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Para saber mais 2...
Terceira-série
Primeiro semestre/2005
Relatório de Projeto
Projeto da escola: A cidade do Rio de Janeiro
Escola Sá Pereira
Helena sonhou que deixava os sonhos esquecidos numa ilha. Claribel Alegria recolhia os
sonhos, os amarrava com uma fita e os guardava bem guardados. Mas as crianças da casa
descobriram o esconderijo e queriam vestir os sonhos de Helena, e Claribel, zangada, dizia a
eles: Nisso ninguém mexe. Então, Claribel telefonava para Helena e perguntava: O que eu
faço com os seus sonhos? (Galeano, O livro dos abraços)
Valendo-nos da idéia de que todo conhecimento começa com um sonho é que gostaríamos de
iniciar este relato. E é por isso que Galeano veio em nossa ajuda. Que graça pode ter estudar uma
cidade tão cheia de problemas como a nossa, senão para desamarrar nossos sonhos e nos aventurar
em busca de um novo modo de compreender, sentir, viver esta cidade?
Talvez seja por isso que muito nos mobilizou quando, do nosso primeiro encontro, as crianças
revelaram suas expectativas com relação à cidade. Não foram poucas as atividades de sensibilização
que propomos e, especialmente, com esta intenção alguns escritores cariocas, ou apaixonados pelo
Rio, nos ajudaram, ‘poetando’ o Rio, enchendo de beleza os nossos dias.
Já sabíamos o tamanho do desafio. Desta vez, o projeto institucional não era algo para o qual
precisávamos buscar estratégias de aproximação. Não! Desta vez, trataríamos da nossa própria
inserção e identidade, afinal, somos todos moradores desta cidade. As estratégias, agora, seriam tão
mais de sedução, para que a meninada pudesse desejar e, desejando, pudesse sonhar.
Percebíamos muito desencanto e um desejo de não pertencimento, que reforçam as práticas das
experiências privadas, protegidas, e do sentimento de que o espaço público é, assombrosamente, o
espaço de ninguém. Tem sido esse o nosso esforço: o de (re) encantamento, a partir do conhecimento
histórico, artístico e literário, que passe pelo desejo de participação efetiva e de reconhecimento da
vida cidadã. Para isso, temos nos esforçado para fazer do grupo, da turma, o espaço primeiro da ação
política.
Para olhar cuidadosamente a cidade no século XIX – e já dissemos em outras oportunidades,
se nos demoramos nesse tempo histórico foi porque as questões trazidas pelas crianças como desejo
para o estudo estavam aí situadas – lançamos mão do princípio do historicismo: “(...) uma visão ou
enfoque da sociedade radicalmente histórico, no sentido de vê-la como totalidade em constante
processo de desenvolvimento, de contradições.” (CARDOSO, Ciro Flamarion) Nesta perspectiva é que
estudando à cidade precisamos nos remeter ao cenário nacional: A chegada da Família Real, por
exemplo, em 1808, século recém-inaugurado, não trouxe apenas as benesses para a cidade, mas
também lançou a população em situações de profunda violência. O “PR” – “Ponha-se na rua” – é
exemplar se quisermos historicizar a questão da violência. Podemos percorrer o século XIX, nos
aproximar do século XX, e ainda não nos faltarão práticas de saque de nossas riquezas, prática da
monocultura, destruição de ecossistemas e formas de trabalho escravo. Tivemos também, no início do
século XIX,, uma Independência “para inglês ver”. Assim, o período monárquico que pelo século XIX
se estendeu, representara apenas uma reprodução da estrutura colonial, sendo Portugal, na esfera do
comércio externo, substituído pela Inglaterra.
Caminhando um pouco mais, isso para falar apenas dos grandes acontecimentos, já no
finalzinho do século, tivemos o “fim” da escravidão e não a melhoria das condições de vida para os
negros e para os pobres de modo geral. Um ano depois, vivemos uma República proclamada sem a
participação popular, como um dos alunos da turma contou, porque leu em algum lugar enquanto
pesquisava: ” o povo mesmo pensou que a Proclamação da República fosse um desfile militar.”
Em pequenos grupos, as crianças foram se aproximando dessas questões, pesquisando e
compartilhando o que aprendiam. Tentamos uma abordagem relacional da História. Reconhecemos as