A partir da chegada da Internet gráfi ca, por volta de 1991, no Brasil, um novo modo de
narrar começou a aparecer nos veículos de comunicação da sociedade pós-moderna, in-
fl uenciando no modo de construir as narrativas digitais. Não foi nada pensado e estudado
na Academia, mas, ao ser feita a transposição de conteúdos impressos para o digital, per-
cebeu-se que o novo ambiente necessitava de construções multimídias, com saídas em
áudio, vídeo e animação, por exemplo.
Procuramos apresentar uma refl exão sobre questões fundamentais destas transformações:
real, atual, virtual, o simulacro, a alteridade; todas elas ideais para mapearmos o imaginá-
rio tecnológico quanto à ambígua conjunção entre o moderno e o arcaico na hipermídia.
Para o médico psiquiatra e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,
Henrique Schützer Del Nero, “pensamento, ou cognição, é o que unifi ca homens e máqui-
nas, sendo-lhes a razão formal, regra de inferência e outras tantas. A forma que embasa
o pensamento é a mesma nos dois casos. Não havendo, portanto, distinção que possa se
manter entre um computador ideal e o cérebro humano.
HOBBES proclamou há séculos que pensar é calcular”
No século XIX, utilizávamos entidades internas para explicar
a mente. Já no século XX, ocorreu reação oposta: o compor-
tamento tornou-se fi el dignatário, expulsando a mente de
cena. Por volta de 1950, os pensadores e a psiquiatria de
Freud declararam o fi m do behaviorismo
novamente o papel da mente e introduzindo o conceito en-
tre estímulo e resposta – regras de conexão passaram a ser
algoritmos, conjuntos fi nitos e bem determinados. A partir
do momento em que a escrita, com toda sua gama de co-
difi cações virou linguagem digital, a mediação tomou-se a
Caixa de Pandora do século XX – texto, som e imagem pas-
Disponível em http://www.lsi.usp.br/~hdelnero/
O behaviorismo restringe seu estudo ao comportamento
(behavior, em inglês), tomado como um conjunto de rea-
ções dos organismos aos estímulos externos. Seu princípio
é que só é possível teorizar e agir sobre o que é cientifi ca-
mente observável. Com isso, fi cam descartados conceitos
e categorias centrais para outras correntes teóricas, como
consciência, vontade, inteligência, emoção e memória
— os estados mentais ou subjetivos.
Os adeptos do behaviorismo costumam se interessar pelo
processo de aprendizado como um agente de mudança do
comportamento. O conceito-chave do pensamento de Skin-
ner é o de condicionamento operante, que ele acrescentou
à noção de refl exo condicionado, formulada pelo cientista
russo Ivan Pavlov. Os dois conceitos estão essencialmente
ligados à fi siologia do organismo, seja animal ou humano.
O refl exo condicionado é uma reação a um estímulo casual.
O condicionamento operante é um mecanismo que premia
uma determinada resposta de um indivíduo até ele fi car
condicionado a associar a necessidade à ação. Num de seus
livros mais conhecidos, Além da Liberdade e da Dignidade,
Skinner rejeitou noções como a do livre-arbítrio e defendeu
que todo comportamento é determinado pelo ambiente,
embora a relação do indivíduo com o meio seja de intera-
ção, e não passiva. Para Skinner, a cultura humana deveria
rever conceitos como os que ele enuncia no título da obra.