica exclusiva da primeira geração.
Para melhor compreender estas variáveis, pode-se observar na Figura 2, que
o futuro das sociedades familiares, depende da correlação direta entre os três
sistemas que a integram: família, empresa e sociedade.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
60
FAMÍLIA EMPRESA
Crescimento geométrico Pulverização
Relação imposta Sócios impostos
Emoção / afeto Propriedade
SOCIEDADE
Unidade de comando/ hierarquia
Decisões rápidas
Estrutura unida/ágil
Mercado
Figura 2 - O futuro das sociedades familiares.
Fonte: Bernhoeft (2002).
Este modelo de três círculos descreve o sistema da empresa familiar como
três sistemas independentes, mas superpostos. Qualquer pessoa, familiar ou não,
ligado a este tipo de empresa pode identificar-se em um destes sub-sistemas. Com o
decorrer do tempo, os sistemas societários e empresariais evoluem para sistemas
familiares cada vez mais complexos e interdependentes. Essa multiciplicidade,
decorrente das três dimensões sistêmicas, contribui para uma diversidade enorme
de subculturas diferentes entre si (BORNHOLDT, 2005).
Na atual conjuntura econômica do mundo dos negócios, grande parte dos
gestores descobre que suas empresas não dispõem das práticas necessárias para
conseguir objetivos que esperam realizar. Com relação à sucessão familiar e a
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
61
longevidade de uma empresa de porte pequeno, explorar todas as suas
potencialidades garante mais chances de entregá-la para um herdeiro em melhor
saúde do que quando ela surgiu, ressalta De Geus (1998). Acompanhando as
mudanças mundiais, as empresas precisam cada vez mais envolver as pessoas,
sejam elas da família ou não, contribuindo para seu desenvolvimento continuado.
As empresas devem primeiramente procurar sua sobrevivência e seu
desenvolvimento na capacidade profissional das pessoas que nela trabalham. Por
possuírem interesses, na maioria das vezes imediatos, acarretam o que Rodrigues
(2000), chama de “miopia mercadológica”, pelo fato de não se prepararem para o
futuro, perdendo assim oportunidades de mercado.
Segundo Altrão (2001, p. 95):
No Brasil a empresa familiar de pequeno porte sempre estará em alta. Há, e
sempre haverá determinada atividade a ser explorada em determinado
local, esperando que um empreendedor de visão e coragem tome a frente e
instale ali mais uma pequena empresa, para acelerar o crescimento do
nosso país.
Ao considerar-se a realidade brasileira, verifica-se que o papel das pequenas
empresas dentro da economia já não pode ser o mesmo. Elas não podem
desaparecer como conseqüência da concentração empresarial e industrial das
grandes empresas, mas devem sim, modificar sua posição nesse sistema, saindo
dos pontos em que a concorrência com as grandes empresas seria impossível,
migrando para nichos de mercados, onde a produção em pequena escala seja mais
produtiva e eficaz do que a produção em grande escala. Oliveira (2002) afirma que
as pequenas empresas devem aproveitar suas vantagens de flexibilização,
mudanças nas características dos produtos, mudanças de localização, entre outras,
em virtude do baixo capital empregado e da tecnologia que muitas vezes permite
adaptações, bem como da alta rotatividade de mão-de-obra pouco qualificada.
Assim, as pequenas empresas obtêm maior eficiência de produção em áreas
específicas que se tornam não atrativas para as grandes empresas.
De Geus (1998) destaca quatro principais fatores que fazem com que a
longevidade desse tipo de empresas aumente:
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
62
Serem sensíveis ao seu ambiente: estando construídas com base no
conhecimento - como, por exemplo, as inovações tecnológicas - ou em
recursos naturais, e ainda permanecendo em harmonia com o mundo a sua
volta;
Serem coesas e dotadas de um forte senso de identidade: mantendo um
relacionamento favorável com seus funcionários, fornecedores e clientes.
Mas em especial com forte vínculo dos funcionários com a empresa para a
sobrevivência em meio às mudanças;
Serem tolerantes: evitando exercer qualquer controle centralizado sobre
tentativas de diversificar a empresa;
Serem conservadoras nas finanças: não arriscar gratuitamente seu capital,
por entender o significado do dinheiro à moda antiga e a necessidade de
reserva de caixa.
Observamos então, que a empresa familiar de pequeno porte, em si, é uma
comunidade gerida de culturas e costumes particulares. Seus propósitos de
longevidade devem estar cercados em torno desta comunidade que a compõe,
desde seus membros fundadores, sucessores e até as pessoas recrutadas,
desenvolvendo suas habilidades e potencialidades a favor da sua longevidade.
2.4.2 Empresas familiares no Paraná
Entender a empresa como uma entidade que vai além da sua estrutura
física, mas sim, como uma entidade viva, é um primeiro passo no sentido de
aumentar a expectativa de vida das empresas familiares de pequeno porte.
Porém, outros fatores podem ocorrer ao longo da vida de uma empresa
familiar, afetando consideravelmente sua longevidade (ALTRÃO, 2001)
A sucessão e longevidade nas empresas familiares, em especial as de
pequeno porte, pode ser afetada seriamente pelo fato dos herdeiros não estarem
interessados e nem envolvidos com os negócios da empresa fundada pela família.
Altrão (2001), aponta para fatores que influenciam a economia nacional,
trazendo consigo barreiras de crescimento, desenvolvimento e competitividade,
interferindo significativamente na empresa, como por exemplo:
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63
Taxas de câmbio;
Planos econômicos;
Abertura do mercado para empresas estrangeiras;
Desenvolvimento de novas tecnologias;
Queda de preços dos produtos;
Necessidade de aumento da variedade de produtos no mercado;
Consumidores cada vez menos fiéis;
Falta de capital para maiores investimentos.
Mas com o sonho de sobreviverem vivas num mercado cada vez mais
competitivo, Gasparin e Lacomini (2004) relatam a realidade de algumas empresas
familiares paranaenses, que se mostraram coesas e com uma visão positiva e
empreendedora frente às dificuldades. Embora tendo começado com perfil de
pequenas, aproveitaram as oportunidades do mercado local e foram se mantendo
competitivas ao longo dos anos:
Mate Real – fundada em 1834 – a empresa mais antiga do Estado do
Paraná, é vice-líder nacional no mercado de chás em saquinhos. Continua
nas mãos do grupo fundador, a família Fontana que tem hoje a sétima
geração à frente da companhia;
Todeschini – fundada em 1884 – depois de uma fase de turbulência em
2002 teve de parar a produção por um mês e meio devido a problemas
financeiros, atravessando um período de reestruturação. É dirigida pela
quinta geração da família fundadora;
Matte Leão – fundada em 1901 – foi pioneira no lançamento de alguns
produtos como o mate pré-tostado, nos anos 40 e o chá pronto para beber.
Lidera as vendas nacionais em chás prontos e em saquinhos. É
administrado pela quarta geração da família Leão;
Fábrica de bebidas Cini - fundada em 1904, por Egízio Cini, que veio de
Vêneto para o Brasil em 1890. Ao chegar na cidade de Curitiba, Estado do
Paraná, inicia as atividades da empresa. Mesmo com características
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64
familiares e de pequeno porte, conseguiu permanecer competitiva no
mercado por 100 anos.
Segundo Sebrae (2004), estudos comprovam que entre as pequenas
empresas brasileiras, 50% delas encerram suas atividades antes de completar dois
anos. Afirmam ainda que, quando o negócio entra em crise, muitos empresários
preferem atribuir os percalços à má sorte, ao ambiente macroeconômico ou à carga
tributária. Raramente procura dentro das práticas internas a causa da derrocada. O
especialista ainda cita exemplos de empresas tradicionais do Paraná que
sucumbiram nas últimas décadas – Prosdócimo, HM, Móveis CIMO, Bolachas
Lucinda, Pianos Essenfelder, entre outras.
Existem características neste tipo de empresas que são fundamentais para
sua longevidade, e que não vão muito mais além de boas idéias e grandes
empreendedores, como por exemplo, a falta de profissionalização e o
desenvolvimento tecnológico. (SEBRAE/PR, 2004)
De acordo com o presidente da Jucepar – Junta Comercial do Paraná – Julio
Maito Filho (SEBRAE/PR, 2004), os levantamentos constantes sobre a mortalidade
das pequenas empresas é feito com o sentido de destacar as empresas que fecham
por falta de preparo de seus proprietários:
Dessa forma os números divulgados pelo Sebrae/PR não refletem uma
realidade diferente no Estado. Medidas de apoio às pequenas empresas
devem ser implantadas pelos governos estaduais, com o intuito de diminuir
a mortalidade destas empresas e auxilia-las na geração de empregos e na
criação e manutenção destas empresas. Enquanto o Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) aponta que cerca de 50%
das micro e pequenas empresas abertas no país fecham com até dois anos
de existência, no Paraná a realidade é bem diferente, desde quando aqui,
foi implantado um novo sistema tributário para arrecadação de impostos em
especial o ICMS.
De acordo com a Jucepar, desde o início de 2004, apenas 1.529 micro e
pequenas empresas fecharam suas portas no estado. No entanto, no mesmo
período foram abertas 62.738 empresas deste porte. Isso significa que o índice de
mortalidade das empresas paranaenses não ultrapassa 6.27% no anos de 2004. Os
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
65
dados fazem parte do Relatório Anual de 2003 e de levantamentos do ano de 2004
(entre janeiro a julho) da Jucepar.
No programa de incentivo adotado pelo Governo do Paraná, as empresas que
possuem receita bruta mensal de até R$ 15 mil Reais não pagam ICMS – Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços. Aquelas com receita acima de R$ 15
mil Reais até R$ 40 mil Reais pagam apenas 2% de ICMS. Já as que ganham de R$
40 mil Reais a R$ 100 mil Reais, pagam 3% sobre o que ultrapassar. E aquelas com
receita de R$ 100 mil Reais a R$ 125 mil Reais a alíquota é de 4%. O sistema de
imposto é progressivo, ou seja, um empresário que fatura R$ 125 mil Reais por mês,
por exemplo, só vai pagar 4% na faixa de R$ 100 mil Reais a R$ 125 mil Reais. Nas
demais, ele pagará o tributo correspondente.
Fatores e circunstâncias políticas geram situações econômicas ora favoráveis, ora
desfavoráveis, à vida das empresas. Portanto, uma sociedade politicamente estável,
com regras bem definidas, propicia um ambiente de credibilidade e de trabalho, de
investimentos, de planejamento realista e maduro para um crescimento sustentável
e coerente (ALTRÃO, 2001, p. 87).
2.5 Ênfase no aspecto da sucessão familiar
A sucessão familiar em empresas de pequeno porte, envolve questões
bastante discutidas, pois apresentam ambigüidades, entre possibilidades positivas e
negativas. A sucessão é a substituição do fundador com enfoques e estilo de
lideranças diferentes, formação teórica e práticas renovadas. Esse fato pode ocorrer
depois da morte do fundador (o que não chega a ser uma regra), mas é importante
preparar-se para esta passagem de comando ainda em vida (Gersick, Davis,
Hampton, Lansberg, 1997).
É importante tratá-la como um processo e não como uma ação isolada, um
simples acontecimento. Representa um dos momentos mais importantes para a
empresa familiar, os quais nem sempre são positivos, devido a conflitos que possam
vir a existir:
Muitos negócios familiares têm duração reduzida. Entre as empresas
familiares que não sobreviveram, dois terços mudam de mãos ou
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
66
sucumbem vítimas de problemas de sucessão antes da terceira geração.
Tragicamente, menos de 10% das empresas familiares sobrevivem até a
quarta geração. (VIDIGAL, 2002)
Para que tal processo tenha êxito, é necessário que algumas atitudes sejam
adotadas. Entre elas, Lodi (1993) descreve:
O pai tem que aceitar a vocação do filho sem impor o negócio empresarial;
Analisar qual o melhor momento para o sucessor entrar na organização;
Buscar que o(s) filho(s) faça(m) seu aprendizado profissional em outras
empresas adquirindo experiências e conhecendo outras realidades;
O sucessor deve começar por níveis hierárquicos mais baixos para depois
chegar à posição de comando.
O processo deve ter grande duração no tempo, tendo seu início na juventude
dos herdeiros até a troca do poder. Assim sendo, a empresa passa por estágios no
decorrer de sua vida. Portanto, a habilidade de líder é fundamental. Os pontos
críticos para que isso aconteça, segundo Machado (2003), são:
Treinamento;
Avaliação na escolha dos sucessores;
Comparação do perfil do sucedido com o do sucessor, em relação ao
exigido pela empresa;
Associação do sucesso da empresa com a imagem do fundador.
São cada vez mais comuns notícias de empresas familiares que estão se
dissolvendo, sendo vendidas ou falidas. As causas são as mesmas: brigas entre
herdeiros e desinteresses dos familiares em continuar o negócio. Alguns dos casos
que se enquadram nessa situação são os das empresas Duloren, Tigre, Banco Real,
entre outras, citadas por Mairesse (2000). Empresas que demonstram uma estrutura
familiar mais organizada, com diretrizes claras, relacionamentos afetivos estáveis,
superam bem esta fase e continuam a crescer. Nesse contexto pode-se destacar
Fiat (Europa), Hering (Santa Catarina), Marcopolo, Tramontina e Randon (Rio
Grande do Sul), Votorantim e Varga (São Paulo), Cargil (EUA), aponta o autor.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
67
Entre os conflitos que as empresas familiares atravessam, a fase da sucessão
pode ser considerada uma das piores, afirma Brasil (2004). Ocorre a substituição do
criador do empreendimento por outra pessoa, da família ou não, para dar
prosseguimento à obra projetada, criada e conduzida por ele vários anos.
2.5.1 Processo sucessório – as faces da sucessão
A sucessão é a substituição do criador do empreendimento para dar
prosseguimento à obra projetada, criada e conduzida pelo pioneiro, porém
com enfoques e estilos de liderança diferenciados, formação teórico-prática
renovada, uma vez que os tempos são outros. O pior dos conflitos que
infestam as empresas familiares está presente na fase da sucessão,
resultante quase sempre de problemas estruturais da família. Não podemos
deixar de ressaltar que a sucessão é determinada, em longo prazo, pela
maneira como os pais educam seus filhos, preparando-os para o poder.
(DONATTI, 1999, p.57)
Encaminhar a empresa na busca de formas menos traumáticas no processo
sucessório é fundamental. Fazer com que um empreendimento empresarial tenha
sucesso e depois passe de pais para filhos, é o sonho de quase todas as pessoas
que abrem um negócio. Diante disso, é importante a realização de um planejamento
do processo sucessório. Leone (1992, p. 91), define sucessão como: “o tiro de
transferência de poder e de capital entre a geração que atualmente dirige e a que
virá a dirigir”.
O processo de sucessão ameaça seriamente a continuidade das
organizações:
As empresas que são bem sucedidas, sob a gestão de seu fundador,
apenas 35% sobrevivem à mudança para a segunda geração. Dos 35% de
empresas que sobrevivem à transição para a segunda geração, apenas
metade sobreviverá à passagem da segunda para a terceira. (VIDIGAL,
1996, p. 130)
Para minimizar esse problema, exige-se ações preventivas, aumentando as
chances de sobrevivência, dando continuidade ao empreendimento. Vidigal (1996),
aponta que algumas ações preventivas estão relacionadas há:
Distribuir de forma eficiente e eqüitativa, os ativos da geração mais velha
para a geração mais nova;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
68
Passar o controle do negócio de maneira a assegurar uma liderança eficaz;
Manter e promover a harmonia família/empresa.
Durante o processo de sucessão nas empresas familiares, Bernhoeft (2002, p.
49), afirma que é da maior importância compreender que ocorre a transformação da
propriedade em sociedade. A propriedade passa a ser um elo importante entre a
família e a sociedade, que devem ter interesses comuns e não conflitantes, como
ilustrado na Figura 3:
FAMÍLIA SOCIEDADE EMPRESA
Portavoz Coordenador/ Executivo/
Facilitador/ Gestor
Mediador
Figura 3: O processo de sucessão nas sociedades familiares.
Fonte: Bernhoeft (2002).
Deve ser criado e mantido um bom entendimento entre esses três atores –
propriedade, sociedade e família - indicados para liderar cada um dos componentes
do processo, pois, na medida em que elas consigam manter elevado o grau de
respeito mútuo agregado à competência, isso se torna extensivo à sociedade e
conseqüentemente a continuidade da empresa (BERNHOEFT, 2002).
Palmeira (1995) destaca que a sucessão pode acarretar crises de sucessão,
na interface entre a geração do fundador e a segunda. A crise de liderança, com o
aparecimento da terceira geração, após a qual a empresa entra numa crise de
identidade. Ainda segundo a autora, a cada geração, a empresa familiar assume
características diferenciadas.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
69
2.5.2 Estágios do processo de sucessão
Empresas nascidas de grandes sonhos, idéias, oportunidades ou
empreendedores – solitários ou em equipe – se expandem, frutificam-se e
se perpetuam através de inúmeras gerações, multiplicando riquezas, o bem-
estar, o saber, e o crescimento, tanto de pessoas que naturalmente venham
a orbitar no universo de cada empreendimento, como da economia de uma
nação e da sociedade em geral. (Luiz Fernando Furlam – Presidente do
Conselho de Administração do Grupo Sadia)
Constata-se que muitas empresas familiares não respeitam estágios que
Longenecker (1997), considera importante no processo de sucessão:
1. Estágio Pré-Empresarial: o sucessor cresce familiarizado com o negócio. É
um limite que precede o processo mais deliberado de socialização;
2. Estágio Introdutório: sucessor começa a entender certos aspectos da
empresa, tendo contato com pessoas ligadas direta ou indiretamente com
a empresa;
3. Estágio Funcional Introdutório: o sucessor começa a trabalhar como
empregado em tempo parcial, no período de férias escolares ou
diariamente após as aulas, envolvendo-se com várias atribuições da
empresa;
4. Estágio Funcional: passa a trabalhar em tempo integral na empresa,
adquirindo experiência em diversas áreas da empresa;
5. Estágio Funcional Avançado: assume tarefas de supervisão, envolvendo a
direção de trabalhos dos outros, mas não a administração geral da
empresa;
6. Estágio Inicial da Sucessão: exerce presumivelmente a direção geral dos
negócios, mas o sucedido ainda está lhe dando apoio;
7. Estágio Maduro de Sucessão: é alcançado quando o processo de transição
se completou. O sucessor é o líder de fato. Em alguns casos, isso não
ocorre até a morte do predecessor.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
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Para que os sucessores assumam a liderança é necessário um processo
longo e exaustivo de preparação e transição. Em cada um dos estágios acima
citados, Leone (1992, p. 84-91), afirma que a meta da empresa deve ser em
respeitar e preservar o melhor da cultura existente, eliminando os defeitos mais
sérios:
A preparação do fundador revela-se fundamental. As crises ocorrem
justamente neste momento, quando a segunda geração tem experiência
suficiente para assumir maior responsabilidade na administração geral da
empresa e a primeira geração não está preparada para partilhar
responsabilidades. Geralmente, este momento de crise coincide com o
estágio sucessório do negócio.
Teló (2001) apresenta os possíveis problemas que surgem nos estágios
sucessórios de vida empresa/família:
a) Aumento de conflitos interpessoais;
b) Preocupação com lucros em curto prazo, ao invés do centramento em
objetivos de longo prazo;
c) Procedimentos administrativos enfatizando o imediatismo;
d) Falta de definição do processo de integração de novos membros da
família;
e) Ausência de planos de carreira.
Para o planejamento sucessório, nos seus mais variados estágios, o autor
aponta algumas ações:
Preparar os sucessores até que compreendam o negócio, saibam dirigi-lo e
alcancem compromisso pessoal com a organização;
Desenvolver a organização para definir novos cargos de direção e para se
atuar com autonomia;
Delimitar relações entre família e empresa, explicitando regras sobre
trabalho, propriedade e poder;
Preparar a retirada do líder/fundador.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
71
Bernhoeft (2002) afirma que os aspectos que envolvem o processo de
sucessão nas empresas familiares é algo muito delicado. Não existe lógica ou
racionalidade que o resolva integralmente. O que se necessita é de desenvolvimento
e compromisso de todas as partes interessadas. É adequado também ressaltar que
cada geração é uma nova sociedade. Para tanto, além de ser necessário uma
avaliação constante, o surgimento de novos herdeiros/sucessores, exige
conscientização e revisões.
Para melhor visualizar o conjunto de iniciativas que possam ser implementadas
para o sucesso do processo de sucessão nas empresas familiares de pequeno
porte, Palmeira (1995) identifica alguns os fatores como principais interferências
neste processo. Trata-se do Diagrama de dois triângulos, invertidos e sobrepostos,
onde o centro envolve aspectos mais funcionais da gestão de uma pequena
empresa familiar:
Estratégia de Marketing
Valores e a missão Fatores Contextuais
EMPRESA
Diagnóstico Estratégico Mix de Serviços
de Marketing
Formação de Sucessores
Figura 4 – Diagrama de dois triângulos.
Fonte: Palmeira (1995).
Cada vértice dos triângulos apresenta um grupo de atividades que devem ser
implementadas por uma pequena empresa familiar, visando alcançar o sucesso, se
perpetuar e crescer em longo prazo:
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72
1 – Avaliar os valores e a missão da empresa no mercado visando manter a
tradição familiar da empresa e ao mesmo tempo reforçando que a família e a
empresa são sistemas diferentes, porém complementares;
2 – Utilizar ferramentas de planejamento estratégico, fazendo diagnósticos e
desenvolvendo planos, envolvendo todos os colaboradores no processo;
3 – Formação dos sucessores preparando-os para que venham apresentar
interesses e competências no negócio da família. Estruturar um programa de
treinamento para a formação dos sucessores.
4 – Fazer uma avaliação criteriosa de seus aspectos mercadológicos, ou seja,
seu mix de serviços para melhor atender seus clientes;
5 – Conhecer os fatores contextuais que afetam os resultados da empresa em
nível global, estimulando a formação humanística dos membros da família;
6 – Avaliar a coerência da estratégia de marketing em relação a melhor forma
de a empresa atuar em seu mercado e atender seus clientes.
Tais recomendações, segundo a autora, têm caráter orientativo para as
pequenas empresas familiares, devendo ser respeitadas as peculiaridades de cada
empresa.
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73
3 METODOLOGIA
Sendo a pesquisa científica uma atividade relacionada com a solução de
problemas em áreas que envolvem pessoas (GIL, 1999), não se deve levá-la à
frente sem considerar o ambiente e o contexto atual e real, no qual os fatos e dados
serão estudados e gerados.
Partindo, de tais observações, as ações metodológicas deste estudo foram
orientadas por Quivy e Campenhoudt (1992), adotando o modelo para
procedimentos científicos que considera três etapas para o estudo: a ruptura, a
construção e a verificação, que por sua vez ainda, podem ser subdivididas conforme
descrição da figura 5.
Eta
p
a 1
A
p
er
g
unta de
p
artida
Etapa 3
A problemática
Etapa 4
A construção do modelo de análise
Etapa 5
A observação
Eta
p
a 6
A análise das informa
ç
ões
Etapa 7
As conclusões
Eta
p
a 2
A ex
p
lora
ç
ão
As leituras
V
erificação
Construção
Ruptura
As entrevistas
Figura 5 – Etapas do procedimento metodológico.
Fonte: Quivy e Campenhoudt (1992)
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74
A ruptura, segundo Quivy e Campenhoudt (1992), é o primeiro passo do
procedimento científico, que visa romper preconceitos e falsas evidências que
possam conduzir ao entendimento errado dos fenômenos envolvidos. O interesse
em investigar fenômenos relacionados ao processo de sucessão nas empresas
familiares, destacou a problemática da continuidade deste tipo de empresa, no que
se refere ao processo de sucessão do empreendimento da primeira para a segunda
geração.
As primeiras investigações a cerca do tema e dos problemas enfrentados por
empresas de pequeno porte, com perfil familiar e que vivenciam ou serão afetadas
pelo processo de sucessão em sua gestão, contribuiu para a formulação da
pergunta inicial através dos conceitos citados por Quivy e Campenhoudt (1992):
Quais são os fatores e como eles interferem no processo de sucessão nas
empresas familiares?
Desta pergunta o tema foi reconstruído para: Quais são os fatores e como
eles interferem no processo de sucessão nas empresas familiares de pequeno porte,
do setor industrial?
O referencial teórico possibilitou um melhor direcionamento da pesquisa,
visando localizar teoricamente os autores e as obras que realmente pudessem
oferecer a análise correta do tema proposto. Tais leituras envolveram conceituações,
tipologias, facilidades e dificuldades a respeito das empresas familiares; os sujeitos
sociais importantes na continuidade das empresas; o planejamento organizacional, o
processo de tomada de decisão e a profissionalização das empresas; o desafio da
continuidade e a longevidade das empresas familiares de pequeno porte; faces do
processo sucessório e os estágios da sucessão.
Por sua vez, as entrevistas exploratórias estruturadas e os questionários
estruturados, auxiliaram num envolvimento maior com a realidade dos casos
estudados e com os principais atores envolvidos, seus anseios, desejos e
necessidades, por vezes comuns e outras vezes diferenciados em cada uma delas.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
75
A cerca da pergunta de partida, dos objetivos propostos e das leituras
realizadas, o processo investigativo foi tratado em quatro fases distintas, das quais
os sujeitos sociais envolvidos no processo foram de fundamental importância,
conforme mostra a tabela 1.
Tabela 1 - Etapas do procedimento metodológico.
RUPTURA
CONSTRUÇÃO
VERIFICAÇÃO
Referencial teórico;
Entrevistas exploratórias
estruturadas;
Questionários estruturados;
Processo investigativo:
- 1ª fase: caracterização das
empresas;
- 2ª fase: início e continuidade
do empreendimento;
- 3ª fase: planejamento
sucessório;
- 4ª fase: o processo de
sucessão.
Procedimento técnico:
estudo exploratório;
Processo investigativo:
1 Entrevistas exploratórias
estruturadas;
2 Questionários estruturados;
3 Observações diretas ou
pessoais.
Sujeitos sociais envolvidos:
- Fundadores;
- Herdeiro(s) e sucessor(es);
- Profissionais externos;
- Demais membros da família.
Apresentação e análise dos
dados (Cap. 4);
Considerações finais (Cap.
5).
O primeiro grupo de questionamentos elaborado foi relacionado com a
caracterização das empresas, objetivando identificar a empresa, seus dirigentes,
sucessores, cliente, fornecedores e concorrentes. Ainda buscou-se a identificação
da estrutura de poder das empresas. Tais questionamentos foram respondidos pelos
fundadores das empresas.
O segundo grupo de questionamentos, foi relacionado ao início e a
continuidade da empresa, com o objetivo de descrever as atividades
empreendedoras dos fundadores das empresas, descrevendo também a relação
existente entre a empresa e a família, buscando identificar quais situações devem
ser superadas visando o desafio da continuidade do negócio. Respondido pelos
fundadores das empresas, esse grupo de perguntas buscou identificar como está
sendo pensado o processo de sucessão da gestão da empresa da primeira para a
segunda geração.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
76
O terceiro grupo de questionamentos associou-se ao planejamento
sucessório e a profissionalização, identificando, assim, como a empresa está
pensando tais atividades, descrevendo também sobre sua capitalização, liquidez,
missão, valores e a ética. Também detectou os obstáculos que interferem no
processo de profissionalização, da transferência de poder da primeira para a
segunda geração, bem como a capacidade gerencial dos sucessores, e que, por sua
vez, comprometem a continuidade da empresa. Tais questionamentos foram
respondidos pelos fundadores, sucessores e profissionais externos.
O quarto e último grupo da pesquisa visou identificar o processo de sucessão
das empresas, como a família pensa o processo de transferência de poder da
primeira para a segunda geração e como tal dinâmica interfere na continuidade da
empresa. Visou também, identificar os estilos de relações entre os membros da
família e os possíveis focos de conflitos entre seus atores. Respondido pelos
fundadores, sucessores/herdeiros, profissionais externos e demais membros da
família que trabalham na empresa.
Na etapa da construção (QUIVY e CAMPENHOUDT, 1992), o procedimento
técnico eleito para a análise dessa pesquisa foi o estudo exploratório, utilizando
como ferramenta o estudo de caso (multicaso), como estratégia de pesquisa
embasada por Yin (2001). Segundo o autor, é uma forma de se fazer pesquisa
empírica que investiga fenômenos contemporâneos dentro de seu contexto de vida
real, em situações em que as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não estão
claramente estabelecidos, onde se utiliza múltiplas fontes de evidências, devendo
estas serem expostas de forma justa. Visa ainda, expandir e generalizar os fatores
detectados durante o estudo e não enumerar freqüências.
Para a realização do processo investigativo, foram utilizados os seguintes
instrumentos de coleta de dados, indicados para um estudo exploratório (YIN, 2001):
1. Entrevistas exploratórias estruturadas: uma das mais importantes fontes de
informação para um estudo de caso devendo ser conduzida de uma forma
espontânea. Constituem uma fonte essencial de evidências para os
estudos de caso e devem ser consideradas apenas como relatórios
verbais;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
77
2. Questionários estruturados: técnica de investigação composta por um
número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às
pessoas, tendo por objetivo, o conhecimento de opiniões, crenças,
sentimentos, interesses, expectativas e situações vivenciadas;
3. Observações diretas ou pessoais: realizada através de visitas de campo
aos locais escolhidos para o estudo de caso, encontrando disponíveis
alguns comportamentos ou condições ambientais estudados. Incluem-se
aqui observações de reuniões, atividades de passeio, trabalho de fábrica e
outras atividades semelhantes. As provas observacionais são, em geral,
úteis para fornecer informações adicionais sobre os tópicos que estão
sendo estudados.
O uso de tais instrumentos de coleta de dados justifica-se no comentário de
Yin (2001), quando afirma que não importa como se adquira experiência, todo
pesquisador de estudo de caso deve ser bem-versado em sua gama de técnicas
para a coleta de dados, a fim de que o estudo de caso possa valer de várias fontes
de evidências. Sem essas fontes múltiplas, estará se perdendo uma vantagem
inestimável da estratégia de um estudo exploratório.
Para o desenvolvimento da pesquisa de campo, foi realizada uma
amostragem baseada na abordagem qualitativa de natureza interpretativa, que
segundo Yin (2001), indica-se ao estudo exploratório, por haver uma relação
dinâmica entre o mundo real e os sujeitos envolvidos, não podendo assim ser
traduzido em números, nem necessitando do uso de métodos e técnicas estatísticas.
Foram selecionada três empresas familiares de pequeno porte, do setor industrial,
da cidade de Ponta Grossa - PR, que foram tratadas como empresas A, B e C,
visando manter resguardada a identificação legal das mesmas.
Quanto à delimitação dos sujeitos sociais envolvidos no processo
investigatório, foram considerados: o fundador, seu (s) herdeiro (s) e sucessor (es)
direto (s), bem como os profissionais externos que auxiliam na administração da
empresa e que venham ocupar cargos de gerência e supervisão, mas que não
fazem parte da família, e demais familiares envolvidos.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
78
As etapas seguintes citadas pelo modelo de Quivy e Campenhoudt (1992), que
estão contidas na fase de verificação, dizem respeito à observação, análise das
informações e conclusões, foram descritas em função das etapas anteriores, e estão
contidas na seqüência deste estudo.
3.1 Limitações do estudo
Os sujeitos sociais que participaram da pesquisa, que possuem informações
importantes e relevantes ao problema estudado, estão emocionalmente envolvidos
com os fatos descritos e em alguns casos preferiram não se manifestar.
Por tratar-se do método de estudo exploratório, com três empresas
pesquisadas, e de uma pesquisa qualitativa, o enfoque exploratório permite apenas
resultados restritos à realidade estudada. Deve-se, portanto, evitar a tendência de
querer se considerar os resultados da pesquisa para um universo mais amplo.
Muitas vezes o pesquisador não percebe todas as características das
realidades estudadas, pois esta é muito complexa. Ocorre uma multiplicidade de
dimensões, presentes numa determinada situação que devem ser consideradas.
Somente há não mais que 20 anos aproximadamente, é que começa-se
realmente a se prestar atenção à importância da pequena empresa familiar, no
contexto da economia nacional. Portanto, muitos estudos podem e devem ser
realizados para melhor explicar as realidades de tais empreendimentos. Em função
disso, é conveniente indicar possíveis estudos futuros dentro da área da pequena
empresa familiar.
3.2 Sugestões para estudos futuros
Como sugestões para estudos futuros, há uma série de alternativas que podem
vir a ser desenvolvidas:
O que pode ser feito dentro das pequenas empresas familiares em forma de
planejamento organizacional visando a continuidade da empresa?
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
79
Será que uma pequena empresa familiar que sobrevive da primeira para a
segunda geração, pode ser considerada uma empresa bem sucedida no
mercado em que atua?
É possível que fatores familiares (culturas, valores, tradições) tenham um
impacto no sucesso e na continuidade de tais empreendimentos?
Empresas familiares de pequeno porte podem manter-se vivas no mercado
tendo como sucessores apenas membros da família?
Frente às inúmeras reflexões realizadas neste estudo visando identificar e
analisar as dificuldades que cercam o processo de sucessão nas empresas
familiares de pequeno porte, desafiando sua continuidade no mercado, novos
estudos poderão contribuir para auxiliar este tipo de empreendimento, diminuindo os
índices de mortalidade quando o negócio é passado de geração para geração.
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80
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
4.1 As empresas estudadas
A pesquisa revelou uma íntima ligação entre o ambiente da família e da
empresa, bem como a importância que é dada pelos sujeitos sociais envolvidos, a
cada um destes ambientes, de forma distinta e ao mesmo tempo equivalente,
buscando preservá-los, visando à continuidade da empresa.
São relatadas as principais considerações a respeito dos fatores envolvidos
no processo sucessório e como estes interferem na continuidade de tais empresas,
conceituadas a partir da revisão de literatura: empresas familiares (teoria e prática),
os sujeitos sociais importantes na continuidade das empresas familiares, o
planejamento sucessório, a profissionalização das empresas familiares e os
problemas de sucessão. A partir da análise das informações foi possível fazer
algumas sugestões para o processo de sucessão da primeira para a segunda
geração, junto às empresas objetos de análise, bem como na sua continuidade,
conforme a metodologia apresentada no capítulo 3 e esquematizada na figura 5.
- A empresa A: foi fundada no ano de 1982, estando há 23 anos no mesmo ramo de
atividade – indústria e comércio de brinquedos educativos.
Possui dois proprietários, onde o primeiro possui 88% de participação
acionária, sendo responsável pela área administrativa da empresa, enquanto que o
segundo proprietário (12% de participação acionária) é responsável pela área
produtiva. Ambos possuem como nível de escolaridade o 1º grau incompleto,
apresentam grau de parentesco entre eles – são cunhados. O proprietário majoritário
possui um sucessor com 23 anos e uma sucessora de 27 anos.
A empresa atualmente emprega um total de 100 funcionários. Além dos
proprietários da empresa, existem outras pessoas no comando de outros
funcionários e ainda terceirizam serviços nas áreas de manutenção de
equipamentos e logística. Os fornecedores da empresa encontram-se na região de
Ponta Grossa e em outros estados do Brasil.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
81
Não possuem no momento, concorrentes locais e nem regionais.
Desconhecem ainda, a informação com relação aos produtos e serviços oferecidos
no mercado pelos seus concorrentes, apontando possuírem melhores preços e
qualidade em seus produtos, porém questões referentes à entrega de mercadorias,
prazos e formas de pagamento, são melhores a dos seus concorrentes.
Como pontos fortes, são destacados a qualidade dos produtos, bons
representantes comerciais, funcionários comprometidos e normas internas. Como
pontos fracos, são destacados os altos custos da matéria-prima, desconhecimento
da concorrência, tecnologias melhores e falta de aperfeiçoamento.
Seus principais clientes estão localizados nos estados de São Paulo e Rio de
Janeiro, sendo classificados como empresas de micro e pequeno porte. Possuem
um bom grau de fidelização e de satisfação entre eles. As épocas de sazonalidade
nas vendas encontram-se descritas da seguinte forma:
- Sazonalidade positiva (maiores índices de faturamento) nos meses referentes ao
segundo semestre de cada ano, em especial em comemorações como dia das
crianças e Natal;
- Sazonalidade negativa (menores índices de faturamento) nos meses referentes ao
primeiro semestre de cada ano.
Os anos mais triunfantes da empresa desde quando iniciaram suas atividades
foram os períodos de 2001 a 2003, onde a empresa obteve um crescimento de
150%, pois o Presidente Fernando Henrique Cardoso incentivou a educação e as
escolas compraram brinquedos educativos em maior quantidade. Em contrapartida,
o pior ano para a empresa, foi em 1994, devido aos juros altos praticados pelo
governo na economia.
- A empresa B: foi fundada no ano de 1989, portanto há 16 anos no mercado, no
ramo de metalurgia com a fabricação de móveis de aço. Porém, seu fundador possui
30 anos de experiência neste ramo de atividade.
Possui dois proprietários, porém não foi divulgada a porcentagem acionária
de cada um deles. Sendo que o grau de parentesco é entre pai e filho. O fundador
possui o 1º grau incompleto e o sucessor possui curso superior completo, sendo
este seu único herdeiro, com 28 anos de idade.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
82
A empresa possui atualmente cerca de 300 funcionários. Além do proprietário
da empresa, existem outras pessoas em cargos gerenciais na empresa. E ainda
possui serviços terceirizados nas áreas de alimentação (refeitório da empresa) e
alguns serviços de manutenção de máquinas e equipamentos.
Quanto a seus principais concorrentes, estão localizados nos outros estados
do Brasil. Foi destacado que a empresa possui melhores preços em seus produtos
que seus concorrentes, porém desconhecem informações dos concorrentes
referentes a prazos de entregas, prazos e formas de pagamento e qualidade dos
produtos.
Como pontos fortes, são destacados os compromissos, qualidade e
pontualidade no cumprimento dos seus objetivos. Com relação aos fornecedores da
empresa, encontram-se na região de Ponta Grossa, no estado do Paraná e em
outros estados do país.
Seus clientes estão localizados em todo estado do Paraná e também em outros
estados do país, estando classificadas como empresas de micro, pequeno e médio
porte. Possuem ainda um bom grau de fidelização e de satisfação entre eles. Com
relação às épocas de sazonalidade nas vendas, tanto positivas como negativas não
realizaram nenhum comentário.
- A empresa C: foi fundada no ano de 1993, portanto está a 12 anos no mercado, no
ramo de indústria de laticínios. Seu objetivo é a produção de produtos derivados do
leite.
Possui dois proprietários, sendo que o primeiro possui 95% de participação
acionária, sendo responsável pela administração geral da empresa; e o segundo
com 5% de participação acionária, não participando efetivamente das atividades da
empresa. O grau de parentesco entre os sócios é marido e mulher. Possui duas
herdeiras, porém somente uma delas é citada como sucessora e tem 21 anos, sendo
que a outra herdeira tem 16 anos.
A empresa possui cerca de 30 funcionários. Além do proprietário, não existem
outras pessoas em cargos de comando dentro da empresa e ainda, não possuem
nenhum serviço terceirizado nas suas atividades.
Seus principais concorrentes são as empresa Batavia, Frimesa e Qualitat
localizadas no estado do Paraná, oferecendo produtos e serviços semelhantes ao da
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
83
empresa no mercado. Destaca não ter nenhum dado que diferencie a empresa dos
seus concorrentes com relação a melhores preços e qualidade de seus produtos,
prazos de entrega, prazos e formas de pagamento. Como ponto fraco, é destacada
a falta de capital para suprir as suas necessidades financeiras. Com relação aos
fornecedores da empresa, encontram-se no estado do Paraná.
Seus clientes estão localizados na cidade e na região de Ponta Grossa e no
estado do Paraná, sendo classificados como empresas de grande porte. Possuem
um bom grau de fidelização e de satisfação entre a empresa e seus clientes. As
épocas de sazonalidade nas vendas encontram-se descritas da seguinte forma:
- Sazonalidade positiva (maiores índices de faturamento) nos meses de maio a
agosto de cada ano;
- Sazonalidade negativa (menores índices de faturamento) nos meses de janeiro e
fevereiro de cada ano.
Destacam o ano de 1995 como pior momento devido ao excesso de
compromissos financeiros, falta de recursos e também de experiência na área de
atuação. E o ano de 1998 como momento mais triunfante da empresa, onde seu
faturamento dobrou, iniciando-se assim obras de grande porte na fábrica e maiores
investimentos.
4.1.1 Análise da caracterização das empresas estudadas
As empresas participantes da pesquisa são identificadas como empresas A, B
e C. A descrição das mesmas foi realizada com base nos dados coletados para
caracterização das empresas, sua constituição atual e como são formalizadas as
técnicas administrativas de gestão do negócio (Apêndice B), mediante depoimentos
orais dos fundadores das empresas (entrevistas exploratórias e questionários
estruturados) e pelas observações diretas e pessoais.
Antes das análises das empresas referente aos fatores que interferem no
processo de sucessão e na continuidade do empreendimento, faz-se necessário
caracterizá-las quanto ao seu porte, ciclo de vida da empresa familiar e também a
caracterização que as identificam como sendo empresas familiares, de acordo com o
marco teórico já construído.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
84
As empresas A, B e C, caracterizam-se como empresas de pequeno porte
(EPP), segundo o Estatuto da micro e pequena empresa, que toma por base a
Legislação do SIMPLES – Lei nº 9.317 de 05.12.1996.
Segundo Bernhoeft (1999), para absorver sua evolução, as empresas
familiares, necessitam detectar as características de tais processos ao longo dos
anos. Portanto, de acordo com o ciclo de vida de seus proprietários, a empresa A
(23 anos no mercado), a empresa B (16 anos no mercado) e a empresa C (12 anos
no mercado), encontram-se caracterizadas no 2º ciclo de vida, chamado pelo autor
como o ciclo de sucesso, onde aparecem as maiores crises. Ou a empresa se
prepara para crescer ou para o declínio.
Identifica-se, portanto que a passagem da primeira para a segunda geração,
nas empresas familiares de pequeno porte, são momentos decisivos para sua
continuidade, crescimento e amadurecimento no mercado. Se tal processo ocorrer
ignorando fatores importantes, como as relações entre os membros da família,
durante seu processo de profissionalização e nos momentos de tomada de decisão,
as conseqüências comprometem a este segundo ciclo, direcionado a empresa para
seu fracasso e desaparecimento no mercado.
De acordo com os conceitos selecionados para melhor explicar e caracterizar
as empresas estudadas, o que mais se adequou ao perfil das empresas A, B e C, foi
citado por Donneley (1987), onde analisa-se que para uma empresa ser considerada
familiar, necessita ter sido fundada por um indivíduo empreendedor, ocorrendo a
participação direta dos membros da família no processo administrativo e
principalmente que a sucessão possua um caráter hereditário.
Segundo a literatura pesquisada, existem fatores envolvendo propriedade,
família e empresa, que se encontram combinados nas empresas familiares. Pela
classificação de Gersick, Davis, Hampton e Lansberg (1997), na empresa A, os
atores envolvidos no processo foram unânimes em classificá-la como uma empresa
estabelecida entre a sociedade de irmãos, que passa por estágios de crescimento e
mudanças rápidas. E ainda, a certa altura, ocorre uma transição em seus valores,
em sua visão, identidade e comportamento. Mostra-se, portanto, com uma
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
85
caracterização adequada à sua realidade, necessitando, portanto, de alguns
cuidados e ações importantes:
Contratar membros da família;
Prepará-los para posições de gerenciamento;
Distribuir participação acionária aos herdeiros da família;
Antecipar uma transição de controle gerencial dentro da família.
Na empresa A, comprova-se tal realidade pelas declarações feitas por seu
fundador, onde após adquirir 50% da sociedade do antigo dono da empresa,
convidou seu cunhado (casado com uma de suas irmãs) para que juntos
comprassem o restante da sociedade. Esta é a realidade existente na empresa até o
momento. Destaca ainda que entre os anos de 2001 a 2003, a empresa passou por
um período acelerado de crescimento mediante as condições do mercado, fazendo
com que prosperasse.
Nas empresas B e C, os sujeitos sociais envolvidos as caracterizaram
unanimemente (ainda segundo os conceitos de Gersick, Davis, Hampton e
Lansberg, 1997), como uma empresa de primeira geração, dirigida pelo fundador,
sendo de propriedade de um só empreendedor. Permanecem com o domínio
individual de um só fundador, não empregando parentes, nem os tendo como
acionistas. Seus fundadores têm profunda influência sobre as culturas
organizacionais das suas criações. Suas crenças, sagacidade para negócios, regras
práticas para tomada de decisões e valores, fazem parte da estrutura básica da
empresa. E ainda, a experiência do fundador (primeira geração) é a única e todos os
estágios subseqüentes são afetados por aquilo que acontece durante os primeiros
anos de vida da empresa.
Como comprovação de tais classificações, na empresa B, os relatos feitos
pelo seu fundador, auxiliam na compreensão de tal classificação. A empresa foi
fundada por este empreendedor, onde possui e sempre possuiu apenas seu filho
(indicado como sucessor) como sócio, afirmando também não ter nenhum interesse
numa sociedade com demais membros da família e nem terceiros.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
86
Por sua vez, o fundador da empresa C, também comprova pelas suas
declarações, como sendo uma empresa de primeira geração ao descrever a
estrutura da empresa, onde a sociedade existente desde a criação da empresa é
entre ele e sua esposa, porém ela não participa efetivamente das atividades,
principalmente no processo de tomada de decisão, cabendo apenas a ele tal
responsabilidade.
Pela classificação de Bernhoeft (1996), os sujeitos sociais das empresas A, B
e C, foram unânimes em afirmar que caracterizam-nas como uma empresa familiar
tradicional, onde o capital é fechado e existe pouca transparência administrativa e
financeira e a família exerce o domínio completo sobre os negócios.
E por fim, pela classificação de Donneley (1987), houveram divergências
entre os sujeitos sociais apenas na empresa A, onde o fundador e a sucessora
classificam-na como sendo uma empresa individual, por ter sido iniciada por um
indivíduo e com o perfil de um pequeno negócio. Porém, com relação aos demais
sujeitos sociais da empresa A e todos os atores da empresa B e C classificaram-nas
como uma empresa familiar, pelo fato do controle da empresa estar nas mãos de
uma mesma família.
Tal classificação comprova-se nas empresas A, B e C quando os
questionamentos feitos sobre o fato das empresas contarem com auxílio profissional
externo na administração, considerando ainda de fundamental importância a
profissionalização dos membros da família visando à continuidade da empresa. Na
empresa A, ocorre uma vez ao ano, num período de aproximadamente três meses,
com consultorias externas, no intuito de auxiliar o aperfeiçoamento dos novos
produtos a serem lançados no mercado. Porém o sucessor discorda de tal situação,
relatando que: “Um conselheiro externo não trás muitos benefícios para a empresa,
pois ele não acompanha o dia-a-dia e a sistemática do ramo”.
Com relação à profissionalização da família, da sociedade e da gestão da
empresa, visando sua continuidade, cabe ressaltar o comentário feito pelo
profissional externo: “Existe hoje uma necessidade muito grande de
profissionalização em todos os níveis da empresa, e se for iniciado pela família as
chances de sucesso passam a ser maiores”. Isso demonstra que a intenção dos
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
87
sujeitos sociais envolvidos no processo é dar continuidade às atividades da empresa
no perfil familiar tradicional.
Na empresa B, o profissional externo ressalta que: “O controle é total da
família nas tomadas de decisões da empresa. A profissionalização é necessária e
depende dos futuros “patrões””e o sucessor da empresa afirma: “A prioridade é a
continuidade do trabalho. Portanto, o envolvimento deve buscar profissionalização e
desenvolver senso crítico e senso de continuidade, pois a postura do sucessor deve
ter base na cultura anterior”. Ambos os sujeitos sociais reforçam que a
profissionalização da família, da sociedade e da gestão do empreendimento deve
permanecer nos moldes de uma empresa familiar tradicional.
E na empresa C, seu fundador relata: “Palestras, consultores, simpósios são
as maneiras mais rápidas para profissionalização familiar” e a profissional externa:
“Começar desde criança a ajudar nos negócios, depois vai fazendo cursos e
faculdades”. Destacam então que tal processo de profissionalização depende da
cultura da família, desde o fundador, visando manter o perfil de uma empresa
familiar tradicional.
Na tabela 2 são apresentadas as classificações das empresas familiares A, B
e C conforme as análises dos entrevistados:
Tabela 2 – Caracterização das empresas.
Classificações Empresa A Empresa B Empresa C
Classificação das
empresas segundo seu
porte – Estatuto da
micro e pequena
empresa – Simples –
Lei nº 9.317 de
05.12.1996.
EPP
Empresa de Pequeno
Porte
EPP
Empresa de Pequeno
Porte
EPP
Empresa de Pequeno
Porte
Classificação de acordo
com o ciclo de vida da
empresa familiar
(BERNHOEFT, 1999)
2º ciclo de vida
Ciclo do sucesso
2º ciclo de vida
Ciclo do sucesso
2º ciclo de vida
Ciclo do sucesso
Classificação quanto ao
tipo de empresa familiar
(GERSICK, DAVIS,
HAMPTON e
LANSBERG, 1997)
Empresa estabelecida
entre a sociedade de
irmãos
(2ª classificação)
Empresa de primeira
geração
(1ª classificação)
Empresa de primeira
geração
(1ª classificação)
Classificação quanto ao
tipo de empresa familiar
(BERNHOEFT, 1999)
Empresa familiar
tradicional
(1ª classificação)
Empresa familiar
tradicional
(1ª classificação)
Empresa familiar
tradicional
(1ª classificação)
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
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Classificação quanto ao
tipo de empresa familiar
(DONNELEY, 1987)
Empresa individual
(fundador e sucessora)
(1ª classificação)
Empresa familiar
(demais atores)
(4ª classificação)
Empresa familiar
(4ª classificação)
Empresa familiar
(4ª classificação)
Os conceitos tratados neste item traçam um perfil das empresas estudadas
como sendo tradicionais, baseadas em necessidades da família durante a fundação
da empresa (1ª geração), e ainda dependendo dos seus sucessores (2ª geração)
para dar continuidade às suas atividades, mantendo laços familiares entre seus
membros, porém necessitando evoluir constantemente, desde que seja mantido o
perfil familiar.
4.2 O perfil dos empreendedores
Conforme processo investigativo junto aos empreendedores e fundadores das
empresas pesquisadas, destaca-se que a realização do sonho de ser empreendedor
e a motivação para tal ação, deu-se pela oportunidade de um novo negócio para si
mesmos e também como uma oportunidade de negócio para a família, em especial
para os filhos. Bernhoeft (1996), afirma que algumas reflexões são necessárias para
que empreendedores de sucesso criem seu próprio negócio e o tornem viáveis.
Os empreendedores (fundadores) das empresas participantes da pesquisa
são identificados como empreendedor A, B e C. A descrição das suas atividades
como empreendedores foram realizadas com base nos dados coletados (Apêndice
C) que buscou identificar junto aos fundadores das empresas desde o início das
suas atividades empreendedoras, a relação existente entre a empresa e a família, as
estruturas de poder, analisando as situações que devem ser superadas visando o
desafio da continuidade do empreendimento e a realização dos seus sonhos e como
está sendo pensado o processo de sucessão nas empresas.
As respostas obtidas do empreendedor A, referente as quais características
são consideradas muito importantes para o seu sucesso como empreendedor foram:
- Ter domínio do negócio para poder atuar de maneira competitiva;
- Atuar como Concorrente;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
89
- Manter a identidade pessoal dos sócios;
- Ter confiança pessoal e respeito profissional;
- Possuir possibilidades reais de tocar o projeto à diante.
O empreendedor A descreve que a empresa foi aberta não visando a
realização de um sonho, mas por uma conveniência, em especial para satisfazer a
necessidade educacional da filha. Inicialmente recebeu uma proposta para tornar-se
sócio da empresa que havia sido fundada por outra pessoa. Então tomou esta
decisão no período de 15 dias. Analisou os prós e os contras e já começou a
trabalhar, comprando 50% da sociedade. Após o período de seis meses, comprou os
outros 50% da sociedade e passou a administrá-la com o auxílio de seu sócio
(cunhado).
Sobre o relacionamento com o sócio, a administração de eventuais conflitos e
as formas de administrar nas diferentes fases do negócio, foi relatado pelo
empreendedor que eles conseguiram realizar esforços em conjunto para dividir as
inseguranças, transferindo e multiplicando o entusiasmo por algumas vezes, como
também tomando decisões em conjunto quando necessário.
Considera o fato de que hoje ser empreendedor é a realização de um sonho,
pessoal e profissional, pois sempre teve como objetivo trabalhar sozinho, ser
independente. Mas para dar continuidade a este sonho, a estrutura empresarial atual
precisará aumentar, melhorar, ser ampliada. Observa ainda que caso o negócio não
existisse, hoje estaria provavelmente atuando como comerciante de automóveis e
em especial na área de vendas.
Com relação à avaliação que faz hoje de sua experiência empreendedora e
condição de empresariar, quando comparada à situação de outros
empreendedores/concorrentes, as respostas obtidas foram:
- Do ponto de vista empresarial, são melhores as suas capacidades;
- Em relação ao aproveitamento do potencial, são muito melhores;
- Em relação às questões de vida pessoal, melhorou;
Destaca três motivadores que o levaram a concluir que o caminho para sua
realização era ter seu próprio negócio:
- Necessidade pessoal: educação da filha com dificuldade de aprendizagem;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
90
- Vontade de trabalhar sozinho: ser independente;
- Garra: fazer as coisas acontecerem.
Na sua opinião as características que considera muito importantes no perfil de
um empreendedor são a capacidade de liderança, experiências profissionais
passadas, propensão ao risco, competência técnica e senso de orientação nas
previsões de longo prazo. Já as características que considera de média ou pouca
importância na sua opinião são o envolvimento com o trabalho, espírito
empreendedor e capacidade de análise frente às situações.
Com relação às facilidades obtidas durante a fase de geração da idéia do
negócio, ou seja, no início das suas atividades, foram citadas: sorte de fazer
produtos certos para poder criar confiança no mercado e também o fato de ter
iniciado o processo de venda dos produtos em lojas de brinquedos educativos. E
como dificuldades enfrentadas nesta fase, foram citadas: falta de crédito, mercado
pequeno, falta de representantes comerciais, falta de pessoas capacitadas ou
especializadas para a área, espaço físico pequeno, aluguel do imóvel e a forma
diferente de trabalho com o sócio da época.
As prioridades necessárias na fase de criação do negócio foram encontrar
bons representantes comerciais e comprar matéria-prima para confeccionar o
produto. De acordo com os “Mandamentos do bom empreendedor”, citados por
Bernhoeft (1996), o empreendedor A considera, por grau de importância de 1 a 5 as
seguintes características:
1 - Vai a busca do que é ótimo e não do que é bom;
2 - Mais importante que o cliente é a segurança;
3 - Nada substitui o lucro;
4 - Pensar muito antes de agir;
5 - A maneira mais fácil de ganhar dinheiro é parar de perder.
Como missão e valores mais importantes para sua atuação empreendedora,
cita as seguintes características, enumerando-as por grau de importância de 1 a 10,
conforme citado por Bernhoeft (1996):
1 - Desistir em pensar de desistir;
2 - Se você não compraria, então não tente vender;
3 - O sucesso vem de quem dá mais do que recebe;
4 - Intuição;
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91
5 - Não desprezar ninguém;
6 - Esperar o inesperado;
7 - Fazer o inesperado só quando for para ajudar o outro;
8 - Seu pior emprego é aquele bom demais para ser demitido;
9 - Vencedores se sentem vencedores. Perdedores agem como perdedores;
10 - As coisas deram erradas? Então ria!
Para o sucesso de sua empresa considera como ações de fundamental
importância os seguintes fatores:
- Deixar sua marca no mercado e no mundo;
- Ser muito admirado por empresários conhecidos;
- Fazer da sua empresa uma instituição líder no setor;
- Ter várias gerações de altos executivos;
- Passar por ciclos de vida de vários produtos e serviços.
Com relação à avaliação que faz de sua experiência empreendedora e sua
condição de empresariar, quando comparada a situação de outros empreendedores
(concorrentes), considera muito importante os seguintes itens:
- Suas condições e capacidades de empresariar;
- Seu potencial em relação aos demais empreendedores;
- As questões relacionadas à vida pessoal, que hoje são muito melhores.
Considera-se um empreendedor e um empresário, ao mesmo tempo, por
entender que um completa o outro. E conclui sua experiência empreendedora,
ressaltando que falta muito ainda para aprender. Que sabe ainda muito pouco. Que
precisará sempre buscar mais sobre o mercado, a administração, relacionamento
com colaboradores, buscando sempre por modernidade.
E ainda, considera vital para quem deseja ser um empreendedor e abrir seu
próprio negócio, o momento para tomada de decisão, especialmente para quem vai
deixar de ser empregado para se tornar um empreendedor, não tendo visão de curto
prazo e viabilizar sua idéia, vendendo o produto ou serviço e depois estruturar o
empreendimento.
As respostas obtidas pelo empreendedor B, referentes a tais reflexões,
consideradas como características muito importantes para o seu sucesso como
empreendedor são:
- Ter domínio do negócio para poder atuar de maneira competitiva;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
92
- Atuar como concorrente;
- Manter a identidade pessoal dos sócios;
- Ter confiança pessoal e respeito profissional;
- Possuir possibilidades reais de tocar o projeto à diante.
O empreendedor B considera que a abertura da empresa foi à realização de
um sonho, do qual não precisou de nenhum sócio para viabilizá-lo e também julga
que não precisará de sócios para dar continuidade à empresa. Antes de iniciar suas
atividades passou por um período de planejamento de 30 dias, necessitando cuidar
especialmente das áreas técnicas e comerciais, para dar início as atividades da
empresa.
Sobre o relacionamento com o sócio, a administração de eventuais conflitos e
as formas de administrar nas diferentes fases do negócio, foi relatado por ele que,
ambos tem somado suas qualidades individuais positivas, aprendendo a substituir
suas qualidades individuais consideradas negativas e seus esforços para dividir as
inseguranças, através da tomada de decisões corretas.
Com relação à avaliação que faz hoje de sua experiência empreendedora e
condição de empresariar, quando comparada à situação de outros
empreendedores/concorrentes, as respostas obtidas foram:
- Do ponto de vista empresarial, são melhores suas minhas capacidades;
- Em relação ao aproveitamento do potencial, são muito melhores;
- Em relação às questões de vida pessoal, melhorou;
- Sob o prisma profissional, são melhores as condições, mas fica a sensação de que
em uma empresa de maior porte a atualização é mais constante e facilitada.
Destaca três motivadores, que na sua opinião o levaram a concluir que o
caminho para a sua realização era desenvolver um negócio próprio:
- Conhecimento;
- Força de vontade;
- Porque precisava trabalhar.
Na sua opinião considera muito importante como características no perfil de
um empreendedor de sucesso a capacidade de liderança, envolvimento com o
trabalho, experiências profissionais passadas, propensão ao risco, espírito
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
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empreendedor, competência técnica, senso de orientação nas previsões de longo
prazo e capacidade de análise frente às situações.
Com relação às facilidades encontradas na fase de geração da idéia do
negócio, destacou o conhecimento que detinha da área e os clientes já conquistados
e como dificuldades enfrentadas nesta fase foram citadas a falta de máquinas,
necessidade de realizar financiamentos e um imóvel para montar a empresa.
As prioridades que foram necessárias de serem atendidas na fase da criação
do negócio referem-se ao imóvel que precisou ser alugado, as máquinas, que foram
emprestadas e a contratação de funcionários.
De acordo com os “Mandamentos do bom empreendedor”, citados por
Bernhoeft (1996), o empreendedor B considera, por grau de importância de 1 a 5 as
seguintes características:
1 - Vai a busca do que é ótimo e não do que é bom;
2 - Nada substitui o lucro;
3 - Mais importante que o cliente é a segurança;
4 - A maneira mais fácil de ganhar dinheiro é parar de perder;
5 - Pensar muito antes de agir.
Como missão e valores mais importantes para sua atuação empreendedora,
cita as seguintes características, enumerando-as por grau de importância de 1 a 10,
conforme citado por Bernhoeft (1996):
1 - Intuição;
2 - Não desprezar ninguém;
3 - Esperar o inesperado.
4 - Desistir em pensar de desistir;
5 - Se você não compraria, então não tente vender;
6 - As coisas deram erradas? Então ria!
7 - Vencedores se sentem vencedores. Perdedores agem como perdedores;
8 - O sucesso vem de quem dá mais do que recebe;
9 - Faça o inesperado só quando for para ajudar o outro;
10 - Seu pior emprego é aquele bom demais para ser demitido.
Para o sucesso de sua empresa considera como ações de fundamental
importância os seguintes fatores:
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94
- Deixar sua marca no mercado e no mundo;
- Passar por ciclos de vida de vários produtos e serviços.
- Fazer da sua empresa uma instituição líder no setor;
- Ser muito admirado por empresários conhecidos;
- Ter várias gerações de altos executivos;
Com relação à avaliação que faz de sua experiência empreendedora e sua
condição de empresariar, quando comparada à situação de outros empreendedores
(concorrentes), considera muito importante os seguintes itens:
- Suas condições e capacidades de empresariar;
- Seu potencial em relação aos demais empreendedores;
- As questões relacionadas à vida pessoal, que hoje são muito melhores.
Considera-se mais empreendedor do que empresário e conclui sua
experiência empreendedora como uma pessoa realizada. E ainda, considera vital
para quem deseja ser um empreendedor e abrir seu próprio negócio, o momento
para tomada de decisão, especialmente para quem vai deixar de ser empregado
para se tornar um empreendedor, não tendo visão de curto prazo, viabilizando a
idéia, vender o produto ou serviço e depois estruturar o empreendimento e ainda
colocar toda sua energia na operação do projeto.
As respostas obtidas pelo empreendedor C, referente a tais reflexões,
consideradas como características muito importantes para o seu sucesso como
empreendedor são:
- Ter domínio do negócio para poder atuar de maneira competitiva;
- Atuar como Concorrente;
- Manter a identidade pessoal dos sócios;
- Ter confiança pessoal e respeito profissional;
- Possuir possibilidades reais de tocar o projeto à diante.
O empreendedor C considera que a abertura da empresa foi à realização de
um sonho, do qual não precisou de sócios para viabilizá-lo e nem precisará para dar
continuidade. O tempo necessário de planejamento antes de iniciar as atividades da
empresa não chegou nem há um mês e as ações prioritárias para seu início
relacionaram-se a áreas de controle financeiro, pois não podiam assumir muitos
compromissos.
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Sobre o relacionamento com a sócia, a administração de eventuais conflitos e
as formas de administrar nas diferentes fases do negócio, foi relatado pelo
empreendedor que, conseguiram realizar esforços para dividir as inseguranças,
transferindo e multiplicando o entusiasmo e tomando decisões em conjunto. Porém,
não tem somado suas qualidades individuais positivas e também não aprenderam a
substituir suas qualidades individuais consideradas negativas, pelo fato de que sua
sócia (esposa) não desempenha atividades na empresa.
Com relação à avaliação que faz de sua experiência empreendedora e
condição de empresariar, quando comparada à situação de outros
empreendedores/concorrentes, as respostas obtidas foram:
- Do ponto de vista empresarial, são melhores as suas capacidades;
- Em relação ao aproveitamento do potencial, são muito melhores;
- Sob o prisma profissional, são melhores as condições, mas fica a sensação de que
em uma empresa de maior porte a atualização é mais constante e facilitada.
Destaca dois motivadores foram, na sua opinião, fatores que o levaram a
concluir que o caminho para sua realização foi desenvolver um negócio próprio:
- Viagem do conhecimento;
- Procurar melhores horizontes.
De acordo com os “Mandamentos do bom empreendedor”, citados por
Bernhoeft (1996), o empreendedor C considera, por grau de importância de 1 a 5 as
seguintes características:
1 - Vai a busca do que é ótimo e não do que é bom;
2 - Mais importante que o cliente é a segurança;
3 - Nada substitui o lucro;
4 - A maneira mais fácil de ganhar dinheiro é parar de perder;
5 - Pensar muito antes de agir.
Como missão e valores mais importantes para sua atuação empreendedora,
cita as seguintes características, enumerando-as por grau de importância de 1 a 10,
conforme citado por Bernhoeft (1996):
1 - Desistir em pensar de desistir;
2 - Intuição;
3 - Esperar o inesperado;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
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4 - As coisas deram erradas? Então ria!
5 - Vencedores se sentem vencedores. Perdedores agem como perdedores;
6 - Faça o inesperado só quando for para ajudar o outro;
7 - Não desprezar ninguém;
8 - O sucesso vem de quem dá mais do que recebe;
9 - Seu pior emprego é aquele bom demais para ser demitido;
10 - Se você não compraria, então não tente vender.
Para o sucesso de sua empresa considera como ações de fundamental
importância os seguintes fatores:
- Deixar sua marca no mercado e no mundo;
- Fazer da sua empresa uma instituição líder no setor;
- Ser muito admirado por empresários conhecidos;
- Passar por ciclos de vida de vários produtos e serviços;
- Ter várias gerações de altos executivos.
Com relação à avaliação que faz de sua experiência empreendedora e sua
condição de empresariar, quando comparada à situação de outros empreendedores
(concorrentes), considera muito importante os seguintes itens:
- Suas condições e capacidades de empresariar;
- As questões relacionadas à vida pessoal, que hoje são muito melhores.
Na sua opinião as características que considera muito importantes para um
empreendedor de sucesso são a capacidade de liderança, propensão ao risco,
espírito empreendedor e senso de orientação nas previsões de longo prazo. Porém,
as características que considera de média ou pouca importância são os
envolvimentos com o trabalho, experiências profissionais passadas, competência
técnica e capacidade de análise frente às situações.
Sente-se mais empreendedor do que empresário, concluindo ainda sua
experiência empreendedora, como um caminho cheio de altos e baixos, com
crescimento muito rápido, porém, acreditando na empresa, pois ela já não é apenas
um sonho.
Considera de vital importância para quem deseja ser um empreendedor e abrir
seu próprio negócio, o momento para tomada de decisão, especialmente para quem
vai deixar de ser empregado para se tornar um empreendedor. Porém, considera de
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
97
pouca ou média importância, não ter visão de curto prazo, viabilizar a idéia, vender o
produto ou serviço e depois estruturar o empreendimento e colocar toda sua energia
na operação do projeto.
4.2.1 Análise do perfil dos empreendedores
Apenas o empreendedor A, afirmou que o início de sua atividade
empreendedora deu-se por conveniência, por necessidade e não visando a
realização de um sonho, apesar de sempre preferir ter seu próprio negócio e de ser
independente. Depois desta decisão, sua vida e da sua família melhoraram.
Mediante as suas declarações, ele considera-se hoje ao mesmo tempo um
empresário e um empreendedor, por entender que ambos se completam. E ainda
afirma que no futuro para dar continuidade ao negócio precisará aumentar, melhorar
e ampliar a empresa.
Ao contrário os empreendedores B e C, que possuem o mesmo ponto de vista,
afirmar que a abertura da empresa foi à realização de um sonho individual, visando
novos horizontes, novos conhecimentos. Consideram-se hoje mais empreendedores
do que empresários por sentirem-se realizados pela criação dos seus
empreendimentos. Porém, concordam, assim como o empreendedor A, que suas
vidas e a dos membros da família melhoraram depois do início da empresa.
Identifica-se, portanto, um perfil mais racional e profissional, por parte do
empreendedor A, ao contrário dos outros dois citados, que são mais emotivos com
relação ao início e a continuidade da sua atividade empreendedora. Na visão dos
empreendedores A, B e C, as características consideradas extremamente relevantes
que possuem na condição de empreendedores, e que os auxiliaram a serem
empreendedores de sucesso, são as mesmas. Para eles, dominar o negócio torna
suas empresas mais competitivas perante a concorrência, possibilitando levar o
negócio adiante, com confiança pessoal e respeito profissional.
Na fase de geração de idéia do negócio, os empreendedores apontaram como
facilidades o conhecimento antecipado nas áreas que pretendiam atuar
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
98
(empreendedor A – indústria de brinquedos; empreendedor B – indústria
metalúrgica; empreendedor C – indústria alimentícia).
Na questão de relacionamento com os sócios, parte-se da iniciativa de possuir
na sociedade algum membro da família. Na empresa A, foi o cunhado, na empresa
B, foi o filho e na empresa C, a esposa. O fato de ser uma sociedade construída
entre membros da família, independente do grau de parentesco, facilita o início da
atividade e a confiança entre tal relação, segundo os empreendedores pesquisados.
Consideram ser de vital importância para a pessoa que deseje ser um
empreendedor, tomar decisões de longo prazo e de preferência discutindo-as
exaustivamente, diminuindo assim os riscos do negócio.
Bernhoeft (1996), aponta doze fatores, por ordem de importância, que
considera fundamentais para que a missão e os valores das empresas familiares
continuem vivos sendo transmitidos de geração a geração. Adaptado de tal
referência, os empreendedores A, B e C, apontaram suas opiniões a respeito
contidas na tabela 3.
Tabela 3 – Características fundamentais para missão e valores das empresas
familiares.
Características por grau de importância na
visão dos empreendedores
Características
fundamentais para a missão
e os valores das empresas
familiares continuarem vivas
de geração para geração
Valor atribuído
Empresa A Empresa B Empresa C
1º – Confie na sua intuição
Intuição
6
1
6
2º– Não despreze ninguém
Oportunidade
3
2
1
3º – Se você não compraria,
então não tente vender
Ética
10
7
7
4º – As coisas deram errado?
Então ria!
Otimismo
1
6
4
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
99
5º – Faça o inesperado só
quando for ajudar o outro
Pragmatismo 2 3 9
6º – Desista de pensar em
desistir
Persistência
7
4
5
7º – Espere o inesperado
Adaptação
5
9
2
8º – Seu pior emprego é
aquele bom demais para ser
demitido
Não comodismo
8
10
10
9º – Vencedores se sentem
vencedores. Perdedores agem
como perdedores
Autoconfiança
9
5
8
10º – O sucesso vem de quem
dá mais do que recebe
Visão
4
8
3
Analisa-se, portanto, que apenas em algumas situações os empreendedores
concordam entre si e ao mesmo tempo com o autor. Isso demonstra, as
peculiaridades frente aos estilos de empreender entre cada um dos empreendedores
pesquisados.
Dividindo as dez características em dois grupos sendo as cinco primeiras, as
mais relevantes e as cinco últimas as menos relevantes. Pode-se perceber que no
grupo das mais relevantes é consenso para os três empreendedores as
características 6 (persistência) e a característica 1 (intuição). No outro grupo, o das
características menos relevantes, o consenso entre os empreendedores foi nas
características 5 (pragmatismo) e 8 (não comodismo).
Outra contribuição importante em relação ao tema, foi apresentada por Collins
e Porras (1999). Segundo os autores, as empresas visionárias e de sucesso devem
obedecer a alguns critérios por grau de importância, para serem consideradas como
tal. Na visão dos empreendedores A, B e C, tais critérios foram enumerados e
comparados na tabela 4.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
100
Tabela 4 – Características das empresas visionárias e de sucesso.
Características por grau de importância para empresas
visionárias e de sucesso
Características por grau de
importância na visão dos
empreendedores
1º – Ser uma instituição líder no setor
3º lugar – empreendedor A
3º lugar – empreendedor B
2º lugar – empreendedor C
2º– Ser muito admirado por empresários conhecidos
2º lugar – empreendedor A
4º lugar – empreendedor B
3º lugar – empreendedor C
3º – Deixar sua marca no mercado e no mundo
1º lugar – empreendedor A
1º lugar – empreendedor B
1º lugar – empreendedor C
4º – Ter várias gerações de altos executivos
4º lugar – empreendedor A
5º lugar – empreendedor B
5º lugar – empreendedor C
5º - Passar por vários ciclos de vida de vários produtos e
serviços
5º lugar – empreendedor A
2º lugar – empreendedor B
4º lugar – empreendedor C
Tal comparação chama atenção pelo fato de os três empreendedores serem
unânimes em considerar muito importante deixar sua marca no mercado e no
mundo, sendo este o fator mais importante para eles, enquanto que para o autor
esta característica encontra-se em terceiro lugar. E ainda o fato de que as opiniões
dos empreendedores diferem da visão do autor em vários outros fatores.
Como último fator de análise do perfil dos empreendedores A, B e C, baseados
em Bernhoeft (1996), os “Mandamentos do bom empreendedor”, foram adaptados,
identificados e comparados, por grau de importância na tabela 5.
Tabela 5 – “Mandamentos do bom empreendedor”
“Mandamentos do bom empreendedor”
por grau de importância
Características por grau de
importância na visão dos
empreendedores
1º – Nada substitui o lucro
3º lugar – empreendedor A
2º lugar – empreendedor B
3º lugar – empreendedor C
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
101
2º– Ir a busca do que é ótimo e não do que é bom
1º lugar – empreendedor A
1º lugar – empreendedor B
1º lugar – empreendedor C
3º – Mais importante que o cliente é a segurança do produto ou
serviço oferecido
2º lugar – empreendedor A
3º lugar – empreendedor B
2º lugar – empreendedor C
4º – Pensar muito antes de agir
4º lugar – empreendedor A
5º lugar – empreendedor B
5º lugar – empreendedor C
5º - A maneira mais fácil de ganhar dinheiro é parar de perder
5º lugar – empreendedor A
4º lugar – empreendedor B
4º lugar – empreendedor C
Verifica-se que, com pouca variação, a opinião dos empreendedores
entrevistados converge com a literatura. Os três primeiros conceitos são
classificados por eles nas três primeiras posições e os dois últimos na quarta ou
quinta posição.
4.2.2 Análise das situações a serem superadas visando a continuidade de
seus empreendimentos
Também foram realizados questionamentos com os empreendedores A, B e C,
visando explorar as situações a serem superadas para a continuidade da empresa e
de suas atividades empreendedoras.
Os empreendedores foram unânimes em afirmar que concordam com os
seguintes questionamentos:
- Conseguem ver oportunidades onde a grande maioria só vê problemas;
- Sentem-se desafiados pelas dificuldades que as pessoas apresentam, não
deixando envolver-se pelo pessimismo e passividade;
- Consideram-se bons observadores da realidade à sua volta;
- Percebem necessidades, dificuldades, problemas e situações que podem
transformar-se em oportunidade de negócio;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
102
- São capazes de indicar e vender um livro para o intelectual mais exigente e, ao
mesmo tempo, fazer o pacote e receber no caixa, sem se sentir humilhado;
- Tem noção de todas as operações que envolvem o seu negócio, seja no
atendimento telefônico malfeito a um serviço mal executado ou o atendimento de
uma reclamação de um cliente, que muitas vezes, está apenas preocupado em
descobrir alguma falha na sua estrutura de pessoal, serviços ou produtos;
- A família foi um apoio importante nos primeiros momentos difíceis da empresa;
- Tem uma clara noção sobre a diferença que existe entre capital de giro e as
necessidades para sobrevivência pessoal;
- Conseguem reconhecer o trabalho dos outros, formulando elogios, mesmo que não
os tenha recebido;
- Tem uma noção clara de que o que oferecem ao mercado é visto como algo de
valor pelo cliente e que possui um preço justo;
- O crescimento está limitado por eles próprios e não pelos clientes;
- Consideram que administrar o sucesso é tão importante como saber conviver com
o fracasso e que o sucesso esconde algumas armadilhas tentadoras e perigosas.
Apenas os empreendedores A e B concordaram com as questões relacionadas
a seguir, sendo que o empreendedor C concordou em parte com tais
questionamentos. Elas dizem respeito a:
- Conseguir transformar problemas em oportunidades, empreendendo seus
conhecimentos e suas habilidades e ainda motivando-se em momentos de
dificuldade;
- Conseguem ser Office-boy e presidente ao mesmo tempo sem manifestar
insatisfação ou resignação;
- O estado de ânimo depende muito de apreciações que outros façam sobre o seu
desempenho;
- Conseguem fixar prioridades pessoais e profissionais (para si e para os outros)
sem depender de terceiros;
- Tem clareza e coerência entre os seus negócios e as suas posturas pessoais;
- Suas preocupações com a qualidade, imagem, bom atendimento, satisfação dos
clientes é que determinam seus limites de lucro;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
103
- Conseguem estabelecer alguma diferença entre usuário (do produto ou serviço) e
cliente que decide a compra direcionando seu marketing, ficando claro quem decide
a compra;
- Quando viajam, ficam “ligados” em soluções diferentes para problemas
corriqueiros;
- Transferem para a equipe o reconhecimento recebido de clientes e fornecedores;
- Possuem noção dos limites de crescimento do negócio e suas ambições pessoais.
Houveram discordâncias entre os três empreendedores com relação a dois
questionamentos. Na primeira questão as opiniões foram as seguintes:
- O empreendedor A discordou que as pessoas que trabalham para e com ele têm a
mesma capacidade de remanejamento e flexibilidade;
- O empreendedor B, concordou em partes que as pessoas que trabalham para e
com ele têm a mesma capacidade de remanejamento e flexibilidade;
- O empreendedor C, concordou que as pessoas que trabalham para e com ele têm
a mesma capacidade de remanejamento e flexibilidade.
E, na segunda questão onde houve completa divergência, as opiniões foram:
- O empreendedor A afirmou que não consegue fixar prioridades pessoais e
profissionais (para si e para os outros) sem depender de terceiros;
- O empreendedor B, afirmou que consegue fixar prioridades pessoais e
profissionais (para si e para os outros) sem depender de terceiros;
- O empreendedor C, afirmou conseguir em parte fixar prioridades pessoais e
profissionais (para si e para os outros) sem depender de terceiros.
4.3 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO E A PROFISSIONALIZAÇÃO DAS
EMPRESAS
Com o intuito de traçar um perfil dos sucessores das empresas pesquisadas,
foram realizados questionamentos junto aos fundadores a respeito do
comprometimento e interesse de seus sucessores para com a empresa, bem como a
qualificação que possuem (Apêndice D). É importante ressaltar que se tratam de
perfis diferenciados no processo sucessório das três empresas:
Sucessores da empresa A: um sucessor de 23 anos e uma sucessora de
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
104
27 anos. O sucessor possui outra atividade remunerada além da empresa; seu nível
de escolaridade é o terceiro grau incompleto, e já trabalhou em outras empresas que
não eram da família. A sucessora não possui outra atividade remunerada além da
empresa; seu nível de escolaridade é o ensino médio completo, e já trabalhou em
outras empresas que não eram da família.
Sucessor da empresa B: existe apenas um sucessor com 28 anos, o qual não
possui outra atividade remunerada além da empresa; seu nível de escolaridade é o
terceiro grau completo, e já trabalhou em outras empresas que não eram da família.
Sucessora da empresa C: existem duas herdeiras, porém apenas a de
21 anos foi citada como sucessora, a qual, possui seu nível de escolaridade com
formação técnica e o terceiro grau completo. Por sua vez, a sucessora mais nova,
possui ensino fundamental completo. Ambas não possuem outra atividade
remunerada além da empresa, porém, já trabalharam em outras empresas que não
eram da família.
Na tabela 6 são apresentados os principais características referentes aos
sucessores das três empresas.
Tabela 6 – Sucessores das empresas A, B e C.
SUCESSORES (A) SUCESSOR (B) SUCESSORAS (C)
Sucessor de 23 anos, que
possui outra atividade
remunerada além da
empresa; terceiro grau
incompleto; já trabalhou em
outras empresas que não
eram da família;
Sucessora de 27 anos, que
não possui outra atividade
remunerada além da
empresa; ensino médio
completo; já trabalhou em
outras empresas que não
eram da família.
Sucessor de 28 anos, que
não possui outra atividade
remunerada além da
empresa; terceiro grau
completo; já trabalhou em
outras empresas que não
eram da família.
Duas herdeiras, porém
apenas a de 21 anos foi
citada como sucessora e
participou da pesquisa;
formação técnica e terceiro
grau completo; não possui
outra atividade remunerada
além da empresa; já
trabalhou em outras
empresas que não eram da
família.
Foi ressaltado pelos três empreendedores, que seus sucessores possuem
parcialmente clareza a respeito de seus cargos dentro das empresas e que as
motivações que os levaram a trabalhar na empresa foram visando manter a tradição
da família e que se depender deles, a empresa continuará por mais uma geração.
Em especial o empreendedor da empresa B ressalta também a importância de tal
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
105
processo sucessório visando aplicar os conceitos aprendidos no curso superior e
também por ser uma oportunidade de negócios.Tal realidade demonstra-se como
sendo uma característica comum às empresas familiares de pequeno porte,
conforme cita HSM Management (2003). Por sua vez, Lodi (1993) destaca que o
sucessor deve começar a trabalhar nos níveis hierárquicos mais baixos da
organização, para que depois venha a ocupar posições de comando dentro da
empresa. Assim tem-se uma visão do motivo pelo qual os fundadores foram
unânimes em afirmar que seus sucessores não tem clareza à respeito de seus
cargos dentro da empresa.
Durante algumas declarações, em especial na empresa C, onde a profissional
externa é mulher e a sucessora também, foi destacada por elas uma certa tendência
ao protecionismo masculino no processo sucessório por parte do fundador da
empresa. A profissional externa destaca: “Ela é capaz de ocupar este lugar, mas há
o preconceito, a preferência é do homem” e a sucessora: “Difícil falar isso, até
porque meu pai se preocupa com o genro, isto é, o futuro genro. Como se uma
mulher não fosse capaz de suceder ele”. A empresa C é a que possui uma maior
participação de mulheres, uma vez que a sócia do fundador, mesmo não
desempenhando atividades diretas na empresa, vem a ser sua esposa.
Quanto ao perfil dos sucessores, apenas na empresa A o sucessor possui
outra atividade remunerada além da empresa, porém os outros sucessores já
trabalharam em outras empresas. Bernhoeft (1999), afirma que é aconselhável que
os sucessores façam o seu aprendizado profissional em outras empresas para
adquirir experiência antes de começar a trabalhar na empresa da família e ainda
sendo de fundamental importância não dependerem financeiramente da empresa.
Observa-se, portanto que esta é uma realidade que não acontece nas
empresas B e C e também com a sucessora da empresa A, pois todos dependem
financeiramente da empresa por não possuírem outras atividades remuneradas além
da empresa.
4.3.1 Governança e gestão corporativa
Buscando levantar dados sobre a gorvernança e a gestão corporativa da
empresa, capitalização e liquidez visando sua continuidade, seus valores éticos e a
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
106
importância da sua missão no mercado em que atua, foram realizados
questionamentos junto às três empresas (Apêndice D). Buscou-se também
investigar fatores referentes aos obstáculos que interferem no processo de
profissionalização, da transferência de poder da primeira para a segunda geração,
bem como a capacidade gerencial dos seus sucessores e que por sua vez
comprometem a continuidade das empresas.
Tais questões foram respondidas igualmente pelos fundadores, sucessores e
profissionais externos que trabalham na empresa e que não possuem nenhum
parentesco com a família.
Com relação à gestão e a governança corporativa, nas três empresas,
baseando-se na definição de Lodi (1993), apenas nas empresas A e B, os
sucessores apontam que tal processo é deficitário. Os demais sujeitos sociais
envolvidos na pesquisa, nas três empresas, afirmaram que são elaborados planos
de negócio antecipados para auxiliaram nos processos de tomada de decisão e
definição anual das metas.
Com relação aos problemas de gestão, na empresa A, seus sujeitos sociais
foram unânimes em afirmar que a direção da empresa elabora planos de negócios
antecipadamente para auxiliar o processo de tomada de decisão e a definição anual
das metas da empresa. Porém, o sucessor realizou o seguinte comentário: “As
metas são elaboradas, mas deveriam ser feitas se preocupando em como está a
concorrência e o mercado que a cerca”.
Referente a ajuda profissional externa na área de administração, todos foram
unânimes em afirmar que sempre recorrem a este auxílio, em especial para o
desenvolvimento de alguns produtos. E ainda, com relação à consultoria externa,
foram realizados os seguintes comentários, pela empresa A:
a) fundador: “Temporariamente, uma vez por ano (3 semanas) para
aperfeiçoamento da organização”.
b) profissional externo: “Acredito que ele traz uma ação externa isenta de vícios e
hábitos existentes na corporação. Ele traz exemplos e situações já vividas por outras
empresas e conseqüentemente, também as soluções”.
c) sucessor: “Um conselheiro externo não trás muitos benefícios para a empresa,
pois ele não acompanha o dia-a-dia e a sistemática do ramo”.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
107
d) sucessora: “Ajuda, pois ele não estando diariamente na empresa, tem uma visão
diferente”.
Alguns fatores apontados pelos sujeitos sociais da empresa A, a respeito do
que consideram fundamentais para uma boa gestão da empresa foram:
a) fundador: “Competência, profissionalismo, objetivos. Justificativa: olhar à longo
prazo, planejamento... pensar no futuro.”
b) profissional externo: “A necessidade de não se levar problemas pessoais do
dia-a-dia para dentro da empresa e também buscar as qualidades de cada um para
serem melhores aproveitados dentro da empresa”.
c) sucessor: “Planejamento, através disso a empresa independente de ser familiar
terá sucesso futuro”.
d) sucessora: “As qualidades individuais de cada um”.
Com relação ao processo de profissionalização da família, da sociedade e da
gestão da empresa, visando sua continuidade, foram realizados os seguintes
comentários:
a) fundador: “Estar preparado, conforme o tempo”.
b) profissional externo: “Existe hoje uma necessidade muito grande de
profissionalização em todos os níveis da empresa, e se for iniciado pela família as
chances de sucesso passam a ser maiores”.
c) sucessor: “Profissionalização é a forma mais fácil das pessoas entenderem
melhor o andamento do negócio que pode ocorrer através de lideranças próprias”.
d) sucessora: “Que somente uma pessoa manda e as outras obedecem abrindo as
portas da empresa de maneira ampla onde todos possam ajudar na tomada de
decisões”.
Na empresa B, os problemas de gestão foram analisados pelos sujeitos
sociais de maneiras diferentes. O fundador e o profissional externo apontaram que a
empresa elabora planos de negócio antecipados para auxiliar seu processo de
tomada de decisão e definição anual das metas. Porém, o sucessor da empresa
negou esta afirmação.
Referente a ajuda profissional externa na área de administração, todos foram
unânimes em afirmar que a empresa não conta com auxílio de tais profissionais.
Com relação à presença de conselheiros ou consultores externos para auxiliar na
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
108
administração, seu fundador considera necessário, porém seu sucessor e o
profissional externo não.
Alguns fatores apontados pelas pessoas, a respeito do que consideram
fundamentais para uma boa gestão da empresa foram:
a) fundador: “Honestidade, capacidade técnica e profissionalismo”.
b) profissional externo: “Profissionalizar, tornar sério e justo o quesito salário, esse
é o principal problema que percebo dentro das empresas familiares”.
c) sucessor: “Administração e pequenos grupos de liderança e delegação”.
Com relação ao processo de profissionalização da família, da sociedade e da
gestão da empresa, visando sua continuidade, foram realizados os seguintes
comentários:
a) fundador: “Trabalhando juntos”.
b) profissional externo: “O controle é total da família nas tomadas de decisões da
empresa. A profissionalização é necessária e depende dos futuros patrões”.
c) sucessor: “A prioridade é a continuidade do trabalho. Portanto, o envolvimento
deve buscar profissionalização e desenvolver senso crítico e senso de continuidade,
pois, a postura do sucessor deve ter base na cultura anterior”.
Na empresa C, os problemas de gestão, foram analisados pelos sujeitos
sociais de maneiras diferenciadas. Apenas o fundador e sua sucessora apontaram
que a empresa de maneira participativa elabora planos de negócio antecipados para
auxiliar no processo de tomada de decisão e definição de metas. Porém, a
profissional externa relatou que tais planos e definições de metas são elaboradas
apenas pelo fundador da empresa.
Referente ao auxílio de consultores externos na área de administração, foram
unânimes em afirmar que a empresa não conta com este auxílio na sua gestão. E
ainda a sucessora da empresa afirma que tal auxílio poderia ser utilizado talvez nas
questões de controle de investimentos.
Alguns fatores apontados por eles, sobre o que consideram fundamentais para
uma boa gestão da empresa foram:
a) fundador: “Comprometimento com os objetivos da empresa”.
b) profissional externa: “Responsabilidade, auto-estima e liderança”.
c) sucessora: “Controle patrimonial; acredito que seja muito importante separar
completamente os patrimônios”.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
109
Sobre o processo de profissionalização da família, da sociedade e da gestão
da empresa, visando sua continuidade, foram realizados os seguintes comentários:
a) fundador: “Palestras, consultores, simpósios são as maneiras mais rápidas para
profissionalização familiar”.
b) profissional externa: “Começar desde criança a ajudar nos negócios, depois vai
fazendo cursos e faculdades”.
c) sucessora: “Acredito que existem vários meios para profissionalizar a família
desde cursos superiores, Sebrae, etc”.
Segundo a literatura pesquisada, mesmo se tratando de empresas familiares
e de pequeno porte, o planejamento organizacional deve ser pautado em princípios
empresariais sólidos e não apenas nas decisões da família ou apenas do fundador
da empresa. Verificamos neste item uma contradição de opiniões entre os
sucessores das empresas A e B, pois estes discordam da opinião dos demais atores
envolvidos nas empresas. E ainda na empresa C, a profissional externa, afirma que
os planos da empresa são estabelecidos apenas pelo fundador, demonstrando que
o processo não é participativo.
Com relação aos fatores apontados pelos sujeitos sociais, considerados como
fundamentais para a gestão corporativa de tais empreendimentos, quando
comparados à literatura, constata-se que os fatores citados pelos sujeitos sociais,
mostram-se comuns e compatíveis, mas devem ser analisados sim, com relação à
realidade dos fatos no dia a dia das empresas.
4.3.2 Capitalização e liquidez das empresas visando sua continuidade
Buscando coletar informações a respeito da importância de se manter a
liquidez e a “saúde” financeira das empresas, foram realizados questionamentos
(Apêndice D) ao fundador, profissional externo e sucessores.
Na tabela 7 são demonstradas as respostas obtidas na empresa A.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
110
Tabela 7 – Fatores de liquidez e “saúde” financeira da empresa A segundo os
sujeitos sociais.
Alternativas Muito
importante
Importante Média
importância
Pouco
importante
Sem
importância
Realizar reuniões regulares
com familiares para criar
consciência sobre o
assunto.
Profissional
externo
Sucessor
Sucessora
Fundador
Estruturar e estimular a
criação de fontes
alternativas para a liquidez
dos sócios e familiares.
Fundador
Profissional
externo
Sucessora
Sucessor
Manter sistemas de
informações compreensíveis
sobre a situação da
empresa.
Fundador
Sucessor
Sucessora
Profissional
externo
Passar instruções
educativas para os mais
jovens sobre como lidar com
o dinheiro.
Fundador
Sucessor
Sucessora
Profissional
externo
Administrar preventivamente
questões relativas à
segurança patrimonial e
pessoal dos sócios e
familiares.
Sucessor
Sucessora
Fundador
Profissional
externo
Observa-se que o fundador da empresa considera sem importância a
realização de reuniões regulares com familiares para criar consciência sobre o
assunto de liquidez e “saúde” financeira da empresa, discordando dos demais atores
envolvidos, que consideram importante, assim como a literatura aponta tal
posicionamento para o processo de tomada de decisão nas empresas familiares de
pequeno porte.
Porém, o sucessor e a sucessora fizeram relatos importantes, a respeito da
profissionalização das atividades da empresa. O sucessor considera que: “A
empresa demorou muito tempo para se preocupar com a profissionalização, o que
pode ter acarretado as dificuldades de hoje”, assim como a sucessora considera
que: “Hoje em dia se tem apoio um pouco melhor que algum tempo atrás”.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
111
E ainda o fundador da empresa relata a tentativa de influenciar o sucessor para
que este fizesse o curso de Direito em nível de terceiro grau, para que depois se
aperfeiçoasse em Administração, mas tal sugestão não foi aceita pelo sucessor.
Verifica-se que alguns fatores considerados importantes, com relação a estas
questões pelo fundador, sucessor e sucessora, diferencia-se das opiniões do
profissional externo, pois este considera pouco e de média importância manter os
sistemas de informações compreensíveis sobre a situação da empresa, assim como
passar instruções educativas para os mais jovens sobre como lidar com o dinheiro e
também sobre administrar preventivamente fatores patrimoniais e pessoais dos
sócios e familiares.
O único fator onde todos os sujeitos sociais da empresa A foram unânimes em
considerar importante, diz respeito a estruturar e estimular fontes de alternativas
para liquidez dos sócios e demais familiares, apesar do fato de que apenas o
sucessor possui outras atividades remuneradas e trabalha em outra empresa, sendo
que com os demais isto não acontece.
Na tabela 8 são apontas as respostas obtidas na empresa B.
Tabela 8 – Fatores de liquidez e “saúde” financeira da empresa B segundo os
sujeitos sociais.
Alternativas Muito
importante
Importante Média
importância
Pouco
importante
Sem
importância
Realizar reuniões regulares
com familiares para criar
consciência sobre o
assunto.
Fundador
Profissional
externo
Sucessor
Estruturar e estimular a
criação de fontes
alternativas para a liquidez
dos sócios e familiares.
Fundador
Profissional
externo
Sucessor
Manter sistemas de
informações compreensíveis
sobre a situação da
empresa.
Fundador
Profissional
externo
Sucessor
Passar instruções
educativas para os mais
jovens sobre como lidar com
o dinheiro.
Fundador
Profissional
externo
Sucessor
Administrar preventivamente
q
uestões relativas à
Profissional
externo
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
112
segurança patrimonial e
pessoal dos sócios e
familiares.
Sucessor Fundador
Demonstram-se maiores semelhanças na maneira de pensar sobre tais
questões, uma vez que, sobre todos os aspectos tratados, foram consideradas de
média importância a muito importantes pelos sujeitos sociais.
Por sua vez, na tabela 9 são apontadas as opiniões dos atores da empresa C.
Tabela 9 – Fatores de liquidez e “saúde” financeira da empresa C segundo os
sujeitos sociais.
Alternativas Muito
importante
Importante Média
importância
Pouco
importante
Sem
importância
Realizar reuniões regulares
com familiares para criar
consciência sobre o
assunto.
Fundador
Profissional
externa
Sucessora
Estruturar e estimular a
criação de fontes
alternativas para a liquidez
dos sócios e familiares.
Fundador
Profissional
externa
Sucessora
Manter sistemas de
informações compreensíveis
sobre a situação da
empresa.
Profissional
externa
Sucessora
Fundador
Passar instruções
educativas para os mais
jovens sobre como lidar com
o dinheiro.
Fundador
Profissional
externa
Sucessora
Administrar preventivamente
questões relativas à
segurança patrimonial e
pessoal dos sócios e
familiares.
Fundador
Profissional
externa
Sucessora
Observa-se em especial que as opiniões da sucessora divergem na maioria
das vezes, da opinião da profissional externa e do fundador da empresa que
demonstram pontos de vista mais parecidos com relação a tais questionamentos.
Questões que a sucessora considera sem importância, de pouca ou de média
importância, são considerados de muita importância ou importantes, pelo fundador e
pela profissional externa.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
113
Tais posicionamentos demonstram um perfil diferenciado entre as três
empresas, com relação à capitalização e liquidez das empresas visando sua
continuidade. Na empresa A, o profissional externo demonstra um perfil diferenciado
dos demais atores questionados. Na empresa B, existe um equilíbrio maior entre as
opiniões dos sujeitos sociais envolvidos e na empresa C, é a sucessora quem
apresenta opiniões diferenciadas dos demais sujeitos sociais.
Cabe ressaltar neste item que o processo de tomada de decisão nas empresas
familiares de pequeno porte, segundo Bernhoeft e Gallo (2003), deve respeitar a
estrutura organizacional da empresa, estando estas inseridas num cenário
competitivo, com transparência absoluta de todo processo, apontando que
importantes decisões devem ser compartilhadas entre seus sujeitos sociais e de
preferência de comum acordo entre eles em prol dos objetivos organizacionais
visando à continuidade da empresa.
4.3.3 A importância dos valores familiares nas empresas
Com relação aos valores familiares das empresas pesquisadas, foram
questionados junto aos atores das três empresas, assuntos referentes a: quais
valores devem ser mantidos e cultivados pelas pessoas ao longo da existência da
empresa; sobre a perpetuação da empresa; como conciliar sucesso e crescimento
coletivo com realização individual; como compatibilizar os valores nas relações de
trabalho, capital e família; qual o compromisso das pessoas com a continuidade da
empresa; quais são as prioridades de interesse entre empresa e vida pessoal;
harmonia e união da família e da empresa; conduta de austeridade na família e na
empresa; compromisso com a formação dos familiares (herdeiros e sucessores) e
demais funcionários visando a profissionalização da empresa; preocupação com o
clima de respeito e orgulho pessoal e profissional, bem como a manutenção de
atividades contra preconceito; e ainda, a ética com relação ao uso de bens
patrimoniais da empresa por parte dos membros da família (que trabalham ou não
na empresa), bem como valores financeiros.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
114
Tais dados são apresentados nas tabelas 10, 11 e 12, relativo às opiniões
obtidas nas empresas A, B e C respectivamente, visando facilitar a visualização das
opiniões obtidas e posteriores análises.
Na tabela 10, são apresentadas resumidamente as considerações dos
sujeitos sociais da empresa A.
Tabela 10 – A importância dos valores familiares na empresa A.
A importância dos valores
familiares na empresa:
Opinião dos atores questionados na empresa A
Valores principais que devem ser
mantidos e cultivados:
- responsabilidade social com seus públicos;
- conduta do negócio;
- seriedade nas negociações;
- ramo de atividade da empresa;
- qualidade dos produtos.
Perpetuação da empresa:
- produtos com boa qualidade e que façam bem ao cliente;
- sobrevivência familiar;
- riqueza do país;
- bem estar dos herdeiros;
- crescimento no mercado com muito carinho.
Compromisso com a continuidade da
empresa:
- ter sucesso;
- gerar emprego;
- desempenhar papel social;
- crescer cada vez mais;
- somente enquanto der retorno financeiro.
Compatibilidade dos valores nas
relações de trabalho, capital e
família:
- com ética, moral e reconhecimento das pessoas na
sociedade e na empresa.
Harmonia e união da família e da
empresa:
- não tem nada que atrapalhe;
- convivência harmoniosa;
- como toda família às vezes tem conflito.
Conduta de austeridade na família e
na empresa:
- separar, evitar tratar de assuntos familiares dentro da
empresa.
Clima de respeito e orgulho pessoal
e profissional:
- é uma tradição na empresa incentivar a igualdade entre os
níveis hierárquicos;
- não esquecer que dentro da empresa não são parentes e
sim profissionais.
Prioridades de interesse entre a
família X vida pessoal:
- principalmente na vida pessoal;
- crescer junto com a empresa;
- os dois são importantes.
Compromisso da empresa com a
formação dos familiares:
- hoje incentiva mais do que há um tempo atrás;
- incentiva por igual os membros da família e demais
funcionários.
Sucesso e crescimento profissional
coletivo:
- quando a empresa vai bem todos ganham;
- satisfação das pessoas;
- atividades sociais junto à da empresa;
- seriedade;
- primeiro pessoal e depois profissional.
Uso de bens patrimoniais e valores
financeiros da empresa por membros
da família (que trabalham ou na
empresa):
- cada um tem seu salário e administra como pode;
- os lucros são divididos entre os sócios apenas.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
115
Cabe ressaltar algumas opiniões identificadas junto a alguns sujeitos sociais
participantes da pesquisa na empresa A:
- O fundador considerou sem importância os questionamentos referente aos
principais valores que devem ser mantidos e cultivados dentro da empresa. E ainda,
afirmou não se preocupar com relação ao orgulho pessoal e profissional;
- A sucessora deixou sem resposta os questionamentos referentes a
compatibilização dos valores nas relações de trabalho, capital e família;
- O sucessor da empresa afirmou nunca ter pensado antes sobre a perpetuação da
empresa e também que, por enquanto, não cogita seu compromisso pessoal com a
continuidade da empresa por possuir na atualidade outra atividade remunerada.
Afirma considerar ser muito difícil compatibilizar os valores nas relações de trabalho,
capital e família, por mexer com o ego das pessoas, influenciando as decisões da
empresa. Não visualiza a possibilidade de não confundir os problemas pessoais com
os profissionais e considera que o uso de bens patrimoniais da empresa por parte
dos membros da família (que trabalham ou não na empresa) pode ser “mais ou
menos” usado com ética. E ainda deixou sem resposta a questão referente a
priorizar interesses entre família e vida pessoal.
Pode-se identificar neste item um certo descontentamento do sucessor da
empresa A com relação a ocupar efetivamente a posição de sucessor dentro da
empresa, conforme indicação do fundador.
Referente a empresa B, na tabela 11, são apresentas resumidamente as
considerações referente à importância dos valores familiares por seus sujeitos
sociais.
Tabela 11 – A importância dos valores familiares na empresa B.
A importância dos valores
familiares na empresa:
Opinião dos atores questionados na empresa B
Valores principais que devem ser
mantidos e cultivados:
- marca;
- amparar os funcionários;
- valorização dos funcionários fiéis;
- auxílio à comunidade (bairro) onde está inserida;
- política de relacionamento com clientes internos e externos;
- informalidade com disciplina nas relações da empresa.
Perpetuação da empresa:
- porque a vida continua;
- faz parte da missão de todos na empresa;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
116
- sustentar a comunidade;
- responsabilidade para com os outros.
Compromisso com a continuidade da
empresa:
- compromisso total;
- continuar com a missão da empresa através do
conhecimento;
- capacitar a empresa para administrar processos de
continuidade;
- desenvolver características do futuro gestor.
Compatibilidade dos valores nas
relações de trabalho, capital e
família:
- com muita união;
- com respeito e transparência nas relações de trabalho,
capital e família;
- trabalho é o sustento de tudo;
- sensatez e responsabilidade;
- ter claro tais valores;
- não cometer erros de julgamento, atitudes e posturas.
Harmonia e união da família e da
empresa:
- muito boa;
- excelente;
- brigas apenas pelo bem da empresa.
Conduta de austeridade na família e
na empresa:
- existe;
- em alguns casos é liberal demais.
Clima de respeito e orgulho pessoal
e profissional:
- sim (nenhum comentário adicional por parte dos atores).
Prioridades de interesse entre a
família X vida pessoal:
- deve-se dar importância a ambos.
Compromisso da empresa com a
formação dos familiares:
- total comprometimento e preocupação neste sentido para
com todos;
- importância para a continuidade da empresa.
Sucesso e crescimento profissional
coletivo:
- com muita humildade;
- administração aberta, flexível, delegação de autoridade,
respeitando a autonomia das pessoas;
- realização individual associada ao sucesso.
Uso de bens patrimoniais e valores
financeiros da empresa por membros
da família (que trabalham ou na
empresa):
- desde o início da empresa houve uma preocupação com
estes fatores;
- o que é da empresa fica na empresa e o que é pessoal não
se mistura.
Cabe ressaltar alguns fatores detectados pelos sujeitos sociais na empresa B,
referente a estas questões:
- o sucessor não opinou, deixando a questão em branco quando questionado sobre
a conduta de austeridade na família e na empresa;
- o profissional externo, quando questionado também a respeito da conduta de
austeridade na família e na empresa, afirmou que o ambiente da empresa em muitos
casos é liberal demais. E mostrou-se insatisfeito com o questionamento referente ao
que priorizava, sua vida pessoal ou interesses da empresa: “Minha vida pessoal é
mais importante. Esta questão não deveria constar na pesquisa por ser um tanto
injusta e inadequada”.
Verifica-se, portanto, na maioria dos fatores, todos os sujeitos sociais da
empresa B, demonstram uma grande harmonia e semelhança na maneira de pensar
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
117
sobre fatores que envolvem a empresa familiar, sua sucessão e continuidade no
mercado.
Na tabela 12, são demonstradas opiniões dos sujeitos sociais da empresa C.
Tabela 12 – A importância dos valores familiares na empresa C.
A importância dos valores
familiares na empresa:
Opinião dos atores questionados na empresa C
Valores principais que devem ser
mantidos e cultivados:
- no início da empresa valores como a qualidade, marketing
dos produtos;
- na atualidade é possuir produtos competitivos no mercado,
com bom preço e qualidade;
- satisfação dos clientes;
- valorizar a origem dos produtos sem conservantes (garantia
de um produto natural).
Perpetuação da empresa:
- para dar continuidade a um sonho;
- expansão da empresa de geração para geração;
- garantir que um trabalho de anos não seja “jogado fora”.
Compromisso com a continuidade da
empresa:
- fazer de tudo enquanto estiverem vivos;
- ajudar no que for possível;
- expandir a empresa.
Compatibilidade dos valores nas
relações de trabalho, capital e
família:
- situação muito complicada;
- é um problema dentro da empresa para estabelecer limites;
- a empresa ainda não conseguiu fazer isso;
Harmonia e união da família e da
empresa:
- fora da empresa é muito boa, mas dentro da empresa os
pontos de vista são diferentes;
- existem desavenças;
- existe união apesar de terem gostos diferentes e visões
diferentes.
Conduta de austeridade na família e
na empresa:
- sim (fundador);
- não (profissional externa);
(nenhum comentário adicional)
Clima de respeito e orgulho pessoal
e profissional:
- sim (fundador);
- não (sucessora).
(nenhum comentário adicional por parte dos atores).
Prioridades de interesse entre a
família X vida pessoal:
- crescimento da empresa a cada dia;
- vida pessoal deve ir bem porque influencia muito na vida
profissional;
- para ambas, visando produtividade e crescimento pessoal e
profissional;
- harmonia familiar e sucesso profissional.
Compromisso da empresa com a
formação dos familiares:
- palestras, cursos profissionalizantes e nível de terceiro grau;
- sempre apoiar para aprender cada vez mais;
- apoio da empresa quando necessário.
Sucesso e crescimento profissional
coletivo:
- quando o sucesso coletivo vai bem o individual também vai;
- fazer o que se gosta, ajudar e resolver problemas;
- o sucesso deve ser coletivo, caso contrário complica.
Uso de bens patrimoniais e valores
financeiros da empresa por membros
da família (que trabalham ou na
empresa):
- existe uma conduta ética, porém não se pode inviabilizar o
uso dos bens pessoais para a necessidade da empresa;
- o patrimônio pessoal da empresa se confunde principalmente
do particular para a empresa.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
118
Com relação às colocações realizadas pelos sujeitos sociais na empresa C,
alguns comentários devem ser ressaltados:
- A sucessora deixou a questão sem resposta quando questionada sobre a conduta
de austeridade na família e na empresa. Quando indagada a respeito da
preocupação em manter um clima de respeito e orgulho pessoal e profissional dentro
da empresa, afirmou que não existe tal preocupação, discordando dos demais
atores.
Em especial a questão sobre a existência de uma conduta de austeridade na
família também as respostas diferenciaram entre eles, pois o fundador afirmou que
“sim”, enquanto que a profissional externa afirmou que “não”, mostrando, portanto,
pensamentos diferenciados em muitas questões. As pessoas mostram-se com
opiniões divergentes, em especial a sucessão da empresa, a respeito de questões
de extrema importância para a continuidade da empresa.
4.3.4 A importância da missão para as empresas
Alguns questionamentos foram realizados junto as três empresas visando
identificar quais são os valores, as boas ações e a filosofia de sua existência, que
servem como parâmetro para os processos de tomada de decisão, tanto do lado do
capital como da gestão dos negócios.
Na tabela 13, são apresentadas as opiniões de seus sujeitos sociais sobre a
importância da missão para as empresas A, B e C.
Tabela 13 – A importância da missão para as empresas A, B e C.
Opinião dos sujeitos sociais questionados A importância da
missão para as
empresas
Empresa
A
Empresa B Empresa
C
Conceituação da
missão da empresa
pelos sujeitos sociais
- Ter produtos de
qualidade, satisfazendo
e superando as
expectativas de seus
clientes, gerando
conforto e bem estar
aos sócios e
colaboradores;
- Levar a empresa ao
mercado para ganhar
mais clientes e
- Sobreviver e dar
empregos;
- Ser uma empresa
ótima no mercado,
promovendo uma
satisfação interna e
externa além do puro
compromisso de vender
produtos.
- Manter um bom
produto de boa
qualidade e de bom
preço;
- Crescer um pouco a
cada ano que passa;
- Garantir um produto
com qualidade e
competitividade.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
119
conhecimentos dos
seus produtos.
O fundador da empresa A, destaca a seguinte reflexão a respeito da missão
da empresa no mercado, desde o ano de sua fundação: “Distribuímos quase 1% do
faturamento com escolas e funcionários. As pessoas (familiares ou não) sabem e
tem ciência da missão da empresa, pelo menos a grande maioria sim! A missão da
empresa é de longo prazo, preservando sempre o essencial, o que não deve
mudar”.
O profissional externo afirma que: “O que deve mudar são as estratégias, o
foco, o mercado, mas nunca a missão da empresa”. Porém o sucessor da empresa
demonstra-se contrário aos demais, ao afirmar que: “Por a empresa não ser
profissional não tem missão. Na minha opinião as pessoas (familiares ou não) não
consideram importante estabelecer uma missão para a empresa. E sobre o fato da
missão da empresa ser de longo prazo, buscando preservar o essencial e o que não
deve mudar, considero que isso nunca passou pelo planejamento dos atuais sócios”.
Sobre o fato da gestão da empresa flexibilizar seus processos de mudanças
(investimentos, autonomia, atividades operacionais e estratégicas), buscando
facilitar a tomada de decisão, apenas o sucessor deixou a questão sem resposta.
Devido a tais colocações, observa-se que a maioria dos sujeitos sociais
pesquisados na empresa A, demonstram-se preocupados e envolvidos com a
missão e a continuidade da empresa no mercado, porém observa-se que o herdeiro,
apontado pelo fundador da empresa, como seu sucessor, não considera as
questões de sucessão da mesma forma que os demais sujeitos sociais envolvidos
na pesquisa.
Na empresa B, cabe ressaltar a opinião do profissional externo, referente ao
fato de que as pessoas (familiares ou não), não consideram importante estabelecer
uma missão para a empresa, mostrando-se contrário à opinião do fundador e de seu
sucessor. Ao mesmo tempo em que afirma que se a empresa deixasse de existir a
família e o mercado perderia, realizando ainda o seguinte comentário: “A empresa
hoje emprega um grande número de pessoas residentes na própria vila onde está
situada, a perda desta estabilidade seria fortemente sentida por todos”.
Por sua vez, o sucessor da empresa reconhece o fato de ser preciso
estabelecer e disseminar a missão da empresa a todos os demais colaboradores,
realizando o seguinte comentário: “Talvez tenhamos que esclarecer para todos a
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
120
questão da missão...” E ainda sobre a flexibilização dos seus processos buscando
facilitar a tomada de decisão, realiza o seguinte comentário: “Sobre a tomada de
decisão, a flexibilização é relativa porque o conceito de tomada de decisão é de
risco e bastante aberto”.
Na empresa C, referente ao fato de se estabelecer uma missão de longo
prazo para a empresa, o fundador realiza o seguinte comentário: “Sim temos que ter
um objetivo na visa para que possamos lutar sempre”. Afirma também que: “Vamos
aprendendo a cada dia e o que for para melhoria da empresa com certeza iremos
fazer”.
A profissional externa ressalta sobre a importância de se estabelecer uma
missão para a empresa: “Sim temos que ter uma meta, um sonho, pelo qual lutamos
a cada dia”. E por fim, a sucessora da empresa ressalta que apesar da missão da
empresa ser de longo prazo, estão sempre abertos para qualquer tipo de mudança.
Sobre a questão do que a família e o mercado perderiam se a empresa
deixasse de existir, a sucessora da empresa reconhece nunca ter pensado nesta
hipótese. E faz uma reflexão importante com relação à flexibilização dos processos
para a tomada de decisão: “Nem sempre porque quem toma a decisão final é meu
pai. O ponto de vista das demais pessoas simplesmente pesa, porém não são
capazes de mudar a sua opinião”.
Observam-se, portanto, em alguns pontos opiniões em comum entre os
sujeitos sociais pesquisados nas empresas A, B e C, porém muitos pontos de
divergências, principalmente quanto ao processo decisório em especial na opinião
dos sucessores.
4.4 PROBLEMAS DE SUCESSÃO
É da maior importância compreender a sucessão e os
processos de profissionalização das empresas familiares
devem ser trabalhados e desenvolvidos para sua
continuidade. Algumas questões importantes precisam ser
respondidas, no que se refere à sucessão, antes que
alguma alteração ocorra (BERNHOEFT, 2003)
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
121
As questões a seguir (Apêndice E) foram respondidas pelos fundadores,
sucessores, profissionais externos e demais membros da família, com o intuito de
refletir sobre os problemas associados à sucessão, servindo como um ponto de
partida para o diálogo no âmbito da família e dos futuros gestores, com relação à
maneira de pensar da família sobre o processo de transferência de poder da
primeira para a segunda geração e como tal dinâmica interfere na continuidade da
empresa.
As questões foram separadas em quatro grupos da seguinte forma:
- O primeiro grupo de perguntas foram realizadas apenas aos fundadores das
empresas;
- O segundo grupo de perguntas foram realizadas, com igual teor, aos sucessores e
demais membros da família que trabalham nas empresas;
- O terceiro grupo de perguntas foram realizadas apenas aos sucessores das
empresas;
- E por fim, o quarto grupo de perguntas, com igual teor, foram realizadas a todos os
atores envolvidos nas empresas.
4.4.1 O processo de sucessão na empresa A
Na empresa A, as respostas obtidas junto aos fundadores, referente ao
primeiro grupo de perguntas, e que por sua vez tiveram respostas afirmativas, foram:
- Tenho consciência de que a obra que realizei deve prosseguir independente da
minha presença;
- Tenho consciência de todo legado (material, ético, moral e de valores) que deixo
para meus herdeiros;
- Considero que minha obra (empresa) se tornou maior do que eu mesmo, e o que
estou fazendo para que ela não desapareça, por exemplo, é a contratação de
pessoas capacitadas com o mesmo perfil que o da família;
- Estou realizando esforços concretos no sentido de me afastar das atividades da
empresa sem comprometê-la;
- Compartilhei todos esses pontos com minha esposa; e
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
122
- Tenho consciência da perpetuação da sociedade através dos meus herdeiros e
realizo esforços no sentido de viabilizá-las.
As respostas negativas ainda referentes ao primeiro grupo de
questionamentos foram:
- Já encontrei um projeto de vida para preencher meu tempo e auto-estima na
medida em que deixo a empresa;
- Estou tranqüilo em relação às garantias financeiras para meu futuro pessoal;
- Preparei meus herdeiros para que o controle dos negócios continue sob o
comando da família;
- Preparei e informei meus herdeiros sobre as providências legais e tributárias que
tomei em relação às questões da herança;
- Consigo estabelecer uma separação entre questões da família, propriedade e
empresa;
- Estimulei meus herdeiros a fixarem um modelo e um acordo societário. Facilitei-
lhes isso.
As respostas obtidas no segundo grupo de perguntas pelos sucessores da
empresa A e demais membros da família que trabalham na empresa, apresentam-se
na tabela 14.
Tabela 14 – Fatores familiares considerados na sucessão pela empresa A.
Questões Sim Não Nunca pensei nisso
Todos os membros da
família têm consciência
de que aquilo que vão
efetivamente herdar é
uma empresa, cujos
sócios e funcionários
não foram escolhidos
por eles?
Sucessor
Sucessora
Irmã do
fundador
Cunhado do fundador
Existe consciência de
que não haverá
possibilidade de que
todos dependam
profissionalmente e
financeiramente da
empresa e ações
efetivas nesse sentido?
Sucessor
Sucessora
Irmã do fundador
Cunhado do fundador
Existe clareza quanto à
pulverização do
controle acionário da
sociedade?
Sucessor
Sucessora
Irmã do fundador
Cunhado do fundador
A
estrutura familiar Sucessora
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
123
consegue lidar com
seus conflitos? Eles são
“abafados” ou
claramente tratados?
Irmã do fundador
Cunhado do fundador
Sucessor
A ausência do fundador
e de sua esposa poderá
tornar-se um problema?
Sucessor
Cunhado do fundador
Sucessora
Irmã do fundador
Os “agregados” da
família (genros e noras)
têm participação ativa
nas opiniões? São
ouvidos? São
respeitados?
Sucessor
Irmã do fundador
Cunhado do fundador
Sucessora
Existem “valores
familiares” que devem
ser preservados “.
Irmã do fundador
Cunhado do Fundador
Sucessor
Sucessora
Cabe ressaltar que a irmã do fundador da empresa ocupa o cargo de gerente
de recursos humanos e o cunhado do fundador ocupa o cargo de gerente de
produção (além de ser o sócio minoritário da empresa). Os sujeitos sociais da
empresa A, mostra-se na maioria das questões, com opiniões comuns a respeito da
herança familiar, possíveis sociedades, conflitos, remunerações, valores familiares e
a participação de agregados à família. Tais opiniões demonstram que as pessoas
estão conscientes com relação ao futuro e a continuidade da empresa e com perfil
familiar.
No terceiro grupo de perguntas realizadas apenas aos sucessores da
empresa A, as respostas obtidas encontram-se na tabela 15.
Tabela 15 – Visão dos sucessores quanto ao processo de sucessão na
empresa A.
Questões Sim Não Nunca pensei nisso
Temos consciência de que vamos
ser sócios?
Sucessora
Sucessor
Estamos dispostos a investir tempo
e habilidades para buscar
conhecimento e compreensão para
este novo relacionamento?
Sucessora
Sucessor
Existe a possibilidade de
escolhermos, entre nós, lideranças
para atuarem na empresa e na
sociedade?
Sucessora
Sucessor
Temos clareza sobre a
necessidade de se
p
arar “os três
Sucessora
Sucessor
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
124
chapéus” (família, sociedade e
gestão)?
Estamos preparados para uma
realização pessoal/profissional e
financeira sem depender
exclusivamente dos negócios?
Sucessora
Sucessor
Existem conflitos na nossa relação
de irmãos, cunhados ou noras, que
possam dificultar o consenso nas
decisões?
Sucessor
Sucessora
Estamos conscientes dos valores
que nossos pais nos transmitiram?
Sucessora
Sucessor
Estamos dispostos a preservá-los? Sucessora
Sucessor
Existe entre os herdeiros pessoas
que não tem nenhum interesse em
manter os negócios?
Sucessor
Sucessora
Alguém já manifestou o desejo de
sair da sociedade ou vender sua
parte?
Sucessor
Sucessora
Se eu hoje fosse iniciar uma
sociedade, será que escolheria
meus irmãos (ou demais parentes)
como meus sócios?
Sucessora
Sucessor
Tenho meus projetos pessoais e
profissionais separados da
empresa?
Sucessor
Sucessora
Consigo aceitar a existência de
lideranças com características
diferentes na família, na sociedade
e na empresa?
Sucessor
Sucessora
Consigo compreender e aceitar
que na qualidade de herdeiro vou
ser um sócio, e como tais, têm três
possíveis alternativas de realização
pessoal: sócio/acionista;
sócio/conselheiro; sócio/gestor?
Sucessora
Sucessor
Pode-se observar que os sucessores concordam entre si apenas em algumas
questões, discordando, portanto, na maioria delas. Os fatores que apresentam a
mesma opinião entre eles dizem respeito há sociedade e posições de lideranças
entre eles, sobre os valores herdados pelos pais, porém observa-se que se hoje
fossem iniciar uma empresa não se escolheriam como sócios e nem a seus
parentes. Demonstra-se, portanto, que a relação da sociedade é possível entre eles,
somente pelo fato de estarem herdando a empresa do pai, já constituída.
Apresentam ainda, opiniões contrárias aos fatores referentes à separação
entre os “três chapéus – família, sociedade e gestão”. Apesar de consciência dos
valores herdados pela família, apenas a sucessora demonstra interesse em
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
125
preservá-los e afirma ainda, nunca ter pensado a respeito da existência de outras
lideranças na empresa com perfil diferente ao da família na sociedade e na empresa.
Ainda a sucessora afirma nunca ter pensado também a respeito dos conflitos
entre herdeiros e agregados referente ao processo de tomada de decisão e também
sobre a inexistência de herdeiros na sucessão dos negócios. Enquanto que o
sucessor afirma já ter pensado e agido sobre tais situações. E apenas o sucessor
demonstra separar seus projetos profissionais e pessoais aos da empresa, além de
manifestar interesse em sair da sociedade.
No quarto e último grupo de perguntas realizadas a todos os sujeitos sociais
envolvidos na empresa A, referente ao sucesso (ou fracasso) da sucessão familiar e
as dificuldades que podem ocorrer no relacionamento entre as atividades da
empresa e da família e que por sua vez interferem na gestão profissional da
empresa, as respostas obtidas constam na tabela 16.
Tabela 16 – Questões de sucesso (ou fracasso) da sucessão na empresa A.
Questões Opinião dos sujeitos sociais questionados na empresa A
Fatores que interferem no
fracasso (ou sucesso) da
sucessão familiar e as
dificuldades de relacionamento
entre a família e a empresa
que interferem na gestão
rpofissional da empresa:
- nada grave, mas barreiras com relação a advertências e
desligamentos;
- diferenças pessoais;
- falta de preparo dos herdeiros;
- falta de conhecimento de todos os processos;
- incapacidade de aceitar auxílio externo;
- aquisição de bens particulares;
- relações conjugais;
- respeito profissional;
- não ter a mesma visão e dedicação para seguir o trabalho.
Papel da mulher na sucessão:
- a esposa do fundador não participa;
- dever ser igual a do homem;
- dar sequência ao trabalho já feito na empresa;
- importante, desde que esteja preparada;
- igual aos demais acionistas;
- trazer resultados para a empresa.
Características importantes no
perfil (qualidades) do sucessor
da empresa:
- ser arrojado, corajoso e transparente;
- estar preparado;
- conhecer profundamente a empresa;
- respeitar os colaboradores;
- ser profissional e não misturar empresa com a família;
- liderança;
- ambição;
- saber trabalhar em grupo;
- experiência e qualificação profissional;
- ter interesse pela empresa.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
126
Referente às questões apresentadas, cabe ressaltar algumas reflexões
realizadas pelos sujeitos sociais questionados. Com relação aos fatores que podem
interferir no sucesso (ou fracasso) da sucessão familiar e as dificuldades de
relacionamento, o sucessor afirma que: “A falta de profissionalismo, porque sendo
da família a liberdade de falar alto, gritar e ofender fica mais liberado”. E ainda o
cunhado do fundador (apontado pela literatura como agregado), faz a seguinte
observação: “Às vezes as pessoas de fora são mais valorizadas do que as da
família”.
Com relação ao papel da mulher na sucessão da empresa, o sucessor faz a
seguinte reflexão: “Hoje a mulher está ocupando o seu lugar na sociedade
empresarial, o que é que se pode ver, que onde uma mulher ocupa um cargo
considerável na empresa a empresa tende a crescer, pois a mulher tem mais
sensibilidade para lidar com certas coisas”.
O fundador da empresa afirma que o perfil (qualidade) que seu sucessor
necessita ter para tanto deve estar associado ao seu perfil: “É o que eu faço! Não ter
medo de fazer propostas. Ser ético, preservando o nome da empresa no mercado
(nome limpo no mercado)”. Tal afirmativa reforça a tendência do fundador em optar
por um sucessor com perfil semelhante ao seu para sucede-lo.
Referente ao que os sujeitos sociais entendem por sucessão familiar e sobre
a importância de planejar tal decisão na empresa com sucesso, as respostas foram:
a) fundador: “Não colocar ninguém de fora no processo, mas é possível, existir tal
necessidade. E indispensável agir, traçar metas de forma concreta para que
aconteça a sucessão com sucesso... Assim como as demais ações da empresa.
Contando com pessoas competentes para trabalhar na empresa”.
b) profissional externo: “É o processo onde os herdeiros, diretos ou indiretos são
preparados para assumir funções de comando dentro da empresa. Tem-se que
observar claramente qual dos herdeiros tem aptidão para o negócio. Não adianta
você colocar uma pessoa que não tem o mínimo jeito para vendas, para comandar
um departamento comercial. Que seja feita gradativamente, sem contudo que haja
uma desvalorização dos profissionais que já trabalham na empresa”.
c) sucessor: “Que o herdeiro ou alguém que esteja abaixo do principal cargo da
empresa, toma posse quando o principal morre ou se aposenta. A pessoa que for
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
127
ficar no lugar do fundador seja preparado adequadamente. E que os sucessores
estejam sempre informados dos assuntos relacionados à empresa”.
d) sucessora: “Os filhos darem continuidade ao que os pais começaram, mas com
responsabilidade dobrada. Os sucessores têm que ser preparados desde cedo, pois
se assumirem sem conhecer o negócio fatalmente iriam ocorrer problemas. Que a
opinião dos sucessores sejam vistas de forma produtiva e tenham participação
desde o início”.
e) irmã do fundador: “Quando o atual proprietário deixa de exercer a função e deixa
alguém (herdeiros) a tomar frente dos negócios. Para tanto, que seja feito um
planejamento pelo diretor, atual direção e se caso faltar alguém, a empresa tenha
por quem ser administrada.
f) cunhado do fundador: “Nunca pensei nisso. Aposentadoria só quando não puder
mais trabalhar. Mas nem penso nisso. Não é necessário falar sobre isso agora”.
Observa-se, portanto, que existe a consciência entre os fatores envolvidos na
empresa A, sobre as questões da sucessão do negócio da primeira para a segunda
geração, embora em alguns casos as opiniões sejam divergentes ou que não se
queira falar desse assunto no momento.
4.4.2 O processo de sucessão na empresa B
Na empresa B, as respostas obtidas junto aos fundadores, referente ao
primeiro grupo de perguntas, e que por sua vez tiveram respostas afirmativas, foram:
- Tenho consciência de que a obra que realizei deve prosseguir independente da
minha presença;
- Tenho consciência de todo legado (material, ético, moral e de valores) que deixo
para meus herdeiros;
- Considero que minha obra (empresa) se tornou maior do que eu mesmo, e estou
cuidando bem dela para que ela não desapareça;
- Estou realizando esforços concretos no sentido de me afastar das atividades da
empresa sem comprometê-la;
- Preparei meus herdeiros para que o controle dos negócios continue sob o
comando da família;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
128
- Preparei e informei meus herdeiros sobre as providências legais e tributárias que
tomei em relação às questões da herança;
- Compartilhei todos esses pontos com minha esposa;
- Consigo estabelecer uma separação entre questões da família, propriedade e
empresa;
- Estimulei meus herdeiros a fixarem um modelo e um acordo societário. Facilitei-
lhes isso; e
- Tenho consciência da perpetuação da sociedade através dos meus herdeiros e
realizo esforços no sentido de viabilizá-las.
As respostas negativas ainda referentes ao primeiro grupo de
questionamentos foram:
- Já encontrei um projeto de vida para preencher meu tempo e auto-estima na
medida em que deixo a empresa; e
- Estou tranqüilo em relação às garantias financeiras para meu futuro pessoal.
As respostas obtidas no segundo grupo de perguntas foram respondidas
apenas pelo sucessor da empresa B pelo fato de não existirem outros sucessores,
herdeiros ou membros da família trabalhando na empresa. As questões afirmativas
dizem respeito há:
- Todos os membros da família têm consciência de que aquilo que vão efetivamente
herdar é uma empresa, cujos sócios e funcionários não foram escolhidos por eles;
- Existe consciência de que não haverá possibilidade de que todos dependam
profissionalmente e financeiramente da empresa e ações efetivas nesse sentido;
- A estrutura familiar consegue lidar com seus conflitos. Eles são “abafados” ou
claramente tratados;
- A ausência do fundador e de sua esposa poderá tornar-se um problema; e
- Existem “valores familiares” que devem ser preservados.
E as questões respondidas negativamente foram:
- Existe clareza quanto à pulverização do controle acionário da sociedade; e
- Os “agregados” da família (genros e noras) têm participação ativa nas opiniões,
são ouvidos e respeitados.
No terceiro grupo de perguntas realizadas apenas com o sucessor da
empresa B, as respostas obtidas afirmativas foram:
- Tenho consciência de que vou ter um sócio;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
129
- Estou disposto a investir tempo e habilidades para buscar conhecimento e
compreensão para este novo relacionamento;
- Existe a possibilidade de escolher lideranças para atuarem na empresa e na
sociedade;
- Tenho clareza sobre a necessidade de separar “os três chapéus” (família,
sociedade e gestão);
- Estou consciente dos valores que meus pais me transmitiram;
- Estou disposto a preservá-los;
- Consigo aceitar a existência de lideranças com características diferentes na família,
na sociedade e na empresa;
- Consigo compreender e aceitar que na qualidade de herdeiro vou ser um sócio, e
como tal tendo três possíveis alternativas de realização pessoal: sócio/acionista;
sócio/conselheiro; sócio/gestor.
E as respostas negativas foram referentes as seguintes questões:
- Estou preparado para uma realização pessoal/profissional e financeira sem
depender exclusivamente dos negócios;
- Alguém já manifestou o desejo de sair da sociedade ou vender sua parte;
- Se eu hoje fosse iniciar uma sociedade, não escolheria meus parentes como meus
sócios; e
- Tenho meus projetos pessoais e profissionais separados da empresa.
Referente ao quarto e último grupo de perguntas realizadas aos sujeitos sociais
envolvidos na empresa B, as respostas estão consideradas na tabela 17.
Tabela 17 – Questões de sucesso (ou fracasso) da sucessão na empresa B.
Questões Opinião dos atores questionados na empresa B
Fatores que interferem no
fracasso (ou sucesso) da
sucessão familiar e as
dificuldades de relacionamento
entre a família e a empresa
que interferem na gestão
rpofissional da empresa:
- pouca dedicação da família.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
130
Papel da mulher na sucessão: (Todos deixaram esta questão em branco).
Características importantes no
perfil (qualidades) do sucessor
da empresa:
- estar inteirado de todos os detalhes da empresa que irá
assumir, as dificuldades que poderá enfrentar, conhecer
seus fornecedores e clientes;
- antes de tudo, querer ser sucessor e dar continuidade ao
negócio;
- estar disposto a esta experiência.
Cabe ressaltar que referente aos fatores tratados neste item, os sujeitos
sociais da emrpesa B, em especial o fundador da empresa, deixaram muitas
questões em branco. E ainda todos os atores não abordaram sobre o papel da
mulher na sucessão.
Referente ao que entendem por sucessão familiar e sobre a importância de
planejar tal decisão na empresa, visando o sucesso de tal processo, as respostas
foram obtidas apenas do profissional externo e do sucessor da empresa, devido ao
fato de que novamente o fundador da empresa não respondeu a tais
questionamentos. As reflexões foram:
a) profissional externo: “Passagem do comando de uma empresa de maneira
planejada por outro membro da família, normalmente filhos. É de fundamental
importância para a manutenção da “saúde” da empresa quando esta estiver
acumulando bons resultados, caso contrário a importância do planejamento se dá
em virtude da reestruturação e da busca de novos rumos. O sucessor precisa ter
profundo conhecimento do “negócio da empresa” da maneira mais aprofundada
possível”.
b) sucessor: “Entendo como a troca de gestores, mas com responsabilidade,
porque o interesse é a empresa. Sugiro que exista um plano de sucessão e que o
sucessor crie bons relacionamentos e seja disciplinado quanto a aprender a
administrar. É importante para evitar um choque na estrutura da empresa, caso o
fundador morra ou outra coisa imprevista”.
Observa-se uma ausência de opiniões na empresa B, referente aos problemas
de sucessão, em especial pela ausência de respostas do fundador da empresa. As
demais respostas obtidas foram sucintas e em algumas questões inexistentes.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
131
4.4.3 O processo de sucessão na empresa C
Na empresa C, as respostas obtidas junto ao fundador, referente ao primeiro
grupo de perguntas, e que por sua vez tiveram respostas afirmativas, foram:
- Tenho consciência de que a obra que realizei deve prosseguir independente da
minha presença;
- Considero que minha obra (empresa) se tornou maior do que eu mesmo, e estou
cuidando dela para que ela não desapareça;
- Estou tranqüilo em relação às garantias financeiras para meu futuro pessoal;
- Preparei meus herdeiros para que o controle dos negócios continue sob o
comando da família;
- Preparei e informei meus herdeiros sobre as providências legais e tributárias que
tomei em relação às questões da herança;
- Estimulei meus herdeiros a fixarem um modelo e um acordo societário. Facilitei-
lhes isso; e
- Tenho consciência da perpetuação da sociedade através dos meus herdeiros e
realizo esforços no sentido de viabilizá-las.
As respostas negativas ainda referentes ao primeiro grupo de
questionamentos foram:
- Tenho consciência de todo legado (material, ético, moral e de valores) que deixo
para meus herdeiros;
- Estou realizando esforços concretos no sentido de me afastar das atividades da
empresa sem comprometê-la;
- Já encontrei um projeto de vida para preencher meu tempo e auto-estima na
medida em que deixo a empresa;
- Compartilhei todos esses pontos com minha esposa; e
- Consigo estabelecer uma separação entre questões da família, propriedade e
empresa.
As respostas obtidas no segundo grupo de perguntas foram respondidas
apenas pelo sucessor da empresa C pelo fato de que a outra herdeira não e citada
como sucessora e nem pretende ser. Também não existem outros membros da
família que trabalham na empresa. As questões afirmativas dizem respeito há:
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
132
- Todos os membros da família têm consciência de que aquilo que vão efetivamente
herdar é uma empresa, cujos sócios e funcionários não foram escolhidos por eles;
- Existe consciência de que não haverá possibilidade de que todos dependam
profissionalmente e financeiramente da empresa e ações efetivas nesse sentido;
- A estrutura familiar consegue lidar com seus conflitos. Eles são “abafados” ou
claramente tratados;
- A ausência do fundador e de sua esposa poderá tornar-se um problema; e
- Existem “valores familiares” que devem ser preservados.
E as questões respondidas negativamente foram:
- Existe clareza quanto à pulverização do controle acionário da sociedade; e
- Os “agregados” da família (genros e noras) têm participação ativa nas opiniões,
são ouvidos e respeitados.
No terceiro grupo de perguntas realizadas apenas com o sucessor da
empresa C, as respostas obtidas foram:
- Tenho consciência de que vou ter um sócio;
- Estou disposto a investir tempo e habilidades para buscar conhecimento e
compreensão para este novo relacionamento;
- Existe a possibilidade de escolher lideranças para atuarem na empresa e na
sociedade;
- Estou consciente dos valores que meus pais me transmitiram;
- Estou disposto a preservá-los; e
- Consigo compreender e aceitar que na qualidade de herdeiro vou ser um sócio, e
como tais têm três possíveis alternativas de realização pessoal: sócio/acionista;
sócio/conselheiro; sócio/gestor.
E as respostas negativas foram referentes as seguintes questões:
- Tenho clareza sobre a necessidade de separar “os três chapéus” (família,
sociedade e gestão);
- Estou preparado para uma realização pessoal/profissional e financeira sem
depender exclusivamente dos negócios;
- Se eu hoje fosse iniciar uma sociedade, não escolheria meus parentes como meus
sócios;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
133
- Tenho meus projetos pessoais e profissionais separados da empresa; e
- Consigo aceitar a existência de lideranças com características diferentes na
família, na sociedade e na empresa.
No quarto e último grupo de perguntas realizadas aos sujeitos sociais
envolvidos na empresa C, referente ao sucesso (ou fracasso) da sucessão familiar e
as dificuldades que podem ocorrer no relacionamento entre as atividades da
empresa e da família e que por sua vez interferem na gestão profissional da
empresa, as respostas obtidas encontram-se na tabela 18.
Tabela 18 - Questões de sucesso (ou fracasso) da sucessão na empresa C.
Questões Opinião dos atores questionados na empresa C
Fatores que interferem no
fracasso (ou sucesso) da
sucessão familiar e as
dificuldades de relacionamento
entre a família e a empresa
que interferem na gestão
rpofissional da empresa:
- problemas pessoais levantados em um ambiente
empresarial;
- deixar de tomar algumas decisões por deixar os
sentimentos interferir se doer pelo pai ou pela mãe e tomar
decisões precipitadas;
- dificuldades de separar a convivência em família com a
convivência na empresa. Levam-se problemas familiares
para dentro da empresa e vice-versa.
Papel da mulher na sucessão: - da esposa é incentivar os filhos a tomar gosto e adentrar na
administração da empresa.
Características importantes no
perfil (qualidades) do sucessor
da empresa:
- acreditar na empresa, hoje não há empresa que sempre
esteja no auge então o principal é nunca desistir;
- calmo, inteligente, cauculista, que tenha audácia para
enfrentar novos caminhos e desafios;
- precisa suceder, acompanhar a mesma idéia, porque do
contrário a empresa fica frágil.
Ressalta-se o comentário feito referente ao papel da mulher na sucessão, pois
as reflexões feitas foram pelos atores na empresa C, diferem dos atores da empresa
A e B, uma vez que existe uma maior participação das mulheres desde a sociedade
formal, a profissional externa e a sucessora.
As reflexões feitas pelos sujeitos sociais da empresa C, referente ao que
entendem por sucessão familiar e sobre a importância de planejar tal decisão na
empresa e com sucesso, as respostas foram:
a) fundador: “A sucessão familiar para mim é a passagem da administração de uma
empresa para outra geração. Para que a empresa não dure apenas uma geração.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
134
Afinal empresas são feitas para durar gerações. Que ela seja colocada como uma
alternativa, e nunca como imposição para seus sucessores”.
b) sucessora: “A continuação da administração pela família. O incentivo desde cedo
pelos pais, que foi o que ocorreu em meu caso. E fazer com que os filhos se
preparem com cursos na área para melhor administrar. Verificar se todo o patrimônio
produzido e a empresa criada não serão desperdiçados”.
c) profissional externa: “Que vai passando de pai para filho, de pai para genro,
para filha e para os netos. Para que não se destrua em poucos meses o que levou
muitos anos para conseguir, e para que não haja desavenças na empresa. Que a
pessoa vá aprendendo aos poucos os valores que aquela empresa têm, que não é
só dinheiro, mas sentimentos”.
Observa-se, portanto, que na empresa C, as discordam com relação à
passagem da empresa para a segunda geração pelo fato de existir a presença
feminina conforme afirmações realizadas por alguns de seus atores. Mas de forma
geral, acreditam que tal processo será conduzido de forma adequada na empresa,
pois esta demonstra ser à vontade de todos os atores envolvidos na pesquisa.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
135
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As empresas familiares de pequeno porte respondem pela maior parcela da
geração de riquezas que oxigenam toda a economia brasileira, gerando empregos e
renda, criando e distribuindo os mais diversos produtos e serviços em nossa
sociedade (SPANGER, 2003).
Um problema crucial para estas empresas reside na passagem da
administração do negócio da primeira geração (fundador) para a segunda geração
(sucessor). Um dos fatores apontados pelo referencial teórico consultado reside na
complexidade das relações existentes entre a família e a empresa, pautados num
campo carregado de emoções. Observa-se que os conflitos intersistêmicos são
inerentes às famílias empresárias e que, portanto, é desafiador estabelecer regras
entre tais sistemas.
As diferenças pessoais, a superação de um processo sucessório e as possíveis
surpresas, devem ser superadas com planejamento para a continuidade da
empresa. Tal conquista deve ser um processo e não um ato. Esse processo requer
tempo, diálogo e constante reelaboração de decisões, sobre o que seus atores
entendem da sucessão.
Dentro dessa perspectiva, o presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo
de discutir esse processo, buscando além de fontes bibliográficas, analisar 3
empresas do ramo industrial.
Identificou-se que as empresas A, B e C são empresas tradicionais e com perfil
familiar. Nasceram de necessidades reais das famílias e do sonho dos
empreendedores (primeira geração) em ter seu próprio negócio, trabalhando de
forma independente e tirando da empresa o sustento de suas famílias. Para
continuarem com o perfil de empresas familiares tradicionais, dependem da
presença de seus sucessores (segunda geração) nas atividades administrativas
consideradas estratégicas. Porém, para que possam crescer e continuar suas
atividades necessitam evoluir em seus portes, estruturas físicas e mercados, desde
que seja mantido a cultura e o perfil familiar, reforçando que a profissionalização da
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
136
família, da sociedade e da gestão do empreendimento, devem permanecer nos
moldes de uma empresa familiar tradicional.
Os empreendedores, fundadores das empresas, apresentaram perfis
diferenciados na condução de seus empreendimentos:
- O empreendedor A mostrou-se mais racional e menos emotivo nas suas ações e
decisões, desde o início do empreendimento até na forma de pensar a respeito da
continuidade de suas atividades de empreendedor e empresário, seja com relação
aos membros da família ou com os demais colaboradores da empresa;
- Os empreendedores B e C, ao contrário do primeiro, mostraram-se mais emotivos
do que racionais em suas ações e decisões, principalmente ao afirmarem que a
abertura da empresa foi à realização de um sonho pessoal e profissional.
Consideram-se mais empreendedores do que empresários, demonstrando-se
totalmente envolvidos pelos empreendimentos criados por eles.
Conclui-se que os três empreendedores são pessoas que trabalharam com
afinco em seus empreendimentos, passaram por períodos de dificuldades
financeiras, técnicas e estruturais em suas atividades como empresários e que
“lutam” até os dias de hoje para manterem suas empresas vivas no mercado. Por
mais dificuldades que tenham enfrentado no início de seus empreendimentos, ou
que venham ainda enfrentar, sentem-se responsáveis pelo padrão de vida e as
condições oferecidas às suas famílias, que dependem exclusivamente do sucesso
da empresa.
O fato de serem empresas construídas entre membros da família,
independente do grau de parentesco entre eles, facilitou o início da atividade e a
confiança entre tais relações. E ainda, outro ponto facilitador foi conhecerem
antecipadamente o mercado e o ramo de atividade que pretendiam atuar.
Conclui-se ainda que a habilidade gerencial dos fundadores das empresas,
seus comportamentos e o preparo para as mudanças, são essenciais para que o
processo de sucessão seja bem conduzido por seus herdeiros (sucessores). Diante
de tais reflexões, Bornholdt (2005) enumera três possibilidades, os herdeiros nas
empresas familiares A, B e C podem assumir:
1º - Serem apenas acionistas;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
137
2º - Terem uma função de comando;
3º - Prepararem-se naturalmente para atuar na gestão.
Conforme as descrições apresentadas, os sucessores das empresas A, B e C,
encontra-se nos seguintes papéis:
- O sucessor da empresa A, indicado pelo fundador como o herdeiro a assumir seu
lugar na administração da empresa, apresenta-se na terceira possibilidade, ou seja,
estar preparado para atuar na gestão da empresa. Enquanto que a sucessora
apesar de desenvolver atividades na empresa, encontra-se na primeira
possibilidade, ou seja, ser apenas acionista, condição esta inerente ao direito de
propriedade hereditariamente;
- O sucessor da empresa B, apresenta ao mesmo tempo as três possibilidades,
sendo que a primeira delas já exerce, por ser sócio da empresa. E ainda nas outras
duas possibilidades também pelo fato de ser o único filho ou herdeiro do fundador;
- A sucessora da empresa C, apresenta-se na segunda e na terceira possibilidade,
buscando estar preparada para assumir uma posição de comando na gestão da
empresa. Enquanto que sua irmã, não tendo sido indicada como sucessora pelo
fundador, apresenta-se na primeira possibilidade, por ser herdeira hereditariamente.
Conclui-se com tais posicionamentos, também se confirmando, quanto aos
sistemas considerados nevrálgicos nas empresas familiares, que devem ser
tratados, segundo Donatti (1999), no processo de sucessão:
- Família: onde estão envolvidas as questões emocionais, que devem ser resolvidas
sem comprometer o futuro da empresa;
- Propriedade: distinguindo herança de sucessão;
- Profissionalização: dos herdeiros que irão conduzir os negócios.
Identifica-se, portanto, que em alguns momentos, nas três empresas, os atores
entrevistados, com exceção dos fundadores, ressaltam tais focos problemáticos:
- O sucessor e o cunhado (e sócio) do fundador da empresa A, afirmam que em
alguns momentos, falta profissionalismo por parte dos membros da família e que por
vezes, pessoas ou profissionais de fora da família são mais valorizados, reafirmando
pontos referentes à família como problemáticos. Ainda, os sucessores da empresa,
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
138
apontaram que a profissionalização demorou muito tempo para acontecer e ser
considerada como uma preocupação dentro da empresa e que isso pode estar
prejudicando os negócios da empresa na atualidade.
Quanto aos membros da família, conclui-se que estão interessados em atentar
para os fatores da sucessão familiar para o empreendimento, as questões de
herança, futuras sociedade, conflitos familiares, remunerações dos membros da
família e a participação de agregados da família, visando o futuro e a continuidade
da empresa com perfil familiar.
- Os atores da empresa B, membros da família ou não, mostram-se muito omissos a
alguns questionamentos realizados a este respeito e em outros casos, também
muito superficiais, o que se pode concluir uma certa insegurança e até mesmo
receio em discutir e refletir sobre tais questões, o que poderá comprometer o
processo de sucessão a longo prazo.
- Na empresa C, identificou-se uma centralização e ainda divergências quanto a
questões de sucessão e da continuidade do empreendimento para a segunda
geração, principalmente na opinião da sucessora, apesar de os atores
demonstrarem interesse em manter a empresa sobre propriedade da família.
Buscando acompanhar o perfil dos fundadores das empresas e de seus
sucessores, conclui-se que o planejamento sucessório para estas organizações,
deve basear-se nos quatro níveis (Albuquerque, 2004):
1º - Estratégico;
2º - Patrimonial;
3º - Continuidade;
4º - Contingêncial.
Aponta-se que o processo de tomada de decisão nas três empresas
pesquisadas deve respeitar suas estruturas organizacionais e suas áreas de
atuação de mercado, e ainda que tais decisões devem ser compartilhadas entre
seus membros, embora a pesquisa tenha identificado que nem sempre isto ocorre.
Mostra-se em alguns momentos ao contrário do que a literatura indica ou
recomenda, difícil de ser descentralizado, principalmente em relação aos fundadores
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
139
das empresas. Essa realidade acaba gerando descontentamentos, insatisfações e
conflitos entre os membros da família que trabalham nas empresas e também entre
os profissionais externos, dificultando o próprio processo de sucessão e a
profissionalização da empresa.
Tal processo demonstra-se difícil de ser flexibilizado, conforme afirmam os
sucessores das empresas B e C. Em especial ressaltam que o fundador da empresa
toma as decisões a seu modo e a opinião dos outros colaboradores da empresa
conta muito pouco. Aponta-se, portanto, uma falha administrativa nas três empresas
pesquisadas, pois uma vez que para que ocorra uma gestão corporativa profissional,
mantendo ainda traços de uma empresa familiar de pequeno porte, o planejamento
organizacional, assim como a tomada de decisão, devem estar pautados em
princípios empresariais sólidos e não apenas nas decisões da família ou apenas do
fundador da empresa.
A tomada de decisões em empresas familiares em especial nas de pequeno
porte, deve ocorrer baseado em um aprendizado gerencial sólido, respeitando a
cultura de seu fundador, porém, atentando para questões que Drucker (2001) cita
como fundamentais:
- Percepção do negócio;
- Inserção à realidade atual;
- Conclusão dos planos;
- Ação.
Reuniões regulares entre todos os níveis, são fundamentais para manter a
liquidez e a “saúde” financeira das empresas. Porém, alguns atores pesquisados não
pensam desta forma. Na empresa A, o profissional externo considera tal atividade
desnecessária. Já na empresa B, todos concordam ser de extrema importância
ações nesse sentido, porque as pessoas ficam mais conscientes quanto aos
resultados financeiros da empresa. E na empresa C, a sucessora não considera tais
ações relevantes.
Portanto, conclui-se que tal processo ocorre e é percebido de maneira
diferenciada entre os atores, e conseqüentemente observa-se que as dificuldades
podem aparecer, ocasionando conflitos entre eles. Conforme o marco teórico, é de
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
140
fundamental importância que tal processo seja conduzido da maneira mais clara,
formal e profissional possível, pois em se tratar de empresas familiares de pequeno
porte, suas estratégias de mercado podem estar comprometidas, principalmente ao
verificarmos maneiras diferentes de pensar dentro de uma mesma empresa, o que
poderá acarretar muitos conflitos entre seus membros, comprometendo assim o
processo decisório e a continuidade da empresa.
Pequenas, médias ou grandes empresas familiares, têm em seu caminho o
grande desafio da continuidade de geração para geração. Portanto, Drucker (2002),
aponta três pontos de fundamental importância a serem observados por tais
empreendimentos:
- Os integrantes da família só devem trabalhar na empresa se estiverem capacitados
para tal atividade, assim como qualquer outro colaborador externo que atue na
empresa e não apenas pelo fato de serem membros da família, independente do
grau de parentesco;
- Independente de quantos membros da família atuem na gestão da empresa e da
capacidade de cada um desses profissionais, é essencial a existência de
profissionais externos à família em cargos estratégicos e gerenciais;
- Apenas nas empresas familiares muito pequenas, não existe a possibilidade de
atuação de profissionais sem vínculo de sangue em cargos essenciais da empresa.
Quanto a estes fatores, identificou-se uma constante preocupação por parte
dos atores envolvidos na pesquisa. Portanto, é aconselhável que principalmente os
sucessores das empresas, façam seu aprendizado profissional em outras empresas
para adquirir experiência e responsabilidade, antes de começar a trabalhar na
empresa da família e ainda que com tal ação, passem a não depender
financeiramente da empresa.
Verificou-se, porém que somente na empresa A, e com o sucessor apenas, tal
realidade se faz presente. Com a sucessora da empresa A e com os demais
sucessores das empresas B e C, tal realidade não ocorre. Apesar dos atores
considerarem importante os sócios, demais membros da família (sucessores ou não)
terem outras fontes de renda, isso não está ocorrendo até o momento. Conclui-se
que quando isso passa a ocorrer da maneira como a literatura aponta como correta,
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
141
ocorre também um certo distanciamento e desinteresse pelas atividades da empresa
da família por parte dos seus membros. Tal realidade vem ocorrendo com o
sucessor da empresa A, pois pelo fato de estar trabalhando em outra atividade, não
mais dependendo financeiramente da empresa da família, afirma em vários pontos
da pesquisa não ter mais interesse em suceder o pai nas atividades da empresa.
Esse fato, portanto, pode vir a prejudicar o processo sucessório e a
continuidade da empresa no mercado. Ao dos demais sucessores que trabalham na
empresa e que dependem exclusivamente de tais atividades como fonte de
remuneração.
Com relação à longevidade e a continuidade de tais empreendimentos, conclui-
se que os empreendedores pretendem deixar suas marcas no mercado e no mundo.
Mesmo se tratando de empresas em diferentes ramos de atividades industriais, os
fundadores das empresas se assemelham na maneira de pensar sobre os aspectos
relacionados à missão e os valores da empresa que devem ser transmitidos de
geração para geração para sua continuidade, mesmo que estas deixem de ser
empresas de pequeno porte com o passar dos anos.
Cercadas de períodos de altos e baixos desempenhos, os fundadores
acreditam muito em seus empreendimentos e na necessidade real de estarem
sempre melhorando e buscando coisas novas com o auxílio principalmente dos
membros da família e também dos demais colaboradores externos. Porém, o
profissional externo e o sucessor da empresa B, afirmam deficiências com relação
ao conhecimento e o verdadeiro entendimento sobre a missão da empresa no
mercado. O sucessor da empresa A demonstrou-se contrário ao demais atores que
participaram da pesquisa, ao afirmar que na empresa não existe uma missão
definida.
Mediante a esta realidade, conclui-se que para continuarem existindo no
mercado, necessitam acompanhar constantemente o ambiente externo que as
cerca, contando com o auxílio de consultores externos frente as possíveis
dificuldades que venham a encontrar e ainda contratando profissionais externos para
atuarem em cargos estratégicos em suas gestões.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
142
Observa-se que as empresas familiares de pequeno porte são organizações
geridas por culturas e costumes particulares. Seus propósitos de longevidade devem
estar cercados em torno destas comunidades que o compõem, desde seus membros
fundadores, sucessores e pessoas recrutadas, desenvolvendo suas habilidades e
potencialidades a favor da longevidade da empresa.
Segundo Longenecker (1997), conclui-se que as empresas A, B e C
encontram-se no 5º estágio do processo sucessório, denominado pelo autor como
estágio funcional avançado, uma vez que ambos os sucessores, assumem tarefas
de supervisão, envolvendo-se na direção de trabalhos dos outros, mas não na
administração geral da empresa.
Para que os sucessores assumam a liderança e a gestão geral da empresa, é
necessário um processo longo e exaustivo de preparação e transição, tanto dos
sucessores como dos fundadores, pois nem sempre os fundadores demonstram
estar preparados para que isso ocorra. Deve haver respeito e a preservação do
melhor da cultura existente na empresa, procurando eliminar conflitos. Os
sucessores ainda necessitam conhecer todos os cargos, funções e setores da
empresa, até chegarem ao comando total da gestão.
A preparação dos fundadores para os estágios seguintes é fundamental (6º
Estágio – Inicial da sucessão, e 7º Estágio - Maduro de Sucessão).
Conclui-se, mediante as realidades encontradas nas três empresas, que
apesar dos sucessores estarem vivenciando um estágio importante e avançado no
processo de sucessão, a passagem para os estágios seguintes, levará algum tempo,
uma vez que os fundadores encontram-se ainda muito atuantes em suas posições
de comando.
Os sucessores mostram-se mais conscientes para tal realidade do que os
fundadores, o que poderá acarretar conflitos entre eles e também entre os demais
membros da família e profissionais externos que trabalham nas empresas.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
143
A sucessão nas empresas
A seguir são apresentadas as conclusões, mediante as opiniões dos atores
envolvidos na pesquisa junto às empresas A, B e C, em especial a respeito do que
estes entendem e vislumbram sobre o processo de sucessão nas empresas visando
a continuidade das mesmas, frente a todas as dificuldades encontradas.
Na empresa A, conclui-se que o processo de sucessão da primeira para a
segunda geração vem ocorrendo conforme a literatura aponta como correta, ou seja,
com o preparo do sucessor acontecendo fora da empresa da família, para que desta
forma prepare-se da maneira mais profissional e responsável possível. Porém, tal
realidade demonstra descontentamento por parte do sucessor.
Apesar dos conflitos que possam ocorrer entre o fundador (primeira geração) e
o sucessor (segunda geração), a sucessão demonstra estar ocorrendo da forma
mais correta possível garantindo assim maiores chances de sucesso e longevidade
para a empresa no mercado.
Quanto à visão do profissional externo, conclui-se também que a sucessão
está ocorrendo de forma correta, uma vez que ao assumir, o sucessor estará
também assumindo a responsabilidade sobre tais profissionais e que, portanto,
deverá respeitá-los.
Os sucessores necessitam serem preparados desde cedo, pois se assumirem
o negócio sem conhecê-lo profundamente, problemas de gestão fatalmente
ocorrerão. Para que os conflitos diminuam é necessário que as opiniões dos
sucessores sejam respeitadas e aceitas de forma produtiva por parte do fundador.
O cunhado do fundador (e sócio da empresa), reconhece que nunca pensou
sobre a respeito da sucessão do negócio para os herdeiros. Ao afirmar que não
pretende deixar de trabalhar e que só o fará quando não puder mais, considerando
ainda não ser necessário falar desse assunto agora, conclui-se, portanto, que se
depender deste sócio, a sucessão não acontecerá de forma planejada e, portanto, o
processo poderá estar comprometido e ainda ser protelado ao máximo.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
144
Pelo fato da empresa estar crescendo muito nos últimos anos, ocorre uma
participação maior dos membros da família. Esta é a empresa, das três pesquisadas,
que mais tem membros da família trabalhando na empresa, assim como existe
também a presença de profissionais contratados externamente. Por estas razões,
conclui-se que o processo de sucessão na empresa A, ocorre de acordo com as
indicações encontradas no marco teórico, porém verifica-se também muitos conflitos
nas relações entre familiares, o que poderá acarretar problemas, dificuldades e
desvios na maneira como é pensada a sucessão familiar na empresa. Portanto,
recomenda-se além de muito diálogo a respeito destas questões, a elaboração de
um planejamento estratégico de sucessão formalizado visando a continuidade da
empresa, com metas previamente estabelecidas para conduzir corretamente tal
atividade.
Na empresa B os atores demonstram uma maior harmonia e semelhança na
maneira de pensar sobre os fatores que interferem na sucessão e na continuidade
da empresa. Infelizmente o fundador deixou em branco muitas das questões
referentes à sucessão da empresa para a segunda geração, demonstrando um certo
descontentamento quando questionado a este respeito ou ainda uma não reflexão a
este respeito.
O sucessor da empresa entende que tal processo deve ocorrer com a troca dos
gestores, com muita responsabilidade, em prol dos interesses da empresa. Sugere-
se que tal processo ocorra através de um plano de sucessão, pois nenhuma ação
real a este respeito vem ocorrendo dentro da empresa. O sucessor necessita
desenvolver bons relacionamentos dentro da empresa uma vez que é o único
herdeiro e que já é sócio da empresa e que seja disciplinado quanto ao aprendizado
da gestão do empreendimento conhecendo toda a estrutura da empresa. Portanto,
conclui-se que o sucessor está preocupado com tal processo, para que ocorra da
melhor maneira possível, mesmo porque ele vem a ser o único herdeiro e
conseqüentemente o único sucessor da empresa, além de já ser sócio.
E por fim, o profissional externo também aponta que tal processo deve ocorrer
de forma planejada para que o herdeiro assuma a posição de sucessor na empresa.
Acredita que tal processo deve ocorrer não apenas pela ausência do fundador, mas
pelo fato do crescimento da empresa no mercado e pela necessidade de uma
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
145
possível reestruturação. Mas para que isso ocorra, o fundador precisa ter um
conhecimento aprofundado dos negócios da empresa.
A não participação de outros membros da família na sociedade e em outras
atividades dentro da empresa demonstra uma estrutura familiar muito mais coesa na
empresa B, o que por sua vez, poderá facilitar o processo sucessório da primeira
para a segunda geração. Identifica-se a diminuição dos conflitos e das opiniões
contrárias entre os membros da família, pelo fato de existir apenas uma
possibilidade no processo sucessório, já que pretendem manter a empresa nos
moldes de uma empresa familiar tradicional.
Existe plena clareza por parte do sucessor frente às suas possibilidades para
com a continuidade da empresa até mesmo por parte dos demais profissionais
externos. Apenas detectou-se certa dificuldade de expressão a respeito deste
assunto por parte do fundador da empresa. Acredita-se que isto acontece pelo fato
de haverem muitas emoções envolvidas no processo.
Na empresa C, o fundador considera que a sucessão deve ocorrer através da
passagem da administração da empresa para as outras gerações da família, visando
assim sua continuidade ao longo dos anos. Pretende que tal processo ocorra como
uma alternativa de trabalho para a herdeira e não como uma imposição. Conclui-se
que este ator visualiza tal possibilidade como forma de manter a tradição da família
por várias gerações através das atividades da empresa.
Frente às opiniões dos atores, em especial por parte da sucessora e da
profissional externa, percebe-se um certo protecionismo ao gênero masculino no
processo de sucessão, sendo uma dificuldade detectada apenas na empresa C,
embora nos depoimentos do fundador não apareçam depoimentos a este respeito.
Isso aponta para um descontentamentos por parte da sucessora em especial. Tal
realidade poderá comprometer o processo de sucessão na empresa. Apesar de tal
reflexão, o processo é incentivado dentro da empresa para a que a segunda geração
assuma a gestão da empresa quando for necessário.
Ocorre, portanto um conflito de gênero no processo sucessório da empresa C,
o que poderá ocasionar descontentamentos futuros por parte da herdeira, indicada
como sucessora na gestão da empresa. A não existência de outros membros da
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
146
família nas atividades da empresa apontam para um processo sucessório muito bem
delimitado entre a primeira e a segunda geração, porém não se descarta a hipótese
da existência de um agregado (genro) no processo de sucessão da empresa,
visando mantê-la com perfil de uma empresa familiar tradicional.
Considerando que os atores envolvidos na pesquisa junto as três empresas
estão suscetíveis à melhoria e à continuidade dos empreendimentos nos moldes de
empresas familiares tradicionais, é possível propor atividades que visem sensibilizar
a todos os atores (familiares ou não) para as mudanças dentro da empresa ao longo
de sua existência. Faz-se necessário abordar questões comportamentais e de
relacionamento, antes de conhecimentos técnicos.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
147
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PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
153
APÊNDICES
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
154
APÊNDICE A – CARTA DE APRESENTAÇÃO PARA PESQUISA NAS
EMPRESAS
OBJETIVO: Carta convite para as empresas selecionadas, para que possibilitem a
realização da pesquisa dentro das suas dependências, possibilitando, assim, a
coleta de dados para a realização da pesquisa.
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
CAMPUS PONTA GROSSA
PPGEP –
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Ponta Grossa, ___ de ___________ de 2005.
Prezado Senhor:
Como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia
de Produção, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, do
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná – Unidade de Ponta Grossa,
eu, Monalisa Rodrigues, mestranda, e orientada do professor Dr. Luis Mauricio
Resende, estou realizando um estudo que tem como tema – O PROCESSO DE
SUCESSÃO FAMILIAR EM EMPRESAS DE PEQUENO PORTE: UM ESTUDO
EXPLORATÓRIO, na linha de pesquisa de Empreendedorismo e Desenvolvimento
Estratégico de Pequenas Empresas.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
155
Solicito a colaboração de Vossa Senhoria em receber-me, em data e horário a
serem determinados, disponibilizando-me assim, de instrumentos necessários para a
realização de entrevistas, aplicação de questionários e observações pessoais a
respeito do tema em questão. Comprometo-me após a conclusão da pesquisa, em
enviar-lhes um relatório com os resultados e a análise final dos dados.
Agradeço antecipadamente sua colaboração e asseguro que sua participação
nesta pesquisa dará uma importante contribuição aos conhecimentos relevantes a
esse assunto, que envolve as indústrias do setor industrial de pequeno porte na
cidade de Ponta Grossa – PR.
Atenciosamente,
___________________________ _________________________________
Monalisa Rodrigues Prof. Dr. Luis Maurício Resende
Mestranda Orientador
APÊNDICE B – CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS
OBJETIVO: Identificação da empresa, dos seus dirigentes, herdeiros/sucessores,
bem como a constituição da sua estrutura, caracterização dos seus fornecedores,
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
156
clientes e concorrentes. Visa coletar dados, através da aplicação da entrevista e dos
questionários, a respeito da constituição atual da empresa e como são formalizadas
as técnicas administrativas de gestão do negócio.
Questionamentos a serem respondidos pelos fundadores das empresas.
VINCULADO À:
1º objetivo específico: descrever e a estrutura de poder nas empresas
selecionadas, bem como sua caracterização;
2º objetivo específico: analisar o perfil do empreendedor e fundador da
empresa, bem como do sucessor e a sua relação entre empresa X família, na
administração da empresa.
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
CAMPUS PONTA GROSSA
PPGEP –
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Etapa 1 – Identificação da empresa
1. Razão Social: _____________________________________________________
2. Nome Fantasia: ___________________________________________________
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
157
3. Ano de fundação da empresa: ________________________________________
Etapa 2 – Identificação do dirigente da empresa
2.1 A empresa possui quantos proprietários? Caso tenha mais de um qual a
porcentagem de participação de cada um? Quantos dirigem a empresa (nome)?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
2.2 Os dirigentes possuem outro tipo de atividade remunerada, além da empresa?
( ) Sim ( ) Não ( ) Parcialmente
2.3 Qual foi à motivação para abertura da empresa? (Marque mais de uma
alternativa, caso seja necessário)
( ) Oportunidade de negócio
( ) Já era da família
( ) Saída do emprego
( ) Garantir a segurança econômica da família
( ) Manter a família unida
( ) Oportunidade de negócio para os filhos e a família
( ) Outra (especificar): ________________________________________________
2.4 Qual seu nível de escolaridade?
( ) 1º Grau ( ) 2º Grau
( ) Formação técnica ( ) Curso superior
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
158
( ) Outro (especificar): ________________________________________________
2.5 Quanto tempo de experiência total tem nesta área? _____ anos.
2.6 Possui alguma experiência anterior nesta atividade? ( ) Sim ( ) Não
Se Sim, em qual função? : ______________________________________________
Etapa 3 – Identificação do sucessor da empresa
3.1 Quantos são e qual a idade dos sucessores da empresa?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3.2 Possuem outro tipo de atividade remunerada, além da empresa?
( ) Sim. Especificar: __________ ( ) Não
3.3 Qual o nível de escolaridade?
( ) 1º Grau ( ) 1º Grau ( ) 1º Grau
( ) 2º Grau ( ) 2º Grau ( ) 2º Grau
( ) Formação técnica ( ) Formação técnica ( ) Formação técnica
( ) Curso superior ( ) Curso superior ( ) Curso superior
( ) Outro (especificar): ___ ( ) Outro (especificar): ___ ( ) Outro (especificar): ___
3.4 Qual foi à motivação para trabalhar na empresa? (Marque mais de uma
alternativa, caso seja necessário)
( ) Oportunidades de trabalho facilitadas
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
159
( ) Saída do emprego
( ) Garantir a segurança econômica
( ) Aplicar conceitos aprendidos no curso superior
( ) Manter a tradição familiar
( ) Oportunidade de negócio para os filhos e a família
( ) Outra (especificar): ________________________________________________
3.5 Já trabalhou anteriormente em outra empresa que não fosse da família?
( ) Sim ( ) Não, é o primeiro emprego
Se Sim, especificar: ___________________________________________________
Etapa 4 – Estrutura e caracterização da empresa
4.1 Quais são os setores que a empresa possui? Quantos funcionários em cada
setor?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4.2 Alguns serviços da empresa são terceirizados? Quais?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4.3 Além do (s) proprietário (s), existem pessoas no comando de outros funcionários
na empresa? Por exemplo, supervisores ou gerentes? ( ) Sim ( ) Não
Se Sim, especificar: __________________________________________________
4.4 Quais são os pontos fortes e fracos da empresa?
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
160
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4.5 Em sua opinião, a empresa continuará por mais uma geração?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4.6 As pessoas na empresa se entendem e respeitam umas às outras?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Etapa 5 – Quanto aos fornecedores da empresa
5.1 De onde são os principais fornecedores? (Marque mais de uma alternativa, caso
seja necessário)
( ) Locais ( ) Regionais ( ) do Estado ( ) de outros Estados
5.2 Como você avalia as condições de fornecimento:
Condições Excelente Bom Ruim Péssimo
Localização
Preço
Prazo de entrega
Condições pagamento
5.3 Para quais concorrentes fornecem?
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
161
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Etapa 6 – Sobre os principais concorrentes da empresa
6.1 Quantos são os principais concorrentes?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
6.2 De onde são? (Marque mais de uma alternativa, caso seja necessário)
( ) Locais ( ) Regionais ( ) do Estado ( ) de outros Estados
6.3 Você considera que seus concorrentes apresentam algum tipo de diferencial com
relação aos produtos que fabricam?
Melhores preços: ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei
Entregas: ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei
Prazos e formas de pagamento: ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei
Qualidade: ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei
( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei Outro
(especificar):_________________________
6.4 Que produtos e serviços eles oferecem ao mercado?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Etapa 7 – Sobre os clientes da empresa
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
162
(Nas perguntas a seguir marque mais de uma alternativa, caso seja necessário)
7.1 De onde são os principais clientes da empresa?
( ) da cidade e região ( ) de outros Estados ( ) de todo Estado
( ) Outras localidades (especificar): ______________________________________
7.2 Qual o tamanho das empresas clientes?
( ) Micro e pequeno porte ( ) Médio porte ( ) Grande porte
7.3 Existem épocas de sazonalidade nas vendas? ( ) Sim ( ) Não
Sazonalidade positiva (maiores índices de faturamento) nos meses:
______________________________________________________________
Sazonalidade negativa (menores índices de faturamento) nos meses:
______________________________________________________________
7.4 Qual o grau de fidelidade dos clientes da empresa?
( ) excelente ( ) bom ( ) ruim ( ) péssimo
7.5 Qual o grau de satisfação dos clientes da empresa?
( ) excelente ( ) bom ( ) ruim ( ) péssimo
Espaço reservado para comentários / sugestões / observações:
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
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163
_______________________________
cargo: _________________________
APÊNDICE C – O INÍCIO E A CONTINUIDADE DO EMPREENDIMENTO
OBJETIVO: Visa coletar dados através de entrevistas e questionários, descrevendo
assim, as atividades desde o início da atividade empreendedora do fundador da
empresa, a relação existente entre a empresa e a família, as estruturas de poder,
analisando quais situações devem ser superadas visando o desafio da continuidade
do negócio e a realização do seu sonho e como está sendo pensado o processo de
sucessão da empresa.
Questionamentos a serem respondidos pelos fundadores das empresas.
VINCULADO À:
2º objetivo específico: analisar o perfil do empreendedor e fundador da
empresa, bem como do sucessor e a sua relação entre empresa X da família,
na administração da empresa.
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164
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
CAMPUS PONTA GROSSA
PPGEP –
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Etapa 1 – A realização de um sonho: motivações e cuidados para ser um
empreendedor
Nada se inicia sem um sonho, ponto de partida de todas as ações e
realizações. Nenhum empreendedor chegará a lugar algum se não tiver
sonhado antes com o que deseja alcançar. O sonho é o primeiro passo
de todo realizado. Mesmo em todo o seu processo de desenvolvimento
ou crescimento, não se deve abandoná-lo. O sonho é um combustível
da maior importância para a realização. (Bernhoeft, 1996, p. 25)
1 – Você considera a abertura da empresa como a realização de um sonho ?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
2 – Você precisou de um sócio para viabilizá-lo? E para dar continuidade precisará?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3 – Esse sonho viabiliza sua realização pessoal e profissional?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4 – Caso seu negócio não existisse, o que você estaria fazendo?
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
165
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
5 – Qual foi o momento (ano) mais triunfante da empresa? Por quê?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
6 – Qual foi o pior momento (ano) da empresa? Por quê?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
7 – É um sonho que pode ser continuado apenas com a estrutura empresarial já organizada?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
8 – Relacione três motivadores que em sua opinião o levaram a concluir que o caminho para a
sua realização foi desenvolver um negócio próprio:
1. ___________________________________________
2. ___________________________________________
3. ___________________________________________
9 – Quanto foi o tempo de planejamento da empresa antes de iniciarem suas atividades ?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
10 – Quais ações de planejamento foram fundamentais para o início da atividade da empresa?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
11 - Cite algumas dificuldades e facilidades enfrentadas na fase da geração da idéia do
negócio:
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
166
Facilidades Dificuldades
1 - 1 -
2 - 2 -
3 - 3 -
4 - 4 -
5 - 5 -
6 - 6 -
7 - 7 -
8 - 8 -
9 - 9 -
10 - 10 -
12 - Selecione três prioridades que foram necessárias e como foram atendidas, na fase da
criação do negócio:
Prioridades Como foram atendidas
1 -
2 -
3 -
Etapa 2 – Situações a serem superadas visando à continuidade da empresa
(As questões abaixo devem ser respondidas com C para Concordo, EM para Em Parte e D
para Discordo)
( ) Você consegue transformar problemas em oportunidades, empreendendo seus
conhecimentos e suas habilidades e ainda motivando-se em momentos de dificuldades?
( ) Você consegue ver oportunidades onde a grande maioria só vê problemas?
( ) Sente-se desafiado pelas dificuldades que as pessoas apresentam, não deixando envolver-se
pelo pessimismo e passividade?
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
167
( ) Quando você viaja, fica “ligado” em soluções diferentes para problemas corriqueiros?
( ) Você se considera um bom observador da realidade à sua volta?
( ) Percebe nela necessidades, dificuldades, problemas e situações que podem transformar-se
em oportunidades de negócio?
( ) Você consegue ser Office-boy e presidente ao mesmo tempo sem manifestar sua
insatisfação ou resignação?
( ) Você é capaz de indicar e vender um livro para o intelectual mais exigente e, ao mesmo
tempo, fazer o pacote e receber no caixa, sem se sentir humilhado?
( ) Você tem noção de todas as operações que envolvem o seu negócio, seja no atendimento
telefônico malfeito a um serviço mal executado ou o atendimento de uma reclamação de um
cliente, que muitas vezes, está apenas preocupado em descobrir alguma falha na sua estrutura
de pessoal, serviços ou produtos?
( ) As pessoas que trabalham para e com você têm a mesma capacidade de remanejamento e
flexibilidade?
( ) Apresenta condições de viver com uma renda oscilante?
( ) Sua família foi um apoio importante, ou serviu de desestímulo nos primeiros momentos
difíceis da empresa?
( ) Você tem uma clara noção sobre a diferença que existe entre capital de giro e as
necessidades para sobrevivência pessoal?
( ) Seu estado de ânimo depende muito de apreciações que outros façam sobre o seu
desempenho?
( ) Você consegue fixar prioridades pessoas e profissionais (para si e para os outros) sem
depender de terceiros?
( ) Consegue reconhecer o trabalho dos outros, formulando elogios, mesmo que você não os
tenha recebido?
( ) Transfere para a equipe o reconhecimento recebido de clientes e fornecedores?
( ) Tem clareza e coerência entre o seu negócio e a sua postura pessoal?
( ) Você tem uma noção clara de que o que oferece ao mercado é visto como algo de valor
pelo cliente e que possui um preço justo?
( ) Possui uma noção dos limites de crescimento do seu negócio e sua ambição pessoal?
( ) O seu crescimento está limitado por você não pelos seus clientes?
( ) Sua preocupação com a qualidade, imagem, bom atendimento, satisfação dos clientes é
que determina seus limites de lucro?
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
168
( ) Você considera que administrar o sucesso é tão importante como saber conviver com o
fracasso e que o sucesso esconde algumas armadilhas tentadoras e perigosas?
( ) Você consegue estabelecer alguma diferença entre usuário (do produto ou serviço) e
cliente que decide a compra direcionando seu marketing? É claro pra você quem decide a
compra?
Etapa 3 – Realizando o sonho de empreender e dar continuidade ao negócio
1 – Bernhoeft (1996) aponta algumas reflexões que levaram empreendedores de sucesso criar
seu próprio negócio. Sobre seu ponto de vista, avalie seu negócio assinalando com um “x” a
alternativa que considerar mais viável:
Alternativas
Muito
importante
Importante
Média
importância
Pouco
importante
Sem
importância
Domínio do negócio para poder
atuar de maneira competitiva
Identidade pessoal dos sócios
Confiança pessoal e respeito
profissional
Possibilidades reais de tocar o
projeto adiante
2 – Qual avaliação você faz hoje de sua experiência e condição de empresariar, quando
comparada com a situação de outros empreendedores/ concorrentes:
Alternativas
Muito
importante
Importante
Média
Importância
Pouco
importante
Sem
importância
Do ponto de vista empresarial,
são melhores as minhas
capacidades.
Em relação ao aproveitamento
do potencial, são muito
melhores.
Em relação às questões de vida
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
169
pessoal, melhorou.
Sob o prisma profissional, são
melhores as condições, mas fica
a sensação de que em uma
empresa de maior porte a
atualização é mais constante e
facilitada.
3 – Como vai o relacionamento dos sócios, administração de eventuais conflitos e as formas
de administrar as suas diferentes fases:
Alternativas
Sim Não Comentários
Têm somado as qualidades
positivas
Aprenderam a substituir as
qualidades individuais
consideradas negativas
Conseguiram realizar esforços
para dividir as inseguranças
Transferiram e multiplicaram o
entusiasmo
Eliminaram a onipotência nas
decisões
4 – Quanto às prioridades para preservar o sucesso obtido e assegurar um futuro com
crescimento:
Alternativas
Muito
importante
Média
importância
Pouco
importante
Zelar pelo bom funcionamento
da sociedade
Ter sempre um bom projeto
para viabilizar continuidade
com sucesso
Dar prioridades aos negócios e
à empresa em detrimento à vida
pessoal
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
170
5 – Você tem cuidado com:
Alternativas
Sim Não Comentários
Impaciência no processo de
crescimento
Não descuida das necessidades
pessoais e dos negócios
Realizar avaliações incorretas
sobre novos empreendimentos
ou abertura de novos mercados
6 – Avalie os itens por grau de importância que você considera vital para quem deseja partir
para um próprio negócio:
Alternativas Muito importante Média
importância
Pouco
importante
O momento para
tomada de decisão é
importante,
especialmente para
quem vai deixar de ser
empregado para se
tornar um
empreendedor.
Não ter visão de curto
prazo.
Colocar toda sua
energia na operação do
projeto.
Viabilizar a idéia,
vender o produto ou
serviço e depois
estruturar o
empreendimento
.
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
171
7 – Avalie por grau de importância, as características que considera principais no perfil do
empreendedor de sucesso:
Alternativas Muito importante Média
importância
Pouco
importante
Capacidade de
liderança.
Envolvimento com o
trabalho.
Propensão a risco.
Espírito empreendedor.
Competência técnica.
Senso de orientação nas
previsões de longo
prazo. Boa saúde.
Capacidade de análise.
8 - Enumere por grau de importância de 1 a 5 os “Mandamentos do bom empreendedor”,
segundo Bernhoeft (1996):
Nada substitui o lucro ( )
Vai em busca do que é ótimo e não do que é bom ( )
Mais importante que o cliente é a segurança ( )
A maneira mais fácil de ganhar dinheiro é parar de perder ( )
Pensar muito antes de agir ( )
9 - O empresário americano, Bud Hadfield (Bernhoeft, 1996), que fundou e quebrou oito
negócios antes de obter sucesso e transformar-se em milionário, com o negócio de gráficas
rápidas, listou como missão e valores mais importantes para um empreendedor, 11 fatores que
estão descriminados abaixo. Enumere de 1 à 10 os que você considera mais importante:
( ) Intuição
( ) Não desprezar ninguém
( ) Esperar o inesperado
( ) Desistir em pensar de desistir
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
172
( ) Se você não compraria, então não tente vender
( ) O sucesso vem de quem dá mais do que recebe
( ) As coisas deram errado? Então ria!
( ) Faça o inesperado só quando for para ajudar o outro
( ) Vencedores sentem-se vencedores. Perdedores agem como perdedores
( ) Seu pior empregado é aquele bom demais para ser demitido
10 - Enumere de 1 à 5 as questões que você considera mais relevantes para o sucesso das
empresas:
( ) Ser instituição líder no setor
( ) Ser muito admirada por empresários conhecidos
( ) Deixar sua marca no mercado e no mundo
( ) Ter várias gerações de altos executivos
( ) Passar por ciclos de vida de vários produtos e serviços
11 – Você se sente mais empreendedor ou empresário hoje?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
12 – Como você concluiria sua experiência empreendedora?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_______________________________
cargo: _________________________
APÊNDICE D – PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO E PROFISSIONALISMO
NA EMPRESA
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
173
OBJETIVO: Analisar como o Planejamento sucessório e a profissionalização, são
tratados pela empresa, através do uso entrevistas e questionários, descrevendo
assim, sua capitalização, liquidez, missão, valores e a ética, presentes na empresa.
Detectar também, os obstáculos que interferem no processo de profissionalização,
da transferência de poder da primeira para a segunda geração, bem como a
capacidade gerencial dos sucessores, e que por sua vez comprometem a
continuidade da empresa.
Questionamentos a serem respondidos pelos fundadores, sucessores e
profissionais externos das empresas.
VINCULADO À:
3º objetivo específico: descrever como é pensado pelos sujeitos sociais
envolvidos, o processo de transferência de poder da primeira para a segunda
geração;
4º objetivo específico: identificar quais são os obstáculos que interferem no
desenvolvimento do processo de profissionalização das empresas.
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
CAMPUS PONTA GROSSA
PPGEP –
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
A formação de acionistas e sistemas de gestão, específicos para
sociedades familiares em especial de pequeno e médio porte, são muito
recentes. A governança corporativa ou profissionalização, vem a ser um
conjunto de práticas que disciplinam o processo de tomada de decisão e
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
174
acompanhamento da gestão dos negócios, oferecendo instrumentos
capazes de mitigar os problemas da empresa. E assim, abrindo espaços
para a efetiva profissionalização e perpetuação da empresa familiar e seus
distintos componentes. (Bernhoeft, Gallo, 2003, p. 34)
Etapa 1 – Governança e gestão corporativa na empresa familiar
1 – A direção da empresa (e demais níveis gerenciais) elabora planos de negócio antecipados
para auxiliar na tomada de decisão e definição das metas?
( )Sim ( )Não Comentários:______________
2 - Contam com a ajuda de algum profissional externo da área de administração?
( )Sim ( )Não Comentários:______________
3 – Descreva o seu entendimento sobre governança e como profissionalizar a família, a
sociedade e a gestão da empresa?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4 – Transparência, avaliação de desempenho das pessoas, comprometimento com os riscos,
estratégias de atuação (...) são alguns dos indicadores da governança. Considerando a empresa
familiar, relaciona mais alguns fatores que você considera importante, justificando.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
5 – A empresa possui algum conselheiro (consultor externo) para auxiliar na administração?
Qual contribuição você acha que ele daria aos negócios da empresa?
( )Sim ( )Não Comentários:______________
Etapa 2 – Capitalização e liquidez da empresa visando sua continuidade
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
175
Das sugestões abaixo, analise as que você considera mais importantes para manter a
liquidez e saúde financeira da empresa:
Alternativas Muito
importante
Importante Média
importânci
a
Pouco
importante
Sem
importânci
a
Realizar reuniões regulares
com familiares para criar
consciência sobre o assunto.
4.1
Estruturar e estimular a
criação de fontes
alternativas para a liquidez
dos sócios e familiares.
Manter sistemas de
informações compreensíveis
sobre a situação da empresa.
Passar instruções educativas
para os amais jovens sobre
como lidar com o dinheiro.
Administrar
preventivamente questões
relativas à segurança
patrimonial e pessoal dos
sócios e familiares.
Etapa 3 – Os valores da empresa
Alguns indicadores podem auxiliar os membros da empresa familiar
em suas condutas, como compromissos que possuem dentro do grupo;
divergências e conflitos; qual o limite entre o que é coletivo e o que é
individual; a relação com a riqueza, imagem, sucesso e insucesso;
responsabilidade social com os diferentes públicos da empresa
(externo, clientes, fornecedores, funcionários, governo, investidores,
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
176
entre outros); utilização da empresa e sua imagem. Estes indicadores
também contribuem para estabelecer o conjunto de valores da
empresa, ou seja, a razão dela existir e ser perpetuada. (Bernhoeft,
Gallo, 2003, pg. 30)
1 – Quais são alguns dos valores principais da empresa que devem ser mantidos e cultivados?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
2 – Por que perpetuar a empresa?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3 – Como conciliar sucesso e crescimento coletivo com realização individual?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4 – Como compatibilizar valores na relação trabalho, capital e família?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Etapa 4 – Valores éticos da empresa
1 – Qual é seu compromisso com a continuidade da empresa?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
2 – Quais são as suas prioridades de interesse da empresa e de sua vida pessoal? Qual é mais
importante pra você?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
177
3 – Como é a harmonia e a união da família? E da empresa?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4 – É mantida até hoje uma conduta de austeridade na família e na empresa?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
5 – São identificados e reforçados os valores éticos da família e da empresa?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
6 – Qual o compromisso da empresa com a formação dos familiares (herdeiros e sucessores) e
dos demais funcionários visando sua profissionalização?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
7 – Existe uma preocupação em manter um clima de respeito e orgulho pessoal e profissional,
bem como a manutenção de atitudes contra preconceito, tanto empresarial como familiar?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
8 – Existe uma conduta ética com relação ao uso dos bens patrimoniais da empresa por parte
dos membros da família (que trabalham ou não na empresa), bem como valores financeiros?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Etapa 5 – A importância da “missão” na empresa
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
178
Deve ser um exercício intelectual, um conjunto de boas intenções e
fazer parte da filosofia de vida da empresa. Deve servir como um
parâmetro para processos de tomada de decisões, tanto do lado do
capital como na gestão dos negócios. Algumas questões devem servir
como guia para este trabalho. (Bernhoeft, Gallo, 2003, p. 35)
1 – Qual é a missão da empresa?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
2 - O que a família e o mercado (clientes e economia local) perderiam se a empresa deixasse
de existir?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3 – As pessoas (familiares ou não) estão seguros da importância de estabelecer uma missão
para a empresa?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4 – A missão da empresa é de longo prazo? Preserva o essencial, ou seja, aquilo que não deve
mudar?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
5 – Ela flexibiliza os processos de mudanças necessárias (investimentos, autonomia
operacional e estratégica)? Facilita a tomada de decisão de risco?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_______________________________
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
179
cargo: _________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
APÊNDICE E – O PROCESSO DE SUCESSÃO DA EMPRESA
OBJETIVO: Identificar como a família pensa o processo de transferência de poder
da primeira para a segunda geração e como tal dinâmica interfere na continuidade
da empresa. Identificar os estilos de relações entre os membros da família e os
possíveis focos de conflitos entre seus atores, através da aplicação dos
questionários e das entrevistas.
Questionamentos a serem respondidos pelos fundadores, sucessores,
profissionais externos, e demais membros da família.
VINCULADO À:
3º objetivo específico: descrever como é pensado pelos sujeitos sociais
envolvidos, o processo de transferência de poder da primeira para a segunda
geração;
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
180
4º objetivo específico: identificar quais são os obstáculos que interferem no
desenvolvimento do processo de profissionalização das empresas;
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
CAMPUS PONTA GROSSA
PPGEP –
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
É da maior importância compreender que a sucessão e o processo de
profissionalização das empresas familiares devem ser trabalhados e
desenvolvidos para sua continuidade. Algumas questões importantes
precisam ser respondidas, no que se refere a sucessão, antes que alguma
alteração ocorra . (Bernhoeft, 2003, p. 31)
1 - As questões a seguir, devem ser respondidas como forma de reflexão pelo fundador da
empresa, pela família e pelos herdeiros (sucessores ou não), através do envolvimento de todos
os atores envolvidos, servindo como um ponto de partida para o diálogo no âmbito da família
e dos futuros gestores, quanto ao processo de sucessão da empresa:
A SEREM RESPONDIDAS PELO FUNDADOR:
Questões
Sim
Não
Nunca pensei
nisso
Tenho consciência de que a obra que realizei deve
prosseguir independente da minha presença?
Tenho consciência de todo legado (material, ético,
moral e de valores) que deixo para meus herdeiros?
Considero que minha obra (empresa) se tornou maior
do que eu mesmo?
Caso a resposta seja positiva, o que estou fazendo
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
181
para que ela não desapareça?
Estou realizando esforços concretos no sentido de me
afastar das atividades da empresa sem comprometê-
la?
Já encontrei um projeto de vida para preencher meu
tempo e auto-estima na medida em que deixo a
empresa?
Estou tranqüilo em relação às garantias financeiras
para o meu futuro pessoal?
Preparei meus herdeiros para que o controle dos
negócios continue sob o comando da família?
Preparei e informei meus herdeiros sobre as
providências legais e tributárias que tomei em
relação às questões da herança?
Compartilhei todos esses pontos com minha esposa
(ou esposo)?
Consigo estabelecer uma separação entre questões da
família, propriedade e empresa?
Estimulei meus herdeiros a fixarem um modelo e um
acordo societário? Facilitei-lhes isso?
Tenho consciência da perpetuação da sociedade
através dos meus herdeiros e realizo esforços no
sentido de viabilizá-las?
A SEREM RESPONDIDAS PELA FAMÍLIA (esposa e demais familiares que
trabalham na empresa):
Questões
Sim
Não
Nunca
pensei
nisso
Todos os membros da família têm consciência de que
aquilo que vão efetivamente herdar é uma empresa,
cujos sócios e funcionários não foram escolhidos por
eles?
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
182
Existe consciência de que não haverá possibilidade de
que todos dependam profissionalmente e
financeiramente da empresa e ações efetivas nesse
sentido?
Existe clareza quanto à pulverização do controle
acionário da sociedade?
A estrutura familiar consegue lidar com seus
conflitos? Eles são “abafados” ou claramente
tratados?
A ausência do fundador e de sua esposa poderá tornar-
se um problema?
Os “agregados” da família (genros e noras) têm
participação ativa nas opiniões? São ouvidos? São
respeitados?
Existem “valores familiares” que devem ser
preservados?
A SEREM RESPONDIDAS PELOS HERDEIROS/SUCESSORES:
Questões
Sim
Não
Nunca
pensei
nisso
Temos consciência de que vamos ser sócios?
Estamos dispostos a investir tempo e habilidades para
buscar conhecimento e compreensão para este novo
relacionamento?
Existe a possibilidade de escolhermos, entre nós,
lideranças para atuarem na empresa e na sociedade?
Temos clareza sobre a necessidade de separar “os três
chapéus” (família, sociedade e gestão)?
Estamos preparados para uma realização
pessoal/profissional e financeira sem depender
exclusivamente dos negócios?
Existem conflitos na nossa relação de irmãos,
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
183
cunhados ou noras, que possam dificultar o consenso
nas decisões?
Estamos conscientes dos valores que nossos pais nos
transmitiram?
Estamos dispostos a preservá-los?
Existe entre os herdeiros pessoas que não tem nenhum
interesse em manter os negócios?
Alguém já manifestou o desejo de sair da sociedade
ou vender sua parte?
Se hoje eu fosse iniciar uma sociedade, será que
escolheria meus irmãos (ou demais parentes) como
meus sócios?
Tenho meus projetos pessoais e profissionais
separados da empresa?
Consigo aceitar a existência de lideranças com
características diferentes na família, na sociedade e na
empresa?
Consigo compreender e aceitar que na qualidade de
herdeiro vou ser um sócio, e como tal tenho três
possíveis alternativas de realização pessoal:
sócio/acionista; sócio/conselheiro; sócio/gestor?
2 - As questões a seguir, devem ser respondidas pelo fundador, esposa, herdeiro/sucessor e
profissional externo, com o intuito de avaliar a percepção dos diferentes atores envolvidos no
sucesso (ou fracasso) da sucessão familiar:
QUAIS AS DIFICULDADES QUE PODEM OCORRER NO
RELACIONAMENTO EMPRESA E FAMÍLIA QUE INTERFEREM NA GESTÃO
PROFISSIONAL DA EMPRESA?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
QUAL É O PAPEL DA MULHER NA SUCESSÃO?
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
184
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
NA SUA OPINIÃO, QUAL É O PERFIL (QUALIDADES) QUE UM(A)
SUCESSOR(A) PRECISA TER?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
O QUE VOCÊ ENTENDE POR SUCESSÃO FAMILIAR?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
QUAL A IMPORTÂNCIA DE SE PLANEJAR A SUCESSÃO NA EMPRESA
FAMILIAR?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
O QUE VOCÊ SUGERE PARA QUE A SUCESSÃO NA EMPRESA FAMILIAR
TENHA SUCESSO?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3 – Como você caracterizaria a empresa dentro das sistemáticas levantadas por especialistas
na área (assinale apenas uma das alternativas):
Segundo Donneley (1987), existem grandes vertentes de empresas familiares. Assinale a
alternativa que considerar relevante para esta empresa:
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
185
Empresa individual: nesta categoria estão as empresas
formadas por um indivíduo que inicia um pequeno negócio.
Empresa artesanal: são todas que exploram um pequeno
patrimônio agrícola ou um negócio artesanal transmitido de pai
para filho.
Empresa de capital familiar: quando uma parte importante do
capital está nas mãos da família, mas a direção está entregue
nas mãos de gestores com base na sua competência técnica.
Empresa familiar: é aquela em que o controle está nas mãos
de uma família.
Segundo Bernhoeft (1996) existem três tipos de empresas familiares. Assinale a
alternativa que considerar relevante para esta empresa:
Tradicional: onde o capital é fechado e existe pouca
transparência administrativa e financeira e a família exerce um
domínio completo sobre os negócios.
Híbrida: onde o capital é aberto, mas com a família
controlando, havendo mais transparência administrativa por
profissionais não-familiares.
Influência familiar: nas quais as ações encontram-se em
poder do mercado, mas a família ainda mantém influência,
mesmo estando afastada, através da participação acionária
significativa.
Segundo Davis; Hampton e Lansberg (1997) existem três tipos básicos de
empresas familiares. Assinale a alternativa que considerar relevante para esta
empresa:
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
186
Empresa de primeira geração: dirigida pelo fundador, sendo
de propriedade de um só empreendedor. Permanece com o
domínio individual de um só fundador, não empregando
parentes, nem os tendo como acionistas.
Empresa estabelecida entre sociedade de irmãos: que
passa por estágios de crescimento e mudanças rápidas.
Empresa à beira da transição: controlada por uma família e
administrada por membros que não são da família.
_______________________________
cargo: _________________________
PPGEP – Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção (2005)
187
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