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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO-UNIRIO
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU
MESTRADO EM NEUROLOGIA
ALTERAÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS NA
ESCLEROSE MÚLTIPLA FORMA PROGRESSIVA
PRIMÁRIA
RENATA ALVES PAES
Prof. Dra. Regina Maria Papais Alvarenga
ORIENTADORA
Rio de Janeiro, RJ – Brasil
Março/2007
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ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO-UNIRIO
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU
MESTRADO EM NEUROLOGIA
Dissertação apresentada ao término
do Curso de Pós-Graduação Stricto-
Sensu em Neurologia, Área de
Concentração Neurociências, do
Centro de Ciências Biológicas e da
Saúde da Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO,
como parte dos requisitos para
obtenção do grau de Mestre.
Rio de Janeiro, RJ – Brasil
Março/2007
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iii
616.8 Paes, Renata Alves
P126a
Alterações Neuropsicológicas na Esclerose Múltipla forma Progressiva
Primária. Rio de Janeiro, 2007.
xvi 106 f.
Orientadora: Profª. Drª. Regina Maria Papais Alvarenga
Dissertação (Mestrado). Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. Mestrado em Neurologia, 2007.
1. EMPP
P
Distúrbios neuropsicológicos; 2. EMPP
avaliação neuropsicológica
3. EMPP
P déficits cognitivos. I. Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro. II. Alvarenga, Regina Maria Papais.
iv
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO-UNIRIO
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU
MESTRADO EM NEUROLOGIA
ALTERAÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS NA ESCLEROSE
MÚLTIPLA FORMA PROGRESSIVA PRIMÁRIA
Por
RENATA ALVES PAES
Dissertação de Mestrado
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Regina Maria Papais Alvarenga
Prof. Dra. Vilma Duarte Câmara
Prof. Dr. Hélcio Alvarenga
Conceito: ______________.
Rio de Janeiro, RJ – Brasil, 2007.
v
Aos meus pais, Edson (in memorium) e
Sônia, que me deram a vida, apoio e
incentivo.
Aos meus avós, Alcino e Hozana, pelo
carinho e confiança.
Ao meu amor, Erick, por me incentivar e
ajudar de tantas maneiras, tornando este
trabalho menos árduo.
vi
AGRADECIMENTOS
Ao nosso Senhor Deus que representa tudo que somos e não
nos deixa vacilar nos momentos mais difíceis de nossa trajetória.
Aos nossos pacientes que tanto me ensinaram e contribuíram ao
nosso estudo quando permitiram serem objeto de investigação.
A minha orientadora Profa. Dra. Regina Alvarenga pelo afeto,
confiança e inestimável apoio neste estudo, e na minha vida
profissional.
Ao Emérito Prof. Hélcio Alvarenga, os meus respeitos, carinho e
admiração.
A Dra. Cláudia Vasconcelos, meus sinceros agradecimentos
pela disposição em ajudar e por ser uma das pessoas que fez
com que este estudo se tornasse possível.
Ao Corpo Docente do Curso de Mestrado em Neurologia da
UNIRIO, por todos os ensinamentos alcançados.
Aos companheiros do Curso de Mestrado em Neurologia da
UNIRIO, pela amizade e a troca de conhecimentos.
Ao Dr. Marco Aurélio Negreiros que compartilhou seus
conhecimentos e incentivou no estudo da neuropsicologia.
Ao Prof. Jesus Landeira Fernandes, pelo empenho no
tratamento estatístico dos dados encontrados no estudo.
Aos amigos, pelo carinho e compreensão, mesmo nos
momentos difíceis.
vii
A minha amiga Fátima Cristina Menezes da Silva pela amizade,
carinho e prontidão no levantamento do material deste estudo,
tornando-o real.
A minha amiga Gabriela Medeiros Vieira pela amizade e auxílio
na discussão do trabalho.
À Psicóloga e colega de turma Rosângela Souza Kalil, que
desde o início se mostrou amiga e sempre esteve pronta a
ajudar
.
Ao Prof. Dr. Carlos Alberto Morais de Sá pela confiança e
colaboração em permitir a utilização do espaço físico da 10ª
enfermaria para levantamento de material deste trabalho.
A todos que participaram como grupo controle, pela colaboração,
possibilitando que o estudo se tornasse possível.
Ao secretário do Curso de Mestrado, Luiz Eduardo da Cruz
Veiga pela atenção e colaboração.
Aos meus clientes, pelo carinho e apoio.
A CAPES, pelo apoio financeiro.
viii
“Deus está aqui nesse momento.
Sua presença é real em meu viver.
Entregue sua vida e seus problemas.
Fale com Deus, ele vai ajudar você.
Deus te trouxe aqui para aliviar os
teus sofrimentos. É ele o autor da fé, do
princípio ao fim, em todos teus tormentos.
Se a cruz pesada for, Cristo estará
contigo. E o mundo pode até fazer você chorar.
Mas Deus te quer sorrindo...”
(Canção: Simone Telésforo e Carlos Pappae)
ix
ÍNDICE DE QUADROS, TABELAS e FIGURAS
Quadro 1 Critérios diagnósticos para EMPP segundo Thompson
(2000)................................................................................32
Quadro 2 Critérios de RM de crânio segundo Barkof (1997) e
Tintoré (2000)....................................................................33
Quadro 3 Critérios de RM de crânio segundo McDonald (2000).. 33
Quadro 4 Critérios diagnósticos recomendados para EM: Diretrizes
da Mesa Redonda Internacional. (McDonald 2001)..........34
Quadro 5 Critérios diagnósticos de McDonald (2001) revisado por
Polmann (2005).................................................................35
Quadro 6 Revisão da Literatura das alterações cognitivas............65
Quadro 7 Testes Neuropsicológicos aplicados..............................72
Tabela 1 Características demográficas da amostra (n=26)............76
Tabela 2 Resultados da avaliação neuropsicológica.....................79
Tabela 3 Valor preditor de déficits cognitivos de três baterias breves
identificados na bateria neuropsicológica aplicada neste
estudo...............................................................................82
Figura 1 Curva de Verossemelhança (Receiver Operating
Characteristic – ROC).......................................................84
x
LISTAS DE ABREVIATURAS
BECRT - Enchanced Cued Recall Test – Buschke
BOC - Bandas Oligoclonais
COWAT- Controlled Oral Word Association Test
DP – Desvio Padrão
DSM-IV - Diagnostic and Statistical Manual 4
th
edition ou Manual Diagnóstico
de Transtornos Mentais 4ª edição
EDSS - Expanded Disability Status Scale
EM - Esclerose Múltipla
EMB - Esclerose Múltipla Benigna
EMM - Esclerose Múltipla Maligna
EMPP - Esclerose Múltipla Progressiva Primária
EMPS - Esclerose Múltipla Progressiva Secundária
EMPSU - Esclerose Múltipla Progressiva Surto
EMRR - Esclerose Múltipla Remitente Recorrente
FS - Sistema Funcional – Kurtzke
HL - Hospital da Lagoa
HUGG - Hospital Universitário Gaffrée e Guinle
IPUB – Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro
LCR - Líquido Cefalorraqueano ou líquor
MIC - Teste de Blessed-Roth Modificado
MMSE - Mini Mental Status Examination
MS - Ministério da Saúde
OMS - Organização Mundial da Saúde
PASAT - Paced Auditory Serial Addtion Task
RAVLT - Rey Auditory Verbal Learning Test
RM - Ressonância Magnética
ROC – Curva de Verossemelhança (Receiver Operating Characteristic)
SNC - Sistema Nervoso
xi
SB - Substância Branca
SDMT - Digit Symbol Modalities Test
VEP - Potencial Evocado Visual
VPI - Velocidade do Processamento de Informações
UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
WAIS-III - Escala de Inteligência Wechsler para Adultos
- Terceira Edição
WMS-R - Escala de Memória Wechsler – Revisada
xii
RESUMO
Introdução: O perfil cognitivo da esclerose múltipla progressiva primária (EMPP)
na população brasileira ainda é desconhecido e existe escassez de instrumentos
de rastreamento cognitivo validados para nossa população. A Neuropsicologia
aplicada ao estudo da esclerose múltipla progressiva primária auxilia na
compreensão dos efeitos das lesões cerebrais na cognição e no comportamento
de humano.
Objetivos: O objetivo deste estudo é avaliar a freqüência das alterações
cognitivas na população brasileira (Rio de Janeiro) e validar um instrumento de
rastreamento neuropsicológico para estas alterações.
Desenho do Estudo: Estudo observacional.
Pacientes e métodos: No estudo presente, administramos uma bateria de teste
de neuropsicológico em 26 pacientes com EMPP e em 26 controles emparelhados
a sexo, idade e nível de escolaridade.
Resultados: Em comparação aos controles, o déficit cognitivo foi observado em
50% dos pacientes com EMPP. Os pacientes apresentaram comprometimento em
medidas de freqüência em funções cognitivas como, memória recente, verbal
fluência e velocidade do processamento de informações. No presente estudo
realizou-se o desenvolvimento uma bateria de rastreamento breve composta de
três testes neuropsicológicos (Rey Auditorial Verbal Learning, Enhanced Cued
Recall e Verbal Fluency) que apresenta 68.4% de sensibilidade e 97% de
especificidade na identificação de alterações cognitiva em pacientes com EMPP.
xiii
Conclusões: A freqüência de alterações cognitivas em nossos pacientes EMPP
mostrou-se significativa e foi possível identificar as alterações cognitivas através
de instrumento de rastreamento cognitivo breve. Não encontramos associação
significativa em entre o comprometimento cognitivo e o grau de gravidade
neurológica da doença (comprometimento físico), depressão, ou ansiedade.
Palavras chaves: EMPP + alterações neuropsicológicas; EMPP + testes de
neuropsicológicos; EMPP + alterações cognitivas; EMPP + déficit cognitivo
xiv
ABSTRACT
Background:
The cognitive profile of primary progressive multiple sclerosis
(PPMS) in Brazilian population is relatively unknown and no cognitive screening
instruments have been validated for our population. The aim of the
Neuropsychology applied to the primary progressive multiple sclerosis field is the
comprehension of the effects of brain dysfunction on cognition and human
behavior.
Objectives: The objective this study is to estimate the frequency of cognitive
alterations in our environment and validate a neuropsychological screening
instrument for these alterations.
Patients and Methods: In the present study, we administered a
neuropsychological test battery in 26 patients with primary progressive multiple
sclerosis and 26 controls matched to sex, age and education level.
Study Design: observation study.
Results:
In comparison to the controls, 50% of the patients with PPMS showed
cognitive impairment. The patients were more frequently impaired on measures of
memory recent, verbal fluency and speed of the processing of information. We
developed a short screening battery composed by our adapted version of three
neuropsychological tests (Rey Auditorial Verbal Learning, Enhanced Cued Recall
and Verbal Fluency) which presents a 68.4% sensitivity and 97% specificity in
differentiating cognitive impaired PPMS patients.
xv
Conclusion:
The frequency of cognitive alterations in our PPMS patients shown
to be high and it was possible to identify cognitive alterations through a brief
screening instrument. Cognitive impairment was not significantly associated with
physical disability, depression, anxiety.
Keywords:
PPMS + neuropsychological alterations; PPMS + neuropsychological
tests; PPMS + cognitive alterations; PPMS + cognitive impairment
xvi
SUMÁRIO
Dedicatória.............................................................................................v
Agradecimentos....................................................................................vi
Epígrafe...............................................................................................viii
Índice de figuras e gráficos...................................................................ix
Lista de abreviaturas.............................................................................x
Resumo...............................................................................................xii
Abstract...............................................................................................xiv
1. INTRODUÇÃO...........................................................................20
2. OBJETIVOS...............................................................................23
2.1. Objetivo Geral............................................................................23
2.2. Objetivos específicos.................................................................23
3. REVISÃO DE LITERATURA.....................................................25
3.1. Esclerose Múltipla.....................................................................25
3.2. Esclerose Múltipla Progressiva Primária...................................27
3.2.1. Freqüência.................................................................................27
3.2.2. Características clínicas..............................................................28
3.2.3. Diagnóstico................................................................................29
3.2.4. Características Patológicas.......................................................35
3.3. Neuropsicologia da Esclerose Múltipla.........................................37
xvii
3.3.1. Exame Neuropsicológico...........................................................42
3.3.2. Interpretação dos resultados.....................................................43
3.4. Neuropsicologia.........................................................................45
3.4.1. Alterações cognitivas na Esclerose Múltipla..............................45
3.4.2. Principais Funções Cognitivas Avaliadas..................................47
1. Rastreamento para Demência...................................................47
2. Inteligência.................................................................................48
3. Linguagem.................................................................................49
4. Atenção......................................................................................51
5. Velocidade de Processamento de Informações........................53
6. Memória.....................................................................................56
7. Funções Executivas...................................................................61
8. Processamento Visual...............................................................62
9. Funções Visuo-perceptual, visuo-construcional, visuo-espacial......63
10. Transtorno do Humor, Afeto e Comportamento..........................66
11. Outras variáveis da doença........................................................69
4. METODOLOGIA........................................................................70
4.1. MÉTODOS.................................................................................70
4.1.1. Desenho do estudo....................................................................70
4.1.2. Pacientes e métodos.................................................................70
4.1.3. Testes neuropsicológicos aplicados.........................................71
4.1.4. Critérios de inclusão..................................................................73
4.1.5. Critérios de exclusão.................................................................73
4.1.6. Grupo Controle..........................................................................73
xviii
4.1.7. Aspectos éticos..........................................................................74
4.1.8. Análise estatística......................................................................74
5. RESULTADOS...........................................................................76
5.1. Características demográficas, clínicas e laboratoriais da amostra
estudada..............................................................................................76
5.2. Padrão cognitivo......................................................................77
5.2.1. Freqüência das alterações cognitivas......................................77
5.2.2. Funções cognitivas alteradas e testes alterados.....................77
5.3. Correlação com outras variáveis da doença............................80
5.3.1. EDSS.......................................................................................80
5.3.2. EDSS e Alterações cognitivas.................................................80
5.3.3. Transtorno do Humor...............................................................80
5.3.3.1. Correlação entre Alterações cognitivas e Depressão.............81
5.3.4. Correlação entre Tempo de doença e Alterações cognitivas.81
5.4. Instrumento breve sensível em identificar os déficits cognitivos.81
5.5. Contribuição do MMSE e do MIC na identificação das alterações
cognitivas.............................................................................................83
5.5.1.Comparação entre MMSE, MIC e Bateria Breve........................83
6. DISCUSSÃO...............................................................................85
7. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÃO.........................................93
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................94
xix
ANEXOS............................................................................................106
Anexo I – Aprovação do Projeto pela Comissão de Ética em
Pesquisa do Hospital Universitário Graffrée e Guinle
...........................................................................................................106
Anexo II – Consentimento Informado para Participação da Pesquisa
...........................................................................................................107
20
1. INTRODUÇÃO
A Neuropsicologia consiste no estudo da relação entre a mente e o cérebro
sendo influenciada especialmente pela cognição (LURIA, 1973). Portanto, avalia
as alterações comportamentais conseqüentes às lesões no sistema nervoso
central (SNC), auxiliando no rastreamento de suas diferentes manifestações.
As testagens neuropsicológicas demonstraram que as alterações cognitivas
são um dos sintomas clínicos da esclerose múltipla (EM) (RAO, 1991,1995;
BOBHOLZ, 2003), com o perfil cognitivo semelhante à demência subcortical
(RAO,1996).
As estruturas subcorticais mediam funções cognitivas fundamentais
participando dos circuitos neurais integrados especialmente associando o córtex
frontal e o sistema límbico. Quando uma doença afeta a bainha de mielina central,
e estes circuitos associativos são lesados, algumas funções mentais como a
atenção e a memória de evocação são afetadas. A alteração na condução neural
entre regiões corticais específicas ocasiona também lentidão do processamento
de informações e outros déficits cognitivos. Estudar as alterações
neuropsicológicas na EM, implica em aprofundar o estudo do padrão
neurocomportamental associado às alterações da substância branca (SB).
21
A esclerose múltipla progressiva primária (EMPP) é uma forma evolutiva
rara, afeta 10% dos indivíduos com a doença. O seu diagnóstico é complexo por
não obedecer ao clássico padrão clínico com surtos e remissões que caracteriza a
esclerose múltipla remitente recorrente (EMRR), que corresponde a 90% dos
casos. O início insidioso e lento da EMPP torna fundamental a exclusão de uma
série de enfermidades crônicas do SNC que também ocasionam lento e
progressivo distúrbio, como a paraparesia tropical, compressões medulares e
doenças degenerativas (THOMPSON, 1997, 2004, BRIEVA, 2002, MONTALBAN,
2005). Critérios para o diagnóstico da forma progressiva primária utilizando como
suporte laboratorial resultados de exame do LCR, ressonância magnética (RM) e
potencial evocado visual (PEV) somente foram descritos a partir de 2000
(THOMPSON).
Pacientes com EMPP tem um prognóstico desfavorável em relação ao
desenvolvimento da incapacidade ao longo do tempo pela gravidade das
disfunções motoras. No entanto, é citada uma menor freqüência de disfunção
cognitiva (THOMPSON, 1997).
A EMPP em relação à EMRR tem uma evolução em longo prazo mais
incapacitante relacionada à alta freqüência dos distúrbios piramidal e cerebelar e
conseqüente comprometimento da deambulação. Altos índices de incapacidade
dificultam a realização de alguns testes neuropsicológicos, o que nos levou a
questionar se não poderia ser um dos fatores que contribuiu para que o perfil
cognitivo da EMPP ainda não esteja definido.
22
A escolha de estudar as alterações cognitivas na EMPP está relacionada
com minha formação profissional, com início em 1998, como estagiária no Setor
de Neuropsicologia do Ambulatório de Doenças Desmielinizantes do Hospital da
Lagoa (HL - RJ) através do convênio Instituto de Psicologia (IP) /Instituto de
Psiquiatria (IPUB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Hospital
da Lagoa (HL). O Setor de Neuropsicologia coordenado pelo Dr. Marco Aurélio
Negreiros representava uma das linhas de pesquisa do Projeto Atlântico Sul. Um
estudo multicêntrico sobre a EM no Brasil. Durante um ano e nove meses realizei
avaliações neuropsicológicas nos pacientes e no grupo controle pesquisando as
alterações cognitivas na EMRR. Este período possibilitou que eu aprofundasse
meus conhecimentos em Neuropsicologia e despertou o interesse em trabalhar
nesta área e com pacientes neurológicos.
Após a conclusão do curso de psicologia, mantive contato com a Dra.
Regina Alvarenga responsável pelo ambulatório no HL, e conheci o trabalho da
Dra. Cláudia Vasconcelos, médica responsável pelos pacientes EMPP. Ela estava
realizando estudos nesta forma da doença, protocolando e realizando o
diagnostico segundo os critérios internacionais. Associado a este contexto, há a
necessidade do Projeto Atlântico Sul continuar seus projetos de pesquisa e sendo
a Neuropsicologia uma especialidade que tem muito a contribuir para uma melhor
qualidade de vida destes doentes, aos seus familiares e aos profissionais
envolvidos resolvemos, então, pesquisar as alterações cognitivas também na
EMPP.
23
2. OBJETIVOS
2.1. OBJETIVO GERAL
Descrever as alterações cognitivas presentes nos pacientes com Esclerose
Múltipla Progressiva Primária, atendidos no Ambulatório de Doenças
Desmielinizantes do Hospital da Lagoa (HL) – Rio de Janeiro.
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Descrever a freqüência das alterações cognitivas nos pacientes com
Esclerose Múltipla Progressiva Primária correlacionando com o tempo de
doença e EDSS (Expanded Disability Status Scale – KURTZKE, 1983).
Verificar as principais funções cognitivas alteradas.
Verificar os principais testes neuropsicológicos alterados.
Verificar a contribuição do Mini Mental Examination Scale (MMSE -
FOLSTEIN, 1975) e Memory – Information – Concentration (MIC - Teste de
BLESSED-ROTH Modificado, 1968) quanto à sua sensibilidade na
identificação das alterações cognitivas.
Desenvolver uma Bateria de Rastreamento Breve (composta pelos
principais testes comprometidos na bateria neuropsicológica aplicada).
24
Comparar o Mini Mental Examination Scale (MMSE - FOLSTEIN, 1975) e
Memory – Information – Concentration (MIC - Teste de BLESSED-ROTH
Modificado, 1968) à Bateria de Rastreamento Breve.
Correlacionar o Transtorno do Humor com as alterações cognitivas na
EMPP.
Descrever o perfil cognitivo da Esclerose Múltipla Progressiva Primária.
25
3. REVISÃO DE LITERATURA
3.1 Esclerose Múltipla
A EM é uma doença auto-imune e crônica, que provoca inflamação e
desmielinização no sistema nervoso central (SNC), de etiologia ainda
indeterminada, com prevalência e incidência bastante variadas. Acomete, com
maior freqüência, indivíduos brancos, na faixa entre 20 e 40 anos de idade e tem
predomínio nas mulheres (KANTARCI e WEINSHENKER, 2005). O diagnóstico é
realizado por avaliação clínica e exames complementares, em especial, a RM, o
estudo do LCR e o PEV (McDONALD, 2001, POLMAN, 2005), sendo necessária a
exclusão de outras condições que possam produzir um quadro clínico semelhante.
As lesões no SNC com distribuição aleatória são responsáveis pelo
polimorfismo clínico. KURTZKE (1983) agrupou as disfunções neurológicas da
EM, em sete sistemas funcionais (FS): (1) FS piramidal, (2) FS cerebelar, (3) FS
tronco cerebral, (4) FS sensibilidade, (5) FS esfincteriano, (6) FS visual e (7) FS
mental e a escala EDSS (Expanded Disability Status Scale - 1983) com escores
de 0 a 10 para quantificar a incapacidade.
26
CHARCOT (1868) observou que alguns pacientes com EM evoluíam de
forma lenta e progressiva. McALPINE e COMPSTON (1952) fizeram a primeira
distinção entre o curso progressivo desde o início da manifestação da doença e
aqueles cuja, a progressão seguia uma fase inicial de surtos e remissões
(BRIEVA, 2002), a forma progressiva secundária (EMSP). Uma variedade de
termos, como “esclerose múltipla crônica”, “esclerose múltipla cronicamente
progressiva” e “esclerose múltipla maligna progressiva” foram utilizadas até a
década de 90 para definir a forma progressiva da doença, dificultando a seleção
dos pacientes para ensaios clínicos e terapêuticos. A ausência de uma
terminologia única para as diversas formas evolutivas da EM foi reconhecida em
1994, incentivando o comitê consultor em triagens clínicas da Sociedade Nacional
de Esclerose múltipla dos Estados Unidos da América a organizar, em 1995, uma
pesquisa internacional, com o objetivo de padronizar definições e terminologias
usadas nas diversas pesquisas sobre a esclerose múltipla e seus modelos de
evolução. O resultado foi um consenso sobre a definição do curso clínico da EM,
divulgado por LUBLIN e REINGOLD (1996):
Esclerose Múltipla Remitente-Recorrente (EMRR) - Doença com presença de surtos
claramente definidos, com recuperação total ou com seqüela residual após recuperação;
períodos entre surtos da doença caracterizados por ausência de progressão.
Esclerose Múltipla Progressiva Primária (EMPP) - Doença progressiva desde o início
com ocasional platô e melhora mínima temporária aceita, sem ocorrência de surtos
definidos.
Esclerose Múltipla Progressiva Secundária (EMPS) - Doença inicialmente com curso
surto-remissão seguido de progressão com ou sem surtos ocasionais, recuperações
mínimas, e platô.
Esclerose Múltipla Progressiva-Surto (EMPSU) - Doença progressiva desde o início,
com claros surtos agudos, com ou sem recuperação total, períodos entre surtos
caracterizados por contínua progressão.
27
Esclerose Múltipla Benigna (EMB) - Doença na qual o paciente, após 15 anos do início
da doença, permanece inteiramente funcional em todos os sistemas neurológicos.
Esclerose Múltipla Maligna (EMM) - Doença com curso rápido e progressivo levando a
significativa incapacidade em múltiplos sistemas neurológicos ou à morte em
relativamente curto espaço de tempo após o início da doença. (LUBLIN e REINGOLD,
1996, p.908-909).
Desde 1996 vários trabalhos publicados a respeito da forma progressiva da
EM utilizaram a terminologia do consenso com o objetivo de facilitar a seleção e a
separação dos pacientes em grupos homogêneos, aumentando a confiabilidade
dos resultados (THOMPSON, 1997, 2000; BRIEVA, 2002; MONTALBAN, 2005).
3.2 Esclerose Múltipla Progressiva Primária
3.2.1. Freqüência
Um número pequeno de pacientes, em média 10 a 15% apresenta
uma evolução progressiva desde o início, sem ocorrência de surtos e remissões
(THOMPSON, 2000, 2004). Enquanto 85 a 90% restantes têm uma evolução em
EMRR (THOMPSON, 1997, BRIEVA, 2002, MONTALBAN, 2005).
Nos estudos brasileiros observamos uma freqüência em torno de 8% em
um estudo de 200 pacientes realizado em Curitiba (ARRUDA, 2001), 5,9% em
outro com 118 pacientes, realizado em Pernambuco (FERREIRA, 2004). No
Projeto Atlântico Sul - Rio de Janeiro (ALVARENGA, 2002), uma pesquisa de
âmbito nacional, a freqüência foi de 10,4% pacientes com EMPP entre 577
28
pacientes diagnosticados com EM. Enquanto VASCONCELOS (2003) na mesma
região, num estudo de 26 pacientes com EMPP de uma amostra de 238 pacientes
encontrou 10,92%. Estes resultados mostram-se bem próximo àqueles citados
pela literatura (THOMPSON, 2000).
3.2.2. Características clínicas
Os pacientes EMPP iniciam a doença de forma lenta e progressiva,
geralmente monosintomática (freqüentemente paraparesia espástica), sem sinais
clínicos indicativos de disseminação no SNC, ou polissintomáticos no início
(BRIEVA, 2002), com uma síndrome cerebelar e em menor freqüência
hemiparesia (VUCUSIC, 2003). A incapacidade observada no grupo EMPP é lenta
desde o início, diferente daquela observada na EMSP, na qual a fase de
progressão instala-se mais tarde após um período de surtos e remissões
(THOMPSON, 1997; 2004, BRIEVA, 2002).
De acordo com THOMPSON (1997), em seu artigo de revisão sobre EMPP:
[...] Déficit cognitivo progressivo tem sido descrito raramente [...]”. Entretanto a
incidência de déficits cognitivos tem sido mostrada na literatura (COMI, 1995,
ZAKZANIS, 2000, GAUDINO, 2001, SONEVILLE, 2002). COMI (1995), encontrou
déficits cognitivos em 7% dos pacientes EMPP. GAUDINO (2001) também
encontrou déficits cognitivos na EMPP e seus resultados diferem dos de
29
THOMPSON (1997): “[...] os déficits cognitivos não é uma característica
proeminente neste grupo de pacientes [...]”.
3.2.3. Diagnóstico
Durante as últimas décadas vários pesquisadores vêm elaborando critérios
diagnósticos mais específicos para EM, baseando-se principalmente nas suas
características clínicas e apoiando-se nos resultados de exames complementares.
POSER et al (1983) publicou critérios que exigiam a ocorrência de surtos
(presença de um sintoma ou sintomas de disfunção neurológica por um período
maior que 24 horas, com ou sem confirmação objetiva) e que adotaram a análise
do líquido cefalorraqueano (pesquisa de síntese intratecal de IgG e bandas
oligoclonais-BOC) como apoio laboratorial ao diagnóstico; além disso
consideraram os resultados de exames complementares (PEV e RM), de
procedimentos como avaliação urológica especializada e teste do banho quente,
como evidências paraclínicas. A doença foi por eles classificada como:
Clinicamente Definida; Definida com apoio laboratorial; Clinicamente Provável e
Provável com apoio laboratorial. De acordo com o número de surtos ocorridos até
a data de aplicação dos critérios, número de evidências clínicas e paraclínicas, e
com a presença ou não de alteração no LCR, essas categorias foram
subdivididas. Porém esses critérios não podem ser aplicados à forma progressiva,
30
na qual não ocorrem surtos. Os autores reconhecem e conceituam como EM
progressiva os casos em que a doença tem progressão mantida (período mínimo
de seis meses) desde o início, sem evidência de surtos ou remissões (LUBLIN e
REINGOLD, 1996). Os critérios de POSER et al (1983), embora mais direcionado
à EMRR, foi o mais usado nos últimos 20 anos.
THOMPSON et al (2000), devido à dificuldade na aplicação dos critérios de
POSER (1983) à forma da EMPP, criou critérios mais específicos. Segundo
THOMPSON et al (2000) é necessário uma progressão com duração mínima de
doze meses, sem presença de surtos. Como nos demais critérios diagnósticos
para EM é necessário excluir outras enfermidades neurológicas com evolução
progressiva. Considerou que os critérios devem ser aplicados somente a
pacientes que iniciem a doença com idade entre 25 e 65 anos, embora tenha
reconhecido que alguns pacientes com idade fora dessa faixa etária possam ter
EMPP. Nesses critérios, os resultados dos exames complementares (análise do
LCR, RM e PEV) são utilizados como evidências de apoio ao diagnóstico da
EMPP. É necessário que, no LCR a síntese de IgG intratecal seja anormal
(presença de bandas oligoclonais ou aumento do índice de IgG sangue/LCR). A
ocorrência de pleocitose (maior que 50 células/ mm
3
) ou aumento de proteínas no
LCR (maior que 100mg/dl) indica que outros diagnósticos devem ser investigados
antes que os critérios sejam aplicados.
31
As evidências de imagens podem ser fornecidas por RM do crânio, RM de
medula espinhal ou combinação de ambas. Nos casos em que apenas o exame
de RM de crânio é avaliado, se a RM de crânio apresenta de quatro a oito lesões
em T2 e há uma lesão na medula espinhal, o critério de imagem é considerado
satisfatório.
O PEV alterado também é considerado como uma evidência diagnóstica
nos casos em que ocorre preservação do formato da onda e prolongamento da
latência da onda P100 abaixo do limite superior (ajustado à idade do paciente).
A partir dos critérios clínicos e laboratoriais descritos, foram formuladas três
categorias de EMPP: Definida, Provável e Possível, cujas características estão
descritas no quadro (1).
32
EMPP definida
Progressão clínica por no mínimo um ano
Evidência de LCR positivo
Evidência de RM positiva ou RM duvidosa e PEV prolongado
EMPP provável
Progressão clínica por no mínimo um ano e
Evidência de LCR positivo e
Evidência de RM duvidosa ou PEV prolongado
Ou
Progressão clínica por no mínimo um ano e
Evidência de RM positiva ou evidência de RM duvidosa e PEV prolongado (porém
LCR não investigado ou negativo)
EMPP possível
Progressão clínica por no mínimo um ano
Evidência de RM duvidosa ou PEV prolongado
Quadro 1. Critérios Diagnósticos para EMPP. FONTE: THOMPSON (2000). Abreviações: EMPP=
Esclerose múltipla progressiva primária; LCR= Líquido cefalorraqueano; RM=Ressonância
magnética; PEV= Potencial evocado visual.
Em 2001, o Comitê Internacional, liderado por McDonald, revisou os
critérios diagnósticos para forma EMRR, dando maior ênfase a RM, utilizou os
critérios radiológicos de BARKHOF (1997) e TINTORÉ (2000) (quadro 2) e
adotou a RM como método para demonstrar a disseminação das lesões no
33
tempo (quadro 3) e adotou os critérios específicos de Thompson et al (2000)
para forma EMPP (quadro 4).
Três ou quatro das seguintes alterações:
1. Uma lesão realçada pelo gadolínio ou nove lesões hiperintensas em T2
se não houver lesão realçada pelo contraste.
2. No mínimo uma lesão infratentorial
3. No mínimo uma lesão justacortical (envolvimento de fibras em “u” subcorticais)
4. No mínimo três lesões periventriculares
Nota: uma lesão da medula espinhal pode ser substituída por uma lesão cerebral.
Quadro 2 - Critérios de ressonância magnética do crânio adotado como evidência da disseminação
das lesões no espaço. FONTE: BARKHOF (1997) e TINTORÉ (2000).
1. Se no primeiro exame de imagem realizado três meses ou mais após o início do evento
clínico, há uma lesão realçada pelo gadolínio que não corresponde à alteração clínica
inicial, é o suficiente para demonstrar a disseminação no tempo. Se não houver lesão
realçada pelo gadolínio, deve ser realizado um acompanhamento por exames de imagem.
O intervalo de tempo sugerido para realização de uma nova RM é de três meses.
A
ocorrência de uma nova lesão em T2 ou uma lesão realçada pelo gadolínio, preenche o
critério para disseminação no tempo.
2. Se o primeiro exame de imagem é realizado menos que três meses após o início do
evento clínico, uma segunda RM, feita três meses ou mais após o evento clínico inicial,
mostrando uma nova lesão realçada pelo gadolínio, fornecerá evidência suficiente para
disseminação no tempo. Entretanto, se nenhuma lesão realçada é vista no segundo
exame, uma RM adicional feita no mínimo após três meses, mostrando uma nova lesão
em T2 ou uma lesão realçada, será suficiente.
__________________________________________________________________
Quadro 3 - Critérios de ressonância magnética de crânio (adotados como evidência da
disseminação das lesões no tempo). FONTE: McDONALD (2001)
34
Apresentação clínica Dados adicionais necessários para
diagnóstico da EM
Dois ou mais surtos; evidência clínica
objetiva de 2 lesões ou mais lesões
Nenhum teste adicional é requerido
Dois ou mais ataques; evidência clínica
objetiva de 1 lesão
Disseminação no espaço, demonstrada
pela RNM
b
Ou duas ou mais lesões detectadas pela
RM compatível com EM mais LCR positivo
b
Ou aguardar um surto clínico adicional
comprometendo um local diferente.
Um surto; evidência clínica objetiva de 2 ou
mais lesões
Disseminação no tempo, demonstrada por
RM
c
Ou segundo surto clínico
Um surto; evidência clínica de 1 lesão
(apresentação monossintomática)
Duas lesões ou mais detectadas pela RM
compatíveis com EM, mais o LCR positivo
b
E disseminação no tempo demonstrada
pela RM
c
Ou segundo surto clínico
Progressão insidiosa
LCR positivo
b
e disseminação no espaço
sugestivo de EM demonstrada por:
1.nove ou mais lesões T2 no cérebro ou
2.duas ou mais lesões na medula espinhal,
ou
3. 4-8 lesões cerebrais e 1 na medula
espinhal
Ou PEV
c
anormal associado a 4-8
lesões,ou com menos de 4 lesões
cerebrais e com 1 lesão na medula
espinhal detectada na RM
e disseminação no tempo demonstrada
pela RM
c
Ou progressão contínua por 1 ano.
Quadro 4 - Critérios diagnósticos recomendados para Esclerose múltipla: diretrizes da Mesa
Redonda Internacional a respeito do diagnóstico da Esclerose múltipla (2000). FONTE: McDONALD
(2001).
a
De acordo com os critérios de RM para disseminação das lesões no espaço derivados de BARKHOF (1997) e
TINTORÉ (2000), expostos no quadro (2);
b
Presença de bandas oligoclonais (método de focalização
isoelétrica);
c
De acordo com os critérios de RM para disseminação das lesões no tempo, expostos no quadro
(3) ;
e
Lentidão com preservação do formato da onda.
35
Em Dezembro de 2005, POLMANN et al revisaram os critérios clínicos para
as duas formas clínicas. O LCR anormal não é mais considerado um requisito
essencial para o diagnóstico da EMPP (quadro 5).
Requisito Central para o diagnóstico
Progressão Neurológica Insidiosa sugestiva de EM acrescido de 1 ano de progressão da
doença determinada retrospectivamente ou prospectivamente.
Requisito Adicional para o diagnóstico
1. RNM de crânio positiva (9 lesões em T2) e LCR positivo.
ou
2. RNM de crânio positiva (no mínimo 4 lesões em T2 com PEV positivo) e LCR positivo.
ou
3. RNM da medula espinhal positiva (2 lesões focais em T2) e LCR positivo.
ou
4. RNM de crânio positiva (9 lesões ou no mínimo 4 em T2 com PEV positivo) e RNM da
medula espinhal positiva (2 lesões focais em T2).
Quadro 5 – Critério diagnóstico de McDONALD (2001) para EM revisado por POLMANN. FONTE:
POLMANN (2005)
3.2.4. Características Patológicas
Na EM, segundo INGLESE (2005), uma das principais características
patológicas é a distribuição de placas desmielinizantes no SNC. A perda axonal é
considerada um dos principais determinantes dos déficits neurológicos. Para
KUTZELNIGG (2005) haveria diferenças patológicas entre os pacientes com EM,
onde a desmielinização está relacionada ao curso da doença. Este estudo
concluiu existir diferenças patológicas entre a EMPP e EMRR. A desmielinização
36
focal está presente em todos os estágios da doença. Na EMRR as lesões
mostram-se ativas enquanto na EMPP as placas na SB mostram-se inativa.
Concluindo que a EM inicia como uma inflamação focal do SNC, placas
desmielinizantes da SB. Com a cronicidade, é observada uma inflamação difusa
em todo o cérebro associado a uma perda axonal lentamente progressiva na SB
aparentemente normal (SBAN) e desmielinização cortical. Com relação a reação
inflamatória na SBAN, no grupo EMPP, mostra-se difusa e menor que na EMRR
(focal).
37
3.3. Neuropsicologia
A Neuropsicologia pode ser definida como uma ciência dedicada a
estudar a expressão do comportamento por meio das disfunções cerebrais. É
exercida por psicólogos e considerada como um ramo novo das Neurociências
(LEZAK, 1995). Trata-se de uma especialidade que tem como objetivo
compreender a relação entre danos cerebrais e os efeitos na cognição e
comportamento dos indivíduos.
Na Idade Média já havia tentativas de localizar as funções cerebrais,
onde os filósofos e naturalistas consideravam que as faculdades mentais
poderiam estar localizadas nos três ventrículos cerebrais e as explicações
advindas da natureza espiritual. O anatomista Franz Joseph Gall (1758-1828), no
início do século XIX, afirmou que as faculdades humanas estavam localizadas em
áreas cerebrais particulares. Ele foi um dos fundadores da Frenologia, uma prática
de avaliar traços de personalidade e capacidades mentais pela medição de
saliência do crânio (GAZZANIGA, 2005). Em 1861, Paul Broca, ao descrever o
cérebro de um paciente com distúrbio da fala motora, concluiu que o terço
posterior do giro frontal inferior esquerdo seria o centro para as imagens motoras
das palavras. E pela primeira vez, havia-se localizado uma função mental
complexa em uma área específica do córtex, mostrando também uma
diferenciação hemisférica com respaldo experimental. Essa região frontal
38
esquerda tornou-se crucial para a produção da linguagem e foi chamada de Área
de Broca (GAZZANIGA, 2005). Este episódio representa o marco inicial da
neuropsicologia (KRISTENSEN, 2001).
Posteriormente, o psiquiatra Carl Wernicke (1848-1905), em 1874,
descobriu que o terço posterior do giro temporal superior esquerdo, estava
relacionado à capacidade de compreender a fala audível, uma das formas clínicas
da afasia, a afasia sensorial. O nome afasia sensorial escolhido por Wernicke em
contraste a afasia motora de Broca. Segundo ele, na afasia motora, os sujeitos
falam pouco mais compreendem a linguagem, enquanto na afasia sensorial a fala
está preservada, mas a linguagem está prejudicada (KRISTENSEN, 2001). Gall,
Broca e Wernicke reforçaram a vertente Localizacionista, que acreditava que as
formas complexas da atividade mental poderiam “ser localizadas em regiões
circunscritas do córtex cerebral, da mesma forma que as funções elementares”
(LURIA, 1981). Contrapondo essa teoria, havia a vertente Unitarista/Globalista que
postulava que os fenômenos mentais complexos seriam resultados da atividade
de todo o cérebro. Como representante o Kurt Goldstein (1878-1965), influenciado
pela teoria da Gestalt, postulava que quanto mais massa cerebral, mais
desenvolvida seria a respectiva função cerebral.
O termo Neuropsicologia foi utilizado pela primeira vez em 1913 em
uma conferência proferida por William Osler, nos Estados Unidos (BRUCE, 1985).
E apareceu ainda como um subtítulo na obra de Donald Hebb (1949), chamada
The Organization of Behavior: a Neuropsychological Theory. No entanto, anterior a
39
esta data a psicologia almejava o status de ciência através da psicologia
fisiológica. Entretanto, na psicologia, o Evolucionismo influenciou os estudos
funcionais sobre o comportamento, pensamento e inconsciente colocando em
segundo plano as relações entre mente e cérebro. Diferentemente dos médicos
que tratavam e estudavam os problemas de afasia e a associação desta disfunção
com alguma parte do cérebro (KRISTENSEN, 2001).
Alexander Romanovich Luria (1901-1978) é considerado o fundador da
vertente soviética da Neuropsicologia e não se integra em nenhuma das duas
correntes (“localizacionismo” X “unitarismo/holismo”). Enfatiza a importância de se
compreender a construção de processos mentais ao invés da sua localização.
Luria concebia uma ciência que mantinha uma consonância entre a fisiologia e a
neurologia sem depender integralmente destas (COLE, 1993) e sem perder de
vista a visão humanista na compreensão e entendimento das condições clínicas
estudadas (LURIA, 1992).
Luria, durante a Segunda Guerra Mundial, desenvolveu um estudo em
indivíduos portadores de lesão cerebral onde mapeava as respectivas lesões
cerebrais e anotava as alterações no comportamento. Tinha como objetivo
específico de estudar as bases neurológicas do comportamento. Através desse
estudo elaborou a Teoria do Sistema Funcional.
A base anatômica de um sistema funcional é constituída por certo
número de áreas corticais e regiões subcorticais atuando em conjunto, associadas
40
em feixes/vias de fibras, e corresponde ao fundamento neural de uma função
(neuro)psicológica/cognitiva. Portanto, de acordo com a Teoria de Sistema
Funcional, as funções mentais organizam-se em sistemas de zonas que trabalham
em concerto, cada qual exercendo seu papel específico dentro do sistema. No
entanto, se uma lesão ocorrer em um único local ou lesões ocorrerem em locais
diferentes, todo o sistema funcional pode ser perturbado (LURIA, 1973).
LURIA (1981) definiu neuropsicologia como “a ciência da organização
cerebral dos processos mentais humanos”, que tem “como objetivo específico e
peculiar investigar o papel dos sistemas cerebrais individuais nas formas
complexas de atividades mentais”. Dois princípios básicos da Neuropsicologia
Clínica foram expostos por Luria: primeiro, localizar as lesões cerebrais
responsáveis pelos distúrbios específicos de comportamento; segundo, permitir
uma compreensão dos componentes de funções psicológicas complexas
relacionadas com as operações diferentes do cérebro.
Desde então, a neuropsicologia desenvolveu testes que promovem um
mapeamento qualitativo das áreas cerebrais e a investigação das mesmas,
através de um exame minucioso e sistemático de habilidades perceptuais,
cognitivas e motoras. Esse processo, que caracteriza a avaliação
neuropsicológica, tem como objetivo estudar a expressão das disfunções
cerebrais sobre o comportamento, compreendendo o ser humano numa
perspectiva bio-psico-social.
41
Em 1996, a Neuropsicologia Clínica é oficialmente reconhecida como área
de especialidade do psicólogo pela APA (Associação de Psicologia Americana).
Define-se como neuropsicólogo clínico o “psicólogo profissional que aplica os
princípios de avaliação e intervenção baseadas no estudo científico do
comportamento humano e suas relações com o funcionamento normal e anormal
do SNC”.
No Brasil, com a resolução nº 014/00 publicada no Diário Oficial da União
em 22/11/2000, o Conselho Federal de Psicologia oficializou diferentes
especialidades para título de especialista (psicologia escolar/educacional,
organizacional e do trabalho, de trânsito e outras). A especialização em
Neuropsicologia foi oficializada através da Resolução n° 02/04 publicada no diário
oficial em 05/03/2004, onde o Conselho Federal de Psicologia passa a reconhecer
a Neuropsicologia como uma especialidade na Psicologia para finalidade de
concessão e registro do título de especialista.
42
3.3.1. Exame Neuropsicológico
O exame neuropsicológico compreende a avaliação de diferentes domínios
cognitivos como: percepção, memória, atenção, linguagem, praxia e função
executiva, além de avaliar transtorno do humor, transtorno de personalidade e
funcionamento social. É realizado através das seguintes etapas: anamnese,
aplicação de uma bateria de testes psicométricos padronizados e normatizados,
realização de uma avaliação funcional, interpretação dos resultados, perfil
neuropsicológico e hipótese etiológica.
Os testes psicométricos e neuropsicológicos são organizados em baterias
fixas ou flexíveis. As baterias fixas são aplicáveis em pesquisas, em protocolos
específicos para investigação de uma população particular; e as baterias flexíveis
são mais apropriadas para a investigação clínica. Podem ser utilizados como
medidas padronizadas; como medidas quantitativas comparáveis ao longo da
evolução do quadro e alguns testes claramente se correlacionam com estruturas
cerebrais.
Enquanto o exame neurológico avalia a presença ou ausência de efeitos ou
sinais, os testes neuropsicológicos examinam as habilidades cognitivas numa
escala que varia desde os desempenhos superiores à média até os gravemente
comprometidos. Os testes neuropsicológicos também consideram a relação
43
estabelecida entre cada função cognitiva avaliada com gênero, idade e a
escolaridade do sujeito avaliado (SPREEN, 1998).
A avaliação neuropsicológica é um exame complementar e tem o objetivo
de: estabelecer a presença ou não de disfunção cognitiva; auxiliar no diagnóstico
diferencial; contribuir para o planejamento do tratamento; acompanhar a evolução
do quadro em relação ao tratamento medicamentoso e cirúrgico; acompanhar a
evolução da reabilitação e documentar o déficit cognitivo.
3.3.2. Interpretação dos Resultados
Na interpretação dos resultados ocorre a necessidade de considerar várias
variáveis como: escolaridade; idade; motivação, interesse e cooperação;
interferências externas; pré-morbidade; uso de medicamentos; validação e
adaptações; baixas sensoriais (visão, audição); sensibilidade e especificidade dos
testes.
Segundo LEZAK (1995), a interpretação do desempenho no teste baseia-se
em uma pressuposição de que o paciente deva realizar as tarefas de determinada
forma; desvios da expectativa requerem avaliação. A maioria das pessoas
saudáveis apresenta um desempenho dentro de uma variação estatisticamente
estabelecida em testes cognitivos. E essa variação do nível de desempenho é
44
também considerada característica de pessoas saudáveis. Desvios abaixo dessa
expectativa sugerem a questão de prejuízo.
Na interpretação de desempenho deve-se considerar a variável
demográfica, estimar os níveis de capacidade pré-mórbida, fazer comparações
entre indivíduos (antecedentes educacionais e ocupacionais, sexo e raça) com
seu nível de desempenho no teste atual. Quanto mais gravemente prejudicado o
paciente, mais improvável que esteja atuando a níveis pré-mórbidos em qualquer
dos testes. Isso aumenta o nível de confiança do examinador em dados
demográficos e históricos para estimar o funcionamento pré-mórbido.
A qualidade de uma avaliação neuropsicológica depende de muitos fatores
e deve-se considerar com cautela conclusões de avaliações nas quais apenas
escores de teste são considerados. É fundamental a utilização de informações da
história, entrevistas e observações de comportamento para concluir diagnóstico. É
importante afirmar que os testes fornecem uma medida do tipo do grau de
transtorno cognitivo, mas com freqüência não pode especificar sua causa e nem
medem dano cerebral. Além de considerar que nem sempre um mau
desempenho em testes neuropsicológicos significa necessariamente que o
paciente tem um distúrbio cerebral, ou seja, outras possíveis interpretações
podem existir (HOWIESON e LEZAK, 2006).
45
3.4. Neuropsicologia da Esclerose Múltipla
3.4.1 Alterações Cognitivas na EM
Estudos com testagens neuropsicológicas demonstram que os pacientes
com EM apresentam alterações cognitivas (RAO,1991). O processo de
desmielinização e degeneração axonal que caracteriza a EM pode comprometer
também as fibras da SB que conectam o córtex pré-frontal a outras áreas
cerebrais (áreas corticais de associação) ocasionando distúrbios cognitivos
(RAO,1996; CASTRO, 2002).
Segundo KUJALA (1996) apenas a partir do exame das funções cognitivas
pode-se saber qual indivíduo está com o intelecto comprometido,
independentemente do tipo de evolução clínica.
Os estudos de prevalência (cortes transversais) indicam que 54 a 65% dos
pacientes apresentam déficits cognitivos (RAO, 1991). O estudo longitudinal
conduzido por AMATO (2001) demonstrou que após 10 anos de evolução a
freqüência dos distúrbios cognitivos aumenta de 24% para 66%.
46
Segundo RAO (1995), ocorrem déficits na avaliação neuropsicológica nas
funções como: memória secundária, memória trabalho, atenção, velocidade do
processamento de informações, funções executivas, percepção visuo-espacial e
um desempenho normal ou com déficit leve em: testes de inteligência, linguagem,
memória de curto prazo e memória implícita. E num estudo anterior concluiu que
existe uma fraca ou nenhuma correlação entre a incapacidade física e disfunção
cognitiva (RAO, 1991a). Para CASTRO (2002), as principais funções cognitivas
comprometidas são: atenção sustentada, fluência verbal, raciocínio abstrato,
percepção visuo-espacial, resolução de problemas e formação de conceitos,
memória de trabalho e velocidade do processamento de informações (VPI).
BOBHOLZ e RAO (2003) apontam que aproximadamente metade dos pacientes
com EM desenvolveriam distúrbios cognitivos na memória recente, atenção,
velocidade do processamento de informações, habilidades visuo-espaciais e
funções executivas; e estes estariam associados ao declínio nas atividades da
vida diária. No estudo de BENEDICT (2004), os pacientes com EM
freqüentemente apresentam déficits na VPI e exibem estados psicopatológicos
como depressão e em menor freqüência estados eufóricos.
Os distúrbios cognitivos na EM mostram-se relativamente freqüentes e com
intensidade de leve a moderada; ou apresentam déficits cognitivos isolados (RAO,
1991,1996, CASTRO, 2002).
47
3.4.2. Principais Funções Cognitivas Avaliadas
1. TESTES DE RASTREAMENTO PARA DEMÊNCIA
Demência é definida como uma síndrome com comprometimento de
memória e pelo menos uma das seguintes perturbações cognitivas: afasia,
apraxia, agnosia, perturbações das funções executivas e humor ou personalidade.
Os déficits cognitivos devem ser suficientemente severos para comprometer o
funcionamento sócio-ocupacional e representa um declínio em relação a um nível
anteriormente superior de funcionamento intelectual. O diagnóstico não deve ser
feito se os déficits cognitivos ocorrem exclusivamente durante o curso de um
delirium (DSM-IV-TR, 2000).
Para os autores como KUJALA (1996); FOLSTEIN (1975); BEATTY (1990);
RAO (1995); NEGREIROS (1996 b), o Mini Mental Examination Scale (MMSE) é
um teste limitado para o diagnóstico de demência e não poderia ser utilizado como
o único recurso para avaliar o declínio cognitivo dos pacientes com EM. Pode ser
utilizado como um teste de rastreamento para detectar problemas de orientação,
execução de ordens e outras funções associadas à demência, ou a outros
prejuízos neuropsicológicos. Apenas numa avaliação neuropsicológica completa
que examina várias funções cognitivas poderia avaliar os déficits cognitivos.
48
Em uma pequena porcentagem dos pacientes (menos de 10%) ocorre um
prejuízo grave o suficiente para caracterizar uma síndrome demencial (RAO,
1996). CASTRO (2002) define que o padrão de deterioração cognitiva não é
uniforme. Nas fases iniciais da EM tal declínio apresenta em geral, início insidioso
ou leve, influenciado pela variabilidade interindividual e pelas alterações
anatomopatológicas predominantes nas lesões, seu número e localização. Nos
casos graves, como RAO (1996), classifica demência subcortical.
2. INTELIGÊNCIA
Segundo WECHSLER (1944), a inteligência seria a capacidade do indivíduo
para agir deliberadamente, pensar racionalmente e lidar efetivamente com seu
ambiente. Considerava a inteligência não só como uma entidade global, mas
como um conjunto de capacidades específicas como: motivações, traços de
personalidade (ansiedade, persistência e consciência de objetivos) e outras
variáveis não intelectivas que contribuem para o desempenho em situação de
testagem (WECHSLER, 2004).
Para avaliar a inteligência dos pacientes com EM freqüentemente utiliza-se
baterias fixas, como a Escala de Inteligência para Adultos de Wechsler – Revisada
(WECHSLER, 2001), baseando-se nos resultados do Quociente de Inteligência
Verbal e de Execução (ANDRADE, 2004).
49
Segundo BEATTY (1993), a partir da Bateria Wais ou Wais-R (Wechsler
Adult Intelligence Scale ou a revisada), a inteligência encontra-se fracamente
afetada nos pacientes com EM enquanto para RAO (1995) os pacientes mostram
pequenos declínios no padrão de medida da inteligência. HEATON (1995), conclui
que o declínio intelectual estaria relacionado ao curso da doença, sugerindo que
pacientes crônicos progressivos estariam mais comprometidos que os pacientes
remitente recorrentes.
Em estudo mais recente, ANDRADE (2004) encontrou comprometimento na
Escala Wechsler, principalmente no Quociente de Execução. Resultado também
encontrado na pesquisa de BRASSINGTON e MARCH (1998), concluindo que
este comprometimento poderia estar relacionado ao tempo de reação e a VPI
necessária para a execução de algumas destas tarefas. Quanto à inteligência, os
estudos acima mostram uma uniformidade nos resultados, ou seja, a inteligência
está relativamente preservada.
3. LINGUAGEM
A linguagem é uma função específica e única do córtex cerebral
expressada em múltiplas formas. Segundo DAMAZIO (1992) pode ser definida
como a capacidade que temos de decodificar sons verbais em conceitos
inteligíveis (compreensão) e transmitir nossos conceitos em palavras (expressão),
possibilitando ao ser humano entender e realizar discursos conforme as normas
da língua. A capacidade de operar a linguagem requer o aprendizado da língua
50
sendo, portanto, adquirida. A leitura e a escrita também são manifestações da
linguagem (NEGREIROS, 1996). A linguagem além da função de comunicação
interindividual contribui para a organização de operações mentais (CASTRO-
CALDAS, 2004).
A linguagem é uma função cognitiva que se encontra relativamente
preservada na EM e essa conclusão tem sido um consenso na literatura. Os
distúrbios do discurso como hipofonia e disartria são comuns, especialmente em
pacientes com danos no tronco cerebral e cerebelo. Para HEATON (1985), o
prejuízo na fluência verbal pode estar mais relacionado ao comprometimento de
linguagem, no caso de ausência de sintomas afásicos. Para BEATTY (1993) e
RAO (1995), afasia, alexia, agrafia são raros.
A fluência verbal estaria usualmente prejudicada, pois requer rápido acesso
a informações armazenadas na memória (BEATTY, 1993). BEATTY (2005),
concluiu que na fluência verbal há um comprometimento similar para os testes de
fluência semântica e fonêmica. HENRY (2005) sugere a fluência verbal é uma das
medidas neuropsicológicas mais sensíveis para o comprometimento cognitivo na
EM. Associada ao grau de comprometimento físico estaria mais comprometida no
curso progressivo em relação ao curso remitente recorrente. Para HENRY (2005)
o comprometimento do curso progressivo pode estar relacionado à idade destes
pacientes que são mais velhos, a um maior tempo de doença e ao
comprometimento neurológico. Entretanto, para ACHIRON (2005), a fluência
verbal mostra-se afetada na fase inicial da EM.
51
4. ATENÇÃO
A atenção é a capacidade de focalizar estímulos internos e externos ao
corpo em detrimento de outros estímulos. Segundo MUIR (1996), divide-se em
três formas: atenção sustentada, dividida e seletiva. A atenção sustentada é o
estado de prontidão para detectar e responder a certas alterações específicas na
situação de estímulos. Na atenção dividida há a necessidade de atender
concomitantemente a duas ou mais fontes de estimulação, o que pode envolver
tanto aspectos espaciais como temporais. A atenção seletiva, segundo NAHAS,
(2004) refere-se à capacidade de direcionar a atenção para uma determinada
porção do ambiente, enquanto os demais estímulos à sua volta são ignorados
(ANDRADE, 2004).
Para avaliar a atenção, o Digit Span (Wechsler - Bateria WAIS, 2001) é
freqüentemente utilizado porque além da atenção, fornece o span (quantidade
máxima de material retido) do material verbal em geral. O Digit Span recebeu
críticas no que diz respeito aos escores, porque o processo cognitivo entre as
formas Forward e Backward seria diferente. Na forma Forward observa-se
atenção/concentração e memória de trabalho enquanto na forma Backward
haveria outro processo cognitivo, uma manipulação de material na memória.
FOONG (2000) realizou um estudo sobre a atenção e encontrou déficits em
pacientes na forma progressiva primária e secundária. SONNEVILLE (2002)
investigou a atenção focalizada, sustentada e função executiva na EMRR, EMPP
52
e EMSP. Concluiu que o curso da doença estaria associado à severidade dos
déficits na atenção. Na EMSP os déficits são mais extensos que na EMPP e os
EMRR são os menos afetados. Na sustentação e foco da atenção os grupos
EMSP e EMPP comparados ao EMRR, apresentam flutuações principalmente na
atenção sustentada. CASTRO (2002) observou um maior comprometimento na
atenção-concentração, principalmente em pacientes que tinham um maior tempo
de doença, um alto grau de incapacidade física e a forma EMSP.
A atenção é fundamental para o desempenho cognitivo, e por isso deve ser
avaliada cuidadosamente à medida que um desempenho cognitivo reduzido na
ausência de déficits consistentes de memória, linguagem e de outras funções
cognitivas, pressupõe-se problemas na atenção (COHEN, 2006).
As lesões subcorticais secundárias à desmielinização podem interromper o
controle atencional e as lesões na SB subcortical também reduzem a velocidade
de transmissão neural, tornando o tempo de processamento mais lento, reduzindo
a capacidade de atenção e criando obstáculos ao processamento cognitivo
(YUDOFSKY, 2006).
53
5. VELOCIDADE DE PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÕES
A velocidade do processamento de informações (VPI) é a capacidade de
acessar os dados armazenados rapidamente, quando necessário. O Paced
Auditory Serial Addition Test (PASAT), Stroop Interferênce Test, Symbol Digit
Modality Test (SDMT) estão entre os testes mais utilizados para avaliar a VPI
(BEATTY, 1993).
Como a EM é uma doença que afeta a mielina, uma hipótese como
conseqüência seria o comprometimento na VPI. Assim, vários estudos procuraram
confirmar está hipótese e concluíram que ocorre uma lentidão cognitiva e déficits
em tarefas que exigem substituição de números por símbolos ou vice versa (Digit
Symbol). O comprometimento é mais significativo quando a resposta desejada for
escrita - Digit Symbol Gráfico (Wais – III-R) em relação à resposta falada (Digit
Symbol Oral) que o déficit é fraco (BEATTY, 1993).
Segundo BEATTY (1993), estas medidas de VPI podem ser suscetíveis a
viés de confusão nos resultados devido aos comprometimentos visuais, auditivos,
perceptivos e na memória curto-prazo ou raciocínio aritmético. Mas para RAO
(1995) os diversos testes confirmam que o processamento de informações nos
pacientes com EM é mais lento que no grupo controle. Também encontrou o corpo
caloso como freqüentemente afetado na EM. E como é a principal fibra que
conecta os hemisférios cerebrais, se afetado, poderia ocasionar uma desconexão
inter-hemisférica prejudicando na conjugação de informações em ambos os
54
hemisférios cerebrais (associação de elementos verbais do hemisfério esquerdo
com elementos não-verbais do hemisfério direito, por exemplo). Podendo levar a
uma lentidão na VPI, prejuízo em tarefas envolvendo lateralidade, atenção
sustentada, vigilância (RAO, 1989) e em outras como, a habilidade visuo–
perceptual, controle da atenção (RAO, 1995).
GRIBSBY (1994) demonstrou o comprometimento em tarefas de VPI pode
significar um crescente isolamento do córtex pré-frontal, conseqüência das lesões
desmielinizantes nestas vias, diminuindo, em decorrência, a capacidade para
controlar ativamente habilidades relacionadas ao processamento de informações,
bem como outras atividades próprias da região – controle comportamental,
reverberação, estratégias organizacionais e no “esforço durante a aquisição e
recuperação de informações”. Estes fatores também podem prejudicar os
resultados de testes de memória com a curva aprendizagem e recordação tardia -
supraspan (ANDRADE, 2004).
Quanto a VPI, SONNEVILLE (2002) encontrou que o curso da doença está
associado à severidade dos déficits, onde a diferença entre a EMPP e EMSP foi
restrita ao tempo de sustentação da atenção durante a realização da tarefa.
HUIJBREGTS (2004) demonstrou que o grupo EMRR em relação aos controles
apresentou déficits em tarefas que envolviam processos superiores como Memória
de Trabalho e com relação aos grupos EMPP e EMSP o desempenho foi melhor
em tarefas de VPI (SDMT e PASAT). Estes dois últimos grupos apresentaram
déficits em relação aos controles em todas as tarefas. Mas em relação à VPI o
55
grupo EMSP apresentou um déficit mais significativo em relação ao grupo EMPP.
Concluindo que existiriam diferentes perfis cognitivos para cada forma da doença.
DENNEY (2004) encontrou no seu estudo que o grupo EMRR em relação
ao EMPP apresenta déficits na leitura da palavra e nomeação da cor no Teste
Stroop Color.
COLLO (2006) comparou indivíduos na forma EMRR e EMPP na VPI. No
estudo não foi possível analisar o curso da doença como um fator preditivo no
processamento de informações nem na qualidade de vida. Concluíram apenas
que a qualidade de vida está associada à medida da VPI. Com relação à lentidão,
ocorre maior comprometimento nas formas EMPP e EMSP do que na EMRR
(SONNEVILLE, 2002). Para HENRY (2005), o Digit Symbol versão oral seria uma
medida neuropsicológica sensível ao comprometimento cognitivo na EM.
A VPI é uma função cognitiva primariamente afetada na EM (DENNEY,
2005; COLLO, 2006; GONZALES-ROSA, 2006; NOCENTINI, 2006). A lentidão é
mais grave na EMSP em relação à EMPP (HUIJBREGTS, 2004; DENNEY, 2005).
Essa medida interfere na qualidade de vida dos pacientes independente do nível
de comprometimento neurológico medido pelo EDSS (DENNEY, 2005; COLLO,
2006) ou do nível de Depressão (DENNEY, 2005).
56
6. MEMÓRIA
A memória é a capacidade de armazenar informação oriunda da
experiência e evocar grande parte dessa informação intencionalmente, ou seja, é
o mecanismo de armazenamento e/ou evocação das informações (PUVES, 2005).
É uma função cognitiva complexa e que pode estar afetada em uma ou mais
etapas do processo mnêmico: registro, retenção, evocação ou reconhecimento.
Pode estar alterada numa perspectiva temporal de armazenamento como na
memória imediata ou de trabalho ou operacional; na memória recente, de curta
duração ou secundária ou na memória remota, longo-prazo ou terciária. As
alterações também podem ser encontradas quanto à modalidade (verbal e não-
verbal) ou quanto ao sistema cerebral: Explícita (Declarativa) que se subdivide em
semântica ou episódica; e Implícita (procedural) que se refere aos hábitos motores
ou reflexos condicionados (não consciente).
FOONG (2000) encontrou déficits de memória e atenção nos pacientes
EMPP e EMPS, sendo que na memória de trabalho e espacial os pacientes com
EMPS mostraram-se significativamente mais comprometidos. Este estudo concluiu
que existe uma leve diferença na proporção de pacientes na forma EMPP e EMSP
que apresentam um comprometimento cognitivo severo. O desempenho não
estava associado com a duração da doença ou da fase progressiva.
HUIJBREGTS (2004), em seu estudo, encontrou nos EMRR déficits na memória
de trabalho, as formas progressivas (primária e secundária) apresentaram um
desempenho mais comprometido do que os controles em todas as tarefas
57
realizadas. Concluindo, na forma remitente recorrente o desempenho é melhor
que nas formas progressivas.
A memória está intimamente ligada à aprendizagem e a memória é a
conseqüência natural da aprendizagem. GAUDINO (2001) sugeriu que a
dificuldade primária na EM estaria na aprendizagem verbal e no desempenho da
memória. Nas formas progressivas (EMPP e EMSP) os déficits mais significativos
estariam relacionados à aquisição de novas informações (verbais), concluindo o
autor que o problema primário na EM estaria na memória. Os déficits na memória
verbal estariam mais presentes no curso progressivo observado a partir da
dificuldade em usar a nova informação aprendida. Na EMPP, os déficits estariam
na evocação, e o reconhecimento menos comprometido do que a aquisição inicial
das informações. Enquanto a memória viso-espacial estaria mais comprometida
na EMRR. Na aprendizagem de material não-verbal as formas EMRR e EMSP
mostraram-se mais comprometidas.
A memória é descrita como a função cognitiva mais freqüentemente afetada
quando comparada a outras funções cognitivas como: linguagem e a habilidade
visuo-motora.
Memória imediata ou de curto prazo (informações apresentadas há pouco
segundos atrás) avaliada pelo Digit Span e Brown Peterson Interference Test o
desempenho é considerado normal ou perto do normal nos pacientes com EM
(RAO, 1991). RAO (1995) encontrou desempenho intacto no Forward e déficit no
58
Backward indicando memória imediata normal com um comprometimento em
manipular informações (memória operante).
A memória recente, secundária ou de longo prazo refere-se ao
armazenamento permanente ou mais estável de recordações. O processo em que
as informações se transformam em representações mentais é referido como
codificação; e o processo de trazer à consciência as informações armazenadas ou
relembrar é denominado recuperação ou evocação (WECHSLER, 2004). Os
déficits neste tipo de memória são extensivamente documentados quando utilizam
testes de listas de palavras, pares de palavras ou histórias. RAO (1995) encontrou
pobre desempenho em tarefas que requerem evocação livre para material verbal
(histórias ou pares de palavras) e não verbal (desenhos geométricos ou matrizes).
Pacientes com EM, em testes de histórias evocam menos detalhes do que os
controles (RAO, 1984). No teste da lista de palavras, os pacientes evocam menos
que os controles; ou a curva de aprendizagem é semelhante aos controles
(RAO,1984, BURG, 1987) ou pouco reduzida (BEATTY e GANGÉ, 1977). O teste
de lista de palavras geralmente mais utilizado é o RAVLT. Neste teste é possível
observar a ocorrência de interferência pro ativa ou retroativa. Para DELIS (1987),
nos pacientes com EM, a evocação livre encontra-se abaixo da média e ausência
de interferência proativa e retroativa. Para HEATON (1985), o que ocorre na EM é
a perda da informação ao longo do tempo, ocorrendo uma interferência proativa
apesar do contínuo número de tentativas. Este desempenho mostra uma redução
na curva de aprendizagem.
59
Os testes de memória de reconhecimento contribuem para verificar o
armazenamento e a evocação/recuperação de informações. Na EM, a memória de
reconhecimento é normal ou pouco comprometida, sugerindo mecanismo de
armazenamento semântico normal (RAO, 1995). As funções de memória,
aprendizagem, recuperação da memória de curto e longo prazo encontram-se
prejudicadas enquanto a capacidade de memória de curto prazo (Span)
permanece, sobretudo, intacta. E isto é demonstrado quando os pacientes são
capazes de aprender (apresentando uma curva de aprendizagem) embora a
aquisição de novas informações tenha-se revelado mais lenta do que os controles.
No Teste de Memória Codificada e Auxiliada (Enchanced Cued Recall Test -
BUSCHKE, 1984) o que ocorre é uma diferença entre a evocação livre e auxiliada,
ou seja, os pacientes podem apresentar comprometimento na evocação livre, o
que dificilmente ocorre quando são fornecidas pistas. O reconhecimento é normal
ou perto do normal como no teste da lista de palavras. KUJALA concluiu (Memory
Deficits na Early Cognitive Deterioration in MS, 1996) que comprometimento da
memória e aprendizagem para material verbal, não-verbal, e inatenção associados
estaria relativamente relacionado ao declínio cognitivo na EM.
BEATTY (1993) também encontrou em seu estudo que a memória de
reconhecimento geralmente está intacta. Observam-se esquecimento perto do
normal, ocorrência de interferência proativa e algum déficit em recuperar
informações, mostrando pobre desempenho em evocação livre. Uma alternativa
para explicar este resultado seria um déficit no armazenamento inicial da
informação onde ocorre deficiência na evocação no 1º ensaio no teste da lista ou
60
ser devido ao processamento lento de informações ou capacidade restrita de
processamento da memória imediata.
Quanto à memória remota, utilizando a bateria para reconhecer pessoas
famosas ou eventos públicos de décadas passadas, BEATTY (1993) encontrou
um comprometimento tanto para informações recentes quanto para passado
remoto.
THORNTON (2002) verificou na memória de longo-prazo que os déficits
estão na evocação, enquanto o processo de armazenamento está geralmente
intacto. Entretanto, concluiu que os déficits mnemônicos na EM estão em ambos,
especialmente problemas com armazenamento de informações contextuais, onde
o acesso a essas memórias seria beneficiado por estratégias de armazenamento
semântico. Para ACHIRON (2005), a memória verbal encontrar-se-ia afetada na
fase inicial da EM.
DENNEY (2004) encontrou no seu estudo que os grupos EMRR e EMPP
estavam comprometidos em relação aos controles nas funções de aprendizagem
verbal e memória, exceto no reconhecimento tardio. Nesta medida apenas o grupo
EMPP mostrou-se significativamente mais comprometido que os controles.
Entretanto, segundo os autores nem todos os aspectos da memória estariam
afetados, principalmente porque a capacidade de reconhecimento está normal ou
com comprometimento leve. Assim, os vários tipos de memória implicam em
61
avaliar de diversas formas e considerar os diferentes circuitos cerebrais envolvidos
em cada uma delas.
7. FUNÇÕES EXECUTIVAS
Segundo LEZAK (1995), as funções executivas incluem a capacidade de
iniciar ações, planejar e prever meios de resolver problemas, antecipar
conseqüências e mudar as estratégias de modo flexível, monitorando o
comportamento passo a passo e comparando com os resultados parciais com o
plano original.
Na EM são relatadas alterações relacionadas ao lobo frontal na formação
conceitual, raciocínio abstrato e planejamento e tais funções cognitivas que
estariam relacionadas ao lobo frontal (RAO, 1995; BEATTY, 1993). Os testes
como, Raven Progressive Matrices (solução de problemas/raciocínio abstrato),
figura complexa de Rey-Osterreith (habilidades visuo-construtivas) e fluência
verbal são utilizadas para avaliar as funções executivas e o comprometimento nas
funções do lobo frontal. É considerado no desempenho dos testes a fadiga e o
déficit da atenção sustentada relatada na EM, onde o desempenho apresentado
poderia ser uma combinação destes comprometimentos.
Na solução de problemas, testes como: Wisconsin Card Sorting Test,
Levines Hypotesis Testing Task e Raven Progressive Matrices, observam-se
grande número de respostas perseverativas (abandono, desistência ou hipóteses
62
irrelevantes). O que para BEATTY (1993) é semelhante a pacientes com lesões
nos lobos frontais, e podem refletir desconexões nos circuitos dos lobos frontais.
ZAKZANIS (2000), concluiu que os pacientes do curso crônico progressivo
(EMPP e EMSP) os déficits estariam em tarefas de função executivas (frontal) em
relação aos EMRR, que os déficits estariam em funções de memória. DENNEY
(2004) encontrou no seu estudo que o grupo EMRR em relação ao EMPP,
apresentou déficits no planejamento inicial no teste de função executiva (Tower of
London – TOL) e não encontrou diferenças nas principais medidas da função
executiva avaliada pelos testes Tower of London (TOL) e Wisconsin Card Sorting
Test (WCST).
8. PROCESSAMENTO VISUAL
Em tarefas de processamento visual, BEATTY (1993) encontrou a
discriminação de faces e emoções na expressão facial levemente comprometida.
Quanto ao comprometimento no desempenho da Bateria Wais é difícil determinar
se é devido à deficiência visual, forte comprometimento no processamento,
análise visuo-perceptual ou visuo-espacial (BEATTY,1993).
63
9. FUNÇÕES VISUO-PERCEPTUAL, VISUO-CONSTRUCIONAL, VISUO-
ESPACIAL
Anteriormente chamada de Apraxia Construcional ou Construtiva seria a
alteração na capacidade de construir, isto é, reunir elementos em dois ou em três
planos do espaço (GIL, 2002). Segundo HOWIESON e LEZAK (2006), em análise
mais recente a capacidade de construção foi separada das praxias. Demonstrou
que os déficits envolvem avaliação prejudicada de um ou mais aspectos de
relações espaciais. Estes incluem distorções na perspectiva, angulação, tamanho
e julgamento de distância. Ao contrário das apraxias, a dificuldade não é uma
incapacidade de traçar linhas ou montar construções, mas, sim, percepções e
julgamento errôneos envolvendo relações espaciais (YUDOFSKY, 2006).
A Figura Complexa de Rey-Osterrieth (REY, 1941) é um teste utilizado não
apenas como teste de memória não verbal, mas para avaliar os déficits
construcionais, visuo-perceptuais ou uma combinação de déficits. Para
PETERSON (1990), a cópia da Figura está relacionada ao lobo frontal e a
evocação ao lobo temporal enquanto para SACCHETTI (1992), a memorização da
figura estaria relacionada ao lobo parietal e a evocação ao lobo frontal. Para
CASEY e FENNELLl (1985), obteve uma significativa correlação entre o
comprometimento na cópia da figura em 41 pacientes de EM crônicos e com grave
déficit físico. ANDRADE (1999) encontrou na evocação da figura de Rey-
Osterrieth um desempenho pior que os controles (comprometimento médio), mas
na cópia a habilidade construcional na EMRR foi considerada normal embora na
64
organização apresentasse uma lentidão em sua execução. Os déficits no
planejamento e organização estariam associados aos sistemas frontais. Para
GAUDINO (2001), a memória verbal é mais afetada nas formas progressivas,
enquanto que na forma EMRR os déficits estariam na memória visoespacial,
embora na cópia da figura o desempenho seja normal ou levemente
comprometido (ANDRADE, 1999). SONNEVILLE (2002) demonstrou que a
organização e coordenação visuo-motora foi considerada dentro do normal nos
EMRR. Os autores mencionados anteriormente associam os déficits
construcionais ao comprometimento de funções cognitivas de planejamento e
execução do que ao comprometimento sensório-motor. Segue abaixo o Quadro
(6) com as principais funções cognitivas alteradas na EM e na EMPP; e em quais
estudos houve correlação com idade, tempo de doença, curso e grau de
comprometimento físico; e os respectivos autores e ano.
Abreviações do Quadro (6): Fl. Verbal: fluência verbal; At.Sustentada: atenção sustentada; VPI: velocidade de
processamento de informação; L. prazo: longo prazo; REC: reconhecimento; F. Executiva: funções
executivas; F. visuo-espacial: funções visuo-espacial; EMPP: esclerose múltipla progressiva primária; EMRR:
esclerose múltipla remitente recorrente.
65
Funções
Cognitivas
F. Cog.
Alteradas EM
Autor/ano EMPP X EMRR
EMPP X Controle
Autor/ano outras variáveis
Demência
menos 10%
Rao, 1996
Castro, 2002
- - -
Inteligência
normal ou
déficit leve
Rao, 1995;
Heaton,1995;Andrade,
2004
maior
comprometimento
Heaton, 1995
curso
Linguagem
Fl. Verbal
normal ou
déficit leve
comprometida
déficit fase
inicial
Rao, 1996
Beatty, 1993/2005; Castro
2002; Henry, 2005
Achiron, 2005
-
maior
comprometimento
-
Henry, 2005
-
-
idade, tempo e
comprometimento
físico
-
-
Atenção
At.
Sustentada
comprometida
-
-
Rao,1995;
Bobholz e Rao, 2003
Castro, 2002
maior
comprometimento
maior
comprometimento
EMRR
maior
comprometimento
EMRR
Foong,2000;
Sonneville,
2002
-
Sonneville,
2002; Castro
2002
Curso
-
tempo e
comprometimento
físico
VPI
comprometida
lentidão
Primarimente
afetada
Rao,1995; Bobholz e Rao,
2003;
Castro, 2002; Benedict,
2004
Denney, 2005; Collo,
2006; Gonzales-Rosa,
2006; Nocentini, 2006
maior
comprometimento
-
-
Sonneville,
2002;
Huijbregts,
2004; Collo,
2006
-
curso
-
-
- Memória
- Imediata ou
Curto prazo
- Recente,
Secundária
ou L. prazo
- REC
- Trabalho
- Espacial
comprometida
Primarimente
afetada
comprometida
comprometida
verbal e não
verbal
normal ou
déficit leve
comprometida
-
Rao, 1995; Kujala,1996
-
Rao, 1995
Rao, 1995; Bobholz e
Rao, 2003; Thornton,
2002
Beatty, 1993; Rao, 1995;
Deney, 2004
Rao,1995; Bobholz e Rao,
2003;
Castro, 2002
-
comprometida
-
-
-
comprometida
comprometida
Foong, 2000
Gaudino,
2001;
Deney, 2004
-
-
Foong, 2000;
Huijbregts,
2004
Foong, 2000
sem associação
curso progressivo
-
-
-
curso progressivo
sem ao tempo ou
curso
F.
Executivas
comprometida Beatty, 1993; Rao, 1995;
Castro, 2002; Bobholz e
Rao, 2003
comprometida
Zakzanis,
2000
curso
F. Visuo-
espacial
comprometida Rao, 1995; Castro, 2002;
Bobholz e Rao, 2003
- - -
66
10. TRANSTORNO DO HUMOR
Os transtornos do humor podem acompanhar uma variedade de doenças
neurológicas, psiquátricas e médicas (HOWIESON e LEZAK, 2006) podem causar
déficits comportamentais e de desempenho tanto motor (lentidão motora,
dificuldade de traduzir pensamento para ação, falta de interesse, fadiga) como
distúrbios cognitivos: na atenção, memória, no retardo psicomotor e
funcionamento executivo deficiente (MAYBERG, 2006).
Inúmeros questionários foram criados para medir sintomas de sofrimento
emocional, principalmente porque são úteis para estabelecer a evidência de
exagero de sintomas e auxiliam em diagnósticos diferenciais. O transtorno do
humor é freqüentemente avaliado pelas Escalas Beck de Depressão e Ansiedade
(RANDOLPH, 2000; MENDES, 2003), Escala Hamilton de Ansiedade e Depressão
- HAD (MENDES, 2003); Escala Zung de Depressão (RAO, 1991b).
MENDES (2003) encontrou a depressão como um transtorno do humor
freqüente (17,9%) e ansiedade em 34,5% dos pacientes com EMRR. Os altos
escores de depressão correlacionavam-se com a maior incapacidade funcional; e
não a variáveis como tempo de doença, sexo ou idade.
67
Segundo BENEDICT (2004) freqüentemente encontra-se nos pacientes
com EM estados psicopatológicos como depressão. O transtorno do humor mais
comum é o Transtorno Depressivo Maior de 25% a 50% (MINDEN, 1990, 2000;
SADOVNICK, 1996; PAT, 1999; FEINSTEIN, 2001), ou em variação menos
severa, desordem de ajustamento com humor deprimido.
ZABAD (2005) encontrou uma relativa freqüência de depressão maior na
EMPP quando comparado a EMRR, embora o estudo tenha concluído que a
prevalência de depressão maior na EMPP é menor que na forma EMRR. Nestes
resultados devem ser consideradas algumas limitações como o tamanho da
amostra (número da forma EMRR é muito maior); sexo, idade, atividade da
doença, status do comprometimento físico que afeta o ajustamento na vida sócio-
ocupacional o que aumenta o risco para a depressão. Um fator, por exemplo, é
que na forma EMRR observa-se uma maior prevalência em indivíduos jovens e
em mulheres. Outra dificuldade é quanto à metodologia diversificada empregada
nos estudos na avaliação da Depressão Maior, que podem levar aos erros na
prevalência. O estudo de ZABAD (2005) avaliou o impacto biopsicossocial da
depressão na EM e associou a inflamação como um dos fatores responsáveis pela
depressão na EM. Como a EMPP apresenta uma menor inflamação, então
apresentaria uma baixa prevalência da depressão em relação à EMRR. Segundo
o estudo, a diferença na freqüência da depressão entre a EMRR e EMPP mostra a
necessidade de futuras investigações considerando o grau de impacto das
variáveis: sexo, idade, idade do primeiro surto, grau de incapacidade física,
68
exames de neuroimagem, atividade da doença, fatores psicossociais e nível de
inflamação na associação entre o curso da EM e a depressão.
ARNETT (2001) estudou a relação entre depressão e o desempenho em
tarefas executivas, principalmente comprometimento no planejamento. Encontrou
que a lentidão do processamento de informações e habilidade de planejamento
possa ser uma característica dos pacientes com EM deprimidos. Na análise em
torno de 25% foi sensível a influência da depressão nas tarefas de atenção e
memória de trabalho.
JULIAN (2007) concluiu que a depressão tem influencia na queixa dos
pacientes sobre seus déficits cognitivos (aspecto subjetivo). O mesmo não foi
observado quando avaliados objetivamente através da avaliação neuropsicológica.
Assim a depressão afetaria a confiabilidade da queixa e uma maior fidedignidade
quanto as queixas cognitivas poderia ser obtida após o fim do tratamento para
depressão.
Com relação à ansiedade, FEINSTEIN (2007) concluiu que em torno de
75% dos pacientes com EM apresentam algum dos transtornos de ansiedade
(pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, ansiedade generalizada). São
transtornos comuns e o diagnóstico é freqüentemente esquecido, portanto, não
recebem tratamento. A depressão e limitação social seriam fatores de risco
associados.
69
11. OUTRAS VARIÁVEIS DA DOENÇA
A incapacidade física através do EDSS foi associada ao déficit cognitivo
(RAO, 1991). Mas segundo CASTRO (2002), a forma progressiva contraria essa
correlação, à medida que atividade mental apresenta-se normalmente intacta
apesar de apresentar uma incapacidade física severa.
CASTRO (2002), afirma que parece não existir correlação entre
deterioração cognitiva e outras variáveis da doença como dados demográficos
(idade, sexo, coeficiente intelectual e nível cultural), curso clínico, alterações do
humor, medicação e fadiga. Embora afirme que a forma progressiva secundária
apresente maior deterioração cognitiva.
70
4. METODOLOGIA
4.1. Método
4.1.1. Desenho do Estudo
Estudo transversal.
4.1.2. Pacientes e Métodos
O presente estudo foi realizado no período de Março de 2005 a Novembro de
2006, quando foram selecionados 32 pacientes com EMPP do total de
pacientes atendidos no Ambulatório de Doenças Desmielinizantes do Hospital
da Lagoa (HL) – Rio de Janeiro. Os pacientes são acompanhados pelo Médico
Neurologista responsável pelos atendimentos aos casos com a forma EMPP.
Os pacientes foram encaminhados para o setor de Neuropsicologia e avaliados
pela autora (PAES, R.). Em função de variáveis como: dificuldade de
locomoção e a distância entre o hospital e o local de moradia a avaliação
neuropsicológica foi realizada em apenas uma sessão com a duração em torno
de uma hora e meia. Quatro pacientes foram avaliados em suas residências.
Segundo os critérios de Exclusão (4 e 5), 6 pacientes não participaram do
procedimento estatístico.
A amostra foi 26 pacientes e segundo os critérios diagnósticos:
Thompson et al (1999): 21 pacientes (81%)
Mc Donald et al (2001): 22 pacientes (85%)
Polman et al (2005): 24 pacientes (92%)
Categoria: 19 Definidos, 7 Prováveis.
71
Os pacientes foram submetidos aos seguintes instrumentos:
1- Anamnese – Para coleta de dados de identificação, endereço, doenças pré-
existentes, medicamentos e exames complementares.
2- Inventários Beck para Ansiedade e Depressão (Casa do Psicólogo, 2001)
instrumentos auto-aplicáveis. Validado para população brasileira.
3-Bateria de Testes Neuropsicológicosa mesma utilizada em um trabalho
anterior por NEGREIROS (2007) no mesmo local na EMRR (quadro 7).
4- E assinaram um termo livre e informado para a participação na pesquisa
(anexo II). Todos os instrumentos acima citados foram realizados pelo próprio
pesquisador.
4.1.3. Testes Neuropsicológicos Aplicados
A bateria foi composta dos seguintes testes (quadro 7):
Screening para demência:
1)Mini Mental State Examination - MMSE (Folstein, 1975; Bertolluci, 1994):
Tarefas como orientação, denominação de objetos, repetição de frases,
atenção-concentração, cumprimento do comando escrito e outros. Validado
para população brasileira.
2)Memory – Information – Concentration - MIC (Teste de Blessed-Roth
Modificado, 1968): tarefas como memória-orientação-concentração.
Extensão da Atenção e Tracking:
3)Digit Span (Bateria Wais III - Wechsler, 2004): Avaliam a amplitude da
atenção e memória de trabalho respectivamente. Validado para população
brasileira.
Concentração e Velocidade de Processamento de Informações:
4)Digit Symbol Oral (versão oral, 1982, Negreiros, 1996): mede a atenção, a
velocidade do processamento de informações. Baseado no equivalente gráfico
da Bateria Wais III. Este teste foi adaptado para eliminar o aspecto motor. O
estimulo é audiovisual e a resposta é oral.
72
Linguagem
5)Fluência Verbal: Controlled Oral Word Association Test - COWAT (Benton,
1976): Fluência semântica: animais e frutas e Fluência fonêmica: palavras com
as letras “F”, “A” e “S”. Trata-se de um teste de associação verbal oral
controlada que é uma medida de Output verbal e função executiva.
Memória:
6)Teste de Memória Codificada e Auxiliada (BECRT - Enchanced Cued Recall
Test - Buschke, 1984): Avalia simultaneamente a memória verbal e não–verbal
possibilitando aferir o auxílio de pistas semânticas no processo evocativo.
7)Rey Auditory Verbal Learning Test (RAVLT – Rey, 1964): Verifica a memória
verbal e como incluímos uma etapa de evocação tardia e uma etapa de
reconhecimento permitiu avaliar a retenção, evocação livre e reconhecimentos
verbais.
Pensamento Abstrato/ Conceitual:
9)Raven Progressive Matrices (Raven, 1960; 1998 - versão reduzida): Objetiva
avaliar a capacidade de análise perceptual complexa, abstração e lógica que
também são parâmetros de funções executivas. Para eliminar o efeito da fadiga
e excesso de tempo do teste original utilizamos apenas as séries A e C do
mesmo. Validado para população brasileira.
FUNÇÕES COGNITIVAS
TESTES NEUROPSICOLÓGICOS
Screening para demência
Atenção/Concentração
Velocidade do Processamento de Informações (VPI)
Fluência Verbal
Memória
Pensamento Abstrato/Conceitual
Transtorno do Humor
1. Mini Mental State Examination (MMSE)
2. Teste de Blessed-Roth Modificado (MIC)
3. Digit Span
4. Digit Symbol Oral
5.Controlled Oral Word Association Test (COWAT)
Semântica: Animais e Frutas
Fonêmica: F-A-S
7. Buschke Enchanced Cued Recall Test (BECRT)
8. Rey Auditory Verbal Learning Test (RAVLT)
9. Raven Progressive Matrices
10. Inventário Beck de Ansiedade (BAI)
Inventário Beck de Depressão (BDI)
Quadro 7 – Funções cognitivas e testes neuropsicológicos aplicados
73
Pacientes
4.1.4. Critérios de Inclusão:
1. Classificação quanto à forma evolutiva de EMPP de acordo com o consenso
internacional (Lublin e Reingold,1996);
2. Diagnóstico de EMPP de acordo com os critérios de Thompson et al (1999),
Mc Donald et al (2001) e Polman et al (2005);
4.1.5. Critérios de Exclusão:
1. Estado de surto ou exacerbação dos sintomas;
2. Usuários de substâncias psicoativas;
3. Condições clínicas coexistentes como, alteração tireoidiana, hipertensão
arterial, HIV, sífilis e outras doenças neurológicas e psiquiátricas do eixo I
(DSM-IV-Tr, 2000);
4. Presença de comprometimento físico que interferisse na execução de toda
bateria de testes neuropsicológicos;
5. Indivíduos com menos de 4 anos de estudo.
6. Não concordância com os termos do consentimento informado.
4.1.6. Controles
O grupo controle foi organizado por igual número de adultos saudáveis
pareados individualmente com os pacientes por idade (± 3 anos), escolaridade
(± 1 ano) e sexo. Uma entrevista foi realizada em pacientes e controles para
excluir pessoas com história de abuso de substâncias, uso atual de
substâncias psicoativas, presença de doenças neurológicas ou psiquiátricas e
presença de condições clínicas que afetassem a cognição.
74
4.1.7. Aspectos Éticos
O presente projeto foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa do
HUGG em 14 de dezembro de 2006 (Anexo I). Todos os pacientes leram e
assinaram espontaneamente o Consentimento Informado (Anexo II), de acordo
com as normas vigentes e estabelecidas pelo Ministério da Saúde (MS) do
Brasil, e esclarecidos sobre o estudo neuropsicológico a que seriam
submetidos.
4.1.8. Análise Estatística
A análise estatística foi realizada segundo bases do estudo de RAO et al
(1991), Os resultados foram apresentados com suas médias e o desvio padrão
da respectivamente. O test t de student com duas caudas foi empregado para
detectar diferenças significativas entre EMPP e o grupo controle nas 27
variáveis cognitivas. O qui quadrado foi utilizado para identificar as diferenças
na porcentagem entre os grupos e a análise de correlação de Pearson para
avaliar a relação entre o déficit cognitivo nos pacientes e o grau de
comprometimento da doença de acordo com o EDSS. O valor de p < 0.05 é
considerado estatisticamente significante.
O déficit cognitivo foi definido de acordo com o procedimento estatístico
empregado por RAO et al, uma técnica para corrigir diferenças individuais nas
habilidades cognitivas pré-mórbidas (RAO, 1991a). A regressão múltipla foi
75
aplicada a cada escore dos 27 índices cognitivos (variáveis dependentes) e as
variáveis demográficas como, sexo, idade e anos de estudo (variáveis
independentes). O resíduo padronizado para cada uma das variáveis foi obtido
subtraindo-se de cada um dos escores brutos seus respectivos escores após
sofrerem a regressão múltipla. O comprometimento em cada uma dessas
variáveis foi definido com a medida do quinto percentil no escore do resíduo
padronizado do grupo controle.
O comprometimento cognitivo na EMPP foi definido com o percentil 95
do total de número de déficits nos índices cognitivos do grupo controle. A
freqüência dos déficits cognitivos foi calculada através da diferença entre as
porcentagens dos pacientes EMPP que apresentaram déficit cognitivo definido
como grau falso positivo e as porcentagens do grupo controle classificados
como cognitivamente preservados.
76
5. RESULTADOS
5.1. Características demográficas:
A tabela 1 apresenta a porcentagem e o desvio padrão das variáveis
demográficas do grupo EMPP e do grupo controle. Não existem diferenças
entre sexo, idade e anos de estudo entre os dois grupos (todos p’ > 0.1). Os
resultados indicam a incidência de 61.5% do sexo feminino (n= 16) e 38.5% do
sexo masculino (n= 10), tendendo a ser maior em mulheres do que homens.
EMPP Controle
Duração da doença
< 5 anos
6a – 12 anos
> 13 anos
3 (11%)
14 (54%)
9 (35%)
-
-
-
EDSS
< 3.0
3.5 – 6.0
> 6.5
3 (11%)
9 (35%)
14 (54%)
-
-
-
Escolaridade 11.6 (3.4) 11.6 (3.3)
Idade 49.9(8.2) 49.0(8.4)
Sexo
Masculino
Feminino
38.5%
61.55
38.5%
61.5%
Transtorno do Humor
Ansiedade
Depressão
12.6 (10.7)
14.6 (8.5)
9.5 (10.7)
5.5 (4.2)
Avaliação Neuropsicológica
Testes Comprometidos
6.8 (0.9)
2.1 (0.4)
Tabela 1 - Características demográficas da amostra (n=26)
77
5.2. Padrão cognitivo
5.2.1 Freqüência das alterações cognitivas
A tabela 2 apresenta o número de testes comprometidos nas 27
variáveis cognitivas. E podemos observar que os pacientes EMPP apresentam
um índice de fracasso quando comparado ao grupo controle (t
50
= 4.6;
p<0.001).
Utilizando o ponto de corte de cinco ou mais números de testes
comprometidos (percentil 95 de fracasso nos testes entre o grupo controle) a
freqüência de déficit cognitivo foi de 61.5% na EMPP e 11.5% no grupo
controle. Dessa forma, a freqüência do comprometimento cognitivo em nossa
amostra foi estimada em 50%.
5.2.2. Funções cognitivas alteradas e testes alterados
A tabela 2 (a seguir) descreve o EPM de cada um das 27 variáveis
cognitivas entre EMPP e grupo controle. A comparação do test t com duas
caudas entre os grupos indica que EMPP apresentou um desempenho inferior
ao desempenho do grupo controle (p’s < 0,05) em alguns testes. Nesta tabela
mostra a porcentagem de pacientes EMPP em relação ao quinto percentil do
grupo controle em cada teste aplicado. Apresenta a porcentagem de pacientes
EMPP abaixo do grupo controle e a ordenação dos testes comprometidos
segundo o grau de sensibilidade. A memória de longo-prazo mostrou-se a
78
variável cognitiva mais sensível. Em torno de 60% dos pacientes com EMPP
apresentou déficit na evocação 1 (após a leitura da lista B) do RAVLT, o que
representa a presença da interferência proativa. E o reconhecimento não se
mostrou afetado (15.4%; p> 0.01).
A memória de longo-prazo através do BECRT também se mostrou uma
variável sensível, em torno de 60% dos pacientes EMPP apresentaram déficits
na primeira evocação livre. Estes índices na memória de longo-prazo através
do RAVLT e do BECRT indicam que a memória e aprendizagem neste grupo
de pacientes apresentam déficits.
A fluência verbal e o Digit Symbol oral foram outras variáveis cognitivas
sensíveis, onde em torno de 40% dos pacientes EMPP apresentaram déficits.
Na fluência verbal fonêmica foi em dizer palavras que iniciem com a letra “A”
(42.3%).
Avaliando ainda a tabela 2 podemos observar que após as variáveis
mencionadas anteriormente, a memória de longo prazo através dos RAVLT e
BECRT continuam sendo as variáveis cognitivas sensíveis, mais a fluência
verbal fonêmica com a letra “S” (34.6%); e empatadas a letra “F” e a fluência
semântica de nomes de frutas (30.8%). O raciocínio abstrato/conceitual
apresentou um comprometimento médio (34.6%). Podemos perceber que em
alguns testes o p foi maior que 0.01(p>0.01), ou seja, os déficits não foram
significativos.
79
Testes Neuropsicológicos EMPP
Grupo
Controle
p
%EMPP
<5%il
Ordem
Rastreamento para Demência
MMSE
26,9 (2,5) 28,5 (1,2) p<0,01 30,8% 10
MIC 1,57 (1,5) 1,61 (2,1) p>0,01 0,0% 24
Atenção/ Concentração
Digit Symbol 40,23 (9,3) 48,19 (8,1) p<0,01 38,5% 4
Memória
Curto-prazo
Digit Span
Foward 5,85 (1,1) 6,03 (0,8) p>0,01 15,4% 19
Backward 3,62 (1,1) 4,20 (0,8) p>0,01 23,1% 15
Longo-prazo
RAVLT
RAVLT 1 4,77 (1,2) 6,00 (2,1) p>0,01 0,0% 24
RAVLT 2 6,81 (1,7) 8,88 (2,6) p<0,01 19,2% 18
RAVLT 3 7,88 (2,3) 10,15 (2,5) p<0,01 23,1% 15
RAVLT 4 8,69 (2,7) 11, 46 (2,3) p<0,01 38,5% 4
RAVLT 5 9,38 (2,4) 11,96 (2,1) p<0,01 34,6% 7
RAVLT-Evoc 1 5,46 (2,9) 9,50 (3,3) p<0,01 57,7% 1
RAVLT-Evoc 2 5,92 (3,2) 9,23 (3,3) p<0,01 23,1% 15
RAVLT- Rec 27,34 (2,2) 28,34 (1,9) p>0,01 11,5% 21
BECRT
Evoc 1 9,84 (2,1) 12,23 (1,9) p<0,01 57,7% 1
Evoc 2 11,42 (2,2) 13,23 (1,3) p<0,01 38,5% 4
Evoc 3 12,57 (2,4) 13,77 (1,2) p<0,01 30,8% 10
Pista 1 6,00 (2,1) 3,73 (1,8) p>0,01 0,0% 24
Pista 2 4,29 (2,0) 2,73 (1,3) p>0,01 0,0% 24
Pista 3 3,27 (2,4) 2,23 (1,2) p>0,01 7,7% 23
BECRT- Evoc 47,42 (1,1) 47,92 (0,7) p>0,01 26,9% 13
BECRT-
Reconh
47,96 (0,1) 47,96 (0,2) p>0,01 15,4% 20
Fluência Verbal
COWAT Fonêmica
Letra "F" 10,23 (4,3) 14,03 (4,2) p<0,01 30,8% 10
Letra "A" 9,04 (3,6) 11,88 (2,8) p<0,01 42,3% 3
Letra "S" 9,26 (4,18) 13,31 (3,7) p<0,01 34,6% 7
COWAT Semântica
Animal 13,73 (3,7) 16,61 (4,6) p>0,01 11,5% 21
Fruta 12,65 (2,7) 15,50 (2,8) p<0,01 30,8% 10
Pensamento
Abstrato/conceitual
Raven 15,34 (4,2) 18,84 (3,4) p<0,01 34,6% 7
80
5.3. Correlação com outras variáveis da doença
5.3.1. EDSS
O EDSS não foi considerado um critério de exclusão e três pacientes
apresentavam o EDSS Leve (0-3); nove, Moderado (3,5-6,0) e quatorze, Grave
(6,5-8,0). Neste estudo encontramos correlação entre o EDSS e tempo de
doença (r= 0,48). Uma correlação média, que significa em quase 50% dos
pacientes apresenta incapacidade ao longo do tempo pela gravidade dos
distúrbios neurológicos.
5.3.2. EDSS e Alterações cognitivas
Não encontramos correlação entre os déficits cognitivos e o grau de
severidade da doença medida pelo EDSS (r= - 0.04; p> 0.8).
5.3.3.Transtorno do Humor
Apenas 25 pacientes responderam os inventários Beck de Ansiedade e
Depressão. Apenas um paciente não respondeu, porque precisou interromper a
avaliação. Com relação à ansiedade não houve diferença significativa (t
45
= 0.9;
p> 0.3), entretanto para depressão encontramos uma diferença significativa
81
(tabela 1). Em relação ao grupo controle, os pacientes encontram-se mais
deprimidos (t
45
= 4.6; p> 0.01).
5.3.3.1. Correlação entre Alterações cognitivas e Depressão
Como não foi significativa a freqüência de ansiedade em nosso estudo,
decidimos observar a correlação entre alterações cognitivas e a depressão. E
não encontramos correlação entre essas duas variáveis (r= 0,15).
5.3.4. Tempo de Doença e Alterações Cognitivas
Não encontramos correlação entre essas duas variáveis (r= 0,03).
5.4. Instrumento breve sensível em identificar os déficits
cognitivos
Para determinar um instrumento sensível aos déficits cognitivos entre os
pacientes EMPP foi observando o grau de sensibilidade e especificidade em
três baterias breves. Nestas baterias foram incluídos os índices mais sensíveis
extraídos da bateria neuropsicológica aplicado neste estudo: a evocação 1 da
RAVLT após a leitura da lista B; a primeira evocação livre do BECRT e a letra
“A” da Fluência Verbal (tabela 5).
A Bateria 1 inclui a evocação 1 da RAVLT após a leitura da lista B; a
primeira evocação livre do BECRT e a letra “A” da Fluência Verbal. Bateria 2 foi
composta de todos os testes da Bateria 1 mais a segunda evocação livre do
82
BECRT. Na Bateria 3, toda a Bateria 2 mais o Digit Symbol Oral. A
classificação dos pacientes EMPP em cada uma dessas baterias ocorreu
segundo dois critérios de ponto de corte: um método leniente, o qual consistiu
em um ou mais testes comprometidos, e o método mais conservador, que
consistiu em dois ou mais testes comprometidos.
Tabela 3. Valor preditor de déficits cognitivos de três baterias breves identificados na bateria neuropsicológica aplicada
neste estudo.
Um ou mais testes
comprometidos
Dois ou mais testes
comprometidos
Sensibilidade Especificidade Sensibilidade Especificidade
Bateria 1 68,4 97,0 21,1 100,0
Bateria 2 73,7 93,9 47,4 100,0
Bateria 3 73,7 90,9 52,6 100,0
Na tabela 3, observamos a existência de uma relação inversa entre o
grau de sensibilidade e especificidade nas baterias com pontos de corte
diferentes. O método mais conservador apresentou uma alta especificidade
(100%), embora uma baixa sensibilidade (21.1% a 52.6%). Em contraste, o
método mais leniente mostrou uma alta sensibilidade (68.4% a 73.7%) e uma
alta especificidade (90.9% a 97%). Em função destas medidas e da
necessidade de uma bateria de rastreamento de déficits cognitivos que não
seja exaustiva para os pacientes, escolhemos a Bateria 1. Na figura 1 podemos
observar que não tem uma diferença significativa entre as três baterias, mas a
Bateria 1 mostra-se como o melhor instrumento.
83
5.5. Contribuição do MMSE e do MIC na identificação das
alterações cognitivas
5.5.1. Comparação entre MMSE, MIC e Bateria Breve
A curva de verossemelhança (ROC - Receiver Operating Characterístic)
para as Bateria 1, 2 e 3 mais o MMSE e o MIC estão apresentados na figura 1.
A diagonal ao longo do gráfico indica que o instrumento não tem nenhuma
habilidade discriminativa entre pacientes e pessoas saudáveis, uma vez que as
taxas de falso positivo e verdadeiro positivo sempre apresentam os mesmos
valores independentemente do resultado bruto do instrumento.
Na figura 1 ao comparar os testes de rastreamento com as baterias,
observamos que o MIC não é um teste sensível, enquanto o MMSE mostrou
uma sensibilidade em torno 30% na identificação das alterações cognitivas dos
pacientes. Todas as baterias apresentam a capacidade de discriminar as
alterações cognitivas na EMPP. A Bateria 1 mostrou alta sensibilidade (68.4%)
na identificação de alterações cognitivas, principalmente quando comparada
aos dois testes de rastreamento (MIC e o MMSE).
84
85
6. DISCUSSÃO
Esta pesquisa teve por objetivos estudar a freqüência dos déficits
cognitivos e as principais funções cognitivas alteradas na EMPP, bem como o
quanto o grau de incapacidade medida pelo EDSS (Expanded Disability Status
Examination Scale - Kurtzke, 1983) influencia nos déficits cognitivos. Outro
enfoque foi a discussão sobre a sensibilidade dos testes de rastreamento como
o Mini Mental Examination Scale, amplamente utilizado por neurologistas para
a identificação de distúrbios cognitivos na EM, comparado com testes mais
sensíveis de nosso instrumento.
Embora o tema cognição e EM seja objeto de várias publicações
científicas, trabalhos sobre a prevalência de déficits cognitivos na EMPP
(COMI, 1995; THOMPSON, 1997) em geral, discutem as principais funções
cognitivas comprometidas nos testes neuropsicológicos, mas não apresentam
a freqüência dos déficits cognitivos na EMPP.
Na revisão da literatura encontramos uma freqüência de 50 a 60% de
déficits cognitivos na EM como um todo e não especificamente na forma
progressiva (RAO, 1991a; 1995). COMI (1995) realizou em 31 pacientes com
EM, sendo 17 pacientes EMSP e 14 pacientes com EMPP encontrou a
freqüência de 53% na EMSP e 7% na EMPP. Num estudo mais recente,
86
SOLARI (2002), não especificou o número de pacientes com EMPP, mas relata
que 50% destes pacientes apresentavam déficits cognitivos. Os dados desta
pesquisa confirmam esta alta freqüência (50%).
Essa variação de resultados pode estar associada aos seguintes fatores:
A EMPP é uma forma evolutiva rara correspondendo a 10% dos casos.
A maioria dos estudos apresenta um número reduzido da amostra, não sendo,
portanto, representativa do grupo.
Até a década de 90 os estudos com testagem neuropsicológica eram
realizados em pacientes com EMRR, ou em grupos de pacientes com EM
evoluindo clinicamente em surto-remissão ou progressão primária ou
secundária, desconsiderando-se as diferenças na fisiopatologia destas duas
condições desmielinizantes primárias.
Acreditava-se que na EMPP por ser caracterizada clinicamente por uma
mielopatia crônica com grande acometimento medular, existiria menor
acometimento cerebral e conseqüentemente menor freqüência de alterações
cognitivas. Uma hipótese para o número baixo de queixas cognitivas seria o
comprometimento motor proeminente.
Outra questão é a interferência de graves disfunções neurológicas na
realização da bateria de testes neuropsicológicos. Na maioria dos trabalhos
são excluídos os pacientes com incapacidade neurológica grave (EDSS maior
87
que 6.5). Este critério de exclusão poderia interferir na exata estimativa da
freqüência dos déficits cognitivos e na avaliação do perfil cognitivo da EMPP,
uma vez que apenas pacientes com incapacidade leve ou moderada estariam
sendo testados.
Por último, a falta de homogeneização de critérios (inclusão e exclusão)
e instrumentos de coleta de dados entre as pesquisas (bateria longas ou
curtas), dificulta a comparação dos resultados.
No presente estudo não excluímos pacientes com EDSS grave (6,5-8,0),
porque a maioria apresentava EDSS de moderado a grave. A nossa amostra,
portanto, é representativa do grupo de pacientes com EMPP atendidos no
Hospital da Lagoa, centro de referência no Rio de Janeiro para tratamento
desta enfermidade, onde realizamos a pesquisa.
Encontramos correlação entre EDSS e tempo da doença (r= 0.48). E
não encontramos correlação entre alterações cognitivas e as variáveis tempo
de doença (r= 0.03) e incapacidade neurológica medida pelo EDSS (r= - 0.04)
da mesma forma que outros autores (RAO, 1991,1993, FOONG, 2000;
GAUDINO, 2001; SONNEVILLE, 2002).
Com relação aos estados psicopatológicos encontramos os pacientes
EMPP mais depressivos que o grupo controle (t
45
= 4.6; p> 0.01), mas não
encontramos a mesma associação entre a depressão e alterações cognitivas
88
(r= 0,15) da mesma forma que outros autores (RAO, 1991; 1993, BENEDICT,
2004; JULIAN, 2007).
Nos testes de rastreamento para demência (MMSE e MIC), o MMSE
identificou alterações cognitivas em torno de 30% dos pacientes, portanto,
mostrou-se sensível. RAO (1995) já afirmava que o MMSE não deveria ser o
único recurso de avaliação cognitiva nos pacientes com EM, reforçando desta
forma o valor da aplicação de uma bateria de testes neuropsicológicos. O MIC
não foi sensível na identificação dos déficits cognitivos (0%; p> 0.01).
A principal alteração na fluência verbal foi na fluência fonêmica (letra “A”
comprometida em 42.3%). A letra “S” (34.6%; p<0.01) e a fluência verbal
semântica para frutas (30.8%; p<0.01) também se mostraram comprometidas
com menor freqüência. Estes resultados são similares aos encontrados nos
estudos de BEATTY (2005) que afirma que tanto a fluência semântica quanto a
fonêmica mostra-se afetadas. HENRY (2005) afirma ser a fluência verbal uma
das medidas neuropsicológicas mais sensíveis para comprovar o
comprometimento cognitivo na EM. Nosso estudo confirma esta afirmativa. A
fluência verbal foi um dos testes selecionados em nossa bateria breve de
rastreamento (Bateria 1).
A atenção/concentração avaliada principalmente pelo Digit Span não se
mostrou afetada. A forma Foward apresenta alterações em 15.4% e na forma
Backward, 23.1% (p’s>0.01), indicando preservação da memória de curto prazo
nos pacientes EMPP.
89
A Velocidade de Processamento de Informações (VPI) é considerada
uma das principais funções cognitivas alteradas na EM (BENEDICT, 1993;
SONNEVILLE, 2002, DENNEY, 2004). Esta alteração está presente desde o
início da doença (DENNEY, 2005; COLLO, 2006; GONZALES-ROSA, 2006;
NOCENTINI, 2006). Segundo HENRY (2005) a VPI seria uma medida
neurospsicológica sensível na demonstração do comprometimento cognitivo na
EM. No presente estudo, a VPI foi avaliada pelo Digit Symbol Oral e os
resultados (38.5%; p<0.01) confirmam esta assertiva.
O déficit no raciocínio abstrato/conceitual foi encontrado em 34.6 %
(p<0.01) dos pacientes EMPP, sem grandes diferenças dos resultados
encontradas em testes que avaliavam a fluência verbal e a VPI. As diferenças
que encontramos entre pacientes e grupo controle podem ser atribuídas à
disfunção executiva que está relacionada ao lobo frontal (BEATTY, 1993; RAO,
1995; FOONG, 1997).
A memória recente ou de longo prazo no nosso estudo mostrou-se
significativamente afetada nos estágios da aprendizagem, evocação livre
(evocação 1) e evocação tardia. O comprometimento dos pacientes com EMPP
para o material verbal foi em torno de 60% (p< 0.01). Concluímos ser a
evocação tardia uma medida sensível para os déficits de memória nestes
pacientes. No material não verbal, a medida mais sensível foi a primeira
evocação livre (60%), que diminuiu ao longo do teste em função do
fornecimento de pistas. Entretanto, a memória de reconhecimento para
90
material verbal e não-verbal esteve preservada (11.5% e 15.4%; p>0.01,
respectivamente) nos pacientes analisados confirmando dados de BEATTY,
1993; THORNTON, 2002.
Com relação à memória nossos resultados confirmam alteração na
memória de longo prazo. A memória de curto-prazo e o reconhecimento foram
considerados normais. Estes resultados são semelhantes aos de GAUDINO
(2001) que apontou os déficits de memória como uma dificuldade primária na
EM, principalmente para material verbal. Os déficits estariam na evocação livre
do material anteriormente apresentado, na aquisição inicial das informações
(processo de aprendizagem – curva de aprendizagem) mais do que no
reconhecimento, onde os pacientes com EM se beneficiam com o auxílio de
pistas.
Podemos afirmar que a alta freqüência de déficits cognitivos, as
alterações na memória associadas ao comprometimento de funções executivas
indicando comprometimento frontal-subcortical e a falta de correlação entre
alterações cognitivas e o grau de incapacidade neurológica (EDSS), tempo de
doença ou depressão estão de acordo com dados da literatura.
Verificamos que o padrão de alteração cognitiva na EMPP não
corresponde a um comprometimento global (RAO, 1991a,1996, CASTRO,
2002) sendo afetadas em especial a velocidade de processamento de
informações e a memória recente (BENEDICT, 2004).
91
Um grande número de baterias de rastreamento foi proposto para
identificação de alterações neuropsicológicas na EM (RAO, 1991; BEATTY,
1995; BASSO, 1996; SOLARI, 2002; BENEDICT, 2006; SEPULCRE, 2006). O
estudo de RAO (1991) é considerado um dos mais importantes devido a
tentativa de criar uma Bateria Neuropsicológica Breve (Brief Repeatable
Neuropsychological Battery - BRB-N).
No presente estudo foi construído uma bateria de “screening” ou
rastreamento para a EMPP, segundo o modelo proposto por RAO (1991). A
bateria escolhida foi a Bateria 1, que apresenta 68.4% de sensibilidade e 97%
de especificidade na identificação de alterações cognitivas na EMPP. Esta
bateria é composta dos seguintes testes: evocação 1 da RAVLT após a leitura
da lista B; a primeira evocação livre do BECRT e a letra “A” da Fluência Verbal.
Representa um instrumento extremamente útil para ser incluído nos protocolos
brasileiros de investigação na EMPP. Cabe enfatizar que o Mini Mental
Examination Scale (MMSE) embora seja um instrumento de rastreamento
importante, não substitui a avaliação clínica, a necessidade do uso de uma
bateria neuropsicológica completa, incluindo avaliação cognitiva, emocional,
assim como o impacto destes aspectos nas atividades da vida diária destes
pacientes.
Finalmente, é importante que se analisem os resultados obtidos pela
presente pesquisa tendo-se em conta suas limitações. A primeira diz respeito à
dificuldade de comparação de resultados com os trabalhos pioneiros de RAO
(1991). Não foi utilizada a mesma bateria de testes; não foi analisada a
92
capacidade visuo-espacial dos pacientes e nem a realização da correlação
entre alterações cognitivas e uso de medicação, e exames de neuroimagem.
Apesar das limitações expostas, este trabalho é pioneiro em estudar a
freqüência de alterações cognitivas na EMPP no Brasil. Além disso, é
importante destacar que estudos como esses são fundamentais para os
serviços de saúde, pacientes e familiares, pois trazem elementos que poderão
contribuir para a melhoria do atendimento e qualidade de vida destes
pacientes.
Estudos futuros comparando as alterações cognitivas na EMPP a outras
formas da EM, tornam-se mandatórios para ampliar o conhecimento da clínica
e da fisiopatologia desta doença que atinge a substância branca cerebral; e
aumentar o conhecimento sobre as alterações neurocognitivas e
comportamentais quando a substância branca cerebral é afetada.
93
7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÃO
9 Estudos que abordam a freqüência de alterações cognitivas na EMPP
são escassos, não sendo encontradas informações referentes aos
países da América Latina.
9 A freqüência de do comprometimento cognitivo em nossa amostra foi
estimada em 50%.
9 Não foi encontrada correlação entre os déficits cognitivos e o grau de
incapacidade neurológica medida pelo EDSS, tempo de doença ou
depressão.
9 Foi encontrada alteração de humor significativa para Depressão nos
pacientes EMPP.
9 A bateria 1 se mostrou mais sensível em identificar as alterações
cognitivas do que os testes de rastreamento (MMSE e MIC).
9 As funções cognitivas mais afetadas são: memória recente e velocidade
de processamento de informações.
9 Os déficits cognitivos encontrados na EMPP são semelhantes às
alterações das funções executivas (frontal-subcortical).
RECOMENDAÇÃO
9 Pesquisas futuras com uma população maior correlacionando os
resultados de avaliações neuropsicológicas com exames de
neuroimagem poderão trazer benefícios na compreensão da
fisiopatologia e na clínica da EMPP.
94
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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106
ANEXO I
107
ANEXO II
Termo de Consentimento Livre e Informado
A Correlação entre Qualidade de Vida e Alterações Motoras em Pacientes com
Esclerose Múltipla
Instituição Responsável:
Hospital Universitário Gaffrée e Guinle
Rua Mariz e Barros, 775 -
Tijuca - Rio
de Janeiro - Brasil
Tel.: 2568-9760
Nome do informante:____________________________________________
Este é um projeto
de pesquisa realizado pelo Hospital Universitário Gaffrée e Guinle. A
finalidade deste estudo é comparar a qualidade de vida dos pacientes com Esclerose
Múltipla com as suas alterações motoras. A Esclerose Múltipla é uma doença do
Sistema Nervoso Central e é considerada como uma doença incapacitante. A
avaliação da qualidade de vida tem sido cada vez mais utilizada na área da saúde.
Assim, a mensuração do impacto da doença na qualidade de vida do paciente torna-se
uma ferramenta cada vez mais importante. O senhor (a) foi selecionado para ser um
dos 60 pacientes que participará deste estudo por apresentar o diagnóstico de
Esclerose Múltipla e residir na localidade do município em que está sendo realizada a
pesquisa.
Objetivos do estudo
Este trabalho tem os seguintes objetivos:
1. Analisar a Qualidade de Vida dos pacientes de Esclerose Múltipla.
2. Correlacionar a Qualidade de Vida com a velocidade da marcha nos pacientes
de Esclerose Múltipla.
3. Correlacionar a Qualidade de Vida com espasticidade nos pacientes de
Esclerose Múltipla.
4. Correlacionar a Qualidade de Vida com a Fadiga.
5. Correlacionar a Qualidade de Vida com o Índice de Incapacidade nas
atividades de vida diária nos pacientes de Esclerose Múltipla.
Como será feito o estudo
Se a senhor (a) concordar em participar deste estudo, será preenchido um
questionário sobre qualidade de vida de forma auto-aplicável. Na mesma consulta será
solicitado que a senhor (a) responda a um questionário sobre idade, gênero,
escolaridade, renda mensal e profissão. Posteriormente, a senhor (a) responderá um
questionário sobre fadiga e outro sobre Incapacidade, por fim realizará um teste físico
para os membros superiores, com duração de dois minutos, um teste físico para os
membros inferiores com duração máxima de 30 segundos, e uma avaliação da
resistência articular ao movimento passivo deitado (a) na maca.
Desconfortos e riscos
Os questionários e testes realizados não apresentam riscos à saúde do paciente e
apresentam uma duração máxima de 30 minutos para serem preenchidos.
108
Benefícios esperados
A principal finalidade da nossa pesquisa é avaliar a qualidade de vida do paciente com
Esclerose Múltipla e correlacionar com as alterações motoras para detectar qual é a
função motora que influencia mais na qualidade de vida.
Liberdade
de recusar
A participação no estudo é totalmente voluntária.
Confidencialidade
Todas as informações obtidas neste estudo são confidenciais, uma vez que seu nome
não será associado às análises a serem realizadas. Os questionários ficarão num
arquivo trancado no HUGG. Os resultados dos exames serão entregues durante a
consulta com profissional
de saúde.
Em caso
de dúvidas
Caso tenha qualquer dúvida sobre esta pesquisa, pergunte ao profissional
de saúde
que está lhe atendendo. Se o senhor (a) concordar em participar e desejar ter outras
informações poderá contactar os responsáveis técnicos pela pesquisa no Hospital
Universitário Gaffrée e Guinle: Leandro Alberto Calazans Nogueira, Felipe Resende
Nóbrega, Regina Alvarenga no telefone 25689760.
Sua participação será valiosa já que os resultados deste estudo são importantes para
o desenvolvimento
de estratégias de tratamento e prevenção de disfunções motoras e
melhoria de qualidade de vida em pacientes com Esclerose Múltipla no Rio de Janeiro.
Responda as perguntas a seguir, circulando a resposta SIM ou NÃO:
1- O senhor (a) leu o
termo de consentimento?
SIM NÃO
2- Foram respondidas todas as suas perguntas sobre o estudo?
SIM NÃO
3- O senhor (a) se sente completamente esclarecido (a) sobre o estudo?
SIM NÃO
4- O senhor (a) concorda em fazer parte deste estudo?
SIM NÃO
Se concorda em participar deste estudo, por favor, assine o seu nome abaixo:
________________________ _______________________________
Sua assinatura Assinatura do profissional
de saúde
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