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“A mitologia, como expressão de uma disposição humana geral, a qual dei o nome de
inconsciente coletivo, cuja existência só é possível conhecer a partir da
fenomenologia individual. Em ambos os casos, a pesquisa se desenrola em torno do
indivíduo, pois sempre trata de certas formas representativas complexas, isto é, dos
chamados arquétipos, que é preciso supor como ordenadores inconscientes das
representações. É impossível distinguir a força motriz que está na origem destas
formas, do fator transcendente ao qual se dá o nome de instinto. Não há, portanto,
nenhuma razão para se ver no arquétipo outra coisa senão a forma do instinto
humano” (Jung, 1986, p. 169).
Essa categoria de inconsciente coletivo é central na obra de Jung. O
inconsciente coletivo é a camada mais profunda da mente humana. Se pensarmos a
mente humana como um círculo, ele seria o seu ponto mais interior.
Outra categoria derivada do inconsciente coletivo é a dos arquétipos.
Segundo Jung, os mitos são uma das formas onde os arquétipos humanos se
materializam.
“O significado do termo ‘archetypus’ fica sem dúvida mais claro quando se relaciona
com o mito, o ensinamento esotérico e o conto de fada. [...] Até hoje os estudiosos da
mitologia contentavam-se em recorrer a idéias solares, lunares, meteorológicas,
vegetais, etc. O fato de que os mitos são antes de mais nada manifestações da
essência da alma foi negado de modo absoluto até nossos dias” (Jung, 2003, p. 17).
O arquétipo significa um determinado tipo de impressão psíquica, como se
fosse uma marca ou imagem, um conjunto de caracteres que, em sua forma e
significado, são portadores de motivos mitológicos arcaicos.
“Assim como os arquétipos ocorrem a nível etnológico, sob forma de mitos, também
se encontram em cada indivíduo, nele atuando de modo mais intenso,
antropomorfizando a realidade, quando a consciência é mais restrita e fraca,
permitindo que a fantasia invada os fatos do mundo exterior” (Jung, 2003, p. 79).
O mito, para Jung, está ligado aos interiores da mente. Ali se origina, ali se
manifesta. Reflete-se na exterioridade da cultura, nasce na interioridade psíquica, no