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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARA
PR
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
CAMPUS PONTA GROSSA
DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE
PRODUÇÃO
PPGEP
JOSÉ VERISSIMO FOGGIATTO SILVEIRA
ESTRATÉGIAS DE SEGMENTAÇÃO DE MERCADO NO
AGRONEGÓCIO: o caso da inserção da soja transgênica
no estado do Paraná
PONTA GROSSA – PR
Dez - 2005
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José Verissimo Foggiatto Silveira
ESTRATÉGIAS DE SEGMENTAÇÃO DE MERCADO NO
AGRONEGÓCIO: o caso da inserção da soja transgênica
no estado do Paraná
Dissertação apresentada como requisito parcial
à obtenção do título de Mestre em Engenharia
de Produção, do Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Produção, Linha de
Pesquisa Gestão da Produção e Manutenção,
Área de Concentração Desenvolvimento
Estratégico de Empresas, do Departamento de
Pesquisa e Pós-Graduação da UTFPR -
Campus Ponta Grossa.
Orientador: Prof
o
. Luis Maurício Martins
de Resende, Dr.
Ponta Grossa - PR
DEZ - 2005
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José Verissimo Foggiatto Silveira
ESTRATÉGIAS DE SEGMENTAÇÃO DE MERCADO NO
AGRONEGÓCIO: o caso da inserção da soja transgênica
no estado do Paraná
Dissertação submetida à banca examinadora como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção, Linha de
Pesquisa Gestão da Produção e Manutenção, Área de concentração
Desenvolvimento Estratégico de Empresas.
_______________________________________________
Coordenador do PPGTE - Prof
o
Dr. Kazuo Hatakeyama
Aprovada em: 03 / 11 / 2005
Banca Examinadora
______________________________________
Prof
o
. Dr. Cláudio Puríssimo
(CESCAGE - PR)
______________________________________
Prof
o
Dr. Ivo Mottin Demiate
(UEPG - PR)
______________________________________
Prof
o
Dr. Luis Maurício Martins de Resende
(Orientador – U.T.F.PR)
AGRADECIMENTOS
A minha família, principalmente a minha esposa Rosemari pelo apoio e
paciência ao meu trabalho.
Ao professor e orientador Dr. Luis Maurício Martins de Resende pelas
precisas e sábias intervenções nos trabalhos por mim apresentados.
A todos que diretamente e indiretamente colaboraram para a realização
dessa dissertação.
SUMÁRIO
RESUMO...................................................................................................................7
ABSTRACT..............................................................................................................8
LISTA DE TABELAS..............................................................................................9
LISTA DE QUADROS..........................................................................................10
LISTA DE FIGURAS.......................................................................................................11
1. INTRODUÇÃO..................................................................................................12
1.1 OBJETIVOS DA PESQUISA...............................................................................17
1.1.1 Objetivo Geral....................................................................................................17
1.1.2 Objetivos Específicos....................................................................................... 17
1.2.ESTRUTURA DO TRABALHO........................................................................... 18
2. O MERCADO DA SOJA.................................................................................20
2.1 O COMÉRCIO INTERNACIONAL........................................................................22
2.2 MERCADO DE EXPORTAÇÃO DA SOJA BRASILEIRA.....................................25
2.3 O MERCADO IMPORTADOR..............................................................................33
2.3.1 China.................................................................................................................33
2.3.2 Japão ................................................................................................................34
2.3.3 União Européia..................................................................................................35
2.4 SISTEMA DE FORMAÇÃO E INFORMAÇÃO DE PREÇOS DA SOJA...............36
3.
SEGMENTAÇÃO E CRIAÇÃO DE VALOR NO
AGRONEGÓCIO...................................................................................................38
3.1 A ESTRATÉGIA DE SEGMENTAÇÃO PARA MERCADOS COMPETITIVOS....38
3.2 O NOVO CONSUMIDOR DE ALIMENTO............................................................51
4. SISTEMAS DE AVALIAÇÃO DA CONFORMIDADE................................54
4.1 AVALIAÇÃO DA CONFORMIDADE....................................................................55
4.2 IDENTIFICAÇÃO DE ORIGEM............................................................................56
4.3 SISTEMAS DE PRESERVAÇÃO DA IDENTIDADE............................................57
4.4 RASTREABILIDADE............................................................................................58
5. A CONTROVÉRSIA DOS TRANSGÊNICOS................................................62
5.1 O PARADIGMA CIENTÍFICO.......................................................................................66
5.2 OS RUMOS DOS TRANSGÊNICOS...........................................................................71
5.3 BIOSSEGURANÇA..............................................................................................73
5.4 CUSTOS DA SOJA TRANSGÊNICA...................................................................77
6. METODOLOGIA...............................................................................................82
7. RESULTADOS E DISCUSSÕES.................................................................89
7.1 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS............................................................................89
7.1.1 Análise da Tecnologia.......................................................................................95
7.1.2 Análise sobre o Mercado..................................................................................96
7.1.3 Análise sobre o Meio Ambiente........................................................................98
7.2DETERMINAÇÃO DO CUSTO COMPARATIVO ENTRE A SOJA
CONVENCIONAL VERSUS TRANSGÊNICA...........................................................99
8. CONCLUSÕES...............................................................................................108
8.1LIMITAÇÕES DO ESTUDO E IMPLICAÇÕES PARA FUTURAS
PESQUISAS............................................................................................................114
REFERÊNCIAS...................................................................................................116
APÊNDICE A - Carta de apresentação aos entrevistados..................................124
APÊNDICE B - Termo de consentimento das entrevistas...................................126
APÊNDICE C - Protocolo de entrevista com a Secretaria da Agricultura do Estado
do Paraná.................................................................................................................128
APÊNDICE D - Protocolo de entrevista com a multinacional detentora do gene
rr...............................................................................................................................130
APÊNDICE E - Protocolo de entrevista com os gerentes agrícolas das
cooperativas agropecuárias da região dos Campos Gerais – PR...........................132
.
APÊNDICE F - Protocolo de entrevista com o pesquisador da fundação privada
de pesquisa agropecuária da cidade de Castro – PR..............................................134
APÊNDICE G - Protocolo de entrevista com o produtor rural de uma cooperativa
agropecuária da região de Castro – PR...................................................................136
APÊNDICE H - Planilha de custo de produção da soja convencional.................138
APÊNDICE I - Planilha de custo de produção da soja transgênica.....................140
RESUMO
Esse estudo mostra os principais argumentos de sete atores do agronegócio, em
relação à introdução da tecnologia agrícola “soja transgênica” no estado do Paraná.
O objetivo geral dessa pesquisa foi determinar os fatores comparativos de custos de
produção entre a soja convencional e a transgênica para subsidiar estratégias de
decisão de atores do agronegócio paranaense. Optou-se, por uma pesquisa
qualitativa de natureza exploratória e descritiva assumindo formas de estudo de caso
e de levantamento de dados respectivamente. A cnica de coleta de dados foi a
entrevista semi-estruturada individual, conduzida com sete atores do agronegócio:
um pesquisador de uma Fundação de pesquisa agropecuária, a multinacional
detentora da patente do gene RR que transmite resistência à soja transgênica RR ao
herbicida glifosato, dois gerentes agrícolas de duas cooperativas do Paraná, dois
representantes da Secretaria da Agricultura do Estado do Paraná e um
representante dos agricultores de uma cooperativa do estado do Paraná. Os
principais argumentos em relação à soja transgênica constatados na pesquisa
foram: a praticidade de uso, custo mais baixo dessa tecnologia, problemas com
resistências futuras de ervas daninhas, competitividade de mercado da soja
convencional e a questão ambiental. Dentre os argumentos foi selecionado o custo
de produção comparativo entre a soja transgênica e a soja convencional para a
realização da pesquisa. Em relação ao custo de produção comparativo entre a soja
transgênica e a soja convencional verificou-se que os argumentos que afirmam
sobre o menor custo com a introdução da soja transgênica o são corretos, pelo
menos em curto prazo. Constatou-se por esse estudo que existe uma praticidade na
tecnologia da soja transgênica RR, mas também existem argumentos e dados que
podem questionar o uso dessa tecnologia, tanto no aspecto econômico quanto
técnico. Mesmo com a redução significativa de custo pelo menor uso de herbicidas
na soja transgênica RR, esse fato é minimizado pelo maior preço atual cobrado pela
semente da variedade de soja transgênica RR, pela taxa tecnológica utilizada pela
multinacional detentora do gene RR e pela menor produtividade apresentada pelas
variedades de soja RR lançadas no mercado em relação às variedades de soja
convencionais.
Palavras Chave: Soja transgênica; Estratégias de mercado; Custos comparativos de
produção.
ABSTRACT
This study shows the main arguments from seven actors concerning the introduction
of the agricultural technology of “Transgenic Soybean” in Paraná state. The general
objective of this research was to determine the comparative factors of the production
costs between conventional and transgenic soybean, aiming to subsidize strategies
for decision making among the agribusiness actors in Paraná state. It was chosen a
qualitative research of exploratory and descriptive nature, in the format of a case
study and a survey respectively. The technique for collecting data was a semi-
structured individual interview, conducted along seven actors from the agribusiness
branch: a researcher from a farming and cattle raising foundation of research, the
multinational holder of the patented RR gene that transmit resistance to the RR
soybean to the herbicide glyphosate, two agricultural managers of two cooperative
companies in Paraná state, two representatives of the Agricultural Bureau of Paraná
State, and one representative of the farmers of an agricultural cooperative company
in Paraná state. The main arguments concerning the transgenic soybean confirmed
in the research were: the practicality of use, the lower costs of this technology,
problems with future resistances of harmful grass, market competitiveness of
conventional soybean and environmental matters. Among the arguments, it was
selected the comparative production cost between transgenic and conventional
soybean to carry out the research. Concerning the comparative production costs, it
was verified that the arguments that state lower costs with the introduction of the
transgenic soybean are not correct, at least in short term. This study confirmed that
there is practicality in the technology of the RR soybean, but there are also
arguments and data that may inquiry about the use of this technology, concerning the
economic and the technical aspect as well. Even with the significant reduction of
costs due to the lower use of herbicides in the RR soybean, this fact is minimized by
the higher price charged by the variety of RR transgenic seed, by the high
technological tax used by the multinational holder of the RR gene and by the lower
productivity presented by the varieties of RR soybean on the market in relation to the
varieties of conventional soybean.
Key words: Transgenic soybean; Market strategies; Comparative production costs
LISTA DE TABELAS
TABELA1 – Oferta e demanda mundial de oleaginosas............................................28
TABELA 2 – Exportações do complexo soja do Brasil por destino............................30
TABELA 3 Avaliação hipotética de competitividade em custos de
exportação...................................................................................................................32
TABELA 4 – Oferta e demanda de soja da China..................................................34
TABELA 5 Comparação de retorno entre a soja transgênica RR e a
convencional................................................................................................................79
TABELA 6 Diferenças de produtividade entre a soja convencional e a
transgênica..................................................................................................................80
TABELA 7 Perda em produtividade (%) das variedades de soja transgênicas em
relação às convencionais............................................................................................81
TABELA 8 Produtividade (Kg/ha) entre a soja convencional versus soja
transgênica RR em 21 locais do Paraná – safra 2002/2003.......................................99
TABELA 9 Herbicidas utilizados em pós-emergência na soja convencional e na
transgênica com as respectivas doses e preços.......................................................101
TABELA 10 Diferenças de custos de produção entre a soja transgênica e a soja
convencional em função das variáveis consideradas (R$/ha)..................................102
TABELA 11 Custos comparativos entre soja transgênica e soja convencional em
função da Inclusão ou não das variáveis do estudo (R$/ha)....................................104
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1Análise SWOT da cadeia produtiva brasileira de soja.....................40
QUADRO 2 Classificação toxicológica dos produtos fitossanitários
formulados...................................................................................................................76
QUADRO 3 Classificação dos produtos fitossanitários em função de suas
avaliações toxicológicas..............................................................................................77
QUADRO 4Fontes com os respectivos argumentos classificados.....................90
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Produção dos três maiores produtores mundiais de soja...................25
FIGURA 2 - Posição de mercado dos produtos agrícolas brasileiros.....................26
FIGURA 3 - Participação da agricultura no PIB brasileiro - % versus anos...........27
FIGURA 4 - Venda de máquinas e insumos agrícolas versus anos agrícolas........28
FIGURA 5 - Preços médios da soja versus anos agrícolas (R$ e US$ /
saco de 60 kg)..........................................................................................................29
1. INTRODUÇÃO
O crescimento da população principalmente nos centros urbanos, gera uma
necessidade crescente por alimentos, que são supridos por produtos básicos
provenientes da agricultura. Porém, além do aspecto quantitativo, surge também o
qualitativo, onde consumidores exigentes passam a valorizar características
diferenciadas de produtos, com preocupações extras como questões referentes à
preservação ambiental e qualidade de vida.
A soja, representante maior dessa necessidade, inseriu-se nesse contexto por
apresentar características peculiares de qualidade como: alto teor de proteína e
produção extensiva, tornando-se a principal fonte de proteína vegetal no mundo
passando a ser consumida em quase todos os países. Projeta-se uma demanda
crescente para essa oleaginosa, pois se trata de produto essencial na cadeia
alimentar mundial que gera diversos produtos derivados como: o óleo comestível, o
farelo de soja usado na alimentação humana e animal, e outros mais específicos,
com maior valor agregado.
As atuais exigências mundiais inseridas em contextos de segurança
alimentar, questões ambientais e legislações de propriedade intelectual, demandam
ações para organização da cadeia alimentar e o enfrentamento de políticas externas
que visam o protecionismo não tarifário e barreiras sanitárias.
O avanço da tecnologia na agricultura baseado em tecnologias de precisão,
como o GPS Global Positioning Satellite, o GIS Geographic Information System,
os avanços da biotecnologia e ainda, a crescente exigência dos consumidores por
produtos ambientalmente corretos, exige preparo dos atores envolvidos na cadeia
produtiva para a tomada correta de decisões. As empresas agroindustriais são
afetadas ainda diretamente pelas relações de países com o mercado principalmente
nas ações que visam a manutenção e presença nos negócios globais.
O sistema de globalização da economia e a formação de blocos econômicos
nesse mercado globalizado promovem uma integração e aumento significativo dos
negócios criando-se uma demanda por criatividade nesse cenário competitivo,
levando à inovação e a oferta de produtos diferenciados. Produzir num ambiente
competitivo requer custos adequados e diversificação de produtos possibilitando
melhores preços.
Para mercados amplos como a produção de commodities, a utilização de
estratégias de custos baixos não se ajusta mais. Agora, são necessárias estratégias
de diversificação de produtos orientados para nichos de mercado. Essa estratégia
será mais eficaz quando for focada para clientes especiais segmentados por
necessidades e geograficamente incluídos.
A criação de uma vantagem competitiva através da diferenciação de produto,
pode ser uma estratégia eficaz na defesa da posição de mercado e retornos
financeiros maiores, pois produtos específicos podem ter melhores preços. No
entanto, a escolha desse tipo de estratégia envolve riscos e a opção por um
determinado tipo de vantagem pode não trazer os resultados esperados.
As exigências de conformidade dos alimentos nas regras comerciais
internacionais aliadas a transformações nos padrões de consumo e hábitos
alimentares com valorização crescente por aspectos qualitativos, assim com também
questões relativas à preservação do meio ambiente, obrigam um novo ritmo e
organização do agronegócio.
Da mesma forma, com o problema ocorrido na Europa ocasionado pela
doença denominada de vaca louca (Bovine Spongiform Encephalopathy BSE)
acarretou questionamentos em relação à segurança dos alimentos. Esse fato
fortaleceu uma posição contrária também aos organismos geneticamente
modificados (OGMs), inserindo-se a soja transgênica RR, que difere da
convencional por possuir resistência ao herbicida de ação total denominado de
glifosato. Isso facilitou o controle das ervas daninhas e seu uso se generalizou em
algumas regiões, surgindo ao mesmo tempo, reações com críticas à segurança
dessa nova tecnologia.
No Brasil, o estado que efetivamente iniciou o plantio da soja transgênica em
grande escala foi o Rio Grande do Sul, pela proximidade com a Argentina onde o
plantio da soja transgênica é liberado. Com a introdução de variedades clandestinas
da Argentina para o Rio Grande do Sul ocorreu um plantio generalizado nesse
estado. Mesmo sendo proibido o uso da soja transgênica no Brasil, o governo
brasileiro para evitar prejuízos a esses produtores e ao país, emitiu a medida
provisória n
o
113 de 26 de março de 2003, liberando a comercialização de soja
transgênica até janeiro de 2004. Da mesma forma, o governo emitiu uma nova
medida provisória para o plantio da safra 2004/2005. A principal alegação do uso da
soja transgênica, pelos produtores do Rio Grande do Sul, é a diminuição de custo
pelo menor número de pulverizações e produtos para combater ervas daninhas.
Por outro lado, o Governo do estado do Paraná, sustenta uma posição
contrária à introdução da soja transgênica, se esforçando pela não utilização dessa
tecnologia pelo setor produtivo, vislumbrando um mercado cativo futuro. O Paraná
aprovou uma Lei estadual em 2003 para prevenir a entrada, comercialização e
produção de soja transgênica. Mesmo com a suspensão dessa Lei pelo Supremo
Tribunal Federal, o Paraná adota uma postura contrária à introdução da soja
transgênica com argumentos de transformar o estado do Paraná em área livre de
transgênicosatendendo um mercado externo que, por hipótese, pagará um prêmio
adicional.
Nesse contexto controverso, do uso ou não da soja transgênica é
oportuna a investigação das estratégias e evidências apresentadas por atores
do agronegócio brasileiro em relação à tecnologia transgênica.
Muito se afirma da redução de custos com a introdução da soja
transgênica e também de vantagens competitivas com a permanência do
cultivo da soja convencional, mas as evidências até aqui demonstradas são
praticamente por hipóteses. Sabe-se que existem muitas variáveis regionais e
de cunho técnico que interferem nos resultados e que não estão sendo
levadas em conta nas argumentações, quando se defende ou se critica a
tecnologia soja transgênica. As conclusões precipitadas, principalmente pelos
formadores de opinião, leva a deturpação das informações gerando
insegurança dos possíveis usuários. Argumentos com objetivos de justificar
ou refutar a soja transgênica têm ocorrido num campo teórico sem evidências
consistentes para tomadas de decisão. Uma análise estruturada de
argumentos discursivos entre várias pessoas, com convicções diferentes ou
não, permite justificar ou refutar opiniões através da constatação dos fatos,
que devem estar apoiados em dados para legitimar proposições. Essa
premissa pode ser chamada de garantia, e é essencial para validar
argumentos.
Portanto, a questão é: como decidir por uma tecnologia, quando ocorrem
incertezas relacionadas ao seu custo comparativo? A adesão por uma
determinada tecnologia pelos produtores agrícolas é influenciada diretamente
pelo custo e pela praticidade de uso. Da mesma forma, para os decisores
gerenciais, conhecer as diferenças de custos entre produtos originados por
tecnologias diferenciadas permite definir estratégias e políticas de produção,
logística de armazenamento e transporte.
Dessa forma, para o levantamento dos principais argumentos frente à
soja transgênica, esse trabalho selecionou intencionalmente atores do
agronegócio que estão efetivamente inseridos na cadeia produtiva, gerando
dessa forma um leque quantitativamente representativo de respostas. Em
princípio foram selecionados dois atores que apresentam posições contrárias
de mercado, a multinacional detentora do gene que na soja RR expressa
resistência ao herbicida de ação total denominado de glifosato, que tenta
introduzir essa tecnologia no Brasil de uma forma abrangente, e o estado do
Paraná, que tenta imprimir uma vantagem competitiva de mercado ao persistir
na manutenção da sua produção interna de soja com tecnologia convencional,
visando tradicionais compradores externos dessa commodity.
Para aumentar o espectro de argumentos frente à soja transgênica foram
realizadas também entrevistas com dois gerentes agrícolas de cooperativas
paranaenses, um pesquisador da área de herbologia de uma Fundação de pesquisa
da região de Castro – PR, e um produtor que utiliza a soja transgênica.
O foco desse trabalho então, foi orientado para os seguintes critérios: nas
diferenças dos preços de venda dos dois tipos de soja, convencional versus
transgênica, as possíveis diferenças de produtividade e também nos custos de
produção das lavouras, incluindo segregação e certificação. O estudo se restringiu
ao caso da inserção da tecnologia transgênica no estado do Paraná pormenorizando
duas cooperativas da região dos Campos Gerais no Centro Oriental desse estado.
1.1 Objetivos da Pesquisa
1.1.1 Objetivo Geral
Determinar os fatores comparativos de custo e produção entre a soja
convencional e a transgênica para subsidiar estratégias de decisão de atores do
agronegócio paranaense.
1.1.2 Objetivos específicos
a) Verificar, com a multinacional, geradora da soja transgênica RR, qual sua
estratégia e argumentos para introduzir essa tecnologia no Brasil.
b) Identificar junto a Secretaria da Agricultura do estado do Paraná quais as
justificativas para a produção exclusiva de soja convencional, no estado.
c) Buscar opiniões sobre a tecnologia “soja transgênica” no setor produtivo e
de pesquisa do estado do Paraná.
d) Obter junto a cooperativas da região dos Campos Gerais, as estratégias
de segregação interna frente à introdução da soja transgênica com os
respectivos dados de custos.
e) Compor os custos comparativos de produção entre a soja convencional e
a transgênica em função das variáveis doses de herbicidas, segregação
interna, produtividade e preços de mercado.
f) Estimar o sobre-preço que a soja convencional deve receber para justificar
a sua certificação e manutenção da sua produção.
1. 2 Estrutura do trabalho
Na revisão de literatura, capítulo 2, buscou-se a fundamentação teórica do
problema proposto, o que exigiu aprofundamento sobre o mercado da soja e
estratégias para atender a demanda por essa commodity. Procurou-se também
mostrar outras necessidades para segmentação de mercado atendendo a clientes
exigentes por qualidade. Questões como segurança alimentar são salientadas nesse
capítulo evidenciando ser uma preocupação atual nas relações de comércio
internacional. Essa necessidade por qualidade de alimentos denota um novo
consumidor, que considera agora questões de segurança alimentar, certificação de
produtos e boas práticas durante o processo de produção, temas discutidos no
capítulo 3.
Como um dos objetivos do trabalho foi identificar a justificativa da produção
exclusiva da soja convencional pelo estado do Paraná, achou-se oportuno o
esclarecimento de temas relacionados como: sistemas de conformidade de
produtos, identificação de origem e rastreabilidade. Da mesma forma, é referenciado
ao longo do capítulo 2, o sistema de formação de preços da soja para tornar claro as
diversas fontes que podem influenciar nos resultados do agronegócio.
Por fim, no capítulo 5, são apresentadas as controvérsias atuais sobre a soja
transgênica, mostrando que toda tecnologia de impacto passa por fases
paradigmáticas a um equilíbrio de opiniões. A que isso ocorra, esse trabalho
pretende mostrar que alguns componentes dos objetivos do estudo podem
influenciar as possíveis adesões ou rejeições.
Com a visão de diversos autores sobre as questões que envolvem o foco do
estudo, constitui-se uma fundamentação teórica para dar suporte a execução das
respostas aos objetivos propostos.
A preocupação maior desse estudo foi discutir argumentos vigentes. Isso
levou a optar por uma abordagem qualitativa, visando mostrar a realidade subjetiva
em seu ambiente natural.
Os sete atores do agronegócio escolhidos que colaboraram diretamente na
geração de evidências frente à soja transgênica foram: o gerente de Biotecnologia
em culturas RR no Brasil da multinacional que originou a soja transgênica, os dois
Chefes dos departamentos de Defesa Sanitária Vegetal (DSV) e Fiscalização de
Comércio de Agrotóxicos da Secretaria da Agricultura do Estado do Paraná, um
pesquisador da área de herbologia de uma Fundação privada de pesquisa
agropecuária localizada em Castro PR, dois gerentes de duas cooperativas
agrícolas da região dos Campos Gerais do PR e um representante dos produtores
agrícolas, que adota a soja transgênica, de uma cooperativa da região de Castro -
PR.
Como técnica de coleta de dados adotou-se a entrevista semi-estruturada, a
partir da qual foi realizada a análise dos dados e argumentos, descritos no capítulo 7
desse trabalho.
Para complementação desse estudo, realizou-se o levantamento de custos da
soja transgênica e da soja convencional, tomando-se como base uma planilha de
custos de uma Fundação privada de pesquisa agropecuária inserida no nosso
estudo e de dados de tecnologia adotada por produtores de uma cooperativa
agropecuária da região de Castro – PR.
No capítulo 8, deste estudo, são feitas as considerações finais, apontando as
implicações e as suas limitações.
2. O MERCADO DA SOJA
Pela característica de qualidade apresentada, a soja tornou-se uma
importante fonte de alimento do mundo. Por possuir alto teor de proteína, atualmente
se destaca como importante componente alimentar destinado para humanos e
animais. Com o crescimento inexorável da população mundial e da urbanização
criou-se uma demanda crescente por alimentos. Conforme o IFPRI Internacional
Food Policy Research Institute EUA, o consumo de cereais pode aumentar em
35% no período de 1997 a 2020. Para a soja é projetado um aumento na demanda
de 55% ou 227 milhões de toneladas (PANDIA - LORCH, 2002).
Conforme Ries e Antunes (2000) o mercado da soja possui característica de
commodity, enquadrando-se nos seguintes aspectos:
- produto negociado em grandes quantidades com pouco valor agregado;
- possui unidades homogêneas para poder ser intercambiável com todas as
outras;
- a padronização e classificação devem ser rápidas para apurar diferenças
na qualidade e nos níveis de preços;
- possui fluxo natural para o mercado (não tem restrições governamentais
nem sofre com acordos mercadológicos);
- contem incerteza da oferta e da demanda provocando oscilação no preço,
ocasionando competitividade;
- tem perecibilidade limitada sendo passível de armazenagem, sem
deterioração por longos períodos.
Para Giordano (1999), o produto soja é destinado para os seguintes
mercados:
a) Commodities para o mercado externo: produto comercializado em
grandes volumes no mercado internacional, destacando-se o farelo
de soja, a soja em grãos e o óleo bruto e refinado.
b) Commodities para o mercado interno: soja em grãos, farelo
direcionado para a indústria de rações e o óleo refinado e bruto.
c) Produtos de maior valor agregado para o mercado interno: produtos
mais elaborados oriundos do óleo, como por exemplo, a margarina,
cremes vegetais, maioneses, molhos prontos para saladas, etc.
d) Outros produtos: com menor dimensão e/ou ainda pouco definidos,
como por exemplo: a lecitina, molhos de soja, bebidas, farinha de
soja, óleo para fins energéticos e produtos farmacêuticos como as
isoflavonas.
Dentre os fatores acirrados de competição nos negócios da soja, pode-se
citar:
- Produtividade: possuir um bom padrão tecnológico permite obter altas
produtividades e ser competitivo no mercado.
- Custo: o custo de produção deve ser racionalizado em toda a cadeia
produtiva. O alto custo do frete devido às condições ruins de rodovias,
operações portuárias e infra-estrutura de armazéns pode anular a
vantagem relativa de menor custo em nível de fazenda (GIORDANO,
1999).
- Áreas agricultáveis: a disponibilidade de grandes áreas agricultáveis
indica a possibilidade de expansão e investimentos no setor.
- Barreiras não tarifárias: são obstáculos impostos por outros países
concorrentes visando dificultar a entrada de produtos que irão concorrer
internamente com produtos similares, e que dispensam o uso de
mecanismos tarifários (FUNCEX, 2003).
- Subsídios: tanto a Europa quanto os Estados Unidos protegem seus
produtores através de pesados subsídios, dificultando a entrada de
produtos agrícolas brasileiros.
- Taxas de juros e Câmbio: a flutuação no valor da moeda pode facilitar
ou dificultar as exportações e importações.
- Aspectos climáticos: dependendo do comportamento do clima no país
pode favorecer ou deprimir a produção interferindo nos preços
internacionais.
2.1 O comércio internacional
O fluxo do comércio global é sustentado em grande parte pela tríade América
do Norte, União Européia e o Japão. Mais recentemente a China e a Coréia do Sul
aumentaram substancialmente suas exportações demonstrando um grande potencial
para o futuro. Além das transações de produtos, o setor de comércio de serviços tem
aumentado em função da globalização da economia. Outras regiões, que incluem
países chamados de emergentes, participam nas negociações globais com menor
desenvoltura. Dentre esses países, o Brasil é um exemplo com projeções de
crescimento em torno de 4 a 6% ao ano.
As relações comerciais entre esses países, quase que na sua totalidade,
acontecem por acordos de cooperação com diferentes graus de integração
econômica. Atualmente a Organização Mundial do Comércio (OMC) serve de fórum
para negociações comerciais. Uma das principais funções é mediar interesses no
comércio global e também assuntos restritivos periféricos como medidas não
tarifárias que distorcem o comércio, políticas de comércio agrícola, propriedade
intelectual e restrições ao investimento estrangeiro.
Com o objetivo de diminuir barreiras ao comércio, países geografica e
politicamente próximos com regiões comerciais afins, organizam-se cada vez mais
em forma de blocos econômicos. São exemplos de blocos de mercados regionais, o
Nafta, Mercosul, União Européia e mais recentemente a tentativa da constituição da
Alca (KEEGAN e GREEN, 1999).
Nas recentes negociações na OMC, a União Européia e os EUA têm
levantado temas relacionados com meio ambiente e a produção agrícola dos países.
Nesses questionamentos encontram-se interesses comerciais onde de forma indireta
são inseridas barreiras não tarifárias, interferindo principalmente nas exportações
dos países em desenvolvimento. Surgem também outras questões polêmicas como
preocupações sociais, boas práticas, exploração de o de obra infantil e produção
ambientalmente correta. De fato, a sociedade está conscientizada para conviver com
uma política agro-ambiental correta. Com isso, planejamentos estatais e privados de
políticas agrícolas devem conter estratégias que atendam essa nova preocupação
ambiental para favorecer as transações comerciais (GONÇALVES, 2002).
Outras questões sanitárias e fitossanitárias começam a transpor o ambiente
diplomático indo para o cnico e científico. O comércio internacional passa por uma
fase onde emergem posições protecionistas com alegações sanitárias cnicas e
ambientais constituindo-se em barreiras comerciais.
Da mesma forma, questões com restrições aos transgênicos, fitossanitárias e
qualitativas demonstram a necessidade de uma rápida organização das cadeias
produtivas no Brasil. Portanto, o mercado global de alimentos se tornará cada vez
mais diversificado e rigoroso quanto à qualidade. Dessa forma, surge uma nova
necessidade para estar competitivo e romper barreiras.
Nesse contexto, Borrás e Toledo (2003) afirmam que, na atual necessidade
dos consumidores por diversidade e qualidade deve-se ter um controle total das
operações em torno do mercado que assegurem a qualidade total dos produtos.
Essa coordenação da cadeia produtiva realizada por um agente garante o controle
de todas as informações durante o processo. Esse agente coordenador pode ser um
representante da cadeia produtiva privada ou uma instituição governamental. A
escolha correta dependerá da especificidade da situação. As características de
qualidade do produto final devem ser alcançadas por todos os constituintes da
cadeia produtiva proporcionando dessa forma garantias efetivas de satisfação dos
consumidores.
A qualidade final de produtos, exigida por consumidores e integrantes da
cadeia de alimentos, condiciona o uso de um sistema de controle absoluto durante o
processo produtivo. Dessa forma, a introdução da avaliação voluntária da
conformidade, através de um sistema de produção integrado, que atenda os
requisitos de qualidade é condição emergente básica frente ao cenário competitivo
que se apresenta.
Nesse sentido, essas preocupações se converteram na formação de um
código internacional de alimentos, o Codex Alimentarius, que tenta harmonizar as
normas internacionais visando à proteção dos consumidores.
2.2 Mercado de exportação da soja brasileira
O Brasil apresenta-se como o segundo maior produtor mundial de soja,
conseguindo uma evolução da sua produção nos últimos anos. Pode-se
verificar essa evolução a partir da Figura 1.
72,22
75,06
78,67
74,29
65,79
49,92
52,5
43,5
34,2
39,0
21,2
27,8
30,0
35,5
32,5
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
1999/2000 2000/01 2001/02 2002/03 2003/04
mil Ton
EUA Brasil Argentina
Figura 1: Produção dos três maiores produtores mundiais de soja – em mil
toneladas. Fonte: Safras e Mercados (2005)
Em relação à evolução da tecnologia de produção brasileira de soja,
deve-se mencionar o bom trabalho desenvolvido pela Embrapa - Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária e também os investimentos privados
através das Fundações de pesquisa, Universidades e outras instituições
públicas. Essa posição é evidente pelo crescente interesse de outros países
por parcerias na área tecnológica com o Brasil, devido ao bom desempenho de
sua agricultura no cenário mundial.
O agronegócio brasileiro constitui-se, portanto, num importante gerador
de exportações e promotor de aquecimento da economia interna. Nesse
particular a exportação de grãos foi capaz de realizar saldos comerciais
expressivos. A soja é inegavelmente um produto de destaque, pois gera
diversos produtos derivados como o óleo comestível de boa qualidade e preço
acessível, farelo de soja usado na alimentação humana e animal e outros mais
específicos e com maior valor agregado. Na Figura 2 é demonstrada a posição
da soja em relação a outros produtos agrícolas de exportação brasileiros.
Figura 2: Posição de mercado dos produtos agrícolas brasileiros. Fonte: Ipea
(2005)
Dessa forma, o aumento do saldo comercial do Brasil, depende de
esforços para expansão da sua exportação.
Na Figura 3 é mostrada a evolução da participação da agricultura no PIB do
agronegócio brasileiro. Observa-se através dessa figura que, a partir do ano de 2000
ocorreu uma retomada de crescimento da agricultura indicando uma alavancagem
do PIB e conseqüentemente permitindo uma sustentação da economia interna.
21,96
21,45
20,71
20,09
19,89
19,76
18,55
18,66
20,25
21,85
16
17
18
19
20
21
22
23
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
%
Figura 3: Participação da agricultura no PIB brasileiro. Fonte: Ipea (2005)
Com a estagnação da economia nos últimos anos, o agronegócio torna-
se efetivamente um fator que auxilia na sustentação de um comportamento
mínimo necessário para a economia de um país como o Brasil, classificado
como em desenvolvimento. O bom desempenho da agricultura reflete-se nos
bons preços das commodities, principalmente a soja, a qual é comercializada
em maior volume. Esse bom desempenho reflete em vários setores da
economia, como demonstrado na Figura 4.
Evidenciando esse cenário, o IPEA (2005) esclarece que o agronegócio é
responsável pelo emprego de 17,4 milhões de pessoas correspondendo a 24,2
% da população economicamente ativa (PEA), significativamente maior que a
construção civil, a qual emprega 7% da PEA.
Figura 4 - Venda de máquinas e insumos agrícolas versus anos agrícolas.
Fonte: Ipea (2005)
Nas safras brasileiras colhidas em 2003 e 2004 os preços estavam em
bons patamares devido a estoques baixos e frustrações das safras dos EUA.
Pode-se observar pela Tabela 1 que os estoques baixaram em 2003 e 2004 com
uma projeção de retomada do estoque para 2005 pelo comportamento
satisfatório das produções mundiais.
Tabela 1 - Oferta e demanda mundial de oleaginosas, farelos protéicos e óleos
vegetais em
milhões de toneladas, em diferentes safras agrícolas
Oleaginosas 02/03 03/04 04/05
Produção 329,28
335,33
380,54
Consumo 322,58
338,00
365,53
Estoque final (30/set/2004) 44,52
41,85
56,87
Fonte: Safras e Mercados (2005)
Essas variações nos estoques da soja refletem nos preços dessa commodity,
mostrados na Figura 5 e interferem no resultado do agronegócio e na economia dos
países.
0
10
20
30
40
50
60
s
e
t
/
0
2
o
u
t
/
0
2
n
o
v
/
0
2
d
e
z
/
0
2
j
a
n
/
0
3
f
e
v
/
0
3
m
a
r
/
0
3
a
b
r
/
0
3
m
a
i
/
0
3
j
u
n
/
0
3
j
u
l
/
0
3
a
g
o
/
0
3
s
e
t
/
0
3
o
u
t
/
0
3
n
o
v
/
0
3
d
e
z
/
0
3
j
a
n
/
0
4
f
e
v
/
0
4
m
a
r
/
0
4
a
b
r
/
0
4
m
a
i
/
0
4
j
u
n
/
0
4
j
u
l
/
0
4
a
g
o
/
0
4
s
e
t
/
0
4
Mêses
R$ ou US$/saco
R$
US$
Figura 5 - Preços médios da soja versus anos agrícolas (R$ e US$ /
saco de 60 kg). Fonte: Cepea (2005)
Nas últimas safras brasileiras, verificou-se um crescimento substancial da
exportação de soja em grão. No entanto, a União Européia apresentou uma redução
na participação relativa das exportações totais brasileiras, evidenciando que o
incremento na exportação de soja brasileira não se direcionou para a Europa, mas
sim para a Ásia, mais especificamente China e Japão, conforme descrito na Tabela
2.
Nos últimos anos houve um aumento das importações de farelo de soja pelos
países europeus, pela ocorrência da doença denominada de “vaca louca”, (Bovine
Spongiform Encephalopathy BSE), tendo-se restringido nesses países o uso de
proteína de origem animal para consumo de outros animais.
A União Européia é a principal importadora de farelo de soja enquanto a
China é atualmente a maior importadora de grãos, devido à expansão do seu parque
industrial para produção de óleo.
Tabela 2 - Exportações do complexo soja do Brasil por destino (mil toneladas)
Soja Grão
2004 2005 (%)
2004/2003
Farelo 2004 2005 (%)
2004/2003
Alemanha
1634,5
924,0
-43
Alemanha 805,6
798,6
-1
Bélgica 117,2
29,5
-75
Bélgica 270,7
287,2
6
Espanha 1500,7
1787,9
19
Espanha 508,2
338,9
-33
França 174,0
342,4
97
França 2495,8
2421,6
-3
Holanda 3084,2
4334,4
41
Holanda 3523,5
3024,5
-14
Inglaterra 476,9
548,7
15
Inglaterra 383,6
326,8
-15
Itália 803,7
1198,2
49
Itália 463,4
399,1
-14
Portugal 519,0
308,8
-41
Portugal 75,2
0,0
_
China 5670,1
6585,5
16
China 0,1
5,0
_
Japão 339,7
407,8
20
Japão 52,5
113,8
117
Coréia 57,7
409,0
609
Hungria 0,0
0,0
_
Malásia 76,8
0,0
_
Dinamarca
41,8
132,1
216
México 447,0
35,1
-92
Polonia 0,0
0,0
_
Noruega 284,0
356,1
25
Tailândia 543,6
828,1
52
ex– URSS
0,0
4,6
_
Turquia 60,2
39,7
-34
Outros 3177,0
2851,0
-10
Outros 3326,3
3332,8
0
Total 18362,5
20123,0
10
Total 12550,5
12048,2
-4
Fonte: Safras e Mercados (2005)
Atualmente as exportações dos grãos e farelo de soja do Brasil seguem
ainda a tendência de atender o mercado asiático e da União Européia.
O Brasil vem demonstrando, portanto, uma capacidade competitiva no
agronegócio tendo ainda a seu favor uma quantidade expressiva de áreas para
expansão de plantios na região central desse país. Todos os outros países
concorrentes e aqueles que necessitam importar soja não possuem áreas para
aumento do cultivo, já estando no limite do uso de suas áreas. O Brasil saltou de 4,9
milhões de hectares cultivados com soja na década de 70 para 52 milhões em 2003.
Nesse ritmo, o Brasil alcançará a liderança na produção dessa oleaginosa.
Estima-se que em 2007 o país já passará à frente dos EUA, seu maior
concorrente.
Entretanto, o grande entrave para um sucesso pleno é o sistema de logística.
O transporte dos grãos, que é feito grande parte via rodovia (60%) quase sempre em
condições precárias de conservação, encarece os produtos pelos altos preços de
fretes. Ao contrário de outros países, no Brasil somente 30% da produção é
transportada através de ferrovias e 7% por hidrovias. Esforços estão sendo feitos na
construção de ferrovias e hidrovias, mas ainda incipientes pelo volume de
necessidades. Outro fator negativo é o alto custo portuário, os ganhos em
produtividade no Brasil o depreciados pela ineficiência do seu sistema portuário e
de transporte. Porém, como pode ser observado na Tabela 3, esse cenário está
melhorando em relação ao principal concorrente, os EUA.
Fora isso, o Brasil atualmente é o país com maior possibilidade de expansão
e crescimento do seu agronegócio não somente pelo volume de área a ser
explorada, mas também pelas condições climáticas existentes.
Teoricamente se for considerado ainda um potencial de ocupação de 127
milhões de ha da região dos cerrados na região central do Brasil, 12 milhões na
região sul e aproximadamente 6 milhões de ha de pastagens degradadas na região
Amazônica, totalizará 145 milhões de ha. Somente com essa nova área o Brasil
poderá produzir o dobro da produção mundial atual.
Tabela 3 - Avaliação hipotética de competitividade em custos de exportação - 1998/99
EUA Brasil Argentina
M.oeste Paraná Mato Grosso Buenos Aires/Santa Fé
CUSTOS DE
PRODUÇÃO.
US$/BUSHEL
US$/BUSHEL
% DO
CUSTO
EUA
US$/BUSHEL
% DO
CUSTO
EUA
US$/BUSHEL
% DO
CUSTO
EUA
Custos
Variáveis
1,71
2,78
3,17
1,90
Custos Fixos 3,40
1,38
0,72
2,02
Total 5,11
4,16
81
3,89
76
3,92
77
Transporte
Interno
0,43
0,85
1,34
0,81
Custos a
bordo
5,54
5,01
90
5,23
94
4,73
85
Frete para
Rotterdam
0,38
0,57
0,57
0,49
Preço
Rotterdam
5,92
5,58
94
5,80
98
5,22
88
Fonte: Pelaez; Albergoni e Guerra (2005) apud Schnepf; Dohlman e Bolling
Somado a isso, o baixo custo de áreas ainda praticado no Brasil torna esse
país, o maior produtor em potencial de soja do mundo.
Mesmo utilizando-se de perspectivas mais conservadoras, como as
apresentadas pela ONU na UNCTAD (Conferência sobre o Comércio e o
Desenvolvimento) em Genebra em 2003, situando o Brasil como possuidor de 90
milhões de ha de terras com potencial de uso para a agricultura sem impacto
ambiental, o potencial de produção ainda é alto (FRANÇA NETO, 2004).
Portanto, nenhum país concorrente na produção de soja possui o potencial do
Brasil. O maior país concorrente, os EUA, está chegando no limite de produção e
vêm mantendo uma produtividade estável. Considerando uma demanda crescente
de 5,3% ao ano, o Brasil pode se sentir confortável como o único país em condições
de atender a essa exigência. Porém, apesar desse cenário, os preços da soja
poderão sofrer depreciação caso a demanda permaneça constante. Com esse ritmo
de crescimento da produção na América do Sul, liderado pelo Brasil e Argentina, os
estoques mundiais se elevarão influenciando negativamente os preços. Outro fator
que deve ser mencionado é o alto custo de produção ocorrido nas últimas safras,
fato esse influenciado pelo aumento exacerbado dos preços dos insumos agrícolas
empurrados pelo bom desempenho dos preços da soja (ROESSING, 2004).
Em relação aos estados do Brasil o Paraná na safra de 2002/2003 passou
para o segundo lugar em produção de soja no Brasil, ficando em primeiro o Mato
Grosso e em terceiro o Rio Grande do Sul. O Paraná, nessa mesma safra de
2002/2003, passou à líder de produtividade na cultura da soja no Brasil, atualmente
com 3.026 kg/ha. O segundo estado em produtividade é o Mato Grosso com 2.880
kg/ha e em terceiro ficou o Rio Grande do Sul com 2.667 kg/ha (IBGE, 2005).
A União Européia e a Ásia como maiores importadores da produção brasileira
de soja merecem uma atenção especial nesse estudo.
2.3 Mercado importador
2.3.1 China
Nos últimos anos a China aumentou significativamente seu parque industrial esmagador de soja para suprir a
demanda de óleo comestível. Produz aproximadamente 16 milhões de toneladas de soja e não aumenta sua área há 40 anos,
tendo aumentado apenas sua produtividade. Essa produção não é suficiente para suprir a demanda interna. Para isso, importa
cerca de 20 milhões de toneladas de grãos de soja, esmagando em torno de 26 milhões de toneladas. Pela Tabela 4 nota-se o
potencial do mercado da China.
Do total da soja importada pela China 25,5 % é atendido pelo Brasil e na média dos cinco últimos anos o agronegócio
brasileiro efetivou 46 % de suas vendas com a China (CEPEA, 2005). Apesar do potencial de exportação para esse país, deve-
se levar em consideração o fator depreciativo de sua inconstância para saldar contratos. Na safra 03/04 devolveram vários
navios brasileiros alegando contaminação por fungicidas.
Tabela 4 - Oferta e demanda de soja grão da China em milhões de ton.
02/03 03/04 04/05 %
Descrição
(b)
(a)
a/b
Estoque inicial
2,10
4,47
2,1
-53
Produção 16,51
15,4
17,50
14
Importação 21,42
16,90
22,50
33
Esmagamento
25,54
25,43
27,80
9
Outros usos 8,75
8,94
9,90
11
Exportação 0,27
0,30
0,20
-33
Estoque final 4,47
2,10
4,20
100
Fonte: Safras e Mercados (2005) apud USDA
2.3.2 Japão
Esse país tem como característica importar produtos com baixo valor agregado, para industrialização em seu
território. Em relação à importação de soja grão e farelo do Brasil, o volume de 2003 para 2004, reduziu em 43 e 48 %
respectivamente.
Um produto que esta se tornando promissor para o mercado japonês é a soja orgânica, que é obtido através do uso
de defensivos e fertilizantes diferenciados (CEPEA, 2005). O mercado de produtos orgânicos no Japão é de aproximadamente
US$ 7 bilhões/ano com crescimento anual de 20%. Os consumidores japoneses estão desenvolvendo o hábito de consumir
produtos orgânicos revertendo uma tendência histórica de uso intensivo de agrotóxicos na agricultura. Nesse país, os
consumidores entendem que grande parte dos distúrbios da saúde se deve ao consumo de alimentos com resíduos químicos.
Esses consumidores estão dispostos a pagar até 20 % a mais por produtos orgânicos certificados (DULLEY, 2005).
2.2.3 União Européia
Em 2003 o Brasil exportou 17,4 milhões de toneladas de soja para a União Européia. Os países que mais importam
soja do Brasil são a Espanha, Holanda, Itália e Portugal. Na Europa, mais intensamente, na Alemanha, França, Dinamarca e
Portugal, crescem a produção e demanda por produtos orgânicos, mesmo antes da polêmica dos transgênicos. Existe um
diferencial de preços entre os produtos convencionais e os orgânicos que vai de 15 até 90 % a favor dos orgânicos, conforme o
país.
Portanto, somente a China, Japão e União Européia representam um
mercado de aproximadamente 31 milhões de toneladas de soja. Esses países, como
maiores importadores de soja do Brasil, merecem análises dedicadas do ambiente
desse mercado incluindo estratégias dinâmicas e de longo prazo para garantir
presença nesse mercado significativo e competitivo.
O Brasil, como importante fornecedor em escala mundial de produtos
agrícolas, deve estar atento para organizar sua cadeia produtiva, fornecendo
produtos segregados e certificados com qualidades específicas exigidas. Pela
importância do mercado potencial de produtos agrícolas diferenciados e valorizados
através da certificação, este será mencionado em capítulo pertinente.
2.4 Sistema de formação e informação de preços da soja
O setor agrícola do Brasil passa por um período de avanço na tecnologia
com ganhos expressivos de produtividade nos últimos anos. Aliado ao seu
baixo custo de produção passa agora a competir com países que sempre
lideraram a produção das grandes culturas como soja e milho. A gestão da
tecnologia e custos, isto é, produção “dentro da porteira” assume um papel
competitivo no cenário mundial, no entanto, a comercialização e o transporte
da produção ainda apresentam deficiências. Os resultados econômicos da
atividade de produção agrícola dependem da produtividade, custos de
produção e preços de venda. Destes, o preço é o fator mais difícil de se
controlar pelas inúmeras variáveis que interferem (RIES e ANTUNES, 2000).
Os preços dos produtos agrícolas são influenciados por diversos fatores:
concorrência e competitividade nacional e internacional, barreiras alfandegárias,
taxas de juros, câmbio, estrutura primária, aspectos climáticos, etc. Portanto,
existem inúmeras variáveis que interferem no mercado e preços; ter as informações
e saber interpreta-las possibilita um maior ou menor sucesso na comercialização.
Receber informações quando surgem oportunidades de negócios no mercado
de produtos agrícolas favorece uma maior lucratividade para o produtor rural. Para
isso, o setor comercial de uma empresa agrícola de commodities, além do sistema
usual de repasse de informações, deve estar atento para outros tipos de
comunicação, como por exemplo, se relacionar com seus clientes através do uso de
mensagens curtas SMS via telefone celular. Com isso, as decisões na
comercialização dos seus produtos agrícolas são mais precisas (SILVEIRA et al,
2005).
Atualmente a negociação dos produtos agrícolas se estrutura em mercados
organizados com normas e regras com padrões de preços e volumes. A maioria das
cooperativas agrícolas brasileiras trabalha conectada com a Bolsa de Chicago via
internet e passa informações diárias sobre as tendências de preços praticados. A
maior referência em mercados futuros de commodities agrícolas no mundo é a Bolsa
de Chicago-EUA. Em relação à soja, a principal commodity brasileira de exportação,
a verificação diária da cotação de preços é decisiva na eficácia da sua
comercialização (MARQUES e AGUIAR, 1993).
A soja brasileira é exportada através de cooperativas, indústrias
processadoras ou agentes de exportação. Os preços recebidos pelos produtores
brasileiros refletem as cotações em dólares da Bolsa de Chicago. Esses preços
recebem valores adicionais chamados de prêmios, que podem ser positivos ou
negativos conforme acesso, qualidade e volume da soja a ser exportada.
No Brasil, os preços domésticos da soja grão são mais influenciados pelo
fator de demanda, representado pelo preço em Rotterdam (preço físico ou spot) e
não tanto pela oferta representada pelas cotações da Bolsa de Chicago Chicago
Board of Trade (CBOT) que refletem o preço futuro. Mesmo o Brasil sendo um dos
maiores produtores e exportadores de soja, ainda é tomador de preços, pois, as
variações no mercado internacional, influenciadas pelos estoques globais, são
repercutidas integralmente no mercado interno do Brasil (MARGARIDO,
FERNANDES e TUROLLA, 2002).
3. SEGMENTAÇÃO E CRIAÇÃO DE VALOR NO AGRONEGÓCIO
3.1 A estratégia de segmentação para mercados competitivos
Os mercados que compram qualidade denominam-se de segmentados e
possuem clientes com características diferenciadas. Nesses mercados segmentados
deve-se estar atento com a característica do cliente e delimitação do mercado para
otimização de recursos existentes. Para uma segmentação eficaz é prudente a
medição das características desses consumidores, o acesso e o tamanho desse
mercado, que o custo inerente é dispendioso. Uma estratégia de segmentação de
mercado sustenta-se primeiramente nos consumidores e não no produto em si.
A característica atual de mercado de massa pode o satisfazer segmentos
específicos de consumidores. Portanto, aqueles que ofertarem produtos
diferenciados que atendam esse mercado terão maiores chances na acirrada
concorrência globalizada. Estar atento a essas necessidades específicas, condiciona
o setor produtivo a estabelecer variáveis geográficas, demográficas ou psicográficas
(estilo de vida, procura de benefícios, status, etc.) dos consumidores, estabelecendo
de forma concreta suas necessidades e a dimensão desse mercado propiciando
condições para a criação de um novo produto. O desenvolvimento de um produto
diferenciado é uma atitude para a concorrência por mercados. As exigências por
produtos diferenciados, vindos de clientes especiais com preocupações sobre
qualidade e preservação ambiental, cada vez mais serão observadas (KOTLER,
1989).
O mercado agrícola como agente exportador e de aquecimento da economia
brasileira deve ser orientado para o ambiente externo com estudos da concorrência
e ações que respondam a mercados diferenciados posicionando produtos com maior
valor agregado. As estratégias intuitivas tornam-se injustificadas pelos riscos atuais
impostos pela concorrência acirrada do mercado. Quando se depara com o cenário
dinâmico globalizado, uma gestão estratégica passa por algumas fases como
planejamento financeiro, previsão de longo prazo e planejamento orientado para o
mercado externo. A gestão estratégica passa por avaliações refinadas dos fatores
que influenciam o mercado interno como as forças e fraquezas e também o mercado
externo com a busca de oportunidades e ameaças. Esses fatores estratégicos
chamados também de SWOT do inglês strengths, weaknesses, opportunities e
threats, quando analisados corretamente podem identificar oportunidades inéditas.
Considerando a análise SWOT para avaliar o mercado da soja, foco desse
trabalho, pode-se reunir fatores que permitem identificar um nicho de mercado que
seja atendido por ações que complementem essa oportunidade. Nichos de mercado
surgem em curtos períodos de tempo e nem sempre estão aparentes. Portanto, no
mínimo esses fatores devem ser conhecidos. No Quadro 1, são resumidos os fatores
que interferem na produção e no mercado da soja, inserindo-se dessa forma numa
análise SWOT. Frente a esses fatores surgem algumas alternativas, como competir
no mercado com custos baixos, participação efetiva para garantir a presença no
mercado ou reunir esforços para atender um nicho de mercado específico de pouco
volume, porém, mais lucrativo (HUNGER e WHEELEN, 2002).
Quadro 1 - Análise SWOT da cadeia produtiva brasileira de soja
Fatores internos
Pontos Fortes Pontos fracos
Tecnologia Logística de transporte
Abundância de áreas Portos
Clima favorável Juros altos
Baixos custos fixos (baixo custo de
mão de obra e de terras
agricultáveis)
Altos custos dos insumos com preços
reajustados em dólar
Produtor acostumado a trabalhar
sem subsídios
Perdas consideráveis na colheita e
transporte
Tendência de economia de escala Endividamento pela renovação de frota
Fatores externos
Oportunidades Ameaças
Pelo volume exportado participar
efetivamente em fóruns de
negociação
Persistência de subsídios agrícolas pelos
concorrentes
Principal fornecedor de soja para
o mundo
Soja com elevado teor de proteína
comparado com a concorrência
Uso generalizado de soja transgênica sem
organização da cadeia produtiva
Diminuição do consumo mundial de soja grão
e farelo
Referencial de tecnologia
Barreiras não tarifárias
Atender mercados específicos como
soja não transgênica e orgânica
Concorrência em mercados segregados e
certificados
Agregação de valor para soja
segregada e certificada
Imposição via pacotes de tecnologia de
transnacionais com custos agregados de
patentes
Entrar no mercado de transgênicos
com cadeia produtiva organizada
Persistência de custos altos de insumos e
altos estoques mundiais
Fonte: o autor
Porter (1986) descreve cinco fatores que exercem influência na concorrência
de mercado: novos concorrentes, produtos e serviços substitutos, poder de
barganha dos compradores e fornecedores e rivalidade competitiva. Além desses
cinco, Porter estruturou as chamadas estratégias genéricas separando-as em dois
tipos ou fontes de vantagem competitiva: baixo custo e diferenciação.
De acordo com o mercado a ser atendido, amplo ou restrito, essas duas
fontes permitem formar quatro estratégias genéricas: liderança em custo,
diferenciação de produto, foco no custo e diferenciação focalizada. A escolha de
uma determinada estratégia sempre envolve riscos e escolher adequadamente as
estratégias permite obter sucesso ou fracasso.
Para mercados restritos e consumidores definidos, a estratégia de
diferenciação focalizada é a mais adequada. Nessa situação o foco é oferecer um
produto único com preço mais elevado. Para essa situação, consumidores de renda
mais alta e culturalmente desenvolvidos devem ser procurados e segmentados como
alvo de produtos específicos e diferenciados (KEEGAN e GREEN, 1999).
A estratégia de foco destina-se, portanto, em fornecer bens ou serviços para
um determinado grupo de clientes segmentados e geograficamente delimitados.
Desse modo esse mercado específico pode ser atendido de forma vantajosa sobre
os possíveis concorrentes O êxito na estratégia focalizada será evidenciado quando
o volume limitado de demanda e especificidade do produto não for interessante para
os concorrentes. Da mesma forma, a utilização de uma estratégia de diferenciação,
não está livre de riscos, pois os consumidores podem não estar dispostos, em
determinado instante, em pagar mais pelo produto diferenciado (HIIT, 2002).
Neste contexto, Greenhalgh (2002) observa que um produto diferenciado
pode crescer em escala, assim como dominar os segmentos de mercado, mas as
mudanças dinâmicas no ambiente de negócios tornam essa definição um tanto
quanto obsoleta, não permitindo a sustentação desta vantagem competitiva por
muito tempo. Esta vantagem é um convite aberto para que outros países também se
organizem e produzam os mesmos produtos.
O sucesso nos negócios requer uma manutenção vantajosa em volume e
especialização, porém, essa especialização proporcionará retorno se os clientes
estiverem dispostos a pagar um prêmio, pois, em economia de escala os serviços de
diferenciação são onerosos. O volume de produção menor de um produto
especializado possui um custo maior pelos serviços de segregação e problemas de
escala de produção (LOCHRIDGE, 2002).
Em mercados globalizados a utilização de estratégias de custos como único
fator não é suficiente para sustentar uma vantagem competitiva. A adoção de uma
estratégia diferenciada permite adaptar-se às mudanças dinâmicas impostas pelo
mercado, utilizando dessa forma toda a sua competência para um determinado
produto. Com essa visão, uma organização inovadora aumenta suas perspectivas de
produtividade, quando potencializa todos os seus fatores de produção através de
uma administração eficaz. O ritmo imposto pelo mercado cada vez mais competitivo
requer um relacionamento dinâmico e de confiança entre os atores externos e
internos a uma organização. As empresas do agronegócio não escapam dessa
visão. Criar um ambiente de criatividade, onde especialistas parceiros externos
forneçam todo o seu conhecimento tácito dinamizando uma cultura de
aprendizagem, não é mais uma necessidade, mas sim, uma realidade que se
apresenta como uma vantagem competitiva frente aos concorrentes. Esse processo
permite construir uma estrutura organizacional diferenciada onde ocorrem
complementos de recursos possibilitando gerenciar melhor as incertezas, com
diminuição de riscos nas tomadas de decisão (SILVEIRA et al., 2004).
O agronegócio brasileiro inserido no mercado global deve estar em sintonia
com todos os fatores que interferem nos seus resultados. Atentar para possibilidades
de nicho de mercado composto por consumidores especiais permite focar um
determinado produto que atenda essa demanda.
Apesar do volume de exportação agrícola do Brasil ser expressivo, esse fato
não reverte numa vantagem considerável, pois é representado por poucos produtos
e com baixo valor agregado. A concentração das exportações de matéria prima
ainda se traduz em forma inapropriada de se praticar esforços. Deve-se praticar
estratégias que busquem melhores perspectivas de comércio posicionando produtos
no mercado com maior valor agregado (CARVALHO, 2002).
A soja, como uma commodity agrícola, tem duas possibilidades de ganhos
potenciais: inserção de novos produtos ou produção mais eficiente. Quando diversas
fontes produtoras de soja são comparadas, com o preço atrelado ao dólar, entram as
vantagens comparativas como fatores de desequilíbrio. Aliar vantagens
comparativas com a introdução de novos produtos amplia as possibilidades de
sucesso em mercados acirrados (WONNACOTT e WONNACOTT, 1985).
Com esse cenário, é oportuna a inclusão de produtos diferenciados que
agreguem valor ao produto soja, pois, essa commodity está sujeita a variações de
origens externas que refletem integralmente nos seus preços. Produtos como a soja
orgânica, exportada em nível crescente principalmente para a Europa, reflete um
nicho de mercado interessante a ser explorado.
Essas estratégias para se concretizarem, necessitam de acertos através de
contratos para garantir troca de informações, possibilitando agilidade de resposta
para o ambiente dinâmico imposto pelo mercado. Atuações coordenadas estarão
presentes cada vez mais para atender segmentos de mercado valorizados de
clientes específicos (NEVES et al., 2000).
Utilizar estratégias de segmentação no agronegócio, orientadas para nichos
de mercado, focando esforços em mercados com demanda por necessidades
específicas de consumidores, permite uma valorização do produto a ser ofertado.
Conhecer esse mercado em profundidade leva a conhecer os verdadeiros anseios
dos consumidores, tamanho desse mercado, avaliação da possibilidade de
agregação de valor ao produto e riscos inerentes ao processo de segmentação. A
estratégia de segmentação deve posicionar o produto com um conceito positivo de
qualidade, que seja percebido facilmente pelos consumidores.
Estar explícito que o produto é saudável, limpo e inofensivo leva o consumidor
a ter segurança em relação à sua saúde. Dessa forma, ter uma estratégia de
marketing para segmentos de mercado possibilita estabelecer vantagens
competitivas frente ao mercado concorrido. Ter uma marca que enfatize as suas
características de excepcional qualidade possibilita o consumidor ter uma percepção
de satisfação com sensação de valor superior ao da concorrência (AÑAÑA, 1999).
As exigências econômicas atuais impõem estratégias de economias de
escala competindo dessa forma com custos menores, mas outras atitudes recentes
possuem uma abordagem para segmentação de mercados e diferenciação de
produtos. Essas estratégias de mercado possuem como características, encontrar
consumidores com menor elasticidade-preço de demanda e maior elasticidade-
renda, as quais permitem maiores margens de preços. Usos de denominações de
origem controlada e embalagens para produtos segmentados são exemplos de
estratégias de diferenciação.
Na União Européia (EU) os produtos com atributos especiais desejáveis
recebem certificados ou sinais de qualidade e são destinados para um nicho de
mercado valorizado. Esses produtos certificados na EU representam 7 % de market-
share, totalizando US$ 40 bilhões, com crescimento anual estimado em US$ 01
bilhão. A França tem tradição na certificação de produtos de origem agropecuária;
atualmente 800 produtos são comercializados com certificação de qualidade
totalizando US$ 15 bilhões por ano. Esses produtos exportados representam uma
importante fonte de recursos para produtores que usam um sistema de rótulos de
qualidade.
Além dessa preocupação em valorizar produtos regionais, surgiram a partir da
década de 90 exigências por alimentos de qualidade e que sejam provenientes de
uma produção ambientalmente correta. Esse movimento “verde” cresce na Europa e
Estados Unidos e são produzidos através de normas de certificação permitindo
dessa forma, obter melhores preços no mercado. Da mesma forma, com a
introdução dos produtos geneticamente modificados, são necessários também
instrumentos de coordenação para sua segregação (GIORDANO, 1999 e CHADDAD
et al., 2002).
A Comissão Européia (2003) ao analisar os produtos segmentados se
posiciona afirmando que o mercado de produtos obtidos através de sistemas de
preservação de identidade tem expectativa de crescimento tanto em número como
nichos de mercado, com ou sem a presença de organismos geneticamente
modificados (OGMs). Especialistas em mercado estimam em 25% a cota de
mercado para a soja e milho com identidade preservada para 2005. Nos EUA é
estimada uma participação de 10% na produção agrícola com sistemas de
identidade preservada e espera-se um incremento de 30% em dez anos.
Além dessa exigência do consumidor atual, a questão ambiental passa
inevitavelmente nas negociações internacionais inserindo-se uma preocupação
discutível em termos de ter ou não uma conotação de barreira tarifária, interferindo
principalmente em países em desenvolvimento que dependem de exportações de
commodities.
A consciência mundial sobre o ambiente apresenta-se atualmente mais
aguçada e cresce a cada ano principalmente por parte dos europeus, motivada pela
vivência do descaso passado. Esse consumidor europeu exige qualidade dos
alimentos provenientes de uma produção conhecida, isto é, a valorização da forma
de como esse alimento foi produzido e a relação com o meio ambiente. Atributos de
qualidade, preço e conveniência de um produto não mais completam os requisitos
desses consumidores, surgindo um quarto atributo, que é a compatibilidade
ambiental.
As necessidades desses novos consumidores são irreversíveis e
crescentes. Para tanto, a cadeia produtiva deverá se adaptar coordenando sistemas
de produção que certifiquem a qualidade do alimento desde a origem até o
consumidor. Esse conceito recente é identificado como rastreabilidade e permite
atribuir responsabilidades nas etapas de produção. Ocorrências de impacto
ambiental e sanitário também promovem mudanças na cadeia produtiva. A presença
na Europa da doença denominada de “vaca louca” (Bovine Spongiform
Encephalopathy – BSE), apressou a necessidade de certificação de produtos. Esse
acontecimento foi o início de discussões e regulamentações sobre segurança
alimentar na cadeia da carne bovina surgindo uma exigência de um sistema de
rastreabilidade para este produto.
O uso da rastreabilidade para a preservação da sua identidade e indicações
geográficas protegidas são estratégias focadas em nichos de mercado e de
consumidores, que podem refletir em maiores ganhos na cadeia produtiva. Para
isso, e antes de tudo esse mercado deve ser criteriosamente avaliado antes de se
efetuar qualquer estratégia de logística produtiva. Quando se opta por mercados
focados corre-se risco inerente ao método, podendo trazer frustrações e prejuízos.
Nesse sentido, selos idôneos de certificação de produto e/ou processo são
respostas do sistema de produção para dar credibilidade às informações
transmitidas nos rótulos dos produtos. Aqueles países e estados que segregarem e
certificarem seus produtos tem oportunidades mais favoráveis para escoarem suas
produções para clientes exigentes.
Da mesma forma, a agroindústria exige a rastreabilidade de alguns produtos
específicos de vegetais ou animais que necessitam da certificação de origem para
garantir a inocuidade e garantia de preservação das qualidades nutritivas dos
alimentos produzidos para os consumidores.
Assim, observa-se que as restrições ao comércio internacional de produtos
agrícolas, tornam as relações entre o exportador e o importador cada vez mais
complexas. Produzir variedades de produtos com qualidade acarreta uma
segmentação de mercado das cadeias produtivas. A expansão de variedades de
produtos agroalimentares ofertados pela indústria de alimentos nos últimos dez anos
demonstra a existência de nichos de mercado com seus segmentos próprios de
consumo. Portanto, a segmentação de mercado é uma tendência na maioria das
cadeias produtivas com a finalidade de suprir as necessidades dos consumidores,
cada vez mais exigentes (LEONELLI e AZEVEDO, 2005).
Um fato que poderá apressar o uso da rastreabilidade é a exigência do
governo americano para produtos alimentares humano e animal. Através de uma lei
denominada de Lei do Bioterrorismo, aprovada em 12 de junho de 2002, todos os
produtos para a alimentação humana e animal, deverão ter informações de suas
procedências. Essa lei obriga todas as empresas exportadoras e importadoras,
incluindo cooperativas, a realizar uma comunicação prévia para cada partida de
produtos ou suplementos alimentares importados pelos EUA. A comunicação deverá
ter informações sobre o produto, seu fabricante, o produtor agrícola, o país em que o
produto foi embarcado e indicação do porto de entrada. Esse procedimento é uma
forma de rastreabilidade que o mercado americano passa a exigir após os atentados
de 11 de setembro de 2001.
A criação de novos produtos com valores agregados com incorporação de
novos atributos de qualidade e provenientes de produtores de uma região
geograficamente delimitada exigem necessidades de arranjos locais de empresas
fornecedoras de insumos e infra-estrutura necessária. Wedekin (2002) adota o
conceito de “agricluster”, adaptado de Michael Porter, para a concentração
geográfica de empresas agrícolas como forma de redução de custos e
competitividade no agronegócio. Além dessas, buscar outras vantagens
comparativas através da diferenciação de produtos e serviços estabelece formas
essenciais de competição no cenário atual.
Esse desafio de valorizar produtos regionais impõe uma relação externa para
identificar nichos de mercados. Também surge a necessidade de articulações e
diálogos entre níveis para facilitar políticas adaptadas as necessidades das regiões
produtivas. A Leader (2002) que é uma comissão européia sugere algumas ações
ordenadas para inserir um produto de uma determinada região no cenário global:
- Introduzir um selo com certificação de produto visando garantir a sua
qualidade de origem.
- Definir rótulos coletivos de produto que tragam novas mensagens e
imagens. Isso implica em definir normas de qualidade coletivas que
permitam apresentar uma oferta mediante uma imagem única. Um tulo
favorece o início de um processo de adesão e de afirmação de um
produto de uma região.
- Integrar as normas e os acordos internacionais nas práticas regionais. A
integração das normas permite posicionar a região nos mercados globais.
- Criar mecanismos para fazer com que os consumidores em potencial,
cidades ou outros países, reconheçam a qualidade resultante de praticas
de conservação do meio ambiente.
Segundo Lima (2004), a introdução de cultivares com características
nutricionais diferenciadas através de técnicas convencionais de melhoramento
genético ou pela biologia molecular atende setores como indústria de rações e
indústria alimentícia em geral. Um dos grandes diferenciais nesses produtos é a
mudança nas relações comerciais que provocam, pois passam de commodities para
ingredientes especializados, com características desejadas pelos processadores.
Mudanças como essas vêm valorizando as ações de companhias produtoras de
sementes diferenciadas nutricionalmente. Como exemplo, avicultores e suinocultores
dos Estados Unidos da América há mais de cinco anos utilizam o milho com alto teor
de óleo com uma economia de 5% a 10% no custo das rações.
Daft (2001) argumenta que a criação de novos produtos é uma maneira de se
adaptar e sobreviver num ambiente em rápida transformação. As empresas para
garantir mercado desenvolvem e introduzem rapidamente produtos competitivos,
valendo a afirmação de fornecer o maior valor pelo menor custo no tempo mais
curto. Porém, necessitam pensar globalmente ou serão deixadas para trás, pois as
diferenças entre organizações estrangeiras e domésticas estão cada vez mais
difíceis de se identificar. A diversificão em uma empresa é uma alternativa de
diminuição de riscos em mercados competitivos. Quanto maior for o grau de
diversificão, melhores serão os resultados econômicos e desempenho nessas
empresas.
Por outro lado, antes de decidir-se pela diversificação de produtos é prudente
a realização de um levantamento detalhado do mercado alvo. Uma pesquisa de
mercado sobre potenciais importadores, volume, custos inerentes à segmentação,
estimativas de preços e logística de distribuição (portos e rodovias) deve ser
realizada antes da decisão pela diversificação. Além da diversificação, ofertar um
produto diferenciado pode exercer influências positivas no mercado consumidor.
Estabelecido o produto diferenciado e definido o consumidor, deve-se atentar para a
efetivação de contratos de compra e venda. Essa formalização diminui riscos
característicos de mercados ainda inconsistentes. (MARQUES e AGUIAR, 1993).
O consumidor deve ter confiança nos produtos diferenciados ofertados pelo
sistema agroalimentar e plena certeza propiciada por procedimentos de avaliação da
conformidade, identificação de origem e rastreabilidade.
A soja brasileira pode ser trabalhada no cenário mundial com argumentos
segmentados de marketing partindo-se das suas características de qualidade. Para
tirar proveito comercial desses fatos, são necessárias identificações, quantificações,
padronizações e certificações de conformidade desses produtos.
3.2 O novo consumidor de alimentos
Na década de 90 iniciou-se uma expectativa de consumo por qualidade como
um conceito que remete a anseios por um tipo de vida mais saudável. A consciência
do ser humano expressa um desejo por uma vida melhor e que pode praticar ações
para mudar a sua vida para um plano mais equilibrado. A expectativa desse novo
consumidor reflete a uma crescente necessidade, tendo-se na sua saúde e bem
estar o foco principal. Assim, a criação de produtos com estímulos apropriados
geram uma percepção pelos consumidores de uma adequação as suas
necessidades (GIGLIO, 2002).
Dependendo das suas origens, regiões onde se inserem, poderes de compra,
nível cultural, etc, os indivíduos ou grupos sociais assumem tipologias de
consumidores. Em relação ao consumidor de alimentos, Neves e Castro (2003)
observam uma mudança nos seus hábitos, de quantitativo para qualitativo. Os
mesmos autores informam que em pesquisa realizada pela empresa Environics em
2002, sobre o consumidor mundial de alimentos, constatou-se que, por ordem de
importância, os atributos de qualidade aparecem em primeiro plano, antes de preço
e conveniência. Por outro lado, questões como segurança de alimentos foram
mencionadas antes que qualidade e preços demonstrando uma preocupação extra
pela origem e forma de produção. Entender essas percepções dos consumidores e
transformar em informações torna-se fundamental para as empresas ao longo das
cadeias alimentares. Atributos de qualidade e segurança alimentar devem estar
intrínsecos nos alimentos, mas também estampados em rótulos e selos
evidenciando uma preocupação com os consumidores.
Presencia-se agora um consumidor pré-determinado em comprar produtos
ambientalmente corretos e saudáveis, que tenham compatibilidade ambiental. As
catástrofes ocorridas ao longo do tempo levam as pessoas a ter um novo sentimento
“verde” transformando em atitudes de consumo de qualidade e com preocupações
de longo prazo com o meio ambiente. Esses novos consumidores passam a ter
poder de influenciar opiniões e refletem, uma camada social cultural e
economicamente privilegiada. Dentre os atributos dos consumidores ambientais cita-
se:
- Busca por qualidade e baixo impacto ambiental;
- Não propensos a comprar produtos ou derivados de espécies animais ou vegetais
em extinção;
- Preferência por produtos com denominação de origem e selos verdes, por produtos
biodegradáveis, sem aditivos químicos, corantes e branqueadores;
- Não tolerância no excesso de embalagens não biodegradáveis e não recicláveis;
- Concordância em pagar preços mais altos por produtos ambientalmente seguros.
A aversão crescente pela produção intensiva de alimentos, onde se utilizam
quantidades generosas de agroquímicos, que são considerados críticos para o meio
ambiente e saúde, sensibilizou grupos de consumidores que passaram a considerar
alimentos produzidos em menor escala, porém, com uso adequado de insumos.
Nessa nova forma de produção, classificada como agricultura sustentável, que
agrega diferentes linhas de pensamento, existem consumidores dispostos a pagar
mais por qualidade. Para isso, novas estratégias são necessárias para oferecer
produtos e serviços que atendam os anseios desses consumidores. Com essa visão,
novas oportunidades surgem onde são inseridas preocupações com uso correto de
recursos naturais, reciclagem de materiais, evoluindo atualmente para os créditos de
carbono. Além disso, acrescenta-se agora o debate dos transgênicos que passa por
um processo inicial de adaptação no mercado sofrendo algumas restrições
principalmente pelo mercado europeu. Embora existam grupos com tendência de
rejeição aos OGMs, a quantidade de consumidores que não observam diferenças
entre um alimento e outro, por desinformação e até por necessidade chega à casa
dos bilhões. Nessa perspectiva, Neves et al. (2000) sugerem a gestão da cadeia
agroalimentar com sistemas coordenados, focados em segmentos de mercado.
Portanto, a segmentação de mercado gera uma demanda por selos de
qualidade obtidos por instrumentos de controle do produto que visa monitorar o seu
trajeto desde o campo até o consumidor final. Essa rastreabilidade permite informar
o consumidor sobre as circunstâncias em que o alimento foi originado.
4. SISTEMAS DE AVALIAÇÃO DA CONFORMIDADE
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil (MAPA),
verificando a inexistência no país de normas de conformidade para produtos
agrícolas passou a discutir e constituir Instruções Normativas. Conjuntamente outros
dois órgãos brasileiros de certificação e verificação da qualidade de produtos
alimentícios passaram a interagir nos trabalhos, a Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) e o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial (INMETRO). A ABNT é credenciada pelo INMETRO o qual é reconhecido
pelos membros do International Acreditation Fórum (IAF) para acreditar sistemas de
qualidade (ISO 9000), Sistemas de Gestão Ambiental (ISO 14001) e outros produtos
e serviços.
O INMETRO é responsável dentre várias atribuições pelo gerenciamento de
sistemas brasileiros de credenciamento de Laboratórios de Calibração e de Ensaios
e de organismos de certificação e de inspeção. a ABNT atua na certificação de
sistemas de garantia de qualidade de produtos. O CONMETRO que expede atos
normativos regulamentares é o órgão que atua na avaliação da conformidade dos
produtos, processos e serviços. A avaliação da conformidade através da certificação
de produtos, serviços, sistemas de gestão ou pessoal, é realizada por terceiros, isto
é, uma organização independente credenciada pelo INMETRO. Dentre as
certificações de produtos agrícolas realizadas no Brasil citam-se os produtos
orgânicos, a produção integrada de frutas (PIF), soja certificada não OGM e café
orgânico (INMETRO, 2004).
4.1 Avaliação da conformidade
Conforme definição do INMETRO a avaliação de conformidade é:
Um processo sistematizado com regras pré-definidas, devidamente
acompanhado e avaliado, de forma a propiciar adequado grau de
confiança de que um produto, processo ou serviço, ou ainda um
profissional, atende a requisitos pré-estabelecidos em normas ou
regulamento.
Os produtos e serviços podem sofrer avaliações de conformidade
compulsória e voluntária. A avaliação compulsória atende somente a legislação,
portanto com exigências essenciais mínimas de qualidade. Já a voluntária apresenta
requisitos de excelência prevendo-se valorizar algumas características qualitativas.
As modalidades de certificação variam conforme os produtos, sendo utilizados
ensaios para tipo, lote ou avaliação e aprovação de sistemas de qualidade do
fabricante. Para a agricultura o mais usual é a modalidade por lotes.
Atualmente o único sistema de produção agrícola credenciado no INMETRO
para avaliação da conformidade é a cadeia de frutas, que através de um sistema de
Produção Integrada de Frutas – PIF, integra 14 espécies provenientes dos principais
pólos produtores. Esse sistema já é adotado por diversos países produtores de
frutas tais como, a Espanha, Itália, Austrália, México, Chile, Argentina, África do Sul
e EUA, dentre outros. Esse sistema permite um relacionamento flexível com
atualização e agregação de variáveis mercadológicas e tecnológicas. A ampliação
desse sistema integrado de produção para outras áreas como carnes e grãos é
prioridade para o Ministério da Agricultura (VIEIRA e NAKA, 2004).
Esse cenário evidencia que todos os países que querem exportar deverão se
adequar a um sistema integrado de produção. Com isso, ganha não somente o
exportador, mas também o consumidor interno de alimentos pela repercussão de
boas práticas de qualidade refletindo em melhores produtos oferecidos. Portanto,
estudos e ações para a introdução de sistemas de produção integradas em outras
cadeias deverão ocorrer, gerando sistemas de certificação com avaliações de
conformidade, identificação de origem e rastreabilidade.
O aspecto qualitativo dos alimentos, exigido pelos consumidores globais,
mostra claramente que os sistemas produtivos devem inserir um componente que
possibilite conservar da melhor forma o meio ambiente. Existe um grande potencial
de exportação de frutas brasileiras para mercados exigentes em qualidade. Como
exemplo cita-se a cadeia de supermercados europeus, representada pelo
EUREPGAP, que estabelece regras de produção para aquisição de produtos.
Nessas regras são considerados resíduos químicos, meio ambiente, condições de
trabalho e higiene (ANDRIGUETO e KOSOSKI, 2004).
4.2 Identificação de origem
Determinados segmentos de consumidores de alimentos o sensíveis à
qualidade e autenticidade dos produtos adquiridos. Portanto, para participar desses
nichos são necessárias ferramentas que assegurem atributos de qualidade dos
produtos a serem consumidos, provenientes de uma determinada região produtora
tradicional. Conforme cita a Comissão Européia (2003), a criação de um logotipo
para a região, no ano de 1992, permitiu identificar os produtos agrícolas
provenientes de sistemas de proteção DOP Denominação de Origem Protegida ou
IGP Indicação Geográfica Protegida. Conforme ainda essa Comissão o logotipo
possui grafismos representando a União Européia. Dessa forma, protege-se e
exalta-se não somente o produto como toda uma região.
Quando produtos ultrapassam as fronteiras de onde são produzidos passam a
se defrontar com cópias, sofrendo concorrências desleais desencorajando
produtores e enganando consumidores. O uso indevido de marcas, um problema
para países que possuem produtos regionais com prestígio no mercado mundial,
leva os produtores a buscarem proteção. O DOP e o IGP garantem a qualidade dos
produtos que possuem fortes atributos regionais, expressando valores agregados
como tradição, cultura, inserindo-se em patamares maiores de preços. Como
exemplo cita-se o queijo parmigiano reggiano da região de Parma na Itália, que é o
queijo mais copiado no mundo. É produzido no Brasil com o nome de parmesão,
regianito na Argentina e parmesan nos Estados Unidos e Canadá (BEZERRA,
2003).
Essas alternativas de sucesso podem com o tempo sofrer concorrência,
disseminando fraudes que passam a confundir consumidores. Para evitar esse
inconveniente o Sistema Agro-alimentar deve possuir uma coordenação onde o setor
público favoreça a atuação do setor privado. O processo dinâmico que o sistema
agroalimentar está sofrendo implica em mudanças na organização de toda a cadeia
produtiva como forma de agilizar e criar novos produtos exigidos pelo mercado. Tirar
proveito comercial da padronização de produtos requer instituições que conduzam
os testes e certifiquem os resultados.
4.3 Sistema de preservação da identidade
Para a distinção de produtos agro-alimentares que atenda mercados
segmentados é necessária a utilização de ferramentas para a preservação da
identidade (PI), garantindo dessa forma as suas qualidades. Correntemente são
utilizados programas de preservação da identidade em regime de contratos, para
produtos que possuem características diferenciadas de qualidade, de métodos de
produção ou de origem geográfica de produção. Como exemplo de produtos
oriundos de PI por qualidade, citam-se os produtos com alto teor de óleo e proteína
ou alguns tipos de aminoácidos. Para métodos de produção são incluídos os
produtos orgânicos, variedades de soja para produção do tofu e, mais recentemente,
a produção da soja convencional para diferenciar-se da transgênica.
Como exemplo da necessidade da preservação da identidade dos produtos
menciona-se a proposta de diversificação por qualidade da transnacional Monsanto
(2002):
- Soja e milho com baixo teor de fitato e fitase.
- Baixo teor de estaquiose na soja também conhecido como soja com alto
teor de sacarose.
- Soja com alto teor de ácido oléico.
- Milho e soja com alto teor de lisina, metionina e treonina.
- Soja com alto teor de oligofructose.
- Soja com alto teor de isoflavona e alto teor de ácido linoleico conjugado
(CLA)
4.4 Rastreabilidade
O termo rastreabilidade não é encontrado no dicionário da língua portuguesa, mas
pode-se interpretá-la através da agregação do verbo rastrear que significa seguir o
rasto ou pista com a palavra habilidade (BASSANI, 2002). Na língua inglesa chama-
se traceability e na francesa traçabilité.
Pallet (2004) define rastreabilidade como a gestão da informação pela
sincronização permanente dos fluxos de mercadoria e informações ligadas. O autor
ainda classifica a rastreabilidade quanto à logística do produto, como a capacidade
de seguí-lo no tempo e no espaço e quanto ao conteúdo como a capacidade de dar
todas as informações sobre a vida desse produto. O mesmo autor ainda define o
princípio da rastreabilidade como o processo para assegurar a manutenção das
características dos alimentos proporcionando segurança e qualidade em todos os
seus fluxos de vida.
Quanto aos objetivos, descreve que com informações confiáveis subsidia uma
rotulagem segura, proporcionando confiabilidade aos alimentos. É também uma
ferramenta para evidenciar uma qualidade de um produto regional protegendo um
mercado cativo ou promissor. Como exemplo de sua aplicação, cita-se a cadeia
alimentar em bovinos, suínos, laticínios, frutas, grãos, enfim uma grande variedade
de possibilidades.
Informações referentes ao processo, produto e serviços podem ser rastreadas
desde a montante a a jusante da cadeia produtiva incluindo internalidades nas
empresas. Dessa forma, permite-se realizar um histórico do produto com
complexidade definida pelo ambiente que se está trabalhando (VINHOLIS e
AZEVEDO, 2000). A exigência externa por informações sobre o produto e o
processo de produção é que indicará o grau de rastreabilidade que se pretende
trabalhar. Quando o produto é diferenciado ou o consumidor tem necessidade da
visualização das informações, a rastreabilidade deve ser realizada ao longo da
cadeia.
Assegurar e transmitir informações sobre o processo produtivo invoca ações
coordenadas na cadeia de suprimento das firmas agroindustriais, implicando em
mudanças nos processos produtivos de grãos e vegetais, demandando estruturas de
governança distintas ao do sistema agroindustrial (SAG) genérico de tais produtos
que passam agora a ser regidos por contrato (LEONELLI e AZEVEDO, 2005).
Em relação à produtos vegetais segregados e certificados e portanto produzidos com auxílio da rastreabilidade, pode-se citar
alguns grupos que exigem esse processo: os produtos orgânicos, não geneticamente modificados, produtos regionais com
selo de qualidade e produtos com Indicação Geográfica Protegida (BASSANI, 2002; SOUZA e ALCÂNTARA, 2003; LEONELLI
e AZEVEDO, 2005).
Aqueles produtos provenientes da biotecnologia chamados de geneticamente
modificados, que estão inseridos em discussões polêmicas pelo meio científico e
sociedade em geral com prós e contras, necessitam de instrumentos de
coordenação do sistema agroalimentar para sua segregação. A segregação de
produtos se viabiliza através desses instrumentos de coordenação dos Sistemas
Agroalimentares com a iniciativa privada investindo em três tipos de ações:
investimentos em armazenagem qualitativa com segregação de OGMs e não OGMs,
controles com mecanismos de rastreabilidade e incentivos com diferencial de preços
para esses produtos, partindo-se da premissa que essas práticas resultam em
maiores custos (CHADDAD et al, 2002).
A soja deve possuir atributos que a diferencie, com informações intangíveis
no produto em si, pois as particularidades no processo de produção devem ser
normatizadas e informadas com veracidade (LEONELLI e AZEVEDO, 2005). A soja
para receber a certificação é rastreada e analisada através de testes que indicam a
sua identidade.
Portanto, com a evolução tecnológica e crescimento da oferta de produtos
especiais fornecidos por empresas de insumos principalmente advindos da
biotecnologia, surgirão vários produtos com características nutritivas diferenciadas
ou com tecnologia de produção que exigem segregação e deverão entrar num
processo de rastreabilidade e certificação.
5. A CONTROVÉRSIA DOS TRANSGÊNICOS
A questão dos transgênicos na agricultura passa por controvérsias no cenário
mundial e foge da análise simplória de ser apenas uma posição isolada de críticos
extremistas, defensores do meio ambiente. Do início do cultivo em grande escala da
soja transgênica RR da Monsanto nos EUA, no ano de 1996, até o presente ano de
2005 ainda ocorrem divergências em relação a essa tecnologia e a forma de como
está sendo introduzida. Polêmicas sanitárias, ambientais e de natureza econômica
geram discussões entre cientistas prós e contras a essa tecnologia gerando
insegurança para a sociedade.
A soja como o principal produto agrícola de exportação brasileiro, segue
numa escala linear de produtividade se igualando aos EUA, que é o maior produtor
dessa oleaginosa. O estado do Paraná, como um dos maiores produtores de soja do
Brasil, segue uma linha de precaução e tenta de uma forma estratégica preservar o
seu mercado de soja convencional, gerando entraves para a introdução da soja
transgênica.
Por outro lado, a empresa multinacional, detentora da patente do gene que
expressa uma inovação revolucionária na produção da soja, tenta disseminá-la de
uma forma generalizada no Brasil afirmando que essa tecnologia fornecerá
comodidade e ganhos econômicos para o produtor.
Essa polêmica persiste por um período considerável e mostra uma tendência
crescente de conflitos entre os atores desse agronegócio: o estado do Paraná, a
multinacional, produtores e pesquisadores. Dessa forma, é oportuno o levantamento
das informações geradas pelos principais agentes dessa discórdia para tentar ajudar
na tomada de decisão sobre o assunto.
A técnica de manipulação genética, denominada também de engenharia
genética, permite isolar uma seqüência de ADN (ácido desoxirribonucléico) de um
organismo e transferí-la ao ADN de outro organismo completamente diferente
formando o que se chama de ADN recombinante (PASQUAL et al, 1997). Os
produtos provenientes da biotecnologia ou engenharia genética são chamados de
organismos geneticamente modificados (OGMs). No desenvolvimento de um OGM
foi possível a introdução de um gene na cultura da soja que imprimiu resistência ao
herbicida de ação total denominado de glifosato.
A soja transgênica RR é semelhante à convencional apenas diferindo quanto
à resistência ao herbicida glifosato, que exerce controle da maioria das ervas
daninhas presentes nas lavouras. Dessa forma, facilitou o controle das ervas
daninhas e seu uso se generalizou em algumas regiões. Ao mesmo tempo surgiram
reações com críticas a essa nova tecnologia devido à falta de estudos de longo
prazo sobre ações da soja modificada ao organismo humano. Também emergiram
necessidades segmentadas de produtos derivados da soja, oriundas de clientes
exigentes principalmente europeus.
A FAO (2001) argumenta que conforme cresce as aplicações da modificação
genética, a comunidade internacional precisa assegurar-se que os cultivos de
organismos geneticamente modificados possuem seguridade alimentar. Inventário
realizado por essa organização indicou que a genômica e a investigação associada
não estão caminhando juntas. A procura pela lucratividade com o uso dos OGMs
tem desviado os investimentos na investigação e aplicação, tanto no setor público
como privado. Cada vez mais, utiliza-se de direitos intelectuais sobre uso de
sementes, materiais de cultivos e instrumentos de engenharia genética modificando
as relações dos setores público e privado em detrimento do primeiro.
Os governos devem assegurar que a investigação pública não se converta em
“parente pobre”. Nos países em desenvolvimento o setor público deve ter suficiente
capacidade, recursos e independência para oferecer serviços seguros nessa área.
Também devem criar capacidades normativas e de regulamentações relativas aos
cultivos de transgênicos que se originam dentro e fora do país.
Costa e Borém (2003) afirmam que a maioria das plantas OGMs que estão
no mercado foram modificadas para melhorar suas características agronômicas ou
facilitar sua reprodução. Espera-se que nos próximos anos mudanças mais
expressivas sejam introduzidas com benefícios para a nutrição e saúde de homens e
animais.
Pode-se notar que existem posições antagônicas e até mesmo precavidas
sobre os transgênicos instituindo-se uma polêmica que dificulta uma tomada de
decisão por parte daqueles possíveis usuários.
Mello (2004) evidencia essa polêmica, resgatando a crítica da sociedade e
comunidade científica feita ao cientista inglês Edward Jenner e à sua nova
descoberta, a vacina contra a varíola. Somente sessenta anos após o início de seu
uso essa vacina teve aceitação popular. Osvaldo Cruz, no Brasil, da mesma forma
passou pela mesma situação quando encontrou resistência popular à sua campanha
contra a febre amarela. Acertos ou erros provenientes da transgenia serão
lembrados, no futuro, de forma semelhante à vacina de Osvaldo Cruz.
O fato é que, persistem as dúvidas sobre organismos transgênicos. Grupos
em todas as partes do mundo, de forma consistente ou não, colocam barreiras
alegando que ainda não existe segurança para o seu consumo. Para a introdução
dessa tecnologia são necessários estudos de impacto ambiental sobre o homem e o
meio ambiente. A vantagem do seu uso é inegável e está inserida numa área vital
que é a produção de alimentos. Como se constitui de modificação genética por
processos não convencionais é prudente que sejam tomadas cautelas para evitar
qualquer risco ambiental (PAIVA, 2003).
Dessa forma, o princípio da precaução, estabelecido em acordos
internacionais, pode ser praticado como um comportamento ético. A
responsabilidade pelas futuras gerações e pelo meio ambiente deve ser combinada
com as necessidades antropocêntricas do presente. Esse termo foi incorporado ao
direito internacional, e estabelece atitudes quando ocorrem divergências científicas.
O princípio da precaução
1
prevê que, quando uma ação ou evento propicia
incertezas em relação ao equilíbrio da natureza, deve-se adotar atitudes cautelosas
enquanto houver dúvidas científicas. Nesse sentido, Nodari e Guerra (2001)
enfatizam que não é necessário esperar catástrofes ambientais proporcionadas pelo
efeito estufa para que se adotem restrições a emissão de gases. A introdução de
tecnologias para promoção do desenvolvimento econômico deve estar atrelada a
práticas de previsibilidade de danos ambientais.
Com o desenvolvimento da biotecnologia introduziram-se novas
características de interesse econômico, possibilitando novas perspectivas tanto
1
O princípio da precaução é definido como um instrumento internacional estabelecido nas linhas orientadoras da
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizado no ano de 1972 em Estocolmo, o
qual orienta o seguinte compromisso ambiental: “De modo a proteger o meio-ambiente, o princípio da precaução deve
ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou
irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas
eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”. (AYALA, 2000).
quantitativas como qualitativas. Mas, conforme Perrière e Seuret (2001) como é uma
forma anormal de manipulação genética, pode induzir mudanças inesperadas no
metabolismo dos organismos e provocar síntese de novas proteínas ou novos
compostos eventualmente tóxicos.
No Brasil, parte do poder Executivo, cientistas, associações de
representantes do agronegócio, empresas de agroquímicos e traders defendem a
liberação do plantio de transgênicos como condição para se manter competitivo no
mercado internacional. Aqueles que se opõe aos transgênicos argumentam a favor
da competitividade dos produtos obtidos por processos convencionais alegando
menores impactos ambientais e melhores preços. Esses oponentes ainda observam
sobre a possibilidade da mistura irreversível de sementes convencionais com
transgênicas dificultando o processo de segregação para preservar a identidade dos
produtos.
A questão que ainda persiste é, com que parâmetros os consumidores
potenciais decidem por uma tecnologia que assegura vantagens econômicas e
praticidade, mas que ainda é apresentada por grupos da sociedade como uma
inovação perigosa e contraditória.
5.1 O paradigma científico
A inovação tecnológica se insere através de necessidades da sociedade ou
por imposição tecnológica advinda da pressão de se conseguir resultados
econômicos maiores e num curto espaço de tempo. Na prática essas duas
categorias orientadas por necessidades intrínsecas interferem nas decisões de
inovação. As inovações, portanto, podem vir de exigências do mercado, mas
também de oportunidades visualizadas por quem gera tecnologias visando
irrestritamente o lado econômico. A dinâmica da inovação tecnológica não acontece
de uma forma linear. Ela ocorre com sinergias entre vários setores como cientistas,
empresários, poder público e a própria sociedade (REIS, 2004).
Essas inovações tecnológicas ao serem oferecidas são assimiladas de forma
espontânea ou rejeitadas pela sociedade variando conforme a evolução crítica dos
atores que a compõe. A rejeição a uma determinada inovação acontece de forma
mais aguda quando está se desenvolvendo a quebra de um paradigma, isto é,
quando se gera um novo domínio científico.
Esse conflito entre a aceitação ou rejeição de uma tecnologia de nível mais
elevado pode interligar grupos de especialistas que passam a ter uma visão
unilateral influenciando de uma forma intuitiva a formação de uma nova geração de
cientistas. Os conflitos gerados por novas tecnologias com impactos de quebra de
paradigmas, não são resolvidos num único campo e sim envolve o compartilhamento
de vários domínios. O sucesso do novo paradigma será significativo quando ele
resolver problemas primordiais do seu campo como também as deficiências do
paradigma anterior (FORMOSINHO, 1988).
Os impactos causados pelas novas tecnologias devem ser avaliados através
de instrumentos e mecanismos que meçam os efeitos sobre o meio ambiente e a
sociedade. A avaliação simplista da relação custo-benefício para a introdução de
uma inovação deve ser questionada. A introdução de avaliações mais abrangentes
permite reduzir efeitos negativos e potencializar os positivos contribuindo dessa
forma para uma aceitação mais equilibrada pela sociedade.
Esses impactos negativos podem ser avaliados e mostrados com a
participação efetiva de grupos que representem todos os interesses com uma visão
ampliada dos problemas, introduzindo-se nessa situação, uma avaliação
participativa. Nesse tipo de avaliação insere-se um modelo construtivo de
tecnologias com proposição de mudanças legais e sociais, impondo dessa forma,
uma amenização ou prevenção dos impactos negativos.
Em relação a essas novas tecnologias Morais (2004) esclarece a relação
entre a biotecnologia e o Direito. A autora enfatiza que o desenvolvimento da
biotecnologia tem gerado resultados muito rápidos, dificultando a elaboração de
normas e regras frente a essas novas tecnologias.
Os estudos e implicações da biotecnologia devem envolver o maior número
de representantes da sociedade. O envolvimento deve passar desde o cidadão
comum até o conhecimento jurídico.
Toda a inovação difusa, isto é, que leva em consideração somente a
tecnologia de produção não revelando claramente a sua função sócio-ambiental,
leva a sua adoção de forma impositiva e tecnocrata. Portanto, as novas tecnologias
ao serem introduzidas devem não somente ser analisadas economicamente, mas
devem prever as questões culturais, sociais e ambientais, pois as tecnologias não
são neutras. Elas não podem ser vistas apenas como ferramentas e dispositivos que
geram resultados econômicos, mas sim que representem os valores, necessidades e
ideologias da sociedade e dos grupos que as geram (BAZZO et al, 2003).
A introdução de tecnologias revolucionárias costumam ter um caráter
temporário de controvérsias até que outras as substituam. Assim, pode-se
mencionar tecnologias que estão inseridas nessa classificação: a energia nuclear, a
engenharia genética e mais atualmente a nanotecnologia, clonagem e as células
tronco. Essas controvérsias seguirão um rumo direcionado a uma difusão
sensacionalista ou não com questões éticas, morais, religiosas e científicas.
A Ciência como geradora de avanços tecnológicos não possui todos
adequados de decisão sobre essas questões de cunho filosófico, mas o cientista
deve se preparar para exercer uma função de esclarecedor de conceitos
equivocados adquiridos pela sociedade. Novas tecnologias cada vez mais se
desviarão dos fenômenos naturais indo de encontro com posições contrárias de
grupos que nem sempre apresentam bases teóricas para serem contras, mas se
posicionam com questionamentos subjetivos com evidências empíricas sobre o
assunto. Por outro lado, assim como os cientistas devem estar preparados para
explicar conceitos e tecnologias à sociedade, esta também deve se preparar para
prevenir abusos tecnológicos evitando-se fenômenos incontroláveis que interfiram
negativamente ao meio ambiente e à diversidade biológica (GARCIA, 2003).
As sociedades do capitalismo apresentam dificuldades para mostrar
transparências e estão sujeitas a manipulações e a espetáculos de prós e contra
determinada tecnologia. As decisões se dão de forma autoritária e segmentada não
passando pelo crivo de representantes do cidadão comum, muito pelo contrário se
dão pela intermediação de inúmeras instituições e instâncias caracterizadas por
decisões tecnocratas. A visão unilateral unicamente no progresso técnico no pós-
guerra evidenciou problemas ambientais rios a partir das usinas nucleares
passando pela primavera silenciosa provocado pelo inseticida DDT indo até o vírus
da Aids e o acontecimento da vaca louca na Europa. Esses fatos incontroláveis
demonstram que por mais cuidado e regulamentação que exista sempre
acontecerão efeitos prejudiciais à sociedade que algumas vezes ocorrem por
interesses puramente econômicos (LEITE, 2000).
Os produtos gerados pela indústria da biotecnologia, ofertados à sociedade
recentemente, devem conter efeitos distributivos de benefícios advindos dessas
inovações. Os interesses contidos nos laboratórios nem sempre exteriorizam efeitos
e responsabilidades sociais. Portanto, para se ter um desenvolvimento sustentável,
deve-se rever os conceitos éticos e os impactos dessas inovações biotecnológicas,
considerando-se as necessidades dos cientistas, industrias, consumidores e o meio
ambiente. O rápido avanço tecnológico na área da biotecnologia imprime uma
necessidade de controle através de uma legislação equilibrada que contemple um
controle dos abusos com impactos negativos à sociedade e ao meio ambiente, mas
também que o seja de caráter fundamentalista que venha a obstruir as pesquisas
nesse campo, tão necessárias ao desenvolvimento do país (SCHOLZE e
MAZZARO, 2002).
As atuais crises alimentares evidenciadas na Europa, devido à doença da
vaca louca e os organismos geneticamente modificados (OGMs), permitiu novas
relações entre a ciência e sociedade passando-se de decisões unilaterais para uma
múltipla transparência de opiniões. Esse debate público gerou considerações
relevantes sobre os OGMs como rotulagem dos produtos geneticamente
modificados, impactos sócio-econômicos além dos sanitários e ambientais. Esses
procedimentos considerados no princípio da precaução demonstram que a
sociedade deve exercer o seu papel de validar uma nova tecnologia, não permitindo
que somente os cientistas e especialistas conduzam o destino tecnológico.
A diversidade entre o medo e a razão não deve, por outro lado, ser obstáculo
absoluto para o desenvolvimento de novas tecnologias altamente impactantes como
os OGMs nem o processo competitivo das empresas. Com o desenvolvimento de
instrumentos que permitam a essa sociedade do medo entender e atuar sobre a
razão da tecnologia, a qual não está acostumada a usar de diálogo democrático,
poderá então ocorrer um estreitamento da desconfiança dos métodos e resultados
obtidos pelos pesquisadores (ABRAMOVAY, 2001).
Essa polêmica em torno dos produtos transgênicos ocorre numa arena onde
defensores e opositores dessa tecnologia defendem-se com argumentações, ora
empíricas, éticas ou embasadas dentro da razão científica. Portanto, nesse período
de tempo que ocorrem divergências sobre o uso ou não dessa tecnologia, a
sociedade deve se preparar para entender o processo e antes de tudo participar das
decisões.
5.2 Os rumos dos transgênicos
O debate sobre os transgênicos segue dois pólos: os defensores e os críticos
dessa tecnologia, que estão intimamente conectados. Os defensores, representados
principalmente por cientistas, indústria de biotecnologia e alguns grupos de
interesse, seguem uma linha libertária onde a sociedade não deve intervir no
desenvolvimento tecnológico. O outro lado é formado por um grupo com
preocupações morais, éticas, religiosas e também algumas argumentações cnicas
e econômicas. Essa polarização caminha algum tempo com discórdias, mas
são escassas as preocupações em criar mecanismos e instituições que permitam à
sociedade organizar o ritmo e os critérios da inovação tecnológica. Não serão as
empresas de biotecnologia que farão os controles éticos sutis necessários; logo a
presença da sociedade e do próprio governo se faz necessário para normatizar
ações controladoras. Uma regulação para a biotecnologia agrícola tem sido
controversa com maiores debates ocorrendo entre Estados Unidos e Europa, mas
é hora de se passar da reflexão para a ação e da recomendação para a legislação
(FUKUYAMA, 2003).
Os consumidores, como parte integrante da sociedade, devem estar cientes e
devidamente esclarecidos sobre os produtos diferenciados que consomem. Deve-se
incluir todas as informações necessárias através de uma rotulagem transformando-
se num procedimento antes de tudo ético. O consumidor tem o direito de saber
sobre as práticas agronômicas e zootécnicas utilizadas, de acordo com o que está
previsto no código de Defesa do Consumidor. Para produtos polêmicos nesse
período de tempo, como os OGMs, é conveniente se saber o quanto de ADN e de
proteína recombinante existe no produto final. Esse conceito está inserido na Norma
de Rotulagem de Alimentos e Ingredientes Modificados (FIOCRUZ, 2001).
Atualmente no Brasil, qualquer alimento derivado que tenha acima de 1% de
transgenia deve ter no rótulo informação aos consumidores, assim como os produtos
elaborados a partir de animais que consumiram rações contendo ingredientes
transgênicos (OCEPAR, 2003).
A atual realidade indica que principalmente a Europa passará a intensificar a
exigência de soja grão e farelo não transgênico com certificado de origem. Conforme
ainda publicação de Muttit (2003) do Greenpeace, o setor produtivo se organiza para
ter disponível soja convencional certificada, visando um mercado que pagará um
prêmio para esse produto ou alternativamente que realizará descontos para a
comercialização de soja transgênica.
Nessa perspectiva, Nepomuceno (2004) visualiza a formação de nichos de
mercado com produções concentradas em pequenas áreas, mas com alto valor
agregado proporcionado por organismos geneticamente modificados caracterizados
por qualidades únicas. Outras áreas poderão conter em maior escala, soja com
características agronômicas que proporcionem baixo custo proveniente de um fator
transgênico. Ou ainda, caso persistam a rejeição pelos transgênicos por parte da
sociedade, existirá um nicho de produção de soja convencional.
A soja convencional ou não transgênica como um produto especial pode
segmentar o mercado em determinado tempo, proporcionando vantagens
competitivas para aqueles países que certificam esse produto. Esse mercado possui
característica de nicho, numa escala finita, portanto é um convite aberto para que
outros países também se organizem e produzam também a soja não transgênica
certificada. Nessa perspectiva, o estado do Paraná e algumas cooperativas desse
estado, visualizando um mercado cativo e constante e evitando possíveis barreiras
as suas exportações, fiscalizam suas lavouras convencionais através de certificação
evitando possíveis contaminações por soja transgênica. Nessa situação,
desenvolvem-se ações sistêmicas contínuas para a criação de um conjunto de
oportunidades desenvolvendo mercados e produtos específicos para as exigências
crescentes de clientes externos (SILVEIRA et al, 2003).
5.3 Biossegurança
Para a regulamentação da engenharia genética no Brasil foi votada a Lei de
Biossegurança a qual introduz procedimentos de biossegurança e bioética na
manipulação e experimentação com organismos geneticamente modificados, com
preocupações jurídicas prevendo a participação dos anseios da sociedade.
Essa Lei de Biossegurança (11.105 de 24 de março de 2005) estabelece
normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam
organismos geneticamente modificados OGM e seus derivados, cria o Conselho
Nacional de Biossegurança CNBS, reestrutura a Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança CTNBio e dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança
PNB.
A Comissão cnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) faz o controle da
pesquisa e emite o parecer técnico sobre a liberação de organismos geneticamente
modificados. Os interessados em desenvolver atividades previstas nessa Lei
deverão requerer autorização à essa Comissão (CASA CIVIL,2005). Além disso, os
alimentos modificados geneticamente terão um controle adicional realizado pela
CNTBio, diferente do controle compulsório a que são sujeitos os alimentos
tradicionais.
Para os alimentos, existem duas maneiras de avaliação da segurança: a
primeira é o seu histórico e a segunda é a utilização de testes e análises de
segurança alimentar. Em relação aos alimentos oriundos da biotecnologia, ou
geneticamente modificados, levanta-se a hipótese de riscos pelas alterações não-
intencionais que ocorrem nos produtos oriundos do material genético modificado.
O tema biossegurança, portanto, envolve conceitos sobre riscos e perigos. A
FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, associada a
OMS Organização Mundial de Saúde, define perigo como o potencial de dano que
um agente biológico, químico ou físico presente no alimento possa exercer à saúde.
O risco é a possibilidade de ocorrência de efeito adverso à saúde, oriundo de um
perigo.
Para a avaliação dos possíveis riscos advindos de alimentos modificados,
utiliza-se o instrumento de avaliação denominado de equivalência substancial (ES).
Esse conceito consiste na comparação entre alimentos provenientes da
biotecnologia e seus análogos convencionais. Quando esses alimentos são
considerados substancialmente equivalentes, os seus níveis de segurança para
alimentação também são semelhantes (AZEREDO, 2003).
A utilização desse conceito ainda não é consenso entre cientistas, mas é uma
ferramenta que está auxiliando na determinação da similaridade e possíveis
diferenças entre alimentos convencionais e biotecnológicos.
Analisando-se ainda a situação da biotecnologia em termos de segurança,
constata-se que a utilização generalizada do herbicida glifosato sobre a soja
transgênica RR, passa por alguns questionamentos. Um desses argumentos centra-
se no maior risco ao meio ambiente devido ao aumento da quantidade desse
herbicida por unidade de área, visto que, além do seu uso em pré-emergência nas
chamadas dessecações das coberturas verdes presentes e também das ervas
daninhas remanescentes que antecedem o plantio da cultura da soja, passa também
a ser utilizado em pós-emergência com doses variadas e possivelmente crescentes
pela resistência esperada das ervas daninhas. Nesse sentido, Gazziero e Prete
(2004) confirmam essa hipótese ao afirmarem que o uso freqüente desse herbicida,
por certo selecionará plantas resistentes.
Em relação ao controle de ervas daninhas na soja convencional, é usual
utilizar-se de três herbicidas para aplicação em pós-emergência. Dois desses
herbicidas possuem a finalidade de combater ervas daninhas de folhas largas e um
para ervas de folhas estreitas. É comum no âmbito das fazendas a realização das
misturas em tanque para facilitar o controle das diversas ervas e diminuir o número
de pulverizações. Pela legislação federal brasileira, essa mistura de produtos no
tanque do pulverizador é proibida. Essa proibição é justificada pelo resultado
inesperado da toxicologia quando se misturam produtos com classes toxicológicas
diferentes. Todos os testes toxicológicos são realizados com os produtos individuais,
exceto quando o produto é lançado no mercado com a mistura de dois princípios
ativos diferentes.
Em relação à toxicologia dos produtos fitossanitários existem duas
abordagens que o consideradas. A primeira refere-se à avaliação toxicológica
pertinente aos aspectos ambientais e toxicidade para os organismos de diferentes
ecossistemas. Essa avaliação é apresentada como classes de periculosidade
decrescente para o meio ambiente e organismos do ecossistema, tais como,
microorganismos, minhocas, microcrustáceos, peixes e animais superiores. A Classe
I determina que um produto é altamente perigoso seguindo até a Classe IV onde o
produto assim classificado é pouco perigoso (STÜTZER e GUIMARÃES, 2003).
Nos quadros 2 e 3 são mostradas as classificações e avaliações toxicológicas
respectivamente de acordo com os produtos fitossanitários.
Quadro 2 – Classificação toxicológica dos produtos fitossanitários formulados
Classe I extremamente tóxico faixa vermelha
Classe II altamente tóxico faixa amarela
Classe III moderadamente tóxico faixa azul
Classe IV produto tóxico faixa verde
Fonte: Stützer e Guimarães (2003) apud Zambolim et al
A segunda abordagem refere-se à toxicidade à saúde humana. Nessa
condição os produtos fitossanitários são enquadrados também em classes
toxicológicas. Produtos enquadrados na Classe I extremamente tóxicos são bem
mais impactantes para a saúde do homem que a Classe IV. Essa classificação é um
indicativo apenas para quem tem contato com o produto, isto é, para quem manipula
a embalagem seja na aplicação, na armazenagem e no transporte. Portanto, a
classificação toxicológica o se relaciona com exposição do produto em longo
prazo nem com a segurança do meio ambiente.
Os herbicidas usados na soja convencional e transgênica RR apresentam
graus de periculosidade variados e são classificados como Classe I, II e III. O
glifosato registrado no Brasil para uso na soja transgênica RR apresenta uma
classificação toxicológica II (altamente tóxico) e um grau de periculosidade para o
meio ambiente III (produto perigoso).
Quadro 3 – Classificação dos produtos fitossanitários em função de suas
avaliações toxicológicas (grau de periculosidade ao meio ambiente)
Classe I Produto altamente perigoso
Classe II Produto muito perigoso
Classe III Produto perigoso
Classe IV Produto pouco perigoso
Fonte: Stützer e Guimarães (2003) apud Zambolim et al.
Complementando as informações sobre o glifosato, Almeida e Rodrigues (1985)
afirmam que o princípio ativo glifosato possui persistência média no meio ambiente,
com pequeno deslocamento para regiões vizinhas. Não possui atividade no solo por
ser fortemente adsorvido pelos colóides da argila e húmus. A atividade microbiana é
a principal responsável pela decomposição do produto no solo. Aproximadamente
50% da molécula original é metabolizada em 28 dias, chegando a 90% em 90 dias.
Não possui atividade residual sobre a germinação possibilitando a semeadura logo
após a aplicação desse produto.
5.4 Custos da soja transgênica
Um argumento, comum no âmbito dos atores do agronegócio, é em relação à
questão econômica. Nesse sentido Pelaez (2004) considera ilusória a redução no
custo de produção da soja transgênica que o USDA, o departamento de
agricultura americano, constatou em suas pesquisas um aumento de 30% nos
custos com o uso dessa tecnologia a partir do terceiro ano. Além disso, se forem
considerados outros fatores para composição dos custos de produção como
pagamentos de royalties, custo de segregação, rastreabilidade e produtividade
comparativa, poderão surgir resultados que permitirão identificar se a soja
transgênica é ou não competitiva em termos econômicos.
Portanto, deve-se aqui salientar que, dentre os argumentos favoráveis à
introdução da soja transgênica no Brasil, o fator custo é o mais enfatizado.
Em relação ainda a redução de custos com a utilização da soja transgênica,
Morais (2004) relata que a Desembargadora, que deferiu em 2003 um pedido da
multinacional criadora da soja transgênica RR, tratou a questão nos seguintes
termos:
Em ntese, a lide transcende os interesses das partes, pois trata de
questões que dizem respeito ao desenvolvimento de técnicas
agrícolas para o desenvolvimento sustentável do país, a
competitividade do Brasil no mercado internacional de commodities,
o avanço na área de pesquisa científica para redução dos custos da
produção agrícola com a diminuição de agrotóxicos e o direito do
consumidor à informação. Destarte, estão presentes os requisitos
para concessão de efeito suspensivo à apelação da União Federal e
outros, e por isso defiro nos termos do pedido e com base na
fundamentação do voto já proferido.
Pode-se constatar a afirmação categórica sobre redução de custos como o
uso da tecnologia “soja transgênica”, tornando o Brasil mais competitivo no mercado
internacional de commodities.
Em relação à redução de custo com o uso da soja transgênica ainda são
escassos os trabalhos no Brasil que comprovam tal afirmação. O que se são
opiniões genéricas e inconsistentes sobre o assunto.
A Comissão Européia (2003), analisando a relação de custo entre a soja
transgênica e a soja convencional, informa que devido à taxa tecnológica agregada
na semente da soja transgênica, ela fica mais cara que a semente da convencional.
Para a soja transgênica, essa comissão relata um custo de 57/ha versus 42/ha
para a convencional. A diferença de 15/ha corresponde à taxa tecnológica. No atual
estágio existem dois elementos de equilíbrio: um é o maior preço da semente da
soja transgênica e o outro é a maior produtividade da soja convencional. Na Tabela
5 resume-se o trabalho apresentado pela Comissão Européia (2003) apud Duffy
onde se observa uma comparação de retorno para soja transgênica e convencional.
Tabela 5 – Comparação de retorno entre a soja transgênica RR e a convencional
Cultura Produtividade
(kg/ha)
Custo de
semente
(/ha)
Custo total
(excluindo terra e
trabalho) (/ha)
Retorno sobre
a terra e
trabalho
(/ha)
Soja transg.
RR
3.295
57
254
320
Soja
convencional
3.430
42
274
322
Fonte: Comissão Européia (2003) apud Duffy
Com esses dados, percebe-se que os custos totais da soja convencional são
maiores que os da soja transgênica. Entretanto, esses maiores custos são
compensados pela maior produtividade da convencional.
Em relação à produtividade, na maioria dos ensaios realizados nos EUA a
soja transgênica RR mostrou ser em média 5,3% menos produtiva que a soja
convencional. Através da Tabela 6 constatam-se as diferenças de produtividade
entre a soja transgênica e a convencional de diversos estados dos EUA.
Uma das explicações para a baixa performance das variedades transgênicas
mostradas na Tabela 6, é que foram comparadas com variedades top convencionais.
As empresas de sementes ao longo do tempo tentarão passar essa maior
produtividade das variedades convencionais para as transgênicas.
Tabela 6 – Diferenças de produtividade entre a soja convencional e a transgênica
Produtividade (kg/ha)
Estados
Convencional Transgênica
Diferença entre as
tecnologias (%)
Illinois 3.900
4.040
+ 3,5 %
Iowa 4.100
3.830
-7%
Michigan 4.440
4.300
-3%
Minnesota 4.440
4.100
-8%
Nebraska 3.900
3.430
-12%
Ohio 4004
3.900
-3%
South Dakota 3.300
2.960
-10%
Wisconsin 4.770
4.640
-3%
Fonte: Wilkinson (2002) apud Benbrook
Ainda em relação à produtividade, Bianchi (2005) apresenta na Tabela 7 as
diferenças ocorridas entre variedades padrões de soja convencional e transgênica
plantadas no Rio Grande do Sul. A justificativa para as menores produtividades da
soja transgênica é embasada no uso de variedades ainda não adaptadas para o
Brasil, já que, a maioria das variedades plantadas no Rio Grande do Sul veio
clandestinamente da Argentina.
Complementando as informações, esse autor afirma que em levantamento
realizado numa área de 2.240.000 ha plantada com a soja RR na safra 2003/2004
no Rio Grande do Sul, a dose média utilizada do glifosato comum foi de 2,7 litros/ha.
Tabela 7 - Perda em produtividade (%) das variedades de soja transgênicas em relação às
convencionais (média de três safras).
Variedades Perdas (%)
CD-201 convencional
Melhor variedade RR -12
Pior Variedade RR -27
Fundacep - 39 convencional
Melhor RR -13
Pior RR -30
Fonte: Bianchi (2005).
Portanto, como pode ser observado, o contexto relacionado com a soja
transgênica é constituído por um desequilíbrio de argumentos.
6. METODOLOGIA
Para o delineamento da pesquisa, optou-se, sob o ponto de vista de seus objetivos, por uma pesquisa qualitativa de
natureza exploratória e descritiva assumindo formas de estudo de caso e de levantamento de dados respectivamente.
Justifica-se esse procedimento por tratar-se de levantamento de resultados econômicos produtivos, assim como,
verificação das estratégias antagônicas de mercado. De um lado a Secretaria da Agricultura do Estado do Paraná que tenta
conservar a sua produção da soja com tecnologia convencional, e do outro a multinacional que criou a soja transgênica que
tenta disseminá-la de uma forma ampla no Brasil. A escolha do estado do Paraná deve-se ao fato que é um dos estados
brasileiros em que o governo foi contrário a introdução dos transgênicos e que apresenta uma das maiores áreas de cultivo de
soja.
A pesquisa também exigiu uma mescla de evidências qualitativas e
quantitativas sem inclusão de métodos estatísticos. Os estudos de caso apresentam
características de avaliação que permitem explorar os supostos vínculos causais em
intervenções da vida real. Pode-se afirmar que os argumentos sobre o fenômeno
contemporâneo, soja transgênica, não estavam claramente definidos. Dessa forma,
é a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos contemporâneos, pois
permite observações diretas dos acontecimentos estudados e entrevistas das
pessoas neles envolvidos (YIN, 2003).
Nessa investigação qualitativa foi utilizada uma abordagem naturalista mencionada por Bogdan e Biklen (1994), isto
é, com estilo objetivo e informal para com os entrevistados, possibilitando uma descontração dos sujeitos pela confiança
adquirida no pesquisador.
Como método de coleta de dados utilizou-se de entrevistas individuais com perguntas semi-estruturadas, pois “a
entrevista semi-estruturada, ao mesmo tempo em que valoriza a presença do investigador, oferece todas as perspectivas
possíveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação”
(TRIVIÑOS, 1987). Confirmando esse direcionamento Yin (2003) relata que as entrevistas realizadas através de perguntas
semi-estruturadas, permite uma maior possibilidade de relatos, opiniões e até de sugestões.
Para o tratamento das entrevistas foi realizada uma análise de conteúdo e uma posterior classificação de argumentos
agrupados em uma tabela de acordo com as suas inter-relações. Finalmente foi realizada uma interpretação do conteúdo
dessa tabela obedecendo aos interesses e objetivos do estudo.
A seleção dos participantes das entrevistas teve como critério a amostragem intencional levando em conta os
objetivos do estudo. A elaboração dos protocolos de entrevistas partiu também dos objetivos do estudo, da literatura utilizada e
da experiência do pesquisador.
Dessa forma, foram selecionados sete atores para participarem das entrevistas: um gerente de uma multinacional,
dois representantes da Secretaria da Agricultura do Estado do Paraná, dois gerentes agrícolas de duas cooperativas da região
dos Campos gerais, um pesquisador de uma Fundação privada de pesquisa e um produtor agrícola que é utilitário da soja
transgênica.
Para a pesquisa com a multinacional em questão, entrevistou-se o gerente da área de biotecnologia em culturas RR
e responsável pela soja transgênica no Brasil. Junto à Secretaria da Agricultura do Estado do Paraná, foram entrevistados os
responsáveis pelos departamentos de Defesa Sanitária Vegetal e de Fiscalização do Comércio de Agrotóxicos.
Para a entrevista com a multinacional, o protocolo de entrevista constou da
seguinte pergunta básica: qual a estratégia de inserção da soja geneticamente
modificada ou transgênica no estado do Paraná?
Já para a Secretaria de Agricultura do Estado do Paraná, o protocolo versou sobre a seguinte questão: qual a
justificativa do governo do estado do Paraná para manter a sua produção com a soja convencional?
Para a realização das entrevistas com a Secretaria da Agricultura e a multinacional optou-se pela utilização de um
aparelho gravador devido à necessidade de uma maior amplitude de resposta. Nesse caso, o conteúdo da gravação foi
transcrito posteriormente. Para o restante dos entrevistados as transcrições foram feitas no momento das entrevistas.
As entrevistas com o pesquisador da Fundação, com os gerentes das Cooperativas e o produtor agrícola foram
conduzidas de forma focada, isto é, com menor tempo e servindo para corroborar certas evidências já estabelecidas (YIN,
2003).
Assim, a avaliação de posições antagônicas a uma determinada tecnologia só
pode ser concretizada se ocorrerem comparações de dados com rejeição ou
aceitação de argumentos. A análise das entrevistas permite estruturar proposições
em função das evidências nas contextualizações. Entendem-se como proposições,
afirmações estruturadas apresentadas como resultado de um argumento apoiado
por fato (BAUER e GASKELL, 2003).
Para a realização das entrevistas entrou-se em contato com os participantes pessoalmente, informando, por meio de
uma carta (ver Apêndice A), os propósitos e o encaminhamento do estudo. Nesse contato foi solicitado a cada participante que
marcasse um horário, não inferior a 60 minutos e o local que melhor lhe conviesse para a realização da entrevista. Durante a
entrevista foi solicitado que o entrevistado assinasse um termo de consentimento (ver Apêndice B) permitindo a utilização dos
dados na pesquisa. No início das entrevistas, foi repetido aos participantes o objetivo e a importância do estudo.
Ao realizar a entrevista foi seguido o roteiro de questões sem excessiva
rigidez (ver Apêndices C, D, E, F, G). Considerou-se o mesmo Apêndice para os
entrevistados da Secretaria da Agricultura (Apêndice C) e os gerentes das
cooperativas (Apêndice E), pois as perguntas foram as mesmas.
Conforme o pensamento expresso pelo entrevistado a abordagem foi
alterada, porém, tendo o cuidado de mantê-lo no caminho das questões que guiaram
a entrevista.
Para a não identificação dos participantes do estudo, foram utilizadas letras
(A, B, C, D), sendo: A para o pesquisador da Fundação, B para a multinacional, C
para os da Secretaria de Agricultura do Paraná e D para o produtor agrícola.
As entrevistas foram transcritas literalmente e devolvidas aos entrevistados
com o objetivo de esclarecer dúvidas percebidas na primeira análise dos dados e
também para confirmação e validação dos depoimentos.
De posse dos dados das entrevistas, realizou-se as suas análises. A análise e
interpretação dos dados foram precedidas de leitura das entrevistas transcritas,
tendo como objetivo uma maior familiarização com os dados coletados, os quais
foram separados de acordo com os significados.
No desenvolvimento desse estudo de caso, procurou-se dados variados de
informantes e condições específicas de interpretação do contexto, o que permitiu
entender melhor a situação estudada com suas várias dimensões. Pontos de vista
conflitantes foram esclarecidos no desenvolvimento exploratório e foram
reformulados ou abandonados conforme a relevância para o estudo.
Realizadas as entrevistas e analisando-se as respostas, pôde-se agrupá-las
identificando os principais argumentos antagônicos e classificando as principais
proposições para direcionamento da pesquisa. A análise argumentativa foi realizada
de uma forma estruturada reunindo as inúmeras proposições com o objetivo de se
realizar uma análise e posterior confirmação ou refutação dessas afirmações. Para
isso, adotou-se uma unidade de análise onde permitiu reunir as fontes e as
argumentações dispersas nas entrevistas auxiliando a identificar as conexões entre
elas.
Como parte do estudo, foi realizado um levantamento de dados para
elaboração dos custos de produção e evidências quantitativas, levando-se em conta
a produtividade individualizada da soja convencional e da soja transgênica, seus
respectivos preços de mercado e a logística de segregação. Esses dados serviram
para aceitar ou rejeitar proposições levantadas pelos atores envolvidos na tecnologia
da soja transgênica.
O levantamento dos custos comparativos de produção entre soja
convencional versus soja transgênica, foi realizado por meio de uma planilha de
cálculo, adotada pela Fundação de pesquisa que integra o nosso estudo. A
composição da planilha constou de custos variáveis e fixos próprios da tecnologia
empregada na região.
Foram utilizadas variáveis particulares na análise de cada tecnologia, soja
convencional e transgênica, separando-se a análise da seguinte forma:
1) Os herbicidas para soja convencional e transgênica com suas respectivas
doses.
2) Variáveis preços das respectivas sementes e a taxa tecnológica pelo uso
do gene RR.
3) Variável segregação interna no armazém somente para a soja
transgênica.
4) A variável produtividade comparativa entre a soja convencional e a
transgênica.
5) Os preços diferenciados dos grãos da soja convencional versus
transgênica.
Nesse estudo, considerou-se apenas a segregação interna da soja
transgênica para evitar misturas com a convencional. Justifica-se esse
procedimento, pois produtos diferenciados que possuem menor volume têm maior
custo para as suas separações e manipulações nos armazéns, conforme
estabelecido nas cooperativas do nosso estudo. Os custos da segregação interna da
soja transgênica, preços diferenciados da soja convencional certificada e os preços
com o valor da taxa tecnológica das sementes transgênicas foram obtidos através de
informações dadas pelos gerentes das cooperativas estudadas. Em relação à
segregação interna dos grãos da soja transgênica e o preço diferenciado dos grãos
da soja convencional certificada, foram utilizados os maiores valores dos dados
informados. Justifica-se esse procedimento para avaliação do impacto ocasionado
pelas melhores oportunidades de mercado.
Para a determinação das doses dos herbicidas convencionais utilizadas
levantou-se a quantidade de produtos mais utilizados em uma das cooperativas
estudadas. De posse do volume, dividiu-se pela respectiva área de soja plantada por
seus produtores na safra 2004/2005. Adotou-se esse procedimento para os três
herbicidas utilizados na soja convencional. A determinação da dose média do
glifosato utilizada na soja transgênica foi embasada no rótulo do produto registrado
para utilização na soja transgênica o qual foi fornecido pelo entrevistado da
multinacional. O restante dos custos considerou-se igual para as duas tecnologias.
Para verificação dos impactos nos custos inerentes de logística de
segregação interna e armazenamento da soja transgênica, inclui-se em uma das
perguntas realizadas aos gerentes das cooperativas, um cenário produtivo futuro
constituído de 10% do volume total da produção de soja recebida com soja
transgênica.
Os levantamentos das produtividades comparativas, entre soja convencional
e a soja transgênica, foram realizados junto a órgãos de pesquisa que possuíam os
dados e os disponibilizaram.
O relatório da pesquisa foi estruturado de uma forma analítica linear
2
, pois é a
abordagem padrão para estudos descritivos e exploratórios. Quanto à análise dos
dados e evidências foi usada uma estratégia analítica seguindo as proposições
teóricas e questões da pesquisa.
7. RESULTADOS e DISCUSSÕES
2
Estruturas analíticas lineares “é uma abordagem padrão ao se elaborar um relatório de pesquisa. A seqüência de
subtópicos inclui o tema ou o problema que está sendo estudado e uma revisão da literatura importante
existente”. (YIN, 2003).
7.1 Análise das entrevistas
Realizadas as transcrições das entrevistas criou-se uma unidade de análise
com as argumentações selecionadas dos atores envolvidos na pesquisa, aqui
denominados de fontes. No Quadro 4 estão agrupados os principais argumentos que
foram classificados em função de três aspectos: tecnologia, mercado e meio
ambiente. Após esse agrupamento, foi realizada outra classificação desses
argumentos, nas três categorias estipuladas acima e passou-se então para uma
análise confrontando as possíveis divergências e convergências.
Quadro 4 - Fontes com os respectivos argumentos classificados
Argumentos técnicos positivos
Pesquisador da
Fundação (A)
“Acho uma excelente alternativa no manejo de plantas daninhas na
cultura da soja, porém é somente mais uma ferramenta que deverá ser
utilizada de forma consciente e técnica. A dosagem média total de
equivalente a ser utilizada será de 960 à 1080 g e.a.ha
-1
e em alguns
casos aplicados em uma única vez ou em duas vezes dividindo a
dosagem 540 / 540 g e.a.ha
-1”
.
Multinacional
(B)
“Não tenho dúvida nenhuma que o produtor vai ser beneficiado tanto
diretamente como indiretamente. É uma tecnologia de facílimo uso, eu
acompanho isso desde 1998, acompanho vários experimentos com o
sistema soja RR. Essa tecnologia realmente é extremamente poderosa,
fácil uso, com controle de ervas extremamente efetivo. É uma tecnologia
que traz benefício, direto, custo mais baixo, o preço do herbicida glifosato
RR não terá valor diferenciado dos concorrentes de mercado. Em relação
à produtividade, ela está relacionada com a variedade utilizada, o gene
não influencia a produtividade. Os materiais na época do início do
desenvolvimento da tecnologia não eram os melhores comparados com
o que temos hoje. Em relação a doses é seguir a bula oficial do
herbicida (glifosato RR) específico para a aplicação em pós-emergência
na soja RR que foi aprovado para uso no Brasil. Somente no Paraná
ainda não temos o cadastro aprovado desse herbicida, portanto, a bula
será diferente, a qual ainda não temos”.
Secretaria da
Agricultura (C)
“É uma tecnologia que objetiva o manejo de ervas daninhas e coberturas
verdes antes do plantio pelo herbicida de ação total glifosato. A
tecnologia da soja transgênica permite o uso desse herbicida também em
pós-emergência possibilitando uma redução do custo de produção com
amplo espectro de ação necessitando-se a priori de somente uma
aplicação para solucionar os problemas de ervas daninhas e do
sojicultor”.
Produtor (D)
“Acho que a soja transgênica RR pode e é mais uma ferramenta para a
agricultura. Utilizei a soja RR na safra 204/2005 em São Paulo e
pretendo utilizar porque tenho uma boa diminuição de custo de produção,
além de ter problemas com ervas resistentes onde elimino com a soja
RR. Para combater ervas daninhas em pós-emergência utilizei o glifosato
comum, da empresa criadora da soja transgênica. Usei a dose de 3,5
l/ha em uma só vez”.
Quadro 4 - Fontes com os respectivos argumentos classificados continua
Argumentos técnicos negativos
Pesquisador
da Fundação
(A)
“O uso intensivo desta tecnologia poderá no futuro nos trazer sérias
complicações de plantas daninhas resistentes ao glifosato, Outra questão
importante é que iremos economizar em um primeiro momento na
aplicação de herbicidas, porém o custo de um hectare de soja RR irá
custar a mesma coisa que a soja convencional. É importante observar
também o potencial produtivo da soja RR em comparação com a
convencional. Em condições de infestação de ervas mais problemáticas
como erva quente (Borreria sp.), trapoeraba (Commelina sp.) e corda-de-
viola (Ipomoea sp.), as dosagens provavelmente serão maiores (1440 à
1800 g e.a.ha
-1
) e em alguns casos aplicados em uma única vez ou em
duas vezes dividindo a dosagem (720 / 720 ou 900 / 900 g e.a.ha
-1
).
Dependendo da espécie de commelina nem dosagens superiores a esta
serão suficientes”.
Multinacional
(B)
“A semente sim tem um pequeno diferencial, ela vai ter um custo a mais,
simplesmente para resgatar o direito do desenvolvimento da tecnologia”.
Secretaria da
Agricultura (C)
“É um benefício de curto prazo; nós temos informações que a utilização
prolongada de um mesmo princípio ativo traz resistência às plantas. Na
Argentina e outros países já estão aplicando quantidades de glifosato até
duas ou três vezes a mais, então essa vantagem se perde com o tempo.
Essa questão de redução de custo de produção pelo uso da soja
transgênica o Governo do estado entende que não pode ser levada em
conta”.
Produtor (D)
“A produtividade alcançada com a variedade RR foi de 2.370 kg/ha. A
ocorrência de estiagem e o plantio fora da época normal prejudicaram a
avaliação da produtividade”.
Argumentos de mercado
Pesquisador da
Fundação (A)
Não apresentou argumentos
Multinacional
(B)
“Desde 1998 com a aprovação da soja RR os trabalhos não pararam, na
época nós tínhamos quatro materiais semi-acabados e seis tinham
sido enviados para registro, hoje nós temos vinte e cinco materiais então
a pesquisa caminhou, então não parou, os trabalhos com a pesquisa
com soja continuam”.
Secretaria da
Agricultura (C)
“Como o Brasil tem o mercado voltado para a Europa e Ásia jamais
poderia adotar, no nosso entendimento, a postura que hoje predomina
através das medidas provisórias transformadas em lei em que se
autorizou a comercialização da soja transgênica no Brasil. No nosso
entendimento isso fere os interesses estratégicos do agronegócio
brasileiro porque eu tenho um produto cujo concorrente principal é os
EUA que tem mecanismos protecionistas. O governo americano
disponibilizará num período de cinco anos o valor de US$ 5 bilhões para
os agricultores americanos, então nós estaremos totalmente vulneráveis
pela adoção da mesma tecnologia. Eles poderiam derrubar os preços da
soja, pois tem subsídios e ganhar os mercados e excluir o Brasil que
desponta como um risco na liderança na produção mundial dessa
commodity, que é estratégica no processo de alimentação humana e
animal. Todas essas prospecções de situações adversas foram
plenamente exercitadas no estado do Paraná e nos deram a certeza e a
convicção de termos um mercado garantido através da produção da soja
convencional”.
Quadro 4 - Fontes com os respectivos argumentos classificados conclusão
Produtor (D)
Não apresentou argumentos
Argumentos sobre o meio ambiente
Pesquisador da
Fundação (A)
Não apresentou argumentos
Multinacional
(B)
“Quando houve a medida provisória permitindo o plantio no Rio Grande
do Sul em 2003, os trabalhos voltaram e temos a carência
estabelecida, dose, época de aplicação e níveis de resíduos aceitáveis.
Na época da aprovação da comercialização da soja transgênica RR no
Brasil pela CNTBio ela tinha instituído um programa de monitoramento
por cinco anos envolvendo a soja convencional com a soja RR. Com
relação à segurança alimentar vários estudos foram conduzidos,
conforme normas estabelecidas pelos órgãos regulamentadores, o que
resultou na liberação comercial reforçando assim a segurança da
tecnologia”.
Secretaria da
Agricultura (C)
“Pela falta de estudos na área de meio ambiente e saúde, está havendo
todo o tipo de precaução, essa falta de estudos é que está gerando uma
insegurança na utilização da soja transgênica. Pela falta desses estudos,
desde 1998, estamos controlando no estado do Paraná a não utilização
desse tipo de tecnologia, grãos de soja procedentes da Argentina
entrando pelo Rio Grande do Sul, possivelmente poderiam estar
chegando no Paraná. O que existe hoje é um trabalho de pesquisa nos
aspectos agronômicos, uso, produção, produtividade, já a relação da soja
transgênica com o meio ambiente e saúde não existe nas condições
brasileiras. Existem trabalhos de curta duração em outros países, não
temos em longo prazo, os efeitos dessa tecnologia. Esse trabalho aqui
não existe, senão não teria problema para nós, então a posição do
Paraná é em cima do princípio da precaução e a preservação do
mercado existente. Outro ponto é o risco da contaminação de lavouras
de soja plantadas lado a lado, riscos no transporte, colheita de vizinhos
então pode comprometer a qualidade da produção convencional do
estado”.
Produtor (D)
“Vou continuar utilizando a soja transgênica RR, pois permite a utilização
de herbicida com classe toxicológica baixa”.
Através de uma classificação desses argumentos contidos nessa unidade de
análise foram separados conforme o objetivo do estudo em outras categorias:
a) Argumentos positivos em relação à tecnologia: excelente alternativa de
controle de ervas daninhas; essa tecnologia é de fácil uso e de custo mais
baixo; é uma ferramenta a mais para a agricultura.
b) Argumentos negativos em relação à tecnologia: resistências de ervas
daninhas ao glifosato RR, aumento de doses do glifosato devido ao uso
contínuo da mesma molécula; maior custo das sementes transgênicas;
dúvidas em relação à produtividade da soja transgênica.
c) Argumentos de mercado positivos: atualmente existem mais de vinte e cinco
materiais transgênicos para comercialização; problemas de competitividade
no mercado da soja convencional com a introdução da soja transgênica.
d) Argumentos de mercado negativos: risco de contaminação de lavouras de
soja plantadas lado a lado e riscos no transporte, podem comprometer a
qualidade da produção convencional do estado do Paraná.
e) Argumentos positivos sobre o meio ambiente: o herbicida glifosato RR
utilizado na soja transgênica RR apresenta uma classe toxicológica baixa;
temos a carência estabelecida, dose, época de aplicação e níveis de resíduos
aceitáveis para o herbicida glofosato RR.
f) Argumentos negativos sobre o meio ambiente: falta de estudos do herbicida
RR na área de meio ambiente e saúde, essa falta de estudos é que está
gerando uma insegurança na utilização da soja transgênica.
7.1.1 Análise da tecnologia
Pela análise dos argumentos verificou-se que todas as quatro fontes
concordam que a tecnologia transgênica é eficiente no controle de ervas daninhas,
possui praticidade de uso e proporciona um menor custo de produção.
Por outro lado, dois deles (A) e (C) afirmam que, o uso contínuo do herbicida
glifosato RR causará problemas de resistência de ervas daninhas com conseqüente
erro no aumento de doses para controle. Em relação à esses argumentos, Gazziero
e Prete (2004) corroboram ao afirmarem que, pelo cenário apresentado até o
momento, mudanças significativas são esperadas nos processos produtivos e
relacionamentos nas cadeias agroindustriais. O próprio sistema de plantio passará
por acertos durante a introdução da soja transgênica RR, proporcionando num curto
espaço de tempo benefícios pela praticidade no controle de ervas daninhas. O uso
freqüente desse herbicida, porém, por certo selecionará plantas resistentes.
A fonte (A) coloca dúvidas sobre a igualdade da produtividade entre soja
convencional versus transgênica. A fonte (B) afirma que a produtividade da soja
transgênica depende do material de origem, e que atualmente os materiais
transgênicos são tão produtivos quanto os convencionais. Já a fonte (D) afirma que
obteve uma baixa produtividade, mas que o resultado ficou desvirtuado pela
ocorrência de estiagem na região do plantio.
Esses argumentos são debatidos no marco teórico onde Wilkinson (2002)
afirma que a maioria dos ensaios realizados nos EUA, a produtividade da soja
transgênica foi em média 5,3% menor que a da soja convencional.
7.1.2 Análise sobre o mercado
Já em relação ao mercado a fonte (C) questiona a entrada generalizada da
soja transgênica no Paraná já que esse estado é um importante exportador dessa
oleaginosa para a Europa e Ásia, que são seus principais clientes e que têm
restrições à soja transgênica. Esse depoimento reforça a argumentação de Giordano
(1999) a qual enfatiza que além dessa preocupação em valorizar produtos regionais,
surgiram a partir da década de 90 exigências por alimentos de qualidade e que
sejam provenientes de uma produção ambientalmente correta. Esse movimento
“verde” cresce na Europa e alimentos diferenciados em qualidade são produzidos
através de normas de certificação permitindo dessa forma, obter melhores preços no
mercado.
Por outro lado, Marques e Aguiar (1993) afirmam que antes de se decidir pela
diversificação de produtos é prudente a realização de um levantamento detalhado do
mercado alvo. Uma pesquisa de mercado sobre potenciais importadores, volume,
custos inerentes à segmentação, estimativas de preços e logística de distribuição
(portos e rodovias) deve ser realizada antes da diversificação.
Ainda em relação ao mercado, a fonte (C) relata o interesse do estado do
Paraná em permanecer com a sua produção de soja convencional, vislumbrando um
mercado que ainda poderá se concretizar. Essa fonte afirma ainda que, a
contaminação da soja convencional por grãos da soja transgênica poderá prejudicar
as exportações do estado do Paraná.
Pode-se entender, que a adoção dessa postura preventiva em relação ao
mercado da soja é função do estado. Por outro lado, realizar esforços sem ter a
verdadeira dimensão desse mercado e os reais benefícios para o produtor de soja,
pode levar a frustração e dúvidas.
A fonte (B) afirma que possui mais de vinte e cinco variedades de soja
transgênica para uso no Brasil. Essas variedades são o resultado da introdução do
gene RR em variedades comerciais existentes. A obtenção e multiplicação dessas
variedades são realizadas através de empresas autorizadas dos setores privado e
público, como a Embrapa-Soja no Paraná.
7.1.3 Análise sobre o meio ambiente
Em relação à classe toxicológica, a fonte (D) afirma que o glifosato utilizado
na sua lavoura de soja transgênica é baixa, isto é, apresenta um baixo impacto para
à saúde humana e ambiente. Tal afirmação é baseada nas classes toxicológicas dos
glifosatos comuns utilizados corriqueiramente, que são classificados na classe III,
isto é, moderadamente tóxico para a saúde humana e produto perigoso em relação
ao meio ambiente. No entanto, mais recentemente, o glifosato registrado para
aplicação em pós-emergência na soja RR enquadra-se na classe toxicológica II,
altamente tóxico para o ser humano e potencial de periculosidade para o meio
ambiente classificado como III, isto é, produto perigoso. Esses fatores não modificam
o quadro existente na atualidade, pois os herbicidas utilizados para a soja
convencional enquadram-se nas classes toxicológicas e periculosidade ambiental de
I a III; portanto apresentam riscos altos de prejuízos à saúde e meio ambiente se
manipulados e utilizados de forma incorreta.
Quanto ao impacto do glifosato RR sobre o meio ambiente e à saúde
humana, a fonte (B) esclarece que já possuem resultados sobre a carência e níveis
de resíduos aceitáveis. Porém, a fonte (C) afirma que ainda faltam estudos sobre a
influência do herbicida glifosato RR no meio ambiente e saúde.
A questão levantada pela fonte (C) sobre o impacto ambiental do herbicida
RR pode ter uma relevância quando o efeito do herbicida RR for avaliado num longo
prazo. Em curto prazo, será difícil a constatação de efeitos negativos além do
esperado. Tal afirmação é motivada pela aprovação e registro do herbicida glifosato
RR pelo Ministério da Agricultura – MAPA o qual para a sua aprovação deve ter
realizado os devidos testes toxicológicos e verificado a periculosidade ambiental.
7.2 Determinação do custo comparativo entre soja convencional versus
transgênica
Nota-se que, além dos aspectos de mercado, efeitos sobre o meio ambiente,
sobre a saúde e da eficiência da tecnologia “soja transgênica”, é dada uma ênfase
para a redução de custos com o seu uso. Para discutir essa questão, foi realizado
um levantamento do custo de produção comparativo entre a soja convencional
versus transgênica adotando-se os critérios estabelecidos na metodologia.
Conforme as informações fornecidas por um dos gerentes agrícolas das duas
cooperativas inseridas nesse estudo, o custo da semente transgênica considerado é
de R$ 3,00/kg e a taxa tecnológica de R$ 0,88/kg, totalizando um valor de R$
3,88/kg. Para aqueles que produzirem grãos de soja transgênica através de
sementes próprias ou sem origem, será cobrado, na entrega do produto, um valor de
2% do preço vigente do saco de 60 kg da soja grão. O custo da semente da soja
convencional considerado é de R$ 1,40/kg, assumindo-se, para esse trabalho, uma
demanda de 55 Kg/ha de sementes para o plantio.
As sementes de soja transgênicas são fornecidas pelas empresas
multiplicadoras licenciadas e cobram royalties, já a taxa tecnológica é cobrada pela
multinacional detentora da patente do gene RR que foi introduzido na soja
transgênica RR.
Em relação aos preços dos grãos de soja certificada, um dos gerentes
agrícolas informou que estão recebendo um valor adicional de 5% no preço pela
soja convencional certificada, num total de 60.000 toneladas. Esse valor representa
aproximadamente 30% da produção total da soja recebida por essa cooperativa. O
gerente da outra cooperativa informou que estão recebendo um sobre-preço de 1%
com a soja convencional certificada, num total de 40.000 toneladas. Esse valor
representa também aproximadamente 30% da produção total recebida por essa
cooperativa. Para realização dos cálculos de custos comparativos de produção se
adotará o maior sobre-preço observado, que nesse caso é de 5%.
As informações de produtividade foram obtidas junto à Embrapa Soja
3
Londrina –PR. Conforme esse levantamento, as variedades transgênicas de soja
foram em média 3,1% menos produtivas que as convencionais. Essas variedades
foram testadas em 21 locais do Paraná.
Na Tabela 8 são mostradas as diferenças na produtividade entre a soja
convencional e transgênica. Ressalta-se que nessa tabela as variedades
transgênicas RR são comparadas com as suas variedades convencionais
3
Informação extraída do formulário para inscrição de cultivares de soja RR no Registro Nacional de Cultivares
(MAPA/SARC/SNPC).
recorrentes, isto é, as variedades transgênicas RR são derivadas das respectivas
variedades comerciais.
Constata-se que a perda média de produtividade da soja transgênica em
relação à convencional informada pela Embrapa - Soja é menor que aquelas
observadas no marco teórico: 5,3 % e 12 % (WILKINSON, 2002 e BIANCHI, 2005).
Tabela 8 - Produtividade (kg/ha) entre a soja convencional versus soja transgênica
RR em 21 locais do Paraná – safra 2002/2003
kg/ha Diferença
Embrapa 58 3246
BRS 242 RR 3202
-1,35
Embrapa 48 3400
BRS 243 RR 3325
-2,2
Embrapa 59 3276
BRS 244 RR 3214
-1,9
BRS 133 3457
BRS 245 RR 3355
-2,9
BRS 246 RR 3282
-5,0
BRS 134 3246
BRS 247 RR 3077
-5,2
Média geral -3,1
Fonte: Embrapa-Soja (2005)
O valor diferenciado de mercado dos grãos provenientes das tecnologias
inseridas nesse trabalho foi considerado como custo para a soja transgênica, pois
ficou evidenciado nesse estudo que a soja convencional aferiu um sobre-preço de
5%. Como nesse estudo, o preço considerado da soja comercial foi de R$
35,00/saco de 60 kg, então, esse sobre-preço de 5% representa a quantia de
R$1,75/saco. A produtividade estimada foi de 50 sacos de 60 kg/ha ou 3.000 kg/ha,
dessa forma, multiplicando-se os 50 sacos pelo valor de R$1,75/saco, consegue-se
um valor total por ha de R$87,50.
Da mesma forma, o diferencial de produtividade entre a soja transgênica e a
soja convencional, foi considerado como custo para aquela tecnologia que aferiu o
menor valor. Nesse estudo, como a soja transgênica apresentou uma produtividade
3,1% menor que a convencional, então recebe o diferencial como custo. Como a
produtividade estimada foi de 3.000 kg/ha, então 3,1% sobre esse valor fornece a
quantia de 90 kg ou 1,5 sacos/ha. O preço do saco de 60 kg considerado foi de R$
35,00, portanto multiplicando-se 1,5 sacos por R$35,00 resulta em R$52,50.
A segregação interna que consiste nos trabalhos diferenciados de recepção,
secagem e armazenamento, foi incluída no custo da soja transgênica por uma
questão de escala. Quanto menor o volume de um produto diferenciado mais difícil e
onerosa é sua separação e manipulação. Essa segregação visa a total separação
desses grãos para não contaminar os grãos da soja convencional. Um dos gerentes
agrícolas informou que para a realização da segregação interna da soja transgênica
deve-se considerar um custo adicional de US$ 3,00/ton. Utilizando –se o valor de R$
2,80 para cada US$ 1,00 chega-se a um valor de R$ 8,40/ton (US$ 3,00 x 2,80).
Considerando ainda uma produtividade de 3.000 kg/ha de soja transgênica, resulta
num custo de R$ 25,20/ha (R$ 8,40/ton x 3,00 ton).
Ainda em relação ao custo de segregação interna, o outro gerente agrícola
informou que com 10% de produção com soja transgênica, preferem construir uma
nova unidade de recepção para evitar misturas de grãos com a soja convencional.
Nesse caso o custo seria de R$ 7,25/ton. Da mesma forma, considerando uma
produtividade de 3.000 kg/ha chega-se a um custo de R$ 21,75/ha (R$ 7,25/ton x
3,00 ton). Para esse estudo foi considerado o maior valor de segregação interna (R$
8,40/ton).
Em relação aos herbicidas utilizados na soja convencional chegou-se a
valores médios em litros/ha em função do volume consumido por unidade de área.
Na Tabela 9 pode-se observar os três herbicidas mais consumidos na soja
convencional pelos produtores de uma cooperativa da região de Castro - PR. Para o
estabelecimento dos custos foram utilizados os preços unitários de cada herbicida
através de lista fornecida pelo gerente da cooperativa de Castro – PR. Para o
herbicida glifosato RR adotou-se uma dose média parcelada em duas vezes numa
forma seqüencial (1,50l/ha + 1,00l/ha) totalizando 2,50 litros/ha. Essa forma
seqüencial de aplicação foi adotada para o glifosato RR para uniformizar os
parâmetros de avaliação, já que na soja convencional é usual a aplicação dos
herbicidas em duas vezes. Na primeira aplicação de herbicida pós-emergente na
soja convencional, usa-se uma mistura de dois herbicidas para combater ervas
daninhas com folhas largas e na segunda, utiliza-se um outro herbicida para eliminar
ervas de folhas estreitas. Além disso, a dose de 2,50 l/ha de glifosato RR aplicada
na forma parcelada, é indicada pela multinacional fabricante do glifosato RR, quando
existe uma infestação média de ervas daninhas. Como o glifosato RR registrado
para a soja transgênica RR ainda não está sendo comercializado no Paraná,
considerou-se o preço do glifosato comum.
Tabela 9 – Herbicidas utilizados em pós-emergência na soja convencional e na
transgênica com as respectivas doses e preços
Volume
comercializado
(litros ou kg)
Área
aplicada
(ha)
Dose média
(litros ou
kg/ha) do
produto
comercial
Preço
(R$/litro ou
kg)
Custo/ha
(R$/ha)
Lactofen 10.617 litros
29.280,07
0,36
68,14
24,53
Cloransulan-
metil
1.350,72 kg
38.029,18
0,035
1.880,70
66,10
Tepraloxidim 19.566 litros
24.500,00
0,8
98,18
78,54
Glifosato pós-
emergente
_
_
2,5
10,62
26,55
Na Tabela 10 são mostradas as diferenças de custos usando-se as variáveis
aqui discutidas: preços de sementes, herbicidas, produtividade, preços diferenciados
de mercado e segregação interna. As planilhas utilizadas para o cálculo dos custos
comparativos de produção entre a soja transgênica e a soja convencional podem ser
visualizadas nos Apêndices H e I.
Tabela 10 - Diferenças de custos entre a soja transgênica e a soja convencional
em função das variáveis consideradas (R$/ha)
Soja convencional
(A)
Soja transgênica
(B)
Diferença
(A) – (B)
Herbicidas 175,52
26,55
148,97
Sementes 77,00
165,00
-88,00
Taxa tecnológica 0,0
48,40
-48,40
Segregação interna 0,0
25,20
-25,20
Valor diferenciado
do preço do grão
0,0
87,50
-87,50
Produtividade 0,0
52,50
-52,50
Outros custos
4
1260,43
1255,86
4,57
Custo total 1512,94
1661,01
148,06
Observa-se pela tabela 10 que existem diferenças de custo/ha entre as duas
tecnologias levando-se em conta as variáveis consideradas nesse estudo tais como,
herbicidas, preço da semente, taxa tecnológica, segregação interna, preços
diferenciados dos grãos e produtividade. Utilizando todas essas variáveis, a soja
transgênica torna-se mais onerosa que a convencional em R$ 148,06/ha
(R$1661,01- R$ 1512,94).
Uma diferença marcante observada é o custo da semente da soja
transgênica, somando-se o preço da semente mais a taxa tecnológica cobrada pela
multinacional para uso do gene RR, chega-se a um valor de R$ 213,40/ha contra R$
77,00/ha da semente da soja convencional. A diferença observada de R$ 136,40/ha
é 3,25 vezes maior que o apresentado pela Comissão Européia (2003) apud Duffy,
que foi de R$ 42,00/ha (considerando o valor do dólar de R$2,80 e também o valor
do euro igual ao dólar).
Com essa situação, é oportuno o resgate da afirmação do entrevistado (B)
representante da multinacional, quando afirma: “a semente tem sim um pequeno
diferencial, ela vai ter um custo a mais, simplesmente para resgatar o direito do
desenvolvimento da tecnologia”. Pode-se verificar pelo resultado apresentado acima,
que a diferença de R$ 136,40/ha entre as duas sementes não é pequena.
4
Outros custos: refere-se a itens como máquinas, mão de obra, recepção, secagem e armazenamento dos grãos,
juros e outros insumos, que podem ser verificados nas planilhas de custos nos Apêndices H e I.
Analisando-se os custos de produção em função da inclusão ou não das
variáveis utilizadas, possibilitou uma reflexão dos vários argumentos comentados
nesse trabalho. Pela Tabela 11 pode-se visualizar as diferenças de custos em
função da inclusão ou não das variáveis desse estudo.
Tabela 11 – Custos comparativos entre soja transgênica e soja convencional em função da
inclusão ou não das variáveis do estudo (R$/ha)
Soja
convencional
(A)
Soja
transgênica
(B)
Soja
transgênica
(C)
Soja
transgênica
(D)
Soja
transgênica
(E)
Soja
transgênica
(F)
Herbicidas 175,52 26,55
26,55 26,55 26,55 26,55
Sementes 77,00 165,00
165,00 165,00 165,00 165,00
Taxa
tecnológica
0 48,40
0 48,40 48,40 48,40
Segregação
interna
0 25,20
0 25,20 25,20 0
Valor
diferenciado
de preço
0 0
0 0 87,50 0
Produtividade 0 0
0 52,50 0 0
Outros
custos
1260,42 1255,86
1255,86 1255,86 1255,86 1255,86
Custo total 1512,94 1521,01
1447,41 1573,51 1608,51 1495,81
Diferença (transg. -
conv.) 8,06 - 65,54 60,56 95,56 -17,14
Adotando-se apenas as variáveis herbicidas, semente, taxa tecnológica e
segregação interna, excluindo-se a produtividade comparativa e os preços
diferenciados (soja transgênica B), foram verificados valores de custos próximos.
Para a soja convencional encontrou-se um valor de R$ 1.512,94/ha e para a
transgênica o valor foi de R$ 1.521,01/ha. Nota-se então, uma diferença de apenas
R$ 8,06/ha, sendo a soja transgênica mais onerosa que a convencional.
Se forem considerados, somente os valores dos herbicidas e sementes sem
levar em consideração as outras variáveis (soja transgênica C), fica evidente a
redução no custo com a utilização da soja transgênica. Nessa situação o custo da
soja transgênica fica R$ 65,54/ha menor.
Quando somente o valor do preço diferenciado para a soja convencional não
é considerado (soja transgênica D), os valores dos custos de produção ficam
próximos, mas ainda indicando que a soja transgênica fica mais cara em R$
60,56/ha. Isso determina que para valores menores que 5% de bonificação para a
soja convencional o retorno começa a se estreitar.
Não se levando em conta o diferencial de produtividade entre as tecnologias,
constata-se um custo maior para a soja transgênica de R$95,56/ha (soja transgênica
E).
Por outro lado, quando se retiram as variáveis produtividade comparativa,
preços diferenciados dos grãos e segregação interna (soja transgênica F), a
diferença constatada entre os custos de produção das duas tecnologias é de R$
17,14/ha, isto é, a soja transgênica apresenta um custo de R$ 17,14/ha menor que a
convencional. Esse valor é 3,20 vezes inferior ao apresentado pela Comissão
Européia (2003), citado no marco teórico, que foi de R$ 56,00/ha (considerando o
dólar a R$2,80 e o euro igual ao dólar). Para essa diferença, de R$17,14/ha entre o
custo das tecnologias, a soja convencional deve ter um sobre-preço mínimo de 1%
para se igualar ao custo da transgênica (50 sacos/ha x R$35,00/saco x 1% = R$
17,50). Isso indica que, para justificar a preservação da identidade da soja
convencional, ela deve ter um prêmio adicional acima de 1% em relação à soja
transgênica.
Em função desses resultados comparativos apresentados, pode-se elaborar
uma equação que expressa a diferença de custo entre as duas tecnologias
consideradas, a soja trangênica e a soja convencional. Essa equação contempla as
variáveis inseridas nesse trabalho, com seus valores diferenciais:
Custo (C -T) = ( Hc –Ht) + Sh (Sc – St) – (Tt x Sh) – (Ps x Sp/100 x PRc)
– (PRc x Dp/100 x Ps) – ( SEGi x PRt) + (Oc – Ot) (1)
Onde:
Custo (C – T) = Diferença de custo entre a soja convencional e a transgênica
Hc = custo dos herbicidas da soja convencional
Ht = custo do herbicida RR para a soja transgênica RR
Sh = quantidade de semente usada por hectare em quilos
Sc = custo do quilo da semente da soja convencional
St = custo do quilo da semente da soja transgênica
Tt = taxa tecnológica da soja transgênica RR
Ps = preço de mercado do saco de soja grão
Sp = sobre-preço praticado para a soja convencional certificada (%)
PRc = produtividade da soja convencional em sacos de 60 kg por hectare
Dp = diferença de produtividade da soja transgênica em relação à
convencional (%)
SEGi = custo de segregação interna para a soja transgênica RR (R$/kg)
PRt = produtividade da soja transgênica RR em sacos de 60 kg por hectare
Oc = outros custos da soja convencional
Ot = outros custos da soja transgênica RR
Assumindo como valores fixos, ou pouco variáveis em médio prazo, as
variáveis, custo dos herbicidas, sementes, outros custos e assumindo produtividades
iguais para os dois tipos de soja e também eliminando os custos de segregação para
a soja transgênica, a equação (1) fica:
Custo (C – T) = 148,97 – 88,00 + 4,57 – 55 Tt – (PRc x Ps) Sp/100 (2)
Ainda:
Custo (C –T) = 65,54 – 55Tt – (PRc x Ps) Sp/100 (3)
Considerando ainda uma produtividade da soja convencional de 50 sacos de
60 kg por hectare e o preço do saco de 60 kg de R$ 35,00, chega-se a:
Custo (C – T) = 65,54 – 55Tt – (50 x 35,00) Sp/100 (4)
Custo (C – T) = 65,54 – (55Tt + 17,5 Sp) (5)
Logo, quando os termos (55Tt + 17,50Sp) forem maiores que 65,54, os custos
da soja transgênica ficam acima do custo da soja convencional. Esses termos são
função da taxa tecnológica, determinada pela empresa detentora do gene RR e do
sobre-preço pago pelo mercado para a soja convencional.
Considerando um sobre-preço de 3% para a soja convencional certificada,
que é um valor médio daqueles fornecidos pelos gerentes agrícolas (1% e 5%),
pode-se determinar o valor da taxa tecnológica que torna igual os custos de
produção dos dois tipos de soja.
Ou seja, usando-se o valor 3 para Sp obtem-se :
Custo (C – T) = 65,54 – (55Tt + 17,5 * 3)
Custo (C – T) = 65,54 – (55Tt + 52,50)
Custo (C – T) = 65,54 – (55 x 0,237 + 52,50)
Dessa forma, conclui-se que para um sobre-preço de 3% para a soja
convencional certificada o valor da taxa tecnológica deveria se situar próximo de R$
0,24/kg de sementes, igualando-se dessa forma os custos de produção dos dois
tipos de soja.
8.0 CONCLUSÕES
Constatou-se por esse estudo que existe uma praticidade na tecnologia da
soja transgênica RR, mas também existem argumentos e dados que podem
questionar o uso dessa tecnologia, tanto pelo lado econômico em curto prazo como
restrições da tecnologia devido à resistência de ervas daninhas pelo uso contínuo do
glifosato RR.
Evidenciou-se pelo cálculo do custo de produção comparativo entre a soja
transgênica e a convencional que, quando não se consideram as variáveis,
produtividade comparativa e preços diferenciados dos grãos, a soja transgênica
apresenta-se competitiva com apenas R$ 8,06/ha a mais de custo que a soja
convencional. Mesmo com a redução significativa de custo pelo menor uso de
herbicidas na soja transgênica, esse fato é minimizado pelo maior preço atual
cobrado pela semente da variedade de soja transgênica e pela taxa tecnológica
utilizada pela multinacional detentora do gene RR. Por outro lado, quando se
consideram as variáveis, produtividade comparativa, preços diferenciados e o custo
da segregação interna, a soja transgênica fica mais onerosa em R$ 148,06/ha. De
uma forma análoga, quando não se consideram no cálculo a produtividade
comparativa, preços diferenciados e o custo da segregação interna, a soja
transgênica apresenta um custo menor de R$ 17,14/ha, tornando-se nessa situação
específica, mais competitiva que a soja convencional.
Pode-se concluir, em relação aos custos comparativos de produção entre a
soja transgênica e a convencional, que os argumentos que afirmam sobre o menor
custo com a introdução da soja transgênica não são corretos, pelo menos em curto
prazo. Para a realização de afirmações sobre custo de produção comparativo entre
tecnologias, deve-se estabelecer quais variáveis e fontes se está utilizando.
Informações genéricas sobre o assunto podem deturpar os resultados confundindo
os produtores e decisores do agronegócio. Por outro lado, com os custos
comparativos levantados pode-se auxiliar a sociedade produtora e os decisores
gerenciais no discernimento de questões relacionadas, indicando de forma confiável
a viabilidade e os benefícios dessa nova tecnologia transgênica. Dessa forma, terão
oportunidade de decidir e direcionar ações para segmentação de produtos.
Portanto, a decisão de uso da soja transgênica deve passar por uma análise
mais aguçada incluindo todas as variáveis que interferem nos resultados. Além
disso, uma análise de mercado para a soja convencional segregada e certificada
deve ser observada, já que por esse estudo foi identificado que já existe um
direcionamento de parte da produção dessa soja convencional das cooperativas
entrevistadas para o mercado externo com um sobre-preço de 5%. Esse volume de
soja convencional certificada comercializada pelas cooperativas caracteriza um
nicho de mercado que poderá se estabelecer com mais consistência nos próximos
anos. Conforme a adesão pela soja transgênica for aumentando, outros nichos para
a soja convencional poderão se concretizar como grãos especiais para farinhas.
Ressalta-se também, que a competitividade de um produto não se baseia somente
em redução de custos, mas também na sua diversificação direcionado para nichos
de mercado.
Pode-se ainda concluir que produtos diversificados, oriundos de organismos
geneticamente modificados ou não, necessitarão da realização da rastreabilidade
durante o processo produtivo. Dessa forma, a rastreabilidade incorpora-se ao custo
do agronegócio como uma ferramenta de qualidade onde todas as informações dos
produtos originadas na cadeia produtiva serão armazenadas e disponibilizadas
atendendo a exigências crescentes do mercado consumidor. A tendência conjuntural
por produtos com qualidades diferenciadas para alimentação, farmacologia,
principalmente na Europa, leva a uma necessidade de segmentação no mercado de
commodities. Nessa situação, a produção de soja brasileira feita em larga escala
sem preocupações de preservação da identidade e segregação, não atende mais
aos requisitos atuais; agora com a visão segmentada de mercado necessita-se de
um acompanhamento da produção com serviços contratados de certificadoras
credenciadas. Essas atuais exigências e tendências dos consumidores, com
preocupações com a segurança dos alimentos ocasionam uma demanda por
informações desde a origem da produção até o consumidor final.
Com a possibilidade de ocorrer nos próximos anos um aumento da produção
da soja transgênica por razões técnicas, de praticidade, econômicas e até de
curiosidade do produtor, o volume desse produto tenderá a se equilibrar com a soja
convencional. Dessa forma, os custos de segregação interna não serão
diferenciados, passando o fator preço do produto direcionado para mercados
segmentados, o principal atrativo para justificar a sua segregação e certificação.
Ressalta-se aqui também a dúvida em relação à competitividade dessas
variedades transgênicas nessa fase inicial, tanto pela diferença de produtividade
mencionada como também os custos das sementes. Espera-se que, num prazo
pouco distante, através de técnicas de melhoramento vegetal utilizando a
biotecnologia, as variedades transgênicas lançadas no mercado sejam tão
produtivas quanto as convencionais atuais. Da mesma forma, com o aumento do
volume de sementes transgênicas existirá uma tendência de diminuição dos preços
praticados para essas sementes. Nessa situação, os prêmios para a soja
convencional devem ser convidativos, caso contrário, pela praticidade de uso o
produtor poderá optar pela transgênica.
Observou-se nas entrevistas realizadas uma preocupação pelo possível
aumento de doses dos produtos comerciais contendo o princípio ativo glifosato para
tentar combater ervas daninhas resistentes devido ao uso contínuo desses produtos.
Esse procedimento proporcionará um aumento nos custos de produção da soja
transgênica. Da mesma forma, na concorrência normal de mercado o uso
generalizado dos herbicidas que contém o glifosato permitirá uma tendência de
redução dos preços dos herbicidas para a soja convencional.
Encontrou-se também nessa pesquisa questionamentos em relação ao
aumento de doses do glifosato interferindo no meio ambiente. Com certeza a
quantidade do glifosato aplicada por unidade de área será maior, mas, por outro lado
existem evidências que devem ser mencionadas. O herbicida glifosato, em quase
todas as suas formulações comerciais, apresenta uma classificação toxicológica IV,
isto é, produto tóxico. O herbicida comercial contendo o glifosato, lançado no
mercado próprio para uso sobre a soja transgênica RR, possui uma classe
toxicológica II, isto é, altamente tóxico. o seu grau de periculosidade para o meio
ambiente é III, correspondendo a um produto perigoso. No entanto, os herbicidas
largamente utilizados em pós-emergência na soja convencional, possuem a
classificação toxicológica enquadrados nas Classes I, II e III, principalmente os
herbicidas para combater ervas daninhas com folhas largas. Constata-se, portanto,
que os produtos comerciais contendo o princípio ativo glifosato não possui efeitos
diferentes daqueles herbicidas usados na soja convencional, tanto sobre o meio
ambiente como para a saúde humana. A questão da quantidade de glifosato por
unidade de área utilizada sobre a soja transgênica RR, apesar de ter uma implicação
na resistência de ervas daninhas, não parece ser o maior problema. Então, a
alegação da maior contaminação do meio ambiente pelo uso generalizado do
glifosato sobre a soja transgênica, parece não ser um argumento convincente. Por
outro lado, o controle da época correta da aplicação de um produto fitossanitário em
relação à colheita, respeitando o seu período de carência, é tão importante quanto a
sua classe toxicológica.
Evidenciou-se também nesse trabalho, argumentos em relação à falta de
segurança alimentar da soja transgênica, porém, ainda não se comprovou a
existência de riscos nos alimentos oriundos de OGMs atualmente utilizados. Por
outro lado, o uso desses produtos provenientes da biotecnologia, é recente,
portanto, avaliações continuadas devem ser realizadas. Para tanto, até que não se
concluam resultados em consenso sobre a segurança dos alimentos geneticamente
modificados, é digno que a origem desses alimentos seja informada aos
consumidores através da rotulagem dos produtos. A decisão de consumir ou não
qualquer produto deve ser respeitada. Por outro lado, a exposição alarmista e
negativa de um produto contendo ingrediente geneticamente modificado através de
rótulos tendenciosos também não é justa.
Certificou-se através das entrevistas com os gerentes agrícolas das
cooperativas, no que tange ao tema custo de segregação interna, uma dificuldade
desses entrevistados para visualizar um cenário com a participação da soja
transgênica com um volume de 10% no mercado. Com a tendência de se gerar, seja
através da soja convencional ou transgênica, produtos segregados para atender
nichos de mercado específicos, as decisões de investimentos em silos adjacentes
nas unidades receptoras existentes ou construção de unidades próprias separadas
devem ser criteriosamente analisadas e com certeza essas dúvidas passarão na
pauta de discussões dos administradores e decisores do agronegócio. Pelo cenário
apresentado até o momento, esperam-se mudanças significativas nos processos
produtivos e relacionamentos nas cadeias agroindustriais. O sistema de logística na
agricultura passará por acertos durante a introdução da soja transgênica RR. Esse
comportamento poderá ser uma preocupação constante conforme novos produtos
vão sendo lançados no mercado.
Deduz-se que, em função dos resultados obtidos nesse trabalho, existirá uma
tendência de utilização da soja transgênica no Paraná num ritmo lento e mais
organizado, diferente do ocorrido no Rio Grande do Sul. A soja transgênica
apresenta-se com custos diretos maiores de sementes e menor produtividade das
variedades atuais disponíveis. Dessa forma, a decisão pelo seu uso poderá ocorrer
de uma forma paulatina e reservada em princípio para áreas com problemas de
ervas daninhas com resistência aos herbicidas convencionais. Enfatiza-se que,
mesmo com a aprovação de uso do glifosato RR em pós-emergência na soja
transgênica RR no Brasil, até a finalização dessa dissertação esse herbicida ainda
não tinha sido cadastrado no estado do Paraná. Dessa forma, até quando não se
concluir o cadastro do glifosato RR no Paraná, a sua utilização por parte do produtor
torna-se problemática.
Entende-se que essa estratégia adotada pelo estado do Paraná em tentar
proibir o uso da soja transgênica pelos produtores do estado possui um fundamento
de mercado, isto é, valorizar um produto regional certificado destinado para um nicho
externo de mercado. No entanto, essa atitude torna-se difícil de ser amparada
quando se trata de uma tecnologia de impacto como a soja transgênica. Mesmo não
tendo consenso de uso, no estado do Paraná, essa tecnologia deve ser
experimentada pelos produtores em conjunto com órgãos idôneos de pesquisa, que
poderão avaliar as suas virtudes e defeitos. Por outro lado, essa forma lenta que a
soja transgênica está sendo introduzida no PR, permite que se tenha tempo para a
organização e administração de novos fatores e relações que estão surgindo na
cadeia produtiva.
A soja transgênica RR pela sua praticidade de uso, perspectiva de menor
custo e euforia de consumo gerada por uma tecnologia de ponta, convida os
produtores para a sua adoção. Porém, fica evidente nesse trabalho, que a tecnologia
“soja transgênica” nesse período ainda é considerada polêmica e será utilizada com
cautela. Somente o tempo é que levará a um equilíbrio de opiniões e ações dentro
de uma perspectiva de que toda a segmentação de produtos terá um nicho
estabelecido dentro de uma visão econômica e ambientalmente correta.
8.1 Limitações do estudo e implicações para futuras pesquisas
Devido ao contexto introdutório da tecnologia “soja transgênica”, portanto ainda
numa fase de discussões e incertezas, houve dificuldade no discernimento das
informações geradas. Durante o processo de levantamento bibliográfico até a
pesquisa, passou-se da proibição para a liberação da soja transgênica no Brasil,
da proibição do uso do glifosato RR em pós-emergência na soja RR para
permissão de uso.
Outra dificuldade encontrada foi a obtenção de resultados no estado do Paraná
sobre a produtividade comparativa entre a soja transgênica e a convencional.
Quase todos os resultados gerados no Paraná não estavam autorizados para
publicação. Um único resultado de produtividade comparativa, o qual foi utilizado
nesse trabalho, foi fornecido e autorizado para publicação pela Embrapa-Soja.
Apesar de ser único, é bem abrangente e representativo e bate com outras
informações obtidas que podem ser observadas na revisão bibliográfica.
Como esse trabalho se deu no processo de introdução da soja transgênica no
Paraná, algumas informações provenientes das fontes integrantes das entrevistas
desse estudo, foram fornecidas de uma forma estimada. Sugere-se que a partir
de um volume significativo de plantio da soja transgênica o custo comparativo de
produção em relação à soja convencional seja refeito.
Nesse estudo, informou-se somente a produção segregada de soja convencional
de duas cooperativas da região dos Campos Gerais do Paraná; deve-se, no
entanto, para um maior dimensionamento desses nichos de mercado, realizar um
estudo mais abrangente nesse estado. Dessa forma, pode-se verificar a
existência de formação de mercados segregados atraentes no agronegócio.
Com a geração de outros produtos especiais oriundos da soja convencional ou da
transgênica, haverá necessidade da devida segregação modificando os seus
custos individuais conforme o volume produzido. Estudos são necessários para
identificar esses custos assim como identificar as novas necessidades e relações
que surgirão a montante e a jusante das unidades de recepção e processamento,
indicando novos modelos de gestão da produção no agronegócio.
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_______; ______; SCANDELARI, L. Uso do comércio eletrônico como prestação de
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WONNACOTT, P.; WONNACOTT, R. Introdução à Economia. São Paulo SP:
McGraw – Hill. 1985. 552 p.
APÊNDICE A
CARTA DE APRESENTAÇÃO AOS ENTREVISTADOS
Ponta Grossa, 19 de abril de 2004.
Ilmo Sr:.............................................................................................
Dirijo-me a V.S.a na condição de aluno do Curso de Mestrado e Engenharia
da Produção do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná Unidade de
Ponta Grossa, com o objetivo de solicitar a sua participação na pesquisa que estou
desenvolvendo sobre: Estratégias de Segmentação de Mercado no Agronegócio:
o caso da inserção da soja transgênica no Estado do Paraná.
Esse estudo se constitui tema de dissertação para conclusão do curso, sob a
orientação do professor Dr Luis Maurício Martins de Resende.
Dessa forma, gostaria de contar com sua participação através de uma
entrevista que será realizada em local e horário estabelecido em comum acordo,
com tempo de no máximo 40 minutos. Posso assegurar que, todos os dados e
informações serão transcritos conforme autorização do entrevistado.
Sei o quanto o seu tempo é valioso e quão importante será a sua
contribuição. Entretanto, posso lhe garantir o retorno das informações geradas.
Entrarei em contato para marcarmos data e horário com V.S.a para a entrevista.
Para qualquer informação adicional ou dúvida, deixo os meus números de telefone
abaixo.
Atenciosamente.
José Veríssimo Foggiatto Silveira
Eng
O
Agrônomo
Fones: (42) 2245855 / 99727997
APÊNDICE B
TERMO DE CONSENTIMENTO DAS ENTREVISTAS
TERMO DE CONSENTIMENTO
Eu,........................................................................ concordo em participar
voluntariamente do estudo ESTRATÉGIAS DE SEGMENTAÇÃO DE MERCADO
NO AGRONEGÓCIO: o caso da inserção da soja transgênica no Estado do
Paraná.
O tema se refere à pesquisa no Curso de Mestrado em Engenharia da Produção
do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná – Unidade de Ponta
Grossa.
Reconheço que as informações poderão ser utilizadas em futuras publicações,
desde que as minhas respostas estejam de acordo com o protocolo de entrevista.
Reservo-me o direito de não responder algum questionamento que considere não
pertinente.
Ponta Grossa, 20/11/2004
Assinatura:_________________________________________________
APÊNDICE C
PROTOCOLO DE ENTREVISTA COM A SECRETARIA DA
AGRICULTURA DO ESTADO DO PARANÁ
Protocolo de Entrevista com a Secretaria da Agricultura do Estado do Paraná
1. Identificação
2. Formação
3. s-Graduação
4. Função que exerce na Secretaria da Agricultura do Estado do Paraná
5. Número de anos que é formado
6. Função atual
Perguntas básicas
1. O Estado do Paraná defende a transformação desse estado em “área livre de
transgênicos”. Qual a estratégia adotada e fundamentação para essa
hipótese?
2. Com a certificação da soja convencional e proibição da soja transgênica os
prêmios para os grãos se alterarão, qual a previsão da Secretaria para as
futuras safras?
3. Quais países estão interessados na soja convencional certificada?
APÊNDICE D
PROTOCOLO DE ENTREVISTA COM A MULTINACIONAL
DETENTORA DO GENE RR
Protocolo de Entrevista com a Multinacional detentora do gene RR
1. Identificação
1.1 Nome:........................................
1.2 Formação:...................................
1.3 Pós Graduação:...................................................................
1.4 Função que exerce na Multinacional:........................................
1.5 Quantos anos trabalha na Multinacional:..................................
Perguntas básicas
1. O cultivo da soja geneticamente modificada ou transgênica passa por
questionamentos, qual a estratégia de inserção dessa multinacional para esse
produto nesse ambiente contraditório de opiniões?
2. Qual a estratégia de mercado para a soja transgênica no Paraná?
3. De que forma essa multinacional está liberando a sua tecnologia para outras
empresas?
4. A Monsanto esta cobrando pela tecnologia. Se positivo, qual forma?
APÊNDICE E
PROTOCOLO DE ENTREVISTA COM OS GERENTES AGRÍCOLAS
DAS COOPERATIVAS AGROPECUÁRIAS DA REGIÃO DOS
CAMPOS GERAIS – PR
Entrevista com os Gerentes Agrícolas das Cooperativas Agropecuárias da
região dos Campos Gerais - PR
1. Identificação:
2. Formação:
3. s Graduação: ----
4. Ano em que formou:
5. Nome da Cooperativa em que trabalha:
6. Função:
Perguntas
1. Considerando que a produção de soja transgênica recebida por essa
Cooperativa seja de 10% do volume total de soja, pergunta-se: qual o custo
adicional para a realização da segregação da soja transgênica no processo
de recepção, secagem e armazenamento?
2. Considerando a mesma pergunta acima com 50% do total com soja
transgênica?
3. Sabe-se que a Cooperativa Batavo realiza a certificação da sua produção de
soja então pergunta-se: estão conseguindo vantagens com isso, se positivo
quais?
Carambeí, junho/2005
-------------------------------------------------
Assinatura do Gerente
APÊNDICE F
PROTOCOLO DE ENTREVISTA COM O PESQUISADOR DA
FUNDAÇÃO PRIVADA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA DA CIDADE
DE CASTRO – PR
Protocolo de entrevista com o pesquisador da Fundação privada de pesquisa
agropecuária da cidade de Castro - PR
1. Identificação
1.1 Nome:........................................................................................................
1.2 Formação:.................................................................................................
1.3 Pós Graduação:.........................................................................................
1.4 Nome da empresa:....................................................................................
1.5 Função:.....................................................................................................
1.6 Quantos anos de trabalho na Empresa.....................................................
2 Perguntas
2.1 O que você acha da soja transgênica RR a qual possui um gene que
expressa resistência ao herbicida que contém o princípio ativo glyphosate?
2.2 Necessito de uma posição sobre dosagens (l/ha) do Glyphosate RR
(Roundup Ready), a ser usado em s-emergência na soja transgênica RR,
nas seguintes condições:
2.2.1 Em condições normais de infestação de ervas daninhas.
2.2.2 Em condições de infestação de ervas mais problemáticas como erva
quente (Borreria sp.), trapoeraba (Commelina sp.) e corda-de-viola
(Ipomoea sp.).
2.2.3 Caso ocorra a incidência dessas ervas, citadas no item anterior, você
recomenda a mistura com outros herbicidas?
APÊNDICE G
PROTOCOLO DE ENTREVISTA COM O PRODUTOR RURAL DE UMA
COOPERATIVA AGROPECUÁRIA DA REGIÃO DE CASTRO – PR
Protocolo de entrevista com o produtor rural de uma Cooperativa
Agropecuária da região de Castro - PR
2. Identificação
3. Nome da propriedade:
4. Nome da Cooperativa em que é associado: Cooperativa Castrolanda – Castro
- PR
Perguntas
1. O que o senhor acha da soja transgênica RR a qual possui um gene que
expressa resistência ao herbicida que contém o princípio ativo glifosato?
2. utilizou a soja transgênica RR? Se, positivo qual safra e variedade
utilizada?
3. Qual dose do glifosato foi utilizada? Aplicou em uma vez ou fracionou
(seqüencial)? Qual produto comercial utilizou?
4. Qual a produtividade alcançada com a variedade transgênica utilizada
(Kg/ha)?
5. Continuará utilizando a soja transgênica nas próximas safras? Por que?
Castro, 25 de junho de 2005
----------------------------------------------------------------------------
Assinatura do produtor
APÊNDICE H
PLANILHA DE CUSTO DA SOJA CONVENCIONAL
CUSTO de PRODUÇÃO SOJA Safra 2004/2005
Produtor
AREA (ha)
1
Colheita kg/ha limpo
3000
kg
peso perda na colheita, umidade 16%
2,5
%
remuneração capital próprio 9,0 % a.a.
empréstimo: juros do banco
9,0
% a.a.
ciclo financeiro
6
meses
Itens R$/unid. kg/ha R$/ha
venda
35,00
R$
/sc
3000
1750,00
sementes 1,40R$ /kg 55 77,00
fertilizantes
NPK 00-26-26 ou 05-25-25 0,897R$ /kg 300 269,08
cloreto de potássio 0,825R$ /kg 100 82,52
Grap 140 2,620R$ /kg 2,0 5,24
calcário 0,020R$ /kg 400 8,00
transporte fertilizantes 8,00R$ /ton 0,50 4,00
defensivos
Inseticidas 575,34R$ 0,03 17,26
Match 75,74R$ /lt 0,08 6,06
Metafós 22,53R$ 0,30 6,76
herbicidas p.c.
Glifosato dessecação 10,62R$ /lt 2,00 21,24
Lactofen ( 10.617 litros/ 29.280,07 ha) 68,14R$ /lt 0,36 24,53
Cloransulam-metil (1.350,72 kg/38.029,18 ha) 1.888,70R$ /kg 0,035 66,10
Tepraloxidim (19566 litros/24500 ha) 98,18R$ /lt 0,800 78,54
assist 6,34R$ /lt 1,0 6,34
inoculante 2,42R$ /lt 0,2 0,48
fungicidas
Sphere 176,38R$ /lt 0,30 52,91
Folicur 102,79R$ /lt 0,50 51,40
TOTAL INSUMOS R$ / ha 777,47
financeiro
custos empréstimo 80 % 27,99
custo oportunidade p/ capital 20 % 7,00
máquinas com mão-de-obra
pulverizador 2000l 4,50R$ /ha 3,00 13,50
distribuidor NPK 600kg 5,90R$ /ha 1,00 5,90
plantadeira par 73,30R$ /ha 1,00 73,30
distribuidor calcário 18,50R$ /ha 0,25 4,63
colhedeira 5 saca palha 149,80R$ /ha 1,0 149,80
manutenção glebas 39,38R$ 0,5 19,69
carreta graneleira + trator 21,64R$ /ha 1,0 21,64
frete prop. > cooperativa 12,00R$ /ton 3,1 36,90
mão de obra
fixa sem manutenção /ha 81R$ /ha/ano 0,5 40,50
mão-de-obra temporária 1,10R$ /ha/ano 1,0 1,10
custos cooperativa
recep/secag 16% umidade + pesagem 9,53R$ /ton 3,1 29,30
rastreabilidade 2,80R$ /ton 3,1 8,61
armazenagem fixo + 2 meses 5,50R$ /ton 3,0 16,50
INSS/sobre produtos rurais 2,20 % 1 38,50
taxas cooperativa 0,90 % 1 15,75
custos de administração
prolabore produtor 180,00R$ /ha/ano 0,5 90,00
assistência técnica 16,00R$ /ha/ano 0,90 14,40
fundação ABC 9,50R$ /ha/ano 0,90 8,55
terra
remuneração 215,83R$ /ha/ano 0,5 107,92
CUSTO TOTAL POR HA
R$/ha
1512,94
APÊNDICE I
PLANILHA DE CUSTO DA SOJA TRANSGÊNICA
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